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13 Familias € ins' interfaces eD ‘Aline Cardoso siqueira, } Débora Dalbosco pell’Aglio ‘Ainsttucionalizagio de criancas © ado- Jescentes tem chamado o interesse de inu= rmeros pesquisadores de diversas Areas (Arpini, 2003a; Fonseca, 1987; Martins € Szymanski, 2004; Rizzini e Rizzini, 2004; Siqueira e Dell’Aglio, 2006; Yunes, Miranda ¢ Cuello, 2004). S40 antropélogos, socidlo- gos, educadores e psicélogos preocupados em compreender desde a origem dessa prati- cano Brasil até os efeitos que um periodo de institucionalizago pode provocar no desen- volvimento cognitivo, emocional e social de criangas e adolescentes abrigados, entre ou- twos aspectos, Essa ampla gama de interessa- dos pelo tema reflete a importancia que a inffincia e a juventude em situacio de risco tém assumido na sociedade brasileira. Assim, este capitulo tem como objetivo discutit ain. terface entre risco e protecio no institucionalizacai Processo de toe soci acto, apresentando os aspec- ise familiares imbricados n mento de criancas e adol 10 afasta- vio familias ¢ aay tlseentes do convi- imente instr een © Processo d institucional, consid . 8 atuais desenvolvidos ee ee Hscente Bras, 1999). Josiane Lieberknech tituigdes de acolhimento tre risco © protecao nt Wathier Abaid SOCIEDADE E FAMILIAS BRASILEIRAS ‘A vulnerabilidade das familias brasilei- ras em situacéio de pobreza tem sido foco de estudo e discusséo na contemporaneidade. ‘Além disso, a familia esta no centro das polf- ticas publicas de assisténcia social por estar envolvida na origem e nas consequéncias de intimeras problematicas da atualidade, como violéncia urbana e doméstica, miséria, de semprego, baixa escolaridade, entre outtos aspectos (Ferrari e Kaloustian, 1994; Sarai- va, 2002). Milhares de familias com baixo nivel socioeconémico estao privadas de mi nimas condigdes de vida e submetidas a Pt vacGes cotidianas. Sao familias que se enco™ tram em situacao de risco € vulnerabilidade, € que nem sempre conseguem desempenhr seu papel de mantenedores e guardides desenvolvimento de seus filhos. mai Segundo dados do Censo Demogrifie realizado em 2000 (IBGE, 2000), 0 Per” tual de familias cuja pessoa responsdvel pe lo domicilio é a mulher, no Brasil, ve™ ave mentando ao longo dos anos & passou 7,7 milhdes, em 1991, para 128 mito em 2000. Além disso, 28,6% das familias ae yr mulheres possuiam renda men. Ks Peio sari minimo per cpg de a Fidos mostram que muitas fam‘. 138 pds pet figura materna tém vivido yeti de empobrecimento e misria, A eo tU86% ponoparentalidade, o desempre. pre rescolaridade dos cuidadores, a 40 je dena fea e/ou mental, fami- peerost, entre OULTOS fatores associa oN fcultam & tarefa de cuidar dos filhos, a “agdo em SCO 0 desenvolvimento e 0 calocando te suas criangas ¢ adolescentes " Garmezy, 1985; Reppold, Pacheco e Hutz, 2005; Seifer, Sameroff, Baldwin ‘n, 1992; Siqueira e Dell’Aglio, 2007). ‘fala d€ recursos materiais basicos, situa- copresente om familias com precérias con- pode ter como uum de seus resultados sanegligencia em relacdio & educacao dos fi- frrou oseu abandono (Saraiva, 2002). ge por um lado esses fatores externos, os chamados fatores macroestruturais, nao ‘er desconsiderados visto que, de ‘ato, representam um peso grande na dina- nica das familias em situacao de vulnerabi- lade, nfo se pode generalizar a ideia de uetoda familia pobre néo desempenha seu papel de educadora € cuidadora. Também it nesse processo sao as caracte- tisticas das familias, que interferem direta- mente no seu funcionamento, tais como coe- Sip, hierarquia, multigeracionalidade, habi- lidades parentais e capacidade de fornecer ‘0i0 (Caminha, 2000; De Antoni, Teodoro ¢ Tolle, 2009; Minuchin, 1966/1990; Minw tin Fishman, 2003). Segundo a visio sistémica, a estrutura: ‘oda famfa est organizada com base n0 cone. sendo considerada fun- quando permite o desenvolvimento saudvel ou adaptado de seus in~ Minuchin influ, ne de, agp Mua, con + ASpectos no, TOE Ou ad mento familiar saudg es saudavel & id cone lo-casal sendo igualitéro ( “i iio de pie) eo Fasano mas pis Bae ‘0 que Os seus filhos, entreta; : 0 nivel de flexibilidade a oe no desem Geta eae eee Mase oe ae , 1966/1990). Assi existe a evidéncia de que coesic » frmeredd ener cee ee ae atrelada ao bem-es tar individual e soca, enquanto nas reagies aes essa associagio ndo é verdadeira g.€ Mart, 1993). Familias com proble- mas psicossociais frequentementeapresentam puta coesio ¢ maior deseqlbriohirzqu co (igualitério ou muito hierérquico), como também limites incertos entre as geragdes (De Antoni, Teodoro e Koller, 2009) ‘A multigeracionalidade tem sido pes- quisada por representar uma forma de ex Dlicar a repetigao e perperracao de siruaoes Hesadaptativas nas familias, como a violén- cia, geragdo apés geragio. Multigeracional dade & entencida a partir do fato de adul tos, que foram vitimas de violencia ines cional e repetitiva, possuirem um padrao cognitive comportamental de funcioname to inadequado baseado na ‘violencia, a forma, cine a sic, seal OO violencia fain 638 E50 cologica, aprende™ ook ancl rade suas pee vraneformandose nao possuem™ sis, 2005)- inchs 200° rent ie ras Tnfinca, Estudos Cae a ares com historia de abuso a #7 fapreventaram habilidades parenta® pobres, indicadas pela insatisfagao no desempenho do papel de mée, auropercepcto nega txpecativas ireais dos filhos,us0 de Pur tao sien na solugdo de confitos com 08 thos e pobre qualidade do cuidado direcio- nado aos mesmos (Banyard, 1997; Dixon ce 41,2005). Para Black, Heyman eSlep (2001), os pais abusadores usam, de forma indiseri- rminada, préticas educativas coercitivas, CO- ‘mo a punigio fisica, aumentando 0s tiscos da manifestagao de comportamentos agres- sivos ou de disttirbios afetivos em criancas € adolescentes inseridos nessas familias. Des- sa forma, 0 uso de técnicas coercitivas como principal estratégia de socializacdo infantil e a auséncia de interlocucdo entre 0s mem- bros da familia podem trazer consequéncias negativas para o desenvolvimento emocio- nal das criangas e pata 0 estabelecimento de interacées futuras (Pacheco, 2005; Rep- pold, Pacheco, Bardagi e Hutz, 2002; Rep- pold, Pacheco e Hutz, 2005), contribuindo Para‘a multigeracionalidade, Por fim, a literatura também en poten de Fania cau foe a de apoio emocional e social. A fami- a primeira rede de apoio com as pri- ¢ Koller, a € considerada crianga, iniciada muito i “4 cedo 1990, 5st de apego Brito ); Samuelsson, tando associado & sade e 20 bem-estar dg individuos (Garmezy © Masten, 1994; g,. tnuelsson etal. 1996). Ele desempenha yn pel fundamental no processo de adap gao a situagoes de estresse ¢ de suscetibiy. svi a distirios fisicos e emocionais (Mag ten e Garmezy, 1985; Rutt rando como fator de prot fm muitos casos, a familia no funciona tomo uma fonte de apoio, mesmo sendo de Singular importancia para o enfrentamen. fo de situagbes estressoras € busca de soly, des para superé-las. Para Everson, {unt Runyon, Edelsohn e Coulter (1989), 0 apoio mateo é um elemento fundamental no momento da revelacdo do abuso sexual para o funcionamento psicol6gico geral da trianga ow adolescente vitima, Contud, esse apoio esti fortemente vinculado & con dicao atual de relacionamento entre 0 agres sor e a me, sendo que se a mae mantém uma relacdo de dependéncia com ele, me nos apoiadora ela sera. Esse estudo mostra que aquelas criangas, que haviam recebido nenhum ou baixo nivel de apoio, apresenta ram significativamente maiores niveis de psicopatologia € distiirbios psicolégicos do que as criancas de mies apoiadoras ¢ apois doras ambivalentes. Estudos atuais desenvolvidos em institu: ges de abrigo tem mostrado a percepgao da familia do ponto de vista dos jovens insti: cionalizados e dos dirigentes dos abrigos (Otero, Avila, Siqueira e Dell’Aglio, 2006; Si queira, Tubino, Schwarz ¢ Dell’Aglio, 2009: Szymanski, 1992; Yunes, Arieche, Tavares € Faria, 2001). Relacdes familiares idealizades supervalorizadas, identificadas como relagoes de qualidade, apresentando baixa frequénc® de conflitos e rompimentos, constituind®-st como fontes de apoio e de eventos de vid Positivos, so aspectos observados no disco” $0 das criangas e adolescentes institucional zados em tais estudos. Essa idealizasa0 das telacdes familiares pode ser entendida ‘comm? um movimento adaptativo e restauradot ¢ jovens, processo importante para 0 rest as Ree Se ee Oe Eee os con pode estar essociada 9 fc ah entre 0 que € de fato vivencieg, ia eg pensad® (Szymanski, 1992), Por ee ae 18 de ditigentes de ahi. oles Seervado um posicionamento criten ue as fa ee adolescentes fain ae es cae Ot limitadas para cri tia e cducar seus filhos se apresentou com ria ferg no diseurso de diretores, monito. i ucadores€ espe ténica dos abigos mise Samar fa Yunes, Garciae Al. 7 aS concepcoes soci Ie inna também proceso de nsergo familiar de jovens abrigados, visto fox seas arias nfo so consideradas “ap- ‘gs’ a educar seus filhos, em fungio de di- teros empecilhos que vo desde condighes financeiras e de moradia, até configuracao fa- ‘alien, tomam-se mais dificeis as relacoes en- te famfias e instituigbes, assim como o des- jgamento institucional (Siqueira, Morais, DellAglio e Koller, 2010). Pode-se perceber que dificuldades no fun- onamento familiar, a partir de graus inade- ‘quatos de coesdo e hierarquia, a presenca de igeracionalidade da violencia, as habili- dates parentais disfuncionais, com 0 uso de sritcas educativas coercitivas e inconsisten- {ee auséncia ou pouca disponibilidade de ‘polo por parte da familia podem ser fatores ais importantes e decisivos para 0 funciona- mento familiar do que as condicdes socioeeo- “imei, Esses aspectos so considerados fa- thes de risco presentes nas familias e podem evar ao afastamento de criangas ¢ adolescen “85do convivio familiar, visto que em tais Con _ es, seus direitos fundamentais podem se ¥o, com horérios rg Para toda atividade padronizado, (Albom« ; hee ee abral, 2002; Guirado, ate Principal objetivo era fornecer con- ligbes minimas de alimentacéo, moradia escolaridade, nfo havendo uma preacdpa- Gao com a individualidade e a conservagao de lacos familiares. Essas instituicées, co- nhecidas como instituigdes totais, foram es- ‘tudadas por inimeros autores, ue, na gran- de maioria, destacavam os efits prejud: ciais ocasionados pelo atendimento nas ins tituigdes (Cabral, 20025 Guirado, 1986; Ma- rin, 1998, 1999; Saraiva, 2002; Silva, 1997) Segundo Goffman (1961, p. 11), “uma inst tuigo total é um local de esidénciae taba. Tho onde um grande mimero de indiviuos separacdos da so com situagéo semelhante, separados 40s is ampla por considerdvel peri” do de tempo, evar ume vida fechada e for- malmente ‘administrad2” ‘As instituigoes totais foram cn ue oe cuidar de pessons ieHPA7 ies tal como as criangas € aio i viam em nstituigoes de a ee sen ag tivizados : © sob um tend atendimento ‘Agrupados por sexo e idade mento cole! gias e uma dil aspectos davi 2006) 590, foi lagado @ Fstaruro de rianga € do Adolescente — BCA (Brasil, 1990), como resultado do processo de arti- calagio e discussdo advindo da Declaragio Gaivorsal dos Dieitos da Crianga” em 1959, “Cédigo de Menores” em 1979 ¢ a “Con ‘engio sobre Ditetos da Crianga” em 1989, propondo um novo olhar sobre a infancia & ‘a juventude, Com 0 advento do BCA (1990), uma nova forma de institucionalizacao foi proposta e uma mudanga na perspectiva re- lacionada aos jovens em situa¢do de institu- cionalizagio foi langada. Segundo o ECA (Brasil, 1990), 0 abriga- mento é uma medida de protecio integral e especial, utlizada sempre que os direitos da crianga ou adolescente so ameacados ou Violados. Deve ser provisério e excepcional, implicando na passagem da guarda provisé- ria destes para o dirigente do abrigo (Brasil, ot pase a) Uma série de medidas uma reordenago das instituicbes tam- ee oe abrigo abe Lal ere i assumir um cardter Tesidencial, oferecendo atendims nalizado, em pequenas tnidades ¢ Cen, rena lm diso, néo deve ea lum direit iim direito que nfo tenha sido Ras Aides eu: POsionaliza Ne outras (Art. 94), vas de la. Essas recomendacoes foram APErfejcy das na Lein® 12.010, sancionada em on de 2009, que altera a sistematica oo fara garantia do dieito 8 convivéncg age fiar a todas as criangas € adolescent Ne jai, popularmente conhecida como ova da adogo”, a nomenclatura de “abrigames, to passa a ser substituida por “acolhimeny, ipstitucional”, em cujo local a crianca e agg. Jescente nao pode permanecer por mais ga dois anos, “salvo comprovada necessidads (.J” (Art. 19). Além disso, programas de geothimento familiar terdo preferéncia ay Zcolhimento institucional, o que devers ser incentivado pelo poder puiblico. As institu. ges de acolhimento serio avaliadas pely Conselho Municipal dos Direitos da Criang ¢ do Adolescente a cada dois anos, em que serf levado em consideracio os indices de sucesso na reintegracao familiar ou adapta do a familia substituta. Dessa avaliacio também dependerd a renovacao ou nao do registro institucional. Somando-se a isso, os dirigentes das instituigSes deverdo enviar no maximo a cada seis meses um relatério circunstanciado sobre a situagao de cada crianca ou adolescente. Fica evidente e mais detalhada do que o disposto inicialmente no ECA (Brasil, 1990) a énfase dada & preset vacdo dos vinculos familiares nessa nova lei €.a maior carga de responsabilidade a inst tuigdo de acolhimento. _ Segundo Guard (2006), frente as deter minagdes do ECA (Brasil, 1990), a primeira Providéncia desempenhada pelas institt Goes foi reordenar a estrutura fisica 40s abrigos, transformando grandes espacos &™ Pequenas salas e quartos, ou mesmo, imi: nuindo 9 mimero de abrigados. Por out? lado, as determinacdes propostas pelo 1? €statuto nao foram atreladas apenas as com Aides fisicas dos abrigos, mas sim &ideiaé? implementagao de um novo programa i Cioeducativo a ser desenvolvido pela i" tui¢do. Do contrario, pequenas residéncis Teproduziriam o mesmo sistema de mento das grandes intiuigoes (Guat 20°” $Oq. Sto, sta ‘ej en do. repercussdes Negativas ao dese,, das ctiancas © adolescentes sh soir nova le, de 2009, parece ten, a, sa questo quando prope gn” tO da ang € do aolescete ~ 00 eitado quanto A sua intimidade Pe vida privada, a0 se promover ime’ inate protecio. No entanto, sua exec, #2 a por parte do sistema judiciro og ca is envolvidos, tal como ocorrey @rasil, 1990), parece necessita e ae processo de adequacao junto, ¢ instituigées, de forma que poss falls a com seguranca, Roque se refere ao funcionamento das + cinicbes brasileiras, estudos indicam as. a serem ainda trabalhados. Para Yu fis, Miranda € Cuello (2004), existe uma inincia da funcao assistencialista oe fundada na perspectiva ti abrigos, funda¢ spectiva tao so- ee gindar as criangas abandonadas, favendo um frégil compromisso com as questbes desenvolvimentais da infancia e da adolescéncia. Existem, também, problemas fucionais, como, por exemplo, 0 ntimero ais, 10, ot al iM _ Ge finciondrios inadequado, ocasionando ‘ificuldade no cumprimento das funcées, ‘obrecarga das tarefas ¢ um atendimento poucoeficaz; e a precariedade na comunica- Gia dentro do abrigo (funcionario/diretoria do abrigo, adolescentes/funcionario, entre cutros) e, sobretudo entre os diferentes ni- ‘wis (abrigo/escola, abrigo/Conselho Tute- la, abrigo/outra instituigaio frequentada felos abrigados, entre outros), refletindo di- fieildades de articulagao na rede de apoio ‘ecial, O ambiente institucional pode pos- ‘uum atendimento padronizado, alto indi- por cuidador, falta de ativida- ‘ds planejadas e fragilidade das redes de 010 social aferivo (Carvalho, 2002). Nogueira e Costa (2005) destacam 25: 0S Negativos relacionados 4s macs es i estudo, como a alta rotativida i as e a auséncia de preparo Pal” ‘a funcao de mae social, pe ; ade dessas profission: ef VEI © donc ge 3 OM problem caret oncepgio tay 4 05 en ats Posicionamentos mpedindo que os Peesentem pot ten 8S essoais¢ socais E5508 de resléncia e reciativos, AvolVam @ a afetuosas e de quali de abrigo, da cidade am para que as crian. dade nas instituigbes de Sao Paulo, contribu Gas em idade pré-escolar indicow falta de Preparo das monitoras para cuidar das criangas, evidenciado em stuagbes de host lidade verbal e poucas ocorréncias de cari- niho, palavrasincentvadoras conta fsco (Barros ¢ Fiamenghi Jr, 2007). J4 Azor ¢ Veerore (2008) destacaram que as reas, s normas e mudaneas institucionais, além da auséncia de liberdade e da famfia, impossi- bilitavam a preservagio de um “eu” deseo- so e pensante. Além deses aspects, Prada Williams e Weber (2007) indicaram que préicas educa neces wilt permeavam as relagbes insutulonals er A 5 eos educadores, (0s jovens ¢ entre 0s ove aa iin rao. cumprisse sue funsao en medida de protesao- oe ~ agp ie. nie 6 area : ces, pas 008 eda fede dee te a : e nol yeadlos como ee apoio nfinmand® imporncia que a5 id dess wens. Em seu estut mer gcentes de classes populares © aU com adolescere de insiucionalizag tee 2003) que muitos adoles que 0 tucional pode atuar como ‘a0 desenvolvimento de guranca e con acolhimento insti fator de protecao criangas e adolescentes. essa forma, mesmo que uma melhora nas condigdes de atendimento nos abrigos tenha sido observada nos tiltimos anos ¢ queira e Dell’Aglio, 2006), rorna-se necesss 7p avaliar com atencAo e cautela cada caso specific, visto que a percepsao de uma rianga e adolescente esté sob influencia de jnjimeros fatores, como suas caracteristicas pessoais, motivo do abrigamento, condicdes fisicas do abrigo, modalidade de atendimen- to oferecida, relacdo entre os abrigados e os educadores/monitores € entre os outros abrigados, entre outros. Sallina-Brandao e Williams (2009) apontaram alguns indica- dores de qualidade especficos, que pode- riam garantir a qualidade do acolhimento institucional: frequéncia com a qual as pro- postas da instituigto sio discutidas e revis- tas pelos funcionérios; os crtérios adotados pelo abrigo para selecionar os funcionarios; se 0s coordenadores das entidad { st : les desem- penham um papel ativo de lideranea (p. e fazendo reunides); a rotativi ae ta A ividade de profis. mais; se Os funciondrios j4 gum treit Ja receberam al- ‘reino em relagéo ao Es F 1990); se existe coesi CA Brasil, 1 90s adolescentss parties ee Sah ran deat instiuigao possibilita 6 issionalizacao; se a idos pelas Se 0 830 dos objetos tra. adolescentes de sua fe no abrigo existe 0 registro de my os na instituicSo, por exempy, stituigdo mantém uma pole a casa; 5 mentos vivide fotos; se a in ‘desmembramento de grupos de jp de nao ae ps sea entidade evita SEMPTE We pos mnie ransferéncia de abrigados para our, vnridades; se existe um programa de form, ao continuada para 0S fi funciondtios e se hg Sees do abrigo em relaclo a preservacig ar vinculos familiares € integracao em fa. ‘nilia substituta. Assim, se a instituicao of tecer indicadores de qualidade, associadas tim ambiente acolhedor € afetivo, ela prova tvelmente funcionard como fator de proteci E proporeionard desenvolvimento adepay. Yo aos jovens institucionalizados. Por outro Jado, se a instituigdo for deficitaria no provi. mento das condicdes basicas e seu funciona. nento for coletivizado e baseado em prit cas violentas e unico, possivelmente atua, rd como risco para 0 desenvolvimento, CRIANCAS E ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOS: ESTUDOS ATUAIS - O interesse em investigar os aspectos do desenvolvimento de criancas e adolescentes institucionalizados, especialmente conside- rando as mudangas ocorridas apés 0 ECA (Brasil, 1990), tem motivado intimeras pes quisas no Brasil. Os mais recentes mencio- nam as melhorias no contexto fisico das ins- tituigdes, e na qualidade do atendimento ofe- recido aos abrigados (Arpini, 2003, 2003: DellAglio, 2000; Guard, 2006; Martins ¢ S2Y- manski, 2004; Oliveira, 2006; Pasian ¢ Ja quemin, 1999; Silva, 2004; Siqueira, Betts ¢ Dell’Aglio, 2006; entre outros). __O perfil de 155 criancas € adolescentes institucionalizados, de sete a 16 anos, 0 Regiéo Metropolitana de Porto Aleste/ foi investigado por Siqueira e colaborador ea) O tempo de institucionalizaca0 de es jovens variou de dois meses a 425° anos, Quanto as caracterfsticas dos jove™ Mie oh a pe BSG Be sdo ates ide- Des- cio- oS ontrados indicios de y, — sco nessa populacio, coma dee rentacio de dros Pre, Peto indice de ae des, dade e desemPenho escolar’ cid oes de eventos estressores on da fama, e8c0l2, pares violence" etl oot jovens abrigados e as cargoes © familiares podem Ser considerado. ae pico PFESENES Na vida dessa Se | Seadlsentes: No ce tange scr ead es das Familias, foi constatado que ce Mfias numerosas, COM Uma médin qe fea inmfos, send GUE A Maiora poss a | tos no abrigo. Os participantes apont vr bisa escolaridade dos pais ea nq sriapago eM aLividades labora ing Mi. Além disso, foram constatades cons. Wires reorganizagoes do micleo familia, fiso que, em mais de 70%, os pais dos par. tepantes nfo viviam mais juntos. ‘Q estudo de Siqueira e colaboradores sobre a percepcao das figuras paren- fais na rede de apoio social e afetivo de criangas e adolescentes institucionalizados demonstrou que 59,4% dos participantes t- tiham contato com os membros da sua fami- lia de origem. No entanto, foi observada uma presenga enfraquecida da figura pater- na na rede, que se mostrava ausente em 42,1% dos casos e compreendida como uma ‘waco insatisfatéria em 6,8%. Por outro ‘bdo, a figura materna estava presente em ‘use 80% na rede de apoio dos participan- {es sendo considerada uma relacao proxima 72,9% dos casos. fim entrevistas com adolescentes que Stiveram em situagéo de institucionaliza- |jovens destacaram as experiéncias € os momentos de alegria vivi ligao, onde puderam estabelecer os, alguns dos quais se mantive- Oapés deixarem a instituigao (Ar ). Um estudo com 143 criangas © tes institucionalizados da Regi2? tana de Porto Alegre investigou 0S le vida positivos e negativos (otero ina Vida positivas do niimero Seas tino cionais. O estudo desenvolvido por Marin Szymanski (2004) vere grocers de familia de erangas em instuiin ce abrigo, a partir da anélise da brincadeira de faz-de-conta, empreendita por elas. Dente 0 resultados, destacou-se que @cooperegio ‘ou ajuda miitua permeou a maioria das inte ragoes. AS criangas se organizaram dent dos papéis familiares, cooperando com a o- ganizagio da casa e auido unas 350 tras em diversos moments. Outro resttado interessante fi a referencia predomina® ‘aq modelo de familia nuceas Pes" os familias de origem neo Pos figuracdo, apontand eric. dos valores culturais os no de ‘Ao investigar iv 164 iso Ee ss x as de coping penbo escola 08 eae ntrada diferena flo atribucional: 5 que foram somente nos in’ cnas institucionaliza mais altos entre aS meni f Be eset das. Entretantos ess©. Te haja algu- 10 indieagao de que hay imterpretado co eure insitucionalizasa0 ¢ tego nl i epressao. Na maioia d0s C458, 4 e aes consequéncia de even! nalizagao se deu em Bre iia (abandono, violencia craundos jendo ter sido esse doméstica, negligencia), podendo ety © principal fator de risco para @ lepr (@ell’Aglio, 2000). Por outro lado, aspectos que podem Ser considerados de risco ao desenvolvimento tam sido encontrados entre as criangas © fadolescentes institucionalizados. Wathier & Dell’Aglio (2007), em um estudo com 257 riangas e adolescentes (130 insttucionali- gados e 127 morando com a familia) concli fram que, além da frequéncia, o impacto atribuido aos eventos estressores € de extre- ra importéncia, pois fornece a dimensao da influéncia desses eventos na subjetivida- de dos jovens. Na maioria dos 60 eventos {que as autoras investigaram por meio do In- ventério de Eventos Estressores na Infancia ¢ Adolescéncia (adaptado de Kristensen, Dell’Aglio, Leon e D’Incao, 2004), 0 impacto percebido foi maior no grupo nao institucio- nalizado. Independentemente dos contex- tos, os eventos relatados como mais impac- tantes foram “morte de um dos pais’, “ser estuprado”, “ser rejeitado pelos familiares” e “ser tocado sexualmente contra a vonta- . ‘ Somente cinco dos eventos investiga- los foram mais impactantes para os partici- antes institucionalizados do que para os que moravam com a familia: “a familia ter a ene policia”, “um dos pais filhos com out . pais ter tr0s parceiros”, “nao ter ami. 808", “envolver-se em brigas ey fisica” ¢ “ser com agressaio expulso da sala de Professora”. As autoras consi aula pela de que a vivencia ae a hi- de event le um maior nii- itOS estressores fez abrigados percebesse, com que os "M alguns desses como menos impactantes. No entanto, nj, foi possivel afirmar se ocorreu adaptacig, superagao ou desamparo apreendido, "* ‘Alem disso, Wathier e Dell’ Aglio (2097, também encontraram correlacio significa tiva entre o indice do Inventario de Depres go Infantil (CDD € 0 miimero de event feressores vivenciados pelas criancas « Sdolescentes institucionalizados. ow n3o, aiém de uma associacéo significativa entre os sintomas de depress4o € 0 grupo da ins tituigéo. A institucionalizaco durante 3 infincia e adolescéncia tem sido apontada como um evento de vida estressante e, po tanto, como fator de risco para o desenvol- yimento que pode ter como efcito a depres sao (Dell’Aglio ¢ Hutz, 2004; Merikangas ¢ Angst, 1995). Em um estudo longitudinal envolvendo 327 criancas e adolescentes institucionaliza dos de 7 a 16 anos, Abaid, Dell’Aglio e Kol- Jer (2010) investigaram eventos de vida es- tressantes, varidveis psicossociais e predito- res de sintomas depressivos em criancas € adolescentes institucionalizados. Foi obser: vado que 31,5% da amostra de criancas e adolescentes institucionalizados apresenta- ram sintomas depressivos clinicamente sig: nificativos, com base em normas estabelec das no estudo de Wathier, Dell’Aglio e Ban deira (2008). Uma andlise de varidncia mostrou diferenca significativa entre a 0cor réncia de eventos estressores ¢ a configura 0 familiar anterior ao abrigamento. 0 nt mero de eventos estressores e os escores d¢ depressio foram menores entre os partic Pantes cujos pais viviam juntos antes da ins- titucionalizacio. A identificagio de variaveis indepe™™ dentemente associadas & depressa0 20 Jon- 80 do tempo foi realizada por meio de um! andlise de regressio linear miltipla que per mitiu propor um modelo de varidveis pre toras, que, juntas, explicaram 56,7% 42% Hlagéio nos escores de depressio (Abeis, Dell’Aglio e Koller, 2010). As varidveis ide?” tificadas como preditoras da depress? se conv ig- C Os de dados), ter problew as a? on semtir-se rejeitado pei mfrigos © tr UM dos pais mons ie portanto, 08 dados indicaram i . a, sintomas depressivos obtidg ng pom oleta de dados foi fundamencat Seca (9s oi gifs reriacm T2, demonstrando a ques- Josh eplidade €08 sintomas. Diane Hog achados, SUBeTe-Se GUE Seja promo. B *ontato familiar de qualidade par jtucionalizados, a fim de fave. maior estabilidade do vinculo é pens instituct( ores ee 0s familiares na vida das cian. ites, ainda que esse vincu- sido precdrio até entéo (Abaid, fo e Koller, 2010). Esse proceso mais efetivo se acompanhado por sdores das instituiges, bem como essoas ¢ instituigdes da comunida- ‘estimulem a qualidade da relacio -nce-familiar (Maricondi, 2006). ‘colhimento institucional pode se ‘em uma alternativa de proteciio e ra muitas criangas ¢ adolescentes sco, operando como um fator de prote- 0 seu desenvolvimento. Mas por outro 4o da familia e 0 ingresso em de mais sofrimento. Os senti- lusio advindos da perda do 2 ir, representados pela situa- andono, podem perdurar por toda e Neiva-Silva, 2007). Sendo o institucional uma medida ex- provisdria, e tendo a crianga ¢ 0 direito fundamental & convi- iar e comunitdria, esses jovens itolégicos e promogs° de ento de relagoes afe- ¢ Proceso ene una mesma forma, os fatoren ge eb res de proteéo tab 0 rote também devem ser considerados em um contexto een ‘Sua capacidade de mitigar orisco potenci Soc conera ose oles 0, Ane no. nae ‘questes relacionadas a fa- x Thimento institucional, pari lessa perspectiva, & considera esse amplo le que de aspectos ¢ fatoresintertigads, ames de definira caracterstica protetiva ou de risco de cada um desses contexts. Para que 0 acolhimento institucional possa se consttur em um ftor de prosesio rho desenvolvimento de criangas ¢ adoles: centes em situagao de vulnerebilidads, € ne cessdrio que essa ‘medida tenha realmente sim caréter excepeional e proviso, TW Fem dever ser desensinios PORT direcionados 3s familias, que Se 2 ci Fragiiiaes © OT a : mento das superagaoe deenfrensre ge que Ps as no sem 5 des, fortalecendo | ‘educate cuida- am cumprir seu PT ero de i evitando 0 ate mona ds caiangts Tendo em vista ae * rains, mS PO snseiruconolizn possul a jever sero gramas derci reito a conv : odis postos, efetivando Be ey ca Pay iar e comunitaria tal come | ic i milan corona a prdtica de instiructonaliZn argas e adolescentes, no Brasil, Sela gio de cant antural de indmeros fatres ociais, economicos e familiares, € necessano que as instituigdes se modifiquem para me- thor acolher seus abrigados. Ainda hd muitas agées a serem realizadas, em diferentes an bitos, para garantir melhor qualidade de vida a todos 0s envolvidos. "Também deve haver investimento em programas de promogio de sate e bem-estar por meio de estratégias edlucativas ¢ terapéu- ticas. E necessdrio buscar uma maior qualida- de nos relacionamentos interpessoais, visando ‘Ah superagio de problemas antes que se agra- vein ¢ se tornem mais resistentes as interven bes, Quanto & prevengao da depressio, por exemplo, deve se considerar a importancia de gio terapéutica imediata junto a criangas € adolescentes que apresentarem sintomas de- pressivas em qualquer nivel, tendo em vista que pode haver uma possibilidade de que a situagao se agrave com o tempo. HA necessi- dade, portanto, de um trabalho néos6 preven- tivo, mas de intervengio direta quanto aos sintomas depressivos identificados. Da mesma forma, deve-se capacitar as equipes de monitores, educadores ¢ mies/ pais sociais ou substitutos para que estejam ‘ada vez. mais aptos e receptivos a trabalha- rem comas demandas dessas ctiangas e adlo- lescentes. Hé necessidade de que sejam feitos investimentos na formago continuada das ou eee no acolhimento institu- E negativas er a nis que atuam nessa area, tambén denn, ee tid de ambém devem ; o e capacitacao para as equipes, de forma que as familias valorizadas e ajud: Possam ser ijudadas nesse proceso, Sal Se que o trabalho integrado co, ». Sabe- lia, abrigo e Estado pode mM escola, fami- tho mais ficient Produzit um traba- te quando 0 objeti ger € fortalecer criancas ¢ adglnn, € prote- situagéo de vulnerabilidade adolescentes em Pessoal e social, REFERENCIAS Abaid, J. Le W., Dell’Aglio, D. D., & Koller, 5, yy (2010). Preditores de sintomas depressivos em ntes institucionalizados, (jy, versitas ‘Albomoa, A. C. G. (1998). 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