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Influencia da Adição de Fibras de Polipropileno no Comportamento das

Juntas de Argamassa
Analysis of Polypropylene Fibers Reinforcement on the Behavior of Mortar Joints

Cícero Thiago Figueiredo de Araújo (Mestrando) (1); Sebastião Coelho Marinho Falcão (Iniciação
Científica) (2); Aline da Silva Ramos Barboza (Orientadora) (3)

(1) Eng°. Civil, Cícero Thiago Figueiredo de Araújo, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
email: ctfaraujo@gmail.com

(2) Graduando, Sebastião Coelho Marinho Falcão, Universidade Federal de Alagoas – UFAL
email:sebastiaofalcao@gmail.com

(3) Doutora, Enga. Civil Aline da Silva Ramos Barboza, Universidade Federal de Alagoas - UFAL
email: alramos@ctec.ufal.br

Campus A. C. Simões – Rodovia BR 104 km 14 – Tabuleiro dos Martins – Maceió – Alagoas


CEP.: 57072-970 – Telefone: (82) 32141277/32141276

Resumo
Neste trabalho estuda-se o comportamento da ligação entre elementos pré-moldados através de juntas de
argamassa com adição de fibras de polipropileno, avaliando o desempenho das mesmas quando solicitadas
a cargas de compressão. Tal motivação vem em decorrência de que o comportamento de um sistema
estrutural com elementos pré-moldados está intimamente ligado ao desempenho das suas ligações, que
são responsáveis, entre outros, pela distribuição dos esforços na estrutura. Por sua vez, as ligações são
regiões de comportamento complexo, onde ocorrem concentrações de tensões e, portanto, merecem
atenção especial por parte dos pesquisadores e projetistas. O modelo proposto para análise do
comportamento da ligação é composto de dois blocos de concreto armado com dimensões 10x10x20cm,
unidos entre si por uma argamassa de cimento e areia com adição de resíduo oriundo do beneficiamento de
mármore e granito, desenvolvida em laboratório numa dissertação de mestrado, a qual recebeu adição de
fibras de polipropileno. Fez-se uma avaliação numérica do modelo proposto através do programa de
elementos finitos ANSYS 7.1® considerando argamassas com adição de 0 a 20% de fibras de polipropileno
que será posteriormente validado num programa experimental. Pelos dados obtidos numericamente,
constatou-se que o incremento de fibras até a taxa de 3% não aumentava significativamente o desempenho
da junta e, consequentemente, do modelo. Entretanto, observou-se um ganho na capacidade de
deformação horizontal e vertical da mesma, para teores acima de 4%, prorrogando, com isso, o seu
descolamento do modelo, fazendo com que o sistema mantenha por mais tempo sua capacidade resistente,
o que significa um aumento da ductilidade no comportamento da ligação.
Palavras-Chave: fibras, polipropileno, junta, pré-moldado
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 1

1 Introdução
A Construção Civil tem sido considerada uma indústria atrasada quando comparada
a outros ramos industriais. A razão de assim considerá-la é baseada no fato dela
apresentar, de uma maneira geral, baixa produtividade, desperdícios de materiais,
morosidade e baixo controle de qualidade.
Uma das formas de se buscar a redução desse atraso é com o emprego de técnicas
associadas à utilização de elementos pré-moldados. Para os sistemas estruturais, na
parcela relativa às formas e ao cimbramento, normalmente de maior incidência no custo
do concreto armado, a utilização do concreto pré-moldado pode atuar no sentido de
diminuir os custos. A pré-moldagem estaria ainda melhorando as condições de trabalho
na construção civil, que normalmente é considerado sujo, difícil e perigoso (EL DEBS,
2000).
As ligações possuem importância relevante no projeto das estruturas pré-moldadas.
As mesmas interferem tanto na produção (execução de parte dos elementos adjacentes
às ligações, montagem da estrutura e execução das ligações propriamente dita) quanto
no comportamento da estrutura montada. Em geral, as ligações mais simples
normalmente acarretam estruturas mais pobre do ponto de vista do comportamento
estrutural.
CHEFDEBIEN (1996) afirma que o desenvolvimento de modelos, devidamente
calibrados por meios de resultados experimentais, capazes de simular o comportamento
das ligações pré-moldadas, parece ser uma tendência bastante atrativa. Porém, essa é
uma tarefa difícil devido à multiplicidade de interfaces e materiais utilizados. Uma outra
opção é a realização de simulações numéricas através da utilização de programas de
computador baseados no Método dos Elementos Finitos.
Atualmente, existem programas computacionais acadêmicos e comerciais capazes
de simular fenômenos complexos em determinadas circunstâncias, tais como: atrito,
escorregamento, contato, interação, aderência, entre outros. Entretanto ainda existem
dificuldades na elaboração de um modelo capaz de representar de maneira precisa o
comportamento real da ligação entre elementos de concreto pré-moldado pela diversidade
de esforços envolvidos e pelo particular comportamento do concreto (não-linearidade
física), que tem sido motivo de muita pesquisa.
A partir de uma revisão da literatura apresentam observou-se que dentre os diversos
tipos de ligações, a ligação entre elementos pré-moldados intercalando uma junta de
argamassa aparece entre aduelas pré-moldadas de pontes e de torres e ainda como
componente em partes comprimidas de ligações sujeitas à flexão. Um estudo inicial de
juntas de argamassa procurou avaliar os parâmetros de influência desse tipo de ligação e
verificou que a deformabilidade relativa dos dois materiais representava o principal fator
de perda da capacidade resistente do conjunto. Nesse aspecto, este trabalho tem como
objetivo principal avaliar numericamente o comportamento de juntas de elementos pré-
moldados preenchidos com argamassa com adição de fibras de polipropileno, obtendo
informações que possam caracterizar maior ductilidade para a junta pela maior
deformabilidade da argamassa propiciada pela adição das fibras e assim subsidiar um
programa experimental a ser desenvolvido posteriormente visando obter recomendações
práticas de projeto. Trata-se de um trabalho desenvolvido como parte de um programa de
pesquisa em novos materiais, com ênfase também no desenvolvimento sustentável pela
utilização de resíduos na industria da construção civil, uma vez que considera para
preenchimento da junta uma argamassa de cimento e areia com adição de resíduos
oriendos do beneficiamento de rochas ornamentais, e posteriormente será também
analisado o comportamento de fibras obtidas a partir da reciclagem de pneus.
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 2

2 Revisão Bibliográfica
2.1 Juntas de argamassa

Na colocação de um elemento pré-moldado sobre outro ou sobre elemento de


concreto moldado no local, pode-se empregar uma camada de argamassa para promover
o nivelamento e distribuir as tensões de contato.
A transferência de forças de compressão é governada pela deformabilidade relativa
da argamassa da junta com o concreto dos elementos pré-moldados e pela ocorrência de
estrangulamento da seção da junta.
De acordo com EL DEBS (2000) , como, em geral, a argamassa possui módulo de
elasticidade mais baixo que o concreto dos elementos pré-moldados, ela tende a
deformar conforme a Figura 1.a, produzindo tensões de tração no elemento pré-moldado.
Ainda devido ao fato da argamassa ser mais deformável, a parte externa, como não é
confinada, praticamente não trabalha, acarretando, para efeito de transmissão de
tensões, um estrangulamento da seção. Assim, as tensões de compressão transmitidas
na junta têm o aspecto da Figura 1.b. Devido a este efeito, também ocorrem tensões de
tração nos elementos pré-moldados, como conseqüência do bloco parcialmente
carregado.
EL DEBS (2000) afirma que o dimensionamento das juntas, em relação aos esforços
de compressão, consiste em verificar as tensões de compressão na junta e verificar os
elementos pré-moldados considerando as citadas tensões de tração. Para a verificação
dos elementos pré-moldados pode simplificadamente levar em conta o efeito do bloco
parcialmente carregado com a seção da junta reduzida, considerando que as partes
externas com duas vezes a espessura da junta não trabalha, como mostrado na Figura
1.c.

a – tensões de cisalhamento devido ao b – distribuição de tensões na junta c – distribuição das tensões nos
módulo de elasticidade ser menor que do devido a ineficiência da argamassa junto elementos pré-moldados mostrado a
concreto as faces externas ocorrência de tensões de tração

Figura 1 – Comportamento de junta de argamassa submetida à compressão


Fonte: EL DEBS(2002) – Concreto Pré-Moldado: Fundamentos e Aplicações

No trabalho de BARBOZA (2002), foram ensaiados alguns modelos da ligação com


juntas de argamassa colocando-se entre os segmentos pré-moldados uma almofada de
apoio flexível à base de cimento com adição de fibras e modificada com látex, como uma
alternativa ao apoio com elastômero na ligação viga-pilar. Os primeiros resultados
mostraram um bom comportamento na distribuição das tensões de contato, resultando
numa melhor acomodação para os elementos pré-moldados, conseqüentemente menor
danificação da região de ligação, mesmo para elementos com superfície rugosa.
Observou-se que a adição de fibras na argamassa da junta é uma forma de aumentar sua
capacidade de deformação sem haver ruptura, mantendo-a íntegra por um maior período
de tempo, durante a aplicação das cargas. As fibras atuam como um reforço aos esforços
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de tração que ocorrem no interior da argamassa, retardando sua fissuração e ruptura,


proporcionando um maior desempenho do sistema.

2.2 Materiais compósitos

Um material compósito é a combinação de dois ou mais materiais que tem


propriedades que os materiais componentes isoladamente não apresentam. Eles são,
portanto, constituídos de duas fases: a matriz e o elemento de reforço, e são
desenvolvidos para otimizar os pontos fortes de cada uma das fases (BUDINSKI, 1996).
Na indústria mecânica, os compósitos são largamente empregados e geralmente são
constituídos por matriz dúctil e fibra de ruptura frágil, como, por exemplo, os plásticos
reforçados com fibras de vidro. Na construção civil, os compósitos são tipicamente
constituídos por matriz frágil reforçada com fibra dúctil, como as argamassas reforçadas
com fibras de polipropileno, embora haja exceções, como o cimento amianto,
possivelmente o mais popular compósito da engenharia civil, no qual a matriz (pasta de
cimento) e as fibras (amianto) apresentam ruptura frágil.
Ainda segundo BUDINSKI (1996), os materiais compósitos mais importantes são
combinações de polímeros e materiais cerâmicos. Os produtos baseados em cimento
Portland são considerados como materiais cerâmicos por apresentarem características
típicas a este grupo de materiais, como, por exemplo, alta rigidez, fragilidade, baixa
resistência à tração e tendência de fissuração por secagem.
Os polímeros são caracterizados por terem baixo módulo de elasticidade,
ductibilidade variável e resistência à tração moderada. São extremamente versáteis e,
dentro de certos limites, podem ser modificados para adaptar-se segundo necessidades
específicas (TAYLOR, 1994).
Os materiais compósitos, originados da combinação das cerâmicas e dos polímeros,
apresentam características mais apropriadas de resistência mecânica, rigidez,
ductibilidade, fragilidade, capacidade de absorção de energia de deformação e
comportamento pós-fissuração, quando comparado com os materiais que lhes deram
origem.
Em todas as áreas do conhecimento um grande número de novos materiais pode ser
desenvolvido a partir da combinação de outros. Para tanto, é necessário que se
conheçam as propriedades mecânicas, físicas e químicas dos materiais de constituição e
como eles podem ser combinados.

2.2.1 Materiais compósitos fibrosos

A história da utilização de compósitos reforçados com fibras como materiais de


construção data de mais de 3.000 anos. Há exemplos do uso de palhas em tijolos de
argila, mencionados no Êxodo, e crina de cavalo reforçando materiais cimentados. Outras
fibras naturais têm sido utilizadas para conferir ductibilidade aos materiais de construção
essencialmente frágeis (ILLSTON, 1994).
Contrastando com esses antigos materiais naturais, o desenvolvimento de polímeros
nos últimos cem anos foi impulsionado pelo crescimento da indústria do petróleo. Desde
1930 o petróleo tem sido a principal fonte de matéria-prima para a fabricação de produtos
químicos orgânicos a partir dos quais são fabricados plásticos, fibras, borrachas e
adesivos (ILLSTON, 1994).
Uma grande quantidade de polímeros, com variadas propriedades e formas, tem sido
desenvolvidos desde 1955. Para TAYLOR (1994), os materiais baseados em cimento
Portland são opções naturais para a aplicação de materiais fibrosos a base de fibras
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poliméricas, uma vez que são baratos, mas apresentam problemas relativos à
ductibilidade, resistência ao impacto e capacidade de absorção de energia por
deformação.
Segundo JOHNSTON (1994), as fibras em uma matriz cimentada podem, em geral,
ter dois efeitos importantes. Primeiro, elas tendem a reforçar o compósito sobre todos os
modos de carregamento que induzem tensões de tração, isto é, retração restringida,
tração direta ou na flexão e cisalhamento, e, secundariamente, elas melhoram a
ductibilidade e a tenacidade de uma matriz frágil.
O desempenho dos compósitos reforçados com fibras é controlado principalmente
pelo teor e pelo comprimento da fibra, pelas propriedades físicas da fibra e da matriz e
pela aderência entre as duas fases (HANNANT, 1994).
JOHNSTON (1994) acrescenta o efeito da orientação e distribuição da fibra na
matriz. A orientação de uma fibra relativa ao plano de ruptura, ou fissura, influencia
fortemente sua habilidade de transmitir cargas. Uma fibra que se posiciona paralela ao
plano de ruptura não tem efeito, enquanto que uma perpendicular tem efeito máximo.
TAYLOR (1994) apresenta os principais parâmetros relacionados com o
desempenho dos materiais compósitos cimentados, assumindo que as variações das
propriedades descritas abaixo são atingidas independentemente:

a. Teor de Fibra – Um alto teor de fibras confere maior resistência pós-fissuração e


menor dimensão das fissuras, desde que as fibras possam absorver as cargas
adicionais causadas pela fissura;
b. Módulo de Elasticidade das Fibras – Um alto valor do módulo de elasticidade
causaria um efeito similar ao alto teor de fibra, mas, na prática, quanto maior o
módulo maior a probabilidade de haver o arrancamento das fibras.
c. Aderência entre a Fibra e a Matriz – As características de resistência,
deformação e padrões de ruptura de uma grande variedade de compósitos
cimentados reforçados com fibras dependem fundamentalmente da aderência
fibra/matriz. Uma alta aderência entre a fibra e a matriz reduz o tamanho das
fissuras e amplia sua distribuição pelo compósito.
d. Resistência da Fibra – Aumentando a resistência das fibras aumenta também a
ductibilidade do compósito, assumindo que não ocorre o rompimento das ligações
de aderência. A resistência da fibra dependerá, na prática, das características pós-
fissuração desejadas, bem como do teor de fibra e das propriedades de aderência
fibra-matriz.
e. Deformabilidade da Fibra – A ductibilidade pode ser aumentada com a utilização
de fibras que apresentem alta deformação de ruptura. Isto se deve ao fato de
compósitos com fibras de elevado grau de deformabilidade consumirem energia
sob a forma de alongamento da fibra.
f. Compatibilidade entre a Fibra e a Matriz – A compatibilidade química,física e
geométrica entre as fibras e a matriz é muito importante. A curto prazo, as fibras
que absorvem água podem causar excessiva perda de trabalhabilidade do
concreto. Além disso, as fibras que absorvem água sofrem variação de volume, e a
aderência fibra/matriz é comprometida. A longo prazo, alguns tipos de fibras
poliméricas não possuem estabilidade química frente à presença de álcalis, como
ocorre nos materiais a base de cimento Portland. Nesses casos, a deterioração
rápida das propriedades da fibra e do compósito pode ser significativa. Assim
também, incompatibilidades geométricas entre a fibra e a matriz, fazem com que as
fissuras não sejam combatidas adequadamente, conforme demonstrado na Figura
2.
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a – COMPATIBILIDADE b– INCOMPATIBILIDADE

FIGURA 2 – DISPOSIÇÃO GEOMÉTRICA ENTRE FIBRA E MATRIZ

g. Comprimento da Fibra – Quanto menor for o comprimento das fibras, maior será
a possibilidade de elas serem arrancadas. Para uma dada tensão de cisalhamento
superficial aplicada à fibra, esta será mais bem utilizada se o seu comprimento for
suficientemente capaz de permitir que a tensão cisalhante desenvolva uma tensão
de tração igual a sua resistência à tração, conforme visto na Figura 3. Na verdade,
não basta raciocinar tão-somente em cima do comprimento da fibra. Há de se
considerar o seu diâmetro, pois depende dele a capacidade da fibra em
desenvolver as resistências ao cisalhamento e à tração.

FIGURA 3 – RELAÇÃO COMPRIMENTO DA FIBRA x TENSÃO DE RUPTURA

A Figura 4 apresenta uma disposição idealizada da fibra em relação à fissura,


seguida de um equacionamento onde fica evidente a importância da relação l/d, onde “l” é
o comprimento e “d” é o diâmetro da fibra.

FIGURA 4 - DISPOSIÇÃO FIBRA/FISSURA IDEALIZADA


o
Fonte: FITESA – Materiais Compósitos e Fibras de Polipropileno - Boletim Técnico n 01 - 2002

A relação l/d é proporcional ao quociente entre a resistência à tração (ft) da fibra e a


resistência de aderência fibra/matriz (fa), na ruptura. Em grande parte, a tecnologia dos
materiais compósitos depende desta simples equação: se uma fibra tem uma alta
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resistência à tração, por exemplo, como o aço, então ou a resistência de aderência


necessária deverá ser alta para impedir o arrancamento antes que a resistência à tração
seja totalmente mobilizada ou fibras de alta relação l/d deverão ser utilizadas (TAYLOR,
1994).

3 Análise Numérica
3.1 Modelo numérico

Com o auxílio do software de elementos finitos ANSYS 7.1®, foi modelado todo o
sistema em estudo, que consiste em dois blocos de concreto unidos por uma junta de
argamassa contendo fibras de polipropileno, submetidos a uma carga de compressão.
Procura-se, com isso, simular o comportamento das ligações entre os elementos pré-
moldados e estudar seu desempenho.
Para considerar a não-linearidade dos materiais na simulação, torna-se necessário
adotar critérios de resistência no programa que melhor representem tal fenômeno.
Segundo PROENÇA (1988), o comportamento complexo do concreto e a não
linearidade decorrente da fissuração dificulta uma simulação numérica que reproduza o
desempenho do mesmo ao longo de todo o processo de carregamento. A modelagem
através da Teoria da Plasticidade utilizando hipóteses simplificadoras tem sido um bom
meio para a simulação, levando à resultados satisfatórios.
No programa ANSYS 7.1®, foram definidos o comportamento linear e os não lineares
para o concreto e a argamassa. São eles:
• Linear Isotropic – simula o comportamento elástico dos materiais.
• Drucker-Prager – critério de plastificação independente do tempo
• Concrete – introduz no material capacidade de fissuração e esmagamento.

3.2 Construção do modelo numérico

O modelo numérico é composto de dois corpos prismáticos de concreto armado,


com dimensões 10x10x20cm, unidos com a junta de 2cm de espessura em estudo,
preenchida pela argamassa reforçada com fibras. As restrições aos deslocamentos
horizontais foram impostas na extremidade superior e na inferior para simular o efeito do
cisalhamento devido às prensas do laboratório. A Figura 5 mostra o aspecto do modelo
adotado.
Conforme a Figura 6.a, a armadura do concreto armado é composta de 4 barras
longitudinais de φ5.0mm e 3 estribos de bitola φ5.0mm, espaçados entre si de uma
distância de 6cm, obtido da ABNT (2003) através da expressão:
200mm

d ≤ menor dimensão da seção (1)
24φ para CA - 25, 12φ para CA - 50

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Restrições no plano
horizontal

Concreto armado

Junta com argamassa


reforçada

Restrições no plano
horizontal e vertical

Figura 5 – Modelo numérico adotado nas simulações

10cm
20cm

10cm
2cm

4φ5mm
6cm
20cm

6cm

3φ5mm c. 6cm

Figura 6.b – Modelagem das


Figura 6.a – Armação dos blocos armaduras no ANSYS 7.1®

Para a modelagem da argamassa, as fibras de polipropileno podem ser incorporadas


no elemento SOLID65 através de taxas dispostas em 3 direções diferentes, através dos
parâmetros θ e φ, conforme Figura 7.

Figura 7 – Disposição das fibras de polipropileno no elemento SOLID65


®
Fonte: ANSYS RELEASE 7.1 (2003). Theory Manual
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No modelo numérico, os nós dos elementos dos blocos foram ligados diretamente
aos da junta. A utilização de elementos de ligação tornaria o modelo demasiado
complexo, uma vez que modelos constitutivos que simulam o atrito entre o bloco de
concreto e a argamassa da junta ainda precisam ser melhor avaliados.
Como a tendência das fibras na junta é de se alinharem na horizontal, devido à
espessura reduzida das mesmas, para simplificação na análise, foi desconsiderada a
disposição vertical das fibras e foi suposto apenas a disposição horizontal. Sendo assim,
no modelo numérico, adotou-se uma decomposição da resultante da direção das fibras
em dois eixos perpendiculares entre si, contidos no plano da junta, cada qual com 50% da
taxa total de fibras.
A argamassa considerada para preenchimento da junta foi produzida em uma
dissertação de mestrado, fazendo uma substituição parcial do agregado miúdo pelo
resíduo oriundo do beneficiamento de rochas ornamentais. O trabalho tinha como objetivo
estudar a viabilidade do uso de tal resíduo como material componente de argamassa
altamente fluida, considerando que o uso de alta dosagem de finos é uma prática para
esses tipos de argamassas. Tal argamassa foi escolhida para que não houvesse grandes
pesrdas de trabalhabilidade com a adição das fibras. Entretanto, os primeiros ensaios
para reprodução da mistura em laboratório, com fibras curtas de polipropileno, indicaram
que para taxas acima de 3% em relação ao volume da argamassa, a produção do
compósito tornou-se bastante difícil. Entretanto, no modelo numérico, as fibras foram
aplicadas à argamassa da junta em taxas que variaram de 0% a 20%, em relação ao
volume da argamassa, para com isso buscar uma extrapolação do desempenho do
sistema e assim obter uma estimativa caso tais índices possam ser alcançados na prática.

3.3 Parâmetros de entrada

Para cada modelo constitutivo aplicado nas simulações, são necessários diversos
parâmetros físicos de entrada. Foi considerada para o concreto uma resistência fc de
35MPa aos 28 dias. Para a argamassa foi adotada uma resistência fm de 25MPa, baseada
nos resultados experimentais obtidos com argamassa de propriedades autoadensáveis
com adição de resíduo de granito. Com isso, chega-se aos valores da Tabela 1, que são
adotados na simulação numérica.

Tabela 1 – Parâmetros de entrada na simulação numérica


MODELO
PARÂMETRO CONCRETO ARGAMASSA
CONSTITUTIVO
28161,0 MPa 15867,0 MPa (adotado
Módulo de Elasticidade
Linear Isotropic (ABNT(2003)) 2/3Ec)
Coeficiente de Poisson 0,2 (ABNT(2003)) 0,25
Coesão 5,3 MPa (*) 4,0MPa (*)
Drucker-Prager o
Ângulo de Atrito 56,3 (*) 54,48o (*)
Resistência Última à
35 MPa 25 MPa
Compressão Axial
Resistência Última à
3,21 MPa(ABNT(2003)) 2,56 MPa(ABNT(2003))
Tração Axial
Resistência Última à 1,2fc (calculado pelo 1,2fc (calculado pelo
Compressão Biaxial programa) programa)
Concrete Resistência Última à
1,45fc (calculado pelo 1,45fc (calculado pelo
Tração para um Estado
programa) programa)
de Tensão Biaxial
Resistência Última à
Compressão para um 1,725fc (calculado pelo 1,725fc (calculado pelo
Estado de Compressão programa) programa)
Biaxial
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(*) – calculados através das seguintes expressões:


fc (1−sin(ϕ ) )  fc − ft 
c = ϕ = arcsin  

2 cos(ϕ )  fc + ft 

Para as armaduras internas dos corpos de prova, foram adotados os parâmetros


físicos do aço CA-50A, com o propósito de simular uma peça de concreto pré-moldado.
Para as fibras de polipropileno, foram utilizados parâmetros físicos fornecidos pelo
fabricante, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Propriedades físicas das fibras de polipropileno


Módulo de Elasticidade Longitudinal 4000,0 MPa
Coeficiente de Poisson 0,3
Resistência à tração 450,0 MPa
Módulo de Elasticidade Transversal 1538,5 MPa
Fonte: FITESA – Materiais Compósitos e Fibras de Polipropileno - Boletim Técnico no01 - 2002

Aplicou-se ao modelo uma pressão uniformemente distribuída de 25 MPa, o que nos


fornece uma carga aplicada concentrada de 25 toneladas, dividida em passos de carga
até se alcançar a ruptura do sistema.
Na Figura 8 são apresentadas as diferentes configurações de deformações
horizontais obtidas para diferentes teores de fibras.

0% 4%

10% 20%

Figura 8 – Deformações horizontais para diferentes teores de fibras obtidos na análise numérica

A variação do teor de fibras ocasionou um aumento na capacidade de deformação


da argamassa da junta, fazendo com que permaneça íntegra por um maior período de
tempo, auxiliando no desempenho da junta e, consequentemente, do modelo. A
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deformação horizontal na interface obtida para o teor de 0% de fibras foi de 2,19x10-4 e


para 20% de fibras foi de 2,92x10-4, um aumento de 33,33%.
Na Figura 9 são apresentadas as diferentes configurações de tensões obtidas para
diferentes teores de fibras e na Figura 10 tem-se a deformação horizontal ao longo da
altura do modelo, considerada no eixo médio do mesmo.

0% 4%

10% 20%

Figura 9 – Tensões horizontais para diferentes teores de fibras obtidos na análise numérica
A variação do teor de fibras ocasionou uma redução das tensões de tração na
interface da argamassa com os blocos do modelo, o que favorece o desempenho do
sistema, aumentando sua capacidade de absorção de esforços de compressão, pela
redução de fissuras na região da interface argamassa/bloco. Para 0% de fibras, as
tensões de tração obtiveram um valor de 2,17 MPa na interface, contra 0,73 MPa para
20% de fibras, gerando uma redução de 66,05%.
Com o aumento do teor de fibras verifica-se o aumento na capacidade de
deformação horizontal da argamassa, como mostra a Figura 10. Consideando o estado de
confinamento que a mesma está sendo submetida, isso proporciona uma melhoria na sua
rigidez e consequentemente na sua ductibilidade.
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4,40E-04

4,00E-04

3,60E-04

3,20E-04

2,80E-04
Deformação

2,40E-04

2,00E-04

1,60E-04

1,20E-04

8,00E-05

4,00E-05

0,00E+00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
Altura (cm)

0% DE FIBRAS 0,5% DE FIBRAS 1% DE FIBRAS 2% DE FIBRAS 3% DE FIBRAS 4% DE FIBRAS 5% DE FIBRAS


6% DE FIBRAS 7% DE FIBRAS 8% DE FIBRAS 10% DE FIBRAS 15% DE FIBRAS 20% DE FIBRAS

Figura 10– Gráfico das deformações horizontais ao longo da altura do modelo, para diferentes taxas
de fibras de polipropileno, na iteração antecessora à ruptura do modelo

4 Conclusões
O modelo numérico comportou-se conforme o descrito na literatura. Tensões de
tração foram observadas na interface, devido à diferença entre os módulos de
elasticidade do concreto dos blocos e a argamassa da junta e o colapso do sistema
ocorreu nesta mesma região, ressaltando a importância deste estudo.
O modelo aponta um ganho de desempenho do sistema com a aplicação gradativa
das fibras. Tal fato torna-se visível devido ao acréscimo da resistência de ruptura, tanto da
argamassa usada na junta quanto do modelo. Além disso, as fibras de polipropileno
proporcionaram um aumento na capacidade de deformação dos elementos, melhorando a
rigidez, retardando o colapso do sistema.
As fibras também foram responsáveis por uma melhor distribuição dos esforços
internos de compressão e tração concentrados na interface do bloco / junta.
Com os resultados obtidos, concluímos que a adição de fibras de polipropileno à
argamassa da junta promove uma melhoria em suas propriedades mecânicas iniciais,
como resistência a compressão e tração, deformabilidade e distribuição de esforços,
trazendo com isso benefícios ao sistema estrutural empregado.
Estudos experimentais estão sendo desenvolvidos em laboratório com o propósito
de validar o comportamento obtido com a utilização do compósito na junta entretanto,
mesmo com o uso de uma argamassa fluida já foi observada uma alta perda de
trabalhabilidade do material. Essa constatação não descarta entretanto o uso do
compósito, pois ainda de caracteriza como uma argamassa de assentamento.

5 Referências Bibliográficas

ANSYS RELEASE 7.1® (2003). Theory Manual

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6 Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio recebido da FAPEAL, através de financiamento de
projeto de pesquisa, bem como aos técnicos do Laboratório de Estruturas e Materiais nos
ensaios experimentais.

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