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PROCESSO Nº TST-RR-39-19.2015.5.06.

0021

A C Ó R D Ã O
(4ª Turma)
GMCB/ca

I)   AGRAVO   DE   INSTRUMENTO   DA   SEGUNDA


RECLAMADA. CONTAX S.A.
RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI
N.º 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA.
Considerando   a   possibilidade   de   a
decisão   recorrida   contrariar
entendimento   consubstanciado   na
Súmula   nº   331   e   diante   da   função
constitucional   uniformizadora   desta
Corte,   verifica­se   a   transcendência
política, nos termos do artigo 896­A,
§ 1º, II, da CLT.

SERVIÇO   DE  CALL   CENTER  OU


TELEMARKETING.   BANCO.   TERCEIRIZAÇÃO
ILÍCITA. VÍNCULO DE EMPREGO. TOMADOR
DOS SERVIÇOS. PROVIMENTO. 
Ante possível contrariedade à Súmula
331,   I,   o   provimento   do   agravo   de
instrumento   para   o   exame   do   recurso
de revista é medida que se impõe.
Agravo   de   instrumento   a   que   se   dá
provimento. 
II)   RECURSO   DE   REVISTA   DA   SEGUNDA
RECLAMADA. CONTAX S.A.
SERVIÇO   DE  CALL   CENTER  OU
TELEMARKETING.   BANCO.   TERCEIRIZAÇÃO
LÍCITA.   VÍNCULO   DE   EMPREGO.   TOMADOR
DOS SERVIÇOS. PROVIMENTO.
A   aferição   da   licitude   da
terceirização   no   âmbito   desta   Corte
Superior demandava prévia análise do
objeto   da   contratação.   Isso   porque
sempre   se   entendeu   pela
impossibilidade   da   terceirização   de
serviços ligados à atividade precípua
da tomadora de serviços, com o fim de
evitar a arregimentação de empregados
por meio da intermediação de mão de
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obra   e,   por  consequência,   a


precarização de direitos trabalhistas
(Súmula nº 331, itens I e III).
A   questão,   contudo,   foi   submetida   à
apreciação   do   Supremo   Tribunal
Federal na ADPF 324 e no RE 958.252,
em repercussão geral, os quais foram
julgados conjuntamente em 30.8.2018,
ocasião em que foi fixada a seguinte
tese   jurídica:   "É   lícita   a
terceirização   ou   qualquer   outra
forma   de   divisão   do   trabalho   entre
pessoas   jurídicas   distintas,
independentemente   do   objeto   social
das   empresas   envolvidas,   mantida   a
responsabilidade   subsidiária   da
empresa contratante."
Desse modo, a partir dessa data, em
razão   da   natureza   vinculante   das
decisões   proferidas   pelo   excelso
Supremo Tribunal Federal nos aludidos
feitos,   deve   ser   reconhecida   a
licitude   das   terceirizações   em
qualquer   atividade   empresarial,   de
modo   que   a   empresa   tomadora   apenas
poderá   ser   responsabilizada
subsidiariamente.
No presente caso, o Tribunal Regional
reconheceu   a   ilicitude   da
terceirização   pelo   simples   fato   de
que   haver   contrato   de   prestação   de
serviços de cobrança entabulado entre
o ITAÚ UNIBANCO S/A e a CONTAX S/A,
cujo objeto consistia na prestação de
serviços   de   telemarketing   ativo   e
receptivo   para   recuperação   de
créditos, tendo o reclamante laborado
na   cobrança   aos   clientes
inadimplentes e em várias atividades
relacionadas   com   os   cartões   de
crédito   do   ITAÚ   UNIBANCO.   Diante
desse   contexto,   concluiu­se   que   a
atividade   desempenhada   estava

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inserida   no   fim   social   do   banco


reclamado.
Referida   decisão   destoa   do
entendimento   do   E.   Supremo   Tribunal
Federal e da Súmula 331, I.
Recurso   de   revista   conhecido   e
provido.

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Recurso   de   Revista   n°  TST­RR­39­19.2015.5.06.0021,   em   que   é
Recorrente  CONTAX­MOBITEL S.A.  e Recorridos  RHALDNEY CAVALCANTI DOS
SANTOS e ITAÚ UNIBANCO S.A..

Insurge-se a segunda reclamada, por meio de agravo


de instrumento, contra decisão proferida pela Presidência do egrégio
Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, que negou seguimento ao
seu recurso de revista por julgar ausente pressuposto de
admissibilidade específico (fls. 1506/1512 – numeração eletrônica).
Alega a agravante, em síntese, que o seu apelo
merece ser destrancado, porquanto devidamente comprovado o
enquadramento da hipótese vertente no artigo 896 da CLT (fls.
1521/1551 – numeração eletrônica).
Apresentadas contraminuta e contrarrazões (fl.
1560 e 1567 – numeração eletrônica).
O d. Ministério Público do Trabalho não opinou nos
autos.
É o relatório.

V O T O

I) AGRAVO DE INSTRUMENTO DA SEGUNDA RECLAMADA.


CONTAX S.A.

1. CONHECIMENTO

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Tempestivo e com regularidade de representação,


conheço do agravo de instrumento.

TRANSCENDÊNCIA

À luz do artigo 246 do Regimento Interno desta


colenda Corte Superior, as normas relativas ao exame da
transcendência, previstas no artigo 896-A da CLT, com as inovações
trazidas pela Lei nº 13.467/2017, serão aplicáveis aos recursos de
revista interpostos contra acórdãos publicados a partir de
11.11.2017.
Assim, uma vez que se trata de recurso de revista
interposto   contra   acórdão   regional   publicado   em   05.02.2018,   após,
portanto, a entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, deve ser feita a
análise da transcendência.
De   acordo   com   o   artigo   896­A   da   CLT,   a   esta
colenda   Corte   Superior,   em   sede   de   recurso   de   revista,   compete
examinar "se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos
gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica". Nessa
perspectiva, apenas serão objeto de exame as matérias controvertidas
que   ultrapassem   a   esfera   dos   interesses   subjetivos   das   partes
litigantes, alcançando o interesse público.
Calmon de Passos, ao tratar da antiga arguição de
relevância no recurso extraordinário, já sinalizava a dificuldade em
definir   o   que   seria   relevante   ou   transcendente   para   os   fins   da
norma,   tendo   em   vista   que   a   afronta   à   legislação,   ainda   que
assecuratória   de   direito   individual,   já   evidencia   o   interesse
público. Vejamos:

[...]. Se toda má aplicação do direito representa
gravame ao interesse público na justiça do caso concreto (único modo
de se assegurar a efetividade do ordenamento jurídico), não há como
se dizer irrelevante a decisão em que isso ocorre.
A   questão   federal   só   é   irrelevante   quando   não
resulta violência à inteireza e à efetividade da lei federal. Fora
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isso, será navegar no mar incerto do "mais ou menos", ao sabor dos
ventos e segundo a vontade dos deuses que geram os ventos nos céus
dos homens.
Logo,   volta­se   ao   ponto   inicial.   Quando   se   nega
vigência   à   lei   federal   ou   quando   se   lhe   dá   interpretação
incompatível,   atinge­se   a   lei   federal   de   modo   relevante   e   é   do
interesse   público   afastar   essa   ofensa   ao   Direito   individual,   por
constituir   também   uma   ofensa   ao   Direito   objetivo,   donde   ser
relevante a questão que configura. (PASSOS, José Joaquim Calmon de.
Da   arguição   de   relevância   no   recurso   extraordinário.   In   Revista
forense: comemorativa ­ 100 anos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v.
1, p. 581­607)

Cumpre destacar que, no caso da transcendência em
recurso   de   revista,   o   §   1º   do   artigo   896­A   da   CLT   estabelece   os
parâmetros   em   que   é   possível   reconhecer   o   interesse   público   no
julgamento   da   causa   e,   por   conseguinte,   a   sua   transcendência,   ao
prever   os   indicadores   de   ordem   econômica,   política,   jurídica   e
social.
Na   hipótese,   considerando   a   possibilidade   de   a
decisão recorrida contrariar entendimento consubstanciado na Súmula
nº 331 e diante da função constitucional uniformizadora desta Corte,
verifica­se a transcendência política, nos termos do artigo 896­A, §
1º, II, da CLT.

2. MÉRITO

2.1. SERVIÇO DE CALL CENTER OU TELEMARKETING.


BANCO. TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. VÍNCULO DE EMPREGO. TOMADOR DOS
SERVIÇOS.

O egrégio Tribunal Regional, no tocante ao tema,


assim decidiu:

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"TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS - RECURSO DOS


RECLAMADOS
Incontroverso que o autor foi contratado pela CONTAX em
11/02/2014, na função de Operador de Cobrança (fls. 472 e seguintes).
Na peça vestibular, o reclamante alegou que foi contratado pela
CONTAX S/A, mas, de fato, laborava exclusivamente para o ITAÚ
UNIBANCO S/A. Disse que sempre prestou serviços vinculados à
atividade-fim desse banco, com pessoalidade e subordinação,
desenvolvendo atividades como "Renegociação de Cheque Especial,
Contrato de Adiantamento à Depositantes, Empréstimos (Crédito
Automático e Crédito Consignado), Renegociação de Cartão de Crédito
ITAUCARD, Renegociação de Financiamento de Automóveis, suporte das
áreas de cobrança, cálculos dos encargos financeiros, taxas de operação
financeira, C.E.T (Custo Efetivo Total de Juros ao ano), Emissão de
Boletos, vendas de seguros, dentre outros vários serviços correlatos." (fl. 8).
O banco demandado sustentou a licitude da terceirização. Disse ter
firmado " contrato de prestação de serviços com a real empregadora da
parte Autora, onde restou estabelecido que o mesmo não formaria vínculo
entre os terceiros a tomadora, constituindo o contrato Ato Jurídico
Perfeito, amparado pelos princípios constitucionais da legalidade e da
livre iniciativa." (fl. 152) Mencionou que " a parte reclamante sequer
manuseava dinheiro, cheque, como também não realizava TED ou DOC,
portanto, nunca realizou cursos de lavagem de dinheiro, necessárias à
atividade bancária, não realizando nem de longe atividades típicas de
bancários. (fl. 155)"
De início, destaco que o princípio da irretroatividade das leis está
consagrado no art. 6º, do Decreto-Lei 4.657/42 (Lei de Introdução ao
Código Civil) e art. 5º, XXXVI, da CF/88, de maneira que não se pode
cogitar em aplicação da nova lei de terceirizações (Lei 13.429/2017) ao
caso em comento. Ainda que não se tenha notícia do término da relação
empregatícia, também não há nos autos qualquer disposição das partes na
direção da adequação do contrato de trabalho aos termos desta lei, na forma
do art. 19-C.
Em prosseguimento, convém destacar que não se discute a
possibilidade de uma empresa terceirizar serviços, o que tem suporte na
legislação, na doutrina e na jurisprudência.
Cuida-se apenas de aferir se, na hipótese, a terceirização ocorreu
regularmente.
Pois bem.
Como já relatado em preliminar, as partes dispensaram a produção
testemunhal, ao passo que o juízo cuidou de acolher o requerimento de
ambas no sentido de se utilizarem de vasta prova emprestada para elucidar
o caso. Todas acostaram as atas de instrução que entenderam suficientes.
A testemunha Edvania Cristina da Silva Vasconcelos, arrolada pelo
reclamante do processo 0000772-72.2011.5.06.0005, prova emprestada
produzida pela demandante, disse que: "a depoente prestava serviços no
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contrato da Contax com o Itaú; que era subordinada a William empregado


do Banco Itaú e a Alisson empregado da Contax; que diariamente William
circulava nos pontos de atendimento para responder as dúvidas dos
agentes de cobrança; que a atividade era realizar ligações para clientes do
Banco Itaú; que a atividade consistia em ligar para o cliente Itaú com o
objetivo de renegociar dívidas, vender seguros do Banco Itaú; que o seguro
referia-se ao seguro do cartão, que renegociava empréstimo consignado;
que havia descontos em relação a renegociação das dívidas; que o limite
do desconto era dado pelo próprio sistema; que acessava o sistema do
Banco Itaú; que a depoente tinha acesso a todas as informações da conta
bancária do Banco Itaú bem como ao extrato do cartão de crédito;"(fls.
282/287)
Reporto-me, também, à prova emprestada produzida pela CONTAX,
o depoimento da testemunha André Luiz de Barros, no processo 0000372-
75.2013.5.06-0009:
"o depoente e a reclamante prestavam serviços exclusivamente ao
banco Itaú; que ao atender ao telefonema o funcionário diz o nome e que
fala em nome do banco Itaú; que como agente de cobrança o depoente fazia
cobrança de contratos de conta corrente; que havia renegociação de divida
de acordo com os valores constantes no sistema; que o agentes não podiam
alterar limites ou incluir dependentes no cartão de crédito; que caso a
reclamante precisasse faltar ou tivesse algum problema se reportava
diretamente aos supervisores da segunda reclamada; que eventualmente
funcionários do primeiro reclamado visitavam o local de trabalho; que os
funcionários do banco tratavam diretamente com a direção e não com os
agentes de cobrança; que o treinamento por ocasião da admissão do
funcionário é realizado pelo segundo reclamado; que as metas eram
repassadas pelo supervisor da Contax; que as metas fixadas eram possíveis
de serem atingidas; que os funcionários da segunda reclamada podem
prestar serviços a outros clientes da dita empresa que não o banco
reclamado; que os agentes não podiam fazer transferência entre contas
correntes; que os agentes também não tinham como apurar fraudes nas
contas; que os agentes não tinham acesso as contas correntes e extratos das
contas correntes; que os agentes trabalhavam no sistema da Contax
identificado com a logomarca do banco Itaú; que na Contax há uma sala
para atendimento de seus clientes; que no caso de realização de acordos
para pagamentos, dependendo dos valores, o sistema do banco da várias
possibilidades de pagamento; que de acordo com as possibilidades dadas
pelo sistema o agente oferece ao cliente as propostas de negociação de
acordo com as possibilidades do perfil daquele cliente; que o sistema da
para cada cliente um único valor para fins de entrada no parcelamento; que
caso o cliente queira pagar uma parcelam num valor maior do que o fixado
no sistema do banco, o agente pode admitir já que inclusive estará
diminuindo o parcelamento; que o agente também pode acatar a oferta do
cliente em pagar um valor menor do que aquele fixado pelo banco
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aumentando o numero de parcelas" (fls. 746/748 - sem destaques no


original).
Do exame dos termos da prova deponencial emprestada, em conjunto
com o que confessou a reclamada sobre a realidade de trabalho da autora,
infere-se que o caso é de terceirização ilícita, tendo o reclamante
prestado serviços direcionados aos clientes do ITAÚ UNIBANCO S/A,
laborando na renegociação de dívidas e realizando serviços
relacionados com o cartão de crédito da instituição financeira.
Reforça essa constatação o exame do contrato de prestação de
serviços de cobrança entabulado entre o ITAÚ UNIBANCO S/A e a
CONTAX S/A, que possui como objeto a prestação de " serviços de
telemarketing ativo e receptivo para recuperação de créditos devidos ao
Contratante por clientes, correntistas ou não, constantes da sua carteira de
inadimplentes conforme especificações contidas no Contrato de Serviço e
seus Anexos" (fl. 246).
A Lei nº 4.595/64, que dispõe sobre a Política e as Instituições
Monetárias, Bancárias e Creditícias, além de criar o Conselho Monetário
Nacional, definiu instituições financeiras em seu art. 17:
"Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da
legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham
como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou
aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda
nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de
terceiros".
Portanto, considerando que o reclamante laborava na cobrança
aos clientes inadimplentes, de recursos financeiros que lhes eram
concedidos pela instituição bancária, e em diversos misteres ligados aos
cartões de crédito do ITAÚ UNIBANCO, inegável que sua atividade
estava enquadrada no fim social do banco reclamado.
Ademais, o pacto firmado entre o banco tomador e a prestadora de
serviços, mais precisamente em sua cláusula 5.29 prevê a obrigação da
CONTAX em proceder à gravação de todos os contatos telefônicos
realizados pelos operadores em face da execução dos serviços contratados,
bem como de disponibilizá-las ao contratante quando solicitado. Trata-se de
mecanismo de inegável poder de fiscalização da prestação laboral (fl. 251).
Frise-se ainda que, dentre as obrigações contratuais do ITAÚ
UNIBANCO, está a de fornecer treinamento inicial e eventual de
reciclagem aos funcionários da CONTAX, visando a qualificá-los à correta
prestação dos serviços. É o que se constata na cláusula 6.2.1 (fl. 257), o que
denota o direcionamento da prestação de serviços dos funcionários
formalmente vinculados à CONTAX.
Neste bojo, desnecessário que o reclamante recebesse ordens
diretamente de prepostos do ITAÚ UNIBANCO S/A para que se
configurasse a subordinação. De fato, com as recentes modalidades de
contratação por empresa interposta, não há mais que se falar na tradicional
subordinação subjetiva
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(...)
Ainda a respeito do tema, de relevo trazer a lição de Vólia Bonfim
Cassar, no tocante à subordinação estrutural. Aduz a autora que "toda vez
que o empregado executar serviços essenciais à atividade-fim da empresa,
isto é, que se inserem na sua atividade econômica, ele terá uma
subordinação estrutural ou integrativa, já que integra o processo produtivo
e a dinâmica estrutural de funcionamento da empresa ou do tomador de
serviços" (Direito do Trabalho, Rio de Janeiro, Impetus, 2011, p. 272). É
exatamente o que se divisa na lide sob apreciação.
Na hipótese em epígrafe, aferiu-se que o empregado estava
inserido na dinâmica empresarial do ITAÚ UNIBANCO S/A,
perseguindo créditos de sua propriedade, utilizando seus sistemas e
sofrendo fiscalização por parte do tomador de serviços. Inegável a
sujeição laboral ao poder diretivo da instituição bancária e, como
corolário, a sua subordinação jurídica.
Evidenciada a prestação do trabalho de forma pessoal, não-eventual,
onerosa e subordinada da reclamante em favor do ITAÚ UNIBANCO S/A
(artigos 2º e 3º da CLT).
A fraude à legislação trabalhista que ora se verifica teve por único
escopo evitar o enquadramento da autora na categoria dos bancários, para
que não usufruísse dos benefícios da categoria, tanto legais, quanto
normativos. A terceirização ilícita perpetrada atrai a aplicação do art.
9º da CLT, devendo-se formar o vínculo diretamente com o tomador de
serviços, na forma do item I da súmula 331 do TST, com
enquadramento do reclamante na categoria dos bancários.
(...)
O reconhecimento da solidariedade entre tomadora e prestadora
é medida que se impõe. De fato, a intermediação de mão-de-obra
perpetrada entre as empresas constitui burla à legislação trabalhista, que
veio a ocasionar dano ao obreira. Enquadra-se, pois, na definição de ato
ilícito constante no art. 927 do Código Civil pátrio, aplicável
subsidiariamente a esta Especializada, em virtude do que versa o art. 8º,
parágrafo único, da CLT.
Por todos os motivos acima expostos, com fulcro no art. 9º da CLT e
itens I e III da súmula 331 do TST, considerando que houve fraude na
terceirização, mantida a nulidade do contrato de trabalho celebrado
com a CONTAX S/A e o reconhecimento do vínculo empregatício da
reclamante diretamente com o ITAÚ UNIBANCO S/A, na função
pessoal de escritório, porquanto adequada às atividades exercidas pela
obreira que, por óbvio, não guardam semelhança com as de 'Pessoal de
Portaria, Contínuo e Serventes'.
A consequência da vinculação direta é a retificação na CTPS do
reclamante, obrigação que se mantém.
(...)

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Quanto à súmula 374/TST, aplica-se aos casos de categoria


profissional diferenciada, o que não é o caso da reclamante. Ileso o art.
611/CLT.
No mais, igualmente devidas as diferenças salariais entre os valores
efetivamente percebidos pela reclamante, no período objeto de condenação,
e o piso normativo da categoria dos bancários, na função pessoal de
escritório. Nada a reformar também neste ponto.
Mesma sorte seguem os benefícios decorrentes do enquadramento na
categoria dos bancários, tais como participação nos lucros e resultados,
auxílio refeição, cesta alimentação e 13ª cesta, previstas nas convenções
coletivas dos bancários.
A d. Magistrada a quo já determinou a dedução dos valores pagos a
idêntico título, assim como o pagamento em conformidade com as regras
constantes das CCTs da categoria dos bancários (fl. 810).
Quanto à natureza salarial das verbas constantes do condeno, a
decisão revisanda já consignou expressamente que possuem natureza
salarial as diferenças salariais e repercussões (fl. 812). Nada a reformar.
Nego provimento aos recursos dos reclamados no aspecto." (fls.
1311/1318 - numeração eletrônica) (grifei)

Inconformada, a segunda reclamada interpôs recurso


de revista sustentando que deveria ser reconhecida a validade da
terceirização firmada entre partes, relativa aos serviços de
telemarketing, o que afasta o reconhecimento do liame laboral
postulado diretamente com o tomador dos serviços. Apontou violação
aos artigos 5º, II, e 170 da Constituição Federal; 2º e 3º, da CLT;
contrariedade à Súmula 331, I, e dissenso pretoriano (fls. 1413/1457
– numeração eletrônica).
Não obstante, a autoridade responsável pelo juízo
de admissibilidade a quo, por julgar ausente pressuposto de
admissibilidade específico, decidiu denegar-lhe seguimento (fls.
1506/1512 - numeração eletrônica).
No agravo de instrumento em exame, a agravante
reitera os argumentos já expendidos (fls. 1521/1551 – numeração
eletrônica).
Com razão.
Cinge­se a controvérsia em verificar a licitude da
terceirização dos serviços de atendimento ao cliente (telemarketing)

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por instituição financeira, para fins de reconhecimento do vínculo
de emprego diretamente com o tomador dos serviços.
A aferição da licitude da terceirização no âmbito
desta colenda Corte Superior demandava prévia análise do objeto da
contratação. Isso porque sempre se entendeu pela impossibilidade da
terceirização de serviços ligados à atividade precípua da tomadora
de serviços, com o fim de evitar a arregimentação de empregados por
meio da intermediação de mão de obra e, por consequência, a
precarização de direitos trabalhistas.
Nesse contexto, caso restasse comprovada a
terceirização da atividade precípua da empresa tomadora de serviço,
o vínculo de emprego deveria ser reconhecido diretamente com ela,
por ser a real beneficiária dos serviços prestados, conforme se
depreende da orientação consolidada nos itens I, II e III da Súmula
nº 331, de seguinte teor:

"CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE


(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res.
174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,
formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no
caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa
interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração
Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de
serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e
limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio
do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
(...).

É cediço que o supracitado verbete jurisprudencial


foi editado num cenário em que o instituto da terceirização carecia
de disciplinamento normativo, o qual encontrava previsão apenas em
esparsos dispositivos de lei.
Atualmente, a matéria passou a ser objeto de
regulamentação da Lei nº 6.019/1974, por força das alterações
promovidas pelas Leis nos 13.429/2017 e 13.467/2017, as quais
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PROCESSO Nº TST-RR-39-19.2015.5.06.0021

imprimiram significativas mudanças no formato da terceirização.


Destaca-se, inclusive, que o artigo 4º-A da Lei nº 6.019/1974 passou
a autorizar a terceirização de quaisquer atividades das empresas
tomadoras de serviço, incluindo sua atividade principal.
Ocorre que, conquanto a lei tenha permitido a
terceirização da atividade precípua, por se tratar de norma de
direito material, ela não se aplica a situações pretéritas,
anteriores a sua entrada em vigor, além de haver divergência de
entendimento quanto à possibilidade de regular os contratos em
curso.
Cumpre destacar que as reiteradas decisões
proferidas por esta Justiça Especializada, nas quais era reconhecida
a impossibilidade da terceirização de atividade precípua, tiveram a
sua constitucionalidade questionada perante o excelso Supremo
Tribunal Federal, por meio da ADPF 324, ao argumento que violavam a
liberdade de contratação, os princípios da legalidade, da livre
iniciativa e da valorização do trabalho.
De igual modo, no RE 958252, a excelsa Corte
reconheceu a repercussão geral da questão referente à ilicitude da
terceirização de serviços para a consecução da atividade precípua da
empresa, nos termos preconizados na Súmula nº 331.
Em razão da identidade do objeto, os feitos foram
julgados em sessão conjunta no excelso Supremo Tribunal Federal,
que, por maioria, em 30.8.2018 fixou a seguinte tese jurídica:

"É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do


trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto
social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da
empresa contratante." – sem grifos no original

Nessa perspectiva, a partir de 30.8.2018, em razão


da natureza vinculante das decisões proferidas pelo excelso Supremo
Tribunal Federal nos aludidos feitos, deve ser reconhecida a
licitude das terceirizações em qualquer atividade empresarial, de
modo que a empresa tomadora apenas poderá ser responsabilizada
subsidiariamente.
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No presente caso, o Tribunal Regional reconheceu a
ilicitude da terceirização pelo simples fato de que haver contrato
de   prestação   de   serviços   de   cobrança   entabulado   entre   o   ITAÚ
UNIBANCO S/A e a CONTAX S/A, cujo objeto consistia na prestação de
serviços   de   telemarketing   ativo   e   receptivo   para   recuperação   de
créditos,   tendo   o   reclamante   laborado   na   cobrança   aos   clientes
inadimplentes e em várias atividades relacionadas com os cartões de
crédito do ITAÚ UNIBANCO. Diante desse contexto, concluiu­se que a
atividade   desempenhada   estava   inserida   no   fim   social   do   banco
reclamado.
Nesse contexto, em razão dos fundamentos acima
consignados, entendo que o egrégio Tribunal Regional, ao reconhecer
o vínculo de emprego diretamente com o tomador dos serviços, acabou
por dissentir do entendimento do E. Supremo Tribunal Federal, bem
como da diretriz da Súmula no 331, I.
Dou   provimento  ao   agravo   de   instrumento   para
determinar   o   processamento   do   recurso   de   revista   da   primeira
reclamada.
Com fulcro no artigo 897, § 7º, da CLT, passa esta
Turma ao exame do recurso de revista destrancado, no particular.

II) RECURSO DE REVISTA DA SEGUNDA RECLAMADA.


CONTAX S.A.

1. CONHECIMENTO

1.1. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

Presentes os pressupostos extrínsecos de


admissibilidade recursal, passo ao exame dos pressupostos
intrínsecos.

1.2. PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

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1.2.1. SERVIÇO DE CALL CENTER OU TELEMARKETING.


BANCO. TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA. VÍNCULO DE EMPREGO. TOMADOR DOS
SERVIÇOS.

Conhecido o recurso por contrariedade à Súmula nº


331, I, dou-lhe provimento para, declarando a licitude da
terceirização, julgar improcedente o pleito de reconhecimento do
vínculo de emprego diretamente com o primeiro reclamado - ITAÚ
UNIBANCO S/A. -, bem como de pagamento de parcelas relacionadas ao
referido vínculo.
Embora conforme a decisão do STF a tomadora dos
serviços deva ser responsabilizada subsidiariamente pelos créditos
trabalhistas não adimplidos pela empresa prestadora, não há
responsabilidade subsidiária a ser reconhecida no presente caso,
porquanto não remanesce qualquer condenação, visto que as verbas
requeridas na inicial e deferidas pelas instâncias ordinárias são
todas decorrentes do vínculo de emprego indevidamente reconhecido
com a tomadora dos serviços.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, por unanimidade, reconhecer a transcendência
política da causa e dar provimento ao agravo de instrumento para,
convertendo-o em recurso de revista, determinar a reautuação dos
autos e a publicação da certidão de julgamento para ciência e
intimação das partes e dos interessados de que o julgamento da
revista dar-se-á na primeira sessão ordinária subsequente à data da
referida publicação, nos termos do artigo 257 do Regimento Interno
desta Corte. Por unanimidade, conhecer do recurso de revista da
segunda reclamada por contrariedade à Súmula nº 331, I, e, no
mérito, dar-lhe provimento para, declarando a licitude da
terceirização, julgar improcedente o pleito de reconhecimento do
vínculo de emprego diretamente com o primeiro reclamado - ITAÚ

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UNIBANCO S/A. -, bem como de pagamento de parcelas relacionadas ao


referido vínculo.
Brasília, 13 de fevereiro de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


CAPUTO BASTOS
Ministro Relator

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