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Na verdade, a idéia de que o mundo não tem princípio nem fim, isto é, nunca
foi criado a partir do nada, é característica dos primeiros filósofos gregos. Para
eles, não há o nada, e sim a phýsis. A phýsis(28) abarca a totalidade das
coisas, sendo também o fundo imortal de tudo que é criado e perece. Por ser a
phýsis perene, o mundo é eterno, esta é a tese central da física, ou melhor, da
cosmologia pré-socrática. Tal concepção de mundo eterno, fundada na
circularidade do tempo, no eterno movimento do vir-a-ser e perecer das coisas,
só pode ser considerada nova dentro de uma realidade dominada pela visão
linear do tempo judaico-cristã.
Paradoxos em Heráclito:
Tudo é vir-a-ser, está mudando e passa apenas uma impressão de
estabilidade, porém as leis que governam o universo são imutáveis.
Uma preocupação comum para todos os filósofos pré-socráticos foi a de
explicar qual é a causa primordial da realidade. Esse elemento não apenas
teria introduzido, mas gera o universo constantemente como um motor
incessante, sem principio nem fim, tendo caráter autogerador. A partir dessa
determinação fenomênica extremamente ampla, seria possível conhecer com
precisão todos os fenômenos particulares que dela são parte. Em analogia,
conhecendo o principio e o fim, é possível prever e estabelecer uma trajetória
Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o
fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-
se conforme a medida. (DK22B30)
O fogo simboliza a idéia de algo uno que abarca o múltiplo. Assim seria a
estrutura da realidade nas mais variadas instâncias, inclusive no discurso e
comportamento dos seres humanos. Essa estrutura seria a lei paradoxal na
qual tudo se embasa; paradoxal, pois a justiça torna-se a própria distinção:
“Se há necessidade é a guerra, que reúne, e a justiça, que desune, e tudo, que
se fizer pela desunião, é também necessidade” (DK22B80)
“Só vejo o devir. Não vos deixeis enganar! É à vossa vista curta e não à
essência das coisas que se deve o fato de julgardes encontrar terra firme no
mar do devir e da evanescência. Usais os nomes das coisas como se tivessem
uma duração fixa; mas até o próprio rio, no qual entrais pela segunda vez, já
não é o mesmo que era da primeira vez”. (NIETZCHE, 1987)
“Tudo acontece de acordo com esta luta, e é esta luta que manifesta a justiça
eterna. (…) …lutam entre si as qualidades, segundo regras e leis invioláveis,
imanentes ao combate. As próprias coisas que a inteligência limitada do
homem e do animal julga sólidas e constantes não têm existência real, não
passam do luzir e do faiscar de espadas desembainhadas, são o brilho da
vitória na luta das qualidades opostas. “(NIETZCHE, 1987)