O curioso caso de Mkhitaryan: Liga Europa joga luz
na relação desajeitada entre futebol e política
Ninguém pode tirar a razão do armênio, que desfalcará o
Arsenal contra o Chelsea porque não pode entrar no Azerbaijão.
"Queria um tanque de guerra?", esbraveja ministro; entenda o
conflito
Por Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro 28/05/2019 -
globoesporte.globo.com
Imagine o Arsenal. Clube que investiu € 81,5 milhões (cerca de
R$ 366,5 milhões) na temporada movido especialmente pelo
desejo de voltar a abocanhar um título de expressão, seja ele
qual for - doméstico, continental... Afinal, a conquista da
Premier League de 2003/04, a última façanha relevante,
completou 15 anos. Inserido nesse contexto está Henrikh
Mkhitaryan, armênio bom de bola que empresta qualidade ao
meio de campo da equipe e cuja ausência, portanto, é sempre
algo a se lamentar.
O exercício agora é imaginar Baku, capital do Azerbaijão, que
por sua vez remete antes de mais nada a conflitos e poços de
petróleo. No âmbito esportivo, talvez o evento mais importante
sediado por lá até dois anos atrás tenha sido o Campeonato
Europeu de Luta Greco-Romana em 2010. Sua seleção não joga
a Copa do Mundo, e seus clubes são sacos de pancada (quando
aparecem) nas competições continentais. De modo que receber
a final da Liga Europa será o contato mais íntimo do futebol
com o país, que resolveu dar mais espaço ao esporte de uns
tempos para cá.
É preciso observar por todas as óticas o imbróglio da decisão
da Liga Europa entre Chelsea e Arsenal, que não terá
Mkhitaryan pelo simples fato de que armênios são proibidos de
entrar no Azerbaijão, para compreender a questão e evitar
discursos rasos.
O grande azar da Uefa na verdade foi o fato de um armênio
fazer parte de uma das equipes finalistas. Foi o Arsenal passar
pelo Valencia na semifinal e garantir seu lugar na decisão, e as
coisas tomaram proporções vultosas.
Jürgen Klopp foi um dos primeiros a comentar o assunto de
forma mais enfática e tratou como "irresponsável" a escolha por
Baku. Na carona do técnico do Liverpool, grande parte da
imprensa britânica iniciou uma campanha que se opõe à capital
azerbaijana e apoia Wembley como palco da final. Como o
"Independent", que escreveu em reportagem que "esse é o mais
recente exemplo de como um pequeno jorrar de ouro negro abre
até mesmo a mais robusta das portas trancadas".
Pois bem, Arsenal e Uefa a princípio discutiram a melhor forma
de lidar com o caso. Ambos preocupados: o clube em perder
um de seus melhores jogadores, e a entidade em enfraquecer a
legitimidade da decisão. Mas Mkhitaryan encerrou o mistério
na terça-feira da semana passada e confirmou no Twitter que
está fora.
Numa evidente tentativa de deslegitimar a recusa de
Mkhitaryan, o Embaixador do Azerbaijão na Inglaterra, Tahir
Taghizade, disse ter enxergado cunho político na declaração do
jogador do Arsenal. "Estamos desapontados", declarou em
entrevista à "talkSPORT". Taghizade perdeu uma grande
chance de ficar calado.
Para quem não tem, basta entender que há no Azerbaijão um
forte movimento nacionalista que tem como objetivo extinguir
a bagagem armênia no país. As atitudes desse grupo vão desde
a destruição de qualquer traço da cultura da Armênia, até o que
ocorreu no Massacre de Baku. Foi uma semana (de 12 a 19 de
janeiro de 1990) que irrigou o solo azerbaijano com sangue
armênio.
Os que não conseguiram fugir foram mortos. A estimativa mais
recente dá conta de que apenas 100 armênios hoje moram no
país, todos eles casados com um cidadão azerbaijano ou que de
alguma forma pertencem a famílias azerbaijanas. A tensão por
lá é tão palpável que não são apenas nascidos na Armênia os
proibidos de cruzar a fronteira, mas também qualquer pessoa
com sobrenome armênio. "A Armênia não é uma colônia,
nem sequer é digna de ser uma serva", escreveu Ilham
Aliyev em 2015. Declaração capaz de despertar espanto mesmo
em quem não faça ideia de que Aliyev é, na verdade, o atual
presidente do Azerbaijão.
01. (D1) Por qual motivo o Arsenal investiu € 81,5 milhões na
temporada atual?
02. (D3) Qual o significado da expressão “abocanhar um
título”?
03. (D2) Qual a importância de sediar a final da Liga Europa
para o Azerbaijão?
04. (D6) “Jürgen Klopp foi um dos primeiros a comentar o
assunto de forma mais enfática e tratou como "irresponsável" a
escolha por Baku.” O trecho destacado refere-se a um fato ou
opinião? Explique.
05. (D9) O objetivo do texto é:
a) criticar b) informar c) instruir d) divulgar
06. (D17) “Mas Mkhitaryan encerrou o mistério na terça-feira
da semana passada e confirmou no Twitter que está fora.” O
sentido dos termos destacados é:
a) condição e oposição c) condição e explicação
b) adição e conclusão d) oposição e adição
07. (D7) Por qual razão Mkhitaryan se recusou a jogar na
cidade de Baku no Azerbaijão?
08. (D7) Porque a notícia relata que Taghizade perdeu uma
grande chance de ficar calado?