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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery

http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377


Curso de Pedagogia - N. 4, JAN/JUN 2008

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Andreia Rezende Garcia-Reis*


Gláucia Siqueira Marcondes**

RESUMO: Este artigo aborda a questão da Diversidade Lingüística na escola, tendo como
foco o fracasso dos alunos pertencentes às camadas populares, decorrente da desvalorização
de sua linguagem pela escola. Procura mostrar que a valorização da linguagem desses
alunos é uma das formas para a diminuição do fracasso escolar e melhoria do processo
ensino-aprendizagem. Apresenta a contribuição da Lingüística e da Sociolingüística no
ensino da Língua Materna e mostra que, apesar de alguns avanços, a instituição escolar
ainda está presa a preconceitos lingüísticos e repudia a linguagem popular em benefício da
linguagem padrão. Por intermédio das discussões aqui apresentadas, pode-se perceber o
quanto é importante considerar a Diversidade Lingüística inerente à língua portuguesa, e
também a necessidade de trabalhar com as variedades lingüísticas na escola como forma de
valorização cultural, para que se possa permitir aos alunos condições propícias de acesso ao
conhecimento construído nesta instituição.

Palavras-Chave: Diversidade Lingüística. Preconceito Lingüístico. Processo Ensino-


aprendizagem. Fracasso escolar.

ABSTRACT: This work approaches the linguistic variety in the school environment,
focusing on the school failure by low class students due to the prejudice as regards their
language variety. The paper aims to show that attributing value to the students´ linguistic
variety is an important way to reduce school failure and improve the learning process.
Contributions from Linguistics and Sociolinguistics in the field of native language
teaching are provided, showing that, despite some progress, the school system is still tied to
some linguistic prejudice and disregards non-standard varieties of language. Through the
discussion here presented it is possible to note how important it is to consider tthe
linguistic variety inherent to Portuguese language as well as the need to deal with it in the
school classroom as a means of cultural value and as a form of providing students with the
ideal conditions for accessing the knowledge being constructed within this institution.

Keywords: Language Variety. Language Prejudice. Language Learning Process. School


Failure.

*
Doutoranda em Lingüística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente da Faculdade
Metodista Granbery e professora de Língua Portuguesa da Rede Municipal de Juiz de Fora.
**
Graduada em Normal Superior pela Faculdade Metodista Granbery, aluna do último período do
curso de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora, professora regente da Escola Estadual
Teodoro Coelho (Projeto Escola de Tempo Integral).
INDRODUÇÃO

O tema tratado neste artigo revela, especificamente, a importância em se trabalhar


a diversidade lingüística como forma de valorização cultural no processo ensino-
aprendizagem, refletindo as formas de relação da linguagem no âmbito da sala de aula.
Tal tema de estudo teve por direcionamento uma questão geradora sobre a qual
procuro pesquisar: se a valorização cultural da linguagem dos alunos das camadas
populares contribui para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
A partir de leituras diversas, pretende-se refletir até que ponto essa variação
lingüística pode influenciar no processo de ensino-aprendizagem dos alunos das camadas
populares, já que a maioria das escolas privilegia a linguagem e a cultura da elite.
Inicialmente, a escola era oferecida para aqueles alunos que tinham poderes
socioeconômicos privilegiados, era uma instituição particular. Com a universalização do
ensino, foi necessário expandir o acesso à escola também para os alunos pertencentes às
camadas populares, o que ocasionou choques e conflitos, porque a escola não estava
preparada para atender essa nova demanda, provocando altos níveis de repetência e evasão.
Com sua proposta elitista e com a exigência e valorização da língua padrão, a escola não
conseguiu atender com igualdade a todos os alunos, já que os da camada popular não
tinham sua linguagem usada e valorizada na escola.
Com os avanços dos estudos sobre a lingüística e a sociolingüística, que enfocam
a importância de trabalhar a realidade lingüística dos alunos, houve a necessidade de
transformações na instituição escolar. Entretanto, a escola ainda não está preparada para
trabalhar a diversidade lingüística, há muito preconceito arraigado na concepção de ensino
da instituição, ela repudia a linguagem coloquial em benefício da linguagem padrão.
Para o desenvolvimento do estudo aqui proposto, tem-se o objetivo de refletir
como o professor e a escola podem lidar com a diversidade lingüística trazida pelos alunos,
possibilitando a valorização de sua linguagem e tendo como foco primordial o
desenvolvimento e a participação social dos alunos das camadas populares.
Para isso, o texto se baseia nos trabalhos de Magda Soares (1996), quando ela
analisa as relações entre linguagem e escola e revela os pressupostos sociais e lingüísticos
dessas relações, tendo como principal foco de interesse a compreensão dessa análise para o

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entendimento do problema da educação das camadas populares no Brasil. O lingüista
Marcos Bagno é outro autor em quem o texto está embasado, pois ele pretende
conscientizar os educadores, principalmente os de Língua Portuguesa, da necessidade de
repensar a prática escolar, relacionando-a ao preconceito lingüístico existente na sociedade
e na escola.
Este artigo é composto da introdução, de uma reflexão sobre a diversidade
lingüística dos alunos e a presença dessa diversidade na escola e de considerações finais a
respeito do assunto tratado.

A DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Entender uma das causas do fracasso escolar dos alunos pertencentes às camadas
populares perpassa pela análise sistemática do papel que é atribuído à linguagem na escola,
que muitas vezes está em conformidade com a cultura da elite, classe social que tem a seu
favor mais um instrumento de imposição hegemônica, pois tem sua forma de manifestação
lingüística valorizada, o que aumenta seu prestígio social. A escola inibe a maioria dos
alunos de expor suas idéias e argumentá-las, por isso sentem-se desmotivados e
desinteressados na aquisição do saber escolar, sendo um dos motivos para o seu fracasso.
Segundo Soares (1996), a escola tem-se mostrado incompetente para a educação
das camadas populares e a grande parte da responsabilidade deve ser atribuída a problemas
de linguagem.
Uma das questões cruciais que envolvem problemas de linguagem na escola está
no fato de existir uma barreira entre aqueles que preconizam a gramática pedagógica e
aqueles que ensinam a língua a partir do uso cotidiano. Em geral, a escola ainda tende a
valorizar a gramática pedagógica, considerando-a lingüisticamente “correta” e “superior”,
por ser usada pelas classes sociais de prestígio.
Essa postura contribui para ocorrência de discriminações e fracasso daqueles
alunos pertencentes às camadas populares, que não possuem essa forma de manifestação
lingüística.
Conforme a autora, é o uso da língua na escola que evidencia mais claramente as
diferenças entre grupos sociais e gera discriminações e fracasso: o uso, pelos alunos

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provenientes das camadas populares, de variantes lingüísticas social e escolarmente
estigmatizadas provoca preconceitos lingüísticos e leva a dificuldades de aprendizagem, já
que a escola usa e quer ver usada a variante-padrão socialmente prestigiada.
Sendo a escola uma instituição que deveria ser responsável pela democratização,
considera-se que ela não pode assumir uma postura de discriminações em relação ao dialeto
popular, mas ao contrário, deve ter uma atitude respeitosa em relação à maneira de falar da
comunidade na qual exerce seu trabalho. Ela precisa compreender que todas as variedades
lingüísticas têm seu valor, são veículos perfeitos de comunicação dentro da comunidade
lingüística que a utilizam.
Bagno (1994) afirma que não existe nenhuma variedade nacional, regional ou
local que seja intrinsecamente “melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que
outra. Toda variedade lingüística atende às necessidades da comunidade de seres humanos
que a empregam. Quando deixar de atender, ela inevitavelmente sofrerá transformações
para se adequar às novas necessidades.
Portanto, é fundamental que a escola reconheça essa variação lingüística, mas não
como uma questão gramatical de certo ou errado, pois nesse sentido estará contribuindo
para a manutenção do preconceito lingüístico, uma vez que só aceita a língua padrão e
estigmatiza a linguagem popular. No entanto, a escola deve compreendê-la como sendo o
uso específico que os grupos sociais e os indivíduos fazem da língua. Ela deve reconhecer
que a Língua Portuguesa apresenta um grau de diversidade e de variabilidade que
ultrapassa qualquer forma prescritivista da gramática.
A variação é constitutiva das línguas humanas e ocorre em todos os níveis. Ela
sempre existiu e sempre existirá, independente de qualquer ação normativa. Assim, quando
se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se constitui de muitas
variedades. A imagem de uma língua única, mas próxima da linguagem, subjacente às
prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de
difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta
na análise empírica dos usos da língua. (Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa, 1997)
As variações presentes na forma de falar e escrever das pessoas são determinadas
por diversos fatores. Um deles é o regional, ou seja, pessoas de diferentes regiões podem

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apresentar diferenças de pronúncia ou de vocabulário e, às vezes, até mesmo articular as
palavras de modo diferente (variação regional ou geográfica). Mas o modo de falar de
pessoas residentes em uma mesma localidade também pode variar de acordo com sua
escolaridade, sexo, idade, profissão, raça (variação social). Além disso, uma mesma pessoa
também apresenta variações em seu modo de se expressar, dependendo do seu interlocutor,
do assunto da conversa ou do lugar em que se encontra (variação individual).
Diante dessas variações lingüísticas percebe-se a existência de um profundo
preconceito na fala de determinadas classes sociais e também na fala característica de certas
regiões, sendo muitas vezes consideradas “erradas” e “inferiores” lingüisticamente. A
escola reforça esse preconceito ao supervalorizar a gramática normativa, que, quase
sempre, não corresponde às reais necessidades de uso e funcionamento da língua
portuguesa.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1997) (PCN’s – LP)
afirmam que há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos
diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades lingüísticas de
menor prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na
sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do
objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença.
Outro aspecto de relevância para compreendermos o fracasso escolar dos alunos
provenientes das camadas desfavorecidas é a valorização indevida que se dá à escrita. As
instituições escolares obrigam o aluno a pronunciar “do jeito que se escreve” e não dão
importância ao fenômeno da variação presente na Língua Portuguesa. A escrita padrão está
muito distante da fala dos milhões de alunos provenientes dos mais diferentes lugares e
culturas, por isso ela não pode ser o único instrumento utilizado pela escola na construção
do conhecimento.
A gramática tradicional despreza totalmente os fenômenos da língua oral e
considera a língua literária como a única forma de manifestação lingüística que merece ser
estudada. A escola deve valorizar as duas formas lingüísticas, tanto a escrita quanto a oral,
elas são igualmente importantes dentro da nossa sociedade. Elas são apenas diferentes
quanto a sua aplicabilidade e aceitabilidade no contexto social.

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Não é o caso de abandonarmos a ortografia oficial, que deve ser ensinada, mas
não tentando criar uma língua “artificial”, sem significado para o falante. Como já foi dito,
tanto a modalidade falada quanto a escrita têm sua importância, e não devem ser
desconsideradas pela escola. É na linguagem falada que ocorrem as mudanças e as
variações que incessantemente vão transformando a língua.
Com o crescimento dos estudos lingüísticos no século XX, a língua falada passou
a ser objeto de estudo científico, mas muito pouco de suas pesquisas e de seus estudos estão
refletindo de forma significativa na prática dos professores nas escolas.
É preciso mostrar para o educando que toda língua possui sua gramática, isto é,
tem um sistema de regras de funcionamento, e que é importante aprender o dialeto padrão.
Pois ele representa dentro da sociedade o instrumento de promoção social e intelectual, mas
não é necessário abandonar seu dialeto para estudá-lo.
Nessa perspectiva, o educador valorizará e respeitará o repertório lingüístico do
educando e, ao mesmo tempo, permitirá o contato com outras formas lingüísticas, com o
intuito de acrescentar novos conhecimentos.
A escola tem o dever de ensinar o dialeto-padrão, não utilizando uma gramática
normativa, mas sim descritiva, isto é, mostrar o funcionamento e usos de uma língua, nos
seus mais diversos aspectos como fonético, fonológico, morfológico, semântico,
pragmático, discursivo, sociolingüístico, psicolingüístico e outros (CAGLIARI, 2003).
A sociedade, em um primeiro momento, utilizava uma gramática descritiva, que é
aquela que considera o aspecto dinâmico da língua, que mostra que as línguas mudam com
o tempo. Depois a sociedade criou normas para regulamentar a linguagem, na tentativa de
uniformizá-la, por isso deixa de corresponder à realidade lingüística de um dialeto.
Ao trabalhar a linguagem padrão, o professor precisa ter cautela ao atribuir erro
de linguagem para não reforçar o preconceito lingüístico com atitudes de desvalorização da
linguagem daqueles alunos que pertencem às camadas populares. Dizer a uma criança que
sua fala é errada, ou sugerir que sua forma de se expressar verbalmente é inferior, será o
mesmo que dizer que seus pais, seus irmãos, seus amigos, enfim, que seu grupo social
também fala errado e também é inferior. É preciso entender que a linguagem é veículo de
comunicação, e, mas do que isso, é por meio dela que os indivíduos se identificam no seu
meio social. Negar sua linguagem é distanciá-los das suas origens.

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A escola precisa e deve proporcionar aos alunos pertencentes às camadas
populares contato com outras formas lingüísticas, com intuito de ampliar seus
conhecimentos e desenvolver novas habilidades. A participação social por intermédio da
linguagem deve ser uma oportunidade de efetivar a luta contra as desigualdades sociais e
permitir a conquista digna de participação cultural, política e também de reivindicação
social. A escola deve estar consciente de seu papel político e de sua função como
instituição transformadora que não aceita a rejeição dos dialetos de seus alunos, mas ao
contrário, deve dar condições propícias a eles para lutar contra as desigualdades inerentes a
essa estrutura.
Para desenvolver um bom trabalho, a escola precisa estar a par dos avanços da
ciência da linguagem e da educação, selecionar seus conteúdos, escolher seus
procedimentos de ensino e métodos e suas formas de avaliação de acordo com sua clientela,
com o cuidado para não agir com discriminações quanto à forma de falar de seus alunos. O
professor precisa se atualizar, procurar participar de cursos, congressos, projetos de
pesquisa, ter contato com vários textos especializados, levantar dúvidas e inquietações em
debates e outros.
Os estudos apontados pela Lingüística moderna têm possibilitado compreender a
língua no seu sentido mais dinâmico e vivo, por isso ela está intrinsecamente relacionada
com o contexto social vivido pelo aluno. A escola precisa estar ciente dos avanços
ocorridos nessa área do conhecimento para não cometer atitudes preconceituosas quanto à
forma de falar dos alunos, e utilizar metodologias adequadas para diminuir os índices de
fracasso escolar dos alunos das classes populares.
A linguagem precisa ser considerada o meio pelo qual ocorre a integração social,
é por meio dela que ocorrem as relações humanas, e nesse sentido necessita estar veiculada
com as situações de uso em que o aluno está inserido. A escola deve mostrar a importância
do fenômeno social na compreensão da linguagem, sem, contudo, deixar de reconhecer a
necessidade das regulamentações normativas pretendidas pela gramática normativa que
garantem a conservação da unidade lingüística. Portanto, deverá trabalhar de forma
contextualizada, associando a fala e a escrita no processo ensino-aprendizagem. Dentro
dessa perspectiva estará contribuindo para a participação ativa dos alunos pertencentes às
camadas populares no contexto escolar e social, pois estará oferecendo oportunidade deles

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conhecerem a linguagem padrão sem desprezarem seu dialeto. A prática interativa da
enunciação constitui a base para haver a construção de conhecimento quando o professor
abre espaço para o diálogo, para a troca de experiências, e a partir do conhecimento prévio
de seus alunos contribui para uma aprendizagem significativa.
A mídia também influencia na desvalorização da linguagem popular. Com seu
poder de persuasão, ela utiliza uma linguagem mais coloquial para conseguir conquistar a
adesão de seu público, uma vez que não usa esse recurso como forma de valorização
lingüística, mas ao contrário, seu objetivo é a garantia da comunicação e o sucesso
comercial. Paradoxalmente a essa prática defende um português puro, correto, defendido
pelas gramáticas tradicionais, mostrando grande preconceito com as variedades populares.
O ensino da língua é um desafio para os professores de Língua Portuguesa, eles
têm que se esforçar para não cometerem atitudes preconceituosas, ao privilegiar uma forma
lingüística em detrimento de outra. Precisam ensinar a norma padrão para que os alunos das
camadas populares usem-na em situações formais, mas também lhes mostrar a importância
do seu dialeto. Ao ter como finalidade diminuir o preconceito lingüístico em relação à
linguagem desses alunos, torna-se fundamental uma conscientização de todos os envolvidos
no processo escolar, com o objetivo de valorização de todos os dialetos, e assim
proporcionar a inserção de todos no processo ensino-aprendizagem.
Por isso o ensino da língua materna na escola deve ser dinâmico, crítico e
reflexivo. É preciso que o aluno seja capaz de interpretar o mundo de forma que ele seja
menos manipulado e para isso o professor necessita urgentemente repensar sua prática
pedagógica, precisa reconhecer que a maneira prescritiva de ensinar a língua não contribui
para o seu desenvolvimento crítico e reflexivo, pois com essa postura tende a aumentar o
fracasso dos alunos pertencentes às camadas populares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ato de compreender o fracasso escolar dos alunos provenientes das camadas


populares e a influência da linguagem no processo de construção do conhecimento é de
fundamental importância para diminuir os índices de repetência e evasão dos educandos. É
necessário que se trabalhe as diversidades lingüísticas como forma de valorização da

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linguagem desses alunos, para evitar os preconceitos e fracassos; permitir maior sucesso e
interação entre os envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Já há algumas décadas, lingüistas estudam o processo histórico da linguagem,
suas transformações ao longo do tempo e a sua influência no trabalho pedagógico.
Constataram que muitos dos fracassos são decorrentes da supervalorização da linguagem
padrão e elitista. Portanto, é essencial que os educadores repensem sua prática pedagógica e
adotem uma postura que considere o repertório lingüístico dos seus educandos e os
valorize. Para direcionar seu trabalho o professor deve considerar o dinamismo da língua e
suas variações durante o processo histórico. Para isso precisa estar a par dos avanços da
lingüística e da sociolingüística, através de sua formação continuada (participar de
congressos, projetos de pesquisa, palestras e ler textos especializados), com a finalidade de
entender a relação linguagem-escola-fracasso escolar.
É preciso entender que o aluno é um ser social, que precisa saber os usos da
linguagem de acordo com sua aplicabilidade e aceitabilidade no contexto social. O
professor, então, deve valorizar os conhecimentos lingüísticos prévios do aluno, mas não
permanecer preso a tais conhecimentos. É necessário ampliar o repertório lingüístico dos
alunos das camadas populares, oferecer a eles inclusive o conhecimento e a utilização da
linguagem padrão.
Somente com a valorização da linguagem dos alunos das classes populares
poderemos contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem dos mesmos, num
trabalho contínuo de ação-reflexão-ação sobre a linguagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola,
1999.

BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


língua portuguesa – ensino de 1ª a 4ª série. Brasília: MEC / SEF, 1997.

CAGLIARI, Luiz Carlos. A lingüística e o ensino de português. In: ________.


Alfabetização e Lingüística. 10 ed. São Paulo: Scipione, 2003.

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ROJO, Roxane. (org.). A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCN’s.
São Paulo: Mercado de Letras, 2000.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte:


Autêntica, 2003.

_____. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 14 ed. São Paulo: Editora Ática,
1996.

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