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25/08/2019 ConJur - Nos Estados Unidos, leis municipais criam o crime de morar na rua

SOLUÇÃO LEGISLATIVA

Nos Estados Unidos, leis municipais criam o


crime de morar na rua
10 de agosto de 2019, 8h33

Por João Ozorio de Melo

Sem outros recursos para lidar com moradores de ruas, cidades dos EUA vêm
apelando progressivamente para uma solução legislativa para se livrar do
problema: criminalizar a moradia nas ruas, com penas de multa e cadeia.

A última cidade a aprovar uma lei desse tipo Svyatoslav Lypynskyy

foi Lacey, no estado de Washington. A lei,


aprovada por unanimidade pela Câmara
Municipal, autoriza a polícia a multar as
pessoas que acampam em lugares públicos
em US$ 1 mil. E, se elas forem processadas
criminalmente, podem pegar 90 dias de
cadeia.

Lacey criou sua lei com base em “modelos” já


aprovados em outras cidades, entre as quais
Cidades norte-americanas têm
San Clemente (Califórnia), Centennial
criminalizado a moradia nas ruas, com
(Colorado) e Beaverton (Oregon).
penas de multa e até prisão
Geralmente, a promessa desse tipo de lei é a
de que ela só será executada se houver lugar
disponível em abrigos para sem-teto (homeless, em inglês). Mas há uma
desconfiança dessa promessa.

Na capital do Havaí, Honolulu, um paraíso turístico e supostamente a cidade dos


EUA com maior número de moradores de rua, a polícia vem destruindo tendas
improvisadas e prendendo as pessoas que moram em lugares públicos.

Em San Diego (Califórnia), cidade praiana, a polícia destruiu tendas e distribuiu


citações para moradores procurarem abrigos, dias antes de a cidade iniciar sua
contagem anual de moradores de rua.

As cidades argumentam que tais leis incentivam os moradores de rua a ficar em


abrigos. Muitos moradores de rua argumentam que não há camas disponíveis nem

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lugar para colocar seus pertences.

Os opositores dessas leis afirmam que as penas para quem acampa em lugares
públicos — geralmente parques, praças (muitas vezes nas cercanias da prefeitura)
— violam a Constituição, que proíbe punições cruéis e incomuns.

Pelo menos um tribunal federal já concordou com esse argumento. Juízes de um


tribunal regional de recursos na Califórnia decidiram que multar moradores de rua
por alguma coisa fora do controle deles — a de não ter onde morar, a não ser a rua
— é uma punição cruel e incomum. Mas fizeram uma ressalva: a polícia pode
multar, se houver espaço disponível em abrigos e, mesmo assim, as pessoas
continuarem a dormir nas ruas.

Com base nessa decisão, algumas cidades vêm apelando para a Justiça para se livrar
dos moradores de rua. Por exemplo, Santa Cruz (Califórnia), também cidade
praiana, com bom fluxo turístico, esvaziou os acampamentos em lugares públicos,
com permissão de um juiz federal e a promessa de distribuir vouchers para abrigos
e hotéis (baratos) na região.

Em Oakland (Califórnia), a polícia esvaziou um acampamento que abrigava mais


mulheres e crianças, com as bênçãos de um juiz federal. O magistrado argumentou
que a decisão do tribunal regional de recursos não estabeleceu, necessariamente, “o
direito constitucional de ocupar propriedade pública indefinidamente”. As cidades
argumentam que, ao obrigar pessoas sem teto a sair das ruas, oferecem abrigos a
elas.

Indigência nos EUA


Estatísticas do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA
indicam que, em 2018, existiam 552.830 pessoas sem teto no país — 17 de cada 10
mil habitantes. Desse total, 67% vivem sozinhos. Os demais 33% são famílias com
crianças.

Entre os moradores de rua sem família, 7% são jovens, com menos de 25 anos; 7%
são veteranos de guerra; 18% são pessoas “cronicamente sem teto”; e o grupo
restante é constituído por pessoas com deficiências físicas e mentais.

A maioria das pessoas sozinhas (70%) é de homens. Brancos representam 50% da


população sem teto. A população de afro-americanos e nativo-americanos é menor,
em relação à população geral do país. Mas o percentual é considerável se a base de
comparação for o número de habitantes da raça negra e de nativos vivendo no país.

  População População População


dos EUA pobre sem teto

Brancos 79% 66% 50%

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  População População População


dos EUA pobre sem teto

Negros 13% 23% 40%

Asiáticos 5% 5% 1%

Nativos 1% 2% 3%

Multirracial 2% 4% 6%

João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados


Unidos.

Revista Consultor Jurídico, 10 de agosto de 2019, 8h33

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