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Floyd Lee Gilbert


A Lei e a Graça
Tipo e Antítipo

F/oyd Lee Gilbert

s
Editora
Candeia
Rua Belarmino Cardoso de Almeida, 108
Irrteriagos — São Paulo, SP
Cep.: 04009^70
Título em original:
À Lei e a Graça

Copyright © 1995

Coordenador de produção: Mauro Wanderley Terrengui

Revisões: Isly Carvalho Marino Franco


Arte de capa: Imprensa da Fé

Arte da capa: íbis Roxane

Composição e fotolito da capa:


MJ Serviços de Composições Ltda.

Impressão e acabamento:
Associação Religiosa Imprensa da Fé

1“ Edição: 1996 - 3.000 exemplares

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos


direiros reservados pela:
EDITORA E DISTRIBUIDORA CANDEIA
Rua Belarmino Cardoso de Andrade (Almeida), 108
Interlagos - São Paulo, SP
Cep: 04809-270

Gostaria de saber sua opinião sobre este livro.


Escreva para: Editora Candeia.
índice
Prefácio .......... «... 5
Introdução ......... 7

Divisão I

Capítulo Um O Sacerdócio — Generalidades ............. 13


Capítulo Dois A Escolha do Sumo Sacerdote-*...*........ 21
Capítulo Três As Vestes Sagradas do Sumo Sacerdote 31
Capítulo Quatro As Cores das Vestes de Fora .................. 41
Capítulo Cinco As Vestes Sagradas Visíveis............ *.... 49
Capítulo Seis Os Ornamentos das Vestes Sagradas.... 59
Capítulo Sete Arão e Cristo — Comparações
e Contrastes.... ................. ......... ............. 71
Capítulo Oito Os Sumos Sacerdotes dos
Dois Concertos................................. . 81
Capítulo Nove Os Dois Sacerdócios.............................. 91
Capítulo Dez A Tipologia do Sacerdócio..................... 99
Capítulo Onze Equipados para o Serviço
do Sacerdócio................................. . 113
Capítulo Doze Os Sacrifícios dos Sacerdotes ................. 123
Divisão 11

Capítulo Um Sacrifícios e Ofertas —


Considerações Gerais................... 137
Capítulo Dois A Oferta Queimada — O Holocausto ... 145
Capítulo Três A Oferta de Manjares ............................. 157
Capítulo Quatro Os Sacrifícios Pacíficos —
A Oferta de Paz...................................... 167
Capítulo Cinco O Sacrifício pelos Pecados ..................... 179
Capítulo Seis O Sacrifício pelos Pecados Ocultos.... . 191
Capítulo Sete O Sacrifício pelos Pecados
Voluntários -—*As Libações................... 201

3
4 A LEI E A GRAÇA
Divisão n i

Capítulo Um As Sete Festas Fixas segundo o


Calendário de Israel,.»,..».... ...............................♦..........
Capítulo Dois A Festa da Páscoa.............................. 215
Capítulo Três A Festa dos Pães Asm os........................ 227
Capítulo Quatro A Festa das Frimídas .......................... 233
Capítulo Cinco A Festa de Pentecostes ................ *.... . 239
Capítulo Seis A Festa das Trombetas.......................... 245
Capítulo Sete A Festa das Expiações .... ..................... 251
Capítulo Oito A Festa dos Tabemáculos............ .......... 257
Capítulo Nove Sábados — O Sábado.............. .............. 263
Prefácio
Ao escrever o livro "A Pessoa de Cristo no Tabemáculo",
mencionei que, no devido tempo, o meu desejo e propósito era de
escrever outros dois livros, completando uma série de três, acerca
da importância de um estudo detalhado de figuras e tipos do
Velho Testamento referentes a Cristo e à Sua Igreja-
Neste segundo livro, pretendo expandir o estudo, a fim de
abranger o significado histórico, espiritual e tipológico do Sumo
Sacerdócio, do Sacerdócio Levítico, das Festas, e das Ofertas e
Sacrifícios utilizados no culto judaico ao Deus Jeová,
O Senhor declara em 2 Timóteo 3.16 -17:
'Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensino, para
a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra".
Portanto, certamente Deus tem muito para nos ensinar por
meio dos elementos do culto judaico. Infelizmente não encontra­
mos muitos comentários, nem mesmo estudos analíticos que nos
ofereçam auxílio para a aplicação dessas verdades às nossas vidas.
Creio que, sem dúvida, todos os crentes devem desejar o
ensino, repreensão, correção e educação pelas verdades divinas, a
fim de serem verdadeiramente "habilitados para toda boa obra".
Assim, com este único objetivo e com espírito de oração, desejo
entregar à irmandade cristã aquilo que tenho recebido de Deus
pela análise do assunto em pauta.
Seria muito ousado supor que todas as lições escondidas
nessas figuras do Velho Testamento tenham sido desvendadas a
mim. Por essa razão, acredito haver entre os queridos leitores
quem possa discordar de algumas das aplicações aqui apresenta­
das. Jamais desejaria negar-lhes esse direito- Por outro lado,
outros poderão ter obtido lições igualmente preciosas nos mesmos
temas. O que importa é que Deus tenha perfeita liberdade para
cumprir Seus propósitos em nossas vidas, conforme o Seu desejo
declarado nos versos adma citados.
5
6 A LEI E A GRAÇA
Em tempo oportuno, o estudo de tipos bíblicos será amplia­
do, se Deus assim permitir, com a edição de um terceiro livro que
complementará a série já mencionada. Enquanto isso, para que o
leitor compreenda o panorama geral da tipologia do culto
judaico, recomendo a aquisição e leitura de um exemplar do livro
"A Pessoa de Cristo no Tabemáculo", na livraria evangélica de
sua preferência.
Introdução
Se eu dissesse que o livro das Sagradas Escrituras que mais
possui citações do próprio Deus do que qualquer outro livro da
Bíblia, que é um dos menos lido e muito menos entendido, a que
livro o leitor diria que me refiro? Pois bem, é o livro de Levítico. A
grande maioria dos crentes com quem tenho mantido contato
admite não achá-lo interessante, nem compreendem o significa­
do dos seus ensinamentos no que dia: respeito à vida espiritual.
Isto porque poucos crentes têm-se aprofundado no estudo de
tipos e símbolos das Sagradas Escrituras.
Gostaria que observássemos algumas das expressões mais
comuns e freqüentes no livro de Levítico. Do início ao fim encon­
tramos repetidas vezes as frases: '''disse o Senhor"; "disse mais o
Senhor"; "o Senhor ordenou"; "falou o Senhor"; etc. Para estabe­
lecer as condições de uma vida santa e pura do Seu povo. Deus
falou aproximadamente cinqüenta vezes: "Eu sou o Senhor".
Outras expressões como, "diante do Senhor" ou "ao Senhor",
mais ou menos cento e cinqüenta vezes. Acerca dos sacrifícios e
ofertas do Seu povo, Deus os adjetivou de "aroma agradável ao
Senhor" dezessete vezes. A palavra "santa", referindo-se ao Se­
nhor ou ao Seu povo e à conduta deste, aparece oitenta e nove
vezes. "Sacrifícios" ou "ofertas ao Senhor" são mencionados
quase trezentas vezes em Levítico. A palavra "expiação", chave
para se compreender a salvação, foi empregada quase cinqüenta
vezes no livro, Havia necessidade da expiação em tudo quanto se
Oferecesse ao Senhor, fossem pessoas ou objetos. Não há livro
igual para se conhecer o Deus Jeová de Israel, bem como a Sua
Santidade pessoal, tanto na vida daqueles que desejavam, como
também na daqueles que desejam uma vida digna de filho de
Deus. Assim é o livro de Levítico!
Convém observar que não pretendo fazer um estudo analí­
tico, propriamente, sobre o livro de Levítico. Pretendo estudar,
especificamente, o sacerdócio, os sacrifícios, ofertas e festas do
culto judaico, e ainda o sistema levítico. Todavia, a maior parte
7
8 A LEI E A GRAÇA

dos textos que vou examinar se encontra nele, razão por que
procuro estabelecer desde já a importância do livro em relação à
tipologia bíblica. Também julgo ser importante estabelecer o valor
histórico de Levítico. Ocupa o lugar central no Pentateuco, isto é,
o terceiro dos cinco livros. O Autor do Livro é o Espírito Santo, mas
o escritor foi Moisés. Os teólogos (?) liberais procuram negar esse
fato, destruindo, assim, a sua veracidade. Contudo, o próprio
Jesus atribuiu a lavra de Levítico a Moisés quando falou, conforme
registrado em Mateus 8.4:

"Ollia, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacer­


dote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de
testemunho ao povo" (referindo-se a Levítico 141-32).

Em [oão 5,45-48, Jesus falou aos judeus assim:

"Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos


acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança.
Porque se de fato crêsseis em Moisés, ta mbém creríeís em mim;
porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes
nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?

Tais palavras devem ser suficientes para nos desafiar a um


estudo detalhado dos livros de Moisés, ou seja, do Pentateuco. O
Senhor Jesus citou esses livros pelo menos vinte e cinco ve2es,
atribuindo-os sempre a Moisés. Seguramente podemos contar
mais de setenta e cinco referências a Moisés no Novo Testamento,
O nome dele aparece nas Sagradas Escrituras mais de novecentas
e cinqüenta vezes. Dentre os homens, apenas o nome de Davi
aparece com mais freqüência. Encontramos referências a Moisés
em trinta e um livros da Bíblia. Durante o nosso estudo, citarei
muitas delas,
A epístola aos Hebreus, como o nome indica, foi escrita para
os judeus recém-convertidos ao Cristianismo. O designativo
"hebreu" foi atribuído primeiramente a Abraão e, depois, aos
seus descendentes. Os termos "Israel" e "judeu" apareceram
muito mais tarde, sendo "Israel" uma referência a Jacó e seus
descendentes por meio das doze tribos. A palavra "judeu" tomou-
se popular bem mais tarde, como uma referenda ao aspecto
religioso dos israelitas, além de um derivado do nome "Judá".
Introdução 9

Portanto, ao lermos qualquer um dos três nomes, especialmente


no Novo Testamento, sabemos que se referem ao mesmo povo- Ao
ordenar que se escrevesse a epístola aos Hebreus, Deus tinha em
mente uma nação que conhecia as Escrituras transmitidas por
Moisés, e que, sem dúvida, compreenderia facilmente as muitas
referências ao culto judaico. Mesmo assim, Deus achou necessário
esclarecer a tipologia envolvida naqueleculto.Vejamos, por exem­
plo, Hebreus 8.5:

"..os quais ministram em figura e sombra das cousas celes­


tes, como foi Moisés divinamente instruído ,(o grifo é nosso),
quando estava para construir o Tabernáculo; pois diz ele: Vê
que faças todas as cousas de acordo com o modelo que te foi
mostrado no monte."

(Recomendamos um estudo do livro "A Pessoa de Cristo no


Tabernáculo" para maiores esclarecimentos). Em Hebreus 9.23,
Deus registrou o seguinte:

"Era necessário, portanto, que as figuras das cousas que se


acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as
próprias cousas celestiais com sacrifícios a eles superiores".

Esses versos indicam que jamais poderemos conhecer o ver­


dadeiro significado do sacrifício de Cristo sem compreendermos
o significado do sistema sacrificial estabelecido por Deus e revela­
do no Velho Testamento.
É de suma importância observar que Deus nunca salvou
ninguém por meio da lei, nem mesmo pelos sacrifícios e ofertas
que a Seu povo fora ordenado oferecer. Desde Adão, o único meio
de salvação foi e continua sendo a revelação da graça divina. Deus
revelou Sua graça a Adãoe Eva, quando os vestiu com as peles dos
animais sacrificados, Da mesma forma, Noé "achou graça diante
do Senhor", (Gn 6.8). Abraão, o pai da fé (Rm 4), não conhecia as
leis judaicas, nem Isaque, Jacó ou José; todavia, todos os nomes
desses servos de Deus se encontram na grande galeria dos salvos
pela fé, conforme registro no capítulo onze de Hebreus. O propó­
sito de Deus, ao transmitir a lei por Moisés, foi ensinar o Seu povo
a andar em comunhão com Ele, e restabelecê-la cada vez que
houvesse ruptura. Deus deseja comunhão perfeita e ininterrupta
10 A LEI E A GRAÇA

com Seu povo. Nesse sentido, encontramos imenso valor no


estudo da tipologia do culto judaico. O desejo de Deus é que a Sua
Igreja O conheça "na Sua Santidade", e que leve a sério a advertên­
cia registrada em 1 Pe 1,16:

" Sede santos porque eu sou santo",(cf, Levítico 11.44-45 e


19.2).

O propósito deste escritor é única e exclusivamente glorificar


o nome do seu Amado Senhor, e contribuir, em alguma medida,
para a edificação da noiva dEIe, Sem dúvida, muitas observações
de igual valor às que serão aqui apresentadas poderiam ser feitas
pelos leitores. Não me iludo, pensando que todas as riquezas
dessas figuras tenham sido desvendadas a mim. Nem ficarei
constrangido com a discordância que poderá surgir em relação às
aplicações e simbolismos que apresentarei. Em todo o caso, a
minha oração é que Deus possa nos ensinar a importância de
Colossenses 2,6, onde está escrito:

" Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai


nEle."

Nopresente estudo obedecerei a três divisões básicas, a saber:


L O Sumo Sacerdote e os sacerdotes.
II. Os cinco tipos de sacrifícios e ofertas,
III. As sete festas fixas, segundo o calendário de Israel.
( Sabemos que o judaísmo até hoje celebra algumas festas,
mas algumas delas não foram estabelecidas pela lei no tempo de
Moisés),
Tais assuntos serão considerados nessa ordem, por entender­
mos ser essa a ordem cronológica, ou cronográfica, ainda que não
tenham sido apresentados textualmen tedessa manei ra em Levítico,

NJJ, Todos os textos bíblicos citados são da edição Revista e Atualizada.


D ivisão I
Capítulo Um

O Sacerdócio —
Generalidades
Não resta a menor dúvida de que a questão do sacerdócio ê
o assunto mais importante deste livro. De tão significativo, jamais
poderei fazer jus a todos os detalhes e simbolismos decorrentes
dele. Todavia, desejo oferecer ao leitor algumas das lições revela­
das a mim pela Palavra de Deus, e de muitos dos Seus servos, pela
graça infinita de Deus, desejando que lhes sejam igualmente
edificantes.

Considerações Históricas e Culturais


O exame cuidadoso de alguns textos bíblicos permite-nos
afirmar que, desde a criação da raça humana, o sistema sacerdotal
parece ter sempre existido, Até mesmo nas religiões pagãs tal
sistema era fundamental, como por exemplo, a referenda a Potífera,
sacerdote de On, registrada em Gênesis 41.45, 50 e 46.20. Outro
exemplo é o de Jetro, sogro de Moisés, mencionado diversas vezes
no livro de Êxodo como sacerdote de Mídiã. Na língua hebraica,
a palavra empregada para descrever ambos os homens ê a mesma
utilizada para descrever os sacerdotes de Deus em todo o Velho
Testamento, ou seja, kohane, que significa "quem oficia" ou "ofici­
al". Note-se que o propósito permanente é o de se constituir algum
13
14 A LEI E A GRAÇA

intermediário entre Deus e o homem ou entre os homens e Deus.


Todas as religiões conhecidas têm. algum tipo de sacerdote
como intermediário entre o povo eseus deuses. Alguns exemplos:
os indígenas têm seus pajés; o espiritismo tem seus médiuns; as
religiões de origem africana têm seus xangôs e orixás; o judaísmo
tem os rabis, e a igreja romana tem seu papa, seus cardeais. Não
existe nenhuma religião sem algum tipo de intermediário. Ne­
nhum deles deve ser confundido com o sacerdócio do verdadeira
Deus, porque nenhuma dessas religiões confia apenas no minis­
tério sacerdotal de Cristo; ao contrário, muitas cultuam a deuses
mortos; outras colocam a sua confiança em st mesmas e não na pes­
soa de Cristo, Os únicos verdadeiros sacerdotes diante do Deus
Vivo são aqueles que têm sido assim consagrados por Ele mesmo,
Embora devam ser classificados de modo diferente quanto ao
ofício exercido, não podemos nos esquecer dos profetas do Velho
Testamento que se constituíam em porta-vozes no tocante à
transmissão das suas ordens, instruções e mensagens.
Desde o início da história da raça humana, pode-se notar que
a responsibilidade do exercício sacerdotal recaía sobre os chefes
de família, pelo menos até quando Deus ordenou que a tribo de
Levi fosse escolhida para representar o Seu povo. Mesmo assim, a
Palavra de Deus faz questão de destacar a responsabilidade do pai
de família no exercício da Liderança espiritual do seu próprio lar.
A primeira ocorrência da palavra kohane em referência aos servos
de Jeová encontra-se em Gênesis 14.IS, e d iz respeito a
Melquisedeque, "o sacerdote do Deus Al tíssimo"(tratarei dele
mais tarde). A ordem sacerdotal estabelecida por intermédio de
Moisés, com a finalidade de ministrar em favor do povo perante
Deus, perdurou até que nosso Sumo Sacerdote, Jesus Cristo,
cumprisse todas as exigências da lei, tornando-se o único " Media­
dor entre Deuse os homens", conforme 1 Timóteo 2.5. Portanto, os
princípios básicos do sacerdócio levítico foram cumpridos com a
morte ressurreição e ascensão de Cristo. Nada , absolutamente
nada no Novo Concerto estabelecido em Cristo Jesus justifica o
sistema sacerdotal da Igreja Cãtolica Romana, ou de qualquer
outra religião.

O Sacerdócio Levítíco
O termo "sumo sacerdote" refere-se muitas vezes à pessoa de
O Sacerdócio — Generalidades 15
Arftu; portanto, seria conveniente examinar Êxodo 27.21 e 28.1,
Onde se encontra o registro da escolha dele e de seus filhos (isto é,
sua descendência) para exercerem respectivamente os ministérios
de Sumo Sacerdote e sacerdotes. Vejamos:

"Na tenda da congregação fora do véu, que está diante do


testemunho, Arão e seus filhos as conservarão em ordem,
desde a tarde até pela manhã, perante o Senhor; estatuto
perpétuo será este a favor dos filhos de Israel pelas gerações.
Faze também vir junto de ti Arão, teu irmão, e seus filhos com
ele, dentre os filhos de Israel, para me oficiarem como sacerdo­
tes, a saber, Arão e seus filhos Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar."

O contexto imediatamente anterior a esse refere-se às instru­


ções que Deus deu a Moisés para a construção e administração do
Tabernáculo. Em relação a esses dois versos desejo destacar duas
especificações. Em primeiro lugar, essa determinação de Deus é
chamada de " estatuto perpétuo". Em seguida, Deus apontou
nominalmente as pessoas escolhidas. Sendo assim, até o dia em
que Cristo cumprisse as exigências da lei, todos os sumos sacer­
dotes e sacerdotes que oficiassem diante do Senhor deveriam ser,
sem exceção, descendentes de Arão e seus quatro filhos nomeados
por Deus. (Por ser vitalício o ofício de sumo sacerdote, podemos
ver a deturpação dessas ordens divinas, à medida que Israel
afastou-se de Deus). Até mesmo nos menores detalhes do culto
judaico apenas a tribo de Levi poderia oficiar. Por exemplo,
quando o povo montasse acampamento, os levitas deveriam
acampar ao redor do Tabernáculo, Ao acamparem, apenas eles
poderiam montar o Tabernáculo com seus móveis e utensílios.
Quando a nação levantasse acampamento, somente eles poderi­
am desmontá-lo e transportá-lo. Deus os escolhera para isto
(Números 1.47-54), embora ainda existissem restrições quanto ao
exercício do sacerdócio apenas por alguns dos seus descendentes.
Os detalhes serão considerados num capítulo posterior. É impos­
sível afirmar, categoricamente, as razões pelas quais a tribo de
Levi ford escolhida; no entanto, convém considerar alguns acon­
tecimentos qué poderiam ser relevantes.
Seria interessante lembrar que, quando estava para morrer, o
patriarca Jacó (Israel) conferiu bênçãos a seus filhos. Dirigindo-se
a Levi (e Simeão), ele disse:
16 A LEI E A GRAÇA
"As suas espadas são instrumentos de violência. No seu
conselho não entre minha alma, com o seu agrupamento minha
glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens e na
sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o furor
pois era muito forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em
jacó, e os espalharei em Israel." Gênesis 49.5-7

A razão exata pela qual o pai deu essa palavra de maldição,


não sabemos. Todavia, o próprio contexto indica que Levi e
Simeão eram violentos por natureza. Curiosamente, isso nos faz
lembrar dos irmãos Tiago e João, discípulos de Cristo, chamados
por Ele "filhos do trovão" (Marcos 3.17). Em relação à natureza
violenta de Levi, a Bíblia registra um episódio em que ela se
manifestou fortemente. O fato encontra-se no capítulo 34 de
Gênesis e diz respeito à vingança de Levi e Simeão contra os
íilisteus que haviam violentado Diná, irmã de ambos. Dos filhos
de Jacó, divididos entre quatro mães, além dos doze homens havia
filhas, sendo que Diná, a única mencionada pelo próprio nome nas
Sagradas Escrituras, era irmã de Levi e Simeão por parte de mãe
e pai. Talvez tenha sido essa a razão de tamanha ira; no entanto,
não podem ser justificados em seu procedimento vingativo.
No tocante a Simeão, não sendo relevante para o nosso
estudo, deixarei de falar da vida dele. Não obstante, nenhuma
porção geográfica de Canaã foi indicada para a tribo de Simeão,
Essa tribo recebeu apenas algumas cidades na região árida do
deserto de Neguebe (cf, Josué 19.1-9) que faziam parte da herança
de Judá. Nem sequer é mencionada essa tribo na bênção de
Moisés, registrada em DeuteronÔmio 33.
Vamos considerar apenas Levi entre as tribos por ser ela a
escolhida para o sacerdócio. Observamos que ela não recebeu
nenhuma porção da terra de Canaã, e isto por ordem do próprio
Deus, conforme relatado em Números 1.48-50:

"Porquanto o Senhor falara a Moisés, dizendo: Somente não


contarás a tribo de Levi, nem levantarás o censo deles entre os
filhos de Israel; mas incumbe tu os levitas de cuidarem do
tabernáculo e de todos os seus utensílios; eles levarão o
tabernáculo e todos os seus utensílios; eles ministrarão no
tabernáculo e acampar-se-ão ao redor dele/'
Verifiquemos, em Números 34.16-29, que ninguém foi no­
O Sacerdócio —- Generalidades 17
meado para representar a tribo de Levi na divisão de Canaã. No
entanto, quarenta e oito cidades, espalhadas por toda a Canaã,
foram designadas para aquela tribo (Josué 21.41-43). Deus nos
esclarece sobre o assunto em Josué 18,7 :

"Porquanto os levitas não têm parte entre vós, pois o


sacerdócio do Senhor é a sua parte,"

No capítulo 3 de Números, Deus estabeleceu os compromis­


sos e obrigações de todos os descendentes de Levi, conforme as
três principais divisões daquela tribo., a saber, os descendentes de
Gérson, Coate e Merari. Sem pretender entrar em pormenores,
importa notar que Arão era descendente de Coate, e os seus
descendentes foram escolhidos exclusivamente para o ministério
dos sacrifícios, ofertas, etc. Quanto ao sacerdote cuja linhagem
teve início em Arão, todos os demais, por lei, deveriam ser seus
descendentes até a nova ordem, ou aliança, que haveria de ser
estabelecida pela morte e ressurreição de Cristo,

"Darás, pois, os levitas a Arão e a seus filhos; dentre os filhos


de Israel lhes são dados. Mas a Arão e filhos ordenarás que se
dediquemséao seu sacerdócio, e o estranho que se aproximar
morrerá."

Indubitavelmente, todos os levitas eram sacerdotes no tocan­


te a se dedicarem exclusivamente ao serviço de Deus, isto é,
exercerem algum ofício ligado com o Tabernáculo, ef mais tarde,
o Templo, É possível estabelecer um paralelismo entre os sacerdo­
tes do Velho Testamento e os crentes de hoje, o que farei em
capítulo posterior deste livro. Entretanto, destaco aqui apenas a
maneira pela qual Deus exigiu a redenção dos levitas para que
fossem os representantes das doze tribos.
Ao redimir a nação do Egito, Deus declarara que todos os
primogênitos, tanto de homens quanto dos animais de Israel,
pertenciam a Ele e necessitavam ser resgatados. O sangue coloca­
do nos umbrais das portas, ao instituir a festa da Páscoa, na noite
em que o anjo da morte passou pelo Egito libertando os israelitas
da escravidão (Êxodo 12),servira de proteção para os primogênitos.
Mas isso exigia o derramamento de sangue como resgate. Por essa
razão, nas casas onde ele não se fez presente, Deus ceifou as vidas
18 ALEIE A GRAÇA

dos primogênitos. Mais tarde, o mesmo Deus ordenou que a


redenção dos primogênitos fosse efetuada a preço de prata. Não
há dúvida de que prata, na Palavra de Deus, é um símbolo da
redenção* A mesma prata foi utilizada para resgatar todos os
levitas quando foram separados para se tornarem os representan­
tes de Israel perante Deus. O capítulo 3 de Números revela todos
os detalhes a respeito dessa redenção. Vejamos Números 3.12-13,
45:

"Eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de


Israel, em lugar de todo primogênito, que abre a madre, entre
os filhos de Israel; e os levitas serão meus, Porque todo
primogênitoé meu: desde o dia em que feri a todo primogênito
na terra do Egito, consagrei para mim todo primogênito em
Israel, desde o homem até ao animal: serão meus: Eu sou o
Senhor.-Toma os levitas em lugar de todo primogênito entre os
filhos de Israel, e os animais dos levitas em lugar dos animais
dos filhos de Israel; porquanto os levitas serão meus: Eu sou o
Senhor."
O número de levitas correspondia, quase que exatamente, ao
número dos primogênitos das outras onze tribos de Israel. A
diferença era de apenas duzentos e setenta e três homens, os quais
tiveram que ser resgatados com prata, sendo o resgate entregue
aos levitas (Números 3.46-51), que eram propriedade exclusiva de
Deus, Isso nos faz lembrar das palavras de Paulo, em 1 Coríntios
6,19-20:
"Acaso não sabeis que o vosso corpoé santuário do Espírito
Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não
sois de vós mesmos? (o grifo é do escritor) Porque fostes
comprados por preço, Agora, pois, glorificai a Deus no vosso
corpo,"
Sim, Deus escolhera os levitas para servi-lO com exclusivida­
de, representando o povo de Israel perante a Sua face, da mesma
forma como tem escolhido cada crente para representá-lO diante
do mundo.
Mas alguém indagaria: Por que Deus escolheu, especifica­
mente, a tribo de Levi para exercer esse ministério? Numa respos­
ta simples, precisamos reconhecer a soberania de Deus; portanto,
Ele poderia ter escolhido a quem quisesse para servi-lO. Em
O Sacerdócio — Generalidades 19

contraste, Deus tem constituído todos os crentes como sacerdotes


em Sua Igreja. Ele é misericordioso e galardoa graciosamente a
todos aqueles que andam pela fé conforme lemos em Hebreus
11 .6 :

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é


necessário que aquele que se aproxima de Deus i:reia que Ele Ç
existe e que se torna galardoador dos que O busqam."

Com base nesse verso, perguntaríamos: como foi que a tribo


de Levi revelou a sua fé no Deus de Abraão, Lsaque e Jacó? Outra
vez faz-se necessário apelar às Conjecturas. Essa tribo, de acordo
como recenseamenfco registrado no livro de Números, era a menor
de todas. Levi tevf: apenas três filhos: Coate, Gerson e Merari.
Ao estudarmos sobre o Tabernáculo, verificamos que os
descendentes desses três irmãos arampavam-se ao lado norte, sul
e oeste da íenda, enquanto os sacerdotes, isto é, aqueles escoJliidos
para servirem nò Tabernáculo, acampavam no l;ido do Oriente,
Arão ê Moisés eram descendentes dc Coate; porém , foram sepa­
rados do restante da família de Coate para esse ministério. Facil­
mente verificamos que essa distinção entre levitas e o sacerdócio
permanecia no tempo de Cristo, conforme SunS próprias palavras
ao relatar a história do Bom Samarítano, regis Irada no capíhilo 10
do Evangelho de Lucas.
Houve uma ocasião em que a tribo de Levi tomou o lado de
Deus contra todas iis demais tribos- Foi após o episodío triste na
história dos israelitas, quando fizeram e adoraram um bezerro de
ouro. O fato se encontra registrado em Exodo 32.26-29:
"Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o
deixara à solta para vergonha no meio dos inimigos, pôs-se em
pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor, venha até
mim ♦Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi,. aos quais
disse: Assim diz o SENHOR, o Dc?us de Israel: Cada um cinja
a sua espada sobre o lado, passai e tomai a passar pelo arraial
de porta em porta, emate cada uma sou irmão,, e cada um a seu
vizinho. E fizeram os filhos dt: Levi segundo a palavra de
Moisés; c caíram do povo naquele día uns três mil homens. Pois
Moisés dissera: Consagrai-vos hoje ao SENHOR: cada um
contra o seu filho, e contra o seu irmão; para que ele vos
Conceda hoje bênção/'
20 A LEI E A GRAÇA
Indiscutivelmente, Arão e os levitas estavam tão envolvidos
nas orgias descritas nos versos anteriores quanto qualquer outra
tribo de IsraeL Mas houve uma diferença essencial: reconheceram
seu erro e escolheram ajuntar-se a Moisés* Esse quadro apresenta
uma lição fundamental para cada crente. Entre nós não há nin­
guém que nunca ofenda a própria santidade de Deus; mas a graça
de Deus é tão abundante que Ele estende a mão a todos os que se
arrependem, É muito oportuno lembrar as pal avras de conforto de
Miquéias 7A 8-19:

"Quem, ó Deus, é semelhante a ti que perdoas a iniqüidade,


e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O
SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer
na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés
as nossas iniqüidades, c lançará todos os nossos pecados nas
profundezas do mar."

Deus afirma claramente em Sua Palavra que escolheu Arão,


seus filhos e descendentes para O servirem no sacerdócio, sejam
quais forem as Suas razões para faz&-lo.
Passaremos agora a examinar as vestes, as atividades e res­
ponsabilidades do sumo sacerdote e dos sacerdotes em gera],
assim como os simbolismos que oferecem à Igreja e aos crentes em
geral. Desejamos ver Jesus!

"A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento


aos simples.... para que o Deus de nosso Senhorjesus Cristo, o
Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação
no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso
coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança nos santos." Salmo
119,130; Efésios U7,18.
Capítulo Dois

A Escolha
do Sumo Sacerdote
Nosso objetivo, ao estud armas sobre o sumo sacerdotie, é ver
a plena revelarão da Pessoa d e Cristo, A Palavra de Deus nos
fornece muitos detalhes do minstério, a posição espirituai, as
vestes, as obrigações, os direitos, etc., do sumo sacerdote do culto
judaico. Em muitas dessas áreas há tipos e símbolos significantes
da pessoa do nosso Eterno Sumo Sacerdote, Não obstante, reco
nhecemoí que não existem tipos perfeitos. Portanto, nem Arão, ou
qualquer descendente dele, poderia representar um quadro per­
feito de Cristo. Apesar disso, é sobremaneira impressionante o
quanto Deus revela das características e ministério do Seu Filho
pela figura do sumo sacerdote- Arão tommi-se a figura de Cristo
ao receber essa posição do próprio Deus,
Até a consagraçâ o de Arão como sumo sacerdote em Israel,
nâo há nenhuma referência bíblica da existência desse ofício. No
entanto, conduímos,. por Gênesis 14,18; Hebreus 5.9-10 e 7.14, que
Melquisedeque era um sumo sacerdote mui to antes do estabeleci­
mento da ordem levítfca, Leiamos:

"Melquisedeque, rei de Salérru trouxe pão e vinho; era


sacerdote do Deus Altíssimo; ,„ (Cristo) tendo sido aperfeiço­
ado, tomou-se o Autor da salvação eterna par a todos os quelhe
obedecem, tendo eido nomeado por Deus sumo sacerdote,

21
22 A LEI EA GRAÇA

segundo a ordem de MlU uisedcque. pois é evidente que


nosso Senhor procede l; de jfudá, tribo o qual Moisés nunca
atribuiu sacerdotes,"

Portanto., importa notar que Cristo não era descendente da


tribo de Levi, nem herdeiro do ofício de sumo sacerdote pela
sucessão humana. Tratam des te aspecto do ministério de Cristo
mais adiante, Ainda assim, o sistema sacerdotal levítico nos
oferece muitas lições valiosas relacionados ao nosso Sumo Sacer­
dote, Jesus Cristo. São Hções bonitas, edificantes e importantes
para compreendermos as riquezas do sistema judaico em relação
ao crente e à Igreja, e, au mesmo tempo, ao conteúdo doutrinário
do Velho Testamento- Todavia, é importante fazer uma advertên­
cia aqui: a Igreja nunca deve ser interpretada como uma mera
extensão do sistema religioso do Velho Testamento^.como alguns
grupos alegam As observações de Paulo, em Romanos 9.1-6,
referem-se ao período que abrange a Igreja no Novo Testamento,
chamado uma nova aliança pela mediação de Cristo. Vejamos a
confirmação em Hebreus 10,15:

"Por isso mesmo, Ele é Mediador da nova aliança, a fim de


que, intervindo a morte para remissão das transgressões que
havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna
herança aqueles que têm sido chamados."

O assunto primordial de toda a epístola aos Hebreus é justa­


mente essa Nova Aliança em relação ao simbolismo da Velha
Aliança, estabelecida por meio da morte, ressurreição e ministério
presente de Cristo* O ji idaísino não era apenas uma religião; era a
revelação da Santidade de Deus que, no futuro, seria plenamente
revelada na pessoa de Seu Filho -
Nos primeiros 2500 anos da história bíblica, não havia ne­
nhum grupo específico designado para servir como sacerdote
diante de Deus. Portanto, por vinte t? cinco séculos não existiu o
ofício de sumo sacerdote. Conforme registrado no capítulo ante­
rior, toda a responsabilidade do sacerdócio caía sobre os pais de
família. Ao ordenar a construção do TabemÁculo, e o Santo dos
Santos no seu interior, tornou-se necessário nomear alguém para
entrar naquele lugar sagrado, representando o próprio Cristo, por
ser o lugar de habitação do próprio Deus entre Seu povo. Repre­
A Escolha do Sumo Sacerdote 23

sentava o acesso à presença do próprio Deus. Tipificava o lugar


onde Cristo habitava antes da Sua encarnação, e onde habita
presentemente, após a Sua ascensão, o eterno lar do Deus Triúno.
Desde a obra redentora de Cristo, esse lugar á franqueado a todos
os que colocam a sua fé em Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote,
que intercede por nós diante do Pai.

A CONSAGRAÇÃO DIVINA
É notável que Arão não se consagrou a si mesmo como sumo
sacerdote. Deus o escolheu pessoalmente, ordenou que Seu servo
Moisés o ungisse. Foi em plena obediência às instruções que Deus
lhe dera, ao se encontrar com o SENHOR no cume do Monte Sinai.
Deus não somente instruiu a Moisés como construir o Tabernáculo,
mas como instituir o sacerdócio para ministrar nele.
Novamente, examinando Hebreus 5.10, citado acima, verifi­
camos que, semelhantemente, Cristo não se consagrou Sumo
Sacerdote. Ele recebeu aquele ministério por determinação do
mesmo Deus Pai que ordenou ungir Arão. Hebreus 5.4-6 e
Filipenses 2,6-11 confirmam isto:

"Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão


quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão- Assim,
também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar
sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: tu és meu Filho, eu
hoje te gerei, como em outro lugar também diz: Tu és sacerdote
para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque,"

" .. .pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como


usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhança de
homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tomando-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o
nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,
e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai."

A Palavra de Deus esclarece que Moisés era um profeta de


Deus (Lucas 24.27). Ele era o intermediário de Deus para receber
24 A LEI E A GRAÇA

e comunicar todos os pormenores da construção do Tabernáculo,


além das demais exigências da lei, que incluía o estabelecimento
do sacerdócio levítico. Mesmo a.^sim, ele foi colocado em segundo
plano na vida espiritual de Israel ao consagrar seu irmão Arão
como sumo sacerdote. A Moisés nunca era permitido entrar no
Santo dos Santos, e nem seq l ier no santuá rio do Tabernácul o, por
não ser descendente de Arão, apesar de ser um levita. Até que o
véu do Tabernáculo fosse rasgado, na ocasião da morte de Cristo,
jamais alguém gozou do direito de entrar no Santo dos Sarttos, à
presença do Deus vivo, fora aquele que representava o nosso
Sumo Sacerdote. Esse representante podia entrar apenas uma vez
por ano, época da festa do Dia da Expiação* Levítico 16, que
estudaremos junto com as demais festas, descreve a ocasião
detalhadamente.

A CONSAGRAÇÃO PÚBLICA

Outro paralelismo entre o sumo sacerdote levítico e Cristo é


que, ao se consagrar Arão como sumo sacerdote, exigia-se a
presença de toda a congregação, A consagração dele foi realizada
diante de toda a nação de Israel, porque, daquele dia em diante,
somente ele poderia representá-la diante de Deus Jeová no Santo
dos Santos;

JJAjunta toda a congregação à porta da tenda da congrega­


ção, Fez Moisés como o SÍiNHOR lhe ordenara, e a congrega-
ção se ajuntou à porta da congregação/' Levítico H.3-4

Quando nosso Sumo Sacerdote Jesus foi consagrado, ofere­


cendo Seu sangue diante do Fai Celeste, certamente todos as
hostes celestiais foram testemunhas. Ao mesmo tempo, aquela
consagração ocorreu diante das multidões, apesar de não enten­
derem o que estava acontecendo. Provavelmente, jamais houve
uma crucificação-, entre os milhares de judeus crucificados pelo
Império Romano, que despertas^e maior curiosidade, que tivesse
assistência maior. Aquela multidão que congregava no Monte
Calvário naquele dia histórico havja acompanhado Seu ministé­
rio, visto os milagres e ouvido as palavras de amor dEIe. Certa­
mente, entre os presentes naquela hora triste — mas triunfante —
havia muitos que foram curados por Ele, ou comeram o pão com
A Escolha da Sumo Sacerdote 25

que Ele alimentara as multidões. Sim, Sua consagração foi diante


dos habitantes dos céus e da terra. O Saímo 40 é um. Salmo
Messiânico, isto éf o asa mito c o SENHOR, e as declarações feitas
nele são do próprio Cristo- Escute o que Ele falou a Seu respeito:
"TCntão eu disse: Eis aqui estou, :io rolo do li vrrç>está escrito
a meu respeito; zigrada-xne fazer <1 tua vontade, Deus meil; 6
dentro em meu cora çnp esta □ tua lei. Proclamei as boas novas
de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu o
sabes, SENHOR, Não ocultei no coração &tua justiça; procla­
mai a tua fidelidade e a tua salvação; mio escondi da grande
congi Ligação."

Pretendo seguir a ordem de f ventos na consagração de Arão,


como se encontram registrada em Levítico 8 e Êxodo 28-29* A
medida que examinarmos cada detalhe, citarei o texto correspon­
dente, Como estarei fazendo um estudo do sacerdócio em geral
num capítulo posterior, desejo concentrar aqui a atenção apenas
no sumo sacerdócio -

A CONSAGRAÇÃO COM ÁGUA

Antes que Arão e Seus filhos pudessem COlücar a vestimenta


sacerdotal, era necessário que fossem lavados com água: Levítico
S5^;
''Então disse Moisés a congregação: isto é o que o SENHOR
ordenou que fiãesse.E fez chegai a Arà í »e seus li ilios, e os lavou
com água."
Importa estudarmos o significado espiritual de Água antes de
prosseguirmos na comparação entre Ara o e Cristo. Há alguns
versos no Novo Testamento que expõem três aspectos igualmente
importantes na tipologia bíblica da água, Todos os três serão
examinados para se estabelecer a nelação entre eles, a fim de
fazermos a devida aplicação do sumo sacerdõcio.
Em primeiro lugar, há d iversostextosbíblicos queindentiScam
água com pessOa e ministério do Espírito Santo. Alguns são: João
4,14 e 1 Coríntios 12,13. Desejo chamar a atenção especialmente na
declaração explícita de João 7.37=39;;

"No último dia, o grande dia da festa (dos tabemáculos),


26 A LEI E A GRAÇA

levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a


mim e beba, Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
Interior fluirão rios de água viva. Isto Ele disse com respeito ao
Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o
Espírito até esse momento não fora dado, porque Jesus não
havia sido ainda glorificado."
Com se aplica esta declaração à consagração de Cristo? Ele, o
próprio Filho de Deus, possui perfeita igualdade com a terceira
pessoa da Trindade. Respondemos que, apesar de Ele ser divino,
nã o iniciou Seu ministério terrestre, nem Seu Sumo Sacerdócio nos
céus, antes que fosse ungido. Vejamos AtoslG.38:
"como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e
poder, o qual andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a
todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele/'
Deus confirmou, com voz audível, essa unção na ocasião do
batismo de Jesus no rio Jordão, ao manifestar a Sua aprovação de
Seu Filho. As Escrituras declaram que houve também um sinal
visível da presença e da aprovação do Espírito Santo, tomando
forma de pomba e pousando sobre Cristo (Lucas 3.21-22). Antes,
então, que Cristo iniciasse qualquer ministério público, foi publi­
camente ungido-
Abro aqui um parêntese para refutar a. idéia de que o batismo
em água confere algum mérito espiritual, ou que seja essencial
para capacitar o batizado para algum ministério ou posição
favorecida diante de Deus, conforme alguns grupos alegam. Cito
como exemplo a doutrina de batismo regenerativo ensinado pela
Igreja Católica Romana e alguns outros. Batismo é um testemu­
nho de identificação com o batismo regenerativo do Espírito
Santo, e um ato de obediência às ordens de Jesus Cristo, Apresento
Romanos 6.3-5 e Ma teus 28.19 para confirmação dessas premissas.
Examinem cuidadosamente esses textos para sua própria
edificação.
Semelhantemente, antes de pôr as vestes sagradas do sumo
sacerdócio, era imprescindível que Arão fosse confirmado diante
da congregação pela lavagem de água.

LAVAGEM PELA PALAVRA


O segundo aspecto de água na Palavra de Deus, como um
A Escolha do Sumo Sacerdote 27

símbolo, é a referenda delrii à Palavra de Deus* Os textos mais


expressivos nesse sentido se encontram em Efiesíos 5.25b-27 e
Salmo 1,2-3:
",„C0in0 também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por tia, para que a santificasse; tcndo-a purificado
por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar
a si mesmo igreja gloriosa, sem mácuía, nem ruga, nem cousa
semelhante, porém santa v sem defeito/'
"Antes o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei
medita de dia e de noite.. Ele á oomo árvore plantada imito a
corrente de águas que, no devido tempo, dá o seu fruto, o cuja
folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedí-
do.”
Os textos citados comprovam que a Palíivra de Deus é repre­
sentada pela figura da <*gua. Sem dúvida, tanto o ministério de
Cristo quanto o ministério do sumo sacerdote da ordem levítica
foram fundamentados na Palavra de Deus, Ambos eram
empossados em obediência às ordens divinas Deus deu instru­
ções exatas e explícitas, de como Arão sei1ia consagrado sumo
sacerdote. Essas ordens deveriam ser seguidas ao pé da letra.
Semelhantemente, Jesus declarou repetidas vezes que a Sua mis­
são era fazer a vontade.: do Seu Pai, isto é, seguir a,s ordens dEJe
{João 6-38; 728).

"Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria


vontade; c sim, a vontade daquela que me enviou-. Jesus, pois,
enquanto ensinava no Templo, clamou, dizendo: Vós nào
somen teme conheceis, mas também sabeis donde eu sou; enão
vim porque eu de mim mesmo quisesse, mas aquele que me
enviou é verdadeiro, aquele a quem vós :ião conheceis/'

Antes que alguém conclua por esse texto que a vinda de


Cristo e a propiciação dEIe por nossos pecados não foram volun­
tárias, desejo chamar a atenção para Filípenses2.6-9. Igualmente,
Arão não escolheu por si mesmo ser o primeiro sumo sacerdote* A
conclusão tipológica é que a lavagem de Arão e de seus filho3 era
uma declaração de submissão e obediência às ordens divinas, Isso
era de inegável importância para que representassem com fideli­
dade ao Senhor como os servos dEIe diante da congregação,
O terceiro aspecto tipológico de água na Bíblia é que ela
28 A LEI E A GRAÇA

representa a pessoa de Cr isto, conforme as próp rias palavras dEIe,


registradas em loão 4.10,14;
JJKeplicou-J he Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem
é o que te pede: Dá-me dt: bebei; Lu Lie pedirLis, e Ele te daria
água viva—aquele, porém, qujL' beber da água que eu lhe der,
nunca mais terií sede, para sempre; pelo contrário, a água que
éu lhe dei será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna

As Sagradas Escrituras não dei xam dúvida de que somente


Jesus pode oferecer a salvação. Obviamente Ele estava referindo-
se a Si mesmo. Não uxiste nenhum outro caminho para entrarmos
na presença de Deus, Cristo, nosso Sumo Sacerdote, representa o
único acesso à presença de Deu^ para qualquer pessoa, seja qual
for a raça, cor ousexo. Todos merecem ouvir as palavras registradas
em Hebreus 4.14-16:

JJTendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo


sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa
confissão. Porque não temos um sumo sacerdote <jue n ão possa
compadecer-st' das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em
todas as cousas, à noíísn semelhança, mas pecado.
Acheguemo-nos, portanto, confiadairtcnte, junto ao trono da
graça, a fim de recebermos misericórdia e achartnos graça para
socorro em ocasião importuna.1'

Semelhantemente, ninguém em Israel podia aproximar-se


de Deus para a expiaçilo do pecado, ou para receber a graça e
misericórdia de Deus, se não por meio do üumo sacerdote, o
representante simbólico do Filho de Eíeus, Apenas a ele foi
franqueada a entrada atrás do véu, no Santo dos Santos, à presença
do Deus Vivo.
Pur conseguinte, houve a necessidade de lavagem pela água
da consagração antes que Arão e seu-- filhos pudessem ministrar.
Essa lavagem não deve ser confundida com .aquela na pia de
bronze, dentro do Âtrio, ao entrarem os sacerdotes na tenda do
Tabernáculo, Aquela er;i simbolismo de purificação para serviço,
enquanto esta era para a consagração ou separação ao SMf^erdócio,
a fim de representar o Senhor diante da congregação. Apenas
sacerdotes com acesso ao Tabernáculo se lavavam na pia de
bronze, O capítulo 5, " A Pia de Bronze", no livro "A Pessoa de
A EscoUm do Sumo Sacerdote 29

Cristo no Tabernáculo", de minha autoria, apresenta um estudo


muito mais detalhado sobre aquele aspecto. Portanto, água sem­
pre simboliza alguma forma de pureza ou purificação divina.
"...Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lava­
gem de água pela palavra." Efésios 5.25b-2ó.
Capítulo Três

As Vestes
Sagradas do
Sumo Sacerdote
Deus especificou exatamente como todos os sacerdotes teri­
am que se vestir para se apresentarem ao serviço dEIe. Este
capítulo tratará apenas das vestes de baixo do sumo sacerdote
por serem importantíssimas. Cada detalhe merece nossa aten­
ção, Creio que há aqui muito simbolismo apresentado que
nos ajudará a conhecer melhor a pessoa do nosso Sumo Sacerdo­
te como Ele aparece no Velho Testamento, Não alego que todas
as vestes tenham significado tipológico, mas creio que ao menos
oferecem, aplicações de grande relevância.
No entanto, é aconselhável observar que nem todos os
eruditos no estudo da Palavra de Deus concordariam com alguns
dos símbolos que serão sugeridos. Basicamente, existem três
escolas de pensamento diferentes quanto à interpretação de tipos
ou simbolismos nas Escrituras. Um grupo simplesmente ignora
ou nega quase totalmente o simbolismo. Para estes, tudo tem
apenas valor histórico. Eles, creio, são os maiores perdedores, pois
existem tantas lições bíblicas apresentadas através de tipos. Outro
grupo interpreta quase tudo em tomo de tipos, muitas vezes
chegando ao ponto do exagero, sem que haja bases sólidas na
31
32 A LEI E A GRAÇA

Palavra de Deus para sustentarem sue;; conclusões. Creio que


pertenço a um terceiro grupo Hste não deixa de colher as bênçãos
a nós apresentadas através de tipos, porém, com moderação,
oferecendo conclusões lógicas ou declarações baseadas exclusiva­
mente na Bíblia. No entanto, se considerarem ou não as premissas
apresentadas como tipos, vale a pena lembrar que lições colhidas
por meio das aplicações da Bíblia servem de igual modo para a
nossa edificação. Se isso não fosse verdade, a maioria das prega­
ções em nossas igrejas perderia .sita razão de ser. Se, porventura,
algum leitor discorda da validade dos tipos destacados neste
estudo, espero que as lições apresentadas ao menos sirvam para
enriquecê-lo no seu entendimento e aplicação da^ Escrituras à sua
vida pessoal. Afinal, o objetivo primordial do livro é o desenvol­
vimento de vidas na sua comunhão com o Senhor para amá IO e
servi- IO melhor.
Conseqüentemente, não deixe de meditar sobre essas coisas,
suplicando ao Espírito de Dtíus que as aplique às suas vidas para
a glória dEIe.
Voltando nossa atenção às vestes sagradas, reparamos que os
capítulos 28 e 39 de Exodo traiam, quase que exclusivamente, da
descrição delas. Além desses dois capítulos, Levítico 8,7-9 descre-
ve o atò de vesti-las. Desejo examinar essas peças individualmen­
te, a fim de descobrir muitos detalhes que caracteri zam a pessoa e
o ministério do verdadeiro Sumo Sacerdote, o Filho Lhiigênito de
Deus. Observação: as peças não São mencionadas em ordem
idêntica nos três capítulos citados. Há, se contarmos as peças
individuais de toda a vestidura, exatamente doze peças feitas de
tecidos. Coincidência? Diria que não, uma vez que havia doze
tribos em Israel e o número doze representa, nas Sagradas
Escrituras, o controle divino sobre o aovemo do povo de Deus.
Jesus escolheu doze apóstolos para disdpular e os incumbiu de
implantar a Igreja dEIe (Mt 10.2-4), Revelou o poder dEIe sobre as
coisas materiais, ao partir do pão e dos peixes para a multidão,
sobrando doze cestos cheios de alimento (Mt 14.20). Haverá doze
portas à entrada da Nova Jerusalém {Ap 21,21). Jesus ju Igará as
nações durante a Sua glorificação no MíIÊhio, através de doze
tronos (Mt 19.28). Elias construiu o altar no Monte Cannelo com
doze pedraSy sobre o qual Deus se manifestou com fogo (1 Rs
18.31). Há muitos outros textos que confirmariam essa premissa.
Bastam esses.
As Vestes Sagradas dü Suma SatitdoÍÉ 33

As doze peças confeccionadas de tecidos para vestir o repre­


sentante dc Cristo no culto judaico sãoí (1) túnica; (2) cinto; (3)
calções; (4) estola sacerdotal; (5) sobrepeliz; (ü) túnica bordada; (7)
cinto bordado; (8) peitoral; (9-10) duas ombreiras; (11) mitra e
(12) um cordão sobre a mitra. Outras peças da vestidura, prepa­
radas com substânciasminerais, serão examinadas separadamen­
te por causa do seu extraordinário simbolismo.

A S VESTES DE BAIXO

Chegou ei hora de colocar as vestes sagradas, verificando


quantas características do Senhor Jesus Cristo são apresentadas.
Jamais alguém que representaria o próprio Jesus como sumo
sacerdote poderia ffütsr com as vestí's apropriadas, designadas
por Deus.
Há três peças de baixo: a túnica., o cinto, e os calções. Antes de
considerá-las individualmente, observemos que todas eram con-
/eedonadas com linho fino, conforme se verifica em Levítico 16.4a
e Êxodo 39.28b:
"Vestirá ele a túnica de linho, sagrada, terá as calças de linho
sobre a pele, dngir-se-á com o cinto de linho... os calções de
linho fmo retorddo/'

Linho fino era sempre branquíssimo. Representa pureza,


santidade. Para confirmar essa alegação, apresento alguns versos
no livro de Apocalipse: Ap 7 .13,14 e 19.7b,8a e 14:

" Um dos anciãos tornou a palavra, dizendo: estes que se


vestem de vestiduras brancas., quem. são e donde vieram?
RfiSpondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, medisse: São
estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras
e as alvejaram no sangue do Cordeiro." **. . . são chegadas as
bodas do Cordeiro, cuja esposa sí mesmo se ataviou, pois lhe
fòi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandescenteepuro.r,e
seguiam-no OS e»érdtos que hã no teu, montando i.a valos
brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro
Esses versos tratam de cenas nos céus, onde não há e jamais
haverá qualquer impureza ou falta de santidade, Certamente,
todos concordarão comigo nesse ponto. Não poderá existir ne­
34 A LEI E A GRAÇA

nhuma dúvida quanto ao significado de branco nas Sagradas


Escrituras, Há, portanto, noa versos citados, uma declaração que
poderia ser mal-interpretada, se não examinarmos cuidadosa­
mente o contexto. Apocalipse 19,7 afirma que a esposa do Cordei­
ro J'a si mesma já se ataviou". Será que nós mesmos podemos nos
vestir de pureza e santidade? Isaías 64,6a e Romanos 3.10 e 12a
afastam totalmente essa hipótese:
" mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças como trapo de iniundícia..." "Como está escrito: Não
há um justo, nem sequer nm...todos se extraviaram a uma se
fizerem inúteis,"
Nosso esclarecimento se encontra em Apocalipse 19.8, na
declaração: "foi-lhe dado vestir-se de linho finíssimo". Apenas o
noivo, o próprio Cordeiro, pode nos tomar puros e santos. Por ser
assim, as peças brancas que cobriam o corpo do sumo sacerdote (e
dos sacerdotes) representam a própria pureza e santidade de
Cristo- Ninguém pode entrar na presença de Deus de outra forma,
Comesse pensamento estabelecido vejamos as peças índividuais.

A Túnica

Há quatro pa Iavras, em hebraico, traduzidas como "túnica"


em nossos Bíblias. A palavra aqui empregada, Kethourth, refere-se
a uma roupa destinada a cobrir a nudez, sendo uma roupa de
baixo. Era uma peça comprida, cobrindo o corpo por completo.
No entanto, examinando alguns dos textos onde se encontra
empregada a palavra, concluímos que poderia ser usada como
uma roupa comum, Essa palavra descreve as vestes com que Deus
cobriu a nudez de Adão e Eva, no jardim do Éden (Gn 3.21).
SemeLhantemente, é usada para a túnica ttil^r que J^icó fez para o
seu filho José (Gn37,3) As túnicas que Ana fazia anualmente para
seu filho Samuel (1 Sm 2.19) são descritas pela mesma palavra, No
entanto, no caso do sumo sacerdote, era sempre uma roupa de
baixo, O equivalente em grego é chiton, Iíá uma ilustração excelen­
te em Mateus 5.40:
". . . e ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica,
deixe-lhe também a capa,"
As Vestes Sagradas âo Swmo Sacerdote 35

Era costumário pedir a peça de menor valor, ma* Jesus


ensinou qtEt1, se pedirem a roupa de baixo, deixe-lhe também a
capa de cima,
Foi precisa mente por essa túnica de baixo, mencionada entre
as vestes do Senhor Jesus, que os soldados lançaram sortes na
ocasião da Sua crucificação. (Joò.o 19.23,24).

O G nto
A tmiuiíi era segura na cintura por um cinto de linho» A
palavra hebraica é abnet. Esse cinto sempre faz par tu das vestes
dos sacerdotes levíticos nas Escrituras, com a exceção de Isaías
22.20,21, que se refere à faixa de Eliaquim, um dos antecessores
de Cristo na Unha davídica. Há outras palavras hebraicas empre^
gadas nos demais lugares onde a palavra "cinto" aparece nas
nossas traduções. Até hoje, muitos povos do Oriente Médio se
vestem com túnicas e cintos ct >ma mesma finalidade. Por essas
peças serem totalmente brancas, sugerem que não as vestiam
apenas como símbolns de santidade e pureza, mas cingiam-se
também com essas virtudes como um ato de segurança. Simulta­
neamente, havia uma terceira peça que completava a vesti dura de
baixo para cobrir a nudez*

O s Calções

A palavra mikhncsai aparece apenas cinco vezes na PaJavra de


Deus; duas em Êxodo, duas em Levítico, e uma vez em Ezequiel
44,18. Em todas, a referência é ao sacerdócio; o que não significa,
necessariamente, que outras pessoas não usassem nenhum tipo de
calçao. Aliás, há polêmica em lomo dessa peça em relação à morte
de Cristo na cruz. Deixaram nosso Senhor realmente nu, o vestia-
se com esses calções. Tradicionalmente avistamos quadros e o
crucifixo da igreja Romana, onde há um pano envolto ao corpo de
Crinto. Não há nada nas Escrituras para defender essa hipótese.
Nada indica que sobrou alguma peça de roupa no corpo do nosso
Senhor, Ele estava tomando sobre Si toda a vergonha do pecado.
Apresento o comentário de Marcos 15.24 para nossa avaliação,
que nos dá a entender que Jesus estava realmente nu, destacando
a$ palavras wcada tim";
As Vestes Sagradas do Sumo Sacerdote 37

Nosso es tudo sobreas vestes debaixo seria incompleto senão


fosse considerado o significado de nudez na Palavra de Deus.
Afinal, a Bíblia declara que uma das funções especificas dos
calções era justamente a de cobrir essa nudez. Obviamente, não há
nenhuma tipologia aplicável ao Senhor Jesus, além do fato de que
ninguém poderia representar o imaculado Filho de Deus com
qualquer semelhança de impureza, Não sabemos praticamente
nada relativo às vestes que o Homem Jesus vestia, mas sabemos
que não eram tipológicas, porque Ele é o Antítipo. Sendo assim,
vejamos novamente Exodo 28.42a:

"Faze-lhes também calções de linho para cobrirem a pele


nua../'

Recordamos que ao criar o homem Deus não o vestiu. Até


Adão e Eva comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal,
não havia mal nenhum em estarem nus. Mas assim que desobe­
deceram às ordens específicas de Deus e comeram daquela árvore,
sua nudez tornou-se vergonhosa para eles mesmos. Leiamos em
Gênesis 2.25 e 3,7:

" Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e


não se envergonhavam. Abriram-se, então, os olhos de ambos;
e percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira, e
fizeram cintas para si."
Deus criou o casal perfeito, ã Sua própria imagem, para que
pudesse ter comunhão com Ele. O fato da sua nudez não era
pecaminoso, enquanto permanecia em comunhão com Ele, como
realmente não o é hoje em dia na privacidade dos nossos lares. No
entanto, desde o dia em que comeram, em todas as referências
bíblicas à nudez de pessoas diante de terceiros, pecado e vergonha
são implícitos ou explícitos. De igual modo, desde aquele dia o
homem tem tentado, por seus próprios esforços, encobrir a sua
nudez espiritual diante de Deus* Porém, esses esforços são tão
inúteis diante de Deus quanto as vestes que Adão e Eva fizeram.
A única maneira de qualquer humano poder se vestir da pureza e
justiça de Deus, é por meio dEIe que o veste com as vestes lavadas
e alvejadas no sangue do Cordeiro.
Por este capítulo tratar especificamente do sumo sacerdote.
36 A LEI EA GRAÇA

"Entao O crucificaram, e repartiram entre si as vestes dele,


lançando-lhes sortet, para ver o que levaria cada um,*

Mas parece significativo que esse tipo d ç veste pertencia


exclusivamente ao sacerdócio. Pelo menos, no sacerdócio, ela
jamais poderia deixar de ser usada- Antes de tirar conclusões e
fazer aplicações espirituais dessas três vestes, desejo mduír aqui
Ezequiel 44.1 í:

"Tiaras de linho lhes estarão sobre a^; cabeça, i? calções dií


linho sobre as coxas; não se cingirão a ponto de lhes vir suor."

Confesso que gesto muito da última advertência desse verso


e considero uma pena que não st observa hoje. Certamente,
dispensaria muitas formalidades praticadas nos cultos atuais,
quando, seja qual for a temperatura, è. exigido estar vestido de
paletó e gravata antes de ministrar a Palavra de Deus.
Por que Deus faz uma advertência sobre o suor? Permitam-
me fazer uma sugestão, A palavra aparece apenas mais uma vez
no Velho Testamento e uma vez no Novo Testamento. Advinha
quando? Correto! Foi na ocasião em que Deus pronunciou o
castigo sobre Adão (Gêneses ?.17b-19), t; durante a oração sacerdo­
tal de Cristo no Getsêmani (Lucas 22.44b):

"...maldita é a terra por tua causa:: em fadigas obterás dela


o sustento durante os dias de tua vida, Ela produzirá também
cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do
rosto comerás Oteu pâo, atiá que tornes ã lerra, poi a deía foste
formado: tu és pó e ao pó tomarás/'
"E aconteceu que o se u suor se tomou como gotas de sangue
caíndo sobiíí a terra."
Percebemos facilmente, no primeiro texto, que o suor faüia
parte das conseqüências do pecado, enquanto no segundo, suor
relaciona-se com o preço que nosso Sumo Sacerdote pagou em
intercessao pelo pecado. Em termos científicos, sabemos que,
entre outras funções, a transpiração representa uma maneira pela
qual o corpo elimina impurezas em conjunto com os rins. Parece
que, nos casos sob consideração, há sempre alguma relação com
impureza, ou pecado. A presença de suor contraria o simbolismo
de pureza exigida do sacerdócio levítico ao representar C risto.
38 A LEI E A GRAÇA

vou expandir nossas considerações a respeito da nudez, ao


estudarmos as vestes simbólicas dos sacerdotes. Não podemos
esquecer, contudo, que Deus estava escolhendo Arão, um simples
homem, humano e pecaminoso como os demais, para ser o
intercessor dEIe, apresentando o sangue diante do propiciatório
no Santo dos Santos, no Tabernáculo; e, como tal, nunca seria
aceito sem. que a sua nudez fosse coberta.
Arão era o tipo do próprio Cristo no ministério que exercia.
Todavia, não nos esqueçamos de que o nosso Sumo Sacerdote não
é descendente da tribo de Levi, mas de Judá. Jesus, o homem,
nunca teria o direito de entrar no Santo dos Santos, e nem sequer
no lugat Santo do Tabernáculo (Hebreus 7,14):
"Pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judâ, tribo
à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes."

Ele exerce o ministério de Sumo Sacerdote diante do trono de


Deus por ser de uma ordem superior, semelhante à do sacerdote
Melquisedeque. Hebreus 7.11 diz:
"Se, portanto, a perfeição houvera sid o median te o sacerdó­
cio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que
necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdo­
te, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse contado
segundo a ordem de Arão?"

Na realidade, é mais correto dizer que Melquisedeque era um


tipo mais exato do Sumo Sacerdócio de Cristo, Todos os três
primeiros versos de Hebreus 7 descrevem esse Melquisedeque;
mas desejo citar 7.2b e 3:

"(primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também


é rei de Salém, ou seja rei de paz; sem pai, sem mãe, áem
geneologia; que não teve princípio de dias,nem fim de existên­
cia, entretanto feito semelhante ao Filho de Deus), permanece
sacerdote perpetuamente."

Será que isso era uma cristofania no Velho Testamento, isto é,


uma aparência do próprio Cristo? Há pessoas que sugerem essa
possibilidade por causa desta declaração: "permanece sacerdote
perpetuamente". Todavia, a genealogia de Cristo nos é fornecida
nas Escrituras desde Adão, e certamente não há um fato mais
As Vestes Sagrados do Suato Sacerdote 39

conhecido em todo o cristianismo do que o de ser Sua mãe, Maria,


da cidade de Nazaré. Não há nenhuma maneira bíblica para
determinarmos a identidade mais exata de Melquisedeque do que
os versos citados. O aparecimento dele, registrado em Gênesis
14,18-20, não nos oferece maiores esclarecimentos. Uma coisa é
certa; o aparecimento de Melquisedeque aconteceu quinhentos
anos antes do estabelecimento do sacerdócio levítico. Na ocasião,
Abraão reconheceu a superioridade e au toridade de Melqui sedeque
como sendo o sacerdote do Senhor, sem hesitação alguma. Obser­
vamos, himbém, que Abraão recebeu a bênção desse sacerdócio,
Quem pode, realmente, nos oferecer bênçSos além de Cristo? Ou
quem mais poderia ser chamado rei de justiça e rei da paz, cujo
sacerdócio ê eterno?
O quií importa é que Hebreus7*ll o confirma como sendo um
tipo de Criüto no Seu sacerdócio. Deus nos forneceu um tipo sem
genealogia humana para ilustrar mais nitidamente a existência
eterna do nosso Sumo Sacerdote. Nesse sentido, Arão jamais se
qualificaria.

““Porquanto há um só Deus e uni só Mediador entre Deus e


OS homens, Cristo Jesus, homem/'' 1 Tm 2.5
Capítulo Quatro

As Cores das
Vestes de Fora
Examinarei as cores do restante das vestes de tecidos do
sumo sacerdote. Há mais nove peças, contando as duas ombreiras
individualmente, completando nossa lista de doze. Essas peças
eram todas expostas à congregação^ Havia ocasiões em que era
exigido o uso de todas elas. Não farei aqui comentários sobre as
peças ornamentais, feitas de substâncias minerais.
Pretendo examinar cada peça separadamente, mas antes
desejo apontar aquilo que todas tinham em comum. Refiro-me às
cores e ao material empregado e não à finalidade ou função de
cada uma,
A lista de materiais fundamentais a serem empregados en­
contra-se em Êxodo 28.5:
"Tomarão ouro, estofo azul, púrpura, carmesim, £ linho
fino."
A tipologia de ouro será tratada j u nto com os outros materiais
fora os tecidos; no momento, desejo apontar como foi aplicado no
feitio dessa vestidura sagrada. Verificamos isto em êxodo 39.3:
"De ouro batido fizeram, lâminas delgadas-, c as cortaram
em hos, para permearem entre o estofo azul, a púrpura, o
carmesim e o linho fino da obra de desenhista."
41
42 A LEI E A GRAÇA

Sem dúvida, o brilho daquele ouro se realçou no meio daque­


las cores lindíssimas, Nenhum outro teve vestes tão trabalhadas e
lindas como essas do :iumo sacerdote. Vestido em todo esse
esplendor, ele seria destacado e plenamente identificado em todo
lugar por onde andasse. Não poderia ser de outra maneira para
aquele que era o principal representante e o símbolo do FUho de
Deus entre os israelitas. Portanto, deixando para estudar sobre o
ouro em ocasião oportuna, vamos examinar os demais artigos
nomeados aqui-

O Linho Fino e Retorddo


Estudamos sobre o Unho fino no capítulo anterior. Esse 1inho
branco, que representa pureza e santidade, era exigido nas peças
de baixo que não seriam vistas por ninguém. Não obstante, era
necessário que se apresentasse com a mesma pureza e santidade
exteriormente. Em outras palavras, essa condição representava
não apenas o que é patente aos othos humanos, mas ao que Deus
vê* Afinal, nunca faltou perfeita santidade e pureza até nos
pensamentos e sentimentos de Jesus.
Essa necessidade não se aplica apenas ao sumo sacerdote,
mas aos sacerdotes também, comp veremos. Observamos aqui a
importância do linho em conjunto com os outros materiais empre­
gados nas vestes ex temas, uma vez que não aparece isoladamente
nas vestes visíveis do sumo sacerdote, A mitra era a única peça
externa totalmente branca, mas ela era semicoberta com a lâmina
de ouro e o cordão a^ul que a segurava no lugar- Bítsa lâmina é
conhecida também por coroa {cf. Ex 29,6).
Além do linho fino e fios de ouro, Deus ordenou que a estola
sacerdotal e o cinto apresentassem as cores azul, púrpura e
carmesim, Êx 28.5-8;
"Tomarão ouro, estofo azul, púrpurn, carmesim, e linho
fino, e farão a estola sacerdotal de ouro, estofo azul, púrpura,
carmesim e linho fino retorcido (quadriculado), obra esmera­
da- Terá duas ombreiras que se unam As suas duas extremida­
des, e assim se unira- E o cinto de obra esmerada, que estará
sobre a estola sacerdotal será de obra igual, da mesma obra de
ouro, estofo a/uL púrpura, carmesim e linho fino retorcido.”
Importa fazer um estudo cuidadoso do significado dessas
As Cores das Vf$tes de Fora 43

três cores e da maneira como são representativas da pessoa de


Cristo. Não eram indicadas simplesmente por acaso, mas para
que cada uma delas revelasse algum aspecto da vida e ministério
do verdadeiro Sumo Sacerdote que haveria de vir. Talvez o povo
de Israel nunca tenha chegado a entender a razão e importância
das cores, mas, graças a Deus, a mensagem completa de Deus à
humanidade nas Sagradas Escrituras apresenta muitos textos que
destacam ou sugerem essas cores, permitindo-nos chegar a con­
clusões declaradas ou lógicas sobre o significado de cada uma
delas.

Azul
Para adquirirmos uma noção do significado e importância
da cor azul é essencial verificar alguns textos bíblicos onde essa
cor aparece ou é sugerida. Observaremos a ocasião, as afirmações
e o contexto. Antes, porém, desejo lembrá-los de que muitas
características de Deus nos são reveladas, ou confirmadas, pela
natureza. Jesus transmitiu ao povo muitas lições importantíssi­
mas fazendo referências a objetos da natureza como os lírios, os
pássaros, a colheita, etc. Por isso, creio ser perfeitamente válido
tirarmos certas conclusões lógicas por meio da obra de criação
universalmente conhecida.
Quem entre nós nunca observou que os céus parecem azuis?
Igualmente, a Palavra de Deus declara muitas vezes que os céus
representam a habitação de Deus e de todos aqueles que Lhe
pertencem, Foi aos céus que Cristo voltou ao terminar Seu minis­
tério de redenção, Atosl.9-10:
"Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista
deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olSShos; e esta nd o eles
com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois
varões vestidos de branco se puseram ao lado deles/'
A palavra céu, ou céus, aparece mais de trezentas vezes no
Velho Testamentoe mais de duzentas e trinta no Novo Testamen­
to. Refere-se, quase todas as vezes, à habitação de Deus, ou ao
lugar de onde veio alguma manifestação ou provisão dEIe. Um
verso muito expressivo, que confirma essa alegação, encontra-se
em Salmo 19.1:
44 A LEI E A GRAÇA
"Os ccus proclamam a glória de Deus e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos."

As Escrituras nos asseveram que Deus providenciou do céu


o maná para a alimentação de Israel no deserto; que há muitas
manifestações de Deus do céu registradas tanto no Velho Testa­
mento quanto no Novo Testamento; que nosso Senhor Jesus veio
do céu para redimir os pecadores; e que os santos serão levados
ao céu. Não deveríamos estranhar a súplica de Moisés nem a
indagação de Davi, conforme Deus registrou em DeuteronÔmio
26-15 e Salmo 8.7-8:

"Olha desde a tua sanla habitação, desde o céu, e abençoa o


teu povo, a Israel, c a terra que nos deste, como juraste a nossos
pais, terra que mana leite e mel,"
'‘'Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a
lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem que dele te
lembres? e o filho do homem, que o visites?"

Mateus 5.34 declara que o céu é "o trono de Deus".


A palavra azul não aparece nem uma única vez no Novo
Testamento. Contudo, aparece quarenta e oito vezes no Velho
Testamento, e em apenas seis vezes não se refere direta ou indire­
tamente ao culto judaico e ao povo de Deus que representava o
Senhor diante das nações pagSs; refere-se a um povo que pertence
ao Deus dos céus, e as vestes testemunhavam esse fato. É, sem
dúvida, a cor celestial.

Púrpura
Essa não é uma cor primária. É o produto da combinação de
azul com vermelho. As referências bíblicas à púrpura sugerem
que simboliza a realeza terrena. É mencionada entre as riquezas
descritas no palácio do rei Assuero (Ester 1,5). Consta, em Juizes
8.26, que os reis midianitas vestiam-se de púrpura. Belsazar
prometeu vestir de púrpura e entregar a terça parte do seu reino
a qualquer pessoa que pudesse interpretar o sonho dele (Dn 5).
Essa cor é mencionada 37 vezes no Velho Testamento, das quais 26
são relacionadas com o Tabernáculo ou o Sumo Sacerdote. Tanto
um como o outro eram representantes do reino de Deus entre Seu
As Cores tios Ve$tt$ de Font 45

povo na terra. Esse significado parece ser confirmado no Novo


Testamento, ria ocasião da humilhação pública de Cristo antes da
Sua crucificação. Marco» 15.17-20 diz:
"Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espi­
nhos, lha p Liserain na cabeça. E osaudav am, dizendo:Salve, rei
dosjudetrs! Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiamnele
e, pondo-se de joelhos, o adoravam" (cf. João 19.2-5),
A palavra púrpura aparece nove vezes no Novo Testamento.
Em todos os casos o contexto indica riquezas materiais ou reinos
terrestres. Ao examinar a origem da substância empregada para
tingir essa cor é fácil entender a razão. O nome Canaã significa "a
terra da púrpura". No entanto, não existia anilina de cor púrpura
naquela terra. Era importada de Creta e da Fenicia, extraída de
uma pequena glândula de um tipo de lesma ou caracol do mar,
dois espécimes da mesma família genética, sendo comuns àquela
região. Até a palavra púrpura, na língua grega, deve a sua origem
a esse molusco. Era extremamente caro e totalmente além do
poder aquisitivo do povo em geral. De fato, havia regiões onde o
povo comum era proibido de vesti-la. Por seu valor, torna-se um
belo tipo da preciosidade do nosso Sumo Sacerdote eterno. Por
isso não estranhamos a exigência da parte de Deus para que fosse
empregada no feitio das vestes do sumo sacerdote.

Carmesim
A terceira cor estipulada para a confecção da vestimenta
daquele que representaria Cristo diante do povo e diante Deus no
Santo dos Santos era o carmesim. O corante era obtido de uma
maneira extremamente interessante. Aliás, até o dia de ho^e, o
mesmo processo é utilizado para certos fins, principalmente cos­
méticos, medicamento®, produtos alimentícios, etc. A própria
palavra carmesim designa um inseto cujo nome cientifico é iíex
0occifera. A cor está presente apenas nos ovos da fêmea, e neces­
sita-se dos ovos de aproximadamente 150 mil fêmeas para a
produção de um quilo de corante.
Portanto, é de extrema importância buscar, na Palavra de
Deus, o significado dessa cor. E não é nada difícil descobrir!
Contrário ao ensino tradicional de que o pecado é pre to, 1saias 1,18
declara:
46 ALEI EA GRAÇA

"Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os


vossos pecados são como a escarlate, eles se tornarão brancos
como a neve; ainda que são vermelhos comõ o carmesim.,, se
tornarão como a lã.'J
O que vermelho, escarlate e carmesim têm em comum? A
resposta é simples: todas essas palavras realmente descrevem a
mesma cor. E o que significa essa cor no verso acima? O preço do
pecado ou um estado pecaminoso! Serã qui? existem mais evidên­
cias nas Sagradas Escrituras de que vermelho representa mesmo
pecado? Convido os leitores â estudarem o capítulo 13 de Levítico.
Vejam alguns versos que confirmam esse pensamento, Levítico
13.14-15:
"Mas no dia que aparecer nele rame viva (vermelha), será
imundo. Vendo, pois, o sacerdote a carne viva, declará-lo-ã
imundo; a came viva é imunda; é lepra "

Lepra, na Palavra de Deus, ê sempre símbolo de pecado,


Houve diversas ocasiões, na história de Israel, em que Deus
castigou o pecado de pessoas com a praga de lepra.. Lembram-se
de Moisés, discutindo com Deus (Exodo 4.6); ou de Miriam que se
queixou contra a esposa e a autoridade de Moisés (Números
12.10)? Recordamos, também, os casos do rei Azadas (2 Reis 15.5)
e do rei Uzias (2 Crônicas 26-20,21). Jesus, ao curar o leproso
(Mateus 8-2-4) exigiu deste que fizesse a oferta de purificação "que
Moisés ordenou" (Levítico 14.1-32). Essa oferta demandava o
sacrifício de vida e o derramamento de sangue. Por conseguinte,
mais uma vez percebemos que vermelho tipi/ica o pecado por
associação.
Desejo introduzir outros textos para melhor compreensão do
significado da cor vermelha. Apocalipse 6.4; 12,3; 17.3:

"E saiu outro cavalo, vermelho; i1 ao seu cavaleito foi-lhe


dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns
aos outros; também lhe fc] dada uma grande espada."
"Viu-se também outro sinal no céu., eeis um dragão, grande,
vermelho, com sete c a b e ç a dez chifres e, nas cabeças, sete
diademas"
^Transportou-me o anjo em espírito a um deserto, e vi uma
mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes
de blasfÊmia, com sete cabeças e de£ chifres."
As Cores das Vestes de Fora 47

A cor vermelha, em todos esses versos, está ligada diretamen­


te a uma personageni maléfica, ou seja, ao próprio Satanás ou a um
representante dek.
NSo parece interessante que a ideologia política humana,
chamada comunismo, que se diz atéia e que nega a existência de
Deus, tenha escolhido a cor vermelha para seu estandarte? Não é
nada estranho, considerando o significado da cor nas Escrituras.B
uma ideologia de origem satânica,
Agora pergunto; qual foi o preço pago por nossos pecados?
Foi o sangue vermelha que verteu das veias do nosso querido
Salvador, pendurado na cruz de Calvário. (Sangue azul não passa
de uma concepção humana). Eis dois versos que revelam quanto
■custou: 2 Coríntios 5,21 e Hebreus 9,22:
J' Aquele que nâo conheceu pecado, ele o fez pecado por nós;
para que nele fôssemos feitos justiça de Deus/1
"Com efeito, quase todas as cousas, segunda a lei, se puri­
ficam com sangue; e sem derramamento dc sangue não há
remissão,
Jamais teríamos a audácia de sugerir que o sangue de Cristo
fosse contaminado. Mas não deixamo.n de notar que Ele "se fez
pecado", isto é, tomou nossos pecados sobre Si, E patente, então,
que as vestes do sumo sacerdote nunca revelariam a importância
do sacrifício que Jesus fez por nós, para tomar-se nosso Sumo
Sacerdote, &e faltasse o carmesim.

Resumo
Ao encerrar o estudo sobre as cores das vestes, importa levar
em conta certos fatos científicos com relação a elas, isto é, cores (e
toda ciência verdadeira é de origem divina),
As milhares de tonalidades reconhecidas pelos olhos huma­
nos são produzidas pela mistura de azul, amarelo e vermelho.
Deus exigiu o emprego do azul, púrpura e carmesim para vestir o
sumo sacerdote. O verde, uma cor binária (composta de dois
elementos), é obtida pela mistura de amarelo com azul; não é
mencionado especificamente, mas esta implícito pelo fato mencio­
nado adma. Poressa razão, desejo fazer uma observação parentética
em relação à cor verde.
Há um verso clássico em Salmo 23*2:
48 A LEI E A GRAÇA
"Ele me fiz; repousar em pastos verdejantes/'
Na sua relação bíblica com o povo de Deus, trata-se de
prosperidade, tranqüilidade e frutificação; manifestações da gra­
ça e da misericórdia de Deus, Olhemos o Salmo 52.8, Oséias 14.S
e Jeremias 17.7,8;
" Quanto a mim, porem, sou como a. oliveira verdejante na
casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para tendo o
sempre."
"Ó Efraim, que lenho eu com os ídolos? Eu le ouvirei e
cuidarei de ti; sou como o cipreste verde; de mim se acha o teu
fruto/'
"Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é
o Senhor. Porque ele ê como a árvore plantada junto às águas,
que estende as suas raízes para o ribeiro c não receia quando
vem o calor, mas a sua folha fíçíi vende; e no ano de secjuidão
não se perturba nem deixa de dar fruto."

Nào há frutificação, tampouco prosperidade, na vida do


povo de Deus sem a manifestação graciosa da misericórdia do
Senhor. Sem essas virtudes divinas Arão e seus descendentes
jamais teriam sido escolhidos.
'Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é so­
bremaneira elevado, nHo o posso atingir." Salmo 139,6
Capítulo Cina

As Vestes
Sagradas Visíveis
Agora estamos prontos para considerar as vestes d o su m o
Sacerdote visíveis à congregação na maioria das ocasiões em que ele
exercia o seu ministério representativo de Cristo. Levítico 2&2-4.

"Farás vestes sagradas para Arão, teu irmão, para glória c


ornamento. Falarás também a todos os homens hábeis>a quem
enchi do espírito de sabedoria, que façam vestes para Arão
para consagrá-lo; para que me ministre o ofício sacerdotal."

Notamos, nesses versos, fatos de suma importância: (1) as


vestes são chamadas sagradas, isto é, separadas, significando que
ninguém mais poderia se vestir da mesma maneira; (2) de­
monstrariam "glória e ornamento". Como ninguém além d e Deus
é digno de receber glória, a tipologia é óbvia; (3) teriam que ser fei­
tas somente por homens habilitados, a quem Deus havia en­
chido do "espírito de sabedoria", e não eram desenhadas por
mortais; (4) eram vestes de consagração individual; e (5) Deus
Ktava indicando um ministro (servo) dEIe para executar a função
«Mácerdote. Encontramos o antítipo em Marcos 10.45e Fi lipenses
2.7,8:
"Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido.
49
A LHEACRAÇÁ

mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos,"


"Antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de
servo, tomando-se em semelhança de homens; e reconhecido
em figura humana, a si mesmo se humilhou, tomando-se
obediente até à morte, e morte de cruz "

Contando as duas ombreiras como peças separadas (que de


fato eram), restam-nos nove peças para examinar. Cada peça teve
que ser confeccionada exatamente de acordo com as instruções
divinas. Notamos, no estudo sobre o Tabernáculo no deserto, que
nenhuma alteração seria aceita, em detalhealgum, aoprepararem
aquela construção que fora feita para a habitação de Deus no meio
do Seu povo. Não ê possível barganhar com Deus. As instruções
dEIe devem sempre ser seguidas "ao pé da letra". Não hã
excessões para ninguém, e nunca haverá, por ser um princípio
sagrado. Oxalá o povo de Deus nos nossos dias reconhecesse essa
verdadeí Era assim com as vestes. Cada peça era descrita
detalhadamente para que náo houvesse nenhuma dúvida de
como deveria ser feita. Isto, em si, sugere que houve algum
simbolismo importante demais nas vestes, para que sofressem
alguma alteração no feitio.
As peças que serão consideradas neste capítulo são; túnica
i bordada, sobrepeliz, estola sacerdotal, cinto bordado, peitoral,
duas omb rei ras, mitra, cordão sobre a mitra. Nosso estudo seguirá
essa ordem, por sugerir a ordem em que eram vestidas. O propó­
sito é de compreender o significado das peças cm si e das instru­
ções específicas para o feitio de cada uma, Exodo i9:S.6

" depois tomarás as vestes, e vestirás a Arão da túnica, da


sobrepeliz, da estola sacerdotal e do peitoral, e o cingirás com
o cinto de obra esmerada da estola sacerdotal."

TÚNICA BORDADA

Ao estudarmos sobre as túnicas que compunham uma parte


das vestes dc baixo, verificamos que elas serviam para cobrir a
nudez, sendo aquilo que era aparente aos olhos humanos; eram
totalmente brancas, Portanto, o sumo sacerdote vestia uma segun­
da túnica (hoje conhecida por manta) que escondia totalmente as
vestes de baixo, executada com fios de ouro batido, estofo azul,
As Vestes Sagradas Visíveis 51

púrpura, carmesim, e linho fino retorcido (cf. Êxodo 28.4-fr e


39*1-2).
Levítico S.9 refere-se a um cinto por cima da túnica, mas
pateoe-nos que se está referindo à túnica de baixo e não a esta de
cores, peio simples fato de que há outro cinto mencionado no
mesmo verso.
Ao aplicarmos os símbolos desses materiais, concluímos que
o conjunto simbolizava Cristo da maneira como era visto pelos
homens na Sua encarnação. Ele era sem pecado, puríssimo! Sua
origem celestial é indiscutível! Sua realeza terrestre foi declarada
por Filatos, e Seu reino milenar é profetizado repetidamente na
Palavra de Deus. Por último, mas com igual ou maior importância,
Ele tomou sobre Si os nossos pecados, identificando-Se com a raça
humana pecaminosa, derramando o Seu sangue para resgatá-la,
O ouro, como veremos depois, declara a Sua origem divina* Que
quadro lindo! No entanto, sobre essa túnica havia outra peça
lindíssima chamada sobrepeliz* A descrição é um pouco longa,
mas pretendo incluir tudo para facilitar as comparações e cumtn-
tários que desejo fas.vr sobre ela, Êxodo 39,22-26:

"Fez também a sobrepeliz da estola sacerdotal, do obra


tecida, toda de ratofo assuí. No meio dela havia uma abertura;
eradebruada como abertura de uma saia de malha,para quese
não rompesse. Em toda a orla da sobrepeliz fizeram romãs de
estofo azul, carmesim e 1inho retorcido." (De acordo com28.33,
as romãs eram de estofo azul, púrpura e carmesim), "Fizeram
campainhas de ouro puro, e as colocaram no meio das romãs
em toda a orla da sobrepeliz; uma campainha e uma romã,
outra campainha e outra romã, em toda a orla da sobrepeliz,
para fie usa r ao ministra r; segundo oSenhor ordenara a Moisés/'
Possivelmente, é a veste mais tinda de todos os tempos, e
certamente uma das mais trabalhadas rA i greja romana dos nossos
dias tenta imitar a peça usando um mantelete branco por cima da
manta, mas isso revela a inferioridade da imitação, comparada
com a beleza da sobrepeliz.
Não há necessidade de repetir as observações sobre as cores
empregadas. Desejo, no entanto, chamar a atenção para o fato de
que a sobrepeliz era totalmente azuí, reforçando a tipologia de
Caráter celestial. Apesar do reino terrestre prometido a Israel, o
propósito e a promessa divina é que todos os salvos gozarão a
52 A LEI E A GRAÇA
eternidade na Sua presença. Apesar de Jesus ter tomado sobre Si
a forma de homem, Seu eterno lar sempre foi e sempre será o céu.
Foi nesse sentido que Ele falou aos Seus discípulos, em João 14.2,3:

"Na casa do meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora,


eu vo-io teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E quando eu
for, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
mesmo, para que onde eu estou estejais vós também."

Por que romãs e campainhas? Será que existe algum simbo­


lismo que nos ajudará a entender melhor o significado desse
quadro? Creio que sim! Em primeiro lugar, devemos procurar
descobrir na Patavra Sagrada a importância tipológica das romãs.
A palavra romã aparece trinta vezes no Velho Testamento e
nem uma vez no Novo Testamento. Quase todas as vezes que é
mencionada, há uma relação com o culto judaico. Por conseguinte,
para obtermos alguma idéia do simbolismo, é necessário conside­
rar alguns textos que não se referem ao sacerdócio, ou ao templo.
Há seis referências às romãs no livro de Cantares de Salomão. Em
quatro instâncias, nesse livro alegórico que pinta um quadro
simbólico de Cristo e Sua Igreja, quem fala é o esposo, i.e., Cristo.
Nas outras duas referências, o sentimento da esposa é expressado.
Seguem dois exemplos, o primeiro do esposo, o segundo da
esposa. Cantares de Salomão 4.13; 6.11:

"Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos


excelentes.. "
"Desci ao jardim das nogueiras para mirar os renovos do
vale, para ver se brotavam as vides, se floresciam as romeiras,"

Deus prometeu levar Seu povo a Canaã, uma terra que


manava leite e mel ou, em outras palavras, a fartura. Há duas
referências àquela terra onde a romã é mencionada; desejo indul­
tas aqui para confirmar a nossa conclusão sobre o significado da
romã- São: Números 13.23; DeuteronÔmio S.S:
" Depois vieram até o vale de Escol, e dali cortaram um
ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois
homens numa vara; como também romãs e figos."
. . terra de trigo e cevada, de vides, figueiras e romeiras;
terra de oliveiras, de azeite e mel."
As Vestes Sagradas Visíveis 53
Em todos os textos citados é patente que o assunto é frutificação
em abundância. Talvez, a razão de essa fruta ser escolhida em
particular, seja a própria natureza dela* Para vocês que a conhe­
cem, não preciso dizer que ela é muito doce e cheia de sementes.
Portanto, a romã representava duas qualidades importantes do
nosso Senhor: a Sua doçura e preciosidade, e a fertilidade. Sua
capacidade de gerar vidas novas.
O segundo artigo exigido na orla da sobrepeliz é a

CAMPAINHA
Encontramos a palavra campainha apenas cinco vezes no
Velho Testamento; mas em Zacarias 14.20 a palavra hebraica é
diferente das outras quatro. Indiscutivelmente, Deus podia ter
ordenado a Moisés que empregasse a palavra meçillâ {um objeto
que emitia um tinido ou clangor), e seria a conclusão lógica, por
significar pequenos sinos presos nos arreios dos cavalos. Porém,
não é a palavra empregada para sobrepeliz.
Essa palavra traduzida campainhas aparece apenas quatro
vezes, sempre relacionada com sobrepeliz. No entanto, outras
palavras oriundas da mesma raiz são: bigorna, em Isafas 41.7;
cantos, em Êxodo 25.12; 37:3; pés, em 1 Reis 7.30;enquanto, Salmo
17.5 fala dos passos de Davi. Que essas palavras têm em comum?
A bigorna é um instrumento muito sólido que ao bater dá um
Bonido. Os cantos, mencionados em Êxodo e os pés de que 1 Reis
fala, eram bases sólidas para a construção dos móveis do
Tabernáculo e do Templo, enquanto Davi dizia de sua fé que Deus
daria firmeza ao seu andar,
Essas campainhas, por serem feitas de ouro, revelam a base
sólida e divina de todos que colocam a sua confiança e esperança
em Cristo. Afinal, o sumo sacerdote representava a único porta-
voz de Deus para oferecer a Israel a esperança de perdão dos seus
pecados no dia de expiação. A tipologia náo é clara, mas há lições
preciosas nesse quadro.
Não ignoramos a necessidade de essas campainhas emitirem
um sonido, e de que seu uso na sobrepeliz era obrigatório cada vez
que o sumo sacerdote ministrava no Santo dos Santos. Êxodo 29.35:
"Esta sobrepeliz estará sobre Arão quando ministrar, para
que se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do
54 A LEI E A GRAÇA
SENHOR, e quando sair para que não morra."
Era tuna declaração pública de que o sumo sacerdote estaria
intercedendo pela congregação diante do próprio Deus. A pena
por não obedecer fielmente às ordens de Deus de maneira que
representasse o Filho de Deus resultaria em morte.
Por cima dessa sobrepeliz Deus ordenou que fossem vestidos

A ESTOLA SACERDOTAL E O CINTO


As instruções para a confecção da estola, ayfade, que significa
apenas uma veste sacerdotal, se encontram em Êxodo 28.5,6. Era
uma veste de extrema importância e de grande beleza. O contexto
indica que era relativamente comprida, tanto na frente como atrás,
por ser segura por um cinto feito do mesmo material.
Consideraremos, em primeiro lugar, as duas funções da
estola. Tanto o peitoral quanto as ombreiras eram afixados nesse
traje. Concluímos que nunca era vestida sem que as outras peças
estivessem juntas. Era de uso exclusivo do sumo sacerdote. O
emprego de estolas não era incomum por outras pessoas, mas
nunca eram iguais àquelas. Por exemplo, vejam as conseqüências
para Gideão e todo o Israel ao usurparem esse direito, mandando
fazer uma estola sacerdotal com os despojos da sua vitória sobre
os midianitas, Juizes 8.27:
" Desse peso fez Gideão uma estola sacerdotal, e a pôs na
sua cidade, em Orfa; e todo o Israel se prostituiu ali após dela;
a qual veio a ser um laço a Gideão e à sua casa-"

O rei Davi, quando trouxe a arca do concerto de volta a


Jerusalém da casa de Obede-Edom, cmgiu-se com uma estola
sacerdotal e dançava de alegria diante do povo (2 Samuel 6.14). Há
outros casos semelhantes, mas não se referem ao mesmo traje por
não levarem as ombreiras e o peitoral. Creio que não existe nada
com que se possa comparar em nossos dias. Mas, como foi mencio­
nado, esse traje era preso no corpo pelo

CINTO BORDADO
"E o cinto de obra esmerada, que estará sobre a estola
As VesfesSagrados Visíveis 55
sacerdotal, será de obra igual, da mesma obra de ouro, estofo
azul, púrpura, carmesim e linho fino retorcido." Êxodo 28,8

Não há necessidade de repetir as nossas observações sobre o


material utilizado no preparo dessas vestes, uma vez que temos
estudado o significado de cada cor empregada e não parecem nos
oferecer simbolismo algum, além daquele que tem sido apresen­
tado. Não nos esqueçamos, porém, de que essas cores revelam o
caráter do nosso Sumo Sacerdote. O dnto era de "obra esmerada",
Essa expressão é empregada seis vezes referindo-se ao cinto do
sumo sacerdote, mas nenhuma em relação a qualquer outro dnto
mencionado nas Sagradas Escrituras.
Todos os israelitas usavam dntos, mas nenhum igual a esse.
Até em nossos dias, os povos do Oriente Médio usam um cinto
parecido quanto ao seu comprimento e finalidade. É um tipo de
pano estreito e comprido que rodeia o corpo por cima da manta e
é amarrado na frente, sobrando duas pontas compridas que caem
soltas na frente. Foi com o dnto de Paulo que o profeta Ágabo
dngiu as próprias mãos e pés do apóstolo ao adverti-lo, pelo
Espírito Santo, de que ele, o apóstolo Paulo, seria preso em
Jerusalém pelos judeus, sugerindo-nos o comprimento do cinto,
(Atos 21.10,11).
O próprio contexto bíblico propõe que a finalidade prindpa)
dessa estola sacerdotal, presa pelo cinto de obra esmerada, era a de
ser portadora de outras trés peças, isto é,

O PEITORAL E AS DUAS OMBREIRAS


Essas três peças se destacam em importância^ tanto pelo
material e feitio quanto pela maneira como eram utilizadas. Pre~
tendo examinar com detalhes os objetos que portavam no próximo
capítulo. Apenas desejo chamar a atenção às referêndas bíblicas
que revelam as ordens de Deus sobre a confecção delas. Êxodo
28.7,15;
"Teràs duas ombreiras que se unam às suas duas extremida­
des, e assim se unirá*.Jrarás também o peitoral do juízo de obra
esmerada, coníorme a obra da estola sacerdotal o farás: de ouro,
estofo azul, púrpura, carmesim e Linho fino retorcido o farás."
Os materiais continuam sendo os mesmos da sobrepeliz,
56 A LEI E A GRAÇA

estola sacerdotal e cinto bordado. Mas estas peças tinham um


significado peculiar. Desejo destacar duas palavras muito expres­
sivas desse contexto que descrevem as ombreiras e o peitoral; é a
primeira vez que elas aparecem na descrição das vestimentas do
sumo sacerdote. A primeira é unir que se encontra conjugada
duas vezes no verso sete. Os nomes das do7.e tribos eram gravados
em pedras fixadas em cima dessas duas ombreiras, seis de cada
lado. Deus faz questão de enfatizar que, apesar de serem separa­
das pelas duas ombreiras, seis de cada lado, exigia-se a ligação
entre as duas. Aos olhos de Deus, apesar de serem doze tribos, era
um só povo. O mesmo princípio é plenamente confirmado entre o
povo de Deus hoje, seja qual for a raça,denominação, cor, sexo, etc.
Há muitos textos bíblicos declarando que para Deus não há
acepção de pessoas. As divisões denominacionais e doutrinárias
são invenções humanas que têm contribuído para interromper a
unidade espiritual. Nosso Sumo Sacerdote se sacrificou e interce­
de Igualmente por todos os Seus. Um verso que nos ajuda a
compreender melhor esse princípio íí Gálatas 3-28:
"De&sarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo
nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois
UM em Cristo Jesus."
Apesar de a história nos revelar que essa Nação se dividiu no
tempo d o sucessor de Salomão, Deus sempre chamou toda a nação
Seu povo escolhido.
A segunda palavra que importa examinar em relação ao
peitoral é jufzo. O peitoral era um tipo de bolso. Era duploede um
palmo quadrado (Exodo 39.9). Esse formato parece ter um signi­
ficado peculiar no Velho Testamento, porque a palavra quadrado
em si somente aparece em relação ao culto judaico. Talvez sugira
universalidade, uma vez que o povo de Israel estava localizado
uniformemente nos quatro lados do Tabernáculo. Todas as tribos
eram representadas por igual na frente desse bolso. Dentro do
peitoral encontravam-se dois objetos que serviam para discernir
a vontade de Deus em todas as decisões. Deus julgava e instruía
o Seu povo por meio do Urim e Tumim que sempre se encontra­
vam guardados dentro desse bolso. Há muitas referências bíblicas
sobre isso. Além desses objetos, os nomes das doze tribos eram
fixados no peitoral. Essa peça pzia sobre o peito, ou sejaro coração
do sumo sacerdote. Veremos a importância disso ao estudarmos
As Vestes Sagradas Visíveis 57
esses objetos no próximo capítulo.
As outras duas peças da vestimenta do sumo sacerdote a
serem oonsideraradas são:

A MURA E O CORDÀO AZUL


* e lhe pôs a mitra na cabeça, e na mitra, na .sua parte
dianteira, pôs a lâmina de ouro, a coroa sagrada, como OSenhor
ordenara a Moisés*"
" Atá-la-ás com um cordão de estofo azul, de maneira que
esteja na mitra; bem na frente da mitra estnrá." (Êxodo 8.9; 2837}
No momento concentraremos nossa atenção nas duas peças
executadas de tecidos, deixando nossas considerações sobre a
lâmina de ouro, ou coroa, para depois,
Essas mitras eram feitas de linho fino {branco} e também
chamadas tiaras- Nada indica que os adornos usados nas cabeças
pelos lideres religiosos do catolicismo tenham qualquer seme­
lhança ou algo em comum com essas mitras. São meras imitações,
Alegam que o papa é sucessor de Pedro, mas este jamais teria
permitido vestir-se com essa mitra. De fato, nem sequer existia a
função de sumo sacerdote, biblicamente, depois da ressurreição
de Cristo, apesar de que os lideres judeus continuaram seguindo
essa ordem do antigo, mas anulado, concerto da Lei. O branco deve
reafirmar pureza e santidade diante de Deus
O cordão era totalmente azul, reafirmando também o caráter
celestial do sumo sacerdote. Nenhum dos outros sacerdotes usava
esse cordão. Arão e os sucessores no sumo sacerdócio eram os
representantes diretos de Deus ao povo, até que o verdadeiro
Sumo Sacerdote cumpriu Seu ministério terrestre, apesar de que,
com o passar do tempo, houve uma tamanha deturpação dessa
representação entre eles*
O cordão exercia uma função Importantíssima* Segurava a
lâmina de ouro que anunciava o verdadeiro caráter de Deus, a Sua
santidade.
Deixamos de lado, neste capítulo, o estudo da importância
dos ornamentos de ouro e pedras preciosas nas vestes do sumo
sacerdote; será o assunto do próximo capítulo.
"Bendize, ò minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu,
como tu és magnifieente! sobrevestido de glória e majestade."
Salmo 104.1
Capítulo Seis

Os Ornamentos das
Vestes Sagradas
Além da beleza das vestes em si, havia diversas peças t raba­
lhadas em ouro e pedras preciosas. Cada uma das peças se
prestava a um fim específico no vestuário do sumo sacerdote. .Mão
há dúvida de que ornavam aquelas vestes e serviam como mais
um meio de identificação do sumo sacerdote. Não obstante, é
muito duvidoso terem sido essas as razões principais por que
Deus ordenou a confecção e emprego delas no vestüario do que
era o advogado apontado por Deus como intermediário. Obvia­
mente, há simbolismo e lições importantes que não devem ser
ignoradas, mas que são aplicadas ao nosso Senhor Jesus na Sua
advocacia atual por nós, o Seu povo, (1 João 2.1).
Diversos objetos eram trabalhados em ouro. Desejo examinar
cada um deles; mas, no momento, concentremos nossa atenção no
simbolismo do próprio ouro nas Escrituras. Existem muitas refe­
rências a esse metal. Algumas vezes refere-se apenas ao seu valor
aquisitivo. No entanto, na grande maioria das vezes é citado em
relação ao Tabernáculo, ao Templo, ao sumo sacerdote, ou à
habitação de Deus- Isso nos leva a concluir, bíblica e logicamente,
sobre a sua importância tipológica.
Há uma bela descrição, em Apocalipse 21, da Nova Jerusa­
lém, o lugar da eterna habitação de Deus e dos salvos. Desejo
59
60 A LEI E A GRAÇA

apontar algumas observações dadas sobre essa cidade. Notem


Apocalipse 21.18,21-23:
"A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de
ouro puro, semelhante a vidro límpido... As doze portas são
doze pérolas, e cada uma destas portas de uma só pérola. A
praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente. Nela
não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus
Todo-poderoso e o Cordeiro. A cidade não precisa nem do sol,
nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a
iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada."
Que cena vislumbrante! Curiosamente, um dos significados
da palavra ouro é exatamente isso; ouro, na língua original,
significa o que brilha; vislumbrante; que emite luz trêmula. O
quadro apresentado nos versos citados descreve claramente algo
glorioso, muito além da concepção humana. O objeto de toda essa
glória não é para destacar a cidade em si, mas para revelar a glória
do Rei da glória. Certamente nossa atenção não se concentrará na
moradia, mas no Rei que é nosso Sumo Sacerdote. Em Cantares
lemos a seguinte descrição de Cristo, o esposo:

"O meu amado é alvo e rosado, o mais distinguido entre dez


mil. A sua cabeça é como o ouro mais apurado" Cantares 5.10-
11a.
Os salmistas declaram que os juízos e os mandamentos do
Senhor excedem, em valor, o mais puro ouro (cf. SI 19.10; 119.127).
No sentido tipológico, o ouro sempre representa algo refinado e
glorioso. Três exemplos envolvendo os salvos são 1 Coríntios 3.12,
13; Apocalipse 5.8; Jó 23.10:
"Contudo se o que alguém edifica sobre o fundamento é
ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta
se tomará a obra de cada um; pois o dia o demonstrará, porque
está sendo revelado pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o
próprio fogo o provará."
", . . os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos."
"Mas ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu
como ouro. Os meus pés seguiram as suas pisadas; guardei seu
caminho, e não me desviei dele."( Cf. Malaquias 3.3).
Os Ornamentos das Vestes Sagradas 61

O ouro, para tornar-se puro, necessita passar pelo fogo. O


objetivo das provações na vida do crente sempre é a purificação,
para que seja manifestada a glória de Cristo na vida dos Seus
discípulos,
E inegável que Satanás sempre procura falsificar as coisas de
Deus com o intuito de desviar os olhos do mundo em geral, e do
povo de Deus em particular, do Deus verdadeiro. Há muitas
exemplos registrados no Velho Testamento de ídolos esculpidos
ou fundidos de ouro para servirem como deuses. A glória que
pertence exclusivamente a Deus foi atribuída a imagens de ouro
(cf. Salmo 115.4; Daniel 5.4; Jeremias 10.2-5). Talvez o caso mais
triste de todos envolveu o próprio Arão, aquele que seria indicado
por Deus para servi-lO como o primeiro sumo sacerdote. Em
Exodo 32 está relatado como ele fundiu um bezerro de ouro e
falou:

"São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra de


Egito. Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele e aprego­
ando, disse: Amanhã será festa ao SENHOR." Êxodo 32.4b-5

O ouro, como tipo, sempre significa a manifestação de glória.


Portanto, cada vez que se refere ao culto a Deus, ou à Pessoa dEIe,
a Sua glória está sendo manifestada. Esse é o caso, sem dúvida,
pelos enfeites nas vestes do sumo sacerdote no culto judaico. E
quais são esses enfeites?
Sobre o peitoral do sumo sacerdote havia uma placa quadra­
da contendo doze pedras, cada uma diferente das demais, e todas
montadas em ouro (Exodo 28.15-21). No momento, queremos
considerar os engastes que seguravam e rodeavam aquelas pedras
representativas das doze tribos de Israel (Jacó), o povo escolhido
de Deus. Essa nação foi escolhida e exaltada por Deus desde a
promessa feita a Abraão (Gênesis 12.1-3). Moisés faz um comen­
tário extraordinário, registrado em DeuteronÔmio 32.9-10 :
" Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da
sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário
povoado de uivos; rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a
menina dos seus olhos."
A palavra menina nesse verso tem dois significados. Pode ser
interpretada em relação a pessoas, como traduzida no verso;
62 A LEI E A GRAÇA

também pode significar a pupila do olho. A Palavra de Deus


declara categoricamente que Ele ama a todos os povos o Suficiente
para sacrificar o Seu próprio Filho a fim de resgatá-los (João 3.16).
A obra redentora de Cristo abrange a todas as criaturas. Ele não
deseja que ninguém se perca§[l Pedro 3.9)*Mas Deus reservou um
lugar todo especial para a nação de Israel no cumprimento do Seu
plano histórico e eterno. Os olhos dEIe estavam voltados especial­
mente para os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó.
O peitoral era pendurado sobre o coração do sumo sacerdote.
Há centenas de referências bíblicas ao coração como sendo o
centro de afeição do corpo. Veremos depois como o sumo sacerdo­
te carregava os nomes dos filhos de Israel dentro desse peitoral.
Graças a Deus, o coração de Cristo foi tocado por nossa miséria, e
agora todo o Seu povo tem encontrado um esconderijo nEle. O
peito também representa um lugar de segurança, descanso e
nutrição. Toda a esperança de Israel, e nossa também, depende
dessas virtudes manifestas a nós pelo nosso Sumo Sacerdote. Os
nomes das tribos, além de serem representados no peitoral, eram
também levados nos ombros de Arão.
"Arão levará os seus nomes sobre ambos os ombros, para
memória diante do Senhor."
Será que há alguma lição para nós neste quadro? Parece que
os ombros são representativos de força, poder, vigor. Louvamos a
Deus, pois não há necessidade, nem possibilidade, de agradá-lO,
a não ser pelo Seu próprio poder e força. Isaías 9.6 declara que "o
governo está sobre seus ombros" ( de Cristo). Veja o quadro tão
lindo da ovelha perdida; Cristo Se alegra em nos oferecer a Sua
força; Lucas 15.5:
"Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo."
Cada pedra era embutida e rodeada com ouro. Isso, em si, nos
revela a importância igual de todos aos olhos de Deus. É
inconcebível que seja de outra forma, porque a Palavra de Deus
ensina que Ele não faz acepção de pessoas. Nem todas essas tribos
serviram ao Senhor com a mesma fidelidade e entusiasmo, como
de fato nem todos os crentes hoje vivem vidas consagradas a Deus;
mas todos, sem uma única excessão, somos rodeados pela e para
a glória de Deus.
Os Ornamentos das Vestes Sagradas 63

Há mais três objetos de ouro na vestidura. Eram as argolas, as


lorrentes e a lâmina. Os dois primeiros eram entrelaçados. Deus
prdenou prender o peitoral e as ombreiras juntos com argolas e
lorrentes de ouro, revelando que o amor (o coração) e o poder (os
pmbros) de Deus são inseparáveis. Foi assim que Cristo tomou-
Se o nosso Sumo Sacerdote. Êxodo 28.14a, 23-27:
"e duas correntes de ouro puro; obra de fieira as
farás...Também farás para o peitoral duas argolas de ouro, e
porás as duas argolas nas extremidades do peitoral. Então
meterás as duas correntes de ouro nas duas argolas, nas extre­
midades do peitoral. As duas pontas das correntes prenderás
nos dois engastes, é as porás nas ombreiras da estola sacerdotal
na frente dele. Farás também duas argolas de ouro, e as porás
nas duas extremidades do peitoral na sua orla interior junto à
estola sacerdotal. Farás também duas argolas de ouro, e as
porás nas ombreiras da estola sacerdotal, abaixo, na frente
dele, perto da sua juntura, sobre o cinto de obra esmerada da
estola sacerdotal."

Argolas e correntes! Além do fato de que eram confecciona­


das com ouro puro, gosto de pensar no formato delas. Argolas
normalmente são redondas; semelhantemente, os elos de corren­
tes. Posso lembrar do simbolismo das alianças de casamento, isto
é, representantes de uma aliança perpétua, uma promessa de
fidelidade eterna. Essa promessa foi feita da parte de Deus ao povo
de Israel, e a nós também. É mais uma ilustração da aliança
Irrevogável que Cristo faz com cada filho dEIe.
Portanto, a segurança da nossa salvação depende exclusiva­
mente dEIe, não da nossa fidelidade. A história recorda que Israel
foi infiel inúmeras vezes. Igualmente, cada membro do Corpo de
Cristo tem sido. Mas Deus permanece fiel. De outra forma, Ele não
seria imutável. Paulo escreveu, em 2 Timóteo 2.13;

"se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de maneira


nenhuma pode negar-se a si mesmo."

As argolas eram presas aos engastes das ombreiras e do


peitoral, enquanto as correntes prendiam uma a outra. Foram
feitas de ouro puro trançado. Em todas as referências bíblicas
onde se fala de correntes, em sentido positivo ou negativo, o
64 A LEI EA GRAÇA
assunto sempre é de laçar, prender ou segurar. Neste caso, o
peitoral jamais poderia ser separado das ombreiras, e o sumo
sacerdote era sumariamente proibido de apresentar-se diante de
Deus sem vestir a estola sacerdotal, com as ombreiras e o peitoral,
onde todas as tribos de Israel eram representadas nominalmente,
(cf. Êxodo 28,12,28-29).
A última peça de ouro talvez seja a mais importante de todas.
Era a lâmina de ouro presa na mitra do sumo sacerdote pelo
cordão azul. Deus descreveu em detalhes tanto a confecção dessa
peça, quanto a maneira e finalidade pela qual seria utilizada.
Nenhuma comparação entre Arão, o tipo, e Cristo, o antítipo seria
completa sem considerarmos a importância dela. Escutem as
ordens do Senhor sobre essa lâmina, Êxodo 28.36-38:
"Farás também uma lâmina de ouro puro, e nela gravarás à
maneira de gravuras de sinetes: Santidade ao SENHOR, Atá-
la-ás com cordão de estofo azul, de maneira que esteja na mitra;
bem na frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão,
para que Arão leve a iniqüidade concernente às cousas santas,
que os filhos de Israel consagraram em todas as ofertas de suas
cousas santas; sempre estará sobre a testa de Arão, para que
eles sejam aceitos perante o SENHOR."
Era uma placa polidlssima de ouro puro. Certamente brilha­
va como um verdadeiro espelho. O que a destacava de outra
lâmina qualquer era a gravura: "Santidade ao Senhor." Não nos
esqueçamos nunca de que Arão, o representante de Cristo, era um
homem pecador igual a todos os demais. Por isso, ao aproximar-
se da Arca, no Santo dos Santos, havia necessidade da declaração,
à vista de todos, de que estava representando o verdadeiro Sumo
Sacerdote. Arão entrava no lugar sagrado apenas uma vez por ano
com uma única finalidade: apresentar as ofertas do povo, signifi­
cando o arrependimento dos seus pecados diante de Deus. Era um
ato de advocacia, simbolizando o ministério atual de Cristo Jesus
(1 João 2*1). Sem confissão e arrependimento, nSo havia por Arão,
e nem há por Cristo, representação aceitável diante de Deus. Essa
lâmina declarava a exigência que Deus fazia de santificação de
Seu povo, para que pudesse abençoá-lo.
Infelizmente, muitos crentes em nossos dias procuram as
bênçãos de Deus sobre as suas vidas, mas não sentem a necessida­
de de se consagrarem diante dEIe. Todavia, como Israel não foi
Os Ornamentos das Vestes Sagradas 65
aceito diante do Senhor sem que essa lâmina estivesse na testa de
Arâo. Deus não aceita ninguém na Sua presença que não esteja
pronto a reconhecer e confessar que é um verdadeiro réu diante
dEIe. Ele nos exorta:
C ‘"'Porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo."
(1 Pedro 1.16)

As Pedras Preciosas
Nas ombreiras havia duas pedras de ônix, montadas em
de ouro, nas quais eram gravados os nomes dos doze
julhos de Jacó, como sinal da glori fícação desse povo em forma de
n£morial. Foram colocados os nomes de seis filhos de cada lado,
fbbre os ombros do sumo sacerdote. Êxodo 28.9-12:
"Tomaras duas pedras de ônix, e gravarás nelas os nomes
dos filhos de Israel: seis de seus nomes numa pedra, e os outros
seis na outra pedra, segundo a ordem do seu nascimento.
Conforme a obra de Japidad or, como Iavores de sinete gravarás
as duas pedras, com os nomes dos filhos de Israel: engastadas
ao redor em ouro as farás. E porás as d uas pedras nas ombreiras
da estola sacerdotal por pedras de memória aos filhos de Israel;
e Arão levará os seus nomes sobre os seus ombros, para
memória diante do Senhor." Êxodo 28.9*12.
O significado da palavra ônix é branquear, alvejar, referindo-
se a algo precioso. A pedra conhecida por ónix hoje é outra, sendo
de camadas de cores diferentes. Retrate este quadro comigo:
pedras alvas, guarnecidas com ouro e gravadas com os nomes dos
doze filhos de Israe) (Jacó). Branco — pureza esantificação; ouro
— glorificação; nomes pessoais, carregados nos ombros do sumo
sacerdote. A história de Israel deixa bem claro que -entre esses
filhos não havia nem um perfeito. Todos reclamaram de Deus no
deserto, Todos participaram da orgia ao fundirem o bezerro de
Qj^ro, Todos se prostituíram diante de outros deuses. O quadro
não é nada diferente com os crentes hoje. Não há um crente sequer
que se apresente diante de Deus perfeito e glori ficado. Mas Deus
nos revela como Ele via Israel, Seu povo escolhido, e como Ele nos
vê em Cristo-
66 A LHE A GRAÇA
"Porque a porção do SENHOR é o seu povo; Jacó é a parte
da Sua herança. Achou-o numa terra deserta, e num ermo
solitário povoado de uivos, rodeou-o e cuidou dele, guardou-
o como a menina dos seus olhos/' Dt 32.9-10
" Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus. .. e aos que chamou, a esses também justificou;
e aos que justificou, a esses também glorificou." Rm 6.1, 30b
Voltando nossa atenção ao texto em Êxodo, notamos que os
nomes eram gravados naquelas pedras "como lavoresde sinete".
Significa que tornaram um selo da graça de Deus diante de todo
o povo. O sinete era a gravura no anel, identificando a autoridade
e autenticidade das pessoas. Era usado pelos reis para selarem e
tomarem invioláveis os seus decretos. O caso mais impressionan­
te foi o do rei Dario, que selou o decreto pelo qual Daniel teve que
ser lançado na cova dos leões (Daniel 6.17),
Um outro texto que emprega essa mesma palavra na língua
hebraica, reforçando esse princípio, é Ageu 2,23:
"Naquele dia, diz o SENHOR dos Exércitos, tomar-te-ei, ó
Zorobabel, filho de Sealtiel, servo meu, diz o SENHOR, e te
farei como um anel de selar; porque te escolhi, diz o SENHOR
dos Exércitos."
Deus havia escolhido Abraão, Isaque, Jacó, e seus filhos como
objetos da Sua bênção. Essa determinação de Deus era irrevogável,
da mesma forma que o sinete atestava o caráter inviolável dos
documentos. Portanto, as pedras de Ônix, com os nomes dos filhos
de Jacó gravados nelas, eram um testemunho da parte de Deus da
Sua imutabilidade em relação a Israel. O Novo Testamento atesta
a validade dessa premissa.
Não é diferente com os crentes. Deus declara que todos os
salvos estão seguros nEle. Ele tem-nos dado o selo do Seu Espírito,
a garantia de que, imperfeitos como somos, ainda estamos escon­
didos nAqueíe que é perfeito. Isso jamais pode ser alterado por
ninguém, João 10-28-30:
"E eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente,
e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo qfue meu Pai me
deué maior do que tudo; e da mão do meu Pai ninguém pode
arrebatar. Eu e o Pai somos um."
Nossos nomes estão no Livro da Vida, louvado seja Deus! Ele
Os Ornamentos das Vestes Sagradas 67
dedarou a respeito das gravuras nas ombreiras que todos os
«alvos são para memória diante do Senhor, uma demonstração
perpétua dã eficácia do sacrifício do nosso Sumo Sacerdote.
A instrução era para gravar os nomes dos filh o s de Israel,
c on fo rm e a ordem do seu nasci mento, seis em cada pedra. A
ordem, então, eta a seguinte: na primeira pedra apareciam os
nomes de Rüben, Simeão, Levi, Judá, Dã e Naftali. Na segunda
pedra foram gravados os nomes de Gade, Aser, Issacar, Zebulom,
José e Benjamim. Ao dividir a terra prometida, nem todos esses
ganharam heranças. No entanto, cada vez que o sumo sacerdote
se apresentava diante do propiciatòrio, eram esses os nomes
jfapresentados, Apesar de Deus fazer certas distinções entre as
raibos quanto à herança e ao ministério delas, nenhuma era prefe­
rida acima das demais na sua representação pelo sumo sacerdote.
Eram consideradas como uma unidade, um todo. Sabemos que há
grande diferença de capacidades, dons e ministérios entre os
salvos, mas nenhum dele? é preferido aos olhos de Deus- A ênfase
do quadro é a uniao em Cristo.
Os mesmos nomes eram gravados em pedras separadas,
mostrando sua individualidade. Deus viu Israel como uma única
nação, mas ao mesmo tempo contemplava cada tribo em particu­
lar.
O mesmo princípio rege a Igreja, Há apenas "um corpo"
{Efésios 4.4), mas cada crente é objeto especial do amor, da graça
eda misericórdia do Senhor. Diante dEIe cada um tem valor igual
por ter sido comprado pelo mesmo preço, o sacrifício de Cristo.
As pedras eram de cores variadas, mas todas de grande valor,
Há quem procure um tipo em cada pedra relacionando com o
caráter da tribo. Isso é difícil, uma vez que a Bíblia não nos oferece
muita informação sobre o caráter de cada filho de Jacó. A descrição
mais completa é a bênção do próprio Jacó registrada em Gênesis
49, que nos parece insuficiente para formular qualquer premissa
a respeito.
As pedras que foram utilizadas, as pessoas que cada uma
delas representava e as suas cores são estas: (1) Sárdio {Rúben},
Vermelha; (2) Topázio (Simeão), amarela; (3) Carbúnculo (Levi),
Verde; (4) Esmeralda {Judá}, verde; (5) Safira |Dã}, azul-escuro
com manchas douradas; (6) Diamante {Naftalij, cristalina
durissi ma, (7) Jacinto JGade |,a zut -água -marinha; (8) Ágáta fAser},
translúcida com camadas de cores diferentes, <9) Ametista (tssacarj.
68 A LEI E A GRAÇA

púrpura; (10) Berilo {Zebulom}, verde; (11) Ônix {José), branca; e


(12) Jaspe {Benjamin}, jade, verde. Todas essas pedras foram
montadas juntas em ouro em quatro linhas de três pedras, Certa^
mente formava uma peça muito colorida e lindíssima. Essa jóia foi
colocada dentro do peitoral, encostado no coração do sumo sacer­
dote. Muitas dessas pedras são mencionadas novamente em
Ezequiel 28 e Apocalipse 21.
Deus nos mostra um quadro semelhante em relação à Igreja.
Pedro escreve, em 1 Pedro 2,5:
"também vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edif içados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por inter­
médio de Jesus Cristo."
Nenhum estudo sobre essa vestidura seria completo sem
mencionarmos mais dois objetos escondidos naquele peitoral;

O Urim e o Tumim

"Também porás no peitoral dojuízo oUrimeoTumim, para


que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar perante o
SENHOR,.," Êxodo 28.30a,
Não encontramos nenhuma descrição do material ou forma­
to dessas peças. Não obstante, eram de suma importância na
história de Israel. Há apenas uma citação na Palavra de Deus que
se refere ao Urim sozinho, enquanto o Tumim é sempre mencio­
nado junto com o Urim. Como são mencionados apenas sete vezes
no Velho Testamento e nunca no Novo Testamento, sabemos
muito pouco sobre eles. Por outro lado, ao examinarmos os poucos
textos que existem, concluímos que Deus se comunicava com Seu
povo por meio deles. Quando Esdras e Neemias reedificaram o
templo e os muros de Jerusalém, os sacerdotes eram proibidos de
comer das coisas sagradas até que levantassem um sacedrote com
Urim e Tumim (Esdras 2.63; Neemias 7.65). Isto indica que ainda
não havia entre eles um sumo sacerdote, o único autorizado por
Deus para carregá-los. Evidentemente, eles constituíam uma das
formas pela qual Deus comunicava a Sua vontade ao povo. Há um
verso em 1 Samuel que nos ajudará a perceber esse fato: 1 Samuel
28.6:
Os Ornamentos das Vestes Sagradas 69
{■^Consultou Saul ao 3ENHQ.R, porém não lhe respondeu,
iu*m por sonhos, nem por Urim, nem por profetas."

Louvamos a Deus os meios perfeitos para se conhecer a Sua


vcii rtadehoje; pela Bíblia, pelo Espírito Santo e, acima de tudo, por
Hjfíis.,. nosso grande Sumo Sacerdote que nos estende este convite:

"Acheguemo-nos, portanto, confiadamen te, junto ao trono


da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça
para socorro em ocasião oportuna../', Hebreus 4,16
Capítulo Sete

Arão e Cristo —
Comparações
e Contrastes
Examinamos, com atenção, todas as vestes do sumo sacerdo­
te e o simbolismo ou aplicação de cada uma delas ao ministério de
Jesus. E patente que o próprio Jesus nunca Se vestiu com elas;
porém, isso, em si, confirma a importância tipológica das vestes de
Arão. Aliás, um dos maiores contrastes entre Arão e Jesus era
exatamente neste ponto: nosso Senhor, ao andar entre os homens,
TiSo aparentava nada diferente do que os demais. Esafas 53.2b,3
declara:
^Não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo mag ne­
nhuma beleza havia que nos agradasse, Era desprezado, e o
mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o
que é pâd&cer; * como um do quem os homens escondem o
rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso."
Este capítulo tem como finalidade verificar o ministério do
ftutno sacerdote e quai s eram as funções semelhantes no ministério
de Cristo* Ao mesmo tempo, por ser Arão um mero mortal,
pecador, necessitamos verificar como seu ministério diverge do
ministério do Senhor.

71
72 A LEI E A GRAÇA

O melhor quadro bíblico para se observar a maneira como


Arão foi confirmado no oficio de sumo sacerdote encontra-se nos
capítulos oito e nove de Levítico. Vamos seguir aqueles passos de
consagração com o intuito de verificar como esse quadro caracte­
riza o nosso Sumo Sacerdote.
O primeiro texto que desejo apresentar para nossa considera­
ção é Levítico 8.10,12:
"Então Moisés tomou o óleo da unção, e ungiu o tabemáculo,
e tudo que havia nele, e o consagrou;... Depois derramou do
óleo da unção sobre a cabeça de Arão, ungiu-o para consagrá-lo/'

O óleo da unção era uma forma de ungüento, uma substância


gordurosa composta de vários elementos. Encontramos as instru­
ções divinas para seu preparo em Exodo 30.23-25:

"Tu, pois, toma das mais excelentes especiarias de mirra


fluida quinhentos siclos, de cinamomo odoroso a metade, a
saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático
duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, se­
gundo o sido do santuário, e de azeite de oliveira um him, disto
farás o óleo sagrado para a unção, o perfume composto segun­
do a arte do perfumista: este será o óleo sagrado da unção/'

Antes de examinarmos o conteúdo desse óleo da unçSo, é


interessante verificar o volume. O peso total das especiarias era de
mil e quinhentos siclos, um pouco mais de dezessete quilos.
Logicamente, essas essências foram todas empregadas em forma
líquida, pelo fato de a composição ser chamada "óleo", Além
delas, acresenta va-se um him, ou seja 3,67 litros, de azeite puro de
oliva- Esse óleo da unção era usado paia ungir o sumo sacerdote,
os sacerdotes, e consagrar todos os pertences do Tabemáculo.
Um pequeno comentário sobre cada um dos cinco compo­
nentes nos ajudará a entender a importância e os simbolismos do
óleo. O primeiro elemento mencionado é a mirra. Era uma subs-
tância extraída de um tipo de arbusto e até hoje é emprega do como
um aromatizante em perfumes, medicamentos, etc. Há dezessete
referências à mirra na Bíblia. Além das referências ligadas a esse
óleo, oito vezes a palavra tem alguma relação com Cristo, e duas
com a Igreja. A palavra refere-se a algo aromático com diversas
utilidades, porém, amargo. Mirra é mencionada oito vezes no
Arãoe Cristo— Comparaçõese Contrastes 73
Lttvro alegórico de Canta res de Salomão, sempre em referência à
sun característica aromática agradável. Ninguém seria capaz de
esquecer que foi um dos objetos de valor apresentados ao menino
Jesus pelos magos. Por outro Lado, foi misturado com vinagre e
oferecido ao Senhor para saciar a Sua sede na cruz do Calvário;
evidentemente possuía algum efeito analgésico, mas Jesus não
(tomou. Sua morte era excruciante, mas a amargura nunca O
caracterizou. Na primeira citação, percebe-se a sua preciosidade;
fenquanto na segunda, a zombaria do sofrimento de Cristo- João
5SC39-4Ü revela que era um dos aroma tizantes dos 45 quilos que
rJicodemos empregou para embalsamar o corpo do nosso Senhor.
A palavra cinamomo aparece apenas quatro vezes nas Escri­
turas. Conhecemos hoje por canela, extraída da entrecasca de
uma árvore. No entanto, o óleo de cinamomo é um extrato prove­
niente das flores, frutos e raízes dessa mesma árvore- Todas as
referências bíblicas apontam a sua fragrãncin ou seu grande valor.
Não é nativo da Palestina nem do deserto do Neguebe. Era
Importado do Sri Lanka (antigo Ceilão) e Malásia, muito longe
dos israelitas, contribuindo para o seu alto valor.
Outro ingrediente importante no óleo da unção era o cálamo.
A palavra significa um caniço ou junco. Esta palavra é genérica,
referindo-se ao formato semelhante de diversas plantas, A planta
provavelmente era um tipo de lírio roxo cujas raízes eram utiliza­
das para produzir um extrato per fumoso e valioso. No grego a
palavra é kalamus. Aparece duas vezes no livro de Marcos, no re­
lato do julgamento e da morte do nosso Senhor. Marcos 15.19,36:

"Davam-lhe na cabeça com um caniço (kalamus), cuspiam


nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam. E um deles correu a
embeber uma esponja em vinagre, e pondo-a na ponta de um
caniço (kalamus), deu-lhe de beber. . ."

Ainda nos resta considerar a cássia* Mais uma vez a palavra


é genérica, referindo-se a um grande número de plantas diferen­
tes. O sene, encontrado em diversos produtos medicinais, vem da
cássia. A parte da planta utilizada é a casca da qual se extraem as
essências. A maior parte dos produtos utilizados hoje vem da
Índia, É perfumosa, semelhante à canela. Como não era nativa da
região onde Israel andava, concluímos que as duas virtudes
principais eram a sua preciosidade e sua fragrãncia; duas virtudes
74 A LEI E A GRAÇA

indiscutíveis dAquele que veio de um lugar longínquo, para


oferecer-Se como um sacrifício de aroma agra dável diante de Deus
por nós.
Pois bem, todas essas especiarias eram misturadas com o
azeite puro de oliva. Portanto, há dois assuntos aqui para serem
examinados. Primeiro, o simbolismo do azeite ou óleo puro;
segundo, a importância bíblica da oliveira.
Muitas vezes o óleo é mencionado nas Escrituras somente em
referência às suas utilidades. Contudo, há fartas evidências de ele
ser representativo da pessoa do Espírito Santo, especialmente
quando a construção gramatológica inclui referências a uma con­
sagração (unção, sagrado, etc.), e isso ocorre aproximadamente
cinqüenta vezes nas Escrituras. A palavra unção, na língua
hebraica, significa consagrar, ungir, ou seja, um dom. Ora, a
Palavra de Deus não nos deixa dúvida de que esse ministério
pertence exclusivamente ao Espírito Santo. Cada vez que encon­
tramos a palavra óleo ligada a essas outras palavras, sempre se
refere a algo sagrado, separado e consagrado por Deus. O Salmo
45 é de caráter cristológico: descreve o Ungido de Deus. Um verso
do Novo Testamento que confirma essa tipologia encontra-se em
Atos. Vejam Salmo 45.7; AtoslÜ38:

"Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso Deus, o teu


Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus
companheiros."
"Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo
e poder; o qual andou por toda a parte, fazendo o bem e
curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com
ele." (Cf- Atos 4.27; Hebreus 1.9),

Qual seria a importância da oliveira? Há várias ocasiões na


Bíblia onde Deus usa a palavra para comunicar a idéia de
frutificação, florescimento ou prosperidade. Recordamos que após
o dilúvio o primeiro sinal de vida nova sobre a terra foi uma folha
nova de oliveira, trazida a Noé pela pomba. Não cremos que tenha
sido simples coincidência Jesus ter feito Sua oração intercessória
por nós para onde ia "de costume" (Lucas 22.39), no Jardim das
Oliveiras.
Davi fala a seu próprio respeito, no Salmo 52.8; e Oséias 14,6
faz uma comparação entre Cristo e oesplendor da oliveira. Vejam:
Arão e Cristo— Comparações e Contrastes 75
"Quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante, na
t casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre/'
"Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o
da oliveira, e sua fragrância como a do Líbano*"
A oliveira não é uma árvore bonita, (pelo menos aos olhos
deste escritor), enquanto está sem fruto; o tronco é todo retorcido
e torto, e as folhas têm uma tonalidade verde-cinza apagada. Mas
o fruto dessa árvore tem sido de grande valor, até bem antes da
vinda de Cristo. É um dos alimentos principais para o povo nas
regiões onde se encontra, tanto como fruta quanto como azeite que
produz. Como a Palavra de Deus apresenta suas verdades dentro
do quadro cultural do povo sob consideração, é lógico que a
oliveira seria escolhida neste caso por seu valor inestimável aos
povos do Oriente Médio,
Em resumo, o óleo da unção era algo de grande valor mone­
tário, tinha um aroma muito agradável; e o óleo de oliva represen­
tava o fruto, a prosperidade em Cristo. Todos esses detalhes
revelam características da pessoa de Cristo. A unção representava
a consagração pelo Espírito Santo, Arão não seria qualificado para
o ministério de sumo sacerdote se esses símbolos não fossem
aplicados sobre a sua cabeça (Êxodo 29.7).
Os próximos passos para a consagração de Arão estão relata­
das em Exodo 29,1-3. Como pretendemos estudar esses mesmos
sacrifícios individualmente em capítulos posteriores, destacarei
aqui apenas certos princípios peculiares à consagração do sacer­
dócio, Alguns itens exigidos para esse ato público são enumerados
em Êxodo 29.1-3:
"Isto é o que lhes farás, para os consagrar, a fim de que me
oficiem como sacerdotes: toma um novilho e dois carneiros
sem defeito, e pães asmos, e bolos asmos amassados com azeite
e obreias asmas untadas com azeite; de flor de farinha de trigo
os farás, e os porás num cesto, e nos cestos os irarás; irarás
também o novilho e dois carneiros."
Este capítulo descreve em detalhes como cada um desses
objetos seria oferecido ao Senhor, e qual seria a participação de
Arão e de seus filhos. Por estarmos concentrando nossa atenção na
consagração do sumo sacerdote, pretendo destacar aquelas pecu­
liaridades aqui. Ao lermos o capítulo na sua íntegra, aprendemos
A LEI E A GRAÇA
que cada um desses objetos era sacrificado a o Senhor. As expres­
sões " perante o Senhor", “ queimada ao Senhor" e "oferta a Deus"
aparecem nove vezes nesses versos. Nunca devemos nos esquecer
de que se trata de qualificar pessoas para entrarem na presença de
Deus. Neste ponto encontramos um grande contraste entre Arão
e seus filhos, e Jesus, o Unigênito Rlho e Sumo Sacerdote de Deus.
Era necessário oferecer esses objetos que simbolizavam o ministé­
rio vindouro do próprio Cristo, porque os que O representariam
eram pecadores iguais ao povo em geral. Por isso, era necessário
que Arão e seus filhos tivessem de colocar as suas mãos sobre as
cabeças dos animais a serem sacrificados, transferindo simbolica­
mente a sua culpa ao animal que devia ter seu sangue derramado.
Cada um desses sacrifícios representava um "aroma agradável ao
Senhor", certamente não pelo odor, mas pelo significado deles.
Assim feito, nunca devíamos esquecer que é exatamente por meio
do sacrifício de Cristo que somos qualificados para representá-lO
hoje. Desejo expandir esse aspecto ao tratarmos dos filhos de Arão
edo nosso atual sacerdócio. Um dos pontos que diferencia esses
sacrifícios dos outros que estaremos estudando encontra-se em
Êxodo 29.20,21:
"fmolarás o carneiro, e tomarAs do seu sangue e o porás
sobre a ponta da orelha direita de Arão, e sobre a ponta da
orelha direita de seus filhos, como também sobre o polegar das
suas mãos direitas, e sobre o polegar dos seus pés direitos; o
restante do sangue jogarás sobre o altar ao redor. Tomaras
então do sangue sobre o altar, edo óleo da unção, e o espar girás
sobre Arão e suas vestes, e sobre seus filhos e as vestes de seus
filhos com ele; para que ele seja santificado, e as suas vestes,
também seus filhos, e as vestes de seus filhos com ele."
O derramamento e a aplicação do sangue simbólico do sacri­
fício do Cordeiro de Deus é o ponto-chave necessário para a
purificação do sacerdócio. Nenhuma das vestes, nem a lavagem
com água ou a unção com óleo sagrado teria eficácia sem o
derramamento de sangue* Deus mesmo nos afirma que "sem o
derramamento de sangue, não há remissão" (Hb 9.22b). Era
necessário que esses sacrifícios fossem feitos e o sangue aplicado
antes que Arão eseus filhos pudessem ministrar diante do Senhor.
Esse é um dos tipos mais bonitos que nos é apresentado no culto
judaico. Cristo não iniciou o ministério de Sumo Sacerdote até que
A rãoe Cristo— Comparações e Contrastes 77
Seu próprio sangue fosse derramado,
Há alguns símbolos muito importantes nesses versos. Impor­
ia notar quem aplicou o sangue, onde foi aplicado, e como. O texto
revela tudo isso, mas somente um estudo pormenorizado nos
oferece a importância simbólica de cada um.
Em primeiro lugar, sabemos que foi Moisés quem aplicou o
.Sangue. Ele estava agindo em plena obediência às ordens recebi­
das de Deus. De fato, agia no lugar do próprio Pai. Comparamos
çom Cristo, ordenado c autorizado pelo Pai para Seu ministério
representativo, confirmado muitas vezes por Ele mesmo. Lem­
bra mns as palavras dEIe na ocasião do batismo, e da transfigura­
ção de Seu Filho (Mateus 3.17; 17.5). Um excelente exemplo é o
testemunho do próprio Senhor, registrado em João 6.38:

"Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria


vontade; e fíitt, a vontade daquele que me enviou."

Em segundo lugar, vejamos que o sangue dos animais ofere­


cidos como símbolos proféticos da vinda de Cristo teve que ser
aplicado diretamente nos corpos e nas vestes. Se não for lavado
pelo sangue, ninguém pode representar Jesus. O autor conhece o
caso de um jovem que estava sendo examinado por um oonseího
de pastores para ser consagrado a pastor. Um dos examinadores
tndagou-o sobre sua crença a respeito do sangue de Cristo. Ele
respondeu assim: ^Não creio que o sangue de Cristo tenha mais
valor do que a água em que Pila tos lavou as mãos." Lamento dizer
que ainda assim não lhe foi negada a consagração. Infelizmente,
creio que muitas vezes verdadeiros crentes mostram um desprezo
Semelhante pela maneira como conduzem suas vidas, fazendo a
sua própria vontade, deixando de reconhecer e confessar seus
pecados para terem vidas consagradas e condignas da filiação em
Cristo.
Esse sangue foi aplicado nos sacerdotes de duas maneiras
diferentes: na orelha direita, no polegar da mão direita e no
polegar do pé direi to, além de ser aspergido sobre seus corpos e
vestes. Por que será que Deus exigiu que esses membros do corpo
fossem molha dos com sangue? Farei algumas apiiçações que, pelo
menos, nos oferecem um quadro muito edificante. Primeiro, exa­
minemos a importância do lado direito. Parece-nos que, geral­
mente, essa palavra indica uma posição de preferência, poder e
78 A LEF E A GRAÇA

importância. Jesus está assentado ao lado direito do Pai na glória.


Os filhos dcZebedeu desejavam sentar-se ao lado direito e esquer­
do de Cristo no Seu reino. Pedro estendeu a mão direita (Atos 3,7)
para curar o coxo na porta do templo. Deus estava conferindo
sobre Arão e seus filhos essa posição diante de Israel.
Que diríamos sobre orelha? As palavras hebraicas para ore­
lha significam "para ampliar, escutar, expandir", etc. Trata-se,
então, da audição e não do membro exterior. Deus estava alertando
Seus servos sobre a necessidade de sempre darem ouvidos a Ele
para ampliarem o conhecimento da vontade dEIe. Afinal, "fé vem
pela pregação (audição), e a pregação pela palavra de Cristo" (Km
10-17). Çristo sempre "deu ouvidos" a Seu Pai durante a Sua
encarnação» O mesmo seria exigido de Arão. Infelizmente, cada
vez que os israelitas deixaram dc dar ouvidos aos conselhos de
Deus, tiveram que ser disciplinados, até o ponto de serem levados
cativos à Babilônia. Faremos a aplicação desse princípio aos
crentes mais adiante.
Qual é o significado de polegar da mão direita? A palavra
significa grossa ou grande. É o ponto de apoio da mão. Há muitas
referências à palavra mão significando poder, meio., ou direção.
No sentido fisiológico, é o membro do corpo mais servidor além
do cérebro* Deus não estava ordenando soberanos, mas servos,
simples instrumentos na mão dEIe. Cristo é a Cabeça, e dEIe vem
o poder e a direção para todo o serviço de Deus.
Ainda resta polegar do pé para consideração» Creio que o
polegar foi especificado pela mesma razão. E o dedo predominan­
te, sendo, também, o dedo de apoio. Parece-me que o que mais
importa é o pé, enão somente o polegar. Deus nos deu os pés como
meio de Locomoção e, sem dúvida, a Palavra de Deus ensina que
devem ser utilizados para servir ao Senhor. O sumo sacerdote teve
que andar entre o povo, entrar no Tabernáculoe deslocar-se de um
lugar para outro, para cumprir as suas obrigações. Isaías 52*7
declara;

"Que formosos são sobre os montes os pés do que anu rida


boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia cousas boas, que
faz ouvira salvaçãOn.."

Ouvir, servir e locomover-se para o Senhor — todos fazem


parte de uma consagração completa, jesus sempre demonstrou
A raoe Cristo — Comparações e Con trastes 79

iwsas virtudes durante o Seu. andar pelo mu rido.


Voltemos nossa atenção ao verso 21 citado anteriormente.
Nfio era suficiente que o sangue fosse aplicado aos membros
denominados. Deus exigiu aspergir tanto o sangue quanto o óleo
da unção sobre os corpos e as vestes de todos aqueles separados
para ministrarem diante do povo. Esse era o ato final de puri fica-
ção, qualificando Arão para exercer o ofício de sumo sacerdote-
Todos os casos bíblicos em que aparece a palavra ou o princípio de
asp^rsâo, que significa respingar, simboliza um ato d c purificação
ou santificação; 1 Pedro 1.2 confirma essa premissa:
"eleitos, segundo a presdência de Deus Pai, em santificação
do Espírito, para a obediência e a aspersio do sangue de Jesus
Cristo,"
Mas ainda havia mais um passo a ser tomado: a alimentação
dos servos de Deus. Estes necessi tam ser alimentados para pode­
rem desincumbir-se de suas responsabilidades diante de Deus.
Exodo 29,26-33 relata as providências que Deus tomou para isso,
Notamos que ti veram que comer dos próprios animais sacrifica­
dos, mais uma vez nos oferecendo um belo tipo, Jesus declarou
que Ele é o Pão do Céu e que não há vida fora dEIe- Por meio do
Seu sacrifício não somos apenas purificados, mas alimentados,
também» Todavia, importa notar que essa alimentação era restrita
aos sacerdotes; Exodo 29.33:
comerão das cousas com que for feita a expiação, para
consagrá-los e para santificá-los: o estranho não comcrâ delas,
porque são santas."
Ao concluir este capítulo, merece atenção o número sete,
mencionado nos versos 30, 35 e 37» Esse número representa
perfeição nas Escrituras. Há muitos textos que confirmam essa
hipótese, ao estudarmos sobre a festa dos Pães Asmos, pretendo
apresentar amplas evidèndas bíblicas. No momento, nosso obje­
tivo é con fi rm a r que, obedecendo a todas as exigências estabelecidas
por Deus, Arão estava qualificado para iniciar o ministério pró­
prio do sumo sacerdote. No próximo capitulo, dosefo comparar o
ministério dele com o de Cristo»
"Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus
mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos."
1 João 5.3
Capítulo Oito

Os Sumos Sacerdotes
dos Dois Concertos
Segue aqui um resumo das maneiras pelas quais o ministério
de Arão revelava a Pessoa de Cristo e, por outro lado, alguns
contrastes mostrando ser impossível que qualquer homem fosse
um tipo (aliás, sabemos que nenhum tipo é perfeito) do grande
Antítipo, Jesus Cristo.
Voltando nossa atenção ao capítulo oito de Levítico, desco-
"brimos diversos fatos impressionantes- For exemplo, apesar de
tJeus ter escolhido Arão como sumo sacerdote, exigiu um espírito
Voluntário e obediente para trazer tudo aquilo que lhes foi orde­
nado, colocando-se "perante o Senhor". Essa pequena frase é
muito importante, porque é indicativa da expressão da vontade
própria de Arão e seus filhos. Observamos esse mesmo princípio
em ação na vida de Jesus, através de alguns textos da Palavra de
í)eus: João 5.30; 10.15; Hebreus 5.8; 1 Pedro 1.19,20:
"Eu nada posso fazer de mim mesmo, na forma queeu ouço,
julgo. O meu juízo é justo, porque n ã o procuro a minha
vontade, e sim, a daquele que me enviou Assim como o Pai me
conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas
ovelhas. ...embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas
cousas que sofreu. ...(resgatados) pelo precioso sangue, como
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhe-
82 A LEI EA GRAÇA
cido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifes­
tado no fim dos tempos, por amor de vós."
Consideremos a necessidade dos sacrifícios diários para os
pecados, incluindo os do próprio Arão e seus sucessores. Exigia-
se o derramamento do sangue de substitutos diariamente. Assim,
eram santificados os sacerdotes para exercerem seu ministério
diante da congregação. O ministério de cada um deles cessava
com a sua própria morte. Por outro lado, Jesus tomou-se o nosso
Sumo Sacerdote somente depois da Sua morte e ressurreição. Ele
dispensou de uma vez para sempre a necessidade de outros
substitutos, porque o sangue dEIe fica apresentado eternamente
diante do Pai em pagamento pelo pecado do mundo. Arão não
somente era obrigado a ser consagrado através do sangue por ser
pecador, mas era necessário que ele se alimentasse dos animais
sacrificados. Ele apresentava o sangue diante do altar e do
propiciatório não somente pelos pecados do povo, mas também
por seus próprios pecados.
Jesus não teve que oferecer Seu sangue para si próprio por
não ser pecador, nem se alimentar dos animais sacrificados, por
Ele mesmo ser o "pão da vida" e a alimentação do sacerdócio de
hoje, Le-, os crentes. Notem Hebreus 7.24-28, 8.1,2:
"Este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu
sacerdócio imútavel, por isso também pode salvar totalmente
os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interce­
der por eles. Com efeito nos convinha um sumo sacerdote,
assim como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos
pecadores, e feito mais alto do que os céus, que não tem
necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os
dias sacrifícios, primeiro por seus próprios pecados, depois
pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si
mesmo ofereceu. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a
homens sujeitos à fraqueza, mas a palavra de juramento, que
foi posterior à lei, constitui o Filho perfeito para sempre. Ora,
o essencial das cousas que temos dito é que possuímos tal sumo
sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos
céus como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo
que o Senhor erigiu, não o homem."
Havia uma promessa, na realidade indipensável, feita a Arão
após ter completado todas as exigências para sua a consagração;
Os Sumos Sacerdotes dos Dois Concertos 83
ele havia feito tudo, no tocante àquilo que era humanamente
■oorível, mas ainda não era qualificado para ministrar diante do
Penhor. A promessa divina e o seu cumprimento estão registrados
em Levítico 9.6,22b-24:

"Disse Moisés: esta cousa que o Senhor ordenou fareis: e a


glória do Senhor vos aparecerá- - - havendo feito a oferta pelo
pecado, e o holocausto, e a oferta pacifica, então entraram
Moisés e Arão na tenda da congregação; e saindo, abençoaram
o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo. E eis que
saindo fogo de diante do Senhor, consumiu o holocausto c a
gordura sobre o altar; o que vendo o povo, jubilaram e prostra-
ram-se sobre os seus rostos."
Sem a aparição da glória de Deus (i,e, a Shekinah) e o fogo
divino do céu, representando o juízo de Deus sobre o pecado,
hfienhuma parte do culto judaico teria o selo de Deus. Apesar das
HgMgências tipo lógicas nas vestes e nos atos de consagração que
Uimbolizavamcaracterí&ticasde Jesus Cristo, a verdadeira aprova­
ção milagrosa dos céus era essencial para qualificar Arão como o
sumo sacerdote. No estudo sobre sacrifícios e ofertas farei um
estudo minucioso sobre a tipologia do fogo nas Escrituras Sagra­
das, e como ela se aplica à vida de Jesus. Não obstante, parece
Necessário examinar a importância da Shekinah.
Apesar de a palavra Shekinah não aparecer nenhuma vez na
Bíblia, significa um evento que é relacionado repetidas vezes ao
.culto judaico (e é essencial na vida do crente para um andar digno
ixüante da Deus). A palavra é hebraica, da raiz shkn, eéempregada
universalmente na sua forma original. Por ser um "barbarismo",
0 acento se dá na penúltima sílaba. Foi empregada pelos judeus e
também, o é pelo mundo cristão de hoje, para indicar a presença
.visível da glória de Deus, Esse era, e continua sendo, o verdadeiro
selo de Deus sobre qualquer vida e ministério espiritual. Além da
^ocasião da consagração dos sacerdotes, há muitos outros textos
bíblicos onde encontramos essa manifestação da glória de Deus.
Vejamos outros dois exemplos para confirmar seu significado.
Quando a construção do Tabernáculo foi totalmente acabada.
Êxodo 40.34 diz que "a glória de Deus encheu o Tabernáculo";
1 Reis H.10,11 relata que, ao completarem a construção do Templo
de Salomão, no dia da consagração, "a glória de Deus enchera a
casa". Estes, e outros textos, nos revelam que todas as vezes que
84 ALEI EA GRAÇA

o povo de Deus realizava a Sua vontade, Ele manifestava a Sua


glória visivelmente. Cremos que nada mudou nos propósitos de
Deus* Somente, na medida em que vivermos em comunhão com
Deus, comprovada por nossa obediência às Suas ordens, veremos
a glória de Deus manifestada em nossas vidas.
Observemos como essa glória foi derramada sobre a vida e
ministério de Jesus. Deus havia falado dos céus em duas ocasiões
distintas que Jesus era o Seu Filho Amado. A primeira foi no Seu
batismo, enquanto a segunda, na transfiguração (cf. Lucas 3-21,22;
Mateus 17,1-8)* Mas apesar dessas confirmações da filiação e da
divindade de Cristo, o Sumo Sacerdócio dEIe foi realizado por
outras três manifestações divinas e milagrosas, antes que Ele
pudesse ser oficializado como nosso Sumo Sacerote. A primeira
ocorreu quando Jesus "se fez pecado por nós" (2 Co 5,21), substi­
tuindo os animais sacrificados. Todos os quatro evangelistas
relatam esse acontecimento- As referências bíblicas são: Mateus
27*45-54; Marcos 15.22-41; Lucas 23. 33-49 e joao 19.17-30, No
entanto, há certos detalhes que devem ser levados em considera­
ção, A segunda, e primeiro milagre, foi a escuridão que caiu sobre
a terra em pleno dia» O Pai Celeste teve de permitir que o juízo
sobre os nossos pecados fiasse colocado sobre Seu Filho Amado
(M t27.45). Jesus, naquel a hora, "clamou em alta v oz: Pai, nas Tuas
maos entrego o meu espírito!" Deus estava declarando visivel­
mente que ,Ja Luz do mundo" havia realizado a vontade dEIe,
tomando sobre Si os nossos pecados. A terceira, e outro grande
milagre, confirmando a aprovação do sacrifício de Cristo, está
relatado em Mateus 27.51,52:

"o véu do sant uár io &erasgou emduâí partes de al to a ba í xo,


tremeu a terra, fenderem-se as rochas, e abriram-se os sepul­
cros e muitos corpos dos santos, que dormiam, ressuscitaram."

A ninguém, até aquela hora, era legalmente permitido ver


atrás do véu do santuário (cf. o livro "A Pessoa de Cristo no
Tabem ácuio"), afora aquele que simbolizava a pessoa eo ministé­
rio de Jesus, Todavia, na hora da morte de Cristo, Deus cessou de
habitar no Santo dos Santos do Templo- Não havia mais necessi­
dade de representantes humanos, uma vez que o supremo sacri­
fício, requerido para cumprir as exigências de Deus, havia sido
feito, Toda a natureza criada por Deus foi abalada. Deus provou
Os Sun tos Sacerdotes dos Dois Concertos 85

que a ressurreição dos mortos torna-se possível por meio de


Cristo. Nem um sumo sacerdote da ordem levítica possuía poder
Bfeirielhantç. Aliás, c interessante imaginar que talvez alguns deles
«ati vessem entre os que ressurgiram naquela hora, não é mesmo?
Há pelo menos mais um milagre que nos chama a atenção. É
í>testemunho do centurião e os guardas pagãos responsáveis pela
tíxecução da sentença de morte de Cristo. Ouçam o testemunho
deles {Mateus 27.54b):
"Verdadeiramente este era o Filho de Deus."
Eíes puderam compreender o que os próprios religiosos não
puderam, isto é, que Deus havia declarado publicamente a Sua
aprovação pelo sacrifício do Seu Filho através da manifestação do
Seu poder e da Sua glória,
O segundo fato histórico que confirma o Sumo Sacerdócio de
Cristo é a Sua ressurreição. Apesar do desespero e da incredulida­
de dos discípulos, e dos cuidados tomados pelas autoridades
religiosas, pedindo guardas ao redor do sepulcro, nada podia
impedir que Ele r e s s u r g is s e , cumprindo a Sua palavra eo plano de
Deus. Paulo descreve, em todo o capítulo quinze de 1 Coríntios, o
grande significado desse fato. Nenhum dos animais sacrificados
no culto judaico, nem Arão, ou nenhum outro dos próprios sumos
sacerdotes, jamais voltaram a viver. Paulo declara que para nada
teria valido a crucificação de Cristo se Ele tivesse permanecido no
Sepulcro. Mas, ao sair do túmulo, Jesus ainda não havia sido
empossado no ministério do Sumo Sacerdote. Da mesma forma,
to m o era necessário para o sumo sacerdote apresentar o sangue
dos animais diante de Deus no propiciatório, era necessário que
Ele se apresentasse diante do Pai, oferecendo o Seu próprio sangue
para satisfazer eternamente a ira de Deus contra o pecado. Jesus
gbnfínnou essa necessidade à Maria, de acordo com João 20.17.
Hebreus 9,26b reafirma essa premissa:

" Recomendou-the Jesus: Não mc detenhas; porque ainda


não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-
lhcs: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso
Deus."
"Agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou
uma vez por todas, para aniquilar pelo sacrifício de si mesmo
o pecado."
86 A LEI E A GRAÇA

Recordamos que ao sumo sacerdote do velho concerto era,


permitido entrar apenas uma vez por ano diante do propiciatório,
mas jamais podia permanecer ali. Era apenas numa ocasião por
ano. Os outros sacerdotes jamais podiam entrar lá sob pena de
morte. Isso representa outro contraste muito grande entre ele e
Cristo. Por Cristo ter cumpri do todas as exigências da lei de justiça
de Deus, Ele entrou na presença de Deus e, assim, assegurou o
direito da Sua permanência ali. Conseqüentemente, vejam o pri­
vilégio que Ele conquistou para nós hoje, Hebreus 10. 19-22:
"Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de Jesus, pelo no vo e v ivo ca m Lnho que Ele
nos consagrou pelo véu, isto é, peía Sua carne, e tendo grande
sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero
coração, em plena certeza de fó, tendo os corações purificados
de má consciência, e lavado o corpo com água pura", {cf.
Hebreus 4,14-16).
Jesus retornou ao céu e tomou o Seu lugar, sentado à destra
do Pai, de onde Ele exerce a intercessão a favor de todos os que se
declaram pecadores e desejam se apresentar diante dEIe, Sim, EJe
ouve nossas orações, supre nossas necessidades, perdoa nossos
pecados, intercede por nós diante do Pai, tudo com base no Seu
sacrifício, para a glória dFie (Hebreus 8.1). Jamais cessaremos de
nos maravilhar por Jesus nos ter apresentado diante do Paí vestido
na Sua própria santidade, isto 6, Deus nos vê tào perfeitos como a
Seu próprio Filho. Essa 6 a nossa posição atual (cf, Efésios 1.3-14).
Contudo, enquanto permanecemos na carne, Cristo está minis­
trando em nós pelo Espírito Santo para nos conformar à imagem
dEIe mesmo (cf. o estudo sobre o sacerdócio do novo concerto,
mais adiante, neste livro).
Um sumo sacerdote atava uma placa de ouro na testa que
proclam ava "San tid ad e ao Sen h or," A placa era apenas
representaviva de Jesus, o Ünico que é chamado "o Santo de
Israel" nas Escrituras, titulo que aparece especialmente no livro de
Isaías. Por isso os salvos são constantemente exortados a adorar
"o Senhor na beleza da (Sua) santidade/'
Merece nossa atenção um outro aspecto interessante sobre o
sumo sacerdócio levítico. Refere-se h ordem de sucessão. Ao
estabelecer o culto judaico, Deus separou a tribo de Levi para
servi-lO; Arão, como sumo sacerdote, e seus filhos como sacerdo-
Os Stttnos Sacerdotes dos Dois Concertos 87
ttt. Deus ordenou que aquela ordem fosse preservada "perpetua­
mente.'' O sucessor seria, normalmente o primogênito. NSo
obstante., Deus matou o primogênito de Arão, Nadabe (cf. Lv 10-1-
2), por oferecer-Uie "fogo estranho-" As Escrituras nos ensinam
taue Eleazar, o terceiro filho., era o sucessor de Arão, (Mm 20.26-28).
lyxiste um fato muito interessante relacionado com Eleazar. Deus
havia declarado que por causa da incredulidade de Israel e da falta
tfe confiança nEle para vencer os inimigos em Canaã, as únicas
pes soas daquela geração a quem seria permitido entrar em Canaã
seriam;.Calebe e Josué (cf. Mm 14.30). Mas notem bemí Eleazar era
o sacerdote daquela mesma geração. Contudo, entrou na terra
prometida com a nação de Israel. Verifiquem comigo très textos
que afirmam esse fato; o primeiro refere-se às instruções de Moisés
a Eleazar e Josué sobre a divisão da terra; o segundo fala da
realização daquela incumbência por estes dois após entrarem em
Canaã, Números 34,17, Josué 17.4 e 24.33, (veja Juizes 20*20):
"São estes os nomes dos homens que repartirão a terra por
herança: Eleazar, o,sacerdote, e Josué, filho de Num,"
"Estes chegaram diante de Eleazar, o sacerdote, c diante de
Ja£ué, filho de Num, e diante dos príncipes, dizendor O Senhor
ordenou a Moisés que nos desse herança no meio de nossos
irmãos, pelo que, segundo o dito do Senhor, Josué lhes deu
herança no meio dos irmãos do seu pai."
"Faleceu também Eleazar, filho de Arão, c o sepultaram em
Gibeá, pertencente a Finéias, seu filho__

Como podemos explicar essa aparente contradição na Pala- ^


vra de Deus? A mim me parece que Eleazar, sendo o ungido de
Deus, o sumo sacerdote para ministrar entre o povo como repre­
sentante de Cristo, não foi incluído naquela maldição de Deus
sobre aquela geração. Cristo jamais poderia ser maldito por Deus.
Parece-nos que até os sumos sacerdotes de futuras gerações que
agiram contra os princípios de Deus foram respeitados, não petas
ações, mas por sua posição tipológica. Dois casos notáveis que
defendem essa tese sã© os sumos sacerdotes que condenaram
Jesus e P^ulo, Caifãs e Ananias, aos quais farei referência mais
adiante. Portanto, concluo que o sumo sacerdote não era contado
com o povo em geral, e naquela geração em particular Peço que os
leitores não descartem essas observações; antesj façam um estudo
analítico dos contextos em que se indicam essas conclusões. Arão
88 A LEI E A GRAÇA
teve um outro filho que pertencia & mesma geração e exercia
também o sacerdócio; Itamar. NAo há nenhuma referência a ele
dejx>isqueentraramem Canaã, talvez sugerindo que havia morrido
com os demais.
No livro de Esdras (7.1-6), há uma lista dos sucessores ao
Sumo sacerdócio. Todos seguiram a mesma ordem, sendo filhos
dos sumos sacerdote* anteriores Infelizmente, essa ordem foi
quebrada (quando, não sabemos). No tempo de Cristo, e no inicia
da Igreja, tomou-ae um cargo de aspecto político»
Conforme o famoso historiador Josefo (Antigüidades XX,
v,2), um contemporâneo de Cristo, o sumo sacerdote era nomeado
ou eleito periodicamente, sendo que o sumo sacerdote José foi
deposto por Herodes, o mesmo que quis matar o menino Jesus. Ele
nomeou Ananias sumo sacerdote no Lugar de José, Ca i fãs era o
sumo sacerdote que condenou Jesus à morte. Parece tamanha
ironia que aquele que devia representai Cristo diante do povo era
justamente a pessoa responsável para determinar a crucificação
do Santo de Is r a e lPorém, tudo fazia parte do plano de Deus, que
jamais poderá ser frustrado.
Outra curiosidade 6 mencionada em Lucas 3.2, onde somos
Informados de que havia dois sumos sacerdotes, AnáseCaifás, no
tempo cm que Põncio Pílatos era governador da Judéia. Não há
nada nas EscritUías indicando que não devemos aceitar liberal­
mente essa declaração, Obviamente, revela o quanto Israel havia
se desviado das ordens dadas por Deus. João menciona outra
peculiaridade' refere-se a Caifás como sendo o sumo sacerdote
"naquele ano" (João 11,49-51; 1S.12-14). Atos 4.6 apresenta uma
lis La de nomes pertencentes à linhagem do sumo sacerdote, na
qual esses dois nomes apa recem*Por esses fa tos podemos ve ri fica r
o quanto havia sido pervertido oculto levítico no tempo de Cristo.
Deus havia falado claramente qual seria a conseqüencíar e Jesus
declarou que isso realmente havia acontecido: Levítico &33>;
Mateus 23.27:

. . ohservarels as prescrições do Senhor, para que não


morrais."
"Ai de vós, âscjfibãs e fariseus, hipócritas! porque sois
semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora se mostram
belos, mas interiormente etitão cheios de ossos de mortos» e de
muita imundíeia."
Os Sumos Sacerdotes ãos Dois Concertos 89

Os profetas do Velho Testamento condenavam a prostituição


espiritual dc Israel por ter-se desviado de Deus e de Suas instru-
Çfies, partindo do próprio sumo sacerdote, o representante do
Senhor diante do povo. Não é de se estranhar, então, que Israel
fosso um rebanho verdadeiramente extraviado. Jeremias 50,6
declara que o povo do Senhor estava perdido porque seus pastores
o fizeram errar e o deixaram desviar para. os montes. Mas graças
a Deus, tudo isso mudou, quando o Senhor tomou-se nosso Sumo
Sacerdote. EleéoHom, Etem oeFiel Pastor que jamais abondonará
Seu rebanho, Podemos confiar nEle! Hebreus 13.8, 8.6 o 3.1:

"Jesus Cristo ontem e hoje o mesmo e o será para sempre."


* Agora, com efeito, obteve Jesus min istério tanto mais
excelente, quanto é Ele também mediador de superior aliança
instituída com base em superiores promessas,"
"Por isso, sa ritos irmãos, que participais da vocação celestial,
considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa
confissão, Jesus Cristo."

Graças a Deus por nosso Sumo Sactirdote que nos convida;

* Vindtí a mim todos os que estais cansados e sobrecarrega­


d os, e eu vos aliviarei.'' Mateus 11,28
Capítulo Nove

Os Dois Sacerdócios
Apesar de a tipologia do sumo sacerdócio ser exclusivamente
de Cristo, os outros sacerdotes são típicos dos crentes em diversos
sentidos. Verifica-se isso pelo ministério deles, suas limitações,
restrições, e por sua disciplina.
Queridos leitores, desejo que cada um de nós compreenda a
importância desse simbolismo, especialmente em relação à nossa
vida diária com Cristo e nosso ministério para Ele. Além dos tipos
apresentados, haverá muitas aplicações práticas às nossas vidas,
para a glorificação do nosso Senhor. Continuo reconhecendo que
muitas pessoas interpretam esses textos pura e simplesmente no
sentido histórico, deixando de enxergar como Deus deseja aplicar
esses princípios à vida do crente, O resultado é um prejuteo
espiritual e uma grande falta de compreensão do valor espiritual
do Velho Testamento. Por outro lado, se algum leitor não concor­
dar com o simbolismo aqui apresentado, ao menos não deixe de
pedir que Deus efetue essas aplicações pessoais para que experi­
mente uma comunhão mais íntima com Ele.
Notamos que Deus escolheu uma tribo inteira para servi-lO,
a tribo deLevi. Também verificamos que apenas os descendentes
de Arão teriam o direito de exercer o sacerdócio. Todo o Israel era
chamado povo de Deus, sendo objeto das mesmas promessas
feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Todos estes haviam sido agraciados
igualmente pela libertação da escravidão no Egito. Todos recebe­
ram o mesmo cuidado, provisão e direção de Deus cm sua jornada

91
92 A LEI E A GRAÇA

pelo deserto até o fim. Assim, por escolher apenas os filhos de


Arão para scrvj-lO como sacerdotes, Deus estabeleceu um con­
traste grande ao determinar o sacerdócio do novo concerto. Al­
guém poderia concluir que essa escolha justifica a distinção feita
tradicionalmente hoje entre os lideres e os demais crentes na
Igreja, que, por sinal, tem resultado em muito prejuízo espiritual.
Por hora desejo provar que a Palavra de Deus não endossa essa
conclusão; ao contrário, as Escrituras esclarecem que todos 09
crentes, sem uma única excessão, foram constituídos sacerdotes
no momento da sua. conversão.
Antes de prosseguir, parece imprescindível incluir alguns
textos bíblicos que comprovem essa alegação. Em primeiro lugar,
convém relembrar duas profecias divinas feitas a todo o povo de
Deus. A palavra sacerdote nesses versos é, na língua original, a
mesma que se refere ao ofício de Arão e seus filhos. Êxodo 19.6;
Isaías 61.6:

"Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. Sáo estas


as Palavras que falarás ao filhos de Israel/'
"Mas vós sereis chamados sacerdotes do SENHOR e vos
chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das
nações, e na sua glória vos gloriareis."

Por que, então. Deus separou um grupo exclusivo para servi-


-IO entre os israelitas, enquanto na nova aliança qualquer pessoa
que deseja aceitar a Cristo como Salvador torna-se um sacerdote?
A resposta baseia-se nas divergências entre o antigo e o novo
concerto. Na verdade. Deus fez diversas alianças históricas com
Seu povo. Um belo exemplo é o arco-íris e o concerto que Deus fez
com Noé. I ustamente por falta de entender essas distinções é que
alguns consideram Israel como parte integral da Igreja. Não
reconhecem as diferenças entre as alianças com Israel e com a
Igreja, conforme Deus expõe tão nitidamente no Novo Testamen­
to. Ampliaremos a consideração sobre essas distinções, ao estu­
darmos sobre a festa de Pentecostes. Basta observar aqui que, no
concerto com Israel, o serviço primordial do sacerdote era o
sacrifído constante de "animais, ministrando diante do altar de
bronze e dentro da tenda da congregação em prot do povo de
Israel. Ninguém, fora os sacerdotes, era autorizado a fazer sacri-
fíciossobreoaltar,nem entrarna tenda. O ministério deles não era
Os Dots Sacerdócios 93

missionário com o intuito de alcançar e ministrar as necessidades


das nações ao seu redor. Antes, o objetivo de Deus era a separação
delas, jamais receberam ordens para procurarem converter os
pagãos ao judaísmo. Por outro Lido, na aliança estabelecida pela
morte e ressurreição do nosso Sumo Sacerdote, o ministério do
sacerdote é bem mais amplo e comprometedor. Deus certamente
nos responsabiliza a ministrar diante dEIe, e por Ele, a todos os
crentes, ã semelhança dos sacerdotes levitas. Não obstante, nos
incumbiu de testemunhar diante do mundo inteiro, uma vez que
a obra redentora de Cristo foi feita para "toda criatura", oferecen­
do o caminho da salvação a todos, para a glória dEl c.
As últimas ordens que o Senhor deixou a Seus discípulos
contrastam totalmente com o concerto que Ele havia feito com
Israel. No primeiro concerto, Deus separou uma naçao específica
para ser o objeto do Seu cuidado. No entanto, não era um concerto
exclusivista porque às pessoas de outras nações era permitido
cultuar ao Deu3 de Israel sob certas condições, Há dezenas de
referências aos estrangeiros entre os israelitas e suas restrições e
benefícios, se eles escolhessem seguir as exigência» da aliança que
Deus havia feito com Israel, Dois exemplos bem conhecidos s«Io o
de Rute, a moabita, e od e Raabe, a cananéia: os nomes de ambas
aparecem na linhagem real, isto é,com o antecessoras do próprio
Cristo {Mateus 13; Rute 4.1S-21). Hebreus 11.31 dá ênfase ã vida
de fé de Raabe. Nem o próprio sogro, nem a esposa de Moisés
eram israeli tas (Êxodo 18,1 -12), mas Deus ins truiu Moisés, através
de Jctro, como governar Israel. Também Deus puniu a Arão o
Míriam por se queixarem contra a esposa de Moisés. No entanto,
todos esses estrangeiros congregados com Israel tiveram que se
aproximar de Deus por meio dos sacerdotes levi ticos e dos mes­
mos rituais e leis judaicas.
> Os dois sacerdócios são semelhan tes pois, tanto os sacerdotes
araônicos quanto os de Deus na igreja são pessoas separadas
exdiisi vamentepür Deus para servi-ÍO. Contudo, nenhum israelita,
for n, os de Arão, podia ser sacerdote em Israel mesmo que quises­
se. Nesse ponto, temos um dos maiores contrastes com a Igreja.
Deus tem aberto a porta do sacerdócio a todos quantos desejam
participar, ao crerem em Custo para a salvação, baseados no
convite "a quem quiser", Não coníundam isso com Universalismo,
porque Deus exige que cada um faça a escolha definitiva de
aceitar, ou não, o Salvador, Parece-nos oportuno inserir aqui as
94 A LEI E A GRAÇA

palavras de Paulo e Bamabé, dirigidas aos judeus, declarando o


que estes haviam escolhido, regitradas em Atos 13.46:

"Cumpria que a vós ou tros em primeiro lugar fosse pregada


a Palavra de Deus; mas, pos to que a rejeitais e a vós mesmos vos
julgais indignos da vi da eterna, eis aí que nos volvemos para os
gentios/'

O próprio Jesus, que se declarou ser a Porta (João 10.9),


nitidamente fez essa distinção, ao declarar que "estreita é a porta
e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que
acertam com ela" (Mateus 7.14). Há centenas de textos bíblicos
que confirmam isso. Vejam os seguintes:

"E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do


Senhor será salvo", (cf, Joel 2.32; Romanos 10,13)
"Mas agora sem leise manifestou a justiça de Deus testemu­
nhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deu s mediante a fé em
Jesus Crista, para todos (e sobre todos) os que crêem. . /',
Romanos 3.21-22a.
"Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não
entra em juízo, mas passou da morte para a vida", João 5.24.
"Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de
seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de peca­
dos", Atos 10,43.

Há muitos irmãos preciosos em Cristo que entendem que


Deus nunca desejou estender a salvação a todo aquele que queira
aceitã-la, Alegam que a obra redentora de Cristo não foi para
todos. Não aceitam textos como 2 Coríntios 5.14-15,2 Pedro 3.9; 1
João 2.1,2 e outros, em seus próprios contextos. Declaram que
Jesus morreu apenas para os eleitos, e que Deus predestinou
muitos para o inferno. Ignoram o atributo da onisdência de Deus,
que em dois textos explícitos é declarado ser a eleição conseqüên­
cia da presciência de Deus (1 Pedro 1*2 e Romanos 8.29-30). Na
realidade, negam que a vontade do homem seja um fator influente
na sua salvação* Trocam a causa pelo efeito, Não obstante, a
própria natureza de Deus nos revela que não há efeito sem que
exista alguma causa. Eleição e predestinação, tanto uma quanto a
outra, são efeitos, e nunca podem substituir a causa que é o
Os Dois Sacerdócios 95

atributo de presciência (aspecto da onisciência divina). Todos os


atributos (características atribuídas a Deus) são interdependentes-
Nenhum deles é exercido duma maneira que diminua, ou exclua,
o exercício dos demais. Nosso Deus é soberano e exerce a Sua
soberania em perfeita harmonia com a Sua onisciência , Há inúme-
XOS textos bíblicos, desde a criação de Adão, que revelam a
qualidade da vontade própria; nenhum exercício dela é alheio à
Oniaciência de Deita, Deus não criou Adão para pecar, mas deu-lhe
a possibilidade da livre escolha. Bscolheu mall Cai in teve a mesma
orientação de Abel, mas escolheu mal! Noé pregou à multidão por
ordem divina, mas os ouvintes escolheram mal. A terra de Canaã
foi prometida a todo o Israel, mas muitos escolheram não entrar,
contra a vontade e a promessa do Deus soberano* Deus fez a todos
a mesma promessa; não os obrigou, mas condenou-os por sua
incredulidade* Nada indica que os primogênitos dos egípcios não
teriam sido excluídos também do juízo de Deus pelo anjo da
morte; teriam que observar cuidadosamente aquelas instruções
dadas por Deus a Israel, observando a festa pascal, colocando o
sangue do cordeiro em cima e nos lados das suas portas, Certa­
mente os egípcios não deixaram de observar aquele procedimento
dos israelitas, mas não os imitaram
Deus não deseja que nenhum dos Seus filho* se afaste da
comunhão com Ele, cometendn pecados que f i T a m o Seu coração.
Portanto, não é segredo para ninguém que temos essa capacidade,
e que todos nós continuamos pecando. Se não existisse essa
capacidade de livre escolha, não haveria necessidate do ministério
intercesSÓiio de Cristo nos céus, ao ouvir as nossas confissões de
pecados. E essencial sempre levar em conta que antes mesmo de
Deus criar o homem, Ele sabia que todos exerceriam essa vontade
própria, tomando-se pecadores. Por isso, tomou as devidas provi­
dências (cf. 1 Pedro 1,17-21; Apocalipse 13,0b). Assim, manifes­
tou-se a verdadeira soberania de Deus Afinal, foi por causa dessa
pecaminosidade do homem que foi necessário o estabelecimento
do sacerdócio como intermediário entre Deus e o homem, através
das exigências do culto judaico. Nós, crentEs, temos uma missão
semelhante. Somos os representantes de Deus diante de um
mundo perdido e afastado dEIe; somos o "único meio pelo qual este
mundo pode ser reconciliado com o Senhor. Deus nos tem decla­
rado seus sacerdotes, revestindo-nos com o Espírito Santo para
esse fim. Precisamos representar Deus diante dos homens, en­
96 A. LEI E A GRAÇA

quanto intercedemos diante dEIe pelos homens. Esse foi, essenci­


almente, o ministério dos sacerdotes levitas. O capítulo 10 de
Romanos esclarece perfeitamente que não há salvação fora de
Cristo! Não há salvação em Cristo sem uma escolha pessoal e
individual] Não há maneira de ouvir essa Palavra sem que os
sacerdotes do novo concerto sejam os mensageiros do Senhor!
(Amados, examineme meditem nos princípios destacados naque­
le capítulo. Apesar de ter sido dirigido especificamente aos ju ­
deus, os princípios são imutáveis no plano de Deus para a
evangelização do mundo.) Obviamente, pelo fato de a maioria dos
seres viventes, incluindo mais de duas mil tribos indígenas (deze­
nas delas aqui no Brasil), nunca ter ouvido a mensagem de
salvação em Cristo, a grande maioria dos sacerdotes do Senhor
não está exercendo o seu sacerdócio. Houve muitos sacerdotes da
ordem levítica que eramigualmente infiéis, deixandode ministrar
de acordo com as exigências da aliança que Deus havia feito com
aquele povo. Encontramos um exemplo impressionante na famí­
lia de Eli (1 Samuel 2.12,17, e 22):
"Eram, porém, os filhos de Eli, filhos de Belial, e não se
importavam com o Senhor.,. Era, pois, mui grande o pecado
destes moços perante o Senhor, porquanto eles desprezavam a
oferta do Senhor.. . Era, porém, Eli já mui velho, e ouvia tudo
quan to seus filhos faziam a tod o o Is rael, e de como se dei tavam
com as mulheres que serviam à porta da tenda da congrega­
ção."
Será que a desobediência dos sacerdotes de hoje é menos
desprezível do que a deles? Deus não criou robôs, mas objetos de
Seu amor, concedendo-nos o privilégio de escolher aceitá-IO e
servi-IO. Portanto, é indispensável que tenhamos um entendi­
mento claro sobre essas distinções e simbolismos entre a aliança,
feita a Igreja, quando Cristo se ofereceu voluntariamente, o verda­
deiro cordeiro de Deus, eliminando de uma vez para sempre, a
necessidade daqueles sacrifícios contínuos que simbolizavam o
próprio sacrifício dEIe.
E necessário examinar outra vez certos textos de Êxodo e
Levítico que foram mencionados ao estudarmos sobre o sumo
sacerdote, Neles há certas exigências idênticas feitas aos sacerdo­
tes em geral. Prentendemos, em seguida, verificar a seriedade
dessas exigências e as conseqüências em desobedecê-las. Convém
Os Dois Sacerdócios 97

revê-ias para compeender que muitos símbolos referentes ao


sacerdócio levítico são qualidades que Deus deseja manifestar na
Vida dos Seus sacerdotes hoje. Afinal, o propósito de Deus para
Cada filho dEIe é que seja conformado à imagem de Seu Filho,
representando-O fielmente diante do mundo* Esse propósito é
bem esboçado em Romanos 8.29:
"Portanto, aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conforme à imagèm de seu Filho, a fim
de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos."
Infelizmente, talvez a maioria dos sacerdotes na Igreja seja
mais infiel do que os da aliança com Israel em cumprir o seu
ministério. Certamente, todos nós estamos longe de ter alcançado
a perfeita comunhão com Cristo, testemunhando dEIe de acordo
com as ordens e de.sejo do Senhor, Contudo, muitos estão vivendo
exclusivamente para si, sendo essa a principal razão pela qual a
maioria dos habitantes da terra ainda espera para ouvir as Boas
Novas de salvação em Cristo pela primeira vez, E Deus continua
perguntando: "Como ouvirão se não há quem pregue?" Parece
que à maior parte dos sacerdotes de hoje falta aquele entedimento
e a consagração manifestada na vida e através das palavras do
apóstolo Paulo, registradas em 2 Coríntios 5.14-15:

"Pois, o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto:


um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou."

No culto judaico todas as confissões de pecado demandavam


a morte de um animal, o derramamento de sangue, e a identifica­
ção do pecador com o animal sacrificado como substituto. O único
sacrifício que poderia ser identificado como símbolo de salvação
era o do cordeiro pascaL Essa festa foi observada antes de Deus
ordenar o estabelecimento do sacerdócio; e, apesar da sua come­
moração anual, essa ocasião era no sentido de trazer à memória
aquela noite quando foram libertos da escravidão do Egito. Todos
os outros sacrifícios e ofertas envolvendo o sacerdócio serviam
para a restauração da comunhão por terem pecado contra Deus,
de ações de graças, ou para apontar um evento futuro no plano
universal e eterno de Deus. Ao estudarmos sobre as festas, esse
98 A LEI E A GRAÇA
simbolismo deve tomar-se mais nítido, Jesus, ao tomar sobre Si os
nossos pecados, não apenas abriu a porta da salvação, mas a da
comunhão também. Basta, cada vez que Deus revelar pecado em
nossas vidas, apelar diretamente para Ele, que advoga por nós
diante do Pai, com base exclusivamente no Seu próprio sacrifício
a nosso favor (Hebreus 10.19-24), Isso, o povo de Israel não podia
fazer sem a mediação dos sacerdotes. A Igreja romana continua
apelando ao sistema do sacerdócio levítico, declarando seus sacer­
dotes intermediários indispensáveis para os seus adeptos obte­
rem perdão dos pecados. Parece haver duas razões para isso:
primeiramente, não entendem, ou não aceitam, a Palavra de Deus;
em segundo lugar, a preservação desse sistema é muito lucrativo,
(Hebreus 10.11-14).
O próximo capítulo tratará de comparações mais específicas.

"Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é


poderoso para socorrer os que são tentados." Hebreus 2.18
Capítulo Dez

A Tipologia
do Sacerdócio
Ao iniciar este capítulo, é necessário fazer uma breve re toma­
da dos capítulos anteriores para fixar claramente em nossas men­
tes o plano de Deus em relação ao sacerdócio.
A palavra hebraica para sacerdote é kohen. Pode ser definida
nos seguintes termos: alguém que toma o lugar de outro para o
defender e para fazer mediação por ele. Em outras palavras, ele faz
intercessão com o intuito de manter ou restabelecer comunhão,
seja qual for a religião. Esse foi o propósito de Deus para o
sacerdócio levítico e o é para os salvos também. É claro que não
somos mediadores entre o homem e Deus Pai. Nossa mediação é
a favor dos outros em oração junto ao nosso Advogado Celeste.
Ele, então, exerce Sua mediação diante do Pai. Não exageramos se
:concluirmos que o sacerdócio levítico era totalmente simbólico e
típico do ministério confiado por Deus a cada filho dEIe na Igreja.
Justifica-se essa alegação pelo fato de que todo o concerto judaico
iapontava a obra redentora de Cristo. Uma das melhores confirma­
ções dessa proposta de Deus encontra-se em Números 18.20:
"Disse também o SENHOR a Arão: Na sua terra herança
nenhuma terás, e no meio deles nenhuma porção terás: eu sou
a tua porção e a tua herança no meio dos filhos de Israel",
(cf. DeuteronÔmio 10.9,18,2; Josué 18,7a).
99
\

100 A LEI E A GRAÇA

Apesar de todos nós reconhecermos que a herança do crente


não é terrena, sempre é valioso relembrar,as promessas do Senhor
nesse sentido. Infelizmente, parece que muitos crentes estão tão
apegados às coisas do mundo quanto os incrédulos, equecendo-se
de que somos cidadãos dos céus e não temos herança aqui no
mundo. Um grande número de sacerdotes do Senhor está mais
preocupado com aquilo que pode adquirir ou acumular aqui na
terra do que exercer o seu ministério em prol da nossa verdadeira
pátria. Há muitos textos neotestamentários que comprovam a
verdadeira herança do crente. No momento, bastam estes:

"B end ito o D eus e Pai de nosso Senhor Jesus C risto que,
segundo a sua m isericórdia, nos regenerou para um a viva
esperança m ediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os
m ortos, para um a herança incorruptível, sem m ácula, im ar-
cescível, reservada nos céus para vós outros. " 1 Pedro 1.3-4
"D an d o graças ao Pai que vos fez idôneos à parte que vos
cabe da herança dos santos na lu z ." C olossenses 1.12
"B en d ito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que tem
nos abençoado com toda sorte de bênção nas regiões celestiais
em Cristo/' E fé sio s l.3 (cf. H ebreus 11.13,16; 2 Coríntios 5.1, 2).

Devemos inserir aqui outro lembrete sobre a semelhança


entre o sacerdócio levítico e o nosso. Apenas os filhos e descenden-
tes do sumo sacerdote levítico poderiam ser sacerdotes.
Semelhantemente, os únicos sacerdotes de Deus hoje são os pFó-
prios filhos dEIe, descendentes qualificados por meio do nosso
Sumo Sacerdote. E uma herança familiar. O único pré-requisito é
ser filho de Deus. Isso elimina automaticamente todos aqueles
que não são nascidos de novo, Se você, amado leitor, não se
entregou a Cristo ainda, aceitando a mediação dEIe em seu favor
diante do Pai, você não recebeu esse sacerdócio. Paulo escreveu
aos romanos:

"V ó s, porém , não estais n a carne, m as no Espírito, se de fato


o Espírito de D eus habita em vós. Se alguém não tem o Espírito
de Cristo, esse tal não é dEIe." Rom anos 8.9

Como nunca poderia existir dois sumos sacerdotes simulta­


neamente, necessitando sempre a morte do anterior para que
houvesse sucessor, houve, obrigtoriamente, muitos sucessores
A Tipologia do Sacerdócio 101

desde Arão, até que Cristo "aboliu na sua carne a lei dos manda­
mentos na forma de ordenanças" (Efésios 2.15), tornando-se o
Sumo Sacerdote Eterno. Por isso as Escrituras O declaram como
o primogênito entre muitos irmãos (Romanos 8.29). Já pensaram?
Por meio da nossa filiação com Deus, tornamo-nos irmãos de
Cristo. Portanto, Deus nos tem concedido todas as regalias do
sacerdócio. Ele nos vê de modo como vê a Seu Filho Jesus, com
uma grande excessão: apenas Cristo é eternamente o Sumo Sacer­
dote. No entanto, nosso sacerdócio é tão inalterável quanto o sumo
Sacerdócio de Cristo, porque a nossa filiação é eterna. E importan­
te esclarecer que, ao se estabelecer o novo concerto, mudou a
família sacerdotal. O sacerdócio levítico era típico — do antítipo,
Cristo, e da Sua Igreja. Que privilégio! Porém, que responsabilida­
de! Como estamos exercendo nosso sacerdócio? Estamos repre­
sentando fielmente o nosso Senhor diante do mundo? Deus está
dependendo dos Seus sacerdotes para esse fim.
Moisés descreve as exigências que qualificam os sacerdotes
do período da lei. Muitos detalhes são idênticos àqueles que foram
feitos para a consagração de Arão como sumo sacerdote. Deus
procura as mesmas qualidades e faz as mesmas exigências hoje
aos Seus sacerdotes, não para que sejam sacerdotes, mas para que
possam representá-lO de modo digno. Examinemos novamente
algumas daquelas exigências, aplicando-as prática e tipicamente
a nós filhos de Deus. Nosso texto inicial é Levítico 8.5, 6:

"Então disse Moisés à congregação: Isto é o que o SENHOR


ordenou que se fizesse. E fez chegar a Arão e a seus filhos, e os
lavou com água."

O simbolismo, ou tipologia, de água foi comprovado no


estudo sobre o sumo sacerdote. Um estudo cuidadoso das Escri­
turas revela que essa lavagem de consagração nunca se repetia.
Trata-se de confirmar a pessoa como sacerdote. Há um paralelo
muito lindo na vida do salvo que representa uma confirmação de
sua segurança de salvação. Todos os salvos tornam-se sacerdotes
ao receberem a Água da Vida, sendo purificados de uma vez para
sempre. O sacerdote levítico continuava sendo um pecador com a
necessidade de oferecer sacrifícios a favor dele mesmo, mas não
deixava de ser sacerdote. Da mesma forma, todos nós salvos
102 A LEI EA GRAÇA

somos exortados a confessar os nossos pecados para mantermos


comunhão com Cristo e a irmandade, mas não para manter o
nosso sacerdócio.
Uma das peças importantístimas no átrio do Tabemáculo, no
deserto, era a bacia de bronze. O livro "A Pessoa de Cristo no
Tabernáculo" apresenta um estudo detalhado sobre essa bacia.
Basta considerar aqui que era necessário para os sacerdotes lava­
rem as suas mãos e os seus pés cada vez que fossem exercer seu
ministério para que não morressem (Êxodo 13.17-21). Na prática,
há a possibilidade de o salvo ser espiritualmente morto em relação
à sua comunhão com Deus e com os irmãos em Cristo; pode se
desqualificar totalmente para o serviço do Senhor. Paulo nos dá
alguns exemplos em suas epístolas. Em 1 Timóteo 1.19-20 há a
descrição do estado espiritual decadente de Himeneu e Alexan­
dre. Em 1 Coríntios 5.4-5 há o relato do caso do fornicador. Nas
duas referências Paulo os entregou a Satanás, não para a condena­
ção de suas almas, mas para a provação de suas vidas.
". . .portanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência
vieram a naufragar na fé. E entre esses se contam Himeneu e
Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castiga­
dos, a fim de não mais blasfemarem."

" .., em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito,


com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a
destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do
Senhor (Jesus)/'
Retomemos nossa atenção à bacia de bronze e à lavagem
para o serviço. Seria oportuno considerar uma lição dada pelo
Senhor Jesus aos Seus discípulos na noite da última ceia da qual
participaram juntos. Não há dúvida, na opinião deste escritor, de
que Jesus os estava lembrando da exigência feita aos sacerdotes
levíticos. Vejamos alguns detalhes em João 13.1-17. João relata
que, após a ceia, o Senhor tirou a vestimenta exterior, cingiu-se
com uma toalha, colocou água numa bacia e lavou e enxugou os
pés dos Seus discípulos. Jesus deixou bem claro que esse ato não
tinha nada a ver com a salvação, pela resposta que deu a Pedro
quando este queria que Jesus lavasse todo o corpo dele. Ao
terminar a lição, Cristo fez a aplicação. Qual era? João 13.13-15:
A Tipologia do Sacerdócio 103
"Vós me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque
eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos
dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também."

Não desejo entrar no aspecto literal dessa lição. Há muitos


Kmãos em Cristo que praticam esse costume como uma verdadei-
ra ordenança do Senhor para Sua Igreja. Mas o que importa para
■piso estudo é o significado tipológico. Esse fato ocorreu antes do
E a de Pentecostes, portanto, antes do início da Igreja, dentro do
Entigo concerto; da mesma forma, o batismo e a ceia do Senhor,
que também são simbólicos.
Jesus, nessa ocasião, declarou que estava ensinando a eles
pois princípios indispensáveis que deveriam caracterizar o minis­
tério deles. Em primeiro lugar, necessitariam reconhecer que seu
ministério primordial era ministrar ou servir uns aos outros. Ao
mesmo tempo, mostrou-lhes a necessidade de praticar esse servi­
ço em humildade e pureza. A história da Igreja, e seu estado atual,
|evelam que talvez a maioria dos sacerdotes do Senhor na Igreja
hão tem levado muito a sério essa lição. Não me refiro à lavagem
Ésica, e nem condeno nenhum grupo que a pratica como sendo
Éjídenança à Igreja, mas aos princípios sagrados apresentados.
Voltando a Levítico 8.13, averiguamos que os sacerdotes
foram vestidos com túnicas, cintos e tiaras. Êxodo 28.40-43 nos dá
ffikis informação, mencionando também a necessidade de calções
p linho. Todas elas eram confeccionadas com linho fino puríssimo,
p j é, branco. Afirma-se que aquelas vestes eram para "glória e
ffiÉiamento" (v. 40), e que os sacerdotes nunca podiam ministrar
K ante do Senhor sem que fossem vestidos com as quatro peças.
H á muitas evidências neotestamentárias de que os crentes, atuais
Sin istros do Senhor, devem praticar esse simbolismo em todos os
pazeres da vida diária, tanto no ministrar quanto no seu viver. Na
|ua primeira carta a Timóteo, Paulo escreveu:

" . . . torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no pocedimento,


no amor, na fé, na pureza." 1 Timóteo 4.12b

Não pode haver dúvidas de que o maior obstáculo na


■pangelizacão dos familiares e conhecidos de muitos crentes é a
falta dessa lavagem de santificação para servir ao Senhor, revelan­
104 A LEI E A GRAÇA

do a beleza de Cristo. Não demonstram a " glória e ornamento"


(tiféreth — beleza, honra) de Cristo no seu procedimento. Isso
explica a decadência espiritual da Igreja em nossos dias, tornando-
se indiferente ao ministério que declara ks riquezas em Cristo ao
mundo perdido, especialmente às regiões nunca alcançadas.
Porém, creio que há um outro simbolismo de suma importân­
cia nessas vestes. Eram brancas e cobriam o corpo, o que sugere
duas idéias simbólicas bem conceituadas, ligadas com a nossa
posição de santificação em Cristo. Mesmo que nenhum de nós
revele constantemente essa beleza de vidas consagradas a Cristo,
diante de Deus, todos os seus filhos gozam da mesma posição;
todos são "santificados", razão pela qual os salvos do Novo
Concerto são denominados "santos" nas Sagradas Escrituras. Há
diversos textos que confirmam essa posição. Hebreus 10.9-10,14
esclarece melhor:

" . . . então acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a


tua vondade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo
(concerto). Nessa vontade é que temos sido santificados, medi­
ante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.
Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos
estão sendo santificados."

Por causa dessa posição santificada, Deus nos declara "glori-


ficados", (Romanos 8.30); "abençoado com toda a sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo" (Efésios 1.3b); e objetos
da Sua infinita graça concedida a nós "gratuitamente no Amado"
(Efésios 1.6b).
Destacamos as duas frases sublinhadas no texto acima. Note
que, a construção gramatical esclarece que o ato é consumado e
não se refere à nossa conduta, mas à obra do Espírito Santo. "Para
sempre" revela um ato irrevogável, eterno, da parte de Deus.
Aleluia!
Portanto, para os sacerdotes levíticos serem revestidos com
essas vestes, são sugeridos dois símbolos significativos relaciona­
dos à nossa posição de santificação diante de Deus. Em primeiro
lugar, as vestes cobriam todo o corpo, deixando apenas os "instru­
mentos" de serviço (as mãos, os pés e os rostos) descobertos.
Colossenses 3.3 declara que a nossa vida "está oculta juntamente
com Cristo, em Deus". Em outras palavras, estamos revestidos na
A Tipologia do Sacerdócio 105
lantidade de Cristo. E, mais uma vez, observamos que as vestes
feram branquíssimas. Nenhum dos sacerdotes levitas, e, de fato,
nenhum de nós, jamais tem vivido sem pecado diante do Senhor.
Portanto, a alvura dessas vestes somente pode apontar a vida de
leristo e a posição conseqüente dos Seus sacerdotes nEle.
Vejamos algumas outras exigências feitas aos levitas que
bferecem lições valiosas a nós. Após se vestirem, Deus exigiu que
iOssem feitos mais alguns passos antes de iniciarem o próprio
Èniáustério. Como pretendemos estudar o significado das ofertas e
|iacrifícios na segunda parte deste livro, deixarei para descrever os
detalhes naquela ocasião; todavia, as palavras de Levítico 8.23-24
3ão relevantes aqui. Vejamos:

"E Moisés o imolou, e tomou do seu sangue, e o pôs sobre


a ponta da orelha direita de Arão, e sobre o polegar da sua mão
direita, e sobre o polegar do seu pé direito. Também fez chegar
os filhos de Arão; pôs daquele sangue sobre a ponta da orelha
direita deles, e sobre o polegar da mão direita, e sobre o polegar
do pé direito..."

Vamos analisar essa cerimônia para buscar aplicações práti-


f as a nós. Em primeiro lugar, observamos que o sangue do mesmo
animal sacrificado para purificar esses membros de serviço do
sumo sacerdote foi aplicado nos demais sacerdotes. Por quê?
§>imples! Aquele animal representava o sacrifício do próprio Cor­
deiro de Deus. E o sacrifício dEIe serviu para todos os sacerdotes
jde todos os tempos. Vale observar que nunca encontramos esse
jritual repetido na Palavra de Deus.
Cabe lembrarmos aqui algumas observações feitas anterior-
jpiente, ao estudarmos a consagração do sumo sacerdote. Orelha e
[polegares da mão e do pé direito representam audição, ação e
|ocomoção; essa ordem não acontece por acaso. É necessário
^escutar a voz do Senhor, recebermos Suas instruções, antes que
tentemos fazer qualquer serviço para Ele. A palavra empregada
ta qui para orelha indica dar ouvidos, escutar. Deus prometeu
idirigi-los, e Ele mesmo os instruiria. Ele deseja fazer igualmente
jentre seus sacerdotes hoje. Já tem baixado muitas ordens em Sua
tpalavra, mas facilmente se percebe que poucos sacerdotes de hòje
bstão dando ouvidos. Essa premissa baseia-se no fato de que
poucos sacerdotes estão gastando suas vidas no serviço do Se­
106 A LEI E A GRAÇA

nhor, ou sequer se locomovendo para os lugares distantes. Há


tantos povos necessitados esperando para ouvir que o Cordeiro de
Deus já foi sacrificado em favor deles. Existem inúmeras referên­
cias bíblicas sobre as infidelidades dos sacerdotes levitas por não
seguirem as instruções do Senhor com lealdade. O primeiro
capítulo de Malaquias basta como exemplo. Há, igualmente,
muitas evidências dessa mesma inconstância entre os sacerdotes
de hoje no Corpo de Cristo.
Nesse mesmo capítulo oito de Levitico,'Deus fala do óleo da
unção; o verso 30 nos informa do procedimento:

"Tomou Moisés também do óleo da unção, e do sangue que


estave sobre o altar, e o espargiu sobre Arão e as suas vestes; e
consagrou Arão e as suas vestes, e a seus filhos e as vestes de
seus filhos."

Que óleo era esse? Importa-nos examinar as instruções


divinas sobre a sua confecção para desvendarmos lições
preciosíssimas. Esse óleo é chamado "sagrado" na Palavra de
Deus. Os detalhes ordenados por Deus para a sua preparação
estão cuidadosamente descritas em Êxodo 30.22-33. Por ser o
contexto extenso, citaremos aqui a lista de ingredientes e faremos
uma tentativa de extrair aplicações válidas e valiosas. Em primeiro
lugar, Deus exigiu que todos os ingredientes fossem "os mais
excelentes". Era composto de mirra, cinamomo, cálamo, cássia e
azeite de oliveira, tudo em medidas exatas. Por duas vezes, no
verso 26, Deus declara que esse é "o óleo sagrado da unção". Pode­
mos extrair algum valor simbólico de cada um desses ingredien­
tes. Faremos nosso estudo na ordem em que eles aparecem na lista.
Fala-se primeiramente da mirra. Como já vimos, era uma
espécie de goma, em gotas, extraída de um tipo de árvore não
nativa na Palestina; de grande valor. O sedativo láudano é um
derivado seu. Por esse motivo é que o ofereceram a Jesus durante
Seu sofrimento na cruz, e Ele o rejeitou porque estava tomando
sobre Si "as nossas dores" (Isaías 53.4). Era, também, muito
amargo. Nosso Salvador suportou toda a amargura e ira dos seus
inimigos ao morrer por eles na cruz do Calvário. Parece-nos âté
profético porque entre os presentes que os reis magos do Oriente
trouxeram ao menino Jesus havia mirra, Mateus 2.11. (Aliás, o
ouro e o incenso também tiveram importância simbólica na vida
A Tipologia do Sacerdócio 107
fcninistério de Cristo.) Essa mesma essência fazia parte do com-
posto que Nicodemos e José de Arimatéia empregaram para
Bjívolver o Corpo de Cristo para o sepulcro (João 19.39-40).
Qual seria a aplicação para o sacerdócio, especialmente para
K|s? Deus afirma, em Romanos 6, que fomos crucificados, sepul-
tados e ressuscitados com Cristo. Esses são requisitos para que nos
Eçnemos sacerdotes. Temos que ser crucificados com Cristo e
nascidos de novo. Por isso, não pode haver nenhuma complacên-
cia dounrinária ou acordo feito com grupos ecumênicos, que não
Eperem a essa doutrina.
Repetimos aqui nossas observações sobre o segundo ingredi­
ente mencionado para a confecção do óleo sagrado: o cinamomo
bdoroso. Não se esqueçam, esse produto vinha doCeilão e de Java.
Era caríssimo. O noivo, Cristo, ao descrever a sua noiva, a Igreja,
em Cantares de Salomão, um livro puramente alegórico, faz a
pomparação dela com o cinamomo (do álamo também), entre
Òutras substâncias perfumosas.
É um fato irrefutável que o sacrifício de Cristo foi "um cheiro
Agradável" diante de Deus. Há uma referência interessante, feita
por Paulo, ao descrever Epafrodito; ele o chamou de "aroma
suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus" (Filipenses
4.18b). Será que Deus deseja menos para qualquer um dos Seus
•sacerdotes? Creio que não!
Cálamo aromático! Este produto era importado da índia.
Também era de grande valor; um tipo de planta canuda, possivel­
mente o gengibre. O cálamo é mencionado outras vezes na Bíblia,
sempre confirmando a sua preciosidade. Repete-se o simbolismo
-do cinamomo aromático, reforçando a idéia de sacrifícios de
aroma agradável diante de Deus. Essa expressão é usada repetida­
mente com relação aos sacrifícios, os quais pretendemos estudar
êm seguida.
A cássia era extraída da casca de uma árvore. Possuía um
cheiro semelhante ao do cinamomo, mas bem mais suave. O
dicionário a descreve suave com estes sinônimos: agradável;
aprazível; doce; meigo; brando; delicado, entre outros. Quem teria
a coragem de negar que cada uma dessas palavras descreve
fielmente o caráter do nosso Sumo Sacerdote? Todos os sacerdotes
do Senhor são exortados a demonstrar essas mesmas virtudes
para se conformarem à imagem de Cristo.
O significado da palavra cássia na língua original, é curvar-
108 A LEI E A GRAÇA

se, especialmente curvar a cabeça. Pode ser puramente coincidên­


cia, mas isso é um gesto de submissão a outros em muitas culturas.
Jesus submeteu-se voluntariamente, curvou-se com toda a humil­
dade, diante da autoridade do Pai, Os Seus sacerdotes devem
seguir esse exemplo, reconhecendo o senhorio de Cristo, curvan­
do-se diante dEIe como o cabeça da Igreja.
A substância que unia todos os ingredientes era o azeite de
oliva, A oliveira parece representar prosperidade e paz nas Sagra­
das Escrituras, Foi uma folha nova de oliveira que a pomba trouxe
a Noé; era sinal de que a enchente havia acabado, sinal de vida
nova, de que a paz reinava. Falando sobre a prosperidade futura
da nação de Israel, Deus mandou escrever, em Oséias 14.6:
"Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o
da oliveira, e sua fragância como a do Líbano."
Antes de prosseguir, desejo fazer referência a outro texto
relevante, que deve nos ajudar a compreender a importância
significativa da oliveira: Zacarias 4.1-6. Em vez de incluir o texto,
um pouco extenso, farei algumas observações, apenas* Contudo,
recomendo que cada leitor medite cuidadosamente sobre esses
versos. Eles tratam da quinta visão que Zacarias recebeu do
Senhor* Nela, Zacarias viu o candelabro de ouro, com as sete
lâmpadas, semalhante ao do Tabemâculo. Junto, havia uma bacia
de azeite e duas oliveiras. Zacarias não entendeu o significado da
visão; o anjo esclareceu-a com as seguintes palavras:
"Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força
nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos
Exércitos,"
Trata-se de uma definição. É declaradamente simbólica à
pessoa e ministério do Espírito Santo. Portanto, não precisamos
fazer interpretação nenhuma. Mas, sem dúvida, o texto nos ajuda
a compreender o mérito do azeite de oliva incorporado no óleo da
unção. Voltemos, então, nossa atenção a Êxodo 30.30,32:
"Também ungir ás a Arão e a seus filhos, e os consagra rás
para que me oficiem como sacerdotes. Não se ungirá com ele o
corpo do homem que não seja sacerdote, nem fareis outro
semelhante da mesma composição; é santo, e será santo para
vós outros."
A Tipologia do Sacerdócio 109

Contrário a muitas orações ouvidas tradicionalmente nos


cultos, para que Deus unja o mensageiro da ocasião, a Palavra de
Deus esclarece que todos os salvos são ungidos do Senhor uma
única, vez, Unção não significa poder, mas, sim, aprovação e
capacitação para ministrar diante do Senhor* A palavra nunca
aparece na Bíblia com outro sentido; a razão é óbvia: ao nos
tomarmos a habitação do Espírito Santo, jamais poderemos rece­
ber algo mais da parte de Deus, porque E1<j é Deus. Examinemos
alguns versos queieVelam e&sa verdade; 2 Coríntios 1.21; 2 João
1.20a, 27a:

"M as aquela que nos confirma convosco em Cristo, e nos


ungiu é Deus "
"E vós possuis unção que vem do Santo.. , "
"Quanto a vós outros, a unção q ue de le reçebestes permane­
ce em vós. . ,"

A única outra referência a essa palavra no Novo testamento


encontra-se em Hebreus 1 9, diz respeito ao Senhor Jesus, onde
aprendemos que Deus "O ungiu oom o óluo de alegria. . A
palavra no grego é crisma, significa cobrir ou untar, A Igreja
Romana usa a palavra para pra tic íir o a to de con í irmação na Igreja,
sendo um dos seus "sacramentos". Deus emprega essa palavra
biblicamentepara descrever Sua manifestação de aprovação Sobre
a vida do ungi do. Se alguém não é ungi do pelo Espírito, nem salvo
é; portanto, não pode ser sacerdote do D e u s A l t í s s i m o . Paulo, com
a orientação de Deus, escreveu aos R^mantíS (capítulo oito, verso
9b):

"E se alguém não tem o Espírito de Crista, esse tal não é


dele."

Querido leitor, se você é filho de E>eus, já foi constituído


sacerdote do Senhor, e ungido pelo Espírito Santo. Não fique
esperando, ou pedindo de Deus, outra unção, porque nunca
haverá. Seria totalmente contrário ã Palavra de Deus, e contra o
tipo revelado pelo sacerdócio levítioo. Aqueles sacerdotes foram
ungidos apenas uma ve£, como, igualmente, o Antítipo, o nosso
Sumo Sacerdote o foi. Portanto, o ministério de sacerdotes foi
franqueado a cadu salvo, e devemos agradecer ao Senhor, gastan-
110 A LEI EA GRAÇA
do as nossas vidas para servi-lO. Não se nega que há muitas
pessoas exercendo um ministério no nome de Cristo, mas jamais
foram ungidas por Deus pela simples razão de não conhecê-lO
pessoalmente; nunca foram lavadas pelo sangue de Cristo. Essa é
a razão pela qual Deus adverte tão veementemente para que a
composição da unção nunca fosse duplicada por ninguém, e que
era expressamen te proibido ungir o corpo de quem quer que fosse,
a não ser o dos sacerdotes. Por isso, encontramos a seguinte
advertência, em 1 João 4.1:
"Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai
os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profe­
tas têm saído pelo mundo afora."

Há mais um particular que desejo apontar aqui antes de


concluir este capitulo. Para que possam acompanhar meus pen­
samentos, e a aplicação que desejo fazer, examinemos Levítico
8.33-35:

"Também da porta da tenda da congregação não saireis por


sete dias, até □ dia em que se cumprirem os dias da vossa
consagração; porquan to por se te dias ele vos consagrará. Como
se tez neste dia, assim o SENHOR ordenou se fizesse, em
expiação por vós. Ficareis, pois, à porta da tenda da congrega-
ção dia e noite por sete dias, e observareis as prescrições do
Senhor, para que não morrais.. "
Já examinamos o significado do número sete. Apenas desejo
reafirmar que simboliza a perfeição. A tenda da congregação era,
no judaísmo, a habitação do Senhor. A ordem era para permane­
cer na presença do Senhor dia e noite, isto é, continuamente. O
texto nos apresenta a necessidade da santificação prática antes de
ministrar ao e para o Senhor. Todos já haviam sido consagrados
sacerdotes (a santificação posicionai), mas Deus ainda não deseja­
va que ministrassem. Precisavam passar por um tempo de prepa­
ração na presença dEIe. Caso contrário, não teriam condições para
observar fielmente "as prescrições do Senhor". Quantos são os
sacerdotes do Soihor, hoje, que deixam de observar esse conselho.
Antes, procuram ministrar ao Senhor por suas próprias forças e
pela sabedoria humana. Não precisamos procurar muito longe
pare verificar como isso tem sido desastroso para o corpo de
A Tipologia do Sacerdócio 111
Cristo, Mundanismo, camalídade e desobediência às ordens do
Senhor em geral são os resultados. A maioria dos salvos é tão
apegada ao materialismo quanto os incrédulos, e vive buscando
seus próprios interesses. Mas a verdadeira marca do sacerdote,
que tem passado tempo em íntima comunhão com Deus, ú com­
provada na medida em que obedece ao Senhor
"E aquele que guarda os seus mandamentos permanece em
Deus, e Deus nele-1; nisto conhecemos que Ele permanece em
nós, pelo Espírito que nos deu." 1 João 3.24
Capítulo Onze

Equipados Para
o Serviço do
Sacerdócio
Todos os sacerdotes necessitam de u m bom entendimento do
seu serviço e de como fazê-lo. Possivelmente, a falta de entendi­
mento entre os crentes hoje seja uma das principais razões pela
qual a obra de Deus tem sido tão negligenciada. Um estudo por­
menorizado das obrigações dos sacerdotes, tanto no culto judaico
quanto entre nós crentes, merece ser incluído neste ponto do livro.
Iniciarei tal estudo relembrando o significado da palavra
sacerdote no Velho Testamento, incluindo, também, o significado
no Novo Concerto que Deus fez com o homem por meio da morte
e ressurreição de Cristo. A palavra kohén, na língua hebraica,
significa alguém que oficia diante de Deus em prol de si mesmo e
dos outros. A mesma palavra é empregada seja qual for a religião
sob consideração. Em grego, a palavra sacerdote é Ititreus (relacio­
nada com a palavra Itieros— sagrada), referindo-se às pessoas que
oferecem sacrifícios e que são responsáveis por tudo aquilo que
pertence as mesmas pessoas e sacrifícios, Da mesma forma, como
observamos no Velho Testamento, a palavra é empregada no
Novo Testamento para referir-se não somente ao Cristianismo,
mas a servos de religiões pagas (Atos 14,13, referindo-se a Júpiter).
113
114 A LEI E A GRAÇA

Fizemos um rstudo minucioso sobre a escolha e consagração


do sacerdote judaico. Necessitamos fazê-lo, agora, sobre os sacer-
dotes na Igreja, E notável que na nova ordem, isto ê, na Igreja, não
existe nenhuma distinção entre o crente e o sacerdote, uma vez
que, para ser o primeiro, automaticamente torna-se o segundo.
Algumas religiões conhecidíssimas, e tradições eclesiásticas, têm
estabelecido uma divisão, chamando alguns de clero, outros de
Leigos, Deus desconhece essa distinção, É imprescindível reco­
nhecer que há distinção de dons e ministérios na Igreja, mas nunca
de pessoas porque Deus "nã o /az a oepção d e pessoas". Repetimos,
todos os crentes são sacerdotes, porque todos são membros da
família do nosso Sumo Sacerdote, É uma herança familiar, louva -
do seja o Senhor. Até o dia de Pentecostes, e até algumas vezes no
livro de Atos dos Apóstolos, a palavra ''sacerdote" referia-se ao
sistema judaico. No entanto, o sacerdócio de cada salvo é firme­
mente estabelecido através de alguns textos bíblicos, O Apóstolo
Pedro e o escritor do livro de Apocalipse escreveram:

também vós mesmos, como pedras que vivem, sois


edificador casL i espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por inter­
médio de Jesus Cristo/' 1 Pedro 1.5
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes
as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz," 1 Pedro 1.9
' ...e nos constituiu rrino, sacerdotes para o seu Deus e Fai,
a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos-, Amém/'
Apocalipse 1,6
"...e entoavam novo cântico, dizendo; Digno és de tomar o
livro e de abrir^lhe os selos, porque foste morto g com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino
e sacerdotes, e reinarão sobre a terra." Apocalipse 5,9-10

No momento, estamos desejosos para estabelecer a sinonímia


entre os termos que Deus emprega nesses versos, a fim de
confirmar a universalidade do sacerdócio entre as novas criaturas
em Cristo. Estaremos voltando nossa atenção a esses versos se­
guidamente com o intuito de verificar os propósitos de Deus em
nos constituir sacerdotes.
Equipados para o Serviço do Sacerdócio 115

Ao estabelecer o sacerdócio aarônico, Deus definiu em deta­


lhes o ministério desses servos* De certo modo, concluímos que
aquele ministério era missionário em caráter. Digo assim porque
a ninguém da nação de Israel, além dos sacerdotes, era permitido
entrar no santuário, o lugar de luz, comunhão, oração, enfim, da
beíeza simbólica do próprio Cristo. Semelhantemente, ninguém
hoje, fora o sacerdócio real, pode entrar na presença de Deus a
favor daqueles que ainda não conhecem a luz de Deus ou a
comunhão com Cristo. Logo, então, deduzimos que, para exercer
o nosso sacerdócio com fidelidade, temos que ser missionários
consagrados. Sem o ministério dos sacerdotes na Igreja, jamais
haverá outro meio para os perdidos chegarem a perljencer à
família de Deus. Aqui existe um grande contraste entre o Velho e
o Novo Concerto. No Velho, o sacerdote era intermediário, mas
aquele pelo qual intercedia nunca poderia tomar-se um sacerdote.
Através do nosso ministério, todos que aceitam o sacrifício feito
em nosso favor tornam-se sacerdotes também, e podem exercer o
mesmo ministério. Maravilhoso, não 6?
Imediatamente depois de os sacerdotes terem sido consagra­
dos diante do Senhor, Deus exigiu que se consagrassem diante do
povo. Eram tão pecadores quanto os demais israelitas. Faziam a
declaração publicamente, colocando as suas mãos sobre a cabeça
do animal a ser sacrificado, símbolo do supremo sacrifício de
Cristo. A segunda parte deste livro tratará desses sacrifícios, mas
em não os fazendo, os sacerdotes narônicos eram categoricamente
proibidos de se apresentarem diante do Senhor. Apenas deseja­
mos estabelecer um paralelo entre eles e nós. Se não aceitarmos
pessoalmente o sacrifício que Cristo fez em nosso lugar, jamais
poderemos ser sacerdotes; e se não retomarmos a Cristo constan­
temente, confessando nossos pecados e aceitando o perdão dEIe
para a purificação, não temos condições de exercer o sacerdócio.
Esse princípio é claramente apresentado em 1 João 1.8-10; 2.1-2. A
purificação pessoal era e é uma condição indispensável para
servir ao Senhor; sem ela, não temos condições diante de Deus,
nem do povo, para exercer o ministério a nós confiado.
Os sacerdotes levítícos haviam recebido um fogo dos céus
quando Deus se manifestou, no dia da sua consagração pública.
Esse fogo divino veio apenas uma só vez. Esse acontecimento é de
suma importância pelo fato de o fogo ser um símbolo do j ulga men-
to e purificação do Espírito Santo. Há diversas referências no
116 A LEI E /VGRAÇA

Velho Testamento onde encontramos que Deus se manifestou por


meio do fogo, consumindo as ofertas feitas a Ele. No entanto, i?ssa
referência acima mencionada é a única relacionada com o estabe­
lecimento do sacerdócio. Esse fogo, e nenhum outro, seria empre­
gado no ministério deles. Era conservado perpetuamente, sendo
que o s mcensários 'eram acesos por Ele
Veja mos o que isso sign ifica pa ra a Ig reja, Houve uma, apenas
uma, manifestação de algo parecido como fogo na história do
Cristianismo! Foi justamente no dia de Pentecostes, quando o
Espírito Santo, prometido por Jesus, fez sua rcsidência nos corpos
dos santos, e iniciou o seu ministério Como o Paracleto. Era o dia
do nascimento do novo sacerdócio.

"...e aparecerem, distribuídas entre t^les, línguas como de


fogo, e pousou uma sobre cada um dei rs."

Houve uma manifestação individual sobre os membros da­


quela assembléia, mencionada em Atos 1.16, Cristo os havta
advertido para esperarem em Jerusalém, A Paiavra de Deus
esclarece que os salvos recebem essa semelhança de fogo lá do alto,
a pessoa doEspiritoSanfu, uma única Vez também. O termo usado
para descrever essa experiência é "batismo no Espírito", Importa
que observemos as declarações de Deus, porque aquele c|ue não
recebeu esse batismo, não é sacerdote ainda e, portanto, n io é
qualificado para ministrar ao Senhor.

"Há somente um corpo e um Espírito, como também fosíes


chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só
Senhor, uma só fé, um sé batismo; um só Deuse Pai de todos,
o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos."
Efésios 4*4-8
'Pois, em um só Espírito,, todos nós fomos batizados em um
corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a
todos nós foi dado beber de um só Espírito." 1 Coríntios 12.13
tendo sido sepultados juntamente com Ele no batismo,
no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder
de Deus que o ressuscito d dentre osmorUjs "Colossenses2.12;
(cf. Romanos 6.3-5).

Esse batismo não deve ser confundido com aquele ordenado


por Cristo, e registrado em Mateus 23.19-20.0 batismo por água,
Equipados para o Serviço do Sacerdócio 117

conforme vemos praticado no livro de Atos, é simplesmente um


testemunho público àquele que já recebeu esse batismo no Espíri­
to. Obatismocom fogo, mencionado apenas nos Evangelhos, é um
a to de cond enação como o contexto plen amente esta belece (Ma teus
3.11-22; Lucas 3.16-17). Portanto, querido leitor, certamente você
não o receberá se for um sacerdote do Senhor.
A Bíblia retata dois acontecimentos trágicos do batismo de
fogo entre os israelitas. Oprimetro envolveu dois filhos do próprio
Arão, registrado emLevítico 10,1-7, Desejo traçar diversos parale­
los entre esse acontecimento e o ministério do Espírito Santo na
Igreja. Na medida em que estudarmos os diversos detalhes, intro­
duzirei o texto pertinente. Em primeiro lugar, examinaremos o
acontecimento em si; Levítico 10.1-2:

"Nadabc e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu


incensário, e puseram neles fogo, e sobro este, incenso, e
trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes
não ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os
consumiu; e morreram perante o Senhor."

Fogo estranho! O fogo que Deus havia mandado do céu para


consumir o sacrifício sobre o altar representava o Espírito Santo.
Era o único meio pelo qual o ministério dos sacerdotes seria aceito
diante do Senhor. Qualquer substituto produz morte. Tudo que é
produzido pela carne, ou pela vontade própria, estranho ao minis­
tério do Espírito Santo, é rejeitado por Deus e será consumido pelo
fogo, "porque o nosso Deus é fogo consumidor". O fogo que Deus
manifestará sobre o ministério dos sacerdotes da Igreja tem rela­
ção com o Tribunal de Cristo, onde tudo aquilo que não foi
produzido pelo ministério do Espírito Santo será consumido.
Apesar de ser um pouco extenso, importa examinar o seguinte
texto para estabelecer o paralelismo entre os dois concertos;
1 Coríntios 3.11-17:

"Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do


que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém
edífica sobre o fundamento ê ouro, prata, pedras preciosas,
madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um;
pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo
fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogoo provará. Sc
permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edi ficou,
118 A LEI E A GRAÇA
esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá
ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia como que através
do fogo. Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o
Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário
de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que
sois vós, é sagrado "

Nadabee Abiú morreram na hora, Com Deus não se brincai


Mas, apesar de sua morte física, etes eram sacerdotes. Não lhes foi
tirado o sacerdócio, mas, sim, o direito de ministrá-lo. Temos
apenas um exemplo no Novo Testamento onde vemos que Deus
tirou a vida repentinamente de dois sacerdotes dEIe. É o caso de
Ananias e Safira (Atos 5.1-11). Todavia, o texto acima não deixa
dúvidas de que os sacerdotes da Igreja podem ser atingidos com
o fogo de juízo. Haverá um dia de prestação de contas pela
maneira como honramos a Deus por meio desses santuários que
são nossos corpos. Lembrem-se de que o santuário de Deus no
tempo do culto judaico era primeiramente o Tabemáculo, e,
depois, o Templo; mas agora somos nós mesmos.
Mas será que pode haver outro tipo de morte além da física na
vida do crente? Notem o que nosso Deus nos responde em 1 João
5-16:
"Se alguém vir o seu irmão cometer pecado não para morte,
pedirá, e Deus lhe da rã vida, aos que não pecam para morte. Há
pecado para morte e por esse não digo que rogue." (Cf. 1
Coríntios 11.30).
A palavra-chave nesse verso é "irmão". Essa epístola foi
escrita à Igreja. As instruções, conselhos e advertências do verso
são todas dirigidas aos salvos. Deus declara que há possibilidade
de um salvo ser morto espiritualmente por causa do pecado, isto
é, sem condição nenhuma para manifestar o fruto do Espírito.
Deus nos aconselha nem orar por esses, O crente pode desrespei-
tar a Pessoa do Espírito Santo, que habita nele, a tal ponto de não
haver mais nenhuma manifestação da vida espiritual. Verifica­
mos o caso de Nadabe e Abiú. Colocaram fogo estranho em dma
do incenso sagrado. Como incenso, no Velho Testamento, é um
tipo de oração, temos uma comparação bem nítida entre os dois
casos. Deus proibiu que Arão, o próprio pai, lamentasse a morte
dos seus filhos; Levítico 10.6:
Equipados para o Serviço do Sacerdócio 119
"Não desgrenheis os vossos cabelos, nem rasgueis as vossas
vestes, para que não morrais, nem venha grande ira do Senhor
sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de
Israel, lamentem o incêndio que o Senhor suscitou."
Desejo fazer diversos comentários e comparações entre essa
advertência divina e o sacerdócio de hoje. Naturalmente, o proble­
ma principal no caso era uma deturpação de doutrina, isto é,
ordens absolutas e irrevogáveis do Senhor. Deus estabelece pa­
drões específicos para tratar do pecado entre a irmandade no
Corpo de Cristo. Se estivessem sendo executados pela direção e
poder do Espírito Santo, o testemunho da Igreja seria muito
diferente, Não posso incluir aqui todos os textos condizentes, mas
farei um resumo através de Romanos 16.17-18:
"Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam
divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que
aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a
Cristo, nosso Senhor, e sim, a seu próprio ventre; e, com suaves
palavras e lisonjas enganam os corações dos incautos."

Como se vê, o assunto é a doutrina, e o resultado é a divisão.


Se Deus não tivesse tomado uma medida drástica com Nadabe e
Abiu, outros sacerdotes poderiam ter seguido o exemplo deles. As
medidas de disciplina ensinadas para a Igreja, especialmente
nesses versos, têm em vista a mesma finalidade. Há sempre, na
congregação do Senhor, aqueles ingênuos que facilmente seriam
desviados do caminho certo. Reparamos que essa disciplina co ­
meçou com os próprios filhos de Arão, os primeiros sacerdotes na
ordem aarõnica, rara que a Igreja seja mantida pura, fiel aos
mandamentos do Senhor, ninguém pode ser poupado da discipli­
na. Todos os sacerdotes do Senhor estão igualmente sujeitos a se
desviarem. Os que estão na liderança da Igreja são os que exercem
a maior influência; mas, quase sempre, ou são os últimos a serem
disciplinados, ou nem são disciplinados. O resultado é sempre o
caos, e termina em divisão.
Há outras exemplos na história de Israel, quando Deus usou
métodos drásticos para disciplinar aqueles que estavam na lide-
rança da nação. Todos nós lembramos oomo Deus tratou com Arão
e Míriam quando se queixaram contra a esposa de Moisés. Mas
existe outro caso histórico que merece ser incluído aqui para
120 A LEI E A GRAÇA

reforçar a importância que Deus dá à disciplina, a fim de manter


o seu povo submisso ã liderança d file. Referimo-nos ao caso de
Coré, Datã e Abirão, registrado cm Números 16.1-25. Nâo há
necessidade de incluir todo o texto aqui. Faremos uma recapitula­
ção do aconteci men to, inel uindo apenas a lgu ns versos necessários
para um esclarecimento maior.
Aqueles homens, como outros influenciados, ao todo duzen­
tos e cinqüenta, eram "príncipes da congregação, eleitos por ela,
varões de renome" (16.2). Rebelaram-se contra Moisés e Arão,
querendo compartilhar da liderança de Israel no mesmo nível de
autoridade deles. Deus os fez lembrar, através de Moisés, que não
foram escolhidos para fazer o serviço doTabernáculo (v. 9), e que
Deus não aceitaria nenhuma oferta deles, qualquer uma, se não
fosse oferecida através dos sacerdotes (v. 15). Foram postos à
prova, pedindo que trouxessem incensãrios diante de Deus, e
fizeram-no (vv. 16-18). Naquela hora. Deus se manifestou glorio­
samente, e os versos 31-35 relatam a maneira como Deus os
disciplinou:

"Eaconteceu que, acabando ele (Moisés) de falar todas estas


palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca, e os
tragou com as suas casas, como também a todos os homens que
pertenciam a Coré, e a todos os seus bens, Eles e todos os que
lhes pertenciam desceram vivos ao abismo, a terra os cobriu, e
pereceram do meio da congregação. Todo o Israel, que estava
ao redor deies fugiu do seu grito porque diziam: Não suceda
que a terra nos trague a nós também. Procedente do Senhor
saiu fogo e consumiu os duzentos e cinqüenta homens que
ofereciam incenso,"

Não eram sacerdotes. Portanto, não poderiam fazer ofertas,


nem orações (pelos incensários) a Deus, em favor de Israel, nem
sequer em favor deles mesmos. Deus consumiu-os pelo fogo,
lançando-os no abismo, ou seja, "seol ’. Esse é o mesmo lugar
descrito no Novo Testamento como habitação dos demônios
(Lucas 8.31), e lugar de tormento (Apocalipse 9.1), A palavra nem
sempre é empregada para indicar lugar de sofri men to, mas obvia­
mente nesse caso o é, Não importa o quanto aquele que não é
sacerdote tente oferecer sacrifícios, ofertas ou orações ao Deus
verdadeiro, nem por isso escapará da eternidade num lugar de
tormento. Deus não aceita nem um substituto para o lugar do
Ei]itip<idüs para o Serviço tio Sacerdócio ]21
Sacrifício Supremo que Ele fez por melo de Jesus. As únicas
pessoas qualificadas para fazer essas ofertas simbólicas de Cristo
são os verdadeiros salvos. Esses usurpadores foram rejeitados e
condenados. Não será diferente na ocasião do grande Trono
Branco (Apocalipse 19.11-14).
Apesar de nenhum israelita, além dos descendentes de Arão,
poder exercer o sacerdócio, não é o caso em nossos dias» Todos,
sem exceção, que aceitam o sacrifício deCristo para a expiação dos
seus pecados pessoais, tornar-se-ao sacerdotes, podendo oferecer
sacrifícios ao Senhor. Aliás, isso nos leva a considerar a principal
razão da constituição do sacerdócio levítico, e do sacerdócio da
[greja, isto é, fazer sacrifícios e ofertas em favor de si mesmos e do
povo em geral.
Relembramos as diversas observações feitas anteriormente
sobre os serviços dos sacerdotes aarânicos. Em primeiro lugar,
recordemos que eram todos descendentes de Arão, a figura sim­
bólica de Cristo. Foram instruídos para atender às necessidades
espirituais da nação de Israel por meio dos sacrifícios no altar de
bronze, apresentando as ofertas em gerai diante de Deus, entran­
do na tenda da congregação para queimar incenso no altar e nos
seus incensãrios (símbolo de oração), a favor do povo, a atende­
rem os ritos de purificação para todos aqueles declarados imun­
dos diante de Deus, dirigi-los em louvores a Deus, e cuidarem de
qualquer outra necessidade espiritual da nação. Esses serviços
servem de exemplos para cada um de nós, lavados pelo sangue de
Cristo, e constituídos sacerdotes.
Antes de prosseguir neste aspecto do sacerdócio cristão,
desejo introduzir novamente dois versos de 1 lJedro. Anterior­
mente verificamos o fato do nosso sacerdócio através deles. Agora
desejamos verificar o propósito de Deus em nos tom ai sacerdotes
dEIe; 1 Pedro 2.5, 9:
"...sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio
santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a
Deus por intermédio de Jesus Cristo."
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim deproclamardes
rfs virtudes daquele que vos ihamou das trevas para a sua
maravilhosa luz."

O verso cinco destaca claram ente o propósito de Deus — que


122 A LEI E A GRAÇA
ofereçamos sacrifícios espirituais. Esclarece, também, que há ape­
nas uma maneira que seja do agrado dEIe. Seu Filho Jesus tem que
ser o intermediário sempre. O Senhor compartilha dons, cargos,
virtudes e capacidades entre os Seus sacerdotes, mas não aceita o
exercício de nenhum deles como sendo sacrifícios espirituais, se
não forem realizados por intermédio do Espírito de Cristo. Isso
nos é claramente ensinados em l Coríntios, capítulo treze. Porém,
se não estivermos oferecendo sacrifícios espirituais, estamos dei­
xando de oficiar como sacerdotes, Nem por isso deixamos de ser
sacerdotes. Convém, então, examinar quais são alguns desses
sacrifícios que Deus está exigindo de nós. Esse será o assunto do
próximo capítulo.

"Amados, nao estranheis o fogo ardente que surge no meio


de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraor­
dinária vos estivesse acontecendo; peto contrário, alegrai-vos
na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de
Cristo, para que também na revelação de sua glória vos alegreis
exultando," 1 Pedro 4.12-1
Capítulo Doze

Os Sacrifícios
dos Sacerdotes
O livro de Levítico é repleto de instruções sobre o ministério
e a conduta dos sacerdotes levitas. Logo nos primeiros sete capí­
tulos, Deus ensina o povo sobre os sacrifícios e ofertes a serem
oferecidos. Instrui, também, como os sacerdotes deveriam alimen­
tar-se. O capítulo 21 daquele livro 6 importantíssimo. Não preten­
do fazer um análise dos sacrifícios e ofertas nesse capítulo por
serem o assunto principal da segunda parte deste livro. No entan­
to, para que hafa uma comparação objetiva da tipolgia apresenta­
da, será necessário notar alguns detalhes sobre os diversos minis­
térios e responsabilidades dos sacerdotes.
OS SACERDOTES E O SANGUE
Há muitas seitas e falsas religiões no mundo que fazem
sacrifícios de animais, e até de humanos, porque crêem que é
necessário derramar sangue para obter favores dos seus deuses.
Há outras seitas que cultuam o próprio Satanás. Estas oferecem
sangue de gatos, cachorros, aves, porcos, e até de humanos, entre
outros animais, como sacrifícios a ele. Satanás tenta duplicar, ou
imitar, todas as exigências de Deus com o intuito de manter seus
adeptos nas trevas. Mas qualquer exame cuidadoso, feito através
da Palavra de Deus, revelará como Deus zelava pela santidade e
123
124 A LEI E A GRAÇA
pureza de todos os animais sacrificados,, por representarem Seu
Filho. Nós precisamos zelar pela santidade do sangue do Senhor
da mesma maneira. Infelizmente, há muitos, chamando-se pasto­
res, que negam totalmente a eficácia do sangue de Cristo. Chegam
a dizer que isto é a religião do açougue. Não há nenhuma maneira
de os sacerdotes reaís manterem comunhão com eles. Estes, na
realidade, nada têm a oferecer para purificar e perdoar o pecador.
Portanto, o ecumenismo pregado hoje é uma artimanha para
desviar os verdadeiros servos de Deus da mensagem de salvação
através do sacrifício de Cristo. Temos que defender, de corpo e
alma, a autenticidade de todas as Escrituras como sendo a revela­
ção completa e perfeita da vontade de Deus. Diversos capítulos de
Levítico ensinam oa rituais necessários para a purificação por
várias transgressões à lei de Deus. Apesar de tratarem de casos
específicos, muitos dos princípios envolvidos representam para­
lelos na vida do salvo. No caso do sangue perdido durante o parto
da mulher (cap. 12), ou no derramamento de sangue por qualquer
motivo, que não fosse oferecido ao Senhor, havia necessidade de
purificação. Isso tinha que ser feito pelo sacerdote. Exigia o sacri­
fício de um animal. Deus havia ensinado a Seu povo que o sangue
era sagrado porque "a vida de toda carne é o seu sangue"(Lv
17.14). Nenhum tipo de sangue podia ser consumido. Simbolizava
o sangue que o Cordeiro de Deus derramaria. Portanto, cada vez
que sangue era derramado além dos sacri fidos e ofertas ao Senhor,
Deus exigia um sacrifído compensatório, não importava quantas
vezes isso ocorresse. O sacerdote servia de intermediário para que
o culpado recebesse a purificação.
Nós, como sacerdotes de Deus, precisamos estar sempre
prontos para ensinar aos "impuros" que o sangue do Cordeiro
purifica de toda a impureza. O sacerdote, em si, não possuía
nenhum poder para perdoar o culpado, nem substituí-lo, fazendo
sacrifícios no lugar dele. Da mesma forma, nós não podemos
perdoar nenhum pecado contra os mandamentos do Senhor, nem
praticar nenhum ato para perdoá-los no lugar de Deus. Mas
podemos servir de instrumentos de justiça, apontando aos neces­
sitados o sangue purificador de Cristo. Não exige novo derrama­
mento de sangue, mas confiança na eficácia do supremo sacrifído
através do derramamento de sangue do Filho de Deus. Nem o
sacerdote judaico e muito menos nós temos qualquer outra men­
sagem para o pecador além do sangue remidor e purificador: "...
Os Sacrifícios dos Sacerdotes 125
Sem o d erram am ento d e sangue não h á rem issão".
Os capítulas 13 e 14 de Levítico tratam das Iras de purificação
dos leprosos. A lepra, além de ser uma doença muito comum no
Oriente Médio no tempo em que a Bíblia foi escrita, é simbólica do
pecado e da impureza. Contaminava todo o corpo da vítima.
Somente o sacerdote podia declarar se alguém era leproso, apesar
da possibilidade de o leproso pessoalmente reconhecer sua afli­
ção. Somente o sacerdote podia declará-lo limpo. Paralelamente,
quanto à salvação, apenas nosso Sumo Sacerdote tem o direito de
determinar se alguém é salvo ou nSo. Todavia, quando se trata de
pecado óbvio e persistente na vida de um crente, que contamina
o Corpo de Cristo, temos quecortara comunhão com o ofensor- Ao
mesmo tempo, tomamos todas as providências ao nosso alcance
para ver a pessoa restaurada à comunhão, assim como tomavam
todas as medidas possíveis para a recuperação do leproso. Mas
eles eram obrigados a ficar fora do arraial até que fossem curados.
Se fôssemos mais fiéis em aplicar a disciplina, estabelecida por
Deus, a ser exercida na Igreja, outros não seriam contaminados. A
lepra é muito contagiosa. O pecado na Igreja também o é. Obser­
vemos como o sacerdote agia no caso do leproso; Levítico 14.1 -2a:

"Disse o Senhor a Moisés: Esta será a lei do leproso no dia


da sua purificação: será levado ao sacerdote; e este sairá fora
do arraial, e o examinará." (Veja Lc 17.14).

Em seguida./ Deus elabora o ritual a ser praticado antes que o


leproso fosse declarado purificado, e antes que pudesse retomar
à comunhão. Observamos que o próprio sacerd ote teve que excercer
esse serviço fora do arraial. O estabelecimento da comunhão entre
os perdidos e os crentes rebeldes necessita ser feita "fora do
arraial". Em vez de procurarmos trazer os perdidos para dentro
das reuniões da igreja, para revelar-lhes o poder do sangue de
Cristo em purificá-los, nós precisamos estar ministrando à neces­
sidade espiritual deles "fora do arraial". Para podermos fazer uma
aplicação prática dessa figura, certos princípios de disciplina do
Novo Testemento devem ser introduzidos aqui
O primeiro caso que desejamos considerar encontra-se em
Mateus 18-15-20, Freqüentemente, ouvimos o verso vinte citado,
mas raramente contexto é aplicado. Trata-se de um pecador que
não se arrepende. Depois de esgotar todos os meios para corrigi'
126 A LEI E A GRAÇA

lo, ele é dedarado um "leproso" e posto fora "do arraial", ou da


comunhão da irmandade. A ordem é de Cristo mesmo, mas a
responsabilidade cai sobre os sacerdotes.
Romanos 16.17-18 apresenta-nos outro caso que exige medi­
das drásticas para preservar a pureza da Igreja. É o caso de irmãos
que provocam divisões, escândalos, discórdias, e desviam-se da
sã doutrina. O procedimento deve ser o mesmo, isto é, separação,
comunhão cortada, exclusão da congregação.
O próximo exemplo que desejamos considerar é da imundí-
cia dentro da congregação. Paulo escreve sobre isso em 1 Coríntios,
capítulo 5. Ele ficou horrorizado com o que estava acontecendo
naquela igreja. Em nenhum outro lugar das Escrituras encontra­
mos o ensino de uma disciplina mais dura do que nesse caso (cf.l
Tm 1.20). Primeiramente, ele condena a igreja pela indiferença ao
pecado no meio dela. Aconselhou entregar o principal ofensor a
Satanás,não para a destruição da alma,mas da carne. Em seguida,
incluiu diversas outras formas de imundída que certamente exis­
tiam entre eles. (Cremos que muitos outros tipos de pecado devem
ser considerados na mesma base). A ordem que o Espírito Santo
deu por meio de Paulo era "expulsai, pois, de entre vós o malfei­
tor/1' É a convicção deste escritor que continuamente existem
casos tão graves quanto esses no meio da Igreja hoje, mas
raramente observamos a disciplina sendo executada de acordo
com a Palavra. Parece-me que os sacerdotes estão sendo remissas.
Outro caso que achamos por bem incluir aqui está registrado
em2Ts 3.10-16. Trata-se de irmãos ociosos. Desde o nascimento da
Igreja, Deus sempre ensinou Seus filhos a cuidarem uns dos
outros. Mas nesse texto, Ele faz uma excessSo. Por que será?
Simplesmente, porque Deus deu uma ordem a Adão, depois de
este pecar, que a raça humana teria que sempre ganhar seu pão
pelo "suor do rosto". O livro de Provérbios condena rigorosamen­
te a indolência. É pecado, porque é contrário ao princípio estabe­
lecido pelo próprio Senhor. E como devem ser disciplinados esses
tais? Vejamos alguns versículos:

"...Se alguém não quer trabalhar, também não coma." Refe­


rindo-se aos desobedientes, a ordem é: "...notai-o; nem vo®
associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não
o considereis por inimigo, mas adverti-o como innão."(Cf, G1
6 .1)
Os Sacrifícios dos Sacerdotes 127
Deus deseja tanto que a pureza seja mantida na Igreja hoje
quanto exigia entre os israelitas dentro do arraia). Desobediência
ao Senhor é sempre pecado, seja qual for a forma com que se
apresente. Como Deus não faz distinção, nós, Seus servos, tam­
bém não devemos fazer, A responsabilidade de manter a pureza
do Corpo de Cristo sempre recai sobre os sacerdotes reais. Será
que o testemunho da Igreja não seria muito mais puro e frutífero
se essas disciplinas estivessem, sendo exercidas verdadeiramente?
Na análise finai/ precisamos perguntar a nós mesmos se a deca­
dência do sacerdócio aarônico (Malaquias 1) não revela um qua­
dro semelhante ao sacerdócio em muitas congregações hoje?
Há outros tipos de disciplina que devem ser praticadas na
comunidade cristã/ mas que não exigem o afastamento dos
ofensores; são medidas para evitar disciplinas mais enérgicas.
Contudo, se não houver arrependimento e mudança, podem,
também, exigir que os mesmos princípios de separação sejam
tomados. Concluímos, então, que como toda disciplina e cuidado
moral dentro da nação de Israel eram da responsabilidade de
todos os sacerdotes judaicos, assim toda a responsabilidade pela
disciplina e pureza dentro do Corpo de Cristo é dos salvos, os
sacerdotes reais.

Alimentação dos Sacerdotes


Os levitas não possuíam heranças terrestres, portanto, não
produziam a sua própria alimentação ( cf. DeuteronÔmio 12.12).
Seu tempo era dedicado exdusivamente a serviço do Tabemáculo,
e, mais tarde, do Templo. Assim, Deus providenciou outros meios
de alimentação para eles. Essa alimentação é extremamente
significante, porque era um quadro simbólico da alimentação
espiritual dos sacerdotes da Igreja. Mas antes vamos fazer algu­
mas observações sobre o dizimo em relação à alimentação deles;
Levítico 27.30-32:
'Também todas as dízimas da terra, tanto do grão do
campo, como o fruto das árvores, são do Senhor: santas são ao
Senhor. Se alguém das suas dízimas quiser resgatar alguma
coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre eta. No tocante às
dízimas do gado e do rebanho, de tudo que passa debaixo da
vara do pastor, o dízimo será santo ao Senhor."
128 A LEI E A GRAÇA

A única referência bíblica ao dízimo, antes que Deus ordenas­


se que fosse dado para sustentar o sacerdócio e o Tabemácuio, foi
quando Abraão ofereceu-ovoluntariamente ao rei Melquisedeque
(Gênesis 14.20). Mas Deus estabeleceu a lei do dízimo, porque era
essencial para sustentar o sistema judaico. Apesar de muitas
igrejas ensinarem o princípio de dar o dízimo, na realidade, essa
exigência fazia parte integral da lei mosaica, preenchendo uma
necessidade daquela ordem. Era através do dízimo que os animais
e os cereais eram arrecadados para os sacrifícios e ofertas requeri­
dos por Deus, e para prover o sustento dos levitas que serviam no
Tabernáculo. Tipificavam a Pessoa de Cristo, a Sua obra redentora
e purificadora, e o meio de comunhão do homem com Deus. Não
se encontra o ensino do dízimo nem uma vez nas instruções
doutrinárias ou administrativas relativas à Igreja. Aliás, a palavra
nem sequer aparece no Novo Testamento depois do dia de Pente­
costes, ao nascer a Igreja; exceto quando é feito um contraste entre
a nova ordem e a lei mosaica, no livro de Hebreus. Isso simples­
mente porque a ordem de serviço da Igreja é outra, e a providência
pelo suprimento das suas necessidades é muito superior. O
principal ensino dado à Igreja sobre contribuições para o sustento
da obra de Deus hoje encontra-se bem esboçado em 2 Coríntios,
capítulos 8 e 9. Nesses capítulos, Paulo encorajava os crentes a
demonstrarem seu amor a Cristo e aos irmãos na fé por meio de
suas contribuições. Ele os elogia porque "deram-se a si mesmos ao
Senhor" (8.5), em primeiro lugar. É nessa base que todas as ofertas
devem ser feitas ao Senhor pelo sustento e propagação da Igreja.
Tenho visto diversos casos, nos mais de quarenta anos de
ministério, onde esse princípio tem sido praticado. Até hoje, nun­
ca conheci um crente, motivado pelo amor de Cristo e consagrado
a Ele, cujas ofertas não excediam em muito o dízimo. A diferença
é a motivação por amor e não por obrigação, e esse deve ser o
princípio regente na Igreja. Deus nos revela o motivo dessa atitude
e a maneira como deve ser posta em prática em 8 .9 e 9.6-8:
"Pois conheceis a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que
sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua
pobreza vos tomasseis ricos."
"E isto afirmo; Aquele que semeia pouco, pouco também
ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também
ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração,
Os Sacrifícios dos Sacerdotes 129
não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem
dá com. alegria. Deus pode fazer-vos abundar cm toda graça,
a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência,
superabundeis em toda boa obra."

Todavia, dentro do culto judaico o dízimo era indispensável


e quem deixava de dar era considerado um ladrlo. Deus assim
declarou em Malaquias, capítulo três. Apesar de esse texto ser
citado muitas vezes para ensinar a prática do dízimo nas Igrejas,
ocontexto esclarece a natureza específica, dirigido exclusivamen­
te a Israel. Apesar de ser um pouco extenso, examinaremos alguns
detalhes traçados em Malaquias 3.8-12:
"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais, e
dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com
maldição sois amaldiçoados, porque a mim roubais, vós, a
nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que
haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o
Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não
derramar sobre vós bênção sem medida. Por vossa causa
repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto
da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor
dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão felizes, porque
vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos/'

Importa-nos interpretar diversas declarações dentro do con­


texto, comprovando claramente que essa instrução não seria
aplicável à Igreja por fazer parte do culto judaico. Em, primeiro
lugar, o tratar é nominal (filhos de Jacó, v. 6). Em seguida, Deus
declarou o motivo — a alimentação da Sua casa. Essa casa sob
consideração era o Templo, que cessou de ser a casa de Deus no dia
do nascimento da Igreja; é outro motivo para se concluir que a
instrução é exclusivista, abrangendo apenas Israel. A casa, o
templo, o santuário de Deus na era da Igreja é a vida do crente, e
não um prédio. Mais uma evidênda que confirma essa interpreta*
ção é que se trata de bênçãos terrestres sobre Israel. Por não ser a
cidadania do salvo terrestre, mas celestial, aplicando esses versos
aos crentes estaremos violando os princípios corretos de interpre­
tação bíblica. Contudo, esse texto apresenta um ponto básico
relacionado com a alimentação dos levitas, especialmente a dos
sacerdotes. É, portanto, muito importante procurarmos examiná-
130 A LEI EA GRAÇA
lo no contexto do culto judaico para extrairmos o sentido tipológico
para nós.
Esse dízimo de tudo , exigido por Deus, era para "que haja
mantimento na minha casa", induindo toda a tribo de Levi, que
servia na tenda da congregação.. Um estudo pormenorizado das
exigências da lei revelará que diversos tipos de sacrifícios e ofertas
teriam que ser oferecidos ao Senhor ininterruptamente, indepen­
dente dos sacrifícios e ofertas oferecidos pelos indivíduos, A fonte
de suprimento desses animais e cereais também era proveniente
do dízimo. Notamos que, ao falar dos dízimos, não se trata de
dinheiro, daquilo que seria oferecido ao Senhor, Eram os mesmos
dízimos que forneciam o alimento dos sacerdotes do Senhor, Em
outras palavras, o alimento dos sacerdotes e de todos aqueles que
serviam no Tabemáculo era exclusivamente daquilo que perten­
cia ao Senhor. O melhor esclarecimento nas Sagradas Escrituras
a respeito do dízimo e da sua finalidade encontra-se emNúmeros
18.21-31:
"Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por
herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congre­
gação. E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da
congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram,
Mas os levitas farão o serviço da congregação, e responderão
por suas faltas; estatuto perpétuo é este para todas as vossas
gerações. E não terão eles nenhuma herança no meio dos filhos
de Israel Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresen­
tam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas;
porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma
herança terão. Disse o Senhor a Moisés: Também falarás aos
levitas, e lhes dirás: Quando receberdes os dízimos da parte
dos filhos de Israel, que vos dei por herança, deles apresentareis
uma oferta ao Senhor, o dízimo dos dízimos. Atribuír-se-vos-
á avossa oferta; como se fosse grão da eiraye plenitude do lagar.
Assim apresentareis ao Senhor uma oferta de todos os vossos
dízimos, que receberdes dos filhos de Israel, e deles dareis a
oferta do Senhor a Arão, o sacerdote. De todas as vossas
dádivas apresentareis toda oferta do Senhor: do melhor delas,
a parte que Lhe é sagrada. Portanto lhes dirás: Quando ofere-
cerdes o melhor que há nos dízimos, o restante destes, como se
fosse produto da eira eproduto do lagar, se contará aos levitas.
Comê-lo-eis em todo lugar, vós e a vossa casa, porque é vossa
recompensa pelo vosso serviço na tenda da congregação,"
Os Sacrifícios dos Sacerdotes 131
Destacamos quatro pontos básicos: (1) era uma herança; (2)
era apenas para aqueles dedicados ao serviço da tenda da congre­
gação; (3) até os levitas eram obrigados a dar seus dízimos aos
sacerdotes; e, (4) era exigido que sempre dessem o melhor que
possuíam.
Quanto aos sacerdotes em particular, somente eles comiam
da mesa de pães asmos, da consagração (Levítico 24-5-9), e da
carne que era oferecida sobre o altar (Êxodo 29.32-34). No capítulo
22 de Levítico, ao descrever essa alimentação e as restrições a ela.
Deus declarou que aqueles animais eram o "pão do vosso Deus" (v.
25); representava a alimentação espiritual do salvo, uma vez que
simbolizava a própria pessoa de Jesus Cristo. Os pães asmos
simbolizavam a vida perfeita, sem pecado (sem fermento) dEIe,
enquanto a carne representava o corpo dEIe, sacrificado por nós.
Não há alimentação espiritual fora de comunhão com Deus atra­
vés do sacrifício de Cristo. Um estudo diligente do texto, especial­
mente observando as pessoas proibidas de participar dessa ali­
mentação, revela-nos uma lição espiritual profunda e lindíssima.
Por exemplo, sacerdotes leprosos, óu impuros por qualquer moti­
vo, estrangeiros, hóspedes dos sacerdotes, jomaleiros, e filhas
casadas com estrangeiros^vv. 4-12) eram todos proibidos de par­
ticipar da alimentação consagrada para o consumo do sacerdote,
porque "Não profanarão as cousas sagradas que os filhos de Israel
oferecem ao SENHOR"(v. 15).
Extrairemos algumas figuras e faremos aplicações às nossas
vidas. A alimentação espiritual não está ao alcançe de todos. Até
muitos filhos de Deus não têm condições de receber alímentaçãp
espiritual por estarem fora da comunhão com o Senhor, Muitos
crentes são "leprosos ou impuros” porque vivem no pecado, sem
nenhum sinal de arrependimento. Obviamente, eles não estão se
alimentando do Senhor Estrangeiros, hóspedes de sacerdotes,
jomaleiros, todos esses representam os que não são salvos, mesmo
que mantenham contato com os sacerdotes espirituais. Por não
fazerem parte do sacerdócio real, não têm condições para partici­
par da alimentação vinda dos céus. O último caso mencionado
também é muito interessante: filhas (ou filhos) de crentes, casados
com incrédulos estão em plena desobediência ao ensino bíblico e,
Conseqüentemente, a Deus. Portanto, não têm condições de parti­
cipar dos "pães asmos". Tantossalvos têm-se casado sem abênção
de Deus, escolhendo companheiros "fora do arraial" Não é pos­
132 A LEI E A GRAÇA

sível desobedecer ao Senhor e escapar ileso (cí. Números 13.28-29;


2 Coríntios 6.14-18), No entanto, há tuna grande diferença entre o
sistema judaico em todos esses casos e a Igreja. Por ser a graça de
Deus superabundante, se houver reconhecimento do erro e confis­
são do pecado, Deus nos restaura a comunhão com Ele, capacitan­
do-nos a nos alimentarmos novamente do Senhor. O "estrangei­
ro" toma-se sacerdote também na hora em que aceita o Cordeiro
de Deus.
Vejamos de onde vinha a carne que servia para a alimentação
dos sacerdotes levitas. Provinha, principalmente, dos animais
oferecidos sobre o altar, ou sacrificados ao Senhor pelo cozimento.

"Disse Moisés a Arãoe a seus filhos: Cozei a carne diante da


porta da tenda da congregação, e ali a comereis com o pão que
está no cesto da consagração, como tenho ordenado, dizendo:
Arão e seus filhos a comerão/' Levítico 8.31
"O sacerdote queimará a gordura sobre o altar, porém o
peito será de Arão e de seus filhos. Também a coxa direita
dareis ao sacerdote por oferta dos vossos sacrifícios pacíficos."
Levítico 7.31-32

Estudaremos cada uma dessas ofertas e sacrifícios


detalhadamente na segunda divisão deste livro. Portanto, nosso
objetivo imediato é apenas verificar que o sustento dos sacerdotes
constituía-se das coisas sagradas e oferecidas ao Senhor, represen-
tativas da própria pessoa de Cristo. Os verdadeiros filhos de Deus
têm apenas uma fonte de alimentação espiritual: o Pão da Vida. A
razão por que muitos crentes estão tão raquíticos é simplesmente
por serem como o filho pródigo (Lucas 15); alimentam-se com as
"alfarrobas que os porcos comiam."
Faremos mais duas observações antes de encerrarmos nossas
considerações sobre essa alimentação. Primeiramente, o lugar da
alimentação era na presença do Senhor, isto é, diante da porta da
tenda da congregação. A simples leitura da Palavra de Deus, sem
estarmos realmente na presença do Senhor, nunca servirá para
nos fortalecer no ministério ao qual Deus incumbiu a Igreja. Em
segundo lugar, notamos que Deus reservou a melhor carne do
animal para a alimentação dos sacerdotes. Oxalá cada filho de
Deus estivesse se alimentando da "carne" da Palavra, em vez de
estar se sustentando na base da mamadeira.
Os Sacrifícios dos Sacerdotes 133

Os Sacerdotes Desqualificados

O capítulo 21 de Levítico estabelece diversas leis para os


sacerdotes, todas com base no princípio apresentado no verso 6:

"Santos serão a seu Deus, e não profanarão o nome do seu


Deus, porque oferecem as ofertas queimadas do Senhor, o pão
de seu Deus: portanto serão santos."

Entre muitas outras proibições, não poderiam ser calvos, nem


cortar as extremidades da barba, Teriam que se manter puros nas
relações conjugais. Não poderiam possuir nenhum defeito físico.
Nada nas Escrituras Sagradas justificaria concluir que algum
defeito físico desses impediria que o salvo servisse ao Senhor, Por
outro lado, sendo o assunto deste capítulo a preservação da
santidade do sacerdote diante de Deus, podemos fazer aplicações
espirituais às vidas dos filhos de Deus. Todas aquelas restrições
envolviam defeitos que seriam aparentes de uma maneira ou de
outra, ou impediriam de servir ao Senhor em toda a Sua santidade.
O mundo está observando de perto a vida de cada salvo. Se houver
qualquer evidência de conduta não aprovada por Deus, ou de
aparência do mal, em nossas vidas, o resultado será um desprezo
à própria santidade de Deus pelos incrédulos. A ordem judaica
baseava-se estritamente num ministério terrestre, O Espírito San­
to não habitava na vida dos israelitas, porque Deus habitava no
meio deles, no Santo dos Santos, e a Sua presença era visível dia e
noite. Mas hoje a única evidência que o mundo tem da santidade
de Deus ê o testemunho de vida dos salvos. Por isso Deus exorta:
:"Sede santos porque eu sou santo". Qualquer impureza, manifes­
tada ou não, em nossas vidas nos desqualifica para exercer o
^sacerdócio espiritual. A reprovação do Senhor sobre o sacerdócio
judaico, no capítulo primeiro de Malaquias, deve servir de alerta
para todos os salvos. A santidade do Senhor é imutável e Ele
loontinua exigindo que a vida dos Seus sacerdotes seja santificada.

"Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo, e Deus nosso Pai


que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança,
pela graça, console os vossos corações e os confirme em toda
boa obra e boa palavra." 2 Tessalonicenses 2.16-17
Capítulo Um

Sacrifícios e Ofertas
Considerações
Gerais
Temos visto o cuidado exercido por Deus na escolha daque­
les que O serviriam para que a Sua Santidade fosse revelada diante
do Seu povo. Mas todo esse cuidado seria sem valor se esses servos
não soubessem como e com o que Deus desejaria que O servissem.
Imaginem alguém sendo escolhido com tanto cuidado para exer­
cer um cargo sem que soubesse o que seu supervisor desejaria que
ele fizesse. Portanto, ao instruir Moisés sobre as exigêndas da
santa lei, Deus induíu instruções específicas sobre os sacrifícios e
ofertas que seriam aceitos por Ele como declarações de arrependi­
mento, de restauração de comunhão e de expressões de louvor. O
estudo da importância das festas religiosas ficará para a última
divisão deste livro.
O mesmo zelo por detalhes que o Senhor exerceu ao escolher
os sacerdotes c o sumo sacerdote é exercido por Ele ao determinar
e descrever os diversos sacrifícios e ofertas aprovados para cultuá-
-ÍO de uma maneira aceitável. Os Seus sacerdotes e Seu povo
seriam aceitos na presença dEIe apenas na medida em que obser­
vassem aqueles detalhes. Por quê? Simplesmente porque esses
detalhes tinham significados tipológicos, representando algo rela­
cionado com o Antítipo e a Sua obra expiatória e intercessória.
137
138 A LEI E A GRAÇA

Voltamos a observar que sem uma compreensão do simbolismo


envolvido no concerto mosaico não é possível ver a presença e a
beleza de Cristo nesse concerto, O livro de Levítico realmente não
tem valor espiritual para nós hoje, se ignorarmos a importância
dos tipos e símbolos contidos nele.
E necessário observar que a apresentação de sacrifícios e
ofertas diante de Deus, com derramamento de sangue, não se
originaram com o estabelecimento da lei mosaica. Eles haviam
sido realizados desde que Adão e Eva pecaram ao desobedecerem
à ordem de Deus no Jardim do Éden.
Os primeiros animais foram sacrificados pelo próprio Deus
para encobrir a nudez daquele casal. Eles haviam tentado cobrir-
se com folhas da figueira, mas " com efeito todas as coisas se
purificam com sangue; e sem o derramamento de sangue não há
remissão", Hebreus 9*22. Portanto, o pecado deles requeria o
derramamento de sangue como recompensa. Apesar de o verso
citado relacionar-se com a lei mosaica, o princípio destacado é
inviolável por Deus, ser imutável. Veja o que Deus nos diz em
Romanos 5.14: "Entretanto reinou a morte desde Adão até Moisés,
mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da trans­
gressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir." O
Deus de Moisés era o Deus de Adão e Eva, Ele mesmo estabeleceu
o princípio do derramamento do sangue tão logo que o primeiro
homem tomou-se impuro. Aliás, é mais certo notar que o princí­
pio foi estabelecido antes mesmo de Deus criar o homem, como
afirma o apóstolo Pedro. Também, antes que os primeiros animais
fossem sacrificados, Deus profetizou que o preço do pecado seria
o derramamento de sangue do Seu Filho, quando se dirigiu a
Satanás (Gênesis 3.15), e confirmou isso em 1 Pedro 1.18-20:

"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendên­


cia e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar." Gênesis 3.15
sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedi­
mento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue,
como de cordeiro sem defeito e sem mácula; o sangue de Cristo,
conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém
manifestado no fim dos tempos, por amor de vós." 1 Pedro
1.18-20
Sacrifícios e Ofertas — Considerações Gerais 139
Notem bem! Deus dirigiu-se a Satanás, não a Adão e Eva.
Falou da "descendência" dele, A razão é simples, Todos nós
nascemos com a velha natureza adâmica (Romanos 5.12). Paulo
escreveu, em Efésios 2,3b: "e éramos por natureza filhos da iray
como também os demais." Mas Gênesis 3.15 faz referências a um
descendente singular da mulher, o Cordeiro de Deus, que seria
sacrificado para esmagar a cabeça de Satanás. Logo depois dessa
profecia, o contexto (v.21) relata que " fez o SENHOR Deus
vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu." A
profecia antecedia o sacrifício? O derramamento de sangue é
implícito porque requereu o sacrifício de um animal.,. G contexto
do capítulo 3 de G&nesis não descreve o significado daquele
sacrifício; mas Deus certamente ensinou ao casal que daí em
diante Ele exigiria esses sacrifícios. Confirma-se essa premissa
pelo fato de Abel trazer "das primícias do seu rebanho e a gordura
deste" (Gênesis 4.4). A Palavra de Deus não nos relata qual foi o
animal sacrificado para vestir Adão e Eva; todavia, justifica-se, por
duas razões, concluir que tenha sido um cordeiro imaculado das
primícias do rebanho. Em primeiro lugar, apontava o sacrifício
supremo que Deus faria por toda a humanidade na pessoa de
Cristo, o Cordeiro de Deus. Por outro lado, Abel. certamente
aprendeu dos seus próprios pais o que Deus exigia, não havendo
outros que pudessem ensiná-lo. Portanto, concluímos que Adão
e Eva compreenderam a importância daquele sacrifício, mesmo
que não pudessem entender o simbolismo, Notamos que Abel
sacrificou não apenas o cordeiro, mas a gordura também. Exami­
naremos a grande importância da gordura mais adiante. Também
deixaremos de comentar aqui sobre a oferta de Caim, até estudar­
mos sobre as ofertas de cereais ordenados por Deus.
Deus instruiu que Noé construísse a arca e nela colocasse as
diversas espécies de animais em pares, macho e fêmea, para que
pudessem procriar e habitar a terra depois do dilúvio. Mas Ele fez
uma exceção notável! Essa exceção revela que a ordenança dos
sacrifícios e ofertas existia muito antes da lei dada por Moisés.
Deus ordenou que Noé levasse sete pares de todos os animais e
aves limpos como providência para manter os sacrifícios e ofertas
depois do dilúvio, permitindo, assim, a continuação dos sacrifí­
cios e ofertas sem interromper o processo de procriação. Noé
confirmou seu entendimento do propósito de Deus porque seu
primeiro ato ao sair da arca foi construir um altar, oferecendo nele
140 A LEI E A GRAÇA

animais e aves limpos em holocausto (Gênesis 8.20).


Abraão, ao chegar a Betei, a terra prometida a ele pelo Senhor,
ergueu um altar invocando o nome do Senhor. A Palavra de Deus
não nos informa o que ele ofereceu nele, mas é lógico acreditar que
ele observou esse princípio já estabelecido. Quando voltou do
Egito para residirnovamenteemHebrom, uma vez mais ergeu um
altar como, de fato, o fez em diversas outras ocasiões. É do
conhecimento d a maioria dos cristãos que este mesmo Abraão, em
obediência às ordens do Senhor, edificou um altar no monte
Moriá. Ali pretendia oferecer seu único filho Jsaque, pela fé, e em
obediência às instruções divinas. Mas Deus proveu um carneiro,
um animal "limpo" como substituto (Gênesis 22)* Mesmo Isaque
também ergueu um altar para invocar o Senhor (Gênesis 26.25).
Seu filho, Jacó, ergueu altares (Gênesis 33.20; 35.7). Esses e outros
textos servem para exemplificar que o povo de Deus, desde Adão,
havia recebido instruções do Senhor para oferecer animais limpos
como sacrifícios e holocaustos. Esses sacrifícios típicos eram ne­
cessários até que chegasse o dia em que o verdadeiro Cordeiro de
Deus, o Antítipo, cumprisse cabalmente todos esses tipos pelo
sacrifício da Sua própria vida.
Outro exemplo nítido, confirmando que Israel entendia a
importância desses sacrifícios, encontra-se em Êxodo 10.25-26:

"Respondeu Moisés (a Faraó):Também tu nos tens dé dar


em nossas mãos sacrifícios e holocaustos, que ofereçamos ao
SENHOR, nosso Deus. E também os nossos rebanhos irão
conosco, nem uma unha ficará; porque deles havemos de
tomar, para servir ao SENHORnosso Deus, e não sabemos com
que havemos de servir ao SENHOR, até que cheguemos lá."

Essa observação da parte de Moisés é muito importante


porque antecede o estabelecimento da Páscoa e revela que Israel
tinha evidentemente o costume de fazer sacrifícios e holocaustos.
Tudo indica que isso fazia parte básica e tradicionalmente do seu
culto ao Deus Vivo. Moisés declarava que esses sacrifícios eram
essenciais para que eles servissem "ao SENHOR".
A prática de oferecerem essas ofertas e sacrifícios não era em
forma de lei, apesar de ser bem estabelecida durante toda a
história humana.
Na realidade, o ponto principal que Deus procurava estabe­
Sacrifícios e Ofertas — Considerações Gerais 141
lecer, desde Adão, era até que ponto o povo estaria disposto a dar
puvidos a Ele e demonstrar a sua submissão pela obediência. Deus
dá ênfase a esse fato ao falar com Jeremias:

"Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e


comei carne. Forque nada falei a vossos pais, no dia em que os
tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei cousa alguma acerca
de holocaustos ou sacrifícios, mas isto lhes ordenei, dizendo:
Dai ouvidos à minha vozye eu serei o vosso Deus, e vás sereis
o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordeno para
que vos vá bem." Jeremias 7.21b-23

No capítulo 12 de Êxodo Deus instruiu os israelitas a respeito


de como observariam a Páscoa e a semana dos pães asmos. É a
primeira ordem explícita e detalhada sobre sacrifícios que se
encontra nas Sagradas Escrituras. Posteriormente essas instruções
foram entrosadas na lei mosaica e tomaram-se festas anuais da
nação. Por essa razão pretendemos examiná-los em detalhes mais
adiante.
Há algumas semelhanças, e também bastantes diversidades,
entre as ofertas e sacrifícios, tanto nos elementos envolvidos como
nos propósitos deles. Alguns requeriam sangue, outrosnão. Aliás,
tem-se concluído, quase tradicionalmente por estudiosos da Bí­
blia, que Deus recusou aceitar a oferta de Caím por ele não ter
apresentado uma oferta que derramasse sangue. Talvez tenha
sido isso mesmo. Pessoalmente, tenho dúvidas de que tenha sido
somente essa a razão da rejeição. Deus mesmo estabeleceu ofertas
de cereais e frutas, como verificaremos neste estudo. Talvez não
seria errado concluir que a oferta de Caim fora rejeitada, ao menos
em parte, por causa da atitude imprópria dele, como o contexto
indica (Gênesis 4.7), e não por serem inaceitáveis os elementos
colocados sobre o altar. Há muitos exemplos registrados nas
Escrituras que sustentam a premissa de que Deus rejeita o ofertante,
seja qual for a sua oferta, quando a atitude não condiz com o
verdadeiro louvor ao Senhor. Um belo exemplo, que talvez nos
ajudaria a entender a importância da atitude do ofertante, envolve
a oferta chamada corbã — é a palavra empregada para descrever
a oferta em Levítico 1.2. Jesus condenou os fariseus e escribas
porque eles estavam deixando de cumprir as suas obrigações aos
próprios pais com o argumento de que aquilo que possuíam era
142 ALEI HA GRAÇA
" oferta para o Senhor" (Marcos 7.11). Saul também tentou descul­
par-se por ter desobedecido à ordem do Senhor em destruir todos
os amalequitas e os bens destes, alegando que os animais que
deixara de matar haviam sido guardados para oferecer ao Senhor
porque eram os mais perfeitos dos rebanhos. Deus o rejeitou,
tirando dele o trono. Escutemos o argumento dele e a resposta de
Deus por meio de Seu servo Samuel, em 1 Samuel 15.21-23:

"..,mas opovo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do


designado à destruição para oferecer ao SENHOR teu Deus em
Gilgal. Porém Samuel disse; Tem porventura o SENHOR tanto
prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça
à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar,
e o atender melhor do que a gordura de carneiros. Porque a
rebelião i como o pecado de feitiçaria e a obstinação é como a
idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do
SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei/'
Ao instruir Israel em Monte Sinai sobre as leis pertencentes
aos sacrifícios e ofertas, Deus estava estabelecendo um padrão —
a ser conhecido por toda a nação— pelo qual todos pudessem ter
livre acesso a Deus. Algumas das ofertas e sacrifícios seriam
praticados coletivamente, pela nação inteira; outros seriam prati­
cadas individualmente. Há ofertas de louvor, outras de penitên­
cia. Alguns sacrifícios eram feitos por qualquer pessoa, enquanto
outros exigiam que um sacerdote os oficiasse. Alguns dos sacrifí­
cios eram parcialmente consumidos pelos sacerdotes ou ofertantes,
ou ambos; outros eram totalmente consumidos pelo fogo, perten­
cendo totalmente ao SENHOR. Alguns eram voluntários, outros
obrigatórios. Havia sacrifícios afirmando uma comunhão perfeita
com Deus; mas havia outros com o propósito de restabelecer a
comunhão quebrada. Sim, havia muita diversidade nessas ofertas
e sacrifícios. Mas o propósito sempre era para confirmar o desejo
do povo escolhi do de estabelecer e manter uma vida de obediência
e submissão ao SENHOR De fato, isso somente é possível a
qualquer povo por meio de Cristo, já que todos os detalhes
principais envolvidos nas ofertas e sacrifícios simbolizavam o
ministério futuro dEIe de alguma forma, seja a obra expiatória ou
a intercessória.
A lei dos sacrifícios e ofertas, ensinada por Deus através de
Moisés, foi estabelecida dois mil e quinhentos anos depois que a
Sacrifícios e Ofertas — Considerações Gerais 143
primeira instrução foi dada a Adão. Pretendemos concentrar a
nossa atenção nessa lei. Deus estava simplesmente confirmando,
em detalhes, as exigências que havia feito desde que o pecado
entrou no mundo. Não era um estabelecimento de princípios
novos. Todos os animais sacrificados, começando no Jardim de
Éden., apontavam para Cristo. Tão logo o homem pecou, Deus
providenciou um meio para que o homem pudesse restabelecer
comunhão com Ele, apesar de possuir uma natureza pecaminosa.
Esse meio foi sempre tipológico. Não havia absolutamente nada
que o homem pudesse oferecer, feito por ele mesmo, que seria
aceitável a Deus. Tantas pessoas hoje estão oferecendo sacrifícios
de suas próprias obras, mas são inaceitáveis a Deus. Rejeitam, ou
ignoram, estas palavras de Pedro:
“"Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedi­
mento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue,
como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo." 1 Pedro 1.18,19
O livro de Hebreus declara que nenhum daqueles sacrifícios
e ofertas, feitos antes da morte e ressurreição de Cristo, jamais
removiam os pecados dos ofertantes. No entanto, Deus os exigia
para provar que Seu povo confiava no cumprimento da promessa
da vinda do Redentor; Hebreus 10.11-12 nos ajuda a esclarecer
esse fato:
"Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia a exercer o
serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifí­
cios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus porém,
tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos peca­
dos, assentou-se à destra de Deus,"
T emos feito referências a tipologia cristo lógica dessas ofertas
e sacrifícios. Porém, nem todos os detalhes de cada sacrifício
podem ser interpretados tipologicamente. Muitas vezes podemos
fazer aplicações espirituais, e extrair lições valiosas para o nosso
andar cristão, sem que haja um verdadeiro tipo envolvido, Como
nosso objetivo é crescer em experiência, conhecimento e andar
gom Cristo, chegando a uma vida de comunhão mais íntima e
frutífera nEle, tomamos a liberdade de expor pensamentos que
têm sido bênção particular no estudo da Palavra. Mais uma vez
144 A LEI E A GRAÇA

declaramos que nosso desejo não é impor nossos pensamento


mas expô-los, com a oração de que possam servir de bênçãos
quem sabe, dando um entendimento mais amplo das riquezas i
Velho Testamento.

"Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado;


coração compungido e contrito nâo o desprezarás, ó Deus/'
Salmo 51.17
Capítulo Dois

A Oferta Queimada
O Holocausto
(Levítico 1.1-17)
Por ser o texto extenso, em vez de introduzi-lo todo aqui,
pretendo fazer referências aos versos na medida em que estudar­
mos cada detalhe. A análise será feita verso por verso com o
intuito específico de descobrir de que maneira o simbolismo
apresenta quadros preciosíssimos à Igreja. Vejamos Levítico 1.1,2:
^Chamou o SENHOR a Moisés- e, da tenda da congregação,
lhe disse: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando algum
de vós trouxer oferta (corbã) ao SENHOR, trareis a vossa oferta
de gado, de rebanho ou de gado miúdo."
Destacamos, em primeiro lugar, o fato de que Deus está
tomando a iniciativa. Nem Moisés nem Israel procuraram essas
instruções do Senhor. Deus fez essa comunicação da "tenda da
congregação". O tabemáculo havia sido montado no deserto em
perfeito acordo e em plena obediência às ordens que Deus
transmitira a Moisés no Monte Sinai. A Shekinah havia enchido o
Santo dos Santos. Deus havia estabelecido a Sua residência ali. Ele
Xião teria outra habitação entre os israelitas, enquanto não fosse
Construído o Templo de Salomão.
Deus não mais habita em construções feitas por mãos huma-
145
146 A LEI E A GRAÇA

nas. É biblicamente errado chamar qualquer prédio de "a casa


de Deus", "o templo de Deus" ou "o santuário de Deus". Sua
habitação atual não é em construções materiais. Ele habita hoje
somente na vida dos verdadeiros cristãos. Paulo, inspirado por
Deus, nos interroga assim:

"Acaso nao sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito


Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que
não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço,
Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo." 1 Coríntios 6.19-
20

Deus não dirigiu essa mensagem a Moisés, Já dos céus, nessa


ocasião, como havia feito anteriormente. Ele falou de dentro do
tabemáculo, Sua casa terrestre. Mas nós, filhos de Deus, recebere­
mos toda a orientação espiritual nesta era cristã pelo Santo Espí­
rito que habita em nós, conforme a declaração dEIe na Santa
Palavra de Deus, As vezes Deus usa Seus sacerdotes, nossos
irmãos na fé, como instrumentos para nos comunicar Sua vonta­
de. Em geral, Suas comunicações virão pelo estudo da Bíblia.
Aliás, nunca nos dará outras instruções que não sejam confirma­
das na Sua Palavra. Jamais nos falará dos céus à semelhança do
batismo de Cristo, na transfiguração dEIe no monte ou na conver­
são de Paulo no caminho de Damasco,
Infelizmente, há muitas pessoas iludidas, cristãos e não cris­
tãos, querendo novas revelações dos céus, sem sequer escutarem
a voz do Espírito, nem acharem suficiente a mensagem da Palavra
de Deus. Deus jamais os atenderá. Todavia, Ele está sempre
desejando falar conosco. Precisamos dar ouvidos, seguindo o
exemplo de Moisés, A cada uma das sete igrejas mencionadas nos
capítulos 2 e 3 de Apocalipse, Deus termina Sua mensagem com a
exortação: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas", Estaríamos errados em concluir que o maior problema no
meio cristão hoje é a surdez espiritual? Talvez, não!
O segundo ponto que desejamos destacar aqui é o fator
tempo. Deus não disse J'se algum .. . trouxer", mas "quando. . .
trouxer". Não havia duvidas de que qualquer um, desejando
adorar ao Senhor, traria esses sacrifícios. EÍesde Adão, o povo
escolhido havia feito ofertas a Deus, conforme destacamos no
capítulo anterior. Não existia nenhuma ordem registrada na Bíblia
A Oferta Queimada — O Holocausto 147

para que os descendentes de Adão as fizessem. Mas esse ato de


louvor vinha sendo praticado durante todas as gerações humanas.
E de suma importância observar que esses atos de louvor eram
expressões voluntárias, de vontade própria, Esse fato é básico na
verdadeira comunhão do homem com Deus em toda a história
bíblica. Deus não obriga o homem a manter comunhão com Ele,
nem a louvá-lO. O louvor é uma expressão do amor e temor de
cada indivíduo para com Deus. Nunca faltou desejo para a comu­
nhão da parte dEIe- A vontade humana sempre foi, e sempre será,
o maior obstáculo.
Não houve nenhum tempo específico, marcado por Deus,
para esse encontro. Deus, de falo, estabeleceu certos dias para as
festas e alguns dos sacrifícios em Seu concerto com Israel. A
ocasião dessa oferta, porém, sendo voluntária, dependia exclusi­
vamente do desejo e da determinação do ofertante. Deus sempre
tem sido acessível aos homens. Basta desejar ter comunhão com
Ele e reconhecer que isto é possível por meio do sacri fício do Seu
Filho Jesus. O caminho está aberto, e as Escrituras estabelecem
claramente os meios. Não há necessidade de' intermediários,
conforme algumas religiões ensinam.
Desde Abel, essas ofertas tradicionalmente haviam sido do
rebanho, e tudo indica do "gado miúdo". Agora encontramos,
pela primeira vez, as instruções específicas de Deus sobre os
animais a serem oferecidos para holocausto, Deus fala do "gado
de rebanho ou de gado miúdo". Genericamente, trata-se de bovi­
nos, ovinos e caprinos, ou seja, gado, ovelhas e cabras. Também,
o texto especifica certas aves aceitáveis para ofertas. Nota-se a
importância disso por ocasião da consagração do menino Jesus no
Templo. Volta a nossa atenção à arca de Noé e aos animais que
entraram nela. Ouvimos Deus instruindo Noé a salvar sete pares
de animais limpos, e, de igual modo, sete pares de aves limpas.
Não obstante, nenhuma definição de quais seriam esses animais
eaves limpos encontra-se registrada naquela ocasião. O primeiro
ensino registrado na Bíblia, neste sentido, encontra-se muitas
gerações depois, no capítulo 11 de Levítico e em DeuteronÔmio
14.3-21. Porém, na ocasião da oitava praga que Deus mandou
sobre Faraó e os egípcios, Moisés havia pedido licença para levar
o gado e os rebanhos ao deserto paia fazer sacrifícios a Deus* Isso
confirma que Israel sabia o que era aceitável ao Senhor. Somos
obrigados a concluir que alguma comunicação havia sido feita por
148 A LEI E A GRAÇA

Deus no passado, presumidamente a Adão, é que essa comunica­


ção havia sido transmitida oralmente durante todas as gerações.
Agora, dezenas de gerações mais tarde, Deus definiu isso explici­
tamente a toda a nação de Israel. O Senhor mmea permitiu que
animais carnívoros fossam oferecidos a Eis* Sem dúvida, isso era
por causa da santidade do sangue e porque um animal que
subsiste à custa da vida de outros jamais poderia tipificar o Filho
de Deus que, por sina), deu a Sua vida por todos*
Prosseguindo em nosso estudo, olhemos o verso três:
'Se a sua oferta for holocausto de gado, trarei macho sem
defeito: à porta da tenda da congregação o trará, para que o
homem seja aceito perante o SENHOR." Levítico 13
O holocausto! A oferta queimada para expiação! Essa oferta
não representa Cristo, o Salvador, mas sim, o Divino Intercessor!
O ofertante não buscava salvação por meio dessa oferta, mas a
restauração da comunhão* É uma confissão de pecados, ou me­
lhor, um reconhecimento de que, como pecador, essa oferta era
uma declaração da sua confiança em Deus. O oíertante reconhecia
que seus pecados ha v iam sido exp iados pela í molação do animal
ou da ave que representava o imaculado Cordeiro de Deus,
Obviamente, o ofertante não entendia a tipologia, mas agia em
plena obediência às normas estabelecidas por Deus para poder
manter uma Telação íntima com Ele. E uma declaração de fé da
parte do ofertante; fé no Cordeiro de Deus que foi manifestada
inicialmente pelo sacrifício do cordeiro sem mancha, na noite da
libertação de Israel da escravidão no Egito, Será tratado o assunto
da Páscoa em detalhes, ao estudarmos sobre as festas anuais de
Israel„
Macho sem defeito, por quê? Simples! Aqui começamos a ver
o simbolismo tão importante* Apesar de estaremos vendo protes­
tos por parte dos liberais e feministas de que não se deve enfatizar
o sexo masculino ao falarmos sobre Deus, a Santa Palavra de Deus
nunca fala de Deus em outros termos. Todos os que respeitam a
BíbJia como □ inspirada e inerrante Palavra de Deus terão que
reconhecer isso. Conseqüentemente, esses animais, que represen­
tariam a pessoa de Cristo na oferta, obrigatoriamente tinham que
ser machos. Cada vez que um animal fêmea era sacrificado, havia
outro simbolismo envolvido* Em tempo oportuno, faremos algu­
mas observações sobre isso.
A Oferta Queimada — O Holocausto 149

Esses animais eram sempre representativoss d'Aquele que


tomaria sobre Si os pecados do mundi >, o Cordeiro Imaculado de
Deus (1 Pedro 1.19). João Batista anunciou o início do ministério de
Jesus com a declaração de que Ele era "o Cordeirode Deus que tira
o pecado do mundo/' É e viden te que ele co mpreend ia a tipologia
dos sacrifícios e ofertas. Filipe, ao esclarecer ao etíope a quem o
profeta Isafas se referia, demonstrou entender o simbolismo dos
sacrifícios também (Atoa 8,32), O nome mais empregado mo livro
de Apocalipse para o Filho de Deus é justamente " o Cordeiro";
encontra-se mais de trinta vezes!
Por esses animais serem represenl ;mtes "d*Aquele que não
conheceu pecado" {2 Coríntios 5.21a), E*eus insistia no detalhe de
pureza para cada sacrifício, Como poderia algo "impuro", ou
menos que perfeito, servir para expiar o impuro? Como todos os
humanos são pecadores, logo sendo impuros, não há absoluta­
mente nenhuma possibilidade de oferecermos algo de nós mes­
mos que seja aceitável a Deus. Ele recusou totalmente os sacrifícios
deturpados, feitos pelos sacerdotes com animais imperfeitos,
como declarou pelo profeta Malaquia.s. Vejamos:

"Oíereceis sobre o meu altar pão imundo, e ainda perguntais;


Em que te havemos profanado? Nisto que pensais; A mesa do
SENHOR e desprezível, Quando trazeis animal cego para o
sacrificardes, não é isso mal? t quando trazei:- o coxo o enfer­
mo, não é is ^o mal? . , , Eu não tenho prazer em vós, diz o
SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a vossa
oferta," Malaquias 1,7,8a, 10b

Voltando nossa atenção ao contexto de Levítico capítulo um,


fica indicado que essas ofertas eram voluntárias. Não era um ato
de obediência a uma ordem, mas, sim, uma expressão de louvor da
parte do ofertante. Foi esse o tipo de sacrifício oferecido por Abel,
Noé, Abraão e outros antecessores deles. Eram ofertas individu­
ais, não nacionais. Até essa ocasião, quando Deus estabeleceu
Suas leis acerca dos sacrifícios e ofertas, o local da oferta havia sido
muito variado. Todavia, uma vez; qu^ Deus estabeleceu Seu lar na
terra, Ele insistiu em que OS ofertantes deveriam aproximar-se
l£Ele lá mesmo, Seria uma confirmação da fé dos ofertantes de que
Deus verdadeiram ente habitava naquela tenda. Deus de­
clarou que não aceitaria nenhuma pessoa que não seguisse essa
150 A LEI EA GRAÇA

ordem, Recordemos as palavras registradas- em Hebreus Ll.6 e


4,15-16;

"De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é


necessário que aquele que se aproxima de Deus creía que Ele
existe e que se toma galardoador dos que o buscam."
"Porque não temos su mo sacerdote que não possa compa­
decer-se das nossas fraquezas, antes foi oÈe tentado em todas as
cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-
nos, portanto, confiadamentt-\ junto ao trono da graça, e acha­
remos graça para socorro em ocasião oportuna."

Deus tem franqueado o acesso ao trono da graça a cada filho


dEIe. A decisão de aproximar-se dEIe com base na oferta feita por
Ele em nosso favor, é exclusivamente voluntária.

"E porá n mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja


aceito a favor dele, para a sua expiação.'" Levítico 1.4

Identificação pessoal! Substituição! Expiação! Deus deseja


que seus filhos mantenham-se em comunhão contínua com Ele.
Isso não depende de Deus, mas do desejo pessoal de cada indiví­
duo* O homem continua tendo uma natureza pecaminosa, mesmo
depois de salvo; dest-a forma, quebra, constantemente a comunhão
com Deus. Como já observamos, Deus tomou todas as providên­
cias para que o homem pudesse ser restaurado; foi, e continua
sendo, por meio do único Expiador. Ao colocar a sua mão aobre a
cabeça daquela oferta, identificando-se com ela, o ofertante decla­
rava que a oferecia por seu substituto. Deus considerava suficien­
te esse ato de fé; não requeria nada além disso para a plena
restauração. Não cremos que foi mera coincidência Deus exigir
que a mão fosse colocada na cabeça do animal. Esse animal
simbolizava o Sení ior Jesus, o cabeça da Igreja. O antítipo desse ato
simbólico se encontra em l João 1,9-2,1 -2:

"S® confessarmos os nt > s s q s pecados, ele é fiel e justo para


nos perdoar os pecados e nos purilicar de toda injustiça. Se
dissermos que Mo temos cometido pecado, fazemo-lo menti­
roso e a sua palavra não está em nós. Fi 11linhos meus, estas
cousas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém
pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele
A Oferta Queimada — Ü Holocausto 151
é a propiciação pelos nossos pecados, e na<' somente pelos
nossos próprios, mas ainda pelos do mtmdo inteiro/'

Querido leitor, você tem colocado a sua fé no Cordeiro de


Deus? Se a resposta for afirmativa, nossa próxima pergunta seria:
Está mantendo comunhão com Eíii por meio da confissão dos
pecados, apelando ao nosso Advogado Celestial, que é a
propíciação por nossos pecados? Deus estabeleceu essas ofertas e
sacrifícios como a unica maneira para o povo de Israel manter
comunhão com EI&. Hoje não há ou Ira maneira para o cristão viver
uma vida agradável ao Senhor, a nao ser peta cjonfissãode pecados
e confiança no nosso Advogado Celestial.
I Tá teólogos hoje que declaram es íe princípio de confissão
pecados "o purgatório da Igreja Evangélica". Obviamente, não
compreendem a relação entre o tipo de Levítico e o Antítipo de 1
João. Confundem a relação entre a salvação e a comunhão. E
verdade que não há mais condenaç.io da alma para salvação
depois de recebermos ii Cristo como Salvador (Romanos 8.1).
Outrossim, todas as Epístolas dirigidas à Igreja revelam a neces­
sidade de reconhecermos que Deus distingue entre vidas eiistãs
espirituais t* carnais, Ele exige, também, que o cristão reconheça
a sua pecaminosidade e confesse aquilo que, em sua vida, quebra
a comunhão com Deus.
Há mais uma declaração em I Joao 2.2 que merece atenção
agora para podermos entender os princípios dos :>aerifíçios e
ofertas da ordem levítica. É a frase "não somente pelos nossos pró­
prios, mas ainda pelosdo mundo inteiro," Desejamos incluir mais
uma passagem das Sagradas Escrituras aqui, 2 Coríntios 5.14:
"Pois o am or de Cristo no*. constrange, j nlgando nós isto:
um morreu por todos, logo bodos morreram. "

Ao olharmos com cuidado as ins truções divinas a Moi sés, fica


confirmado que, em todas as relações entre Deus e o homem, Ele
exigiu que o homem fizesse uma escolha. Deus providenciou o
caminho da salvação e da comunhão para toda a humanidade,
mas nunca exigiu que os homens o aceitassem... Apesar de Deus
haver escolhido a nação de Israel em particular, Ele estabeleceu
normas pelas quais qualquer "estrangeiro" pudesse participar
das mesmas bênçãos. Contudo, nunca obrigou ninguém, israelita
ou estrangeiro, a participar daquelas bênçãos. Podemos ser verda­
152 A LEI E A GRAÇA

deiros filhos de Deus e jamais gozar das bênçãos que Ele tem
reservado para cadíi um de nós. E necesário que cheguemos
continuamente diante do Trono da Graça, confessando nossos
pecados, confiando na óbra expiatória de Cristo. Ao recebermos
a Cristo como Salvador recebemos a santificação posicionai,, isto é,
toma m onos santos filhos de Deus, Mas santificação prática, na
vida diária, depende da submissão ao Espírito Santo e da purifi­
cação d os nossos pecados por Eiieio d.i confissão pela confiança no
Expiador. Necessitamos perguntar a nós mesmos diariamente: "
Será que a minha vida está sendo aceitável diante do Senhor?"
Prossigamos no estudo do contexto de Levítico, capítulo 1:

"Depois imolará o novilho perante o SENHOR; e os filhos


de Arão, os sacerdotea, apresentarão o sangue, e o espargirão
ao redor sobre o altar que está diaruc da porta da tenda da
congregação. Então ele esfolará o holocausto, c o cortará eni
seus pedrttj OS/^VV-

"Depois imolará". Morto! O próprio ofertante é responsável


por fazê-lol Entre Deus e os homens cada indivíduo é responsável
por sí mesmo- Ninguém pode oferecer por seu próximo. Certa­
mente, aqueles que andam em comunhão com Cristo gostariam de
agirem favor dos seus próximos. Contudo, Deus obriga a pessoa
a Fazer essa decisão pessoalmente. Ninguém compreenderá o
preço do pecado até que reconheça que é individualmente respon­
sável pela morte do Senhor Jesus. Qualquer pecado é suficiente
para separar o homem de D e u s . Adão e Eva tomaram-se pecado­
res por um simples ato de desobediência. Todos os homens são
descendentes deles (Romanos 5,12),
Sem a expiação do pecado por Jesus, não há salvação, nem
comunhão com Deus para ninguém Os pregos cravados nas mãos
e nos pés de Jesus ■— a lança que feriu Seu lado — cada criatura
humana os manejou. Esse ato do ofertante é uma confissão diante
de Deus de que os seus pecados foram os responsáveis pela
imolação do Cordeiro de Deus,
O próximo passo nesst? contexto era a entrega da oferta aos
sacerdotes* A disposição do sangue e do corpo era de responsabi­
lidade deles. Desejamos explorar duas linhas de pensamento
sobre esse ministério. Em primeiro lugar, cremos que a cena
representa um aspecto do ministério do próprio jesus. Diríamos
A Oferta Queimada — O Holocausto 153

isso porque lemos sobre o simbolismo desse ato, referindo-se a


Cristo,, nos capítulos oito a dez de Hebreus,
Desejamos chamar a atenção para Hebreus 9.11,12:
"Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos
bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabemãculo,
não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio
de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu Filho. Jesus
afirmou que Se submeteu voluntariamente à morte. Contudo,
os instrumentos para o cumprimento daquele propósito divi­
no eram humanos."

", , . sendo este entregue pelo determinado desígnio e


presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos
iníquas/' Atos 2,23

Esfolar — cortar em pedaços — esses atos são simbólicos da


mutilação do corpo de Cristo pela coroa de espinhos, o flagelamento
das suas costas, os pregos nas suas mãos epés, a ferida no seu lado,
em resumo, o Seu sofrimento físico descrito no capítulo 53 de
Isaías-
Ao participarmos da Mesa do Senhor, chamada de "a Santa
Ceia", cada um de nós deve meditar no fato de que fomos nós
mesmos os reponsáveis por aquele corpo divino ser quebrantado
em nosso lugar.
Voltemos nossa atenção novamente aos sacerdotes e à impor­
tância do seu ministério nessa oferta. Levítico 1.7-9:

"E os filhos de Arão, o sacerdote, porão fogo sobre o altar,


e porão em ordem lenha sobre o fogo. Também os filhos de
Arão, os sacerdotes, colocarão em ordem os pedaços, a saber,
a cabeça e o redertho sobre a lenha que está no fogo sobre o altar.
Porém, as entranhas e as pernas o sacerdote as lavará com água;
e queimará tudo isso sobre o altar: é holocaus to, oferta queima­
da, de aroma agradável ao SENHOR."
Fogo, nas Escrituras, sempre simboliza juízo ou purificação;
em geral, manifestações ou ministérios do Espírito Santo- Há
muitas referências na história divina, onde Deus empregou o fogo
para juízo. O capítulo 10 desse livro relata uma dessas ocasiões,
quando Deus matou Nadabe e Abiú por se apresentarem diante
do altar com “fogo estranho". Deus destruiu Sodoma e Gomorra
154 A LEI E A GRAÇA

com fogo. Ele tem um lago de fogo onde Satanás, seus anjos, e
todos os que rejeitam Seu Filho Jesus serão lançados. Há muitos
outros exemplos desse aspecto de fogo divino nas Escrituras.
Vejamos o ministério do Espírito Santo para a purificação da vida
cristã. Ele deseja "purificar nossa fé" (1 Pedro 1.7); e para que
"sirvamos a Deus de modo agaradável" é "fogo consumidor"
(Hebreus 12.28,29). Em 1 Coríntios 3,11-15 há o relato do que vai
acontecer diante do tribunal de Cristo* Deus nos instrui que todas
as obras dos cristãos serão provadas por fogo naquela ocasião.
Nada impuro pode perdurar na presença do Santíssimo.
Lenha! Em nosso estudo sobre o Sumo Sacerdote Jesus Cristo,
observamos a importância da humanidade dEIe. A madeira é
simbólica daquela humanidade. Foi o perfeito homem Jesus que
morreu na cruz. Ele é chamado "a raiz de Jessé" ( Isaias 11,10); o
"rebento, o Renovo" ( Isaías 11.1; Jeremias 23.5; Zacarias 3.8,); a
"videira"( João 15.1). A arca de Noé, construída de madeira,
simbolizava Cristo, o único lugar de segurança durante o dilúvio
que Deus mandara para julgar o mundo, Era aquela "lenha" que
consumia as ofertas colocadas no altar.
O capítulo seis de Levítico declara que aquele fogo no altar
de bronze era perpétuo. Levítico 6.12,13:

"O fogo, pois, sempre arderá sobre o altar, não se apagará;


mas o sacerdote acenderá lenha nele cada manhã, e sobre ele
porá em ordem o holocausto e sobre ele queimará a gordura
das ofertas pacíficas. O fogo ardera continuamente sobre o
altar; não se apagará,"

Levítico 1.12 indica que o fogo já ardia sobre o altar, O


sacerdote meramente deitava a lenha e a oferta sobre o fogo pre­
existente. Isso harmoniza perfeitamente com os versos citados
acima.
O animal inteiro, ou a ave, com a excessão do sangue, era
queimado. Porém, era necessário lavar com água aquilo que
poderia poluir o altar, isto é, as entranhas, por causa do seu
conteúdo, e as pernas, que eram sujas pelo contato com a terra*
Nem uma poluição do mundo pode ser oferecida diante do
Senhor. Nem uma impureza poderia ser colocada naquele altar,
porque destruiria o quadro simbólico do Cordeiro de Deus, Como
temos feito um estudo pormenorizado do simbolismo da água, ao
A Oferta Queintada — O Holocausto 155

tratarmos da consagração do sumo sacerdote e dos sacerdotes,


sugerimos que releiam aquele comentário para compreederem o
significado da lavagem exigida aqui. Ao mesmo tempo, lançamos
a pergunta; Será que estamos cuidando de nos lavar pela Palavra
e pelo Espírito, tomando-nos limpos da poluição do mundo, antes
de procurarmos entrar na presença do Senhor?
"Aroma agradável ao SENHOR", Encontramos essa frase
enigmática muitas vezes referindo-se ãs ofertas e sacrifícios quei­
mados. Diríamos "enigmática" porque é provável que quase todo
o mundo já tenha cheirado carne queimada* É um cheiro muito
desagradável. Raciocinamos, então, que não se trata do odor dessa
carne sob consideração; refere-se ao significado da oferta, da
obediência e submissão do ofertante. Oferecemos três versos da
Palavra de Deus, para sustentar essa premissa, todos nas cartas
paulLnas, Esses versos fazem referência aos cristãos, a Cristo, e às
ofertas feitas a Cristo por seus filhos, nesta ordem: 2 Coríntios
2.15a; Efésios 5.2 e Filipenses 4,18:

"Porque nós somos para com Deus o bom perfume de


Cristo. , . e andai em amor, como também Cristo amou, e se
entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus em
aroma agradável. Recebi tudo, e tenho abundância; estou
suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me
veio da vossa parte, como aroma suave, como sacrifício aceitá­
vel e aprazível a Deus."

Lembramos que essa oferta não era obrigatória, mas volun­


tária, Expressava o desejo do ofertante de manter comunhão
intima com Deus. Ele deleita-se na comunhão com Seus filhos.
Cada um de nós precisa viver de tal maneira que nossa vida seja
aroma suave diante do Senhor. Somente assim é que seremos
"sacrifícios aceitáveis e aprazíveis" a Ele,
Os versos dez a dezessete do primeiro capítulo de Levítico
repetem basicamente as mesmas instruções, mas envolvem outros
animais e aves aceitáveis para o holocausto. A tipologia é a mesma.
Destacamos apenas um detalhe que se toma importante diante do
quadro geral, isto é, a provisão que Deus fez para aqueles cujas
circunstâncias financeiras não lhes permitiam sacrificar um dos
animais mencionados. Deus aceitava rolas ou pombinhos. Essas
aves era comuns na Palestina, acessíveis aos mais pobres. Preci-
156 A LEI E A GRAÇA

sava-se apenas de uma arapuca. Ninguém era excluído dos meios


de expressar seu desejo de manter comunhão com o Senhor
através das ofertas queimadas. Com Deus "não há acepção de
pessoas." Nem raça, nem cor, nem recursos materiais, nada deste
mundo oferece vantagens a qualquer homem sobre seus seme­
lhantes. Cristo morreu para redimir a todos os seres humanos e
deseja íntima comunhão com todos aqueles que têm colocado sua
fé naquela redenção. Deus deseja de cada um de nós corações
consagrados, dispostos a entregar tudo ao Senhor, tanto material
quanto física e espiritualmente.
Parece de muita significação que, ao consagrarem o menino
Jesus, no Templo, em Jerusalém, José e Maria optaram por oferecer
dois pombinhos como oferta queimada (Lucas 2.22-24), Possivel­
mente, seus recursos financeiros não lhes permitiam oferecer
outra coisa. Não era o valor da oferta, mas a condição dos corações
que importava. Esse é o princípio no qual se baseia toda a verda­
deira comunhão.
"Oferecer-te-ei voluntariamente sacrifícios; louvarei o teu
nome, ó Senhor, porque é bom." Salmo 54.6
Capítulo Três

A Oferta de
Manjares
(Levítico 2.1 -18)
Nesta e nas demais ofertas e sacrifícios encontraremos muitas
semelhanças com o holocausto. No entanto, cada sacrifício se
destaca pelos detalhes diferentes e pelas finalidades mesmo de
cada uma. Todos merecem nossa atenção pelas valiosas lições
simbólicas neles contidas. Importa sempre lembrar que todo o
sistema mosaico é declarado figurativo, sendo apenas uma som­
bra do Novo Concerto (Hebreus 10.1).
Essa oferta é denominada "oferta de manjares", talvez pelo
fato de todos os elementos serem comestíveis. Não tem nenhum
simbolismo redentor por não apresentar sangue. Recordamos que
"sem o derramento de sangue não há redenção" *De fato, esse é o
único dos sacrifícios que não envolve a morte de um animal.
Portanto, é evidente que há muita diferença na tipologia. Por todas
as ofertas e sacrifícios refletirem a imagem de Cristo de alguma
maneira, Deus tem algo de suprema importância a nos ensinar por
meio dessa oferta e dos elementos empregados.
Encontramos vários textosbíblicos indicando que o holocausto
e a oferta de manjares seriam oferecidos juntos. As instruções
divinas sobre as festas solenes, registradas em Números 29, sem­
pre ordenam que a apresentação dos dois sacrifícios fossem em

157
158 A LEE E A GRAÇA
conjunto. Segue uma lista de referências, representando vários
períodos na história israelita, onde o holocausto e a oferta de
manjares são apresentados juntos. Verifiquem; Josué22,29; Juí2es
13,23; 2 Reis 16,15; 2 Crônicas 7.7; Jeremias 17.26; Ezequiel 46,15
e Amós 5.22.
Então, quais são as lições que ei oferta de manjares apresenta
para a noas» edificação? O primeiro ponto que se destaca nessa
oferta é sua natureza vegetsJ.IssoédefimdonaprimeiroYtir&odo
Capítulo dois:

"Quando alguma pessoa fizer oferta de manjares ao SE-


NHOR, a sua oferta será de flor de farinha; nela deitará azeite,
e sobre ela porá incenso."

Novamente o propósito é "q u an d o e não "se" alguma


pessoa fazer essa oferta. A instrução apresentada aqui se dirigia
basicamente às pessoas, individualmente, revelando o desejo do
Senhor de estabelecer princípios pelos quais a comunhão com Ele
sèna franqueada a rada indivíduo. Havia de fato muitas instân­
cias em que essa oferta faria parte integral de outros sacrifícios ?
ofertas oferecidas por toda a congregação. Os mesmos detalhes
enumerados aqui seriam observados, qualquer que fosse a oca­
sião, Não existe nenhum ponto de arbitrariedade nessas instru-
çòes divinas. Aliás, isso se aplica a todas á.sreletções entre um Deus
Supremo e a humanidade torrompídri, em qualquer época da
história humana.
O ponto-cha ve para entender o significado de todas as ofertas
e sacrifícios é a expressão "ao Senhor"; encontra-se mais de
quarenta vezes em referência a eles, Deus tem estabelecido, du­
rante toda a história humana, meios pelos quais os homens podem
manter comunhão com Ele, Essa comunhão foi, e sempre será, por
meio da Pessoa de Cristo, Portanto, Cristo é sempre a figura
principal, e nessa oferta também.

Os Elementos Em pregados Nessa Oferta

Flor de farinha, azeite de oKva e incenso, com o acréscimo de


sal, Esses eram os únicos elementos na J'oferta de manjares*'.
Porém, houve uma advertência contra o emprego de mais dois
A Oferta de Manjares 159

elementos comuns empregados na confecção de pães enfi® os


israelifas: mel e fermento. Consideraremos essea elementos indí-
viduai mente para determina? a relação projetada na vida espiri­
tual.
Flor d e Farinha
JFarinha indica que algum cereal <ra o elemento principal.
Sendo assim, é necessário procurar descobrir o que esse cereal
representa nas Escrituras. Os principais cereais conhecidos e
empregadas pelos israelitas eram; lentilhas, trigo, painço (milho
miúdo), e uma forma de feno semelhante a centeio silvestre.
principal cereal moído para confeccionar o pão era o trigp. Havia
diversos tipos de trigo silvestre na Palestina e outros tantos tipos
cultivados. Examinando alguns textos bíblicos, poderemos esta­
belecer a tipologia desses ccreaís. O primeiro texto que desejamos
examinará uma referência simbólica a Jesus mesmo; encontra-se
em João 12,23,24;
"Respondeu-Jhfs Jesus; É chegada <1 hora de aer glori ficado
o Filho do homem. Em verdade, em verdade, vos digo: Se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, Hca ele só; mas se
morrer,produz;muito fruto."

Nota-se que o próprio Jesus estava fàzendo referência a Si


mesmo como o "Filho do homem." É uma referência à Sua
humanidade, não à Sua divindade. O plano da salvação designa­
do por Deus requeria a morte de um humano perfeito. Sim, Cristo
é eternamente divino; mas sem Se tornar homem não havia
esperança para a humanidade, Vejamos Filipenses 2.7,8:

antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de


servo, tomando-se em semelhança de homens? e, reconhecido
em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte, e morte de cruz."

Se não houvesse nem um outro texto bíblico para confirmar


o simbolismo do trigo, bastaria essa expressão figurativa do
Senhor Jesus para estabelecer qaeá típico de humanidade. Mas há
outros textos que nos ajudam a verificar o sentido figurativo.
Vejamos a dedaração de Jesus ao referir-se ao estado espiritual da
humanidade, João 4.34,35:
160 Ã LEI E Á GRAÇA

"Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a


vontade daquele que me t=nviouf e realizar a Sua obra. Não
d izeis vós que ainda há qua tro meses até à ceifa? Eu, porém, vos
digo: Erguei os vossos oihos e vede o® campos, pois já
branquejam para a ceifa."
Um estudo cuidadoso desse contexto estabelece, indu­
bitavelmente, que Jesus- está se referindo à humanidade perdida e
à necessidade de Seus discípulos se dedicarem à colheita,
i Tá outros textos que contribuem para confirmar o significa­
do típológiro dos cereais nas Sagradas Escrituras. A palha,
mencionada nos dois versos seguintes, refere-se aos resíduos sem
valor dos cereais depois da debulha, e é comparada aos homens
perdidos, Salmo 1,4 e Mateus 3.12:
"Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o
vento dispersa. "
"Asua pá,, ele a tem na mão, e limpará completamente a sua
eira; recolherá o seu trigo no releiro, mas queimará a palha em
fogo iiiextinguível."
A oferta de manjares representa os sofrimentos humanos de
Cristo, O cereal era moldo, A "flor de farinha" era a parte
oferecida. Os grãos eram reduzidos a pó. O profeta Isaías pinta
esse quadro mais drama (icamente do que qualquer outro escritor
das Sagradas Escrituras. Bastam três versículos para ganharmos
uma profunda apreciação por aqueles sofrimentos humanos de
Jesus. Ele escreve;:

"Como paamaram muitos à vista dele, pois o seu aspecto


estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, c a
sua aparência mais do que a dos outros filhes dos homens.,,
Todavia, ao SENHOR agradou moê4o, fazertdo~c enfermar;
quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua
posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade d o SENHOR
prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho
da sua alma, e ficará salis leito; o meu Servo, o Justo, com seu
conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades
deles levará sobre si." Isaías 52.14; 53.10,1 \

Azeite
O segundo ingrediente na composição da oferta de mahjares
A Oferta de Manjares 161

é o azeite, o óleo de oliva, Era obtido espremendo as azeitonas,


transmitindo, assim, a idéia de sofrimento, Quando é mencionado
nas Escrituras, tipologicamente, é simbólico do ministério do
Espírito Santo. Esse ministério foi possível na vida dos filhos de
Deus pelos sofrimentos de Cristo. Eis alguns textos que confir­
mam isso: a parábola das dez virgens, registrada em Mateus 25,
refere-se ao azei te como sendo o ingrediente essencial para manter
as lâmpadas acesas, permitindo que as virgens entrassem com o
noivo. A falta de azeite resultou na exclusão das virgens riésdãS.
O carta aos Romanos afirma categoricamente que sem a presença
do Espírito Santo na vida de uma pessoa, esta não é de Cristo
{Romanos 8.9), E o Espírito quem ilumina, 2 Coríntios 3.18,
Jesus é declarado ungido com o óleo da alegria (Salmo 45.7).
Ao falar dessa mesma unção na vida dos filhos de Deus, João escreve:

JfE vós possuis unção que vem do Santo, e todos tendes


conhecimento. . . Quanto a vós outros, a unção que dele
recebestes permanece em vós e não tendes necessidade de que
ninguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a
respeito de todas as cousas* e é verdadeira, e não é falsa,
permanecei nele, como também ela vos ensinou." 1 João 2,20,27

O capítulo 30 de Êxodo registra como Deus instruiu Moisés


na preparação do óleo da unção. A composição teve por base o
azeite de oliva. O óleo da unção era o selo de Deus sobre os objetos
ungidos, separando-os exclusivamente para o serviço dEIe. É
declarado ser esse selo a Pessoa do Espírito Santo, na carta paulina
à igreja em Éfeso (1.13,14).
Não é possível considerar o ministério de Cristo, o homem,
sem ao mesmo tempo tomar conhecimento da submissão dEIe à
direção e poder do Espírito Santo. O Espírito manifestou-se na
ocasião dobatismo de Jesus, vindo pousar sobre Ele (Marcos 1.10).
Foi o Espírito que O levou ao deserto para ser tentado por Satanás
(Mateus 4.1). Talvez um dos versos mais importantes na Bíblia,
para ver a significação do ministério do Espírito na vida de Jesus
seja Romanos 8*11:
"Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou Jesus
dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos, vivificaTá também os vossos corpos mortais,
por meio de seu Espírito que em vós habita."
162 A LEI E A GRAÇA

Junto com a flor de farinha e o azeite, havia um terceiro


ingrediente: o incenso. A humanidade de Cristo, o ministério do
Espírito Santo na vida dEIe e Sua vida de oração e intercessão: sün,
incenso representa oração na Palavra de Deus, Apresentamos
Apocalipse 5.8 como textos have para a confirmação desse simbo­
lismo:
. he quando tomou o livro, os qu.itro seres vivenfces e os
vinte e quatro anciã os proetraram- se diante dc>Cordeiro, tendo
cada mn deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que
são at. orações dos santos,'' (Veja Apocalipse 8.3,4}

Uma das peças principais no santuário do tabemáculo era o


altar de incenso. Para verificar o significado desse altar e do
incenso na economia religiosii do VelhoTestamento, desejamos
fazer referência a mais dois textos. O prim ei o é Salmo 141.2, onde
quem fala é o rei Pavj:

"Suba à tua p itisen ça a m in h a oração, Como incenso. . . "

O segundo é Lucas 1,11-13, referindo-se ao ministério do


sacerdote Zacarias;

" E eis <jue Ehe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita


do altar de incenso. Vendo-o Zacariü^, turbou-se e apoderou-
se dele o temor. Disse lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas,
porque a tua oração foi ouvida, .. "

Até aqui observamos que a oferta de manjares representava


o Senhor Jesus, o I Iomem, sob a direção do Espírito Santo, exercen­
do um ministério de oração pela humanidade. Mas, apesar de não
aparecer nesse primeiro verso do capítulo dois, havia mais um
ingrediente nessa oforta, mencionado no verso 13, que ordena:

"Toda oferta dos teus manjares tempcrarás com sal; à tua


oferta de manjares não deixarás faltar o sol da aliança do teu
Deus; em todas as tuas ofertas aplicarás sal/11
O que era esse sal da aliança? É chamada de "alianç
perpétua de sal", em Números 18.19- Cremos que a palavra-chave
seria "perpétua", Essa premissa é fortalecida por 2 Crônicas 13.5:
A Oferta de Manjares 163
"Não vos convém saber que o StNHOR Deus de Israel deu
para sempre a Davi a soberania de Israel, a .ele e a seus filhos,
por uma aliança cte sal ?"
Essa aliança, então, significa algo perpétuo, permanente. A
obra feita pelo Homem, Jesus, é eterna. Essa. qualidade não podia
faltar numa oferta representando o ministério de Cristo. Sim, e o
sal ê um preservativo e purificador. Aplicando-se à vida dò
cristão, representa uma vida espiritual sadia (Mateus5 .13; Marcos
9,50; € Colossenses 4.6).
Prosseguindo no estudo da oferta de manjares, descobrimos '
que Deus proibiu o empreg? de mais duas substâncias: o fermento
e o mel.
"Nenhuma oferta de manjares, que fiserdes ao SENHOR, se
fará com fermento; porque de nenhum fermento, e de mel
nenhum, queimareis por oferta ao SENHOR" Levítico 2.11

Então, é importante descobrir a razão dessa advertência.


Qual o significado dessas substâncias que as tomam impróprias
para serem juntadas às outras da oferta? Não seria justamente o
sentido simbólico que elas têm que aduiteraria a tipologia global
da oferta? Ao examinarmos alguns textos onde encontramos o
fermento e o mel m e n c i o n a d o s , é possível estabolecer esse simbo­
lismo. Consideremos o fermento antes d^ tudo- A primeira vez
que encontramos referências a ele, na Palavra di.' Deus, 6 justamen­
te na ocasião em que Deus ordenou a observação da festa dospães
asmos em conjunto com a celebração da Páscoa, Deus falou,
naquela ocasião:

"Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia


tira reis o fermento das vossas casa:;, pois qualquer que comer
cousa levedada, desde o primeiro día até ao sétimo dia, essa
pessoa será eliminada de IsraeL"
Obviamente, o assunto é muito sério com Deus. Jesus fez
referência às doutrinas dos fariseus alegoricamente., chamando-as
de fermento (M ateusl6.6,ll ,12), Era algo para ser condenado.
Talvez o texto que define melhor o fermento como sendo maléfico
se encontra em 1 Coríntios 5.6-8:

"Não é boa a vossa jaetância, Não sabeis que um pouco de


164 A LEI E A GRAÇA

fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento,


para que sejais nova massa, como sois de fato sem fermento,
Pois também Cristo, nosso Cordeiro Pascal foi imolado. Por
isso celebremos a festa, não com o fermento da maldade e da
malícia; e, sim, com os asmos da sinceridade e da verdade."

Esse capítulo trata de um pecado muito grave presente na­


quela igreja e a maneira com que Paulo instrui aqueles irmãos na
fé para tratarem do problema. Cuncluímos que fermento, sem
dúvida, refere-se a algo rejeitado por Deus por ser mau, isto é,
pecaminoso. Ao recordarmos que a oferta de manjares é represen­
tativa da pessoa de Cristo, toma™se lógico que o fermento nunca
poderia regresentar nada na vida do Santíssimo Filho de Deus.
Mas por que rejeitar o mel? Deus havia prometido a Seu povõ
uma terra que mamava leite e mel. Há dezenas de referências
bíblicas a essa promessa e seu cumprimento. Ofereceria algo mau
para Seu povo? Cremos que não. Tudo que vem dEIe é bom.
Vejamos o comentário de Tiago;

"Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lã do alto, descendo


do Pai das luzes em quem não pode existir variação, ou sombra
de mudança,"

Um estudo pormenorizado de todos os textos bíblicos com


referências ao mel nos mostra que ele é sempre apresentado como
algo desejável e agradável; mesmo onde aparece comparado com
algo espiritual, conserva-se o sentido de uma substância natural­
mente agradável: um dos prazeres naturais da alimentação. As
muitas referências ao mel na terra de Canaã, eram, na realidade,
simbólicas para afirmar que a terra era muita boa. Não se referiam,
necessariamente, ao próprio mel. Para estabelecer uma analogia,
reconhecemos que há muitas coisas boas nesta vida, criadas por
Deus mesmo, mas não se relacionam diretamente com a vida
espiritual, É assim com o mel na oferta de manjares. Ao proibir o
emprego de mel, Deus está decla rando que o prazer que temos em
Cristo não deve ser confundido cpm os prazeres terrestres. Os
queridos leitores podem verificar essas conclusões, examinando
alguns dos seguintes textos: Êxodo 3.8,17; Josué 5.6; Salmo 19,10;
Ezequiel 3,3; Apocalipse 10.10,11; Provérbios 16.24; etc.
Agora que já examinamos os ingredientes dessa oferta, deve­
mos concentrar nossa atenção em alguns detalhes relacionados
A Oferta de Mãnjares 165

com o processo de apresentação ao SENHOR, Era aceitável par


Deus, sendo oferecida por qualquer uma das seguintes maneiras:
queimada no altar (2.2); cozida no forno (2.4); cozida na assadeira
(2.5); ou espigas tostadas no fogo (2.14), Sendo sempre submetida
ao fogo, mas em nenhum caso deveria ser totalmente consumida.
O texto revela que deveria ser oferecida por meio doa sacerdotes;
ser levada ao altar; ser sempre de aroma agradável ao SENHOR;
ser coisa santíssima das ofertas queimadas; e n porção que não
fosse queimada, sempre pertencia a Arão e seus filhos, quer dizer,
aos sacerdotes. No capítulo anterior, estudando s obre o holocausto,
aprendemos a importância de diversos desses fatores. Queremos
apenas destacar umas diferenças importantes:
O holocausto deveria ser totalmente queimado com excessão
do sangue. Os sacerdotes não se alimentavam dele. A oferta de
manjares era um memorial (2.9). Essa oferta n ao representa ne-
jihum aspecto de expiação de pecados. Os elementos oferecidos
faziam parte da alimentação diária desse povo, fruto do trabalho
deles, mas era representativa do verdadeiro Pão da Vida. Ele
mesmo se declarou assim (João 6.4íJ,5]), e Paulo, ao ensinar os
cristãos deCorínto sobre a Ceia do Senhor, lembrou as palavras de
Jesus, chamando o pão daquele memorial o corpo partido de
Cristo.
Sugere-se também tjue, em oferecer o fruto do trabalho deles
ao SENHOR, estariam dedicando seu próprio trabalho ao. Criador
■eSustentador. Porque, toda a natureza é dependente dEIe, esem
os Seus cuidados não existiriam os frutos para serem oferecidos.
Não havia nenhuma diferença entre a oferta dos mais ricos e
a dos mais pobres, porque Eteuji não faz acepção de pessoas. Por
isso, ao terminarmos nossas considerações sobre a oferta de
manjares, devemos dirigir algumas perguntas a nós mesmos, que
pertencemos à família de Deus. Que estamos oferecendo ao Se­
nhor? Como sacerdotes de Deus, estamos nos alimentando do Pão
da Vida?

"Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes


deste cãlicc, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha."
1 Coríntios 11.26
Capítulo Quatro

Os Sacrifícios Pacíficos
— A Oferta de Paz
(Levltflco 3 . 1 - 1 7 )

Nossa observação inicial, ao olharmos as instruções sobre


essa oferta, está baseada nas semelhanças com o holocausto,
descrito no capítulo um, Destacamos os pontos em que as ofertas
coincidem e, assim, confirmaremos certos prLndpios invioláveis,
para que o culto israelita a, Jeová seja realizado de uma maneira
aceitável. Todavia, são os detalhes diferentes que determinam a
singularidade dessa oferta, São lições que nos oferecem os mais
importantes pontoe hq estudo tipoíógico do culto religioso judai­
co.
A diferença inicial está no sentido d a palavra pacífico que em
hebraico é shelem. Significa " para guardar um pacto de pa3,
harmonia e comunhão com o Senhor". Envolve não apenas paz
entre o homem e Deus, mas, semelhantemente, paz entre os
homens. Por ter esse duplo sentido., a oferta comunica a idéia de
que o ofertante está desejando estabelecer bases amplas de comu­
nhão, abrangendo não apenas a sua relação com Deus, mas
também com seu próximo. Não é possível estabelecer uma relação
aceitável com Deus sem que façamos tudo o que estiver ao nosso
alcance para manter uma relação correta com o próximo, Jesus
definiu essa necessidade desta maneirai

167
168 A LEI E A GRAÇA
"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de
que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar
a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e , então,
voltando, faze a tua oferta*" Mateus 5.23,24

Surge a pergunta; Será que esse espírito é predominante


entre os filhos de Deus hoje? É razoável concluir que, se cada
sacerdote (salvo) do Senhor hoje agisse assim, o ambiente em
nossas igrejas seria completamente diferente! Deus esclareceu a
raiz do problema por meio de Seu servo Tiago:

"De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?


De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?
Cobiçais, e nada tendes; matais e invejais, e nada podeis obter;
viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes porque nada pedis;
pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em
vossos prazercs." Tiago 4.1-3

Ao longo de toda a história humana, o Senhor tem desejado


que reine a paz nos corações dos Seus filhos. Não se refere a uma
paz social ou tampouco intemational, É paz espiritual que reinaria
vida individual dos filhos de Deus, quando as bases da comunhão
entre ele e seu Senhor estão corretas. As condições de paz têm sido
estabelecidas por Deus. Com Israel era através das ofertas ofere­
cidas tipologicamente, representativas do supremo sacrifício do
Seu Filho; desde o Calvário, são confirmadas pelo derramamento
do sangue de Cristo. Essa paz divina está sempre franqueada aos
que confiam no Senhor e que vivem vidas sacrifidais.
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como
a dá o mundo, Não se turbe o vosso coração, nem se atemori­
ze." João 1427

Infelizmente, cada filho de Deus permite que coisas entrem


em sua vida que interrompem essa paz* A restauração sempre
depende do desejo do suplicante e não do Senhor. Essa oferta,
como os dois sacrifícios anteriores, é voluntária. Posicionalmente,
essa paz é uma das muitas heranças que temos em Cristo. Pratica­
mente, Deus exige o exercício da vontade humana para
experimentá-la. Se você, meu querido leitor, não está gozando da
paz espiritual entre você e o Senhor, ou entre você e seu próximo,
Os Sacrifícios Pacíficos — A Oferta de Paz 169
esse quadro do sacrifício pacífico sugere que está na hora de
humilhar-se diante de Deus. Necessita reconhecer que Cristo
estabeleceu os termos e as bases de paz no sacrifício dEIe, Repeti­
mos, não se trata de paz política, social ou étnica. È a única paz que
oferece o poder de transformar a mente e o coração humano, a paz
divina.
Com esta pequena introdução, faremos uma análise do capí­
tulo três. O intuito é de verificar como o simbolismo desse sacrifí­
cio é relevante para os cristãos.
No começo, observamos algumas semelhanças com o
holocausto, que dispensam novos comentários. No entanto, se a
memória do leitor for tão falha como a do escritor, é provável que
uma rápida recapitulação dos comentários sobre o holocausto seja
proveitoso:
A oferta tinha que ser de um animal sem defeito.
O ofertante colocava sua mão na cabeça do ardmal no sentido
de transferência, tomando, assim, o animal um representante do
ofertante diante de Deus.
A oferta era feita "diante da porta da tenda".
O sangue do animal era espargido em cima e ao redor do altar.
Era considerada "oferta queimada ao SENHOR" . Porém,
somente uma parte do animal era queimada no altar.
A oferta era chamada "aroma agradável ao Senhor".
A oferta podia ser de bovino, ovino ou caprino.
Era responsabilidade do ofertante matar o animal.
Agora, vejamos as diferenças que estabelecem essa oferta
como sendo singular. O verso dois introduz a primeira diferença.
O animal podia ser macho ou fêmea. Parece-nos que há apenas
uma explicação viável para um animal fêmea ser aceito, e isto seria
por causa da universalidade do sacrifício de Cristo* Recordamos
as palavras de Deus, entregues pelo apóstolo Paulo, registradas
em Gálatas 3.26-28:

"Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo


Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de
Cristo vos revestistes. Dessarte não pode haver judeu nem
grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus."
Notemos: batizados EM CRISTO! Não se refere à água,
170 A LHE A GRAÇA

porque o sentido do texto é espiritual. Em Cristo não há distinção


nenhuma. Ele tomou-Se o cabeça imiver&al de todos os salvos. Por
essa razão, Cristo representa as mulheres do mesmo modo como
os homens diante do Pai Celeste. Desconhecemos outras bases
bíblicas para explicar por que havia liberdade para o ofer­
tante apresentar macho ou fêmea diante do Senhor. Concluímos
que o princípio estabelecido aqui é a acessibilidade de Cristo a
todos.
E quais eram algumas das outras diferenças entre esse
sacrifício da paz e o holocausto. Vejam os membros e partes do
animal a serem queimados. Deus exigiu que toda a gordura,
incluindo o rabo dos ovinos, os rins, e o redertho em dma do fígado
e entranhas fossem queimados. A gordura era depositada nos
rabos da raça de ovinos criados na Palestina. Qual seria o simbo­
lismo desses membros e as lições valiosas para nós?

A Gordura

O que a gordura significa nas Sagradas Escrituras? Ao exami-


narmos os textos onde encontramos referências à gordura faría­
mos algumas sugestões. A primeira aparição dessa palavra (cheleb)
está relacionda com a oferta de Abel (Gênesis 4,4). O sentido é "a
parte melhor: tutano". A segunda aparição bíblica está em Gênesis
45.18, onde a mesma palavra é traduzida "fartura". Aparece em
Ezequiel 39.19 em sentido simbólico transmitindo a idéia de
fartura e riquezas. Todas as outras passagens bíblicas onde a
palavra para gordura (cheleb) aparece estão relacionadas com os
sacrifícios e ofertas. Conclusão: gordura simboliza riquezas, abun­
dância, o que é de melhor. Aplicando essa conclusão à oferta de
paz, implica que o ofertante era instruído a oferecer sempre o
melhor ao Senhor, Ao mesmo tempo, aplicando o simbolismo a
Cristo (que o animal tipificava), não há dúvida de que Ele ofereceu
tudo a Deus, tanto durante a Sua vida humana como na hora da
Sua morte.

Os Rins e Entranhas
Que se pode dizer a respeito das entranhas queimadas? Além
Os Sacrifícios Pacíficos — A Oferta de Paz 171
da gordura, dois membros intemos são mencionados especifica­
mente: os rins (keluyoth) e o redenho sobre o fígado (yothereth,
literalmente,, o diafragma). Essas duas palavras hebraicas apare­
cem nas Escrituras unicamente em referência aos sacrifícios. Por
essa razão não existem bases bíblicas para estabelecer qualquer
simbolismo. É claro que são membros essenciais para sustentar a
vida, mas não existe meios para determinar por que Deus exigia
que fossem oferecidos. Por outro lado, há muitas referências às
entranhas no Velho Testamento como sendo o centro das emo­
ções. A palavra traduzida coração em Lamentações 1.20, 2.11 e
jeremias 31.20 são alguns exemplos por serem a palavra meim
(entranhas) no original. Nossa aplicação: todas as emoções preci­
sam ser entregues ao Senhor de maneira que a paz , considerada"
nessa oferta, seja divina e não natural.
Agora, para obtermos mais informação sobre esse sacrifício,
é necessário examinar o capítulo 7.15-21, 29-35. Aprende-se,
nesses versos o que seria feito com o restante do animal, isto é, as
partes que não eram queimados no altar. O verso 15 nos informa
que aquela carne seria comida. O contexto indica que os partici­
pantes seriam o Senhor Deus, o ofertante e os sacerdotes de Deus.
Todos festejavam juntos; era uma oferta festiva. Portanto, havia
diversas exigências para que a oferta fosse aceita por Deus, Pelo
menos algumas das ofertas pacíficas eram oferecidas com bolos
asmos e pão levedado. Nos versos 11-14 do capítulo sete, Deus
descreve em detalhes como seriam preparadas e oferecidas. Ape­
sar de termos considerado o simbolismo dos pães asmos e do
azeite de oliva nos capítulos anteriores, recordamos aqui que esses
pães (oubolos) são representativos do Pão Celeste, o único alimen­
to para o crescimento espiritual do ofertante e de todos os servos
de Deus, totalmente sem "fermento". O verso 13 nos ensina que
uma parte desses pães era levedada. Como se refere ao fermento,
tipo de algo maléfico, somos obrigados a concluir que o ofertante
não está apenas fazendo uma oferta daquilo que tipificava o
Senhor, mas estava oferecendo-se a si mesmo ao Senhor, A Igreja
nunca estará livre do "fermento" até o arrebatamento. Os pães
levedados não eram queimados no altar; serviam de alimentação
para o ofertante e os sacerdotes. Na realidade, não há outro meio
para o filho de Deus experimentar a perfeita paz, a alegria, a
Comunhão com Deus e com os outros sem que ofereça a si mesmo
em sacrifício ao Senhor. Esses versos indicam que havia diversos
172 A LEI E A GRAÇA

pães e bolos. Assim, concluímos que nenhum desses bolos era


queimado, O primeiro bolo era oferecido diante do Senhor, mas
entregue ao sacerdote em atividade, O verso 14 dá-nos um escla­
recimento:
"E de toda oferta trará um bolo por oferta ao Senhor, que
será do sacerdote que espargir o sangue da oferta pacifica,"

Voltando nossa atenção ao consumo da carne da oferta


pacífica, encontramos várias restrições. O verso 15 informa que a
carne seria consumida no mesmo dia em que fosse oferecida. Os
versos 31 e 32 nos informam que o peito e a coxa direita pertenciam
aos sacerdotes:

"O sacerdote queimará a gordura sobre o altar, porem o


peito será de Arão e de seus filhos. Também a coxa direita
dareis ao sacerdote por oferta doa vossos sacrifícios pacíficos."
As Sagradas Escrituras apresentam alguns textos para deter­
minarmos o significado da coxa direita e do peito*

O Peito
A tradução hebraica para a palavra "peito" em relação aos
sacrifícios écherez. Refere-se a todo o membro corporal, Há muitas
referencias bíblicas, para o mesmo membro com outra palavra
hebraica, relacionadas com a função desse membro. Tratam de
lugar de alimento e de bênçãos. A primeira referência nesse
sentido se encontra nas bÊnçãos proféticas de Jacó sobre José,
Gênesis 49.25:
" . . . .Pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-
podenoso, o qual te abençoará, com bênçãos dos altos céus, com
bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre."
Há diversas referências aos peitos como o lugar de bênçãos no
Livro alegórico deCantares de Salomão, onde as figuras principais
são simbólicos de Cristo e Sua Igreja. No Novo Testamento,
encontramos a cena do apóstolo João reclinando sobre o peito de
Jesus (sinal de aconchego e intimidade, João 13.25; 21.20). Na
mensagem profética da Nova Jerusalém, e da promessa do futuro
Os Sacrifícios Pacíficos — A Oferta de Paz 173
glorioso de Israel, registrada em Isaías 60.16, Deus faz a seguinte
promessa:

"Mamarás o leite das nações, e te alimentarás ao peito dos


reis; saberás que eu sou o SENHOR, o teu Salvador, o teu
Redentor, o Poderoso de Jacó."

Concluímos que o peito oferecido nas ofertas é símbolo de


alimento, de bênçãos espirituais em Cristo* Lembrem-se de que
esse membro não era queimado, mas sim, tomou-se o alimento
dos sacerdotes. A Bíblia ensina que o primeiro alimento dos filhos
de Deus é o leite espiritual (1 Coríntios 3.2; Hebreus 5.12; 1 Pedro
2,2). O peito era "movido perante o Senhor" (7.30), um ato simbó­
lico de entrega. Ê oportuno perguntar a cada leitor que é salvo por
Cristo Jesus e, por conseguinte, um sacerdote espiritual: está
fazendo sua oferta de paz e se alimentando continuamente em
Cristo? Necessita ainda do "leite" da Palavra nas suas relações
com Cristo?

A Coxa Direita
"Também a coxa direita dareis ao sacerdote por oferta dos
sacrifícios pacíficos/'

A palavra hebraica empregada nesse contexto é shoq* Na


realidade, significa "perna". Aparentemente pode referir-se ao
ombro ou à coxa. DeuteronÔmio 183 define a parte pertencente ao
sacerdote como a espádua do animal. Esse membro, como no caso
do peito, era apresentado diante do Senhor antes de ser comido,
representando uma entrega simbólica a Deus, Ao considerarmos
o significado desses membros, seja o ombro ou a coxa, há fatores
interessantes para nossa edificação,
O ombro, nas Escrituras, representa um lugar de força, Nosso
estudo sobre o sumo sacerdote abrangeu esse fator. Os leitores são
convidados a fazer uma recapitulação daqueles comentários,
Quem entre nós não sente muita alegria ao ler a parábola da ovelha
perdida (o cristão desviado), e a maneira como o pastor Jesus, ao
achá-la, coloca-a sobre seus ombros para retomá-la ao lugar de
segurança?
174 A LEI E A GRAÇA

Há certas lições ficas ligadas à coxa. Entre os israelitas, a coxa


direita representava uma experiência muito profunda na sua
história. Lembram-se da luta de Jacócomo anjo do Senhorno Vale
de Jaboque? Jacó saiu daquele encontro, emPeniel, com uma coxa
manca, Havia encontrado o Senhor face a face e fora aleijado por
Deus. Concluímos que era a maneira de o Senhor ensinar a Jacó
sobre a sua dependência da força de Deus e não de si mesrnoTTrâ
"umaTuta semelhante no Novo Testamento, onde Deus permitiu
que Satanás ferisse o apóstolo Paulo para que ele ficasse humilde
e confiante na graça abundante do Senhor (2 Coríntios 12.,7-10).
Você tem lutado com Deus ou recebido seu espinho na came para
aprender a confiar unicamente na força e no poder do Senhor?
Não nos esqueçamos de que o animal sempre representava o
Cordeiro Divino que seria sacrificado para nos conceder a paz. Há
um verso muito significativo, falando de Cristo, em Apocalipse
19.16:
"Tem no seu manto e na sua coxa um nome escrito: REI DOS
REIS E SENHOR DOS SENHORES."

O fato de esses títulos serem escritos na coxa convida-nos a


reconhecer que esse membro representa poder e domínio. Olhan­
do o quadro com esses fatos em mente, concluímos que, na oferta
de paz, há uma lição primordial: apenas pelo poder de Cristo sobre
Satanás e o pecado há condições para que alguém possa experi­
mentar a paz de Deus. Era essa a confissão do ofertante, apesar de
não estar ciente do aspecto figurativo envolvido, Su a confiança em
Deus para uma vida feliz, eque a plena comunhão com Deus ecom
seu próximo seria alcançada, motivava o ofertante a fazer essa
oferta*

Por que a direita?


Quando Jacó esíava abençoando seus filhos antes da sua
morte, entregou a bênção que pertencia a José aos filhos dele.
Naquela hora, ele deu a maior bênção a Efraim. o mais novo,
contrário ao costume. Ele demonstrou essa preferência ao colocar
a mão direita sobre a cabeça deEfraim. Moisés falou da mão direta
do Senhor (Êxodo 15.6) como sendo "gloriosa em poder". Davi
declara que foi salvo e sustentado pela mão direita do Senhor
Os Sacrifícios Pacíficos — A Oferta de Paz 175
(Salmo 17,7; 18.35), O livro de Atos declara que Jesus estava em pé
ao lado ditei to do Pai {Atos 7.55,56)* O escritor aos Hebreus revela
que Jesus está assentado ao lado direito do Pai Celeste (Hebreus
1.13; 8.1, etc,). É o lugar de poder, de preferência, de exaltação*
Talvez essa seja a razão por que a coxa direita era exigida nessa
oferta.

Restrições
Como foi dito, havia certas outras restrições entre os detalhes
sobre a apresentação dessa oferta. De fato, havia duas ocasiões
diferentes em que a oferta de paz era oferecida, Além do que já
examinamos, a oferta podia ser feita como um voto diante do
Senhor, (7,16-21 )■Era muito comum os israelitas oferecerem votos,
Havia o voto do nazlreado (Números 6.1-5); o voto de Jacó
(Gênesis 28.20); o voto da Ana em prometer entregar seu filho ao
Senhor (1 Samuel 1.11), e muitos outros registrados no Velho
Testamento. O voto era sempre alguma promessa solene feita ao
Senhor para entregar algo ou fazer algo a Ele, Salomão, no livro de
Edesiastes S.4-5, faz a seguinte observação sobre os votos:

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-


lo; porque não se agrada de tolo*. Cumpre o voto que fazes.
Melhor é que não votes do que votes e não cumpras/'

Abrimos um parêntese aqui para esdarücer^que o®votos não


devem fazer parte da vida do cristão por serem absolutamente
proibidos por Jesus mesmo. Dois textos do Novo Testamento
servirão para confirmar essa tese:

"Eu, porém* vos digo: De modo al gum jureis: Nem pelo céu,
por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus
pés; nem por Jerusaíém, por ser cidade do grande Rei; nem
jures pela tua cabeça^ porque não podes tomar um cabelo
branco ou preto. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não.
O que disto passar, vem do maligno." Mateus 5,34-37,(cf.Tiago
5.12)

O Novo Testamento registra uma ocasião muito triste em que


essa ordem do Senhor foi desrespeitada. Foi por ninguém menos
176 A LEI E A GRAÇA

do que o apóstolo Paulo, ao fazer votos, raspando sua cabeça e


concordando em sacrificar um animal no templo (Atos 18.18;
21.23-26)* Essa cena é quase inconcebível, uma vez que Paulo
havia combatido tão rigorasamente a mistura do legalismo com a
doutrina da graça, tanto em Jerusalém como na Galácia. Parece-
nos que Deus registrou essa cena para nós, a fim de que aprenda­
mos que todos os Seus servos têm pés de barro. Deus usou essa
circunstância para levar Paulo a Roma para cumprir a missão dele
aos gentios.
Voltando nossa atenção à oferta de paz oferecida com voto,
notamos certas exigências diferentes. Basicamente, eram na ma­
neira de ser do animal, de a oferta ser consumida e as conseqüên­
cias espiri tua is, caso fossem ignoradas as instruções. Levítico 7.16-
21 instrui que, o que restava da oferta depois do dia do sacrifício
poderia ser consumido no segundo dia. Mas, se fosse comido no
terceiro dia, Deus se recusava a aceitar o sacrifício; tomava-se uma
abominação, e o ofertante era julgado um iníquo. O texto também
declara que era necessário que qualquer pessoa que se alimentas­
se dessa oferta fosse limpa, isto é, com seus pecados confessados
e perdoados. Caso contrário, seria eliminado da congregação.
Pensando nessa exigência, gostaríamos de extrair algumas
lições aplicáveis a nós, ao apresentarmo-nos diante do Senhor com
nossas ofertas. Em primeiro lugar, nossa alimentação no Senhor
precisa ser contínua, não dependente de nenhuma oferta que
tenhamos feito no passado. Há muitos filhos de Deus remoendo o
que receberam do Senhor há muito tempo. Meditar nelas, sim, mas
todos nós necessitamos de alimentação fresca para mantermos
nosso crescimento espiritual. Quanto mais demorarmos para ter
reencontros novos com o Senhor, mais nos separamos da verda­
deira comunhão com Ele e com Seu povo. Também, quando
chegarmos ao Senhor com algo em nossa vida que nao O agrada
por não ter sido confessado, Deus declara que não nos receberá,
Salmo 66,18; Provérbios 28.13:

"Se eu, no coração contemplara a vaidade (iniqüidade), o


Senhor não me teria ouvido.. *Oque encobre as suas transgres­
sões, jamais prospererá; mas o que as confessa e deixa, alcan­
çará misericórdia/'

Ao concluirmos aqui o estudo sobre a oferta de paz, cremos


Os Sacrifícios Pacíficos — A Oferta de Paz 177
que está na hora de fazermos uma análise introspectiva* Devemos
determinar até que ponto estamos experimentando a paz e a
alegria prometidas a nós por Cristo mesmo. Estamos chegando ao
trono da graça com os nossos pecados confessados, de maneira
que nada há para interromper a paz e a comunhão com Ele, e entre
nós e nossos conservos? Temos nos entregado totalmente a Ele
para podermos compreender como Ele deseja nos abençoar? Ou
estamos pensando que podemos fazer votos e promessas a Ele
para contentá-lO? Deus não deseja nossas promessas, mas., sim,
que nos ofereçamos a Ele sem reservas, nas condições que Ele
estabelece. Assim, nunca faltarão a verdadeira paz e a alegria
espiritual em nossas vidas.

"E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guarda­


rá os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus."
Filipenses 4.7
Capítulo Cinco

O Sacrifício
Pelos Pecados
(Levítico 4.1 -35)
Entre os sacrifícios, o apresentado no capítulo quatro era, na
realidade, o primeiro a ser oferecido; isso pode ser confirmado,
examinando-se a ordem dos sacrifícios enumerados nos capítulos
oito, nove e catorze de Levítico. E porque nenhuma das ofertas de
holocaustos, de manjares e de paz trata de confissão de pecados;
todas estão relacionadas com a comunhão entre o ofertante e
Deus. Os capítulos quatro e cinco relatam como o ofertante en­
frentaria o problama do pecado em sua vida, Como é necessário
tratar do pecado antes que existam bases para comunhão, esses
dois sacrifícios eram apresentados inicialmente*
Este capítulo é dividido em quatro partes; cada uma será
tratada individualmente, onde aparecem detalhes diferentes.
Aquilo que é igual em todos os sacrifícios será considerado em
conjunto. Esses sacrifícios pelos pecados têm algumas semelhan­
ças com os sacrifícios anteriores:
Os animais oferecidos teriam que ser sem defeito, símbolo
de Cristo, sem pecado.
O animal era trazido diante da porta da tenda da congrega­
ção, perante o Senhor, para ser oferecido, simbólico do sacrifí­
cio de Cristo.
179
180 A LEI E A GRAÇA
O ofertante colocava a sua mão sobre a cabeça do animal a
ser sacrificado, declarando, assim, que o animal era represen­
tativo dele mesmo, tomando o seu lugar.
Toda a gordura, rins e o redenho sobre o fígado pertenciam
ao Senhor e eram queimados no altar.
Havia a participação de um sacerdote ungido em cada caso.

Em nosso estudo sobre as festas anuais do judaísmo, vamos


verificar que há mais um tipo de sacrifico sobre pecado; os deta­
lhes referentes a ele serão observados ao estudarmos a festa da
expiação.
— A palavra-chave no estudo dos sacrifícios do capítulo quatro
é ignorância, e, em hebraico, shegogoh, Ela significa literalmente
"inadvertênda, negligência, erro". Apesar de as nossas traduções
transmitirem a idéia de que o culpado talvez não estivesse ciente
de que havia errado, (e esse poderia ter sido o caso), parece-nos
que a palavra abrange um sentido bem mais amplo. No entanto,
esses sacrifícios não eram para receber perdão pelos pecados
intencionais e voluntários; havia outra provisão divina para essa
finalidade. Trata-se do dia da expiação (cap. 16).
Todos os filhos de Deus cometem, freqüentemente, pecados
que seriam incluídos nas três categorias representadas por esse
sacrifído; porém, pecado é pecado, seja qual fora maneira com que
é feito. Ao mesmo tempo, pode haver pecados em nossas vidas
que ignoramos por completo; não deixam de ser pecados que
foram expiados por Aquele que tomou nosso lugar para satisfazer
a justiça do Deus Santíssimo. É uma grande consolação saber que,
se houver pecados em nossas vidas dos quais nunca tomamos
conhedmento, a expiação por eles já foi realizada por Cristo.
Agir inadvertidamente é comum a todas as pessoas. Muitas
vezes agimos ou falamos sem refletir sobre o que estamos fazendo,
por simples descuido. Sabemos que, quando isso envolve as leis
dvis, não importa se a pessoa pretendia ou não agir de uma
maneira errada; a condenação é determinada pela lei e não pela
intenção. Diante do trono de Deus, esse mesmo prindpio é aplica­
do. Aliás, os homens aprenderam esse princípio de Deus e não
vice-versa.
Talvez essa seja uma das maneiras pelas quais os filhos de
Deus ofendem mais freqüentemente ao Senhor e a Seu povo; são
ações ofensivas ao Senhor porque transgridem os prindpios espi-
O Sacrifído pelos Pecados 181
Htuais estabelecidos por Ele e compreendidos no resumo de toda
» lei feita por Jesus, em Marcos 12.29-31:
" 0 principal é: Otive, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor! Arrtarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua
força- A segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Não há outro mandamento maior do que estes."
É correto concluirmos que qualquer ação nossa que transgri-
da esses dois mandamentos, mesmo sem a intenção de fazê-lo, é
pecado. As exigências da lei mosaica foram cumpridas em Cristo,
não sendo aplicáveis à Igreja. Mas o cumprimento dos princípios
desses dois mandamentos é recomendado repe tidamente no Novo
Testamento. Todos os pecados, intencionais ou não, atingem
alguma das pessoas mencionadas nesses mandamentos, seja con­
tra Deus» contra o próximo ou contra si mesmo. Um exemplo
dássico de como pecados involuntários acontecem na vida dos
salvos é a experiência do apóstolo Paulo relatada em Romanos
7.15, 20:
"Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de
agir, pois não faço o que prefiro, e sim, o que detesto.. . Mas se
eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o
pecado que habita em mim."
Todos os filhos de Deus podem identificar-se com Paulo
nessa luta. Por sermos constantemente bombardeados com os
dardos do inimigo das nossas almas, é indiscutível que pecamos
involuntariamente com freqüência. Por quê? Porque cada um de
nós nasceu com a natureza adâmica e, mesmo depois de salvos, o
diabo constantemente incita aquela natureza a manifestar-se con­
tra Deus, Assim será, enquanto andarmos nesta terra. Mas graças
a Deus, temos o mesmo recurso de Paulo, que exclamou, no verso
25 daquele mesmo capítulo:
"Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor."

Provavelmente, a categoria de erros ou pecados que mais


prevalece na vida dos crentes é a da negligência. Paneoe-nos
correta a conclusão de que quase todos os seres humanos são
procrastinadores. Os salvos muitas vezes sabem o que deveriam
182 A LEI E A GRAÇA

fazer, e até pretendem fazê-lo, mas são negligentes. As vezes é


apenas o "deixar para depois"; outras vezes pensamos: "vamos
deixar para Fulano". Existe também aquela faíha chamada "es­
quecimento". As vezes simplesmente deixamos de demonstrar a
consideração devida ao próximo: fazer uma visita a algum neces­
sitado física ou espiritualmente, que devíamos fazer; faltamos em
não dar uma palavra de estímulo ao irmão deprimido; deixamos
de prestar algum serviço ao próximo,, e é para a glória do Senhor
que deixamos de fazer; ou uma outra negligência qualquer. Toda­
via, não importa o motivo ou a ocasião da negligência; se for algo
que deveria ter sido feito e não foi, torna-se pecado. Geralmente,
esses pecados são denominados "pecados de omissão". O apósto­
lo Tiago descreveu-os em sua epístola (4.17):
"Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz,
nisso está pecando."
Observamos, no capítulo quatro de Levítico, que todas as
classes de pessoas eram sujeitas a esse tipo de pecado. Deus
providenciou uma maneira através da qual recebemos perdão por
todos* Será, queridos, que ao nos aproximarmos do Trono da
Graça em oração, costumamos reconhecer a existência de pecados
involuntários, ou por negligência nossa, que necessitam ser con­
fessados? Deus teve isso em mente ao determinar esse tipo de
sacrifício para o povo dc Israel. Somente Cristo pode nos perdoar
desses pecados. Eles não deixam de ser barreiras para uma íntima
comunhão com Deus e com o Seu povo.
A palavra empregada por Deus aqui para descrever esse
pecado é shãtâ. O significado é alegórico, referindo-se ao arqueiro
que puxa o arco e lança a flexa, mas que erra o alvo, A intenção era
louvável, mas o erro seria óbvio, Há um ditado popular que diz:
"Valeu a intenção!" Esse não é o caso nas nossas relações com
Deus. Se não acertarmos o alvo, é necessário reconhecer o fato
diante de D eus." O salário do pecado é a morte" (Romanos 6,23)*
A morte espiritual é a quebra da comunhão com Deus -— afastan­
do-se do lugar de bênçãos espirituais. Qualquer tipo de pecado
interrompe a comunhão com Ele. O cristão que deixa de confessar
seus pecados, e não confia no sangue do Cordeiro para o perdão,
toma-se merecedor da ira de Deus.
Há uma di ferença mu ito notável entre esse sacrifício e a oferta
O Sacrifício pelos Pecado* 183

de paz. Os sacrifícios anteriores, para comunhão com Deus, eram


declarados "aroma agradável ao Senhor", Os sacrifícios que tra­
tam de reconhecimento de pecado (capítulos 4 e 5) eram para
expiação. Pecado nunca tem "aroma agradável". Os pecados
podem muitas vezes ser gratifkíintcs p aja a carne, mas são fedo­
rentos a Deus.
Outra diferença nesse sacrifício é a maneira como o sangue da
vítima era aplicado. Observemos as instruções, em Levítico 4 .5-7.
" Então o sacerdote ungido tomará do sangue do novilho, e
o trará à tenda da congregação; e molhando o dedo no sangue,
espargirá sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santu-
ário. Também daqut ■le sang ue porá í isacerdote sobre os chifres
do altar de incenso aromático, perante o Senhor, altar que está
na tenda da congregação; e todo o restante do sangue do
novilho derramará às bases tio itar do holocausto, que está à
porta da tenda da congregaçao"
Três aplicações distintas são enumeradas nesses versos. Em
primeiro lugar, o sangue daqueles animais seria levado para
dentro do santuário, diante do véu que separava o lugar santo do
Santo dos Santos. Bem junto àquele véu encontrava-se o altar de
incenso.
Em nosso livro, "A Pessoa de Cristo no Tabemárulo", descre-
vemos aquele altar e o seu o simbolismo. Em resumo, era um altar
construído de madeira, simbólico da humanidade de Cristo, co­
berto de ouro, tipificando a glória de Deus. Havia cliifres, figura­
tivos do poder do Senhor. O local, diretamente em frente do véu,
era o lugar de aproximação à presença de Deus. Essa presença era
em cima do propiciatório diretamente em frente desse altar, mas
atrás do véu, dentro do Santo dos Santos. Esse era o véu que foi
rasgado de cima para baixo iia hora da expiação de Cristo na cruz.
O altar de incenso representava o lugar d^intencessão- O incenso
queimado ali simbolizava as orações do povo de Deus (Apocalipse
5.8). Convido os queridos leitores a lerem o capítulo nove do livro
citado acima, para a confirmação desses símbolos.
O primeiro lugar onde o sangue desses animais era aplicado
era diante daquele véu. A santidade de Deus havia sido ofendida
pelo ato cometido, Todos os pecados são ofensivos ao Senhor. O
preço para perdoá-los foi o derramamento d o sangue do Cordeiro.
Ele apresentou-Se diante do Pai para a expiação daquelas ofensas
184 A LEI E A GRAÇA

todas. Sete (número de perfeição) vezes o sangue desse animal,


simbólico dEIe, era espargido com o dedo do sacerdote diante do
véu. Mas além desse ato simbólico, o sacerdote molhava os chifres
do altar de incenso com sangue. Ao lermos sobre nosso acesso ao
trono de graça, em Hebreus 4.16, nunca devemos esquecer o preço
que Cristo, que está assentado no trono da graça, pagou para que
essa liberdade fosse franqueada a cada filho de Deus. O poder de
Deus, representado pelos chifres do altar, foi manifesto pelo
sangue precioso derramado por nós, conseguindo uma vitória
completa e eterna sobre Satanás.
O sangue que restava era cuidadosamente derramado no pé
do altar de bronze, onde os animais eram sacrificados e queima­
dos. Aquele altar era de bronze, que é uma figura de juízo nas
Escrituras. A propiciação para todos os pecados de toda a huma­
nidade foi realizada na morte de Cristo no Calvário; Ele não
morreu por algum grupo seleto, mas por todos, conforme as
afirmações explícitas das Escrituras. Há muitos textos que confir­
mam esse fato. Um belo exemplo é 1 João 2.2, que declara;

" .. .e Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente


pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro."

Há muita confusão entre os crentes sobre esse ponto, espe­


cialmente de como essa declaração deve ser interpretada em
relação ao mundo não evangelizado. Muitas teorias, sem funda­
mento bíblico, estão sendo propagadas nos seminários e nas
igrejas em nossos dias. Alguns alegam que o sacrifício de Cristo,
o Cordeiro, foi feito apenas para um grupo seleto chamado os
eleitos. Outros alegam que aqueles que não ouvem o Evangelho
antes de morrer terão oportunidade após a morte de aceitar o
sacrifício de Cristo. Na verdade, é uma maneira de fugir da
responsabilidade de obedecer à ordem de Cristo de anunciar essa
mensagem de esperança a todas as criaturas humanas. Todavia,
quando encontramos a palavra todos nas Escrituras, o sentido na
língua original é exatamente o mesmo no português. Os adjetivos
pa$, hapas e holos sempre significam "o todo, inteiramente". Qual­
quer outra interpretação dessas palavras representa uma distorção
do sentido original. Um texto que dispensa qualquer interpreta­
ção por ser tão claro, significando exatamente o que diz, é 2
Coríntios 5.14-15:
O Sacrifício pelos Pecados 185
"Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto:
um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou."

Talvez o pecado mais prevalecente entre os cristãos hoje seja


o de omissão, por não se obedecer à grande comissão de Cristo em
anunciar o Evangelhho a todas as criaturas, oferecendo-lhes,
assim, acesso ao propiciador.
A maior diferença entre esse e os sacrifícios descritos nos
capítulos um a três é a instrução de queimar todo o animal, exceto
a gordura e o sangue, "fora do arraial", (w . 11,12,21). O escritor da
Epístola aos Hebreus faz referência a esse fato, quando fala dos
sofrimentos de Cristo. Vamos examinar Hebreus 13.11-13:
"Pois, aqueles animais, cujo sangue é trazido para dentro
do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como obiação pelo
pecado, têm os seus corpos queimados fora do acampamento.
Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu
próprio sangue, sofreu fora da porta. Saíamos, pois, a ele, fora
do arraial, levando o seu vitupério."
Esses versos tratam especificamente dos animais oferecidos
para expiação. O que determinava a disposição do animal era a
maneira com que o sangue era aplicado. O animal, representando
Jesus, simbolicamente tomava sobre si o pecado. Portanto, assim,
não serviria de alimentação para os sacerdotes, nem para os
ofertantes. Tampouco poderia ser queimado dentro do arraial.
A quinta festa no calendário judaico era "O Dia da Expiação".
Pretendemos fazer um estudo pormenorizado dessa ocasião na
terceira parte deste livro, que trata especificamente desse assunto.
Por isso não entramos em detalhes sobre a expiação aqui.
Passemos a examinar a importância da divisão do capítulo
quatro em quatro partes. Cada umajtrata de uma classe diferente
de pessoas. Vejamos a primeira classe:

Os Sacerdotes

Eram as pessoas escolhidas por Deus e consagradas por Eíe


para representar toda a congregação diante do Senhor* Apenas
186 A LEI E A GRAÇA

aos sacerdotes eram permitidos o privilégio e a responsabilidade


de se aproximar do Senhor em prol do povo. Eles tinham a
obrigação de oferecer o animal de maior valor entre todos os
oferíantes. Um novilho poderia ter o Valor Equivalente a muitos
meses de trabalho de um membro da congregação, Ease sacrifício
não estava sendo feito para o sacerdócio na sua coletividade, mas
de qualquer sacerdote culpado por esses pecados. A instrução era:

"Quando alguém pecar por ignorância contra qualquer dos


mandamentos do Senhor, por fazer contra algum deles o que
não se deve fazer; se o sacerdote ungido pecar para o escândalo
do povo.,, " (4.2b,3a)
Aí es tá a razão desse sacrifício de maior valor. Os pecados dos
lideres espirituais, mesmo sendo por ignorância ou ínadvertên-
cia, sempre resultam em conseqüências mais graves no Reino de
Deus. Quem, entre nós, nio tem observado o grande vitupério que
cai sobre a Igreja de Cristo, cada vez que algum líder religioso age
de uma maneira inconsistente com os preceitos espirituais estabe­
lecidos na Palavra de Deus? Vejamos como Tiago trata do assunto;
Tiago 3.1,2a:
"Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres,
sabendo que havemos de receber maior juízo. Forque todos
tropeçamos em muitas cousas."
Ficou estabelecido diversas vezes que todos aqueles que são
salvos, pertencendo a Cristo pelo novo nascimento no Espírito,
são os sacerdotes de hoje. Reconhecemos que há organizações
religiosas que reconhecem como sacerdotes apenas um grupo
seleto, indicado por eles mesmos. Isso não representa o pensa­
mento de Deus. Cada filho verdadeiro de Deus é um sacerdote, O
sentido tipológico das exigências deste capítulo quatro aplicam-se
a nós. Mossa responsabilidade diante do mundo é muitíssimo
grande, Não há duvida, na mente deste escritor, de que o maior
obstáculo existente hoje para atrair os perdidos a Cristo é o
testemunho dos sacerdotes de Cristo. Não é por sermos pecado­
res, mas por causa da nossa atitude de indiferença aos pecados de
omissão, de inadverbência, de ignorância, enfim, ao errarmos o
alvo. Para que haja um avivamento no mundo há necessidade de
um reavivamento primeiro na vidas dos sacerdotes. Isso será
O Sacrifício pelos Pecados 187
possível somente à medida que reconhecermos nossa culpabilida­
de e a confessarmos diante de Deus, confiando no Grande Expiador.
Convém observar que todos os animais oferecidos teriam que
ser perfeitos. Todos representavam o Senhor Jesus Cristo. Apenas
o simbolismo em relação aos ofertantes era diferente. Por certas
classes terem mais destaque e mais responsabilidade entre a
congregação, animais de diferentes valores era indicados. Mas
pecado é pecado, O pecado mais insignificante da pessoa mais
insignificante que já pisou neste planeta, ou daqueles que o
habitarão até o dia da volta do Senhor, era e é su ficiente para exigir
o sacrifício de Cristo para a expiação, tomando-se possível o
perdão de Deus,
A segunda classe considerada no capítulo quatro é:

A Congregação
"Mas, se toda a congregação de Israel pecar por ignorância,
e isso for oculto aos olhos da coletividade, c se fizerem contra
algum dos mandamentos do Senhor aquilo que se não deve
fazer, e forem culpados, e o pecado que cometerem for notório,
então a coletividade trará um novilho como oferta pelo pecado,
e o apresentará diante da tenda da congregação", Levítico
4.13,14
O processo para o sacrifício desse animal e para a disposição
do sangue, da gordura e da carne dele é idêntico ao sacrifício feito
pelos sacerdotes. O valor do animal aceito para o sacrifício é o
mesmo. A única diferença é para quem está sendo oferecido. Para
que houvesse a identificação dos ofertantes com o animal sendo
oferecido, os líderes civis na vida cotidiana eram responsáveis por
impor as mãos na cabeça do animal, "Os anciãos da congregação
porão as mãos sobre a cabeça do novilho perante o Senhor",
(v. 15a)
A palavra ancião na língua hebraica é zaquen. O significado
principal da palavra é "velho, idoso, barbudo". Ainda assim, a
primeira referência dessa palavra nas Escrituras se encontra em
Gênesis 50.7, que diz: "subiram com ele todos os oficiais de Faraó,
os principais da sua casa, e todos os principais da terra do Egito,"
Foi na ocasião de José levar os ossos de Jacó para serem sepultados
em Canaã. Conforme a regra de interpretação bíblica chamada "a
188 ALEI EA GRAÇA

lei da primeira menção", é obvio que se refere às pessoas de


destaque,, especialmente na liderança. Nada indica que eram
necessariam ente idosos, No Novo Testam ento, a palavra
presbíteros é traduzida anciãos, às vezes. Na verdade, pode
referir-se a pessoas idosas, mas alguns contextos estabelecem que
a referência é à maturidade espiritual. É difícil afirmar categorica­
mente que todos os "anciãos" de Israel eram velhos barbudos,
Uma coisa é certa: eles eram responsáveis por governar a nação.
Parece que seriam o equivalente a nossos políticos de hoje em dia.
Vejamos Números 11.15:
"Disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos
anciãos de Israel que sabes serem anciãos e superintendentes
do povo; e os trarás perante a tenda da congregação, para que
assistam ali contigo,"
Evidentemente, seria impossível para todo o povo de Israel
colocar suas mãos na cabeça do animal, Mas todos teriam que ser
representados, É difícil compreendermos como uma nação inteira
poderia ser culpada por algum pecado de ignorância. Porém,
como destacamos acima, a palavra shegaga pode significar "inad-
vertência", ou literalmente, "vagueação", Isso era muito caracte­
rístico de Israel,
Facilmente perdiam o rumo certo nas suas relações com
Deus. Sim, por que não dizer que é característica das nações de
hoje? Até a Igreja de Cristo facilmente perde seu rumo, correndo
atrás de coelhos em vez de cumprir sua missão. Na realidade, a
Igreja tem apenas uma missão, isto é, a evangelização do mundo
inteiro. Infelizmente, não é o que ocupa a maior parte do tempo,
das vidas, e das finanças do povo de Deus hoje. Em geral, são os
próprios líderes das organizações que têm tomado os primeiros
passos nesses desvios. Deus diz que é necessário reconhecer o
erro, assumir a responsabilidade por ele, confessá-lo diante de
Deus, tomar o rumo certo.
A terceira classe de pessoas tratadas nó capítulo quatro são:

Os Príncipes

No caso dos príncipes, os passos a serem tomados no sacrifí­


cio seriam os mesmos, mas o animal seria "um bode sem defeito".
O Sacrifício pelos Pecados 189

Há um out™ diferença importante Nesse caso, Deus descreve


duas maneiras pelas quais o culpado poderia tomar-se ciente de
sua culpa. Em primeiro lugar, ele mesmo reconheceria Ljue tinha
se desviado da vontade de Deus. Também, haveria a possibilidade
de ele permanecer na ignorância de sua culpa até que alguém o
iluminasse- Seja qual for o caso, a culpa e a maneira de tratá-la
eram idênticas ao caso dos sacerdotes e da congregação.
A palavra traduzida para príncipe neste texto é lííisr, no
original, O sentido literal é "'pessoa exaltada". Pode ser traduzido
reir príncipe, governador, chefe, capitão, etc, A palavra aparece
apenas seis vezes nas Sagradas Escrituras. ApesaTdeo termo ser
aplicado a muitas pessoas diferentes, todas exerciam algum tipo
de liderança. Um texto que nos .ijuda a entender o significado ê
Números 13.1:

"Disse o Senhor a Moisés: Env.i a homens que espiem a terra


de Canaã, que e.u I lü í ded^raosfilhu^ de Israel; d ê cada tribo
de ssi-:us pais enviareis um homem, sendo cada qual príncipe
entre eles."

Os israelitas eram dividos em tribos, e as tribos em clãs


familiares. Muitas vezes, nas Escrituras, encontramos essas tribos
■ecabeças de famílias sendo destacados., O texto acima chama os
líderes desses grupos de príncipes. Por essa razão, pretendemos
fazer nossa aplicação aos cabeças de famílias e tribos,
Com essas observações em mente, vamos pensar sobre os
cabeças de famílias em Israel, e no mesmo tempo entre nós, Há
muitos ensinos bíblicos sobre a responsabilidade dos chefes de
família- Olhando para a atual situação espíritual e moral do nosso
país, facilmente verificamos que a unidade da família tem falhado
muito. A falta d e ensino sobre os valo res espirituais e morais, junto
com a ausência de disciplina bíblica nos lares, tem contribuído
para uma sociedade quase totalmente destituída. Para vergonha
nossa, essa mesma calamidade existe em muitos lares cristãos. A
tendência ê de afnHtni-se cada vez maisdo.n princípios estabeleci­
dos na Palavra de Deus. É verdade que muitos país de família e até
líderes na Igreja são inconscientes do desvio desses princípios*
Isto não os faz menos culpados diante do Senhor. Temos todas as
instruções necessárias para vivermos de acordo com os propósitos
de Deus, Está na hora de abrirmos hosgas Bíblias e de nossubme-
190 ALEI EA GRAÇA
termos humildemente diante do Senhor, para que seja possível
assumirmos as responsabilidades de pais e líderes em nossas
famílias. A oferta feita pelos príncipes tinha esse propósito*
Mais uma classe de indivíduos é destacada nesse capítulo
quatro. Na realidade, todas as classes de pessoas estão sujeitas aos
"pecados de ignorância". Essa última classe mencionada é:

Qualquer Pessoa
Há sempre uma tendência de o ser humano culpar ou tros por
suas falhas. Deus não permite que ninguém escape por essas
desculpas. Os líderes religiosos, os líderes civis, os líderes famili­
ares teriam maior responsabilidade. Por conseguinte, eram obri­
gados a oferecer animais de maior valor* Mas cada indivíduo era
obrigado a assumir a responsabilidade sobre si mesmo. Não é
diferente em nossos dias. Nenhum de nós pode escapar da culpa­
bilidade por pecados individuais não confessados e sem depositá-
los sobre o Expiador. Lembramos que esse sacrifício não é simbó­
lico de salvação; trata-se da renovação da comunhão- Apesar de o
animal sacrificado nesse caso ser uma cabra, continua represen­
tando o Senhor Jesus que tomou sobre Si nossos pecados —
passados, presentes e futuros* A solução para a restauração em
cada instância ê a volta a cruz do Calvário. Como está a sua
comunhão pessoal com Deus hoje? Há coisas na sua vida que não
têm sido reconhecidas como pecado, seja por ignorância, por
descuido, por omissão, ou por qualquer outro motivo? Quando
Deus o revela por meio da Sua Palavra ou por alguma outra
pessoa, é hora de agir. Confesse-os a Cristo. A comunhão com
Deus é preciosa demais para ficarmos agarrados em qualquer
coisa que a possa interromper.
"Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e
salva os de espírito oprimido."
Capítulo Seis

O Sacrifício Pelos
Pecados Ocultos
(Levítico 5.1-19)
E o quinto entre os sacrifícios e ofertas. Abrange um campo
vasto de pecados, Apesar de ser chamado "sacrifício para pecados
ocultos", parece que nem todas as^ireas mencionadas seriam
ocultas ao culpado,
Há muitas divergências entre esse sacrifício e aqueles que
estudamos até aqui. Não obstante, Deus insiste no reconhecimen­
to e restituição do culpado porque não há outros meios de preser­
var uma vida de santidade diante de um Deus Santo. É impossível
enfatizar demais que todos os desvios das ordens e exigências de
Deus O ofendem. Notamos as diversas categorias de pecado
enumerados nesse capítulo; qualquer um desses pecados é decla­
rado de mesma importância diante do Senhor; teria que ser
tratado com igual seriedade. Isso é muito importante, porque
pecado é pecado, seja ou não aparente ao pecador. Vejamos as
categorias mencionadas nesse contexto. A primeira é destacada
em Levítico 5.1:

"Quando alguém pecar nisto: porque tendo ouvido a voz da


imprecação, sendo testemunha de um fato, por ter visto, ou
sabido, e, contudo, não o revelar, levará a sua iniqüidade."

191
192 A LEI E A GRAÇA

A palavra "imprecação" neste texto é shaba, no original. Em


quase todos os textos onde a palavra aparece (aproximadamente
150 vezes) significa um juramento, quase sempre num sentido
positivo. Alguns exemplos se encontram no Salmo 110.4; Jeremias
22.5; Amós 4.2; 6.8; 8.7. Há outros textos que sugerem o emprego
de juramentos de uma maneira desaprovada por Deus. Zacarias
5.3,4 fala de juramentos falsos. O juramento mencionado em
Levítico 5.1 indica que era mais no sentido da tradução dada aqui,
por ser claramente condenado por Deus. Os dicionários definem
imprecações como "praguejar contra, amaldiçoar, desejar mal
para alguém, difamar". O assunto de juramentos foi abordado
num capítulo anterior. Desejamos concentrar a atenção agora
sobre o sentido negativo condenado por Deus.
Juramentos e maldições contra outras pessoas são tão co­
muns que raramente são reconhecidos como condenados por
Deus. Mas, na verdade, seria impossível considerar essas atitudes
corretas à luz das ordens de Deus para que amemos o nosso
próximo, e até os nossos inimigos. O Espírito de Deus jamais seria
o promotor dessas atitudes em nossas vidas. Ao mesmo tempo,
quem entre nós não tem sido culpado? Porém, o sacrifício sob
consideração não está destacando esses pecados em si. O assunto
é de alguém que é conhecedor do fato e tem sido indiferente.
Dificilmente os pecados condenados nesse capítulo deixam de
atingir outras pessoas. Por exemplo, vamos considerar o pecado
da "difamação". É, sem dúvida, um dos pecados maisprevaleoen-
tes entre os cristãos. A atitude de Deus contra esses pecados é
claramente estabelecida em Provérbios 6.16-19:

"Seis cousas o Senhor aborrece, e a sétima a sua alma


abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam
sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que
apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere
mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos."
Cada filho de Deus necessita estar atento para não se tor­
nar participante nesses pecados. Por isso, requer que aquele que
pecou seja corrigido o mais rápido possível, antes que outros
sejam atingidos. Sim, temos alguma responsabilidade diante de
Deus por nosso próximo. Entre as instruções dadas por Deus à
Igreja para a preservação da ordem e comunhão, encontra-se es­
ta:
O Sacrifício pelos Pecados Ocultos 193
"Irmãos, se alguém for supreendid o nalguma falta, vós, que
sois espirituais, corrigi-o, com o espírito de brandura; e guar­
da-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns
dos outros, e assim cumpri reis a lei de Cristo,"

Deus imputa pecado a todos aqueles que são conhecedores por


ver, ou ouvir, os pecados na vida dos irmãos sem fazer um esforço
diante dEIe para realizar a restauração desses irmãos. Vejamos a frase
'"levará a sua iniqüidade". Dificilmente prevalece o reconhecimento
da responsabilidade exigida por Deus, em Levítico cinco. É comum
termos conhecimento de problemas espirituais na vida do próximo,
possivelmente oculto® a ele e ficarmos indiferentes. Uma declaração
freqüentemente ouvida é: "não é meu problema". Deus não concor­
da. Nossa responsabilidade é de certificar que o problema está
abordado. Naturalmente, a pessoa sendo tratada pode recusar-se
receber o conselho. Assim sendo^há outras medidas neotestaixientárias
a serem tomadas para que a pureza do Corpo de Cristo seja preserva­
da (Mateus 18.15-17)*
Queridos, é essencial que cada filho de Deus assuma a res­
ponsabilidade diante dEIe, de sempre tratar do pecado. Assim,
evitamos que o "fermento levedea massa toda" (1 Coríntios 5.6).
Ser testemunha do pecado sem corrigir o pecador implica em
cumplicidade; até as leis civis reconhecem isso. Deus imputa esse
pecado à testemunha por sua infidelidade em tratar do pecado do
irmão. Deus insiste em preservar a Sua Santidade. A responsabi­
lidade disso cai sobre cada cristão. A Pessoa que habita em nós é
Santa, Ele nos habilita para vivermos vidas santas, zelando ao
mesmo tempo, ao auxiliarmos nossos irmãos a viverem de igual
modo diante dEIe.
O segundo assunto destacado nesse sacrifício é a imundícia-
Vários aspectos são mencionados especificamenten Tratava, so­
bretudo, do contato com as coisas denominadas imundas na lei
mosaica; eram declaradas sujas, impuras, corrompidas ou poluí­
das. Novamente, indica que o culpado tocou-as inadvertidamen­
te, ignorando o fato. O verso três declara que a imputação da culpa
dependia da necessidade de tomar-se conhecedor do ato. Outra
vez, é implícito que alguém seria responsável por tomá-lo ciente
de sua culpa. Estou me lembrando de como Deus imputa essa
responsabilidade a Seus filhos, com base na luz que eles possuem.
Jesus ensinou:
194 A LEI E A GRAÇA

Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez


cousas dignas de reprovação, levará poucos açoites. Mas àque-
fe a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a
quem muito se confia, muito mais lhe pedirão "

Duvido que Levítico 5,3 está declarando a pessoa inocente,


enquanto permanece ignorante do pecado. Não há como aceitar
esse tipo de raciocínio, consider ando o ensino geral dâ;^ Escrituras.
Porém, parece que existe algum grau menor dt>punição no caso de
ignorância. Esta, todavia, não é a ênfasenet^u sacrifício. Deus está
revelando aqui a necessidade de um sacrifício por esses pecados.
Não foi o tamanho do pecado que pregou Jesus na cruz, mas sim,
o fato do pecado. A dio e Eva tornaram-se cientes de que haviam
pecado, apesar de aquele pecado ser apenas ilm ato aparentemen­
te insignificante. Imediatamente surgiu a necessidade de um
propiciador*
Aplicando a advertência de se evitar as coisas Imundas para
a Igreja, encontramos centenas de textos claros no Novo Testa­
mento que confirmam a exigência* Há uma sérií? de conselhos no
capítulo três, versos cinco a onze de Colossenses. Conselhos
semelhantes se encontram em quase todas as epístolns do Novo
Testamento* A maioria das atividades e atitudes do mundo sem
Cristo tem sua origem em Satanás, o príncipe deste mundo.
Alguém comentou que "Deus colocou a Igreja no mundó; mas
Satanás tem colocado o mundo na Igreja". Deus nos tem concedi­
do quarenta e cinco anos no serviço dEIe por Sua graça. Temos
observado um declínio espiritual constante nestes anos, porque os
cristãos abraçam cada vez mais os costumes e as normas do
mundo. Ignorância das normas espirituais aprovadas por Deus,
indiferença a elas, temeridade diante do mundo, autojustíficação
na base de mudanças de cultura; estas e muitas outras são as
sementes que geram os pecados tratados aqui. Muitas vezes é
impossível distinguir entre os cristãos e os perdidos quanto âs
músicas, as vestes, ou muitas das ai ivida des sccia is, Deus cha mou
os cristãos de Corinto de carnais, pelas divisões entre eles, A
atitude e a conduta daqueles irmãos revelaram que havia uma
falta de maturidade espiritual. O espírito da igreja de Corinto
prevalece em muitas congregações dos nossos dias. Queridos, não
deve ser assim!
O verso quatro do capítulo cinco de Levítico aborda um
O Sacrifício pelos Pecados Ocultos 195
terceiro aspecto dos pecados, estabelecendo a necessidade desse
sacrifício. Vamos examiná-lo:

. . quando alguém jurar temerariamente com seus lábios


fazer mal ou fazer bem, seja o que for que o homem pronuncie
temerariamente com juramento, e lhe for oculto, e o souber
depois, culpado será numa destas cousas."
Uma palavra-chave nesse texto é "tem erariam ente"; palavras
que descrevem essa conduta são "precipitadamente, imprudente,
com atrevimento, ou destemido". Poderia ser alguma declaração
espontânea, não premeditada, A palavra empregada aqui para
juramento refere-se tanto a um voto ou compromisso, como a uma
imprecação ou maldição. Parece que todos os seres humanos têm
facilidade de fazer declarações precipitadas que nem sempre são
prudentes. Freqüentemente revelam atitudes impróprias para
com o próximo. Até juramentos favoráveis aos outros, feitos
precipitadamente, são condenáveis se não forem feitos sujeitos ao
ministério do Espírito Santo. Estes, aparentemente, são os atos
condenados nesse capítulo, Não poderiam ser ignorados.
O primeiro passo para a restauração é a confissão do pecado
(v. 5). Quando nossas ações envolvem outras pessoas, E>eus exige
a confissão aos atingidos junto com a declaração de culpabilidade
diante dEIe; isso exige humildade; o orgulho é o maior obstáculo
para se fazer isso.
Com o alcançaria o perdão por esses pecados? Novamente,
encontramos algum as modificações nos sacrifícios a serem ofere­
cidos. Vejamos em primeiro lugar, os objetos aceitáveis nessa
ocasião:

"Como sua oferta pela culpa pelo pecado que cometeu,


trará ele ao Senhor do gado miúdo, uma cordeira ou uma
cabrita, como oferta pelo pecado; assim o sacerdote por ele fará
expiação do seu pecado. Se as suas posses não lhe permitirem
trazer uma cordeira, trará ao Senhor como uma oferta, pela
culpa que cometeu, duas rolas ou dois pombinhos, um como
oferta pelo pecado, e outro como holocausto , , Porém, se as
suas posses não lhe permitirem trazer duas rolas ou dois
pombinhos, então aquele que pecou trará, por sua oferta, a
décima parte de uma efa de flor de farinha como oferta pelo
pecado; não lhe deitará azeite, nem lhe porá em cima incenso,
pois é oferta pelo pecado," (w . 6, 7,11).
196 A LEI E A GRAÇA

Cordeiras e Cabritas

Apesar de o contexto ser um pouco extenso, existem diversos


detalhes merecedores da nossa atenção. Cordeiras e cabritas,
fêmeas, eram os animais escolhidos por Deus para essa oferta.
Notamos, também, a ausência de uma das exigências incluídas
nos sacrifícios anteriores. Deus não exigiu aqui que esses animais
fossem perfeitos, ou seja, "sem defeitos". Por quê? E por que
fêmeas? Concluímos que as duas perguntas estão relacionadas
uma à outra. Talvez seja impossível estabelecer um sentido simbó­
lico. Mais uma vez apelamos para a regra de interpretação "da
primeira ocorrência nas Escrituras", A palavra "fêmea" aparece a
primeira ve2 em referência a Eva (Gênesis 1.27).
Sugerimos uma aplicação alegórica; não oferecemos como
uma interpretação por falta de textos bíblicos para substanciá-la.
Aqui está: Deus anestesiou Adão, fez a primeira cirurgia, abrindo
seu lado para extrair uma costela e formar a mulher. Eva, então,
nasceu do lado ferido de Adão. Isso constituiu um milagre,
contrariando o processo biológico natural da mulher como o
instrumento natural para gerar vidas. Um milagre maior, mas
com semelhanças, ocorreu no nascimento espiritual da Igreja.
Nosso novo nascimento em Cristo exigia que o lado dEIe fosse
ferido. Requereu o derramamento do sangue precioso de Cristo
no Calvário. Sem aquele ato de expiação, não haveria possibilida­
de de regeneração. Meditando nisto, vamos lembrar o termo
neotestamentário mais comum para a Igreja, chama-se "o corpo
de Cristo". Esse mesmo corpo é denominado "a noiva" dEIe, ou
seja, do gênero feminino*
Com essas observações, voltemos a atenção aos animais
fêmeas oferecidos nesse sacrifício. Já se afirmou, várias vezes, que
todos esses animais representam Cristo. O corpo de Cristo é
tratado como fêmea. A Bíblia afirma que nós, o corpo, fomos
crucificados com Ele, Romanos 6.6:

", -, sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho
homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não
sirvamos o pecado como escravos."

A carne desses animais não podia ser comida. Representava


o pecado, encarnado em Jesus. Esses pecados não eram dEIe, eram
D Sacrifício pelos Pecados Ocultas 197

do corpo dEIe. Sena esta a razão da exigência de um animal fêmea?


Pelo menos serve para satisfazer a curiosidade do autor. Possivel­
mente, alguém entre os leitores tenha uma explicação mais simbó­
lica

Rolas e pom binhos

No estudo sobre o holocausto (cap. 2), fizemos algumas


observações a respeito de essas aves serem aceitáveis para os
sacrifícios, Tudo indica que apenas uma ave era sacrificada na
ocasião do holocausto. O texto sempre trata do caso no singular.
Agora notamos que o sacrifício exigia pares. Apenas uma delas era
oferecida como sacrifído pelo pecado cometido. A segunda ave
era oferecida separadamente, como holocausto. A maneira de
oferecer a ave era idêntica. Porém, temos o sacrifício de louvor (o
holocausto) junto com o sacrifício pdo pecado. Só após os dois
sacrifícios era feita a declaração da expiação. Saber que nossos
pecados são perdoados cada vez que os confessamos, reconhecer
que em Cristo são perdoados, deve nos motivar a agradar a Ele e
íouvá-lO.

Flor de Farinha

Deus confirma mais uma vez que o valtM monetário do


sacrifído não era o fator relevante. Importava que ninguém fosse
exduído da sua responsabilidade de oferecer sacrifícios por seus
pecados. Ao mesmo tempo, o prazer de tê-los perc.!nados era
estendido a todos, fossem quais fossem suas posses A décima
parte de uma efa de farinha era 2,2 litros -Representava, aproxima­
damente, a comida dc um dia, Se o ofertante fosse muito pobre,
poder-se-ia requerer que jeju asse um dia para fazer esse sacrifício.
Todavia, a comunhão com Deus para poder ser alimentado espi­
ritualmente ê muito mais importante do que perder a comida de
um dia-Jesus falou aos Seus discípulos, ac voltarem da ddade de
Sicar, oferecendo-Lhe comida:
" Uma comida tenho para comer, que vós não cpnheceis...
A minha comida consiste em fazer a vontade daqu^!e que me
enviou, e realizar a sua obra,"
198 A LEI E A GRAÇA
í impossível fazer a obra do Senhor, ou agradar a Ele, sem
estar em comunhão com Ele. Devemos dar mais importância à
comida espiritual do que à material. Oxalá houvesse tanta pressa
para chegar ã mesa do Senhor quanto àquela na sala de jantar!
Há outro fator muito importante nessâ espécie de oferta.
Deus proibiu que azeite e incenso fossem ajuntados à farinha.
Esses elementos faziam parte integral da oferta de manjares;
representam o Espírito Santo e a oração, O Espírito nunca é
identificado com o pecado nas Escrituras da maneira com que
Cristo foi. Cristo " tomou-se pecado por nÓ3" (2 Coríntios 5.21)* O
Espírito nao participava na expiação. É verdade que sem o minis­
tério dEIe, jamais alguém reconheceria que é pecador. Contudo,
o ministério dEIe não seria manifesto nesse sacrifício. Pelo mesmo
raciocínio, não é a oração que produz expiação; esta somente é
alcançada pela obra expiatória de Cristo, Devemos abrir um
parêntese aqui para apontar o fato de que não há referências, no
antigo concerto, à regeneração. Não havia possibilidade de al­
guém se tornar uma nova criatura em Cristo, enquanto Ele não
cumprisse a tipologia profética desses sacrifícios.
Ao estudarmos a oferta de manjares, foi estabelecida a tipologia
da flor de farinha* Em vez de repeti-la aqui, convidamos os leitores
a fazerem uma revisão do capítulo três- Basta recordarmos que
esse cereal representava Cristo, aquele grão de trigo que necessi­
tava morrer para gerar novas vidas (João 12,24), Ele era a flor da
humanidade* Foi moído por nós.
Apenas um punhado desta oferta era queimado para a expi­
ação. O restante tomava-se uma oferta de manjares, alimentação
do sacerdote que a oficiasse. A única fonte de alimentação dos
sacerdotes é o Pão da Vida, Jesus* Sem nos alimentarmos, não há
condições de manter a saúde espiritual que nos habilitará para
ministrar*
Os versos catorze a dezenove do capítulo cinco destacam
mais duas categorias de pecados, assim como as exigências para
a sua expiação* O primeiro é o sacrilégio, isto é, uma forma de
desrespeito às coisas sagradas, ou o abuso delas. O contexto
novamente implica que tais atos eram praticados por ignorância.
Quantas veies observamos isso em nossos dias.
O último tipo de pecado mencionado aqui é de qualquer ação
ou atitude contrária aos mandamentos estabelecidos na lei. Nova­
mente, o fato de não estar ciente de ter cometido o pecado não
O Sacrifício pelos Pecados Ocultos 199
isentava o pecador da sua culpa,
Em ambos os casos, o valor da oferta dependia da seriedade
do pecado. Repetimos, pecado é sempre pecado. Porém, certos
pecados tomam-se mais graves diante da congregação por exerce­
rem um efeito' maléfico sobre a vida do próximo, O desrespeito à
Palavra de Deus pode servir para encorajar outros a seguirem o
nosso exemplo*
Havia necessidade não apenas de fazer restituição por certas
ofensas, mas exigia-se também a penalidade de um quinto a mais.
É aquela segunda milha que Jesus andou por nós, a superabun-
dânucia de Sua graça,
Concluímos o estudo do capítulo cinco com as palavras de
estímulo do profeta Isaias, registradas em 55.7;

"Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensa­


mentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e
volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar."
Capítulo Sete

Os Sacrifícios Pelos
Pecados Voluntários —
As Libações
(Levftico 6.1-7)
Adenda — As Libações
Aparecem novas instruções para a expiação dos pecados trata­
dos nesse sacrifício. É muito natural perguntarmos a nós mesmos por
que tantas categorias de pecados foram mencionadas individual­
mente. Por que todos os pecados não poderiam ser expiados por um
único tipo de sacrifício? Cremos que, na maioriados casos, os detalhes
apresentam aspectos tipolégicos que servem para estabelecer a im­
portância das variações* Nesse caso, encontramos certos detalhes
novos que se destacam, tomando certas atitudes e ações essenciais
para que o problema da comunhão quuebrada seja sanado. Os
pecados enumerados nesses versos sempre afetam a comunhão
espiritual, tanto vertical, entre o homem e Deus, como horizontal­
mente, entre o homem e seu próximo.
Repetimos! Não existe pecado que não atinja a Deus, Obser­
vemos a declaração de Davi, após haver adulterado com Bate-
Seba, sendo também o responsável pela morte do marido dela.
Vejamos o que ele disse:
201
202 A LEI EA GRAÇA

"Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante


os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar,
e puro no teu julgar," Salmo 51.4
Certas pessoas específicas haviam sido ofendidas pelos peca­
dos de Davi. Na realidade, suas ações maléficas atingiram a nação
toda. Mas Davi compreendia que a única maneira de avaliar
qualquer ação, verificando se era ou não um pecado, era expô-la
à santidade do Senhor. Conhece-se o pecado sempre na base dessa
avaliação.
Uma das lições mais preciosas a serem aprendidas nessas
variações de sacrifícios é a necessidade de tratar pecados especí­
ficos por meio de confissões específicas. Uma maneira comum e
até popular de orar, é com as palavras; "Deus, perdõe todas as
nossas falhas." Deus nos revela, através desses sacrifícios, que não
é assim que o perdão é alcançado. Ele deseja que reconheçamos
aquilo que O ofende e que tratemos especificamente. Um belo
exemplo que estabelece essa premissa é o caso de Isaías, quando
lhe foi revelada a glória e santidade de Deus. Imediatamente, ele
compreendeu o seu próprio estado. Havia um problema especí­
fico em sua vida. Ouçamos sua confissão, observando como Deus
o ouviu e perdoou:
"Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios
impuros... Então um dos serafins voou para mim trazendo na
mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a
brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus
lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado o teu pecado."
Isaías 6 .5a,6,7.
Vejam só o problema — lábios impuros! Como foi o perdão
concedido? Pela purificação dos lábios ! Meditando nisto, e escu­
tando as conversas de muitos cristãos contemporâneos, opinamos
que esse mesmo pecado é tratado com indiferença por quase todo
o mundo. Piadas questionáveis, calúnias, boatos e mexericos,
todos são prevalecentes em muitas congregações dos nossos dias.
O resultado: o testemunho da Igreja é prejudicado diante do
mundo. Pior ainda, o próprio nome de Deus é difamado.
Com essas observações, passamos a considerar os pecados
definidos nos primeiros versos de Levítíco 6. A primeira lista de
ofensas aparece nos versos dois e três:
Os Sacrifícios pelos Pecados Voluntários., 203
Deixar de devolver algo depositado por outro. O contexto
implica em que alguma coisa pertencente ao próximo foi
entregue para ser guardada até que a pessoa dela necessitasse
(semelhante a um banco).
Deixar de devolver um penhor. Isso representa algo entre­
gue como sinal de boa-fé, envolvendo alguma transação mú­
tua. Esse sinal seria devolvido ao completar a transação, ou
seria integrado no preço estipulado.
Roubo, isto é, tirar por força, às escondidas, ou com as
pretenções sobre aquilo que pertence a outro.
Extorsão: apossar-se injustamente, usurpar aquilo que não
lhe pertence, preços abusivos, etc,
Achar algo perdido e não devolver ao próprio dono.
Falsos juramentos ou testemunhos falsos contra o próximo.
Um exame cuidadoso dessa lista estabelece um fator em
comum entre todos os pecados enumerados: todos são ofensas
contra o próximo. Em alguns outros sacrifícios, os pecados eram
de natureza mais pessoal, com atos e atitudes impróprias, princi­
palmente afetando as exigências de Deus para viver em comu­
nhão com Ele, O caso aqui trata basicamente das ações que
ofendem o próximo diretamente. Basicamente, todos os atos
mencionados representam alguma forma de roubo.
Há uma pequena frase no fim do verso três que é muito
significante; o Criador da raça humana compreende muito bem os
costumes humanos; Ele soma à lista de pecados mencionados
acima as palavras: "em que o homem costuma pecar". Inicia a li$ta
com as palavras: "quando alguma pessoa pecar". Deus nunca é
supreendido quando Seus filhos cometem algum desses pecados.
De uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde, cada um de
nós é culpado em fazer algo que ofende ou prejudica nosso
próximo. O que Deus deseja de nós é que sejamos sensíveis,
aprendendo a "preferir-vos em honra uns aos outros" (Romanos
12,10b).
Um dos pecados mais comuns, entretanto, um dos mais
graves, é o costume de ser mexeriqueiro. Muitos irmãos em Cristo
têm sido roubados em seu caráter, por causa de calúnias. Até
congregações têm sido divididas e destruídas dessa maneira* Nao
existe possibilidade de medir o dano sobre o testemunho da Igreja
por causa disso. É um pecado tratado especificamente e diversas
204 A LEI E A GRAÇA

vezes nas Escrituras. Entre as instruções incluídas nos detalhes da


íei mosaica, encontramos estas palavras:
"Não andarás como mexeriqueiro entre o povo; não
a tentar ás contra a vida do teu próximo: Eu tou o Senhor/11
Vejamos como o culpado foi instruído a agir para que esses
pecados fossem perdoados. Deus ordenava a restituição, pelo
culpado, daquilo que fora tirado do próximo, ou ^ejaf do que foi
roubado, e ainda com 20% de juros. Em se tratando de coisas
materiais, reconhecemos a possibilidade de cumprir essa exigên­
cia; porém, quanto ao caráter de uma pessoa, negue um exemplo
de como isso é difícil. Conta-se que um jovem havia feito comen­
tários difamatórios sobre o caráter de um velho pastor. Arrepen­
dido, ele aproximou-se do pastor t' implorou que o perdoasse, O
pastor o perdoou; mas, levando um travesseiro, convidou o jovem
a acompanhá-lo a um lugar alto e ventoso. Entregando o travessei­
ro ao jovem, pediu que o abrisse e jogasse as penas pelo ar. Depois
que o jovem fez isso, o pastor pediu que ele ajuntasse todas as
penas e as colocasse de volta no travesse ir o. O jovem reconheceu
a Impossibilidade de fazê-lo. Então, o pastor advertiu-o de que, do
mesmo modo, era impossível recolher todas as conseqüências dos
boatos que ele havia semeado. Oxalá apn>udatnos essa lição ao
ponto de pesarmos nossas palavras com muito cuidado cada vez
que somos tentados a fazer comentários negativos contra o nosso
próximo .
Não era suficiente a simples restituição completa daquilo que
fora obtido por meios inaceitáveis perante Deus; uma multa de
20% era acrescentada — juroy altos! Demonstra a seriedade do
pecadõ., A devolução seria feita antes de oferecer o sacrifício ao
Senhor, Mais uma vez ê revelado que não há comunhã o com Deus,
enqu anto a pessoa não está disposta a fazer tudo o que é necessário
para manter comunhão com o próximo. Sem duvida, a falta de
reconhecimento desse priiu. ípio entre a irmandade cristã é um dos
fatores principais pela falta de calor espiritual genuíno nas igrejas .

A Oferta Exigida

A oferta exigida aqui diferencia-se um pouco das examinadas


até agora. Além da necessidade de o animal ser um carneiro sem
Os Sacrifícios pelos Pecados Voluntários. 205

defeito, cujo simbolismo foi tratado anteriormente, há um novo


detalhe apresentado. E a necessidade de calcular o valor da oferta,

"E, por sua oferta peLa culpa trará ao Senhor um carneiro


sem defeito do rebanho, conforme a tua avalitição para oferta
pela culpa; trá-lo-á ao sacerdote."

A avaliação mencionada aqui não cabia ao culpado. As


instruções foram dirigidas a Moisés e o pronome indica que ele
faria a avaliação, Pelo fato de a lei continuar em efeito após a morte
de Moisés, essa responsabilidade caía sobre os sacerdotes, como
confirma Levítico 27. Os sacerdotes fariam as avaliações de todas
essas ofertas. Isso é notável. Poderia haver uma variação no valor
dos sacrifídot;, conforme o grau de gravidade do pecado. Muitas
vezes nossos irmãos tém mais objetividade em avaliar as con­
seqüências dos nossos Litos do que nós mesmos. Apesar de nem.
sempre operarem nesse princípio, as civis da maioria dos
países do mundo têm base nesse mesmo princípio.
A qualidade do animal oferecido obedecia às normas
estabelecidas em outros sacri ticios. Teria que ter um carneiro sem
defeito. Observamos novamente — apenas o perfeito Cordeiro de
Deus, sem defeito algum, seria aceito diante de Deus para 4
expiação dos nossos pecador.
No capítulo cinco de Números, versos cinco a oito, as instru­
ções sobre OS sacrifícios envolvendo restituição são repetidas.
Anotamos uma das declarações feitas naquele tex to, Números 5.6c

"Mas se este iiorriem ío ofendido; veja OcontexLo) não tiver


parente chegado, a quem possa fazer restituição pela culpa,
então o que se restitui ao Senbí ir pela culpa, Será dosaCerdote,
além do cameiro expiatório t om que se fizer expiação pelo
culpado/'
O culpado, nesse caso, parece ter sido responsável pela morte
do ofendido. Pelo menos isso está implícito pelo fato de a restitui*
ção ser feita a algum representante dele. A ausência de parentes
chegados não isentava o culpado da lei de restituição; o sacerdote
que oficiava tomar-se-ia o substituto na falta deles. A necessidade
absoluta de restituição é o ponto importante estabelecido aqui.
peus não pode ser logrado- Todas as exigências teriam que ser
cumpridas* Pecados não confessados serão julgados diante do
206 A LEI E A GRAÇA

tribunal de Cristo (1 Coríntíos 3,10-15). Não podemos fazer pouco


caso de pecados, nem ignorá-los, sem conseqüências eventuais.
O simbolismo desses sacrifícios e ofertas tem em vista um
único objetivo, isto é, o de estabelecer a importância de viver em
comunhão com Deus. Todos os pecados precisam ser reconheci­
dos como obstáculos para que isso seja uma realidade, sendo
possível apenas por um caminho: a confissão a Deus e a restitui­
ção aos ofendidos são sempre requeridos por Ele,

Adenda — A s Libações

O estudo das ofertas e sacrifícios seria incompleto, se não


considerássermos as libações que acompanhavam diversas ofer­
tas, Consistiam da " quarta parte de um him de vinho" {Êxodo
29.40; Levítico 23.13, etc.) — isso representa um pouco mais que
um litro de vinho. O capítulo vinte e nove de Números menciona
essas libações dezoito vezes junto com os animais sacrificados;
Parece impossível determinar, com exatidão, todas as ocasiões em
que as libações faziam parte das ofertas. Forem, não há dúvida de
que faziam parte integrai de muitas delas. Somos obrigados a
concluir assim, porque as Escrituras fazem referências às libações
por quase sessenta vezes. A palavra nesek significa "algo despeja­
do." A primeira referência da palavra está em Genesis 35.14. Nesse
caso, observamos que não acompanhava o sacrifício de um ani­
mal:
"Então Jacó erigiu uma coluna de pedra no lugar onde Deus
falara com eJe; e derramou sobre ela uma líbação, e lhe deitou
óleo. Ao lugar onde Deus lhe falara, Jacó lhe chamou Betei."
O contexto estabelece que Jacó oferecia louvores ao Senhor
pela promessa recebida naquela ocasião. Já vimos que o óleo ê
simbólico da Pessoa e obra do Espírito Santo, Importa agora
procurar descobrir o sentido figurativo do vinho.
As palavras empregadas para vinho em hebraico (yayífl,
firosft) significam algo espremido. Pode significar o vinho fermen­
tado ou o simples suoo de uva. Quase sempre há a possibilidade
de determinar o sentido pelo contexto. Na maioria dos casos,
significa vinho fermentado. Diversos desses contextos apontam
um fato interessante: parece que estabelecem o simbolismo do
Os Sacrifícios pelos Pecados Voluntários.-, 207
vinho como algo que alegra o coraçao, mas que deturpa as facul­
dades de raciocínio. Eis alguns exemplos:
Absalão ordenou: ", - - quando o coração de Amnom estiver
alegre de vinho, e eu vos disser Feri Amnoin, entáo o matareis."
(2 Samuel 13.2S)
"Ao sétimo diaf estando já o coração do rei (Assuero) alegre
do vinho, mandou. „que introduzissem à presença do réi a
rainha Vasti.-para mostrar... a formosura dela-,. "{Ester 1.10,113
",..o vinho que alegra o coração do homem, □ azeite que lhe
dá brilho ao rOSto, e o pão que lhe SuStém as forças..," (Salmo
104.15)
Ao examinarmos esses e outros textos, sugerimos que as
Ub^ções representam a entrega das coisas que provoca riam um
transtorno dos sentimentos. Especificamente, nos casos citados,
uma alegria artificial, estimulada pelo vinho. A alegria humana
nãoé sinônimo de gozo. A palavra de Deus exorta: "regozígai-vos
sempre", Isso ê possível somente quando o Espírito Santo eiítá no
absoluto controle de nossas vidas, Não depende de circunstân­
cias; ê possível, mesmo quando as circunstâncias não nos permi­
tem ser felizes. Esse gozo ê muito diferente das alegrias proveni­
entes de atividades e relações humanas. Por outro ladorhá muitas
coisas na vida que podem provocar felicidade momentânea por
afetarem nossas emoções naturais. O vinho das libações, derrama­
do junto aojj sacrifícios, parece representar a entrega dessap emo­
ções humanas ao Senhor.
5e ana lisarmos cuid adosa mente o efei to das emoções na vida
cotidiana, será fácil concluir que muitas dos problemas que enca­
ramos têm sua origem nelas. Essas alegrias &ão passageiras, por­
que são produzidas por circunstâncias, são de efeito temporário.
Infelizmente, muitas atividades chamadas de "culto e louvor a
DeuaJ' têm sua origem nas emoções, em vez de no ministério do
Espírito Santo, Nâo são duradoras. Aí está uma das razões por que
um grande número de cristãos não experimenta uma vida vitori­
osa em Cristo, Portanto, Deus nos está mostrando, por meio
dessas libações, que nossas alegrias e felicidade humana, nossas
emoções todas e tudo aquilo que as produzem, devem ser coloca­
dos sobre o al tar junto ao sacri ficio. O con tras te en fere as emoções
e a alegria que vem do Senhor é claramente estabelecido em 2
Coríntios 6,10:
208 A LEI EA GRAÇA
., entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enrique­
cendo a muitos, nada tendo, mas possuindo tudo,"
D ivisão III
Capítulo Um

As Sete Festas Fixas


Segundo o
Calendário de Israel
Deus é eterno. Com Ele não há princípio nem fim. Não marca
tempo como faz a humanidade, Não há janeiro nem dezembro
com Ele. É verdade que o calendário gregoriano, empregado
quase universalmente hoje, marca os anos de acordo com o nas­
cimento do Filho de Deus; mas o calendário de Deus não emprega
o mesmo fenômeno para determinar o Seu programa entre os
homens, O calendário dEle é perecebido através de uma série de
eventos históricos, marcando a revelação de Suas relações com a
humanidade. As sete festas fixas judaicas formam um esquema
tipológico dos eventos históricos relativos ao ministério do Filho
de Deus, relativo ao plano divino para a humanidade. As festas
aram realizadas numa ordem sistemática de acordo com o desen­
volvimento passado, presente e futuro desse plano. Algumas das
festas já foram cumpridas tipologicamente. Uma delas está em
fase de cumprimento atualmente, Há três festas tipológicas que
esperam o antítipo para serem cumpridas. Pretendemos examinar
cada festa com o intuito de verificar o antítipo no plano de Deus.
Mas o propósito fundamental de Deus foi a criação de meios
para estimular a expressão de fé do Seu povo com relação a Ele.
211
212 A LEI E A GRAÇA

Cada festa apontava algo que Deus desejava que Seu povo
relembrasse quartto à maneira de Se manifestar a eles. Eram
verdadeiros exercícios de fé. A observação não era voluntária; a
ordem era cronológica, não sendo aceitável a modificação das
datas ou a ordem da observação.
As festas exerciam várias influências sobre Israel, além da sua
importância religiosa. Serviam para unir o povo,, evitando, assim,
a criação de clãs sociais e religiosas. Tinham, também, um efeito
político e comercial entre eles. Um dos grandes efeitos, era
conserva-los separados das nações pagãs ao seu redor.
A Igreja não é uma extensão do judaísmo. Um estudo cuida­
doso, sem opiniões pré-determinadas, confirmará essa premissa.
As diferenças entre a primeira aliança (com Israel) e a segunda
(com a Igreja) são enormes. Não serão examinadas neste livro, O
objetivo atual é comparar cada festa com algum evento que revela
a manifestação de Deus para com Seu povo, desde a morte do Seu
Filho até a eternidade futura» Deus traça todo o Seu plano de
redenção da humanidade por meio delas.
Pela falta de percepção das lições simbólicas na primeira
aliança, incluindo as festas judaicas, a grande maioria dos cristãos
deixou de colher as bênçãos espirituais contidas nelas. É muito
comum encontrar irmãos na fé qua admitem não achar nada
interessante no livro de Levítico,
O capítulo vinte e três de Levítico destaca sete festas: a da
Páscoa, a dos Pães Asmos, a das Primícias, a de Pentecostes, a das
Trombetas, a da Expiação e a dos Tabernãculos, nessa ordem.
Algumas delas são tratadas em outras passagens bíblicas também,
Com exceção da primeira e da segunda das festas mencionadas,
todas as demais são independentes umas das outras, Existe uma
relação entre as duas primeiras que as tornam inseparáveis, ape­
sar de representarem dois quadros diferentes.
O primeiro assunto tratado em Levítico vinte e três é o
sábado. Na vida do povo de Deus, desde a criação de Adão e Eva,
Deus estabeleceu a importância do sábado por ser simbólico do
dia em que Ele mesmo descansou da Sua obra de criação. Ao
entregar os dez mandamentos a Moisés, no Monte Sinai, Ele
declarou sagrado o sétimo dia de cada semana. Esse assunto será
examinado ao olharmos outras atividades importantes na vida
dos israelitas, pois isso não faz parte do calendário que está sob
consideração aqui»
As Sete Festas Fixas segunda o Calendário de Israel 213

Vejamos como Deus introduz, o assunto das festas fixas a


M oisés:

"São estas £is testas fixas do Senhor, as sar, Las convocações,


no seu tempo d e t e r m in a d o Tüevílico 23.4a

Há três declarações específicas: a) são festas fixas; b) são


santas convocações; e, c) seriam realizadas em tempo determina­
do.
Todas as festas eram "santas convocações '. A palavra "con­
vocação* aparece apenas 19 vezes nas Escritura,-:, sempre relacio­
nada com as festas fixas, conjugada coma palavra "santa"; sempre
significa uma congregação de pessoas separadas ao Senhor. No
primeiro verso d rase capítulo. Deus declara: são estas as minhas
festasJ'. Não representavam uma determinação de a congregação
se reunir para íestejar; exigiam um ato de obediência às ordens
recebidas do Senhor; não haveria voluntariedade nem flexibilida­
de.
Ao analisarmos cada festa, haverá uma tenta ti va de descobrir
a relação entre essas declarações e a tipologia da festa.
Capítulo Dois

A Festa da Páscoa
Levítico 2 3 .4 ,5
(Ex 2 3 .1 4 ,1 5 ; 3 4 .1 8 ; Dt 16.1-8)
"São estas as festas fixas do Senhor, as santas convocações,
no seu tempo determinado. No mês primeiro, aos catorze do
mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do Senhor,"
A primeira fe^ta fixa no calendário remissório de Deus foi a
Páscoa, Fora estabelecida na noite e m que os israelitas saíram do
Egito; a festa comemorava a libertação de sua escravidão, Do
ponto de vista humano, marcava o início de uma nova relação co m
Deus; simboliza a redenção no programa de Deus. Os israelitas
haviam estado quatrocentos e trinta anos no Egito. Apôs a morte
de José, foram escravizados durante séculos. Porém, a libertação
aconteceu exatamente de acordo com o tempo pré-determinado
por Deus. Houve muitas tentativas, da parte de Israel, de sair antes
da noite da Páscoa, sem conseguir resultados positivos. Deus
mesmo interviu, endurecendo o coração de Faraó. Mas agora
vamos ver a maneira pela qual Deus os libertou, no estudo sobre
a festa da Páscoa.
Os pormenores se encontram em Êxodo 12. Os únicos detalhes
fornecidos sobre a Páscoa, em tjevíticn 23 são a ocasião em que seria
realizada e a quem seria oferecida, Olhemos o verso de novo:
"No mês primeiro, aos catorze do mês, no crepúsculo da
tarde, é a Páscoa do Senhor/'
215
216 A LEI EA GRAÇA

O calendário judaico difere muito do gregoriano, O sistema


empregado para calcular os meses é lunisolar, O primeiro mês
chamava-se Avib, correspondente a partes de março e abril. Mais
tarde,, o nome desse mês foi mudado para Nisan ((Neemias 2.1).
Era o início da primavera, quando apareciam os figos novos e
brotavam as folhas. A primavera é um período de renovação,
novos princípios. Era o tempo mais oportuno possível para Deus
se revelar aos israelitas, libertando-os e oferecendo-lhes uma nova
vida* Foi o que aconteceu na noite da Páscoa. No capítulo 12 do
livro de Êxodo, Detis consagrou o mês de Abib como o primeiro
mês, dizendo:

"Este mês será o prindpal dos meses; será o primeiro mês do


ano."

O calendário contemporâneo, empregado pelos judeus, não


é o mesmo; ele tem base em cálculos determinados entre dois e três
séculos antes de Cristo; refere-se à criação. O Ano Novo começa
em setembro-outubro do nosso calendário, pelo fato de o númerò
de dias ser variável de ano em ano. O ano de 1995 corresponde a
5755-5756.
Por que Deus determinava que a festa fosse realizada no dia
catorze do mês? O estudo de numerologia bíblica é fascinante;
porém, por sua complexidade, é impossível elaborarmos extensi­
vamente aqui . Por outro lado, não nos convém ignorar a importân­
cia desse número ao relacioná-lo à Páscoa.
Estabelecemos o simbolismo do número sete, anteriormente.
Basta relem braT aqui que significa algo perfeito, a perfeição, A
primeira evidência disso são os sete dias da criação (Gênesis 1-2).
Há dezenas de textos bíblicos confirmando isso. Pergunta-se: que
tem isso a ver com catorze? É simples! É o resultado da multipli­
cação de sete por dois. E dois, o que significa? Quando o número
dois, ou uma referência a duas coisas, aparece nas Escrituras,
geralmente denota diferença, como dia e noite, Israel e a Igreja,
homem e mulher, etc. Também, hã outros casos em que uma
palavra é falada duas vezes em seguida, aumentando a ênfase. Um
belo exemplo é a maneira como Jesus iniciava certas observações,
usando a expressão: "em verdade, em verdade". Concluímos,
então, que o número pode denotar diferença ou uma ênfase
dobrada.
A Festa da Páscoa 217
Muitos textos bíblicos que contêm o número catorze sugerem
uma reafirmação do que é perfeito, ou uma ênfase dobrada, Esso
parece ser o caso, na festa da Páscoa.
A ocasião de muitas das atividades religiosas oficiadas, pelos
sacerdotes era no crepúsculo da tarde. Não é fácil estabelecer
algum simbolismo para essa hora. Contudo, com um exame de
todos os textos onde a palavra f (wr é empregada, verifica-se que
era muito variável. Os judeus chegaram a considerar qualquer
hora, depois da mudança da guarda na nona hora, como o crepús­
culo. Sabemos que foi à hora nona que Jesus expirou. Isso
corresdonde às três da tarde. Toma-se interessante a comparação,
especialmente porque o cordeiro pascal era simbólico do Cordeiro
de Deus que morreu para nos libertar, à nona hora do dia*
O texto principal sobre ã festa da Páscoa se encontra em Êxodo
12. Deus instruiu Seu povo a instituir a comemoração na noite em que
os libertou da escravidão. Todos os detalhes sobre os elementos
empregados e os passos a serem seguidos estão registrados nesse
capítulo. Portanto^ uma análise pormenorizada do texto está na
ordem. Por ser um texto longo será introduzido em partes para
facilitar a retenção das observações tipológicas. O trecho inicial para
consideração trata da preparação (Êxodo \23-6):

"Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez


deste mês cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa
dos pais, um cordeiro para cada família, Mas se a família for
pequena para um cordeiro, então convidará ele o seu vizinho
mais próximo, conforme o número das almas, conforme o que
cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastam para
o cordeiro. O cordeiro será sem defeito, macho de um ano,
podereis tomar um cordeiro ou um cabrito; e o guardarcis até
o décimo quarto deste mês; e todo o ajuntamento da congrega­
ção de Israel o imolará no crepúsculo da tarde."

O número dez é o primeiro detalhe que demanda nossa


atenção no contexto. Alguns números denotam perfeição, nas
Escrituras, Este é um deles. Significa a integral idade, a perfeição
da ordem divina. Alguns exemplos bíblicos que ajudam, a estabe­
lecer esse símbolo são os dez mandamentos; o dízimo requerido
dos israelitas; e quando Deus mandou dez pragas sobre o Egito (a
décima, acontecendo na noite da Páscoa). Há muitas outras refe­
rências semelhantes nas Escrituras.
218 Á LEI EA GRAÇA

No dia 10 do mês escolheriam o cordeiro para o sacrifício.


Implica que havia dez dias para examinar e determinar qual fosse
o animal mais perfeito. Porém, era necessário esperar mais quatro
dias antes da imolação. No dia catorze do mês essa perfeição seria
confirmada de acordo com o simbolismo do número.
Deus nunca aprova o desperdício. Vejamos como Ele exigiu
que houvesse número suficiente de pessoas para consumir com­
pletamente o animal. O cálculo foi feito de maneira que a apetite
de cada um fosse satisfeito. Esse é ponto principal estabelecido
aqui. Comparando esse princípio com o sacrifício do Cordeiro de
Deus, há alimento espiritual suficiente para todos que o desejam.
Não há necessidade de que aqueles que participam do Cordeiro
passem fome espiritual. Mas, infelizmente, com toda a fartura em
Cristo, a Igreja está esbanjando e desperdiçando a mensagem em
si mesma, deixando muitos famintos espirituais fora da festa.
O verso cinco do texto acima estabelece três pontos básicos.
O animal teria que ser perfeito. Por sei representativo do
perfeito Filho de Deus, Ele exigiu que todo o cuidado fosse
observado.
Macho de umano, Completamentedesenvolvidü;”era neces­
sário para representar o antítipo.
Cordeiro ou cabrito, O simbolismo do cordeiro foi considera­
do no estudo dos sacrifícios e ofertas* Também, muitos sacrifícios
exigiam um cabrito. Recordem que todos os animais sacrificados
nas ofertas e sacrifícios estabelecidos pela lei mosaica eram figuras
de Jesus, o antítipo. Não é diferente neste caso.
A última parte do verso seis indica que todos OS animais
seriam imolados na presença de toda a congregação. Isso talvez
represente a necessidade de toda a congregação zelar para que
ninguém fosse excluído. Ao medi tarmos na comemoração da Ceia
do Senhor, lembramos que a igreja de Corinto não estava tomando
o mesmo cuidado entre os irmãos (1 Corintios 11). A festa da
Páscoa foi dada a Israel como um símbolo do sacrifício do Cordei­
ro de Deus até que fosse consumido. A Ceia do Senhor é O
memorial que o próprio Jesus deu à Igreja para relembrar aquele
sacrifício até a Sua volta. Nenhum dos dois é o antítipo, antes, são
símbolos do antítipo, que foi a morte de Cristo na cruz,
Êxodo 12,7-10 oferece instruções sobre as medidas iniciais a
serem tomadas naquela tarde:
A Festa da Páscoa 219
"Tom arão do sangue e o porão em ambas as ombreiras, c na
verga da porta, nas casa em que o cometem, naquela noite
comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas
amargas a comerão. Não comereis dele nada cru, nem cozido
em água, porém assado ao fogo; a cabeça, as pernas e a fressura.
Nada dcixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela
manhã, queimá-lo-eis no fogo."
Convém uma pequena recapitulação das circunstancias em
que Israel se encontrava. Fazia, talvez, mais de trezentos anos que
a Nação vivia na escravidão. Deus havia mandado nove pragas
sobre os egípcios, enquanto poupava Seu povo* O coração de
Faraó tornava-se cada vez mais duro contra os israelitas, Certa­
mente, esse povo tenha chegado a um estado de desespero total.
Porém, aquela promessa que Deus fizera a Moisés ainda estava de
pé, Agora, tudo dependia de um ato de fé, confiando que seriam
libertos se obedessem a essas ordens do Senhor. Sacrificar um
animal ao Senhor não era uma novidade; espargir o sangue do
animal sacrificado nas ombreiras e na verga da casa era. A falta de
obediência resultaria em morte. Eles haviam observado como
Deus cumprira a Sua palavra em mandar todas as nove pragas
anteriores. Essa seria a primeira que atingiria o próprio Israel se
não obedecessem. Parece implícito que toda a nação cooperava,
porque as Escrituras não oferecem nenhuma evidência da morte
de algum israelita.
O sangue foi aplicado nas duas ombreiras, as laterais que
conhecemos por batentes, e na verga, ou seja, a travessa superior
dos batentes. A cruz que costumamos ver nos quadros sobre a
crucificação apresenta uma viga horizontal a certa distância
abaixo do topo da vertical. Quando o Senhor foi imolado naquela
cruz, a Sua cabeça, logicamente, estava encostada naquela parte
superior. Naquela cabeça santa havia cravada uma coroa de
espinhos* Sem dúvida, a cabeça sangrava. Olhando para a cruz,
certamente veríamos as manchas de sangue das mãos também
pregadas. Ao aplicarem o sangue nas ombreiras e na verga daque­
las casas, esta vam pintando umlindo quadro simbólico da cruz de
Cristo. Ele é a Porta da salvação; Ele assim o declarou:
"Eu sou a porta, Se alguém entrar por mim, será salvo;
entrará e sairá e achará pastagem. Eu sou o caminho e a verda­
de e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim/' foão 10.9; 14.6
220 A LEI E A GRAÇA

A única provisão para a salvação de Israel naquela noite seria


permanecer dentro das casas, onde havia o sinal da cruz pela
aplicação do sangue. Como muitas famílias., por serem pequenas,
estariam comemorando nos lares de outros, importava que per­
manecessem naquelas casas durante a noite. Cada pessoa precisa­
va ser coberta peío sangue. Não é diferente hoje, Não há salvação
fora do sangue do Cordeiro. Colocar a fé em qualquer outra coisa
é tão /atai como o foi para os egípcios naquela noite. A declaração
"...sem derramamento de sangue não há remissão" não abre
excessões.
O verso trinta e oito do capítulo revela outra coisa interessan­
te:
"Subiu também com eles um misto de gente, ovelhas, gado
muitíssimos animais/'
Não foi apenas a Israel que Deus estendeu a salvação na noite
da Páscoa. Nada existe nas Escrituras que detemine quem integra­
va esse grupo de pessoas chamado "um misto de gente"* O verso
anterior indica que se refere a pessoas não israelitas-. Talvez alguns
fossem egípcios. Deus jamais estenderá a salvação exclusivamen­
te a apenas uma nação. Não obstante, importava que as pessoas
cultuassem a Deus dentro dos parâmetros estabelecidos por Ele,
Nesse caso, necessitavam imolar o cordeiro, aplicando o sangue
no batente, comerem juntos conforme as instruções, e permanece­
rem dentro das suas casas até que passasse o anjo da morte. Uma
dedaração bíblica que nos ilumina um pouco a respeito dessas
pessoas é Êxodol2.48,49:
"Porém,, se algum estrangeiro se hospedar contigo, e quiser
celebrar a Páscoa do Senhor, seja-lhe circuncidado todo macho;
e então se chegará e a observará, e será como natural da terra,
mas nenhum incircunciso comerá dela, A mesma lei haja para
o natural e para o forasteiro que peregrinar entre vós."
Hoje o caminho da salvação é o mesmo para todos os seres
humanos. Há religiosos que alegam que Deus providenciará
outros meios para salvar as pessoas não alcançadas com o evange­
lho antes de morrerem. Não há nem uma justificação nas Escritu­
ras para isso* Deus daramente define os parâmetros da salvação
com estas palavras;
A Festa da Páscoa 221
. . sabendo que não foi mediante cousas corruptíveis,
como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil
procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como dê cordeiro sem defeito, e sem mácula, o sangue
de Cristo." 1 Pedro 1,18,19

O animal tería que ser totalmente consumido, ou pelo comer


ou pelo fogo, na mesma noite da Páscoa, Semelhantemente, o
sacrifício de Cristo foi total. Ele entregou-se completamente à
vontade do Pai, ao ministério do Espírito Santo, e à Sua missão.
Há mais um detalhe muito importante sobre a Páscoa que
devemos observar aqui. Vejamos a seguinte ordem em Êxodo
12.46b:

"...nem lhe quebrareis osso nenhum."

Essa exigência do Senhor se cumpriu no Antítipo, conforme


Deus nos informa ao mandar escrever os detalhes sobre a morte de
Jesus. O apóstolo João afirma que nem um osso do Senhor foi
quebrado, quando Ele foi crucificado (João 19.36), de acordo com
a profecia registrada no Salmo 34.20* Vejam como os detalhes
eram tão importantes:
Esse banquete incluía três elementos:
A carne assada de um cordeiro. Deus proibia que se comesse
essa carne crua. Se fosse assim, não serviria como símbolo dos
sofrimentos e agonia de Cristo, que verdadeiramente passou pelo
fogo purificador de Deus para purificar-nos dos pecados.
Os pães asmos seriam comidos junto. O assunto do fermento
já foi tratado neste livro. Basta notarmos aqui que a palavra-chave
nessa oferta é "perfeição"; como o animal teria que ser sem
defeito, assim, também, o pão teria que ser "perfeito", sem fermen­
to, para ser figurativo de Cristo.
Ervas amargas, que importância teriam nesse quadro? Mui­
tos estudiosos das Escrituras concluem que se refere à raiz forte.
Aqueles que conhessem essa píanta sabem que além de as folhas
serem amargas, a raiz é muito picante. Essas ervas representam as
experiências amargas que Jesus passou na vida. Ele foi ridiculari­
zado, desrespeitado, rejeitado, e perseguido durante todos os
anos do Seu ministério. Até nas últimas horas de Sua vida, Ele
sofreu aflições físicas inumanas. Dificilmente alguém pode com­
222 A LEI E A GRAÇA

preender todo o preço que Cristo pagou para nos libertar do


pecado. Esses símbolos são apenas pequenas expressões da mag­
nitude do amor que Deus demonstrou por nós:
"Desta maneira o comerels: lombos cingidos, sandálias nos
pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do
Senhor." " Porque todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele
venha." Êxodo 12,11; 1 Coríntios 11.26
Após tantos anos de escravidão, é possível que nenhuma
ordem do Senhor teria sido mais difícil de ser aceita do que a de
se aprantarem para partir naquela noite* Faraó havia feito diversas
promessas de libertá-los sem cumpri-las. Que indicação tiveram
nessa ocasião de que seria diferente? Semelhantemente, a Igreja de
Jesus Cristo recebeu uma ordem que deve ser manifestada no
coração do povo de Deus continuamente. É comemorada ao
participarmos da Ceia do Senhor, Jesus prometeu, à Sua Igreja,
voltar* Ordenou que todos os filhos de Deus fossem esperar o
aparecimento momentâneo do nosso Senhor nos ares. Para que
isso se tome uma realidade, as instruções dadas nesses versos são
muito significativas. Vamos verificar a relação entre as três
exigências enumeradas aqui e as instruções dadas à Igreja, confor­
me estão registradas em Efésios 6.14,15:
"Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestin-
do-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do
evangelho da paz."
"Lombos cingidos": A peça da roupa a que se refere aqui não
era vestida normalmente dentro de casa* Ao colocá-la, os israelitas
estavam demonstrando sua fé de que aquela seria a noite da
libertação. A verdade e a justiça são peças importantes com que
o cristão necessita ser vestido para o andar neste mundo perverso.
Jesus nos instruiu a maneira de conhecer, e nos cingir, com a
verdade ao falar:
" ... Se vós permanecer dos na minha palavra, sois verdadei­
ramente meus discípulos; econhecereis a verdade e a verdade
vos libertará*" João 8.31b, 32.
Precisavam de confiança absoluta na palavra do Senhor, com
A Festa da Páscoa 223
uma disposição de obedecer a ela integralmente. Sem isso, muitos
dos lares dos israelitas não teriam sido poupados, quando o anjo
da morte passara pèlo Egito naquela noite.
Semelhantemente, sem dar crédito à palavra de Deus, não há
outro meio para alguém ser liberto das correntes da escravidão.
Somente a Palavra de Deus pode quebrar aa algemas que nos
escravizam. Os servos de Deus são exortados a viver cada dia na
esperança dalibertação desta vida terrena, Há um padrão paralelo
entre a chegada do anjo da morte, durante a noite da Páscoa, e a
vinda do Senhor, que é descrito como "um ladrão de noite".
Lamentamos observar que muitos cristãos têm seus olhos fixos em
coisas terrenas, e não na vinda do Senhor. Porém, essa aplicação
não representa o verdadeiro símbolo retratado nesses versos.
Nesse quadro Deus está alertando o povo para que esteja pronto
para a Sua chegada, O paralelo na era da Igreja é aquela exortação
de Isaías 49.8, repetida em 1 Coríntios 6.2:

"Porque Ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te


socorri no dia da salvação; eis agora o tempo sobremodo
oportuno, eis agora o dia da salvação."

"Sandálias nos pés" — "Calçai os pés com a preparação do


evangelho da paz,". Tipo e antítipo' Os israelitas foram exortados
a passarem aquela noite de uma maneira bem contrária aos seus
costumes tradicionais. Não se calçavam sandálias dentro de casa.
Que demonstração de íe encontramos aqui! Passaram a noite em
casa vestidos e calçados para estarem viajando. A lição básica é a
necessidade de obediência e submissão do ouvinte para receber a
salvação. Ninguém era obrigado a se submeter às ordens do
Senhor. Porém, a conseqüência em rejeitar aquelas ordens era a
morte. Da mesma maneira. Deus estende Sua mão salvadora a
toda a humanidade. Mas, para receber a libertação da natureza
pecaminosa que escraviza todos os homens, é necessário nos
escondermos atrás da cruz sangrenta, entrando pela porta que é
Jesus. O evangelho da paz é indispensável para entrarmos no
caminho à nossa terra prometida.
"Cajado na mão". A primeira ocorrência da palavra mnqqel,
na Palavra de Deus, está emGênesis 32.10. Era a segurança de Jacó.
Quando Davi enfrentou Golias, levou consigo Oseu cajado, símbo­
lo de confiança e poder. Essa mesma palavra aparece em Zacarias
224 ALEÍEAGKAÇA

11.7, 10, 14. É traduzida "varas" naquele texto, Essas varas se


chamavam "graça" e "união". Revelam dois atributos de Deus
manifestados a Israel, mas que Deus retirou da nação por causa de
sua rebeldia.
Concluímos, assim, que na comemoração da Páscoa, o cajado
representava a proteção e a revelação da graça divina na saída, do
Egito, dos israelitas.
"Comê-Io-eis à pressa". Essa alimentação representa o ali­
mento que temos em Cristo Jesusi Não há tempo para perder.
Lembramos que somente a festa da Páscoa é simbólica da salva­
ção. Sem comer o Pão da Vida, sendo protegido pelo sangue do
Cordeiro, não há outro caminho à vida eterna. Não há tempo para
perder! Nos versos doze e treze do texto, Deus declara Seu intento.
Essa declaração de Deus não excluía os lares dos israelitas. Sem o
sinal do sangue, nenhum lar seria poupado* Há, em nossos dias,
pessoas que se chamam de cristãs, mas desprezam a mensagem da
cruz. Não estão protegidas da ira de Deus, que será revelada
contra aqueles que não confiam em Sua Palavra e no sacrifício do
Cordeiro de Deus.
O verso catorze estabelece a importância da festa da Páscoa
como um memorial para ser comemorado durante toda a história
de Israel- Vejamos a ordem de Deus;

"Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como


solenidade ao Senhor; nas vossas gerações vós celebrareis por
estatuto perpétuo "

Deus repetiu essas instruções depois de os israelitas saírem


do Egito, na ocasião de instruí-ios sobre as leis, conforme está
registrado em DeuteronÔmio 16.1-7. A ocasião é chamada de
"uma festa"1, em Levítico 23; "solenidade", em Êxodo 12 e "cele­
bração", em DeuteronÔmio. A Ceia do Senhor corresponde a
todas as três descrições. Festejamos porque Cristo nos salvou, É
uma festa solene, ao meditarmos naquilo que Cristo fez por nós.
Ao mesmo tempo, ê uma celebração, porque é um memorial não
apenas da nossa libertação espiritual, mas também da promessa
da Sua vinda para nos libertar desta vida temporal.
"Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa,
como sois de fato sem fermento, Pois também Cristo, nosso
A Festa da Páscoa 225
Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso celebremos a festa, não
com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da
malícia, e , sim, com os asmos da sinceridade e da verdade/' 1
Coríntios 5.7,8
Capítulo Três

A Festa dos
Paes Asmos
(Lv 2 3 .6-8; Dt 16.8;
Êx 12.15-20; 1 3 3 -7 )
A festa dos pães asmos sempre estava associada à festa da
Páscoa- Iniciava-se no dia posterior à Páscoa e se estendia por sete
dias. Os detalhes da festa não aparecem nos livros de Levítico e
DeuteronÔmio; porém, a ocasião da observação é estabelecida nos
doislivros. Vamos introduzir o assunto com versos emLevítico23:

" E aos quinze dias deste mês é a festa dos pães asmos do
Senhor: sete dias comereis pães asmos- No primeiro dia tereis
santa convocação; nenhuma obra servil fareis; mas sete dias
oferecereis oferta queimada ao Senhor: ao sétimodia haverá
santa convocação; nenhuma obra servil fareis/' (w. 6-B)

O livro de Levítico registra como Deus confirmou a ordem


e a ocasião da festa dos Pães Asmos, ao instruir Seu povo sobre a
lei no Monte Sinai A instrução inicial para observá-la foi dada na
ocasião da primeira Páscoa, enquanto Israel se encontrava escra­
vizado no Egito. Como Deus libertara Israel na noite da Páscoa, e
a nação iniciara a sua partida do Egito naquela mesma noite, a
festa dos Pães Asmos foi comemorada pela primeira vez durante

227
228 A LEI E A GRAÇA

os primeiros sete dias da expulsão dos israelitas daquele país. Os


versos 34 e 39 de Êxodo 12 nos informam que

"O povo tomou a sua massa, antes que levedasse, e as suas


amassadeiras atadas em trouxas com seus vestidos, sobre os
ombros-., E cozeram bolos asmos da massa que levaram do
Egito; pois não se tinham levedado, porque foram lançados
fora do Egito; não puderam deter-se, e não haviam preparado
para si provisões/'
A saída de Israel do Egito foi um verdadeiro paradoxo.
Moisés e Arão haviam apelado a Faraó durante muito tempo,
pedindo licença para saírem* Foram sempre rejeitados. Quando o
anjo da morte ceifou a vida de todos os primogênitos egípcios, na
noite da Páscoa, Faraó e o seu povo não apenas expulsaram os
israelitas, mas deram-lhes tudo o que pediram para ficarem livres
deles.
O último texto citado acima mostra que a razão de eles
comerem pães asmos era a pressa ao saírem do Egito. Porém, as
instruções de Deus sobre essa solenidade, acompanhando o esta­
belecimento da Páscoa, proibia-os, expressamente, de comerem
pães levedados pelos sete dias seguintes (v>15). Na realidade, a
festa dos Pães Asmos iniciava-se no primeiro d ia após a saída, Esse
fato é básico para compreender o verdadeiro significado da sole­
nidade.
A festa de.Pães Asmos é simbólico da vida santificada que
Deus deseja realizar em cada filho Seu. Antes da Páscoa, ocasião
da imolação do Cordeiro de Deus, (simbolizando a crucificação de
Cristo), não havia a possibilidade de ninguém viver uma vida sem
o fermento do pecado. Ao ser derramado aquele sangue remidor,
Deus estabeleceu o princípio de purificação na vida do Seu povo.
Essa é a razão pela qual os salvos são chamados de "santos", no
Novo Testamento. A salvação é apenas o primeiro passo no andar
do crente. Logo que se entrega a Cristo para a salvação, recebe não
apenas perdãò dos pecados passados, mas o poder de andar em
pureza diante do Senhor.
A festa teria que ser observada durante sete dias. Sete, como
já verificamos, é o número da perfeição, número completo. Deus
deseja que esta vida pura seja manifesta continuamente depois da
salvação, para a glória dEle. Para isso, necessitamos estar sempre
reconhecendo o "fermento" na vida, entregando-o ao Senhor (1
A Festa dos Pães Asmos 229
João 1.9), e afastanda-o das nossas vidas. Deus declarou essa
posição, e Seu objetivo em fazê-lo, quando observou a respeito de
todos os Seus filhos:

"...para Sermos santos e irrepriensíveis perante Ele,"


Efésios 1.4b

Cada vez que o crente participa da Ceia do Senhor, ele come


o pão simbólico do corpo partido de Cristo. Deus exorta que cada
pessoa, ao comer aquele pão, "examine-se, pois, o homem a si
mesmo", porque se não o fizer, será "réu do corpo e do sangue do
Senhor" (1 Coríntios 11.28, 27b). Há dezenas de exortações e
conselhos no Novo Testamento, dirigidos aos redimidos, que nos
instruem como viver vidas agradáveis diante dEle, afastados de
tudo o Que nos polui e interfere em nossa comunhão com Deus. Ele
repreendeu de maneira muito forte a naçao de Israel, pelo profeta
Malaquias, por não respeítá-lO, com estas palavras:

"Ofer eceis sobre o meu al tarpão i mundo, e aínda perguntais:


Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do
Senhor é desprezível/' (Malaquias 1-17)
É óbvio, pelos versos citados a respeito da mesa do Senhor,
que nem todos os crentes estão zelando por preservar suas vidas
puras diante dEle. Facilmente, desrespeitamos o verdadeiro Pão
da Vida, oferecendo-Lhe vidas impuras, poluídas com o fermento
desta vida. A festa dos Pães Asmos revela o quanto para Deus ê
importante que a vida do Seu povo corresponda à posição que
temos em Cristo. Escutem a Sua voz através de 1 Pedro 2.5:
"Também vás mesmos, como pedras qiie vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por inter­
médio de Jesus Cristo,"

Mais uma vez convém estabelecer o fato de que nem a Páscoa,


nem a festa dos Pães Asmos foram inauguradas quando Deus
instruiu Seu povo no Monte Sinai sobre os princípios religiosos
que deviam observar perpetuamente. As duas festas haviam sido
realizadas desde a saída da escravidão. Em Levítico 23, Deus está
reafirmando a necessidade de realizar essas solenidades e, simul­
230 Á LEI E A GRAÇA

taneamente, dando-lhes instruções adicionais.


Desejo destacar mais dois detalhes mencionados nos versos
7 e 8 de Levítico 23:

"No primeiro dia tereis santa convocação; nenhuma obra


servil far&iâ; mas sete dias oferecereis oferta queimada ao
Senhor: ao sétimo dia haverá sánta convocação; nenhuma obra
servil fareis "
O que primeiro merece nossa atenção é a expressão "santa
convocação'", Deus assim designou o primeiro e o sétimo dia. da
Festa. A presença do fermento era proibida em todas as casas da
nação, A ordem era dirigida aos lares individuais. Ao mesmo
tempo, a toda a congregação fora ordenado reunir-se no início e no
fim da festa. E umbelo quadro. Deusdesejao mestno ielo da parte
das congregações individuais da Sua Igreja. Importa que Haja
união entre toda a irmandade em manter o corpo puro.
O outro detalhe mencionado é a instrução divina de não faz
"nenhuma obra servil", Por essa exortação poderemos estabelecer
umparalelo na vida cristã. Há muitas pessoas procurando agradar
ao Senhor por suas boas obras. Até os que se chamam liberais, ou
moderados, entre as igrejas protestantes, estão colocando toda a
sua esperança de salvação naquilo que eles mesmos fazem em
nome de Deus. Muitos rejeitam o sangue remidor, a santificação
espiritual, a autenticidade das Escrituras, etc. Alicerçam as suas
crenças prindpáimente na filantropia e nas obras sodais que
fazem para aceitação diante de Deus* Mas não é assimE Deus
remove qualquer dúvida a esse respeito através de Isaías 64.6a
"Mas tódõs nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças como trapo da imundícia,"
Há necessidade de distinguir entre uma vida pura, vivida
pelo poder do Espírito Santo, que resultará nas "boas obras" para
as quais fomos criados (Efésios 2.10), e aquilo que nós mesmos
podemos produzir por atividades próprias. As obras aceitáveis a
Deus não são nossas, mas dEle, feitas em e por meio da vida dos
filhos dEIef pelo ministério do Santo Espírito.
Nenhum estudo sobre a festa dos Pães Asmos seria completo
sem que examinássemos as instruções dadas por Deus a Israel na
ocasião da primeira celebração da festa. O povo estava no Egito,
Não haviam sido libertados ainda. Mesmo assim, o Deus oniscien­
A Festa dos Pães Asmos 231
te sabia que dentro de poucas horas estariam viajando. Não é
muito daro como aquele povo pôde observar as instruções, uma
vez que a primeira convocação, ou assembléia santa, seria no
mesmo dia da partida. Vamos observar algumas das instruções a
este respeito, registradas em Êxodol2.15b,17a;
. . qualquer que comer cousa levedada, desde o primeiro
dia até o sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel...
Guardai, pois, a festa dos pães asmos, porque neste mesmo dia
tirei vossas hostes da terra do Egito."
Duas coisas nos chamam a atenção aqui. A primeira é a
importânda dada por Deus para que cada membro da congrega­
ção observasse a festa. Qualquer um que estivesse indisposto a
fazê-lo seria afastado do meio da congregação. Deus tem o mesmo
desejo de manter a Sua Igreja pura. Ela é "a igreja gloriosa, sem
mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem
defeito" (Efésios 5.27). Como podemos partidpar com Ele em
alcançar esse objetivo? Logo vem à mente a exortação de Pau lo, em
1 Coríntios 5.7:
"Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa,
como sois de fato sem fermento."
O verbo "tirei", no verso 17, empregado no tempo pretérito,
indica que os israelitas já haviam saído. Deus assim declarou
porque, em Seu programa era fato consumado. Encontramos
muitas declarações da parte de Deus semelhantes a essa nas
Escrituras, Um excelente exemplo é como Ele se refere a Seu Filho,
ao dedarar que " o Cordeiro. , .foi morto, desde a fundação do
mundo" {Apocalipse 13.8b). Servimos a um Deus eterno e onisd-
ente. Ele sabe o fim desde o inicio.
Quão grande é a graça dEle, não apenas em nos salvar, mas
em oferecer-nos a possibilidade de víver de um modo digno da
nossa vocação, em plena comunhão com Ele. Para isso, todos nós
temos que afastar o "fermento" das nossas vidas. Ao mesmo
tempo, há a necessidade de toda a congregação zelar para que não
haja fermento contaminando o corpo de Cristo.
A festa dos Pães Asmos, portanto, é simbólico do tipo de vida
que Deus deseja do Seu povo. Ele nos libertou do mundo, sacrifi­
cando Seu próprio Filho na cruz. Lembremos como os israelitas
não demoraram em cobiçar as comidas do Egito {Números 11,5)
232 A LEI EA GRAÇA
na sua peregrinação pelo deserto. A verdade é que o amor ao
mundo e aos prazeres que ele oferece representam grandes atra­
ções para muitos redimidos em nossos dias. O maior desejo de
Deus para Seus filhos é a comemoração perpétua da festa dos Pães
Asmos. Perguntemos a nós mesmos se é isso que caracteriza as
nossas vidas no nosso andar com Cristo.
"Conserva-te a ti mesmo puro." 1 Timóteo 5.22
Capítulo Quatro

A Festa das
Primícias
(Levítico 23.9-14;
Êxodo 23*16; 34*22,26)
O terceiro evento significante no calendário de Deus era a
Festa das Primícias; estava associada às duas primeiras. As instru­
ções iniciais a respeito dela são:
"Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando entrares na
terra, que vos dou, e segardes a sua messe, então trareis um
molho das primícias da vossa messe ao sacerdote; este moverá
o molho perante o Senhor, para que sejais aceitos; no dia
imediato ao sábado o sacerdote o moverá." Levítico 23.10~12a.

Verificamos que a primeira Páscoa e a primeira observação


da Festa dos Pães Asmos aconteceram nã saída de Israel do Egito.
Porém, nem a Festa das Primícias, ou nenhuma das outras festas
a seguir foram realizadas até que Israel houvesse entrado em
Canaã. Ao chegar à terra prometida, Israel começou a observação
de todas as sete festas anuais. Recordamos que as primeiras festas
foram realizadas no período do ano correspondente a março-abril
dos nossos calendários- Em Josué 5.19 aprendemos que Israel
entrou em Canaã no dia dez do primeiro mês do ano. Isso

233
234 A LEI E A GRAÇA
corresponde ao dia em que o cordeiro ou cabrito, sem mancha,
seria separado para a imolação no dia da Páscoa; seria o primeiro
aniversário da observação no Egito. O texto indica que "as
primícias" seriam observadas no primeiro domingo depois da
Páscoa. Portanto, a primeira comemoração da terceira festa acon­
teceu poucos dias após a entrada na nova terra.
Voltando nossa atenção aos versos acima, concluímos que a
primeira messe oferecida pelos israelitas seria dos produtos já
existentes na terra, não plantados por eles. Que lição importante!
Deus havia prometido a Israel uma terra que "manava leite e mel".
Ele mesmo providenciou os produtos para que eles oferecessem
como Primícias. Não dependia de nenhum esforço ou trabalho
deles. À medida que examinarmos o antítipo dessa comemoração,
a importância figurativa tornará mais evidente.
Deus inicia Suas instruções sobre a festa das Primícias com as
palavras "quando entrardes na terra que vos dou". Israel não
conquistou essa terra. Ela lhes foi presenteada por Deus mesmo.
É um quadro perfeito da graça manifestada a nós em nossa
entrada para as abundâncias que temos em Cristo Jesus. Alguns
teólogos procuram estabelecer que Canaã é um tipo dos céus. Há
até hinos evangélicos que apresentam esse tema. Um estudo
cuidadoso da tipologia explode esse mito. Canaã é claramente
simbólica da vida farta que temos em Cristo. A abundância da
nova vida de Israel era experimentada somente pela graça de
Deus. Logo que a nação entrou em Canaã havi a fartura . Da mesma
maneira, o crente recebe do Senhor uma vida que inclui "toda a
sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo Jesus"
Efésios 1.3b. Temos fartura em Cristo. É uma pena não haver mais
reconhecimento do fato entre os filhos de Deus, porque Ele deseja
que vivamos vidas "abundantes". Paulo exorta e instrui os coríntios
sobre essa nova vida com estas palavras:

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e


sempre abundantes na obra do Senhor... Deus pode fazer-vos
abundar cm toda a graça, a fim de que, tendosempre, cm tudo,
ampla suficiência,superabundeis em toda boa obra." 1 Coríntios
15.58; 2 Coríntios 9.8

A observação da festa das Primícias era responsabilidade de


cada israelita; era um testemunho da parte de cada um de que
A Festa das Primícias 235
Deus havia providenciado tudo de que eles necessitavam. Esse
molho de cereal, como a primeira colheita de qualquer outro
produto (Números 18.12; DeuteronÔmio 18.4), teria que ser trazi­
do ao sacerdote oficiante e movido diante do Senhor "para que
seja is aceitos". Observamos, no estudo sobre as ofertas, que esse
ato de mover a oferta diante do Senhor servia como um gesto de
reconhecimento da santidade e justiça de Deus; atestava a submis­
são às ordens do Senhor
Quando se estudam as instruções divinas sobre as festas
anuais, verifica-se que foram estabelecidos muitos detalhes que
seriam, obrigatoriamente, obedecidos ao pé da letra. No caso
dessa oferta, Deus exigiu que antes de o ofertante participar
pessoalmente da fartura da terra teria que oferecer a primeira
colheita a Ele. Isso seria aceito apenas das mãos do sacerdote. Os
crentes, no corpo de Cristo, são o antítipo dos sacerdotes de Israel.
Deus não aceita louvor dos incrédulos, apesar de mui tos religiosos
declararem estar oferecendo louvores a Ele. As festas do culto
judaico não têm nenhuma aplicação aos não redimidos.
Esses molhos não eram queimados. Após sua apresentação
ao Senhor, pertenciam aos sacerdotes- Números 18.12,13a esclare­
ce:
"Todo o melhor do azei te, e do mosto, e do grão, as suas pri­
mícias que deram ao Senhor dei-as a ti. Os primeiros frutos de
tudo quehouver na terra, que trouxerem ao Senhor serão teus.”
Nada falta para os verdadeiros filhos de Deus. Tudo de que
necessitamos, física e espiritualmente, encontra-se em Jesus. Ele,
"as primícias", nos representou ao apresentar-se diante do Pai
após a Sua ressurreição . Cristo, o Cordeiro Pascal, ressurgiu no
primeiro dia após o sábado da semana da Páscoa. Será coincidên­
cia? De maneira nenhuma! É simplesmente o cumprimento da
Festa das Primícias no calendário divino. Naquela manhã gloriosa
da ressurreição, Maria O encontrou no Jardim. Ele proibiu que ela
O tocasse porque "a messe não havia sido movida diante do
Senhor", isto é, que o Pão da Vida, que Deus estava oferecendo ao
mundo, não estaria disponível até que Ele se apresentasse diante
do Pai. Jesus lhe disse:
"Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai "
João 20.17a
236 A. LEI EA GRAÇA

A festa das Primícias tem enorme significado para o mundo


cristão; aponta o evento mais importante na história divina para os
filhos de Deus, afora a Páscoa (crucificação do Cordeiro). Sem o
antítipo da festa das Primícias, até a crucificação de Cristo ficaria
sem valor, Isso, porque "a Festa das Primícias" é simbólica da
ressurreição de Cristo* Paulo, escrevendo à igreja em Corinto,
define a importância do antítipo da festa. Falando sobre a impor­
tância da ressurreição de Cristo, ele observou:
"Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda
permaneceis nos vossos pecados... Mas de fato Cristo ressusci­
tou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.
. *Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias;
depois os que são de Cristo, na sua vinda " 1 Coríntios 15* 17,
20,23.
Nossa esperança é viva! Aleluia! Cristo ressurgiu! Agora a
colheita pode prosseguir porque as Primícias foram oferecidas
diante do Senhor* Tudo que Deus tem a oferecer-nos torna-se
acessível a todos os que confiam no sangue remidor do Senhor.
A expiação do pecado exigia a morte do Cordeiro. Os israelitas
testificaram da sua fé nisso cada ano na celebração da Páscoa. O
sacrifício de animais, desde o tempo de Adão, servia, simbolica­
mente, para a afirmação daquela fé* Compreendiam eles a impor­
tância daquele evento? Diríamos que não; a sua fé, demonstrada
pela sua obediência, lhes era "atribuída como justiça" (Romanos
4.5a). Foram perdoados, sim, e os seus pecados foram encobertos
(Salmo 85.2; 32.1); porém, não podiam experimentar a vida nova
em Cristo até que Ele, o antítipo das Primícias, cumprisse o tipo.
O Espírito Santo teve que aguardar a ressureição de Cristo para
iniciar a Sua obra de gerar novas vidas espirituais. Romanos 6.4b,
5 nos esclarece:
*. Como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela
glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de
vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua
morte, certamente o seremos também na semelhança da sua
ressurreição."
A salvação dos santos do Velho Testamento, ao obedecerem
às exigências do culto judaico, era tão certa como a nossa ao
confiarmos na obra remidora de Cristo na cruz de Calvário.
A Festa das Primícias 237
Contudo, o escritor aos Hebreus fez a seguinte referência a eles:
"...não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por
haver Deus providocousasuperior a nosso respeito, para queeles,
sem nós, não fossem aperfeiçoados." Hebreus 1139b, 40.
No mesmo texto de Hebreus, o escritor estabelece que Cristo,
o Consumador da fé, necessitava suportar a cruz e assentar-se à
destra do trono de Deus (Hebreus 12.2), para realizar aquele
aperfeiçoamento.
Pretendemos ampliar nossas observações desse aspecto das
festas, no próximo capítulo, ao estudarmos a festa de Pentecostes.
Nosso comentário sobre a festa das Primícias será incompleto
se não notarmos que duas outras ofertas teriam que acompanhar
a oferta da messe. Na Divisão II deste livro, capítulos dois e três,
fizemos um estudo pormenorizado sobre as ofertas do holocausto
e de manjares. Vamos verificar as instruções sobre elas aqui em
Levítico 23.12,13a:
"No dia em que moverdes o molho, oferecereis um cordeiro
sem defeito, de um ano, em holocausto ao Senhor. A sua oferta
de manjares será duas dízimas de uma efa de flor de farinha. "
Aquelas ofertas serviam para expressar gratidão a Deus pela
comunhão com Ele. Também demonstravam a fé do ofertante no
Senhor, confirmada pela obediência às instruções divinas. Os
elementos oferecidos prefiguravam o ministério de Cristo como o
único caminho à comunhão. Essas ofertas, incorporadas à festa
das Primícias, serviam como uma dupla confirmação de que
Cristo é a fonte de todas as bênçãos.
Cristo, as Primícias: somente nEle há esperança! Ele venceu a
Satanás e à morte! Ele é a fonte de todas as bênçãos espirituais.
Todo aquele que coloca a sua fé nEle já é vencedor j unto com Ele.
Não depende de nós. É a manifestação da gTaça divina. Exultemos
com Paulo, que exclamou:
"Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso
Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 15.57
Capítulo Cinco

A Festa de
Pentecostes
(Lv 2 3 .1 5 -2 2 ; Dt 1 6 .9 -1 2 ;
Êx 2 3 .1 6 ; 34.22)
A Festa de Pentecostes nunca leva esse nome no Velho
Testamento. Encontramos, pela primeira vez, essa terminologia
em Atos 2.1. A palavra "pentecoste” é grega, significa o qüínqua-
gésimo dia. Portanto, refere-se à festa realizada cinqüenta dias
após a festa das Primícias. No Velho Testamento, todas as referên­
cias à festa simplesmente determinam quando ela seda observa»
da. Por exemplo, em Levítico 23.15,16:
"Contareis para vós outros desde o dia imediato ao sábado,
desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida
(primícias); sete semanas inteiras serão. Até ao dia imediato ao
sétimo sábado, conta reis cinqüenta dias, então trareis no\Ta
oferta ao Senhor,"
Sabem o que aconteceu cinqüenta dias após o cumprimento
da tipologia da festa das Primícias, isto é, daressureição de Cristo?
A Festa de Pentecostes foi cumprida tipologicamente pelo nasci­
mento da Igreja. O capítulo 2 de Atos descreve detalhadamente a
maneira como o antítipo foi estabelecido. Porém, antes de consi­
derarmos aquela ocasião gloriosa, convém considerarmos algu-
239
240 ALEI E A GRAÇA

mas hipóteses sobre o início da Igreja.


Umbomnúmero de irmãos na fé acredita que Israel faz parte
da Igreja. Os salvos, depois da ressurreição de Cristo, dizem eles,
formam apenas uma extensão, ou seja, uma ampliação, daquela
Igreja. Não fazem distinção entre os períodos ou eras da lei e da
Igreja. Se aceitarmos essa premissa, em primeiro lugar, não há
maneira de conciliar as observações do escritor aos Hebreus a
respeito das duas épocas. Também, não há maneira nenhuma de
definir o simbolismo das festas no calendário divino. Essas, e
muitas outras razões b íblicas não permitem que este escritor aceite
essa hipótese,
Um outro grupo de irmãos evangélicos chegou à conclusão
de que a Igreja não nasceu no dia de Pentecostes, mas, sim, na
ocasião daquele encontro (João 20.19-26) que Jesus teve com Seus
discípulos. Baseiam-se no fato de que Cristo já estava com Seu
corpo glorificado, tendo se apresentado diante do Pai para a
confirmação da Sua missão remidora, As ordenaças do batismo e
da Ceia do Senhor haviam sido estabelecidas. Outras funções que
caracterizam a Igreja estavam sendo praticadas. Portanto, o
encontro serviu para realizar a primeira reunião dos discípulos
junto com o Cristo ressurreto. Pedro havia sido consagrado como
o primeiro pastor da Igreja. Foi naquela ocasião, dizem eles, que
a perpetuidade do pastorado foi estabelecida. Empregam outros
argumentos dessa natureza para confirmar a sua crença, Essa
hipótese deixa muito a desejar quanto a uma interpretação correta
do ensino global das Escrituras. Logo, se fosse assim, a tipologia
de Pentecostes não seria cumprida (porque esse encontro aconte­
ceu no dia da ressurreição de Cristo). A vinda prometida do
Espírito Santo para iniciar Seu ministério na vida de cada salvo
não se teria iniciado. Aliás, o ministério de Cristo na vida dos
salvos é através do Espírito Santo* Esse e outros detalhes tiveram
seu cumprimento no dia de Pentecostes.
Parece-nos que há uma única interpretação satisfatória, clara
e conclusiva, dos pormenores das festas, que se encaixa perfeita­
mente no programa cronológico de Deus. Somente Pentecostes é
representativa do nascimento do "corpo de Cristo", isto é, o início
da Sua Igreja. É a única ocasião, na história humana, em que os
detalhes da festa encontram-se cumpridos pelo antítipo.
Pretendemos apresentar diversas aplicações bíblicas para
sustentar essa premissa. À medida que estudarmos a festa de
A Festa de Pentecostes 241

Pentecostes, o quadro certamente se tornará mais compreensível.


Porém, antes de prosseguir com esse aspecto, apresento uma
declaração dirigida a Seus discípulos pelo próprio Jesus; são dois
versos absolutamente básicos para compreender a missão da
Igreja e a sua razão de existir no mundo. Refiro-me a Atos 1,4, 8:

" P. comendo com eles, determinou-lhes que não se ausen­


tassem de Jerusalém, mas esperassem ã promessa do Pai, a
qual, disse ele, de mim ouvistes. . . mas recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas,
tanto em Jerusalém, como em toda ajudéia, e Samaria, e até aos
confins da terra-"

'Nada caracteriza mais a vida e a m issão da Igreja do que o


ministério do Espírito Santo, O livro de Atos, todas as Epístolas,
e até ao fim das Escrituras, todo o ministério do povo da Nova
AI i<mçaé atribuído I operação do Espírito Santo no meio da Igreja,
Seria muito difícil, portanto, justificai a existência da Igreja antes
a Promessa iniciasse Seu ministério na vida dos discípulos.
Repetimos, isso não aconteceu até o dia de Pentecostes, Gs primei-
ros quatro versos de Atos 2 descrevem a ocasião. Um exame
cuidadoso dos detalhes sobre a Festa das Semanas, conforme é
denominada no Velho Testamento, será apresentado por essas
referências, junto com alguns textos do Novo Testamento, Preten­
demos confirmar o cumprimento da festa pelo antídpo.
A festa de Pentecostes era uma comemoração da colheita. A
primeira messe havia sido colhida e oferecida ao Senhor cinqüenta
dias antes. A palavra que descreve melhor essa primeira messe
seria têmpora, aquilo que amadurece tintes da safra. Era um sinal
que havoria, de fato, uma safra< Cristo, assim confirmou a certeza
da safra pela Sua. ressurreição. Mas agora a colheita estava sendo
feita; nesse dia a grande colheita de almas dentro de um só corpo
teve sua confirmação. Todavia, não seria uma colheita total ainda.
Aparece mais um pequeno detalhe interessante, em Levítico 23.22;
"Quando segardes a messe da vossa terra, não rebuscareis
os cantos do vosso campo, nem colhereis as espigas caídas da
sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixareis; Eu sou o
Senhor vosso Deus."

Deixar alimentação para os pobres e os estrangeiros — que


242 ALEI EA GRAÇA

bela figura! A Palavra de Deus define, literalmente, aqueles fora


de Cristo como destituídos, É responsabilidade da Igreja alimentá-
los com o Pão da Vida- Sim, e os estrangeiros, quais são? Esse
termo referia-se aos que não faziam parte do povo escolhido de
Deus, Não eram israelitas. Seu equivàlente, nesta época da Igreja,
são as milhares de nações não alcançadas com o Evangelho, A
colheita nunca será completa até que todos os povos tenham a
oportunidade de participar. Á missão da igreja é providenciar
alimentação espiritual para aqueles que ainda estão famintos- Há
alimentação sobrando, Jesus fez referências à necessidade de
alimentá-los ao ptoferir as seguintes palavras:

"Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me


convêm conduzi-las. . . Erguei os vossos olhos e vede os
campos, pois já branquejam para a ceifa." João 10.16a; 4,35b

N uma das re fe rê n cia s à festa de Pentecostes está a declaração


de que é "nova oferta de manjares". Deus recordou as instruções
para a preparação e oferecimento dela com estas palavras:

"Das vossas moradas trareis..dois pães para serem movi­


dos: de duas dízimas de uma éia de farinha serão; levedados
se cozerão, são primícias ao Senhor,"

Deus ordenou a confecção desses pães com levedura. Na


Oferta de Manjares os pães sempre tinham que ser asmos, isto ê,
sem levedura. Qual seria a razão dessa mudança? Parece haver
uma razão muito lógica dentro da comparação das figuras. A
Oferta das Manjares (Levítico 2) representa o perfeito Filho de
Deus, Todavia, concluímos que a figura representada pelos pães
levedados, na festa de Pentecostes, são as nações unidas através da
cruz. Infelizmente, entre os redimidos, não há, e nunca houve
sequer um sem pecado: perdoados, sim, mas nunca perfeitos. Por
isso, os pães asmos nunca poderiam ser representativos de Tsrael
ou da Igreja.
Eram dois pães! Recordamos a importância do número dois
nas Escrituras. Êm geral, denota contraste. Não é possível estabe­
lecer o sentido exato no texto acima, mas desejamos fazer uma
aplicação que embeleza a figura. No dia de Pentecostes, Deus
estabeleceu uma nova ordem- Paulo se referiu a essa mudança no
A Festa de Pentecostes 243
programa divino ao escrever em Efésios 2.12-16:
" Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comu­
nidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, e sem
Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes
estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo
derrubado a parede de separação que estava no meio, a inimi­
zade, aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de
ordenanças para que dos dois criasse em si mesmo um novo
homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo
com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimi­
zade*"

Dois pães — duas alianças foram reconciliadas e unidas em


Cristo ao pé da cruz. Não seriam os dois pães representativos de
Israel e dos gentios na festa de Pentecostes? Os primeiros conver­
tidos, quando o verdadeiro Pentecostes cumpríu-se em Jerusa­
lém, eram judeus (Atos 2.5,41). Todavia, Jesus haviam ordenado
que, depois da vínda do Espirito Santo sobre eles, a missão dos
discípulos incluiria a evangelização dos gentios (Atos 1.8). O texto
acima é uma bela demonstração do efeito da cruz sobre todas as
nações, tomando-se essa ordem viável.
Incluída nas instruções que o Senhor entregara a Israel para
a celebração da Festa das Semanas com esses pães levedados, a
nação teve que oferecer o holocausto e a oferta de manjares.
Aqueles sacrifícios, de cheiro agradável, representativos da comu­
nhão e da paz que o crente tem em Cristo, tiveram que ser
oferecidos juntos. O sacrifício pelo pecado e a oferta pacífica
faziam parte também, A festa era realizada pela coletividade, não
por indivíduos. Era uma reunião pública. Aqui está mais um
pormenor que teve seu cumprimento no dia de Pentecostes.
Somos informados, em Atos 2, de que nada menos que dezoito
grupos lingüísticos estavam presentes naquele dia: incluindo
romanos, cretenses e arábes — proséütos não-judeus.
Ao verificarmos tantas figuras semelhantes na festa e os
acontecimentos do dia de Fentecostes, torna-se muito difícil negar
o simbolismo da festa e o seu cumprimento naquele dia. Dificil­
mente, seria lógico concluir que tudo isso seja mera coincidência;
tudo se encaixa tão perfeitamente no calendário divino.
244 A LEI E A GRAÇA

Qualquer estudo sobre Pentecostes seria incompleto, se não


apresentasse algumas observações sobre os eventos envolvendo o
apóstolo Paulo, de acordo com Lucas, em Atos 20 e 21. Por ser um
texto bastante extenso, nào será incluído aqui, Convidamos cada
leitor a abrir sua Bíblia e acompanhar nossas observações pela
leitura do texto,
Paulo se "apressava com intuito de passar o dia de Pentecos­
tes em Jerusalém" (20.16). Duas vezes, no caminho para Jerusa­
lém, o Espírito Santo advertiu-o para não seguir viagem. Ele
recusou os conselhos. Que aconteceu quando chegou àqueia
cidade? Paulo, aquele grande servo de Deus que pregava com
tanta veemência contra a prática da lei apó* a crucificação e
ressurreição de Cristo, comprometeu-se na observação das exi­
gências da lei relacionadas com a Festa das Semanas. Fez votos,
raspou a cabeça, e pretendia oferecer um animal simb61icor de
acordo com a lei (Atos 21.17-26). A graça de Deus abundou a seu
favor, permitindo que fosse tomado preso antes que pudesse
cometer essa grande blasfêmia. Nunca mais tLmencionado o dia de
Pentecostes nas Escrituras.
Depois da dispersão, os judeus pararam de observar essa
data como o tempo da colheita. Passaram a realizar a festa em
comemoração à entrega da leinam esm adata.H ojeem dia,a data
não tem mais significado para os salvos, porque já foi cumprida no
programa de Deus. Entre as sete festas, Pentecostes é a última já
cumprida pelo antítipo-

JJMas Deus, sendo rico em misericórdia, por ca^sa do gran­


de amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos
delltos^nos deu vidn juntamente com Cristo — pela graça sois
salvos, e juntamenmte com Ele nos ressuscitou e nos fez
assentar nos lugaros celestiais em Cristo Jesus." Efftíios 2,4-6
C apítulo Seis

A Festa das
Trombetas
(Levítico 2 3 .2 3 -2 5 ; Números 2 9 .1 -6 )
A maioria dos estudos feitos sribre as festas de Israel leva em
consideração apenas três. Esses estudos, em geral, concentram-se
apenas no aspecto histórico. Ignoram, ou tratam superficialmente,
o seu sentido figurativo. Porém, a Festa das Trombetas, realizada
no primeiro dia do sétimo més do calendário judaico, apresenta
mais uma figura de grande importância no programa de Deus, No
último capítulo, notamos que Pentecostes é a última festa já
consumada pelo antítipo. Portanto, estamos aguardando ainda o
soar das trombetas.
Esse dia, descrito em Levítico 23.23-25, apresenta várias
particularidades que têm sentido tipológico pertencentes à Igreja,
Examinemos o texto:
'"Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel,
dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, fcereis descanso
solene, memorial, com sonídos de trombetas, santa convoca­
ção. Nenhuma obra servil fareis, mas trareis oferta queimada
ao Senhor"
O ano novo dos judeus ínicíava-se, na realidade, no mês
Abib (Nisan), conforme obeservamos no estudo sobre a festa da
Páscoa. No entanto, Tishri, o sétimo mês, marcava o início do ano

245
246 A LH E A GRAÇA

econômico e civil. Era a estação do ano quando começavam as


chuvas, possib ilitando o preparo do sol o para o pi an ti o,. Os j udeus
preservam essa data até hoje como o inído do novo ano. É
denominado Rosh Hashanah. Mas, quando Deus designou esse
dia para mais uma solenidade, foi chamado Jfo dia dos sonídos''.
Apesar de o perigo de nossas observações tornarem-se re­
dundantes, nos é impossível ignorar a importância do número
sete, conforme se apl ica a essa da ta ►
Apenas Eembraremos que esse
número, invariavelmente, comunica a idéia de perfeição nas Escri­
turas. Por termos previamente confirmado isso com amplos exem­
plos bíblicos, não se toma necessário repeti-los aqui. A colheita do
ano já estava completa, Seria o tempo de novos ínídos. A ocasião
seria marcada com o sonido de trombetas- Consideremos esses
fatos, simbolicamente, em relação à Igreja. Perguntamos: qual será
a próxima grande mudança no calendário de Deus em relação à
humanidade? Certamente, a grande maioria dos leitores diria; o
Arrebatamento* £ isso mesmoí Outra pergunta surge: quando e
como isso acontecerá? O tomo é muito mais fácil de responder do
que o quando. Ouçamos Deus respondendo à nossa pergunta, em
1 Tessalonicenses 4.16,17 e 1 Coríntios 15.52:

"Forquanto, o Senhor mesmo, dado a sua palavra de ordem,


ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro;
depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor
nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor,.. num
momento, num abrir e fechar dolhos, ao ressoar da última
trombeta, A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados."

Que dia gloriosoí Vocês têm os ouvidos a finados pa ra esc u tar


o ressoar daquela trombeta? Temos a firme convicção de que
aquele dia está-se aproximando rapidamente. Nada impede que
seja hoje mesmo t Estamos apenas esperando "a palavra de
ordem" do Senhor, declarando que Seu propósito para a Igreja
está concluído. Sim, tudo indica que o antítipo da Festa das
Trombetas é o Arrebata mento da Igreja. Por essa razão, vale a pena
examinar as ordens divinas concernentes à Festa» Há semelhanças
suficientes entre a Festa e o tempo do Arrebatamento para animar
o coração de cada crente.
A Festa das Trombetas 247
"Tereis descanso solene!" Sim, o trabalho da Igreja termina­
rá de uma vez para sempre no seu arrebatamento, Ma presença,
de Deus, teremos descanso eterno. A palavra traduzida para
"descanso solene" é, na realidade, a palavTa "sábado", na
Jmg.ua. original; ela significa "cessação"; descreve perfeitamen­
te o futuro da Igreja, quando Jesus nos levará para o nosso
eterno lar
"Memorial!" A Festa era um dia de lembranças, um dia
anual para meditar em tudo 0 qlie DeilS havia feito ã fãvór dos
israelitas. Muitas vezes, vacilaram na sua fé. Esse dia oferecia
um tempo específico para uma avaliação. O Arrebatamento
será, para a Igreja, a confirmação de todas as promessas que
Deus nos tem fui to. Todas as nossas perguntas, dúvidas e vacl-
1ações encontrarão suas respostas no nosso encontro com Cristo.
"Com soiiidos de trombetas V A palavra é shofar<. Era,
literalmente, o chifre do carneiro. A primeira ocorrência dessa
palavra nas Escrituras se dá quando Deus falou a Israel do
Monte Sinai, no meio das nuvens, dos raios e dos trovões, No
liv ro de J^ u é está regi stra d a a cena, tão con heci da por todos os
crentes, daquela vitória de Israel contra Jerico- Ao tocarem as
trombetas, naquele sétimo dia, na sétima volta, as muralhas
tombaram. Outra o ca siã o na história de Israel, reg istrad a no
liv ro de Juizes, re lata a vitória de G ideão e dos trezentos contra
os midianitas, ao tocarem as trombetas e quebrarem os cânta­
ros com an tochas acesas, Há muitas outras ocasiões em que os
israelitas S o aram as trombetas para anunciarem eventos im­
portantes. Um estudo criterioso dessas passagens nos leva k
conclusão de que o sorrido da trombeta representava: I) um
convite ao povo para uma assembléia; ou 2) o anúncio de uma
grande vitória. Quando a trombeta soar, no dia do Arrebata­
mento, haverá o cumprimento as duas funções* Será o dia da
vitória sobre a morte para todos os salvosi Sabemos que essa
m o rte já foi conquistada por Cristo; porém, não experimentada
ainda pela humanidade. De igual modo, será o dia da maior
assembléia dos santok de todos os tempos* Aleluia!
Não obstante, Deus exorta a cada filho Seu sobre a sua
responsabilidade de atalaia até então, como falou a Ezequiel:
"Mas se o atalaia vir que vem a espada, e na o tocar a
trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vi^r, e abater
uma vida demitre eles, este foi abatido na sua iniqüidade, mas
o seu sangue demandarei do atalaia. ... tu, pois, ouvirá a
palavra da minha boca, e lhe darâs aviso da minha parte."
Ezequiel 33.6,7b
248 A LEI EA GRAÇA

Convido os leitores a abrirem suas Bíblias e a meditarem nos


primeiros versos desse capítulo. Observa->se que Deus está empre­
gando uma metáfora para estabelecer a responsabilidade de
Ezequiel para com Israel* Essa trombeta a ser tocada era a palavra
de Detis a ser anunciada. Deus não mudou o Seu propósito.
Continua sendo 0 mesmo. Cada crente é responsável por tocar a
trombeta das Boas Novas por onde quer que ande. Deus exigirá
contas de cada filho Seu, se deixarmos de ser "anunciadores".
Paulo compreendia muito bem esse princípio ao exclamar: "ai de
mim se não pregar o evangelhol" (1 Coríntios 9.16b).
O apóstolo João fez um comentário extremamente interes­
sante sobre todos aqueles que estão com os ouvidos voltados para
os céus; são aqueles que ansiosamente aguardam o sorrida da
trombeta e a voz de Deus dizer: "subam aqui"* Ele escreve que a
esperança do iminente Arrebatamento serve para nos estimular a
viver vidas putas, conformando-nos à imagem de Cristo. Escute­
mos as palavras dele:

"Sabemos que quando Ele se manifestar, seremos seme­


lhantes a Ele, porque havemos de vê-LO como Ele ê. E a si
mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim
como Ele é puro." 1 João 3.2b, 3

Como é? Você está "aguardando a bendita esperança e a


manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo
Jesus?" (Tito 2.13}. É assim que Deus cumprirá O simbolismo da
Festa das Trombetas. Você estará entre os convidados, quando a
trombeta soar? Nunca houve uma "santa convocação" igual a
essa. A mente humana não tem capacidade para compreender a
magnitude dessa assembléia.
A última frase sobre a observação da Festa das Semanas, que
desejamos examinar é: "nenhuma obra servil fareis" Esse dia
seria um "sábado'. Era um dia em que as únicas atividades
acei táveís a Deus seriam, as ofertas e sacrifícios a E le ofereddos. Há
umparalelo muito significante entre esse evento eas atividades da
Igreja. Deus nos deixou aqui na terra para servi-lO, Todas as
instruções nas epístolas têm a finalidade de nos ensinar as respon­
sabilidades nossas como servos de Deus e a maneira de desíncumbí-
las* Portanto, quando a trombeta soar, nos convidando ao encon­
tro com Cristo nos ares, acabará duma vez para sempre todas
A Festa da $ T rombetas 249

aquelas atividades necessárias que mantêm nossa vida no dia-a-


dia. Toda a eternidade será dedicada exclusivamente para louvar
o Cordeiro, na presença do Pai Celeste, O tipo serve apenas como
um "memorial", mas naquele dia glorioso não haverá mais neces­
sidade de lembranças, porque o antítipo terá se manifestado.
Deus exigiu que oferecessem o holocausto nesse dia de festa.
Sem dúvida, será um dia de gratidão e reconhecimento por tudo
o que temos em Cristo, por Seu sacrifício em nosso lugar. Exclame­
mos, com João: "Vem, Senhor Jesus." (Apocalipse 22.20b)

"Subiu Deus por entre aclamações, o Senhor, ao som da


trombeta. Salmoaiai a Deus, cantai louvores; salmodiai com
harmonioso cântico. Deus reina sobre as nações; Deus se
assenta no seu santo trono," Salmo 47,5-8
Capítulo Sete

A Festa das
Expiações
(Levítico 23.26-32; Levítico 16)
Entre todas as festas anuais de Israel, Deus deu mais instru­
ções sobre a realização desta do que de qualquer outra. O capítulo
16 de Levítico descreve todos os pormenores a serem observados
nesse dia. A palavra-chave que melhor descreve a festa é "afligir".
A palavra traduzida para "expiação" é kafar, significa, literalmen­
te, "cobrir". Os pecados de Israel e dos santos do Velho Testamen­
to foram “encobertos", esperando a morte de Cristo para sua
redenção. Na observação dos requisitos da Festa da Expiação,
Deus prometeu encobrir os pecados coletivos e individuais de
Israel.
Era um dia de grande penitência. Com isso em mente, procu­
raremos descobrir onde a festa se encaixa no calendário tipológico
de Deus.
Introduziremos o estudo, observando que ao sumo sacerdote
era permitido entrar no Santo dos Santos apenas neste Dia da
Expiação. Uma vez por ano vestia-se com as roupas sagradas para
apresentar o sangue do sacrifício diante do Senhor sobre a Arca da
Propidação. O sumo sacerdote era sempre re p re se n ta tiv o de Jesus
Cristo.^Revejam os comentários dos primeiros capítulos de$te,
livro. (OTivro "A Pessoa de Cristo no Tabernáculo'^este_ãutor,

251
252 A LEI E A GRAÇA
descreve a importância da Arca).
O ministério do sumo sacerdote não simbolizava a obra
redentora de Cristo; era um ato de contrição pelos pecados come­
tidos durante o ano passado e a sua purificação. O antítipo do
ministério do sumo sacerdote se encontra esboçado em Hebreus
4.15, 16. Portanto, esta oferta nada tem a ver com a salvação de
Israel. A Festa da Páscoa serviu para simbolizar aquele evento.
Esta representa restauração. O verso 9 de 1 João 1 é o equivalente
para o crente. A chave, então, para compreendermos o verdadeiro
significado da festa, gira em tomo das duas palavras "aflição" e
"restauração".
Surge a pergunta: quando será cumprida a Festa da Expiação
pelo antítipo? Os profetas de Israel proferiram muitas profecias
sobre esse tempo vindouro. Cremos que nos oferecem uma res­
posta; são as palavras de Zacarias 12.10,11a e Daniel 12.1:

"E sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém,


derramarei o espírito de graça e de súplicas; olharão para mim,
a quem traspassa ram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por
um unigênito, e chorarão por ele amargamente pelo
primogênito. Naquele dia será grande o pranto. .,'*** Nesse
tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos
filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca
houve, desde que houve nação até ‘ aquele tempo; mas naquele
tempo será salvo o teu povo, todo aquele que for achado
inscrito no livro."

Vejam &ó!' Será um dia de reconhecimento da rejeição de


Cristo como o Cordeiro de Deus. Será, também, um dia de grande
angústia. Lamentarão e chorarão amargamente. Não obstante, o
que mais importa, o espírito de graça (e restauração) será derra­
mado sobre Israel naquele dia (Hebreus 810-13).
A Bíbl ia faz muitas referências a um dia futuro chamado o Dia
do Senhor. O primeiro capítulo de Sofonias descreve
detalhadamente esse dia. Todas as referências afirm am que será
um dia de angústias, de assolação e de prantos. Esse dia será de
expiação para Israel, e para outras nações, de acordo com as
revelações dos textos dtados. Os dois princípios básicos da Festa
da Expiação serão realizados naquela ocasião, a saber, a expiação
e a purificação. Estes eram, justamente, os dois objetivos dessa
Festa.
A Festa das Expiações 253
O tempo de angústia profetizado para o futuro se chama a
grande tribulação. O capítulo 24 de Mateus e diversos capítulos de
Apocalipse descrevem minuciosamente a ocasião- Convido os
leitores a um exame desses textos para verificarem a extensão da
aflição que ocorrerá* As palavras registradas em Mateus são do
próprio Jesus. Vejamos o verso 30:
"Então aperecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos
os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem
vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória.,f

É a opinião deste escritor que o único tempo vindouro de


prantos e aflições, profetizando o envolvimento de Israel, é este
mesmo. Os profetas do Velho Testamento fizera m, pela orienta-
ção divina,muitas referências a ele. Portanto, este tempo de aflição
terminará em grande alegria. O texto que desejamos incluir aqui
■é extenso, mas muito significativo. São as palavras de Deus,
descrevendo o fim daquele tempo; Isaías 61,1-3:

"O Espírílo do Senhor Deus está sobre mim, porque o


Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos quebrantados,
enviou-me a curar os quebrantados de coração, a prodamar
libertação aos cativos, e a pôr em liberdade os algemados; a
apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do
nosso Deus; a consolar todos os que choram, e pôr sobre os que
em Sião estão de lulo uma coroa em ve? de cinzas, óleo de
alegria em vez de pranto, veste de louvor em vez de espírito
angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça,
plantados pelo Senhor para a sua glória."
Os primeiros 28 versos de Levítico 16 nos instruem sobre as
funções do sumo sacerdote e dos sacerdotes, os animais a serem
oferecidos, a disposição deles, os sacrifícios que foram incorpora­
dos à festa, e outros pormenores. Deixaremos de considerá-los
agora por tê-los examinado nos capítulos anteriores sobre o sacer­
dócio, as outras ofertas e os sacrifícios. Porém, há um detalhe que
não observamos nos estudos até aqui: é o bode expiatório. Por
causa da incapacidade dos tiposFnão revelando com perfeição
todos os aspectos do antítipo, Deus oredenou que dois bodes
fossem oferecidos nessa ocasião* Apenas um deles era sacrificado
como oferta pelo pecado, O outro, chamado de o bode emissário.
254 A LEI E A GRAÇA

era levado para o deserto e libertado. Os dois representavam o


Senhor Jesus. O primeiro, como o texto indica, tornava-se o
portador dos pecados. Osegundo poderia representar dois aspec­
tos de Cristo: a sua vida ressurreta, e Ele afastando duma vez para
sempre os nossos pecados., Os dois bodes representam apenas
uma oferta, Essa cerimôn ia é descrita em Levítico 16.6-10.
Agora concentremos nossa atenção nos últimos versos do
capítulo 16, e no trecho paralelo no capítulo 23 do mesmo livro.
Citaremos o último texto aqui; Levítico 23-32;

'Disse mais o Senhor a Moisés: Mas aos dez deste rruês


sétimo será o dia da expiação: tereis santa convocação, e
afligireis as vossas almas; trateis oferta queimada ao Senhor.
Nesse mesmo dia [nenhuma obra fareis, porque é o dia da
expiação por vós perante o Senhor voSSo Deus. Porque toda
alma, que nesse dia se não afligir, será eliminada do seu povo.
Quem nesse dia fizer alguma obra, a esse eu destruirei do meio
do seu povo- Nenhuma obra fareis; é estatuto perpétuo pelas
gerações em todas as vossas moradas. Sábado de descanso
solene vos será: então afligirds as vossas almas ; aos nóve do
mês, duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado,"

Recordamos que os números dez e sete, nas Escritura?rdeno­


tam perfeição. Dez é o número que estabelece perfeita ordem no
programa de Deus- Alguns exemplos são os dez mandamentos, as
dez pragas sobre o Egito, o dízimo, e assim por diante. A perfeição
divina do número sete é demonstrada pelo castiçal de sete ramos,
os sete selos, as sete igrejas, e as sete trombetas de Apocalipse,
alémde muitos outros exemplos. Neste texto, encontramos os dois
números em conjunto. Representam o tempo perfeito e completo
para o estabelecimento de uma nova era na história de Israel.
O assunto da "santa convocação" também foi tratado nos
capítulos anteriores- Portanto, não há necessidade de expandir
nossas consideraçóes sobre o significado disso, agora. Era uma
assembléia solene de toda a nação; isso ê o que mais importa.
No texto acima encontramos tris referências à proibição de
obras! Apesar de Israel receber muitas ordenanças, restrições, e
compromissos com Deus, a comunhão com Ele nunca era
estabeleci ia na base de obras. Durante toda a historia humana, a
comunhão com Deus foi alcançada apenas por Sua graça. Somente
a fé é exigida dos ofertantes* O próprio Deus nos proporciona essa
A Festa das Expiaçôes 256

íé, quando o coração está voltado para Ele.


Encontra-se, também, o verbo "afligir" três vezes no texto. O
assunto da aflição já foi abordado, mas o número três tem um
significado mui to importante na Bíblia; ele representa aquilo que
é completo, ou inteiro. Seguem alguns exemplos para a confirma­
ção dessa alegação: Há um Deus Triúno; Ele tem três atributos
fundamentais: Sua onipotência, onisciência e onipresença; todas
asSu<is atividades transitórias, relaciona das com o mundo (istoé,
o tempo}, se dividem em passado, presente e futuro, há três
grande inimigos da raça humana: a carne, o mundo e o diabo. As
Escrituras apresentam dezenas de outros exemplos semelhantes.
Aplicando-se esse símbolo, as aflições de Israel serão completas
quando o antítipo aparecer, Israel, como uma nação, entrará numa
nova relação com Deus.
A ocasião é descrita como uma "celebração" e "um sábado de
descanso solene". Outra vez convém observar que a pai avra
"sábado" nem sempre se refere ao sétimo dia da semana* Como
ei palavra significa "cessação", indica que qualquer ocasião deter­
minada por Deus para a cassação das obi iis seria um "sábado". A
palavra "solene" reforça a idéia de celebração com muita seriedn-
de* A Bíblia apresenta muitas profecias a respeito da seriedade
desse dia vindouro, quando Deus cumprirá a tipologia da Festa
da Expiação.
Antes do final de nossas considerações sobre o Día da
Expiação, apontamos alguns outros aspectos importantes em
Levítico 16-30,33:

"Porque naquele día se fará expiiição por vós, para purifi­


car-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados
perante o Senhor... fará expiação pelo santuário; pela tenda da
congregação e pelo altar; também a fará pelos sacerdotes e por
todo o povo da congregação "

Nota-se que tudo está relacionado com o culto judaico: o


santuário, o altar, a tenda da congregação, os sacerdotes e todo o
povo — foram envolvidos porque todos necessitavam ser purifi­
cados. Todos os ■elementos da vida religiosa daquela nação eram
afetados pelo dia de expiação. Era uma renovação completa* Isto
é bem típico daquilo que acontecerá quando Deus afirmar Seus
novos propósitos com Israel*
256 A LEI E A GRAÇA
Terminamos, com o texto que melhor descreve ^guele gran­
de dia, vindouro, que preparará Israel para o cuntprimento
tipológico da última festa, Hebreus 10.16,17:

"Esta é a aliança que farei com cies depois daqueles dias, diz
o Senhor: Porei nos seus corações as minhas Ieis,e sobre as suas
mentes as inscreverei. Acrescenta: Também de nenhum modo
me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades, para
sempre.”
Capítulo Oito

A Festa dos
Tabernáculos
(Levítico 23,39-44)
A última festa anual a ser realizada pelos israelitas eia a Festa
dos Tabernáculos, Tinha uma aplicação muito prática na vida
deles. Servia, literalmente, como um memorial dos anos em que
Israel morou em tendas na sua peregrinação pelo deserto, antes de
entrarem em Canaã. Portanto, o objetivo deste estudo é determi­
nar o que a Festa prefigurava no calendário de Deus* Procurare­
mos estabelecer alguns aspectos paralelos entre as particularida­
des da Festa e a maneira que será cumprida no quadro geral do
programa divino.
Essa última Festa era observada logo após a realização da
Festa da Expiação, aquele tempo de grande aflição descrito no
capítulo anterior. Aquela havia terminado no dia nono do sétimo
mês. O número nove, sendo o último dos dígitos, significa o
número completo, o fim. Além da meia tribo de Manassés, havia
nove tribos completas que herdaram a terra de Canaã. Nove
décimos dos seus bens pertenciam ao povo. Um décimo era do
Senhor. Foi à hora nona que Jesus, na cruz, exclamou: "Eloi, Eloi,
lamá sabactâni" e jrEstá consumado!", entregando Seu Espírito,
As aflições de Cristo haviam terminado, e a redenção para o
pecado, completada.

257
258 A LEI E A GRAÇA

A Festa dos Tabemáculos tinha seu início no dia quinze do


mesmo mês. O número quinze tem um significado extraordinário
nas Escrituras; é derivado da multiplicação de cinco pòr três.
Refletimos que o número três representa perfeição divina. Mas
que significa o número cinco? Deixem-nos sugerir uma resposta.
Alguns estudiosos da Palavra de Deus concluem que cinco é o
número representativo da graça de Deus. Citam que esse número
é o principal multiplicador em quase todas as dimensões do
tabemáculo. Sabemos que a graça de Deus foi estepdida constan­
temente àquela nação, por Ele manter a Sua presença ali. Davi
escolheu dncopedrinhas para enfrentar Golias, mas a sua vitória
é atribuída à graça de Deus. Esse mesmo princípio é destacado no
livro de Levítico pela declaração divina de que "cinco de vós
perseguirão a cem", claramente representando uma manifestação
da graça de Deus em exercer o Seu poder a favor deles. Se
aceitarmos essa conclusão da importância figurativa do número
cinco, podemos fazer uma aplicação bastante interessante aqui, O
dia quinze do mês representa três vezes cinco, a perfeição divina,
demonstrada pela graça de Deus, Reflete o que exatamente
acontecerá no dia do cumprimento final dessa solenidade. Israel
estará estabelecido por Deus num regime perfeito. Os judeus
chamam essa ocasião de Hoshana Raba, ou seja/'o dia do grande
Hosana'\ Quando será? Quando Deus completar o Seu programa
com Israel, estabelecendo Seu reino sobre essa nação. Vejamos a
declaração explícita de Deus, através de Zacarias 14.16:
'Todas os que restarem de todas as nações que vieram
contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o
Senhor dos Exércitos, e para celebrar a festa dos tabernáculos."

A única ocasião futura que se encaixa nessa descrição é o


reino milenar. O texto elimina, de uma vez para sempre, qualquer
conjectura sobre o antítipo da Festa dos Tabemáculos.
O primeiro verso que desejamos examinar em nossa análise do
que estava envolvido nessa solenidade, encontra-se em Levítico
2339:
" Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes
recolhido os produtos da terra, celebrareis a Festa do Senhor
por sete dias; ao primeiro dia, e também ao oitavo, haverá
descanso solene."
A Festa dos Tabemáculos 259
Todos os produtos recolhidos indica que a colheita está
terminada. Esta é uma das características do milênio, Serã um
período perfeito, caracterizado pelos sete dias de duração. É
denominado uma celebração. Sem dúvida, será o tempo de maior
glória para Israel. O número oito pode ser associado à regeneração
— um novo início. Entre os exemplos bíblicos que estabelecem
essa premissa está o dilúvio. Deus revelou a Sua graça a Noé e aos
sete membros da sua família, estabelecendo uma nova era no
mundo. O número oito é sete mais um, perfeição mais um novo
início, A conclusão dessa solenidade acontecia no oitavo dia.
Seguem mais algumas detalhes:
"No primeiro dia tomareis para vós outros fruto de árvores
formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas, e
salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o
Senhor vosso Deus. Celebrareis esta como festa do Senhor por sete
dias cada ano; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações; no mês
sétimo a celebrareis. Sete dias habitareis em tendas de ramos;
todos os naturais em Israel habitarão em tendas." Levítico 23.40
As palavras "tendas" e "tabemáculos" empregadas aqui não
são as mesmas que traduzem "tabemáculo", referindo-se à tenda
da congregação. Essa palavra é sukkôth, significando um tipo de
abrigo ou cabina. Os judeus, até hoje, observama Festa de Succoth.
O texto esclarece que eram construídos com ramos. Quatro tipos
de ramos foram declarados aceitáveis. Quatro é o número que
significa completação material ou terrestre. Há quatro estações do
ano; quatro pontos no compasso; quatro fases lunares e quatro
elementos básicos, isto é, terra, ar, fogo e água. O reino milenar
será terrestre!
O apóstolo João registra um evento muito simbólico, até
profético, quando relata como o povo recebeu Jesus na Sua entra­
da triunfal em Jerusalém. Esse dia virá em verdade, quando Jesus
estabelecerá Seu reino futuro naquela cidade! João 12.13:
"Tomaram ramos de palmeiras e saíram ao seu encontro,
clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! e
que é rei de Israel!”

Há diversas referências no Velho Testamento à Festa doí


Tabemáculos- Algumas delas descrevem as atividades daqueU
ocasião que correspondem aos eventos durante o Reino milenai
260 A LEI E A GRAÇA

Desejamos examinar alguns textos paralelos para confirmar a


beleza do simbolismo. A primeira observação se encontra em
DeuteronÔmio 16.16b,17:
"...Porém não aparecerá de maos vazias perante o Senhor;
cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a
bênção que o Senhor seu Deus lhe houver concedido/'
Encontra-se um princípio sagrado muito importante nesses
versos. Deus estende Sua graça a todos da mesma maneira, seja
rico ou pobre. Ele pede somente que aquilo que foi recebido dé
Suas mãos seja devolvido. Tanto os judeus como nós crentes
somos mordomos de Deus. Deus atribuibênçãosaSeus filhos para
que sejam empregados para glorificá-lO. Paulo descreve a aplica­
ção desse princípio aos bens materiais do crente, em 2 Coríntios
8 e 9. Não se deve aparecer diante dEle de mãos vazias! Porém,
Deus não exige de nós o que não temos recebido dEle.
Outro verso que fornece mais detalhes sobre a Festa dos
Tabemáculos é DeuteronÔmio 31.12:
"Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos, e o
estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam e
aprendam, e temam ao Senhor vosso Deus, e cuidem de cum­
prir todas as palavras desta lei."
Observa-se que a mensagem de Deus era a mesma para todos
os povos, de todas as idades. Naquele dia de grande glória,
quando Jesus estabelecer o Seu reino aqui na terra, haverá apenas
uma regra de vida para todas as nações. Reconhecemos que
sempre tem sido assim. Porém, Deus mesmo estabeleceu adven­
tos ou concertos diferentes em eras diferentes. Este será um
advento diferente do presente, porque Cristo estará reinando aqui
na terra mesmo, na cidade de Jerusalém. Esse reino será estabele­
cido e regido nestes três princípios: aprendendo do Senhor; te­
mendo (reverenciando) ao Senhor, e cumprindo a palavra do
Senhor, Todos os presentes naquele reino viverão sob esses prin­
cípios. Os rebeldes serão banidos.
Isaías 4.2-6 descreve a ocasião; o verso dois é singular:
"Naquele dia o Renovo do Senhor será de beleza e de glória;
e o fruto da terra, orgulho e adorno para os de Israel que forem
salvos/'
A Festa dos Tabemáculos 261
Nem todos da nação de Israel, ou das outras nações, partici­
parão na última celebração da Festa dos Tabemáculos. Todos
aqueles que continuarem rejeitando o Messias serão excluídos. A
salvação sempre é contingente da aceitação do Filho de Deus, da
Sua obra expiatória, e da Sua autoridade sobre nossas vidas.
Vejam só como Deus descreve Seu Filho: belo, glorioso, fruto da
terra, e o orgulho e adorno de Israel.
Todos os que recusam adorar o Rei dos Exércitos serão
feridos. Zacarias estabelece esse fato na sua profeda, Zacarias
14.16,18 b:
"Todos os que restarem de todas as nações que vieram contra
Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos
Exércitos e para celebrar a festa dos tabemáculos/'

" ,.. virá a praga com que o Senhor ferirá as nações que não
subirem a celebrar a festa dos tabemáculos."

Ao examinarmos tantos textos bíblicos que estabelecem a


ligação entre a Festa dos Tabemáculos e o reino milenar, não se
pode ignorar o verdadeiro simbolismo envolvido. Que maravi­
lhosa é a promessa do Senhor! Depois das aflições e lamentos de
Israel, representados pala Festa da Expiação, vem o arco-íris, o dia
glorioso quando o Messias estabelecerá seu Reino, a verdadeira
Festa dos Tabemáculos.
Deus fez um pacto com Abraão, reafirmando com Davi,
Jeremias, e outros, que o Messias estabeleceria Seu trono em
Jerusalém. Os judeus sempre esperaram o cumprimento dessa
promessa através da chegada do Messias. A nação de Israel
rejeitou o Senhor em Sua primeira vinda. João declara que Ele
"veio para o que era seu, e os seus não O receberam/' Os próprios
discípulos de Cristo esperavam que o reino fosse estabelecido por
Jesus até a hora da sua morte. Por quê? Sugerimos que fosse falta
de entendimento do calendário de eventos no programa de Deus.
Mas a promessa será honrada! Cristo reinará na terra ! Sim, e nós
que constituímos o Corpo de Cristo, a Igreja, reinaremos com Ele
(Apocalipse 20.6):
"Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade;
pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com
ele os mil anos/'
Capítulo Nove

Sábados — O Sábado
Deus estabeleceu o sábado como um día de descanso para a
nação de Israel; um dia de comemoração do descanso do Senhor
no sétimo dia da criação. Novamente o número sete representa
algo perfeito no conceito divino. A palavra shabbath significa
"cessação". A primeira vez que encontramos alguma instrução da
parte de Deus sobre esse día, foi quando Deus começou a alimen­
tar Seu povo no deserto com maná (Êxodo 16,23), O dia é denomi­
nado "o santo sábado". Vejamos algumas referências ao sábado
naquela ocasião:
" ,., o sábado é do Senhor... Ate quando recusareis guardar
os meus mandamentos e as minhas leis? . . . ninguém saia do
seu lugar no sétimo dia. Assim descansou o povo no sétimo
dia." Exodo 16.25-30

O decálogo aparece no capítulo 20 desse livro. O quarto


mandamento do decálogo é para guardar o sábado. Porém, a
ordem já era estabelecida entres os israelitas bem antes, como se
observa pelo texto citado. A palavra-chave em relação ao dia é
"santo", um dia totalmente separado ao Senhor. Esse dia era
simbólico do descanso espiritual que Deus oferece a todos os Seus
filhos. Os capítulos 3 e 4 de Hebreus descrevem essa vida de fé e
confiança no Senhor e estabelece a tipologia em 4-4-6:
"Porque em certo lugar assim disse, no tocante ao sétimo

263
264 A LEI BA GRAÇA
dia; E descansou Deus, no sétimo dia de todas as suas obras que
fizera. E novamente, no mesmo lugar: Não entrarão no meu
descanso. Visto, portanto, que resta entrarem alguns nele, e
que,, por causa da desobediência, não entraram aqueles aos
quais anteriormente foram anunciadas as boas novas."

Como se observa, o texto apresenta o tipo e o antítipo juntos.


Deus oferece tim descanso perfeito e eterno através das boas
novas. Querido leitor, você temaceitado a promessa desse descan­
so?
O descanso terá seu cumprimento perfeito e final, quando
todos os filhos de Deus estiverem reunidos em tomo do trono de
Deus e do Cordeiro (Apocalipse 22.1-5). Paulo nos informa, em
Romanos 8J1&-22 que a própria criação "g^me e suporta angús­
tias" aguardando o dia futuro de descanso descrito em Isaías 11.1-
10; 55,25.
É impossível estudar sobre o sábado sem que a pergunta
surja: Qual seria a atitude certa da Igreja sobre a observação do
sábado? Pretendemos apresentar as nossas conclusões, após mui­
to estudo, sobre o assunto, Apenas peço que cada leitor faça
igualmente antes de chegar a qualquer posição dogmática sobre o
assunto.
Em primeiro lugar, Colossenses 2,14 declara que as exigên­
cias da lei foram removidas "inteiramente, encravando-as na
cruz". Após o nascimento da Igreja, no día de Pentecostes, há
apenas uma ocasião mencionada, quando uma reunião dos gen­
tios foi realizada no sábado (Atos 16.13). Quase todas as referên­
cias ao dia estão relacionadas com a$ sinagogas e a pregação do
Evangelho, pelo apóstolo Paulo, aos judeus não convertidos. Estes
continuavam observando a lei mosaica, porque haviam rejeitado
o Cordeiro de Deus, Com toda a honestidade, não hã possibilidade
de se estabelecer um dia singular que a Igreja guardava, apesar de
duas referências ao "primeiro dia da semana" e tuna referência ao
"dia do Senhor" (Atos 20.7; 1 Coríntios 16,2; Apocalipse 1.10a):
"No primeiro dia da semana, estando-nos reunidos com o
fim de partir o pão.. . " "“No primeiro dia da semana cada um
de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperida­
de../' "Achei-me em espírito, no dia do Senhor.,
O primeiro verso acima estabelece que essa reunião era
Sábados — O Sábado 265
semelhante às de Atos 2.46. No segundo texto, não se refere à
congregação dos santos, mas a uma ação que deveria ser tomada
"em casa". Na declaração de João, no Apocalipse, encontramos a
única referência ao "dia do Senhor", provavelmente referindo-se
ao dia correspondente à ressurreição de Cristo, É indiscutível que,
junto com outros dias da semana, os nossos primeiros irmãos na
fé reuniam-se aos domingos. Portanto, nada nas Escrituras indica
que era, no plano de Deus, um dia mais sagrado do que qualquer
outro. Não há nada errado em se reunir nesse dia.
Mas Deus estabelece um princípio, pela pena de Paulo inspi­
rado pelo Espírito Santo, iluminando-nos sobre o assunto,
Colossenses 2.16-17:
"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida,
ou de dia de festa , ou sábados, porque tudo isto tem sido
sombra das cousas que haviam de vir; porém o corpo é de
Cristo."

Sombras, figuras, símbolos sempre representam algo concre­


to. Todo o nosso estudo tem por objetivo descobrir o que essas
sombras representavam. As sombras vão desaparecendo, à medi­
da que o verdadeiro objeto aparece, O segredo, neste contexto, é o
significado da palavra "corpo". Tanto na esfera espiritual como no
mundo físico, as funções do corpo têm que ser contínuas. Não se
pode ignorar o corpo seis dias da semana, separando um dia para
atender às necessidades dele. Ao estabelecer Sua residência na
vida de cada filho de Deus, o Espírito Santo ofereceu-nos uma
maneira de dedicar todos os nossos dias ao Senhor. É verdade que
há grande importância em reunir os crentes para comunhão e
edificação mútua, mas Deus se agrada de qualquer dia da semana
designado para isso. Há muitas profissões, em nossos dias, que
dificultam ou impossibilitam que seus empregados se reúnam no
domingo. Uma observação daquela primeira igreja em Jerusalém
nos ajudaria muito a compreender o espírito verdadeiro de culto
ao Senhor. Examinem Atos 2.42-47. Naquele relatório aprende­
mos que os salvos reuniam-se diariamente. Por causa do número
e do fato declarado de que a sua comunhão era de casa em casa, é
patente que havia muitas pequenas reuniões cada dia. O objetivo
de Deus, de multiplicação das almas salvas, foi adquirido pelo
testemunho deles e "acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que
266 A LEI E A GRAÇA

lam sendo salvos". Esse deve ser o espírito da Igreja, em vez de


enfatizar a importância de um dia da semana prevalecer nos
demais. Deus deseja nossa comunhão contínua com Ele e nossos
irmãos.
Estas considerações não alteram o fato de que domingo tem
sido estabelecido, em geral, como um dia de folga das atividades
cotidianas. For isso, sem dúvida, mais crentes podem reunir-se
nesse dia do que em qualquer outro.As oportunidades neoessi tam
ser aproveitadas; todavia, é o espírito com que nos reunimos, não
o tempo, que agrada o coração dêDeus. Ao separarmos qualquer
día, há sempre o perigo de venerá-lo, criando uma nova forma de
legalismo. Isso se aplica a todas as nossas atividades religiosas.

Os Anos de Descanso e o Jubileu


O capítulo 25 de Levítico registra as instruções de Deus sobre
a terra que Ele dera aos israelitas. Nos primeiros sete versos do
capitulo descobrimos que a cada sétimo ano Deus exigia quç a
própria terra tivesse um ano inteiro de descanso. Todas as ativida­
des da agricultura eram suspensas. Nenhuma obra servil poderia
ser feita. Certamente, não seria muito diíícil encontrar muitos
pessoas desejosas de que fosse assim hoje. Portanto, toda a alimen­
tação, durante aquele ano, era produzida naturalmente, sem o
esforço humano, e servia de alimento para o povo. Apresenta-nos
um. quadro lindo de Jeová-Jireh exercendo Sua graça. Encontra­
mos, novamente, aquele número sete tão cortspícuo na Palavra de
Deus* O sétimo ano era declarado "um sábado ao Senhor" (25.4),
Concluímos que era mais uma maneira de encorajar Israel a
confiar em Deus e relembrar que Ele mesmo estabeleceu o princí­
pio de descanso no sétimo dia da criação. Não existe nenhum
paralelo para a igreja. Ao contrário, a ordem é: "Se alguém náo
quer trabalhar, também não coma" (2 Tessaionicenses 3.10b).
O ano do jubileu era comemorado cada qüinquagésimo ano
em Israel. Havia diversos acontecimentos signaficativos, na oca­
sião. Era o ano da libertação do povo e da terra (25.10); os escravos
eram libertos; as propriedades e heranças eram devolvidas; a
obediência era recompensada por Deus com fartura e segurança.
Apesar de não representar um descanso físico para a Igreja,
novamente recordamos a importância do número cinqüenta para
Sábados — O Sábado 267

ela, Foi no dia de Pentecostes que ela começou a experimentar a


sua libertação espiritual, e o recebimento da nossa herança de
volta que nos foi roubada por Satanás ao enganar nossos primeiro
pais, Adão e Eva. Oferecemos este pensamento como uma bela
aplicação, não como um tipo.
Ao encerrarmos este estudo, reconhecemos que há muitas
conclusões e aplicações pessoais incluídas. Apresentamo-las por
terem enriquecido nosso próprio estudo da Palavra de Deus e a
harmonia espiritual entre o Velho e o Novo Testamento. Temos
sido muito abençoa dos em ver como Deus exalta Seu Filho através
das figuras do culto judaico. Não há nenhum desejo de nossa parte
em insistir para que abracem nossas conclusões, se o Deus Santo
não lhes abençoar da mesma maneira através delas, O principal
objetivo deste livro é estimular òs filhos de Deus ase aprofundarem
no estudo das Escrituras Sagradas, procurando encontrar a pessoa
de Cristo em cada um dos 66 livros, A Bíblia nos ensina que, na
medida em que nossos olhos permanecem fixos no belo rosto de
Cristo, seremos transformados cada vez mais à imagem dEle. Este
é o nosso desejo e a nossa oração à nossa irmandade em Cristo, 2
Coríntios 3,18:
"E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como
por espelho, a glória do Senhor, somos transformadas de glória
em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espí­
rito."

ADENDA ALGUMAS FESTAS JUDAICAS


REALIZADAS HOJE EM DIA
Ê notável como os judeus continuam comemorando diversas
festas religiosas. Porém, pelo fato de a nação ter rejeitado o
Cordeiro de Deus, o verdadeiro sentido espiritual de algumas
delas é diferente. Algumas delas são:
Á Páscoa: observada como um memorial da sua libertação da
escravidão no Egito. Não a reconhecem como simbólica da morte
do Cordeiro de Deus e da libertação espiritual conquistada por
Ele.
Pentecostes: esse dia é comemorado como a ocasião em que
Deus lhes entregou a lei. É costume ler o livro de Rute nesse dia.
E um dia de grande alegria.
263 A LEI E A GRAÇA

Rcsh Hoshattah, ã Festa dais Trombetas: celebram o início do


novo ano do calendário que é determinado pela crença de que foi
nessa data que Deus iniciou a Sua obra de Criação,
Yom Kippur, o Dia da Expiação; é um día de jejum, de
arrependimento, de oração e do reconhecimento da Santidade de
Deus.
Succoth, corresponde à Festa dos Tabemáculos: representa a
peregrinação dos judeus no deserto, quando habitaram em ten­
das, e Deus habitava no Tabemáculo.

Digitalização:
Roberto Oliveira.
Tipo e Antítipo
Este livro tem por finalidade ampliar o estudo
| sobre figuras e tipos do Velho Testamento apre-
È-p sentados no livro "A Pessoa de Cristo no
Tabernáculo.fl Examina as figuras da Igreja,
comparando-as com os ensinos sobre o sacerdó-
:,4 do, os sacrifícios e ofertas levitas, e as festas
judaicas. Levítico é o livro bíblico que apresenta
o maior número de figuras e símbolos. Por isso,
não há outro livro igual para se conhecer o Deus
Jeová de Israel, e a Santidade Pessoal dEle, tanto nas vidas daqueles
que desejavam, como também nos que desejam hoje, uma vida
condigna de filhos de Deus.
Este livro tem por finalidade ampliar o estudo sobre as figuras e
O Pastor Floyd L. Gilbert (B.D.; M. Div.; D. Min.) serviu como
missionário no Brasil quarenta anos com a Missão Novas Tribos do
Brasil.
Trabalhou entre os índios Kaingang em Santa Catarina e Rio
Grande do Sul e a tribo Kariri-Xocó em Alagoas. Lecionou matérias
bíblicas durante muitos anos no Instituto José Manoel da Conceição,
Jandira, SP, no Instituto Bíblico Peniel, Jacutinga, MGt e no Instituto
Missionário Shekinah, Rio Brilhante, MS, Dr, Gilbert é o autor do
livro, flA Pessoa de Cristo no Tabernáculo.” Atualmente continua se
dedicando ao preparo de literatura evangélica para o público cristão
do Brasil.

ES
Editora
Candeia L.v-00111

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