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Ondas Eletromagnéticas
~ = ρ
∇·E (Lei de Gauss) (1.1)
ǫ0
~ = 0 (Inexistência de Monopólos Magnéticos)
∇·B (1.2)
~
~ = − ∂ B (Lei de indução de Faraday)
∇×E (1.3)
∂t
~
~ = µ0~j + µ0 ǫ0 ∂ E (Lei de Ampere)
∇×B (1.4)
∂t
9
10 CAPÍTULO 1. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
• Temos então
~ ×∇
∇ ~ ×E
~ = ∇(
~ ∇~ · E) ~
~ − ∇2 E
~ ~ ~
~ × ∂ B = − ∂(∇ × B)
= −∇
∂t ∂t
∂2E~
= −µ0 ǫ0 2
∂t
e portanto
~
∂2E
~ = µ0 ǫ 0
∇2 E , (1.10)
∂t2
√
ou, definindo c = 1/ µ0 ǫ0 ,
1 ∂2E~
~−
∇2 E =0 (1.11)
c2 ∂t2
~ leva a
• O mesmo procedimento nas equações para B
1 ∂2B~
~−
∇2 B =0 (1.12)
c2 ∂t2
i.e., no vácuo os campos E e B se propagam satisfazendo a equação de ondas clássica em 3
dimensões com velocidade v = c.
• Questão: c é a velocidade da luz com relação a que referencial? A resposta a esta pergunta
levou Einstein a desenvolver a Relatividade Especial e, com ela, revolucionar a fı́sica clássica
no inı́cio do século XX.
1.3. EQUAÇÃO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS 11
~ = (Ex , Ey , Ez ) satisfaz
• Note que a Eq. 1.11 é vetorial e, portanto, cada componente de E
uma equação de onda. Idem para B.~
Figura 1.2: Propagação de ondas eletromagnéticas. Os campos E e B são perpendiculares entre si e à direção
de propagação. (Serway)
~ ×B
Os campos se propagam ortogonais entre si e com a direção de propagação: E ~ ∝ ~c
A solução F (z − ct) representa uma onda ”progressiva”, i.e. se propagando ”para frente”,
enquanto F (z + ct) representa uma onda ”regressiva”.
12 CAPÍTULO 1. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
Ondas Planas
As soluções correspondendes a ondas planas monocromáticas são dadas por uma forma especı́fica
da função F dada em termos de senos/cossenos:
Notação Complexa
Frequentemente usa-se a notação complexa para representar ondas planas:
Ex (z, t) = Re Ex,0 ei(kz±ωt) (1.20)
onde
onde do lado esquerdo usou-se a definição de densidade de carga e do lado direito usou-se o teorema
de Gauss (do divergente). Portanto
ρP = −∇ · P~ (1.23)
∂ρP ∂ P~
= −∇ · (1.24)
∂t ∂t
que comparada à Eq. da continuidade fornece jP :
~
~jP = ∂ P (1.25)
∂t
~ é definida como o momento de dipolo magnético por unidade
Similarmente, a magnetização M
~ =µ
de volume: M ~ /∆v e se relaciona com a corrente de magnetização iM via
I
iM = M~ · d~s
Z Z
→ ~jM · dA ~ = ∇×M ~ · dA
~ (1.26)
onde do lado esquerdo usou-se a definição de densidade de corrente e do lado direito usou-se o
teorema de Stokes. Portanto
~
~jM = ∇ × M (1.27)
14 CAPÍTULO 1. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
~ = ρtot 1 ρl 1
∇·E = (ρl + ρP ) = − ∇ · P~
ǫ0 ǫ0 ǫ0 ǫ0
~ ~
→ ∇ · (ǫ0 E + P ) = ρl (1.28)
temos
~ = ρl
∇·D (1.30)
~
ou, definindo o vetor H:
~
~ = B −M
H ~ (1.33)
µ0
temos
~
∂D
~ = ~jl +
∇×H (1.34)
∂t
cuja versão integral (via Teorema de Stokes) é
~ · d~l = il + d
I I
H ~ · dS
D ~ (1.35)
C dt S
Como veremos, as equações sem fonte proverão condições de contorno contı́nuas, enquanto as
equações com fontes derivadas acima proverão condições de contorno com descontinuidade das
componentes do campo.
1.5. CONDIÇÕES DE CONTORNO 15
P~ = ǫ0 χe E
~ e ~ = χM H
M ~ (1.40)
e portanto
~
~ = ǫE
D ~ e ~ =B
H (1.41)
µ
~ 1n − ǫ2 E
ǫ1 E ~ 2n = σl
~ 1t − E
E ~ 2t = 0
B~ 1n − B~ 2n = 0
B~ 1t B ~ 2t
− ~ l × n̂
= K
µ1 µ2
~ 1n − ǫ2 E
ǫ1 E ~ 2n = 0 (1.42)
~ 1t − E
E ~ 2t = 0 (1.43)
B~ 1n − B~ 2n = 0 (1.44)
~ 1t B
B ~ 2t
− = 0 (1.45)
µ1 µ2
~ = 0
∇·E (1.46)
~ = 0
∇·B (1.47)
~
~ = − ∂B
∇×E (1.48)
∂t
~
~ = µǫ ∂ E
∇×B (1.49)
∂t
~ fica
e a equação de ondas para e.g. E
1 ∂2E~ 1 1
~−
∇2 E = 0, onde v = √ (no vácuo c = √ ) (1.50)
2
v ∂t2 µǫ µ0 ǫ 0
c ǫµ
r
n= = . (1.51)
v ǫ 0 µ0
1.6. REFLEXÃO E REFRAÇÃO: INCIDÊNCIA NORMAL 17
E~ 1t = E
~ 2t (z = 0)
~ ~ ~
Ei (z, t) + Er (z, t) = Et (z, t) (z = 0)
(E0i e−iωt + E0r e−iωt ) x̂ = E0t e−iωt x̂
→ E0i + E0r = E0t (1.62)
18 CAPÍTULO 1. ONDAS ELETROMAGNÉTICAS
e
1 ~ 1 ~
B1t = B2t (z = 0)
µ1 µ2
1 ~
~
1 ~
Bi (z, t) + Br (z, t) = Bt (z, t) (z = 0)
µ1 µ2
1 E0i E0r 1 E0t
− =
µ1 v 1 v1 µ2 v 2
µ1 v 1
→ E0i − E0r = βE0t onde β = (1.63)
µ2 v2
Somando as 2 equações acima, temos
2
2E0i = (1 + β)Eot → E0t = E0i (1.64)
1+β
e da primeira equação
2 1−β
E0r = E0t − E0i = − 1 E0i → E0r = E0i (1.65)
1+β 1+β
Note que E0r tem sinal oposto a E0i se β > 1. Para a maioria dos meios µ1 ≈ µ2 ≈ µ0 , e portanto
~ r tem direção oposta a E
E ~ i se v1 > v2 ou n1 < n2 .
A intensidade pode ser definida para cada componente do campo elétrico:
1 2
I(i,r) = ǫ1 v1 E0(i,r) (1.66)
2
1 2
It = ǫ2 v2 E0t (1.67)
2
e os coeficientes de reflexão R e transmissão T são dados por:
2 2
Ir E0r 1−β
R= = → R= (1.68)
Ii E0i 1+β
e
2 2
It ǫ2 v2 E0t ǫ2 v2 2
T = = =
Ii ǫ1 v1 E0i ǫ1 v1 1+β
e como v12 = 1/(µ1 ǫ1 ) → ǫ1 v1 = 1/(µ1 v1 ), temos
ǫ 2 v2 µ1 v 1
= =β (1.69)
ǫ 1 v1 µ2 v 2
Portanto
4β
→ T = (1.70)
(1 + β)2
~ i ei(~ki ·~r−ωt) + E
~ 1 (~r, t) = E
E ~ r ei(~kr ·~r−ωt) (2.1)
~ i ei(~ki ·~r−ωt) + B
~ 1 (~r, t) = B
B ~ r ei(~kr ·~r−ωt) (2.2)
B ~ t ei(~kt ·~r−ωt)
~ 2 (~r, t) = B (2.4)
~ i,r,t = 1 ~ki,r,t × E
B ~ i,r,t (2.5)
ω
e como ω = v1 ki = v1 kr = v2 kt , temos ki = kr .
Impondo, por exemplo, a continuidade de Bn , temos a condição:
~ n1 (~r, t) = B
B ~ n2 (~r, t) (na interface)
~ ni e i
i(~k ·~
r −ωt) ~ nr e r
i(~k ·~
r −ωt) ~ nt e t
i(~k ·~
r −ωt)
B +B = B em z = 0 (2.6)
Como essa igualdade deve valer em qualquer ponto do plano de interface, as exponenciais devem
ser todas iguais (Exercı́cio: Mostre.), o que implica:
~ki · ~r = ~kr · ~r = ~kt · ~r, onde ~r = (x, y, 0) é um vetor no plano de interface. (2.8)
19
20 CAPÍTULO 2. REFLEXÃO, REFRAÇÃO E POLARIZAÇÃO
Esta condição nos dá 3 resultados importantes. Primeiro, podemos escrever essas equações:
Primeira Lei: ~ki , ~kr e ~kt e n̂ formam um plano, chamado plano de incidência
Como ~r ⊥ n̂ está no plano da interface, e os ângulos θi,r,t são relativos a n̂, a Eq. 2.8 implica
que reconhecemos como leis básicas da ótica geométrica e são derivadas das Equacões de Maxwell !
ǫ1 En1 = ǫ2 En2 :
Como
onde não escrevemos as exponencias temporais, pois elas se cancelam por serem iguais, como
mostrado na seção anterior. Portanto
ǫ2 sin θt
Eik − Erk = Etk
ǫ1 sin θi
e usando a Lei de Snell, temos
n1 ǫ 2
Eik − Erk = E (2.12)
n2 ǫ1 tk
~ t1 = E
E ~ t2 :
cos θt
Eik + Erk = Etk (2.13)
cos θi
Ei⊥ + Er⊥ = Et⊥ (2.14)
Bn1 = Bn2 :
ou
n1
Bik + Brk = B (2.15)
n2 tk
22 CAPÍTULO 2. REFLEXÃO, REFRAÇÃO E POLARIZAÇÃO
e finalmente
~ t1 /µ1 = B
B ~ t2 /µ2 :
1 1
(B cos θi − Brk cos θr ) = B cos θt
µ1 ik µ2 tk
1 1
(Bi⊥ − Br⊥ ) = Bt⊥
µ1 µ2
ou
µ1 cos θt
Bik − Brk = B (2.16)
µ2 tk cos θi
µ1
Bi⊥ − Br⊥ = Bt⊥ (2.17)
µ2
~ ⊥ E,
Como B = E/v e B ~ temos para cada uma das 3 ondas
n
Bk = E⊥ (2.18)
c
n
B ⊥ = Ek (2.19)
c
Portanto, só precisamos resolver para, e.g. Ek e E⊥ , e B correspondentes estarão determinados.
Definimos (usando ǫ1 = 1/(µ1 v12 )):
cos θt
α =
cos θi
n1 ǫ 2 v2 ǫ2 v2 µ1 v12 µ1 v 1
β = = = = (2.20)
n2 ǫ 1 v1 ǫ1 v1 µ2 v22 µ2 v 2
Para Ek , temos
2
(α + β)Etk = 2Eik → Etk = E (2.21)
α + β ik
2α α−β
Erk = αEtk − Eik = E − Eik → Erk = E (2.22)
α + β ik α + β ik
2.1. LEIS DA REFLEXÃO E DA REFRAÇÃO 23
µ1 cos θt
Bik − Brk = B
µ2 tk cos θi
Ei⊥ Er⊥ µ1 Et⊥ cos θt µ1 v 1 cos θt
− = → Ei⊥ − Er⊥ = Et⊥ (2.24)
v1 v1 µ2 v2 cos θi µ2 v 2 cos θi
Temos, então, o sistema
e, portanto,
2
(1 + αβ)Et⊥ = 2Ei⊥ → Et⊥ = Ei⊥ (2.27)
1 + αβ
2 1 − αβ
Er⊥ = Ei⊥ − Ei⊥ → Er⊥ = Ei⊥ (2.28)
1 + αβ 1 + αβ
Ir E2
R = = r2 = r2 (2.34)
Ii Ei
It ǫ2 v2 cos θt Et2
T = = = αβ t2 (2.35)
Ii ǫ1 v1 cos θi Ei2
Note que temos:
α2 + β 2 − 2αβ 4 (α + β)2
Rk + T k = + αβ = =1 (2.36)
(α + β)2 (α + β)2 (α + β)2
1 + α2 β 2 − 2αβ 4 (1 + αβ)2
R⊥ + T ⊥ = + αβ = =1 (2.37)
(1 + αβ)2 (1 + αβ)2 (1 + αβ)2
i.e. o ângulo feito com a normal é menor no meio de maior ı́ndice de refração e vice-versa. Considere
a Fig. 2.3, em que n1 > n2 e o raio se propaga de 1 para 2:
Figura 2.3: Reflexão total da luz ao passar de um meio com ı́ndice de refração n1 para um meio com ı́ndice
de refração n2 < n1 . Quando θ1 ≥ θc = sin−1 (n2 /n1 ), a luz é totalmente refletida no meio n1 . (Serway)
Para θ1 = 0 a lei de Snell dá sin θ2 = 0 → θ2 = 0, i.e. incidência normal produz refração normal.
À medida que θ1 cresce, θ2 cresce mais rápido e, para algum valor de θ1 , teremos θ2 = π/2, i.e.
o raio refratado tangencia a interface. Neste caso, nao há refração, i.e. o raio é todo refletido de
volta ao meio 1. Pela lei de Snell, temos:
n2
n1 sin θ1 = n2 sin θ2 = n2 → sin θ1 = sin θc = (2.39)
n1
onde θc é um ângulo crı́tico tal que para θ1 > θc , temos reflexão total. Note que para θ1 = θc ,
temos θt = π/2 → α = 0. Portanto Rk = R⊥ = 1 e Tk = T⊥ = 0, como esperado.
2.1. LEIS DA REFLEXÃO E DA REFRAÇÃO 25
Isso quer dizer que o campo transmitido é zero? Não, apenas que a energia média transmitida
é nula. Vamos ver o que acontece com o campo. Para incidência acima do ângulo crı́tico, temos
n2 n2
θi > θc → sin θi > sin θc = → sin θi > (2.40)
n1 n1
n1
Note que sin θt = n2 sin θi > 1, o que não faz sentido! Lembre que
Resta saber quem é (kt )n . Usando a relação de dispersão n2 = c/v2 = ckt /ω, temos:
n2 ω 2
kt2 = ~kt · ~kt = (kt )2t + (kt )2n = 2 2 (2.44)
c
Portanto,
n2 ω 2 n2 ω 2 n2 ω 2 n2 ω 2 n2
(kt )2n = 2 2 − (kt )2t = 2 2 − 1 2 sin2 θi = 2 2 1 − 12 sin2 θi (2.45)
c c c c n2
Mas, pela Eq. 2.40, o termo entre parênteses é < 0. Portanto (kt )n é imaginário:
s
n2 ω n21
(kt )n = i sin θi2 − 1 = ikI (imaginário) (2.46)
c n22
n1 ω
(kt )t = sin θi = kR (real) (2.47)
c
e
~kt = kR t̂ + ikI n̂ (2.48)
E ~ t ei(~kt ·~r−ωt) = (E
~ 2 (~r, t) = E ~ t e−kI z )ei(kR y−ωt) (2.50)
i.e. a onda se propaga na direção t̂, mas a amplitude da onda decai exponencialmente à medida
que nos afastamos da interface: onda evanescente.
26 CAPÍTULO 2. REFLEXÃO, REFRAÇÃO E POLARIZAÇÃO
2.1.5 Dispersão
O fenômeno de dispersão da luz resulta do fato de que luzes de diferentes frequências têm ı́ndices
de refração diferentes e, portanto, refratam de maneira distinta. Se um raio de luz branca no vácuo
(n1 = 1) incide a uma ângulo θi em um prisma com n2 , temos
n1 sin θi = nazul
2 sin θ2azul = nvermelho
2 sin θ2vermelho (2.57)
Normalmente, n cresce com a frequência ν, e.g. nazul > nvermelho e, portanto
nazul > nvermelho → θ2azul < θ2vermelho (2.58)
i.e. a luz azul refrata mais do que a vermelha (fica mais próxima da normal).
Figura 2.4: Dispersão da luz em um prisma. Ondas de diferentes comprimentos de onda refratam de forma
diferente. Como nazul > nvermelho , pela lei de Snell θtazul < θtvermelho , i.e. a luz azul refrata mais que a
vermelha no mesmo meio. (Serway)
d1 d2
t= = (2.59)
v1 v2
Portanto
sin θ1 sin θ2
= ×c (2.61)
v1 v2
→ n1 sin θ1 = n2 sin θ2 (2.62)
Figura 2.7: Lei de Snell (n1 sin θ1 = n2 sin θ2 ) via o
Princı́pio de Huygens. (Nussenzveig)
P1 P P P2
t(x) = t1 + t2 = +
v1 v2
p p
2
d1 + x 2 2
d2 + (d − x)2
= +
v1 v2
O tempo mı́nimo ocorre para x tal que:
dt x (d − x)
0= = p − p 2
dx 2
v 1 d1 + x 2 v2 d2 + (d − x)2
1 x 1 (d − x)
= −
v1 P1 P v2 P P2
sin θ1 sin θ2
= −
v1 v2
Figura 2.9: Lei de Snell (n1 sin θ1 = n2 sin θ2 ) via o
Multiplicando a equação por c e usando a de- Princı́pio de Fermat. (Nussenzveig)
finição n = c/v, obtemos a lei de Snell:
n1 sin θ1 = n2 sin θ2 (2.64)
30 CAPÍTULO 2. REFLEXÃO, REFRAÇÃO E POLARIZAÇÃO
2.4 Polarização
2.4.1 Ondas Planas Monocromáticas
Até agora consideramos quase sempre o caso em que um dos campos coincide com os eixos x e y,
~ = Ex x̂. Mas E
e.g. E ~ se propagando na direção z pode ter componentes gerais no plano xy:
~ = Ex x̂ + Ey ŷ
E (2.65)
E assim:
~ = 1 ẑ × E
B ~ = 1 ẑ × (Ex x̂ + Ey ŷ) = 1 (−Ey x̂ + Ex ŷ) (2.66)
v v v
Portanto
Ey Ex
Bx = − e By = (2.67)
v v
Para uma onda plana monocromática mais geral, temos:
Ex = a ei(kz−ωt) = vBy (2.68)
iδ i(kz−ωt)
Ey = b e e = −vBx (2.69)
Note que, em princı́pio, pode haver uma diferença de fase δ entre as componentes x e y dos
campos. Tomando a parte real, temos
Ex = a cos Φ onde Φ = kz − ωt (2.70)
Ey = b cos(Φ + δ) (2.71)
~ faz uma curva no plano z = 0 à medida que oscila e se propaga. Para encontrar
Em geral, E
essa curva, vamos definir uma relacao entre Ex e Ey eliminando Φ, i.e. a parte temporal:
Ey
= cos(Φ + δ) = cos Φ cos δ − sin Φ sin δ (2.72)
b s 2
Ex p Ex
= cos Φ → sin Φ = 1− cos2 Φ → sin Φ = 1− (2.73)
a a
Portanto
s 2
Ey Ex Ex
− cos δ = cos Φ cos δ − sin Φ sin δ − cos Φ cos δ = − sin δ 1− (2.74)
b a a
Elevando ao quadrado:
2 2 2 !
Ey Ex Ey Ex Ex
−2 cos δ + cos2 δ = sin2 δ 1 − (2.75)
b a b a a
que implica
2 2
Ey Ex Ey Ex
−2 cos δ + = sin2 δ (2.76)
b a b a
Esta é a equação geral de uma elipse no plano xy. Portanto a onda monocromática mais geral
tem polarização elı́ptica .
2.4. POLARIZAÇÃO 31
Portanto
Ey b
= (Polarização Linear) (2.78)
Ex a
Portanto
2 2
Ey Ex
+ =1 (Polarização Elı́ptica) (2.81)
b a
Como Polarizar?
Se temos luz não-polarizada, como podemos obter luz com uma certa polarização?
1) Reflexão: Lembre que para θi = θB , temos rk = 0. Neste caso, a luz refletida tem componente
apenas na direção ⊥ ao plano de incidência: polarização linear.
2) Polarizador: Algumas substâncias têm moléculas alinhadas que absorvem a luz em uma
direção, permitindo passagem na direção ⊥.
32 CAPÍTULO 2. REFLEXÃO, REFRAÇÃO E POLARIZAÇÃO
Figura 2.10: Lei de Malus. Após ser polarizada no polarizador, a luz incide sobre o analisador fazendo um
angulo θ com o eixo de transmissão. Somente a componente E = E0 cos θ atravessa o analisador e portanto
a intensidade transmitida fica I ∝ E 2 = I02 cos2 θ. (Serway)
Lei de Malus
Suponha que façamos luz não-polarizada incindir sobre um polarizador, como na Fig. 2.10. Somente
a componente paralela ao polarizador consegue atravessá-lo, e o campo transmitido E0 é portanto
linearmente polarizado.
Se fizermos o campo polarizado incindir sobre um segundo polarizador (analisador), cujo eixo
de transmissão faz um ângulo θ com o primeiro polarizador, temos que somente a componente
E = E0 cos θ será transmitida.
Desta forma, como a intensidade é I ∝ E 2 , temos que a intensidade I transmitida pelo analisador
será dada em termos da intensidade I0 ∝ E02 que nele incide por
Interferência e Difração
A natureza ondulatória da luz se mostra nas propriedades de interfêrencia e difração, que vamos
considerar neste capı́tulo.
Figura 3.2: Interferência construtiva e destrutiva das ondas que passam por cada fenda. (Serway)
33
34 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Figura 3.3: A interferência das ondas provenientes de S1 e S2 depende da diferença de fase, ou diferença de
caminho d sin θ entre as ondas. (Serway)
Vamos tomar o campo elétrico E(x, t) com a representação complexa de uma onda plana:
~ ~
h i
E(~x, t) = Re A ei(k·~x−ωt) = Re v(x)e−iωt v(x) = A eik·~x
onde (3.1)
d
r1 = R − sin θ (3.3)
2
d
r2 = R + sin θ (3.4)
2
e d sin θ = r2 − r1 . Portanto
h kd kd
i
v(x) = A ei(kR− 2 sin θ) + ei(kR+ 2 sin θ)
h i
= AeikR e−iδ/2 + eiδ/2 onde δ = kd sin θ = k(r2 − r1 )
ikR δ
= 2Ae cos (3.5)
2
δ = 2nπ
kd sin θ = 2nπ
2π
d sin θ = 2nπ → r2 − r1 = d sin θ = nλ (Máximo) (3.8)
λ
e para interferência destrutiva (mı́nimos) temos
1
δ = (2n + 1)π → r2 − r1 = d sin θ = n+ λ (Mı́nimo) (3.9)
2
ou seja, a intensidade média é igual à intensidade das duas fendas. Há apenas uma redistribuição
de energia, com regiões com 2 vezes o valor médio e regiões com intensidade nula. Nas regiões onde
I = 0, o campo é nulo, ou seja, luz superposta com luz dando escuridão.
Como cos 2x = 2 cos2 x − 1, podemos escrever
2 δ
I = 4I1 cos = 2I1 (1 + cos δ) = 2I1 + 2I1 cos δ (3.12)
2
O segundo termo, 2I1 cos δ, é chamado termo de interferência, e sua presença é prova de que a luz
é uma onda. Tivesse ela apenas caráter corpuscular, esperarı́amos I = 2I1 em todos os pontos.
Além disso
θt < θi → cos θt > cos θi → α > 1 (3.15)
θ t < θi → sin θt < sin θi → β>1 (3.16)
e portanto
1 − αβ < 0 (3.17)
Desta forma, Er terá sinal oposto a Ei tanto para a componente k quanto para a ⊥. Mas como
eiπ = cos π + i sin π = −1 , (3.18)
esse sinal negativo implica uma mudança de fase de onda de π na onda refletida. Isso ocorre sempre
que a reflexão ocorre com incidência do meio menos para o mais refrativo.
Para uma mudança de fase de π, usando k = 2π/λ temos:
E(x, t) = E0 ei(kx−ωt) → E0 eiπ ei(kx−ωt) = E0 ei[k(x+π/k)−ωt] = E0 ei[k(x+λ/2)−ωt] = E(x + λ/2, t)
ou seja, a mudança de fase de π implica uma defasagem espacial de λ/2 : x → x + λ/2.
No caso contrário em que n2 < n1 , não há mudança de fase. Já nos raios refratados:
2 2
Etk = E e Et⊥ = E , (3.19)
α + β ik 1 + αβ ik
os coeficientes são sempre positivos, e também não há mudança de fase.
onde λ2 = λ/n2 . Note que se tivéssemos n3 > n2 , terı́amos uma mudança de fase também do raio
2 na sua reflexão em B. Portanto, neste caso, as condições de interferência construtiva/destrutiva
se inverteriam com relação ao caso acima.
Exercı́cio: Considere o caso em que θ1 não é pequeno e as diferenças de caminho ABC do raio
2 e AD do raio 1 devem ser consideradas na condições de interferência.
Por que o filme deve ser ”fino”? A luz incidente usualmente vem em pulsos de ondas gerados
por processos aleatórios (emissão atômica, etc.). Portanto, para que haja interferência é preciso
que um único pulso entre na pelı́cula e retorne para interferir com ele mesmo, i.e. o raio 1 e 2
devem ter o mesmo pulso de origem; caso contrário não haverá coerência dos raios. É por isso que
podemos ver máximos e mı́nimos em uma bolha de sabão, mas não em uma placa de vidro.
3.4 Difração
Experimento de Young: luz de 2 fendas pequenas interferem na tela de observação produzindo um
padrão de interferência. O que ocorre no caso de apenas uma fenda, não necessariamente pequena?
a λ
sin θ = → a sin θ = λ (1o mı́nimo) (3.23)
2 2
38 CAPÍTULO 3. INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO
Se essa diferença de caminho for igual a λ/2, todos os pares da primeira metade da fenda se
cancelarão e todos os pares da segunda metade se cancelarão de forma independente. Assim, todos
os pares da fenda como um todo se cancelam em P2 :
a λ
sin θ = → a sin θ = 2λ (2o mı́nimo) (3.25)
4 2
Antes de calcular o padrão de difração em um fenda simples, vamos primeiro lembrar do caso
da interferência em fenda dupla de largura pequena, como mostrado na Fig 3.7.
E(P ) = E1 + E2 ,
onde E1 = v1 e−iωt , e v1 = Aeikr1
3.4. DIFRAÇÃO 39
E(P ) = ve−iωt
h d d
i
onde v = ṽ e−ik 2 sin θ + e+ik 2 sin θ
e ṽ = AeikR
a a a a
1 e−ik 2 sin θ − eik 2 sin θ 1 eik 2 sin θ − e−ik 2 sin θ sin(k a2 sin θ)
= = a =
a −ik sin θ k 2 sin θ 2i k a2 sin θ
ou seja
v(θ) sin(β/2)
=
v(0) β/2
β = ka sin θ
Finalmente, como I = hE 2 i = |v|2 , temos
I(θ) v(θ)2
=
I0 v(0)2
ou
2
I(θ) sin(β/2)
= onde β = ka sin θ ( Difração, Fenda Simples ) (3.32)
I0 β/2
β
= mπ, m = 1, 2, ...
2
ka sin θ
→ = mπ, k = 2π/λ
2
→ a sin θ = mλ
(3.33)
que é exatamente a condição que havı́amos en-
contrado anteriormente. A posição dos máximos
pode ser bem aproximada como centrada entre dois
Figura 3.9: Padrão de intensidade na difração em
uma fenda simples. (Serway)
mı́nimos sucessivos. A região do máximo central ex-
tendida até o primeiro mı́nimo contém mais de 90%
da intensidade total.
Se considerarmos agora novamente uma fenda dupla, mas com fendas de tamanho a não des-
prezı́vel, temos que o efeito de interferência das duas fendas se sobrepõe à difração de cada fenda
individual. Desta forma, o padrão de interferência/difração será dado por
2
I(θ) sin(β/2)
= cos2 (δ/2) onde δ = kd sin θ e β = ka sin θ ( Fenda Dupla ) (3.34)
I0 β/2
3.4. DIFRAÇÃO 41
Figura 3.10: Padrão de Interferência e Difração das ondas que passam por duas fendas. (Serway)
Capı́tulo 4
Mecânica Estatı́stica
• Suponha que existam várias maneiras de as partı́culas do sistema terem essa energia total
Er . Chamamos cada uma dessas maneiras de um estado do sistema. Podemos enumerar esses
vários estados r = 1, 2, 3, ....
• Os estados microscópicos são ultimamente descritos pelas leis da mecânica quântica (Eq. de
Schrödinger) que rege o sistema.
Exemplo: 3 elétrons, cada um com spin na direção z para cima ou para baixo e respectivo
momento magnético +µ ou µ. Na presença de um campo magnético B, cada elétron tem
energia E = µB ou −µB. Se soubermos, por hipótese, que a energia E total do sistema é
+µB, isso significa que dois elétrons tem spin + e um deles -. Supondo que os eletrons sao
distinguı́veis, os estados possı́veis são (++-), (+-+), (-,++). Qualquer um desses 3 estados
tem a mesma energia +µB.
• Classicamente, o estado de uma partı́cula é descrito por sua posição e seu momento linear. De
acordo com as leis da mecânica clássica (leis de Newton), uma vez especificado este estado,
sabemos como ele evolui no tempo.
Exemplo: Um oscilador harmon̂ico simples:
p2 1
E= + mω 2 x2 (4.1)
2m 2
Para uma energia fixa, todos os valores de x e p definidos na equação acima (formando uma
elipse no plano x − p) são possı́veis estados do oscilador com energia E.
43
44 CAPÍTULO 4. MECÂNICA ESTATÍSTICA
S = kB ln Ω(E) (4.3)
E = E(S, V, N ) (4.4)
∂E
P =− (4.6)
∂V
• No caso em que não há mudanca no número de partı́culas de um sistema (dN = 0), a única
outra forma de alterar a energia do sistema é quando ele absorve/dá calor dQ do/ao meio. O
calor dQ é então definido como a variação na energia que não seja devida ao trabalho:
dE = −dW + dQ → dQ = dE + dW (4.7)
∂E ∂E ∂E
dE = dS + dV + dN (4.8)
∂S ∂V ∂N
4.2. TEMPERATURA, PRESSÃO, TRABALHO E CALOR 45
• Definimos
∂E
T ≡ : Temperatura (4.9)
∂S
∂E
P ≡ − : Pressão (4.10)
∂V
∂E
µ ≡ : Potencial Quı́mico (4.11)
∂N
em termos dos quais o elemento dE fica
dE = T dS − P dV + µdN (4.12)
• Note que
1 ∂S ∂ ln Ω(E)
= = kB (4.15)
T ∂E ∂E
e podemos definir a grandeza β, que aparecera em calculos posteriores
1 ∂ ln Ω(E)
β≡ ≡ (4.16)
kB T ∂E
∂S ∂S ∂S
dS = dE + dV + dN (4.17)
∂E ∂V ∂N
• E definimos
1 ∂S
≡ : Temperatura (4.18)
T ∂E
P ∂S
≡ : Pressão (4.19)
T ∂V
µ ∂S
≡ − : Potencial Quı́mico (4.20)
T ∂N
que, usando S = kB ln Ω(E, V, N ) e β = (kB T )−1 , são equivalentes a
∂ ln Ω(E, V, N )
β= (4.21)
∂E
∂ ln Ω(E, V, N )
βP = (4.22)
∂V
∂ ln Ω(E, V, N )
βµ = − (4.23)
∂N
46 CAPÍTULO 4. MECÂNICA ESTATÍSTICA
T dS = dE + P dV − µdN (4.25)
E 0 = E + E ′ = constante (4.26)
0 ′
V = V + V = constante (4.27)
0 ′
N = N + N = constante (4.28)
• Denote por Ω0 (E, V, N ) o número de estados do sistema combinado A0 quando A tem energia
E, volume V e N partı́culas.
e, portanto,
Portanto,
∂ ln P ∂ ln P ∂ ln P
d ln P = dE + dV + dN = 0 (4.33)
∂E ∂V ∂N
4.4. DISTRIBUIÇÃO DE BOLTZMANN E FUNÇÃO DE PARTIÇÃO 47
• Como as variações dE, dV e dN são independentes, cada derivada parcial deve ser nula
separadamente:
∂ ln P ∂ ln Ω ∂ ln Ω′ ∂E ′
= + = β − β′ = 0 → β = β′ → T = T ′ (4.34)
∂E ∂E ∂E ′ ∂E
∂ ln P ∂ ln Ω ∂ ln Ω′ ∂V ′
= + = βp − β ′ p′ = 0 → p = p′ (4.35)
∂V ∂V ∂V ′ ∂V
∂ ln P ∂ ln Ω ∂ ln Ω′ ∂N ′
= + = −βµ + β ′ µ′ = 0 → µ = µ′ (4.36)
∂N ∂N ∂N ′ ∂N
ou seja, os dois sistemas tem a mesma temperatura, pressão e potencial quı́mico no equilı́brio.
• Note que
• Vamos assumir que os volumes V e V ′ são fixos, e o sistema A troca apenas calor e possivel-
mente partı́culas com o reservatório A′ . Temos
• Vamos agora considerar um estado especı́fico r do sistema A em que ele tem energia Er e Nr
partı́culas. A probabilidade de obter esse estado fica
Portanto
= C ′ Ω′ (E 0 , N 0 )e(−βEr +βµNr )
ou finalmente
P (Er , Nr ) = Ce−β(Er −µNr ) (Distribuição Grand-Canônica) (4.43)
ou seja
e−βEr
P (Er ) = (4.48)
Z
• O fator de Boltzmann dá a probabilidade de um estado especı́fico r. Se quisermos saber a
probabilidade de termos uma energia qualquer entre E e E + δE, devemos considerar todos
os estados entre esses limites:
X
P (E) = P (Er ), r tal que E < Er < E + δE (4.49)
r
Para δE pequeno, todos os estados tem basicamente a mesma exponencial e−βEr ∼ e−βE , e
essa soma dá simplesmente o número de estados Ω(E) que satisfazem a condição acima vezes
a exponencial:
P (E) = Ω(E)e−βE (4.50)
4.5. MÉDIAS E VÍNCULOS 49
• Essas distribuições podem ser usadas mesmo em sistemas isolados, que não estão em contato
com um reservatório térmico, pois ao retirarmos o sistema em equilı́brio do contato com o
reservatório, ele permanecerá em equilı́brio e com os mesmos valores médios das grandezas
macroscópicas.
• Por exemplo, suponha que saibamos que a energia do sistema está entre E e E + δE e
o número de partı́culas do sistema está entre N e N + δN , e que existem Ω(E, N ) estados
nessas condições. O valor médio de uma grandeza y pode ser calculado usando a distribuição
microcanônica:
P
r yr
ȳ = r tal que E < Er < E + δE e N < Nr < N + δN (4.51)
Ω(E, N )
Note que temos que impor ambas as condições de energia e no número de partı́culas na
contagem de estados, o que pode ser complicado.
Nesse caso só existe a restrição no número de partı́culas. Caso partı́culas possam ser criadas
e destruı́das e não sejam conservadas, não há vinculo no numero de particulas. Esse é o caso
e.g. da radiação de corpo negro, já que fótons podem ser absorvidos e re-emitidos sem ter
seu numero conservado.
yr e−β(Er −µNr )
P
ȳ = Pr −β(E −µN ) (4.53)
re
r r
Nesse caso não há nenhuma restrição nos somátorios. Novamente, caso nao haja restrição no
número de partı́culas, tomamos µ = 0 e retornamos à distribuicao canônica.
e como
X X ∂ ∂
Er e−βEr = − e−βEr = − Z
r r
∂β ∂β
temos
1 ∂Z ∂ ln Z
Ē = − =− (4.54)
Z ∂β ∂β
50 CAPÍTULO 4. MECÂNICA ESTATÍSTICA
e como
!
X ∂Er 1 ∂ X 1 ∂
−βEr −βEr
e =− e =− Z
r
∂V β ∂V r
β ∂V
temos
1 ∂Z 1 ∂ ln Z
p̄ = = (4.55)
βZ ∂V β ∂V
∂ ln Zg X
= , Zg = e−βEr +αNr , α = βµ (4.56)
∂α r
p2
E(x, p) = + U (x) (4.57)
2m
• Podemos dividir o espaço de fase em células de tamanho δxδp = h, cada uma definindo um
estado r. Classicamente h pode ser arbitrariamente pequeno. Quânticamente, veremos que,
devido ao prı́ncipio de incerteza, h é uma constante finita, a constante de Planck. Note que
h tem unidade de momento angular.
• Para uma energia no intervalo E e E + dE, onde dE está associada a intervalos dxdp no
espaço de fase, temos
dxdp dxdp
Ω(E) = Ω(x, p) = = (4.58)
δxδp h
• No caso tridimensional
p| 2
|~
E(~x, p~) = + U (~x) (4.59)
2m
4.6. GAS IDEAL E LIMITE CLÁSSICO 51
e
d3 xd3 p
Ω(E) = Ω(~x, p~) = (4.60)
h3
• Para um sistema de N partı́culas
p1 |2 + ... + |~
|~ pN | 2
E(~x1 , ..., ~xN , p~1 , ..., p~N ) = + U (~x1 , ..., ~xN ) (4.61)
2m
e
d3 x1 d3 p1 ...d3 xN d3 pN
Ω(E) = Ω(~xi , p~i ) = (4.62)
h3N
• Vamos considerar uma partı́cula do gás, sendo todas as outras o reservatório térmico. E
vamos considerar um gás diluı́do, de modo que podemos tomar a interação nula, i.e. U = 0.
Para essa partı́cula, a probabilidade de ter energia em [E, E + dE], ou equivalentemente de
ter posição e momento em [~x, ~x + d3 x] e [~
p, p~ + d3 p] é
P (E) = CΩ(E)e−βE
d3 xd3 p −β(p2 /2m)
→ P (~x, p~)d3 xd3 p = C e (Gas Ideal) (4.63)
h3
e a constante C é tal que
Z Z
3
d x d3 p P (~x, p~) = 1 (4.64)
e é normalizada como
Z Z
3
d x d3 p f (~x, p~) = N (4.65)
Para Z1 , temos
temos
3/2
2πm
Z1 = V (4.69)
h2 β
Portanto
3 3 2πm
ln Z = N ln Z1 = N ln V − ln β + ln (4.70)
2 2 h2
∂ ln Z 3N 3
Ē = − = → Ē = N kB T (4.71)
∂β 2β 2
e
1 ∂ ln Z 1N N kB T
p̄ = = = → p̄V = N kB T (4.72)
β ∂V βV V
onde R = Na kB = 6.02 × 1023 . 1.38 × 10−23 = 8.31 J/K é a constante dos gases.
2
p̄ = ū (4.74)
3
Portanto
1
ǭi = kB T (4.77)
2
• Obviamente o mesmo teria acontecido com ǫi = bx2i , pois farı́amos a integral em dx2i .
• Equipartição: O valor médio de cada termo (grau de liberdade) na energia, quadrático nas
coordenadas ou nos momentos, é igual a kB T /2.
d3 x, temos
R
Fazendo a integral no volume V =
Z Z
N = d x d3 vf (~x, ~v )
3
Z
2
= CV d3 ve−β(mv /2)
Z 3
−(βm/2)vx2 )
= CV dvx e
2π 3/2
= CV
βm
βm 3/2
N
→C = n , onde n = (4.82)
2π V
Portanto a distribuição fica
• Temos também
f (~x, ~v )d3 v : Número médio de partı́culas por unidade de volume com velocidade em d3 v
ao redor de ~v .
• Na Fig. 4.1, mostramos a distribuicao de velocidades F (v), bem como alguns valores médios
associados a ela.
4.8. DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES DE MAXWELL 55
Figura 4.1: Distribuição de velocidades de Boltzmann F (v). Também mostrados o valor√ médio da velocidade
v̄, o valor mais provável ṽ e a raiz quadrada da velocidade quadrática média vrms = v¯2 . (Reif)
mβ 3/2 1 2 2 2 1/2
4 2
v̄ = √ = √
π 2 2 mβ π mβ
r r
8 kB T kB T
→ v̄ = ≈ 2.55 (Velocidade média) (4.86)
π m m
56 CAPÍTULO 4. MECÂNICA ESTATÍSTICA
mβ 3/2 3 √ 2 5/2 3
¯2
4 2 3kB T
v = √ π = =
π 2 8 mβ 2 mβ m
r
p 3kB T
→ vrms = v¯2 = (Raiz da Velocidade quadrática média) (4.88)
m
• Uma outra quantidade relevante é a velocidade mais provável ṽ, onde F (v) atinge seu pico e
definida por
dF (v)
= 0
dv
−βmv 2 /2 −βmv 2 /2
2ve + v 2 (−βmv)e = 0
2
v2 = (4.89)
βm
ou
r
2kB T
ṽ = (Velocidade mais provável) (4.90)
m
p
Note que todas essas velocidades são da ordem de kB T /m.
• Podemos então estudar o problema da radiação térmica resultante de qualquer processo fı́sico
que leve a um equilı́brio térmico, considerando a radiação emitida por um corpo negro em
contato com essa radiação.
• Considere um corpo negro como sendo uma caixa fechada de comprimento L e volume V = L3 ,
contendo radiação eletromagnética em seu interior. Podemos pensar que a radiação térmica
ambiente entra por um pequeno buraco na caixa, sendo prontamente absorvida. No equilı́brio
a radiação é re-emitida pelos átomos na parede da caixa.
• Sabemos que cargas oscilando (e.g. aceleradas) emitem radiação, portanto, como modelo
clássico do corpo negro, tomaremos os átomos de suas paredes como osciladores harmônicos
em equilı́brio com a radiação. Classicamente, a energia da radiação depende de sua amplitude
E0 e a energia média de cada oscilador (E = mv 2 /2 + mωx2 /2), pela equipartição, é kB T .
• Como o campo está dentro da caixa, seu valor deve se anular nas bordas superficiais, i.e.
quando x ou y ou z forem iguais a 0 ou L.
Ou seja, a solução de ondas se propagando acima na verdade deve se reduzir a uma solução
de onda estacionária. Como
k x L = nx π nx = 1, 2, 3, ... (4.96)
e portanto o número de estados, i.e. o número de maneiras das ondas existirem é enumerado
pelos inteiros nx , ny e nz . Note que tomamos nx , ny , nz > 0 e portanto kx , ky , kz > 0, pois
mudando de sinal kx → −kx temos sin kx x → − sin kx x, que corresponde ao mesmo estado,
já que basta fazer E~ 0 → −E~ 0.
58 CAPÍTULO 4. MECÂNICA ESTATÍSTICA
• A pergunta que gostarı́amos de responder é: qual a energia média dessas ondas em um
intervalo de frequência dν?
A ideia é contar o número de estados possı́veis dentro de dν e então multiplicar esse número
pela energia média de cada estado.
• Precisamos saber então, qual o número de estados possı́veis dentro do intervalo de frequência
dν. E como k = 2π/λ = 2πν/c, temos dk = 2πdν/c. Portanto, precisamos saber o numero
de estados em cada dkx , etc.
dkx
∆nx = L estados (4.98)
π
• Gostarı́amos agora de saber o número de estados Ωk dk em uma camada esférica dk. Lem-
bramos que estamos restritos a valores de kx , ky e kz que são > 0, ou seja, se restringem ao
primeiro octante. Como d3 k = dΩk 2 dk, podemos integrar no ângulo total e dividir por 8:
R
dΩ 2 V 4π V
Ωk dk = Ω~k 4π k dk = 3 k 2 dk = 2 k 2 dk (4.100)
8 π 8 2π
ou equivalentemente, em termos de ν:
2
V 2πν 2πdν 4π
Ων dν = = V 3 ν 2 dν (4.101)
2π 2 c c c
• Finalmente, notamos que para uma direção de propagação definida por E ~ 0 , temos 2 pola-
rizações possı́veis para os campos eletromagnéticos, que formam dois possı́veis conjuntos de
estados da radiação. Por exemplo se a radiação se propaga na direção z, podemos ter E
na direção x e B na direção y, ou equivalentemente E na direção y e B na direção −x.
Devemos então multiplicar o número de estados anteriores por 2 para considerar essas duas
possibilidades de polarização, obtendo finalmente:
8π 2
Ων dν = V ν dν (Número de estados em dν) (4.102)
c3
8π
Ωλ dλ = V dλ (Número de estados em dλ) (4.103)
λ4
4.9. RADIAÇÃO TÉRMICA CLÁSSICA E ESPECTRO DE CORPO NEGRO 59
• Como todos esses estados são igualmente prováveis, a energia média para a radiação com
frequência no intervalo dν fica:
8π 2
U (ν)dν = ǫ Ων dν = ǫ V ν dν (4.104)
c3
e portanto a densidade de energia u = U/V no intervalo dν fica
8π 2
u(ν)dν = ǫ ν dν (4.105)
c3
e
8π
u(λ)dλ = ǫ dλ (4.106)
λ4
onde ǫ é a energia média de cada oscilador com frequência ν (assumindo que a onda emitida
pelo corpo negro tem mesma frequência que o átomo oscilante). Classicamente, a energia
de cada estado da radiação não depende de sua frequência, mas sim de sua amplitude de
onda, que é determinada pelos átomos osciladores das paredes do corpo negro. Da mesma
forma, classicamente a energia média de cada oscilador é simplesmente ǫ = kB T . Portanto,
classicamente, temos
8πkB T 2
u(ν)dν = ν dν (Radiação Térmica Clássica ) (4.107)
c3
8πkB T
u(λ)dλ = dλ (4.108)
λ4
• Esse resultado indica um grande problema, pois a densidade de energia vai a infinito em
altas frequências, i.e. na parte ultra-violeta do espectro. Esse problema é conhecido como a
catástrofe do ultra-violeta, já que a densidade de energia total em todas as frequências
seria
Z ∞ Z ∞
u = u(ν)dν ∝ ν 2 dν = ∞ !
0 0
Z ∞ Z ∞
dλ
= u(λ)dλ ∝ =∞!
0 0 λ4
Obviamente a densidade de energia real não é infinita, e algo está errado no cálculo clássico.
Ou erramos na contagem do número de estados, ou na energia média de cada oscilador.
• Veremos no próximo capı́tulo, que o erro está em assumir que a energia de cada oscilador é
kB T . Em 1900, Max Planck resolveu este problema, obtendo a densidade de energia correta
do corpo negro e dando inı́cio à Fı́sica Quântica, um novo ramo da Fı́sica que revolucionou
vários conceitos clássicos tidos como verdades absolutas até então.
Capı́tulo 5
Mecânica Quântica
Neste capı́tulo, introduzimos os problemas e as primeiras idéias inovadoras que conduziram aos
primórdios da Fı́sica Quântica, e permitiram seu posterior desenvolvimento formal.
e portanto
∂ P∞ ∞
∂xP n=1 e
−nx
1 ∂S X
ǭ(ν) = −hν ∞ = −hν , S= e−nx (5.4)
n=1 e S ∂x
−nx
n=1
61
62 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
S − e−x S = 1
1
→S = (5.5)
1 − e−x
Portanto
1 ∂S −e−x e−x hν
ǭ(ν) = −hν = −hν(1 − e−x ) 2
= hν = x (5.6)
S ∂x (1 − e )
−x 1−e −x e −1
ou finalmente,
hν
ǭ(ν) = (5.7)
eβhν−1
Essa é a energia média que deve entrar na densidade de energia da radiação, ou seja:
8π 2
u(ν)dν = ǭ(ν) ν dν (5.8)
c3
8π 2 hν
= ν dν (5.9)
c3 eβhν − 1
ou
8πhν 3 1
u(ν)dν = dν (Radiação Térmica Quântica) (5.10)
c3 e khν
BT − 1
Definindo
η = hν/kB T, (5.11)
4 T4
8πhν 3 dν 8πkB η3
u(ν)dν = = (5.12)
c 3 eη − 1 h3 c 3 e η − 1
e definimos
h3 c 3 η3
u∗ (η)dη = 4 T4 u(ν)dν = dη (5.13)
8πkB eη − 1
h3 c 3 2
u∗ (η)dη = 4 T 4 u(ν)dν = η dη (5.15)
8πkB
5.1. MODELO DE PLANCK 63
O espectro de radiação térmica aparece em vários sistemas fı́sicos, e.g. o espectro da radiação
solar. Curiosamente, o espectro de corpo negro mais perfeito que se conhece na natureza é o
da radiação cósmica de fundo (RCF), que foi liberada 300.000 anos após o Big Bang, e pode
ser detectada hoje em todas as direções do Universo. Esse espectro corresponde a uma radiação
com T = 3K com pico na região de microondas, e é umas das observações mais importantes em
Cosmologia. A detecção desta radiação em 1964 deu a Penzias e Wilson o prêmio Nobel de Fisica
em 1978. Essa medida indicou que, de fato, o Universo foi muito quente no passado e, ao se esfriar,
essa radiação se desacoplou da matéria. A deteção de flutuações de temperatura da ordem de uma
parte em 10−5 nesta radiação, feita em 1992 pelo satélite COBE, deu a Smoot e Mather o prêmio
Nobel em 2006. Este feito iniciou a era da cosmologia de precisão.
hνmax νmax
ηmax = βhνmax = = const → = const (5.16)
kB T T
Portanto,
νmax,1 νmax,2
= (5.17)
T1 T2
Ou seja, a posição do pico νmax é proporcional à temperatura T . Podemos calcular a posição do
pico mais explicitamente, derivando u(ν):
ou
ηmax
→ e−ηmax = 1 − , onde ηmax = βhνmax . (5.19)
3
A solução desta equação dá
νmax ηmax kB
ηmax ≈ 2.82 → = = 5.88 × 1010 s−1 K−1 (5.20)
T h
V 3
Ω~k d3 k = d k
π3
V dΩ 2 V dΩ 2
Ωk dkdΩ = 3
k dk = k dk
π 8 8π 3
2
V dΩ 2πν 2πdν V
Ων dνdΩ = 3
= 3 ν 2 dνdΩ
Figura 5.2: Emissão de radiação pela su- 8π c c c
perfı́cie de um corpo negro ideal. A radiação
é emitida com vetor de onda ~k fazendo um e a densidade de energia da radiação nesta direção fica
ângulo θ com a normal ao corpo negro, em
um ângulo sólido dΩ. (Reif)
2hν 3 1
u(ν)dνdΩ = dνdΩ (5.21)
c3 e khν
BT − 1
A intensidade da radiação (energia emitida por unidade de tempo por unidade de área do corpo
negro, ou fluxo de energia) na frequência ν e ângulo sólido dΩ fica então:
e como
π π/2 1
1
Z Z Z Z
cos θdΩ = dφ cos θ sin θdθ = 2π udu = 2π =π (5.25)
0 0 0 2
5.2. EFEITO FOTOELÉTRICO 65
temos
I(ν)dν = πu(ν)c dν
2πhν 3 1
→ I(ν)dν = dν (5.26)
c2 e khν
BT − 1
2πhν 3 1
Z Z
I = I(ν)dν = 2 hν dν (5.27)
c e kB T − 1
Mudando x = βhν, i.e. ν = x/hβ e dν = dx/hβ, temos
2πh(x/hβ)3 1 dx
Z
I = (5.28)
c2 ex − 1 hβ
2π x3
Z
= 2 3 4 dx (5.29)
c h β ex − 1
Como
x3 π4
Z
dx = (5.30)
ex − 1 15
temos
2πkB4 T4 4
2π 5 kB
4
π
I= 2 3
= T4
c h 15 15c2 h3
I = σT 4 (5.31)
onde
2π 5 kB
4
σ= = 5.67 × 10−8 Kg s−3 K−4 (Constante de Stefan-Boltzmann) (5.32)
15c2 h3
E1 = E2
K1 + U 1 = K2 + U 2
→ K1 = K2 − (U2 − U1 ) (5.33)
K1 = K2 − e∆V (5.34)
Vamos agora considerar a situação limite em que o elétron tem energia cinética máxima em 1
(i.e. velocidade totalmente horizontal), ou seja K1 = Kmax . Vamos supor também que o elétron
chega em C com energia cinética nula, i.e. K2 = 0. Como o elétron mais energético acaba não
chegando em C, nenhum outro elétron chega, e portanto i = 0, ou seja ∆V = −VF . Assim temos
Por outro lado, a energia da radiação Erad é usada para i) liberar o elétron do átomo e ii) dar
essa energia cinética Kmax ao elétron. A energia necessária para quebrar a ligação do elétron ao
átomo é denotada W e chama-se função trabalho. Portanto, temos Erad = W + Kmax , ou seja
Podemos então confrontar as espectativas baseadas na teoria clássica da radiação, com o que se
observa de fato:
Classicamente, como Erad cresce com I, espera-se que VF também cresça com I. Além disso,
como Erad depende apenas de I, mudando a frequência ν, nada deveria ocorrer com VF . Ademais,
qualquer que fosse a frequência, aumentando I, eventualmente Erad > W e haveria corrente.
Entretanto, como vimos, o que se observa é que VF não depende de I e depende de ν. E existe
um valor mı́nimo ν0 tal que, para haver corrente, é preciso que ν > ν0 .
Para explicar os fatos observados, Einstein retomou a hipótese de Planck da quantização da
radiação, supondo que ela é formada por fótons, i.e. pacotes de luz. A energia de cada fóton da
radiação é dada por
Erad = hν (5.38)
eVF = hν − W (5.39)
68 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
Temos que
Figura 5.7: Potencial de freamento VF em
função da frequência ν da radiação para dois h W
VF = ν− (5.40)
metais de materiais diferentes. (Serway) e e
Portanto, medindo VF em função de ν, temos que a inclinação do gráfico é tan θ = h/e, i.e.
pode ser usada para medir a constante de Planck.
Por outro lado, a interseçao com o eixo x ocorre em VF = 0, i.e. em ν0 = W/h, e pode ser
usada para medir a função trabalho W do material. Além disso, a projeção da reta ocorre em
VF = −W/e e também dá a função trabalho.
h
L = mvr = n, n = 1, 2, 3, ... (5.41)
2π
onde h é a constante de Planck. Lembre-se que h de fato tem unidade de momento angular. Com
esse modelo, podemos calcular as orbitas possiveis do eletron, bem como as energias nessas orbitas,
como faremos a seguir. Bohr também ganharia o prêmio Nobel em 1922 por esse modelo atômico.
5.3. ÁTOMO DE BOHR 69
5.3.1 Órbitas
Vemos acima que também v e r dependem do inteiro n, e portanto denotamos vn e rn para as
órbitas possiveis. Temos
h nh
mvn rn = n → vn = (5.42)
2π 2πmrn
Classicamente, o elétron sofre a Força de Coulomb da atração com o próton, que também deve
ser a força centrı́peta da órbita:
2
1 e2
m nh
= (5.45)
4πǫ0 rn2 rn 2πmrn
ǫ 0 n 2 h2
rn = Raios orbitais (5.46)
πme2
ǫ 0 h2
a0 = = 5.29 × 10−11 m (Raio de Bohr) (5.47)
πme2
rn = n 2 a 0 (5.48)
e2
vn = (5.49)
ǫ0 2nh
5.3.2 Energias
O elétron tem energia cinética e potencial enquanto se move ao redor do núcleo. Estas também
serão quantizadas devido às quantizações de vn e rn :
2
e2 me4
1 1
Kn = mvn2 = m → Kn = (Cinética) (5.50)
2 2 ǫ0 2nh 8n2 h2 ǫ20
1 e2 e2 πme2 me4
Un = − = − → U n = − (Potencial) (5.51)
4πǫ20 rn 4πǫ20 ǫ0 n2 h2 4n2 h2 ǫ20
70 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
me4
En = K n + U n → En = − Nı́veis Energéticos (5.52)
8n2 h2 ǫ20
me4
1 1
∆Eij = Ei − Ej = − (5.53)
8ǫ20 h2 i2 j 2
Como essa energia deve corresponder à energia do fóton emitido/absorvida, temos ∆Eij = hν =
hc/λ e portanto, podemos obter os possı́veis comprimentos de onda dos fótons emitidos/absorvidos:
me4
hc 1 1
= 2 2 −
λ 8ǫ0 h i2 j 2
me4
1 1 1
→ = 2 3 − (5.54)
λij 8ǫ0 h c i2 j 2
Definimos a constante de Rydberg:
me4
R= = 1.097 × 107 m−1 (5.55)
8ǫ20 h3 c
em termos da qual, temos
1 1 1
→ =R 2
− 2 (5.56)
λij i j
E 2 = m2 c 4 + p 2 c 2 (5.57)
Figura 5.8: Efeito Compton. Um fóton de comprimento de onda λ0 se espalha ao colidir com um elétron,
transmitindo a este parte de sua energia e passando a ter um comprimento de onda λ. (Halliday)
Vamos primeiro assumir que o eletron está livre, o que é aproximadamente válido para os
elétrons em camadas superficiais do átomo. Usamos então as leis de conservação para o sistema
isolado fóton-elétron:
0 = pγ sin θ − pe sin φ
Eγ
0 = sin θ − pe sin φ
c
Eγ
→ sin φ = sin θ (5.59)
pe c
Conservação da energia:
Eγ0 + Ee0 = Eγ + Ee
Eγ0 + me c2 = Eγ + m2e c4 + p2e c2
p
ou ainda
1 1 1
− = (1 − cos θ) (5.62)
Eγ Eγ0 me c 2
h
∆λ = λ − λ0 = (1 − cos θ) (Efeito Compton) (5.63)
me c
Por outro lado, se o elétron estiver preso ao átomo, o fóton terá que transmitir seu momento a
todo o átomo, não apenas o elétron. Desta forma, a massa do elétron acima me deve ser substituı́da
pela massa do átomo ma , que é muito maior do que a massa de um unico elétron. Mesmo para o
átomo de hidrogênio, com apenas um próton no núcleo, temos ma = 1800me . Portanto, quando
o espalhamento acontece nesses eĺetrons, temos uma variação ∆λ muito menor do que no caso de
elétron livre. De fato podemos aproximar
Portanto, ao observar os fótons espalhados, esperamos alguns deles com o mesmo comprimento
de onda incidente, e outros com o comprimento diferindo do incidente pela Eq. 5.63. Foi exatamente
isso que Compton observou.
h
Eγ = hν e pγ = (Fótons) (5.65)
λ
Em 1924, de Broglie propôs que, similarmente, partı́culas como elétrons, até então vistos clas-
sicamente como corpúsculos, deveriam apresentar propriedades ondulatórias, tendo associados um
5.5. ONDAS DE DE BROGLIE 73
comprimento de onda que depende de seu momento linear, com exatamente a mesma relação que
relaciona momento e comprimento de onda da radiação.
h
λ= (Partı́culas) (5.66)
p
Essa proposta foi verificada experimentalmente, e deu a de Broglie o prêmio Nobel em 1929. Ou
seja, de Broglie ganhou o prêmio Nobel por converter a equação p = h/λ em λ = h/p e interpretar
isso de maneira correta !
Exemplo 1
Considere um fóton de radiação visı́vel, e.g. vermelha e λ = 700nm= 7.0 × 10−7 m. Temos
h 6.63 × 10−34 J.s
p= = = 9.47 × 10−28 Kg m/s (5.67)
λ 7 × 10−7 m
Exemplo 2
Considere um elétron (me = 9.11 × 10−31 Kg) com uma velocidade ve = 2 × 108 m/s= 2c/3. Este
elétron tem velocidade comparável à da luz e é portanto relativı́stico. Vamos usar as expressões
relativı́sticas para calcular sua energia e seu momento. Temos
E 2 = p2 c2 + m2 c4 , ou E = mc2 γ (5.68)
p = mγv (5.69)
2 2
K = E − mc = mc (γ − 1) (5.70)
p
onde γ = 1/ 1 − β 2 e β = v/c (5.71)
Para β = 2/3, temos γ ≈ 1.34. E para o elétron, temos
me c2 = 8.18 × 10−14 J = 5.11 × 105 eV = 511 keV. (5.72)
−13
E = 1.1 × 10 J = 684 keV (5.73)
−22
p = mγv = 1.8 × 10 kg m/s (5.74)
−14
K = 2.74 × 10 J = 174keV (5.75)
Note que o momento do elétron é muito menor do que o de um fóton de luz vermelha. Temos
então o comprimento de onda
h 6.63 × 10−34 J.s
λ= = = 3.7 × 10−12 m = 3.7 × 10−3 nm (5.76)
p 1.8 × 10−22 kg m/s
De fato, esse comprimento de onda é 100 vezes menor do que o raio de Bohr
Exemplo 3
Considere agora um elétron com energia cinética K = 54eV. Como essa energia é muito menor
que a energia de repouco do elétron, ele é não-relativı́stico, i.e. v ≪ c. Quando este é o caso, temos
β ≈ 0, γ ≈ 1 + β 2 /2, e as expressões se reduzem às clássicas:
p ≈ mv (5.77)
mv 2 p2
K ≈ = (5.78)
2 2m
mv 2
E ≈ mc2 + ≈ mc2 (5.79)
2
74 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
λ
∆θ ≈ (5.86)
a
e, portanto, os efeitos de difração só são observados quando λ ≈ a, ou seja, quando a largura
da fenda é da ordem do comprimento de onda da luz. Para luz vermelha, temos λ ≈ 700nm
= 7 × 10−7 m.
5.6. INTERFERÊNCIA DE ELÉTRONS 75
Por outro lado, para elétrons de energia ∼ 54 eV, temos λe ≈ 1.7 × 10−10 m, ou seja próximo ao
tamanho do átomo (lembre raio de Bohr a0 ≈ 0.5×10−10 m). Portanto precisamos de uma ”fenda”de
largura próxima ao tamanho do átomo para medirmos efeitos de interferência significativos nestes
elétrons. Qualquer fenda usual será muito maior do que isso, o que torna essa experiência não tão
fácil de se fazer como para a luz. Uma possibilidade é usar cristais, em que os átomos se arranjam de
maneira ordenada, e a luz pode ”difratar”pelo espaço entre os átomos, que é da ordem de 10−10 m.
Em 1927, Davisson e Germer fizeram uma experiência que comprovou o caráter ondulatório de
elétrons, usando cristais de nı́quel. Por esse feito, Davisson ganhou o prêmio Nobel em 1937. O
aparatus experimental usado é mostrado na Fig. 5.9
d sin θ = λ (5.91)
Figura 5.11: Intensidade de elétrons no ex-
perimento de Davisson-Germer. O pico em ou seja, quando a diferença de caminho entre dois raios
θ = 50o é explicado pela interferência cons-
espalhados de átomos adjacentes do cristal é igual a um
trutiva dos elétrons nesse ângulo, e demons-
tra a sua natureza ondulatória. (Young)
comprimento de onda do elétron.
Para d = 2.15 × 10−10 m e θ = 50o , eles obtiveram
em excelente acordo com o valor predito, e mostrando portanto que o pico observado era devido à
natureza ondulatoria do elétron.
Figura 5.12: Padrao de interferência de uma onda clássica (esquerda) e de uma partı́cula clássica (direita).
Para a onda clássica existe um padrão de interferência na intensidade resultante quando ambas as fendas
estão abertas. Já no caso da partı́cula classica, a distribuição de partı́culas é a superposição dos casos de
cada fenda individual, não havendo intereferência. (Nussenzveig)
Na Fig. 5.12, mostramos a intensidade de ondas clássicas apos passarem por uma fenda dupla
e a densidade de probabilidade de partı́culas clássicas ao serem ejetadas sobre a mesma fenda.
No caso de ondas clássicas, quando fechamos e.g a fenda 2, obtemos um padrão de intensidade
concentrado na região da fenda 1, e vice-versa. Mas quando abrimos ambas as fendas o padrão
5.6. INTERFERÊNCIA DE ELÉTRONS 77
resultante é de intereferencia:
É interessante notar que isso acontece mesmo se jogarmos um fóton da radiação por vez. Ou
seja, cada fóton interfere consigo mesmo, não necessariamente com outros. Assim, devemos concluir
que cada fóton passa por ambas as fendas ao mesmo tempo.
Já no caso de partı́culas clássicas, podemos falar da distribuição de partı́culas, ou da probabili-
dade de elas estarem em certa posição na tela de observação. Neste caso, temos as probabilidades
P1 e P2 para as fendas individuais. No caso de as duas fendas abertas, a probabilidade resultante
é a soma dos padrões de cada fenda:
P12 = P1 + P2 (5.95)
Figura 5.13: Padrão de interferência de um elétron quando ele só é detectado na tela de observação (esquerda)
e quando ele é detectado nas fendas para verificar por qual delas ele passou. No primeiro caso o elétron sofre
interferência, passando por ambas as fendas exatamente como a radiação. Já no segundo, o elétron age como
uma partı́cula clássica, já que a observação o força a ”passar”por apenas uma das fendas. (Nussenzveig)
Na Fig. 5.13, mostramos o experimento de fenda fupla, mas injetando eletrons, produzidos por
um fio aquecido.
No primeiro caso (esquerda), os elétrons são detectados apenas na tela de observação, e o
resultado para suas probabilidades são idênticos às intensidades de ondas clássicas. Ou seja, com
cada uma das fendas abertas, têm-se as probabilidades individuais P1 e P2 , enquanto no caso de as
duas fendas abertas, ocorre interferência dos elétrons, gerando o padrão de interferência. Novamente
isso acontece mesmo que enviemos um elétron de cada vez. Isso implica que o elétron de fato passa
por ambas as fendas, pois só assim ele sofreria interferência consigo proprio. Portanto, deve existir
uma função ψ(x) cujo quadrado dá a probabilidade P (x), i.e. que faça o papel do campo elétrico
das onda eletromagnética, ou seja
Essa função de onda de fato é o principal objeto de estudo na mecânica quântica. Vamos voltar
a ela no próximo capı́tulo quando iremos introduzir a equação que descreve essa função.
Já no segundo caso (direita), os elétrons são detectados na própria fenda, para sabermos por
qual delas ele ”passou”antes de que ele chegue à tela de observação final. Neste caso, o que se
78 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
P12 = P1 + P2 (5.98)
A explicação para isso é o chamado colapso da função de onda. No momento em que observamos
algo com caráter ondulatório (radiação, elétrons), nós forçamos essa entidade a mostrar o seu caráter
corpuscular. Em termos da função de onda, dizemos que a função de onda (que era algo espalhado
no espaço) colapsou para a posição de deteção (algo localizado).
Na mecânica quântica, a própria observação ”afeta”o resultado do que está sendo observado.
As naturezas ondulatórias e corpusculares, tanto de elétrons ou de fótons, se mostram em diferentes
situações, mas não ao mesmo tempo.
2π λ
a sin θ = π → θ ≈ sin θ = (5.99)
2λ a
Por outro lado,
py λ
tan θ = → py = px tan θ ≈ px θ = px
Figura 5.14: Difração de um elétron por uma px a
fenda de largura a. (Nussenzveig) px λ
→ py ≈ (5.100)
a
Só podemos ter o padrao de difracao se não medirmos a posicao por onde eletron passa na
fenda. Assim, mesmo que o eletron tenha inicialmente momento apenas na direcao x, ao passar
5.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA DE HEISENBERG 79
pela fenda nao sabemos sob qual angulo θ ele ira parar na tela, ou seja, nao sabemos o valor de py
adquirido ao difratar. Como ∼ 90% dos eletrons estao dentro do primeiro maximo, a incerteza em
py é pelo menos
px λ
∆py ≥ py ≈ (5.101)
a
Mas por de Broglie, λ = h/px , e portanto
px h
∆py ≥ → ∆py a ≥ h (5.102)
px a
Por fim, como a incerteza na coordenada y é a largura da fenda, ∆y = a, temos
∆py ∆y ≥ h (5.103)
~ h
∆x∆p ≥ , ~= (5.104)
2 2π
ou seja, em qualquer experimento, as incertezas na posiçao e no momento linear de uma partı́cula/sistema
só podem ter incertezas tais que a desigualdade acima seja válida. Em particular, se medimos a
posição com precisão infinita ∆x = 0 isso implica total desconhecimento do momento ∆p = ∞ e
vice-versa.
mv 2
E=K= , p = mv (5.105)
2
Temos, do principio de incerteza de Heisenberg
~ ~
∆p ≥ = (5.106)
2∆x 2v∆t
Por outro lado,
~ ~
∆E = mv∆v = v∆p ≥ v = (5.107)
2v∆t 2∆t
portanto
~
∆E∆t ≥ (5.108)
2
Interpretação: Não é possı́vel saber a energia de um sistema com precisão ∆E maior do que
~/2∆t onde ∆t é o tempo de existência do sistema.
80 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
Como
h h 2π
p= = = ~k (5.109)
λ 2π λ
podemos associar um vetor de onda ~k ao momento linear p~ = ~~k.
O formalismo da mecânica quântica mostra que essas funções ψ(x) e φ(p) estão relacionadas pela
Transformada de Fourier. A idéia é que qualquer função pode ser expandida em senos, cossenos
ou eikx . Neste sentido, ψ(x) é uma superposição de eikx com coeficientes φ(p) de vários p’s, e
vice-versa.
1
Z ∞
φ(k) = √ e−ikx ψ(x)dx, k = p/~ (5.110)
2π −∞
ou, em termos do momento:
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx (5.111)
2π~ −∞
1
Z ∞
ψ(x) = √ eipx/~ φ(p)dp (5.112)
2π~ −∞
1 1
ψ(x) = √ eik0 x = √ eip0 x/~ (5.113)
2π~ 2π~
Neste caso a função de onda no espaço de momentos fica
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1 1
Z ∞
= √ e−ipx/~ √ eip0 x/~ dx
2π~ −∞ 2π~
1
Z ∞
= e−i(p−p0 )x/~ dx
2π~ −∞
= δ(p − p0 ) (5.114)
5.7. PRINCÍPIO DE INCERTEZA DE HEISENBERG 81
i.e. o momento é bem localizado, mas temos incerteza infinita na posição da partı́cula, já que ψ(x)
oscila em todo o espaço.
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1
Z ∞
= √ e−ipx/~ δ(x − x0 )dx
2π~ −∞
1
= √ e−ipx0 /~ (5.116)
2π~
i.e. a posicao é bem localizada, mas temos incerteza infinita no momento da partı́cula, já que φ(p)
oscila em todo os momentos.
Exemplo: Pacote Gaussiano. Este caso corresponde a uma situação intermediária entre as duas
anteriores, em que conhecemos a posição da partı́cula (e.g. x = 0) com incerteza ∆x distribuı́da
de acordo com uma distribuição normal (Gaussiana). Portanto
1 x2
P (x) = |ψ(x)|2 = √ e− 2∆x2 (5.117)
2π∆x2
o que implica
1 2
− x 2
ψ(x) = e 4∆x (5.118)
(2π∆x2 )1/4
e portanto
1
Z ∞
φ(p) = √ e−ipx/~ ψ(x)dx
2π~ −∞
1 1 1
Z ∞
2
= √ e−ikx e−ax dx, a= (5.119)
2π~ (2π∆x 2 )1/4
−∞ 4∆x2
k2 p2 /~2
= (5.121)
4a ∆x2
temos
82 CAPÍTULO 5. MECÂNICA QUÂNTICA
p2
1 1 p
2 )e− (~/∆x)2
φ(p) = √ π(4∆x
2π~ (2π∆x2 )1/4
1/4 p2
4∆x2
−
= e 4(~/2∆x)2 (5.122)
2π~2
A Equação de Schrödinger
X = x (6.2)
d
P = −i~ (6.3)
dx
XΨ = xΨ (6.4)
dΨ
P Ψ = −i~ (6.5)
dx
A energia E também é promovida a um operador H. No caso comum em que a energia é dada pela
energia cinética mais uma energia potencial, o operador H é dado pela mesma função clássica, mas
promovendo x e p a operadores como acima:
P2
H = H(X, P ) = + U (X) (6.6)
2m
83
84 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
ou seja:
d 2
1
H = −i~ + U (x)
2m dx
~2 d 2
= − + U (x) (6.7)
2m dx2
Se a função de onda Ψ é um auto-estado (auto-vetor) do operador H, com auto-valor E, temos
HΨ = EΨ (6.8)
∂Ψ(x, t)
i~ = HΨ(x, t) (Eq. Schrödinger) (6.11)
∂t
Essa equação é a lei fundamental da mecânica quântica. Ela é equivalente à 2a Lei de Newton
F = ma que descreve a evolução temporal da posição de um sistema. Aqui a descrição é feita
para a função de onda, que dá a amplitude de probabilidade do sistema. Vamos assumir casos
estacionários, em que H não depende do tempo. Podemos assumir que a função de onda se separa:
∂
i~ [ψ(x)ψt (t)] = H[ψ(x)ψt (t)]
∂t
~2 d2 ψ(x)
dψt (t)
→ i~ψ(x) = ψt (t) − + U (x)ψ(x) (6.13)
dt 2m dx2
~2 d2 ψ(x)
1 dψt (t) 1
i~ = − + U (x)ψ(x) (6.14)
ψt (t) dt ψ(x) 2m dx2
6.3. EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER 85
Como o lado esquerdo depende apenas do tempo t, enquanto o lado direito depende apenas da posi-
cao x, a unica maneira de serem iguais é que sejam ambos iguais a uma constante, que identificamos
com a energia E. As equações ficam
dψt (t)
i~ = Eψt (t) (Eq. Schrödinger dependente do tempo) (6.15)
dt
~2 d2 ψ(x)
− + U (x)ψ(x) = Eψ(x) (Eq. Schrödinger independente do tempo) (6.16)
2m dx2
A solução da primeira equação é dada trivialmente por
Para encontrar ψ(x), bem como os nı́veis de energia E, precisamos resolver a equação HΨ = EΨ:
~2 d 2 ψ
− + [U (x) − E] ψ = 0 (6.18)
2m dx2
que pode ser escrita como
d2 ψ 2m
+ 2 [E − U (x)] ψ = 0 (6.19)
dx2 ~
Portanto só precisamos especificar a energia potencial U (x) do sistema para encontrar seus estados
possı́veis resolvendo a equação acima.
As soluções são portanto da forma
e tem probabilidade
Para o que nos interessa nos problemas a seguir, temos entao que φ e dφ/dx são sempre
contı́nuas, exceto quando U (x) for infinita, e neste caso dφ/dx podera ser descontı́nua.
86 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
d2 ψ 2mE
+ 2 ψ=0 (6.23)
dx2 ~
cuja solução fica
√
ikx −ikx p 2mE
ψ(x) = φ+ e + φ− e , onde k = = (6.24)
~ ~
e φ+ e φ− são constantes, que dão pesos às soluções com momento p e −p, respectivamente, para
uma dada energia E. Juntamente com a parte temporal, a solução completa fica
Ou seja,
L
1
Z
φ(km ) = dxeikm x ψ(x) (6.31)
L 0
6.5. PARTÍCULA NA CAIXA 87
Para uma função não periódica, basta tomar o limite L → ∞. Como n é inteiro, ∆n = 1, e o
espaçamento ∆kn = ∆n2π/L = 2π/L → 0, e kn = k fica contı́nua:
∞ ∞
X
ikn x L X
ψ(x) = lim ∆nφ(kn )e = lim ∆kn φ(kn )eikn x (6.32)
L→∞ L→∞ 2π n=−∞
∆kn →0 n=−∞ ∆kn →0
L
Z
= dkφ(k)eikx (6.33)
2π
√
Redefinindo φ(k) → 2πφ(k)/L (o que podiamos ter feito desde a Eq. 6.24), ficamos com
1
Z
ψ(x) = √ dkφ(k)eikx (6.34)
2π Z
1
φ(k) = √ dxφ(x)e−ikx (6.35)
2π
√
ou em termos de p = ~k, e φ(p) = φ(k)/ ~ temos
1
Z
ψ(x) = √ dpφ(p)eip/~x (6.36)
2π~ Z
1
φ(p) = √ dxφ(x)e−ip/~x (6.37)
2π~
Já na região II, a partı́cula satisfaz a Eq. de Schrödinger para uma partı́cula livre:
d2 ψII 2mE
2
+ 2 ψII = 0 (6.40)
dx ~
88 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
ou seja, são apenas possı́veis valores de k tais que k = nπ/L. Pela Eq. 7.36, isso implica que as
energia possı́veis são dadas por:
nπ 2 ~2
En = (6.48)
L 2m
n2 π 2 ~2
→ En = , (n = 1, 2, 3, ...) (6.49)
2mL2
Já as funções de onda possı́veis em II ficam (omitindo o ı́ndice II):
nπx
ψn (x) = A sin (6.50)
L
Neste exemplo, vemos algo que acontece com frequência na mecânica quântica: as condições
de contorno na função de onda gera a quantização dos nı́veis de energia. Apenas funções de ondas
que se ”encaixem”nessas condições são possı́veis, e somente as energia associadas são permitidas,
sendo todas as outras proibidas. Já tı́nhamos visto este efeito quando falamos da radiação térmica
de corpo negro dentro de uma caixa e contamos os estados possı́veis da radiação nesta caixa. A
situação aqui é similar, mas ao invés de termos a onda eletromagnética, temos a função de onda
quântica do sistema, que também tem natureza ondulatória. Esquematicamente, temos então:
Por fim, precisamos normalizar a função de onda. Como P (x) = |ψ(x)|2 e a integral desta
probabilidade em todo espaço deve ser 1, temos:
6.6. BARREIRA DE POTENCIAL E TUNELAMENTO 89
Z ∞ Z ∞
P (x)dx = |ψ(x)|2 dx = 1 (6.51)
0 0
o que implica
Z L nπx
2
1 = A dxsin2
0L
1 − cos 2nπx
Z L
2 L
= A dx
0 2
2nπx L
2 x L
= A − sin
2 4nπ L 0
L
= A2 (6.52)
2
e portanto
r
2
A= (6.53)
L
Assim,
r
2 nπx
ψn (x) = sin (6.54)
L L
Temos ∆x ≈ L/2 e ∆p = p2 − p1 = ~(k2 − k1 ) = ~π/L. Portanto
~π ~
∆x∆p ≈ > (6.55)
2 2
e verificamos que o princı́pio de incerteza é satisfeito neste caso.
Entretanto, como veremos, na mecânica quântica, existe uma probabilidade naõ nula de a
particula, não apenas passar para a região II, mas até mesmo chegar a região III. Quando isso
ocorre, dizemos que a particula sofreu tunelamento. A idéia é que ela fez um ”tunel secreto”e passou
para uma região classicamente proibida. Jogando um número grande de partı́culas, eventualmente
uma delas vai tunelar, pela lei da probabilidade.
A Eq. de Schrodinger é dada por
d2 ψ 2m
+ 2 (E − U (x)) ψ = 0 (6.57)
dx2 ~
e aqui vamos impor a continuidade tanto de ψ quanto de dψ/dx em x = ±a.
Para as regiões I e III, a partı́cula é livre temos
d2 ψ 2mE
2
= −k 2 ψ → Soluções : eikx , e−ikx , com k 2 = (Regiões I e III) (6.58)
dx ~2
E para a regiao II, temos um potencial constante. Como (U0 − E) > 0, temos
d2 ψ 2m(U0 − E)
2
= (k0 )2 ψ → Soluções : ek0 x , e−k0 x , com k02 = (Região II) (6.59)
dx ~2
Note que k 2 + k02 = 2mU0 /~2 . A solução completa fica:
Aeikx + Be−ikx
x < −a (Região I)
ψ(x) = Ce−k0 x + Dek0 x −a < x < a (Região II) (6.60)
Eeikx + F e−ikx x>a (Região III)
e sua derivada é
ikAeikx − ikBe−ikx
x < −a (Região I)
dψ(x)
= −k0 Ce−k0 x + k0 Dek0 x −a < x < a (Região II) (6.61)
dx
ikEeikx − ikF e−ikx x>a (Região III)
dψI dψII
(−a) = (−a)
dx dx
ik(Ae−ika − Beika ) = −k0 (Cek0 a − De−k0 a ) (6.63)
6.6. BARREIRA DE POTENCIAL E TUNELAMENTO 91
ik0 ik0
1+ k ek0 a+ika 1− k e−k0 a+ika
A 1 C C
= = M1 (6.66)
B 2 ik0
ik0
D D
1− k ek0 a−ika 1+ k e−k0 a−ika
ik ik
1− k0 ek0 a+ika 1+ k0 ek0 a−ika
C 1 E E
= = M2 (6.67)
D 2 F F
ik ik
1+ k0 e−k0 a+ika 1− k0 e−k0 a−ika
onde
iǫ iη
sinh(2k0 a) ei2ka
cosh(2k0 a) + 2 2 sinh(2k0 a)
M 1 M2 = (6.69)
− iη iǫ
e−i2ka
2 sinh(2k0 a) cosh(2k0 a) − 2 sinh(2k0 a)
onde
k0 k
ǫ= −
k k0
k0 k
η= + (6.70)
k k0
Note que
η 2 − ǫ2 = 4 (6.71)
92 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Vamos assumir que G = 0, caso que representa uma onda incidente da esquerda para a direita
e transmitida à região II e III, onde se move apenas para a direita. Neste caso
iǫ
A = cosh(2k0 a) + sinh(2k0 a) ei2ka F (6.72)
2
e temos
F e−2ika
= (6.73)
A cosh(2k0 a) + iǫ2 sinh(2k0 a)
1
T = 2
2
cosh (2k0 a) + ǫ4 sinh2 (2k0 a)
−1
ǫ2
2 2
= (1 + sinh (2k0 a)) + sinh (2k0 a)
4
2
−1
ǫ 2
= 1+ 1+ sinh (2k0 a)
4
(6.74)
Mas
2 !2
4 + ǫ2 η2 k02 + k 2 2mU0 /~2 U02
1 1
= = = p p = (6.75)
4 4 4 kk0 4 2mE/~2 2m(U0 − E)/~2 4E(U0 − E)
Portanto
−1
U02
T = 1+ sinh2 (2k0 a) (6.76)
4E(U0 − E)
Para uma barreira muito alta U0 ≫ E, temos (k0 a)2 = 2m(U0 − E)a2 /~2 ≫ 1, e temos
e2k0 a
sinh(2k0 a) ≈ ≫1 (6.77)
2
Portanto
−1
U02
T ≈ e4k0 a
4E(U0 − E)
16E(U0 − E) −4k0 a
→T ≈ e (6.78)
U02
o que indica que quando a barreira é muito alta, a transmissão é exponenciamente suprimida. Mas
ela ainda acontece, e com um número grande de partı́culas, eventualmente uma chegará da região
I à III, o que classicamente seria sempre impossı́vel.
6.7. OSCILADOR HARMÔNICO SIMPLES 93
mω 2 x2
U (x) = (6.79)
2
e a Eq. de Schrödinger fica:
d2 ψ 2m mω 2 2
+ 2 E− x ψ=0 (6.80)
dx2 ~ 2
ou
d2 ψ 2mE m2 ω 2 2
+ − x ψ=0 (6.81)
dx2 ~2 ~2
Para simplificar a equação, vamos propor uma mudança de variável x = by, com b sem unidades.
Como d/dx = (1/b)d/dy e d/dx2 = (1/b2 )d/dy 2 , a equação fica
d2 ψ 2mEb2 m2 ω 2 b4 2
+ − y ψ=0 (6.82)
dy 2 ~2 ~2
Portanto escolhemos
~
b2 = (6.83)
mω
mEb2 E
ǫ = = (6.84)
~2 ~ω
e temos
d2 ψ 2
+ 2ǫ − y ψ=0 (6.85)
dy 2
Examinamos agora a equação e sua solução em casos limite. No limite y → ∞, temos
d2 ψ
− y2ψ = 0 (6.86)
dy 2
cuja solução neste limite y → ∞ é:
2 /2
ψ = Ay m e±y , (6.87)
como podemos checar:
dψ 2 /2 2 /2
= Amy m−1 e±y ± Ay m+1 e±y (6.88)
dy
d2 ψ 2 /2 2 /2 2 /2 2 /2
= Am(m − 1)y m−2 e±y ± Amy m e±y ± A(m + 1)y m e±y + Ay m+2 e±y
dy 2
2 2 2 /2
= Am(m − 1)y m−2 e±y /2 ± A(2m + 1)my m e±y /2 + Ay m+2 e±y
m+2 ±y 2 /2 2m + 1 m(m − 1)
= Ay e 1± + y→∞
y2 y4
2 /2
−→ Ay m+2 e±y = y2ψ (6.89)
94 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Obviamente, devemos descartar a exponencial positiva, já que ela não permite que a integral
de |ψ|2 seja finita. Portanto
2 /2
ψ(x) = Ay m e−y y→∞ (6.90)
No limite y → 0, temos
d2 ψ
+ 2ǫψ = 0 (6.91)
dy 2
cuja solução é
√ √
ψ = A cos( 2ǫy) + B sin( 2ǫy) (6.92)
ψ = A + cy + O(y 2 ) (6.93)
onde
ym
y→∞
u(y) = (6.95)
A + cy y→0
2 2
Note que a proposta ψ = u(y)e−y /2 permite que, em princı́pio, tenhamos u(y) = y m ey para
2
y → ∞, pois isso leva a ψ = y m ey /2 , que também é solução formal da equação. Mas sabemos que
essa solução nao é fisicamente aceitável, e estamos descartando essa possibilidade.
Incluindo esse anzatz, obtemos uma equação para u(y):
d2 u du
− 2y + (2ǫ − 1)u = 0 . (6.96)
dy 2 dy
Assumindo para u(y) uma solução em série de potências, temos:
∞
X
u(y) = Cn y n (6.97)
n=0
∞
du X
→ = nCn y n−1 (6.98)
dy
n=1
∞ ∞
d2 u X
n−2
X
→ = n(n − 1)Cn y = (k + 2)(k + 1)Ck+2 y k (k = n − 2) (6.99)
dy 2
n=2 k=0
A igualdade implica que o termo entre colchetes deve ser identicamente nulo para qualquer n,
o que dá uma relação de recorrência para os coeficientes Cn :
2n − 2ǫ + 1
Cn+2 = Cn (6.102)
(n + 2)(n + 1)
Como a equação é de segunda ordem, temos duas constantes arbitrárias, C0 e C1 . Umas
vez especificadas essas constantes, todas as outras são determinadas pela relação de recorrência
Eq. 6.102. Portanto
u(y) = C0 + C1 y + C2 y 2 + C3 y3 + C4 y4 + C5 y5 + ...
= [C0 + C2 y 2 + C4 y 4 ...] + [C1 y + C3 y 3 + C5 y 5 ...]
C2 2 C4 C2 4 C3 3 C5 C3 5
= C0 1 + y + y ... + C1 y + y + y ... (6.103)
C0 C2 C0 C1 C3 C1
Quando n → ∞, temos
2
Cn+2 → Cn n→∞ (6.104)
n
2
Mas a série de y m ey dá
2
X y 2k X 1 X 1
y m ey = y m = y 2k+m = yn (6.105)
k! k! n
[(n − m)/2]!
k k
1
Cn = (6.106)
[(n − m)/2]!
e temos
Cn+2 [(n − m)/2]! [(n − m)/2]!
= =
Cn [(n + 2 − m)/2]! [(n + 2 − m)/2][(n + 2 − m)/2 − 1]!
[(n − m)/2]! 1 2
= = → (n → ∞) (6.107)
[(n + 2 − m)/2][(n − m)/2]! (n − m + 2)/2 n
2 2
Portanto, a série de u(y) cresce da mesma forma que y m ey , o que implica ψ = u(y)e−y /2 ∼
2
y ey /2 , que é exatamente a solução que havı́amos descartado anteriormente, por |ψ|2 não integrar
m
a valor finito ! Mais uma vez precisamos descartar esta solução de alguma forma.
2
A única alternativa para que o comportamento no infinito não seja a de u ∼ y m ey , mas sim
de u ∼ y m é que a série acima seja truncada em algum valor de n = m, i.e. Cn = 0 para algum
n = m. Se isso ocorrer, pela Eq. 6.102 Cn+2 = 0 e todos os coeficientes se anulam para n > m, ou
seja, a série passa a ser um polinômio de ordem m e não uma exponencial.
Isso ocorre se
1
2n − 2ǫ + 1 = 0 → ǫ= +n (6.108)
2
ou seja, como ǫ = E/hω, temos que a energia é quantizada:
1
En = + n hω (6.109)
2
96 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Já para as funções de onda temos que u(y) será um polinômio de ordem n. Podemos dividir as
soluções em:
1
E0 = ~ω (6.118)
2
mωx2
mω 1/4
ψ0 (x) = exp − (6.119)
π~ 2~
P2 mω 2 X 2
E= + (6.120)
2m 2
Mas se mudarmos X → P ′ /mω e equivalentemente P → mωX ′ , temos
P2 (mωX ′ )2 mω 2 (X ′ )2
= = (6.121)
2m 2m 2
mω 2 X 2 (mω 2 (P ′ /mω)2 (P ′ )2
= = (6.122)
2 2 2m
(6.123)
ou seja, o problema é totalmente equivalente ao original nessas novas variaveis. Assim, podemos
obter a função de onda simplesmente mudando x → p/mω e normalizando apropriadamente. Por
exemplo, para o estado fundamental, temos
1/4
p2
1
φ0 (p) = exp − (6.124)
π~mω 2~mω
√
ou seja, ∆p = ~mω. Portanto,
~ √
r
~
∆x∆p = ~mω = (6.125)
2mω 2
como esperado para o pacote gaussiano.
mv 2 mω 2 x2 mω 2 x20
E= + = (6.126)
2 2 2
98 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
dor para n = 100. A linha pontilhada indica o limite converge para o valor clássico da Eq. 6.131, como
clássico da Eq. 6.131, para o qual o valor médio de indicado na Fig. 6.4 para n = 100.
|ψn (x)|2 converge quando n → ∞. (Griffiths)
É por isso que, em situações cotidianas, em que n de fato é muito grande, osciladores como
pêndulos parecem ter as propriedades clássicas usuais, sem efeitos quânticos. Mas para osciladores
atômicos, as propriedades quânticas são importantes e, por vezes, dominantes.
Capı́tulo 7
Fı́sica Atômica
99
100 CAPÍTULO 7. FÍSICA ATÔMICA
sin2 θ d 1 d2 Φ 2m 2 2
dR sin θ d dΘ
r2 + sin θ + + 2 r sin θ [E − U (r)] = 0 (7.8)
R dr dr Θ dθ dθ Φ dφ2 ~
ou
sin2 θ d 1 d2 Φ
2 dR sin θ d dΘ 2m 2 2
r + sin θ + r sin θ [E − U (r)] = − (7.9)
R dr dr Θ dθ dθ ~2 Φ dφ2
O lado direito é função apenas de φ, enquanto o lado esquerdo é função apenas de r e θ. A única
maneira desta igualdade ser verdadeira é que ambos os lados sejam iguais a uma constante comum,
que designaremos m2 , e então:
1 d2 Φ
− = m2 (7.10)
Φ dφ2
ou seja,
d2 Φ
= −m2 Φ (7.11)
dφ2
e
sin2 θ d
2 dR sin θ d dΘ 2m
r + sin θ + 2 r2 sin2 θ [E − U (r)] = m2
R dr dr Θ dθ dθ ~
m2
1 d 2 dR 1 d dΘ 2m
r + sin θ + 2 r2 [E − U (r)] =
R dr dr Θ sin θ dθ ∂θ ~ sin2 θ
ou
m2
1 d 2 dR 2m 1 d dΘ
r + 2 r2 [E − U (r)] = 2 − Θ sin θ dθ sin θ (7.12)
R dr dr ~ sin θ ∂θ
Agora o lado esquerdo depende apenas de r, enquanto o lado dirieto depende apenas de φ, e
portanto ambos os lados devem ser iguais a uma nova constante. Por conveniência, e por já saber
o que há por vir a seguir, vamos chamar essa constante de l(l + 1), e assim:
m2
1 d dΘ
2 − Θ sin θ dθ sin θ
∂θ
= l(l + 1) (7.13)
sin θ
ou
m2 Θ
1 d dΘ
− sin θ + = l(l + 1)Θ (7.14)
sin θ dθ dθ sin2 θ
7.3. SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES ANGULARES 101
e
1 d 2 dR 2m 2
r + r [E − U (r)] = l(l + 1) (7.15)
R dr dr ~2
ou
~2 l(l + 1)
1 d 2 dR 2m
r + 2 E − U (r) − R=0 (7.16)
r2 dr dr ~ 2mr2
Com a separação de variáveis, transformamos uma equação com 3 derivadas parciais em 3 equações
ordinárias de uma variável cada.
d2 Φ(φ)
= −m2 Φ(φ) (7.17)
dφ2
cuja solução é
ou seja
eim0 = eim2π
1 = cos(m2π) + i sin(m2π) (7.20)
Esta condicao implica que m deve ser um numero inteiro (cos(m2π) = 1 e sin(m2π) = 0), ou seja:
m2 Θ
1 d dΘ
− sin θ + = l(l + 1)Θ
sin θ dθ dθ sin2 θ
1 d sin2 θ dΘ m2 Θ
→ + l(l − 1) − Θ=0
sin θ dθ sin θ dθ sin2 θ
(7.22)
a equação se torna
m2
d 2 dΘ
(1 − z ) + l(l + 1) − Θ=0 (7.24)
dz dz 1 − z2
ou
d2 Θ m2
2 dΘ
(1 − z ) 2 − 2z + l(l + 1) − Θ=0 (7.25)
dz dz 1 − z2
Essa é a Equação de Legendre associada. Para obter sua solução, considere primeiro a Equa cão de
Legendre, obtida com m = 0:
d 2 Pl dPl
(1 − z 2 ) − 2z + l(l + 1)Pl = 0 (7.26)
dz 2 dz
Pode-se mostrar que a solu cão que procuramos é dada por:
d|m| Pl (z)
Θ(z) = Plm (z) = (1 − z 2 )|m|/2 (7.27)
dz |m|
ou seja, para encontrar a solução que procuramos, i.e. os polinômios de Legendre associados Plm ,
basta encontrar os polinômios de Legendre Pl que sasisfazem a Eq. 7.25, e derivá-los |m| vezes de
acordo com a Eq. 7.27.
Para isso, similarmente ao caso do oscilador harmônico, propomos uma solução em série de
potências:
∞
X
Pl (z) = aj z j (7.28)
j=0
l = 0, 1, 2, 3, ... (7.30)
pois o coeficiente aj+2 = 0 quando j = l. Usando a Eq. 7.29, obtermos os polinômios de Legendre:
P0 (z) = 1 (7.31)
P1 (z) = z (7.32)
2
P2 (z) = 1 − 3z (7.33)
3
P3 (z) = 3z − 5z (7.34)
e a partir deles, podemos obter os polinomios de Legendre associados Plm , por diferenciação de Pl ,
|m| vezes. Como Pl é um polinômio de ordem l, podemos diferenciá-lo no máximo l vezes antes de
obter uma constante. Portanto |m| < l, ou seja, para cada valor de l, m pode ser
ou
m = ±l, ±(l − 2), ±(l − 3), ...0 (7.36)
Por exemplo, se l = 3, temos que os valores possı́ves de m são m = 0, ±1, ±2, ±3. Os polinômios
de Legendre Associados ficam:
P00 = 1 (7.37)
2 1/2
P10 = z, P1±1 = (1 − z ) (7.38)
2 2 1/2 2
P20 = 1 − 3z , P2±1 = (1 − z ) z, P2±2 = 1 − z (7.39)
(7.40)
A parte angular total da função de onda é proporcional aos chamados Harmônicos Esféricos:
Ylm (θ, φ) ∝ Θ(θ)Φ(φ) = eimφ Plm (cos θ) (7.41)
Portanto, para especificar a parte angular da função de onda, precisamos especificar dois
números quânticos l e m, sendo que m se relaciona com l pela equação acima. Mas qual o significado
fı́sico desses números?
1 ∂2
1 ∂ ∂
L2 = −~2 sin θ + (7.47)
sin θ ∂θ ∂θ sin2 θ ∂φ2
∂2
L2z = −~2 2 (7.48)
∂φ
Vamos supor que existam funções A(θ, φ) = Θ(θ)Φ(φ) que sejam autofunções de L2 e Lz , ou seja:
∂2
−~2 A = L2z A (A = ΘΦ)
∂φ2
d2 Φ L2
→ 2
= − 2z Φ (7.49)
dφ ~
104 CAPÍTULO 7. FÍSICA ATÔMICA
Lz = m~ (7.50)
1 ∂2A
2 1 ∂A ∂A
−~ sin θ + = L2 A (A = ΘΦ)
sin θ ∂θ ∂θ sin2 θ ∂φ2
m2 Θ L2
1 dΘ dΘ
→− sin θ + 2 = Θ (7.51)
sin θ dθ dθ sin θ ~2
Portanto, o número quântico l é tal que o momento angular total é quantizado em unidades de ~
como acima. Isso quase corresponde à quantizacao imposta por Bohr, mas não exatamente. Note
que como |mmax | = l, temos que necessariamente L > Lz , já que l(l + 1) > l2 = m2max . Qualitati-
vamente, isso ocorre porque não podemos saber as três componentes Lx , Ly , Lz simultaneamente.
Caso L = Lz fosse possı́vel, saberı́amos que Lx = Ly = 0 exatamente. As relações de incerteza de
L são consequência de sua dependência em x e p e das relações de incerteza destas.
e2
U (r) = − (7.54)
4πǫ0 r
ou seja,
e2 ~2 l(l + 1)
1 d 2 dR 2me
r + 2 E+ − R=0 (7.55)
r2 dr dr ~ 4πǫ0 r 2me r2
ρ = 2βr (7.56)
2me E
β2 = (7.57)
~2
me e2
n = (7.58)
4πǫ0 ~2 β
1 d 2 dR 1 l(l + 1) n
ρ + − − + R=0 (7.59)
ρ2 dρ dρ 4 ρ2 ρ
Quando ρ → ∞, temos
1 d 2 dR R
ρ = (ρ → ∞) (7.60)
ρ2 dρ dρ 4
cuja solução neste limite é
2 /2
R(ρ) = e−ρ (ρ → ∞) (7.61)
d2 F
2 dF n − 1 l(l + 1)
+ −1 + − F =0 (7.63)
dρ2 ρ dρ ρ ρ2
Propomos uma solução em séries:
∞
X
F (ρ) = ρs aj ρj , s≥0 (7.64)
j=0
onde o termo ρs garante que F (0) é finita, já que os próprios coeficientes da equação diferencial
parecem divergir em ρ = 0. Substituindo na equação, obtemos
∞
X
s−2
[s(s + 1) − l(l + 1)] a0 ρ + {[(s + j + 1)(s + j + 2) − l(l + 1)] aj+1 − (s + j + 1 − n)aj } ρs+j−1 = 0
j=0
n = l + 1, l + 2, l + 3, ... (7.68)
106 CAPÍTULO 7. FÍSICA ATÔMICA
E para nlm = 100, temos R10 ∝ e−r/na0 e Y00 ∝ const. Assim, normalizando, temos:
s
1 −r/a0
ψ100 = e (7.81)
πa30
Figura 7.1: Densidade de probabilidade P100 (r) do elétron no átomo de Hidrogênio no estado fundamental
(n, lm, = 1, 0, 0). O máximo ocorre no raio de Bohr a0 . (Serway)
108 CAPÍTULO 7. FÍSICA ATÔMICA
me4 13.6 eV
En = − 2 =− (7.85)
2
8ǫ0 h n 2 n2
me4
R= = 1.097 × 107 m−1 . (7.88)
8ǫ20 h3 c
Podemos então classificar as emissões possı́veis no átomo em séries de acordo com o valor de nf ,
como na Tab. 7.1 .
Estatı́stica Quântica
Neste caso, quando trocamos as partı́culas de posição, i.e. x1 ↔ x2 , obtemos um novo estado
distinguı́vel do anterior:
Mas como as partı́culas são idênticas, a mudança x1 ↔ x2 deve produzir um estado indistinguı́vel
do estado inicial ψ(x1 , x2 ), ou seja o novo estado ψ(x2 , x1 ) é dado por
pois a constante muda apenas a ”fase”, ou a normalização, da função de onda. Por outro lado, se
mudarmos as posições novamente x2 ↔ x1 , obtemos:
ou seja
c = ±1 (8.7)
Portanto, quando mudamos as partı́culas de posição, a função de onda tem apenas duas opções: 1)
permanecer exatamente igual ou 2) mudar de sinal.
109
110 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
Obviamente, a função de onda expressa na Eq. 8.3 não se encaixa em nenhum desses casos, já
que lá a troca de partı́culas produz um novo estado, distinguı́vel daquele antes da troca. Portanto,
para partı́culas idênticas, a função de onda do sistema de 2 partı́culas deve ter uma das duas formas:
1
ψS (x1 , x2 ) = √ [ψa (x1 )ψb (x2 ) + ψa (x2 )ψb (x1 )] (Simétrica) (8.8)
2
1
ψA (x1 , x2 ) = √ [ψa (x1 )ψb (x2 ) − ψa (x2 )ψb (x1 )] (Anti-simétrica) (8.9)
2
Essas duas possibilidades tem as propriedades de que:
ψS (x2 , x1 ) = ψS (x1 , x2 ) (8.10)
ψA (x2 , x1 ) = −ψA (x1 , x2 ) (8.11)
Uma partı́cula deve escolher de uma vez por todas se terá função de onda simétrica ou anti-
simétrica. Suponha que uma dada partı́cula (e.g. um elétron) tivesse funções de onda tanto ψS como
ψA . Neste caso, ela teria também combinações lineares αψS +βψA , que não são nem simétricas, nem
anti-simétricas, gerando uma contradição. Portanto, se medirmos que uma partı́cula tem função
de onda simétrica, sabemos que esta é uma propriedade intrı́nsica dela.
Estatı́stica Clássica: Neste caso, temos particulas são distinguı́veis e qualquer número de
partı́culas pode estar em qualquer estado. As 9 configurações possı́veis são mostradas na Tab. 8.1
As partı́culas satisfazem a Estatı́stica de Maxwell-Boltzmann (MB)
1 2 3
AB
AB
AB
A B
B A
A B
B A
A B
B A
Estatı́stica de Bósons: Neste caso, as partı́culas sõ idênticas (A=B) e qualquer número de
partı́culas pode estar em qualquer estado. As 6 configurações possı́veis são mostradas na Tab. 8.2
As partı́culas satisfazem a Estatı́stitica de Bose-Einstein (BE).
1 2 3
AA
AA
AA
A A
A A
A A
Estatı́stica de Férmions: Neste caso, as partı́culas são idênticas (A=B) e pode haver no
máximo 1 partı́cula em cada estado (Princı́pio de Exclusão). As 3 configurações possı́veis sao
mostradas na Tab. 8.3 As partı́culas satisfazem a Estatı́stitica de Fermi-Dirac (FD).
112 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
1 2 3
A A
A A
A A
onde temos Nr partı́culas no estado r, com energia ǫr cada uma. Gostarı́amos de saber o número
médio N̄r de partı́culas no estado r.
No caso clássico de um gás ideal, os estados eram contı́nuos e vimos que
2 /2
N̄ (v) ∝ e−βmv ou N̄ (E) ∝ e−βE (8.22)
No caso quântico, precisamos retornar às medias calculadas usando a distribuição grand-canônica:
Com Nr partı́culas no estado r, cada uma com energia ǫr , temos que a energia total Er no
estado r é dada por:
Er = N r ǫ r (8.24)
8.2. ESTATÍSTICA QUÂNTICA: ENSEMBLE GRAND-CANÔNICO 113
Assim,
′
P (Er , Nr ) = Ce−β(ǫr −µ)Nr = Ce−βǫr Nr (8.25)
ǫ′r = ǫr − µ (8.26)
onde a soma é feita sobre todas as configurações possı́veis do sistema. Temos então
P∞ −βǫ′ Ns
− β1 ∂ǫ∂′ s=1 e
s
1 1 ∂Zg 1 ∂ ln Zg
r
N̄r = P∞ −βǫ′ N = − ′
= − (8.28)
s=1 e
s s β Zg ∂ǫr β ∂ǫ′r
Com as energias ǫ′s fixadas pelos estados quânticos, as diferentes configurações são obtidas variando
os números (N1 , N2 , ..., Nr , ...) de 0 a ∞ e temos, equivalentemente:
P −β(ǫ′1 N1 +ǫ′2 N2 +....ǫ′r Nr +...)
P ′ P ′ ′
N1 ,N2 ,...Nr ,... Nr e Nr e−βǫr Nr Ns 6=Nr e−β(ǫ1 N1 +ǫ2 N2 +....)
Nr
N̄r = P −β(ǫ′1 N1 +ǫ′2 N2 +....ǫ′r Nr +...)
= P −βǫ′r Nr
P −β(ǫ′1 N1 +ǫ′2 N2 +....)
N1 ,N2 ,...Nr ,... e Nr e Ns 6=Nr e
(8.30)
Portanto
′
1 ∂ −βǫ′r 1 −βe−βǫr 1
N̄r = − ′
ln(1 + e ) = − −βǫ ′ = βǫ ′ (8.35)
β ∂ǫr β1+e r e r +1
ou seja,
1
N̄r = Fermi-Dirac (8.36)
eβ(ǫr −µ) +1
Portanto
′ ′ ′ ′
e−βǫr Sr = e−βǫr + e−2βǫr + e−3βǫr + ... (8.40)
e subtraindo as duas equações, após cancelamentos, obtemos
′ 1
Sr − e−βǫr Sr = 1 → Sr = (8.41)
1 − e−βǫ′r
Assim
′
1 ∂ −βǫ′r −1 1 βe−βǫr 1
N̄r = − ′
ln(1 − e ) = −βǫ ′ = βǫ ′ (8.42)
β ∂ǫr β1−e r e −1r
ou seja,
1
N̄r = Bose-Einstein (8.43)
eβ(ǫr −µ) − 1
8.2. ESTATÍSTICA QUÂNTICA: ENSEMBLE GRAND-CANÔNICO 115
Fótons
No caso particular de fótons, a energia pode variar independente do número de partı́culas, já que
fótons podem ser criados/destruı́dos sem restrição. Isso implica µ = 0, ou seja obtemos novamente
a distribuição de Planck:
1
N̄r = Distribuição de Planck (Fótons) (8.44)
eβǫr −1
temos então
!N
X
−βǫ′1 −βǫ′2 −βǫ′r
Zg = (e +e + ...)N = e (8.48)
r
Portanto
!
X
−βǫ′r
ln Zg = N ln e (8.49)
r
e temos
′ ′
1 ∂ ln Zg N −βe−βǫr e−βǫr
N̄r = − = − P = N P (8.50)
β ∂ǫ′r β r e−βǫr
′
re
−βǫ′r
e−βǫr
N̄r = N P −βǫr Maxwell-Boltzmann (8.51)
re
e obviamente
X
N̄r = N (8.52)
r
Ou seja, reobtemos o resultado da estatı́stica clássica, mesmo com estados quânticos.
116 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
X X 1
N= N̄r = (8.53)
r r
eβ(ǫr −µ) ±1
Mesmo no caso de fótons, em que este número não é fixo, ainda assim ele deve se manter finito.
′
No limite de baixas densidades, temos N ≪ 1 o que implica que cada N̄r ≪ 1, e eβǫr ≫ 1.
Já no limite de altas temperaturas, β → 0, e os termos de energias ǫr mais altas, i.e. N̄r com
r mais alto, tendem a contribuir para a somatória. Para que N continue sendo finito novamente é
′
preciso que N̄r ≪ 1, o que ocorre com µ(T ) negativo o suficiente e implica eβǫr ≫ 1.
Portanto em baixas densidades e/ou altas temperaturas, ambas as distribuições quânticas (BE
e FD) se aproximam de
1 ′
N̄r = ≈ e−βǫr (MB) (8.54)
eβǫ′r ±1
8.2.5 Comparação
8.3.1 Configurações
Suponha que tenhamos estados degenerados, i.e. estados distintintos mas com a mesma energia.
Vimos que isso ocorre, por exemplo, no átomo de Hidrogênio, onde os estados eram caracterizados
por 4 números quânticos (n, l, m, mz ), mas a energia dependia apenas de n. Portanto, havia vários
estados do elétron com a mesma energia.
Vamos supor então que temos di estados com energia ǫi e que vamos distribuir Ni partı́culas
nesses di estados:
ǫ1 ǫ2 ǫi
z }| {z }| { z }| {
•| • | • |...| • | | | •| • | • |...| • | | | ... •| • | • | |...| • | | | ...
| {z }| {z } | {z }
d1 estados | | | d2 estados | | | di estados | | |
N1 partı́culas •••• N2 partı́culas •••• Ni partı́culas ••••
Distinguı́veis
Vamos considerar primeiro o caso da estatı́stica clássica, em que as partı́culas sao distinguı́veis e
pode haver qualquer número de partı́culas em qualquer estado. Uma configuração tı́pica nos nı́veis
de energia ǫi é mostrada abaixo:
ǫi
z }| {
•| × ♦△||...|| | |N
| {z }
di estados | | | | | |
Ni partı́culas •×♦△N
ii) Distribuir as N1 partı́culas entre os d1 estados. Cada uma das N1 partı́culas terá d1 escolhas,
já que elas podem inclusive ocupar os mesmos estados. Portanto o número de maneiras de fazer
isso é
N ! dN
1
1
ǫ1 : Ω(N1 ) = (8.58)
N1 ! (N − N1 )!
•×| | : (AB, 0, 0)
| • ×| : (0, AB, 0)
| |•× : (0, 0, AB)
•| × | : (A, B, 0)
×| • | : (B, A, 0)
•| |× : (A, 0, B)
×| |• : (B, 0, A)
| • |× : (0, A, B)
| × |• : (0, B, A)
- Para os estados de energia ǫ2 , procedemos da mesma forma, mas como já usamos N1 partı́culas,
somente (N − N1 ) estão disponı́veis. Portanto, fazendo N → N − −1, temos:
(N − N1 )! dN
2
2
ǫ2 : Ω(N2 ) = (8.59)
N2 ! (N − N1 − N2 )!
ou seja
∞
Y dN
n
n
Ω(N1 , N2 , ...) = N ! (8.61)
Nn !
n=1
8.3. ESTATÍSTICA QUÂNTICA: ENSEMBLE MICRO-CANÔNICO 119
Bósons
Para bósons a tarefa é mais facil, já que as partı́culas são idênticas. Portanto, não precisamos
”escolher”Ni partı́culas dentre as N disponı́veis, já que todas produzirão uma mesma configuração.
Isso elimina o passo i) do caso anterior. A única coisa a se determinar é o numero de manei-
ras de distribuir as Ni partı́culas idênticas em di estados. Podemos pensar que temos Ni bolas
representando partı́culas identicas e di − 1 partições que limitam os di estados:
ǫi
z }| {
•| • • • •{z
• • • •...•} | | | | | | |...|
| {z }
Ni particulas di −1 particoes
ǫi
z }| {
• • •| • | | • •|...| • | | |• (8.62)
| {z }
di estados | | |
Ni partı́culas ••••
(N1 + d1 − 1)!
ǫ1 : Ω(N1 ) = (8.63)
N1 ! (d1 − 1)!
••| | : (AA, 0, 0)
| • •| : (0, AA, 0)
| |•• : (0, 0, AA)
•| • | : (A, A, 0)
•| |• : (A, 0, A)
| • |• : (0, A, A)
∞
Y (Nn + dn − 1)!
Ω(N1 , N2 , ...) = (8.64)
Nn !(dn − 1)!
n=1
120 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
Férmions
Para férmions a situação é parecida com a de bósons, mas as partı́culas devem satisfazer o princı́pio
de exclusão, i.e. pode haver no máximo uma partı́cula por estado.
Uma configuração tı́pica para férmions é mostrada abaixo:
ǫi
z }| {
•| | • | • | • | | |...| • | |• (8.65)
| {z }
di estados | | |
Ni partı́culas ••••
•| • | : (A, A, 0)
•| |• : (A, 0, A)
| • |• : (0, A, A)
(N − N1 )! dN
2
2
ǫ2 : Ω(N2 ) = (8.67)
N2 ! (N − N1 − N2 )!
- O mesmo se aplica para os estados de energia ǫ2 e todas as outras, e o número total de
configurações fica:
∞
Y dn !
Ω(N1 , N2 , ...) = (8.68)
Nn !(dn − Nn )!
n=1
Esta maximização pode ser feita pelo método de multiplicadores de Lagrange. Maximizar ln Ω(N1 , N2 , ...)
sujeito aos vı́nculos acima é equivalente a maximizar a função G(N1 , N2 , ..., α, β):
" ∞
# " ∞
#
X X
G(N1 , N2 , ...) = ln Ω(N1 , N2 , ...) + α N − Nn + β E − Nn ǫ n (8.70)
n=1 n=1
8.3. ESTATÍSTICA QUÂNTICA: ENSEMBLE MICRO-CANÔNICO 121
∂G ∂G ∂G
=0 e = =0 (8.71)
∂Nn ∂α ∂β
A primeira condicão garante que ln Ω é máxima e determina a distribuição Nn em que isso ocorre.
As outras duas condições garantem que os vı́nculos são satisfeitos.
obtendo
∞
X
G = ln N ! + αN + βE + [Nn ln dn − Nn ln Nn + Nn − αNn + βǫn Nn ] (8.74)
n=1
Portanto
∂G
= ln dn − ln Nn − 1 + 1 − α − βǫn = 0 (8.75)
∂Nn
o que implica
ou seja
∞
X
G ≈ [(Nn + dn − 1) ln(Nn + dn − 1) − (Nn + dn − 1) − Nn ln Nn − Nn − αNn − βǫn Nn ]
n=1
X∞
− [ln(dn − 1)!] + αN + βE
n=1
122 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
Portanto
∂G
= ln(Nn + dn − 1) − ln Nn − α − βǫn = 0
∂Nn
(8.77)
o que implica
dn − 1 dn − 1
ln 1 + = α + βǫn → = eα+βǫn − 1 (8.78)
Nn Nn
ou seja
dn − 1
Nn = (Bose-Einstein) (8.79)
eα+βǫn − 1
ou seja, re-obtemos a distribuiçao de Bose-Einstein. Note que a constante dn − 1 pode ser absorvida
na normalização da distribuição.
Distribuição de Fótons
alpha=0 No caso de fótons, não existe o vinculo no numero de particulas. Portanto, tudo é igual
ao caso geral de bosons, mas com α = 0:
dn − 1
Nn ∝ (Bose-Einstein) (8.80)
eβǫn − 1
ou seja, re-obtemos a distribuicao de Bose-Einstein. Note que a constante dn −1 pode ser absorvida
na normalizacao da distribuicão.
Portanto
∂G
= − ln Nn + ln(dn − Nn ) − α − βǫn = 0
∂Nn
(8.81)
8.4. APLICAÇÕES 123
o que implica
dn dn
ln −1 = α + βǫn → = eα+βǫn + 1 (8.82)
Nn Nn
ou seja
dn
Nn = α+βǫ
(Fermi-Dirac) (8.83)
e n +1
ou seja, re-obtemos a distribuição de Fermi-Dirac. Novamente a constante dn pode ser absorvida
na normalização da distribuição.
8.4 Aplicações
8.4.1 Gás de Bósons
Considere um gás de bósons, e.g. um gás de fótons, mas vamos manter µ 6= 0 para generalidade.
Temos
1
N̄r = (8.84)
eβ(ǫr −µ) −1
e o número total de partı́culas é
X X
N= N̄r = N (ǫn )Ω(ǫn )∆n (8.85)
r n
onde Ω(ǫn ) é o número de estados com energia ǫn e ∆n ≈ 1. Supondo bósons em uma caixa
quadrada de comprimento L, os estados de energia são:
h2 n 2
ǫn = , onde n2 = n2x + n2y + n2z (8.86)
8mL2
O número de estados é contado por n, e em um intervalo ∆n ≈ dn fica:
4πn2 πn2 πn
Ω(ǫn )dn = dn = dn = (ndn) (8.87)
8 2 2
Como
1/2
h2 n 2 8mL2
ǫ = ou n= ǫ1/2
8mL2 h2
h2 8mL2 dǫ
→ dǫ = 2ndn ou ndn =
8mL2 h2 2
Portanto
1/2 3/2
π 8mL2 1/2 8mL2 dǫ π 8mL2 4πL3
Ω(n)dn = ǫ = ǫ1/2 dǫ = (2m3 )1/2 ǫ1/2 dǫ
2 h2 h2 2 4 h2 h3
e com V = L3 , temos
4πV
Ω(ǫ)dǫ = (2m3 )1/2 ǫ1/2 dǫ (8.88)
h3
124 CAPÍTULO 8. ESTATÍSTICA QUÂNTICA
Para m, T grande, devemos ter eβµ → 0, pois N é fixo. Isso ocorre se µ → −∞. Neste caso, temos
(2πmkB T )3/2 βµ βµ N h3
N≈ V e ou e ≈ (8.91)
h3 (2πmkB T )3/2 V
Ja a energia total é dada por
Z ∞ Z ∞
4πV 3 1/2 ǫ3/2
E = N (ǫ)Ω(ǫ) ǫ dǫ = 3 (2m ) dǫ
0 h 0 eβ(ǫ−µ) − 1
(2πmkB T )3/2 3 βµ 1 βµ 1 2βµ
≈ V kB T e 1 + 5/2 e + 5/2 e + ... (8.92)
h3 2 2 3
Para m, T grandes, temos entao
1
E 3 1 βµ 1 βµ 3 1
1 − 3/2 − 5/2 eβµ
≈ kB T 1 + 5/2 e 1 − 3/2 e = kB T (8.93)
N 2 2 2 2 |2 {z 2 }
1/22/5
ou
E 3
1 N h3
≈ kB T 1 − 5/2 (8.94)
N |2 {z } | 2 V (2πmk T )3/2
{z B
}
Clássico correção quântica de 1a ordem
Portanto a energia média de um gás de bósons a altas temperaturas é menor do que a de um gas
clássico, já que os bósons tendem a se aglomerar em energias mais baixas, diminuindo a energia
média.
Condensado de Bose-Einstein
Para que N (ǫr ) ≥ 0 para todos os estados, devemos ter
Se ǫmin = ǫ0 ≈ 0, então
µ≤0 (8.96)
8.4. APLICAÇÕES 125
Mas µ = µ(T ), e existe uma temperatura crı́tica Tc na qual µ = 0. Ela é determinada por
(2πmkB Tc )3/2 1 1
N= V 1 + + + ... (8.97)
h3 23/2 33/2
Pode-se mostrar que para T < Tc , a partı́culas tendem a se aglomerar no estado fundamental ǫ0 :
condensado de Bose-Einstein. Esse efeito foi verificado experimentalmente em 1995 por Cornell,
Ketterle e Wieman, que ganharam o prêmio Nobel em 2001.
Portanto
Z ǫF
8πV 16πV (2m3 )1/2 3/2
N = (2m3 )1/2 ǫ1/2 dǫ = ǫF (8.101)
h3 0 3h3
ou
2/3
h2 3N
ǫF = (Energia de Fermi) (8.102)
8m πV
ou
" #
3 h2 3N 2/3
E= N (8.105)
5 8m πV
O gás de férmions exerce uma pressão nas paredes de um recipiente, quando se expande de dV :
2E
dE = − dV = −P dV = −dW (8.106)
3 V}
| {z
−P
ou seja
" #
2E 2 3 N h2 3N 2/3
P = =
3V 3 5 V 8m πV
2 h2 3 2/3 N 5/3
→P = (Pressão de Degenerescência) (8.107)
5 8m π V
Anãs Brancas
Estrelas passam a primeira parte de sua existência usando a energia liberada nas reações nucleares
no seu interior. Essas reações de fusão nuclear liberam uma quantidade enorme de energia e
produzem uma pressão sobre o material estelar para fora da estrela. Esta pressão balanceia a
atração gravitacional que tende a fazer o material estelar colapsar para o centro.
À medida que os combustı́veis usuais das reações nucleares (hidrogênio, hélio, ...) se esgotam,
a estrela passa a fundir e produzir elementos mais pesados. Eventualmente a fusão não é mais
favorável energeticamente, pois a energia de ligação por nucleon passa a diminuir nos produtos.
Neste ponto, se a estrela não for muito massiva, ela se expande e perde suas camadas externas,
restando apenas um núcleo estelar muito denso. A estrela passa a se chamar uma anã branca. Como
não há mais reações nucleares, a anã branca balanceia a gravidade com a pressão de degenerescência
dos elétrons, que é muito alta devido à alta densidade.
A estrela pode co-existir desta forma por um perı́odo indefinido. Quanto maior a massa da
estrela, maior a sua densidade e maior a sua pressão de degenerescência. Entretanto, o aumento da
massa também implica aumento da gravidade, e existe uma massa limite (limite de Chandrasekhar)
que a pressão de degenerescência consegue suportar.
Eventualmente, a anã branca pode ganhar massa de uma estrela companheira (e.g. um sistema
binário), e ultrapassar o limite de Chandrasekhar. Se isso ocorrer, a gravidade ganha da pressão de
degenerescência e a estrela começa a colapsar. A sua temperatura então começa a aumentar muito,
o que acaba dando inı́cio a reações nucleares, que até então eram improváveis. Essas reações são
muito violentas e, de fato, fazem a estrela explodir e expelir seu material para o meio inter-estelar
proximo à estrela. Essa explosão é chamada supernova do tipo IA.
Em 1998, os astrônomos Riess, Schmidt e Perlmutter usaram medidas de luminosidade e redshift
de supernovas IA para mostrar que a expansão do universo está ocorrendo de forma acelerada. Estas
importantes medidas deram origem à chamada era da cosmologia de prescisão, que busca entender
as causas desta aceleração cósmica via medidas astronômicas precisas. Por esse trabalho, Riess,
Schmidt e Perlmutter ganharam o prêmio Nobel em 2011.