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'Um só inimigo: o governo do Brasil'

"Hoje nós temos um só inimigo, que é o governo do Brasil, o presidente do Brasil, e as


invasões de não indígenas", diz à BBC News Brasil Mudjire Kayapó, um dos líderes presentes.
"Temos brigas internas, mas, para lutar contra este governo, a gente se junta", ele afirma.

A organização do encontro envolveu uma logística complexa. Indígenas deixaram suas


aldeias rumo às cidades mais próximas, onde foram recolhidos por ônibus fretados.

O atual presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, tratou como fundamental para
o seu governo a liberação da prática do garimpo em terras indígenas que hoje é proibido pela
legislação brasileira. Além da possibilidade de flexibilização de tal lei, o aumento do garimpo
em terras indígenas aumenta a cada dia com a diminuição das multas aplicadas pelo Ibama,
órgão responsável por combater crimes ambientais em terras indígenas. Até o metade de agosto
de 2019, o número de autuações do órgão caiu 30% em relação à média dos últimos três anos
para o mesmo período. _>fonte

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https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46749222

Nas primeiras horas de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) editou uma
medida provisória e um decreto que esvaziam as principais atribuições da Fundação
Nacional do Índio (Funai).

Ele deslocou para o Ministério da Agricultura, instituição que representa interesses do


setor agropecuário brasileiro, a prerrogativa de delimitar terras indígenas e de quilombolas, e
de conceder licenciamento para empreendimentos que possam atingir esses povos.

Diminuir a concessão de demarcações de terras e destravar obras, como ferrovias e


rodovias, em áreas próximas a comunidades indígenas eram reivindicações da Frente
Parlamentar Agropecuária da Câmara, que representa os interesses de produtores rurais. Mas a
decisão do novo presidente saiu melhor que a encomenda, segundo parlamentares do grupo, a
chamada "bancada ruralista".
E a Procuradoria-Geral da República informou à BBC News Brasil que todas as decisões
do novo presidente sobre demarcação de terras "serão analisadas" para verificar se há
"retrocessos" ou violações a direitos. Se a interpretação for de que existem
inconstitucionalidades, poderá ingressar com ações no Supremo Tribunal Federal (STF)
pedindo a derrubada integral ou parcial das medidas.

O procurador da República Júlio Araújo, que integra o grupo de trabalho sobre


demarcação de terras indígenas da 6ª Câmara do MPF, avalia que a transmissão das funções da
Funai para o Ministério da Agricultura viola a Constituição.

Segundo ele, essas medidas podem paralisar novas demarcações, já que o controle sobre
a decisão estará nas mãos de uma instituição que representa ruralistas e que não teria, a
príncipio, interesse em expropriar terras de produtores ou paralisar obras que possam beneficiar
o escoamento da produção.

"Esse esvaziamento (da Funai), por si só, tem inconstitucionalidade, porque você torna
inoperante a política de demarcação. Você está desestruturando uma política prevista na
Constituição", afirmou à BBC News Brasil.

"O governo está indicando que não vai mais demarcar terras. A decisão vai ficar sob
controle de um ministério que é contrário a esse interesse e que responde a um governo contrário
a esse interesse."

a Medida Provisória 870 amplia as competências do Ministério da Agricultura para


incluir "reforma agrária, regularização fundiária de áreas rurais, Amazônia Legal, terras
indígenas e quilombolas".

Segundo a MP, caberá ao Ministério da Agricultura "a identificação, delimitação,


demarcação e os registros das terras" tradicionalmente ocupadas por indígenas e pelos
remanescentes das comunidades dos quilombos.

Antes, a demarcação das terras era feita pela Funai, após estudos antropológicos e
avaliações de técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Concluído o parecer pela demarcação, ele era encaminhado para o ministro da Justiça, para
assinatura da declaração da demarcação. Em seguida, seguia para homologação pelo presidente
da República.
Com as mudança feitas por Bolsonaro, o Ministério da Agricultura controlará todo o
processo.

Depois de editar essa MP, o presidente assinou um decreto repassando para a Secretaria
Especial de Assuntos Fundiários, subordinada ao Ministério da Agricultura, a função de
coordenar a concessão de licenciamentos ambientais a empreendimentos nas terras indígenas e
de quilombolas.

Esse licenciamento incluiria, por exemplo, permissão para construção de hidrelétricas


perto de comunidades indígenas, ferrovias e rodovias. Antes, essa função era da Coordenadoria-
Geral de Licenciamento Ambiental da Funai.

Na terça-feira, pelo Twitter, Bolsonaro criticou a extensão das terras demarcadas no


Brasil e defendeu que povos indígenas e quilombolas sejam "integrados".

"Mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombolas.


Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas
e manipuladas por ONGs. Vamos juntos integrar estes cidadãos e valorizar a todos os
brasileiros". afirmou.

Para o procurador Júlio Araújo, essa visão de defender a "integração" dos povos
indígenas viola o artigo da Constituição que diz que "são reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam".

"Os povos indígenas devem ter autonomia para viver na terra deles ou viver na cidade,
retornar ou não para a aldeia. Essa premissa de forçar os indígenas a serem integrados é
inconstitucional", afirmou. "É uma visão autoritária de que melhorar de vida é morar na cidade
ou seguir um mesmo padrão de comportamento", avalia Araújo.
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https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49187664
Por unanimidade, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve decisão
do ministro Luís Roberto Barroso que suspendeu em junho nova tentativa do
presidente Jair Bolsonaro de retirar a demarcação de terras indígenas da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e submeter ao Ministério da Agricultura.
Para a Corte, Bolsonaro não poderia ter editado, no mesmo ano, uma segunda medida
provisória com essa mudança depois que o Congresso já havia barrado em maio uma primeira
tentativa feita em janeiro. Essa decisão do STF, no entanto, deixa a porta aberta para o
presidente tentar realizar essa alteração de novo em 2020.

"O comportamento do atual presidente da República, revelado na reedição de medida


provisória, clara e expressamente rejeitada pelo Congresso Nacional no curso da mesma sessão
legislativa, traduz iniludivelmente uma clara, inaceitável transgressão à autoridade suprema da
Constituição e representa uma inadmissível e perigosa transgressão ao princípio fundamental
da separação de poderes", afirmou ao votar o ministro mais antigo do STF, Celso de Mello.
A decisão de Barroso referendada pela Corte tem caráter liminar (provisório). Uma
análise mais abrangente sobre a constitucionalidade da transferência da demarcação para a pasta
da Agricultura exigirá um segundo julgamento, sem previsão de data.

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http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=418183

Plenário referenda liminar que suspendeu medida provisória que transferia


demarcação de terras indígenas para Ministério da Agricultura
Na sessão desta quinta-feira (1º), o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por
unanimidade, referendou medida cautelar, deferida pelo ministro Luís Roberto Barroso, que
suspendeu o artigo 1º da Medida Provisória (MP) 886/2019, que estabelece a organização
básica dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios, na parte em que altera os
artigos 21 (inciso XIV e parágrafo 2º) e 37 (inciso XXI) da Lei 13.844/2019.
Dessa forma, a transferência de competência para demarcação de terras indígenas
permanece na Fundação Nacional do Índio (Funai) e não no Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). As quatro ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs 6062, 6172,
6173 e 6174) foram ajuizadas, respectivamente, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Rede
Sustentabilidade, Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Democrático Trabalhista (PDT).
O relator das ações, ministro Luís Roberto Barroso, havia suspendido liminarmente os
dispositivos atacados nas ações e submeteu a decisão ao Plenário. O relator explicou que, em
1º de janeiro de 2019, houve a edição da MP 870, que transferia a competência e demarcação
de terras indígenas da Funai para o Mapa. A referida MP foi objeto de deliberação pelo
Congresso Nacional que rejeitou o ponto específico da transferência de demarcação da Funai
para a Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Houve uma manifestação
expressa e formal do Congresso Nacional no sentido de rejeitar esta proposta legislativa do
presidente da República. Promulgada a Lei 13.844/2019, no dia 18 de junho, houve, no mesmo
dia, a edição de nova MP, de número 886, para reincluir as matérias que haviam sido rejeitadas",
explicou.
Barroso destacou que o artigo 62, parágrafo 10, da Constituição Federal (CF) veda a
"reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que
tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo”. Além do caráter explícito da norma
constitucional, lembrou precedente recente da ministra Rosa Weber em que se firmou a tese de
que “é inconstitucional MP ou lei decorrente de medida provisória cujo conteúdo normativo
caracterize a reedição na mesma sessão legislativa de medida provisória anterior rejeitada”.
“Portanto, a CF é expressa e o STF tem julgamento recente e unânime nesse sentido, razão pela
qual não hesitei em conceder medida cautelar”, frisou o ministro Luís Roberto Barroso.
A ministra Cármen Lúcia cumprimentou o presidente Dias Toffoli por incluir a matéria
já na primeira sessão de abertura do semestre judiciário e lembrou que, apesar de se tratar de
reedição de medida provisória, o tema é importante para a sociedade brasileira. “Se a cautelar
não fosse dada pelo ministro Barroso, teria gerado enormes dificuldades quando, no último
sábado (27/7), houve gravíssimo problema no Amapá com índios em terra demarcada sendo
afrontadas – inclusive com morte de um cacique. A dificuldade estava em qual seria o órgão
responsável para tratar de matéria, uma vez que só se entra em terra demarcada com a Força
Nacional ou com autorização judicial. A inclusão do órgão responsável por essa matéria não é
só a estrutura administrativa”, enfatizou.
O decano, ministro Celso de Mello, relembrou a ADI 293, da qual foi relator. Nesse
julgamento da década de 1990, o ministro Paulo Brossard inicia seu voto com perguntas
retóricas: “A Constituição está acima das medidas provisórias? Ou as MPs acima da
Constituição? A Constituição não passa de ornamento, a ser exposto nos dias tranquilos e
amenos? Ou a Constituição é um instrumento de governo a ser cumprido e a ser respeitado dia
a dia, sejam pacíficos ou tormentosos os tempos e tanto mais necessário quanto maior a
borrasca.” Para o decano, a reedição de MP expressamente rejeitada pelo Congresso Nacional
no curso da mesma sessão legislativa traduz “inaceitável afronta à autoridade suprema da
Constituição Federal”. Representa “inadmissível e perigosa transgressão ao princípio
fundamental de separação de poderes, consagrada no artigo 2º da CF”, finalizou.
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http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI6172votoCM.pdf

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