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10 TROCADORES DE CALOR Jorge Andrey Wilhelms Gut* Tah Wun Song** jor rsionamento € con 10.1 Prncpais tipos de a indistia de alimentos 10.3, 10.1.1 Trocador de calor de duo te 10.3.1 Nat 10. 10412 Tocador 10.2.2 Potercal térmico méo 10.2.3 Fotordeincrus 10.2.4 Coefcient ial de convecgB0 * Universidade de Sto Paulo (USP). “Universidade de Sto Paulo (USP) e Instituto Maué de Tecnologia (IMT) | 356 caPfruLo1 . Um trocador de calor, como o préprio nome denota, éum equipamento usado para efétuar a troca térmica entre duas (ou mais) correntes: um fluido, a temperatura maior (fluido quente), cede energia térmica para outro (ftuido frio) sem que . ‘ocorra mistura. contato indireto entre os fluidos ocorre por meio de uma parede metdli A variacdo de entalpia para um dado fluido pode ser do tipo “latente’, quando ocorre mudanga de estado fisico, ou “sensivel’ se houver apenas alteracao entre as temperaturas de entrada e saida, ou ainda, dos dois tipos no mesmo equipamento, Neste capitulo serd dado destaque aos processos de troca térmica em regime permanente (casos mais frequentes em escala industrial) e envolvendo “calor sensivel” (0s casos com mudanga de estado sio tratados com mais detalhes no Capitulo 11), 10.1 PRINCIPAIS TIPOS DE TROCADOR DE CALOR NA INDUSTRIA DE ALIMENTOS Hé diversos tipos construtivos de trocador de calor. A sua escolha depende de varios fatores: custo global, requisitos do processo, caracteristicas dos fluidos quente e frio, desempenho térmico, perda de carga, facilidade de manutencao e lim- . ,peza, espaco ocupado ete. Sao apresentados, a seguir, os tipos mais comuns usados em processamento de alimentos e suas respectivas vantagens e desvantagens, 10.1.1 Trocador de calor de duplo tubo O tipo de trocador de calor mais simples em termos de construgao ¢ 0 de duplo tubo, ow trocador de tubos concentricos. Ele ¢formado por dois tubos circulares concéntricos, No tubo interno, circula um dos fluidos e no espago anular, o outro. E particularmente adequado para servicos a altas pressOes, pois nao requer, em geral, espessuras de tubos muito eleva- ddas para esses casos. Sao muito utilizados para alimentos liquios com baixa ou média viscosidade, como sucos, polpas, vinhos e purés Para facilitar sua construgao e aproveitar melhor a ocupacao do espaco, 0s trocadores de duplo tubo so normalmente fabricados na forma de médulos (conhecidos como “grampos") que sao conectaclos sequencialmente até atingir a érea de ‘roca térmica desejada, como pode ser visto nas Figuras 10.1 e 10.2. Erelativamente facil austara rea de troca térmica de ‘um trocador duplo tubo usando um maior ou menor ntimero de grampos. 0 trocador de duplo tubo permite dois arranjos bésicos: contracorrente ({luidos escoando em sentidos opostos, co- ‘mona Figura 10.1) econcorrente (fluidos escoando no mesmo sentido). Entretanto, os grampos podem ser montados em série ou paralelos, permitindo outros possiveis arranjos. Como no arranjo contracorrente tem-se o maior potencial tér- mico possivel (diferenca de temperatura entre os fluidos quente e frio), esse € 0 arranjo mais comum (veja a Seco 10.2.1, Tipos de escoamento’). Por nao serem compactos, os trocadores de duplo tubo sto economicamente competitivos apenas em servicos cuja 4rea de troca térmica requerida seja pequena (menor que 20 m*), pois, para tamanhos maiores, o ntimero excessivo de sgrampos toma a sua montagem invidvel ou ocupa um espaco muito grande. & importante salientar que, dependendo da natureza dos fluidos envolvidos, pode ocorrer um desgaste intenso por erosao nas curvas de ligagao dos grampos. Produto Salida no tubo > finulo Fluido de sevigo_ ‘0 dnulo, Figura 10.1 Esquema de um trocador de calor de duplo _Figura 10.2) Trocador de calor de tubos concéntricos com cinco tubo (tubos concéntricos) com arranjo de escoamento _grampos (cortesia XLG);b) Trocador de calor de tubos coneéntricos ‘em contracorrente, ‘com tubos corrugados (cortesia Alfa Laval TROCADORESDECALOR 357 Alimpeza mecinica é realizada a partir da desmontagem das curvas de conexaio dos grampos ¢, com ouso de esco- vvas de aco, faz-se a remogao do material aderido no interior do tubo interno. Esse procedimento é ineficiente e pouco vivel para o espaco anular. Recomenda-se, portanto, que no processamento de um produto alimenticio, que este seja alocado no tubo interno e que no espaco anular seja alocado o fluido de servico ou utilidades (Iiquido de resfriamento ou agua de aquecimento). Existem também, em algumas indiistrias alimenticias, 0s trocadores de calor de triplo tubo. 0 fluido de servigo (aque- cimento ou resfriamento) escoa no tubo intemo e no espago anular mais externo, ao passo que o produto alimenticio cir cula no espaco anular intermedisrio. 10.1.2 Trocador de calor de superficie raspada (Os trocadores de calor de superficie raspada sao similares aos trocadores de duplo tubo. Seu diferencial esta no elxo rotativo no centro do tubo interno. Esse eixo cont6m laminas raspadoras que promovem a mistura do fluido no tubo. produto alimenticio escoa no tubo interno e o fluido de servico (aquecimento ou resfriamento) escoa na camisa anuilar externa, conforme mostrados nas Figuras 10.3 e 10.4. Esses trocadores podem ser montados na posi¢ao hor zontal ou vertical. {As laminas raspam continuamente a pelicula do produto aderida a superficie do tubo. Essa ago melhora significa- tivamente o processo de troca térmica, removendo 0 produto que “jé trocou calor” liberando a superficie para a troca ubsequente. Um aspecto nao desejével é a retromistura axial que ocorre quando a porgio de liquido que ja trocou calor 6 misturada no sentido contrério ao do escoamento. Dessa maneira reduz-se 0 potencial térmico e, portanto, 0 transporte de calor é prejuidicado, Esse problema é mais intenso em trocadores de tamanhos reduzidos. Por causa da aco continua de raspagem, o produto fica aderido & parede por pouco tempo, reduzindo efeitos inde- sejaveis da temperatura que possam degrad4-lo em um processo de aquecimento. Os trocadores de calor de superfici raspada sio recomendados para alimentos liquidos de média ou alta viscosidade como xaropes, chocolates, molhos, polpas de frutas ou came processada, Alimentos contendo particulas em suspensao também podem ser processados nesse tipo de trocador. Entrada Enirada, Superice de, SL inilo tubo troca de calor Rotagio do eixo Saida” \ ‘tubo finulo Limina \, Produto raspadora no tubo Figura 10.3 Esquema de um trocador de super- Eixo Fluid de servigo ficie raspada com arranjo de escoamento em central ‘0 énulo earaceirente, Bnirada do ._Prodito a Eixo com eins — Entrada do | | ‘luido de servigo Figura 10.4 Trocador de superficie raspada aberto, exibindo o eixo central com as laminas raspadoras (cortesia Alfa Laval) 358 capituLo 10 10.1.3 Trocador de calor de casco e tubos Nos trocadores de calor do tipo asco ¢ tubos ou de feive tubular, um feixe de tubos (que pode chegar a ter mais de mil tu- bos) preso em um disco conhecido como “espelho” é envolto em um corpo cilindrico, chamado de “casco’ Um dos fluidos ‘escoa pelo interior do feixe de tubos e o outro escoa pelo interior do casco. Dentro do casco, ¢ comum 0 uso de “chicanas, que sdo placas que forgam 0 fluido a mudar de direcao, aumentando a turbuléncia e, consequentemente, a troca térmica. Na Figura 10.5 séo apresentados dois tipicos trocador de casco e tubos. 0 primeiro tem dois espelhos segurando ofeixe de tubos. Esses espelhos podem ser fixos ao casco ou podem deslizar junto a um cabecote flutuante, ou seja, ofeixe de tubos pode ser removido do casco para limpeza e manutengao. O segundo trocador na Figura 10.5, chamado de trocador com feixe de tubos em U, tem apenas um espelho, jé que os tubos fazem uma curva de 180° na extremidade oposta, como pode servisto também na Figura 10, Opcionalmente, os tubos podem ter ranhuras para melhorar a turbuléncia no escoamento, Note na Figura 10.5 que ofluido no casco atravessa o trocador da esquerda para a diteta uma vez, enquanto 0 fluido nos tubos atravessa o trocador duas vezes, & chamada de “passe" ou “passo” cada passagem do fluido pelo trocador. Os trocadores na Figura 10.5 tém arranjo de passes 1/2 (um passe no casco e dois passes nos tubos). E vantajoso ter um nti- ‘mero par de passes no lado dos tubos para que as tubulacdes de entrada e de saida fiquem localizadas do mesmo lado do trocador em um cabegote tinico, O lado do-casco pode ter mais de um passe quando sao utilizadas placas horizontals para dividir o seu interior. 0s trocadores de calor de casco e tubos sao, de modo geral, compactos, ocupando pouco espaco, sio relativamen- te faceis de serem desmontados. Nesses trocadores, é muito dificil o ajuste da drea de troca térmica de um equipamento existente. Em face de sua construgao, 0 custo dos trocadores de casco e tubos é maiorparaos de cabecote futuante, seguido pelos: de tubos em U e, por fim, os de espelho fixo (0 mais barato entre os trés). Os trocadores de calor de espelho fixo oferecem 6tima protecao contra vazamentos, principalmente em relacdo ao fluido do casco para o ambiente externo. Jé os de cabe- ote flutuante sao mais suscetiveis a vazamentos em razao das gaxetas internas. Além disso, so também mais vulneraveis A corrosio ¢ erosio. Esse problema ocorre também na curva de 180° dos trocadores de calor com tubos em U. O lado do casco, de modo geral, nao ¢ muito acessivel para limpeza mecanica e manutencéo. Essa dificuldade é atenuiada ao se optar por um trocador de feixe tubular com cabecote flutuante ou tubos em U; mas, ainda assim, ndo se garante um grau de limpeza total nos intersticios do casco. Dessa maneira, é preferivel tero alimento escoando pelo interior dos tubos. Além disso, 0 lado do casco mais propenso a ter zonas de estagnacéo, o que nao ¢ recomendado para alimentos. Quando a diferenga entre as temperaturas de entrada e safda de um dado fluido é elevada (superior a cercade 100°C), pode haver problemas de dilatacao térmica, devendo ser evitado o tipo de espelho fixo e usar o de cabecote flutuante ou de tubos em U, além de prover eventualmente juntas de expansio adequadas, Entrada tubos ewe Espelhos @ e Cabogote saids |” Saida ¢ oe fama ae o ee = - Figura 10.5 Esquema de dois trocadores de calor de casco e tu- Chicanas Said | “Saige bos: a) trocador com espelhos fixos; b) trocador com feive de asco ‘bor tubos em U. TROCADORESDECALOR 359 abegote Figura 10.6 Trocadores de calor de casco e tu- Chica Feixe detabes eo — bos do tipo “feixe de tubos em U" (cortesia API rie Heat Transfer. 10.1.4 Trocador de calor de placas {Um tipo de trocador de grande importancia para o processamento de alimentos liquidos 6 0 trocador de calor de placas Esses trocadores sao constituidos por um pacote de finas placas metilicas que formam canais de escoamento entre ada par de placas. Os fluidos quente efrioescoam alternadamente por esses canais. Para que nao haja contaminagao entre os fluidos é fundamental a vedacao dos canais Na Figura 10.7 ¢ apresentada a vista de um trocador de calor de placas aberto com alguns detalhes construtivos. Na Figura 10.8 so apresentados alguns trocadores de placas sanitérios usados para tratamento térmico de alimentos liquidos. Note a presenga das grades conectoras ao longo do pacote de placas. Essas placas especiais permitem a entrada ea saida de fluidos do pacote de placas, o que é vantajoso no tratamento térmico, pois o alimento pode ser aquecido e resfiado no mesmo equipamento, como no caso do pasteurizador (veja 0 Capitulo 13), As placas sto, em geral, corrugadas para melhorar a sua resisténcia mecénica (0 enrugamento confere maior rigidez) assim como melhorar a eficiéncia de troca térmica (intensificacdo da turbuléncia). Ha vérios formatos de ranhuras, send as mais usuals a “espinha de peixe’ com ranhuras inclinadas (veja a Figura 10.7) ¢ a “tébua de lavar" em que asranhuras so paralelas e horizontais. (0 tocador de calor de placas permite uma grande variedade de arranjos de escoamento. Na Figura 10.9 uma possi- bilidade de arranjo de passes para um trocador com nove placas 6 apresentada. Como as placas das extremidades nao {rocam calor, esse trocador tem efetivamente sete “placas térmicas” (ny = 7). O ntimero de canais de escoamento 6 B, de modo que cada fuido ocupa quatro canals. 0 uido fio faz quatro passes pelo trocador (n, =), e cada passe tem apenas um canal (n/7,= 1). 160 luido quente faz dois passes (n, =2) de dois canais (n,/n,= 2). frago n/n, representa a razao entre os nimeros de canaise de passes, ou seja 0 niimero de canais por passe. Quanto maior foro numero de canals por Passe, menor seré.avelocidade de escoamento, jéque a vazdo de alimentacio édividida pelos canais que compdem o passe. Figura 10.7 Esquema de um trocador de calor a placas: a) pacote de placas aberto; b) pedestal fio; <) pedestal mével; d) cone x80 para entrada ou saida de fluido; e) parafusos de aperto; ) placa com corrugacao espinha de peixe: g) gaxeta da placa; h) ‘orifcio da placa (Reimpresso de Chem Eng Sci 59, 4591-4600, (©2004, com permisséo da Elsevier) 360 capfruto 10 Grates coestoras Figura 10.8 Trocadores de calor de placas de diversos tamanhos, ppadrao sanitrio (imagem de arquivo Tetra Pak), Oarranjo na Figura 10.9 é representado como 2 x 2/4 x 1 (lado quente com dois passes de dois canais e lado frio com quatro passes de um canal) ou simplesmente 2/4. Com quatro canais as opgdes de passes sio 1 x 4,2 x2 e 4 x 1 para ca~ da um dos lados. Outra variével importante é a posi¢ao relativa entre a alimentacao no pacote de placas. Raramente 0 fluidos quente e frio séo alimentados no mesmo lado do pacote de placas, jé que isso acarreta em redugio do potencial ‘térmico para arranjos com mais de um passe. Esse tipo de montagem é mais comum em arranjos 1/1, por deixar livre 0 pedestal mével do trocador (os dutos de entrada e safda ficam no pedestal fixo). De maneira geral, escolhem-se os pontos de alimentagao para ter mais placas com escoamento contracorrente do que concorrente no trocador. No caso da Figura 10,9, ha quatro placas com escoamento contracorrente (1,2, 4e 7) etrés placas com escoamento concorrente (3, 56). Se 6 fluido fro fosse alimentado na parte superior, terfamos apenas trés placas em contracorrente. Os trocadores de calor de placas proporcionam excelentes coeficientes de transporte de calor. Em fungio desse fato e da menor formaciio de depésitos sobre as superficies de troca de calor, para uma dada condigdo, 0 coeficiente global de toca térmica chega a ser até cinco vezes superior ao obtido em um trocador de calor de casco e tubos. Por causa desse ex- ccelente desempenho térmico, area de troca térmica requerida, para uma dada demanda, tona-se menor. Assim como os trocadores de calor de tubos concéntricos, os de placas apresentam boa flexibilidade no ajuste da érea de toca térmica (acrescentando ou retirando placas), em funcao da demanda do processo, S40 equipamentos compactos ¢, em geral, de baixo peso, O menor volume de metal usado na construgao ¢ de grande vantagem quando 0 trocador deve ser feito em aco inoxidével ou algum outro metal de maior cust. Em razao da facilidade de desmontagem, os trocadores de placas sao os mais adequados em termos de limpeza mec nica e higienizagao. Esta representa uma caracteristica extremamente importante para processos de aplicagées sanitarias. Por causa disso, quando ambos os fluidos envolvidos sao alimenticios, recomenda-se que a troca térmica seja feita em um twocador de calor de placas. Isso ocorre nos casos de “recuperacio de calor’; quando o alimento quente é usado para pre- aquecer 0 alimento frio que entra no proceso. excelente desempenho térmico permite a operacdo com uma diferenca de temperaturas entre os fluidos quente efrio (chamada de approach) de apenas 2°C a3 °C e requer um menor volume de produto retido dentro do equipamento. Essas caracteristicas sio vantajosas para processamentos de produtos termosssensiveis, como é 0 caso dos alimentos. Uma vez que a camada do produto alimenticio que escoa ao longo de um canal é bem fina, o tempo de retengao no equipamento Gaeta Orificio fechado Orificig aberio Arranjo de passes: us 22/41 Figura 10.9 Uma possibiidade de arranjo de passes para um trocador de calor de placas com nove placase, consequentemente,oito canais de escoamento. TROCADORESDECALOR 361 écurto, minimizando, desse modo, a possibilidade de degradacao térmica. Além disso, o menor volume retido dentro do equipamento reduz as perdas associadas as paradas de processo ou ajustes de condigdes de operacdo. Um ponto vulnerivel nos trocadores de calor de placas, entretanto, sao as gaxetas que, em geral, tem vida iti limitada, Hi restricdes do seu uso para servicos a pressOes elevadas (superiores a 2000 kPa) e/ou a temperaturasaltas(superiores a 300 °C). Nessas situagoes limitrofes, é preciso recorrer a tipos mais espectficos e robustos de trocador e, comisso,a facili. dade de desmontagem e a consequente limpeza ficam projudicadas, Os tocadores de calor de placas nao sio recomendados para produtos alimenticios com presenga de fbras ou par- ticulas em suspensdo, pols estas podem ocasionar entupimentos. Também néo sio muito apropriados para liquids de alta viscosidade, uma vez que asta distribuicdo ao longo das placas torna-se mais problematica e a perda de carga no es. coamento pode tomnar-se proibitiva. Nao s4o usados, de modo geral, para vapores e gases (com excecao do vapor ddgua). 10.2, EQUACAO BASICA DE PROJETO DE UM TROCADOR DE CALOR Aoperacdo de um trocador de calor contracorrente pode ser simplificacla como na Figura 10.10. 0 fluide quente atravessa © trocador de uma extremidade a outra fornecendo continuamente calor ao fluido frlo (que escoa no sentido contrario) através da parede metilica. As éreas de troca térmica nos lados quente (4,) efrio (4) sao diferentes no caso de trocadores tubulares (duplo tubo, superficie raspada ou casco e tubos) e iguais no caso de trocadores de placas, Nos trocadores tu. bulares a érea de troca ¢ a soma da area de todos os tubos do feixe, No caso de placas, a érea total é a soma das areas das placas térmicas. Chamamos de “carga térmica” a taxa de transferéncia de calor entre os uidos quente efrio no trocador (4). Despre- zando-se as trocas de calor com o ambiente, a carga térmica em um trocador de calor pode ser caleulada por ts modos. No primeiro modo, aplicamos um balanco global de energia no lado do trocador onde escoa o fluido frio. No estado estacionério, a taxa de entrada de energia se iguala a taxa de saida de energia no volume de controle: [taxa de entrada] | de energia +t Hy a de saida’) de energia H, (20.1) emaque q éataxade transferéncia de calor [W}; m1, 6a vazio méssica do fuido fro {kg -5"]e He H, so, espectivamente, as entalpias especificas do fuido frio na entrada ena saida do trocador de calor [J kg]. Para o caso particular em que nao +h mudanga de estado, e desprezando-se a variacao do calor especifico em fungio da temperatura, a Equagdo 10.1 tomna-se. = ti, Cry (Tp —Te) = C, (7, -T,) (10.2) {em que Cy € 0 calor especifico a pressdo constante do fuido fro [J-kg"'-K"];T, 6 a temperatura média do Nuido fro na entrada do trocador [KJ e 7, 6a temperatura médlia do uidofrio na safda do trocador [K O produto da vazdo pelo calor espectfico é denominado “capacidade térmica” dofluido:C{J-s"!-K:], sendo G, para fuido foe C, para. Mido quente No segundo modo, o balango de energia ¢ aplicado ao lado quente do trocador. Analogamente ao desenvolvimento feito para o lado fro, a carga térmica cedida pelo fuido quente é dada por Fe) =O. (Te Tu) (10.3) em que Cy € 0 calor especifico a pressao constante do fluido quente (J- kg"-K"!]e Tj, € T, 20 as temperaturas médias do fluido quente na entrada e na safda do trocador {K], respectivamente. 4 = mC, ( Figura 10.10 Representacio do circuito térmico em um trocador de calor, com 0s fluidos escoando em contracorrente, 362 captruLo10 Por fim, 0 terceiro modo para calcular a carga térmica envolve a determinagio do cbeficiente global de troca térmica entre 0s fluidos quente ¢ frio, U [W- m° - K~](reveja o conceito do coeficiente global na Se¢ao 9.4 do Capitulo 9). 0 cir- ‘uito térmico destacado na Figura 10.10 indica a existéncia de trés resistencias térmicas entre T, ¢ T; convecgao no fluido quente, condugao através da parede metilica e conveccao no fluido A.combinagao dessas resistencias fornece o coeficiente global de troca térmica U, conforme as Equagées 9.31 a 9.34 da Segao 9.4, Na Tabela 9.9 as equagoes para as resisténcias de condugao em paredes planas (ites para trocadores de placas) e cilindricas (eis para trocadores tubulares) e para a resistencia de conveccdo sao mostradas. A forma geral da equacao do coeficiente global de troca térmica em trocadores é apresentada na Equacao 10.4, em que A, Aso as dreas de troca térmica nos lados quente e frio [m'], A &a érea de troca térmica de referéncia [m‘] (pode ser A, ou A); 4, &amé- dia logaritmica entre A, e A, {m*] (Equagao 9.7); h, € h,sd0 0s coeficientes de conveccao nos laos quente e frio {W - m= K*'](reveja 0 conceito de h na Secdo 9.3); € 6a espessura da parede metélica que separa os lados quente e frio (m] e ky, éa condutividade térmica do metal [W- m--K" 1A godngoer ysl (10a) UA yA, kyAy IiyAy Para trocadores de calor de placas, as dreas nos lados quente ¢ frio so iguais, ou sej, A Ay =ApAy sendo 1n,,0 ntimero de placas térmicas e A, drea efetiva de troca de uma placa {m]. Entretanto, para trocadores tubulares, as reas de troca sao diferentes para 0s dois lados do trocador. De modo geral, a érea de troca para o fluido que escoa no terior do(s) tubo(s) é A = n,xD,L [m*] ea drea de troca para ofluido que escoa no casco ou no fnulo é A = n,xD_L.[m], em que D,e D, s4o os diametros interno e extero do tubo {m|, respectivamente; I 6 0 comprimento de um tubo (m] e n, 6 0 rnimero de tubos do feixe. A espessura da parede do tubo 6 e= (D, - D)/2,(m]. Nos trocadores tubulares a rea de referén- cia €a maior érea, ou seja, aquela relativa ao diémetro externo do tubo. O coeficiente global calculado por meio da Equacao 10.4 ¢ dito “limpo’ pois ele nao leva em conta possiveis depésitos de material que venham a se formar nas superficies de troca térmica. Os conceitos de coeficiente global “sujo” e de fator de incrustagio sao apresentados mais adiante na Secdo 10.2.3. ‘Adotando a Equacao 9.32, a carga térmica do trocador de calor pode entio ser expressa como: q=UAD Aforga motriz de troca térmica, também chamada de potencial térmico, 6a diferenga entre as temperaturas do fluido ‘quente e do fluido frio, AT'= T, ~ 7, (veja a Figura 10.10). Esse potencial térmico varia ao longo da extensao do trocador e um valor médio, AT,,,€ utilizado na Equacio 10.5. A determinacdo de AT, 6 apresentada adiante, na Secao 10.2.2. ‘Uma variavel auxiliar muito usada na andlise de trocadores de calor & a eficiéncia térmica (ou efetividade térmica). Essa varidvel € definida na Equacao 10.6 como a razAo entre a carga térmica do trocador e a carga térmica maxima que ele poderia atingir se a érea de troca fosse infinitamente grande em escoamento contracorrente, No denominador da Equa- 0 10.6, a capacidade térmica é a minima dentre os lados quente e frio do trocador e o potencial térmico € 0 maximo: atte orice et hte (10.6) MK dass CC pain Tye ~Ze) em que n, 6 eficiéncia energética do trocador {adimensionall Em resumo, as Equacdes 10.2, 10.8¢ 10.5 fornecem o valor da carga térmica do trocador, ¢ .O uso de cada uma delas dependera das informagoes dispontveis. Pela Equagao 10.5, observa-se que a érea de troca térmica (A) necesséria para uma dada demanda de carga térmica (@) depende do valor do potencial térmico médio (A, ), assim como do coeficiente global de troca térmica (U). Entdo, quanto maior a diferenca entre as temperaturas dos dois fuidos e/ou mais intensa for a troca térmica (maior valor de U), ‘menor serda drea requerida para atingir a demanda, tomnando mais barato o equipamento. Por essa razao, a Equaco 10.5 €conhecida como a equacao bdsica de projeto de um trocador de calor. Sua grande importancia esta em relacionar 0 ta- ‘mano do trocador (rea de troca) com seu desempenho (carga térmica, temperaturas de saida). ‘Com relagio & equacao basica de projeto, convém distinguir duas situagGes no seu uso. A primeira é a de um projeto propriamente dito (etapa de design ou “dimensionamento”), isto é, na concepgao de um equipamento a ser construida para atender uma dada demanda de carga térmica (¢). Nesse caso, deve-se buscar a geometria de um trocador de calar € consequentemente a sua drea, de modo que se tenha o valor ideal do coeficiente global de troca térmica, para as condi- 4G0es de processo especificadas. Em razio do maior grau de liberdade nesse estudo (pois oequipamento ainda nao existe), essa anilise nao é tao simples. A outra situagao do estudo de um trocador de calor, conhecida como avaliagao (rating), refere-se ao caso em que 0 equipamento jé existe. Com isso, o tamanho e a geometria do trocador de calor sao conhecidos e fixos. Deseja-se entao avaliar 0 seu desempenho, por meio da determinacao do coeficiente global de troca térmica, da carga térmica e das tem peraturas de safda. (0.5) 10.2, TROCADORESDECALOR 363 No caso de projeto,a carga térmica desejada 6 uma varidvel especificada e, no caso deavaliagao, a carga térmica ¢uma varidvel desconhecida. No primeiro caso pergunta-se: “Quais devem sero tamanho eo desenho do trocador de calor para atender a carga térmica desejada, dadas as condicdes de alimentacao dos fuidos (vazdes ¢ temperatura de entrada)?” No Segundo caso pergunta-se: “Qual seré a carga térmica proporcionada por esse trocador, dadas as condigées de alimenta. ‘G80 dos fluidos (vazoes e temperatura de entrada)?” Em uma situagio de avaliagao, o trocador existente pode ou nao estar em operacio. Caso ele esteja em operacao e seja possivel medir as vazdes e as temperaturas de entrada e de safda dos fuidos quente e/ou frio, as Equagoes 10.26 10.3 fomecem a carga térmica real experimental) do equipamento, Possiveis dferencas entre os valores calculados para os lados quente efrio do trocador geralmente estao associadas & troca térmica entre o equipamento eo ambiente ou a erros experimentais de coleta de dados. O valor experimental de 4 pode entio ser introduzido na Equagéo 10.5 para obter o valor experimental do coeficiente global de troca térmica, Por outro lado, se 0 trocador nao estiver em operacao, 0 coeficiente global deve ser estimado calculando as resistén- Clas térmicas envolvidas, como na Equacio 10.4, O coeficiente de conveccao para os lados quente e frio deve ser estimado usando correlagdes tipicas, como as apresentadas adiante na Secao 10. 1 Tipos de escoamento Um trocador de calor pode ser classficado de acordo com os tipos de escoamento dos dois fluidos. Hé dois tipos bésicos de arranjos de escoamento: em contracorrente (escoamento paralelo em sentidos opostos, como nas Figuras 10.1 €10.3) ou con. corrente (escoamento paralelo no mesmo sentido). Além destes, existe oescoamento cruzado com direges em angulo de90° (menos frequente na indkstria alimenticia) 0s chamados arranjos “mistos” isto ¢, em partes do trocador oescoamento écon, {tacorrente e,em outras, concorrente (veja exemplos nas Figuras 10.5 e 10.9). Os arranjos mistos s2o normalmente representa dos pelos niimeros de passes dos fluidos quente efrio no trocador, como visto para os trocadores de asco e tubos ede placas. Como mencionado antes, o valor do potencial térmico (AT=T7,~ T) geralmente varia ao longo de um trocadorde calor, Na Figura 10.11 esté mostrado o perfil do potencial térmico para os dois tipos basicos de arranjo de escoamento, Nota-se uma grande variagao do potencial térmico ao longo de um trocador com escoamento concorrente, pois, os dois fluidos (quente e fro) entram em uma mesma extremidade do equipamento e saem juntos na outra extremidade com temperatw. Fas muito préximas, Para o caso de escoamento em contracorrente, o potencial térmico normalmente tem poucavarlagao 0 longo do equipamento, No escoamento concorrente, a temperatura de saida do fluido quente nao pode ser inferior & temperatura de saida do Aluido frio, Essas temperaturas, para um trocador muito longo, podem no maximo ser iguais, Jem um trocador contracor. rente é possivel tera sada do fluido quente com temperatura menor do que a saida do fuido frio, pols se trata de tempe- raturas de correntes em extremidades distintas do trocador de calor. Obviamente, para uma mesma segao transversal do equipamento, a temperatura do fluido quente sempre deve ser maior do que a do frio (veja a Figura 10.11). Como a melhor distribuigao do potencial térmico no arranjo contracorrente aumenta a eficiéncia da troca de calor, esse arranjo € escolhido preferencialmente ao arranjo concorrente, jé que a area de troca térmica necesséria sera menor (redugao de custo). Em casos excepcionals, pode-se tornar interessante o uso de um trocador de calor em concorrente. Um exemplo co mum ocorre no aquecimento de um alimento muito viscoso. A alta viscosidade aumenta a potencia necesséria para o bombeamento e reduz 0 coeficiente de transporte de energia por conveccao. Ao introduzir esse alimento na mesma ex tremidade em que entra o fluido quente, consegue-se um aquecimento brusco em razao do potencial bastante favoravel (Figura 10.11). Assim, o valor da sua viscosidade é drasticamente reduzido logo na entrada do equipamento e, com isso, logra-se um desempenho melhor no restante do trocador de calor. r r : 4 # a f al aoectan | T T~ id 1% . 7, Cae I Figura 10.11 Perfs da temperatura ao longo de um trocador duplo tubo com arranjos contracorrente e concorrente. A variavel AT representa o potencial térmico. 364 caPfTULO10 10.2.2 Potencial térmico médio Um aspecto importante para 0 uso da Equacao 10.5 ¢ a definicao do potencial térmico médio no trocador, AT., . Nocaso do escoamento contracorrente na Figura 10.11, 0 potencial térmico 6 AT =(T,,~ T,) em uma extremidade do equipamento e AT'=(Tyy~T,) na outra extremidade, A média asercalculada de AT deve ser logaritmica e nao aritmética, conforme a Equa- 0 10-7a, que define a média logaritmica da diferenca de temperatura( A7,, ou MLDT) para o escoamento contracorrente. (T,-T)-(e-Ts) (10.72) age con nl NER ate (1.-t)-(t.B) cant Demonstra-se que, fixadas as quatro temperaturas, valor médio do potencial térmico sempre maior parao escoamento em contracorrente em relagiio ao caso de concorrente, Entio, em termos de forga motziz para a troca térmica, é preferivel uso de um trocador com escoamento em contracorrente. Vale ressaltar que, quanto maior essa forga motriz, menor éa rea de troca térmica requerida para um dado servi¢o. Para trocadores com escoamentos mistos (parte contracorrente e parte concorrente no trocadot), potencial térmico médio pode ser determinado por meio de uma “correcao” da MLDI para escoamento contracorrente. Desa maneira, a Equacdo 10.5 pode ser reescrita na seguinte forma geral: 4G =UAR gp AT, (10.8) eM que Feo € 0 fator de corregao da MLDT [adimensional] e A7,, é calculada pela Equagao 10.7a (K]. Para o escoamento. contracorrente tem-se Fyxo7 = 1,0 e para o escoamento misto tem-se Fyypr < 1,0. A determinacio desse fator de correcao geralmente feita por meio de gréficos ou tabelas. Na literatura estdo disponiveis valores de Farr para os arranjos de passes ‘mais comuns de trocadores de casco e tubos (Bowman, Mueller e Nagle, 1940; Kakag e Liu, 1998; Kern, 1965; Sekulic, Shah e Pignotti, 1999; Shah e Sekulic, 1998; Tema, 1999) e de trocadores de placas (Kandlikar e Shah, 1989; Shah e Focke, 1988; Shah eSekulic, 1998). Importante salientar que, nos casos particulares em que um dos fluidos é uma substéncia pura e entra e sai ‘com a mesma temperatura por estar trocanclo apenas calor latente na condigio de saturagao (mudanca de fase: ebuligao ou ‘condensa¢ao), 0 valor médio do potencial térmico independe do arranjo de passes do trocador, endo utilizado Fy, = 1,0 Na Figura 10.12 esto apresentados 0s grficos de determinacao do fator de correcao da MLDT (Fy.x) para trocadores de casco e tubos com um passe no casco e um mimero par de passes no lado dos tubos (arranjos 1/2, 1/4, 1/6 etc.).O la- do do casco ¢ indicado pelo indice 1, enquanto 0 lado dos tubos é indicado pelo indice 2. Os resultados obtidos por esses ‘gréficos independem da localizacao dos fluidos quente e frio nos lados 1 € 2. O pardmetro R, representa a razao entre as. ‘capacidades térmicas dos lados 1 e2do trocador, conforme equacao na Figura 10.12. parametro auxiliar P, 6 uma relacao dimensional de temperaturas. © parametro adimensional NTU significa “niimero de unidades de transferéncia” e ele 6 amplamente utilizado na andlise de trocadores de calor, pois representa 0 “tamanho térmico” do trocador. Sua definicéo consta na Equacio 10.9, em que o denominador é a menor capacidade térmica dentre os lados quente e ftio do trocador. No caso da Figura 10.12, oNTU é calculado tendo como base o lado do casco do trocador (indice 1). uA nru=—_4 (10.9) (H#Cp), Na Figura 10.12 estio apresentados dois grficos para auxiliar tanto nos casos de avaliagao como nos casos de projeto de um trocador.Tratando-se de uma avaliacao, o valor de NTU pode ser calculado a partir da érea e do coeficiente global de troca térmica. Obtém-se entdo o parametro P, por meio do grifico inferior e depois 0 valor de Fax por meio do grafi- : co superior. Note que P, jé fornece o valor da temperatura de safda no lado do casco, 7, Jé em um caso de um projeto, as temperaturas de safda sio conhecidas e, portanto, tem-se o valor de P,. Consequentemente, determina-se Fin por meio do grafico superior na Figura 10.12 (independentemente da atribuigao dos fluidos aos lados 1 €2) De maneira andloga, na Figura 10.13 esto apresentados os grificos de determinagio do fator de corregao da MLDT. : para trocadores de casco etubos com dois passes no casco e um mimero de passes miltiplo de quatro nos tubos (arranjos 2/4, 2/8, 2/12etc). Os graficos superiores das Figuras 10.12 € 10.13 sao cortados por uma linha pontilhada. A regiéo abaixo dessa li- nha € considerada de “instabilidade’ pots se tem uma grande variagao no valor de Fyapr com uma pequena mudanga TROCADORESDECALOR 365 a! Fao | EET AA Figura 10.12 Fator de corrego da MLDT (Fyacr) para um trocador de calor de casco e tubos com um passe no lado do casco (indice 1) e com um ndimero par de passes nos ‘tubos (indice 2) (arranjos 1/2, 1/4, 1/6 etc), aca, Figura 10.13 Fator de correcSo da MLDT (Fy) para um tro- cador de calor de casco e tubos com dois passes no lado do casco (indice 1) e com um niimero de passes mitiplo de quatro nos tubos (indice 2) (arranjos 2/4, /8, 2/12 ete) 366 caPfruLo10 no valor de P,. A linha representa o limite no qual se tem @Fy.>, /@P, = -2,5. Deve-se evitar a operacao de um trocador de calor na regiao do grafico abaixo da linha pontilhada, pois uma oscilagao nas condigées de processo pode provocar uma queda abrupta no For € inviabilizar a troca térmica no equipamento, Além disso, recomenda-se trabalhar em ‘uma condi¢ao que forneca Fix. > 0,75, j4 que valores baixos desse fator esto associados a baixos potenciais térmicos médios no trocador (AT, ). Um trocador de calor de casco e tubos com érea de troca de 2,1 m opera resfriando suco de abacaxi, com concentragao de sélidos soliveis de 15 *Brix. O suco percorre o lado dos tubos fazendo dois passes. Jd 0 casco é atravessado uma vez com Agua de resfriamento que entra a 5,0 °C. As vazdes volumétricas de suco e de gua sio 1,0 m?- he 1,9 m*- I respectiva- ‘mente. Sensores de temperatura nos dutos de entrada e de saida forneceram os seguintes valores médios: T= 50°Ce T,,= 23°C. Determine: (i) a carga térmica do trocador; it) a temperatura de safda da agua; (ii) a eficiéncia térmica; e (iv) 0 ¢o- eficiente global de troca térmica. Propriedades médias para 0 suco de abacaxi 15 Brix: p= 1060 kgm, C,=3770]- kg K_Propriedades médias para a dgua de resfriamento: p = 1000 kg: m> Cy = 4200 - kg" -K°. Solugdo i (). Asvazbes massicas slo calculadas como: | ; m= =1060%1,0 (*8.™ 18) 6,294 kg. i 7 h 3600s. 7 kg moth = 1000x1,9 | —.—. 1,529 kg -' hi (8 h saa) . A Equagio 10.3 fornece a taxa de transferénci is Coy (Tye ~ Ty ) = 0,294 3770 (323-296) (kg 0,0 kW (ii) Por meio da Equacao 10.2 (balango de energia no lado frio do trocador), a temperatura de safda da agua pode ser determinada: de calor do equipamento, ou seja, sua carga térmica: )(G-ke"-K")-K oe (-5") 0,529%4200 (kgs). (kg) T, =291,5K =18,5°C T, = 278K +. (lil) A eficiéncia do trocador é obtida pela Equacao 10.6: Peel cla bs WiC Joa TT) 30,0x10° w (0,294%3770)x (323-278) (kg-s)-(J-kg?+K™')-K 11= 0,601100 = 60,1 % (iv) Para determinar 0 coeficiente global de troca térmica ¢ preciso primeiro determinar a MLDT para escoamento con- tracorrente aplicando a Equacao 10.7a: (296-278) (323-291,5) et (296-278) | (23-201,5)] TROCADORESDECALOR 367 Por meio do grafico superior da Figura 10.12, ¢ possivel obter 0 Fy,» a partir dos valores calculados de Rye P.: (Cou _ 0452934200 igs" Icky" -K (Cy), 2943770 | kes ekg K potezTe _2915-278(K) 7,,-T, 323-278 \K) Fao * 0,88 (por curiosidade, invertendo 0s fuidos de lados,t8m-se R, = 0,50, P,~0,60 e, novamente, Fy, ~0,88) 30 Com esse resultado, a Equacio geral de trocadores de calor (Equacao 10.8) é aplicada para determinar 0 U: 30,0%10°_W 2,1*0,88%24,1 mK 72 Wem?" Veja que, usando R, e P, no grafico inferior da Figura 10.1: estimar 0 valor de U: , € possivel estimar NTU, = 0,64. Entao, pode-se também NTU, (1), _0,64%(0,529%4200) (kg-s")-(J-kg"-K~) 4 21 m Respostas: (i) a carga térmica do trocador é de 30,0 kW; (li) a temperatura de safda da égua é 18,5 °G; (iii) aeficiéncia tér mica é de 60,1 %;e (iv) 0 coeficiente de troca térmica 6672 W.m=-K:! Para trocadores de calor de placas, 0s arranjos de passes sto muito mais flexiveis do que no caso dos trocadores de cas- ‘co € tubos, o que exige uma grande quantidade de graficos e tabelas para determinagao do fator de correcao da MLDT. De forma geral, 0 Fyqnx de um trocador de placas depende do mimero de placas, do arranjo de passes e da localizacao relativa entre as entradas dos fluidos quente e frio no pacote de placas. Na Figura 10.14, um exemplo especffico de um trocador de calor de placas com miimero impar de placas térmicas, arranjo de passes 1/1 com entradas em cantos diametralmente opostos do trocador e razao entre as capacidades térmicas R, = 1,0 é ilustrado. lo ics) GC, Figura 1014 Fator de correc da MLDT Fx) pa ra um trocador de calor de placas contracorrente com arranjo de passes 1/1, numero impar de pla oo ony o4 10 109 nur, =U — — as termicas e razdo entre as capacidades térmicas GHD, R=10. 368 —cAPITULO10 09 Fuor 00 0,1 02 03 04 05 06 07 08 09 19 Figura 10.15 Fator de correcdo da MLDT (Fur) para.um trocador de calor de placas com aranjo de passes 1/2 ou 2/1 e entrada em cantos dia metralmente opostos do pacote de placas. Co- mmo foi assumida a hipdtese de nero infnito de placas, 0 valor de n, pode ser par ou impar. Pode ser observado na Figura 10.14 que 0 Fue depende do niimero de placas térmicas, n,,. Note que quando o ntime- ro de placas aumenta, 0 valor do Fy, tende a 1,0. Esse resultado é esperado, pois no arranjo 1/1. com entrada em cantos diametralmente opostos do trocador, todos os canais, exceto o primeito e 0 tiltimo, tém escoamento contracorrente com (8 canais vizinhos (observe o esquema da Figura 10.14). Os canais das extremidades do trocador tém um efeito negativo sobre o desempenho térmico, pois s6 tém um vizinho para trocar calor. Quando 0 ntimero de canais no trocador ¢ alto, 0 efeito negativo dos canais das extremidades acaba sendo “diluido” e pode ser desprezado. No caso da Figura 10.14, para ry" © tem-Se Fyn = 1,0, que corresponde ao escoamento puramente contracorrente. i A hipétese de desprezar o efeito dos canais nas extremidades do trocador e aqueles vizinhos as mudangas de passe simplifica a determinagao do Fypp jé que o resultado vai ser independente do ntimero de placas térmicas, np. Esse € 0 ca~ so dos gréficos apresentados na Figura 10.15, que fornecem 0 Fy», para um trocador de placas com um arranjo de passes 1/2eentrada em cantos diametralmente opostos do pacote de placas. A similaridade entre as Figuras 10.12 (casco e tubos) € 10.15 (placas) se deve ao arranjo andlogo de passes (1/2) ; | 10.2.3 Fator de incrustagao Na equagao basica de projeto de trocadores (Equacdo 10.8) utiiza-se o valor do coeficiente global de troca térmica (U), | {que contempla as resistencias térmicas dos fluidos quente efrio e também da parede metalica, conforme a Equacio 10.4 para um trocador tubular. Porém, na pratica, para um trocador de calor operando, podem aparecer mais duas resisténcias } { troca térmica. Tanto 0s fluidos industriais quanto os alimenticio podem acumular depésitos nas paredes do trocador ; (incrustagéo), que dificultam o transporte de energia. Esses depésitos podem ocorrer por causa da fixagao de sélidos em suspensiio, da degradacao térmica de compostos organicos, da coagulagio ou desnaturacao de proteinas, da corrosao do metal, do crescimento de algas etc. ‘Consequentemente, a Equagao 10.4 deve ser substituida pela Equacdo 10.10 que inclui os termos associads as re~ sisténeias térmicas dos depdsitos formados nas superficies de troca (lados quente e frio do trocador). A nova varidvel Rye [K-m#-W>] 60 fator de incrustacao (fouling factor) (10.10) TROCADORESDECALOR 369 ‘em que U, é0 coeficiente de troca térmica *sujo” [Wm 100 fatores de incrustagio em razao dos fluidos quente e frio [K-m2.W"], respectivamente. Na prtica, esses depdsitos se formam gradativamente ao longo do tempo de operacao. Em outras palavras, quando ‘oequipamento novo ou limpo é posto em funcionamento, como nao hé ainda incrustagao, tem-se o coeficiente global de troca térmica “limpo" dado pela Equacao 10.4. Na medida do seu uso, de acordo com a natureza do fluido e as condigoes operacionais, cresce a camada de depésito, aumentando assim a resistencia a troca térmica. Pode-se ver, por meio da Equa~ ‘¢@o 10.10, que o atmento nos fatores de incrustacao diminut o valor do coeficiente global de troca térmica. Como resultado, 4 drea de troca térmica deve ser maior para conseguir atingir o desempenho térmico desejado, conforme a Equacao 10.8. No projeto de um trocador, portanto, ha de se adotar um valor, a priori, para cada um dos fatores de incrustacio. Nas sntados alguns valores sugeridos para trocadores de calor de casco e tubos e de placas, respecti (Os fatores de incrustagio para trocadores de placas sio inferiores aos dos trocadores de casco e tubos, pois a maior turbuléncia entre as placas corrugadas em um canal de pequena espessura dificultam a formagao de grandes depésitos. Em um projeto de trocador, a area calculada para o trocador de calor usando U,na Equagao 10.8 estaré superdimen sionada, ou sefa, haverd um excesso de drea e o trocador tera um desempenho acima do esperado quando estiver limpo. Na operacao de um trocador limpo, ajustes na vazo ou na temperatura de alimentacao do fluido de servigo podem ser necessérios para acertar a temperatura de saida do fluido produto. ‘Ao longo da operagao do trocador, as camadas de depésito ficarao mais espessas e a carga térmica do trocador cairé gradativamente caso ajustes nao sejam realizados. Depois de certo periodo de operagao, nao sera mais possivel atingir a carga térmica desejada e seré necesséria a parada para limpeza do equipamento. Com isso, restabelece-se praticamen- te 0 valor do coeficiente “limpo” na troca térmica e reinicia-se um novo ciclo. Um exemplo bastante comum é no uso de "Je RugeRy ‘Tabela 10.1 Fatores de incrustaco recomendados para trocadores de calor de casco ¢ tubos FLUIDO Ram! Wi] ‘Agua destilada 9x10 Agua de resfriamento (tratada) ou de poco 2x10 Agua dura ou de rio 5x04 Agua de cilindro de motores 2x10 leos de lubrificagao 2104 Oteos vegetals 5104 Solugdo de etlenoglicol ou de etanol 4x10 Solugio de cloreto de s6dio sx10* Gasolina, nafta e querosene 4510495 x10 Liquids refrigerantes 210" Vapor de gua (sem arraste de 6leo) 9x10 ‘Vapores refrigerantes (com arraste de 6leo) 4x0 Fonte: Tema (1999). Tabela 10.2 Fatores de incrustacao recomendados para trocadores de calor de placas FLUIDO Rk mW Agua dest 910" Agua mole 2108 Agua de resfiamento(tratada) 3x10 Agua dura, de rio, de canal, de poco, do mar (costa) ou de estudio 4x10 Agua de cilindro de motores 5x10 Oleos delubsificaglo 2 10%a4 «10 leos vegetais 21044510 Solventes organicos 9x10%a3x10 Fluidos de processo, geral 9x 10%a5% 10 Fonte: Marriot (1971). 370 caPrTULo 10 trocadores de calor tipo placas para a pasteurizacio de leite. No trocador responsével pelo aquecimento do leite até na temperatura de pasteurizacdo hé considerével formacao de depésitos de proteinas coaguladas e, apés algumas horas de ‘operagao, é necessério proceder com uma limpeza quimica (CIP: clean in place) ou com uma limpeza manual apés aber- ‘ura do pacote de placas. 0 deo de soja deve ser continuamente aquecido em um trocador de calor de duplo tubo contracorrente usando égua ‘quente a 97°C como fluido de servico no anulo (vazao = 1,40 m*h~!). O diémetro externo do tubo onde escoa o dleo é D,=1,0in = 2,54 cm ea espessura da parede é de 2,0 mm. A vazao de dleo é de 0,21 kg -s*, a sua temperatura de entra: da é de 30 °C e a sua temperatura de saida deve ser de 80 °C. Adote como coeficiente global de troca térmica U = 600 W- K+. m(trocador limpo) e como fatores de incrustagao Ra= 5 x 10-*K-m®- W" para o 6leo € Ry.,= 2% 10K m? W" para a dgua quente. Qual 6 0 aumento percentual no comprimento do trocador de calor por causa da introdugao dos fatores de inerustagao no projeto? Solugao Deacordo coma Tabela 9.3, ocalor especifico do dleo de sojaa 1 °C ¢ 1,87KI-kg!K"'ea 100°C 62,13 K)-kg!-K'!. Atempe- ratura média no problema é de (80 +30)/2=55 °C. Interpolando linearmente os valores da Tabela 9.3, ¢ obtido o calor especi fico médio do leo de soja: Cp=2,01 KI -kg- KA carga térmica desejada para 0 trocador ¢ obtida aplicando a Equagao 10.2: = tin, Cy, (T, -T,) = 0,21%2010x (353-303) (kg-s™)-(J-kg™ -K")-K 2,1 kW A temperatura de safda da égua quente pode ser determinada por meio da Equagao 10.3, assumindo que o trocadot 6 termicamente isolado do ambiente. Para determinar 0 calor especifico médio e a densidade média da dgua quente, foi assumida, a priori, uma temperatura média de 90 °C. Para a obtencao dos valores de Ge p, equagdes correspondentes da ‘Tabela 9.4 foram utilizadas, sendo: C,= 4,21 kJ -kg" -K"'e p= 967 kg-m™. A vazao médssica de égua é: rin= Op =1,40x967 | ™. hm Ea temperatura de saida da égua é: 21,1x10° 0,376x4210 (kes 370 K+ Cry 97 K =84°C Para essa temperatura de saida, a temperatura média da agua ¢ (97+84)/2= 90,5°C, valor préximo daquele usado para cestimar as propriedades da ‘gua. Caso o valor fosse muito diferente, uma nova temperatura média deveria ser assumida para a determinagio de C,e p. ax AMLDT calculada pela Equacao 10.7a¢ AT, = 31,9 K. Usando o valor fornecido do coeficiente global de troca térmi- ca, a Equacdo 10.8 fornece a area de troca do trocador 4 21,1x10" Rar Tn Dado o diémetro externo do tubo, o seu comprimento deverd ser: AL M0 (a wo, SraTex0.08i\ Considerando agora os fatores de incrustagao (Equagdes 10.4 e 10.10): TROCADORESDECALOR 371 msn ai chs 2xt04+5x104/ a 00 (oo21a)|w Ovalor encontrado de U, = 406 W- K-'. m:*€ 32% menor que o “limpo’: Com esse novo coeficiente global, a érea de troca deverd ser A = 1,62 m* (Equagio 10.8) e o respectivo comprimento do trocador devera ser L = 20,3'm (au. mento de 48 %). A introducao dos fatores de inc Respost 10.2.4 Coeficientes individuais de conveccao Para cilculo do coeficiente global de troca térmica por meio da Equa¢ao 10.10, so necessérios os coeficientes individuals de conveegao nos lados quente ¢ frio do trocador:h, ¢ hy [W- Km}. O coeficiente de convec¢do depende das propre dades do Mluido, de sua velocidade média, da direcao de escoamento e da geometria da superlicie de troca térmica. Con. Sequentemente, as correlacdes para a determinacao desses coeficientes sio especializadas para cada tipo de trocador falxa de propriedades dos fluidos, Na Seco 9.3.2, em que a troca térmica por convecgio foi abordada, foram apresentadas algumas correlagdes para a determinacao de coeficientes convectivos. Na sequéncia sto apresentadas correlagdes mais cespecificas para escoamento no interior de trocadores de calor. Trocador de calor de duplo tubo A drea de troca térmica em um trocador de duplo tubo é A= xD.L (m"]. Para projetar 0 trocador, 0s didmetros interno e externo dos dois tubos devem ser especificados (D, D, e D, na Figura 10.16), deixando como varidvel o comprimento do trocador, L [m]. Note que, substituindo as dreas na Equago 10.10, tem-se o coeficiente global de troca térmica indepen. dentemente do comprimento L, como na resolucio do Exemplo 10.2. Paraadeterminacéo dos coeficientes convectivos do fluido no tubo interno podem ser utilizadas as equages apresen- tadas na Seco 9.3.2 para escoamento laminar e turbulento no interior de tubos, Para o célculo dos ntimeros de Nusselt ¢ Reynolds (Equagdes 9.16 ¢ 9.17), a dimensao caracteristica 60 didmetro interno do tubo: d= D, No caso do fluido que escoa no anulo ha dois coeficientes convectivos: um relativo a superficie do tubo no centro (D,) € outro relativo ao maior didimetro do anulo ou o diametro interno do casco (D.). Entretanto, no escoamento turbulento 6 ossivel assumir que esses dois coeficientes sao iguals. Nesse caso, utiliza-se uma correlagdo para escoamento turbulento no interior de tubos circulares (Equacao 9.21, por exemplo) adotando como dimensao caracteristica o didmetro hidréuli odo anulo. Vale lembrar que o didmetro hidréulico € definido como D, = 4A,/P,, em que A, P, sio a érea eo perimetro molhado da se¢ao transversal de escoamento, respectivamente, No caso do anulo de um trocador de duplo tubo, A,=(n/4) (D2 -D2)eP, =n(D,+D,); de modo que: Go.) Figura 10.16 Principe dimensBes de um trocador de calor de duplotu- bo, em que DD, ¢es80 os didmetros interno e extero ea espessurd 4 tubo do produto, tespectivamente:D, & 0 diémetro interno do «2sc0 04 do tubo da utildacee & 0 comprimento total do trocador 372 caPtruLo 10 Trocador de superficie raspada © trocador de superficie raspada ¢ de certo modo um trocador bitubular curto e de grande diametro com um eixo com aminas raspadoras no centro do tubo interno (veja as Figuras 10.3 e 10.4). Sua area de troca é A = xD,L {m*}, assim como ‘ade um trocador de duplo tubo (Figura 10.16). 0 trocador de superticie raspada ¢ normalmente usado para alimentos de alta viscosidade aparente, como pastas ¢ purés, 0 Anulo externo € preenchido com um fluido de servigo como agua fria, luido de refrigeracio, vapor digua ou dgua quente. Dada a alta viscosidade do alimento, pode-se considerar que este se comporta como um sélido, trocando calor com a superficie de troca por certo tempo até que a lamina raspe a superficie e renove o alimento em contato com ela, Seguindo essa linha de raciocinio, pode-se demonstrar que 0 coeficiente de conveccao tedrico 6 aquele dado pela Equacao 10.12 (McCabe, Smith e Harriott, 2005): a con (10.12) em que « é a velocidade angular do eixo [s"'] e n,é 0 nimero de laminas na circunferéncia do eixo. ‘Alternativamente, a Equacao 10.13 6 uma correlacao empirica para a determinagao do coeficiente convectivo em um trocador de superficie raspada do tipo votator, em que L é o comprimento [m]; D,¢ 0 diémetro interno [m] e ¥ ¢ velocida- de média [m.-s"] (Skelland, 1958). A dimensao caracteristica para o célculo dos niimeros de Nusselt e Reynolds (Equagdes 9.16 e 9.17) é 0 diametro interno: d= D,. (10.13) Trocador de calor de casco e tubos ‘A drea de troca de um trocador de calor de casco e tubos é A= n,D_L [mé, em que n, €0 ntimero total de tubos no feixe; D,€ 0 diametro externo de um tubo (mi e 1-60 comprimento de um tubo {m]. Para o edlculo do Coeficiente convectivo do uido no interior dos tubos, as equagoes apresentadas na Seco 9.3.2 para escoamento laminar turbulento no interior de ‘tabos podem ver aplicadlas tetido tet idlitiensto carhcteriotic O'dikruetro inverio doi tllsteasa Dy Nil deterttinacko do} valor do niimero de Reynolds, deve-se ter atencao ao calcular a velocidade média no interior de um tubo, jé que a vazao de alimentagio ¢ dividida entre todos os tubos do passe, ou seja: em que Q €avazio volumétrica de alimentacio [ms] en, 60 mlimero de passes no lado dos tubos. A razao n,/7, for- rece o niimero de tubos por passe. Asstume-se que a vazao ¢ dividida igualmente entre todos os tubos do passe. Adeterminacao do coeficiente de troca térmica no lado do casco ¢ um tanto complexa, pois depende de diversos pa- rametros geométicos como o alinhamento das fileiras de tubos, o espacamento entre fileiras, o formato das chicanas, 0 espacamento entre chicanas, o di&metro do casco etc. A correlacao simplificada na Equacao 10.15 fornece uma boa estl- ‘mativa do valor de h para o lado do casco (Donohue, 1949). A dimensio caracteristica para os niimeros de Nusselt e Rey- nolds é0 didmetro externo de um tubo: d =D, O termo (j/,) representa a razao entre a viscosidade média do liquido ea sua viscosidade avaliada na temperatura da parede do tubo: (10.14) 0,2( romney (0.15) Avvelocidade média empregada para o cilculo do ntimero de Reynolds (Equacao 9.17) é obtida pela razao: (10.16) em que @ €avazao volumétrica no casco [m’-s"}e A,, €a area geométrica média de escoamento no casco {m]. Essa média ¢ calculada entre a érea disponivel para escoamento horizontal, paralelo aos tubos, na janela de uma chicana (4..) a érea disponivel para escoamento vertical, cruzando o banco de tubos, entre duas chicanas vizinhas (A, Na Figura 10.17, as definicdes dessas dreas livres de escoamento A, ¢ A. para um casco com um passe sao ilustradas, sendo que D.¢ 0 diémetro interno do casco [m]; D, é0 didmetro extemo de um tubo [m]; sé 0 passo entre os centros dos TROCADORESDECALOR 373 om" | Figura 1017 Prncpascimensdes de um tocador de ca: “ — lo de coco etubos,em que D, & 0 ddmetro interno do eet, casco;D, 60 didmetio extern de um tubo, €6 paso ttre o-centros dos tubos, 5&0 paso entre os cicanas i __]_“tthmerstsAy rato sea pur econmentenaonala da cana ere par escoamerto cruzando baneo de tubos entre chicanas vinhas, espectvomente; re a sea dl janla da chicana en, 0 numero de tubes que ttravesiom one Janda Jas 4, ne tubos [ml]; s, 6 © passo entre as chicanas transversais [m]; nj € 0 niimero de tubos que atravessam a janela deixada pela chicana e 4; 6a érea da janela deixada pela chicana (m']. A drea dessa janela 6 normalmente expressa como uma fragao, da drea da segao transversal do casco, que é (nD?)/4. Usualmente a janela representa 20% da area da seco transversal Mais detalhes sobre a determinacao dos coeficientes convectivos em trocadores de casco e tubos podem ser obtidos na literatura espectfica (Kakag e Liu, 1998; Kern, 1965; Perry e Chilton, 1973; Saunders, 1988; Tema, 1999), Trocador de calor de placas A firea de troca de um trocador de calor de placas é A = yA, em que my é 0 ntimero de placas térmicas (total de placas no pacote menos as duas placas das extremidades que nao trocam calor) e A,yé a érea efetiva de troca de uma placa {m*]. Usualmente, o fabricante do equipamento fornece o valor da drea efetiva de troca de uma placa ou fator de alargamento da dea da placa, /,» {adimensional].. A area de troca térmica de uma placa é maior do que a rea projetada por causa do padrao ondulado, de modo que: salt (0.17) em que Ly € 0 comprimento da parte corrugada [m] ¢ w, 6a largura entre as gaxetas [m], como mostrado na Figura 10.18. Nessa figura, #6 0 Angulo da corrugagao tipo espinha de pelxe, ¢,€ a espessura da placa (m] e ¢,¢a espessura do canal (m]. Na pritica, 0 valor de ¢, deve ser obtido apés a prensagem do pacote de placas entre os pedestais do trocador. Do com- primento medido do pacote de placas subtrai-se (y+ 2)ep divide-se o resultado por (ny - 1) para ter o valor real de e. Figura 10.18 Principais dimens6es de um trocador de calor de placas, fem que L, € 0 comprimento da parte corrugada; w, é a largura entre as gaxetas;e, é a espessura da placa; e,6 a espessura do canal e4 é0 Angulo da corrugagao, 374 caPfruLo1o Tabela 10.3 Parametros de troca térmica para um trocador de calor de placas com padrao espinha de peixe N, ee ee bs S10 >10 <0 ‘ 10-100 >100 20 50° 20-300 >300 <20 20-400 >400 <20 265° 20-500 >500 Fonte: Saunders (1988), (0 desempenho térmico e hidrdulico de um trocador a placas ¢ fortemente influenciado pelo desenho da corrugacao pelo angulo de inclinagao das ranhuras. No padrao espinha de peixe, que é 0 mais comum, um &ngulo ¢ alto reduz a perda de carga eo coeficiente convectivo, pois fluxo segue quase paralelo as ranhuuras. Por outro lado, um valor pequeno de ¢ deixa as ranhuras quase perpendiculares ao fluxo no canal, elevando a turbuléncia e, consequentemente, a perda de carga e 0 coeficiente convectivo. E possivel utilizar placas de alto e baixo ¢ alternadamente no trocador para alcancar um desempenho intermediario. Nesse caso, para os célculos, pode-se considerar a média aritmética entre os Angulos. (O valor do coeficiente convectivo no canal de um trocador a placas com padrao espinha de peixe pode ser determina do por meio da Equacao 10.18 (Saunders, 1988). 0 valor dos parametros b, e b, depende do angulo das ranhuras, 6, con- forme a Tabela 10:3 Nyy = (Mp) on(4] (10.18) (0 nimero de Reynolds pode ser calculado por meio da Equacéo 9.17, em que a dimensio caracteristica do canal do trocador de calor de placas 6 0 seu didmetro hidréulico: D, = 44,/P,, em que A, é a érea da segao transversal a0 escoa- mento e P, € 0 perimetro molhado. Para um trocador de calor de placas: A, = ¢,, € P, = 2(f',pw, + €)= 2f'uiv, O didmetro hidréulico é, portanto: 2e, D, (0.9) Sa Avvelocidade média de escoamento no canal em um dos lados do trocador pode ser calculada como: 2 (10.20) (2) em que © 6 vazdo volumétrica de alimentagao (m* -};n, é 0 ntimero de canais e n, é 0 mtimero de passes. A razion/ 1, representa 0 niimero de canais por passe. Considera-se que a vazio de alimentagao é uniformemente distribufda entre oS canais de um passe. Uma solugéo de sacarose 60 °Brix deve ser resfriada a uma temperatura de, pelo menos, 10°C em um trocador de calor a placas usando dgua gelada. As temperaturas de alimentagio sio T,,=35 °C (solugdo de sacarose) e T,=1,0°C (égua). Ambas as vaziessio mi = 1,30 kgs". trocador que seré utilizado tem 35 placas térmicas (36 canais de escoamento) com arranjo de passes 2 x 9/2 x 9 e entradas em lados opostos do pacote de placas, na posi¢do inferior, de modo que o escoamento€ TROCADORESDEGALOR 375 contracorrente na maioria das placas. As principais dimensOes e caracteristicas da placa so: p=74,0 cm, w,=23,6cm, ¢»= 0,7mm, e, 5°, fip= 1,17 € k= 17 WK" - mr, As propriedades fisicas médias da solugiio de sacarose 60 °Brix sdo: p = 1286 kgm, C,= 2803 J - kg"! K" mPa. se k=0,407 W- K"-m’*. As propriedades fisicas médias da égua ®, Cp= 4206] kg" K", w= 1,33 mPa +e k= 0,584 W-K-'. m” (Gut e Pinto, 2003), Determine: (i) 0s, coeficientes globais de troca térmica limpo e sujo do trocador (adote Ry. = 3x10-° K- m?- W~ para 0s dois fluidos); (i) a ‘temperatura de safda da solucao da sacarose e a carga térmica nas condigbes de trocador limpo e stjo. Solugéo (i) Esse trocador tem um arranjo siméttico, ou seja, os lados quente e frio tém os mesmos niimeros de canals (n, = 18) ede passes (n= 2). 0 nimero de canais por passe é n,n, = 18/2=9. A drea da secdo transversal de um canal é A, = /,=6,37 x 10+ m*, A velocidade média de escoamento em um canal, para a solugio de sacarose é: 0,176 mss ie a AO glans MORE Do gn gee ( 1000%9%6,37%10" (kgm) Py i (O didmetro equivalente do canal do trocador é: 2e, 1,62 mm Cyi/k podem ser calculados: Nog = 355 Nag 9,58 Por m¢ para a solucao de sacarose e para a agua e, acorrecdo da viscosidade na parede, ou seja, u/s, = 1,0) Nin y= 1482 WK =m? Nyy ™ 526 y= 6654 W * Ko nv da Equagao 10.17 e da Tabela 10.3, so obtidos os Nuimeros de Nusselt (Equagdo 9.16: Ny, = hD4/k) jessa maneira, os coeficientes de conveccao associados (foi desprezada Finalmente, a Equagdo 10.4 fornece o coeficiente global de troca térmica para 0 trocador limpo. x10 7a | U= 1155 WK me? Introduzindo os fatores de incrustagao, tem-se 0 coeficiente global de troca térmica para o trocador sujo (Equa- ‘g&0 10.10): 1s age Rag + Ray = 7755+ 2(3x10") 1080 W- Km? (li) A determinagao das temperaturas de saida e da carga térmica em um trocador existente consiste em um problema de avaliagao. A area de troca nesse problema é conhecida: 376 cAPITULO10 A= Mp fag = 351517 * 0,740 % 0,236 m= 7,13 mt Para o uso da equa¢ao de projeto (Equacao 10.8) no célculo da carga térmica, é preciso antes determinaro fa- tor de corregao da MLDT. O arranjo de passes desse trocador faz. com que a maioria das placas térmicas tenha fluxo contracorrente, com excegiio de uma placa no centro do trocador,virinha a mudanca de passes. Veja na Figura 10.19 que ha um par de canais com escoamento concorrente no centro do trocador. Se for adotada a hipétese de niime- 10 infinito de placas, o efeito negativo dessa placa concorrente e dos canais nas extremidades do trocador pode ser desprezado, tendo entdo um trocador contracorrente com Fwy = 1,0. Figura 10.19 Distribuicdo do fluxo nos canais do trocador de placas do Exemplo 10.3, 0 trocador tem 35 placas térmicas, 36 canais e arranjo de passes 2 x 9/2 x 9 com entradas em lados opostos do trocador na posicio inferior. Para encontrar as temperaturas de saida e a carga térmica para o trocador limpo, é necesséria a resolucio con- junta das Equacdes 10.2, 10.3 10.8: G= 1, Cy (1 30% 4206x(T, -274) W 30% 2803%(3087,,) W (1,274) -(308=7,) mca { (308-7, ) ; ‘Temos um sistema de trés equagées algébricas trés variéveis (4 , Ty ¢ T,) cuja resoluao nao é trivial por cau- ‘sa do logaritmo, 0 uso de uma planilha eletrOnica possibilita a resolugéo por tentativa e erro. Dada uma estimativa para a carga térmica j, tem-se as temperaturas de saida a partir das duas primeiras equagdes. Em seguida, a ter Ceira equagao é usada para calcular um novo valor para a carga térmica. Testando diferentes valores de g pode-se convergir a solucao do problema, como mostra a Figura 10.20. Alinha pontilhada vertical representa a carga térmica maxima que 0 trocador por oferecer (n, = 100%), de acordo com a Equacao 10.6: GUAR yp AT, 155x7,15%1,0%. FC py (Tye ~Te) =1,30 2803 (308-274) W = 124 kW 40 oo 20 4 100 %0 sane RW] 0 © © © 10 120 140 iat RW] Figura 10.20 Convergéncia da soluc3o do Exemplo 103. Esta se encontra no ponte onde © valor estimado da carga térmica ¢ igual aquele calculado pela Equacdo 10.8. TROCADORESDEGALOR 377 A solugdo final é ¢ = 95,6 kW, n, 17, = 18,5 °C (agua) e 7, =8,8 °C (solugdo de sacarose). Usando 6 valor de U, anova solugdo é ¢ =93,5 KW (queda de apenas 22%), n,=75,5°%, T= 18,1 °C (agua) € T,,=9)39C (solucao de sacarose). As duas condigoes atendem a exigéncia de resftiara solucio de sacarose a pelo menos 10°C. 1080 W- K*- mr; (i) 8,8%Ce ¢ =95,6 kW para o trocadorlimpoe Ty, =9,3 °C 10.3 DIMENSIONAMENTO E CONDIQOES DE PROCESSO AEquacao 10.8, que éa equacao basica para o projeto de trocadores de calor, ¢ fundamental por associar o desempenho do trocador coma sua drea de troca térmica, Entretanto, o problema de dimensionamento do equipamento é mais complexo do que a determinagao de sua area de troca, Jé que cada tipo de trocador conta com um grande conjunto de parimetros geométricos e construtivos. A metodologia no roteiro de célculos muda em fungaio do tipo do trocador, mas os conceitos fundamentais envolvidos sio basicamente os mesmos, em especial o uso das Equagdes 10.2, 10.3, 10.8 e 10.10 Na etapa de projeto deum trocador de calor, so tipicamente conhecidas as temperaturas evaz0es de alimentago dos dois fluids, assim como as temperaturas de safda esperadas para os fluidos quent e frio. O primeiro passo da andlise éa determinacao das propriedades fisicas médias dos fluidos para afaixa de temperatura de operacao (densidade, calor espe. cific, condutividade térmica e viscosidade). £ aceitavel que se adotem, como simplificagio, os valores das propriedadies de um dado fluido referentes a sua temperatura média aritmética entre a entrada e a aida. Em conjunto, as Equagoes 10.2 © 10.3 devem ser usadas para determinar a(s) temperatura(s) de safda cesconhecida(s) e/ou a carga térmica do trocador. Uma vez escolhido o tipo de trocador de calor (duplo-tubo, superficie raspada, casco e tubos ou placas), a Equaga 10.8 deve ser usada para obter a principal variavel de dimensionamento, que ¢ a 4rea de troca térmica, A, Entretanto, od. mensionamento normalmente é um processo iterativo constituido de uma série de problemas de avaliagao. Sao feitas v4 sas tentativas, com geometias e tamanhos diferentes, buscando a menor rea (menor custo do equipamento) que atendit satisfatoriamente & carga térmica desejada. Algumas varldveis de construcao devem ser especificadas a priori de maneira a permitir o célculo dos coeficientes de conveegio dos lados quente e fio (h, ¢ fy) e do coeficiente global de troca térmica (U,) por meio da Equacao 10.10 (ado- tando valores apropriados para os fatores de incrustacdo). Ao longo do processo iterativo, essas varidveis especificadas podem ser revistas e ajustadas, de acordo com os resultados obtidos. fator de correcao da MLDT deve ser determinado usando um grafico ou uma tabela apropriado para tipo de trocador earranjo de passes escolhido. Uma vez determinados U, ¢ Fyn a drea de troca térmica é obtida por meio da Equacho 10.8 O resultado de cada iteragao deve ser analisado sob varios aspectos e mudangas devem ser propostas para encontrar © melhor desenho do trocador. As variéveis envolvidas em um processo de troca térmica siio muitas e quase sempre inter- dependentes, com uma forte interacao entre elas. Com isso, para que a solugao de um problema nao seja conflitante com a de outro, é fundamental, como na maioria dos problemas de engenharia, que se guarde uma visdo sistémica na sua andlise. © principal conflito encontrado no projeto de trocadores de calor é a relacao entre carga térmica (calor trocado) e per. da de carga (queda de pressao no escoamento). Ao tomar medidas para elevar a turbuléncia no escoamento, melhoram- -se 08 coeficientes de troca térmica e reduz-se 0 tamanho do trocador. Em contrapartida, a maior turbuléncia aumenta o atrito no escoamento e a perda de carga, resultando em um consumo exagerado de poténcia de bombeamento que pode até inviabilizar o processo. na literatura aberta, métodos de dimenstonamento especificos para cada tipo de trocador de calor (Kakag e Liu, 1998; Kern, 1965; Perry e Chilton, 1973; Saunders, 1988; Tema, 1999). Nao é do escopo deste livro a apresentacio dos métodos detalhados de projeto de cada tipo de trocador. Nos itens a seguir, sao apresentados, de modo sucinto, alguns t6picos conceituais a respeito das principais variéveis de processo envolvidas em um equipamento de troca térmica no seu desempenho. 10.3.1 Natureza e caracteristicas dos fluidos Anatureza dos luldos que circulam em um trocador de calor constitui o parimetro basico para o seu projeto, influenciando na escolha do tipo construtivo e do material de construcao, nalocalizagio dos fuidos, no célculo dos desempenhos térmi. 0 ¢ hidréulico, no dimensionamento e no projeto da geometria do equipamento, assim como nos cuidados operacionais, As caracteristicas mais determinantes a serem levadas em conta sao: aplicagao do produto (alimenticio, cosmético, farmacEutico, quimico, petroquimico etc); agressividade quimica (produto corrosivo) ou mecanica (produto abrasivo); toxidez; tendéncia a incrustacao; ponto de fulgor (risco de explosdo); propriedades relevantes (viscosidade, calor espect= fico, condutividade térmica e densidade). | 378 carfruLo10 10.3.2 Temperaturas de operagio [As temperaturas de entrada e saida de um dado fluido em um trocador de calor, chamadas as vezes de “temperaturas ter- minais” (nos extremos do equipamento), dependem em geral das exigéncias do processo. No caso do projeto, elas sio es- pecificadas e determinarao o valor do potencial térmico ou a forga motriz para promover a troca térmica. Por outro lado, importante especificar, além do valor nominal desejado para as temperaturas de safda, qual a faixa de tolerdncia dentro da qual o valor pode oscilar sem prejuizos ao processo (em um processamento de alimentos particularmente, isso 6 furn- damental), o que reflete diretamente nos aspectos de operacao, instrumentacao e controle do processo. Vale ainda relem- brar que os valores das propriedades fisicas citadas antes (principalmente da viscosidade dos fluidos) variam em fun¢ao da temperatura. Outro aspecto sobre as temperaturas terminais de um trocador de calor é que, se os seus valores (ou se.adiferenca entre cles) forem muito elevados, devem ser respeitadas algumas recomendagdes especificas: por exemplo, 0 uso de materials de construgdo mais nobres, 0 uso de juntas de expansio, cuidados especiais nas gaxetas de vedagao ete, 10.3.3 Press6es de operacio ‘Como o trocador de calor é sempre um equipamento inserido em uma unidade de processo, as pressdes dos fluidos tam- ‘bém dependem do restante do sistema. As vezes, os valores dessas pressbes nao sao criticos. Em alguns casos, porém, as press0es sao ditadas pelas exigencias especificas do processo de troca térmica. Por exemplo, para possibilitar a conden- sagdo de certos fluidos, ao se escolher como fluido frio a égua proveniente de uma torre de resfriamento, a pressao tem de ser ‘suficientemente alta’ isto 6, ovalor da temperatura de orvalho dese fluido 4 pressao adotada deve ser condizente com da temperatura da égua de resfriamento que entra no condensador, para que se tenha um potencial térmico adequado. Outro caso em que o valor da pressio merece atencao especial 6 0 do uso de um trocador de calor de placas. Se posst- vel, a pressao, nesse caso, nao deve ser muito elevada, pela dificuldade de prover uma resisténcia mecénica estrutural as placas e &s vedagdes entre elas (maior risco de vazamentos). Independentemente do tipo construtivo do equipamento, para as situagdes em que as pressbes sto muito elevadas, deve-se consultar normas especificas a respeito. A espessura da parede do equipamento deve ser maior ¢ condizente com ‘o servico, assim como sistemas de seguranca adequados (vélvulas de alivio ou discos de ruptura) devem ser previstos. Outro aspecto sobre a pressao de operacao em um trocador de calor diz respeito & contaminagao dos fluidos em um eventual acidente de ruptura dos tubos ou das placas. Se, por motivos de processo ou de seguranca, é preferivel que 0 fluldo A seja contaminado pelo fluido B e nao 0 contrério, entao se opera com uma pressao maior no lado do fluido B do quea do A. Assim, quando ocorre um vazamento, ofluido B, que tem pressio maior, passa para 0 luido A e nao o oposto. Por essa razAo, é comum ter 0 lado do fluido alimenticio com maior pressao do que no lado do fluido de aquecimento ou resfriamento em um trocador de calor. Por outro lado, é importante lembrar que, em um equipamento, hé uma queda de presstio. Quando a variacéo da ener gia potencial nao é significativa, a pressdo de entrada de um dado fluido é maior do que sua pressio de saida, em razio da perda de carga (atrito no escoamento). Para concretizar 0 que foi mencionado anteriormente, a pressdo de saida do fluido B(aminima do Bno trocador) tem que ser maior que a pressio de entrada do fluido A (améxima desse fluido no trocador). ‘Um exemplo dessa situacao citada ¢ 0 seguinte: na pasteurizacao do leite, o aquecimento é realizado por trocadores de calor de placas, Ap6s o leiteatingir a condicao de letalidade desejada, uma bomba centrifuga (booster) eleva sua pres sao antes da entrada na etapa de resfriamento, Nessa etapa, 0 leite pasteurizado troca calor com leite cru (que sofre um preaquecimento, economizando energia) e depois com um liquido de resfriamento, A fungao da bomba centrifuga é de Tecuperar a pressdo elevada do leite apés a queda de pressao que ocorre no trocador de calor de aquecimento. No caso de qualquer vazamento nos trocadores, o leite ndo serd contaminado com os liquids de aquecimento ou de resfriamento, 10.3.4 Velocidades de escoamento Avelocidade de escoamento de um fluido em um trocador de calor influencia em quatro aspectos fundamentais distintos: eficiéneia de troca térmica, perda de carga, erosao e formagao de depésitos, Quanto maior a velocidade de escoamento, maior a intensidade de turbuléncia criada, e consequentemente melhor serd 0 coeficiente de transporte de energia. Com isso, conforme visto antes, area do trocador necesséria para uma dada carga térmica serd menor. Nesse aspecto, & desejavel que a velocidade de escoamento seja alta. ‘Mas essa turbuléncia intensa também implica um atrito maior no escoamento e uma maior perda de carga, aumen= tando o custo de bombeamento e podendo até ultrapassar valores méximos admissiveis (veja a Seco 10.3.5, a seguir). EN- to, nesse caso, nao é desejavel uma velocidade de escoamento exageradamente alta.Portanto, hé um compromisso entre melhorara eficiéncia de troca térmica sem acarretar uma perda de carga excessiva. A busca desse compromisso constitu «um dos principais objetivos no projeto de um trocador de calor. TROCADORESDECALOR 379 Além desses dois aspectos, a velocidade de escoamento esté ligada a eroséo (principalmente para fluidos com sélidos abrasivos em suspensao) ou corrosio por abrasao. Quanto maior a velocidade de escoamento, mais intenso serd o efeito de erosao. Logo, sob esse ponto de vista, prefere-se uma velocidade de escoamento mais baixa, ‘Um tiltimo ponto relevante sobre a velocidade de escoamento ¢ a sua influéncia sobre a incrustagéo, Uma velocidade baixa pode favorecer a formacio do depésito (reveja a Secao 10.2.3) ea dificuldade na sua remogao subsequente, preju- dicando a eficiéncia de troca térmica. Portanto, por causa disso, deve-se optar por um valor mais elevado na velocidade de escoamento. Em resumo, a velocidade de escoamento dos fluidos constitui uma varidvel tipica que influencia, de modo conflitante, nos diversos aspectos de um processo, Hé, na literatura, faixas de valores recomendados para velocidade de escoamento em trocadores de calor tubulares. Para liquidos com viscosidade menor que 50 mPa, sugere-se uma velocidade em torno de (1,0¢3,0)m-s' Paraliquidos de viscosidades maiores, o valor da velocidade recomendada é menor, para no provocat uma perda de carga excessiva: (0,2a 1,0) ms, Para gases e vapores, a faixa tipica sugerida na literatura é entre (25.¢ 30) m-s" No caso de trocadores de calor a placas, a faixa recomendada de velocidade nos canais onde escoa liquido é de (0, 10) ms, Mas, é fundamental ressaltar que os valores mencionados devem ser tomados como orientaao; dependen- do das necessidades ou exigéncias de um caso especifico, pode-se justficar a adogdo de valores diferentes dos sugeridos 10.3.5 Perda de carga admissivel Conforme mencionado antes, por causa do atrito, ocorre uma queda de energia mecénica entre a entrada e a saida de um equipamento, Essa variacio é conhecida como perda de carga. O seu valor depende de varios fatores, como vazto de es. coamento, érea da serao transversal, viscosidade e densidade do fluido, comprimento do trajeto e rugosidade da parede. Para cada fluido, em um dado processo, estipula-se, em geral, um valor de perda de carga méximo ou a chamada perda de carga admissivel, por varias razoes. ‘Uma perda de carga excessiva representa um consumo operacional de energia maior (custo de bombeamento), devendo, portanto ser evitada, Além disso, nao se deve esquecer que o trocador de calor é sempre um equipamento componente de uma unidade de processo. 0 fluido que sai dele, em muitas vezes, vai ainda passar por tubulacdes e outros equipamentos a jusante, com suas respectivas perdas de carga. Portanto, na saida do trocador de calor, o fuido precisa dispor de energia ™mecénica suficiente para “vencer” as perdas subsequentes. Assim como para velocidade de escoamento, encontram-se, na literatura, valores tipicos sugeridos para queda de pressio admissivel em um trocador de calor. Para liquidos, de modo geal, a faixa recomendada é de (70 a 170) kPa. Para Bases e vapores, em processos com press de operagdo bem acima da atmosférica, recomenda-se uma faixa de queda de Pressio admissivel em toro de (14 a 70) kPa; para processos que operam a pressao préxima a atmosférica ou sob vacuo, sugerem-se valores de (2 até 14) kPa Como visto na segao anterior, a perda de carga esté diretamente associada a velocidade de escoamento. Entdo, um valor de perda de carga muito baixo representa pouca intensidade na turbuléncia do escoamento, o que implica uma me ncia de troca térmica. Com isso, deve-se trabalhar com um valor de perda de carga o mais préximo possivel do I, usufruindo toda a dissipacdo de energia por atrito prevista. Por exemplo, nao é interessante operat um troca. dor de calor com perda de carga de 20 kPa, sea admissivel é de 170 kPa, pois as condicdes de trabalho resultariam em uma eficiéncia na troca térmica muito abaixo da que poderia ser obtida com o equipamento. Considera-se que, em um bom projeto de trocador, as perdas de carga nos lados quente efrio sejam ligetramente in- feriores aos valores admissiveis. sso garante que o desempenho térmico seré maximizado jé que a turbuléncia no escoa ‘mento estard préxima de seu limite superior. 10.3.6 Incrustagaio 0 depésito de materiaisindesejéveis na supericie de um trocador de calor aumenta a resistncia ao transporte de energia, diminuindo, com isso, a eficiéncia de troca térmica, Além disso, o depdsito provoca a obstrucio da passagem do fluido, au mentando a perda de carga. Com isso, um dos modos adotados na pratica para acompanhar o grau de depésito em um tro. cador de calor em operacao consiste em monitorar, ao longo do tempo do seu uso, os valores das temperaturas e das presses terminais (entrada e saida) do equipamento, A medida que a espessura do depésito incrustado aumenta, diminul eficiéncia de troca térmica (observada pelas temperaturas) e aumenta a perda de carga (observado pela diferenga de pressoes). O processo de formagao do depésito, em geral, é complexo. Pode ser causado por sedimentacdo, polimerizacéo, cris- talizagdo, coagulacao de proteinas, coqueamento, corrosio, causas de natureza orginica (como algas) ou outros. Esses mecanismos podem ocorrer independente ou paralelamente. A taxa de formacao do depésito é afetada pelas condigoes de processo do equipamento, como: a prépria natureza dos fuidos, a velocidade de escoamento, as temperaturas de ope- ragao (tanto dos fluidos como na parede), do material de construgao e do acabamento da superficie (rugosidade ou tipo de revestimento. 380 carfruto10 Para facilitar a quantificagao desse depésito, costuma-se usar um pardimetto, confofme visto antes, conhecido como fator de incrustagao. Faixas de valores tipicos podem ser encontrados na literatura, para diversos casos de operacdo. Esses valores sao titeis porque servem de orientacao. Contudo, como o fenémeno de incrustagao 6 complexo e esté suscetivel as mais diversas interferéncias, deve-se considerar, com muita reserva, a adocdo desses valores generalizados. Os valores mais confidveis sempre sao 0s obtidos experimentalmente para um dado caso particular. ( fator de incrustagdo deve ser levado em conta a priori no projeto do trocador de calor, pols a érea de troca térmica calculada deve ser suficiente para a demanda do processo tanto para a situagdo quando 0 equipamento esté novo (limpo) como quando esté em operacao ha algum tempo (j4 com incrustagao). Como o valor desse fator de incrustacio é dificil de ser previsto (se nao houver disponibilidade de um valor experimental de acordo), essa deficiéncia constituira uma das causas principais da incerteza no projeto de um trocador de calor sujeito & formagio de depésitos. A experiéncia profis- sional nesse aspecto é fundamental. 10.4 EXERC{CIOS / A? ' 1, Dar pelo menos quatro motivos para a preferéncia pelo uso de trocadores de calor de placas em inddstrias alimenticias. 2. Propor um procedimento pritico para acompanhar, em um dado trocador de calor industrial em operagdo, o grau de in- ccrustago ao longo do tempo de uso e o seu desempenho na troca térmica, ‘3, Um engenheiro afirmou que, “em processamentos alimenticios, é sempre preferivel operar um trocador de calor com po- tencial térmico mais elevado possivel, pois assim diminui o tamanho do equipamento consequentemente o seu custo” Voc’ concorda com essa afirmagao? Discuta a respeito. 4, Deseja-se resfriar uma solugdo aquosa de etanol (calor especifico médio = 3840] -kg-!- K*),d vazao de 2,9 kg-s", de 75°Ca 45 °C. 0 fluido de resfriamento é agua (calor especifico médio = 4180] -kg-"K~), Avazao de 4,0 kgs“ temperatura de en- trada igual a 15 °C. O trocador de calor cogitado para esse servico pode ser do tipo (1) duplo tubo com escoamento concor- rente, (2) duplo tubo com escoamento contracorrente ou (3) casco e tubos (feixe tubular) com 1 passe pelo lado do cascoe 2 passes no lado dos tubos. Por simplificacao, adota-se que, em todos 05 casos, 0 coeficiente global de troca térmica, com base na drea externa, ¢ igual a 500 W - m=: K". Determine: (i) a carga térmica e a temperatura de saida da 4gua de resfria- ‘mento; (ii) a area de troca térmica necesséria para cada um dos casos. Discuta sobre 0s resultados obtidos. [Respostas: (i) 4= 334 kW e T,,= 35 °C; (i) (1) A =23,9 m*, (2) A= 19,2 m* e(3)A=21,1 m4] 5. Agua 6 aquecida de 40 °C até 80°, circulando a velocidade média de 1,0m--s- no tubo intemo (didmetro interno = 2,7 cm, espessura = 0,4 cm) de um trocador de calor de duplo tubo. A condutividade térmica do material de construcao desse tubo 6 de 45 Wm. KO aquecimento ¢ provido pela condensacio de vapor d'égua saturado & pressio absoluta de 475,8 kPa, ‘no espaco antilar do trocador de calor. Adotar os seguintes valores para os coeficientes individuais de transporte de ener por conveccao: 5100 W- m~. K-* para escoamento da agua no tubo e 15000 W- m-*- K* para condensacao do vapor d’égua eo valorde 1 - 10m? -K- W" para os fatores de incrustacdo da égua e do vapor. Determine: (i) a carga térmica necesséria; (ti) 0 coetficiente global de troca térmica do trocador limpo; ili) o niimero de grampos necessérios para o servico proposto, sabendo-se que 0 comprimento do tubo do grampo é de 2,3 m. [Respostas: (i) 4 = 94,4 kW; (ii) U=2371 W- m*-K*; (ili) 2,75 grampos, ou seja, trés grampos] 6. Vapor d’égua saturado a pressao absoluta de 143,1 kPa (7'= 110°C) seré usado para aquecimento de um produto alimenticio, em um trocador de calor de duplo tubo. Os tubos interno e externo do trocador de calor sao respectivamente de 2” Schedule nt 40 (diimetro interno =0,05250 m, diémetro externo = 0,06033 m) e3" Schedule n® 40 (didmetro interno = 0,07793 m, diametro lextemno = 0,0889 m) com isolamento térmico apropriado. A condutividade térmica do metal é de 15 W-K!-m", 0 comptic mento total de um grampo do trocador é de 3,6 m. A vazao do produto na entrada ¢ de 2,5 m® - he temperatura de 50 °C. ‘Sua temperatura ce saida deve ser de 90°C. Para as propriedades do produto alimenticio, podem-se adotar os seguintes va- lores médios: calor especifico = 3840 J kg'-K', viscosidade = 1,4 mPa-s, densidade = 1000 kg -m- e condutividade térmica = 0.50W--K-* m. Ocoeficiente de convecgio associado a condensacio do vapor na superficie do tubo é de 5000 WK". mr Determine: (i) 0 coeficiente convectivo do produto e 0 coeficiente global de troca térmica; (li) a carga térmica e o mimero de grampos necessarios; ji) a vazao de condensado que sera coletada do anulo do trocadot. [Respostas: (i) 2W-KY am (Hl) 1043 W-K"- me U- 107 kWe6,79 grampos, ou seja, sete grampos; (it) rit =169kg-h- 7. Umalimento fluido de alta viscosidade ¢ aquecido em um trocador de superficie raspada cujo eixo central (didmetro de 6,0 cm) tem duas laminas e gira a 10 rpm. Os diametros interno e externo do tubo (6” SCH40) que contém o alimento sio 15,4 © 16,8 cm, respectivamente, A condutividade térmica do metal é de 15 WK" - mr". O diémetro do tubo exterior é 24,0 cm este forma um espago anular por onde escoa agua de aquecimento em contracorrente. Externamente hé uma camada de . Um trocador de calor de casco e tubos deve aquecer 40.000 kg - h-! de um dleo vegetal de (20 a 65) TROCADORESDECALOR 381 {solamento térmico para reduzir as perdas para o ambiente. O comprimento do trocador é de 2,2m. As vazBes e temperatu- ras de alimentacao sio ri, = 1,50 kg, rt, =0,30 kgs", T,,=90 °C e T, = 20°C. As propriedades médias do alimento sto: = 880 kg- my, C,=1900} -kge!- K", = 0,40 Pa-s, k=0,14W-K"*- mAs propriedades médias da gua sao: p=970 kg- m=, Gy=4200)- kg. K", 4-= 0,36 mPa.-s, k= 0,67 W- K"- my’. Determine: (i) 0s coeficientes convectivos eo coeficiente global de troca térmica “limpo"; (il) a carga térmica e as temperaturas de saida. [Respostas: (i) hy = 644 W-K-1- m*, fy = 334 W-K!

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