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Rio de Janeiro
2019
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UFRJ
Rio de Janeiro
2019
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UFRJ
_____________________________________________
Presidente, Prof. Armando Carlos de Pina Filho, DSc., UFRJ
_____________________________________________
Prof. Claudio Fernando Mahler, DSc., UFRJ
_____________________________________________
Prof. Maria Carla Barreto Santos Martins, DSc., UFF
_____________________________________________
Prof. Marcelo Guimarães Araújo, DSc., FIOCRUZ
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AGRADECIMENTOS
O fim desta jornada é o começo de outra. Para chegar até aqui, enfrentei batalhas
talvez maiores de que alguns colegas meus. Sou a primeira pessoa da minha família a
fazer Mestrado. Sou a primeira a passar para uma universidade pública.
Barreiras foram quebradas e ultrapassadas. Mas isso só foi possível, pois não
estive sozinha. Agradeço primeiramente aos meus pais, por minha vida e por todo o
suor e força para que eu chegasse até aqui e possa ir além. Essa vitória é de vocês.
Agradeço ao meu irmão por ser do jeito que eu sonhei quando minha mãe engravidou,
por tanto nos ajudar e por ser meu companheiro leal. Agradeço ao meu marido Gabriel,
por ser companheiro em cada passo de minha caminhada, pelos tantos conselhos, pelo
suporte financeiro, emocional e estrutural à minha pesquisa e meus estudos, “eu sou, pq
vc é”.
Agradeço ao universo, a Deus e à Deusa, a São Miguel Arcanjo e a todos os
meus protetores por não me deixarem cair. Agradeço à rede de mulheres que me ampara
em todos os momentos, principalmente: Patricia Lopes (meu cristal de aterramento, na
saúde e na doença), Jéssica Nunes (meu amor puro e acolhedor), Adriana Maria
(irmandade ancestral e luz na escuridão), Marcela Oliveira (quem eu quero ser quando
crescer), Maria (amiga fiel e sábia), Gabriela Macedo (ombro amigo e inspiração),
Débora (meu respiro de fé e apoio), Jackeline Alves (a flor mais bela, amorosa e justa) e
Marília Santos (meu exemplo de força e amiga pronta pra tudo). Agradeço à minha
amiga e companheira de Mestrado Larissa Paredes pela companhia e luz nas horas mais
difíceis. Vencemos juntas! Agradeço ao meu amigo fiel Alex Brito, mesmo em outro
Estado, sempre esteve tão presente e disposto a me ajudar. Te admiro tanto! Agradeço à
minha psicóloga Edjane Rocha, um ser de luz enviado pelo universo que me ajudou a
chegar até aqui e que me segurou nas piores crises que tive durante este processo. Esse
título também é seu! Agradeço ao meu orientador Cláudio Mahler por ter me aceitado e
não desistir de mim e nem me deixar desistir em nenhuma hipótese. Sou muito grata à
você mestre! Só cheguei aqui pois acreditou em mim! Ao meu co-orientador extraoficial
Gabriel Mendez, agradeço por toda a ajuda, orientação, disponibilidade, gentileza e
ombro amigo em todos os momentos que precisei. A academia tem um futuro brilhante
e humanizado com professores como você! Agradeço à todos os moradores(as) de São
Francisco participantes de minha pesquisa que me receberam muitas vezes em seus
lares, sem me conhecer, apenas interessados em apoiar uma pesquisa sobre o bairro que
tanto lutam para preservar. Agradeço às minhas ancestrais e aos meus ancestrais, sei que
a energia de todos vocês me guiaram por esta caminhada e que esta conquista também é
libertação. Sou grata aos professores e colegas da UFRJ e também da UERJ, de onde
vim, que não compactuam com o projeto de desmonte da educação pública. A
profissional que sou é parte de cada um de vocês. Seremos Resistência!
7
RESUMO
ABSTRACT
The selective collection in Brazil still presents very limited results and, according to the
National Solid Waste Policy (PNRS), it is the responsibility of the municipalities that
can carry out actions in partnership with the private initiative (large generators) and
organizations of Waste Pickers. However, few initiatives managed by municipalities
have been efficient. It is quite symbolic that the first selective collection initiative in the
country happened 34 years ago in the neighborhood of San Francisco in Niterói, a city
in the metropolitan region of Rio de Janeiro, when initiative and management were
made entirely by residents in association format. The project lasted 30 years being
coordinated in this way and was quite successful at what it was proposed. Currently, the
selective collection in the neighborhood was taken over by the Niterói Cleaning
Company (CLIN), an agency of the city's hall, which has managed the service for 4
years. This research has as main objective the use of the methodology of qualitative
research to evaluate the quality, the engagement of residents and changes occurred
within household waste management system in the first neighborhood of Brazil to have
this type of project. Qualitative research relies on discourse analysis and the observation
of context to gather information with richness of detail that other types of research
generally do not reach. From the interviews and discourse analysis, categories of
meaning are formed, where the interviewees' reports are identified, important points
addressed and, mainly, which common points were spoken between them that reflect
the history of selective collection in that urban space and which social relations justify
the success or failure of those actions. Being, the final analysis, thus used as a sample
basis for new initiatives, as well as the tool and methodology to rate other selective
collection actions in the urban area.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
SUMÁRIO .................................................................................................................................. 12
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13
1.1 OBJETIVO GERAL DA PESQUISA ......................................................................... 16
1.1.1 Objetivos Específicos......................................................................................... 16
1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 16
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ............................................................................................ 19
2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................................................ 19
2.2 LEI 12.305/2010 – A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS) 22
2.3 LOGÍSTICA REVERSA............................................................................................. 23
2.4 COLETA SELETIVA ................................................................................................. 24
2.5 O CAMINHO DO RESÍDUO NA COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA MUNICIPAL
26
2.6 ORGANIZAÇÕES DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS ............... 27
2.7 O MOVIMENTO NACIONAL DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
(MNCR) .................................................................................................................................. 28
2.8 PESQUISA QUALITATIVA ..................................................................................... 29
2.9 RECORTE GEOGRÁFICO ESCOLHIDO: O BAIRRO DE SÃO FRANCISCO EM
NITERÓI - RJ ......................................................................................................................... 33
2.10 O PROJETO COMUNITÁRIO DE COLETA SELETIVA NO BAIRRO DE SÃO
FRANCISCO .......................................................................................................................... 39
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 46
3.1 A PESQUISA QUALITATIVA .................................................................................. 46
3.2 PRIMEIROS PASSOS E PRODUÇÃO DO QUESTIONÁRIO ................................ 48
3.3 ATIVIDADES DE CAMPO E ENTREVISTAS ........................................................ 48
3.4 RETORNO DAS ENTREVISTAS, DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ....... 51
4 RESULTADOS ................................................................................................................... 53
4.1 ANÁLISE DAS CATEGORIAS DE SENTIDO ........................................................ 53
4.2.1 O engajamento dos entrevistados com a coleta seletiva e tema relacionados ..... 53
4.2.2 As insatisfações com a gestão atual da coleta seletiva e principais mudanças .... 56
4.2.3 Definições pessoais sobre coleta seletiva e sua importância ............................... 60
4.2 PEÇAS DE SENTIDO ................................................................................................ 61
5 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 64
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 67
7 PESQUISAS FUTURAS .................................................................................................... 68
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 69
13
1 INTRODUÇÃO
Para que as cidades possam reutilizar seus materiais recicláveis, é preciso que
seja implantada a coleta seletiva de resíduos. De acordo com a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), coleta seletiva é a coleta de resíduos sólidos previamente
segregados conforme sua constituição ou composição. Na coleta seletiva, os materiais
14
recicláveis são divididos por tipo de material, por exemplo, metal, plástico, papel, vidro,
entre outros e posteriormente divididos por sua composição (diferentes tipos de plástico,
diferentes tipos de papel, e etc.) para que sejam encaminhados para as indústrias de
transformação, onde serão transformados em novos bens de consumo.
transformação vem do trabalho de Catadores. Alguns deste que catam nas ruas, outros
que ainda atuam em lixões e outros organizados em cooperativas e associações. Estes
retiram dos recicláveis seu sustento e são responsáveis muitas vezes pela coleta, triagem
dos resíduos, em alguns casos beneficiamento, como produção de plástico em flocos e
trituração do vidro, e venda para recicladoras ou atravessadores.
Apesar disto, a realidade atual da reciclagem no país ainda é bem limitada. Uma
grande quantidade de municípios construiu planos que apenas existem no papel e tem
grande dificuldade para implantar as ações de gestão de resíduos, seja por má gestão,
poucos recursos financeiros, desvio de verba e de resíduos e falta de corpo técnico
capacidade ou interesse de gestores públicos. Muitos municípios maquiam seus dados
de coleta seletiva para estarem entre os mais sustentáveis do país ou para não perderem
verbas do governo federal como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS).
1.2 JUSTIFICATIVA
1
São chamados popularmente de Catadores avulsos aqueles que não atuam em organizações como
Cooperativas e Associações e que não possuem nenhum tipo de registro da atividade. Muitos deles catam
em ruas ou até mesmo em lixões clandestinos sozinhos e fazem a comercialização também por conta
própria.
18
posteriormente assumiu sua gestão, podem ser enriquecedores para novos projetos.
Além de ser um interessante caso de comparação entre a gestão popular de um projeto
de coleta seletiva urbano e a gestão municipal como serviço.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
A década de 70 foi importante no que diz respeito aos debates sobre riscos de
degradação ambiental e, por consequência, enfatizou as premissas básicas do que vem a
ser o desenvolvimento sustentável. Dois grandes fatos marcaram a consolidação dos
debates que já vinham ocorrendo nesta década: a publicação do estudo “Limites do
Crescimento” pelo grupo de Roma e a conferência de Estocolmo sobre ambiente
humano.
conceito. Ela propõe também que seja um mecanismo do estado para a regulamentação
do uso do território, o que fica muito evidenciado no relatório Brundtland, onde consta:
“este é um mecanismo para persuadir ou fazer as pessoas agirem no interesse comum”
(CCMAD,1991), configurando-se, portanto, como um instrumento político-
administrativo do estado.
A Rio92 adotou documentos que até hoje são referência para o debate
internacional sobre desenvolvimento sustentável e, consagrou princípios (os chamados
Princípios do Rio) que também orientaram os debates em torno da Rio+20 que
aconteceu em 2012 na mesma cidade.
Também na Rio 92, foi assinada a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Com base em 27 princípios, o compromisso propôs uma parceria
global a partir da colaboração entre Estados e integrantes da sociedade em que fossem
respeitados os interesses de todos e a integridade do meio ambiente.
Com o avanço dos debates em relação às temáticas ambientais e após a ECO 92,
a reciclagem passou a integrar de forma definitiva a agenda do gerenciamento de
resíduos sólidos urbanos como o terceiro dos “3R’s”.
2
Vide anexo 4: Principais conceitos definidos na lei 12.305/2010 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
23
3
No anexo 5 deste trabalho poderão ser encontrados de forma detalhada os itens mínimos a serem
incorporados aos PGIRS municipais.
24
4
Vide anexo 4: Principais conceitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/2010
aplicados à esta dissertação.
25
incorpora um perfil de inclusão social e geração de renda para os setores mais carentes e
excluídos do acesso aos mercados formais de trabalho (RODRIGUEZ, 2005).
Depois de triados, os materiais recicláveis vão para a prensa, onde são formados
os fardos de resíduos que serão comercializados. Alguns materiais como vidro e sucatas
metálicas, por exemplo, geralmente são vendidos soltos em grande caçambas. Os fardos
e caçambas lotadas de resíduos são vendidos para os chamados atravessadores6,
empresas que compram de diferentes fontes e revendem às empresas recicladoras (em
alguns casos também realizam a limpeza e beneficiamento dos resíduos) ou, em alguns
casos, vendidos já diretamente para as indústrias em ações de logística reversa. O valor
de venda dos materiais varia de acordo com a região do país, qualidade do material,
5
Quando fala-se de qualidade do material, entende-se que os resíduos estão mais limpos, ou seja, menos
contaminados com resíduos orgânicos ou itens não recicláveis.
6
Conhecidos também como sucateiros, papeleiros, aparistas, entre outros. Os nomes podem variar entre
as cidades e estados do Brasil.
27
7
Para os compradores (grandes recicladores) é interessante ter um fornecedor que garanta qualidade e
também frequência de venda de materiais, assim, muitos deles costumam negociar melhor preço de
compra ou facilidades para aquelas organizações que se encaixarem neste requisito.
28
um espaço sob um viaduto para que os mesmos pudessem realizar seu trabalho de
triagem e armazenar os materiais coletados e demais equipamentos. Neste mesmo ano, a
Prefeitura de São Paulo promulgou um decreto onde reconhecia o trabalho profissional
do Catador (BESEN; RIBEIRO, 2007).
Apesar dos registros de Catadores existirem no país desde a década de 50, como
já abordado anteriormente, estes só passaram a se organizar politicamente e de
amplitude nacional em meados de 1999 quando aconteceu o 1º Encontro Nacional dos
Catadores(as) de Papel. No ano de 2001, fundaram o Movimento Nacional de
Catadores(as) de Materiais Recicláveis (MNCR) durante o 1º Congresso Nacional de
Catadores(as) de Materiais Recicláveis também em Brasília. Este último, reuniu mais de
1700 Catadores e Catadoras, onde lançaram a Carta de Brasília , “Pelo fim dos lixões:
reciclagem feita pelos catadores: já!”, um documento que possui as principais diretrizes
e reivindicações do MNCR.
8
Descrição de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações: “Os trabalhadores da coleta e seleção de
material reciclável são responsáveis por coletar material reciclável e reaproveitável, vender material
coletado, selecionar material coletado, preparar o material para expedição, realizar manutenção do
ambiente e equipamentos de trabalho, divulgar o trabalho de reciclagem, administrar o trabalho e
trabalhar com segurança.” Disponível em: www.mtecbo.gov.br
30
MINAYO e COSTA (2019, p.10) em seu recente trabalho, trazem uma visão
extremamente importante sobre a pesquisa qualitativa onde enfatizam que a sua
principal função é compreender. Onde um ser humano exerce a capacidade de se
colocar no lugar do outro. MINAYO e COSTA (apud GADAMER, 2019, p.10), afirma
que para compreender o outro, tem que se levar em conta sua singularidade, já que sua
subjetividade demonstra a sua forma de interpretar o mundo, a vida, suas relações e
marca suas ações. MINAYO (2017a) cita William Thomas, um dos fundadores da
pesquisa qualitativa na Escola de Chicago usando uma de suas expressões: “Quando
alguém considera uma situação como real, ela é real em suas consequências”.
Porém, é importante ressaltar que a história de uma pessoa vai além de suas
experiências e vivências, sendo também resultado de influências externas, fazendo parte
de uma história coletiva, comunitária e institucional e está diretamente ligada à cultura
do grupo social em que aquela pessoa está inserida. É por conta disso que a pesquisa
qualitativa precisa estar munida não apenas de questões e dúvidas respondidas, mas de
um olhar sistêmico e também local das condições e características de vida daquela
pessoa, comunidade ou recorte escolhido. Compreender a realidade humana precisa ser
sempre guiada por um olhar ao individual e também ao social. A fala, por meio das
entrevistas, passa então a revelar condições de vida, de sistemas de crenças e transforma
o entrevistado em um porta voz do que pensam outras pessoas dentro da mesma
conjuntura social, econômica e cultural.
técnicas, inclusive, alguma criada por ele mesmo com o uso da palavra, da observação
e, se necessário, da imagem. Se adequando ao ambiente e ao público de sua pesquisa.
Com o fim da fase de campo, é preciso realizar a análise dos dados coletados.
Estes podem estar em forma de escrita, áudio e imagens. MINAYO e COSTA (2019)
apontam passos importantes da fase de análise: ordenação e organização do material,
onde se reúne os materiais de entrevista e observação, além de se revisar o conteúdo
teórico e de referência; a categorização, que MINAYO (2012) chama de “busca de
unidades de sentido”, onde se classificam as falas por semelhança e automaticamente
por temas; contextualização dos temas destacados, apresentando os principais pontos
levantados pelos entrevistados que MINAYO (2012) chama de “lógica interna” daquele
grupo estudado e que prende agora o pesquisador ao sentido e não mais às falas; e a
interpretação de segunda ordem, uma problematização das unidades de sentido
individualmente.
Porém, MINAYO e COSTA (2019, p.27) mais uma vez enfatizam que por
melhor que seja a técnica e habilidade do pesquisador na interpretação do objeto
estudado, ela nunca representará a única possibilidade,
MENDES E PESSÔA (apud LUNA, 2009, p.525) citam LUNA que diz que não
devemos esperar que o pesquisador prove a veracidade de suas constatações, mas sim a
relevância da produção do conhecimento. Para ela, “a evolução do pensamento
epistemológico assinala a substituição da busca da verdade pela tentativa de aumentar o
poder explicativo das teorias”.
O bairro de São Francisco está situado (figura 2) em uma área nobre da cidade
de Niterói, região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. São Francisco localiza-se
na região das praias da Baía da cidade e de acordo com o CENSO 2010, possui 9.712
habitantes residindo em 3.914 domicílios, tendo uma média de 2,9 moradores por
domicílio, já que 14,6% dos domicílios do bairro encontram-se desocupados. A sua
34
população tem uma alta taxa de envelhecimento, também demonstrado no Censo, onde
a taxa de jovens é de 12.8% e de idosos 17,8%, o que foi identificado também durante
as atividades de campo da pesquisadora.
Figura 2 - Mapa de localização do bairro de São Francisco na cidade de Niterói (em vermelho)
Os primeiros relatos sobre o bairro datam do século XVII, em textos que falam
da capela de São Francisco Xavier (figura 3 e 4), construída pelos jesuítas no que antes
era uma fazenda e existente até os dias de hoje. Diz-se que José de Anchieta teria
participado de da fundação da primeira capela (antes da atual que permanece no bairro)
em 1572. Com a expulsão dos Jesuítas, as terras foram desmembradas entre algumas
famílias importantes da época. Uma delas, a família Fróes, que construiu a Estrada
Fróes que possibilitou a ligação de São Francisco à Icaraí, margeando o Morro do
Cavalão. Pois, anteriormente, a maior parte dos acessos feito ao local eram por via
marítima. Diz-se em relatos históricos que até a década de 40 o bairro ainda era pouco
ocupado, com uma vegetação de restinga e mata abundante em suas encostas. Por suas
35
belezas naturais, era destino de passeios e temporada para pessoas vinda do Rio de
Janeiro.
Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?view=detalhes&id=443110
São Francisco está localizado em uma área de alto padrão da cidade de Niterói.
Em boa parte do bairro, é possível encontrar apenas ruas residenciais muito arborizadas
(figura 5), sendo compostas em maioria por casas grandes com características
arquitetônicas da década de 70 e 80 em atual bom estado de conservação. Há alguns
36
Figura 5 - Rua Araibóia em janeiro de 2019. Uma das ruas do bairro, como exemplo da grande
arborização do mesmo
Disponível em:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10218150289816575&set=pcb.2528396130523109&type=3
&theater
O bairro possui uma praia, banhada por águas da Baía de Guanabara, chamada
praia de São Francisco (figura 6). Que possui uma bela vista para o Rio de Janeiro e
outros bairros da cidade. De frente para ela está a Avenida Quintino Bocaiúva, onde
encontra-se um polo gastronômico da cidade e alguns prédios residenciais. São
Francisco possui muitas áreas verdes em suas encostas e é nele que está localizado o
conhecido Parque da Cidade, reserva florestal e uma das áreas de preservação geridas
pela Prefeitura de Niterói, dentro do PARNIT (figura 7). Essa proximidade com a
natureza apareceu como justificativa, durante as conversas da pesquisadora com os
moradores do bairro, para a conscientização e envolvimento com questões ambientais
pelos mesmos.
37
Figura 7 - Vista do bairro de São Francisco a partir da Estrada Fróes. A montanha cheia de
vegetação atrás das construções trata-se do famoso Parque da Cidade
Fonte: Autoria própria
Porém, São Francisco conseguiu manter em boa parte do bairro, ruas apenas com casas.
Isso se deve à atuação da Associação de Moradores (CCSF) que incansavelmente luta
para que seja respeitada a legislação que não permite a construção de grandes prédios no
bairro e afastar a pressão da especulação imobiliária.
Não só pela experiência da pesquisadora que vive no bairro, mas também em
conversas com os moradores durante as entrevistas e em observação aos grupos de
moradores do facebook, obteve-se a informação de que ainda há uma grande pressão da
especulação imobiliária para que casas do bairro sejam demolidas e deem lugar a
prédios. Os moradores questionam a construção de prédios por diferentes motivos.
Justificam que o bairro não tem ruas ou infraestrutura para receber tantos moradores.
Pois, de onde retira-se uma ou duas casas, habitadas por uma família de em média 4
pessoas, constrói-se um prédio com vários andares, vários apartamentos e vários
automóveis, e isto traria um grande impacto social e ambiental para o bairro. Além
disso, reclamam também da questão da ventilação natural vinda da praia e também do
sol, já que a construção de grandes empreendimentos poderia influenciar nestes
aspectos. Apesar disto, hoje o bairro já possui alguns prédios construídos,
principalmente na Avenida que beira a Praia, porém com limite de altura.
Outra questão muito falada pelos moradores nos grupos de facebook, em relação
aos impactos ambientais do bairro, são as os corte das árvores. O bairro possui muitas
árvores, como já citado aqui, que além de trazer beleza local, promovem sombra,
auxiliam que o bairro tenha uma temperatura mais fresca e um ar mais puro. Porém,
muitos moradores tem relatado cortes indevidos realizados pela prefeitura municipal e
demonstram extrema insatisfação. Essas, como outras preocupações verificadas,
mostram que os moradores antigos do bairro, possuem um envolvimento, interesse e
preocupação com as questões ambientais relacionadas ao local onde vivem.
Com o passar do tempo, boa parte destes filhos se mudaram do bairro e não
retornaram. Isso pode ser verificado na própria pesquisa realizada com os moradores e
nas conversas que foram mantidas. A maioria hoje vive sozinha com o seu parceiro ou
parceira e os filhos vivem em outras cidades, estados ou até países. Não é comum que
os jovens e adultos de hoje tenham interesse em morar nas casas do bairro, seja pelo alto
custo tanto de compra, como de conservação e manutenção, além da preocupação com a
segurança. Já que a maioria das casas estão em “beira de rua”. Hoje muitos dos novos
moradores do bairro, optam por morar em prédios ou condomínios fechados, onde tem
acesso à segurança privada e à manutenção dos espaços. Como justificou um dos
entrevistados, o bairro se tornou envelhecido, e assim, há uma menor disponibilidade ou
possibilidade de dedicação de alguns moradores às questões locais.
Para que o projeto fosse iniciado, foi recebido um apoio financeiro da Agência
Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), que tornou possível a construção de uma
pequena área de triagem, compra de um micro trator (figura 8) e duas caçambas.
Durante os anos seguintes de projeto, o mesmo teve apoio de outras instituições como
40
Figura 9 - Exemplar de uma das carretas de madeira utilizadas pelo projeto. Fotografia da
exposição que comemorou os 30 anos de coleta seletiva no Brasil e do projeto em 2015 no Solar do
Jambeiro em Niterói.
Disponível em: http://culturaniteroi.com.br/blog/?id=1759
que segundo EIGENHEER e FERREIRA (2015) possa ter sido um entrave para que
recebessem mais apoio.
EIGENHEER e FERREIRA (2015) também relatam como lição, as maneiras de
engajar e fidelizar os moradores participantes com o projeto. Afirmam que é preciso dar
atenção a pontos como a regularidade do serviço, coletando sempre no mesmo dia,
mesmo que este seja feriado e a cordialidade e paciência no atendimento aos moradores
no momento de coleta, inclusive com conversas rápidas que auxiliam na criação do
vínculo entre os mesmos. Um ponto negativo da relação com os moradores era o fato de
alguns colocarem junto aos resíduos itens não recicláveis. Os gestores do projeto
consideravam que comunicar isso à população poderia trazer consequências negativas, o
que fez com que continuassem coletando estes itens e tivessem um percentual de 5% de
rejeito dentre os materiais coletados.
A grande maioria de casos onde o projeto perdeu participantes foi quando os
moradores mudavam de residência ou faleciam. EIGENHEER e FERREIRA (2015),
relatam também um fato comum de filhos de moradores que se mudavam de bairro mas
mantinham o hábito de levar seus recicláveis para a casa dos pais, para que assim
fossem destinados à coleta seletiva. Esta informação se confirmou durante as entrevistas
realizadas nesta pesquisa.
Na primeira gestão do atual prefeito da cidade de Niterói Rodrigo Neves, a
Companhia de Limpeza de Niterói (CLIN) assumiu definitivamente a coleta seletiva no
bairro de São Francisco, após 30 anos de gestão comunitária. De acordo com relatos
coletados durante as entrevistas desta pesquisa e também em artigos do professor
idealizador, os custos da operação inviabilizaram a continuidade da gestão pelo CCSF.
A coleta seletiva passou também a acontecer em diferentes pontos da cidade.
Seja pela coleta porta a porta, como também pela instalação de 17 Pontos de Entrega
Voluntária (PEVs) espalhados pelo município. Diferentemente de outras prefeituras,
que realizam o serviço de coleta seletiva de forma regular, a CLIN optou por atuar com
coleta por cadastramento. Ou seja, moradores interessados em participar da coleta
seletiva, entram em contato com a companhia de limpeza e solicitam a coleta. Para que
assim, sejam incluídos na rota dos caminhões e recebam as devidas orientações (figura
12). Porém, a prefeitura informa em seu site que Niterói é 100% assistida pela coleta
seletiva.
44
Figura 12 - Exemplo de folheto para orientações de moradores e que consta no site da Prefeitura de
Niterói
Disponível em: http://www.clin.rj.gov.br/?a=coletaseletiva
3 MATERIAIS E MÉTODOS
9
Acordo Setorial para Implantação do Sistema de Logística Reversa de Embalagens em Geral previsto na
lei 12.305/2010 seguindo as diretrizes de logística reversa. Assinado em 25 de novembro de 2015.
Disponível para consulta em
http://www.sinir.gov.br/documents/10180/93155/Acordo_embalagens.pdf/58e2cc53-3e38-420a-97fd-
dba2ccae4cd3
48
(...) ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de
fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o
ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por
interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com
seus semelhantes. O universo da produção humana que pode ser resumido no
mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da
pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e
indicadores quantitativos.
50
A maior dificuldade nesta etapa era se adequar à agenda dos entrevistados. Pela
característica socioeconômica dos moradores do bairro, que possui casas de alto padrão,
foi perceptível que a disponibilidade era mais restrita. Após o agendamento, a
pesquisadora ia até o local marcado munida do questionário, dois gravadores (nenhuma
resposta foi escrita, para agilizar o trabalho e trazer mais leveza ao diálogo) e o Termo
de Consentimento Livre e Espontâneo (TCLE), que é praticamente uma ferramenta
obrigatória para que a pesquisa tenha credibilidade. Neste termo, é explicado o que é a
pesquisa, quem é a pesquisadora, a que universidade e programa de Mestrado está
vinculada, contatos do seu responsável direto (orientador), como as informações serão
usadas, entre outros (anexo 3).
Inicialmente, havia se definido entrevistar uma pessoa por vez, onde essas
pessoas deveriam morar no bairro e participar do programa de coleta seletiva. Porém,
como dito anteriormente, os entrevistados não foram escolhidos pela pesquisadora, e
51
Outro imprevisto ocorrido foi o caso de casais que se sentavam juntos para
responder ao questionário. Apesar de não ser o ideal da pesquisa, a pesquisadora
percebeu que ambos poderiam contribuir para a mesma, respondendo de forma
colaborativa, o que não interferiu na pesquisa. Percebeu-se que estes por fazerem a
gestão do lixo juntos, acharam que deveriam responder às perguntas também juntos.
Nestes momentos, a empatia tão defendida em metodologias de pesquisa qualitativa
facilita a adaptação ao que não foi planejado. Na prática, a pesquisa não entrevistou
apenas 11 pessoas e sim 13 pessoas, já que duas dessas entrevistas foram com casais
respondendo juntos. Houve também, entrevistadas que estavam com suas filhas
crianças, e que em alguns momentos também quiserem falar durante a entrevista. Estas
falas também foram reproduzidas nas transcrições.
não foram utilizadas fotografias e que somaram às avaliações. Funcionando como uma
espécie de relatório de campo.
4 RESULTADOS
Sobre este engajamento, E3 justificou que além do fato de ter feito uma pós-
graduação dentro da área de ecologia e desenvolvimento sustentável, acredita que este
tipo de consciência com o lixo está dentro de todos, que não precisa aprender, que é
cultural. Para ela, “todo mundo sabe o que é certo ou errado no que se fazer com o
lixo”. O marido de E3 acrescentou que em sua fazenda, ele reuni todo o lixo e leva para
a cidade e tudo que podem reaproveitam.
E6, a mais jovem dos entrevistados e que estava com a filha pequena, ainda em
idade escolar, relatou a importância da coleta seletiva em sua casa como ferramenta de
educação: “realizar coleta seletiva em casa é uma importante forma de educação
ambiental e de exemplo para as crianças. Minhas filhas cresceram me vendo separando
10
Os resumos anônimos das descrições das entrevistas poderão ser acessados no anexo 1 desta
dissertação
54
o lixo e isso também é educar”. Já E10 finalizou sua entrevista dizendo que
antigamente, na empresa em que trabalhava, comentava com colegas de trabalho que em
São Francisco havia coleta seletiva e que as pessoas ficavam surpresas, pois era o único
bairro que tinha no Estado do Rio de Janeiro.
E10 diz que ela e sua família pensam sempre para onde vai o resíduo que estão
gerando. E se questiona: “qual o tamanho de minha pegada?” Ou “quantos prédios de
lixo teria em cima de mim com tudo que gerei?”. A moradora diz que pensa muito
antes de gerar lixo e sempre tem cuidado em reutilizar itens. Relatou também que
“acabo sendo um pouco “neurótica”. Quando vou em casas onde não tem
coleta seletiva, me sinto um pouco incomodada de ter que jogar os recicláveis
no lixo comum. (...) Percebo a diferença entre eu e meu marido, que não foi
criado em um local com coleta seletiva e até hoje comete erros na hora de
separar ou tem preguiça. (...) Eu também guardo meus resíduos recicláveis
produzidos na rua na minha bolsa e levo para casa para poder destinar
corretamente e também costumo falar com colegas do trabalho sobre a
melhor forma de fazer a destinação correta dos resíduos”.
E10 também relatou que por morar em casa, cuidar pessoalmente dos seus
resíduos e acumulá-los por uma semana até a coleta, faz com que suas filhas vejam o
grande volume de lixo que é produzido. Mas para ela,
“quem mora em prédio não se tem essa dimensão, pois o lixo é jogado em um
buraco onde o morador se quer saber para onde vai. E depois o lixo vai para
um lixão onde provavelmente o morador também nunca foi e nem sabe o que
é. Se eu pudesse faria algo em praça pública, sabe? Ia juntando o lixo para as
pessoas terem a noção de quanto cresce a montanha de cada tipo de resíduo.”
Um ponto curioso que surgiu durante alguns relatos, foi a justificativa de alguns
moradores em participar da coleta seletiva por motivo de serem “vindos do interior” e
que estes hábitos de se reaproveitar ou se destinar corretamente o lixo eram já muito
praticados por lá por conta das limitações das áreas rurais, como pode ser visto na fala
de E1 e E3:
E3: “Pra gente a coleta seletiva é uma coisa instintiva. Nós viemos da roça,
do interior né? Lá não se pode jogar lixo em qualquer lugar.”
e também sobre a descendência de pais e avós europeus. E11 por exemplo, que viaja
frequentemente para a Alemanha para visitar sua filha, trouxe em sua entrevista um
relato comparativo de como funciona a coleta seletiva por lá e como é deficiente no
Brasil. Essas características falam também sobre um nível maior de acesso à informação
e um provável maior poder aquisitivo das famílias da região. Que, consequentemente,
também promoveu um maior acesso destes moradores à educação de qualidade e em
níveis mais elevados (superior e pós-graduação), gerando um maior pensamento crítico
sobre questões que anteriormente não eram tão popularmente debatidas.
Além disso, percebeu-se que estes moradores possuíam um vínculo muito forte
com o bairro, o que faziam se preocupar muito com tudo que se relacionada ao cuidado
com o local. Muitos moradores entrevistados viviam no bairro há muitos anos. E,
relatavam uma época onde as ruas eram tranquilas, mais arborizadas, portões ficavam
abertos e as crianças brincavam nas calçadas.
“há muitos anos, por volta de 40 anos atrás, quando éramos jovens e íamos
muito à praia, não tinha nenhuma campanha de conscientização sobre o lixo,
mas mesmo assim, sempre levávamos saquinhos para colocar tudo que
consumíamos na praia e trazíamos para casa. Fico revoltada em hoje
caminhar pela praia e encontrar todos os tipos de lixo”.
E5, que é muito engajada com ações ambientais locais, criticou bastante a
prefeitura em relação às ações e projetos de coleta seletiva inclusiva (com Catadores).
Uma crítica muito comum aos moradores que se engajam no tema e que a mesma
repetiu, é o fato de parecer que os assuntos relacionados à esta temática dentro da
prefeitura “não andam”. Relatou que naquela semana havia conversado com o rapaz de
uma cooperativa de coleta de óleo de cozinha local. E que ele gostaria muito de
58
A E10 também reclamou das constantes faltas da coleta seletiva realizada pela
prefeitura. Afirmou que até quatro anos atrás, quando o professor Emílio fazia a gestão
do projeto de coleta seletiva comunitária, a coleta acontecia sempre nos mesmos dias e
horários. Depois que a CLIN assumiu a gestão da coleta, completa:
E10 relata que quando acontece da coleta comum acontecer no horário da coleta
seletiva, levando os resíduos recicláveis junto com resíduos comuns, causa um
desânimo e desmotivação dos moradores para participarem. E que, “o que se construiu
por anos como cultura no bairro está sendo abandonado muito rápido pelas pessoas”.
E7 discorda. Para ela, houve melhoria na coleta seletiva depois que a prefeitura
assumiu esta gestão. Ela disse, que nas antigas gestões, não havia uma preocupação com
questões ambientais da cidade, incluindo a gestão de resíduos. A coleta seletiva
municipal, por exemplo, só teria sido oficialmente implantada na gestão do atual
prefeito, que segue em segundo mandato.
A grande parte dos entrevistados disse não ter recebido nenhuma orientação de
como realizar a coleta seletiva, materiais coletados ou outras informações sobre, por
parte da prefeitura. Porém, muitos também relataram não se lembrar de ações de
educação ambiental para realização da coleta na época do projeto da associação. Porém,
alguns participantes das entrevistas, disseram ter recebido em suas casas, na época do
59
A moradora E10 disse que sente muita falta de mais informações provenientes
da prefeitura sobre a coleta seletiva. Relata que tem muitas dúvidas ao separar e não
sabe exatamente o que eles podem ou não receber. Na maior parte das vezes ela
pesquisa por conta própria e que por via das dúvidas, manda tudo que é limpo e seco na
coleta seletiva. Disse que na época do projeto do professor Emílio, lembra que tiveram
algumas ações, mesmo que poucas, de conscientização. Que ela ainda estava na escola
quando o projeto começou e lembra de ter recebido alguns folhetos. Mas afirma que
fazer a divulgação de material de conscientização para todo o bairro provavelmente
seria muito caro para o projeto comunitário. O que explicaria o fato de alguns
moradores não se lembrarem de terem sido abordados no início do projeto comunitário.
Outro ponto também frequente nas entrevistas foi a diferença identificada pelos
moradores quando questionados sobre se sabiam para onde seu resíduos eram
destinados. Muitos deles afirmaram que quando acontecia o projeto comunitário,
sabiam que havia uma sede no bairro, onde havia um espaço de triagem e que depois os
resíduos eram vendidos para a reciclagem. Inclusive, alguns citaram que na época, os
dados de vendas de resíduos e coletas vinham descritos em um informe distribuído pela
associação de moradores. Como disse E3 e seu marido:
“Depois que a prefeitura começou a fazer a coleta, não sabemos mais para
onde vai o lixo reciclável. Antes, quando era um projeto comunitário,
sabíamos pelo menos para onde ia, pois conhecíamos o galpão de triagem.”
Atualmente, muitos moradores não sabiam responder o que era feito com seus
resíduos depois de coletados e enfatizaram que nunca receberam esta informação da
prefeitura. Apenas E7, E8 e E1 fizeram relatos sobre esta pergunta. E8, ao ser
questionada sobre saber para onde vai o resíduo, disse que sabe que os resíduos vão
para um galpão na Grota, mas por ser um local muito perigoso, desistiu de tentar visitar.
60
Mas que acredita que os resíduos coletados vão para um local correto. E1 relatou já ter
tido interesse em saber para onde os resíduos eram destinados:
“Olha, tem uma amiga minha que é a Ana Paula, do O Fluminense. Uma vez
O Fluminense seguiu o carro do reciclado, pra saber se realmente ia para o
lixão, ou se eles davam um destino correto. E eu fiquei feliz de saber que eles
tinham um destino pra dar. Lógico, caminhão e recepção. Agora, o que
acontece depois eu não tenho a mínima ideia. Mas pelo menos já é um
começo.”
Para E2, coleta seletiva é “uma coleta de coisas que podem ser reaproveitadas”.
Para a moradora, a importância de participar da coleta seletiva é “aproveitar os resíduos
para evitar que tenhamos mais lixo. Fico muito irritada com campanhas como a do fim
dos canudinhos como justificativa para que tenhamos menos resíduos nos mares. Qual o
motivo desse lixo estar lá? O lixo nem deveria chegar no mar”.
Para E1, não há justificativa para que as pessoas não façam a coleta seletiva:
“Olha, é questão de... ambiental pra mim. Eu acho que como eu fui criada na
roça, num ambiente rural, eu não consigo com o nosso planeta não caber
mais, não ter pra onde colocar mais lixo. Porque eu trabalho com moda
sustentável, Porque é a segunda indústria que mais polui o planeta, a indústria
da moda. Primeiro é a petrolífera, depois é a petroquímica e depois a
indústria de moda. Pelo uso exagerado, pelo consumo exagerado e pelo
grande resíduo que sobra. Então pra mim é mais uma questão planetária
(risos). Eu assim, eu acho, que é a nossa obrigação. É a única coisa que a
gente pode deixar de herança pra geração futura, é a qualidade do planeta.”
época não haviam muita informação sobre e tudo era feito de maneira instintiva ou
aprendida em vivências pessoais;
E10 citou que consegue manter seus recicláveis armazenados por uma semana
para a coleta, pois costuma lavá-los, evitando assim vetores em sua casa. Já E3 e seu
marido disseram que tem dúvida se devem ou não lavar os resíduos. E que quando não
tem tempo de lavar os resíduos, ficam na dúvida se devem jogar as embalagens no lixo
comum ou podem ir com os recicláveis.
A maioria das pessoas que aceitaram participar das entrevistas foram mulheres.
Mesmo nas casas onde fui recebida por casais, as mulheres pareciam estar mais
engajadas na gestão dos resíduos e interessadas em temáticas ambientais. Também foi
identificado, que apesar de todas as famílias aparentarem ter alto poder aquisitivo, as
mulheres tinham nível de escolaridade mais alto que seus companheiros.
Um fato curioso percebido nas conversas com entrevistados que eram pais, era o
fato de seus filhos, em sua maioria hoje moradores de outras localidades, não
demonstravam tanto interesse no assunto de coleta seletiva. Alguns pais justificavam
com a “falta de tempo”. Os entrevistados chegaram a dizer que quando iam nas casas de
seus filhos, organizavam a coleta seletiva para eles ou destinavam seus resíduos de
forma correta. Isto levanta hipóteses de que estarem morando em locais onde não há
coleta seletiva, pode influenciar na desmotivação de a realizarem.
Muitos entrevistados também abordaram ações pessoais que realizam para evitar
a geração de resíduos. E2 disse que ao comprar ovos, por exemplo, dá preferência às
embalagens que não são de isopor e sim de papel prensado, pois sabe que pode ser
reciclável. A E3 disse que gostaria que a coleta levasse isopor, mas que geram pouco.
Disse que quando vai ao mercado e compra produtos como queijo, pede para que não
usem a bandeja de isopor. Também possui o hábito de usar sua própria sacola de pano
para compras e evita receber sacolas plásticas quando não acha necessário, pois é mais
uma coisa que teria que jogar fora. Em eventos no seu atelier no bairro, E1 diz que:
“Quando eu faço a seleta aqui, acontece mais quando tem evento. Então,
quando tem evento, eu tenho muito lixo reciclado. Que aí entra… Se bem que
eu tô tentando acabar com copo descartável, acabar com isso tudo, né? Por
exemplo, no “arte entre mãos” a gente vende um copinho de acrílico, mais
resistente, que a gente chama, que a pessoa depois só faz o refil, pra enxugar
essa quantidade de lixo.”
Houveram também outros pontos muito citados que já foram sinalizados nos
resultados como: moradores nascidos no interior/zona rural; relato de que poucos
vizinhos participam da coleta seletiva nos dias de hoje; realizam coleta seletiva sem ter
recebido orientação e a grande parte chama o projeto de coleta seletiva da associação de
moradores de “projeto do professor Emílio”. Outro ponto em comum foi que na
pergunta sobre o que entendiam sobre coleta seletiva, muitos não respondiam ou
respondiam coisas que não tinham exatamente a ver com o objetivo da pergunta. O que
pode ser resultado do fato de muitos realizarem coleta seletiva sem uma ação de
educação ambiental prévia, onde haveria clareza teórica sobre o que está fazendo e o
motivo.
64
5 CONCLUSÕES
O primeiro registro de coleta seletiva em uma área urbana tem apenas 34 anos.
Comparando a outros países, o Brasil está bem atrasado. Porém, mesmo com 34 anos de
coleta seletiva, os passos dados de lá para cá foram de extrema lentidão. Apenas em
2010 foi criada a primeira lei nacional sobre gestão de resíduos e pela primeira vez,
prefeituras, população, indústrias, importadores e varejistas foram classificados como
65
responsáveis pela destinação correta de resíduos, ocupando cada um, uma função dentro
da chamada gestão compartilhada.
Porém, apesar de todos os fatores citados, o projeto de coleta seletiva criado não
conseguiu se manter após os 34 anos, o que levou a passagem da gestão para a
prefeitura. Muitos foram os motivos, entre os principais, o alto custo de infraestrutura e
a sobrecarga da gestão em poucas pessoas que trabalhavam como voluntárias, incluindo
seu fundador. Se o projeto tivesse mais financiadores e suporte da prefeitura, a situação
poderia ter sido diferente. Vale ressaltar, que pela lei, a gestão de resíduos é
responsabilidade da gestão municipal e o projeto acabava fazendo, de certa forma, o
trabalho da prefeitura. Já a parte dos financiadores, poderia se basear na PNRS e buscar
as empresas que assinaram o acordo setorial e que obrigatoriamente precisam investir
em projetos do tipo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
projeto de coleta seletiva simples, que vinha tendo sucesso e era gerido por moradores
em um modelo com maior estrutura financeira e técnica porém totalmente ineficaz é
algo inconcebível. A gestão pública deve estar sempre associada à inovação, às boas
práticas e às políticas que tenham o único foco de uma cidade que seja melhor para as
pessoas.
Porém, a realidade brasileira são lixões que nunca se encerram, recicláveis indo
para aterros junto de resíduos comuns, insistência na criação de aterros quando
diferentes países não “enterram” mais seus resíduos, compostagem de resíduos
orgânicos quase nula nas cidades, resíduos perigosos depositados em locais clandestinos
por grandes empresas, fiscalização ineficiente, entre outros, que fazem com que a gestão
de resíduos no país nunca avance. Fica claro que há uma grande falta de interesse e
vontade de governantes e demais envolvidos e que faz com que esta pesquisa
qualitativa, apesar de trazer respostas, permaneça ainda com uma pergunta: a quem
interessa que o Brasil não avance na gestão de resíduos?
7 PESQUISAS FUTURAS
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, António Pedro; MINAYO, Maria Cecília de Souza. Técnicas que Fazem Uso
da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. 1ª edição.
Portugal. 2019. Ludomedia.
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1543
5> Acessado em 20 de março de 2018
IPHAN. Igreja Matriz de São Francisco Xavier (Niterói, RJ). Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1645.
Acessado em 21 de julho de 2018.
PESSÔA, Vera Lúcia Salazar; RAMIRES, Julio Cesar de Lima; RÜCKERT, Aldomar
Arnaldo (Organizadores). Pesquisa Qualitativa: Aplicações em Geografia. Porto
Alegre: Imprensa Livre, 2017.548p. Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/leaa/files/2018/02/EBOOK_Pesquisa_PRONTO_FINAL-1-
2.pdf Acessado em 20 de julho de 2018.
PREFEITURA DE NITERÓI. Coleta de lixo em Niterói:
<http://www.niteroi.rj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Ite
mid=61> Acessado em: 25 de julho de 2018
ANEXOS
Entrevistada 1 (E1)
A entrevistada 1 (E1) não vive no bairro de São Francisco. Viveu alguns anos
em Icaraí, bairro vizinho, mas se mudou com a família para a região das praias
oceânicas de Niterói, vivendo hoje em Piratininga. Apesar disso, comprou uma casa no
bairro de São Francisco há 9 anos atrás, que transformou em seu atelier de moda
sustentável e que utiliza com frequência. Os outros cômodos da casa, foram
transformados em uma espécie de coworking, onde ela aluga salas para outros
profissionais e o espaço externo para eventos. O atelier, está localizado em uma das
principais avenidas do bairro, a Avenida Quintino Bocaiúva, onde encontram-se
basicamente grandes casas e mansões da década de 70, 80 e 90 e alguns comércios. E1 é
nascida no interior do Rio e veio para Niterói cursar odontologia, profissão que se
dedica até hoje. É branca, aparenta uma boa condição financeira e possui
aproximadamente 64 anos. É casada e tem dois filhos.
Como não vive no bairro, nem sempre ela está no atelier no dia da coleta
seletiva, que é quinta-feira em sua rua. Porém, faz coleta seletiva em sua casa, e no
atelier, faz sempre quando realiza eventos, onde também promove práticas de redução
de resíduos. E1 disse que ao alugar os espaços do casarão para outras pessoas, sempre
informa aos mesmos a existência da coleta seletiva. Mantém dentro da casa, dois
recipientes para armazenamento de lixo, um para recicláveis e outro para lixo comum.
Porém, considera pouco apenas um dia de coleta seletiva na semana, já que tem pouco
espaço para armazenamento de resíduos e alguns recicláveis costumam ocupar espaço.
Sobre como aprendeu a fazer coleta seletiva, enfatizou que a coleta seletiva já
faz parte de sua educação e que é do interior, e lá onde vivia, desde pequena era comum
compradores de jornal, garrafas e alguns outros, passarem periodicamente batendo de
porta em porta. Todos os moradores já estavam então acostumados a isso e já tinham o
hábito de separar vários recicláveis. E os compradores também já sabiam que os
76
moradores guardariam para eles. Ao ir morar no condomínio que vive até hoje em
Piratininga, onde há coleta seletiva, manteve o hábito junto de sua família de separar os
recicláveis.
Informou também que o único item que a coleta seletiva não leva e ela gostaria
que fosse coletado é o isopor, deu ênfase à grande quantidade de bandejinhas de isopor
utilizadas por mercados e que quando seus filhos eram pequenos, conseguia enviar para
a escola onde estudavam e eles utilizavam para trabalhos, porém, agora não tem para
onde enviar e também não coloca mais junto da coleta seletiva. Outro detalhe
importante é que a mesma não demonstrou conhecer detalhes sobre a história do projeto
de coleta seletiva comunitário do bairro, já que não fez nenhum comentário sobre. Isso
provavelmente se deve ao fato de não viver no bairro e talvez não ter tantos laços com
outros moradores.
Sobre a importância em participar da coleta seletiva, fala sobre ter sido criada na
roça e por trabalhar com moda sustentável, se preocupa muito com o meio ambiente.
Considera que fazer coleta seletiva é obrigação e diz que a única herança que pode
deixar para gerações futuras é a qualidade do planeta.
Entrevistada 2 - E2
E2 é uma senhora de 66 anos, branca, aparenta ser solteira ou viúva, mora com o
irmão que parece ser solteiro também, já que vivem na mesma casa para onde se
mudaram com os pais na década de 90. Ela é formada em secretariado (curso técnico) e
ele possui curso superior. Acredito que estejam aposentados. A casa é antiga mas muito
bem cuidada, com decoração sem luxos e com características de casas de pessoas mais
velhas. Há muitas plantas no quintal.
Na casa, quase sempre é seu irmão quem cuida gestão dos resíduos e de colocar
o lixo para a coleta. Possuem o hábito de lavar os recicláveis e participam da coleta
seletiva desde que se mudaram para o bairro. A coleta sem sua casa acontece à quintas-
feiras, porém, alega que eles não passam toda semana, gerando acúmulo de resíduos. Já
aconteceu de ficarem duas semanas sem coleta seletiva e tiveram que destinar alguns
recicláveis para o lixo comum. Apesar disso, consideram a frequência de uma vez por
semana suficiente, já que geram pouco lixo.
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Disse que na época, receberam visitas que explicaram como se dava a coleta
seletiva, mas que a mãe dela quem ficava mais em casa e cuidava disso. Também disse
que aprendeu bastante sobre coleta seletiva lendo jornais e coisas do tipo. Disse que não
separa os recicláveis por tipo, pois verificou que eles juntam tudo no caminhão e
também por não terem tanto espaço para isso. Também disse desconhecer para onde vão
seus resíduos.
Sua principal dúvida e insatisfação é o fato da coleta seletiva não levar o isopor.
E disse que ao comprar ovos, por exemplo, dá preferência às embalagens que não são de
isopor e sim de papel prensado, pois sabe que pode ser reciclável.
Falou muito sobre a falta da consciência das pessoas sobre o lixo. Disse que em
frente à sua casa, é comum pessoas pararem o carro para fazerem lanche (pois há um
MC Donalds perto) e deixarem o lixo nas calçadas ou canteiros de plantas. E enfatiza
que são carros bonitos, ou seja, de pessoas com alto poder aquisitivo. E, que o problema
é quase que diário. E fala que depois as pessoas querem reclamar que a cidade está suja,
que os bueiros estão entupidos e que há enchentes.
Por último, relatou também que apesar de muitos vizinhos saberem da existência
da coleta seletiva no bairro, são poucos os que participam. E também fala do cuidado
que tem com os resíduos recicláveis ao lavar, não deixar partes cortantes de metal
expostas e embalar vidros, para que as pessoas que irão manusear os recicláveis não se
machuquem.
78
Entrevistados 3 – E3
Apesar da entrevista ter sido agendada com a E3, o marido dela também sentou-
se à mesa e acabou participando. A pesquisadora vendo que ele também poderia
acrescentar e que teriam respostas muito semelhantes ( o que não seria interessante para
uma entrevista em separado), continuou desta forma. Os dois e a empregada cuidam da
gestão do lixo na casa. Tem o hábito de usar parte do lixo orgânico para adubar o
jardim. Entendem que coleta seletiva é importante pois beneficia a natureza e a
população. Participam da coleta seletiva desde que o projeto começou e ficaram
sabendo ao ver o carrinho passando por sua rua (que fazia um barulho e já sabiam que a
coleta seletiva estava chegando).
A coleta em sua rua passa uma vez por semana, às segundas e consideram a
frequência suficiente para uma família, porém, no caso deles, por terem também uma
atividade comercial local, acabam gerando muito papel e outros resíduos em grande
volume. Mas eles conseguem juntar e aguardar a coleta. O marido da E3 acha que não
deveriam quebrar os vidros na coleta, já que mais pessoas poderiam reaproveitá-los. O
casal disse que reutiliza muitas embalagens em casa para reduzir a geração do lixo.
tipo de consciência com o lixo está dentro de todos, não precisa aprender, que é cultural.
Todo mundo sabe o que é certo ou errado no que se fazer com o lixo. O marido de E3
disse que em sua fazenda, ele reuni todo o lixo e leva para a cidade e tudo que podem
reaproveitam.
Afirmaram ter dúvida se devem ou não lavar os resíduos. E que quando não tem
tempo de lavar os resíduos, ficam na dúvida se devem jogar as embalagens no lixo
comum ou podem ir com os recicláveis. A E3 disse que gostaria que a coleta levasse
isopor, mas que geram pouco do resíduos, Disse que quando vai ao mercado e compra
produtos como queijo, pede para que não usem a bandeja de isopor. Também possui o
hábito de usar sua própria sacola de pano para compras e evita receber sacolas plásticas
quando não acha necessário, pois é mais uma coisa que teria que jogar fora.
Relataram que com a prefeitura fazendo a coleta seletiva, deixaram de saber para
onde vão os seus resíduos. Já que antes com o projeto comunitário, conheciam o
destino, pelo menos da triagem. Para eles, a importância de se participar da coleta
seletiva é a preservação do planeta e colaborar com a natureza. Para E3, é uma questão
de consciência. Diz que se incomoda quando vai na casa das filhas e vê que todo
resíduo tem que ser jogado junto na lixeira do prédio. Que já trouxe resíduos da casa
delas para casa, para que pudesse destinar para a coleta seletiva.
Entrevistada 4 – E4
ficou sabendo do projeto, mas acha que foi por conta da associação, já que eram
associados.
Fez questão de dizer que lava todos os resíduos, principalmente em respeito aos
profissionais que trabalham com os resíduos. Diz que gostaria que a coleta levasse
tecidos e isopor. Para ela, fazer coleta seletiva é algo simples, que tão pouco, o
professor Emílio conseguiu fazer a coleta seletiva em vários locais do bairro e, que na
época, as pessoas que não quiseram participar foi unicamente por achar que dava
trabalho e tinham preguiça de separar. Disse que a moça que trabalha em sua casa
também faz questão de ter muito cuidado com os resíduos.
E4 também relatou que não sabe para onde vão os resíduos hoje. Para ela, a
importância de participarem da coleta seletiva é reduzir os impactos ao meio ambiente,
que quanto menos sujarmos, melhor.
Entrevistada 5 – E5
E5 foi a primeira das entrevistadas a não me encontrar na sua casa e sim em uma
antiga e clássica sorveteria do bairro, localizada em frente à Praia de São Francisco. E5
tem 62 anos, é branca, vive há 18 anos no bairro e muito engajada em questões do
bairro, principalmente em temáticas ligadas à área ambiental, mais precisamente à
conservação das árvores e parques públicos. Fundou um grupo de moradores dedicados
à fiscalização e preservação das árvores e parques da cidade. Atuam por meio de
pressão dos órgãos e representantes públicos, fazem abaixo-assinado, entre outras ações.
Tem costume em falar diretamente com alguns atores públicos, tem interesse em coleta
seletiva e chegou a participar de reuniões do grupo de economia solidária local, onde
estavam inseridos os projetos da área e a atuação das organizações de Catadores locais.
81
Em sua casa hoje vivem 3 pessoas, mas recebe visita frequente dos 3 filhos que
moram distante. O nível de escolaridade de todos os moradores atuais é superior. Na
casa, todos participam da gestão do lixo e destinam para a coleta seletiva que passa duas
vezes na semana na rua em que vive (terças e quintas) que considera frequência
suficiente. E5 diz-se bastante incomodada quando vê que os resíduos em espaços
públicos como praias, são coletados juntos, sem separação. Participa da coleta seletiva
há dois anos. Antes já fazia mas ia tudo junto da coleta pública. Ficou sabendo pelos
vizinhos da existência da coleta. Conhecia a coleta seletiva comunitária, mas não
chegou a participar. Propôs para a atual gestão da associação dos moradores, promover
uma campanha de conscientização no bairro, com faixas e folhetos e outras ações,
visando o melhor descarte dos resíduos e maior limpeza das ruas. Porém, disse que o
grupo de moradores não se interessou muito em investir na ideia.
Separa praticamente todos os resíduos recicláveis que gera para coleta seletiva,
cascas de legumes, verduras e frutas separa para compostagem que depois é usada em
uma horta que possui em casa e restos de comida geralmente dá aos 3 cachorros que tem
em casa. Afirma não ter recebido nenhuma orientação da prefeitura. Disse que sabe que
seus recicláveis são destinados para um galpão localizado na Grota onde é realizada a
separação, mas não sabe qual destinos estes resíduos tem posteriormente.
Para E5, considera participar da coleta seletiva importante para o meio ambiente.
Já que a natureza não conseguiria absorver naturalmente o lixo que se produz e que as
pessoas precisam ter consciência ao descartar seu lixo. Também acha importante que se
realize o reaproveitamento do lixo.
82
Entrevistada 6 – E6
Em sua casa vivem 4 pessoas, ela e seu marido com curso superior e seus filhos,
duas crianças em idade escolar. Em casa, ela cuida da gestão do lixo. Para ela, coleta
seletiva é fazer a separação do lixo produzido em sua residência de modo a dar destinos
corretos para cada um deles. Sendo alguns reciclados ou não. Participa da coleta seletiva
desde 2000 em outros bairros de Niterói onde morou e há 5 anos participa da coleta
seletiva em São Francisco. Ficou sabendo da coleta seletiva no bairro quando viu o
caminhão da coleta pública. Mas hoje disse que não sabe o dia de coleta, já que é o
prédio onde mora que faz a destinação do resíduos seletivos no dia correto. Em seu
prédio, os moradores destinam os resíduos orgânicos pela tubulação de lixo e deixam os
recicláveis ao lado da tubulação para que o funcionário colete.
Diz que por ter crianças, produzem uma alta quantidade de papel. E que papel e
plástico são os resíduos que mais geram. Não sabe ao certo se chegou a receber alguma
orientação pela prefeitura sobre coleta seletiva, acredita que também chegou a pesquisar
por conta própria. Explica que em um dos lugares que morou, o próprio morador
deveria abrir seu lixo e jogar os itens recicláveis nas lixeiras corretas (plástico, papel,
metal e vidro) e que assim, as pessoas aprendiam “na marra”. Mas enfatizou, que suas
filhas aprendem sobre coleta seletiva na escola, diferente de como foi na época dela.
Disse que sempre tem dúvidas sobre se um resíduo é reciclável ou não e que gostaria
que óleo de cozinha e resíduos como baterias também fossem coletados. Falou que após
a pergunta da pesquisadora sobre saber o destino dos recicláveis, parou para pensar que
realmente nunca procurou saber e ficou curiosa em buscar.
83
Para E6 realizar coleta seletiva em sua casa é uma importante forma de educação
ambiental e de exemplo para as crianças. Disse que suas filhas cresceram vendo ela
separando o lixo e que isso também é educar.
Entrevistada 7 – E7
E7 vive no bairro desde criança. Foi criada pelos pais no local e desde aquela
época, já realizava coleta seletiva. Por ter tido uma criação alemã, a coleta seletiva já era
algo natural pra ela. Hoje ela vive com seu marido em uma casa do bairro. Não possuem
filhos e ambos possuem curso superior. Em sua casa, tanto ela quanto o marido são
responsáveis pela destinação do lixo, como também sua funcionária. Possuem em sua
residência uma composteira, para onde destinam os resíduos orgânicos.
Para E7, coleta seletiva é realizar a separação dos resíduos por tipos e destiná-los
para reciclagem. O conceito é bem claro para ela, já que atua há anos diretamente com
projetos relacionados ao meio ambiente e seu marido é um ambientalista e político da
área bem conhecido.
A coleta seletiva em sua casa acontece uma vez por semana e é realizada pela
prefeitura. Como são apenas duas pessoas em casa, para ela a frequência é suficiente e
se sente satisfeita. Em casa, separa todos os tipos de resíduos coletados e os mais
gerados são plástico, papel e metal. Não possui nenhuma dúvida sobre a realização da
coleta seletiva e diz que sabe fazê-la desde muito cedo, de uma maneira natural, por
conta de sua criação. Sabe a destinação dos seus resíduos e considera essencial a
participação na coleta seletiva para diminuir os impactos dos resíduos no meio
ambiente.
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E7 citou também que durante as aulas de vela dos alunos, é comum encontrarem
muito lixo na Baía de Guanabara e, isto já faz com que as crianças tenham uma maior
preocupação com a questão. Informou que possuem um barco com equipamento que
realiza a retirada dos resíduos sólidos da água e esses resíduos são depois destinados
pela CLIN.
Entrevistada 8 – E8
Para ela a coleta seletiva começou nos anos 80 com o projeto do Professor
Emílio. Na época, ela morava com a mãe, irmã e avó. Disse que o projeto começou em
uma escola e a filha da empregada da família estudava nessa escola. Eles pediam para as
crianças levarem os resíduos recicláveis limpos para trocar por itens de papelaria.
Assim, começaram a fazer a separação em casa para que a menina pudesse levar para a
escola. E depois o projeto se expandiu e começou a ter coleta porta a porta com um
pequeno caminhão. E assim, passaram a participar. Tinha um dia da semana e um turno
para a coleta. Após se casar, mudou para outro bairro e relatou que aquilo já fazia tanto
parte de sua rotina, que mesmo morando em um bairro sem coleta seletiva, fazia a
separação em casa e aos finais de semana levava para a casa da sua mãe, para que o
projeto coletasse. Hoje também mora em um prédio em São Francisco onde não tem
coleta seletiva e então leva seus resíduos recicláveis produzidos para a casa da irmã.
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Informou que a coleta seletiva passou a ser feita pela prefeitura a partir da gestão
do atual prefeito e que na rua de sua irmã a coleta é feita uma vez por semana e
considera suficiente. Disse que lava todos os recicláveis antes de destinar. Lembrou que
quando era criança, vendiam garrafas para um garrafeiro que passava na casas. Depois,
com o projeto do professor Emílio, e uma parceria com a Nadir Figueiredo, começaram
a recolher as garrafas e poder triturar com os equipamentos que haviam ganhado da
empresa.
Para E8, quando se começa a separar o lixo é que tem-se a proporção de quanto
lixo reciclável uma pessoa pode gerar, e que é uma grande quantidade. Disse que separa
todos os tipos de recicláveis e também separa cascas e restos de frutas, legumes e
verduras na geladeira para poder levar para a composteira na casa da irmã. Disse que
não lembra de ter recebido orientação sobre a coleta seletiva, mas que no início da sua
participação, durante o projeto de coleta seletiva comunitária, eles coletavam itens
específicos ou seja, pediam apenas alguns itens recicláveis e depois foram ampliando. E
que hoje, se fala muito sobre coleta seletiva então não costuma mais ter tantas dúvidas,
além do fato de ter se acostumado e fazer automaticamente.
E8 fica muito incomodada com locais onde há lixeiras de coleta seletiva mas os
resíduos no final acabam sendo todos destinados para a coleta comum. Disse ter visto
isso, por exemplo, no Detran. Acha que hoje em dia é difícil não se ter consciência do
problema do lixo, já que circulam por aí tantas informações e imagens, por exemplo, de
animais marinhos que morrem por ingestão ou estar presos em itens plásticos.
Relatou sobre o fato da coleta seletiva não levar o isopor que é um item que
infelizmente se usa muito. Ao ser questionada sobre saber para onde vai o resíduo, disse
que sabe que os resíduos vão para um galpão na Grota, mas por ser um local muito
perigoso, desistiu de tentar visitar. Mas que acredita que os resíduos coletados vão para
um local correto. Disse que viu em alguns lugares informações sobre o custo alto de se
fazer coleta seletiva e isso a preocupa se todos que dizem que fazem, façam realmente.
Para ela, a sociedade “andou para trás”. Pois, antigamente, por exemplo, o leite vinha
engarrafado e o leiteiro quando passava, recolhia a garrafa antiga e lhe dava uma nova
com o leite, refrigerante e cerveja também funcionavam da mesma forma. Hoje, ela vê,
até no clube mesmo que frequenta (um tradicional clube da cidade), os responsáveis do
bar jogando garrafas de vidro long neck no lixo comum e isso a deixa bastante
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Entrevistado 9 – E9
E9 já morou com os filhos e esposa, mas hoje a casa é ocupada apenas pelo
casal. E9 tem Mestrado e sua esposa curso superior. A esposa de E9 geralmente era a
responsável pela gestão do lixo pois geralmente estava mais em casa. Agora que se
aposentou, ele também está cuidando dos resíduos. E9 relatou que já trabalhou em
várias empresas que faziam coleta seletiva e inclusive já foi responsável por sistemas
de gestão integrada. Então faziam a destinação de recicláveis, inclusive lâmpadas e
cartuchos de impressora.
E9 afirmou que a CLIN não tem passado mais em sua rua. Porém, ele mantém o
hábito de deixar os sacos de recicláveis na porta pois disse que Catadores passam para
coletar. Pelo diálogo de E9, teve-se a impressão que ele não percebeu o momento em
que o projeto comunitário se encerrou e a coleta passou a ser realizado pela CLIN. A
pesquisadora crê que pelo fato do mesmo até pouco tempo trabalhar durante o horário
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comercial, provavelmente não acompanhou bem todo o processo e nem como está
funcionando o serviço. Informou que quando acumula grande quantidade de resíduos,
leva até o Ecoponto da empresa ENEL (concessionária de energia da cidade) que recebe
recicláveis e troca por desconto na conta de luz.
O entrevistado afirma que não recebeu nenhuma orientação sobre como realizar
a coleta seletiva no bairro, porém, por na época já trabalhar em empresa onde havia
coleta seletiva, ele já conhecia o funcionamento na prática. Por isso também relata não
ter dúvidas na hora de realizar a separação. E como não tem uma coleta fixa, não sabe
exatamente para onde vão seus resíduos.
Para E9 realizar a coleta seletiva é importante pois considera uma perda muito
grande descartar os resíduos sem poder reutilizá-los, já que tem tantas coisas que
poderiam ser feitas. Citou que hoje as pessoas usam PET para fazer tecido, entre outras
coisas, inclusive alguns usam para fazer móveis, como bancos. E acha, que deveria
haver mais pesquisa para que se encontrassem novas formas de transformar recicláveis.
Contou que a filha dele mora nos EUA e foi passar o natal na casa de uma amiga em
Dubai. Que a amiga da filha dele é riquíssima em Dubai e que o marido da mesma é
muito rico e o negócio dele é lixo reciclável. E que a filha dele nunca imaginou que
alguém poderia ficar rico trabalhando com lixo. E9 não sabe se aqui no Brasil se
chegará ao nível de levar o lixo tão a sério.
Entrevistada 10 – E10
E10 viveu a vida inteira no bairro. Na casa onde mora, vivem 7 pessoas mais
duas empregadas que passam o dia por lá: ela (pós-graduada), seu marido (segundo
grau), seu pai curso superior), sua mãe (segundo grau/normal), seu irmão (curso
superior) e suas filhas (em idade escolar). Na sua casa, o descarte dos resíduos é feito
pelas empregadas pela manhã, porém, a separação dos resíduos em recicláveis e não
recicláveis é responsabilidade de todos.
A entrevistada, sabendo que a coleta seletiva não coletava por tipo de material,
resolveu separar seus resíduos em casa por secos e molhados. Os secos, seriam todos os
recicláveis. Ela lamenta que não possa separar por tipo de material (vidro, papel, metal,
plástico). A E10 também reclamou das constantes faltas da coleta seletiva. Afirmou que
até 4 anos atrás, quando o prof Emílio fazia a gestão do projeto de coleta seletiva
comunitária, a coleta acontecia sempre nos mesmos dias e horários. Depois que a CLIN
assumiu a gestão da coleta, há semanas que o caminhão não passa, ou passa no horário
errado, passando a coleta orgânica no horário e dia da coleta seletiva e acaba levando os
resíduos de coleta seletiva que separaram. Diz que fica muito triste por um projeto que
funcionou por tantos anos gerido pelo professor Emílio e que ela cresceu
acompanhando e dentro daquela cultura, estar desta forma, onde não funciona direito.
Argumentou: “como pode uma prefeitura ter menos estrutura do que um homem só?”.
Afirma que o professor Emílio já estava cansado e por isso entregou o projeto para a
prefeitura. Completa ainda que o projeto tinha tudo para crescer e que não era uma
gestão feita pelo lucro e sim pelo bem-estar do bairro. Porém, tudo acaba ficando muito
em cima de uma pessoa só, enquanto considera que por ser um benefício coletivo, todos
deveriam participar.
A E10 não lembra quando começou a participar da coleta seletiva. Disse que não
lembra de algum momento onde não teve coleta seletiva na casa dela. Diz que em sua
casa o volume de lixo orgânico, no caso de restos de comida, é bem baixo. Considera
que a frequência de uma coleta semanal é suficiente já que fazem uma organização em
casa para armazená-lo, incluindo lavar as embalagens. O problema é quando eles não
tem a certeza se haverá a coleta na semana. E relata que quando acontece de passar a
coleta comum no horário da coleta seletiva, levando os resíduos recicláveis junto com
resíduos comum, causa um desânimo nos moradores para participarem da coleta. E que
o que se construiu por anos como cultura no bairro está sendo abandonado muito rápido
pelas pessoas.
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Afirmou que hoje não recebe nenhum retorno da prefeitura sobre para onde são
destinados os resíduos recicláveis. Que na época do projeto de coleta seletiva
comunitária, o professor Emílio revertia o valor da venda para a gestão do projeto,
pagamento de funcionários, entre outros referentes ao mesmo. Mas que mesmo assim, o
dinheiro não era suficiente e acabam tendo que reverter algumas verbas da associação
para o projeto. E que provavelmente este foi um dos motivos de desgaste.
E10 diz que ela e sua família pensam sempre para onde vai o resíduo que estão
gerando. E qual o tamanho de sua pegada? Quantos “prédios de lixo” ela teria em cima
dela com tudo que ela gerou? Que pensa muito antes de gerar lixo e sempre tem cuidado
em reutilizar itens. Diz que acaba sendo um pouco “neurótica”. E que em outras casas
onde não há coleta seletiva, ela se sente um pouco incomodada de ter que jogar itens
recicláveis em lixo comum. Percebe a diferença entre ela e seu marido, que não foi
criado em um local com coleta seletiva e até hoje comete erros na hora de separar ou
tem preguiça. Guarda seus resíduos recicláveis produzidos na rua na bolsa e leva para
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casa para poder destinar corretamente e inclusive aborda colegas de trabalho em relação
ao tema.
Entrevistado 11 – E11
E11 nos recebeu em sua casa ao lado de sua esposa, e responderam a entrevista
juntos. E11 e sua esposa são brancos, com características européias. A casa é grande e
possui um jardim com piscina. E11 é bem engajado em ações da associação de
moradores e foi indicado por uma outra entrevistada também bastante engajada. Fez
questão de falar que São Francisco foi o primeiro bairro do Brasil a ter coleta seletiva.
Moram no bairro desde 1974, onde criaram seus três filhos, que hoje já não moram mais
com eles. Na casa hoje são apenas os dois, um com curso superior e outro com nível
médio e ambos se dedicam aos cuidados com a separação e destinação do lixo
reciclável.
E11 diz que pra ele coleta seletiva é algo importantíssimo, pois com a
destinação correta de resíduos evitaria toda a degradação do meio ambiente, já que
itens, por exemplo, como o plástico, precisam de uma quantidade enorme de tempo para
decomposição. A esposa de E11 afirmou que eles já fazem coleta seletiva há muitos
anos e que possuem uma filha que mora na Alemanha e que lá se leva isso muito a
sério. Que possuem calendários anuais com as datas de coleta e que o vidro é coletado
separado. Ela relatou que no Brasil não se compara, pois o país ainda está engatinhando,
mas mesmo assim, já mantinham este hábito há anos em casa. Mas que sentiu pena ao
comparar com a Alemanha e ver como está a coleta seletiva no Brasil. E11 enfatizou
que na Alemanha coleta seletiva é obrigatória, enquanto aqui é voluntária. A esposa de
E11 relata também que no Brasil a separação por tipo de material não é feita, como é
feita por lá. E11 disse que dentro de casa mesmo as pessoas tem várias lixeiras seletivas
diferentes para cada tipo de material e que utilizam sacos coloridos para identificar o
que é cada coisa ( papel, metal, plástico e vidro). E cada tipo de material é coletado em
dias diferentes da semana. A esposa de E11 mais uma vez diz se sentir triste ao ver, que
por exemplo, hoje no bairro, poucas pessoas participam da coleta seletiva. Que hoje
nem sabe quais vizinhos participam.
E11 informou que participam da coleta seletiva desde a criação do projeto e que
em sua rua hoje a coleta é feita pela CLIN acontecendo toda quarta-feira. A esposa de
E11 lembrou que o projeto começou com a coleta sendo feita por um pequeno trator e
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E11 somou dizendo que o trator era da própria associação de moradores e passou
muitos anos sendo assim o recolhimento. E se mantinham com o dinheiro da coleta e da
associação. A esposa de E11 disse que antigamente, o bairro tinha uma associação
muito forte. Que havia um senhor conhecido como Tarquínio (já falecido e muito citado
em todas as entrevistas), que era bastante dedicado ao bairro e cuidava muito bem da
associação. Depois o próprio professor Emílio também se dedicou à cuidar da
associação além do projeto.
E11 e sua esposa consideram a frequência de coleta seletiva uma vez por semana
suficiente e geram basicamente, plástico, papel e vidro. Disseram na época não ter
recebido orientação de como fazer coleta seletiva, nem atualmente, Foram fazendo a
separação por conta própria. E11 relatou que dentre os materiais não coletados
atualmente mas que gostaria que coletasse pois é reciclável seria o ferro. E que hoje não
tem nenhum feedback do que a CLIN faz com os resíduos coletados, então
desconhecem para onde são levados seus resíduos e o que é feito com eles.
E11 falou após a entrevista que não acha viável que o projeto retorne a ser
gerido pelos moradores como antes (como desejado por uma das entrevistadas),
principalmente pelo alto custo e por não ver tantas pessoas com interesse em se dedicar
a isso. A esposa de E11 disse ter ficado feliz a o ver uma pessoa jovem como a
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Objetivos específicos:
Perguntas (moldáveis):
4. Quem costuma ser responsável pela gestão e destinação do lixo em sua casa?
7. A coleta seletiva que você participa é feita por quem? É porta a porta ou você
leva até algum local?
12. Que resíduos a coleta seletiva não leva, mas você gostaria de separar do seu lixo
comum?
Prezado(a) senhor(a),
Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa: Pesquisa Qualitativa
para Análise da Percepção de Moradores do Bairro de São Francisco sobre a Coleta
Seletiva em Niterói.
A sua participação na pesquisa se dará por meio de respostas às perguntas feitas
pela pesquisadora sobre a temática da pesquisa e terá duração de aproximadamente 30
minutos. É padrão que pesquisas qualitativas sejam gravadas pelos pesquisadores,
facilitando assim, posteriormente, a transcrição das respostas. Esta gravação será de uso
único e exclusivamente da pesquisadora e seu orientador.
Esta pesquisa está sendo realizada por Patrícia Hespanhol S. Fernandes dentro do
programa de Mestrado em Engenharia Urbana da Escola Politécnica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro cuja pesquisadora está vinculada. A pesquisadora tem seu
trabalho monitorado e orientado pelo Professor Doutor Cláudio Fernando Mahler,
vinculado à mesma universidade. Caso haja qualquer dúvida, ele poderá ser localizado
no e-mail cfmahler@poli.ufrj.br, no telefone (21) 99567-0431 ou no Laboratório de
Geotecnia da COPPE/UFRJ na Av. Pedro Calmon, 596 - Cidade Universitária, Rio de
Janeiro – RJ.
Sua privacidade será respeitada. Seu nome ou qualquer outro dado ou elemento que
possa, de qualquer forma, te identificar, será mantido em sigilo durante toda a pesquisa.
Sendo apenas utilizadas de forma escrita suas respostas. O(a) senhor(a) tem a liberdade
de não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento, mesmo
após o início da entrevista/coleta de dados, sem qualquer prejuízo. O(a) senhor(a) não
terá nenhuma despesa e não há compensação financeira relacionada à sua participação
na pesquisa.
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Sua participação é importante e voluntária e vai gerar informações que serão úteis
para fazermos uma análise da percepção e participação dos moradores na coleta seletiva
em São Francisco. Cujo local, é historicamente considerado o primeiro bairro do Brasil
a ter este tipo de coleta de resíduos recicláveis.
______________________________________________________ ____/____/____
Assinatura do(a) entrevistado(a)
__________________________________________________________ __/____/____
Assinatura da pesquisadora
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Acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;
adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos
sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta
Lei;
XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços,
observada a Lei nº 11.445, de 2007;
XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com
vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada;
XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta
seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art. 33, e de outras ações
relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;