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ISBN 978-85-237-0630-2

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Reitora
MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ
Vice-reitor
EDUARDO RAMALHO RABENHORST
Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza
IERECE MARIA DE LUCENA ROSA
Chefe do Departamento de Geociências
ANIERES BARBOSA DA SILVA

EDITORA UNIVERSITÁRIA
Diretor
IZABEL FRANÇA DE LIMA
Vice-diretor
JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
Supervisor de Editoração
ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Editoração e Capa
CRISTIANE DE MELO NEVES
Giovanni Seabra
(organizador)

TERRA
Qualidade de Vida, Mobilidade
e Segurança nas Cidades

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa, Paraíba
2013

3
COMISSÃO CIENTÍFICA

Prof. Dr. Giovanni Seabra – UFPB


Prof. Dr. Antônio Carlos Brasil Pinto – UFSC
Prof. Dr. Anderson Portuguêz – UFU
Prof. Dr. Khosrow Ghavami – UNICAP – RJ
Prof. Dr. José Mateo Rodriguez – Universidad de Habana
Profª. Drª. Aldemir Barboza – UFPE
Prof. Dr. Geraldo Moura – UFRPE
Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa – UFPB
Profª. Drª Vanice Selva – UFPE
Prof. Dr. Luis Tomás Domingos – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
Prof. Dr. Edson Vicente da Silva – UFC
Prof. Dr. Jacques Ribemboim – UFRPE
Profª. Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes – UFPE
Profª. Drª. Andrea Pacheco Pacifico – UEPB
Prof. Dr. Fernando Luiz Araújo Sobrinho – UNB

T323 Terra: [livro eletrônico]: Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas


Cidades / Giovanni Seabra (organizador). – João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2013.
25.377kb /pdf.

V1
1.473 pag

ISBN 978-85-237-0630-2

1. Meio Ambiente 2. Biodiversidade. 3. Mudanças Climáticas. 4.


Agroecologia. 5. Recursos Hídricos. 6. Degradação Ambiental. I. Seabra,
UFPB/BC Giovanni.
CDU: 504

Nota:
Este livro é resultado do Fórum Internacional do Meio Ambiente - A Conferência da Terra, uma realização da
Universidade Federal da Paraíba e GS Consultoria, cujo tema central - Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança
nas Cidades, proporcionou amplo debate durante as conferências, palestras e grupos de trabalhos.

As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores.
Todos os direitos desta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.

E-mail:gs_consultoria@yahoo.com.br

4
APRESENTAÇÃO

Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades

O Desenvolvimento Sustentável do Planeta é um compromisso assumido por 170 países no


Protocolo A Cúpula da Terra, assinado durante a realização da Rio–92, no Rio de Janeiro. Para
atender as aspirações das nações presentes, a Rio-92 aprovou a Agenda 21, documento contendo
uma série de intenções acordadas pelos países signatários. Inúmeros problemas urbanos seriam
solucionados, caso as cláusulas da Agenda 21 fossem obedecidas. Contudo, o cumprimento dos
objetivos da Agenda 21 depende da inversão de capitais na execução de programas destinados à
melhoria da qualidade de vida da população dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Após 20 anos de sua concepção, o grande desafio da Agenda 21persiste: tornar as cidades
sustentáveis e humanamente habitáveis.
O livro Terra: qualidade de vida, mobilidade e segurança nas cidades contém 530
capítulos, editados em cinco volumes, contendo os trabalhos acadêmicos e científicos apresentados
durante a realização da A Conferência da Terra – Fórum Internacional do Meio Ambiente.
Realizada no período de 20 a 23 de novembro de 2012, em sua terceira edição, A Conferência da
Terra foi sediada na cidade de João Pessoa, reunindo 1500 participantes do País e do exterior.
O tema geral do colóquio Qualidade de Vida, Mobilidade e Segurança nas Cidades, título
deste livro, é pautado em 17 eixos temáticos. Os eixos balizaram os trabalhos teóricos,
metodológicos e técnicos, desenvolvidos nos diferentes campos da ciência, aplicados em situações e
cenários ambientais diversos, e publicados na forma de capítulos.
A riqueza e excelência do conteúdo deste livro constituem uma singular fonte de
informação e de pesquisa a todos aqueles que se interessam pelas questões ambientais em suas
dimensões ecológicas, naturais, sociais, econômicas, culturais e éticas.
Com a edição desta obra, A Conferência da Terra confirma o seu objetivo primordial de
sensibilizar, mobilizar e conscientizar os diversos setores da sociedade para a tomada de atitudes de
modo a assegurar uma agenda ambiental comprometida com a conservação da biodiversidade e o
desenvolvimento ecologicamente e socialmente equilibrado.

Giovanni Seabra

5
SUMÁRIO

1 - Habitat Urbano e a Qualidade de Vida ................................................................................. 12

Principais Problemas Causados pelas Panificadoras que Utilizam Madeira ou Lenha como
Fonte de Energia no Bairro de Mangabeira. 13
Desafios para a Compreensão da Metropolização e Industrialização no Contexto da Terceira
Modernidade Urbana 25
Enchentes na Perspectiva da Territorialização do Espaço Urbano de São João Del-Rei – MG 37
Águas Urbanas e Produção do Espaço em Aracaju/SE: uma proposta de percurso
metodológico 48
Qualidade de Vida e Desenvolvimento: uma relação necessária 58
A Sustentabiliade na Cultura do Barro: relatos da comunidade de artesãos do Alto do
Moura, Caruaru - PE 68
Os Condomínios Residenciais Fechados de Bananeiras - PB: uma reflexão 81
Transformações do Espaço Urbano: Mário Andreazza – Bayeux /PB 90
A Redefinição do Espaço Urbano de Natal a partir da Influência de Seu Setor Terciário: uma
análise das Avenidas Bernardo Vieira e Engenheiro Roberto Freire 100
Qualidade de Vida no Distrito de Joaquim Egídio, Campinas - SP, Através do Imaginário
Rural e Urbano 109
Topofilia e Capacidade Adaptativa: população exposta a riscos de inundações 119
O Espaço Urbano como Mercadoria: reflexões sobre o Shopping Rio Mar e o Projeto Novo
Recife 130
Espécies Arbóreas Indicadas para Plantio em Calçadas em Serra Talhada – PE 142
Representações de Qualidade de Vida e Saúde: reflexões a cerca das relações ambientais em
universitários 153
Reflexos da Expansão Urbana sobre o Meio Ambiente e Qualidade de Vida em Fortaleza-
CE 162
Conforto Acústico: avaliação do desempenho acústico de paredes divisórias entre
apartamentos 174
Sustentabilidade e Qualidade de Vida: dimensões para o desenvolvimento urbano 184
A Percepção Ambiental da População Autóctone a cerca da Erosão Costeira em Caiçara do
Norte - RN – Brasil 197
João Pessoa: qualidade vida reconstruída com a Mata do Buraquinho 211
Percepção e Valoração Econômica Ambiental da Praça do Ferreira, Fortaleza – CE 221
Condições Sócio-Sanitárias do Mercado Público de Ernesto Geisel, João Pessoa-PB 234
Especulação Imobiliária em Pedreiras - MA: impactos econômicos e socioambientais 240
Prevalência dos Diferentes Tipos de Hepatites Virais no Município de São Luís nos Últimos
Cinco Anos 251
Vulnerabilidade Socioambiental no Município de Mossoró/ RN 256

6
Integração Temporal e Mobilidade Intra-Urbana: o caso do Mercado Central de João
Pessoa-PB 266
Fatores de Degradação Ambiental Pelo Uso Não Sustentável dos Recursos Naturais da
Bacia do Rio Doce – RN 277
Poluição do Ar e Efeitos Adversos á Saúde Humana 289
Natureza Humana e Movimento: uma reflexão ecofilosófica sobre o meio ambiente urbano 301
Formas de Resistência Praticadas pelos Grupos Sociais Excluídos nos Espaços de Risco: a
ocupação da Favela São José, na planície de inundação do Rio Jaguaribe, João Pessoa (PB) 313
Condições Ambientais e de Saúde na Comunidade Atendida Pela USF Mandacaru IX, João
Pessoa - PB 326
Os Condomínios Fechados e a Redefinição das Relações Socioespaciais no Espaço Urbano 338
Qualidade Ambiental nos Municípios Médios Paulistas: uma análise comparativa através do
Índice de Avaliação Ambiental – IAA 350
Os Problemas Existentes na Infraestrutura de uma Periferia Urbana: uma análise das Ruas 363
do Sol e Chã do Cajá em Alagoinha/PB
Cuidado Ambiental: como o representam os que dizem que o praticam? 373
Situação da Acessibilidade no Transporte Público de João Pessoa, PB 385
Os Impactos da Poluição Ambiental sobre as Famílias da Comunidade Ilha de Deus em 394
Recife, PE: estudo de caso
Entre o Possível e o Desejável: o panorama do Centro Histórico na cidade de São Luís
mediante a acessibilidade para o cadeirante 408
Nível do Desenvolvimento Sustentável do Município de Bom Jesus - RN: aplicação do
método, índice de desenvolvimento sustentável municipal com a participação de atores
sociais e institucionais 422
Geração e Análise do Índice de Conforto Térmico para a Cidade de João Pessoa/PB 435
Problemas Ambientais e Urbanos na Comunidade Bela Vista no Bairro do Cristo, João
Pessoa, Brasil 446
Percepção Socioambiental dos Comerciantes e Frequentadores do Mercado Público da
Madalena – Recife - PE 455
Mobilidade Insustentável nos Centros Urbanos Brasileiros 469
Cartografia dos Índices Hidrodinâmicos de Poços Tubulares da Cidade de João Pessoa,
Paraíba, Brasil 473
Agrupamentos Humanos e Qualidade de Vida na Cidade João Pessoa, PB 485
A Qualidade Ambiental Urbana de São Luís: um retrato das praias da capital maranhense
em seu quarto centenário 496

2 – Educação Ambiental na Sociedade de Consumo ................................................................ 507

Educação Socioambiental como Estratégia de Melhoria do Bem-Estar Animal 508


Educação, Capital e Trabalho: reflexões sobre o papel da educação ambiental na
transformação social 517
Educação Ambiental e a Construção de uma Nova Racionalidade 529

7
Refletindo Sobre Concepções Ambientais de Educandos e Educados de uma Escola Pública
da Cidade de Campina Grande, Paraíba 537
Desenvolvimento Sustentável – Ponderação a Partir da Educação e da Economia 550
O Espaço Urbano como Mercadoria: reflexões sobre o Shopping Riomar e o Projeto Novo
Recife 562
Crise Ambiental, Capitalismo e a Educação Ambiental Crítica 575
Os Conceitos de Solidariedade e de Consumismo sob as Lentes da Complexidade 585
Educação Ambiental: uma experiência no contexto do Semiárido Paraibano 595
Diagnóstico Contábil dos Benefícios Ambientais e Sociais no SESI - DR - PB 606
Plantando a Semente 619
Oficina de Reciclagem: estratégias e recursos didáticos para a prática em educação
ambiental 626
Educação para o Consumo Consciente: racionalidade, emotividade e a metafísica do
consumir 635
Prática de Educação Ambiental em Escola Pública de Ensino Fundamental no Município de
Russas – CE 648
A Educação Ambiental para o Consumo Consciente: práticas lúdicas na formação de
cidadãos biocêntricos 653
A Inclusão da Educação Ambiental nas Escolas Municipais do Município de Aurora, Ceará 660
Percepção Ambiental de Moradores Ribeirinhos do Mangue de Bayeux – PB 669
A Prática Pedagógica do Ensino da Educação Ambiental como Formadora da Consciência
Ambiental dos Alunos da Rede Pública do Município de Cabaceiras, PB 677
Educação Ambiental no Brasil: histórico e perspectivas 688
Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico e consciente - ONG
Guajiru - Intermares - PB 699
A Construção do Conhecimento Científico Com o Uso de Modelos Didáticos no Ensino de
Biologia Celular e Molecular 703
Uma Análise do Consumo Consciente, Percepção de Educação Ambiental e Destino dos
Resíduos Sólidos dos Moradores do Bairro de Mangabeira VIII em João Pessoa - PB 713
A Educação Ambiental como Ferramenta para o Uso Sustentável das Águas de Cisternas no
Semiárido Paraibano 722
A (Re) Construção de Valores Ambientais através da Ecopedagogia no Ensino Fundamental
I 732
Educação Ambiental na Ong ―Centro de Cultura da Vila de Ponta Negra‖: um enfoque na
poluição marinha como modo de sensibilização de crianças e adolescentes 743
Educação Ambiental: uma proposta metodológica para incentivo ao consumo de alimentos
orgânicos 749
A Política dos 3 R‘s da Sustentabilidade diante da Sociedade de Consumo: percepção de
alunos da UFRPE 760
A Prática Pedagógica do Ensino da Educação Ambiental como Formadora da Consciência
Ambiental dos Alunos da Rede Pública do Município de Cabaceiras, PB 773
Proposta de Educação Ambiental Com Ênfase em Recursos Hídricos: a partir da
problemática da Lagoa do Apodi-RN 784
Determinação da Pegada Hídrica de Alunos do Ensino Médio do Município de Pombal – PB 793

8
A Educação Ambiental e a Construção da Conscientização Ambiental 802

Prática Pedagógica Sobre Reciclagem: experiência no Semiárido Pernambucano 811


Trilha Ecológica como Estratégia de Educação Ambiental: um relato de experiência no
Horto Florestal do Olho D‘água da Bica, Cuité, PB 822
Iniciativas Glocais de Mudanças Climáticas para Educandos do Ensino Fundamental II 832
Educação Ambiental e Coleta Seletiva de Lixo: experiências no Município de Monteiro –
PB 843
Psicologia e Educação Ambiental: interfaces possíveis 852
Educação Ambiental e Letramento: os gêneros textuais como via de sensibilização nas
escolas públicas 862
Percepção Ambiental dos Educadores de Duas Escolas no Município de Mossoró/RN 869
Projeto Retrato: um novo olhar sobre os resíduos sólidos 875
Educação Ambiental: questões ambientais envolvidas com a utilização de combustíveis
fósseis, uma nova abordagem no ensino de biologia 885
Percepção Referente a Problemas Ambientais Pelos Alunos do 5° Ano da Escola Municipal
Magalhães Bastos, Recife/ Pernambuco. 897
Educação Ambiental em Escolas do Semiárido Pernambucano: como instituir essa
realidade? 905
Educação Ambiental nas Escolas Munícipais de Patos-PB Programa Idea - Informação,
Desenvolvimento de Meios Sustentáveis 916
Horta Medicinal e Aromática na Escola: uma ação socioambiental 923
Educação Ambiental: a universidade na formação de educadores 931
Percepção Ambiental de Estudantes do Ensino Médio Através da Metodologia do Discurso
do Sujeito Coletivo, Semiárido Potiguar 942
Sala Verde Água Viva: educação ambiental para a sustentabilidade Socioambiental 952
Concepção Ambiental nas Escolas Públicas do Seridó Potiguar a Concepção Ambiental 963
Breves Relações: Conferências Ambientais Mundiais, Educação Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável 972
Por uma Educação com Ênfase na Alimentação Saudável numa Perspectiva Ambiental 981

3 – Planejamento, Programas e Ações Ambientais .................................................................. 993

A Indissociabilidade do Ensino, Pesquisa e Extensão em Ações de Educação Ambiental 994


Planejamento Urbano e Ambiental: discussão sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos no
Brasil 1006
Análise Socioambiental dos Impactos Provocados pelo Projeto de Educação Ambiental
―Mata Viva do Belém‖ na Comunidade de São Sebastião do Belém - ES, a partir da
percepção dos seus sujeitos 1019
Políticas Públicas, Programas e Ações que Permeiam a Agricultura Familiar no Contexto da
Sustentabilidade 1031
Do Local ao Global: governança participativa de bens comuns - a experiência do Comitê 1043
Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20

9
O Uso da Norma como Ferramenta de Controle Ambiental: um estudo de caso dos buffets 1056
de Mossoró / RN
O Diálogo Cientifico como Instrumento de Percepção Ambiental Hídrica: socialização de
uma experiência realizada na Região da Zona da Mata – RO 1067
Gestão Ambiental Compartilhada na Paraíba: um desafio para a sustentabilidade ambiental
no Estado e Municípios 1076
Notas Sobre a Gênese das Áreas de Proteção Ambiental Cearense: contexto histórico
jurídico-institucional 1086
Educação Ambiental: uma proposta articulada na Rede Pública Municipal em áreas de
nascentes do Rio Mamanguape 1098
Empresas da Construção Civil de Mossoró - RN: identificação das ações voltadas à gestão
ambiental 1109
Movimento de Massa como Agentes Causais dos Desequilíbrios dos Taludes da BR-101
Norte / PE 1118
Agenda 21 Local: o caso do Núcleo de Educação Ambiental da Colônia de Pelotas 1130
Dinâmica Migratória e o Processo de Desflorestamento da Bacia do Igarapé D´Alincuort -
RO 1141
A Cidade Industrial São Bento do Sul: topografia, imigração, colonização, acessos e
arruamento 1154
Educação Ambiental em Escolas Públicas: um estudo de caso no Estado da Paraíba 1166
Interligação Rural-Urbana: fragmentos da construção de uma crise anunciada e possíveis
perspectivas 1178
As Representações Socioambientais dos Agentes Ambientais Acerca do Trabalho 1187
Estudo sobre A Importância da Geomorfologia para o Planejamento Urbano o Plano Diretor
Participativo da Cidade de Macaíba-RN 1201
Os Municípios de Origem dos Alunos Matriculados no Cefet Curvelo na Perspectiva de
Planejamento, Programas e Ações Ambientais 1210
Meio Ambiente, Ocupação Urbana e Turismo: o caso da Ponta do Seixas, ponto mais
oriental das Américas 1222
Bases Motivacionais para o Cuidado Ambiental: um exame da literatura em psicologia 1234
Ecotrilhas: um instrumento para a promoção da educação ambiental
1245
Ações de Educação Ambiental Desenvolvidas pelo Programa ―Novos Talentos‖ em uma
Escola Pública de Mossoró/RN 1255
Projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre: ações de educação ambiental em
escolas públicas e comunidades da Região Metropolitana de Fortaleza - Ceará 1265
Educação Alimentar e Ambiental na Dinamização do Currículo Escolar por Meio de Hortas,
Areia/PB 1278
Educação Ambiental em Escolas da Periferia do Município de Serra Talhada, Pernambuco,
Brasil 1288
A Agenda 21 Escolar como Potencializadora das Práticas Ecopedagógicas: promovendo
espaços de autonomia para a construção da cidadania planetária 1297
Determinação da Qualidade da Água Armazenada em Cisternas por Meio de Parâmetros
Físicos, Químicos e Microbiológicos 1309
Proposta Metodológica de Gestão Ambiental em Ambientes Acadêmicos 1318
PAA e PNAE Fomentando a Agricultura Familiar do Agreste Meridional de Pernambuco 1331
Ações Extensionistas no Litoral do Iguape – Aquiraz/Ce: a educação ambiental como 1343
10
subsídio para a conservação e preservação dos recursos naturais
Apresentando o PET Mata Atlântica: conservação e desenvolvimento 1355
Planejamento e Ações Ambientais no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha,
Cabedelo, PB 1366
Desenvolvendo a Educação Patrimonial no Centro Histórico de João Pessoa Através do
Projeto ―O Futuro Visita O Passado 1374
Município de Grossos - RN: uma proposta de plano de ação para uma gestão participativa 1381
Análise da Gestão Ambiental Pública dos Municípios Brasileiros 1391
Caracterização das Condições de Saneamento Básico em Comunidades Rurais no Município
de Mossoró e Região, Rio Grande do Norte 1401
Articulações entre o Percurso de Um Projeto de Educação Ambiental e a Sociedade de
Consumo 1414
Potencialidade e Economia Solidária: entrelaçamentos para o desenvolvimento local
sustentável 1424
Adequação Ambiental no Sítio Çarakura como Ferramenta de Potencialização da Educação
Ambiental 1437
Desafios na Redefinição dos Limites Municipais de São Luís e São José De Ribamar /
Maranhão 1447
Qualidade de Vida e Sensibilização Ambiental Através dos Esportes de Aventura: uma
interação homem, animal e natureza 1459
Percepção Entomológica por Discentes do 8º e 9º Ano na Rede Pública no Município de
Areia – PB 1466

11
1 - Habitat urbano e a qualidade de
vida

12
PRINCIPAIS PROBLEMAS CAUSADOS PELAS PANIFICADORAS QUE UTILIZAM
MADEIRA OU LENHA COMO FONTE DE ENERGIA NO BAIRRO DE MANGABEIRA

Ana Maria Ferreira COSME (CCEN/UFPB) – anamariageografia@yahoo.com.br


Ana Claudia Ferreira COSME (CCAE/UFPB) – hotelaria10@r7.com
Rabá Sousa da SILVA (CCJ/UFPB) – rabgeo@yahoo.com.br

Resumo

A vegetação nativa (madeira) foi a princípio a única fonte de energia necessária ao desenvolvimento
das atividades produtivas e de subsistência no Brasil. A utilização da madeira como fonte energética
traz consigo diversos problemas no qual um deles trata-se da poluição do ar, o que gera diversos
transtornos à população que reside nas suas proximidades desses estabelecimentos. Diante disso, o
objetivo do trabalho foi identificar os principais problemas causados pelas panificadoras que
utilizam madeira ou lenha como fonte de energia no bairro Mangabeira. Para tanto,foi realizado um
levantamento bibliográfico do assunto em pauta, como também realizações de visitas in loco para a
observação das padarias. Foram aplicados 20 questionários com 5 perguntas fechadas para as
pessoas que residem próximo às padarias. Também foram realizadas entrevistas com alguns
proprietários das panificadoras e com o presidente do Sindipan/PB (Sindicato dos panificadores da
Paraíba) para a obtenção de dados quantitativos e qualitativos a respeito da madeira ou lenha
utilizada e das ações dos sindicatos das panificadoras da cidade de João Pessoa. Verificou-se que os
transtornos causados à população que reside próximo a estes estabelecimentos são muitos e com
poucas chances de serem resolvidos em curto prazo, tendo em vista que as panificadoras não são
licenciadas. Épreciso que o órgão ambiental fiscalize essas panificadoras para regularização, bem
como que juntamente com o SEBRAE realize um fórum para orientar os proprietários nessa
regularização.
Palavras chaves:Panificadoras, Fontes de Energia, Poluição do ar.

Abstract

The native vegetation (wood) was initially the only source of energy for the development of
productive activities and livelihoods in Brazil. Using wood as an energy source brings with it many
problems in which one of them it is the pollution of air, which causes different disorders to the

13
population residing in the vicinity of such establishments. Therefore, the objective was to identify
the main problems caused by bakeries that use wood or wood as energy source in the Mangabeira
neighborhood. To that end, we carried out a literature of the subject matter, as well as achievements
of on-site visits to observe the bakeries. 20 questionnaires were administered with 5 closed
questions for people who live near the bakery. Also interviews with some owners of bakeries and
the president of Sindipan / PB (bakers' Union of Paraíba) to obtain quantitative and qualitative data
about the wood or wood used and the actions of the unions of bakeries in the city of João person. It
was found that the inconvenience caused to the population residing near these establishments are
many and with little chance of being solved in the short term, given that the bakeries are not
licensed. We need the EPA to enforce these bakeries regularization, and that along with SEBRAE
hold a forum to guide the owners in this regularization.
Key Word: Breadmaker, Energy Sources, Air Pollution.

Introdução

De acordo com a história, a vegetação nativa foi a princípio a única fonte de energia
necessária ao desenvolvimento das atividades produtivas e de subsistência no Brasil,
principalmente, no Nordeste. Desde o período colonial, a Mata Atlântica começou a ser derrubada
para dar lugar ao cultivo da cana-de-açúcar. Posteriormente, com a ampliação da colonização com o
ciclo do gado,se adentrou o território devastando grandes áreas, sendo posteriormente acrescido
com o ciclo do Ouro e do café, seguido do ciclo da industrialização até os dias atuais.
Uma das regiões que mais sofrem com retirada de madeira atualmente é o semiárido, onde a
vegetação de caatinga é muito utilizada como fonte de energia, tanto em forma de lenha com em
forma de carvão vegetal. A exploração desse recurso energético ocorre sem o menor critério, o que
compromete o equilíbrio ambiental e a oferta desses produtos florestais.
Ainda é muito lento o processo de substituição do uso da lenha por outras fontes de energia
levando-se em conta a questão econômica, pois em relação às outras fontes de energia a lenha ou a
madeira apresentam um valor mais acessível.
No Brasil existem muitas indústrias que utilizam a madeira no processo de fabricação de seus
produtos como, por exemplo: as olarias e indústrias de cerâmica que necessitam da madeira para o
cozimento da argila; a construção civil que utiliza madeira para construção de escoras, andaimes,
pisos e foras; a indústria de celulose e moveleira; pequenas usinas de cana-de-açúcar que faz uso da
madeira em seus fornos e finalmente algumas indústrias de alimentos como pizzarias e
panificadoras.

14
As panificadoras vêm substituindo o uso de madeira e lenha em seus fornos por outras
alternativas energéticas. Entretanto, em João Pessoa muitas panificadoras ainda utilizam madeira e
lenha como fonte de energia. Nesse sentido, surgiu o interesse em pesquisar a temática sobre os
problemas decorrentes do uso de madeira e lenha em panificadoras.
Como não podia ser diferente a área pesquisada encontra-se localizada no Estado da Paraíba,
Mesorregião da Mata Paraibana e na Microrregião de João Pessoa, especificamente no Bairro de
Mangabeira, zona sul da cidade de João Pessoa. O bairro de Mangabeira é subdividido em oito
partes que são enumeradas de um a oito. Tomando como base o funcionamento das padarias é que
procuramos, o objetivo desse trabalho foi identificar os principais problemas causados pelas
panificadoras que utilizam madeira ou lenha como fonte de energia.

As panificadoras e as fontes de energias utilizadas

O segmento de panificação1 é um dos mais antigos e desde sua criação, mas segundo o site
Vitoppan2(2012).
Atualmente o Brasil ainda consome pouco pão em relação a outros países, mas o
brasileiro tem apresentando um crescimento no consumo. Existem grandes
diferenças regionais no consumo de pão, pois algumas regiões no Leste e Sul
consomem cerca de 35 kg, enquanto no Nordeste atinge os 10kg.

Evidenciado-se que os produtos fabricados pelas panificadoras tem o seu consumo


diferenciado conforme a região ao qual se encontra localizado, observa-se que necessitam de vários
tipos de matérias primas e de fonte energética para o processamento tal como a madeira3 ou lenha4
que são utilizadas para o cozimento dos pães. Santos & Gomes (2009, p. 156) ressaltam que ―As
padarias desenvolvem atividades comerciais e semi-industriais onde a lenha pode ser uma das
principais fontes energéticas‖. Nesse sentido, observa-se que essa atividade, em muitas localidades,
ainda continua utilizando esse tipo de matriz energética.
Há pouco tempo observamos algumas modificações em relação ao tipo de energia e fornos
utilizados para fabricação dos pães, os quais vêm sendo adaptados para utilização de outros tipos de
energia, dentre estes, as adaptações são para uso da energia elétrica e do GLP ( Gás Liquefeito de
Petróleo). Estas novas fontes de energia são de essencial importância para o desenvolvimento e
ampliação do setor de panificação, de forma a minimizar os danos ambientais gerados pela queima
de madeira ou lenha. Segundo a Revista Madeira5, (2003).

1
Panificação: fabricação de pão e derivados
2
http://www.vitoppan.com.br/historiadapanificacao.html; acessado em 28/04/2012.
3
Madeira; carne de árvore, constituído pelo lenho morto.
4
Lenha; porção de achas usadas como combustível.
5
http://www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=467&subject=Res%EDduos&title=Gest%E3o%20d
e%20res%EDduos%20s%F3lidos%20na%20ind%FAstria%20madeireira acessado em 25/04/2012.
15
A utilização da lenha tem larga tradição no Brasil. Em 1952, quase metade do total
de energia consumida no país era proveniente da biomassa. Em 1969, esta
percentual se reduziu para 33,7% e em 1979 para 17,4%, considerando como lenha
o consumo tradicional e histórico dessa biomassa no Brasil, incluindo a utilização
doméstica, fornos de padarias, cerâmicas e olarias.

Essas fontes, após serem submetidas a um processo de transformação, proporcionam energia


para o homem cozinhar seus alimentos, aquecer, iluminar o ambiente e modificara paisagem. Hoje
os tipos de energia mais utilizados pelas panificadoras são: a energia elétrica, a madeira, o GLP (gás
liquefeito de petróleo),conforme o site6. Pode-se destacar também as mais novas fontes energia
utilizadas nas panificadoras como: vapor d‘água, energia solar e a utilização de Briquetes 7. Contudo
ainda existem inúmeras panificadoras que ainda possuem fornos movidos à lenha e madeira.
Riegelhaupt (2004 Apud SANTOS & GOMES, 2009 p. 157) afirma que:
existe uma média tendência a provável redução, por parte das padarias, na
utilização de produtos energéticos florestais e que tal redução dependerá da
disponibilidade e/ou viabilidade econômica da substituição de produtos energéticos
florestais por outras fontes de energia.

A madeira e a lenha que são utilizadas na fabricação dos pães e derivados da panificação são de
origens diversas, na sua maioria são retiradas das regiões circunvizinhas às panificadoras, ou do
interior do Estado, principalmente, de regiões que apresentam vegetação de pequeno porte.
Também são utilizam madeiras oriundas da construção civil e, raramente, madeiras legalizadas. Isso
devido ao aumento nos custos com impostos cobrados sobre o produto.
A utilização de lenha ou madeira nas panificadoras traz benefícios, mas também traz
transtornos aos proprietários. Os benefícios são: o baixo custo da lenha, uma menor manutenção
com o forno, o não pagamento de impostos sobre a madeira. Quanto aos transtornos, esses são
muitos, principalmente, para os funcionários e moradores próximos às padarias.Atualmente os
proprietários estão sendo punidos através da aplicação de leis ambientais que tem como propósito
reduzir a utilização dos fornos a lenha ou madeira.

Poluição do ar pelas panificadoras

Ao falarmos de poluição temos várias definições, pois seu significado é bastante amplo por que
engloba vários outros tipos de poluição a serem definidos. Por este motivo estas definições acabam
se misturando, dando ênfase a outros tipos de poluição. Pode-se dizer que ―Poluição é toda
alteração das propriedades naturais do meio ambiente que seja prejudicial à saúde, à segurança ou

6
http://www.sodinheiro.info/ideias-de-novos-negocios/ideias-de-novos-negocios_padaria.phpacessado em 13/06/2012.
7
BRIQUETES é produzido a partir da serragem e demais resíduos resultantes do processo de beneficiamento de
qualquer tipo de madeira ou resíduo agroindustriais .
16
ao bem estar da população sujeita aos seus efeitos, causada por agentes de qualquer espécie‖.
(MANO, 2005, p. 41).
Compreendendo-se que entre os diversos tipos de poluição que tanto agridem o meio ambiente,
destacaremos a poluição do ar, por estar envolvida no assunto em questão. Conforme Assunção,
(2004, p.107 apud JR et al 2004). ―A poluição do ar ocorre quando a alteração da composição
qualitativa ou quantitativa da atmosfera resulta em danos reais ou potenciais‖. Sabe-se que a partir
dessas alterações acima citadas que vem a causar a poluição do ar, uma das principais vilãs são as
queimadas que ocorrem de forma controlada ou não, causando diversos impactos ao meio ambiente
e inúmeros transtornos, principalmente ao ser humano que faz uso deste tipo de atividade.
O setor de panificação é um dos que contribuem para o aumento da poluição do ar, pois ainda
existem vários estabelecimentos deste setor que utilizam fornos movidos a biomassa8,
especificamente, lenha ou madeira e que durante a sua combustão emite uma grande quantidade de
gases poluentes na atmosfera levando a vários problemas ambientais e de saúde.
Então notou-se que a emissão de gases poluentes oriundos da combustão prejudicam a saúde
publica e o bem-estar da população.

Legislação ambiental aplicável a panificadoras

A principal lei ambiental que norteará a atividade das panificadoras é a Lei 6938/81 que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação. Essa lei define a poluição e o poluidor. Nesse caso observa-se que essas informações são
aplicadas ao licenciamento ambiental de panificadoras.
Entende-se a poluição como a degradação da qualidade ambiental que é resultante de
atividades que direta ou indiretamente prejudique a saúde, a segurança e o bem estar da população;
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; e lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
Sendo assim, a atividade de panificação tem como maior não conformidade ambiental a
poluição atmosférica. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) instituiu a resolução
CONAMA Nº 005/89. O objetivo dessa resolução é estabelecer estratégia para controle,
preservação e recuperação do ar. Através dessa resolução foi instituído o Programa Nacional de
Controle da Qualidade do Ar (PRONAR), que se configura como um instrumento básico de gestão
ambiental para atividades que poluem o ar.

8
BIOMASSA: é uma termo genérico que se refere o conjunto de recursos biologicamente renováveis, originados de
material vegetal, susceptível de transformação em energia útil, tal como o calor, a eletricidade e a força motriz.
17
A resolução Nº 003/90 do CONAMA estabelece as concentrações máximas para partículas
em suspensão de CO2 e CO. Essa resolução traz o conceito de fontes poluidora do ar móvel, que é o
caso de carros e a fonte poluidora fixa que é o caso das panificadoras.
O Código Florestal estabelece a fiscalização do Documento de Origem Florestal (DOF), esse
documento garante ao cliente (dono de panificadora, olaria, pizzaria e ao consumidor final) que a
madeira utilizada nos estabelecimentos tem procedência do reflorestamento. Entretanto, sabe-se que
a fiscalização, na maioria das vezes, é realizada apenas no Licenciamento Ambiental.
Em João Pessoa o Licenciamento Ambiental das Panificadoras é realizado pela SEMAM
(Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de João Pessoa), enquanto que nas demais cidades
paraibanas o órgão que licencia as panificadoras é a SUDEMA (Superintendência de Administração
do Meio Ambiente do Estado da Paraíba). Optou-se por detalhar o processo de Licenciamento das
Panificadoras licenciadas pela SEMAM.
Nota-se que as exigências no Licenciamento Ambiental são muitas, logo, um
empreendimento de panificação pode demorar um bom tempo para ser definitivamente licenciado.
Tal exigência e o alto custo para o cumprimento de tantas etapas que são fundamentais, muitas
vezes levam os pequenos empresários à clandestinidade. Os empreendimentos clandestinos passam
anos funcionando sem haver nenhuma fiscalização.
A fiscalização ambiental é vista como um custo pelo poder público. Essa visão favorece a
clandestinidade e prejudica o desenvolvimento social, econômico e ambiental local. Uma
alternativa seria uma força tarefa para legalizar ou fechar as panificadoras clandestinas, mas para
isso a SEMAM em parceria com o SEBRAE9 poderia organizar um fórum para orientação desses
pequenos empresários, onde constaria também um corpo técnico (engenheiros, geógrafos,
advogados etc.) para prestar serviço de consultoria ambiental, com custo acessível, para que os
microempresários que vivem na clandestinidade, possam se regularizar.

Metodologia

Ao iniciarmos esta pesquisa, buscamos realizar um levantamento bibliográfico para fins de


aprofundamento do assunto em pauta. Como também realizações de visitas in loco para a
observação das padarias e da fumaça emitida, além de verificar externamente se as mesmas
possuem filtros nas chaminés para reduzir a quantidade de poluentes emitidos pelas mesmas.
Aplicamos 20 questionários com 5 perguntas fechadas para as pessoas que residem próximo
às padarias com o intuito de identificar os possíveis transtornos causados pela combustão da
madeira ou lenha utilizada.

9
SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)

18
Realizamos entrevista com alguns proprietários das panificadoras, como também com o
vice-presidente do Sindipam/PB (Sindicato dos panificadores da Paraíba) para a obtenção de dados
quantitativos e qualitativos a respeito da madeira ou lenha utilizada. Alem da utilização de câmeras
fotográficas para visualização das madeiras e lenhas utilizadas nas panificadoras.

Resultados e discussões

Partiremos de um recorte espacial da cidade de João Pessoa, no qual destacamos o bairro de


Mangabeira conforme. No qual se realizou o presente estudo, referente às padarias que utilizam
madeira para o cozimento dos pães.

Identificação dos tipos de madeira ou lenha utilizada nos fornos das panificadoras

Em um total de 12 padarias visitadas, se questionou a procedência da madeira utilizada para


a fabricação dos pães. Alguns dos proprietários responderam que utilizam madeira e lenha e outros
responderam utilizar lenha e outras fontes de energia como o gás e a energia elétrica, conforme o
gráfico 1.

Gráfico 1: Gráfico mostrando a utilização das fontes de energia.

Fonte : COSME, 2012

A madeira ao quais os proprietários se referem são as toras e tábuas. Já a lenha é composta


por pequenos pedaços de madeira e galhos retorcidos. É muito importante lembrar que no que se
refere aos 50% também está incluída madeiras oriundas da construção civil.

O licenciamento ambiental das padarias

Durante as visita as panificadoras, questionou-se os proprietários a respeito da legislação


aplicada, tanto às panificadoras quanto à lei aplicada a questão da poluição do ar. Dos 12
proprietários só 10 prestaram algumas informações, afirmando que tem conhecimento das leis
aplicadas, mas apenas 3 dos 12 afirmam aplicar as leis exigidas pelo Estado e Município.

19
Os demais proprietários responderam que não tem o conhecimento de todas as leis aplicadas
a este tipo de segmento comercial, pois estes estabelecimentos já funcionam há muito
tempo.Questionou-se se já teria recebido a visita de algum órgão responsável pela regulamentação
do estabelecimento e ele respondeu que só recebeu a vigilância sanitária e um fiscal da prefeitura,
quando foi para renovar o alvará de funcionamento.
E também se observou, de forma externa que apenas 4 dos 12 estabelecimentos possuem
filtros nas chaminés e obedecem a altura aconselhada pelos órgãos licenciadores que é de 7 metros e
meio. Em contrapartida encontramos várias chaminés com altura inferior a 3 metros.
Buscamos outras fontes de dados para um melhor esclarecimento, sobre este setor do
comércio que vem crescendo consideravelmente a cada ano. A SUDEMA disponibiliza em seu site
a quantidade e especificação das licenças expedidas em cada ano, então realizamos um
levantamento referente ao ano de 2008 até junho de 2011, evidenciando apenas os comércios que
trabalham com os produtos derivados da panificação.
De acordo com a SUDEMA (2004, s/p Apud COSTA et al 2006, p. 04) no setor industrial
um dos maiores consumidores de lenha na Paraíba são as panificadoras. As indústrias cerâmicas
(empresas de pequeno e médio porte) aparecem em segundo lugar com cerca de 15%. O número de
empresas consumidoras de lenha no Estado é bastante significativo, com 1.927 estabelecimentos.
Ainda de acordo com a SUDEMA os maiores consumidores de lenha no Estado da Paraíba são as
padarias (gráfico 2), seguido de restaurantes, matadouros entre outros consumidores.

Gráfico 2: Uso de lenha por setor produtivo na Paraíba em 2004.

Fonte: COSTA, 2006.

20
As ações do sindicato das panificadoras da cidade de João Pessoa

Já no Estado da Paraíba no dia 08 de julho, o Sindicato das Indústrias de Panificação do


Estado da Paraíba – Sindipan/PB celebrou o Dia do Panificador com muito otimismo, pois de
acordo com o presidente do Sindicato, Romualdo Farias, o setor emprega formalmente mais de 15
mil pessoas na Paraíba. O Estado atualmente possui cerca de 1200 panificadoras, dados de 2008.

Conforme a entrevista realizada com o presidente do SINDIPAN-PB Romualdo F.Arasujo,


no dia 30 de Maio de 2012, na qual esclarecemos algumas questões sobre as panificadoras da
cidade de João Pessoa.
As respostas às questões foram respondidas de forma bem sucinta pelo presidente deste
sindicato. O SINDIPAN-PB atua em João Pessoa desde 1944 e nestes 68 anos de atuação ele conta
com 92 empresas associadas e 4 destas empresas encontram-se situadas no bairro de Mangabeira.
Durante a entrevista foi questionado a respeito das fontes de energias utilizadas pelas
panificadoras e segundo o presidente do SINDIPAN-PB ele não soube informar quais a
panificadoras que utilizam madeira ou lenha como fonte de energia. Segundo o presidente ―quem
deve ter estes dados sobre as panificadoras que utilizam este tipo de energia é o IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) só o IBAMA tem o cadastro
dessas empresas‖.
Também questionamos a respeito das execuções das Leis e se o SINDIPAN-PB fornecia
esclarecimento e orientação aos associados. Segundo o presidente ―Quando necessário, ou
solicitado, era esclarecido através de work shop, palestra e etc.‖
Questionamos sobre as panificadoras que utilizam madeira ou lenha como fonte de energia,
em relação ao uso ou não do filtro nas chaminés para conter a fuligem e a redução da fumaça e o
Senhor Romualdo F. Arasujo, responde: ―Sim, utilizam, pois é obrigatório para obterem a licença
ambiental.‖ Entretanto, mesmo dando esta resposta ele afirma não saber quantas e quais são as
panificadoras que utilizam madeira ou lenha.
Ainda batendo nesta mesma tecla perguntamos se o SINDIPAN-PB recomenda aos
proprietários de panificadoras a substituírem a madeira ou lenha por outro tipo de energia o senhor
Romualdo F. Arasujo respondeu ―que depende do caso‖, então perguntamos qual seria o caso, mais
ficamos sem resposta.

21
Transtornos causados aos moradores que residem próximos das panificadoras que utilizam a
madeira ou lenha como fonte de energia.

Conforme entrevistas realizadas no dia 23 de Maio do corrente ano, com os moradores que
residem próximos às panificadoras que utilizam madeira como fonte de energia. Obtivemos os
seguintes resultados: dos entrevistados 90% dele responderam que a panificadora causa vários
problemas como: barulho, fumaça, fuligem e proliferação de insetos e roedores. E a penas 10%
afirmam não ter nenhum tipo de problema com as panificadoras, ressaltando que estas pessoas
residem há no máximo 150 metros da mesma.
Por este motivo também questionei os moradores para saber, se eles gostariam que esta
panificadora deixasse de queimar madeira. A esse questionamento 80% dos entrevistados
responderam que sim, pois diminuíram a maioria dos problemas como a fumaça, no qual 20%
responderam que não porque se a panificadora passar a usar o gás o pão pode custar mais caro para
o consumidor.
Durante a entrevista questionei aos moradores se eles já conversaram com o proprietário da
panificadora sobre os problemas causados? Observamos que 70% dos entrevistados já haviam
conversado com o proprietário, que afirmou tomar algumas providências que os moradores esperam
até hoje sem solução.E apenas 30% disseram não ter conversado com o proprietário porque acham
que não irá resolver o problema.
Em uma outra questão foi perguntou-se, você já pensou em residir em outro local por causa
dos problemas causados pela panificadora?.No qual 95%responderam que sim e apenas 5%
responderam que não mudariam de endereço, pois dizem não serem afetados por nem um problema
causado pela panificadoras.
A última questão questionou-se na opinião do morador o que deveria ser feito para
solucionar os problemas causados pela panificadora?. As soluções apresentadas pelos entrevistados
foram expostas da seguinte maneira, 45% dos entrevistados disse que a solução é deixar de queimar
a madeira, já 30% afirma que para resolver o problema é substituir a madeira por gás, mas 20%
falam que uma solução é fabricar os pães em outro local e apenas 5% diz que a solução é que eles
passem a residir em outro local.

Considerações finais

Este trabalho vem mostrar que a utilização de madeira ou lenha como fonte de energia
utilizada pela indústria de panificação ainda é algo que está longe de ser substituído por novas
fontes de energia com o menor potencial poluidor.

22
Isto é atribuído a diversos fatores que contribuem para a permanência da utilização deste
tipo de matriz energética. Há pouca fiscalização por parte dos órgãos responsáveis, pois, das
panificadoras visitadas neste trabalho, apenas 4 possuem filtros nas chaminés e obedecem a altura
recomendada pelo órgão licenciador.
Há também uma falta de interesse por parte do sindicato, que segundo seu representante, não
é de interesse do sindicato saber qual o tipo de matriz energética utilizada pelas panificadoras
associadas ao mesmo, assim ampliando a falta de interesse com as questões ambientais atreladas a
este segmento industrial.
Diante do exposto pode-se observar que os transtornos causados à população que reside
próximo a estes estabelecimentos são muitos e com poucas chances de serem resolvidos a curto
prazo. Porém, existem leis que são aplicadas a este tipo de indústria, mas o que ocorre é que a
cidade amplia a sua área constantemente e com isto aumenta a necessidade de atender a população,
fazendo com que dificulte o trabalho de fiscalização dos órgãos responsáveis em realizar as
fiscalizações para que a lei assim seja devidamente cumprida.
Mas para isso também e preciso que a população contribua, através de conversa com os
proprietários dos estabelecimentos, como também através de denúncias feitas os órgãos
responsáveis como a SEMAM e a SUDEMA que tomaram as providências cabíveis.
Uma alternativa a ser utilizada seria uma força tarefa para legalizar ou fechar as
panificadoras clandestinas, mas para isso a SEMAM em parceria com o SEBRAE poderia organizar
um fórum para orientação desses pequenos empresários, onde constaria também um corpo técnico
(engenheiros, geógrafos, advogados etc.) para prestar serviço de consultoria ambiental, com custo
acessível, para que os microempresários que vivem na clandestinidade, possam se regularizar,
evitando assim problemas econômicos, sociais e ambientais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Conselho
Nacional do Meio Ambiente. Resoluções do Conama: resoluções vigentes publicadas entre julho de
1984 e novembro de 2008 – 2. ed. / Conselho Nacional do Meio Ambiente. – Conama Brasília,
2008.
BRASIL.O Código Florestal e a Ciência: construções para o diálogo.São Paulo: Academia
Brasileira de Ciências. SBPC, 2011.
CASTRO,H. A. et al. Efeitos da poluição do ar na função respiratória de escolares, Rio de
Janeira,RJ; Revista de saúde Pública,v. 43, n.1, p.27, fevereiro. São Paulo, 2009.
COSTA, I, ; TORRES, A. T. G.; CANDIDO, G. A. Novos instrumentos para difusão e
implementação de tecnologias limpas: O caso do Centro de Produção Industrial Sustentável
(CEPIS) na Paraíba. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 13., 2006, são Paulo.
Anais. Bauru, UNESP, 2006.
JR. A. P. et al, Curso de gestão ambiental. Barueri –São Paulo: Editora Manole, 2004.

23
MANO, E. B et al. Meio ambiente, poluição e reciclagem. São Paulo:Editora Edgard Blücher,
2005.
SANTOS, S. C. de J. & GOMES, L. J. Consumo e procedências de lenha pelos estabelecimentos
comerciais de Aracaju – SE. Revista da Fapese, v.5, n. 1, p. 155-164, jan./jun. Sergipe, 2009.
___________Consumo e procedências de lenha pelos estabelecimentos comerciais de Aracaju –
SE; Revista da Fapese, v.5, n. 1, p. 155-164, jan./jun. Sergipe, 2009.
SITES:
A utilização da lenha, Revista Madeira, 2003:extraída da Revista da Madeira- Edição nº 77-
Novembro de 2003;
http://www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=467&subject=Res%EDduos&tit
le=Gest%E3o%20de%20res%EDduos%20s%F3lidos%20na%20ind%FAstria%20madeireira
acessado em 25/04/2012.
Consumo de pão no Brasil, Vitoppan, 2012;
http://www.vitoppan.com.br/historiadapanificacao.html; acessado em 28/04/2012.

24
DESAFIOS PARA A COMPREENSÃO DA METROPOLIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO
CONTEXTO DA TERCEIRA MODERNIDADE URBANA

Arlindo COSTA – arlindo.costa@udesc.br10


Oto Roberto BORMANN – oto.bormann@udesc.br11

RESUMO

Este artigo traz como objeto de estudo a terceira modernidade, em os novos princípios do
urbanismo através de uma revisão de literatura, ancorada por autores que versam sobre o referido
tema. Pretende-se a partir desse viés dialético, projetar uma modelagem urbanística, que preconize
uma nova configuração humana. Entre os objetivos deste artigo, podem-se apontar alguns dos
aspectos envolvidos e comprometidos com as novas divisões territoriais e econômicas, advindas da
globalização e de novos paradigmas laborais, sendo que os econômicos fazem parte de estratégias
geoeconômicas no concernente à ocupação de espaços para as empresas e ou governos. Nesse viés
de análise, procurou-se ressaltar as transformações das cidades entre a Idade Média e a atualidade.
Objetivou-se, entre outros objetivos debater sobre as razões destas mudanças, através de citações de
diferentes. No bojo do trabalho, direta e, indiretamente procurou-se um conceito para Modernidade
e Pós-Modernidade, incluindo neste debate os reflexos sobre a evolução urbana contemporânea.
Palavras-chave: metropolização; urbanismo; espaços geográficos, desenvolvimento, extrativismo,
colonialismo,

ABSTRACT

This article has as object of study the third modernity in the new urbanism principles through a
literature review, anchored by authors who deal with the said topic. It is intended from this
dialectical bias, modeling urban design, which would include a new human configuration. Among
the objectives of this article, one can point out some of the issues involved and committed to the
new territorial divisions and economic, resulting from globalization and new paradigms of labor,
and the economic part of the geo-economic strategies concerning the occupation of spaces for and
companies or governments. In this bias analysis, we tried to emphasize the transformation of cities
between the Middle Ages and today. Aimed, among other objectives discuss the reasons for these
changes through different quotes. Amid labor directly and indirectly sought a concept for Modernity
and Post-Modernity, including this debate reflections on contemporary urban developments.

INTRODUÇÃO

Nas novas configurações das cidades que se expandem geograficamente e economicamente


formando as regiões metropolitanas, criam-se circunstâncias com desafios e oportunidades que
podem ser absorvidas com até alguma naturalidade ou não pelos seus habitantes tradicionais assim

10
Aluno ―especial ― do Programa de Pós-Graduação de Geografia (Doutorado) - UFPR
11
Professor efetivo da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC-CEPLAN, doutorando do Programa de Pós-
Graduação de Geografia (Doutorado) - UFPR

25
como daqueles que a elas se deslocam para usufruir o que oferecem em termos de serviços e ou
produtos, como também de ímpares oportunidades, dentre elas, de poder habitá-las.
As novas configurações urbanas ao se desenvolveram com modernos serviços oferecidos à
população, quer local quer distante, crescendo para além de uma população de um ou mais milhões
de habitantes, recebem a qualificação de Metrópoles. Este conceito se encontra em Olga
Firkowski12, que será citado a seguir:
O conceito de metrópole, apesar de antigo, assume um novo conteúdo na atualidade, conteúdo cada
vez mais alterado pelo processo de globalização. Tal conceito está cada vez mais associado a uma
grande cidade de serviços, a uma cidade que abriga as atividades de comando e desempenha um papel
de centro para um território exterior mais ou menos vasto. Paralelamente emergem as ―funções
metropolitanas‖ que já não englobam só, como nos anos sessenta, os serviços à população, mas dizem
respeito principalmente aos serviços às empresas tanto a montante (pesquisa, concepção, inovação...)
como a jusante (marketing, comercialização,comunicação...) (MERENNE-SCHOUMAKER, 1998,
p.6).

Ipso facto passar-se-á a apontar alguns dos aspectos envolvidos e comprometidos com as
novas divisões territoriais e econômicas, advindas da globalização e de novos paradigmas laborais,
sendo que os econômicos fazem parte de estratégias geoeconômicas no concernente à ocupação de
espaços para as empresas e ou governos.
Isto significa, salvo melhor juízo, que ocupará o espaço disponível quem tiver visão
estratégica de futuro, competência, capacidade econômica e logística para tal, podendo ser empresas
com tecnologia de grande valor agregado, ou empreendimentos de baixa tecnologiaou até agro-
pecuária de baixo investimento em conhecimento e tecnologia, por muitos eventualmente saudada
como ambientalmente corretos mas arcaicos e de baixa rentabilidade, provendo remuneração apenas
de subsistência aos seus colaboradores, com suas administrações e forças econômicas dominantes ¨
as elites ¨ praticando uma mentalidade empeçadora de investimentos modernizantes, desde infra-
estrutura adequada à locomoção eficaz até meios de comunicação eletrônica atualizada e não
saturada ou lenta.

REVISANDO A GLOBALIZAÇÃO

O que hodiernamente se nomina globalização, já existe há muitos séculos, vide a época dos
descobrimentos das Américas, Oceania, Austrália, Nova Zelândia, etc., regiões que foram
incorporadas aos mapas e ao comércio após sua descoberta e tomada de posse, o que aconteceu já
no século XVI e, por último a Austrália, no século XVIII, uma das tardias regiões, mas nem por isso
a mais atrasada. Estas descobertas, planejadas, não foram, salvo melhor juízo, fruto de ócio

12
INTERNACIONALIZAÇÃO E NOVOS CONTEÚDOS DE CURITIBA, Olga Lúcia Castreghini deFreitas
Firkowski, *Geógrafa, mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), doutora em Geografia pela
Universidade de São Paulo (USP), professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná
(UFPR)

26
obnubilante, mas tinham objetivos geoeconômicos e culturais, muitas vezes até envoltos numa
cortina prestidigitadora de levar a ¨religião verdadeira¨ aos povos pagãos, mas principalmente de
divulgar ou impor a cultura do descobridor e tomador de posse, a religião, e ainda por razões
geoestratégicas e econômicas, criando também novas divisões territoriais, escravizando nativos,
abrigando desterrados, v.g., pessoas indesejáveis mas controladas por autoridades encarregadas de
manter a disciplina tanto social quanto econômica e produtiva quanto fiscal, levando consigo ou
possibilitando que nos novos locais se estabelecessem manufaturas, oficinas, instituições diversas
como escolas que foram as sementes geradoras de empreendimentos e tecnologia, com objetivos de
desenvolvimento (vide Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos), e não só de bel-
letrismo, contemplações religiosas e espoliação de produtos naturais (vide América Latina, África).
Insere-se nessa discussão, outro caso sui generis, que foi o da descoberta do Canadá, feita
por ingleses, franceses e portugueses13, principalmente quando de suas procuras a pesca de
bacalhau, sendo que aos portugueses salgavam o peixe nos próprios navios e assim o levavam para
Europa, ao passo que os ingleses e franceses montavam ―barracões‖ próximos a foz do rio São
Lourenço, onde preparavam o peixe, levando-o já com valor agregado para seus países, além de
iniciar uma colonização com uma ¨indústria local¨, mesmo que artesanal e rudimentar.
Estas observações não pretendem ser exaustivas, mas apresentam os paradigmas de modelos
geo-centrais que procuravam e procuram manter as situações confortáveis em seus centros de poder
e decisão, cada um com metas iguais ou assemelhadas de manter e aumentar o seu poder e prestígio,
mas seguindo caminhos diversos, tais como, um dos modelos investindo produtivamente nos novos
domínios descobertos e conquistados, possibilitando o seu desenvolvimento, enquanto outros
procurando apenas se locupletar extraindo o máximo que conseguiam, evitando inclusive que os
novos locais desenvolvam suas potencialidades.
No decorrer dos tempos (séculos) os poderes centrais que tinham e continuam tendo por
meta resultados tangíveis através objetivos pragmáticos de desenvolvimento. Impõem de uma ou
outra forma os seus modelos e paradigmas, quer políticos, quer de desenvolvimento econômico,
social, a configuração e/ou reconfiguração de cidades, regiões, quer metropolitanas ou singulares,
seus consuetudinários aos que optaram por comodismo ou falta de visão de futuro, por não investir
no desenvolvimento que se tem por moderno.
Reportando-nos ao importante trabalho de Claudia Tomadonino concernente à
metropolização e glocaldependência da Região Metropolitana de Córdoba, é fundamental ter-se um
olhar para o que levou a região e o País a optar por receber como opção de desenvolvimento as

27
multinacionais com seus ônus sociais e bônus econômicos. Neste sentido é oportuno fazer uma
digressão à obra de Francis Fukuyama4 (FUKUYAMA, 2010, p. 211), pois há que se procurar nas
raizes históricas os problemas e bonanças atuais:

O conjunto de instituições econômicas que emergiu nas principais colonias espanholas beneficiou
grandemente a Coroa espanhola* e a elite dos colonizadores espanhóis, mas não promoveu a
prosperidade da América Latina. A grande maioria da população não tinha direitos de propriedade
garantidos e carecia de incentivos ou opotunidades para entrar em ocupações socialmente desejáveis
ou para investir. Essas instituições econômicas foram criadas e sustentadas no contexto de instituições
políticas específicas e de um determinado equilíbrio de poder político. Os europeus mantinham
regimes coercitivos sobre os mesmos (a menos que fossem impostas por seus países natais da
Europa). Essas instituições políticas geraram a estrutura e os incentivos que garantiram sua própria
continuidade e a permanência de um conjunto de instituições econômicas que não ofereciam bons
incentivos econômicos para a grande maioria da sociedade.

Com a digressão acima referida, pode-se ter um vislumbre da situação em Regiões


Metropolitanas onde empresas Multinacionais ou Nacionais de grande porte ou importância
estratégica passam a ocupar os espaços sociais e econômicos, alterando tomadas de decisões fora da
Região em apreço.
Tal fato é também observado com a inserção de mega-empresas nacionais em alguma região
metroplitana, v.g., Petrobrás, Embraer, e outras, quer públicas ou privadas, aportando novas
condições de afluência econômica, dado que seus executivos e funcionários graduados têm
notoriamente condições altamente diferenciadas em termos de poder de consumo e trânsito nas altas
esferas sociais, consumindo dos mais modernos e diferenciados produtos em supermercados da
região, influindo na possibilidade de novos instrumentos de lazer, como também em novos padrões
de moradias, quer individuais, quer condomínios exclusivos quer edifícios com arquitetura que lhes
seja mais afim.
Tais movimentos econômicos poderiam se dar de maneira mais transparente e harmônica,
houvesse a administração das regiões afetadas se ocupado decidamente no desenvolvimento da
própria região, o que no entanto implica na existência prévia de cultura de progresso, i.e.,
tcnológica, científica, e não apenas diletante..

METRÓPLE

É oportuno ter em mente o que significa metrópole e consequente metropolização, dado que
metrópole não pode ser confundida nem ser sinônimo de mera cidade grande A metrópole apresenta
características próprias que a distinguem de cidades meramente inchadas ou grandes.

28
Conforme Jarlusa Bottini Requia14 Batista de Oliveira15, em O Desenvolvimento das
Metrópoles: O Caso da Grande Curitiba, A metrópole ou cidade-região está inserida em um território
cujos limites com as cidades vizinhas estão tão próximos, que se tornam ―invisíveis‖.
A metrópole nacional (e também estadual ou provincial) é entendida ou vista como sendo a
cidade que devido às suas ofertas de serviços e ou recursos (em inglês facilities) e oportunidades
diferenciadas exerce influência e tem poder de atração sobre outras cidades e suas populações,
servindo de paradigma para as outras, que também podem ser metrópoles.
Há também as metrópoles que literalmente se agigantaram e continuam crescendo, como é o
caso de São Paulo, Rio de Janeiro e outras do Brasil, (não se ocupará neste trabalho das mega-
metrópoles como Nova York, cidade do México, Tókio, Hong Kong, e outras) que em virtude de já
serem centros de referência na geração de produtos e ou serviços, com larga tradição, atraindo
destarte empreendimentos multinacionais ou transnacionais. Nestes casos cria-se um situação em
princípio estranha, pois o que fornecem em termos de produtos ou serviços de conhecimento é
definido além das fronteiras nacionais, em função de fatores identificados a partir de suas matrizes,
suprindo demandas de um comércio globalizado, no qual se fornecem produtos e serviços de alto
grau agregado de conhecimentos técnicos. A atividade econômica, tanto no contexto da geração de
produtos físicos como peças, veículos, medicamentos, bebidas, alimentos, produtos de higiene,
limpeza, artigos de toucador e toalete, como na criação de bens de conhecimento v.g., programas e
sistemas de computador, peças artísticas das mais diversas esferas das artes cênicas, do comércio
em geral e de serviços do mais amplo espectro ocupacional, apresentam uma forte tendência a
denominada flexibilização da jornada, caracterizada pela remuneração enquanto o trabalhador de
qualquer nível de conhecimento quer tácito ou formal, só é ou será remunerado pelo tempo em que
estiver efetivamente produtivo.
Tal direcionamento cria novas situações nas quais o trabalhador deverá assumir as
responsabilidades antes assumidas pelo empregador, levando-o a ter que proceder sua programação
financeira com suporte para as horas inicialmente ociosas (talvez possa transformá-las em ócio
produtivo), antes suportadas pelo empregador já referido. Tal situação de desconforto ou até pasmo
inicial terá que ser administrada pelo trabalhador também já referido, o que implicará em ter
possibilidade e empenho em se atualizar sistematicamente para poder ser demandado em novas
tarefas, pois ao que se tem observado, com a evolução da ciência e da tecnologia, trabalho não
faltará, mas o trabalho no formato de emprego tende a minguar, em função de vários fatores, tais

14
Acadêmica do curso de ciências Econômicas da UNIFAE – Centro Universitário jarlusa@googlemail.com
15
Professor da UNIFAE – Centro Universitário gilsono@fae.edu

29
como o alto custo das folhas de salários com os respectivos encargos, que chegam a dobrar os
custos do empregado, sendo que as empresas não podem ou não querem mais bancar tais custos.
Isto posto, há a oportunidade e necessidade de aproveitar a nova realidade, onde se deixa a
comodidade do emprego fixo ou formal, passando-se do perigo inicial, e ele existe, pois nem todos
estão ou estarão preparados para os desafios e também, nem sempre querem ou podem ou têm
acesso à atualização nos pré-requisitos exigidos para tais desafios, que soem acontecer ou se fazer
presentes sem aviso prévio, não permitindo assim ao trabalhador estar já preparado e pronto quando
as oportunidades se anunciam e os profissionais sendo solicitados, criando-se um vácuo entre a
procura e a oferta de trabalhadores aptos para as oportunidades, e por outro lado uma legião de
desempregados ou subempregados.
Tal cenário cria novas condições quer nas metrópoles, quer inclusive no campo, sendo que
neste, a própria capacidade de conduzir produtivamente equipamentos agrícolas implica em
conhecimentos de informática, de georeferenciamento, quando anteriormente bastava saber
conduzir equinos, muares, ordenhar vacas, capinar com uma enxada, dirigir um trator ou
colheitadeira com conhecimentos mecânico-operacionais tácitos e Escola de ensino fundamental.
Ipso facto, assombram-se desafios que demandam constantes aperfeiçoamentos de
competências, como também e não menos importante, pró-atividade na direção de estar pari passu
aos novos desenvolvimentos das ciências, quer exatas, quer sociais, quer da saúde, quer agro-
veterinárias, quer da Previdência Social, dos transportes, das comunicações, da produção de
energias limpas, para poder pertencer, atuar e se beneficiar destas novas condições e não ser por
elas conduzido ou, pior, atropelado e alijado (Non duccor, ducco!).
Ainda há outros aspectos relevantes com a vinda e transformação das regiões onde se
instalam as grandes empresas, ou multinacionais, dado que estas soem trazer consigo uma rede de
fornecedores que já lhes são conhecidas pois, já foram por elas desenvolvidos, i.e., ou já produziam
o que tais empresas necessita por já serem detentoras de tecnologias importantes e estratégicas para
as que se instalam ou instalarão.
No entanto, não se pode simplesmente demonizar os atores de tal cenário, dado que as
recém-chegadas empresas na condição pós-fordista também procuram fornecedores locais,
desenvolvendo-os para lhes atender, desde que haja interesse e empenho em se adequar às
exigências das ditas, o que nem sempre é uma tarefa transparente e confortável, devido
principalmente à defasagens diversas tais como, lacunas de conhecimentos técnicos, qualidade dos
produtos ou serviços, agilidade no atendimento e outros aspectos.
Não se pode deixar também de mencionar as demandas por serviços públicos que tais
empresas ensejam v.g., fornecimento firme de energia elétrica, água tratada, esgoto, rede de águas
pluviais, hotéis e habitações modernos, estradas modernas, serviços modernos de telecomunicações,
30
aeroportos modernos, portos marítimos e /ou fluviais realmente eficientes, expeditos serviços
aduaneiros, competitividade logística, garantias jurídicas efetivas, leis trabalhistas claras, e assim
por diante.
Ou seja, tudo o que a maioria das cidades ou regiões metropolitanas ou pretendidas, costuma
oferecer trefegamente, gerando então para o Poder Público um enorme esforço e dispêndio com a
demanda de ter que se preocupar com aquilo que lhes eram problemas pouco interessantes devido à
falta de capacidade de prover o devido planejamento e execução sem comprometer os orçamentos
dos municípios da região em consideração, passando-se então à acomodação e desta ao caos, já que
o planejamento soe ser uma tarefa árdua, pois envolve mais do que uma carta de boas intenções,
contrapondo-se a muitos interesses já bem acomodados.
Esta nova sociedade da tecnologia, tanto a de baixo conteúdo de conhecimento indo até a
dita de tecnologia ou dita de ponta, atrai vários tipos humanos, mormente desejosos de
honestamente participar desse cenário.
No entanto, atrai também os oportunistas mal intencionados, desde meros meliantes até
criminosos de alta periculosidade, que sabedores da pouca capacidade de ação pró-ativa das forças
policiais das regiões metropolitanas em franco desenvolvimento, usufruem desse cenário para
praticar seus crimes, quer pequenos delitos até crimes hediondos, muitas vezes convictos da alta
improbabilidade de punições severas, haja vista uma atitude que salvo melhor juízo pode ser vista
ou sentida como leniência das autoridades, que pretendem combater o crime como se esse fosse
uma entidade auto-existente, e não têm atuação decisiva com os praticantes, pois são os criminosos
que praticam os crimes e, não os crimes que se auto-praticam. Este é um cenário bastante comum
em nossas regiões metropolitanas a ser resolvido pragmaticamente e não apenas repensado e
discutido (já o foi por muito tempo), e o cidadão que veio ―para fazer a vida‖ honestamente acaba
por ser vitimado por criminosos que se movem com a desenvoltura dos bravos e plenos de direitos.
É também oportuno lembrar que, no processo de desenvolvimento ou crescimento das
cidades, mesmo antes de se transformarem em metrópoles, há o natural e legítimo ímpeto de
cidadãos de diversos preparos intelectuais ou de meros conhecimentos tácitos (também úteis) de se
mudar para as cidades em desenvolvimento, com já citado.

O meio urbano é cada vez mais um meio artificial, fabricado com restos da natureza primitiva
crescentemente encoberta pelas obras dos homens. A paisagem cultural substitui a paisagem natural e
os artefatos tomam, sobre a superfície da terra, um lugar cada vez mais amplo (SANTOS, 1991, p.
42).

31
No entanto, tal vetor tem sido utilizado por mandraços e espertalhões que, sob a capa de
ideologias anacrônicas, prenhes de paradigmas estéreis, se aproveitam da incapacidade do Poder
Público, mesmo este tendo Ministérios e Secretarias diversas para atender a demanda por espaços
habitacionais e habitações, não ter a dinâmica adequada para suprir a demanda, demanda esta
forçada pelos espertalhões citados que, sob uma capa de movimento social esbulham imóveis para
ocupação. Tal aspecto está se tornando comum na nova realidade territorial brasileira, sem solução
e vista com simpatia ou complacência pelas autoridades e até passividade bovina de parte da
população, obnubilada por informações manipuladas nas quais se mostram efeitos sem as causas.
Observe-se que nem todos estão dispostos aos sacrifícios da educação continuada, que é
uma realidade e uma necessidade nesta era em apreço, o que demonstra ou aponta para uma
racionalidade que tenderá a levar a exclusão de qualquer oportunidade de manutenção ou ainda, de
ascensão social. Outro aspecto importante é o da enorme amplitude de oferta de oportunidades para
as quais os cidadãos, urbanos, suburbanos ou rurais, não têm necessariamente condições de
racionalizar, dado que são recentes demais, muitas vezes podendo ter títulos ou designações pouco
significativas, ou ocultando, mesmo não propositadamente, conhecimentos formais e ou tácitos
prévios ou ainda demandas em tempo real para as quais não estão preparados nem terão tempo de se
preparar, e seus conhecimentos de qualquer âmbito ou amplitude ou profundidade não serão
suficientes ou pior, inúteis.
Neste sentido, citar-se-á um (não se pretende ser exaustivo nem definitivo nem dogmático
neste exemplo) sendo apenas ilustrativo, tendo em vista a situação social real de um cidadão ou uma
cidadã à procura de se inserir num contexto moderno ou, usando o dialeto atual, pós-moderno, sem
citar sua formação formal ou tácita ou ambas, o tema: Gestão do Conhecimento. Parte-se da
etimologia da palavra conhecimento (poder-se-ia consultar Wittgentstein16 para iniciar o
esclarecimento sobre o significado de CONHECIMENTO ou também Karl Popper17) para entender
o significado de ciência ou pseudociência e, tentar etimológica e epistemologicamente entender o
que se deveria esperar de tal ou outros saberes, e aí, com conhecimento formal e também o tácito ou
seu tirocínio, decidir seu futuro empenho em tal ou outra área.

16
Wittgenstein, citado na Revista da Faculdade de Letras LÍNGUAS E LITERATURAS, Porto (Portugal)XIV- 1997, PP 205-219:em
QUESTÕES SOBRE O <<NOME>> NO PENSAMENTO DA LINGUAGEM DO SÉCULO XX ...Wittgenstein assume a
identidade do mundo cognoscível com os limites da linguagem, ao mesmo tempo que chama à atenção paraa necessidade filosófica
de uma revisão urgente das relações entre os conceitos e a linguagem, de modo a evitar especulações metafísicas sem fundamento
epistemológico adequado. FONTE: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2757.pdf(14.03.2011)

17
Karl Popper, citado emA DOUTRINA DO FALSEAMENTO EM POPPER, por Alexandre Marques,
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/popper5.htm , (14.03.2011). Para Popper, o problema central da filosofia da ciência reduz-se em grande
parte àquilo que ele designa do problema da demarcação, isto é, a tentativa de estabelecer um critério que permita distinguir as
teorias científicas da metafísica e/ou da pseudo-ciência.
32
A MODERNIDADE NO PLANO URBANO

A Modernidade é o fator preponderante na construção de um novo modelo de urbanização,


produzido nas últimas décadas.
A busca por uma definição da origem e definição da modernidade tem suscitado inúmeros
embates entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. A interface entre o que é antigo e
moderno faz parte dos embates que são travados na sociedade ao longo dos tempos.
No entender de Paz (1984, p.43-4) ―... a modernidade é um conceito exclusivamente
ocidental e não aparece em nenhuma outra civilização‖.
No outro sentido, iniciada no final do século XX, a pós-modernidade pode ser definida
como uma categoria histórica, o período de superação da modernidade (ou rompimento com esta),
quando ocorrem ao mesmo tempo uma grande evolução nas tecnologias, na cultura e na ciência e
mudanças no modo de se pensar a sociedade e suas instituições – uma mudança na sensibilidade,
resultado da reação à assimilação da estética modernista pelas esferas política e corporativa, o que
fez com que o modernismo perdesse cada vez mais a sua atraente característica de revolucionário.
No resgate do termo "pós-modernismo", é necessário contextualizá-lo historicamente. Dessa
forma,surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu
aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. Perry Anderson, conhecido pelos seus estudos dos
fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em "As Origens da Pós-Modernidade" (1999),
conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que imprimiu o termo pela
primeira vez, embora descrevendo um refluxo conservador dentro do próprio modernismo. Mas
coube ao filósofo francês Jean-François Lyotard, com a publicação "A Condição Pós-Moderna"
(1979), a expansão do uso do conceito.
A Modernidade, por sua vez,contempla um corolário de modificações nas estruturas
econômicas, sociais e políticas que abalaram o mundo ocidental, a partir do século XVII. Estas
grandes transformações estruturais foram produzidas através da conjunção de vários movimentos,
que atingiram o continente europeu a partir do final da Idade Média.
O parágrafo supracitado vem de encontro ao que preconiza Berman (1986, p. 16):

[...]a modernidade é compreendida como um conjunto de experiências compartilhadas por várias


pessoas que vivem num ambiente que é ao mesmo tempo movido pela mudança e pela aventura, pela
desconfiança e pela insegurança. Um sentimento que vem sendo experimentado pela sociedade há
cerca de cinco séculos. O ―turbilhão da vida moderna‖ tem sido alimentado por uma série de
processos sociais.

33
O que Berman procura esclarecer é que para ele, a modernização contempla na sua acepção,
as descobertas científicas, a industrialização da produção, a explosão demográfica, o crescimento
urbano, Estados nacionais mais fortes e, enfim, um mercado capitalista mundial.
Entre os postulados da modernidade, pode-se afirmar que esta também se materializa na
concepção de progresso, criando cenários imagéticos antes desconhecidos.
Ascher afirma que a modernidade não é um estado, mas um processo constante de
transformações da sociedade, condição que a diferencia das demais sociedades onde a mudança não
é o principio essencial.
Ascher destaca em especial a falta de sincronia entre a mutação cada vez mais rápida da
sociedade contemporânea e o processo mais lento de transformações do quadro construído. No
contexto brasileiro, tal constatação preocupante, pois, ao lidar com esta dupla temporalidade,
teremos que enfrentar os novos desafios da contemporaneidade, sem abandonar as demandas não
resolvidas das nossas cidades.
Numa perspectiva histórica, no decorrer do século XIX, registrou-se na Europa e Estados
Unidos um forte processo de mudança no quadro econômico e social urbano, como consequência da
Revolução Industrial.
É mistér afirmar que a Revolução Industrial trouxe como consequência uma revolução
urbana.
Nas definições de ―cidade‖ no plano da Geografia, constata-se um hiato com o modelo da
polis grega que representava o local do encontro, do debate cívico e da vida política ou da urbs
romana, que simbolizava um valor estético e a opulência do poder da época e mesmo da cidade
medieval que constituía o lugar da troca e do artesanato.
Nunca é tarde buscar em Calvino uma reflexão:

A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma
descrição de [...] como é atualmente deveria conter todo o passado de [...] Mas a cidade não conta o
seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas,
nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento
riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras (CALVINO, 1990, p. 14-15.O

Ela é, hoje, um redesenho da cidade industrial do início da era moderna, quando se


desenvolvem as relações entre o Estado, a economia e a sociedade, não só em âmbito local, mas
também em dimensão nacional e internacional, tornando-se olocus da vida contemporânea em
grande parte do mundo.
No que se refere às mudanças paradigmáticas na forma de pensar as cidades e suas
denominações ancoradas em conceitos no prisma do planejamento urbano, deve-se ressaltar que as
34
as ―reformas urbanas‖ realizadas no final do XIX e nas primeiras décadas do século XX podem ser
caracterizadas, por fim, como operações radicais de superação da forma urbana colonial e de
produção da forma urbana capitalista nas cidades brasileiras, ou ainda como mais um exemplo de
imposição autoritária da modernidade, como já havia ocorrido em outras cidades mundiais .
Para Soja, Los Angeles é a cidade onde todos os espaços, todas as historicidades se
confrontam, demonstrando um grande caleidoscópio, no qual transformou-se a grande cidade dos
dias atuais.
A Pós-Modernidade constituiu-se em uma série de desprendimentos, produzidos por
rupturas nas estruturas do conhecimento moderno.
Surge, pois, a utopia urbana da cidade moderna, planejada, funcional e racional, e buscavam
dar corpo a esse projeto de modernidade voltado para o futuro, mas que fincava suas raízes no
presente.
Em relação ao pós-moderno, Giddens (1991) assevera que ainda uma possibilidade no
horizonte da sociedade humana. Conseguimos observar apenas alguns relances, de seus possíveis
pressupostos. Vivemos o que ele próprio denomina de ―alta Modernidade‖, onde suas características
se radicalizaram. Define também a Modernidade como um período onde ocorreu o desencaixe
tempo e espaço. O tempo desvinculou-se do lugar. Vários espaços simultâneos surgiram na vida do
homem e o tempo deixou de vincular-se a natureza. O Moderno, produzido a partir do século XVII
atinge seu ápice na atualidade.

CONCLUSÃO

Os estudos sobre as cidades, no campo da Geografia, têm sido alvo de mudanças sensíveis
no que toca especialmente as perspectivas teóricas e o tratamento do objeto.
A cidade efetivamente passa por transformações, mas tal processo é permeado pela forte
permanência de paisagens, práticas e características que remetem a épocas passadas.
Considera-se que todas as práticas espaciais e temporais de toda a sociedade são abundantes
em sutilezas e complexidade e que todo e qualquer projetam de transformação da sociedade deve
apreender a complexa estrutura da transformação das concepções e práticas espaciais e temporais.
A urbanização da humanidade implica na coexistência, em espaços densos, de diferentes
realidades, que caracterizam o modo de vida urbano nos dias de hoje.
O processo de urbanização se iniciou com a cidade industrial, quando concentrou em seu
espaço a população consumidora, os trabalhadores e as condições gerais de produção.
Outrossim, na era dita Pós-Moderna ou da tecnologia, segundo Ascher, as pessoas se tornam
mais racionais, o que não deve ser entendido como mais éticas ou mais conscientes socialmente.
35
Isto posto, observa-se nas pessoas uma procura mais racional, mais pensada em custo versus
benefício de morar em tal ou outra cidade, bairro ou região, ou país, levando em conta
oportunidades, risco sociais (revoluções, direitos e deveres, riscos s ambientais inclusive os gerados
pela dinâmica da natureza onde o fato gerador não é antrópico) e benefícios atuais e futuros. Como
a dinâmica - não só a tendência, é a da necessidade de ciência e tecnologia geradora de resultados
(de pouco adianta uma ciência médica que não produza possibilidade de curas e se perca em
obnubilações e sofismas, quer biológicos quer filosóficos), os cidadãos devem ter a oferta
acessível de preparo intelectual formal e prático para se manter atualizados e não se tornar
competências descartadas.
Isso posto, é inevitável que o espaço urbano ao longo das décadas vem ser tornando um
grande palco de conflito das estruturas da modernidade com suas próprias certezas: mudam-se os
modos de estar na cidade e as maneiras de se produzir sentido sobre ela.
Nesse século, assevera-se que a pós-modernidade faz parte da modernização por apropriação
de territórios e valores locais pelos conglomerados globais. Essa tendência dupla, à mundialização e
a micro-territorialização se amplia e se desdobra em formas específicas de produção do espaço
físico e em formas alternativas de organização territorial, desenho e gestão. Nesse processo são
ainda consideradas novas formas de articulação, como consórcios, redes e fóruns, inclusive virtuais.
.
4 REFERÊNCIAS

ASCHER, François. Novos princípios de urbanismo. São Paulo: Romano Guerra, 2009.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986.
CALVINO, Í. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
FUKUYAMA, Francis. Ficando para trás. Rio de Janeiro 2010, Editora Rocco.
GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 2002.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo 2006. 3ª Edição.Editora Martins fontes

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 5. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 3. ed. São Paulo:

SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas. A reafirmação do espaço na teoria socialcrítica. Rio


de Janeiro: Zahar, 1993.

36
ENCHENTES NA PERSPECTIVA DA TERRITORIALIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE
SÃO JOÃO DEL-REI – MG

Vicente de Paula LEÃO (DEGEO/UFSJ) - leao@ufsj.edu.br

Carla Juscélia de Oliveira SOUZA (DEGEO/UFSJ) - carlaju@uol.com.br

Inêz A. de Carvalho LEÃO (Escola Estadual Dr. Garcia de Lima) - iacl@bol.com.br

Resumo

O texto discute o problema das enchentes em cidades, como reflexo da apropriação inadequada do
solo, do relevo urbano e do desrespeito à dinâmica fluvial. Essa discussão considera a noção de
globalização e territorialização dos espaços. Em São João del-Rei, por falta de informação ou por
omissão, o processo de ocupação do entorno do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro ocorreu
sem planejamento necessário e em desrespeito ao caminho das águas superficiais no meio urbano.
Nessa discussão é considerada a importância de se pensar as enchentes na perspectiva da interação
sociedade-natureza pelas abordagens político-econômica. E, também, as relações de poder que
definem a ocupação do espaço e como territorialidades se chocam com a natureza.

Palavras-chave:Espaço urbano, territorialidade, enchentes, dinâmica fluvial.

Abstract

The paper discusses the problem of flooding in cities, reflecting the misappropriation of soil, relief
in urban and disrespect to the river dynamics. This discussion considers the notion of globalization
and regionalization of spaces. In São João del-Rei occupation process surrounding the Rio das
Mortes and stream Lenheiro occurred without the necessary planning and in contravention of
surface water in the urban environment. This may be due to lack of information or omission. In the
discussion is considered the importance of thinking about the floods in nature-society interaction by
political-economic perspective. And also, the power relations that define the space occupation and
how territorialities clash with nature.

Keywords: Urban space, territoriality, floods, river dynamics

37
Introdução

Este texto aborda o problema das enchentes em São João del-Rei, considerando os impactos
ambientais presentes em alguns pontos da bacia hidrográfica, como sendo possíveis contribuintes
para a elevação do nível das águas do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro. Além da discussão
dos impactos ambientais negativos, o debate sobre enchentes considera as relações de poder que
definem a ocupação do espaço e como territorialidades se chocam com os limites da natureza.
Por falta de informação ou por omissão, o processo de ocupação da planície fluvial e do
entorno do Rio das Mortes e de seus afluentes, notadamente do Córrego do Lenheiro que atravessa
a cidade de São João del-Rei/MG, ocorreu sem o planejamento necessário. A planície de inundação
do Rio das Mortes foi ocupada influenciada pelo incentivo do poder público, que promoveu a
doação de lotes. Bairros inteiros foram construídos ao longo do referido rio e de seu afluente -
Córrego do Lenheiro. A visão parcial dos fenômenos impede uma ação mais eficaz do poder
público e da sociedade em prol da construção de uma nova territorialidade urbana. Por isso, a
importância de se apropriar dos fatos cotidianos da cidade, como objeto de estudo, de discussão e de
socialização tanto no âmbito acadêmico quanto no da sociedade.

1. Espaço urbano e as águas superficiais

O espaço urbano se constrói a partir das relações de poder entre aqueles que habitam ou se
apropriam dos espaços da cidade, denominados por Corrêa (1993) como agentes construtores do
espaço urbano. Esses compreendem desde os proprietários dos meios de produção, os proprietários
fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e até os grupos sociais e excluídos. Esses agentes,
de maneira direta ou indireta, podem ser influenciados na escala local pelos interesses de outros, em
escala global. Os mecanismos da globalização têm influenciado cada vez mais na produção do
espaço urbano, quando áreas são ocupadas com fins específicos de atender demandas de origem
externa como, por exemplo, o fornecimento de bens de produção para diversas atividades
industriais situadas em outros territórios. Ou ainda, como a atividade de extração mineral que
atende a demanda nacional e internacional. Logo, as territorialidades urbanas são definidas por
agentes que não vivem o cotidiano da cidade, mas que precisam dotar o espaço com os aparelhos
técnicos para a produção do capital. Conforme Benjamin (1991 p.32) ―os novos paradigmas
estabelecidos pelo industrialismo, favorece o surgimento de uma nova relação entre espaço e tempo,
substituindo as produções pautadas pelas relações sociais de contexto locais de interação‖. Para
Giddens (1991, p.29), essas relações de interação local são substituídas,

38
[...] por relações abstratas, dissociando produção, consumo e mercado, cada um
passando a obedecer as suas próprias lógicas, seus próprios relacionamentos, como
forma de deslocar os vínculos sociais, antes holísticos, para uma relação impessoal
mediada pelas mercadorias.

As paisagens urbanas assumem funções e revelam as estruturas de poder e os processos


históricos que as originaram. Sua constituição, na maioria das vezes, se dá sem respeito aos limites
da natureza e seu movimento contínuo. A incapacidade de a humanidade perceber e/ou aceitar esse
movimento contribui para que o espaço seja ocupado de forma irregular.
Em diferentes tempos e lugares, as paisagens revelam a interdependência dos elementos da
natureza e sua inter-relação com as atividades humanas. Essa relação constitui um instrumento
valioso para entender como os espaços se organizam. As formas criadas pelo homem resultam de
processos históricos nos quais convivem, dialeticamente, uma cultura homogeneizadora, construída
a partir de parâmetros globais, e uma cultura local, resultante de valores e costumes remanescentes.
É justamente essa territorialidade construída para a produção do capital que se choca com os limites
da natureza. Na maioria das cidades brasileiras a ocupação da planície de inundação provoca
enchentes e destruição de bens materiais e, atenta, contra a vida. Nas palavras de Hissa (2002, p. 22)

[...] a planície é o rio. Ela não existe sem sua presença recortante, líquida e
paciente. Em seu trabalho secular, o rio é veículo de transporte. Carrega partículas
menores nas estações secas; abandona as maiores nas curvas mais lentas do
conjunto de seus meandros [...] quando chega o verão chuvoso, o rio solidário
acolhe a tempestade e transforma-se nela.

As palavras do autor revelam a dinâmica natural do rio em seus três leitos: vazante, leito
menor e leito maior. De acordo com a estação do ano, o rio extrapola sua calha, que contém o leito
vazante e o leito menor e passa, então, a drenar o leito maior. Este constitui a área da planície,
também conhecida como várzea e planície fluvial. O seu aspecto topográfico plano, podendo ser
largo ou estreito, contínuo ou descontínuo, estimula a ocupação do solo e de uma parte do relevo
que adquire status de terreno, propriedade e de lugar.
O transbordamento do leito menor para o leito maior pode ser agravado pelos tipos de uso e
ocupação que ocorrem em toda a bacia. A retirada da mata ciliar para facilitar o acesso e ocupação
das margens, favorece o desbarrancamento dessas, assim como a pavimentação do solo contribui

39
para o maior e mais rápido escoamento superficial, dificultando a infiltração de parte da água
superficial pluvial. A ausência de cobertura vegetal nas vertentes e margens, combinada com a
exposição do solo nu, contribui para a liberação de material que será transportado e depositado no
leito menor. A relação entre quantidade material retirado e a capacidade de transporte fluvial do rio
leva ao assoreamento do mesmo, quando o volume fluvial não é suficiente para carrear toda a carga
de sedimentos que chega ao leito menor durante o ano. Essa situação, de ocupação das planícies
fluviais e a geração de obstáculos para a infiltração das águas superficiais e para os caminhos
preferenciais para escoamento pluvial, é observada em diferentes trechos do sítio urbano de São
João del-Rei.
O processo de ocupação da cidade de São João del-Rei – MG, inicia-se em função da
exploração do ouro. Com o fim dessa riqueza várias cidades coloniais passaram por um período de
dificuldades econômicas. O belíssimo patrimônio arquitetônico construído nos períodos áureos não
possuía nenhum valor econômico com o fim do ciclo do ouro, chegando a ser renegado com o
advento da República, visto que as cidades coloniais representavam a lembrança material da
presença do colonizador europeu. Tal fato contribuiu para a degradação de parte desse patrimônio.
Na segunda metade do século XX, com o desenvolvimento do turismo de massa, São João del-Rei
descobriria sua atual vocação. No período entre o fim do ciclo do ouro e o turismo de massas,o Rio
das Mortes e seus afluentes garantiram a continuidade da ocupação dessa área, marcada pela
atividade agropecuária.
A construção na planície fluvial permitiu que a população, que até então se dedicava à
extração mineral, pudesse se desenvolver. Além de sedimentar e fertilizar o solo, permitindo as
atividades agrícolas, o barro do Rio das Mortes e seus afluentes permitiram o surgimento de
atividades ligadas ao artesanato. Porém, essa natureza pouco alterada sucumbiu ao avanço da
tecnologia, durante o período intitulado técnico-científico-informacional, quando equipamentos de
mineração e fábricas foram introduzidos na cidade. Conforme Cunha e Guerra (2000, p. 337)

O final do século passado e início deste século, denominado como o novo período
técnico-científico-informacional, segundo Santos e Silveira (2001), é caracterizado
por uma sociedade cada vez mais dependente de tecnologias e produtos que passam
a impor um novo ritmo de vida, de exploração dos recursos naturais e,
consequentemente, repercutindo nos processos geomorfológicos. Nesse sentido o
homem passa a ser considerado como um importantíssimo agente geomorfológico
que cria/recria novos processos ou, em grande parte dos casos, intensifica os
processos já existentes, levando a degradação ambiental.

40
Em São João del-Rei, o uso do meio para a extração de minério, para abastecer o mercado
fora do município, resultou em riquezas para uns, inclusive para o poder público local e em prejuízo
para muitos, inclusive para o ambiente por meio de impactos negativos diretos na bacia do Rio das
Mortes, conforme mostrado na figura 1.

Figura 1 – Assoreamento do Rio das Mortes provocado pela perda e degradação do solo das vertentes
Fonte: Google Earth.

O solo desprotegido permitiu o transporte de grande quantidade de sedimentos para o leito


do rio, diminuindo sua calha e, consequentemente, aumentando os riscos de enchentes nas cidades
que se encontram no seu entorno.

Para Santos (1996, p.199),

Os lugares se especializam, em função de suas virtualidades naturais, de sua


realidade técnica, de suas vantagens de ordem social. Isso responde à exigência de
maior segurança e rentabilidade para capitais obrigados a uma competitividade
sempre crescente. [...] Na medida em que as possibilidades dos lugares são hoje
mais facilmente conhecidas à escala do mundo, sua escolha para o exercício dessa
ou daquela atividade torna-se mais precisa. Disso, aliás, depende o sucesso dos
empresários. É desse modo que os lugares se tornam competitivos. O dogma da
competitividade não se impõe apenas à economia, mas também à geografia.

41
As novas exigências de um território pensado e construído para facilitar os fluxos de ideias,
mercadorias e capitais mudaram as relações entre as diferentes localidades. Para Rafestini (1993, p.
152-153),

Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações pequenas ou grandes,


encontram-se atores que ‗produzem‘ o território. De fato, o Estado está sempre
organizando o território nacional [...] O mesmo se passa com as empresas e outras
organizações [...]. O mesmo acontece com o indivíduo que constrói uma casa [...].
Essa produção de território se inscreve perfeitamente no campo de poder de nossa
problemática relacional. Todos nós elaboramos estratégias de produção, que se
choca com outras estratégias em diversas relações de poder.

Essas estratégias de organização do espaço são o produto da atividade humana sobre a


superfície terrestre. É a partir do conflito de interesses entre a sociedade e o capital que a cidade se
constrói. A figura 2 mostra parte da bacia hidrográfica do rio das Mortes, ocupada pelas cidades de
São João del-Rei (à esquerda do rio) e Santa Cruz de Minas (à direita).

Figura 2 – Áreas urbanas de São João del-Rei-MG e Santa Cruz. Ocupação da planície
do Rio das Mortes e seu córrego do Lenheiro.
Fonte: Google Earth, 2012.

Ambas as cidades desenvolveram-se em trechos pertencentes à planície fluvial do Rio das


Mortes, desrespeitando seus limites e seu movimento natural. No trecho entre as áreas urbanas e a
canal do rio é possível perceber ausência de vegetação arbórea, arbustiva e a presença de vegetação
rasteira. Grande parte da vegetação natural foi retirada para o uso agrícola e pastoril décadas atrás.
Mais tarde, muito dessas áreas foram loteadas e hoje transformadas em bairros, com o incentivo do
poder público local.

42
Figura 3 - destruição da mata ciliar e a ocupação irracional da planície de inundação
Fonte: Google Earth
A figura 3 mostra um trecho do Rio das Mortes, próximo da av. Leite de Castro, onde é
possível perceber a parte côncava do rio próxima à área de galpões e de residências. Em sua
dinâmica natural, o fluxo do canal realiza processo de retirada de material na porção côncava e o
depósito na convexa. Com o passar do tempo, o canal do rio tende a avançar sobre as áreas dos
galpões e das residencias, pois o processo erosivo, nesse trecho, é mais ativo e faz com que o rio se
aproxime da área ocupada. Assim, à medida que o rio avança sobre essas ocupações, parte da
população tenta proteger-se aterrando o mesmo, o que contribui para criar novos pontos de enchente
na parte montante do rio. Essas intervenções constituem impactos negativos sobre a dinâmica
fluvial, logo sobre o ambiente como um todo. Nas palavras de Sobral (1996, p. 16)

As cidades são as maiores propulsoras dos impactos que o homem causa à natureza
e onde mais se alteram os recursos naturais: terra, água, ar e organismos. Através
da urbanização, o homem criou novos ambientes nos quais há complexas
interações entre os grupos humanos, seus trabalhos e a natureza. Conforme
aumenta o tamanho das cidades, aumenta essa complexidade. Observa-se que as
construções de uma sociedade [...] estão também sujeitas aos processos físicos que
operam na natureza, mas com uma dinâmica diferente. É importante que se
compreenda melhor a dinâmica dessas relações nas áreas urbanizadas.

A citação de Sobral (1996) destaca e reforça a importância de se conhecer a dinâmica e os


processos naturais, assim como a relação dos processos sociais com os naturais.

2. São João del-Rei no caminho das águas superficiais

A cidade de São João del-Rei-MG, principalmente o seu centro histórico, é drenada pelo
Córrego do Lenheiro. Esse córrego recebe, em dias de chuva, grande quantidade de água
43
decorrente: a) do aumento natural do índice pluviométrico, b) da ineficiência do sistema de
drenagem subterrânea da água pluvial; c) do acúmulo de lixo que entope as ―bocas-de-lobo‖
(bueiros) e impede a drenagem subterrânea e d) da impermeabilização do solo urbano pelo asfalto,
impedindo o processo de infiltração das águas. A impermeabilização provocada pelo asfalto e a
quantidade de lixo transportado pelo Córrego do Lenheiro até o Rio das Mortes, combinados com o
volume de material particulado carreado para o leito menor, contribuíram para o transbordamento
do córrego do Lenheiro durante o verão, como ocorreu em janeiro de 2012.
Medidas para conter o processo de transbordamento do rio, no trecho central da cidade,
compreenderam há anos: a retificação do canal, a ampliação do leito menor com o alargamento da
calha e retificação do leito vazante modificado (Figura 4). Apesar disso, quando ocorrem chuvas
excepcionais, verifica-se a incapacidade do Córrego do Lenheiro de reter e dar vazão à grande
quantidade de água e sedimento transportados em período de chuva. Em poucas horas o córrego
extrapola o seu leito vazante e sua calha e passa a ocupar todo o leito menor (Figura 5), provocando
enchentes nos trechos à jusante.
Além do fenômeno de transbordamento, as águas superficiais que drenam São João del-Rei,
encontram-se também poluídas e contaminadas. Essa má qualidade das águas favorece a
proliferação de doenças entre a população ribeirinha e a presença de animais peçonhentos. A
contaminação se deve ao lançamento direto do esgoto da cidade, sem tratamento prévio.
Todos esses fatores descritos atuando em conjunto revelam um modelo de ocupação do
entorno do Córrego do Lenheiro que não considerou o caminho natural das águas.

Figura 4 - Córrego do Lenheiro antes da chuva.Fonte: Fotos dos autores

44
Figura 5 – Córrego do Lenheiro depois da chuva.Fonte: fotos dos autores

Pode-se dizer que, as catástrofes que são atribuídas às chuvas ou ―trombas-d‘água‖ são, na
verdade, resultado da ocupação inadequada no espaço pelo homem. Em São João del-Rei/MG,
assim como nas principais cidades do país, as enchentes são resultado da falta de planejamento das
cidades que não respeitam os limites na natureza e o caminho percorrido pelas águas.

As tragédias provocadas pelas enchentes causam dor e indignação. O depoimento de um


morador que teve seu bairro invadido pelas águas do rio é revelador da percepção reducionista
sobre o fenômeno das enchentes. Nas palavras desse morador: ―Isso é coisa de Deus‖ (2012). As
palavras desse cidadão refletem o sentimento de boa parte da população que culpa as margens do
rio. Resignados, imaginavam que Deus, por algum motivo, quisera castigar seus filhos enviando a
enchente. Os responsáveis pela ocupação irracional do espaço são absorvidos visto que, diante da
―fúria de Deus‖, só resta a resignação. Essa perspectiva de entendimento da relação
sociedade/natureza é identificada por Nunes (2009) como de Perspectiva de Submissão. Esta se
verifica entre grupos, povos que integram as catástrofes e/ou desastres naturais em suas crenças e
mitos – como no caso dos povos da Mesopotâmia, Grécia Antiga, Astecas e hoje no Havaí,
Austrália, China, Malásia, Índia e algumas nações indígenas brasileiras (NUNES, 2009). Nessa
perspectiva a presença da passividade, do conformismo das pessoas diante o fato gera a falta de
ações intensivas e de medidas técnicas e científicas para evitar os maiores danos sociais. Nessa
perspectiva, governantes se beneficiam das crenças e mitos de seu povo, de sua população.
Além dessa perspectiva, Nunes (2009) aborda a do ―Combate‖ e a da Interação.A primeiraé
pautada na ideia de ―revanche ou vingança‖ da natureza, a qual, nessa perspectiva, vem nos últimos
séculos sendo intensamente destruída e modificada, principalmente com o advento técnico-
científico. Essa visão autocentrista, pela qual tudo seria controlado pelo ser humano, simplifica o
sistema complexo, que são os fenômenos naturais, atribuindo uma causalidade aos fenômenos,
quando na realidade não o é. Nessa perspectiva, podem-se apontar culpados, podem-se fazer
pressões políticas e econômicas sobre um culpado em detrimento de outros de acordo com os

45
interesses econômicos e políticos. Ou seja, por causa da ação de um interesse econômico, como o
do sistema capitalista, ações sobre os elementos fizeram com que essa natureza se ―rebelasse‖, e
voltasse-se contra os homens. Nessa lógica, os processos e sistemas da natureza existem e são
reconhecidos, mas são pensados como sistema isolado dos sociais.
A perspectiva de Entendimento e Interaçãopauta-se naleitura dos desastres como sendo
resultado da interação de diferentes aspectos sociais, econômicos, políticos (sociais) e físicos
(naturais). Nessa interação revelam-se as formas de ocupação do território, o empobrecimento de
parcelas da população, a falta de infraestrutura adequada e a ineficiência dos sistemas
organizacionais e políticos perante as necessidades da sociedade (NUNES, 2009) e às condições dos
demais componentes do espaço, como o relevo.
Ao considerar no estudo do espaço urbano a questão das áreas de riscos socioambientais,
como áreas ribeirinhas e encostas, deve-se fazer a Geografia que considere o Entendimento e a
Interação entre processos naturais, como os físicos-naturais e os sociais, como o processo de
produção e consumo do espaço, entre outros (SOUZA, 2010).
Para Leão (2005, p.13), ―O ato de conhecer exige múltiplos olhares, ver a mesma coisa de
forma diferente e criar, assim, um espaço para se atribuir um novo significado ao que chega aos
nossos olhos‖. O caminho percorrido pelas águas urbanas, talvez seja o mais perfeito e conflituoso
momento de encontro do meio técnico com a natureza, e, por consequência, exige o rompimento
das fronteiras intradisciplinares entre a Geografia Física e a Geografia Humana.
O espaço é o mediador dos conflitos de interesses que constroem as territorialidades. Cabe a
todos assumirem responsabilidades e não serem indiferentes ao que acontece na cidade.

3. Considerações finais

As enchentes em espaços urbanos como uma questão socioambiental é também questão


política, economia, cultural e de entendimento das formas e processo de apropriação do espaço e da
criação de territórios. Perceber esses territórios, por aqueles que vivem a cidade é necessário.
Portanto, é importante observar e refletir sobre o espaço geográfico urbano, atento à dinâmica dos
fluxos - de pessoas, de carros, de capital, de comunicação, de ideias, das águas pluviais e fluviais,
bem como estar atento à presença e construção de novos fixos. Estes compreendem edificações,
espaços privados, centros e ruas comerciais, indústrias, loteamentos – que continuamente
promovem alterações no espaço e na dinâmica dos elementos da natureza. O ritmo do trabalho e da
vida cotidiana impede, muitas vezes, de se observar esses fixos e fluxos e de se projetar seus
possíveis efeitos na vida urbana, como a ocorrência de enchentes. Portanto, torna-se fundamental
apropriar-se dos fatos ocorridos nos espaços urbanos como objetos de discussão e instrumentos de
formação cidadã, na sociedade hodierna, em prol da busca da qualidade de vida.
46
Referências

BENJAMIN, W. Paris: capital do século XIX. In: Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1991.

CORRÊA, Roberto L. O espaço urbano. 2. ed. São Paulo: Editora Ática. 1993.

CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antonio J. T. Degradacao ambiental. In: CUNHA, S.B.;
GUERRA, A.J.T. (orgs.). Geomorfologia e Meio Ambiente. 4a ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2000.

GIDDENS. Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.

HISSA, C.E.V. A Mobilidade das Fronteiras: Inserções da Geografia na Crise da Modernidade.


Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.

LEÃO, Vicente de Paula. A Geografia e as diferentes formas de ver o Mundo. Texto apresentado no
8º ENPEG – Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia. Dourados-MS. 2005
NUNES, Luci Hidalgo.Compreensões e Ações frente aos padrões espaciais e temporais de riscos e
desastres. Coimbra: Territorium, n.16; 2009
RAFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática. 1993.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço:técnica e tempo; razão e emoção. São Paulo: Hucitec,
1996.

SOBRAL, H. R. O meio ambiente e a cidade de São Paulo. São Paulo: Makron Books, 1996.

SOUZA, Carla J. O. Dinâmica do relevo no estudo geográfico urbano: discussão teórica e prática. V
Simpósio Ibero Latino Americano de Geografia Física. Coimbra, Portugal, 2010.

47
ÁGUAS URBANAS E PRODUÇÃO DO ESPAÇO EM ARACAJU/SE: UMA PROPOSTA DE
PERCURSO METODOLÓGICO18

Daniel Almeida da SILVA (DGEI/UFS) – laruzosergipe@gmail.com

Resumo

O método adotado em qualquer pesquisa delineia a compreensão e leitura de mundo do


pesquisador, além de refletir diretamente o contexto histórico e os paradigmas filosóficos que
ampararão os resultados finais. Assim, procurar-se-á neste artigo apresentar uma reflexão de
modelo que responda a uma pesquisa que tem como base estudos ambientais urbanos. Em
específico, apresenta uma proposta de metodologia que analise as questões ambientais urbanas do
município de Aracaju – SE, sobre o viés da questão hídrica, entendido aqui como Águas Urbanas.
Problemas ambientais urbanos dizem respeito tanto aos processos de construção da cidade e,
portanto, às diferentes opções políticas e econômicas que influenciam as configurações do espaço,
quanto às condições de vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos de vida e as
relações interclasses. Os processos de expansão e transformação urbana proporcionam baixa
qualidade de vida a parcelas significativas da população. Desse modo, configura-se como um
trabalho de assaz importância para os estudos geográficos, uma vez que observa-se um hiato em
pesquisas dessa categoria em âmbito acadêmico. E justifica-se a partir do momento em que os
problemas de escoamento de águas pluviais e fluviais, a distribuição, o acesso e a qualidade dos
recursos hídricos se caracterizam em problemas atuais e de grande monta na cidade de Aracaju, que
desde sua fundação nega a sua vocação de cidade das águas.

Palavras-chave: Meio Ambiente; Águas Urbanas; Produção do Espaço; Método.

Abstract

The method adopted in any research expresses the understanding and reading of the world of the
researcher, and directly reflect the historical and philosophical paradigms that will confirm the final
results. Thus, this paper will present a model that responds reflection of a survey that is based urban
environmental studies. In particular, proposes a methodology to analyze the urban environmental

18
Este artigo faz parte de uma pesquisa de Doutorado sobre Águas Urbanas em Aracaju, desenvolvido no Núcleo de
Pós-graduação em Geografia – NPGEO da Universidade Federal de Sergipe – UFS.

48
issues of the city of Aracaju - SE, on the optics of the water issue, understood here as Urban Waters.
Urban environmental problems relate both to the construction of the city and therefore the different
policy options and settings that influence economic space, as the conditions of urban life and
cultural aspects that inform the ways of life and interclass relations. The processes of urban
transformation and expansion provide lower quality of life to a significant portion of the population.
Therefore, this study is of great importance for geographic studies, since there is a gap in research
of this caliber in the academic study This is justified because there are problems of stormwater
runoff and river transport, distribution, access and quality of water resources are characterized in
current problems in the city of Aracaju, which since its founding denies his vocation as a city of
waters.

Keywords: Environment, Urban Waters; Production of Space; Method.

Introdução

Problemas ambientais urbanos dizem respeito tanto aos processos de construção da cidade
e, portanto, às diferentes opções políticas e econômicas que influenciam as configurações do
espaço, quanto às condições de vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos de vida
e as relações interclasses. Os processos de expansão e transformação urbana proporcionam baixa
qualidade de vida a parcelas significativas da população. Há ainda que se considerar o contexto
atual. Desse modo, sobre a importância do tema FRANÇA, salienta que:

Ao longo do século XX o fenômeno da urbanização se acentua em todo o mundo, variando


de intensidade e de formas, em decorrência das peculiaridades locais e das diversas relações
que se processam com outras áreas, assumindo novas dinâmicas a partir dos diversos
estágios do desenvolvimento capitalista. Assim as questões urbanas ganham relevância
diante da comunidade, exigindo seu acompanhamento e, por conseguinte, seu estudo.
(2000, p. 133)

No município de Aracaju isso não é diferente, pois que também há falta de políticas
integradas de desenvolvimento urbano e de ações articuladas, que seriam próprias de uma gestão
compartilhada, e também pela a ausência histórica de procedimentos desse tipo, agravaram-se as
inadequações no uso e ocupação do solo com impactos de ordem ambiental.
Nesse contexto, o crescimento urbano de Aracaju sobre um terreno em que os fatores
hidrológicos se apresentavam e se apresentam como um enclave ao seu espraiamento e, isto aliado a
uma falta de planejamento, acarretou problemas que carecem de respostas rápidas e ações
mitigadoras. E a academia deve se propor a estudos e discussões de ordem pragmática!
49
Autores como Mota (1997) e Wilken (1978) alertavam para a necessidade de que os
projetos urbanísticos e os projetos de drenagem urbana devessem integrar políticas únicas de gestão.
O ciclo hidrológico deveria ser conservado com a utilização de técnicas de conservação da água e
do solo. A ocupação do solo deveria garantir as condições mínimas para a preservação das águas. O
saneamento básico deveria incorporar as políticas de resíduos sólidos e as águas pluviais.
Tais preocupações, no entanto, não têm sido capazes de evitar que, ainda nos dias de hoje,
poucas mudanças tenham ocorrido na metodologia de elaboração dos projetos de drenagem das
águas pluviais das cidades. A elaboração dos arranjos e as premissas básicas de projeto têm sido as
mesmas nas últimas décadas, apesar de tímidas ações para a implementação de alternativas que
pudessem viabilizar alguns dos ideais da Agenda 21, como por exemplo, a proposta de implantação
das taxas de permeabilidade e a detenção das águas pluviais protegendo os cursos receptores.
Assim, analisando a cidade como resultado do processo de construção social, é necessário
também que lancemos um olhar sobre as condições das bases físicas que a compõe. Sobre essa
temática, chama-nos a atenção MENDONÇA, quando salienta que, ―[...] a cidade, não é somente
uma construção humana; ela é esta construção somada a todo um suporte que a precedeu – Natureza
– mais as atividades humanas‖ ( 2004).

Águas Urbanas e Produção do Espaço em Aracaju

O método adotado em qualquer pesquisa delineia a compreensão e leitura de mundo do


pesquisador, além de refletir diretamente o contexto histórico e os paradigmas filosóficos que
ampararão os resultados finais. Assim, procurar-se-á apresentar uma reflexão de modelo que
respondam uma pesquisa que tem como base estudos ambientais urbanos. Em específico, apresenta
um estudo sobre a malha urbana do município de Aracaju – SE, sobre o viés da questão hídrica.
Serão consideradas três vias de análise para a construção proposta: i) análise da dimensão histórica,
associando assim o crescimento urbano com a ocupação de áreas alagadas, inumação e retificação
de canais fluviais; ii) avaliação da dimensão ambiental, em que se buscará fazer um mapeamento da
hidrologia urbana assim como os impactos negativos atuais decorrentes do mesmo e; iii) análise
integrada e conclusiva da dimensão social, política e jurídica sobre as condições hídricas atuais da
capital.
Assim, a reflexão que se pretende sobre os estudos arrolados neste intento de pesquisa,
encontra rebatimentos na análise de estudos socioambientais, a em especial sobre os impactos, e
remete, portanto, a compreensão dos processos de ordem político-econômico-institucionais, dos
quais são resultantes.

50
Desse modo, o cerne de toda ciência pauta-se no conjunto de conhecimento racional,
sistemático, exato, onde se possa fazer uma verificação dos resultados obtidos. Logo, este estudo
envolverá uma série de condições e operações que serão desenvolvidas por etapas.
A partir do momento que é definido e delimitado o objeto desta pesquisa, tomar-se-á um
procedimento metodológico amparado no viés da ciência, em que:

―[...] os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento


em sistemas, traçam de modo ordenada a forma de proceder do cientista ao longo de um
percurso para alcançar um objeto pré-estabelecido‖ (FERRARI, 1974, p. 24).

Desse modo, buscar-se-á aqui utilizar três métodos que respondam, de maneira coerente, as
questões de pesquisa e que validem ou não as hipóteses, são eles: O Geossistema-Território-
Paisagem GTP, proposto por Bertrand (2007), a Fisiologia da Paisagem de Ab‘Saber (1969) e a
Análise da Sócio-Espacialidade (1977) miltoniana. Ressalte-se que a opção da bricolagem desses
três métodos não invalida e nem torna os resultados antagônicos, pois, cada modelo se adéqua de
forma a dar uma resposta de totalidade de análise síntese. É pensar a união desses três paradigmas a
proposta de se fazer um estudo que ambicione desfazer ou atenuar a clivagem entre os estudos
físicos e humanos e propor, portanto, uma visão integrativa da relação sociedade/natureza.
O modelo do sistema tríade de BERTRAND, o GTP, foi desenvolvido a partir da
observação da complexidade que existe no dinamismo das paisagens. Em 1997, durante o VII
Simpósio Nacional de Geografia Física Aplicada, ele apresentou um modelo de análise pautada em
três entradas ou vias metodológicas, a saber, fonte-recurso-aprisionamento, e são alicerçadas em
critérios de antropização, artificialização e artialização.
Para esta pesquisa, a adoção do modelo renovado Bertrandiano do GTP justifica-se e
aplica-se a partir do momento que servirá de método adequado para responder ao viés da tese em
que pese a análise a dimensão dos aspectos de da interação das condições físicas, entrada
Geossistema, suas repercussões através dos impactos, entrada Território e entrada Paisagem,
voltado mais para os aspectos culturais. O objetivo, portanto, é analisar o funcionamento do espaço
geográfico Aracaju em sua totalidade. Portanto, conforme PISSINATI e ARCHELA:

―[...] a metodologia do GTP serve não só para a delimitação e representação cartográfica


das áreas, mas principalmente para a detecção dos problemas existentes no local e o grau de
responsabilidade da ação antrópica sobre os mesmos, assim como o planejamento de
estratégias para conter, reverter ou amenizar os impactos já causados‖ (2009).

Ressalte-se que este método propõe atender a um dos vieses da pesquisa, ou seja, a análise
da histórico/territorial sob o ponto de vista do entendimento dos condicionantes físicos –
51
Geossistema – e suas retroalimentações com a ocupação – território – e impactos – paisagem.
Destarte, contribuirá para o mapeamento e diagnósticos da/na hidrologia urbana decorrentes da
apropriação da/na natureza.
A Fisiologia da Paisagem é um método desenvolvido por Ab‘Saber (1969) o qual foi
adaptado e utilizado por outros autores, a exemplo de Casseti (2005) e, também por aqueles que
abordam mais os aspectos geomorfológicos. A Fisiologia representa o terceiro nível de análise dos
estudos, posterior ao primeiro nível que é a compartimentação topográfica regional e, o segundo
nível que é a estrutura superficial da paisagem.
É neste terceiro nível que se procura entender as interferências promovidas pelo homem no
meio natural e mais especificamente nas formas de relevo. O autor argumenta que:

Evidentemente, variações sutis de fisiologia podem ser determinadas por ações antrópicas
predatórias, as quais na maior parte dos casos são irreversíveis ao ―metabolismo‖ primário
do meio natural. Na verdade, a intervenção humana nos solos responde por complexas e
sutis variações na fisiologia de uma determinada paisagem, imitando até certo ponto os
acontecimentos de maior extensividade, relacionados às variações climáticas quaternárias
(Ab`Sàber 1969, p.2).

Conti (2001) ao resgatar a metodologia da fisiologia da paisagem em artigo publicado na


revista do Departamento de Geografia, inferiu os objetivos propostos na extinta disciplina do
currículo de bacharelado em Geografia da USP:
 Levar à compreensão da organização, do funcionamento e da dinâmica das
paisagens, especialmente as tropicais.
 Enfatizar o estudo e a análise integrada dos elementos constituintes das paisagens.
 Compreender e discutir conceitos, leis e influências das ações antrópicas.

Dessa forma, a fisiologia da paisagem é compreendida como uma abordagem


metodológica, que procura em seus três níveis de tratamento, compreender a dinâmica estabelecida
no metabolismo primário natural, bem como nas interferências antrópicas registradas, como por
exemplo, na configuração de um metabolismo urbano.
Referente à formação sócioespacial das áreas de risco, Santos (1977) afirma que a
formação social, totalidade abstrata, não se realiza na totalidade concreta senão por uma
metamorfose onde o espaço representa o primeiro papel, ou seja, é de formações sócio-espaciais
que se trata. Isto é, há uma peculiaridade, a cidade não é construída homogeneamente.
Para a consecução prática da pesquisa, pode-se utilizar como procedimentos
metodológicos, primeiramente uma reflexão sobre a realidade que se revela sobre os aspectos

52
hidrológicos da cidade de Aracaju, procurando desse modo, situar o tema a ser pesquisado. A seguir
realizam-se leituras de diferentes autores, enfatizando aqueles que abordam o conceito de produção
do espaço, da historiografia, assim como aqueles que trabalham com gestão dos recursos hídricos e
gestão de territórios. Saliente-se que essas leituras objetivam alargar e apoiar a discussão dos
conceitos e ideias que embasarão a tese, não obstante, terá como conceitos-chave a paisagem e o
território, entendidos enquanto resultados de ações produtivas da sociedade e materializados por
meio da existência social nos lugares de sistemas objetivos produzidos pela ação dessa sociedade.
Ainda, no tocante as leituras arroladas, buscar-se-á compreender o papel do Estado
enquanto gestor do território e, consequentemente das formações sócio-espaciais. Também será
necessário analisar a historiografia regional, para se entender o que aconteceu na cidade de Aracaju
a partir dastransformações sócio-espaciais. E, por fim, torna-se necessário a leitura de obras ligadas
às Políticas de Gestão de Recursos Hídricos.
Para os procedimentos metodológicos alguns dados devem ser levantados e atualizadas
através de informações obtidas na rede mundial de computadores e nos sites da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) e do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), as quais serão devidamente referenciadas.
Serão realizadas investigações documentais em materiais bibliográficos nos arquivos do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), incluindo, por exemplo, atas e ordens de
execução de obras públicas ligadas à hidrogeografia urbana de Aracaju. Esses procedimentos
propiciarão fazer uma reconstrução da história urbanística da área estudada, desde a sua fundação,
em 1855, até os dias atuais; possibilitará também uma visão geral do processo que envolve a gestão
das águas urbanas. Também, serão feitos levantamentos de dados secundários referentes aos
aspectos fisiográficos, em especial, os que tecem sobre geologia, geomorfologia, hidrografia e
climatologia, no intuito de subsidiar a fisiologia da paisagem e as análises preconizadas no modelo
GTP Bertrandiano.
Os dados referentes aos projetos mais atuais e ligados às questões como obras urbanas e
ocupação imobiliária serão coletadas junto aos órgãos estaduais e principalmente municipais, a
saber, Empresa Municipal de Obras e Urbanização – EMURB – e na Empresa Municipal de
Serviços Urbanos – EMSURB –, neste ponto, abrangerá os projetos concluídos e os projetos em
execução. Estes dados serão catalogados, sistematizados e analisados, servindo de valiosa fonte de
informação para o enriquecimento da pesquisa.
Além destes, os dados ligados aos impactos naturais e sociais podem ser conseguidos na
Defesa Civil, atrelada à Secretaria de Estado de Inclusão Social e Assistência. Esses dados,
juntamente com as entrevistas e visitas à campo, contribuirão na análise da sócio-espacialidade e

53
atende ao terceiro viés da tese que é análise integrada e conclusiva da dimensão social, política e
jurídica sobre as condições hídricas atuais da capital.
O trabalho de campo constituir-se-á de participação em algumas reuniões nas assembleias
de associação de bairros. A efetividade da participação nestes encontros com vistas à realização de
observação das reinvindicações das comunidades quando a pauta trouxer à tona discussões sobre
aspectos que estejam atrelados direta ou indiretamente aos conflitos envolvendo a questão hídrica,
proporcionará o compartilhamento da vivência dos sujeitos pesquisados, além da participação, de
forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas atividades. De acordo
com Severino (2007, p. 120) ―o pesquisador coloca-se numa postura de identificação com os
pesquisados. Passa a interagir com eles em todas as situações, acompanhando todas as ações
praticadas pelos sujeitos‖.
Dessa forma, a partir da observação das manifestações dos sujeitos, bem como as situações
vividas, registram-se todos os elementos observados assim como as análises e considerações que
fizer ao longo dessa participação (SEVERINO, 2007).
Ainda nesta etapa da pesquisa de campo, são realizadas várias entrevistas com
preenchimento de formulários, junto aos atores envolvidos, além da coleta de depoimentos verbais
nos intervalos das reuniões. A conversa restrita ao campo da informalidade com alguns atores,
representantes, principalmente da sociedade civil, agregará valiosas contribuições à construção e
consolidação do pensamento crítico-reflexivo. Tais informações devem ser sistematizadas e
devidamente referenciadas convergindo para a sustentação ou refutação da proposta inicial contida
nos objetivos específicos. Pode-se também selecionar alguns projetos para serem visitados in loco.
Neste caso em específico, será dada preferência aos projetos de construção de galerias de águas
pluviais.
Nas visitas realizadas a algumas das comunidades serão realizadas entrevistas com os
moradores do entorno das obras, através do uso de formulários, elaborado com perguntas abertas e
fechadas (dicotômicas).
Será feita a opção pelo uso do formulário por se tratar de instrumento essencial ―para a
investigação social, cujo sistema de coleta de dados consiste em obter informações diretamente do
entrevistado‖, caracterizado pelo contato face a face entre pesquisador e informante, além de ser o
roteiro de perguntas preenchido pelo entrevistador, no momento da entrevista (LAKATOS &
MARCONI, 2005, p. 214).

54
NATUREZA E SOCIEDADE: UM ESTUDO DAS
ÁGUAS URBANAS EM ARACAJU
(Percurso Metodológico)

Dimensão Histórico/Territorial Dimensão Ambiental Dimensão Sócio-espacial

GTP FISIOLOGIA DA PAISAGEM SÓCIO-ESPACIALIDADE


(Bertrand) (Ab’Saber) (Milton Santos)

TOTALIDADE

PROCEDIMENTOS

Levantamento Investigações
Bibliográfico Documentais Levantamento de
Campo

Geografia Urbana IHGSE


Canais Hidrográficos

Legislação Ambiental / DEFESA CIVIL


Riscos, Vulnerabilidades
Associações de
Moradores
EMURB, EMSURB
Recursos Hídricos
Sítio Urbano

SEMARH
Métodos da Geografia
Áreas de Risco
IBGE
Natureza
Organização / Tratamento
Aplicação de
Estatístico / Análises
Questionários e
Entrevistas

PRODUÇÃO DO ESPAÇO

RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA
Figura 01: Esboço metodológico para estudos geográficos sobre Espaços Urbanos e Recursos Hídricos.

55
Finalmente, os dados primários e secundários coletados através das entrevistas,
formulários, visitas e levantamentos bibliográficos serão tratados e analisados. A seguir, segue uma
apresentação gráfica do percurso metodológico.

Considerações Finais

Os estudos ambientais urbanos assumem na atualidade um papel de assaz importância no


planejamento, e re(ordenamento) territorial das cidades. Cabe à Geografia, portanto, analisar,
desvendar, diagnosticar e propor ações mitigadoras em busca da qualidade ambiental, que por sua
vez, reflete diretamente na qualidade de vida.
Do mesmo modo, o espaço urbano é traduzido através das contradições oriundas das
desigualdades que marcam o estágio atual do sistema capitalista. A crise estrutural do capital
plasma-se nas diferentes paisagens presentes nas cidades. Estudar essas contradições, por vezes,
esbarra-se em um problema metodológico que é próprio da geografia, e não é nos estudos
ambientais urbanos: a diversidade de métodos.
Procurou-se aqui, mostrar que na atualidade é dever do pesquisador lançar mão de pré-
conceitos e ideologias ingessantes e, sob a luz de uma análise epistemológica acurada criar através
da bricolagem um método ou um conjunto deles, desde que não se contraditem, que propicie uma
análise coerente e profunda sobre os problemas ambientais urbanos e consiga assim, contribuir para
o crescimento da ciência e melhoria nas condições das sociedades.

Referências

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Universidade Federal de Londrina, 2009.

57
QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA

Dênis Decussatti – decussatti@hotmail.com


Laboratório de Estudos sobre Cultura, Turismo e Desenvolvimento - LATURD/UEPB/CNPQ

Maria Dilma Simões Brasileiro– dsbrasileiro@gmail.com


Laboratório de Estudos sobre Cultura, Turismo e Desenvolvimento - LATURD/UEPB/CNPQ

Resumo

Historicamente o desenvolvimento foi associado à ideia de crescimento econômico. Esta associação


não se traduziu em oportunidades igualitárias de desenvolvimento, prejudicando os países menos
desenvolvidos. As desigualdades sociais destes países acentuaram-se, revelando-se como um dos
principais entraves nas políticas de desenvolvimento. Entretanto, superar as desigualdades sociais
faz parte da construção de um modelo de desenvolvimento mais justo e equilibrado. A
sustentabilidade social, bastante prejudicada por um modelo excludente, é componente essencial à
construção do desenvolvimento sustentável. Esta atenção relacionada às questões sociais fez
emergir no discurso do desenvolvimento, um olhar mais criterioso para as condições de vida das
populações locais. O despertar de um modelo de desenvolvimento atento às questões sociais,
influencia na expansão dos estudos sobre esta problemática, emergindo assim, preocupações
relacionadas à qualidade de vida. A partir desta perspectiva, o desenvolvimento assume a ideia de
conservação ambiental, cuidados quanto ao consumo consciente ou demais medidas essencialmente
ambientais e qualidade de vida para a população local. Neste sentido, a qualidade de vida passa a
ser compreendida de forma mais ampla, considerando as percepções, os desejos e anseios de cada
comunidade. A percepção que a população possui sobre qualidade de vida tem sido útil,
principalmente quando utilizada como fonte de informação relevante para determinar as metas e
estratégias do desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Desenvolvimento; Desenvolvimento Social; Qualidade de Vida.

Abstract

Historically the development was associated with the idea of economic growth. This association has
not translated into equal opportunities for development, undermining the LDCs. Social inequalities

58
in these countries have widened, revealing itself as a major constraint on development policies.
However, overcoming social inequalities is part of building a development model more fair and
balanced. Social sustainability, greatly hindered by an excluding, the building is an essential
component of sustainable development. This attention related to social issues did emerge in the
discourse of development, a more careful look to the living conditions of local populations. The
awakening of a development model attentive to social issues, influences the expansion of studies on
this issue, thus emerging, concerns related to quality of life. From this perspective, the development
takes the idea of environmental conservation, care about conscious consumption or other measures
essentially environmental and quality of life for local people. In this sense, the quality of life
becomes more widely understood, considering the perceptions, desires and aspirations of each
community. The perception that people have about quality of life has been useful, especially when
used as a source of information relevant to determining the goals and strategies of sustainable
development.Keywords: Development, Social Development, Quality of Life

INTRODUÇÃO

Durante décadas, os países ao buscarem o seu desenvolvimento optavam por utilizar a


estratégia do crescimento econômico. Esta perspectiva de desenvolvimento tem como base a crença
de que os países alçariam melhores índices de desenvolvimento ao elevar seu poder econômico. O
enriquecimento dos países indica ser o caminho mais sólido e garantido na realização dos anseios
das nações em tornarem-se mais desenvolvidas. A valorização da dimensão econômica é, segundo
este modelo, o mais apropriado e confiável, pois enriquecer tem o mesmo sentido de desenvolver-
se. Com base nesta perspectiva, desenvolvimento e crescimento teriam a mesma finalidade, ou seja,
encontrar nos recursos econômicos para a solução das dificuldades vividas pelos países.
Segundo Becker e Wittmann (2008), esta relação entre crescimento econômico e
desenvolvimento é consequência da forte influência do processo de industrialização. Esse era um
dos caminhos mais rápido e eficiente para o acúmulo de capital, favorecendo assim o
desenvolvimento. Os países industrializados eram considerados os mais propícios a tornarem-se
futuras nações desenvolvidas. Diante de um modelo de valorização da dimensão econômica, os
países industrializados são os mais promissores, já que estes são os mais prósperos financeiramente
e, portanto, propícios ao desenvolvimento.

Mesmo valendo-se da capacidade industrial como meio de enriquecimento, atribuir o


desenvolvimento dos países ao crescimento econômico sugere controvérsias. A política de acúmulo
de capital a qualquer custo não resultou necessariamente em países mais desenvolvidos.
Transformar os países em nações mais ricas não tem gerado os resultados almejados. Muito pelo

59
contrário, observou-se que o intenso crescimento econômico não se traduziu necessariamente em
maior acesso as oportunidades de desenvolvimento (VEIGA, 2008). O modelo de desenvolvimento
com base no crescimento econômico começa a ser questionado, por não oportunizar a todos os
países esta possibilidade. Evidencia-se uma distribuição desigual das oportunidades de
desenvolvimento, agravando assim as antigas desigualdades já existentes.
Sen e Kliksberg (2010) apontam que a distribuição não equitativa dos benefícios do
desenvolvimento, gera um distanciamento ainda maior entre os países. Para os autores, a questão
não é se os países mais pobres recebem algum benefício com o modelo vigente, mas se eles podem
participar de forma igualitária, com oportunidades justas de desenvolvimento. Esses desequilíbrios
nas oportunidades têm como consequência a disparidade, onde nações menos desenvolvidas não
podem obter o mesmo êxito que outras favorecidas por esse modelo.
A supervalorização da dimensão econômica agravou as desigualdades entre os países,
prejudicando o progresso dos menos desenvolvidos. Esta supervalorização da dimensão econômica
resultou não apenas em uma acentuação da desigualdade entre os países, mas em uma disparidade
interna ainda maior. Sen e Kliksberg (2010) comparam entre a distância existente entre os 10%
mais ricos e os 10% mais pobres da população de alguns países. Para os autores, quanto menor for
esta distância, menor são as desigualdades do país. Países como Finlândia, Noruega e Suécia, a
distância entre os mais ricos aos mais pobres não superam 7 vezes. No Brasil, país desfavorecido no
modelo economicista de desenvolvimento, esta distancia é de 51,3 vezes.
Este distanciamento aponta o quanto países menos desenvolvidos, como no caso o Brasil,
foram desfavorecidos com a adoção de um modelo excludente de desenvolvimento. Crescer
economicamente não gerou índices satisfatórios de desenvolvimento para estes países e resultaram
em uma espécie de visão míope as questões sociais. Ainda segundo Sen e Kliksberg (2010), inserir-
se neste modelo de desenvolvimento, tornou o Brasil uma das economias mais desenvolvidas do
mundo, mas com o desenvolvimento humano comparado aos estados mais pobres da Índia. Este
descaso com as questões sociais tornou-se um entrave ao desenvolvimento do país.
Superar as desigualdades sociais faz parte da construção de um modelo de desenvolvimento
mais justo e equilibrado. Entretanto, os países menos desenvolvidos, possuem dificuldades em
reverter essa desigualdade social, devido a uma pressão sofrida pelos países mais desenvolvidos.
Países desenvolvidos como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos exercem uma pressão sobre
aqueles em processo de desenvolvimento, para que estes países adotem medidas de precaução em
relação as suas estratégias de desenvolvimento. Entretanto, caso os países desenvolvidos tivessem
cumprido as exigências impostas por eles mesmos, dificilmente teriam alcançado os mesmos
índices de desenvolvimento que possuem nos dias atuais (CHANG, 2004).

60
A reflexão trazida por Chang (2004), não está sobre a adoção ou não adoção destas medidas
de precaução. Em um mundo onde as nações buscam desenvolver-se a qualquer custo, certamente é
cabível uma maior cautela relacionada às políticas de desenvolvimento e suas consequências. A
questão está no quanto os países foram e ainda são prejudicados por um modelo de
desenvolvimento marcado pelo modelo econômico. Para Chang (2004), esta preocupação dos países
desenvolvidos em regular as metas de desenvolvimento de outros países, revela muito mais uma
estratégia política para garantir sua situação favorável, evitando que outros países se desenvolvam,
do que uma preocupação verdadeira com as consequências que as políticas de desenvolvimento
possam gerar.
Nesta perspectiva, Sachs (2008) aponta que a situação dos países menos desenvolvidos
torna-se ainda mais desfavorável, quando é analisada a grande parcela do tempo de trabalho destino
a atividades de subsistência, a fraca capacidade de poupança desses países devido às altas dívidas
externas e a vulnerabilidade a importações, por esses países não possuírem uma produção industrial
significativa. Nesta visão, estes países que foram historicamente prejudicados por um modelo de
desenvolvimento excludente, continuam desfavorecidos nos dias atuais. Estas desvantagens torna
ainda mais difíceis o processo de desenvolvimento dos países menos desenvolvidos, mantendo-os
mais distantes da superação de suas problemáticas, como a desigualdade social.

O DESPERTAR PARA A RELEVÂNCIA SOCIAL

A desigualdade social apresenta-se, portanto, como uma das principais limitações ao


desenvolvimento dos países. Vlek (2003) ressalta que esta desigualdade social nos países menos
desenvolvidos é acentuada por uma exacerbação dos interesses individuais, colocando em risco a
sustentabilidade social. Para o autor, os interesses estão sendo direcionados às questões individuais,
enquanto os assuntos coletivos, como a questão da desigualdade social, estão sendo esquecidos e
ignorados. Entretanto, são os interesses nos assuntos coletivos que estimulam ações de cidadania e
contribui para a sustentabilidade social.
Para Moura (2010), analisando a sustentabilidade com base em Bourdieu, ressalta que a
sustentabilidade social esta vinculada a definição de hábitos primários. Para o autor, hábitos
primários é o padrão mínimo de participação na esfera social, que confere a dignidade e as
condições mínimas de reconhecimento e respeito social. Sendo assim, a sustentabilidade social
também está vinculada a generalização desses hábitos primários, ou seja, no aumento dos índices de
participação sociais com dignidade.

Mesmo com as dificuldades de superação das desigualdades, a sustentabilidade social


gradativamente desperta interesse junto às estratégias de desenvolvimento, especialmente nos países

61
menos desenvolvidos. Elegê-la como uma das prioridades, transforma o homem em um dos
principais beneficiários do desenvolvimento. Coriolano (2001) ressalta a importância da
centralidade do desenvolvimento no humano, afirmando que promover o desenvolvimento
direcionado as questões sociais é o maior desafio da atualidade. Entender o ser humano como centro
da ação e assegurar uma vida digna e igualitária é o principal objetivo de uma estratégia de
desenvolvimento humanizada.
Corroborando com Coriolano (2001), Cruz (2008) afirma que o pressuposto do
desenvolvimento tem de ser humano e social. Essa concepção de desenvolvimento assegura a
sociabilidade e o direito a uma vida digna a todos os cidadãos, restaurando as falhas de um processo
excludente. Estas são as adaptações de um modelo amadurecido, na busca de firmar a relevância de
uma sociedade historicamente ignorada.
Sachs (2008) argumenta que a sustentabilidade social, ambicionada por políticas de
desenvolvimento, é um componente essencial do desenvolvimento sustentável. Para o autor, o
verdadeiro desenvolvimento sustentável deve englobar preocupações sobre questões sociais. Nesta
visão, o estabelecimento de um modelo excludente acentuou as desigualdades sociais, prejudicando
a possibilidade dos países de adotarem um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
O desenvolvimento sustentável, evidenciado por suas ações de preservação ambiental,
considera fatores importantes direcionados as questões sociais. Confirmando esta tendência, Sachs
(2008) aponta que os pilares que qualificam o desenvolvimento como sustentável são a viabilidade
econômica, a prudência ecológica e a relevância social. Na perspectiva do autor, a sustentabilidade
deve ser observada por vários ambitos e dimensões. O discurso da prudência ecológica e de
viabilidade econômica, presença garantida em discussões que envolvam o tema, constituem apenas
dois dos três pilares essenciais à sustentabilidade. O outro pilar essencial é a relevância social, e
considerá-la é igualmente importante na definição de metas e estratégias de um modelo de
desenvolvimento sustentável.
Nesta emergente perspectiva de valorização as questões sociais, Sachs (2009) aponta que a
relevância social deve ser entendida como prioridade, por constituir-se a própria finalidade do
desenvolvimento. Para o autor, a finalidade do desenvolvimento sustentável é proporcionar
melhores condições de vida ao ser humano, e por isso, a relevância social deve ser entendida
sempre como uma prioridade, pois de fato, ela representa o desenvolvimento. O ser humano
gradativamente conquista seu espaço diante das políticas de desenvolvimento, que por sua vez,
confirmam as preocupações em proporcionar melhores condições de vida aos cidadãos (SACHS,
2008).
O desenvolvimento sustentável possui preocupações sobre as condições de vida das pessoas,
tendo por finalidade melhorá-las. Para Sen (2000), abre-se caminho para uma perspectiva mais
62
ampla dentro da discussão do desenvolvimento, a qual considera o nível de vida das pessoas,
comoum indicativo deste novo paradigma. Emerge uma preocupação em expandir as oportunidades
sociais, favorecendo uma maior liberdade à população, traduzindo-se em melhores condições de
vida aos cidadãos. Uma população com maior liberdade, como a de possuir uma boa saúde e uma
educação básica, influencia na possibilidade do ser humano viver melhor.
Entretanto, é preciso estar atento para que as ações que promovam liberdade e melhores
condições de vida para a geração atual, não influenciem negativamente as gerações que estão por
vir. Preservar e expandir as liberdades substantivas de que as pessoas hoje desfrutam sem
comprometer a capacidade das futuras gerações desfrutarem de liberdade semelhante é de
responsabilidade da nossa espécie (SEN, 2000). O desenvolvimento sustentável, na busca por
melhores condições de vida para geração atual, necessita permanecer em estado de vigilância nas
consequências do desenvolvimento por ele estimuladas, desenvolvendo uma espécie de
solidariedade com as futuras gerações (VEIGA, 2005). Neste contexto de solidariedade entre as
gerações, cresce a preocupação com a qualidade de vida da população.

A QUALIDADE DE VIDA COMO FINALIDADE

A partir do compromisso solidário entre as gerações, o discurso do desenvolvimento


sustentável fez emergir, portanto, um olhar mais criterioso para as condições de vida das
populações. Na década de 80, o despertar de um modelo de desenvolvimento atento às questões
sociais, influenciou na expansão dos estudos sobre essas problemáticas, emergindo assim,
preocupações relacionadas à qualidade de vida (JANNUZZI et all, 2002). Desde então, considerar a
qualidade de vida dos cidadãos, transformou-se em condição primordial na definição de objetivos a
serem alcançados ou preservados pelas políticas de desenvolvimento sustentável.
Teixeira (2005) considera que a premissa do desenvolvimento sustentável está em
proporcionar maior qualidade de vida ao ser humano. Para o autor, não faz sentido ignorar a
qualidade de vida que as pessoas desfrutam, em virtude da supervalorização de outras dimensões,
como exemplo, as questões ambientais. A preocupação excessiva as problemáticas ambientais pode
acabar gerando uma espécie de miopia as demais dimensões da vida humana. Muitas vezes, o
discurso do desenvolvimento sustentável é encarado, como se a solução dos problemas ambientais
implicassem automaticamente na resolução dos problemas sociais. Embora os impactos ambientais
gerem consequências à qualidade de vida da sociedade, as problemáticas sociais são diferentes das
ambientais.
Atento as problemáticas sociais, Buarque (2008) aponta a conservação ambiental e a
eficiência econômica como objetivos do desenvolvimento sustentável, mas destaca principalmente,
63
a equidade social e a qualidade de vida das populações. Na perspectiva do autor, emerge uma
preocupação não apenas com as condições simples e objetivas em que a população vive, mas com a
qualidade da vida que as populações usufruem. Neste contexto, adquiri relevância no discurso do
desenvolvimento sustentável, preocupações relacionadas aos aspectos qualitativos da vida humana.
Segundo Sachs (2008), o desenvolvimento sustentável vai muito mais além da ideia de
conservação ambiental, cuidados quanto ao consumo consciente ou demais medidas essencialmente
ambientais. O seu verdadeiro sentido esta relacionado à possibilidade das pessoas alcançarem uma
vida melhor, mais feliz e completa para todos. As condições em que as pessoas vivem e suas
percepções quanto a estas mesmas condições, começam a ser determinantes nas políticas de
desenvolvimento. Para o autor, o desenvolvimento sustentável faz sentido quando pode contribuir
de forma significativa a vidas das pessoas, fortalecendo os aspectos valorizados pela própria
comunidade.
Nessa visão, o debate sobre desenvolvimento sustentável e qualidade de vida desperta para
uma maior amplitude, envolvendo vários fatores, ganhando qualidade em seu discurso. Para Rocha
et al (2000) ressalta que a qualidade de vida está relacionada, além da necessidade de um olhar mais
criterioso para as questões ambientais e econômicas, a uma ampliação nas escolhas pessoais tais
como, moradia, alimentação, meio ambiente, lazer e cultura. Esta visão macroscópica representa
uma tendência de agregar outros valores essenciais à vida do ser humano, proporcionando assim,
um maior bem estar em função das suas relações sociais.
Neste sentido, a qualidade de vida passa a ser observada de forma mais ampla, na tentativa
de compreender as percepções, os desejos e anseios de cada comunidade. Esta compreensão é
importante para o desenvolvimento sustentável, no sentido de facilitar o entendimento do
significado que cada local possui sobre qualidade de vida. Karruz et all (2002), a qualidade de vida
é um conceito construído socialmente, e por cada comunidade específica. A subjetividade própria
ao tema enfatiza a importância de relevar as percepções que cada comunidade possui sobre a
qualidade de vida que almeja.
Para Pontual (2002), entender a percepção da população, é fundamental para gerar novos
significados sobre a qualidade de vida de uma população. A percepção de qualidade de vida varia
de acordo com aspectos históricos e culturais de cada local. Devido a esta variação, para o autor, a
qualidade de vida requer elementos ligados à subjetividade, agregando o diagnóstico de elementos
vinculados aos desejos, aos medos e aos sonhos da população. A valorização desta visão subjetiva
confirma a necessidade de entender a percepção que os indivíduos possuem da qualidade de vida
própria de cada local.
A percepção que a população possui sobre qualidade de vida tem sido útil, principalmente
quando utilizada como fonte de informação relevante para determinar as estratégias de garantir esta
64
mesma qualidade de vida para a população (KARRUZ et all, 2002). Cada comunidade possui uma
visão específica dos valores que simbolizam seus desejos e anseios na construção e valoração da
vida. Estes desejos variam de acordo com a cultura de cada região e, por isso, necessitam ser
considerados nas estratégias de desenvolvimento de cada local.
A partir desta compreensão dos significados, os governos tendem a buscar a melhoria da
qualidade de vida da população a partir do incentivo à participação popular. A inserção social nas
políticas de governo, fortalecendo o diálogo entre comunidade e governantes, é essencial, por
entender que a própria população é conhecedora dos seus problemas e entraves do seu
desenvolvimento. Contudo, a população ciente da sua realidade e de suas necessidades, auxilia na
tomada de decisões e definição de metas futuras, com o intuito de maximizar a qualidade de vida e
conquistar melhores índices no desenvolvimento sustentável (WESTPHAL, 2000).
O Programa Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) tem esta preocupação em
reacender a participação social em sua política. Às ações coletivas é parte integrante dos objetivos
da política de desenvolvimento nacional. Segundo o PNDR (2007), seus objetivos são promover a
inserção social da população, a capacitação dos recursos humanos e a melhoria da qualidade de vida
da população envolvida. Portanto, a política de desenvolvimento do país entende que a participação
ativa dos cidadãos, são as respostas para reacender os interesses coletivos, que irá promover uma
melhoria na qualidade de vida da população, gerando assim, resultados mais satisfatórios
relacionados ao desenvolvimento.

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67
A SUSTENTABILIADE NA CULTURA DO BARRO: RELATOS DA COMUNIDADE DE
ARTESÃOS DO ALTO DO MOURA, CARUARU-PE

Edcleide Maria da SILVA (MGP/UFPE) – edcleidesilva@yahoo.com.br

Laura Maria Brito de MEDEIROS (MGP/UFPE) – lauramariameideiros@yahoo.com.br

Thaysa Danyella Lira MARQUES (PROPAD/UFPE) – tahud@hotmail.com

Ianara Alves de ALMEIDA (MGP/UFPE) – ianara.almeida@bol.com.br

Resumo

As relações entre as comunidades locais e seu entorno têm adquirido importância no debate da
sustentabilidade, sobretudo, quando se busca um olhar para a diversidade cultural que supere a ideia
de cultura hegemônica. Nesses termos, elegeu-se como campo empírico a comunidade de artesãos
do Alto do Moura, situada em Caruaru-PE, região banhada pelas águas do rio Ipojuca, o que, a
princípio, favoreceria a cultura agrícola. Contudo, as dificuldades impostas pelo clima semiárido,
somadas à tradição da produção ceramista herdada do povo cariri, conduziram a comunidade a
enxergar o rio para além de suas águas. Assim, o barro tornou-se matéria-prima essencial para a
subsistência das famílias. Contudo, a exploração desorganizada dos recursos naturais provocou a
exaustão das jazidas de argila. Em virtude dessas transformações, discute-se a sustentabilidade a
partir da identidade local, usando como corte epistêmico o paradigma da complexidade de Morin,
por reconhecer a diversidade de culturas e saberes. Como procedimento metodológico, adotou-se o
estudo narrativo com enfoque no resgate da história oral. Evidenciou-se nos relatos uma relação
simbiótica entre a comunidade e o ambiente, sendo o rio e a argila determinantes na configuração
da comunidade, ao mesmo tempo sendo a comunidade agente modificador desses recursos naturais.

Palavras-chave:Cultura do barro, sustentabilidade, diversidade.

Abstract
The relationship among the local communities and their surroundings has gained importance in the
sustainability debate, mainly when it is observed the cultural diversity that overcomes the
hegemonic culture idea. It was chosen as empirical field the artisans‘ community of Alto do Moura,
located in Caruaru-PE, a region watered by Ipojuca River, what, at first, favored the agriculture.
However, the difficulties imposed by the semiarid climate, besides the ceramist production tradition
68
inherited by the cariri people, led the community to seeing the river beyond its water. Thus, the clay
became an essential stuff for family subsistence. However, the natural resources disorganized
exploration caused the clay deposits exhaustion. Due to these transformations, it is discussed
sustainability considering the local identity, using as epistemic approach Morin‘s complexity
paradigm, for considering culture and knowledge diversity. As methodological procedure, it was
used the narrative study focused on the oral history recovery. The reports evidenced a symbiotic
relation between community and environment, being the river and the clay determinant for
community configuration, at the same time the community is a modifier agent of these natural
resources.

Keywords:Clay culture, sustainability, diversity.

1. Introdução

O conceito de sustentabilidade tem perpassado por polifônicos posicionamentos teóricos que


compõem um guarda-chuva conceitual, sob o qual esse campo é vislumbrado por diversos cortes
epistemológicos, a tal sorte que, como aponta Limonad (2004), temos várias concepções,
representações, sobre o que é sustentabilidade no imaginário social. Essas representações são
manifestas sobre os mais distintos significados, todas na tentativa de coadunar desenvolvimento e
sustentabilidade.
Nesses termos, qualquer discussão mais aprofundada sobre essa temática deve vincular o
meio ambiente à esfera das ações, ambições e necessidades humanas (VEIGA, 1998), de modo
contrário essa tarefa se torna inócua, tendo em vista o processo simbiótico homem-natureza, sendo
o espaço natural produto do espaço social e vice-versa. Assim, uma compreensão mais crítica sobre
esse campo perpassará, naturalmente, por um questionamento da homogeneização cultural e de uma
urgência no reconhecimento das identidades locais. ―Há, juntamente com o impacto global, um
novo interesse pelo local.‖ (HALL, 2001).
Assim, elegeu-se debater a sustentabilidade sob o corte epistemológico do pensamento
complexo (MORIN, 2008a), tendo em vista que esse paradigma considera a sustentabilidade como
disciplina transdisciplinar, entendida em uma complexa totalidade física, biológica e social,
rejuntando o ser humano ao meio onde vive, reconhecendo a diversidade de cada uma dessas
relações.

Nessa acepção, a sustentabilidade dá-se através de um entendimento global, centrado em


uma esfera local. Portanto, ao compreender-se que toda discussão sobre sustentabilidade é um
debate mais sobre a preservação de uma ordem social particular do que um debate sobre a
69
preservação per se (HARVEY, 1996), elegeu-se como campo empírico a comunidade do Alto do
Moura, em Caruaru-PE, mais especificamente a relação dessa comunidade com o rio Ipojuca, a
extração de argila e a produção do artesanato figurativo.

2. O barro definindo o espaço local: a construção da comunidade do Alto do Moura

A comunidade do Alto do Moura situa-se a 7km do centro da cidade de Caruaru, no agreste


pernambucano. O processo de formação dessa comunidade é indissociável da constituição da cidade
e, sobretudo, da bacia hidrográfica do Ipojuca que transpassa mais 387,62km2 desse município. O
Ipojuca é fonte de calcário, feldspato e rochas cristalinas, ornamentais e britais (CONDEPE, 2005).
Contudo, foi a argila, extraída de suas margens, o elemento definidor na constituição dessa
comunidade (SIQUEIRA, 2006).
A cidade de Caruaru origina-se a partir de 1681, ocupando um privilegiado espaço
geográfico por situar-se no agreste pernambucano, que serve como ponto de convergência entre a
capital e o sertão do estado. Por ser banhada pelas águas do rio Ipojuca, acreditava-se na vocação
agrícola da região. Entretanto, as dificuldades impostas pelo clima semiárido conduziu a cidade a
encontrar outra fonte de sobrevivência. A produção de peças utilitárias, confeccionadas a partir da
argila, muito consumidas pelas classes mais populares como opção aos utilitários de porcelana
importados de Portugal, foi uma das alternativas viáveis para a promoção de renda.
Em linhas gerais, a produção dos utensílios de barro era atribuída às mulheres e crianças das
comunidades ribeirinhas do Vale do Ipojuca. Essa prática era percebida como uma atividade
doméstica. As louceiras produziam panelas, moringas, potes e jarras destinados ao uso doméstico.
Apenas o excedente de produção era disponibilizado para o comércio (LIMA, 2001).
O processo de confecção desses artigos permaneceu inalterado por muitos anos e até hoje se
verifica apenas discretas transformações. As mulheres eram responsáveis pela extração de argila das
margens mais secas do rio. Posteriormente, o material era trabalhado a fim de se retirar as
impurezas e transformá-lo em uma substância fina comparável ao grão da areia (LONZA, 2009).
Mais tarde, o barro era misturado à água até obter-se um material homogêneo e maleável que
garantia a definição das peças. Após esculpidas, secavam à sombra por vários dias e só depois
estavam prontas para o processo de queima.
Lima (2001) aponta aspectos que influenciaram a tradição ceramista nessa região. O
primeiro é prática da cerâmica cariri – povo que habitou esse espaço geográfico até a chegada dos
colonizadores e que trabalhava o barro para fins utilitários como cozer e armazenar os alimentos.
Para a autora, os métodos de extração e manipulação da argila são típicos dessa comunidade. A
segunda influência seria recebida dos negros e colonizadores portugueses, após expulsão dos

70
holandeses, através do processo da queima dos utensílios em alta temperatura e por um longo
período de exposição.
Acredita-se que essa prática foi sendo transmitida de geração a geração através da
observação direta e relatos orais que aos poucos se incorporaram nos costumes dos moradores da
região (LONZA, 2009). Nesse sentido, há uma personagem que colaborou para a transformação da
prática ceramista do interior pernambucano, o Mestre Vitalino Pereira dos Santos, que nasceu em
1907, filho de um agricultor e de uma louceira, que quando criança idealizou sua primeira escultura
batizada de ―um caçador de gato maracajá‖ (RIBEIRO, 1972). Com os anos, sua habilidade de
transformar o barro do rio Ipojuca em peças que retratavam costumes, crenças e hábitos típicos do
agreste pernambucano cativaram um número cada vez maior de pessoas (BARBALHO, 1984).
Essa repercussão positiva fez crescer a demanda por suas peças, obrigando-o a acelerar o
ritmo de produção. Com a intenção de facilitar a confecção de suas peças, o Mestre se transfere para
o Alto do Moura, espaço que possui uma área composta de barro de ótima qualidade e que, por isso,
já continha um certo número de louceiras.
Lima (2001, p.75) afirma que a decisão de Vitalino de se mudar para o distrito do Alto do
Moura ―foi o processo de transformação dessa comunidade num núcleo artesanal de cerâmica
figurativa‖. Aos poucos, a produção dos ―bonecos de Vitalino‖ absorve o trabalho de toda
comunidade, que abandona a agricultura como atividade principal e passa a dedicar-se às esculturas
em barro como meio de subsistência, promovendo suas residências-oficinas como pontos de vendas,
configurando o centro de artes figurativas do Alto do Moura.
Atualmente, a comunidade, que na época de Vitalino possuía pouco mais de uma dezena de
casas, tem cerca de seis mil habitantes. Na mesma velocidade que cresciam a população e produção
de barro, exauriam-se as jazidas de argila, de forma que as áreas de 2.732m2 e 3.073m2 doadas em
1981 e 1985, respectivamente, pelo governo do estado, foram completamente esgotadas. Sendo
necessária, em 2007, a doação de uma reserva que, hoje, é administrada pela associação de
moradores ABMAAM. Seria o fim do artesanato de Vitalino? (SILVA, 2010).
Em virtude dessas transformações, escolheu-se a comunidade do Alto do Moura como
objeto empírico para discutir a sustentabilidade do desenvolvimento a partir da sua identidade
local. Como corte epistêmico, adotou-se o paradigma da complexidade de Morin (2008a), por
atrelar, a partir da transdisciplinaridade, o reconhecimento da diversidade de culturas e saberes.

3. Sustentabilidade e diversidade à luz do pensamento complexo

Na obra Saberes globais e saberes locais, Edgar Morin (2008a) discorre que a concepção de
sustentabilidadenão significa, tão somente, um ajuste no modelo racional de desenvolvimento atual,
já que no cerne da ideia de sustentabilidade está o princípio de solidariedade, que por sua vez é
71
antagônico ao princípio de maximização do ganho, de viés individualista e competitivo,
característico do modelo de desenvolvimento capitalista (OLIVEIRA, 2006). Morin (2008a) chama
a atenção para a dimensão complexa da crise de sustentabilidade, pois envolve aspectos
interdependentes como o ecológico, político, social, humano, ético, moral, étnico e religioso,
exigindo o entendimento de desenvolvimento para além do modelo racional de industrialização.
Nesse sentido, o desenvolvimento perpassa pela compreensão de que os valores de
cidadania, solidariedade e cooperação devem sobrepor-se aos interesses individualistas, quando
então perceberemos que o saber indígena e das comunidades locais deve ser tratado não nos moldes
colonialistas de apropriação e sim como um saber que pode beneficiar a humanidade.
Não menos importante é a construção do conceito de diversidade em meio a essa crise de
paradigmas, considerado como fundamental para o diálogo cultural e entre os saberes, assim como
para a construção de uma sociedade sustentável (FERIOTTI; CAMARGO, 2008).
A concepção de sustentabilidade do desenvolvimento pode então ser traduzida no simples e
completo entendimento que o líder indígena Marcos Terena apresentou em diálogo com Edgar
Morin: ―Tudo o que construirmos hoje vai recair sobre os seres humanos futuros‖ (MORIN, 2008a,
p. 22). De fato, essa compreensão, aparentemente óbvia, ainda não adquiriu substância como guia
norteador da ação humana, pois que o interesse particularista continua a pesar na balança.
Consequentemente, incorporar na sociedade esse anseio de preservar o ambiente para as
gerações futuras torna a sustentabilidade uma questão ética, significando uma ecologização do
pensamento como propôs Edgar Morin, de modo a estabelecer um espaço de reflexão acerca da
evolução conjunta do homem e do planeta (SACHS, 2008).
Sachs (2008) também explica que o desenvolvimento dos povos significa o processo de
apropriação de direitos individuais e coletivos, como o direito ao meio ambiente, harmonizando-se
com a concepção de Morin (2008a) sobre sustentabilidade para além de ambiental, avançando para
uma visão mais ampla que se refere, por exemplo, ao potencial de manter a paz.
Soma-se a essa visão, o entendimento de que o respeito à diversidade cultural é um aspecto
crucial à manutenção de uma sociedade sustentável, por significar a capacidade de enxergar o valor
do outro e de não desejar controlá-lo (SHIVA, 2001), abrindo passagem para as relações solidárias,
sem se sobrepor ao outro, numa configuração que segundo Hall (2011), articule o global e o local.
Diante dessa multiplicidade de aspectos relacionados ao conceito de sustentabilidade, Sachs
(2008) aponta o ecodesenvolvimento como mecanismo de conservação da biodiversidade, através
da gestão negociada e contratual do uso e dos benefícios da biodiversidade entre comunidade e
governo locais. Esse mecanismo não é novidade no sentido amplo, entretanto chama atenção pela
inserção do planejamento local e participativo que reconheça as necessidades da comunidade
(agente ativo do processo), combinando saber local à ciência moderna.
72
Nesse sentido, destaca-se que a ciência moderna trouxe avanços permitindo atender às
necessidades sociais de modo elucidativo e triunfante até certo ponto. Essa ciência tida como
libertadora também determina o conhecimento e o comportamento da sociedade, com possibilidades
de subjugação. E o seu arranjo em disciplinas tanto traz a vantagem da divisão do trabalho como
fragmenta e enclausura o saber, que ao separar o espírito e a cultura das ciências da natureza, nos
remete a crer que estamos vivenciando um neo-obscurantismo generalizado (MORIN, 2008b).
O pensamento complexo oferece assim uma visão alternativa da realidade, que incentiva o
pensamento inovador, indo de encontro à simplificação, concebendo a articulação dos diferentes
aspectos dos fenômenos sociais, aspirando a multidimensionalidade do conhecimento, dando conta
das ―[...] articulações despedaçadas entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de
conhecimento.‖ (MORIN, 2008b, p. 176-177). Por conseguinte, nos auxilia na compreensão dos
desafios constante na relação homem-natureza, consubstanciado na construção de um saber
transdisciplinar, ou seja, englobando a diversidade cultural que nada mais é que a diversidade de
saberes e fazeres.
Ao mesmo tempo, emerge desse contexto de transformação, fruto da crise do conhecimento
da década de 1960, o que Leff (2010) denomina de saber ambiental, que ao deslocar-se do
conhecimento positivista – universal e objetivo – situa-se para fora das certezas dos raciocínios
fechados que excluem o ambiente, deslocando-se para um pensamento integrador do real que
almeja a sustentabilidade da vida. O autor destaca a impossibilidade de se configurar a dimensão
ambiental numa proposta interdisciplinar holística, já que toda disciplina é constituída por estruturas
teóricas e paradigmas que não se transformam num saber holístico com base no pensamento da
complexidade. Assim, o problema da interdisciplinaridade se desloca para o entendimento das
estratégias de poder contidas no saber que a concepção de desenvolvimento sustentável se
confronta, avançando para um necessário diálogo entre saberes.
Por conseguinte, guiado por essa congruência entre saberes, necessária ao desenvolvimento
sustentável, este estudo passará, nas seções sequentes, à análise da sustentabilidade da relação da
comunidade Alto do Moura com o seu entorno, dado que, como já observado, sua principal fonte de
renda advém do uso dos recursos naturais, sem perder de vista a questão da diversidade cultural.

4. Abordagem e procedimentos metodológicos

As concepções metodológicas que nortearam esse estudo são de caráter qualitativo, visto
que sua intenção é compreender o significado atribuído a um dado fenômeno a partir da percepção
dos indivíduos (GODOY, 1995). Nesse aspecto, considera-se que o estudo qualitativo possibilita a
visão e decodificação de componentes de um sistema complexo de significados (MAANEN, 1979).

73
Para Creswell (2007), a pesquisa qualitativa constrói um quadro complexo e holístico ao
analisar palavras e visões dos informantes, utilizando-se de cinco tradições metodológicas, das
quais se incluem os estudos narrativos ou biográficos. A pesquisa biográfica caracteriza-se pelo
estudo de depoimentos, a partir de documentos e/ou material arquivado, destacando os momentos
significativos da vida de um indivíduo, através de documentos vitais (CRESWELL, 2007). Nesses
termos, a opção por essa abordagem apresentou-se como mais adequada à finalidade deste estudo,
uma vez que seu objetivo é compreender como se dá a relação sustentável entre a comunidade de
artesãos do Alto do Moura e seu entorno.
Com o fim de refinar o procedimento metodológico, a pesquisa se consubstanciou dentro
dos estudos narrativos com foco na história oral. De acordo com Portelli (1977), a história oral é ao
mesmo tempo a ciência e a arte do indivíduo, uma vez que padrões culturais, estruturas sociais e
processos históricos são expostos por meio de conversas com pessoas acerca de suas experiências e
memórias.
A fim de selecionar os sujeitos mais significativos para os objetivos do estudo, realizou-se,
como etapa inicial, uma entrevista com o presidente da Associação de Bairro dos Moradores do
Alto do Moura (ABMAAM). A associação possui mais de 200 associados, entretanto, parte deles
não mais se dedica à produção de cerâmica, trabalhando apenas na comercialização das peças. Essa
fase permitiu obter a informação de que grande parte dos indivíduos pertence a um mesmo grupo
familiar, no qual o trabalho é realizado de forma cooperativa, o que restringiu a pesquisa a 15
oficinas-ateliês.
Identificadas essas oficinas, foram realizadas visitas a fim de selecionar mestres artesãos que
se disponibilizassem a participar do estudo. Após explicar o objetivo e o procedimento da pesquisa,
sete artesãos participaram do estudo, os quais, com o objetivo de preservar suas identidades, serão
doravante reconhecidos como A1, A2, A3, A4, A5, A6 e A7.
No que se refere à coleta de dados, Flick (2009) aponta que os dados verbais representam
uma das principais abordagens metodológicas da pesquisa qualitativa. Para o autor, a palavra falada
e os dados que produzem são centrais para os estudos qualitativos. Portelli (1977, p.15), por sua
vez, situa bem a importância da coleta de dados quando enfatiza que, ―[...] apesar do trabalho de
campo ser importante para todas as ciências sociais, a História Oral é, por definição, impossível sem
ele‖.
Nesse contexto, optou-se por utilizar dados multifocais a partir das entrevistas, debruçando-
se sobre as narrativas dos indivíduos coadunadas ao diário de campo contendo impressões do
pesquisador acerca do comportamento dos indivíduos. As narrativas foram gravadas com o auxílio
de aparelho mp3. Posteriormente, os dados foram tratados utilizando-se a técnica da análise
temática ou categorial. Para Chizzotti (2006, p. 98), ―o objetivo da análise de conteúdo é
74
compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as
significações explícitas ou ocultas‖.

5. Discussão dos Dados

A utilização das margens do rio Ipojuca como fonte de extração de argila remete-se à
própria origem da cidade de Caruaru, como aponta Siqueira (2006), provavelmente nenhum outro
munícipio nordestino possui sua imagem tão associada a um bem mineral. Contudo, se a argila
inicialmente foi a via mais sustentável para utilização do rio que não possuía vazão necessária para
o cultivo agrícola, hoje é a própria argila que tende a se tornar um bem escasso.
Caruaru possuía na década de 1980 cerca de 1.383.000 toneladas de reservas de argila
(DANTAS, 1980), hoje grande parte de suas jazidas, sobretudo as situadas no rio Ipojuca,
encontram-se praticamente esgotadas. ―Os depósitos de argilas do rio Ipojuca foram explorados ao
longo dos anos sem estudos prévios ou mínimos critérios de lavra, sendo exauridos
predatoriamente‖ (SIQUEIRA, 2006) e grande parte desse material foi utilizada pelas olarias da
região na fabricação de tijolos e telhas.
Nesse contexto, a comunidade de artesãos do Alto do Moura começa a vivenciar uma nova
realidade, na qual a relação com seu entorno passa a ser reformatada. Assim, a partir das narrativas
dos artesãos, discutiu-se o que se entende por sustentabilidade e como se dá a compreensão desses
indivíduos quanto à exiguidade dos recursos naturais.

5.1 Sustentabilidade: aspectos interdependentes e interpenetrantes


Na concepção de Morin (2008b), não podemos conceber a sustentabilidade de forma
estanque ou reduzi-la a um aspecto puramente ambiental. Para o autor, a sustentabilidade do
desenvolvimento carrega uma estrutura para além das concepções convencionais capitalistas. Os
processos sustentáveis devem ser analisados em sua estrutura de produção coadunados aos fatores
ecológico, político, social, humano, ético, moral, étnico e religioso.
Pautado nesse conceito de Morin (2008a), buscou-se reconstruir, a partir das narrativas, o
início do processo de produção ceramista e, por conseguinte, o processo de extração de argila na
bacia do Ipojuca.
Nesse aspecto, verifica-se que a tradição na produção de artefatos cerâmicos sempre esteve
presente na região do Alto do Moura, antes conhecida como região de Taquara. Contudo, é a vinda
do mestre Vitalino que redefine o padrão das peças produzidas, ocorrendo um predomínio do
artesanato figurativo. O processo de extração e refinamento da argila era realizado rusticamente
como aponta o extrato de fala:

75
A5: Aqui no Alto do Moura na época de Vitalino os primeiros artesãos
traziam o barro bruto no carro de mão ou nos animais. Chegava em casa
colocava pouca água e ficava apurado em dois ou três dias o barro depois
pilava com o pilão ou com os pés.

Atualmente, o uso de alguns equipamentos tem auxiliado nesse processo. Entretanto, ao


mesmo tempo em que esses instrumentos dão maior agilidade à produção, seu uso indiscriminado
também contribui na exaustão das jazidas.

A5: Tirar o barro na enxada é serviço pesado. Agora não tem trator para
tirar. E depois que era preciso amassar tudo com o pé. Agora passa tudo na
máquina forrageira e facilitou demais. Hoje tem máquina para tudo.
A2: Se agente não tivesse a área do governo que a associação administra
agente corria o risco de ficar sem barro. Até Vitalino dizia que o artesão
podia se atrapalhar e ficar sem barro para trabalhar, ele já via que a
comunidade tava crescendo.

O processo de extração do barro no Alto do Moura deu-se de maneira pouco organizada, de


forma que a primeira área de extração cedida pelo governo do estado foi invadida por habitações e a
parte restante foi exaurida, sendo necessária uma segunda doação que, atualmente, é administrada
pela associação. Sachs (2008) contribui com sua visão no entendimento desse fenômeno,
configurado na dicotomia desenvolvimento versus sustentabilidade, ao definir que qualquer
desenvolvimento que se direcione a aspectos puramente instrumentais, que não se paute na
preservação dos direitos individuais e coletivos dificilmente preservará o patrimônio da
humanidade.
Em face dessa problemática, buscou-se um aprofundamento sobre a percepção desses
indivíduos em relação ao seu entorno, na tentativa de conhecer os significados atribuídos ao uso e
preservação dos recursos e espaços daquela comunidade. Os artesãos foram indagados sobre como
enxergam sua comunidade e os recursos e qual a importância desses elementos em sua vida.

A1: Eu não me vejo morando em outro lugar, nasci aqui, tive filho, deixei
que eles escolhessem se queria trabalhar comigo com o artesanato ou fazer
outra coisa. Eles ficaram aqui porque trabalho com barro é bom demais.
A3: O Alto do Moura, no meu entendimento, é uma riqueza. Um lugar
tranquilo, que me deu meu ofício. Por que se eu não tivesse aqui, e aí? Vem

76
sempre gente aqui ver o meu trabalho, querer saber como faz, é gente do país
todo. Então, agente fica feliz, né?

Dada a importância atribuída a esse espaço, os artesãos foram perguntados sobre como são
utilizados os recursos disponíveis na comunidade e se, ao longo dos anos, existiu alguma mudança
nesse uso. Muitos artesãos remeteram-se, nostalgicamente, ao período em que o rio Ipojuca era
melhor utilizado pela comunidade, ao mesmo tempo em que indicaram que com o desenvolvimento
da comunidade muitas pessoas se distanciaram cada vez mais do recursos naturais, passando a
percebê-los como algo longínquo do seu cotidiano, mesmo a comunidade tendo sua gênese e
desenvolvimento imbricados na proximidade com esses recursos. Nesse aspecto, os apontamentos
dos artesãos muito se aproximam da concepção teórica de Leff (2010), quando este destaca que
ainda há um predomínio de uma concepção de natureza como insumo, na qual as relações entre o
ser humano e seu ambiente foram desnaturalizadas. Os extratos de fala abaixo expressam de forma
mais clara esse processo de desnaturalização.

A7- A sujeira já vem lá de cima, aí o povo vê sujo e pronto pensa que é


assim.
A4: Foi invadido o rio, antes o rio era rio. Minha mãe falava que na época
que quando ela era garota, hoje ela tem 84 anos, as mulheres usavam o rio
pra tudo, lavavam louça, roupa, levava para cozinhar... a água era bem
limpinha. Como não tinha água (encanada) agente usava o rio para tudo.
Agora depois que chegou água (sistema saneamento) o povo não se preocupa
tanto com o rio, porque acha que não precisa mais.
A6: O pessoal lá na cidade polui o rio e agente vê o resultado aqui. Mas veja
só, Vitalino já sabia que as coisas estavam mudando, ele mesmo dizia que
tinha que ter um lugar só para artesão usar para tirar barro porque se acabar o
barro acaba o trabalho, digo assim de quase 90% do povo daqui.

Evidencia-se que esse processo de desnaturalização é fruto do modelo desenvolvimentista


antropocêntrico e economicista, no qual o progresso emana da exploração dos recursos naturais
percebidos como fontes infinitas de crescimento econômico (BECKER, 1994). Com efeito, houve
uma ruptura na relação harmônica da população com seu ambiente, que passa a ser visto como um
elemento distante que pouco interfere na dinâmica de seu cotidiano. Entretanto, o ambiente tem
respondido rapidamente a esse processo de exploração, como aponta Leff (2001), ao visualizar um
futuro de escassez generalizada que gera questionamentos acerca dos paradigmas clássicos, o que

77
levou a sociedade a refletir sobre a racionalidade do nosso sistema de produção, bem como acerca
dos valores e conhecimentos que o sustentam.
Convergente a essa perspectiva, os artesãos percebem muitos equívocos no uso dos recursos
ambientais por parte da comunidade, tanto na extração do barro que antes era obtido de forma
menos predatória quanto no processo de queima das peças que antes era realizado apenas com um
tipo de madeira denominada por eles de garoba, uma espécie de graveto, que por não ter proveito
algum era utilizado como lenha para os fornos artesanais.

Por fim, todos os entrevistados apontaram para a necessidade de uma mudança de hábitos
que promova uma relação mais harmônica do uso dos recursos e a cadeia produtiva do artesanato,
assim como entre comunidade e a preservação das áreas naturais. O extrato de fala abaixo sintetiza
a clareza com que os artesãos enxergam seu entorno, bem como o processo simbiótico comunidade-
ambiente e ambiente-comunidade.

A2: Isso daqui (o artesão apontando para a direção do rio) é a vida da


comunidade, se o povo não cuida o que vai ser da população do Alto do
Moura que vive do barro. Porque o que tá acontecendo é que o rio hoje
aterrou tanto que quando dá cheia até a praça aqui enche. E aí o que
acontece? O rio fica com muita areia e vai jogar para cima do barro. Agora,
isso é o caminho de direito do rio, as pessoas que não estão sabendo cuidar...
Eu penso pra mim, quando agente trabalha, mesmo sem estudo, agente passa
a entender a matéria-prima que a gente trabalha, agente sabe das coisas que
agente depende. Tem que ter responsabilidade, né? Agente vive disso.

6. Conclusões e implicações em torno da sustentabilidade

Evidenciou-se que a reflexão acerca da sustentabilidade do desenvolvimento relacionada à


estratégia do pensamento complexo permitiu compreender as diversas dimensões do
desenvolvimento sustentável, que requer um saber ambiental que pense e critique os modelos atuais
de conhecimento e de desenvolvimento em crise. O pensamento da complexidade, pelas suas
origens e por sua inovadora forma de pensar a complexidade do ambiente e do conhecimento,
ofereceu as bases para analisar a relação dos artesãos do Alto do Moura com o seu ambiente,
fornecendo um olhar não redutor para os aspectos distintos dessa relação.
A partir do método da história oral foi possível reconstruir a relação dessa comunidade com
o seu entorno, evidenciando a existência de uma relação simbiótica entre eles, convergente à
perspectiva do paradigma da complexidade de Morin (2008b). Entretanto, esse entendimento
passou por um longo processo de maturação, haja vista que no processo histórico dessa comunidade
esteve presente, por vezes, o uso inadequado dos recursos (exaustão das jazidas de argila).
78
Outra questão importante é que, apesar de estar presente no imaginário da comunidade uma
consciência sustentável acerca da relação homem-natureza, destaca-se a insipiência das ações
voltadas para o ecodesenvolvimento, com base numa gestão negociada e contratual do uso e dos
benefícios dos recursos naturais entre comunidade e governo locais, que é um mecanismo
alternativo para a condução de estratégias sustentáveis, como bem menciona Sachs (2008). Um dos
motivos que podem explicar essa escassez de ações é a dificuldade de se construir um diálogo
constante entre esses dois atores. No dizer de Feriotti e Camargo (2008), um diálogo que possibilite
uma interação criativa e solidária sem aniquilar a diversidade cultural, que promova novas
possibilidades de construção da realidade.
Não menos importante, o estudo da relação comunidade/entorno deve ser visto como uma
iniciativa para que se compreenda que os limites históricos (diálogo insipiente entre comunidade e
governo) podem ser vencidos pelo desvelar das necessidades e dos sofrimentos vivenciados por
essa comunidade (FERIOTTI; CAMARGO, 2008), mas sem perder de vista a diversidade nessa
busca pela verdade. Por fim, ao explorar sinteticamente o desenvolvimento sustentável a partir da
abordagem do paradigma da complexidade, tendo por espaço empírico uma comunidade local,
almeja-se despertar o interesse de pesquisadores em aprofundarem essa temática, de modo que
impulsione ações sustentáveis envolvendo a multiplicidade de saberes de modo transdisciplinar.

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80
OS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS FECHADOS DE BANANEIRAS-PB: UMA REFLEXÃO

Edinilza Barbosa dos SANTOS


Professora - IFPB Campus Cabedelo (edinilza@yahoo.com.br)
Maria Roméria Ramiro da SILVA
Licenciada em Geografia – UEPB (julialuna06@hotmail.com)

RESUMO
Este trabalho é resultante de parte de uma pesquisa realizada para a elaboração de um trabalho de
conclusão do curso de licenciatura em Geografia, na Universidade Estadual da Paraíba, Centro de
Humanidade, no campus de Guarabira. O mesmo teve como objetivo, fazer uma reflexão sobre o
impacto com a implantação desse novo tipo de moradia para o município e sua população, levando
em consideração alguns aspectos, como a cultura local e a geografia do município. Para melhor
compreensão da temática em questão foi realizado além de levantamento bibliográfico, pesquisa de
campo, com observações in locu, aplicação de questionários com os comerciantes da cidade e com
moradores de condomínios fechados. Após a análise de todo material levantado e nossas
observações, percebemos o quanto os ―novos‖ empreendimentos de moradia e de lazer têm
modificado a paisagem local do município de Bananeiras, com desmatamentos e construções de
prédios e estradas; tais empreendimentos demandam uma necessidade de consumo de mais água,
mais energia elétrica e maior produção de esgoto e lixo; e, dentre outras questões, destacamos
também o impacto cultural, com outras necessidades de consumo, outros hábitos diferentes
daqueles da população local, na qual constituem um elemento de segregação. Percebemos, portanto,
que muitas questões precisam ser avaliadas antes da aprovação de grandes empreendimentos de
moradia e de lazer para uma cidade pequena como Bananeiras.

PALAVRAS-CHAVE: Condomínios Residenciais. Segregação Espacial. Transformação.

ABSTRACT
This work is a result of part of a research realized for the elaboration of an essay for the conclusion
of the Geography Major in The State University of ―Paraíba‖ (a Brazilian State), Humanity Center,
in ―Guarabira‖ Campus. It aims at reflecting about the impact of the implantation of a new kind of
housing and leisure endeavor for ―Bananeiras‖ town and its population. This study considered some
cultural local aspects as well as the geographical characteristics of the place. For a better
understanding of the theme of this study, a collection of data was realized together with field

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research, in locus observation and applied questionnaires with local traders and residents of the
closed condominiums. After the analysis of all the material collected, considering our observations,
we realized how the ―new‖ housing and leisure modality has modified the natural landscape of the
town of ―Bananeiras‖ with the deforestation and the construction of buildings and roads. Such
business ventures demand a great necessity of water consumption, energy and also cause a greater
production of waste and sewage. And, among other issues, we point out the cultural impact caused
by these new habitants concerning consumption needs and different habits from the local
population, which, from our point of view, constitutes a segregation element. We, therefore,
perceived that many issues need to be evaluated before the approval of great housing and leisure
endeavors in such a small town like ―Bananeiras‖.

KEY WORDS: Residential Condominiums. Spatial Segregation.Transformation.

INTRODUÇÃO

Este texto é resultante de parte de uma pesquisa realizada para a elaboração de um trabalho
de conclusão do curso de licenciatura em Geografia, na UEPB, Centro de Humanidade, no
município de Guarabira. O mesmo teve como objetivo, fazer uma reflexão sobre o impacto com a
implantação desse novo tipo de moradia para o município, levando em consideração alguns
aspectos, como: estamos tratando de uma cidade de pequeno porte (21.851 habitantes, segundo o
IBGE, 2010) do interior do estado da Paraíba; é uma cidade de clima mais ameno (frio úmido) em
relação a maioria dos municípios da mesorregião do Agreste Paraibano e Microrregião do Brejo
Paraibano, devido sua altitude de 526 metros, localizada no planalto da Borborema.
Continuando esta breve apresentação da cidade de Bananeiras, a mesma se desenvolveu
por "traz" da igreja matriz Nossa Senhora do Livramento, em virtude do rio Bananeiras que se
localiza na área mais baixa da cidade, e também em razão do relevo moderadamente ondulado. Já a
colonização do Município de Bananeiras iniciou-se na segunda ou terceira década do século XVII.
A cidade foi ocupada em 1624 por donatários que usavam terras para criar gado e também para a
implantação de engenhos movidos a água (IBGE, 2010).
No centro da cidade estão construídos vários prédios antigos, esse patrimônio histórico -
resultado da opulência histórica vivida pela aristocracia local - é fruto de um tempo muito
importante para a cidade, final do século XVIII, onde o municipio foi o maior produtor de café do
estado da Paraíba e também o segundo da região nordeste, fortalecendo assim sua economia local
(GOUVÊA, 2006). O café produzido em Bananeiras era de boa qualidade que rivalizava com o café
de São Paulo, mas a dificuldade com o transporte tornava difícil a sua comercialização. Hoje o
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município vem investindono turismo e consequentemente em empreendimentos imobiliários, na
qual os gestores públicos consideram que há boas perspectivas de mudanças econômicas.
A cidade foi crescendo gradativamente e se espraiando em outras direções, como a parte
mais alta da cidade, logo chamada de cidade alta. Por este crescimento, por sua cultura, seu
potencial natural e arquitetônico a cidade vem sendo reconhecida como uma cidade turística, o que
está chamando a atenção de empresários que estão investindo massissamente em empreendimentos
que venham a atenter os visitantes de outras regiões, estados e até mesmo de outros paises.
Para melhor compreensão da temática em questão foi realizado além de levantamento
bibliográfico, pesquisa de campo, com observações in locu, aplicação de questionários com os
comerciantes da cidade (a onde foram aplicados 23 questionários) e com moradores de condomínios
fechados, na qual foi possível aplicar apenas 4 questionários, haja vista a dificuldade para colher
informações deste seguimento da população.

O SURGIMENTO DOS CONDOMÍNIOS FECHADOS

São visíveis as mudanças pelas quais passa o espaço, especificamente o espaço urbano e
isso é de suma importância para a vida humana. O crescimento das cidades é uma característica que
marca o processo de ocupação e produção do indivíduo na busca por melhores condições de vida. E
como enfatiza Santos (2008, p. 09), "A cidade, enquanto construção humana, é um produto
histórico-social e nesta dimensão aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo do
processo histórico de uma série de gerações‖.
Nesta perspectiva os condomínios residenciais e de lazer, atualmente vêm, de certa forma,
transformando cidades, para atender às necessidades de produção da sociedade. Sejam eles de lazer,
residenciais, horizontais ou verticais constituemuma nova forma de moradia que tem conquistado
muitas pessoas, mas, pessoas que podem pagar o valor diferenciado desse espaço, em razão de uma
segurança, ou falsa segurança, que podem proporcionar aos condôminos. Murados, tranquilos, com
um número reduzido de pessoas, carros, torna-se uma ―forma saudável‖ de se viver. Aliás,
acreditamos que o elemento violência é um dos fatores que mais influencia uma pessoa a procurar
este tipo de moradia, como, de fato foi apontado na nossa pesquisa, além de um contato mais direto
com a natureza e o sossego que este pode proporcionar, especificamente no caso de Bananeiras.
Os condomínios residenciais são bastante comuns em todo o mundo. No Brasil, essa
prática, inicialmente realizada nos arredores das grandes cidades, principalmente em São Paulo e no
Rio de Janeiro, vem tomando um enorme destaque e fazem parte da paisagem urbana em várias
regiões do país, inclusive no Estado da Paraíba.Segundo Carlos (2003),empresários imobiliários

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vêm investindo nesse modelo de moradia, estando certos de que o espaço é resultado da ação social
e que torna o processo de acumulação, atividade indispensável da sociedade capitalista.
Os empresários do setor imobiliário e do setor civil têm apostado em um novo modelo de
espaço residencial, constituídos numa grande área com localizações privilegiadas para atender os
estratos sociais mais abastados. Segundo Carlos (2003), este comportamento justifica-se ―pelo
atendimento que o espaço como meio é resultado da ação social e torna o processo de acumulação
como atividade supra da sociedade capitalista‖ (CARLOS, 2003 apud BARROS, 2010, p.21).
Esse novo modelo de habitação que vem fazendo parte da estrutura urbana do município de
Bananeiras, com condomínios residenciais e lazer, vem causando uma grande modificação espacial
e econômica, com a criação de diversos empregos diretos e indiretos, isto implica no
aprimoramento da mão de obra, comércio e prestação de serviços, para melhor atender a demanda
gerada pelos moradores e visitantes.
Esse novo modelo de moradia recebe incentivos locais de 10 anos de isenção de IPTU,
porém, há uma lei municipal que obriga os empresários a utilizarem pelo menos 70% da mão de
obra local nas construções (CORREIO DA PARAÍBA, 2007).
O município veio a enquadra-se nos pré-requisitos de avaliação de áreas mais adequadas
para o novo empreendimento, por três fatores, como: a capitalização e retorno seguro nosetor
condominial; o valor do mercadofundiário no município, pois até o ano de 2005 era baixo, devido
àlocalização dos terrenos em áreas de relevo elevado e por estar distante do centro da cidade, oque
desvalorizava o preço da terra; eo ambiente natural e topográfico foi o terceiro fator a ser
observado. Estas áreas de segregação espacial estão localizadas nas partes mais afastadas da cidade
e mais próximas do verde da paisagem rural.
O Condomínio Caminhos da SerraHaras e Clube foi o primeiro empreendimento
construído em Bananeiras. Foi desenvolvido para residências e lazer. Teve início no ano de 2006,
onde 20% de sua área é destinada para o lazer e os 80% restantes, para residências e vias. No total
são 198 lotes. O condomínio dispõe de um salão de festas, uma piscina térmica, de haras, quadra de
tênis, de uma churrascaria e de um campo de futebol, tudo isso distribuído em uma área de
40.000m2. Suas obras encerraram-se em 2008 (BARROS, 2010, p. 33).
Outro condomínio, o ―Águas da Serra Haras e Golfe‖,foi o segundo a ser implantado em
Bananeiras. Nele está o primeiro campo de golfe do estado da Paraíba. Também foi programado
para residências e lazer. São 660 lotes, alguns destinados para pequenas chácaras (BARROS, 2010,
p. 34). O mesmo, também conta com um heliporto.
No ano de 2007iniciaram-se a obras dos condomínios Serra Nevada I e II, próximos a
Universidade Federal da Paraíba- Campus III. Os mesmos foram planejados para residência e lazer.
Porém este se diferencia dos outros condomínios, porque ao invés de residências convencionais
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foram construídos 52 chalés duplex. Um outro condomínio, o Yes Banana, projetado apenas para
residências, ainda não foi concluído; e há rumores de novos projetos de grande porte para esta
cidade.
A partir das descrições de todos esses condomínios solidifica o que havíamos comentado
anteriormente, sobre a nova tendência do mercado imobiliário no município de Bananeiras, pois se
vende o verde, o clima, a água, enfim uma paisagem natural e constroem-se equipamentos
residenciais e de lazer voltados para um público consumidor seleto.
Neste sentido, Carlos (2007) também entende que ―o espaço surge enquanto nível
determinante que esclarece o vivido, na medida em que a sociedade o produz, e nesta condição
apropria-se dele e domina-o‖. Sendo assim, o espaço é modificado cada vez que a sociedade sente a
necessidade de mudança, de melhores condições de vida. E assim tem sido desde a antiguidade. O
homem, os animais, enfim, os seres vivos moldam os espaços para sua sobrevivência. Isso faz parte
do cotidiano de todos.

A INFLUÊNCIA DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS NO COTIDIANO DA CIDADE

No espaço urbano e rural do município de Bananeiras, o capital precisa ser produzido e


reproduzido de qualquer forma, e para que isso aconteça os diversos agentes encontram novos
espaços, novas atividades e novos elementos para serem explorados, a exemplo da beleza
paisagística e do clima ameno da região. Santos (2008) ressalta a importância do espaço nos dias
atuais, e como o mesmo está ligado às necessidades do processo de produção, e destaca que,
―quando todos os lugares forem atingidos, de maneira direta ou indireta, pelas necessidades do
processo produtivo, criam-se, paralelamente, seletividade e hierarquias de utilização, com a
concorrência ativa ou passiva entre os diversos agentes‖ (SANTOS, 2008, p. 29).
Portanto, o espaço é modificado cada vez que a sociedade sente a necessidade de mudança,
de melhores condições de vida. E assim tem sido desde a antiguidade. O homem, os animais, enfim,
os seres vivos moldam os espaços para sua sobrevivência. Isso faz parte do cotidiano de todos. Isto
pode ser percebido no município de Bananeiras, com todas as transformações atuais no seu espaço,
que implicaram em:
- A maior parte dos comerciantes pesquisadossentiu a necessidade de modificar seu espaço
comercial para melhor atender essa nova clientela;
- Mais de 50% dos comerciantes não sentiu a pressão da demanda por produtos de maior
qualidade, por considerarem que já ofereciam bons produtos para todos os extratos sociais;

85
- Quando os comerciantes foram questionados sobre a influência que os condomínios
tiveram para o desenvolvimento de seu comércio, a maioria concordou que aumentou o fluxo de
pessoas(turistas) e consequentemente aumentaram as vendas;
- Verificou-se também a mudança de comportamento desses consumidores, pois os
mesmos e principalmente os turistascompram produtos mais modernos e pedem sempre a nota
fiscal, diferentemente dos moradores locais, que não fazem questão pela referida nota;
- Conforme os comerciantes, a presença dos condomínios residenciais fechados ajudou na
divulgação da cidade e na geração de renda e de empregos diretos e indiretos, beneficiando pessoas
da localidade e de cidades vizinhas; e
- Estes empreendimentos incentivaram muitos moradores a adquirir ―novidades‖ que
pudessem atrair os olhares mais apurados e exigentes, influenciando a construção de novos
estabelecimentos;
Vale destacar que a maioria desses estabelecimentos tem mais de 10 anos de
funcionamento e alguns têm mais de 40 anos. Já no que se refere aos condôminos, apesar do
número reduzido pesquisado, foi possível traçar o perfil destes ―novos‖ moradores, que são os
moradores dos condomínios residenciais fechados. Mas, destacamos as informações que
consideramos mais relevantes, como:

- As famílias que moram nos condomínios fechados são formadas por poucos membros,
predominando o modelo de família nuclear com 01 ou 02 filhos;

- Estas famílias vivem com uma renda mensal entre5 e 10 salários mínimos, ou seja, são
pessoas com um bom poder aquisitivo para os padrões da cidade;

- As pessoas procuraram este lugar para morar devido ao clima ameno da cidade, a
aparente segurança que esse tipo de moradia proporciona, bem como, a tranquilidade tão desejada;

- Tal tranquilidade foi um dos pontos positivos apontados pelos condôminos em morar
neste local, acrescido de uma melhor qualidade de vida, espaço para lazer e ―receber amigos sem
precisar abrir as portas da sua casa‖;

- Em relação aos pontos negativos, foram citados: a distância do centro da cidade, havendo
a necessidade de possuir um automóvel para desloca-se a um supermercado, farmácia, quitanda, e
outros lugares essenciais do cotidiano, e principalmente a falta de assistência médica em casos
emergenciais, pois a cidade não dispõe deste serviço com boa qualidade.
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Em resumo, temos muitos aspectos positivos quanto a implantação dos grandes
empreendimentos imobiliários, conforme os comerciantes e os condôminos ora em destaque, mas,
conforme observações in locu e depoimentos do população, outras questões precisam ser
consideradas;

- Pois, os gestores, comerciantes e moradores de condomínios fechados ignoram os


impactos ambientais causados com a implantação dos grandes empreendimentos imobiliários, na
qual se tem o desmatamento de grandes áreas ―rururbanas‖, de relevo moderadamente ondulado, o
que acelera a erosão, ameaça a fauna local e compromete a flora; além da abertura e construção de
estradas para dar acesso aos empreendimentos construídos; limitações com a destinação do lixo e
esgoto produzidos em maior quantidade; maior consumo de água, que pode comprometer os
mananciais e reservatórios, além de outros aspectos ambientais que poderiam ser levantados.

Quanto aos aspectos socioculturais, causa preocupação o choque cultural entre a população
já existente e os novos moradores e turistas que visitam a cidade. São novos costumes, novos
sotaques, convívio com pessoas de maior poder aquisitivo, o que implica na elevação do custo de
vida, que vai atingir todas as faixas sociais. O impacto com tantas mudanças no cotidiano da
população pode ocasionar uma transformação cultural da população natural de Bananeiras, o que
poderá causar até mesmo conflitos com a identidade de uma população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante os dados da pesquisa foi possível perceber que os condomínios construídos já


influenciam muito a economia e o cotidiano da população do município de Bananeiras, haja vista
que,as vendas aumentaram;os comerciantes tiveram que ampliar ou modificar seus
estabelecimentos para atender as novas exigências dos clientes;houve mudanças também na
qualidade dos produtos e na busca por novidades; surgindo também empregos diretos e indiretos.
Todas estas modificações aconteceram apenas com o funcionamento de três condomínios
residenciais,imaginemos então as mudanças que ainda estão por vir com a construção dos outros
condomínios e loteamentos programados.
Conforme as observações realizadas e as informações dos próprios comerciantes e condôminos
pesquisados, a cidade de Bananeiras registrou um significado aumento do valor do solo urbano e
rural, e portanto, alta especulação imobiliária, em virtude dos empreendimentos imobiliários, assim
como, o espaço urbano sendo totalmente ocupado e avançando o que antes era apenas ―espaço
natural‖. Além desses condomínios, estão sendo construídos muitos loteamentos que vêm
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transformando o ―espaço natural‖ muito rápido.Denominamos espaço natural por este ser
constituído predominantemente por elementos da paisagem natural, como a vegetação, rio, etc.
Pode-se dizer que o espaço (urbano e rural) de Bananeiras ora trans(formado) absorve as
tendências e os novos modelos de rearranjo do espaço social e que em nome do moderno, da
segurança, da tranquilidade o capital encontra novas formas de (re)produzir e gerar outras
necessidades para a sociedade, como tem acontecido em Bananeiras.
Por outro lado, ignora-se os impactos socioculturais e ambientais que tais
empreendimentos causam no espaço geográfico e na vida da população já existente. O grande
capital não encontra barreiras para (re)produzir, mesmo que isto implique em aniquilamento de uma
cultura ou até mesmo grandes transformações de paisagens, com extinção de elementos da fauna e
da flora, além de comprometer mananciais e reservatórios de água, com o mau uso.
Esta breve reflexão traz elementos que poderão ser aprofundados num momento posterior e
suscita novos questionamentos. A nossa pretensão não foi apenas trazer resultados, mas instigar a
curiosidade de estudantes e profissionais, para que explorem cientificamente o espaço em discussão
e que possam contribuir de alguma forma, com a preservação cultural e ambiental do município.

REFERÊNCIAS

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perspectivas socioeconômicas: estudo de caso no município de Bananeiras - PB. 69 p. Monografia
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Brasil:déficit, financiamento e perspectivas. IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
1996. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_410.pdf>. Acesso em 24/08/11.

89
TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO URBANO: MÁRIO ANDREAZZA – BAYEUX/PB

Fransuelda Vieira de FARIAS - Geógrafa(UFPB)-francegualbert@gmail.com


Francisco Vieira de ASSIS - Jurista Popular – Fundação Margarida Maria Alves
Ivonaldo Lacerda da SILVA – Geógrafo (UFPB)-ivojpa@gmail.com
Ítalo Ramon Valentim da SILVA – Graduando em Geografia (UFPB) -italoramon1@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho de pesquisa tem por objetivo apresentar um estudo realizado no bairro Mário
Andreazza em Bayeux sobre a necessidade de moradia e qualidade de vida, além da formação do
espaço urbano do bairro Mário Andreazza, que a população acabou chamando de Mutirão. A
pesquisa levou-nos ao resgatedo passado histórico de lutapela água, que marcou a história de um
bairro que nasceu devido à pressão do movimento de populares do entorno da Grande João Pessoa,
construído em regime de Mutirão que dá sentido ao seu nome, com a força de trabalho dos seus
futuros moradores, considerando o sobre trabalho, já que a autoconstrução foi a base do processo de
construção.

Palavras chave: espaço urbano, bairro, autoconstrução, degradação, qualidade de vida

Abstract

This research work aims to present a study conducted in the district in Mário Andreazza Bayeux on
the need for housing and quality of life, besides the formation of urban space in the neighborhood
Mario Andreazza, we prefer to call Mutirão, research-led in the rescue of the historic past of
struggle for water, which marked the history of a neighborhood that was born due to the pressure of
the popular movement around the Great João Pessoa, built in Mutirão scheme that gives meaning to
its name, with the strength of work of its future residents, considering about work, since the self was
the basis of the construction process.

Keywords: Urban Space, Neighborhood, self, Environmental Degradation, Quality of Life

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Introdução

Desde os primórdios o homem retira da natureza o que precisa para sobreviver, garantindo a
perpetuação da espécie. Na pré-história, o homem nômade vivia apenas do extrativismo, quando
acabavam as sementes e alimentos de uma determinada área, partia com seu grupo para procurar
outro lugar que fosse propício à sua existência. Após esse período o homem passou a morar em um
lugar fixo, plantando e colhendo para se alimentar, passou a desenvolver técnicas para apropriação e
transformação da natureza, antes ele fazia parte desta natureza, suas atividades não impactavam o
meio.

O espaço natural, com o desenvolvimento da humanidade e aperfeiçoamento das


ferramentas de trabalho, torna-se espaço social, socialmente produzido, ―No plano abstrato de que
estamos falando o processo do trabalho passa-se como sendo a transformação da primeira natureza
em segunda, isto é, sua socialização‖. (MOREIRA, 2000, p.79). O que antes era natural passa a ser
social, produzido para atender em um primeiro momento as necessidades do homem e depois para
atender aos interesses do capital.
A partir da revolução industrial, ápice do desenvolvimento do capitalismo, o espaço passa a
ser produzido segundo a lógica do capital, visando o acúmulo de riqueza. O homem passa a vender
sua mão-de-obra em troca de um salário sendo explorado pelos proprietários dos meios de
produção e a natureza, nesse processo, torna-se mercadoria, não só a natureza como também a
sociedade, como consequência dessa evolução temos: urbanização, crescimento da população,
geração de riqueza para alguns e empobrecimento de muitos, ou seja, desigualdade social.
Com isso surgem inúmeros problemas sociais e ambientais urbanos que se apresentam
como resultante do desenvolvimento do capitalismo, tanto nos países desenvolvidos quanto nos
países subdesenvolvidos.
A industrialização gerou inchaço populacional nas cidades, segregação residencial com o
afastamento da população empobrecida para áreas de periferia distantes dos locais de trabalho e em
áreas sem nenhuma infra-estrutura, implicando em degradação do meio ambiente.

À pobreza urbana e à segregação residencial podem ser acrescentados outros


problemas, não raro intimamente associado com elas duas. Um deles é a
degradação ambiental, em relação à qual, aliás, se percebe, em cidades como as
brasileiras uma interação entre problemas sociais e impactos ambientais de tal
maneira que irão causar tragédias sociais (como desmoronamento e deslizamentos
em encostas, enchentes e poluição atmosférica), têm origem em problemas sociais
ou pelo menos são agravados por eles. (SOUZA, 2003, p.84).

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O crescimento da população urbana acarreta muitos problemas, como a falta de lazer,
redução de áreas verdes, ocupação de terras reservadas à agricultura e à preservação de florestas
por loteamentos e por construção de grandes-projetos como shoppings e hotéis. O processo de
construção da cidade revela os antagonismos e disparidades existentes na sociedade e no meio
urbano, a desvalorização do centro da cidade, a ocupação de novas áreas dotadas de infraestrutura e
serviços, com bairros de médio e alto padrão e a segregação residencial, empurrando os
trabalhadores para áreas periféricas desprovidas de qualquer tipo de bem-feitoria.
Assim ficam caracterizados muitos bairros das diversas cidades que compõem a Grande
João Pessoa que surgiram desse processo. A necessidade da população e os interesses do capital
determinam a produção e a diferenciação de áreas no espaço urbano, os diferentes modos de
produção deixaram impressos na paisagem da cidade suas marcas ou rugosidades que os
caracterizam. ―Como os interesses e as necessidades dos indivíduos são contraditórios, a ocupação
do espaço não se fará sem contradições e, portanto sem luta‖. (CARLOS, 1992, p.42).
Como os interesses do trabalhador são diferentes dos interesses do capital, os trabalhadores
desejam melhores condições de vida e na luta pela sobrevivência dão forma, vida e movimento às
áreas onde moram, apesar da distância entre tais áreas e o centro, ou entre as zonas de serviços
especializados e das dificuldades existentes pela falta de equipamentos urbanos, os habitantes sem
condições econômicas e sem opção de moradia permanecem nesses locais, não de maneira estática,
mas transformando e construindo novos espaços através do esforço, da organização de movimentos
e lutas sociais, reivindicando os seus direitos.

Por outro lado, os que mais precisam usufruir de uma ―cidade com serviços e
equipamentos públicos‖ – aqueles que têm baixos salários – compram lotes/casas
em áreas distantes, onde o preço é mais baixo. Gastam um tempo elevado – de duas
a três horas – em deslocamentos casa/trabalho/casa. Além do custo com transporte,
constroem suas casas, em geral, nos fins-de-semana, organizam-se para obter
―melhorias serviços públicos necessários à sobrevivência e assim, através do seu
trabalho, conseguem obter ―melhorias‖ para estes bairros, aumentando ao mesmo
tempo o preço da terra, que beneficiará os proprietários de terras vazias‖. Não
puderam pagar por estes serviços, lutaram para consegui-los, inclusive até
perdendo vários dias de trabalho remunerado, e eleva o preço da terra, que será
apropriada por outros. (RODRIGUES,1989, p.22).

A autoconstrução é à saída de grande parte da classe trabalhadora que não dispõe de


recursos para construir a casa própria ou para recorrer à indústria da construção civil, a luta é para

92
obter um local digno para morar com toda família. Geralmente ocorre em bairros periféricos de
baixo padrão sem nenhuma regularização fundiária, a construção da casa acontece sempre nos finais
de semana com a ajuda de amigos, vizinhos e familiares, sem a necessidade de contratar mão-de-
obra.
A solidariedade é a base desse processo tão importante na produção do bairro e da cidade na
periferia. O anseio por um lugar para se abrigar com a família faz com que muitas pessoas
enxerguem na autoconstrução a esperança da casa própria, de ter um lar, um ambiente que
represente proteção. ―Não menos, talvez, a caverna deu ao homem antigo sua primeira concepção
de espaço arquitetônico, seu primeiro vislumbre da faculdade que tem um espaço emparedado de
intensificar a receptividade espiritual e a exaltação emocional‖(MUNFORD,1998, p.11).
Assim a cidade cria suas formas e desenhos que vão influenciar na paisagem, o
trabalhadorpara atender suas necessidades produz a cidade, o bairro, transforma a realidade em que
vive, pequenos espaços são aproveitados e passam a servir de moradia, áreas muitas vezes
impróprias, públicas e de uso coletivo são ocupadas por famílias. Vários bairros da grande João
Pessoa surgiram com esse intuito a exemplo do Mário Andreazza em Bayeux.
Dessa forma ―A cidade Mário Andreazza‖, assim chamada no documento de doação do
Governo do Estado, surgiu de uma área que foi desapropriada pela lei 4.437 de 05 de Novembro de
1982, na Gestão do então Governador Clóvis Bezerra. O terreno foi doado para fins residenciais,
seriam construídas casas populares para abrigar famílias carentes, residentes na periferia de João
Pessoa e do próprio município de Bayeux. Na figura abaixo podemos observar a localização do
bairro.

Fig. 01 – Localização do município de Bayeux e do bairro Mário Andreazza. Fonte: Google Earth

93
De acordo com Silva (1994), após alguns meses de espera sem que as obras começassem, o
povo resolveu ocupar a área, quando então foi designada uma equipe da FUNSAT (Fundação Social
do Trabalho) para trabalhar no cadastramento das famílias e dar início às obras. Aequipe social da
FUNSAT fez, reuniões, cadastramento e discutiu com as pessoas o regime de trabalho, Para ter
acesso a moradia as pessoas trabalhariam com horas computadas e cada família teria que completar
780 horas para ter direito a sua casa, trabalhando em regime comunitário em qualquer área das
obras que estavam, aliás se erguendo sob a orientação de apontadores (funcionários do Estado).
Deu-se então o início dos trabalhos, o conjunto Habitacional começou a ser construído em
regime de mutirão, foi por esse motivo que o bairro ficou assim popularmente conhecido(Mutirão
de Bayeux), a proposta do governo na negociação com as famílias que ocuparam a área era a
construção de 4.464 unidades habitacionais, sendo uma primeira etapa do conjunto.
Nesse processo de construção a participação da comunidade foi imprescindível, pois
implicou diretamente no barateamento das obras, moradia de baixo padrão construtivo e com baixo
preço, os trabalhadores eram os futuros moradores. Em alguns municípios brasileiros o regime de
mutirão foi uma alternativa encontrada para o problema da moradia na periferia. O Conjunto Mário
Andreazza no ano de 1983 começou a ser construído no regime de mutirão com a participação e
trabalho das pessoas cadastradas pelo Estado.
Para conseguir a tão sonhada moradia, homens e mulheres, pais e mães de famílias se
transformaram em trabalhadores da construção civil e contribuíam na obra com a força de trabalho,
já que o material de construção era da responsabilidade do Governo. Muitos concluíam a carga
horária exigida e permaneciam no local trabalhando para ajudar outras famílias. De acordo com
Silva (1994), o trabalho na construção levou muitos trabalhadores a exaustão, vários acidentes
foram registrados, desmaios, mulheres grávidas deixavam a obra passando mal e vários abortos
ocorreram por causa do excesso de trabalho.
Outros projetos foram criados para integração da comunidade, os chamados grupos de
produção, para dar assistência aos moradores do Mário Andreazza: a horta comunitária, de onde por
alguns anos muitas famílias retiraram o seu sustento, cultivando legumes e hortaliças, com
orientação de técnicos e agrônomos da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural da Paraíba), a fábrica de móveis, onde também eram oferecidos cursos de marcenaria, fábrica
de doce, fábrica de costura e um aviário que funcionou por pouco tempo.
Nos anos seguintes a entrega da primeira etapa do conjunto, ocorreu um intenso processo de
expansão urbana, novas etapas foram sendo construídas e entregues aos moradores, e o Mário
Andreazza ficou dividido em conjunto velho e conjunto novo, se diferenciando pela estrutura
arquitetônica das unidades habitacionais, compreendendo a área que vai da Escola Antônio Gomes
até a comunidade Jesus de Nazaré. Após esse trecho construído pelo Governo do Estado toda área
94
que hoje corresponde ao Portal da Vitória foi doado pela FAC (Fundação de Ação Comunitária) e
muitas famílias construíram suas casas, a doação se deu como resultado das lutas por moradia.
Apesar do adensamento populacional e expansão do Conjunto Mário Andreazza, seu povo
por muitos anos sofreu e ainda passa por muitos problemas, como por exemplo a falta de
equipamentos urbanos, a população numerosa passou muito tempo sendo assistida por apenas um
posto médico localizado ao lado da Creche Mãe Manda, e como tornou-se um estereótipo de bairro
violento, pelo preconceito de muitos que não conheciam o local, alguns profissionais tinham medo
de trabalhar no Conjunto. Na área da educação a Escola Antônio Gomes foi a primeira construída
no Mário Andreazza, funcionava antes da construção do prédio atual no centro comunitário, com
várias turmas, teve papel imprescindível no trabalho de alfabetização de crianças e jovens.

Movimentos e grupos organizados atuantes que marcaram a história do Mário Andreazza.

Desde a fundação do bairro muitos problemas marcaram a vida e o cotidiano das pessoas ali
residentes, o espaço vivido, tornou-se espaço das lutas sociais, da reivindicação por melhores
condições de vida, da realidade difícil de um bairro desprovido de qualquer tipo de infraestrutura,
da falta de água, de saneamento básico, de moradia ainda para muitos, de equipamentos urbanos
para servir a sua população como unidades de saúde, escolas, creches.
Diante desse cenário, vários grupos começaram a se organizar, moradores que sonhavam
com dias melhores se juntavam para reivindicar junto ao Estado, Prefeitura e Órgãos competentes,
melhorias para o Bairro, a associação de moradores na época muito atuante, juntamente com a
Igreja Católica - Área Pastoral São João Batista, animada pelo espírito das CEB´s (Comunidades
Eclesiais de Base), fundamentada no Evangelho e na opção pelos pobres a Teologia da Libertação.
A luta pela água ainda hoje é lembrada no bairro por muitos militantes, pois a água nas torneiras das
casas hoje representa uma grande conquista do povo organizado e com um único objetivo o bem
comum. As fotos abaixo mostram a dificuldade para se conseguir água e a luta dos moradores por
melhores condições de vida e infraestrutura para o bairro.

95
Fig.02 -Correio da Paraíba, 1999. Realidade vivida pelos Fig.03 - Associações de Moradores,1999.
moradores durante 16 anos. Grito dos excluídos na Avenida liberdade.

Por dezesseis anos a falta d‘água no Mutirão representou um grande sofrimento para o povo,
como também ricos a saúde, filas de latas vazias compunham a paisagem do bairro, os moradores
eram obrigados a cavar buracos profundos nas ruas, serrar a tubulação para coletar a água e acordar
de madrugada, para não correr o risco de ficar sem água o dia todo, essa era a penitência todos os
dias do povo do Mutirão.
Inúmeras vezes os moradores desceram a ladeira em direção a BR-101, bloquearam a
passagem dos veículos, queimaram pneus e seguiram em marcha para a sede da CAGEPA, onde
foram recebidos pela cavalaria da polícia militar, queriam apenas água para matar a sede e para
tomar banho, água nas torneiras das suas casas, água que é vida.

Fig.04 – Moradores reivindicando água. 10 de Fig.05 – Chegada dos manifestantes na Cagepa. 10


Novembro de 1999. Jornal Dia a Dia de Novembro de 1999. Jornal Dia a Dia.

96
Outros momentos relevantes podemos destacar, como a luta por moradia, as caminhadas
pela PAZ, luta pelas passarelas na BR – 101 por causa dos inúmeros acidentes com vitimas fatais,
as reivindicações por segurança no bairro, instalação de posto policial, melhoria na qualidade da
educação, saneamento básico, calçamento, e pela preservação do meio ambiente.

Problemas sociais e ambientais que caracterizam o espaço urbano no bairro.

Sendo uma das zonas de expansão urbana do município, ou seja, que apresenta possibilidade
de crescimento da mancha urbana, o bairro localiza-se entre o Parque Estadual Mata do Xem-Xém,
ao sul, que foi decretada unidade de conservação Estadual da Mata do Xem-Xém em 28 de agosto
de 2000, pelo decreto Estadual nº 21.252 e o Bairro Comercial Norte a leste, limita-se ao norte com
a BR-101, a oeste com o Bairro Rio do Meio.
A população economicamente ativa encontra-se dividida nos setores secundário e terciário
da economia, secretárias do lar, empregados do comércio, da indústria, trabalhadores do comércio
informal, prestadores de serviços, funcionários da Prefeitura: Professores, motoristas, Agentes de
Saúde, agente de limpeza urbana, serviços gerais, dentre outros. Um grande problema que atinge os
moradores ainda é o desemprego, algumas famílias sobrevivem apenas com o benefício do Governo
Federal (Bolsa Família), outros moram em habitações sub-humanas, construídas em assentamentos
irregulares e com material reaproveitado: plástico, lona, papelão, sem piso e sem nenhum
revestimento.
O surgimento de áreas ocupadas com fins residenciais e sem o mínimo de infraestrutura tem
contribuido com o aumentado da produção de lixo;Nas áreas de ocupação,o surgimento de ruas
estreitas e tortuosas impede a passagem do carro do serviço de limpeza urbana, dificultando a
coleta, dessa forma os moradores acumulam o lixo, deixando as ruas sujas, ou levam até o final da
rua para que o carro possa coletar, na maioria das vezes não é isso que ocorre, devido a
proximidade com a mata os detritos são jogados no interior da mesma, a imagem da
degradação,mau cheiro e a presença de insetos é bem comum.

97
Fig.06- Juristas Populares –2007. Esgoto jorrando nas Fig.07- Juristas Populares, 2007 – Muro da
ruas do Mário Andreazza. Empresa Jonildo Brito, crianças brincam no lixo.

A falta de infraestrutura é um problema que já nasceu com o bairro, é comum encontrarmos


no lugar, lixo espalhado pelas ruas, esgoto escoando a céu aberto, tornando-se foco para vetores
disseminadores de doenças. O não tratamento dos resíduos líquidos vem ocasionando ao longo dos
29 anos de fundação do bairro inúmeros problemas de saúde. A falta de cuidado com o ambiente é
perceptível, ao caminharmos pelo bairro.

Considerações Finais

Em toda história da configuração territorial do bairro Mário Andreazza, sentimos a


participação popular, a materialização de momentos em que os moradores conscientes partiram em
busca de melhores condições de vida para a coletividade, a vida que pulsa no bairro e que define as
relações existentes como também a paisagem e o espaço geográfico do mesmo.
Percebemos também que toda melhoria realizada, só ocorreu após muita luta e sofrimento
das pessoas, após doze anos da chegada da água tão sonhada, sentidos que ainda falta muito,
quando se refere a salubridade ambiental, que é dever do estado e direito de todo cidadão, ter um
lugar seguro e propício a moradia para acolher as gerações futuras com respeito e responsabilidade.
Uma transformação no meio urbano se faz necessário, saneamento básico, pavimentação de
ruas, coleta de lixo e educação ambiental, para que as pessoas possam viver com dignidade,
cuidando do lugar em que vive e tal cuidado sendo refletido na sua saúde das pessoas.
Portanto, percebemos que só com os grupos e entidades de representação popular, população
unida exercendo seu papel de forma consciente através do controle social será possível uma reforma
urbana, com um devido planejamento, melhorando áreas deterioradas como os assentamentos
urbanos subnormais existentes e implantação em Bayeux de projetos de construção de Habitação de
Interesse Social.

98
Referências Bibliográficas

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2003.
CARLOS, Ana Fani Alexandre. A Cidade. São Paulo: Contexto,1992.
MUNFORD, Lewis. A cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense,2000.
SILVA, Maria Rizolena Miranda da. História da Fundação do Bairro Mário Andreazza: incluindo a
História da Escola Antônio Gomes e a Biografia do Autor. Bayeux: Mímeo, 1994.
RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas Cidades Brasileiras. São Paulo: Contexto,1989.
JORNAL DIA A DIA, João Pessoa, quarta feira, 10 de Novembro de 1999. Clóvis Roberto –
Repórter.
CORREIO DA PARAÍBA , quarta feira, 02 de Maio de 2001.
GOOGLE EARTH. Disponível em: <http://www.google.com/earth/index.html> Acesso em 10 out.
2012.

99
A REDEFINIÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NATAL A PARTIR DA INFLUÊNCIA DE SEU
SETOR TERCIÁRIO: UMA ANÁLISE DAS AVENIDAS BERNARDO VIEIRA E
ENGENHEIRO ROBERTO FREIRE

NASCIMENTO, Gerson Gomes do.

PONTES, Beatriz Maria Soares Pontes (orientadora).

Resumo

Este trabalho analisou a influência do terciário de Natal/RN na reprodução e/ou reconfiguração de


seu espaço urbano, notadamente nas avenidas Engenheiro Roberto Freire e Bernardo Vieira, uma
vez que, na atualidade, são estas as avenidas que mais têm recebido investimentos tanto privados
como públicos na cidade, ou seja, são as que mais têm atraído investimentos comerciais e de
serviços e, consequentemente, têm sofrido transformações urbanas no que se refere aos
investimentos em infraestrutura por parte do Estado em suas esferas estadual e municipal, via
políticas públicas urbanas. Neste sentido, levamos em consideração as relações entre políticas
públicas urbanas, espaço urbano e crescimento do setor de serviços, destacando o turismo como
fator primordial, principalmente, na análise da Avenida Engenheiro Roberto Freire. Aplicamos
formulários com questões abertas e fechadas em todos os serviços existentes nessas avenidas a fim
de caracterizá-las, consultas à bibliografia pertinente às temáticas, visitas aos órgãos municipal e
estadual entre outros aspectos. Concluímos que as duas avenidas apesar de apresentarem serviços
diferenciados apresentam problemas semelhantes tais como: falta de estacionamento, poluição
sonora, roubos e assaltos frequentes, prostituição etc. Desta forma, acreditamos que se faz
necessário à implementação de políticas públicas urbanas que contemplem a sociedade a fim de
amenizar tais problemas ali verificados.

Palavras-Chaves: Setor Terciário; Políticas Públicas Urbanas; Espaço Urbano.

Abstract

This study examined the influence of tertiary Natal/RN reproduction and/or reconfiguration of its
urban space, especially in the avenues Engineer Roberto Freire and Bernardo Vieira, since, at
present, these are the avenues that have received more investments both private as public in the city,
are the ones that have trade in services and, consequently, have suffered urban transformations in
the case of infrastructure investments by the state and municipal levels, and urban public policies.
In this sense, we consider the relationship between urban public policy, urban space and growth of
the service sector, highlighting tourism as a key factor, especially in the analysis of Avenue
Engineer Roberto Freire. We apply forms with open and closed questions in all existing services in
these avenues to characterize them, the related bibliographical thematic visits to municipal and state
agencies among others. We conclude that the two avenues despite showing differentiated services

100
have the same problems such as lack of parking, noise pollution, frequent robberies and assaults,
prostitution etc. Thus, we believe that it is necessary to implement public policies that address urban
society in order to minimize such problems there checked.

Key-Words: Tertiary Sector; Urban Public Policy; Urban Space.

Introdução

Este trabalho analisou a influência do setor terciário de Natal/RN na reprodução e/ou


reconfiguração19 de seu espaço urbano, notadamente nas avenidas Engenheiro Roberto Freire e
Bernardo Vieira, uma vez que, na atualidade, são estas as avenidas que mais têm recebido
investimentos tanto privados como públicos na cidade, ou seja, são as que mais têm atraído
investimentos comerciais e de serviços e, consequentemente, têm sofrido transformações urbanas
no que se refere aos investimentos em infraestrutura por parte do Estado em suas esferas estadual e
municipal.
Neste sentido, levamos em consideração as relações entre políticas públicas urbanas, espaço
urbano e crescimento do setor de serviços, destacando o turismo como fator primordial na análise
da Avenida Engenheiro Roberto Freire. Entretanto, devemos considerar que a ênfase dada ao
turismo nesta avenida em particular, se justifica pelo fato de que, nesta área, o espaço urbano se
reproduz, sendo, de certa forma, preparado para ser visto e fotografado pelos turistas, se estendendo
para além do olhar do visitante, ou seja, aos bairros de status que ali se localizam, sem, contudo,
deixar de considerar a noção do todo que compõe a cidade.
Vinculados a tais propósitos, encontram-se os processos de mudanças relativos a espaços
específicos na cidade, nos quais é notório que o poder público aparece como protagonista na
promoção e crescimento do poder econômico, ao considerar o setor de serviços como fonte de
interesse econômico nos mais diversos seguimentos sociais, concorrendo como produto suscitador
para a formação bem como incorporação de novos valores, costumes e hábitos, do ponto de vista
econômico, social e cultural. Desse modo, como uma prática social configuradora de um conjunto
de atividades econômicas, cabe afirmar que, o setor terciário da economia reproduz, como qualquer
outro setor, as contradições do sistema.
Entendemos que, para a realização de qualquer atividade capitalista que seja se faz
necessário à produção de um espaço que esteja em grande conformidade com ela. No caso do setor

19
Concordamos com Corrêa (1995, p. 38), quando nos mostra que a expressão organização espacial é sinônimo de
estrutura territorial, configuração espacial, formação espacial, arranjo espacial, espaço geográfico, espaço social, espaço
socialmente produzido ou, simplesmente espaço.

101
terciário da economia, especificamente, tais transformações se tornam mais presentes e efetivas,
tendo em vista a necessidade da produção/reprodução de um espaço que seja agradável aos olhos
daqueles potenciais consumidores em um apelo constante ao próprio consumo, uma vez que, esse
setor pode, em determinados momentos, demandar investimentos em infraestrutura e, em outros,
apropriar-se daquelas já existentes.
Nesse contexto, essa possibilidade contribuirá para a construção de novos espaços que
surgirão sempre que as necessidades de consumo tiverem demanda. Nestes, não caberão situações
nem cenários desconectados com o marketing de interesse do mercado, que sempre desperta o
desejo pelo consumo, quaisquer que seja ele, através de novas centralidades que surgem com o
passar do tempo na cidade. Percebemos, então, que as alterações que acontecem nesses espaços
afetam paradoxalmente a população ali residente uma vez que esse setor é um potencial gerador de
postos de trabalho e conseqüente ativador da economia.
Neste sentido, este trabalho procurou desvendar os caminhos pelos quais a atividade
terciária vem procurando se consolidar bem como se reproduzir como parte do sistema capitalista,
dando ênfase de como ela vem se consolidando em artérias e/ou corredores principais da cidade.
Nesse sentido, levantamos a hipótese de que as políticas públicas urbanas, algumas delas associadas
ao turismo, induzem as transformações socioespaciais em Natal, privilegiando o capital privado,
contribuindo, dessa forma, para reeditar atividades tradicionais (modernizadas) animadas pela
economia do setor terciário.

O espaço urbano e sua relação/apropriação pelo setor terciário da economia

O setor secundário da economia era considerado, até meados dos anos de 1970, o mais
importante setor da economia. Todo país bastante industrializado possui, ou chegou a possuir, um
mínimo de 30% de sua população economicamente ativa nesse setor. Contudo, a maior parte das
economias já industrializadas, especialmente os líderes da Terceira Revolução Industrial: Estados
Unidos, Japão e Alemanha entre outros, vêm apresentando, desde os anos de 1970, uma rápida
diminuição do número de operários, causada principalmente pela intensa diminuição do número de
operários, advinda da grande automatização ou robotização das tarefas (UNDP, 2001).
Nesse contexto, o único setor em que, atualmente se registra um sensível crescimento de
empregos e de novas atividades é o setor terciário, que se estima, será o grande empregador do
século XXI, pois os outros dois grandes setores, irão ocupar juntos, no máximo, 20% da força de
trabalho nos países industrializados. Em virtude da mecanização do campo e da urbanização,
processos iniciados desde o advento da Revolução Industrial, a percentagem da população ocupada
no setor primário tende a diminuir no mundo inteiro, até atingir uma média de 5% a 6% da
população ativa. Há, porém, segundo dados da UNDP (Human Development Report) (2001),
102
percentagens ainda menores, como nos Estados Unidos (2,7%), na Bélgica (2,4%) e no Reino
Unido (1,8%) (UNDP, 2001).
Pelo contrário, graças aos avanços recentes na globalização associada à revolução técnico-
científico-informacional, uma série de novas atividades e/ou empregos está surgindo no setor
terciário. Novos tipos de comércio, expansão do turismo, da informática, das telecomunicações, das
pesquisas científicas e tecnológicas entre outras dão a tônica do contexto atual desse setor. Esse
crescimento, no entanto, não ocorre em todas as atividades desse setor, mas apenas em algumas
delas, pois existem inúmeros empregos dessa atividade que também estão sendo esvaziados pela
automatização das suas tarefas tais como; alguns setores bancários, funcionários de escritórios,
datilógrafos, arquivistas, recepcionistas entre outros.
Diante do exposto, tentaremos resgatar a importância e o significado, bem como o
crescimento dessa atividade, fazendo uma relação com o espaço urbano ao longo do tempo,
evidenciando a evolução histórica desse espaço até os dias atuais, procurando em seguida,
apresentar uma tipologia de suas atividades, quando de sua apreensão com o espaço urbano
contemporâneo e o mercado de trabalho em sua totalidade uma vez que ―a importância do terciário
para o dinamismo dos espaços urbanos não constitui um fato recente na história da humanidade,
visto que, desde os seus primórdios, muitas cidades tiveram nestas atividades, o fator de sua
formação histórica e do seu dinamismo sócio- econômico e espacial, ao longo de vários momentos
do seu acontecer como cidade‖ (CASTILHO, 1998).
As mudanças da atual organização econômica mundial, do modelo de produção às formas de
circulação, das mentalidades e dos estilos de vida, inerentes à atual fase do capitalismo (a
globalização), estão a produzir uma nova cidade, que em termos de forma e funcionamento, poucas
semelhanças aparentam com as do passado. Esta cidade, descentrada, reticulada, constituída por um
conjunto de enclaves, de grandes áreas comerciais unidos por artérias e passagens desniveladas,
começou a desenhar os seus contornos com o forte processo de suburbanização das populações, que
veio a se consolidar desde os anos de 1950, sobretudo, nos países do centro.
Entretanto, a partir dos anos de 1970, como o desenho de um novo mapa de acessibilidades
e mobilidades bem como das novas lógicas empresariais, é que, definitivamente, se acelera a sua
produção. Em termos de estrutura, essa ―nova‖ cidade é policêntrica e fragmentada. O
policentrismo, no essencial, se refere ao declínio da organização hierárquica hegemonizada pelo
tradicional centro comercial, financeiro e de serviços, e ao surgimento de uma multiplicidade de
centros, uns especializados e outros mistos, tanto na cidade como nas periferias, na criação do qual
o setor terciário tem um papel fundamental.
Por sua vez, a fragmentação está relacionada como o modo como a cidade vem sendo
produzida/reproduzida, segundo uma lógica de enclave, em que há contigüidade física sem,
103
contudo, contiguidade social nem funcional. Muitas vezes esses enclaves são edifícios singulares ou
megacomplexos cenográficos e espetaculares de residência, condomínios fechados, shopping-
centers, áreas comerciais e de serviços, dissonantes, muitas vezes, do conjunto e localizados de
forma aparentemente aleatória, simples consequência do jogo dos atores imobiliários de valorização
e desvalorização que atuam no espaço urbano.
Assim, na base da construção/reconstrução da forma urbana na atualidade, encontramos
também profundas mudanças na economia. Neste domínio, entre outros aspectos, assumem
particular importância à transição da base econômica da indústria para o setor de serviços bem
como às mudanças no modo de organização inerentes à passagem do modelo fordista-keynesiano,
como já comentado, para o de acumulação flexível.
Apoiada na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo,
a acumulação flexível permite que o consumo se liberte dos grilhões da padronização rígida e da
estabilidade, celebrando a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercantilização das
formas culturais. Tudo isso se reflete diretamente no espaço urbano.

2.1 Natal: o contexto do urbano e sua relação com o terciário

Nesse contexto, a cidade de Natal não constitui uma exceção, ou seja, é uma cidade que se
afigura verdadeiramente como um repositório desses espaços, desde sua inserção na logística de
apoio aos americanos na Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais com a crescente expansão das
atividades terciárias que vem produzindo/reproduzindo e/ou reconfigurando novos espaços e, dessa
forma, redefinindo e/ou reconfigurando sua paisagem urbana, notadamente aquelas destinadas ao
setor de serviços.
Dessa forma, acreditamos que as escolas tiveram (e tem) sua importância por analisar as
cidades em diferentes contextos históricos no seu processo evolutivo, entretanto, as médias e
grandes cidades que se incorporam aos diversos circuitos/redes de produção passam a expressar
essas análises, considerando a diversificação das relações de poder que se estabeleceram na
hierarquia dessas múltiplas redes e circuitos.
Essa hierarquia que tece redes decorre da forte dinâmica de alguns espaços urbanos que
apresentam aceleradas transformações no seu interior. Essa dinamicidade é explicada por um
refazer constante do arranjo sócio-econômico-espacial da cidade, caracterizado por um
deslocamento de atividades e pela migração interna de sua população num processo de
valorização/desvalorização do solo urbano, tendo muitas vezes, o setor terciário como modelador da
reconfiguração urbana numa dada área da cidade e/ou em várias áreas ainda que de forma e
intensidade variadas.

104
O espaço urbano representa, portanto, a construção coletiva da sociedade num processo
cumulativo de sua cultura, sua economia, seus sonhos e suas realizações, ou seja, a expressão da
condição humana. As várias feições dessa condição apresentam-se de forma espacializada, cuja
arquitetura e distribuição de serviços determinam à classe econômica dos moradores nos diferentes
espaços. Assim, a construção desse espaço urbano é produto do entendimento com a sociedade, mas
também, e principalmente, de imposições do poder econômico no contexto da relação público e
privado cuja relação vai de encontro a interesses majoritários muitas vezes corroborados pelo
Estado (FURTADO, 2006).
Nesse sentido, os lugares para trocas de produtos sempre implicaram em situações
estratégicas do ponto de vista socioespacial. No caso do comércio e serviços esse fator se torna
fundamental. Quando se trata da reprodução de um pequeno capital, é óbvio que o fato de estar
instalada numa área onde os consumidores possam afluir numa rua e/ou avenida comercial
importante, por exemplo, permite a acumulação e a concentração de capital mais rapidamente do
que num lugar onde essas condições não se verifiquem.
A lógica da apropriação dos espaços é marcada e demarcada por alterações na estrutura
socioeconômica como fator de desenvolvimento, cujo significado oscila entre o que se perde (aqui
entendido como descaracterização/desapropriação de identidades) e o que se ganha (a exemplo das
ampliações realizadas por novos empreendimentos, principalmente na infraestrutura, criada e
exigida pelo setor terciário). Em Natal, são as avenidas Engenheiro Roberto Freire e Bernardo
Vieira que, ao longo dos últimos anos, vem se reconfigurando como áreas promissoras ao setor do
comércio varejista e serviços, se refletindo no contexto do urbano. São estas que, na atualidade,
mais recebem investimentos públicos e privados dentro de um contexto das políticas públicas
urbanas da capital potiguar.
Entretanto, esse processo de expansão urbana e terciária na cidade, fez-se sentir,
principalmente a partir das décadas de 1970 e 1980, quando da política de expansão de habitação
desenvolvida pelo Estado brasileiro via BNH (Banco Nacional de Habitação), possibilitando, dessa
forma, à aquisição da casa própria, atendendo em boa parte, às diversas classes sociais, viabilizando
uma infraestrutura urbana que, gradativamente, faz deslocar as atividades desse setor para outras
áreas da cidade, descentralizando e expandindo os empreendimentos desse setor. Sobre esta
questão, Gomes, Silva e Silva (2000, p. 74), evidenciam que essa

[...] descentralização proporcionou um processo de reestruturação do espaço


terciário fazendo emergir uma nova espacialização em Natal, que, dessa vez
‗optou‘ (grifo do autor) pela ocupação de longas avenidas que cortam a
cidade, aqui denominadas de vias expressas de circulação. É o caso das
avenidas Hermes da Fonseca, Engenheiro Roberto Freire, Tomas Landim,
105
Prudente de Moraes, Airton Sena, Bernardo Vieira e, mais recentemente, a
Romualdo Galvão, a Jaguarari e o trecho urbano da BR 101. Essas vias
expressas de circulação constituem, na atualidade, o espaço preferencial da
atividade terciária, visto que nelas se encontram os grandes investimentos
desse setor. Houve, então, um processo combinado de reestruturação viária e
relocalização do terciário.

Assim, essa nova espacialidade que vem se mostrando nas últimas décadas em Natal, não
vem ocorrendo de modo espontâneo e/ou mesmo casual. Observamos que os investimentos,
principalmente os privados, são instalados nessas novas vias, uma vez que no entorno destas, existe
um grande e importante contingente populacional, ou seja, consumidores em potencial e que se
tornou consumidor nessas áreas e dessas atividades terciárias, garantindo, dessa forma, a
reprodução do capital. Além disso, torna-se relevante destacar aqui que, essas novas vias são
facilitadoras do fluxo de população para diversos recantos da cidade.
Cabe esclarecer, ainda que, nesse processo de redefinição comercial e de serviços pelo qual
a cidade vem passando, as áreas tradicionais de comércio da cidade não foram extintas. Estas, aos
poucos, vêm sendo incorporadas às novas espacialidades constituídas, embora sua importância no
conjunto da cidade tenha diminuído consideravelmente, em razão do surgimento dessas novas áreas
emergentes que, normalmente, são bem mais estruturadas. Assim, o bairro da Ribeira que perdeu,
ao longo do tempo, o papel importante que desempenhou no comércio e nos serviços na cidade e
que, de certa forma, vem passando o comércio da Cidade Alta, passam por um processo, ainda que
de forma muito tímida, de reorganização e reutilização socioespacial, logo, de reconfiguração
socioespacial na cidade.

Considerações Finais

Há fortes evidências empíricas que apoiam a existência de um processo de terceirização das


economias capitalistas. As mais eloquentes são aquelas que apontam o persistente e significativo
crescimento da participação do emprego do setor terciário no conjunto dos ocupados, em particular,
nas economias desenvolvidas, a partir do pós-guerra. Em economias de industrialização tardia e
periférica, como é o caso da brasileira, o debate sobre o crescimento desse setor e sua relação com o
espaço urbano, incorpora uma questão adicional, além da dificuldade em definir positivamente as
atividades desenvolvidas nesse setor.
Os recortes temporais e/ou as fases do crescimento que representam os diversos momentos
da história da cidade de Natal, estão fundamentadas numa literatura específica sobre a cidade bem
como em dados levantados junto a órgãos oficiais. São esses fatores que nos ajudarão na
compreensão dessa parte do trabalho. A utilização desses autores se faz de extrema importância
106
para a compreensão de uma periodização sem que se deixe de observar as contradições existentes
no espaço urbano de Natal e que fazem parte da gênese do organismo urbano, se manifestando de
forma mais intensa na atualidade. Assim, ainda que as atividades ditas menos organizadas tenham
seu espaço econômico subordinado ao comportamento das atividades ditas dinâmicas, seu
desempenho, especialmente em momentos de desaceleração e/ou crise econômica, não deve ser
desconsiderado da análise do processo de terceirização e, principalmente da relação deste com o
espaço urbano, na qual vem transformando a paisagem urbana de muitas cidades do país, fato que
em Natal não se mostra de forma diferente.
Assim, como expressão concreta dessa afirmação, podemos destacar que na área objeto
desse estudo, notadamente na Avenida Engenheiro Roberto Freire que tem ligação direta com o
bairro de Ponta Negra, percebemos uma incidência frequente nos empreendimentos de lazer,
gastronômicos, de hospedagens e de compras tais como: bares, restaurantes, shopping-centers,
superrmercados, hipermercados, hotéis, pousadas entre outros. Todavia, deve-se destacar que este
fato é corroborado pelo importante papel turístico que a cidade vem desenvolvendo nos últimos
anos a nível regional, nacional e internacional.
Portanto, o setor terciário da economia, enquanto eixo econômico das sociedades de
consumo, tem sido de muita importância no processo de ocupação dos espaços urbanos em Natal,
uma vez que, à medida que reproduzir o capital na cidade, também reproduz o seu espaço urbano.
Além disso, esse setor apresenta-se como uma das alternativas para a força de trabalho que migra
do campo para a cidade e/ou das pequenas cidades do interior do estado. Todavia, não podemos
deixar de ressaltar, também, a grande complexibilidade apresentada por este setor, o qual se
materializa no espaço urbano, refletindo diretamente no processo de desenvolvimento econômico da
cidade.

Referências

CASTILHO, C. J. de M. As Atividades dos serviços, sua história e seu papel na organização do


espaço urbano: uma ―nova‖ perspectiva para a análise geográfica? Revista de Geografia, Recife, v.
14, n. 1/2, p.29-89, jan./dez. 1989. Versão revisitada.

CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. Ática. São Paulo: 1995.

FURTADO, Edna Maria. A “onda” do turismo na Cidade do Sol: a reconfiguração urbana de


Natal. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) UFRN. PPCS, Natal, 2006.

107
GOMES, R. de C. da C.; SILVA, A. B.; VALDENILDO, P. da S. O Setor Terciário em Natal. In:
VALENÇA, Márcio Moraes; GOMES, Rita de Cássia da Conceição (Org.). Globalização e
Desigualdade. Natal: A.S. Editores, 2002. P. 289-310.

UNDP, Human Development Report, 2001.

108
QUALIDADE DE VIDA NO DISTRITO DE JOAQUIM EGÍDIO, CAMPINAS-SP, ATRAVÉS
DO IMAGINÁRIO RURAL E URBANO

MALDONADE, Iris Rodrigues20

PARK, Margareth Brandini21

PARK, Kil Jin 22

RESUMO

A História do município de Campinas-SP é marcada pela agricultura desde sua origem. Hoje, além
dessa vocação, é referência tecnológica e industrial. O distrito de Joaquim Egídio torna-se
importante por ser a maior área territorial do município, por pertencera Área de Proteção
Ambiental, e por garantir áreas verdes e o abastecimento da região. Através da História Oral, o
artigo traz relatos de pessoas que participam do cotidiano do distrito e fazem apontamentos para
que Campinas e o distrito não entrem na vulnerabilidade social, ambiental e cultural.
PALAVRAS CHAVES: Campinas, Joaquim Egídio, desenvolvimento, sustentabilidade, história
oral.

ABSTRACT

The history of Campinas-SP is marked by agriculture since its origin. Today, besides this aspect, it
is a technological and industrial reference. The District of Joaquim Egídio becomes important
because it is the largest land area of the city, belonging to an Environmental Protection Area and
also it safeguards green areas and water supplies to region. Through oral history, this article brings
reports of people who participle in the everyday life of the district, signalizing how both the
District and Campinas has managed not to enter the environmental, social and cultural
vulnerability.
KEYWORDS: Campinas, Joaquim Egídio, development, sustainability, oral history

Da Campinas das campinas à Campinas dos fragmentos

20
Orientadora Pedagógica da Rede Municipal de Educação de Campinas-SP, mestre em Engenharia Agrícola -
FEAGRI-UNICAMP, irismaldonade@gmail.com
21
Pesquisadora do Centro de Memória da UNICAMP doutora em Educação-Faculdade de Educação - FE/UNICAMP,
margareth.park@gmail.com
22
Pesquisadora do Centro de Memória da UNICAMP doutora em Educação-Faculdade de Educação - FE/UNICAMP,
margareth.park@gmail.com
109
A cidade de Campinas, desde a sua emancipação enquanto município ocupa uma
localização geográfica que tem influenciado toda a história de seu desenvolvimento urbano,
político, econômico e agrícola, conduzindo a um modelo de distribuição populacional que a coloca
em situação de vulnerabilidade sócio-ambiental.
Foi descoberta no início do século XVIII como rota dos bandeirantes que iam de São Paulo
para explorar as terras de Goiás e Minas Gerais, abrindo caminhos que, aos poucos, levavam a
formações de Sesmarias e seus povoados.
A fama da fertilidade da região com qualidade agrícola do solo e clima favorável estimula o
povoamento, fornecendo repouso aos tropeiros e cavalos que seguiam pelo ―Caminho dos Goiases‖,
levando produtos agrícolas como feijão, milho, mandioca, tabaco. Em 1721, formaram-se três
povoados entre as vilas de Jundiaí e Mogi-Mirim, conhecida como ―Campinas do Mato Grosso‖,
devido à predominância da vegetação-campinas.
Em 1842, a cidade foi batizada com o nome de ―Campinas‖ confirmando o nome sugerido
no final do século XVIII. Nesse momento, inicia-se a cultura de café. Em 1860, a cidade torna-se a
maior produtora do estado de São Paulo.
A região vive o apogeu do ―Ouro Verde‖ (café) até 1929, quando a crise econômica
internacional,registrada pela queda da bolsa de valores dos Estados Unidos, a atinge, marcando a
transição da economia agrícola brasileira para a industrialização. Ela começa a ser abandonada
pelos trabalhadores e fazendeiros ocasionando o êxodo rural e dando início ao processo de
urbanização da cidade.
―Para se ter uma idéia do efeito daquela crise sobre a produção rural do município de
Campinas, basta dizer que a população de Sousas, que em 1929 era constituída por cerca de 25.000
pessoas, teve no período subsequente seu contingente reduzido a 5.000 habitantes, segundo dados
da Monografia Histórica e Estatística do Distrito de Sousas” (CAMPINAS- Plano de Gestão da
APA, 1996, p. 28).
De 1930 a 1960, o processo de modernização do país influencia o município em sua
estrutura econômica com a crescente atividade industrial. A partir da década de 60, o município
desenvolve-se na área educacional e científica com a criação da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP) em 1966. Na área técnica, com a fundação da CATI (Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral) em 1967 e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) em 1969.
Ambos os órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São
Paulo.
Segundo CUNHA e OLIVEIRA, A. (2001),na década de 70, o crescimento industrial foi
elevado com o intenso processo de modernização agrícola, tornando a região um importante pólo
regional.
110
A política do Estado em desconectar as atividades produtivas em direção ao interior paulista,
processo de interiorização, impulsiona um grande fluxo migratório ao interior paulista.
―... os investimentos governamentais realizados através da oferta de incentivos e de
infraestrutura, somaram-se à existência de uma base agrícola moderna fortemente articulada ao setor
industrial, e à existência de uma rede urbana bem estruturada‖(CUNHA e OLIVEIRA, A., 2001, p.
354).
Campinas, por estar situada em ponto geográfica estratégico no Estado de São Paulo, recebe
muitos imigrantes do referido Estado, bem como de outros. ―No decorrer destes anos, embora a
instalação de indústrias, serviços e população tivessem se concentrado na capital e nos municípios
de seu entorno, Campinas atraiu em escala considerável novas indústrias‖ (CUNHA e OLIVEIRA,
A. 2001, p. 353).
Entretanto, o crescimento traz uma configuração da ocupação do território de maneira não
homogênea, distribuindo a população de acordo com o poder aquisitivo, em regiões diferentes.

O Distrito de Joaquim Egídio

Por volta de 1842, surge o povoado do atual Distrito de Joaquim Egídio, à leste do
município de Campinas, com ocupações nas imediações do ribeirão das Cabras. Passa a ser
conhecido como bairro de Luciano Teixeira ou bairro de Laranjal, denominação do proprietário da
Fazenda, produtor de café e laranja.
As histórias dos Distritos de Sousas e Joaquim Egídio se fundem devido aos sucessivos
desmembramentos das sesmarias e, posteriormente, das fazendas. Dessa forma, surgem as demais
sendo que o nome do bairro rural de Campinas é dado por Joaquim Egídio de Sousa Aranha,
produtor de café. Por volta de 1846, as ocupações se intensificam nas extensões do ribeirão das
Cabras, de forma linear acompanhando a rua principal, intitulada Heitor Penteado e a vila da
Estação.
Em 1958, o bairro é elevado à categoria de Distrito de Campinas permanecendo, até hoje,
como uma região extremamente diferenciada da paisagem característica de Campinas, em função de
seu relevo acidentado de morros, serras alongadas, mananciais hídricos de abastecimento do
município (os rios Jaguari e Atibaia são alimentados por alguns afluentes, como o ribeirão das
Cabras), e permanência de remanescentes da Mata Atlântica, com cachoeiras, nascentes e clima
propício à cultura agrícola.
O relevo acidentado, de certa forma, contribui para a preservação dos recursos naturais, o
que muito provavelmente possibilitou a transformação da área em Área de Proteção Ambiental de
Campinas, afastando as pessoas de ali residirem.

111
Entretanto tal fato, nos dias atuais, deixou de ser considerado como um entrave para ser
atrativo de qualidade de vida junto à natureza, ambiente prazeroso dando sensação de refúgio
seguro e tranquilo.
Até a promulgação da Lei que regulamenta essa região em Área de Proteção Ambiental, em
2001, vários foram os empreendimentos imobiliários que impulsionaram a urbanização, porém de
maneira desordenada. Com a crise econômica do café, a característica dessa região foi sendo
alterada, principalmente, pelas divisões das propriedades e pelo êxodo rural deixando muitas
fazendas abandonadas até a década de 1950.

A partir dessa década:

―(...) com o novo impulso da economia rural, atrelado à intensificação da industrialização no


município, instaurou-se um novo processo de urbanização na região, caracterizado pela implantação
dos primeiros loteamentos e pelo surgimento de algumas indústrias. Mais notadamente, a partir de
então, a urbanização de Sousas se distinguirá de Joaquim Egídio pela sua dimensão e dinamismo‖
(CAMPINAS- Plano de Gestão da APA, 1996, p.36).

Nas décadas subsequentes, os Distritos passam por um processo intenso de loteamento das
áreas para moradia, e, a partir da década de 1980, os condomínios fechados passam a ser a nova
forma de moradia, trazendo consequências drásticas ao meio ambiente pela alteração da paisagem,
da fauna, do consumo e tratamento de água, bem como problemas de erosão e de assoreamento.

―Vários fatores, entretanto, indicam que a urbanização de áreas rurais da APA pode gerar
consequências ainda mais graves, devido à falta de infra-estrutura, predominância de declividades
acentuadas e solos suscetíveis à erosão, hidrografia densa, presença de matas naturais, sendo que cerca
de 70% da área remanescentes florestais nativos do Município de Campinas se encontra na
APA‖(CAMPINAS- Plano de Gestão da APA, 1996, p.79).

A respeito dos problemas de especulação imobiliária e das consequências ambientais para a


região, o Plano Gestor afirma que ―... o controle efetivo das pressões urbanizadoras só se dará, se
forem encontradas alternativas econômicas que tornem interessante a manutenção do uso rural das
terras, em comparação com a atratividade dos parcelamentos‖.(CAMPINAS-Plano de Gestão da
APA,1996, p.79)
Pensando na sustentabilidade ambiental da APA, esse mesmo Plano identifica atividades
agro-silvo-pastoris, turísticas e minerais como sendo as alternativas de aproveitamento econômico.
Para compreender como a sustentabilidade da região pode ser concretizada, não somente
através da intenção trazida sob a forma da Legislação e dos estudos do Plano Gestor, mas,
principalmente, ouvindo os depoimentos das pessoas que participam do cotidiano de Joaquim
Egídio, é que se propõe esse estudo como forma de evidenciar os apontamentos de ações sugeridas
112
pelos integrantes dessa comunidade, bem como a compreensão do imaginário rural necessário no
desenvolvimento local sustentável.

Metodologia

Esse estudo tem o enfoque nos aspectos qualitativos por se propor a compreender o objeto
de estudo analisando as relações estabelecidas entre comunidade e agricultores, na busca da
sustentabilidade local, no caso o Distrito de Joaquim Egídio.
A pesquisa está voltada para entender e compreender o que os pesquisados falam sobre a
região, como se estabelecem as relações sociais e como se constroem as parcerias entre Poder
Público e Privado para poder contribuir no processo de desenvolvimento da comunidade local.
A observação participante foi utilizada em diversos momentos de atividades no próprio
Distrito. Essa subsidiou a análise da comunidade como um todo, bem como indicou a alteração dos
instrumentos de coleta de dados.
A escolha pelo uso da entrevista oral se deu por possibilitar uma maior aproximação entre
pesquisador e entrevistado, e, também, por permitir que o entrevistado use de seu conhecimento e
sua história de vida selecionando momentos e episódios que acredita serem relevantes para esse
estudo.
Segundo GUEDES PINTO e PARK (2001, p.97) ―O fato de a história oral delinear-se
nesse diálogo entre as diversas áreas/ fontes de conhecimento termina por permitir um olhar
diferente a essas populações, buscando tornar visível as múltiplas facetas que compõem essa
realidade focalizada‖.
Foram entrevistados cinco tipos de estabelecimentos significativos e distintos, a saber:
dono de restaurante, dono da escola de equitação, comerciante de produtos agrícolas que são
vendidos fora do Distrito, produtor de produtos orgânicose pequeno comerciante de hortaliças.
Esses foram escolhidos devido a forte inserção que possuem no distrito.

Apontamentos dos entrevistados - Imaginário Rural e Urbano


Apesar de localizar-se dentro da Área de Proteção Ambiental, a população de Joaquim
Egídio procura forma de se desenvolver economicamente com ações associadas às suas
características originais.

―O setor turístico aposta em atividades esportivas que valorizem e respeitem a área de


proteção ambiental capturando adeptos, principalmente, aos finais de semana. As ―comidas caipiras‖
são oferecidas pelos vários restaurantes, cada vez mais lotados, com longas filas de espera,

113
acompanhadas de músicas de raiz cantada/tocada por duplas de músicos que ajudam a configurar esse
cenário bucólico‖ (PARK,2005,p.24).
É nesse cenário, moradores da região e pessoas que vêm de outras localidades em busca de
tranquilidade e qualidade de vida, que se tenta manter as tradições da região e o desenvolvimento
econômico fortalecendo o imaginário rural local.

―O imaginário social desses lugares representa um amálgama dos resquícios da vida em


fazendas e pequenas vilas, valorizando um universo rural repleto de costumes religiosos, festas
típicas e comidas rememoradas de antigos fogões à lenha‖ (PARK, 2005, p.24).
A escolha do local para moradia nas falas dos entrevistados está atrelada à busca pela
qualidade de vida. Entretanto, as pessoas que migraram de outras regiões para essa área possuem
uma representação do rural diferente, dos que nela residem há mais de 30 anos e/ ou nasceram na
região.
A qualidade de vida para aqueles que vieram de outras regiões está vinculada às questões
estéticas como presença de matas, rio – riachos e cachoeiras, ar despoluído, temperatura agradável
e animais. Apesar do objetivo comum, ou seja, encontrar outro lugar para morar, os motivos
desencadeadores para essa mudança variam conforme cada entrevistado.
A entrevistada, bióloga e comerciante de ervas medicinais e aromáticas, procura um espaço
para plantar e cultivar suas ervas. Entretanto, seu comércio localiza-se na região central de
Campinas em um dos bairros mais nobres de Campinas, denominado Cambuí.

―(...) depois que eu montei a chácara com as ervas medicinais e aromáticas eu achei que deveria
ter um ponto pra comercialização dessas ervas, aí eu escolhi o Cambuí por ser uma região aonde só
tem muitos prédios, poucas casas com quintais e resolvi montar um espaço onde eu tenho muito
verde, pra trazer um pouquinho o verde de Sousas‖.

O comerciante de produtos orgânicos reside na região de Joaquim Egídio há 10 anos. Veio


passear no país e conheceu sua esposa, que era nascida nessa região. Participa dos encontros de
agricultores de Campinas, dos momentos políticos e festivos do Distrito de Joaquim Egídio.
Buscou ajuda para introduzir a permacultura e, como salienta, sua propriedade é considerada a
única com o referido sistema em Campinas. A permacultura é um sistema de produção orgânica
que planeja a propriedade rural para a produção de suas culturas, utilizando suas próprias matérias
orgânicas para compostagem e adubação de maneira a completar o ciclo produtivo dentro da
propriedade. Valoriza a composição da vegetação, fauna e flora local, conciliando-a com sua
produção. Baseia-se no ―design‖ para a criação de ambientes através da observação de sistemas
naturais, na sabedoria contida em sistemas produtivos tradicionais e no conhecimento moderno,
científico e tecnológico.

114
O sistema orgânico é o terceiro princípio valendo para todo o território da APA de
Campinas, segundo a Lei nº 10.850inciso II –―serão incentivados cultivos sob os critérios da
agricultura orgânica‖
Porém, esse sistema agrícola é pouco utilizado na região da APA e, menos ainda, é a
utilização da permacultura como uma das formas desse sistema no município. ―Campinas tem um
milhão de habitantes, e os produtores orgânicos cabem nos dez dedos da minha mão‖ (depoimento
do comerciante de produtos orgânicos).
Apesar da qualidade de vida também estar no discurso daqueles que nasceram e/ou estão há
mais de 30 anos morando nessa região, os novos moradores acrescentam um diferencial que agrega
outros valores correspondentes ao vínculo das pessoas com a região, permitindo a constatação de
identidade e um sentimento de pertencimento.
Nesse trabalho, pertencimento é entendido conforme Gonçalves: ―Pertencer a uma cidade,
vila ou bairro, não é apenas viver nela, mas participar ativamente de seu cotidiano, de seus ritos e
costumes‖(GONÇALVES, 2003, p. 123).
O proprietário de escola de equitação, nascido em Sousas, fala da característica peculiar da
região que é a cultura caipira, a qual identifica com o tipo de trabalho que realiza: domador,
adestrador e instrutor de equitação.
Vale salientar que a cultura caipira é um marco da vida no campo desde a época da
colonização do Brasil, e que se intensificou no Estado de São Paulo com o movimento de
urbanização das cidades.
Oliveira, J. T. (2000) contribui com seu estudo, nesse momento, para que se possa
compreender o que o dono da escola de equitação diz sobre a cultura caipira na região de Joaquim
Egídio e Sousas.
A autora baseia seus pressupostos em dois autores que estudaram o campesinato no Brasil,
Antonio Candido e Maria Isaura Pereira de Queiroz. Queiroz, citada pela autora, mostra que no
período da escravatura, existia uma nítida divisão social representada pelos senhores e os escravos.
Essa separação permanece após a abolição da escravatura representada pelos fazendeiros e seus
parceiros. Somente a partir do final do século XIX, com o desenvolvimento da vida urbana, é que
aparece uma camada intermediária entre as duas. Entretanto, essa nova divisão fica restrita à vida na
cidade, ficando o campo com a divisão anterior.
As populações camponesas, cujas características gerais são universais, representam no
Brasil o caipira e o sitiante. Porém, apresentam especificidades de acordo com a história de cada
região.
―O camponês, em qualquer região do planeta, é um trabalhador rural cujo produto tem como
destino primordial o sustento da família, podendo ou não vender o excedente da produção. Em geral, é

115
um policultor, praticando uma agricultura rudimentar a partir de um conhecimento transmitido através
de gerações‖ (OLIVEIRA J.T, 2000, p.11).

Em Cândido, também citado pela autora, o conceito do o caipira, além de indicar uma
localização geográfica rural, traz ―(...) o sentido de cultura, de organização social, semelhante ao
conceito de cultura camponesa, exprimindo ―sempre um modo de ser, um tipo de vida‖ típico da
história paulista‖ (OLIVEIRA J.T, 2000, p.12).
Park, ao estudar a gênese da figura do Jeca Tatu por Monteiro Lobato, aponta que o autor
vem a público desculpar-se pelo tipo que criou para representar o caipira brasileiro. Desculpa-se,
mas não consegue redimir a criatura, que não convence quando supera suas mazelas. Segundo a
autora, ―O Jeca circula na sociedade brasileira pela rede que perpassa o imaginário social. Andou e
anda por aí, livremente a mostrar uma marginalidade que se nos apresenta incorporada, consciente
ou inconsciente...‖ (PARK, 1999, p.128).
Muitos autores utilizaram a imprensa para criticar Lobato como, por exemplo, Rocha Pombo
que cria o Jeca-Leão, matuto esperto e forte, para contrapor-se ao Jeca de Lobato. O entrevistado,
comerciante de hortaliças, aproxima-se desse pensamento quando verbaliza que é um caipira, mas
esperto, matuto, curioso, trabalhador e aprendiz.
Nesse sentido, outro entrevistado, comerciante que nasceu na região, reforça esse conceito
positivo, quando acrescenta outro diferencial para a área rural: lócus do caipira. Fala da
tranquilidade, do prazer em saborear a comida, da dose de paciência por causa da morosidade do
local. A necessidade de se manter as fachadas dos estabelecimentos comerciais e de moradia, no
centro do Distrito, se faz presente como uma questão patrimonial e histórica da região, que são as
características do ―rural de Campinas‖.
Proprietário de dois restaurantes muito procurados na região oferece esses espaços, enquanto
―slow food”. Relata que, nos restaurantes as pessoas precisam estar à vontade, assim como os
garçons, pois tudo é preparado na hora. Não há uma linha de produção e nem utilização de produtos
pré-cozidos. Além desse tipo de atendimento, ele reconstitui seus estabelecimentos na arquitetura
original acrescida de detalhes característicos às práticas culturais próprias das antigas gerações
como, por exemplo, o hábito de alimentar animais com frutas e verduras nas árvores existentes,
propiciando a sensação de reviver a história local.
―Sousas e Joaquim Egídio hoje é um quintal, você vem pra passear, curtir, vem pra
conhecer, pra caminhar no meio do mato e também tem que desfrutar das comidas que tem no
restaurante, de tudo‖. (depoimento do dono de restaurante)
O imaginário rural desses dois Distritos está sendo reconstituído com a presença desses
dois públicos distintos: os que estão chegando e aqueles que já possuem uma identidade local. A
cultura caipira está sofrendo fortes influências advindas do processo de urbanização local e dos
116
diferentes interesses das pessoas que estão convivendo nesses Distritos. Pode-se entender esse
processo de urbanização a partir da caracterização que Candido, citado por Oliveira, faz sobre o
modo de vida do caipira.
―(...) o modo de vida do caipira, a partir da premissa que todo grupo social pressupõe a
obtenção de um equilíbrio relativo entre as suas necessidades, de caráter natural (requerimentos
nutricionais) e social (determinado pelos requisitos culturais e de sociabilidade), e os recursos do meio
físico disponíveis e manejáveis segundo as próprias condições do grupo social‖(OLIVEIRA J.T, 2000,
p.12).
As interferências no processo de urbanização das cidades, principalmente a partir dos anos
70, influenciam no conceito sobre o caipira paulista. A partir desse momento, o caipira apresenta-se
diferente, deixando de utilizar a agricultura, exclusivamente para a subsistência. Ao contrário, ele a
utiliza preocupado em modernizar seus equipamentos e organizar seu trabalho, visando lucro. Além
disso, o vínculo com o bairro rural deixa de ser a subsistência, passando a cidade ser o local que
supre suas necessidades de alimentação, vestimenta, compras de insumos, enfim de diversos
produtos.
Nesse sentido, Joaquim Egídio vem sendo reconfigurado em seu espaço geográfico, bem
como em suas relações sociais. Esse novo modo de conceber o Distrito traz preocupações quanto à
utilização inadequada das áreas rurais na transformação em áreas urbanas, trazendo sérias
consequências quanto ao uso e tratamento da água, de Campinas, e assoreamento dos ribeirões e
rios, causados, principalmente, pela intensificação da especulação imobiliária no Distrito.
Sendo assim, as áreas rurais dos Distritos estão se reconfigurando constantemente com a
introdução das novas culturas trazidas pelos novos moradores. Entretanto, a cultura caipira do local
está sendo veiculada e explorada comercialmente como o modo de vida local agregado ao
pensamento da qualidade de vida na atualidade.

Considerações

A área rural é representada como um lugar bonito, exótico e com qualidades favoráveis a
saúde e vida humana, sendo a urbanização uma possível ameaça colocando em risco um meio
ambiente saudável e acolhedor. Porém, se houver um planejamento envolvendo o Poder Público e
a comunidade local, torna-se possível preservar e manter a qualidade de vida na cidade e no
distrito.

Os depoimentos e as fontes consultadas apontaram sugestões visando conciliar a


urbanização do Distrito com as suas práticas culturais.

117
São elas:

 Estruturação de cursos para crianças e jovens sobre técnicas agropecuárias, doma de


animais e cuidados com o meio ambiente;
 Estruturação de cursos para agricultores, proprietários, moradores e comerciantes sobre a
APA de Campinas, contendo as suas divisões, orientações sobre o uso do solo, bem como seus
aspectos legais com os objetivos deorientação para ações na região;
 Desenvolvimento de atividades na escola vinculadas ao cotidiano do Distrito;
 Estruturação de cursos específicos de agropecuária para os trabalhadores rurais,
administradores e proprietários.

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Jundiaí-SP: Árvore do Saber - Edições e Centro de Estudos Pedagógicos, 2005. 104 p.
118
TOPOFILIA E CAPACIDADE ADAPTATIVA: POPULAÇÃO EXPOSTA A RISCOS DE
INUNDAÇÕES

Juliana da Silva IBIAPINA CAVALCANTE (PRODEMA/UFRN) –


juliana.ibiapina@hotmail.com
Magdi Ahmed Ibrahim ALOUFA (DBEZ/UFRN) –
magdi-aloufa@bol.com.br

Resumo

O processo de urbanização brasileiro tem se caracterizado por problemas recorrentes que envolvem
situações de risco. Esse padrão de insustentabilidade urbana acaba gerando desigualdades
ambientais que afetam indivíduos e grupos sociais de maneira diferenciada. Para entender como se
dá a relação de grupos demográficos expostos a riscos e o ambiente no qual estão inseridos a
percepção ambiental mostra-se um instrumento de grande valia no contexto de estudos de
população e ambiente. Além disso, é de extrema importância a compreensão da topofilia, ou nível
de envolvimento e afetividade de populações com seus locais de moradia. Desta forma, objetivou-se
identificar e analisar situações de topofilia e estratégias de adaptação da população do Complexo
Passo da Pátria em Natal-RN diante da alta vulnerabilidade e riscos de inundações a qual está
exposta. Através de um estudo qualitativo, com a aplicação de questionários analisados por meio da
análise de conteúdo foi possível concluir que a população em questão, apesar de todos os
inconvenientes advindos da exposição aos riscos de inundações nutre um forte sentimento de
pertencimento e envolvimento com a localidade, desenvolvendo estratégias de convivência com o
risco.

Palavras-chave: Topofilia, envolvimento, adaptação, vulnerabilidade.

Abstract

The urbanization process in Brazil has been characterized by recurring problems that involve risk
situations.This pattern ends up generating unsustainable urban environmental inequalities that affect
individuals and social groups differently.To understand how is the relationship of demographic
groups at risk and the environment in which they are inserted to environmental perception proves to
be a valuable tool in the context of studies of population and environment. Moreover, it is extremely
important to understand the topophilia, or level of involvement and affection of people with their
homes.Thus, the objective was to identify and analyze situations topophilia and adaptation
strategies of the population of Passo da Pátria Complex in Natal-RN before the high vulnerability
and flood risks to which it is exposed. Through a qualitative study with questionnaires analyzed
using content analysis it was concluded that the population in question,despite all the
inconveniences arising from exposure to flood risks nurtures a strong sense of belonging and
engagement with the locale, developing strategies for coping with risk.

Keywords:Topophilia, involvement, adaptation, vulnerability.

Introdução

No meio urbano é extremamente perceptível a existência de inúmeros problemas decorrentes


do processo desordenado de urbanização. Dessa forma, esse padrão de insustentabilidade urbana
119
traz um cenário de desigualdades ambientais onde, segundo Alves (2007), se pode verificar a
exposição diferenciada de indivíduos e grupos sociais a amenidades e riscos ambientais. Sendo
assim, no contexto dos estudos de população e ambiente é importante entender como se dá a relação
entre grupos demográficos expostos a riscos e o ambiente no qual estão inseridos.
A percepção ambiental, de modo geral, vem chamando a atenção para um diagnóstico mais
profundo através da análise de como a comunidade interpreta o ambiente em que vive (Barreto,
2008). Para essa compreensão, é de extrema importância a abordagem da topofilia. Segundo Tuan
(1980) a topofilia se configura como o elo afetivo e de envolvimento entre as pessoas e o seu
ambiente. Para Marandola Jr.; Hogan (2009), em situações em que há uma fraca aderência ou
relação de afetividade entre as pessoas e o lugar as condições de vulnerabilidade podem ser
potencializadas, de acordo com essa percepção.
Neste contexto, essa pesquisa constatou que o Complexo Passo da Pátria, zona leste de
Natal-RN caracteriza-se como um ambiente de alta exposição a riscos de inundações. Por localizar-
se em área imprópria para ocupações, às margens do rio Potengi, e apresentar sérias carências
estruturais, com destaque para a falta de saneamento básico, o fenômeno das inundações apresenta
frequência e recorrência elevada. Esses eventos de inundações têm trazido diversos prejuízos
humanos e materiais para esta comunidade.
Portanto, este estudo tem como objetivo compreender como a população do Complexo
Passo da Pátria, zona leste de Natal-RN interpreta o ambiente em que vive, identificando e
analisando as situações de afetividade (topofilia) dessa população com seu espaço de convivência.

Metodologia
Caracterização da Área
O complexo Passo da Pátria situa-se no bairro Cidade Alta, zona leste da cidade de Natal-
RN.

Figura 01- Localização do Complexo Passo da Pátria

120
As primeiras habitações do Complexo foram construídas em áreas aterradas das margens do
Rio Potengi constituídas por habitações irregulares que se desenvolveram com a total ausência de
saneamento básico. O Complexo Passo da Pátria é denominado como uma localidade de
assentamentos precários e conta com 535 domicílios e 2.142 habitantes de acordo com Natal
(2010).

Procedimentos Metodológicos

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário adaptado de outros


estudos sobre percepção de riscos ambientais.
O questionário apresenta a seguinte estrutura: a primeira parte se refere a dados pessoais do
entrevistado para a identificação do perfil socioeconômico. A segunda parte se constitui de questões
referentes à percepção, experiência do entrevistado com relação ao fenômeno estudado como
também a identificação da percepção do sujeito quanto à causalidade e responsabilidades pelas
inundações. A terceira parte do questionário tem a finalidade de compreender a avaliação e a
escolha dos moradores pelo local de moradia, considerando sua percepção sobre a realidade local. O
quarto grupo de perguntas objetiva conhecer a conduta do sujeito em caso de serem atingidos por
inundações, além de identificar possíveis situações indutoras de intolerância por parte dos
moradores. O quinto grupo de questões se refere aos ajustamentos realizados pelos entrevistados e
pela prefeitura quanto aos riscos de inundação. Por fim, o último grupo de perguntas permite avaliar
como os moradores atuam e participam das problemáticas da sua comunidade.
Neste trabalho, será dada ênfase apenas às questões referentes à topofilia e à capacidade
adaptativa da população diante das situações de risco.
Foram realizadas 20 entrevistas com moradores do Complexo Passo da Pátria. É importante
ressaltar que a quantidade de entrevistados não é ideal do ponto de vista estatístico, porém, por se
tratar de uma pesquisa qualitativa este número de entrevistados atende aos objetivos propostos.
Desta maneira, a abordagem qualitativa aqui realizada é a forma mais adequada para entender a
natureza do fenômeno estudado.
Além disso, devido às características da localidade de estudo, a abordagem qualitativa é a
que melhor se adéqua devido às dificuldades de acessibilidade na área. A área de estudo se
caracteriza por situações de insegurança como venda/uso de drogas, assaltos, homicídios, entre
outros. Devido a isso, os indivíduos abordados foram os que se encontravam mais acessíveis e
disponíveis no momento. As visitas ao Complexo Passo da Pátria foram realizadas na presença de
um líder comunitário, o qual facilitou o acesso da pesquisadora à área na tentativa de minimizar

121
qualquer possível conflito causado por uma pessoa estranha à comunidade e conferir uma maior
segurança à pesquisadora.
As entrevistas foram realizadas com a utilização de gravador de voz. Posteriormente, todas
as entrevistas foram transcritas para se efetuar a análise de conteúdo que se deu através da análise
temática ou categórica. Esta análise foi descrita por Bardin (2006) como a decomposição dos textos
em unidades de análise seguindo-se de suas classificações por agrupamento ou categorização,
estabelecendo-se relações entre as unidades rumo ao entendimento do todo e, finalmente, chegando-
se à compreensão do conteúdo das falas dos entrevistados.

Resultados e Discussões
O grupo alvo da pesquisa foi composto de 20 pessoas, residentes do Complexo Passo da
Pátria. Foram entrevistadas 11 pessoas do sexo masculino e 9 pessoas do sexo feminino. A média
de idade dos entrevistados é de 37 anos. A faixa etária com maior número de pessoas é a faixa dos
27 a 35 anos de idade com o correspondente a 50% dos entrevistados. A tabela 01 abaixo mostra a
distribuição dos sujeitos por sexo e por idade:

Tabela 01 – Distribuição da população por sexo e idade


IDADE (Anos)
SEXO 18 a 26 27 a 35 36 a 44 45 a 54 Mais de
TOTAL
anos anos anos anos 55 anos
Masculino - 7 1 3 - 11
Feminino 2 3 1 2 1 9
TOTAL 2 10 2 5 1 20

Na tabela 02 a seguir encontra-se a distribuição da população por sexo e escolaridade.

Tabela 02 – Distribuição da população por sexo e escolaridade


GRAU DE ESCOLARIDADE
SEXO Nenhum Fund. Fund. Médio Médio TOTAL
incompleto completo incompleto completo
Masculino 1 6 3 - 1 11
Feminino 1 3 2 1 2 9
TOTAL 2 9 5 1 3 20

É possível observar que as pessoas sem nenhum grau de alfabetização juntamente com
aqueles que possuem o ensino fundamental incompleto representam mais da metade dos
entrevistados, o que indica um baixo nível de escolaridade. Para Torres et.al. (2003) essa baixa
escolaridade implica em dificuldades de acesso a bons empregos, deixando-os na informalidade e
no desemprego. Entre esse grupo de baixa escolaridade (analfabeto e fundamental incompleto) tem-
122
se uma maioria de homens. Porém, entre os que tiverem mais tempo de estudo tem-se,
proporcionalmente, uma maioria feminina. Esse resultado deve-se ao fato de os homens, como
chefes de família, sentirem-se na obrigação de ter um emprego para sustentar sua família, o que leva
a esses indivíduos abandonarem os estudos. Além disso, Lavinas (1996) afirma que os homens
trabalham, em sua maioria, em tempo integral o que reduz o tempo dedicado aos estudos.
Em relação aos rendimentos familiares tem-se que a maior parte dos entrevistados, o que
corresponde à 14 moradores, possui renda familiar de até 01 salário mínimo, 06 possuem renda de
até 02 salários mínimos e nenhuma família apresentou renda superior a 02 salários mínimos. Com
essa renda as famílias precisam sustentar uma média de 04 pessoas por família. Para Torres et.al
(2003) essa renda torna-se insuficiente para a quantidade de pessoas que dependem dela para a
sobrevivência, pois um alto número de pessoas por domicílio significa que mais pessoas necessitam
partilhar os recursos comuns, trazendo consequências para a saúde, nutrição e educação. A baixa
renda é um fator importante nas questões referentes à exposição dessa população à condições de
risco ambiental. Isso porque, para Torres (2000), as áreas de risco ambiental, muitas vezes, são as
únicas acessíveis às populações de baixa renda.
De acordo com esses resultados, pode-se afirmar que os baixos índices apresentados em
termos de renda e escolaridade contribuem para as situações de alta vulnerabilidade socioambiental
a que estas pessoas estão expostas. Sobre isso, Alves; Torres (2006) afirmam que essas áreas
podem ser denominadas de ―favelas em áreas de risco‖ que se caracteriza como grupos
populacionais particularmente marginalizados que seriam também afetados pelo risco ambiental.
Nesse sentido, para Alves (2007), assim como a renda e o acesso aos serviços públicos os riscos
ambientais também são distribuídos desigualmente entre os grupos sociais. Dessa forma, a
exposição aos riscos evidencia uma situação de desigualdade ambiental originada por uma
desigualdade social uma vez que os grupos sociais diversos possuem acesso diferenciado aos bens
de qualidade ambiental. Alves (2007) também já evidenciou que em regiões pobres, onde a renda da
maioria das famílias é de até 01 salário mínimo, a proporção de pessoas vivendo em áreas de risco é
bem maior que em regiões de classe média e alta.
Com relação ao tempo de moradia da população entrevistada, é possível observar na figura
02 abaixo que 14 entrevistados já se encontram residindo na área há mais de 20 anos e, apenas 06
famílias encontram-se na localidade há menos de 05 anos. Além disso, todos os entrevistados
afirmaram que suas moradias são próprias. Isso se deve ao fato de os moradores terem recebido
definitivamente a posse de suas residências devido ao Projeto de Urbanização realizado pela
prefeitura em 2002. Segundo Souza (2007), nesse projeto foi realizada a regularização fundiária e
construção de diversas unidades habitacionais, legalizando, assim, as ocupações.

123
Figura 02 – Tempo de moradia no local

15 14
10
5 2 3
1
0
20 anos 5 anos de 6 a 10 de 10 a
ou mais ou anos 19 anos
menos

Os entrevistados foram indagados à respeito dos motivos pelos quais escolheu-se o


Complexo Passo da Pátria para se viver. As respostas podem ser visualizadas na tabela 03 abaixo:

Tabela 03- Motivos para escolha da área


SUBUNIDADES
CITAÇÕES
DE CONTEXTO
Porque minha mãe morava aqui, aí ela faleceu e eu vim pra
Herança
cá.
Foi aqui que eu consegui um lugar pra morar. Não tinha
Falta de opção
como ir pra outro canto, né?
Topofilia Aqui é um bairro bom.
Porque eu não tinha uma casa ainda né. Não tinha
Casa doada condições de aluguel. Eu agradeço a ajuda que me deram
essa casinha.
Eu vim pra Natal, e o cara que me trouxe trabalhava ali na
Proximidade do
base naval, aí comecei a trabalhar e me instalei aqui que é
trabalho
perto.

Percebe-se então, que dentre os motivos mais citados estão aqueles que já nasceram na área
e acabaram herdando a moradia dos pais, ou até mesmo ter vindo para a comunidade quando ainda
criança. Entre aqueles que disseram morar na área por falta de opção estão os que disseram ter
recebido a casa da prefeitura e não ter condições de pagar aluguel em lugares melhores. Há ainda os
que afirmaram ter escolhido a comunidade devido à proximidade do trabalho e de outras áreas de
concentração de serviços. No entanto, qualquer que tenha sido o motivo de escolha pelo local,
percebe-se em grande parte das respostas aquilo que Tuan (1983) chamou de topofilia, ou
sentimento de pertencimento e afetividade do local de moradia. Verifica-se, portanto, que esse
sentimento de afetividade é até contraditório quando se analisa que essa população reconhece os
problemas e perigos da sua comunidade, porém esse sentimento de pertencimento e afetividade
acaba se sobrepondo aos problemas que de certa forma são passíveis de resolução. Para Tuan
124
(1980), o espaço em que vivemos resulta da soma entre experiências vividas e compartilhadas e isso
nem sempre gera reflexão. Buttimer (1982) citado por Ribas et.al (2010) afirma que na vida
cotidiana as pessoas não refletem e nem analisam criticamente sobre as perspectivas futuras o que
explica o fato de algumas problemáticas locais não serem devidamente valorizadas e levadas em
consideração.
Além disso, foi perguntado aos entrevistados que atitudes seriam adotadas por eles caso
ocorresse alguma inundação que trouxesse prejuízos materiais ou prejuízos à integridade física de
algum morador de sua residência. Identificou-se, portanto, dois grupos de unidades de contexto,
como as atitudes tolerantes e atitudes intolerantes, como se pode observar na tabela 04.

Tabela 04 - Atitudes a serem tomadas em caso de prejuízos materiais ou à integridade física e saúde
de membros da família em decorrência de inundações

UNIDADES DE SUBUNIDADES DE
CITAÇÕES
CONTEXTO CONTEXTO
Não tem o que fazer, não pode abandonar a
Nada
casa.
Aquisição de novos
Começava a comprar as coisas de novo.
bens materiais
Aí eu teria que ver aí. Levava pro hospital e
Tolerância
Levar ao hospital depois procurava a prefeitura pra saber o que
poderia fazer em relação ao cidadão, né?
A gente procuraria a prefeitura, mas mesmo
Procurar a
assim ela não dá jeito.
prefeitura/justiça
Procurar na justiça né? Buscar meus direitos.
Intolerância Deixar o local Claro que a gente sai, né? Não vai ficar.

No grupo das atitudes tolerantes, é importante ressaltar que, a mais frequente foi não tomar
nenhuma atitude (08 entrevistados). Essas respostas evidenciam tanto a falta de confiança nos
órgãos responsáveis, como a prefeitura, quanto à passividade, acomodação e aceitação das pessoas
diante das situações contínuas de risco a que estão expostos no Complexo Passo da Pátria. Com
menos frequência de respostas neste grupo encontram-se apenas 02 pessoas que afirmaram que
buscariam seus direitos junto à prefeitura e à justiça o que demonstra que a comunidade ainda
possui baixa capacidade de reivindicação dos seus direitos. Todas essas respostas mostram, de
maneira geral, que perdas materiais ou humanas decorrentes de episódios de inundações na
comunidade não são suficientes para fazer essa população atingir seu limiar segurança. Portanto,
essa população continuaria vivendo na localidade, principalmente, devido às condições financeiras
das famílias que não possibilita buscar alternativas mais seguras de moradias. Além disso, segundo
Heemann; Heemann (2003), múltiplas valorações da natureza sempre conviveram lado a lado nas
comunidades em função do contexto sociocultural e da história das pessoas. Estas diferenças
125
acabam por influenciar o valor que damos aos fatos, inclusive aqueles que se configuram um
problema.
Já no grupo das atitudes intolerantes encontram-se apenas 02 pessoas que afirmam que
deixaria a comunidade caso ocorresse episódios de inundação que trouxesse prejuízos de qualquer
ordem à sua família, sendo este motivo o suficiente para que atingissem seu limiar segurança
levando-os a procurar alternativas de moradias mais seguras. O limiar de segurança, de acordo com
Souza; Zanella (2009) é influenciado pelo grau de perigo percebido além do valor material e afetivo
daquilo que se perde em caso de acidentes. A cerca da percepção do perigo e limiar de segurança,
Ribas et.al. (2010) afirma que o cérebro interpreta os estímulos baseado em experiências vividas
estabelece uma hierarquia de modo a que cada estímulo seja interpretado com base em experiências
vividas, estabelecendo hierarquias. Dessa forma, as pessoas se acostumam com certas situações não
desenvolvendo atitudes de repulsa ou de proteção. Além disso, mesmo que esse limiar seja atingido
isso não implica, necessariamente, a mudança de comportamento, pois a mudança do local de
moradia, por exemplo, exige a disponibilidade de recursos financeiros.
Embora tenha se identificado um pequeno grupo que atingiria seu limiar de intolerância
devido aos problemas da comunidade Passo da Pátria levando-os a procurar moradias mais seguras,
os entrevistados foram perguntados sobre quais motivos poderiam os levar a mudarem-se do local,
como demonstrado na figura 03 abaixo:

Figura 03- ―O que levaria você a mudar-se do Complexo Passo da Pátria?‖

O motivo mais citado foi o da violência, fato que se observa em Natal, com maior ênfase,
especialmente, nas áreas mais pobres da cidade. Como afirma Jacobi (2006), as áreas periféricas
agregam inúmeras situações de risco, inclusive a problemática da violência relacionada à
homicídios, tráfico de drogas, policiamento insuficiente e alta concentração de população de baixa
renda. Essa problemática também é observada em outras capitais brasileiras a exemplo do estudo de

126
Souza; Zanela (2009) na capital do estado do Ceará que apontou para resultados similares. Nessa
problemática, segundo os entrevistados estão a ocorrência de uso de drogas, principalmente por
jovens e adolescentes, além de roubos, furtos e homicídios na comunidade. Em seguida, apontaram-
se os problemas relacionados às inundações e alagamentos que ocorrem frequentemente no local.
Outro motivo seria a oportunidade de terem um lugar melhor para se viver o que na maioria dos
casos não é possível devido às condições financeiras da população da comunidade. Para 01
entrevistado, a presença de ratos, baratas, mosquitos e outros vetores de doenças seria o motivo que
os levaria a mudar do local. Para 02 pessoas nada os faria mudar da comunidade, apesar de todos os
problemas presentes na área. De acordo com Firey (2006) citado por Marandola Jr; Hogan (2009)
em situações como essa não somente os aspectos racionais devem ser considerados como também
os simbolismos e identidades construídas em torno dos lugares, que mesmo apresentando
características de degradação social, econômica ou ambiental, mantém sua capacidade aglutinadora
e atratora para a população.
Os entrevistados foram, também, interrogados sobre o que já fizeram em sua residência para
reduzir o risco de inundação, ilustrado na figura 04 abaixo.

Figura 04-―O que você já fez em sua moradia para reduzir o risco de inundação?‖

Portanto, observa-se que a maioria dos entrevistados respondeu que não realizou nenhuma
obra pra reduzir o risco de inundação. Esse fato se deve à carência de recursos para a realização
dessas obras. Entre aqueles que, dentro das suas possibilidades efetuaram medidas para a
minimização dos prejuízos tem-se a colocação de barreiras fixas nas portas das casas, para evitar a
entrada da água em caso de inundação; a realização de obras que deixaram as casas mais altas, e; a
troca das tubulações de esgoto das residências que dificultem a entrada da água de inundação por
essas tubulações. Embora não haja garantias da eficácia dessas ações essas condutas contribuem
para minimizar a entrada da água nas residências e os prejuízos causados por esses eventos.

127
Considerações Finais
Através deste estudo pode-se concluir que apesar de todos os riscos e perigos a que a
população do Complexo Passo da Pátria está exposta, de maneira geral, essa população desenvolveu
um sentimento de afetividade com a localidade o que, somado à carência financeira os fariam
continuar a viver na área, apesar de todos os problemas e perigos reconhecidos pelos entrevistados.
Para tanto, essa população desenvolveu algumas estratégias para convivência com os riscos
iminentes de inundações.
Portanto, a avaliação de riscos com ênfase na abordagem perceptiva confirma essa
investigação como um instrumento de grande valia nos estudos sobre riscos ambientais. Isso
porque, através dessa abordagem é possível ter um maior entendimento das relações entre homem e
meio ambiente além de se ter uma análise mais complexa de como a comunidade interpreta o
ambiente em que vive e de como ela se comporta diante de situações de riscos. Dessa forma é
possível oferecer subsídios ao planejamento e gestão urbana na implantação de medidas preventivas
eficazes e compatíveis com os anseios da população.

Referências

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BARDIN, L. Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70 LDA, 2006.

BARRETO, K. F. B. Impactos da intervenção do projeto “Doces Matas” em comunidades de Mata


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__________. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.

129
O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA: REFLEXÕES SOBREO SHOPPING RIOMAR E
O PROJETO NOVO RECIFE23

Kelly Regina Santos da SILVA – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento


e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE) – kellyreginas@gmail.com.

Edvânia Tôrres Aguiar GOMES – Orientadora e Professora do Departamento de Geografia e do


PRODEMA/UFPE - torres@ufpe.br.

Sueny Carla da SILVA – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio


Ambiente (PRODEMA/UFPE) - yuens@bol.com.br.

Resumo
O atual contexto da cidade do Recife tem sido marcado por grandes obras, incluindo obras viárias,
empreendimentos comerciais e imobiliários, todas tem em comum o retorno da ideologia da
modernização da cidade. Nesse processo, observa-se a parceria existente entre o Estado e o mercado
em prol de uma ―nova cidade‖ que em larga medida aponta a continuidade do paradigma da
higienização social, posto que, o espaço urbano transformado em mercadoria, só vem a atender os
interesses do mercado, tendo como principais resultados a desigualdade e injustiça sócioespacial. A
presente proposta de reflexão parte da hipótese de que, o sistema capitalista não toma o lugar do
Estado, mas, o Estado é um dos seus protagonistas e facilitador dos interesses dos grupos
econômicos. Até mesmo dentro de um discurso de inclusão e garantia de direitos, prevalece à lógica
do capital sobre as decisões políticas. Esse contexto tem demonstrado a cada dia a valorização
econômica, deixando de lado os outros aspectos e necessidades da vida comunitária, o que deságua
em um dilema histórico entre dois conceitos, o de desenvolvimento e o de crescimento econômico.
Á luz do materialismo histórico e das teorias sobre o direito à cidade e espaço urbano remete alguns
apontamentos e problematização sobre a visão de mundo em que predomina o espaço urbano como
mercadoria, que tem como principal consequência à negação do que se possa parecer arcaico e
desinteressante ao capital.

Palavras-chaves: modernização – espaço urbano – mercadoria – capitalismo.

23
Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE),
sob orientação da Profa. Dra. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes. Conta com o apoio financeiro da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

130
Abstract
The current context of the city of Recife has been marked by major works including road
construction as well as commercial and real estate ventures, all of which relate back to the ideology
of urban modernization. In this process, the partnership between State and Market becomes self-
evident in favor of a "new city" largely gueared towards continuity of the paradigm of social
hygiene, as urban space, transformed into a commodity, meets only market interests, resulting
mainly in socio-spatial inequality and injustice. The analysis here proposed assumes as basis that
the capitalist system does not take the State's place, however the State is one of its main players,
facilitating the interests of economic groups. Even within a discourse of inclusion and guaranteeing
rights, capitalist logic prevails over political decisions. In this context, the financial value of urban
space increases daily, setting aside other aspects and needs of community life and feeding into the
historical dilemma between two concepts: development and economic growth. In light of historical
materialism and theories on the right to the city and urban space, several points and concerns
regarding the aforementioned worldview that sees urban space mainly as a commodity resulting in
the denial of anything that within it may seem archaic or unattractive to finance, shall be touched
on.

Keywords:modernization - urban space - merchandise - capitalism.

1. A modernização do espaço urbano: um fruto da ideologia capitalista

Ao tratar do presente tema vale a pena ressaltar que outras análises já foram realizadas em
contexto semelhante ao vivenciado hoje na cidade do Recife. Outras cidades como São Paulo24 e
Rio de Janeiro, protagonizaram ao longo da história momentos de tamanha inserção da ideologia da
modernização na constituição do espaço urbanizado. Nesta ocasião, se destaca a conjuntura
vivenciada no século XIX em Recife (GOMES, 2007), em que, mudanças estruturais tomaram
conta do Recife Antigo que guardada as devidas proporções em relação às cidades destacadas acima
ocasionou dilemas e questionamentos, alguns pautados na questão da conservação histórica do
bairro antigo, outros visando a real possibilidade do Recife tornar-se uma cidade moderna, aos
moldes dos interesses internacionais e capitalistas.
No tempo presente, três grandes obras tomam conta do centro e da zona sul da cidade; a
primeira, e já quase em fase de conclusão, é o Shopping RioMar (Figura 1); a segunda é a
construção da Via Mangue, com a pretensão de melhorar a mobilidade viária em toda a cidade, e

24
Destacamos o trabalho realizado por Mariana Fix: FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção de uma
―nova cidade‖ em São Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.

131
por último, o mais recente projeto intitulado: ―Novo Recife‖ (Figura 1), que pretende instalar em
uma região histórica da cidade um complexo formado por centros empresarial, flats e residenciais,
totalizando 16 torres. A área em que pretende ser construído o Projeto Novo Recife localiza-se na
região portuária da cidade, no bairro do Recife Antigo. Apesar de não ser uma região de moradia, a
perspectiva de construção desse grande complexo de torres coloca a discussão sobre a construção de
outra cidade, que só vem favorecer os processos de exclusão social embenefício dos interesses
privados.Uma vez que se, configura como um projeto maior com uma visão de mundo ainda
pautada nos ideais da ideologia da modernização.
Esse caminho atual leva a reflexão sobre o processo de gentrificação, encontrado nas
reflexões de Otília Arantes (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002), concernente ao retorno
burguês à localização central da cidade. Mesmo não sendo colocados a partir dessa categoria de
análise, os projetos de: requalificação, revitalização, revalorização, seria dizer a mesma coisa dos
espaços urbanos aburguesados e com consequente afastamento das comunidades do entorno. São
projetos que, pelas forças ideológicas, fabricam consensos e aparecem como salvação do que
outrora enfeavam a cidade.

Figura 1 – Vista panorâmica do local de construção dos empreendimentos


Shopping RioMar e Projeto Novo Recife.
Fonte: Google Maps

132
No caso da construção do Shopping RioMar, deve-se levantar a questão de que, assim como
se observa de forma ampla a cidade segregada, alguns bairros também são marcados pelas
discrepâncias econômicas e sociais. A região do bairro do Pina é uma delas, sendo possível falar em
―dois‖ bairros do Pina com indicadores urbanísticos, condições econômicas e sociais bem
diferentes. Em um breve histórico da comunidade, nota-se o contexto colonial marcado por
violações e por formas de resistência que até hoje permanecem. Como exemplo tem a representação
bastante forte das religiões de matriz africana nos terreiros, sendo o bairro do Pina apontado por
algumas pessoas como um quilombo urbano.
À luz das reflexões da professora e urbanista Ermínia Maricato (ARANTES; VAINER;
MARICATO, 2002), o que predomina no planejamento urbano é a ótica da ―modernidade‖ ou
modernismo, resultado da importação dos padrões de planejamento urbano dos países do centro do
capitalismo que funcionou na manutenção das discrepâncias sociais, garantindo a chegada da
modernidade apenas para uma parte da população. Modelo esse que vem funcionando como um
instrumento eficaz de dominação resultando sempre em cidades segregadas, cujo resultado final se
expressa em várias cidades sendo essas oficial, formal, legal ou marginalizada por não representar a
modernidade. Esse processo de modernização das cidades é incompleto e excludente, de um lado, a
cidade tem garantida a urbanização, saneamento, pavimentação, infraestrutura, segurança; por outro
lado, uma cidade precária, sem condições básicas de existência, ressente da garantia e efetivação do
direito à cidade. Desse modo, não seria equivocado dizer que todas as cidades permanecem com
suas ―Casas Grandes‖ e suas ―Senzalas‖ contemporâneas, correspondendo a uma situação de
exclusão territorial.
Nesse sentido, o dilema do antigo e do novo tem uma relação intrínseca ao se tratar de
planejamento urbano. Logo de início, se observa que as comunidades periféricas não são
categorizadas como modernas tampouco, são encontrados meios de garantir o Direito à Cidade para
essa população. Tendo em vista que representam, o olhar sobre o que esteticamente é feio e não
prospero, evidenciando a necessidade, observada em vários momentos da história, de ocultar as
periferias, populações, grupos que não dialogam com os padrões de vida trazidos pelo ideal
modernizante de mundo. Na luta dualista, contudo, de tamanha complexidade, o Estado tem seu
campo de defesa bem definido, mostrando cada vez mais quenão é coletivo, e sim privado,
encontrando-se a serviço do mercado, da lógica neoliberal e do capitalismo, fazendo parte de uma
grande fábrica de consensos (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002).
É sob esse aspecto que pautamos a nossa análise sobre dois conceitos chaves para se pensar
a ―ideologia da modernização‖ no contexto contemporâneo, tendo em visa à própria dinâmica de
construções de grandes empreendimentos comerciais e empresariais, principalmente em regiões
vulnerabilizadas da cidade. Desse modo, torna-se necessário trabalhar com as categorias de análise:
133
a ideologia e o fetichismo. São perspectivas que caminham juntas e mutuamente fortalecem a
permanecia dos ideias de modernização, que tem como um de seus resultados o espaço dividido e
transformado em mercadoria entre quem pode e quem não pode acessar.
A ideologia, esta entendida como, ―[...] um conjunto de representações pelas quais os
homens se relacionam com suas condições de existência.‖ (GARCIA, 2006, p. 24), tem um papel
fundamental na manutenção dos padrões sociais já estabelecidos, bem como, na dominação dos
sentidos. No contexto de mercado, a ideologia garante a disseminação das ideias de esperança,
prosperidade, liberdade, igualdade, todas associadas à relação de compra. A ideologia da
modernização aliada com o elemento da prosperidade proporciona o funcionamento do plano de
desenvolvimento meramente econômico da cidade.
Tim Jackson25é enfático ao dizer que, nesse modelo de crescimento econômico que estamos
assistindo, caímos em uma ironia, uma vez que ―vendemos a prosperidade quase literalmente em
termos de dinheiro e crescimento econômico‖, isso porque, no sistema capitalista tudo se
transforma em mercadoria e faz parte de um grande fluxo de consumo. Nesse caminho os
investimentos realizados, são pautados na busca pela novidade uma produção de consumoque por
sua vez, estimula o crescimento econômico, ou melhor, garante o seu pleno funcionamento, através
da produção e reprodução da novidade, é uma nova cidade, um novo espaço urbano em
contraposição ao antigo que não representa mais uma cidade prospera.
No contexto de modernização desse espaço urbano que envolve aspectos políticos
econômicos, o discurso ideológico é extremamente bem trabalhado para que todas as pessoas se
sintam dentro desse processo de modernização, principalmente pelo discurso competente realizado
pelo Estado e pelo mercado, sendo este discurso, aquele ―[...] que pretende coincidir com as coisas,
anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte, engendrar uma lógica da identificação
que unifique pensamento, linguagem e realidade [...]‖ (CHAUI, p. 3),apaziguando as tensões por
meio de políticas internas compensatórias, voltadas para o consumo básico das populações que
estão fora do circuito econômico hegemônico.
Concordando com Gohn (2006), quando diz que são ações que garantem a adaptação dos
Estados Nacionais às determinações do capital internacional, como a permanente relação de
subordinação econômica e social, fortalecendo as diversas formas de colonização interna,
compreendendo que o discurso do crescimento econômico, ora tratado como desenvolvimento,
ganha força e legitimidade. Dentro desde contexto o geógrafo Milton Santos observa:

25
Ver vídeo: Tim Jackson's economic reality check – Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=NZsp_
EdO2Xk>. Acesso em: 10 out. 2012.

134
[…] a ideologia do crescimento entra como uma parte importante nas decisões de
investimentos dos poderes públicos. A necessidade sentida por uma equipe
governamental de 'preparar o terreno' para a chegada de novas indústrias é, no
final, aceito pelo povo como um comportamento inteiramente razoável. Sobretudo
porque maior parte das pessoas são tranquilizadas pelos famosos índices de
aumento do produto nacional. (SANTOS, 2004, p. 172).

Esta confirmação do crescimento econômico como o grande salvador da cidade aparece


claramente no discurso realizado pelo prefeito da cidade do Recife ao visitar as obras do
empreendimento comercial Shopping RioMar, diz ele: ―Vamos gerar riquezas e elas terão que ser
gastas em algum lugar. O empresário está se antecipando e será benéfico para a cidade também.‖
(JOÃO da Costa..., 2010). Além de reforçar a parceria feita entre Estado e mercado, esse discurso é
percebido com muita legitimidade, uma vez que é competente,

[…] confunde-se, pois, com a linguagem institucionalmente permitida ou


autorizada, isto é, com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente
reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir, no qual os lugares e as
circunstâncias já foram predeterminados para que seja permitido falar e ouvir e,
enfim, no qual o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os cânones da
esfera de sua própria competência. (CHAUI, p. 7)

Somando-se a esses discursos, também encontramos outros aparelhos ideológicos que


colaboram com a permanência desse discurso hegemônico, chamando atenção para a mídia que a
todo tempo tem trabalhado para mostrar a possibilidade de um novo momento da cidade, bem
como, as peças publicitárias que agregam outros valores a este espaço urbanizado que é o centro das
atenções e a grande moeda de troca entre Estado e mercado.
Para adentrar a nossa segunda categoria de análise, o fetichismo, destacamos alguns
aspectos dos dois projetos em foco, observando que, longe de serem construções desconectadas
esses dois projetos dialogam diretamente com o novo modelo de cidade protagonizado pelo
mercado, em aliança clara com o Estado. Trata-se de grandes empreendimentos que buscam colocar
a cidade no cenário de disputa nacional e internacional, sem que sejam percebidos os devidos
impactos sociais, econômicos e ambientais. Desse modo, o que está em jogo, não é a garantia do
Direito à Cidade, mas, o interesse do capital sobre a cidade, ou seja, ―a ideologia dominante
preserva a situação vigente e os interesses da classe dominante‖ (GARCIA, 2006, p. 24).
Ainda em Garcia (2006), encontramos as reflexões sobre o fetichismo, tratando diretamente
sobre a questão do espaço urbanizado como uma mercadoria feitichizada pelo capitalismo. À luz da
135
experiência em curso, observa principalmente nas peças publicitárias dos projetos algo que provoca
estranhamento, e só nos fortalece na ideia do fetiche que envolve esta discussão política e
econômica. São as ausências e o distanciamento do real e os seus respectivos fetiches.
A partir do fetichismo, observamos a transformação desse espaço como algo bastante atrativo,
agregando a garantia de mobilidade social, tranquilidade, comodidade e até mesmo a liberdade,
felicidade eprosperidade. Nesse caminho, o espaço urbano é uma mercadoria valiosa e com lucros
financeiros garantidos pelo fetiche, que ocorre ―[...] porque a beleza e a sofisticação das
mercadorias agradam os consumidores. As mercadorias são belas e excitam no observador o desejo
de posse motivando-o à compra” (GARCIA, 2006, p. 29), sendo assim, o fetiche também é um
fenômeno da ideologia burguesa capitalista.

3. O espaço urbano como mercadoria e a necessidade de uma educação para além do capital

Depois de observar as perspectivas sobre o espaço urbano, que envolve uma complexa
relação entre o modelo de desenvolvimento em curso, os interesses econômicos, o direito à cidade,
aprofundar-se um pouco mais a sua análise como mercadoria. O poder econômico decide seus
rumos e consequentemente quem deve acessar esse espaço urbano, independente dos mecanismos
de regulação e debates já realizados entre Estado e movimentos sociais diversos, principalmente os
que atuam na luta pelo direito à cidade.
A hipótese colocada é que, diante de um modelo econômico capitalista, a lógica estabelecida
entre o poder público e o mercado pauta-se, em alguma medida, na venda ou troca do espaço
urbano, agregando, desse modo, os interesses das duas partes. Até agora, foi observado que, o
contexto de constituição de uma cidade tem como parâmetro o crescimento econômico que
apresenta como a única forma possível de desenvolvimento a prevalência dos interesses capitalistas
sobre o espaço.
O paradigma de consumo instalado no contexto do crescimento econômico percebe tudo à
sua volta como potencial mercadoria para suprir as necessidades criadas pelo capital, muito embora
as contestações observadas neste paradigma – ética do progresso e da modernização – está a serviço
de uma lógica maior, que é a visão capitalista sobre o mundo; é a racionalidade empresarial ditando
seu modelo de cidade para todas as pessoas e, consequentemente, indicando o lugar que é permitido
a determinadas localidades e grupos sociais. Nesse momento, essa racionalidade empresarial, que
não se distancia de uma visão instrumental de mundo, promove suas colonizações contemporâneas,
ditando também seus padrões estéticos de cidade, a exemplo da excessiva verticalização, vista como
a única saída possível.
Chama-se a atenção para o fato de que, nessa lógica capitalista, o espaço urbano é um
instrumento de troca entre pares; de um lado, o Estado e do outro o mercado, contudo, essa troca se
136
dá pela necessidade criada de mudança estética e social do espaço. O que traz a lembrança do
passado é logo compreendido como ultrapassado, sendo apresentadas opções de substituição ou de
inovação local, tornando essa nova cidade, objeto de desejo, uma mercadoria a ser consumida por
quem tem o poder do capital para pagar por ela.
A ocupação e o uso do espaço ao longo da história, principalmente nos países que passaram
por processos de colonização, a exemplo do Brasil, foram configurando-se conforme os interesses
capitalistas. Assim, produziram os centros e as localidades periféricas da cidade, sendo o espaço
urbanizado sempre mais privilegiado. Desse modo, a necessidade de construção de um ―Novo
Recife‖ (grandes empreendimentos comerciais e excessiva verticalização), com padrões estéticos e
arquitetônicos que não dialogam com as comunidades do entorno nem com toda a construção
histórica da cidade, só leva à reflexão de que o ―antigo‖, assim referido, precisa ser substituído pelo
novo. Com essa compreensão, o espaço urbano, ganha um sentido de mercadoria, que, em poder do
mercado, vai realizando substituições em parceria com o Estado.
Esse espaço, tornando-se mercadoria, deve ter uma estética que provoque aceitação; por
outro lado, apresenta uma necessidade de mudança periódica. Esses aspectos de mudança é
observado pelos discursos de negação do passado e da modernização, por meio dos quais se pode
deduzir como a inevitável inovação estética desse espaço, que venha a atender às necessidades
criadas pelo capitalismo, chegando à segunda resposta, a inevitável substituição. Contudo, não se
trata de um olhar conservador sobre o espaço dizendo que tudo deve permanecer intocável, mas sim
de ampliar o olhar percebendo como se tem dado a apropriação das categorias de mudança para a
manutenção das relações sociais desiguais.
Em outras palavras, é pertinente entender como o sociometabolismo do capital
(MÉSZÁROS, 2008) funciona, com seu processo de acumulação e das formas encontradas para
permanecer funcionando, mudando até mesmo seu discurso para se manter hegemônico. É uma
totalidade reguladora. O que está em evidência, ao se observar o contexto, não é simplesmente ―[...]
o bem-estar do comprador, [...] o argumento é o bem-estar do empresário, ou seja, segundo a
perspectiva do valor de troca, visando à reiteração da procura.‖ (HAUG, 1997, p. 54).
Mais uma vez, entra-se em uma perspectiva dualista em que o ―novo‖ se apresenta como o
único paradigma possível, restando saber quem vivenciará isso e, principalmente, os custos
políticos de um modelo de crescimento econômico, camuflado pelo nome de desenvolvimento. É a
pressão feita pelo esquecimento do ―velho‖, entendido como aquilo que deve ser velado pelo
―novo‖, percebido como uma grande promessa de inovação estética, esta assim entendida:

137
[...] portadora da função de reavivar a procura torna-se uma instância de poder e de
conseqüências antropológicas, isto é, ela modifica continuamente a espécie humana em sua
organização sensível; em sua organização concreta e em sua vida material, como também
no tocante à percepção, à estruturação e à satisfação das necessidades. (HAUG, 1997, p.
57).

Nesse sentido, a cidade colocada à venda pelo Estado é comprada pelo mercado, e retorna
para o consumo de seu público – que tem o poder do capital, como uma forma estética que garante
não só uma nova cidade para viver, mas um espaço cheio de fantasias e de ideologias de
superioridade. Isso porque, para que um projeto de uma nova cidade tenha êxito, faz-se necessário
prevalecer às aparências, que se pode visualizar nos discursos de que a cidade está crescendo, nas
promessas de garantia de emprego, renda e moradia para os que não podem desfrutar do novo
espaço, ou seja, para moradores das comunidades que têm de sair do caminho para o ―novo‖ passar.
Sendo assim, não se pode esquecer a ideologia dominante que perpassa todo esse processo e é tão
bem difundida pelos aparelhos ideológicos, por meio dos quais são disseminadas as intencionais
verdades.
Os discursos ideológicos responsáveis pela venda desse novo espaço de compras e moradias,
que, além disso, significam espaços de satisfações até mesmo subjetivas. Ao comprar o espaço
urbanizado, compra-se também a vista para o mar, para o rio, na promessa de ligação entre o
moderno e a natureza, como se esta última fosse algo separada, transformando a mesma em mais
um atrativo dessa mercadoria chamada espaço urbanizado. Quanto a isso, chama-se a atenção para
outro aspecto ideológico que tem total relação nessa conjuntura de venda de um espaço urbano que
garante tudo e mais um pouco; trata-se do que tem sido chamado de construções sustentáveis, que
na lógica capitalista, só serve para agrega mais valor ao seu produto final.
De forma geral, quem vai usufruir aquele espaço compreende que também está ajudando na
melhoria da relação sociedade-natureza, na verdade, esse ―selo de respeito ao meio ambiente‖ na
conjuntura atual, torna-se uma mercadoria ideológica. Quanto a isso, chama-se a atenção para a
construção do Shopping RioMar que, em maio de 2012, recebeu a Certificação Aqua (Alta
Qualidade Ambiental), concebida pela Fundação Vanzolini. Contudo, algumas perguntas surgem:
Sustentabilidade ambiental de quem? Para quem? De que natureza está falando?
Ao falar sobre o certificado, o diretor de Divisão Imobiliária do Grupo João Carlos Paes
Mendonça (JCPM), Francisco Bacelar, destaca que o projeto do shopping é ―moderno‖ e já nasce
com uma concepção de sustentabilidade, enfatizando:

Pensamos os aspectos econômicos, sociais e ambientais do projeto. Uma das ações


foi o relacionamento com as comunidades localizadas no entorno do
empreendimento, a qualificação para 2.021 moradores, em cursos nas áreas de
138
construção civil, varejo, informática básica, aceleração de escolaridade e jovens
aprendizes. Desse total, 420 alunos trabalham hoje na obra. (RIOMAR..., 2012,
grifos nossos).

Essa perspectiva de empreendimentos sustentáveis funciona como apaziguadora dos reais


problemas, sendo em alguma medida uma das formas de o sistema capitalista se metabolizar e se
manter em funcionamento, agora sob o argumento de que é possível crescer economicamente
―preservando o meio ambiente, a natureza‖ e agregando às obras a comunidade local, por meio de
uma educação para o capital.
À luz de István Mészáros, observa-se que o capital é irreformável, qualquer tentativa de
reforma remediaria apenas os efeitos, mas não alteraria o essencial nos fundamentos causais, a
exemplo os selos de sustentabilidade que enfraquecem a perspectiva de uma mudança na estrutura
capitalista. Concorda-se com o autor, que afirma:

As mudanças sob tais limitações, apriorísticas e prejulgadas, são admissíveis


apenas com o único e legítimo objetivo de corrigir algum detalhe defeituoso da
ordem estabelecida, de forma que sejam mantidas intactas as determinações
estruturais fundamentais da sociedade como um todo, em conformidade com as
exigências inalteráveis da lógica global de um determinado sistema de reprodução.
(MÉSZÁROS, 2008, p. 25, grifos nossos).

O desafio posto situa-se no olhar sobre as formas de apropriação realizadas pelo capitalismo
para estabelecer suas relações. Segundo Mészáros, mais do que um processo educacional para
provocar mudanças qualitativas na sociedade, é pertinente uma ―educação para além do capital‖;
compreendendo a necessidade de mudança na estrutura social como um todo de forma dialética:
transformação social – transformação educacional, para que seja possível compreender as dinâmicas
e, especialmente, as formas de manipulação/dominação do capital.
Nesse sentido, é preciso refletir que, ainda não é possível falar em uma mudança social
qualitativa e substancial, porque se muda a forma, e não a essência, uma vez que o próprio discurso
de defesa do meio ambiente e de garantia de direitos é apropriado pelo capital. Trata-se não só de
negar o capital, mas de empreender uma nova ordem social metabólica que rompa com todas as
formas de segregação e desigualdades.
Muito embora o autor proponha uma revolução no processo educacional para que se possa
vivenciar uma sociedade transformada, evidencia-se as possíveis microrrevoluções que podem ser
realizadas no âmbito da vida humana; uma delas é o processo de descapitalização e descolonização.
É preciso olhar o mundo possível sem a transformação de tudo em mercadoria e sem privatização
do bem comum; também é preciso desconstruir o olhar de dominação que, ao longo da história, foi
configurando-se mediante a dominação de pessoas e de espaços, resultando em uma estrutura
poderosa de colonialidade do poder.
139
Referências

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140
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subdesenvolvidos. 2. ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2004.

141
ESPÉCIES ARBÓREAS INDICADAS PARA PLANTIO EM CALÇADAS EM SERRA
TALHADA – PE

Gésica Silva e SOUZA (Bióloga) - gss.gesica@gmail.com


Luzia Ferreira da SILVA (UAST/UFRPE) – luzia@uast.ufrpe.br

RESUMO
As cidades inseridas no Nordeste utilizam árvores exóticas para arborizar suas calçadas,
pois, as espécies nativas são preteridas. Para reverter à situação, o presente trabalho evidência a
importância da participação da população na arborização urbana e o uso de espécies arbóreas
nativas dos biomas presentes no Nordeste. Com o intuito de promover estes conceitos em Serra
Talhada – PE foram exibidas aos moradores do centro da cidade, várias fotos de espécies em
pranchas, previamente escolhidas e apresentadas aos moradores, que não continham árvores nas
calçadas e com possibilidades de plantio. O total de 869 moradores apresentavam essas condições e
446 moradores foram consultados. Para aumentar o índice de diversidade foi utilizado o critério de
Santamuor Júnior, desse modo nas ruas menores que 400m foram sugeridas duas espécies; ruas de
400 a 800m indicadas 3 espécies; acima de 800m sugeridas 4 espécies. Dentre as espécies indicadas
as mais votadas foram: Casearia sylvestris Sw.(Salicaceae), Allophyllus edulis (A. St.-Hil., A. Juss.
& Cambess) Radlk, Pseudobombax simplicifolium A. Robyns,Cordia oncocalyx Allemão
(Boraginaceae), Erytrhina velutiva Willd (Fabaceae), Paquira aquatica Aubl. (Bombacaceae)e
Hibiscus pernambucensis Arruda (Malvaceae).Diante da escassez das espécies da Caatinga, torna-
senecessário estudosmais aprofundados, que enfoquem o comportamento delas no ambiente urbano.

Palavras - chaves:Arborização Urbana, espécies da Caatinga, Nordeste.

ABSTRACT
The cities included in the Northeast exotic trees to forest use their sidewalks because native
species are crowded out. To reverse this situation the present work highlights the importance
of popular participation in urban forestry and the use of native species of biomes present in
the Northeast. In order to promote these concepts in Serra Talhada - PE were shown to the
residents photos of variousspecies in boards, previously chosen and were presented to residents
without trees and with the possibility of planting in their sidewalks. A total of 869 residents in
the had these conditions and 446 residents were consulted. To increase the diversity index was used
criterion Santamour Junior, thereby streets less than 400mwere suggested two species; streets from
400 to 800 were listed three species and over 800m have been for species. Among the species
142
listed were the most voted:Casearia sylvestris Sw.(Salicaceae), Allophyllus edulis (A. St.-Hil., A.
Juss. & Cambess) Radlk, Cordia oncocalyx Allemão (Boraginaceae), Erytrhina velutiva Willd
(Fabaceae), Paquira aquatica Aubl. (Bombacaceae)e Hibiscus pernambucensis Arruda
(Malvaceae). Against theshortage the species of Caatinga becomes necessary studies more depth
that focus the behavior their in urban environment.

Key – words: Urban Forestry; Caatinga; Northeast.

INTRODUÇÃO

Os biomas presentes no Nordeste, em especial, a Caatinga e a Mata Atlântica,


sofreram diversas ações antrópicas, o que resultou na devastação desses ecossistemas. A ocupação
desordenada; o desmatamento;as práticas agrícolas, de cunho exclusivamente extrativista e
exploratório ocasionaram abandono e consequente degradação da fauna e da flora (CARVALHO,
2005; LYRA et al.,2009).
Como acontece na maioria dos ecossistemas, as plantas da Caatinga e da Mata Atlântica
podem apresentar limitações em seu estabelecimento, pois o relevo e o regime de chuvas
influenciam a diversidade desses ambientes. O estudo das variações de fatores abióticos locais é
importante para o entendimento das estratégias de vida das plantas em diferentes habitats, pois esses
servem de parâmetros para futuro manejo e conservação das espécies (GÜTSCHOW – BENTO et
al., 2010).
A Caatinga sempre foi associada à pobreza de diversidade, devido a pouca exuberância das
espécies. Ela sempre foi alvo de negligência por parte de muitos agricultores, em consequência, a
sua área original foi perdida (LEAL et al., 2005). Apesar dos problemas provenientes da
degradação, a Caatinga tem grande potencial para arborização urbana (ALVES, 1998; TROVÃO et
al., 2004; SILVA et al., 2007; ALVES et al., 2008; CORDULA et al., 2008; ZAPPI, 2008; LIMA,
2010).
A Mata Atlântica possui grande biodiversidade e endemismo. No Brasil, em algumas
regiões do Nordeste, o índice de diversidade de plantas lenhosas é um dos maiores do mundo.
Contudo, a preservação deste bioma enfrenta sérios desafios, pois cerca de 70% da população está
concentrada nele. A presença do homem nessa área a torna vulnerável à degradação e à exploração
de seus recursos (MMA, 2002).
Um modo de incentivar o uso e a conservação das espécies vegetais nativas e,
consequentemente, a sua fauna associada, é por meio da arborização urbana.

143
Na arborização urbana da região Nordeste existe poucas cidades com planejamento urbano
que empregam espécies nativas nas áreas verdes. Embora existam locais que contenham os biomas
Caatinga e Mata Atlântica, constata-se o predomínio de espécies exóticas plantadas nas cidades. Tal
fato decorre da ausência de conhecimento, tanto dos técnicos quanto da população local, sobre quais
plantas poderiam ser utilizadas na arborização, dessa forma as espécies da Caatinga não têm
oportunidades de plantio.
As espécies usadas na arborização de ruas devem ser indicadas de acordo com a presença ou
ausência de características botânicas como: floração, frutificação, abscisão foliar, cor, odor,
presença de espinhos ou acúleos e toxinas, exsudação, arquitetura, textura da casca, porte e
crescimento. O espaço do local onde será realizado o plantio necessita ser adequado para o vegetal.
O tamanho das ruas, calçadas e canteiros deve estar de acordo com o porte da árvore, propiciar
também o desenvolvimento da planta, a areação e a permeabilidade do solo, desse modo as raízes
não causarão danos às ruas, às calçadas e aos encanamentos. Quando houver a presença de rede
elétrica é necessário realizar poda de condução para não danificar os fios. Se levados em
consideração esses fatores, os problemas gerados pelo mau planejamento da arborização urbana
serão evitados (SANTANA; SANTOS, 1999; CARVALHO, 2005; ALMEIDA; RODON NETO,
2010).
Na literatura há poucas obras que tratam de espécies nativas da caatinga utilizadas na
arborização ou que descrevam sua fenologia e dendrologia, o que torna a quantidade de espécies
para plantio limitada (GUIA DE ARBORIZAÇAO URBANA, 2002; LIMA, 2007, 2010; DANTAS
et al., 2010; LACERDA et al., 2011), por isso nas cidades que estão inseridas no bioma Caatinga é
comum incluir espécies que ocorram em outros biomas no nordeste.
A finalidade deste trabalho é indicar espécies arbóreas nativas do Nordeste para a
arborização urbana da cidade de Serra Talhada – PE.

MATERIAL E MÉTODOS

Inventário arbóreo
Para analisar quais espécies seriam recomendadas para a arborização das ruas do centro da
cidade de Serra Talhada – PE foi imprescindível obter informações sobre os diversos parâmetros
necessários para o planejamento da arborização da cidade. Desta forma, foi consultado o inventário
e cadastro de árvores para analisar o número das casas que apresentavam possibilidades de plantio,
média da largura das ruas e calçadas (NASCIMENTO, 2011). O centro foi alvo de estudo por ser
um dos bairros mais populosos, ter sua área bem delimitada e concentrar a maior parte das ruas
asfaltadas.
144
Caracterização da área de estudo

A cidade localiza-se na microrregião do Pajeú (07º59´31S, 38º17‘54‖W) e alcança 429


metros de altitude. Quanto à fitogeografia, ela encontra-se no domínio intertropical da região
semiárida do nordeste brasileiro, com vegetação predominante do bioma Caatinga. O clima é do
tipo Tropical Semiárido. A estação de chuva ocorre no inverno, excepcionalmente no nordeste,
ocasionada por chuvas advectivas, com precipitação média anual de 700mm e de temperatura de
26°C (SUDENE, 1990).
Por meio do mapa da cidade, fornecido pela Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo, foi
possível verificar e delimitar a quantidade e a extensão de cada rua do centro, denominado Nossa
Senhora da Penha. Foram analisadas 32 ruas que possuíam, em média, dois metros de largura e o
comprimento foi dividido em ruas de até 400m, entre 400 a 800m e acima de 800m. Cerca de 869
casas apresentavam 1.202 possibilidades de plantio e somente duas ruas não apresentaram.

Indicação de Espécies
Diante dos dados obtidos, foi realizado um estudo com as espécies que poderiam ser
indicadas para plantio nos locais vazios, conforme características fenológicas (abscição foliar,
época de floração e frutificação) e local de origem. As informações foram obtidas de livros, artigos
145
e periódicos (GUIA DE ARBORIZAÇAO URBANA, 2002; CARVALHO, 2005; LIMA, 2007,
2010; LORENZI, 2008, 2009a, 2009b; DANTAS et al., 2010; LACERDA et al., 2011), como
também o porte:árvores de pequeno (3 - 6 metros), médio (6 – 10 metros) e grande porte (acima de
10 metros) (SÃO PAULO, 2005).
Para que não houvesse o uso exacerbado de uma única espécie, gênero ou família e a
diversidade não fosse prejudicada, foi observado o critério sugerido por Santamour Junior (1990).
O autor sugere que não se deve usar mais que 10% de uma espécie, 20% do gênero e 30% da
família.
Dentre as espécies escolhidas, algumas como Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth & Hook.
f. ex S. Moore, Pachira aquatica Aubl., Hibiscus pernambucensis Arruda, Senna spectabilis (DC.)
H.S. Irwin & Barneby, Caesalpinia echinata Lam. já estavam presentes no contexto urbano e
possuíam características favoráveis à arborização urbana, desse modo, foram inclusas na lista de
espécies indicadas para as possibilidades de plantio.
Para apresentar aos moradores as espécies nativas do Nordeste e incentivar o aceite da
arborização urbana foram exibidas fotos coloridas das espécies em pranchas em que ocorriam no
Nordeste. As pranchas continham as fotos das espécies indicadas para cada rua; o nome da rua e o
nome científico e popular de cada espécie; os dados sobre o comprimento da rua, sua largura e da
calçada correspondente; o bairro; o potencial de plantio e a presença ou não de fiação elétrica. As
fotos das espécies indicadas possuíam o mesmo tamanho e padrão para não haver influência na
escolha do morador, que escolhia uma espécie das opções que lhe eram propostas (Figura 1). As
espécies que eram caducifólias geralmente estavam sem folhas nas fotos.

Fonte: Lorenzi (2008, 2009a,b)


146
Figura 1 - Prancha com fotos das espécies sugeridas aos moradores do centro da cidade de Serra
Talhada – PE.

Nas ruas menores que 400 metros, eram indicados aos moradores duas espécies, a mais
votada era selecionada para possível plantio; nas ruas de 400 a 800 metros, foram indicadas três
espécies e selecionadas as duas mais votadas para o possível plantio; nas ruas maiores que 800
metros, houve indicação de quatro espécies e foram selecionadas as três mais votadas para provável
plantio, de acordo com a metodologia adaptada de Silva (2005). Aos moradores consultados foi
esclarecido que a prefeitura é o órgão responsável pela arborização urbana, dessa forma o plantio só
seria efetuado caso aderisse às sugestões propostas neste trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante os meses de março e abril de 2011, foi exibido aos moradores o catálogo de fotos
coloridas das espécies previamente escolhidas, conforme as possibilidades de plantio nas calçadas
de suas residências. Dos 869 moradores do centro (Nossa Senhora da Penha), foram consultadas
446 pessoas que não possuíam árvores nas calçadas e apresentavam possibilidades de plantio. A
maior parte das ruas (13) tinha extensão entre 400 e 800 metros, seguida da extensão menor de 400
metros (12) e maior de 800 metros (5).
As espécies indicadas estavam compreendidas em Mata Atlântica (16), Caatinga (14) e
adaptadas ao semiárido (13), previamente estudadas para cada local conforme a extensão da rua e
calçada, a altura da fiação elétrica, o porte e a sincronização de floração. A maioria dos votos foi
para as espécies da Mata Atlântica, que contabilizou seis espécies (Tabela 1). A escolha de espécies
deste bioma ocorreu porque no verão, a temperatura é muito alta e as folhas das espécies da
Caatinga caem para proteger da perda de água pela evapotranspiração, enquanto que da Mata
Atlântica permanecem perenifólias, como é verificado na Tabela 1 e somente duas semicaducas.
Espécies com atéseis metros de altura são consideradas de pequeno porte, e são
frequentemente recomendadas por muitos trabalhos para a arborização de calçadas (SÃO PAULO,
2005; PINTO; CORRÊA, 2010; OLIVEIRA; CARVALHO, 2010), entretanto, as árvores de
pequeno porte não facilitam a passagem de pedestres e carros; produzem menos sombra e são mais
frágeis a ataques mecânicos e químicos.
A cidade de Serra Talhada possui clima seco e quente, a introdução de árvores de grande
porte pode elevar a taxa de evapotranspiração e, consequentemente diminuir a temperatura do
ambiente e as ilhas de calor, reter a poeira em suspensão gerada pelo trânsito de carros em atrito
com o solo e pelo vento e atenuar o barulho (GREY; DENEKE, 1978; ARMSON et al., 2012;
FANG; LING, 2003, 2005). Entre outras vantagens das árvores de grande porte é a maior área de
147
copa, que favorece a preservação do asfalto devido à durabilidade e a redução do custo de
manutenção; a interceptação da chuva pelas copas, com redução do escoamento superficial e a
formação de corredores ecológicos (DWYER et al., 1992; MCPHERSON; MUCHNICK, 2005;
PIRES et al., 2007). Em calçadas estreitas, o fuste único de espécies de grande porte permite a livre
circulação das pessoas (AGUIRRE JUNIOR; LIMA, 2007).

Tabela 01 – Espécies mais votadas pelos moradores nas ruas acima de até 400 metros, entre
400 metros e 800 metros eacima de 800 metros no centro da cidade de Serra Talhada – PE (2011).
Nome científico Porte Abscisão Floração Frutificação Local de No. Votos
Foliar
(m) origem

Casearia sylvestris Sw. 4-6 P Jun – Ago Set – Nov MA 31

Allophylus edulis (A. St.-Hil., 6-20 SC Set – Nov Nov – Dez MA 29


A. Juss. & Cambess.) Radlk.

Pachira aquaticaAubl. 6-14 P Set – Nov Abr – Jun AS 29

Cordia oncocalyx Allemão 5-8 C Jan – Mar Jul – Ago CT 27


Sapindus saponaria L. 5-10 P Abr – Jun Set – Out MA 24
Pseudobombax simplicifolium 4-7 C Mai – Ago Jul – Set AS 24
A. Robyns

Erythrina velutina Willd 8-12 C Ago – Dez Jan – Fev CT 21


Hibiscus pernambucensis 3-6 P Ago – Jan Fev – Abr AS 18
Arruda

Tibouchina granulosa(Desr.) 8-12 P Jun – Ago Abr – Mai MA 18


Cogn.

Caesalpinia ferrea var. ferrea 10-15 C Nov – Jan Jul – Ago CT 17


Byrsonima sericea DC. 6-16 SC Set – Nov Mar – Abr MA 14
Schinopsis brasiliensis Engl. 10-12 C Jun – Set Out – Nov CT 12
Peltophorum dubium (Spreng.) 15-25 C Dez – Fev Mar – Abr AS 12
Taub.

Tapirira guianensis Aubl. 8-13 P Ago – Dez Jan- Mar MA 12

P- perenifólia, SC – semicaducifólia e C- caducifólia; MA – Mata Atlântica, CT – Caatinga e AD –


Adaptadas ao semiárido

148
O conhecimento da floração e frutificação inseridas no meio urbano é fundamental, porém
depende das condições climáticas de cada região, o que pode retardar a floração e, conseqüente a
frutificação ou pode ser mais expressiva em um local do que em outro, além da estrutura urbana e
condições de plantio (BIONDI; LIMA NETO, 2011).
Os moradores preferiram espécies que apresentavam copa densa ou floração aparente, outra
constatação, é que, as espécies introduzidas atualmente na arborização de Serra Talhada têm a
floração discreta ou não aparente. A presença de árvores com flores vistosas e com cores
diversificadas proporciona a sensação de bem estar, cada cor reflete um efeito diferente em nosso
cérebro (FARINA, 1987). O uso de muitas espécies nativas na arborização com variações na
floração, na frutificação e na forma da copa, contribui para a conservação da biodiversidade da
região e identifica a flora do bioma em que a cidade está inserida. A heterogeneidade da vegetação
torna a arborização urbana complexa, pois mantém o equilíbrio dinâmico entre os sistemas naturais
que conserva as relações ecológicas entre as árvores e a fauna (SILVA et al., 2007). Ao ampliar o
uso e a quantidade de espécies arbóreas nativas, o índice de diversidade tende a aumentar, assim
como a presença de animais polinizadores como pássaros, borboletas, morcegos, entre outros.
As outras espécies foram ofertadas com o intuito de ressaltar o potencial das árvores do
Nordeste para o sistema viário, visto que as espécies usadas na arborização do município de Serra
Talhada são exóticas e, recentemente, tais espécies acarretaram sérios problemas por conta de
pragas, como exemplo temos a Singhiellla simplex (Singh.), popular mosca branca, que dizimou
várias plantas de Ficus benjamina L. e outras mais próximas.

CONCLUSÃO
Há dificuldade em encontrar estudos que enfoquem aspectos botânicos e descritivos de
espécies arbóreas do Nordeste que poderiam ser empregadas na arborização, o que torna seu uso
pouco empregado e de maneira adequada. Tal fato remete para a necessidade de maior atenção dos
pesquisadores às espécies desta região, para que a partir do conhecimento aumente a introdução na
arborização. As duas espécies mais votadas da Mata Atlântica foram Casearia sylvestris e
Allophyllus edulis; referentes ao bioma Caatinga foram Cordia oncocalyx e Erythrina velutina e as
espécies mais votadas que se adaptaram no Nordeste como um todo foram Paquira aquatica e
Hibiscus pernambucensis. Além dos fatos já apontados acima, é importante mais uma vez ressaltar
para o cerne da questão: o uso de espécies nativas promove a preservação das espécies e dos biomas
do Nordeste.

149
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152
REPRESENTAÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE: REFLEXÕES ACERCA DAS
RELAÇÕES AMBIENTAIS EM UNIVERSITÁRIOS

Marília Pinto Ferreira MURATA


Docente da Universidade Federal do Paraná e
Doutoranda pela Universidade Federal de São Carlos
mariliamurata@ufpr.br

Afonso Takao MURATA


Docente da Universidade Federal do Paraná
afonsomurata@ufpr.br

Resumo

Atualmente saúde não tem sido somente articulada aspectos físicos e biomédicos. O conceito de
saúde foi ampliado e tem sido vinculado a diversos fatores, nos âmbitos biopsicossociais. A partir
dessa concepção ampliada de saúde tem se verificado a contribuição da saúde para a qualidade de
vida de pessoas ou populações. Da mesma forma que se verificam fatores de diversos âmbitos
constituindo e influenciando a saúde das pessoas, a qualidade de vida também é um constructo
multifatorial. Além do acesso ao serviço médico de qualidade é necessário se levar em conta
determinantes de saúde mais amplos. No presente artigo são avaliadas as concepções apresentadas
por estudantes universitários de graduação na área de saúde (Fisioterapia e Saúde Coletiva), no
início do curso, em relação à saúde e qualidade de vida. Os resultados evidenciam representações
sociais de qualidade de vida e saúde relacionadas ao modelo biomédicode atenção à saúde, sem
contemplar outras dimensões dessas temáticas, como aspectos ambientais. Revelam a necessidade
de trabalho integrado entre as ações de educação ambiental e educação em saúde. Além disso, a
amplitude de aspectos relacionados tanto à saúde, como à qualidade de vida, implica e requer
políticas públicas intersetoriais e trabalho de educação e promoção da saúde que contemple a
concepção ampliada de saúde. Fazem-se necessárias ainda, estratégias promocionais que
contemplem a formação e a proposição de ações que incluam formação social no sentido do
incremento da qualidade de vida e inovações na gestão pública para o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chaves: qualidade de vida, saúde, representações sociais.

Abstract

At present health has not been articulated only physical and biomedical. The health concept has
been linked to several factors in the the biopsychosocial areas. From this expanded concept of
health has verified the contribution of health in the life quality of people or populations. Likewise

153
various factors constituting and influencing people's health, life quality also have a multifactorial
construct. Besides access to quality medical service is necessary to take into account the broader
determinants of health. In this article are analyzed the concepts presented by graduate students
about health (physiotherapy and Public Health), and in relation to health and life quality. The results
show social representations of health and life quality related to the medical health care model,
without considering other dimensions of these issues, such as environmental aspects. Reveal the
necessity of cooperation between environmental education and health education. Moreover, the
breadth of issues related to both health and life quality implies and requires intersectional public
policies, and labor education, and health promotion that addresses the expanded health concept. It
was necessary yet, promotional strategies that include training and propose actions that include
social formation towards improving the quality of life and innovations in governance for sustainable
development.

Keywords: Life quality, health and social representations.

É incontestável que, nas últimas décadas, têm ocorrido melhora contínua em relação às
condições de vida e saúde da população, na maioria dos países. Apesar disso, ainda se verificam
grandes desigualdades sociais e em relação à essas condições de vida e saúde (OPAS, 1998).
Segundo Buss (2000) em alguns setores, como o de doenças infectoparasitárias e ligadas a
condições de infraestrutura urbana básica, os problemas já estão resolvidos em diversos locais e
populações, no entanto, em outros setores tem se observado um aumento de problemas como
doenças crônicas não infecciosas ou o aparecimento de outros como a AIDS, abuso de drogas,
violência, estresse. Apesar de se ter verificado anteriormente que a melhora nas condições de vida
foram os principais responsáveis pelos avanços mencionados, a resposta social para estes problemas
emergentes tem sido investimentos crescentes em assistência médica curativa e individual (BUSS,
2000).
A priorização das tecnologias na área médica e o foco das atenções no risco individual e nas
condições de reabilitação da doença, caracteriza o que se convencionou chamar de modelo
biomédico.
A carta de Ottawa (BRASIL, 2001), aponta a limitação do modelo biomédico, indicando-o
como necessário, no entanto insuficiente para a promoção da saúde, afirmando que se faz necessária
a ação coordenada de todos os implicados, sendo responsabilidade dos grupos sociais e
profissionais atuar como mediadores entre interesses antagônicos e a favor da saúde.

154
Com base na insuficiência deste modelo adotou-se a concepção ampliada de saúde, que
ressalta a idéia de processo saúde-doença. Marcondes (2004) afirma que a idéia de processo diz
respeito a uma relação dinâmica entre saúde e doença, em que elementos internos e externos ao
organismo interagem constantemente, em uma permanente instabilidade que desencadeia novos
ajustes.
Assim, a saúde não se constitui em oposto da doença, mas estão em constante interação,
sendo que esta relação abrange tanto as condições internas do organismo, como as relações sociais e
ambientais (OPAS, 1996). Marcondes (2004) acrescenta que não se pode perder de vista que a
saúde, além do setor médico, envolve os demais setores da sociedade e profissionais de saúde.
Há muito tem sido questionado o papel da medicina e do setor de saúde no enfrentamento
das causas mais amplas dos problemas de saúde, que não são o objeto principal do médico (BUSS,
2000). A influência mútua entre saúde e as condições e qualidade de vida tem sido amplamente
estudada. Buss (2000) afirma que no panorama mundial têm sido demonstradas as relações entre
saúde e condições∕qualidade de vida. Segundo este autor, no Brasil, em pesquisa de cunho teórico-
conceitual, realizada por Paim (1997), também são destacados vários estudos que demonstram as
referidas relações.
No Brasil e na América Latina têm sido elencados alguns fatores (condições de vida) de
ordem socioeconômica, que se relacionam e influenciam diretamente as tendências nos indicadores
básicos de saúde, dentre eles se destacam: grau de escolaridade, condições de moradia, renda e
ambiente (OPAS, 1998; BUSS, 2000).
Tendo em vista as considerações acima, a resolução dos problemas relacionados à saúde e a
qualidade de vida dependem da articulação de diversos saberes e ações interdisciplinares e
correlacionadas e está ligado ao conceito de promoção da saúde. A respeito da promoção da saúde,
Buss (2000) refere que:
―Partindo da concepção ampliada de saúde do processo saúde-doença e de seus
determinantes propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos
institucionais, comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução‖ (BUSS,
2000).
A Carta de Otawa (WHO, 1986), que se constitui em um documento de referência para a
área de saúde, define promoção de saúde como um processo de capacitação da comunidade para
atuar na qualidade de vida e saúde e, defende a saúde como uma dimensão da qualidade de vida,
que se constitui um recurso fundamental para a vida cotidiana. Este documento aponta múltiplos
determinantes de saúde, transcendendo a idéia de saúde relacionada unicamente a formas sadias de
vida, acrescentando dimensões como paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema,
recursos sustentáveis, equidade e justiça social.
155
De acordo com a Carta de Otawa, as ações relacionadas à promoção da saúde envolvem
cinco campos principais: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis, criação de
ambientes favoráveis à saúde, reforço envolvimento e ação comunitária, desenvolvimento de
habilidades pessoais e reorientação do sistema de saúde.
Das considerações acima, apreende-se que o ambiente tem relação direta com a saúde e a
qualidade de vida dos indivíduos e das populações e ainda, que a promoção da saúde se constitui em
alternativa de ação neste sentido. As diretrizes para a promoção da saúde e a concepção ampliada de
saúde que a embasa localizam as questões ambientes como importantes fatores a serem levados em
consideração quando o assunto é saúde e qualidade de vida.
Desta forma, e tendo em vista a formação dos profissionais da área de saúde para estas
questões, o presente trabalho busca analisar as representações de estudantes universitários em
relação à qualidade de vida e saúde, ao iniciarem cursos de graduação relacionados à área de saúde,
e ainda, se estas concepções abarcam questões ambientais.
Métodos

Participantes
O presente estudo contou com a colaboração de 70 estudantes de graduação em Saúde
Coletiva e Fisioterapia, matriculados no primeiro semestre de seus respectivos cursos. A coleta de
dados junto aos estudantes foi realizada antes deles completarem 15 dias de aula. A média de idade
dos estudantes participantes foi de 23 anos, sendo que 29% deles eram do sexo masculino e 71%
feminino.

Instrumento
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário autoadiministrado, contendo 5
perguntas, sendo três para caracterização (idade, sexo e curso) e duas perguntas abertas específicas
para levantar as representações sobre qualidade de vida e saúde, em que era solicitado que os
participantes emitissem opiniões pessoais acerca de saúde (O que é saúde para você?) e qualidade
de vida (O que você entende por qualidade de vida?)

Procedimentos
Os questionários foram entregues em sala de aula, de forma coletiva, com autorização do
professor, e com preenchimento de caráter voluntário.
A análise dos dados foi realizada quantitativamente, por meio de análise de frequência e,
qualitativamente através da técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1977).

156
Resultados e Discussões
As respostas às questões referentes às representações sociais de saúde e de qualidade de vida
foram categorizadas e são apresentadas segundo a seguir.
Com relação à questão específica sobre o que os estudantes entendem de saúde foi possível
observar que os participantes deste estudo definem saúde segundo nas categorias apresentadas na
Tabela 1.

Categoria Frequência
Saúde como ausência de doença 42%
Saúde como saúde física 35%
Saúde como equilíbrio corpo e mente 18%
Concepção ampliada de saúde 5%
Tabela 1: Percentual de respostas segundo categorias relativas as representações de saúde.

Os maiores percentuais de respostas evidenciam o entendimento de saúde como ausência de


doença e de saúde relacionada, principalmente ao âmbito físico, expressam as representações
vigentes em nossa sociedade, em que a saúde é vista de maneira utilitarista e imediatista.
Em pesquisa realizada por Brito; Camargo (2011) fatores relacionados à saúde física também foram
os mais frequentes, sendo a alimentação saudável e à prática de atividade física regular os mais
referidos relacionados à saúde.
Resultados semelhantes foram encontrados por Andrade Jr., Souza, Brochier (2004) em que
as categorias de ausência de doença e saúde relacionada ao âmbito físico também foram as mais
frequentes em relação as representações de educação em saúde entre universitários. Estes autores
levantam a possibilidade destas concepções estarem relacionadas ao crescimento dos planos de
saúde e a constatação de ineficiência do sistema público, e ainda, aos escândalos envolvendo
falsificação de remédios e a utilização de genéricos, que podem estar favorecendo a associação da
educação em saúde à cura.
A priorização do profissional médico nas unidades de saúde, a dificuldade de se conseguir
atendimento com outros profissionais e a supervalorização das terapias medicamentosas em
detrimento de outros tipos de práticas, também podem ser fatores que contribuem para a
continuidade da hegemonia do modelo biomédico.
Além disso, outros fatores que podem estar relacionados à predominância de respostas
relacionadas ao corpo e ao físico podem estar incluir a supervalorização do corpo e da beleza, as
intensas propagandas relacionadas à estética e a dificuldade de aceitar e valorizar o envelhecimento.

157
Estas concepções, que priorizam o corpo e a saúde física podem estar dificultando a adoção de
comportamentos preventivos por parte da população e a disseminação de conhecimentos em relação
à concepção ampliada de saúde, tendo em vista que outros aspectos são desconsiderados ou
desvalorizados. Outra consequência destas atitudes é a dificuldade de incorporação de outros
profissionais nos serviços de saúde.
As respostas em relação à definição e os fatores que podem interferir na saúde revelam
predominância de respostas que se enquadram no modelo biomédico de concepção de saúde, tendo
em vista que levam em consideração, principalmente aspectos relacionados à saúde física, e
ausência de doenças, sem considerar outros fatores como: sociais, ambientais, culturais, emocionais,
ambientais, entre outros.
Quando questionados sobre ―O que você entende por qualidade de vida?‖, as respostas mais
frequentes foram categorizadas e são ilustradas a seguir:

Categoria Frequência
Qualidade de vida como saúde 37%
Qualidade de vida relacionada ao bem-estar (físico) 29%
Qualidade de vida como estabilidade financeira 13%
Qualidade de vida como diversão 9%
Qualidade de vida relacionada bons relacionamentos 8%
Qualidade de vida como capacidade para trabalho e 4%
atividades diárias
Tabela2: Percentual de respostas segundo categorias relativas as representações de qualidade de
vida.

Para a maior parte dos entrevistados qualidade de vida está relacionada principalmente ao
bem-estar, seja ele físico ou financeiro, aparecendo respostas relacionadas ao conforto material e ao
bem-estar geral, incluindo os relacionamentos em geral. O conforto material apareceu vinculado
também à possibilidade de investimentos em diversão e cuidados com a saúde, alimentação,
práticas de atividades físicas e acesso ao atendimento em saúde privada. Também é frequente a
qualidade de vida relaciona à (boa) saúde.
Assim, as respostas estão predominantemente relacionadas ao bem-estar e conforto em áreas
relacionadas à saúde e aos relacionamentos. As representações sociais de qualidade de vida
apresentadas evidenciam que para a maior parte dos estudantes, há uma correspondência entre
qualidade de vida e saúde ou bem-estar físico.

158
Assim, para as representações sociais de qualidade de vida repetem-se as concepções
relacionadas à ausência de doença e o bem estar físico como pontos principais, assim como nas
representações sociais de saúde, evidenciando respostas que não contemplam o conceito ampliado
de saúde.
Somente foram acrescentados aspectos relativos aos relacionamentos interpessoais, mas de
maneira restrita, pois não implicam ações sociais, mas sim aspectos da vida individual em relação
às pessoas que os rodeiam. Nesta mesma perspectiva aparecem o trabalho e a diversão, que não
incluem a visão de participação coletiva.
As representações sociais de saúde e de qualidade de vida apresentadas pelos estudantes não
evidenciam aspectos relacionados ao ambiente, nem uma visão integrada do ser humano ao meio
ambiente, aspectos importantes para a concepção ampliada de saúde, que por sua vez é essencial
para os profissionais de saúde.
Essa visão de integração do homem ao meio ambiente é descrita na Lei 9.795, que dispõe
sobre a Educação Ambiental, e que em seu Art. 1o, determina que a educação ambiental deve ser
construída, a partir de um enfoque holístico, democrático e participativo, além disso a lei define
educação ambiental:

―Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade‖ (BRASIL, 1999)

Já a educação em saúde, de acordo com Andrade Jr., Souza, Brochier (2004):

―Focaliza o engajamento das pessoas para que adotem e mantenham padrões de vida sadios,
usando de forma adequada os serviços colocados à sua disposição e tomando suas próprias
decisões, no nível individual e coletivo, com vistas a aprimorar condições de saúde e de meio
ambiente.‖ (ANDRADE JR., SOUZA, BROCHIER, 2004)

Neste sentido, a educação ambiental poderia estar integrada à educação em saúde, a partir de
uma visão ecocêntrica. Segundo Andrade Jr., Souza, Brochier (2004) a inserção de uma dimensão
ambiental na educação representa um esforço formador e integrador. Para estes autores, entidades
governamentais e não governamentais que visem relativas a educação ambiental e a educação em
saúde, devem priorizar as relações entre tais temas, pois o entendimento das relações entre saúde e
ambiente favorece a visão ecocêntrica em relação ao ambiente e uma ótica mais ampla em questões
de saúde coletiva.

159
Considerações Finais

Os resultados do presente estudo demonstram representações sociais de saúde e qualidade de


vida dos estudantes participantes relacionadas, principalmente à aspectos do modelo biomédico de
atenção e atuação em saúde, não contemplando dimensões do conceito ampliado de saúde.
Questões pertinentes ao meio ambiente não são contemplados de maneira a contemplar a
necessária integração homem e ambiente, necessária a compreensão integral do ser humano e
biopsicossocial de desenvolvimento, inerentes ao conceito ampliado de saúde.
Esta situação pode estar relacionada ao fato de ainda termos em nossa sociedade concepções
de ambiente e de saúde que focam estes temas como fatores de consumo, refletindo a ideologia
subjacente, amplamente divulgada em nossos meios de comunicação.
Assim, se torna evidente a necessidade de se implementar, em cursos da área de saúde, ações
voltadas para a educação ambiental integrada com a educação em saúde, como forma de refletir e
promover mudanças de concepção e atitudes relacionadas à sua inserção e integração do homem ao
meio ambiente, bem como de sua participação ativa em relação à saúde, qualidade de vida e
ambiente, de forma sustentável.
Outro aspecto a ressaltar é a necessidade de que as políticas públicas de promoção da saúde
e da qualidade de vida contemplem a intersetorialidade e interdisciplinaridade, e mudanças na
gestão pública, tendo em vista que ambos os constructos possuem causas e consequências
multifatoriais integradas.
Também fica evidente a necessidade de políticas públicas que viabilizem a ampliação da
educação ambiental e da educação em saúde para toda a população, tendo em vista que as
representações dos estudantes refletem as concepções vigentes na comunidade e como a revisão de
literatura deixa evidente, temos tido problemas relacionados à saúde e ao ambiente, que estão
relacionados aos estilos de vida adotados e, que para sua resolução, necessitam de mudanças de
atitudes.

Referências Bibliográficas

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50.

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ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). La Salud en las Américas, vol. 1,


OPAS,Washington, 1998. 368 pp.

161
REFLEXOS DA EXPANSÂO URBANA SOBRE O MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE
VIDA EM FORTALEZA- CE

Nubelia Moreira da SILVA (Doutoranda em Geografia/UFC) nubeliamoreira@yahoo.com.br

Camila Campos LOPES (Doutoranda em Geografia/UFC) camila.npc@hotmail.com

Maria Rita Vidal (Doutoranda em Geografia/UFC) mritavidal@yahoo.com.br

Raimundo Freitas ARAGÃO (Doutorando em Geografia/UFC) ararageo2007@yahoo.com.br

Resumo

O artigo desenvolve uma reflexão sobre o estado atual da expansão urbana na região sudeste da
cidade de Fortaleza, Capital do Ceará, mostrando as implicações desse processo sobre os
componentes ambientais da área e seus reflexos sobre a qualidade de vida da população. O objetivo
é discutir as transformações socioespaciais e ambientais nesta área. O desenvolvimento do trabalho
obedece ao modelo de pesquisa qualitativa e exploratória. Diante da carência de informações, o
trabalho procura contribuir com a ampliação e divulgação do conhecimento da realidade e da
dinâmica socioespacial da área em tela, a fim de compreender os desafios e as perspectivas da
sustentabilidade socioambiental e fornecer subsídios para o debate e o planejamento urbano mais
eficiente.

Palavras-chave: Expansão urbana; Planejamento urbano; Meio ambiente; Qualidade de vida.

Abstract

The article reflects on the current state of urban expansion in the southeastern city of Fortaleza,
capital of Ceará. It shows the implications of this process on the environmental components of the
area and its impact on quality of life. The aim is to discuss about its environmental and socio-spatial
transformation. The development of the article follows the qualitative and exploratory research
methods. Given the identification of the lack of information, the study intends to contribute to the
expansion and dissemination of the reality and the socio-spatial dynamics of the area, in order to
understand the challenges and prospects of environmental sustainability and provide input to the
debate of a more efficient urban planning.

Key-words: Urban sprawl; Urban planning; Environment; Quality of life

162
Introdução

A sociedade contemporânea, caracterizada, segundo Beck (2003),como ―a sociedade de


risco‖, está diante de problemas que são, ao mesmo tempo, preocupantes e desafiadores. De acordo
com o referido autor, a humanidade vive a incerteza diante das consequências sociais, ambientais e
econômicas advindas do paradigma que domina as relações econômicas, culturais, políticas e
ambientais estabelecidas no cerne da sociedade do mundo moderno, a ―modernidade reflexiva‖.
Entre os grandes desafios da sociedade moderna pode-se mencionar a dificuldade de
compatibilizar as práticas sociais com a capacidade de suporte do território e de recomposição dos
bens e recursos ambientais que caracterizam os sistemas naturais.
Tal dificuldade revela-se mais intensa em se tratando de territórios urbanos, especialmente
quando estes se encontram em sítio litorâneo posto que esta é a área de intensa e contínua
urbanização. Fortaleza uma metrópole litorânea exemplifica bem essa realidade; no decorrer da
construção de sua configuração espacial, a ineficiência e a ausência de instrumentos legais que
tencionam a salvaguarda da qualidade ambiental urbana e, consequentemente a qualidade de vida
contribuíram e ainda contribuem para a desordenada ocupação do território municipal.
A ―impotência‖ da gestão pública e da própria sociedade frente a esse complexo desafio
sustenta-se na ausência de políticas públicas para a gestão do espaço e, principalmente, no
desrespeito aos instrumentos legais essenciais ao disciplinamento do território, por não serem
regulamentados (Plano Diretor 2008, por exemplo) ou por não serem observados com o devido
rigor demandado pelo processo de planejamento e ordenamento do uso e ocupação do solo.
Essa realidade não é exclusiva de Fortaleza, mas aqui, como dito anteriormente, se assiste à
expansão do tecido urbano sem o controle requerido para o que se pretende de uma cidade
sustentável. Na atualidade, a ilustração mais clara desse fenômeno acontece na região sudeste do
município (carente de serviços essenciais à sustentabilidade territorial, como o saneamento básico, e
repleta de áreas ambientais importantes para prestação de serviços ambientais fundamentais para a
qualidade de vida não apenas dos que ali residem, mas também de toda a cidade). Nessa área da
cidade, a especulação imobiliária para fins residenciais (desde o início dos anos 1990) e comerciais
(atualmente) avança sem precedentes, agredindo a paisagem indiscriminadamente e modificando a
organização territorial, socioespacial e ambiental original.
Nesse sentido, sendo essa problemática resultado de práticas econômicas, de escolhas de
gestão, de opções ou da ausência de políticas de ordenamento territorial, há que se encontrar uma
forma de atenuar os problemas gerados na interface das relações entre a sociedade e a natureza,
buscando alcançar um modelo de sustentabilidade socioambiental capaz de compatibilizar o uso e a

163
ocupação do território com a manutenção da qualidade ambiental dos componentes (humanos ou
naturais) que compõem a paisagem.
Esse desafio, que, a partir dos anos 1960, passou a ser denominado de questão ambiental,
traz em si as contradições da própria humanidade. De acordo com Leff (2006; 2009), a crise
ambiental é, antes de tudo, crise da sociedade, na medida em que o padrão de vida vigente institui a
problemática socioambiental, característica do modelo econômico ocidental de apropriação
econômico-tecnológica da natureza.
Entretanto, o fortalecimento do movimento ambientalista e a comprovação por estudos
científicos de que o ritmo de vida das sociedades alcançou um nível não compatível com o uso
sustentável dos recursos e bens ambientais no planeta serviram de base para a busca de alternativas
que tentam aliar os interesses sociais e econômicos ao uso sustentável dos territórios.
Nesse contexto, o conhecimento do território e da dinâmica das relações sociais que nele se
estabelecem e que lhe dão ―vida‖ emerge como um instrumento e, ao mesmo tempo, uma estratégia
para responder aos desafios que se impõem a um novo modelo de desenvolvimento que se pretende
sustentável.
Ao longo da história humana, os espaços urbanos assumiram um importante papel na
ocupação e organização dos territórios. Sabe-se que essas áreas apresentam uma dinâmica própria,
que as configuram como ambientes em constantes transformações. Essa dinâmica, reveladora das
mudanças que a sociedade vivencia a cada momento histórico, traduz o permanente refazer das
configurações espaciais, ou seja, a cidade é ―construída‖, ―destruída‖ e ―reconstruída‖ em um
processo contínuo.
Ao mesmo tempo, as formas de apropriação dos espaços citadinos e, principalmente, os
tipos de uso e ocupação que se fazem deles aceleram mudanças e desencadeiam problemas
ambientais difíceis de ser solucionados.
A interface entre o crescimento dos espaços urbanos e a problemática socioambiental,
produto de um desregrado processo de organização socioespacial cujas origens estão na base da
organização social vigente, revela a contradição entre os interesses, os conflitos e as expectativas
dos sujeitos responsáveis pela produção do espaço urbano. O resultado disso tudo é a dilapidação
dos sistemas sociais tradicionais e naturais que compõem a paisagem, resultando em uma
desestruturação daquilo que os agentes produtores do espaço urbano buscam: a qualidade ambiental
como um dos elementos promotores da qualidade de vida.
A qualidade de vida garantida pela qualidade ambiental é o que esperam os consumidores
imobiliários que afluem para a região sudeste de Fortaleza, principalmente para os bairros
Cambeba, Alagadiço Novo, Lagoa Redonda e Sabiaguaba (figura 01). A expectativa de lucros
garantidos por meio da incorporação de grandes glebas é o que esperam e encontram nessa área os
164
incorporadores imobiliários que, em ritmo acelerado, transformam áreas verdes e antigos sítios em
monumentos de concreto.

Figura 01 – Localização da área em estudo.


Fonte: Prefeitura Municipal de Fortaleza. Adaptado.

Nesse cenário, o poder público assume relevante participação à medida que permite a avidez
da indústria imobiliária avançar desmedidamente sobre recursos hídricos, áreas verdes, áreas de
preservação permanente e, o mais grave, contribuir para a degradação desses recursos e bens
ambientais. A instalação de infraestrutura de vias, a exemplo da duplicação da CE 025, que liga
essa região de Fortaleza ao Porto das Dunas, em Aquiraz, e a construção da ponte sobre o rio Cocó,
na Sabiaguaba, com igual função, demonstram a parceria entre poder público, capital imobiliário e
turístico nessa região.
Entretanto, investimentos em equipamentos de infraestrutura básica, como saneamento
ambiental, drenagem e a instalação de equipamentos urbanos essenciais à qualidade de vida dos
residentes nesses bairros, não são percebidos. A combinação da ausência de saneamento básico com
a permissão da especulação imobiliária nessa região constitui um vetor de degradação ambiental
165
sem precedentes. Tal fato invalida, a nosso ver, no futuro, o que buscam hoje os promotores e
consumidores imobiliários nessa área: a qualidade de vida.
Para o desenvolvimento do trabalho, adota-se uma postura de investigação pautada na
pesquisa de teor predominantemente qualitativo e exploratório. Priorizou-se o levantamento de
dados e informações em fontes já constituídas, porém a maior parte do conhecimento a ser
apreendido resultará de um intenso e efetivo envolvimento nosso com as comunidades locais e com
todos os envolvidos no processo a que esta pesquisa busca explicar.
A metodologia segue três fases basicamente, adotando as seguintes etapas: a busca das bases
teóricas e basilares para a pesquisa; o estudo de campo, essencial para a aproximação e a
compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais presentes no território a ser analisado;
a análise da documentação, das informações e dos dados disponíveis a respeito do objeto de estudo
e suas múltiplas faces. Complementa a metodologia a observação in loco.

Região sudeste de Fortaleza: reflexos do crescimento urbano na dinâmica socioambiental

O sudeste fortalezense constitui na atualidade a área da cidade onde se encontram as maiores


reservar de áreas verdes e importantes espaços lacustres e fluviais. Por sua localização periférica e,
ocupação predominantemente formada por grandes sítios (chácaras) tornou-se uma importante
reserva de mercado de terras para o setor imobiliário.
Entretanto, a corrida imobiliária para os bairros desta região da capital não se dá unicamente
pela disponibilidade de terras, mas por seus atributos ambientais, proximidade do mar e a
tranquilidade (baixo índice de criminalidade) difícil de ser encontrada em outros lugares da
metrópole. Trata-se, portanto, de uma periferia privilegiada apropriada pelo seguimento imobiliário
voltado para a construção de produtos imobiliários destinados às classes sociais mais abastadas.
Frente ao acelerado processo de expansão urbana, os sistemas naturais presentes nessa área
estão sendo dilapidados. Aquilo a que se assiste nesse espaço é a destruição da capacidade de
prestar os relevantes serviços ambientais que os sistemas naturais constituídos por abundantes
recursos hídricos (lagoas, riachos diversos) que integram a bacia do Rio Cocó e por inúmeras áreas
verdes que constituem uma bela paisagem e amenizam as condições climáticas.
Outro aspecto relevante a ser mencionado é a proteção ambiental do bairro Sabiaguaba
instituída oficialmente em fevereiro de 2006 - garantida pela legislação municipal – o qual abriga
atualmente a Área de Proteção Ambiental de Sabiaguaba (Decreto nº 11.987) e o Parque Natural
Municipal das Dunas da Sabiaguaba (Decreto nº 11.986). Esse é um importante exemplo de
intervenção positiva do poder público na gestão ambiental urbana, porém a não regulamentação da
lei máxima que orienta a ocupação do espaço urbano, o Plano Diretor, aliada à aparente não
observação da correta aplicação da Lei de Uso e Ocupação do Solo, do Código de Obras e das
166
demais legislações ambientais específicas, abre precedentes para a apropriação e ocupação do
espaço sem controle nessa área, ameaçando inclusive a sustentabilidade e a conservação pretendida
para a Sabiaguaba.
Em um cenário de escassas informações atualizadas, há a necessidade de se conhecer melhor
a dinâmica social, econômica, ambiental e política característica da área, portanto se faz urgente
empreender esforços para colaborar com um apropriado planejamento e gestão dessa porção da
unidade territorial urbana. Assim, é fundamental compreender de que forma os sujeitos produtores
do espaço urbano se relacionam com esse território e, principalmente, como é feita a apropriação e
exploração dos diversos recursos naturais e dos bens ambientais presentes nesse espaço a fim de
identificar os aspectos e os impactos ambientais advindos desse processo e suas consequências na
qualidade de vida da população residente.
Certo é que, identifica-se nos bairros constituintes da região sudeste da capital cearense uma
diversidade de sujeitos sociais que estabelecem com o território diferentes relações no que se refere
ao uso desse espaço e dos recursos e bens ambientais aí disponíveis. Ao mesmo tempo, esse recorte
territorial do município é alvo de inúmeras pressões: seus corpos hídricos recebem descarga de
efluentes domésticos, resíduos sólidos de toda sorte, agroquímicos; ocupação irregular de suas
margens; há o assoreamento, entre outros. As áreas verdes naturais ou plantadas, preservadas nos
imensos sítios da região, sofrem o desmatamento indiscriminado interferindo na dinâmica da fauna
e do clima local; as práticas tradicionais que marcaram a história original da ocupação da área são
substituídas gradativamente por outros usos.
Tais problemas advindos das atividades que se desenvolvem em sua área de influência direta
e indireta têm o poder de afetar a qualidade ambiental dos ecossistemas como um todo e de alterar a
qualidade de vida das populações que dependem direta ou indiretamente dos mesmos. Aqui reside
uma das mais significativas dificuldades no gerenciamento desses territórios, a qual remete ao
primeiro e principal desafio para a gestão territorial urbana: como compatibilizar a sustentabilidade
socioambiental com os diferentes interesses socioeconômicos materializados no território por meio
dos usos que se fazem no espaço em estudo?
As formas de relação que os sujeitos sociais (empresas imobiliárias, populações, a gestão
pública em todas as esferas governamentais, principalmente a municipal) mantêm com o território
se revelam mediante a diversidade de interesses e conflitos que, porventura, acontecem nesse
cenário. E, ao se revelarem, evidenciadas pelas territorialidades, mesmo que efemeramente, expõem
também os reais desafios a serem superados na instituição dos planos de desenvolvimento local e de
conservação ambiental na área.
Cabe, então, outro questionamento: de que forma se pode compatibilizar os objetivos do
desenvolvimento sustentável local com as atividades econômicas já estabelecidas e as pretendidas
167
na área em tela as quais podem ameaçar a conservação e, consequentemente, a prestação dos
serviços ambientais que os bens e recursos ambientais de suas paisagens proporcionam à cidade?
Por fim, mas tão importante quanto às questões anteriores, na tentativa de desvendar a
interface entre população, território, apropriação de recursos naturais e sustentabilidade, não se
pode desprezar a importância dos cidadãos no processo de compreensão do fenômeno que nos
propomos investigar. São os cidadãos que criam e recriam essas paisagens construindo e
reconstruindo o território, por isso, são os principais sujeitos promotores e condutores desse
processo. Por essa razão é imprescindível refletir: como os sujeitos sociais diretamente envolvidos
com esse território se apropriam dos seus bens ambientais e recursos naturais e se relacionam com
eles? O que pensam sobre o lugar onde vivem? Quais as suas percepções sobre a dialética entre a
sustentabilidade, o uso e a ocupação do lugar em que vivem?
A compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais nessa área é fundamental.
Os interesses diversos dos inúmeros grupos sociais ali estabelecidos influenciam diretamente as
propostas de gestão desse espaço. Trata-se de uma temática pouco explorada nessa região, e, por se
tratar de uma área que está vivenciando um processo intenso de ocupação urbana e que ainda
mantém preservados muitos espaços naturais, acredita-se que esse território encerra em si respostas
que subsidiarão modelos sustentáveis de gestão ambiental urbana.
Lamentavelmente as respostas a tais desafios estão longe de serem dadas. Isso porque a
―impotência‖ da gestão pública e da própria sociedade frente a esse complexo problema sustenta-se
na ausência de políticas públicas para a gestão do espaço. Excetuando a duplicação da CE 025,
importante via de circulação (de responsabilidade do poder Estadual), cujo objetivo primordial é
facilitar o acesso ao complexo turístico Porto das Dunas, o sudeste de Fortaleza e toda a
problemática socioambiental aí instaurada permanece invisível aos olhos do poder público,
especialmente o municipal.
É importante destacar que não se tem aqui a intenção de promover um discurso gratuito
contra a expansão urbana nos bairros em análise, pois esta é inevitável; pretende-se, contudo,
comprovar os serviços ambientais que os recursos e bens naturais presentes nessa área fornecem à
cidade e demonstrar que há uma incompatibilidade entre o atual processo de uso e ocupação do
espaço e a conservação da qualidade ambiental, portanto é imperativa a adoção de políticas públicas
que promovam a conservação desses bens ambientais como forma de resguardar sua capacidade de
proporcionar benefícios ambientais para toda a cidade.

168
O planejamento urbano como instrumento de proteção da qualidade ambiental e de vida

A ideia de ordenamento territorial tem sido admitida por diversos setores da gestão pública,
por pesquisadores e aceita pela sociedade como uma estratégia capaz de solucionar os problemas
ecológicos e ambientais que ameaçam a eficiência funcional do território.

Sánchez (2009, p. VII), afirma:

La crisis ecológico-ambiental se enquadra em um hecho central: com suma


frecuencia el processo de desarrolho há soslayado el más indispensable de los
conocmientos: conocer y manejar adequadamente la complejidad de los sistemas
ecológicos, pues es em ellos donde se estruturan y dilucidan las relaciones
funcionales entre la natureza y el desarrollo humano.

Apesar do reconhecimento de que é necessário considerar o território como uma unidade


fundamental para se pensar o planejamento e a gestão, Sánchez (2009) chama atenção para o fato de
que existem ainda poucos modelos dessa gestão.
Essa observação parece representar bem a carência de estudos aprofundados e de planos de
gestão territorial na zona sudeste de Fortaleza. Por isso, a principal motivação para as reflexões aqui
colocadas é a concepção de que as estratégias de planejamento e gestão territorial devem envolver o
conhecimento profundo das características ecológicas, sociais, culturais, políticas e econômicas e,
principalmente, das dinâmicas, dos interesses e dos conflitos presentes nessa unidade do espaço.
Sánchez (2009) é categórico ao afirmar que a gestão e o planejamento territorial devem
incluir o homem como elemento indissociável do sistema ambiental. Da mesma forma, Santos
(2008), defende que na contemporaneidade, natureza e sociedade requerem uma explicação
conjunta. O referido autor esclarece que o espaço geográfico é um híbrido, pois não se separa sua
forma da ação que o produziu, e, da mesma forma que Sánchez, Santos afirma que não é possível
mais tratar a natureza e a sociedade como objetos e relações que existem isoladamente.
Leff (2006) defende que, no território, se expressam os desejos, as demandas e reclamos da
população que tem como motivação a reconstrução de seus mundos de vida e a reconfiguração de
suas identidades. O resultado dessa reconstrução, reconfiguração socioterritorial, se materializa nas
diversidades de formas culturais de valorização dos recursos ambientais e de novas estratégias de
reapropriação da natureza. Ainda segundo o referido autor, ―no espaço local são forjadas novas
territorialidades e emergem as sinergias positivas da racionalidade ambiental para construir um
novo paradigma de produtividade ecotecnocultural‖ (LEFF, op cit, p. 157-158).

169
É possível associar o debate sobre o território à sustentabilidade, pois esses dois conceitos
estão imbricados. Em relação a isso, Leff (2006, p. 157) esclarece:

A sustentabilidade está enraizada em bases ecológicas, em identidades


culturais e em territórios de vida; desdobra-se no espaço social, onde os
atores sociais exercem seu poder de controle da degradação ambiental e
mobilizam potenciais ambientais em projetos autogerenciados para
satisfazer as necessidades e aspirações que a globalização econômica não
pode cumprir.

Diante das reflexões expostas, é possível inferir que é justamente no território que reside o
locus da sustentabilidade. Por essa razão, é imprescindível discuti-los conjuntamente.
Quando nos referimos ao potencial natural de um território, é importante diferenciar dois
componentes ambientais que, de forma diferenciada, são incorporados pelo capital, na ânsia de
geração de lucro – os recursos naturais e os bens ambientais.
Moraes (1999, p.14) esclarece a diferença entre recursos naturais e bens ambientais. De
acordo com o autor, os primeiros correspondem a ―produtos‖ que se incorporam às atividades
econômicas e são passíveis de ser quantificados, ou seja, de ter seus estoques definidos e, portanto,
o valor destes é estabelecido de acordo com o mercado. Já os recursos ambientais são condições,
não produtos, não se medem pelo estoque. Entre eles, estão a beleza cênica, o ar puro, o patrimônio
geológico e arqueológico etc. Como estabelecer preço para essas condições? Major (2002, p. 45)
comenta que é muito complicado ―atribuir valor a qualquer coisa que seja natural. O valor de uma
árvore, não é somente o valor da madeira, mas precisamos considerar a sua função na natureza,
como parte do ecossistema [...]. A valorização de um ecossistema é mais complicada e mais difícil‖.
Por isso, a diversidade de elementos e paisagens precisa ser conservada, pois sua utilização
não racional implica em uma perda inimaginável, não apenas para as comunidades locais, mas
também para todo o conjunto da cidade.
Portanto, o estudo integrado sobre a distribuição dos ecossistemas no espaço (a ordenação
ecológica) e das formas de ocupação dos mesmos, a racionalidade das intervenções humanas e os
impactos do processo de desenvolvimento (ordenamento ambiental) constituem a base do sucesso
das estratégias do desenvolvimento territorial e, consequentemente, da sustentabilidade
socioambiental na qual a qualidade de vida se insere.
Uma breve leitura da paisagem que se revela nos bairros selecionados para o presente estudo
leva ao entendimento de que a qualidade ambiental e ecológica dessa área, objeto de cobiça de
classes sociais de elevado poder econômico, está seriamente comprometida.

170
A degradação ambiental dos recursos hídricos está sendo causada por pressões em suas áreas
marginais; essas pressões estão sobrecarregando a capacidade de suporte dos referidos corpos
hídricos e sua qualidade ambiental. Tal aspecto resulta da ausência de controle público sobre o
espaço da cidade e pela ausência de investimentos locais em infraestrutura de saneamento
ambiental. Novos empreendimentos são autorizados a cada dia sem que as condições estruturais
sejam dadas.
Nesse sentido, as lagoas, recursos hídricos ainda abundantes nessa parte da cidade, recebem
toda a carga de esgotamento doméstico, comercial e industrial e, como integram a bacia do rio
Cocó, são carreados para a Área de Proteção Ambiental e o Parque Natural Municipal das Dunas da
Sabiaguaba (atualmente o único campo de dunas na cidade de Fortaleza). Por essa razão,
defendemos que, apesar da relevância da instituição destas unidades de conservação, o descuido
com as áreas circunvizinhas pode afetar negativamente a qualidade ambiental nas mesmas. Isso
porque as unidades de conservação descritas acima constituem uma importante reserva de água
doce para a cidade, tendo importância direta no funcionamento das lagoas e do ecossistema
manguezal.
É comum o uso dos recursos lacustres para a prática da pesca artesanal e utilização da água
para irrigação das atividades horticultoras, atividade ainda bastante expressiva nessa região. A
qualidade da água comprometida afeta diretamente a população que consume os produtos
originados destas atividades.
Em se tratando da oferta de espaços de lazer, essenciais à qualidade de vida urbana,
praticamente inexistem. As poucas praças estão degradadas devido a longos períodos de tempo sem
manutenção. As lagoas, espaços de incrível beleza cênica, ideais para receberem pólos de lazer para
a prática de atividades esportivas e culturais diversas, não são contempladas em projetos desta
natureza.
A supressão total da vegetação presente nas glebas ocupadas por tais empreendimentos é
talvez o elemento mais visível das transformações da paisagem. Sabe-se dos inúmeros benefícios
que a vegetação promove aos demais recursos e bens naturais e à sociedade. Mesmo existindo
instrumentos legais que regulam o desflorestamento e garantem a responsabilidade do poder público
sobre este elemento natural, o que se observa no momento da implantação dos empreendimentos é a
prática da terra arrasada. Toda a vegetação do terreno é suprimida e, se ocorre o cumprimento do
reflorestamento exigido no licenciamento ambiental, não há controle se a compensação ocorre.
Certo mesmo é que este reflorestamento não acontece nos bairros em questão.
A ocupação irregular de áreas de proteção permanente (APPs) é constante nessa parte da
cidade. Em virtude da presença de uma densa rede hídrica, é comum os empreendimentos ocuparem

171
áreas de APPs no entorno das lagoas e riachos. Outro problema ambiental constante é o aterramento
de lagoas para construção ou expansão de equipamentos imobiliários (condomínios e loteamentos).
Frente a este breve e não completo relato das condições em que ocorre a apropriação e a
expansão do tecido urbano de Fortaleza, confirma-se a trajetória de perda da qualidade ambiental e,
certamente da qualidade de vida, proporcionada pela supressão e agressão aos bens ambientais
disponíveis no recorte espacial que subsidia esta reflexão.
Em suma, falta um planejamento territorial que seja capaz de promover a utilização racional
e a fiscalização dos recursos naturais presentes na área, isso impede a utilização plena dos
potenciais social, econômico, ecológico e ambiental disponíveis nessa unidade espacial e a
superação dos fatores restritivos ao uso dessas potencialidades para que se efetive a sustentabilidade
socioambiental.

Considerações finais

Pensar um projeto de ordenamento urbano no setor sudeste de Fortalezademanda


compreender de que forma os sujeitos produtores do espaço urbano se relacionam com esse
território e, principalmente, como é feito o acesso à terra, a exploração dos diversos recursos e bens
ambientais presentes nesse espaço, a fim de identificar os aspectos advindos desse processo e suas
consequências na (re)configuração espacial em curso.
Uma breve leitura da paisagem dos bairros estudados leva ao entendimento de que a
qualidade ambiental e ecológica dessa área está seriamente comprometida. Essa realidade suscita
uma questão preponderante: Se são conhecidas as consequências nefastas desse modelo de
organização do espaço urbano nas demais áreas da cidade, por que insistir na reprodução do
mesmo? Sendo essa região uma porção do município que ainda resguarda importantes ecossistemas
naturais que prestam serviços ambientais a toda a cidade, por que não ordenar essa ―corrida‖
imobiliária? Estamos repetindo os erros de sempre em nome da avidez do capital incorporador e
imobiliário.
Algumas das respostas a literatura especializada já nos revela, mas há algo mais acontecendo
em Fortaleza, algo que diferencia o processo neste território e, mesmo com suas especificidades,
responde aos imperativos da reprodução do capital como em qualquer outro lugar. Esse diferencial
é marcado pela total inércia do poder público frente aos problemas socioambientais da área e pela
ação seletiva que salvaguarda áreas importantes num ponto da região e enquanto nega ações de
conservação no resto do território. Parece tratar-se de um posicionamento dicotômico do poder
público que protege uma parte do território dos imperativos da expansão urbana desregrada e
entrega outra à plena degradação e ao deleite dos agentes produtores do espaço urbano.

172
Portanto, sendo a problemática da expansão e configuração do tecido urbano resultado de
práticas econômicas, de escolhas de gestão, de opções ou da ausência de políticas de ordenamento
territorial, há de se criar projetos capazes de fazer frente ao processo hegemônico do capital na
produção das cidades.
Esse é, então, o ponto de partida para o entendimento desses processos e tem como
perspectiva de chegada a visualização de um projeto para enfrentar a hegemonia do capital e das
ações de gestão pública e questionar a inércia do poder público municipal e da própria sociedade
local frente aos problemas socioambientais que se acumulam nesse espaço urbano.

Referências

BECK, Ulrich. La Société du Risque – Sur la voie d‟une autre modernité. Flammarion : Champus,
2003.

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: territorialização da racionalidade ambiental.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

____ Racionalidade ambiental:a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2006.

MAJOR, István.Manguezal.Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.

MORAES, Antônio Carlos Robert. Contribuições para a gestão da zona costeira do


Brasil:elementos para a geografia do litoral brasileiro. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1999.

SÁNCHEZ, Roberto. Ordenamento territorial:Bases y Estratégia Metodológica para la


Ordenación Ecológica y Ambiental de Tierras. 1ª ed. Buenos Aires: Orientación Gráfica Editora,
2009.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo. razão e emoção. 5 ed. São Paulo: Edusp,
2008.

173
CONFORTO ACÚSTICO: AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE PAREDES
DIVISÓRIAS ENTRE APARTAMENTOS

Otávio Joaquim da Silva JÚNIOR (CTG/UFPE) - otaviojsjunior@gmail.com


José Jeferson do Rego SILVA – (CTG/UFPE) - jjrs@ufpe.br
Jairo Colaço MARIZ – (POLI/UPE) – jairomariz@gmail.com
Pedro de Freitas GOIS – (TECOMAT) – pedro@tecomat.com.br

Resumo

O presente trabalho avaliou o desempenho acústico, quanto à isolação sonora, promovida por
paredes de geminação das edificações, ou seja, o quanto de ruído é atenuado pelas paredes que
dividem dois apartamentos distintos. Foram avaliadas 4 tipos diferentes de divisórias: paredes em
tijolo cerâmico convencional de 9cm, em bloco de concreto de 9cm, em bloco cerâmico de 9cm e
em bloco cerâmico de 12cm. A avaliação consistiu em determinar a diferença padronizada de nível
ponderada (DnT,w), entre ambientes (vedações verticais internas) e posterior análise e comparação
com as especificações descritas na norma de desempenho NBR 15575 (ABNT, 2012). Os
procedimentos utilizados nos ensaios seguiram as especificações da norma internacional ISO 140-4
(1998), conforme especificado na norma de desempenho. As vedações avaliadas apresentaram
resultados que não atenderam ao desempenho mínimo especificado na NBR 15575, no entanto, com
valores significativamente próximos da obtenção de tal desempenho. Por fim, são discutidos os
possíveis pontos de vulnerabilidade acústica das vedações e proposto melhorias que possam
proporcionar um maior desempenho acústico das vedações verticais internas entre ambientes. A
avaliação de desempenho acústico das edificações ainda não é prática comum na indústria da
construção, porém deverá proporcionar novos padrões de projeto, garantindo uma melhor qualidade
aos imóveis e consequentemente uma maior qualidade de vida a seus ocupantes.
Palavras-chaves: Desempenho Acústico. Parede de Geminação. Isolação Sonora.

Abstract

This study evaluated the acoustic performance, as the sound insulation, promoted by twinning walls
of buildings, ie, how much noise is attenuated by walls that divide two different apartments. We
evaluated 4 different divisions: brick walls conventional ceramic 9cm in concrete block 9cm in
ceramic block 9cm and 12cm ceramic block. The evaluation was to determine the difference
weighted standardized level (DnT, w) between environments (internal vertical seals) and subsequent
174
analysis and comparison with the specifications outlined in the performance standard NBR 15575
(ABNT, 2012). The procedures used in the tests followed the specifications of the international
standard ISO 140-4 (1998) as specified in the standard of performance. The seals evaluated results
showed that performance did not meet the minimum specified in NBR 15575, however, with values
significantly closer to achieving such performance. Finally, we discuss the possible vulnerability
points acoustic seals and proposed improvements that could provide greater acoustic performance
of vertical seals between internal environments. The evaluation of acoustic performance of
buildings is not yet common practice in the construction industry, but should provide new standards
of design, ensuring a better quality of the buildings and consequently a higher quality of life for its
occupants.
Keywords: Acoustic Performance. Wall Twinning.Sound Insulation.

Introdução

É notória a busca por uma melhor qualidade de vida nos dias atuais, tema que está
diretamente ligado ao ambiente onde se vive.
Segundo Vilarta (2010, p. 9),

A qualidade de vida pode ser compreendida pela análise de suas partes, em


aspectos estruturados por domínios e facetas que dizem respeito aos componentes
físico, emocional, do ambiente e das relações sociais.

Dentre os ambientes que o individuo frequenta, sua residência é a que deve promover maior
sensação de bem estar, no entanto, nem sempre esta afirmação é verdadeira, uma vez que a maior
parte das edificações não são projetadas para promover aos seus habitantes o conforto necessário à
tranquilidade.
O ruído pode ser considerado um dos principais incômodos sentidos no interior das
edificações, uma vez que promove uma sensação sonora que não possui um conteúdo estético ou
informativo para o ouvinte. O desconforto causado pelo aumento excessivo de ruído pode provocar
alterações psicológicas como diminuição da capacidade de concentração e stress, além de outros
problemas à saúde como alteração do ritmo cardíaco e respiratório (Almeida, 2006).
De acordo com Losso e Viveiros citados por Winck e Schmid (2011, p. 7), as edificações
brasileiras, em sua maioria, não são construídas adequadamente em se tratando da proteção ao ruído
intrusivo.
Dentre as causas do desconforto causado pelo ruído estão o crescimento desordenado dos
núcleos urbanos, o advento das novas tecnologias de construção civil, questões de ordem cultural,
175
etc. (Carvalho, 2010), o que atrelado ao emprego de novas tecnologias e de paredes e lajes mais
esbeltas tem contribuído negativamente no desempenho acústico das edificações.
A norma brasileira NBR 15575 (Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –
Desempenho) tem como objetivo garantir a qualidade técnica dos imóveis habitacionais,
estabelecendo critérios e requisitos de desempenho.
Segundo Michalski (2009, p. 14),

A avaliação do desempenho exige o domínio de conhecimentos sobre cada aspecto


funcional da edificação, desde materiais e técnicas de construção, até as diferentes
exigências dos usuários nas diversas condições de uso.

Visando abordar de forma mais clara cada componente da edificação, a norma de


desempenho, NBR 15575, foi dividida em cinco partes: na parte 1 estão os requisitos gerais, na
parte 2 os requisitos para os sistemas estruturais, na parte 3 os requisitos para os sistemas de pisos
internos, na parte 4 sistemas de vedações verticais externas e internas e na parte 5 os requisitos para
sistemas de coberturas externas e internas. Na norma são avaliados os itens de segurança estrutural,
segurança contra incêndio, uso e operação, estanqueidade, desempenho térmico, desempenho
acústico, desempenho luminítico, durabilidade e manutenabilidade, saúde, funcionalidade, conforto
antropodinâmico e adequação ambiental. A NBR 15575 permite ainda classificar o sistema avaliado
em níveis de desempenho, onde dependendo do valor obtido em cada avaliação, o sistema pode ser
classificado em nível mínimo, intermediário ou superior.
A norma de desempenho NBR 15575 é importante tanto para o consumidor como para a
indústria da construção civil, uma vez que o consumidor estará confiante de que o produto que está
adquirindo tem a qualidade mínima especificada por normas técnicas e pelo Código de Defesa do
Consumidor e a indústria da construção civil terá a base para poder colocar no mercado um produto
com a qualidade mínima para habitabilidade e uso, obtida com o respeito às normas técnicas (Neto
e Bertoli, 2011).
Os critérios e requisitos para avaliação acústica entre ambientes estão descritos na parte 4 da
NBR 15575. As vedações avaliadas na norma são: paredes de salas e cozinhas entre uma unidade
habitacional e áreas comuns de trânsito eventual, como corredores halls e escadarias nos
pavimentos-tipo; paredes de dormitórios entre uma unidade habitacional e corredores, halls e
escadarias nos pavimentos-tipo; parede entre uma unidade habitacional e áreas comuns de
permanência de pessoas, atividades de laser e atividades esportivas, como home theater, salas de
ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos, cozinhas e lavanderias

176
coletivas; e parede entre unidades habitacionais autônomas (parede de geminação). Neste trabalho
foram abordadas exclusivamente as paredes de geminação entre apartamentos.
As alvenarias de vedação são as principais responsáveis pela isolação sonora entre
ambientes, no entanto, essa característica é muitas vezes desprezada e até mesmo esquecida. Os
principais materiais utilizados nas vedações verticais internas pela construção civil são o tijolo ou
bloco, podendo o bloco ser cerâmico ou de concreto. As alvenarias podem ainda ser simples,
quando constituídas por um pano de parede ou duplas, quando constituídas por dois panos de
parede. As espessuras e características das alvenarias dependem da necessidade estrutural ou
arquitetônica. As vedações possuem ainda uma camada de revestimento conhecido como emboço,
atualmente a construção civil tem utilizado revestimentos em pasta de gesso, argamassa e massa
única com espessura em torno de 1,5cm de cada lado da parede.
Neste trabalho foi avaliada a isolação sonora entre ambientes promovida por 4 vedações
distintas: a primeira vedação ensaiada (vedação 1) é constituída por tijolo cerâmico com 9cm de
espessura e revestimento de 1,5cm em pasta de gesso em ambos os lados, atribuindo à parede uma
espessura total de 12cm; a segunda vedação ensaiada (vedação 2) é constituída por bloco de
concreto com 9cm de espessura e revestimento de 1,5cm em argamassa em ambos os lados,
atribuindo à parede uma espessura total de 12cm; a terceira vedação ensaiada (vedação 3) é
constituída por bloco cerâmico com 9cm de espessura e revestimento de 1,5cm em massa única em
ambos os lados, atribuindo à parede uma espessura total de 12cm; e a quarta vedação ensaiada
(vedação 4) é constituída por bloco cerâmico com 12cm de espessura e revestimento de 1,5cm em
pasta de gesso em ambos os lados, atribuindo à parede uma espessura total de 15cm.

Materiais
Para realização dos ensaios de desempenho acústico foram utilizados os seguintes
equipamentos:

 Medidor de nível de pressão sonora (sonômetro) – equipamento utilizado para medir


o nível de pressão sonora equivalente em decibel ponderado em ―A‖ (LAeq).

 Calibrador acústico classe I – equipamento utilizado para verificar o valor indicado


no medidor de nível de pressão sonora antes de cada medição, visto que seu
microfone pode sofrer pequenas variações com o tempo.

 Fonte emissora de ruído – equipamento composto por um dodecaedro Omni 12 e um


amplificador, este equipamento é utilizado para reprodução de ruídos.

177
 Software dBBati – a compilação dos resultados obtidos nos ensaios é realizada por
softwares do próprio fabricante do medidor de nível de pressão sonora.

Especificações normativas
A isolação sonora entre ambientes promovida por uma vedação pode ser determinada em
ensaio de campo ou laboratório, sendo o resultado obtido em laboratório chamado de Índice de
Redução Sonora Ponderada (Rw) e o resultado obtido em campo de Diferença Padronizada de Nível
Ponderada (DnT,w). Os valores de Rw e DnT,w são diferentes, uma vez que os ensaios são realizados
de formas distintas. Neste trabalho foram avaliados apenas os resultados de DnT,w uma vez que os
ensaios foram realizados em campo.
A NBR 15575 estabelece níveis de desempenho mínimo, intermediário e superior para as
habitações avaliadas, sendo o nível de desempenho determinado pelo resultado obtido no ensaio.
A tabela 01 apresenta os valores da Diferença Padronizada de Nível Ponderada para parede
entre unidades habitacionais autônomas (parede de geminação), situação avaliada neste trabalho,
estabelecida pela NBR 155757 para cada nível de desempenho.

Tabela 01 – Diferença Padronizada de Nível Ponderada entre ambientes (DnT,w) para ensaios de
campo
Nível de
Elemento DnT,w (dB)
desempenho
40 a 44 Mínimo (M)
Parede entre unidades habitacionais autônomas
45 a 49 Intermediário (I)
(parede de geminação)
≥ 50 Superior (S)
Fonte: NBR 15575-4 (ABNT, 2012).

Caracterização dos ambientes

Foram avaliadas quatro vedações de quatro empreendimentos residenciais de 3 bairros


distintos, localizados na Região Metropolitana do Recife - RMR. Os empreendimentos são de
padrão variado, com plantas que variam de 44 m² à 180 m².
O empreendimento da vedação 1 é composto por 13 torres – 6 torres de 8 pavimentos e 7
torres de 16 pavimentos. Cada torre possui 4 apartamentos por andar com área de 63m². O sistema
de vedação vertical interno entre unidades é constituído por tijolos cerâmicos com 9cm de

178
espessura, dotados de 8 furos horizontais, e revestimento em pasta de gesso com 1,5cm, atribuindo
à parede uma espessura final de 12cm.
O empreendimento da vedação 2, é composto por 5 blocos com 7 pavimentos-tipo sendo 2
apartamentos por andar. Os apartamentos apresentam área de 140m². No sistema de vedação
vertical interno são empregados blocos de concreto com 9cm de espessura e revestimento em
argamassa, obtendo-se a espessura final de 12cm.
O empreendimento da vedação 3, é composto por 30 (trinta) pavimentos tipo, sendo 2
apartamentos por andar. Os apartamentos possuem área de aproximadamente 180m². No sistema de
vedação vertical interno são empregados blocos cerâmicos com 9cm de espessura. O revestimento é
realizado em pasta de gesso, para o pavimento avaliado. A espessura final da parede de vedação
entre as unidades é de 12cm.
O empreendimento da vedação 4, é composto por 7 pavimentos-tipo sendo 2 apartamentos
por andar. Os apartamentos apresentam área de 123m². O sistema de vedação vertical interno entre
unidades (parede de geminação) é constituído por blocos cerâmicos com 12cm de espessura,
dotados de 8 furos horizontais, e revestimento em pasta de gesso com 1,5cm, atribuindo à parede
uma espessura final de 15cm.
A edificação da vedação 1 está localizada na cidade de Paulista e as outras três edificações
na cidade do recife, estando a edificação da vedação 2, no bairro do Poço da Panela, a edificação 3
no bairro das Graças e a edificação da vedação 4 no bairro do Poço da Panela, todos na Região
Metropolitana do Recife - RMR.

Procedimentos de ensaio

Os ensaios seguiram as especificações da NBR 15575, que indica normas internacionais


específicas para a realização dos ensaios de avaliação de isolação acústica, as normas ISO 140-4,
ISO 717-1 e ISO 340. A NBR 15575 apresenta também os níveis de desempenho que devem ser
atendidos pela indústria da construção civil, em nível nacional, para enquadramento dos
empreendimentos.
Os ruídos analisados nesta série de ensaios são provenientes de fontes aéreas, ou seja,
originam-se da conversação humana, do uso de equipamentos de áudio/TV, de instrumentos
musicais, entre outros e propagam-se pelo ar, atingindo estruturas e elementos da edificação, sendo
transmitidos de um ambiente ao outro, tanto por meio aéreo, quanto estrutural, contudo sua análise
foi efetuada por meio aéreo. O desempenho acústico das edificações foi avaliado para estes ruídos,
baseando-se nos procedimentos descritos nas normas supracitadas.
179
O objetivo da análise foi avaliar a isolação sonora promovida pela vedação vertical interna,
parede entre unidades habitacionais, para sons aéreos. Nesse processo, foram realizados ensaios
entre apartamentos vizinhos de um mesmo pavimento que possuíam, em todos os casos, paredes das
salas dividindo-os em unidades independentes, ou seja, a parede da sala sendo a parede de
geminação. Através dos ensaios, foi caracterizada então, a diferença padronizada de nível
ponderada – DnT,w, que representa o valor do isolamento do ruído aéreo entre ambientes, obtidos
através de ensaios de campo, utilizando o método de engenharia, disposto na ISO 140-4.
As unidades ensaiadas encontravam-se desocupadas e com todos os sistemas de vedações
(paredes, lajes, revestimentos, esquadrias, etc.) instalados. Para a realização dos ensaios, foram
utilizados os seguintes equipamentos: Medidor de Nível de Pressão Sonora (sonômetro) –
equipamento destinado à medição do nível de pressão sonora e suas respectivas ponderações; Fonte
Omnidirecional (dodecaedro) e amplificador e gerador de sinal– utilizados na geração do ruído.
O ensaio consistiu na geração de ruído com pressão sonora constante por banda de
frequência, ruído rosa, gerado a partir da fonte omnidirecional. Este ruído foi mantido constante
com potência sonora de aproximadamente 90 dB e produzido no centro da sala de um dos
apartamentos (sala de emissão) escolhidos. Uma vez produzido o ruído, este foi medido através do
sonômetro e o registro sonoro (intensidade e distribuição de frequências) realizado no próprio
equipamento de medição para posterior análise computacional. Mantendo-se a fonte nas mesmas
condições, foram realizadas as medições e registros na sala do apartamento vizinho (sala de
recepção), em um movimento circular, mantendo a distância mínima de 1m das paredes da sala, o
que permitiu avaliar a energia sonora que atravessava o sistema de vedação. Desta forma, se pôde
efetuar a análise de quanto um sistema de vedação vertical, no caso a parede de geminação em
estudo, isola em termos de ruído aéreo, tendo sido registrados os ruídos de emissão e recepção.
Outra informação importante a ser obtida, além do ruído nas salas de emissão e recepção, é o
tempo de reverberação da sala de recepção, visto que esta informa é utilizada na ponderação da
isolação sonora. O tempo de reverberação foi medido em 6 pontos da sala de recepção, utilizando-
se a fonte omnidirecional e o sonômetro.
A análise foi realizada desta forma em todos os empreendimentos em questão, observando
que todos apresentavam como parede de geminação a parede das salas dos apartamentos.

Resultados e discussões

A avaliação do desempenho acústico promovido pelo sistema de vedação vertical interno


(parede de geminação), foi determinada a partir do valor da diferença padronizada de nível
180
ponderada (DnT,w), obtida em ensaio de campo e compilada em software específico do fabricando
do medidor de nível de pressão sonora (sonômetro). A tabela 02 apresenta os valores de referência
descritos na NBR 15575-4 e o valor obtido em ensaio de campo nas vedações avaliadas.

Tabela 02 – Critério da NBR 15575-4 e valores obtidos em ensaios de campo da Diferença


Padronizada de Nível Ponderada (DnT,w)

DnT,w
Requisito NBR
Valores obtidos em ensaio de campo
Elemento 15575-4
Nível de
Critéri Vedaçã Vedaçã Vedaçã Vedaçã
desempen
o o1 o2 o3 o4
ho
M 40 a 44
Parede entre unidades
habitacionais autônomas I 45 a 49 36 39 39 39
(parede de geminação)
S ≥ 50

Conforme resultados apresentados na tabela 02, nenhum dos empreendimentos avaliados


atende ao nível Mínimo de desempenho no tocante ao isolamento de ruído aéreo promovido pela
vedação vertical interna (parede entre unidades habitacionais autônomas – parede de geminação),
requerida na NBR 15575-4 (ABNT, 2012). No entanto, os resultados obtidos nas vedações 2, 3 e 4
encontram-se na eminência de atendimento ao nível mínimo de desempenho.
O Gráfico 01 ilustra o comportamento dos resultados obtidos em campo em comparação
com os níveis de desempenho especificados na NBR 15575. Fica notório nesta imagem o melhor
desempenho das vedações que utilizam bloco como vedação.

Gráfico 01: Comparação das referências normativas com os resultados obtidos em ensaio de campo

181
Conclusões
Neste trabalho foram apresentados e comparados com a norma de desempenho, NBR 15575,
os resultados da avaliação de desempenho acústico de vedações verticais internas entre ambientes
mais utilizadas pela construção civil atualmente. Verificou-se, entretanto, que nenhuma das
vedações ensaiadas atingiu desempenho acústico satisfatório para atendimento ao critério mínimo
de isolação sonora promovida pela vedação vertical interna (parede de geminação) especificado na
NBR 15575-4.
A medição realizada em campo não tem como único elemento de influencia a parede, uma
vez que as portas de entrada dos apartamentos estão localizadas normalmente lado a lado no hall
social, e possuem frestas que contribuem negativamente na avaliação acústica, facilitando a
transmissão sonora. Outro ponto vulnerável à transmissão do ruído entre ambientes são as
esquadrias das varandas, que, quando instaladas de forma inadequada ou quando apresentam índice
de redução sonora insuficiente, comprometem a isolação sonora.
Os resultados obtidos nos ensaios e apresentados neste trabalho encontram-se próximo do
atendimento à norma de desempenho, logo, pequenas intervenções no sistema de vedação vertical
interna podem promover uma maior isolação sonora e consequentemente o atendimento à NBR
15575. Dentre as intervenções possíveis estão: o uso de borrachas de vedação na esquadria das
portas, o emprego de esquadrias da varanda com índice de redução sonora adequada, o aumento na
espessura do revestimento e etc.
É importante destacar que nenhuma das edificações avaliadas possuía projeto acústico.
Sabe-se que sem projeto, a busca por atender requisitos mínimos se torna uma questão muito mais
difícil e de pouco controle. Portanto, não parece coerente procurar atender critérios de qualidade
acústica após a construção da edificação, sem que antes o sistema seja projetado para obtenção do
desempenho almejado. Os resultados obtidos com esta iniciativa, porém, deverão fornecer dados
para a concepção de novos projetos arquitetônicos, mais consistentes quanto ao desempenho
acústico.

Agradecimentos
Os autores agradecem à UFPE pelo apoio bibliográfico e científico, à TECOMAT –
Tecnologia da Construção e Materiais pelo apoio na realização dos ensaios.

Referências
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Acústica Ambiental e de Edifícios. Departamento de engenharia civil da Universidade do Minho,
Guimarães, 2006/2007.
182
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-4: Edifícios habitacionais
de até cinco pavimentos – Desempenho. Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas.
Rio de Janeiro: ABNT, 2012.
CARVALHO, Régio Paniago. Acústica arquitetônica. Brasília: Thesaurus, 2ª edição, 2010.
INTERNATIONAL STANDARD. ISO 140-4: Acoustic – Measurement of sound insulation in
buildings and of building elements. Part 4: Field measurement of airborne sound insulation between
rooms. Genève: ISO, 1998.
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Revista da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC, 43ª Edição, pp. 07 -12, Santa Maria, 2011.
MICHALSKI, Ranny Loureiro Xavier Nascimento. Um resumo do desempenho acústico em
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Brasileira de Acústica – SOBRAC. 41ª Edição, pp. 13 -20, Santa Maria, 2010.
NETO, Maria de Fatima Ferreira; BERTOLI, Stelamaris Rolla. Critérios de desempenho acústico
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19 -29, Santa Maria, 2011
VILARTA, Roberto; GUTIERREZ, Gustavo Luis; MONTEIRO, Maria Inês. Qualidade de vida.
Campinas: IPES, 2010.

183
SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA: DIMENSÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO URBANO26

Rafael Alves ORSI


Professor Assistente Doutor. Depto. de Antropologia, Política e Filosofia, Faculdade de Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus Araraquara. r.orsi@fclar.unesp.br

Resumo

Pensar o desenvolvimento de forma ampla envolve múltiplos fatores. Tais fatores podem ser
agrupados, de acordo com suas características, em diferentes dimensões – social, econômica e
natural. Articular essas dimensões de modo a formar uma estrutura sustentável na qual a melhora na
qualidade de vida da população é o resultado esperado constitui um desafio para a sociedade
hodierna. Comumente, destacam-se os elementos vinculados à dimensão econômica, ao passo que a
qualidade de vida é tratada de forma secundária, não havendo a preocupação em compreender as
subjetividades envolvidas em um processo que aparentemente demanda apenas ações objetivas.
Com o intuito de discutir essa problemática e seus desdobramentos, este artigo trata de apresentar
elementos que colocam a qualidade de vida no centro do processo de desenvolvimento urbano e que
buscam a sustentabilidade considerando o ser humano de forma integral.

Palavras Chaves: Desenvolvimento urbano; qualidade de vida; meio ambiente

Abstract

Multiple factors are involved in conceiving development in all its extent. Such factors can be
grouped, according to their characteristics, into different dimensions – social, economic, and
natural. A challenge to modern society is to articulate those dimensions in such a way as to establish
a sustainable structure in which life quality improvement is the intended outcome. As a rule,
elements related to the economic dimension are highlighted, whereas life quality is treated as
secondary, without concern for understanding the subjectivities involved in a process that

26
Este texto tem como base parte da tese de doutorado intitulada ―Reflexões sobre o desenvolvimento e a
sustentabilidade: o que o IDH e o IDHM podem nos mostrar?‖, defendida em 2009 junto ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista – UNESP - Campus Rio Claro-SP.

184
apparently only demands objective actions. In order to discuss that issue and its ramifications, this
paper presents some elements that put life quality in the center of the urban development process
and search for sustainability considering the human being as a whole.

Key Words: Urban Development; Quality of Life ; Environment.

Introdução

A sustentabilidade somente poderá ser alcançada a partir do equilíbrio dinâmico entre a


manutenção dos elementos naturais, uma sociedade mais igualitária e o fortalecimento das relações
econômicas. No entanto, esse equilíbrio dinâmico entre essas três esferas – natureza, sociedade e
economia – a qual poderá permitir a sustentabilidade, só será aceitável se for possível não apenas a
manutenção de um sistema, mas proporcionar qualidade de vida às mais diversas populações.
Apesar da ideia de equilíbrio entre essas três esferas não ser nova, pensamos que alguns
questionamentos ainda sejam básicos. Talvez o primeiro deles siga na direção de buscar a
compreensão do que se entende por qualidade de vida. Será que existe um modelo único ou um
padrão mínimo para que possamos considerar que uma comunidade possui um nível aceitável de
qualidade de vida, ou os padrões podem ser tão diferentes quanto o número de grupos humanos que
forem analisados? Outro questionamento vincula-se à própria ideia de sustentabilidade. O que
realmente buscamos sustentar será um modelo de relação socioeconômica dentro dos padrões já
estabelecidos ou a sustentabilidade deverá buscar novas formas de relações? Neste caso, sobre quais
padrões e estruturas sociais? Um terceiro questionamento gira em torno da capacidade de suporte do
planeta. A questão do meio ambiente torna-se um novo eixo estruturador de outras formas de pensar
a sociedade, ou é apenas mais uma variável secundária a ser considerada, tornando-se uma
problematização necessária para a continuidade do sistema vigente, sem grandes alterações no
status quo da sociedade? Acreditamos que esses três pontos sejam fundamentais para a nossa
discussão, já que, apesar de bastante debatidos, parecem deixar algumas questões abertas. Não basta
reproduzir a ideia de desenvolvimento sustentável chamando as dimensões sociais, econômicas e
naturais para sustentar o discurso, quando na verdade não se tem clareza sobre qual sociedade
queremos construir de fato.
Acreditamos que todos os povos prezem pela vida e pela manutenção de suas sociedades, o
que implica algumas condições que julgamos realmente importantes, como possuir alimentos o
suficiente para saciar a fome dos seus habitantes, gozar de boa saúde e ser livre para desenvolver
sua cultura da forma como quiser. No entanto, consideramos que possa haver um empobrecimento

185
do que se entende por desenvolvimento, sustentabilidade e qualidade de vida quando se busca a
homogeneização dos padrões analisados, comparando realidades muito diferentes.
No entanto, toda sociedade necessita de um ambiente natural equilibrado para que, sobre ele,
e através dele, ela possa se desenvolver. A relação entre o meio natural e o social se dá de maneira
indissociável, ora com ligações mais fortes, ora com ligações mais fracas, porém em todos os casos
com reflexos diretos no bem-estar e na qualidade de vida da população. Guimarães (2005), ao tratar
da qualidade ambiental e da qualidade de vida, destaca que é possível se ter qualidade ambiental
sem qualidade de vida, já que inúmeros fatores como a inclusão social, participação na vida política
e satisfação podem não se fazer presentes em uma comunidade, mesmo que a qualidade ambiental
seja elevada. Porém, sem qualidade ambiental é impossível que se tenha qualidade de vida.
Concordamos com a autora supracitada e pensamos que esse binômio qualidade de vida e qualidade
ambiental deva ser a parte principal da tônica de um processo de desenvolvimento, que possa ser
classificado como tal.

A Qualidade de Vida em Questão

Encontrar uma significação precisa sobre o que é qualidade de vida leva-nos a um caminho
tortuoso, cheio de indefinições e que, muitas vezes, após um longo percurso, deixa-nos no mesmo
lugar. A percepção do mundo e da sociedade que nos rodeia não é igual para todas as pessoas,
podendo variar de acordo com uma série de características singulares, como gênero, classe social,
idade, ideologias, entre outros fatores. Sendo assim, dentro de uma mesma comunidade e com
níveis socioeconômicos semelhantes, diferentes pessoas podem avaliar sua qualidade de vida de
maneira distinta umas das outras. Como aponta Vitte (2009), vários aspectos subjetivos fazem parte
da análise da qualidade de vida, os quais vão muito além das necessidades básicas de cada um.
No entanto, a qualidade de vida não pode ser tratada unicamente como relativa. Mesmo com
a existência de pontos de vista diferentes, alguns elementos são básicos para pensarmos a qualidade
de vida, mesmo que esses elementos sejam ponderados com graus de importância diferenciados de
acordo com as inclinações individuais. Scanlon (1997), ao discutir a qualidade de vida, nos traz três
perguntas importantes: i) quais circunstâncias proporcionam boas condições para a vida?;ii) o que
faz a vida ser boa para a pessoa que a vive?; eiii) o que faz a vida ter valor? O autor acredita que,
para a discussão sobre a qualidade de vida, a segunda questão constitui-se em um ponto
fundamental para aprimorar a discussão, pois ―[...] estas questões ganham prioridade à medida que
vemos aumentar a qualidade de vida das pessoas como moral e politicamente importantes por conta
dos benefícios trazidos para eles (SCANLON, 1997, p. 185 – grifos do autor – tradução livre).

186
Para discutir essa temática, o autor tenta afastar análises subjetivas sobre a qualidade de vida
e pontos de vistas singulares sobre a questão. Assim, o hedonismo e os desejos, como ―estados
mentais‖, não devem ser considerados como elementos importantes na análise da qualidade de vida.
Scanlon (1997) sugere a consideração de alguns elementos substantivos para tornar a qualidade de
vida boa, o que não descarta um certo grau de subjetividade.
Este posicionamento assemelha-se ao que Sen (2000) defende quando destaca a questão das
liberdades substantivas das pessoas. O autor traz essa questão da seguinte forma:

Venho procurando demonstrar já há algum tempo que, para muitas finalidades


avaliatórias, o ‗espaço‘ apropriado não é o das utilidades (como querem os
‗welferistas‘) nem o dos bens primários (como exigidos por Rawls), mas o das
liberdades substantivas – as capacidades – de escolher uma vida que se tem razão
para valorizar. Se o objetivo é concentrar-se na oportunidade real de o indivíduo
promover seus objetivos (como Rawls recomenda explicitamente), então será
preciso levar em conta não apenas os bens primários que as pessoas possuem, mas
também as características pessoais relevantes que governam a conversãode bens
primários na capacidade de a pessoa promover seus objetivos (SEN, 2000, p. 94-95
– grifo do autor).

Percebemos que Sen, ao mesmo tempo considera a questão da subjetividade quando destaca
as escolhas que as pessoas julgam ser as melhores para suas vidas, mas não descarta a necessidade
de bens primários para a realização dessas pessoas. Esses são pontos importantes que o autor
discute e que nos leva à reflexão sobre se existe a possibilidade de um padrão para se analisar a
qualidade de vida. Sen (2000, p. 96), ainda destaca que:

O ‗conjunto capacitário‘ consistiria nos vetores de funcionamento alternativos


dentre os quais a pessoa pode escolher. Enquanto a combinação dos
funcionamentos de uma pessoa reflete suas realizaçõesefetivas, o conjunto
capacitário representa a liberdade para realizar as combinações alternativas de
funcionamentos dentre as quais a pessoa pode escolher (grifos do autor).

Parece-nos bastante claro que se um elemento chave em Sen (2000) são as escolhas das
pessoas, o outro elemento é o ‗universo‘ em que as pessoas estão inseridas e quais as possibilidades
disponíveis para estas pessoas dentro de seu meio. Se existe uma variável subjetiva, como as
escolhas das pessoas de acordo com aquilo que elas valorizam, estas escolhas acontecem dentro de
um conjunto de variáveis objetivas disponíveis. Considerando o desenvolvimento como a ampliação

187
desse conjunto de variáveis disponíveis, poderíamos dizer que a qualidade de vida pode aumentar à
medida que se amplia o desenvolvimento.
Porém, não conseguimos escapar à subjetividade, já que dentro de um meio onde as
possibilidades são múltiplas, porém não universalizadas, alguém pode julgar-se inferiorizado ou
criar expectativas, uma vez que o meio permite, incapazes de realização dentro das possibilidades
individuais existentes. Por outro lado, em um universo de possibilidades e expectativas mais
restritas, as pessoas podem julgar-se com boa qualidade de vida. Vemos, portanto, que a qualidade
de vida inclui uma autoavaliação, a qual não condiz necessariamente com um consenso dentro de
um grupo ou menos ainda entre grupos diferentes. Como assevera Guimarães (2005), os níveis
perceptivos e interpretativos são distintos nos diferentes grupos e envolvem múltiplas variáveis
individuais e coletivas e suas ressignificações. Assim, referenciais egocentrados e exocentrados são
fundamentais nesta avaliação sobre a qualidade de vida.
Uma definição internacionalmente reconhecida é a proposta pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), a qual traz que a ―qualidade de vida é definida como percepções individuais de sua
posição na vida em um contexto de um sistema cultural e de valores no qual se vive e em relação
aos objetivos, expectativas, padrões e preocupações‖(WHO, 1996, p. 05 – tradução livre).
De fato, como destacam Seidl e Zannon (2004), ao estudarem o conceito de qualidade de
vida relacionado à saúde, a subjetividade constitui-se em um aspecto importante, porém não se pode
esquecer da multidimensionalidade que este conceito nos traz. Herculano (1998) faz menção
semelhante ao destacar duas formas de mensuração e avaliação da qualidade vida: por um lado a
disponibilidade de recursos e a capacidade efetiva de satisfação de suas necessidades e por outro
lado, os graus de satisfação da população a partir dos patamares desejados.
Em relação a este segundo aspecto, Herculano (1998) problematiza a questão da
subjetividade, já que um grupo pode viver em condições ruins, porém ser resignado, aceitando essa
condição e julgando-se com uma qualidade de vida boa. Por outro lado, um grupo cujas condições
se encontram em um padrão elevado, mas rendido ao consumismo desenfreado, almeja mais de sua
própria vida e da sociedade, apresentando assim um grau de satisfação com sua qualidade de vida
que não condiz com suas reais condições, já que dispõe de estruturas que podem oferecer-lhe
determinados confortos, liberdade e facilidades que tornam sua vida melhor.
Considerando esta problematização e as características consumistas da sociedade
contemporânea apresentada por Baudrillard (2007) e Bauman (2008), acreditamos que a análise da
qualidade de vida a partir das satisfações dos desejos seja algo problemático, já que vemos a
expansão constante do desejo e a estruturação de necessidades virtuais sobre a população de uma
maneira geral. Não negamos de forma alguma a importância das considerações feitas a partir do
ponto de vista das próprias pessoas inseridas em contextos específicos. Por certo que estes
188
posicionamentos possuem grande validade na análise de expectativas não atendidas dentro de um
dado quadro social. O espaço que as pessoas vivem e as formas como elas percebem e se
relacionam com ele, é fundamental para compreensão da qualidade de vida. Como destaca Vitte
(2009, p. 98), ―devido à diversidade humana, há percepções diferenciadas da cidade: há uma
dimensão subjetiva na qual há a interferência de fatores socioculturais. Há também uma percepção
coletiva. O coletivo atribui ao espaço ocupado o seu sentido‖.
Não temos dúvidas sobre esta importância da subjetividade e da percepção na valorização do
espaço, da vida comunitária e na qualidade de vida vista de forma singularizada. Porém,
acreditamos que alguns pontos mais objetivos que fogem da pura percepção sejam fundamentais
para a análise da qualidade de vida e na orientação das políticas públicas. A violência urbana, por
exemplo, pode ser percebida de várias formas diferentes pelos diversos grupos que vivem nas
cidades, no entanto, elevados índices de homicídios e assaltos são fatores que causam queda na
qualidade de vida, uma vez que, o aumento na probabilidade de se perder a vida de forma precoce
em um desses eventos ou a concretização dessa possibilidade não se constituem como algo
subjetivo. A morte é um dado objetivo, mesmo que encarada por diferentes prismas. Poderíamos
citar diferentes exemplos de caráter material como: a existência de redes de esgoto, de asfaltamento,
de abastecimento de água, de coleta de lixo, de participação política, entre outros fatores. Os
indivíduos, de forma subjetiva, podem não se importar ou ter a percepção de determinados
problemas, como morar próximo a um lixão, mas nem por isso o problema deixa de existir e
prejudicar sua vida.
A partir desses pressupostos, buscamos inserir os recursos ambientais de forma objetiva na
questão da qualidade de vida e do desenvolvimento de forma geral. Acreditamos ser imprescindível
uma natureza equilibrada e respeitada em seus limites para que exista uma boa qualidade de vida.
Esse fato não nos remete apenas à natureza percebida, mas realmente à manutenção dos ―serviços‖
que ela nos proporciona. Encontramo-nos em meio a uma discussão ampla e pouco consensual,
sobretudo quando partimos para o campo das práticas sociais e da ação pública. Neste ponto,
reforçamos nossa ideia de que o desenvolvimento só pode ser aceitável se for capaz de elevar a
qualidade de vida e, para tanto, deve ser equilibrado respeitando os limites impostos pelos sistemas
naturais, assim como não gerar desigualdades sociais e ser economicamente viável.

O Espaço Urbano no Contexto

Conceitos como desenvolvimento, qualidade de vida e sustentabilidade ao funcionarem


como balizadores de ações que produzem e reproduzem o espaço, podem resultar em variados
problemas socioambientais quando são mal interpretados. Uma política que se volta para
189
desenvolvimento territorial, não sem propósito, estabelece prioridades e cria modelos para
operacionalizar suas ações. Porém, se esta política de desenvolvimento não estiver estruturada em
bases conceituais sólidas, a melhora de determinados aspectos pode ser diametralmente oposta a
outros pontos também importantes. Um exemplo brasileiro bastante elucidativo e conhecido dessas
discrepâncias entre as prioridades estabelecidas pelas ações políticas, talvez seja a cidade de
Cubatão, no litoral paulista, que conheceu um rápido crescimento industrial nas décadas de 1970 e
1980, mas com fortes impactos socioambientais em seu território, como discutem Goldenstein e
Carvalhaes (1986), chegando a ser considerada uma das cidades mais poluídas do mundo, naquele
momento. Certamente, questões como as apresentadas em Cubatão não se constituem em ações
isoladas no tempo e no espaço. As políticas colocadas em práticas encontram-se contextualizadas
por um momento histórico e um espaço específico, mas não independentes de outras escalas.
Assim, somos levados a encarar o desenvolvimento, a qualidade de vida e a sustentabilidade em
diferentes escalas espaço-temporais, no entanto, sem considerá-las de forma isolada e
independentes umas das outras.
Voltando-nos à escala do local, não podemos nos esquecer de que cada um desses territórios
apresenta singularidades que, na relação com os fatores externos a ele, vão forjar-se de maneira
específica. Obviamente, muitos territórios apresentam características históricas, socioeconômicas,
culturais e naturais muito parecidas, logo com estruturas semelhantes, mas não idênticos. Assim,
questionamo-nos a respeito do desenvolvimento como um padrão único ou da qualidade de vida
como uma categoria universal que possa ser vista da mesma forma em todos os municípios.
Quando pensamos o desenvolvimento em nível local, uma série de tensões e conflitos nos é
colocada. Torna-se imperativo para a discussão a respeito do desenvolvimento desse e nesse espaço,
o reconhecimento desses conflitos e as formas pelas quais ele constrói e reconstrói os espaços.
Assim, a apropriação/expropriação estruturam as formas, os conteúdos, cria e recria tensões.
Diferentes classes sociais e grupos de interesses (industriais, ambientalistas, operários, tribos
urbanas, entre outros) disputam o controle e o acesso sobre o espaço, o que torna os
relacionamentos complexos e conflituosos. No entanto, as diferentes classes sociais não se
encontram em uma situação de igualdade na disputa pelo território. Os instrumentos de poder são
distintos em cada classe social e suas representações, criando relações desiguais e a imposição da
vontade de uns sobre os outros. Dessa forma, a estruturação do espaço materializa tanto essas
disputas como as relações assimétricas entre os diferentes grupos ao longo do tempo. Condomínios
de luxo e ocupações irregulares são reflexos dessas desigualdades que marcam o território.
Acselrad (2006), ao tratar de problemas socioambientais nas cidades e sua manutenção,
explicita dois pontos importantes neste sentido, que consistem na: i) apropriação desigual dos

190
benefícios urbanos e ii) correlação da classe social com a distribuição locacional de fatores de risco.
Para o autor supracitado,

Na primeira linha explicativa, um processo dito de causação circular tenderia a se


instaurar e a aumentar a desigualdade social na cidade pelo fato das regiões que
contêm maior concentração de benefícios reais serem aquelas que abrigam os
segmentos de maior renda monetária, fazendo com que a propriedade privada da
terra permita aos grupos de maior renda monetária o controle excludente das áreas
melhor dotadas e mais valorizadas. [...] Na segunda linha de análise, é o diferencial
de mobilidade ou a segmentação dos espaços de mobilidade de ricos e pobres que
faria com que os grupos de menor renda encontrem-se, ao mesmo tempo, sob
maior risco no trabalho e em casa, enquanto os mais ricos permanecem
relativamente protegidos em ambos os lugares (ACSELRAD, 2006, p. 118).

O mesmo autor ainda destaca que os dois processos estão interligados, o que resulta em uma
superposição de carências para os mais pobres e uma superposição de benefícios para os mais ricos,
fortalecendo as desigualdades presentes nos territórios.
Focando especificamente as cidades, Maricato (2002) discute a urbanização excludente
ocorrida no Brasil e como o mercado imobiliário nunca esteve voltado para a população de baixa
renda, o que gera uma cidade ilegal, levando à exclusão de parte da população do acesso à estrutura
urbana legalizada, sobretudo no que se refere à moradia. Semelhante constatação também é feita por
Grostein (2001) ao tratar do crescimento das metrópoles e o processo de criação de espaços
excludentes e de uma cidade ilegal geradora de sérios impactos socioambientais. Nesta relação
cidade legal – cidade ilegal, é na primeira que se concentram os investimentos privados, públicos e
as ações de planejamento, deixando as pessoas que vivem na cidade ilegal a sua própria sorte.
Logo, vemos que o consumo do espaço é desigual, pois existe um privilégio neste consumo
por parte de segmentos sociais que dispõem de recursos financeiros para a efetivação de seu uso ou
recebem benefícios diretos e/ou indiretos de investimentos do Estado em infraestruturas no
território, conforme salienta Rodrigues (1998) e Carlos (2004). Os investimentos públicos e
privados, ao privilegiarem apenas algumas áreas das cidades, reproduzem e aprofundam as
desigualdades, fortalecendo a superposição de privilégios e carências.
No processo de expansão e estruturação das cidades, a ocupação de encostas de morros,
várzeas de rios, áreas de proteção ambiental são ações comuns, o que aproxima os problemas
ambientais dos socioeconômicos. Maricato (2002, p. 39) destaca que ―[...] o processo de
urbanização [brasileira] se apresenta como uma máquina de produzir favelas e agredir o meio

191
ambiente‖. Certamente, os problemas ambientais não são exclusivos da cidade ilegal, aparecendo de
maneira evidente também na cidade legal, remetendo-nos ao reconhecimento de estruturas e níveis
diferentes dos problemas, mas que não acontecem de maneira isolada e necessitam ser pensados em
conjunto.
Parece-nos bastante evidente que a discussão sobre o desenvolvimento, a qualidade de vida
e a sustentabilidade ambiental passa pela análise de diferentes escalas espaciais, como um campo de
forças em constante interação, mas é em escalas menores que esses conceitos ficam mais evidentes
e materializam-se. Falta de acessibilidade para deficientes físicos, submoradia, saneamento básico
precários, violência, desemprego, excesso de lixo, falta de áreas verdes, etc. não são abstrações
numéricas gerais, elas acontecem no cotidiano das pessoas. Voltamo-nos, então, às cidades, lócus
da concentração das pessoas e espaço de sua vivência cotidiana. Aqui se insere um questionamento
importante: como discutir o desenvolvimento, a qualidade de vida e a sustentabilidade em um
espaço marcado por contradições extremas, sejam socioeconômicas ou culturais, por interesses
distintos e sujeitos a inúmeras pressões externas?
Ribeiro (2005, p. 60) argumenta que ―[...] o que deve ser sustentável não é a cidade, mas o
estilo de vida urbano, que tem nas cidades mais uma forma de manifestação‖. Considerando que a
cidade é a expressão desse estilo de vida urbano, questionamo-nos até que ponto o estilo de vida
urbano pode gerar qualidade de vida, desenvolvimento e ser sustentável.
Ao discutir a sustentabilidade, Acselrad (2001; 1999) apresenta-nos algumas matrizes
discursivas que conduzem os debates a respeito da sustentabilidade. Assim, é destacada,

[...] a matriz da eficiência, que pretende combater o desperdício da base material do


desenvolvimento, estendendo a racionalidade econômico ao ―espaço não-mercantil
planetário‖; da escala, que propugna um limite quantitativo ao crescimento
econômico e à pressão que ele exerce sobre os ―recursos ambientais‖; da equidade,
que articula analiticamente princípios de justiça e ecologia; da autosuficiência, que
prega a desvinculação de economias nacionais e sociedades tradicionais dos fluxos
do mercado mundial como estratégia apropriada a assegurar a capacidade de auto-
regulação comunitária das condições de reprodução da base material do
desenvolvimento; da ética, que inscreve a apropriação social do mundo material em
um debate sobre os valores de Bem e de Mal, evidenciando as interações da base
material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida do planeta
(ACSELRAD, 2001, p. 27 – grifos do autor).

Todas essas matrizes discursivas, de certa forma, encontram-se presentes no debate que
permeia a questão da sustentabilidade do espaço urbano. Pelo lado da eficiência busca-se elaborar
192
planos e medidas que se traduzam em melhor alocação de recursos dentro das cidades. A eficiência
volta-se para tentativas de economizar matéria e energia através de um maior aparato tecnológico e
novas formas de organização, capaz de manter a reprodução contínua de suas estruturas.
Em relação à escala, questionam-se, ao mesmo tempo, as relações desiguais intraurbanas e
entre as próprias cidades, já que os excessos de uma podem resultar em sérios problemas para outra.
Ao se tratar da equidade, vinculam-se questões sobre as injustiças socioespaciais presentes no
espaço urbano com os problemas ambientais, de forma a reconhecer as situações de carências, de
vulnerabilidades e de riscos em que as populações mais pobres se encontram. Associam-se,
inclusive essas questões de desigualdades e injustiças ambientais a questões étnico-raciais, como
vemos em Bullard (2004) e Pellow (2006).
Já pelo lado da autosuficiência, mesmo com o reconhecimento de que as cidades funcionam
como sistemas abertos, de acordo com Troppmair (2004), necessitando de entradas e resultando
saídas, sejam desejáveis ou indesejáveis, essa questão ainda paira em alguns discursos, muito mais
como uma ideologia do que uma proposta concisa e factível. Pensando-se sobre a ética, percebemos
ponderações que estão difusas em outras matrizes discursivas, mas que de uma forma ou de outra
erigem uma crítica ao uso intensivo dos recursos naturais que provocam impactos em todo o planeta
e colocam em risco elevados contingentes de pessoas no mundo todo e às gerações vindouras.
De fato, julgamos importante a existência da articulação e a ponderação de cada uma dessas
matrizes discursivas sobre o espaço das cidades. Entendemos que a sustentabilidade deva remeter-
nos a uma qualidade de vida que possa ser compartilhada por toda sociedade. É importante
deixarmos claro o conceito de sustentabilidade no qual nos baseamos. Ao mesmo tempo em que
reconhece a necessidade de modificações nas relações sociais e na relação sociedade-
natureza,rechaça posicionamentos extremistas que veem uma volta ingênua à natureza. Deparamo-
nos, então, novamente com a qualidade de vida. Ou seja, no processo de desenvolvimento urbano a
qualidade de vida deve ser central, entendendo-se a sustentabilidade como forma de
desenvolvimento que tenha como fim a melhora substantiva no cotidiano das pessoas, calcadas em
elementos concretos, mas sem desconsiderar as subjetivas das relações e as singularidades dos
diferentes grupos humanos.

Considerações Finais

Da mesma forma como argumenta Steinberger (2001), pensamos que a reflexão sobre o
espaço urbano deveria ser estruturada no sentido de não contrapor o urbano ao meio natural, uma
vez que esse pensamento limita a envergadura das análises e, ao mesmo tempo, impede uma
discussão mais ampla, no sentido de compreender o espaço urbano dotado de potencialidades para o
193
desenvolvimento, sem necessariamente destruir o meio natural. Como é apontado por Steinberger
(2001, p. 14),

[...] sugere-se que tais mitos [do urbano insustentável] precisam ser desconstruídos,
porque são os responsáveis por gerar a oposição entre o meio ambiente e urbano e,
assim, ―engessar‖ o espaço urbano à ideia de uma insustentabilidade permanente.
Essa ideia se baseia na premissa de que o homem urbano, ao desrespeitar os limites
da natureza, sempre cria um espaço urbano desequilibrado, pois as soluções
tecnológicas e modernistas não dão conta de reverter esse quadro ou o fazem de
maneira paliativa.

De fato, a face que a sociedade nos mostra atualmente parece corroborar a tese da
insustentabilidade urbana, porém será mesmo que não há uma alternativa possível? A produção
social do e no espaço urbano não pode ganhar novos contornos e se traduzir em justiça social e
menores impactos sobre o meio natural? Essas são questões importantes e certamente as respostas
não serão singulares.
A sustentabilidade ou a insustentabilidade do espaço urbano assume diferentes aspectos,
figurando, por um lado, questões gerais que nos levam à reflexão sobre o estilo de vida urbano e os
seus impactos, o que se mostra muito mais amplo do que a cidade propriamente dita. Por outro lado,
erigem-se discussões sobre o planejamento e gestão das cidades, com o intuito de se estabelecerem
modelos de cidades sustentáveis. Dentro dessas estruturas pode haver inúmeros desdobramentos,
mais ou menos críticos em relação à participação da população, da importância dos instrumentos
econômicos, dos modelos políticos, do uso da tecnologia, entre outros aspectos. Para refletir sobre o
desenvolvimento e sua sustentabilidade, é imprescindível não dissociar as variáveis sociais das
econômicas, e essas, do meio natural. E, ainda, buscar formas de compreender como elas articulam-
se e determinam a qualidade de vida da população. Ou seja, o desenvolvimento e a sustentabilidade
acontecem em um jogo complexo entre a qualidade ambiental e a dinâmica social e econômica, no
qual todos os fatores exercem influências uns sobre os outros.
Uma dada cidade pode tornar-se mais rica em termos de capitais circulantes e investimentos
no território, mas à custa de impactos socioambientais difusos em diversas áreas e em seu próprio
território. Considerando uma definição dada por Souza (2008) é preciso entender o
desenvolvimento como algo amplo, extrapolando qualquer reducionismo, sejam de ordem
econômica, social e ambiental. Para o autor supracitado,

[...] o desenvolvimento é entendido como uma mudança social positiva. [e] O


conteúdo dessa mudança, todavia, é tido como não devendo ser definido a priori, à

194
revelia dos desejos e expectativas dos grupos sociais concretos, com seus valores
culturais próprios e suas particularidades histórico-geográficas. Desenvolvimento é
mudança, decerto: uma mudança para melhor. Um ―desenvolvimento‖ que traga
efeitos colaterais sérios não é legítimo e, portanto, não merece ser chamado como
tal (p. 60-61 - grifos do autor).

Rodrigues (1998 e 2001) destaca que o modo de produção ou a modernização traz como
reflexos a criação de problemas da e na cidade, do e no urbano, do e no ambiente. As diferentes
maneiras de como esses problemas podem combinar-se, certamente configuram formas, as quais
incidem sobre a população criando ou agravando as situações de exclusão social e os impactos
socioambientais. Portanto, os ―efeitos colaterais‖ de um processo não podem refletir negativamente
em outros, como vemos nos processos desencadeados exclusivamente para o crescimento
econômico que geram concentração de renda, desigualdades sociais e impactos sobre a natureza.
Reiteramos, então, o pensamento sobre o desenvolvimento e a sustentabilidade a partir da qualidade
de vida e assim tentamos afastar segmentações que não considerem o ser humano de forma integral
e como centro do processo.

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196
A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO AUTÓCTONE A CERCA DA EROSÃO
COSTEIRA EM CAIÇARA DO NORTE - RN – BRASIL 27

Anderson de Souza FERREIRA (DGC/UFRN) – andersonparelhas@hotmail.com

Girleany Kelly Macedo de MARIA (DGC/UFRN) - girleanekelly@hotmail.com

(Orientador) Marco Túlio Mendonça DINIZ (DGC/UFRN) - tuliogeografia@gmail.com

Resumo

A erosão costeira é um sério problema ambiental que afeta cidades litorâneas. Este, sem dúvida, é
um dos maiores problemas enfrentados pelos gestores na atualidade em diversas cidades costeiras
mundo afora. Na perspectiva de obter informações sobre a percepção ambiental da população
autóctone do Município de Caiçara do Norte/RN a cerca da erosão costeira, foi utilizado como
metodologia à aplicação de questionários semi-estruturados. Fazendo uso dos métodos, indutivo e
Análise do Discurso do Sujeito Coletivo, a análise dos dados obtidos se deu de forma quantitativa e
qualitativa. Além disso, foi realizada como suporte teórico metodológico a leitura bibliográfica para
a compreensão do processo erosivo no referido município bem como a abordagem dos conceitos de
percepção ambiental. Os resultados mostram que os moradores percebem a erosão costeira como
problema, porém quando questionados se eles seriam capazes de mudar para um lugar mais seguro
e distante da praia as respostas se dividiram, mostrando a dúvida entre a população quanto a este
fato. Os métodos utilizados na pesquisa se mostraram importantes para a compreensão da percepção
ambiental da população, nos deixando a conclusão que, trabalhos que visem a Educação Ambiental,
são armas de suma importância para o planejamento e auxílio na tomada de decisão quando o
assunto é a Gestão Integrada de Zonas Costeiras.

Palavras-chave: Discurso do Sujeito Coletivo, Educação ambiental, Gestão Integrada de Zonas


Costeiras.

Abstract

The coastal erosion is a serious environmental matter that affects coastal cities. This, undoubtedly,
is one of the biggest problems faced by managers today in many coastal cities around the world. In
the perspective of obtaining information about the environmental perception of the autochthonous
population of the municipal district of Caiçara do Norte/RN about of coastal erosion, was used as a
methodology the application of semi-structured questionnaires. Making use of the methods,
27
Agradecimentos ao Centro de Ensino Superior do Sérido pelo financiamento da pesquisa

197
inductive and Collective Subject Discourse, the data analysis occurred both quantitatively and
qualitatively. Besides, was performed with theoretical support methodological reading literature for
understanding the erosion process in the municipality as well as the approach of the concepts of
environmental perception. The results show that residents perceive as coastal erosion problem,
however when asked if they would be able to move to a safer place away from the beach and the
responses were divided, showing doubt among the population as to this fact.The methods used in
the research were important for understanding the environmental perception of the population,
leaving us to conclude that, studies aimed at Environmental education, weapons are of great
importance for planning and aid in decision making when it comes to Integrated Coastal Zone
Management.

Keywords: Collective Subject Discourse, Environmental education, Integrated Coastal Zone


Management

INTRODUÇÃO

Há alguns anos as modificações sofridas na paisagem e uma série de catástrofes naturais fez
com que se chamasse atenção da sociedade para a problemática ambiental, o que tem gerado
polêmicas e especulações. Mesmo não sendo unanimidade no meio científico o Aquecimento
Global, já é um assunto presente no livro didático de jovens e crianças, o que pode vir a ―criar‖
conceitos, ou melhor, pré-conceitos, que são atribuídos à realidade sem ao menos atentar para os
verdadeiros problemas. Visto isso, não podem passar despercebidos os problemas decorrentes da
erosão costeira, que por muitas vezes são tratados como consequência do aquecimento global, fato
que ―intimida‖ populações, e exige habilidade dos gestores quanto ao planejamento dessas áreas.
Apesar dos vários discursos sobre a proteção dos ambientes costeiros ―os constantes
problemas resultantes de interferência, direta e indireta, no balanço de sedimentos costeiros e do
avanço da urbanização sobre áreas que deveriam ser preservadas mostram que ainda é longo o
caminho entre intenção e realização‖ (MUEHE, 2007, p. 253). Segundo Rocha e Diniz (2011) os
problemas de erosão são cada vez mais frequentes nas orlas de urbanização consolidadas, por se
tratarem de ambientes que possuem uma dinâmica intensa, são vulneráveis, e, portanto, as menores
alterações podem ter grandes consequências, intensificando processos e desenvolvendo sérios
problemas. De acordo com Tessler e Goya (2005, P. 19). ―as intervenções mais frequentes
encontradas no litoral brasileiro estão relacionadas ao uso e ocupação do solo ou, mais diretamente,
à construção de infra-estrutura urbana, como ruas, calçadas e mesmo residências em regiões ainda
sob ação do mar em períodos de tempestades‖. Tais fatos são refletidos em nosso ambiente de

198
estudo, a cidade de Caiçara do Norte foi edificada na praia, se colocando assim, a mercê das
intempéries advindas da vulnerabilidade desse local.
Localizada no litoral Setentrional do Estado do Rio Grande do Norte a área de estudo está
situada na Mesorregião Central Potiguar e faz parte da zona de influencia da Microrregião Macau,
se tratando mais especificamente do Município de Caiçara do Norte (Figura 01).

Fig. 01: Croqui de localização


Fonte: Acervo dos autores

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população do


Município de Caiçara do Norte em 2010, com base no censo demográfico realizado neste mesmo
ano, era de 6.016, ocupando uma área de 189,548 Km², apresentando uma densidade demográfica
de 31,74 hab/km² (IBGE, online). Este município historicamente vem sofrendo por uma série de
problemas naturais, ora resultantes do avanço das águas oceânicas que acabam por destruir casas e
ruas completas, ora pelo soterramento de casas pelas dunas, comprovando assim o que
anteriormente foi afirmado a respeito da instabilidade pela qual este ambiente passa. Ao se referir a
Caiçara do Norte em um período próximo de 1915, Cascudo (1984, p. 354) diz: ―o núcleo da
população estava na praia atlântica, Caiçara, a velha, soterrada pelos morros‖, indicando que o
povoado de Caiçara do Norte, havia sido soterrado pelas dunas já nesse período. Ao pesquisarmos
sobre o histórico do Município de Caiçara do Norte, no site do IBGE, temos a confirmação daquilo
que Cascudo (1984) afirmara, ―Caiçara teve sua vida normal e em desenvolvimento até o ano de 1912,
quando sofreu a invasão das areias das dunas, ficando praticamente soterrada‖ (IBGE online).
Noel (2007) em um artigo intitulado, ―Ameaça marítima: Aquecimento Global acelera
erosão na costa brasileira‖, cita o caso da erosão costeira em Caiçara do Norte.

o adiantado processo de erosão na orla do município potiguar de Caiçara do Norte


ilustra como o homem acaba ajudando a modificar o litoral. Nos últimos 50 anos, a
cidade teve três ruas tragadas pelas águas, que avançaram 300 metros sobre a terra –
uma média de seis metros por ano. A situação tornou-se crítica em 1997, quando a
prefeitura decretou estado de calamidade pública e obteve recursos federais para a

199
construção de oito estruturas de concreto armado (espigões) perpendiculares à praia.
A obra não produziu o efeito esperado, e a erosão seguiu em frente. Com 6 mil
moradores, a 149 quilômetros de Natal, Caiçara do Norte continua perdendo terreno
para o oceano (NOEL, 2007).

Mas, nos cabe perguntar como a população percebe essa erosão. Conforme pudemos
observar na citação de Noel (2007) ele intitula seu artigo como, ―Aquecimento global acelera a
erosão na costa brasileira‖, será mesmo o aquecimento global o responsável pela erosão em Caiçara
do Norte? Será que é dessa forma que a população autóctone encara o problema da erosão costeira?
Ou talvez elas percebam que esta é uma área vulnerável aos efeitos erosivos? Essas e outras tantas
perguntas podem passar por nossa cabeça ao analisarmos o caso de Caiçara do Norte. Assim, é
preciso conhecer para poder agir, e é nessa perspectiva que surge a percepção ambiental, como uma
forma de analisar a maneira com a qual a população autóctone enxerga a vulnerabilidade costeira e
as ações do poder público para sanar eventuais ―problemas‖. Seguindo essa ideologia, este trabalho
se objetiva em analisar a percepção ambiental da população autóctone do Município de Caiçara do
Norte/RN a cerca da erosão costeira, visando diagnosticar medidas que auxiliem na tomada de
decisão e implantação de políticas efetivas de educação ambiental, caso necessário. É através dos
estudos sobre a percepção ambiental que será possível identificar formas em que ―a educação
ambiental poderá sensibilizar, conscientizar e trabalhar conjuntamente as dificuldades ou dúvidas
que os sujeitos-atores possam vir a ter quando discutidas e apresentadas às questões ambientais‖
(OLIVEIRA & CORONA, 2008, P. 65). Pois, ―a relação harmônica do homem com a natureza
exige mudanças comportamentais e tomadas de atitudes para manutenção do meio ambiente mais
equilibrado‖ (SEABRA, 2009, p. 15).

MATERIAIS E MÉTODOS

Na perspectiva de obter informações a cerca da percepção ambiental da população, foi


utilizado como metodologia à aplicação de questionários semi-estruturados, fazendo uso dos
métodos indutivo e o Discurso do Sujeito Coletivo. Os dados foram coletados e tratados em
gabinete no software Excel 2007, na confecção de gráficos, para melhor obter clareza na
apresentação dos resultados, a análise dos dados obtidos se deu de forma quantitativa e qualitativa.
Além disso, foram realizadas, como suporte teórico metodológico, leituras bibliográficas para a
compreensão do processo erosivo no município de Caiçara do Norte-RN bem como a abordagem
dos conceitos de percepção ambiental. A Análise do Discurso do Sujeito Coletivo (ADSC) se
mostrou arma de suma importância, para o esclarecimento de uma questão, na qual os dados se

200
apresentaram sumariamente concisos e pouco explicativos. De acordo com Diniz et al (2011, p. 02 -
03)

o Discurso do sujeito coletivo constitui-se uma técnica de redigir um único discurso,


em primeira pessoa do singular, com informações obtidas de diversos depoimentos
coletados em pesquisas empíricas de opinião por meio de questões abertas. O efeito
do produto final é o de proporcionar ao receptor uma opinião coletiva.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Os estudos de percepção ambiental, ―vêm cada vez mais adquirindo uma importância
fundamental no sentido de possibilitar e melhorar a compreensão das inter-relações entre o homem
e o meio ambiente‖ (COSTA, 2011, p. 156 - 157). Segundo Amorim Filho (1987) apud Costa
(2011, p. 156), ―a percepção, como nova abordagem dentro da ciência geográfica, veio a se
consolidar na segunda metade do século XX, embora, ao longo dos tempos, já venha sendo
estudada direta ou indiretamente por muitos pesquisadores‖.
Foi a partir da década de setenta que passaram a se multiplicar os encontros nacionais e
internacionais sobre a percepção ambiental como citam Oliveira e Machado (2011, p. 135)

o precursor pode ser considerado o Expert Panel on Project 13: Perception of


Environment Quality, organizado como parte integrante do Programme on Man and
the Biosphere (MAB), em Paris, em março de 1973, coordenado por Ian Burton.
Essa publicação tornou-se um verdadeiro vade mecum para aqueles que se iniciavam
nesse novo campo interdisciplinar que se abria para os geógrafos, arquitetos,
biólogos, urbanistas, educadores, psicólogos, sanitaristas, engenheiros e muitos
outros mais.

Oliveira e Machado (2011, p. 136) enfatizam que ―um marco, no Brasil, foi a publicação do
livro Percepção Ambiental: a Experiência Brasileira, organizado por Vicente Del Rio e Lívia de
Oliveira‖.
Este ramo da ciência vem exigindo da sociedade reflexões mais profundas e um
equacionamento teórico, prático e fatual sobre as questões ligadas ao meio ambiente (OLIVEIRA &
MACHADO, 2011). Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o
ambiente em que vive. Costa (2011, p. 157) afirma que a inteligência do homem faz com que ele
interligue ―o meio ambiente à percepção que o indivíduo tem do mesmo, pois a primeira questão
que se coloca é de como o homem sente e percebe o mundo que o rodeia‖.

201
É preciso se compreender que ―não há soluções distintas para as relações sociedade/natureza
e para as relações entre os homens, pois estes dois problemas se constituem num só‖
(BERNARDES & FERREIRA, 2009, p 40). Então não se pode mais encarar a Terra como
dissociada da civilização humana; somos parte do todo, e olhar para o ambiente significa, em última
análise, olhar para nós mesmos. E dessa forma, pode-se dizer que ―o processo de formulação de
políticas públicas, num determinado contexto social e histórico, é grandemente influenciado pela
percepção que os indivíduos têm da realidade‖. (CUNHA & COELHO, 2009,). Pois é a partir de
estudos sobre a percepção ambiental que se pode evidenciar como as características do meio
geográfico ―podem influenciar os indivíduos em conjunto com suas emoções e sentidos, fornecendo
assim, elementos para mensurar e avaliar situações, e a partir daí, direcionar suas atividades e seu
modo de vida‖ (COSTA, 2011, p. 157).

A EROSÃO EM CAIÇARA DO NORTE

A área em estudo está inserida no que Muehe (1998) denomina de Costa Semiárida Sul, em
uma linha de costa submetida à ação contínua dos ventos alísios, que sopram, segundo Ramos et al
(2009), predominantemente de direção E e SE. Dentre os agentes climáticos o vento tem se
destacado como um dos principais componentes a interferir na dinâmica costeira nos Municípios de
São Bento do Norte - RN e Caiçara do Norte - RN, pois, ―o transporte litorâneo é orientado para
oeste, em virtude da direção dos ventos e das ondas‖ (MELO, 2006, p. 330). Dessa forma, o vento
atua de duas formas importantes ora ―gerando o mecanismo da deriva litorânea, responsável pelo
transporte das areias do litoral de leste para oeste‖ ora ―transportando as areias da face da praia para
a formação de dunas costeiras‖ (Tabosa, 2006, p. 48). Algumas destas dunas migram devido à
contínua intensidade dos ventos, no segundo semestre do ano impulsionando-as para o interior,
avançando assim, sobre a cidade de São Bento do Norte, causando a falta de sedimentos na praia de
Caiçara, refletidos na forma de erosão (Tabosa, 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 41 indivíduos no dia 12 de Setembro de 2012 no Município de Caiçara


do Norte - RN. Destes, 23 era do sexo masculino e 18 do sexo feminino. Apresentavam uma faixa
etária entre 15 e 72 anos, faixa etária esta que representa 72% da população total do município
(4.305 habitantes), dessa forma, este trabalho realizou entrevistas com aproximadamente 1% da
população total de Caiçara do Norte. A maioria dos entrevistados possui idade entre 40 e 72 anos,
estes correspondem a 56% (23 dos entrevistados), e, residem no município a mais de 39 anos,

202
portanto, supõe-se que tiveram oportunidade de presenciar, muitas vezes, o avanço das águas
oceânicas ao continente, e também ações realizadas para mitigar tais efeitos.
Na pesquisa foram entrevistadas pessoas que apresentaram nível de instrução formal entre o
ensino fundamental incompleto 59% (24 dos entrevistados), ensino médio incompleto 17% (7 dos
entrevistados), ensino médio completo 12% (5 dos entrevistados) e superior 12% (5 dos
entrevistados). Portanto, foi necessário adequar as perguntas segundo o grau de instrução de cada
indivíduo entrevistado, para assim obter uma maior compreensão do que se estava sendo
perguntado, e, consequentemente, maior êxito no resultado da pesquisa. Dentre os entrevistados do
sexo masculino (23 homens entrevistados), apenas quatro concluíram o ensino médio, entre estes
quatro, apenas um possui ensino superior, os demais (19 homens entrevistados) não concluíram o
ensino médio, sendo que a maioria (16) sequer concluiu o ensino fundamental.
A faixa etária dos entrevistados, citada anteriormente, foi agrupada em dois grupos
generalizantes, um de entrevistados com idade entre 15-39 anos (18 entrevistados) e outro de
entrevistados com idade entre 40-72 anos (23 entrevistados). No entanto a análise considerando
estes grupos só foi realizada nas questões que apresentaram respostas mais distantes da
unanimidade, nas questões que apresentaram respostas mais próximas à unanimidade a análise foi
feita em um só grupo. Os questionários aplicados eram compostos por perguntas fechadas de
múltipla escolha, havendo em apenas uma delas, espaço para resposta aberta. As justificativas
respondidas nesta pergunta serão analisadas aqui, fazendo uso do Discurso do Sujeito Coletivo.
Quando questionados se eles consideravam a erosão costeira um problema, 36 dos
entrevistados responderam que ―Sim‖, três responderam que ―Não‖ e dois responderam ―Em parte‖
conforme podemos observar em porcentagem no gráfico 01.

Gráfico 1: Porcentagem da percepção sobre a erosão costeira


Fonte: Acervo dos autores

203
Como se pode observar no gráfico acima, grande parcela das pessoas entrevistadas considera
a erosão costeira um problema. Mas, cabe-nos aqui questionar, problema para quem? De acordo
com Dominguez (1995) apud Tabosa (2006) a erosão costeira é um problema de ordem antrópica,
pois se o homem não vivesse em ambientes costeiros a erosão não seria problema algum.
Quando questionados se conhecem algum projeto que vise à proteção da praia o resultado
foi o seguinte:

Não sabe/não
Respostas Sim Não
respondeu
Total 33 7 1
Porcentagem 81% 17% 2%
Tabela 1: Respostas dos moradores de Caiçara do Norte quanto ao conhecimento de projetos que
visem à proteção da praia.

Conforme vimos na tabela 1 os moradores conhecem algum projeto realizado para a


proteção da praia, segundo os mesmos entrevistados este projeto então mencionado foi
desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Caiçara do Norte-RN e se trata da construção de
espigões paralelos à linha de praia.

Gráfico 2: Percepção sobre a existência do aquecimento global


Fonte: Acervo dos Autores

O gráfico 2 representa bem que os entrevistados acreditam na existência de um suposto


aquecimento global, o que nos mostra o quanto esse assunto é propagado pelos meios de
comunicação (televisão, rádio, revistas, jornais), bem como escolas e pessoas no dia a dia. Mas será
que a população relaciona tal aquecimento com o avanço da água do mar em Caiçara do Norte?
Quando questionados sobre qual a causa da erosão costeira em Caiçara do Norte-RN, na opinião
deles, 56% (23 dos entrevistados) responderam que seria devido um fator natural, 35% (14 dos
entrevistados) responderam que a erosão em Caiçara do Norte era devido ao aquecimento global,
204
2% (1 entrevistado) afirmou que supostamente seria devido a construção de casas na praia, e 2% (1
entrevistado) respondeu que seria devido a construção dos espigões, e outras duas pessoas (5%)
responderam que seria devido a um outro fator, uma delas afirmou que a erosão em Caiçara do
Norte não seria natural e a outra que seria devido a ação dos homens. A tabela 2 nos permite
analisar minuciosamente este caso (Tabela 02).

Respostas Fator Aquecimento Construção Construção Outro


natural global de casas na dos espigões
praia
Entrevistados 5 10 1 1 1
com idade entre
15 e 39 anos
Entrevistados 18 4 0 0 1
com idade entre
40 e 72 anos
Total 23 14 1 1 2
Porcentagem 56% 35% 2% 2% 5%
Tabela 2: Opinião, sobre qual a causa da erosão no Município de Caiçara do Norte

Conforme observado na tabela 2, apesar da maioria total (56% dos entrevistados) ter
respondido que a causa da erosão seja decorrente de um fator natural, podemos notar que a maioria
que respondeu ser um fator natural, pertence ao grupo dos entrevistados que possuem idade entre 40
e 72 anos (18 entrevistados), enquanto que, a maioria do grupo que possui idade entre 15 e 39 anos,
respondeu que a causa da erosão seria devido ao aquecimento global. Ao que parece, os mais jovens
se deixam influenciar pelos meios de comunicação e pela educação formal onde tem sido propagado
o aquecimento global fato dado, enquanto que, os mais velhos, por terem presenciado evento de
erosão costeira em Caiçara do Norte antes mesmo de se falar sobre um suposto aquecimento global,
não acreditam, pois o problema já existia antes. Dessa forma, a experiência de vida dos
entrevistados do grupo com idade entre 40 e 72, os faz acreditar ser o problema da erosão em
Caiçara do Norte, um problema de ordem natural.
Visto a instabilidade pela qual a cidade de Caiçara do Norte passa, devido à erosão costeira e
o avanço das dunas sobre as casas, foi perguntado aos moradores, se caso tivessem a oportunidade
de se mudar para um lugar mais seguro, afastado da praia, se eles iriam. Dentre os entrevistados 20
(49%) responderam que sim, 20 (49%) responderam que não, e apenas 1 (2%) respondeu que talvez
se mudaria. Assim como no caso anterior, analisaremos as repostas pela faixa etária, no entanto,
tivemos que analisar as repostas também de acordo com outro parâmetro, além do agrupamento por

205
faixa etária, tivemos subdividir este grupo por gênero, para obter resultados mais acurados (Tabela
03).

Respostas Sim Não Talvez Não sabe/Não


respondeu
Homens com 5 5 0 0
idade entre 15 e
39 anos
Mulheres com 4 4 0 0
idade entre 15 e
39 anos
Entrevistados 9 9 0 0
com idade entre
15 e 39 anos
Homens com 4 8 1 0
idade entre 40 e
72 anos
Mulheres com 7 3 0 0
idade entre 40 e
72 anos
Entrevistados 11 11 1 0
com idade entre
40 e 72 anos
Total 20 20 1 0
Porcentagem 49% 49% 2% 0
Tabela 3: Respostas a cerca da opinião da população em relação a mudar para um lugar mais
seguro afastado da praia.

Podemos observar que no grupo de entrevistados com idade menor que 40 anos há um
equilíbrio nas respostas entre homens e mulheres, no entanto, ao analisarmos as respostas dos
entrevistados com idade superior a 39 anos, podemos notar que, embora o resultado geral desse
agrupamento tenha sido equilibrado, quando observamos as respostas dos homens e das mulheres
notamos que a maioria dos homens com idade superior a 39 anos não se mudariam da cidade, já a
maioria das mulheres com idade superior a 39 anos sim. Fato que nos supostamente nos faria
acreditar que os moradores do sexo masculino com idade superior a 39 anos, provavelmente por
retirarem sua renda mensal através da atividade pesqueira, se recusariam a mudar-se para um lugar
mais distante da praia. Mas, para melhor compreendermos o motivo que motivaria os entrevistados
a mudarem ou não, para um lugar mais seguro, foi perguntado aos moradores o ―porque‖ de sua
resposta anterior. Apesar de muitos dos entrevistados não terem justificado o ―porque‖, as respostas
obtidas foram analisadas fazendo o uso do método ADSC. Nos questionários aplicados se obteve 4
justificativas para a resposta ―Sim‖, que foram agrupadas em duas categorias: temos que mudar e;
mais seguro. Os ADSC‘s para essa pergunta são:

206
(Temos que mudar) Temos que mudar mesmo, em breve a água do mar vai chegar às
casas.

(Mais seguro) É mais seguro mudarmos, aqui é um perigo para nós.

Neste caso pode-se notar que parte dos entrevistados aparenta ter medo de perder suas casas
devido ao avanço do mar, embora este tenha sido parcialmente contido pela construção dos
espigões. Os entrevistados afirmam que os espigões construídos não são suficientes para proteger a
praia, provavelmente por essa razão optariam por morar em um lugar mais afastado da praia. Nas 6
entrevistas que justificaram a resposta ―Não‖ foram agrupadas em 2 categorias: estou acostumado e;
não há riscos. Para esta pergunta as ADSC‘s foram:

(Estou acostumado) Eu sempre morei aqui, gosto da cidade e já estou acostumado


com a situação.

(Não há riscos) Esse problema não me afeta, porque onde eu moro o mar vai
demorar a chegar. Além disso, agora tem os espigões, não há mais risco.

As ADSC‘s acima nos mostra que parte da população já se distanciou um pouco da praia,
fato que pode indicar uma característica de crescimento da cidade para lugares supostamente
seguros, mas também nos mostra que parte da população já se acostumou com o problema. Além
dessas respostas, uma pessoa ainda respondeu que ―Talvez‖ mudaria para um lugar mais seguro,
nesse caso, transcrevemos a resposta literalmente. O entrevistado respondeu que talvez se mudasse,
mas ―só se houvesse um perigo muito grande‖.
Quando perguntados sobre qual atividade econômica era a mais importante no município de
Caiçara do Norte-RN, 98% (40 dos entrevistados) responderam ser a pesca a atividade econômica
mais importante para a economia do município. Isto pode se configurar em mais um motivo para
que a população tenha dúvidas quanto a mudar-se da praia, pois ir para um lugar mais seguro seria,
consequentemente, afastar-se do seu ―ganha pão‖.
Na última pergunta, baseado em Diniz et al (2011), os moradores foram questionados se eles
acreditavam que, caso houvesse assembleias públicas para discutir e encontrar soluções a situação
melhoraria, o resultado foi o seguinte:

Respostas Sim Não Em parte


Total 30 9 2
Porcentagem 73% 22% 5%
Tabela 4: Respostas dos entrevistados quanto a realização de audiências públicas.

207
De acordo com o resultado acima representado, 73% (30 entrevistados) responderam ―Sim‖
22% (9 entrevistados) responderam ―Não‖ e 5% (2 entrevistados) responderam ―Em parte‖. Diante
disso, conclui-se que é de interesse da maioria dos entrevistados a participação da população em
políticas públicas, para que, juntamente com os gestores se elaborem estratégias e projetos para a
mitigação dos impactos socioambientais em Caiçara do Norte.

CONCLUSÕES

Os métodos utilizados na pesquisa se mostraram importantes para a compreensão da


percepção ambiental dos moradores da cidade de Caiçara do Norte-RN, principalmente sobre a
visão deles a cerca da causa da erosão e a opinião sobre mudar-se para um lugar mais seguro.
Pudemos observar que os moradores conhecem e convivem com o problema da erosão costeira;
reconhecem que tal fato seja decorrente de um fator natural, porém a maioria dos entrevistados com
idade entre 15 e 39 anos afirmou acreditar que o motivo da intensificação do processo de erosão em
Caiçara do Norte seja decorrente de um aquecimento global, fato que mostra a influência que a
população mais jovem tem em relação aos meios de comunicação que propagam tal tipo de
informação. Tais dados nos mostram também que, devido às suas experiências vida, a maioria dos
entrevistados do grupo com idade entre 40 e 72 anos, afirma ser o problema da erosão costeira em
Caiçara do Norte, decorrente de um fator natural, pois há muitos anos eles presenciam esse
problema e não apenas agora, com os debates sobre o aquecimento global.
Portanto, podemos concluir que através dos estudos sobre percepção ambiental foi possível
identificar que a implantação de projetos pautados na Educação Ambiental, será de extrema
importância para uma possível reordenação territorial. A população reconhece e convive com o
problema, porém necessita de se ―sentir útil‖ e participar na Gestão Integrada da Zona Costeira,
para em conjunto com os gestores em audiências públicas, articular talvez, medidas preventivas,
delimitar zonas de não edificação, realocar as pessoas que se encontram em situação de risco,
enfim, fazer com que a comunidade não apenas perceba o problema, mas interaja com ele e busque
suas próprias soluções.

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210
JOÃO PESSOA: QUALIDADE VIDA RECONSTRUÍDA COM A MATA DO BURAQUINHO

Erika Pereira de CARVALHO (IFPB) - erikaa_decarvalho@hotmail.com - graduação


Dr. Boaz Antonio de Vasconcelos LOPES – lopes40@bol.com.br - profissional

Resumo

O artigo faz uma análise crítica da visão turística recorrente, mediante uma exposição da evolução
histórica da Cidade de João Pessoa no contexto de conservação da Mata do Buraquinho. Esta cidade,
quase sempre, deixa aos visitantes de passagem algumas das impressões mais emblemáticas,
principalmente, a respeito da boa qualidade de vida urbana que ela proporciona, por ser bastante
arborizada e de curtas distancias. Mediante uma abordagem com viés de desbravamento histórico,
são enumeradas as várias possíveis razões concretas e imaginárias que fazem da Cidade de João
Pessoa um espaço urbano de boa qualidade de vida.

Palavras-chave: Qualidade de vida urbana; João Pessoa Cidade Verde; Mata do Buraquinho; Mata
Atlântica.

Abstract

The article makes a critical analysis of the vision tourist applicant, by an exposition of the historical
evolution of the city of João Pessoa in the context of conservation of the Forest of the Mata do
Buraquinho. This city almost always leaves visitors crossing some of the most iconic prints, mainly
about the quality of urban life it offers, to be quite wooded and short distances. Through an
approach of biased clearing history, listing the many possible reasons that are real and imaginary of
the city of João Pessoa a good quality of urban life.

Keywords: Quality of urban life; João Pessoa City Green, Mata do Buraquinho; Atlantic forest.

INTRODUÇÃO

Temos uma imagem a ser vendida a respeito da cidade de João Pessoa: ela é uma das
cidades mais verdes do Brasil e, também, a "Porta do Sol", uma vez que nela está localizada a
Ponta do Seixas: o ponto mais oriental das Américas, o que faz a cidade ser conhecida como o lugar
"onde o sol nasce primeiro nas Américas".
Para quem conhece bem o que é viver em uma cidade grande, a imagem que se tem a
respeito da qualidade de vida é que não se assemelha à vida no interior. No entanto, mesmo para
aqueles que passam pouco tempo em João Pessoa, logo descobre que, em geral, ela foge aos

211
padrões de urbanidade de cidade como São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo Recife, esta a poucas
horas de distância. Mas, será que ao estarmos na Cidade de João Pessoa, permanecemos, também,
no interior de um grande centro?
Uma das linhas possíveis para respondermos ou compreendermos o fenômeno da qualidade
de vida da cidade de João Pessoa é nos debruçarmos sobre três fundamentos que bem caracterizam
as condições de sustentabilidade de um grande centro urbano:

 O econômico: a evolução econômica de João Pessoa, por exemplo, não foi


equivalente à Recife;
 O ambiental: por alguma razão histórica, João Pessoa conseguiu conservar parte de
sua Mata Atlântica;
 O social: os arranjos socioeconômicos de João Pessoa não alcançaram à pujança e
complexidade de capitais mais próximas, como Recife, Salvador ou mesmo Natal;
aliviando-a das possíveis pressões sociais ao seu legado patrimonial.

Um bom conhecedor da História de vida da cidade de João Pessoa sabe que muito do que ela
proporciona aos menos avisados foi fruto das opções administrativas que seus governantes foram
fazendo ao longo de seu processo de urbanização.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE JOÃO PESSOA

Em 1856 a área atual da Mata Atlântica (conhecida popularmente como a Mata do


Buraquinho), onde está inserido o Jardim Botânico de João Pessoa, era conhecida como Sítio
Jaguaricumbe. Este aparece, a primeira vez, no registro de terras possuídas, com os limites que iam
do litoral até o atual centro da cidade, chegando aos arredores da antiga Lagoa, onde fica hoje o
Parque Solon de Lucena (SEMARH, 2001).

O Sítio Jaguaricumbe, que confina de norte a sul pelas duas estradas dos macacos e
Jaguaribe, pelo nascente com o Rio Jaguaribe, e pelo poente com a rua do collegio
Principiano na antiga arrobação, onde houve um marco perto do lugar da forca,
d‘ahi para o norte até com outro marco defronte da torre do collegio e dahi a lagoa
[...] (MADRUGA, 2002, p. 6).

O fragmento anterior diz respeito a um dos documentos, relativas às origens da Mata do


Buraquinho, mais abrangentes que nos foram disponibilizados. Esse, contido de uma vertente
historicista, faz um resgate dos primórdios dessa reserva ambiental, começando desde o período
212
colonial até hoje; além de citar trechos originais dos documentos da época. Sua linha de construção
se centra na tese de que existe um equivoco histórico sobre o assunto:

Há um conceito hoje, errôneo, porém genérico de que a Mata do Buraquinho nos


limites entre a margem esquerda do Rio Jaguaribe e a rua D. Pedro II, é resultado
do Sítio Jaguaribe de Baixo, o que na realidade não representa a exatidão dessa
interpretação, pois, para dirimir essas dúvidas, necessário se torna que recorramos
ao renomado compilador de Sesmarias dos tempos coloniais [...] (MADRUGA,
2002, p. 1).

Pelas nossas leituras documentais foi possível visualizar uma linha evolutiva da Mata de
Buraquinho em que ficaram evidentes quatro acontecimentos marcantes ou marcos históricos que
deram vida à reserva atual: a fase colonial, o início do serviço de abastecimento de água da cidade,
o início da devastação da mata e a formação político-estrutural do jardim botânico.
Para Madruga (2002), da primeira fase (a colonial) destacam-se os seguintes marcos
históricos que compuseram o ambiente da Mata do Buraquinho da época: Rio Jaguaribe: este rio
começava ao SO da capital, no lugar de Alagoa Grande, tomava a direção NE e despejava, após 12
km, no mar da Praia do Bessa, formando a enseada do mesmo nome. Foi nessa região que
desembarcou o exército holandês em 4 de dezembro de 1634, depois de ter derrotado um pequeno
contingente local, para sitiar o forte de Santa Catarina; perto havia a estrada do Jaguaribe, hoje
conhecida como Rua Marechal Almeida Barreto.

Estrada dos Macacos: localizava-se a 3 km da capital e era regada pelo Rio Jaguaribe. De
seus mananciais foram edificados os primeiros poços de capitação e as primeiras usinas para
o abastecimento de água da capital. Dessa estrada surgiu a então Rua da Palmeira, a que
conhecemos hoje como Avenida D. Pedro II.

Capela de São Gonçalo: também era conhecida como Igreja da Conceição, assim como o
colégio, e a residência dos jesuítas, era formada por um conjunto arquitetônico seiscentista,
pois teve sua construção feita pelos jesuítas que vieram com Martim Leitão. Essa iniciada ao
mesmo tempo em que começou a fundação da cidade de João Pessoa. A Igreja da Conceição
foi demolida mais recentemente, no Governo de João Pessoa, sendo edificada no local uma
capela com idêntico orago, na Rua São Miguel.

213
Necessário se torna que se esclareça, já que o Cônego Florentino, faz referência ao
liceu, que o mesmo foi fundado e ali instalado no dia 24 de março de 1838, pela
Assembléia Provincial da Paraíba, de acordo com a lei nº 11. O Liceu Paraibano
funcionou inicialmente com as cadeiras de Latim, Francês, Retórica, Filosofia e
Matemática (MADRUGA, 2002, p. 7).

Rua do Collégio: atual rua Duque de Caxias, era dividida em três secções: primeiro a Rua
Direita – trecho entre o Campo Cel. Luiz Inácio (atual Largo de São Francisco) até o Beco
do Hospital (hoje Avenida Miguel Couto); segundo, Rua da Baixa – da Igreja da
Misericórdia à esquina do Caminho das Cacimbas (atual Avenida Guedes Pereira) e terceiro,
a Rua São Gonçalo ou do Collégio.

Casa da Pólvora: a cidade possuiu três casas das pólvoras e dos armamentos; delas, apenas
uma subsiste – a da ladeira de São Francisco, construída no alvorecer da era setecentista e
que, ultimamente, foi reestruturada; a mais antiga ficava na Rua Nova (avenida General
Osório); a outra ficava em um sítio que se chamava Passeio Geral, hoje Rodrigues Chaves
(essa arruinada por completo).

Alagoa: a antiga lagoa, hoje Parque Sólon de Lucena, a que os visitantes chamavam de
―Lagoa dos Irerês‖ em virtude do grande número de macacos que nadavam em suas águas,
formava um aprazível logradouro, conhecido como Alagoa:

Para ser mais fiel transcreveremos trechos de Sampaio onde melhor se faça
interpretar o ambiente e os fatos que o Prefeito Guedes Pereira transformou em
decoração principal do Parque Sólon de Lucena, deu nome à Chácara que o
comerciante português Vitorino Pereira Maia construiu ao lado oriental da velha
cidade de Paraíba (MADRUGA, 2002, p. 11-12).

Esses pontos principais são apenas alguns dos destaques que identificavam os arredores que
formavam o que se apresenta hoje como a Mata do Buraquinho. Na época em que foi concedida a
possessão das sesmarias, existia na área apenas o Sítio Jaguaricumbe, como confirmado a seguir:

O que nos encoraja a afirmar que o SITIO JAGUARICUMBE ou MATA DO


BURAQUINHO, tinha os seus limites pelo poente, vis à vis ao atual Palácio da
Redenção. E parte de seus domínios atingia, também, boa parte dos arredores do
Parque Sólon de Lucena, mais precisamente, onde atualmente se localiza o Cassino

214
da Lagoa até confluir-se com a atual Avenida Dom Pedro II (MADRUGA, 2002, p.
15-16).

A cidade da Parahyba (antigo nome da capital paraibana) já apresentava alguns progressos,


contava com ruas abertas e alargadas para dar passagem aos veículos e pessoal, luz instalada e o
sistema de transporte público sob tração animal, já fora substituído pelos meios elétricos, no
entanto, não existia ainda o sistema de água encanada e de saneamento básico.

[...] na cidade ainda se mantinha os hábitos de tomar banho de rio e retirar das
cacimbas a água para beber e preparar os alimentos. Adicionado a isso, era comum
a água usada correr a céu aberto, denunciando a igual necessidade de esgoto e
saneamento (CHAGAS, 2004, p. 12).

Em relação ao começo do serviço de abastecimento de água da cidade, o então governador


Valfredo Leal, nos anos de 1900, em face da terrível seca que assolou o Estado na época, mandou
iniciar os estudos para canalização de água utilizando os mananciais adquiridos pela empresa
inglesa aqui sediada, chamada Paraíba Water Company, que vinha, havia algum tempo,
desenvolvendo projeto nesse sentido. Esse empreendimento envolveu a compra, por cinco contos de
reis a Antonio Furtado da Mota, do Sítio Jaguaricumbe (SEMARH, 2001).
O empreendimento anterior atesta que de fato o Sítio Jaguaricumbe foi a atual Mata do
Buraquinho, uma vez que o Sítio Jaguaribe de Baixo ficava anexo àquela propriedade, descrita da
seguinte forma:

O Sítio Jaguaricumbe, cujas águas do seu riacho são captadas para o atual
abastecimento da capital, foi dado, em sesmaria, a Manuel Caetano Veloso e sua
esposa Sofia da Franca Veloso, tendo pertencido depois de 1856, a vários outros
até que em 1907 o seu dono, nesse tempo Antonio Furtado da Mota, vendeu-o à
Fazenda pública, por cinco contos de reis (MADRUGA, 2002, p. 15-16).

O início da execução desse projeto data de 17 de junho de 1909, com recurso próprio do
Estado, que passou a ser conhecido como os serviços de saneamento da Bacia do Jaguaricumbe,
uma vez que, até então, a cidade era desprovida, desde sua fundação, de serviço público de limpeza
e escoamento das águas que se acumulavam nos arredores em quase estado de estagnação, o que
representou a construção do primeiro poço de água da capital.

215
No dia 21 de abril de 1912, sob responsabilidade dos engenheiros Victor
Komenacker e Willian Game, entravam em funcionamento as duas caldeiras a
vapor, que vinham da área conhecida como Mangabeira, que acionam as duas
bombas Worthingon (LEMOS, 2005, p. 5).

A MATA QUE SE TORNOU URBANA

Na altura dos anos 90, o que existia de Mata Atlântica já tinha sido reduzido a 50% de sua
extensão. Essa sistemática redução da área de mata fez gerar, já na época, a percepção da
necessidade de se pensar em conservá-la, uma vez que já se viam algumas preocupações com os
limites para onde a cidade poderia se expandir, como visto a seguir:

No oficio de 30 de dezembro de 1923 ao Exmo Sr. Dr. Solon de Lucena, refiro-me


a necessidade de prontas e decisivas providências para que não prosseguisse a
extensão da cidade para a vertente do Jaguaribe, invadindo-se a zona de proteção
das águas subterrâneas (MADRUGA, 2002, p. 20).

Com o processo de expansão da cidade, no entanto, a Mata do Buraquinho foi sendo


ocupada por invasões e projetos de urbanização, ampliando-se a fase de devastação da reserva.
Bem conhecida Avenida João Machado de hoje, era chamada Travessa do Jaguaribe,
posteriormente do Bom Jesus, ia das Trincheiras até se confluir com a já citada estrada do
Jaguaribe, passava por onde é hoje a Rua Alberto de Brito, até a margem esquerda do Rio
Jaguaribe, região que em 1912, o então Governador Dr. João Lopes Machado, que cedeu seu nome
à rua em questão, abriu o manancial do Buraquinho, justamente para receber a tubulação do novo
sistema que conduzia água até onde se situa o prédio das voluntárias e a despejava numa caixa de
água confeccionada em chapas de aço.
Com o advento da Avenida João Machado e a implantação do abastecimento de água da
cidade, essa artéria passou a ter seus terrenos cobiçados por interesses diversos, entre os quais a
implantação de várias edificações públicas e privadas; corresponsáveis pela ocupação desordenada
da antiga Mata do Buraquinho e a diminuição de seu tamanho para as atuais medidas. Ao longo da
João Machado foram sendo construídas históricas edificações que deram forma aos primeiros
contornos urbanos da cidade, entre as quais:
Colônia Juliano Moreira: foi o primeiro prédio a ser instalado na área. Especialistas
escolhidos pelo então Governador Solon de Lucena, em 1924, foram ao Rio de Janeiro e a São
Paulo estudar o problema da assistência a alienados para, na Paraíba, orientar técnicos na

216
construção do atual hospital-Colônia. Este ficou localizado no espaço que ia da D. Pedro II até a
Rua 12 de Outubro.

Escola de aprendiz marinheiro: onde se localiza o prédio do Bom Pastor; funcionou durante
muitos anos esta escola. O então governo doou um vasto terreno situado na Avenida João
Machado onde passou a funcionar a escola que, depois de vários anos de funcionamento,
teve suas atividades encerradas:

A Parahyba, que fora o berço nascedouro, da revolução de 1930, recebeu um golpe


tremendo, com o encerramento das atividades da Escola de Aprendiz de
Marinheiro. Funcionando, há anos, na Avenida João Machadado, foi transformada,
muitos anos depois, no Presídio Feminino Bom Pastor. Tinha também seus
domínios da Avenida João Machado a Rua 12 de Outubro (MADRUGA, 2002, p.
23).

Maternidade Cândida Vargas: também se inclui neste rol de construções de grande porte, foi
ela concebida na Gestão do interventor Ruy Carneiro, no ano de 1943.

Hospital e Casa de Saúde São Vicente de Paula: em 1912, sob a orientação do Dr. Walfredo
Guedes Pereira, recebeu uma faixa de mata do Estado para, após devastá-la, construir esse,
hoje, conhecido hospital.

Com essa mesma linha de ocupação da Mata do Buraquinho levantou-se a construção da


Companhia de Desenvolvimento da Paraíba (CINEP); na área, eram inúmeras as fruteiras de grande
porte, que foram derrubadas para dar lugar ao prédio da administração daquele órgão. O mesmo
ocorrendo com a área externa da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (CAGEPA Central). A
devastação da mata para a construção de vários órgãos públicos sempre foi avante, com a
justificativa da chegada do progresso.

Este foi o segundo grande golpe sofrido pela exuberante Mata Atlântica. O
primeiro foi quando da declaração das sesmarias, até a venda definitiva para os
domínios do Estado, já estava resumida em uns 50% mais ou menos.
(MADRUGA, 2002, p. 24) (grifo nosso).

217
Em 13 de outubro de 1955 foi passada a Escritura Pública de doação de terra extensiva ao
Buraquinho, feita pelo Estado da Paraíba à Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF),
como identifica o termo seguinte:

Que a Lei Estadual n º 1267, de 15 de setembro de 1955, adiante transcrito,


autorizou o outorgante doar, como de fato doado tem, por bem desta escritura à
outorgada, uma área de terreno medindo dez mil (10.000) metros quadrados, a ser
desmembrada da propriedade descrita na cláusula anterior, área esta, cujo
perímetro se inicia por um marco de cimento, situado ao lado direta da Avenida D.
Pedro II […] (MADRUGA, 2002, p. 29).

Uma das primeiras tentativas de formulação de um jardim remete ao ano de 1951, no


Governo de José Américo de Almeida, em que foi executado o Acordo Florestal da Paraíba entre o
Serviço Florestal e o Governo da Paraíba, em que estava prevista a criação do Jardim Botânico, cuja
finalidade era a produção de mudas e essências florestais. A inauguração ocorreu apenas em 1953.
Em 1957, o Estado doou, à União, 166 hectares da área da Mata do Buraquinho para a implantação
de um horto florestal. (SEMARH, 2001)

A partir da década de 1940, o sistema de abastecimento de água através de poços


foi sendo gradativamente extinto. Assim, foram elaboradas novas propostas de
"aproveitamento" e exploração da Mata do Buraquinho, como a tentativa de
criação de um Jardim Botânico e hortos florestais. Tais projetos nunca foram
implementados completamente (OLIVEIRA e MELO, 2009, p. 119).

Outro marco importante desse processo evolutivo de formação do jardim diz respeito à
construção do Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na década de 70 a mata tinha
sido reduzida a 565 hectares, além do mais ainda foi desmembrada para a construção desse
conhecido órgão federal.
Um dos primeiros processos de agregação formal da área aconteceu com o Decreto Federal
nº 98.181, em 1989, em que 471 hectares desse espaço foram declarados Área de Preservação
Permanente (APP), ficando sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Assim como, também, ficaram sob a jurisdição da
Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) outros 305 hectares.

218
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aliada a todo esse processo de redução física da Mata Atlântica, desde os anos 90, a reserva,
também, tem passado pelos processos de antropia urbana, fato comum às grandes cidades que ainda
possuem alguma reserva ambiental. Já hoje, a região passa por forte influência de agentes
econômicos especulativos que visam à construção de vastos empreendimentos ao redor da mata,
além das antigas invasões e ocupações de terras feitas por comunidade de diversas origens, em
busca de moradia improvisada ao seu redor.
Ao mesmo tempo em que aconteciam os desmatamentos citados, houve vários ambientais e
iniciativas organizacionais para que fosse criado, formalmente, um jardim botânico dentro da Mata
do Buraquinho, principalmente, para que esse meio ambiente passasse a exercer sua função social.
Fato este que teve diversos momentos de tensões e de esperança por parte daqueles que,
sistematicamente, defenderam a preservação e a criação de uma política de gestão sustentável para
esse espaço ambiental privilegiado, podemos citar, por exemplo, a APAN (Associação Paraibana
dos Amigos da Natureza), com especial destaque à pessoa do conhecido e renomado botânico da
Paraíba, que teve seu nome sempre ligado à defesa dessa reserva ambiental, Lauro Pires Xavier.
Uma ida até ao Jardim Botânico de João Pessoa, um dos atrativos turístico da cidade, é
possível constatar que o pouco do que restou da exuberante Mata Atlântica original vive hoje mal
cercada nesse espaço de conservação.
A real ou aparente qualidade de vida oferecida pela Cidade de João Pessoa e normalmente
percebida pelos visitantes tem, necessariamente, uma relação intrínseca com o quanto de espaço
verde que ainda se conserva em meio à dinâmica urbana da capital do Estado da Paraíba. No caso
de João Pessoa, muito do discurso sobre o estado de conservação de seu meio ambiente, nem
sempre, é reflito no cotidiano mais duradouro da administração de suas reservas ambientais, com
destaque para a Mata do Buraquinho onde se encontra o Jardim Botânico de João Pessoa, referência
turística da cidade.

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décadas de 1910 a 1930. 2004. 218f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de
Pernambuco, Recife.

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2001. Disponível em: < http://www.pucsp.br/pos/ecopol /downloads/edicoes
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Maranhão (João Pessoa - PB) como recurso para interpretação ambiental. Caderno virtual de
turismo, v. 9, n.2, p. 113-125, 2009.

SEMAM - Secretaria Municipal de Meio Ambiente Diagnóstico geoambiental rápido da área de


baixo curso do rio Jaguaribe: trecho localizado no limite territorial dos municípios de João Pessoa e
Cabedelo PB. João Pessoa, 2009.

220
PERCEPÇÃO E VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL DA PRAÇA DO FERREIRA,
FORTALEZA – CE
Juliana Barbosa do NASCIMENTO
Universidade Federal do Ceará
E-mail: ambientais.juliana@gmail.com
Graduação em Ciências Ambientais

Dafne Torelly PEREIRA


Universidade Federal do Ceará
E-mail: dafne.torelly@gmail.com
Graduação em Ciências Ambientais

Sara de Oliveira LIMA


Universidade Federal do Ceará
E-mail: sara_hias@hotmail.com
Graduação em Ciências Ambientais

Kamila Vieira de MENDONÇA


Universidade Federal do Ceará
E-mail: kamilavm@terra.com.br
Professora Labomar - UFC
Doutoranda em Economia – CAEN – UFC

Resumo

O presente trabalho constitui uma aplicação da percepção ambiental e valoração econômica,


visando estimar o valor ambiental e monetário da Praça do Ferreira, localizada em Fortaleza-Ceará,
considerada Marco Histórico e Patrimonial, sendo referência para o público, além do comércio
influente que existe no local e dos importantes fatos históricos e políticos que marcaram a Praça na
história da cidade. Por meio da percepção ambiental pode-se observar a necessidade de desenvolver
perante o público, conceitos acerca do meio natural de forma a envolver os diversos elementos que
cercam a Praça, como cultura, história, lazer, comércio, estética, entre outros, pois essa interação
fortalece a conscientização ambiental e estimula a conservação do bem natural. Baseado nos
benefícios que a Praça gera para seus frequentadores, estimou-se a disposição a pagar dos
indivíduos pela melhoria e posterior conservação do local, por meio do Método de Valoração
Contingente (MVC). Dado um número total de visitantes diários no Centro da cidade de 300 mil
pessoas, tem-se uma disposição a pagar estimada em R$ 3.025.239,00. Unir os conceitos de

221
percepção ambiental e valoração econômica são fundamentais para o desenvolvimento saudável de
ambientes aliados ao meio natural, como as praças, conscientizando para o zelo por parte de todos e
incentivando para que iniciativas públicas venham a ser aplicadas de forma a priorizar a
conservação desses ambientes.

Palavras-Chave: Praça do Ferreira. Valoração econômica ambiental. Percepção ambiental.

Abstract

The present study represents an application of economic valuation and environmental perception, to
estimate the monetary value of environmental and Ferreira Square, located in Fortaleza, Ceará,
considered Historic Landmark and Heritage, with reference to the public, and influential trade that
exists in local and important historical and political facts that marked the Square in the city's
history. Through environmental perception can observe the need to develop before the public,
concepts about the natural environment in order to involve the various elements surrounding the
Square, as culture, history, leisure, commerce, aesthetics, among others, for this interaction
strengthens environmental awareness and encourages the conservation of natural good. Based on
the Square generates benefits for its patrons, estimated the willingness to pay of individuals for the
improvement and conservation of the site later, through the Contingent Valuation Method (CVM).
Given a total number of daily visitors center in the city of 300,000 people, has a willingness to pay
an estimated R $ 3,025,239.00. Joining the concepts of environmental awareness and economic
valuation are critical to the healthy development environments coupled with the natural
environment, such as squares, zeal for acquiring knowledge by all and to encourage public
initiatives that will be implemented to prioritize conservation these environments.

Keywords: Ferreira Square. Environmental economic valuation. Environmental perception.

1. INTRODUÇÃO

Teve o nome de Feira-Nova, Pedro II e Praça da Municipalidade para finalmente em 1871 ser
nomeada de Praça do Ferreira. A Praça está localizada no bairro Centro da cidade de Fortaleza
ocupando uma área de 7.603 m2, situada entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo e as
travessas Pará e Pedro Borges. Em 1843, na gestão do Presidente da Câmara Antônio Rodrigues
Ferreira, mais conhecido como Boticário Ferreira (1843-1859), foi instituído oficialmente o espaço
como uma praça e esta veio a ser um marco na história da cidade (SILVA, 2006).

222
Segundo PONTES (2005), o Centro da cidade polarizava a maioria das atividades, sendo a
Praça do Ferreira o coração pulsante, por onde transitavam as pessoas e para onde convergia a
sociabilidade da população. Ali se concentravam o comércio, os cinemas, os cafés e o burburinho
da cidade. A Praça do Ferreira ao longo dos anos passou por uma série de transformações, desde o
final do século XIX até a metade do século XX, onde se aglutinaram grandes empreendimentos e
grandes eventos da sociedade e da cultura fortalezense provocando o desenvolvimento do local.
Desde 2001, após pesquisa popular, a Praça do Ferreira foi oficialmente declarada Marco Histórico
e Patrimonial de Fortaleza pela Lei Municipal 8.605 de 20 de dezembro de 2001.
Segundo SILVA (2006), a cidade foi se modernizando devido às influências estrangeiras e
com isso, novos espaços foram surgindo, como os cafés. Em um deles, o Café Java, o primeiro a ser
construído e o predileto da maioria dos intelectuais, foi marcado o nascimento do movimento
literário mais importante da capital, idealizado por Antônio Sales, a Padaria Espiritual (1892-1898).
No decorrer dos anos, a Praça Passou por reformas e aformoseamentos realizados por nomes
como Guilherme Rocha, Godofredo Maciel, Raimundo Girão, Acrísio da Rocha, Juraci Magalhães,
dentre outros, que influenciaram bastante na Praça por meio da construção de espaços, jardins,
coretos e monumentos, destacando a coluna da hora, inaugurada aos fins do ano de 1933 e início de
1934 e considerada símbolo marcante e representante da Praça. A instalação do relógio era uma
forma de garantir a ―coordenação das atividades urbanas‖ dos citadinos. Nenhum outro espaço
público detinha tanto prestígio, agregando no seu entorno a partida de várias linhas de bondes e os
principais cinemas, restaurantes, lojas de moda e casas comerciais. As mais importantes
manifestações culturais e políticas da cidade tinham naquele logradouro seu foco irradiador.
(SILVA FILHO, 2004, p. 81).
Durante o século XX a sociedade já não se reunia apenas em cafés, restaurantes, confeitarias e
demais estabelecimentos do gênero. Os bancos das praças também eram pontos de reuniões de
pessoas representativas dos setores econômico, político e cultural. Segundo os cronistas da época
que retrataram o assunto, reunir-se em torno dos bancos no Centro de Fortaleza tornou-se um hábito
(SILVA, 2006). Importante ressaltar que durante as reformas que a Praça passou, por muitas vezes
houve o descontentamento do público que aos poucos passou a desaparecer do local.
O Hotel Excelsior, considerado o primeiro ―arranha-céu‖ da cidade, o cinema São Luiz, o
abrigo central e o prédio da Farmácia Oswaldo Cruz, fundado em 1934, foram construções que se
destacaram. O único destes que ainda mantêm as suas atividades é a farmácia Oswaldo Cruz que foi
a primeira farmácia de manipulação da cidade, considerado o mais antigo estabelecimento do
entorno da Praça do Ferreira e embora tenha essa importância, nos últimos anos vêm enfrentado
riscos de fechamento.

223
Nos dias atuais vem sendo utilizada como local para eventos culturais e variadas campanhas e
ainda é o local preferencial para manifestações políticas (SILVA, 2006). Importante ressaltar que
outras formas de uso também acontecem, como exemplo, o uso para aqueles que trabalham
informalmente e repouso daqueles que circulam pelo Centro.
O presente artigo avalia a importância da Praça por meio da percepção ambiental e também
estima um valor de mercado para a Praça do Ferreira utilizando o Método de Valoração
Contingente (MVC), pois se faz necessária a análise dos dados perceptivos que auxiliam no
estabelecimento de relações harmoniosas do indivíduo com o ambiente, assim como, saber quanto
vale esse espaço de valor econômico, estético, histórico, social e cultural. Sendo assim, a
caracterização socioeconômica dos visitantes da Praça do Ferreira contribui com informações
importantes para definir o contexto em que se encontra o bem ambiental, de forma que se possam
estabelecer os atores e compreender as suas relações com o ambiente.
O objetivo da percepção ambiental é o entendimento sobre as ações, as necessidades e os
desejos dos indivíduos com respeito ao ambiente da Praça. Em seguida, ao organizar e analisar os
principais aspectos influenciadores no uso dela é possível discernir os aspectos que agradam e
desagradam os frequentadores.
Com relação à valoração, um dos objetivos de seus métodos é estimar os valores econômicos
de um bem ambiental (bem público), para mensurar as preferências dos indivíduos sobre as
alterações em tal ambiente. Esse resultado é útil para o processo de tomada de decisão, necessária
para a elaboração de prioridades para políticas públicas, como conservação e/ou preservação, além
de servir como parâmetro para a determinação do valor de taxas ou multas por danos ambientais.
O valor do recurso ambiental será definido por uma função de seus atributos relacionados à
existência do recurso, configurando os valores de não uso, além dos valores de uso (MERICO,
1996). Segundo MOTTA (2006), o Método de Valoração Contingente é o único capaz de captar
valores de existência de bens e serviços ambientais, daí a escolha deste método para a valoração
ambiental do presente estudo.

2. PERCEPÇÃO AMBIENTAL

O estudo sobre a percepção ambiental é um meio de compreender como os sujeitos da


sociedade adquirem seus conceitos e valores, bem como, como compreendem suas ações e se
sensibilizam com a crise socioambiental. A Educação ambiental tendo conhecimento dos valores e
ações que os sujeitos possuem frente ao meio ambiente será capaz de elaborar propostas que
venham a atingir grande parte da sociedade, visando provocar mudanças mais efetiva que
contribuam para a sustentabilidade socioambiental.

224
Segundo Rapoport (1978), citado por Oliveira e Corona (2008), para analisar as interações
existentes entre os seres humanos e o meio é necessário que três áreas sejam conhecidas e são elas:
a cognição (processos de perceber, conhecer e pensar); afetividade (que está relacionada aos
sentimentos, sensações e emoções) e a conexão entre a ação humana sobre o meio, como resposta a
cognição e afetividade. Ainda de acordo com os autores, existem várias formas de se apreender o
ambiente, e isso cada indivíduo o faz de forma particular e depois ocorre um consenso coletivo
sobre a qualidade desse ambiente relacionado com o meio natural e o espaço construído.
Muito se tem falado acerca de meio ambiente, sustentabilidade e preservação ambiental. A
necessidade de um meio saudável, como as praças, para o usufruto dos indivíduos é um direito de
todos, mas para que isso aconteça é preciso que ações sejam efetivadas. Frente ao rumo que a
sociedade tem tomado perante aos aspectos ambientais Devall (2001) e Novo (2002), citados por
Hoeffel et. al. (2008), afirmam que estes novos rumos têm conduzido ao que se é conhecido como
―crise ambiental‖, e segundo os autores isso tem estimulado o questionamento dos valores da
sociedade contemporânea, e, além disso, uma reorientação dos modos da sociedade se relacionar
com a natureza.
As sociedades modernas chegaram a um ponto em que são obrigadas a refletir sobre si
mesmas e, ao mesmo tempo, desenvolvem a capacidade de refletir retrospectivamente dessa
maneira. Há estímulo para uma nova percepção ambiental, que se sente obrigada a refletir sua
situação e seu desenvolvimento, tendo agora uma missão de formular questões do presente e do
futuro (OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P, 2008).
O conceito de percepção ambiental, segundo Faggionato (2012), consiste em uma tomada de
consciência do ambiente pelo indivíduo, isto é, perceber o ambiente no qual está inserido,
aprendendo a proteger e cuidar. Porém, cada indivíduo percebe de forma diferente, desta forma, o
estudo da percepção ambiental torna-se importante para que seja possível compreender as inter-
relações entre o homem e o meio ambiente. O reconhecimento de distintas percepções sobre o meio
ambiente, estruturadas a partir de diferentes referenciais, torna-se relevante para a elaboração e
aplicação de diagnósticos, planejamentos, projetos e programas de educação ambiental, que venham
colaborar na resolução de conflitos e problemas ambientais, estimulando a participação dos diversos
atores sociais por uma melhor qualidade de vida e pela justiça social (HOEFFEL e FADINI, 2007).
A percepção ambiental pode ser utilizada para avaliar a importância de determinada região,
como o caso da Praça do Ferreira em Fortaleza. A análise dos dados perceptivos permite destacar a
relevância da referida praça, evidenciando o destaque dos órgãos públicos encarregados da
manutenção e preservação da mesma por meio da gestão ambiental que, segundo Albuquerque
(2009), as vantagens da gestão ambiental decorrem de regras e práticas administrativas

225
preestabelecidas. Além disso, podem ser estabelecidas relações do indivíduo com o ambiente pela
formação de laços afetivos.
O processo de gestão ambiental é um processo contínuo de análise composto por decisão,
controle e avaliação de resultados com o objetivo de formulação e implementação de políticas
(MORANDI, GIL, 1999 apud BOLDRIN, 2012). Desta forma, a correta administração dos
recursos, além da consciência em preservar o bem ambiental são fatores importantes a serem
considerados pelos gestores públicos.

3. VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL

Valorar a natureza constitui uma importante ferramenta de análise de projetos e de


organização de políticas públicas de acordo com os preceitos do desenvolvimento sustentável28. Na
falta de um sistema de valores que possibilite ao gestor o conhecimento das preferências da
sociedade, torna-se difícil tomar decisões.
A partir do conhecimento dos preços dos bens e serviços ambientais, é possível a
formulação de leis mais eficientes, bem como de um sistema de multas, controle, taxações,
cobrança pelo uso, entre outros, que reflitam os desejos da população. Esse conhecimento também é
útil para impedir a exploração abusiva dos recursos naturais por meio da instituição do princípio
―poluidor-pagador‖ 29 (ALBUQUERQUE, 2009). Sendo assim, as instituições públicas têm o dever
de evitar que o lucro privado se sobreponha ao interesse coletivo e que as falhas de mercado
comprometam o ótimo social.
O valor econômico relacionado ao ambiente natural é dado pelo valor de uso e valor
intrínseco (valor de não uso). O valor de uso origina-se do uso que se faz do bem ambiental, como a
extração de recursos ou a observação de pássaros. O valor intrínseco abrange os valores do bem
sem interesse de uso por parte dos seres humanos, como uma determinada espécie da planta ou
inseto (MERICO, 1996).
Assim, o valor econômico total (VET) de um bem consiste em seu valor de uso (VU) e valor
de não uso (VNU). O valor de uso ainda pode ser subdividido em valor de uso direto (VUD), valor
de uso indireto (VUI) e valor de opção ou de uso potencial (VO). O valor de não uso pode ser
representado pelo valor de existência (VE).
O valor de uso direto é aquele atribuído pelo consumo direto do bem ou serviço ambiental,
enquanto o valor de uso indireto é aquele decorrente de funções indiretas, tais como funções

28
―... o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a
possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades‖ (WORLD COMMISSION ON
ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987).
29
Segundo o princípio do poluidor-pagador, aquele que gera a poluição (produtor ou consumidor) deve pagar pelos
danos, em vez de deixar que toda a sociedade pague por isso (MORAES, 2009).
226
ecossistêmicas (contenção de erosão e reprodução de espécies pela conservação de florestas, por
exemplo).
O valor de opção é o valor que o indivíduo atribui em preservar recursos que podem estar
ameaçados, para usos direto e indireto no futuro. Por sua vez, o valor de existência (ou de não uso),
não está associado ao uso, porém reflete questões morais, culturais, éticas ou altruísticas, como o
desejo de que as espécies sejam preservadas, de que as florestas não sejam destruídas, entre outros.
No que se refere ao ambiente natural, não existe uma medida comum de valor, mediante a
qual se possa classificar, apenas de uma forma, os bens avaliados. Várias técnicas podem ser
utilizadas para quantificar os conceitos de valor citados, dependendo dos propósitos dos autores.
Sendo assim, os métodos de valoração podem ser classificados em métodos diretos e indiretos.
Os métodos de valoração direta estão relacionados aos preços de mercado ou produtividade,
enquanto que os métodos indiretos são empregados quando o recurso ambiental não pode ser
valorado diretamente pelo comportamento do mercado. Nesse caso, uma das opções consiste em se
construírem mercados hipotéticos, questionando-se diretamente a uma amostra de pessoas quanto
elas estariam dispostas a pagar pelo recurso, ou pela preservação do bem ambiental.
Os principais métodos de valoração que foram desenvolvidos nas últimas décadas com o
objetivo de obter os preços dos bens e serviços ambientais são os seguintes: produtividade marginal,
mercado de bens substitutos, custo de oportunidade, preços hedônicos, custo de viagem, custo de
reposição e valoração contingente.
Os métodos de valoração ambiental precisam ser interpretados com cautela, pois,
geralmente, os valores encontrados são subestimados devido ao comportamento estratégico dos
indivíduos que procuram assegurar ganhos com suas respostas. Os vários tipos de metodologia
possuem limitações e restrições de aplicabilidade, além de serem onerosos e demorados. Dessa
forma, recomenda-se que, sempre que possível, seja aplicado mais de um método para a mesma
avaliação, de forma a se compararem os resultados obtidos.

4. METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho foi utilizado o Método de Valoração Contingente, que
consiste em estimar os valores de uso e não uso de bens públicos para os quais não existe mercado.
Esse método é utilizado para elementos da natureza, áreas de proteção, áreas de lazer, patrimônio
paisagístico, entre outros, nos quais não existam valores de mercado.
Para isso, são aplicados questionários a uma amostra da população a fim de elucidar a
percepção ambiental dos frequentadores da praça e o quanto os respondentes estão dispostos a pagar
(DAP – disposição a pagar) para fazer uso de determinado bem, ou o quanto eles estão dispostos a
receber (DAR – disposição a receber) como compensação para aceitar uma alteração na provisão do
227
bem em questão. Com isso, pretende-se que as pessoas revelem as suas preferências pelo bem
público ou ambiental. Nesse sentido, o método será tanto mais preciso quanto mais próximo do real
for o mercado hipotético criado, que é simulado por intermédio de pesquisas de campo.
O cálculo e a estimação dos benefícios dependem da forma de obtenção do valor. Para
lances livres ou open-ended é gerada uma variável contínua de lances, com isso, o valor da DAP ou
DAR é estimado diretamente por técnicas estatísticas. Por meio da média ou mediana das DAP‘s ou
DAR‘s, multiplicada pelo total da população, tem-se o valor econômico total do recurso ambiental
(MOTTA, 2006).
Apesar de esse método ser bastante utilizado para atribuir valores aos recursos naturais,
existem alguns problemas de mensuração associados ao seu uso, porém isso não quer dizer que os
resultados alcançados pelo MVC não serão confiáveis ou não poderão ser usados. Em muitas
ocasiões, essa é a única forma disponível para estimar valores de recursos ambientais. Além disso, a
metodologia de valoração contingente veio ganhando mais adeptos à medida que novos estudos a
utilizaram e, por sua vez, aprimoraram a técnica, fornecendo assim, base para validação dos
resultados.
Para o estudo, foram aplicados questionários pilotos em dezembro de 2011 com 30
indivíduos, de modo a testar a confiabilidade das questões. Depois de revistos, foram aplicados
novamente e, então, se determinou o tamanho da amostra com número mínimo de 267 elementos.
Esse valor foi obtido considerando-se um erro amostral de 6% e a população estimada que visita o
Centro da cidade diariamente, de 300.000 pessoas (ASCEFORT, 2012). Foram aplicados 281
questionários contendo, cada um, quinze questões que objetivam a coleta de variáveis
socioeconômicas e ambientais dos indivíduos amostrados, bem como de opiniões pessoais sobre a
disposição a pagar. A aplicação dos questionários foi dividida entre todos os membros da equipe
executora do trabalho, e ocorreu entre os meses de junho e julho (de 26/06/12 a 03/07/12) em
diversos horários, no período da manhã e da tarde, sendo a maior parte realizada de forma direta na
própria Praça do Ferreira30.
A percepção ambiental relata como os pracianos reconhecem o ambiente em que a praça está
inserida e que tipos de relações mantêm com ela, já o valor econômico da Praça, dado pelo valor de
opção, é a quantia que os consumidores estão dispostos a pagar por bens e serviços ambientais para
usos direto e indireto a serem apropriados no futuro.
De acordo com Motta (2006), a estimativa do valor de opção (DAPT), realizada por meio da
forma aberta de eliciação, pode ser obtida multiplicando-se a disposição a pagar média pela
população encontrada na área no período da pesquisa. Essa proporção é calculada com base na

30
O período da noite foi descartado para o estudo devido aos riscos oferecidos à segurança dos pesquisadores.
228
porcentagem de entrevistados dispostos a pagar uma quantia dentro do intervalo correspondente à
disposição a pagar média.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da distribuição da amostra verificou-se que com relação às características


socioeconômicas dos 281 entrevistados, a participação dos homens (52,3%) é superior a das
mulheres no total da amostra. A maior parte das pessoas é casada, têm filhos (em média, dois
filhos), possuem situação ocupacional no trabalho formal, com renda entre um e três salários
mínimos, têm ensino médio completo (33,8%) e têm idade média de 40 anos.
Para analisar as percepções dos indivíduos sobre a Praça perguntou-se aos entrevistados a
frequência de visitas ao local do estudo. A maior frequência ocorre mensalmente (33,5%) seguida
de semanalmente (31%).
Quanto às questões de uso da Praça do Ferreira, foram apresentadas ao público cinco
opções: lazer, passagem, trabalho, ponto de encontro e outros. Ao ser perguntado sobre a utilização
da Praça a maior parte dos entrevistados respondeu que apenas passam pela Praça (47%), seguido
pela utilização para lazer (32%) e ponto de encontro (12,8%). Com esses resultados é possível
verificar que as pessoas que responderam aos questionários não possuem um vínculo vitalício, pois
se acredita que as oportunidades e experiências realizadas em contato com o bem ambiental,
favorecem e estimulam sentimentos para com a natureza.
No período da tarde o número de frequentadores é maior devido ao clima proporcionado
pela arborização do local, tornando o ambiente da Praça ideal para o lazer. O aspecto em questão
refere-se: às leituras principalmente de jornal e revistas devido às bancas existentes na área, também
às ―rodas de conversa‖ onde o público se encontra para debater os mais variados tipos de assuntos,
aos eventos que concentram um grande número de indivíduos na Praça e ao momento de descanso
para aqueles que desempenham, seja rotineiramente ou não, suas atividades no Centro da cidade.
Importante ressaltar que os diferentes usos não acontecem exclusivamente separados uns dos
outros.
A grande maioria das pessoas (98,6%) considera que a Praça é importante para a cidade com
nota máxima (5) em 40,9% dos entrevistados. Também foi indagado aos entrevistados que nota eles
dariam, de um a cinco, onde um representa um cenário ruim e cinco um cenário bom, nos aspectos
relacionados à limpeza, infraestrutura, segurança, manutenção, eventos e comércio. A nota com
maior frequência para a limpeza da Praça foi três o que demonstra o descontentamento dos
cidadãos. Para manter um ambiente de qualidade, a presença de latas de lixo, já influenciam no
comportamento humano e por sua vez, na percepção.
229
Para a infraestrutura da Praça, a nota mais frequente também foi três (32,7%). Com relação à
segurança, 26,7% das pessoas deram nota três e 26,3% nota um, revelando neste quesito, elevada
deficiência e a demanda por segurança. Segundo alguns dos entrevistados, os mesmos não
frequentam a Praça por mais vezes devido à falta de segurança, principalmente no período da noite.
Com isso, a possibilidade de vivenciar a experiência do contato com a natureza torna-se cada vez
mais distante, pondo de lado as simples emoções do dia-a-dia, como sentar-se no banco da praça.
A manutenção da Praça também recebeu nota três com maior frequência (32,4%), seguida
da nota dois (23,8%) e um (14,9%). Para arborização a nota mais frequente foi quatro,
demonstrando a satisfação dos entrevistados. Quanto aos eventos que ocorrem na Praça, como
shows, feiras, serviços de utilidade pública, entre outros, a nota cinco obteve o maior percentual
(48%) e para o comércio, 60,9% das pessoas estão muito satisfeitas.
Para verificar a opinião do cidadão em relação ao papel dos órgãos governamentais
questionou-se a respeito do responsável pela conservação da Praça e a maioria das pessoas (64,4%)
responderam que cabe a todos, prefeitura, comerciantes do local e frequentadores.
Com relação ao grau de interesse das pessoas em temas relacionados ao meio ambiente,
56,6% têm muito interesse pelo tema. Ao realizar uma análise bivariada entre idade e grau de
interesse pelo meio ambiente, os indivíduos com idade acima de 41 anos têm maior interesse em
preservar o meio ambiente, seguidos das pessoas entre 21 e 40 anos. Este resultado evidencia a
necessidade de ações voltadas para educação e conscientização ambiental entre os mais jovens (até
20 anos).
Com relação à disposição a pagar pela Praça do Ferreira, dos entrevistados, 44,8% não têm
disposição a pagar pela melhoria e posterior conservação da Praça o que já era esperado devido ao
formato do questionamento sobre a DAP (formato aberto), em que o entrevistado foi apresentado a
uma situação nova e provavelmente teve dificuldades para atribuir um valor sem qualquer tipo de
assistência.
De acordo com os dados da pesquisa, a estimativa do valor de opção da Praça do Ferreira
está em torno de R$ 3.025.239,00 por mês. Esse valor pode estar relacionado com o valor de uso, já
que o questionário foi aplicado em indivíduos que efetivamente usufruem do recurso.

6. CONCLUSÃO

O ambiente da Praça do Ferreira é considerado aconchegante, servindo de refúgio para os


passantes e área de descanso para quem exerce alguma atividade nos arredores. Mesmo que a
maioria a utilize só de passagem e usufrua dela casualmente, existem grupos de frequentadores
assíduos que a utilizam como forma de socialização. De acordo com a percepção ambiental dos
frequentadores, pode-se notar que manutenção, infraestrutura, limpeza e segurança obtiveram nota
230
baixa, denotando a necessidade de que haja maiores investimentos governamentais e conservação
desse espaço, embora tenhamos um público consciente em conservar o ambiente da Praça.

Os pracianos percebem que embora a praça seja de grande estima e importância na cidade,
ainda necessita de maiores cuidados para que esse local continue um espaço útil em meio ao centro
de Fortaleza e assim não venha a se deteriorar causando o abandono por parte dos frequentadores.
Conservar ambientes como a Praça do Ferreira, estimula a conservação de outras praças da cidade e
demonstra o interesse da população perante aos órgãos públicos responsáveis por essas áreas. Por
meio da percepção ambiental o público adquire uma nova concepção de meio natural, pois aprende
que a sociedade pode usufruir do ambiente desde que não lhe cause danos, pois estes direta ou
indiretamente chegam a afetar a todos.
O valor econômico estimado para a Praça do Ferreira foi de R$ 3.025.239,00 por mês. Dada à
forma de eliciação (questão aberta), o resultado estimado pelo método de valoração contingente
pode ser tendencioso, pois o comportamento do indivíduo diante da pergunta aberta e direta pode ir
além de sua real disposição a pagar pelo bem ambiental. É comum a superestimação ou
subestimação no processo de avaliação devido a fatores como: descrença de que a DAP corresponda
a pagamentos reais, comportamento oportunista e sentimento de generosidade às causas
ambientais/culturais.
O valor encontrado – mais de três milhões de reais, por mês – mostrou-se bastante
significativo e juntamente com a percepção dos frequentadores converge para que haja maiores
investimentos públicos na Praça do Ferreira contribuindo para a sua melhoria e posterior
preservação. Trabalhos como esse são imprescindíveis para o zelo deste bem público e também para
que possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, possibilitando o
desenvolvimento de programas de educação ambiental dirigidos aos problemas do ambiente urbano
no Município de Fortaleza, caso estes venham a ser executados.

7. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a colaboração dos estudantes de graduação Ícaro Silva, Lívia Dias e Ilana Araújo pelo
esforço e dedicação na execução desse estudo.

8. REFERÊNCIAS

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aplicações. São Paulo: Atlas, 2009.

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231
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sustentável: um estudo de caso da destilaria pioneiros S.A. Estudo de Caso Gestão Socioambiental.
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<http://www.ead.fea.usp.br/semead/7semead/paginas/artigos%20recebidos/Socioambiental/SA14_
Gestao_ambiental_economia_sustent%E1vel.pdf>. Acesso em: 11 de julho 2012.

FAGGIONATO, S. Percepção Ambiental. <http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html>.


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MMA, Departamento de Educação Ambiental. v. 2, 2007.

______; SORRENTINO, M.; MACHADO, M. K. Concepções sobre a natureza e sustentabilidade


um estudo sobre percepção ambiental na bacia hidrográfica do Rio Atibainha – Nazaré
Paulista/SP. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT10/luis_hoffel.pdf> Acesso em: 22 de
julho 2008.

MERICO, L. F. K. Introdução à economia ecológica. Blumenau: Editora da Furb, 1996. 159p.


(Coleção Sociedade e ambiente, 1).

MORAES, O. J. Economia ambiental: instrumentos econômicos para o desenvolvimento


sustentável. São Paulo: Centauro, 2009.

MOTTA, R. S. Economia ambiental. Editora FGV. Rio de Janeiro, 2006. 228p.

OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P. A percepção ambiental como ferramenta de propostas


educativas e de políticas ambientais. Revista Científica ANAP Brasil. Ano 1, n. 1, p. 53-72, julho
2008.

PONTES, Albertina Mirtes de Freitas. A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na


Fortaleza de 1950-1970. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005.

SILVA, Elizete Américo. As praças do ferreira, José de Alencar e o passeio público. 2006.
Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

SILVA FILHO, Antônio Luiz Macedo. Fortaleza Imagem da Cidade. Fortaleza: Museu do
Ceará/Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2004.

232
WCED. World Commission on Environment and Development. Our common future. Oxford:
Oxford University Press, 1987.

233
CONDIÇÕES SÓCIO-SANITÁRIAS DO MERCADO PÚBLICO DE ERNESTO GEISEL, JOÃO
PESSOA-PB31.

Thais Lima de MENEZES (CNEC) – t_ha_mezeses@hotmail.com


Mylena Ferreira MORAIS (CNEC) - mylena.morais@gmail.com
Renata Gomes BARRETO (CNEC) -renata.peu@gmail.com
Andréa Amorim LEITE32 (CNEC) - andreaamorim.bio@gmail.com

Resumo

As feiras livres são importantes podem contribuir para a concorrência do mercado e além de ser
considerada como uma fonte de lazer. O objetivo do presente trabalho foi identificar as condições
sócio-sanitárias do Mercado Público de Ernesto Geisel. Para a realização do presente trabalho foram
feitas visitas periódicas ao ambiente de estudo, a fim de observar possíveis alterações nas condições
sócio-sanitárias dentro do mercado público. Posteriormente foram feitas entrevistas do tipo semi-
estruturada, com objetivo e elencar os principais problemas no mercado público na percepção dos
comerciantes. Mais da metade dos entrevistados são homens. Os principais produtos
comercializados são de origem alimentícia. Um dos principais problemas encontrado foi o não
gerenciamento de resíduos. Estes eram lançados em caçambas ou no solo. Esses resíduos atuariam
moscas, baratas, cachorros e gatos, que comprometiam a saúde dos frequentadores. Outro ponto
observado foi a infraestrutura e a falta de segurança ou policiamento. A estrutura física do mercado
encontra-se muito deteriorada, servindo de ponto de encontro para o uso de drogas. Isso
consequentemente influencia na segurança da comunidade em geral. Fica evidente a necessidade de
medidas que visem resolver esses problemas, proporcionado uma ambiente mais agravável e seguro
para os frequentadores do mercado público do Ernesto Geisel.

Palavras chaves: Feiras livres; saúde; infraestrutura.

Abstract

The fairs are important can contribute to market competition and besides being considered as a
source of pleasure. The aim of this study was to identify the socio-sanitary Public Market Ernesto
Geisel. For the realization of this work were made periodic visits to the learning environment in

31
O mercado público faz parte do cotidiano das pessoas. Durante muito tempo foi observado às condições do mercado
público do Ernesto Geisel. A partir disso, nasceu a necessidade de se realizar o presente trabalho.
32
Professora de Biologia da Escola Cenecista João Régis Amorim e orientadora do trabalho.

234
order to observe possible changes in socio-sanitary conditions inside the public market. Later
interviews were made of semi-structured, with a goal and list the major problems in public
perception of the market traders. More than half of respondents are men. The main products are
marketed food source. A major problem found was not a waste management. These were thrown in
dumpsters or on the ground. These residues would act flies, cockroaches, dogs and cats, which
compromised the health of patrons. Another point noted was the intra-structure and lack of security
or policing. The physical structure of the market is very deteriorated, serving as a meeting place for
drug use. This consequently influences the safety of the community at large. It is evident the need
for measures to solve these problems, providing a safe environment and to aggravate goers Public
Market Ernesto Geisel.

Keywords: Free Trade, Health, Infrastructure.

INTRODUÇÃO

As feiras livres são de grande importância pela variedade de produtos e de preços que são
ofertados aos consumidores. Centralizar os comerciantes em um único local gera o impacto positivo
da concorrência (COUTINHO, et al [2007?]).
Conforme Santos (2005), as feiras livres oferecem ao consumidor a possibilidade de
comparar preços entre os comerciantes, sem que para isso precise se descolar a uma grande
distância. Além do mais, as feiras livres são locais de encontro entre vizinhos e são até mesmo
locais de lazer (DOLZANI e JESUS, 2004).
Porém, com o passar do tempo as feiras livres vêm apresentando cada vez mais problemas.
Esses problemas são basicamente as precárias condições de higiene, falta de segurança e
desorganização. Esses problemas citados podem comprometer a segurança e a saúde das pessoas
que utilizam as feiras livres. Sendo de fundamental importância a preocupação com esse ambiente,
uma vez que o mesmo faz parte do dia a dia das comunidades.

OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho foi identificar as condições sócio-sanitárias do Mercado


Público de Ernesto Geisel.

METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho foram feitas visitas periódicas ao ambiente de estudo,
a fim de observar possíveis alterações nas condições sócio-sanitárias dentro do mercado público.

235
Posteriormente foram feitas entrevistas do tipo semi-estruturada, com objetivo e elencar os
principais problemas no mercado público na percepção dos comerciantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da entrevista foi possível observar, como mostra no gráfico 1, que entre os
comerciantes mais da metade são do sexo masculino.

Gráfico 1. Sexo dos comerciantes do mercado público do Ernesto Geisel

Quando foi perguntado há quanto tempo o comerciante tinha seu estabelecimento no


Mercado público do Ernesto Geisel, as respostas variaram entre 3 e 28 anos. Essa informação foi de
extrema importância, pois comerciantes mais antigos relataram as transformações que ocorrem no
mercado público a respeito da infra-estrutura.
Posteriormente foi perguntado que tipo de produto era comercializado, gráfico 2. Dos 20
comerciantes que participaram da pesquisa, 14 comercializavam produtos alimentícios, 3 com
roupas, 2 com material de construção e 2 com outros produtos.

236
Gráfico 2. Tipo de produto comercializado.

Essa pergunta mostrou à necessidade de se trabalhar as condições sanitárias do mercado


público, uma vez que mais da metade dor comerciantes trabalham com produtos para fins
alimentícios.
Depois foi perguntado o que o comerciante achava que deveria ser melhorado no mercado
público. Os principais pontos abordados formam: segurança, coleta de resíduos e infra-estrutura.
Segundo os relatos de alguns comerciantes, não há nenhum tipo de gerenciamento de
resíduos sólidos. Todo o lixo é colocado dentro de caçambas independente da sua origem, ou seja,
há mistura de restos orgânicos (restos de comida, penas de galinha e etc.) com materiais recicláveis.
Também foi observado o esgoto a céu aberto. Esse fato foi comprovado em visitas periódicas, como
mostra a imagem 1.

Imagem 1. Caçambas onde são jogados os resíduos do mercado público do


Ernesto Geisel.
237
Porém, é notável conforme mostra a imagem 2, que ainda com a presença de caçambas, os
resíduos são colocados fora delas, facilitando o espalhamento e consequentemente poluindo ainda
mais o ambiente. Esse fato mostra à necessidade de se trabalhar a educação ambiental com os
comerciantes.
É notável que as condições sócio-sanitárias estão piores do que foi encontrado por
Nascimento (2010). Pois a respeito dos resíduos sólidos fica evidente que não a menor separação
desses resíduos, e a coleta também se faz de forma irregular. O acúmulo de resíduos acaba
prejudicando a qualidade dos produtos vendidos, principalmente das carnes.

Imagem 2. Resíduos jogados a céu aberto no Mercado Público do Ernesto Geisel

Os comerciantes também relataram que devido à demora da Empresa Municipal de Limpeza


Urbana (EMLUR) e a falta de consciência dos próprios comerciantes que jogam o lixo fora das
caçambas tem-se uma serie de problemas, tais como mau cheiro, que consequentemente acaba
afastando a freguesia; a proliferação de insetos como moscas e baratas; e atrai ostros animais como
gatos e cachorros. Ainda segundo os comerciantes, esses animais geralmente são doentes,
proporcionando um risco para a saúde dos freqüentadores do mercado.
Outro ponto relevante é a respeito da infra-estrutura (imagens 3 e 4). Atualmente, o mercado
encontra-se em condições precárias, tais condições influenciam no número de assaltos e uso de
drogas dentro do mercado público colocando em risco a vida das pessoas. Muitos dos boxes
encontram-se destruídos sendo alvos de usuários de drogas. Esse fato ainda é agravado pela falta de
segurança do local. Nascimento (2010) encontrou resultado semelhante sobre a infra-estrutura e
segurança do mercado público no Ernesto Geisel.

238
Imagens 3 e 4. Condições de infra-estrutura do mercado público do Ernesto Geisel.

CONCLUSÃO

Conforme apresentado no presente trabalho, fica evidente a importância das feiras livres na
vida da comunidade. Porém, é preciso essas feiras sejam constantemente fiscalizadas a respeito das
condições sócio-sanitárias. Vários temas devem ser fiscalizados, tais como gerenciamento de
resíduos, condições de higiene, segurança e infra-estrutura. Se assim não for, o que deveria ser um
auxílio para população, acaba trazendo vários problemas tanto sociais como uso de drogas constante
de nas feiras livres, aumento do número de assaltos; como também sanitários, colocando em risco a
saúde das pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, E. P. et al. Condições de higiene das feiras livres dos municípios de bananeiras,
Solânea e Guarabira. [2007?].

DOLZANI, M. & JESUS, G. M. O direito a Cidadania: cem anos de feira livre na cidade do Rio
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Ciências Exatas e da Natureza. UFPB. João Pessoa. 2010.

SANTOS, A. R. A feira livre da Avenida Saul Elkind em Londrina-PR. GEOGRAFIA: Revista

do Departamento de Geociências v. 14, n. 1, jan./jun. 2005. Disponível em <http:

//www.geo.uel.br/revista>.

239
ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA EM PEDREIRAS-MA: IMPACTOS ECONÔMICOS E
SOCIOAMBIENTAIS.

Alan Marcos da Silva SALES


Graduado do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educação São Francisco –
FAESF (alangamesmss@hotmail.com)

Daniel César Menezes de CARVALHO


Orientador, coordenador do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educação São
Francisco – FAESF (danielcmc@ymail.com)

Otacílio Tavares FERNANDES


Graduando do curso de Ciências contábeis da Faculdade de Educação São Francisco-FAESF
(otaciliocmp@hotmail.com)

Rosilda Costa de ALMEIDA


Graduanda no Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educação São Francisco –
FAESF (rosildagilr@hotmail.com)

Resumo

O trabalho é um estudo sobre a supervalorização imobiliária do centro de Pedreiras-MA, que tem


como característica principal os valores acima da tabela em relação a cidades maranhense de
mesmo porte. Tendo esta pesquisa o objetivo de analisar a valorização imobiliária e identificar
quais impactos esta causa na economia e no ambiente. Para isso foi realizado um estudo
bibliográfico sobre o tema proposto, assim também como estudo exploratório que proporcionou
uma proximidade maior com o assunto em questão, além de realizar um estudo in loco. Para tanto
foram observados alguns elementos que contribui para o crescimento econômico, em contraponto
existem fatores como a segregação e o surgimento de novos focos de comunidades suburbanas em
área de risco que passam a configurar um novo cenário de marginalização e diminuição na
qualidade de vida dos cidadãos menos favorecidos economicamente.

Palavras chaves: valorização imobiliária. Impactos econômicos. Marginalização.

Abstract

The workisa study ona supervalorização estate center Pedreiras-MA-, whose main characteristic
valuesabove the table compared to cities of similar size Maranhão. Takingthis researchto analyze
the real estate valuation and identify that this impacts to the economy and the environment. For this
we conducted abiblio graphic study on the proposed topic, so as exploratory study that provided a

240
closer relationship with the subject matter, in addition to conducting a study spot. Therefore, we
observed some elements that contribute to economic growth, in contrast there are factors such as
segregation and the emergence of new centers of suburban communities in the area of risk that
resetting up anew scenario of marginalization and decreased quality of life of citizens less
economically advantaged.

Keywords: real estate valuation. Speculation. Economic impacts. Marginalization.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas observou-se que o espaço habitado pelo homem passou a ser utilizado
de forma mais heterogênea, dividindo e caracterizando tais espaços como zonas urbanas e rurais,
por conta de uma valorização diferenciada.
Dentro de uma região heterogênea, novas áreas vão sendo criados, até mesmo direcionados
de forma que dentro da sociedade dirigem-se ao acúmulo de valores, que de fato acaba interferindo
no habitat da população que ali residem. Nesse âmbito, entra o contexto pedreirense, que desde sua
formação vem passando por significativas mudanças tanto no contexto social, como no econômico e
natural.
Diante disso o objetivo desse estudo foi analisar a especulação imobiliária de Pedreiras e
seus impactos socioeconômico e ambiental, assim também como verificar porque a cidade está com
um nível de inflação muito alto, e que elementos favoreceram a esse crescimento desproporcional
nos valores dos imóveis, uma vez que a média salarial do município não proporciona uma
valorização grandiosa como essa, e muito menos o setor comercial que vive simplesmente dos
serviços terceirizados, mas é o que comanda toda cidade.
Através desse contexto surgiu a necessidade de trabalhar com o centro de Pedreiras mais
precisamente na Avenida Rio Branco, onde há uma concentração de prédios com um maior valor
comercial, e também por se tratar da região mais estruturada dessa cidade. Em contrapartida foram
trabalhadas algumas regiões de Pedreiras que falta estrutura, no qual os impactos ambientais são
mais assíduos, e que, contudo, a valorização do centro reflete nessas regiões.
Para isso foi realizado um estudo de campo através de entrevista e questionário aos grandes
empresários e proprietários dos imóveis, com o intuito de buscar mais informações sobre os
impactos gerado na economia pela especulação imobiliária, mostrando como essa afeta
ambientalmente o município. Também foi utilizada pesquisa bibliográfica buscando maior clareza
e coerências, além de dar enfoque qualitativo com as informações obtidas.

241
Mediante essa situação faz-se necessário o conhecimento dos reais motivos para esses
fenômenos de valorização desse setor, e como este pode afetar sua população, uma vez que a renda
de grande parte da população não é proporcional ao que é exigido neste setor.

PROCESSO HISTORICO E FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Em meados do século XIX, o espaço urbano de Pedreiras começou a ser alterado


principalmente pela ocupação desordenada, e seguida de um complexo sistema de produção que
desviou a agricultura deixando-a desvalorizada, ressaltado que o processo histórico da cidade
iniciou com a produção agrícola sendo uma das maiores no nordeste inclusive na produção de
algodão e arroz.
Neste período o crescimento foi acelerado, em relação a urbanização, com o comércio em
acessão foram construídos os inúmeros imóveis na então vila de Pedreiras, o que a colocou
rapidamente em uma posição superior a São Luís Gonzaga, que na época era a cede da promissora
vila.

Figura 01: Representação do espaço urbano de Pedreiras


Fonte: Departamento de fiscalização urbanística e controle de trânsito - DEFUCT

Em meio á produção, o setor imobiliário pedreirense expandiu-se significativamente e desde


o inicio do século XXI,tal crescimento vem se desenrolando de forma tão rápida que a sociedade
está passando por sérios problemas com relação a moradia, ocasionado principalmente pelo:

[...] processo de industrialização que se realizou e gerou uma urbanização profundamente


desigual, criando separações entre o centro e a periferia como particularidade da metrópole
em constituição. Com isso localizou uma massa expressiva de trabalhadores em áreas sem
equipamento e moradias precárias. (CARLOS, 2009, p. 1)

Não se pode negar que o processo de industrialização trouxe grandes avanços e


desenvolvimento para o espaço urbano, mais isso provocou sérios danos a sociedade. Na sua real
construção de forma desigual, a urbanização ligada a industrialização, que formam unicamente uma
visão de lucro, que se sobrepõe aos direitos da maioria da comunidade. Esse fenômeno que se
242
instala perante a organização da sociedade está preocupado não com bem estar populacional mais
sim com o crescimento do capital, que inegavelmente desenvolve a economia, mas não oferece
vantagens a maioria.
Ao se tratar dessa questão dentro da perspectiva geográfica, deve-se considerar que todo o
desenvolvimento urbanístico está diretamente relacionado com os interesses econômicos, sociais e
políticos que caracteriza a produção socioespacial de um lugar geográfico. Sobre esse aspecto,
Miele (2008, n/p) relata que ―o fenômeno urbano diz respeito às atividades exercidas pelo homem‖,
onde necessita de uma visão que ofereça as dimensões para as relações sociais desenvolvidas na
mesma.
As dinâmicas locais que variam de lugar para lugar exercem sobre a produção do espaço
seus conceitos e suas tendências, cujo sua formação exige adaptação para o desenvolvimento do
crescimento capital relativamente ao que é exigido pelas diversas formas de produção que
determina esse espaço.
Contudo, esse grande crescimento nos diversos setores da economia, dentre eles o setor
imobiliário, faz com que a haja um incremento no desenvolvimento da cidade culminando com um
maior lucro para grandes empresários, o que de fato sucede na cidade de Pedreiras.

EXPANSÃO IMOBILIÁRIA EM PEDREIRAS: VALORIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO


DESENVOLVIMENTISTA

Ao referir sobre a expansão imobiliária em uma perspectiva histórica, remete-se


primeiramente a ocupação de um determinado lugar, que cresce dependendo de uma ocupação, seja
ela ordenada ou não. Esse crescimento ocupacional do espaço sucedeu pela economia
desenvolvimentista que vem desde a constituição do solo urbano que teve grande valorização no
período feudal e no capitalismo, o que na época era a mercadoria de grande valor economicamente.
Não é só a segregação que provoca disparidade, o mercado imobiliário também dispõe
dessas diferenças no setor urbano, primeiramente porque aumentam inflacionando o preço dos
espaços propício a construção. Isso é refletido em Pedreiras, que ao longo de sua produção e
formação espacial, houve e há conflitos pela localização de setores no centro da mesma, em que
predomina todo o fluxo econômico de produção que concebe toda renda local da cidade.
Como todo e qualquer lugar guarda resquício de sua composição cultural, a cidade
pesquisada também guarda esses vestígios que na verdade são esses imóveis, hoje supervalorizados
que foram construídos em meados do século XX, mais não se pode jamais deixar de elencar que
neste mesmo século houve grandes construções irregulares que por falta desses espaços propícios a
construções, os interessados passam a danificar ambientalmente os espaços da cidade.
Isso chama atenção para o setor imobiliário que segundo (PAIXÃO, 2008, p.4) a ―atividade
imobiliária molda o espaço urbano a partir da ação dos empreendedores urbanos‖. Essa moldação

243
da atividade é o processo que vem sucedendo em Pedreiras-MA, no qual seu espaço urbano passa
por constantes mudanças na sua dinâmica socioeconômica.
De fato, o espaço passou a ser moldado desde seu processo de formação, com os inúmeros
índices de crescimento urbano que expandiu-se de forma desenfreada por todo país, e isso
proporcionou uma parcela enorme de pessoas nas aglomerações urbanas, e ao mesmo tempo a
desconcentração de um nível médio para as cidades que são menores tanto em uma abrangência
regional como na local. Isso é percebido por Lefebvre (1999) e Monte-mor (2001) quando ressaltam
que as principais mudanças da contradição se instalam no interior do fenômeno urbano estando
entre a centralidade do poder e entre o centro da riqueza, integração e segregação.
Nessa visão, pode-se incluir as mudanças no espaço de pedreiras, no que se refere a
valorização imobiliária e consequente a segregação, devido a centralização do poder de uma
pequena classe empresarial, que empiricamente ditam as regras da organização da cidade.
A cidade como um todo tem seu valor econômico voltado para o comercio em que toda
renda é basicamente provinda deste. Como mostra a figura 02

Figura 02: Avenida Rio Branco, região central de Pedreiras.


Fonte: Os autores, 2012

Como é observado, o centro de Pedreiras possui quase toda sua rede comercial concentrada
em uma única área, o que causa maior valorização imobiliária, ocasionada pela estratégica
localização do centro pedreirense, que é rota para outros centros urbanos, como o do município de
Trizidela do Vale.

Figura 03: Pedreiras na parte superir da imagem, e Trizidela do Vale, na parte inferior.
Fonte: Joycce Alencar. Disponível em: http://www.citybrazil.com.br/ma/pedreiras/galeriafotos.php 244
Além disso, Pedreiras configura-se como uma das principais cidades do interior do
Maranhão, por conta da forma em que a mesma foi desenvolvida. A cidade caracteriza-se
por ser polo sub-regional que abrange uma área grande, contendo15municípios praticamente
dependentes de Pedreiras. Assim, o foco do desenvolvimento fica restrito a cidade, exemplo disso, é
a descoberta de gás natural em cidades vizinhas, porém o crescimento é praticamente todo
direcionado a Pedreiras.

PROBLEMAS ESTRUTURAIS E AMBIENTAIS DA EXPANSÃO IMOBILIÁRIA

Em Pedreiras, a organização do espaço é moldada a partir de uma classe dominante, e a


partir desse controle há facilitação de acúmulo de riquezas. Desse modo, grande parte do patrimônio
imobiliário fica retido e facilmente controlado dentro dos interesses desses grupos. Esse fenômeno
que não é exclusivo de Pedreiras é explicado por Cilicia Santos (2008, p.181) quando diz que:

A produção do espaço urbano está intimamente ligada ao jogo de interesses entre os seus
agentes e partícipes, fruto das relações simbólicas e contraditórias do capitalismo em
suas múltiplas facetas (...)em seguida manipulado numa teia de ações sociais, onde as
relações entre os atores envolvidos nem sempre resultarão na aplicabilidade das
soluções que visem os anseios da maioria.

Assim, a manipulação da teia econômica por parte desses grupos causam fenômenos como o
crescimento vertiginoso dos preços dos alugueis, que chegou a marca de mais de 50% de aumento
no período de um ano havendo exemplo de prédios que sofreu aumento de quase 200% num
período dois anos, subindo de um salário mínimo para três salários, que segundo alguns
proprietários, o argumento é que “após a descoberta de petróleo em algumas das cidades vizinhas a
Pedreiras, os valores dos imóveis subiram, pois o solo se valorizou‖.
Esse aumento pode ser considerado abusivo no momento em que se observa que a mesmo
está acima da inflação, sendo que hoje, na cidade de Pedreiras, um trabalhador assalariado padrão
não tem mais condições de adquirir uma residência na cidade, uma vez que até mesmo as casas de
pequeno porte, consideradas ruins, em bairros periféricos, mas que tenha condições mínimas de
moradia, não é encontrada com um valor abaixo de 50,0% de um salário mínimo.
Por esses motivos, algumas famílias são obrigadas a procurar alternativas para conseguir um
teto pra viver, e uma das principais estratégias encontradas foi a ocupação irregular de áreas de
risco sem nenhuma condição estrutural para uma qualidade de vida digna, como pode ser observado
na imagem 04.
245
Figura 04: Loteamento Parque Henrique Oliveira.
Fonte: Os autores,2012

A questão da ocupação da área de risco é um problema que só se agrava no município. O


planejamento mal elaborado, ou mesmo a inexistência do mesmo, unidos com a falta de
oportunidades de algumas classes sociais faz com que a ocupação de áreas de morros e encostas
seja um fato comum na cidade, mesmo sendo de conhecimento de todos os eventuais desastres que
isso pode causar. O solo de Pedreiras é antigo e esta em processo de sedimentação, por isso se
caracterizam por sua instabilidade.
Outro problema que deve ser considerados em relação ás ocupações irregulares é a falta de
expectativas de melhorias para essas ruas recém-formadas sem nenhum planejamento, pois de um
lado estão as dificuldades por motivos burocráticos, já que teoricamente essas ruas sequer existem,
e por outro lado está às questões de prioridades do poder público, que quase sempre tem o interesse
de aplicar recursos nas áreas nobres da cidade pra só então observar as regiões periféricas que
acomoda as classes pobres da sociedade.

[...] o capital jamais realiza as suas tendências expansivas, não chega a constituir
permanentemente sua efetividade em sentido pleno. Bem, como por outro lado, ele também
nunca realiza definitivamente sua tendência a crise, na forma de um colapso inevitável ou
de uma progressiva estagnação até um estado de desvalorização crônica e insuperável.
(CRUZ, 2006, p.43).

Devido a economia de pedreiras ser praticamente toda voltada ao comercio, a valorização da


zona comercial da cidade faz com que inúmeros proprietários que ainda possuem estabelecimentos
nessa área sejam obrigados a procurar residências nas regiões mais periféricas,no entanto, os
mesmos não se instalam em localidades semelhantes das demais áreas periféricas das classes
pobres, já que a maiorias desses são influentes perante o poder público e facilmente conseguem

246
contemplar-se comas melhorias necessárias para seu bem estar, o que atrai desenvolvimento e
valoriza a área,deixando-as nobres em uma perspectiva socioeconômica.
A dificuldade da população de baixa renda fica maior na medida em que as classes
dominantes passam a procurar áreas mais afastadas do centro, pois esse fenômeno tem o efeito de
empurrar os grupos sem grande poder aquisitivos para setores sem qualquer infraestrutura, ou até
mesmo em áreas de risco.

QUESTÕES ECONÔMICAS E A VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA

A supervalorização do espaço pedreirense também causa impactos sociais que advém da


expulsão dos moradores de classes intermediárias para áreas mais periféricas e não estruturadas,
empurrando ainda mais os moradores menos privilegiados economicamente para zonas antes não
habitáveis, como morros e encostas, disseminando a favelização e precarizando ainda mais a
situação habitacional da cidade.
Além dos impactos sociais também existe os crimes ambientais provocados pela ocupação
desordenada do espaço como o rebaixamento de morros acima de 40º e bastante comum em várias
localidades recém-ocupadas, assim também como aterramentos de córregos e lagos o que provoca
impactos significativos em praticamente toda a cidade, até mesmo nas áreas valorizadas, esses
impactos ,assim como a negligências por parte do poder fiscalizador, provocam grandes enxurradas
em pedreiras, que ironicamente atinge com mais intensidade o centro mais valorizado da mesma.
Outro grande problema comum é a existência cada vez mais abundante de casas feitas em
áreas de risco como encostas, como é ocaso do Pão de Açúcar que se trata de um morro localizado
nas margens do Rio Mearim, localidade onde já houve vários desmoronamentos e o risco iminente
de que aconteça a qualquer momento.
É importante frisar que esses são apenas algumas das inúmeras ações da ocupação mal
planejada que danificam o ambiente natural, outros fatores corriqueiros são as devastações das
matas e florestas dos cocais para implantação de loteamentos irregulares, assim como aterramento
de áreas de vazante do rio Mearim, o que prejudica ainda mais a cidade vizinha de Trizidela do
vale.
No final da primeira década do século XXI, com a solidificação da Faesf passou a ser
construída uma série de loteamentos sem regularização, e quase todos carregado de irregularidades
ambientais (a maioria irreversível), sendo alguns destes empreendimentos embargados, multados, e
até mesmo com seus responsáveis processados criminalmente pela Secretária de Meio Ambiente da
cidade.
Todos os fatores que foram mencionados são reflexos do grande crescimento imobiliário
que elevaram os preços dos espaços no Centro da cidade e que tem dois motivos específicos: o
primeiro é a implantação de empresas, faculdades, e bancos, que atraiu um número significativo de

247
pessoas, fato que elevou o preço do imóvel localizado próximo ao Centro, e o segundo fator é a
ineficácia dos órgãos estaduais e municipais reguladores.
Em relação á economia, os impactos caminham em duas direções distintas, de um lado os
proprietários superfaturando os alugueis, e de outro trabalhadores do ramo do comercio sendo
obrigados a se retirarem do principal centro da cidade devido a incapacidade de pagar pelo ponto.
O interesse dos comerciantes por localidades mais próximas do mercado central da cidade
faz com que, até mesmo os menores pontos comerciais tenham preços elevados, de modo que um
comerciante com menor poder aquisitivo não tenha condições de disputar espaço com comerciante
que há tempos estão instalados nesses setores privilegiados, ainda mais por serem eles, os dirigentes
lojistas da cidade os proprietários de mais da metade desses imóveis, sendo que os mesmos, com
estratégias semelhantes a cartel, determinam os valores imobiliários em relação aos pontos
comerciais para assim manipular a máquina comercial de Pedreiras.
As instalações comerciais nas regiões periféricas não tem o poder de desenvolver aquelas
áreas, ou seja, o fenômeno é exatamente o contrário, por motivos culturais, os consumidores
preferem procurar seus produtos necessários nos comércios do centro da cidade, o que compromete
os localizados nas proximidades de suas residências, causando assim a falência e fechamento dos
mesmos, o que desvaloriza ainda mais esses setores periféricos e eleva a o preço do m² do centro,
pois dá a entender que somente essa região é propicia ao comércio, o que aumenta a demanda nesse
setor.

EXPANSÃO IMOBILIARIA DE PEDREIRAS

A cidade de Pedreiras, localizada a 277 km da capital do Estado, São Luís, que se encontra,
no centro da cidade, a Avenida Rio Branco, que a partir da década de 1960 passou a sofrer intenso
processo de modernização que alterou de forma significativa a paisagem cultural dessa cidade.
É válido ressaltar que é fundamental reportar-se à evolução histórica da construção desses
espaços para um melhor entendimento desse processo. Atribui-se que o nome de Pedreiras é
oriundo do grande bloco de pedras existentes na margem esquerda do Rio Mearim, distante
aproximadamente três quilômetros da zona urbana da cidade.
Pedreiras teve sua primeira constituição imobiliária durante a produção de arroz e algodão, o
que levou a um desenvolvimento significativo da cidade, tornando-a maior sede agrícola da região,
antes mesmo de sua emancipação política no dia 27 de Abril de 1920.
Com essa força econômica que a cidade de Pedreiras apresentava a colocou em uma posição
privilegiada no estado, sendo a terceira maior cidade, no entanto, hoje não está entre as de maior
território nem tão pouco dentre as mais populosas do Maranhão. Segundo o Censo de 2010,
Pedreiras se apresentava com uma população inferior a 50 mil habitantes, contendo apenas
39.448mil pessoas naquele ano, ocupando assim o modesto 39º lugar do estado, por outro lado, o
crescimento populacional da cidade se intensificou vertiginosamente nos anos de 2011 e 2012, algo
248
que pode ser notado com o grande número de apartamentos (aparte hotéis), condomínios e
loteamentos, enfim, nos anos mencionados a cidade praticamente passa por um processo de
reconstrução, no qual a verticalização é a mais disseminada.
Segundo os dados do plano de desenvolvimento territorial integrado da região, 21% da
população de pedreiras utilizam os aluguéis como forma de atividade comercial e fonte de renda.
Porém, necessita-se de novas pesquisas que retratem sobre o tema, uma vez que está
realizada em 2008, mesmo sendo a mais atual, torna-se ineficiente já que o crescimento imobiliário
de Pedreiras teve um aumento significativo exatamente após esse período, tendo o ápice desse
processo no ano de 2012, e mantendo-se constantemente nesse processo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento urbano da cidade de Pedreiras trouxe para ela riquezas que a


mantém como uma espécie de ilha econômica em meio a região que ela se encontra, sua população
conta com facilidades de acesso de tudo aquilo que é oferecido pelo capitalismo.
Por ser entendida como um polo que atrai grande parte dos recursos de todos os
municípios circunvizinhos, o modo em que a cidade vem desempenhando esse papel também é o
que leva a esse desenvolvimento, quando observa-se que em todo o centro comercial fica
concentrado o centro econômico regional, faz com que haja ali a maior valorização de todo esse
território, atraindo todo o capital, mas que nitidamente fica retido nas mãos de um pequeno grupo
organizado de empresários que juntos são proprietários de mais da metade de todos os bens
imobiliários do setor mais valorizado da cidade. E por ter poder influência sobre os mais altos
cargos da administração pública, esse grupo consegue determinar os valores impostos sobre os
imóveis, assim superfaturando-os.
Sobre a questão da valorização espacial, não se pode desprezar a importância deste fato
para o aquecimento da economia, e a atração de políticas publicas para valorizar as áreas
adjacentes, porém, faz-se necessário que haja fiscalização de algum órgão moderador, para que
através de uma análise profissional, seja determinado os valores reais dos imóveis no município,
assim evitando os abusos e proporcionado melhor acesso de moradia digna às famílias de renda
média e baixa.

REFERENCIAS

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em Geografia Humana da USP. São Paulo, 2006. Disponível
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249
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de São Paulo. 1ªed.FFLCH ,São Paulo 2008. Disponível
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LOJKINE, Jean. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo, Livraria Martins Fontes
Editora Ltda., 1981.

250
PREVALÊNCIA DOS DIFERENTES TIPOS DE HEPATITES VIRAIS NO MUNICÍPIO DE
SÃO LUÍS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS33

Ana Beatriz Rocha RODRIGUES (COLUN/UFMA) – ana_rodrigues.abrr@hotmail.com


José Ângelo Cordeiro MENDONÇA – Orientador (COLUN/UFMA) – jfangelo@uol.com.br

Resumo

As hepatites virais são atualmente um grave problema de saúde pública no mundo e no Brasil.
Bilhões de pessoas já tiveram contato com vírus das hepatites e milhões são portadores crônicos.
São doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos e sua distribuição é universal. No Brasil
há grande variação regional na prevalência de cada um dos agentes etiológicos. O objetivo desse
trabalho é fazer um estudo a respeito do número de casos das diferentes hepatites no município de
São Luís para mostrar o comportamento desta doença nos últimos cinco anos e esclarecer a
comunidade escolar sobre os meios de prevenção e tratamento contra essas doenças infecciosas. Os
dados usados na pesquisa são coletados através das Secretarias Municipais de saúde, hospitais que
tratam da doença (como o Hospital Universitário) e de fontes de órgãos públicos que trabalhem com
dados estatísticos como o IBGE, além de sites de confiança que tragam subsídios à pesquisa. Esses
dados, depois de coletados, estão sendo analisados e comparados para que se tirem conclusões à
cerca da evolução da doença nos diferentes municípios e seu comportamento nos últimos cinco.

Palavras-chave: Doenças infecciosas, hepatites virais, prevalência.

Abstract

Viral hepatitis is currently a serious public health problem worldwide and in Brazil. Billions of
people have had contact with the virus and hepatitis million are chronic carriers. These diseases are
caused by different etiological agents and their distribution is universal. In Brazil there is great
regional variation in the prevalence of each of the etiologic agents. The aim of this work is to make
a study about the number of cases of different hepatitis in São José de Ribamar, in greater São Luís,
to show the behavior of this disease in the last five years in the region and clarify the school
community about the means the prevention and treatment of these infectious diseases. The data
used in the study are being collected through the Municipal health, hospitals that treat the disease
(such as University Hospital) and sources of public agencies who work with statistical data as to the
IBGE, as well as sites that bring confidence to the research grants. These data, once collected, are

33
A Pesquisa está sendo desenvolvida no Colégio Universitário/UFMA com o apoio do grupo ―Biodiversidade e
Conservação‖ do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão. Conta com apoio
financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

251
being analyzed and compared to the conclusions to be drawn about the evolution of the disease in
the region.

Keywords: Infectious diseases, viral hepatitis prevalence.

Introdução

Segundo o Ministério da Saúde as endemias são enfermidades geralmente infecciosas que


reinam constantemente em certo país ou região por influência de causa local. No Brasil, as
principais doenças endêmicas são a malária, as leishmanioses, a esquistossomose, a febre amarela, a
dengue, o tracoma, a doença de Chagas, a hanseníase, a tuberculose, a gripe A e as diferentes
formas de hepatites virais (Maia, 2012).
As hepatites virais têm grande importância pelo número de indivíduos atingidos e pela
possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas, por isso, torna-se de fundamental
importância o conhecimento pela sociedade do comportamento destas doenças nas populações,
assim como das medidas de prevenção e tratamento existentes em relação às tais enfermidades.
Assim considerando, o objetivo desse trabalho é fazer um estudo a respeito do número de casos das
diferentes hepatites virais no município de São Luís para mostrar o comportamento desta doença
nos últimos cinco anos. Para a metodologia recolhemos dados sobre as hepatites, que foram
analisados e comparados e tiramos conclusões à cerca da evolução da doença no município de São
Luís e o seu comportamento nos últimos cinco anos.
A cidade de São Luís, capital do Maranhão, formou-se na península que avança obre o
estuário dos rios Anil e Bacanga, estando a 2° 31‘ 47‘‘ de latitude, 44° 18‘ 10‘‘ longitude, e a uma
altitude de 24,391m. Limita-se com o Oceano Atlântico, ao Norte; com o Estreito dos Mosquitos,
ao Sul; com a Baía de São Marcos, a oeste (IBGE).

Fonte: Acta Amazonica


Figura 1 – Mapa da Ilha de São Luís
252
As Hepatites

A hepatite viral ocorre quando um vírus causa inflamação e infecção do fígado. Os vírus que
causam a hepatite viral são denominados vírus A, B,C ,D e E. Todos esses vírus causam a hepatite
viral aguda, porém os vírus B, C e D podem cronificar, ou seja, permanecer pelo resto da vida no
organismo. A cronificação desses vírus pode causar cirrose, CA de fígado e insuficiência hepática
(mau funcionamento do fígado). Os sintomas da hepatite são: cansaço, fadiga, dor abdominal,
colúria (urina escura), hipocolia fecal (fezes esbranquiçadas), febre, diarréia, náuseas, vômitos, etc.
A hepatite A tem contágio por via fecal-oral, inter-humano ou através de água e alimentos
contaminados. Pode ocorrer também transmissão parental, mas é rara. Sua disseminação é
relacionada ao nível socioeconômico da população. Pessoas que já tiveram hepatite A continuam
susceptíveis as outras hepatites.
A hepatite B é uma doença sexualmente transmissível (DST), mas a transmissão também
pode ocorrer de forma parental ou vertical. O risco de que haja uma evolução no caso em recém-
nascidos de gestantes com hepatite B é alto.
O vírus da hepatite C (HCV) é transmitido principalmente por via parenteral.
De acordo com a cartilha ―Hepatites Virais: O Brasil está Atento‖ (2005, p. 10),

A cronificação ocorre em 70 a 85% dos casos, sendo que, em média, um quarto a um


terço deles evolui para formas histológicas graves no período de 20 anos. O restante
evolui de forma mais lenta e talvez nunca desenvolva hepatopatia grave. É importante
destacar que o HCV já é o maior responsável por cirrose e transplante hepático no
Mundo Ocidental.

Causada pelo vírus da hepatite delta, a hepatite D pode ser transmitida via parenteral, por
relações sexuais, entre outros. A infecção pode ser apresentada de forma assintomática, sintomática
ou até com formas mais graves.
A hepatite E é transmitida por via fecal-oral e sua transmissão interpessoal não é comum.
O Maranhão, no momento, possui apenas 01 Centro de Referência para o tratamento dos
portadores das Hepatites B e C que é o Núcleo do Fígado (Hospital Universitário) e 01 Pólo de
Dispensação e Aplicação dos medicamentos específicos para o tratamento que é a Farmácia
Estadual de Medicamentos Especializados (FEME), localizado no Reviver, ao lado do Shopping do
Cidadão, em São Luís.

253
Dados e discussões preliminares sobre a hepatite em São Luís

A pesquisa ainda não está concluída, pois nem todos os dados necessários para a conclusão
foram obtidos. No entanto, o que se pode observar é que o número de casos de hepatite A entre
2007 e 2012 diminuiu, enquanto que o de hepatite B e C oscilaram durante os cinco anos e tiveram
elevados números no ano de 2011.

Fonte: Secretária Estadual de Saúde do Maranhão, 2012.


Tabela 1 – Notificações de Hepatites A, B e Centre 2007 e 2012 em São Luís.

Como a transmissão de hepatite A está diretamente ligada ao saneamento básico e a higiene


pessoal, a razão para a diminuição das notificações para esse tipo de hepatite pode está relacionada
à melhoria socioeconômica da população, que lhes proporcionou uma melhor condição de vida e
também a programas do governo ligados a saúde. Mas, são necessários mais dados para que isso
seja comprovado.
Já para a oscilação no número de notificações das hepatites B e C, a razão pode está ligada
ao fato de que uma das formas de transmissão é parenteral, ou seja, contado com seringas
contaminadas, transfusão ou transplante a partir de doador infectado, hemodiálise (anos de
tratamento), acidente com material perfuro cortante, uso de drogas injetáveis, entre outros. A falta
de conhecimento da maioria da população sobre esse risco e também a falta de campanhas do
governo que alertem para isso, podem ter gerado esses números elevados. O fato de que o vírus
também pode ser transmitido via relação sexual também pode ser levado em conta, porém não deve
ser um dos fatores mais relevantes para os altos números, se for levado em conta que já existe uma
254
preocupação da população em relação à proteção durante o ato sexual. Porém, ainda é necessária
uma análise mais profunda sobre os dados e a comparação com outros.
Contudo, pode-se perceber previamente, que existe no município de São Luís uma falta de
informação da população em relação às formas de prevenção e os sintomas da hepatite. Sendo
necessária assim, a criação de programas e campanhas que alcancem toda a população para que se
tenha uma diminuição do número de notificações.

Referências

Atlas do Brasil. Disponível em <www.ibge.gov.br/cidades sat/painel>. Acesso em 22 mar 2012.

Acta Amazonica. Comunidades de morcegos em hábitats de uma Mata Amazônica remanescente na


Ilha de São Luís, Maranhão. Disponível em <http://acta.inpa.gov.br/fasciculos/37-
4/BODY/v37n4a17.html> Acesso em 09 de out de 2012.

Informações pessoais da Secretaria Estadual da Saúde.

IBGE. Disponível em< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em 10 de out


de 2012.

Maia, N. A. Principais doenças endêmicas do Brasil. Disponível em www.artigos.etc.br. Acesso


em 15 mar. 2012.

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Epidemiológica. Hepatites virais: o Brasil está


atento. Brasília, 2005.

255
VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN

Ana Paula de Sousa ENÉAS


Graduanda em Gestão Ambiental - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
E-mail: yanlapaula@hotmail.com
Hozana Raquel de Medeiros GARCIA
Graduanda em Gestão Ambiental – UERN/Universitat de Barcelona-UB
E-mail: hozana_raquel@hotmail.com
Márcia Regina Farias da SILVA
Drª. em Ecologia Aplicada, pela Universidade de São Paulo – USP.
Profa. do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM/UERN.
E-mail: marciaregina@uern.br
Zoraide Souza PESSOA
Drª.em Ambiente e Sociedade, pela Unicamp.
a
Prof . do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM/UERN.
E-mail: zoraidesp@uern.br

Resumo

A presente pesquisa propõe discutir os fatores que levam a vulnerabilidade socioambiental no


município de Mossoró/RN, e que busca, dentre outros objetivos, identificar quais bairros do
município estão sobrecondições inadequadas de moradias do ponto de vista sanitário e,analisar as
condições financeiras das mesmas. Como procedimento metodológico a pesquisa foi dividida em
dois momentos: revisão de literatura e organização dos dados secundários dos Resultados do
Universo – retirados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE (2000). Constatou-se a partir desta pesquisa, que há uma acentuada inconformidade
habitacional verificada no município, em que suas variáveis acrescidas de algumas informações
sobre o rendimento dos responsáveis pelos domicílios, serviram de analise para a vulnerabilidade
socioambiental da cidade. Em suma, os resultados obtidos apontam para a necessidade de se pensar
em um planejamento urbano mais eficaz e integrado, através da aplicação de políticas
públicas,visando à mitigação dos problemas nos âmbitos social e ambiental, que proporcione a
população uma melhor qualidade de vida.

Palavras-chaves: Vulnerabilidade socioambiental; desigualdade social; inconformidade


habitacional.

256
Abstract

This research proposes to discuss the factors that lead to environmental vulnerability in
Mossoró/RN, and seeks, among other objectives, identify which city neighborhoods are under
inadequacies of housing by health point of view, and analyze the financial conditions of the same.
As a methodological procedure there search was divided into two phases: literature review and
secondary data organization Earnings Universe –taken from the Census of the Brazilian Institute of
Geography and Statistics - IBGE (2000). It was found from this research, there is a marked
unconformity housing verified in the city, where your variables plus some information about the
income of householders, served for the analysis of environmental vulnerability of the city. In short,
the results point to the need of thinks in a more effective and integrated urban planning, through the
implementation of public policies aimed the mitigating of the problems in the social and
environmental scopes, providing to the population a better quality of life.

Keys Word: environmental vulnerability; social inequality; unconformity housing.

INTRODUÇÃO

O modelo de desenvolvimento econômico e político capitalista, observado na maior parte


dos países do mundo, estimulou uma distribuição desigual de renda entre a população, uma vez que,
para estar inserido nesse contexto, é necessária a acumulação de recursos financeiros, na qual os
que possuem mais se sobressaem com relação aos demais.
Ao partir desse pressuposto, o Brasil que é um país emergente que está inserido nesse
modelo econômico – capitalista, – possui uma disparidade econômica entre sua população, tendo
em vista que enquanto muitos possuem recursos acumulados outros não possui nem o mínimo para
sobreviver.
Nesse aspecto, se tem observado que nos grandes centros urbanos essa população
desprovida de recursos financeiros buscam setores de moradia em áreas vulneráveis, e sem
quaisquer infraestruturas sanitárias e ambientais. A ausência tais de condições adequadas como
saneamento, acesso ao lazer, à educação e a trabalhos dignos, constituem um indicadores que
representam uma má qualidade de vida e, sobretudo de saúde, devendo ser essa uma das prioridades
do poder público.
Com o intuito de respondera problemática ora apresentada, essa pesquisa propõe discutir os
fatores que levam a vulnerabilidade socioambiental no município de Mossoró/RN. Na qual, esse
termos e define como a ocupação de áreas que são passíveis de ocorrerem desastres naturais e
sociais, em que sua população possui uma fragilidade para responder de forma positiva a

257
adversidade sofrida, por motivos da não obtenção os recursos necessários que permita a ocupação
de setores mais seguros.
Nessa perspectiva, este trabalho está integrado a um projeto maior intitulado ―Mapa Social:
Território e Desigualdade - FASE II‖, financiada pela FAPERN/CNPq – edital: 04/2007,
desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Estudos Socioambientais e Territoriais da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (NESAT/UERN), em parceria com a Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP).
A proposta desta investigação busca dentre outros objetivos, identificar quais bairros do
Município de Mossoró/RN estão sobre condições inadequações de moradias do ponto de vista
sanitário e, bem como, analisar as condições financeiras das mesmas, com o intuito de verificar se
que no referido município a ocupação dessas áreas vulnerabilidades socioambientais ocorrem de
acordo com o seu rendimento, hipótese (a), ou independem do rendimento e sim de outros fatores
como, por exemplo, paisagístico, hipótese (b).
Cabe ressaltar, que para responder tal objetivo fazem-se necessários identificar os principais
problemas socioambientais de Mossoró/RN e definir uma metodologia que permita a avaliação
socioambiental no município, visando identificar as áreas que necessitam de atenção especial, para
se propor medidas que venham a mitigar as consequências da problemática socioambiental e
fornecer subsídios para o planejamento, a gestão territorial e a formulação de políticas públicas no
âmbito social e ambiental.

Risco e Vulnerabilidade

Na perspectiva de discutir a fundo o tema da pesquisa que aborda sobre a vulnerabilidade no


município de Mossoró, faz-se necessário esclarecer alguns aspectos de fundamentação teórica, a
saber, a distinção entre os conceitos de risco e vulnerabilidade, comumente, tratada em algumas
pesquisas como sinônimos. Assim, o objetivo desse tópico é definir a que cada termo se reporta,
sem entrar no mérito da discursão dessa tipologia em metodologias.
Ao corroborar com essa discussão Souza e Zanella (2010) destacam que o conceito de risco,
ameaças e vulnerabilidade tem sido empregado por diversas áreas de conhecimento e isso tem
dificultado um consenso quanto às ideias que possam representar, em virtude de haver inúmeras
interpretações em torno desses temas. Eles observam também que devido essa pluralidade de
conceitos e, em alguns casos, a ausência de rigor conceitual, tem comprometido as investigações
dos riscos ambientais e que, portanto, dificulta o diálogo entre os diferentes saberes envolvidos.
De acordo com Veyret e Richemond (2007) risco é a percepção de um perigo, mais ou
menos previsível por um grupo social ou individuo que tenha sido exposto a ele, e nesse contexto o
risco é uma construção social. Já a vulnerabilidade é a magnitude do impacto previsível de um
258
acontecimento possível sobre os alvos que podem ser: pessoas, bens, equipamentos e meio
ambiente.
De acordo com Chaves e Lopes (2008) a vulnerabilidade representa o grau de fragilidade de
uma área e/ou população, assim como a sua possível capacidade de resposta diante da concretização
de um episódio danoso. Além disso, as autoras acrescentam que a vulnerabilidade pode servi como
auxílio aos estudos e as formas de planejamento de áreas em situações vulneráveis.
Na concepção do IBGE (2002) para reduzir a vulnerabilidade é necessário que haja um bom
gerenciamento do ecossistema, que também irá contribuir para a redução de impactos e promover o
bem-estar da população. No entanto, muitas pessoas e lugares são afetados por essa mudança nos
ecossistemas e estão altamente vulneráveis aos seus efeitos. Por outro lado, eles afirmam que o
aumento da pobreza e da exclusão social leva a população a ocupar locais com alta probabilidade
natural à ocorrência de eventos tais como: inundações, enchentes, deslizamentos de terra, corridas
de lama, secas severas etc.

MATERIAL E MÉTODOS

A cidadede Mossoró, unidade empírica de referência da presente pesquisa localiza-se no


estado do Rio Grande do Norte/RN possui 259.886 habitantes e uma área territorial de 2.099 km²
(IBGE, 2010). É considerada cidade de médio porte, apontada como a segunda maior do Estado, a
sua economia tem por base à agropecuária, a indústria, a prestação de serviços, impostos advindos
da produção de petróleo, que geram para o município um Produto Interno Bruto (PIB) de R$
2.127.077.000,00 e um PIB per capita de R$ 9.257,00, de acordo com os dados do Estado do Rio
Grande do Norte (2010).
A pesquisa se caracteriza segundo a sua finalidade como básica e descritiva, com abordagem
quali-quantitativa (APPOLINÁRIO, 2006). Com base nos procedimentos técnicos e metodológicos
identificados por Diehl e Tatim (2004) esta investigação é de cunho bibliográfico e documental. Ao
considerar as técnicas para coleta de dado essa análise irá se restringir a fontes secundárias extraídas
dos dados disponibilizados pelo IBGE (2000). Os dados secundários retirados do IBGE servirão
como base de informações macros de Mossoró, com o propósito de identificar os dados referentes à
vulnerabilidade socioambiental e sua relação com a distribuição de renda da população.
O estudo foi desenvolvido no período de 2011 a 2012, a saber, dividido em dois momentos:
(i) revisão de literatura com a proposta de discutir a ocupação de áreas vulneráveis em uma
perspectiva de enfatizar esses problemas como de ordem não apenas social, mas, sobretudo
ambiental, em que essa problemática pode ser agravada pela distribuição desigual de renda; e (ii)
Organização dos dados secundários do Censo Demográfico do IBGE (2000) retirados dos
Resultados do Universo, que são dados que encontra-se organizados em temas, cada tema
259
apresentando um conjunto de tabelas, que estão disponíveis para os níveis territoriais, tais dados
serviram para analisar os indicadores tanto da distribuição de renda como da vulnerabilidade
socioambiental de Mossoró.
Faz-se necessário esclarecer, que para a avaliação da vulnerabilidade socioambiental foi
considerada a metodologia adotada por Deschamps (2009), na qual é considerada como indicador a
ausência de saneamento básico adequado, sendo que, quanto maior o número de domicílios nesta
condição, dentro de cada Área de Expansão (AED), maior o ―risco‖. No entanto, nesta pesquisa
essa termologia será substituída por vulnerabilidade ambiental, ao considerar que esse termo
representa melhor a proposta, e a nível territorial de estudo os bairros supracitados.
Por fim, para responder aos objetivos e identificar qual hipótese corresponde à realidade de
Mossoró, no que se refere ao ano de 2000, a pesquisa coletou e organizou os dados referentes ao
rendimento em salários mínimos dos responsáveis pelos domicílios distribuídos nos bairros do
município, estando dividido nas seguintes variáveis: população que recebem até dois Salários
Mínimos – SM, de dois a cinco, de cinco a dez, de dez a vinte, mais de vinte SM e sem rendimento.
Com posse nessa base de dados analisou-se em que situação de vulnerabilidade socioambiental se
encontravam os bairros com maior e menor rendimento, para a partir desse pressuposto identificar
se a população com menos poder aquisitivo estão ou não em áreas vulneráveis no aspecto de
infraestrutura sanitária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A problemática socioambiental que se instalou na zona urbana do município de Mossoró é


proveniente de um crescimento desordenado e sem qualquer planejamento urbano que desencadeou:
a desigualdade social acentuada, a degradação ambiental eminente e, portanto, as más qualidades de
vida, na perspectiva de compreender quais fatores encaminharam para esse cenário atual será
analisado e apresentado nos próximos tópicos às discussões dos dados gerais do município referente
ao ano 2000, com ênfase aos bairros de Mossoró/RN.

Vulnerabilidade Socioambiental

Como já descrito anteriormente, na avaliação da vulnerabilidade ambiental foi considerada a


metodologia desenvolvida Deschamps (2009), em que o mesmo considera domicílio com
inadequação geral: aquele que há ausência de água canalizada em pelo menos um cômodo, ou seja,
aquele domicílio servido por rede geral, mas canalizada só na propriedade ou terreno, servido por
poço, nascente ou outra forma; o domicílio cujo escoamento se dava por fossa rudimentar, vala, rio,
lago, mar e outro escoadouro; e o domicílio que não fosse atendido por serviços de limpeza; a essa
metodologia acrescentou-se a variável banheiro para aqueles domicílios que não tivessem banheiro.
260
Os dados coletados que serviram para fornecer tais informações foi à inconformidade
habitacional pelos bairros de Mossoró estudados na pesquisa, retirados do IBGE - Resultados do
Universo extraídos do Censo Demográfico 2000. Os dados da Tabela 01 permitem analisar a
inconformidade habitacional por bairros em Mossoró no ano de 2000, na perspectiva de fornecer
indicadores para a avaliação da vulnerabilidade socioambiental do município em questão.

261
Tabela 1. Inconformidade Habitacional – Mossoró/RN, 2000.
BAIRROS ÁGUA % ESCOAMENTO % BANHEIRO % LIXO % TOTAL %
Abolição 305 6,04 2506 49,63 233 4,61 344 6,81 5050 100
Aeroporto 1119 38,98 2306 80,32 573 19,96 326 11,35 2871 100
Alagados 8 17,39 32 69,56 5 10,87 42 91,30 46 100
Alto da Conceição 48 3,38 802 56,40 105 7,38 28 1,97 1422 100
Alto de São Manoel 496 11,29 1923 43,76 506 11,51 351 7,98 4395 100
Alto do Sumaré 151 17,18 210 23,89 123 13,99 103 11,72 879 100
Barrocas 2470 59,17 2687 64,36 1748 41,87 403 9,66 4175 100
Belo Horizonte 552 30,46 526 29,04 532 29,36 210 11,60 1812 100
Boa Vista 373 21,05 298 16,82 212 11,96 4 0,23 1772 100
Bom Jardim 497 18,99 943 36,03 217 8,29 6 0,23 2617 100
Bom Jesus 95 30,16 287 91,11 54 17,14 146 46,35 315 100
Centro 9 1,26 164 22,84 1 0,14 3 0,42 718 100
DixSept Rosado 228 99,57 175 76,42 201 87,77 224 97,82 229 100
Dom Jaime Câmara 407 18,64 1287 58,95 202 9,25 438 20,07 2183 100
Doze Anos 114 9,21 129 10,42 61 4,93 3 0,24 1238 100
Ilha de Santa Luzia 148 22,32 454 68,47 156 23,53 35 5,28 663 100
Itapetinga 11 84,61 5 38,46 8 61,54 13 100 13 100
Lagoa do Mato 1068 33,57 1384 43,49 508 15,96 86 2,70 3182 100
Nova Betânia 151 11,14 418 30,84 105 7,75 67 4,94 1355 100
Paredões 139 6,80 281 13,73 140 6,84 10 0,49 2047 100
Pintos 203 41,18 428 86,82 161 32,66 142 28,80 493 100
Planalto Treze de Maio 96 7,91 602 49,54 54 4,44 118 9,71 1215 100
Presidente Costa e Silva 164 16,69 391 39,82 188 19,14 126 12,83 982 100
Redenção 59 10,22 234 40,55 44 7,63 54 9,36 577 100
Rincão 149 8,44 74 4,20 94 5,33 175 9,92 1763 100
Santa Delmira 269 9,70 448 16,14 155 5,58 396 14,26 2776 100
Santo Antônio 1794 45,34 1807 45,66 633 16,00 382 9,65 3957 100
Zona Rural 3114 92,24 1562 46,27 1899 56,25 2827 83,74 3376 100

Fonte: IBGE – Censo Demográfico, 2000.

262
De acordo com os dados da Tabela 1, verifica-se que o bairro DixSept Rosado apresenta o
maior percentual de inconformidade habitacional no que se refere ao indicador de abastecimento de
água.Pois apresenta um percentual de 99,57%, onde desde valor estão os domicílios atendidos por
poço ou nascente na propriedade que não são canalizados e os que possuem outras formas de
abastecimentos que estão canalizados em apenas um cômodo e os que não estão canalizados.
No que se refere à renda no bairro DixSept Rosado, constatou-se que ele possui o menor
percentual com relação aos demais bairros de Mossoró (0,87%), dos responsáveis pelos domicílios
recebendo de cinco a dez Salários Mínimos – SM, no ano de 2000. Em uma analise mais detalhada
do rendimento verifica-se que a maior parte dos responsáveis pelos domicílios nesse bairro recebe
até dois SM(72,92%), após esse percentual verifica-se que sem rendimento é 15,28, e com dois a
cinco SM é 10,92%.
Verifica-se (Tabela 1.)que o bairro que apresentou o menor percentual de inconformidade
habitacional – no requisito água foi o Centro com 1,26% dos domicílios atendido por rede geral,
mas com água canalizada na propriedade ou terreno, atendido por poço ou nascente na propriedade
e com outras formas de abastecimento.
No Centro observou-se que com relação aos outros bairros da cidade, ele detém o maior
percentual (17,97%) de seus responsáveis pelos domicílios com rendimento de dez a vinte SM. A
nível isolado de bairro identifica-se que o seu maior percentual de responsáveis se encontram na
situação financeira de cinco a dez (29,39%), em seguida vem dois a cinco SM (22,56%), até dois
SM (16,85%), mais de vinte SM (11,28%), e sem rendimento com 1,95%, vale ressaltar que esses
dados são referentes ao Censo Demográfico do ano de 2000.
Seguindo na analise da Tabela 1, constata-se que o bairro Bom Jesus possui o maior
percentual de seus domicílios com inadequação habitacional em seu sistema de esgotamento, pois
apresenta 91,11% de seus domicílios cujo esgotamento sanitário se dava por fossa rudimentar e
outros escoadouros, no ano de 2000.
No ano de 2000 o bairro Bom Jesus não possuía nenhum responsável pelo domicílio com
rendimento de cinco a dez SM e dez a vinte SM, com mais de vinte tinha 0,32%, com até dois SM o
maior percentual de seus responsáveis com 71,42%, com dois a cinco SM 7,94%, e superando esse
valor 20,32% sem rendimento.
Ao retornar para a analise (Tabela 1.) observa-se que o Rincão com 4,20% é o menor
percentual de domicílios com inadequação em seu esgotamento sanitário. Em termos de rendimento
salarial verifica-se que o Rincão é o bairro que possui maior percentual do município em que
responsáveis pelos domicílios recebem de dois a cinco SM (36,81%).
Ao analisar a variável banheiro observa-se que novamente o bairro Dix Sept Rosado se
destaca como o de maior percentual de domicílios desprovidos dessa estrutura sanitária (87,77%), já
263
o Centro da cidade também se encontra com o menor valor de domicílios sem banheiros (0,14%),
observando assim, que o bairro Dix Sept Rosado e Centro se encontram em duas variáveis de
inconformidade habitacional com condições oposta, ou seja, um com apresentando deficiência e
outra sem, do ponto de vista significativo de valores.
Por fim, a última analise realizada diz respeito ao atendimento dos serviços de limpeza
pública, em que se identificam dois bairros com o menor percentual da ausência desse serviço que
são: Bom Jardim (0,23%) e Boa Vista (0,23%), com relação ao maior percentual esse foi constatado
no Itapetinga com 100%, esse valor significativo pode está relacionado a essa área ser de um setor
industrial, onde está localiza a indústria de cimento da cidade. No que se referem aos rendimentos
dos responsáveis pelos domicílios não se observou nenhum percentual de maior e de menor dos
demais bairros que compõem o município.

CONCLUSÃO

A pesquisa proporcionou uma reflexão acerca da inconformidade habitacional dos bairros de


Mossoró/RN, em que suas variáveis acrescidas de algumas informações sobre o rendimento dos
responsáveis pelos domicílios serviram de analise para a vulnerabilidade socioambiental da cidade.
De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2000, os bairros que merecem uma atenção
especial em relação às condições sanitária e de rendimento foram o Dix Sept Rosado, Bom Jesus e
Itapetinga, sendo o primeiro o que merece um destaque maior, pois foi identificado com o maior
percentual de inconformidade em duas variáveis (água e banheiro), onde um fator exerce uma
influencia sobre o outro. Ao considerar que a falta de abastecimento de água servido por rede geral
e canalizado em pelo menos um cômodo é um requisito fundamental para a utilização de um
banheiro quer seja sua forma de escoamento (fossa séptica ou rudimentar).
Nessa perspectiva, os resultados ora apresentados nessa pesquisa apontam para a
necessidade de se pensar em um planejamento urbano mais eficaz e integrado, através da aplicação
de políticas públicas, em vigor, e da formulação de novas políticas públicas, visando à mitigação
dos problemas nos âmbitos social e ambiental, que proporcione a população uma melhor qualidade
de vida.

REFERÊNCIAS

APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo:


Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 59-70.

264
CHAVES, Sammya Vanessa Vieira; LOPES, Wilza Gomes Reis. Riscos, perigo e vulnerabilidade
em áreas urbanas: uma discussão conceitual. In.: Encontro Nacional da ANPPAS. 4.; 2008,
Brasília. Anais... Distrito Federal: 2008.

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265
INTEGRAÇÃO TEMPORAL E MOBILIDADE INTRA-URBANA: O CASO DO MERCADO
CENTRAL DE JOÃO PESSOA-PB34

Danilo Coutinho da SILVA (Graduando – DGEOC/UFPB) – danilogeog@hotmail.com


Loester Figueirôa de FRANÇA FILHO (Graduando – DGEOC/UFPB) – loesterf3@gmail.com
Paulo Vitor N. de FREITAS (Graduando – DGEOC/UFPB) – paulogeo5@gmail.com

Resumo

Em todo o país a questão do sistema de transporte urbano e do trânsito tem demandado muitos
debates. As cidades crescem, e com ela a necessidade de um sistema de transportes moderno, eficaz
e eficiente também. Assim, o presente artigo tem como objetivo avaliar o mecanismo de
―Integração Temporal‖ como forma de baldeação entre as diversas localidades da Cidade de João
Pessoa – PB, utilizando como recorte espacial as paradas localizadas no entorno do Mercado
Público Central. Concluiu-se que o sistema beneficia principalmente a classe estudantil e
trabalhadora e o Mercado Central representa um importante eixo na malha urbana da capital. Juntos,
o sistema de integração temporal e os pontos de ônibus do Mercado Central tem sido responsáveis
por uma mudança nos circuitos de deslocamento da cidade, mas, sobretudo, por uma melhoria na
qualidade de vida nos seus usuários.

Palavras-chaves: Integração Temporal; Mobilidade Intra-Urbana; João Pessoa.

Abstract

Across the country the issue of urban transport system and traffic has sued many debates. Cities
grow, and with it the need for a modern transport system, effective and efficient as well. Thus, this
article aims to evaluate the mechanism of "Temporal Integration" as a way of transshipment
between different localities of the city of João Pessoa - PB, using spatial area as the bus stops
located around the Central Market. It was concluded that the system mainly benefits the student and
working class and the Central Market is an important axis in the urban fabric of the capital.
Together, the system integration time and the bus stops from the Central Market has been

34
Este trabalho é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito da disciplina de Geografia Urbana do
curso de Geografia na UFPB, tendo como orientadora a Profª. Dra. Doralice Sátyro Maia – DGEOC/UFPB.

266
responsible for a shift change in the circuits of the city, but mainly by an improvement in the quality
of life of its users.

Keywords: Temporal Integration, Intra-Urban Mobility; João Pessoa.

INTRODUÇÃO

Em todo o país a questão do sistema de transporte urbano e do trânsito tem demandado


muitos debates. As cidades crescem, e com ela a necessidade de um sistema de transportes
moderno, eficaz e eficiente também.
No caso de João Pessoa, os ônibus desempenham, desde que substituíram em definitivo os
bondes em 1961, um importante meio de se locomover pelos diferentes espaços da cidade, sendo
utilizado principalmente pelas classes de mais baixa renda. São também um meio de se evitar
congestionamentos na cidade, pois são transportes coletivos que transportam grande quantidade de
pessoas, ao contrários dos automóveis próprios que, à medida que crescem de número, tendem a
trazer mais problemas de tráfego na cidade, principalmente quando esta não acompanha o ritmo de
tal aumento.
Em que pese à viabilidade ou não dos transportes sobre rodas em detrimento do transporte
sobre trilhos (SOUZA, 2010), o fato é que, em nome da ordem e para evitar que a cidade ―pare‖, é
necessário pensar cada vez mais alternativas de transportes que dêem conta da população que na
cidade reside e/ou que nela trafega. É nesse sentido que as ações das mais diversas esferas do
governo têm de ser encaminhadas, sobretudo quando se pensa o que pode acarretar as possíveis
(maiores) conseqüências de uma não (ou má) execução do que se foi planejado para o sistema de
transportes urbano.
Assim, o presente artigo tem como objeto de estudo o mecanismo de Integração Temporal
implantado em 2008 pela Prefeitura de João Pessoa (PMJP) por meio da Superintendência de
Transporte e Trânsito (STTrans), atualmente Superintendência Executiva da Mobilidade Urbana
(Semob). Delimitou-se como recorte espacial de estudo o Mercado Público Central de João Pessoa
e suas imediações, localizado no bairro do Centro (Mapa 01), por dois motivos: pelo fato deste local
se constituir em um espaço que faz parte do cotidiano dos autores deste trabalho, que fazem uso
rotineiro em seus deslocamentos diários; e pelo fato dos mesmos terem percebido que o fluxo de
pessoas que circulam pelo local aumentou com a implantação do mecanismo de integração
temporal.

267
Mapa 01: Localização Geográfica da Área de Estudo
Fonte: Google Earth, 2011.

Segundo Arruda (2011, p.53), mobilidade urbana ―é a condição em que se realizam os


35
deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano‖ . Logo, mobilidade intra-urbana,
posicionando-se em um nível de definição menos abstrato, vem a ser, a nosso ver, a realização de
tais deslocamentos no espaço de uma mesma cidade ou área metropolitana. Pensando no direito de
ir e vir nos espaços da cidade, a questão da mobilidade ganha veemência.

A Mobilidade pode ser inclusiva, sustentável social e ambientalmente, moderna e


inteligente, de forma a melhorar a circulação nas cidades e a vida dos que nela vivem,
atraindo mais investimentos e melhorias. Sua gestão pode e deve ser compartilhada,
participativa e democrática, integrada às demais políticas de desenvolvimento urbano.
(Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte Público De Qualidade Para Todos,
2009, p.11)

Borges (2006, p. 3) oferece uma definição operacional para transporte coletivo urbano,
admitindo não ter encontrado uma definição legal específica para o termo. Segundo ele, essa
definição operacional abrangeria ―o transporte público não individual, realizado em áreas urbanas,
com características de deslocamento diário de cidadãos‖. No entanto, nossa pesquisa restringe-se
apenas ao transporte coletivo urbano realizado por meio de ônibus. Mesmo assim, tal definição,

35
Segundo o mesmo autor, este conceito, o de mobilidade urbana, é uma novidade, bem como um avanço na maneira
de tratar o trânsito das cidades, também significando ―o conjunto de ações a serem adotadas pelos responsáveis na área
de transporte das cidades‖ (2011, p. 53)
268
mais abstrata, serve como parâmetro para essa pesquisa, principalmente por admitir a função de
deslocamento diário de seus usuários.

OBJETIVOS

a) Objetivo Geral

Avaliar o mecanismo de ―Integração Temporal‖ como forma de baldeação entre as diversas


localidades da Cidade de João Pessoa – PB, utilizando como recorte espacial as paradas localizadas
no entorno do Mercado Público Central.

b) Objetivos Específicos

 Verificar as melhorias causadas no que diz respeito à relação espaço-tempo da mobilidade


intra-urbana;

 Analisar os pontos negativos e positivos do mecanismo.


 Verificar, através da realização de entrevistas nas paradas de ônibus compreendidas pelo
Mercado Central, a demanda de usuários e o nível de satisfação dos mesmos com relação ao
uso do serviço.

METODOLOGIA

Este trabalho possui um caráter descritivo-reflexivo, tendo como referência o método


dialético. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental buscando um
aprofundamento teórico maior no tema da pesquisa (transporte coletivo, mobilidade intra-urbana,
integração temporal, etc).
Tendo já um conhecimento bem embasado, elaboramos instrumentos de pesquisa:
questionários subjetivos e objetivos. Em pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas nos dias
13, 14 e 15 de dezembro com usuários do sistema de integração temporal em pontos de ônibus no
mercado, tentando melhor compreender a importância e o papel do mecanismo aqui estudado, assim
como do local investigado. As entrevistas dos dias 13 e 14 (foram aplicados 20 questionários), ao
contrário das do dia 15, tiveram um caráter subjetivo e não objetivo, por isso as informações
adquiridas são de natureza qualitativa, não quantitativa, enquanto que as do dia 15 (28
questionários) são, essas sim, de natureza quantitativa. Também procuramos informações na
internet, em sites como o da Prefeitura Municipal de João Pessoa e o do PasseLegal.com.br. Em
fase final todos os dados foram analisados, trabalhados e transformados em gráficos e tabelas, onde,

269
a partir de uma relação destes com o referencial teórico, tiveram como produto textos que
compuseram este artigo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

É notável que João Pessoa, assim como muitas outras cidades, conhece atualmente vários
subcentros de comércio e serviços, o que sugere um processo de descentralização espacial,
conjuntamente com o enfraquecimento da centralidade da Área Central. A necessidade do
desenvolvimento de alternativas nas rotas de viagem dos usuários do sistema de transporte urbano
por ônibus em João Pessoa parte dessa premissa, ou seja, não é mais conveniente que um usuário de
tal sistema passe necessariamente pelo Terminal de Integração do Varadouro para chegar até seu
destino final localizado, por exemplo, em um dos subcentros da cidade. É nesse sentido que,
acompanhando o processo de descentralização espacial, estão surgindo terminais de integração
secundários em João Pessoa – ―subterminais‖ – a exemplo dos Terminais de Integração do Colinas
do Sul e do Valentina. São verdadeiros eixos na malha urbana da capital.
Para além disso, o sistema de integração temporal tem permitido a multiplicação desses
eixos. Na realidade, hoje, cada ponto de ônibus em João Pessoa pode ser um pequeno terminal de
integração, guardada as devidas proporções.
A integração temporal é um mecanismo que tem como função transformar cada ponto de
ônibus num verdadeiro ―mini terminal de integração‖. Com ele, um usuário de transporte coletivo
pode se transferir de uma linha para outra (dentro de certos limites de tempo e de linhas) sem pagar
outra passagem. Tem, no mínimo, 30 minutos36 para se transferir para outra linha e não pode
realizar a integração entre as mesmas linhas, e nem entre linhas ―circulares‖; o usuário também
precisa ficar atento para não tentar integrar com alguma linha que passe ou vá para o terminal de
bairro da primeira linha e pelo mesmo corredor (Prefeitura Municipal de João Pessoa, 2008). Claro
que, por sua natureza eletrônica, ele precisa de um sistema de bilhetagem eletrônica para ser
realizado, substituindo os convencionais Vale-transporte e Passe Estudantil. A integração tarifária
utilizando sistemas de bilhetagem com limite de tempo (integração temporal) é uma prática recente
nas cidades brasileiras, iniciada a partir do ano 2000 e, a maior parte dos projetos, executados a
partir de 2004 (OLIVEIRA apud NTU, 2006).

36
Muitas pessoas fazem confusão acerca do tempo limite para integração. Isso acontece porque ele varia de linha para
linha. Segundo notícia publicada no site da Prefeitura Municipal de João Pessoa em 2008, ―o tempo para integração
temporal é o que o ônibus gasta do ponto de embarque do usuário até o Terminal de Integração (tempo variável) e mais
30 minutos‖.
270
O Mercado Público Central de João Pessoa se constitui num importante local de mercado no
centro da cidade. Foi construído no início da década de 1940 e está em processo final de
revitalização, numa obra que foi iniciada em 2006 e tem data de término prevista para 2011 (Blog
Solocar, 2010). Mas, além de ser um local de mercado, ele também é, hoje, um importante ponto de
integração entre muitos distritos da capital paraibana. Basta pensar, por exemplo, na sua expressiva
utilidade para um cidadão que mora no bairro do Cristo Redentor e precisa do transporte coletivo
para se deslocar até seu local de trabalho localizado no bairro de Mangabeira: ele desce no Mercado
Central, vai em direção à Av. D. Pedro II e pega uma das várias linhas de ônibus que passam em
frente ao Mercado Central e vão para Mangabeira. Assim esse ponto de baldeação compreendido
pelo Mercado Central e seu entorno tem hoje uma grande importância no que diz respeito à
mobilidade intra-urbana na/da capital.
O atual prefeito do município de João Pessoa, Luciano Agra, em sua dissertação de
mestrado, já identificava, através de relatório do Grupo Executivo de Integração da Política de
Transportes (GEIPOT) – hoje em inventariança – feito em 1983 com o Estudo de Transportes
Urbanos de João Pessoa, que a Av. Dom Pedro II (Centro/Cidade Universitária/Bancários) e a Av.
Epitácio Pessoa eram dois dos principais corredores de transportes do aglomerado urbano de João
Pessoa (Oliveira, 2006). Esses são, justamente, os dois corredores que os usuários do mecanismo de
integração temporal que ―cortam caminho‖ pelo Mercado Central parecem fazer mais uso,
atualmente.
Além disso, sabe-se que a parcela da população mais beneficiada com o mecanismo é a de
baixa renda, isso porque é ela quem mais faz uso dos transportes coletivos.

A integração dos transportes públicos é considerada por muitos autores uma das ações mais
eficazes para ampliar a mobilidade sustentável, no contexto sócio-econômico da área
urbana, visando proporcionar acesso aos bens e serviços de uma forma eficiente para todos
os habitantes, especialmente para as camadas menos favorecidas da população (OLIVEIRA
et al, 2010).

Conforme o explicitado pelo MDT (Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte


Público De Qualidade Para Todos) junto ao Fórum Nacional de Reforma Urbana por meio da
publicação da cartilha Mobilidade Urbana e Inclusão Social de 2009, ―o processo de urbanização
das cidades brasileiras caracteriza-se pela segregação territorial‖, empurrando a população para as
periferias e concentrando os serviços públicos e empregos no centro, fazendo com que a demanda
por transporte público aumente e os mais pobres tenham a sua mobilidade limitada, provocando a
segregação sócio-espacial dessas pessoas. ―Em grande parte das cidades, estes tipos de transporte
não são integrados o que gera dificuldades para as pessoas se locomoverem, e obriga o pagamento
271
de duas ou mais tarifas (Movimento Nacional Pelo Direito Ao Transporte Público De Qualidade
Para Todos, 2009, p.32)‖.
As distâncias percorridas pelas linhas de transporte público tendem a aumentar com a
expansão territorial das cidades, fazendo com que o intervalo de tempo entre as viagens aumente
consideravelmente, dificultando o acesso da população ao transporte coletivo. Uma conseqüência
disso é a exclusão e a segregação das pessoas de baixa renda, agravadas pelo valor das tarifas de
ônibus, impedindo muitas vezes o acesso delas aos serviços oferecidos pela cidade.
Segundo Hutchinson (1979, p. 334), os impactos de investimentos em algum sistema de
transporte que dizem respeito às variações no custo operacional, segurança e tempo da viagem
normalmente são percebidos por seus usuários. Nesse sentido, boa parte dos usuários entrevistados
relatou ter havido uma enorme melhoria no que diz respeito à diminuição no tempo gasto na
viagem, pois o mecanismo de bilhetagem eletrônica conjuntamente com o de integração temporal
criou uma espécie de ―atalho‖, ao fazerem com que não fosse mais necessário ir até a integração do
Varadouro para poder pegar sua outra condução. É aí que entra a importância do espaço escolhido
para investigação – o mercado central – pois ele é um desses ―atalhos‖, na medida em que, como já
foi dito, é utilizado por inúmeros usuários de transporte urbano em João Pessoa como maneira de
―encurtar‖ as distâncias. Para exemplificar tal importância, elaboramos uma ilustração (figura 01),
no qual fica espacialmente definida a inconveniência (em certos casos) de se deslocar até o
Varadouro para efetuar a integração.

Figura 01: Exemplo de percurso feito utilizando o Terminal de Integração do Varadouro.


Fonte: Google Maps. Elaboração: Loester Figueirôa.

272
Com essa ilustração podemos ver que, antes da implantação do sistema de integração
temporal, o percurso se tornava demasiadamente longo, fazendo com que os usuários perdessem
muito tempo em seus deslocamentos, o que implicava em impactos negativos na qualidade de vida
dos mesmos.
Uma boa parcela dos entrevistados também declarou que outro benefício desse mecanismo é
o da melhoria no que diz respeito ao custo financeiro de deslocamento: paga-se apenas uma
passagem por duas conduções (um dos impactos apontados por Hutchinson). Mesmo essa já sendo a
função do Terminal de Integração do Varadouro, mais antigo, tal melhoria apontada pode ser
justificada pelo fato de que, a nosso ver, alguns usuários, em certos casos, preferiam (antes da
integração temporal) não fazer uso desse terminal (preferindo utilizar linhas circulares ou até
mesmo pagar pela outra condução) por que, assim, não seriam ―obrigados‖ a o freqüentar, o que
seria uma perda de tempo em seu deslocamento.
No entanto, também foram apontados problemas no mecanismo, muitos de natureza
normativa. Em outras palavras, a maioria dos problemas diz respeito aos próprios limites e regras
estabelecidas para o funcionamento do sistema. Por exemplo, foi comum escutar declarações
relativas ao tempo limite para ser efetuada a integração que, como já foi dito, varia de acordo com a
linha. Associado a isso está outra deficiência apontada pelos entrevistados que diz respeito não ao
mecanismo, mas à baixa ―freqüência‖ de ônibus de algumas linhas. Juntos, esses dois problemas (o
do relativo baixo tempo limite para integração e o grande tempo que algumas linhas levam para
passar pelo mercado central) causam um descontentamento em alguns usuários, que muitas vezes
acabam pagando pela segunda condução por ultrapassar o tempo limite graças à incipiente
disponibilidade de certas linhas.
Outro problema diz respeito às restrições de linhas que estão integradas entre si, onde não é
raro ocorrer a tentativa de integração entre linhas não integradas por parte de usuários
desinformados.
Graças a esses pontos negativos, algumas pessoas não se mostraram satisfeitas com o
mecanismo, no entanto, foram poucas (11%), como pode ser observado na Figura 02. Na verdade,
houve uma expressiva aprovação do sistema de integração temporal por parte dos usuários
entrevistados, onde a maioria respondeu que avaliava o mecanismo como ―bom‖ (39%), e outro
bom montante como ―ótimo‖ (25%). Logo, é possível perceber que o mecanismo tem tido uma
aceitação, até por que esses problemas não parecem ser encarados pela população como aspectos
que o tornam inviável de ser aplicado. Trocando a miúdos, o sistema só melhorou a mobilidade
intra-urbana, apenas precisa ser, na opinião dos entrevistados, aperfeiçoado, melhorado e
contextualizado.

273
11% 0% 11%

Péssimo
14%
Ruim
25% Regular
Bom
Ótimo
Excelente

39%

Figura 02: Nível de satisfação dos usuários entrevistados


Fonte: pesquisa de campo, dezembro de 2011.

Durante as entrevistas, notamos que há uma enorme diversidade no que diz respeito ao
percurso dos usuários do mecanismo. No entanto, alguns bairros se sobressaíram: como local de
origem houve pessoas que vinham de Cruz das Armas, Cristo, Costa e Silva, Jaguaribe, Geisel,
Centro, Funcionários, Jardim Veneza, Bairro das Indústrias, dentre outros; como local de destino o
Campus I da Universidade Federal da Paraíba foi o local mais citado (incluindo-se aí o Hospital
Universitário), mas também houve casos de pessoas que se dirigiam para Manaíra, Mangabeira,
Bessa, Bancários, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pôde ser visto neste artigo, o mecanismo de integração temporal tem tido uma grande
utilidade na perspectiva da melhoria da mobilidade intra-urbana na capital, principalmente para a
população mais pobre que é a que mais precisa de um transporte público de qualidade. É essa a
população que mais tem percebido o impacto social do sistema que, mesmo não sendo perfeito e
precisando de um aperfeiçoamento contextualizado (pensando nos diversos percursos e casos
possíveis), tem provocado uma melhor qualificação do sistema de transporte urbano na capital.

O sistema beneficia principalmente a classe estudantil e a trabalhadora. Com o mecanismo


há, além de uma economia de tempo (seja na migração casa/trabalho ou casa/escola ou
casa/trabalho/escola), uma economia de gastos financeiros, uma vez que com apenas uma passagem
uma pessoa pode pegar, dependendo das linhas que pretende integrar, dois ônibus.
Quanto ao recorte espacial de estudo – o mercado central – este revelou representar um
importante eixo no tecido urbano da capital. É não só um local de mercado, mas um ponto onde as
distâncias são encurtadas e o tempo gasto no deslocamento diário dos cidadãos é diminuído. Juntos,

274
o sistema de integração temporal e os pontos de ônibus do Mercado Central tem sido responsáveis
por uma mudança nos circuitos de deslocamento da cidade, mas, sobretudo, por uma melhoria na
qualidade de vida nos seus usuários.

O transporte público constitui um importante instrumento de justiça social, na medida em


que pode conduzir de modo mais racional o crescimento das cidades e das aglomerações
urbanas, ou seja, torna possível uma acessibilidade mais equitativa à cidade e às suas
possibilidades de emprego, de cultura e de lazer (Cocco & Silveira, 2011, p.555).

Por fim, cabe registrar que os resultados obtidos foram satisfatórios, principalmente se
considerarmos que o tempo destinado à realização da pesquisa foi curto.

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<www.solocar.com.br/blog/tag/mercado-central/> Acesso em: 28 de Novembro de 2011.

276
FATORES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PELO USO NÃO SUSTENTÁVEL DOS
RECURSOS NATURAIS DA BACIA DO RIO DOCE – RN

Élida Thalita Silva de CARVALHO


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
elidathalita@hotmail.com
Graduanda em Geografia

Miquéias Rildo de Souza SILVA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
miqueiasrildo@hotmail.com
Graduando em Geografia
Aline Berto FAUSTINO
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
alineberto@cchla.ufrn.br
Graduanda em Geografia
Sebastião Milton Pinheiro da SILVA
Departamento de Geografia da UFRN - Orientador
smpsilva@cchla.ufrn.br

Resumo

O processo de urbanização nos últimos anos vem crescendo em ritmo acelerado e junto com esse
processo acontecem os fenômenos da migração e da expansão demográfica, os quais contribuem
cada vez mais para o caos dos centros urbanos. Estes, por sua vez, não conseguem responder com a
infraestrutura de serviços básicos necessários para proporcionar qualidade de vida aos contingentes
de novos moradores. Isto se deve, principalmente pela insuficiência do número de moradias
construídas para abrigar essa nova população residente que, pela sua condição socioeconômica
ainda precária, acaba por se fixar em zonas periféricas ou em áreas irregulares. O crescimento
urbano acelerado, desacompanhado de um planejamento prévio sobre o uso e ocupação dos solos,
acaba gerando sérios problemas socioambientais. Assim, considerando a bacia hidrográfica como
uma unidade de planejamento ambiental essencial para a qualidade de vida da população nela
residente, é fundamental identificar os elementos que a compõem e as interações existentes,
buscando solucionar possíveis problemas socioambientais. Neste artigo são apresentados os
resultados preliminares do trabalho em desenvolvimento na Bacia Hidrográfica do Rio Doce – RN,
localizada na Região Metropolitana de Natal, que vem sofrendo impactos socioambientais devidos
ao mau uso dos solos e dos recursos hídricos resultantes da expansão e da urbanização desordenada
da região.

Palavras-chaves: Planejamento, urbanização, questões sociais e ambientais; Bacia do Rio Doce.

277
Abstract

The urbanization process in recent years has been growing at a rapid pace and along with this
process happen the phenomena of migration and population growth, which increasingly contribute
to the chaos of urban centers. These, in turn, can not respond with the necessary basic infrastructure
services to provide quality of life to the quotas of new residents. This is mainly due to the
insufficient number of dwellings built to house this new population, which by their socioeconomic
status still precarious, eventually settling in outlying areas or uneven areas. The rapid urban growth,
unaccompanied by prior planning on the use and occupation of the soil, eventually causing serious
environmental problems. Thus, considering the river basin as a unit of environmental planning
essential to the quality of life of people living in it, it is essential to identify the elements that
compose it and the interactions, seeking to solve possible environmental problems. This article
presents the preliminary results of work in progress at Doce River Basin - RN, located in the
metropolitan area of Natal, which has suffered environmental impacts due to the misuse of land and
water resources resulting from unplanned urbanization and expansion of region.

Keywords: Planning, urbanization, social and environmental issues; Doce River Basin.

Introdução

A população brasileira vem se expandindo de forma vertiginosa nas últimas décadas.


Paralelo a esse crescimento acelerado, tem-se propiciado a rápida expansão dos centros urbanos
com diversos efeitos negativos, principalmente, quanto às questões socioambientais. A expansão de
centros urbanos não planejados tem ocasionado transtornos em uma cadeia de serviços básicos e de
qualidade para a população que se fixa no território, para os quais, Coelho (2001), afirma que:

―O senso comum tem construído alguns pressupostos a cerca da degradação


ambiental em áreas urbanas. Acredita-se que os seres humanos, ao se concentrarem
num determinado espaço físico, aceleram inexoravelmente os processos de
degradação ambiental, que cresce na proporção que a concentração populacional
aumenta. Desta forma, cidades e problemas ambientais teriam entre si uma relação
de causa-efeito rígida.‖

A expansão da Zona Norte de Natal é uma dessas situações bem característica. Ela se deu a
partir da década de 70, como afirma Araújo (2004). A zona norte surgiu como suporte ao processo
de crescimento da cidade de Natal, que desencadeou a necessidade de se criar novos locais de
habitação. Esta zona administrativa da cidade, que até então mantinha suas características originais
de vegetação nativa, solos e águas protegidos, recebeu um grande aporte populacional,

278
principalmente, de mão de obra para atividades agrícolas, que ainda se fazem presentes em diversos
locais. Com a expansão urbana da região metropolitana de Natal, a paisagem da Zona Norte da
capital potiguar, e de seus municípios vizinhos, foram se transformando rapidamente e, atrelados a
essas transformações, os recursos naturais foram sendo modificados, de modo desfavorável à
preservação ambiental e à sustentabilidade. A Zona Norte, como é comumente alcunhada, é a mais
populosa e a que mais cresceu. Segundo o censo de 2000 a população desta zona administrativa era
de 244.743 habitantes, enquanto que no último censo de 2010, a população residente, até então, era de
303.453 habitantes. É dentro desse contexto do crescimento populacional acelerado que a Bacia do
Rio Doce, e, principalmente, o rio que dá nome á mesma, está inserida num quadro de ocupação
desordenada, de ausência de planejamento territorial, e distante dos olhos das leis e das autoridades
ambientais.
A agressão ao rio é constante e desenfreada. O ambiente bastante fragilizado vive sob essa
condição, principalmente, pela falta de racionalização da água, pelo uso de agrotóxicos na
agricultura, pelos dejetos industriais e ainda pela própria população ao jogar lixo e outros rejeitos no
terreno. Dessa forma, o ecossistema natural tem sido amplamente impactado pelas atividades
antrópicas. A bacia hidrográfica percebida como uma unidade básica de análise, planejamento e
gestão ambiental permite conhecer e avaliar seus diversos elementos, seus processos e as interações
que nela ocorrem (Botelho & Silva, 2011). A identificação de possíveis fatores de degradação pelo
uso não sustentável dos recursos naturais da Bacia do Rio Doce – RN assume, portanto, extrema
relevância para o planejamento ambiental desta bacia.
Assim sendo, o objetivo deste estudo é identificar os locais, os fatores e as consequências
do mau uso dos recursos naturais da bacia do Rio Doce, tendo em vista que a acelerada agressão
causada pelas atividades antrópicas, vem ocasionando sérios problemas socioambientais.
Para atingir os objetivos, utilizou-se uma metodologia dividida em três fases distintas.
Inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, onde
foi consultado o material bibliográfico produzido (relatórios técnicos, reportagens, artigos e teses)
com informações diversas sobre esse ecossistema, além das características socioambientais e sobre
o uso e ocupação dos solos. Além da pesquisa bibliográfica, foi feita uma pesquisa de dados
espaciais, onde foram utilizados os dados disponibilizados pela CPRM (Serviço Geológico do
Brasil), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e imagens de satélite da área de
estudo. Esses materiais foram usados na elaboração dos mapas e na criação do banco de dados
geográfico com as características da Bacia. A segunda fase do trabalho foi referente à atividade de
campo, onde foram feitos registros fotográficos de alguns pontos do Rio Doce, para observar
possíveis pontos de degradação e poluição do rio. Por fim, na terceira fase, os dados espaciais
coletados e os pontos geográficos adquiridos no trabalho de campo foram processados no SPRING
279
(Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas) que é um SIG (Sistema de
Informação Geográfica) de uso livre, desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais). Os mapas foram produzidos no SCarta, programa complementar da plataforma SPRING.

Localização e caracterização da área de estudo

A Bacia Hidrográfica do Rio Doce está localizada no estado do Rio Grande do Norte (RN)
como mostrado no mapa da Figura I, compreendendo os Municípios de Taipu, Ielmo Marinho,
Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Natal, compondo grande parte da Região
Metropolitana de Natal (RMN). Esta bacia hidrográfica também está inserida na Zona de Proteção
Ambiental 9 (ZPA 09), que compreende o ecossistema de lagoas e dunas ao longo do Rio Doce.
Esta área é definida no artigo 17 do Plano Diretor da cidade de Natal 2007 da Lei Complementar Nº
82 como:

―Art. 17 - Considera-se Zona de Proteção Ambiental a área na qual as


características do meio físico restringem o uso e ocupação, visando à proteção,
manutenção e recuperação dos aspectos ambientais, ecológicos, paisagísticos,
históricos, arqueológicos, turísticos, culturais, arquitetônicos e científicos.―

Figura I - Mapa de localização da Bacia do Rio Doce - RN

A bacia do Rio Doce se estende por uma área de 387,80 km2, que de acordo com o relatório
elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) (BRASIL, 2005) apresenta cursos d‘água de
280
2ª ordem e padrão de drenagem dendrítico típico de relevo sedimentar. Em geral, os rios são
classificados como consequentes, isto é, quando o curso do rio é determinado pela declividade do
terreno, neste caso, possuindo estrutura sedimentar. Quanto ao escoamento global tem-se a forma
exorréica. Segundo o plano estadual de recursos hídricos (SEMARH, 2009) o Rio Doce é o
principal rio da bacia e tem como principais afluentes o Rio Guajiru e o Riacho do Mudo. A bacia é
composta também por um sistema hídrico subterrâneo com os Aquíferos Jandaíra, Cristalino e
Dunas-Barreiras. Ao longo do seu curso o Rio Doce cruza os municípios de Natal e Extremoz
dividindo esses dois territórios e termina sua viagem ao desembocar no estuário do Rio Potengi. O
Rio Doce, que se concentra no baixo curso da bacia, forma um sistema fluvio-lacustre, pois a ele
estão interligadas às Lagoas Azul, Dendê, Gramoré, Extremoz, Pajuçara e Lagoa do Sapo.
(AZEVEDO, 2010).
A região da bacia apresenta tipo climático ―As‖, seguindo a classificação de Köppen, que se
caracteriza pelo clima tropical com estação seca, com predomínio das características quente e
úmido (SEMARH, 2009).
O aspecto geomorfológico revela terrenos de origem sedimentar, composto basicamente por
dunas fixas e móveis, além da ocorrência de vales. Os campos dunares pertencem à Formação
Barreiras, com grãos que variam de finos a médios de coloração branca, amarela e vermelha,
classificadas como areias quartzosas. Essa formação permite uma rápida infiltração das águas
pluviais e boa disposição ao armazenamento subterrâneo. O vale possui altimetria mais baixa em
relação à área da bacia, e por este motivo o escoamento superficial é diminuto, mais reduzido e
tende acumular água em superfície. A formação vegetal é composta por Tabuleiros e manguezal. Os
tabuleiros são um complexo florístico característico de áreas antropizada, encontrado sob as dunas é
composto principalmente por vegetação rasteira que realiza importante função ao impedir o
movimento dos grãos de areia diante da ação eólica no litoral. O manguezal é uma vegetação de
contato entre as águas continentais e oceânicas, que tem o papel de barrar a força das águas do
oceano sobre o continente, além de constituir o berçário natural da vida marinha. Esse tipo de
vegetação se adapta facilmente às condições de salinidade e inundação do ambiente flúvio-costeiro
(NUNES, 2006).

Uso e ocupação do entorno da Bacia do Rio Doce

A Lagoa de Extremoz surge como componente importante no contexto da bacia. Esta está
diretamente relacionada à origem do Rio Doce, já que este nasce junto à foz da lagoa. Das 16 bacias
hidrográficas que o estado do Rio Grande do Norte possui 14 são as mais importantes (SEMARH,
2009). A bacia do Rio Doce encontra-se inserida, nesta classificação pela importância em termos de

281
abastecimento doméstico e uso agrícola. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos do RN
(CAERN), o abastecimento de água à população da Zona Norte de Natal é realizado através da
exploração de poços tubulares, sendo que aproximadamente 38% são provenientes do manancial da
Lagoa de Extremoz, enquanto que os outros 62% advém do Rio Doce.
Atualmente, o reservatório da Lagoa de Extremoz está com sua capacidade máxima de
armazenamento, comportando um volume de 11.019.525,00 m³, com dados atualizados em
31/07/2012 (CAERN, 2012). Porém, a falta de infraestrutura básica na área faz emergir problemas
que não conseguem ser absorvidos pela disponibilidade dos recursos oferecidos e não são
solucionados pelos gestores do município, causando assim degradação e poluição deste recurso
hídrico.
Em Natal, especificamente na zona administrativa Norte, a expansão urbana desordenada
tem produzido efeitos negativos e diversos impactos no ecossistema têm sido alavancados e
apontados como resultado da falta de planejamento e de ações voltadas para o desenvolvimento
sustentável desta localidade. De acordo com Américo (2006), a Zona Norte tem características
morfológicas constituída por cordões dunares de alta permeabilidade e porosidade o que contribui
de forma direta para a degradação do aquífero. Aliados a este processo de degradação dos aquíferos
estão também o crescimento de comunidades sem infraestrutura básica para o desenvolvimento
populacional, o agravamento do desmatamento da mata ciliar das margens do rio para práticas de
atividades econômicas, a erosão dos solos, a impermeabilização do terreno, a ocupação irregular nas
dunas e o assoreamento dos rios.
Diante deste contexto, e ao se observar a bacia do Rio Doce, percebe-se que os manejos
inadequados dos recursos naturais estão impactando de forma acelerada e direta toda a bacia
hidrográfica. As ações antropicas ao longo do Rio Doce estão, possivelmente, prejudicando a
qualidade da água usada para irrigar a produção de hortaliças que são consumidas pela população,
além do papel fundamental no abastecimento do estuário do Rio Potengi.
Os habitantes que vivem próximos ao Rio Doce não conseguem observar que múltiplos usos
irregulares dos solos e dos recursos da bacia e, principalmente, deste rio, estão contribuindo para
uma poluição difusa e de difícil controle, pois a partir do momento em que no rio são diretamente
despejados os resíduos produzidos, estes se espalham e atingem um nível alto de efeitos
impactantes negativos, que propiciará uma perda de atendimento hídrico de demandas futuras. Ao
longo do rio principal da bacia do Rio Doce, observamos alguns pontos de contaminação e de
degradação do ambiente (Figura II).

282
Figura II - Pontos Observados ao longo do Rio Doce

A presença das comunidades e as atividades por elas executadas próximas ao rio, indicam os
fatores de degradação, como sendo resultantes da poluição, da erosão e do assoreamento do rio. A
ausência de rede de esgoto e, consequentemente, a falta de saneamento básico, e de disposição local
para despejos de efluentes, também contribuem para elevadas taxas de infiltração pluvial, que
posteriormente, acaba por elevar o nível de vulnerabilidade para a contaminação das águas
subterrâneas. Além de todos os riscos de degradação, ainda é verificada a poluição em massa com
latas, garrafas e sacolas plásticas que são encontradas desde sua nascente (Figura III). Isto é
consequência direta da expansão urbana, e da falta de consciência e de educação ambiental de uma
minoria da população residente que já alcança as margens do rio. Logo após a nascente, o rio já se
expande e ganha força ao longo do seu curso, que passa por diversos bairros e comunidades. Nestas
localidades, o uso e o manejo dos solos e dos recursos hídricos são diversificados, que vão desde
moradia para população ribeirinha até local para banho de animais.

283
Figura III- Poluição observada na nascente do Rio Doce (P1)

Ao longo do percurso do rio podem ser observados diversos pontos de degradação. Um dos
principais pontos de degradação é observado em comunidades localizadas entre os bairros de Lagoa
Azul e Pajuçara, onde se encontram atividades econômicas, como plantação e cultivo de hortaliças,
praticadas pela população ribeirinha como meio de subsistência. Esses pequenos agricultores
habitam e praticam a atividade há vários anos, produzindo, principalmente, tomate, coentro, banana
e cebolinha com a água do Rio Doce utilizada para irrigação. Um fator de risco latente é a
possibilidade de que estes agricultores, utilizando fertilizantes e defensivos agrícolas nas
plantações, venham a contaminar os solos e o rio afetando a qualidade da água. Segundo Botelho &
Silva (2011), o uso de produtos químicos (fertilizantes, pesticidas) associados ao aumento da
erosão, causada principalmente pela retirada da vegetação ciliar para a implantação das plantações,
―pode ter consequências graves para a bacia hidrográfica‖.
Sendo assim, esta população de agente da degradação, torna-se vítima das suas ações. Outro
fator impactante é o desmatamento da mata ciliar para a plantação, e os desvios da água, o que
contribui de forma direta para o assoreamento do rio.
Apesar do Rio Doce não atrair turistas para o local, ele, ainda assim, é muito utilizado como
local de lazer por pessoas que frequentam bares instalados próximos ao rio e pela população local
(Figuras IV e V). Estas, inclusive, utilizam o rio para afazeres domésticos como lavar roupa, louça,

284
banhar animais e outras utilidades. Esse tipo de uso representa um agravante para a degradação
ambiental, pois esse tipo de serventia da água torna-a um verdadeiro transmissor de doenças.

Figura IV – Pessoas se banhando (P2) Figura V - Bares as margens do Rio Doce

Próximo ao adensamento urbano, após passar por todas as propriedades rurais, o Rio Doce,
que continua próximo a Avenida João Medeiros Filho, carrega todo o lixo comum da cidade, como
latas e plásticos, desembocando no rio Potengi, que é outro rio, que está sofrendo um alto processo
de degradação, poluição e contaminação (Figura VI).

Figura VI - Tubulação onde o Rio Doce atravessa a Av. João Medeiros


Filho (P3) até chegar ao Rio Potengi.

Indicadores de Degradação na bacia do Rio Doce

Para caracterizar e indicar fatores e locais de degradação e de poluição ambiental foi feito
um trabalho de campo para contribuir de forma direta para o estudo e para validar e buscar
285
medidas mitigadoras que minimizem esses e outros problemas emergentes na bacia. Destaca-se a
importância de se preservar e monitorar o manejo e o uso dos recursos naturais para o
desenvolvimento sustentável da bacia hidrográfica do rio Doce. Segundo Dias (2009) ―o
comportamento dos recursos naturais existentes em cada região precisa ser diagnosticado para
que o ordenamento urbano possa ser ajustado às potencialidades e às fragilidades existentes no
local‖.

As situações detectadas no Rio Doce, como a poluição, o assoreamento e a intensa presença


do lixo urbano apresentam-se como processos de deterioração que tendem a diminuir cada vez mais
a qualidade da água e dos solos, além de comprometer, seriamente, a demanda futura. Tudo isto,
resultante da ocupação desordenada e do uso da terra sem controles. As comunidades que margeiam
o curso do rio são desprovidas de uma infraestrutura básica, que agrava as condições ambientais,
tendo em vista que a rede de esgoto passa a ser lançada diretamente no rio como uma forma de
resolver um ―problema‖, contrariando e fazendo emergir outro.
A falta de fiscalização e de políticas públicas para a conservação dos recursos naturais
agrava a situação observada no Rio Doce. Muitos instrumentos legais como Código Florestal e/ou
Plano Diretor não são respeitados, pois a retirada da mata ciliar e o despejo de dejetos no rio podem
ser observados em vários pontos ao longo do seu percurso. Além destes instrumentos legais, seria
aconselhável também promover uma educação ambiental para produtores e as populações locais,
apresentando a importância deste recurso para a sociedade a fim de traduzir uma forma de
conservação e o uso sustentável deste.

Considerações finais

A bacia hidrográfica deve ser pensada no âmbito de um planejamento urbano, ou seja,


pensada para fins produtivos de qualidade de vida e ambiental, respeitando o limite máximo da área
e pensando numa geração futura. Porém o que se percebe ao longo do trabalho em desenvolvimento
é a falta de um planejamento unificado, que unisse as necessidades da população às demandas
naturais da bacia. Os problemas observados na Bacia do Rio Doce nos remetem à visão de que não
houve um planejamento urbano necessário para o uso sustentável dos recursos naturais,
principalmente na Zona Norte de Natal, onde o Rio Doce se encontra bastante degradado. A falta de
um ordenamento territorial tem consequências não apenas no meio físico, mas também no âmbito
social, pois o mau uso do solo provoca problemas de saúde pública, construções irregulares em
áreas de risco, dentre outros. Portanto, é necessário que o uso dos recursos naturais respeite as

286
limitações ambientais de cada espaço e que a gestão deste espaço seja feita de forma sustentável,
procurando minimizar os impactos causados pelo seu uso.

Referências

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questão. Dissertação (Mestrado em Geografia). UFRN. CCHLA. PPGe. Natal/RN, 2004.

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degradação na região do Rio Doce, Natal/RN. Dissertação (Mestrado). UFRN. PRODEMA.
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9, Natal/RN. Natal, RN: 2010. Dissertação (Mestrado) -Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Geografia.

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20/09/2012.

288
POLUIÇÃO DO AR E EFEITOS ADVERSOS À SAÚDE HUMANA

Géssica Pereira SANTANA (UESB) – gessica_cr@hotmail.com


Flávia Mariani BARROS (DEBI/UESB) – mariamariani@yahoo.com.br
DaniloPaulucio da SILVA (DEBI/UESB) – danilopaulucio@gmail.com
MayanaSilva Bessa LEITE (PPGCA/UESB) – mayanabessa@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar de que forma a poluição do ar afeta
negativamente a saúde humana. O foco deste estudo engloba informações não somente das doenças
mais corriqueiras, ou dos órgãos e sistemas afetados com maior frequência, mas também a origem
do problema, identificando os poluentes responsáveis por estes danos, bem como suas fontes
emissoras.A associação entre poluentes atmosféricos e à morbidade e mortalidade humana se
apresenta de formas adversas, e têm papel fundamental no que diz respeito à saúde pública. Nos
centros urbanos, sobretudo, esta relação tem se mostrado extremamente prejudicial e cada vez mais
emergente. Os olhos e os sistemas respiratório e cardiovascular são as regiões do corpo humano
mais afetadas, devido principalmente ao contato direto dos poluentes com estas áreas, fator que
pode ser agravado em grupos de pessoas mais suscetíveis. A exposição ubíqua ao ar poluído
também tem impulsionado o aparecimento de doenças crônicas e degenerativas. A asma, bronquite
e câncer, no trato respiratório, e a aterosclerose coronariana no sistema cardiovascular podem ser
citados como exemplos. Esses efeitos são de elevado nível de interesse dentro das comunidades
científica, regulamentadora e pública. Mesmo concentrações de poluentes abaixo do nível permitido
pela legislação têm afetado de forma significativa a saúde humana. Desta maneira, a compreensão
de tais informações possibilita avaliar e especular sobre ações que possam ser usadas de forma
eficaz para atenuar estes problemas.

Palavras-chaves: Poluição do Ar; Saúde Humana; Morbidade.

Abstract

The present work aimed to demonstrate how air pollution adversely affects human health. The focus
of this study includes information not just from most ordinary diseases, or organ systems most
frequently affected, but also the cause of the problem, identifying the pollutants responsible for
these damages, as well as their emission sources. The association between air pollution and
morbidity and mortality presents itself in adverse ways, and has a key role regarding to public
289
health. In urban centers, especially, this relationship has proved extremely damaging and
increasingly emerging. Eyes and the respiratory and cardiovascular systems are the areas of the
human body most affected, mainly due to the direct contact of the pollutants with these organs, a
factor that may be increased in groups of people most susceptible. The continuous exposure to
polluted air has also driven the development of chronic and degenerative diseases. Asthma,
bronchitis and cancer, of the respiratory tract, and coronary atherosclerosis in the cardiovascular
system could be mentioned as examples. These effects are the high level of interest within the
scientific, regulatory, and public communities. Even pollutant concentrations below the level
allowed by the law have significantly affected human health. Thus, the understanding of such
information enables evaluate and speculate about actions that can be used effectively to mitigate
these problems.

Keywords: Air Pollution; Human Health; Morbidity.

Introdução

Os mais diversos poluentes atmosféricos, advindos de fontes naturais ou antrópicas, tem


atingido concentrações que afetam a capacidade dos sistemas naturais em manter sua estrutura e
funcionamento.A poluição atmosférica gerada pelo homem, impulsionada desde a Revolução
Industrial,é considerada dentre os poluentes ambientais a que acarreta maiores impactos à saúde
(HABERMANN; GOUVEIA, 2012), sendo nas últimas décadas grande e crescente ameaça à
manutenção da vida nesses sistemas.
Entende-se como poluição do ar qualquer forma de matéria ou energia que modifique a
composição do ar deixando-a em desacordo com os níveis estabelecidos, de forma que possam
tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde e ao bem-estar público; danoso aos materiais, à
fauna e a flora;prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade, e às atividades normais da
comunidade(CONAMA,1990).
Considerável parte dos poluentes emitidos para a atmosfera se mistura originando
incontáveis novas substâncias, que tem sua ação, muitas vezes, desconhecida. Esses poluentes,
classificados entre compostos sulfurosos, compostos nitrogenados, compostos orgânicos, óxidos de
carbono, oxidantes fotoquímicos e material particulado (BRANCO; MURGEL, 2004), são emitidos
em grande quantidade, devido à intensa atividade industrial e a queima de combustíveis (fósseis e
recicláveis) nos grandes centros urbanos, uma das razões pelas quais essas áreas tem sido o foco da
maioria dos estudos que associam a poluição do ar aos impactos à saúde humana.

290
Grande parte das atividades do dia-a-dia nas grandes cidades gera poluição do ar
(BRANCO; MURGEL, 2004), e a presença de poluentes, mesmo com valores abaixo do nível
permitido pela legislação, tem afetado de forma significativa a saúde pública (MARTINSet al.,
2002).As pessoas, e demais seres vivos, precisam respirar contínua e ininterruptamente, e não
podem escolher o ar que respiram ou tratá-lo antes de utilizá-lo (BRANCO; MURGEL, 2004),
nessas condições, a poluição atmosféricas se torna assunto de ampla importância, estando associada
a um grande número de moléstias, sobretudo quando considerada sua relação com doenças
degenerativas e crônicas.
Esta relação pode ser analisada na forma diferente com que as pessoas reagem às mesmas
substâncias, observando a existência de grupos que são mais suscetíveis. Sub populações
consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como vulneráveis à poluição do ar
incluem crianças pequenas, idosos, pessoas com certas doenças subjacentes, fetos, pessoas expostas
a outras substâncias tóxicas que contribuem ou interagem com os poluentes atmosféricos, entre
outras (WHO, 2004). Além disso, Bell et al.(2002) identificou como potencialmente vulneráveis,
àqueles sujeitos a exposição ocupacional, grupos étnicos e econômicos com alta prevalência de
doenças crônicas, e fatores associados aos gêneros, além de exposições isoladas como atividade ao
ar livre, localização residencial, e status socioeconômicos(MAKRI; STILIANAKIS, 2008).
Lisboa (2007) cita alguns dos malefícios causados pelos poluentes, como as dores de cabeça,
desconforto, palpitações no coração e vertigem (monóxido de carbono, que em concentrações
elevadas, pode conduzir a morte).
Vários distúrbios podem estar relacionados às vias respiratórias, como irritação do nariz;
garganta e pulmões (óxidos de nitrogênio); ou infiltração de partículas nos pulmões formando
ácidos sulfúricos (óxidos de enxofre); asma aguda e crônica, bronquite e enfisema (dióxido de
enxofre); câncer (hidrocarbonetos); destruição de enzimas e proteínas (ozônio); degeneração do
sistema nervoso central e doenças nos ossos, principalmente em crianças(chumbo);além da irritação
e entupimento dos alvéolos pulmonares (material particulado) (LISBOA, 2007).
Os efeitos dos poluentes do ar são de elevado nível de interesse dentro das comunidades
científica, regulamentadora e pública. Isto acontece devido à necessidade de tratar lacunas críticas
na compreensão de como a poluição do ar contribui para problemas de saúde humana e como se
pode usar tal compreensão eficazmente par atenuar os problemas de saúde (YANG; OMAYE,
2009).
Vista essa necessidade, o objetivo deste trabalho é fazer uma revisão sobre os principais
poluentes atmosféricos, bem como sua relação com a saúde humana, focando principalmente nas
doenças mais corriqueiras, e nos órgãos e sistemas afetados com maior frequência.

291
Fontes de poluição atmosférica

A seguir serão descritas as origens das principais substâncias químicas que compõem a
atmosfera das localidades que apresentam fontes poluidoras significantes, a exemplo de intensa
atividade industrial e circulação de veículos automotores, além dos efeitos que a poluição do ar tem
ocasionado, fundamentalmente, à saúde humana.

Monóxido de carbono (CO)

O monóxido de carbono é gerado, sobretudo, como produto da combustão incompleta de


qualquer combustível orgânico, como a madeira, carvão mineral ou petróleo. Sua principal fonte
são os motores de veículos em atividade. É um dos mais perigosos tóxicos respiratórios, sendo um
dos poluentes gasosos mais comumente encontrados nas grandes cidades (BRANCO; MURGEL,
2004).

Ozônio (O3)

Na estratosfera o ozônio desempenha um papel vital em bloquear a luz ultravioleta


prejudicial do sol, mas ao nível do solo é tóxico para os seres humanos. O ozônio pode ser gerado
por inúmeros processos, tais como raios (GODISH, 2003), por reações atmosféricas que envolvem
químicos orgânicos voláteis, óxidos de nitrogênio e luz solar (CURTIS et al., 2006).

Compostos sulfurosos

Os compostos que contêm enxofre, podem ser originados pela queima de combustíveis
fósseis, como o dióxido de enxofre (SO2),gerado pela queima de carvão, emissões dos veículos e de
campos e refinarias de petróleo/gás. Sulfetos de hidrogênio são produzidos por muitos processos
industriais e pela decomposição de óleo ou de vegetação morta. Já outros compostos contendo
enxofre, como as mercaptanas, são gerados em fabricas de papel, indústrias de fornos de coque, e
emissões vulcânicas (GODISH, 2003).

Óxidos de nitrogênio

Os óxidos de nitrogênio (NO eNO2) são formados pelas reações de combustão em alta
temperatura, geralmente em motores de combustão interna. Outra classe de compostos nitrogenados
que frequentemente contamina a atmosfera das cidades é a amônia (NH3), bem como seus
derivados. Ela pode ser obtida por ação biológica de decomposição ou por processos da indústria
química e de fertilizantes (BRANCO; MURGEL, 2004).
292
Compostos orgânicos

Este grupo compreende os hidrocarbonetos, alcoóis, aldeídos, ácidos orgânicos e muitas


outras substâncias que possuem carbono como elemento básico de suas moléculas, e que são
facilmente volatilizados para o ar(BRANCO; MURGEL, 2004). As principais fontes incluem refino
de petróleo, petroquímica, escape de veículos, campos de gás natural e linhas de distribuição;
armazenamento de combustíveis e resíduos, produtos domésticos, pesticidas, combustão, indústrias
e emissões de voláteis de florestas de coníferas (GODISH, 2003;LERDAU et al., 1997 ).
O metano é o gás hidrocarboneto mais comum no ar ambiente exterior, compreendendo
cerca de 1,8 ppm da baixa atmosfera (EUA EPA, 2005). Cerca de 60% do metano atmosférico é
produzido por fontes antropogênicas, incluindo aterros, queima de biomassa, pela mineração,
distribuição e consumo de gás natural, petróleo e carvão, e pelo sistema digestivo dos bovinos e
outros animais domésticos (BREAS et al., 2001 apud CURTIS et al., 2006). Cerca de 40% do
metano é produzido por zonas úmidas, vegetação em decomposição, cupins e oceanos (EUA EPA,
2005).

Material particulado

A queima de combustíveis fósseis gera grandes volumes de partículas de carbono, que


podem ou não carregar consigo outros elementos: hidrocarbonetos, metais, entre outros (BRANCO;
MURGEL, 2004). À exemplo do chumbo, mercúrio, arsênio, cádmio e outros metais tóxicos que
são libertados para o ambiente por vários processos, incluindo estes a disposição de resíduos,
queima do carvão, mineração e fundição, outros processos industriais, e emissões vulcânicas (LEE
et al., 2002.; GODISH, 2003).
Existem também os bioaerossóis, partículas em suspensão (sementes, esporos, pelos, entre
outros) produzidas por organismos vivos. Essa categoria inclui pólen,sementes, bactérias que
possuem endotoxinas, fungos, algas, protozoários, entre outros. Alguns bioaerossóis são perigosos,
uma vez que são infecciosos e/ou produzem alérgenos e toxinas (CURTIS et al., 2006).

Relação entre poluição do ar e a saúde humana

A poluição do ar não é um problema atual, existindo muitas provas de que já na pré-história


era provocada por erupções vulcânicas (LISBOA, 2007). Entretanto, somente passou a ser
considerada um problema pertinente a saúde pública a partir da Revolução Industrial, onde grandes
quantidades de carvão, lenha e, posteriormente, óleo combustível foram queimadas (BRANCO;
MURGEL, 2004).

293
No ano de 1952, no mês de dezembro, ocorreu em Londres um dos primeiros grandes
episódios da poluição do ar do mundo moderno. Com consequências dramáticas para a saúde da
população, entre elas um aumento enorme na mortalidade, a cidade foi encoberta por partículas em
suspensão de dióxido de enxofre, produzindo o que ficou conhecido como ―Névoa Negra‖. As taxas
de mortalidadepara oepisódio depoluiçãoa partir dedezembro 1952a fevereiro de1953 foram de50 a
300% superior ao ano anterior, com cerca de 12.000mortes a maispara o mesmo período (BELL;
DAVIS, 2001)
Posterior a essa constatação, diversos estudos foram, e têm sido desenvolvidos objetivando
demonstrar a relação entre os poluentes do arem diferentes concentrações, à morbidade e
mortalidade. Tais estudos têm contribuído para definir padrões de aceitabilidade nos níveis de
concentração dos contaminantes mais comuns (CASTRO et al., 2003).
A concentração dos poluentes atmosféricos, em qualquer local, é diferente e sofre mudanças
durante o dia, os meses e as estações do ano. O risco ou gravidade associado à exposição à poluição
do ar não é uniforme dentro das populações. Desta forma, estudos epidemiológicos consideram
frequentemente resultados diferentes para faixas etárias ou condições de saúde subjacentes, bem
como fatores socioeconômicos. As diferenças nos comportamentos da população, atividades que
exercem, e os ambientes que frequentam também são levados em consideração (MAKRI;
STILIANAKIS, 2007).
Os poluentes atmosféricos compreendem uma variedade de substâncias classificadas entre
gases e partículas, originados das mais diversas atividades. O material particulado, gerado,
sobretudo por fontes antrópicas, merece destaque. As associações de mortalidade e morbidade a
níveis de material particulado sugerem que uma variedade de tecidos pode ser afetada,
principalmente, por partículas com diâmetros menores que 10μm considerando a facilidade com
essas partículas penetram os alvéolos pulmonares (CURTIS et al., 2006).

Impactos da poluição atmosférica à saúde humana

Godish (2003) coloca os efeitos dos poluentes como normalmente manifestados em órgãos
alvo específicos. Sendo de forma direta, ou seja, os poluentes entram em contato com o órgão
afetado, tal é o caso dos olhos e do sistema respiratório. Ou de forma indireta,como os poluentes
que conseguem entrar na corrente sanguínea a partir dos pulmões, ou sistema gastrointestinal por
depuração respiratória.
Na maioria dos casos, os principais órgãos ou sistemas de órgãos afetados são os olhos e os
sistemas respiratório e cardiovascular (GODISH, 2003). O último, além de ser afetado pela
presença de poluentes no sangue, sofre ainda devido ao estresse da relação dependente que mantém
294
com o sistema respiratório quando este é afetado (LISBOA, 2007). Como veremos posteriormente,
os danos causados a estas três regiões do corpo humano serão foco deste trabalho, visto que são os
alvos das enfermidades com maior incidência, e também por isso, maior significância.

Irritação dos olhos

Uma das manifestações maisprevalecentes doefeitodos poluentesno corpo humanoé a


irritação e sensação de secura nas membranas dos olhos (GODISH, 2003; ANDRADE et al., 2002;
BRICKUS; NETO, 1998). E é mais freqüentementeassociada à exposiçãoaos aldeídose
oxidantesfotoquímicos (GODISH, 2003).

Efeitos no Sistema Respiratório

Asma brônquica

A asma tem sido fortemente relacionada com a exposição à alérgenos encontrados no ar. Em
exposições controladas, foi observado que o SO2 causa ataques de asma, e inúmero de estudos
epidemiológicos ligaram admissões em salas de emergência, para o tratamento de sintomas
asmáticos, aos dias com alta poluição de O3. Estudos recentes indicam que as exposições de O3 não
só dão início a ataques de asma, mas também contribuem para o desenvolvimento desta doença
(GODISH, 2003).

Infecções do Sistema Respiratório

Estudos de exposição humana e estudos epidemiológicos de episódios de poluição do ar


sugerem fortemente que os membros jovens e idosos de uma população exposta estão em maior
risco de infecção, principalmente do trato respiratório superior. Evidências epidemiológicas e
toxicológicas sugerem que a exposição a longo prazo de uma população para uma combinação de
poluentes ambientais, tais como material particulado e SO2 podem contribuir para o início de
bronquite crônica (GODISH, 2003).
Martins et al. (2002) também mostra uma associação entre SO2e O3 e atendimentos no
pronto-socorro por pneumonia e gripe em idosos, porém na análise conjunta verificou-se que seu
efeito não é independente.

Câncer do pulmão

295
Uma função de causa, entre a poluição do ar no desenvolvimento de alguns cânceres do
pulmão é sugerido a partir de vários tipos de investigações epidemiológicas. A evidência mais forte
para uma ligação entre a poluição atmosférica e o câncer de pulmão vem de uma análise empírica,
baseada em dados coletados pela AmericaCancerSociety (ACS) como parte do
CancerPreventionStudy II (CPS-II), um estudo em curso, da mortalidade de 1,2 milhões de adultos.
Os participantes residem em todos os 50 estados e o Distrito de Columbia nos Estados Unidos, e em
Porto Rico, e foram inscritos pelo ACS voluntários no outono de 1982.Baseado em uma análise
epidemiológica dos fatores de risco de 500.000 desses adultos, a mortalidade por câncer de pulmão
mostrou-se significativamente relacionada com exposição a partículas finas (MP2,5), com um
aumento de 8% na mortalidade para o aumento de 10 mg/m3 em MP2,5(POPE III et al., 2002;
GODISH, 2003).

Enfisema pulmonar

Evidências epidemiológicas consideram poluentes do ar como um fator que contribui para a


iniciação e desenvolvimento do enfisema pulmonar (ARBEX et al., 2004).Os indivíduos que
sofrem de enfisema geralmente desenvolvem hipertensão pulmonar, além da elevação da pressão
arterial (GODISH, 2003), e de acordo com Zamboni (2002), seis vezes mais propensão ao
desenvolvimento de câncer. Pode também ser acompanhado pela falta de ar e outras dificuldades
respiratórias (GODISH, 2003).

Efeitos no Sistema Cardiovascular

Existe uma associação próxima entre o sistema respiratório e o sistema circulatório. Se o


sistema respiratório é afetado por uma doença e não pode trocar gases no sangue de forma eficiente,
o coração precisa trabalhar mais intensamente para bombear sangue suficiente para repor as perdas
de oxigênio. Como resultado, o coração e os vasos sanguíneos estarão sob estresse e poderão surgir
algumas mudanças como, por exemplo, o aumento do tamanho do coração (LISBOA, 2007).

Trombose

Nanopartículas lançadas na atmosfera poderiam resultar na formação de trombos, como


analisado por microscópios eletrônicos de varredura em alguns estudos (GATTI; MONTANARI,
2006). E verificou-se que a exposição prolongada à poluição do ar, na forma particulada, está
associada com a alteração da coagulação e risco de trombose venosa profunda (SHREY et al.,
2010).

296
Infarto do miocárdio

Um estudo de caso conduzido em 691 pacientes alemães que desenvolveram infarto agudo
do miocárdio (IAM) descobriu que o tempo gasto nos carros, nos transportes públicos, motocicletas
ou bicicletas foi consistentemente associado ao aparecimento de sintomas, sugerindo que a
exposição ao tráfego rodoviário é um fator de risco para IAM (PETERS et al., 2004). Em um estudo
de caso cruzado, um aumento de 25μg∙m-3 na MP2.5 foi associada com um risco 48% aumentado de
desenvolver uma IAM (PETERS et al., 2001).

Distúrbio da frequência e ritmo cardíaco

O material particulado tem sido sugerido como indutor de distúrbios no controle do ritmo e
frequência cardíaca. Uma diminuição da variabilidade da frequência cardíaca global é observada na
exposição a partículas ambiente, conduzindo assim a arritmia (SHREY et al., 2010). Brooket
al.(2004) também tem proposto que determinados receptores se irritam nas vias aéreas, estimulados
por partículas de poluentes, e ativam o sistema nervoso influenciando a frequência cardíaca.

Aterosclerose coronariana

Vários estudos de coorte suportam o fato de que a exposição à poluição do tráfego está
associada com aterosclerose coronária. Hoffmann et al. (2007)encontrou uma relação positiva entre
exposição-resposta para a exposição crescente ao tráfego, e resultados semelhantes independentes
do estado da doença cardíaca coronariana. Também encontrou evidências sugestivas de uma
associação entre MP2,5 e calcificação da artéria coronária, embora a variação de MP2,5 tenha sido
pequena no estudo. No entanto, a magnitude do efeito para MP2,5 foi substancial.

Conclusão

É bem documentado que altos níveis de poluentes podem afetar vários sistemas do corpo
humano, incluindo o sistema respiratório, cardiovascular, reprodutivo e nervoso, bem como no
aumento de infecções, câncer e mortalidade (CURTIS et al., 2006). Porém, somente os malefícios
causados aos olhos e aos sistemas respiratório e cardiovascular humanos foram os objetivos desse
estudo, sendo apontados por Godish (2003) como as partes mais afetadas.
Os poluentes e seus efeitos se apresentam de formas adversas. Essa variação de causa-efeito
tem origem nas diferentes maneiras que as pessoas reagem a cada poluente, algumas delas podendo
se apresentar mais vulneráveis. Isto ficou evidenciado neste trabalho, a exemplo das populações
mais suscetíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças subjacentes.
297
Foi possível observar uma grande influência das elevadas concentrações de material
particulado fino (MP2.5), sendo principal agente causador de danos a saúde, originando sete dos
nove distúrbios citados, em ambos os sistemas, respiratório e cardiovascular. O caráter cumulativo
que estas partículas podem adquirir no organismo humano, e exposição ubíqua ao ar poluído se
assumem também na prevalência de doenças crônicas como a asma, bronquite, câncer e enfisema,
no trato respiratório, e a aterosclerose coronariana no sistema cardiovascular.
Fica evidente que os efeitos causados por esses poluentes tem um papel fundamental no que
diz respeito à saúde humana, sobretudo nos centros urbanos, onde foi possível se observar que esta
associação tem se mostrado extremamente prejudicial, e pode ser considerada uma situação cada
vez mais emergente.Esta consideração foi feita, principalmente, pela grande porcentagem de
poluentes gerada nesses locais por atividades humanas, a exemplo da atividade industrial e queima
de combustíveis fósseis.
A necessidade de conhecer e compreender os efeitos dos poluentes tanto para a comunidade
científica, como a regulamentadora e pública é importante. Neste contexto, as informações reunidas
neste trabalho servem para agregar conhecimento, e desta forma sensibilizar e mobilizar essas
entidades para aplicações de medidas que atenuem os problemas relacionados à saúde.

Referências

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concentração e efeitos toxicológicos. Química Nova, v. 25, n. 6B, 2002.

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300
NATUREZA HUMANA E MOVIMENTO: UMA REFLEXÃO ECOFILOSÓFICA SOBRE O
MEIO AMBIENTE URBANO

Jaina Nahema Souza PRIMO (UEAP) – jaina.primo@hotmail.com


Murilo Rocha SEABRA (UEAP) – muriloseabra@yahoo.co.uk
Pedro Rocha IMBROISI (UnB) – pedroimbroisi@gmail.com

Resumo

O presente texto parte de uma experiência cotidiana simples e familiar para tecer uma série de
reflexões sobre a natureza humana e o meio ambiente, especialmente o meio ambiente urbano. O
objetivo é explorar conceitualmente e valorizar positivamente o lado animal dos seres humanos,
que, via de regra, recebe um tratamento negativo por parte da cultura ocidental. Defende-se que a
interação corporal imediata com o meio proporciona um pilar mais firme para o ambientalismo do
que os discursos aprendidos de fora para dentro, e que pequenos gestos podem expressar grandes
projetos históricos e sociais. O estilo de escrita é leve, descontraído e despretensioso, trazendo um
pouco de biodiversidade literária ao tom geralmente árido dos trabalhos acadêmicos.

Palavras-chave: Ecofilosofia; Natureza Humana; Meio Ambiente Urbano.

Abstract

This text begins with a simple and familiar everyday experience to weave a series of reflections on
human nature and the environment, especially the urban environment. The goal is to explore
conceptually and value positively the animal side of human beings, that, as a rule, receives a
negative treatment on the part of Western culture. It is argued that the immediate bodily interaction
with the environment provides a stronger pillar for environmentalism than the speeches learned
from the outside and that small gestures can express large historical and social projects. The writing
style is soft, relaxed and unpretentious, bringing some literary biodiversity to the generally arid tone
of academic work.

Keywords: Ecophilosophy; Human Nature; Urban Environment.

Introdução

Outro dia, voltando para casa à pé, descobri ao meu lado uma saborosa cerca de placas de
alumínio onduladas. Imediatamente, estendi a mão, e deixei, sem acelerar nem diminuir o passo,

301
que meus dedos percorressem as suas saliências e reentrâncias, produzindo um agradável e inocente
som percussivo. Uma gravação em câmera lenta revelaria mais ou menos o seguinte: o meu
indicador, ocasionalmente seguido do dedo médio e do anular, chocava-se contra uma elevação da
cerca, gerando um estalo grave; em seguida, arrastava-se por toda a sua curta extensão, perdendo
velocidade e ficando para trás por causa do atrito, e sendo assim submetido a um gentil e gostoso
alongamento; finalmente, quando a saliência cedia lugar à reentrância, era catapultado para a
próxima elevação, gerando mais um estalo.
Impulsionada ou não pela minha microbrincadeira, bem discreta aliás, uma criança que
também passava, acompanhada pela mãe, ao lado da cerca, esticou a sua mão para usufruir dessa
mesma pequena diversão. Um estalo, dois estalos, três estalos... E a mãe dela tratou de afastá-la. Por
meio de um gesto rápido, preciso e também curioso. Vale a pena examiná-lo com uma lente de
aumento. Estavam de mãos dadas. A mãe dela não fez mais do que puxar levemente a criança para
si. A modesta força que ela imprimiu em seu movimento certamente não bastou para afastar da
cerca a mão da criança mecanicamente. Aquilo a que assisti não foi uma relação de causa e efeito.
Pelo contrário, o leve gesto da mãe foi um sinal, um signo, uma espécie de frase muda e abreviada
maximamente: ―Não brinque com a cerca!‖. Por meio do seu gesto, ela se comunicou com a
criança, que, por sua vez, obedeceu prontamente, dispensando a mãe de recorrer a admonições mais
explícitas ou à força. Com efeito, há em nossa cultura uma camada de transações comunicativas não
propriamente linguísticas, não propriamente verbais. Ela é o locus de uma tradição gestual ou
microcinética que não necessariamente encontra expressão linguística, sendo transmitida de geração
em geração de maneira persistente, eficiente e implacável, mas silenciosa.
Quantos gestos semelhantes cerceiam diariamente a movimentação das crianças? Talvez
haja algo em comum entre os comandos ―Não brinque com a cerca!‖, ―Não brinque com a porta da
geladeira!‖, ―Não sente no chão!‖ e ―Não suba no sofá!‖. Talvez o que todos eles estejam dizendo
seja: ―Não saia dos trilhos! Não saia dos trilhos da civilização!‖. O que as mães – e também os pais
– querem é que as crianças comportem-se de maneira civilizada. E não estou de modo algum
descrevendo a atitude educativa delas de uma forma que elas não reconheceriam. Pelo contrário,
elas mesmas usam o vocábulo ‗civilização‘ e seus cognatos. Ter bons modos, ser bem comportado,
ser educado é ser civilizado.
Eu me lembro muito bem do tom elegante e persuasivo que a minha avó usava para me
educar, para me civilizar. As suas palavras e os seus olhares às vezes acompanhados pelo
retesamento dos seus membros me pareciam realmente um convite a participar do projeto
civilizador, não uma expressão gratuita e arbitrária de autoritarismo. Ela me amava, tenho certeza.
Eu também a amava, e ainda amo, e acho que esse laço afetivo de fundo ajudou bastante a tornar o

302
processo de aprendizado dos bons modos menos traumatizante para mim. Com a sua brandura e o
seu carinho sempre abundantes, ela conquistou a minha boa vontade e meu espírito de colaboração.
Acabei, sem dúvida, pagando um preço por me anular contínua e sistematicamente para agradá-la,
isto é, para me socializar, para me endoculturar, ainda que, talvez, por conta da atual estrutura da
nossa sociedade, esse preço teria sido mais alto caso ela e os demais adultos não tivessem garantido
o meu ingresso no modo de ser da civilização.
Todos nós pagamos um preço ao nos adaptarmos ao mundo urbano. Os nossos pais e
responsáveis nos submetem a um paulatino processo de desanimalização sem que o percebamos.
Mas como os seres humanos não são robôs nem almas desencarnadas e sim animais
(PLUMWOOD, 1993), isto é, forças biologicamente encorpadas, o processo de desanimalização
vem a ser também um processo de autoanulação e mesmo de desumanização. Desanimalizar-se
consiste em deixar de ser aquilo que se é. Ou pelo menos em tentar deixar de ser aquilo que se é.
Até mais, na verdade. Como sugerem os intricados galhos da árvore etimológica de animus, dar as
costas para o nosso lado animal significa dar as costas para a nossa própria alma, o nosso próprio
princípio vital. Significa dar as costas para o nosso ânimo, para aquilo que nos anima.

Comportamento cinético e paisagem urbana

As crianças aprendem desde cedo o austero comportamento cinético dos adultos, tornando-
se, com o passar dos anos, seres cada vez mais desanimados. Trata-se de um comportamento que
possivelmente deve muito à cultura corporal militar. Ao passearmos pelas ruas, nós não corremos
pelo simples prazer de correr, não escalamos as árvores, as casas e os prédios por mais suculentos
que possam nos parecer, não pulamos alegre e erraticamente e também não ziguezagueamos para lá
e para cá como fariam as crianças e os animais se tivessem liberdade para tanto. Pelo contrário,
invariavelmente andamos; aliás, praticamente marchamos. Aquela liberdade que nos é tirada em
nome do bom comportamento. O nosso andar não tem a graça e vivacidade dos movimentos dos
animais não civilizados. O nosso andar é econômico, contido e refreado; aliás, a julgar pela
educação motora que as crianças recebem, ele é literalmente refreado. O nosso andar tem a
continência e a reserva cinética das marchas militares.
De fato, trata-se de um caminhar que afasta os seres humanos dos seus parentes mais
próximos, os primatas. Trata-se de um caminhar que, ao limitar o nosso amplo espectro de
movimentos, ao anular as nossas riquíssimas possibilidades motoras, preconizando e impondo as
linhas retas, gera a impressão de que somos realmente únicos e de que estamos naturalmente
afastados do mundo animal. O caminhar em linha reta indica que temos metas, que temos planos e
que os seguimos de maneira conscienciosa. O caminhar em linha reta indica que não apenas
303
vivemos, que não apenas vivemos por viver, mas que temos compromissos, que precisamos cumprir
horários, que vivemos em função de determinados fins. Se não é possível separar os humanos dos
outros animais em termos genéticos, é possível ao menos separá-los em termos cinéticos.
Minimizando o uso das nossas potencialidades corporais, enfatizamos que somos seres pensantes.
Talvez não sejamos animais com algo a mais e sim com algo a menos.
As cidades não são construídas para exercemos nossas potencialidades corporais. As cidades
são construídas para reforçar a nossa desanimalização, a nossa desprimatação (WESTON, 1999). E
isso vale tanto para os espaços interiores quanto para os exteriores. Eu lembro que, quando era
criança, eu gostava de escalar os corredores de casa. Eu apoiava uma mão na parede esquerda,
depois a outra na parede direita, em seguida um pé na parede esquerda e o outro na parede direita, e
com a ajuda do atrito eu me suspendia até encostar a cabeça no teto. No entanto, à medida em que
crescemos, os corredores e os portais tornam-se mais estreitos, dificultando progressivamente a
escalada. Nós crescemos e eles continuam do mesmo tamanho, o que faz com que a proporção ideal
para a escalada se dissolva no passado. No fim das contas, até mesmo porque a cultura simiesca não
é incentivada, a brincadeira perde a graça.
Os espaços artificiais que construímos ao nosso redor não reconhecem que somos primatas
nem que somos capazes de muito mais proezas biocinéticas do que imagina a nossa vã filosofia. O
fato de que as crianças às vezes se servem das paredes paralelas para exercerem suas potências
motoras naturais é uma mera contingência, um mero acidente. Elas não foram construídas com esse
propósito. Mas por um mero acaso possuem características que facilitam a vazão do modo de ser
propriamente humano, isto é, do modo de ser propriamente animal, propriamente primata das
crianças, que ainda não abriram mão de sua condição de força encarnada. As paredes não existem
para nós e sim contra nós. Elas não servem para acolher as nossas potências e sim para controlá-las
e mantê-las quietas. Isso vale especialmente para as cercas e os muros exteriores. Por que são tão
altos? Por que diariamente aumenta o número de muros eletrificados? Porque é fato notório que
nós, seres humanos, somos capazes de escalá-los. Eles ao mesmo tempo reconhecem e tolhem a
habilidade extraordinária da nossa espécie. Quem se atrever a escalar um muro, quem se atrever a
fazer aquilo que, ao longo de milhares e milhares de gerações, foi lentamente preparado para fazer,
enfrentará, sem dúvida, uma série de problemas, e o pastor alemão do outro lado do muro será
talvez o menor deles. Exercer toda a nossa potência animal de maneira livre e espontânea é crime.
Existem lugares e horários específicos para escalarmos.
Desse ponto de vista, realmente vivemos em cárceres. As nossas casas estão para nós assim
como as gaiolas estão para os pássaros. Aquilo que as gaiolas fazem é proporcionar um ambiente
inadequado para os pássaros, que são seres voadores. Por mais espaçosas que sejam, elas impedem

304
que exerçam o seu modo de ser, elas impedem que experimentem o que realmente significa ser um
pássaro. As nossas casas desempenham um papel semelhante em relação a nós. Não somos seres
voadores, mas somos seres profundamente cinéticos, profundamente motores. Podemos correr,
podemos escalar, podemos saltar, podemos ficar pendurados e nos balançar. Temos a força e a
disposição necessária para tanto. As nossas casas, porém, nos permitem apenas andar. Elas nos
permitem ser apenas uma pequena parte do que podemos ser. Todo o nosso extraordinário
equipamento biomotor permanece em desuso.
O que vale para os espaços interiores, vale também para os espaços exteriores. As cidades
são grandes jaulas, grandes prisões, grandes zoológicos que limitam os nossos movimentos, e,
portanto, limitam também a expressão da nossa essência. O que se espera é que transitemos por suas
ruas e calçadas de forma bem comportada, de forma civilizada, sem sequer, por exemplo, passarmos
os dedos pelas cercas e grades em busca de um discreto entretenimento percussivo, e muito menos,
é claro, saltando, correndo e escalando livremente. Como sempre acontece, a coerção é
progressivamente internalizada, deixando de agir de fora para dentro e passando a agir de dentro
para fora. Ela se mistura à nossa subjetividade, ela se cristaliza em nossos músculos, e de maneira
tão eficiente que rapidamente assume a aparência de livre expressão da nossa autonomia.
O problema não é exatamente o fato de não podermos correr nas ruas ao irmos à padaria, por
exemplo. Porque, na verdade, podemos, sim, correr. Não há leis formais nos proibindo
explicitamente de usar as nossas pernas da forma que bem entendermos, há apenas uma série de
antipatias aos movimentos livres e espontâneos que introjetamos e às quais nos curvamos. Não é
que não possamos correr. Apenas não podemos correr sem sermos olhados com espanto pelos
demais transeuntes – e sem que olhemos para nós mesmos com espanto. Assim, ninguém precisa,
via de regra, chamar-nos no canto para dizer que não devemos correr despudorada e
incivilizadamente em público. Trata-se de uma advertência que antecipamos e que realizamos pelos
outros.
Para corrermos sem que nos olhemos ou sem que nos olhem com espanto – ou mesmo
suspeita, como tivéssemos acabado de roubar uma carteira –, precisamos estar adequadamente
trajados, isto é, informando aos demais, por meio das nossas vestes, que reservamos essa seção
específica do fluxo cotidiano para correr. E corremos não pelo puro e simples prazer de correr, não
para desfrutarmos do estado de ativação que a movimentação dos nossos corpos nos proporciona,
mas para nos mantermos em forma, para cultivarmos a nossa saúde física e talvez mental. A
atividade de correr não é vista como um exercício da nossa essência, como uma expressão vital,
livre e espontânea do nosso ser, mas como uma atividade sem qualquer conexão íntima com a nossa
verdadeira natureza, a nossa natureza animal (NAESS, 2008). Ela é vista apenas como uma

305
atividade que traz benefícios para a saúde e particularmente para a aparência, devendo, apesar de
ser enfadonha e maçante, ser praticada por esses motivos estritamente funcionais.
Os trajes para corrida são trajes especiais. Isso significa que a atividade de correr é uma
atividade especial. Ou seja, não devemos exercer essa capacidade a não ser em ocasiões especiais –
e devemos estar preferencialmente uniformizados, isto é, vestidos com a sinalização adequada,
proporcionando-nos uma espécie de licença temporária para usarmos nossa potência animal. Existe
uma seção específica do tempo, uma seção específica do espaço e também uma seção específica do
nosso guarda-roupas que devem ser sincronicamente acionadas para neutralizar a estranheza da
atividade de correr. Pois em nossa sociedade, por conta do afastamento radical da nossa verdadeira
natureza, o correr deixou de ser uma expressão da nossa ontologia para ser uma prescrição da
medicina.

Interações com o meio ambiente

Mas será que o cultivo de um modo de viver mais ecológico não passa também pelo
reconhecimento pleno de que somos animais, de que somos primatas? Será que já não está na hora
de pararmos de nos cercear e de nos permitirmos fazer aquilo que somos capazes de fazer e que
inclusive fomos talhados para fazer ao longo de milhares e milhares de anos? Será que já não está
na hora de repensarmos as paisagens urbanas e de pararmos insistentemente de adequá-las ao Homo
sapiens sapiens que idealizamos, permitindo antes que abracem o Homo sapiens sapiens que somos
(MATHEWS, 2005)? Para que elas possam atender as nossas profundas demandas motoras e ser
lugares onde realmente nos sintamos à vontade?
A natureza não é simplesmente um meio amorfo além dos limites urbanos que precisa ser
protegido da poluição. A cidade, sim, tem um exterior; porém, não a natureza. Ela não tem um
exterior. Não é possível sair dela, não mais do que é possível sair da esfera do ser (NAESS, 2008).
Por maior que seja o número de próteses metálicas ou de silicone que enfiarmos em nossos corpos,
o fato de que somos seres naturais, de que somos manifestações da natureza, de que somos
instâncias da natureza, continuará firme e indissolúvel. Não emergimos da natureza como pneus
cheios de musgo às vezes emergem na superfície dos lagos, isto é, sem carregar, em nossa própria
substância, os traços da nossa matriz. Pelo contrário, emergimos da natureza assim como as
montanhas emergem do solo. Somos feitos da mesma matéria, somos feitos da mesma carne. A
construção coletiva de cidades inapropriadas para os animais que somos constitui um crime contra a
natureza tão grave quanto o aprisionamento de pássaros em gaiolas ou de grandes mamíferos em
áreas menores do que os campos de futebol, às vezes menores do que as quadras de tênis. Nos dois

306
casos, estamos cerceando a natureza, impedindo a sua livre movimentação e portanto a sua livre
expressão. Mas limitar a expressão natural do ser é também limitar o próprio ser.
Já está bem sedimentada em nossas consciências a importância das atividades físicas para a
saúde dos seres humanos, tanto do ponto de vista estritamente corporal quanto do ponto de vista
mental. Contudo, talvez o motivo pelo qual as atividades físicas são importantes não esteja ainda
suficientemente claro. Mas independentemente da forma que a explicação científica da sua
importância assumir no fim das contas, é bastante provável que ela fará referência ao fato de que os
seres humanos são animais, e animais essencialmente cinéticos, pouco afeitos ao sedentarismo.
Como já se disse numa das tentativas de explicitar os fundamentos e as implicações filosóficas do
parkour, que está menos para um esporte do que para um movimento de resgate da natureza
humana e do livre uso do espaço urbano público: ―Os seres humanos foram feitos para movimentar-
se, para interagir com o ambiente (...).‖ (TRAN, 2012, p.1)
A força do parkour e do freerunning para cultivar sentimentos profundos em relação ao
meio ambiente não deve ser subestimada. Embora não pareçam, do ponto de vista estritamente
discursivo, ter afinidade com o ativismo ambientalista, eles fomentam uma relação corporal efetiva
com o espaço imediato, uma relação de carne e osso (algumas vezes literalmente!), que, portanto,
não se encerra nem se limita ao plano das palavras, ao plano da linguagem. Além do mais, os toques
são ativadores de afetos tanto quanto as palavras, talvez até de afetos mais prementes e
inegociáveis. Ainda que não possuam o mesmo nível de articulação verbal e consciência das ações
incitadas pelas palavras, as ações incitadas pelo afeto do contato possuem a vantagem de calcarem-
se não em discursos impessoais externos, mas em sentimentos pessoais internos. A unidade e a
coerência da ação prática surge, no primeiro caso, de uma elaborada concatenação lógica artificial;
no segundo caso, da irradiação que pulsa a partir de um núcleo sensual afetivo comum. Existe uma
grande diferença entre a maneira como um discurso nos força a agir e a maneira como uma ligação
afetiva nos força a agir. Trata-se precisamente da diferença entre obedecer uma voz externa e
obedecer uma voz interna. Não podemos virar as costas para as ações exigidas por afetos sem criar
grandes prejuízos para a consciência, assim como podemos fazer com as ações exigidas por
discursos (MATHEWS, 2005).
Pense na diferença entre a pessoa que você cumprimenta com um recatado aperto de mão e a
pessoa que você beija e abraça, a pessoa com a qual você se entrelaça. Resta alguma dúvida sobre a
modéstia da troca afetiva com a primeira e a fartura da troca afetiva com a segunda? A mesma coisa
vale mutatis mutandis para as relações mantidas com a paisagem urbana e com o meio ambiente de
forma geral. Todo o seu ser reage contra aqueles que ferem ou ameaçam ferir as pessoas, as coisas e
os lugares com os quais você se sente entrelaçado. Os seus ossos, os seus músculos e as suas

307
entranhas intervêm automática e imediatamente para defendê-los, antes mesmo que os seus
pensamentos se manifestem. Da mesma forma, o afeto que sentimos pela terra está em função das
nossas interações com ela. As interações superficiais caminham junto com afetos superficiais, que,
por sua vez, caminham junto com ações superficiais, de curto alcance. As interações profundas
caminham junto com afetos profundos, que, por sua vez, caminham junto com ações profundas, de
longo alcance.
Algumas pessoas expressam o seu afeto pelo ambiente única e exclusivamente por meio da
palavra, por meio da linguagem, além, é claro, de pequenas ações ambientalistas que, do ponto de
vista estatístico, devem, sim, ter lá a sua importância. Mas outras pessoas expressam o seu afeto
pelo ambiente por meio do toque, do contato, do carinho, do beijo, da lambida, mantendo, portanto,
uma relação sensual com o ambiente, não apenas racional, não apenas intelectual, não apenas
discursiva. E sabemos muito bem como o afeto verbal é diferente do afeto sensual. Sabemos muito
bem como possuem forças diferentes, urgências diferentes. Os religiosos que esforçam-se para
controlar a todo custo a força da carne não experimentam grandes tormentos? E também não levam,
com frequência, outras pessoas, transformadas em válvulas de escape das pressões telúricas dos
seus instintos reprimidos, a experimentarem grandes tormentos? O que temos aqui é um exemplo
claro da colossal força da natureza, dos afetos e dos impulsos frente à risível força dos discursos.
Será que mais de dois milênios de sofrimentos auto e heteroinfligidos não foram suficientes para
mostrar que é incomensuravelmente mais saudável adequar as nossas concepções
antropometafísicas à biorrealidade ao invés de forçá-la a se adequar às nossas concepções
antropometafísicas? É muito mais fácil controlar os impulsos discursivos do que os impulsos
biopsíquicos. Por que insistir no caminho mais difícil? Esse é de fato o caminho mais rápido para o
fracasso, o que, nesse caso específico, significa sentimento de culpa, tortura interior e mortificação
psicológica. Quando os nossos preceitos discursivos querem uma coisa, mas os nossos impulsos
biológicos e naturais querem outra, o que costuma acontecer é que os primeiros, uma vez que suas
raízes não penetram tão fundo em nosso ser, mínguam e arrefecem frente às demandas dos
segundos. Eles dispõem de argumentos, de palavras, de razões. Mas não de energia, de seiva, de
ânimo para sustentar uma ação contínua (MATHEWS, 2005). É somente esvaziando os segundos
energeticamente que eles conseguem se impor. Contudo, o esvaziamento energético é
manifestamente uma zumbificação. Os zumbis agem, mas não têm vida.
Se você expressa o seu afeto pelo ambiente por meio da palavra, talvez seja porque você
aprendeu a amá-lo também por meio da palavra. Se você expressa o seu afeto pelo ambiente por
meio da interação, talvez seja porque você aprendeu a amá-lo justamente por meio da interação. O
afeto que origina-se da palavra, expressa-se na palavra. O afeto que origina-se da interação,

308
expressa-se na interação. Talvez seja hora, portanto, de olhar com desconfiança o longo e árduo
processo de entronização e fetichização da linguagem conduzido por grande parte dos pensadores
do século XX. Ela foi considerada a chave de compreensão da realidade. Ela foi considerada
inclusive a base da realidade. No entanto, longe de ser a morada do ser, ela é no máximo a morada
do ser urbano, que mantém relações empáticas e afetivas quase exclusivamente com seus pares (que
falam). De certa forma, o tão alardeado pragmatic turn na filosofia da linguagem do XX expressa
um tímido passo rumo ao reconhecimento de que a linguagem ancora-se no mundo e não o
contrário, de que a palavra ancora-se na interação e não o contrário. Talvez num futuro distante os
filósofos da linguagem resolvam aprender parkour.
Microgestos e grandes configurações sociais

Mas o gesto da mãe não pode ter sido um gesto totalmente inocente? Não pode ter sido
simplesmente um gesto de afastar a criança da cerca de alumínio por motivos perfeitamente
mundanos e perfeitamente legítimos? Não pode ter sido um gesto inteiramente alheio ao movimento
geral de desumanização dos humanos? Não pode ter sido um gesto desprovido de toda intenção de
desanimalizar e civilizar a criança? A questão aqui é precisamente como enxergar os microgestos.
Eles encerram-se em si mesmos? Ou podem ser talvez instâncias de uma mentalidade que os
perpassa e os ultrapassa? Analogamente, as mães e os pais usam, sim, o verbo ‗civilizar‘ ao
descrever os seus esforços para educar os filhos. Mas não é possível que a civilização mencionada
aqui seja apenas uma inocente referência ao comportamento adequado à vida em sociedade? Em
que medida os usos cotidianos do termo ‗civilização‘ e seus cognatos reportam-se ao longo projeto
histórico de apartamento da natureza e de pretensa autonomização dos seres humanos?
Então, o que está em jogo aqui é precisamente como encarar os pequenos gestos. Eles
devem ser vistos como pequenos movimentos que, somados e tomados em seu conjunto, conduzem
a sociedade numa certa direção? Isto é, como pequenos movimentos convergentes que lenta e
paulatinamente reconfiguram a sociedade em grande escala? Ou devem ser eles vistos como
movimentos literalmente pequenos, como movimentos insignificantes, de efeitos negligenciáveis
tanto individual quanto coletivamente? Mas talvez a magnitude e o tamanho dos gestos não sejam
fixos e absolutos, dependendo antes das lentes através das quais nos colocamos a examiná-los.
Tomemos as formas de sentar dos homens e das mulheres, por exemplo. O que pode ser mais
insignificante e irrelevante do que a forma como alguém se senta? Mas existem formas de sentar
proibidas aos homens e formas de sentar proibidas às mulheres, proibidas, é claro, não no sentido de
haver uma legislação formal regulamentando as posições lícitas de repouso, mas no sentido de que
violar essas normas não escritas causa espanto. Os homens não devem colocar um joelho sobre o
outro, sob pena de se verem considerados afeminados. As mulheres, por sua vez, não devem colocar
309
o tornozelo sobre o joelho, sob pena de verem ao seu redor expressões e olhares de reprovação
discretos, mas incisivos. Existe uma série de micromovimentos e microgestos que os homens
precisam seguir para não pisarem fora do paradigma masculino e que as mulheres precisam seguir
para não pisarem fora do paradigma feminino.
E o que vale para a forma de sentar, vale também, por exemplo, para o corte das unhas. Mas
o que pode ser mais insignificante do que a forma como alguém corta as unhas? Mais uma vez,
porém, os homens devem mantê-las curtas e as mulheres devem mantê-las um pouco mais
compridas. O fato de que os primeiros pertencem ao gênero masculino e as segundas ao gênero
feminino deve ser estampado inclusive no corte das suas unhas. A tenacidade com que a cultura
regula os mínimos detalhes das nossas vidas parece sugerir que aquilo que permite ser modificado e
legislado, acaba sempre por ser modificado e legislado. Onde houver uma brecha na qual a cultura
possa esgueirar-se e infiltrar-se, ela tratará de fazê-lo. Os nossos comportamentos e aspectos
corporais são monitorados e controlados tanto nos macro quanto nos microníveis.
Então, parece evidente que vivemos em uma cultura corporal meticulosamente regrada. E se
no plano verbal assistimos a uma desvalorização sistemática dos instintos em favor da razão, do
coração em favor do cérebro e da natureza em favor da civilização, por que a nossa cultura corporal
não apontaria na mesma direção? Sem dúvida, se essa cultura traz embutida também uma política é
algo que merece ser extensamente discutido. Mas também cabe notar que a despolitização dos
pequenos gestos talvez expresse um compromisso tácito, não elaborado de maneira plenamente
consciente, com o projeto de civilização que eles carregam e sustentam (NORBERG-HODGE,
2009). Aquilo que os exemplos da forma de sentar e da forma de cortar as unhas sugerem – e talvez
também do gesto da mãe de afastar a criança da cerca ondulada de alumínio – é que tendências
históricas podem, sim, realizar-se em pequena escala. Aliás, talvez os pilares das grandes
configurações sociais sejam exatamente esses microcontroles que se encontram pulverizados por
todos os cantos. Elas começam a desmoronar quando os seus infinitos pequenos fundamentos
balançam.

Considerações finais

Essas reflexões talvez ajudem a mostrar que a questão ambiental não é apenas uma questão
ambiental. Ela é também uma questão cultural. Ela é também uma questão social. Ela é também
uma questão urbana. Ela é também uma questão humana. Pois ela coloca em primeiro plano não
apenas a forma como tratamos a bioesfera em geral, mas também a forma como tratamos a nós
mesmos. Seria, aliás, bastante desastroso se a questão ambiental fosse entendida como uma questão
puramente ambiental. As reflexões ecofilosóficas desencadeadas nas últimas décadas em função da
310
nossa atual crise ecológica continuariam a ser profundamente interessantes – e inclusive
emergenciais – mesmo que não houvesse crise ambiental alguma em curso. Como a nossa atual
crise ambiental propiciou uma revisão geral da forma como nós – que temos um pé firmemente
cravado no mundo ocidental moderno – somos e ocupamos o mundo, as reflexões advindas dessas
questões ambientais mais imediatas adquiriram uma relevância que extrapola em muito o problema
da poluição, do aquecimento global ou do aumento progressivo do número de espécies ameaçadas
de extinção. Elas dizem respeito ao nosso próprio ser. Elas dizem respeito às bases ontológicas mais
fundamentais da existência humana. Elas dizem respeito a quem somos e ao que estamos fazendo
com nós mesmos – não apenas indiretamente através da degradação do meio ambiente e do efeito
estufa, mas também diretamente através da construção de cidades e habitações que não permitem a
livre expressão da nossa essência animal.
Embora tenhamos citado muito pouco aqui, as nossas reflexões inspiraram-se nos escritos de
uma grande variedade de autores, especialmente Val Plumwood (1993), Anthony Weston (1999),
Freya Mathews (2005), Arne Naess (2008) e Helena Norberg-Hodge (2009). Se tivéssemos
insistido em citar todos eles, teríamos produzido uma colcha de retalhos com pouca coerência
interna, e, sobretudo, desagradável tanto de escrever quanto de ler. Assim, resolvemos escrever da
forma mais natural possível, simplesmente seguindo o fluxo do pensamento. Isso teve um efeito
curioso, mas muito bem-vindo. As nossas concepções ecológicas acabaram por se fazer presentes
não apenas nas opiniões que expressamos, mas na própria forma como conduzimos a nossa escrita.

Referências

MATHEWS, Freya. Reinhabiting reality: towards a recovery of future. Sydney: UNSW Press,
2005.

NAESS, Arne. The ecology of wisdom: writings by Arne Naess. Berkeley: Counterpoint, 2008.

NORBERG-HODGE, Helena. Ancient futures: lessons from Ladakh for a globalizing world. San
Francisco: Sierra Club Books, 2009.

PLUMWOOD, Val. Feminism and the mastery of nature. New York: Routledge, 1993.

WESTON, Anthony. ―Is it too late?‖ In: An invitation to environmental philosophy. Oxford: Oxford
University Press, 1999.

311
TRAN, An. ―Two theories on parkour philosophy‖. Disponível em:
<http://parkournorthamerica.com/plugins/content/content.php?content.17>. Acesso em: 15 set.
2012.

312
FORMAS DE RESISTÊNCIA PRATICADAS PELOS GRUPOS SOCIAIS EXCLUÍDOS NOS
ESPAÇOS DE RISCO: A OCUPAÇÃO DA FAVELA SÃO JOSÉ, NA PLANÍCIE DE
INUNDAÇÃO DO RIO JAGUARIBE, JOÃO PESSOA (PB)

Jocélio A. dos SANTOS (Graduando UFPB) – joceliopb@hotmail.com


Shirley R. ANDRADE (Graduanda IFPB/P. Isabel - PB) – shirley_rkm@hotmail.com
Dalva D. E. da SILVA (Graduanda IFPB/P. Isabel - PB) – dalvaestevamifpb@gmail.com
Dr. Pedro Costa Guedes Vianna (Orientador/UFPB) – pedrovianna18@hotmail.com

Resumo

O tema deste trabalho é o enfrentamento aos eventos extremo de tempo pelos grupos sociais
excluídos, moradores da favela São José, localizada em um trecho da planície de inundação do rio
Jaguaribe, João Pessoa (PB), Da mesma forma apresenta e analisa as formas de resistência
praticadas pela população no enfrentamento das situações de risco ambiental. Para atingir o objetivo
proposto, os procedimentos metodológicos foram: levantamento do material bibliográfico e
cartográfico, leitura e interpretação de fotografias áreas em escala 1:6.000 do ano de 1976, 1:8.000
do ano de 1998, ortofocartas em escala 1:2000 do ano de 2.000, planta baixa da favela escala
1:5.000. Na realização do trabalho de campo foram utilizados: planta da favela na escala 1:5.000,
fotografias aéreas e fotografias oblíquas de baixa altitude. Os resultados apontam que o cenário
susceptível ao desencadeamento de inundações provocadas pelas cheias do rio Jaguaribe na favela
São José, face ao risco iminente é de natureza pouco destrutiva. As chuvas intensas que provocaram
inundações, acompanhadas de grandes transtornos, foram registrados além do ano de 1984 com
total pluviométrico de 1.878mm, os anos de 1985 (3.241,22mm), 1994 (2.804mm), 1996
(2.223mm), 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm), 2004 (2,257mm) e 2007 (2,010mm). As
inundações acontecem com baixa energia cinética e baixo poder destrutivo. Por outro lado,
observamos que elas atingem moradias de bom e baixo padrão construtivo a exemplo das
construídas em alvenaria e também as que utilizam madeira/zinco. Observamos que a ―cultura de
cheias‖ é presente na morfologia das casas localizadas ao longo do leito do rio, e se utilizam
permanentemente de dispositivos de proteção simples, o que vem corroborar com nossa conclusão.

Palavras-chave: Agentes Sociais, Favela, Inundações, João Pessoa (PB), São José
313
Abstract

The focus of this research is the study of environmental risks in a slum area located to the margins
of the river Jaguaribe, in the city of João Pessoa (PB), and it also subjects the floods risks hillslopes
and landslides. In the same way, it contemplates resistance measures of controlling the
environmental risks executed developed by the population facing the risky situations and in the
critical events and finally it analyzes the cartography of the sceneries of the slum São José that
floods. To reach the proposed objective, the methodological procedures were: revision of the
bibliographical and cartographic material, reading and interpretation of aerial photographies in scale
1:6.000 of the year of 1976, 1:8.000 of the year of 1998, orthophotos in scale 1:2000 of the year of
2.000, plans of the slum São José in the scale 1:5.000. To the accomplishment of the fieldwork they
were used: plans of the slum São José in the scale 1:5.000, aerial photographies and oblique
photographs of low altitude. The results point that the scenery susceptible to provoke floods caused
by the full of the river Jaguaribe in the slum São José, face to the imminent risk is not very
destructive. The heavy rains that caused flooding, accompanied by major disruptions were reported
beyond the year 1984 with total rainfall of 1.878mm, the years 1985 (3241.22 mm), 1994
(2.804mm), 1996 (2.223mm). 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm), 2004 (2.257mm) and 2007
(2.010mm). The floods happen with low kinetic energy and low destructive power. On the other
hand, we observed that they reach dwellings of good and low constructive standard bass, e.g. those
built in masonry and the ones that also use wood/zinc. We observed that the "flood culture" is
present in the morphology of the houses located along the sides of the river, and the inhabitants use
constantly devices of simple protection, which corroborates our conclusion.

Keywords: Floods, João Pessoa (PB), Resistance, Social Agents, Slum,

Introdução

O intenso processo de industrialização e urbanização, principalmente nos fins da década de


1940 e início da década 1950 do século passado, até os dias atuais, tem proporcionado fatores
negativos ao ambiente como desmatamento, poluição da água e do ar, ocupação de áreas
ambientalmente frágeis – beira dos córregos, encostas instáveis, planícies de inundações, áreas de
proteção dos mananciais, Áreas de Preservação Permantentes-APPs, entre outros, já que os hábitos
urbanos e rurais foram severamente modificados com o processo de industrialização.
Conseqüentemente, ano após ano, foram aumentando os problemas, relacionados ao inchaço
populacional. O acesso a uma moradia decente é um deles, já que os não detentores dos meios de
produção, sem emprego, ou até com subemprego, devido às suas condições de renda tiveram como
314
possibilidade de acesso à moradia no interior da urbe, os espaços insalubres, com topografia
acidentada e de difícil acesso, tais como: manguezais, margens de córregos, áreas com declividade
média e alta (com freqüentes deslizamentos) e áreas sujeitas às freqüentes inundações 37, conhecidos
como áreas de risco38.
O presente artigo focaliza a problemática das inundações em áreas ribeirinhas, apresentando
algumas considerações sobre a ocorrência e seus efeitos numa área de ocupação irregular,
localizada em um trecho da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe mais precisamente no seu baixo
curso, onde está assentada a favela São José, no município de João Pessoa (PB).
Para atingir o objetivo proposto, os procedimentos metodológicos foram: levantamento do
material bibliográfico e cartográfico, leitura e interpretação de fotografias áreas em escala 1:6.000
do ano de 1976, 1:8.000 do ano de 1998, ortofocartas em escala 1:2000 do ano de 2.000, planta
baixa da favela escala 1:5.000. Na realização do trabalho de campo foram utilizados: planta da
favela na escala 1:5.000, fotografias aéreas e fotografias oblíquas de baixa altitude.

Localização e algumas características da área de estudo

O município de João Pessoa localiza-se a Leste do Estado da Paraíba, entre as coordenadas


7º 06' 54'' de Latitude Sul e 34º 51' 47'' de Longitude Oeste, com altitudes variando de 2 a 50
metros, abrangendo uma área de 211 Km2. Segundo dados do IBGE (2012), sua população é de
723,515 habitantes. Está inserida na Mesorregião da Mata paraibana e Microrregião de João Pessoa.
Por apresentar esta localização, João Pessoa é uma cidade de destaque para o estado, por ser o
principal centro da rede urbana estadual. Às margens do Rio Jaguaribe, já no seu baixo curso, entre
o sopé da falésia morta e a estreita faixa ocupada dos terraços do vale do rio Jaguaribe e próxima a
uma antiga zona de habitações de veraneio da cidade de João Pessoa, surge a favela São José em
meados da década de 1960, em uma área de aproximadamente 327.492m2 (Figura 1). Os ocupantes
preferiram iniciar as construções das moradias nos terrenos de maior salubridade, menor
proximidade do rio, locais que se prestavam melhor para o plantio de roças ou criação de animais.
A área possuía outras vantagens: madeira, retirada do próprio manguezal; bem como o barro
extraído da encosta, para a construção das primeiras moradias.

37
Fenômeno de extravasamento das águas do canal de drenagem para as áreas marginais (planície de inundação, várzea
ou leito maior do rio) quando a enchente atinge cota acima do nível máximo da calha principal do rio. (Ministério das
Cidades, 2004).
38
Área passível de ser atingida por processos naturais e/ou induzidos que causem efeito adverso. As pessoas que
habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, habitacionais de baixa renda (assentamentos precários).
(Ministério das Cidades, 2004).
315
Figura 1 – Mapa de localização da favela São José

A favela São José primeiramente recebeu o nome de favela Beira Rio, já que as primeiras
casas foram construídas ao longo do rio Jaguaribe. Somente em meados da década de 1980, durante
o governo de Wilson Braga, com a compra e a desapropriação da terra, seguida pela realização de
obras de urbanização, a área passou a se chamar favela São José. No governo de Cícero Lucena, em
seu primeiro mandato 1997/2000, foram feitas obras de urbanização nas favelas existentes na cidade
de João Pessoa, chegando algumas a serem beneficiadas com rede de esgoto, elevando assim seu
status por parte do poder público, que passou as denomina-las de ―Bairros‖. A favela São José não
ficou de fora: a via principal foi asfaltada, ligações de água e energia foram feitas, resultando na
passagem de favela para bairro São José por iniciativa do poder público, para atender aos desejos de
mudança de valor do espaço, aos olhos dos moradores dos bairros vizinhos, Tambaú e Manaíra.
Os moradores são de origens diversas, alguns de outros bairros ou favelas da cidade de João
Pessoa, outros de áreas um pouco mais distantes, dos municípios que compõem as mesorregiões
Agreste, Borborema e Sertão, expulsos pela seca, pela falta de emprego e com um sonho dentro de
si: a conquista de trabalho e de moradia na cidade grande.
Moradores que sobrevivem em sua grande maioria com menos de um salário mínimo,
desenvolvendo atividades nas residências dos bairros de Manaíra, Tambaú e Cabo Branco como
cozinheiras, lavadeiras, porteiros, pedreiros, serventes e zeladores ou na própria favela com
pequenos negócios informais tais como padarias, mercadinhos, fiteiros de guloseimas, ateliês de

316
costura e salões de beleza, entre outros. Estes últimos localizam-se preferencialmente na via
principal da favela por razões óbvias, já que é a principal via de acesso e circulação da favela.
No ano de 2006, já possuía uma população de 13.000 habitantes, dados do censo
demográfico do IBGE, sendo 52,0% constituída por mulheres e onde predomina a faixa de
escolaridade do ensino fundamental incompleto.
Na favela encontram–se 03 postos do Programa Saúde da Família –PSF mantidos pela
Prefeitura Municipal, 3 Igrejas, sendo 1 Católica e 2 Protestantes (Igreja Assembléia de Deus e
Igreja Betel Brasileiro), que desenvolvem programas sociais.

Caracterização climática da área urbana

O município João Pessoa está inserido na faixa descrita por Molion e Bernardo (2002, p. 6),
―como costeira do ENE (até 300 Km do litoral) estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Sul da
Bahia, também conhecida como Zona da Mata, e apresenta clima quente e úmido com totais
pluviométricos anuais variando de 600 a 3.000mm‖.
De acordo com Melo e Heckendorff (2001) para a cidade de João Pessoa, as temperaturas
médias anuais, pela proximidade do oceano e pela latitude, nunca são excessivas: 23ºC é a média
das mínimas e 28ºC a das máximas; a amplitude térmica anual é de cerca de 5ºC, o que é bem
característico dos climas tropicais oceânicos. As temperaturas mais elevadas ocorrem na primavera,
quando se verificam as mais fortes deficiências pluviométricas, assim como uma acentuada
evapotranspiração. Ela coincide também com a estação ecologicamente seca. A redução dos valores
térmicos, durante os meses de inverno (junho-julho-agosto), é muito pouco significativa: média de
23oC. As temperaturas diurnas ultrapassando 33oC são raras. Por outro lado, na série histórica de
1961 a 1990 a média foi de 26ºC (Figura 2). A insolação, é de cerca de 2.995 horas, sendo que,
durante a primavera, os valores são, sem dúvida, maiores.
Segundo a classificação climática de Köppen, o clima regional é As‟, ou seja, tropical quente
e úmido com chuvas de outono-inverno. Sua extensão está ligada ao mecanismo da atmosfera, ao
relevo, que modifica a trajetória e à incidência dos ventos e proximidade do oceano (OLIVEIRA,
2001, p. 30).
De modo geral, as médias pluviométricas estão em torno de 1.750mm, embora esse total
varie de ano para ano. O período mais chuvoso ocorre nos meses de abril-maio-junho, podendo as
chuvas começar em fevereiro e se prolongarem até agosto. Outrossim, o município de João Pessoa
evidenciou um total de precipitação (mm) de 2.064mm, na série histórica de 1961 a 1990 (Figura
3). O período seco se estende de setembro até janeiro, ou mesmo até fevereiro, sendo que os meses
de outubro, novembro e dezembro englobam o período ecologicamente seco no qual se verificam os
317
maiores déficits pluviométricos sendo outubro o mês mais seco dos três (MELO &
HECKENDORFF, op. cit., p.19).
A umidade é relativamente elevada: 80 a 85%. Esse total elevado resulta da combinação
entre a forte evaporação e inversão da camada superior dos alísios que acentuam a tensão do vapor
d‘água. Esse quadro geral apresenta, no entanto, variações, durante os meses de inverno, quando os
índices se elevam de 80 para 90%, e durante a estação seca, quando esses índices caem para 70%,
na área do litoral, sem dúvida, devido ao albedo dos solos arenosos e de cor branca e pela ação dos
ventos. A área do litoral está submetida a dois regimes de ventos: no período que vai do final de
março até o início de maio, sopram os alísios de Nordeste, de menor importância do que os alísios
de SE-E, que atuam no período compreendido entre maio e março, sendo os meses mais ventosos
agosto, setembro, outubro e novembro (MELO & HECKENDORFF, op. cit., p. 23).

28
27

27

26
26
ºC
25

25
24
24

23
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 2 - Médias das temperaturas mensais do Figura 3 - Médias pluviométricas mensais do município
município de João Pessoa-PB, série histórica do de João Pessoa-PB, série histórica do período de 1961 a
período de 1961 a 1990. Elaborado por Jocélio Araújo 1990. Elaborado por Jocélio Araújo dos Santos. Fonte:
dos Santos. Fonte: Estação Meteorológica de João Estação Meteorológica de João Pessoa/Instituto
Pessoa/Instituto Nacional de Meteorologia-INMET Nacional de Meteorologia-INMET.

Histórico dos riscos ambientais na Favela São José

As ocorrências de enchentes39 no município de João Pessoa, em especial nas áreas de risco


da cidade, estão atrelado ao crescimento urbano caótico e mal planejado. Nos últimos anos a
população favelada cresceu de tal forma que se distribuiu por toda a cidade, atingindo todas as
camadas sociais. Na década de 80, João Pessoa contava com 31 favelas com uma população de

39
Elevação temporária do nível d´água em um canal de drenagem devida ao aumento da vazão ou descarga (Ministério
das Cidades, 2004)
318
73.791 habitantes, vivendo em 14.865 domicílios. No entanto, a realidade atual é alarmante e
preocupante, passaram-se 27 anos, e os números cresceram de maneira que atingiu um total de 109
favelas, correspondendo a 24.735 domicílios.
Conforme a Tab. 1, a população da cidade de João Pessoa teve um incremento de 108.396
habitantes da década de 70 para a de 80. Foi neste período, expressivamente nos anos 80, quando
ocorreu a explosão das favelas no município, devido a diversos fatores, tais como, migração campo-
cidade, crise do emprego e deterioração das condições de vida da população.

Ano do População
População Rural Total da População
Censo Urbana
1940 79.300 15.033 94.333
1950 89.517 29.809 119.326
1960 137.788 17.329 155.117
1970 213.569 7.977 221.546
1980 326.589 3.360 328.942
1991 497.600 0 497.600
2000 597.934 0 597.934
2010 723.515 0 723.515
Tabela 1 – População urbana e rural de João Pessoa – 1940 a 2010
Fonte: IBGE

Não obstante, as aspirações das pessoas de baixa renda não se configuraram satisfatórias,
pois muitos deles ocuparam espaços vazios na cidade, que os fizeram pessoas marginalizadas e
segregadas. Posteriormente, passaram a ter problemas com a infra-estrutura, onde fixaram suas
moradias, pois tratavam de áreas sujeitas as inundações sazonais e deslizamentos a cada inverno
rigoroso na cidade de João Pessoa.
As condições de drenagem da capital paraibana é um grande problema a ser resolvido, pois
desde a sua fundação poucos foram os bairros beneficiados com infra-estrutura.
Sendo assim, o processo histórico de ocupação do espaço urbano da cidade de João Pessoa
criou sérios problemas espacialmente diferenciados e a favela São José é um exemplo desta
diferenciação, onde 120 moradias estão localizadas no sopé de uma falésia morta e nos terraços do
Rio Jaguaribe encontram-se cerca de 260 moradias, totalizando aproximadamente 380 casas nas
duas zonas de risco, correspondendo a uma população de 1.900 pessoas, com uma média de 5
pessoas por famílias.
As famílias amargam sobreviver num espaço inóspito com constantes cheias e
deslizamentos de barreira no período chuvoso. Por outro lado, João Pessoa não evidencia grandes
temporais como os que ocorrem nas metrópoles nacionais São Paulo e Rio de Janeiro, porém a cada

319
inverno rigoroso na cidade alguns moradores são relocados para locais seguros, longe das
inundações e dos deslizamentos.
Oliveira (2001, pág.35) relata que no ano de 1984 a favela São José viveu momento de
pânico com as cheias do rio Jaguaribe e também os deslizes de encosta, em especial nos meses de
abril, maio e julho, chamando a nossa atenção para o registro 532,3 mm de chuvas só no mês de
abril.
Outrossim, neste período foi registrado 06 óbitos de pessoas que residiam em áreas de risco
da cidade, sendo uma delas na favela São José. Oliveira, relata ainda os sérios problemas
acarretados pelo forte temporal, como as perdas materiais que foram bastante significativas onde
alguns moradores perderam além de utensílios domésticos a sua própria moradia.
Evidencias de chuvas intensas que provocaram inundações, acompanhadas de grandes
transtornos, foram registrados além do ano de 1984 com total pluviométrico de 1.878mm, os anos
de 1985 (3.241,22mm), 1994 (2.804mm), 1996 (2.223mm), 2000 (2.445mm), 2003 (2.041 mm),
2004 (2,257mm) e 2007 (2,010mm). Não obstante, as fortes chuvas que caíram no município nestes
anos, foram concentradas basicamente nos meses de abril e maio, com chuvas intensas no mês de
maio, sendo registrado apenas as perdas materiais e de moradias.
Estas perdas só não são mais danosas pelo fato da favela localiza-se no baixo curso do rio
Jaguaribe pelo motivo que o rio em sua trajetória desde a montante sofre várias modificações em
seu curso ora sendo canalizado, ora quase que desaparecendo por completo tomando feição de um
simples córrego, cortando diversos bairros da cidade acarretando, estas particularidades contribuem
para a diminuição da capacidade de absorção das águas e diminuindo o seu potencial hídrico,
amenizando assim a chegada das águas na favela, que não chegam a formar grandes e assustadoras
enxurradas.
O ano de 2003, também foi bastante característico no tocante aos índices pluvimométricos
em todo o estado da Paraíba, do litoral ao sertão, onde fortes chuvas modificaram a paisagem
urbana e rural e acarretaram grandes prejuízos, no litoral conforme dados da Defesa Civil Municipal
de João Pessoa, com uma precipitação pluviométrica de 101,8mm no dia 23/02/2003 foi suficiente
para desalojar 20 famílias e destruir 09 casas, a favela São José foi notificada com 21 ocorrências de
moradias com risco desabamento.
No período típico chuvoso (abril-maio-junho) do ano de 2003, a Defesa Civil Municipal
registrou o transbordamento do rio Jaguaribe no trecho da favela São José, com as fortes chuvas que
caíram entre os dias 13 e 21 de junho com precipitação total de 359mm nos 09 dias do intervalo
acima, resultando no desalojamento de 350 moradores que ocupam as margens do rio, já que 70
casas foram atingidas pela inundação.

320
Santos (2007) estima que 1.300 pessoas, estejam morando na zona considerada de alta
susceptibilidade às inundações, devido à proximidade do canal, já que as vazões em momentos de
chuvas intensas atingem tal magnitude que podem superar a capacidade de descarga da calha do
curso d´água e extravasar suas águas para áreas marginais.
Nesta situação encontram uma área com intensa urbanização, que resulta na
impermeabilização do solo e alterações do curso d´água natural. Consequentemente, como resultado
tem-se a presença da água tomando parte das casas.
O fator que causa maiores problemas relacionados às inundações na favela São José são as
chuvas intensas e de curta duração, como a que ocorreu no dia 13 de fevereiro de 2007, quando
choveu cerca de 80mm, resultando no transbordamento do rio Jaguaribe ocupando toda a planície
de inundação, inundando ruas e residências. Dentre as principais áreas atingidas foram: a rua
Edmundo Filho, a rua do Rio e algumas vielas, que podem ser observadas na Figuras 4 e 5.

Figura 4 – Registro da inundação na rua Edmundo Filho, Figura 5 – É necessário somente chover acima da média
episódio pluvial intenso no dia 13/02/2007. Favela São para que a Rua Edmundo Filho na favela São José se
José. Foto: Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro de 2007. transforme em cenário de caos para os moradores. Foto:
Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro de 2007.

Formas de resistência praticadas pelos Grupos Sociais Excluídos

Santos (op. cit), observou que os moradores da favela São José que ocupam toda a margem
do rio praticam medidas preventivas para o enfrentamento das situações de risco. Denominam-se
de ―medidas populares‖ as construções de dispositivos que impedem a entrada de água nas
moradias. O dispositivo de maior evidência encontrado durante a sua pesquisa foi o tradicional

321
batente, construído em alvenaria e revestido com cimento que o impermeabiliza, impedindo a
entrada da água na casa (Figura 6).
No entanto, são medidas de resistência ao lugar, que visam a melhor convivência da
população com as inundações e são de caráter preventivo e de alcance muito limitado. Observa-se
na Figura 6, a marca d´água na metade do batente, que seguem um mesmo padrão possuindo no
geral 50cm de altura. Fazem parte de uma cultura de cheia, uma vez que sua presença é
generalizada em quase todas as residências próximas ao leito do rio.
Os moradores novatos, ao tomarem conhecimento do problema, mudam um pouco a forma
da construção da moradia principalmente no tocante ao alicerce, construindo um pouco mais alto
(Figura 7) e assim evitando a entrada d´água na residência. Neste sentido pode-se imaginar que as
residências ficaram tomadas pelas águas em período de cheias.

Figura 6 – Presença de dispositivos de proteção de Figura 7 – Alicerce de aproximadamente 60cm de altura


portas nas residências localizadas próximas ao rio Forma encontrada pelos moradores para fixarem as
Jaguaribe, favela São José. Foto: Jocélio Araújo dos moradias próximas ao rio, favela São José. Foto: Jocélio
Santos, fevereiro de 2007. Araújo dos Santos, fevereiro de 2007.

A partir desses dispositivos encontrados na área constatou como os moradores da área


próxima ao leito do rio Jaguaribe se desdobram para habitar o espaço que for encontrado livre e
desocupado, independente onde esteja – próximo ou até mesmo dentro do rio (Figuras 8 e 9). A
água pode até atingir as casas e fazer com que os moradores evacuem a área atingida, mas eles logo
retornam por causa do apego ao lugar e também devido a outros problemas como a falta de
emprego, distância do local de trabalho, entre outros.

322
Figura 8 – Margem esquerda – vigas em madeira dando Figura 9 – Margem direita – vigas em concreto armado
sustentação a parte da casa e possibilitando a dando sustentação a uma moradia construída em
permanência do morador na área. Foto: Jocélio Araújo alvenaria e possibilitando a permanência do morador na
dos Santos, fevereiro de 2007. área. Foto: Jocélio Araújo dos Santos, fevereiro de
2007.

Assim percorreu-se toda a margem do rio Jaguaribe em busca de respostas para as


indagações que de antemão já eram claras. Porém, não sabíamos como os moradores praticavam as
medidas de resistências, visando possibilitar a sua permanência e convivência com as enchentes e
inundações que a cada chuva de forte intensidade são trazidas à tona, literalmente.

Considerações Finais

Neste artigo, apresentamos o cenário susceptível ao desencadeamento de inundações


provocadas pelas cheias do rio Jaguaribe na favela São José. Face ao risco iminente de inundação,
é de natureza pouco destrutiva. As inundações acontecem com baixa energia cinética e baixo poder
destrutivo. Por outro lado, observamos que elas atingem moradias de bom e baixo padrão
construtivo, a exemplos, das construídas em alvenaria e também as que utilizam madeira/zinco.
Observamos que a ―cultura de cheias‖ é presente na morfologia das casas localizadas ao longo do
leito do rio, e se utilizam permanentemente de dispositivos de proteção simples, o que vem
corroborar com nossa conclusão (Figuras 10 e 11).

323
Figura 10 – Em primeiro plano os casebres da favela Figura 11 – Casa ocupando a margem direita do rio
São José ocupando a margem direita do rio Jaguaribe e Jaguaribe já na área do leito maior estando vulnerável à
ao fundo os edifícios dos bairros de classe média inundação, favela São José. Foto: Jocélio Araújo dos
Manaíra e Bessa. O rio serve de depósito para os Santos, fevereiro de 2007.
efluentes domésticos e os resíduos sólidos destes
estratos sociais. As matas ciliares no caso, foram
substituídas por construções precárias Foto: Jocélio
Araújo dos Santos, fevereiro de 2007.

Por outro lado, enfrenta com maior gravidade os problemas de deslizamentos e inundações
nos meses de inverno (abril-maio-junho), característicos por apresentarem os maiores índices
pluviométricos do ano, de 1964 a 2001 a média foi de 251mm (abril), 288mm (maio) e 352mm
(junho), sendo as máximas de 622mm (abril), 686mm (maio) e 787mm (junho). Já as chuvas que
ocorrem nos meses de verão não apresentaram impactos significativos a favela.
No dia 13 de fevereiro de 2007, Santos (op. cit) registrou in loco e com informações
fornecidas por moradores a marca da inundação, posteriormente traçou a marcar da cota de
inundação (4,333 m). Observou que a mancha chega a atingir principalmente as casas ao longo da
planície de inundação próximas ao leito do rio Jaguaribe causando os transtornos já apresentados
aos 1300 moradores, que ocupam a área de vazão do rio. Essas áreas são consideradas de risco a
enchente, por se localizarem na planície com altitudes inferiores aos 5m (cinco metros), devido a
existência de fatores condicionantes a ocorrência das enchentes no local, como a intensa
urbanização causando a impermeabilização do solo e alterações no curso do rio Jaguaribe.
Escolheu-se a cota de cinco metros, por ser a primeira cota cheia acima do valor medido em campo
4,333m (Santos op. cit).
Esta cartografia produzida pode ser de grande utilidade como instrumento de comunicação e
ajudar os moradores da favela São José no tocante à prevenção. Por outro lado, é preciso que seja
adaptada ao público em questão, que sua visibilidade seja apropriada e de alcance de todos.
Por outro lado, aliados aos problemas de ordem meteorológica os moradores do bairro São
José, convive com uma insalubridade produzida pelos seus costumes e a não presença de uma
política pública eficaz, ao invés de paliativa, por parte do poder público. Para conviverem com as
324
freqüentes cheias do Jaguaribe os moradores acabam utilizando-se construções rudimentares para
evitarem que as águas entrem nas residências e acarretem algum prejuízo. Outrossim, são
constantes as construções de residências na área destinada a acolher as cheias do rio, tornando o
solo de várzea cada vez mais impermeabilizado e susceptível ao desencadeamento de inundações.

Referências

MELO, A. S. T.; HECKENDORFF, W. D. O Ambiente Climático. In: M, A. S. T. (Coord.)


Aglomerados subnormais dos vales do Jaguaribe e do Timbó: Análise geo-ambiental e qualidade do
meio ambiente. Departamento de Geografia de História, Universidade Institutos Paraibano de
Educação, João Pessoa, Relatório, 2001.

Ministério das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Treinamento de Técnicos Municipais


para o Mapeamento e Gerenciamento de Áreas Urbanas com Risco de Escorregamentos, Enchentes
e Inundações. Brasília-DF, MD/IPT, 2004.

MOLION, L. C. B.; BERNARDO, S. O. Uma Revisão da Dinâmica das Chuvas no Nordeste


Brasileiro. Revista Brasileira de Meteorologia, Brasília-DF, v. 17, n. 1, 2002, p. 1-10.

OLIVEIRA, F. B.. Degradação do meio físico e implicações ambientais na Bacia do Rio Jaguaribe.
2001. 93 f. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Centro de Tecnologia e Geociências,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

SANTOS, J. A.. Análise dos riscos ambientais relacionados às enchentes e deslizamentos na favela
São José, João Pessoa-PB, 2007.. 112 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós
Graduação em Geografia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007.

325
CONDIÇÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NA COMUNIDADE ATENDIDA PELA USF
MANDACARU IX, JOÃO PESSOA-PB

40
Maria de Fátima D. PEREIRA

José A. Novaes da SILVA41.

Resumo

Conhecer as condições ambientais pertinentes à saúde, como o tipo de moradia e a sua localização,
saneamento básico, além da predisposição genética decorrente da ancestralidade, é de suma
importância para se estabelecer medidas de promoção da qualidade de vida dos indivíduos. Nesse
trabalho objetivou-se avaliar a qualidade de vida dos moradores, como também montar um quadro
relativo à hipertensão arterial da comunidade adstrita pela Unidade de Saúde da Família Mandacaru
IX, no bairro de Mandacaru, João Pessoa-PB. As fontes de pesquisas utilizadas foram as Fichas A,
questionário individual e o WHOQOL-BREF, aplicados a 21,16% dos moradores. A comunidade é
predominante negra e apresenta um percentual mais elevado de mulheres, pois é formada por
aproximadamente 501 pessoas, das quais 75,5% são negros, quanto ao sexo 53,7% são mulheres e
46,3% homens. Conforme avaliação dos resultados percebe-se que a qualidade de vida da
comunidade é baixa, pois se localiza em área insalubre, com saneamento básico ineficiente,
problemas de infraestrutura e graves problemas sociais como, a baixa escolarização, faltam de
qualificação profissional e baixos rendimentos, aumentando o risco de agravos à saúde,
especialmente a hipertensão arterial, que prevalece na população negra.

Palavras-chave: 1. Condições ambientais. 2. Saúde. 3. População negra. 4. Hipertensão arterial. 5.


Unidade de Saúde da Família Mandacaru IX.

Abstract

Knowing the environmental conditions relevant to health, such as the type of property and its
location, sanitation, besides genetic predisposition due to ancestry, it is extremely important to

40
Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - CCEN – UFPB; E-mail: fattima_danttas@hotmail.com
41
Professor do DBM – CCEN – UFPB; E-mail: baruty@gmail.com
326
establish measures to promote the quality of life of individuals. This work aimed to evaluate the
quality of life of residents, but also set up a table for hypertension in the community enrolled for
Unity Family Health Mandacaru IX in the neighborhood of Mandacaru, João Pessoa. The sources
used were research Chips A, individual questionnaire and the WHOQOL-BREF, applied to 21.16%
of the residents. The community is predominantly black and has a higher percentage of women, it is
comprised of approximately 501 people, of whom 75.5% are black, and according to sex 53.7% are
women and 46.3% men. As evaluation of the results it is clear that the quality of life of the
community is low because it is located in an area unhealthy, inefficient with sanitation,
infrastructure problems and serious social problems such as, low education, lack of professional
qualification and low income increasing the risk of health problems, especially hypertension,
prevalent in the black population.

Keywords: 1. Environmental conditions. 2. Health. 3. Black population. 4. Hypertension.


5. Unity Family Health Mandacaru IX.

Introdução

O bairro de Mandacaru localiza-se na região Norte no Município de João Pessoa, nele foi
realizado um trabalho com um grupo de moradores residentes na microárea 03 da Unidade de Saúde
da Família Mandacaru IX (USF IX), para diagnosticar as condições ambientais, socioeconômicas e
de saúde, como também avaliar a qualidade de vida dessas pessoas. Segundo Barbosa (2001), na
década de 60, o bairro era formado por diversos sítios pertencentes às famílias Machado, Paiva,
Brito e Moreira. Passou a ser povoado a partir da migração das famílias vindas do interior para a
capital, devido à modernização na agricultura. A ocupação geográfica iniciou-se com o Porto no
Rio Paraíba e a estrada de ferro que corta o bairro, dividindo-o em Mandacaru de cima, a parte que
se localiza antes da linha do trem e Mandacaru de baixo, conhecido até hoje como alto do Céu.
Anteriormente era conhecido como o Bairro de Iaiá Paiva e abrangia a área correspondente ao
bairro dos Estados, 13 de Maio, bairro dos Ipês e Padre Zé, os quais hoje fazem parte de suas
divisas, além do Roger e a cidade portuária de Cabedelo.
Mandacaru é caracterizado por apresentar em seus espaços geográficos aglomerados
urbanos, diversas casas em um mesmo terreno, construídas e cobertas com materiais de baixa
qualidade, tamanhos dos cômodos impróprios, mal acabados, sem espaço adequado para diversões
das crianças, calçadas irregulares e ladeiras que oferecem riscos aos idosos e cadeirantes. A
acessibilidade das pessoas em geral também é prejudicada. Apresenta condições precárias de
saneamento básico e convive com graves problemas sociais, como desemprego, drogas, violência

327
urbana, baixa renda que afeta de forma direta/e ou indireta a população no que se refere aos
determinantes de saúde, especialmente a hipertensão arterial que se mostra predominante na
população negra. (OLIVEIRA, 2003).
A Constituição (1946) com a criação da Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a
reconhecer a saúde perante a lei como um direito do ser humano e a definiu como o estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de enfermidades. (DALLARI,
2008). Portanto, saúde depende simultaneamente de características individuais, físicas e
psicológicas, como também, do ambiente social e econômico, tanto das pessoas mais próximas
como familiares e comunidade, quanto daqueles que fazem parte do Estado. Ninguém é
individualmente responsável por sua saúde, pois, é preciso ter-se uma boa alimentação, moradia
adequada, boas condições de emprego e renda, nível de instrução, corpo e mente saudável, uma boa
convivência familiar e social, acessibilidade aos serviços de saúde pública que respeite as diferenças
de cada indivíduo.
Em resposta as desigualdades sociais o Ministério da Saúde (MS) através do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) aprovou em 2006 a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra (PNSIPN), em 2008 a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais, e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Devido à
preocupação com os grupos mais vulneráveis e específicos em relações a doenças que compõe a
nossa população. O que prejudica estas políticas é a falta de planos de ação, os quais demandam
verbas, além da necessidade de pessoas preparadas para ministrarem cursos e formações com a
finalidade de preparar os profissionais da saúde nos estados e municípios, com isso, o que se
preconiza não acontece de fato Barboza; Rocha (2010) e Figueiredo; Peixoto (2010).
A sensibilização do Ministério da Saúde é devido aos grupos historicamente excluídos, que
ainda nos dias atuais vivenciam situações adversas, e lutam para conquistar seus direitos, com isso,
vem crescendo a ―política de criação de identidades‖ (SILVA, 2009). Podemos destacar entre eles
os Movimentos Sociais Negros, que conhecendo a existência de doenças e agravantes que
acometem a população negra como, por exemplo: a doença falciforme, o câncer de próstata,
miomas uterinos, diabetes mellitus tipo II e a hipertensão arterial, passaram a cobrar uma maior
atenção para as mesmas, a partir da Conferência de Durban em agosto de 2001 (BRASIL, 2005).

Objetivo

O objetivo desse trabalho é mostrar um diagnóstico sobre as condições ambientais,


socioeconômicas e de saúde, como também avaliar a qualidade de vida dos moradores cadastrados

328
pela USF Mandacaru IX. As futuras ações educativas em saúde poderão utilizar-se desses
resultados.

Metodologia

Este trabalho foi baseado nas seguintes fontes de pesquisa: as Fichas A, que são utilizadas
para coleta de informações sobre o número de pessoas por moradias, idade, sexo, ocupação,
doenças, situação da moradia e saneamento, além de outras questões relacionadas à saúde, são
produzidas pela secretaria municipal de saúde para o cadastro das famílias junto ao Sistema de
Informação de Atenção Básica (SIAB) Barbosa; Forster (2010); O questionário individual e o
WHOQOL-BREF, aplicados a 21,16% dos moradores da microárea 03 da área 175 filiada a
Unidade de Saúde da Família Mandacaru IX (USF IX), para a coleta de dados sobre a religião, e o
pertencimento etnicorracial e a coleta de dados referente à qualidade de vida respectivamente. O
último trata-se de um instrumento aprovado pela Organização Mundial de Saúde (FLECK, et al.,
2000).
Os questionários foram aplicados nos domicílios com o consentimento dos participantes, no
período de julho a setembro de 2012. Os dados obtidos foram digitados e filtrados por meio do
programa Excel usando-se o método da triangulação (MINAYO, et al., 2006).

Resultados e discussão

A comunidade é formada por 168 domicílios dos quais 150 estão ocupados e os demais se
encontram vagos, totalizando 501 pessoas. Com relação aos dados da população estudada por sexo
e faixa etária com base nas Fichas A, é possível constatar que a mesma é formada por 53,7% do
sexo feminino e 46,3% do masculino, havendo uma pequena predominância feminina. O que se
justifica devido à violência urbana, bem como ao fato dos homens procurarem menos os serviços de
saúde (BRASIL, 2010). Deste universo 21,16% das pessoas responderam ao questionário
individual, no qual considerando autodeclaração de ―raça/cor‖ das pessoas residentes, se
autoclassificaram como pretas 10,38%, mulatas 0,94%, pardas 32,08%, morenas 32,1%. Amarelos,
brancos e indígenas representaram, respectivamente, 1,9%; 21,7% e 0,9%. O somatório de mulatos,
pretos, pardos e morenos que é de 75,5% corresponde à população negra residente. Com base no
pertencimento etnicorracial percebe-se assimetrias em saúde, que na maioria das vezes são
mascaradas e quando percebida é trabalhada vagamente, daí a grande importância de pensar a
população nesse contexto.

329
O gráfico 01 mostra a comparação do pertencimento etnicorracial da população do
município de João Pessoa de acordo com o censo do IBGE do ano 2000, com a autoclassificação
dos moradores da microárea estudada. Constata-se que essa microárea é formada majoritariamente
por negros. Trabalho apresentado por Silva; Fonseca (2010) sobre as mulheres moradoras de bairros
populares da Grande João Pessoa confirmam esses resultados.

Gráfico 01. Pertencimento etnicorracial dos moradores da comunidade .

A atividade produtiva de 501 pessoas, conforme a coleta de dados a partir das Fichas A, nos
mostram que (46,32%) dos moradores (homens e mulheres) não pratica nenhum tipo de atividade
que gere renda, os aposentados representam um grupo de (6,39%) e os demais habitantes
simbolizam um grupo de (47,29%), que realizam alguma atividade produtiva. A falta de
qualificação profissional e o tempo de permanência na escola reflete na remuneração, o que justifica
os baixos rendimentos. Desse total de pessoas 21,16% também responderam ao questionário sobre
qualidade de vida, o qual nos mostra que os rendimentos mensais são muito inferiores frente às
despesas mensais para 0,9% de homens brancos e 2,8% de negros. Entre as mulheres ocorre o
mesmo 3% de mulheres brancas e 7,3% de negras. As autoclassificadas indígenas e amarelas
representam 0,3% e 0,5%. Entre negros e brancos existe uma discrepância muito grande no que se
refere à renda familiar, pois, ―ao longo das duas últimas décadas do século 20, a renda per capita
dos negros representou apenas 40% da dos brancos. Os brancos em 1980 ainda teriam uma renda
per capita 110% maior que a dos negros de 2000‖ (PNUD, 2005, p. 16).

330
Quanto à escolarização, as Fichas A não fornecem informações a respeito das séries
frequentadas, apenas sobres às matrículas das crianças e jovens, tornando impossível uma análise
sobre as discrepâncias que existem entre a série e idade ou evasão escolar. Conforme os dados
coletados, das 154 crianças e jovens de ambos os sexos, (74,03%) frequentam a escola. Dos 36
jovens na faixa etária entre 15 e 18 anos de ambos os sexos, (75 %) frequentam a escola. Por ser
uma comunidade urbana, isso se torna sério, fato esse que gera desemprego, baixa renda, além de
aumentar as desigualdades sócias e problemas de saúde (ALMEIDA, et al., 2009).

Condições de habitação e saneamento

Na comunidade estudada, as casas foram construídas com tijolos, dispostas de uma forma
que se apresentam várias casas em um mesmo terreno, o que caracteriza aglomerados urbanos, os
materiais utilizados na construção e na cobertura são de baixa qualidade, os tamanhos dos cômodos
impróprios, mal acabados, sem espaços apropriados para as crianças brincarem, além de o espaço
geográfico apresentar ladeiras, calçadas irregulares, que oferecem riscos aos idosos e cadeirantes, e
dificulta a acessibilidade das pessoas em geral. Dos domicílios habitados 28,66% possuem entre 2 a
4 cômodos; 62,67% são formadas por 5 a 7 compartimentos e apenas 8,68% das moradias
apresentam entre 8 a 11 cômodos.
Conforme a microárea estudada todas as residências ocupadas são cobertas pelos serviços de
abastecimento de água, de energia e coleta de lixo. Em relação ao consumo de água (64%) dos
moradores, consomem água clorada, tratamento executado pela Companhia de Água e Esgoto da
Paraíba (CAGEPA), (33,33%) consomem água filtrada e (2,67%) água fervida. Em relação ao
destino das fezes e urinas (83,33%), utilizam o sistema de esgoto da CAGEPA e as demais fossas
seca. O saneamento básico é ineficiente com galerias pluviais para a drenagem e escoamento das
águas da chuva a céu aberto, o que facilita a proliferação da dengue, que é transmitida pelo o
mosquito Aedes aegypti, que nesse caso encontra-se em período e ambiente propício para seu
desenvolvimento, além de outros vetores como, ratos, baratas, moscas entre outros. Também
existem ruas com esgotamento sanitário, mas sem pavimentação ou com pavimentação, mas sem
esgotamento sanitário, o que interfere mesmo de forma indireta na saúde população, aumentando os
riscos de infecções respiratórias aguda, verminoses, diarreias, problemas dermatológicos
(MENDONÇA, et al., 2009).

331
A B

C D
Figura 01. (A) Aglomeramento de casas. (B) Vista panorâmica de uma das ladeiras. (C) Galeria pluvial a céu aberto. (D)
Rua sem pavimentação.

As condições de moradia, ocupação e renda familiar, o acesso ou não a uma educação de


qualidade, os hábitos alimentares, comportamentos nocivos ou saudáveis são fatores que
influenciam indiretamente no processo saúde/doença, consequentemente, pode reduzir ou aumentar
a expectativa de vida do indivíduo. Já a limitação ou acesso aos serviços de saúde por parte das
instituições e profissionais desta área, considerando a classe social, gênero, raça/cor, orientação
sexual, idade, religião, interfere de forma direta nesse processo, além das predisposições genéticas.
Com isso, a Organização Pan-americana de Saúde tem se preocupado em abordar a equidade em
saúde considerando a perspectiva étnica, o que é muito importante, pois as políticas atuais nem
sempre estão compassivas a essas variáveis, e os recursos precisam ser direcionados de forma a
diminuir as desigualdades sociais, visto que em áreas insalubres, encontram em maioria esses
grupos que apresentam maior vulnerabilidade e especificidade em relações as doenças.
(OLIVEIRA, 2003).
O perfil da moradia é um fator que interfere na saúde da população, pois seus habitantes
interagem com o ambiente. Considerando o espaço geográfico e os aspectos sociais, políticos e

332
culturais, além dos materiais utilizados para a construção, acabamento e coberturas das moradias e a
qualidade dos mesmos, como foi edificada, o número e tamanho dos cômodos, pose-se dizer que
para uma habitação de qualidade é necessário combinação entre todos esses elementos, além de um
local seguro. A habitação é o lugar onde acontecem as interações familiares, fato esse de grande
importância para o desenvolvimento de pessoas saudáveis, seguras e felizes. (AZEREDO, et al.,
2007).
O bairro do Mandacaru no que se refere à infraestrutura, conta com nove Unidades de Saúde
da Família (USF), Centro de Saúde, templos católicos, evangélicos, bem como de umbanda e
candomblé.

Hipertensão arterial: prevalência e incidência

Da população residente a hipertensão arterial acomete (8,0%) das mulheres e (4,2%) dos
homens, além de atingir apenas as pessoas acima dos trinta anos de idade, conforme as informações
coletadas nas Fichas A. As informações ao serem cruzadas no que se refere ao pertencimento
etnicorracial e a pressão alta percebe-se que esta doença atinge 9,0% e 3,8% das mulheres negras e
homens negros respectivamente. Mostrando-se mais prevalente e incidente no sexo feminino e na
fase adulta, como também na população negra. Em relação a sua detecção na fase adulta nossos
resultados ratificam os obtidos por Aranha et al (2006) que trabalharam com um comunidade
carente da cidade de São Paulo. Os dados aqui apresentados corroboram os apresentados por Silva
(2007) que trabalhou com a comunidade quilombola de Caiana dos Crioulos, lá identificando uma
maior ocorrência da hipertensão entre as mulheres desta Comunidade Quilombola. Segundo estudos
epidemiológicos a hipertensão arterial afeta um número elevado dos negros americanos, Lessa e
colaboradores (2006) também detectaram que a população negra de Salvador apresenta um
percentual mais elevado em relação à hipertensão arterial, e destacaram a maior prevalência entre as
mulheres. Segundo Cooper et al. (1999) a prevalência dessa doença não está inteiramente
relacionada a predisposição genética ligada a ancestralidade negra, pois estudos demonstraram que
os negros da zona rural da Nigéria sofrem menos que os da zonas urbanas da Jamaica e os norte-
americanos. Isso sugere a interferência dos fatores ambientais, culturais e socioeconômicos. Na
comunidade as pessoas se queixam com maior frequência da doença em momentos de maior
estresse psicológico, tais como na perda de parentes e problemas familiares e nestes momentos os
sintomas, tais como dores na nuca e de cabeça voltam a ser relatados. Por se cuidarem mais,
frequentemente procurarem os serviços de saúde, justifica os estudos identificarem níveis pressórios
mais elevados da hipertensão em mulheres (NOBLAT, et al., 2004). Apesar de estudos relatarem
que as mulheres tem um maior cuidado com a saúde Sampaio (2011) trabalhou com um grupo de 15
333
mulheres hipertensas, das quais 08 resistiram ao tratamento, só depois de uma crise resolveram
procurar atendimento.

As diversas formas de discriminação que as mulheres negras venham a sofrer podem


comprometer a sua saúde, assim aumentando os casos de hipertensão nessa população. O Ministério
da Saúde no Brasil reconhece a existência de grupos vulneráveis e específicos às patologias
decorrentes de práticas discriminatórias. As mulheres negras ao sofrerem práticas de exclusão de
raça, gênero e classe social, apresenta dificuldade de construir sua identidade, comprometendo sua
autoaceitação e autoestima, impedindo de buscarem meios para enfrentar esses problemas,
comprometendo a sua saúde, aumentando os riscos de complicações (CORDEIRO; FERREIRA,
2009).
A doença crônica do mundo moderno de maior prevalência é a hipertensão arterial
(BRASIL, 2006), observando-se uma predominância na mulher negra relacionados aos aspectos
raciais e de gênero, portanto, na saúde é um dos exemplos de assimetria. O sal consumido em
excesso não é o único responsável pelo desenvolvimento dessa doença, mas juntamente com outros
problemas sociais crônicos, como o caso da hostilidade, miséria, racismo e a baixa escolarização,
fatos estes usados para justificar as grandes divergências existentes de prevalência entre os negros
americanos referentes à hipertensão (Lessa, 1998). Araújo (1994) demonstrava que provavelmente
(9%) das mulheres negras apresentava uma maior incidência para o desenvolvimento dessa doença,
além de advertir para o cuidado com essas mulheres durante o período de gestação, que é muito
delicado, devido à hipertensão arterial provocar a morte materna por toxemia. Paixão; Carvano
(2008, p. 49) a população negra apresenta uma menor expectativa de vida, pois o número de mortes
é muito grande entre os negros. Segundo os autores, entre os anos 1999 e 2005 ―a mortalidade de
pretos e pardos por hipertensão cresceu 81,6%, ao passo, que entre brancos, 67,8%‖ em relação às
mulheres, entre os anos de 2000 e 2005 a mortalidade por ―hipertensão das pretas e pardas cresceu
mais (70,1%) do que a das brancas (58,1%)‖. Portanto, existem semelhanças entre o quadro de
hipertensão arterial das mulheres negras da comunidade estudada e o quadro de vulnerabilidade da
doença em âmbito nacional.

Considerações finais

Neste estudo, dos resultados encontrados destaca-se a grande discrepância existente entre
negros e brancos no que se refere à renda e prevalência da hipertensão. Na microárea analisada a
população é predominante negra, portanto apresenta piores indicadores de qualidade de vida, vive
em áreas insalubres, com saneamento básico ineficiente, além de conviver com graves problemas

334
sociais como, baixa escolarização, consequentemente a falta de qualificação profissional,
desemprego, baixa renda, sendo também um grupo que mostrou uma maior prevalência em relação
à hipertensão arterial, com maior incidência no sexo feminino. Diante desse quadro seria necessário
que as secretarias trabalhassem em conjunto, para encontrar meio a solucionar os problemas
existentes na comunidade da USF Mandacaru IX. Um ponto crucial seria a implantação de políticas
públicas para grupos específicos para melhorar a qualidade de vida desses moradores.

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337
OS CONDOMÍNIOS FECHADOS E A REDEFINIÇÃO DAS
RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS NO ESPAÇO URBANO42

Amanda Pires Alexandre DOVAL (EGN/UnP) - amandapires.a@hotmail.com


Gabriela Fernandes N. Luciano de AZEVEDO (DARQ/UFRN) – bibizinhazevedo@hotmail.com

Resumo

Produto de um processo de urbanização complexo e cheio de contradições, o espaço urbano sofre


constantes transformações, fruto de tensões sociais e jogo de interesses entre classes, a ocupação
desigual é uma das características instrínsecas a cidade, que reflete espacialmente uma segmentação
social na urbe, a segregação existe desde os primórdios, porém vem se modificando ao longo dos
anos, e atualmete apresenta novas configurações, com a crescente implementação de novas
tipologias chamadas ―enclaves fortificados‖, dentre estes empreendimentos destaca-se os
condomínios fechados. Este artigo tem como objetivo caracterizar o padrão de sociabilidade que se
estabelece entre os condomínios fechados e o seu entorno, mais especificamente para aqueles
instalados nas proximidades de áreas consolidadas de bairros populares, visando identificar o
processo de ruptura e segregação que se estabelece nesta relação, processo que contribui para a
negação e degradação do espaço público, reconceitualizando o exercício da cidadania.

Palavras chave: Segregação Socioespacial, Condomínio Fechado, Cidadania, Sociabilidade,


Configurações Socioespaciais.

Abstract

Product of a complex and full of contradictions urbanization process, the urban space undergoes in
a constant transformation, as result of social tensions and conflicts of interests between classes, the
unequal occupation is a inherent characteristic of the city, which reflexes spatially the social
segmentation in the metropolis, segregation exists since the beginning, but it has been changing
over the years, and it is currently presenting new configurations, with the increasing deployment of
new typologies known as "urban enclave", among these projects stands gated communities. This
article aims to characterize the pattern of sociability established between gated communities and
their environment, specifically for those installed near areas of consolidated poor neighborhoods, to

42
Maria Dulce Picanco Bentes SOBRINHA – (DARQ/UFRN) - dulcebentes@uol.com.br
338
identify the rupture process and segregation that is established in this relationship, those contributes
to the degradation and denial of public space, reconceptualizing the exercise of citizenship.

Key words: Socio-Spatial Segregation, Gated Community, Citizenship, Sociability, socio-spatial


configurations.

Introdução

A urbanização das cidades brasileiras, processo que aconteceu de forma mais intensificada
no século XX, estruturou a cidade de forma a atender a demanda populacional urbana crescente na
época, porém a infra-estrutura necessária para satisfazer as necessidades básicas dessa população
nunca foi provida, devido a este crescimento desordenado juntamente com as aglomerações urbanas
cresciam também os problemas das cidades.
Nesta época muitas cidades foram criadas, enquanto outras já existentes cresceram para
atender as crescentes demandas da urbanização/industrialização, tendo em vista o complexo jogo de
interesses que influencia a dinâmica espacial de uma cidade em pleno desenvolvimento, é sabido
que a distribuição de recursos e benefícios nas diversas áreas da cidade é injusto é desigual e
injusta, sendo resultante da atuação privilegiada de agentes produtores do espaço urbano.
Produto deste processo resultou cidades marcadas pela disparidade, tendo como
característica a segregação, que sempre esteve presente nas cidades, e cronologicamente pode
classificada em três momentos diferentes, sendo o primeiro no século XIX quando a mesma se dava
pela variação das tipologias arquitetônicas, uma vez que as cidades ainda reduzida fisicamente, a
partir dos anos 1940 a segunda fase passa a predominar, com a configuração da dicotomia centro-
periferia, esta forma ainda pode ser percebida até hoje porém desde os anos 80 sobrepõe-se uma
terceira fase à anterior, sendo marcada pela inserção de ―enclaves fortificados‖ nas periferias,
quando grupos sociais diferentes se aproximam na mesma medida em que se isolam através de
barreiras físicas e tecnológicas.
O terceiro momento introduzido acima é marcado pela construção de espaços privatizados,
que justificados pelo medo do crime e pela busca de status vêm sendo reproduzidos em larga escala
nas cidades médias e grandes do Brasil, tipologia que introduz uma segregação socio-espacial
complexa que será abordada neste estudo.

Com a globalização do urbano, o espaço se modifica, algumas fronteiras são


quebradas e outras acabam surgindo, como forma de separar ou selecionar
uma parcela da população que é beneficiada pelo desenvolvimento
econômico. (LEVY, 2010. Pág 97)

339
Sabendo-se que é acelerado o processo de reprodução dos condomínios fechados nas
cidades médias e grandes brasileiras, e que os estudos acerca dessa tipologia é recorrente, porém a
abordagem se detém ao entendimento dos empreendimentos internamente, faz-se relevante um
estudo para investigar os impactos destes condomínios em seu entorno imediato, espacial e
socialmente falando, para que discussões fundamentadas acerca do assunto sejam travadas, a fim de
conhecer melhor e teorizar sobre as transformações sociais e espaciais relacionadas a estes
empreendimentos.
Os novos espaços seguem uma lógica do capital, em que os agentes modificadores do
espaço urbano se apropriam de grandes glebas remanescentes, e as modificam visando o lucro
máximo, através do marketing do medo e da promessa de um ―novo estilo de vida‖. Essas áreas
disponíveis estão em sua maioria em áreas afastadas dos grandes centros, ou mesmo em regiões
consolidadas da cidade, porém com algumas características específicas, serem duplamente
desvalorizadas, devido a sua fragilidade ambiental e/ou ainda pela proximidade com áreas mais
pobres, portanto através da negação do entorno e a releitura e enclausuramento o capital imobiliário,
consegue transfomar áreas anteriormente desvalorizadas em produtos para classes mais elitizadas.

A pouca disponibilidade de grandes glebas disponíveis na área urbana


e consequente encarecimento do solo levam cada vez mais
empreendimentos habitacionais de luxo, na forma de condomínios
fechados – verticais e/ou horizontais – a buscarem áreas mais baratas,
inicialmente nas periferias urbanas, passando posteriormente a ocupar
também os interstícios de bairros populares. Há, portanto, uma
dinâmica combinada, mobilidade tanto de fora para dentro, quanto de
dentro para fora, na criação e expansão das moradias para pobres e
ricos. O resultado se traduz em bolsões valorizados denro de áreas de
pobreza, seja internamente, na área consolidadada cidade, seja nas
periferias urbanas, dado que a reprodução da classe menos favorecida
sobrepuja o crescimento da mais abastada. (SOUZA E SILVA, 2004.
P. 97)

De forma geral, a propagação dos condomínios é motivada pela disposição para o medo,
preocupação exacerbada com o segurança associado a valorização demasiada do indivíduo e desejo
de vivência apenas entre iguais (homogeneidade social), e busca de afirmação de status, realidade
que acaba por reduzir a capacidade de tolerar a diferença entre os indvíduos levando-os a uma

340
relação superficial com a cidade, prevalecendo portanto a dimensão privada como estilo de vida de
acordo com Levy (2010).

Os Condomínios fechados e a fragmentação urbana

A tipologia dos condomínios horizontais e suas estratégias projetuais se constituem como


barreiras físicas e imateriais para o estabelecimento de relações socioespaciais com seu entorno
imediato, recriando uma comunidade ―artificial‖ e com a aspiração de ser totalitária, visando o
cumprimento de funções básicas e apartando-se de seu entorno. Este tipo de empreendimento é a
materialização de um estilo de vida articulado por grupos sociais socioeconomicamente
privilegiados, marcado pela mobilidade urbana e permanência preferencial em espaços privatizados.

O avanço da mercantilização e da racionalização da vida social reiterados por


empreendimentos como os condomínios fechados sinalizam e acentuam a segregação no meio
urbano, tanto em áreas afastadas dos centros urbanos, como em ainda maior intensidade em áreas
consolidadas, especialmente em bairros populares, desta maneira existe uma ruptura entre estes
empreendimentos o entorno e das dinâmicas de sociabilidade entre as diferentes tipologias.

Aquilo que vem sendo chamado do "novo" padrão de segregação sócio-


espacial tem atraído a atenção de estudiosos para a estrutura urbana das
cidades. Este novo padrão se sobrepõe ao conhecido padrão centro-periferia
e se caracteriza, dentre outras coisas, pelo deslocamento das camadas de alta
renda do centro para a periferia, gerando espaços nos quais os diferentes
grupos sociais estão muitas vezes próximos, porém separados por muros e
tecnologias de segurança. Para viabilizar tal condição os "enclaves
fortificados" são o principal instrumento desse novo padrão de segregação,
definido como espaços privatizados, fechados e monitorados para residência,
consumo, lazer e trabalho, cuja principal justificativa é o medo do crime
violento. (CARMO JÚNIOR, 2010 p. 1)

Explorando o vínculo entre o espaço construído e a vida social na cidade contemporânea se


faz necessário refletir sobre a proliferação desta tipologia e os impactos provenientes desse
processo, para melhor compreensão das relações sociais e de produção estabelecidas dos mesmos
com o entorno imediao, assim como para a cidade como um todo. Pois apesar do desejo de negação
e a representação do isolamente perceptíveis inclusive na arquitetura desses empreendimentos
existem relações estabelecidas entre o condomínio e seu entorno imediato, seja através das
demarcações de distinção ou mesmo pela redefinição da noção de espaço público gerando uma
341
utilização excludente e seletiva da cidade, através da criação de diversos ―enclaves‖ dissociados da
cidade real.
Esses ―mundos cerrados‖ se articulam e se relacionam, mesmo que
indiretamente. Independentemente da forma segmentada de apropriação
física, em vários âmbitos: nas vivências do cotidiano, nos mecanismos de
distinção simbólica, nas formas de subsunção implícitas às relações de
trabalho, nas relações sociais de convívio, no usufruto das áreas públicas da
cidade, na circulação e no fluxo das mercadorias dos quais a moradia e os
bens de consumo são parte. Assim, ao invés da imagem de harmonia, que
pode estar implícita nos novos padrões de sociabilidade cotidiana analisados,
o conflito é uma condição intrínseca entre os ―muros‖. (IVO, 2012. Pág
143.)

Devem ser portanto avaliados os impactos sociais, econômicos, morfológicos e estéticos


provocados no entorno deste empreendimento a fim de verificar se existe ou não influência da sua
implantação e comercialização para a transformação da paisagem do entorno destes redutos.
fortificados, com enfoque urbanístico socioespacial, a fim de entender as relações estabelecidas e
influências mútuas entre essas duas tipologias e seus moradores.
Refletindo sobre a segregação urbana e suas consequências

O processo de urbanização é complexo e cheio de contradições, marcado desde seu início


pelas tensões sociais e jogo de interesses entre as classes, a ocupação desigual da cidade reflete
espacialmente uma segmentação social na urbe, esta segregação socioespacial sempre esteve
presente nas cidades, segundo Andrade (ANDRADE, 2011. P. 2), tendo contudo se materializado
de maneiras diferentes durante a história da humanidade, de acordo com a realidade social de cada
época, porém Social e politicamente, as estratégias de classe (inconscientes ou conscientes) visam
à segregação (LEFEBVRE, 1969, p.90).

A separação e a segregação rompem a relação. Constituem, por si sós, uma


ordem totalitária, que tem por objetivo estratégico quebrar a totalidade
concreta, espedaçar o urbano. A segregação complica e destrói a
complexidade. (LEFEBVRE, 2004, p. 124).

Contemporaneamente novas formas de habitat urbano se propõe a configurar áreas de


homogeneidade socioeconômica, os ―enclaves fortificados‖, ou ―condomínios fechados‖

342
possibilitam o antigo sonho da ―convivência entre iguais‖, através de mecanismos de segurança e
distinção simbólica espacial.

Na cidade contemporânea, ela [a segregação socioespacial] vem


(re)assumindo características cada vez mais rígidas. A conjunção dos
problemas urbanos atuais – desigualdades sociais abissais, informalidade e
irregularidade fundiária, precariedade e déficit habitacional, dificuldades de
acessibilidade e mobilidade urbana, prevalência do automóvel particular
como meio de transporte, crescimento desordenado e espraiamento das
cidades, grandes distâncias e vazios urbanos, degradação e abandono de
regiões centrais - levam a uma fragmentação da urbe, construindo uma
atmosfera de insegurança e violência que se reflete em disposições espaciais
que promovem isolamento, controle e privatização dos hábitos cotidianos.
(ANDRADE,11. p. 3)

Inseridos em um contexto de crescimento desordenado da cidade, em que a cidade dual e


sua concentração de renda e demais problemas sociais se refletem na violência e decadência de
espaços públicos, os condomínios são justificados pelo medo da criminalidade urbana, que é
utilzada pelos agentes (re)produtores do espaço para tornar estes empreendimentos cada vez mais
populares, gerando lucros e se tornando um fenômeno urbano condensador de transformações
sociais e espaciais que se fazem presentes em diversas cidades brasileiras.

Os condomínios fechados horizontais já fazem parte da realidade da cidade


(...) se constituindo em um novo tipo de prática socioespacial que tende a
proporcionar significativas transformações no tecido urbano das cidades.
Estas transformações estão relacionadas não só ao plano da configuração
espacial, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento das interações
e relações entre os diversos grupos sociais. (TAVARES, 2008. p. 16)

Nesse contexto de rápido crescimento urbano e emergência de novas formas de produção do


espaço faz-se necessário refletir sobre as novas práticas socioespaciais que surgem a partir da
disseminação desse tipo de moradia, e quais seriam as consequências para as cidades reais, uma
vez que este tipo de simulacro nega a cidade habitada e traz atividades antes realizadas em espaços
públicos para esses espaços privatizados, desafiando assim a noção de bens públicos e de domínio
público.
A segregação – tanto social quanto espacial - é uma característica importante
das cidades. As regras que organizam o espaço urbano são basicamente
343
padrões de diferenciação social e de separação. Essas regras variam cultural
e historicamente , revelam os princípios que estruturam a vida pública e
indicam como os grupos sociais se inter-relacionam no espaço da cidade.
(CALDEIRA, 2000. p. 211)

Para melhor entendimento das novas práticas sociais engrendradas é necessário conhecer os
elementos de distinção utilizados pelos incorporadores, na medida em que impõem uma
espacialização que ignora o entorno e rompe com a contunuidade da paisagem (MOURA, 2008.
P.132) e ainda as formas imaterias que se estabelecem nesse contexto, que corroboram para a
ruptura estabelecida entre a cidade e os condomínios fechados, seria mesmo possível negar de
forma decisiva a cidade como a imagem vendida pela publicidade desenvolvida para este tipo de
empreendimento:
A versão residencial (...) deles [enclaves fortificados] estão mudando
consideravelmente a maneira como as pessoas das classes média e alta
vivem, consomem, trabalham e gastam seu tempo de lazer. Eles estão
mudando o panorama da cidade, seu padrão de segregação espacial e o
caráter do espaço público e das interações públicas entre as classes.
CALDEIRA (2000, p. 258)

Neste sentido a leitura espacial e prátias sociais estabelecidas entre o entorno e o


condomínio fechado são fortemente impactadas pela sua configuração trazendo influências
relevantes para a própria cidade e sociabilidade de uma maneira geral, uma vez que se desvincula as
relações sociais interiores das exteriores nesse tipo de empreendimento, constituindo-se como
bolhas, rompendo assim o intercâmbio entre os diferentes grupos sociais e provocando assim a
fragmentação social do tecido urbano. (LEFEBVRE, 2004)

Esta segregação implica em uma série de consequências, desde as de cunho


sócio-cultural-econômico, isto é, relacionada com a sociabilidade e questões
de estratos sociais, até a naturalização dos espaços fechados como parte da
paisagem natural e, ainda, aspectos infra-estruturais (a forma como se
constitui a cidade: periferia versus bairro nobre). Nesse sentido, os
condomínios horizontais fechados interferem na vida dos residentes, bem
como na constituição da cidade. (ASSIS, 2011. p1.)

O espaço urbano tem a função de mesclar as pessoas, assim como diversificar as atividades,
a vivência da urbe tradicionalmente se dá essencialmente neste espaço, porém com a consolidação
344
do novo estilo de vida introduzido neste artigo, e as mudanças introduzidas por ele na configuração
do espaço urbano, associado a crescente violência e abandono por parte dos gestores públicos dos
espaços públicos, temos a desertificação de áreas que deveriam ser plenas de interações sociais e
diversidade.
O espaço público nas cidades torna-se vazio, comportando uma massa de
estranhos entre si, isso porque a vida no urbano apresenta-se inteiramente
fragmentada, onde as pessoas se isolam, em espaços privados, como os
condomínios fechados. Nesse sentido, há uma forte perda da sociabilidade
no espaço público enquanto centros da vida urbana. Assim, o estranhamento
ea imprevisibilidade se tornam predominantes (Frúgoli Jr.. 1995). (LEVY,
2012. Pág 101)

Este quadro de redefinição nos quadros da vida social coletiva exposto por GOMES (2002),
denominado de ―recuo da cidadania‖ modifica as práticas sociais de forma geral no mundo
contemporâneo, favorecendo o confinamento social, diminuição das relações entre as diferentes
classes, fazendo com que o espaço público tenha a sua importância diminuída, uma vez que perde
sua característica fundamental de terreno da convivência, passando a ser temido e evitado, com isso
da-se a desvalorização do espaço público, e consequente crescimento de práticas como apropriação
privada recorrente de espaços comuns, progressão de identidades territoriais com atores ou grupos
sociais que se territorializam, o emuralhamento da vida social, e o crescimento de ilhas utópicas,
sendo a via utilizada cada vez mais apenas para o seu uso primário, a circulação e a tendência ao
isolamento e diminuição da vivência do espaço da cidade.

Para compreensão do processo segregatório

Diante dos conceitos trazido neste artigo será exposto a seguir algumas variáveis que devem
ser levadas em conta em um estudo empírico a cerca do assunto, a fim de analisar como se dá a
articulação entre as tipologias de bairro populares e condomínios fechados, do ponto de vista
espacial e social, para tanto é preciso compreender as ―Sete Funções da Arquitetura‖ de Frederico
Holanda, analisando-as juntamente com demais dimensões objetivas e subjetivas dos atores sociais
envolvidos, refletindo portanto em um contexto social os efeitos das estratégias projetuais desses
condomínios.
Destaca-se nesse sentido a metodologia de análise proposta por MOURA, 2008, em que
desenvolve parâmetros de análise dos condomínios horizontais/loteamentos fechados baseada na
Dimensão Subjetiva e Objetiva desses empreendimentos e de seu entorno.

345
A abordagem subjetiva busca o entendimento dos moradores do condomínio e dos
moradores e comerciantes do seu entorno do imediato, para compreender de que forma eles
percebem o empreendimento, soma-se a esta abordagem a análise e compreensão das funções do
espaço arquitetônico caracterizados por Holanda, conhecido como modelo de sete funções.

Modelo de sete funções, ou como talvez fosse melhor dizer, um modelo de


sete aspectos de desempenho do espaço arquitetônico: aspectos funcionais,
aspectos da co-presença, aspectos bioclimáticos, aspectos econômicos,
aspectos topoceptivos, aspectos emocionais e aspectos simbólicos.
(HOLANDA, 2002. p. 78)

Portanto aliadas as análises das percepções dos próprios moradores deverá ser feita ainda
uma análise das dimensões desejadas pelo projeto, que por vezes podem passar despercebidas pelo
usuário mas são importantes para perceber as relações estabelecidas entre as tipologias díspares
abordadas no exercício acadêmico em questão.

Avaliar in totum a manifestação arquitetônica requer considerarmos todas as


dimensões. (...) Adesatenção a esse caráter multidimensional das
manifestações arquitetônicas pode levar (in)voluntariamente a pontos de
vista pelos quais se minimizam ou negam qualidades e se maximizam
problemas. (HOLANDA, 2003. p.21)

Para estabelecer a área de influência do empreendimento aconselha-se a delimitação


uma área correspondente a 500m de distância de cada ponto do condomínio horizontal fechado a ser
estudado, com base na definição de Estudo de Impacto de vizinhança desenvolvido por Farret
(1984) e utilizado por Moura (2008).
A partir da dimensão objetiva pode-se elencar algumas variáveis para construir parâmetros
de análise, a localização do empreendimento em relação a cidade e ao bairro, a escala deste,
características relativas ao mercado e agentes imobiliários, questões de áreas verdes e impactos
ambientais, análise cronológica quanto a ampliação ou não da infra-estrutura e equipamentos
urbanos assim como a qualidade construtiva e padrões de moradia.
Pretende-se com esta abordagem sugerida estudar portanto dois grupos de moradores, os
moradores dos condomíos fechados e também aqueles que moram em seu entorno imediato, assim
como comerciantes das proximidades e funcionários dos condomínios.
Este tópico sobre metodologia de pesquisa não pretende concluir quais os melhores
elementos a serem utilizados neste tipo de exercício, porém apenas deixar indicativos para que

346
novas pesquisas possam ser realizadas sobre essa temática, sendo esta uma modesta contribuição
para o entendimento da dinâmica intra-urbana.

Considerações Finais

Os processos de constante recriação do espaço urbano das médias e grandes cidades


brasileiras, espelho de um desenvolvimento econômico desigual e incessante adequação do meio
ambiente aos interesses humanos, especialmente dos detentores do capital, é fomentado por um
contexto de globalização e consequente acentuação das desigualdades sociais e da violência, e tem
como resultado a modificação do espaço urbano tradicional de forma anti-democrática e
perversamente desigual, com transformações que refletem espacialmente a fragmentação
socioeconômica vivida nos dias de hoje.
É certo que a dimensão do conflito é um elemento instrínseco à constituição das cidades,
tendo em vista que as diferenças socioculturais de uma comunidade multicultural demanda um
citadino ativo e capaz de lidar com as diferenças no seu cotidiano para buscar soluções eficazes no
enfrentamento dessas tensões sociais, características do espaço urbano complexo e plural, porém a
segregação urbana e os novos modos de vida implementam estruturas que visam negar a
complexidade urbana e promover a fragmentação baseada na diferenciação entre classes,
implementando a homogeneidade como melhor solução, processo excludente e prejudicial a cidade.
Decorrente das mudanças abordadas acontece a desvitalização dos lugares públicos e das
interações sociais, com empobrecimento da vivência da cidade e desvalorização dos ambientes
públicos, que sofrem um processo de abandono e crescente desertificação, ao passo em que
ambientes privatizados como ―enclaves fortificados‖ se popularizam, como solução para a violência
e a falência da cidade, contudo são espaços excludentes e segregatórios, sem a intenção nem
capacidade para abarcar a todos os grupos sociais.

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349
QUALIDADE AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS MÉDIOS PAULISTAS: UMA ANÁLISE
COMPARATIVA ATRAVÉS DO ÍNDICE DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL – IAA43

Nathalie Ferreira EZIQUIEL


Graduanda de Ciências Sociais. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista –
UNESP – Campus Araraquara. n.ferreira88@hotmail.com

Rafael Alves ORSI


Professor Assistente Doutor. Depto. de Antropologia, Política e Filosofia, Faculdade de Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus Araraquara. r.orsi@fclar.unesp.br

Resumo

O debate estabelecido em torno da qualidade ambiental e suas consequências para qualidade de vida
têm ampliado suas bases nas últimas duas décadas. Tal expansão mostra a preocupação da
sociedade com a deterioração da qualidade ambiental e, consequentemente, de suas condições de
vida. A partir dessa preocupação, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a qualidade ambiental
nas cidades médias paulistas, vinculando-a a qualidade de vida de forma ampla. Utilizando como
referência o Índice de Avaliação Ambiental – IAA – do Programa Estadual ―Município VerdeAzul‖
do Estado de São Paulo, fizemos uma análise comparativa das cidades médias com cidades de
pequeno e grande porte. Considerando-se no estudo um universo de 57 cidades, buscamos averiguar
se a qualidade ambiental e, consequentemente, de vida é melhor nas cidades médias em comparação
às cidades grandes e pequenas. A investigação se deu de forma quali-quantitativa através desse
índice sintético e pode discutir a qualidade ambiental das cidades médias de forma relacional.

Palavras-chave: Qualidade de Vida; Qualidade Ambiental; Políticas Públicas; Cidades Médias.

Abstract

The discussion established around the environmental quality and their consequences for quality of
life has expanded their bases in the last two decades. This expansion shows the society's
preoccupation about the deterioration of the environmental quality. Starting this preoccupations that
presented work has the objective of analyzing the environmental quality in the medium-size paulista
cities linking the quality of life widely. Using as a reference the EEI (Environemntal Evaluation
Index) of the Programa Estadual Município VerdeAzul of the São Paulo State we made a

43
Pesquisa conta com apoio financeiro da Pró-reitoria de Pesquisa da Unesp

350
comparative analyze of the median cities with small and big cities. Considering in the study a
universe of 57 cities, seeking to ascertain if the environmental quality and consequently of life is
better in the medium-size cities comparing with the big and small cities. The investigation took the
form of qualitative and quantitative through the synthetic index and could discuss the environmental
quality of the medium-size cities in a relational form.

Keyword: Quality of Life; Environmental Quality; Public Policies; Medium-size Cities.

Introdução

A preocupação com a qualidade de vida e com a qualidade ambiental não é algo recente e
que se restringe ao período atual. De acordo com Guimarães (2005), esta preocupação data dos
períodos mais antigos da história da humanidade. Vestígios arqueológicos, passagens bíblicas,
relatos de filósofos como Platão e Plínio na Antiguidade, são testemunhas da busca por uma
identidade e consciência da relação homem-meio ambiente. Por certo que, após dois séculos de
intensas transformações no planeta, essas preocupações sofrem mudanças e, nas últimas décadas,
entra de vez na agenda dos mais diferentes setores da sociedade. No processo de estruturação da
sociedade urbano-industrial diferentes problemas se estabelecem e marcam relação sociedade -
natureza com profundos impactos ambientais e sociais. Diferentes tipos de poluição, transformações
climáticas, desmatamento, extrativismo predatório, miséria, condições degradantes de trabalho,
tudo parece nos mostrar, como defende Beck (1997), a passagem para uma sociedade de risco. Não
há dúvidas que neste esteio houve profundas mudanças na vida dos indivíduos, no meio natural e,
consequentemente, na qualidade de vida dos diferentes grupos humanos.
Mas, o que é qualidade de vida, afinal? E qualidade ambiental? Para algumas dessas
definições, devemos levar em conta tanto aspectos objetivos e como subjetivos de cada uma delas.
Para além dessas definições é necessário compreender também como essas duas dimensões se inter-
relacionam. A qualidade de vida abrange diversos aspectos e a dimensão ambiental mostra-se como
um deles, ora mais, ora menos evidente.
Tendo em vista as inter-relações entre o meio social e ambiental e a necessidade de
descentralização política na gestão dos recursos naturais, assim como no processo de intervenção
direta no local, o Programa Município VerdeAzul aparece como uma nova política pública que
busca induzir as municipalidades a ações ambientalmente corretas através de incentivos, sobretudo
financeiros, àquelas que implementarem ações previstas no programa. Com isso almeja-se maior
eficiência na gestão ambiental na escala local. Devido a grande adesão dos municípios a este

351
programa, é possível, através dele, estabelecer comparações entre os diferentes municípios no que
tange a gestão e qualidade ambiental a partir de suas variáveis.
Esta pesquisa traz como preocupação central uma investigação sobre a proposição, bastante
veiculada pela mídia e assimilado pelo senso comum, de que as cidades médias têm melhor
qualidade de vida quando comparadas às cidades de pequeno e médio porte. Especificamente nossa
preocupação voltou-se para qualidade ambiental, entendendo esta como uma dimensão da qualidade
de vida. Tal preocupação norteia todo o trabalho, que faz uma breve discussão sobre a qualidade de
vida e a qualidade ambiental, passando pelo uso do IAA como um índice passível de uso para
estabelecer comparações e, por fim, compara e analisa as condições das cidades conforme seu
tamanho populacional. As cidades médias são o foco dessa análise, pois figuram no cenário do
estado de São Paulo como as que mais crescem em número de habitantes e possuem grande
dinamismo econômico. Isso nos leva a colocá-las no centro da discussão sobre qualidade ambiental
e de vida.

Qualidade ambiental e qualidade de vida

Para pensar a qualidade de vida e o bem-estar se faz necessária a reflexão sobre diferentes
aspectos tais como segurança, qualidade ambiental, saúde, transporte público, nível de renda, acesso
à atividades e espaços de lazer, entre outros. E todo esse conjunto de elementos pode ser mais ou
menos valorizado a depender dos traços culturais de um grupo, o que pode ser extremamente
variável no espaço e no tempo. Como é notório, estamos falando tanto em aspectos objetivos como
subjetivos que envolvem a noção de qualidade de vida. O primeiro está relacionado aos recursos
disponíveis e à capacidade de satisfação de necessidade primárias, básicas para a sobrevivência do
ser humano. Já o segundo, liga-se ao grau de satisfação, que pode sofrer variações extremas, a
depender de um conjunto de variáveis sociais, econômicas, ambientais, históricas que imprimem
nos indivíduos graus de satisfação distintos apesar de inseridos em um mesmo contexto. Esses
elementos tornam a análise da qualidade de vida a partir de elementos subjetivos bastante
complexa. É fato que, diferentes eventos podem ser encarados de forma distintas por grupos
específicos, porém como aponta Orsi (2009), apesar de haver graus de ressignificações em torno de
um evento, necessidades primárias afetam de forma direta a qualidade de vida de maneira objetiva.
Independe de um indivíduo se sensibilizar em uma área de manancial preservada, de fato ele
necessita de água para sobreviver, goste ou não dos aspectos estéticos de uma área de preservação
ou e áreas verdes nas cidades, a qualidade do ar irá melhorar com a presença desses espaços. Isso
irá refletir de forma objetiva no bem-estar e irá compor uma melhor qualidade de vida.
Herculano (2000), define qualidade de vida:
352
[...] a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas
coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes
possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao
consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a
existência de mecanismos de comunicação, de informação, de participação e de
influência nos destinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e
ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis
e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação
de ecossistemas naturais.

Para a autora supracitada, a busca do desenvolvimento deve perpassar o ponto de vista ético,
ambiental e de plenitude humana, através de indicadores que integrem bem-estar individual,
equilíbrio ambiental e desenvolvimento econômico. A qualidade ambiental e a qualidade de vida
andam lado a lado neste processo de desenvolvimento, e tal qual aponta Scanlon (1997), devemos
buscar a compreensão de quais elementos substantivos estão presentes neste processo.
É importante salientar que qualidade de vida e qualidade ambiental não são sinônimos.
Segundo Guimarães (2005, p.19),

Qualidade ambiental é um conceito mais amplo, tendo em vista que o meio


ambiente, consideradas as suas dimensões materiais e imateriais, pode ser
analisado como substrato e mediador de todas as formas de vida, permitindo o
desenvolvimento dos processos vitais, das relações ecológicas, da evolução dos
ecossistemas naturais e construídos do planeta, da construção/destruição, ou seja,
da evolução das paisagens externas e internas.

A qualidade de vida compreende diversas variáveis, dentre eles os aspectos ambientais, ou


seja, para um lugar ter boa qualidade de vida obrigatoriamente deverá ter qualidade ambiental.
Porém, o inverso não é verdadeiro: seguir as diretrizes de uma qualidade ambiental ótima não
significa ter boa qualidade de vida, já que outras variáveis, tais como educação, saúde, segurança e
transporte público, podem apresentar sérias deficiências, mesmo sendo interpretados de forma
distinta pelos diferentes segmentos da população.
Se os desafios analíticos são grandes para a leitura de elementos subjetivos, aqueles
vinculados a dados concretos, também apresentam grandes complexidades na sua organização e
interpretação. Hierarquizar os dados é um primeiro desafio. Como devemos hierarquizar elementos
que fazem parte do cotidiano de indivíduos muito distintos? A segurança deve ser considerada mais
importante que a saúde? O transporte público, menos relevante em comparação ao metro quadrado
de área verde por habitante? Independente dessa hierarquização, a qual não faz parte de nossos
353
objetivos neste trabalho, o fato é que vemos no Brasil uma escala de todos esses problemas, que vão
da violência à ocupação de encostas íngremes, do transito caótico à falta de saneamento básico.
Dentro desta teia que é a qualidade de vida, a qualidade ambiental torna-se um dos
elementos de grande importância. No Brasil, esta temática apareceu tardiamente em relação à
regiões mais desenvolvidas do planeta, como Estados Unidos e Europa, as quais já apresentavam
esta preocupação na década de 70. Segundo Alonso e Costa (2002) esta questão ganha corpo no
Brasil quando militantes de esquerda, que estavam exilados em países da Europa, voltaram para o
país durante o processo de redemocratização com ―preocupações ecológicas dos novos movimentos
sociais europeus‖.
Devemos ter em vista que a questão ambiental não é um problema ambiental, no sentido
físico-natural stricto senso, pois por envolver diversos aspectos socioeconômicos e políticos, deve
ser considerado um problema fundamentalmente social. Orsi e Berríos (2008), apresentam
diferentes dimensões da problemática ambiental, a qual envolve aspectos ecológicos, políticos,
sociais, econômicos, ideológicos/culturais e tecnológicos. Neste sentido, segundo Rodrigues (2001),
a questão ambiental deve ser tratada com cuidado, porque sendo apenas modismo maquiará os
problemas que estão por trás dela, como a desigualdade social, fortemente presente nas áreas
urbanas no Brasil.
O processo de urbanização no Brasil foi intenso principalmente durante a segunda metade
do século XX, sendo que a população urbana em 1940 era de 26,3% e em 2000 passou a ser de
81,2% (MARICATO, 2011). Esse processo de construção de cidade deveria trazer a satisfação de
necessidades básicas para toda a população, tais como trabalho, abastecimento, transporte, energia,
água, etc., mas não foi o que ocorreu. As reformas urbanas ocorridas entre o final do século XIX e
início do século XX realizaram obras de saneamento básico para eliminar epidemias, além de
preocupar-se com o embelezamento das cidades e com o mercado imobiliário, sempre atuando de
acordo com o modo de produção capitalista. Dessa forma, a as transformações no espaço urbano
expulsa para áreas periurbanas a população excluída desse processo, o que caracterizou uma
segregação territorial intensa e como desdobramento agrava os problemas sociais e ambientais das
cidades brasileiras.
Tendo em vista todo esse processo desigual da produção e reprodução do espaço, a
qualidade de vida ligada ao espaço urbano é ambígua, pois traz uma relação de libertação, no que
tange ao domínio sobre a natureza através das conquistas tecnológicas e, ao mesmo tempo, oprime
aqueles que estão à margem deste processo, que não têm satisfeitas nem mesmo suas necessidades
básicas.

354
É com uma análise histórica que conseguimos compreender todas as mudanças ocorridas e
delinear os problemas. O processo de urbanização desenfreada apresentou-nos esta nova
problemática: o aumento populacional nas cidades, a industrialização, o consumo excessivo, enfim,
o atual sistema econômico mundial, colabora com a exacerbação de problemas ambientais, que vão
desde o aumento do lixo ao aquecimento global. Consolidado o sucesso do modo de produção
capitalista, devemos entender o problema ambiental como resultado desse próprio sucesso. Segundo
Rodrigues (2010), é esse modo de produção capitalista que provoca os problemas ambientais e
sociais. O erro é culpar o consumo e os consumidores pela origem do problema, causando uma
manutenção do paradigma, que busca manter as condições de reprodução e funcionamento
capitalistas.

As novas matrizes discursivas, ao mesmo tempo em que ocultam os verdadeiros


responsáveis pelos problemas – aqueles que se apropriam e são proprietários dos
meios de produção, da terra, das riquezas – e atribuem a responsabilidade aos
―consumidores‖ e aos pobres que ocupam as piores áreas, que não interessam ao
setor imobiliário, obscurecendo a essência da desigualdade e da segregação
socioespacial, ocultando a importância do território, do espaço e da sociedade.
(RODRIGUES, 2010, p.211)

A análise da qualidade ambiental deve ser cuidadosa, dada a importância que ela tem para a
população e de tudo que está camuflado nessa temática, muitas vezes dissimulado por discursos
enviesados, o que mostra a necessidade de grande atenção e cuidado para desvendar tudo o que está
por trás da questão. Um ambiente insalubre, com excesso de veículos, indústrias, construções
verticalizadas, falta de áreas com vegetação e tantos outros aspectos não pode proporcionar bem-
estar tão menos uma boa qualidade de vida. Restabelecer a qualidade ambiental é fator fundamental
para restabelecer a qualidade de vida.
Sobre a importância da questão ambiental para a qualidade de vida Oliveira (1983 apud
Gomes e Soares 2004, p.23) coloca que

[...] a qualidade ambiental está intimamente ligada à qualidade de vida, pois vida e
meio ambiente são inseparáveis, o que não significa que o meio ambiente
determina as várias formas e atividades de vida ou que a vida determina o meio
ambiente. Na verdade, o que há é uma interação e um equilíbrio entre ambos que
variam de escala em tempo e lugar.

Segundo Gomes e Soares (2004), a qualidade ambiental apresenta ―uma questão de


funcionalidade que passa necessariamente pela organicidade do espaço urbano‖ (p.27). Ainda para

355
os autores supracitados, ―a salubridade de cada lugar não pode ser percebida nem tão pouco
compreendida se não se pensar que aquele lugar está sendo produzido pelo homem e para o
homem‖ (p.28). Deste ponto de vista, o homem deve deixar de ser aquele que degrada o ambiente e
tornar-se aquele que deve reestruturar a relação homem-meio. Acreditamos que antes disso deve-se,
de fato, pensar uma reestruturação da relação homem-homem, ou seja, buscar uma nova
racionalidade das relações sociais, como apresenta Leff (2007), ao defender a racionalidade
ambiental. Neste sentido, conhecer as condições da qualidade ambiental e compreender sua
dinâmica social mostra-se fundamental para uma agenda de ações.

O Programa Município VerdeAzul

Para compreender o urbano é necessário pensá-lo como um espaço repleto de contradições,


construído socialmente e que, portanto, tem sua ordem estabelecida pelos diferentes agentes sociais
e que disputam esse espaço. Ele é produzido através de relações sociais, do cotidiano das pessoas,
da dinâmica econômica das empresas, dos interesses políticos e de como cada um desses agentes
de apropriam do espaço. Considerando que essa inter-relação entre os agentes é tensa, a intervenção
do poder público mostra-se fundamental. De acordo com Carvalho (2009, p.24),

[...] a política de planejamento urbano é sempre um instrumento público de


controle das relações sociais, que se realiza mediante medidas e procedimentos de
disciplinamento e regulamentação da ação dos agentes públicos e privados no
processo de produção do espaço urbano.

Ainda segundo Carvalho (2009), ―a política de planejamento urbano é, por definição, de


natureza regulatória, em função de seu impacto ou expectativa de impacto sobre a sociedade‖ (p.24
– grifo do autor). Essa expectativa pode ser em diferentes escalas, partido local até atingir outras
mais amplas como a regional ou nacional. De qualquer maneira, as ações locais vinculam-se
estreitamente com as outras escalas. Considerando, a Constituição Federal de 1988, a qual concedeu
maior autonomia aos estados e município brasileiros, delegando funções de planejamento e
execução em diferentes áreas, estimular a gestão ambiental a partir do próprio local, está em
consonância com um plano político de descentralização de decisões e maior autonomia para as
municipalidades.
Ao considerarmos o controle ambiental como ―[...] o ato de influenciar as atividades
humanas que afetem a qualidade do meio físico do homem, especialmente o ar, a água e
características terrestres‖ (SWELL, 1978 apud GOMES e SOARES, 2004, p. 28), julgamos que a
ação do poder público através de suas políticas, seja de natureza punitiva/repressiva ou indutiva, são

356
fundamentais. Foi com essa finalidade, de descentralizar ações e aumentar a eficiência da gestão
municipal sobre seus recursos naturais, que a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo
desenvolveu o Programa Município VerdeAzul. De natureza indutiva, o compromisso de adesão ao
programa é voluntário para cada prefeitura municipal.
Lançado em 2007, o programa estabelece um ranking anual dos municípios que aderiram
ao programa, através do Índice de Avaliação Ambiental – IAA. Este índice é composto por 10
Diretivas fixas, que orientam o plano de ações da área ambiental municipal, com questões
ambientais prioritárias. Porém, os critérios para avaliação são modificados a cada ano, sendo
definidos pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente. As Diretivas são: 1- esgoto tratado; 2- lixo
mínimo; 3- recuperação da mata ciliar; 4- arborização urbana; 5- educação ambiental; 6- habitação
sustentável; 7- uso da água; 8- poluição do ar; 9- estrutura ambiental; 10- conselho de meio
ambiente. Cada diretiva tem um peso diferente na nota final, sendo que o esgoto tratado e o lixo
mínimo têm peso maior. A partir dessas diretivas é possível aos municípios construírem uma
agenda ambiental local, tanto no sentido de melhorar a qualidade ambiental como para pleitear
repasses de verbas estaduais.
Esta política busca satisfazer uma demanda que data da década de 1970, quando, segundo
Guimarães (1984), inicia-se no Brasil uma preocupação com a deterioração de ambientes urbanos,
necessitando de novas políticas públicas. Esta demanda é resultado do processo intenso de
urbanização ocorrido no país na década de 50 e a alta taxa de migração campo-cidade, o que
acarretou novos problemas ligados ao meio ambiente. A urbanização brasileira foi feita, em grande
parte, sem recursos técnicos e financeiros suficientes, levando à construção de cidades carentes em
diversos aspectos: saneamento básico, asfalto, transporte público, dificultando a mobilidade
espacial, além de habitações construídas em áreas de risco e sem infraestrutura para educação e
saúde. A forma como foi difundida a industrialização no país também contribuiu para esse cenário:
segundo Maricato (2011), ela foi baseada em baixos salários para os trabalhadores, que não
acompanhou as novas necessidades. Dessa maneira, foram construídas casas em lugares ilegais e
sem os recursos básicos necessários para a salubridade da área. Ainda hoje, nas áreas mais pobres,
serviços básicos como rede de esgoto, água tratada e coleta regular de lixo mostram de forma
precária. Quando não, ainda pior, são essas as áreas de deposição de resíduos coletados em outras
partes da cidade. Essa dinâmica quase sempre seguindo uma lógica capitalista dentro do processo
de constituição urbana. Esse quadro demonstra o processo de deterioração da qualidade de vida e
ambiental no espaço urbano. Através dos instrumentos políticos presentes no Programa MVA,
busca-se transformações desse quadro para todas as cidades do Estado.

357
Refletindo sobre os resultados desse programa, colocamos as cidades médias no centro de
nossa análise, buscando a compreensão se, do ponto de vista ambiental adotando os critérios do
IAA, elas apresentam melhor qualidade ambiental e de vida.

Análise comparativa dos municípios selecionados

Classificando os municípios como pequenos, médios e grandes, tomando o tamanho de sua


população como referência, selecionamos 57 municípios paulistas e averiguamos seus respectivo
IAA's para nossa análise. Selecionamos de forma aleatória 14 municípios pequenos (população
abaixo de 100 mil habitantes), todos os 34 municípios médios (população entre 100 e 500 mil
habitantes) fora de regiões metropolitanas e todos os municípios grandes (acima de 500 mil
habitantes).
Verificada a importância da qualidade ambiental para a qualidade de vida, a análise
comparativa entre os municípios de diferentes portes (pequeno, médio, grande) mostra-se
importante para distingui-los e trazer repostas a pergunta central desse trabalho, ou seja, até que
ponto os municípios de porte médio apresentam melhor qualidade ambiental (e de vida) que os
demais. Para isso, criamos faixas classificatórias a partir do ranking do Programa Município
VerdeAzul – 2011. São elas: faixa 1- acima de 80 pontos; faixa 2- entre 79,9 e 50 pontos; faixa 3-
abaixo de 49,9 pontos.
Adotamos estas três faixas classificatórias, pois acreditamos que elas possam indicar como o
município se encontra dentro do Programa, no sentido de atender os requisitos para a obtenção do
selo ―Município Verde‖ - acima de 80 pontos – e para além disso qual o estado geral da gestão
ambiental municipal de acordo com as diretivas estabelecidas. Assim cada uma das faixas indica
que:

Faixa 1 – os municípios seguem de forma rígida a política ambiental definida pelo Estado de São
Paulo. Implementaram diferentes ações de forma eficiente o que lhes confere portanto o selo
―Município VerdeAzul‖, tendo prioridades em alguns repasses de verbas estaduais;

Faixa 2 – apesar de não alcançarem a certificação ―Município VerdeAzul‖ possuem grande


probabilidade de se adequarem à política estadual e atingirem os 80 pontos. Embora possam
apresentar deficiências existem ações de planejamento e gestão ambiental local em
desenvolvimento;

Faixa 3 – figuram na pior posição dessa classificação. Estão distante da adequação à política ou as
ações implementadas não são bem sucedidas necessitando de diferentes rearranjos para o
planejamento e gestão ambiental serem eficientes.

Considerando o recorte proposto em três faixas classificatórias, os melhores resultados


foram encontrados nos municípios grandes. Dos 9 municípios grandes do Estado de São Paulo,
358
44,44% encontram-se na faixa 1, assim se destacam em relação aos demais. Já entre os municípios
pequenos (14 municípios analisados), 35,71% deles estão acima dos 80 pontos. E apenas 26,47%
dos municípios médios, dos 34 analisados, também receberam a certificação ―Município
VerdeAzul‖. Isso nos mostra que, no que tange à questão ambiental, as cidades médias
percentualmente estão em último lugar na análise comparativa com os outros municípios. Logo, no
quesito qualidade ambiental não podemos afirmar, a partir do IAA, que estas cidades apresentam
uma qualidade superior.
Porém, ao analisarmos a faixa 2, verifica-se uma outra distribuição desses municípios. Nesta
faixa os municípios médios se destacam. Do total de municípios analisados, 47% deles encontram-
se na faixa 2. Logo após aparecem os municípios grandes, com 33,33%. É uma porcentagem
considerável, visto que estas cidades são consideradas como as ―vilãs‖ no quesito qualidade
ambiental, pela poluição que é gerada nestes locais. Somando-se as duas primeiras faixas,
consideradas como boas, 80% dos municípios de porte grande aparecem nessas classificações.
Restringindo-nos novamente à faixa 2, em último lugar estão os municípios pequenos, com 7,14%.
A faixa 3, que configura aqueles municípios com ―pior‖ qualidade ambiental e com menor
probabilidade de serem certificados pelo Programa, é liderada pelos municípios pequenos, 57,14%
do total desses municípios encontram-se nesta faixa. Em seguida estão os médios, com 26,47% e os
grandes, com 22,22%. É possível ver uma síntese desses dados no Gráfico 1:

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São
Paulo, 2012. Elaboração: Nathalie Ferreira Eziquiel.

Gráfico 01 – Comparação dos municípios por faixa de classificação

359
A partir do comportamento desses dados, embora não faça parte dos objetivos desse texto, é
imperativo um questionamento: quais fatores levam a esta dinâmica? Os dados não corroboram a
proposição de que os municípios médios apresentam melhor qualidade ambiental. Pelo contrário, se
tomarmos uma perspectiva ampla, os piores resultados apareceram nos municípios pequenos e os
melhores nos municípios grandes. É possível especular com alguns pontos, como: até que ponto as
diretivas do programa refletem realmente a qualidade ambiental; as cidades maiores – e neste caso
as médias em menor medida – por possuírem um corpo técnico melhor formado tem maior
capacidade de implementação de projetos; a quantidade de recursos disponíveis para os centros
maiores facilita o desenvolvimento de projetos; contato com universidades e centros de pesquisas
podem auxiliar na identificação de problemas e propostas de equacionamento. São vários os pontos
que podemos explorar para explicar o quadro apresentado. Neste diagnóstico nos restringimos a
apenas essa identificação, conscientes na necessidade de agregar outros elementos.

Considerações Finais

Tendo em vista a proposição que norteou todo o trabalho, os resultados da pesquisa


contradiz afirmações, muitas vezes reproduzidas pela mídia e assimiladas pelo senso comum, no
que tange a qualidade ambiental dos municípios paulistas. A partir do IAA, as cidades grandes
obtiveram os melhores resultados e as pequenas os piores. Já as cidades médias apareceram
posicionadas de forma intermediária. Considerando esses resultados, não é adequado afirmar que as
cidades médias têm melhor qualidade ambiental, quando comparada, sobretudo com as grandes.
Isso certamente refletirá de forma direta em sua qualidade de vida.
As cidades médias, dessa maneira, vêem seus status de detentoras de boa qualidade
ambiental e de vida serem colocados em xeque, porém não deixam de ser aquelas que têm
despendido esforços no sentido de alcançar tal patamar.
No entanto, o quadro de uma maneira geral mostra-se preocupante, já que nenhum grupo se
destacou na faixa 1 com resultados que ultrapasse os 50% dos municípios analisados dentro dessa
faixa. Na verdade, da maneira que se apresenta, o espaço urbano (em diferentes dimensões) mostra-
se como o desafio ambiental. Este fato nos indica que todos os grupos de municípios, sejam
grandes, médios ou pequenos necessitam de políticas pró-ativas em favor de um planejamento e
gestão que atendam a princípios de qualidade ambiental e melhorem de maneira substancial a
qualidade de vida de sua população.

360
Referências

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362
OS PROBLEMAS EXISTENTES NA INFRAESTRUTURA DE UMA PERIFERIA URBANA:
UMA ANÁLISE DAS RUAS DO SOL E CHÃ DO CAJÁ EM ALAGOINHA/PB

Patrícia Soares de MEIRELES


Graduanda-UEPB - patricia-act@hotmail.com

Maria Juciara Ferreira SILVA


Graduanda - UEPB- juciaramktb@hotmail.com

Prof. Msc. Hélio de França GONDIM


Professor-UEPB - mestrelio@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa que vêm sendo realizada em uma área periférica
da cidade de Alagoinha- PB, especificamente nas Ruas do Sol e Chã do Cajá onde a infraestrutura
deixa muito a desejar. Tais ruas, assim como as outras áreas periféricas pobres das cidades
brasileiras, apresentam aspectos que retratam dentro do espaço urbano a pobreza e a separação de
classes. Enquanto os pobres moram em áreas precárias da cidade, a elite vive em locais que tem
uma infraestrutura adequada.

Palavras-chaves:Alagoinha, periferia pobre, infraestrutura.

Abstract

This work is the result of research that have been conducted in a peripheral area of the city of
Alagoinha-PB, specifically in the Streets of the Sun and the Tea Caja where infrastructure leaves
much to be desired. These streets, like other poor peripheral areas of Brazilian cities, have aspects
that portray urban space within the poverty and segregation of classes. While the poor live in poor
areas of the city, the elite live in places that have adequate infrastructure.

Keywords: Alagoinha, periphery poor, infrastructure.

Introdução

Uma das maneiras de se compreender o espaço urbano é através de sua divisão em centro e
periferia, e no segundo caso observa-se a existência de uma tipologia que se caracteriza pela
363
ocupação de uma classe trabalhadora, geralmente pobres ou da elite. O presente trabalho tem o
objetivo geral de analisar a área afastada do centro da cidade de Alagoinha-PB, especificamente as
Ruas do Sol e Chã do Cajá. Os objetivos específicos foram observar algumas características
socioeconômicas da população que reside nessa área; avaliar as condições das moradias; examinar
os problemas sociais causados pela falta de infraestrutura; identificar a presença ou ausência de
saneamento básico nas duas ruas.
O estudo da infraestrutura e de características socioeconômicas das Ruas do Sol e Chã do
Cajá teve como procedimento metodológico, levantamentos bibliográficos, trabalho de campo onde
foi realizado; a coleta de dados com as agentes de saúde das áreas; registro fotográfico;
quantificação dos dados coletados em campo e na pesquisa de gabinete; observação de forma crítica
da paisagem urbana, na qual foram visualizados vários problemas relacionados à infraestrutura que
afetam diariamente a vida da população residente nessas localidades. Esse exercício de observação
da paisagem:

[...] expressa o fato de que o espaço se produz desigualmente. Desigualdades estas


que podem ser apreendidas pela diferenciação: nas cores que vão da predominância
do verde nos bairros arborizados onde reside a população de alto poder aquisitivo,
ao vermelho das ruas sem asfalto, misturada à cor do tijolo das casas inacabadas
feitas sob o sistema de autoconstrução, passando pelo cinza do concreto. Em
muitos edifícios modernos a cidade se reflete na imensidão dos vidros fumês
(CARLOS, 2009, p.43).

O município de Alagoinha está localizado na Mesorregião do Agreste paraibano, mais


precisamente na Microrregião de Guarabira-PB. Segundo o IBGE–Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, sua população está estimada em 13.577 habitantes, sendo que 9.033 residem no
perímetro urbano e 4.544 na zona rural. Nas áreas estudadas de acordo com as agentes de saúde
moram em média 858 pessoas que corresponde a 9,49% da população urbana já em relação à
população do município são 6,31%. Na figura 1 pode ser observado o território da cidade de
Alagoinha em destaque na cor vermelha isso dentro do território paraibano.

364
Figura 1: Localização de Alagoinha.

Alagoinha

João Pessoa

Fonte:
http://www.cidades.com.br/cidade/alagoinha/002324.ht
ml, adaptada de MEIRELES, 2012.
No Brasil, cidades são definidas pelos perímetros das sedes municipais, e territórios e
populações consideradas urbanizadas incluem os perímetros das vilas, sedes dos distritos
municipais (MONTE-MÓR,2006, p.6). Em nosso país não é levado em conta o número de
habitantes, como em outros países, para determinar se uma determinada localidade é uma cidade.
Segundo Locatelin Perinelli Neto et al (2010), no Japão por exemplo, para que uma área seja
considerada urbana tem que ter no mínimo 30 mil habitantes. É importante evidenciar que:

A cidade não é um fenômeno recente, tendo já quase sete milênios. No entanto,


suas transformações mais profundas estão relacionadas à Revolução Industrial, a
partir do século XVIII. Desde então surgiram novas formas urbanas, novos
conceitos sociais e modos de vida, novas tipologias e tecidos urbanos, além de
outras inovações que na configuração das áreas urbanas, como a acentuação das
tecnologias da informação e da comunicação. No entanto, como todo fenômeno,
isso não se estende da mesma forma a todos os países e nem mesmo a todas as
regiões de um mesmo país (LOCATEL IN: PERINELLI NETO et al, 2010, p.118).

Toda cidade tem o seu espaço dividido em centro e periferia. De acordo com Carlos (2009),
atualmente as áreas centrais das cidades pequenas não apresentam tantos aspectos negativos como
nas metrópoles onde nesses locais afloram aspectos negativos como a poluição e o barulho.
Podemos ver que o centro das cidades pequenas é um bom lugar para morar, já o das grandes
cidades é péssimo.Já as periferias:

[...] são caracterizadas cada vez mais por outros contextos, não aqueles
mensuráveis simplesmente por quilometragem ou marcação de anéis, coroas

365
ou outro qualquer representativo geométrico, contextos esses alicerçados
nas condições e contradições econômico-sociais dos seus moradores, pelas
infraestruturas existentes, pelas territorialidades estabelecidas e
reestabelecidas, enfim, pelas suas espacialidades (RITTER e FIRKOWSKI,
2009).

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, realizado em


2010, foram identificados no Brasil, 6.329 aglomerados subnormais. Essa pesquisa foi realizada
apenas em 323 municípios dos 5.565 existentes. Nessas áreas moram mais de 11 milhões de
pessoas, ou seja, o equivalente a 6% da população, sendo que a maioria reside na região Sudeste e a
minoria na Centro-Oeste. De acordo com o mesmo instituto as dez maiores favelas do nosso país
estão distribuídas em sete estados (Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro,
São Paulo) e no Distrito Federal. A maior favela brasileira é a Rocinha (Rio Janeiro/RJ) que tem um
total de 69.161 mil habitantes. Sua população não é formada apenas por fluminenses mais também
por pessoas de outros estados.
Muitos paraibanos vivem em aglomerados subnormais, seja no nosso estado ou em outros
como o Rio de Janeiro e São Paulo. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), a Paraíba está localizada na região nordeste, que é a segunda região com o maior número de
edifícios particulares nas periferias urbanas. Essas áreas no nosso estado apresentam, em relação
aos domicílios: uma média de 3,6 pessoas por residência; 95,2% da coleta do lixo é adequada;
63,3% dos esgotos sanitários são apropriados; 98,5% tem abastecimento de água; e 84,6%
apresenta energia elétrica adequada. Para o mesmo instituto, o percentual de esgotos apropriados
no centro das cidades paraibanas é de 63,3% o que corresponde a 7,6% a mais que nas periferias
pobres.
Nas cidades pequenas, a tendência é de melhora da qualidade de vida, com o atendimento da
população em infraestrutura urbana: luz, água, esgoto e asfalto (SPÓSITO, 2010, p.79). Porématé
mesmo nas cidades pequenas, que é bem mais fácil de resolver os problemas relacionados à
infraestrutura, as áreas mais afastadas do centro apresentam vários problemas na infraestrutura.
Podemos observar isto nas Ruas do Sol, e Chã do Cajá localizadas no município de Alagoinha/PB.
Em ambas as ruas as crianças brincam em meio ao esgoto a céu aberto. Na Chã do Cajá não tem
calçamento e muitas de suas casas são pequenas e de taipa. De acordo com o IBGE (2000), a
incidência de pobreza do município de Alagoinha é de 61,18%.
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), os aglomerados
subnormais são áreas constituídas de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes. As Ruas do
Sol e Chã do Cajá são aglomerados subnormais, pois a primeira tem 139 residências e a segunda
tem 103 residências. Ambas as ruas em pleno século XXI ainda apresentam casas de taipa. De
366
acordo com Ferreira (2001), essas casas têm suas paredes feitas de barro com estacas e ripas. As
duas ruas possuem em média 242 casas sendo que 27 delas são de taipa e 215 de alvenaria, ou seja,
11,1% dessas casas são de taipa e 88,8% são de alvenaria. Na figura 2 observa-se algumas das 27
casas de taipa existentes na área estudada.

Figura 2: Casas de taipa na Rua Chã do Cajá.

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 de


setembro de 2012.

De acordo com Carlos (2009), por volta de 9000 a.C. o homem torna-se mais sedentário
com isso troca as barracas por casas de barro. Como podemos ver as casas de taipa é um modo de
construção bem antigo. Esse tipo de moradia existe nas ruas do Sol e Chã do Cajá não pelo fato de
serem monumentos históricos e sim por serem mais baratas do que as residências de alvenaria. A
partir de um olhar capitalista as casas de taipas existentes nessas ruas retratam a pobreza da
população que ali reside. Na área estudada as residências de taipa custam em média 3.000 reais já as
de alvenaria variam entre 10.000 e 15.200 reais já no centro da nossa cidade uma residência de
alvenaria custa entre 70.000 a 100.000 reais. São alguns fatores que determinam a formação do
preço de uma residência ou terreno:

[...] vinculam-se principalmente á inserção de determinada parcela no espaço


urbano global, tendo como ponto de partida a localização do terreno (por exemplo,
no bairro), acesso aos lugares ditos privilegiados (escolas, shopping, centros de
saúde, de serviços, lazer, áreas verdes, etc.), à infraestrutura (água, luz, esgoto,
asfalto, telefone, vias de circulação, transporte), á privacidade; e, secundariamente,
os fatores vinculados ao relevo que se refletem nas possibilidades e custos da
construção. Finalmente, um fato importante: o processo de valorização espacial
(CARLOS, 2009, p.48).

367
Morar nas periferias pobres é a única opção que a maioria das pessoas de baixa renda
encontram pra ter um lugar para morar nas cidades, pois nas outras áreas das cidades os terrenos, as
casas e os aluguéis não são acessíveis a essa parte da população. Muitas vezes vivem mais de uma
família em uma mesma residência pequena e em péssimo estado de conservação. Estima-se que o
déficit de moradias no Brasil seja de dez milhões de unidades o que corresponde a 10% do déficit
mundial (RODRIGUES, 2003, sp). Na Rua do Sol em uma determinada casa vivem 16 pessoas, isso
foge do padrão de pessoas por residência que julgamos ser o normal. Esse número é o máximo,já o
mínimo é dois indivíduos por casa.
De acordo com George (1983), as construções das periferias são feitas com materiais
obtidos, ao acaso. Se essas casas fossem construídas no campo não apresentaria os aspectos tristes e
os riscos de insalubridade existentes nos aglomerados subnormais. Essas áreas têm um amontoado
de moradias rudimentares em que varias pessoas vivem num mesmo cômodo, a promiscuidade de
milhares de pessoas, que vivem no meio das nuvens de pernilongos e moscas, dos maus cheiros de
depósitos de lixo.
Conforme Themelis e Ulloa (2007), a produção mundial dos resíduos sólidos urbanos
chegou a um valor aproximado de 1,8 bilhões de toneladas produzidas por ano. As cidades são
locais onde ocorre uma grande concentração de pessoas e devido a isso produzem uma quantidade
de lixo superior ao campo onde vive poucas pessoas. Todos os produtos que são comprados no
supermercado desde os materiais de limpeza aos produtos alimentícios todos têm uma embalagem
descartável que é jogada no lixo. O ser humano em todos os dias de sua vida produz resíduos
sólidos muitos desses resíduos duram mais do que o próprio homem.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mostra que a Unidade
Federativa brasileira com melhor percentual de domicílios em aglomerados subnormais com coleta
de lixo adequada é o Paraná com 99,0%, já o pior percentual é o de Roraima que é 31,5%. De
acordo com o mesmo instituto 95,2% da coleta do lixo dos aglomerados subnormais da Paraíba é
adequada. Isso é muito bom para as pessoas do nosso estado que vive nas periferias, pois o lixo
causa vários problemas à saúde da população e danos ao meio ambiente. Segundo Rocha et al in:
Silva e Zaidan (2011), a decomposição do lixo produz o chorume, que é um líquido de cor escura,
odor desagradável e tem um grande poder de poluição do solo e das águas subterrâneas.
Nas Ruas do Sol e Chã do Cajá (Alagoinha/PB), ocorre a coleta do lixo três vezes por
semana. Mesmo com a coleta, as pessoas por não ter consciência dos problemas que o lixo pode
causar a elas e ao meio ambiente, o jogam em locais impróprios como próximos de suas casas. Com
isso são atraídos para as residências insetos transmissores de doenças como os ratos (que transmite
a leptospirose) e os mosquitos AedesAegypti (que transmite à dengue). Após coletar o lixo a
prefeitura o queima em uma área que fica afastada da cidade, isso evita alguns problemas para
sociedade como as doenças transmitidas por insetos, mas não deixa de prejudicar o pobre do meio
368
ambiente, com os gases poluentes lançado na atmosfera.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mostra que Minas Gerais
com 87,2% é a Unidade Federativa com melhor percentual de domicílios em aglomerados
subnormais com esgotamento sanitário adequado, já o estado com pior percentagem é o Tocantins
com 0,9%. De acordo com o mesmo instituto a Paraíba tem um percentual onde mais da metade dos
esgotamentos sanitário das periferias são adequados, ou seja, 63,3%. Os esgotos das Ruas do Sol e
Chã do Cajá (Alagoinha/PB) não se enquadram nesse percentual positivo, pois seus esgotos são a
céu aberto, por isso encaixam-se nos 36,7% dos esgotos não adequados.
Nas Ruas do Sol e Chã do Cajá o esgoto a céu aberto causa vários problemas ao meio
ambiente como a poluição do solo. Já os moradores além de sofrer com o odor insuportável desses
esgotos, o contato direto que é algo inevitável, principalmente das crianças causa doenças como as
relacionadas à verminose. As crianças por não terem um lugar adequado para brincar, como em
uma praça, se divertem em meio à sujeira e o mau cheiro dos esgotos. Na figura 3 pode ser
visualizado o esgoto a céu aberto da área estudada que escorre próximo das residências.

Figura 3: Esgoto a céu aberto na Rua do Sol.

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 de setembro de


2012.

A Rua Chã do Cajá além de apresentar esgotos a céu aberto, ela também não tem
calçamento. Com isso ocorrem alguns problemas que atinge as pessoas residentes e não residentes,
tanto no inverno como no verão. No período das chuvas a rua fica repleta de lama e de buracos que
dificulta a locomoção dos moradores e das pessoas da Zona Rural e de outros municípios (Mulungu
e Gurinhém) que passam por esta rua com destino a nossa cidade (Alagoinha/PB) ou a outras
cidades como Cuitegi, Alagoa Grande e Guarabira. Já no período do verão os moradores sofrem
369
com a poeira. Na figura 3 pode observar-se a ausência de calçamento na Rua Chã do Cajá.

Figura 4: ausência de calçamento na Rua Chã do Cajá

Fonte: Fotografia realizada pela autora em 26 de setembro de 2012.

Considerações finais

Em todas as cidades do nosso país podemos encontrar periferias pobres em Alagoinha não
poderia ser diferente. Por ser uma cidade pequena existem poucas áreas periféricas. As Ruas do Sol
e Chã do Cajá fazem parte das áreas menos favorecidas em relação à infraestrutura da nossa cidade.
A população de ambas as ruas sofrem com os problemas causados pelo esgoto a céu aberto, pela
falta de calçamento entre outros problemas.
Os moradores das periferias pobres de certa forma são obrigados a viver nestas áreas, pois a
sua condição financeira não lhes permitem morar em uma periferia bem estruturada ou nos centros
urbanos, isso é, nos que ainda são locais bons para morar. De acordo com Carlos (2009), atualmente
as áreas centrais das cidades pequenas não apresentam tantos aspectos negativos como nas
metrópoles onde nesses locais afloram aspectos negativos como a poluição e o barulho.
O centro de Alagoinha/PB assim como o da maioria das cidades pequenas, é ocupado pelo
comércio e por residências. Diferente das cidades metropolitanas como São Paulo, o seu centro
ainda é um bom lugar para morar. Atualmente o seu centro oferece uma condição de vida melhor
para seus moradores, diferente das suas periferias pobres como a Ruas do Sol e Chã do Cajá que
apresentam vários aspectos negativos em relação à infraestrutura.
O homem vive onde ele pode morar e isso será determinado por sua renda e pelos sacrifícios
que podem fazer (CARLOS, 2009, p.79). Geralmente as pessoas que residem nas periferias não têm
empregos que são bem remunerados, um exemplo disso são os moradores das Ruas do Sol e Chã do
Cajá onde a maioria trabalha no campo principalmente no corte da cana-de-açúcar e em roçados. Os

370
moradores das periferias quando melhoram sua condição financeira geralmente buscam migrar para
outra área da cidade onde haja saneamento básico e as casas sejam bem mais confortáveis do que a
das periferias.
O modo de produção capitalista em todas as cidades brasileiras determina onde uma pessoa
pode morar ou não dentro do espaço urbano, com isso o pobre trabalhador é obrigado a morar em
locais onde a infraestrutura é precária, já a elite é privilegiada, pois podem residir em locais que
oferecem uma boa condição de vida. Não há como pensar em uma cidade igualitária para todos a
partir do modo de produção capitalista, os problemas apresentados nesta pesquisa são problemas de
várias outras cidades do nosso país. Para que sejam minimizados os problemas citados no presente
trabalho é necessário que haja uma intervenção política e para que isso ocorra à população tem que
reivindicar por melhores condições de vida na periferia urbana.

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372
CUIDADO AMBIENTAL: COMO O REPRESENTAM OS QUE DIZEM QUE O PRATICAM?

Raul Bezerra DAMASCENO (UFRN) – raulbdamasceno@gmail.com

Rafael Fernandes BEZERRA (UFPE) – rafaelpsic@yahoo.com

José Q. PINHEIRO (UFRN) – pinheiro@cchla.ufrn.br

Resumo

A palavra cuidado é amplamente utilizada no senso comum referindo-se ao zelo que é preciso ter
por algo ou alguém. Ela também pode ser utilizada para falar do cuidado com o ambiente por meio
do termo cuidado ambiental, empregado quando se faz referência às relações humano-ambientais.
Porém, ele é utilizado na literatura de várias áreas do conhecimento de tal maneira que sua
aceitação e entendimento não pedem por definições específicas do mesmo. Também, não se sabe
ainda o tipo de representação que as pessoas têm do cuidado ambiental. Para verificar tal
representação, foi realizado o levantamento e análise dos dados de estudos que fizeram uso de uma
questão dicotômica de auto-relato sobre as práticas de cuidado ambiental de seus participantes
(Link, 2006; Pessoa, 2008; Gurgel, 2009; Diniz, 2010). As respostas foram categorizadas com base
nas tipologias de práticas de comportamento pró-ambiental propostas por Corral-Verdugo (2001;
2010) e alocadas nas macrocategorias propostas por Diniz (2010). Com base na média da
frequência de respostas dos estudos, notou-se que o cuidado com o lixo é a ação mais praticada
(43%) pelos participantes, seguido de conscientização (22%), consumo (18%), preservação (8%) e
formação (7%). O manejo do lixo pode ter sido representado como principal ação de cuidado
devido à quantidade de informações disponibilizadas sobre o assunto, bem como à desejabilidade
social envolvida. Utilizar o termo cuidado ambiental facilita o acesso do pesquisador ao conteúdo
subjetivo dos participantes.

Palavras-chave: Cuidado ambiental; cuidadores; comportamento pró-ecológico; lixo.

Abstract

The word care is largely used in common sense referring to the zeal it takes for something or
someone. It can also be used to talk about the care with the environment through the term
environmental care, employed when referring to human-environmental relations. However, it is
used in the literature of various areas of knowledge, such that its acceptance and understanding do
not ask for specific definitions. It is not known either the kind of representation people have of
environmental care. Aiming to verify that representation, we conducted a survey and analysis of

373
studies (Link, 2006; Pessoa, 2008; Gurgel, 2009; Diniz, 2010) that have used a dichotomic self-
report question about the practice of environmental care of its participants. The responses were
categorized according to the typology of pro-environmental behavior practices proposed by Corral-
Verdugo (2001, 2010) and allocated in major categories proposed by Diniz (2010). Based on the
mean of the frequency of answers in the studies, we noted that garbage handling is the most
practiced action (43%) by participants, followed by awareness (22%), consumption (18%),
preservation (8%) and education (7%). Garbage handling may have been represented as the main
action of care due to the amount of information available on the subject, as well as social
desirability influence. Using the term environmental care facilitates the researcher access to
participants' subjective content.

Keywords: environmental care, caregivers, pro-ecological behavior, garbage

Introdução

A palavra ―cuidado‖ – cotidianamente empregada no senso comum – apresenta algumas


acepções mais comuns: zelo, interesse, dedicação a algo ou alguém; incumbência, responsabilidade,
ou ainda cautela, precaução. É utilizada no âmbito das relações interpessoais, ao descrever, por
exemplo, o tratamento que a mãe dedica ao seu filho, ou que a enfermeira dedica ao enfermo. De
fato, profissionais da saúde fazem amplo uso do termo, especialmente quando o intuito é transmitir
informações à população, como ao falar sobre higiene pessoal, alimentação e outras medidas
preventivas.
Entretanto, a noção de cuidado não se limita à área da saúde e tampouco à esfera
exclusivamente humana, estando também voltada para relações entre seres vivos e o ambiente.
Importantes documentos relativos à defesa e preservação ambiental trazem implícita a noção de
cuidado, como o Artigo 225 da Constituição Federal Brasileira, que trata da responsabilidade, por
parte do Poder Público e da coletividade, de manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Os termos ―cuidar‖ e ―cuidado‖ aparecem em redações de documentos, como, por exemplo,
a Carta da Terra (2000). Esta declaração universal, traduzida para 40 línguas, subscrita por 4.600
organizações e que representa os interesses de centenas de milhares de pessoas, traz como primeiro
princípio: ―Respeitar e cuidar da comunidade de vida‖.
O ―cuidado ambiental‖ é abordado em diferentes áreas relacionadas com o meio ambiente,
como a educação ambiental e a ecologia, em alusão a práticas que favorecem a conservação do
meio ambiente e a sustentabilidade. São exemplos destas práticas o manejo de resíduos (controle do
lixo), o consumo consciente, a diminuição do consumo de água e energia elétrica, o plantio de

374
mudas, entre outras. Seu entendimento ocorre, por vezes, de maneira tão intuitiva que os textos
sobre o assunto não costumam apresentar explicações conceituais acerca do termo.
Considerando as dificuldades conceituais e práticas dos estudos sobre compromisso pró-
ecológico, especialmente quando à luz da noção da sustentabilidade, convém contornar possíveis
vieses metodológicos, adotando uma postura multimetodológica, menos restritiva (Günther, Elali, &
Pinheiro, 2008). É importante dar voz e iniciativa ao respondente, utilizando abordagens
apropriadas, como entrevista ou questões abertas, e coerentes com uma pesquisa de tipo
exploratória. Neste tipo de pesquisa, em que pouco se sabe (ou se assume) a priori sobre o
fenômeno em estudo, abre-se espaço para que o respondente nos informe a respeito dele (a exemplo
de Chawla, 1999).
Embora facilmente compreendida e comumente utilizada, a noção de cuidado ambiental não
figura com tanta frequência no âmbito da pesquisa científica em ciências sociais e humanas. Tendo
em vista o potencial facilitador deste termo para a comunicação interdisciplinar, faz-se necessário
rever este posicionamento, a fim de diminuir lacunas existentes entre o conhecimento técnico e o
senso comum.
Em estudos anteriores do Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA),
constatou-se que as pessoas que se alegam praticantes de cuidado com o meio ambiente são também
as que apresentaram os mais elevados escores em escalas que ―medem‖ o compromisso pró-
ecológico (Pinheiro & Pinheiro, 2007). As justificativas (para a prática do cuidado) apresentadas
pelos respondentes dessas pesquisas, no entanto, foram pouco exploradas.

Objetivos

O objetivo principal deste estudo foi verificar como o cuidado com o meio ambiente está
sendo representado por participantes de realidades distintas, bem como observar possíveis
influências contextuais em tais representações. Também buscamos analisar as categorias de cuidado
ambiental que foram utilizadas nas pesquisas do nosso grupo de estudos, nos últimos anos. Além
disso, procurou-se estabelecer possíveis questionamentos acerca das diferenças entre os grupos de
pessoas consideradas cuidadoras e o das consideradas não cuidadoras.

Metodologia

O material utilizado para esta pesquisa foi levantado a partir das dissertações de mestrado e
teses de doutorado de membros do Grupo de Estudos inter-Ações Pessoa-Ambiente (GEPA) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As autoras dos trabalhos analisados
perguntaram aos respectivos participantes sobre suas práticas de cuidado ambiental por via de uma

375
questão dicotômica (se as praticavam ou não), solicitando também livre descrição das mesmas, em
caso de resposta afirmativa. Em todos os estudos, as respostas relacionadas ao cuidado ambiental
permitiram a divisão entre cuidadores e não-cuidadores. Foi feita a leitura integral de todos os
trabalhos, e estes fichados para uma melhor análise do conteúdo, focando as partes em que o
cuidado foi tratado de maneira específica.
A análise realizada foi de cunho quantitativo-qualitativo; os dados coletados em cada um
dos estudos foram dispostos em uma tabela para melhor visualização. A partir desta organização,
foi possível uni-los em macro categorias, conforme o realizado por Diniz (2010). A análise se
baseou nas tipologias de comportamento pró-ecológico propostas por Corral-Verdugo (2001; 2010)
acrescidas de outras práticas de cuidado ambiental, que não constavam na tipologia original.
Algumas das tipologias também foram modificadas, de acordo com as conclusões dos estudos
analisados, em que determinadas práticas de cuidado foram associadas ao seu contexto de
realização (Link, 2006; Gurgel, 2009). Assim, foi possível estabelecer médias gerais de acordo com
as frequências dos tipos de cuidado ambiental pontuados pelos participantes nos estudos analisados.

Resultados

Em estudo sobre a eficácia de um programa de educação ambiental implantado por pousadas


do Arquipélago de Fernando de Noronha (PE), tendo como público alvo os funcionários destas,
Link (2006) investigou a percepção dos participantes acerca dos recursos naturais da ilha em que
trabalhavam. A autora constatou que o programa de capacitação esteve bastante associado ao modo
como os sujeitos percebiam seu ambiente de trabalho, bem como às suas ações de cuidado
ambiental.
As categorias de cuidado ambiental obtidas a partir dos relatos feitos pelos participantes no
estudo de Link (2006) contemplaram práticas relativas ao tratamento do lixo, sistema de gestão
ambiental, economia de água, economia de energia elétrica, reciclagem e educação ambiental. Estas
foram definidas a partir da tipologia de comportamento pró-ecológico estabelecida por Corral-
Verdugo (2001; 2010). A autora identificou, também, perfis de cuidadores e não cuidadores do
meio ambiente. Dos 58 participantes, 41 (70%) afirmou praticar cuidado ambiental e, destes
cuidadores, 33 descreveram o tipo de atividades que desempenhavam, concentrando suas respostas
na categoria controle do lixo. Isto comprova a importância do tema (lixo), o que talvez se deva à
quantidade de informações disponibilizadas no local.
O estudo realizado por Pessoa (2008) teve como objetivo compreender como 191 estudantes
universitários representavam o termo ―energia do vento‖ a partir da técnica de auto-relato conhecida
como Redes Semânticas Naturais (RSN). Esta estratégia favoreceu o acesso empírico à organização
376
cognitiva do conhecimento sobre a referida temática. Com a RSN foi possível explorar, por via da
linguagem escrita, informações organizadas sobre termos que, por sua vez, resultavam em
conhecimentos que alimentam opiniões, motivos, atitudes e comportamentos (Pessoa & Pinheiro,
2010). O estudo também contemplou a questão sobre o auto-relato de práticas de cuidado
ambiental.
No estudo de Pessoa, o grupo de cuidadores foi formado por 129 pessoas, 67% do total de
participantes. Suas respostas estiveram mais frequentemente concentradas nas categorias Coleta
Seletiva e Cuidados Gerais Com o Lixo, agrupadas em Controle do Lixo, tal como em outros
estudos (Link, 2006; Gurgel, 2009; Diniz, 2010), correspondendo a 76% das atividades de cuidado
ambiental relatadas pelo grupo. As demais se referiam ao consumo consciente, educação ou
conscientização ambiental e preservação de ecossistemas.
Quanto à associação entre cuidado ambiental e RSN sobre energia eólica, o grupo de
cuidadores associou o termo ―energia do vento‖ às palavras: limpa, importante, força, economia,
natureza, vento, meio ambiente, alternativa, renovável e cata-vento. Já o grupo de não-cuidadores
associou o termo às palavras: importante, vento, economia, força, limpa, renovável, natureza,
eólica, cata-vento e alternativa. Embora tenha sido evidente a emergência de palavras semelhantes
em ambos os grupos, a frequência de evocação das palavras difere em função dos grupos. A autora
observou a presença da palavra ―meio-ambiente‖ apenas para os cuidadores, diferentemente dos
não-cuidadores, que não fizeram esta associação e incluíram a palavra ―eólica‖, que representa uma
redundância para o termo ―energia do vento‖. Tal indício sugere que cuidadores possuem um
diferencial em sua cognição no que diz respeito à representação do meio ambiente se comparados a
pessoas que não cuidam do meio ambiente.
Em outro estudo, Gurgel (2009) observou a participação de moradores no programa de
coleta seletiva de resíduos em três bairros residenciais na cidade do Natal/RN e analisou a
associação entre essa participação e o compromisso pró-ecológico. A autora empregou estratégias
como observação, aplicação de questionários e entrevistas com catadores (que avaliaram a
participação dos moradores) e alguns moradores. Embora o programa de coleta seletiva de resíduos
na cidade do Natal tenha caráter primariamente social e econômico, com o objetivo de gerar renda
para os catadores que integram o programa, a autora constatou que os moradores perceberam
também o benefício ambiental que o mesmo proporciona, no que diz respeito ao cuidado com o
meio ambiente, participando do programa e reconhecendo sua importância.
Quanto à associação entre prática de cuidado ambiental e participação no programa de coleta
seletiva, Gurgel (2009) observou que, dos 68 entrevistados, 28 (40%) participavam do programa e
relataram práticas de cuidado ambiental. Outros 33 que participavam do programa, porém, não

377
praticavam o cuidado ambiental. Quando indagados sobre o tipo de cuidado que desempenhavam, a
categoria relativa ao Controle do Lixo foi predominante, o que reflete a realidade de outros estudos,
com populações diferentes (Link, 2006; Pinheiro & Pinheiro, 2007). De todos os estudos, apenas
um dos respondentes citou a compostagem, como forma de tratar o lixo produzido.

Por sua vez, Diniz (2010) investigou a noção de sustentabilidade a partir da associação entre
o compromisso pró-ecológico, as visões ecológicas de mundo e a perspectiva temporal de futuro.
380 estudantes universitários dos cursos de biologia, ecologia, enfermagem, geografia e serviço
social avaliaram o grau de influências recebidas por parte de diferentes experiências e contextos de
vida para a prática de cuidado ambiental. A autora observou que cuidadores apresentaram maior
grau de influência recebida pela rede social e pelo contato direto com a natureza do que os não
cuidadores.
Sobre o relato das práticas de cuidado ambiental, 294 participantes (78%) afirmaram praticar
o cuidado ambiental; as práticas descritas pelos respondentes foram classificadas de acordo com as
categorias de comportamento pró-ecológico propostas por Corral-Verdugo (2001; 2010). Os tipos
de cuidado ambiental foram agrupados nas macrocategorias Manejo de Resíduos, Conscientização,
Consumo, Preservação e Formação. Tal como em estudos já citados (Link, 2006; Pessoa, 2008;
Gurgel, 2009), as respostas mais frequentes fizeram parte da categoria referente ao tratamento do
lixo. O grupo de cuidadores e não cuidadores também se diferenciou quanto às relações entre suas
práticas de cuidado ambiental e os demais indicadores utilizados no estudo. Os cuidadores
apresentaram maiores escores de ambientalismo de base ecocêntrica, de consideração de
consequências futuras (pensar no futuro como influência para o comportamento presente) e uma
visão de mundo mais igualitária. Já os não cuidadores apresentaram maiores índices de
ambientalismo antropocêntrico e apatia ambiental (indiferença pelas questões ambientais), e visão
ecológica de mundo mais individualista.
As freqüências das respostas dos estudos descritos foram colocadas em uma tabela para sua
melhor visualização e, a partir daí, foi possível observar a predominância dos tipos de
comportamento que os cuidadores direcionam para o meio ambiente. Constatou-se, a partir da
média aritmética entre as freqüências das respostas encontradas, que a maior parte (43%) dos
comportamentos, nos estudos analisados, se concentra na macrocategoria Manejo de Resíduos, que
abarca as práticas de Controle de Lixo e Estética Ambiental, Separação de Lixo e Coleta Seletiva,
Prática de Reciclagem e Reuso de Produtos. A macrocategoria Conscientização ficou logo abaixo
(22,2%), e envolveu as práticas voltadas para a Participação em Eventos/Projetos Ambientais e
Persuasão Pró-Ecológica. Consumo, que envolve a Economia de Água, Economia de Energia
Elétrica, Diminuição de Consumo e Consumo Consciente, obteve a média de 18,5% na freqüência
378
de cuidados auto-relatados, seguido da macrocategoria Preservação (7,7%). Esta envolve práticas
como o Cultivo de Árvores e/ou Mudas e Cuidado com Animais e Preservação do Ecossistema. A
macrocategoria Formação, que envolve Pesquisa em Meio Ambiente, Curso na Área de Meio
Ambiente e Sistema de Gestão Ambiental (acrescentado em meio às práticas de cuidado ambiental
devido ao estudo de Link, 2006, em que os participantes apontaram o sistema de gestão do local
onde trabalhavam como sendo uma prática importante de cuidado), obteve média de 6,4%. Sobre a
classificação entre cuidadores e não cuidadores, a frequência média foi maior para os cuidadores
(63,9%).

Discussões

Como esperado, o manejo de resíduos é a forma mais comum de os participantes


representarem para si a noção de cuidado ambiental. Inúmeras são as possibilidades que podem
culminar neste fato. Culturalmente, o lixo vem sendo tratado como aquilo que não possui mais
função, que é inútil, que possibilita o surgimento de doenças, e que é preciso se livrar dele (Gurgel,
2009). Vivemos em uma sociedade em que a noção higiene é extremamente valorizada e
universalmente difundida. Por isso, as práticas a ela ligada são imbuídas de um alto grau de
desejabilidade social. Além disso, a quantidade de informações disponibilizadas sobre o assunto é
extremamente abundante e bem difundida – a máxima ―jogue o lixo no lixo‖ é bastante
representativa disso.
A destinação adequada de resíduos não exige uma mudança radical no comportamento
humano. Portanto o ato de ―jogar o lixo no lixo‖ não possui o caráter proativo ideal às ações
voltadas para o meio ambiente, e pode estar associado à idéia que comumente se tem de que quando
os resíduos produzidos estão no local destinado a eles, a responsabilidade não é mais de quem o
produziu. O lixo some do campo de atuação de seu produtor.
Desta forma, ações de cuidado com o meio ambiente voltadas para o tratamento do lixo e
estética ambiental tornam-se comuns, e os dados encontrados pelos estudos analisados corroboram
tal fato. No entanto, esta não é a única forma pela qual o cuidado com o lixo pode ser observado.
Como apresentado nos dados descritos em seções anteriores, a reciclagem também faz parte da
representação do cuidado ambiental que está associada ao tratamento do lixo. Ela refere-se à
reutilização do material reciclável com o objetivo de diminuir os impactos ambientais decorrentes
da atividade. Programas de coleta seletiva têm sido implantados pelas prefeituras de vários
municípios brasileiros com esse intuito. Porém, como constatado por Gurgel (2009), a participação
em programas de coleta seletiva pode ser tomada como uma forma passiva, e não ativa, de cuidado
com o meio ambiente. Ela não envolve uma atitude radical por parte de quem integra o programa,

379
pois outra pessoa é que busca o material reciclável, previamente separado. O participante do
programa apenas tem de realizar a separação do lixo em sua própria residência.
Não obstante, o tratamento de resíduos pode ter um caráter proativo. Por exemplo, ainda em
Gurgel, uma das respostas relacionadas ao lixo fazia referência à compostagem, que consiste em
separar o lixo orgânico e colocá-lo em um ambiente para que sua decomposição natural ocorra,
gerando um material rico em nutrientes para o solo. Em termos qualitativos, a pessoa que relatou tal
prática destaca-se gritantemente das outras, pois a compostagem vai de encontro à ideia
culturalmente estabelecida que se tem do ―lixo‖: ela envolve o acúmulo de detritos orgânicos em
decomposição, principal atrativo de animais indesejados, e tem odor potencialmente desagradável.
Isto indica que a prática de compostagem envolve algum grau de proatividade, qualidade ideal em
ações de cuidado ambiental. Porém, o que se verificou foi que a maioria das respostas nos estudos
analisados não possui tal caráter.
A conscientização é outra prática que envolve diretamente a proatividade. Seus praticantes
relataram estar envolvidos em ações ou projetos voltados para o cuidado ao meio ambiente, o que
aponta um comportamento deliberado. A média entre as freqüências das respostas encontradas nos
estudos apontou que cerca de 22% delas podem ser classificadas na categoria conscientização, o
que é positivo, mas não é ideal, se comparada à média de respostas relacionadas ao manejo de
resíduos. A partir dos resultados encontrados, é possível pensar sobre a necessidade de haver uma
maior promoção da conscientização acerca das necessidades do meio ambiente, mas que esteja
associada à prática do cuidado, pois é ideal que elas tenham o caráter proativo que está relacionado
à categoria conscientização. Tal conscientização poderia ser feita através de programas de
sensibilização ou, até mesmo, de mutirões comunitários direcionados às ações pró-ecológicas.
As categorias Consumo e Preservação também envolvem a proatividade, porém de uma
maneira mais direcionada ao âmbito do indivíduo e ao seu contexto social. Em locais onde há
disponibilidade de solo para o plantio ou a necessidade de racionar os recursos, como no caso
abordado por Link (2006), os atos de plantar e racionar podem ser encontrados. O plantio de mudas
e o consumo consciente são práticas de cuidado que podem, ou não, estar relacionadas ao
compromisso pró-ecológico do indivíduo, que envolve a intencionalidade do comportamento da
pessoa que o pratica. Por exemplo, a economia de água ou energia pode não estar relacionada à
economia de recursos naturais, mas à economia de recursos financeiros, sendo a economia daqueles
conseqüência secundária. O mesmo pode ocorrer com o plantio de mudas; o objetivo de tal prática
pode ser a estética ambiental. Isso pode apontar uma diferença importante entre o comportamento
de cuidadores e não cuidadores. Porém, não há dados que confirmem tal hipótese, apesar de
resultados como os de Pessoa (2008) e Gurgel (2009) indicarem a existência de uma diferença

380
cognitiva sutil no que se refere à representação do meio ambiente entre cuidadores e não
cuidadores. Tais respostas classificadas nestas categorias, assim como às relacionadas ao Manejo de
Resíduos, podem ter sido obtidas em virtude da desejabilidade social.
A categoria Formação obteve média mais baixa, o que pode ser atribuído ao fato de a
formação dos participantes em si não ser compreendida como uma prática pró-ecológica. Ela não
trata do envolvimento direto com a natureza, mas da aquisição de conhecimentos que possibilitam a
prática do cuidado. Sendo assim, ela pode ter sido vista pelas autoras como uma ferramenta de
promoção do cuidado que os participantes das pesquisas analisadas associaram às suas práticas.
Sobre a diferenciação entre cuidadores e não cuidadores, o estudo de Pessoa (2008) permite
que isso seja observado com clareza. Nele, os cuidadores reconheciam o conceito de ―meio
ambiente‖ em sua rede semântica quando pensavam sobre o termo energia do vento. Em contraste,
os não cuidadores não o reconheciam. Além disto, os termos representantes do conceito (meio
ambiente) para estes estavam bastante associadas a uma visão de mundo antropocêntrica. Em
Gurgel, 2009, os cuidadores também puderam ser diferenciados dos não cuidadores quanto à
possível motivação de participação em um programa de coleta seletiva. Ao investigar a relação
entre participação no programa de coleta seletiva e prática de cuidado ambiental, a autora observou
que esta se apresenta da maneira que esperava: quando há cuidado ambiental, há também
participação. Ela destacou os 27 participantes que afirmaram cuidar do ambiente, pois os mesmos
27 participam da coleta seletiva. Mas, nem todos que participam do programa cuidam. Assim, ser
cuidador parece ser suficiente para ter engajamento no programa, pois há um maior compromisso
com questões ecológicas. Apenas 08 do total de participantes afirmaram não cuidar e não participar
do programa, contrastando fortemente com o fato de não haverem participantes que,
simultaneamente, cuidam do meio ambiente e não participam do programa de coleta seletiva. Ser
cuidador parece motivação suficiente para participar da coleta seletiva, tendo-se uma visão
ambiental mais ampla que aqueles que apenas participam do programa (Gurgel, 2009). Os 33 que
afirmaram participar, mas que não cuidavam do meio ambiente, podem não ter motivação pró-
ecológica, para eles estar na coleta seletiva pode ser uma resposta à desejabilidade social, além de
sua participação não exigir grande esforço, pois a coleta ocorre em domicílio. Os resultados
apontados pela autora sugerem que o controle do lixo pode estar mais frequentemente relacionado
com o que é esperado socialmente (desejabilidade social) que com a ocorrência de compromisso
pró-ecológico.
A análise dos não-cuidadores não havia sido intencionalizada pelas autoras, pois, a
princípio, o foco dos estudos analisados, bem como o da presente pesquisa, era apenas observar, nos
participantes, os tipos de representações associadas à realização do cuidado. Não obstante, a

381
importância das respostas das pessoas que não se reconhecem enquanto cuidadoras do meio
ambiente são de extrema importância do ponto de vista qualitativo, pois elas podem carregar
consigo um ponto de vista mais exigente no que se refere à representação que têm do que seja
cuidado ambiental. Ou seja, muitas de suas práticas pró-ecológicas não teriam sido relatadas por
estes como tal, pois suas concepções de ―cuidado‖ estariam além de sua possibilidade de
concretização.

Ainda, o uso do termo ―cuidado ambiental‖ pode se mostrar como uma ferramenta
metodológica, fundamental na superação da falta comunicação entre a academia e o público geral,
não acadêmico, problema com o qual se deparam os pesquisadores que estudam as interações entre
pessoa e ambiente, bem como de outras áreas da psicologia (Sommer & Sommer, 1997). Quando os
pesquisadores se utilizam de instrumentos com itens que tratam de um conceito mais amplo, cuja
pretensão é medir, em termos psicométricos, uma idéia complexa, submetem o participante a
conteúdos tidos pelo elaborador do instrumento, a priori, como relacionados ao que se pretende
medir. Diferentemente, ao se usar o conceito de ―cuidado‖ (a partir de questão disparadora, como
nos estudos aqui relatados), o participante evoca informações que carrega consigo sem a
necessidade de utilização de um instrumento mais elaborado, que pode vir a contaminar o conteúdo
que o indivíduo já possui e influenciar na forma como ele encara o que está lhe sendo solicitado.
A utilização de uma questão sobre a prática do cuidado pró-ecológico não visa captar uma
definição do termo para o pesquisador, mas, convidar o participante a refletir sobre o que considera,
para si, como ―cuidado ambiental‖. Em suma, o termo permite a simplificação de ideias complexas,
tornando mais concretas ideias de âmbito abstrato.
Assim, mostra-se eficaz perguntar para as pessoas sobre o cuidado ambiental. Como o termo
já é difundido no senso comum, cabe aos estudos que lidam com as interações pessoa-ambiente
utilizá-lo como um facilitador no acesso ao conhecimento que os indivíduos já carregam consigo, e,
também, no sentido de comunicar-se com outras áreas do conhecimento que fazem uso do mesmo
termo.

Conclusões

A classificação dos participantes dos estudos entre cuidadores e não-cuidadores se mostrou


conveniente, pois permitiu às autoras dos estudos diferenciar o que iria ser seu foco de trabalho,
delimitando suas análises. Focar as análises nos cuidadores possibilitou que fossem estabelecidas
algumas distinções importantes acerca das diferenças que estes têm de indivíduos que se alegam
não cuidadores do meio ambiente.

382
É importante destacar o fato de o número de cuidadores ser maior que o de não cuidadores
em três dos quatro estudos analisados, o que é positivo, considerando o fato de que o mundo está
vivenciando uma crise ambiental generalizada (Pinheiro & Pinheiro, 2007). Tal posicionamento dos
participantes das pesquisas pode estar associado à quantidade de informações disponibilizadas
acerca da necessidade de preservação do meio ambiente. A disponibilização de informações pode
ser uma ferramenta importante no que se refere ao cuidado ambiental, pois ela orienta como as
pessoas devem proceder para que a natureza seja preservada.
As hipóteses iniciais sobre a utilização do termo cuidado ambiental na pesquisa acadêmica
se confirmaram. Com sua utilização foi possível estabelecer um grau de diferenciação entre os tipos
de cuidado manifestados em grupos de participantes distintos. Assim, é possível refletir sobre as
práticas ambientais que tais grupos consideram como cuidado, mas que não necessariamente se
aproximam do ideal.
O conceito de cuidado ambiental tem estado presente nos estudos realizados pelo nosso
grupo de pesquisa nos últimos anos, mostrando-se uma ferramenta metodológica útil no que se
refere à coleta de dados sobre compromisso pró-ecológico, e sobre as práticas de cuidado
direcionadas ao meio ambiente. Porém, mesmo com sua utilização constante, este conceito ainda é
explorado de forma incipiente. Assim, com o intuito de refinar tal ferramenta, pretendemos
continuar a trabalhar nela, aprofundando a discussão das categorias de cuidado e seus respectivos
conteúdos associados.

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384
SITUAÇÃO DA ACESSIBILIDADE NO TRANSPORTE PÚBLICO DE JOÃO PESSOA, PB

Thais Gomes MACHADO (UEPB) – thais_gmachado@hotmail.com


Aluna de graduação do Curso de Ciências Biológicas

Vancarder BRITO (UEPB) – vancarder@hotmail.com


Professor do Curso de Ciências Biológicas (orientador)

Resumo

O trânsito compreende o deslocamento de pessoas, veículos ou animais na cidade, em decorrência


das condições físicas e econômicas. Acessibilidade se trata da possibilidade e condição de alcance
para uso dos espaços, das edificações, dos transportes e dos meios de comunicação por pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida. A união destes dois temas acarreta na melhoria da qualidade de
vida das pessoas que necessitam se utilizar destes meios, principalmente dos ônibus acessíveis,
garantindo seu direito de ir e vir. O presente trabalho visa mostrar a eficiência deste tipo de
transporte público e se os mesmos estão sendo bem utilizados na cidade de João Pessoa, Paraíba.

PALAVRAS-CHAVE: acessibilidade, trânsito, ônibus acessíveis.

Abstract

The traffic includes moving people, vehicles or animals in the city, due to the physical and
economic conditions. Accessibility is the possibility and scope condition for use of spaces,
buildings, transport and means of communication for people with disabilities or reduced mobility.
The union of these two themes entails improving the quality of life for people who need to use these
media, especially the accessible buses, ensuring their right to come and go. This paper aims to show
the efficiency of this type of public transportation and whether they are being well used in the city
of João Pessoa, Paraíba.

KEY-WORDS: accessibility; traffic; accessible bus.

Introdução

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, Lei nº. 9.503, de 23 de setembro de
1997, Artigo 1º, § 2º, a definição de trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais,
isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e
385
operações de carga ou descarga. Outra definição considera o trânsito como um ―conjunto de todos
os deslocamentos diários, feitos pelas calçadas e vias da cidade, e que aparece na rua na forma da
movimentação geral de pedestres e veículos‖ (VASCONCELOS, 1985).
Na visão tradicional, ela é tida simplesmente como a habilidade de movimentar-se, em
decorrência de condições físicas e econômicas. Neste sentido, as pessoas pobres, idosas ou com
limitações físicas estariam nas faixas inferiores de mobilidade em relação às pessoas de renda mais
alta ou sem problemas físicos de deslocamento (VASCONCELOS, 2001).
Em muitos países, os problemas causados pelo trânsito são enquadrados tanto na perspectiva
do meio ambiente quanto na da saúde pública, tamanho é o seu impacto na qualidade de vida das
pessoas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000; ARAÚJO et al., 2011).
Acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos
sistemas e meios de comunicação, por pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida. A acessibilidade deve estar presente nas edificações, no meio urbano, nos transportes e
nas suas mútuas interações, conforme exigência constitucional (GODOY et al, 2000).
O objetivo da acessibilidade é consentir um ganho de autonomia e de mobilidade a um
número maior de pessoas, até mesmo àquelas com mobilidade reduzida ou dificuldade em se
comunicar, para que usufruam dos espaços com mais segurança, confiança e comodidade
(ONOFRE et al., 2010).
De acordo com dados internacionais, existem cerca de 600 milhões de habitantes, o que
significa mais de 10% da população mundial que possuem algum tipo de deficiência física.
Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% dessas pessoas vivem nos países pobres ou
em desenvolvimento. De acordo com dados da Contagem da População realizada pelo IBGE no ano
de 2010, a população da cidade de João Pessoa estimava-se em cerca 723.515 habitantes. Cerca de
118.113 pessoenses (26% da população) são portadores de algum tipo de deficiência (OLIVEIRA,
2010; IBGE, 2010).
Tendo em vista o que já foi abordado, se faz necessária a utilização de ônibus acessíveis no
trânsito de João Pessoa, pois estes são adaptados com elevadores, para permitir o fácil acesso a
cadeirantes. As portas são mais largas (medem um metro e 10 centímetros, enquanto que os ônibus
convencionais têm apenas 90 centímetros), contam com cadeiras diferenciadas, mais largas,
destinadas a mulheres grávidas e pessoas obesas, corrimãos especiais para deficientes visuais, sinal
de parada com escrita em Braile e um dispositivo que só possibilita a partida após as portas estarem
completamente fechadas. Todos os ônibus acessíveis possuem o selo de acessibilidade, afixado na

386
frente e nas laterais do veiculo, como forma de visualização a acessibilidade às pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida (OLIVEIRA, 2010).
Essas dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência acabam por causar uma queda
na qualidade de vida. A acessibilidade não se trata de eliminar barreiras para um grupo específico
de pessoas, mas de incluir as especificidades no universo de pessoas no desenho urbano e de
produtos. Esta pode ser entendida como equiparação das oportunidades de acesso ao que a vida
oferece: estudo, trabalho, lazer, bem estar social e econômico, entre outros, tudo que diz razão aos
direitos universais (ALVES; RAIA Jr, S/D). Sendo assim, ela está diretamente relacionada à
qualidade de vida dos cidadãos e tende a traduzir a possibilidade de as pessoas participarem de
atividades do seu interesse (ARAÚJO et al., 2011).
A qualidade de vida está intrinsecamente associada a mobilidade e acessibilidade, pois são
elas que garantem à autonomia ao cidadão, que se tornam presentes no movimento de ir e vir, seja
ao deslocar-se para o emprego, seja na busca de uma forma alternativa de entretenimento fora de
seu bairro. É indispensável promovê-las com autonomia e segurança, melhorando a qualidade de
vida de todos os usuários do espaço urbano e garantindo o exercício de uma real cidadania
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004).
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar qual a real eficiência dos transportes
coletivos acessíveis e se os mesmos estão sendo utilizados devidamente na cidade de João Pessoa,
Paraíba.

Metodologia

Foram realizadas 30 entrevistas em forma de questionário (em anexo) a pessoas portadoras


de algum tipo de deficiência física, usuários da Fundação de Apoio ao Deficiente (FUNAD)
residentes em João Pessoa e em cidades de seu entorno (Santa Rita, Bayeux, Alhandra, Cabedelo,
Sapé, Gurinhém, Pitimbu, Mata Redonda, Araçagi e Cruz do Espírito Santo), que se utilizam de
transporte público adaptado (eficiente). Foram abordados seus conhecimentos sobre o tema
Acessibilidade, bem como aspectos acerca dos transportes públicos adaptados disponíveis em João
Pessoa, tais como tempo de espera do ônibus, preparo dos motoristas e cobradores em auxiliá-los e
como cada um considera o nível de acessibilidade nos meios de transporte presentes em João
Pessoa, Paraíba.

Resultados e Discussão

A frota de ônibus coletivos da cidade de João Pessoa atualmente apresenta 445 veículos que
prestam serviço à população pessoense através de 85 linhas convencionais mais três opcionais que
387
circulam pelos diversos bairros do município. Em 2005, existiam apenas 7 ônibus acessíveis, o que
significava apenas 1,7% da frota de ônibus de João Pessoa no qual possuía adaptações para o
atendimento das pessoas portadoras de necessidades especiais. Atualmente, a cidade de João Pessoa
possui 179 ônibus acessíveis o que representa aproximadamente 40% de toda a frota de veículos
coletivos da capital paraibana, enquanto que em Curitiba (Paraná) dita como uma das cidades em
que mais se utiliza a acessibilidade, das 395 linhas da RIT (Rede Integrada de Transporte), 316 já
têm ônibus com adaptação para pessoas com deficiência. O índice de acessibilidade no sistema de
transporte coletivo de Curitiba aumentou de 44% para 86% no percentual de ônibus equipados para
atendimento a pessoas com dificuldade de locomoção, garantindo melhor mobilidade a 2,4 milhões
de passageiros/dia. A Lei de Trânsito exige que apenas 3% da frota de João Pessoa possuam
adaptações para pessoas portadoras de necessidades especiais ou mobilidade reduzida, porém com o
número expressivo da frota pessoense verifica-se que a capital paraibana está acima da meta
estabelecida (OLIVEIRA, 2010; SEMOB, 2012; URBS, S/D; LEAL, 2010).
Desde 2005 só entram na frota curitibana de transporte, veículos com todos os acessórios e
equipamentos de acessibilidade, o que inclui espaço adequado para cadeirantes com lugar para
acompanhante, balaústres (na cor amarela para atrair atenção das pessoas com baixa acuidade
visual) e elevadores. Também para melhorar o atendimento a idosos, gestantes, mulheres com
crianças de colo e deficientes físicos, os ônibus de Curitiba passaram a ter 20% do total de assentos
destinados a estes passageiros. (LEAL, 2010).
Embora seja dito que João Pessoa possua uma frota considerável de veículos acessíveis, há
reclamações por parte de seus usuários como mostrado em entrevista com os cadeirantes Gilvan
Andrade de Lima e Edson Soares dos Santos ao Jornal O Norte (realizada em 19 de maio de 2010),
no qual relataram a insuficiência de ônibus adaptados, eles moveram uma ação pública para terem
assegurados seus direitos de ir e vir de maneira plena. A juíza Maria de Fátima Lúcia Ramalho, da
5ª Vara da Fazenda Pública de João Pessoa deferiu liminar obrigando o Departamento Estadual de
Trânsito (DETRAN – PB), a Superintendência de Transportes e Trânsito de João Pessoa
(STTRANS) e o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) a proverem adaptações na estrutura
dos transportes públicos sob pena de multa. Em resposta a denúncia realizada, o diretor da
Associação de Empresas de Transportes Coletivos Urbanos de João Pessoa (AETC-JP) afirmou que
a demanda de usuários é muito pequena e que ―apenas 0,004% das pessoas que utilizam os serviços
de transporte coletivo são cadeirantes, o que significa uma média de 120 viagens em um universo
de 30 mil viagens/dia que esses ônibus fazem na cidade‖ (FURTADO, 2010).
Com base nos dados coletados pôde ser observado que dos 30 entrevistados 15 (50%)
possuíam conhecimento sobre o termo Acessibilidade; 9 (30%) consideram João Pessoa como uma

388
cidade que emprega a acessibilidade mas não totalmente, 16 (53,3%) afirmam a presença de
acessibilidade, enquanto 5 (16,7%) pessoas não acham que exista acessibilidade na cidade (Gráfico
01), mostrando o quanto este tema precisa ser implantado ao conhecimento da população; 15 (50%)
afirmam que o transporte público não possui acessibilidade e 15 (50%) que a média de duração de
espera dos ônibus adaptados são de 1 hora ou mais (Gráfico 02), expondo o descaso com as pessoas
que só podem se utilizar deste tipo de transporte; 23 (76,7%) asseguram que os
motoristas/cobradores não estão preparados para a utilização dos meios de acessibilidade presentes
nos ônibus, portanto se faz necessária a reciclagem destes trabalhadores para que possam auxiliar as
pessoas com deficiência, evitando assim, possíveis constrangimentos e 25 (83,3%) expõem que a
acessibilidade nos meios de transporte público em João Pessoa é considerada Regular, 3 (10%)
consideram Boa e 2 (6,7%) Ruim (Gráfico 03), entretanto, 12 destas residem em João Pessoa e as
demais em Bayeux (5), Santa Rita (3), Alhandra (2), Sapé (2), Pitimbu (1), Mata Redonda (1),
Araçagi (1), Gurinhém (1), Cabedelo (1) e Cruz do Espírito Santo (1).

Gráfico 01 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―João Pessoa pode ser
considerada como uma cidade que utiliza acessibilidade?‖, 30% afirmam que utilizam
a acessibilidade Em parte; 53,3% Sim e 16,7% Não.

389
Tempo de duração da espera dos
ônibus eficientes
60%
50%
50%
40%
15 minutos
30% 26,7%
30 minutos
20% 13,3%
10% 45 minutos
10%
1 hora ou mais
0%
15 minutos 30 minutos 45 minutos 1 hora ou
mais

Gráfico 02 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―Em média, qual o tempo
estipulado para que o ônibus que você pega dito como ―eficiente‖ passe?‖, nos quais
50% afirmaram que demoram 1 hora ou mais; 26,7% 30 minutos; 13,3% 45 minutos
e 10% 15 minutos.

Gráfico 03 - Resposta dos entrevistados frente a pergunta: ―Como você considera a


acessibilidade nos meios de transporte presentes em João Pessoa?‖, na qual 83,3%
consideram Regular; 10% consideram Bom; 6,7% Ruim, e ninguém respondeu
Excelente ou Ótimo.

Considerações Finais

Ao decorrer do trabalho foi possível notar que a acessibilidade está intrinsecamente ligada
tanto ao trânsito quanto à qualidade de vida dos que dependem desta. Devido a este fato são
utilizados meios de transporte públicos adaptados chamados de eficientes visando o benefício da
população em geral, bem como dos que possuem algum tipo de deficiência física, visando sua
autonomia.

390
João Pessoa possui sua frota de ônibus eficientes atualizada e com uma quantidade
relativamente elevada de acordo com a demanda necessária, porém ainda não pode ser dita como
satisfatória devido aos descasos principalmente com relação ao despreparo das pessoas responsáveis
no auxílio ao embarque dos cidadãos de mobilidade reduzida, como também com relação ao atraso
deste tipo de transporte, mostrando assim, que ainda há a necessidade da melhoria da acessibilidade
no trânsito.

Referências

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mobilidade no Brasil. Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana – PPGEU – UFSCar. São
Carlos. S/D.

ARAÚJO, M. M.; SILVA, F. S.; OLIVEIRA, J. M.; LIMA, K. M. C.; SANTOS, P. A. C.;
MENEZES, R.; LIMA, T. C. Transporte público coletivo: discutindo acessibilidade, mobilidade e
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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Caderno de psicologia do trânsito e


compromisso social. Brasília: CFP, 2000. 32p.

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<http://www.jornalonorte.com.br/2010/05/19/diaadia13_0.php>. Acesso em: 07 jun 2012.

GODOY, A. et al. Cartilha da Inclusão. 2000. Disponível em


<http://www.deficienteeficiente.com.br>. Acesso em: 14 mai 2012.

IBGE Cidades. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em:


23 jun 2012.

LEAL, C. Curitiba dobra índice de acessibilidade no transporte. 2010. Disponível em: <
http://meutransporte.blogspot.com.br/2010/03/curitiba-dobra-indice-de-acessibilidade.html>.
Acesso em: 23 jun 2012.

MINISTÉRIO DAS CIDADES/Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade

Urbana. Diretrizes para a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável.

Brasília: Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana, 2004.

391
ONOFRE, T. C. F; MENEZES, P. D. L; MELO, S. C. S. Acessibilidade: uma análise dos
ambientes turísticos da cidade de João Pessoa. VII Seminário da Associação Nacional Pesquisa e
Pós-Graduação em Turismo. São Paulo, 2010.

SEMOB - SUPERINTENDÊNCIA DE MOBILIDADE URBANA. Prefeitura Municipal de João


Pessoa. João Pessoa. 2012. Disponível em:
<http://www.joaopessoa.pb.gov.br/secretarias/semob/onibus/>. Acesso em: 07 jun 2012.

OLIVEIRA, T. F. Acessibilidade do Transporte Público de João Pessoa para as pessoas portadoras


de necessidades especiais. Portal da Administração, 2010.

URBS - Urbanização de Curitiba S/A. S/D. Disponível em: <


http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/PORTAL/acessibilidade.php>. Acesso em: 24 jun 2012.

VASCONCELOS, E.A. Transporte urbano, espaço e equidade: análise das políticaspúblicas. São
Paulo: Annablume, 2001. 218p.

VASCONCELOS, E.A. O que é o trânsito. São Paulo: Brasiliense, 1985. 92p.(Primeiros Passos).

392
ANEXO

Questionário – Acessibilidade no transporte público em João Pessoa

1) O termo acessibilidade pode ser conceituado como a possibilidade e condição de utilização,


com segurança e independência, dos espaços, das edificações, dos transportes e dos sistemas
e meios de comunicação, por qualquer pessoa portadora de necessidades especiais e com
mobilidade reduzida. Com base nesta definição, você já ouviu falar sobre o assunto?
( ) Sim ( ) Não

2) Qual a cidade que você mora?


( ) João Pessoa ( ) Bayeux ( ) Santa Rita ( ) Outra
No caso de marcar a opção Outra, qual? _______________________________

3) João Pessoa pode ser considerada como uma cidade que utiliza acessibilidade?
( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte

4) Você utiliza regularmente o transporte público?


( ) Sim ( ) Não

5) O transporte público possui acessibilidade?


( ) Sim ( ) Não

6) Em média, qual o tempo estipulado para que o ônibus que você pega dito como ―eficiente‖
passe?
( ) 15 minutos ( ) 30 minutos ( ) 45 minutos ( ) 1 hora ou mais

7) Os motoristas/cobradores estão preparados com a utilização dos meios de acessibilidade


presentes nos ônibus e em como auxiliar os portadores de necessidades especiais?
( ) Sim ( ) Não

8) Como você considera a acessibilidade nos meios de transporte presentes em João Pessoa?
( ) Excelente ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

393
OS IMPACTOS DA POLUIÇÃO AMBIENTAL SOBRE AS FAMÍLIAS DA COMUNIDADE
ILHA DE DEUS EM RECIFE, PE: ESTUDO DE CASO44

Vilane Gonçalves SALES (DLCH/UFRPE) - vilane.g.sales@gmail.com45

Resumo

Esta pesquisa tem como tema central de estudo os impactos da poluição ambiental sobre a
população da Ilha de Deus, em Recife/PE. Os impactos ambientais serão detectados através de
estudos dos efeitos da poluição sobre a qualidade da água, a disponibilidade de alimentos, a
contaminação das espécies e a preservação do ecossistema. No fechamento deste trabalho
evidenciou-se que as contribuições teóricas desta pesquisa de campo e os resultados dos dados
estatísticos e amostras provenientes da análise de campo identificaram que a qualidade da água se
encontra em péssimo estado, provocando nas famílias doenças e prejudicando as atividades
econômicas ligadas aos recursos hídricos.

Palavras-chave: poluição ambiental, impacto ambiental, ecossistema manguezal

Abstract

This research is focused on the study of the impacts of environmental pollution on the population of
Ilha de Deus in Recife / PE. The environmental impacts will be detected by studying the effects of
pollution on water quality, food availability, contamination of species and ecosystem preservation.
To conclude this study showed that the theoretical contributions of this field research and the results
of statistical data and samples from the field analysis identified that the water quality is in poor
condition, causing diseases in families and harming economic activities linked to the water
resources.

Keywords: environmental pollution, environmental impact, mangrove ecosystem

44
Artigo resultado de pesquisa de iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFRPE;
45
Professor orientador: Phd.José Ferreira Irmao - UFRPE
394
1. INTRODUÇÃO

Desde o início do processo de colonização no país, a maior parte da concentração urbana


brasileira se localiza na zona costeira já que este espaço se mostra adequado à implantação e
desenvolvimento de cidades, portos, plantações e outros tipos de intervenções. Contudo, essa
ocupação contribuiu e, ainda contribui para a degradação dos ecossistemas que formam a paisagem
litorânea, dentre elas, as áreas dos manguezais.
Nessas áreas, o desafio de um desenvolvimento sustentável46 está em como conciliar essa
expansão urbana com a conservação e o uso sustentável e, consequentemente, na problemática da
poluição que muito tem afetado o ambiente e as comunidades que usufruem dos mangues. No
tocante ao ambiente, tem-se a poluição do solo e da água alterando o equilíbrio do sistema da
natureza (FERREIRA, 2011).
Numa perspectiva socioeconômica, a zona costeira brasileira apresenta particularidades,
envolvendo o modelo de ocupação territorial47, a concentração populacional, predominância de
complexos industriais e portuários e a variedade dos recursos naturais, fauna e flora, o que demanda
uma aplicação de instrumentos legais e a implantação de programas de gestão ambiental, com
intuito de preservar estes recursos, atingidos por impactos ambientais com características
específicas.
Dentro desse contexto, encontra-se a Ilha de Deus que é uma área localizada na bacia
hidrográfica do Pina que reúne os rios Jordão, Tejipió e Sto. Antônio, uma região de mangues e
espaço natural estuarino no Recife/PE. A ocupação populacional na área em estudo se iniciou em
meados dos anos 1950, quando o ambiente local era sadio e as condições de saneamento eram
favoráveis à pesca de peixes e crustáceos, o que lhes garantia a subsistência e o acesso à
alimentação adequada. A partir dos anos oitenta até os dias atuais, a poluição local e em seu entorno
tornou-se crônica, afetando intensamente o pouco que existe de qualidade de vida dos moradores, os
quais sobrevivem direta ou indiretamente da pesca.
Reconhecendo dessa forma que o ecossistema manguezal é uma área de interesse social,
econômico, ecológico e turístico, faz-se necessário um estudo aprofundado do ecossistema,
possibilitando uma melhoria na condição de vida da população que habita nesta área, e ainda,
servindo de base como indicativo para o fomento de políticas públicas voltadas para a preservação e

46
Desenvolvimento este que deve ser promovido de forma a garantir as necessidades das presentes e futuras gerações
(Princípio 3 da Declaração do Rio92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Ignacy Sachs (1993) afirma que deve
considerar cinco dimensões de sustentabilidade: social, cultural, espacial, econômico e ecológico.
47
Aqui enumerados os modelos de ocupação territorial retratado em duas concepções distintas. Uma, predominante,
baseada numa visão externa ao território, que afirma a soberania privilegiando as relações com a metrópole; ou seja, um
modelo exógeno. A outra, baseada numa visão interna do território, fruto do contato com os habitantes locais e
privilegiando o crescimento endógeno e a autonomia local (BECKER, 2001).
395
conservação dos mangues. A partir desta concepção, escolheu-se investigar as causas e
consequências dos efeitos da poluição sobre o meio ambiente no tocante à saúde do ecossistema e
da população que vive na comunidade da área em estudo, tendo como objetivo geral investigar os
impactos da poluição sobre a comunidade costeira da Ilha de Deus no tocante aos poluidores físicos,
químicos e biológicos da água que afetam a saúde ambiental da área em estudo por meio de um
índice referenciado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para obtenção do material necessário à comprovação e efetivação da teoria revista escolheu-


se analisar primeiramente o estado atual da qualidade da água na bacia hidrográfica do Pina afim de
encontrar os possíveis poluidores daquele bioma através dos resultados colhidos da amostra. Em
seguida, com base nos resultados da amostra, gerar questionários semi-estruturados para observar o
comportamento do poluidor perante a sua ação antrópica e evidenciar se este possui uma percepção
ambiental acerca do bioma manguezal.
Para recolher a amostra, buscou-se distanciar da margem do rio em três metros e uma
profundidade de um metro e vinte centímetros. As amostras retiradas seguiram as instruções e
orientações fornecidas pelo laboratório responsável pela análise.
Para verificar as condições de qualidade da água o Índice de Proteção da Vida Aquática -
IVA, utilizado pela CETESB desde 2002 no monitoramento das águas superficiais. A metodologia
para o cálculo do IVA é a seguinte:
IVA = (IPMCA x 1,2) + IET EQ. 1
Sendo,
IPMCA: Índice de Parâmetros Mínimos para a Preservação da Vida Aquática
IET: Índice de Estado Trófico
O IVA, apesar de se decompor em outros dois índices, consiste em avaliar, por ponderação,
se o ambiente aquático está em condições viáveis. Conforme se observa no quadro:
CATEGORIA PONDERAÇÃO

QUALIDADE ÓTIMA IVA ≤ 2,5


QUALIDADE BOA 2,6 ≤ IVA ≤ 3,3
QUALIDADE REGULAR 3,4 ≤ IVA ≤ 4,5
QUALIDADE RUIM 4,6 ≤ IVA ≤ 6,7
QUALIDADE PÉSSIMA IVA ≥ 6,8
Quadro 1 - Classes do IVA. Fonte: CETESB, 2012.

396
Com o resultado obtido das amostras pode-se delinear os perfis dos poluidores:
Comunidades (Q1), Comércio e Indústrias (Q2) e Carcinicultores (Q3). Assim, gerou-se três tipos
de questionários com direcionamentos diferenciados pela ação antrópica.
Para determinar o tamanho mínimo da amostra de questionários a serem respondidos pelos
indivíduos da comunidade (Q1), utilizou-se uma estimativa de amostragem probabilística aleatória
simples sobre variáveis categóricas sendo estas, as variáveis medidas em uma escala nominal
(SANTOS, 2012).
Então, a amostra foi obtida através da equação abaixo:

EQ. 2

Onde:
n - amostra calculada;
N - população;
Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança;
p - verdadeira probabilidade do evento;
e - erro amostral.

Para calcular a amostra (n) foram utilizados os dados z = 1,64, considerando uma
probabilidade de 90%, e = 10%; p = 85% e N = 320.
Assim, o tamanho da amostra válida seria de 32 entrevistas, sem perder o nível de confiança
estatístico assumido. Adotou-se aquele universo populacional considerando apenas a população
economicamente ativa da Ilha de Deus. Então, esse número de indivíduos para responder o
questionário (Q1) representa uma proporção de exatamente 10% dos que moram na Ilha, o que
garante os níveis de confiança adequados para o levantamento de informações de campo.
Para entrevistar os produtores de camarão (Q2) e o comércio (Q3), teve-se que adotar o total
do universo dos produtores, devido ao número dos mesmos ser inferior a 30. Dessa forma, a
distribuição não pode ser dada como normal e o tamanho da amostra é composto pelo tamanho da
população finita.

3. RECURSOS HÍDRICOS: ASPECTOS GERAIS E INDICADORES

A água é um componente essencial à vida no planeta Terra, e se constitui parte


indispensável para a manutenção de todos os ecossistemas. No entanto, a água vem se tornando

397
escassa em qualidade e quantidade. Apesar de ser um recurso renovável, sua capacidade tem fim.
Portanto, a água deve ser utilizada de forma racional e a sua conservação deve ser constante, seja no
meio rural ou urbano (SANTOS, 2005).
Atualmente, os recursos hídricos estão associados à qualidade de vida e desenvolvimento,
uma vez que uma cidade ideal é aquela que dispõem de serviços de abastecimento de água, de
saneamento básico e disposição de resíduos sólidos. A qualidade da água representa, então, um dos
principais problemas ambientais do Brasil. Dentro do conceito mais amplo de gestão da qualidade
da água, o saneamento representa o setor que mais claramente está vinculado à agenda ambiental,
sendo certamente o principal em termos de impactos sociais e ambientais (LIMA, 2006).

3.1 QUALIDADE DA ÁGUA

A qualidade da água é um termo que não se restringe à determinação de sua pureza, mas às
suas características desejadas para os seus diversos usos. Tanto as características físicas, químicas
como as biológicas da água podem ser alteradas e, na maioria das vezes, essas alterações são
causadas por ações antrópicas. Aterros, despejo de resíduos sólidos, efluentes residenciais, agrícolas
e industriais e super exploração dos recursos pesqueiros são as principais alterações.
Um dos ambientes que mais estão degradando seus recursos hídricos e naturais, de uma
forma geral, são os ambientes costeiros. Devido a sua localização, as zonas costeiras são
prejudicadas por inúmeros contaminantes resultantes das ações humanas. Pela sua grande
importância, em diversos aspectos, é necessária a implementação de meios de avaliação que
quantifiquem e qualifiquem os problemas costeiros.
Os índices e indicadores de qualidade da água funcionam como boas ferramentas acessíveis
a técnicos ou público em geral na análise e monitoramento ambiental. Os índices de qualidade
levam em conta o enquadramento dos corpos d'água, não necessariamente o atual, mas sim aquele
que assegura as necessidades para o bem-estar humano e ambiental.
No Brasil, os índices de qualidade da água foram primeiramente utilizados por Horton
(1965) e vêm sendo adotados pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB)
desde 1974, chamando-o de IQACETESB (índice de qualidade de água desenvolvido pela
CETESB, para o consumo humano e uso primário) (NORONHA, 2004).
Pasini (2010) afirma que a partir da década de 90, começaram a ser incluídos parâmetros
visando a qualidade em usos que não somente o abastecimento doméstico (IQA). Assim, deu início
à ideia de criação do índice com parâmetros que fornecessem uma relação da água superficial e seus
efeitos no meio ambiente. Este índice foi nomeado IVA (Índice de Proteção da Vida Aquática), e

398
vem sendo utilizado pela CETESB desde 2002 no monitoramento das águas superficiais de São
Paulo.
O IVA avalia a qualidade da água de forma diferenciada de outros índices para o consumo
humano e contato primário. Leva-se em consideração a presença e concentração de contaminantes e
seus efeitos (toxidade). O resultado do índice é expresso em categorias de qualidade: ótima, boa,
regular e péssima.
Não existe um índice estabelecido para o estuário 48. No Brasil, as regulamentações e normas
são um pouco confusas ou inexistentes. Como não existe nada específico, o que se faz é recorrer a
diversos meios, como índices aproximados e parâmetros complementares 49.O índice IVA apresenta
a flexibilidade na sua metodologia em se retirar ou adicionar parâmetros, de acordo com a área
analisada de modo a se adaptar melhor ao ambiente a ser estudado (CETESB, 2012).
Para o estuário da Bacia do Pina ainda não existe enquadramento, contudo como são
realizadas diversas atividades de pesca e o objetivo é preservar as comunidades aquáticas, os
valores referenciados neste estudo são aqueles da classe 1, seção III, do segundo capítulo, como
defendido pela Resolução CONAMA Nº357/200550. Para esta classe são determinadas as seguintes
recomendações e limites. A par do conceito e das modificações necessárias, o IVA se torna o índice
utilizado na pesquisa, com o intuito de auxiliar no diagnóstico dos impactos ambientais referente à
área em estudo, o ecossistema manguezal.

4. ECOSSISTEMA MANGUEZAL

Os mangues correspondem a um tipo de vegetação arbóreo-arbustiva, que se desenvolve


principalmente nos solos lamosos dos rios tropicais e subtropicais ao longo da zona de influência
das marés, tanto para dentro do estuário, onde as variações de marés impulsionam as águas salgadas
do mar para dentro do continente através do canal fluvial, como para as laterais dos rios em zonas
sujeitas a inundações ao longo dos estuários.
Os manguezais são caracterizados por uma baixa diversidade de espécies arbóreas
resistentes às condições halófilas das águas estuarinas ou regiões costeiras com influências de águas
marinhas. É um ambiente propício à produção de matéria orgânica, o que garante alimento e
proteção natural para a reprodução de diversas espécies marinhas e estuarinas.

48
Um estuário é um corpo d´água semicercado pelo continente, que apresenta uma conexão livre com o oceano aberto e no qual a
água do mar é mensuravelmente diluída com a água doce derivada da drenagem continental, neste ambiente se inclui os mangues
como parte de um ecossistema maior.
49
Na avaliação da qualidade da água em sistemas costeiros podem ser utilizados indicadores estéticos (como a visualização de
espumas) e indicadores biológicos, contudo estes não demonstram claramente a diversidade de substâncias que interagem no estuário
e determinam a qualidade da água (PASINI,2010).
50
Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/praias/res_conama_357_05.pdf.
399
A vegetação do tipo mangue é reconhecida pela legislação ambiental nacional como Área de
Preservação Permanente pelo Art. 2º da lei 4771/6551, que a considera como florestas e demais
formas de vegetação natural. A presença de manguezais ao nível global restringe-se a zona
intertropical entre as latitudes 30º N e 30º S. São limitados pela isoterma de 20ºC de temperatura da
água do mar, que por sua vez é controlada pelas correntes marinhas e que pode oscilar entre o
inverno e o verão. Colonizam as costas tropicais e subtropicais, estando presentes nas Américas,
África, Ásia e Oceania.
Por sua vez, os mangues brasileiros possuem cerca de 25 mil km² de extensão, iniciando
desde o Cabo Orange, no Amapá, até o município de Laguna, em Santa Catarina e, devido a este
fator, o país tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo, aproximadamente 12% do
manguezal do planeta. O órgão que é responsável pelo acompanhamento e monitoramento das áreas
litorâneas, incluindo a preservação, conservação e manejo do ecossistema é o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.
De acordo com Farias (2007), os manguezais são importantes ecossistemas costeiros e
facilitadores de uma intensa área de deposição, como estuários, fundos de baía e foz de rios. É um
ambiente de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e
subtropicais, sujeito ao regime de marés.
Sabe-se que até as primeiras décadas do século XX, os manguezais eram explorados de
maneira pouco intensa pela pesca, construção de viveiros para aqüicultura extensiva, extração para
construções caiçaras e marambaias e construção civil. Nesse período, extensas áreas de manguezais
no Nordeste começaram a ser substituídas por salinas. A partir da década de 50 este ecossistema
começou a ser submetido à intensa pressão ambiental oriunda da expansão imobiliária e industrial.
Grandes superfícies foram degradadas para facilitar a construção de polígonos mínero-metalúrgicos
e industriais, como o caso de São Luís (MA), Belém (PA), Aracajú (SE) e Suape (PE).
A partir da década de 70 a queda do preço do sal fez com que as áreas com menores
produções fossem abandonadas, e com o passar dos anos alcançou a maior parte dos
empreendimentos existentes no nordeste, particularmente nos estado do Ceará e Rio Grande do
Norte. Ainda nesta década, as áreas abandonadas e que já estavam preparadas foram
prioritariamente ocupadas pela atividade da carcinicultura, que se iniciou no Rio Grande do Norte.
Outros estados como Pernambuco, Ceará, Paraíba e Bahia implantaram viveiros para cultivos de

51
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm.
400
camarões marinhos, predominantemente da espécie exótica Litopennaeus vannamei, no mesmo
período52.
Hoje, os principais fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e
biológicas do manguezal são: aterro e desmatamento, queimadas, deposição de lixo, lançamento de
esgoto, lançamentos de efluentes industriais, dragagens, construções de marinas e a pesca
predatória. Por outro lado, constata-se também num estudo feito para a comparação do mapeamento
dos mangues no litoral do nordeste brasileiro entre os anos 1978-2004 que houve um aumento de
cerca de 36% das áreas de mangue, em especial na cidade do Recife, um incremento de 0,69km²,
passando de 2,25km² em 1978 (HERZ, 1991) para 2,94km².
Observa-se ainda que muitas atividades podem ser desenvolvidas nesse ambiente sem causar
prejuízos ou danos ao mesmo. Neste intuito se destacam a pesca esportiva e de subsistência,
evitando a sobre-pesca (a pesca de pós - larva, juvenis e de fêmeas ovadas) cultivo de ostras; cultivo
de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias); desenvolvimento de atividades turístico-recreativas,
educacionais e pesquisa científica (FERREIRA, 2011).

5. A COMUNIDADE DA ILHA DE DEUS: LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO

A área em estudo faz parte da Bacia do Pina, onde encontra-se o Parque dos Manguezais53.
Este considerado a maior área de manguezal urbano do país com uma extensão de
aproximadamente 212ha (SECTMA, 2007). A área do parque dos Manguezais apresenta interesses
de ordem social, econômica, ecológica, imobiliária, viário, sanitário, e turístico. A pressão
imobiliária local tem contribuído com o aterramento e desmatamento do manguezal para ocupação
por famílias de baixa renda – como é o caso dos moradores da Ilha de Deus e também de
empreendimentos circunvizinhos.
Decorrente, dentre outros fatores, da expansão imobiliária desorganizada, a área tem sofrido
com a poluição da água através do despejo dos efluentes domésticos na Bacia Hidrográfica do Pina.
Resultados de pesquisas realizadas no local para o ano de 2011 (CF. FERREIRA, 2011), apontam

52
O censo realizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) em 2004, para a carcinicultura
brasileira, mostra que na atualidade existem 16.598 hectares (165,98 Km²) de áreas cultivadas no país, sendo cerca de
75% localizadas em 5 estados da regiãoNordeste: 6.281 ha (no Rio Grande do Norte); 3.804 ha (no Ceará); 1.108 ha (no
Pernambuco); 751 ha (no Piauí); e 630 ha (na Paraíba).
53
Tendo como base o Código Florestal Brasileiro – Lei nº 4.771, a área do Parque é considerada de preservação
permanente desde 1965, passando a ser reconhecida em 1996 como Zona Especial de Preservação Ambiental (ZEPA)
através da Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) do Município de Recife. O Parque dos Manguezais sofre influência
dos rios Jordão, Pina, Tejipió e Capibaribe (Braga et al., 2008).
401
concentrações alteradas de nitrito, nitrato e fosfato, indicando contaminação por esgotos domésticos
e efluentes ricos em nutrientes e a presença de resíduos sólidos de diversos tipos (sacolas plásticas,
embalagens de alimentos, embalagens pet), em meio à vegetação.
A comunidade da Ilha de Deus está localizada entre os rios Jordão e Pina e a desembocadura
do rio Tejipió. A ilha está rodeada por tanques de engorda de camarão, inicialmente utilizados em
meados dos anos setenta, recebendo incrementos na década de 90. Em decorrência deste fato, a
comunidade da Ilha de Deus não se expandiu; do total dos moradores, 70% vive da pesca ou da
carcinicultura (PRODEMA, 2008).

Figura 1- Carcinicultura na Ilha de Deus

Atualmente, a comunidade da Ilha de Deus apresenta mudanças significativas. O processo


de urbanização na comunidade foi iniciado em maio de 2008. A obra está dividida espacialmente
em três etapas (Área piloto, Área 1 e Área 2), essa divisão se estabeleceu para que houvesse uma
otimização e uma harmonia no processo de urbanização. A primeira etapa das moradas já foi
entregue, são 27 casas54 todas providas de sistema de abastecimento de água e esgotamento
sanitário.As especulações eram que até o fim do ano de 2011 o processo de urbanização viesse a ser
concluído, mas devido a atrasos provocados por diversos fatores, a obra não foi entregue, mas já é
possível observar uma nova relação de vida que se estabeleceu com a "Nova" Ilha de Deus.
Do ponto de vista ambiental, a comunidade da Ilha de Deus tem sido capacitada por
organizações não governamentais e o governo do estado para a conscientização do uso dos
banheiros domésticos e a coleta seletiva. Apesar dos esforços por parte das capacitações e
instruções dadas, os moradores ainda relutam em fazer o uso dos dois tipos de serviços. Quanto ao
ecossistema, este ainda continua com aspecto visivelmente poluído. A comunidade ainda deposita
lixo na margens da bacia hidrográfica e despejam efluentes nas margens da mesma. Em última
visita a comunidade, pode-se constatar o excesso de entulho e objetos nas margens do rio.

54
Está em fase de andamento um conjunto habitacional, que está sendo construindo na Vila da Imbiribeira, ou seja, fora
da Ilha de Deus, que tem por objetivo desafogar o aglomerado que se estabelecia na Ilha de Deus (COSTA, 2011)
402
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos embasam o objetivo geral do estudo dos impactos da poluição


ambiental sobre a população da Ilha de Deus, em Recife/PE. O estudo presente consistiu em
investigar, diagnosticar e, por fim, trazer alternativas econômicas, sociais e ambientais para o que
ocorre no cotidiano da comunidade Ilha de Deus. Constata-se também que mesmo a pesquisa
concentrando seus esforços em analisar os impactos ambientais da poluição de acordo com o tipo de
fonte de poluição difusa e no ponto de vista do emissor, os resultados expressos corroboram para o
estado crítico em que se encontra a comunidade da Ilha de Deus atualmente.
Inicialmente, a revisão bibliográfica abrangeu temas relacionados ao meio ambiente e
diversos conceitos inseridos no mesmo. A economia, por sua vez, também se concentra no viés
ecológico e as contribuições finais se baseiam nestas duas premissas técnicas.
Dentro desse contexto, os estudos dos efeitos da poluição sobre a qualidade da água através
dos parâmetros físicos, químicos e biológicos revelaram que existe uma tendência ao ambiente
anaeróbico, com quantidades de metais pesados e crescentes níveis de nitrogênio, fósforo e
surfactantes. Devido a presença destas substâncias, a bacia pesquisada e, principalmente o rio que
corta a comunidade, encontra-se em processo de eutrofização, dificultando a atividade e o habitat
dos seres que no rio vivem. Em função deste fenômeno, nota-se que a disponibilidade de alimentos
para o consumo e para a pesca - sururu, camarão - tem diminuído ao longo dos anos, segundo
relatam os moradores da comunidade. A contaminação das espécies ocorre tanto em seu habitat
natural como nos viveiros de criação de camarão, com a morte das lavas pelos tanques apresentarem
ambientes anaeróbios.
A preservação do ecossistema manguezal se encontra ameaçada. Seja pela atividade
antrópica ou pelo ambiente que tem se tornado inóspito devido ao grau de poluição apresentado. O
reflorestamento do mangue e da mata ciliar não tem sido uma atividade prioritária por parte do
poder público e de toda a comunidade.
O resultado do Índice de Proteção a Vida Aquática - IVA para a amostra recolhida
apresentou o seguinte índice:

IPMCA = 3 x 2
IVA = (6 x 1,2) + 3
IVA = 10,2

O resultado do IVA prova que a qualidade da água para proteção da vida aquática é péssima,
sendo imprescindível uma intervenção na atividade poluidora. A comunidade é responsável
403
parcialmente pelos problemas ambientais que são enxergados no cotidiano da Bacia Hidrográfica do
Pina. Por este trabalho se tratar de uma análise de poluição pontual, não cabe aqui tender a
responsabilidade ao ambiente macro, mas as indústrias vizinhas, o comércio e os empreendimentos
construídos são parcelas consideráveis para se ter uma qualidade péssima e tendente a extinção do
bioma.
Com as respostas dos questionários55, pode obter o perfil do morador da Ilha de Deus sendo
que quanto mais velho mais tende a ter casa própria, tende a ter um pequeno grau de instrução, a
não ter conhecimento sobre o que seria uma Bacia Hidrográfica, porém saber o nome do rio que
corta a comunidade. Além disso, o morador mais velho possui uma facilidade em perceber os
problemas ambientais que ocorrem na ilha e participam mais ativamente nas reuniões em que o
tema central seja debater sobre o meio ambiente, contudo não enxergam nenhuma atividade de
educação ambiental na comunidade, o modelo também infere que existe uma tendência percentual
de haver mais mulheres do que homens na ilha. A análise então dos questionários não foge da
realidade observada na comunidade da Ilha de Deus, e a regressão linear corrobora para o
embasamento de políticas públicas focadas no fiel perfil do morador da ilha.
Observando a comunidade e a atividade antrópica vê-se que se encontra em transformação.
Desde de 2008 ela vem passando por um processo de urbanização, mas além disto, a comunidade
tem vivido momentos prósperos jamais vistos anteriormente. Com a estruturação da nova ilha, e
com a facilitação de seu acesso, os moradores têm observado uma transformação social, sanitária e
principalmente, inclusiva. As casas entregues trouxeram, para os domiciliados, um sentimento de
pertencimento e de inclusão na sociedade que pode ser visto nitidamente no relato de cada morador.
Novamente, no prospecto ecológico, o poder público necessita voltar atenção para o que
ocorre com o bioma manguezal naquela comunidade e ao longo de toda a Bacia Hidrográfica do
Pina. A criação da camarão, mesmo artesanal, traz impactos ao meio ambiente 56, Além da
derrubada dos manguezais para construção de viveiros, existem outras interações adversas, tais
como: as alterações hidrológicas causadas pela construção dos diques (tanques e berçários) que
modificam o fluxo e o padrão de circulação de água no estuário; as alterações da salinidade pelos
efluentes dos viveiros (normalmente mais salgados devido a evaporação); a sedimentação dos

55
Até o presente momento não houve resposta do questionário (Q3) de nenhuma das empresas e do empreendimento solicitado.
Esperou-se que até o final da pesquisa, os requisitados pudessem se expressar de alguma maneira afim de viabilizar a pesquisa e,
principalmente, os resultados para uma análise sofisticada e fiel do trabalho realizado.
56
Normalmente, a palavra impacto resulta em uma percepção de que este seja obrigatoriamente negativo. No entanto,
dentro da teoria ecológica, impacto ambiental é qualquer efeito que altera a estrutura do ecossistema sem a preocupação
de classificá-lo como positivo ou negativo. Na minha opinião, para desvincular esta percepção negativa, seria mais
adequado renomea-lo como interações ambientais.
404
pneumatóforos das raízes do mangue; a eutrofização das águas e a descarga de substâncias
potenciais.
Além de causar prejuízos ao meio ambiente, o lançamento de efluentes pelos viveiros de
camarão podem exceder a capacidade assimilativa das águas receptoras, resultando em um efeito
retroativo denominado auto-poluição, onde a qualidade da água para os tanques fica poluída pelos
próprios dejetos, resultando na deterioração do meio ambiente de cultivo com consequente perda de
produtividade, epidemias de doenças e, em última instância, a inviabilização econômica da área.
O intuito deste trabalho através dos resultados obtidos é incitar a uma proposta conciliadora
em que o prejuízo socioeconômico seja diminuto para comunidade e para o ecossistema, seguindo a
premissa da sustentabilidade forte, em que a economia internaliza os seus custos ambientais -
externalidades - uma vez que o limite absoluto dado pela natureza impõe escolhas aos agentes.
Diversos estudos sobre políticas mitigatórias de danos ambientais respondem no intuito de se
desfazer da externalidade negativa que existe no ambiente analisado.

7. CONCLUSÃO

Reconhece-se dessa forma que o ecossistema manguezal é uma área de interesse social,
econômico, ecológico e turístico, e este estudo aprofundado do ecossistema e de sua saúde
ambiental por meio da análise hídrica se faz necessário pois, possibilita uma melhoria na condição
de vida da população que habita nesta área.
O trabalho serve de base, também, como indicativo para o fomento de políticas públicas
voltadas para a preservação e conservação dos mangues, redução da atividade antrópica que
prejudica o meio ambiente e melhoria da saúde do ecossistema, e, consequentemente da população.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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407
ENTRE O POSSÍVEL E O DESEJÁVEL: O PANORAMA DO CENTRO HISTÓRICO NA
CIDADE DE SÃO LUÍS MEDIANTE A ACESSIBILIDADE PARA O CADEIRANTE¹

Alcimar Ferreira RIBEIRO (DHG/UEMA)


alcimar.ribeiro@globomail.com*
Igor Márcio Carneiro LOPES (DHG/UEMA)
igor.lopes@hotmail.com*
Hermeneilce Wasti Aires Pereira CUNHA (DHG/UEMA)
wasti_uema@yahoo.com.br¹

Resumo

O presente trabalho tem como principal objetivo estudar a acessibilidade para os cadeirantes no
Centro Histórico da capital maranhense. Para tanto, fez-se a identificação das necessidades e
limitações desses sujeitos nesse espaço, traçando o perfil socioeconômico dos cadeirantes, em
seguida, deu-se início à catalogação e delimitação do Centro Histórico no intuito de serem criados
roteiros acessíveis aos cadeirantes, uma vez feita caracterização dos principais problemas referentes
à acessibilidade nesse espaço urbano da capital maranhense. Entre os principais problemas
enfrentados pelos cadeirantes no Centro Histórico de São Luís, encontram-se calçadas irregulares e
com pedras soltas, número limitado de rampas, ausência de guias rebaixadas nas calçadas da
maioria dos bairros que compreendem a sua área, falta de sinalização, presença de ambulantes e
placas obstruindo passagens, dificuldade de acesso aos estabelecimentos comerciais, adequação nos
ambientes de lazer, casas de saúde e nas residências, dentre outros. Além das dificuldades
arquitetônicas, verifica-se o preconceito de algumas pessoas com relação às pessoas com
deficiência física, vendo-os não como cidadãos tão pouco consumidores do espaço citadino, mas
como indivíduos que precisam adequar-se à cidade, com todos os seus entraves e não com um
planejamento inclusivo e igualitário para a sociedade em geral. Em meio a isso, quando se olha para
as políticas de mobilidade urbana existentes na cidade, constata-se que na prática ocorre o inverso
de tais políticas, resultando num desrespeito aos cadeirantes, que veem o simples ato de ir e vir
como uma grande dificuldade, visto que esse espaço urbano da capital maranhense, considerado o
núcleo inicial da cidade, encontra-se carente de equipamentos adequados às suas dificuldades, como
rampas e guias rebaixadas nas calçadas que, uma vez existentes nesses locais, facilitam a
locomoção desses indivíduos.

Palavras-chave: Acessibilidade; Cadeirante; Centro Histórico de São Luís.

408
Abstract

This work has as main objective to study the accessibility for wheelchair users in the Historic
Centre of São Luís. For both, it was the identification of the needs and limitations of these subjects
in this space, tracing the socioeconomic profile of the wheelchair, then was begun cataloging and
delimitation of the historic center in order to be created itineraries accessible to wheelchair users,
since made characterization of the main problems regarding accessibility in the urban space of São
Luís. Among the main problems faced by wheelchair users in the Historic Center of St. Louis,
sidewalks are uneven and loose stones, limited number of ramps, no guides downgraded the
sidewalks of most neighborhoods that comprise your area, lack of signage, presence of vendors and
boards blocking passages, difficulty of access to shops, leisure fitness environments, nursing homes
and homes, among others. Besides the architectural difficulties, there is the prejudice of some
people with regard to people with physical disabilities, seeing them not as citizens as consumers
little space city, but as individuals who need to adapt to the city, with all its barriers rather than
planning for inclusive and equitable society in general. Amidst this, when you look at the policies of
urban mobility in the city, it appears that in practice the opposite occurs of such policies, resulting
in disrespect for wheelchair users, who see the simple act of coming and going as a great difficulty
since this urban space of São Luis, considered the initial core of the city is lacking adequate
equipment to their difficulties, such as ramps and recessed tabs on sidewalks that once existing in
these locations, facilitate the movement of these individuals.

Keywords: Accessibility; Wheelchair; Historic Centre of Saint Louis.

Introdução

O acesso aos sítios históricos pelos moradores ou visitantes de uma cidade se


caracteriza como uma atividade livre e espontânea, na qual há arraigado um importante
valor histórico e material que é passado de gerações em gerações devido à história que esse
espaço apresenta e repassa a toda uma sociedade. Nesse sentido, a acessibilidade plena desse
espaço se caracteriza como fundamental e indispensável para que todos, sem exceção,
possam frequentar permanente ou temporariamente esses locais. Daí a importância de
garantir o pleno acesso aos sítios históricos que, além de uma atividade de lazer, apresenta-
se como a melhor maneira de possibilitar que a memória e importância da identidade de um
povo sejam conservadas e apresentadas através desses sítios de preservação histórica.
A acessibilidade é um valor intrínseco aos espaços urbanos e o cidadão ao caminhar
por esses espaços, está exercendo seu direito de ir e vir, assegurados na Carta Magna do

409
País. Porém, para que esse direito seja usufruído por todos, necessita-se de igualdade em todos os
aspectos componentes desses espaços. Inserem-se então nesse contexto, as pessoas com deficiência
física temporária ou permanente, que assim como as pessoas de locomoção privilegiada, também
exercem atividades das mais diversas naturezas nesses ambientes, tais como lazer e trabalho.
Segundo Santos (2002), as cidades modernas nos movem como se fôssemos máquinas e os
nossos menores gestos são comandados por um relógio onipresente. Nossos minutos são os minutos
dos outros e a articulação dos movimentos e gestos é um dado banal da vida coletiva. Quanto mais
artificial é o meio, maior é a exigência dessa racionalidade instrumental que, por sua vez, exige
mais artificialidade e racionalidade. Mas esses imperativos da vida urbana estão cada vez mais
invadindo o campo modernizado, onde as conseqüências da globalização impõem práticas
estritamente ritmadas.
Partindo para o conceito de acessibilidade, o Estatuto da Mobilidade Urbana (2005)
estabelece que acessibilidade ―é a facilidade, em distância, tempo e custo, de se alcançar
fisicamente, a partir de um ponto específico no espaço urbano, os destinos desejados‖.
Contrapondo-se a isso, encontra-se na realidade dos espaços urbanos, em sua grande
maioria, a total ou parcial falta de acessibilidade e adequação dos seus equipamentos urbanos que
compõem os mais diversos aspectos da cidade, seja na oferta de lazer, trabalho e/ou moradia para
seus cidadãos que ocupam esses espaços de forma temporária ou permanente.
Em se tratando do cenário da pesquisa, recorte empírico e área de estudo, apresenta-se a
cidade de São Luís e o seu Centro Histórico, como espaços urbanos onde atuam os sujeitos da
referente pesquisa, os cadeirantes.
A cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão, situa-se na Ilha do Maranhão e limita-
se com o Oceano atlântico ao norte; com o Estreito dos Mosquitos, ao sul; com a Baía de São
Marcos a oeste; e com o município de São José de Ribamar a oeste. Fazem parte da Ilha do
Maranhão, além do município de São Luís, os municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar
e Raposa.
De acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, o município de São Luís
conta com uma população de cerca de 1.011.000 habitantes, o que caracteriza cerca de 15% da
população total do Estado, que possui pouco mais de 6 milhões e meio de habitantes. Já o Centro
Histórico ludovicense, área de estudo da pesquisa, situa-se na faixa costeira noroeste da Ilha do
Maranhão, sendo ladeado pelos rios Anil e Bacanga e ficando de frente para a Baía de São Marcos
(Figura 01).

410
Figura 01: Centro Histórico de São Luís localizado na Ilha do Maranhão.
Fonte: Google Earth
Org.: CUNHA, H.W.A.P (2012)

Nesse contexto, o trabalho visa apresentar os resultados finais da pesquisa que trata
da acessibilidade no Centro Histório da cidade de São Luís mediante a presença dos
cadeirantes na cidade fragmentada, bem como procura fazer análises e suscitar discussões
relacionadas à segregação impostas aos cadeirantes e posteriores medidas aplicáveis de
acessibilidade e inclusão social, tendo como pano de fundo um dos principais cartões postais
e símbolos da capital maranhense.
Para atingir os objetivos propostos na referente pesquisa, fez-se uso de diversas
metodologias que, ao longo dos primeiros seis meses de trabalho, foram aplicadas seguindo
a um cronograma estabelecido inicialmente e executadas em várias etapas sistematizadas no
plano de trabalho.
Inicialmente realizou-se o levantamento bibliográfico sobre questões referentes a
cidades e seus equipamentos; acessibilidade em sítios históricos; segregação nas cidades
com ênfase nas pessoas com deficiência física, sujeitos pesquisados na pesquisa, dentre
outros temas relacionados à acessibilidade; além de releituras aprofundadas a obras
referentes à cidade de São Luís e o seu Centro Histórico. Para tanto, realizou-se pesquisas no
acervo da biblioteca da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, além de órgãos
públicos, a fim de se obter monografias, dissertações e teses e demais pesquisas na área em

411
questão, trabalhos estes de âmbitos local, regional e nacional, bem como boletins, relatórios de
pesquisas, dentre outros.
Na segunda etapa da pesquisa, Com bases em informações preexistentes, caracterizou-se a
área de estudo da referente pesquisa. Para tanto, realizou-se visitas mensais ao local a fim de se
apurar possíveis mudanças nos cenários dos equipamentos urbanos componentes do Centro
Histórico, além de obtenção do registo fotográfico, onde foi possível fazer as análises e
comparações acerca da acessibilidade nesse espaço urbano e suas interferências no cotidiano das
pessoas com deficiência física que frequentam aquele ambiente.
Na terceira etapa, uma vez a pesquisa estando voltada para as pessoas com dificuldade de
locomoção, sendo esta temporária ou permanente, tendo os cadeirantes como sujeitos da pesquisa,
procurou-se desenvolver entrevistas e aplicação de questionários com os mesmos, no intuito de
serem apuradas informações que auxiliasse no levantamento e caracterização da acessibilidade do
Centro Histórico, tendo como referências, além da fundamentação bibliográfica, a visão dos
próprios cadeirantes.
Na entrevista, procurou-se apurar desde questões de infraestrutura das ruas e construções até
a situação referente à relação inclusão/exclusão dos cadeirantes nos principais pontos de lazer,
trabalho, assistência hospitalar, entretenimento, etc.
É importante salientar também que as entrevistas e a aplicação dos questionários não se
restringiram somente aos cadeirantes que moram ou visitam o Centro Histórico, mas sim a todos os
cadeirantes de são Luís que se disponibilizaram a prestarem informações acerca das principais
características que, na visão deles, classifica um local como acessível para pessoas com deficiência
física.
Procurou-se apurar a situação da acessibilidade não apenas do Centro Histórico, mas de toda
a cidade, fazendo uma comparação dos diversos bairros nos quais residem ou frequentam com
maior intensidade. Desse modo, podem-se constatar a existência de diferentes estruturas inclusivas
e exclusivas numa mesma cidade, com realidades que serão apresentadas nos resultados parciais e
finais desta pesquisa.
Na quarta e última etapa da pesquisa, primeiramente, iniciou-se a estruturação dos dados
obtidos, com a leitura e reflexão dos diversos trabalhos científico-acadêmicos estudados; seleção
das principais imagens adquiridas no registro fotográfico; levantamento dos principais pontos que
apresentam acessibilidade e os que não apresentam nenhum tipo de adequação para a livre
locomoção dos cadeirantes.
Em seguida, partiu-se para a apuração das ações encontradas no local, indicadoras de
possíveis evoluções na sua adequação para as pessoas com deficiência física, bem como os locais

412
onde se constatou total falta de assistência por parte dos gestores públicos, responsáveis pela
à manutenção e adequação dos equipamentos urbanos do Centro Histórico da capital
maranhense.
Como resultados da pesquisa, tem-se que o Cetro Histórico da cidade de São Luís
que, nas vésperas de completar quatrocentos anos de fundação, abriga um importante sítio
histórico. Trata-se do maior e mais belo acervo arquitetônico de origem portuguesa da
América Latina, recebendo, no ano de 1997, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade
pela UNESCO. Sua área de casarões históricos ocupa cerca de 250 hectares e envolve três
mil e quinhentas construções.
Essa herança é proveniente dos colonizadores portugueses e seus descendentes que
reproduziam nos solares e casarões o estilo arquitetônico colonial europeu. Nele os
colonizadores utilizaram o revestimento nas fachadas como forma estratégica para amenizar
o calor e evitar a umidade. Outra característica do estilo europeu presente no local são as
diversas escadarias que se espalham por todo o Centro Histórico, caracterizando-se, assim,
num obstáculo para pessoas com deficiência físico-motora que fazem uso desse espaço
como formas de lazer, trabalho, entretenimento, etc.
De acordo com Santana (2007), O Centro Histórico de São Luís é uma referência
histórica para a compreensão do processo de estruturação da capital maranhense.
Atualmente, é um lugar de representação que guarda elementos marcantes que se confundem
com a história da cidade.
Paiva (2009. 85), diz que a área que compreende o Centro Histórico ―estende-se para
outras áreas adjacentes do núcleo primitivo da expansão urbana ocorrida nos séculos XVIII,
XIX e início do século XX e abrange os bairros da Praia Grande, Centro, Apicum, Desterro,
Madre Deus, Belira, Macaúba e Coreia‖.
No que se refere aos desafios enfrentados pelos cadeirantes no Centro Histórico da
capital maranhense, A concretização do sentido ―de todos‖ é uma realidade distante.
Infelizmente, o país é de poucos, o governo é de alguns e cidadania a gente não vê por aqui.
(SILVA, 2007, p. 142).
Entre os principais problemas enfrentados pelos cadeirantes no Centro Histórico de São
Luís, encontram-se calçadas irregulares e com pedras soltas, número limitado de rampas, ausência
de guias rebaixadas (calçadas), falta de sinalização, excesso de escadarias (Figura 03), presença de
ambulantes e placas obstruindo passagens, dificuldade de acesso aos estabelecimentos comerciais,
adequação nos ambientes de lazer, casas hospitalares e nas residências, dentre outros.

413
Figura 03: Barreira arquitetônica no Centro Histórico de São Luís.
Fonte: RIBEIRO, A. F. (2011)

Além das dificuldades arquitetônicas, verifica-se o preconceito de algumas pessoas com


relação à pessoa com deficiência, visualizando-a não como cidadã tampouco consumidora do
espaço citadino, mas sim como um indivíduo que precisa adequar-se a cidade, com todos os seus
entraves e não com um planejamento inclusivo e igualitário para a sociedade em geral.
A partir dos questionários aplicados aos moradores e visitantes do Centro Histórico de São
Luís foi possível tirar algumas conclusões acerca da realidade a qual vivem essas pessoas que tem
incapacidade ou capacidade reduzida de locomoção e, portanto, dependem de cadeira-de-rodas para
se locomoverem pelos espaços da cidade, neste caso específico, o Centro Histórico da capital
maranhense. Procurou-se nessa etapa da pesquisa, analisar a acessibilidade do Centro Histórico
vista pelos próprios cadeirantes.
Em meio a isso, através da entrevista realizada com os cadeirantes, constatou-se total
indignação em relação às condições apresentadas por esse espaço urbano, carente de equipamentos
adequados às suas necessidades físicas, o que se caracteriza como precariedade nos serviços de
acessibilidade, desencadeados por uma série de problemas, tais como infraestrutura edificações
(Figura 04), paisagismo urbano, ofertas de lazer, conservação de ruas e edificações, dentre outros
serviços oferecidos nas diversas áreas do Centro Histórico.

414
Figura 04: Buracos na Rua da Estrela, Centro Histórico de São Luís/MA.
Fonte: RIBEIRO, A. F. (2011)

Durante a entrevista realizada com os cadeirantes, procurou-se analisar a visão do cadeirante


morador da área de estudo e a do cadeirante que apenas visita o local em questão mensalmente ou
poucas vezes no ano. O objetivo fora comparar as opiniões dos sujeitos que apresentam a mesma
deficiência física, porém em termos de conhecimento do local, um apresenta uma visão de quem
viveu a vida inteira na área de estudo, enquanto o outro a de um mero visitante.

“Moro no Desterro desde que nasci, de lá para cá quase nada foi alterado na estrutura do CH e creio que
nada mudará nos próximos anos, apesar de existir vários projetos do Poder Público para adequação dos
equipamentos urbanos para as pessoas com deficiência física”.
Cadeirante moradora do Centro Histórico

“Visito constantemente o CH, onde costumo jogar basquete com outros amigos cadeirantes. Percebo sem
muito esforço as barreiras impostas a nós não só nas ruas inacessíveis como também em diversos
estabelecimentos públicos, comerciais e de lazer”.
Cadeirante morador do Monte Castelo.

Realizada a comparação, concluiu-se que suas visões e opiniões são as mesmas, visto que
ambos apontaram os mesmos problemas e necessidades encontrados no Centro Histórico. Em face
dessa realidade, apontou-se a falta de politicas de planejamento em prol da acessibilidade e a falta

415
de consistência nas politicas já existentes, às quais, segundo os cadeirantes, na maioria dos casos,
não saem do papel.
Para os cadeirantes entrevistados não moradores do Centro Histórico, o motivo das visitas a
essa localidade da cidade dar-se-á por diversos motivos, entre os quais está o fato de nesse local
existir vários órgãos públicos como o Palácio de La Ravardière, sede da prefeitura; Palácio dos
Leões, sede do governo do Estado; Palácio da Justiça e o centro de detenção Reffsa;
Existem também nessa área da capital maranhense diversas clínicas médicas e hospitais
públicos; imponentes praças como a Maria Aragão, a Benedito Leite, a João Lisboa, a do
Parthenon, além é claro da Praça Deodoro, que dá acesso à Rua Grande, considerada o principal
comércio da capital, o que faz com que muitos cadeirantes, vez ou outra, necessitem transitar pelo
Centro Histórico;
Há também importantes agencias bancárias; igrejas como a Igreja da Sé, Igreja do Carmo e
Igreja dos Remédios, dentre outras; várias opções de lazer, como os teatros Arthur Azevedo, João
do Vale e Alcione Nazareth; o cinema Cine Praia Grande no Centro de Criatividade Odyllo Costa
Filho; o imponente Convento das Mercês; diversos bares e casas de show, etc.
Segundo os cadeirantes entrevistados, dentre os locais de lazer do Centro Histórico
mencionados acima, a maioria não apresenta acessibilidade, uma vez que não há adequação
satisfatória nas estruturas desses locais, algo que é visto pelos cadeirantes como o resultado da falta
de planejamento e de consistência na execução dos projetos de acessibilidade criados pelos gestores
públicos.
Essa falta de planejamento no local apontada pelos cadeirantes acaba se chocando com as
iniciativas do Poder Público, que ao deixar de executar de forma consistente as políticas de
acessibilidade, acaba também eliminando as esperanças de minimização e melhorias na
acessibilidade do Centro Histórico, compreendendo nesta ótica, as condições de infraestrutura,
adequação em todos os ambientes do local, sejam eles públicos, de lazer ou de saúde.
Em referência às questões relacionadas à acessibilidade e inclusão social no Centro
Histórico de São Luís, questionou-se a um total de 16 cadeirantes o grau de satisfação com a
acessibilidade (Gráfico 02) e com a inclusão social (Gráfico 03), compreendendo nesse contexto,
todos os aspectos indicadores de acessibilidade, planejamento e inclusão social.

416
Gráfico 02: Grau de satisfação dos cadeirantes com a acessibilidade no Centro Histórico de São
Luís/MA.

Fonte: Dados do trabalho de campo


Org.: RIBEIRO, A. F. (2011)

Gráfico 03: Grau de satisfação dos cadeirantes com a inclusão social no centro Histórico de São Luís – MA.

Fonte: Dados do trabalho de campo


Org.: RIBEIRO, A. F. (2011)

Como podem ser constatados nos gráficos 01 e 02, os percentuais indicam que a avaliação
dos cadeirantes acerca da acessibilidade e da inclusão social no Centro Histórico de São Luís é

417
bastante parecida, indicando uma grande similaridade na opinião dos mesmos a respeito dos temas
em questão, o que indica uma reação unânime dos cadeirantes à realidade percebida e vivenciada
por essa parcela da sociedade ludovicense.

Dessa forma, a criação de medidas aplicáveis de gerenciamento da mobilidade urbana da


capital maranhense se caracteriza, em face à realidade vivenciada pelos cadeirantes de São Luís,
como uma das mais eficientes e eficazes medidas para minimizar os problemas relacionados às
barreiras urbanísticas e sociais presentes não apenas no Centro Histórico, mas em toda a cidade de
São Luís que, desde o seu nascimento, nunca teve sua estrutura voltada para atender a todos, tendo
o seu processo de desenvolvimento preocupado apenas em crescer cultura e financeiramente.
Como visto ao longo dos resultados, a referente pesquisa se propôs a analisar a situação
cotidiana vivida pelos cadeirantes na cidade de São Luís sob o ponto de vista da acessibilidade, com
os cadeirantes nela inseridos.
Em meio a isso, observa-se que os instrumentos urbanos como as vias públicas (ruas e
calçadas), prédios públicos e particulares, ambientes de lazer, entre outros, ainda não gozam de uma
atenção voltada por parte dos gestores públicos para a real existência da acessibilidade garantida e
inclusão social usufruída.
Em referência a isso, Cunha (2009) ressalta que existe, por parte dos gestores municipais,
uma maior efetivação e cumprimento das normativas contidas no Plano Diretor vigente para o
cumprimento de forma holística do direito à cidade também para os cadeirantes. No mesmo
estavam previstas ações de estruturação urbana que poderiam, caso tivessem de fato sido
implementadas na integra ou de acordo com a legislação especifica em vigor, facilitar, de fato, a
vida cotidiana dos cadeirantes da cidade de São Luís.
Portanto, a inclusão social no Centro Histórico de São Luís, ainda não se caracteriza como
todos esperam que seja, porém ela se apresenta em processo de desenvolvimento que, mesmo ainda
em passos curtos, caminha para uma realidade já conhecida em outras cidades do Brasil como, por
exemplo, a cidade de Curitiba, Paraná, cidade que já teve o mesmo quadro de exclusão social da
capital maranhense, mas que se tornou um exemplo de adequação em todos os seus elementos
urbanos, os quais os cadeirantes necessitam e tem o direito de usufruírem forma mais justa e
igualitária, pois assim como o restante da população dita ―normal‖, são cidadãos que formam e
transformam a cidade.
Nesse sentido, a acessibilidade no Centro Histórico ludovicense, só poderá existir de fato,
quando a cidade a possuir, pois, na lógica do desenvolvimento urbano e social de uma cidade, um
espaço urbano, seja ele isolado ou não, só se desenvolve através da projeção adquirida do usufruto
da cidade como um todo, ou seja, numa cidade com mais de um milhão de habitantes como São
418
Luís, torna-se impossível existir acessibilidade num lugar da cidade, caso não haja em nenhum
outro.
Isto se deve pelo fato de que, a concepção de acessibilidade abrange muito mais do que
equipamentos adequados que permitam a livre locomoção das pessoas com deficiência física, mas
sim um conjunto de fatores que abordam tanto aspectos materiais como afetivos, caracterizando-se
assim como a ocorrência da inclusão social.
Portanto, a inclusão social só poderá ocorrer, de fato por meio da acessibilidade, que permite
com que as dificuldades impostas às pessoas com deficiência sejam encaradas não como um
obstáculo, mas como um motivo de luta e perseverança em busca de igualdade e justiça na relação
indivíduo versus sociedade.
A partir dos resultados parciais da pesquisa, verifica-se a necessidade de serem criadas rotas
acessíveis no Centro Histórico de São Luís no sentido de contribuir com o processo de
gerenciamento da mobilidade urbana e da inclusão social naquele espaço da capital maranhense.
Para tanto, na última etapa da pesquisa pretende-se fazer o levantamento das rotas acessíveis
existentes no Centro Histórico de São Luís, bem como concluir o estudo qualitativo realizado
através da aplicação de questionários e a realização de entrevistas com os cadeirantes.

Referências

BATISTA, I. F. A acessibilidade espacial na cidade de São Luís: fonte de inclusão ou exclusão?


2007. 102f. Monografia de Graduação (Licenciatura em Geografia). Universidade Estadual do
Maranhão, São Luís, 2007.

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. Ed: Centauro, São Paulo, 2001.

MACIEL JÚNIOR, João da Silva. A política de cotas no trabalho como ação afirmativa para a
pessoa com deficiência em São Luís. 2008. 219f. Dissertação de Mestrado em Políticas Públicas,
Universidade Federal do Maranhão, 2008.

PAIVA, E. K. G. Acessibilidade e Preservação em Sítios Históricos: o caso de São Luís do


Maranhão. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós Graduação em
Arquitetura e Urbanismo. Universidade de Brasília, Brasília. 2009. 177 f.

RESENDE, Ana Paula Crosara de. A cidade e as Pessoas com Deficiência: Barreiras e Caminhos.
Revista Sociedade e Natureza, Uberlândia, 18 (35): 23-34, dez.2006.

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7ª Ed. EDUSP, São Paulo, 2002.


419
NÍVEL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO MUNICÍPIO DE BOM JESUS-RN:
APLICAÇÃO DO METODO, ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
MUNICIPAL COM A PARTICIPAÇÃO DE ATORES SOCIAIS E INSTITUCIONAIS

Amanda Marcelino LOPES (NESA/ IFRN)

amandamarcelino@bol.com.br

Valdenildo Pedro da SILVA ( NESA/ IFRN)

valdenildo.silva@ifrn.edu.br

Resumo

O momento atual exige que a sociedade esteja motivada para assumir um caráter mais propositivo e
para poder questionar de forma concreta a falta de políticas públicas pautadas pelo binômio entre
desenvolvimento e sustentabilidade, num contexto de crescentes dificuldades de inclusão social. No
curso dos últimos anos, a temática sobre indicadores de sustentabilidade e desenvolvimento vêm se
destacando e motivando inúmeros estudos e debates, principalmente, sobre territórios humanos.
Nesse contexto, essa pesquisa objetiva conhecer o nível de sustentabilidade do município de Bom
Jesus, situado no Estado do Rio Grande do Norte, a partir do Índice de Desenvolvimento
Sustentável para Municípios (IDSM) e da participação de atores sociais e institucionais. Essa
participação se dará por meio da escolha e ponderação de indicadores de sustentabilidade, na
perspectiva do desenvolvimento local sustentável. Para a consecução desse trabalho estão sendo
utilizados procedimentos metodológicos, como: pesquisa bibliográfica, fortalecendo o
embasamento teórico sobre conceitos e abordagens sobre a temática de Desenvolvimento
Sustentável e Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade; pesquisa documental para levantar
dados e informações sobre esse município; pesquisa de campo que se dará por meio de entrevistas
com atores sociais e institucionais locais e, por fim, por meio da observação não participante através
de visitas técnicas a esse município. Esse percurso metodológico segue, ainda, as idéias propostas
por Vasconcelos, Silva e Cândido (2010), que são: compreensão das variáveis componentes do
sistema de indicadores; seleção dos atores sociais e institucionais; uso de instrumento de pesquisa
para ponderação e hierarquização pelos atores sociais e institucionais; método de tabulação e
420
apuração dos dados; transformação dos indicadores em índices; cálculo dos índices das dimensões;
cálculo do índice de desenvolvimento sustentável municipal; e análise dos dados – quantitativa e
qualitativa.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, indicadores, participação,


atores sociais.

Abstract

The current moment requires that society is motivated to take on a more purposeful and to be able to
question the lack of a concrete public policies guided by the binomial between development and
sustainability in the context of increasing difficulties for social inclusion. In the course of recent years,
the issue of sustainability indicators and development have gained prominence and motivating
numerous studies and discussions, mainly about human territories. In this context, this research aims to
know the level of sustainability of Bom Jesus, located in the state of Rio Grande do Norte, from the
Sustainable Development Index for Municipalities (IDSM) and participation in social and institutional
actors. This participation is by choice and weighting of indicators of sustainability from the
perspective of sustainable local development. To achieve this work are being used methodological
procedures, such as literature, strengthening the theoretical basis on concepts and approaches to the
theme of Sustainable Development and Systems Sustainability Indicators; documentary research to
collect data and information about the municipality; research field that will be through interviews with
local institutional and social actors and, finally, through non-participant observation through technical
visits to this city. This methodological approach follows also the ideas proposed by Vasconcelos, Silva
and Candide (2010), which are: understanding the variable components of the indicator system;
selection of social actors and institutional use research tool for weighting and ranking actors social and
institutional method of counting and tabulation of the data, transformation of the indicators into
indices; calculation of the indices of the dimensions, calculate the index of sustainable municipal
development, and data analysis - quantitative and qualitative.

KEYS WORDS: Sustainability, sustainable development indicators, participation, social actors.

INTRODUÇÃO

O conceito de desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade surgiu por volta dos anos de


1980, passando a ser usado em diferentes interesses, necessidades e situações, tanto de órgãos

421
governamentais como de instituições não governamentais. Portanto tornou-se um conceito prenhe
de mal entendidos e ambigüidades, contribuindo para a inexistência de uma definição ou uma
conceituação que dê conta desses termos. Mas, existe algo em comum, entre esses termos, que é a
preocupação com a solução de desequilíbrios de uma dada sociedade em suas dimensões sociais,
ambientais e econômicas. Ou seja, apesar da diversidade de entendimentos desses termos, parece
existir um certo consenso sobre os mesmos, em relação às necessidades de se reduzir a poluição
ambiental, eliminar os desperdícios e diminuir o índice de pobreza (BARONI, 1992).

A maioria dos estudos sobre sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável tem sido


realizada principalmente por meio do uso de dados quantitativos e secundários, sem considerar,
muitas vezes, as opiniões e a participação da sociedade, quer sejam representantes institucionais
quer sejam cidadãos comuns ou integrantes da sociedade civil. Além disso, destacamos que o
desenvolvimento de uma dada territorialidade ou localidade não deve acontecer somente por meio
da atuação exclusiva do Estado ou das elites econômicas e políticas, desconsiderando a atuação da
maioria da população ou da sociedade civil. Esta deve ser um dos atores principais quando da
condução do planejamento, execução e controle das práticas coletivas de produção de uma
determinada localidade ou municipalidade. Em face dessas considerações foi que surgiu este
trabalho que tem como objetivo principal conhecer o nível de sustentabilidade do município de
Bom Jesus, no Estado do Rio Grande do Norte a partir do índice de desenvolvimento sustentável
para municípios e da participação de atores sociais e institucionais, considerando a escolha e
ponderação de indicadores de sustentabilidade na perspectiva do desenvolvimento local sustentável.

O município de Bom Jesus, localizado geograficamente na microrregião do Agreste Potiguar


do Estado do Rio Grande do Norte (mapa 1), possui uma área de 122 km2 (o equivalente a 0,23% da
superfície estadual) distante a 51 quilômetros da cidade de Natal, capital do Estado do Rio Grande
do Norte. Atualmente residem nesse município cerca de 9.432 habitantes, dos quais 4.691 são do
sexo masculino (49,73%) e 4.741 do sexo feminino (50,27%), sendo 6.766 habitantes residentes da
área urbana e 2.666 habitantes na área rural (IBGE, 2010).

422
Figura 2: Mapa da Localização de Bom Jesus - RN

Fonte: IBGE. Elaborado pela autora 2010

Esse município situa-se em área semiárida do Estado, caracterizado por apresentar forte
insolação (insolação de 2.700 h/ano, apresentando uma média de 25,6º e uma umidade em torno de
74%), baixa nebolusidade, elevadas taxas de evaporação (em torno de 2.000 mm anuais),
temperaturas constantes e normalmente altas e regular índice pluviométrico; possui uma formação
geológica rica em minerais e solos que variam entre alta e baixa fertilidade natural, onde a cobertura
423
vegetal é rala e escassa, em que predomina a caatinga subdesértica e hipoxerófila, De acordo com o
IDEMA, o solo da região apresenta características dos tipos podzólico vermelho amarelo abrúptico
plínthico. O solo tem aptidão regular para lavouras, sendo apto para culturas especiais de ciclo
longo (algodão arbóreo, sisal, caju e coco) e culturas temporárias, com destaque para o cultivo de
mandioca.
De acordo com dados do PNUD do ano de 2006, o PIB era estimado em R$ 30.9755,75
sendo que 15,81% correspondiam às atividades baseadas na agricultura e na pecuária, 9,94% à
indústria e 21,84% ao setor de serviços. No desenvolvimento da agropecuária, destacando-se o
complexo gado-algodão e agricultura de subsistência, no extrativismo mineral e em atividades de
serviços e comerciais.
Com relação à infra-estrutura, o município possui 01 Agência bancária, 01 posto dos
Correios e 40 estabelecimentos comerciais. No ranking de desenvolvimento, Bom Jesus está em 96º
lugar no estado (96/167 municípios) e em 4.214º lugar no Brasil (4.214/5.561 municípios) e possui
o IDH-M de 0,625 segundo dados do PNUD.
Para a consecução desse estudo, procuramos nos apoiar em alguns fundamentos teóricos e
em concepções de alguns autores que mais têm se debruçado sobre as discussões de
desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade como o fizeram Sachs (2002) e Veiga (2008) e de
sistemas indicadores de sustentabilidade, na perspectiva de Barbieri (2005), Bellen (2006), por
exemplo. O primeiro autor diz em seu livro, Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, que a
sustentabilidade tem uma certa unidade e que a dinamicidade desta está na harmonização de
critérios ou perspectivas sociais, políticos, econômicos, ecológicos, ambientais, territoriais e
culturais, quando do entendimento do desenvolvimento de uma dada sociedade em um determinado
território (SACHS, 2002).
Para Sachs (2002), em última instância, o desenvolvimento depende da cultura do povo, na
medida em que ele implica a invenção de um projeto. E este não pode deter-se unicamente a
aspectos sociais e econômicos, negligenciando as relações e dimensões complexas entre o porvir
das sociedades humanas e a evolução da biosfera; na realidade, esse autor está querendo dizer é que
existe a presença e uma co-evolução entre dois sistemas que se regem por escalas espaciais
distintas. Para ele, a sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua
capacidade de submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. É
por isso que ele fala de desenvolvimento sustentável, dizendo que, a rigor, sua adjetivação deveria
ser desdobrada em socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente
sustentado no tempo (SACHS, 2011, grifo do autor).

424
A realização desse estudo é importante, pois sinaliza que quanto maior for a participação e o
envolvimento político dos atores sociais ou cidadãos, quer integrantes da sociedade civil ou
institucionais, maior será a probabilidade de se efetivar uma política que garanta direitos de
cidadania, no tocante a educação, às oportunidades de trabalho, à melhoria das condições de vida da
população e à equidade social (SACHS, 2004).
Segundo Veiga e Sachs, desenvolvimento e crescimento econômico não podem ser vistos
como sinônimos, ambos em suas pesquisas conseguem deixar claro que desenvolvimento não pode
ser compreendido por visões centradas apenas na renda per capita. As variações na expectativa de
vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que são centrais – como as políticas
epidemiológicas, serviços de saúde, facilidades educacionais etc. (VEIGA, p.40, 2002). E
concordamos com Sachs (VEIGA, 2008, prefácio), considerando a sua descrição sobre
desenvolvimento e crescimento econômico, que ambos não são a mesma coisa, que crescimento
econômico precisa estar submetido a um projeto social ou será apenas ferramenta para o acumulo
de capital para uma minoria e o aumento das diferenças sociais.
Gro Brundtland (2007) depois da formulação do conceito mais usado para sustentabilidade
define os riscos que todos estamos suscetíveis, independente de classes sociais, classes dominantes,
organizações ou nações. "Em um mundo globalizado, estamos todos interconectados. Os ricos estão
vulneráveis às ameaças contra os pobres e os fortes, vulneráveis aos perigos que atingem os fracos".
A nosso ver, essa definição reforça o envolvimento de todos na construção do desenvolvimento
sustentável, para esse crescimento não existe classe dominante, a natureza, a economia e a
sociedade precisam prover juntas esse caminho.
Desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de
mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais
e futuras, como bem prenunciou o relatório Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1987). Diante do
exposto, é preciso planejamento e pesquisa sobre o que você deseja tornar sustentável, a forma
como se aplica a sustentabilidade a um meio não é igual para todos. Ou em determinado momento
precise de um novo planejamento. Para isso faz-se uso dos indicadores de sustentabilidade.
No que diz respeito à discussão sobre indicadores de sustentabilidade, podemos dizer que a
Agenda 21, em seus capítulos 8 e 40, tem se constituído num dos primeiros documentos que fazem
referência para a necessidade de se definir indicadores para a concretude do desenvolvimento
sustentável. Esse documento reforça a importância da participação dos países em desenvolver
sistemas de monitoramento e avaliação do avanço para o desenvolvimento sustentável, adotando

425
indicadores que meçam as mudanças nas dimensões econômica, social e ambiental (BARBIERI,
2005)
É importante ressaltar nesse trabalho a significância da participação de atores no processo de
desenvolvimento, para enfatizar, alguns teóricos reforçam essa idéia. A presença das comunidades
das organizações e instituições da sociedade civil foi adquirindo importância crescente no último
quarto do século 20 (VIEZZER). O desenvolvimento sustentável pode ser mais facilmente
alcançado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestão dos recursos, como também a
organização de um processo participativo de identificação das necessidades, dos recursos potenciais
e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do nível de
vida dos povos. Esse processo exige, obviamente, a presença de atores envolvidos que atuem como
facilitadores do processo. (Sachs, 2000, pág. 75).
Seguindo essa mesma linha de pensamento, Buarque (2008) diz que, como participantes das
decisões, os atores sociais se sentem responsáveis e podem facilmente tomar parte ativa nas ações e
nas iniciativas necessárias ao desenvolvimento. Ainda, na visão de Buarque (2008), o processo
participativo de planejamento, também, amplia e democratiza os espaços de negociação na
sociedade local, estimulando o envolvimento de todos os atores sociais e o confronto organizado e
civilizado das visões e interesses diversificados. Contribuindo para a reconstrução da estrutura de
poder local. Atores no contexto dessa pesquisa são integrantes da sociedade, quer sejam
representantes institucionais quer sejam cidadãos comuns ou integrantes da sociedade civil.

METODOLOGIA

A pesquisa sobre a avaliação da sustentabilidade de Bom Jesus-RN, nas dimensões social,


econômica e ambiental, foi operacionalizada por meio dos seguintes procedimentos metodológicos:
levantamento bibliográfico, sistematização de dados secundários e pesquisa de campo, por meio do
uso de entrevista, cálculos estatísticos e tabulação dos dados.
Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva (GIL, 2006), que foi conduzida sob a
forma de estudo de caso, uma vez que foi aplicada a metodologia denominada Índice de
Desenvolvimento Sustentável para Municípios com a Participação de Atores Sociais e
Institucionais, proposta por Cândido, Vasconcelos e Souza (2010), utilizando uma unidade
territorial municipal.
Realizado a pesquisa de campo que constituiu em nossa pesquisa empírica que se deu com a
aplicação de entrevistas (semi estruturada) com os atores sociais, com o perfil definido para
responder as questões, que após serem entrevistados indicaram outras pessoas com o uso da técnica
―bola de neve‖ (snowball).
426
Utilizamos a técnica de análise de conteúdo que, segundo Minayo (2007, p.203), em termos
gerais relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significados) dos
enunciados. Essa técnica possibilita a articulação da superfície dos textos descrita e analisada com
os fatores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e
processo de produção da mensagem. Com o uso dessa técnica, foi possível transformar a fala dos
entrevistados em outros indicadores e conhecer melhor a dinâmica do município, considerando a
participação da sociedade civil e de representantes institucionais, como: moradores locais,
funcionários públicos, secretários municipais, dentre outros sujeitos.
A amostra do universo da pesquisa foi definida por meio do uso do critério de saturação,
segundo Sá (1998). Esse critério possibilitou que no momento em que as respostas começaram a se
repetir, sem mais novidades, parasse com as entrevistas, pois a amostragem tinha atingido o seu
momento de saturação.
Como foi dito acima, a entrevista mais estruturada ocorreu em uma segunda visita ao
município. Essa foi a ocasião em que os atores sociais puderam quantificar com um determinado
grau de importância cada indicador trabalhado que de acordo com as respostas obtidas pode-se
ponderar e hierarquizar os principais indicadores da sustentabilidade do município de Bom Jesus.
Com uso das mesmas técnicas utilizadas na primeira entrevista, como snowball e critério de
saturação para definição de amostragem e para tabulação dos dados desse segundo momento foi
elaborada uma matriz um diagrama com os indicadores, baseando-se na técnica de Silva (2008),
com adaptação sugerida por Candido, Vasconcelos e Souza (2010).
A adaptação refere-se à utilização da técnica de Mudge, que segundo Pandolfo (2001), essa
técnica consiste em um método de avaliação numérico funcional, no qual se determina uma
hierarquia entre as funções, baseando-se na analise comparativa entre as funções, duas a duas, até
que todas sejam comparadas entre si. Dessa forma, a utilização da referida técnica se faz necessária
para que o processo de correlação entre os indicadores seja efetivado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao realizar a visita de reconhecimento do município, foi elaborado um instrumento de


entrevista, semi-estruturado, para aplicação com os primeiros atores selecionados a partir do
levantamento dos dados secundários, formaram uma cadeia de informações relevantes sobre o
município, que dentro de suas falas pode-se conhecer e reafirmar as fragilidades e as
potencialidades do município de Bom Jesus.
Nessa ocasião foram apresentados aos atores os indicadores até então trabalhados, alguns
dos atores inquiridos, apenas concordaram com os indicadores trabalhados, expondo suas
427
experiências mediante ao que liam e outros não apenas concordaram com os indicadores como
também contribuíram com informações que, dentro do contexto avaliado, foi possível transformar
em indicadores a serem inseridos nesse trabalho.
A segunda visita ao município de Bom Jesus foi para a aplicação do roteiro de entrevistas,
em que os atores sociais e institucionais participaram e atribuíram um grau de importância para
cada indicador, considerando o 1 como pouco importante; o 2 como sendo importante; e o 3 como
muito importante, sempre um indicador em relação a outro e, principalmente, dentro dos aspectos
da realidade do município de Bom Jesus.
Para tabulação dos dados dessa fase da pesquisa foi utilizado o software Microsoft Excel, foi
necessário a implementação de algoritmos estruturados que possibilitaram a codificação do
diagrama de Mudge e cálculo dos valores ponderados para cada indicador. Foi obtido uma matriz de
dados resultantes da ponderação dos atores para todos os indicadores e respectivos temas e
dimensões.
Posteriormente a tabulação dos dados, è calculado do produto da soma dos pesos atribuídos
pelos atores sociais e o índice de cada variável o índice ponderado por cada tema. Por sua vez, o
cálculo do índice de cada dimensão é o resultado da média ponderada dos índices de cada tema que
compõe a respectiva dimensão, cujos resultados podem ser visualizados na figura 2. Isso resultou
em uma matriz de dados resultantes da ponderação dos atores para todos os indicadores e
respectivos temas e dimensões.

Figura 2: Ponderação pelo diagrama de Mudge

INDICADORES
PONDERAÇÃO PELO DIAGRAMA
DA DIMENSÃO A B C D E F G H I
DE MUDGE
ECONÔMICA

Grau de 2 2 2 2 2 2 2 2 3 SOMA % PONDERAÇÃO


Importância
A AiBi AiCi AiDi AiEi AiFi AiGi AiHi Iii 7 9,72 0,10

B BiCi BiDi BiEi BiFi BiGi BiHi Iii 7 9,72 0,10

C CiDi CiEi CiFi CiGi CiHi Iii 7 9,72 0,10

D DiEi DiFi DiGi DiHi Iii 7 9,72 0,10

E EiFi EiGi EiHi Iii 7 9,72 0,10

F FiGi FiHi Iii 7 9,72 0,10

428
G GiHi Iii 7 9,72 0,10

H Iii 7 9,72 0,10

I 16 22,22 0,22

TOTAL 72 100 1,00

LEGENDA

INDICADORES CODIFICAÇÃO
SIMBOLOS
A Produto interno bruto per capita i=1
B Participação da indústria no PIB ii = 2
C Índice de Gini iii = 3
D Renda per capita
Renda familiar per capita em salário
E mínimo
Participação da administração pública no
F PIB
G Participação da agropecuária no PIB
Participação do comércio e Serviços no
H PIB
I Renda Proveniente do Trabalho
Fonte: Vasconcelos, Candido e Souza 2010 .

Diante disso, por meio do produto da soma dos pesos atribuídos pelos atores sociais e o
índice de cada variável, obtivemos o índice ponderado por cada tema, conforme apresentamos
abaixo:
Por sua vez, o cálculo do índice de cada dimensão é o resultado da média ponderada dos
índices de cada tema que compõe a respectiva dimensão. Conforme expresso a seguir:
O cálculo do Índice de Desenvolvimento Sustentável do Município de Bom Jesus-RN é
obtido pela média dos índices ponderados das dimensões, conforme estão expressos abaixo:
Esses índices podem ser representados graficamente, de acordo com Vasconcelos, Cândido e
Silva (2010), por intermédio de um conjunto de cores que representa o nível de sustentabilidade ou
não, numa relação de escala de valores que varia entre mínimo e máximo e que correspondem a 1
(no caso de ser sustentável) ou a 0 (no caso de ser insustentável). Essa representação gráfica é
apresentada de acordo com este quadro 1.
429
Quadro 1: Representação gráfica
Coloração Nível de sustentabilidade
Índice ( 0 – 1)

0,0000 – 0,2500 Crítico

0,2501 – 0,5000 Alerta

0,5001 – 0,7500 Aceitável

0,7501 – 1,0000 Ideal

Fonte: Vasconcelos, Candido e Silva 2010


Considerando as dimensões social, econômica e ambiental, os índices referentes ao
município de Bom Jesus, seguindo a metodologia do IDSM proposto por Vasconcelos, Candido e
Souza (2010), podem ser visualizados por meio da tabela 2.

Tabela 2: Índice das Dimensões


∑ dos
DIMENSÃO TEMA INDICADORES ÍNDICE pesos IT ID

Esperança de vida ao nascer 0,5938 0,0708

Mortalidade infantil 0,9319 0,0501

SAÚDE Prevalência de desnutrição total 0,9965 0,0616 0,2833

Imunização contra doenças infecciosas infantis 0,8425 0,0673

Oferta de serviços básicos de saúde 1,0000 0,0765


DIMENSÃO SOCIAL

Escolarização 0,4902 0,0822

Alfabetização 0,5369 0,0880 0,1349

EDUCAÇÃO 0,1232
Acesso a qualificação profissional (incentivo a
profissionalização) 0,0000 0,0880

Analfabetismo funcional 0,6018 0,0593

Gravidez na adolescência 0,7956 0,0735

FAMILIA 0,0878
Famílias atendidas por transferências de benefícios
sociais 0,5473 0,0536

HABITAÇÃO Adequação de moradia em domicílios 0,6903 0,0650 0,0916

430
Densidade inadequada de moradores por dormitório 0,9687 0,0482

Coeficiente de mortalidade por homicídios 0,7973 0,0597


SEGURANÇA 0,0886
Coeficiente de mortalidade por acidentes de transporte 0,7292 0,0562

Índice de Gini 1,0000 0,0558


EQUILIBRIO 0,0565
ECONÔMICO Renda per capita 0,0061 0,1105
DIMENSÃO ECONOMICA

Renda Proveniente do Trabalho 0,0035 0,1306


EMPREGO E 0,0005
RENDA Renda familiar per capita em salário mínimo 0,0001 0,0127

Participação da administração pública no PIB 0,0000 0,1194 0,0664

Participação da agropecuária no PIB 0,4542 0,1295

PARTICIPAÇÃO
Participação do comércio e Serviços no PIB 0,4793 0,1261 0,1424
NA ECONOMIA

Produto interno bruto per capita 0,3049 0,0123

Participação da indústria no PIB 0,2098 0,0926

Volume de água tratada: em estação de tratamento e por


desinfecção 1,0000 0,1715
ÁGUAS 0,2728
DIMENSÃO AMBIENTAL

Consumo médio per capita de água 0,9994 0,1014

Acesso ao sistema de abastecimento de água urbana 0,1027 0,1442


SANEAMENTO 0,0505
0,1121
Acesso a esgotamento sanitário urbano 0,2474 0,1442

Acesso a coleta de lixo urbano por domicílio 0,0758 0,1715

LIXO Acesso a coleta de lixo rural 0,0000 0,1365 0,0130

Disposição do lixo para coleta seletiva 0,0000 0,1306

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pela autora 2011

Para o cálculo desse IDSM, foi utiliza a média ponderada dos índices dessas três dimensões,
que está representado nessa tabela, na última coluna como sendo ID, com os respectivos resultados
de cada dimensão. O resultado final foi definido pela seguinte fórmula,

IDSM = (0,1349 + 0,0664 + 0,1121) / 3


IDSM = 0,1045
De acordo com o método do IDSM, aplicado ao município de Bom Jesus, com indicadores
elencados pelos atores sociais e institucionais, o nível de sustentabilidade do município em estudo

431
nessa pesquisa, revelou uma situação de sustentabilidade crítica. Apesar do nível de
sustentabilidade de Bom Jesus-RN ter apresentado um estado crítico de sustentabilidade em alguns
temas como, o tema Saúde da dimensão Social e o tema Água e População da dimensão Ambiental,
que segundo a metodologia usada apresenta uma situação de alerta, que demonstra uma situação
mais próxima do equilíbrio em relação aos outros temas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do método IDSM é um avanço para o desenvolvimento sustentável saímos das


discussões passando para uma etapa seguinte que nos dá um diagnóstico da situação de
sustentabilidade de um município ou localidade, com a participação da sociedade das instituições. E
ainda ser uma ferramenta bastante flexível no que se concerne as alterações dos indicadores de
acordo com as potencialidades e fragilidades do município para que gestores percebam as áreas
mais críticas que precisam de mais atenção e as de sustentabilidades mais ideais que continuem bem
trabalhadas. Podendo fazer uso da sua aplicação várias vezes com todas as dimensões ou
separadamente para melhor visualizar cada área e seus indicadores. Portanto, esse estudo não
pretende apenas está no meio acadêmico, mas abrir caminho para outros trabalhos e ultrapassar as
barreiras da ciência e contribuir para a melhoria do município de Bom Jesus-RN e de muitas outras
sociedades. Os atores sociais institucionais continuem contribuindo com o seu desenvolvimento.

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434
GERAÇÃO E ANÁLISE DO ÍNDICE DE CONFORTO TÉRMICO
PARA A CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB

Caio Lima dos Santos

(caiolima21@hotmail.com)

Eduardo Rodrigues Viana de Lima

(eduvianalima@gmail.com)57

Resumo

O plano de trabalho teve como objetivo realizar medidas de temperatura e umidade relativa do ar em
10 pontos da cidade de João Pessoa, para geração do Índice de Desconforto de Thom (IDT), e
comparar esse índice com o uso e a ocupação do solo, para avaliar se o tipo de ocupação que está
ocorrendo nessa cidade está afetando, de alguma forma, as temperaturas e, por conseguinte, a
qualidade de vida da população. Para alcançar os objetivos propostos, foram definidos dez pontos de
coleta de dados distribuídos da melhor forma possível pela cidade, considerando que esses pontos
teriam que ser antenas de telefonia celular, para a segurança dos equipamentos utilizados. As medidas
foram realizadas em dois períodos, chuvoso e seco, compreendendo os seguintes intervalos de tempo:
Período chuvoso – 5/6 a 30/8 de 2011; Período seco – 25/2 a 31/3 de 2012. Para realização das
medidas foram utilizados equipamentos do tipo Hobo, que armazena os dados em um datalogger e em
seguida esses dados são descarregados em computador. Obtidos os dados de temperatura e umidade
relativa do ar, foi utilizado o índice bioclimático conhecido como índice de desconforto de Thom –
IDT e foram utilizadas faixas de conforto estabelecidas por Santos (2011) para cidades de clima
tropical úmido. O mapeamento de uso e ocupação utilizado no trabalho foi gerado em outro plano de
trabalho deste projeto de pesquisa. Para tanto foi utilizada imagem orbital do satélite Quickbird (2008),
cedida pela Prefeitura Municipal de João Pessoa. Os resultados obtidos mostram uma certa correlação
entre áreas de desconforto térmico com o adensamento populacional e construtivo, além também da
verticalização que está ocorrendo na cidade. Um fato que chamou a atenção foi o de que pontos

57
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Viana de Lima

435
localizados na orla marítima da cidade apresentaram situação de conforto pior do que outras áreas da
cidade.

PALAVRAS-CHAVE: Campo térmico; Índice de Conforto Térmico; Uso e ocupação do solo.

Abstract

The work plan aims to perform measurements of temperature and relative humidity of 10 points
from João Pessoa to generation discomfort index of Thom (IDT), and compare this rate with the use
of land for evaluating whether the occupancy type that is occurring in this city is affecting,
somehow, temperatures and therefore the quality of life the population. To achieve the proposed
objectives were defined tem points of data collection distributed as best as possible the city
considering that these points would have to be mobile phone masts, for the safety of equipment
used. Measure ments were taken in two periods, rainy period-5/6 to 30/8/2011;dry period-25/12 to
31/3 2012.For realization measures were used Hobo, type equipment, which stores the data in a data
logger and then data logger this data in a computer. Data of temperature and relative humidity,
bioclimatic under was used as an index of know Santos (2011) for cities of clima tropical humid the
use and occupancy mapping used in the study was generated in another work plan for this research
project. It was used for both orbital image of Quick bird satellite(2008),courtesy for the city of João
Pessoa, city hall. The obtained results show some correlation enters areas of thermal discomfort
with the population density and constructive, and also the vertical integration that in occurring in
the city. A fact that cauch the attention hurts that points located on the waterfront of the city had a
comfortable situation worse than other areas of the city.

Keywords: thermal field; thermal confort index, use and occupation of land.

INTRODUÇÃO

Ao longo de sua história, a humanidade vivenciou momentos de transformação em seus


hábitos e em sua forma de vida. Saindo da vida nômade o homem começa e se organizar em
cidades, fato permitido pelo desenvolvimento da agricultura.
Durante a revolução industrial verificou-se aquilo que se pode chamar de mudança mais
radical ocorrida na forma de vida humana, fato representado fortemente na infraestrutura das
cidades e em sua forma de organização.
Os aglomerados urbanos, frutos do processo conhecido como êxodo rural, passaram a exigir
toda uma infraestrutura e tecnologia adaptada às necessidades humanas, fato marcado por alguns
aspectos, como a construção de vias pavimentadas e casas de alvenaria, atrelados ao uso constante
436
de veículos motorizados, que emitem grande quantidade de energia para a atmosfera, e o forte
processo de desmatamento observado nos séculos posteriores à revolução industrial. Junta-se a
esses fatos a forte tendência a formação de grandes aglomerados urbanos, dando origem, portanto, a
fenômenos como a inversão térmica e a formação de ilhas de calor nesses ambientes.
A cidade de João Pessoa – PB insere-se nesse processo, e assim como grande parte das
cidades no mundo, encontra-se bastante urbanizada, e tem apresentado atualmente um elevado
crescimento populacional, o que representa diminuição das áreas de solo exposto, aumento do
desmatamento e da construção de edificações, somados a elevação do número de automóveis e de
vias asfaltadas.
As diferenciações no uso e cobertura do solo associadas à dinâmica climática promovem
alterações nos ambientes urbanos, onde os elementos naturais são transformados segundo os
interesses e a necessidade da sociedade pós-moderna. As mudanças na paisagem, através das
diversas formas de uso e ocupação do solo, têm gerado transformações significativas na dinâmica
climática de áreas urbanas (Santos, 2011). Isso tem comprometido cada vez mais a qualidade de
vida da população que reside nas cidades.
Com base nesse contexto, o presente trabalho destina-se a investigar as relações entre o uso
e a ocupação do solo e o campo térmico na cidade de João Pessoa – PB, identificando-se os níveis
de conforto térmico existentes na cidade.

A relação entre clima e cidade

O clima de uma cidade pode ser compreendido através da interação de diversos fatores
globais (latitude, altitude, continentalidade, maritimidade) e locais (uso e ocupação do solo,
geomorfologia, revestimento do solo) que conjugados com os elementos atmosféricos (temperatura,
umidade, vento, pressão, dentre outros) determinam as condições atmosféricas sobre uma
determinada localidade (Barbirato et. al., 2007).
Monteiro (1976) compreende o clima urbano como um sistema climático integrado formado
por três subsistemas de análise: termodinâmico, físico-químico e o hidrometeórico. Para esse autor,
as alterações climáticas em áreas urbanas podem ser percebidas através de canais de percepção, que
retratam as alterações nos elementos climáticos dentro dos subsistemas mencionados (Santos,
2011). Decorrentes da urbanização dentro do subsistema termodinâmico ocorrem os fenômenos da
ilha de calor, inversão térmica e o desconforto térmico. A chuva ácida e a poluição atmosférica que
marcam os grandes centros urbanos ocorrem no subsistema físico-químico. Por outro lado, as
precipitações em áreas urbanas, as enchentes e os impactos ambientais que ocorrem em função do

437
processo de urbanização acelerada dos países em desenvolvimento são exemplos de alteração do
subsistema hidrometeórico.
Os problemas relacionados com o campo termodinâmico, bem como com o subsistema
hidrometeórico ocorrem naturalmente nas cidades de países em desenvolvimento onde o rápido e
desordenado processo de urbanização tardia caracteriza essas áreas. A temperatura do ar e a
umidade atmosférica são elementos intensamente afetados durante o processo de apropriação dos
recursos naturais e o crescimento desordenado dos centros urbanos, gerando desconforto térmico
nesses ambientes. No entanto, os impactos ambientais negativos provocados por esses eventos são
bastante seletivos em função da forte concentração de renda e desigualdades sociais ocasionadas
pela acumulação do capital. Sendo assim, as respostas ao desconforto térmico nesses ambientes se
fazem notar, sobretudo, na população mais pobre, uma vez que elas são desprovidas de condições
econômicas, técnicas e científicas para responder às influências do clima sobre suas vidas
(Mendonça, 2010).
O processo de impermeabilização dos centros urbanos diminui drasticamente a infiltração
das águas pluviais no solo, uma vez que grande parte dessas áreas é revestida de material
impermeável, ou encontram-se compactadas, decorrentes do intenso desmatamento, que contribui
também para a diminuição do albedo, fazendo que haja uma maior concentração de energia no
ambiente.
Conti (1998) destaca que a impermeabilização dos solos, o aumento do albedo, a redução
das áreas verdes, o aumento da poluição atmosférica em função das indústrias instaladas nas
cidades, o aumento da precipitação, as ilhas de calor e, consequentemente, o desconforto térmico,
dentre outros fatores, são apenas alguns exemplos de alterações ambientais presentes nos centros
urbanos que geram microclimas específicos. Com a ausência de superfícies líquidas e de áreas
verdes, a evaporação se reduz consideravelmente, aumentando a sensação de desconforto térmico e
acentuando o efeito das ilhas de calor, já que a água ao se evaporar consome 580 cal/g; e essa
energia deixando de ser utilizada fica presa no ambiente urbano, acentuando os efeitos já
mencionados. O autor destaca que a intensificação de tais efeitos é influenciada pela forma
arquitetônica dos edifícios, pela natureza dos materiais de construção, pelas cores das paredes e pela
densidade da área construída; afetando, também, a velocidade e direção dos ventos, que tendem a se
orientar pelos vales ou cânions, definidos pelo alinhamento dos grandes edifícios, variando
conforme a hora do dia e a situação sinótica. O ambiente urbano tem sofrido intensas modificações
climáticas face às diversas fontes adicionais de calor de caráter antropogênico e da composição dos
materiais de sua superfície, a maioria bons condutores térmicos e com grande capacidade calorífica

438
que tem colaborado para o desconforto térmico nesses ambientes (Barbirato et al., 2007; Gulyás et.
al., 2005; Sarrat et. al., 2005).
O uso constante do concreto, do asfalto e de diversos outros tipos de revestimentos
cerâmicos, atrelados à ausência de vegetação, influencia diretamente na formação do clima urbano.
Os principais fatores responsáveis por alterações no balanço energético dos centros urbanos
são os seguintes: a localização da cidade dentro da região, o tamanho das cidades, a densidade da
área construída, a cobertura do solo, a altura dos edifícios, a orientação e a largura das ruas, a
divisão dos lotes, os efeitos dos parques e áreas verdes e detalhes espaciais do desenho dos edifícios
(Olgvay, 1998). Já no que diz respeito ao uso e ocupação dos solos em áreas urbanas, ou seja,
morfologia dos solos e paisagem, Oliveira (1988) menciona que os fatores condicionantes do clima
urbano são a porosidade, rugosidade, densidade da construção, tamanho da cidade, uso e ocupação
do solo, orientação, permeabilidade do solo urbano e as propriedades termodinâmicas dos materiais
constituintes do ambiente urbano. Em virtude da influência de tais fatores na dinâmica climática dos
centros urbanos, tornou-se perceptível a formação de condições microclimáticas individualizadas
para essas áreas, sendo assim caracterizadas pela formação de camadas ou substratos que delimitam
as modificações impostas pelo adensamento urbano. A compreensão de tais camadas se tornou
ferramenta fundamental para a realização de medições e análise bioclimáticas indispensáveis ao
planejamento e projeto urbano.

Localização dos pontos na área de estudo

Para avaliar a influência que o uso e a ocupação do solo podem estar provocando sobre o
campo térmico e o conforto térmico na cidade de João Pessoa, foram feitas medidas de temperatura
e umidade relativa do ar em dez pontos distribuídos da forma mais representativa possível pela
cidade.

A Tab. 1 exibe a relação dos pontos experimentais com as suas respectivas coordenadas
geográficas dentro da malha urbana da cidade.

Tabela 1. Localização dos pontos experimentais em coordenadas UTM.

Localização dos pontos Ponto ―X‖ ―Y" Altitude (m)

Mata do Buraquinho P01 294473 9210910 18

Bairro Expedicionários P02 295307 9212248 54


Bairro Manaíra P03 297168 9213966 13
Bairro Cabo Branco P04 298053 9212232 09

439
Bairro Mangabeira P05 296918 9205666 50
Bairro Cruz das Armas P06 291631 9210044 47
Bairro Alto do Mateus P07 288930 9210524 45
Bairro Centro P08 296918 9205666 50
Bairro Bancários P09 297368 9209252 18
Estação do INMET P10 295858 9215350 05

A Figura 2 apresenta a localização dos dez pontos selecionados para o estudo em função das
suas diferenciações quanto ao uso e cobertura do solo dentro do espaço intra-urbano da cidade de
João Pessoa.

Figura 2. Localização dos pontos de medições e da Estação Meteorológica do INMET no


perímetro urbano da cidade de João Pessoa. Mata do Buraquinho (P01), Bairro Expedicionários
(P02), Bairro Manaíra (P03), Bairro Cabo Branco (P04), Bairro Manguabeira (P05), Bairro Cruz
das Armas (P06), Bairro Alto do Mateus (P07), Bairro Centro (P08) e Bairro dos Bancários
(P09). As coordenadas geográficas estão no Sistema Universal Transverso de Mercator (UTM),
fuso 25.

440
As medidas foram realizadas em dois períodos, chuvoso e seco, compreendendo os
seguintes intervalos de tempo: Período chuvoso – 5/6 a 30/8 de 2011; Período seco – 25/2 a 31/3 de
2012.

Nível de conforto térmico

Na análise do nível de conforto térmico nos pontos monitorados durante os períodos seco e
chuvoso na área de estudo foi utilizado o índice bioclimático conhecido como índice de desconforto
de Thom – IDT (Thom, 1959). Esse índice descreve a sensação térmica que uma pessoa
experimenta devido às variações das condições climáticas de um ambiente. O IDT oferece uma
medida razoável do grau de desconforto para várias combinações de temperatura e umidade relativa
do ar, expresso em graus Celsius, e pode ser obtido pela seguinte equação:

IDT = T – (0,55-0,0055 UR)(T - 14,5) (1)

em que T é a temperatura do ar (ºC) e UR é a umidade relativa do ar (%). Na caracterização do


nível de desconforto térmico, utiliza-se a classificação apresentada na Tabela 2 (Giles et al., 1990).
Entretanto, a faixa de variação dos níveis de conforto térmico expresso por esse índice foi
ajustada às condições climáticas da área de estudo por Santos (2011), que foram utilizadas neste
trabalho (Tabela 3).

Tabela 2. Faixa de classificação do índice de desconforto de Thom (IDT).

IDT (º C) Nível de desconforto térmico


Faixas

1 IDT < 21,0 Sem desconforto

2 21,0 ≤ IDT < 24,0 Menos de 50% da população sente


desconforto

3 24,0 ≤ IDT < 27,0 Mais de 50% da população sente


desconforto

4 27,0 ≤ IDT < 29,0 A maioria da população sente desconforto

5 29,0 ≤ IDT < 32,0 O desconforto é muito forte e perigoso

6 IDT ≥ 32,0 Estado de emergência médica

Fonte: Giles et al. (1990)

441
Tabela 3. Faixa de classificação do índice de desconforto de Thom (IDT) ajustado às condições
climáticas da cidade de João Pessoa.

Faixas IDT (º C) Nível de desconforto


térmico

1 IDT < 24,0 Confortável

2 24 ≤ IDT ≤ 26,0 Parcialmente confortável

3 26 < IDT < 28,0 Desconfortável

4 IDT ≥ 28,0 Muito desconfortável

Fonte: Santos (2011).

Mapeamento do uso e ocupação do solo

O resultado obtido neste plano de trabalho e utilizado nesta pesquisa está exposto na figura
3.

Figura 3: Mapa do Uso e Ocupação do Solo da cidade de João Pessoa/PB (2008).

442
RESULTADOS E DISCUSSÕES

A composição do recobrimento do solo urbano está diretamente associada à formação de


ilhas de calor e ao desconforto térmico sentido pela população. Esses tipos de uso e de ocupação do
solo podem afetar diretamente as condições urbanas locais de cada ponto analisado. Entre outros
aspectos, a presença da vegetação funciona como fator amenizador termodinâmico, pois sua
atividade consome parte da energia disposta no ambiente, reduzindo seus efeitos.
Serão apresentadas a seguir as análises realizadas em cada ponto monitorado, destacando a
relação entre o tipo de cobertura do solo e a sensação térmica da população.

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos na pesquisa fica evidente a influência positiva que tem
a presença de vegetação para um melhor conforto térmico, considerando o caso do Ponto 01 (Mata
do Buraquinho).

De outro lado, percebe-se uma pior condição de conforto em locais onde está ocorrendo um
maior adensamento populacional e de edificações, notadamente devido ao processo de
verticalização que está ocorrendo em João Pessoa. Esse fato pode ser observado inclusive em áreas
que normalmente são consideradas com maior amenidade, caso dos bairros de Manaíra e Cabo
Branco, na faixa litorânea da cidade.

REFERÊNCIAS

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445
PROBLEMAS AMBIENTAIS E URBANOS NA COMUNIDADE BELA VISTA NO BAIRRO
DO CRISTO, JOÃO PESSOA, BRASIL

58
Elisângela de Araújo BARBOSA (UEPB)

elisangelaz10@hotmail.com
59
Randson Modesto Coêlho da PAIXÃO (UEPB)

randsonmodesto@gmail.com
60
Suelen Cláudia Barbosa LOPES (UEPB)

suelen-bio@hotmail.com
61
Bruno FERREIRA (UFPE)

brunge2005@gmail.com

Resumo

Este estudo tem por objetivo listar os eventuais problemas ambientais e urbanos existentes no
conjunto Bela Vista e propor possíveis soluções. O conjunto Bela Vista esta inserido no bairro do
Cristo, João Pessoa, Paraíba. O estudo foi feito em jul/2011. Em uma etapa inicial foram listados
possíveis problemas ambientais e urbanos a partir do qual foi elaborado um check list.
Posteriormente aplicado em campo para identificação dos problemas existentes no local de estudo e
elaborar possíveis soluções. Dos problemas existentes no check list um esta relacionado ao clima,
três relacionados ao solo e 15 problemas de ordem urbana. A partir desses resultados pode-se
concluir que a listagem dos problemas foi eficaz para a detecção problemas ambientais e urbanos
presentes no local de estudo. Assim como a implantação de mecanismos de sustentabilidade e a
participação efetiva da população.

Palavras-chaves: zoneamento ambiental, planejamento ambiental e populacional

58
Estudante de graduação de Ciências Biológicas
59
Estudante de graduação de Ciências Biológicas
60
Profissional – Bacharel em Ciências Biológicas
61
Professor orientador
446
Abstract

This study aims to list the possible environmental and urban problems existing in Bela Vista
community and propose possible solutions. Bela Vista is inserted in Christ neighborhood, João
Pessoa, Paraiba. The study was done in Jul/2011. In the initial stage were listed potential
environmental issues and urban from which was drawn up a checklist. Later applied in the field to
identify existing problems at the study site and develop possible solutions. Existing problems in the
check list one is related to climate, three related problems of soil and 15 urban order. From these
results it can be concluded that the list of problems was effective for detecting environmental
problems and urban present at the study site. As the deployment of mechanisms for sustainability
and effective participation of the population.

Keywords: environmental zoning, environmental planning and population

Introdução

O crescimento acelerado e desordenado das cidades se tornou uma preocupação frequente no


mundo contemporâneo, sendo discutido por diferentes autores seus impactos sob os aspectos
políticos, econômicos, sociais e/ou ambientais em nossa sociedade. Nos países desenvolvidos,
populações rurais ao longo dos anos passaram a migrar para os grandes centros urbanos, visando
encontrar condições que garantissem a melhor qualidade de vida para suas famílias, aglomeraram-
se principalmente nas regiões mais periféricas, formando os denominados complexos suburbanos, o
que acarretou em grandes tormentos de poluição, violência e pobreza (Gouveia 1999).
É evidente que o crescimento desordenado ocasionou muitos desequilíbrios nas cidades,
desde ocupações em locais de risco ao desenvolvimento de subnúcleos populacionais em áreas de
periferia sem acesso aos serviços públicos (Azevedo 2004). Associado a este problema esta, a
diminuição da aplicação do papel do governo municipal nas áreas sociais visíveis como por meio da
falta de financiamentos a saúde, educação, infraestrutura pública e sanitária, conservação do meio
ambiente, etc. (Zirkl 2003).
Vinculado à questão territorial bem especifica da cidade esta o planejamento urbano. Este
visa à manutenção da ordem nas cidades (Azevedo 2004) e as principais estratégias para o
desenvolvimento sustentável (Gouveia 1999), por meio do Zoneamento ambiental e urbano. Essa
ferramenta de análise favorece a delimitação de áreas críticas, especificando os problemas em
relação à vulnerabilidade do meio físico e biótico, separando posteriormente as zonas de restrição e
ocupação de uso e atividades humanas (Carvalho & Barbosa 2010).

447
Tendo em vista estes aspectos, objetivou-se listar os eventuais problemas ambientais e
urbanos existentes em uma comunidade, e propor possíveis soluções.

Materiais e Métodos

Área de Estudo – O município de João Pessoa localiza-se no litoral da Paraíba, nordeste do


Brasil. O conjunto Bela Vista, é uma comunidade inserida no bairro do Cristo, este se encontra na
porção oeste da cidade, sob as coordenadas 7°09‘47‖S e 34°52‘44‖O (Fig.1). De acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2009) estima-se que a população do bairro
compreenda cerca de 37 mil habitantes, sendo o segundo bairro mais populoso do município. O
conjunto Bela Vista foi criado para atender a população carente que necessitava de moradia entre
1989- 1990 (Fig.2).

Fig. 1. Localização do bairro do Cristo na Cidade de João Pessoa- PB. Em vermelho a delimitação do perímetro do
bairro. Imagem: autores.

448
Fig. 2. Localização do Conjunto Bela Vista. À esquerda, em amarelo destaca-se a delimitação do bairro do Cristo, em
vermelho a localização do Conjunto Bela Vista. À direita, em vermelho observa-se uma ampliação do Conjunto Bela
Vista. Fonte: Google Earth, com adaptações.

Métodos - O trabalho ocorreu em junho de 2011, obedecendo aos procedimentos instituídos


pela disciplina ―Planejamento e Zoneamento Ambiental‖ do curso de Ciências Biológicas da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A pesquisa consistiu em duas etapas. Na primeira foi feito uma listagem prévia com 33
possíveis problemas ambientais e urbanos que poderiam ser observados em campo, o qual
constituiu o check list. A escolha dos problemas identificados segundo Soares e colaboradores
2006, deve-se ao fato destes serem problemas que afetam todos os recantos dos limites urbanos da
cidade; e por serem problemas ambientais que determinam a própria qualidade de vida da
população que nela habitam.
Em um segundo momento, ocorreu a aplicação do mesmo no local de estudo, de forma a
abranger todo o perímetro e o centro do conjunto. Após a identificação dos problemas, foi feito uma
listagem com as possíveis soluções.

Resultados e Discussão

Dos trinta e quatro problemas relacionados no check list, 19 foram encontrados no local de
estudo, os quais foram distribuídos em três grupos: Clima (1), Solo (3) e Urbano (15) (Tabela 1).

Tabela 1. Identificação e descrição dos problemas ambientais e urbanos encontrados no conjunto


Bela Vista.

449
Clima
Alteração do microclima local

Solo
Erosão
Compactação
Impermeabilização

Urbano
Ausência de acessibilidade para portadores de deficiência
Calçadas irregulares
Terrenos baldios
Transporte público insuficiente
Ausência de creche
Ausências de posto de saúde
Ausência de um posto de policia
Ruas estreitas e mal sinalizadas
Ligação clandestina e obstrução nas redes de esgotos
Obstrução das galeriais pluviais
Coletas de lixo irregular
Deposição de lixo de forma irregular
Alagamentos temporários
Pragas urbanas
Retirada da vegetação para construção de casas

No que se refere ao Clima, as diferenças microclimáticas são facilmente percebidas entre o


perímetro externo e centro do conjunto, tornando-se quente à medida que se adentra no local.
Os problemas ambientais relacionados ao solo são visíveis em alguns locais, a erosão e a
compactação do solo, por exemplo, estão presentes em ruas sem calçamento, enquanto a
impermeabilização ocorre nas ruas calçadas. Independentes do local em que ocorram, estes
processos causam transtornos à população, pois além de dificultar a passagem de automóveis e por
vezes pedestres, aumentam o risco de alagamentos em períodos de chuva.
O meio urbano foi o grupo o que apresentou a maior quantidade de problemas, estes por sua
vez existem de forma interligada entre si, como também com os problemas ambientais. Os
problemas urbanos e suas possíveis soluções estão relatados a seguir.

 Ausência de acessibilidade para portadores de deficiência: Nas ruas do conjunto não foram
encontradas nenhum de acessibilidade a portadores de deficiências, com isso, o direito de ir

450
e vir de todo cidadão fica comprometida, seriam necessário construir calçadas com
acessibilidade;
 Calçadas irregulares: A comunidade é formada por calçadas estreitas e irregulares, o que
dificulta a passagem dos pedestres, podendo ainda provocar acidentes, como quedas por
exemplo, Além disso, podem dificultar um correto escoamento das águas da chuva,
formando poças. Faz-se necessário a implantação de um programa de incentivo a calçada
ecológica (Almeida & Ferreira, 2008), que além de favorecer o caminhar, evita acidentes, e
ainda possibilita o escoamento correto das águas pluviais.
 Terrenos baldios: Os terrenos baldios presentes no local constitui um grande problema para
a comunidade, pois servem de deposito de lixo, favorecendo a proliferação de pragas
urbanas e mal cheiro (Fig. 3). Estes terrenos poderiam ser utilizados para construção de
praças ou áreas de lazer e ainda para a criação de uma horta com o incentivo da prefeitura na
redução do IPTU (Imposto sobre a propriedade Territorial Urbana), (Plantando Vida, 2012).
 Deposição de lixo de forma irregular: Este problema ocorre principalmente em terrenos
baldios e em calçadas (Fig. 3), sendo necessário melhorar o sistema de limpeza, proposto
anteriormente e implementar medidas de educação ambiental junto à população.

Fig. 3: À esquerda, deposição de lixo em terreno baldio. À direita, deposição de lixo em calçadas

 Coletas de lixo irregular: A coleta de lixo é irregular em algumas áreas pois algumas ruas
são muito estreitas, o que impossibilita a passagem, uma solução adequada para este
problema seria a implantação da coleta seletiva e do acordo verde (acordo simbólico onde o
morador concorda em separar seu lixo e a prefeitura faz a coleta porta a porta através os
agentes ambientais). E também disponibilizar coletores em áreas estratégias, assim evitaria
jogar o lixo nas calçadas e nos terrenos baldios.

451
 Ligação clandestina nas redes de esgotos e obstrução das galerias pluviais: Em vários pontos
da comunidade foi verificada ligações clandestinas de nas redes de esgotos, e obstrução das
vias pluviais, as quais se apresentavam entupidas com terra e lixo (Fig 4). Para resolver este
problema é necessário a produção de materiais educativos e didático-pedagógicos (ProNEA,
2005), a qual deve ser distribuída aos moradores. Realizar a desobstrução das galerias
pluviais e interromper as ligações clandestinas de esgoto.

Fig. 4: Galerias de esgotos e fluviais obstruídas. Canto superior esquerdo, boca de lobo com deposição de lixo.
Canto superior direito, ligação clandestina de esgoto. Cantos inferiores, galerias pluviais obstruídas com terra e
lixo. Fotos: autores.

 Alagamentos temporários: Estes problemas estão mais presentes nos períodos chuvosos.
Para evitá-los se faz necessário a manutenção dos sistemas de drenagem pluvial, juntamente
com medidas de educação ambiental.

452
 Pragas urbanas: As pragas urbanas são provenientes da deposição inadequada do lixo. Para
resolver este problema é necessário implementar medidas educativas sobre descarte correto
do lixo, além de ser realizada limpeza periódica no local.
 Retirada da vegetação para construção de casas: Muitos moradores efetuaram o corte das
arvores que se encontravam em seu terreno para construís pequenas vilas. Se faz necessário
Arborização em áreas estratégicas.
 Transporte público insuficiente: O transporte público é uma necessidade básica do cidadão
que precisa utilizar este meio para o trabalho ou mesmo ir à escola. O tempo de espera gira
em torno de uma hora, e em horários de pico existe o problema da superlotação. Estes
problemas poderiam ser resolvidos aumentando-se a frota de ônibus e diminuindo o tempo
de espera
 Ausência de creche, posto de saúde e posto de policia: Educação, saúde e segurança, são
elementos fundamentais para um desenvolvimento de crianças e jovens, sendo assim é
necessário a construção de uma creche, implantar o PSF - Programa de Saúde Familiar e
reativar o posto policial que existia no local.
 Ruas estreitas e mal sinalizadas: As ruas da comunidade são estreitas, e muitas vezes com
calçamento comprometido. A falta de sinalização no local, pode provocar acidentes. É
necessário aumentar a sinalização e realizar manutenção das ruas. Implantar medidas de
educação para o trânsito.

Para que as soluções apresentadas sejam efetivamente concretizadas, é de extrema


importância, que a população participe e também fiscalize as ações realizadas pela própria
comunidade e também do poder público. A população só será capaz de realizar tal tarefa, quando
conhecer os problemas e tiver acesso aos meios de solucioná-los, e isso só ocorrerá através de
mudanças culturais e educacionais. Para isso, projetos de educação ambiental devem ser
implantados e seguidos rigorosamente. A educação ambiental é de fundamental importância para
que as camadas desta classe continuem nas suas reivindicações por melhores condições de vida,
pela democracia e pela cidadania.

Conclusão

Neste estudo verificou-se a importância do método chek list para detecção de problemas
ambientais e urbanos ocorrentes na comunidade Bela Vista, o que permitiu propor medidas e ações
direcionadas e que carecem ser implementadas. Dentre os problemas listados verificou-se que os
mais agravantes estiveram relacionados meio antrópico.

453
Para que as soluções apresentadas sejam efetivamente concretizadas, faz-se necessário a
implementação nos mecanismos de sustentabilidade, previstos em qualquer programa ou sistema de
gestão ambiental. O envolvimento da população é de extrema importância para a fiscalização no
processo de implantação das medidas mitigadoras por parte do poder público.

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ZIRKL, F. Desenvolvimento urbano de Curitiba (Brasil): Cidade modelo ou uma exceção? Atlas de
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454
PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS COMERCIANTES E FREQUENTADORES
DO MERCADO PÚBLICO DA MADALENA – RECIFE - PE

Lucicleiton Leandro da Silva de MELO (DCFL/UFRPE)

lucicleitonl@hotmail.com

Marília Isabelle Oliveira da SILVA (DCFL/UFRPE)

marília.iosilva@gmail.com

Claudenice Paulino da SILVA (FMA)

tecclaudenice@hotmail.com

Marcelo NOGUEIRA (DCFL/UFRPE) –

mnogueira_ufrpe@yahoo.com.br

Resumo

O Mercado Público da Madalena é parte integrante da história do Recife sendo de importância


gastronômica, cultural e história para todo população contemporânea, com sua arquitetura
imponente onde há um pórtico na sua parte frontal, bem no ápice da fachada, o antigo brasão do
Recife marcado por inúmeras passagens política e social ao longo da história recifense. O Mercado
é um local de encontros sociais entre jovens, personalidades políticas e artísticas. Também, um
local de preservação da cultura local/regional, culinária e relação social. Em função dessas
características, realizou-se um diagnóstico socioambiental no Mercado da Madalena para avaliar a
percepção ambiental dos frequentadores e comerciantes do mercado, como forma de conhecer os
impactos positivos e negativos sobre o meio ambiente. Diante dos questionamentos, observou-se
um problema central aos dois públicos entrevistados: a falta de informação no que concerne a
história do mercado e a relação, de ambos, com o meio ambiente.

Palavras chaves: percepção socioambiental, impacto ambiental, mercado da madalena.

Abstract

The Public Market is part of the Magdalene in the history of Recife is important gastronomic,
cultural and contemporary history for all people, with its imposing architecture where there is a
porch on the front and at the height of the facade, the old coat of Recife marked by numerous
455
passages and social policy throughout history Recife. The Market is a place for social gatherings
among young people, political and artistic personalities. Also, a local preservation of local culture /
regional cuisine and social relationship. Due to these characteristics, there was a diagnosis of
environmental marketing Magdalene to assess the environmental perception of the regulars and
market traders as a way to know the positive and negative impacts on the environment. Given the
questions, there was a problem central to both public respondents: lack of information regarding the
history of the market and the relation of both to the environment.

Keywords: environmental awareness, environmental impact, market Magdalene.

INTRODUÇÃO

Os Mercados Públicos constituem patrimônios imateriais e culturais de uma cidade porque


oferecem diversos produtos e serviços em um único local e são palco para diversos acontecimentos
artísticos, políticos e intelectuais (PINTAUDE, 2010). A necessidade de consumo do homem de
bens duráveis e não-duráveis trouxe para as cidades esses grandes mercados públicos nos quais
disponibilizam serviços e comercialização de artesanatos, venda de gêneros alimentícios (quitandas,
peixarias, açougues) e de comidas prontas (bares, lanchonetes e restaurantes), (OLIVEIRA et al,
2008).
A realização de um diagnóstico socioambiental no Mercado da Madalena, de uma forma
geral estabelece uma descrição macro do mercado, que norteia o ambiente social, baseado na
percepção dos frequentadores e comerciantes. Além de avaliar pontos negativos, positivos e
levantar alternativas de melhoramento. Segundo Barros (2008), o diagnóstico socioambiental é um
instrumento que analisa as características socioambientais de um determinado lugar, levantando os
seus principais problemas sociais e ambientais e alternativas viáveis de solução para os mesmos.
Também se buscou uma percepção ambiental dos comerciantes e frequentadores e, segundo
Fernandes et al. (2010), percepção ambiental pode ser definida como uma tomada de consciência do
ambiente pelo homem, ou seja o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a
proteger e a cuidar do mesmo. É importante a preservação os mercados públicos por eles serem um
ambiente histórico e cultural que contribui nas entrelinhas para o resgate da história de um
determinado espaço geográfico.
O Mercado da Madalena, considerado de grande importância histórica para Pernambuco, é
um dos mercados integrantes da rede de mercados públicos da cidade do Recife. Sua construção
teve início em 6 de fevereiro de 1925 e em 19 de novembro do mesmo ano foi inaugurado. Foi
denominado Mercado Bacurau, pois funcionava apenas no horário da noite. As terras foram doadas

456
por Duarte Coelho62 ao cunhado Jerônimo de Albuquerque. Depois de sua morte, foram divididas
entre os filhos que, por sua vez, as passaram adiante. Uma dessas partes foi adquirida por Pedro
Afonso Durol, casado com dona Madalena Gonçalves Furtado. Ali o proprietário implantou um
engenho de açúcar, movido por animais. A propriedade, onde se construiu o Sobrado Grande de São
João Alfredo - casa grande do engenho -, ficou conhecido como Passagem de D. Madalena. Ainda
hoje é ponto de encontro de boêmios... (CSURB, 2010) que se deliciam de belos petiscos da
culinária regional (sarapatel, guisados e etc). O mercado tem grande importância na cultura e na
gastronomia (CSURB, 2010). Funciona em sua parte externa uma praça de alimentação durante 24
horas, com comidas típicas e um grande contingente de frequentadores funcionando também como
bar.
Apesar de ser de grande importância histórica, ainda é pouco explorado culturalmente.
Entretanto, o mercado da madalena é um dos poucos mercados públicos que possui uma praça de
lazer, arborizada com espécies da mata atlântica proporcionando um ambiente agradável. Diante da
sua relevância histórica, este trabalho tem como objetivo avaliar a percepção ambiental dos
comerciantes e frequentadores do mercado público da Madalena, por meio da construção e
aplicação de um questionário semi-estruturado abordando aspectos socioambiental.

MATERIAL E METÓDOS

O Mercado da Madalena está localizado no Bairro da Madalena na Praça Solange Pinto


Melo, Rua Real da Torre, n° 270 - Recife-PE. O horário de funcionamento é das 6:00 às 18:00
horas. O Mercado possui uma estrutura de aproximadamente 180 boxes de comercialização de
utensílios domésticos, artesanatos, comidas típicas do nordeste, bares, lanchonetes, sapataria, venda
de animais de estimações, rações e pássaros. Abrangendo 980m² de área construída,
aproximadamente 3000 pessoas frequentam o mercado diariamente. O abastecimento de água é
fornecido parte pela COMPESA e parte por um poço artesiano de água com profundidade
aproximada de 12,0 m, enchendo assim a caixa d‘água com 5000 litros servindo de abastecimento
intermediário ao da rede pública de água para mercado.
Para análise da percepção ambiental dos comerciantes e frequentadores do mercado público
da Madalena e como forma de dimensionar em gráficos estatísticos sua avaliação perante as
questões socioambiental, foi aplicado um questionário com perguntas de múltipla escolha
abordando aspectos sociais, econômicos e ambientais do mercado. Ressaltando-se que o objetivo da

62
―Duarte Coelho foi o primeiro donatário da Capitania Hereditária de Pernambuco, e fundador de Olinda. Nasceu em
Miragaia, talvez em 1485, e morreu em Portugal em 7 de agosto de 1554. Foi fidalgo, militar e
administrador‖(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Duarte_Coelho_Pereira).

457
aplicação dos questionários visa uma análise qualitativa do contingente de pessoas que frequenta o
mercado da Madalena.
Com base no questionário socioambiental elaborado pela Sociedade Nordestina de Ecologia
– SNS (2007) para construção da agenda 21 local em quatro comunidades do município do Cabo de
Santo Agostinho, foi adaptado para realidade do mercado público da madalena, como menciona
Fernandes et al. (2010), que ―... tal questionário deverá estar estruturado à luz dos objetivos a que
se pretende como pesquisa e, sobretudo, considerar o tipo/nível dos entrevistados‖.
O diagnóstico foi feito seguindo critérios metodológicos bem traçados para garantir
legitimidade na coleta de dados e na análise das informações relacionadas ao Mercado da
Madalena. Foram seguidas três etapas na elaboração do diagnóstico:
Na etapa um, foi feito o reconhecimento do mercado: números de boxes cadastrados,
história do mercado, estrutura, comercialização e localização. De posse dos dados foram
selecionados 16 boxes, aleatoriamente, para compor a amostra a serem pesquisadas por meio do
questionário socioambiental, representando um contingente de 8,3% do total de boxes existentes.
Foi realizada uma ―consulta na Companhia de Serviços Urbanos do Recife – CSURB, ligada a
Secretaria de Serviços Públicos, órgão responsável pela administração dos mercados públicos de
Recife – Pernambuco‖ com o objetivo de buscar informação sobre o mercado da Madalena.
A etapa dois consistiu da aplicação do questionário sócio-ambiental para os comerciantes
com trinta e cinco perguntas de múltipla escolha que abordava aspectos relacionados à: condições
de trabalho; infra-estrutura e qualidade de vida. Concomitantemente, aplicar-se-á um questionário,
com quatorze perguntas objetivas à 14 frequentadores presente no mercado, escolhidos
aleatoriamente, na busca de uma percepção ambiental dos entrevistados em relação ao Mercado da
Madalena.
Na etapa três realizar-se-á a tabulação e análise dos dados e informações coletadas, além da
elaboração de gráficos comparativos, sistematização e síntese dos mesmos. Com base na
sistematização dos dados, pode-se traçar e analisar o perfil socioambiental dos comerciantes e
frequentadores do Mercado Público da Madalena.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Perfil dos entrevistados

Na figura 1, são apresentados a distribuição quantitativa em percentual dos comerciantes e


frequentadores entrevistados por gênero. Dos comerciantes entrevistados, 50% das pessoas são

458
mulheres e 50% são homens, no que concerne aos frequentadores temos 86% homens e 14 mulheres
(Gráfico 1).

Gráfico 1- Divisão de gênero dos comerciantes e frequentadores do mercado.

Diante dos dados coletados no mercado da Madalena, observa-se que o mesmo possui um
expressivo número de comerciantes com faixa etária entre 51 a 64 anos (Gráfico. 2). Enquanto que
os frequentadores do mercado entrevistados têm faixa etária entre 18 a 64 anos, revelando que é um
público diversificado de pessoas que frequentam o mercado da Madalena. A maioria dos
entrevistados tinha entre 51 a 64 (56%) e 31 a 40 (43%) anos de idade. Os comerciantes entre 31 a
40 e 41 a 50 anos de idade ficaram empatados com 19% e os frequentadores entre 18 a 30 e 51 a 64
com 14% do total dos entrevistados. Faz-se necessário salientar a importância dos adolescentes
entre 10 a 17 anos nesses espaços históricos, como forma de manter viva, e não se perde a valor
cultura do mercado da Madalena.

Gráfico 2 - Distribuição da quantidade de pessoas entrevistadas por faixa etária.

A escolaridade também foi outro aspecto considerado no levantamento do perfil dos


entrevistados conforme gráfico 3. Nesse aspecto verificou-se que a maioria dos comerciantes, 31%,
tem como nível de escolaridade o Ensino médio ou o superior completo, desmistificando a ideia de
que o trabalho em mercados públicos é fundamentalmente constituído de pessoas de níveis de
escolaridades baixa, sem instrução acadêmica. No caso dos frequentadores observa-se que 57% têm
ensino superior completo e 21% incompleto. Os níveis de escolaridade que apresentaram os maiores
459
percentuais entre os comerciantes e frequentadores foram: ensino médio completo com 31%
seguido do ensino superior completo com 57%.

Gráfico 3 Nível de escolaridade dos comerciantes e frequentadores do mercado.

Condições de Trabalho

Em termos de condições de trabalho foi constatado que 44% dos entrevistados trabalham no
mercado Madalena há mais de dez anos, seguido de 31% há cinco anos (Gráfico 4). Este percentual
mostra a relação e identificação que os comerciantes construíram ao longo do tempo com o
mercado, relação essa que vai além de um mero trabalho de feirante, mas sim de uma atividade em
um ambiente externo à sua casa com relações sociais de afeto e conflitos.

Gráfico 4 - Tempo de trabalho dos comerciantes no mercado da Madalena.

Foi perguntado também, aos comerciantes se eles conheciam a história do mercado da


Madalena, 37% responderam que conheciam e 63% não conheciam (Gráfico 5) dado esse que é
preocupante no que concerne a perda da disseminação do valor histórico do Mercado da Madalena,
por que como mostra a figura 4, 44% dos comerciantes trabalham no mercado há mais de dez anos

460
e não conhecem sua história. Porém foi perguntado se sabiam da importância histórica, 38%
responderam que sim e 62% opinaram que não (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Conhecimento da importância histórica do mercado pelos comerciantes.

No questionário socioambiental aplicado, cerca de 31% dos comerciantes entrevistados


comercializam animais domésticos (são aqueles que estão adaptados a presença humana) e animais
silvestres e 69% não comercializa animais, sendo que dos trinta e um por cento, 80% tem licença
para venda de animais enquanto 20% não possui o devido documento legal (Gráfico 6) .
Constatou-se no ato da aplicação do questionário a venda de uma Arara-azul espécie do
bioma da amazônica, que encontra-se em processo de extinção (Figura 1). A arara-azul teve sua
população bastante reduzida devido a três fatores principais: a captura para o comércio nacional e
internacional, a descaracterização do seu habitat e a coleta de penas para adornos indígenas
(GUEDES, 2010), sendo vendida no Mercado da Madalena por um valor de três mil reais, levando-
nos a uma reflexão: quanto vale uma espécie ameaçada de extinção do planeta Terra?

Gráfico 6 – Comercialização de animais o mercado. 461


Figura 1 – Comercialização da espécie Sivestre Arara-Azul (Cyanopsitta spixii) no
mercado.

Quanto à separação e o recolhimento do lixo por tipo de materiais visando sua destinação
adequada para não poluição dos recursos naturais, praticando a redução, reutilização e reciclagem
dos resíduos, 94% dos entrevistados responderam que não praticam a coleta seletiva em seu
ambiente de trabalho, seguido de 6% que não sabem o que é coleta seletiva (Gráfico 7).

Gráfico 7 – Nível de conhecimento do que é coleta seletiva.

Qualidade de Vida

No questionário pediu-se que os entrevistados avaliassem o atendimento ao portador de


deficiência. Na percepção dos comerciantes 31% responderam que é bom, 25% consideram que é
regular e outros 25% opinaram que não existe. Apenas 13% consideram ruim, porém 6% não
souberam opinar. Já em relação aos frequentadores 50% consideram ruim, 21% bom e 14% regular
(Gráfico 8). Na prática o acesso ao deficiente está muito precário precisando de manutenção e
reestruturação dos locais internos do mercado da Madalena.

462
Gráfico 8 – Avaliação do atendimento ao portador de deficiência.

No mercado existem atividades culturais que são realizadas esporadicamente, como por
exemplo, o forró itinerante que sai pelo mercado tocando musicas do gênero pé de serra. Na
avaliação de 75% dos comerciantes que responderam o questionário sócio-ambiental a programação
cultural é boa, porém 19% avaliam a programação regular e apenas 6% consideram ruins. No ponto
de vista dos frequentadores 50% avaliam como boa, 29% como regular e 21% ruim (Gráfico 9).

Gráfico 9 – Avaliação de programações culturais no mercado.

À poluição sonora foi outro aspecto importante abordado no questionário. Nesse aspecto se
verificou que a maioria dos comerciantes cerca de 56%, consideram o nível de poluição sonora boa,
regular 6%, ruim 31% e não souberam opinar 6%. Em relação aos frequentadores, 36% consideram
boa e regular e 29% avaliam como ruim (Gráfico 10).

Gráfico 10 – Avaliação do nível sonora no mercado.

463
Diante dos dados coletados, fica constatado que na opinião dos entrevistados a poluição
sonora no mercado da madalena é avaliada como boa, tendo em vista que não dispusermos de
equipamento que nos informasse com precisão o nível de poluição sonora ali existente.
Sabendo-se que a Organização Mundial da Saúde - OMS estabelece parâmetros de poluição
sonora, que são: limite tolerável ao ouvido humano é de 65 dB, acima disso, o organismo sofre
estresse, e aumento o risco de doenças. Com ruídos acima de 85 dB aumenta o risco de surdez,
impotência sexual, hipertensão arterial, enfarte, distúrbios neuropsíquicos e psicológicos, perda de
concentração além de tensão nervosa. (SEMAS, 2007)
Com relação à qualidade do ar, o diagnóstico revelou que em primeiro lugar, 50% dos
comerciantes consideram boa a qualidade do ar, enquanto que 19% acha regular e 31% consideram
ruim. Na análise dos frequentadores é considerada regular em primeiro lugar com 50%,
acompanhada de 36% boa e 14% ruim a qualidade do ar no Mercado da Madalena (Gráfico 11).
Observamos, portanto, de acordo com a percepção dos comerciantes, o ar atmosférico e avaliado
com bom, por outro lado, os frequentadores acham regular.

Gráfico 11 – Avaliação a qualidade do ar no mercado.

O mercado da Madalena em termos de infra-estrutura possui Box, rede de esgoto, água


encanada, energia elétrica. Porém, carece de sinalização de estandes, armazenamento adequado dos
resíduos, banheiros higiênicos, responsabilidade sócio-ambiental. Partindo destas dificuldades
foram perguntados aos próprios comerciantes quais os aspectos de qualidade de vida e meio
ambiente que os mesmos acham que deve ser melhorados no mercado da Madalena.
Neste sentindo, constataram-se no diagnóstico que, 38% dos comerciantes priorizam o
gerenciamento dos resíduos sólidos, outros 38% avaliam como sendo o saneamento e esgoto
sanitário o prioritário no mercado da Madalena. Entretanto, 13% responderam que precisam ser
melhorados os locais de alimentação, seguidos com o mesmo percentual poluição sonora e do ar. Os
frequentadores destacam com 50% o saneamento como prioritário, segundo destinação dos resíduos
com 29% e por último com 21% locais de alimentações (Gráfico 12).
464
Gráfico 12 – Prioridade de ações de melhoramento do mercado.

Os problemas sócio-ambientais são situações negativas existentes que afetam a qualidade de


vida das pessoas e o ambiente. Podem ser situações que afetam diretamente o ambiente físico
alterando de forma prejudicial a sua qualidade... ou podem ser algum comportamento social ou
individual que esteja provocando a degradação ambiental (BARROS, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidenciou a percepção ambiental dos feirantes e frequentadores do Mercado


Público da Madalena, no que concernem a diversos aspectos socioambientais, tanto de forma
macro, quanto micro, possibilitando assim conhecer melhor a realidade local. Neste sentido, a partir
da pesquisa realizada, podemos apontar alguns aspectos sobre a percepção ambiental dos
entrevistados do Mercado da Madalena:

- Existe a falta de manutenção e monitoramento do sistema de rede de esgoto, pois, o mesmo


encontra-se em condições precárias de escoamento dos efluentes do mercado, uma vez que
foi avaliado pelos os entrevistados negativamente, tendo como fator agravante os resíduos
sólidos associado a não prática da coleta seletiva pela maioria dos feirantes, evidenciando
assim a importância de discussão da temática no âmbito do gerenciamento de resíduos
sólidos;
- Há por parte dos entrevistados uma concordância no que diz respeito aos níveis de
poluição sonora, pois, os mesmos, comerciantes (56%) e frequentadores (36%), consideram
boa, entretanto, o mercado encontra-se em meio a um conglomerado urbano. A qualidade do
ar foi considerada pelos comerciantes e frequentadores como boa (50%) e regular (50%),
respectivamente.

465
- Existe uma carência por parte dos comerciantes em saber e conhecer a importância
histórica do Mercado da Madalena, pois, manter viva a história do mercado é de suma
importância para manutenção e perpetuação da cultura ancestral e histórica do Recife.
- Existe também a falta de conscientização socioambiental que busque trabalhar com os
feirantes e frequentadores campanhas de educação ambiental tratando dos problemas
inerentes ao mercado, na perspectiva de contribuir com a manutenção da história artística e
cultural do Mercado da Madalena.

Diante dessas análises foi possível identificar um problema central concomitante aos dois
públicos entrevistados: A falta de informação no que concerne a história do mercado e sua relação
com o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

BARROS, A. P.; SILVEIRA, K. A.; NASCIMENTO, A. P.; MELO, L. L. S. Projeto educar para
preservar: Diagnóstico socioambiental e plano de ação. Cabo de Santo Agostinho, PE: Rede de
Defesa Ambiental, 2008.

CSURB. Histórico dos Mercados. Disponível em:


<http://www.recife.pe.gov.br/pr/servicospublicos/csurb/mercados.php#5>. Acesso em: 10 de agosto
de 2010.

FENANDES, R. S.; SOUZA, V. J. ; PELISSARI, V. B. ; FENANDES, S. T. Uso da Percepção


Ambiental com Instrumento de Gestão em Aplicação Ligadas às áreas Educacional, Social e
Ambiental. Disponível em: <http://www.redeceas.esalq.usp.br/noticias/Percepcao_Ambiental.pdf>.
Acesso em: 10 de agosto de 2010.

GUEDES, N. M. R. Araras Azuis: 15 anos de estudos no pantanal. Disponível em: <


http://www.projetoararaazul.org.br/Arara/Portals/0/PDF/Guedes,%202004%20-
%20Projeto%20Arara%20Azul%2015%20anos%20-%20SIMPAN.pdf>. Acesso em: 14 de agosto
de 2010.
LIMA, C. M. O imaginário sobre o trabalho e suas representações no cotidiano dos comerciantes
do mercado público em Pernambuco. Ciências & Cognição, local, Vol. 03, p.13-20, novembro de
2004.

PINTAUDE, S. M. Os mercados públicos: metamorfose de um espaço na história urbana.


Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-81.htm>. Acesso em: 10 de agosto de 2010.

466
RBA Oliveira; MBQ Rolim; APBL Moura; RA Mota. Avaliação higiênico-sanitária dos boxes que
comercializam carnes em dois mercados públicos da Cidade do Recife-PE/Brasil. Medicina
Veterinária, Recife, v.2, n.4, p.10-16, 2008.

SEMAS, Poluição Sonora – Panfleto. Cabo de Santo Agostinho, PE: Secretária de Meio Ambiente
e Saneamento, 2007.

467
MOBILIDADE INSUSTENTÁVEL NOS CENTROS URBANOS BRASILEIROS

Rafael de Mendonça ARRUDA (UFPB) - rafaelmend@ymail.com


Orientador: Dr. Sinval de Almeida PASSOS (DGE/UFPB) - sinvalapassos@yahoo.com.br

Resumo

Este trabalho procura relacionar as noções de urbano, meio ambiente e ecossistema, justificando os
paralelos entre eles, fundamentais na busca do desenvolvimento sustentável, passando por uma
análise dos instrumentos de política pública para se atingir a sustentabilidade. Pensar na
sustentabilidade das cidades é pensar na conservação e/ou preservação de todos os espaços -
inclusive os que não fazem parte de seus domínios -, além da busca por uma qualidade de vida
digna aos seus habitantes. Aceitamos que a busca por um meio ambiente equilibrado passa pela
qualidade do local onde vivemos - incluindo-se neste contexto mobilidade urbana, moradias dignas,
água de boa qualidade, coleta e tratamento de esgotos e lixo, lazer, livre acesso à cultura, à
educação, aos esportes, entre outros fatores relacionados à qualidade de vida. Considerando então,
que mais de 80 % da população total estão vivendo atualmente nas cidades, a discussão com foco
nas áreas urbanas é algo necessário e urgente, principalmente porque a baixa qualidade de vida tem
sido agravada cada vez mais. Por outro lado, dentro da noção de sustentabilidade das cidades, a
busca pela qualidade de vida acima mencionada, deve se dar de forma universal, considerando-se o
conjunto da população, e não de forma setorizada e excludente.

Palavras-chave: Sustentabilidade; cidades; meio ambiente.

Abstract

This work seeks to relate the concepts of urban environment and ecosystem, explaining the parallels
between them, the fundamental pursuit of sustainable development, through analysis of policy
instruments for achieving sustainability. Thinking about the sustainability of cities is thinking in
conservation and/or preservation of all spaces - including those who are not part of their domains -
in addition to the search for a decent quality of life for its inhabitants. We accept that the search for
a balanced environment is the quality of where we live - including in this context urban mobility,
decent housing, good water, collection and treatment of sewage and garbage, leisure, free access to
culture, education, sports and other factors related to quality of life. Considering then, that more
than 80% of the total population currently living in cities, the discussion focused on urban areas is
468
necessary and urgent, especially because the low quality of life has been increasingly aggravated.
Moreover, within the concept of sustainability of cities, the search for quality of life mentioned
above, should be given universally, considering the whole population, and not so sectored and
exclusionary.

Keywords: Sustainability; cities; environment.

Introdução

Conceituar sobre cidade não é tarefa fácil, isto porque, no Brasil, o seu conceito confunde-se
com o de município, ou seja, trata-se de uma definição jurídico-política. No Brasil, cerca de 80%
dos habitantes vivem em regiões urbanas, e a maior parte dessa população nas grandes metrópoles,
nas quais, se concentram a maior parte da população economicamente ativa, trabalhadores
autônomos ou empregados, que exerçam suas atividades no ambiente urbano das cidades.
Para entender as cidades, não basta apenas observá-las, é preciso verificar a sua dinâmica, a
sua geografia, a sua história, ou seja, é preciso observar a movimentação das pessoas que nelas
vivem, suas relações políticas, sociais, culturais e econômicas. As cidades possuem diferentes
dimensões e paisagens, e é cada uma dessas características, é que irão influenciar o seu processo de
crescimento espacial.

Meio Ambiente

Um de nossos direitos na Constituição Federal, é o direito a um meio ambiente sadio:

―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso


comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.‖ (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988 - CAPÍTULO VI -
DO MEIO AMBIENTE, Art. 225).

O meio ambiente pode ser entendido, basicamente, de duas maneiras: uma como sendo o
ambiente natural (natureza), com o ser humano externo a ele, ou abranger também os aspetos
culturais e, assim, as modificações do ser humano. Então o meio ambiente não é entendido como
apenas o meio natural, intocado, um pedaço da Terra onde a natureza é separada do homem, mas
como qualquer espaço em que vivemos, mesmo onde há a interação com o homem, suas
modificações ao meio, sua cultura, pois devemos notar que a espécie humana é mais uma espécie
fazendo parte do conjunto das espécies vivas da Terra.

469
Um bom exemplo da visão de hoje e no que acreditamos está em Neves & Tostes (1992,
p.17):

―Meio ambiente é tudo o que tem a ver com a vida de um ser...,ou de um grupo de
seres vivos... os elementos físicos..., os elementos vivos..., elementos culturais..., e a
maneira como esses elementos são tratados pela sociedade. Compõem também o
meio ambiente as interações destes elementos entre si, e entre eles as atividades
humanas. Assim entendido, o meio ambiente não diz respeito apenas ao meio
natural, mas também às vilas, cidades, todo o ambiente construído pelo homem.‖

Esta definição demonstra que a busca por um meio ambiente equilibrado, passa pela
qualidade do local onde vivemos, incluindo-se aí moradias dignas, água de boa qualidade, coleta e
tratamento de esgotos e lixo, lazer, livre acesso à cultura, à educação, aos esportes, entre outros
fatores relacionados à qualidade de vida. Ou seja, a noção de meio ambiente hoje, para o ser
humano, inclui a cidade e sua qualidade de vida. Devemos nos lembrar que mais de 80 % da
população total está vivendo atualmente nas cidades, o que faz da discussão com foco nas áreas
urbanas algo necessário e urgente, principalmente porque a baixa qualidade de vida nos centros
urbanos tem sido agravada, mais e mais.

Crescimento Urbano

Partimos do princípio de que nossas cidades foram, e continuam sendo, concebidas para o
automóvel, não só nas especificações de projetos, no planejamento ou políticas públicas, mas,
principalmente, porque há uma conjuntura social, política e econômica que tem consolidado o
automóvel como um ―mal necessário‖ e indispensável para efetivação das relações sociais. As
paisagens urbanas estão cada vez mais tomadas pela imagem dos automóveis, seja daqueles em
movimento, estacionados nos centros das cidades, ou aqueles parados em algum congestionamento
diário.
Muitos indivíduos não percebem que o preço do individualismo, faça com que, o número de
congestionamentos tenham tido um aumento diário em nossas cidades. E que a cada hora de
acréscimo em congestionamentos, tenha-se uma média de aumento em 20%, na emissão de
poluentes atmosféricos. Isso significa que as quatro maiores cidades brasileiras (São Paulo, Rio de
Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte), experimentaram nos últimos três anos, um aumento médio
de 60% de acréscimo, em emissão de poluentes nos locais de maiores congestionamentos.
O primeiro enfoque com relação à qualidade ambiental nas cidades brasileiras, considera
que a poluição do ar, é um dos grandes problemas, a ser enfrentado pelas grandes e médias cidades
brasileiras. Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
470
em parceria com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), considerou que os meios
de transportes são os maiores responsáveis pela poluição atmosférica, nos grandes centros urbanos
brasileiros, liderando o ranking de poluição do ar.
Através desse estudo, de Redução das Deseconomias Urbanas com a Melhoria do
Transporte Público efetuado pelo IPEA / ANTP, em 1998, estima que os gastos em
congestionamentos em 10 capitais pesquisadas, somem mais de 05 bilhões de reais a cada ano.
Segundo esse mesmo estudo, as condições desfavoráveis do trânsito nas cidades pesquisadas,
conduzem a quatro espécies de deseconomias no trânsito. I) aumento no tempo de percurso,
correspondendo a uma perda anual de 250 milhões de reais, com 80% dessas perdas contabilizadas
na cidade de São Paulo, sendo que 120 milhões de horas são perdidas pelos usuários de transporte
coletivo; II) consumo excedente de combustível estimado a 200 milhões de litros de gasolina e 4
milhões de litros de óleo diesel; III) emissão excedente de CO; da ordem de 122 mil toneladas
anuais, com os automóveis respondendo por cerca de 80% deste total; IV) excedente de frota no
transporte coletivo urbano para o mesmo padrão de serviços.
Apenas os congestionamentos do trânsito das grandes cidades brasileiras, são responsáveis
pelo consumo excessivo de 200 milhões de litros de gasolina, 4 milhões de litros de diesel, além da
emissão, de 112 mil toneladas de CO na atmosfera dessas cidades anualmente. Calcula-se que os
custos em saúde, nas cidades de São Paulo, e Rio de Janeiro por ano, ultrapasse o valor de US$ 75
milhões de dólares, além de ser responsável por cerca de 04 mil casos anuais de mortalidade
infantil.
Não obstante ao conjunto de externalidades negativas provocadas ao meio ambiente, e a
população das cidades pelos congestionamentos, à grande quantidade de veículos em nossas ruas,
também são responsáveis por um aumento expressivo no número de acidentes de trânsito em nossas
cidades. Tais impactos comprometem, de forma significativa, a sustentabilidade urbana das cidades,
como também, comprometem a mobilidade urbana, e a qualidade de vida dos cidadãos.
É nesse contexto, é que se insere uma nova conceituação que vem sendo bastante discutida
no meio acadêmico, o conceito de mobilidade urbana sustentável. Para Boareto (2003), a
mobilidade sustentável é a realização de viagens ecologicamente sustentáveis com os menores
gastos de energia, e impactos ao meio ambiente. A mobilidade urbana sustentável deve ser pensada
como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação, que visam proporcionar o
acesso amplo e democrático ao espaço urbano. Através da priorização dos modos de transporte
coletivo e não motorizados de maneira efetiva, socialmente inclusiva, e ecologicamente sustentável.
Para termos cidades sustentáveis é necessário que o transporte público coletivo seja a
espinha dorsal da Mobilidade Urbana, com tarifas acessíveis, qualidade, boa frequência,

471
combustíveis não poluentes e que alcance todo o espaço urbano, promovendo a inclusão social e o
direito à cidade, de modo que os usuários lhe deem preferência. Temos que mudar a concepção que
a cidade seja planejada para os veículos, e não para as pessoas que nelas vivem. Para que essas
mudanças comecem a acontecer, é necessária a participação de todos, e as políticas públicas
adotadas pelos poderes públicos devem ser, por definição, direcionadas, e elaboradas para o bem
estar da população em geral. Não existe nenhuma cidade do mundo que tenha se desenvolvido de
forma sustentável, sem um sistema de transporte público de qualidade para toda a população.
Referências

AFFONSO, Nazareno S. Automóveis e sustentabilidade. Revista Desafios do Desenvolvimento.


Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília, n. 53, p. 27, ago. 2009.

BOARETO, R. A. 2003. Mobilidade Urbana Sustentável. Revista dos Transportes Públicos, São
Paulo. n.100.

BRASIL. Ministério das Cidades. Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável. Brasília:
Espalhafato Comunicações, 2004b. (Cadernos MCidades, 6)

CAMPOS, V.B.G. 2006. Uma visão da mobilidade sustentável. Revista dos Transportes Públicos.
v. 2, p. 99-106.

MOVIMENTO NACIONAL PELO DIREITO AO TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE


PARA TODOS. Mobilidade urbana e inclusão social. Brasília: MDT, 2009.

NEVES, Estela & TOSTES, André. Meio Ambiente: Aplicando a Lei. Petrópolis: Vozes, 1992.

RESENDE, P. T. V.; SOUSA. P. R. Mobilidade Urbana Nas Grandes Cidades Brasileiras: Um


estudo sobre os impactos do congestionamento. São Paulo, 2009.

472
CARTOGRAFIA DOS ÍNDICES HIDRODINÂMICOS DE POÇOS TUBULARES DA CIDADE
DE JOÃO PESSOA, PARAÍBA, BRASIL

Ramon Santos SOUZA


Graduando em Licenciatura Plena em Geografia, Centro de Humanidades,
Universidade Estadual da Paraíba, ramongeography@gmail.com

Joseline da Silva ALVES


Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia, Centro de Humanidades,
Universidade Estadual da Paraíba, joseline.geo@gmail.com

Lanusse Salim Rocha TUMA


Prof. Dr. Departamento de Geografia, Centro de Humanidades,
Universidade Estadual da Paraíba, lanussetuma@yahoo.com (Orientador)

Resumo

Este trabalho aborda a espacialização dos índices hidrodinâmicos, referentes às profundidades e


níveis dinâmicos, de 163 poços tubulares perfurados nos aquíferos existentes na cidade de João
Pessoa, representados graficamente com base nas técnicas de interpolação. Objetiva-se elaborar
uma análise do potencial hídrico subsuperficial utilizando o cadastro de poços georreferenciados do
Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), bem como realizar a exposição
cartográfica dos índices disponíveis empregando os procedimentos da modelagem computacional o
qual poderá nortear prováveis intervenções do poder público quanto à gestão sustentável deste
recurso. A metodologia adotada constou de revisão bibliográfica; investigação e coleta das análises
das informações existentes; elaboração de planilhas eletrônicas; obtenção dos atributos;
manipulação dos softwares; edição dos modelos gerados e integração dos resultados. Com o
crescimento do número da população urbana, entre 1970 a 2010, a perfuração de poços aumentou
essencialmente. Assim, pela crescente urbanização desta cidade, as demandas de água subterrânea
atendem necessariamente aos espaços públicos, condomínios, bairros residências e indústrias. As
profundidades, em geral, dos poços tubulares chegam até 360 m, porém alcançam uma média de
135,14 m. Os valores do nível dinâmico variam até um patamar de 115 m, com uma média de 48,21
metros e desvio padrão de 24.54. Portanto, a partir dos produtos gerados, poderão ser propostos
modelos de gestão para os recursos hídricos da região em futuros trabalhos a serem realizados,
assim como na identificação dos fatores que condicionam a demanda e oferta das águas
subterrâneas.

Palavras-chave: Cartografia, hidrogeologia, hidrodinâmica.


473
Abstract

This work addresses the spatial hydrodynamic indices, referring to dynamic levels and depths of
163 wells drilled into aquifers in the city of João Pessoa, plotted based on interpolation techniques.
The objective is to prepare an analysis of subsurface water potential using the georeferenced
database of ―Sistema de Informações de Águas Subterrâneas‖ (SIAGAS) and make the exposure of
cartographic available indices of employing the computational modeling procedures which can
guide interventions likely public power as the sustainable management of this resource. The
methodology consisted of a literature review, research and collection of existing analyzes
information; preparation of spreadsheets; obtaining attributes; software manipulation; edition of the
generated models and integrating the results. With the growing number of urban population
between 1970 and 2010, the drilling of wells has increased substantially. Thus, the growing
urbanization of the city, the demands of groundwater necessarily cater to public spaces,
condominiums, residential neighborhoods and industries. The depths in general the wells reach up
to 360 m, but achieve an average of 135.14 m. The values of the dynamic level range to a level of
115 m, with an average of 48.21 meters and a standard deviation of 24.54. Therefore, from the
products generated may be proposed models for water resources management in the region in future
work to be performed, as well as identifying factors that influence the demand and supply of
groundwater.

Key-words: cartography, hydrogeology, hydrodynamics.

INTRODUÇÃO

O valor intrínseco da água subterrânea se dá desde os primórdios da formação de grandes


civilizações na antiguidade, por exemplo, túneis e poços foram construídos para a sua captação na
Pérsia (atual Irã) e no Egito por volta de 800 a.C. (MANOEL FILHO, 2000). Na Revolução
Industrial, o abastecimento deste recurso se torna mais intenso com atuação de fábricas e o
crescimento desenfreado dos centros urbanos. No Brasil, o seu uso pelas populações é realizada
desde os tempos coloniais, conforme atestam os ―cacimbões‖ existentes nos fortes militares,
conventos, igrejas e outras construções dessa época (BARBANTI e PARENTE, 2002).
As águas subterrâneas encontradas nos sistemas de aquíferos regionais são fontes
armazenadas que se acumularam ao longo dos milhares de anos e se encontram, em condições
naturais, numa situação de quase equilíbrio, governado por um mecanismo de recarga e descarga.
Em termos quantitativos um pouco mais de 97% da água doce disponível no planeta encontra-se
nestes sistemas (MANOEL FILHO, 2000).
474
A explotação mais intensa das águas subterrâneas em todo mundo, que em muitas às vezes é
decorrente da sua grande disponibilidade, menores custos de produção e qualidade natural
normalmente excedente, está levando a sociedade a se preocupar mais com estes recursos tanto na
quantidade como na qualidade (HIRATA, 2000). No Brasil estima-se que existam pelo menos 400
mil poços que bombeiam principalmente água para áreas urbanas (ZOBY e MATOS, 2002).
Entende-se por nível dinâmico a profundidade da água dentro do poço, quando está na fase
de bombeamento. Medido geralmente em metros (m) em relação à boca do poço. Profundidade é o
comprimento total, medido entre o fundo do poço e o nível do solo (COSTA FILHO et. al., 1998).
A cidade de João Pessoa passa por um grande processo de urbanização e traz como
consequências, implicações ambientais relacionadas à carência do planejamento territorial e o
grande adensamento humano, que contribui no uso irregular dos aquíferos existentes: Beberibe
(confinado) e Barreiras (livre). Conforme Costa (2009), a expansão urbana contribui para a
deterioração das águas subterrâneas, através do aumento de fontes potencialmente poluidoras, e
consequentemente, do risco de contaminação, bem como a implantação de obras de captação sem a
observação de critérios técnicos, o que pode comprometer o uso sustentável desse recurso.
Este trabalho justifica-se em detrimento das características hidrodinâmicas de um aquífero
ser de grande valia para a compreensão do comportamento dos reservatórios em subsolo. A análise
dos aspectos hidráulicos das águas subterrâneas é importante para o abastecimento e distribuição de
água, atual e futura, para a sociedade em todos os seus segmentos.
Objetiva-se elaborar uma análise do potencial hídrico subsuperficial utilizando o cadastro de
poços georreferenciados do Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), bem como
realizar a exposição cartográfica dos índices disponíveis empregando os procedimentos da
modelagem computacional o qual poderá nortear prováveis intervenções do poder público quanto à
gestão sustentável deste recurso.

DOMÍNIO GEOTERRITORIAL DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade de João Pessoa (34º49‘56‖W, 7º 05‘46‖S), capital do estado da Paraíba (Nordeste


do Brasil) tem uma área de 211,47 km², localizando-se na porção extremo oriental paraibano,
Mesorregião da Mata Paraibana e Província Costeira, atualmente possui um território de 211,47
km², a população do município de João Pessoa é estimada em 723.514 habitantes (TUMA, 2004;
IBGE, 2010; CARVALHO, 2011). Limita-se ao norte com o município de Cabedelo, a sul com o
Conde, a oeste com Bayeux e Santa Rita e a leste com a plataforma oceânica Atlântica (MENESES,
et al., 2011) (Figura 1).

475
Figura 1. Localização geográfica da área objeto de estudo, com destaque para o adensamento urbano na
região.
Fonte: Adaptado do IBGE 2007 e 2010.

A cidade está sob o domínio do Clima Tropical quente-úmido, do tipo As‘, segundo a
classificação do pesquisador alemão Köppen, caracterizada por uma precipitação anual de 1.800
mm, com uma maior concentração de chuvas no final da estação do outono e início do inverno,
entre os meses de maio, junho e julho, sendo junho o mês de maior concentração pluviométrica
(SOBREIRA, 2010). A área está no domínio do baixo curso da bacia hidrográfica do rio Paraíba
(SATANA, 2011). A mesma encontra-se inserida no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba
– CBH-PB de acordo com o DECRETO Nº 27.560, de 4 de setembro de 2006.
De acordo com Meneses (2007), o território de João Pessoa faz parte da Bacia Sedimentar
Pernambuco-Paraíba, constituída por uma sequência relativamente pouco espessa de sedimentos e
distribuída ao longo da faixa litorânea do estado da Paraíba e de parte do estado de Pernambuco,
podendo atingir cerca de 40 km de largura.
Segundo Assis (1985), o município encontra-se coberta por uma sequência sedimentar
cenozóica, constituída por litologias do Terciário, representado pelo Grupo Barreiras, e do
Quaternário, por aluviões, sedimentos de praia, mangues e areias quartzosas Os aquíferos da região
são representados pelos Aquíferos Beberibe e Barreiras.
476
O sistema do Aquífero Beberibe é o mais importante da região. É um aquífero do tipo
confinado que apresenta boa qualidade de suas águas e que tem sido explorado de forma crescente
para fins de abastecimento humano na grande João Pessoa (SANTANA, 2011). Sua camada
confinante é representada pela Formação Gramame (MENESES, 2007). Aflora nos estados de
Pernambuco e Paraíba, ocupando uma área aproximada de 318 km². Os poços que captam águas
desse aquífero possuem uma vazão especifica média em torno de 3 m³/h e vazões médias de 58
m³/h (COSTA, 1998). A recarga deste aquífero ocorre, principalmente, por infiltrações da
precipitação pluviométrica, na área de afloramento da Formação Beberibe e, secundariamente, por
infiltração vertical descendente, na porção confinada (BARBOSA, 2007).
O sistema do Aquífero Barreiras tem ampla distribuição na costa brasileira, aflorando de
forma descontínua desde a região Norte até a Sudeste. Constitui um aquífero predominantemente
livre que ocupa uma área de 176.532 km² (MENESES, 2007). É constituído de sedimentos
continentais costeiros de idade terciária (Mioceno-Plioceno), que formam extensos tabuleiros,
frequentemente cortados por falésias junto à linha de costa. Os principais constituintes litológicos
na área são arenitos maturos, arenitos conglomerativos com intercalações de silicatos e folhelhos,
variando de alguns centímetros a dezenas de metros. A espessura do pacote sedimentar é superior a
150 metros, com média de 60 metros (COSTA, 1994). A sua recarga se faz por infiltração direta da
precipitação ao longo de sua área de cobertura, podendo-se estimar um coeficiente de infiltração de
10 a 30% da precipitação anual (LIRA, 2005). Este sistema tem grande participação no
abastecimento de várias capitais brasileiras, particularmente das capitais litorâneas nordestinas de
São Luís, Fortaleza, Natal e Maceió, além de Belém, na região norte do país. O abastecimento com
base em águas subterrâneas, geralmente, é adotado como forma complementar de abastecimento das
áreas urbanas ou como forma de redução de custos em condomínios residenciais verticais ou
horizontais (MENESES, 2007).

MATERIAL E MÉTODOS

No presente trabalho, foi utilizado um conjunto de etapas pré-estabelecidas em sequência,


o que desta forma favoreceu a execução da pesquisa, que constaram, entre elas: revisão de
literatura, levantamento e coleta das informações, sistematização do banco de dados, manuseio de
sistemas computacionais e análise dos resultados obtidos.
A revisão literatura caracterizou a primeira etapa, e consistiu do levantamento, leituras e
análise de relatórios técnicos, monografias, dissertações, teses, artigos (periódicos e de reuniões
científicas) e obras que tratam de aspectos teóricos e práticos da estatística, além das obras de
referência sobre hidrogeologia. O levantamento bibliográfico foi uma atividade constante ao longo
477
do desenvolvimento da pesquisa para formação e atualização das bases teóricas e conceituais que
nortearam a pesquisa. Assim, alguns trabalhos importantes serviram de suporte e estão relacionados
com o contexto em questão, tais como: LIRA (2005); BARBOSA (2007); MENESES (2007);
TOSCANO (2009) e CARVALHO (2011).
A segunda etapa consistiu no levantamento das bases cartográficas digitais, no formato
*.shp, junto a Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa – PMJP, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e o Ministério do Meio Ambiente – MMA. Os dados
hidrogeológicos de 239 poços tubulares cadastrados em João Pessoa, entre os anos de 1957 a 2006,
foram obtidos nos arquivos públicos disponíveis no Sistema de Informações de Águas Subterrâneas
(SIAGAS).
Na terceira etapa foi realizada a montagem dos dados, que consistiu na compilação,
organização e estruturação dos dados previamente selecionados o que reduziu o universo amostral
de 239 para 163 poços tubulares, em virtude de alguns poços não apresentarem os pares de
coordenadas e algumas variáveis de interesse para a pesquisa. O banco de dados foi organizado em
forma de planilha eletrônica no Microsoft Excel 2010.
Posteriormente, a quarta e última etapa constou da manipulação dos softwares: Surfer 10
da Golden – onde foi criado um Grid através da Krigagem Ordinária, e depois foram criadas as
malhas em seu ambiente computacional para interpolação das variáveis e construção de mapas de
bases e contornos; Quantum GIS 1.8.0, utilizado para elaboração dos mapas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da interpretação do mapa de localização dos poços é possível notar uma


concentração setorial polarizada e que estão preferencialmente situados no perímetro urbano.
Admiti-se para tal situação, o aumento da população urbana o que justifica a quantidade de poços
perfurados nos anos entre 1957 a 2006. Assim sendo, as demandas de água subterrânea atendem
necessariamente os espaços públicos, condomínios, bairros residências e indústrias (Figura 2).

478
Figura 2. Localização dos poços cadastrados sobre malha viária de João Pessoa.
Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.

O quadro 1 apresenta uma síntese da evolução da população do município no período de


1970 a 2010. Há um grande adensamento humano nas áreas urbanas da cidade chegando, entre
1991 a 2000, a ser de 100%.

Quadro 1. Síntese demográfica do município de João Pessoa no período entre 1970 a 2010.
ANO 1970 1980 1991 2000 2010
RURAL 7.955 3.360 0 0 2.725
URBANA 213.591 326.582 497.600 597.934 720.789
TOTAL 221.546 329.942 497.600 597.934 723.514
URBANIZAÇÃO 96,40% 99,00% 100,00% 100,00% 99,60%
Fonte: IBGE - Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.

As profundidades finais dos poços tubulares de João Pessoa apresentam assimetria positiva,
com média de 135,14 m, mediana de 114 m e o desvio padrão de 88,10 m, portanto, pode-se dizer
que a curva alonga-se à direita. O valor mínimo é 8 m e o extremo de 386 m. Com relação a curtose
0,328 mostra-se distribuição leptocúrtica, o que indica que os dados estão concentrados no centro e
a distribuição apresenta uma forte elevação nesse setor.
479
As profundidades variam de 0 a 360 metros, a classe de 0 a 60 m está situado nos setores
norte e sul do cartograma, nestas áreas a perfuração de poços é menor. A classe 60 m a 260 m são
poços que se concentram em quase toda a totalidade do cartograma. A classe 260 m a 360 m
encontra-se os poços em porções pequenas na região setentrional do município (Figura 4).

Figura 4. Cartograma indicando as profundidades finais dos poços tubulares de João Pessoa.
Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.

Os valores do nível dinâmico variam de 0 a 115 metros. A classe de 0 a 40 m está situada


nos sedimentos aluviais, mangues e de praias, e nestas áreas a perfuração de poços é menor, por
consequência menor rebaixamento dos valores. A classe 40 a 80 m se concentra, principalmente, na
porção central do cartograma e é também a área mais urbanizada e sujeita a diversos impactos
ambientais. A classe 80 a 115 m localiza-se em menores faixas na direção oeste-noroeste (Figura 5).

480
Figura 3. Cartograma indicando níveis dinâmicos dos poços tubulares de João Pessoa.
Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2012.

Os níveis dinâmicos de João Pessoa apresentam assimetria positiva, com média de 48,21
metros e mediana em 45 m, com desvio padrão de 24.54. Pode-se dizer que a curva alonga-se à
direita. O caso mínimo é 3 m e o extremo de 128,54 m. Com relação a curtose apresentou o valor <
0, desta forma apresenta a distribuição leptocúrtica, o que indica que os dados estão concentrados
no centro e a distribuição apresenta uma forte elevação nesse setor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, a partir das informações obtidas no decorrer do desenvolvimento deste trabalho,


pode-se verificar na zona urbana de João Pessoa que a água subterrânea possui uma grande
tendência aos efeitos ambientais impactantes, principalmente, onde os rebaixamentos dos níveis de
água são mais superficiais. Admite-se também, que o maior rebaixamento subsuperficial pode estar
associado ao estágio recente de explotação destes reservatórios hídricos.
A realização deste trabalho serviu de produção do conhecimento para subsidiar os gestores
públicos na adequação de formas sustentáveis de uso e manejo dos aquíferos existentes. Já o
481
emprego dos sistemas computacionais foi útil para levantar e elaborar avaliações a partir de
cartogramas que notificam os aspectos hidrodinâmicos dos poços tubulares perfurados, entre 1950 a
2006, na área de pesquisa.
Assim, os produtos gerados possuem uma relevância para propor modelos de planejamento e
gestão dos recursos hídricos disponíveis. Em futuros trabalhos, será realizada a identificação dos
fatores que condicionam o fluxo preferencial, a produtividade e o nível potenciométrico das fontes
hídricas subsuperficiais.

AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa contou com o apoio do Programa de Incentivo à Pós-Graduação e Pesquisa-


PROPESQ e a Universidade Estadual da Paraíba-UEPB através de financiamento, além da bolsa de
iniciação científica concebida ao primeiro autor deste trabalho.

REFERÊNCIAS

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Florianópolis: ABAS, 2002. p. 1-19.

484
AGRUPAMENTOS HUMANOS E QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE JOÃO PESSOA, PB

63
ANDRADE. Kátia Adalzira Lopes de.
64
SOARES. Maria de Lourdes.
65
SILVA. Roberta Teodorico Ferreira da.

Resumo

O trabalho, como etapa do Projeto Assessoria a Trabalhadores da Política de Habitação Popular


mostra como surgiu e se desenvolveu a cidade de João Pessoa, PB, mostrando suas características
nos governos que se seguiram após a ditadura militar, nas nuances de sua urbanização. O trabalho
foi realizado a partir de pesquisas documentais e bibliográficas, na tentativa de compreender na
história da urbanização e da formação dos agrupamentos humanos a habitação popular direcionada
a população mais carente, dando ênfase à intervenção do Estado na questão habitacional e no
usufruto a cidade e na qualidade de vida no decorrer dos anos e como vem tentando diminuir o
déficit habitacional e as mas condições de habitabilidade das populações pobres da cidade. A
pesquisa nos deu a possibilidade de entender a realidade da formação dos agrupamentos humanos
na formação de diversas centralidades e periferia no decorrer da história com uma tendência a
deslocar a população mais pobre para áreas mais afastadas e desprovida de infraestrutura.
Comprometendo ainda mais as condições de vida dos mais pobres e estimulando a formação dos
aglomerados subnormais, na modalidade de favelas e cortiços da cidade de João Pessoa.

Palavras-chave: Cidade; Urbaização; Politica Habitacional; Habitação Popular; Favela.

Abstract

The work, as the stage of the Project Advisory Workers Housing Policy shows how it emerged and
developed the city of João Pessoa, PB, showing its features in governments that followed the
military dictatorship, the nuances of its urbanization. The study was conducted from desk research
and literature in an attempt to understand the history of urbanization and formation of human
groups to housing targeted the poorest people, with emphasis on state intervention in the housing
question and enjoyment in the city and quality of life over the years and has been trying to reduce

63
Universidade Federal da Paraíba, katia.servicosocial@hotmail.com, estudante.
64
Universidade Federal da Paraíba, marialsc@terra.com.br, professora. Centro de Ciências Humanas Letras e Artes/
Departamento de Serviço Social.
65
Universidade Federal da Paraíba, robertta.jp@hotmail.com, estudante.
485
the housing deficit and housing conditions but the poor of the city. The research gave us the
possibility to understand the reality of the formation of human groups in the formation of various
centralities and periphery throughout history with a tendency to move to the poorest and most
remote areas lacking infrastructure. Further compromising the living conditions of the poor and
stimulating the formation of subnormal agglomerates, in the form of slums in the city of João
Pessoa.

Keywords: City; Urbaização; Housing Policy, Housing, Slum.

INTRODUÇÃO

A pesquisa faz parte do Projeto Assessoria aos Trabalhadores da Política de Habitação


Popular que buscando oferecer aos profissionais a oportunidade de conhecer a realidade da questão
urbana e da política habitacional no sentido de aperfeiçoar as intervenções sociais na área da
Habitação Popular de modo a possibilitar um melhor enfrentamento dos desafios do direito a cidade
voltado particularmente para o direto a moradia, trabalhando o déficit habitacional e da efetivação
da política de habitação.
O projeto voltado para qualificar profissionais de entidades publicas e sociais envolvidos em
Projetos de Habitação Popular desenvolve-se articulando a discussão teórica (levantamento e
apreensão de material bibliográfico e documental) e atividades práticas com a qualificação de
profissionais em exercício na área da habitação popular abordando a questão urbana, a formação e
constituição das habitações populares e da política habitacional.
Trabalha com objetivo de otimizar as intervenções sociais na área de Habitação Popular,
aprofundando o conhecimento nessa área e possibilitando uma intervenção mais eficaz o que vem
exigindo pesquisa documental e bibliográfica, produção intelectual e assessoria aos profissionais e
entidades Sociais envolvidos em Projetos de Habitação Popular. Considerando o que para Milton
Santos (2002, p 40), a cidade é vista como algo ―que fica do passado como forma de espaço
construído, paisagem‖ e a formação e os impactos das novas centralidades e a estrutura da cidade
como ―um produto social, revestido de historicidade‖ (ARAÚJO e ARAÚJO, 2008, p 25).

DESCRIÇÃO

A cidade de João Pessoa e suas rugosidades

João Pessoa, fundada em 5 de agosto de 1585 com o nome de Nossa Senhora das Neves, a
santa do dia em que foi firmada a aliança com os Tabajara (5 de agosto) nasceu com o status de
cidade, jamais vivendo a condição de vila, fato esse ocorrido porque foi fundada pela cúpula da
486
Fazenda Real numa Capitania Real da Coroa Portuguesa é a terceira capital de estado mais antiga
do Brasil e a última a ser fundada no país no século XVI.
Nasce da necessidade de ter um maior controle da região do litoral paraibano e, assim, evitar
novos ataques indígenas e intensificar a defesa contra os franceses no litoral que se deu no início de
1574, quando Portugal, esteve diante da chacina de Tracunhaém, que foi o incêndio do engenho
Tracunhaém que matou todos os moradores deste lugar, pelo fato da filha de um chefe potiguara ter
sido aprisionada pelo proprietário do engenho.
Quando o Rei D. Sebastião desmembrou a capitania de Itamaracá e criou a capitania Real da
Paraíba, porém, a conquista desse território atrasou onze anos, por essa região ter sido uma área
habitada por índios potiguaras.
Foi apenas após cinco expedições, em 05 de agosto de 1585, que os Portugueses, com o
apoio dos índios tabajaras, conseguiram expulsar os franceses e fundar a Cidade Real de Nossa
Senhora das Neves. Porém a paz definitiva com os potiguaras só foi conquistada em 1599. Com o
passar do tempo a cidade foi recebendo várias denominações.
Filipeia de Nossa Senhora das Neves, em 1588, homenageando o rei Filipe II da Espanha,
quando da União Ibérica e quando o Reino de Portugal foi incorporado à coroa espanhola.
Frederikstad (Cidade Frederica), durante a ocupação holandesa, entre 1634 e 1654, em
homenagem ao príncipe de Orange, Frederico Henrique. Cidade da Parahyba, Imperial Cidade, em
fins de 1859, com a reconquista portuguesa e a visita temporária de D. Pedro II ao Brasil. Sua
denominação atual, João Pessoa, é uma homenagem ao político paraibano João Pessoa, assassinado
em 1930 na cidade do Recife, quando era presidente do estado e concorria, como candidato a vice-
presidente, na chapa de Getúlio Vargas.
Fundada sob influencia religiosa depois de 50 anos já se calculava na cidade de João Pessoa
seis templos, que eram: o convento de São Francisco, o convento dos carmelitas, o convento de são
Bento, a igreja da Misericórdia, uma capela denominada de são Gonçalo e mais três igreja, tendo
como principal a matriz.
Segundo a descrição do Holandês Elias Herckmans, a partir daí pode-se observar a grande
influência religiosa no desenvolvimento da cidade de João Pessoa que, inicialmente, foi arquitetada
longe do mar e seu núcleo central era formado por dois compartimentos: a cidade alta e a cidade
baixa.
A cidade baixa (Varadouro) ocupava um trecho da Várzea do rio Sanhauá e nesta
reservavam-se as atividades comerciais e marítimas, onde se encontravam prédios da alfândega,
armazéns, o porto do Capim e as casas comerciais.

487
Atualmente, existem 64 aglomerados humanos distribuídos por quatro compartimentos
topográficos, sub-bacia do Alto Jaguaribe: a Bacia do Sanhauá, a Sub-bacia Baixo Paraíba e a Sub-
Bacia Mussuré. O efeito populacional desses quatro compartimentos perfaz uma aproximação de
80.206 pessoas residindo em 17.523 moradias considerando medianamente 4,5 habitantes por
residência em condições de subnormalidade.
Já a cidade alta estendia-se sobre o baixo planalto costeiro e ali estavam instaladas
instituições religiosas e de moradias, da população mais seletiva da cidade. E até o final do século
XIX os limites da cidade se restringiam apenas a essas duas áreas mesmo com mudanças em sua
infraestrutura, o que nos remete segundo Maia, a chamada cidade tradicional.
O autor Aires de Casal, (ano, p ...) descreveu no século XX a cidade da seguinte forma:

Cidade medíocre, aprazível, populosa [...], sobre a margem direita, e três léguas
acima da embocadura do rio [...], ornada com casa de misericórdia e seu hospital,
um convento dos franciscanos, outro de carmelitas, terceiro de beneditinos [...],
cinco ermidas [...] dois elegantes chafarizes de boas águas.

No início do século XX podiam-se observar mudanças em sua infraestrutura urbana com a


implantação de um sistema rodoviário que contribuiu para a movimentação das pessoas de uma
cidade para outra com mais facilidade.
De 1910 a 1924 a capital vivenciou um momento de constante progresso, provocado pela
abertura de novos bairros que hoje se estende a região de Tambaú, transformando a antiga lagoa em
parque público e promovendo a remoção de alguns aspectos coloniais da cidade que mudou as ruas
e igrejas antigas.
Na época em que Guedes Pereira era o prefeito de João Pessoa, ele desapropriou sítios e
plantou árvores em torno de todos os redutos do parque, construiu o Parque Arruda Câmara, trouxe
aves e animais de espécies raras para seu embelezamento, arborizou diversos trechos da cidade.
É quando João Pessoa já começa a ser conhecida como a ―cidade jardim‖ e o núcleo da
cidade ganha nova aparência, contrastando dois estilos bem distintos, o Varadouro e a Cidade Alta
com obras como a Praça Vidal de Negreiros, o Parque Arruda Câmara, Praça da Independência,
Avenida Maximiliano de Figueiredo, além do avanço para o leste da antiga lagoa que agora é o
parque Sólon d Lucena.
O governo de João Pessoa calçou o Ponto do Cem Reis e ampliou o prédio do tesouro e a
Epitácio Pessoa, que era uma estrada de barro e foi calçada e aberta em forma de avenidas largas até
o mar, sendo esta alvo de grandes investimentos por ligar o centro ao Porto.

488
Figura No 01 Abertura da av. Epitácio Pessoa (1920)

Fonte: Paraíba Net

Segundo o historiador Arruda Melo, o governo de Camilo de Holanda (1916-1920),


favorecido pelas arrecadações algodoeiras que gerou fortunas e um surto de urbanização,
empreendeu uma revolução urbanística, a base de praças e jardins, de aberturas de novas avenidas,
de coretos e de edifícios, canalizando o crescimento da capital para o bairro de Cruz das Armas.
É quando a cidade começou a ser modificada nos aspectos coloniais da cidade, com atração
de gente nova, de arquitetos mais modernos que introduziram em diversos trechos da cidade
elementos decorativos, como: calçamentos, edifícios, praças e abertura de novas avenidas. Após o
governo de Camilo de Holanda, veio Sólon de Lucena (1920-1924), que manteve o ritmo de
urbanização da cidade.
No decorrer dos anos 1930 observa-se o deslocamento de moradores de classe média para
lugares distantes do centro tradicional, para os bairros residenciais na orla. E a partir dos anos 1940
João Pessoa passa por uma expansão demográfica em direção ao leste.
Mas e na década de 1950, após ações do Estado que privilegiaram a Avenida Epitácio
Pessoa com serviços básicos de infraestrutura e outros serviços, que ocorre a maior ocupação na
entre a cidade e a orla marítima e da faixa litorânea. E com a implantação do bairro do Miramar
estabelece um ritmo mais intenso de ocupação da Avenida Epitácio Pessoa, com o surgimento de
outros bairros ‗as margens da avenida, que foram os Bairros dos Expedicionários e da Torre
(Formiga,2008. p 8).
No término do ano de 1964 começaram a ser incrementados as construções de conjuntos
habitacionais segundo a política do BNH. Os conjuntos foram estratégias para o adensamento
urbano direcionando a expansão urbana a partir dos eixos principais da cidade que são a AV.
Epitácio Pessoa e a AV. Cruz das Armas e o prolongamento da BR-101. Os conjuntos Boa Vista e
Pedro Godim atraíram a malha urbana em direção ao norte do município. O conjunto dos
489
Funcionários, nas proximidades da Avenida cruz das Armas, reforçou a tendência de crescimento
para o sul. No decorrer dos anos alguns conjuntos Habitacionais foram se desenvolvendo, como o
Gervásio Maia, Ernani Sátiro, José Américo de Almeida, Mangabeira e Valentina e com eles sua
população.
Com o impulso a modernização da Paraíba no governo de João Machado que realizou uma
das melhores administrações da republica velha, na cidade de João Pessoa construiu o serviço de
abastecimento da água, implantou o sistema de rede elétrica, abriu a avenida que ganhou seu nome,
pavimentou ruas do centro, instalou a iluminação e o bonde elétrico, etc.

Figura No 02 Ponto Cem Réis

Mesmo assim até a década de cinqüenta a cidade de João Pessoa crescia em um ritmo menor
que Campina Grande, somente nas ultimas décadas João Pessoa conseguiu obter um melhor nível
de desenvolvimento, pois por ser a capital do Estado o governo incrementou os incentivos,
melhorando os serviços urbanos, acompanhado por uma política de industrialização que
proporcionou uma superação do crescimento de Campina Grande.

RESULTADO

O crescimento da cidade de João Pessoa é vivenciado diante do processo de industrialização


e modernização produtiva que marcou o país, em meados do século XX. Neste contexto, segundo o
Censo de 2000 do IBGE, a população da cidade cresceu a uma média de 50% a cada década, em
1950 a população era de 95.953 habitantes e em 1991 passou 497.599 habitantes.
Essa expansão é produto de ações combinadas entre o estado e as grandes corporações
privadas, como as construtoras e os agentes imobiliários utilizando-se de atributos seletivos para
definir os valores de uso e de troca das novas áreas, como das Avenidas Epitácio Pessoa e Beira
490
Rio. A estruturação de novas vias de circulação exerce um poderoso papel na produção do espaço
intra-urbano, pois, segundo Villaça (ano, p...), é o transporte de pessoas e não o de mercadoria que
torna o espaço intra-urbano mais heterogêneo.
João Pessoa possui com uma população de aproximadamente 100 mil habitantes, possui
oficialmente 64 bairros, sendo Mangabeira o maior deles, vejamos alguns bairros: Zona Norte :
Centro, Varadouro, Róger, Torre, Tambiá, Jardim 13 de Maio, Padre Zé, Bairro dos Estados, Bairro
dos Ipês, Mandacaru, Alto do Céu, Jardim Esther, Jardim Mangueira e Conjunto Pedro Gondim;
Zona Sul: Castelo Branco, Conjunto Cehap I, Bancários, Jardim São Paulo, Anatólia, Jardim
Cidade Universitária, Água Fria, Ernesto Geisel, Valentina Figueiredo, Paratibe, Praia do Sol,
Conjunto Boa Esperança, José Américo, Cidade dos Colibris, Costa e Silva, Mangabeira, Cidade
Verde, Esplanada, Ernani Sátiro, Funcionários (I a IV), Grotão, João Paulo II, Distrito Industrial e
Bairro das Indústrias; Zona Leste : Cabo Branco, Tambaú, Tambauzinho, Epedicionários, Bessa,
Jardim Oceania, Aeroclube, Manaíra, Altiplano, Miramar, Jardim Luna, João Agripino, São José,
Bairro dos Ipês, Intermares e Brisamar; Zona Oeste :Cruz das Armas, Renascer, Jaguaribe,
Oitizeiro, Rangel, Cristo Redentor, Bairros dos Novais, Alto do Mateus, Ilha do Bispo e Jardim
Veneza.
E nos deparamos com um crescimento ainda maior na cidade de João Pessoa com aumento
dos agrupamentos informais e populares, particularmente a formação das favelas, segundo pesquisa
do IBGE, censo 2010. Dados referentes ao compartimento Alto Jaguaribe, que atualmente
compreende oito bairros, possuem vinte aglomerados, distribuídos por nove bairros e abriga ao todo
6.125 domicílios e mais de vinte e nove bairros residentes. Referentes ao Sanhauá que agrupa
também a sub-bacia do rio Mares per faz o total de 28 aglomerados distribuídos em seis bairros que
contam com uma população de 17.060 pessoas habitados 3.778 residências; enquanto que o bairro
Costa e Silva contam com a população não urbanizada superior a urbanizada.
A Bacia do Sanhauá que contempla o bairro Varadouro se destaque por seus oito
aglomerados: Porto do Capim, Frei Vital, Vila União, Feira Mulungu, Nassau, Vila Caiaju,
comunidade Nova. A Bacia do Baixo Paraíba contempla sete bairros e dezesseis aglomerados sendo
destaque o bairro alto do céu com seus sete aglomerados: Beira da linha, Jardim Mangabeira, Vila
dos Teimosos, Vem-Vem ou jardim Ester, jardim coqueiral, Beira Molhada, Porto de Jõao Tota. A
Sub- Bacia Mussuré com quatro bairros e seis aglomerados todos contemplados para destaque de
fatos notáveis: Padre Ibiapina, Nova vida, Taipa ou Mutirão, Vila da Palha ou Paz, Ernani Sátiro,
Favela dos Funcionários.
No contexto atual, cidade de João Pessoa conta com 117 favelas, entre elas destacamos:
Bairro São José, Renascer, Favela da barreira do cabo branco, Beira da Linha, Favela do Padre Zé,

491
Favela de Mandacarú, Bola na Rede, Favela dos Funcionários III, Favela do Esplanada, Favela do
s- Baixo Roger, Saturnino de Brito, Taipa, Favela do Timbó , Jardim Guíba, Jardim Bom
Samaritano, Novo Horizonte, Nova República, Ilha do Bispo, Citex , Buraco da Gia, Cangote do
urubu, Matinha, Boa Esperança, São Rafael, Favela do Miramar, 15 de Novembro, A barreira,
Acampamento cinco de julho, Asa Branca, Baleado, Beira Molhada, Bola na Rede, Brasília de
palha, Ceasa, colibris, Favela do padre Zé, jardim Bom Samaritano, Jardim coqueiral, Redenção,
Riacho doce, Sanhauá, Santa Clara, São Rafael, Saturnino de Brito , tibo Ie II, Tito Silva, Vila
Mangabeira.

Figura No 03 Parte do bairro do Altiplano e a esquerda alguns bairros da zona leste de João Pessoa.

Como detaca Suassuna (2006) a cidade de João Pessoa como fruto de um processo de
urbanização excludente e fragmentada, como vem ocorrendo nas cidades Brasileiras nos anos 70,
também passa por uma segregação sócio-espacial evidenciado na sua anomalia urbana,
particularmente as favelas, que ao longo dos anos, vem aumentando em número. Estima-se que dos
60 bairros da capital, mais de 38 tem favelas. E apresentando dados da Prefeitura de 2003, 101 áreas
com características de assentamentos espontâneos abrigam uma população de 121,8 mil pessoas. O
que os urbanistas chamam da cidade "informal", que alem de ser ilegal, necessita de uma reforma
fundiária urbana e é impactante ao meio ambiente, pois sua ocupação precária ocorre em áreas
ambientalmente frágeis - beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, várzeas e fundos
de vale - consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Suassuna (Ibid Id) destaca ainda que esses assentamentos, cujos moradores não possuem
conhecimento técnico e muito menos ambiental, são responsáveis ainda pela contaminação dos
recursos hídricos devido ao lançamento de lixo e esgotos nos rios que, por sua vez, contribuem para
se alastrarem os casos de doenças veiculadas à água poluída, pelo agravamento de assoreamento
dos cursos d'água, decorrentes de desmatamentos das matas ciliares e por desmoronamentos com
492
mortes pela implantação dos barracos nas encostas em áreas de risco. Que somente em período de
fortes chuvas, vem a tona os efeitos de uma expansão urbana desordenada e caótica, quando as
populações ribeirinhas sofrem com as inundações e deslizamentos.
E ele chama a atenção para a história que se repete ao longo dos anos e muito pouco é feito
no que diz respeito a sanar os problemas de vez, são gastos milhões com ações paliativas e a
população pobre, como se não bastasse a sua situação de exclusão perante a sociedade, se vê
desesperada e sem esperança por uma moradia ao menos digna, qaundo no aspecto jurídico, o Plano
Diretor da cidade de João Pessoa visa, entre outros objetivos, ―assegurar o desenvolvimento
integrado das funções sociais da cidade, garantir o uso socialmente justo da propriedade e do solo
urbano e preservar, em todo o seu território, os bens culturais, o meio ambiente e promover o bem
estar da população‖
A questão habitacional como um dos mais graves problemas sociais de nossos dias, visível
principalmente nas cidades de porte médio, como é o caso de João Pessoa, que de acordo com o
levantamento do IBGE, 2009, vem crescendo vertiginosamente, expresso no grande déficit
habitacional, na falta de saneamento básico, considerando que apenas 43% dos domicílios são
cobertos por estes serviços, 2,3 mil estão sem banheiro ou sanitários, 4,8 mil domicílios despejando
seus dejetos no rio ou no mar, estes fazem parte dos 6% dos municípios brasileiros que possuem
uma secretaria de Habitação exclusiva para tratar de ações nessa área e está entre os 20% dos
municípios brasileiros que têm Plano de Habitação, além de estar inserida dentre as prefeituras que
possuem cadastro de pessoas interessadas em programas habitacionais, com entrega mais de cinco
mil moradias à população em cinco anos de gestão.
Com base em dados mais atuais, da cidade de João Pessoa, segundo o censo 2010, do IBGE,
as condições de vida dos moradores dos aglomerados subnormais se encontram no seguinte estado:
98,5 dos imóveis têm eletricidade, 97,2% tem água encanada, 94,4% afirmam tem rede de esgoto,
as ruas são asfaltadas em 77,6% mas a iluminação pública só ocorre em 24,1%. No que diz respeito
a obras públicas, destacamos que apenas 37% das comunidades foram beneficiadas com alguma
obra de melhoria urbana nos últimos quatro anos, entre os agentes do poder público visto nestas
comunidades estão: os garis com 54,2%, e os policiais com 44,8%.
Percebemos que o meio de transporte mais utilizados nas comunidades é o ônibus com
93,1% de uso, o segundo mais utilizado é a van com 40,1%, e por último e com apenas 6,5% o
carro. O nível de escolaridade está de 83,4% de filhos freqüentando a escola e 22, 5% não
estudando. Referente à saúde, existem postos de saúde em cerca de 60% das comunidades, mas não
há médico de família em 65% delas, agentes de saúde.

493
Em 52,6% das comunidades não há posto de policiamento comunitário, em 68,4% não há
delegacia policial atendendo a comunidade. Para 55,5 as operações policiais não diminuem a
influência de crime organizado nas favelas, mostrando a precarização da infraestrutura de segurança
na cidade. Trabalho e Renda esta bastante precária em diversas comunidades apresentando apenas
14,2% declaram trabalho dentro da comunidade e 12,9% admitiram ter outra fonte de renda. Não há
apoio em cooperativa em 63% das comunidades.

CONCLUSÃO

Na cidade de João Pessoa, com a maioria das cidades de Porte Médio do Brasil, apresenta
grandes disparidades sócio-econômicas e os investimentos em infraestrutura ligados ao setor
imobiliário e os equipamentos urbanos mais voltados às áreas com renda mais elevada, enquanto
que as áreas que concentram as populações pobres, os espaços periféricos, por não apresentarem
potencial econômico em concomitância com o mercado imobiliário rentável, encontram-se
desprovidos de planejamento e assistência pública, eficazes e equânimes. O que alimenta a
formação e a segregação desses espaços, mas percebemos, nos últimos anos, uma maior atenção aos
espaços onde concentram as populações pobres e a habitação popular.
Mas devemos estar atentos ao que Engels (1988) alerta que a preocupação em solucionar as
questões de habitação, de saneamento e de saúde das camadas populares passa pela questão da
proliferação de epidemias e de violência de toda a cidade. Mas outra questão interessante abordada
por ele é a expulsão dos trabalhadores do centro para a periferia, devida a remodelação das cidades
sob justificativas sanitárias e estéticas, o que evidencia que“os focos de epidemias não são
eliminados, mas apenas mudados de lugar!”.
Na cidade de João Pessoa percebemos a formação dos agrupamentos humanos nas suas
diversas centralidades com à segregação sócio-espacial, com exclusão de parcela da população,
particularmente a mais pobre, dos locais mais próximos e mais providos de infraestrutura e serviços,
principalmente no que diz respeito à ocupação de espaço com possibilidade de habitabilidade, de
melhores condições de vida e de preservação do meio ambiente. Colocando a necessidade de
maiores investimentos financeiros e intelectuais da questão do direito a cidade e habitabilidade
como possibilidade de melhoria da qualidade de vida de todos os habitantes da cidade, de forma à
possibilitar melhoria na saúde, moradia, educação, empregos, infraestrutura, saneamento básico,
entre outras.

REFERÊNCIAS

ENGELS, Friedrich. A questão da Habitação. São Paulo: Editora Acadêmica. 1988.


494
SUASSUNA LIMA, Marco Antonio. Segregação sócio-espacial e desenho urbano em
assentamentos espontâneos: o caso do bairro São José em João Pessoa PB. Arquitextos, São Paulo,
06.072, Vitruvius, mai 2006 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.072/356>.

MORAIS, Lenygia Maria Formiga Alves. Expansão Urbana E Qualidade Ambiental no Litoral de
João Pessoa-Pb. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Exatas e da Natureza,
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrado, Joáo Pessoa, 2009.

Josineide da Silva Bezerra e Luciana Medeiros de Araújo. Restruturação e centralidade: breves


notas sobre a cidade de João Pessoa. Disponível em
http://www.ifch.unicamp.br/ciec/revista/artigos2/%5B14%5DURBANA2_BEZERRA_ARAUJO.p
df, Acesso em 29/06/2012.

Carla Mary S. Oliveira. Imagens e traçados a Parayba dos primeiros séculos. João Pessoa - Número
Um - Abril de 2000.

Silvia, Lígia Maria Tavares da. (1996). João Pessoa: planejamento urbano e qualidade de vida. IN:
Política Hoje- Revista do Mestrado

Lista de favelas em João Pessoa/PB. Disponível em: http://cufa.org.br/. Acesso em 17/07/2012.

495
A QUALIDADE AMBIENTAL URBANA DE SÃO LUÍS: UM RETRATO DAS PRAIAS DA
CAPITAL MARANHENSE EM SEU QUARTO CENTENÁRIO.

Ciro José RODRIGUES BARBOSA


cirojrblitterae@hotmail.com

João Sousa Corrêa


joaosousabr@hotmail.com

Hector Hoffman SOUZA BELO


hectorsouza.15@hotmail.com

Ronaldo BARROS SODRÉ


ronaldo-sodr@hotmail.com

Ana Rosa MARQUES


anclaros@yahoo.com.br

Resumo

Esta pesquisa trata das problemáticas e soluções referentes à balneabilidade das praias da capital
maranhense, as quais se encontram impróprias, por conta de um legado de ostracismo em relação à
ação efetiva do poder público e do cuidado com o meio ambiente por parte da população de modo
geral. A praia é um bem público e deve ser cuidado, a fim de que se evitem as doenças, o
enfraquecimento do setor turístico e outros prejuízos advindos da poluição marinha.

Palavras-chave: Praias. Poluição. Ação.

Abstract

This research shows problems and solutions about balneability (water cleanness) in beaches at
Maranhão capital, where they are dirty, because government and population forget to contribute
with conservation of them. Beach is a public good and it should be care to avoid diseases and go
down in touristic area and others troubles caused for sea pollution.

Keywords: Beaches. Pollution. Action.

496
INTRODUÇÃO

A sociedade continua em acelerada expansão e crescimento, transformando a paisagem a


cada dia mais humanizada, principalmente nas grandes cidades, as metrópoles modernas, mas é
preciso ter responsabilidade no que se refere a essas mudanças, para sustentar o acesso às futuras
gerações também ao meio ambiente conservado, de onde provém a continuidade da vida.

A sociedade produz seu próprio mundo de relações a partir de uma base material, um modo
que vai se desenvolvendo e criando à medida que se aprofundam as relações da sociedade
com a natureza. Esta, aos poucos deixa de ser natural, primitiva e desconhecida para se
transformar em algo humano. A paisagem ganha novas cores e matrizes, novos elementos e é
reproduzida de acordo com as necessidades humanas. (CARLOS, 2001, p. 38-39)

Essas mudanças estão visíveis principalmente quando nos referimos aos impactos
ambientais que atingem os ambientes naturais que existem nestes espaços mais urbanizados, que os
expõem ao grau de extrema vulnerabilidade. A praia, por exemplo, não foge a essa regra.
Antes de se compreender tal objeto de pesquisa, torna-se necessário, rever algumas idéias e
conceitos prévios, sobre litoral, zona costeira e praia. De acordo com Ab´Saber (2001), litoral é a
área de aproximação do mar e o continente.
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei Federal nº 7661, de 16 de maio de 1988),
define zona costeira como a ―interação‖ do ar, mar e terra, de forma que recursos diversos que estão
neles inseridos também colaborem nesse conceito, que define assim:
A área coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida de faixa
subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos,
até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece
outro ecossistema. (Art 10, §3º).

Compreender tais idéias facilita a percepção dos limites do ambiente marinho e da ação
antrópica de forma que se evitem problemas ambientais, quer seja pelos esgotos, pela proximidade
de áreas habitacionais e comerciais e pelo lixo.
Este trabalho resulta de pesquisas realizadas nas 09 (nove) praias de São Luís: a praia do
Boqueirão ou dos Amores, da Guia, Ponta d´Areia, de São Marcos, do Calhau/Litorânea, Caolho,
Olho d´Água, do Meio e Araçagy (ambas inseridas no perímetro do município de São José de
Ribamar, mas por receberem muitas pessoas da capital e por estarem no limite de município com
São Luís, foram incluídas também).

497
No Brasil, aproximadamente 80% das cidades brasileiras não tratam seus esgotos,
devolvendo ao rio toda a carga poluidora gerada pelas atividades humanas, degradando o manancial
e diminuindo, dessa forma, a pouca água disponível para o consumo.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil, que divulga o ranking do saneamento
e esgoto de 81 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes, são as cidades que apresentam a
maior concentração de problemas sociais decorrentes da falta de serviços e que concentram cerca de
72 milhões de pessoas do país. (Disponível em http://www.tratabrasil.org.br. Acesso 25 de jun. de
2011).
Objetivamos assim: Identificar os problemas que ocasionam degradação do espaço praístico
e suas consequências para a sociedade. Discutir sobre o posicionamento dos banhistas em relação
aos parâmetros identificadores do comportamento deles; Relacionar as diversas formas de
contaminação observadas nas 9 (nove) praias pesquisadas e registrar por meio digital, fotos e
produção de documentários através de vídeos, com a narração de integrantes da equipe, de forma
que expliquem a experiência com os entrevistados e a situação observada nas praias.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho de investigação científica ocorreu por meio de análise quanti-qualitativa.


Quando nos referimos à pesquisa qualitativa nos remetemos à visão de Minayo (1994, p. 21-22) que
considera que a pesquisa qualitativa produz resultados com um nível maior de realidade,

[...] que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.

Quanto à análise quantitativa, já que se valeu das informações fornecidas pelo público-alvo,
e elas passaram pela tabulação e criação de gráficos. Que se dividiram nas seguintes etapas:

 Levantamento bibliográfico: através de livros, monografias, dissertações, revistas, pesquisas


de órgãos como a SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), legislação específica,
etc.;
 Aplicação de questionários: levaram-se em consideração os usuários diretos das praias
pesquisadas (banhistas, garçons, vendedores, garis, moradores dos arredores) e com a
percepção dos entrevistados para o cuidado com aquele ambiente tão frágil;
 Produção de documentários/vídeos e registro fotográfico: essa produção aconteceu com o
relato dos componentes da equipe, ao falar das experiências de cada dia de trabalho nas

498
praias, além da filmagem e reproduções fotográficas das cenas de desequilíbrio ambiental
observadas, ao longo da pesquisa.

O questionário foi utilizado como embasamento empírico de como a sociedade percebe os


impactos, e principalmente, quem são os causadores e como solucioná-los. O campo de
investigação se desenvolveu no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na sociedade atual, discute-se muito a questão da consciência ambiental e como ela pode
interferir na vida do ser humano. A respeito desse conceito tão importante e necessário para a vida
terrestre é que gradativamente se procura fazer algo em torno da esfera ambiental com o propósito
de despertar uma visão mais crítica e precisa diante dos fatos ocorridos que tem posto em risco o
equilíbrio natural.
Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo significantes
transformações no comportamento da sociedade e na organização política e econômica, foi a
chamada ―revolução ambiental‖.
Segundo Foladori ―A problemática ambiental tem a particularidade de ser tão ampla, e de
seus elementos estarem tão interconectados, que sua delimitação torna-se difícil‖ (FOLADORI,
1999, p. 94).
Diante da preocupação sobre o quadro degradante das praias localizadas na Ilha do
Maranhão, a qual abrange quatro municípios incluindo a capital, vê-se a necessidade de conhecer os
níveis de balneabilidade e/ou adequabilidade para o banho. Os litorais geralmente são boas opções
de lazer e turismo e atrai um fluxo numeroso de turistas e banhistas, no entanto, lançar-se ao mar,
nas praias da Ilha do Maranhão, tornou-se um fator de risco em função do alto nível de poluição e
ausência de políticas públicas no que tange à limpeza, conservação e controle.
O Maranhão tem 5.414 km2 de área ocupada por manguezais, de acordo com Fernandes
(2003, p. 15), ―bioma este que é frágil e depende da preocupação citadina‖. Os mangues estão em
volta das praias e podem ter o equilíbrio modificado.
O Golfão Maranhense na porção central do litoral, limitado pelos municípios de Icatu e
Alcântara, assaz importantes para o estado, sendo a principal reentrância do nosso litoral é o grande
coletor dos principais cursos fluviais do estado. Onde localizam-se uma das importantes áreas de
mangue responsável pela reprodução de grande parte da fauna marinha. A partir desta análise,
percebe-se que todos precisam cuidar dos nossos patrimônios naturais.

499
Na figura abaixo, vê-se a ilha do Maranhão, com seus quatro municípios, dos quais São Luís
faz parte, e as setas brancas apontam as áreas de praias pesquisadas. A oeste da ilha está a baía de
São Marcos e o Golfão Maranhense, para onde convergem vários rios que dão uma coloração em
tons de marrom (indicador de sedimentos em suspensão) para as águas marinhas próximas.

Figura 1- Imagem de satélite da ilha do Maranhão, onde está a capital


maranhense.
Fonte: INPE, 2012.

A priori, para que fosse compreensível o objeto de estudo, entender a praia e os seus agentes
modificadores, os problemas ambientais e a balneabilidade foram imprescindíveis na etapa inicial
do projeto e nos parágrafos anteriores.
Com a aplicação de 269 (duzentos e sessenta e nove) questionários, sendo 137 homens e 132
mulheres, nas nove praias pertencentes à capital maranhense, pôde-se entender a visão dos
banhistas, moradores e trabalhadores do entorno da orla. As nove praias pesquisadas, por ordem de
visita, foram: da Guia e Ponta d´Areia (04/12/2011); São Marcos, Calhau/Litorânea e parte do
Caolho (08/12/2011); Caolho (11/12/2011); Olho d´Água e Praia do Meio (15/01/2012); Araçagy
(22/01/2012) e Boqueirão ou dos Amores (29/01/2012).
Diversos tipos de pessoas passaram pelos questionamentos, da adolescência à fase adulta, do
Ensino Fundamental ao Ensino Superior e de distintas classes sociais. Estes perfis socioeconômicos
em alguns momentos auxiliaram na indução de certas respostas, em outros casos, nem tanto. Na
Ponta d´Areia, por exemplo, as pessoas, na maioria dos casos, têm menos instrução e sujam mais o

500
entorno já na praia da Guia os banhistas também, geralmente, tem baixo grau de instrução, mas
conseguem emitir opiniões coerentes ao comportamento praticado ali. (BARBOSA et al, p.5, 2011).
Nas praias de São Marcos e Calhau, onde as pessoas banham menos, pois apresentam um
grau de instrução maior e conhecem os riscos que se pode ter ao adentrar nas águas, falavam com
certa espontaneidade e o comportamento condizente com a fala.
Na aplicação, havia perguntas objetivas e subjetivas, a fim de explorar ao máximo, a opinião
do entrevistado, além de serem feitas algumas considerações no final e a conscientização de se
preservar aquele bem natural, e também, possibilidades para diminuir a produção de lixo nas praias.
Questões como as praias menos e mais visitadas/poluídas, o que se faz com o lixo, órgãos
competentes para limpar a praias e os maiores poluidores delas são algumas perguntas
contempladas nas abordagens realizadas.
Sobre as praias mais poluídas, de acordo com o público-alvo, são as seguintes:

Gráfico1: Praias mais poluídas.


Fonte: Geo nas praias, 2011- 2012

O que se infere também é a associação de quantidade de freqüentadores com o alto índice de


poluição. Na realidade, os grandes responsáveis da poluição são a Companhia de Águas e Esgotos
do Maranhão- CAEMA, que não trata os esgotos domésticos antes de lançá-los ao mar, os bares e
qualquer estrutura imobiliária do entorno, os banhistas, e por último, as embarcações, no caso os
navios com a água de lastro, já que o porto do Itaqui localiza-se nas proximidades, bem perto da
praia do Boqueirão. Veja o gráfico a seguir, sobre os maiores poluidores desse ecossistema, de

501
acordo com os entrevistados, o que confirma que a maior causa da degradação das praias são os
esgotos das residências:

Gráfico2: Poluidores das praias.


Fonte: Geo nas praias, 2011-2012

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais-SEMA, no


presente ano (2012), nos pontos analisados, nas marés de vazante (momento de menor poluição),
todas as praias da capital encontram-se impróprias para o banho, com a exceção das praias da Guia
e do Boqueirão que não foram pesquisadas.

Foto 1: Praia do Meio.


Fonte: Geo nas praias, 2012

502
Observa-se na Foto 1, flagrantes de poluição e desestabilização na orla da praia do Meio,
que fica entre as praias do Olho d´Água e do Araçagy, com a forte presença de lixo, instalação
desordenada de barracas e veículos estacionados em local impróprio. Desde dezembro de 2011
ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF) proíbe a circulação de veículos nas praias do
Meio (foto) e Araçagy. Para o cumprimento desta determinação judicial a Secretaria Municipal de
Trânsito e Transportes (SMTT) publicou a portaria 003/08 que veta esse tráfego. Contudo, durante
as pesquisas não foi possível observar o cumprimento nem a fiscalização dessa lei.

Foto 2: Praia de São Marcos.


Fonte: Geo nas praias, 2011

Na foto 2, que foi feita na praia de São Marcos, percebe-se o transporte de esgoto
diretamente para o mar, sem nenhum tratamento. Além dos esgotos que correm de toda a cidade
para as praias, outra fonte de esgotos é originada dos bares e restaurantes presentes na orla.
Por está localizada longe do centro e de bairros adjacentes a ele, a praia do Araçagy é
considerada por banhistas como a única própria para banho, no entanto, de acordo com as coletas
realizadas pela SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), todas as praias da Ilha do
Maranhão estão impróprias. Quem desejar ir à alguma praia com status adequado de balneabilidade,
terá que deslocar-se ao município de São José de Ribamar (praia de Panaquatira) que se localiza na
mesma ilha da capital: a Ilha do Maranhão.

503
Como já se sabe, inexiste o tratamento do esgoto doméstico, o que contribui na
transformação dos rios em canais de escoamento dos poluentes até chegar na orla, fato agravante da
degradação desses ambientes. As bacias do Bacanga e Anil, nas proximidades da praia da Guia e da
Ponta d´Areia, a laguna da Jansen que se comunica com o mar nessa última praia citada, o rio
Calhau na praia homônima, o rio da Prata na praia do Meio e outros tantos.
Sobre a responsabilidade da limpeza, a maior parte dos entrevistados escolheu a Limpel
(empresa que trabalha com o serviço terceirizado de limpeza para a prefeitura) e os banhistas. É
importante salientar que estes últimos poluem tanto através do lixo, como através do esgoto que sai
das residências deles.
Esses crimes ambientais atingem a fauna, as restingas, os manguezais, os rios, lagunas, as
praias (ambientes costeiros), além do próprio ser humano, quando acontece o aumento na
quantidade de cnidários como é o caso das caravelas portuguesas (Physalia physalis) devido o
aumento de matéria orgânica na água do mar.

Os cnidários estão entre os organismos mais venenosos e peçonhentos que se conhecem, e


seu arsenal químico vem despertando interesse farmacológico. Entretanto, o interesse
humano maior está voltado para um problema ocasionado por esses animais: as chamadas
―queimaduras‖. (QUEIROZ, 611. 2011)

Por conta do desequilíbrio na cadeia alimentar e águas-vivas e no aparecimento de doenças


relacionadas ao contato ou consumo da água marinha.
A partir dessas informações, percebe-se que a sociedade e os turistas, todos, estão à espera
de serem solucionadas todas as questões que giram em torno da preservação do ambiente marinho,
para que haja um desfrute saudável e seguro desse ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A poluição das praias é o que mais preocupa as cidades localizadas no litoral, pois isto
reflete o não comprometimento da população, e principalmente, do Poder Público, juntamente com
os órgãos responsáveis pelo saneamento, tratamento de esgotos e coleta do lixo e do seu adequado
armazenamento.
Outra questão a ser ressaltada é sobre o fato de que a grande maioria dos rios, riachos da
Ilha do Maranhão nesta porção estudada, sofre diretamente os impactos ambientais do aumento da
expansão urbana, recebendo resíduos sólidos e esgotos que são despejados sem tratamento algum e
são levados pelo curso d água, até o mar, contribuindo com o aumento da contaminação dessas
áreas de banho de grande fluxo de pessoas.

504
A Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (CAEMA) tem como sua atribuição, tratar
os esgotos nas estações que existe, mas não funcionam. Existe, portanto, a urgência que deve partir
dos gestores públicos, com seus projetos, um melhor acompanhamento dessa situação e a
adequação aos padrões de balneabilidade para as praias o que, em nossa compreensão, deveria
começar com um melhor planejamento urbano, um respeito ao plano diretor municipal (2006) e
também em planejar os bairros que estão em volta da orla e dos rios, riachos, lagunas, córregos que
lançam suas águas ao mar, de forma que seja limitado o crescimento desordenado dos
empreendimentos imobiliários.
Conclui-se que os banhistas deveriam tomar para si o papel de agente que contribui com a
limpeza, como diz Bollmann apud Siqueira (2010), a sustentabilidade só será possível, quando se
entender e equacionar as interações entre as dinâmicas urbanas e o ambiente natural. Enquanto isso
passa despercebido, torna-se assaz complicado a concretização da harmonia tão desejável entre o
processo de urbanização e a recuperação, mesmo que tênue, dos recursos naturais, quer seja
aquáticos, vegetais, animais, terrestres e atmosféricos.

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506
2 – Educação Ambiental na Sociedade
de Consumo

507
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA

DE MELHORIA DO BEM-ESTAR ANIMAL

Benedito Marinho da COSTA NETO1


Camila Firmino de AZEVEDO2
Maria Caroline Pereira BRITO3

1
Professor do curso Técnico de Vigilância em Saúde, CEFOR/PB
2
Professora Dra. do Departamento de Agroecologia e Agropecuária, CCAA/UEPB
3
Graduanda em Medicina Veterinária, CCA/UFPB
E-mail: beneditomarinho@yahoo.com.br

RESUMO

Com o objetivo de melhorar o bem-estar de animais de companhia, foram realizadas ações de


educação socioambiental não formal para estudantes, professores e funcionários de sete escolas da
cidade de Campina Grande (Paraíba/Brasil), com o intuito principal de promover uma mudança de
atitude das pessoas frente à preocupação com os animais de estimação. Para tal, foi realizado um
estudo de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa através de palestras com a
finalidade de traçar um perfil em relação ao bem-estar animal, especialmente de animais de
companhia. Além disso, foi realizado um trabalho educativo com o intuito de orientar sobre o
respeito aos animais e a preservação da dignidade, saúde e vida dos mesmos. Dessa forma, espera-
se reduzir o abandono e os maus tratos aos animais de companhia, assim como a adoção de políticas
públicas que beneficiem o bem-estar animal.

Palavras-chaves: animais de companhia; cães e gatos; educação ambiental; esterilização; saúde


pública.

ABSTRACT

In order to improve the welfare of companion animals, were held actions of socio-environmental
education not formal for students, teachers and staff of seven schools in the Campina Grande city
508
(Paraíba / Brazil), with the main aim to promote a change in attitude of the people in relation the
concern for pets. To this end, was a study conducted exploratory and descriptive, qualitative
approach through lectures in order to draw a profile in relation to animal welfare, especially of pets.
In addition, a work was undertaken with the aim of educational guide about respect for animals and
the preservation of dignity, health and lives of ourselves. Thus, it is expected to reduce the
abandonment and mistreatment of pets, as well as the adoption of public policies that benefit animal
welfare.

Keywords: dogs and cats; pets; public health; sterilization; environmental education.

INTRODUÇÃO

A importância dos animais de estimação na vida dos seres humanos estende-se desde 10 mil
anos atrás. Langoni et al. (2011) ressaltam a importância desta interação na atualidade,
especialmente quando são considerados os inúmeros benefícios que redundam desta convivência. A
companhia desses animais produz diversos efeitos benéficos para o ser humano, dentre eles ressalta-
se os efeitos psicológicos (diminuição da depressão, estresse e ansiedade), fisiológicos (redução da
pressão arterial e frequência cardíaca, além do aumento da expectativa de vida e do estímulo para
realização de atividades saudáveis), e sociais (aumento da socialização de criminosos, idosos,
deficientes físicos e mentais e melhoria no aprendizado e socialização de crianças) (SANTANA e
OLIVEIRA, 2006).
O reconhecimento de que a interação com animais torna os indivíduos mais motivados para
interagir, comunicar, expressar necessidades, informações e sentimentos deu origem à utilização de
animais de estimação para a promoção da saúde (LIMA e SOUSA, 2004; BUSSOTTI et al., 2005;
CARVALHO et al., 2011). Este fato se dá especialmente por que os animais possuem um conjunto
de qualidades particulares, dentre elas a senciência, de onde se destaca ―o amor incondicional e
espontâneo que manifestam em relação ao ser humano‖ (GARCIA et al., 2008). Neste contexto, os
animais de estimação, especialmente cães e gatos, têm se tornado praticamente membros da família,
convivendo diretamente com seres humanos em diversas atividades diárias.
É importante considerar que para que esta convivência seja saudável é necessário que os
animais recebam, no mínimo, os cuidados básicos, que envolvem principalmente os relativos à
saúde física e psicológica (LUNA, 2008). O oferecimento de abrigo e alimento em quantidade e
qualidade ideais, cuidados médico-veterinários e atenção destinada aos mesmos são indispensáveis
para uma boa qualidade de vida, promovendo assim o bem-estar animal (LIMBERT et al., 2009).

509
Porém, a maioria das pessoas desconhecem os preceitos de bem-estar animal e muitas delas
não oferecem os cuidados e os tratamentos adequados, seja por negligência, falta de informação ou
até mesmo crueldade. Deste fato, resultam inúmeros problemas que afetam tanto seres humanos
como animais, tais como abandono dos mesmos nas ruas (SOTO et al., 2007), causando aumento do
número de acidentes de trânsito e zoonoses (SCHOENDORFER, 2001); redução da qualidade e
expectativa de vida dos animais; além das crias indesejadas, que aumentam ainda mais a
superpopulação e o abandono (BORTOLOTI e D‘AGOSTINHO, 2007).
Dessa forma, tornam-se essenciais as campanhas de conscientização através de ações
socioeducativas, levando os conceitos da educação socioambiental e estabelecendo o ser humano
como parte essencial no processo de melhoria da qualidade de vida dos animais e
consequentemente, da saúde pública e da sua interação com os mesmos (JACOBI, 2003).
Nessa conjuntura, as ONG‘s (organizações não governamentais) têm-se demonstrado
imprescindíveis na disseminação dos princípios da educação ambiental e na sensibilização das
comunidades através da percepção ambiental (RODRIGUES e LOUREIRO, 2012). Muitas das
ONG‘S que atuam no apoio aos animais promovem ações educativas a fim de modificar a
concepção acerca da responsabilidade humana em relação à melhoria do bem-estar animal e, além
disso, acolhem e tratam animais abandonados, principalmente cães e gatos, e os encaminha para
adoção; como é o caso da ONG Associação de Amigos dos Animais Abandonados da Paraíba
(ONG-A4/PB).
A A4/PB é bastante atuante na cidade de Campina Grande (Paraíba/Brasil) e também nas
cidades circunvizinhas, desde 2004. As atividades envolvem principalmente o acolhimento e
tratamento de cães e gatos abandonados, feiras e campanhas de adoção, apoio aos adotantes e
campanhas de sensibilização e conscientização através de diversas práticas educativas para
diferentes públicos.
Com o objetivo de promover uma mudança de atitude das pessoas frente à preocupação com
os animais de estimação, foram realizadas ações de educação socioambiental não formal em
diferentes escolas públicas e particulares da cidade de Campina Grande – PB.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desse trabalho, foi realizado um estudo de natureza exploratória e


descritiva, com abordagem qualitativa, pertinente aos desafios das políticas públicas de bem estar
animal.

510
Para tal foram realizadas palestras em sete escolas públicas e particulares de Campina
Grande – PB, sendo o público formado por alunos, professores, técnicos e funcionários das
unidades educacionais. Nas ações educativas foram enfatizados assuntos referentes ao bem-estar
animal, principalmente os relativos aos métodos de controle populacional dos animais e seus
benefícios, guarda responsável, a aplicabilidade da Lei Federal 9.605/98, que dispõe sobre as
sanções penais e administrativas para quem praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar
animais; além do trabalho da ONG A4-PB e suas conquistas obtidas desde o início das suas
atividades, no ano de 2004. Já nas ações educativas para o público infantil, juntamente com as
palestras, eram realizados teatros de fantoches, abordando o tema de uma forma lúdica, e dessa
forma, chamando ainda mais à atenção dos expectadores.
Fizeram-se visitas supervisionadas ao abrigo da ONG A4-PB, com o intuito de incentivar a
interação das pessoas com os animais, realizando dessa forma uma maior sociabilização entre
pessoas e animais. As visitas eram acompanhadas por voluntários da ONG que, favorecendo o
processo, estimulavam o contato das pessoas com os animais, realizando uma troca de saberes
baseado no amor incondicional que os animais passam aos seres humanos.
Para incentivar com mais afinco a realização de políticas públicas voltadas para educação
ambiental e bem-estar animal, foram realizadas feiras de adoção de cães e gatos, com explanações
sobre guarda responsável, bem estar animal e punição aos maus tratos contra animais. Com o
término das feiras, os animais adotados eram supervisionados por voluntários da ONG A4-PB, que
visitavam as casas dos adotantes, tirando suas dúvidas e realizando o apoio aos mesmos, com o
intuito de aumentar as chances de uma adoção bem sucedida. Bem como, também foi realizado o
monitoramento via e-mail e redes sociais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas práticas socioeducativas realizadas com crianças, adolescentes e adultos foram


trabalhadas questões referentes principalmente aos conceitos de senciência animal, bem-estar
animal, guarda responsável, preservação da dignidade e saúde dos animais e benefícios da
esterilização.
As ações de educação socioambiental através de teatro de fantoches (Figura 1a), palestras
para adolescentes e adultos (figura 1b), percepção ambiental através do contato com os animais
(figura 2a) e visitas ao abrigo (figura 2b) proporcionaram mudanças de perspectiva e grande
interação em relação ao assunto bem-estar animal, por parte do público.

511
Foi possível constatar, durante as palestras que ainda existem muitos tabus junto à
população no tocante ao controle reprodutivo de seus animais de estimação. Os proprietários
alegam além da falta de recursos financeiros, que têm receio de que seus animais sintam dor, ou que
fiquem obesos ou ―preguiçosos‖, deixando de exercer a guarda do domicílio. Bortoloti e
D‘Agostinho (2007) e Garcia et al. (2008) ressaltam que estes conceitos devem ser trabalhados
junto à população, para desmistificação e esclarecimento, tendo em vista os inúmeros problemas
possíveis decorrentes do aumento da população canina e felina no município.

a
Figura 1. Ações de educação socioambiental promovidas pela ONG A4/PB (Associação de Amigos dos Animais
Abandonados da Paraíba). a. Teatro de fantoches para o público infantil. b. Palestra para adolescentes.

a
Figura 2. Ações de educação socioambiental através da percepção ambiental promovidas pela ONG A4/PB (Associação
de Amigos dos Animais Abandonados da Paraíba). a. Contato com os animais em feira de adoção. b. Visita de grupo ao
abrigo da ONG.

512
Desse modo, é de extrema importância que existam programas de incentivo a castração de
animais nos municípios, sejam eles domiciliados ou errantes, pois se sabe que uma cadela, dando
duas crias por ano, sendo de dois a seis filhotes, pode gerar em um período de dez anos, uma
população que poderá atingir mais de 80 mil animais. Geralmente, muitos desses animais morrerão
por inúmeros motivos ainda nos primeiros meses de vida. Além disso, os que ficarão vivos poderão,
se não conseguirem um lar, sofrer com fome, sede, maus tratos, atropelamentos e doenças nas ruas
das cidades. Sendo assim, considerando que os animais são seres sencientes e possuem a capacidade
de sentir as mesmas sensações que os seres humanos (LUNA, 2008), estima-se que o número de
animais que sofrem nas ruas é enorme e crescente a cada ano.
Os proprietários de cães e gatos de Campina Grande – PB reconhecem a importância de
haver pensar projetos que beneficiem as políticas públicas voltadas para o bem estar animal; pois é
evidente os efeitos sobre cães e gatos. Santana e Oliveira (2006) enfatizam que tais políticas
poderiam incluir os assuntos referentes ao abandono e às doenças, traumatismos, fome, interações
sociais, condições de alojamento, tratamento inadequado, manejo, transporte, procedimentos
veterinários e mutilações.
Dessa forma, bem-estar deve ser definido de forma que permita pronta relação com vários
conceitos, tais como: necessidades, liberdades, felicidade, adaptação, controle, capacidade de
previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde (BROOM e
MOLENTO, 2004).
Além disso, para a promoção do bem-estar dos animais de companhia, torna-se necessário a
adoção de um conjunto de regras que devem nortear o tratamento que se dispensa aos animais de
companhia, que representam os fundamentos da guarda responsável.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (SAÚDE, 2003), guarda responsável trata-se da
condição na qual o guardião de um animal de companhia aceita e se compromete a assumir uma
série de deveres centrados no atendimento das necessidades físicas, psicológicas e ambientais de
seu animal, assim como prevenir os riscos potenciais de agressão, transmissão de doenças ou danos
a terceiros que seu animal possa causar à comunidade ou ao ambiente, como interpretado pela
legislação pertinente.
Sendo assim, a prática da guarda responsável se dá com cuidados adequados de vacinação,
vermifugação, alimentação, castração, higiene, segurança, conforto, entre outros cuidados adotados
aos animais de estimação, sendo que os proprietários devem responder legalmente por eventuais
agravos e danos que seus animais produzam a seres humanos, outros animais, bens públicos e
particulares (LIMBERT et al., 2010; LANGONI et al., 2011). Segundo Santana e Oliveira (2006),

513
são por estes motivos que a promoção do bem-estar animal, da guarda responsável e da prevenção
de doenças estão estritamente relacionadas com a saúde pública.
Foi observado que a grande maioria dos participantes das palestras apenas vacina seu animal
na época de campanha antirrábica. No entanto, é necessário esclarecer à população que a vacina
antirrábica unicamente não protegerá os cães e gatos contra as demais doenças (inclusive aquelas
com potencial zoonótico, como a leptospirose, onde o cão participa como reservatório importante,
uma vez que, quando infectado, pode eliminar Leptospira pela urina) (LIMA et al., 2010;
FILGUEIRA et al., 2011).
Além disso, a frequência de vacinação de animais em casas agropecuárias e não com os
veterinários, também pode representar um problema, na medida em que nem sempre as vacinas são
corretamente conservadas nestes locais, podendo estar com temperaturas inadequadas para tais
imunobiológicos. Bem como, os esquemas vacinais e a forma de aplicação podem não ser
adequados se realizados por ―práticos em veterinária‖. No entanto, na maioria dos casos, a maior
queixa é a falta de recursos financeiros para promover, aos animais, visitas periódicas ao médico
veterinário.
O que muito chamou a atenção foi o crescente interesse da população na realização de
campanhas regulares para divulgar a posse responsável e as práticas de bem-estar animal. Visto a
crescente necessidade de promover a conscientização ambiental para todos os níveis da sociedade é
que a ONG A4-PB promove e incentiva campanhas que visem minimizar o abandono de animais,
que é um grave problema de saúde pública no nosso país.

CONCLUSÕES

A educação socioambiental representa uma ferramenta eficaz para a sensibilização e


conscientização das pessoas em relação à problemática dos animais abandonados, pois é a melhor
forma de atingir várias camadas da sociedade civil incentivando-a a implementar práticas de guarda
responsável e preservação do bem estar animal.
Estes resultados podem ser utilizados pelos órgãos competentes (saúde, planejamento
urbano, representantes de universidades, igrejas, sociedades civis organizadas e outros), para o
delineamento de estratégias de educação em saúde, visando a melhoria da qualidade de vida dos
animais e da população. Acredita-se que o tema ―Educação socioambiental como estratégia de
melhoria do bem estar animal‖, está sendo plenamente desenvolvido, tendo em vista que os
resultados acadêmicos obtidos contribuirão para aplicações concretas em políticas de saúde pública.

514
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516
EDUCAÇÃO, CAPITAL E TRABALHO: REFLEXÕES
SOBRE O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Danielle Alencar DANTAS¹


Rita Maria de Cássia Rodrigues VIANA²
Fábio Adônis Gouveia Carneiro da CUNHA³

¹, ², ³ Mestrandos em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPE)


Email: dandantasbio@gmail.com

RESUMO

O grande desafio enfrentado pela educação nos tempos hodiernos é romper com a lógica perversa
do capital a qual mercantiliza todas as formas de vida. É decorrente dessa lógica o paradigma
reducionista que separa a questão ambiental da questão social, a educação do trabalho, o
conhecimento da sabedoria. Dentro dessa perspectiva se faz necessário uma análise crítica da
realidade que pode ser empreendida através do método materialista histórico dialético, o qual nos
abre a percepção para uma realidade em constante movimento e que depende de nós para ser
construída e reconstruída. Através dos pressupostos deste método reflexionou-se sobre o papel da
educação ambiental no enfrentamento da atual crise e a necessidade de transpormos o ocultamento
da categoria trabalho na abordagem da problemática ambiental, assim como transpor a ênfase
demasiada dada ao componente comportamental no fazer da educação ambiental.

Palavras-Chave: Educação; Trabalho; Capital; Método Materialista Histórico Dialético;


Transformação social.

ABSTRACT

The great challenge facing education in modern times is to break with the perverse logic of capital
which commodifies all forms of life. It is the logical consequence of this reductionist paradigm that

517
separates the environmental issue of social issues, education, labor, knowledge, wisdom. Within
this perspective is needed critical analysis of reality that can be undertaken through the historical
materialist dialectical method, which opens us to the perception a reality in constant motion and that
depends on us to be built and rebuilt. Through this method assumptions reflexionou up on the role
of education in combating the environmental crisis and the need for concealment transpormos
category work in addressing environmental issues, as well as bridge the emphasis given too much to
do in the behavioral component of environmental education.

Keywords: Education, Labor, Capital, Method Dialectical Materialist History, Social


Transformation.

INTRODUÇÃO

O ponto de partida da obra ―O Capital‖ é a mercadoria, início abstrato cujo desenvolvimento


reproduz a estrutura interna da sociedade capitalista. Mercadoria é tudo aquilo que é útil ao homem
e por isso tem valor de uso, que deriva do consumo dessa mercadoria. Além do valor de uso as
mercadorias tem também um valor de troca, o qual faz com que o trabalho produtivo concreto não
seja mais considerado (SCHMIDT, 1977). A mercadoria é a unidade básica do capital, e o fetiche
pela mesma a marca registrada do nosso tempo.
O fetichismo, a relação alienada entre a pessoa e as mercadorias, é um fenômeno ideológico
típico da ideologia burguesa, e que se evidencia como resposta à opressão e alienação sofrida pelo
indivíduo. O fetichismo é uma forma de manutenção do metabolismo do capital, pois para que o
mesmo se mantenha é necessário que os indivíduos se tornem ou permaneçam alheios, estranhos
aos produtos de sua própria atividade, à natureza, a outros seres humanos e também a si mesmos.
Está alienação estende-se até mesmo às pessoas e suas relações, as quais são postas em termos de
mercadoria, ou seja, são reificadas pelo capital (GARCIA, 2006). Mészáros (1998, p.8) explicita tal
fenômeno:
Através da redução e degradação dos seres humanos ao status de meros ―custos de
produção‖ como ―força de trabalho necessária‖, o capital pode tratar o trabalho
vivo homogêneo como nada mais do que uma ―mercadoria comercializável‖, da
mesma forma que qualquer outra, sujeitando-a às determinações desumanizadoras
da compulsão econômica.

518
A mercantilização da vida é prerrogativa inexorável do capital em sua lógica incorrigível e
insanidade inata, o mesmo é incapaz de conceber os problemas ameaçadores de sua crise estrutural,
suas personificações trabalham em prol da manutenção do seu metabolismo sócio reprodutivo
negando os perigos, que envolvem inclusive a deterioração das condições para sobrevivência
humana.
Diante da atual crise estrutural do capital, Mészáros (2008a, p.20) pontua que o maior
desafio atual e futuro é encontrar uma maneira de superar positivamente as determinações
sistêmicas do capital, colocando, então, o socialismo na agenda histórica como a alternativa radical
à vigência do capital sobre a sociedade.
Nesse contexto de necessidade eminente de uma transformação estrutural frente a uma crise,
abre-se o debate sobre o papel da educação nessa transformação. Pretende-se no presente estudo,
em formato de revisão de literatura, realizar uma breve discussão, sem pretensões de esgotar o tema,
sobre o papel da educação ambiental (EA) na mudança social e os dualismos envolvidos na
abordagem do tema.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente artigo foi desenvolvido através da técnica de heurística (RUIZ, 2011), ou seja,
documentação do material pertinente ao tema o qual foi coletado em obras de referência, periódicos
científicos, anais e domínios da internet, e, posteriormente foi-se realizado o processo de
hermenêutica, ou seja, crítica e organização dos conteúdos presentes no material de pesquisa para o
esclarecimento dos objetivos do presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

“A consciência do mundo e a consciência de si como ser inacabado


necessariamente inscrevem o ser consciente de sua inconclusão num permanente
movimento de busca” (Pedagogia da Autonomia, 1997)

“Para a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma „chaga‟, nem uma „erva
daninha‟ a ser erradicada [...], mas uma das expressões concretas de uma
realidade social injusta.” (Ação Cultural para a Liberdade, 1976)

O tempo histórico que vivenciamos é marcado demasiadamente por uma lógica reducionista
a qual impõe várias dicotomias, entre elas a separação sujeito-objeto. A compreensão da relação
519
sujeito-objeto é a compreensão da forma como o homem se relaciona com as coisas, a natureza, a
vida. A dialética que aparece no pensamento de Marx surge como uma tentativa de superação desta
dicotomia que a lógica formal não dá conta, e que seus antecessores a exemplo de Hegel não
souberam compreender em sua totalidade, o que motivou Marx e Engels a desenvolver um método
de interpretação e transformação da realidade, o método materialista histórico dialético (SCHMIDT,
1977).
Tal método tem um caráter material, pois os homens se organizam na sociedade para a
produção e a reprodução da vida e um caráter histórico, pois demonstra como nos organizamos
através da história, e ainda traz o componente dialético que encara a realidade como sendo repleta
de contrariedades e conflitos e em constante movimento. Justamente por conceber este caráter
contraditório e conflituoso da realidade esta lógica nos leva a movimentar o pensamento partindo do
empírico (a realidade dada) e, por meio de abstrações (elaborações do pensamento, reflexões,
teoria), chegar ao concreto: ―compreensão mais elaborada do que há de essencial no objeto, objeto
síntese de múltiplas determinações, concreto pensado‖ (PIRES, 1997, p. 86).
Percebe-se, pois, que a lógica do método materialista histórico dialético engloba a lógica
formal no intuito de realizar uma reflexão mais abrangente e concreta da realidade como um todo,
abrindo-se inclusive a uma percepção das conexões entre sociedade e natureza a partir da
centralidade (da determinação em última instância) da produção material e dos processos
econômicos (LEFF, 2010).
Haja vistas as características da lógica do materialismo histórico dialético explicitadas
sucintamente acima, infere-se seu enorme potencial para interpretar a realidade educacional e seu
papel na transformação social, e mais especificamente o fazer da EA66. A utilização dessa lógica se
faz necessário, sobretudo, para compreender e tentar superar os dualismos envolvidos na questão
ambiental, pois estamos fortemente marcados pelo paradigma cartesiano que fragmenta, hierarquiza
e subtrai elementos que se articulam para formar a realidade. A dicotomia natureza/sociedade, a
qual pode ser evidenciada fortemente em nossas ações e práticas atuais, é decorrente primeiramente
da concepção do sujeito como ser unicamente biológico ou social.
Natureza e sociedade são duas categorias ontológicas que não são nem conceitos nem
objetos de nenhuma ciência fundada. Estas categorias estão presentes tanto nas ciências biológicas
quanto no materialismo histórico, e não podem ser pensadas separadamente, pois: ―os recursos
naturais e a força de trabalho não são entes naturais existentes independentemente do social, mas

66
Faz-se necessário enfatizar que a educação é necessariamente ambiental, entretanto utiliza-se aqui o
adjetivo ―ambiental‖ para enfatizar o momento atual de eminência da deterioração das bases ecológicas que
asseguram a sobrevivência humana e a questão da justiça social, assim como a necessidade de ter tais
questões refletidas na práxis.
520
são já o biológico determinado pelas condições de produção e reprodução de uma dada estrutura
social‖ (LEFF, 2010, p. 51).
Esse reducionismo que por muito tempo esteve, e ainda se faz presente, refletido na práxis67
educacional, evidencia uma visão acrítica e ingênua da problemática ambiental e desponta em
práticas pedagógicas prescritivas e reprodutivas as quais se caracterizam como uma educação
conservadora (comportamentalista), a qual tem por principal objetivo conscientizar os educandos
das consequências das ações antrópicas danosas e os meios tecnológicos para superá-las
(LOUREIRO, 2004).
Os educadores ambientais que orientam suas práticas pelo método materialista histórico
dialético procuram sempre evidenciar as causas ao invés dos efeitos, ou seja, abandona aquele fazer
centrado unicamente no fator comportamental e abrem-se para perspectiva dialética que revela o
caráter mutável da realidade dada. Esse método nos ensina que a realidade não é fruto de um acaso,
uma fatalidade, ela foi criada pelos homens, e, portanto, pode ser mudada pelos mesmos
(SCHMIDT, 1977). O esclarecimento da possibilidade, e até necessidade, da mudança nos padrões
vigentes é de fundamental importância no fazer da EA, visto que frequentemente somos abatidos
pelo velho pensamento ―isso não muda‖.
Segundo Layrargues (2006, p. 73), a EA é uma modalidade de ensino que naturalmente esta
ligada a duas funções básicas da educação: ―a função moral da socialização humana e a função
ideológica de reprodução das condições sociais‖. O autor pontua que a EA surge como resposta a
uma crise ambiental caracterizada por muitos como consequência de um processo paulatino de
afastamento do ser humano da natureza, decorrendo daí uma forte tendência do fazer da EA a
enfatizar o componente da mudança cultural no sentido de orientar a construção desse elo perdido.
Essa ênfase demasiada no componente comportamental subtraiu historicamente a função
político-ideológica de reprodução das condições sociais e homogeneizou a EA como um meio,
quiça o único, para mudança dos valores civilizatórios os quais são encaradas como causa da atual
crise ambiental. Contudo, a crise ambiental abordada sob uma perspectiva sociológica permite a
consideração de outro elemento, além da cultura, mediador da relação homem – natureza e de
fundamental importância para o debate no campo ambiental, tal elemento é o trabalho.
O trabalho é caracterizado, na concepção marxista, como sendo a forma como o homem
realiza o intercâmbio orgânico com a natureza, sendo inseparável do ato de viver e da história do
homem na terra. Quando o homem modifica a natureza através do trabalho, modifica ao mesmo

67
Vázquez (1990) define práxis como a atividade prática de nossa espécie que, para constituir os agentes
sociais, transforma o mundo natural-social, humanizando-o. Portanto, a práxis caracteriza-se pela ação de um
ser humano sobre a matéria, objetivando a transformação do ―mundo exterior‖ e, nesse movimento, a
transformação do ―mundo interior‖.
521
tempo a sua própria natureza (SCHMIDT, 1977). Trabalho é o encontro da natureza com a própria
natureza: da natureza interna a cada homem singular com a natureza externa comum a todos
(PEDROSA, 2008, p 33-35). Tal encontro dá-se porque pelo trabalho, o homem modifica a
realidade natural que lhe é dada e a transforma num domínio material próprio e comum aos demais.
Através do trabalho o homem se constitui como ser social em permanente construção.
Esse aspecto do trabalho como mediador das relações do homem com o homem e do homem
com a natureza, e a consequente divisão do trabalho dentro da perspectiva do sistema produtivo é
explicado por Rodrigues (2001, p.39): ―[...] a divisão social do trabalho não é uma simples divisão
de tarefas [...] ela é também a expressão da existência de diferentes formas de propriedade no seio
de cada sociedade num dado tempo histórico [...]‖. E levando tal reflexão para o campo da
educação: ―[...] digam-me onde está o trabalho em um tipo de sociedade e eu te direi onde está a
educação‖ Mészáros (2008b, p.17).
O ocultamento dessa perspectiva transformadora e reveladora da realidade visualizada
através do trabalho o qual constrói e reconstrói as sociedades e a nós mesmos, acaba por dar
margens ao entendimento que nossa realidade é exatamente a que está posta, logo o que se abre
como possibilidade de ação para o futuro é a minimização, através da tecnologia e da
conscientização, das consequências danosas das ações antrópicas.
O entendimento de tais questões é de crucial importância no que concerne a problemática
ambiental, pois a mesma é determinada pela articulação de inúmeros interesses econômicos,
ideológicos, políticos e culturais inseridos em determinado contexto social, político, espacial e
temporal (QUINTAS, 2004).
Apesar de tal concepção da problemática ambiental, são escassas as discussões no campo da
EA sobre a categoria trabalho e suas implicações no campo da mudança societária, fato
preocupante, pois como pontua Layrargues (2006, p. 74):

A consideração da categoria ―trabalho‖ que fornece a concretude necessária para


que seja possível visualizar que os ―humanos‖ não são seres vivos genéricos e
abstratos para serem qualificados linearmente numa relação ―humano-natureza‖
como é tão frequentemente posta, mas sim preenchidos de valores, interesses,
intencionalidades e interferências físicas no mundo bastante diferenciadas.

Ou seja, o encobrimento dessa perspectiva transformadora da realidade revelada pela


categoria trabalho na abordagem da crise ambiental e do fazer da EA, acaba por fortalecer a
concepção de Feuerbach, filósofo contemporâneo a Marx, de um homem passivo, contemplativo

522
que não concebe que a consciência é sempre consciência de um ser ativo, cujo modo de existir
consiste precisamente em intervir transformadoramente na realidade. Bem como, tal encobrimento
homogeneíza a responsabilidade, de atores sociais diversos com diferenciados intercâmbios
orgânicos e suas implicações na crise ambiental.
Mészáros (2008b), ao defender que a educação está necessariamente vinculada ao trabalho,
esclarece que o desvinculamento desses dois componentes é fruto de um sistema que se apoia
justamente na divisão entre trabalho e capital e na exploração de massas, logo para o
estabelecimento desta situação advém a necessidade da educação para difundir os valores que
permitam a manutenção do metabolismo desse sistema. E nos traz exemplos, numa perspectiva
histórica, de como as instituições de ensino tiveram que se adaptar às reconfigurações do capital. O
caráter indissociável entre educação e trabalho é evidenciado dentro de nossas sociedades de
classes, pois permanecer fazendo uma educação para classe trabalhadora em prol dos interesses da
classe dominante/hegemônica é totalmente compatível e consoante com a lógica perversa do
capital.
Dentro dessa lógica as formas de produção e reprodução do seu metabolismo são
asseguradas por aparelhos repressivos e ideológicos do Estado. É de grande aderência o fato das
instituições de ensino ser um dos mais formidáveis aparelhos ideológicos das sociedades atuais,
haja vista que todas as pessoas, independente da classe social a que pertencem, passam uma
significativa parcela de suas vidas expostas aos efeitos (de) formadores das instituições formais de
ensino (ALTHUSSER, 1999).
Diante dessa concepção de escola como um forte aparelho ideológico de Estado, é
importante destacar o papel da ideologia no contexto de nossas sociedades. Segundo Chauí (2001) a
ideologia, é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de
normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem
pensar, valorizar, fazer e sentir. A função da ideologia é, sobretudo, a de dar uma explicação
racional para as diferenças (de classes, econômicas, políticas, culturais), criar uma sensação de
identidade entre as pessoas e dar margens para o conformismo.
As ideias dominantes numa dada sociedade inserida em um determinado espaço e tempo são
os interesses da classe dominante que se mantém em tal posição utilizando-se da ideologia. Então,
em uma sociedade dividida em classes a educação dá-se de acordo com os interesses da classe
dominante/hegemônica, logo cada um aprende aquilo que é permitido para sua classe social
conhecer. Depreende-se daí que a educação dentro da lógica do capital também é uma mercadoria
(HAUG, 1997), já tem um destino estabelecido. O conhecimento como mercadoria torna-se partido,

523
fragmentado, aprende-se apenas a superficialidade a qual não permite visualizar as causas das
contradições existentes, muito menos trabalhar no sentido de mudá-las.
Para Mészáros (2008b) a escola desempenha um importante papel no sistema global de
internalização, mas não representa a força ideológica primária que consolida o sistema do capital;
tampouco ela é capaz por si só de fornecer uma alternativa emancipatória radical. Deduze-se então,
que apostar todas as fichas num caminho viciado é ingênuo e não nos conduz a mudanças
significativas, essenciais.
O referido autor defende que a educação é um processo contínuo, permanente e que vai além
das instituições formais de ensino e nos esclarece parafraseando Paracelso: ―A aprendizagem é a
nossa própria vida, desde a juventude até a velhice, de fato até quase a morte; ninguém passa sequer
dez horas sem nada aprender‖. Tal frase abre a percepção para o fato do processo educativo não se
restringir ao aprendizado individualizado dos conteúdos, nem tampouco à educação formal. Pois,
dentro dessa perspectiva os homens educam uns aos outros, na relação entre eles e entre eles e o
mundo.
Não obstante, vale ressaltar que apesar desse padrão de reprodução dos interesses da classe
dominante na educação, existem propostas que buscam fugir dessa lógica. É histórico o modo como
a sociedade civil vem se articulando em torno de questões tratadas em esfera global e as conquistas
alcançadas e pressões empreendidas. Tais propostas tem que ser propagadas e difundidas por
justamente ser uma alternativa para se trabalhar fora da lógica do capital, pois como já foi
comentado o espaço formal da educação não pode ser a única aposta da EA.
Contudo, ainda fica o questionamento de como realizar a tarefa histórica de nosso tempo:
―romper com a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana‖? (MÉSZÁROS, 2008b, p.
45). Marx refere-se à ―associação dos indivíduos livres‖ como a verdadeira solução do antagonismo
impostos pelo capital (SCHMIDT, 1977). Posição também defendida por Mészáros ao explicar o
processo de tomada de consciência do ser humano que é por sua própria natureza individual e
coletivo. A tomada de consciência ai vem necessariamente acompanhada de uma ação
transformadora.
Paulo Freire (1996, p. 113-114) em sua obra Pedagogia da Autonomia também nos diz um
pouco a esse respeito:

O que quero repetir, com força, é que nada justifica a minimização dos seres
humanos, no caso das maiorias compostas de minorias que não perceberam ainda
que juntas seriam a maioria. Nada, o avanço e/ou da tecnologia, pode legitimar
uma ―ordem‖ desordeira em que só as minorias do poder esbanjam e gozam

524
enquanto às maiorias em dificuldades até para sobreviver se diz que a realidade é
assim mesmo que sua fome é uma fatalidade do fim do século. Não junto a minha
voz à dos que, falando em paz, pedem aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a
sua resignação. Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da
resistência, da indignação, da ‗justa ira‘ dos traídos e dos enganados. Do seu direito
e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada
vez mais sofridas.

À luz desta pertinente argumentação, confirma-se mais uma vez que o interesse do Capital
não é transformar o mundo, mas justamente mantê-lo como está a qualquer custo, negligenciando
limites biogeofísicos impostos pela natureza ao seu funcionamento e passando por cima até de
direitos humanos mais básicos como alimentação e moradia dignos. Diante de tal fato é mister a
construção de outra racionalidade social que sai da lógica perversa do capital, que não esteja
fundada em suas bases, que vá além e se afirme dentro de outro paradigma.
Sendo assim, a transformação da racionalidade produtiva que degrada o ambiente requer
uma análise totalizadora da realidade, bem como a elaboração de estratégias conceituais e a
produção de trabalho teórico para gerar os instrumentos práticos e teóricos da gestão ambiental do
desenvolvimento inserida num contexto de construção de uma racionalidade ambiental a qual põe
em análise os próprios conceitos de ―meio‖ e de ―ambiente‖, e propõe um enriquecimento do
conceito de valor econômico, a construção de novos conhecimentos e saberes embasados na
diversidade, na alteridade, na ética e no reconhecimento das contradições e estruturas de poder.
Bem como, requer o rompimento das formas dominantes de produção que obstaculizam a
reorientação das práticas produtivas para alcançar um desenvolvimento sustentável, igualitário e
justo (LEFF, 2007).
Diante dessa demanda de construção de outra racionalidade social e econômica, a EA
adquiriu diferentes identidades que apontam para iniciativas que buscam superar a chamada
educação conservadora ou comportamentalista (LOUREIRO, 2004). Entre elas está a chamada
educação ambiental crítica, que no presente estudo também é entendida como transformadora e
emancipatória .
Guimarães (2004) resgata uma história deverás oportuna para esclarecer a necessidade de
uma educação crítica: a do Barão de Münchhausen, o dito barão para sair do atoleiro no qual
afundava buscou puxar para cima os seus próprios cabelos. Ou seja, deixar de fora a perspectiva
crítica da práxis educacional é reafirmar paradigmas dominantes, compartimentalizar a realidade e
manter o status quo. No entendimento de Freire (1979), a consciência crítica comporta:

525
1. Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz com as
aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para a análise do problema; 2.
Reconhece que a realidade é mutável; 3. Substitui situações ou explicações
mágicas por princípios autênticos de causalidade; 4. Procura verificar ou testar as
descobertas. Está sempre disposta às revisões; 5. Ao se deparar com um fato, faz o
possível para livrar-se de preconceitos. Não somente na captação, mas também na
análise e na resposta; 6. Repele posições quietistas. É intensamente inquieta.
Torna-se mais crítica quanto mais reconhece em sua quietude a inquietude, e vice-
versa. Sabe que é na medida que é e não pelo que parece. O essencial para parecer
algo é ser algo; é a base da autenticidade; 7. Repele toda transferência de
responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas; 8. É indagadora,
investiga, força, choca; 9. Ama o diálogo, nutre-se dele; 10. Face ao novo, não
repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na
medida em que são válidos.

Diante das reflexões feitas, infere-se o imperativo de superar a concepção naturalista da EA


e a necessidade de incorporar conceitos como risco, conflito, vulnerabilidade, e justiça
socioambiental. Bem como reconhecer a importância da categoria trabalho na transformação social,
pois o mesmo é a nossa relação com a natureza.
Dentro desse contexto de conhecimento, saber e transformação, vale chamar atenção para o
saber ambiental (LEFF, 2009) produzido numa relação entre teoria e práxis, trazendo em seu seio
um conceito de ambiente como uma falta insaciável de conhecimento onde se aninha o desejo que
gera uma tendência interminável para produção de conhecimentos orientados para construção de
uma nova racionalidade social, e que não só gera um conhecimento científico mais objetivo e
abrangente, mas também produz novas significações sociais, novas formas de subjetividade e de
posicionamento diante do mundo.
Vale salientar também que o saber ambiental transcende o campo da racionalidade científica
e das objetividades do conhecimento. Este saber que se afina com a incerteza e a desordem está se
conformando dentro de uma nova racionalidade teórica, donde emergem novas estratégias
conceituais (LEFF, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A EA que é essencialmente educação tem um forte potencial e, quiçá, dever de revelar a


necessidade e possibilidade de mudança do sociometabolismo do capital despertando ―uma

526
consciência crítica inflexível da inter-relação cumulativa, em lugar de buscar garantias
reconfortantes no mundo da normalidade ilusória até que a casa desabe sobre nossas cabeças‖
(MÉSZÁROS, 2008).
A construção dessa consciência começa por eliminar as dicotomias que envolvem a questão
ambiental. Uma forma prática de fazermos isso no nosso cotidiano de educadores ambientais é
sempre fazer o exercício de procurar evidenciar as causas primeiras de determinada problemática
ambiental, assim como evidenciar quem são os atores envolvidos, porque eles estão envolvidos, de
que forma, a quanto tempo, por quanto tempo, para quê, para quem. Ou seja, a questão ambiental
preconiza uma problematização crítica da realidade que é contrária à ênfase demasiada dada ao
componente comportamental da educação e à visão romântica e unilateral da natureza.
Por fim, reflexionamos dentro do contexto de construção de uma racionalidade ambiental
que a EA necessita trabalhar no sentido de concepção de novos valores e práticas, que vá além da
lógica do capital. Em EA precisa-se ousar acreditar e, sobretudo, partir de uma certeza: a realidade
pode ser mudada!

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527
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conflitos. Gestão em Ação, Salvador, v.7, n.1, jan./abr. 2004
MÉSZAROS, I. O desafio e o fardo do tempo histórico. Conferência de lançamento do livro O
Desafio e o Fardo do Tempo Histórico (Boitempo), 2008ª
_______. A crise estrutural do capital. Dossiê elaborado para palestra de lançamento do seu livro
Além do capital, São Paulo, 1998.
_______. A Educação para Além do Capital. Trad.. Isa Tavares. 2 ed.- São Paulo: Boitempo,
2008b.
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Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 3, n. 2 – pp. 25-48, 2008
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Comunicação, Saúde, Educação, v.1, n.1, 1997.
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VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

528
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA RACIONALIDADE

Dinabel Alves Cirne VILAS-BOAS


Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE
dinavilasboas@gmail.com

RESUMO

Esta investigação tem como propósito discutir sobre a educação ambiental e a construção de valores
no cenário de um modelo estabelecido nas relações de produção, lucro, exploração da natureza e
provocar a reflexão acerca da importância das instituições educativas para a construção de uma
nova cultura e reorientação das relações de consumo. A partir de propostas pedagógicas pautadas na
Educação Ambiental, os processos formativos poderão contribuir com experiências catalisadoras
para transformação dos valores e promover a adoção de atitudes de respeito à vida que garantam a
sustentabilidade socioambiental. A Educação Ambiental é uma educação política com envergadura
para responder a evolução coletiva da sociedade, haja vista sua capacidade em catalisar processos
formativos transformadores e contribuir para adoção de novos estilos de vida, pautados no respeito
a vida, na solidariedade, justiça, respeito, cuidado e sustentabilidade socioambiental. Nessa
perspectiva é necessário um novo olhar sobre a educação, entendida como espaço essencial para
construção de uma ética sustentável e para provocar inquietações e questionamentos acerca dos
valores impostos pela sociedade de consumo, avançando para além do crescimento econômico,
estabelecendo o compromisso com a construção de uma nova racionalidade e espiritualização
humana.

Palavras Chave: Sustentabilidade. Educação. Consumo.

ABSTRACT

This survey´s proposal is discussing about the environmental education and the values construction
in a scenario based on production relations, profit and nature exploration and also to cause the
reflection about the educational institutions in order to build a new culture and reorientation of the

529
consume relations. As from pedagogic proposals based on environmental education, the formal
processes may contribute with catalyzing experiences to transform values and promote the adoption
of life-respecting attitudes that may guarantee the sustaining base of the natural goods. The
environmental education is part of a political education, with capacity to respond at the social
collective evolution, considering its capacity of catalyzing changing formal processes and
contribute to the adoption of new life styles, based on life respect, solidarity, justice, respect, care
and, social and environmental sustainability. This perspective requires a new look of the education,
as an essential place to construct a sustainable ethic to provoke inquiries about the values imposed
by the consume society and go beyond the economic development and have the effective
compromise on the construction of a new rationality and human spirituality.

Keywords: Sustainability. Ethics. Consume

INTRODUÇÃO

É possível transformar as relações mantidas com o meio ambiente? Que papel as instituições
de educação podem desempenhar quanto às questões socioambientais? Como tornar possível uma
relação de respeito com o Meio Ambiente, a Terra, e os seres vivos? Como viabilizar uma mudança
de atitude frente a si mesmo, ao outro e a vida?
Responder questões dessa natureza, considerando o cenário no qual a sociedade está
inserida, encerra grandes desafios.
Os processos vivenciados ao longo da história da humanidade e a pressão exercida para
atender as exigências do atual modelo econômico influenciam nossas ações e comportamentos,
sendo necessário rever os valores e conceitos que vem se estabelecendo dentro e fora das
instituições de ensino. Somente por meio de uma educação crítica será possível a mudança de
percepção e dos hábitos de consumo, a construção de valores éticos e a autonomia nas escolhas de
padrões mais sustentáveis.
No entanto, requer o investimento em políticas públicas e propostas educativas que
garantam uma formação cidadã e promovam a atitude ética e política, que para Boff (2000) implica
em assumir com responsabilidade decisões, novas posturas e valores voltados para a melhoria da
qualidade de vida.
A emergência posta a humanidade exige alcançar relações sustentáveis e estabelecer novas
relações de consumo. Trata-se da reorientação do comportamento antiecológico, que para

530
Velázquez (2012) é condição essencial a ser trabalhada nos ambientes educativos desde os
primeiros anos escolares, resultando em novos contextos de interação entre o ser humano e as
questões socioambientais. Portanto, o tipo de relação mantida com o meio e com o outro é que
poderá ou não garantir a sustentabilidade do planeta e uma razoável qualidade de vida para todos.
A Educação Ambiental assume papel de fundamental importância para a formação dos
futuros gestores das organizações humanas no planeta. Entretanto, para o aprofundamento dos
processos educativos é fundamental a construção de nova racionalidade ambiental que possibilite
modalidades de relações entre o ser humano e a natureza sob o prisma de um modelo ético, centrado
no respeito e no direito à vida. O desafio consiste em concretizar os princípios da educação
ambiental, num mundo em que as mudanças de comportamento sociais indicam uma inversão de
valores e que a educação ainda reforça princípios redutores e fragmentadores dos processos de
aprendizagem e conhecimento.
Este artigo aborda sobre os desafios para a construção de uma nova cultura, pautada em uma
nova racionalidade, na responsabilidade socioambiental em um cenário de crise de valores, de
relações de poder e estímulos às relações do ter, e apresenta a capacidade dos ambientes educativos
para efetivamente responder por novos padrões, já que trata-se de uma organização capaz de
produzir e instrumentalizar os estudantes para a sustentabilidade ecológica proposta pela Educação
Ambiental.

DA VISÃO ANTROPOCÊNTRICA A RE-CONEXÃO COM O MEIO

Na visão antropocêntrica, o ser humano é visto como o centro de todas as coisas, haja vista
sua racionalidade, nesse sentido é contraditório que o mesmo não assuma a devida responsabilidade
sobre as demais formas de vida, e com a conservação das espécies que sustentam a própria vida
humana.
Essa visão do ser humano como centro de tudo e a natureza a seu dispor foi assimilada de
forma desconectada das relações entre todos os seres vivos e os bens naturais, bem como, da
necessária responsabilidade com a vida, inclusive produzindo uma percepção que desconecta o
próprio ser humano da teia da vida, como se ele não fosse um ser natural.
O sentido da lógica Aristotélica da racionalidade humana diferencia os seres humanos e as
outras espécies, nesta concepção o ser humano tem a capacidade de se relacionar com as diversas
formas de vida e com o transcendental, o que deveria ter implicado, na responsabilidade e
compromisso com a manutenção da vida planetária.

531
Essa cisão trouxe como desafio um conjunto de problemas socioambientais que não podem
ser vistos de maneira isolada, nem resolvidos sem considerar a integração entre os sistemas vivos,
as estruturas materiais e as relações biológicas, químicas, físicas, sociais e culturais que influenciam
e são influenciadas por este conjunto.
Dias (2002) destaca que o cotidiano tem levado a sociedade a esquecer rapidamente sua
ligação com a natureza, principalmente nos grandes centros urbanos, onde o consumo rápido é
estimulado o tempo todo e os resíduos gerados por este consumo ficam a distância das pessoas, o
que também distancia a possibilidade em estabelecer conexões entre os padrões de organização
humana e seus reflexos para o meio.
O consumo individualista, segundo McCracken (2003), se estabeleceu no reinado de
Elizabeth, com a introdução da moda, o consumo extravagante e a competição por status, assim é
criado o espaço para o crescimento do mercado e do consumo e a partir do século XVIII outros
grupos e classes sociais passam a participar do consumo no mundo ocidental, sendo incorporado
definitivamente pela sociedade no século XX, agregando características que se mantém até os dias
atuais.
Na modernidade, as empresas e corporações estruturaram-se na lógica da produção e lucro
cuja meta é a rentabilidade crescente e o progresso sem limite, estimulando o consumo em
atendimento ao interesse da manutenção do sistema, distanciando o consumidor cada vez mais das
suas reais necessidades. Desse modo, o consumo se estabelece como uma construção cultural e
social e assume valor simbólico na vida das pessoas. Para Belk (1998) o significado atribuído ao
objeto consumido reflete a identidade da sociedade, é e por meio de suas posses que os
consumidores expressam e comunicam sua identidade.
Nessas relações de consumo, a base se sustentação da vida acaba sofrendo uma grande
pressão, já que a sociedade industrial da modernidade por meio do estímulo ao consumo
desenfreado tem explorado os bens naturais em proporções maiores do que a capacidade do planeta
em repor esses bens. Este cenário requer uma nova ótica em que o uso da natureza ocorra de
maneira pacífica como propõe Velázquez (2012), avançando para um comportamento em
consonância com a ecologia e a sustentabilidade.
Desse conjunto de problemas socioambientais que se agravam a cada dia e a desconexão dos
impactos socioambientais presentes na dimensão do consumo é que emerge necessidade da
Educação Ambiental como possibilidade para reorientação humana na construção de novos valores
e para uma educação voltada para o consumo inteligente.
Para Morin (2001), o ambiente social do ser humano global forma uma sócio-organização e
por meio desta constitui a eco-organização humana. Essas interações espontâneas entre indivíduos e

532
grupos, envolve liberdade, criatividade, dominação, exploração, compreendendo uma diversidade
de ambivalências.
No entanto, esses arranjos de interações coletivas precisam ser estruturados em uma nova
lógica de respeito e colaboração à capacidade de autosustentação da natureza, e de maneira
inteligente garantir a satisfação das necessidades humanas sem o comprometimento do equilíbrio
dinâmico da natureza da qual somos parte e participamos.
CAPRA (1996), ao discutir sobre a necessidade da mudança de percepção e de valores,
afirma que esta mudança na organização social é interdependente da re-conexão planetária, possível
por meio de uma re-educação fundamentada nos princípios básicos da ecologia, denominada por ele
de eco-alfabetização.
As percepções são resultado das construções estruturadas a partir da reflexão, reconstrução e
reedição das ideias e modos de agir e viver no mundo, destacando, portanto, a importância da
educação ambiental no estímulo de processos reflexivos, criativos e críticos que favoreça a
percepção sobre os efeitos em rede das atitudes humanas e estimule a busca individual e coletiva da
sustentabilidade socioambiental.
É no desenhar das propostas de Educação Ambiental que as instituições educativas tornam-
se espaços de integração e tessitura para uma nova racionalidade possível de ser estruturada na
oferta de processos formativos que atendam a necessidade em humanizar, instrumentalizar e
espiritualizar os seres humanos.

O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

As instituições de ensino superior ao mesmo tempo em que são conservadoras e integradoras


do conhecimento também são regeneradoras e produtoras de novos conhecimentos, percepções e
saberes e devem, portanto, ser o ambiente alimentador de novas ideias que respondam às demandas
da sociedade pós-moderna e com capacidade em contribuir para construção de uma nova ética.
Para Morin (2001) é necessária uma educação voltada para cidadania planetária, para
construção de uma ética antropológica, promotora do respeito e valorização da vida. No entanto
requer repensar os ambientes educativos e suas propostas pedagógicas. E a partir de novos
contextos pedagógicos recriar o destino humano, nutrir um conjunto de competências para a
convivência com a própria espécie, com a coletividade dos seres vivos e do meio.
A Gestão coletiva e criativa das Instituições de Ensino Superior e das escolas, a
oportunidade de experiências concretas de respeito aos ciclos da natureza e das relações sociais,
podem se tornar excelentes espaços de ampliação da capacidade autoformadora e

533
autotransformadora como propõe Maturana e Varela (2001) ao referir a dinâmica autopoiética dos
processos de formação que se manifestam a partir do acoplamento entre o indivíduo e o meio no
qual está inserido.
Para Capra (2005) essas experiências são essenciais para alcançar a sustentabilidade nos
ecossistemas e na sociedade humana, concretizada somente por meio da teia de redes autogeradoras
construídas nas dimensões biológica, cognitiva e social.
Nesse sentido, as relações construídas e as aprendizagens promovidas no processo formativo
podem significar espaços fundamentais para construção de uma nova ética estabelecida para além
dos caminhos convencionais e que essencialmente considere a existência de um conjunto
possibilidades de enriquecimento e valorização de novos processos que possam incluir a
criatividade e a incerteza, limites e potencialidades, unindo conceitos divergentes, tecendo as redes
de relações entre os diferentes saberes e as múltiplas realidades.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROPOSTA EDUCATIVA

A Educação Ambiental deve incorporar a complexidade da problemática ambiental, em suas


dimensões política, ética e cultural. Implica na capacidade em ofertar espaços de aprendizagens,
criatividade e novas concepções e práticas de vida que proporcionem a clara noção da
responsabilidade humana com a sustentabilidade socioambiental.
De acordo com Carvalho (2002) a Educação Ambiental deve estar focada na participação
política para transformação social, possibilitando assim, a construção e reelaboração de valores
éticos entre sujeitos e entres estes e o ambiente.
As modificações ambientais impostas pelos atuais padrões de consumo e de produção das
sociedades alteraram os ambientes naturais e consequentemente a qualidade de vida. Os padrões de
consumo podem aproximar ou distanciar pessoas, alterar os ciclos naturais e condições de saúde,
bem como, alimentar sonhos, produzir aprendizagens de responsabilidade e respeito, dependendo de
como estas relações são construídas e com quais finalidades.
Segundo Capra (1996) somente uma nova percepção da realidade, uma visão da vida como
uma rede de relações será capaz de revitalizar o mundo. Dessa maneira, podem ser criadas novas
formas de pensar, agir e viver no mundo, seja nas comunidades educativas, política, comercial,
industrial, nos diversos ambientes nos quais os seres humanos se organizam.
Alcançar a sustentabilidade é almejar a continuidade dos segmentos para além das
necessidades individuais, pensar coletivamente e ter em mente a garantia de continuidade para as
gerações futuras. Requer o desenvolvimento de ações que possibilitem uma educação para a

534
redução do consumo de materiais, energia, bens e serviços e que resultem no comprometimento
com a qualidade ambiental, redução da emissão de substâncias tóxicas, intensificação da
reciclagem, reutilização e consumo inteligente, maximização do uso sustentável de recursos
renováveis, prolongamento da vida útil dos produtos e agregação de valor aos bens e serviços.
A Educação Ambiental configura-se como ambiente para incorporação de uma nova cultura
e o estudo de alternativas e possibilidades para relações sustentáveis capazes de refletir em maior
eficiência no consumo e descarte dos bens utilizados no cotidiano, condição essencial para alcançar
a sustentabilidade. No entanto, não pode se resumir às questões relacionadas ao consumo e descarte
dos bens naturais e materiais, mas também nas relações interpessoais e a sustentabilidade das redes
relacionais.
Nesse sentido a Educação Ambiental é promotora de um ambiente de aprendizagens de
práticas sustentáveis, possibilitando a construção do senso da responsabilidade com a vida, com as
pessoas, com os bens naturais e materiais utilizados no cotidiano e sua devolução ao meio, e ainda,
o empoderamento em replicar as aprendizagens em outros ambientes que compõe a rede das
relações humanas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano interage na dinâmica social, que comporta as interconexões políticas,


econômicas, pedagógicas, técnicas, artísticas, científicas, religiosas, espirituais e afetivas,
participando na construção do meio urbano e ambiental, cujas intervenções podem ocorrer de forma
positiva ou não, dessa maneira é que se tecem nossos modos de ser e viver no mundo, implicando
na incorporação de novos valores e percepções mais integradas e transcendentais para superação
dos desafios postos na modernidade.
A compreensão do ser humano como parte da natureza, numa relação dialética em que o ser
humano transforma a natureza e é por ela transformado, não surgirá, sem que antes sejam criadas
novas possibilidades para uma reeducação que contemple as dimensões ser humano, natureza e
sociedade.
Nesse sentido, as instituições de ensino, como ambiente educador, precisam oferecer
oportunidades de conexão com a natureza e experiências concretas de sustentabilidade e
responsabilidade com a vida de maneira mais ampla. Pedagogicamente, deve ser oportunizada a
construção da cultura da sustentabilidade e valorização da vida, alinhada ao pensamento eco-
sistêmico e a uma visão aberta e integrada do conhecimento.

535
Portanto, a transformação da sociedade implica na conexão com o transcendental e na clara
noção dos direitos, deveres e responsabilidades humanas com a vida e sustentabilidade planetária,
na construção de uma nova ética que exigirá dos ambientes educativos o estudo aprofundado sobre
sustentabilidade, o planejamento de ações interdisciplinares e uma visão sistêmica do ambiente
escolar e da educação.

REFERÊNCIAS

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do Humano – Compaixão pela Terra. Petrópolis – RJ: Vozes,
2000. 199p.
BELK, Russel Wallendorf. Possessions and the Extended Self. Journal of Consumer Research,
Chicago, v.15, p.139-168, set. 1988.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. Tradução:
Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.
_____. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Tradução: Marcelo Brandão
Cipolla. São Paulo: Cultrix, 2005.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.
3ª.ed. São Paulo: Cortez, 2008
DIAS, Genebaldo Freire. Pegada Ecológica. São Paulo: Gaia, 2002.
MATURANA, Humberto Romesín. & VARELA, Francisco Javier García. A Árvore do
Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Tradução; Humberto Mariotti e Lia
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MCCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.
MORIN, EDGAR. O Método II: a vida da vida. Tradução: Marina Lobo. Porto Alegre: Sulina,
2001.
_____. A Cabeça Bem Feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução: Eloá
Jacobina. 5ª.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001
VELÁZQUEZ, Ricardo Estigarribia. Ética Fundamentos Filosóficos y Antropológicos - aplicación
a la educaciona en valores, la política, la tecnología, la economía y el medio ambiente. Asunción-
Paraguay: Marben, 2012.

536
REFLETINDO SOBRE CONCEPÇÕES AMBIENTAIS DE EDUCANDOS E EDUCADOS DE
UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

Gilberlândio Nunes da SILVA (PPGQ/UFRN)


gilberlandionunes@hotmail.com
Joycyely Marytza A. S. FREITAS (UEPB/CCET)
jmarytza@yahoo.com.br
Gilvaneide Nunes da SILVA (PPGSS/UFPB)
neidefelipe@hotmail.com
Antonio Manoel da SILVA FILHO (CCAA/UEPB)
lucatony_2500@hotmail.com

RESUMO

Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma instigante oportunidade para compreender a
gestação de novos atores sociais, que se mobilizam para a apropriação da natureza, num processo
educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado, numa
lógica que privilegia o diálogo e a interdisciplinaridade das diferentes áreas do saber. O presente
estudo teve como finalidade investigar as concepções ambientais de educandos e educados de uma
escola pública da cidade de Campina Grande Paraíba. No referencial teórico desta pesquisa nos
apoiamos no Parâmetros Curriculares Nacionais, Conferência de TBILISI, PRONEIA,
Constituição Federal, e LDB. No percurso metodológico fez-se um levantamento das
características do objeto que se pretendia investigar, em adição utilizou-se um questionário objetivo
como instrumento de coleta de dados. Os dados da pesquisa foram classificados em duas categorias
distintas, sendo uma o grupo de 100 alunos, e a outra o grupo de 20 professores, totalizando 120
investigados. Os questionários se encontram nos anexos A e B deste trabalho. Na análises dos
dados foi utilizado estatística descritiva. Os resultados ilustrados nas figuras deste trabalho
referente as concepções e preservação ambiental dos educados investigados sinalizam, para o
mínimo de conhecimento e pouco interesso em preservar o meio que vive. Em concordância com os
resultados da pesquisa, pode se concluir que, alguns obstáculos apresentados por eles, podem ser
atribuídas a prática docente da escola investigada, a figuras três pode ser uma boa justificativa, para
tal afirmação. É importante pontuar que o processo de formação de consciência ambiental dos
educados, é um processo continuo e necessita de muito comprometimento, dedicação e capacitação

537
dos profissionais que estejam envolvidos, na participação, elaboração e realização do projeto
político pedagógico da escola, inserido os princípios básico da educação ambiental nos temas
transversais, como indica os PCNs.

Palavras-chaves: Concepções, Educados e Educandos, Consciência Ambiental.

ABSTRACT

Reflecting on the environmental complexity opens an exciting opportunity to understand the


gestation of new social actors who mobilize for the appropriation of nature, an educational process
articulated and committed to sustainability and participation, supported, a logic that favors dialogue
and interdisciplinarity of different areas of knowledge. The present study aimed to investigate the
environmental conceptions of students and educated at a public school in the city of Campina
Grande Paraiba. In the theoretical framework of this research we rely on the National Curriculum
parameters, Conference TBILISI, PRONEIA, Constitution federal, and BDL. In methodological
course made up a survey of the characteristics of the object it was intended to investigate, in
addition, we used an objective questionnaire as an instrument for data collection. The survey data
were classified into two distinct categories, one group of 100 students, and another group of 20
teachers, totaling 120 investigated. The questionnaires are in Annexes A and B of this work. In the
analysis of the data was used descriptive statistics. The results shown in the figures of this work
regarding the concepts of environmental preservation and educated investigated signal, for the least
bit interested in knowledge and preserve the living environment. Consistent with the results
presented can be concluded that some obstacles presented by them, can be attributed to teaching
practice school investigated, the three figures may be a good justification for such a claim. It is
important to point out that the process of formation of environmental awareness among educated, is
a continuous process and requires a lot of commitment, dedication and training of professionals
who are involved in participation, preparation and realization of the political pedagogical project of
the school, entered the basic principles environmental education in cross-cutting themes, as
indicated by the PCNs.

Keywords: Conceptions, polite and students, Consciousness Environmental.

538
INTRODUÇÃO

Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma instigante oportunidade para


compreender a gestação de novos atores sociais, que se mobilizam para a apropriação da natureza,
num processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação,
apoiado, numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas do saber.
Nessa perspectiva pode-se observar que em qualquer definição é necessário que a consciência
ambiental, contemple a formação de valores e alterações de paradigmas enraizados na sociedade,
bem como no despertar no individuo a cidadania, a responsabilidade social e a preocupação com o
bem estar comum, criando uma consciência critica acerca da necessidade de harmonizar as
atividades humanas com proteção ao meio ambiente. Portanto, devemos buscar alternativas que
promovam uma contínua reflexão nos indivíduos a ponto de refletir em mudanças relacionadas as
questões ambientais, desta forma conseguiremos implementar, nas escolas, a verdadeira Educação
Ambiental. É importante destacar que atividades e projetos, pode ser utilizados como ferramentas
transformadoras no processo de construção da consciência ambiental.
Desta forma o fruto da ânsia de toda a comunidade escolar, em construir um futuro no qual
possamos viver em um ambiente equilibrado, em harmonia com o meio, com os outros seres vivos e
com nossos semelhantes.Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, uma das questões que
levaram a inserir o meio ambiente como tema transversal foi à contribuição, que, em termos de
educação, numa perspectiva que pudesse contribuir para evidenciar a necessidade de um trabalho
vinculado aos princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade e da
igualdade. Dessa forma, a escola pode estabelecer tais vínculos através de ações e propostas
pedagógicas numa perspectiva interdisciplinar, ou seja, contra a fragmentação do conhecimento e
criando possibilidades para o desenvolvimento da Educação Ambiental como um todo,
contornando dificuldades que se encontram na aplicação das propostas estabelecidas em projetos
pedagógicos nos diferentes contextos escolar, como orientadora de uma prática que, segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais reflita para alem informações e conceitos.
Nesse cotexto a escola deve trabalhar numa perspectiva inovadora valorizando, o
conhecimento dos educandos e oportunizando, com propostas que motive-os, frente ao processo de
ensino e aprendizagem de novas habilidades e procedimentos. Em um contexto mais abrangente os
PCNs trata das questões ambientais com finalidade de formar cidadãos críticos, reflexivos e,
plenamente, conscientes de seus direitos e deveres, em adição defende um ambiente ideal para o
desenvolvimento e formação de valores, indo além dos conteúdos aplicados em sala de aula,
fornecendo mais que informações e conceitos, contudo, valorizando comportamentos, experiências,

539
habilidades que possam favorecer o trabalho que o tema propõe dentro do currículo e nas práticas
cotidianas de todos, vinculado a educação ambiental. É importante pontuar que o presente estudo
de caso nos propomos investigar questões ambientais, numa escola pública da cidade de Campina
Grande Paraíba , bem como diagnosticar as concepções de educandos e educados sobre consciência
ambiental da escola em questão.
Nesse cenário acreditamos que os professores sejam capazes de utilizar sua criatividade
atrelada aos seus conhecimentos, para aprimorar e gerar novas metodologias de ensino via
educação ambiental, ou seja, educar ambientalmente, se torna necessário o estudo do meio ambiente
com aquisição de novos valores relacionados à integração do ser humano e ambiente, os quais
deverão ser trabalhados através dos informações de diversas área da ciência. Nesse contexto faz se
necessário a capacitação de profissionais atuantes frente a comunidade estudantil numa perspectiva
interdisciplinar. Estas condições evidenciam as necessidades de estudos sistemáticos na área de
política educacional, motivo pelo qual propomos investigar as concepções dos estudantes, fazendo
um comparativo com a pratica docente dos educadores na temática em estudo.
Fundamentação Teórica
No século XX começaram a se preocupar com a educação ambiental da população, e com a
necessidade de proteger os recursos naturais. Contudo, apenas em 1972, com a conferencia de
Estocolmo, é que esta temática se faz presente de forma internacional.
Em 1977 foi realizada a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental
(Conferência de Tbilisi), com o Brasil-(PRONEA), Programa Nacional de Educação Ambiental,
momento em que se consolidou o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), e foram
estabelecidas as finalidades, os objetivos, os princípios orientadores e as estratégias para a formação
da educação ambiental em todo o mundo (PRONEIA, 2005). Surge como mais um importante
instrumento de mudanças a educação ambiental, pois correspondem a um processo educativo
permanente, dinâmico, criativo, interativo, com enfoques interdisciplinares, que permite aos seres
humanos conhecerem as relações, interações existentes entre eles, os seres vivos e o ambiente;
reconhecer os problemas ambientais locais e globais e valorizar os aspectos sociais, históricos,
éticos e culturais do ambiente onde estão inseridos. (SILVA, 2003).
A efetivamente para contribuir na ampliação e no enriquecimento da questão ambiental na
escola, propondo ações não especificas por disciplina, mas abrangendo as diferentes áreas do
conhecimento e para servir de meio estimulador de algumas ações de Educação Ambiental, é
fundamental que a escola desenvolva um programa ou projeto de Educação Ambiental. As ações
devem ocorrer dentro do sistema formal de ensino junto rede à escola pública, estadual, municipal,

540
e privada, com a produção de matérias técnicos específicos, treinamentos de professores e estímulos
aos diferentes atores envolvidos na execução do projeto, a partir de uma abordagem interdisciplinar.
De acordo com a conferência de Tbilisi, considerada um dos eventos mais importantes para
a educação ambiental, realizada em 1977, na Ex-União Soviética, com diretrizes e propostas de
marcos teóricos mundiais sobre a educação ambiental, até os dias atuais, as principais
características da educação ambiental são: O processo dinâmico integrativo; transformadora;
participativa; abrangente; globalizadora; permanente; contextualizadora e transversal (TBILISI,
1997). De acordo com esses tópicos a Tbilisi (1997) deixa claro que: A educação é,
respectivamente, um processo permanente, individual e coletiva de conscientização dos indivíduos
ao seu meio ambiente; que a mesma conduz a mudanças de atitudes, consolidando novos valores,
competências, conhecimentos, habilidades, que refletirão na implantação de uma nova ordem
ambiental sustentável, objetivada pela construção de uma nova visão de relações do ser humano
com o seu meio; Estimula a participação do cidadão nos processos coletivos, atuando na sua
sensibilização e conscientização; Á medida que a sua abrangência atingir a totalidades dos grupos
sociais, extrapolando as atividades internas da escola tradicional, sendo oferecida em todas as fases
do ensino formal, envolvendo a família e toda coletividade sua eficácia será alcançada; Que deve
ter atuação com visão ampla de alcance local, regional e global, considerando o ambiente em seus
aspectos: natural, técnico, social, ético e estético; Com a evolução do senso crítico e a compreensão
da complexidade dos aspectos que envolvem as questões ambientais de um modo crescente e
contínuo, não se justificando sua interrupção, tem um caráter permanente.
A conferência de Tbilisi define, além destas características, a necessidade de trabalhar a
educação ambiental como tema transversal dentro da escola. Nesse contexto pontuar se que, em
todas as discussões de mesa redonda e análises recentes envolvendo tal tema no Brasil, esta questão
têm sido o pivô de grandes debates. Como a sua abrangência como tema transversal pelos
parâmetros curriculares nacionais da educação, passou a ser elemento quase que obrigatório; nessa
transversalidade. Contudo propõe-se que as questões ambientais não sejam tratadas em disciplina
específica, mas que permeie os conteúdos, objetivos, orientações, didáticas em todas as disciplinas,
no período da escolaridade obrigatória, valorizados tanto os assuntos específicos quanto os
ambientais, vinculados a realidade da comunidade.
Sabe-se que os problemas ambientais atualmente, têm sido alvo de preocupações pelos
setores da sociedade brasileira, Tendo em vista os estragos ambientais em diferentes pontos do
território brasileiro. Diante desta realidade fez-se necessário, reflexões em defesa do meio ambiente
e principalmente na qualidade de vida. Em adição os legisladores do Brasil implantam a Lei de
Educação Ambiental nas Constituições Federal, Estadual e Municipal. A constituição Federal tem

541
como ponto central o art. 225 que declara: ―todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente,
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
Publico e a coletividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras‖
(CONSTITUIÇAO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).
De acordo com o parecer da Constituição Federal, a Educação Ambiental deve ser abordada
em todos os currículos escolares, cabendo não só ao estado preservar o meio ambiente, mas também
a coletividade. Outra Legislação Ambiental que merece destaque é (PRONEA)-Programa Nacional
de Educação Ambiental, o qual foi aprovado pelo Presidente da Republica em 21/12/1994 e criado
com o objetivo de promover um amplo programa de Educação Ambiental, dos Recursos Hídricos e
da Amazônia legal, com suporte técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos
Naturais e Renováveis-(IBAMA) e o Ministério da Educação e do Desporto que, juntos formaram
estudos no sentido de desenvolver este programa de Educação Ambiental.
A PNEA, Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999, como instrumento legal que contempla a
obrigatoriedade da inserção da Educação Ambiental em todos os setores da sociedade. Essa lei
define que, a presença no ensino fundamental da Educação Ambiental, deve abranger os currículos
das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: Educação Infantil; Ensino Fundamental;
Ensino Médio; Educação Superior; Educação Especial; Educação Profissional e Educação de
Jovens e Adultos. Destacando-se alguns pontos importantes:
Assim, a Lei reproduz as concepções básicas da Educação Ambiental, as mesmas que têm
sido discutidas pelos educadores e que constam nos documentos internacionais e que já estavam
expressas no Programa Nacional de Educação Ambiental. Estes enfoques visam à construção de
uma prática sustentável e, por fim, a capacitação como estratégia fundamental de implementação da
educação ambiental, tanto no ensino formal, como no não formal.
Metodologia
A pesquisa abordada no presente trabalho pode ser classificada como qualitativa, para o
estudo do tema fez-se um levantamento das características do objeto que se pretendia investigar, em
adição utilizou-se um questionário objetivo como instrumento de coleta de dados, com a finalidade
de diagnosticar as concepções dos educando e educados acerca da temática em discussão. A
pesquisa foi realizada na escola pública estadual, Major Veneziano Vital do Rego, situada no bairro
catingueira da zona urbana do município de Campina Grande-PB, no período de novembro de 2010
a julho de 2011. Os dados da pesquisa foram classificados em duas categorias distintas, sendo uma
o grupo de 100 alunos, e a outra o grupo de 20 professores, totalizando 120 investigados para as
dois grupos. No grupo de alunos investigados 70% pertencia ao 9ª ano do ensino fundamental II e

542
30% fazia parte do 1ª ano do ensino médio com uma faixa etária de idade entre 14 e 20 anos. O
grupo dos professores todos lecionava aos respectivas alunos.
Antes da aplicação do instrumento, de coleta de dados, para os alunos foi feito uma leitura
do questionários e a eles foi solicitado seriedade na resolução, bem como ficou acordado que eles
não tinha obrigação alguma de responder o referido, no entanto ao se comprometer resolver o
questionário, teriam que serem fieis ao seu conhecimento do tema proposto. Já os professores
tiveram a oportunidade de levar o questionário pra casa, responder e devolver no dia seguinte. Os
questionários se encontram nos anexos A e B deste trabalho. Na análises dos dados foi utilizado
estatística descritiva, e este serão discutidos na sequencia deste trabalho.
Resultados e discussão
Diante do contexto apresentado, tem-se a retomada de alguns aspectos da pesquisa realizada
considerados pertinentes para compreender o significado da inserção da educação ambiental na
escola bem como, dos objetivos específicos propostos por este estudo. Nesse contexto
apresentamos nas figuras um e dois, as concepções de meio ambiente, e ações de preservação do
grupo educados consultados nessa investigação.

Figura 03representa as percepções dos educados sobre os elementos que fazer parte do meio ambiente.

Em relação aos fatores que fazem partem do meio ambiente, observa-se que a maioria dos
alunos, 80% responderam que os elementos que fazem parte do meio ambiente são as florestas, o
homem e os animais. E 16% disseram que são as florestas, e 2% afirmam que apenas o homem, e
2% disseram que apenas os animais fazem parte do meio ambiente, diante destes resultados
podemos afirmar que o homem em alguns casos não se sente como parte do meio ambiente,

543
conforme mostrado na Figura 1. Com base nesses resultados podemos afirmar que um percentual
significativo de alunos, não sabe que são os elementos básico do meio ambiente, ou não se sente
como parte integrante do meio que vive. A figura dois ilustra o percentual das respostas quando foi
perguntado se eles pratica alguma ação onde mora para proteger o meio ambiente? os resultados
apresenta uma percentagem significativo de alunos que não se interessa pelo maio ambiente.

Figura 4 ilustra o percentual das ações de prevenção do meio ambiente do grupo de estudantes pesquisados.

A maior parte dos alunos, 53%, afirmaram que praticam alguma ações de proteção ao meio
ambiente onde mora, 30% responderam que não praticam essas ações e 15% disseram que as outras
pessoas cuidam pra elas e 2% dizem que este tema não lhes interessa. Os resultados apresentados
mostra que uma percentual de aproximadamente 50% não realiza ações alguma para preservar o
meio que vive. Diante desta realidade, as reflexões são muitas sobre a pratica docente nas escolas
pública e no meio social que rodeiam esses alunos.
Nos dias atuais são notórios os investimentos em formação e capacitação de professores,
bem como investimentos nas escola, com uma diversidade de materiais didáticos pedagógico dentre
eles salas de vídeos, que não sua maioria nunca foram usados, em adição alguns docentes
apresentam resistência em participar dos cursos de capacitação oferecidos pelos governos federal,
estadual e municipal. No entanto, essa falta de consciência ambiental dos educados não poder ser
atribuída apelas as escolas, é certo que o meio social que estes estão inseridos também pode ser um
dos fatores que influencie na educação ambiental desses pessoas.
Um outro objetivo especifico desta pesquisa é avaliar as concepções dos docentes na
temática intitulada, bem como entendimentos dos educadores quanto à consciência ambiental e

544
suas estratégia de ensino na abordagem tópico em discussão, as figuras três e quatro esboça as
percepções e preferências dos decentes investigados em trabalhar o tema desta pesquisa.

Figura 5 Algumas Percepções dos docentes sobre os problemas ambientais mais visíveis no bairro da escola que
lecionam.

A respeito dos principais problemas ambientais mais visíveis em sua comunidade; 40%
disseram que era a poluição dos rios; 20% afirmam que é o desmatamento; 35% disseram que é as
queimadas, o desmatamento e a poluição dos rios e apenas 5% responderam que são as queimadas.
Outros não foi a opção de nem um professor. Considerando que esta pesquisa foi realizada numa
escola pública da zona urbana, a opção outros poderia ter sido a opinada por todos os docente
consultados, visto que naquele bairro não tem rios, se é urbanizado não existe desmatamento no
entanto, os resultados não sinalizam nesse sentindo, temos 40% de manifestação dos investigados
pelos rios. Algumas opções para outro poderia ser compreendida como poluição sonora, lixões
desordenados, esgotos a céu aberto, coleta seletiva tanto na escola quanto no bairro etc. A figura 04
ilustra os procedimentos metodológicos utilizados pelos professoras para abordar as questões
ambientais em suas aulas.

545
Figura 6 quanto abordagem das questões ambientais em aulas.

Quanto a forma de trabalhar o tema em sala 55% educandos responderam que aborda em
seminarios e aulas expositivas, 15% disseram que trabalha o tema com debates com alunos e pais
15% disseram que trabalha este tema com atividades para casa e 15% outras formas. Nesse
contexto é importante destacar que, a conservação ambiental, principalmente na escola, está ligada
há um bom relacionamento, extra - escola, e com a comunidade, portanto um estreitamento dessas
relações é de grande relevância no processo de conservação e conscientização do meio ambiente. A
educação está ligada à transmissão cultural, e ela tem como objetivo principal promover mudanças
desejáveis no sujeito, no entanto a escola tem obrigação de fazer esse elo provocando
transformações no educado que conduza a formação da consciência ambiental, bem como na
formação de cidadãs capazes de refletir sobre questões socioambiental que estão presente no seu
cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em concordância com os resultados apresentados nas figuras um e dois da presente


pesquisa, pode se concluir que o grupo de alunos investigados, sinalizaram para um pouco
entendimento desta temática. Quando aos elementos que constituem o meio ambiente, os alunos
fazem confusão ou não apresenta concepções claras. Algumas obstáculos apresentados por eles,
podem ser atribuídas a prática docente da escola investigada, a figuras três pode ser uma boa
justificativa, para tal afirmação. É importante pontuar que o processo de formação de consciência
ambiental dos educados, é um processo continuo e necessita de muito comprometimento,
dedicação e capacitação dos profissionais que estejam envolvidos, na participação, elaboração e

546
realização do projeto político pedagógico da escola, inserido os princípios básico da educação
ambiental nos temas transversais, como indica os PCNs.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei de n 9.795 de 27 de Abril, 1999.


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TBILISI. As Grandes Orientações da Conferência de Educação Ambiental. Edição Especial
Brasília, 1997.

547
ANEXOS:
Anexo A – Questionário de pesquisa (discentes)
1º) Sexo a) Masculino ( ) b (Feminino ( ) 2º) Idade: _____ 3º) Estado civil: _____
4º) Das alternativas abaixo marque a quer você acha que faz parte do meio ambiente?
a) As florestas b) O homem c) Os animais
d) Todas as anteriores e ) Não sei opinar
5º) Você pratica alguma ação onde mora para proteger o meio ambiente?
a) Sim b) Não c) Este tema não me interessa
d) As outras pessoas cuidam pra mim e) Não sei opinar
6º) Marque a opção que você acredita que mais polui o meio ambiente?
a) Jogar lixo na natureza b) Jogar esgoto urbano nos rios c) Fazer queimadas
d) As alternativas anteriores e) Não acho que o homem pode polui o meio ambiente
7º) Você já pensou em fazer juntos com seus amigos, pais e professores uma campanha para
preservação do meio ambiente?
a) Sim b) Não c) As vezes
d) Não me interesso por este assunto e) Sim mas não encontrei apoio suficiente
8º) Como você acha que dede ser feito o tratamento do lixo em sua escola?
a) Coletado b) Deixado exposto no meio ambiente
c) Jogado nos rios d) Queimado e) Não sei opinar
9º) professores mostram a importância da preservação do meio ambiente durante suas aulas ?
a) Sim, sempre falam desse assunto b) Não esse assunto nunca é discutido em sala de aula
c) Às vezes fazemos atividades com este assunto d)Não sei opinar
10º) Na sua comunidade as protegem o meio ambiente?
a) Sim, as pessoas são conscientes b) Não, as pessoas não ligam pra isso
c) Algumas pessoas têm essa consciência d) Não sei opinar
11º) Que problema ambiental você considera mais grave em sua comunidade?
a) As queimadas b) O desmatamento c) A poluição dos rios
d) O trânsito e)Não sei opinar

Anexo B – Questionário de pesquisa (docentes)


1º) Sexo a) Masculino ( ) b)Feminino ( ) 2º) Idade __ 3º) Estado civil:_________
4º) Qual o seu nível de formação?
a) Nível médio b) Nível superior incompleto em uma licenciatura
c) Nível superior completo em uma licenciatura d) Outro

548
5º) Há quanto tempo leciona?
a) Menos de um ano b) De um a dois anos c) De três a cinco anos d) Mais de cinco anos
6º) Que estratégia de ensino você mais utiliza em sua aulas?
a) Atividades extra-classe, como aulas de campo, debates e seminários b) Outros recursos
c) Apenas o livro didático e o quadro negro ou louça d) Seminários
7º) O Sr. (a) trabalha o tema meio ambiente em sala de aula? a) Sim d) Não
8º) Se sua resposta foi sim,de que forma?
a) Seminários e aulas expositivas sobre o tema b) Debates com alunos e pais
c) Atividades para casa d) Outras formas
9º) Para o Sr. (a) o que significa consciência ambiental?
a) A consciência ambiental das pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente
b) Fazer com que as pessoas não se preocupem com o meio ambiente
c) Ressaltar as queimadas como meio de sobrevivência para a população carente
d) Não sei opinar e) Tem outro ponto de vista
10º) Que problemas ambientais são mais visíveis no bairro da escola (s) que você trabalha? Se sua
opção for outros, diga quais são?
a) As queimadas b) O desmatamento c) A poluição dos rios d)Todas as alternativas anteriores
e)Outros____________________________________________________________________
11º) O que o Sr.(a) faz para despertar a consciência ambiental nos seus alunos?
a) Procura sempre abordar a temática, bem como a importância de preservar o meio ambiente
b) Faz aulas expositivas, onde o tema em destaque é o meio ambiente
c) Faz reuniões com os pais e alunos para exposição do tema
d) Utiliza todas as opções

549
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL –
PONDERAÇÃO A PARTIR DA EDUCAÇÃO E DA ECONOMIA

Giselda Maria da SILVA


Geógrafa. Especialista em Gestão Ambiental. Professora da Rede Pública na cidade de Bayeux/PB.
e-mail: giseldasilva@yahoo.com.br

Jussara Severo da SILVA


Engenheira Civil. Mestre em Engenharia Urbana. Tecnóloga em Geoprocessamento.
e-mail: jussarasevero@yahoo.com.br

RESUMO

Desenvolvimento sustentável é essencial para o planeta e a vida humana. E está diretamente


relacionado com aspectos ambientais, econômicos e sociais. Neste contexto, este trabalho tem o
propósito de tratar do tema desenvolvimento sustentável, com breve cronologia, abordando-o
também no contexto educacional e econômico. Além de apresentar os resultados obtidos com a
aplicação de questionário a professores de diferentes disciplinas e níveis de ensino.

Palavras-chave: educação, desenvolvimento sustentável, econômico, meio ambiente.

ABSTRACT

Sustainable development is essential for the planet and human life. And it is directly related to
environmental, economic and social aspects. In this context, the paper has the purpose of treat of the
development sustainable theme, with a brief chronology approaching it also in the educational and
economic context. Besides presenting the results obtained with the application of questionnaire to
teachers of different disciplines and levels of education.

Keywords: education, sustainable development, environment, economic.

550
INTRODUÇÃO

De acordo com o Relatório de Brundtland (1987), o desenvolvimento sustentável é ―aquele


que garante o suprimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprirem as suas próprias necessidades‖. Esse mesmo relatório defende que ―o
desenvolvimento sustentável não é um estado fixo de harmonia, mas um processo de mudança‖.
No período de 13 a 22 de junho de 2012 ocorreu a Rio+20 que é a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A Rio+20 é assim conhecida, porque marca os vinte
anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92) e dentre outros fins, deve contribuir na definição da agenda do desenvolvimento
sustentável para as próximas décadas.
Abordar sobre a questão ambiental não é apenas a relação do homem com o meio em que
vive, é necessário e pelas atuais condições, refletir sobre a relação existente entre o meio ambiente e
os nossos hábitos e costumes, visando à qualidade de vida para as pessoas no presente e no futuro.
Deste modo, pode-se constatar que o desenvolvimento sustentável, até nas empresas, contém
um grande componente educativo – preservar o meio ambiente depende de uma consciência e
formação de consciência depende da Educação.

OBJETIVO

O estudo e a contribuição quanto à sustentabilidade, independente da área de atuação, trata-se


de uma questão importante e urgente para toda a sociedade.
Por isso, a finalidade principal deste trabalho é tratar do tema desenvolvimento sustentável,
com breve cronologia, abordando-o também no contexto educacional e econômico. Além de
apresentar os resultados obtidos com a aplicação de questionário a professores de diferentes
disciplinas e níveis de ensino.

CRONOLOGIA E DESDOBRAMENTOS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Os princípios do desenvolvimento sustentável sempre estiveram implícitos em muitas das


conferências da ONU, incluindo: A Segunda Conferência da ONU sobre Assentamentos Humanos
(Istambul,1999); a Sessão Especial da Assembleia Geral sobre Pequenos Estados Insulares em
Desenvolvimento (Nova York, 1999); a Cúpula do Milênio (Nova York, 2000) e seus Objetivos de

551
Desenvolvimento do Milênio - cujo sétimo objetivo trata de ―garantir a sustentabilidade ambiental‖
e a Reunião Mundial de 2005.
A Tabela 1 apresenta uma breve relação de eventos e ações relacionados ao desenvolvimento
sustentável, desde o Relatório de Brundtland em 1987.
ANO DESCRIÇÃO
Relatório de Brundtland foi o documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio
1987 Ambiente e Desenvolvimento onde surgiu uma definição para desenvolvimento
sustentável.
Lançamento do primeiro sistema de certificação para obras sustentáveis, o BREEAM
1990
(Building Research Establishment Environmental Assessment Method), na Inglaterra.
A conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento reuniu 108
chefes de Estado na conhecida ECO – 92 aprovou, igualmente documentos de objetivos
1992 mais abrangentes e de natureza mais política: a Declaração do Rio, a Declaração de
Princípios sobre o uso das Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a
Convenção sobre Mudanças Climáticas e a Agenda 21.
Criado o selo verde, o FSC (Conselho de Manejo Florestal) para madeiras originárias de
1993 um processo produtivo manejado de forma ecologicamente correta, socialmente justa e
economicamente viável.
Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas onde ocorre o tratado
1997 ambiental conhecido como o Protocolo de Kioto, o qual tinha como meta a redução dos
gases, responsáveis pelo efeito estufa, emitidos na atmosfera.
A Conferência RIO+10 aconteceu em setembro de 2002 na África do Sul, com o objetivo
2002 de fazer um balanço das lições aprendidas e dos resultados práticos obtidos a partir dos
acordos firmados entre os cerca de 180 países que participaram da Rio-92.
Criação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável que tem como missão
promover a melhoria da qualidade de vida da população brasileira e a preservação de seu
2007 patrimônio natural, pelo desenvolvimento e implementação de conceitos e práticas mais
sustentáveis e que contemplem as dimensões social, econômico e ambiental da cadeia
produtiva da indústria da construção civil.
Ocorre em junho de 2012 a Rio+20 que é a Conferência das Nações Unidas sobre
2012
Desenvolvimento Sustentável.
Fonte: BRASIL (2012), CBCS (2012), ONU (2012).
Tabela 1 - Relação de eventos e ações relacionados ao desenvolvimento sustentável.

552
Desde a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, o Brasil está desenvolvendo a construção
de indicadores de desenvolvimento sustentável. Ação esta que se integra ao conjunto de esforços
internacionais para concretização das ideias e princípios formulados, no que diz respeito à relação
entre meio ambiente, desenvolvimento e informações para a tomada de decisões (IBGE, 2012).
Assim, com a divulgação dos indicadores de desenvolvimento sustentável - Brasil 2010, o
País, através do IBGE, dá continuidade à série iniciada em 2002, a qual possui um conjunto de
informações sobre a realidade brasileira, em suas dimensões ambiental, social, econômica e
institucional. A Tabela 2 apresenta os indicadores que compõem cada dimensão.

Dimensão Indicadores
01 Emissões de origem antrópica dos gases associados ao Efeito Estufa
02 Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio
03 Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas
04 Uso de fertilizantes
05 Uso de agrotóxicos
06 Terras em uso agrossilvipastoril
07 Queimadas e incêndios florestais
08 Desflorestamento na Amazônia Legal
09 Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações
vegetais litorâneas
Ambiental 10 Área remanescente e desmatamento no Cerrado
11 Qualidade de águas interiores
12 Balneabilidade
13 Produção de pescado marítima e continental
14 População residente em áreas costeiras
15 Espécies extintas e ameaçadas de extinção
16 Áreas protegidas
17 Espécies invasoras
18 Acessam a serviço de coleta de lixo doméstico
19 Acesso a sistema de abastecimento de água
20 Acesso a esgotamento sanitário
21 Taxa de crescimento da população
22 Taxa de fecundidade
23 População e terras indígenas
Social 24 Índice de Gini da distribuição de rendimento
25 Taxa de desocupação
26 Rendimento familiar per capita
27 Rendimento médio mensal

553
28 Esperança de vida ao nascer
29 Taxa de mortalidade infantil
30 Prevalência de desnutrição total
31 Imunização contra doenças infecciosas infantis
32 Oferta de serviços básicos de saúde
33 Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado
34 Taxa de escolarização
35 Taxa de alfabetização
36 Escolaridade
37 Adequação de moradia
38 Coeficiente de mortalidade por homicídios
39 Coeficiente de mortalidade por acidentes de transporte
40 Produto Interno Bruto per capita
41 Taxa de investimento
42 Balança comercial
43 Grau de endividamento
Econômica 44 Consumo de energia per capita
45 Intensidade energética
46 Participação de fontes renováveis na oferta de energia
47 Consumo mineral per capita
48 Vida útil das reservas de petróleo e gás
49 Reciclagem
50 Rejeitos radioativos: geração e armazenamento
51 Ratificação de acordos globais
52 Existência de conselhos municipais de meio ambiente
Institucional 53 Gastos com pesquisa e desenvolvimento
54 Acesso a serviços de telefonia
55 Acesso à Internet
Fonte: IBGE (2012).
Tabela 2 - Indicadores de desenvolvimento sustentável - brasil 2010.

Para a Rio+20, as Nações Unidas definiram como temas:

 Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza.


 Estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Sob o tema ―economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da


pobreza‖, o desafio proposto à comunidade internacional é o de pensar um novo modelo de
desenvolvimento que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável.
Desta forma, a ―economia verde‖ deve ser uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável.
554
E, para o tema da estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável, insere-se a
discussão sobre a necessidade de fortalecimento do multilateralismo como instrumento legítimo
para solução dos problemas globais. Busca-se aumentar a coerência na atuação das instituições
internacionais relacionadas aos pilares social, ambiental e econômico do desenvolvimento.

SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA
A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança até o planeta.
Pensar e querer um mundo sustentável é ver mudanças nos seguintes segmentos: cidades
inovadoras; infraestrutura; alimentos; vestuário; transporte; turismo; economia e mercado.
Um dos debates na Rio+20 foi o desafio de unir as metas de preservação do meio ambiente
com as necessidades contínuas de progresso econômico.
Tendo apenas como referência o nível geral e setorial a longo, médio e curto prazo, de
acordo com Tarrega (2007), estão enumeradas na tabela 3 as implicações tecnológicas derivadas
dos planos de desenvolvimento econômico.

PRAZO
NÍVEL
Longo Médio Curto
Formulação de padrões Esboço da estratégia Definição do orçamento
científicos e tecnológicos geral, definindo total para ciência e
GERAL estreitamente relacionados a prioridades e tecnologia.
padrões de desenvolvimento. formulando metas
para consignar
recursos.
Identificação dos requisitos para Definição de Definição de projetos,
SETORIAL incrementar a capacidade estratégias setoriais e atividades e orçamentos
científica e técnica nacional em identificação de relacionados com as
setores prioritários. programas. estratégias setoriais.
Tabela 3 - Implicações tecnológicas derivadas dos planos de desenvolvimento econômico.

Pelas condições existentes, pode parecer complexo de ser implementado e, em muitos casos,
economicamente inviável. Entretanto, além das muitas possibilidades, já existe a aplicação de
práticas sustentáveis, seja a partir de ações individuais ou em organizações, com a arquitetura,
empresas, produtos e serviços sustentáveis.
Um exemplo é citado por Orlando e et al (2009), que por meio da redução de alíquotas em
operações e produtos menos poluentes e da majoração de alíquotas aos produtos e atividades de
maior potencial poluidor, os entes federativos podem contribuir para desestimular a aquisição de
produtos poluentes e, em contra partida, fomentar a aquisição de produtos ―limpos‖.

555
A SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO

Na Lei Nº 9.394/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no Título II -


Dos Princípios e Fins da Educação Nacional (Art. 2º) consta que a educação, dever da família e do
Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Com os PCN‘s, foram inseridos os temas transversais: ética, pluralidade cultural, orientação
sexual e meio ambiente, entre outros. E é nesse âmbito que deve ser trabalhada a educação
ambiental. Todavia, a educação ambiental, assim como todos os temas transversais, deve ser
trabalhada de forma interdisciplinar.
E a Lei Nº 9.795/99 estabelece os princípios básicos da educação ambiental (Art. 4º): enfoque
holístico, democrático; concepção do meio ambiente sob o enfoque da sustentabilidade; pluralismo
de ideais e concepções pedagógicas; vinculação entre ética, educação, trabalho e as práticas sociais,
além do reconhecimento e respeito à pluralidade e à diversidade individual, dentre outros. Nesta Lei
também foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que devem ser
desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de
atuação inter-relacionadas (Art. 8º): capacitação de recursos humanos, o desenvolvimento de
estudos e pesquisas; produção e divulgação de material educativo; e, acompanhar e avaliar.
Isso é mais um desafio para os educadores. Entretanto, o que não se pode como cidadão
comprometido com a Educação e interessado em um País melhor, é tornar-se omisso, negligente ou
até indiferente e não contribuir com esta temática.
De acordo com Sato (2002), há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos
currículos escolares, com atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora de sala de aula,
produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem
reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe aos
professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que
favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato,
relacionado a exemplos de problemas atualizados.
Martins (2002) relata que às escolas tem sido permitido utilizar suas ideias e projetos num
contexto configurado cada vez mais pela necessidade do estabelecimento de parcerias. E, no seu
livro Pedagogia da vida cotidiana e participação cidadã, Muñoz (2004) comenta do aprofundamento
de conceitos-chave como: o que é educar, o que é ser educador, o que é a infância-adolescência, o
que é a participação cidadã e o que é democracia participativa.

556
Por isso, é importante procedimentos e atitudes visando o desenvolvimento e a
implementação de ações educativas relacionadas com o desenvolvimento sustentável, dirigida aos
alunos, aos professores, aos demais profissionais do contexto estudantil; e também à comunidade.

METODOLOGIA

Este trabalho é constituído de duas etapas, a primeira da análise conceitual sobre o tema
relacionando-a no contexto educacional e econômico; e na segunda, apresentar os resultados
obtidos a partir da aplicação de questionário a professores de diferentes disciplinas e níveis de
ensino.

Questionário
No questionário elaborado com 9 (nove) questões abertas e/ou diretas foi indagado: onde
trabalha; leciona da rede pública ou privada; se a escola/universidade trata do tema educação
ambiental; se a escola/universidade trata do tema desenvolvimento sustentável; quais temas
complementares deveriam ser tratados como formação acadêmica e formação do cidadão e se
compraria qualquer produto considerado ecologicamente correto.
Foram aplicados 40 questionários e após a coleta, os dados foram analisados de forma
conjunta.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados a seguir apresentados foram obtidos a partir da aplicação de um questionário


com 9 (nove) questões diretas, em meados do terceiro trimestre do ano de 2012, a uma amostra de
40 professores.
O grupo amostral era formado por 32 professores do sexo feminino (80%) e 8 do sexo
masculino (20%).
Quanto ao estabelecimento de ensino - 24 professores (60%) lecionam apenas na rede
pública, 10 professores (25%) lecionam apenas na rede particular e 6 na rede pública e privada, os
quais correspondem a 15%. Dos 40 professores pesquisados, 12 dão aula no ensino fundamental
(30%), 16 no ensino médio (40%) e 12 na graduação (30). Com estes resultados podemos constatar
que contemplamos professores em diferentes setores e níveis de ensino.
Os resultados para a questão: a unidade de ensino em que leciona, trabalha com o tema
educação ambiental estão apresentados na Figura 1.

557
Figura 7 - Unidade de ensino que trabalha com o tema educação ambiental.

Na Figura 2 estão os resultados para: a unidade de ensino em que leciona trabalha com o
tema desenvolvimento sustentável.

Figura 2 - Unidade de ensino que trabalha com o tema desenvolvimento sustentável.

Com os resultados apresentados nas figuras 1 e 2, verifica-se que este temas já vêm sendo
exposto e discutido nas unidades de ensino com bons percentuais.
Também foi perguntada qual a disciplina que o professor leciona cujos resultados alcançados
estão apresentados na Tabela 4.

Disciplina Fundamental Médio Graduação Quantidade %


Português 4 2 - 6 15
Geografia - 5 5 10 25
Matemática 1 1 - 2 5
Ciências 6 - - 6 15

558
Química - 4 - 4 10
Ciências do Ambiente - - 4 4 10
Gestão Ambiental - - 8 8 20
TOTAL 11 12 17 40 100
Tabela 4 - Resultados apresentados em (%) para a disciplina que o professor leciona.

Da tabela 4 conclui-se que o maior percentual encontrado foi para os professores que
lecionam geografia (25 %), seguido dos que lecionam gestão ambiental (20 %). Ressaltamos que
essa amostra configura o que preconiza os PCN‘s - trabalhar de forma interdisciplinar; e a Lei Nº
9.795/99 com a concepção do meio ambiente sob o enfoque da sustentabilidade.
Para quais os temas que deveriam ser tratados na sua disciplina, os professores deram uma
única resposta, cujos resultados foram: resíduos sólidos (15%), recursos hídricos (20%), poluição
(50%), comunidade (5%) e desmatamento (10 %).
Quando foi perguntado sobre quais os temas que deveriam ser tratados como cidadão? O (A)
professor(a) poderia apresentar mais de uma resposta e em decorrência, o universo de respostas foi
bem maior: problemas mundiais, recursos hídricos, poluição, ecossistema, direito ambiental,
desigualdade social, políticas públicas, certificação ambiental, população; extinção de planta e
animais; e também foi citado desenvolvimento sustentável.
O questionário finalizava com: Se ele (a), como cidadão (ã) – elemento fundamental da
sociedade compraria qualquer produto considerado ecologicamente correto? Caso a resposta fosse
negativa citasse o motivo. Dos 40 professores, 34 responderam que sim. Para os demais (6
professores), as expressões de respostas foram as mais diversas, as quais são transcritas a seguir:
compraria apenas se fosse alimentos; compraria se o preço fosse justo; compraria apenas produtos
infantis; compraria produtos para casa; compraria produtos certificados e compraria produtos
recicláveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os grandes problemas ambientais, sociais e econômicos estão cada vez mais presentes;
entretanto observamos que o desenvolvimento sustentável é concebido diretamente na correlação de
três pilares: o social, o econômico e o ambiental.
Com o objetivo de desenvolver no ser humano a consciência sobre o meio ambiente é que a
Educação Ambiental se faz presente nos conteúdos curriculares. Ao discorrer sobre educação

559
ambiental é importante considerar as diferenças existentes nos indivíduos e em cada região,
fortalecendo o valor da participação de todos.
O papel da escola, que além de repassar conteúdos programáticos, também é de um
ambiente construtivo; e ao mesmo tempo se ―pre-ocupa‖ em formar alunos para viver em
sociedade. A escola deve contribuir para que o aluno adquira uma formação crítica e consciente do
espaço em que vive. Concordamos que este papel não lhe cabe, unicamente.
Eventos e conferências mundiais e/ou locais foram e são importantes para nortear e dirimir,
entretanto o alcance de resultados depende e muito, de mudanças na esfera governamental e
empresarial. Muitos são os exemplos de que não é possível apenas estabelecer metas que sejam
universais, é preciso agir localmente, de acordo com as condições regionais e com os potenciais de
cada indivíduo para que se atinja o global.
As atitudes, interferências, acompanhamento, avaliação e monitoramento do governo,
autoridades e entidades ambientais é que de fato transformarão desenvolvimento sustentável de
conceito para algo real.
É importante ressaltar que não temos a intenção de concluir esta temática, por entendermos
que a mesma já está fazendo parte da vida do aluno e esta etapa é apenas uma introdução e não o
único momento em que o aluno se defrontará com a situação.
Por isso, deve-se pensar e agir coletivamente, e assim as modificações também ocorrerá da
atuação e interação com o meio, onde cada um também é responsável, direta e indiretamente. Por
que todos têm os seus direitos, mas também os seus deveres.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RCS editora, 2007.

561
O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA:
REFLEXÕES SOBRE O SHOPPING RIOMAR E O PROJETO NOVO RECIFE 68

Kelly Regina Santos da SILVA


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPE) – kellyreginas@gmail.com.
Edvânia Tôrres Aguiar GOMES
Orientadora e Professora do Departamento de Geografia e do PRODEMA/UFPE - torres@ufpe.br.
Sueny Carla da SILVA
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPE) - yuens@bol.com.br.

RESUMO

O atual contexto da cidade do Recife tem sido marcado por grandes obras, incluindo obras viárias,
empreendimentos comerciais e imobiliários, todas tem em comum o retorno da ideologia da
modernização da cidade. Nesse processo, observa-se a parceria existente entre o Estado e o mercado
em prol de uma ―nova cidade‖ que em larga medida aponta a continuidade do paradigma da
higienização social, posto que, o espaço urbano transformado em mercadoria, só vem a atender os
interesses do mercado, tendo como principais resultados a desigualdade e injustiça sócioespacial. A
presente proposta de reflexão parte da hipótese de que, o sistema capitalista não toma o lugar do
Estado, mas, o Estado é um dos seus protagonistas e facilitador dos interesses dos grupos
econômicos. Até mesmo dentro de um discurso de inclusão e garantia de direitos, prevalece à lógica
do capital sobre as decisões políticas. Esse contexto tem demonstrado a cada dia a valorização
econômica, deixando de lado os outros aspectos e necessidades da vida comunitária, o que deságua
em um dilema histórico entre dois conceitos, o de desenvolvimento e o de crescimento econômico.
Á luz do materialismo histórico e das teorias sobre o direito à cidade e espaço urbano remete alguns

68
Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPE), sob orientação da Profa. Dra. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes. Conta com o apoio financeiro da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

562
apontamentos e problematização sobre a visão de mundo em que predomina o espaço urbano como
mercadoria, que tem como principal conseqüência à negação do que se possa parecer arcaico e
desinteressante ao capital.

PALAVRAS-CHAVES: modernização – espaço urbano – mercadoria – capitalismo.

ABSTRACT

The current context of the city of Recife has been marked by major works including road
construction as well as commercial and real estate ventures, all of which relate back to the ideology
of urban modernization. In this process, the partnership between State and Market becomes self-
evident in favor of a "new city" largely gueared towards continuity of the paradigm of social
hygiene, as urban space, transformed into a commodity, meets only market interests, resulting
mainly in socio-spatial inequality and injustice. The analysis here proposed assumes as basis that
the capitalist system does not take the State's place, however the State is one of its main players,
facilitating the interests of economic groups. Even within a discourse of inclusion and guaranteeing
rights, capitalist logic prevails over political decisions. In this context, the financial value of urban
space increases daily, setting aside other aspects and needs of community life and feeding into the
historical dilemma between two concepts: development and economic growth. In light of historical
materialism and theories on the right to the city and urban space, several points and concerns
regarding the aforementioned worldview that sees urban space mainly as a commodity resulting in
the denial of anything that within it may seem archaic or unattractive to finance, shall be touched
on.

KEYWORDS: modernization - urban space - merchandise - capitalism.

A MODERNIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO: UM FRUTO DA IDEOLOGIA CAPITALISTA

Ao tratar do presente tema vale a pena ressaltar que outras análises já foram realizadas em
contexto semelhante ao vivenciado hoje na cidade do Recife. Outras cidades como São Paulo69 e
Rio de Janeiro, protagonizaram ao longo da história momentos de tamanha inserção da ideologia da
69
Destacamos o trabalho realizado por Mariana Fix: FIX, M. Parceiros da exclusão: duas histórias da construção de
uma ―nova cidade‖ em São Paulo: Faria Lima e Água Espraiada. São Paulo: Boitempo, 2001.

563
modernização na constituição do espaço urbanizado. Nesta ocasião, se destaca a conjuntura
vivenciada no século XIX em Recife (GOMES, 2007), em que, mudanças estruturais tomaram
conta do Recife Antigo que guardada as devidas proporções em relação às cidades destacadas acima
ocasionou dilemas e questionamentos, alguns pautados na questão da conservação histórica do
bairro antigo, outros visando a real possibilidade do Recife tornar-se uma cidade moderna, aos
moldes dos interesses internacionais e capitalistas.
No tempo presente, três grandes obras tomam conta do centro e da zona sul da cidade; a
primeira, e já quase em fase de conclusão, é o Shopping RioMar (Figura 1); a segunda é a
construção da Via Mangue, com a pretensão de melhorar a mobilidade viária em toda a cidade, e
por último, o mais recente projeto intitulado: ―Novo Recife‖ (Figura 1), que pretende instalar em
uma região histórica da cidade um complexo formado por centros empresarial, flats e residenciais,
totalizando 16 torres. A área em que pretende ser construído o Projeto Novo Recife localiza-se na
região portuária da cidade, no bairro do Recife Antigo. Apesar de não ser uma região de moradia, a
perspectiva de construção desse grande complexo de torres coloca a discussão sobre a construção de
outra cidade, que só vem favorecer os processos de exclusão social em benefício dos interesses
privados.Uma vez que se, configura como um projeto maior com uma visão de mundo ainda
pautada nos ideais da ideologia da modernização.
Esse caminho atual leva a reflexão sobre o processo de gentrificação, encontrado nas
reflexões de Otília Arantes (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002), concernente ao retorno
burguês à localização central da cidade. Mesmo não sendo colocados a partir dessa categoria de
análise, os projetos de: requalificação, revitalização, revalorização, seria dizer a mesma coisa dos
espaços urbanos aburguesados e com consequente afastamento das comunidades do entorno. São
projetos que, pelas forças ideológicas, fabricam consensos e aparecem como salvação do que
outrora enfeavam a cidade.

564
Figura 1 – Vista panorâmica do local de construção dos empreendimentos
Shopping RioMar e Projeto Novo Recife. Fonte: Google Maps

No caso da construção do Shopping RioMar, deve-se levantar a questão de que, assim como
se observa de forma ampla a cidade segregada, alguns bairros também são marcados pelas
discrepâncias econômicas e sociais. A região do bairro do Pina é uma delas, sendo possível falar em
―dois‖ bairros do Pina com indicadores urbanísticos, condições econômicas e sociais bem
diferentes. Em um breve histórico da comunidade, nota-se o contexto colonial marcado por
violações e por formas de resistência que até hoje permanecem. Como exemplo tem a representação
bastante forte das religiões de matriz africana nos terreiros, sendo o bairro do Pina apontado por
algumas pessoas como um quilombo urbano.
À luz das reflexões da professora e urbanista Ermínia Maricato (ARANTES; VAINER;
MARICATO, 2002), o que predomina no planejamento urbano é a ótica da ―modernidade‖ ou
modernismo, resultado da importação dos padrões de planejamento urbano dos países do centro do
capitalismo que funcionou na manutenção das discrepâncias sociais, garantindo a chegada da
modernidade apenas para uma parte da população. Modelo esse que vem funcionando como um
instrumento eficaz de dominação resultando sempre em cidades segregadas, cujo resultado final se
expressa em várias cidades sendo essas oficial, formal, legal ou marginalizada por não representar a
modernidade. Esse processo de modernização das cidades é incompleto e excludente, de um lado, a
565
cidade tem garantida a urbanização, saneamento, pavimentação, infraestrutura, segurança; por outro
lado, uma cidade precária, sem condições básicas de existência, ressente da garantia e efetivação do
direito à cidade. Desse modo, não seria equivocado dizer que todas as cidades permanecem com
suas ―Casas Grandes‖ e suas ―Senzalas‖ contemporâneas, correspondendo a uma situação de
exclusão territorial.
Nesse sentido, o dilema do antigo e do novo tem uma relação intrínseca ao se tratar de
planejamento urbano. Logo de início, se observa que as comunidades periféricas não são
categorizadas como modernas tampouco, são encontrados meios de garantir o Direito à Cidade para
essa população. Tendo em vista que representam, o olhar sobre o que esteticamente é feio e não
prospero, evidenciando a necessidade, observada em vários momentos da história, de ocultar as
periferias, populações, grupos que não dialogam com os padrões de vida trazidos pelo ideal
modernizante de mundo. Na luta dualista, contudo, de tamanha complexidade, o Estado tem seu
campo de defesa bem definido, mostrando cada vez mais que não é coletivo, e sim privado,
encontrando-se a serviço do mercado, da lógica neoliberal e do capitalismo, fazendo parte de uma
grande fábrica de consensos (ARANTES; VAINER; MARICATO, 2002).
É sob esse aspecto que pautamos a nossa análise sobre dois conceitos chaves para se pensar
a ―ideologia da modernização‖ no contexto contemporâneo, tendo em visa à própria dinâmica de
construções de grandes empreendimentos comerciais e empresariais, principalmente em regiões
vulnerabilizadas da cidade. Desse modo, torna-se necessário trabalhar com as categorias de análise:
a ideologia e o fetichismo. São perspectivas que caminham juntas e mutuamente fortalecem a
permanecia dos ideias de modernização, que tem como um de seus resultados o espaço dividido e
transformado em mercadoria entre quem pode e quem não pode acessar.
A ideologia, esta entendida como, ―[...] um conjunto de representações pelas quais os
homens se relacionam com suas condições de existência.‖ (GARCIA, 2006, p. 24), tem um papel
fundamental na manutenção dos padrões sociais já estabelecidos, bem como, na dominação dos
sentidos. No contexto de mercado, a ideologia garante a disseminação das ideias de esperança,
prosperidade, liberdade, igualdade, todas associadas à relação de compra. A ideologia da
modernização aliada com o elemento da prosperidade proporciona o funcionamento do plano de
desenvolvimento meramente econômico da cidade.
Tim Jackson70 é enfático ao dizer que, nesse modelo de crescimento econômico que estamos
assistindo, caímos em uma ironia, uma vez que ―vendemos a prosperidade quase literalmente em
termos de dinheiro e crescimento econômico‖, isso porque, no sistema capitalista tudo se

70
Ver vídeo: Tim Jackson's economic reality check – Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=NZsp_
EdO2Xk>. Acesso em: 10 out. 2012.
566
transforma em mercadoria e faz parte de um grande fluxo de consumo. Nesse caminho os
investimentos realizados, são pautados na busca pela novidade uma produção de consumo que por
sua vez, estimula o crescimento econômico, ou melhor, garante o seu pleno funcionamento, através
da produção e reprodução da novidade, é uma nova cidade, um novo espaço urbano em
contraposição ao antigo que não representa mais uma cidade prospera.
No contexto de modernização desse espaço urbano que envolve aspectos políticos
econômicos, o discurso ideológico é extremamente bem trabalhado para que todas as pessoas se
sintam dentro desse processo de modernização, principalmente pelo discurso competente realizado
pelo Estado e pelo mercado, sendo este discurso, aquele ―[...] que pretende coincidir com as coisas,
anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte, engendrar uma lógica da identificação
que unifique pensamento, linguagem e realidade [...]‖ (CHAUI, p. 3), apaziguando as tensões por
meio de políticas internas compensatórias, voltadas para o consumo básico das populações que
estão fora do circuito econômico hegemônico.
Concordando com Gohn (2006), quando diz que são ações que garantem a adaptação dos
Estados Nacionais às determinações do capital internacional, como a permanente relação de
subordinação econômica e social, fortalecendo as diversas formas de colonização interna,
compreendendo que o discurso do crescimento econômico, ora tratado como desenvolvimento,
ganha força e legitimidade. Dentro desde contexto o geógrafo Milton Santos observa:

[…] a ideologia do crescimento entra como uma parte importante nas decisões de
investimentos dos poderes públicos. A necessidade sentida por uma equipe governamental
de 'preparar o terreno' para a chegada de novas indústrias é, no final, aceito pelo povo como
um comportamento inteiramente razoável. Sobretudo porque maior parte das pessoas são
tranquilizadas pelos famosos índices de aumento do produto nacional. (SANTOS, 2004, p.
172).

Esta confirmação do crescimento econômico como o grande salvador da cidade aparece


claramente no discurso realizado pelo prefeito da cidade do Recife ao visitar as obras do
empreendimento comercial Shopping RioMar, diz ele: ―Vamos gerar riquezas e elas terão que ser
gastas em algum lugar. O empresário está se antecipando e será benéfico para a cidade também.‖
(JOÃO da Costa..., 2010). Além de reforçar a parceria feita entre Estado e mercado, esse discurso é
percebido com muita legitimidade, uma vez que é competente,

[…] confunde-se, pois, com a linguagem institucionalmente permitida ou autorizada, isto é,


com um discurso no qual os interlocutores já foram previamente reconhecidos como tendo
o direito de falar e ouvir, no qual os lugares e as circunstâncias já foram predeterminados
567
para que seja permitido falar e ouvir e, enfim, no qual o conteúdo e a forma já foram
autorizados segundo os cânones da esfera de sua própria competência. (CHAUI, p. 7)

Somando-se a esses discursos, também encontramos outros aparelhos ideológicos que


colaboram com a permanência desse discurso hegemônico, chamando atenção para a mídia que a
todo tempo tem trabalhado para mostrar a possibilidade de um novo momento da cidade, bem
como, as peças publicitárias que agregam outros valores a este espaço urbanizado que é o centro das
atenções e a grande moeda de troca entre Estado e mercado.
Para adentrar a nossa segunda categoria de análise, o fetichismo, destacamos alguns
aspectos dos dois projetos em foco, observando que, longe de serem construções desconectadas
esses dois projetos dialogam diretamente com o novo modelo de cidade protagonizado pelo
mercado, em aliança clara com o Estado. Trata-se de grandes empreendimentos que buscam colocar
a cidade no cenário de disputa nacional e internacional, sem que sejam percebidos os devidos
impactos sociais, econômicos e ambientais. Desse modo, o que está em jogo, não é a garantia do
Direito à Cidade, mas, o interesse do capital sobre a cidade, ou seja, ―a ideologia dominante
preserva a situação vigente e os interesses da classe dominante‖ (GARCIA, 2006, p. 24).
Ainda em Garcia (2006), encontramos as reflexões sobre o fetichismo, tratando diretamente
sobre a questão do espaço urbanizado como uma mercadoria feitichizada pelo capitalismo. À luz da
experiência em curso, observa principalmente nas peças publicitárias dos projetos algo que provoca
estranhamento, e só nos fortalece na ideia do fetiche que envolve esta discussão política e
econômica. São as ausências e o distanciamento do real e os seus respectivos fetiches.
A partir do fetichismo, observamos a transformação desse espaço como algo bastante atrativo,
agregando a garantia de mobilidade social, tranquilidade, comodidade e até mesmo a liberdade,
felicidade e prosperidade. Nesse caminho, o espaço urbano é uma mercadoria valiosa e com lucros
financeiros garantidos pelo fetiche, que ocorre ―[...] porque a beleza e a sofisticação das
mercadorias agradam os consumidores. As mercadorias são belas e excitam no observador o desejo
de posse motivando-o à compra” (GARCIA, 2006, p. 29), sendo assim, o fetiche também é um
fenômeno da ideologia burguesa capitalista.

O ESPAÇO URBANO COMO MERCADORIA E A NECESSIDADE DE UMA EDUCAÇÃO


PARA ALÉM DO CAPITAL

Depois de observar as perspectivas sobre o espaço urbano, que envolve uma complexa
relação entre o modelo de desenvolvimento em curso, os interesses econômicos, o direito à cidade,

568
aprofundar-se um pouco mais a sua análise como mercadoria. O poder econômico decide seus
rumos e consequentemente quem deve acessar esse espaço urbano, independente dos mecanismos
de regulação e debates já realizados entre Estado e movimentos sociais diversos, principalmente os
que atuam na luta pelo direito à cidade.
A hipótese colocada é que, diante de um modelo econômico capitalista, a lógica estabelecida
entre o poder público e o mercado pauta-se, em alguma medida, na venda ou troca do espaço
urbano, agregando, desse modo, os interesses das duas partes. Até agora, foi observado que, o
contexto de constituição de uma cidade tem como parâmetro o crescimento econômico que
apresenta como a única forma possível de desenvolvimento a prevalência dos interesses capitalistas
sobre o espaço.
O paradigma de consumo instalado no contexto do crescimento econômico percebe tudo à
sua volta como potencial mercadoria para suprir as necessidades criadas pelo capital, muito embora
as contestações observadas neste paradigma – ética do progresso e da modernização – está a serviço
de uma lógica maior, que é a visão capitalista sobre o mundo; é a racionalidade empresarial ditando
seu modelo de cidade para todas as pessoas e, consequentemente, indicando o lugar que é permitido
a determinadas localidades e grupos sociais. Nesse momento, essa racionalidade empresarial, que
não se distancia de uma visão instrumental de mundo, promove suas colonizações contemporâneas,
ditando também seus padrões estéticos de cidade, a exemplo da excessiva verticalização, vista como
a única saída possível.
Chama-se a atenção para o fato de que, nessa lógica capitalista, o espaço urbano é um
instrumento de troca entre pares; de um lado, o Estado e do outro o mercado, contudo, essa troca se
dá pela necessidade criada de mudança estética e social do espaço. O que traz a lembrança do
passado é logo compreendido como ultrapassado, sendo apresentadas opções de substituição ou de
inovação local, tornando essa nova cidade, objeto de desejo, uma mercadoria a ser consumida por
quem tem o poder do capital para pagar por ela.
A ocupação e o uso do espaço ao longo da história, principalmente nos países que passaram
por processos de colonização, a exemplo do Brasil, foram configurando-se conforme os interesses
capitalistas. Assim, produziram os centros e as localidades periféricas da cidade, sendo o espaço
urbanizado sempre mais privilegiado. Desse modo, a necessidade de construção de um ―Novo
Recife‖ (grandes empreendimentos comerciais e excessiva verticalização), com padrões estéticos e
arquitetônicos que não dialogam com as comunidades do entorno nem com toda a construção
histórica da cidade, só leva à reflexão de que o ―antigo‖, assim referido, precisa ser substituído pelo
novo. Com essa compreensão, o espaço urbano, ganha um sentido de mercadoria, que, em poder do
mercado, vai realizando substituições em parceria com o Estado.

569
Esse espaço, tornando-se mercadoria, deve ter uma estética que provoque aceitação; por
outro lado, apresenta uma necessidade de mudança periódica. Esses aspectos de mudança é
observado pelos discursos de negação do passado e da modernização, por meio dos quais se pode
deduzir como a inevitável inovação estética desse espaço, que venha a atender às necessidades
criadas pelo capitalismo, chegando à segunda resposta, a inevitável substituição. Contudo, não se
trata de um olhar conservador sobre o espaço dizendo que tudo deve permanecer intocável, mas sim
de ampliar o olhar percebendo como se tem dado a apropriação das categorias de mudança para a
manutenção das relações sociais desiguais.
Em outras palavras, é pertinente entender como o sociometabolismo do capital
(MÉSZÁROS, 2008) funciona, com seu processo de acumulação e das formas encontradas para
permanecer funcionando, mudando até mesmo seu discurso para se manter hegemônico. É uma
totalidade reguladora. O que está em evidência, ao se observar o contexto, não é simplesmente ―[...]
o bem-estar do comprador, [...] o argumento é o bem-estar do empresário, ou seja, segundo a
perspectiva do valor de troca, visando à reiteração da procura.‖ (HAUG, 1997, p. 54).
Mais uma vez, entra-se em uma perspectiva dualista em que o ―novo‖ se apresenta como o
único paradigma possível, restando saber quem vivenciará isso e, principalmente, os custos
políticos de um modelo de crescimento econômico, camuflado pelo nome de desenvolvimento. É a
pressão feita pelo esquecimento do ―velho‖, entendido como aquilo que deve ser velado pelo
―novo‖, percebido como uma grande promessa de inovação estética, esta assim entendida:

[...] portadora da função de reavivar a procura torna-se uma instância de poder e de


conseqüências antropológicas, isto é, ela modifica continuamente a espécie humana em sua
organização sensível; em sua organização concreta e em sua vida material, como também
no tocante à percepção, à estruturação e à satisfação das necessidades. (HAUG, 1997, p.
57).

Nesse sentido, a cidade colocada à venda pelo Estado é comprada pelo mercado, e retorna
para o consumo de seu público – que tem o poder do capital, como uma forma estética que garante
não só uma nova cidade para viver, mas um espaço cheio de fantasias e de ideologias de
superioridade. Isso porque, para que um projeto de uma nova cidade tenha êxito, faz-se necessário
prevalecer às aparências, que se pode visualizar nos discursos de que a cidade está crescendo, nas
promessas de garantia de emprego, renda e moradia para os que não podem desfrutar do novo
espaço, ou seja, para moradores das comunidades que têm de sair do caminho para o ―novo‖ passar.
Sendo assim, não se pode esquecer a ideologia dominante que perpassa todo esse processo e é tão
bem difundida pelos aparelhos ideológicos, por meio dos quais são disseminadas as intencionais
570
verdades.
Os discursos ideológicos responsáveis pela venda desse novo espaço de compras e moradias,
que, além disso, significam espaços de satisfações até mesmo subjetivas. Ao comprar o espaço
urbanizado, compra-se também a vista para o mar, para o rio, na promessa de ligação entre o
moderno e a natureza, como se esta última fosse algo separada, transformando a mesma em mais
um atrativo dessa mercadoria chamada espaço urbanizado. Quanto a isso, chama-se a atenção para
outro aspecto ideológico que tem total relação nessa conjuntura de venda de um espaço urbano que
garante tudo e mais um pouco; trata-se do que tem sido chamado de construções sustentáveis, que
na lógica capitalista, só serve para agrega mais valor ao seu produto final.
De forma geral, quem vai usufruir aquele espaço compreende que também está ajudando na
melhoria da relação sociedade-natureza, na verdade, esse ―selo de respeito ao meio ambiente‖ na
conjuntura atual, torna-se uma mercadoria ideológica. Quanto a isso, chama-se a atenção para a
construção do Shopping RioMar que, em maio de 2012, recebeu a Certificação Aqua (Alta
Qualidade Ambiental), concebida pela Fundação Vanzolini. Contudo, algumas perguntas surgem:
Sustentabilidade ambiental de quem? Para quem? De que natureza está falando?
Ao falar sobre o certificado, o diretor de Divisão Imobiliária do Grupo João Carlos Paes
Mendonça (JCPM), Francisco Bacelar, destaca que o projeto do shopping é ―moderno‖ e já nasce
com uma concepção de sustentabilidade, enfatizando:

Pensamos os aspectos econômicos, sociais e ambientais do projeto. Uma das ações foi o
relacionamento com as comunidades localizadas no entorno do empreendimento, a
qualificação para 2.021 moradores, em cursos nas áreas de construção civil, varejo,
informática básica, aceleração de escolaridade e jovens aprendizes. Desse total, 420 alunos
trabalham hoje na obra. (RIOMAR..., 2012, grifos nossos).

Essa perspectiva de empreendimentos sustentáveis funciona como apaziguadora dos reais


problemas, sendo em alguma medida uma das formas de o sistema capitalista se metabolizar e se
manter em funcionamento, agora sob o argumento de que é possível crescer economicamente
―preservando o meio ambiente, a natureza‖ e agregando às obras a comunidade local, por meio de
uma educação para o capital.
À luz de István Mészáros, observa-se que o capital é irreformável, qualquer tentativa de
reforma remediaria apenas os efeitos, mas não alteraria o essencial nos fundamentos causais, a
exemplo os selos de sustentabilidade que enfraquecem a perspectiva de uma mudança na estrutura
capitalista. Concorda-se com o autor, que afirma:

571
As mudanças sob tais limitações, apriorísticas e prejulgadas, são admissíveis apenas com o
único e legítimo objetivo de corrigir algum detalhe defeituoso da ordem estabelecida, de
forma que sejam mantidas intactas as determinações estruturais fundamentais da sociedade
como um todo, em conformidade com as exigências inalteráveis da lógica global de um
determinado sistema de reprodução. (MÉSZÁROS, 2008, p. 25, grifos nossos).

O desafio posto situa-se no olhar sobre as formas de apropriação realizadas pelo capitalismo
para estabelecer suas relações. Segundo Mészáros, mais do que um processo educacional para
provocar mudanças qualitativas na sociedade, é pertinente uma ―educação para além do capital‖;
compreendendo a necessidade de mudança na estrutura social como um todo de forma dialética:
transformação social – transformação educacional, para que seja possível compreender as dinâmicas
e, especialmente, as formas de manipulação/dominação do capital.
Nesse sentido, é preciso refletir que, ainda não é possível falar em uma mudança social
qualitativa e substancial, porque se muda a forma, e não a essência, uma vez que o próprio discurso
de defesa do meio ambiente e de garantia de direitos é apropriado pelo capital. Trata-se não só de
negar o capital, mas de empreender uma nova ordem social metabólica que rompa com todas as
formas de segregação e desigualdades.
Muito embora o autor proponha uma revolução no processo educacional para que se possa
vivenciar uma sociedade transformada, evidencia-se as possíveis microrrevoluções que podem ser
realizadas no âmbito da vida humana; uma delas é o processo de descapitalização e descolonização.
É preciso olhar o mundo possível sem a transformação de tudo em mercadoria e sem privatização
do bem comum; também é preciso desconstruir o olhar de dominação que, ao longo da história, foi
configurando-se mediante a dominação de pessoas e de espaços, resultando em uma estrutura
poderosa de colonialidade do poder.

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573
SANTOS, M. O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países
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574
CRISE AMBIENTAL, CAPITALISMO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

1
Laudiélcio Ferreira Maciel da SILVA
2
Robério Daniel da Silva COUTINHO
3
Márcia Nascimento da SILVA
4
Rodrigo Correia de LIMA

1
UFPE, Mestrando em Educação, laudielciosilva@ig.com.br
2
UFPE, Mestrando em Comunicação, belcoutinho@gmail.com
3
UFPE, Graduanda em Educação Física, marcia_nascimentosilva@hotmail.com
4
UPE, Mestrando em Gestão de Desenvolvimento Local Sustentável, meiopopular@yahoo.com.br

RESUMO
O trabalho busca refletir sobre crise ambiental e o modo de produção capitalista apontando a
vertente da educação ambiental crítica como uma das possibilidades de transformação no modo de
pensar a crise. Na abordagem, é epistemologicamente evocada a educação transformadora em
Freire, no intuito de subsidiar o debate a cerca da educação ambiental crítica e sua relação, não
excludente, com a educação ambiental conservadora, revelando as limitações desta última diante do
problema ambiental. Tais reflexões se fundamentam nas concepções da educação ambiental
transformadora e emancipatória, representadas por Loureiro (2004; 2006; 2009) e Lima (2004;
2009), respectivamente. Os resultados indicam que a vertente crítica da educação ambiental
contribui para superação de uma consciência ingênua, denunciando o capitalismo como um dos
fatores geradores da crise ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: Crise Ambiental; Capitalismo; Educação Ambiental Crítica.

ABSTRACT
The work aims to reflect on the environmental crisis and the capitalist mode of production pointing
to critical aspects of environmental education as one of the possibilities of transformation in
thinking the crisis. In approach, it is epistemologically evoked Freire in transforming education in
order to subsidize the debate about the critical environmental education and its relationship, not
exclusionary, with environmental education conservative, revealing the limitations of the latter
before the environmental problem. Such reflections are based on the concepts of environmental
education transformative and emancipatory, represented by Loureiro (2004, 2006, 2009) and Lima
575
(2004, 2009), respectively. The results indicate that the critical part of environmental education
contributes to overcoming a naive consciousness, denouncing capitalism as one of the factors
causing the environmental crisis.
KEYWORDS: Environmental Crisis, Capitalism, Critical Environmental Education.

INTRODUÇÃO

A reflexão sobre a crise ambiental é uma necessidade crescente e requer a permanente busca
por novas soluções diante do agravamento dos problemas ambientais, os quais podem ser
decorrentes de desastres naturais ou do modo de produção capitalista. Este modo de produção tem
sido apontado como responsável pelos impactos ambientais (FOLADORI, 2008), gerando crises em
diversos setores como o político, o econômico e o social e comprometendo a qualidade de vida das
pessoas.
A degradação ambiental tem sido preocupação da comunidade internacional desde décadas
passadas, entretanto, ainda em grande escala, a população não despertou para uma consciência
crítica frente a essa problemática. A conjuntura estimula reflexões e questionamentos sobre o
exercício da educação ambiental no sentido de contribuir como elemento indissociável à elevação
da consciência social frente à realidade ambiental.
Nosso objetivo é fazer uma reflexão teórico-filosófica sobre a crise ambiental e o modo de
produção capitalista. Para tal, levaremos em consideração a concepção da educação ambiental
crítica transformadora e emancipatória, bem como a sua relação dialógica com a educação
ambiental conversadora, com o intuito de revelar as bases e funções destas em sociedade, como
fundamento constitutivo da reflexão.
Acreditamos que tais ponderações servirão para compreendermos melhor a relação de
complementação entre a educação ambiental crítica e a conservadora e, sobretudo, a importância da
primeira na emancipação do sujeito a partir da transformação do seu modo de pensar a crise
ambiental.

COMO CHEGAR LÁ ?

Partimos para uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, através de uma abordagem
crítica sobre o capitalismo e crise ambiental, buscando fazer uma relação de complementação entre

576
a educação ambiental conservadora (múltiplas vertentes) e a educação ambiental crítica, aqui
representada aqui por Loureiro (2004, 2006, 2009) e Lima (2004, 2009).
Na abordagem, trouxemos para o debate breves considerações sobre o modo de produção
capitalista; a crise ambiental; a educação transformadora em Freire e o olhar a cerca da educação
ambiental crítica transformadora e emancipatória.
O trabalho se deu a partir de reflexões teórico-filosóficas e análise de conteúdo com base na
bibliografia referenciada.

O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

O modo de produção capitalista avançou pelo mundo e hoje, não é mais ―privilégio‖ das
grandes potencias mundiais. Ele chega ao Brasil com todo seu poder, que, por um lado, oferece as
conquistas associadas ao consumo, base do conceito liberal de cidadania, no contexto do
capitalismo, mas de outro, transforma o meio ambiente. Estas mudanças, rapidamente, promoveram
crises em diversos setores sociais, inclusive, comprometendo a qualidade de vida das pessoas,
degradando a natureza e o próprio homem.
Guimarães (2009) nos remete ao início da idade moderna (século XV) quando já se percebe
essa visão de mundo se constituindo, sob uma perspectiva evolucionista e etnocentrista. Esta última
classifica como primitivos os povos que viviam mais próximos da natureza (indígenas) e civilizados
aqueles que já não dependiam da natureza, e sim a dominam e a exploram segundo seus interesses
econômicos. É nessa perspectiva que a economia mundial vem explorando nossas riquezas naturais
para alimentar um modelo de desenvolvimento concentrador de riquezas.
Na verdade, desde a revolução industrial iniciada em meados do século XVIII, no Reino
Unido, a terra vem sofrendo desgastes provocados pelas ações indiscriminadas das indústrias. Não
mais se extrai dela o necessário para o consumo no sentido de sobrevivência, mas o excedente,
visando o lucro incessante, ignorando as necessidades das gerações futuras e a possibilidade de tal
exploração resultar no comprometimento da vida na terra. E aí o mundo entra em uma grave crise
ambiental.

O QUE DIZER SOBRE CRISE AMBIENTAL ?

Se antes as discussões sobre crise ambiental giravam em torno das questões puramente
biologizantes, hoje, diversos problemas como a escassez de recursos naturais, produção exagerada
de lixo, fome, doenças, falta de moradia e muitas outras, fazem parte de ampla discussão com o

577
intuito de salvar o planeta de uma crise maior, para que as futuras gerações possam gozar de um
ambiente que ofereça as mínimas condições de vida ao ser humano. A comunidade internacional
tem dedicado vários encontros com objetivo de discutir estas temáticas reconhecendo, portanto, o
homem como sujeito na natureza.
Há evidências de que a crise ambiental pode estar na sociedade capitalista, que dita as
normas como a economia mundial deve se comportar, visando exclusivamente o lucro, promovendo
acúmulo de riqueza, concentração de renda, geração de pobreza, ignorando a capacidade de suporte
dos ecossistemas, explorando ao máximo suas riquezas até o desperdício. (FOLADORI, 2008).
Dessa forma, ―a crise ambiental é, portanto, muito mais a crise de uma sociedade do que a
crise de gerenciamento da natureza‖ (BRUGGER, 1994:27). De fato, por meio do modo de
produção capitalista, a humanidade desenvolve uma relação com a natureza, constituída por uma
visão fragmentada sobre a realidade; uma visão simplista e reducionista da complexidade desta, que
não permite enxergar a verdadeira gênese de uma crise ambiental, e, para piorar, impõe-lhe neste
processo, o encobrimento da realidade, uma vez que lança uma espécie de nevoeiro diante dos
olhos, reduzindo a consciências das pessoas em sociedade.
Assim, há uma necessidade de romper com os paradigmas da sociedade moderna criando
condições que favoreça um despertar de uma consciência crítica diante da realidade ambiental no
Brasil e no mundo.
Quintas (In: LOUREIRO, 2009) descreve que a idéia que se tinha no passado era de que os
avanços da ciência e tecnologia nos dariam maior liberdade em termos de limitações impostas pela
natureza e que nos tornaríamos seu dono sem qualquer custo. Ele nos diz que a exploração da
maioria por uma minoria e o uso intensivo e predatório dos recursos naturais do planeta, tem
sustentado uma ordem social injusta e ambientalmente irresponsável, colocando em risco a vida
humana no planeta.
Para ele o capitalismo (sistema filosófico, político, social e econômico da humanidade), é
visto como responsável pelas desigualdades, injustiça e agressão à natureza apontando como
exemplo, a obsolescência planejada de bens. Entende que as raízes da crise estão no padrão
civilizatório eurocêntrico dos homens, portador de idéias de progressos impostos aos povos pela
colonização.
Gadotti (2000), por sua vez, destaca que as duas últimas décadas do século XX, foram
marcadas por grandes mudanças. Para ele, estamos no tempo de expectativas e reflexão que exige
cautela não só pelo início do novo milênio, mas também por ser um momento novo e rico de
possibilidades. Nesse sentido, ele se propõe a examinar algumas das perspectivas atuais da teoria e
da prática da educação, por entender que é possível falar de esperança no futuro, mesmo no

578
momento em que se sabe que é possível destruir toda vida no planeta em virtude do descontrole da
produção industrial.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONSERVADORA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

Vale esclarecer inicialmente, que, educação ambiental é antes de tudo educação. Loureiro
(2004) reforça esse pensamento ao dizer que ―educação ambiental é uma perspectiva que se
inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas
tendências pedagógicas e do ambientalismo‖ (p. 66).
Também é oportuno salientar que existem no campo da educação, diferentes tendências e
entre elas a conservadora e a transformadora, crítica ou emancipatória, logo, tais perspectivas
também se inserem na educação ambiental.
A concepção conservadora está centrada na idéia de uma educação bancária, tal como
denuncia Paulo Freire, na Pedagogia do Oprimido, em que o educador deposita no educando os
conhecimentos e este armazena para depois prestar conta do que sabe, tal como recebeu, sem
qualquer aporte crítico. Uma educação que não questiona o conhecimento, mas recebe tudo como
uma verdade absoluta. Portanto uma educação centrada na concepção ingênua, a qual, na fala de
Pinto (2010):
―É sempre nociva, pois engendra as mais equivocadas idéias, que se traduzem em
ações e juízos que não coincidem com a essência do processo real, que não são
pois verdadeiras. Não podem levar à completa e rápida solução dos problemas que
considera, e somente se torna uma fonte de equívocos, de desperdício de recursos,
de intentos frustrados‖ (p. 63).

Segundo Pinto (2010), o pensar pedagógico ingênuo vê o educando como ignorante e puro
objeto da educação. Vê a educação como transferência de um conhecimento finito e a figura do
professor como mero transmissor. Vê ainda a educação como dever moral da fração adulta, educada
e dirigente da sociedade.
A vertente transformadora da educação, por sua vez, caracteriza-se por analisar, questionar,
problematizar o conhecimento. É uma educação que favorece o despertar de uma consciência
crítica, que busca a emancipação do ser.
A consciência crítica, da qual emana a vertente transformadora da educação, é uma
complementação da ingênua. Pinto (2010) nos diz que ―a concepção crítica (...) conduz à mudança
da situação do homem e da realidade à qual pertence‖ (p. 65). Isto favorece uma educação mais
eficaz para a instrução da criança e do adulto. Ainda segundo este autor, o pensar pedagógico crítico
579
vê o educando como sabedor e desconhecedor, sujeito (e nunca objeto) da educação, e a educação
como um diálogo entre os dois sujeitos: educador e educando.
Freire (2006) é a favor dessa educação que favorece uma ação dialógica, libertadora,
revolucionária, transformadora. Para ele a dialogicidade é a essência da educação como prática da
liberdade. O diálogo começa na busca pelo conteúdo programático. Este conteúdo não é uma
imposição vinda de uma autoridade, mas o resultado daquilo que o povo entregou de formas
desestruturadas e agora está organizado, sistematizado e acrescido de outros elementos.
Da mesma maneira também é possível pensar numa educação ambiental centrada na
perspectiva ingênua (que Loureiro, 2004, vai chamar de convencional), e outra na perspectiva
crítica ou transformadora.
Loureiro (2004) aponta alguns pontos de divergências entre as vertentes transformadora e
convencional (conservadora) da educação ambiental.
Para ele a educação ambiental conservadora está focada nas ações individuais enquanto
mudança de comportamentos compatíveis a um determinado padrão de relações corretas com a
natureza. A espécie humana fica reduzida a um organismo biológico, associal e a-histórico.
As vertentes conservadoras da educação ambiental (dentre elas a naturalista,
conservacionista/recursista, resolutiva, moral/ética) durante vários anos, deram importância maior
às questões biologizantes da natureza (como preservação e conservação de ecossistemas e extinção
de espécies) e assim, o homem ficava de fora desse debate, como se não fizesse parte do meio
ambiente.
Entendemos que esta maneira de conceber a educação ambiental que é caracterizada pela
falta de atributo crítico, reproduz de uma concepção simplista e reducionista da problemática
ambiental que deseja transferir para o indivíduo a responsabilidade pelas agressões à natureza,
quando de fato, os maiores (embora não os únicos) agentes poluidores do meio ambiente são as
grandes corporações, as grandes indústrias – seja pelo derramamento de petróleo nos mares, seja
pelo lançamento de dejetos contaminantes nos rios e solo, ou ainda pelo lançamento de gases de
efeito estufa na atmosfera, ou até mesmo pela indústria da fome, somente para exemplificar
algumas.
Já a educação ambiental transformadora põe ênfase numa educação enquanto processo
permanente, cotidiano e coletivo onde todos agimos e refletimos, transformando a realidade de vida.
Está fundamentada na crítica e autocrítica e nas ações políticas em função de uma demanda de
transformação social. Esta se complementa àquela no sentido de favorecer este aporte crítico ali
ausente.

580
Entendemos que a educação como mecanismo de mudança requer uma abordagem crítica. E
é pensando nessa forma de educação ambiental, que podemos pensar em ações transformadoras
para um futuro sustentável. ―A educação transformadora busca redefinir o modo como nos
relacionamos conosco, com as demais espécies e com o planeta. Por isso é vista como um processo
(...) por meio do qual o indivíduo, em grupos sociais, se transforma e à realidade‖ (LOUREIRO,
2004, p. 81).
Neste sentido, ratifica Lima (2004, p.94), ―uma concepção crítica capaz de produzir
reflexões e ações emancipatórias, uma educação ambiental aonde associa as noções de mudança
social e cultural, de emancipação-libertação individual e social e de integração no sentido de
complexidade da realidade social‖.
A mudança social evoca a necessidade de questionamento sobre o estado atual do mundo,
incluindo as relações sociais dos indivíduos consigo mesmos neste mundo, bem como com os
outros e com a natureza. Assim, projeta-se também a necessidade de uma reflexão sobre a mudança
cultural, ou seja, a renovação dos códigos de valores dominantes na sociedade, envolvendo o
homem, mas também tudo em volta do homem.
Esta postura emancipatória da visão do mundo promove um processo dinâmico, da
ressignificação para incorporar a defesa do amplo desenvolvimento das liberdades e possibilidades
humanas e não-humanas. Portanto, promove ―uma politização da vida que antes eram tidas como
privadas ou não políticas‖ (LIMA, 2004 p.95).
Não obstante, por fim, é preciso incluir a noção de integração no processo, que, por
conseguinte, caminha para a complexidade da questão, favorecendo a superação de concepções
conservadoras que apresentam uma visão unilateral do objeto que insiste em fragmentar a realidade
e explicar sua totalidade através de suas partes.

LIÇÕES QUE PODEMOS LEVAR PARA A VIDA

A cidadania e a participação social revela a necessidade da consciência política dos atores


sociais, logo, demanda reflexões e práticas superiores à naturalização do sistema capitalista que,
contemporaneamente, é ainda observado em geral, como algo desatrelado da questão histórico e
cultural da evolução social.
Transformá-lo em mito, como algo sobrenatural superior aos homens, é negar seus
sustentáculos na vida humana, logo, despolitizá-lo, assim, classificá-lo apenas nas questões
econômicas e negar as outras dimensões sociais deste fenômeno humano. Fragmentá-lo é perder a

581
capacidade de desmistificá-lo, logo, de promover o advento de ações sistêmicas em prol da
sustentabilidade do planeta.
Nesta perspectiva, o problema do consumo e do modo de produção, proveniente do sistema
capitalista, tem que ser enquadrado enquanto parte da totalidade do problema ambiental. Assim, não
podemos ignorar as ações agressivas das indústrias ou das grandes corporações ao meio ambiente.
Agir assim é incorrer numa atitude ingênua, logo, nociva. Ideias equivocadas se traduzem em ações
não condizentes com a realidade porque não são verdadeiras (PINTO, 2010).
Há muito o meio ambiente vem sendo explorado para sustentar o padrão de consumo que
tem efetivamente produzido benefício econômico para poucos em detrimento do bem-estar social.
As conquistas associadas ao consumo, pressuposto ancorado no conceito liberal no contexto da
globalização, não tem promovido de fato tal benefício à humanidade, pelo menos de forma
isonômica, pelo contrário, produz mazelas e ainda encobre as suas desigualdades pelo aspecto do
consumo.
Não obstante, Freire (2006) denuncia a opressão daqueles que estão no topo da pirâmide
social. Para ele os opressores colocam os oprimidos numa situação de fome, miséria. Eles (os
opressores) possuem uma ânsia desenfreada pela posse, do poder de compra, concepção materialista
da existência, se apropriam da ciência e da tecnologia para manter a ordem opressora com a qual
manipulam e esmagam. Certamente por força da globalização do capitalismo e do neoliberalismo
que trabalham para democratizar o sofrimento, destruir a esperança, e assassinar a justiça. O capital
que gera opressão, roubando dos podres para dar aos ricos. (MACLAREN, in: IMBERNÓN, 2000).
Os oprimidos, a grande massa, carente e necessitada, é o resultado da violência imposta
pelos opressores. Violência que Chauí (2000) diz estar presente na chacina das crianças e no
massacre dos sem terra, acontecimentos bárbaros característicos deste país, mas que muitos
entendem ser um país sem violência por força dos mitos difundidos pela sociedade autoritária.
O mito, segundo Chauí, é uma criação ideológica com o intuito de impor uma visão de
mundo que beneficia alguns poucos brasileiros. São idéias produzidas com intencionalidade clara
de mascarar a verdadeira situação de uma dada realidade.
A educação ambiental crítica é uma alternativa que se apresenta para nos aproximar da
verdadeira gênese das crises ambientais. Uma educação freireana, portanto a favor de uma ação
dialógica, libertadora, revolucionária, problematizadora, totalmente contrária à ação antidialógica,
por meio da qual os opressores conquistam os oprimidos, dividem as suas forças para manter a
opressão, manipulam e as invadem culturalmente e os sujeitos deixam de ser eles mesmos para
serem os outros introjetados nele, influenciados pelo poder econômico e pela mídia (IMBERNÓN,
2000) que a cada momento difunde o mito fundador de uma sociedade autoritária.

582
Não há dúvidas quanto a responsabilidade do capitalismo em provocar tanta crise ambiental
com sua sede pela acumulação de riqueza. A eficácia da educação ambiental crítica como
complemento da educação ambiental convencional (conservadora) parece ser a saída para nos livrar
do julgo dos opressores e partirmos em defesa da natureza - não somente em seu aspecto
biologizante, ou físico ou químico, mas na sua totalidade e complexidade que caracteriza o ser
humano nas suas relações com o meio ambiente em todas as suas esferas, inclusive na esfera do
pensamento para tentar combater qualquer tentativa de manipulação mental.
A vertente crítica da educação ambiental, em complementação às vertentes conservadoras,
contribui para o despertar de uma consciência crítica frente à crise ambiental, por que nos conduz a
refletir sobre a verdadeira origem dessas crises, mediante à superação de uma consciência ingênua,
a qual denuncia as ações desordenadas das grandes coorporações mundiais, e rompendo com mito
de que o somatório de indivíduos com suas atitudes ecologicamente corretas poderia evitar as crises
ambientais.
Não há como esgotar o debate a cerca dessa temática, e nem tivemos tal pretenção. Assim,
somos todos convidados a manter essa discussão em futuras pesquisas, o que é de nosso interesse.

REFERÊNCIAS:

BRÜGGER, P. Educação ou Adestramento Ambiental? Santa Catarina: Letras Contemporâneas,


1994.
CHAUÍ, Marilena, Brasil: mito fundador e sociedade autoritária, São Paulo: Perseu Abramo, 2000.
FOLADORI, Guillermo. A Reedição Capitalista das Crises Ambientais. 2008, nº 17, p. 189–203.
FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
GADOTTI, M. Perspectivas Atuais da Educação Ambiental. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas,
2000.
GUIMARÃES, Mauro. Armadilha Paradigmática na Educação Ambiental. In: IMBERNÓN.
Francisco. (Org) Educação no Século XXI: os desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artmed,
2000.
LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Educação Ambiental Crítica: do socioambientalismo às
sociedades sustentáveis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.1, p. 145-163, jan./abr. 2009
____. Educação, Emancipação e Sustentabilidade: em defesa de uma pedagogia libertadora para a
educação ambiental. In: Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério do
Meio Ambiente, 2004.

583
LOUREIRO, Carlos Frederico B. (org). Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental.
São Paulo. Cortez, 2006.
____. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo. Cortez, 2004.
____. Repensar a Educação Ambiental: um olhar crítico. São Paulo. Cortez, 2009, pp. 33-79.
PINTO, Álvaro Vieira Pinto. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo. Cortez, 2010.
QUINTAS, José Silva. Crise Ambiental ou Crise Civilizatória? In: GADOTTI, M. Perspectivas
Atuais da Educação Ambiental. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.

584
OS CONCEITOS DE SOLIDARIEDADE E DE CONSUMISMO
SOB AS LENTES DA COMPLEXIDADE

Luciana Roso ARRIAL


FURG / IFSUL
luarrial@ig.com.br
Doutoranda em Educação Ambiental
Professora do IFSul – Campus Pelotas/RS, Curso Técnico de Edificações

RESUMO
Este artigo pontua uma reflexão sobre os conceitos de solidariedade e do consumismo, através do
pensamento norteador do filósofo Edgar Morin. Esses elementos, estes que permeiam a sociedade
contemporânea entrelaçados na educação ambiental, se fecundam na ética, valor de metamorfose,
através do diálogo entre indivíduos. O conhecimento, que constitui na essência do individuo, é um
importante instrumento para a percepção do mundo. Portanto, a revisão das práticas e dos princípios
dos valores propostos a cada ser humano conduz ao que denominamos de responsabilidade social, a
qual nos servirá de guia para balizar nossas ações de solidariedade ou de consumismo.
PALAVRAS-CHAVE: conceito, solidariedade, consumismo, complexidade.

ABSTRACT
This paper reports a reflection upon the concepts of solidarity and consumism in the light of the
philosopher Edgar Morin‘s thoughts. These elements, which have been intertwined with
Environmental Education in the contemporary society, are based on Ethics - a value that triggers
changes - through dialogues among individuals. Knowledge, an important tool to perceive the
world, constitutes the essence of these individuals. Therefore, reviewing practices and principles of
values proposed to every human being leads to the so-called social responsibility, which guides our
actions towards solidarity or consumism.
KEY WORDS: concept, solidarity, consumism, complexity.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As relações contemporâneas se caracterizam por se sustentar no estabelecimento de arranjos


subjetivos que adquirem formas ao mesmo tempo rígidas e facilmente mutáveis, resultando daí um
585
considerável potencial (auto) destrutivo que se manifesta sob a forma de uma insuficiência na
autonomia do Eu como outro, que se reveste invariavelmente de um caráter compulsório e
utilitarista. Isso não implica, necessariamente, a consumação de atos destrutivos no plano da
realidade, mas contribui, no entanto, para a produção de dependência de toda natureza.
Dentre os problemas originados na sociedade contemporânea está a perda da capacidade do
humano em passar por suas próprias experiências de forma autônoma, em possuir discernimento
para seus julgamentos sem as influências de um mundo marcado pelos ditames da indústria cultural
e pelos meios de comunicação. Isso porque, a cada momento histórico, surgem ideais de beleza, de
arte, regras de comportamento a serem reproduzidas socialmente.
Apesar de ser esperado que o progresso da civilização proporcione um maior bem-estar ao
homem e, portanto, uma maior harmonia no contexto da vida social, o homem contemporâneo é
compelido ao imediatismo, resultando no agravamento de problemas no âmbito da vida afetiva e na
formação de laços sociais. Isso decorre, em muito, pois disputamos um ter no lugar de ser.
Necessidades de consumo que até então não possuíamos, mas que de um momento para outro se
torna um avalanche sobre nossas vidas, um bem que não nos fazia a menor falta, passa a ter uma
importância arrebatadora sobre nós.
Dessa forma, (re)fazemos diariamente nossas relações sociais solidárias ou de consumismo,
contudo, em pequenos atos podemos fazer a diferença em estar no mundo, ou ser e fazer neste
mundo. Nossa escolha pode vir a ser nosso conceito de vida por qualidade. Quando se fala em
conceito, traduz-se a realidade através de uma linguagem escrita, conhecida por todos nós.
Neste contexto, essa situação conduz à propriedade de se refletir sobre o conceito de
solidariedade e o do consumismo, considerados a partir da complexidade, devido a sua importância
na condução da prática da vida social, relacionado a um modo de se conduzir uma prática de
cuidado de si e do outro.

A METAMORFOSE ATRAVÉS DO DIÁLOGO

A linguagem do diálogo proporciona a compreensão do outro, mas é na individualidade,


formada por um sujeito pensante e crítico, que o indivíduo, em suas relações sociais, forma o sujeito
humano, que deixa de ser mito, para ser natureza Homo complex.
É importante assinalar que a compreensão é o conhecimento por projeção/identificação
(Morin) que torna um sujeito inteligível para outro ser-sujeito. Compreensão faz-se na
alteridentidade do indivíduo/sujeito, no respeito pela inserção da cultura do outro, na identidade, na
diversidade, na inclusão e na igualdade.

586
A noção de complexidade sugere que somos capazes de nos auto-organizarmos e de
estabelecer relações com o outro, e é nessa relação de alteridade que o sujeito encontra a
autotranscendência, superando-se, interferindo e modificando o seu meio num processo de auto-eco-
organização a partir de sua dimensão ética que traduz seus valores, escolhas e percepções do mundo.
Do mesmo modo, o pensamento complexo inclui a procura do autoconhecimento, que
resulta da compreensão de que o ego é frágil e por isso precisa ser trabalhado e reestruturado, para
que possa ser capaz de cumprir o seu papel.
O pensamento complexo comporta a interdisciplinaridade de saberes a ser posta em prática
na concretude dos sistemas da natureza. A compreensão de que a interdisciplinaridade, segundo
Calloni (2006 :13) ―não é apenas um enfoque consciente da multidimensionalidade do
conhecimento humano (...) mira da formação de um ser humano integrado e eticamente
comprometido com as transformações que envolvem o conjunto da humanidade e do ecossistema
planetário.‖
Assim, o sujeito se constitui a partir do diálogo, na diversidade, no pluralismo que se traduz
nas diversas formas de vida, isto é, no desprender-se do rotulado, para aceitar o desafio do diferente.
Através do compreender as conexões, compreender também a prática social e descrevê-la, pondo
ênfase nas suas relações com as outras práticas individuais e coletivas. É necessário, também, ter o
sentido dialógico, entender os processos concorrentes, contraditórios e complementares que
definem estas instâncias do diálogo humano.

EM UM NÓS: SOLIDARIEDADE E CONSUMISMO

Edgar Morin (1921 - ...) afirma que é no processo de autoafirmação de inclusão que o seu
Eu inclui-se em um Nós, na família, nas solidariedades, nas relações sociais e porque não dizer, nas
relações diárias de consumo. Inclui-se como um ponto hologramático, desde o seu nascimento até a
morte, através do apego às pessoas próximas. A inclusão responde pela consciência de um nós
coletivo, onde o sentido da solidariedade encontra-se vinculado ao processo de fortalecimento das
relações de pertencimento a uma comunidade, a uma sociedade e da construção de uma cidadania
ambiental.
Não fará sentido buscar uma relação harmoniosa com a Natureza se não tivermos
um mínimo de boa vontade no sentido de compreendê-la como verdadeiramente
Outra. Se, ao contrário, lutarmos para impor significados, previsão ou comando à
natureza, estaremos entrando numa relação de conquista e não de diálogo (Grun,
2007: 153)

587
O princípio de inclusão rivaliza com o de exclusão e é ele que faz o indivíduo sentir-se parte
de uma coletividade. Ele transforma o eu em nós e pode se expressar na forma de altruísmo,
favorecendo atos eticamente desejáveis. O sujeito vive, então, oscilando entre o egocentrismo e o
potencial existente em cada sujeito para a prática do altruísmo, considerando que a existência de
ambos, egoísmo e altruísmo, se dirige ao olhar sobre a ética experimentada pela indivíduo/sujeito,
em uma relação de reconstrução na história da vida.
O princípio de exclusão é antagônico à alteridade e é o responsável pela identidade singular
de cada sujeito. Este princípio se expressa como egocentrismo, o qual pode vir a se tornar egoísmo.
O princípio de exclusão define-se como um fechamento ao outro, que inclui a concorrência e o
antagonismo em relação ao seu próximo. Assim, ora carrega o amor pelo outro, ora a morte do
outro, garantindo a identidade do eu mesmo.
Tem-se, nesta lógica, como uma marca definidora da contemporaneidade, os discursos
ideológicos dominantes, a cultura em sua forma mercadorizada produz comportamentos de
consumo, decorrentes da subordinação de processos constitutivos da subjetividade, como a
identificação, os ideais e o desejo à lógica mercantil. O consumismo passou a ser o principal ideal
contemporâneo.
Notadamente, vivemos na era do consumo para a satisfação de elementos articulados
diretamente com o indivíduo, uma sociedade consumista, no qual o ter se rivaliza com o ser.
Segundo Bauman (2005: 98),

A sociedade de consumo é a sociedade do mercado, todos estamos dentro e no


mercado, ao mesmo tempo clientes e mercadoria, não admira que o uso/consumo
das relações humanas, e assim, por procuração, também de nossas identidades
(nós nos identificamos em referência a pessoas com quais nos relacionamos), se
emparelhe, e rapidamente, com padrão de uso/consumo de carros, imitando o ciclo
que se inicia na aquisição e termina no depósito de supérfluos.

A roupa da moda, o sapato, o acessório, o celular, os óculos, que variam de estação para
estação. E quem não os tem significa que não tem poder aquisitivo para tal ou que está de fora do
―tipo‖ atual, como denominado por Ghiraldelli Jr. (2007), ou seja, fadado a não ter sucesso na vida,
pois o corpo visual passa a ser o ―eu‖.
A construção de uma identidade de sujeito acontece ao se fazerem concessões no cotidiano,
se autorregulando de conformidade com o meio, mas mantendo sua integridade, sua atitude de auto-
organização, porém depende de suas próprias teorias para dar sentido à vida, que estão sempre se
renovando por meio das relações sociais.
588
Nesta perspectiva, ―tudo aquilo que é sentido por nós faz sentido, ao mesmo tempo em que
nos indica um sentido a seguir‖ (Duarte Jr., 2006: 217); assim, os sentimentos são cognitivos como
qualquer outra percepção, mas é necessário sentir e prestar atenção a estes sentimentos, pensar nos
estímulos que os provocam no caminhar de nossa vida em sociedade.
Quanto ao consumismo percebe-se a mudança de hábitos no decorrer da história. Primeiro
como exemplo, quando se comprava uma roupa e esta não servia, a tal peça do vestuário era
ajustada ao corpo, ou seja, a coisa era submetida ao ajuste da vontade humana. Atualmente, a peça
do vestuário virou sujeito e ela que diz como deve ser o corpo. O corpo é ajustado à roupa, que
passa a ser o sujeito da ação. Há uma inversão de papéis e uma apatia do indivíduo. O corpo como
obrigação de chamar a atenção. O que aparece não é o sujeito, o indivíduo, mas meros corpos.
―A identidade, migrando para o corpo, sendo este um elemento do parecer e do aparecer,
veio a calhar em uma sociedade em que todos os movimentos demorados, reflexivos foram
substituídos pelo olhar do relance e pelo julgamento a partir do visual‖ (Ghiraldelli Jr., 2007: 12). E,
portanto, ―todos, então, são objetos. Todos os vivos são coisas mortas. Em contrapartida, todas as
coisas mortas, objetos, podem se comportar como vivos – como sujeitos‖(Ibidem: 107). A
saciedade está no prazer de consumir, nesse mundo onde tudo é imagem e mercadoria: as relações,
a subjetividade, o sujeito.
Na era do consumismo, que pode ser denominado por mercantilização, as relações sociais
são mediadas pela imagem, em que se passa o tempo a olhar e ser olhado. São indivíduos que
sofrem uma re-educação estética, tendo, neste caso, a estética como combustível para a vida dos
seres humanos.
No ―tipo‖ sustenta-se a essa ideia a transição da identidade vivendo em uma condição pós-
moderna, em que indivíduos estão preparados para serem diferentes a cada dia. Tipos visíveis que
trazem a ética e a moral para o interior da estética.
Percebe-se que o ―tipo‖ aparece não para substituir a palavra, mas para ocupar um espaço
vazio, visto que a palavra, que necessita de um esforço intelectual, foi ou está quase que
abandonada. Dessa forma, a partir da mercantilização, se instaura no período pós-moderno uma
forma singular de prazer, o prazer de consumir, evidenciando o caráter de fetiche assumido pelo
consumo.
Para tanto, a construção do conhecimento se faz por movimentos retroativos e recursivos, é
o movimento em espiral visto em Morin (2005 b), no qual o produto retroage sobre o processo e
sobre a causa, incorporando-os e modificando-os. O conhecimento é um importante instrumento
para a reconstrução da percepção do mundo, que constitui a essência do sujeito provisório e
dinâmico.

589
O sujeito quando aprende, conforme Santos (2001), sofre uma mudança estrutural em todo o
organismo, pois se criam redes de interconexões neuronais para conviver com as transformações
ocorridas em seu meio, ou seja, o homem ao aprender, modifica-se.
Nesse sentido, sociedade e natureza formam uma conexão tornando-se uma rede complexa,
permeando grupos, onde os indivíduos formam a totalidade moral e social. Enfim, não é porque
muitos viraram ―tipos‖ que se desvincula a relação do homem com o mundo, desta forma, as
relações sociais continuam sendo traçadas.
Com consciência de sua existência, o ser humano analisa suas posturas e suas convicções
diariamente para que, então, possa atingir a verdade e o conhecimento necessário para permanecer
ou mesmo alterar a sua relação com os outros e com o mundo.
A partir da consciência de si, dos seus erros e acertos, podemos compreender os outros seres
humanos. A consciência de si, de seus atos e de suas convicções, conduz a uma autoanálise, cuja
prática direciona a alteridade. É através desta autoanálise que nos dirigimos aos princípios
necessários para uma vida em sociedade e a prática da solidariedade.
Conforme Morin (2005 c: 100), ―a consciência de responsabilidade é característica de um
indivíduo-sujeito dotado de autonomia (dependente como toda autonomia). A responsabilidade,
contudo, necessita ser irrigada pelo sentimento de solidariedade, ou seja, de pertencimento a uma
comunidade.‖
O ser humano reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio, como diz
71
Morin na ―ecologia da ação‖ . Trata-se de uma ética de si para si, que automaticamente invade o
outro, uma ética da compreensão, uma ética da cordialidade e, então, uma ética da solidariedade.
Ética como fonte do dever, da moral dentro do princípio da inclusão (Morin, 2005 c: 29), é um ―ato
de religação‖ com a espécie humana.
Morin (2005 c:100) relata que: ―enquanto a solidariedade alimenta a nossa responsabilidade,
a ecologia da ação mina-a. Com efeito, o sentido das nossas ações éticas pode ser desviado ou
pervertido pelas condições do meio em que se realizam.‖
As relações de solidariedade demonstram que ―um e outro são inseparáveis, nem um em
outro é o primeiro. Temos que compreender plenamente que a noção-anel de ―autos‖ é
produtivamente anterior às noções de corpo, de alma, de espírito, e que a noção-anel de indivíduo-
sujeito é logicamente anterior a elas.‖ (Morin, 2002: 321)
O conceito de solidariedade pode se fundamentar nas seguintes guias da complexidade, que
se constroem a partir de princípios éticos em conformidade com o meio, sendo:

71
―Ecologia da ação‖ refere-se ao fato de que as nossas faces de boas intenções sofram possíveis perturbações ao longo
dos seus objetivos, podendo não realizar os seus ideais propostos inicialmente. (Morin: 2002)

590
 Ética da religação, que entrelaça todas as formas de vínculos e fraternidade, para a
reconstrução individual e coletiva. As forças de religação são minoritárias em relação às
forças de dispersão, de separação e aniquilação, as barbáries e crueldades. Mas, são as forças
de religação que criam a diversidade da vida, vivendo uma dialógica de criação-destruição.
A resistência à crueldade do mundo é, por assim dizer, a ética de aceitação do mundo.
 Ética do diálogo, que participa, que informa, que difunde, que argumenta. A construção do
conhecimento, da solidariedade se fundamenta no diálogo, cujo aprendizado ocorre com
diferentes interlocutores que participam das conversas.
 A ética da compreensão, que permite o conhecimento do sujeito em toda sua
multidimensionalidade; isto é, o resgate da inteireza do ser humano.
 A ética da magnanimidade, que se contrapõe à barbárie e ao preconceito. Compreender a
incompreensão, investigando as razões subjetivas e socioculturais que a provocam e a
estudar as possibilidades de compreensão e generosidade. É esse procedimento que torna
possível o perdão, uma força redentora e regeneradora na direção do outro.
 A ética da boa vontade, para assumirmos a condição humana com a sabedoria que integra a
racionalidade e a loucura da vida. Não basta ao sujeito a vontade da boa ação, mas de
analisar se corresponde ao que queria para ele, para a sociedade e para o planeta. Isso
implica conhecer a humanidade como uma comunidade planetária composta de sujeitos que
vivem em democracia com consciência de uma comunidade de destino que pode, então, nos
conduzir a uma comunidade de vida.
 A ética da resistência; para combater as crueldades que se desenvolvem no mundo.

Da ideia de complexidade percebemos que a ética é o eixo que permeia a solidariedade.


Logo, o somatório do aprendizado das vivências e das experiências oferecidas ao longo da vida em
sociedade, quando sedimentados através de processos reflexivos, é que virão a constituir o que
realmente poderemos denominar vida do homem e, no mundo, em suas diferenças, semelhanças e
contradições. Tudo isso porque resultam em uma expectativa de transformação, de interação e de
interconexão, todas imbricadas de maneira invisível, mas intensa, isto é, a solidariedade é um valor
fundamental que constitui a essência do ser humano.
O pensar o bem é uma condição humana que se nutre de complexidade conduzindo os
sujeitos ao julgamento e práticas éticas. Nesta condição, o princípio de religação se orienta para a
solidariedade. Neste sentido, o pensamento complexo compreende a incerteza como uma

591
característica forte. Ao mesmo tempo, exige do indivíduo uma capacidade de autoregulação e
autonomia.
Uma das características do refletir é conseguir perceber a verdade no ponto de vista daquele
que apresenta uma ideia contrária à que você defende. A autocrítica surge da disposição de abertura
para ouvir o outro e a si mesmo. Para que isso seja possível, é necessário que o sujeito seja capaz de
pensar dialogicamente, que represente uma luta contra os preconceitos, a egocentricidade e o
autoengano.
Somos verdadeiramente cidadãos, dissemos, quando nos sentimos solidários e
responsáveis. Solidariedade e responsabilidade não podem advir de exortações
piegas nem de discursos cívicos, mas de um profundo sentimento de filiação
(affiliare, de filius, filhos), sentimento matripatriótico que deveria ser cultivado de
modo concêntrico sobre o país, o continente, o planeta. (Morin, 2005 a: 74)

A revisão das práticas e dos princípios a partir do entrelaçamento dos valores propostos
conduz ao que denominamos de responsabilidade social. A responsabilidade social inicia com a
mudança da pessoa em relação às suas atitudes, que se dá a partir da interatividade com o outro.
Mudanças representam condições de renúncias, que levam à estranheza, ao desequilíbrio e à
desordem. As mudanças necessitam ser instigadas, mas sem a garantia de que todos mudem na
mesma direção, pois a direção a ser assumida, depende das lentes que utilizamos desde que
nascemos compondo-nos até a nossa morte, no trânsito de experiências vividas com maior ou
menor intensidade com os demais humanos e não humanos.

CONCLUINDO

A velocidade da sociedade de consumo é cada vez maior. Um verdadeiro bombardeio de


informações, de novidades, de produtos que precisamos da noite para o dia, o que antes não havia
necessidade e que em poucas horas há uma massificação do uso e da suposta importância do
produto.
Ocorre que o processo de informação depositada nos indivíduos é mais veloz que o
processo de assimilação dos mesmos sujeitos. O que nos resta perguntar é: será que precisamos
trocar de produto? Será que precisamos de tal mercadoria? Isto ou aquilo fará diferença na nossa
vida ou no nosso desenvolvimento como homo complex?

592
Neste nosso mundo não podemos impor a perfeição, mas podemos desejar e vislumbrar a
virtude, adotando um modo de vida virtuoso para com os seres humanos que o coabitam. Nós
podemos e devemos, sempre, tentar.
A realidade social é multidimensional, comporta elementos multifuncionais históricos que
condicionam o nosso ―ethos‖ enquanto sujeitos sociais cuja autonomia/dependência sequer
imaginamos. Em determinado momento, um fator sobressai ao outro, encadeando um jogo de inter-
retro-ações.
Os princípios de inclusão e de exclusão convivem como em um gráfico senoidal, ora
oscilam na parte superior da linha de referência, ora na inferior. Assim, podemos comparar o
consumismo como um ato de exclusão de um nós da identidade do planeta e, os atos solidários, aos
princípios de inclusão.
A solidariedade só tem sentido se for praticada. Quando nos posicionamos crítica e
criativamente no espaço que vivenciamos e quando escolhemos pensar e fazer o bem. Quando
percebemos o outro na sua dimensão humana compartilhada conosco, respeitando como cidadão
terrestre, em uma comunidade de destino, entendendo e compreendendo suas ideias e seus
sentimentos. Mas, tudo isso não é suficiente se existe a incompreensão quanto ao outro, no
egocentrismo, na autojustificação.
Precisamos aprender a viver, a partilhar, a comungar e a comunicar enquanto humanos no
planeta Terra. Somos peças de um quebra-cabeças que na sua montagem atinge sua completude,
pois compartilhamos de uma paisagem comum, a vida. Mas todos estamos ameaçados pela morte
dos valores de comum-unidade. Há necessidade, inconsciente ou consciente, de reforma de vida, de
privilegiar as qualidades, de retomar e rever as nossas relações uns com os outros, estando em
comunidades sem perder a nossa autonomia.
A solidariedade é uma ação política, pois orienta nossas ações de forma coletiva, como
construtores de práticas de cidadania. Mas, há que se partir de um ponto-chave e este é, sem
dúvida, o de que a solidariedade é, antes de tudo, concretude das relações, portanto, liga
efetivamente uns seres humanos a outros.
A solidariedade presente nas relações humanas oferece alternativas sintonizadas com a
sociedade contemporânea, cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a possibilidade de
continuidade de vida no planeta terra.
A solidariedade potencializa a capacidade de participar, de intervir, de promover mudanças
e de se relacionar com os seres humanos e não humanos. Com isso, cresce a capacidade e a
qualidade humana de exercer a cidadania de forma democrática, de estabelecer novos laços de
sociabilidade sem perder de vista em nenhum momento a existência do outro.

593
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CALLONI, Humberto. Os Sentidos da Interdisciplinaridade. Pelotas: Seiva, 2006.
DUARTE JR. João Francisco. O sentido dos Sentidos: a educação (do) sensível. 4 ed. Curitiba:
Criar Edições Ltda, 2006.
GHIRALDELLI JR., Paulo. O corpo: filosofia e educação. São Paulo: Ática, 2007.
GRUN, Mauro. Em Busca da Dimensão Ética da Educação Ambiental. Campinas, SP: Papirus,
2007.
MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 11. ed.
Tradução de Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005 a.
MORIN, Edgar. O método II: a vida da vida. 2. ed. Tradução de Marina Lobo. Porto Alegre:
Sulina, 2002.
MORIN, Edgar. O Método III: o conhecimento do conhecimento. 3. ed. Tradução de Juremir
Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005 b.
MORIN, Edgar. O Método VI: ética. 2. ed. Tradução de Juremir Machado da Silva. Porto Alegre:
Porto Alegre: Sulina, 2005 c.
SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 4. ed.
Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

594
EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
UMA EXPERIÊNCIA NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Paulo Luciano da Silva SANTOS


Técnico em CT&I MCTI/INSA, email: paulo@insa.gov.br
Everaldo Gomes da SILVA
Analista em CT&I MCTI/INSA, email: egomes@insa.gov.br
Ana Paula Silva dos SANTOS
Bolsista FINEP/MCTI/INSA, email: asantos@insa.gov.br

RESUMO

O presente trabalho é resultado de ações em andamento do Projeto Ensaio Ambiental, que visam
provocar e fortalecer práticas de Educação Ambiental no campo de propostas pedagógicas e
contextualizadas, em escolas públicas, situadas no semiárido paraibano, em particular na cidade de
Campina Grande, além de chamar a atenção de alunos e professores acerca da contribuição da
ciência, da tecnologia e da inovação nessa área. O projeto surgiu da necessidade de pensar sobre a
problemática dos resíduos sólidos, entendendo como isso afeta a vida da população da referida
região. Por meio de uma metodologia participativa e da vivência das comunidades, buscou-se
implementar uma experiência piloto, em sete escolas da zona urbana e rural. Os resultados parciais
já demonstram o empoderamento de práticas ecológicas no dia a dia das escolas e o despertar para
consciência cidadã e crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Semiárido; Projeto Ensaio
Ambiental.

ABSTRACT

This work is the result of ongoing actions of the Environmental Essay Project, aimed to provoke
and strengthen environmental education practices in the field of pedagogical and contextualized in
public schools, located in semiarid Paraiba, in particular in the city of Campina Grande, in addition
to draw the attention of students and teachers about the contribution of science, technology and
innovation in this area. The project emerged from the need to think about the issue of solid waste,
understanding how it affects the lives of the people of that region. Through a participatory

595
methodology and the experience of communities, we sought to implement a pilot project in seven
schools in urban and rural areas. Partial results already demonstrate the empowerment of green
practices in daily school and the awakening for social and critique consciousness.
KEYWORDS: Environmental Education; Solid Waste; Semiarid; Environmental Essay Project.

INTRODUÇÃO

O debate em torno da problemática ambiental tem sido fundamental nos dias atuais. Nesse
contexto, a educação ambiental se apresenta como um instrumento político indispensável no
processo de construção de novas práticas, novos valores e atitudes na relação entre sociedade e
natureza.
A perspectiva de desenvolvimento sustentável engloba aspectos econômicos, políticos,
sociais e ambientais. Porém, muitos são os entraves para sua concretização, considerando o
estímulo ao consumo desenfreado, cuja expressão está na degradação ambiental sob os mais
variados aspectos.
Neste modelo de desenvolvimento a educação ambiental nas escolas tornou-se uma diretriz,
pela possibilidade concreta de construção de uma consciência crítica, em particular sobre o processo
de produção de bens de consumo e da destinação de resíduos. A solução para resolver o problema
do lixo está no seu gerenciamento integrado e não apenas na reciclagem, como se pensava em
momentos anteriores. Nessa expansão, deve-se criar e promover ações de convívio e bem estar
social e ambiental, num processo de educação continuada, de formação cidadã e de construção
coletiva.
Nessa perspectiva, o Projeto Ensaio Ambiental desenvolvido pelo Instituto Nacional do
Semiárido (INSA) surge da necessidade de refletir sobre a problemática ambiental e promover
ações, com foco nos resíduos sólidos, junto à escolas públicas das áreas urbana e rural da cidade de
Campina Grande, no sentido de contribuir com processos de geração e difusão de conhecimentos e
práticas sociais.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, RESÍDUOS SÓLIDOS E O CONTEXTO DO


SEMIÁRIDO

Historicamente, a relação entre o homem e a natureza está centrada num processo de


exploração, que teve início com um mínimo de interferência nos ecossistemas, culminando numa
exploração predatória e forte pressão sobre os recursos naturais (SOUZA JÚNIOR et al., 2010).

596
Com atitude antropocêntrica e imediatista, prioriza a dimensão econômica e do lucro, independente
dos diversos impactos causados.
Nas sociedades capitalistas, o modelo de desenvolvimento urbano-industrial impôs uma
lógica pautada no consumo e no descarte, agravando a degradação ambiental, as desigualdades
social e regional, a poluição e a pobreza. Não se trata apenas de um problema ecológico, mas
também social, econômico e ético-cultural.
Nesse contexto, emerge o discurso de desenvolvimento sustentável, projetado no início dos
anos 1980, mundialmente, nas propostas da comissão de Brundtland72, que oficializa uma nova
perspectiva de desenvolvimento para tratar as questões ambientais e sociais. O Relatório
Brundtland, intitulado ―Nosso Futuro Comum‖, publicado pela Organização das Nações Unidas
(ONU), em 1982, o define como ―aquele que responde às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades‖
(BRUNDTLAND, 1991).
Essa perspectiva de desenvolvimento parte de uma concepção multidimensional do
desenvolvimento e busca superar o enfoque predominante da economia, questão que mesmo antes
já vinha sendo debatida e será mais observada nos anos 1970, um período em que o
desenvolvimento científico e tecnológico vai reforçar a acumulação flexível e os processos
produtivos ultrapassaram os limites locais e ambientais. A partir daí surgem novas relações sociais,
políticas e econômico-produtivas entre os países, devido à implantação de novas tecnologias,
ampliando-se a globalização.
Entre os anos 1980 e 1990, como resultado do chamado Consenso de Washington, os
Estados nacionais passaram a desenvolver políticas de ajuste, mais conhecidas como neoliberais
que estão expressas no processo de privatização, na redução do papel do Estado no campo social, na
flexibilização das leis trabalhistas e das normas de fiscalização das empresas.
Ressalta-se que a ―reorientação da idéia de desenvolvimento se deu no contexto de crise do
próprio capitalismo e de consolidação de uma hegemonia do pensamento e de políticas neoliberais,
postas em prática a partir dos anos 80, como parte da estratégia global de reestruturação sistêmica‖
(LIMA, 2003, p.99)

72
Apesar dos avanços, é importante destacar que tal comissão se apoiou nas idéias do ecodesenvolvimento, formulada
por Ignacy Sachs. Assim, os resultados dessa articulação de idéias merecem uma atenção, para defesa e aplicação do
conceito de forma mais bem qualificada. Para maior conhecimento sobre ecodesenvolvimento ver a obra:
Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir. Trad. de E. Araujo. São Paulo: Vértice, 1981.

597
Questões como mudanças climáticas, desertificação, desigualdades sociais, resíduos sólidos,
educação ambiental, destacam-se como objeto de estudo de diferentes áreas de conhecimento e foco
de práticas sociais desenvolvidas por diferentes atores.
A problemática dos resíduos sólidos, por exemplo, tem sido uma das preocupações na
sociedade contemporânea. A cultura de consumo e do descarte desenfreado polui os recursos
hídricos, o solo, o ar, gera doenças, entre outros impactos sócio-ambientais, que se agravam quando
há a ausência ou insuficiência de uma política efetiva nessa área (coleta, limpeza pública e
destinação final), de saneamento básico, de acesso a água apropriada para o consumo humano,
moradia, condições de vida digna da população.
As análises dirigidas às expressões dessa problemática estiveram ao longo dos anos mais
centradas na dinâmica urbana da sociedade. Entretanto, no âmbito rural essa situação tem tido uma
atenção crescente, onde estudos têm demonstrado a escassez de recursos destinados a coleta,
tratamento e deposição final do lixo. É comum a prática da queima, enterrar ou o descarte do lixo
junto a habitações, terrenos baldios, nos rios e espaços públicos.
Com base na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 2008, os chamados
lixões ainda constituem o destino final dos resíduos sólidos, chegando a 50,8% das cidades
brasileiras. O Nordeste possui um nível proporcional de destinação aos lixões ainda maior, 89,3%.
Apesar dos registros de crescimento de programas de coleta seletiva de resíduos sólidos nos
municípios brasileiros, os destaques ainda estão para as regiões Sul e Sudeste (PNSB/IBGE, 2010).
As cidades da região do Semiárido73 brasileiro são afetadas com as mudanças no contexto
global e a realidade não difere das demais regiões do país quando se trata do problema do lixo e dos
resíduos recicláveis que nele são encontrados (vidros, papéis, latas, entre outros), colocando em
risco o bioma caatinga e a qualidade de vida da população.
O efeito combinado das condições climáticas próprias da região e as práticas inadequadas de
uso e aproveitamento do solo têm provocado de modo crescente um acentuado desgaste da
paisagem natural, a perda da biodiversidade e o esgotamento de recursos naturais, além de agravar o
processo de desertificação nas áreas susceptíveis.

73
Espaço geográfico definido pelo Ministério da Integração Nacional, de acordo com a Portaria 89, de 16 de março de
2005. Para fazer parte do semiárido os municípios deveriam atender pelo menos um dos critérios, quais sejam:
precipitação média anual inferior a 800 milímetros, índice de aridez de até 0,5 e risco de seca maior que 60%. Sendo
assim, é considerada uma região com regime pluvial irregular, solos rasos, com ocorrência de vegetação do tipo
xerófila, resistente a longos períodos de estiagem. Oficialmente, é formada pelos seguintes estados: Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, além do Vale do Jequitinhonha, no Norte de Minas
Gerais. Uma extensão territorial de 980.133,079 Km². São 56,46% do território nordestino situados no semiárido.

598
Um dado importante é que a população tem convivido com o fenômeno da seca, criando
diferentes formas de resiliência, mesmo diante de políticas públicas insuficientes para provocar
condições sócio-econômicas e ambientais sustentáveis, que ao longo das décadas se caracterizaram
pelos programas de caráter assistencialista e emergencial.
Os municípios que compõe a região chegam a 1.135, com destaque para o Rio Grande do
Norte que apresenta 88,02% dos seus municípios situados no semiárido. No caso da Paraíba chega a
76,23% (INSA, 2012, p.31).

Fonte: INSA, 2012.


Mapa 01 – Municípios do Semiárido Brasileiro (SAB).

Diante desse cenário, pensar o semiárido na perspectiva do desenvolvimento sustentável e


do enfrentamento do problema dos resíduos sólidos é compreender os desafios próprios à região e
buscar também e não só em sua dinâmica, formas de convivência justas, social e ecologicamente.
Nesse sentido, a educação ambiental é um forte instrumento de transformação social, por isso deve
ser compreendida numa perspectiva crítica e inovadora.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação deve possibilitar como processo permanente a alfabetização, as capacidades de


aprendizagem, o desenvolvimento do raciocínio crítico, a criatividade e a ação no que diz respeito à

599
transformação social (DUARTE; BARBOZA, 2007). Nos diversos contextos, entre eles o do
cuidado com o ambiente, o homem se beneficia de princípios educativos adquirido e em aquisição
ao longo da vida, em espaços não acadêmicos, isto é, na família, no trabalho, na sociedade onde está
inserido e com ele mesmo.
Considera-se que a escola é um local propício para o desenvolvimento de ações relacionadas
ao ambiente em que vivemos (MANZANO; DINIZ, 2004), pois é mais fácil envolver todos os
níveis de uma sociedade, onde professores, alunos e colaboradores exercem sua cidadania e onde se
espera que se promova um processo educativo não neutro e não apenas de ensino passivo (SATO,
2000). Além de que a escola, na sua estrutura física, é localizada normalmente nos centros das
comunidades, são referências, e utilizadas para atividades extraclasses e de uso das comunidades,
seja no âmbito rural ou urbano.
As questões relacionadas ao meio ambiente e a exposição de diversos problemas ambientais,
iniciados em décadas atrás e gerado principalmente pelo modelo de desenvolvimento econômico
capitalista, vêm se destacando no cenário mundial. Em 1972, na cidade de Estocolmo/Suécia, foi
realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, sendo criado o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Estabeleceu-se o ―Plano de Ação
Mundial‖ e a ―Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano‖, a fim de chamar a atenção
dos governos para a adoção de novas políticas ambientais, entre elas um Programa de Educação
Ambiental, visando educar o cidadão para a compreensão e o combate à crise ambiental no mundo.
Como um dos resultados, 113 países, incluindo o Brasil, assinaram a Declaração de Estocolmo
sobre o Meio Ambiente, em junho deste ano, cujo artigo 19 consta o seguinte:

É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando


tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao
setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma
opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos
indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua
responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio
ambiente, em toda a sua dimensão humana.

A Educação Ambiental como modalidade de educação catalisadora para a cidadania


consciente e de ações preventivas com intuito de mitigar os impactos ambientais (SOUZA;
PEREIRA, 2011), como reversão do quadro de degradação ambiental e como instrumento que
busca a harmonia entre homem/natureza, se encaixa perfeitamente nas tentativas de promoção de
600
vida sustentável, além de vislumbrar possibilidades de mudanças e de melhorias qualitativas do seu
ambiente total (BEZERRA; GONÇALVES, 2007).
Em 1975, a UNESCO promoveu em Belgrado, na Sérvia, um Encontro Internacional sobre
Educação Ambiental, que teve como ponto alto a formulação de princípios e orientações para um
Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), segundo o qual esta deveria ser contínua,
interdisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.
Dois anos após, em 1977, celebrou-se em Tbilisi/EUA, a Conferência Intergovernamental
sobre a Educação Ambiental, definindo os objetivos da mesma e indicando o ensino formal como
um dos eixos fundamentais para conseguir atingi-los. De acordo com Bernardes (2006) como ponto
central de consolidação do Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), ficou atribuído
à escola um papel determinante no conjunto de ações sistemáticas de educação ambiental, no
primeiro e segundo graus, bem como na ampliação de cursos superiores, recomendações ainda hoje
vigentes.
A publicação do Relatório Brundtland nos anos 1980, indica e incorpora o desenvolvimento
sustentável como saída para a contenção dos problemas ambientais no mundo, requerendo
mudanças bastante significativas na sociedade.
Como desdobramento do debate internacional, realizou-se em 1987, a Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Moscou, na Rússia, para avaliar os
acontecimentos dos últimos dez anos e fortalecer as orientações de Tbilisi. A ênfase é colocada na
necessidade de atender prioritariamente à formação de recursos humanos nas áreas formais e não-
formais da Educação Ambiental e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os
níveis de ensino.
Em 1992, com a Conferência Internacional Rio-92, realizada no Rio de Janeiro/Brasil, o
movimento internacional da educação ambiental ganha legitimidade em diferentes instâncias
nacionais e internacionais, por meio de agências, órgãos governamentais e não governamentais, nas
universidades e institutos de pesquisa, nos meios de comunicação e nos movimentos sociais.
Na ocasião da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e
Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada na cidade de Thessaloniki / Grécia, em
1997, ―constatou-se que as recomendações e ações sugeridas nos encontros realizados
anteriormente ainda não tinham sido totalmente exploradas e que o progresso observado cinco anos
após a conferência Rio-92 foi insuficiente‖ (BERNARDES, 2006,p.18).
No Brasil, em abril de 1981, foi promulgada a Lei Federal n° 6.902, que já menciona a
educação ambiental. Estabeleceu novos tipos de áreas de preservação ambiental, entre as quais as
Estações Ecológicas, destinadas à realização de pesquisas e à educação ambiental. No mês de

601
agosto, estava sendo publicada a primeira lei que reconhece a Educação Ambiental como um
instrumento para ajudar a solucionar problemas ambientais. É a mais importante lei ambiental do
Brasil, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNEA), Lei Federal n° 6.938/81, e a
criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). O seu texto já impõe que a
educação ambiental seja ofertada em todos os níveis de ensino.
No ano de 1988 foi aprovada a nova Constituição Federal, trazendo no Capitulo VI – Do
meio Ambiente, Art. 225. ―Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖ (BRASIL,
1988).
Em 1997, a Educação Ambiental é tratada no Brasil nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), que recomendam um processo educativo, não limitado a simples transmissão de
conhecimentos e conteúdos programáticos pré-elaborados, mas constituído em espaços de troca de
conhecimentos e experiências. Cada professor, dentro da especificidade de sua área, adequará o
tratamento dos conteúdos, para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais temas
transversais. Apenas em 1999, foi promulgada a lei 9.795/99, que estabelece a criação da Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), um avanço se considerarmos a sua especificidade.
O relatório final do encontro Rio+20, Conferência das Nações Unidas – ONU, nesse ano de
2012, no ponto 231, encoraja os estados membros da organização a promoverem a conscientização
e o desenvolvimento sustentável entre a juventude, através da promoção de programas de educação
não-formal seguindo metas de conferências de décadas passadas.
Essas mudanças no campo jurídico-legal e político-institucional ocorrem diante da
complexidade de resolver os problemas ambientais, fundados no aspecto econômico do
desenvolvimento. Reverter tais problemas requer mudanças econômica, social e cultural da
sociedade. Desde a Conferência de Tbilisi/EUA, em 1977, o campo criativo e inovador da educação
ambiental têm possibilitado o surgimento de diversas experiências interdisciplinares, reorientando
novas práticas sociais e a produção de conhecimento.

PROJETO ENSAIO AMBIENTAL

O Projeto Ensaio Ambiental, implementado em novembro de 2011, surge do interesse e da


necessidade de refletir sobre a complexidade ambiental, considerando o diálogo entre as diferentes
áreas do saber, as práticas e a produção de conhecimento sobre educação ambiental e o bioma
caatinga. Questões que também se situam como uma das preocupações do Instituto Nacional do

602
Semiárido (INSA), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O objetivo é provocar e fortalecer práticas de Educação Ambiental no campo de propostas
pedagógicas e contextualizadas, em escolas da rede pública de ensino do semiárido Paraibano.
Além disso, visa despertar para questões ambientais, principalmente com relação à problemática
dos resíduos sólidos.
As etapas do projeto piloto foram: mapeamento e seleção das escolas; contatos com a
direção das escolas; realização de pesquisa sobre a percepção ambiental de alunos e professores,
com a aplicação de um questionário; apresentação do projeto; sensibilização e mobilização de
alunos e professores. As ações iniciais contemplaram a construção de uma agenda ambiental, a
socialização e a difusão de conhecimentos e conceitos básicos.
Considerando a impossibilidade de dar conta de todo o território do semiárido paraibano,
optou-se por desenvolver um projeto piloto em escolas de 4 bairros da zona oeste de Campina
Grande-PB, cuja população é estimada em 23.152 habitantes, cerca de 6% da população total do
município, que chega a 383.941 habitantes (IBGE, 2010). Nesse primeiro momento do projeto
foram selecionadas 7 escolas das redes municipal e estadual, sendo 5 da zona rural e 2 da zona
urbana. Os critérios para tal seleção foram basicamente os seguintes: 1. Escolas situadas em áreas
próximas ao lixão da cidade; 2. Escolas situadas próximo a Sede e a Estação Experimental do
INSA, por facilitar o processo de operacionalização das ações.
Para tratar dos problemas ambientais, parte-se do próprio conteúdo cotidiano da vida
escolar. Assim, o envolvimento de professores de forma permanente é indispensável não só no
processo de sensibilização, mas também na mudança de comportamento, aprendizagem de novos
valores e atitudes em relação à natureza e de consciência cidadã.
As atividades extraclasses são planejadas e realizadas junto aos professores e contam com o
apoio de outros pesquisadores do INSA, que estão envolvidos com projetos em diferentes áreas.
Nos primeiros contatos, que envolveu o processo de sensibilização e mobilização, também foram
desenvolvidos plantios de mudas vegetais nativas da Caatinga (Umbu, Pau-ferro, Tambor e
Catingueira), em área de experimentação científica de nucleação e recomposição de área ciliar e
ribeirinha, na Estação Experimental do INSA; atividades sócio-educativas em datas alusivas a
proteção ambiental; visitas à cooperativa de catadores de materiais recicláveis; passeios ecológicos;
oficinas de reciclagem; criação de hortas e viveiros de mudas vegetais, campanhas e palestras.
Dentre os resultados parciais verificam-se a inserção espontânea da temática educação
ambiental na rotina e no currículo das escolas; envolvimento efetivo de diretores, professores e
alunos; ativação do protagonismo juvenil, promovendo socialização entre os participantes, em
momentos ―além da sala de aula‖; despertar, de forma lúdica e interativa, para a consciência cidadã

603
crítica e inovadora, na relação sociedade e natureza; adoção de práticas ecológicas que garantem a
participação coletiva; estímulo para novas iniciativas ecológicas, como a criação de espaços verdes;
envolvimento de pais e a comunidade local.
No processo de adesão à coleta seletiva, está prevista a entrega de coletores de materiais
recicláveis nas escolas, material adquirido com recursos do INSA, bem como diferentes ações
efetivas junto as escolas e comunidades. Pretende-se, ainda, realizar e ampliar parcerias com
cooperativas e associação de catadores existentes no município, universidades, secretarias
municipais e outros órgãos do governo estadual e federal e organizações da sociedade civil.
As avaliações ocorrem de forma sistemática e se dá com a participação dos atores
envolvidos. As ações são de caráter permanente e buscam estabelecer um processo de mediação
pedagógica.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A educação ambiental é capaz de promover mudanças de atitude e garantir a participação


ativa na solução de problemas sócio-econômicos e ambientais locais, na perspectiva do
desenvolvimento sustentável e da cidadania. Portanto, ela deve ser um processo que considera o
contexto sócio-histórico e possibilita a construção de um conceito de natureza resignificando-a com
base na realidade sócio-ambiental e no cotidiano da população.
Com as reflexões aqui apresentadas, a partir da experiência do Projeto Ensaio Ambiental,
pretende-se ampliar o debate e divulgar conhecimentos e práticas de educação ambiental. Os
resultados são parciais e já demonstram a relevância da ação, especialmente pela abordagem no
contexto do semiárido Paraibano, com a particularidade de tratar a problemática dos resíduos
sólidos e a sua relação com a ciência, a tecnologia e a inovação.

REFERÊNCIAS

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geografia em escolas públicas do município de Viçosa – MG. Monografia. Viçosa: UFV, 2006.
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2012, às 11h.

604
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emanciapação do indivíduo. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia. Ano V – Número 09 –
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em 28/08/2011 às 05:32 h.

605
DIAGNÓSTICO CONTÁBIL DOS BENEFÍCIOS AMBIENTAIS E SOCIAIS
NO SESI - DR - PB

Vivianne Pereira de SOUZA E SILVA


(FIEP/PB) – viviannepss@gmail.com - Mestranda
Yêda Silveira M LACERDA
(UEPB/PB) – yedasilveira@hotmail.com - Doutoranda

RESUMO

A contabilidade ambiental tem como premissa levar o empresariado a uma tomada de consciência
no sentido de que os recursos naturais não são inesgotáveis, muito pelo contrário: alguns danos
causados à natureza são irreversíveis. Portanto, o meio ambiente é um bem comum que deve ser
cuidado e preservado para as gerações futuras. O objetivo geral deste trabalho é diagnosticar,
contabilmente, os benefícios ambientais e sociais no SESI-DR-PB -, a partir do processo de
substituição do copo descartável pela caneca de porcelana. A metodologia utilizada foi do tipo
bibliográfico, de campo e estudo de caso. Possui caráter exploratório, com base descritiva de
enfoque quantitativo e qualitativo. Os resultados indicam que embora haja um programa de
consciência, há uma limitação no tocante ao consumo de água quanto a higienização e limpeza das
canecas. Desta forma, percebe-se a partir da ação desenvolvida, uma relevância para organização no
que refere-se a adoção da prática contábil ambiental, pois foi identificado que a maioria dos
colaboradores estão dispostos a contribuir para que haja sucesso nos resultados.
PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade Ambiental. Gestão. Meio Ambiente

ABSTRACT

The environmental accounting is premised bring the business to an awareness of the effect that
natural resources are not inexhaustible, quite the contrary: some damage to nature are irreversible.
Therefore, the environment is a common good that should be maintained and preserved for future
generations. The overall goal of this work is to diagnose, accounting, environmental and social
benefits in the SESI-DR-PB, from the process of replacing the disposable cup porcelain mug. The

606
methodology used was kind of literature, field and case study. It has an exploratory, descriptive
approach based on quantitative and qualitative. The results indicate that although there is a program
of consciousness, there is a limitation regarding the use of water as washing and cleaning of cups.
Thus, it is clear from the action developed a relevance to the organization that refers to the adoption
of environmental accounting practice, it was identified that most employees are willing to
contribute to that success there in the results.
KEYWORDS: Environmental Accounting. Management. Environment

INTRODUÇÃO

Os XVIII e XX, foi marcado por pouca preocupação em preservar ou recuperar o meio
ambiente. Sem presença de consciência ambiental, as empresas despejavam seus resíduos sólidos,
líquidos e gasosos no meio ambiente, sem realizar qualquer tipo de tratamento. O mercado,
percebendo as agressões por parte das empresas poderiam comprometer o futuro de seus
investimentos, também começou a selecionar as empresas comprometidas com a preservação,
manutenção e recuperação do meio ambiente.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou o ―Mapa Estratégico da Indústria 2007-
2015‖, um conjunto de objetivos que o setor industrial considera indispensável para consolidar o
Brasil como uma economia competitiva inserida na sociedade do conhecimento e com a
participação expressiva no comércio mundial.
Sendo assim, como diagnosticar contabilmente os benefícios ambientais, sociais no SESI-
DR-PB, a partir do processo de substituição do copo descartável pela caneca de porcelana?
Agir de acordo com o novo cenário de desafios para o mundo coorporativo e para sociedade,
requer uma gestão voltada para o desenvolvimento sustentável. Partindo desta premissa, a
necessidade da realização desta pesquisa, surgiu devido à observância da ausência da prática
contábil ambiental na entidade e consequentemente falta de informações aos gestores para tomada
de decisão que venha auxiliar na autossustentabilidade. Sendo assim, será apresentado um estudo
realizado no Serviço Social da Indústria – SESI-DR-PB, diagnosticando os benefícios ambientais e
sociais. Esta ação foi realizada como parte integrante de um plano de excelência em gestão que está
em fase de análises para posterior implantação, tornando este estudo de extrema relevância.
O Objetivo Geral é apresentar um diagnóstico contábil dos benefícios ambientais e sociais
no SESI-DR-PB, a partir do processo de substituição do copo descartável pela caneca de porcelana.

607
CONTABILIDADE AMBIENTAL

A sociedade em geral, segundo Tinoco e Kraemer (2008), está aumentando a busca por
informações ambientais na contabilidade das organizações, não só nas demonstrações contábeis,
mas também em outros relatórios que evidenciam as informações pertinentes à gestão ambiental
destinada à prevenção e recuperação dos danos ambientais.
De acordo com Barreto (2008) a ―Contabilidade passou a ser valorizada como fonte de
informações gerenciais, sendo a origem dos dados quantitativos e monetários para alimentar o
sistema de informações da controladoria das organizações‖.

ATIVO AMBIENTAL

Na literatura contábil existem várias classificações para Ativo. Apresentaremos o significado


de Ativo, que se constitui no capítulo mais importante da Contabilidade, a nosso juízo, segundo a
visão de dois pesquisadores contábeis, como segue:
De acordo com Hermanson (1964 apud TINOCO e KRAEMER, 2008, p.180), um dos
primeiros pesquisadores da Contabilidade de Recursos Humanos, escrevendo sobre Ativo, assim o
denominou:
Ativos são recursos escassos (definidos como serviços, mas agrupados e classificados como
agentes) operando na entidade, capazes de serem transferidos por força da economia,
reportados em termos financeiros, e que foram adquiridos como resultado de transações
atuais ou realizadas no passado, e que possuem capacidade de gerar benefícios econômicos
futuros.

Os Ativos Ambientais representam: os estoques dos insumos, peças, acessórios, etc.


utilizados no processo de eliminação ou redução dos níveis de poluição e de geração de resíduos.
Ativos Ambientais são os bens adquiridos pela companhia que têm como finalidade
controle, preservação e recuperação do meio ambiente. Se os gastos ambientais podem ser
enquadrados nos critérios de reconhecimento de um Ativo, devem ser classificados como tais. Os
benefícios podem vir através do aumento da capacidade ou melhoria da eficiência ou da segurança
de outros Ativos pertencentes à empresa, da redução ou prevenção da contaminação ambiental que
deveria ocorrer como resultado de operações futuras ou, ainda, através da conservação do meio
ambiente.

608
PASSIVO AMBIENTAL

Os Passivos Ambientais, conforme Ribeiro e Gratão (2000) ficaram amplamente conhecidos


pela sua conotação mais negativa, ou seja, as empresas que os possuem agrediram
significativamente o meio ambiente e, dessa forma, têm que pagar vultosas quantias a título de
indenização a terceiros, de multas e para a recuperação de áreas danificadas.
Existem três tipos de obrigações decorrentes do Passivo Ambiental: legais ou implícitas;
construtivas e justas:
 Legais ou Implícitas: quando a entidade tem uma obrigação presente legal como
consequência de um evento passado, como o uso do meio ambiente (água, solo, ar, etc.) ou a
geração de resíduos tóxicos. Essa obrigação legal surge de um contrato, legislação ou outro
instrumento da lei.
 Implícita: é a que surge quando uma entidade, por meio de práticas do passado, políticas
divulgadas ou declarações feitas, cria uma expectativa válida frente a terceiros e, por conta
disso, assume um compromisso.
 Construtivas: são aquelas que a empresa propõe-se a cumprir espontaneamente, excedendo
as exigências legais. Ocorre quando a empresa está preocupada com sua reputação na
comunidade em geral, ou quando está consciente de sua responsabilidade social, e usa os
meios para proporcionar o bem-estar da comunidade.
 Justas (equitable): refletem a consciência de responsabilidade social, ou seja, a empresa as
cumpre em razão de fatores éticos e morais.

GASTOS E CUSTOS AMBIENTAIS

Os gastos ambientais apresentam-se em muitas das ações das empresas a todo o momento.
Podem estar ocultos em etapas do processo produtivo e nem sempre são facilmente identificáveis,
como o design de novos produtos.
Segundo Tinoco e Kraemer (2008):
Os custos ambientais são apenas um subconjunto de um universo mais vasto de custos
necessários a uma adequada tomada de decisões. Eles não são custos distintos, mas fazem
parte de um sistema integrado de fluxos materiais e monetários que percorrem a empresa.

A Contabilidade de Gestão Ambiental, ao identificar, avaliar e imputar os custos ambientais


permite aos gestores adotar procedimentos para reduzir custos. A Divisão para o Desenvolvimento

609
Sustentável das Nações Unidas (2001) informa como exemplo as economias/reduções que podem
resultar da substituição de solventes orgânicos tóxicos por não tóxicos, de gestão de resíduos
perigosos e outros custos associados à utilização de materiais perigosos.

RECEITA AMBIENTAL

Quando se implanta uma SGA em uma empresa o objetivo é gerar uma política responsável
em relação aos problemas ambientais.
Santos (2001) cita exemplo de três tipos de receitas ambientais:
 Prestação de serviços especializados em gestão ambiental;
 Venda de produtos elaborados a partir de sobras de insumos do processo produtivo;
 Participação no faturamento total da empresa que se reconhece como sendo devida a
sua atuação responsável com o meio ambiente.

BALANÇO PATRIMONIAL AMBIENTAL

O principal objetivo do Balanço Patrimonial é tornar público, para fins de avaliação de


desempenho, toda e qualquer atitude das entidades, com ou sem finalidade lucrativa, mensurável em
moeda, que, a qualquer tempo, possa influenciar ou vir a influenciar o meio ambiente, assegurando
que custos, ativos e passivos ambientais sejam reconhecidos a partir do momento de sua
identificação, em consonância com os Princípios Fundamentais de Contabilidade – Resolução 750-
93 do CFC.
Atualmente, a maioria das empresas brasileiras promove a elaboração e posterior publicação
do seu balanço patrimonial sem nele constar os grupos de ativos e passivos ambientais (ANTUNES,
2005).

BENEFÍCIOS DA CONTABILIDADE AMBIENTAL

1. Benefícios Potenciais à Indústria

 identifica, estima, aloca, administra e reduz os custos, particularmente os tipos ambientais de


custos;
 controla o uso e os fluxos da energia e dos materiais;

610
 dá informação mais exata e detalhada para suportar o estabelecimento e a participação em
programas voluntários, custos efetivos para melhorar o desempenho ambiental;
 informação mais exata e mais detalhada da mensuração e da elaboração do relatório de
desempenho ambiental, contribuindo para melhorar a imagem da companhia perante os
stakeholders.

2. Benefícios Potenciais à Sociedade

 permite o uso mais eficiente de recursos naturais, incluindo a energia e a água;


 reduz os custos externos relacionados à poluição da indústria, tais como os da monitoração
ambiental;
 fornece informações para a tomada de decisão, melhorando a política pública;
 fornece informação ambiental industrial do desempenho, que pode ser usada no contexto
mais extenso das avaliações do desempenho e de condições ambientais nas economias e
em regiões geográficas.

BALANÇO SOCIAL

Segundo Tinoco e Kraemer (2008):


Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa evidenciar, de forma
mais transparente possível, informações contábeis, econômicas, ambientais e sociais, do
desempenho das entidades, aos mais diferenciados usuários.

O Balanço Social contempla, também uma série de informações de caráter qualitativo:


dentre as mais importantes, destacam-se as relativas à ecologia, em que se evidenciam os esforços
que as empresas vêm realizando para não afetar a fauna, a flora e a vida humana, vale dizer, as
relações da entidade com o meio ambiente; ao treinamento e à formação continuada dos
trabalhadores; às condições de higiene e segurança no emprego; às relações profissionais; às
contribuições das entidades para a comunidade, explicitando a responsabilidade social e corporativa
das organizações.

OBJETO DO ESTUDO

O SESI - Serviço Social da Indústria – PB está localizado Edf. Agostinho Velloso da


Silveira. José Pinheiro. Campina Grande – PB. Possui a Forma Jurídica de Instituição de Direito
Privado. Contempla 360 funcionários, sendo 84 no Departamento Regional e os demais nos Centros
de Atividades. Os serviços do SESI/PB são prestados em todo o Estado através dos Centros de
611
Atividades, Unidades Operacionais e Móveis, localizadas nas cidades de Campina Grande, João
Pessoa, Bayeux, Rio Tinto, Patos e Sousa. Desenvolve ações voltadas para Educação, Saúde, Lazer
e Responsabilidade Social, voltados para os trabalhadores de indústria e seus dependentes como
também para a comunidade em geral. Através do seu Mapa Estratégico estabelece estratégias de
direcionamentos das ações onde a entidade acompanha sua eficiência, eficácia e efetividade na
aplicação de seus recursos financeiros, físicos e humanos e relaciona os fatores condicionantes
internos e externos norteando os caminhos trilhados para o alcance da missão.

METODOLOGIA

A presente pesquisa caracterizou-se quanto aos fins como exploratória e descritiva.


Exploratória pela necessidade de se conhecer mais sobre o assunto, objetivando oferecer uma visão
panorâmica, através do esclarecimento e desenvolvimento de ideias. Descritiva por apresentar
características da percepção do público em relação à qualidade no atendimento. De acordo com
Vergara (2010), pode-se constatar que a pesquisa exploratória é desenvolvida em área em que há
uma escassez de conhecimento e a pesquisa descritiva visa mostrar características de determinada
população ou fenômeno.
Quanto aos meios, classificou-se como pesquisa bibliográfica, de campo e de estudo de
caso. Bibliográfica por ter sido feito um estudo tendo como base as referências teóricas publicadas
em livros, artigos, dentre outras fontes. A investigação foi de campo por ter sido utilizada uma
averiguação empírica no lugar onde se dispõe das informações necessárias para explicar o objeto de
estudo. Caracterizou-se também como estudo de caso por ter se analisado uma instituição.
O universo da pesquisa foi composto por 84 colaboradores do SESI-DR Serviço Social da
Indústria em Campina Grande- PB. A amostra da pesquisa contou com 33 colaboradores baseado na
validação dos dados estatísticos.
Neste trabalho procedimentos de pesquisa bibliográfica objetivando a fundamentação do
tema proposto. O tamanho amostral foi obtido considerando-se: O objetivo principal da
determinação dos percentuais da escolha das empresas; Margem de Erro de 4%; Confiabilidade de
95,0%; Tamanho populacional igual ao número de 84 colaboradores. A forma de cálculo utilizada
para o tamanho da amostra para cada item foi:

z 2 . 2 1,962.152
n0  n0   54
2 4,2

612
O tamanho mínimo da amostra necessária para validar a pesquisa, diante da população
pesquisa, é de 33 Colaboradores. Para a fase da coleta foi utilizado a amostragem aleatória simples
onde foi realizado um sorteio dos funcionários a partir de uma listagem fornecida pelo
Departamento de Recursos Humanos da empresa.
Em relação a coleta de dados, foi aplicado um questionário dividido em duas partes: a Parte
I, refere-se ao perfil do colaborador, e a Parte II refere-se aos aspectos socioambientais englobando
11 questões. Para análise socioambiental, o questionário foi elaborado com base em duas
dimensões: Sociais e Ambientais, e composta por 11 variáveis.
.
Dimensões Variáveis
Aspectos Ambientais Q6, Q.7, Q8, Q9, Q10, Q11
Aspectos Sociais Q12, Q13, Q14, Q15, Q16, Q17
Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.
Tabela 1: Dimensão dos Aspectos Socioambientais

Foi utilizado o método de Likert em escala de resposta psicométrica mais usada em


pesquisas de opinião. Ao responderem o questionário baseado nesta escala, questionou-se sobre o
nível de concordância na assertiva, com as seguintes alternativas: 1.Discordo totalmente; 2.
Discordo parcialmente; 3.Indiferente; 4. Concordo;;parcialmente; 5.Concordo totalmente.
Os dados foram submetidos a uma análise quanti-qualitativa, sendo para isto, codificados,
agrupados e processados, utilizando-se para análise o tratamento estatístico descritivo os quais estão
apresentados sob forma de tabelas e gráficos, para isso utilizamos o Programa Estatístico SPSS 13.0
(Statistical Package for Social Ciences-for Windows) e a Planilha eletrônica Excel.

ANÁLISE DE RESULTADOS

1. Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais

Q6. Tenho consciência da importância de boas práticas ambientais para a sustentabilidade do


planeta.
Q7. Conheço o impacto ambiental causado pelo uso do copo descartável.
Q8. Acredito que a implantação da gestão ambiental na empresa irá contribuir para diminuir a
geração de lixo.
Q9. A gestão ambiental irá contribuir para diminuição do desperdício dos recursos naturais, como
água, energia, etc.
613
Q10. O processo de substituição do copo descartável por caneca de porcelana irá diminuir o
impacto ambiental.
Q11. Sinto-me motivado para as questões ambientais.

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.


Gráfico 1: Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais

Verifica-se que quando questionados acerca deste aspecto, o percentual de discórdia dos
colaboradores foi muito inferior aqueles que responderam de forma otimista. Isto significa que; a
maioria dos colaboradores tem consciência da importância das boas práticas ambientais; conhece o
impacto ambiental causado pelo uso do copo descartável; acredita que a implantação da
Contabilidade Ambiental na empresa irá contribuir para diminuição da geração de lixo e dos
recursos naturais; e sente-se motivada para as questões ambientais. Tais aspectos representam
resultado positivo não só para a ação desenvolvida na empresa a partir da substituição do copo
descartável por caneca de porcelana como também para ações futuras.

2. Resultado Agrupado dos Aspectos Sociais

Q12. Tenho hábitos conscientes em relação ao meio ambiente.


Q13. Contribuo com atitudes para o bom funcionamento do programa ambiental realizado pela
empresa
Q14. O programa ambiental realizado pela empresa mudou minhas atitudes em relação ao meio
ambiente.
Q15. Estou disposto a participar de outros programas ambientais realizados pela empresa.
Q16. Percebo mudança significativa na empresa após a implantação da caneca de porcelana.
Q17. Estou satisfeito com o processo de substituição do copo descartável por caneca de porcelana.

614
Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011.
Gráfico 2: Resultado Agrupado dos Aspectos Sociais

Com relação ao resultado agrupado dos Aspectos Sociais, constata-se que uma vez
questionados acerca deste aspecto, a maioria dos colaboradores responderam de maneira otimista,
significando assim que: eles têm consciência dos hábitos em relação ao meio ambiente; não só
contribuem com atitudes para o bom funcionamento do Programa Ambiental realizado pela
empresa, como também, mudaram outras a partir deste Programa; perceberam mudanças
significativas após a implantação da caneca de porcelana; e, estão satisfeitos e dispostos a
participarem de outros programas ambientais realizados pela empresa.

3. Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais e Sociais

Fonte: Pesquisa Direta. Setembro 2011


Gráfico 3: Resultado Agrupado dos Aspectos Ambientais e Sociais

615
Analisando de forma agrupada as variáveis ambientais e sociais, percebe-se que a maioria
dos colaboradores concordaram totalmente acerca destas variáveis quando foram interrogados.
Verifica-se que as opiniões em relação as variáveis ambientais se sobressaem as sociais e que as
opiniões desfavoráveis foram insignificantes diante das favoráveis. Isto significa que há um bom
entendimento e comprometimento por parte dos colaboradores do SESI-DR-PB favorecendo desta
forma a implantação da Gestão Ambiental e consequentemente da Contabilidade Ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando o aspecto ambiental, observa-se que a maioria dos colaboradores afirma ter
consciência da importância de boas práticas ambientais, conhecendo o impacto ambiental causado
pelo uso do copo descartável. Além disso, os colaboradores acreditam na implantação da gestão
ambiental como forma de diminuição não só da geração de lixo como também do consumo dos
recursos naturais. Concordam em sua maioria na diminuição do impacto ambiental causado no
processo de substituição do copo descartável pela caneca de porcelana.
Verificou-se no aspecto social que a maioria dos colaboradores afirma ter consciência dos
hábitos de consumo em relação ao meio-ambiente e que não só iria contribuir através de atitudes
para o bom funcionamento do programa ambiental realizado pela empresa, como também mudarão
seus hábitos, estando disponíveis para participar de outras ações ambientais realizadas pela
organização. Houve uma considerável percepção de mudança na organização pelos colaboradores
após a ação de implantação da caneca de porcelana.
Logo, a ação ambiental desenvolvida serviu para reeducação para práticas de hábitos
saudáveis, cabendo a cada colaborador como pessoa a utilização do consumo consciente
contribuindo para a sustentabilidade do planeta.
O estudo revelou que pode se ter um diagnóstico contábil dos benefícios nessas três esferas
através de ferramentas da Contabilidade, como: Balanço Social, Controladoria e de uma Gestão
Ambiental, pois estes auxiliarão para evitar uma maior deteriorização do ambiente causada por
conta de ações inadequadas. Desta forma, o diagnóstico contábil encontrado a partir da ação
desenvolvida pela empresa é que embora haja um programa de consciência houve uma limitação na
mensuração do resultado direto devido a inexistência ainda da contabilidade ambiental e
consequentemente de um plano de contas ambiental, detalhando cada conta em específico.
No presente trabalho o tema não se dá por encerrado, apenas deu-se ênfase e visão sobre
os aspectos a que ele pode engendrar. Nesse sentido, recomenda-se aos pesquisadores afeitos ao
tema o estímulo para que estes se sintam envolvidos e dedicados a aplicar-se no deleite deste,

616
aplicando ou mesmo replicando a presente pesquisa, onde possam eles perceber demais aspectos
que aqui não foram aludidos. Seja por motivos que não interessavam a presente seja por aspectos a
esta pouco relevantes.

REFERENCIAS

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618
PLANTANDO A SEMENTE

Wellington Marchi PAES


PRODEMA-UFPB – tonbio@hotmail.com
Elza Fernanda RAIMUNDO
EMEFNV – elzafernanda@hotmail.com
Maria Cristina CRISPIM
DSE-UFPB – ccrispim@hotmail.com

RESUMO

As comunidades humanas estão se distanciando da relação e dos conhecimentos que os


antepassados tinham com o ambiente, em nome da ―civilização e progresso‖. Na agricultura,
conhecimentos milenares vão sendo substituídos por atitudes baseadas no lucro e consumo cada vez
mais divulgados pela mídia. Dessa forma, é importante que técnicas naturais, sejam reintroduzidas
em nossas comunidades, especialmente nas rurais, que são à base de nossa alimentação. O objetivo
central deste trabalho foi à sensibilização de crianças do assentamento Nova Vida na Paraíba, para a
preservação de nossos ambientes, instituindo uma alimentação saudável, o cuidado com o solo e
com os organismos vivos na elaboração e cultivo de hortas agroecológicas. Nessa perspectiva,
desenvolvemos um trabalho cooperativo entre os participantes utilizando técnicas permaculturais.
Entretanto, a educação ambiental não deve se restringir à divulgação de informações, é preciso que
se estabeleça um vínculo permanente entre as pessoas e o ambiente, estabelecendo novos valores e
sentimentos. As atividades foram realizadas no primeiro semestre de 2011, com alunos da EMEF
Nova Vida e se dividiram em duas etapas, uma expositiva e outra prática, relacionada ao cultivo e
manejo de espécimes vegetais, com a construção de canteiros circulares de garrafas plásticas
separadas pelos alunos. Deste modo, evidencia-se a necessidade de atividades que possam inserir
outros valores às crianças, na perspectiva de promover a sensibilização para o interesse e o
desenvolvimento da cultura de subsistência sem agressão ao ambiente e resgatar a solidariedade e a
criatividade na melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Palavras-chave: Educação; Permacultura; Sustentabilidade.

ABSTRACT

The human communities are moving away from the relationship and the knowledge that their
ancestors had with the environment, in the name of "civilization and progress". In agriculture,
ancient knowledge are being replaced by attitudes based on income and consumption increasingly
619
published in the media. Thus, it is important that natural techniques, are reintroduced into our
communities, especially in rural areas, which are the basis of our food. The central objective of this
study was to raise awareness of children and young resident in Nova Vida, Paraíba, for the
preservation of our environment, establishing healthy eating, caring for the soil and living
organisms in the development and cultivation of gardens agroecological. In this perspective, we
develop a cooperative work among participants using permaculture techniques. However, the
environmental education should not restrict the dissemination of information, it is necessary to
establish a permanent bond between people and the environment, establishing new values and
feelings. The activities were held in the first half of 2011, with students from Nova Vida EMEF and
split into two stages, an exhibition and a practical, related to cultivation and management of plant
specimens, with the construction of circular beds of plastic bottles separated by pupils . Thus, it is
evident the need for activities that can enter other values to children, with a view to promote
awareness and interest for the development of culture of subsistence without harm to the
environment and redeem solidarity and creativity in improving the quality of life of the community.
Keywords: Education, Permaculture, Sustainability.

INTRODUÇÃO

As comunidades humanas estão se distanciando da relação e dos conhecimentos que os


antepassados tinham com o ambiente, em nome da ―civilização e progresso‖. Na agricultura,
conhecimentos milenares vão sendo substituídos por atitudes baseadas no lucro e consumo cada vez
mais divulgados pela mídia. Dessa forma, é importante que técnicas naturais de reciclagem orgânica
e interações biológicas, sejam reintroduzidas em nossas comunidades, especialmente nas rurais, que
são à base de nossa alimentação na produção de alimentos saudáveis e nutritivos.
Diante do panorama ambiental decorrente das ações da sociedade humana que segue o
desenvolvimento do modelo econômico capitalista, no qual tudo vira produto com possibilidade de
lucro sem precedentes, e da ausência de alternativas eficazes para a proteção da natureza
(PEREIRA; DIEGUES, 2010), uma gestão ambiental participativa propõe a possibilidade de
integrar a população local, marginalizada pelo sistema, num processo de produção para satisfazer as
suas necessidades fundamentais, aproveitando o potencial de seus recursos ambientais e respeitando
as suas identidades coletivas, além da oportunidade de reverter os custos ecológicos e sociais da
crise econômica impulsionando um desenvolvimento local sustentável (LEFF, 2007).
O atual padrão de desenvolvimento pressupõe que todas as pessoas devam orientar-se por
uma única via de acesso ao bem estar e à felicidade, a serem alcançados apenas pela acumulação de

620
bens materiais (GADOTTI, 2000) e caracteriza-se centralmente pela exploração excessiva e
constante dos recursos naturais da Terra, pela geração maciça de resíduos, com grande desperdício
de matérias-primas e energia, propiciando crescente exclusão social com extremas desigualdades
(GRIMBERG e BLAUTH, 1998).
De acordo com Sachs (2001), são necessárias estratégias de desenvolvimento genuíno,
diferente dos componentes impostos pelo mercado, que requerem soluções que atendam às três
frentes, ou seja, que sejam sensíveis ao social, ambientalmente prudentes e economicamente
viáveis, proporcionando dessa forma, uma sustentabilidade socioeconômica e ambiental, oferecendo
a todos uma oportunidade decente de trabalho assalariado, produção para o consumo próprio ou a
combinação desses dois.
No que diz respeito à sustentabilidade ambiental ―a principal contradição está num modelo
de desenvolvimento ilimitado num planeta com recursos limitados‖ (MARCUSE citado por
GADOTTI, 2000, p.65), devendo-se repensar os padrões de consumo e desperdício, com a mudança
de hábitos cotidianos, aliada ao consumo consciente e a reutilização dos materiais, contribuindo
dessa maneira para minimizar a exploração dos recursos do planeta, diminuindo a disposição dos
resíduos de forma inadequada e estimulando a criatividade.
Devido a esse modelo expansionista da civilização, a produção de alimentos é de essencial
importância à manutenção e à qualidade de vida da população. O cuidado com o solo e com as
plantas são fundamentais, pois além de alimentar os bilhões de habitantes desta esfera
proporcionam o contínuo ciclo que perpetua a vida no planeta.
Diante dos problemas descritos acima, ferramentas para promover reflexão e possibilitar
melhorias em nosso modo de vida são essenciais. Nesse sentido, a educação ambiental não deve se
restringir à divulgação de informações, é preciso que se estabeleça um vínculo permanente entre as
pessoas e o ambiente, estas, podendo criar novos valores e sentimentos que façam com que
repensem suas atitudes, preservando o meio em que vivemos e possibilitando inferir à
sustentabilidade necessária.
Técnicas permaculturais são alternativas que vêm sendo desenvolvidas no intuito de
produzir uma cultura permanente que reintegra o ser humano ao ambiente levando em consideração
diversos fatores que estão auxiliando na degradação dos ambientes, como a otimização das energias
disponíveis, minimização dos desperdícios, manutenção da fertilidade do solo, entre outros. Horta
em mandala, palavra sânscrita que significa círculo sagrado, foge do convencional, buscando a
atenção e a criatividade dos construtores, envolvendo técnicas alternativas para a produção de
alimentos, gerando assim uma mudança no ambiente e consequentemente o entusiasmo no trabalho
com a terra.

621
O cuidado na germinação e o crescimento das plantas elevam a autoestima dos educandos
promovendo amor aos vegetais, valorizando seu potencial de agricultor, modificando positivamente
a paisagem e proporciona interesse para a realização das atividades em suas residências, além disso,
incentiva a investigação sobre as diversas utilizações e os cultivos dos vegetais.
Nova Vida é um assentamento do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
pertencente ao município de Pitimbú no estado da Paraíba. Localizado a cerca de 50 km da capital
João Pessoa, o assentamento possui uma área de 936 hectares dividida em parcelas para as 134
famílias assentadas no local. É reconhecida por seu potencial produtor de diversos espécimes
alimentares para a região, como macaxeira, inhame, feijão, entre outras. Possui um posto de saúde,
uma cooperativa de agricultores, uma escola municipal e um viveiro de mudas arbóreas em seu
perímetro. Este último é coordenado pela Organização não governamental Serviço Pastoral dos
Migrantes do Nordeste – SPM NE.
O objetivo principal deste trabalho foi a sensibilização das crianças da Escola Municipal de
Nova Vida, para a preservação de nossos ambientes, instituindo uma alimentação saudável, o
cuidado com o solo e com os organismos vivos na elaboração e cultivo de hortas agroecológicas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto de Permacultura na Escola realizou-se no primeiro semestre de 2011, junto ao


projeto ―Preservar e Produzir‖ desenvolvido pela SPM-NE no Viveiro de mudas de Nova Vida,
com dois grupos de alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Nova Vida, com
encontro uma vez por semana no período matutino, em horários distintos. Uma das turmas, com 20
alunos que estudavam no 1°ano no período matutino, a maioria com 06 anos de idade, os quais
eram acompanhados pela professora durante as atividades. O outro grupo foi de alunos que
frequentavam a escola no período vespertino, do 2° ao 5°ano, com idades entre 07 e 13 anos, numa
média de quinze alunos por aula.
Na perspectiva de ―plantar a semente‖ no coração dessas crianças para a preservação de
nossos ambientes, fomentando o desenvolvimento de uma sustentabilidade socioambiental e
instituindo o cuidado com a mãe Terra e suas vidas, desenvolveu-se um trabalho cooperativo entre
os participantes utilizando técnicas permaculturais, as quais visam à criação de sistemas
ecologicamente corretos e economicamente viáveis, que supram suas próprias necessidades e sejam
sustentáveis em longo prazo (MOLLISON, 1994).
O trabalho em todos os encontros dividiu-se em duas etapas, uma expositiva de
sensibilização e aprendizagem no interior de uma das salas no Viveiro de mudas, valendo-se de

622
dinâmicas interativas e jogos pedagógicos. A segunda parte de atividades práticas, relacionadas com
o cultivo e manejo de espécimes vegetais utilizadas em nossa alimentação, com a elaboração de
hortas agroecológicas e desenvolvidas na área externa do Viveiro de mudas.
RESULTADOS

Como resultados, em sala foram discutidos as vantagens de uma alimentação saudável


baseada em vegetais e os benefícios que as plantas proporcionam à nossa saúde, também,
elucidadas as funções dos principais órgãos das plantas e os fenômenos naturais essenciais para o
melhor desenvolvimento dos vegetais, além do papel dos animais responsáveis pela manutenção do
solo, polinização e dispersão de sementes, fatores que promovem interações interespecíficas e a
sustentabilidade dos sistemas naturais e artificiais, enfatizando a importância de respeitar a
biodiversidade e a não degradação dos ambientes naturais.
Outro assunto debatido em sala, foi sobre a alarmante produção de lixo sem destino
adequado, poluindo o solo, a água e o ar, contaminando os organismos vivos e podendo causar o
sofrimento e a morte destes. Para promover a sensibilização dos participantes neste aspecto,
solicitou-se aos participantes que coletassem as garrafas plásticas de refrigerantes de 2 litros em
casa e encontradas pelo Assentamento de Nova Vida, retirando-as desse ambiente para a confecção
dos canteiros da horta agroecológica.
No desenvolvimento das atividades práticas, permitiu-se inferir e acompanhar o
desenvolvimento de algumas espécies vegetais como alface, coentro, nabo, rúcula e tomate, que
cresciam em canteiros lineares preparados com esse propósito, seguido da colheita desses vegetais
pelos alunos, para auxiliar na alimentação dos mesmos na escola e em suas residências. Os
participantes também fizeram o transplante de mudas de alface e rúcula e semearam beterraba,
couve, coentro entre outras, este último a partir das sementes de frutos colhidos por eles dentro das
atividades no Viveiro.
Durante as atividades práticas, foram elaborados e construídos dois canteiros circulares no
formato de buraco de fechadura. Depois de demarcado os canteiros, um deles foi delimitado com
cerca de 130 garrafas plásticas do tipo PET recolhidas pelos alunos (FIGURAS 01 e 02). O solo foi
preparado e utilizado adubação verde e cobertura vegetal neste, para auxiliar na manutenção da
umidade no solo e minimizar o desenvolvimento de espécies competidoras. A cobertura vegetal
também foi utilizada nos canteiros de rúcula, esta foi remanejada e adubada pelas crianças e jovens,
que verificaram nitidamente a melhora em seu desenvolvimento.

623
Figura 01. Demarcação do canteiro pelas crianças. Figura 02. Trabalho cooperativo no canteiro produzido
(Fonte: Wellington Paes, 2011) com garrafas plásticas pelos jovens.
(Fonte: Wellington Paes, 2011)

Depois de preparados, os canteiros receberam mudas de indivíduos de alface, berinjela,


quiabo e rúcula que estavam em estádio para transplante e houve o semeio do coentro nestes.
Mudas de alface e rúcula e sementes de coentro, também foram doadas para que os participantes
pudessem desenvolver suas próprias hortas nas residências (FIGURA 03).

Figura 03. Doação de mudas de rúcula para as crianças


(Fonte: Darcy Lima SPM-NE, 2011)

CONSIDERAÇÕES

O projeto foi bem aceito pelas crianças e pelos pais, demonstrando que este tipo de iniciativa
são bem vindas na comunidade. O projeto desenvolvido conciliou atividades de Educação
ambiental com as de agricultura orgânica e permacultura, demonstrando a interação que estas
624
atividades apresentam, e motivando as crianças para novos ensinamentos e práticas, com uma
metodologia de ensino não-formal, o que aumentou a motivação e lhes proporcionou momentos de
prazer, associado à educação ambiental aplicada.
Diante deste trabalho e do relato de alguns pais, evidencia-se a necessidade de mais
atividades que possam inserir valores educacionais diferenciados e complementares à educação
formal, na perspectiva de melhorar a gestão de seus ambientes, despertando o interesse e
desenvoltura pela cultura de subsistência sem agressão ao ambiente, no intuito de promover a
sensibilização para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental, afim de prepará-las para a vida
que se abre, resgatando o amor, a solidariedade e a criatividade na melhoria da qualidade de vida da
comunidade.
Deste modo, são fundamentais as atividades de Educação Ambiental no Viveiro de mudas, e
os trabalhos realizados pela SPM-NE em Nova Vida, proporcionando novas experiências e uma
visão mais abrangente do mundo, distinta da realidade local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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625
OFICINA DE RECICLAGEM: ESTRATÉGIAS E RECURSOS DIDÁTICOS PARA A PRÁTICA
EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL74

Daniel Féo Castro de ARAÚJO (FACIP/UFU) – Daniel.feo@gmail.com


Daniel de Araujo SILVA (FACIP/UFU) – Silva.d.a@live.com

Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo realizar uma oficina na Escola Municipal Rosa Tahan, na
cidade de Ituiutaba-MG, no âmbito do Estágio Supervisionado, a fim de despertar nos professores e
alunos a consciência e sensibilidade ambiental necessária para gerenciar e adequar os resíduos
sólidos produzidos diariamente na sociedade, através da Educação Ambiental (EA). Teve como
objetivos específicos, inserir dentro das salas de aula, exemplos de maus cuidados com meio
ambiente, contextualizando-os com a realidade que envolve os educandos, a fim de despertar o
interesse das crianças pela conservação ambiental, e em seguida, realizou-se uma oficina prática de
reciclagem com os alunos, instigando os mesmos a aplicação desses conceitos no seu dia-a-dia. A
oficina foi realizada em quatro etapas, na primeira etapa foi aplicado um questionário com o intuito
de analisar a convivência no dia a dia do aluno no ambiente escolar com relação a pratica da
reciclagem, e após a oficina aplicou-se a mesma avaliação, para estabelecer uma relação entre os
resultados obtidos sobre todo o conhecimento no aspecto da reciclagem. A segunda etapa consistiu
em levantar o interesse do aluno sobre o tema, usando abordagens áudios visuais, como filmes,
fotos, documentários a respeito desse tema. Na terceira etapa, foi proposto que os alunos
realizassem uma coleta seletiva em forma de gincana. E finalmente, na quarta etapa, foi proposta
uma palestra para os professores da rede pública, mostrando a importância da sensibilização dos
alunos neta fase de formação da consciência sobre a natureza e sociedade. Acreditamos na
perspectiva de uma avaliação participativa, e com isso defendemos a importância da sensibilização
dos professores quanto a educação ambiental para que possam disseminar estes conteúdos para seus

74
Projeto desenvolvido no âmbito da disciplina de Estágio Supervisionado. Professor Orientador: Msc. Mauro
Machado Vieira, Professor Adjunto Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (FACIP), Universidade Federal de
Uberlândia (UFU).
626
alunos. Portanto, esta pesquisa cumpriu seu papel, visto que o trabalho desenvolvido no estágio
supervisionado faz a interação da Universidade com a Comunidade local.

Palavras-chaves: Educação Ambiental; Ensino e Aprendizagem; Sociedade.

Abstract

This research aimed to conduct a workshop at the Municipal School Rosa Tahan, the city of
Ituiutaba-MG, under the Supervised Internship in order to awaken the faculty and students to
environmental awareness and sensitivity needed to adapt and manage solid waste produced daily in
society, through the Environmental Education (EE). Aimed specific insert inside the classrooms,
examples of poor care environment, contextualizing them with the reality that involves learners in
order to arouse the interest of children for environmental conservation, and then held a practical
workshop recycling with students, encouraging them to apply these concepts in their day-to-day.
The workshop was conducted in four stages, the first stage was a questionnaire in order to analyze
the interaction in everyday student in the school environment regarding the practice of recycling,
and after the workshop applied the same assessment for establish a relationship between the results
obtained on all the knowledge in the aspect of recycling. The second step was to raise student
interest on the topic, using audio visual approaches, such as movies, photos, documentaries on this
subject. In the third stage, it was proposed that students carry out a collection in selective form of
gymkhana. And finally, the fourth stage, a lecture was proposed for public school teachers, showing
the importance of raising students' granddaughter training phase of awareness about nature and
society. We believe in the prospect of a participatory evaluation, and thus advocate the importance
of teachers' awareness about environmental education so that they can disseminate that content to
their students. Therefore, this research has fulfilled its role, since the work is supervised internship
in the University of interaction with the local community.

Keywords: Environmental Education, Teaching and Learning; Society.

Introdução

Existem inúmeros problemas em relação à interação homem/natureza, isto se deve a


condição da maioria das pessoas não estarem sensibilizadas à compreensão da frágil harmonia
vigente na biosfera e dos problemas de gestão dos recursos naturais e detríticos da sociedade, pois a
abordagem didático-pedagógica relacionada a essa temática surge no Brasil no inicio dos anos 70
atrelada a um ambientalismo que se une as lutas pela liberdade democrática através da ação isolada
627
na organização da sociedade civil, voltado para a atividade de conservação e melhoria do meio
ambiente.
Tendo em foco a questão ambiental, os educandos têm a possibilidade de ampliar um
debate em vista da crescente degradação do meio ambiente que reflete na qualidade de vida,
entretanto a educação ambiental conduz adquirir a devida concepção de mundo. Assim podemos
dizer que todo este processo esta inserido na educação do ser humano, nesse aspecto, Carvalho
(2001) discorre:
Ao constituir-se como pratica educativa, a E.A. também se filia ao campo da educação
propriamente dito e é da confluência entre o campo ambiental e algumas tradições
educativas que vão surgir orientações especificas dentro da E.A. Contudo, essa inserção
entre o ambiental e o educativo, no caso da E.A. parece se dar mais como um movimento
da sociedade para a educação, repercutindo no campo educativo parte dos efeitos
conquistados pela legitimidade da temática ambiental na sociedade. A educação – um
campo altamente sensível as novas demandas e temáticas sociais – incorpora a
preocupação ambiental em seu universo propriamente educacional, transformando-a em
objeto da teoria e da pratica educativa (CARVALHO, 2001, p. 189).

A E.A. tem como objetivo despertar a consciência que ocasiona os problemas no seu
ambiente e permite uma mudança de comportamento para a biosfera como um todo.
Vivemos em um período no qual a busca pelo consumo se tornou parte do modo de vida
social do homem, esse comportamento social traz consigo uma conseqüência para nosso meio. O
descarte de mercadorias que são produzidas para ter um pequeno tempo de uso, devido ao ritmo
de consumo capitalista. Neste contexto podemos atribuir ao descarte de resíduos sólidos um
problema de grande relevância para nossa época, problema esse que a cada dia vem aumentando
com o número de indivíduos e de materiais consumidos, resultando num grande volume de
matérias utilizadas e descartáveis.
Na perspectiva de encontrar respostas a questionamentos atribuídos ao destino dos
resíduos sólidos produzidos pela população, a reciclagem pode ser uma das soluções dos
problemas ambientais com relação ao lixo.
De acordo com Valle (1995, p. 71): ―reciclar o lixo significa refazer o ciclo, permite trazer
de volta, a origem, sob a forma de matéria-prima aqueles materiais que não se degradam
facilmente e que podem ser reprocessados, mantendo as suas características básicas‖. Assim, a
reciclagem se concretiza, como fator primordial para a sustentação de uma consciência sócio-
ambiental aplicável.
Com as temáticas ambientais em voga, seus fundamentos devem permear as disciplinas do
currículo contextualizando-os com a realidade da comunidade, no que a escola atribuirá ao aluno
628
a capacidade de perceber a correlação dos fenômenos que a envolvem e a ter uma visão holística,
ou seja, integrada do mundo em que vive.
Desta forma, Souza (1992) diz que,

Do ponto de vista metodológico, fica bastante claro e tem estado presente no discurso
ambientalista de forma contundente a impossibilidade de uma única área do
conhecimento por si só dar um encaminhamento mais efetivo as questões de origens tão
diversas que são colocadas pela mesma. Dessa forma, não haverá outro caminho a não ser
o da interdisciplinaridade (SOUZA, 1992, p. 25).

Reigota (1994, p. 40) entre outros afirma que: ―além de uma compreensão mais global
sobre o tema, esse método pode proporcionar o intercambio de experiências entre professores e
alunos e envolver toda a comunidade escolar e extra-escolar‖.
Considerando que os valores, experiências e atitudes apreendidas pelo aluno na escola e
fora dela, estes são reflexos de sua interação com a sociedade. É de suma relevância que todo
aluno desenvolva seu potencial social integrando posturas pessoais e comportamentos sociais
construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade sensível à necessidade de manter
um ambiente saudável.
Se tratando da questão do meio ambiente é necessário ressaltar que do ponto de vista de
Travassos (2006):
O papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva do lixo, em
seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os valores
consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A
necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores (TRAVASSOS, 2006, p.
18).

Os educadores acreditam em uma perspectiva, holística para a elaboração dos projetos


pedagógicos com o objetivo a E.A. Nessa linha de pensamento, Travassos (2006) diz que:

Colocar no programa a Educação Ambiental como tema a ser tratado de maneira isolada
e relacionado apenas com as disciplinas de biologia e geografia não é a forma mais
correta de abordar a educação para o meio ambiente. Essa tem que ser praticada no dia-a-
dia da escola, para que possa ser levada também para fora da mesma e para o ambiente de
cada individuo (TRAVASSOS, 2006, p. 59).

Constitui-se que o ensino e a aprendizagem com o enfoque na formação de valores e


atitudes para o desenvolvimento e fortalecimento do ser humano.

629
O grande desafio da escola é criar nos educandos ações que certifiquem uma
aprendizagem significativa em práticas ambientais corretas. É importante garantir um instrumento
para a prática dos professores no seu cotidiano. De acordo com Moreira (2006):

A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos


relevantes preexistentes na estrutura cognitiva. Ou seja, novas idéias, conceitos,
proposições relevantes e inclusivos estejam, adequadamente claros e disponíveis, na
estrutura cognitiva do individuo e funcione dessa forma, como ponto de ancoragem as
primeiras (MOREIRA, 2006, p. 15).

A escola torna-se um instrumento para a formação dos alunos para que eles possam agir de
forma critica. Tendo em vista que a formação de profissionais no que se refere à educação. Araújo
(2004) determina que:

É inegável a importância dos saberes que os professores adquirem durante a sua


formação, seja ela inicial ou continuada. A universidade como instancia ideal para a
instrução de nível superior, tem que se sensibilizar para a preparação de professores para
agir sob a égide da Educação Ambiental, em cursos regulares e multidisciplinares ainda
na graduação, cujo principal intuito é perseguir a construção do campo da Educação
Ambiental (ARAÚJO, 2004, p. 73).

É evidente que a má formação acadêmica com relação a E.A. é reflexo negativo na


sociedade do futuro. Então se faz necessário aperfeiçoar os docentes em todos os níveis, só assim
será possível mudar a qualidade da Educação Ambiental.
O intuito do projeto é o amadurecimento sócio-cultural do educando enquanto ser
modificador da paisagem como um todo. É importante que essa abordagem seja inserida nas
relações ensino/aprendizagem desde os primeiros contatos da criança com o meio, ou seja, no
ambiente escolar auxiliando sua compreensão e a formação de uma conduta ética quanto à relação
exercida pela sociedade para com a natureza.
Embasado nesses apontamentos, esta pesquisa foi realizada com alunos do ensino
fundamental da Escola Municipal Rosa Tahan, no âmbito do Estágio Supervisionado, escola esta
localizada no Bairro Tupã na cidade de Ituiutaba, Minas Gerais, o município de Ituiutaba (Figura
1).

630
Figura 1 – Localização do município de Ituiutaba-MG.

A referida cidade pertence à mesorregião do Triangulo Mineiro a oeste do estado de Minas


Gerais, e está localizado entre as coordenadas geográficas 19°00` e 19°20` Sul e 49°30` e 49°20`
Oeste, a região possui clima tropical quente e úmido, com uma população de aproximadamente
97.171 habitantes, sendo estes 4.046 pessoas residentes na zona rural e 93.125 pessoas residentes
na zona urbana em um território de 2.598,046 Km2 (IBGE, 2010).
A presente pesquisa tem como objetivo principal fazer uma intervenção na escola a fim de
despertar nos professores e alunos a consciência e sensibilidade ambiental necessária para
gerenciar e adequar os resíduos sólidos produzidos diariamente na sociedade, e quanto à
importância da reutilização de produtos recicláveis. Para isso, visando atender os seguintes
objetivos específicos:
 Realizar uma oficina prática de reciclagem com os alunos, instigando aos mesmos
a aplicação desses conceitos no seu dia-a-dia;
 Levar para dentro das salas de aula, exemplos de maus cuidados com meio
ambiente, contextualizando-os com a realidade que envolve os educando, a fim de despertar o
interesse das crianças pelo assunto;
 A integração da comunidade nos arredores da escola com o projeto desenvolvido;

631
 A sensibilização da comunidade escolar com relação a atitudes e comportamentos
ecologicamente corretos.
Para que se alcance melhores resultados, se faz necessário a realização deste trabalho em
quatro etapas, onde uma esta atrelada a outra, estas foram adaptadas da proposta metodológica de
Castro (2007).
Na primeira etapa foi aplicado um questionário com o intuito de analisar a convivência no
dia-a-dia do aluno no ambiente escolar com relação a pratica da reciclagem.
A segunda etapa consistiu em despertar o interesse do aluno sobre o tema, utilizando-se
abordagens áudio-visuais, como filmes, fotos, documentários a respeito desse tema, levando em
consideração o público alvo do projeto. O ideal nesta etapa seria se possível a participação
inclusive dos pais dos alunos, despertando assim um bojo de informação para dentro dos lares,
assim o conhecimento acerca do assunto tenha uma alcance maior e se dissemine.
Na terceira etapa, foi pedido aos alunos a realização em sala de aula uma coleta seletiva
em forma de gincana (os componentes do trabalho espalharão objetos recicláveis e não recicláveis
pela sala dividindo em dois grupos pedindo aos alunos para que eles separem devidamente os
objetos), com o objetivo de observar o quanto os alunos foram apreendidos pelas imagens
anteriormente apresentadas.
E finalmente, na quarta etapa, foi proposta uma palestra para os professores da escola,
ministrada pelos professores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Faculdade de Ciência
Integradas do Pontal (FACIP), elucidando a importância da conscientização ambiental dos alunos
nesta fase de formação da consciência sobre a natureza e sociedade, utilizando de uma sala da
Universidade e matérias de áudio visual.
As atividades foram desenvolvidas no âmbito do estagio supervisionado com o ensino
fundamental na escola referida. A pesquisa foi desenvolvida na perspectiva de sensibilizar os alunos
quanto à educação ambiental, para tanto foi realizada uma oficina de acordo com os objetivos deste
trabalho. A primeira etapa consistiu em uma avaliação da percepção dos alunos no cotidiano escolar
em relação a pratica de reciclagem. O questionário consistiu das seguintes perguntas: Em sua casa
alguém realiza a coleta seletiva? Você ou alguém em sua casa reaproveita o lixo produzido em sua
casa? De que maneira? Estes questionamentos foram aplicados para 120 alunos da escola referida,
no qual 15% dos alunos disseram que fazem coleta em casa, quanto o reaproveitamento do lixo,
10,3% responderam que o fazem, com garrafas Pet, aproveitando-as como brinquedo, objetos de
decoração e utilização domestica. Os dados obtidos trazem apontamentos que a questão da
educação na escola não sido tratado com a devida importância, visto que os alunos fazem a
reutilização em virtude de sua condição sócio-economica reaproveitando assim estes objetos, e não

632
por uma prática idealizada através de uma Educação Ambiental, evidenciando a necessidade da
introdução da prática no cotidiano escolar.
Através dos dados obtidos, e do nível de consciência ambiental dos alunos, foi proposta
uma atividade informativa, fazendo uso de recursos audiovisuais, como os documentários ―Lixo
Extraordinário‖ e ―Ilha das Flores‖, todos envolvendo a temática em relação a coleta do lixo e o
reaproveitamento. Ainda foi apresentado outros vídeos informativos, que tratam da importância
da reciclagem, e quais os materiais são passiveis de reciclagem e os que não são, e também como
ocorre a prática de transformação do lixo em algo utilizável. Também foi mostrado como é o
tratamento do lixo na cidade de Ituiutaba-MG.
Logo após esta etapa, foi feita uma roda de conversa com os alunos, onde foram tratadas
questões pontuais referentes aos vídeos e documentários exibidos, onde foi destacado a forma de
organização da sociedade em relação ao lixo. Possível perceber nos comentários dos alunos, uma
sensibilização e outros questionamentos neste espaço, onde foi evidenciada a preocupação em
relação ao destino do lixo, bem como sua reciclagem.
Após aplicação dos vídeos, os alunos já estão familiarizados com a temática da
reciclagem, assim foi proposto aos alunos a realização em sala de aula uma coleta seletiva em
forma de gincana. Então, foram espalhados objetos recicláveis (jornais, revistas, caixas de
papelão, cartolinas, garrafas plásticas, cartelas de ovos, frascos de vidro, etc.) e não recicláveis
(fitas adesivas, fotografias, papel vegetal, espuma, etc.) pela sala, o objetivo da gincana era que os
alunos pudessem identificar e separar devidamente os objetos. Os alunos conseguiram
desenvolver a gincana de maneira correta, demonstrando que absorveram o conteúdo apresentado
anteriormente, pois esta atividade evidenciou que os alunos estão sensibilizados com a prática da
coleta seletiva e podendo incorporar estes novos hábitos no seu cotidiano.
A última etapa desta pesquisa consistiu em uma palestra para os professores da escola,
ministrada pelos professores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Faculdade de Ciência
Integradas do Pontal (FACIP), elucidando a importância de se trabalhar a conscientização
ambiental dos alunos, nesta fase de formação da consciência sobre a natureza e sociedade,
utilizando o auditório da Universidade e materiais de áudio visual. Esta etapa é de suma
importância, visto que os alunos já tiveram um primeiro contato com a educação ambiental e seus
atributos, é imprescindível que os professores continuem este trabalho, já que também receberam
maiores instruções e orientações quanto a pratica da questões ambientais, principalmente a
reciclagem, tratamento do lixo e educação ambiental em geral.
O Reconhecimento da importância na formação da educação ambiental desses cidadãos e a
criação de espaços de discussão especificamente sobre suas necessidades locais e de interação com

633
os espaços urbanos é de extrema urgência para uma questão política no âmbito social. Neste
sentido, investimento e modificações no processo de formação dos educandos nas escolas, precisam
ser repensadas. Investir na formação dos professores que ocupam este espaço na educação é dever
da extensão da Universidade Pública. Esta proposta está imbricada no ensino, formação dos
discentes, formação dos professores em exercícios, formação do pesquisador e da própria
comunidade que estamos em contato. Destacamos, acreditamos na perspectiva de uma avaliação
participativa, por estarmos trabalhando com uma discussão de Educação Ambiental, e com isso
defendemos que a importância da sensibilização dos professores quanto à educação ambiental para
que possam disseminar estes conteúdos para seus alunos. Portanto, esta pesquisa cumpriu seu papel,
visto que o trabalho desenvolvido no estágio supervisionado faz a interação da Universidade com a
Comunidade local.

Referências

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nº zero. Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico.


São Paulo: Cortez, 2004.

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Ambiental: Aprendizes de Sustentabilidade. Ministério da Educação Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC). Brasília, 2007.
MOREIRA, Marco Aurélio. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala
de aula. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.

SOUZA, A.C.C. de. Sensos Matemáticos: uma abordagem externalista da matemática. Campinas:
FE/Unicamp, 1992.

TRAVASSOS, Edson Gomes. A prática da educação ambiental nas escolas. Porto Alegre:
Mediação, 2006

634
EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO CONSCIENTE: RACIONALIDADE, EMOTIVIDADE E A
METAFÍSICA DO CONSUMIR75

Edilvan Moraes LUNA – graduando em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri.
E-mail: edilvanmoraes@hotmail.com

Maria Erica Bezerra da COSTA – graduada em Geografia pela Universidade Regional do Cariri. E-
E-mail: erika.bezerra@yahoo.com.br

Maria Carlota Mariano ALEXANDRE – graduanda em pedagogia pela Universidade Estadual Vale
do Acaraú. E-mail: carminhawisly@hotmail.com

Resumo

Nos últimos anos, a discussão sobre sustentabilidade ambiental e, consequentemente,


sustentabilidade da vida humana vêm apontando no cotidiano, porém de maneira particularizada. As
discussões sobre o tema giram em torno do cientificismo, como se o homem fosse uma máquina
racional por natureza. Estas abordagens desconsideram a complexidade do ser humano, esquecendo
que antes de ser racional, o homem é também emocional e que este participa das relações do
homem com a sustentabilidade da vida na Terra. Este artigo pretende demonstrar que o debate sobre
consumo, tema de ampla discussão na temática sustentabilidade, está centrado não apenas na
relação de alocação de recursos por parte de um sujeito, mas na relação emocional e de explicação
metafísica que um produto exerce sobre a identidade de um indivíduo. De maneira mais específica,
por meio de revisões bibliográficas de autores consagrados como, por exemplo, Zygmunt Bauman,
Gilles Lipovtesky e Colin Campbell, se procura evidenciar que para uma educação ambiental para o
consumo, as mudanças maiores a serem feitas estarão na reflexão sobre o Ser e não sobre o Ter.
Pretende-se, ao final, como resultado, fornecer alguns objetivos que podem ser trabalhados em sala
de aula no que concerne a uma educação ambiental para o consumo, contribuindo para a real
concretização dos princípios e objetivos da política de educação ambiental.

Palavras-chaves: Consumo; Educação Ambiental; Identidade; Racionalidade; Romantismo.

Abstract

In recent years, the discussion on environmental sustainability and hence sustainability of human

75
Trabalho orientado pela professora Francisca Laudeci Martins Souza – laudecimartins@yahoo.com, do
departamento de Ciências econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA) e coordenadora da Incubadora Ecos
de economia solidária e sustentabilidade.

635
life have pointed out in everyday life, but so individualized. The discussions revolve around the
theme of scientism, as if the man were a machine rational by nature. These approaches ignore the
complexity of the human being, forgetting that before rational being, man is also emotional and this
is part of the relationship between man and the sustainability of life on Earth. This article argues
that the debate about consumption, topic of discussion on sustainability theme, focuses not only on
the relative allocation of resources by an individual, but in the emotional and metaphysical
explanation that a product has on the identity of an individual. More specifically, through literature
reviews from renowned authors such as, for example, Zygmunt Bauman, Gilles Lipovtesky and
Colin Campbell, is looking for evidence that environmental education for the consumer, major
changes are to be made in consideration of Be unlike of Have. It is intended, in the end, as a result,
provide some goals that can be worked in the classroom with regard to environmental education for
consumption, contributing to the real implementation of the principles and policy objectives of
environmental education.

Keywords: Consumption; Environmental Education; Identity; Rationality; Romanticism.

Introdução

Conforme os discursos sobre sustentabilidade se acirram, mais a complexidade sobre o tema


vai se revelando ao ser humano. São inúmeras as iniciativas em diferentes campos dos saberes para
se reduzir ou controlar as possíveis ameaças ecológicas. A educação não está fora deste debate,
fornecendo instrumental teórico e prático para se trabalhar a sustentabilidade da vida.
Pela importância do ato educativo, ato este de socialização de indivíduos e preparação para
papeis na realidade social, se torna relevante desenvolver uma socialização comprometida com uma
cultura ecológica e da sustentabilidade. É no intuito da construção deste novo paradigma, desta
nova cultura, que o Brasil assinou a Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999 sobre a política de
educação ambiental. Esta versa sobre as diretrizes que norteiam a educação ambiental e a política
nacional de educação ambiental, como, por exemplo, os princípios e objetivos que perseguem.
Dentro das discussões sobre educação ambiental, um fator em particular se mostra de
relevância extrema tanto para questões de sustentabilidade como para apontar fraquezas nas práticas
de educação ambiental. Este fator é o consumo. A exigência de um consumo consciente se faz
necessário à medida que se identifica no intenso consumo de recursos naturais renováveis ou não a
possibilidade de escassez ou não abastecimento de toda uma demanda. Por outro lado, a forma
como este é trabalhado não compreende sua complexidade, gerando, assim, respostas ineficazes
baseadas no consumo consciente.

636
O consumo consciente é abordado de maneira frágil por não vê no homem sua totalidade, o
que tende a corromper a própria lógica de mudança de paradigma contida nos princípios da Lei n°
9.795. Este artigo procurará, por meio de revisões bibliográficas de autores consagrados no campo
da temática abordada descrever a educação ambiental e a relevância de se discutir sobre o consumo
na educação ambiental, procurando identificar fraquezas no discurso e explorando a seguinte
problemática: será que a ação de consumo se baseia preponderantemente em aspectos racionais de
alocação de recursos e rendas? Espera-se que ao final sejam esclarecidas as debilidades presentes no
discurso do consumo consciente, contribuindo desta forma por uma educação ambiental
comprometida com um paradigma da sustentabilidade e com objetivos mais coerentes para planos
de aulas sobre consumo consciente.

Educação Ambiental

Sendo a educação uma ação de socialização, cujos objetivos podem variar, dependendo do
tipo de socialização que se deseja, a temática de educação ambiental não surge como mera ação do
acaso. Eventos específicos contribuíram para a formação de uma classe de indivíduos que prezam
por uma consciência ecológica e que obtiveram, ao longo do tempo, poder o suficiente para
influenciar a educação em nível amplo.
Como exemplo de eventos marcantes para a educação ambiental, pode-se se referir a
algumas catástrofes que afetaram algumas comodidades e exigiu a tomada de posição de algumas
pessoas, principalmente a comunidade acadêmica, diante do problema causado. O caso do nevoeiro
de fumaça e fuligem que matou milhares de pessoas em Londres em 1952 é um exemplo disto. Uma
poluição industrial, chamada de smog matou milhares de pessoas, principalmente crianças, velhos e
doentes de causas respiratórias, pela enorme divulgação que teve, mobilizou muitas pessoas, dando
impulso aos movimentos ecológicos e aos debates sobre qualidade do meio ambiente. Devido ao
evento, a temática ambiental começou a ser trabalhada nas escolas, mesmo de forma simples.
Outro evento aconteceu em 1953, na cidade japonesa de Minamata, que devido a uma
poluição por mercúrio causada por despejos industriais provocou a contaminação de várias pessoas
pobres, pescadores em geral. A doença, que ganhou o nome de mal de Minamata. Os acidentes com
usinas nucleares e indústrias químicas também são contabilizadas nos eventos que chamaram a
atenção para a ação do homem com o meio ambiente e consigo próprio. Os casos de Three-Mile
Island (1979), Love Canal (1979), Bhopal (1984) e Chernobyl (1986) e mais recentemente
Fukushima (2011) corroboram a noção da responsabilidade do homem com o meio em que vive,
sejam ecológico, social, econômico, etc.
Em março de 1965, na Conferência De Educação da Universidade de Keele, Inglaterra, pela
637
primeira vez a expressão educação ambiental, foi usada como recomendação para se tornar uma
parte essencial da educação de todos os cidadãos. Contudo, a forma como era vista se resumia como
responsabilidade das ciências biológicas (Brasil, 1998).
Em 1968, empresários, educadores, cientistas e economistas se reuniram na Itália para
discutir os desafios e limites da humanidade. O clube de Roma, como ficou conhecido, gerou um
número de relatórios, sendo um deles o famoso ―os Limites do Crescimento‖, encabeçada por
Donella H. Meadows. Pesquisadores do MIT declararam que o modo de desenvolvimento da
humanidade de então era insustentável, apontando os riscos do crescimento ad infinitum
(MEADOWS et al., 1973). Atualmente, esta lição é retomada pelos defensores do decrescimento
feliz, que observam a contradição de uma organização econômica que vive do crescimento
econômico, afirmando que a verdadeira revolução deve acontecer no modo de viver das pessoas e
não nas transformações econômicas e administrativas.
A ONU, entre 5 e 16 de junho de 1972, realizou a Conferencia das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano. A participação dos 113 países ocorreu em Estocolmo, capital da Suécia, e
teve como resultado os seguintes pontos (BRASIL, 1998, p. 29):

 Decidiu-se criar um organismo novo da própria ONU, só para a área ambiental: o


Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que foi instalado no
mesmo ano, com sede em Nairobi, a capital do Quênia.
 Os 113 países assinaram a ―Declaração da ONU sobre o Ambiente Humano‖. Cujo
artigo 19 diz: É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais,
visando tanto as gerações jovens, como os adultos, dispensando a devida atenção aos
setores menos privilegiados, para assentar as bases de uma opinião pública bem
informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das
comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção
e melhoramento do meio ambiente em toda a sua dimensão humana‖.
 Recomendou-se a criação do Programa Internacional de Educação Ambiental
(PIEA), para ajudar a enfrentar a ameaça da crise ambiental no planeta. Mas este
programa só ―saiu do papel‖ em 1975, depois que representantes de 65 países se
reuniram em Belgrado (ex-Iugoslávia, atual Sérvia) para formular os princípios
orientadores, na ―Conferência de Belgrado‖

Contudo, para a educação ambiental, a Conferência de Tbilisi, ocorrida em 1977 representa


um grande marco, pois é nela que se encontra muitas das definições, objetivos, princípios da
educação ambiental. Segundo o Ministério da Educação e do Desporto, no livro a Implantação da
638
Educação Ambiental no Brasil (1998), resume a conferencia nos seguintes tópicos:

 Processo dinâmico integrativo: abrange todos os aspectos educativos, formais e informais. A


educação ambiental deve ser desenvolvida na escola, na família, na comunidade, etc.
 Transformadora: a educação ambiental está engajada na transformação de hábitos, valores,
conhecimentos e atitudes que mudem os velhos paradigmas científico-sociais que não
correspondem mais as necessidades atuais.
 Participativa: a educação ambiental deve sensibilizar, conscientizar as pessoas a
participarem de ações que favoreçam a construção de uma nova sociedade.
 Abrangente: a educação ambiental deve emanar de todos e não apenas de grupos restritos,
por isso a necessidade de consolidá-la no sistema de ensino formal, que possui respaldo
oficial, estatal e ideológico.
 Globalizadora: deve abranger aspectos locais, regionais e globais, em toda a complexidade
geográfica, política e econômica.
 Permanente: deve ser exercida de forma continua, sempre acompanhando a evolução dos
tempos.
 Contextualizadora: deve atuar na realidade de uma comunidade, mas sem perder o foco na
consciência planetária.

No Brasil, a educação ambiental ganhou força durante os anos 80 e 90, se sistematizando em


termos legais. Como referência, Cavalari (2006, p. 361) cita os passos dados para a
institucionalização da educação ambiental:

 Promulgação da lei n. 6983/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente


(PNMA). A educação ambiental foi formalmente instituída por meio dessa lei,
regulamentada dois anos depois, em 1983, pelo Decreto n. 88315/83, o qual estabelece que
compete ao poder público, em suas várias instancias, ―orientar a educação, em todos os
níveis, para a participação efetiva do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente,
cuidando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias complementem
o estudo da ecologia‖.
 Inserção da educação ambiental na Constituição Federal, promulgada em 1988, no capítulo
VI – (Do Meio Ambiente). O art. 225, § 1°, inc. VI) determina que se deve ―promover a
educação ambiental em todos os niveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente‖. Cumpre destacar, no entanto, e isso já foi apontado por
alguns autores, que a educação ambiental, na Constituição, figura no capitulo sobre o meio
ambiente e não no capitulo sobre educação (capitulo III).
639
 Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), por meio da Lei n° 7.735, de 1989, que, entre outras atribuições ―deveria estimular
a educação ambiental nas suas diferentes formas‖
 Criação dos Núcleos de educação ambiental pelo Ibama e dos Centros de educação
ambiental pelo ministério da Educação, em 1992.
 Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), pelo MEC e Pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA), em 1994, com o objetivo de ―capacitar o sistema de
educação formal e não formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e
modalidades‖.
 Elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), definidos pela Secretaria do
Ensino Fundamental do MEC, em 1997, nos quais o meio ambiente foi incluído como um
dos temas transversais.
A Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental e a política
nacional de educação ambiental. Nela constará os objetivos e os princípios que norteiam a
compreensão de educação ambiental no Brasil. Segundo o Art. 4° da lei, são princípios básicos da
educação ambiental:

I. O enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II. A concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre


o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;

III. O pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e


transdisciplinaridade;

IV. A vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V. A garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI. A permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII. A abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;

VIII. O reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.

Os objetivos fundamentais defendidos pela Lei N° 9.795 constam no Art. 5° e são:

I. O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e


complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,
sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;

II. A garantia de democratização das informações ambientais;


640
III. O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental
e social;

IV. O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na


preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade
ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V. O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e


macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada,
fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social,
responsabilidade e sustentabilidade;

VI. O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII. O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como


fundamentos para o futuro da humanidade.

Cada princípio e objetivo remontam a reflexões mais aprofundadas no âmbito não só


didático, mas também epistemológico e ontológico sobre o ser humano e a educação. Os princípios,
por exemplo, procuram evidenciar a complexidade e interdisciplinaridade que norteiam o ser
humano e que são temas abordados por autores consagrados como Enrique Leff (2006) e Edgar
Morin (2003). Enquanto a complexidade consiste em evidenciar o quanto o ser humano é um ser
tecido em conjunto com diferentes saberes e ciências e, portanto, sendo sempre arriscada a análise
de sujeitos pela lente de uma ou poucas ciências (MORIN, CIURANA & MOTTA, 2003), a
interdisciplinaridade seria a confluência de vários saberes na construção da ação humana, também
demonstrando que não se pode reduzir o humano a apenas algumas ciências, como se pode ver na
seguinte passagem de Leff (2006, p. 502-503), na qual ele aborda a riqueza do trabalho dos
seringueiros na Amazônia brasileira, ultrapassando análises meramente econômicas:

(...) Da seringueira acariciada e seduzida pelo homem flui a vida de uma cultura. O
seringueiro enlaça a natureza e a cultura para extrair o leite da seringa, sentido e sustento de
um povo. Terra erotizada pela mão do homem, fertilizada com técnicas, com símbolos e
signos. O seringueiro vai se forjando nessa referencia inesgotável com seu meio, com esse
mundo externo e estranho que é a natureza. Natureza desnaturalizada. Natureza cultivada,
culturizada.

Contudo, ao se estender a análise do artigo 4º e 5º da Lei n° 9.795 para questões particulares que
envolvem educação ambiental, como, por exemplo, a temática consumo, ainda se observa que
conceitos presentes nesta lei não são compreendidos na sua integridade, se transformando no que
ela própria procura combater: o cientificismo.

641
Os discursos que envolvem educação ambiental na política brasileira são discursos ainda
envoltos de cientificismo, como se estivesse na ciência à integração do homem com a natureza. Ao
contrário, e isso será observado na óptica do consumo e, em seu derivado, consumo consciente, que
o emocional exerce uma força tão significativa quanto à razão, tanto para explicar como para
solucionar a crise ecológica. Agir apenas pelo lado racional, como se as ações dos homens fossem
exclusivamente racionais é um passo para ações ineficazes no que corresponde a objetivos que
prezem pela sustentabilidade da vida humana na Terra por meio da reintegração do homem com a
natureza.

O romantismo do consumo

Alguns teóricos, na tentativa de qualificar a contemporaneidade, realizam comparações entre


o hoje e um passado que, dependendo dos fatores considerados explicativos da atualidade, pode
adquirir diferentes limites. Autores como Gilles Lipovetsky (2004) procuram delimitar o passado e
o presente na sutil passagem de uma sociedade que trabalhava sobre determinada velocidade e, em
determinado momento, incrementou esta velocidade a ponto de se tornar uma sociedade da
hipermodernidade. Para este autor, a contemporaneidade em sua essência não se diferencia de
sociedades das décadas de 1950 e 1960. Ainda são sociedades com forte ênfase no progresso
técnico e científico, no individualismo e na capacidade salvadora da razão. A diferença está na
velocidade com que certos componentes da sociedade passam a se mover. O fluxo de informações,
pessoas, capitais e mercadorias, dentre outros, se intensificam a ponto de se estar a viver em uma
sociedade do hiper. Desta forma, o consumo não se exclui desta sociedade, adquirindo traços
também hiper e sendo chamado pelo autor de hiper consumo.
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1998) também procura encontrar na
contemporaneidade características que a diferencie de um passado visto como sólido, nos quais
valores, papeis sociais, símbolos e laços sociais eram fixos e pré-definidos. Os mecanismos de
controle social mudaram e a sociedade administradora da vida, sociedade de produtores se
transformou em uma sociedade líquida, leve e de consumidores. Para Bauman (2001 apud
AQUINO, 2007, p. 14)

Mudamos agora (…) de uma sociedade do estilo panóptico para uma sociedade do estilo
sinóptico: as mesas foram viradas e agora são muitos que observam poucos. Os espetáculos
tomam o lugar da supervisão sem perder o poder disciplinador do antecessor. A obediência
aos padrões (uma maleável e estranhamente ajustável obediência a padroẽs eminentemente
flexíveis, acrescento) tende a ser alcançada hoje em dia pela tentação e pela sedução e não
mais pela coerção – e aparece sob o disfarce do livre-arbítrio, em vez de revelar-se como
força externa.

Assim, em uma sociedade líquida e leve, cujos valores e necessidades tendem a estar livres
de qualquer amarra, esperando apenas por quem diga o que é de valor e o que é necessário, o que
casa com uma sociedade capitalista, onde produzir e consumir são condições indispensáveis para a

642
geração e acúmulo de riqueza (duas coisas fundamentais para a manutenção de uma organização
social capitalista), aqueles valores e necessidades passam a ser dados pelo mercado e pela guerra
concorrencial entre empresas. Neste contexto, a ciência do marketing se torna essencial para as
atividades empresariais, sempre procurando instigar no consumidor necessidades de consumo.
Sobre o marketing, é interessante sublinhar a análise do filósofo Jean Baudrillard (2008, p. 42) que
afirma que ―a publicidade realiza o prodígio de um orçamento considerável gasto com o fim, não de
acrescentar, mas de tirar valor de uso dos objetos, de diminuir o seu valor/tempo, sujeitando-se ao
valor/moda e à renovação acelerada‖.
São muitos os autores que fazem análises da contemporaneidade e da sociedade de
consumo, contudo, Bauman, Lypovetsky e Baudrillard já traçam um plano de fundo para se delinear
a lógica romântica do consumo interpretado por Colin Campbell. Porém, antes, é interessante
ressaltar que o consumo para a contemporaneidade já ultrapassa a lógica racional de satisfação de
necessidades básicas. O consumo passa de ação de satisfação de necessidades básicas para a
sobrevivência para a satisfação de necessidades de cunho simbólico e social. Slogans de produtos
atuais tendem a não mais realçar valores tangíveis dos seus próprios produtos, como, por exemplo,
preços, cores e durabilidade, mas sim atributos inatingíveis como a beleza, o amor e a liberdade. É
comum propagandas de cosméticos que procuram vender a beleza e não mais tratamentos de pele;
empresas automobilísticas não vendem mais meios de transportes, mas a liberdade, a aventura, o
sucesso e a certeza de bons relacionamentos; as empresas de cervejas já não mais vendem bebidas,
mas a sensualidade e a erotização.
É neste contexto que Colin Campbell (2006) desenvolve seu trabalho Eu compro, logo sei
que existo: as bases metafísicas do consumo moderno, no qual procura demonstrar que as bases do
consumo moderno estão acima da racionalidade humana, de questões econômicas de alocação de
recursos. Ao contrário, o consumo possui bases metafísicas. A ação de comprar contribui na
construção da identidade do sujeito além de fornecer, mesmo que temporariamente, certezas
ontológicas na contemporaneidade. Para o autor:

Para que meu argumento faça sentido é importante que fique bem claro, desde o início, o
que considero como os dois aspectos cruciais do consumismo moderno, isto é, aqueles que
claramente o distinguem dos padrões mais antigos e tradicionais. O primeiro é o lugar
central ocupado pela emoção e pelo desejo, juntamente com um certo grau de imaginação.
Este é um argumento que já desenvolvi antes e sobre o qual não irei me estender nesse
momento. Deixem-me apenas enfatizar minha crença de que o processo de querer e de
desejar está no cerne do fenômeno do consumismo moderno. Isso não quer dizer que
questões referentes a necessidades estejam ausentes, ou que outras questões, como
estruturas institucionais e organizacionais significativas, não sejam importantes. Quero
apenas afirmar o dínamo central que impulsiona tal sociedade é o da demanda do
consumidor, e que isso, por sua vez, depende da habilidade do consumidor de exercitar
continuamente seu desejo por bens e serviços. Nesse sentido, são nossos estados
emocionais, mais especificamente nossa habilidade de ―querer‖, e ―ansiar por alguma
coisa‖, sobretudo nossa habilidade de repetidamente experimentar tais emoções, que na
verdade sustentam a economia das sociedades modernas desenvolvidas. (CAMPBELL,
2006, p. 48)

643
É no relacionamento entre sujeito e produto que o indivíduo também constrói sua
identidade. Não se está aqui a limitar a construção identitária de um sujeito apenas nas ações de
consumo. São muitos os fatores que contribuíam na formação da subjetividade. Entretanto, não se
pode ignorar que as relações entre sujeitos e mercadorias ganharam, nas últimas décadas, um status
de segurança para o indivíduo que consome. Se a contemporaneidade é caracterizada por incertezas
e inseguranças, muitas mercadorias apontam como a detentora de seguranças e certezas, de forma
que é na relação de consumo que os indivíduos passam a se descobrir e se identificar. A propaganda
e a publicidade apelam para as características da contemporaneidade na tentativa de obterem
subsídios para atraírem consumidores. Exemplo significativo disto é o risco ecológico. A ameaça de
perigos provenientes do meio ambiente seja na forma de catástrofes naturais ou escassez de recursos
naturais conduziu a uma onda publicitária de produtos ―verdes‖ e ambientalmente corretos, estando,
cada produto dando uma suposta contribuição para a sustentabilidade ambiental e colocando na mão
do consumidor a responsabilidade pelo bem-estar do planeta, pois só depende dele consumir o
produto que a cada embalagem vendida pode plantar árvores ou fazer doações. A mesma tendência
―verde‖ para os produtos também cria uma classe de consumidores comprometidos com o meio
ambiente, preocupados com a vida e responsáveis socialmente. É em um ambiente como este para
as ações de consumo que Campbell (2006, p. 52-53) se defende afirmando:

Que fique bem claro que não estou sugerindo que a identidade deriva de um produto ou
serviço consumido, ou que, conforme dizem, as pessoas são aquilo que compram. É
evidente que o que compramos diz algo sobre quem somos. Não poderia ser de outra forma.
Mas o que estou sugerindo é que o verdadeiro local onde reside a nossa identidade deve ser
encontrado em nossas reações aos produtos e não nos produtos em si. Por conseguinte, não
estou argumentando que como consumidores ―compramos‖ identidades, mediante nosso
consumo de bens e serviços específicos. Tampouco estou sugerindo que descobriremos isso
nos expondo a uma grande variedade de produtos e serviços. Mas é monitorando nossas
reações a eles, observando do que gostamos e do que não gostamos que começaremos a
descobrir quem ―realmente somos‖.

Campbell, portanto, conduz a discussão sobre consumo e, no contexto da sustentabilidade,


consumo consciente a um novo nível, ressaltando a complexidade que há em debater o tema.
Demandar novas formas de consumo para o bem-estar da humanidade não depende apenas de expor
a situação dos recursos no planeta. Depende de transformações nas características dos tempos
atuais, nos pressupostos que fundamentam a contemporaneidade, repensando as relações que os
indivíduos levam na construção de suas identidades e do espaço em que atuam para que assim
possam desenvolver uma nova postura diante do consumo, pois, antes de tudo, ―é justificável
afirmar não só que vivemos numa sociedade de consumo, ou somos socializados numa cultura de
644
consumo, mas que a nossa, num sentido bem fundamental, é uma civilização de consumo‖
(CAMPBELL, 2006, p. 63-64).

A educação para o consumo consciente

Sendo a educação ação socializadora, que prepara os indivíduos menores para


desempenharem determinados papeis na teia social, para uma cultura da sustentabilidade é
necessário que educadores estejam munidos de todo um instrumental teórico e analítico que
possibilitem um trabalho de socialização para um paradigma da sustentabilidade. Contudo, como
observado anteriormente, as reflexões sobre sustentabilidade não podem se limitar a aspectos
meramente científicos. A temática sobre consumo, na perspectiva apontada por Colin Campbell, é a
prova que outros aspectos da vida humana, como a emoção, a imaginação e o desejo, desempenham
pesos preponderantes na tomada de decisão dos indivíduos e que estão além de questões racionais
de alocações de recursos e rendas.
Por ter como matéria-prima o saber científico, as análises de Campbell apontam para um
desafio a ser vivido pelas escolas para que possam realmente se comprometer com um paradigma
da sustentabilidade. As escolas devem se reinventar, de forma que o cientificismo dê lugar ao
dialogo de saberes, a complexidade e a emoção na construção de uma cultura da sustentabilidade.
Uma educação para o consumo consciente, por exemplo, estaria envolta de reflexões que
além de expor os achados empíricos sobre os impactos do consumo, teria que trabalhar com
reflexões mais profundas, filosóficas, religiosas, emocionais acerca do significado da vida, do ser,
da existência, etc. o projeto de uma educação para o consumo consciente seria pautado nos
seguintes objetivos:

 Demonstrar que a construção do Ser não necessariamente deve se concentrar no Ter;

 Apontar que a ação de consumir é complexa, com diferentes pontos de articulação no tempo
e no espaço e que, portanto, tem causas e conseqüências;

 Procurar incentivar nos alunos a reflexão sobre as causas que movem a ação do consumo;

 Educar para a mídia;

 Trabalhar a emoção na poesia e na arte, pois tão forte quanto razões são os laços
emocionais;

 Estimular o ócio criativo, o tempo e livre e o lazer;

 Valorizar o sujeito mais que o objeto e;

645
 Reintegrar o ser humano na natureza, demonstrando que o homem faz parte inseparável da
natureza e não uma figura autônoma e superior a ela.

Cada ponto destes, entre outros, possui um significado específico que remontam as
características da contemporaneidade e que afetam a relação homem/natureza/sustentabilidade, tais
como a falta de tempo, a publicidade infantil exacerbada e a racionalização da vida.

Conclusão

Filósofos racionalistas já temiam as paixões pelo poder que estas desempenham na vida do
homem, apostando na razão para uma vida segura. Porém esta mesma razão conduziu à ameaças à
sustentabilidade da vida humana na Terra. Entretanto, o próprio uso e domínio da ciência e da razão
se transformaram em paixões perigosas e descontroláveis parecidas com a crítica a uma razão que
veio para combater mitos, mas terminou por se tornar um mito também (ADORNO &
HORKHEIMER, 1995).
Resta o alerta que para uma educação ambiental comprometida de fato com a
sustentabilidade, um novo paradigma deve ser construído e que a lei de educação ambiental
caminha na construção deste novo paradigma. Contudo, muito ainda se tem para se compreender
sobre as inúmeras relações do homem com a natureza no seu cotidiano. O ato de consumir é prova
disto, quando se observa que visto pela visão estritamente racional, visão predominante esta, pouco
se pode cobrar de um consumo consciente quando o mesmo consumo é a razão de ser de um
indivíduo.

Referências

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Jorge Zahar Editor, 1995.

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Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

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BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2006.

646
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BARBOSA, Raquel Lazzari Leite (org.). Formação de educadores: artes e técnicas, ciências
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Carlos Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

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MORIN, Edgar; CIURANA, Emilio-Roger; MOTTA, Raúl Domingo. Educar na era planetária: o
pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. Tradução de
Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez Editora, 2003.

647
PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO
FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE RUSSAS – CE

Jéssyca de Freitas LIMA (NUPGESAM/IFCE) jessycafreitas@ifce.edu.br

Dayane de Andrade LIMA (NUPGESAM/IFCE) dayaneandrade@ifce.edu.br

José Reuben MOREIRA (Estudante do IFCE) reuben_moreira@hotmail.com

Maria Gizeuda de Freitas SOUSA (Professora e Orientadora/IFCE) gizeuda@ifce.edu.br

Resumo

A problemática em relação ao meio ambiente e seu processo de degradação tem ganhado cada vez
mais espaço nas discussões entre vários segmentos sociais, na mídia e recentemente, ao processo
educacional. Nesse contexto, várias ações foram realizadas: os primeiros fóruns nacionais de
educação ambiental, a instituição do programa nacional de educação ambiental pelo ministério do
meio ambiente e dos parâmetros curriculares nacionais pelo MEC, nos quais a temática ambiental
foi inserida como conteúdo transversal em todas as disciplinas do currículo escolar. A educação,
enquanto instrumento de transformação, tem papel fundamental na sensibilização dos seres
humanos para uma melhor convivência com seus semelhantes e com o seu meio. Nesse sentido,
cabe a ela cumprir sua função social, através de um sistema flexível e aberto que aborde questões da
realidade e não apenas reproduza o que apresentam os livros didáticos. O objetivo desse trabalho é
ampliar as ações de cidadania aos alunos da escola municipal de ensino fundamental Juarez
Santiago de Lima do município de Russas- CE, embasadas nos princípios da educação ambiental
para sociedades sustentáveis. Foram realizados através de diversos meios metodológicos como:
palestras, oficinas de compostagem, arborização, formação de monitores e campanhas educativas.
Com a analise desse trabalho observou-se que a implantação de metodologias que promovam a
Educação Ambiental é de tamanha importância para formação de alunos.

Palavras–chave: Educação ambiental; Metodologias; Práticas ambientais.

Abstract

The issue in relation to the environment and its degradation process has gained more space in
discussions between various segments of society, the media and recently the educational process. In
this context, several actions were taken: the first national forums on environmental education, the
institution of the national program of environmental education by the ministry of environment and
648
national curriculum guidelines by MEC, in which the environmental theme was inserted as content
in all transverse subjects in the school curriculum. Education as an instrument of transformation,
plays a key role in raising awareness of human beings for better interaction with their peers and
with their environment. It is worth it to meet its social function, through an open and flexible
system that addresses issues of reality and not merely reproduce what they have textbooks. The aim
of this work is to extend citizenship to the actions of public school children of primary school
Juarez Santiago de Lima municipality of Russas-CE, based in the principles of environmental
education for sustainable societies. Were performed through various means methodological as
lectures, workshops and composting afforestation, training monitors and educational campaigns.
With the analysis of this study showed that the implementation of methodologies that promote
environmental education is of such importance to training of students.

Palavras–chave: Educação Ambiental; Metodologias; Práticas ambientais.

Introdução

A Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da
educação, norteada para a resolução dos problemas ambientais através de aspectos interdisciplinares
e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. (DIAS, 1998).
No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva abrangente, não se restringindo
apenas a proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta
de construção de sociedades sustentáveis.
A prática da Educação Ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 –
Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma que: "A educação ambiental é um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal‖ (Brasil, 2009).
O estado do Ceará inicia o processo de ações voltadas para a melhoria ambiental quando em
1987, foi criada a Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. Dessa forma tomando
a liderança no processo de proteção ao meio ambiente.
Sabe-se da importância para sensibilização quanto às questões ambientais, para conseguir a
promoção e conservação de um ambiente saudável para a presente e para as futuras gerações; Por
ser a Educação Ambiental uma atividade formal e informal é que a escola precisa se preocupar em
promover simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e de habilidades
necessárias à preservação e melhoria da qualidade de vida. O objetivo desse trabalho é analisar uma
proposta de educação ambiental com base na implantação de um grupo de alunos monitores para

649
trabalhar permanentemente a temática ambiental na Escola de Ensino Fundamental Juarez Santiago
de Lima, Russas/CE.

Material e Métodos

O município de Russas está localizado no interior do Ceará, a 160 km da Capital Fortaleza. A


execução deste trabalho foi desempenhada na Escola de Ensino Fundamental Juarez Santiago de
Lima, no município de Russas – CE. Vinte alunos participaram do movimento, sendo eles do 6º ao
9º ano.
O trabalho realizado foi dividido em partes, primeiro foram realizas palestras sobre temas
ligados a questão ambiental tais como resíduos sólidos, desmatamentos, poluição atmosférica,
poluição da água e dos esgotos, preservação da diversidade animal e vegetal, e outros. Depois das
palestras foram realizadas oficinas trabalhando os temas abordados nas palestras, como: oficina de
reciclagem, após questionamentos sobre a destinação dos resíduos sólidos; oficina de compostagem,
onde os alunos aprenderam uma técnica de destinar os resíduos orgânicos como folhas de arvores,
restos de alimentos e estrume; arborização da escola, visando os benefícios futuros.
Os temas ambientais foram discutidos para toda a escola e comunidade pelos alunos
monitores, por meio de duas metodologias que os mesmos escolheram teatro e manifestação
pública, como uma passeata no dia 7 de setembro de 2011 nas ruas da comunidade.
O período da execução desse trabalho foi de agosto a novembro de 2011. E espera-se que os
alunos monitores continuem o trabalho na escola e na comunidade.

Resultados e Discussão

As palestras realizadas apresentaram a problemática ambiental tentando instigar o interesse


diante dessas questões, para que eles incorporem novos atos e ações ambientais na escola e na
comunidade. Os alunos mostraram-se interessados nos temas ambientais trabalhados ao relacionar
natureza e sociedade numa visão ligada ao cotidiano.
Outro fato observado é de que a maioria dos alunos envolvidos, senão todos, realmente se
engajaram e se sensibilizaram com as temáticas ambientais desejando promover a preservar do
meio ambiente. A Figura 1 mostra os alunos monitores participando das atividades para promoção
da educação ambiental em diversos temas ambientais.

650
Figura 1: Professor ministrando palestra sobre Figura 2: Alunos plantando, depois de fazerem a
temas ambientais, locais e regionais. compostagem.

Na Figura 2, os alunos plantam após terem feito a compostagem. Foram plantados uma
planta da espécie Tradescantia pallida, popularmente conhecida por coração roxo, a mesma pode
ser usada como indicador de poluição do ar; o adubo gerado pelo processo de compostagem foi
usado como fertilizantes na planta citada acima e também em uma horta onde plantaram-se verduras
e legumes que futuramente complementaram a merenda escolar.
Com a ajuda dos Multiplicadores em Educação Ambiental, foi realizada a arborização na
escola, feita pelos alunos monitores, como mostra a Figura 3.

Figura 3 - Arborização feita pelos alunos Figura 4 - Passeata pela comunidade no dia 07 de
Setembro de 2011, ressaltando as formas e a
importância e preservar o meio ambiente.

Em Setembro, a Escola sempre realiza o desfile de 7 de Setembro na comunidade, nesse ano


juntamente com os Multiplicadores em Educação Ambiental, o desfile aconteceu com o tema
principal Meio Ambiente. Abrangendo todos os alunos da Escola e tendo como objetivo mostrar à
população a importância do meio ambiente para o planeta, como apresenta a Figura 4.

651
Contudo, para trabalhar com educação ambiental, devemos considerar vários aspectos, desde
a cultura até a política. Sendo assim, necessário muitos que sensibilizem e quem sabe incentive a
população a viver de forma ambientalmente correta e sustentável.

Conclusões

Notou-se que em todos os encontros e atividades de campo realizadas com o grupo de


alunos, eles estavam dispostos a aprender. Foi observado que a maioria dos alunos envolvidos,
realmente se interessou pelas questões ambientais, dessa forma querendo promover a proteção e
preservação do meio ambiente.
Entretanto, trabalhar com educação ambiental é muito complexo, devendo levar em
consideração aspectos desde a cultura até a política. Necessitando que todos se sensibilizem e
incentivem a população a viver de forma ambientalmente mais sustentável.
Para obtenção de melhores resultados seria necessário à formação de parcerias entre
professores, alunos e comunidades escolares onde houvesse esforços no desenvolvimento de ações
em Educação Ambiental, envolvendo a todos, promovendo discussões e construção de conceitos de
forma coletiva.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Limoeiro do


Norte, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE e a Prefeitura Municipal de
Russas.

Referências

BRASIL. Ministério de Meio Ambiente – MMA. Secretaria de Articulação Institucional e


Cidadania Ambiental – Legislação. Brasília. Disponível em: < http://www.mma.gov.br>. Acesso
em: 21 de maio de 2012.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico –


1° Ed. São Paulo: Cortez, 2004.

CEARÁ, Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Apostila do curso de Capacitação para


Multiplicadores em Educação Ambiental. Fortaleza: SEMACE, 2003

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e práticas – 5° Ed. São Paulo: Global,
1998.

652
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O CONSUMO CONSCIENTE: PRÁTICAS LÚDICAS NA
FORMAÇÃO DE CIDADÃOS BIOCÊNTRICOS.

Ana Clara Giraldi COSTA – Estudante UFPR anagiraldi@ufpr.br

Afonso Takao MURATA – Professor UFPR afonsomurata@ufpr.br

RESUMO

Este artigo trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho desenvolvido com um grupo de
crianças participantes do Projeto ―Ondas do Saber‖ do município de Matinhos/PR. O objetivo do
trabalho foi promover a Educação Ambiental para o Consumo Consciente através de práticas
lúdicas em espaço não escolarizado. Participaram da ação 47 crianças, de ambos os sexos, com
idades entre 06 a 11 anos. Foram realizadas três seções de um circuito de atividades em um único
dia, durante um campeonato de surf desenvolvido paras os mesmos. Foram levantadas as principais
referências e práticas que os mesmos fazem para preservar o meio ambiente, seguida de um
esclarecimento, um caça ao tesouro e um teatro. Os dados apresentados no trabalho foram coletados
durante o desenvolvimento das atividades. A experiência permitiu constatar a importância de se
utilizar a ludicidade como instrumento metodológico em atividades de Educação Ambiental, e aferir
a aceitabilidade destas ações em espaços de lazer.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Consumo Consciente; Práticas Lúdicas.

ABSTRACT

This article it is an experience report on a work with a group of children participating in the Project
―Ondas do Saber‖ in the Matinhos city, Paraná state, Brazil. The objective was to promote
environmental education for Conscious Consumption through practices in not schooled recreational
space. In this research participated 47 children, of both sexes, aged 06 to 11 years. There were three
sections of a circuit of activities in a single day for a surf championship developed for them. We
raised the main references and practices that they do to preserve the environment, followed by a
clarification, a treasure hunt and a theater. The experience revealed the importance of using
playfulness as a methodological tool in environmental education activities, and to assess the
acceptability of these actions in leisure.

KEYWORDS: Environmental Education; Conscious Consumption; playfulness.

653
INTRODUÇÃO

A sociedade vem passando por uma crise socioambiental em que se faz necessária mudanças
nos paradigmas: do ser antropocêntrico para uma visão de mundo biocêntrica, comprometida com
toda a vida na Terra (GOMES, 2006). É notório que o padrão de vida imposto pelo sistema
capitalista seja revisto, e que a Educação Ambiental faça parte deste processo.
As bases, princípios e estratégias da Educação Ambiental ganharam espaço a partir dos anos
70, na tentativa de resolver o quadro de degradação ambiental e social que se instalou no mundo.
Um instrumento de minimização e/ou solução dos problemas ocasionados, através da
conscientização acerca das problemáticas e das possíveis soluções para elas.
Há, sem dúvida, uma necessidade de mudança no modo de pensar e agir para com a
sociedade e o com meio. A Educação como um todo possui papel fundamental na formulação de
uma nova mentalidade; por conseguinte, a Educação Ambiental, aliada à temática do consumo
consciente, representa um elemento-chave no processo de formação de um cidadão consciente,
agente transformador e preservador do meio ambiente.
A utilização do lúdico em atividades de Educação Ambiental já é tida para diversos autores
e trabalhos como um importante instrumento de aprendizagem em espaços de formação humana e
de transformação da realidade (CARVALHO; MACEDO, 2003). Para Carvalho, Xavier (1999),
Carvalho, Macedo (2003) e Carvalho (2005), por exemplo, usar o lúdico em trabalhos de
conscientização ambiental é umas das estratégias mais bem sucedidas, sejam elas em ambientes
escolarizados ou não.
Neste sentido o presente trabalho de Educação Ambiental teve como objetivo geral
sensibilizar, proporcionar informações e reflexões para crianças a respeito das questões
socioambientais relacionadas ao consumo consciente através de atividades pedagógicas lúdicas.
Teve como objetivos específicos apresentar de maneira lúdica as questões socioambientais
que envolvem o consumo consciente; utilizar metodologias e estratégias de gincanas e de teatro de
bonecos como forma de Educação Ambiental; desenvolver o trabalho em equipe, a criatividade, e a
visão crítica da realidade; desenvolver hábitos de consumo consciente e preservação do meio
ambiente; realizar atividades que permitam à criança ser o agente transformador e preservador do
meio ambiente; apresentar às crianças diversos utensílios feitos a partir da reutilização de materiais.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

654
De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99), entende-se por
Educação Ambiental todos os processos em que o indivíduo ou até mesmo a coletividade constroem
valores sociais para conservação do meio ambiente, a partir de um enfoque humanista, holístico,
democrático, participativo e sustentável. Ela pode ser desenvolvida em espaços formais (nas
escolas), ou em espaços não formais (ações e práticas voltadas à sensibilização da coletividade)
(BRASIL, 1999).
Pensando em trabalhar a Educação Ambiental tanto de maneira formal quanto não formal,
diversos autores e trabalhos encontram no lúdico uma excelente ferramenta de ensino. Segundo
Araujo; Junior (2007), a utilização do lúdico em atividades de Educação Ambiental, sejam elas em
espaços escolarizados ou não, compreende um importante instrumento de aprendizagem.
As atividades lúdicas têm por objetivo ajudar a criança a entrar em contato com o mundo
imaginário e ao mesmo tempo real, a desenvolver habilidades, a criar, relacionar e assimilar melhor
os conhecimentos obtidos. (SALOMÃO; MARTINE, 2007).
A proposta de atividades lúdico-pedagógicas nas práticas educativas além de favorecer a
relação das crianças com os adultos causa-lhes prazer e contribuiu para o desenvolvimento pleno da
capacidade infantil (HURTADO, 2001).
Para Carvalho, Macedo (2003) as atividades pedagógicas que envolvem esse método
constituem uma boa forma em espaços de formação humana e de transformação da realidade.
Para Lopes (2000) aprender por meio de brincadeiras, independente da idade, significa
maiores chances de assimilação do conhecimento. Estes, quando trazem elementos do cotidiano
para dentro dos espaços faz com que o aprendiz seja sujeito ativo do processo de educação.
No que tange essa temática, o trabalho com o teatro apresenta um grande potencial para
desenvolver tais atividades. Traz excelentes contribuições, uma vez que proporciona uma
aproximação entre o ser humano e o meio ambiente em seu entorno de maneira dialógica e dialética
(ARAUJO & JUNIOR, 2007).
Para Fonseca (2003), Ostelo, Oliveira & Mesina (2003) aprender através de histórias é, com
certeza, umas das melhores maneiras da criança construir conhecimentos. Para Londero (2007) o
poder da imaginação do teatro faz com que as crianças absorvam o aprendizado de maneira
divertida, sem sequer notarem estar aprendendo. Para Capra & Santos (2001), a educação através da
arte faz com que se desenvolva o espírito critico, capaz de transformar a si mesmo, e seu meio.

A POPULAÇÃO PARTICIPANTE E O LOCAL

Participaram desta ação de Educação Ambiental 47 crianças, de ambos os sexos, com idades
entre 06 a 11 anos, participantes do Projeto Ondas do Saber. Este é um trabalho desenvolvido pela

655
Prefeitura do município de Matinhos/PR com o intuito de levar a prática do surf socioambiental
para crianças matriculas na rede pública municipal.
Foram realizadas três seções de um circuito de atividades em um único dia do mês de
setembro de 2012, nas dependências de um campeonato de surf desenvolvido para os mesmos,
localizado no conhecido Pico de Matinhos, na cidade de Matinhos/PR. Nas dependências também
se encontra a sede e a escolinha de surf.

AS ETAPAS DESENVOLVIDAS NO GRUPO

A proposta inicial do trabalho estabelecia que as práticas fossem realizadas em espaços de


lazer e recreação, logo, decidiu-se uni-la a um evento destinado a prática de surf socioambiental
para crianças.
As atividades basearam-se na perspectiva do consumo consciente com enfoque no lixo na
praia, através da metodologia participativa da Educação Ambiental aliada a práticas lúdicas. As
atividades lúdico-pedagógicas escolhidas foram um caça ao tesouro e um teatro de bonecos, de
autoria própria e confeccionado a partir da reutilização de materiais.
A participação das crianças na atividade foi voluntária. Das 100 crianças inscritas no
campeonato de surf, 47 participaram. Divididas em três seções, as atividades seguiram com 10
crianças na primeira sessão, com 17 e 20 na segunda e terceira sessão, respectivamente.
Para dar início as atividades foi pedido para que cada criança se apresentasse e falasse quais
ações fazem diariamente para preservar o meio ambiente em que vivem.
Plantar e não jogar lixo na praia foram as principais reflexões levantadas pelas crianças, que
ainda tímidas
Ao término dessa etapa, as crianças foram informadas de que um pirata havia escondido os
bonecos do teatro e que o papel delas neste momento era fazer um caça ao tesouro para encontrá-
los.

O CAÇA AO TESOURO

O caça ao tesouro, que contou com elementos disponíveis ao redor do campeonato (resíduos
jogados no chão, latões da coleta seletiva, latões de lixo único, latões de bitucas de cigarro), seguiu
da seguinte maneira:
1) A pista número um pedia para que as crianças fossem até o monumento de agradecimento ao
surfista Peterson Rosa e notassem o que havia de errado com ele, pois embaixo disso estaria a
segunda pista. No local, havia lixos, que as crianças coletaram.

656
2) A segunda pista pedia para que fossem ao lugar correto onde todas os fumantes deveriam jogar
suas bitucas de cigarro, pois lá encontrariam a terceira pista.

3) A terceira pista pedia para que continuassem seguindo em direção à escolinha de surf, pois no
caminho notariam lixos no chão, esses seriam pistas. Na medida em que fossem coletando
encontrariam a quarta pista.

4) Por conseguinte, a quarta pista pedia para que fossem em direção à praia, no caminho
encontrariam dois latões de lixo. Ao dizer o que havia de errado com eles, a educadora podia lhes
dizer a última pista (os latões de lixo não tinham distinção de resíduos).

5) Por fim, a ultima pista pedia para que as crianças avistassem latões de lixo da coleta seletiva,
separassem-nos de acordo com a distinção e aguardassem até que o pirata lhes entregassem o
tesouro.

O TEATRO
Intitulado ―A Vida do Mar”, o teatro contou a história de três amigos que depois de surfarem
e ficarem com sede, compram uma água, pegam copos descartáveis e carregam tudo em uma sacola
descartável para a beira da praia. Sem se importarem com o destino correto dos resíduos e com a
possibilidade de reaproveitá-los, acabam esquecendo-os jogados na areia. Logo, uma onda empurra-
os para o fundo mar, enroscando nos animais marinhos (água-viva, peixes, golfinhos).
Os animais, presos aos resíduos pedem ajuda e socorro para as crianças.
Partindo do princípio de Barcelos (1997) de que a Educação Ambiental não deve se
preocupar em transmitir conhecimentos, mas sim produzi-los, o teatro buscou a ajuda dos
telespectadores para ter um fim.
Assim, quando os animais marinhos se enroscaram nos lixos, o narrador perguntou para as
crianças se elas estavam de acordo. Logo, houve um coro capaz de transmitir insatisfação, seguida
de alternativas para o final feliz.
Com a ajuda das educadoras e das opiniões das crianças o teatro ficou assim reconstituído:
Aninha e seus amigos depois de surfarem e ficarem com sede, compram uma água, mas ao
invés de pegaram sacolas e copos descartáveis na lanchonete tiram de suas sacolas retornáveis
canecas.
Ao final, ressaltam a importância de jogar a garrafa PET de água no latão de lixo vermelho,
pois este é o destino correto de materiais derivados de plástico.

657
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste trabalho permitiu constatar que a Educação Ambiental feita


através da ludicidade constitui-se numa prática inovadora e bem aceita nos espaços de lazer. Isso
pôde ser constatado através da euforia demonstrada pelas crianças na hora de responder às
perguntas coletivas, no momento do caça ao tesouro, que por vezes, os educadores precisavam
chamar a atenção para as crianças não correrem demais, e até mesmo após as seções, quando elas se
dirigiam aos mesmos para dar abraços e cumprimentos.
Das 100 crianças inscritas para o evento de surf, 47 aceitaram participar do circuito de
atividades. Interessante foi notar que as crianças que não quiseram participar da primeira sessão de
atividades vendo o entusiasmo de seus colegas perguntavam-nos se haveria mais. Isso pôde ser
verificado no aumento do número de crianças por sessão: na primeira sessão haviam 10 crianças, na
segunda 17 e na terceira 20.
A utilização de espaços de lazer para atividades de conscientização ambiental é uma
alternativa frente a tarefa exaustiva que Effting (2007) diz ter enfrentado nas escolas. Para ele,
fatores como a predisposição dos professores e da diretoria de realmente programar um projeto
ambiental que alterará a rotina da escola, geram obstáculos ao sucesso desejado.
A partir da euforia das crianças, foi verificado que a utilização do lúdico faz com que elas se
sintam mais à vontade para expor suas opiniões, fazer perguntas e críticas. Ao fazer perguntas ao
coletivo foi comum ouvir a resposta da maioria ―Tia, tia, deixa eu..” “Eu, eu, tia”.
Como já relatado em trabalho feito por Londero (2007), as histórias contadas têm o poder de
sensibilizar a percepção das crianças para a realidade em que estão inseridas. Foi comum ver
feições de espanto quando os animais marinhos se enroscaram nos lixos. Logo, quando o narrador
falou na possibilidade de fazer um final feliz houve entusiasmo.
Ainda o que se pôde notar em comum ao trabalho da autora, foi a importância de introduzir
aos projetos de conscientização o cotidiano, a visão e a participação das crianças nos processos de
aprendizagem e transformação da realidade. Para a autora, é necessário que as crianças percebam e
participem do meio em que estão inseridas, a fim de despertá-los para a importância da preservação.
Neste contexto, o pedido de ajuda para encontrar os bonecos do teatro que o pirata houvera
escondido, a utilização de surfistas no enredo da história e a participação das crianças no final feliz
foram de suma importância para o sucesso deste trabalho.

658
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659
A INCLUSÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO MUNICÍPIO
DE AURORA, CEARÁ

Ana Raquel Domingos da PAZ (URCA/ PIBID) - ana.raqueldomingos@yahoo.com.br


Luiza Maria Filgueira Cruz de LUNA (SEDUC/PIBID) –luizabio@hotmail.com
Maria Socorro SANTOS LUNA - aeduarte@hotmail.com
Luiz Marivando Barros (Doutorando DINTER UFSMS/URCA, COORDENADOR
PIBID/CAPES)-lmarivando@hotmail.com

RESUMO

Educação Ambiental deve ser integrada no currículo escolar, para que o aluno possa compreender a
complexidade e a amplitude das questões ambientais. Implica mudanças profundas leva a mudança
de comportamento pessoal e atitudes e valores de cidadania transformando-se em prática de vida.
Objetivou-se realizar um diagnóstico sobre a Educação Ambiental nas escolas municipais de 5ª a 8ª
série na zona urbana de Aurora. Foi utilizado como instrumento um questionário com dados
relativos as opiniões dos mesmos. Conforme a pesquisa realizada verifica-se que 100% dos
professores afirmam trabalhar a Educação Ambiental e que 70% encontram dificuldades para
aplicá-la por falta de orientação, incentivo, e vários materiais de apoio. Os professores registraram
metodologias de como ministrar suas aulas sobre o assunto: 100% com aulas expositivas, 87,5%
com aulas de campo e 80% com trabalhos de pesquisas e 75% com textos aplicativos e 10% de
gravuras. Nota-se que 95% não receberam nenhum tipo de curso referente ao tema mencionado e
87,5% conhecem pouco dos PCNs sobre Meio Ambiente. A maioria dos professores afirma que
existe necessidade de trabalhar o tema na escola, mas apenas 25% dos educadores elaboram
projetos em relação ao tema em questionamento e 100% afirmam que a sensibilização é a melhor
forma de trabalhar a educação ambiental no espaço escolar.

Palavras-chave – Educação Ambiental, escola, currículo.

ABSTRACT
Environmental education should be integrated into the school curriculum so that the student can
understand the complexity and breadth of environmental issues. Implies deep changes leads to
changes in behavior and personal attitudes and values of citizenship becoming practical life. The
objective was to perform a diagnosis on Environmental Education in public schools from 5th to 8th
grade in the city of Aurora. It was used as a survey instrument with data on the opinions of
ourselves. As the survey shows that 100% of teachers report working environmental education and
660
70% find it difficult to apply it for lack of guidance, encouragement, and various support materials.
Teachers reported methodologies of how to minister their classes on the subject: 100% with
lectures, classes with 87.5% and 80% with field work and research applications texts with 75% and
10% of engravings. Note that 95% did not receive any type of course referring to the subject
mentioned and 87.5% of PCNs know little about the Environment. Most teachers said that there is
need to work the subject in school, but only 25% of educators elaborate designs on the issue in
question and 100% say that awareness is the best way of doing environmental education in the
school.

Keywords - Environmental Education, school, curricula

INTRODUÇÃO

Há vários séculos surgiram ás preocupações com a preservação do meio ambiente e suas


principais espécies, mas foi após a Segunda Guerra Mundial, na década de 60 que iniciou-se o
movimento de defesa do meio ambiente, na luta para diminuir o acelerado ritmo de destruição dos
recursos naturais ainda existentes, buscando formas para consolidar a conservação da natureza com
a qualidade de vida das populações que dependem dessa natureza.
Na década de 70, o Brasil iniciou um trabalho pioneiro em prol da natureza, alcançando
circulação bem mais ampla, graças aos meios de comunicação. Mas a institucionalização de práticas
de Educação Ambiental só teve início nos anos 80, nesta época o debate sobre questões ambientais
das entidades ecológicas, e nas últimas décadas o movimento ambiental cresceu, consolidou-se
ampliou a consciência para essas questões, levando as pessoas a reconhecer que ―estamos usando
nossa capacidade de transformar o ambiente de modo a torná-lo insustentável para as gerações
futuras‖ (CARVALHO, 2000).
Um marco importante do movimento ambiental realizada pela conferência do Rio de
Janeiro, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi o ECO 92. Já que contou com
a participação de vários países e resultou na produção de um documento no qual mais de 170 países
assinaram – A agenda 21 (ONU 1992).
A agenda 21 inclui um programa de ações voltadas para um desenvolvimento sustentável
para atender as necessidades do presente sem comprometer a qualidade de vida das gerações.
Ela estabelece compromissos para a ação dos países e dos governos, para implementação de
acordo as necessidades existentes no local é um instrumento de planejamento em cada país, estado e
município, é um processo de desenvolvimento eficiente e duradouro.
A Educação Ambiental é tema de várias leis brasileiras. Sendo considerada indispensável
nos currículos de 1° e 2° graus, conforme parecer de números 226/1998. A Constituição Federal
661
(1988), no seu artigo 255 diz: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
atribuindo ao poder Público e a coletividade o dever de preservá-lo para as gerações presentes e
futuras.
O ministério da educação (MEC), por meio da Secretaria de Ensino Fundamental,
desencadeou em 1994 a formulação dos Parâmetros Nacionais Curriculares (PCN) eles vieram com
subsídios importantíssimos para tratar da educação Ambiental como um dos temas Transversais
Obrigatórios, havendo assim uma reformulação dos currículos de todo país. Assim uma
reformulação dos currículos de todo país.
Devido a tantas mudanças vividas hoje na educação, resolveu-se realizar a presente
pesquisa, com objetivo de conhecer o nível dos educadores com relação a educação Ambiental na
Zona Urbana de 5ª a 8ª série do município de Aurora,Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada de dezembro de 2003 á abril de 2004 no município de Aurora.
―Segundo Tavares, (1992), Aurora está localizada na região Centro Sul do Ceará, com latitude Sul:
6°56‘00‘‘ e longitude W de Gr.: 39°53‘00‖. Sua extensão é de 942 Km2, limitando-se ao norte com
Lavras da Mangabeira; ao Sul com os municípios de Barro,Milagres e Missão Velha; ao Leste com
Ipaumirim e estado da Paraíba, ao Oeste com Caririaçu.
Optou-se por uma pesquisa nas escolas da Zona Urbana de 5ª a 8ª séries do Ensino
Fundamental do Município de Aurora, Ceará, escolhendo como alvo os educadores, já que poderão
esclarecer como realizam tal trabalho nas suas salas de aula.
Para desenvolvimento da presente pesquisa selecionou-se as seguintes escolas da Cidade de
Aurora: escola de Ensino Infantil e Fundamental, Antonio Landim de Macedo, e Escola de Ensino
Infantil e Fundamental Romão Sabiá. Estas escolas estão localizadas na periferia, com uma clientela
basicamente formada pela população de baixa renda.
As escolas acima mencionadas totalizam 15 turnos sendo assim distribuídos por séries 5ª, 6ª,
7ª, 8ª, assistidos por mais de 20 professores, que são concursados e tem curso superior.
Para obtenção dos dados foi elaborado um questionário e aplicados ao professor com
questões objetivas, subjetivas, relacionadas ao assunto e o período de aplicação do mesmo foi de 20
de fevereiro a 15 de março de 2004 (Figura 01).

662
Questionário

ESCOLA___________________________________________
ENDEREÇO________________________________________
SÉRIE QUE LECIONA_______________________________
SÉRIE_____________________________________________
01 – Você trabalha em sala de aula o tema ―Educação Ambiental‖?
( ) Sim ( ) Não ( ) ás vezes
02 – Quais as dificuldades encontradas em trabalhar o tema ― Educação Ambiental‖?
03 – Como você trabalha este tema?
04 – Você já participou de algum seminário ou capacitação sobre Educação Ambiental?
( ) Sim ( ) Não
05 – Você conhece o PCN sobre esta temática ambiental?
( ) Sim ( ) Não
06 – A diretoria pedagógica da escola onde você leciona já fez estudo sobre este PCN?
07 – Você acha que seria necessário tornar a educação Ambiental obrigatória nas escolas?
( ) Sim ( ) Não
Porquê_________________________________________________________________
08 – A escola em que você leciona já elaborou algum projeto neste sentido?
09 – Cite alguns temas ligados a Educação Ambiental.
10 – O que os professores poderiam fazer para ajudar na conservação do meio ambiente ao
espaço escolar?
Figura 01 – Questionário padronizado aplicado aos professores de 1ª a 4ª série das escolas municipais na
zona urbana de Aurora-CE.

RESULTADOS
Após a pesquisa de campo junto aos educadores de 5ª a 8ª série do ensino fundamental das
escolas pesquisadas verificou-se que todos os professores afiram trabalhar com Educação
Ambiental, nas áreas de Ciências naturais, História e Geografia desenvolvendo o conteúdo pelo
apoio objeto de estudo.
Alguns dados não condizem com as orientações de PCN (1997), pois de acordo com os
mesmos, esta temática deve ser tratada nas diversas áreas do conhecimento, ganhando ênfase, nas
disciplinas de Língua portuguesa, Matemática, Educação Física e Arte, deve ser trabalhada como
tema transversal para criar uma visão global a abrangente da questão ambiental.

663
Constatou-se que apenas 30% dos professores não encontram dificuldades citadas destacam-
se: a falta de orientação através da capacitação, incentivo e materiais de apoio (Figuras 02 e 03).

0% 0%

30%

Encontrou Dificuldade
Não Encontrou Dificuldade

70%

Figura 02 – Número de professores que sentem ou não dificuldades de trabalhar


Educação Ambiental em sala.

Figura 03 – Demonstrativo das dificuldades encontradas pelos professores em trabalhar o


tema Educação Ambiental.

Como mostra a figura 05, a maioria dos professores responderam mais de uma proposta de
como trabalhar o tema educação Ambiental em sala 100% com aulas expositivas, 87,5%, com aulas
de campo, 80% com trabalhos de pesquisa ( individual e em grupo), 25% com textos expositivos e
10% através de gravuras. As metodologias utilizadas a respeito do mesmo podem favorecer ao
educando uma boa aprendizagem, pois as mesmas ajudam a desenvolver um espírito crítico e o
senso de responsabilidade.

664
Faz-se necessário que o professor busque conhecer melhor o tema para que possa integrar os
diversos conteúdos, abordando a realidade de forma mais abrangente e significativa.
Conforme dados registrados na Figura 04, observa-se que a maioria dos professores ( 95%)
não participam de cursos de formação sobre Educação Ambiental, mas com o conhecimento do que
tem procuram realizar seu trabalho de maneira á orientar o educando a respeito do tema, mesmo
assim faz-se necessário que busquem aperfeiçoar seus conhecimentos, pesquisando em livros,
participando de cursos de capacitação, seminários, encontros, para incorporar de maneira efetiva a
Educação Ambiental nas atividades escolares e sobretudo preparar o educando para ser um defensor
e amante da natureza.

Figura 04 – Demonstrativo de como professores trabalham a Educação Ambiental.

Cabe a cada professor trabalhar as especificidades da sua região abrangendo os conteúdos


necessários para sensibilização dos problemas ambientais, sensibilizando e, sobretudo desvendar
causas e problemas ambientais para facilitar o direcionamento do tema.
Os PCN‘s que tratam dos temas transversais trazem diversos subsídios que abordam as
questões ambientais, por isso o professor deve ter conhecimento sobre os mesmos para facilitar seu
trabalho em sala de aula. Fato este que não é constatado na pesquisa, pois 87,5% dos professores
afirmam ter pouco conhecimento, como demonstra a Figura 05.

665
Figura 05 – Demonstrativo dos educadores que conhecem o PCN sobre a temática
Meio Ambiente.

Todos os professores afirmam que a atuação dos diretores pedagógicos com relação ao
estudo dos PCN‘s deixa muito a desejar.
É imprescindível que a escola, através da diretoria pedagógica possibilite aos educandos este
momento de estudo para que possam aprofundar seus conhecimentos com relação a temática
ambiental, pois precisam conhecer mais amplamente os conceitos e os procedimentos para poder
abordá-los de modo adequado na escola.
Verificou-se que 100% dos professores afirmaram a necessidade de integrar a tema
Educação Ambiental ao currículo escolar através da transversalidade, tratadas nas diversas áreas do
conhecimento. É notório que os educadores estão preocupados em desenvolver o trabalho sobre
Educação Ambiental afim de ajudar os aducados a construírem uma consciência das questões
relativas ao meio em que vivem, conservando-o, protegendo-o e respeitando-o.
Observa-se pelos dados da figura 06 que apenas 25% dos professores elaboram projetos em
relação a Educação Ambiental. Enquanto 75% não realizam projetos na luta pela preservação e
conservação do meio ambiente.
Diante dos dados apresentados nota-se que um elevado índice de educadores não realizaram
projetos nas suas escolas executam trabalhos seja encarado com seriedade, onde os educandos
sejam conscientizados de maneira clara e precisa, pois a formação de uma consciência ecológica
demanda muito tempo o que aprender nessa área.

666
Figura 06 – Número de professores que elaboram projetos sobre Educação Ambiental.

Tendo em vista que a escola, através de todos que a compõem é corresponsável pela
sensibilização na Educação Ambiental e dados os resultados apresenta-se algumas sugestões como
mostra a figura 08 para o trabalho com a mesma nas escolas de ensino fundamental de 5ª a 8ª série.
 Introduzir a Educação Ambiental nas escolas para preparar o aluno sobre a preservação e
conservação do meio ambiente.
 Incluir nos cursos de capacitação oferecidos pela Secretaria de educação conteúdos básicos
de sensibilização sobre a Educação Ambiental.
 Promover a articulação do aluno com debates sobre meio ambiente, sensibilizando-o e
capacitando-o para uma tomada de consciência e ações concretas a favor do mesmo.
 Dar maior abertura na programação da escola a necessidade de se fazer esclarecimentos a
cerca de temática: educação Ambiental.

Figura 07 – Demonstrativo do que os professores precisam fazer para ajudar na


conservação do meio ambiente no espaço escolar.

667
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Criar condições para que haja um futuro desejável por todas as gerações é desejo de todos.
Diante da análise de resultados obtidos através dos educadores chegou-se á conclusão que é
imprescindível que:

 A secretaria de Educação promova capacitação para seus professores sobre o tema em


questão, dando condições favoráveis para que exerçam com responsabilidade suas funções
de educadores;
 As diretoras pedagógicas realizem estudo sobre os PCN‘s para que os educadores possam
ampliar seus conhecimentos, tendo assim uma preparação para trabalhar junto ao educando.
 As escolas garantam meios para que os educadores possam pôr em prática aquilo que
desejam, suprindo as dificuldades apresentadas pelo menos nesta pesquisa;
 Os professores elaborem e executem projetos sobre Educação Ambiental, possibilitando
construírem uma consciência global das questões relativas ao meio ambiente, já estas
questões dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse do planeta como um todo.
Fica evidente a importância de se educar os futuros cidadãos brasileiros para que, como
empreendedores venham a agir de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente
saudável no presente e para o futuro e ampliar a qualidade de suas relações intra e interpessoais com
o ambiente físico quanto social.

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RJ) Agenda 21. Brasília: Senado Federal – Secretaria de edições Técnicas, 1997.
668
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES RIBEIRINHOS
DO MANGUE DE BAYEUX – PB

Annyelle Kelly da Silva COSTA (UEPB)1 – annyellek@hotmail.com


Jander Cainã da Silva SANTOS (UEPB)76 – janderkainan1@gmail.com
Vancarder BRITO77 (UEPB) – vancarder@hotmail.com

Resumo

Apesar da importância ecológica e econômica do manguezal, este ecossistema tem sido alvo
constante de ações impactantes, motivo pelo qual vem se notando o desenvolvimento da
consciência ecológica, que busca na educação ambiental a solução para essa questão. O presente
trabalho foi desenvolvido com o objetivo identificar as percepções de moradores ribeirinhos de
Bayeux - PB, sobre o manguezal. Para tanto, foi feito entrevistas abordando o manguezal (condição
ecossistêmica e importância). A análise da percepção dos moradores revelou o público-alvo
entrevistado possuía pouco conhecimento sobre o mangue e suas implicações com questão como
saúde.

Palavras-Chave: Percepção ambiental, manguezal, população ribeirinha

Abstract

Despite the ecological and economic importance of mangroves, the ecosystem has been subject to
constant impacting actions, reason has been noting the development of ecological awareness,
environmental education in seeking a solution to this issue. This work was carried out in order to
identify the perceptions of residents bordering Bayeux - PB on the mangrove. Therefore, it was
done interviews addressing the mangrove (ecosystem condition and importance). The analysis of

76
Discente do Curso de Ciências Biológicas
77
Docente do Curso de Ciências Biológicas (orientador)

669
the perception of residents showed the audience interviewed had little knowledge about mangroves
and their implications as health issue.

Keywords: Perceived environmental, wetland, riparian population

Introdução

O Manguezal é um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho,


característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés. É constituído de
espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptogamas),
adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos
predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). No
Brasil os manguezais ocorrem em quase todo o seu litoral, tendo importantes ocorrências no
Nordeste, principalmente no estado do Maranhão e Bahia.
Os mesmos são então áreas de alta produtividade, possuindo assim um papel significativo
em termos ecológicos, econômicos e sócio-culturais na vida das comunidades costeiras onde se
destacam a pesca e aqüicultura.(SOARES, 1997 e MIRANDA, MARTINS & SOARES, 1988) sua
produtividade se dá devido ao acúmulo de substâncias alóctones e a queda e degradação de folhas e
outros substratos autóctones (SCHAEFFER NOVELLI, 1995). Esta alta produção de matéria
orgânica é fundamental nos processos de reciclagem de nutrientes, que influencia a rica cadeia
alimentar presente nestes ecossistemas.
Por possuir uma grande riqueza de recursos naturais e oferecerem serviços ambientais, os
manguezais são considerados ecossistemas-chave e os mesmos constituem-se há tempos em áreas
de grande importância para a população humana. Entretanto, apesar de sua importância, os
manguezais são ecossistemas de grande vulnerabilidade a ações externas (BELTRÃO et al., 1995) e
vêm sofrendo processos de destruição em vários níveis através da ação humana, não só em função
da exploração predatória de sua fauna e flora, como também pela poluição de suas águas, aterros,
depósitos de lixo entre outros (OLIVEIRA, 2004). Além da delicada situação em que se encontra, a
falta de conhecimento sobre a importância desse ecossistema é um das maiores entraves para sua
conservação (ALARCON & PANITZ, 1998) e, por este motivo, é fundamental implantar e
consolidar ações e programas de educação ambiental que desenvolvam um saber crítico e
contextualizado, voltado ao resgate dos valores, outrora tão tradicionais dessa comunidade, com
referência aos recursos naturais dos manguezais (SATO & SANTOS, 1996)
De acordo com os estudos de LIMA (2006), estudos voltados para a educação ambiental
enfatizam as regularidades e busca manter o respeito pelos diferentes ecossistemas e culturas na
670
terra. A degradação e poluição dos ecossistemas, como por exemplo, o manguezal, é um tema em
grande discussão atualmente.
De acordo com Rosado (2006), este ambiente, vem ao longo dos anos sofrendo agressões
que contribuem para a sua degradação constante e crescente, quer seja na exploração desenfreada e
não planejada de seus recursos, quer seja nos aterros que vem sofrendo ou nos aportes de poluição
de esgotos domésticos e industriais que recebe.
A poluição e consequente diminuição da diversidade em mangues são dadas muitas vezes
pelo uso dos próprios moradores devido suas baixas condições financeiras, e os mesmos ainda são
os mais afetados. Estudos mostram que a maioria dos manguezais possuem diferença notória em
mínimo de tempo, fato também explícito por moradores, mesmo com o receio de alguns em relatar
certos fatos que poderiam deixar em ameaça suas próprias moradias.
De acordo com a UNESCO (1973, apud VASCONCELOS, 2005), uma das dificuldades
para proteção dos ecossistemas naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores
e da importância dos mesmos entre indivíduos de culturas diferentes ou de grupos sócio-
econômicos que desempenham funções distintas no plano social nesses ambientes. Neste sentido, a
percepção é a experiência sensorial direta do ambiente em um dado instante que se dá por meio de
mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos e não um processo passivo
de recepção informativa, já que implica em certa estrutura e interpretação da estimulação ambiental
antrópica (BASSANI, 2001).
As margens dos manguezais são impróprias para habitat humano por estarem situados em
locais que requeiram ações de preservação/conservação ambiental e por comprometerem a saúde
humana de uma forma geral. Porém, ocorre que muitas vezes não há uma ocupação alternativa para
os moradores destas áreas e quando há, os mesmos se recusam à mudança. Ocorre assim então, um
alto impacto nesses ecossistemas de transição dado pelos próprios moradores que tanto necessitam
dos recursos do mesmo.
O trabalho teve como objetivo a investigação da percepção ambiental de moradores
ribeirinhos do mangue de Bayeux - PB, acerca de seus problemas ambientais dados pelo uso dos
mesmos.

Metodologia

O estudo foi realizado no município de Bayeux (MAPA 01), o qual possui uma área de
aproximadamente 32 km², cerca de 100 mil habitantes (IBGE, 2010) e uma densidade demográfica
de 3.138,62 hab./km² (IBGE, 2000). Sua geomorfologia apresenta basicamente dois
compartimentos: o primeiro ao Norte identificado como a parte baixa do município, onde se

671
localiza a planície flúvio-marinha, e o segundo onde fica a parte Sul, o baixo planalto costeiro que
também se conhece por tabuleiros (RODRIGUES, A. P., et al 2006). Este tem uma importante área
representativa do ecossistema de manguezal, que representam cerca de 60% do território municipal.
De acordo com os estudos de Pinto e colaboradores (2011), Bayeux está localizado na porção
litorânea do Estado da Paraíba (PB) - Brasil, entre os municípios de Santa Rita/PB e de João
Pessoa/PB, mais precisamente entre as coordenadas (UTM) 281.633 mE e 293.000 mE e 9.217.000
mN e 9.206.500 mN mN, Fuso 25 S.

Mapa 1: Localização do Município de Bayeux – PB. Fonte: Google Maps

No Norte de Bayeux o mangue ainda encontra-se bastante preservado e ao Sul praticamente


extinta, em função do avanço habitacional que se concentra principalmente nessa área, com a
ocorrência de algumas espécies como a Rhizophora mangle e o Laguncularia racemosa ou mangue
branco. O clima que predomina é o tropical, com pluviosidade acima de 180.00mm anuais e
temperaturas médias de 26 ºC (ANDRADE, 1976).
A população objeto desse estudo é constituída de moradores ribeirinhos do manguezal e
para a obtenção dos dados, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas, através de um questionário que
continha dez perguntas que direcionaram a conversa com os moradores.

Resultados e Discussões

O estudo atuou com a realização de 25 entrevistas, sendo estas com 18 mulheres e 7


homens. O método utilizado para obtenção de dados se mostrou bastante eficiente, pois as perguntas
abertas davam um livre arbítrio às respostas, observando então maior número de informações do
672
que se fosse utilizado questionário com perguntas objetivas. Esse método também foi utilizado com
êxito por Pessoa (2000), ao estudar concepções etnoecológicas de alunos, em Pernambuco.
As casas dos moradores ribeirinhos se localizam muito próximas aos mangues, e por sua
irregularidade, sofrem alagamento (figura 1). Na figura 2 observa-se uma ampla área próxima ao
mangue cujas casas foram derrubadas pela prefeitura por conta de enchentes. Os moradores que
foram retirados de suas casas receberam uma casa ainda no Municipio de Bayeux, um ponto não tão
favorável, vendo que as antigas casas, embora próximas ao mangue, possuíam uma área maior. De
acordo com a Prefeitura de Bayeux (2012), a Comissão Municipal de Defesa Civil de Bayeux
intensificou as vistorias nas áreas de risco no intuito de evitar transtornos com o aumento das
chuvas.

Figura 1: Ilustração das irregularidades de casas próximas ao mangue (Bayeux-PB) que


influenciam no alagamento das casas. COSTA, A. K. S. Jun/2012.

Figura 2: a) e b) Imagem de áreas cujas casas foram derrubadas pela prefeitura. COSTA, A. K.
S. Jun/2012.

Embora haja coleta de lixo nas proximidades do manguezal, um morador afirma que muitos
ainda o usam como depósito de lixo, ele afirma: ―A situação do mangue tá bem ruim. Muita gente
joga lixo, cachorro morto, joga de tudo [...]‖, e quando perguntado sobre as consequências que o
despejo do lixo nos mangues pode trazer, ele conclui sua fala ―Há consequências sim, e muitas. O
673
lixo no mangue afeta não só a gente, mas também o mangue mesmo, os bichos [...]‖. Essa falta
aparente de conscientização de pessoas que moram em comunidades ribeirinhas provocam os
alagamentos, vendo que o despejo do lixo nesses ecossistemas é de suma preocupação vendo que o
mesmo impede o percurso normal da água e assim, em períodos chuvosos, acontecem alagamentos.
De acordo com Correia (2003), os maiores impactos sobre os manguezais são ainda devido a
ações antrópicas direta, ou indiretamente, ele afirma:

Todos os impactos ambientais relacionados contribuem para a diminuição da qualidade ambiental,


tendo como conseqüência direta a redução quantitativa das espécies de peixes e invertebrados, que
vivem nos ecossistemas de manguezais, principalmente aquelas de importância sócio-econômica,
assim como as demais espécies que dependem indiretamente, ao longo dos seus ciclos biológicos, dos
ecossistemas de manguezais, acarretando sérios prejuízos.

Dos entrevistados, apenas 33,33% usufruíam diretamente os recursos do manguezal por


meio da pesca sendo esta para consumo próprio. Os mesmos alegaram que de alguns anos pra cá
mudanças notórias são vistas na riqueza e diversidade de espécies, passando então a observar queda
no número de recursos alimentícios (peixes e caranguejos) que antes serviam como base de renda
familiar. Segundo uma moradora, o que se encontra ainda no mangue são alguns peixes e
crustáceos, muito raramente moluscos, mas segundo um estudo de Nishida (2008), apenas há três
anos, os moluscos eram um dos recursos alimentícios mais explorados dos mangues de toda a
Paraíba. Os que não usufruem diretamente do mangue justificam que as condições do mesmo se
encontram precárias.
Aproximadamente 90% dos moradores-alvo se recusaram a comentar sobre existência de
alguma doença mais frequente que poderia estar relacionada ao mangue. Os demais enfatizaram
dengue e hanseníase como doenças mais frequentes. Sendo assim, seguindo essa mesma idéia, Pinto
et al (2011) afirma que "A sociedade atual cria riscos que afetam de forma desigual a população, e
em Bayeux/PB, os riscos epidemiológicos de doenças infectocontagiosas, como a hanseníase é
um fator preocupante para a comunidade.‖

Considerações finais

A população ribeirinha do manguezal de Bayeux - PB é ainda bastante leiga no que diz


respeito às consequências do despejo de resíduos no ecossistemas, são os próprios moradores que
provocam essa ação, não tendo conhecimento que os problemas serão voltados principalmente para
eles. Aos que sabem, observou-se receio em comentar a respeito.
Foi possível notar que a percepção dos mesmos é ainda mínima, quanto ao ecossistema,
onde o manguezal é referido principalmente como uma fonte para obtenção de recursos, se fazendo
necessário o uso de técnicas tais como a educação ambiental nessa área.
674
Agradecimentos

Aos entrevistados, por cederem informações importantes para a formação do trabalho; ao


colega por toda ajuda na obtenção dos dados e desenvolvimento do trabalho, e especialmente ao
professor Vancarder Brito pela orientação e incentivo.

Referências

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manguezais submetidos a diferentes condições ambientais e de ocupação urbana. In: SIMPÓSIO
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Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2005.

676
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO
FORMADORA DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO
MUNICÍPIO DE CABACEIRAS, PB

Emannuella Hayanna Alves de LIRA (UEPB) - emannuellahayanna@gmail.com


Natália Thaynã Farias CAVALCANTI (UEPB) - nataliathayna@yahoo.com.br
José Thyago AIRES (UEPB) zedetaperoa@gmail.com
Suenildo Jósemo Costa OLIVEIRA (UEPB) - suenildo@ccaa.uepb.edu.br

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o nível de consciência ambiental dos alunos em
contrapartida as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no
município de Cabaceiras- PB. A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-
natureza é bastante antiga, a partir disso, as ações educacionais voltadas às atividades de proteção,
recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm ganhando forças. A evolução dos conceitos de
Educação Ambiental (EA) está diretamente relacionada á evolução do conceito de meio ambiente e
ao modo como este era percebido. A pesquisa foi exploratória e descritiva com entrevistas voltadas
aos dois diferentes públicos: professores e alunos passando por métodos de avaliação diferentes.
Este tipo de estudo visa à obtenção de informações sobre as características, ações, percepções de
determinado grupo de pessoas. Foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema,
falta de um projeto político pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz
envolvendo todas as disciplinas. No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma grande
maioria, entende o Meio Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial,
grande parte destes, veem o meio ambiente apenas como fauna e flora. Com isso, trata-se de fatores
bastante preocupantes, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas de orientação para a tomada
de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, vendo que existe uma grande
necessidade de ser mais explorada nas escolas.

Palavras-chaves: Degradação Ambiental; Meio Ambiente; Práticas Pedagógicas.

ABSTRACT

The present study aims to assess the level of environmental awareness among students on the other
hand the pedagogical practices used by elementary school teachers in the city of Cabaceiras II-PB.
The concern with the problems generated from the man-nature relationship is quite old, as
appropriate, educational activities aimed at protection activities, restoration and environmental
677
improvement partner, have been gaining strength. The evolution of the concepts of environmental
education (EE) is directly related to the evolution of the concept of environment and how it was
perceived. The research was exploratory and descriptive with interviews aimed at two different
audiences: teachers and students experiencing different evaluation methods. This type of study aims
to obtain information on the characteristics, actions, perceptions of a particular group of people. It
was observed that even with the encouragement of the school theme, lack of a political pedagogical
project that addresses the issue of efficiently and effectively involving all disciplines. Regarding
students, it was observed that a large majority understands the Environment as something
important, but outside their existential context, much of these, see the environment just as fauna and
flora. With this, it is very disturbing factors, given that EA is a tool to guide the awareness of
individuals regarding environmental problems, seeing that there is a great need to be further
explored in schools.

Keywords: Environmental Degradation, Environment, Pedagogical Practices.

Introdução

No novo século, a escola tomou para si a incumbência de preparar os futuros cidadãos


baseados em princípios ambientais. Mas infelizmente, a grande maioria das ações
educativas coloca nossa espécie como único elemento do meio a ser beneficiado. Tais
atividades são, em sua maioria, engessadas e possuidoras de uma visão ingênua de
―salvarmos o planeta de nós mesmos‖ ou de propiciarmos um futuro mais sustentável
para as nossas próximas gerações. (GUIMARÃES, 2008, p.7)

A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-natureza é bastante


antiga, todavia foi em meados dos anos 50 que a crise ambiental foi disseminada, e na década
seguinte que começaram a surgir com maior intensidade às reivindicações e os protestos contra o
agravamento da degradação ambiental (CARVALHO et al, 2005). A partir disso, as ações
educacionais voltadas às atividades de proteção, recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm
ganhando forças. De acordo com Dias (1991), a evolução dos conceitos de Educação Ambiental
(EA) esteve diretamente relacionada á evolução do conceito de meio ambiente e ao modo como este
era percebido. Com isso, a EA nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental
materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica
a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. A aprovação
da Lei nº 6.938, de 31.8.1981, institui a Política Nacional de Meio Ambiente a todos os níveis de
678
ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na
defesa do meio ambiente. Dentro de toda problemática apontada, e da importância da preservação
ambiental referidas no artigo 225 da constituição brasileira, este trabalho teve como principal
objetivo avaliar o nível de consciência ambiental dos alunos em contrapartida as praticas
pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no município de Cabaceiras- PB.
A pesquisa foi direcionada aos alunos e professores do ensino fundamental II do ensino
publico do município de Cabaceiras. O município de Cabaceiras esta localizado na microrregião do
Cariri Oriental Paraibano, com clima semiárido e uma população estimada em 5.035 habitantes
(IBGE 2010). Metodologicamente a pesquisa foi do tipo exploratório e descritivo. Este tipo de
estudo visa à obtenção de informações sobre as características, ações, percepções de determinado
grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo, por meio de instrumentos
de pesquisa, normalmente um questionário. As entrevistas voltadas aos dois diferentes públicos:
professores e alunos passaram por métodos de avaliação diferentes, visando à necessidade de uma
diferente linguagem e abordagem para cada público.
Na avaliação da pratica pedagógica dos professores adotamos como base a metodologia de
SARAIVA, NASCIMENTO & COSTA (2008), analisando o fenômeno estudado, os seus
―porquês‖ e seus determinantes. O questionário aplicado com os docentes constou de 7 perguntas
objetivas. A escolha do questionário se deu pela objetividade das perguntas, o que nos ajudou a
obter os dados estatísticos com maior precisão. A pesquisa foi aplicada a 5 dos 18 professores do
ensino fundamental II da rede publica no município.
Com relação aos alunos, a população de amostragem foi composta por 100 alunos de todas
as turmas do ensino fundamental II de escolas publicas do município. O questionário de avaliação
dos alunos constou primeiramente de questões relativas à identificação do entrevistado (sexo, idade
e série.). Em seguida foram inseridas quatro perguntas abertas (SILVA & COUTINHO, s/d) (1- O
que é Meio Ambiente para você? 2- Como estão os rios de nosso município? 3- Você faz parte do
Meio Ambiente? 4-Qual sua contribuição para melhorar o meio ambiente?) seguindo a metodologia
baseada na interação socioambiental proposta por Lopes (1997), onde o mesmo prevê a
possibilidade de avaliar os níveis de consciência de uma sociedade através de práticas
contemplativas e comunicativas, que devem expressar os mais profundos pensamentos humanos na
interação com seu meio.
A avaliação destas perguntas abertas do questionário foi realizada da seguinte maneira:
Valor 0: questionário que em momento algum expressou qualquer relação com a ideia principal do
tema, ou aquele que deixou claro que o aluno não demonstrou o mínimo interesse pelas questões
propostas, deixando-as sem resposta, por exemplo.

679
Valor 1: respostas que demonstraram que o aluno possui um entendimento vago dos assuntos
tratados, ou seja, ele usa palavras chaves mas não consegue expressar claramente a sua ideia de
Meio Ambiente, não se inserindo neste contexto.
Valor 2: respostas que demonstraram ter uma visão já melhor formada sobre o conceito de Meio
Ambiente, mas ainda não percebem a importância do mesmo para a continuidade da vida e não se
inserem na composição deste Meio.
Valor 3: resposta que além de apresentar uma opinião formada sobre o que é Meio Ambiente, na
grande maioria correta e adequada para a capacidade da sua faixa etária, compreende que faz parte
do Meio Ambiente e que uma agressão ao Meio será uma agressão a ele próprio.
Valor 4: questionário que supera as idéias básicas sobre Meio Ambiente entre outros jovens com a
sua faixa etária, ele mostra-se muito interessado com os problemas ambientais do mundo, além
disso propõe maneiras de melhorar a qualidade no meio onde vive através de práticas simples mas
importantes na coletividade, dando a ideia de sustentabilidade.
Após o recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados na planilha do Excel e
elaborados os gráficos para análise das abordagens quantitativas e qualitativas.

Resultados

Na avaliação dos professores buscou-se distribuir graficamente em termos quantitativos os


resultados das respostas do questionário. Analisamos todos os professores do ensino fundamental II
do município conjuntamente, para termos uma visão mais clara do tema abordado. Apesar da
importância da pesquisa, apenas 5 dos 18 professores (27,77%), responderam ao questionário.
Observam-se na Figura 1, questões gerais referentes ao ensino da educação ambiental no
município. Com relação à primeira questão abordada ―Você acha necessária à inclusão da educação
ambiental na educação básica?‖, todos os professores, 100% da população amostrada respondeu que
sim, o que nos revela um nível de consciência dos professores em relação ao tema. Também 100%
dos entrevistados afirmaram que em sua escola existem programas de educação ambiental,
revelando um grande nível de interesse das escolas do município a cerca do problema ambiental.
A respeito do conhecimento de colegas que praticam as questões ambientais vimos que
100% dos professores conhecem colegas que de alguma forma pratica ações de preservação do
meio ambiente. Este fator é extremamente importante, pois, segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) a EA é um dos temas transversais, ou seja, deve ser trabalhado em todas as
disciplinas, enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.

680
Figura1- Aspectos gerais referentes ao ensino da Educação ambiental.

A Figura 2 mostra que para desenvolver na pratica o ensino da educação ambiental os


professores optam tanto pela passagem dos conteúdos da educação formal (40%), quanto por outras
atividades (40%). Apenas 20% dos entrevistados optam pelas brincadeiras, com o objetivo de tornar
o tema mais atrativo para os alunos.

Figura 2- Como você desenvolve na prática o ensino da Educação ambiental?

Referente ao número de vezes por semana em que se aborda a questão ambiental (Figura 3),
40% dos professores afirma abordar mais de duas vezes, porém as outras alternativas também foram
bastante escolhidas (todas com 20% dos entrevistados), mostrando assim que o tema não é
abordado com uniformidade por todos os professores.

681
Figura 3- Quantas vezes na semana você aborda a questão ambiental?

Para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz (Figura 4) 60% dos
entrevistados acreditam que falta empenho da escola, dos professores, vontade politica dos
governantes e participação da comunidade; e 40% dos entrevistados acreditam que falta apenas a
participação de toda comunidade.

Figura 4- O que falta para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz?

A Figura 5 nos mostra que ha uma preocupação dos educadores em preservar os ecossistemas
de seu município e praticar atitudes, no dia-a-dia, que visem minimizar os desperdícios, para 80%
dos entrevistados esta deveria ser a contribuição do alunado. Apenas 20% dos entrevistados
afirmam que os alunos podem contribuir apenas praticando atitudes, no dia-a-dia, que visão
minimizar os desperdícios.
Esta questão nos mostra um elevado nível de consciência dos educadores, pois a grande
maioria vê a relação entre o meio ambiente e a sociedade por completo, ou seja, que uma ação está
relacionada à outra.

682
Figura 5- Como os alunos podem agir para que não haja mais degradação dos recursos naturais?

Se a principal função da educação ambiental é contribuir para a formação de cidadãos


conscientes e críticos, capazes de decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo
comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, esta assume uma dimensão
ampla, atingindo praticamente todas as áreas do currículo, podendo ser entendida como um
sinônimo do que se entende, hoje, por Educação Escolar (SANTA CATARINA, 1998, p. 47).

Avaliação dos alunos

Para realização da etapa referente aos alunos foram escolhidos aleatoriamente 100 alunos do
ensino fundamental II da rede publica de ensino do município de Cabaceiras, com idades entre 12 e
16 anos.
Na Figura 6, observa-se o resumo das respostas dos alunos sobre ―O que é meio ambiente‖,
para esta questão todas as pontuações foram marcadas (de 0 a 4 pontos), obtendo 2 pontos o maior
número de alunos 38%.

683
Figura 6- Resposta dos alunos ao 1° questionamento

Em relação aos rios do municipio, a maioria dos alunos (54%) não apresentaram respostas que
não tiveram relação como tema abordado. E nenhum dos alunos superou as ideias basicas sobre o
tema, não obtendo assim nenhum aluno neste quesito a pontuação máxima.

Figura 7- Resposta dos alunos ao 2° questionamento.

Para a questão 3, observa-se que 92% dos alunos, responderam sim, fazer parte do meio
ambiente, porém apenas 2% destes conseguiram explicar de forma convicente como isto acontece.
Este é um fator bastante preocupante, devido a faixa etária e série destes alunos, que a esta altura já
deveriam possuir uma opinião embasada sobre o assunto, bem como uma capacidade de discorrer
explicações concretas a respeito do mesmo.

684
Figura 8- Resposta dos alunos ao 3° questionamento.

Nenhum dos alunos afirmou que a melhoria do meio ambiente é um trabalho só de adultos;
52% dos entrevistados afirmam que como contribuição para melhorar o meio ambiente, não jogam
lixo nas ruas e rios; 28% afirmam contribuir com a reciclagem e cuidando das plantas e animais.
Empatados em 10% ficaram as respostas não obtiveram relação com o tema e as respostas mais
embasadas, que abordaram os temas plantar, cultivar, preservar.

Figura 9- Resposta dos alunos ao 4° questionamento.

Considerando o nível de consciência ambiental dos alunos entrevistados, os indicadores de


consciência ambiental no ensino fundamental II da rede pública no município de Cabaceiras foram
os seguintes:
- 6% ótimo, 20% bom e 74% ruim.
Entendendo que na soma dos valores das questões de cada aluno, é validada por:
- resultados acima de 11 pontos são iguais ao conceito ótimo;
- resultados entre 8,25 a 11 pontos são iguais ao conceito bom;
- resultados abaixo de 8,25 pontos são iguais ao conceito ruim.

685
Os resultados obtidos referentes às praticas pedagógicas utilizadas pelos professores foram
insatisfatórios quando comparado a consciência ambiental dos alunos. Afirma-se isto quando
observa-se que 100% dos professores entrevistados dizem que na escola existem programas de
educação ambiental e que acham importante o ensino da mesma, além do fato de que todos
afirmaram conhecer colegas que praticam o assunto; no entanto, 74% das crianças e jovens
entrevistados não conseguiram responder questões básicas sobre meio ambiente de forma clara e
objetiva, não conseguindo fazer relação do mesmo com o local em que vivem, ficando este restrito
apenas na opinião da maioria dos alunos as plantas e animais.
Para a obtenção de resultados mais satisfatórios e para que se possa ter a formação de adultos
consciente e preocupados com as questões ambientais é necessária que haja uma participação mais
efetiva dos professores e a adoção de métodos mais dinâmicos e efetivos, para que haja inclusão da
EA em todas as disciplinas para que este passe a ser realmente um tema transversal.
Aos professores de Línguas Portuguesa e estrangeiras, recomenda-se que tragam para a sala
de aula textos relacionados ao meio ambiente; aos de História, que estimulem a leitura reflexiva dos
acontecimentos ecológicos passados e presentes; aos de Matemática, que estimulem os alunos a
pensar sobre quantidades, envolvendo temas ambientais, para que estes possam transformá-los; em
Biologia podem ser abordados diversos temas ambientais e ciclos da natureza; na disciplina de
Física, podem ser tratados os fenômenos que hoje vêm ocorrendo com muito mais intensidade na
natureza, bem como abordar a questão das energias alternativas, etc; em Química pode ser analisada
a questão do uso indiscriminado dos agrotóxicos (SARAIVA, NASCIMENTO e COSTA, 2008)

Conclusão

Fica evidente com esta pesquisa que a participação dos professores no que diz respeito à
temática ambiental não é uniforme, ainda que esta seja incentivada pela escola e muito debatida e
discutida em âmbito nacional. Também foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo
tema, falta de um projeto político pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz
envolvendo todas as disciplinas.
No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma grande maioria, entende o Meio
Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial, grande parte destes, vêem
o meio ambiente apenas como fauna e flora. Este fato nada mais é do que uma resposta dos alunos,
perante as praticas pedagógicas utilizadas e o descompasso dos professores perante o assunto.
Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas de
orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, e que uma
parte do alunado entrevistado já esta saindo do nível fundamental e entrando no nível médio; ou

686
seja, estamos formando jovens inconscientes e indiferentes a este tema que como sabemos é de
grande importância para o futuro da humanidade.
Dentro do exposto, recomenda-se que seja revisto o plano de educação ambiental das
escolas junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalidade da educação ambiental.
Também é importante que as famílias destes jovens e todo comunidade sejam envolvida nos
projetos de EA criados pela escola, pois este é um assunto de interesse de todos, e a educação das
crianças e jovens só pode ser firmada se esta estiver presente em todo ambiente de convivência
social do mesmo.

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em escolas como indicador de sustentabilidade. Universidade do Contestado, Campus de
Caçador/SC, s/d.

687
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: HISTÓRICO E PERSPECTIVAS

Gabriela Baesse Iglesias Alves PEREIRA78

Julie Louise HERPIN79

Laís Karla da Silva BARRETO80

RESUMO

O artigo a seguir visa a construção de um histórico ressumido da educação ambiental (EA)


brasileira, partindo dos seus primórdios, quando ainda era vista de forma informal até sua
normatização na lei brasileira. A partir da análise histórica e uma avaliação é possível também
traçar as futuras perspectivas da educação ambiental dentro do contexto brasileiro, analisando com a
ajuda de autores se a tendência é o avanço da EA ou uma estagnação.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Meio ambiente; Histórico; Perspectivas.

ABSTRACT

The following article aims building a short history of environmental education in Brazil, since the
beginning when it was an informal education until the regulation in the Brazilian law. From the
historical analysis and evaluation of authors it's possible too trace the prospects of the
environmental educational, analyzing with the help of authors if the environmental education is in a
moment of stagnation or breakthrough.

KEYSWORDS: Environmental Education; History; Prospects.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo tratar da Educação Ambiental (EA) no Brasil. Mesmo
sabendo que a temática Meio Ambiente passou a ser vista com mais importância nós últimos 20
anos, tal assunto já era abordado anteriormente. Aproximadamente no século XIX, a pauta em torno

78
Estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade Potiguar (UnP) e do curso de Gestão de Políticas
Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: gbaesse@gmail.com.
79
Estudante do curso de Relações Internacionais da Universidade Potiguar (UnP). E-mail: julie_herpin@hotmail.com.
80
Doutoranda em Estudos da Linguagem pela UFRN, professora da Universidade Potiguar. (orientadora). E-mail:
laisbarreto@gmail.com

688
das questões ambientais pode ser comprovada em diversos momentos. Um dos casos mais
emblemáticos aconteceu em 1854 nos EUA quando o governo norte-americano determinou a
compra de terras dos índios, em manifesto o chefe indígena Seattle. O que trouxe uma resposta que
se tornaria uma das primeiras referências às questões ambientais:

"Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que
acontecer à Terra acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão
cuspindo em si mesmos. Isto sabemos: a Terra não pertence ao homem, o homem pertence
à Terra. Isso sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
[...] O homem não teceu o tecido da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que
fizer ao tecido, fará a si mesmo. [...] Onde está o arvoredo ? Desapareceu. Onde está a
água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência. [...] Se não possuímos o
frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? […] Eu não sei, nossos
costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem
vermelho. [...] Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se
possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera, ou o bater de asas de um inseto‖
(SÁTIRO e WUENSCH, 2002, p. 168)

A história da EA atual surge no século XIX em Londres, quando a cidade ficou coberta pelo
“smog” – poluição atmosférica oriunda da indústria – que causou cerca de 12.000 mortes em 1952
(BEREND, An economic history of Twentieth-Century Europe). A tragédia gerou discussões sobre a
qualidade ambiental das cidades, e em 1956 surgiu a Lei do Ar Puro que estabelecia limites para a
emissão de poluentes.
Além de vários outros acontecimentos que apontavam problemas no modelo econômico, foi
em 1965 durante a Conferência de Educação da Universidade de Keele, Inglaterra, que o termo
Educação Ambiental foi utilizado pela primeira vez, e recomendando que o mesmo se tornasse
parte primordial da educação de todos. Já em 1968 houve a criação do ―Clube de Roma‖ que debate
principalmente temas sobre o desenvolvimento sustentável e criou uma série de relatórios de
enorme impacto.
Mas o evento internacional mais importante da época para a EA foi a Conferência
Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi (1977), promovido pela UNESCO e pelo
Programa de Meio Ambiente da ONU (PNUMA) de onde surgiram definições, objetivos, princípios
e estratégias utilizados até hoje para a Educação Ambiental. Infelizmente o Brasil não participou da
conferência e só teve acesso ao documento anos depois, o que atrasou os avanços da EA no país.
O Brasil só começou a ter encontros e discussões sobre o assunto nos anos 70 e ainda de
forma muito tímida, apesar da ebulição do tema em várias partes do mundo. Dessa maneira este

689
artigo visa mostrar como a Educação Ambiental, mesmo de forma tardia, se construiu no Brasil e as
perspectivas para o futuro de um tema tão importante para o desenvolvimento sustentável.

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Nos anos 70 durante o que foi chamado ―milagre econômico‖ – aonde a economia brasileira
cresceu exponencialmente – o regime militar segundo Czapski (1998) ―deu sustentação para o
crescimento econômico a qualquer custo, sem nenhuma preocupação ambiental.‖. Dessa maneira
houve a construção Usinas Nucleares e Usinas hidrelétricas, que fez com que o Brasil fosse bastante
criticado no exterior, Czapski também diz que ―o governo [brasileiro] colocou-se na defensiva,
espalhando a opinião de que a defesa do meio ambiente seria uma espécie de conspiração das
nações desenvolvidas para impedir o crescimento do país.‖.
Mas mesmo estando na defensiva, o governo brasileiro enviou uma delegação para a
Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano que teve como sede Estocolmo na Suécia e
aconteceu em 1972 e até mesmo assinou a Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano.
Em 1975 o governo federal promoveu o Primeiro Encontro Nacional sobre Proteção e Melhoria do
Meio Ambiente. Mas em 1977 o Brasil não fez parte da Conferência Internacional de Tbilisi que,
como já foi dito anteriormente, marcou a educação ambiental. Em contrapartida pouco tempo antes
da Conferência de Tbilisi, foi produzido um documento assinado pela Secretaria Especial de Meio
Ambiente e pelo Ministério do Interior denominado ―Educação Ambiental‖.
Durante a década de 80 diversas leis importantes na área da Educação Ambiental foram
positivadas, mostrando uma maior conscientização. Em 1981 houve a criação da Lei nº 6.938/8181
que dispõe sobre a política nacional de Meio Ambiente, em seu artigo 2º, inciso X a lei visa atender
o princípio de ―educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.‖,
demonstrando que para a defesa do meio ambiente é necessário que a EA esteja inclusa no currículo
escolar. Além disso, esta mesma Lei, estabelece a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) em seu Artigo 6º, inciso II como órgão consultivo e deliberativo. Vale salientar que o
CONAMA foi criado como uma maneira da Sociedade Civil ajudar na construção das política
públicas ambientais. Em 1985 o parecer nº 819/85 falava da importância de incluírem-se conteúdos
ecológicos no ensino de primeiro e segundo graus, possibilitando assim a consciência ecológica do
futuro cidadão. Já em 1987 o parecer nº 226/87, enfatizava a urgência da EA com uma abordagem
interdisciplinar. Em 1988 a Constituição Federal estabelece no Capítulo VI do Meio Ambiente,

81
Lei disponível no endereço: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 20/09/2012

690
Artigo nº225, § 1º, inciso VI, que o incumbe ao Poder Público: ―promover a educação ambiental em
todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.‖, sendo
considerada uma das leis mais completas do mundo em relação ao meio ambiente.
Já em 1991 o Ministério da Educação (MEC) institucionaliza através da portaria nº 678/91
que a EA deveria ser contemplada na educação escolar, fazendo parte de todos os níveis de ensino,
enfatizando a necessidade de investir na capacitação dos professores. No mesmo ano o MEC
através da portaria nº 2421/91:

Institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho de EA com o objetivo de definir com


as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no
país e elaborar proposta de atuação do MEC na área de educação formal e não formal para a
Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. (SOUZA e
BENEVIDES, 2005, p. 534)

No ano de 1992 o Brasil é sede da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, conhecida como Rio 92, aonde foram elaborados diversos documentos
importantes como a Convenção do Clima ou das Mudanças Climáticas, a Convenção da
Biodiversidade, etc. Mas para a EA, o momento mais significativo foi a Jornada da Educação
Ambiental, aonde foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, Cascino (2000, p. 45) enfatiza que este Tratado ―representou certo avanço
para a leitura da Educação Ambiental, na medida em que relacionou os processos de aprendizagem
permanentes à busca de uma sustentabilidade global equitativa.‖.
Dias (2000, p. 172) vai dizer que ―A Rio 92 também endossou as recomendações da
Conferência sobre Educação para todos, realizada na Tailândia (1990), que inclui o tratamento da
questão ambiental como analfabetismo ambiental‖. Mostrando assim um outro aspecto importante
da Conferência para a EA.
Em 1994 foi aprovado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) que teria
duas frentes, a educação não formal de responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e
a educação formal que teria o MEC a frente de suas atividades. O programa também teria como
parceiros o Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e Tecnologia. No ano de 1996 a EA
ganha mais força com a nova Lei de Diretrizes e Bases da educação (Lei nº 9.394/9682) que mudou
a concepção do currículo no ensino formal.

82
Lei disponível no endereço: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf> Acesso em:
20/09/2012

691
É apenas em 1997 por meio de uma comissão coordenada pelo Ministério do Meio
Ambiente que será criada a Agenda 21 Brasileira, que foi resultado de um documento preliminar
que foi discutido em diversos estados. No mesmo ano aconteceu em Brasília a I Conferência
Nacional de Educação Ambiental (CNEA), onde foi produzido um documento intitulado
Declaração de Brasília para a Educação Ambiental que diagnostica a EA no Brasil, mostrando as
dificuldades encontradas para o desenvolvimento do trabalho.
O ano de 1999 também foi importante para EA, visto que após seis anos de tramitação,
houve a aprovação da Lei nº 9.795/9983 que ―dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental [PNEA] e dá outras providências‖. Segundo Czapski (2008, p.
59) mais de 300 entidades foram ouvidas para que o texto fosse construído, ―Com isso a lei tornou-
se um divisor de águas na história brasileira da EA, ganhando a dimensão de política pública.‖
(CZAPSKI, 2008, p. 59).
Em 2000 foi lançada uma nova versão da Carta da Terra na cidade de Paris (França),
diferentemente da primeira Carta da Terra – que foi confeccionada durante a Rio 92 – está outra
versão segundo Czapski foi produzida após oito anos de discussão em 46 países, e envolveu mais de
100 mil pessoas, provenientes de diversas áreas. Assim ao lado de outros documentos a Carta da
Terra torna-se referência internacional para a Educação Ambiental.
No mesmo ano, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicam um
relatório aonde entre 45 países estudados, o Brasil era o que tinha a quarta pior remuneração aos
seus docentes, o que faz com que seja difícil o incentivo a educação e ao professor com salários tão
baixos. Logo após a publicação deste relatório, 13 especialistas da área de EA se reúnem em
Brasília para realizar uma oficina de trabalho organizada pela Coordenação-Geral de Educação
Ambiental (COEA) do MEC. O resultado da oficina é a publicação do documento Panorama da
Educação Ambiental no Ensino Fundamental6, que abrange o desenvolvimento da EA no ensino
formal e a garantia da inserção da EA como política pública nas escolas.
Ainda em 2000 o Centro de Informação e Documentação do MMA (CID Ambiental) a partir
de uma ação de educação não formal incentiva a formação de Salas Verdes – espaços que abrem
oportunidade para a população ter acesso a diversas publicações produzidas e disponibilizadas pelo
MMA. Estes locais podem ser criados por qualquer diversos atores sociais, como Organizações

83
Lei disponível no endereço: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm> Acesso em: 20/09/2012
6
Documento disponível no endereço:
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/panorama.pdf > Acesso em: 21/09/2012

692
Não-Governamentais (Ongs), empresas e até o próprio governo. Segundo os dados de Verdade
(2010) em 2007 já havia 245 salas verdes funcionando em todos os estados brasileiros.
No ano de 2001 a Censo Educacional realizada anualmente pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), abrange questões da EA nas 177 mil instituições
participantes, revela-se assim que 71,2% dos alunos encontram-se em escolas que trabalham a
temática ambiental.
O ano de 2002 também foi um marco para a educação ambiental, visto que três anos após a
aprovação da Lei 9.795/99, finalmente o Decreto 4.281/027 que regulamente está lei foi
promulgado, sendo importante porque cria as condições adequadas para que a Política Nacional de
EA (PNEA) fosse realmente implementada. Em depoimento dado ao jornal Folha de São Paulo
publicado em 6 de agosto de 2002 (Tendências e Debates – p.3)8 o então Ministro do Meio
Ambiente, disse que com este Decreto foram criadas as ―condições para que os diversos segmentos
sociais compreendam a complexidade da questão ambiental e participem das decisões que afetam o
meio ambiente e a qualidade de vida‖.
No mesmo ano também acontece a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável (Rio+10), que no âmbito da EA foi importante porque em seus dois documentos oficiais
recomendava-se a criação da Década de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, que terá
sua criação confirmada no final de 2002 na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque (EUA) para
o período de 2005 a 2014 e tendo como agência que liderará o processo a UNESCO. O objetivo é
dar ênfase ao papel primordial da educação para o desenvolvimento sustentável a partir de parcerias
aonde os governos, organizações internacionais, sociedade civil e o setor privado poderão mostrar
seu compromisso prático de viver sustentavelmente.
Em 2003 é formulado o Programa de Formação de Educadores Ambientais (ProFEA), que
tem como base metodológica à Pesquisa-Ação-Participativa (PAP - também chamado de Pessoas
que Aprendem Participando), que segundo Fals Borda (1972) é um processo vivencial, que incluí
em um mesmo momento, educação, pesquisa científica e ação política. Dessa maneira o Programa
tem como objetivo envolver pessoas de diversos locais do país, transformando-as em educadoras
ambientais populares.

7
Decreto disponível no endereço: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm> Acesso em:
21/09/2012
8
Artigo completo disponível no endereço: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0608200209.htm> Acesso
em: 21/09/2012

693
Já em 2004 houve a criação do Programa 0052 (Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis)9, que foi baseado no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global criado durante a Rio 92. O Programa tem por objetivo educar a sociedade
brasileira que possuí padrões de consumo e produção insustentáveis que causam a degradação
ambiental e comprometem a qualidade de vida.
Começa no ano de 2005 a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(DEDS), já citada anteriormente. A Unesco responsável pelas ações destes dez anos criou um
documento final do esquema internacional de implementação da DEDS, estabelecendo prioridades,
ações locais, nacionais e internacionais, além de um calendário com as perspectivas do que será
feito durante a década. Ainda em 2005 é criado o Programa Educação de Chico Mendes10 que tem
por objetivo fomentar projetos de EA no ensino básico. Czapski (2008, p. 315) fala que no mesmo
ano, durante o evento Sustentável 2005, no Rio de Janeiro, é lançado o Manifesto pela Educação
Ambiental11 aonde:
[o Manifesto] questiona o uso do termo EDS [Educação para o Desenvolvimento
Sustentável], em detrimento do histórico termo Educação Ambiental. O documento é
traduzido, na sequência, para cinco idiomas e ganha adesão de mais de 800 educadoras /
es ambientais de várias partes do mundo (CZAPSKI, 2008, p. 315)

Já no ano de 2006 segundo Czapski há um aumento nas pesquisas sobre a EA no ensino


superior, de acordo a autora a pesquisa mais importante que aconteceu naquele ano foi o

―Mapeamento da EA em Instituições de Ensino Superior: Elementos para políticas


públicas‖, desenvolvida pela Rupea, [...] avalia a prática de EA a partir de 22
instituições de ensino superior (IES), constatando uma grande diversidade. Na Fundação
Santo André, o professor Luiz Afonso Vaz Figueiredo orienta um trabalho que localiza
521 dissertações e teses sobre EA desenvolvidas no país pelas IES. Com outra base de
dados, Leonir Lorenzetti (UFSC) e Demétrio Delizoicov (UnC-Caçador/SC) encontram
736 dissertações e 74 doutorados, desenvolvidos entre 1981 e 2003. (CZAPSKI, 2008,
p. 322)

O Sistema Nacional de Educação Ambiental é criado em julho de 2007 que tem como
objetivo ―integrar e coordenar as relações de gestão e formação da EA, contribuindo para encadear

9
Programa disponível no endereço: <http://www.mma.gov.br/estruturas/173/_arquivos/cadastro_de_aes___ano_-
base_2011_173.pdf> Acesso em: 21/09/2012
10
Programa disponível no endereço: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pecm2006.pdf > Acesso em: 21/09/2012
11
Manifesto disponível no endereço: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/arqs/manifesto_ea.pdf > Acesso em:
21/09/2012

694
ações ambientais com as educacionais‖ (CZAPSKI, 2008, p. 324), facilitando a realização das
atividades da Educação Ambiental, visto que o Sistema procura integrar as ações ambientais e
educacionais. No mesmo ano também acontecem dois eventos internacionais de importância para a
EA no Brasil, o primeiro é o I Congresso Internacional de EA dois Países Lusófonos e Galícia, com
o objetivo de criar um fórum permanente de difusão e atualização da EA. O segundo evento é a IV
conferência Mundial de Educação Ambiental para um Futuro Sustentável (ou Tbilisi + 30) tendo
como foco a DEDS.
Após a criação do Sistema Nacional de Educação Ambiental, houve a realização do VI
Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que aconteceu durante entre os dias 22 e 25 de julho de
2009. Contou com a organização da Rede Brasileira de EA (REBEA),que reúne mais de 40 redes de
EA e educadores ambientais no país, realizando um diálogo com diferentes entidades da EA do
Brasil. Além de outros eventos paralelos que aconteceram durante o fórum, também houve a
construção de um série de reflexões sobre a EA no Brasil.
Outro evento marcante para a história da EA foi a Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável em 2012, a Rio+20. Durante esta conferência aconteceu a II Jornada
Internacional de Educação Ambiental, que elaborou o Plano de Ação do Tratado da Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, incluindo a formação de uma
Rede Planetária de Educação Ambiental, que tenha como objetivo, o diálogo constante entre os
países, para que sejam cambiadas ideias que tiveram sucesso, fazendo com que se assegure a
continuidade das ações após a Rio+20.

PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Com o complexo histórico da EA é possível perceber que muitas ações vem sendo tomadas
para que a Educação Ambiental esteja presente tanto na educação formal quanto na informal, além
de ser unânime sua importância para a formação de adultos conscientes da importância do meio
ambiente e para a construção de uma sociedade mais sustentável. Dessa maneira apesar das
inúmeras leis já positivadas sobre a EA e os inúmeros eventos que acontecem no Brasil e no mundo
ainda há muita coisa para ser construída, Vasconcelos (Diretor do Departamento de EA do MMA)
diz que:
Ela [a Educação Ambiental] tem que dar conta da transformação necessária à transição
para uma sociedade mais sustentável, em que prevalecerão padrões de produção e
consumo adequados, sem miséria, guerras e discriminações, com homens e mulheres
juntos na construção dessa utopia possível, mais a universalização da produção e do
acesso à informação, a aproximação sinérgica dos saberes acadêmicos e tradicionais, a
recuperação da degradação provocada pelas atividades humanas e a saúde ampliada

695
para todos. (VASCONCELOS, VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, 2010, p.
17-18)

Dessa maneira percebe-se que os desafios não são pequenos, visto que a transformação de
nossa realidade depende de uma educação de qualidade e universalizada, para que os objetivos
citados por Vasconcelos sejam atingidos. Apesar do Brasil já ter avançado nas questões
educacionais ainda há muito o que fazer. O último Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (PISA) em 2010, mostrou que o Brasil era o 53º lugar em educação, dentre 65 países
avaliados. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 ainda há 731
mil crianças entre 6 e 12 anos que estão fora da escola, além disso o Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística (IBOPE) registrou em 2009 que o analfabetismo funcional entre pessoas de 15
e 64 anos é de 28%.
Um dos grandes problemas para o lento avanço da educação brasileira, e dessa maneira da
educação ambiental formal, é o baixo salário dos docentes, segundo a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios de 2006, a média do salário dos professores de educação básica é de
R$927,00, mas 50% desses professores recebem valor menor que R$720,00, no Nordeste a situação
é ainda mais preocupante, já que 60% ganham menos do que R$530,00, sendo esses salários
bastante baixos para trabalhadores com nível superior. O que desestimula os profissionais que
possuem a importante profissão de construir cidadãos, o que abrange também o ensino da EA.
Carvalho (VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, 2010, p. 43) vai dizer que ―o
projeto político-pedagógico de uma EA crítica seria o de contribuir para uma mudança de valores e
atitudes, contribuindo para a formação de um sujeito ecológico”, construindo uma sensibilidade
social e ambiental imbuída de valores éticos. Loureiro (2006, p. 92) coloca a EA ―longe de ser uma
educação temática e disciplinar, é uma dimensão essencial do processo pedagógico, situada no
centro do projeto educativo de desenvolvimento do ser humano, enquanto ser da natureza‖,
defendendo então a EA não como disciplina propriamente dita, mas sim como parte das matérias
dadas em sala de aula, visto que pode ser abordada em aulas de geografia, biologia, etc. Como o
próprio artigo 10º da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) determina ao dizer em seu
§ 1º que ―a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo do
ensino‖.
Assim Dib-Ferreira enfatiza a importância do professor e das instituições de ensino ao tratar
da EA, afirmando a importância de:

desenvolver práticas diferenciadas e constantes na escola, internalizar ações, hábitos,


procedimentos que ultrapassem os muros e persigam os educandos em suas vidas. Não
se trata de formar comportamentos através de um ensino que pode ser tornar estéril e
696
desvinculado da realidade, mas construir a cidadania, a visão crítica da realidade e o
desejo de melhorias no ambiente no dia a dia de toda a comunidade escolar. (VI Fórum
Brasileiro de Educação Ambiental, 2010, p. 88)

Já se passaram treze anos desde que a Política Nacional de Educação Ambiental passou a
existir, mas para Layrargues ―ainda não é possível saber o grau de institucionalização [que essa
política] atingiu no país‖ (VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, 2010, p. 88), não se
sabendo com objetividade como o PNEA está presente na sociedade, no dia a dia dos educadores e
nos órgãos públicos gestores das políticas e programas nacionais. Por isto não basta haver leis,
projetos e programas, se não há como avaliar a repercussão que eles têm para o país.
Com isto é possível perceber que a EA avançou bastante nos últimos anos, e que a
consciência de sua importância fará com que ela continue caminhando a passos largos. Mas, como
foi dito anteriormente, não basta haver políticas incentivando-a formalmente e informalmente se
não existem maneiras de avaliá-la, assim para que além dos avanços legais a Educação Ambiental
tenha uma verdadeira efetividade é preciso acatar a sugestão de Layrargues (VI Fórum Brasileiro de
Educação Ambiental, 2010, p. 88) que diz ser necessário ―a criação de indicadores que permitam a
visualização da internalização dos preceitos e elementos da PNEA a partir de um conjunto de
critérios previamente definidos‖, para ele como para outros estudiosos essa seria a maneira mais
efetiva de fazer com que a Educação Ambiental tivesse verdadeiramente avanços concretos.

CONCLUSÃO

Conclui-se assim que desde o depoimento do chefe indígena Seattle no século IXX, dos
primeiros passos da Educação Ambiental brasileira até a normatização de leis importantes como a
Política Nacional de EA (PNEA) e a realização de eventos grandiosos como a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012 (Rio +20) houve um grande avanço na
visão do meio ambiente e a importância dada ao mesmo. A percepção do valor da natureza mudou
não só entre os estudiosos, mas também entre os políticos e entre a própria população, que têm visto
cada vez mais as consequências de um local que não é ambientalmente equilibrado.
Desta maneira é preciso levar em conta as palavras de Czapski (2008, p. 5) ao dizer que ―a
educação é um processo dinâmico em permanente construção‖, sendo assim é preciso que haja uma
reflexão e debate constante da mesma. A Educação Ambiental estagnará pois seus conceitos,
reflexões e ações estão em constante mudança, é preciso para sua efetivação plena no Brasil, uma
697
melhora na educação em si, incentivando professores e disponibilizando locais de trabalho
adequados para que os alunos possam construir um pensamento crítico e para se tornarem
verdadeiros agentes ambientais que por si mesmos implantam a Educação Ambiental diariamente.

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institucional. Brasília: MEC/SEF, 202. 407 p.

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– Tese de doutorado – Universidad Evangélica del Paraguay (Programa de Pos-grado em Ciencias
de la Educación). Assunción, 2010.

698
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO DE UM PENSAMENTO
CRÍTICO E CONSCIENTE- ONG GUAJIRU- INTERMARES- PB

Kleber Silva de Oliveira FILHO (DEMA/UFPB) - kleberfilho_sof@hotmail.com


Carmen Lúcia Gomes da SILVA (IFPB)- carmen_crs@hotmail.com
Rita MASCARENHAS (Orientadora; Drª.)- rita.mascarenhas@gmail.com

Resumo
É de extrema importância desenvolver a conscientização de todos, criar nas pessoas valores, hábitos
e condutas para a preservação e bom uso dos recursos ambientais onde todos têm um direito de ter
um ambiente ecologicamente correto e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Dentro
disso, a Educação Ambiental tem a importante tarefa de ajudar as pessoas a questionar-se sobre os
problemas ambientais, compreendendo a inter-relação existente entre os grandes dramas ambientais
e as decisões ético-político-econômicas que conduziram a tais situações (Bigliardi & Cruz 2007). O
objetivo do trabalho foi estimular a percepção ambiental dos Moradores e Turistas, sensibilizando-
os para a compreensão da interdependência entre ser humano e meio ambiente. Procurou-se
repassar os conhecimentos de maneira espontânea e simples por meio de palestras que oscilavam
entre 10 á 15 minutos de duração, mostramos aos moradores, turistas e estudantes a questão da
importância da preservação e conservação do meio ambiente. Para que exista um equilíbrio entre a
natureza e homem é necessário mudar alguns hábitos que causam sérios problemas ambientais e
sociais, Bigliardi & Cruz (2007) diz ―o que se faz necessário, para isso, é a construção de um novo
paradigma no qual se estabeleçam relações consistentes entre o conhecimento científico, as
inovações técnicas e as inadiáveis mudanças sociais em favor da sustentabilidade econômica, social
e ecológica, tendo, como pressuposto, a assunção de um paradigma que se demonstre capaz de
enfrentar a diversidade da condição humana, as diferentes dimensões da realidade‖.
PALAVRA CHAVE: Educação Ambiental; Preservação; Sustentabilidade.

Abstract
It is extremely important to develop awareness on everyone, educate people on values, habits and
behaviors for the preservation and good use of the environmental resources where everyone has a
right to have a healthy environment and preserve it for present and future generations. Within that,
environmental education has the important task of helping people to question themselves about the
environmental problems understanding the inter-relationship between the large environmental
699
dramas and the ethical-political-economic decisions that conduct to such situations (Bigliardi &
Cruz 2007). The objective of this study was to stimulate environmental consciousness on residents
and Tourists, making them aware of the understanding of the interdependence between human
being and environment. The approach used to pass on the knowledge is intended to be simple and
spontaneous, by means of lectures ranging from 10 to 15 minutes long, where we showed residents,
tourists and students the importance of environmental preservation and conservation. To allow
existence of a balance between nature and mankind it is necessary to change some habits that cause
serious environmental and social problems, Bigliardi & Cruz (2007) says "what is necessary, for
such, is the construction of a new paradigm in which establish consistent relationships between the
scientific knowledge, the technical innovations and the urgent social changes in favor of economic,
social and environmental sustainability, taking as presupposition, the assumption of a paradigm
shown able to cope with the diversity of the human condition, the different dimensions of reality ".
Keyword: Environmental Education; Preservation; Sustainability.

Introdução

Desde os primórdios muitas sociedades humanas, que se tornaram hegemônicas em


diferentes épocas históricas, buscaram acumular riquezas, utilizaram todos os recursos à sua volta
(saraiva et al., 2008). Os recursos naturais têm sido utilizados como se fossem infinitos, e não há
qualquer preocupação com os impactos das atividades realizadas (Gomes 2006). A reflexão sobre as
práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu
ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação
ambiental (Jacobi 2003). Segundo (Bigliardi & Cruz 2007) A sociedade atual – caracterizada pelo
modo de vista capitalista, e orientada para o consumo – vem tratando os recursos naturais como
fonte de matéria-prima para seu consumo e entendendo o ambiente natural como depósito para seus
resíduos. A mudança da consciência ambiental na sociedade deve ocorrer numa ordem evolutiva,
contínua, tendo ligação direta com os anseios dessa mesma sociedade (Oliveira 2007). Dados da
literatura indicam que a educação ambiental vem a cada dia assumindo um papal importante, onde é
responsabilidade de cada um construir um mundo e uma sociedade ambientalmente sustentável,
considerando que a degradação ambiental é hoje uma das maiores preocupações do governo e da
sociedade. E de extrema importância desenvolver a conscientização de todos, criar nas pessoas
valores, hábitos e condutas para a preservação e bom uso dos recursos ambientais onde todos têm
um direito de ter um ambiente ecologicamente correto e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações. Dentro disso, a Educação Ambiental tem a importante tarefa de ajudar as pessoas a
questionar-se sobre os problemas ambientais, compreendendo a inter-relação existente entre os
700
grandes dramas ambientais e as decisões ético-político-econômicas que conduziram a tais situações
(Bigliardi & Cruz 2007). Mas também questiona valores e premissas que norteiam as práticas
sociais prevalecentes, implicando mudança na forma de pensar e transformação no conhecimento e
nas práticas educativas (Jacobi 2003).
A Associação Guajiru participa como parceria de outras entidades não governamentais e
órgãos públicos em diversas atividades voltadas para a comunidade, as escolas, turista e público em
geral. Palestras, mutirões de limpeza, eventos de confraternização, exposições, participação em
conselhos de gestão ambiental são algumas atividades voltadas para contribuir com a formação de
uma nova consciência ambiental (Guajiru 2012). O objetivo do trabalho foi estimular a percepção
ambiental dos Moradores e Turistas, sensibilizando-os para a compreensão da interdependência
entre ser humano e meio ambiente, Proporcionando oportunidades de aquisição de conhecimentos e
assim contribuir para construção de conceitos, a formação de atitudes e a busca de soluções para os
problemas ambientais existentes.

Metodologia

A Ong Guajiru fica localizada no bairro de Intermares, município de Cabedelo PB, limita-se
ao sul com o bairro do Bessa, ao Norte com o bairro de ponta de Campina. Procurou-se repassar os
conhecimentos de maneira espontânea e simples por meio de palestras que oscilavam entre 10 á 15
minutos de duração, mostramos aos moradores, turistas e estudantes a questão da importância da
preservação e conservação do meio ambiente, procurando implantar no público-alvo medidas que
possam transformar suas atitudes com relação ao meio ambiente, tornando-as adeptas a tentarem
ajudar o quadro atual do planeta, desenvolvendo medidas básicas de menor impacto sobre ao
ambiente.

Considerações Finais

Desde 2002 a Ong Guajiru já treinou em média 120 voluntários, atendeu 50 mil pessoas,
tanto turistas como pessoas da própria comunidade e alfabetizou 9 crianças. A educação ambiental
vem assumindo um papel importante na formação de pensamentos críticos, de valores e de uma
ética para a construção de uma sociedade ambientalmente sustentável, mas a busca por soluções
ambientais não depende só da sociedade, segundo (Pelicioni 2006) dependem, sobretudo, de
transformações concomitantes em três esferas na vida social: na esfera da subjetividade individual,
ou seja, na forma de pensar e sentir, na esfera microssocial do relacionamento interpessoal, ou seja,
nas práticas cotidianas e na esfera da ação política. Para que exista um equilíbrio entre a natureza e
homem é necessário mudar alguns hábitos que causam sérios problemas ambientais e sociais,
701
Bigliardi & Cruz (2007) diz ―o que se faz necessário, para isso, é a construção de um novo
paradigma no qual se estabeleçam relações consistentes entre o conhecimento científico, as
inovações técnicas e as inadiáveis mudanças sociais em favor da sustentabilidade econômica, social
e ecológica, tendo, como pressuposto, a assunção de um paradigma que se demonstre capaz de
enfrentar a diversidade da condição humana, as diferentes dimensões da realidade‖.

Referências Bibliográficas

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702
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO COM O USO DE MODELOS
DIDÁTICOS NO ENSINO DE BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR

Mayara dos Santos MAIA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Bolsista PIBID
maay_maia@hotmail.com

Bianka Márcia do Nascimento XAVIER


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Bolsista PIBID
bianka.kinomoto@gmail.com

Rafaela Oliveira ARAÚJO


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Bolsista PIBID
rafaela_oa@hotmail.com

Rivete Silva de LIMA


Professor adjunto do Departamento de Sistemática e Ecologia e Coordenador do PIBID Biologia-
Campus I, João Pessoa, da Universidade Federal da Paraíba (DSE/UFPB)
rivete@terra.com.br

RESUMO

Os avanços da ciência e da tecnologia relacionados ao conhecimento de Biologia Celular e


Molecular, como as biotecnologias e melhoramento de recursos genéticos têm sido divulgados com
rapidez pela mídia e gerado questionamentos polêmicos. Porém, professores e alunos encontram
dificuldades em acompanhar ou contextualizar essas aplicações decorrentes do conhecimento
científico. O presente trabalho tem como objetivo a produção de modelos didáticos referentes ao
ensino de Biologia Celular e Molecular visando contribuir para a inserção de temas relacionados ás
biotecnologias e melhoramento de recursos genéticos, bem como facilitar a construção do
conhecimento científico a partir da contextualização dos conteúdos aprendidos para que os alunos
se tornem aptos a opinar, questionar e tomar decisões coerentes diante desses avanços que
envolvem aspectos positivos e negativos na qualidade de vida da sociedade. Os modelos foram
confeccionados por bolsistas e voluntários do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á
Docência (PIBID) Biologia, utilizando materiais como isopor, bolas de isopor, tintas, arame, cola e
entre outros. Foram produzidos quatorze tipos de modelos, os quais associados às aplicações do
conhecimento de Biologia Celular e Molecular contribuem para a assimilação dos conceitos

703
biológicos, contextualização e instrumentaliza o aluno a se posicionar diante de decisões polêmicas,
com a finalidade de construir e ampliar o saber científico e formar um cidadão consciente.
PALAVRAS-CHAVE: Modelos didáticos; Biologia Celular e Molecular; Ciência e tecnologia.

ABSTRACT

Advances in science and technology related to knowledge of Cellular and Molecular


Biology, such as biotechnology and improvement of genetic resources have been rapidly
disseminated by the media and generated polemical questions. However, teachers and students find
it difficult to follow or contextualize these applications resulting from scientific knowledge. This
work aims to produce didactic models related to the teaching of Cell and Molecular Biology in
order to contribute to the inclusion of topics related to biotechnology and genetic resource
improvement and facilitate the construction of scientific and technological knowledge from the
contextualization of contents learned so the students become able to express an opinion, make
questions and consistent decisions on these advances involving positive and negative aspects of
quality of life in society. The models were made by scholars and volunteers of the Scholarship
Program Initiation to Teaching (PIBID) in Biology, using materials such as Styrofoam, Styrofoam
balls, paint, wire, glue and others. Were produced fourteen types of models, which associated
applications of knowledge of Cell Biology and Molecular contribute to the assimilation of
biological concepts, context and instrumentalizes students to stand up to controversial decisions, in
order to build and expand scientific knowledge and form a conscious citizen.
KEYWORDS: Didactic Models; Cellular and Molecular Biology, Science and Technology.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia nos últimos anos tem fornecido diversas


discussões, abordagens, inovações e avanços científicos baseado no conhecimento de Biologia
Celular e Molecular, demonstrando a dimensão de conhecimento neste campo de pesquisa.
Contudo, a citologia relacionada ás biotecnologias e melhoramento de recursos genéticos são pouco
abordados no ensino de Biologia, sendo o aluno restrito á conteúdos conceituais sem obter o
mínimo de conhecimento de suas aplicações e implicações, Pois, sabe-se que as Biotecnologias têm
contribuído para o surgimento de questionamentos polêmicos que envolvem a qualidade de vida.
Assim, muitos estudantes encontram dificuldades em contextualizar o conteúdo escolar com o
cotidiano, no qual os limitam compreender as diversas situações vivenciadas por eles.
Segundo trabalhos de Mortimer (1996) verifica-se que nem sempre o ensino promovido no
ambiente escolar tem permitido que o estudante se apropriasse dos conhecimentos científicos de

704
modo a compreendê-los e utilizá-los como instrumento do pensamento que extrapolam situações de
ensino e aprendizagem eminentemente escolares.
A despeito do grande avanço da Biologia Molecular e a chegada deste conhecimento á
escola muito mais agora do que antes, ele ainda é superficial e carregado de concepções
inadequadas; o que contribui para dificultar o ensino-aprendizagem no que se refere ao
conhecimento científico e tecnológico. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), nessas circunstâncias a ciência é pouco utilizada como instrumento para interpretar a
realidade ou para nela intervir, e os conhecimentos científicos acabam sendo abordados de modo
descontextualizado e memorizados, como amplamente abordado pela literatura específica.
Desta forma, deve-se proporcionar ao aluno meios que o torne mais próximo do
conhecimento técnico-científico, para que possa compreender os conceitos aprendidos na escola
com a prática, ou seja, o que acontece no nosso cotidiano. Segundo Oliveira (2005), o sujeito é
parte ativa do processo de desenvolvimento da estrutura que irá determinar a organização e
estruturação de seu conhecimento e é parte ativa do processo de desenvolvimento da estrutura
cognitiva. Ele é parte atuante e essencial no processo de construção do conhecimento. Portanto,
deve-se considerar sua visão acerca do mundo, pois é ele o alvo de interesse neste processo. Sem
sua participação efetiva, a construção dos conceitos não ocorre, portanto, não ocorre a
aprendizagem, somente a transmissão de conhecimentos que se apresentam desvinculados da
realidade.
A discussão sobre temas atuais relacionados às biotecnologias e melhoramento de recursos
genéticos como células-tronco, projeto genoma, alimentos transgênicos, clonagem e terapia gênica
exigem a compreensão e a reflexão do conhecimento científico básico, no qual permitirá a
formulação de concepções e consequentemente a contextualização dos conhecimentos adquiridos na
escola com as abordagens que surgem durante o desenvolvimento da ciência. No Ensino Médio,
deve-se dar continuidade a essa perspectiva, sendo que conhecimentos biológicos relacionados á
citologia deveriam instrumentalizar o aluno para que este seja capaz de se posicionar, contra ou a
favor, sobre as decisões polêmicas que envolvem esse tema, como por exemplo: pesquisas
relacionadas á genômica, a clonagem terapêutica, clonagem reprodutiva e a produção e utilização
de organismos transgênicos. A partir desses conhecimentos adquiridos na vida escolar, o aluno
poderá refletir e opinar sobre os benefícios, riscos e implicações éticas, morais e sociais
provenientes dessas biotecnologias (FERREIRA, 2011).
Conforme Bonzanini (2005), o ensino de Biologia não deve fornecer apenas informações,
mas sim desenvolver a criticidade entre os educandos para que possam analisar informações, aceitá-

705
las, refutá-las ou compreendê-las e agir no mundo de forma autônoma e consciente, utilizando os
conhecimentos construídos historicamente.
Trivelato (1995) complementa a importância de se pensar as disciplinas científicas como
―elemento formador de cidadão crítico‖, de reconhecermos sua importância e, até mesmo sua
ineficiência.
Para formar uma sociedade crítica e valorizada no ensino científico que contribua para o
progresso econômico e a formação de profissionais altamente qualificados faz-se necessário
entender e participar de discussões que envolvam questões de diversas temáticas. Esses debates
facilitarão o conhecimento cognitivo do indivíduo, permitindo a este, desenvolver técnicas e
métodos que melhorem determinada atividade ou recurso; bem como, proporciona-o a tomar
decisões e á adquirir competências que lhes permitam compreender o mundo em que vivem. Sendo
assim, é preciso que o professor seja intermediador, ou seja, um guia que estabeleça uma
comunicação entre o saber científico-tecnológico e os alunos; em que se possa explorar ainda mais
esse ―universo‖ do conhecimento.
Ao observar as dificuldades dos alunos em contextualizar os conceitos básicos de Biologia
Celular e Molecular com o desenvolvimento e abordagens das biotecnologias, analisando-se os
aspectos positivos e negativos que estes interferem na qualidade de vida da sociedade, faz-se
necessário apresentar uma estratégia alternativa de ensino, que pode ser utilizada na sala de aula em
que se possam inserir conteúdos científicos referentes á esses avanços científicos e tecnológicos.
Uma alternativa metodológica é o uso de modelos didáticos bi e tridimensionais, no qual possibilita
uma aula expositiva, mais instigante e torna o aprendizado mais concreto. Uma vez que, a célula é
microscópica e sua observação exige a utilização de microscópio, o que em muitas escolas públicas
não têm; e mesmo com a utilização de inúmeros livros de Biologia, os desenhos, as figuras e as
idealizações dos componentes e estruturas dos organismos ainda são interpretadas ou desenhadas
pelos alunos com dificuldade. De acordo com Palmero e Moreira (2001), a célula para o processo
de ensino em Biologia, é um conceito chave na organização do conhecimento biológico. Porém,
para os alunos é uma entidade complexa e abstrata que se constrói em suas mentes.
O uso de modelos auxiliaria e facilitaria aos alunos uma melhor visualização da célula e seus
componentes citoplasmáticos, assim como a interpretação de seus conceitos; com a finalidade de
utilizar o que se aprendeu e mobilizar o aluno a contextualizar o conteúdo.
Segundo Krasilchick (2004), os modelos são um dos recursos mais utilizados em aulas de
Biologia, para mostrar objetos em três dimensões. Assim, os recursos didáticos constituem-se numa
perspectiva de construção efetiva do conhecimento científico escolar. Um modelo é uma
construção, uma estrutura que pode ser utilizada como referência, uma imagem analógica que

706
permite materializar uma idéia ou um conceito, tornados assim, diretamente assimiláveis
(GIORDAN; VECCHI, 1996),
A transmissão do conhecimento entre professor e aluno em sala de aula no processo de
ensino pela aprendizagem receptiva significativa, que conforme Ausubel et al (1980), por meio da
aula expositiva, preconiza a integração de diferentes assuntos, se o professor e/ou os recursos
didáticos disponíveis evidenciarem as semelhanças e diferenças entre o novo conceito e as
concepções alternativas de cada aluno.
Quando o professor utiliza de metodologias alternativas expositivas combinadas a outros
tipos de práticas pedagógicas, poderá favorecer melhor aproveitamento na aquisição dos conceitos,
durante o processo de ensino. Neste aspecto, quando o indivíduo construir um significado,
reproduzindo o que lhe é ensinado, está participando do processo de construção ativa de seus
próprios significados (PÉREZ, 1983).
O papel do professor, consciente e crítico, exige muito preparo didático pedagógico, pois a
educação só começa a existir quando a relação professor-aluno for construtiva e participativa. O
aluno não pode mais ser objeto do processo de ensino, ele precisa ser o sujeito deste processo, e
cabe ao professor a função de orientá-lo, conduzi-lo para que ele seja capaz de assumir o processo
como sujeito histórico-crítico e criativo (RODRIGUES; REGO, 2004).
O subprojeto intitulado ―A Licenciatura, o Ensino Médio e a Formação do Professor‖ do
curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Campus I, João
Pessoa, faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á Docência (PIBID) e é mantido
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através de apoio
financeiro e bolsa.
O presente trabalho faz parte do subprojeto PIBID/ Biologia e tem como objetivo a
produção de modelos didáticos referentes ao ensino de Biologia Celular e Molecular visando
contribuir para a inserção de temas relacionados ás biotecnologias e melhoramento de recursos
genéticos, bem como facilitar a construção do conhecimento científico a partir da contextualização
dos conteúdos aprendidos, para que os alunos se tornem aptos a opinar, questionar e tomar decisões
coerentes diante desses avanços que envolvem aspectos positivos e negativos na qualidade de vida
da sociedade.

MATERIAL E MÉTODOS

A confecção dos modelos didáticos bi e tridimensionais e semiplanos foi realizada através


de grupos de estudantes bolsistas e voluntários do subprojeto PIBID/Biologia, desenvolvendo
diferentes modelos para abordagem dos conteúdos de Biologia Celular e Molecular nas turmas do

707
primeiro e terceiro ano do Ensino Médio das escolas que participam do subprojeto. São elas: Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Roberto Borges de Sousa, Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio Olivina Olívia Carneiro da Cunha e Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Luiz Gonzaga de Albuquerque Burity.
Para o desenvolvimento dos modelos didáticos, foram consultados livros do Ensino Médio e
livros de Nível Superior específicos na área de Biologia Celular e Molecular.
Para a confecção dos recursos didáticos foram utilizados materiais como bolas de isopor de
diversos tamanhos, isopor, tintas, pincéis, tesouras, arame, massa de modelar, E.V.A, cola,
barbantes, canetas, canudos, moldes de madeira, papel A4, palitos de dente, forma de ovo de páscoa
e alfinetes. Os modelos foram produzidos entre cerca de 50 cm a 20 cm de comprimento para
facilitar a visualização e sempre obedecendo ao grau de proporcionalidade das diferentes estruturas
celulares.
Os recursos didático-pedagógicos ficam disponíveis para os professores e estudantes das
escolas participantes do subprojeto servindo de apoio para aulas ministradas no Ensino Médio.
Além disso, já estão sendo utilizados pelos professores e deverão compor o laboratório de Biologia.
A ideia foi melhorar e contribuir para o conhecimento dos estudantes das escolas
participantes do subprojeto sobre os conteúdos abordados referentes à célula e seus componentes, os
quais têm fornecido diversas aplicações, que propiciaram e proporcionam vários avanços científicos
e tecnológicos como as biotecnologias e melhoramento de recursos genéticos. Devido à necessidade
de se contextualizar e discutir em sala de aula essas abordagens sobre esses avanços científicos e
tecnológicos, o desenvolvimento de modelos didáticos auxiliam a fixação desses conteúdos. Assim,
professores e alunos, com uma formação embasada nas novidades tecnológicas poderão
acompanhar o desenvolvimento das mesmas, agindo de forma mais integrada, formando uma
sociedade mais crítica e participativa, em que possam se posicionar sobre as decisões polêmicas que
envolvem esse tema e que refletem na qualidade de vida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os modelos didáticos bi e tridimensionais, além dos modelos semiplanos, confeccionados


pelos bolsistas e voluntários do PIBID/Biologia relacionados ao ensino de Biologia Celular e
Molecular totalizam em quatorze tipos de modelos, sendo cada modelo reproduzido em três
quantidades para compor o acervo das três escolas que participam do subprojeto.
Foram confeccionados modelos que representam a molécula de DNA, compactação e níveis
do cromossomo, genes, cromossomos, célula procariótica, células eucarióticas animal e vegetal,
membrana plasmática, mitocôndria, mitose e meiose.

708
Figura 01 – Modelo da célula vegetal Figura 02 – Modelo da célula animal do
epitélio intestinal

Figura 03 – Modelo representando genes e cromossomos Figura 04 – Modelo da molécula de


DNA

709
Figura 05 – Modelo representando a interfase e as fases da mitose. 1-
Interfase; 2- Prófase; 3- Prometáfase; 4- Metáfase; 5- Telófase.

Os materiais didático-pedagógicos constituem uma maneira de dinamizar e instigar a


curiosidade dos estudantes, motivando-os e propiciando-lhes condições de captarem e processarem
os estímulos provenientes do exterior, para que possam ser capazes de incorporarem novas
informações em seus esquemas cognitivos. Assim, temas e informações recentes sobre as
biotecnologias e melhoramento de recurso genético que constantemente são comentados e
discutidos nos diversos mios de comunicação podem ser inseridos em sala de aula com o auxílio de
modelos tridimensionais.
Á medida que se integra a atividade prática ao contexto da Ciência, ela se transforma em
algo interessante que atrai o aluno, e este se vê motivado na busca por mais conhecimento. Sendo
assim, torna-se oportuno possibilitar uma reflexão sobre o fazer profissional dos professores de
Biologia, face á utilização de modelos didáticos como possibilidade de otimização de tarefa.
Observa-se que os professores admitem a importância dos recursos didáticos no ensino de
Biologia Celular e Molecular, tendo em vista que se referem á estruturas microscópicas, mas que
fornecem uma grande quantidade de informações e funções específicas pelas quais são tão
utilizadas pelo conhecimento científico na tentativa de construir alternativas que viabilizam o
desenvolvimento da sociedade. Neste intuito, os modelos associados ás aplicações do conhecimento
de citologia estabelecem a construção do saber científico e tecnológico, na aquisição de novos
conceitos para que possam se tornar cidadãos capazes de refletir e atuar de forma ampla e
consciente.

CONCLUSÕES

O presente trabalho constatou que a ampliação dos estudos científicos e foco no


desenvolvimento dos estudantes de ensino básico para uma abordagem científica exige uma ampla
discussão sobre a atuação do aluno como cidadão consciente e ativo na tomada de decisões da
sociedade. É necessário também que o professor seja capaz de refletir como cidadão consciente e se
modifique, quando necessário, sua visão tecnológica, social e escolar.
O professor deve ser um facilitador que possa ajudar e contribuir o aluno a encontrar meios
que o levam á aprendizagem mais significativa, norteando-o aos conceitos científicos e
proporcionar e incentivar seus alunos na atribuição e construção de novos conceitos diante do
mundo em que vivem. Pois, sabe-se que os conhecimentos biológicos acerca das biotecnologias e
melhoramento de recursos genéticos têm afetado progressivamente o cotidiano das pessoas,
surgindo questionamentos que exigem dos cidadãos o devido conhecimento para que saibam
710
estabelecer-se frente ás polêmicas e conflitos morais e éticos decorrentes das aplicações do
conhecimento de Biologia Celular e Molecular. Desta forma, contribui e instrumentaliza o aluno a
se posicionar diante de decisões polêmicas, com a finalidade de ampliar o saber científico e formar
um cidadão consciente.
Segundo Rodrigues e Rego (2004), vivemos hoje na era da informação e é impossível
negarmos a influência da tecnologia na sociedade, na educação, na sala de aula e na relação
professor-aluno. O papel do professor continuará sendo de grande importância para a disseminação
do conhecimento e para a orientação daqueles que esperam uma direção para tornarem-se cidadãos
conscientes e participativos. Mas para que essa função continue, o professor e a escola terá que
utilizar cada vez mais as bases de informação disponíveis.
O ensino de tópicos de Biologia Celular e Molecular constitui um dos conteúdos do Ensino
Médio de Biologia que mais requer a elaboração de material didático de apoio de conteúdo presente
nos livros, já que emprega conceitos bastante abstratos e trabalha a importância desses conteúdos na
ciência moderna e no entendimento de processos cotidianos que estão ao nosso redor e,
consequentemente, fazem parte do dia-a-dia do estudante. (OLIVEIRA, 2011).
A utilização de modelos didáticos apresenta ótimos resultados, pois são uma ferramenta que
o professor pode expor de forma bi e tridimensional, estruturas biológicas, fornecendo o
entendimento de fenômenos complexos e abstrato, tornando, assim, o aprendizado mais concreto.
Além disso, contribui para a inserção de temas científicos e tecnológicos propiciando uma
aprendizagem eficiente tanto na fixação dos conteúdos como para aumentar o interesse dos alunos
pela área de Biologia Celular e Molecular. Portanto, tornam-se necessárias novas metodologias de
ensino para subsidiar as aulas e promover a construção do conhecimento científico e tecnológico.

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712
UMA ANÁLISE DO CONSUMO CONSCIENTE, PERCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E DESTINO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOS MORADORES DO BAIRRO DE
MANGANEIRA VIII EM JOÃO PESSOA-PB

Raquel Silva VIEIRA-UFPB


E-mail: raquel-s._vieira@hotmail.com
Graduanda de pedagogia
Suelena de Souza ROCHA-UFPB
E-mail: suellena_souza@hotmail.com
Graduanda de matemática
Maria de Fátima CAMAROTTI84

Resumo

O artigo trata da difícil tarefa da Educação Ambiental (EA) na sociedade de consumo por ter cada
vez mais aumento na produção e déficit no destino correto dos resíduos. Relata um estudo no bairro
de Mangabeira VIII em João Pessoa sobre a concepção de EA dos moradores, na qual analisou a
forma de se desfazer dos resíduos sólidos e qual a ideia dos mesmos sobre consumo consciente. A
pesquisa desenvolvida seguiu o método qualitativo e utilizou-se da coleta de dados através de
questionários. Os moradores relacionaram a EA com hábitos do cotidiano, afirmaram que utilizam
apenas o caminhão da prefeitura para dar o destino final dos seus resíduos e uma pequena parcela
relatou que além de utilizar o caminhão também recicla. Demostraram uma visão muito limitada do
que é consumir conscientemente. A falta de informação e de políticas públicas mostrou ser o
principal problema local.
Palavras-chaves: Educação Ambiental; Sociedade de Consumo; Resíduos Sólidos; Consumo
Consciente.

Abstract

The article deals with the difficult task of environmental education (EE) in the consumer society to
have increasingly increased production and deficit in the correct destination of the waste. Reports a
study in the Mangabeira VIII in João Pessoa on designing and its habitants, in which analyzed the
way to dispose of solid waste and where the idea of them on conscientious consumption. The
research followed the qualitative method was used and data collected through questionnaires. The
habitants related EE with everyday habits, asserted that only use the city truck to give the final
destination of their waste and a small portion reported that in addition to using the truck also

84
Orientadora, Profª. Dra. Departamento de Metodologia da Educação, Centro de Educação, UFPB.
E-mail: fcamarotti@yahoo.com.br

713
recycles. Demonstrated a very limited vision of what is consuming consciously. The lack of
information and of public policies proved to be the main problem.
Keywords: environmental education; Consumer society; Solid Waste; Conscious Consumption.

Introdução

A educação engloba várias problemáticas e entre elas está a questão ambiental. Com o
impulso e o crescimento por consumir surge à questão do desfazer-se. O ritmo de produção aumenta
a cada dia, mas a sociedade não está acostumada a pensar no fim dos seus bens de consumo, hoje o
ter tem mais ênfase do que o ser para a sociedade de consumo. Assim sendo a EA tem como um dos
focos o desenvolvimento sustentável.
EA segundo o Dicionário Ambiental (Ecolnews, 2012) seria: O processo em que se busca
observar a preocupação dos indivíduos e comunidades para as questões ambientais, fornecendo
informações e contribuindo para um Desenvolvimento Sustentável de uma consciência crítica.
Desenvolver-se sustentavelmente de acordo com a Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente, criada pelas Nações Unidas é a capacidade de crescer economicamente sem esgotar os
recursos das próximas gerações. A EA procura rever a consciência crítica das inter-relações
humano-ambiente para que suas atitudes e hábitos sejam elas individuais ou coletivas possam
resultar na conservação dos recursos naturais, além de dar qualidade de vida. (Ecolnews, 2012)
O ser humano sendo parte integrante do ecossistema precisa se desenvolver com
responsabilidade como afirma Sauvé:

O maior objetivo dessas dimensões da educação contemporânea é o desenvolvimento de


uma sociedade responsável. E sustentabilidade é uma das perspectivas esperadas. Isso nos
leva a acreditar que seria redundante falarmos de responsabilidade e sustentabilidade. O
desenvolvimento responsável, que pode ser definido contextualmente, transforma-se na
garantia do tipo de sustentabilidade escolhido pela comunidade (por quê?, o quê?, para
quem?, como?...) (1997, p.14).

Pode-se perceber a complexidade da EA nos dias atuais, na qual há um apelo econômico na


sociedade, pois para si fazer parte do jogo mundial, a palavra de ordem é consumir.

Histórico da educação ambiental no mundo e no Brasil

Os fatos históricos, a seguir, foram baseados de acordo com DIAS, 2004; SATO, 2002 apud
Abílio, 2011.
Década de 1960

Rachel Carson publicou o livro Silete Spring, na qual mostra o problema dos pesticidas na
agricultura e também a extinção de espécies. A ONU promoveu uma Conferência, na qual se
reuniram 30 especialistas de vários países, para estudo e análise da situação dos Recursos Naturais
do planeta.

714
Década de 1970

Foi realizada a "Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente", em
Estocolmo, Suécia, com o tema sobrevivência da humanidade.
É elaborado um relatório, o Meadows, feito pelos técnicos do MIT - Masschusetts Instituti
Technology encomendado pelo Clube de Roma. O relatório foi duramente criticado pelos países
de terceiro mundo, sendo liderado pelo Brasil, os quais, oposições contra a proposta de
crescimento zero contida no relatório, isso, porque os países subdesenvolvidos tinham receio de
bloqueios no processo de industrialização e na exploração dos recursos naturais.
Foi um período marcado pela crise do petróleo, onde houve uma corrida muito grande em
direção à energia nuclear. As sociedades industriais reconhecem que há uma escassez muito
grande dos recursos naturais não renováveis.
Em 1972 a Universidade Federal de Pernambuco lança uma campanha de reintrodução do
Pau Brasil, sendo considerada extinta desde 1920.
Em 1973, foi criada a SEMA, Secretária Especial de Meio Ambiente - vinculada a
Presidência da República e subordinada ao Ministério do Interior.
No início do governo de José Sarney foi criado o Ministério do Desenvolvimento Urbano e
Meio Ambiente. Período dos movimentos ambientais em diferentes Estados Brasileiros como:
AGAPAN/RS, ASPAN/PE e o Movimento Arte e Ecologia/SP, entre outros.
Em 1977, registram-se vários eventos importantes para a EA exemplo disto foi a
Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental na ex-União Soviética. Foram realizados
também, seminários, Encontros e Debates preparatórios à Conferência de Tbilisi pela FEEMA-RJ.
No Brasil, a disciplina Ciências Ambientais passa a ser obrigatória nos cursos de
Engenharia Sanitária e são inseridas também as disciplinas saneamento Básico e Saneamento
Ambiente. O MEC e a CETESB/SP, publicam o documento "Ecologia uma proposta para o
ensino de 1º e 2º grau‖.

Década de 1980

O Presidente Figueiredo, baixa a Lei nº 6938 de 31 de Agosto de 1981, que dispõe sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente.
Na assembleia geral da ONU, foi criado uma Comissão Nacional para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Tendo como objetivo principal pesquisar os problemas ambientais numa
perspectiva global.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) apresenta uma resolução que
estabelece as Diretrizes para a EA.
Acontece o Congresso Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio
Ambiente, realizado em Moscou e na Rússia, promovido pela UNESCO;
A Fundação Getúlio Vargas publica o relatório de Brundtland, "Nosso Futuro Comum" ―o
desenvolvimento sustentado‖ e a ―nova ordem mundial‖. Este relatório almejava uma mudança de
enfoque, apontando para a conciliação entre a conservação da natureza e do crescimento
econômico.
Em 1988, é lançada pela Secretária do Estado do Meio Ambiente de SP e a CETESB, a
edição piloto do livro "Educação Ambiental" Guia para professores de 1º e 2º Grau.

715
Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), surgida da fusão da SEMA com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF) a Superintendência de Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVE), e a Superintendência
de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE).
No Governo Collor foi criada a Secretária do Meio Ambiente (SEMAM) - da Presidência
da República que era subordinada ao IBAMA.
Nesse período foi realizado o Encontro Nacional Educação Ambiental no Ensino Formal,
IBAMA – UFRPE, Recife.

Década de 1990

Acontece a maior Conferência já realizada pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro, com
fins pacíficos direcionados ao Meio Ambiente e ao Desenvolvimento ―Rio 92‖, contando com a
presença de 170 países.
É criada a Agenda 21, onde são resumidas as ações para o desenvolvimento sustentável
para ser adotado pelos países assinantes do tratado, visando uma nova visão para a cooperação
Internacional sobre as questões ambientais.
São criados os Centros de EA do MEC, com a finalidade de criar e difundir metodologias em
EA. Criação da Comissão Interministerial de Educação Ambiental MMA
Acontece o I Congresso Ibero-americano de EA em Guadalajara no México; a Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a
Sustentabilidade na Grécia; a I Teleconferência Nacional de EA promovido pelo MEC.

Década de 2000
Registra-se o evento RIO+10, encontro que a ONU promoveu na África do Sul em
Johannesburgo, chamado "Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável".
Acontece a Rio +15 Conferência internacional realizada pela ONU para avaliar os resultados
obtidos nos outros eventos como a, Rio 92 e Rio+10.
Em 2012, há mais uma Conferência internacional das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável chamada de Rio+20, com o objetivo de avaliar as lacunas dos outros
eventos e propor um novo acordo através do documento: ―O Futuro que Queremos‖ que visa
acelerar para se alcançar os objetivos e reforçar as ações já existentes.
O documento foi muito criticado, por não definir de fato os Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e não apresentar ações concretas para alcançar os Objetivos do
Milênio em 2015. Também foi aprovada uma ―Declaração para Instituições de Ensino Superior‖.

Consumismo e consumo sustentável

Sustentabilidade ambiental é a "Melhoria da qualidade da vida humana, respeitando a


capacidade de assimilação dos ecossistemas que a suportam" (WWF apud Ecolnews, 2012).
Sabe-se que a atual sociedade vive para possuir bens e serviços e poucos são os que pensam
em suas atitudes interferindo na sociedade. Consumir sustentavelmente é usufruir apenas o que é
necessário, além de entender que suas atitudes irão refletir tanto no individual como no
socioambiental. Para tanto precisa de uma Sociedade Responsável para conseguir a
sustentabilidade.
Justificativa
716
É verdade que o pensamento de EA ligado apenas à ideia de natureza é forte na sociedade.
Entretanto, há também uma concepção de EA para a sustentabilidade. A EA contribui para que
comunidades possam refletir, tendo mais consciência das suas escolhas para se desenvolver.
A EA tem suas limitações, porém todo humano desde sua concepção até o último momento
de vida aprende, logo a humanidade se encontra caminhando num processo contínuo para aprender
a viver sem esgotar com o que ainda resta do planeta. Também é de saber-se que se a sociedade
tivesse tido uma educação de qualidade desde o século passado e, que aliado a uma educação de
qualidade tivesse uma EA o mundo seria um pouco melhor para se habitar e mais fácil de fazer a
transformação procurando o bem coletivo. Como afirma Sato e Santos:

[...] Sabemos que não mudaremos a sociedade inteira, reconhecemos a limitação da


educação. Entretanto é na potencialidade da educação que queremos ancorar nossos
pensamentos, abrindo as janelas para um horizonte mais próximo, buscando uma utopia que
teremos a coragem de realizar. (SATO; SANTOS, 2003, p. 4).

Mas em uma sociedade, na qual até crianças são arrastadas pela impulsão do consumismo
surgem algumas perguntas: O que os moradores do bairro Mangabeira VIII fazem com seus
próprios resíduos sólidos produzidos? As pessoas se dão conta de que seus hábitos e atitudes
interferem tanto na sociedade quanto no Meio Ambiente? Que tipo de concepção a comunidade do
bairro Mangabeira VIII tem de EA?
Os Resíduos Sólidos Urbanos ―são todos os dejetos que não servem mais ao consumo
humano, e que, pelas suas características físico-químicas, não são facilmente absorvidos e
decompostos pela natureza‖. (BECK; ARAÚJO; ATAÍDE, 2009, p.2).
A falta de informação leva as pessoas a tomar atitudes erradas que prejudicam tanto a si
como os demais. Ao se caminhar pelo bairro percebe-se a grande quantidade de resíduos sólidos
jogado pelas ruas e até em campos abertos. É notável o aumento da população no bairro e o seu
crescimento comercial. Entretanto, não há um planejamento de sustentabilidade na área.
O bairro conta com uma reserva florestal protegida pela Lei Federal 9.605/1998, (BRASIL,
1998), na qual foi cercada para manter a preservação, no entanto a comunidade tirou parte da cerca
no local e construiu uma passagem para dar acesso a um rio. No local há uma considerável
quantidade de sacolas plásticas, copos descartáveis entre outros resíduos na área.
Para Abílio (2011, p.4) os conceitos de Meio ambiente e Ambiente são, respectivamente:
O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordens físicas, químicas e
biológicas, que permite, abrigam e regem a vida em todas as suas formas; O conjunto de
fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage,
influenciando e sendo influenciado por eles.

Ao analisar estes conceitos verifica-se que o Meio ambiente e o Ambiente sofrem


interferências tanto de ordem natural como humana. Sendo assim, pode-se afirmar que a
comunidade de Mangabeira VIII também interfere no Ambiente.

717
Objetivos

Este artigo tem como objetivos: Estudar a concepção de consumo consciente dos moradores;
Averiguar o destino dos resíduos sólidos produzidos pelos moradores, além de analisar a percepção
de educação ambiental dos moradores do bairro Mangabeira VIII.

Material e métodos

O artigo foi desenvolvido conforme a Metodologia qualitativa, que tem como objetivo
analisar os fatos levando em consideração o complexo comportamento humano. Para Marconi e
Lakatos: ―A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,
descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as
investigações, hábitos, atitude, tendências de comportamento, etc.‖ (2007, p. 269).
O contato do investigador com o grupo é direto, para obter mais profundidade sendo capaz
de si aproximar das vivências humanas. ―Por meio do método qualitativo, o investigador entra em
contato direto e prolongado com o indivíduo ou grupos humanos, com o ambiente e a que está
sendo investigada, permitindo um contato de perto com os informantes.‖ (MARCONI; LAKATOS,
2007, p. 272).
A coleta de dados foi realizada tendo como instrumento o questionário. Segundo Marconi e
Lakatos (2007) na pesquisa qualitativa primeiro se faz a coleta dos dados para poder ter uma
elaboração adequada da ―teoria de base‖, que seria o conjunto de conceitos, princípios e
significados, sendo necessário correlacionar a pesquisa com o campo teórico.
Os questionários foram aplicados em quinze pontos diferentes do bairro, para obter uma
visão mais ampla do pensamento da comunidade. Como se trata de uma pesquisa qualitativa o
interesse deste trabalho é com o processo e não com seus resultados. A interpretação das respostas
foi dada levando em consideração as atitudes, hábitos, experiências e a complexa relação humana.
Alguns dos questionários foram respondidos sem a presença das pesquisadoras e outros
foram respondidos de acordo com o que os participantes relatavam para ser escrito. Os moradores
apresentavam diferentes faixas etárias, sexo, escolaridade e profissão. Responderam as seguintes
perguntas:

1- O que você entende por Educação Ambiental?


2 - Para você o que poderia ser feito para cuidar do Meio Ambiente?
3 - O que é coleta seletiva do lixo?
4 - O que é feito com os lixos produzidos em sua casa?
( ) reciclam
( ) fazem a separação para coleta seletiva
( ) jogam em terreno baldio
( ) É coletado pelo caminhão da prefeitura
( ) Outro destino
5 - Você se acha responsável pelo destino do lixo produzido na sua residência?
( ) Sim. Por quê?
( ) Não. Por quê?
6 - O que você entende por consumo consciente?

718
O questionário foi aplicado tanto em residências quanto em pontos comerciais. Como
Marconi e Lakatos (2007) relatam uma das desvantagens deste instrumento é a falta de respostas
por parte dos participantes. Portanto, houve questões que ficaram em branco, a qual dificultou a
interpretação das respostas.

Resultados

De um modo geral as pessoas responderam que EA está relacionada com os cuidados que se
deve ter com o ambiente em que se vive. Os moradores mostraram ter consciência de que se
prejudicar a natureza, a próxima geração irá sofrer com os danos. Deram respostas do tipo: ―manter
o ambiente limpo, não jogar lixo nas ruas, não desmatar e plantar árvores‖.
As ideias sobre EA encontradas se assemelha com um estudo feito por Ruffo et al ( 2010),
com alunos do supletivo-UFPB do ensino médio (segunda série), na qual a maioria associou EA a
cuidar e respeitar o Meio Ambiente.
No mesmo estudo realizado por Ruffo et al (2010), a maioria atribuiu o significado de Meio
Ambiente a problema ambiental, o mesmo resultado se repetiu com a comunidade de Mangabeira
VIII, com as seguintes respostas a pergunta, ―o que poderia ser feito para cuidar do meio
ambiente?‖ ―Não queimar o lixo, não jogar lixo nas ruas, ter mais consciência, ter coleta seletiva
nos bairros, campanhas para a população, reuniões de orientação nas comunidades sobre a
preservação do meio ambiente, as autoridades se voltar mais para a questão, reaproveitar os
materiais, plantar mais árvores, ter mais incentivo nas escolas, cada pessoa fazer a sua parte,
educação familiar em conjunto com políticas públicas e ter mais rigidez para quem prática crime
ambiental‖.
Na questão o que é coleta seletiva? Uma pessoa não respondeu e outra não soube dizer ao
certo o que seria, mas também houve respostas como: ―algo necessário para o desenvolvimento de
um país e que se tratava da separação correta do lixo‖.
93,33% das pessoas disseram ser responsáveis pelo destino do lixo produzido na sua
residência e 6,67% responderam que não se acham responsáveis.
Na pergunta o que é feito com os lixos produzidos em sua casa? A porcentagem de pessoas
que responderam apenas ser coletado pelo caminhão da prefeitura foi de 80%. Das pessoas que
responderam 6,67% disseram que o lixo é coletado pelo caminhão e também dão outro destino. Dos
moradores perguntados, 13,33% responderam que o lixo é coletado pelo caminhão, mas também
realizam algum tipo de reciclagem.
Guerra (2007) em um trabalho feito com professores de Cabedelo-Pb sobre a percepção dos
mesmos sobre Meio Ambiente verificou uma visão antropocêntrica, na qual ―tudo gira em torno de
nós‖ eles atribuíram o conceito de resíduos sólidos como sendo: ―aquilo que não tem mais valor e
que não presta‖. Apontaram o lixo como sendo um problema ambiental sério, mas não deram
importância ao lixo escolar. Ou seja, os moradores também mostraram assim como os professores
saber identificar os problemas globais, porém quando se tratou do cotidiano demostraram não
identificar os problemas locais. Tal fato talvez aconteça por não terem consciência crítica ou acesso
a informações.
Sobre o consumo consciente a maioria dos moradores relacionou com a economia familiar.
Responderam: ―reduzir o consumo de água e energia e evitar o desperdiço de comida‖. Alguns
escreveram sobre: ―consumir consciente para não prejudicar o meio ambiente, zelar pelos objetos,
observar o prazo de validade dos produtos‖. Porém também teve pessoas que relataram ―ser um
719
desafio para a humanidade, pois a moda é consumir‖. Algumas pessoas não responderam a
pergunta.
No geral a comunidade demonstrou não saber ao certo o que é consumo consciente. Dando
respostas prontas como: ―é consumir levando em conta o impacto provocado pelo consumidor‖.
Apesar de demonstrarem economizar na energia e na água. Não sabem que também as roupas,
calçados, aparelhos e tudo que consomem são feitos de materiais retirados da natureza que podem
ser acumulado e transformado em resíduos. Não procuram saber se os produtos vêm de empresas
que se preocupam com o meio ambiente e qual o seu compromisso social. Um estudo realizado por
Lago (2004) em três escolas de Porto Alegre também se constatou a falta de informação aos efeitos
do consumismo exacerbado.

Conclusão

Os moradores mostraram uma concepção de EA relacionada a atitudes do cotidiano de cada


pessoa. Hábitos simples que cada pessoa pode fazer para ajudar a ter uma comunidade melhor de se
habitar. As respostas se assemelham com uma ideia de sustentabilidade. Porém aparenta estar longe
de colocá-la em prática, pois há várias interferências tanto pessoais como por parte da própria
comunidade sem se esquecer de incluir também as responsabilidades do poder público.
A maioria dos moradores apenas utiliza o caminhão da prefeitura como única alternativa
para dar destino aos seus resíduos. Enquanto uma pequena parcela percebe a importância de utilizar
a reciclagem. Também se pode concluir que falta política pública voltada para questões de
sensibilização e de atitudes por parte das autoridades para com a comunidade. Os entrevistados
também questionaram atitudes de outros moradores do mesmo bairro que não se importam com o
lixo, a saúde e o bem-estar local.
Alguns moradores aparentam querer caminhar em direção de uma EA para a
sustentabilidade, mesmo não sabendo o que seria sustentabilidade e, encontram barreiras como à
falta de informação para que suas atitudes sejam mais orientadas, além de não terem apoio de uma
política voltada para um melhor destino dos resíduos sólidos.

Referências

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derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
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Acesso em 07 de setembro de 2012.

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<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/> acesso em
07 de setembro de 2012.

BECK, C; ARAÚJO, A; ATAÍDE, G. Problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município de João
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SAUVÉ, L. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável: uma análise complexa. Disponível em:
<http://www.serrano.neves.nom.br/MBA_GYN/edsoc10.pdf> Acesso em: 12 de setembro de 2012.

SATO, M.; SANTOS, J. E. Tendências nas pesquisas em educação ambiental. In

720
NOAL, F.; BARCELOS, V. (Orgs.) Educação ambiental e cidadania: cenários brasileiros. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p. 253-283.

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2007.

ABÍLIO, F.J.P.; Educação ambiental: conceitos, histórico, evolução e perspectivas. [Apostila do curso de
Pedagogia- UFPB-CE], 2011.

BRASIL, Lei n° 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a política
nacional de educação ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm> Acesso em: 30 de setembro de 2012.

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<http://www.sumarios.org/sites/default/files/pdf>. Acesso em: 03 de outubro de 2012.

721
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA O USO SUSTENTÁVEL DAS
ÁGUAS DE CISTERNAS NO SEMIÁRIDO PARAIBANO85

Roaga Bezerra e SILVA (UFCG) – roaga.bezerra@hotmail.com


Elisângela Maria da SILVA (UFCG) – elisa_maria18@hotmail.com
Talita Dantas PEDROSA (UFCG) – tdpedrosa2@yahoo.com.br
Roberto de Sousa MIRANDA (UFCG) – robertosmiranda@yahoo.com.br

Resumo

A Educação Ambiental aliada à percepção ambiental funcionam como ferramentas transformadoras,


que aplicada de forma contínua pode garantir o aprimoramento das técnicas de captação e
armazenamento de água das chuvas em cisternas. O presente trabalho avalia as condições de
manutenção e manejo de sistemas de captação de águas de chuva já instalados no assentamento
rural Jacú, como também, as condições das áreas de captação nas residências. A educação
ambiental informal aconteceu de maneira prática por meio de conversas interativas com os
assentados onde os mesmos perceberam a importância da conservação das cisternas e com o manejo
de suas águas, assim como as condições da área de captação nas residências.

Palavras-chave: Assentamentos rurais; Manejo; Cisternas.

Abstract

The Environmental Education allied to environmental perception work as transformative tools that
applied continuously can ensure the improvement of techniques of capturing and storing of
rainwater in cisterns. This study evaluates the conditions of maintenance and management of
catchment systems of rainwater already installed in rural settlement Jacú, as also, the conditions of
the areas of catchment in residences. The informal environmental education happened in practical
ways through interactive conversations with the settlers where they realized the importance of
conservation of tanks and the management of its waters, as well as the conditions in the catchment
area residences.
Keys- work: Rural Settlements; Management; Tanks

85
Este trabalho faz parte do projeto de extensão Estímulo à Inovação Produtiva, ao Manejo Sustentável de Recursos
Naturais e à Cooperação em Assentamentos do Sertão Paraibano da Universidade Federal de Campina Grande. E tem
como órgão fomentador o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

722
Introdução

A variabilidade climática e a escassez hídrica são marcas indeléveis do semiárido, conviver


com o semiárido é adaptar a sociedade a uma forma específica da ocorrência do clima na região.
Neste sentido, a construção da infraestrutura hídrica, o gerenciamento dos recursos hídricos são
caminhos necessários para o desenvolvimento de uma estratégia robusta de adaptação das
sociedades do semiárido à natureza (SILVA, 2011).
A região semiárida do Nordeste brasileiro encontra-se localizada no ―Polígono das Secas‖,
caracterizada por apresentar eventos hidrológicos extremos como, por exemplo, chuvas intensas e
grandes estiagens, apresentando precipitação pluviométrica variando entre 200 a 800 mm anuais.
Estes eventos periódicos tornam vulneráveis os sistemas hídricos, podendo provocar fortes impactos
negativos sobre as famílias, constituindo-se uma limitação no desenvolvimento socioeconômico de
comunidades rurais (SILVA, et al., 2006).
Segundo Gnadlinger (2000), a coleta e armazenamento de água de chuva é uma técnica
popular em muitas partes do mundo, especialmente em regiões áridas e semiáridas, pela sua
simplicidade e por fornecer água adequada para o consumo humano. Embora estes sistemas
contenham água de boa qualidade, ainda ocorre contaminação hídrica que atinge à população
usuária, principalmente da área rural.
Na Figura 01, mostra-se uma cisterna construída pelo Programa Um Milhão de Cisternas
(P1MC) apresentando todos os componentes necessários para a captação e armazenamento da água
de chuva. Este programa possui como modelo tecnológico de 16 m3 de água permitindo o consumo
de 13 litros diário por pessoa e, segundo a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), deve ser
utilizado exclusivamente para beber, cozinhar, lavar as mãos e utensílios domésticos de uso
imediato. Se o período de estiagem se estender por 6 a 8 meses o dimensionamento da cisterna seria
insuficiente (SILVA, 2012).

Fonte: SILVA, 2012.


Figura 01. Cisterna para a captação de água da chuva no assentamento.

723
A acumulação de águas de chuvas em cisternas enquadra-se dentro das chamadas soluções
alternativas de abastecimento (MAY, 2004), e para essas águas, a legislação brasileira estabelece
que qualquer água destinada ao consumo humano, deve ser objeto de controle e vigilância da sua
qualidade (BRASIL, 2011).
Nesse contexto, vem sendo implantada no semiárido brasileiro uma estratégia sustentável,
que tem como foco melhorar o acesso de famílias à água potável, denominada ―Programa de
Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas
Rurais (P1MC)‖. Este programa é gerido por organizações da sociedade civil, agregadas à
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) que busca o desenvolvimento social, econômico,
político e cultural das populações do semiárido desde 1999 (ASA, 2012).
De acordo com Jalfim (2001), o consumo de água em áreas rurais no semiárido brasileiro é
de 6,0 L por pessoa/dia, considerando apenas necessidades prioritárias de beber e cozinhar. Porém,
se levar em consideração que a higiene pessoal é também uma necessidade prioritária, esse valor de
consumo seria de 20,0 L de água por dia, que segundo Santos & Silva (2009) este valor é inferior ao
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que estabelece o mínimo de 50 L/hab/dia
de água potável.
Segundo Albuquerque (2004), a água de chuva é uma solução interessante para combater os
efeitos da estiagem, uma vez que, a água da chuva pode ser captada de maneira simples e baseada
em técnicas populares de armazenamento, ser de custo acessível e de nível tecnológico apropriado
para pequena escala, com capacidade de produzir resultados imediatos.
Existem diversos tipos de cisternas para o armazenamento de água de chuva, sendo o tipo
―colonial‖ o mais utilizado. Neste modelo, as cisternas podem ser classificadas em superficial ou
enterradas. As cisternas são alternativas simples, de fácil manutenção e de baixo custo, e são
utilizadas em áreas rurais do semiárido brasileiro visando reduzir as vulnerabilidades climáticas que
o semiárido está submetido, estando entre as medidas alternativas que têm sido desenvolvidas na
tentativa de mitigar os efeitos das secas prolongadas (SILVA, 2012).
As águas das cisternas rurais no Brasil são utilizadas apenas para os usos domésticos como,
por exemplo, beber e cozinhar e, na maioria das vezes, essas águas não recebem nenhum tratamento
prévio, daí a importância da segurança sanitária dessas águas para evitar a ocorrência de eventuais
contaminações (ANDRADE NETO, 2004).

A Educação Ambiental (EA)


O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) define a EA como um processo de
formação e informação orientada para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões

724
ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio
ambiental (DIAS, 1992).
Um marco de grande importância no que se refere ao processo de Educação Ambiental
integra-se definitivamente na Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,
realizada em Tbilisi, na Geórgia, CEI, em outubro de 1977, ao revelar que o processo de Educação
Ambiental é o veículo de conscientização dos povos a respeito das questões ambientais. No que
tange a Recomendação n°15 desta Conferência, a mesma considera o meio de trabalho como o meio
natural de aprendizagem de grande parte da população adulta, além de definí-lo como espaço de
influência física, social e psicológica; constituindo assim um excelente ponto de partida para a
educação de adultos (UNESCO, 1980).
Outro documento de grande importância no processo de Educação Ambiental é a
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para
a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica (Grécia), uma vez que o documento supracitado chama
a atenção para a necessidade de se articularem meios e ações de educação ambiental que venham a
contribuir com a sustentabilidade de modo que estejam baseadas nos conceitos de ética e
sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação e práticas
interdisciplinares (SORRENTINO, 1998).
Para obter um manejo adequado das cisternas nas comunidades é indispensável à introdução
da EA como ferramenta importante na transferência destas medidas para população. Segundo
Jacobi (2003), isso implica na necessidade e no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à
educação ambiental em uma perspectiva integradora, baseada na conscientização, mudança de
comportamento, capacidade de autoavaliação e participação.
Braga et al. (2003) ressalta que é necessário educar para o ambiente, e somente a partir de
ações locais, da sensibilização e da conscientização dos indivíduos como cidadãos participantes no
processo de construção de uma nova sociedade é que podemos modificar o destino dos problemas
globais que assolam o planeta, e a água é uma questão primordial.
A educação ambiental é o principal instrumento de transformação, sendo fundamental para o
desenvolvimento de uma consciência crítica em relação ao meio ambiente, gerando
comprometimento e responsabilidade da população nas ações de saneamento e saúde (SOARES et
al., 2007 ).

Metodologia
O presente trabalho constitui uma pesquisa realizada no Assentamento Jacú, município de
Pombal - PB, no período de 12 a 31 de julho de 2012. O assentamento localiza-se na bacia
hidrográfica do Rio Piranhas, entre a sub-bacia do Rio Piancó e a região do Alto Piranhas, inserida
725
na Zona fisiográfica do baixo Sertão do Piranhas, na mesorregião do sertão paraibano (SILVA et
al., 2011). A associação do assentamento Jacú é composta por 40 unidades familiares.
Durante o período de desenvolvimento da pesquisa, foram realizadas visitas de campo, com
o objetivo de conhecer as condições de captação, transporte, armazenamento e manejo das águas
das cisternas instalados no assentamento Jacú. Os dados foram coletados a partir da observação
direta, registros fotográficos, conversas interativas com 34 famílias, o que corresponde 82,5% das
famílias assentadas. As demais, não foram encontradas em casa no momento das visitas. Com
exceção de uma família visitada no assentamento, todas possuem cisternas em casa.
Durante as visitas ao assentamento, foram levantadas diversas informações dentre as quais,
podemos citar: o programa pelo qual foi beneficiado com a construção da cisterna; forma pela qual
retira-se água das cisternas; avaliar as áreas de captação nas casas; desvio das primeiras águas;
finalidade do uso da água da cisterna; utilização de algum método de desinfecção da água; se a
utilização do método de tratamento apresenta para a família algum tipo de reação adversa; se as
cisternas apresentam algum tipo de rachadura ou vazamento na sua estrutura; nos anos de seca,
como são abastecidas as cisternas e; se a estrutura das cisternas são conservadas.

Resultados e Discussão
Todas as cisternas do Assentamento Jacú foram adquiridas pelo P1MC, que é elaborado,
desenvolvido e gerenciado pela sociedade civil organizada, através da ASA, tendo diversos
parceiros, entre eles, o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
De acordo com as visitas de campo, constatou-se que as famílias, em sua maioria, não
utilizam a bomba manual para retirar a água das cisternas, como apresenta-se no Gráfico 01.

Balde

18%

Bomba
Manual
24% 58%
Balde e
Bomba
Manual

Fonte: Pesquisa de campo.


Gráfico 01: Forma de Coleta da Água da Cisterna.

Diante do exposto, pode-se observar que, 58% das famílias do assentamento Jacú retiram
água da cisterna com a utilização de balde, representando uma maneira não aconselhável para
retirada da mesma, já que o método recomendado é que a coleta ocorra sem contato direto do
726
usuário com a água, para reduzir o risco de contaminação. Percebe-se que apenas 24% das famílias
usam a bomba manual para retirar água das cisternas, justificando que, a não utilização das bombas
ocorre, por motivos técnicos, bombas quebradas ou que não são eficientes, ou por preferirem usar
utensílios domésticos, por ser mais fácil e exigir menor esforço físico. E 18% das famílias recorrem
a balde e bomba manual.
Todas as 33 famílias visitadas que possuem cisternas, desviam as águas das primeiras
chuvas, para depois coletá-las, com objetivo de lavar os telhados e retirar as sujeiras como, poeiras,
restos de folhas, galhos e fezes de aves e outros animais, evidenciando medida preventiva de
manejo para melhorar a qualidade da água. Quanto às condições das tampas das cisternas, em geral,
estão bem conservadas, segundo as famílias, são mantidas sempre bem fechadas para evitar a
entrada de sujeiras.
Considerando a finalidade de uso, 64% das famílias usam água de cisternas para beber e
cozinhar, 9% utilizam para beber, seguido de 6% cozinhar e 21% para diversos usos, (ver gráfico
02). A utilização da água para outros fins diminui a garantia de água de boa qualidade para todo o
período de estiagem.

Beber
9%
21%
Beber e
cozinhar
6%
Cozinhar

64%
Outros
usos

Fonte: Pesquisa de campo.


Gráfico 02: Finalidade de Uso.

Em relação aos processos de desinfecção 88% das famílias utilizam o hipoclorito de sódio
para tratar a água de beber (gráfico 03), onde apenas 3% destas, apresentam algum tipo de reação
adversa. Seguido de 12% que não usam o hipoclorito de sódio.

3%
Utilizam
12%

Não utilizam

85%
Reacão adversa

Fonte: Pesquisa de campo.


Gráfico 03: Utilização do Hipoclorito de Sódio
727
Quanto à conservação e estado higiênico das cisternas, 79% são adequados e 21%
apresentam rachaduras e vazamentos, caracterizando problemas de construção e falta de
manutenção (ver gráfico 04).

21% Sim

Não
79%

Fonte: Pesquisa de campo.


Gráfico 04: Conservação e Manutenção da cisterna.

No que se refere ao abastecimento das águas das cisternas, a maior parte das famílias utiliza
água de carro-pipa, quando as chuvas do período são escassas ou porque as águas armazenadas
durante as chuvas não são suficientes para satisfazer a demanda da família.
Quanto à conservação dos telhados, observou-se que a maioria das cisternas encontra-se em
bom estado, porém algumas calhas requerem limpeza.
Segundo as famílias, as cisternas são anualmente pintadas de branco por fora, antes que se
inicie o período chuvoso, esta iniciativa é necessária para a melhoria das condições de conservação
das cisternas.

Conclusão
Observou-se que o processo de educação é indispensável para a sensibilização das famílias
assentadas, pois além de permitir que estas mudem seus hábitos, contribui também para garantia de
uma água de consumo de boa qualidade e isenta de contaminação. Sem a Educação Ambiental não
será possível o uso sustentável das águas de cisternas, nem de projetos de aplicação de outras
tecnologias que precisam de novas formas de percepção e de atuação.
A implantação do programa P1MC procura trazer para a pauta das comunidades a discussão
sobre o direito de ter água de boa qualidade para consumo humano, as cisternas são construídas e
mantidas pela comunidade. Entretanto, não se tem a garantia de que as famílias beneficiadas
estejam utilizando a água proveniente das cisternas de maneira adequada, fazendo-se imperativo o
trabalho do profissional de saúde, no que concerne à prevenção de doenças, sobretudo as de
veiculação hídrica, bem como às estratégias de promoção da saúde que priorizem ações

728
empoderadoras dessas famílias, de maneira que as mesmas tornem-se co-participantes do seu
processo de cuidado.
As visitas permitiram instalar o processo de sensibilização para o manejo correto na
captação, transporte, armazenamento e coleta de água de cisternas e para higiene pessoal das
famílias.
É preciso salientar, a importância das políticas públicas para garantia de acesso a água
nesses assentamentos, o que constitui o êxito de projetos de alto investimento, como o PIMC e para
sua auto-sustentabilidade.

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731
A (RE) CONSTRUÇÃO DE VALORES AMBIENTAIS ATRAVÉS DA ECOPEDAGOGIA NO
ENSINO FUNDAMENTAL I

Bruna Isabel Andrade Borges (UEPB/ UFCG)86 – bruna.iab@hotmail.com


Carina de Sousa Soares (UEPB)87 – carina-soares@hotmail.com

Resumo

A educação ambiental faz-se cada vez mais necessária no ensino fundamental, pois é um dos mais
conscientes e eficientes meios para buscar caminhos ecopedagógicos produzidos pela sociedade e
para sua significação, é preciso considerar o meio próximo e circundante da criança, trabalhar com
atitudes e formação de valores e com ensino e aprendizagem de habilidades e procedimentos.
Considerando-se as influências ideológicas de cada sociedade, é imprescindível trabalhar a
problemática ambiental num local onde o conhecimento começa a ser desenvolvido, ou seja, na
escola. Em nossa pesquisa temos como objetivo a (re) construção de valores ambientais através da
ecopedagogia com crianças do Ensino Fundamental I de uma escola em Campina Grande - PB,
demostrando a importância da Ecopedagogia para a formação de educandos/as. Para esse trabalho
realizamos atividades práticas e dinâmicas, como oficinas de reciclagem com garrafas pet na
construção de brinquedos; produção de textos verbais e não verbais com os/as alunos/as sobre a
preservação da natureza; desenhos e atividades lúdicas, promovendo o desenvolvimento à
criatividade, criticidade e afetividade dos/as educandos/as. A metodologia se baseia em uma
pesquisa participativa fundamentada e analisada por alguns autores, que discutem natureza, a
ecopegadogia e a educação ambiental, entre os quais destacamos: Paulo Freire (1996), Moacir
Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra (1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles
(2000), entre outros. Os dados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa. Por fim, cria-se
a oportunidade de inserir conhecimentos e práticas de Educação Ambiental, mediadas pelas
relações com as vivências cotidianas na escola.

Palavras-chaves: Ecopedagogia; Educação Ambiental; Ensino Fundamental I.

86
Pedagoga – UEPB, Engenheira Civil – UFCG (em curso);
87
Pedagoga – UEPB, Psicopedagoga – FIP e Bacharel em Agroecologia – UEPB (em curso).

732
Abtstract

Environmental education becomes increasingly necessary in elementary school because it is one of


the most conscientious and efficient means to seek ways ecopedagógicos produced by the company
and its significance, we must consider the near and medium surrounding the child's attitudes and
work with values education and teaching and learning skills and procedures. Considering the
ideological influences of each society, it is essential to work on environmental issues where
knowledge is beginning to be developed, or at school. In our research we aim to (re) construction of
environmental values through eco-pedagogy with children of elementary school to a school in
Campina Grande - PB, demonstrating the importance of Ecopedagogy to train students/ the. For this
work we conducted practical activities and dynamics, as recycling workshops with PET bottles in
building toys; production of verbal and nonverbal texts with / the students /about the preservation of
nature, drawings and recreational activities, promoting the development of creativity, criticality and
affectivity of / the students / the. The methodology is based on a participatory research grounded
and analyzed by some authors argue that nature, ecopegadogy and environmental education, among
which we highlight: Paulo Freire (1996), Moacir Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra
(1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles (2000), among others. Data were analyzed
quantitatively and qualitatively. Finally, it creates the opportunity to put knowledge and practice of
Environmental Education, mediated relationships with everyday experiences in school.

Keywords: Ecopedagogy; Environmental Education, Elementary Education I.

Introdução

Com o alto crescimento da população mundial vêm se verificando um aumento desenfreado


na exploração dos recursos naturais, gerando dessa forma, consequências drásticas para o meio
ambiente, tais como: poluição da água, do ar, do solo e desaparecimento de espécies nativas de
animais e vegetais, modificações movidas principalmente pelo consumismo humano desordenado,
devido a sua visão inesgotável dos recursos naturais. Segundo Capra (1996), tais problemas
precisam ser vistos como diferentes facetas de uma única crise, uma crise de percepção, mas para os
principais problemas há soluções, que exigem mudanças radicais nas percepções, valores e
pensamentos dos indivíduos.
O objetivo deste trabalho de pesquisa é a (re) construção de valores ambientais com
educandos/as do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I de uma escola particular em Campina Grande
– PB, no intuito de mostrar a importância da Ecopedagogia para a formação dos educandos/as.
Neste sentido importa identificar suas práticas em relação à conservação e/ou melhoria do ambiente
733
a que pertencem e a percepção dos/as alunos/as quanto às formas pelas quais as pessoas podem
contribuir para melhorar e/ou conservar o meio ambiente em que vivem. Para tal observação
realizamos oficinas de reciclagem com garrafas pet na construção de brinquedos; bem como,
produzimos textos verbais e não verbais com os/as alunos/as sobre a preservação da natureza.
Para Branco e Rocha (1984) apud Silva M (2000), o meio ambiente ou ambiente ecológico
pode ser definido como o conjunto de elementos e fatores indispensáveis à vida, servindo como
suporte para o desenvolvimento da sociedade e da comunidade (LIMA 2003). A Educação
Ambiental é um meio ideal, para gerar reflexão em torno dos problemas ambientais, visando
intervir na percepção ambiental dos estudantes. Silva M (2000) diz que a percepção ambiental
abrange maneira de olhar o ambiente, mesmo o inconsciente. Consiste então, na forma como o ser
humano ver o meio ambiente, como compreende as leis que o regem.
A metodologia do trabalho é baseada em uma pesquisa participativa fundamentada e
analisada por alguns autores, que discutem natureza, a ecopegadogia e a educação ambiental. A
realização desse trabalho tornou-se relevante no sentido de percebemos à viabilidade do estudo de
aspectos importantes da ecopedagogia, na construção de valores ambientais em crianças.
Empregamos de modo dinâmico atividades em busca da formação de habilidades para a construção
do processo ensino e aprendizagem. Através desse estudo, destaca-se a ecopedagogia como
metodologia para a valorização do meio ambiente, no desejo de construir uma consciência
ecológica.

A Ecopedagogia na (re) construção dos valores ambientais

A discussão sobre a necessidade de se criar uma Ecopedagogia ganhou impulso, sobretudo a


partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, organizado
pelo Instituto Paulo Freire, com o Apoio do Conselho da Terra e da UNESCO, de 23 a 26 de agosto
de 1999, em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia, realizado na Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Porto, Portugal, de 24 a 26 de março de
2000.
O educador Francisco Gutiérrez, diretor do Instituto Paulo Freire da Costa Rica, foi o
primeiro a criar a concepção de Ecopedagogia em 1992, por ocasião do ECO – 92 realizada na
cidade do Rio de Janeiro também conhecida como RIO – 92. Desses encontros surgiram os
princípios norteadores de uma educação para uma sociedade sustentável ou sociedade da
sustentabilidade, como se segue:
1. O planeta deve ser visto como única comunidade (aldeia planetária);
2. A Terra deve ser vista como mãe, organismo vivo e dinâmico;

734
3. A escola deve formar a consciência da sustentabilidade, fundada nesse sentido;
4. Deve-se motivar o sentimento de ternura em relação à Terra, nossa morada;
5. Deve-se formar uma consciência planetária e uma nova ética, visando à justiça sócio -
cósmica, que vê a Terra como o maior dos pobres;
6. A Ecopedagogia deve promover a vida, levando o educando a compartilhar, a
problematizar a se envolver e a se relacionar com os outros;
7. O conhecimento deve ser visto como partilha, algo que se conquista sempre em
comunhão com o outro;
8. A escola deve ensinar ao educando o sentido da vida cotidiana;
9. Deve-se desenvolver uma racionalidade baseada na afetividade, na intuição e na
comunicação, ao invés de priorizar apenas a razão instrumental;
10. A escola deve incentivar o desenvolvimento de novas relações e atitudes que se veja o
mundo através da sensibilidade e não apenas da razão.

Esses princípios não se constituem apenas em um compromisso ecológico, mas ético


político, sustentado por uma pedagogia, isto é, por uma ciência da educação e uma prática social
deliberada, definida, determinada. Sendo assim, a pedagogia deve estar inserida num movimento
sócio histórico, formando cidadãos capazes de escolherem os índices de qualidade do seu próprio
futuro. Essa ciência da educação possui natureza inteiramente nova e intensamente democrática: a
Ecopedagogia. Surge então, a Ecopedagogia como solução para a problemática mundial e a busca
pela construção da sociedade sustentável.
Francisco Gutiérrez (1999) define pedagogia como trabalho de promoção da aprendizagem
através dos recursos necessários e significativos ao processo educativo no cotidiano das pessoas. A
formação está ligada ao espaço/tempo no qual se realizam de forma concreta as relações entre ser
humano e o meio ambiente. Muito mais do que no nível da consciência, essas relações se dão no
nível da sensibilidade. Portanto, é necessário uma ecoformação para torná-las conscientes, e a
ecoformação precisa de uma ecopedagogia.
Desse modo, é impossível construir desenvolvimento sustentável sem uma educação para o
desenvolvimento sustentável, visto de forma crítica, tem um componente educativo formidável,
como lembra Moacir Gadotti (2000, p.72), quando diz que a preservação do meio ambiente depende
de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação. De acordo com
o Instituto Paulo Freire sobre os novos paradigmas da educação, o objetivo central é compreender
melhor o papel da educação na construção de um desenvolvimento com justiça social, focado nas
necessidades humanas e que não acometa o meio ambiente, surgindo a partir daí a necessidade de
uma ecopedagogia que nos ensine a viver e conviver de forma sustentável.
735
Educação ambiental e sua importância no ensino fundamental I

A Educação Ambiental de acordo com Dias (1994), se caracteriza por incorporar as


dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas, o que significa que ao tratar
de qualquer problema ambiental, devem-se considerar todas as dimensões. A maior parte dos
problemas ambientais tem suas raízes na miséria, que por sua vez é gerada por políticas e problemas
econômicos concentradores de riqueza e responsáveis pelo desemprego e degradação ambientar.

A Educação Ambiental, enquanto processo contínuo e permanente deve atingir todas as


fases do ensino formal e não formal; deve também, desenvolver o senso crítico e as habilidades
humanas necessárias para resolver tais problemas e utilizar métodos e estratégias adequadas para
aquisição de conhecimentos e comunicação, valorizando as experiências pessoais e enfatizando
atividades práticas delas decorrentes (DIAS, 1994).

Sabendo que a educação é a peça fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade


mais justa e harmoniosa, colocamos a escola como mola propulsora de perspectivas e políticas
ambientais. Se o principal objetivo da escola é formar cidadãos críticos, atuantes e conscientes, é
importante que eles sejam intimamente comprometidos com a vida e o bem estar do planeta. É
necessário que a escola trabalhe mais do que meros conceitos científicos, é imprescindível que ela
trabalhe valores e atitudes, habilidades e procedimentos que possam ser postos em prática
cotidianamente para que assim envolva de fato os alunos despertando o comprometimento com os
problemas de sua casa, do planeta mãe.
Segundo McLaren e Ramin Framdpur (2002) educar para a cidadania implica em muito
mais do que uma filosofia educacional, os desafios são enormes, educar não seria como a citação de
Emile Durkheim, no livro Pedagogia Revolucionária na Globalização. Dessa forma, educar implica
num reajuste de conceitos, numa reformulação de valores, numa revisão de nossos currículos, uma
reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço onde insere os indivíduos não
numa comunidade local, mas numa comunidade que ao mesmo tempo em que é local é global.
A Educação Ambiental exerce um papel extremamente importante, principalmente nos dias
de hoje, onde os professores possuem diversas formas de trabalho. As aulas, não só as de Ciências,
mas todas elas devem se dar de forma crescente e gradativa, relacionando cada meio que envolve
cada criança, partindo da sua própria realidade, fazendo com que ela reflita, desenvolva seu senso
crítico sobre o que está certo e o que está errado e procurando conscientizar-se de forma a contribuir
com a melhoria das condições sociais e ambientais do homem na Terra.

736
As organizações não governamentais reunidas no Fórum Global na Rio - 92 formularam o
trabalho de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global que
estabeleceram alguns princípios, dos quais pode - se citar:

1. A educação ambiental é um direito de todos, somos todos aprendizes e educadores;

2. Deve ter como base o pensamento crítico e inovador em qualquer tempo ou lugar em seus
modos formal, não formal e informal promovendo a transformação e a construção da
sociedade.

3. É individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e


planetária que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações;

4. A educação ambiental não é neutra, mas ideológica;

5. Deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações, convertendo cada


oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.

A educação ambiental tem como objetivo, portanto, formar a consciência dos cidadãos e
transformar-se em filosofia de vida de modo à levar a adoção de comportamentos ambientalmente
adequados, investindo nos recursos e processos ecológicos do meio ambiente. A educação
ambiental, deve necessariamente transformar-se em ação. Enquanto prática político pedagógica, a
Educação Ambiental determinada histórica e socialmente, pretende possibilitar o desenvolvimento e
a escolha de estratégias de ação, que venham contribuir para a construção do processo de cidadania
e para a melhoria da qualidade de vida da população.

Metodologia

A metodologia do trabalho é baseada em uma pesquisa participativa fundamentada e


analisada por alguns autores, que discutem natureza, a ecopegadogia e a educação ambiental, entre
os quais destacamos: Paulo Freire (1996), Moacir Gadotti (2000), Leonardo Boff (2004), Capra
(1996), Penteado (1994), Carvalho (2004), Meirelles (2000), entre outros.

Este trabalho trata de uma pesquisa participativa. De acordo com Thiollent (1998) e Pedrini
(1997), em tal pesquisa são estabelecidas relações comunicativas com pessoas ou grupos da
situação investigada com intuito de serem mais bem aceitos, enquanto desempenham um papel
ativo no equacionamento dos problemas encontrados, no acompanhamento e nas ações
desempenhadas. Ainda de acordo com Haguette (1997) na pesquisa participativa o problema se
origina na comunidade em estudo e a última finalidade da pesquisa é a transformação estrutural
fundamental e melhoria da vida dos envolvidos.

737
Para a coleta de dados foram utilizadas algumas estratégias metodológicas propostas por
Silva (2000), tais como: questionário em forma de trilha, estudo minucioso de desenhos e frases,
textos não verbais e atividades lúdicas; que proporcionarão a realização de uma oficina com
material reciclado. A amostragem se deu da seguinte maneira: foram distribuídos questionário aos
alunos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental.
O objetivo de aplicação dos questionários aos alunos foi de verificar o nível de
conhecimento prévio sobre o tema proposto. Buscou-se examinar como eles definem o meio
ambiente. Os dados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa, utilizando a triangulação,
de acordo com Sato (1997) e Thiollent (1998), pois para eles esse método possibilita que os dados
sejam quantificados e descritos.

Descrevendo a vivência nas Oficinas

No primeiro momento foi trabalhada a percepção na sala de aula e no recreio, verificando


sua relação quanto ao lixo produzido, posteriormente, foi realizado um questionário destinado aos
alunos e depois pedimos que os mesmos pegassem o que de fato poderia ser aproveitados no lixo,
para podermos fazer nossa oficina de brinquedos.
No Segundo momento, inquiriu-se de forma mais específica, a fim de compreender o
conceito que eles possuem sobre o tema: natureza é vida. Perguntou-se o que eles entendiam sobre
o tema proposto, um aluno disse: eu acho que a natureza é a floresta e o outro completou: também
são as plantas e os animais. Daí, indaguei: e nós fazemos parte da natureza ou não? E apenas dois
responderam que sim. Então expliquei para os demais que nós fazemos parte também e precisamos
dela para sobreviver.
No terceiro momento da pesquisa, com a explanação do tema: o ambiente que temos e o que
queremos, foi de uma importância bem gratificante para o desenvolvimento da pesquisa.
Oferecemos folhas em branco para a construção de textos verbais e não verbais sobre: poluição,
desmatamento e queimadas. Pedi para que dividissem a folha ao meio, de um lado colocassem o
título: O ambiente que temos. E do outro lado: O ambiente que queremos.
No primeiro lado eles desenharam fábricas com chaminés saindo fumaça e falaram que era
poluindo o meio ambiente, um dos alunos desenhou sua casa vizinho de uma padaria que também
saia fumaça da chaminé e disse que poluía a sua casa e sua irmãzinha tossia muito. Do segundo
lado, o ambiente que queremos, eles desenharam florestas, animais, e crianças brincando próximos
aos rios. O menino que falou da sua irmã desenhou sua casa e a padaria sem a chaminé e sua irmã
brincando com os pássaros.
No quarto e último momento desta pesquisa foi realizado uma oficina de reciclagem com
garrafas pet, na construção de brinquedos, que ficaram na escola para que brincassem na hora do
recreio. As crianças se dividiram em grupos e cada grupo confeccionou um tipo de brinquedo.
738
Ficaram encantadas com o que produziram, quando perceberam que quase todo material utilizado
foi produto do lixo que antes eram descartados, a cada novo brinquedo produzido mostravam-se
cada vez mais surpresos e extasiados com as várias possibilidades apresentadas para reaproveitar
resíduos.

Resultados

Segundo Guimarães (2005, p. 31), no trabalho de conscientização é preciso estar claro que
conscientizar não é simplesmente transmitir valores verdes do educador para o educando; essa é a
lógica da educação tradicional. Na Educação Ambiental, o papel do educador se centraria no auxílio
ao educando acerca da análise crítica dos valores sociais e de si mesmo, com vista a uma síntese
pessoal madura que impulsiona novas atitudes.
No primeiro encontro das oficinas observou-se a percepção nas aulas e no recreio,
verificando a relação dos alunos quanto a Educação Ambiental, a qual é a condição necessária para
modificar um quadro de crescente degradação socioambiental e decrescente qualidade de vida. No
entanto, trabalhar só os conceitos da conscientização ambiental não basta, pois muitas pessoas têm
noção teórica dos problemas ambientais sem uma mudança efetiva das atitudes isoladas ou
coletivas.
Foi sugerido que a sala fosse dividida em grupos, onde cada grupo ficou responsável em
confeccionar um brinquedo diferente. Essas garrafas pet que seriam jogadas no lixo ou no meio
ambiente, foram transformados em diferentes tipos de brinquedos, como por exemplo: vai e vem
que foi feito com duas garrafas pet cortadas ao meio para encaixar uma na outra, passando uma fita
que não deixe escapar essas duas garrafas encaixadas, feito isso é só passar dois barbantes por
dentro dessas garrafas. O engoli bila, o jogo de argolas e o jogo da velha. As crianças ficaram
encantadas com os brinquedos, brincaram muito e ao termino das brincadeiras foi sorteados alguns
brinquedos, porque outros ficaram na escola, eles pediram, pois na sexta feira é o dia que podem
levar brinquedos para a escola.

Figura I e II – Crianças brincando com brinquedos colecionados por eles próprios

739
Análises dos questionários dos alunos

O que representa a natureza para você? Foi obtido como resposta na maioria dos
questionários: floresta, plantas e animais. E nesse universo de respostas, vale ressaltar que apenas
dois alunos responderam: ―A natureza representa nossa vida, a floresta, a respiração, os animais,
etc”.

Gráfico 1 – percepção ambiental dos alunos

A próxima pergunta foi: Os problemas ambientais estão cada vez mais sendo discutidos na
sociedade: o que você acha em relação a estes assuntos?

Gráfico 2 – Opinião referente aos problemas ambientais

Pôde-se verificar que a maioria dos alunos acha importante a discussão dos temas
ambientais, tendo assim uma consciência a cerca da problemática em questão. A partir desta
constatação, torna se fácil ao professor a trabalhar com temáticas ambientais que demonstram
interesse ao aluno.

Conclusão
Durante a realização das atividades observou-se que os alunos se interessaram e se
envolveram na temática apresentada, também foi possível observar o conhecimento deles sobre

740
meio ambiente, as praticas pedagógicas desenvolvidas sugerem a necessidade de incorporá-las no
cotidiano das instituições de ensino. Para assim, formar cidadãos capazes de agir individualmente e
coletivamente para um ambiente sustentável. Foram oferecemos oficinas criativas, diferentes,
lúdicas ou mesmo outras atividades de interesse dos alunos em geral; as oficinas focaram a
educação ambiental como atividade pedagógica de cunho interdisciplinar.
A partir do diálogo e da interação em situações lúdicas e concretas as crianças puderam (re)
elaborar ideias e comportamentos sobre o lixo e reciclagem, a natureza e o valor destas em suas
vidas. Também foi possível observar atitudes de respeito ao outro e a cultura, quando as crianças,
nos relacionamentos estabelecidos, compartilhavam suas ideias e curiosidades e incorporavam ou
(re) produziam saberes e conhecimentos elaborados acerca da temática explorada ou das situações
de experiências.
Constamos através dos questionários que a educação ambiental não está inserida no
currículo da escola, os alunos são receptivos a metodologias diferentes das convencionais como
aula de campo, jogos educacionais, vídeos, oficinas, gincanas ambientais. E estão abertos a discutir
assuntos da atualidade em relação à Educação Ambiental. É preciso, portanto, procurar uma
abertura para outra dimensão nos campos do saber baseado na Ecopedagogia, com o objetivo de
desenvolver uma metodologia através do qual professores/as e alunos/as possa construir o
conhecimento voltado para uma educação ambiental que permita transformar a escola em um local
onde exerça a cidadania.

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741
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Grande / PB. Monografia. 2003. (Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas).
UEPB. Campina Grande.

MCLAREN, Peter, Pedagogia Revolucionária na globalização. 2ª ed. – São Paulo.


SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Estratégias metodológicas para
formação de educadores ambientais do ensino fundamental. In Anais XXVII Congresso
Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000.
THIOLLENT, Michael. Metodologia de pesquisa ação. 8ª Edição. São Paulo: Cortez, 1998.
SATO, Michele. Educação para o ambiente amazônico. 1997. Tese (Doutorado em Ecologia e
Recursos Naturais) Universidade Federal de São Carlos. São Paulo.

742
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ONG ―CENTRO DE CULTURA DA VILA DE PONTA
NEGRA‖: UM ENFOQUE NA POLUIÇÃO MARINHA COMO MODO DE SENSIBILIZAÇÃO
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES88

Cássio Lázaro Silva INÁCIO (UFRN) – cassio-lazaro@hotmail.com


Leonardo Lucas do Nascimento SIQUEIRA (UFRN) – leolucasrn@hotmail.com
Lidiane Gomes PINHEIRO (UFRN) – lidiane.gpinheiro@yahoo.com.br
Marianne Torres da Costa TEIXEIRA (UFRN) – mariannetct@hotmail.com

Resumo
A problemática ambiental está cada vez mais presente em nosso cotidiano como reflexo,
principalmente, da magnitude dos eventos naturais que hoje estão atingindo de forma direta a
população. A partir daí, percebemos a importância de se disseminar informações à respeito das
questões relacionadas à sustentabilidade e realização de projetos de Educação Ambiental (EA)
visando amenizar os problemas ambientais que são causados em grande parte pela falta de
informação e da consciência ambiental da população em geral. A EA aplicada à crianças e
adolescentes é um exemplo que tem dado certo, principalmente, pelo poder de disseminação e
sensibilidade que estes possuem, assim mostrando extrema importância para a construção de uma
sociedade mais consciente. Neste sentido, o presente estudo contribuiu para a formação de cidadãos
mais conscientes, por meio de uma prática de sensibilização. A ação foi realizada em Janeiro de
2012 com crianças e adolescentes de 6 a 12 anos da Vila de Ponta Negra, Natal/RN. O trabalho foi
fundamentado nas práticas da metodologia da pesquisa-ação participativa e envolveu a fase
diagnóstica, por meio de observações espontâneas em campo e contato com gestores da ONG
e posterior aplicação das ações de sensibilização. Através de dinâmicas, gincanas, e palestras, as
crianças obtiveram conhecimentos sobre poluição marinha, importância da fauna e flora local e da
manutenção do equilíbrio natural. Diante disso, fica explícita a importância da realização de
práticas de sensibilização, principalmente aplicadas a crianças e adolescentes e vislumbra-se que a
EA constrói uma postura eco-política, de forma que, a partir da conscientização, expressa-se uma
atuação política que encaminha para os interesses em termos de reivindicações coletivas e destaca-
se sua importância para fortalecer as relações sociais, e as interações entre os seres humanos com o
mundo.
Palavras-chave: Conservação do ambiente; Sensibilização ambiental; Sustentabilidade.

88
Atividades desenvolvidas por alunos graduandos em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, sob a orientação da Profª Drª Elineí Araújo de Almeida.

743
Abstract

The environmental issues are increasingly present in our everyday as a result, mainly, of the
magnitude of natural events that are currently affecting directly the population. From there, we
realize the importance of disseminating information on issues related to sustainability and projects
of environmental education (EE) in order to minimize the environmental problems that are caused
largely by lack of information and environmental awareness of the population in general. The EE
applied to the children and adolescents is an example that has worked, mainly, for power
dissemination and sensitivity of these have, thus showing extreme importance to building a more
conscientious society. In this sense, this study contributed to the formation of citizens more aware,
by means of a practice of sensibilization. The action was performed in January 2012 with children
and adolescents 6-12 years old of Vila de Ponta Negra, Natal / RN. The work was grounded on the
practices of the methodology of participatory action research and involved the diagnostic phase,
through spontaneous observations in the field and contact with managers of NGOs and subsequent
implementation of awareness raising. Through dynamic, competitions and lectures, the children
obtained knowledge about marine pollution, importance of local flora and fauna and the
maintenance of the natural balance. Given this, is explicit the importance of the realization of
practical sensibilization, especially applied to children and adolescents and glimpses that the EE
builds an eco-political posture, so that, from the awareness, expressed a political action that forward
to the interests in terms of collective claims and stands out their importance to strengthen the social
relations and interactions between human beings with the world.
Keywords: Environmental conservation, Environmental sensibilization, Sustainability.

Introdução

O meio ambiente vem sofrendo diversas alterações negativas provocadas pela desenfreada
ação humana, perda da biodiversidade, poluição, destinação inadequada de resíduos, desperdício de
água, dentre outros problemas, estão pondo em risco o futuro do planeta. Em decorrência disso,
torna-se importante a EA, tendo a difícil tarefa de reverter o pensamento ainda corrente, com o
intuito de ensinar às atuais e próximas gerações a importância do meio ambiente (SCARDUA,
2009).
Nossa sociedade vive um momento marcado pela preocupação com as alterações ambientais
que têm afetado diretamente o homem e tem cada vez mais se escutado falar em desenvolvimento
______________________________________________

¹ Apresentação parcial dos dados obtidos durante a pesquisa de Mestrado junto a Universidade Federal de
Rondônia , sob o titulo ELEMENTOS PARA O PLANO DE BACIA DO IGARAPE D’ALINCUORT: ROLIM DE MOURA - RO,
projeto hospedado no Laboratorio de Geografia e Planejamento Ambiental de fevereiro de 2008 a maio de 2010,
quando foi defendido.
sustentável, preservação ambiental, sensibilização e outras palavras que marcam esse processo,
porém, nem sempre possuem significado claro para todos. Paralelo a isso temos o aumento da
incidência de doenças que têm como principal vetor a poluição, mudanças bruscas de temperatura,
grandes desperdícios de recursos naturais como a água e tragédias ambientais que são
documentadas cotidianamente. A partir daí percebemos a importância de uma maior disseminação
de informações para toda a população com relação a esses assuntos promovendo educação
ambiental em resposta a essas problemáticas.
A EA é um processo contínuo de aprendizagem voltado para a melhoria da qualidade de
vida, onde se aprende a lidar com o meio ambiente respeitando-o e a si próprio. De acordo com
Dias (2003 apud SCARDUA, 2009), a educação ambiental pretende desenvolver o conhecimento, a
compreensão, as habilidades e a motivação do homem para adquirir valores, mentalidades e atitudes
necessários para lidar com questões e problemas ambientais e encontrar soluções sustentáveis. Este
modelo de educação, aplicado principalmente à crianças e adolescentes tem como objetivo
contribuir para a formação de um pensamento crítico e consciente a favor do meio ambiente.
Assim, tendo em vista essa problemática, destaca-se a importância da realização de projetos
de Educação Ambiental visando atenuar os problemas ambientais causados em grande parte pela
falta de informação e consciência ambiental. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi contribuir
para a formação de cidadãos mais conscientes, por meio de uma prática de sensibilização de
crianças e adolescentes moradores da Vila de Ponta Negra. A escolha do local e público-alvo foi
decorrente da carência de informações no tocante à educação ambiental, visível na presença de
muitos elementos poluidores na Praia de Ponta Negra, sendo bastante frequentada por turistas e
moradores locais, próxima à qual localiza-se a ONG onde foram desenvolvidas as atividades.

Material e Métodos

A ação de sensibilização foi realizada em Janeiro de 2012 com crianças e adolescentes de 6


a 12 anos de idade, frequentadoras da ONG ―Centro de Cultura da Vila de Ponta Negra‖, localizada
na Vila de Ponta Negra, Natal/RN.
O trabalho foi fundamentando nas práticas da metodologia da pesquisa-ação participativa,
que considera fundamental a participação dos sujeitos envolvidos tanto no processo de produção de
conhecimentos quanto na tomada de decisões. A etapa inicial consistiu em uma fase diagnóstica,
por meio de observações espontâneas em campo e contatos com gestores da ONG e posteriormente
foram aplicadas as ações de sensibilização. Através da dinâmica da teia (figura 01), na qual é
enfatizada a importância de cada individuo na manutenção do todo, gincanas, e palestras, as
crianças obtiveram conhecimentos sobre poluição marinha, importância da água, animais marinhos,
medidas que devem ser tomadas para a conservação da água, da natureza em geral, envolvendo os

745
animais e os vegetais que nela habitam (figura 02).

Figura 01: Dinâmica da teia.


Fonte: Autores.

Figura 02: Apresentação de palestra.


Fonte: Autores.

Os participantes frequentaram ativamente todas as etapas da ação e no desfecho, receberam


um copo de plástico reutilizável para que percebessem a importância da não utilização abusiva de
plásticos descartáveis e do seu papel para com a preservação do meio ambiente (figura 03).

Frequentadores da ONG e palestrantes após as atividades.


Fonte: Autores.

746
Resultados e Discussão

Para desenvolvimento do estudo foram levantadas questões que despertassem a necessidade


da população participar em um nível mais alto do processo decisório, como uma forma de fortalecer
sua corresponsabilidade na fiscalização e no controle dos agentes de degradação ambiental
(JACOBI, 2003), trazendo essa responsabilidade para as crianças e adolescentes, alvos do trabalho e
personagens importantes do processo de disseminação dos fatores inerentes à problemática
ambiental.
No decorrer do trabalho eles puderam perceber que todos nós fazemos parte do ambiente, e
somos ligados a ele por nossas necessidades naturais e que todos os organismos, desde os mais
simples até os mais complexos, são agentes importantes na manutenção do equilíbrio do todo e
como consequência, nossas ações podem afetar, mesmo que indiretamente, o desenvolvimento
natural de outras espécies. Por fim, as crianças compreenderam que as atitudes individuais podem
influenciar significativamente nos grandes acontecimentos naturais.
Dessa forma, a atividade realizada contribuiu de forma significativa para a compreensão
quanto à nossa responsabilidade sobre o equilíbrio ou declínio dos fatores ambientais. Conforme
comenta Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na
conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de
avaliação e participação dos educandos. A maior virtude dessa abordagem é que, além da
incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessidade de
inverter a tendência autodestrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a
natureza (JACOBI, 1998). Diante disso, fica explícita a importância da realização de práticas de
sensibilização, principalmente aplicadas à crianças e adolescentes, pois é nessa fase de descobertas
e solidificação da aprendizagem que muitos aspectos da educação podem ser mais facilmente
apreendidos e transformados.
Vislumbra-se que a EA constrói uma postura eco-política, de forma que, a partir da
conscientização, expressa-se uma atuação política que encaminha para os interesses em termos de
reivindicações coletivas. Por isso, destacar a importância da EA e praticá-la fortalece as relações
sociais, e as interações entre os seres humanos com o mundo. Estas novas relações evocam,
também, uma nova ética, que se distancia do atual sistema, permitindo criar um novo momento para
um fecundo nexo entre os elementos que compõem o ambiente. A partir desse ponto percebemos
que há necessidades urgentes de se incrementar os meios de informação e o acesso a eles, bem
como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais, como caminhos possíveis para
alterar o quadro atual de degradação socioambiental.

747
Referências

JACOBI, P. Educação ambiental, Cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,


2003.

JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São
Paulo: SMA, 1998.

REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação,
meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p.43-50.
REIGOTA, M. A. S. Cidadania e educação ambiental. Psicologia & Sociedade. vol. 20, Porto
Alegre, 2008.

SAUVÉ, L. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa, vol. 31 nº


2, São Paulo, 2005.

SCARDUA, Valéria Mota. Crianças e meio ambiente: A importância da educação ambiental na


educação infantil. FACEVV, nº 3, p. 57-64, 2009.

TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito de natureza. Campinas, 2000.


Dissert.(Mestr.) FE/Unicamp.

748
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA INCENTIVO
AO CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS89

Cristiane Ribeiro do NASCIMENTO¹ (DEMA/UFPB) - cristianeribeiro.ufpb@gmail.com


Anderson Alves dos SANTOS² (DEMA/UFPB) - andergrafia@yahoo.com.br
Ailson de lima MARQUES³ (UFCG) - digiailson@hotmail.com

Resumo

O processo de industrialização e expansão urbana proporcionou praticidades às atividades humanas,


porém aliado a essas vantagens surgiram também diversos problemas ambientais. Desse modo, a
partir da década de 60 se inicia um ciclo de debates e denúncias sobre os impactos ambientais
gerados pela produção e pelo consumo. É acerca desse contexto que o presente estudo tem como
objetivo central apresentar uma proposta metodológica em educação ambiental que possibilita a
construção de espaços dialógicos para a conscientização da sociedade sobre a relação entre a
escolha dos alimentos que consumimos e os impactos dessas escolhas sobre a crise socioambiental.
Esta proposta foi aplicada com jovens da zona rural que estudam em escolas públicas da zona
urbana do município de Rio Tinto/PB. Foi Observado que durante o tempo em que os estudantes se
reuniam na praça João Pessoa localizada no centro desta cidade para aguardar o transporte escolar,
os mesmos faziam o consumo de alimentos industrializados comprados, em estabelecimentos
localizados na praça ou em supermercados da cidade. Dessa forma, a prática de educação ambiental
proposta nesse trabalho pretende colaborar com as discussões acerca da conscientização e formação
consciente do cidadão co-participativo na gestão socioambiental.

Palavras chave: Educação ambiental; Consumo; Cidadania.

Abstract

The process of urban industrialization and expansion provides practicality to human activities, but
also emerge various environmental problems. Thus, from the decade 60 starts a cycle of debates and
reports on the environmental impacts generated by production and consumption. This context the

89
Bacharel em Ecologia pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB, Campus IV. 2 Profº. Ms. Universidade Federal
da Paraíba- UFPB, Campus IV. ³Graduando do curso de licenciatura em geografia pela universidade Federal de
Campina Grande

749
present study aims to provide a central and methodological approach in environmental education.
This approach enables the construction of dialogic space for awareness of the society about the
relationship between the choice of food we consume and the impacts of these choices on the
environmental crisis. The proposal was applied with young of the zone rural that studying in public
schools in the urban area of Rio Tinto / PB. Was observed that during the wait by the school bus,
students gathered in the square João Pessoa located in the center of the city for consuming foods
purchased in supermarkets. Thus, this proposed of practice of environmental education aims to
contribute to the discussions about the conscious awareness and forming of citizen co-participatory
in management environmental.

Keywords: Environmental education; Consumption; Citizenship.

Introdução

O ideal da revolução verde gerou mudanças na agricultura brasileira a partir da década de


50, provocando transformações no trato cultural do homem com a terra e seus recursos naturais,
dentre as quais se destacam as alterações ocorridas no modo de produção dos alimentos,
possibilitando o aumento na produtividade através da utilização de insumos industrializados. No
entanto, essas mudanças vieram associadas a consequências graves, como é o caso do
envenenamento dos sistemas ambientais.
Com o avanço da ciência internacional nas décadas de 50 e 60, marcadas pelo início das
primeiras denúncias de uma crise ambiental, o livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson traz um
alerta para os problemas que o uso de produtos químicos utilizados na agricultura convencional
pode ocasionar sobre a biodiversidade dos ecossistemas.
Na década de 90, durante a realização da Eco 92, o uso de produtos químicos na agricultura
seria contraposto, ganhando destaque no capítulo 19 da Agenda 21, documento elaborado durante a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Esse
documento explicita, entre outras coisas, que:

Devem ser adotadas políticas e medidas reguladoras e não-reguladoras para identificar os


produtos químicos tóxicos e reduzir ao mínimo a exposição a esses produtos, substituindo-
os por outras substâncias menos nocivas e abandonando progressivamente aqueles que
apresentam riscos excessivos ou inaceitáveis para a saúde humana e o meio ambiente e
aqueles que são tóxicos, persistentes e bioacumulativos e cuja utilização não pode ser
adequadamente controlada. (Agenda 21, 2003, p. 389).

750
Segundo Evangelista (2010), no Brasil, foi a partir da década de 70 que a agricultura
convencional passou a ser contestada, e o conjunto de ideias que vão em sentido contrário passa a
ser chamado de agricultura alternativa. Ainda de acordo com esse autor, hoje se denomina
agroecologia a ciência fundamentada nos princípios e conceitos da ecologia aplicados aos sistemas
de produção. Essa ciência enfoca, além dos cuidados com o ambiente, os problemas sociais
presentes nos sistemas de produção, procurando assegurar a sustentabilidade socioambiental no
processo de produção e comercialização dos alimentos.
No entanto, a transição da agricultura convencional para a agricultura baseada em princípios
agroecológicos não requer apenas a redução ou substituição de produtos agroquímicos, necessita,
entre outras coisas, do envolvimento e participação do consumidor que precisa está informado sobre
a importância do consumo de alimentos da agricultura orgânica e de seus benefícios, tanto no
âmbito social como ambiental, além do apoio governamental às propostas de produção regional,
especialmente a agricultura familiar, fortalecendo a segurança alimentar local e reduzindo os gastos
e desperdícios de energia com transporte.
Nesse sentido, segundo ―Ruscheinsky (2004), considerando que a proposta de Educação
Ambiental poderia pautar-se inicialmente por uma educação alimentar, pois de um lado é um
instante ímpar de comunicação com bens naturais e de outro ainda somos como e o que comemos‖,
aqui apresentamos uma proposta de Educação Ambiental com foco no consumo de alimentos
orgânicos contrapondo os benefícios ambientais desses com os impactos socioambientais dos
alimentos industrializados e da agricultura convencional.

Educação Ambiental e o consumo de alimentos orgânicos

Os primeiros questionamentos sobre a crise ambiental destacavam os impactos gerados no


processo de produção seja nos sistemas agrícolas ou industriais. No entanto, na década de 70 já
havia um deslocamento discursivo da produção para o consumo. Para Miller (1997, apud Portilho,
2005) o consumo é uma atitude que envolve tomada de decisões políticas e morais praticamente
todos os dias. De acordo com Santos (1987 p. 41), o consumo tem a sua própria força ideológica e
material. Às vezes, porém, contra ele, pode se erguer a força do consumidor.
A relação entre consumo e problemas ambientais se define principalmente pelo esgotamento
dos recursos naturais e pela desigualdade social que se apresenta no ato de consumir. Nesse sentido,
a construção da consciência crítica para as questões socioambientais se dá no desenvolvimento de
práticas de Educação Ambiental não apenas no âmbito ecológico das questões ambientais, é preciso
que o consumidor reflita sobre os produtos que irá consumir e o reflexo de suas escolhas sobre sua
vida e sobre o funcionamento do sistema socioambiental. Isso mostra que a construção da
consciência crítica para as questões socioambientais se dá no desenvolvimento de práticas de
751
Educação Ambiental não apenas no âmbito ecológico das questões ambientais, pois o homem
interage em diferentes espaços sociais e culturais, devendo este, ter suas percepções de relação
homem-natureza influenciadas por uma leitura crítica de situações vividas no seu próprio cotidiano.
A transição da agricultura industrial para a agricultura de bases agroecológica constitui um
exemplo, onde o consumidor precisa estar informado sobre os aspectos sociais, ecológicos e
culturais envolvidos no ato de consumir. Dentre os objetivos da agroecologia tanto para a
sociedade como para o meio ambiente podemos elencar, segundo Altieri (2002):

I. Segurança alimentar com valorização de produtos tradicionais e conservação de geoplasmas de


variedades culturais locais;

II. Resgatar e reavaliar o conhecimento de tecnologias camponesas;

III. Promover o uso eficiente de recursos locais;

IV. Aumentar a diversidade vegetal e animal de modo a diminuir os riscos;

V. Reduzir o uso de insumos externos;

VI. Buscar novas relações de mercado e organização social.

Desse modo, poder optar pelo consumo de produtos orgânicos advindos da agroecologia ou
da agricultura familiar orgânica representa uma forma de cooperação com a união de forças para
romper com a lógica de dominação do sistema atual. Pois, a agroecológica, além de não utilizar
produtos químicos, incorpora ao processo de produção a conservação ambiental e o compromisso
ético entre agricultores e consumidores. (OLIVEIRA, 2007).
Quanto ao perfil do público consumidor de produtos agroecológicos, Lima (2008) destaca a
falta do conhecimento acerca da importância do consumo de produtos agroecológicos como uma
das explicações para a ausência de consumidores de classes menos favorecidas em feira
agroecológica. Pois, ainda segundo Lima (2008), os produtos agroecológicos são comercializados a
preços iguais aos de feiras comuns, chegando a ser vendidos mais baratos que em outros locais,
principalmente quando comparados com os preços de redes de supermercados.
Segundo Vasquéz; Barros; Silva (2008), os consumidores de produtos orgânicos em sua
maioria possuem graduação ou pós-graduação, ou seja, essas pessoas apresentam elevado nível de
escolaridade e, em muitos casos, optam pelo consumo desses produtos porque tem conhecimento

752
sobre os benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde e assim estão dispostos a pagar preços
mais altos pelos produtos orgânicos em comparação com os valores dos produtos da agricultura
convencional.

Contextualização do estudo

Este trabalho teve como público alvo alunos da rede pública de ensino do município de Rio
Tinto, município que está localizado na Mesorregião da mata paraibana e na Microrregião do litoral
norte, distando 50 km da Capital, João Pessoa. Segundo dados do IBGE (2010), o município está
composto por uma população de 22.947 habitantes.

O município teve seu desenvolvimento iniciado com a instalação da fábrica de tecidos de


propriedade dos irmãos alemães Artur, Frederico e Alberto Lundgren. Atualmente, a principal
atividade desenvolvida é a agricultura e o comércio, destacando-se a persistência da agricultura
familiar na região. (IBGE - 2006).
O público alvo está caracterizado por jovens e crianças entre 12 e 21 anos que residem na
zona rural e estudam em escolas públicas da zona urbana do município de Rio Tinto-PB. A
abordagem ao público foi feita no momento em que este esperava a condução escolar na Praça João
Pessoa, localizada no centro do município.
Segundo Cândido (2008), diante dos impactos ambientais provocados pela industrialização e
pelo acelerado processo de expansão urbana surge então uma preocupação ambiental, que
influenciou a criação de parques e praças arborizadas com o intuito de promover áreas de lazer e
contemplação à natureza.
No entanto, a criação de parques e praças arborizadas com a intenção de garantia da
qualidade ambiental tem esses intuitos interrompidos ao deixarem de exercer apenas as funções de
embelezamento paisagístico, conforto térmico, purificação do ar, redução da poluição sonora, e
passam a ser vistos como meio de uso especulativo das atividades comerciais sem que houvesse um
planejamento prévio desses espaços para esses fins, resultando em mais um centro gerador de
impactos ambientais.
Assim, foi possível verificar que durante o tempo em que os estudantes se reuniam na
praça para aguardar o transporte escolar, os mesmos faziam o consumo de alimentos
industrializados comprados, ali mesmo, ou em supermercados da cidade. A partir dessa observação,
constatou-se a necessidade de intervir no cotidiano da Praça João Pessoa e na vida desses jovens,
por meio de uma proposta metodológica de educação ambiental, com o intuito de construir o
diálogo sobre alguns problemas gerados pelo consumo de alimentos industrializados e pela

753
agricultura convencional, contrapondo-os com os benefícios ambientais e sociais do consumo de
alimentos orgânicos.
Para tanto, os jovens estudantes que frequentavam a praça foram convidados a participar de
uma oficina, onde seriam discutidas tais questões. Os que se dispuseram a participar foram
convidados a se organizar na formação de grupos.
No momento seguinte, foi proposto aos mesmos que realizassem a compra de alimentos que
gostariam de consumir em um piquenique que seria realizado na Praça João Pessoa. Cada grupo
dispunha de uma quantia de R$10,00 para aquisição dos produtos que iriam compor o cardápio do
piquenique.
Após a realização da escolha dos alimentos, os alunos retornaram à praça para dar
continuidade ao piquenique. Nesse momento, foi estabelecido um diálogo em torno dos motivos da
existência de uma variedade tão grande de alimentos no mercado. Cada participante pôde expor os
motivos que influenciaram na escolha dos alimentos, além disso, puderam ser discutidas algumas
diferenças entre os alimentos industrializados, como os alimentos de agricultura convencional e os
de produção agroecológica ou da agricultura familiar. Tendo em vista que o público trabalhado
residia em sua maioria na zona rural, procurou-se sensibilizar para a importância de se conhecer
melhor, os alimentos que são produzidos na região onde vivem procurando valorizar os produtos
tradicionais da agricultura familiar.

Contribuições da atividade desenvolvida na construção do conhecimento socioambiental

A metodologia utilizada possibilitou a construção do conhecimento a partir do diálogo entre


as percepções de cada participante. Entretanto, é passível de algumas adaptações. O dinheiro
utilizado pode ser substituído por uma moeda simbólica, e o ambiente de compras pode ser
viabilizado através da utilização de figuras que representem os alimentos comercializados em
supermercados ou em feiras agroecológicas. Além disso, com o intuito de enriquecer a discussão,
poderiam ser realizadas demonstrações visuais das diferenças entre os alimentos cultivados com a
utilização de agrotóxicos, que geralmente são grandes e viçosos, e os orgânicos muitas vezes
pequenos e deformados, porém superam em outros fatores, como o cheiro, o sabor e por serem mais
saudáveis.
A Figura I abaixo apresenta o momento em que os estudantes escolhem os produtos no
supermercado.

754
Figura I. Estudantes escolhendo produtos.

Conforme pode ser visto na Figura II abaixo, dentre os alimentos escolhidos pelos
estudantes podemos verificar a presença de refrigerantes e sucos, além, de biscoitos industrializados
e algumas frutas como maçã, laranja e uva.

Figura II. Alimentos escolhidos para o piquenique.


Por meio do depoimento dos participantes, percebeu-se que a escolha dos alimentos foi
influenciada pelo sabor, pelo preço e pelos atributos saudáveis, no caso das frutas, citadas como
mais benéficas para a saúde quando comparadas pelos jovens com os alimentos industrializados. O
Quadro I abaixo apresenta de forma geral os alimentos escolhidos pelos participantes.

Quadro I- Alimentos escolhidos pelos participantes para o piquenique.


Alimentos Tipos de alimentos Características observadas Origem
nos alimentos escolhidos
Frutas. Maçã, uva e laranja. Rico em nutrientes, mais Agricultura.
saudáveis que os
industrializados e gera
resíduos orgânicos de fácil
decomposição na natureza.
Biscoitos. Salgados, recheados com Pobre em nutrientes, rico Industrializado.
chocolate, recheados com em calorias, colorido e
aromatizado artificialmente,
755
goiabada. contém conservante
químico e gera resíduos
sólidos de difícil
decomposição na natureza.
Refrigerantes. Refrigerante de Guaraná e Pobre em nutrientes, muito Industrializado.
refrigerante de laranja. calórico, colorido e
aromatizado artificialmente,
contém conservante
químico e gera resíduos
sólidos.
Sucos. Suco de laranja. Colorido e aromatizado Industrializado.
artificialmente, contém
conservante químico e gera
resíduos sólidos de
inorgânicos.

Os principais questionamentos colocados para o consumo de alimentos industrializados


estão relacionados à poluição ambiental e aos malefícios que esses produtos podem ocasionar na
saúde do ser humano. Entretanto, esses alimentos ainda são consumidos com muita frequência, para
incentivar o consumo a indústria alimentícia investe cada vez mais em estratégias de marketing,
porém, outra questão que influencia é a praticidade oferecida para as pessoas que tem um cotidiano
corrido, em que, o tempo que seria necessário para o preparo das refeições é substituído pelo
consumo de alimentos comprados prontos para o consumo.
Nesse sentido, o resgate de alguns costumes da agricultura familiar, a exemplo das comidas
típicas preparadas com ingredientes produzidos regionalmente, constitui um hábito necessário tanto
para a valorização da cultura regional como para o melhoramento da qualidade da dieta alimentar.
O consumo de frutas enfatizado como uma escolha necessária para uma alimentação
saudável acende a discussão para a diferença entre os produtos da agricultura convencional e os
produtos agroecológicos. Pois, hoje já são comprovados cientificamente os malefícios do uso dos
―defensivos agrícolas‖, utilizados na agricultura convencional para a saúde humana e sobre o
equilíbrio dos ecossistemas naturais. Entre os problemas ocasionados pelo uso de agrotóxicos foram
elencados vários impactos como: i.Doenças em seres humanos, provocadas pelo contato direto com
os agrotóxicos, tal fato foi exemplificado por alguns participantes, que testemunharam casos de
intoxicação de pessoas de sua família provocada pelo uso dessas substâncias. ii.Destruição de
espécies de insetos importantes para a polinização e reprodução das espécies vegetais e a
contaminação do solo, da água e do ar.
Diante da exposição dos impactos que o uso de agrotóxicos na agricultura convencional
pode ocasionar, outra questão foi colocada em destaque por um dos participantes da atividade.
Relatando que sua família produzia hortaliças utilizando os princípios da agroecologia, ele destacou

756
sua opinião contrária ao fato desses produtos apesar de serem mais saudáveis ainda serem
comercializados por preços similares aos dos produtos da agricultura convencional.
Pesquisas relatam que alguns consumidores estão dispostos a pagar preços mais altos pelos
alimentos orgânicos. No entanto, há pesquisas que mostram que esses consumidores apresentam
grau de escolaridade elevado e pertencem a classes sociais mais favorecidas, desse modo, o
incentivo ao consumo de produtos ecologicamente corretos deve levar em consideração a
acessibilidade dessas mercadorias a todas as classes sociais, pois, do contrário, o fato de que apenas
uma pequena parcela da população tenha acesso a mercadorias oferecidas como ecologicamente
corretas, torna essas práticas de incentivo ao consumo sustentável como agravantes do quadro de
desigualdade social.
Outro aspecto observado foi o de que alguns alimentos, a exemplo de frutas como a uva, não
eram produzidos no estado da Paraíba, sendo este um dos motivos de alguns produtos apresentarem
preços mais elevados, quando comparados a alimentos produzidos localmente. Pois, passam a ser
incluídos no valor dos mesmos além dos gastos com a produção, os custos com transporte e outros
encargos tributários até que ele chegue à mesa do consumidor.
Nesse sentido, o consumo de produtos agroecológicos se diferencia do consumo de produtos
da agricultura convencional por proporcionar novas relações sociais e de mercado entre agricultor e
consumidor, pois, segundo Santos e Marcos (2006), a comercialização desses produtos em feiras
agroecológicas torna possível o consumidor conhecer a história dos produtos e de quem os produz,
eliminando a figura do atravessador e proporcionando relações sociais e de mercado mais justas.

Considerações finais

A proposta aqui apresentada conseguiu estabelecer um espaço dialógico com jovens que
residem em área rural e estudam na zona urbana acerca da responsabilidade socioambiental de cada
cidadão. Este espaço contribuiu para o envolvimento dos participantes com a temática, que nos
últimos anos tem sido amplamente discutida em diversas esferas da sociedade. Em relação às
contribuições para a formação crítica dos alunos, foi possível apontar a possibilidade de estabelecer
indicadores que poderiam reforçar a percepção dos jovens no conhecimento sobre consumo
consciente.
A importância de se elaborar práticas de educação ambiental para discutir a questão do
consumo de alimentos orgânicos se dá pela necessidade de valorização de uma melhoria na
qualidade de vida e pela necessária conscientização quanto à importância da agroecologia, que além
de não utilizar produtos químicos, incorpora ao processo de produção a conservação ambiental,
valorização dos produtos tradicionais e o compromisso ético com os consumidores.

757
A proposta de Educação Ambiental para o consumo de alimentos orgânicos quebra com a
visão de uma natureza distante e intocada, pois parte da consideração de que o homem precisa ser
sensibilizado quanto às questões socioambientais, porém não deixa de considerar que o mesmo
encontra-se envolvido pela lógica da produção e do consumo.
Finalmente, é desejo dos autores deste artigo aplicar esta oficina em outros espaços, como o
próprio ambiente escolar, devido este espaço apresentar um alto índice de consumo de alimentos
industrializados. Pretende-se, com isso, investir na formação e incentivar as discussões para as
questões ambientais através da conscientização da responsabilidade social e ambiental e mais, de
disseminar para a sociedade os benefícios da Educação Ambiental para a qualidade da vida e para o
bom funcionamento do sistema socioambiental.

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759
A POLÍTICA DOS 3 R‘s DA SUSTENTABILIDADE DIANTE DA SOCIEDADE DE
CONSUMO: PERCEPÇÃO DE ALUNOS DA UFRPE

Danielle Franklin de LIRA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UFRPE – (danielle_lira12@hotmail.com)

Fernando Ferreira Joaquim MAIA


Doutor e Mestre em Direito pela UFPE; Professor Adjunto da UFRPE – (fjmaia3@gmail.com).

Resumo

Na atualidade um dos assuntos mais comentados é o meio ambiente e a preocupação que temos em
entender e praticar a educação ambiental. O artigo apresenta a percepção de alunos iniciantes e
alunos em termino do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural
de Pernambuco sobre os 3 R‘s,da sustentabilidade,englobando outras temáticas ambientais que
tenham relação com o perspectivo tema.Foi realizada uma pesquisa quantitativa exploratória através
de um questionário fechado,o qual depois de analisado foi feita uma comparação entre a percepção
dos alunos do 1º período e os alunos do 9º período,dos turnos da tarde e noite.No questionário dos
alunos do 9º período foi realizada também uma analise critica da capacidade desses ― quase‘‘
professores em levar informações sobre a temática para as escolas que vão atuar‖. No referencial
teórico foram apresentadas teorias relacionadas à educação ambiental, resíduos sólidos,os 3R´s e a
sustentabilidade.O trabalhado apresentou um resultado satisfatório quanto à percepção desses
alunos mais especificamente os do 9º período,mostrando que o curso prepara os alunos para temas
transversais como a Educação Ambiental.

Palavras Chaves: Reciclagem, Redução e Reutilização.

Abstract

Nowadays one of the most discussed issues is the environment and the concern we have for
understanding and practicing environmental education. The paper presents a perception students
and beginners students finish the Bachelor's Degree in Biological Sciences, Federal Rural
University of Pernambuco about the 3 R's of sustainability, encompassing other environmental
issues that relate to the perspectival theme. It was conducted a quantitative research exploratory
through a closed questionnaire, which after analysis a comparison was made between the students'
perception of the 1st period and students of 9th period, shifts in the afternoon and no night.No
questionnaire the students of 9th period was also carried out an analysis criticizes the ability of
these "almost'' teachers in bringing about the theme for schools that will work. In the theoretical
framework were presented theories related to environmental education, solid waste, the 3R'sea
sustentabilidade.O worked showed a satisfactory result as the perception of these students more
specifically the 9th period, showing that the course prepares students for cross-cutting themes such
as Environmental Education.

Key Words: Recycle, Reduce and Reuse.


760
Introdução

A Educação Ambiental é uma temática bastante discutida atualmente devido a situação em


que nosso planeta se encontra. Nas últimas décadas vários movimentos tem se intensificado no
mundo a fora tentando fazer com que as pessoas adotem novas formas de comportamento e se
sensibilizem com a realidade ambiental e a responsabilidade da sociedade sobre o meio em que
vivem.Para que isso aconteça é de supra importância a educação,tendo em vista que é a partir dela
que serão formados acadêmicos mais conscientes,envolvidos e comprometidos com as questões
ambientais.
A utilização da política dos 3R´s, que nos induzem a reduzir o consumo de cada recurso,
reutilizar tudo que pode, reciclar sempre que possível,se faz necessária diante de uma sociedade de
constante e alto consumo,isso se refere tanto ao ensino básico quanto ao ensino superior.A
percepção da temática ambiental ainda deixa a desejar,se faz concreto porque a prática também
deixa a desejar.Um exemplo é a utilização de copos descartáveis.Quem anda com uma caneca na
bolsa?Poucas pessoas Para onde vamos,seja médico,lojas,faculdade,escolas,empresas,enfim,durante
o nosso dia cada lugar onde passamos quase sempre utilizamos os copos descartáveis.Se levássemos
um copo de acrílico na bolsa,reduziríamos e muito o consumo dos de difícil degradação,e assim
estaríamos fazendo um bem a sociedade e ao meio ambiente.
A escola possui uma enorme importância no contexto de preparação do aluno para o futuro.
A universidade também,o que muda é apenas que no caso das licenciaturas está preparando futuros
professores,onde os tais tem papel fundamental na conscientização de seus alunos a temas
ambientais,seja ele de qualquer disciplina,porém os de biologia são vistos como mais importantes
nesse conceito e têm que saber trabalhar mais profundamente o assunto.A política dos 3 R‘s é de
suma importância nesse trabalho,pois é dela que se tira o básico que temos que praticar para ter um
meio ambiente mais equilibrado : reciclar,reutilizar e reduzir.
Tendo essa política como base, o presente trabalho objetiva analisar a percepção da mesma
por 50 universitários iniciantes (1º período) e 50 de fim de curso (9º período) de Licenciatura em
Ciências Biológicas,turnos tarde e noite da Universidade Federal Rural de Pernambuco,fazendo ao
final uma comparação do conhecimento entre ambos e analisando a preparação dos alunos do 9º
período para trabalhar a temática na escola.No que tange essa política,vale lembrar que este trabalho
como estudo de caso limita-se ao grau de conscientização da instituição e períodos avaliados,não
podendo ser um modelo considerado generalizado.

761
2 Referencial Teórico

2.1 Educação Ambiental

A EA baseia-se em uma prática de educação para a sustentabilidade,sendo a tradução das


relações humanas com o ambiente.É também um processo contínuo de ajuda ao ser humano na
identificação dos sintomas e das causas reais dos problemas ambientais.Procura ainda desenvolver
conhecimentos,aptidões,atitudes,motivações e a disposição necessária para o trabalho individual e
coletivo na busca de soluções.(Antunes 2004)
O conceito de EA trata da relação do homem com o meio ambiente,sendo assim vem se
aprimorando ao longo do tempo,se adaptando á realidade social em que o mesmo se
encontra.Diversos autores conceituam a EA de modo diferente.Os conceitos também diferem
quando se diz respeito a Lei da Política Nacional da Educação Ambiental.
De acordo com a Lei nº 9795/99 que dispões sobre a Política Nacional de Educação
Ambiental (ANDREADE,2001) no seu artigo 1º,entende-se por educação ambiental o processo por
meio dos quais o individuo e a coletividade constroem valores
sociais,conhecimentos,habilidades,atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente,bem de uso comum do povo,essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
A EA apesar de não ter constante presença nas escolas,vem sendo trabalhada como um tema
transversal,focando datas comemorativas que condizem com a temática como um bom momento
para ser trabalhada.Nas universidades o tema é tratado com mais frequência,isso se o curso tiver
alguma relação com a temática,através de disciplinas,congressos,simpósios.De acordo a Lei da
Educação Ambiental,em seu Art. 2º afirma: ― A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional,devendo estar presente,de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo,em caráter formal e não formal (MEDAUAR, 2010)‖. A EA se
faz necessária nas escolas desde a educação infantil,onde os alunos vão crescendo habituados
tornado-se capazes de transmitir a sociedade em que convive as informações necessárias sobre o
tema e chegar na universidade atualizado quanto as questões ambientais.
Segundo Philippi(2001),a Educação Ambiental deve buscar valores que conduzam a uma
convivência harmoniosa das espécies que habitam o planeta com o meio ambiente.É preciso
considerar que a natureza não é fonte inesgotável de recursos e suas reservas não são
finitas,devendo ser utilizadas de maneira racional,evitando-se o desperdício e considerando-se a
reciclagem como processo vital

762
2.2 Consumismo e Desperdício do Lixo

A produção de lixo é inevitável. A partir das atividades humanas são gerados resíduos
sólidos de duas maneiras: como parte inerente do processo produtivo e também quando termina a
vida útil dos produtos (CALDERONI, 2003). Assim,o destino que damos ao lixo que produzimos é
um problema cada vez mais sério. A palavra lixo origina-se do latim lix, que significa cinzas ou
lixívia. No Brasil atribuiuse ao lixo, segundo a NBR 10004, a determinação de resíduo sólido.
Residuu, do latim, significa o que sobra de determinadas substâncias (BIDONE; POVINELLI,
1999).Lidar com o lixo é bastante difícil diante da sociedade de consumo e ainda mais porque tal
sociedade desconhece do procedimento e tempo que o lixo descartado levar para se
decompor,causando assim vários problemas ao meio ambiente (Tabela 01). A disposição
inadequada de resíduos sólidos causa impactos graves, tais como a degradação do solo, a poluição
de corpos hídricos, a contribuição para a poluição do ar e a proliferação de vetores causadores de
doenças (JACOBI; BESEN,2006).

LIXO TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO

Papel 3 a 6 meses

Caixa de papelão Mínimo 6 meses

Embalagem de leite Cerca de 6 meses

Tecido 6 meses a 1 ano

Filtro de cigarro 5 anos

Chiclete 5 anos

Madeira Pintada 13 anos

Boia de Isopor Cerca de 80 anos

Copo de plástico Quase 100 anos

Garrafa plástica Mais de 100 anos

Lata de cerveja Mais de 100 anos

Linha de pesca Mais de 600 anos

763
Fralda descartável Cerca de 450 anos

Lixo radioativo Cerca de 250.000 anos

Vidro Cerca de 1 milhão de anos

Pneu Não se sabe ao certo

Tabela 01 – Tempo de decomposição de resíduos sólidos.

O desperdício pode ser considerado como o consumo além do que é necessário. Mas a
determinação do que é necessário é muito difícil de ser realizada, pois pertence a um campo
totalmente subjetivo. A necessidade humana não pode ser considerada somente estando de acordo
com a manutenção biológica, pois consumir bens além dos essenciais ao funcionamento biológico
faz parte do desenvolvimento da diversificação humana. O problema principal é que a sociedade
atual perdeu a dimensão de suas necessidades (WAHBA, 1993). O modelo de vida atual é baseado
no consumo de bens,onde quanto mais se consome,mais se descarta. Um exemplo de desperdício
pode ser dado em relação aos Estados Unidos: cerca de 186 bilhões de correspondências (lixo
postal) são descartadas por ano, e estima-se que 45% delas são jogadas fora sem ao menos serem
abertas, o que corresponde a uma média de 660 cartas por estado-unidense (MILLER JR, 2008).
Outro exemplo e um dos mais criticados é o desperdício de embalagens,o qual quanto maior o
consumo maior a quantidade de embalagens descartadas. LUTZENBERGER (2002) acredita que a
maioria dos produtos que compramos hoje venha com embalagens exageradas, que representam um
desperdício de recursos naturais.Não existe necessidade de tantas embalagens,o que configura um
desperdício de recursos naturais,financeiros,assim como posterior geração desnecessária de lixo.

2.3 A política dos 3 R‘s

Para preservar o meio ambiente e os recursos que este oferece, é urgente uma mudança de
atitude em relação ao mesmo e a todos os problemas inerentes. Atitudes individuais e sociais podem
refletir-se direta ou indiretamente numa mudança positiva.Para isso basta que todos adotem a
política dos 3R‘s. A política é um conjunto de ações sugeridas durante a Conferência da Terra,
realizada no Rio de Janeiro em 1992, e o 5° Programa Europeu para o Ambiente e
Desenvolvimento, realizado em 1993. Os 3R‘s consistem nos atos de Reduzir, Reutilizar e Reciclar
o lixo produzido. Para Bonelli (2005) reduzindo e reutilizando se evitará que maiores quantidades
de produtos se transformem em lixo. Reciclando se prolonga a utilidade de recursos naturais, além
de reduzir o volume de lixo.

764
O autor citado exemplifica algumas formas de 3R´s:

a) Cacos de vidros são usados na fabricação de novos vidros, o que permite a economia de energia.
b) O reaproveitamento do plástico ajuda a poupar petróleo e, portanto, dinheiro.
c) Reciclar Papel, além da economia, significa menos árvores derrubadas.

Ainda expõe o conteúdo de reduzir, reutilizar e reciclar; a saber:

 Reduzir:

Reduzir o lixo em nossas casas, implica em reduzir o consumo de tudo o que não nos é realmente
necessário. Isto significa rejeitar produtos com embalagens plásticas e isopor, preferindo as de
papelão que são recicláveis, que não poluem o ambiente e desperdiçam menos energia.

 Reutilizar:

Reutilizar significa usar um produto de várias maneiras. Como exemplo.


a) Reutilizar depósitos de plásticos ou vidro para outros fins, como plantar, fazer brinquedos;
b) Reutilizar envelopes, colocando etiquetas adesivas sobre o endereço do remetente e destinatário;
c) Aproveitar folhas de papel rasuradas para anotar telefones, lembretes, recados; d) Instituir a Feira
de Trocas para reciclar, aproveitando ao máximo os bens de consumo, como: roupas, discos,
calçados, móveis.

 Reciclar:

Reciclar é uma maneira de lidar com o lixo de forma a reduzir e reusar. Este processo
consiste em fazer coisas novas a partir de coisas usadas. A reciclagem reduz o volume do lixo, o
que contribui para diminuir a poluição e a contaminação, bem como na recuperação natural do meio
ambiente, assim como economiza os materiais e a energia usada para fabricação de outros produtos.
Geralmente o R mais conhecido é o da reciclagem,porém muitas pessoas não sabem de
fato o seu significado e acabam trocando os conceitos. Para alguns a questão do lixo é considerado
como um problema cultural, tendo suas raízes no consumismo da sociedade moderna. Desse modo,
a Política dos 3R‘s teria uma sequência lógica a ser seguida: a redução do consumo deve ser
priorizada sobre a reutilização e a reciclagem; depois da redução, a reutilização deve ser priorizada
sobre a reciclagem (LAYARGUES, 2002).

765
Outra interpretação da Política dos 3Rs é considerando que a Reciclagem deve se sobrepor
à Redução e à Reutilização. De acordo com esse discurso, a Reciclagem seria suficiente para tornar
o consumo sustentável.Essa situação faz com que a reciclagem produza um efeito ilusório e
tranquilizante na consciência dos indivíduos, fazendo-os acreditar que podem consumir ainda mais
produtos, pois são recicláveis,sendo, portanto, considerados ecológicos (BLAUTH apud
LAYARGUES, 2002). O simples símbolo de reciclável nos rótulos acaba trazendo a ideia de que a
embalagem será automaticamente reciclada, infinitamente.

3 Metodologia

Para o desenvolvimento deste estudo utilizou-se a pesquisa bibliográfica exploratória, pesquisa


descritiva e análise quantitativa com o uso de questionário estruturado.

 A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de


pesquisas anteriores em documentos impressos, como livros, periódicos, artigos, teses,
revistas e etc.(MARCONI E LAKATOS,2010).

 O tipo de pesquisa que se classifica como "descritiva", tem por premissa buscar a resolução
de problemas melhorando as práticas por meio da observação, análise e descrições objetivas,
através de entrevistas com peritos para a padronização de técnicas e validação de conteúdo
(THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2007).

 Uma análise quantitativa apresenta os dados em percentuais. A primeira razão para se


conduzir uma Pesquisa Quantitativa é descobrir quantas pessoas de uma determinada
população compartilham uma característica ou um grupo de características. Ela é
especialmente projetada para gerar medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise
estatística (ETHOS, 2002).

Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o tema da Política dos 3R‘s para
fundamentar os objetivos pretendidos neste artigo. Dentro do tema pesquisado, foram aprofundados
diversos assuntos como Educação Ambiental, a problemática do lixo, sustentabilidade.
Para coleta de dados foi elaborado um questionário,em anexo, contendo 10 questões de
múltipla escolha.Participaram da pesquisa 100 alunos do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco(UFRPE),sendo 50 alunos do 1º período
(tarde e noite) e 50 alunos do 9º período (tarde e noite).
766
Após a coleta e seleção dos dados, estes foram tratados e analisados quantitativamente e
qualitativamente para verificar a percepção da Política dos 3 R‘s envolvendo também conceitos da
Educação Ambiental entre os alunos iniciantes(1º período) e alunos em término de curso(9º
período) . No questionário dos alunos do 9º período foi realizada também uma analise critica da
capacidade desses ―quase professores‘‘em levar informações sobre a temática para as escolas que
vão atuar.

4 Resultados

A apresentação e discussão dos resultados seguirão a linha dos recursos disponíveis após
análise dos questionários respondidos pelos alunos. O modelo do questionário utilizado encontra-se
no anexo A.

Gráficos 1e 2 : Quanto a Política dos 3 r‘s você se considera.

Gráfico 1 Gráfico 2

Com relação a questão de número 1 do questionário percebe-se que os alunos do 9º


período estão mais informados do que os do 1º período,porém essa diferença não é tão grande.

Gráficos 3 e 4 : Qual foi sua principal fonte de informação?

767
Gráfico 3 Gráfico 4

Com relação a 2º questão observamos que a principal fonte de informação dos alunos do 1º
período foi a internet,enquanto os alunos do 9º período demonstram buscar informação em fontes
mais seguras como livros.

 Conceitos:
Quanto aos conceitos de Reduzir,Reutilizar e Reciclar perguntados nas questões 3,4 e 5, 70
% dos alunos do 9º período demonstraram mais concisão nas respostas,deixando claro que sabem o
conceito de cada um.Os outros 30% responderam superficialmente ou não souberam responder.Os
alunos do 1º período demonstraram dificuldade nas repostas,apenas 40% responderam com clareza
e o restante mostraram estar confusos ou não souberam responder.

Gráficos 5 e 6 : Qual Política dos 3‘s Você utiliza?

Gráfico 5 Gráfico 6
768
Quanto a 6º questão os alunos do 1º período assim como os do 9º período demonstram
utilizar uma ação da Política dos 3 R‘s,ficando a desejar uma pequena porcentagem que não usa
nenhuma.

Gráficos 7 e 8 : Para você, qual o nível de importância da Política dos 3r‘s diante da sociedade de
consumo?

Gráfico 7 Gráfico 8

Na 7º questão os alunos do 9º período se mostraram mais concisos quanto a importância


da política diante da sociedade,o que faz entender que tenham maior experiência com o assunto.

Gráficos 9 e 10 : Você participa ou já participou de campanhas de Reciclagem,Reutilização e


Redução de lixo?

769
Gráfico 9 Gráfico 10

Quanto a participação em campanhas questionada na 8º questão os alunos do 9º período mostram


que participam mais e os alunos do 1º período já participaram em número maior.
Gráficos 11 e 12 : Qual a melhor forma de tratar o tema?

Gráfico 11 Gráfico 12

Na 9º questão os números foram bem parecidos,fazendo-nos pensar que apesar da diferença de


períodos há uma consciência geral de como melhor o tema deve ser tratado.

A 10º questão os alunos relataram como tratariam o tema na escola,como futuros professores.Os
alunos do 9º período demonstraram saber como aplicar o tema melhor,por já ter uma certa vivência
nas escolas.Enquanto os do 1º período deixaram a desejar quanto a didática a ser aplicada.

770
Considerações finais

Considerando a temática abordada e análise do contexto das turmas pesquisadas, podemos


concluir que a Política dos 3 R‘s ainda deixa a desejar aos alunos iniciantes na
Universidades,mostrando que esses alunos não tiveram uma boa base do assunto em contexto com a
Educação Ambiental em sua trajetória escolar.Quanto aos alunos do 9º período observamos que
possuem uma boa base do assunto e que boa parte dessa base foi adquirida no durante o curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas,o qual em seu currículo está incluso a temática.
Assim, pode-se perceber no presente estudo que a política dos 3R´s é importantíssima para o meio
ambiente, pois sensibiliza população que a reciclagem, redução e reutilização são atos que devem
ser praticados no dia-a-dia.
O presente trabalho é parte das discussões do projeto de pesquisa Retórica,Meio Ambiente e
Poder Judiciário do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de
Pernambuco e também financiado pela CAPES através do Programa de Iniciação a
Docência(PIBIDI).

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772
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO
FORMADORA DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO
MUNICÍPIO DE CABACEIRAS, PB

Emannuella Hayanna Alves de LIRA (UEPB) - emannuellahayanna@gmail.com


Natália Thaynã Farias CAVALCANTI (UEPB) - nataliathayna@yahoo.com.br
José Thyago AIRES (UEPB) zedetaperoa@gmail.com
Suenildo Jósemo Costa OLIVEIRA (UEPB) - suenildo@ccaa.uepb.edu.br

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o nível de consciência ambiental dos alunos em
contrapartida as práticas pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no
município de Cabaceiras- PB. A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-
natureza é bastante antiga, a partir disso, as ações educacionais voltadas às atividades de proteção,
recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm ganhando forças. A evolução dos conceitos de
Educação Ambiental (EA) está diretamente relacionada á evolução do conceito de meio ambiente e
ao modo como este era percebido. A pesquisa foi exploratória e descritiva com entrevistas voltadas
aos dois diferentes públicos: professores e alunos passando por métodos de avaliação diferentes.
Este tipo de estudo visa à obtenção de informações sobre as características, ações, percepções de
determinado grupo de pessoas. Foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo tema,
falta de um projeto político pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz
envolvendo todas as disciplinas. No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma grande
maioria, entende o Meio Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial,
grande parte destes, veem o meio ambiente apenas como fauna e flora. Com isso, trata-se de fatores
bastante preocupantes, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas de orientação para a tomada
de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, vendo que existe uma grande
necessidade de ser mais explorada nas escolas.

Palavras-chaves: Degradação Ambiental; Meio Ambiente; Práticas Pedagógicas.

ABSTRACT

The present study aims to assess the level of environmental awareness among students on the other
hand the pedagogical practices used by elementary school teachers in the city of Cabaceiras II-PB.
The concern with the problems generated from the man-nature relationship is quite old, as
appropriate, educational activities aimed at protection activities, restoration and environmental
improvement partner, have been gaining strength. The evolution of the concepts of environmental
773
education (EE) is directly related to the evolution of the concept of environment and how it was
perceived. The research was exploratory and descriptive with interviews aimed at two different
audiences: teachers and students experiencing different evaluation methods. This type of study aims
to obtain information on the characteristics, actions, perceptions of a particular group of people. It
was observed that even with the encouragement of the school theme, lack of a political pedagogical
project that addresses the issue of efficiently and effectively involving all disciplines. Regarding
students, it was observed that a large majority understands the Environment as something
important, but outside their existential context, much of these, see the environment just as fauna and
flora. With this, it is very disturbing factors, given that EA is a tool to guide the awareness of
individuals regarding environmental problems, seeing that there is a great need to be further
explored in schools.

Keywords: Environmental Degradation, Environment, Pedagogical Practices.

Introdução

No novo século, a escola tomou para si a incumbência de preparar os futuros cidadãos


baseados em princípios ambientais. Mas infelizmente, a grande maioria das ações
educativas coloca nossa espécie como único elemento do meio a ser beneficiado. Tais
atividades são, em sua maioria, engessadas e possuidoras de uma visão ingênua de
―salvarmos o planeta de nós mesmos‖ ou de propiciarmos um futuro mais sustentável
para as nossas próximas gerações. (GUIMARÃES, 2008, p.7)

A preocupação com os problemas gerados a partir da relação homem-natureza é bastante


antiga, todavia foi em meados dos anos 50 que a crise ambiental foi disseminada, e na década
seguinte que começaram a surgir com maior intensidade às reivindicações e os protestos contra o
agravamento da degradação ambiental (CARVALHO et al, 2005). A partir disso, as ações
educacionais voltadas às atividades de proteção, recuperação e melhoria sócia ambiental, vêm
ganhando forças. De acordo com Dias (1991), a evolução dos conceitos de Educação Ambiental
(EA) esteve diretamente relacionada á evolução do conceito de meio ambiente e ao modo como este
era percebido. Com isso, a EA nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental
materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica
a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. A aprovação
da Lei nº 6.938, de 31.8.1981, institui a Política Nacional de Meio Ambiente a todos os níveis de
ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na
defesa do meio ambiente. Dentro de toda problemática apontada, e da importância da preservação
ambiental referidas no artigo 225 da constituição brasileira, este trabalho teve como principal
objetivo avaliar o nível de consciência ambiental dos alunos em contrapartida as praticas
pedagógicas utilizadas pelos professores do ensino fundamental II no município de Cabaceiras- PB.

774
A pesquisa foi direcionada aos alunos e professores do ensino fundamental II do ensino
publico do município de Cabaceiras. O município de Cabaceiras esta localizado na microrregião do
Cariri Oriental Paraibano, com clima semiárido e uma população estimada em 5.035 habitantes
(IBGE 2010). Metodologicamente a pesquisa foi do tipo exploratório e descritivo. Este tipo de
estudo visa à obtenção de informações sobre as características, ações, percepções de determinado
grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo, por meio de instrumentos
de pesquisa, normalmente um questionário. As entrevistas voltadas aos dois diferentes públicos:
professores e alunos passaram por métodos de avaliação diferentes, visando à necessidade de uma
diferente linguagem e abordagem para cada publico.
Na avaliação da pratica pedagógica dos professores adotamos como base a metodologia de
SARAIVA, NASCIMENTO & COSTA (2008), analisando o fenômeno estudado, os seus
―porquês‖ e seus determinantes. O questionário aplicado com os docentes constou de 7 perguntas
objetivas. A escolha do questionário se deu pela objetividade das perguntas, o que nos ajudou a
obter os dados estatísticos com maior precisão. A pesquisa foi aplicada a 5 dos 18 professores do
ensino fundamental II da rede publica no município.
Com relação aos alunos, a população de amostragem foi composta por 100 alunos de todas
as turmas do ensino fundamental II de escolas publicas do município. O questionário de avaliação
dos alunos constou primeiramente de questões relativas à identificação do entrevistado (sexo, idade
e série.). Em seguida foram inseridas quatro perguntas abertas (SILVA & COUTINHO, s/d) (1- O
que é Meio Ambiente para você? 2- Como estão os rios de nosso município? 3- Você faz parte do
Meio Ambiente? 4-Qual sua contribuição para melhorar o meio ambiente?) seguindo a metodologia
baseada na interação socioambiental proposta por Lopes (1997), onde o mesmo prevê a
possibilidade de avaliar os níveis de consciência de uma sociedade através de práticas
contemplativas e comunicativas, que devem expressar os mais profundos pensamentos humanos na
interação com seu meio.
A avaliação destas perguntas abertas do questionário foi realizada da seguinte maneira:
Valor 0: questionário que em momento algum expressou qualquer relação com a ideia principal do
tema, ou aquele que deixou claro que o aluno não demonstrou o mínimo interesse pelas questões
propostas, deixando-as sem resposta, por exemplo.
Valor 1: respostas que demonstraram que o aluno possui um entendimento vago dos assuntos
tratados, ou seja, ele usa palavras chaves mas não consegue expressar claramente a sua ideia de
Meio Ambiente, não se inserindo neste contexto.
Valor 2: respostas que demonstraram ter uma visão já melhor formada sobre o conceito de Meio
Ambiente, mas ainda não percebem a importância do mesmo para a continuidade da vida e não se
inserem na composição deste Meio.
775
Valor 3: resposta que além de apresentar uma opinião formada sobre o que é Meio Ambiente, na
grande maioria correta e adequada para a capacidade da sua faixa etária, compreende que faz parte
do Meio Ambiente e que uma agressão ao Meio será uma agressão a ele próprio.
Valor 4: questionário que supera as idéias básicas sobre Meio Ambiente entre outros jovens com a
sua faixa etária, ele mostra-se muito interessado com os problemas ambientais do mundo, além
disso propõe maneiras de melhorar a qualidade no meio onde vive através de práticas simples mas
importantes na coletividade, dando a ideia de sustentabilidade.
Após o recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados na planilha do Excel e
elaborados os gráficos para análise das abordagens quantitativas e qualitativas.

Resultados

Na avaliação dos professores buscou-se distribuir graficamente em termos quantitativos os


resultados das respostas do questionário. Analisamos todos os professores do ensino fundamental II
do município conjuntamente, para termos uma visão mais clara do tema abordado. Apesar da
importância da pesquisa, apenas 5 dos 18 professores (27,77%), responderam ao questionário.
Observam-se na Figura 1, questões gerais referentes ao ensino da educação ambiental no
município. Com relação à primeira questão abordada ―Você acha necessária à inclusão da educação
ambiental na educação básica?‖, todos os professores, 100% da população amostrada respondeu que
sim, o que nos revela um nível de consciência dos professores em relação ao tema. Também 100%
dos entrevistados afirmaram que em sua escola existem programas de educação ambiental,
revelando um grande nível de interesse das escolas do município a cerca do problema ambiental.
A respeito do conhecimento de colegas que praticam as questões ambientais vimos que
100% dos professores conhecem colegas que de alguma forma pratica ações de preservação do
meio ambiente. Este fator é extremamente importante, pois, segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) a EA é um dos temas transversais, ou seja, deve ser trabalhado em todas as
disciplinas, enfatizando-se os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.

776
Figura1- Aspectos gerais referentes ao ensino da Educação ambiental.

A Figura 2 mostra que para desenvolver na pratica o ensino da educação ambiental os


professores optam tanto pela passagem dos conteúdos da educação formal (40%), quanto por outras
atividades (40%). Apenas 20% dos entrevistados optam pelas brincadeiras, com o objetivo de tornar
o tema mais atrativo para os alunos.

Figura 2- Como você desenvolve na prática o ensino da Educação ambiental?

Referente ao número de vezes por semana em que se aborda a questão ambiental (Figura 3),
40% dos professores afirma abordar mais de duas vezes, porém as outras alternativas também foram
bastante escolhidas (todas com 20% dos entrevistados), mostrando assim que o tema não é
abordado com uniformidade por todos os professores.

777
Figura 3- Quantas vezes na semana você aborda a questão ambiental?

Para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz (Figura 4) 60% dos
entrevistados acreditam que falta empenho da escola, dos professores, vontade politica dos
governantes e participação da comunidade; e 40% dos entrevistados acreditam que falta apenas a
participação de toda comunidade.

Figura 4- O que falta para que o ensino da educação ambiental se torne mais eficaz?

A Figura 5 nos mostra que ha uma preocupação dos educadores em preservar os ecossistemas
de seu município e praticar atitudes, no dia-a-dia, que visem minimizar os desperdícios, para 80%
dos entrevistados esta deveria ser a contribuição do alunado. Apenas 20% dos entrevistados
afirmam que os alunos podem contribuir apenas praticando atitudes, no dia-a-dia, que visão
minimizar os desperdícios.
Esta questão nos mostra um elevado nível de consciência dos educadores, pois a grande
maioria vê a relação entre o meio ambiente e a sociedade por completo, ou seja, que uma ação está
relacionada à outra.

778
Figura 5- Como os alunos podem agir para que não haja mais degradação dos recursos naturais?

Se a principal função da educação ambiental é contribuir para a formação de cidadãos


conscientes e críticos, capazes de decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo
comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade, esta assume uma dimensão
ampla, atingindo praticamente todas as áreas do currículo, podendo ser entendida como um
sinônimo do que se entende, hoje, por Educação Escolar (SANTA CATARINA, 1998, p. 47).

Avaliação dos alunos

Para realização da etapa referente aos alunos foram escolhidos aleatoriamente 100 alunos do
ensino fundamental II da rede publica de ensino do município de Cabaceiras, com idades entre 12 e
16 anos.
Na Figura 6, observa-se o resumo das respostas dos alunos sobre ―O que é meio ambiente‖,
para esta questão todas as pontuações foram marcadas (de 0 a 4 pontos), obtendo 2 pontos o maior
número de alunos 38%.

Figura 6- Resposta dos alunos ao 1° questionamento

779
Em relação aos rios do municipio, a maioria dos alunos (54%) não apresentaram respostas que
não tiveram relação como tema abordado. E nenhum dos alunos superou as ideias basicas sobre o
tema, não obtendo assim nenhum aluno neste quesito a pontuação máxima.

Figura 7- Resposta dos alunos ao 2° questionamento.

Para a questão 3, observa-se que 92% dos alunos, responderam sim, fazer parte do meio
ambiente, porém apenas 2% destes conseguiram explicar de forma convicente como isto acontece.
Este é um fator bastante preocupante, devido a faixa etária e série destes alunos, que a esta altura já
deveriam possuir uma opinião embasada sobre o assunto, bem como uma capacidade de discorrer
explicações concretas a respeito do mesmo.

Figura 8- Resposta dos alunos ao 3° questionamento.

Nenhum dos alunos afirmou que a melhoria do meio ambiente é um trabalho só de adultos;
52% dos entrevistados afirmam que como contribuição para melhorar o meio ambiente, não jogam
lixo nas ruas e rios; 28% afirmam contribuir com a reciclagem e cuidando das plantas e animais.

780
Empatados em 10% ficaram as respostas não obtiveram relação com o tema e as respostas mais
embasadas, que abordaram os temas plantar, cultivar, preservar.

Figura 9- Resposta dos alunos ao 4° questionamento.

Considerando o nível de consciência ambiental dos alunos entrevistados, os indicadores de


consciência ambiental no ensino fundamental II da rede pública no município de Cabaceiras foram
os seguintes:
- 6% ótimo, 20% bom e 74% ruim.
Entendendo que na soma dos valores das questões de cada aluno, é validada por:
- resultados acima de 11 pontos são iguais ao conceito ótimo;
- resultados entre 8,25 a 11 pontos são iguais ao conceito bom;
- resultados abaixo de 8,25 pontos são iguais ao conceito ruim.
Os resultados obtidos referentes às praticas pedagógicas utilizadas pelos professores foram
insatisfatórios quando comparado a consciência ambiental dos alunos. Afirma-se isto quando
observa-se que 100% dos professores entrevistados dizem que na escola existem programas de
educação ambiental e que acham importante o ensino da mesma, além do fato de que todos
afirmaram conhecer colegas que praticam o assunto; no entanto, 74% das crianças e jovens
entrevistados não conseguiram responder questões básicas sobre meio ambiente de forma clara e
objetiva, não conseguindo fazer relação do mesmo com o local em que vivem, ficando este restrito
apenas na opinião da maioria dos alunos as plantas e animais.
Para a obtenção de resultados mais satisfatórios e para que se possa ter a formação de adultos
consciente e preocupados com as questões ambientais é necessária que haja uma participação mais
efetiva dos professores e a adoção de métodos mais dinâmicos e efetivos, para que haja inclusão da
EA em todas as disciplinas para que este passe a ser realmente um tema transversal.
Aos professores de Línguas Portuguesa e estrangeiras, recomenda-se que tragam para a sala
de aula textos relacionados ao meio ambiente; aos de História, que estimulem a leitura reflexiva dos
acontecimentos ecológicos passados e presentes; aos de Matemática, que estimulem os alunos a
781
pensar sobre quantidades, envolvendo temas ambientais, para que estes possam transformá-los; em
Biologia podem ser abordados diversos temas ambientais e ciclos da natureza; na disciplina de
Física, podem ser tratados os fenômenos que hoje vêm ocorrendo com muito mais intensidade na
natureza, bem como abordar a questão das energias alternativas, etc; em Química pode ser analisada
a questão do uso indiscriminado dos agrotóxicos (SARAIVA, NASCIMENTO e COSTA, 2008)

Conclusão

Fica evidente com esta pesquisa que a participação dos professores no que diz respeito à
temática ambiental não é uniforme, ainda que esta seja incentivada pela escola e muito debatida e
discutida em âmbito nacional. Também foi observado que mesmo com o incentivo da escola pelo
tema, falta de um projeto político pedagógico que contemple a temática de forma eficiente e eficaz
envolvendo todas as disciplinas.
No que diz respeito aos alunos, foi observado que uma grande maioria, entende o Meio
Ambiente como algo importante, porém fora do seu contexto existencial, grande parte destes, vêem
o meio ambiente apenas como fauna e flora. Este fato nada mais é do que uma resposta dos alunos,
perante as praticas pedagógicas utilizadas e o descompasso dos professores perante o assunto.
Este fator é bastante preocupante, tendo em vista que a EA é uma das ferramentas de
orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, e que uma
parte do alunado entrevistado já esta saindo do nível fundamental e entrando no nível médio; ou
seja, estamos formando jovens inconscientes e indiferentes a este tema que como sabemos é de
grande importância para o futuro da humanidade.
Dentro do exposto, recomenda-se que seja revisto o plano de educação ambiental das
escolas junto aos professores, ressaltando, a importância da transversalidade da educação ambiental.
Também é importante que as famílias destes jovens e todo comunidade sejam envolvida nos
projetos de EA criados pela escola, pois este é um assunto de interesse de todos, e a educação das
crianças e jovens só pode ser firmada se esta estiver presente em todo ambiente de convivência
social do mesmo.

Referências

CARVALHO, Aurean de Paula; SILVA, Dany Geraldo Kramer Cavalcanti; TUPINAMBÁ, Felipe
Cesar Marques; SOUSA, Anésio Mendes de; FILHO, Antonio Moreira de Carvalho. Meio
Ambiente Na Perspectiva de Estudantes do Ensino Médio de uma Escola Pública no Município de
Campina Grande/PB. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 6, n. 3, p. 119-131, set
/dez 2009.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 1992, p. 399.

782
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=pb

LOPES, Josiane. Matemática, uma proposta de ensino a partir da teoria das inteligências múltiplas.
Nova Escola: Revista do Ensino de Primeiro Grau. 101: 8-11, 1997.

SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de


Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Temas Multidisciplinares.
Florianópolis: COGEN, 1998.

SARAIVA, Vanda Maria; NASCIMENTO, Kelly Regina Pereira do; COSTA, Renata Kelly Matos
da. Prática Pedagógica Do Ensino De Educação Ambiental nas Escolas Públicas de João Câmara –
RN. Holos, Ano 24, V. 2, fev 2008.
SILVA, Júlio César Moschetta da. COUTINHO, Solange da Veiga. Nível de consciência ambiental
em escolas como indicador de sustentabilidade. Universidade do Contestado, Campus de
Caçador/SC, s/d.

783
PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE EM RECURSOS HÍDRICOS: A
PARTIR DA PROBLEMÁTICA DA LAGOA DO APODI-RN

Antônio Felipe Fernandes ARAÚJO


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
felipe_uern@hotmail.com

Felipe Vercely Arrais de ANDRADE


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
felipe_vercely@hotmail.com

Hiara Ruth da Silva Câmara


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduanda do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
hiara_ruth@hotmail.com

Jorge Luís de Oliveira PINTO FILHO


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Professor do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
jorgefilho-uern@bol.com.br

RESUMO

O local estudado situa-se na parte mais baixa do município de Apodi-RN, e tem sido até hoje uma
fonte de renda para muitos que ali residem. A pesca, a agricultura e a pecuária são algumas das
atividades econômicas desenvolvidas na região. Este trabalho tem como objetivo expor as
principais problemáticas ambientais que estão inseridas no trecho urbano da Lagoa do Apodi,
através do levantamento das principais fontes poluidoras e como isso afeta a comunidade que reside
às suas margens, e, diante disso, apresentar uma proposta de Educação Ambiental com Ênfase em
Recursos Hídricos. Foi realizada uma visita in loco, a fim de visualizar a problemática de perto e
interagir com a realidade dos moradores da região. Também foi utilizado o método de registro
fotográfico e um check list, com o intuito de identificar as áreas atingidas por dejetos e pela
urbanização desordenada. Percebeu-se que a Lagoa do Apodi atualmente encontra-se degradada,
situação esta que afeta as pessoas que utilizam direta ou indiretamente esse local. Foram
identificadas poluição de origem industrial, urbana e agropastoril. Diante desse cenário, os
problemas com o estado da referida lagoa acabam por refletir na sociedade, principalmente naqueles
que residem em locais mais próximos. Nesta perspectiva, foi elaborada uma Proposta de Educação

784
Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, que objetiva conscientizar a população dos danos
causados nesse ambiente aquático, seus efeitos e dar possíveis medidas cabíveis para atenuar essa
problemática, através de alguns planos de ações. Percebeu-se também que há a necessidade de uma
ação conjunta do poder público com a população local que vise um manejo adequado para a lagoa e
para as regiões vizinhas.

PALAVRAS-CHAVES: Lagoa do Apodi; Problemáticas Ambientais; Identificação das Fontes;


Educação Ambiental; População Local.

ABSTRACT

The study site is located in the lower part of the municipality of Apodi-RN, and has to date been a
source of income for many living there. Fishing, farming and ranching are some of the economic
activities in the region. This paper aims to explain the main environmental issues that are embedded
in urban stretch of lagoon Apodi through survey of the main polluting sources and how it affects the
community residing along its banks, and, before that, a proposal Education environment with
Emphasis on Water Resources. We conducted a site visit in order to see the problem up close and
interact with the reality of local residents. We also used the method of photographic record and a
check list, in order to identify areas affected by the waste and unplanned urbanization. It was
noticed that the pond Apodi currently is degraded, a situation that affects people who use this site
directly or indirectly. We identified pollution from industrial, urban and agropastoral. Given this
scenario, the problems with the state of said pond eventually reflect in society, especially those who
live in places closer. In this perspective, we present a proposal for Environmental Education with
Emphasis on Water Resources, which aims to raise awareness of the damage caused in the aquatic
environment, its effects and possible give reasonable steps to mitigate this problem, through some
action plans. It was also perceived that there is a need for joint action by the public authorities with
the local population that seeks proper management of the lagoon and the surrounding regions.

KEYWORDS: Pond Apodi; Environmental Issues; Identification of Sources, Environmental


Education, Local Population.

INTRODUÇÃO

A quantidade de água doce renovável na terra gira em torno de 40.000 Km³ anuais,
levando em consideração a diferença entre a precipitação pluviométrica e a evaporação. Porém,
nem todo esse volume pode ser utilizado, uma vez que, quase dois terços rapidamente retornam aos
corpos d‘Água e o restante é absorvido pelo solo e se concentra nas camadas mais superficiais, nos
785
aquíferos subterrâneos. Sendo a parcela de água disponível para consumo de aproximadamente
14.000 Km³. Essa pequena parcela disponível a humanidade e a custos compatíveis com seus
diversos usos é denominada de Recursos Hídricos (PEREIRA JÚNIOR, 2004).
Essa pequena parcela de água é utilizada para diversos fins como: abastecimento doméstico
e industrial; irrigação; dessedentação de animais; manutenção da flora e fauna; recreação e lazer;
geração de energia elétrica; navegação e diluição de despejos (DERISIO, 1992).
Ainda segundo Derisio (1992), os recursos hídricos tem sua poluição originada de quatro
fontes, que são: poluição de ordem natural, quando esta não está associada à ação humana; poluição
industrial, quando é originada a partir de resíduos líquidos dos processos industriais em geral;
poluição urbana, quando é oriunda de habitantes de uma cidade e poluição agropastoril, que é
decorrente de atividades ligadas principalmente a agricultura e a pecuária.
Algumas dessas fontes de poluição têm atingido a Lagoa do Apodi e diminuído
gradativamente seu potencial hídrico, que tem sido de muita importância para os moradores que
residem próximos à lagoa e que consequentemente tem utilizado seus recursos diretamente. É
possível perceber o despejo de dejetos sem um tratamento prévio, o que colabora para a constante
degradação e mau aproveitamento desta importante fonte de água, além da presença de
empreendimentos avícolas e agropastoris, que propiciam derramamento de excremento (matéria
orgânica resultante da digestão animal) na água da lagoa, acarretando sérios danos ao equilíbrio
natural do local.
Além dos problemas citados anteriormente, existe o risco eminente de doenças causadas por
vetores residentes na água da Lagoa do Apodi e no seu entorno, decorrente do despejo de esgotos
diretamente na mesma e da presença de odores resultantes da alta concentração de matéria orgânica
em decomposição.
Diante desse cenário de degradação da Lagoa do Apodi é importante se pensar no
desenvolvimento de métodos que mitiguem os impactos já verificados e promovam a prevenção à
novos impactos.
Algumas ações podem ser desenvolvidas a fim de manter a regularidade, qualidade e
aumentar a disponibilidade desse recurso como: reconstituir a vegetação ao longo das margens da
lagoa; implantar redes coletoras e de estações de tratamento de esgotos sanitários; coletar, tratar e
dispor adequadamente o lixo urbano; tratar os efluentes industriais entre outras (PEREIRA
JÚNIOR, 2004). Tais ações podem além de contribuir para a melhoria da qualidade da água,
possibilitar o desenvolvimento de atividades econômicas em condições mais favoráveis.
Nessa perspectiva, a educação ambiental é uma ferramenta que pode ser usada para levar
conhecimento sobre a temática ambiental. A mesma nesse contexto, pode contribuir para a
formação de um pensamento reflexivo sobre o estado atual dos recursos hídricos da Lagoa do
786
Apodi, bem como sua importância, para que os atores sociais se tornem agentes multiplicadores
dessas informações, disseminando ainda mais o conhecimento a respeito dessa questão.
Sendo assim o presente trabalho visa identificar as fontes poluidoras da Lagoa do Apodi e
como a população local é afetada, e a partir dessa problemática apresentar uma proposta de
Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, a fim de conscientizar a população dos
prejuízos causados pela poluição e consequente contaminação da Lagoa do Apodi.

METODOLOGIA

Classificação

Inicialmente foi realizada uma consulta a bibliografia pertinente, objetivando o


levantamento de informações teóricas sobre o problema abordado nesse estudo, consistindo assim
em uma pesquisa bibliográfica (RAMPAZZO, 2002). Em seguida, foi realizada uma visita a campo
que pode subsidiar à construção de um check-list para identificar as principais fontes poluidoras e,
assim, verificar a interação disso com a realidade vivida pela comunidade que reside próximo as
margens da Lagoa do Apodi. Sendo assim o presente estudo pode ser classificado ainda, como uma
pesquisa de campo.

Procedimentos

No dia 30 de abril de 2011, foi realizada uma aula de campo, da disciplina Poluição e
Controle Ambiental, com os discentes do Curso de Gestão Ambiental, 5° período, da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN na cidade de Apodi/RN. Durante essa aula de campo
foram levantados os primeiros dados para a realização desse trabalho, esses dados foram oriundos
do check list, para o levantamento das principais fontes poluidoras e da realização de um registro
fotográfico.
Num segundo momento, foi feito um planejamento e elaborado uma proposta de educação
ambiental referente à recursos hídricos, com o intuito de aplicar o mesmo em alguma escola da
região do entorno da Lagoa do Apodi. O questionário abordaria o tema recursos hídricos e objetiva
adquirir informações sobre a percepção dos alunos com relação a esse tema, bem como suas
opiniões sobre os principais usos da Lagoa do Apodi e suas principais fontes poluidoras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Lagoa do Apodi atualmente encontra-se degradada, situação esta que afeta as pessoas que
utilizam direta ou indiretamente esse ambiente aquático. A água que hoje se encontra poluída e
totalmente inadequada para uso já foi fonte potável para a população, sendo, para muitos, a única.

787
Vários foram os fatores que contribuíram para que a lagoa chegasse a seu estado atual,
dentre eles a poluição por diversas fontes, descaso por parte do poder público e uma falta de
consciência da população em geral. Na concepção de Odum (1997), poluição é qualquer alteração
indesejável nas características químicas, físicas e biológicas do ar, do solo e da água que podem
afetar prejudicialmente a vida do homem, os nossos processos industriais, as condições de vida e
patrimônio cultural; ou que pode deteriorar nossos recursos em matéria-prima, são considerados
poluição.
Dos tipos de poluição citadas por Derisio (1992), as que afetam a Lagoa do Apodi são de
origem industrial, urbana e agropastoril. Quanto aos seus usos, o citado recurso hídrico é de grande
importância para a população do seu entorno, pois é utilizada para abastecimento doméstico e
industrial, irrigação, dessedentação de animais, diluição de despejos e para fins recreativos.

Identificação das fontes poluidoras

A poluição urbana se apresenta na forma de despejo de esgotos (Figura 01), sem tratamento
prévio, diretamente na lagoa e disposição de resíduos sólidos, o que implica em perda da qualidade
da água. Esse fator ainda é influenciado pelo fato da lagoa está situada em uma parte muito baixa da
cidade, o que favorece o escoamento de esgotos em direção a ela.

Figura 01 – Esgoto sem tratamento sendo despejado diretamente na lagoa.


Fonte: Autores.
Outra fonte de poluição identificada na área foi a de origem industrial, que segundo Derísio
(1992), é um das fontes mais significativas em termos de poluição. Esta foi percebida através de
atividades como a retirada de areia para ser utilizada na construção civil, que acaba destruindo a
mata ciliar e deixando a área mais vulnerável à erosão; e também por efluentes industriais oriundos
de abatedouros que estão situados no entorno da lagoa, e tem os seus despejos realizados
diretamente nela, além de causar também odores desagradáveis e o acúmulo de insetos. Em
conjunto, todas essas atividades, além de atingir a população local, acabam causando alterações no
ecossistema que por sua vez implica em uma redução da biodiversidade.
788
Por fim, foi identificada na área, a poluição de origem agropastoril, que é decorrente de
atividades ligadas à agricultura e à pecuária, e se dá através de defensivos agrícolas, fertilizantes,
excrementos de animais e erosão (DERÍSIO, 1992). Este tipo de poluição é muito comum na região,
pelo fato de serem desenvolvidas práticas de agricultura e pecuária nas áreas bem próximas a lagoa,
que causam alterações tanto ao solo quanto a água.

Reflexo para a sociedade

Diante desse cenário de interferência na Lagoa do Apodi-RN, os problemas com o estado da


mesma acabam por refletir na sociedade, principalmente naqueles que residem em locais mais
próximos, que acabam utilizando de tais recursos para sua subsistência e para obter renda, como é o
caso dos moradores que com a pesca obtém alimento para suas famílias e ainda utilizam essa
atividade como fonte de renda. Há ainda aqueles que utilizam a região próxima da lagoa para o
cultivo, principalmente, de arroz e feijão; outros trabalham com a pecuária. E assim, de uma forma
ou de outra todas essas pessoas utilizam os recursos da lagoa. Todas essas atividades econômicas
que os moradores desenvolvem, claramente causam impactos negativos ao meio em que eles vivem,
contudo são os próprios moradores os mais prejudicados.
Os moradores que utilizam esses recursos, principalmente para a subsistência, estão
correndo sérios riscos de saúde, pois além de estarem ingerindo alimentos produzidos em uma área
que apresenta grandes índices de poluição, estão constantemente em contato com a água e o solo
que apresentam as mesmas condições. A Figura abaixo mostra esgotos a céu aberto e entre as casas
(Figura 02).

Figura 02 – Esgotos a céu aberto.


Fonte: Autores.

A população que vive nas proximidades da lagoa enfrenta constantemente problemas com o
saneamento precário da região, como é percebido na figura acima, tendo que enfrentar o risco de
789
contraírem doenças tanto pelo acúmulo de lixo, quanto pelo de insetos que se proliferam em meio a
essas condições.
A existência de uma estação de tratamento de esgoto atualmente desativada (Figura 03)
agrava ainda mais a situação de degradação e deixa claro o descaso por parte do poder público para
com a comunidade.

Figura 03 – Estação de tratamento de esgoto desativada.


Fonte: Autores

Proposta de Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos

Nesta perspectiva, com a finalidade de alertar os atores sociais do entorno da Lagoa do


Apodi-RN sobre a problemática existente na região, foi elaborado uma Proposta de Educação
Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos, que tem por objetivo conscientizar a população dos
danos causados nesse ambiente aquático, seus efeitos e suas possíveis medidas cabíveis para atenuar
essa problemática.
Dessa forma a Proposta de Educação Ambiental com Ênfase em Recursos Hídricos é
composta pelos seguintes Planos de ação:
Plano de ação I - Visita de reconhecimento da área de estudo para identificação do
problema a ser trabalhado;
Plano de ação II - Apresentação do Projeto de Educação Ambiental com ênfase em
Recursos Hídricos na comunidade escolar;
Plano de ação III - Diagnóstico da abordagem do tema recurso hídrico na comunidade
escolar, através de aplicação de questionários para o diretor e supervisores pedagógicos, professores
e alunos da escola;
Plano de ação IV - Tabulação dos dados dos questionários, sobre a abordagem do tema
recurso hídrico;

790
Plano de ação V - Palestra sobre Recursos Hídricos, destacando aspectos relacionados: sua
importância, tipos de usos, formas de poluição, efeitos da poluição, aspectos legais e técnicas de
controle da poluição hídrica.
Plano de ação VI - Aula de campo na Lagoa do Apodi-RN com a finalidade dos alunos
reconhecer os principais usos, suas fontes de degradação e suas consequências. Ao final desse
momento, os alunos seriam responsáveis pela elaboração de um painel constando o diagnóstico
ambiental da área visitada.
Plano de ação VII - Exposição dos painéis ambientais elaborados pelos alunos a partir das
suas observações em campo.
Plano de ação VIII - Palestra referente a recuperação de recursos hídricos e o papel do
cidadão na preservação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lagoa do Apodi já foi, e continua sendo, fonte de renda para toda ou para a maioria da
população que vive em suas proximidades. Entretanto, ao analisarmos as atuais condições em que a
mesma se encontra, se torna evidente a necessidade de se desenvolverem ações que reduzam os
níveis de poluição.
Há a necessidade de uma ação conjunta do poder público com a população local que vise um
manejo adequado para a lagoa e para as regiões vizinhas. Para que seja possível mudar o quadro
atual, é preciso que a sociedade seja alertada quanto aos perigos do consumo de produtos
provenientes da lagoa, como o pescado e as hortaliças produzidas às margens da mesma, bem como
alertá-la sobre os danos causados ao meio ambiente decorrente das ações antrópicas, além do
contato direto com a sua água.
Nessa perspectiva surgem as propostas de educação ambiental, a fim de levar conhecimento
à população sobre temas relacionados ao meio ambiente como poluição do solo, ar e água, suas
causas e consequências, para que eles mesmos possam agir de forma a contribuir para amenizar o
problema da poluição, uma vez que eles estão inseridos diretamente nesse contexto. Isso pode fazer
com que ocorra uma mudança no pensamento da população que refletirá em novos hábitos
relacionados com o manejo da Lagoa do Apodi, fazendo com que as ações propostas aqui sejam
realizadas continuamente e se estendam para todas as esferas da sociedade.
Tão importante quanto a ação da população, é a ação do poder público, que detém grande
parcela de culpa no que diz respeito às condições precárias de saneamento básico e ao despejo de
esgoto sem tratamento algum diretamente na lagoa. Assim sendo, o poder público precisa agir de
forma a atender as necessidades da população, principalmente quanto aos problemas acima
mencionados.
791
Ações como essas poderiam ser realizadas a fim de, gradativamente, diminuir os níveis de
poluição da lagoa, favorecendo principalmente a população local, no que diz respeito a oferecer
melhores condições de vida e habitação, e de se desenvolver um ambiente saudável e livre de
alterações indesejadas.

REFERÊNCIAS

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RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: Para alunos de Graduação e Pós-graduação. São


Paulo: Loyola, 2002.

792
DETERMINAÇÃO DA PEGADA HÍDRICA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO
MUNICÍPIO DE POMBAL – PB

Karla Pereira de LUCENA (CCTA/UFCG) 1– karla.ccta.uacta@gmail.com


Halana Oliveira TRIGUEIRO (CCTA/UFCG)1 – lana_pb_16@hotmail.com
Juliana dos Santos LUCENA (CCTA/UFCG)90 – julianasantos88@hotmail.com
Érica Cristine Medeiros Nobre MACHADO (CCTA/UFCG)91 – ericacristine@gmail.com

Resumo

A Pegada Hídrica de um indivíduo ou de uma comunidade refere-se ao volume total de água doce
que é utilizada para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo ou pela comunidade.
Atualmente, instituições e pesquisadores utilizam a Pegada Hídrica como indicador a fim de
contribuir para o seu aperfeiçoamento e quantificar o consumo direto e indireto de água. O presente
trabalho teve como objetivo quantificar o consumo de água de alunos do ensino médio da cidade de
Pombal – PB, utilizando o indicador Pegada Hídrica. O método utilizado consistiu na aplicação de
questionários que trata do consumo direto de água, do consumo de alimentos e do consumo de bens
industriais necessários ao cálculo da pegada hídrica de cada aluno. Após a aplicação dos
questionários, utilizou-se a calculadora estendida disponibilizada pela WFN para calcular a Pegada
Hídrica. Os resultados indicam que o valor de Pegada Hídrica, com grau de confiança de 99% (Z,2
= 2,575), correspondeu a 996,83 m³/hab/ano, inferior ao valor médio global (1.240 m³/hab/ano) e
nacional (1.381 m³/hab/ano) encontrados na literatura.

Palavras-Chave: Pegada Hídrica, Consumo de água, Ensino médio, Pombal – PB.

Abstract
The Water Footprint of an individual or a community refers to the total volume of freshwater that is
used to produce the goods and services consumed by the individual or community. Currently,
institutions and researchers use the Water Footprint as an indicator in order to contribute to its
improvement and quantify the direct and indirect consumption of water. This study aimed to
quantify water consumption of high school students in the city of Pombal - PB, using the Water
Footprint. The method consisted of questionnaires dealing with the direct water consumption, food
consumption and consumption of industrial goods necessary to calculate the water footprint of each
student. After the questionnaires, we used the extended calculator provided by WFN to calculate the
Water Footprint of students. Results shows that, with confidence level of 99% (Z,2 = 2.575), the
water footprint corresponding to 996.83 m³/hab/year, lower than the global average (1,240 m³/ hab/
year) and national (1,381 m³/hab/year) of the literature.

Keywords: Water Footprint, Water Consumption, High School, Pombal – PB.

90
Graduandos do curso de Engenharia Ambiental.
91
Professora orientadora.

793
Introdução

Segundo o conceito desenvolvido pela Water Footprint Network (www.waterfootprint.org), a


Pegada Hídrica de um indivíduo ou de uma comunidade é definida como o volume total de água
doce que é utilizada para produzir os bens e serviços consumidos pelo indivíduo ou pela
comunidade. Uma vez que nem todos os bens consumidos em um determinado país são produzidos
no próprio país, a Pegada Hídrica consiste de duas partes: o uso dos recursos hídricos nacionais e o
uso de água fora das fronteiras do país. Outros fatores que influenciam diretamente na Pegada
Hídrica de um país são: o volume de consumo (relacionado com o rendimento nacional bruto), o
padrão de consumo (por exemplo, alto versus o baixo consumo de carne), o clima (condições de
crescimento) e a agricultura prática (uso eficiente da água) (Hoekstra e Chapagain, 2007).

O conceito e método do cálculo da Pegada Hídrica têm sido constantemente discutidos na


literatura científica. É alvo de críticas, por alguns pesquisadores, os quais apontam, principalmente:
a) que o indicador induz as pessoas a imaginarem que a água é incorporada ao processo, quando na
verdade refere-se a um fluxo de água que foi aproveitado, e que retornou de alguma forma ao
ambiente; b) que o indicador ignora a disponibilidade hídrica do ambiente, ou seja, não incorpora o
meio como referência (Lanna, 2011).

O presente trabalho tem como objetivo determinar a Pegada Hídrica dos alunos do ensino
médio da cidade de Pombal – PB, através da seleção de amostras que representam duas escolas
públicas e uma privada utilizando o conceito e procedimento de cálculo apresentado pela Water
Footprint Network.

A Pegada hídrica no Brasil e no mundo e suas limitações

A base do conceito do indicador Pegada Hídrica foi introduzida em 2002 por Hoesktra e Hung
em analogia ao conceito de Pegada Ecológica, desenvolvida na década de 90 por Wackernagel e
Ress (1996). Além disso, o conceito de Pegada Hídrica está intimamente relacionado com o
conceito de Água Virtual, introduzido por Allan (Allan, 1993 apud Hoesktra e Chapagain, 2007). A
água virtual e a pegada hídrica podem ser considerados indicadores ambientais, que podem ser
associadas ao nível de vulnerabilidade da disponibilidade de recursos hídricos, frente a uma análise
conjunta com outros fatores, tais como: consumo, geração de resíduos sólidos e o uso e ocupação do
solo (Fernandez e Mendiondo, 2009).

A Pegada Hídrica considera o uso direto e o uso indireto dos recursos hídricos envolvidos em
processos, na produção de produtos ou mesmo em uma área geográfica. O consumo direto diz
respeito ao consumo de água e poluição relacionadas com o uso de água doméstico. O consumo
indireto refere-se ao consumo e poluição associados à produção de bens e serviços utilizados pelo
consumidor (Hoekstra et al, 2011). Geralmente o consumo indireto é superior ao consumo direto;
em consumidores residenciais, por exemplo, a maior parte da pegada hídrica está associada à água
utilizada no processo de fabricação dos produtos consumidos e não à água diretamente consumida.
Recursos hídricos do planeta estão sujeitos a uma pressão crescente na forma de uso, de
consumo e de poluição das águas. No Brasil, é crescente a preocupação com discussões
relacionadas às questões de uso e disponibilidade de água doce, com abordagens a nível local,
794
nacional e à escala da bacia hidrográfica. Segundo Mekonnen e Hoekstra (2011), a crescente
preocupação com os recursos naturais, dentre eles a água, despertou o interesse de vários
pesquisadores em demonstrar que a água doce é um recurso que está sujeito a alterações, levando-os
a defender a importância de colocar as questões de água doce em um contexto global. Uma nação
pode preservar os seus recursos hídricos nacionais, importando água e produtos em vez de produzi-
los internamente (Aldaya et al, 2010).

A Pegada Hídrica global foi estimada por Hoekstra e Chapagain (2007) em 7.450 Gm³/ano,
que equivale a 1.240 m³/hab/ano, em média. Em termos absolutos, a Índia é o país com a maior
pegada hídrica do mundo, com uma pegada total de 987 Gm³/ano, entanto, a Índia contribui com
17% da população global, logo as pessoas na Índia contribuem apenas com 13% para a Pegada
Hídrica global. Em uma base relativa, as pessoas residentes nos EUA possuem a maior Pegada
Hídrica, com 2.480 m³/hab/ano, seguido pelas pessoas dos países do sul da Europa (2.300-2.400
m³/hab/ano). O povo chinês tem uma Pegada Hídrica relativamente baixa, com uma média de 700
m³/hab/ano.

O tamanho da Pegada Hídrica global é em grande parte determinada pelo consumo de


alimentos e outros produtos agrícolas. Nos países ricos, as pessoas geralmente consomem mais bens
e serviços, que imediatamente se traduz em aumento da Pegada Hídrica. Mas não é apenas o
volume de consumo que determina a demanda de água das pessoas. A composição do consumo
também é relevante, porque alguns produtos em particular, necessitam de muita água (e.g. carne
bovina, arroz). Em muitos países pobres é uma combinação de condições climáticas desfavoráveis
(alta demanda evaporativa) e práticas agrícolas inadequadas (resultando em produtividade da água
baixa) que contribui para uma Pegada Hídrica elevada. Por exemplo, a Pegada Hídrica dos EUA é
alta (2.480 m³/hab/ano) em parte por causa do grande consumo per capita de carne e da alta de
produtos industriais; a Pegada Hídrica do Irã é relativamente alta (1.624 m³/hab/ano) em parte por
causa de baixos rendimentos na produção agrícola e em parte porque de elevadas taxas de
evapotranspiração. Nos EUA, o componente industrial da Pegada Hídrica é 806 m³/hab/ano
enquanto no Irã só é 24 m³/hab/ano. A influência dos diferentes fatores determinantes varia de país
para país (Hoekstra e Chapagain, 2007).

O relatório do Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, 2010)


denominado ―Water for business – Initiatives guiding sustainable water management in the private
sector‖ apresenta iniciativas relacionadas às métricas e governança da água. Dentre elas, a
metodologia da pegada hídrica proposta pela Water Footprint Network (WFN) e a norma de pegada
hídrica - ISO 14.046. A proposta de elaboração da norma para a pegada hídrica está em discussão
no âmbito do subcomitê de ACV (avaliação de ciclo de vida), desde 2009, tendo sido aprovada em
junho de 2011, sendo esperada a sua publicação em 36 meses. A versão ―draft‖ da ISO 14046 foi
aprovada de forma que além da perspectiva de ciclo de vida ela contemple a quantificação dos
impactos associados ao uso da água FIESP (2011).

Os valores médios de Pegada Hídrica per capita em alguns países quantificados por Hoesktra
e Chapagain (2007) para o período de 1997-2001 estão apresentados na Figura 1, na qual percebe-se
uma maior contribuição da parcela relativa ao consumo de água para fins agrícolas, em todas as
Pegadas Hídricas de todos os países.

795
Figura 1 - Pegada Hídrica per capita de alguns países e a contribuição de diferentes categorias de
consumo (Hoeskstra e Chapagain, 2007).

No Brasil, o termo pegada hídrica tem se difundido cada vez mais, principalmente, entre as
empresas. Nesta linha, são desenvolvidos projetos sociais e culturais para redução do uso das águas
nos processos produtivos, buscando engajamento da sociedade, preservação de biomas, tratamento
adequado dos resíduos sólidos, etc., Albuquerque (2011). No Brasil, o valor médio global estimado
para o indicador é de 1.381 m³/hab/ano, valor, portanto, ligeiramente acima da média mundial
(1.240 m³/hab/ano).

A avaliação da pegada hídrica concentra-se essencialmente em analisar o uso de água doce,


tendo em conta os recursos limitados deste tipo de água, não abordando outros temas ambientais
como as alterações climáticas, a depleção de minerais, fragmentação de habitats, limitada
disponibilidade de terra ou a degradação do solo, nem sociais ou econômicos como a pobreza,
emprego e bem-estar Hoekstra et al. (2011).

Krauskopf Neto (2011) acredita que é importante desenvolver métodos para acompanhar a
relação (e interferência) humana com a água. No entanto, critica o conceito de pegada hídrica
adotado pela Water Footprint Network, segundo o qual trata de um indicador que gera
valores irreais e absurdamente grandes de "pegada" e induz a que se pense que estes valores são
reais, quando não são. Ainda segundo o autor o objetivo deste indicador é "aumentar a
conscientização", mostrando que se trata de uma ferramenta política, não técnica.
Ramina (2011), no entanto, destaca que qualquer indicador tem sua esfera de abrangência, sua
precisão e seus limites de aplicação, pois são baseados em simplificações e relações que muitas
vezes não representam adequadamente a realidade, apesar de possuírem a pretensão de fazê-lo.
Mesmo assim o autor considera que são úteis e necessários para orientar à gestão, desde que não
sejam tomados como se fossem a realidade e com isso determinem parâmetros de gestão sem
qualquer crítica ou consideração adicional.
Diante de tantas críticas e discussões, cabe aos pesquisadores, empresas e governantes,
estudar as possibilidades de melhorar o método através das vantagens que tal indicador apresenta.
Tais como a utilização do indicador como uma ferramenta de conscientização e incentivo à
796
racionalização no uso da água, através da redução do consumo direto de água e/ou a busca de
produtos e meios de produção mais sustentáveis.

Metodologia

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho consistiu na aplicação de


questionários com propósito de quantificar as Pegadas Hídricas dos alunos, o que requer
informações acerca do consumo direto de água, do consumo de alimentos e do consumo de bens
industriais. As três escolas selecionadas para aplicação dos questionários foram as escolas públicas:
Escola Estadual de Ensino Médio Inovador e Profissionalizante Monsenhor Vicente Freitas (825
alunos) e Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Arruda Câmara (850 alunos) e a privada
Escola Menino Jesus – Geo Pombal (150 alunos). Tais escolas estão localizadas na cidade de
Pombal, no estado da Paraíba.

O município de Pombal possui uma área de 889 km² e está inserido na microrregião de Sousa,
no estado da Paraíba, distante 378 km da capital do Estado, João Pessoa (Figura 1). Conforme o
último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
2010, existe no município uma população de 32.110 mil habitantes, distribuídos entre 16.381
homens e 16.729 mulheres, com uma densidade demográfica de 36,13 hab./km².

Do universo de 1.825 alunos de três escolas selecionadas, selecionou-se uma amostra de 750
alunos, alunos aproximadamente 40% do total, para aplicação dos questionários, assim distribuídos:
300 questionários em cada escola da rede pública (Monsenhor Vicente Freitas e Arruda Câmara) e
150 questionários na escola da rede privada (Menino Jesus GEO).

Figura 2 - Localização do município de Pombal/PB no Estado da Paraíba. Fonte: Autores.

Após a distribuição dos questionários e esclarecimentos sobre o indicador Pegada Hídrica, os


alunos foram orientados a responderem aos mesmos em suas casas, considerando todo o consumo
familiar. Dessa forma, calculou-se a pegada hídrica da família e, em seguida dividiu-se tal valor

797
pelo número de pessoas que compõem a mesma, obtendo-se assim a pegada hídrica individual do
aluno.

O cálculo do indicador foi realizado utilizando a ―Calculadora Estendida de Pegada Hídrica‖


disponibilizada pela Water Footprint Network no site www.waterfootprint.org. Tais dados foram
interpretados, analisados e sintetizados através de uma análise comparativa do consumo de água
entre os alunos das três escolas e, também das escolas da rede pública com a da rede privada e, por
fim a comparação destes valores com os padrões de consumo a nível nacional e mundial.

Resultados e Discussões

A amostra pré-selecionada inicial foi de (750 questionários), 41,1% dos 1.825 alunos, porém
nem todos os alunos mostraram interesse em participar da pesquisa. De forma geral, apenas 103
(apenas 7,1%) alunos responderam corretamente e devolveram os questionários, sendo 51 alunos da
escola Monsenhor Vicente Freitas, 19 alunos da escola Arruda Câmara e 33 alunos da escola
Menino Jesus Geo, respectivamente.

Ao analisar o perfil dos entrevistados selecionados nas três escolas em estudo, constatou-se
que os alunos do ensino médio da cidade de Pombal-PB apresentam uma idade média de
aproximadamente 17 anos, sendo a maioria (67,7%), composta por indivíduos do sexo feminino.
Observou-se ainda que o número médio de moradores por residência foi de quatro pessoas, com
uma renda média mensal de R$1.912,00 por família. Sendo que desse valor, as escolas públicas
apresentaram uma renda média mensal correspondente a R$829,50 por família e a escola privada
um valor de médio R$4.076,00 por família.

Na escola Monsenhor Vicente Freitas, foram aplicados um total de 259 questionários, sendo
que apenas 51 indivíduos em um universo de 825 alunos responderam corretamente os
questionários. Logo, estatisticamente a variável estudada é a própria pegada hídrica calculada para
os alunos, cuja média foi de 882,43 m³/hab/ano com um desvio padrão de 502,98. Desta forma, para
este tamanho de amostra e considerando um grau de confiança de 99% (Z,2 = 2,575) a margem de
erro é de ± 175,77 m³/hab/ano. Ou seja, é possível afirmar como 99% de confiança que os alunos de
ensino médio desta escola possuem uma pegada hídrica variável entre 706,06 e 1.058,21
m³/hab/ano.

Já na escola Arruda Câmara foram aplicados um total de 118 questionários, obtendo retorno
em apenas uma amostra de 19 indivíduos em um universo de 850 alunos. Neste caso, o valor do
indicador pegada hídrica foi de 998,06 m³/hab/ano com um desvio padrão de 461,47. Desta forma, a
margem de erro é de ± 269,71 m³/hab/ano, considerando um grau de confiança de 99%. Ou seja, é
possível afirmar como 99% de confiança que os alunos de ensino médio desta escola possuem uma
pegada hídrica variável entre 728,36 e 1.267,77 m³/hab/ano.

E, por fim na escola Menino Jesus GEO foram aplicados um total de 128 questionários,
contudo, apenas 33 indivíduos em um universo de 150 alunos responderam aos mesmos. Nesta
escola, a média de Pegada Hídrica foi de 1.172,91 m³/hab/ano com um desvio padrão de 836,66, o
que resulta em, para um grau de confiança de 99%, uma margem de erro de ± 332,33 m³/hab/ano.
Ou seja, é possível afirmar como 99% de confiança que os alunos de ensino médio desta escola
possuem uma pegada hídrica variável entre 840,58 e 1.505,24 m³/hab/ano.

798
Ao analisar o valor obtido para o indicador Pegada Hídrica considerando a amostra de todos
os alunos das escolas envolvidas, constatou-se que a tal indicador correspondeu a 996,83
m3/hab/ano, com desvio padrão de 630,69 e margem de erro é de ± 155,48 m³/hab/ano. Ou seja, é
possível afirmar como 99% de confiança que os alunos de ensino médio do município de Pombal-
PB possuem uma pegada hídrica variável entre 841,35 e 1152,31 m³/hab/ano. Percebe-se ainda que
o valor de pegada hídrica encontrado para os alunos do ensino médio da cidade de Pombal – PB, em
média, está abaixo dos valores de Pegada Hídrica Nacional (1.381 m3/hab/ano) e Global (1.240
m3/hab/ano).

Figura 3 – A Pegada Hídrica dos alunos do ensino médio da cidade de Pombal - PB em comparação
com a Pegada Hídrica Nacional e a Global.

Ao analisar os tipos de consumos (Alimentício, Doméstico e Industrial) que compõe o cálculo


da Pegada Hídrica dos alunos das escolas estudadas percebeu-se que, o fator mais impactante da
pegada hídrica das três escolas estudadas é o alto consumo de alimentos. O consumo industrial
apresentou-se, na maioria das vezes, como fator "menos" impactante em todas as escolas estudadas,
no entanto apresentou-se em maior percentual na escola Menino Jesus GEO, o que pode ser
explicado devido ao fato da referida escola pertencer à rede privada e ser constituída por alunos de
famílias que declararam as maiores rendas anuais (Figura 4).

799
Figura 4 – Detalhamento do consumo dos alunos do ensino médio da cidade de Pombal-PB.

Conclusões

Os alunos do ensino médio da cidade de Pombal – PB apresentaram um valor de pegada, em


média, inferior aos valores encontrados na literatura, referente aos valores médios global e nacional.
O que já era esperado, pois, trata-se de uma cidade de médio porte e situada na região do sertão
paraibano, cujas características sócio-econômicas e climáticas sugerem um baixo consumo direto e
indireto de água.

Ratificou-se também a influência da renda familiar no consumo de água, principalmente no


que se refere ao consumo industrial, explicado pelo maior poder aquisitivo para adquirir produtos
industrializados; e, ao consumo doméstico, explicado pela maior quantidade e variedade de
aparelhos ou itens de lazer cuja utilização ou manutenção demandam a utilização de muita água,
tais como máquina de lavar, piscinas, etc.

Agradecimentos

Os autores agradecem às Escolas de Monsenhor Vicente Freitas, Arruda Câmara e Menino


Jesus GEO pelo fornecimento das condições necessárias à realização desta pesquisa e, também aos
alunos que realmente mostraram interesse, respondendo e devolvendo os questionários que foram
aplicados.

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801
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

SOUZA, Josiane Maria (FAEST – Estudante de Iniciação Científica) – Souza.josianemaria@gmail.com


PEREIRA, Idalilia Melo (FAEST - Estudante de Iniciação Científica) - dalilamel@hotmail.com
SOUZA FREITAS, Joycyely Marytza de Araujo (FUNESO – Orientadora da Pesquisa) –
jmarytza@yahoo.com.br
LIRA, Irlane Cristine de Souza Andrade (UPE – Estudante de Iniciação Científica) -
irlane.cristine@gmail.com

RESUMO

A educação ambiental possibilita e promove uma conscientização e criticidade dos que dela se
apropriam. Dessa forma o objetivo geral do estudo foi analisar o conhecimento dos educandos do 1º
ano do Ensino Fundamental I sobre o lixo e coleta seletiva. O trabalho realizado foi do tipo
exploratório, de caráter qualitativo e quantitativo, caracterizando-se como estudo de caso. A
pesquisa foi executada na Escola Municipal Santo Antônio em Timbaúba (PE) com 29 alunos do 1º
ano do Ensino Fundamental I. Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica de questionário
e para análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva. Os resultados obtidos demonstram
entendimento sobre aspectos relacionados aos resíduos sólidos, embora alguns termos não sejam do
conhecimento dos mesmos. Conclui-se que os estudantes conhecem sobre o lixo e a coleta seletiva,
porém deve ser esclarecidos termos como os coletores recicláveis e o destino do lixo para formar
cidadãos conscientes para cuidar do planeta.

Palavras-chaves: Educação Ambiental. Lixo. Conscientização.

ABSTRACT

Environmental education provides and promotes an awareness and criticality of that it appropriated.
Thus the overall objective of the study was to assess the knowledge of students of 1st year of
elementary school and I about garbage collection. The work was an exploratory, qualitative and
quantitative, characterized as a case study. The research was performed at the Municipal School in
Santo Antonio Timbaúba (PE) with 29 students in 1st year of elementary school I. As the survey
instrument was used to survey technique and data analysis was used descriptive statistics. The
results demonstrate understanding of aspects related to solid waste, although some terms are not
aware of them. We conclude that students know about garbage collection and selective, but should
be understood terms like recyclable collectors and garbage disposal to make people aware to take
care of the planet.

Keywords: Environmental Education. Trash. Awareness.

1 INTRODUÇÃO

Sendo à em nossa compreensão a escola um espaço privilegiado para uma construção de uma
conscientização sistemática, formada pela reflexão, teoria e prática, ou seja, é um ambiente capaz de
tornar um cidadão crítico e participativo. Assim sendo é importante averiguar e utilizar da forte
ferramenta que é a educação para ser alcançado grandes objetivos.

802
Não resta dúvida dos benefícios que as informações trazem aos indivíduos utilizando-se como
ponte a educação, pois a mesma tem como característica nortear todos e quaisquer indivíduos.
Assim sendo pensando nesta contribuição que a educação oferece aos sujeitos, uma vez, que
possibilita e promove uma conscientização, criticidade dos que dela se apropriam. Destaca-se a
educação ambiental. Considerando todos estes aspectos. O presente estudo trata de uma
investigação a cerca da conscientização das questões que dizem respeito à educação ambiental. De
maneira que proporcione aos educandos das séries iniciais uma reflexão a respeito dos dilemas
encontrados no século atual e a crise ambiental da qual enfrentamos. Além disso, a pesquisa
também aborda a visão do lixo como uma forma reciclável, de fonte de renda e reaproveitamento
utilizando-se para isso os resíduos dispensados pela sociedade. Os educandos podem assim fazer
pontes entre suas disciplinas, com os fatores relacionados ao que diz respeito a importância do lixo.
Dessa forma pretende-se por meio da pesquisa promover na instituição escolar discussão e
reflexão no que diz respeito ao destino do lixo.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o conhecimento dos educandos do 1º ano do Ensino Fundamental I sobre o lixo e


coleta seletiva.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Examinar a opinião dos estudantes sobre o lixo, com a finalidade de utilizar os conhecimentos
prévios na pesquisa.
Averiguar o entendimento dos aprendizes sobre os materiais e coletores recicláveis.
Investigar sobre o destino do lixo na opinião dos alunos.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

É notório e visível às discussões e preocupações á cerca das questões ligadas ao meio


ambiente, ou seja, da crise ambiental da qual estamos enfrentando. E não resta dúvida do quanto é
importante se trabalhar questões ambientais em salas de aula desde as séries iniciais. É de extrema
importância que á criança desde cedo, saiba a importância de sustentabilidade, reciclagem o que
fazer com o que muitos consideram apenas lixo. E que suas ações, podem ajudar o ambiente ou
poluí-lo. A Educação ambiental contribui de forma abrangente para a formação da cidadania.
De acordo com Monteiro (2010, p.2):
803
―A Educação Ambiental trata-se do processo de aprendizagem e comunicação de problemas
relacionados à interação dos homens com seu ambiente natural. É o instrumento de
formação de uma consciência por meio do conhecimento e da reflexão sobre a realidade
ambiental.‖

A educação ambiental possibilita aos educandos uma construção crítica e reflexiva a respeito
dos problemas ambientais. Claro que a mesma, não resolverá os problemas desencadeados pelo
desequilíbrio ambiental, mas, no entanto, influirá de forma considerável nas atitudes que acarretam
tal desequilíbrio. Muito menos terá uma receita pronta para solucionar os problemas desencadeados
pelo desequilíbrio ambiental, mas, no entanto, influirá de forma considerável nas atitudes que os
acarretam. Conforme Pieper (2012, p. 7):

―A educação ambiental como educação política está comprometida com a ampliação da


cidadania, da liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e das cidadãs na
busca de soluções e alternativas que permitam a convivência digna e voltada para o bem
comum‖.

Um dos meios pelos quais se pode conseguir uma conscientização crítica e eficaz é
utilizando-se da educação, ela é grande colaboradora, pois, além de contribuir para defesa do meio
ambiente, esta instituição em o papel de formador, ou seja, formar e investir no indivíduo enquanto
criança, uma vez que o mesmo atuará na sociedade de forma crítica e consciente, quando adulto.
Os educadores do ensino fundamental das séries iniciais podem e devem utilizar das aulas de
Ciências ou de outras matérias fazendo assim uma interdisciplinaridade, como meio de propagar e
instigar os educandos á cerca de do destino do lixo utilizado na instituição.
―Uma pedagogia do ambiente implica ensinamentos que derivam das práticas concretas que
se desenvolvem no meio (...) valorizar a necessária relação entre teoria e práxis para fundamentar a
construção da realidade‖ (LEFF, 2000).
É notável o incentivo as campanhas que dizem respeito à coleta seletiva, como latas, vidros,
papel dentro outros materiais que podem ser recicláveis. No entanto, para que estas campanhas
alcance seus objetivos, faz-se necessário uma intensa reflexão e conscientização a respeito. São
inúmeras as vantagens da reciclagem, pois, além de economizar energia ainda contribui na
preservação da natureza.
A importância do educador trabalhar a temática do lixo dentro da sala de aula vem da grande
necessidade de despertar a consciência crítica a cerca da reciclagem e reutilização por crianças.
A discussão do assunto, partindo da instituição escolar é de suma importância para se apontar
meios que visem amenizar os impactos negativos ocasionados por não saber como lhe dar com o
lixo. A reciclagem quando bem elaborada, pode ser uma alternativa economicamente lucrativa.

804
―Muitos são os métodos possíveis para a realização da educação ambiental. O mais adequado
é que cada professor estabeleça o seu e vá ao encontro das características de seus alunos e de suas
alunas‖. (REIGOTA, p.65)
A política Nacional do Meio Ambiente, em seus artigos e incisos, é clara quando se trata da
educação ambiental, a fim de fornecer educação, incluindo assim, em todas as séries da rede de
ensino. Porém, nem todos os discentes trabalham com seus alunos de forma que os motivem e
sensibilizem quanto, os fatores que contribuem para a destruição ou preservação da natureza. Faz-se
necessário que os professores conheçam a realidade das transformações que acontecem neste
mundo globalizado, fazendo pontes com o cotidiano dos alunos, não só conceituando, mas
utilizando práticas onde eles possam fazer observações, anotações e pesquisas e intervir no meio em
que vive, minimizando, por exemplo: o lixo em sua cidade ou comunidade em que ele estar
inserido.
Um dos problemas da atualidade do meio ambiente é o lixo. Devido ao consumo exagerado e
o desperdício que gera uma grande quantidade de resíduos. E um assunto importante para ser
abordado em sala de aula.
Dar ênfase aos assuntos relacionados à coleta seletiva do lixo, de como reduzir, reutilizar e
reciclar. A coleta seletiva, ato de separar os materiais que são recicláveis e os de matéria orgânica,
que as crianças percebam que isto é importante, tanto na escola como em sua comunidade
(CARVALHO, 2008). Os docentes podem realizar atividades onde os discentes possam utilizar
materiais tipo: latas, caixas garrafas pet, revistas, etc., para a confecção de porta lápis, entre outros.
Sem esquecer que cada tipo de material jogado no solo tem seu tempo de decomposição e o desastre
que o mesmo causa no solo, ar, água e outros.
Ao demonstrar este tempo, sensibilizará as crianças de que cada um tem uma
responsabilidade nesse processo. Para isso faz-se necessário conhecer o tempo de decomposição de
alguns materiais que são jogados na natureza.
Os materiais descartados não só poluem o solo, mas toda a natureza viva em nosso planeta.
Dar importância a conscientização das crianças nas escolas, uma vez que elas são o futuro do
planeta, é um ambiente em que favorece informações e conhecimentos, deve também estabelecer o
papel de conscientizador, sensibilizador sobre os problemas ambientais, deixando explicito como
reduzir e evitar a poluição (MONTEIRO, 2010).
Em meio à natureza que ainda nos resta, se fazem necessários e urgentes, uma educação
diferente, metodologias e práticas eficientes, nas instituições de ensino, que não só abordem
conceitos, mas uma resposta concreta que venha sensibilizar, as crianças que utilizarão desta terra;
que possam ainda ter o privilegio de ver as belezas do meio em que vive, não só por fotos, televisão,
revistas, entre outros.
805
Mas que admirem a beleza do verde que foi restaurado e preservado, e que eles fizeram parte
deste processo de sustentabilidade. O verde de hoje, pode ser o marrom de amanhã, e sem o verde,
sem o ar, sem a água, sem o solo, toda a vida no planeta desaparecerá (LEFF, 2000).
Por isso que a sustentabilidade é um conceito que diz respeito à continuidade. Ela deve estar
envolvida em todos os aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais da sociedade. Pois todos
eles são afetados com a poluição causada pelo excesso de lixo.
O modelo de sustentabilidade, é primordial nos tempos de hoje, é um assunto interessante
para que as escolas abordem com seus alunos e todos que fazem parte dela. Ele veio com o intuito
de melhorar a vida, os espaços e diminuir as desigualdades sociais, ambientais e econômicas
(CARVALHO, 2008).

4 METODOLOGIA

O trabalho realizado foi do tipo exploratório, de caráter qualitativo e quantitativo,


caracterizando-se como estudo de caso (AQUINO, 2010).
O estudo foi executado na Escola Municipal Santo Antônio, localizado no Engenho Aningas,
na cidade de Timbaúba (PE). A população foi formada por 29 educandos do 1º ano do Ensino
Fundamental I. Estiveram inclusos os estudantes frequentadores da turma investigada do presente
ano. E estiveram exclusos todos que não pertenceram ao conjunto citado.
Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica de questionário de múltiplas escolhas,
de forma padronizada, pessoal e formal, direcionado a conseguir informações sobre o lixo na
opinião da população e com o intuito de obter respostas informativas relacionadas aos objetivos da
pesquisa.
Para análise dos dados, embora a população em estudo fosse nova, o intuito da pesquisa foi
levantar o conhecimento prévio com finalidade de explorar e exigir dos alunos ações corretas sobre
os lixos gerados principalmente no ambiente escolar. O questionário foi orientado a linha de
pensamento de termos simplificados facilitando assim o maior número de dados sobre o problema
proposto.
A estatística descritiva foi utilizada para melhor compressão dos dados, na forma de
distribuição de frequência pontual e aplicação da frequência relativa em percentual, através da
fórmula:

806
Onde: fi% é a frequência relativa em percentual; Fi são as frequências absolutas e N: tamanho
da população (REIS, 1998).

5 RESULTADOS E DISCURSÃO

Devido a várias possibilidades e dimensões que o tema da pesquisa propõe, em alguns


momentos faz-se necessário rever trechos que a fundamentaram, para fins de esclarecimentos e
lembrança dos objetivos que a delinearam.
As apresentações das respostas dos estudantes investigados foram descritas por categorias
para melhor compreensão da análise.
A primeira pergunta do questionário era direcionada para o que era lixo na opinião dos
educandos.

Gráfico 1 – O que é lixo?

Fonte: FREITAS, 2012.

De acordo com Ferreira (2010, p. 793) lixo significa "Qualquer matéria ou coisa que repugna
por estar suja ou que se deita fora por não ter utilidade." Ao passo que representa, apesar da pouca
idade, 60% dos estudantes sabem caracterizar e reconhecer o termo lixo sem dificuldades. Embora
respectivamente 25% e 10% justifiquem pertinentemente como sendo o que se joga em algum lugar
ou não precisa mais. E para 2% que tinham opiniões diferentes das listadas no questionário o lixo é:
a sobra de alguma coisa, o que se deixa fora de casa, o que joga no lixeiro, entre outras afirmações.
Além do conceito de lixo era importante entender termos citados por familiares, meios de
comunicação e as pessoas que convivem com os alunos. Com esse foco foi indagado sobre a
opinião do público pesquisado sobre a intitulação Lixo reciclável.

Gráfico 2 – O que significa lixo reciclável

807
Fonte: FREITAS, 2012.

Os resultados que foram obtidos pode-se classificá-los como satisfatório para idade dos
estudantes. Apesar de 74% responder de forma simples, não deixa de ser um dos significados de
lixo reciclável. Todavia 22% indica o entendimento sobre usar materiais que sejam benéficos ao
planeta.
Com intuito de compreender a percepção sobre os coletores, suas cores e tipo de lixo
armazenado, os educandos foram indagados acerca de qual lixo deveria ser jogado e em quais cores.

Gráfico 3 – Coletores seletivos e tipo de lixo

Fonte: FREITAS, 2012.

As declarações expressas foram alarmantes, pois 95% dos alunos não sabiam responder e nem
tentaram argumentar. Dos que tentaram responder o tipo de coletor com o material correspondente
apenas 5% acertaram o coletor amarelo que é referente ao metal. As demais cores de coletores não
tiveram o tipo de lixo correspondente, que são: azul para o papel, verde para o vidro e vermelho
para o plástico.
Dentro desta perspectiva o público foi interrogado sobre o conhecimento de pessoas que
vivem da reciclagem de materiais.

808
Gráfico 4 – Conhecimento de pessoas que vivem da reciclagem de materiais.

Fonte: FREITAS, 2012.

Dos dados obtidos 93% relataram não conhecer pessoas que vivem da reciclagem de
materiais, mas que viram nos meios de comunicação. Porém 5% tem parentes ou pessoas próximas
que utilizam a reciclagem como fonte de renda e 2% responderam que não lembravam no momento
da aplicação do questionário. Representando assim na visão dos alunos o material reciclagem como
fonte de renda mesmo que distante da realidade vivenciada pelos mesmos.
E para concluir o questionário foi perguntado se os educandos sabiam para onde vai o lixo da
cidade.

Gráfico 5 – Destino final do lixo

Fonte: FREITAS, 2012.

Nas indicações dos estudantes 86% não souberam responder o destino final do lixo da cidade.
Assim é possível comprovar o quanto é importante desde cedo explicar e comentar sobre a temática
dos resíduos sólidos em qualquer idade. Embora foi relatado por 10% que o lixo é depositado no
lixão da cidade, foi opinado por 3% sobre a queima e foi escolhido por 1% da população pesquisada

809
o aterro sanitário como caminho final do que não é mais utilizado. Importante destacar que o lixo da
cidade de Timbaúba (PE) é depositado num ―lixão‖, sem qualquer tipo de tratamento.

6 CONCLUSÃO

Com a pesquisa foi possível concluir que não existe idade para começar a Educação
Ambiental sobre a temática do lixo. As crianças devem aprender o mais cedo possível o contexto
social e ambiental que os resíduos sólidos promovem.
Os mestres-escolares tem que investigar e aproveitar os conhecimentos prévios e não ignorar
o entendimento por mínimo que seja. Pois cada indivíduo carrega sua própria vivencia e num tema
transversal que é os resíduos sólidos e o meio ambiente, todo conhecimento é importante.
O estudo serviu também para despertar as maiores dificuldades dos estudantes sobre o tema,
como nas perguntas sobre os coletores recicláveis e o destino do lixo onde expressivo número não
sabia responder.
Dessa forma a Educação Ambiental é essencial para formação dos educandos para agregar
valores éticos e de cidadania, não somente com finalidade de entender o lixo, mas sobre tudo para
formar cidadãos conscientes para cuidar do planeta.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Italo de Souza. Como escrever artigos científicos: sem ―arrodeio‖ e sem medo da
ABNT. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São
Paulo: Cortez, ed. 4, 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. São Paulo: Positivo, 5ª ed., 2010.

FREITAS, J. M. A. S. Gráficos dos dados. Arquivos Pessoal, 2012.

LEFF, E. Pensamento sociológico, racionalidade ambiental e transformações do conhecimento. In:


LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2000.

MONTEIRO, Roberta Pereira; et al. Despertando o protagonismo juvenil: as abordagens de


Educação Ambiental na escola. XIII Encontro de Extensão UFPB - PRAC, 2010, João Pessoa.
Anais eletrônicos... João Pessoa: UFPB, 2010. Disponível em:
<http://www.prac.ufpb.br/anais/XIIIENEX_XIVENID/ENEX/PROBEX/completos_05.html>.
Acesso em: 14 de abril de 2012.

PIEPER, Daniela da Silva; VERAS NETO, Francisco Quintanilha; MACHADO, Carlos R. da


Silva. Políticas Públicas em Educação Ambiental. DELOS: Desarrollo Local Sostenible, Málaga, v.
5, n. 13, fev. 2012. Sobre la educación ambiental, p. 1 - 12.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, ed. 2, 2009.

810
PRÁTICA PEDAGÓGICA SOBRE RECICLAGEM: EXPERIÊNCIA NO SEMIÁRIDO
PERNAMBUCANO92

Isabela Regina Wanderley STEUER (DCFL/UFRPE) - isabelasteuer@gmail.com


Graduanda de Engenharia Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),
Bolsista do Programa de Educação Tutorial em Ecologia (PET/MEC/Sesu) e Pesquisadora do
Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe)

Josilaynne Maria da SILVA (DEPA/UFRPE) - josilaynnesilva@gmail.com


Graduanda de Agronomia da UFRPE e Pesquisadora do Gampe

Thiago Emanoel Pereira da SILVA (DQ/UFRPE) - thiago_pe@ig.com.br


Graduando de Licenciatura Plena em Química da UFRPE e Pesquisador do Gampe

Juliene Karine Anjos do NASCIMENTO (DTR/UFRPE) - juliene.nascimento@gmail.com


Graduanda de Engenharia Agrícola e Ambiental da UFRPE e Pesquisadora do Gampe

Resumo

As questões ambientais ganharam forte importância quando as pessoas começaram a perceber com
mais criticidade o quanto os recursos naturais estão impactados devido à ação antrópica. Por isso,
para o ser humano coexistir com a natureza devem ocorrer mudanças diretas e indiretas de filosofia
de vida, de práticas no cotidiano mais sustentáveis e até mesmo uma mudança no modelo político,
econômico, social e, principalmente ambiental, de sociedade e que tenham o principal objetivo de
preservar os recursos naturais ainda existentes para as presentes e futuras gerações. A reciclagem,
nesse contexto, torna-se de fundamental importância, sendo uma das formas de minimização dos
resíduos que seguirão para a destinação final, especialmente se tratando de resíduos domésticos. O
presente trabalho tem por finalidade descrever uma prática pedagógica desenvolvida numa ação de
sensibilização ambiental com as crianças da comunidade rural Poço da Cruz, localizada no
município de Ibimirim, no Estado de Pernambuco. Esta atividade teve como foco a importância e os
benefícios da reutilização de materiais recicláveis pelos munícipes. Estes materiais, presentes no
cotidiano, foram retrabalhados em oficinas, de forma lúdica, divertida e criativa, considerando a
cultura local como elemento norteador, agregando tal elemento no trabalho criativo.

Palavras-chaves: Reciclagem; Semiárido Pernambucano; Questão Ambiental.

92
Orientadores: Soraya Giovanetti EL-DEIR, Coordenadora do Gampe, Professora Adjunta da UFRPE; Fernando
Joaquim Ferreira MAIA, Pesquisador do Gampe, Professor Adjunto da UFRPE.

811
Abstract

Environmental issues have gained strong importance when people began to realize how much more
critical natural resources are impacted due to anthropogenic activities. So for humans coexist with
nature should be changes direct and indirect philosophy of life, in everyday practices more
sustainable and even a change in the model political, economic, social and especially
environmental, society and have the main objective of preserving natural resources still exist for
present and future generations. Recycling in this context, it is of fundamental importance, being one
of the ways of minimizing waste that will go to the final destination, especially when dealing with
household waste. This paper aims at describing a pedagogical practice developed an action
environmental awareness with the children of the rural community Pit Cross, located in the
municipality of Ibimirim in the state of Pernambuco. This activity focuses on the importance and
benefits of reuse of recyclable materials by householders. These materials present in everyday life,
were reworked in workshops, in a playful, fun and creative, considering the local culture as a
guiding element, adding this element in creative work.

Keywords: Recycling; Semiarid Pernambucano; Environmental Issue.

Introdução

Na era moderna, com o advento do processo de industrialização, o desenvolvimento da


sociedade capitalista e a explosão do crescimento populacional mudaram a configuração da
presença humana no planeta e de sua apropriação de recursos naturais (EL-DEIR et al., 2009).
Hardin (1968) relacionava o crescimento demográfico com a chamada ―Tragédia dos Comuns‖,
apontando que a sociedade cuida de suas propriedades privadas ao passo que contaminam ou
devastam os espaços públicos, sendo necessário, portanto, a expansão dessas para o controle
populacional, perfazendo-se assim o mercado atuante e o lucro. Ou ainda mais profundada a
discussão colocada por McCay e Acheson (1987), quando ressalta a questão dos comuns, onde
todos acabam por sofrer as consequências de um ato de um grupo. Nas questões socioambientais
emergentes, um pensar global precisa tomar lugar do individualismo pseudomoderno. Assim a
forma e as proporções da relação do homem moderno com o ambiente passaram a gerar problemas
ambientais específicos (CARVALHO, 2004).
É de suprema necessidade que para o ser humano coexistir com a natureza ocorram
mudanças diretas e indiretas de filosofia de vida, de práticas no cotidiano mais sustentáveis e até
mesmo uma mudança no modelo político, econômico, social e, principalmente ambiental, de
812
sociedade e que tenham o principal objetivo de preservar os recursos naturais ainda existentes para
as presentes e futuras gerações. Esta assertiva está alinhada a visão do Relatório de Brundtland, da
Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMA, 1991), que preconiza que a
sustentabilidade vislumbra suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das
gerações futuras de suprir as suas. Com isso, tem-se a consciência da necessidade de preservar o
meio ambiente, pois a espécie humana está fortemente relacionada a este, dependendo desse para
sobreviver.
A acelerada destruição dos recursos naturais do Planeta Terra compromete a
sustentabilidade da relação homem-natureza. Nesse sentido, no que tange a resíduos sólidos, adota-
se o conceito dos 3R, que serve para produzir mudanças impeditivas da degradação ambiental:
Reduzir, diminuindo a quantidade de lixo produzido, Reutilizar, descobrindo novas utilidades aos
materiais considerados inúteis, Reciclar, no sentido de dar ―nova vida‖ aos materiais. São maneiras
dinâmicas de despertar a consciência quanto ao sentimento de pertencimento à nossa terra e
preservação ambiental (SILVA et al, 2012).
Uma forma de promover essa mudança de filosofia de vida é a adoção de práticas educativas
(EL-DEIR et al., 2009), as quais visam despertar a atenção para das civilizações para a degradação
potencial do meio ambiente e demais questões ambientais, como a problemática da destinação
inadequada dos resíduos sólidos. Neste sentido a reciclagem apresenta-se como tratamento de
impacto positivo, auxiliando no processo de sensibilização quanto a responsabilidade
socioambiental (SILVA et al., 2011).
Para ajudar na sensibilização é possível associar os sentidos dos processos de 3R à temática
de contos folclóricos e datas culturais, levar a reflexão e início de nova fase da vida, dar novas
formas de utilidades e empregar de outras maneiras os materiais, considera-se sempre a cultura
local e seus costumes. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta uma das experiências de
educação ambiental em forma de oficina, realizada na escola Simão Izídio de Souza, na comunidade
rural de Poço da Cruz, Município de Ibimirim, região do semiárido de Pernambuco. Esta ação foi
realizada durante a Campanha Páscoa Solidária 2012, ação de Responsabilidade Social
Universitária (RSU), promovida anualmente pelo Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental em
Pernambuco (Gampe), da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

A Questão Ambiental

Dentre as reflexões que a atualidade impõe, encontra-se a questão ambiental. A problemática


em torno do meio ambiente gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que
afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propõe a necessidade de internalizar as bases
813
ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais (LEFF,
2001).
As questões ambientais ganharam forte importância no fim dos anos 80, quando as pessoas
começaram a perceber com mais criticidade o quanto os recursos naturais estão impactados devido
a ação antrópica (MARODIN, 2004). Estes devem ser tratados de forma global, pois afetam a vida
das gerações atuais e seus reflexos para as futuras. Nesse sentido, forma-se um movimento social
que expressa as problemáticas relacionadas aos "riscos de grande consequência", exige-se a
participação de todos os indivíduos (LONDERO; SEBRAE, 2004).
Atualmente, os principais debates e decisões políticos, econômicos e sociais da sociedade em
relação às questões de meio ambiente são as seguintes (SEBRAE, 2004):
• motivos e consequências do aumento da temperatura da Terra;
• a poluição, a distribuição irregular e o desperdício da água doce no planeta;
• a fragmentação dos ecossistemas e a consequente diminuição da biodiversidade;
• a contaminação dos alimentos consumidos pelo homem e pelos animais;
• a contaminação dos oceanos e o esgotamento dos seus recursos;
• a perspectiva de esgotamento dos recursos naturais não renováveis;
• a desertificação e a degradação dos solos agricultáveis;
• a contaminação do solo e das águas subterrâneas por depósitos inadequados de resíduos;
• o aumento das doenças causadas pela contaminação do solo, do ar e da água, pelo desequilíbrio
que o desmatamento gera na reprodução de vetores de doenças endêmicas (ratos, mosquitos), pela
falta de saneamento básico e pelas habitações inadequadas;
• os padrões insustentáveis de produção e consumo da sociedade.
Pode-se dizer, de forma simplificada, que o questionamento ambiental é um canal de
abertura para a participação sociopolítica, eleva as possibilidades de influência das classes e estratos
diversos da sociedade no processo de formação e tomada de decisões políticas (LONDERO, 1999
apud PAIXÃO, 2012). Estas discussões concentram-se no debate da forma e das consequências das
atividades de exploração do homem no que se refere aos recursos naturais e na elaboração de ações
alternativas, na tentativa de delinear proposições que modifiquem o cenário global, elevando a
qualidade ambiental do meio ambiente e direcionado ao uso antrópico parcimonioso dos recursos
naturais.

A Necessidade de Práticas Educativas Socioambientais

As práticas educativas são baseadas em um compromisso de cidadania, fomentado pelas


ações de educação ambiental e podem contribuir para a reconstrução de uma sociedade mais
responsável e ponderada em suas ações. Para lidar com as questões ambientais é preciso mudar a
814
forma de lidar com o ambiente, sendo necessário o desenvolvimento de uma nova concepção do
papel do homem em sua relação com o entorno. Esse processo demanda um investimento em
educação ambiental (CARVALHO,2004; EL-DEIR, 2012).
Leonardi (1999) define educação ambiental como processos educativos que tem por objetivo
contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto realização individual e comunitária e
para a autogestão política e econômica,com o objetivo de promover a melhoria do meio ambiente e
da qualidade de vida. E mais adiante ―a educação ambiental tem sido vinculada à formação da
cidadania e à reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, necessários para a
continuidade da vida no planeta‖. Já a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecida pela
Lei 9795/99, define como ―os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade‖, sendo compreendida como parte integrante do processo educacional (BRASIL,
1999).
―O papel da educação ambiental vem no esforço de desenvolver nos cidadãos uma
nova mentalidade ambiental, clareando hábitos que implicam em desperdícios de
recursos naturais e a contínua degradação da qualidade do meio ambiente, não
basta levar à população informação, mas é preciso o fortalecimento de vínculos
afetivos e de valores‖ (CURRY, 2003 apud CARVALHO, 2004).

Ainda nesse contexto, segundo Melo (2001), a responsabilidade social tem a ver com a
consciência social e o dever cívico. A ação de responsabilidade social não é individual, pois ela
reflete a ação de uma organização em prol da cidadania. Diante da questão relacionada à
responsabilidade social, teórica e conceitual, a abordagem do componente ou forma de atuação das
Instituições de Ensino Superior (IES) assume certo grau de complexidade (CALDERON, 2005).
Dessa forma, as instituições de ensino como formadoras de agentes sociais de intervenção devem,
além de cumprir o seu papel como instituição de formação na responsabilidade social, promover um
ambiente plural na estruturação de seu alunado, em que haja a transmissão dos princípios de
responsabilidade social para todos aqueles que estão inseridos na organização (discentes,
funcionários, docentes).

A Reciclagem como Alternativa para a Questão Ambiental

A Revolução Industrial mudou radicalmente toda a estrutura de produção até então


conhecida no mundo. Todos os padrões de consumo também foram modificados, evidenciou o
crescimento acelerado nas escalas produtivas e nos hábitos de consumo da população de forma
815
exponencial. A consequência deste modelo incorporado é a imensa geração de resíduos sólidos,
ainda dispostos de forma inadequada, como também, a exploração inesgotável dos recursos
naturais.
Em um primeiro momento, ocorre à extração dos recursos naturais para ―abastecer‖ a
demanda social, obtendo matéria-prima para a fabricação de produtos para o consumo e depois os
resíduos são jogados no lixo. Neste processo, a geração de resíduos cresce em uma proporção que
os serviços de limpeza urbana, e até mesmo os lixões, não têm condições de suportar (BARBA,
2002).
Este observa que a sociedade é levada pelo consumismo exagerado, pregado pelos meios de
comunicação, resultando numa geração cada vez maior de rejeitos, principalmente nas práticas que
são realizadas comumente no cotidiano. Este modus operandis dificulta, cada vez mais, a mudança
de hábitos já consolidados na sociedade. Neste sentido o processo de desmaterialização busca, junto
com o 3R, diminuir o uso de recursos e que os produtos não sejam descartados e sim retornem ao
ciclo produtivo.
A reciclagem, nesse contexto, torna-se de fundamental importância, sendo uma das formas
de minimização dos resíduos que seguirão para a destinação final, especialmente se tratando de
resíduos domésticos. O processo de reciclagem exige menor quantidade de recursos naturais do que
o processo industrial da matéria minimiza gastos com a energia e diminui a quantidade de resíduos
que seriam dispostos nos lixões (SILVA et al, 2012).
A conscientização da população a respeito da reciclagem é crescente, constitui um assunto
bastante atraente pela variedade de formas na utilização do material, pois depende apenas da
aplicação da técnica e da criatividade coletiva e/ou individual. Caso a ideia da reciclagem e da
reutilização do papel tenham aceitação nos vários segmentos da sociedade, a consolidação deste
processo gerará economia, trabalho e renda para alguns segmentos da sociedade. Também auxilia a
minimizar a quantidade de resíduos destinados aos aterros sanitários, diminuindo a poluição
potencial dos rios, do ar, das derrubadas de florestas e dos gastos com água e energia. Portanto, a
reciclagem, essencial para a vida do ser humano, é uma alternativa de desenvolvimento e de
sustentabilidade pela sua função social, ambiental e econômica.
A atividade aqui descrita teve como proposito desenvolver uma ação de sensibilização
ambiental com as crianças da comunidade rural Poço da Cruz, localizada no município de Ibimirim,
no Estado de Pernambuco. Esta atividade teve como foco a importância e os benefícios da
reutilização de materiais recicláveis pelos munícipes. Estes materiais, presentes no cotidiano, foram
retrabalhados em oficinas, de forma lúdica, divertida e criativa, considerando a cultura local como
elemento norteador, agregando tal elemento no trabalho criativo.

816
Para tanto buscou-se demonstrar a importância do reaproveitamento de materiais dando um
novo significado, transformando-os em brinquedos e artesanatos da cultura local, de forma simples
e extrovertida, promovendo uma reflexão crítica da realidade de seu município; incentivar a
criatividade, desenvolver habilidades e coordenação motora das crianças na confecção dos materiais
de baixo custo e estimular, desde a infância, o consumo consciente e a responsabilidade social e
ambiental e a preservação dos recursos naturais e da necessidade da mudança de hábitos rotineiros
visando à conservação do meio ambiente.

Metodologia

Caracterização da Área

As oficinas foram realizadas no município de Ibimirim, na Escola Municipal Simão Izídio


de Souza, situada na comunidade rural de Poço da Cruz. Este encontra-se na mesorregião do Sertão
Pernambucano e microrregião do Sertão do Moxotó. Ibimirim apresenta situação de carência
extrema (IBGE, 2010) e a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), apresentando Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de 0,566,
ocupando o penúltimo lugar no ranking estadual. Está inserido em uma região de carência
acentuada, a qual é identificada pelo Ministério de Desenvolvimento Social como um dos
Territórios da Cidadania, tendo atenção especial do Governo do Estado de Pernambuco mediante o
Programa Integrado de Desenvolvimento Local (PIDL) (SILVA, 2010).

Desenvolvimento das oficinas

As oficinas de reutilização de materiais recicláveis e educação ambiental foram realizadas


no dia 17 de abril de 2012, contaram com a participação de aproximadamente 80 crianças e foram
divididas em dois momentos.
Momento 1 - Inicialmente foi feita uma apresentação da peça teatral de marionetes chamada
―Páscoa Reutilizável‖ (Figura 1). A peça relata a trama de três personagens durante os preparativos
da festa de Páscoa quando são surpreendidos pela visita inusitada do Coelho. Esta atividade buscou
fornecer uma breve visão sobre o real significado da Páscoa de forma divertida e infantil, bem
como, destacar para o público presente a importância da redução, reutilização e reciclagem dos
materiais que geralmente são destinados ao lixo, colaborando para a formação de cidadãos com uma
maior sensibilidade do ponto de vista ecológico e social.

817
Figura 01 - Apresentação das marionetes na peça Páscoa Reutilizável

Figura 02 - Porta treco de papel confeccionado na oficina

Momento 2 - Nesta fase, as crianças foram convidadas a participar do desenvolvimento de


brinquedos (Figura 2) e conhecer de forma descontraída e lúdica, as utilidades dos materiais
recicláveis do cotidiano. Para isso, foram realizadas duas práticas de educação ambiental de forma
extrovertida, utilizou-se dois materiais recorrentes no dia-a-dia (papel e garrafa PET), com o intuito
de demonstrar os benefícios do reaproveitamento de materiais e incentivar a criatividade e a
responsabilidade socioambiental.

Resultados e Considerações Finais

Na execução das oficinas foram incorporados materiais recicláveis. Inicialmente, houve o


uso de garrafa pet para fazer portas trecos, reaproveitando o material plástico que seria jogado no
lixo, buscou-se aguçar o estímulo, desde a infância, do comprometimento com o meio ambiente e
818
com os resíduos que são gerados pelas atividades de cada dia nas residências. Além disso,
incentivou a criatividade, a habilidade e a coordenação motora das crianças na confecção do seu
porta treco inspirado na páscoa, pois todas pintaram de forma inventiva as orelhinhas, os olhinhos,
as bocas e o narizinho, montando seu coelhinho.
Com a utilização do papel foi desenvolvida a confecção do porta treco coelhinho da Páscoa.
No desenvolvimento desta, a atividade demonstrou a importância do reaproveitamento de materiais
com um novo significado, transformou-se papel em artesanato de forma simples e extrovertida,
além de promover uma contextualizando com a simbologia da Páscoa.
O coelhinho da páscoa também foi atribuído como representação dos quatro coletores, como
Pontos de Entrega Voluntária (PEV), para reciclagem dos materiais descartados, o que
correspondeu à seguinte e respectiva coloração: amarelo (metal), azul (papel), vermelho (plástico) e
verde (vidro). As duas oficinas impulsionaram a capacidade criativa e demonstraram que todos os
materiais podem ser reutilizados e reciclados, deu-se ―nova vida‖ e renovação para os mesmos, o
que ajudou a relembrar o real significado da Páscoa.
As crianças apresentaram-se claramente satisfeitas com as atividades desenvolvidas durante
a execução da oficina, pode-se perceber isso mediante a interação com o trabalho desenvolvido,
além do interesse explícito em participar e do compartilhamento de suas experiências com o auxílio
dos facilitadores das oficinas. No decorrer da oficina, observou-se uma grande satisfação por parte
dos funcionários, pais e alunos da escola.
O trabalho para a concretização das oficinas, apesar de ter sido árduo e ter apresentado
dificuldades próprias, foi bastante gratificante. Também percebermos o impacto positivo de uma
simples ação de cunho ambiental em uma realidade tão desassistida. Foi notória a felicidade das
crianças em compartilhar o aprendizado e a brincadeira com os brinquedos elaborados a partir dos
materiais recicláveis que para alguns pode ser tão pouco, porém para elas foram de grande valor.
Além disso, a certeza de contribuir para a educação e melhoria da qualidade de vida das crianças da
comunidade beneficiada.

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821
TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM RELATO
DE EXPERIENCIA NO HORTO FLORESTAL DO OLHO DÁGUA DA BICA, CUITÉ, PB93

João Nogueira Linhares Filho - joaobiologia2013@gmail.com94


Edclebeson Berto²
Caroline Zabendzala Linheira95
Universidade Federal de Campina Grande

Resumo
A Educação ambiental deve desenvolver o pensamento sistêmico, que permita compreender as
complexas relações entre o homem e a natureza a fim de que possam adotar novos comportamentos
em prol da conservação ambiental, com consciência e convicção. Entretanto, acreditamos que
reconstruir a ligação com a natureza seja um ponto de partida para tais objetivos. Usando a
interpretação ambiental em trilhas ecológicas estamos promovendo a educação ambiental no Horto
Florestal do Olho D água da Bica: um ambiente de caatinga, bonito e impactado pelo uso antigo na
região de Cuité, PB. Este trabalho tem origem em um projeto de extensão que e objetiva sensibilizar
os estudantes do município, através do contato com a natureza, para questão de conservação e
degradação da fauna e flora local. As crianças e adolescentes, acompanhadas de seus professores,
são recebidos no campus universitário e levados a um passeio entremeado de reflexões científicas,
históricas e culturais sobre o local e as relações do homem com aquela natureza. A visita
compreende três momentos: preparação, trilha e avaliação. Os guias são alunos licenciandos em
Ciências Biológicas. Os resultados iniciais mostram que o contato com a natureza é uma atividade
que vem suprir a falta de dinamismo na escola. Durante a avaliação, os relatos versam sobre a
liberdade de correr, tocar as plantas, interagir com os colegas e com os guias. Dado o objetivo de
uma aproximação cognitiva e afetiva com a natureza, os resultados têm sido alcançados.

Palavras chaves: Educação Ambiental, Trilhas ecológicas, Caatinga

Abstract

Environmental education must develop the systemic thinking, allowing an understanding of the
complex relationship between man and nature so that they can adopt new behaviors towards
environmental conservation, with conscience and conviction. However, we believe that rebuilding
the connection with nature is a starting point for such purposes. Using environmental interpretation
in ecological trails we are promoting environmental education in the Forest Garden Olho d‘Água da
Bica: a beautiful place in the Caatinga Biome that has been impacted by ancient usage of the natural
resources in the region of Cuité, PB. This work is based on an extension project that aims to
sensitize students of that municipality, through contact with nature, to issue degradation and
conservation of local fauna and flora. Children and teenagers, accompanied by their teachers, are
received on campus and led to a tour interspersed with scientific, historical and cultural reflections

93
Projeto de Pesquisa e Extensão em desenvolvimento no Centro de Educação e Saúde, Campus Cuité, Universidade Federal de
Campina Grande.
94
Licenciando em Ciências Biológicas, CES/UFCG
95
Professora Orientadora
822
about that site and the relationship between human and nature at that place. The tour comprises
three stages: preparation, trail, and evaluation. The guides are undergraduate students in Biological
Sciences. Initial results show that contact with nature is an activity that has overcome the lack of
dynamism in school. During the evaluation, the reports dealing with the freedom to run, touch the
plants, interact with peers and with the guides. Given the objectives of a cognitive and affective
approach to nature, the goals have been achieved.

Keywords: Environmental Education, Ecological trails, Caatinga

Introdução
A caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões brasileiras compreendem
representando 70% da região nordeste e 11% do território nacional. Em geral nas representações
midiáticas a Caatinga é apresentada como um ambiente pobre seco e pouco diverso. Esta visão
reflete na baixa prioridade para conservação. No entanto, estudos recentes mostram que isto está
longe de ser verdade. Animais e plantas endêmicos, adaptados a uma dinâmica hídrica particular
tem sido estudados sob diversos aspectos. (Pereira 2008)
Talvez mais que outros biomas brasileiros a Caatinga vêm sendo intensamente modificada
pelo homem. Os solos estão sofrendo processos de desertificação em função do desmatamento para
o plantio e com as constantes queimadas. A salinização dos solos decorrentes de outros processos
vem acelerando o processo de desertificação. De acordo (GARDA 1996 Apud CASTELLETTI et.
al. 2004), somente a presença da vegetação adaptada da caatinga tem impedido a transformação do
nordeste brasileiro num imenso deserto.
Neste cenário a Educação Ambiental deve ser mais uma estratégia para a conservação da
Caatinga. Muito embora os processos educativos sejam longos e lentos a construção de novas
leituras e novas relações com este ambiente se faz necessária. Este artigo trata de socializar uma
experiência em Educação Ambiental num dos cenários da caatinga paraibana – o Curimataú
ocidental, Planalto da Borborema.

Figura 1: Localização do município de Cuité, PB. Fonte: Wikipédia


A criação do Centro de Educação e Saúde (CES) em Cuité, PB, fruto da expansão da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) encampou uma área de uso antigo da

823
comunidade local chamado Olho D‘água da Bica. Logo que a área foi federalizada o CES
institucionalizou o Horto Florestal do Olho D‘água da Bica.

A Caatinga e a Educação Ambiental


Aprendemos desde cedo, na escola, que o termo Caatinga é originado da língua tupi-guarani,
que significa mata branca, e defini o aspecto da vegetação desta região durante a época da seca.
Quando suas folhas caem, os troncos branco-acinzentados das árvores e arbustos destacam-se na
paisagem (PRADO, 2005 Apud ABILIO, 2010).
O estudo e a conservação da diversidade biológica da Caatinga é atualmente um grande
desafio para a ciência brasileira. Há vários motivos para isto. A Caatinga é a única grande região
natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional; ela é
proporcionalmente a menos estudada entre as regiões naturais brasileiras, com grande parte do
esforço científico estando concentrado em alguns poucos pontos em torno das principais cidades da
região. É ainda a região natural brasileira menos protegida e continua passando por um extenso
processo de alteração e deterioração ambiental provocado pelo uso insustentável dos seus recursos
naturais, o que está levando à rápida perda de espécies únicas, à eliminação de processos ecológicos
chaves e à formação de extensos núcleos de desertificação em vários setores da região (I. R. Leal.,
2005)
O Horto Florestal do Olho D‘Água da Bica compreende uma área de 75 hectares e abriga
uma nascente localizada em uma escarpa na face ocidental do Planalto da Borborema. Há indícios
de uso pré-histórico. Sabe-se que existe pintura rupestre no local, mas em uma área pouco acessível
desta escarpa.

Foto 1: Vista parcial do horto florestal


Na história mais recente a água que se acumula em um poço construído é retirada em baldes,
uma lavanderia comunitária foi construída no entorno e ainda existem os chuveiros públicos, que
antigamente eram usados pela população local que não tinha acesso a água encanada ou como
forma de lazer. Havia ainda quem acreditasse que a água da Bica tinha propriedades medicinais. O

824
terreno íngreme, quase na forma arena foi usado durante alguns anos para a encenação da Paixão de
Cristo na Semana Santa.
Com a chegada da Universidade à cidade e a doação do terreno para a União, esta área foi
promovida a Horto Florestal protegido e gerida pelo Centro de Educação e Saúde (CES/UFCG).
Hoje a área esta cercada, vigiada e vem recebendo benfeitorias a fim de manter um uso com
restrições promover a recuperação e conservação da biota local. Recentemente a discussão sobre o
Plano de Manejo do Horto foi retomada. Está em debate a criação de uma Unidade de Conservação
(UC) aparada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
No estado Paraíba o Bioma Caatinga ocupava cerca de 70% da área territorial em 2004. As
altas taxas de desmatados para pastagens e reforma agrária previam uma redução de mais de 30%
até 2010. E, nos pólos de concentração de atividades antrópicas poderá haver o desaparecimento
total da vegetação levando a (CNRBC, 2004, apud Pereira 2008). E combater a desertificação não
significa apenas combater erosão, salinização, assoreamento ou tantas outras conseqüências, é
necessário eliminar as causas que provocam estas conseqüências, ou seja, atividades humanas.
Neste sentido, a educação ambiental aparece como uma das ações para a conservação da
biodiversidade na caatinga em Tabrelli e Silva (2002).
O que se pode ver hoje na região do Olho D‘Água da Bica é uma área antropizada, com
vegetação arbustiva e arbórea nas escarpas da formação. Os córregos e charcos no entorno da
nascente oscilam com a sazonalidade da Caatinga, enquanto a nascente principal é perene. Seguindo
o declívio natural do terreno existem pequenas quedas d‘água, um lago, e outros acúmulos naturais
de água. Nos limites da área de conservação existem propriedades privadas de uso mais extensivos
em agricultura e lazer.

Foto 2: Lago e córregos presentes no horto florestal

825
Foto 3: Nascente do olho d‘ água da bica

A beleza natural e os usos históricos do Horto compõem um cenário que julgamos perfeito
para o desenvolvimento das atividades em Educação Ambiental. Contudo, sabemos que áreas como
esta despertam interesses conflitantes. Sustentamos nossa proposta nos argumentos de conservação
e preservação: ―A Caatinga deve ser considerada patrimônio biológico de valor incalculável ser
preservada e protegida, pois ela só existe no Brasil‖ (EMBRAPA, 2007, p. 13).
A Educação Ambiental, no entanto, não se restringe á temática de preservação e
conservação de ambientes naturais. Uma pesquisa realizada em 2010 (ALVES e LINHEIRA, 2011)
com os professores de ciências e biologia da cidade de Cuité, aponta a temática do lixo e temas
globais como os mais desenvolvidos nas escolas durante a semana do meio ambiente, por exemplo.
Na convivência com os professores percebemos que as iniciativas em Educação Ambiental são
ainda tímidas quando consideramos os potenciais e os problemas ambientais do município e região.
Um dos argumentos utilizados pelos professores ainda na pesquisa de Alves e Linheira (2011) é a
sobrecarga de trabalho docente.
Valendo-se da Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999) que estimula as
ações de ―desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações‖ e o ―desenvolvimento de
instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental de forma
interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino‖ (art 8º) o projeto de extensão
intitulado Trilhas Interpretativas no Horto Florestal Olho D´Agua da Bica: educação ambiental
nos caminhos da natureza e da história foi elaborado.
Neste contexto a Educação Ambiental pretendida segue a corrente do pensamento sistêmico
(SAUVÉ, 2005), que permite conhecer e compreender a realidade e os problemas ambientais de
forma multidisciplinar, de natureza cognitiva, objetivando a tomada de decisões mais acertadas
considerando as interações complexas em contraposição a fragmentação histórica dos saberes.
Tratando-se de crianças e adolescentes urbanos, porém, pensamos que a reaproximação da natureza
deve ser o primeiro passo para a compreensão da complexidade dos problemas ambientais. Sob um
viés naturalista (SAUVÉ, 2005) nossa proposta de Educação Ambiental amplia a abordagem
826
cognitiva e traz as dimensões experienciais, afetiva e artística com o intuito de criar o restabelecer o
vinculo das pessoas com a natureza.

Trilhas Interpretativas e Educação Ambiental


Assim como a expressão ―ambiental‖ veio complementar o conceito de educação, para
designar um tipo de conhecimento e práticas específicos a expressão vivencial complementa a
Educação Ambiental designa pedagogias que buscam diversificar os mecanismos pelos quais se
aprende. O processo educativo da Educação Ambiental vivencial considera os indivíduos em sua
totalidade, priorizando o aprendizado através do corpo, dos sentidos e da percepção mais sutil de si
mesmo, dos outros, do mundo e da natureza (MENDONÇA, 2007 ).
Dentre as técnicas de estimulo e condução às vivencias na natureza está a interpretação
ambiental: um instrumento de comunicação que favorece as conexões intelectuais e emocionais
entre as pessoas e os significados inerentes aos recursos A abordagem interpretativa deve cativar,
provocar, envolver e estimular a reflexão das pessoas. Ela deve ser amena para entreter e manter a
atenção; deve ter significado para quem ouve, para que as pessoas possam fazer conexões
intelectuais; a interpretação deve ser organizada e, por fim, temática. (VASCONCELLOS, 2006).
As trilhas ecológicas são ideais para o uso da técnica da interpretação ambiental. Elas
podem ser interpretadas por um guia treinado, que acompanha os visitantes na caminhada ou pelos
próprios visitantes através de placas e/ou folhetos explicativos.
As atividades de interpretação nas trilhas constituem vivências práticas dos conhecimentos
teóricos, visando facilitar os processos de aprendizagem estimulando estudantes, professores e
participantes, visando à contemplação e valorização dos atrativos naturais do local. Contudo, a
escolha adequada e desenvolvimento de uma temática são importantes para o sucesso da atividade.
As trilhas ecológicas interpretativas podem ser consideradas laboratórios vivos, salas de aula
naturais, despertando interesse, curiosidade e descoberta. Esse dinamismo que falta à escola
tradicional levou-nos a planejar as atividades aqui apresentadas como forma de colaborar nos
processos de ensino-aprendizagem na cidade.

Interpretando a natureza
O projeto de extensão tem como objetivo levar os estudantes do Ensino Fundamental e
Médio do município de Cuité ao Horto para ter contato com a natureza, guiados por licenciandos do
curso de Ciências Biológicas. Divulgamos o projeto na Secretaria de Educação do Município e
diretamente nas escolas. Exigimos, apenas, a presença de dois professores acompanhando a turma.
Estabelecemos um limite de cerca de 20 alunos por trilha, mas nem sempre conseguimos cumprir
esta regra, pois para algumas escolas a dependência de transporte dificulta a divisão das turmas.
827
As temáticas escolhidas pelos guias foram Fauna e Flora da Caatinga com o objetivo de
apresentar aos estudantes aspectos biológicos, estéticos e culturais dos animais e das plantas locais.
Para os alunos do Ensino Fundamental II e Médio as interpretações foram mais discursivas. Com os
alunos das series iniciais o trilha foi conduzida a partir de uma atividade de caça à espécie
inspirados nas atividades propostas por Cornell (1997): onde cada criança recebeu no momento pré-
trilha um cartão com a foto de uma árvore ou arbusto local, e uma pequena descrição dela. Durante
a trilha precisariam encontrá-la na natureza. A cada parada uma criança lê o cartão e comenta
aspectos afetivos em relação àquela planta. O guia complementa as informações e envolve todas as
crianças na observação e interação com cada espécime.
As atividades de trilhas compreendem três momentos: pré-trilha, trilha e pós-trilha. No
primeiro momento, os alunos das escolas são recebidos no Campus Universitário que com sua
paisagem encantadora surpreender aqueles que nunca estiveram lá.
Em seguida, em uma sala de aula recebem instruções gerais sobre a trilha e uma pequena
palestra introdutória. Terminada a aproximação inicial, o entrosamento entre o guia e os estudantes,
vamos ao Horto Florestal do Olho D‘Água da Bica. A s trilhas são programadas de acordo com a
faixa etária e o tempo disponível para o evento. Paradas são previamente estabelecidas pelos guias.
Os pontos escolhidos estão relacionados à temática planejada. Contudo, assuntos podem surgir ao
longo da caminhada, como por exemplo, a nascente e as construções que chamamos de castelos
atraem a atenção dos alunos, que fazem muitas perguntas sobre o local.
Vasconcellos (2006) sugere etapas que contribuem para seleção e organização da temática.
Para ela as definições do público e do objetivo a ser alcançado precedem a definição da temática. A
escolha da fauna e da flora como temática deve-se as possíveis relações com os conteúdos formais
do ensino de ciências e biologia e claro, a familiaridade dos guias com o assunto.
Os animais avistados durante a trilha são em geral aves, insetos, anfíbios e répteis. Os
pequenos mamíferos não são vistos com facilidade, mas falamos sobre eles, suas características e
seus hábitos. Em relação às plantas exclusivas do bioma são abordados aspectos morfológicos e
fisiológicos, bem como usos populares das plantas. São apontadas as espécies em risco de extinção
e relações planta-solo.
Ao final da caminhada, os alunos se retornam à sala onde se iniciou o trabalho para um
momento de socialização das experiências vivenciadas. Primeiro fazemos uma conversa para saber
o que sentiram. Em seguida, solicitamos que demonstrem por meio de desenhos, frases palavras ou
textos a experiência de fazer uma trilha, evidenciando algum ponto. Neste momento os guias
acompanham as produções conversando individualmente na tentativa de extrair expressões não
declaradas na atividade. Para encerrar o encontro o guia declama um poema feito por um professor
de história da cidade, especialmente para e sobre o Horto.
828
Alguns resultados
A adesão das escolas ao projeto é crescente. O transporte até o Campus ainda é um problema
a ser sanado. As particularidades do relevo dificultam o deslocamento a pé, até mesmo para as
escolas mais próximas. Em dois meses de atividades do projeto oito turmas visitaram o Horto
recepcionado por seis guias que revezam a coordenação dos trabalhos entre si.
Todas as turmas que visitaram o Horto ficaram interessadas nas espécies vegetais do
campus após a trilha. Esse resultado parece muito positivo e promissor! Em especial, as crianças
menores ao retornarem da trilha, perguntam com entusiasmo o nome de quase todas as plantas
ornamentais no campus. Todo o passeio é tomado de alegria! Durante a trilha o envolvimento, a
empolgação e as demonstrações de satisfação são mais expressivos nos mais jovens. Os
adolescentes são mais contidos e preguiçosos. A possibilidade de estar fora da sala de aula com a
permissão de caminhar, correr, pular, confere ao passeio um caráter lúdico evidenciado pelo coro ao
final de cada encontro ―quando é que vamos voltar?‖.
Acreditamos que a vivencia na natureza deverá ser repetida tantas vezes quanto necessário a
fim de que estes estudantes possam vivenciar a experiência também como um espaço de
aprendizagem legítimo. Em quase todas as turmas o comportamento daqueles alunos considerados
indisciplinados e problemáticos, pelas professoras, tiverem o comportamento alterado. Estavam
atentos, colaboradores e interessados.
Na avaliação pós-trilha, durante as conversas, é quase unânime a saída da escola e da sala de
aula como ponto mais interessante da experiência. Isso reforça os questionamentos atuais sobre as
necessidades de reformulação curricular e metodológica da escola básica. O contato com os guias
também aparece nas falas e na escrita como um ponto relevante da experiência. O papel do guia e
interprete da natureza é sempre de educador com o compromisso de fazer com que as pessoas
cresçam com sua experiência interpretativa e se possível, apliquem novas descobertas em seu
cotidiano (Vasconcellos, 2006).
Muitas crianças que passaram pela atividade com os cartões durante as trilhas desenharam a
‗sua‘ planta na avaliação, e durante a trilha apontavam outros exemplares da mesma espécie. O que
nos leva a crer que há um caráter formativo nas atividades de Educação Ambiental via trilhas
interpretativas. É importante reforçar que pretendemos que as vivencias na natureza sejam um
primeiro encontro com a Educação Ambiental e que o reencontro com o ambiente natural seja um
estimulo para a conscientização e as mudanças de atitudes.
Os castelos aparecem nos desenhos com muita freqüência. Embora não seja o foco da trilha,
é impossível não notá-los. A Paixão de Cristo foi encenada até o ano de 2005. Muitas crianças
nunca participaram do evento o que torna os castelos um convite ao imaginário infanto-juvenil.

829
E por fim, a inserção do ser humano como parte da natureza não aparece com freqüência nos
desenhos. Em geral eles retratam o espaço visitado sem a presença de si ou dos outros. Este é um
desfio a ser superado neste projeto.

Foto 4: Desenhos feitos pelos alunos

Considerações finais
Tendo em vista os problemas enfrentados pelo bioma Caatinga se faz urgente a introdução
de atividades de Educação Ambiental de modo a garantir a sobrevivência desta Formação tão
brasileira. O uso das trilhas interpretativas possibilita transformar um ambiente natural em um
espaço de aprendizagens cognitivas e desenvolvimentos afetivos, com vistas ao pensamento crítico,
o entendimento dos problemas ambientais como desafios coletivos.
Os estudos sobre o uso de trilhas interpretativas e trilhas ecológicas em geral no Brasil não é
muito extenso. Se faz necessário uma difusão maior desta estratégia formativa e um
acompanhamento mais sistemático para delimitar com maior precisão os pontos positivos e
compreender os limites desta ferramenta de trabalho pedagógico na Educação Ambiental.
Pretendemos em longo prazo formar uma comunidade conscientizada que valorize o
equilíbrio entre as pessoas e natureza. Desejamos que o Horto Florestal do Olho D‘água da Bica
seja o ponto de convergência deste projeto coletivo.

830
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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831
INICIATIVAS GLOCAIS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA EDUCANDOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL II

LIRA, Irlane Cristine de Souza Andrade (UPE)


SOUZA FREITAS, Joycyely Marytza de Araujo (FUNESO)
SOUZA, Josiane Maria (FAEST) - josianemaria@gmail.com
ROCHA, Adália Maria Monteiro Rodrigues (UPE)

RESUMO

A mudança climática é muito mais do que emissões de gases que provocam o efeito estufa. A
influência da atividade humana sobre o clima diz respeito ao que é consumido, ao tipo de energia
que é produzida e a condição que é vivida no âmbito social. Por isso o objetivo dessa pesquisa é
sensibilizar alunos sobre as mudanças climáticas e as consequências para o planeta
desenvolvendo atitudes e ações que minimizem danos ambientais. O estudo é classificado como
exploratório e explicativo e de caráter qualitativo. Foi realizado na Escola Estadual Gercino
Coelho em Petrolina (PE) com educandos do 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II. Como
instrumento foi utilizado a técnica de entrevista e após ciclo de palestras. Os resultados obtidos
foram positivos para informação e conscientização dos educando sobre a temática, assim foi
possível a listagem de vinte atitudes que podem minimizar os efeitos da mudança climática no
planeta. As palestras e os conhecimentos socializados puderam proporcionar aos alunos
informações que o clima realmente mudou e está afetando a vida na Terra de forma significativa.

Palavras-chaves: Mudanças Climáticas. Educação Ambiental. Terra.

ABSTRACT

The climate change is much more than emissions of gases that provoke the greenhouse effect.
The influence of human activity on climate refers to what is consumed, the type of energy that is
produced and the condition that is experienced in the social sphere. Therefore the objective of
this research is to sensitize students about climate change and the consequences for the planet
developing attitudes and actions that minimize environmental damage. The study is classified as
exploratory and explanatory and qualitative. It was held in the State School Gercino Coelho in
Petrolina (PE) with students from the 7th and 8th grades of elementary school II. As instrument
was used to interview technique and after lecture series. The results were positive information
and awareness on the theme of educating, so it was possible the listing of twenty attitudes that
can minimize the effects of climate change on the planet. The lectures and socialized knowledge
could provide students with information that the climate really changed and is affecting life on
Earth significantly.

Keywords: Climate Change. Environmental Education. Earth.

832
1 INTRODUÇÃO

Mudanças climáticas são alterações no clima geradas pelo aquecimento global e provocadas
pela emissão de gases de efeito estufa. Essas mudanças têm sido verificadas desde tempos mais
remotos em que forças geológicas inerentes à dinâmica do planeta provocaram mudanças no clima.
O aquecimento global está afetando os ecossistemas, causando a destruição ou a degradação do
habitat e perda da produtividade agrícola, ameaçando tanto a biodiversidade como o bem-estar
humano. Impactos ecológicos do aquecimento global têm sido pouco estudados no Brasil, enquanto
que para outras regiões do mundo os estudos têm sido mais compreensivos e detalhados. Para
estudar as mudanças climáticas as Nações Unidas criou o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas – IPCC (Intergovernamental Painel Climate Change – IPCC), órgão responsável por
produzir informações científicas em relatórios que tem sido divulgado periodicamente desde 1988.
Os relatórios são baseados na revisão de pesquisas de 2500 cientistas de todo o mundo.
O efeito das mudanças climáticas acelera as migrações, destrói os meios de sustento, altera as
economias, debilita o desenvolvimento e exacerba as desigualdades entre os povos. Por isso, diante
deste quadro convém à espécie humana e também aos pesquisadores e educadores ambientais, um
olhar atento sobre os efeitos e vulnerabilidades a que todos estamos expostos diante dessas
mudanças climáticas globais e dos desafios que se colocam aos educadores para tentar minimizar a
crise ambiental que vem acelerando os efeitos dessas mudanças. É uma questão de responsabilidade
e cidadania global.
Está sendo vivenciada uma época de intensas ondas de calor em todo o mundo, de
tempestades, secas e furacões cada vez mais severos, assim como o aumento de epidemias e a
extinção de espécies. Esses fenômenos têm sido apontados como consequência da mudança do
clima na terra. É certo que a Terra tem passado, ao longo de toda a sua história geológica, por
enormes variações climáticas causado por atividades antrópicas, em especial pelo consumo de
combustíveis fósseis, como carvão mineral, petróleo e gás natural, assim como pelos
desmatamentos e queimadas. Os efeitos não são iguais em todas as regiões, mas a agricultura, o
abastecimento de água, o equilíbrio dos ecossistemas e a vida de muitas espécies estão ameaçados
por essas mudanças climáticas.
A desertificação e o aumento da temperatura das águas comprometem a sobrevivência da
biodiversidade nos ecossistemas Brasileiros. E os nossos jovens? Eles conhecem toda essa
problemática ambiental? Estão se preocupando com esses cenários? Quais atitudes estão tomando
para amenizar essas mudanças que tem ocorrido no nosso planeta? Afinal, eles são as futuras
gerações, e aí? Essas futuras gerações estão sendo preparadas para enfrentar essas alterações no
planeta? Que trabalho tem sido realizado com esses jovens? Qual procedimento que nós como

833
educadores devemos realizar para reduzir ou pelo menos amenizar os efeitos das mudanças
climáticas? Com esse trabalho propomos principalmente, mostrar algumas ações ou atitudes que
fazem a diferença para o planeta e que podem ser realizadas por esses jovens.
Em tempos de previsões sobre as mudanças climáticas da Terra, novas atitudes são valiosas
para minimizar a cota individual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Sensibilizar alunos do 7º e 8º ano da escola Professor Simão Amorim Durando no Rio


Corrente em Petrolina-PE sobre as mudanças climáticas e as suas consequências para o planeta
desenvolvendo atitudes e ações que minimizem danos ambientais na sua cidade.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar fatores que tem contribuído para as mudanças do clima no planeta e desenvolver
atitudes no seu cotidiano que minimizem impactos ambientais;
Desenvolver atitudes que possam trazer benefícios ao meio ambiente possibilitando a
construção de uma sociedade fundamentada na preservação ambiental tendo como base a educação
ambiental;
Discutir questões básicas relativas às mudanças climáticas, possibilitando a construção de
uma sociedade mais justa social e ambientalmente.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

São vários os fatores, apontados por ecologistas e cientistas, que provocam as mudanças
climáticas tais como o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, a poluição atmosférica e o
aumento na produção de gás carbônico.
Desde a década de 1990 não pairam dúvidas sobre o aumento da temperatura do planeta. A
confirmação do aquecimento do planeta ocorreu depois da Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento - PNUMA – realizado no Rio de Janeiro em 1992, fato que
possibilitou os Estados Unidos, apoiados por países árabes produtores de petróleo, pressionar para a
redação de um texto genérico na Convenção sobre Mudanças Climáticas. A variação global das
condições climáticas do planeta, segundo os dados apresentados na literatura científica, indica
muitas mudanças, entre elas a elevação do nível médio do mar que não é uma questão catastrófica

834
ou alarmante, mas uma questão preocupante. A elevação do nível do mar não se dá apenas devido
ao derretimento de gelo e aumento de massa, mas também pela expansão térmica da massa líquida
do oceano e consequente aumento de volume. Cálculos matemáticos indicam que o efeito da
expansão térmica é bem mais importante do que o derretimento das geleiras.
O fenômeno do derretimento das geleiras acontece no Pólo Norte e no Pólo Sul. O mais
preocupante com relação ao aumento do nível global dos oceanos é o derretimento das camadas de
gelo na Antártica, no Polo Sul, porque as geleiras estão sobre um continente, enquanto o gelo do
Polo Norte está sobre a água. A Antártica reúne cerca de 90% de todo o gelo da Terra e, segundo
projeções do IPCC, se todo este gelo fosse derretido o mar subiria 60 metros.
O buraco da camada de ozônio não tem relação direta com o efeito estufa, apesar de ambos
terem uma origem comum: a poluição causada pelas atividades humanas. Portanto, não há relação
direta entre os aumentos do buraco na camada de ozônio e a elevação do nível do mar.
Algumas consequências notáveis do aquecimento global foram já observadas, como o
derretimento de geleiras nos pólos e o aumento de dez centímetros no nível do mar em um século.
Uma tendência de aquecimento em todo o mundo, especialmente nas temperaturas mínimas, em
grandes cidades do Brasil como São Paulo e Rio de Janeiro, pode ser agravada pela urbanização. Os
modelos globais de clima projetam para o futuro, ainda com algum grau de incerteza, possíveis
mudanças em extremos climáticos, como ondas de calor, ondas de frio, chuvas intensas e enchentes,
secas, e mais intensos e/ou frequentes furações e ciclones tropicais e extratropicais. Exemplos
podem ser observados anualmente: as enchentes e ondas de calor da Europa em 2002 e 2003, os
invernos intensos da Europa e Ásia nos últimos anos; o furacão Catarina no Brasil em 2004; os
intensos e devastadores furacões no Atlântico Tropical Norte em 2005 (Katrina, Rita, Wilma, etc.);
as secas no Sudeste do Brasil em 2001, no Sul em 2004, 2005 e 2006, e na Amazônia, em 2005.
Estes fenômenos têm sido atribuídos à variabilidade natural do clima, mudanças no uso da
terra (desmatamento e urbanização), aquecimento global, aumento da concentração de gases de
efeito estufa e aerossóis na atmosfera. Para isso, todas as formas de relação do homem com a
natureza devem ocorrer com o menor dano possível ao ambiente. As políticas, os sistemas de
produção, a transformação, o comércio, os serviços - agricultura, indústria, turismo, mineração - e o
consumo têm de existir preservando os biomas e a biodiversidade ressaltando que os biomas, um
conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e
identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada
de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria e se caracteriza como fonte de
riqueza de um país e, que deve ser preservada.
Conforme dados do ministério do meio ambiente a década de 1990 segundo foi a mais quente
desde que as primeiras medições, no fim do século XIX, foram efetuadas. Este aumento nas décadas
835
recentes corresponde ao aumento no uso de combustível fóssil durante este período. Até finais do
século XX, o ano de 1998 foi o mais quente desde o início das observações meteorológicas em
1861, com +0.54ºC acima da média histórica de 1961-90. Já no século XXI, a temperatura do ar a
nível global em 2005 foi de +0.48ºC acima da média, sendo este o segundo ano mais quente do
período observacional, como afirma a Climate Research Unit da University of East Anglia, UK. O
ano de 2003 foi o terceiro mais quente (+0.44ºC acima do normal).
Os últimos 11 anos, 1995-2004 (com exceção de 1996) estão entre os mais quentes no período
instrumental. A Terra está se aquecendo mais no hemisfério Norte. É nesse enfoque que a Ecologia
se torna presente no dia a dia dos seres vivos No planeta terra, animais, plantas e microorganismos
mantêm relações contínuas uns com os outros. Há um verdadeiro ciclo de equilíbrio harmonioso -
homeostase -entre o ambiente e os seres vivos. Entretanto se esse equilíbrio se rompe, quando o
Homem, por exemplo, derruba florestas, queima campos, ou com produtos tóxicos de suas
indústrias altera a qualidade do ar que respiramos e da água que bebemos, ele produz poluição que
leva ao desequilíbrio ecológico e que pode ter consequências graves para os nossos biomas e para a
humanidade, além de promover uma drástica mudança climática global, etc. Assim, devemos
encontrar formas de cuidar do nosso planeta para garantir que as próximas gerações tenham
qualidade de vida.
A temperatura média da Terra gira em torno de 15º C. Isto ocorre porque existem
naturalmente gases, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o vapor d‘água em nossa
atmosfera. Eles formam uma camada que aprisiona parte do calor do sol que incide em nosso
planeta. Se não fossem estes gases, a Terra seria um ambiente gelado, com temperatura média de -
17º C. Este fenômeno é chamado de efeito estufa. Não fosse por ele, a vida na Terra não teria
tamanha diversidade. Só que desde a revolução industrial, começamos a usar intensivamente o
carbono estocado durante milhões de anos em forma de carvão mineral, petróleo e gás natural, para
gerar energia, para as indústrias e para os veículos. As florestas, grandes depósitos de carbono,
começaram a ser destruídas e queimadas cada vez mais rapidamente. Então imensas quantidades de
CO2, CH4 e outros gases começaram a ser despejadas na atmosfera, tornando aquela camada mais
espessa. Mais calor do sol fica retido em nossa atmosfera. Isto intensifica o efeito estufa.
Somente no último século, a temperatura da Terra aumentou em 0,7º C. Parece pouco, mas
este aquecimento já está alterando o clima em todo o planeta. As grandes massas de gelo começam
a derreter, aumentando o nível médio do mar, ameaçando as ilhas oceânicas e as zonas costeiras.
Furacões ficam mais intensos e destrutivos. Temperaturas mínimas ficam mais altas,
enchentes e secas, mais fortes e regiões com escassez de água, como o semiárido, viram desertos.
Quando o aquecimento global foi detectado, alguns cientistas ainda acreditavam que o fenômeno
poderia ser causado por eventos naturais, como a erupção de vulcões, aumento ou diminuição da
836
atividade solar e movimento dos continentes. Porém, com o avanço da ciência, ficou provado que as
atividades humanas são as principais responsáveis pelas mudanças climáticas que já vêm deixando
vítimas por todo o planeta.
As mudanças climáticas são alterações que ocorrem no sistema climático, geradas pelo
aquecimento global e provocado pela emissão de gases de efeito estufa. Essas mudanças têm
acontecido desde tempos remotos. No passado da Terra houveram alterações climáticas naturais
causadas por forças geológicas, inerentes à dinâmica do planeta. Apesar de o homem ser apenas
mais um agente geológico dentre muitos outros, somos a espécie que pela primeira vez na história
da Terra, contribuiu para uma mudança global do clima.
E para estudar essas mudanças do clima as Nações Unidas criou o Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas – IPCC (Intergovernamental Panel Climate Change – IPCC), responsável
por produzir informações científicas em relatórios que são divulgados periodicamente desde 1988.
Os relatórios são baseados na revisão de pesquisas de 2500 cientistas de todo o mundo. O IPCC é
um documento que tem como objetivo estudar as alterações climáticas que estão ocorrendo no
planeta. Seus relatórios só passaram ao domínio da opinião pública após a divulgação pelas mídias
de alguns de seus dados e cenários futuros quanto ao aumento dos gases de efeito estufa e o
aquecimento global da terra. Não há mais argumentos científicos que neguem que um dos agentes
dessas mudanças é o próprio ser humano. Caso medidas drásticas não sejam tomadas para controlar
o aquecimento global, o planeta enfrentará tempos muito difíceis. A temperatura do planeta pode
aumentar mais que 2º C em relação à temperatura do início da Era Industrial, com alto risco de
extinção em massa de espécies, colapso dos ecossistemas, falta de alimentos, escassez de água e
grandes prejuízos econômicos.
O ritmo do aquecimento neste século será muito superior ao do século 20 e poderá alcançar
valores sem precedentes nos últimos 10 mil anos. Haverá um aumento dos dias quentes e das ondas
de calor em quase toda a superfície terrestre. O derretimento das geleiras vai prosseguir no século
21. Esse degelo, junto com a expansão térmica da água, poderá elevar o nível do mar e quase um
metro até 2100.
Uma relativa inércia da sociedade frente à questão das mudanças climáticas decorre tanto do
fenômeno quanto do afastamento generalizado da vida política. A não percepção das conexões
existentes entre nossas opções cotidianas de locomoção, a emissão de gases de efeito estufa e o
consequente aumento da temperatura da Terra; entre o desmatamento da Amazônia e da Mata
Atlântica e a desertificação em partes do sul do país; a quantidade de resíduos produzidos e o
aumento do nível dos oceanos; o assoreamento dos rios, a impermeabilização de solos e as
enchentes; o consumo desenfreado e o esgotamento dos recursos naturais demonstram, de forma

837
inequívoca, a necessidade da Educação Ambiental se voltar para este tema de forma critica e
transformadora.
A Educação Ambiental (EA) pode lançar um novo olhar sobre as Mudanças Climáticas que
não seja apenas pautado por alternativas mercadológicas e tecnológicas, mas que aponte para
transformações sociais que permitam enfrentar e minimizar as causas da degradação
socioambiental, que tem no aquecimento global a sua mais explícita tradução.
À EA cabe aprofundar o debate junto à sociedade e governos sobre o aquecimento da Terra e
as mudanças socioambientais globais promovendo questionamentos sobre a manutenção da Vida e
os nossos destinos enquanto humanos e humanidade apresentando propostas articuladoras que
agreguem conhecimento local às novas tecnologias.

4 METODOLOGIA

O estudo é classificado como exploratório e explicativo, pois foram assumidos as formas de


pesquisa bibliográfica e experimental, além do caráter qualitativo para interpretação e obtenção dos
resultados.
A pesquisa foi desenvolvida na Escola Estadual Gercino Coelho em Petrolina-PE, com
educandos do 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II. A escola trabalha com ensino fundamental e
ensino médio.
Como instrumento da pesquisa foi utilizado à técnica de entrevista, não estruturada, pessoal e
formal. Direcionado a conseguir informações sobre as Mudanças Climáticas e as Atitudes Glocais
(atitudes locais que interferem no âmbito global) e com o intuito de obter respostas informativas
relacionadas aos objetivos do estudo.
A análise e interpretação foram procedidas no formato de seleção (exame minucioso dos
dados) a fim de conseguir respostas às indagações e procurar estabelecer as relações necessárias
para a pesquisa.
Para a execução desse estudo várias escolas foram consultadas e demonstraram interesse em
participarem. A escolha da escola foi mediante sorteio. A proposta dessa pesquisa foi trabalhar a
questão ambiental por meio de palestras envolvendo as mudanças climáticas e as Atitudes ou Ações
Individuais de cada Pessoa, como forma de promover conscientização em jovens de 7º e 8º ano para
que tenham atitudes em prol da minimização dos impactos ambientais que estão ocorrendo no
Brasil e no mundo. Foram realizadas 08 palestras com duração de 1hora ao longo desse trabalho,
sendo uma palestra a cada mês. Os temas propostos para as palestras foram:

Palestra1: O que são Mudanças Climáticas

838
Palestra2: Cenário brasileiro de mudanças climáticas
Palestra 3: O que é Aquecimento Global?
Palestra 4: O Efeito estufa e sua consequências para o planeta
Palestra 5: Atitudes ou ações individuais de baixíssimo custo que fazem a diferença para o planeta
Palestra 6: Atitudes ou ações individuais de maior custo que fazem a diferença para o planeta
Palestra 7: Atitudes ou ações coletivas que fazem a diferença para o planeta
Palestra 8: Deveres dos jovens para com o meio ambiente

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os educandos tiveram uma participação ativa dos questionamentos feitos durante o primeiro
colóquio, o que são Mudanças Climáticas?, durante a explanação foi informado que o Brasil não
está imune aos efeitos que provocam as mudanças climáticas, dentre eles o efeito estufa, a poluição
atmosférica e o aumento do gás carbônico.
Após a apresentação da palestra “Cenário brasileiro de mudanças climáticas”, os alunos
puderam conhecer a real situação do Brasil com relação à mudança do clima, foi observado que o
Brasil também é afetado pelas mudanças do clima, este tema que foi amplamente debatido com os
alunos.
Por meio do debate O que é Aquecimento Global?, os temas mudanças climáticas e
aquecimento global foram relacionados pelos alunos. Demonstrando que nossas atitudes e ações
locais interferem em todo o planeta os efeitos nocivos para a saúde e meio ambiente.
Foi apresentada informando da relação dos gases na atmosfera e o aumento da temperatura da
Terra, a palestra com o tema, o efeito estufa e suas consequências para o planeta. E foi recolhido
para preenchimento da entrevista as experiências vivenciadas pelos educandos, como o calor
excessivo, o entendimento do efeito, entre outras.
As três palestras consecutivas realizadas no mês de setembro e outubro, tiveram como tema
“Atitudes ou ações individuais de baixíssimo custo que fazem a diferença para o planeta”,
“Atitudes ou ações individuais de maior custo que fazem a diferença para o planeta
respectivamente” e “Atitudes ou ações coletivas que fazem a diferença para o planeta”. Através
destas palestras os alunos puderam conhecer atitudes que podem ser tomadas e listaram as seguintes
ações com justificativas:

1 – Levar sacola para fazer as compras do supermercado e na feira. Utilizando a própria


embalagem, você evita o desperdício de sacos plásticos e reduz a quantidade de lixo produzido em
casa;

839
2 – Preferir produtos naturais aos industrializados sempre que possível. Pois na fabricação desses
produtos, as indústrias consomem mais energia e jogam toneladas de CO 2 na atmosfera. Produtos
naturais vêm prontos sem custos ambientais;
3 – Valorizar o trabalho de cooperativas agrícolas e artesanais, por que elas são outra opção de
consumo consciente por usarem materiais naturais e reciclados;
4 – Economizar água. Fechar a torneira ao lavar a louça, por que em 15 minutos, uma pessoa gasta
mais de 240 litros de água na lavagem de louças. A dica é fechar a torneira, ensaboar as peças e só
então abrir para enxaguá-las. Assim, o consumo cai para 20 litros de água. Também considere
diminuir o tempo do banho e fechar a torneira do lavatório ao escovar os dentes. Metais e louças
sanitárias que economizam água são boas opções;
5 – Escolher eletrodomésticos com selo Procel. O Programa Nacional de Conservação de Energia
Elétrica (Procel) foi criado pelo governo para ajudar o consumidor a escolher os produtos que
apresentam alta eficiência energética. Outras dicas importantes são: não deixar a TV ligada à toa,
ficar horas no chuveiro ou demorar em frente à porta da geladeira para escolher o que comer. Use a
energia com responsabilidade. Sempre que possível dê preferência às lâmpadas fluorescentes
compactas;
6 – Separar o lixo orgânico dos materiais que podem ser reciclados. Em casa, bastam duas lixeiras
para colaborar com o planeta. Numa delas, coloque o lixo orgânico (restos de comida) e na outra, os
materiais que podem ser destinados à reciclagem: plásticos, papéis, metais e vidros. Assim, evita-se
a sobrecarga nos aterros sanitários e reduz o consumo de mais matéria-prima para a fabricação de
novos produtos;
7 – Na obra adotar aos materiais ecológicos. Para construir ou reformar a casa, pensar nas opções
menos agressivas ao ambiente. Há vários tipos de produtos e até lojas especializadas no assunto;
8 – Reutilizar a água da chuva e da máquina de lavar. Se você mora em casa, reaproveite a água da
lavagem das roupas para limpar a garagem, a varanda e o quintal. Você também pode armazenar a
água da chuva que escorre pelas calhas para usar na limpeza das áreas externas;
9 – Plantar árvores. No quintal, em canteiros ou em vasos, as árvores têm o poder de ―sequestrar‖
carbono da atmosfera, evitando o acúmulo excessivo do gás e retardando os efeitos do aquecimento
global;
10 – Deixar o carro em casa mais vezes durante a semana. Os combustíveis fósseis são um dos
principais vilões do aquecimento global. Por isso, usar menos o carro é um excelente hábito
ecológico que você pode adquirir. Uma dica para isso é caminhar pelo bairro e aproveitar os
serviços disponíveis pertinho da sua casa;
11 – Estabelecer princípios ambientalistas ou metas possíveis de serem alcançadas;

840
14 – Incentivar seus colegas. Falar com todos a sua volta sobre a importância de agirem de forma
ambientalmente correta;
15 – Não Desperdiçar. Ajudar a implantar e participar da coleta seletiva de lixo. Você estará
contribuindo para poupar os recursos naturais, aumentar a vida útil dos depósitos de lixo, diminuir a
poluição. Investigar o desperdício com energia e água. Localizar e reparar os vazamentos de
torneiras. Desligar lâmpadas e equipamentos quando não estiver utilizando. Manter os filtros do
sistema de ar-condicionado e ventilação sempre limpos para evitar desperdício de energia elétrica;
16 - Usar os dois lados do papel, preferir o e-mail ao invés de imprimir cópias e guardar os
documentos em CDs, substituindo o uso do papel ao máximo;
17 - Promover o uso de transporte alternativo ou solidário, como planejar um rodízio de automóveis
para que as pessoas viajem juntas ou para que usem bicicletas, transporte público ou mesmo
caminhem para o trabalho;
19 – Arranjar tempo para o trabalho voluntário. Não adianta ficar só estudando e conhecendo mais
sobre a natureza. É preciso combinar estudo e reflexão com ação. Considere a possibilidade de
dedicar uma parte do tempo, habilidade e talento para o trabalho voluntário ambiental a fim de fazer
a diferença dando uma contribuição concreta e efetiva para a melhoria da vida do planeta;
20 - Organizar e participar de mutirões ecológicos de limpeza e recuperação de ecossistemas e áreas
de preservação degradada, resgate e recupere animais atingidos por acidentes ecológicos ou mesmo
abandonados na rua, redijir um projeto que permita obter recursos para a manutenção de um parque
ou mesmo para viabilizar uma solução para problema ambiental e fazer palestras em escolas, etc.
No mês de dezembro foi realizado o último discurso do projeto, com o tema, “Deveres dos
jovens para com o meio ambiente”, através da palestra os jovens puderam conhecer seus deveres
para contribuir com a preservação do meio ambiente, o projeto culminou com a exibição de um
filme sobre as mudanças climáticas e a conscientização dos participantes.

Fonte: LIRA, 2012.

Figura 01 – Realização do ciclo de palestras.


841
5 CONCLUSÕES

O estudo foi bem aceito pela escola, pelos educandos e pais. As palestras e os conhecimentos
socializados puderam proporcionar aos alunos informações que o clima realmente mudou e está
afetando a vida na Terra de forma significativa.
A pesquisa pode permitir a troca de experiências entre os discentes e profissionais desse
trabalho bem como os estudantes da escola envolvida. Com esse trabalho foi possível esperar e,
principalmente, mostrar aos alunos da Escola Estadual Gercino Coelho que algumas ações e/ou
atitudes fazem a diferença para o planeta e podem ser realizadas por eles.
Pois entender sobre os reflexos produzidos das nossas ações no mundo incentiva a
curiosidade, estabelece relações entre experiências prévias e o conhecimento adquirido e as
conferências modificaram a pesquisa para um questionamento crítico sobre os problemas reais do
mundo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. DEA 2009 - Balanço. Ações realizadas e em andamento.
Brasília: MMA/DEA, 2010. 55p.

______. Ministério da Ciência e Tecnologia. Mudança do Clima. Vários. Disponível em:


<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/77650.html>. Acesso em 29.01.2010.

LIRA, Irlane Cristine de Souza Andrade. Realização do ciclo de palestras. Arquivo Pessoal, 2012.

NOBRE, Carlos A.; SALAZAR, Luis F.; OYAMA, Marcos; CARDOSO, Manoel; SAMPAIO,
Gilvan; LAPOLA, David. Relatório nº 06 - Mudanças Climáticas e possíveis alterações nos biomas
da América do Sul. Brasil. São Paulo: CPTC/INPE/IAE/CTA, 2007. 25p.

842
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COLETA SELETIVA DE LIXO:
EXPERIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE MONTEIRO – PB96

Artur Alan Martins (IFPB/extensionista) - a.martins@hotmail.com


Jéssica Maria de Sousa (IFPB/ extensionista) - jessyka-sousa@hotmail.com
Kássia Dyjeane Leal Félix (IFPB/ extensionista) - kassia_edu@hotmail.com
Keliana Dantas Santos (IFPB/Orientadora) - kelianads@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho trata de um relato de experiência na cidade de Monteiro – Cariri Ocidental da Paraíba,
envolvendo estratégias de Educação Ambiental na sensibilização da população desta cidade acerca
da necessidade de uma adequada destinação dos resíduos sólidos através da coleta seletiva.
Abordaremos as atividades que foram realizadas neste município em parceria com a prefeitura
local.
Palavras-Chave: educação ambiental; coleta seletiva; meio ambiente

ABSTRACT
This paper is an experience report on the city of Monteiro - West Cariri of Paraíba, involving
strategies for Environmental Education in sensitizing the population of this city about the need for
proper disposal of solid waste through recycling programs. We will discuss the activities that were
held in this city in partnership with the local government.
Keywords: environmental education; selective collection; environment

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo refere-se ao trabalho de Educação Ambiental e cidadania, que vem sendo
realizado pelo IFPB, na cidade de Monteiro-PB, em parceria com a prefeitura deste município. O
projeto tem como objetivo sensibilizar a população monteirense em relação aos benefícios
proporcionados pela prática da coleta seletiva.
O processo da coleta seletiva é descrito por Coelho, 2012 como:
―Um sistema de recolhimento de materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e
orgânicos, previamente separados na fonte geradora e que podem ser reutilizados ou
reciclados. A coleta seletiva funciona, também, como um processo de educação ambiental
na medida em que sensibiliza a comunidade sobre os problemas do desperdício de recursos
naturais e da poluição causada pelo lixo‖.

96
Este trabalho faz parte das ações do Programa Transposição Sustentável, aprovado pelo PROEXT
2011-MEC/SESu, edital 004/2011.

843
Segundo pesquisa realizada em 2010 pela ABRELPE, os 1.794 municípios distribuídos nos
nove Estados da região Nordeste do país tiveram, juntos, uma geração de 50.045 toneladas de RSU
por dia no ano de 2010, das quais, 38.118 toneladas/dia foram coletadas. Enquanto o índice de
coleta per capita cresceu 3,9% em comparação ao ano de 2009, a quantidade de resíduos
domiciliares coletados cresceu 6,1%, o que indica um aumento real na abrangência destes serviços.
A comparação entre os dados relativos à destinação de resíduos nos anos e 2009 e 2010 resulta na
verificação de um crescimento de cerca de 9,4% na destinação final de RSU em aterros sanitários.
No entanto, observa-se que cerca de 66% dos resíduos coletados ainda são destinados de maneira
inadequada, sendo encaminhados para lixões e aterros controlados que, do ponto de vista ambiental,
pouco se diferenciam de lixões, pois não possuem o conjunto de sistemas necessários para proteger
o meio ambiente de contaminações.
Consequentemente, diante da grande preocupação com o meio ambiente tornou-se
necessário e de suma importância trabalhar a sensibilização da população, acerca dos impactos
ambientais, sociais e econômicos causados por esta situação.
Perante o exposto, Baeta et al. (2011) descreve a educação ambiental da seguinte forma:
―A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a
construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem um entendimento
da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e
coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um
padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação
sociedade-natureza.‖

Ainda sobre educação ambiental, Oliveira (2000) reforça a opinião anterior, afirmando que:
―A educação ambiental busca um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual,
quanto coletivo. Ela deve começar em casa, ganhar as praças e as ruas, atingir os bairros e
as periferias, evidenciar as peculiaridades regionais, apontando para o nacional e o global.
Deve gerar conhecimento local, sem perder de vista o global, precisa, necessariamente,
revitalizar a pesquisa de campo, no sentido de uma participação pesquisante que envolva
pais, estudantes, professores e comunidade. É um passo fundamental para a conquista da
cidadania.‖

Mesmo o Brasil sendo um dos países que mais recicla no mundo, segundo líderes de
cooperativas e catadores o maior problema que se enfrenta para o aumento da porcentagem de
material coletado é justamente encontrar o material. Considerando que a maior parte das grandes
indústrias descobriu as vantagens da reciclagem, tais como a diminuição do gasto energético para a
produção de material e a propaganda social que o processo traz o nicho a ser explorado é o do lixo
doméstico. Grande parte das pessoas ainda não pratica a separação do lixo por falta de
conhecimento da existência do serviço em sua cidade, ou de visão acerca da importância desse
processo.

844
No caso de Monteiro, as estimativas, são de que apenas um terço dos recicláveis da cidade
são recolhidos, em consequência da falta de cooperação das pessoas de separar seu lixo.
A cidade de Monteiro localiza-se na região chamada de Cariri ocidental. Possui uma
população de 31 mil habitantes e apresenta-se como a maior e mais importante cidade da região.
Dessa forma, justifica-se a importância de um projeto que busque sensibilizar a população
acerca da importância da coleta seletiva e os impactos positivos da reciclagem.
Outros aspectos importantes da produção de lixo são explorados com a implementação do
projeto, tais como: o papel gerador de riquezas que vem sendo cada vez mais atribuído ao lixo; a
necessidade de que o poder público trate a questão do lixo com base social e estratégica e a
interferência da produção de lixo e entulhos na modificação do espaço geográfico da cidade.
Acreditamos que é o acesso à informação que possibilita as mudanças de comportamento
voltadas para ação saudável visando o bem da coletividade, daí a importância da Educação
Ambiental.
O desafio que se coloca é o de elaborar uma educação ambiental inovadora que seja crítica e
voltada para a transformação social, buscando em seu conteúdo relacionar os diversos níveis do
homem – social, econômico, político, afetivo – à educação. Assim, para administrar os riscos
ambientais existe a necessidade de iniciativas com o objetivo de ampliar a participação das pessoas
no processo de preservação e garantir através da divulgação de informações um aumento no nível
de consciência ambiental.
Isso posto, o desafio que se toma nesse projeto é o de desenvolver estratégias educativas
para estimular a população Monteirense a participar e se envolver com o tema proposto,
proporcionando uma mudança de comportamento com relação à concepção e às suas práticas
relacionadas ao resíduo sólido.

METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho constituiu em primeiro lugar na caracterização dos resíduos


sólidos urbanos da cidade de Monteiro-PB. Após esta análise partiu-se para a implantação de um
modelo de Educação Ambiental, com informação, sensibilização e discussões em relação a
problemas ambientais, bem como, sobre os benefícios e métodos da compostagem, além de
informar sobre a importância de amenizar os impactos ambientais gerados pela utilização
inadequada dos recursos naturais, utilizando a compostagem de Resíduos Sólidos Orgânicos como
ferramenta estratégica para sensibilizar a comunidade em relação aos problemas ambientais.

845
As ações educativas foram desenvolvidas na Escola Estadual de Ensino Fundamental João
de Oliveira, na sede da associação de moradores da Vila Santa Maria e nas principais ruas da cidade
de Monteiro num evento denominado de caminhada ecológica.
Participaram das atividades alunos, professores e comunidades em geral. A importância do
correto manuseio, reaproveitamento e acondicionamento do lixo, ou seja, da importância de
técnicas e processos de reciclagem dos resíduos sólidos foram os temas do processo ensino-
aprendizagem desenvolvido.
Um programa de atividades envolveu a triagem dos resíduos sólidos e o armazenamento de
materiais potencialmente recicláveis. Na unidade de Compostagem, foi demonstrado aos alunos o
adequado tratamento no destino final do lixo e o processo biológico.
Na Oficina de Papel Reciclado, foi repassada aos alunos a idéia sobre a importância do
reaproveitamento do papel e a confecção de materiais decorativos, utilizando como matéria-prima o
papel reciclado.
Outras atividades realizadas: apresentação de vídeos, debates, mutirão de idéias, trabalho em
grupo, questionários, solução de problemas, jogos educativos, exploração do meio ambiente local e
informação via música.

BOTANDO A MÃO NA MASSA

A questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves
problemas ambientais urbanos da atualidade, a ponto de ter-se tornado objeto de proposições
técnicas para seu enfrentamento e alvo privilegiado de programas de educação ambiental brasileira.
A compreensão da necessidade do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos propiciou a
formulação da chamada Política ou Pedagogia dos 3R's (reduzir, reutilizar e reciclar), que inspira
técnica e pedagogicamente os meios de enfrentamento da questão do lixo.
No entanto, apesar da complexidade do tema, muitos programas de educação ambiental na
escola são implementados de modo reducionista, já que, em função da reciclagem, desenvolvem
apenas a Coleta Seletiva de Lixo, em detrimento de uma reflexão crítica e abrangente a respeito dos
valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo, do industrialismo, do modo de
produção capitalista e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo. E a despeito dessa
tendência pragmática, pouco esforço tem sido dedicado à análise do significado ideológico da
reciclagem e suas implicações para a educação ambiental reducionista, mais preocupada com a
promoção de uma mudança comportamental sobre a técnica da disposição domiciliar do lixo (coleta
convencional x coleta seletiva) do que com a reflexão sobre a mudança dos valores culturais que
sustentam o estilo de produção e consumo da sociedade moderna.

846
Diante desta problemática, as primeiras ações deste projeto foram oficinas na escola estadual
João de Oliveira (Figura 1 a) e com lideranças da comunidade na Vila Santa Maria (Figura 1 b).

Figura 1: (a) Oficina de Educação Ambiental e Cidadania realizada na Escola Estadual João de
Oliveira . (b) Oficina de Coleta Seletiva realizada na associação de moradores da Vila Santa
Maria.

Foram exploradas as questões que envolvem consumismo, o cidadania no contexto do


consumo, o modo de produção capitalista e a produção de resíduos e por fim, foi proposta a forma
de separação do lixo na cidade de Monteiro.
As oficinas serão realizadas a partir no mês de setembro de 2012. Nestas houve inicialmente
uma apresentação sobre o tema de forma dinâmica de modo a atrair o público, havendo também
preparo de um café da manhã aproveitando materiais que geralmente são desperdiçados por falta de
conhecimento. Posteriormente ocorreram exibições de vídeos que tratam sobre a importância da
preservação do meio ambiente.
Após a realização das oficinas com professores e líderes comunitários, o projeto realizou a I
Caminhada Ecológica alertando os moradores desta cidade sobre os riscos ocasionados pela má
destinação dos resíduos sólidos, sensibilizando-os acerca da separação de forma simples em: lixo
seco e lixo úmido. Este evento aconteceu de forma dinâmica, com divulgações em rádios e escolas.
No momento da caminhada, havia um carro de som instigando os moradores a saírem de
suas casas para que os voluntários e bolsistas, realizando panfletagem (Figura 2) fossem até eles e
explicar como fazer a separação, mostrando-lhes os benefícios, que consequentemente ajudariam
aos catadores que trabalham no lixão desta cidade.
Passando pelas principais ruas (Figura 3), o movimento pela ―cidadania ecológica‖ chegou a
seu destino final na Praça João Pessoa (principal praça da cidade, localizada no centro) onde foram

847
montadas tendas com cartazes e exemplares de lixo seco e úmido separados corretamente,
despertando assim o interesse dos curiosos a virem conhecer e participar deste evento.

Figura 2: Panfleto utilizado na sensibilização da população da cidade de Monteiro à separação do


lixo doméstico.

Tendo em vista que ser cidadão é ter compromisso com o meio em que se vive, sabe-se que
é necessário incentivar a utilização de práticas sustentáveis como forma de preservar o meio
ambiente. Estas práticas não só preservam o meio ambiente, como também proporcionam uma
melhor qualidade de vida para quem as pratica.
Segundo Nogueira, ―A evolução e conscientização da sociedade resultaram no conceito de
‗responsabilidade social‘: somos todos responsáveis em nossa sociedade: Estado, iniciativa privada
e coletividade‖. A responsabilidade é de cada um e as ações sustentáveis têm que ser realizadas em
conjunto para que haja um bom funcionamento.
A Constituição Federal em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI, diz que o poder público
deve ―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
para a preservação do meio ambiente.‖ Observamos assim que é garantido por lei o direito do
cidadão a educação ambiental, assim como a preservação do meio em que vive.
Já o artigo 2º diz que ―A educação ambiental é um componente essencial e permanente da
educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal.‖ Ou seja, deve estar presente não só nos
meios formais de ensino, mas em todos os âmbitos sociais.

848
Figura 3: I Caminhada Ecológica de Monteiro.

As práticas deste projeto se adéquam ao nível formal e ao não-formal da educação, pois as


ações realizadas envolvem atividades educativas voltadas não só para as escolas, mas também para
a sensibilização da sociedade em geral acerca das questões ambientais e necessidade de participação
na defesa do meio ambiente.
A cidade de Monteiro-PB ainda está sendo iniciada a este tipo de ação. Os habitantes de
Monteiro ainda não estão habituados a separar corretamente seu lixo doméstico. Aqueles que o
fazem são desmotivados pelo fato de o sistema ainda não ter sido implantado, logo quando o
caminhão passa recolhendo o lixo, este é novamente misturado e é nestas condições que chega ao
lixão municipal, onde catadores sofrem em meio os montes de detritos para tirar dali o seu sustento.
O lixão por si só já é um problema, tendo em vista que a cidade também já deveria possuir
um aterro sanitário, condição necessária a este município, pois o mesmo será receptor de águas do
Projeto de Integração das Bacias do Nordeste Setentrional. Até agora só foi realizada a limpeza de
um terreno onde deveria ser construído o aterro sanitário, mas há meses que o local está
abandonado. O terreno também não é apropriado porque segundo a Lei de Resíduos Sólidos o local
mais apropriado para um aterro sanitário deve estar afastado no mínimo há 5 km da aglomeração
urbana. Como dizíamos, o terreno onde estaria sendo construído o aterro sanitário municipal de
Monteiro não é apropriado por estar localizado numa distância inferior a 3 km.

849
Nogueira diz que ―dentro do conceito de responsabilidade social está inserida nossa
obrigação em relação ao meio ambiente: devemos protegê-lo, para garantir nossa subsistência e o
futuro das próximas gerações.‖ Se queremos um bom futuro para o meio em que vivemos, temos
que cuidar dele adequadamente agora, no presente.
É em meio a este contexto que estão sendo realizadas as ações acima citadas que visam
sensibilizar a população monteirense acerca da importância da coleta seletiva de lixo. O modelo
proposto é simples, trata-se da separação do lixo doméstico em lixo seco (embalagens plásticas,
metais, vidro), lixo orgânico (restos de comida e vegetais) e o lixo de banheiro que não serve para o
reaproveitamento.
Para que houvesse uma boa divulgação e consequentemente uma boa participação da
população na I Caminhada Ecológica de Monteiro, foram utilizados vários meios de comunicação,
como divulgação em carros de som, nas rádios do município e ainda em sites conhecidos da região.
Esta divulgação foi importante não apenas para atrair publico para o evento, mas também serviu
com meio de sensibilização, já que nesta já se falava da importância da prática supracitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As constantes transformações ambientais certamente são decorrentes do desenvolvimento
planetário, seguindo assim o caminho evolutivo natural, porém estas alterações vêem ocorrem de
modo acelerado e drástico, uma vez que a contribuição humana para a acentuação destes problemas
torna-se uma crescente.
O modo como o homem se relaciona com o ambiente dá claros sinais de esgotamento,
demonstrando assim uma necessidade maior de cuidados e preservação. O grande problema parece
estar no fato de que humanidade nunca presenciou uma crise ambiental tão grande quanto essa que
se anuncia, e a grande maioria das pessoas não se vêem como os atores deste problema, tratando-o
com pouca ou nenhuma importância.
O ambiente ainda possui uma grande extensão que não foi superexplorada, demonstrando
assim que ainda há possibilidades, porém uma necessidade emergente de preservação e uso racional
faz-se evidente e é nesta vertente que a educação ambiental crítica surge como uma possibilidade de
(re)construção de valores para a preservação ambiental.
A educação como uma ferramenta de mudança deve ser um projeto continuado, já que a
sua efetivação exige uma (re)elaboração de conceitos e atitudes. A continuidade de ações educativas
de cunho crítico e reflexivo são necessária em qualquer programa de sensibilização que busque um
real sentido de aplicação, já que não se basta transmitir as informações é preciso que se repense e
recrie e incorpore as novas formas como nós nos relacionamos com o desenvolvimento político,
ambiental, econômico e cultural do nosso planeta.
850
É devido a isto que se torna tão importante a utilização da educação ambiental como meio de
alertar os seres humanos acerca da necessidade de preservação dos recursos naturais. Atitudes
sustentáveis como a prática da coleta seletiva não são por si só a solução para toda a problemática
vivenciada atualmente, mas é o início da tomada de consciência sobre a responsabilidade coletiva
que temos com o meio em que vivemos.
O projeto que vem sendo realizada em Monteiro-PB visa alcançar esta conscientização da
população e que de fato cada morador possa se adequar a este simples sistema que tem
consequências tão positivas. Num futuro, não distante, a prefeitura deste município implantará o
sistema de coleta seletiva dos resíduos, quando este momento chegar, é ideal que os moradores
saibam agir corretamente.

REFERÊNCIAS

BAETA, Anna Maria Bianchini; et al. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 5
ed. São Paulo: Cortez, 2011.

BONELLI, Cláudio M. C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil (promulgada em 5


de outubro de 1988). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>Acesso em 04 jul
2012.

COELHO, Maria do Rosário Fonseca. Coleta seletiva na escola, no condomínio, na empresa, na


comunidade e no município. Disponível em:
<http://www.lixo.com.br/documentos/coleta%20seletiva%20como%20fazer.pdf> Acesso em 29 set
2012.

LEMOS, Jureth Couto; LIMA, Samuel do Carmo. Segregação de resíduos de serviços de saúde
para reduzir os riscos à saúde e ao meio ambiente. BioscienceJournal. Vol.15, n² Uberlândia:
Universidade Federal de Uberlândia, 1999.

NOGUEIRA, Carmen Patrícia Coelho. Importância do meio ambiente para uma sadia qualidade
de vida. Disponível em:

OLIVEIRA, E. M. Educação ambiental uma possível abordagem. 2 ed. Brasília, DF:IBAMA,


2000. 185 p.

Panorama de resíduos Sólidos no Brasil. ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de


Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 2010.

Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.abes-dn.org.br/legislacao/lei-


12305.pdf> Acesso em 05 out. 2012.

REIS, H. L. Metodologia de Avaliação de Investimentos em Projetos Ambientais. Tese de


Doutorado. Departamento de Engenharia de Produção. Escola Politécnica. USP, 2001.
851
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTERFACES POSSÍVEIS

Lorena Macêdo A. N. de OLIVEIRA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bolsista IC/CNPq – lorenandrade_neves@com
Gleice V. M. de Azambuja ELALI
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Prof. Dr. – gleiceae@gmail.com

Resumo

Sub-área da Psicologia dedicada ao estudo das inter-ações pessoas-ambiente, a Psicologia


Ambiental (PA) tem se desenvolvido na América Latina a partir de meados dos anos 1990, apesar
de desde a década de 1960 estar presente em países europeus e na América do Norte. No Brasil, nas
duas últimas décadas nota-se o crescimento de estudos e publicações que utilizam conceitos e/ou
metodologias originárias neste campo ou inspiradas nele. Esse artigo é baseado em uma pesquisa
que investigou a produção acadêmica brasileira voltada para as Relações Pessoa Ambiente a fim de
contribuir para a compreensão da área, tendo como recortes a área de Psicologia e o período entre
os anos de 2000 a 2010, visando contribuir para a compreensão da área. A coleta de informações foi
desenvolvida em meio virtual, a partir de sites que disponibilizam dissertações de mestrado e teses
de doutorado nacionais, cuja análise concentrou-se em: principais temas estudados e conceitos
discutidos, referencial teórico, metodologia utilizada, fenômenos e população investigados, entre
outros. Como uma quantidade significativa de trabalhos analisados volta-se direta ou indiretamente
para a Educação Ambiental (EA), analisando temas relacionados a ela, esse artigo retoma as
dissertações coletadas a fim de discutir possíveis interfaces entre estes dois campos de
conhecimento. Com base nesses trabalhos, e considerando os prismas abrangidos pela EA
(compreensão, sensibilização e educação formal e social), de modo geral verifica-se que as
contribuições da PA para esta área estão atreladas à promoção de condutas conscientemente
orientadas pelo ideal da sustentabilidade, bem como à definição de estratégias que possam subsidiar
e/ou operar em conjunto com uma educação orientada a construção de atitudes, valores e ações pró-
ambientais e pró-ecológicas.

Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Educação Ambiental; Dissertações; Mestrado.

852
Abstract
Sub-area of psychology devoted to the study of inter-actions people-environment, Environmental
Psychology (EP) has been developed in Latin America from the mid-1990s, although since the
1960s is present in European countries and in North America. In Brazil, in the last two decades one
can note the growth of studies and publications that use concepts and / or methodologies
originated or inspired it this field. This article is based on a study that investigated the Brazilian
academic production oriented to the Relationships Person-Environment in order to contribute to the
understanding of the area, with the clippings area of Psychology and the period between the years
2000 to 2010. The data was collected from websites that offer national master's dissertations and
doctoral thesis, whose analysis focused on: main issues studied and discussed concepts, theoretical
framework, methodology, and population phenomena investigated, among others. As a significant
amount of work analysed turns directly or indirectly for Environmental Education (EE), analysing
issues related to it, this article takes the essays collected in order to discuss possible interfaces
between these two fields of knowledge. Based on these works, and considering the prisms covered
by EE (understanding, awareness and formal and social), in general it appears that the contributions
of EP for this area are linked to the promotion of behaviors consciously guided by the ideal of
sustainability, and the definition of strategies that can support and / or operating in conjunction with
an education-oriented construction of attitudes, values and actions pro-environmental and pro-
ecological.

Keywords: Environmental Psychology, Environmental Education Dissertations; Masters.

Introdução
Devido a sua dupla nomeação, a Psicologia Ambiental oferece dificuldade na tentativa de
defini-la, visto que as terminologias que a nomeiam carregam em si uma vasta diversidade de
influências, fruto da abrangência dos campos que a identificam ou a adotam como interesse. Essas
interferências podem ser internas ao campo da Psicologia (Psicologia Social, Psicologia da
Percepção, etc) ou externas a ele (como é o caso da Arquitetura e Planejamento Ambiental,
Geografia, Biologia, Ecologia, dentre outras).Para Sommer (2000, apud Pinheiro, 2003), a
Psicologia Ambiental pode se manifestar como uma disciplina inserida no campo de conhecimento
da Psicologia, e também como um campo profissional multidisciplinar em que pode ter incluso
profissionais de outras áreas interessados nos aspectos psicológicos do relacionamento humano-
ambiental.
Ao citar alguns pressupostos básicos na área da PA e sugerir que futuramente possam emergir
outros, Rivlin (2009) ressalta a importância de considerar os princípios que caracterizam o campo,
tais como: o ambiente é experienciado como um campo unitário; a pessoa tem propriedades
853
ambientais tanto quanto características psicológicas individuais; não há ambiente físico que seja
envolvido em um sistema social e inseparavelmente relacionado a ele.
Embora a PA tenha surgido no pós-guerra, na América Latina, ela emergiu mais notadamente
durante os anos de 1970 e se configura hoje de maneira peculiar em relação aos temas abordados eu
outros regiões (especialmente, na América do Norte e Europa), por considerar em grande parte a
diversidade das influências culturais advindas de diversos continentes, sob a população.
Especificamente com relação à interface entre a PA e EA, Corral - Verdugo e Pinheiro (2009)
afirmam que a investigação sobre projetos e ações que estejam relacionados ao tema já existe em
países como Brasil, México e Venezuela embora existam dificuldades na implementação de
projetos que permitiriam a continuidade entre intervenções realizadas e pesquisas. Um bom
exemplo dessa parceria é o trabalho elaborado por Fraijo (2003), que promoveu o desenvolvimento
de um programa visando a promoção de atitudes e habilidades pró-ambientais, cujo estudo obteve
resultados bem sucedidos e em acordo com requisitos apontados pela UNESCO, no México.
Na curta história da PA no Brasil é possível identificar dois momentos específicos: (i)
inicialmente (anos de 1970 a 1980) eram oferecidos cursos de curta duração ministrados por
psicólogos e foi realizada a tradução de clássicos na área, geralmente conhecidos por sociólogos,
designers e profissionais em arquitetura, mas não por psicólogos; (ii) a partir dos anos 1990
começaram a ocorrer parcerias entre grupos distribuídos em diversos polos universitários,além da
oferta de disciplinas na graduação, bolsas de iniciação científica, disciplinas em pós-graduação
vinculadas a programas inseridos em Psicologia. De acordo com Pinheiro (2003), para o
entrosamento dos pesquisadores e melhor acolhimento aos novos interessados é de suma
importância a realização de encontros, como o ‗Simpósio Internacional Psicologia e Ambiente: o
Papel da Psicologia Ambiental no Estudo das Questões Ambientais‘ (2002), que reuniu estrangeiros
e brasileiros em sessões de discussão sobre temas relacionados.
Analisando mais especificamente esse segundo momento, a pesquisa realizada focou a
produção acadêmica na área de PA e defendida entre 2000 e 2010. Desenvolvida no âmbito do
Grupo de Trabalho em Psicologia Ambiental da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
em Psicologia (GT-PsiAmbiental/ANPEPP), o trabalho visava traçar um quadro geral da
preocupação com as Relações Pessoa Ambiente (RPA), no campo da PA brasileira. Com base nesse
trabalho mais amplo, este artigo focará apenas a produção que consideramos mais facilmente
relacionada à interface entre esse campo e a educação ambiental, devido aos seus propósitos e/ou
aos fundamentos teórico-metodológicos utilizados, os quais, de modo geral utilizam os conceitos de
cuidado ambiental, e/ou focalizam os determinantes do comportamento pró-ambiental, incluindo a
conduta sustentável, entre outros.

854
Para apresentar sucintamente o trabalho realizado, esse artigo foi dividido em três subitens:
método, resultados, discussão/conclusões.
Método
O presente estudo foi baseado em uma pesquisa mais abrangente, desenvolvida no âmbito do
Grupo de Trabalho em Psicologia Ambiental da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
em Psicologia (GT-PsiAmbiental/ANPEPP). Naquele contexto, buscava- se contribuir para a
obtenção de dados que facilitem uma análise sobre como se configura a temática das Relações
Pessoa Ambiente (RPA), inserida na área da Psicologia, mais especificamente na Psicologia
Ambiental, em trabalhos de Pós-Graduação dessa esfera acadêmica, no Brasil, entre o período de
2000 à 2010. O material foi localizado e, em sua maioria, disponibilizadas nos acervos da
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações Brasileiras (BDTD), assim também como no material
encontrado através do currículo Lattes de docentes atuantes na área. A partir dos resultados desta
investigação, foi possível discutir que a diversidade de áreas que se voltam para o estudo das RPA,
pode ser entendida como resultado das múltiplas possibilidades que caracterizam o foco de estudos
desse tipo: fenômeno psicológico, ambiente onde ocorre, pessoas envolvidas e tempo.
No intuito de investigar quais as possíveis contribuições entre os campos da Psicologia
Ambiental e Educação Ambiental (em específico para a presente investigação), foram buscadas
produções acadêmicas de mestrado em Psicologia que abordassem o tema da educação ambiental,
no mesmo banco de dados digital relativos a aquelas duas outras, também no mesmo período de
2000 a 2010.
Resultados
Os resultados desta investigação mostraram claramente a diversidade de áreas que se voltam
para o estudo das RPA, bem como as múltiplas possibilidades que focalizam: fenômeno sócio-
psicológico, ambiente onde este fenômeno ocorre, pessoas envolvidas e tempo.
Quanto aos principais temas trabalhados, verifica-se que, na análise da RPA, grande parte dos
trabalhos tinha como objetivo discutir a qualidade do ambiente físico em estudo, qual a percepção,
o uso e o significado atribuído ao mesmo, variando desde o significado do espaço físico da escola
infantil - como observado na tese de Sager (2002), da UFRGS -, até o significado atribuído a uma
praça pelos seus freqüentadores - dissertação de Sousa (2004), da UFRN. Outros temas recorrentes
relacionam-se a: determinantes do comportamento pró-ambiental, relacionando com o
desenvolvimento sustentável (como em Quevedo, 2005); educação ambiental para a promoção de
competências pró-ambientais (presente na dissertação de Lima, 2008, da PUC/SP); a relação afetiva
com o lugar (ver Medeiros, 2005, UFRN) e a apropriação do espaço (Paranhos, 2008). Por sua vez,
os lugares estudados também se mostraram muito diversos, variando desde habitação (Rojas, 2005)
e escolas (Fernandes, 2006), até hospitais (presente na dissertação de Pinheiro, 2009, da UFC), e
855
áreas urbanas, como a praia de Pipa-RN (Medeiros, 2005), a cidade de Fortaleza (Bertini, 2006) e
outros.
O título e os resumos dos trabalhos indicam para temas identificados, durante a fase anterior
do trabalho, como mais constantes nas teses e dissertações encontradas. Assim, podemos agrupar os
temas já delimitados anteriormente com as produções acadêmicas encontradas mais recentemente,
nessa ordem, da seguinte forma:
 qualidade do ambiente físico, 2 pesquisas: Salas de descanso em empresas de telemarketing
e qualidade de vida (Almeida, 2008); O Conforto Pleno como Referencial no Processo de
Projeto Arquitetônico (Villar, 2009);
 relação afetiva com o Lugar, 4 pesquisas: ProJovem Urbano da Escola João XXIII do
Bairro Vila União : Significados Atribuídos pelos jovens na Perspectiva da Psicologia
Comunitária e da Psicologia Ambiental ( Lima, 2010); Afetividade de idosos de vida
religiosa consagrada e a moradia na casa de saúde: projetos de vida e processo de
estabilização residencial ( Ponte, 2010); Afetividade de Adolescentes Praticantes de
Atividades Esportivas com Relação ao seu Bairro ( Souza, 2008); Lagoas do Norte PI :
satisfação residencial e significados do ressenciamento ( Nunes, 2010).

Embora pudéssemos agrupar os temas já delimitados anteriormente com as produções


acadêmicas encontradas mais recentemente, o tema da Educação Ambiental se fez constantemente
presente em trabalhos que poderiam estar inseridos, portanto, em mais de um agrupamento
temático. Este foi o caso de 3 deles, que abordam também o tema sobre determinantes do
comportamento pró-ambiental, entre outros fenômenos: Cuidado Ambiental em Tempos de
Sustentabilidade : Explorando as Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários
(Diniz, 2010); A Eliminação do Mosquito do Dengue em Ambientes Residenciais: Uma Questão de
Cuidado Ambiental? (Barros, 2010);Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas verdes:
a Floresta Amazônica em questão (Cunha, 2010). Outro estudo localizado aborda a EA logo em seu
título: Dimensões e Universo das Representações Sociais de Educação Ambiental por Discentes de
Garanhus - PE (Freitas, 2008). Outros três possuem referencial teórico amplo, com pouca ou
nenhuma especificidade voltada à Psicologia Ambiental: A Gestão Ambiental entre o Discurso
Legitimador e Práticas Instrumentais (Oliveira, 2007); Avaliação dos Programas em Gestão
Ambiental a Luz da percepção dos Trabalhadores (Farias 2006); e Justificativa de Motoristas para
Infrações de Trânsito: Esboçando um modelo (Neto, 2009).
Além de produções que tratam do tema da Educação Ambiental de maneira mais explícita,
desde seu título, é possível destacar conceitos que possibilitam contribuições no entendimento de
fenômenos e, consequentemente, podem auxiliar na elaboração de estratégias úteis a educação
856
ambiental no processo de construção e/ou modificações de atitudes, com o objetivo geral de
promover relações pessoa-ambiente sustentáveis. Atendendo aos critérios estabelecidos, foram
selecionadas ao presente estudo as seguintes dissertações: Práticas em educação ambiental no
ensino formal (Lima, 2008); Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão
(Link, 2006); Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas verdes: a Floresta Amazônica
em questão (Cunha, 2010); Cuidado Ambiental em Tempos de Sustentabilidade: Explorando as
Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários (Diniz, 2010); A Eliminação do
Mosquito do Dengue em Ambientes Residenciais: Uma Questão de Cuidado Ambiental? (Barros,
2010); A água nossa de cada dia (Quevedo, 2005). Todos estes são dissertações de mestrado
diretamente vinculadas a programas de pós-graduação em Psicologia A seguir, estas dissertações
serão apresentadas, de maneira a explicitar interfaces entre Psicologia e Educação Ambiental.
Com a finalidade de provocar reflexões sobre contribuições de um programa de capacitação
vinculado a um sistema de gestão ambiental e verificar se os comportamentos pró-ambientais
apresentados pelos participantes são elementos de um compromisso ambiental, tem-se o estudo
―Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão‖, por Link (2006). Segundo
Corral –Verdugo (2001) apud Link (2006), comportamentos pró-ambientais devem gerar mudanças
visíveis, antecipam e planejam resultados efetivos e requerem uma postura de compromisso aliando
conhecimento e atitudes. O conceito assume relevância a PA, posto que é inegável a intervenção
humana como contribuidora a degradação e agravamento da crise comumente denominada
ambiental.Como categoria investigada, a Educação Ambiental foi apresentada pelos participantes
como um tipo de cuidado relacionado a ações pontuais, como por exemplo, mutirão de limpeza na
praia, ou ainda palestras oferecias pelo IBAMA com informações sobre o arquipélago, os projetos
de pesquisa e as ações ambientais existentes. Neste sentido, também foi possível identificar entre os
participantes, ações como o controle do lixo, redução do consumo de água e energia elétrica, porém
relacionadas às próprias condições de sobrevivência no local, pois devido estar situado em posição
geográfica peculiar, o acesso à água potável e energia elétrica são restritos em relação a outras
localidades situadas em região continental.De forma geral, os resultados apontam para pouco
compromisso ambiental, em que as ações de cuidado estão associadas ao trabalho, sem a
constatação do comprometimento no estilo de vida das pessoas. Dada a pouca concretude da
sustentabilidade, justifica-se a continuidade de pesquisas sobre sua efetivação.
Em ―Cuidado Ambiental em Tempos de Sustentabilidade: Explorando as Dimensões da
Conduta Sustentável com Estudantes Universitários‖ (Diniz, 2010), são discutidos conceitos como
o da conduta sustentável para a qual se propõem 3 dimensões: compromisso pró-ecológico;
perspectiva temporal de futuro e visões de mundo as quais possuem como indicador visões
ecológicas de mundo. A partir do autorrelato dos participantes, basicamente caracterizados como
857
estudantes universitários, foram identificados associações positivas entre ambientalismo
ecocêntrico, consideração de consequências futuras, visão ecológica de mundo de natureza frágil e
cuidado ambiental relativo a predisposição e efetividade das práticas pró-ecológicas; como também
associações entre ambientalismo antropocêntrico e perfil não – cuidador, visões ecológicas passivas
e de controle em associações negativas em relação a consideração de consequências futuras.Por fim,
é sugerido o reconhecimento do compromisso pró-ecológico pautado nas consequências futuras de
nossas ações, visão de mundo pautada na interdependência e no apreço pela diversidade.
Os temas de cuidado e comportamento pró-ambiental também foram abordados
privilegiadamente nos estudos de Barros (2010) intitulado ―A Eliminação do Mosquito do Dengue
em Ambientes Residenciais: Uma Questão de Cuidado Ambiental?‖; ―A água nossa de cada dia‖,
por Quevedo (2005); e em Práticas em educação ambiental no ensino formal (Lima, 2008). O
primeiro investigou mediante caráter exploratório, a proliferação da dengue em ambientes
residenciais no município de Natal, tendo como conceitos discutidos além do cuidado e
comportamento pró-ambiental, a noção de territorialidade, lugar e ambiente residencial, entre os
quais perpassam fenômenos como a demarcação de espaço, afeto e habitação, por autores em PA,
tais como Corraliza (1998), Tuan (1983), Lee (1997), entre outros. A partir da discussão sobre o
achado de que a maioria dos moradores não terem considerado os quintais de sua casa (foco
expressivo de proliferação do dengue) como espaços privilegiados, é sugerida uma campanha
educativa de controle do Aedes aegipty, que pudesse resgatar o quintal como um espaço de
afetividade e convivência dos moradores. Em ―A água nossa de cada dia: percepção, uso e
predisposições comportamentais de alunos do ensino médio de Natal, Rio Grande do Norte‖,
Violeta Quevedo (2005) da UFRN, orientada por José Q. Pinheiro, analisa determinantes do
comportamento pró-ambiental relativo à água, bem como os significados que lhe são atribuídos. A
autora faz um breve histórico da questão da água pelo mundo, em seguida especificando o Brasil e o
Rio Grande do Norte. Situado sobre essa questão, apresenta sua proposta de estudo, discutindo se é
realmente uma crise de água que estamos vivenciando, ou trata-se de uma crise de comportamento,
introduzindo o conceito da Tragédia dos comuns, Hardin (1968), e o estudo feito por Corral e
colaboradores (2002). A autora verificou que embora a idéia de água seja atribuída a noção de vida,
não foi observada coerência entre as concepções manifestadas e os tipos de comportamento de
consumo de água relatado, sendo estas concepções e estes comportamentos destoantes ou
contrários. Então, sugere que preditores do comportamento pró-ambiental em relação à água sejam
investigados de maneira mais aprofundada, auxiliando na elaboração de programas em educação
ambiental, nos quais podem ser trabalhados hábitos, atitudes e comportamentos que inibam os
efeitos de uma cultura de consumo e de uma visão utilitarista da água, no intuito de ampliar
esforços ampliação da preservação de bens naturais.
858
Lima (2008) em seu estudo cujo título foi denominado ―Práticas em educação ambiental no
ensino formal‖ problematiza as estimativas acerca da adoção, por escolas brasileiras, de projetos em
Educação Ambiental, estabelecido por normas e diretrizes nacionais. Buscando compreender de que
forma tais projetos impactam sobre o comportamento de alunos que tenham participado de suas
execuções, também buscou: verificar se estudantes de ensino médio, que participaram de projetos
em EA, apresentam comportamento pró-ambiental; verificar se a possível manifestação do
comportamento citado (pró-ambiental), conduz à obtenção de auto-governo; analisar sob que níveis
de competência ambiental podem estar os participantes. A população da pesquisa abrangia alunos
de ensino médio, estudantes de escola pública situada na cidade de São Paulo. Em especial sobre o
auto-governo, este conceito advém de uma corrente psicológica denominada Behaviorismo a qual
possui como um de seus precursores Skinner, e diz sobre a resolução de problemas e tomada de
decisão, considerando fontes e tipos de controle, sendo que os influenciadores ou fontes desse
controle são, na concepção skinneriana, o ambiente físico e/ou social. Em geral, o estudo verificou
que, após presenciar atividades diversas (conferências, trabalhos em grupo, demonstrações práticas
etc), que encaminharam a ação do plantio de árvores, os estudantes apresentaram competências
pró-ambientais, sugerindo que a Educação Ambiental possa utilizar o embasamento teórico da
Análise do Comportamento no planejamento e avaliação de ações que tenham resultados
significativos em prol à preservação ambiental.
Motivada pela exploração predatória do meio ambiente, e o efeito disso sobre a humanidade e
seu futuro, Cunha (2010) investigou os processos cognitivos orientados à decisão por preservação
e/ou transformações, baseadas em necessidades sociais, sobre o contexto da floresta amazônica. O
estudo foi intitulado ―Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas verdes: a Floresta
Amazônica em questão‖. Para tal, utiliza-se do referencial teórico em Psicologia Ambiental cujo um
dos fenômenos investigados denomina-se cognição ambiental que se refere ao modo como
adquirimos, armazenamos, organizamos e acessamos informações sobre os ambientes (Cunha,
2010; p.43). A autora criou uma situação representacional, com vistas a avaliar ações e atividade
argumentativa de seus participantes, jovens residentes em Brasília, Goiás e Amazonas, entre as
idades de 13 a 19 anos, sendo os participantes dos sexos feminino e masculino, estudantes de
escolas públicas, privadas e escola técnica. Com a construção de maquetes de blocos removíveis
(permitindo a ação dos estudantes na modificação da disposição destes blocos), eram representados
ambientes construídos, de infraestrutura urbana, e ambientes naturais, para avaliar ações de
transformação do instrumento a partir dos índices: valor verde, conhecimento conservacionista e
conhecimento técnico. Após os resultados, o estudo discute sobre a influência da escola, moradia, e
demais contextos sociais, como influenciadores de atribuição de importância do bioma amazônico.
Em geral, os jovens indicaram entendimento sobre os problemas urbanos relacionados aos
859
planejamentos das cidades, como também o entendimento entre a relação dos seres humanos e
recursos naturais, reconhecendo a questão ambiental como um tema importante. Entre suas
considerações, Cunha (2010) se refera à Educação Ambiental, propondo que é preciso considerar as
peculiaridades de localidades específicas, para a tomada de decisões ambientalmente responsáveis,
considerando as relações entre as pessoas e a natureza.
Discussão
Por tudo o exposto até aqui, nota-se a permissibilidade que os diversos enfoques da Educação
Ambiental cujo campo de compreensão abrange desde uma perspectiva ética a estratégias de ação,
suscita ao interesse de psicólogos e/ou pesquisadores em Psicologia, dedicados ao estudo sobre
questões humano-ambientais. É possível então concordar com Corraliza (1994, apud Corral-
Verdugo, 2001) como citado por Link (2006), quando afirma que EA é o conjunto de recursos
formativos e informativos mobilizados com o propósito de aumentar a responsabilidade humana
sobre os problemas do meio ambiente. Desta forma, a Psicologia Ambiental voltada às discussões
que permeiam ações do homem sobre o ambiente e ao mesmo tempo é modificado por este, possui
eixos temáticos como o cuidado ambiental e indicadores do comportamento pró-ecológico, por
exemplo a conduta sustentável, que permite debate direto com a Educação Ambiental.
Apesar dos trabalhos se concentrarem no aspecto investigativo de condutas e atitudes, em
especial no que se refere aos conceitos: conduta sustentável, compromisso pró-ecológico,
determinantes do comportamento pró-ambiental etc ; é possível que se reconheça a importância dos
subsídios fornecidos pelo estudos em Psicologia, especialmente aqueles que se utilizam de
conceitos da Psicologia Ambiental. Tais subsídios assumem valor fundamental, considerando o
foco das inter-ações pessoa-ambiente, nas quais não se isola as ações ou efeitos de um pelo outro,
mas a própria inter-ação entre eles.
Apesar de reconhecer o caráter reduzido do presente estudo a respeito dos conceitos em PA
abordados, é possível encontrar bibliografia específica, inclusive de produção brasileira, em que são
abordadas temáticas e pressupostos com maiores detalhamentos e discussões, como podemos ver
em Elali & Cavalcante at al (2011), além das dissertações de mestrado aqui mencionadas, em
especial os trabalhos utilizados com maior discussão neste estudo, quais sejam os das autoras Link
(2006), Diniz (2010), Barros (2010), Cunha (2010), Lima (2008) e Quevedo (2005).
Considerando o exposto até aqui, nota-se múltiplas áreas do conhecimento interessadas ao
estudo das Relações Pessoa-Ambiente, e em específico pela Psicologia Ambiental. Contudo, nota-se
também uma maior produção nesta área fora da Psicologia, embora se utilize do referencial teórico
da PA. Baseado nisso, discute-se sobre: (i) ser preciso que a área se aproprie do campo de PA; (ii) a
transdisciplinaridade dos temas exigir abordagens inter/multidisciplinares e aumentar a chance de

860
psicólogos integrarem tais equipes; (iii) ampliar a formação de psicólogos em PA contribui para
valorização dos fenômenos psicológicos inerentes às questões ambientais.
A presente investigação buscou oferecer um panorama geral sobre as possíveis interfaces
entre Psicologia e Educação Ambiental, embora se reconheça as limitações do estudo quanto a
maneira reduzida do conteúdo abordado, posto a vastidão de debates possíveis e idéias a serem
desenvolvidas, e que tem sido discutidas em meio ao território nacional, por grupos de estudo sobre
as RPA vinculados aos departamentos de Psicologia. É esperado que se tenha contribuído à
apresentação e evocação de reflexões sobre as áreas de conhecimento, expondo pressupostos e e
apontando para referencial teórico que permitam contribuições perante o atual panorama mundial de
crise a qual envolve a escassez de recursos necessários a existência de seres vivos, como também
envolve injustiça social e precarização das condições e direitos para a sobrevivência,qualidade de
vida e equilíbrio ecológico, crise esta em PA denominada como crise humano-ambiental.

Referências
DINIZ, R. F. (2010). Cuidado Ambiental em Tempos de Sustentabilidade: Explorando as
Dimensões da Conduta Sustentável com Estudantes Universitários. Dissertação de mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

LINK, M. O. L.(2006). Um enfoque psicológico da educação ambiental no contexto da gestão.


Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

BARROS, R. M. B. de (2010). A Eliminação do Mosquito do Dengue em Ambientes Residenciais:


Uma Questão de Cuidado Ambiental. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

LIMA, F. N. O. (2008). Práticas em educação ambiental no ensino formal. Dissertação de


mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,SP, Brasil.

CUNHA, D. C. (2010). Aspectos Cognitivos sobre as transformações das áreas verdes: a Floresta
Amazônica em questão. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

QUEVEDO, V. O. R. de (2005). A água nossa de cada dia: percepção, uso e predisposições


comportamentais de alunos do ensino médio de Natal, Rio Grande do Norte. Dissertação de
mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil.

YAMAMOTO, O. H. . (Org.). (2003). Construindo a Psicologia Brasileira: desafios da ciência e


prática psicológica (3ª edição, pp. 280 – 304). São Paulo: Casa do Psicólogo.

CORRAL-VERDUGO, V.; PINHEIRO, J. Q. (2009). Environmental psychology with a Latin


American taste. Journal of Environmental Psychology, 29, 366-374.
RIVLIN, L. G. (2003). Olhando o passado e o futuro: revendo pressupostos sobre as inter-relações
pessoa-ambiente. Estudos de Psicologia, 8, 215-220.
PINHEIRO, J. Q.; PINHEIRO, T. F. (2007). Cuidado ambiental: ponte entre psicologia e educação
ambiental?. Psico, janeiro/abril ,38, 24-35.

861
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LETRAMENTO: OS GÊNEROS TEXTUAIS COMO VIA DE
SENSIBILIZAÇÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS

Maria Aparecida da Silva BARBOSA¹


Celma Oliveira da SILVA¹
Adelmo Faustino da SILVA¹
Verônica de Fátima Gomes de MOURA- Orientador²
CCHSA-UFPB¹ cydasilva84@gmail.com Graduanda de Licenciatura em Ciências Agrárias –
Campus III

CCHSA- DCBS – UFPB²

RESUMO

Esse trabalho apresenta os resultados de um projeto educativo para a sensibilização ambiental


desenvolvido em escolas municipais com alunos do ensino fundamental I. Fundamentado na
articulação das áreas de Ciências da Natureza com os da área de Linguagens e Códigos, o projeto é
constituído de atividades sistemáticas voltadas para uma conscientização ambiental. Com ênfase na
importância da Coleta Seletiva de Lixo, Reciclagem e Reaproveitamento Residual, as atividades
focalizam a utilização de gêneros textuais como práticas sociais em favor da conscientização
ambiental. Direcionadas às crianças do Ensino Fundamental I, todas as atividades têm o foco na
abordagem da linguagem, verbal, oral e escrita, e da não verbal, como meio de expressão,
informação e comunicação. Interligado ao Grupo de Pesquisas Interdisciplinares, vinculado ao
Departamento de Ciências Básicas e Sociais (DCBS) do Centro de Ciências Humanas Sociais e
Agrárias (CCHSA), Campus III da UFPB, este projeto prevê o desenvolvimento de um conjunto de
ações constituídas por: atividades orientadas de leituras sobre Educação Ambiental – tema central
dos estudos – e sobre os Gêneros Textuais; oficinas de produção textuais; pesquisas nas escolas
municipais para traçar um diagnóstico sobre a realidade dos alunos em relação à coleta em suas
comunidades; atividades pedagógicas de sensibilização junto aos alunos, nas salas de aula; oficinas
de reciclagem de materiais; palestras; o plantio de mudas e ou implantação de uma horta suspensa
com garrafas ―pet‖. Desta forma, este trabalho pôde contemplar 283 crianças de 1º ao 5º ano do
Ensino Fundamental I.

Palavras-chave: Educação Ambiental/ Coleta Seletiva / Letramento / Gêneros Textuais /


Reciclagem.

862
ABSTRACT

This paper presents the results of an educational project designed to raise environmental awareness
in local schools with elementary students I. Based on the articulation of areas of natural sciences
with the area of languages and codes, the project consists at the systematic activity aimed at
environmental awareness. With emphasis on the importance of Selective Garbage Collection,
Recycling and Reuse Residual, to centralize activities on the use of textual genres as social
practices in favor of environmental awareness. Targeted at children's elementary school, all
activities are focused in approach to language, verbal, oral and written, and non-verbal means of
expression, information and communication. Interconnected to the Interdisciplinary Research
Group, linked to the Department of Basic Sciences and Social (DCBS) Center Social and
Agricultural Sciences (CCHSA), Campus III UFPB, this project includes the development of an
action set consisting of: oriented activities readings on Environmental Education - a central theme
of studies - and on textual Genres; textual production workshops; research in municipal schools to
chart a diagnosis on the reality of the students regarding the collection in their communities;
educational activities to raise awareness among students , in classrooms, workshops recycling
materials; lectures; planting seedlings and deployment of a garden or down with bottles "pet." Thus,
this work could include 283 children from 1st to 5th grade of elementary school I.

Keywords: Environmental Education / Selective Collection / Literacy / Genres Textual / Recycling.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, o ser humano desenvolveu a capacidade de criar instrumentos, objetos e


técnicas para melhorar sua qualidade de vida e adaptar-se às características do meio natural,
permitindo o desfrute de melhores condições de sobrevivência. Seguindo esta conduta e
considerando os atuais modelos de desenvolvimento, as pessoas chegaram ao consumismo
exacerbado, capaz de repercutir no futuro do planeta, cujas consequências poderão ser nefastas
(EIGENHEER, 2002). Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais - ABRELPE (2010), diariamente, no Brasil, quase 100 (cem) mil toneladas de
resíduos sólidos, domésticos e públicos, ainda vão parar em lixões a céu aberto, em áreas alagadas e
em aterros controlados.
A ausência de uma gestão eficiente do lixo é responsável por uma série de danos, não apenas
para o meio ambiente, mas também para o cotidiano e a saúde das populações urbanas. Os materiais
que podem ser reciclados (papéis, metais, plásticos, vidros) são separados do lixo orgânico
(biodegradável), que pode ser descartado em aterros sanitários. A separação do lixo na origem evita
a contaminação dos materiais recicláveis, diminuindo os custos com o processo. Como exemplo

863
disso, para cada 10% de caco de vidro na mistura, economiza-se 4% da energia necessária para a
fusão nos fornos industriais e a redução de 9,5% no consumo de água. Pilhas e baterias devem ser
também separadas, pois se descartadas no meio ambiente provocam a contaminação do solo devido
sua composição química.
Mesmo não sendo possível reutilizá-los, estes materiais recebem um destino apropriado para
não gerar poluição no meio ambiente (FERREIRA, 2004). A reciclagem de lixo auxilia na
preservação do meio ambiente, diminuindo a contaminação dos solos e rios e reduzindo o
desperdício de recursos naturais através da economia de energia e matérias-primas (LIMA, 2005).
O primeiro passo para que esse processo ocorra é a realização da coleta seletiva do lixo, um
processo que consiste na separação e recolhimento de resíduos descartados.
O trabalho que desenvolvemos consiste em ações educativas que veiculadas pela diversidade
dos gêneros textuais, com vistas à sensibilização de crianças para que ajam como multiplicadores de
informações e ações conscientizadoras sobre a educação ambiental, em suas comunidades, com
ênfase na coletiva seletiva de lixo, reciclagem e o reaproveitamento de resíduos sólidos.
Configurando-se como um conjunto de ações que focalizam a produção e circulação de
gêneros textuais como práticas sociais em favor da conscientização ambiental, todas as atividades
estão direcionadas às informações e abordagens sobre Coleta Seletiva, Reciclagem e
Reaproveitamento Residual e sobre Produção e circulação de Gêneros Textuais nas Escolas de
Ensino Fundamental I.
Com este trabalho, objetivamos suscitar e orientar reflexões sobre a relação do homem com o
meio-ambiente, com vistas à melhoria da qualidade de vida dos educandos enquanto cidadãos, por
intermédio da articulação dos conhecimentos de áreas distintas, e, desta, forma, também tentar
contribuir com práticas pedagógicas que caminhem em direção à superação do tratamento
compartimentalizado que ainda caracteriza o saber escolar.

2. METODOLOGIA

O trabalho desenvolvido configura-se como um conjunto de ações constituído de estudos


teóricos em grupo, oficinas de produção de textos, pesquisas nas escolas municipais, oficinas de
reaproveitamento de materiais recicláveis e de leitura e produção de textos com os alunos do ensino
fundamental, aliadas com atividades pedagógicas, apresentações orais e palestras de sensibilização
sobre as questões relacionadas ao meio ambiente, com foco na coleta seletiva e na reciclagem.
As atividades foram desenvolvidas em quatro fases:
FASE I

1 - Estudos Teóricos em Grupo: encontros para estudos teóricos, em grupo,


coordenado pela orientadora, cujas orientações visam a qualificar os participantes do grupo sobre os
864
conhecimentos acerca da relação do homem e o meio ambiente, reaproveitamento dos resíduos
sólidos e coleta seletiva - temas norteadores dos estudos. Estruturada em módulos, as informações
foram sintetizadas em apostilas com textos e exercícios, realizados individualmente e, em seguida,
discutidos oralmente pelo grupo. A cada encontro, os membros traziam informações sobre os temas,
anteriormente pesquisados, para serem debatidas no grupo. Estes estudos serviram de base para o
planejamento das atividades a serem desenvolvidas nas escolas municipais.
2 - Pesquisa de Campo: paralelo às atividades de estudos, iniciou-se uma pesquisa de
campo nas escolas selecionadas para a realização das atividades, a fim de investigar os
comportamentos e a concepção que os alunos tinham em relação ao lixo e o que sabiam sobre coleta
seletiva e a reciclagem.
3 - Oficinas Práticas para a Produção de Gêneros Textuais: Após três encontros, os
estudos teóricos foram intercalados com as oficinas de produção textual, nas quais, sob a orientação
da orientadora, os alunos- membros participantes do projeto produziram os gêneros textuais que
seriam trabalhados com os alunos das escolas municipais. Além deste exercício de produção textual
houve práticas de oralidades com os alunos participantes do projeto, com o objetivo de que
pudessem ter um melhor desempenho nas escolas junto às crianças do fundamental.
4 - Planejamento das Atividades de Sensibilização nas Escolas Envolvidas –
planejamento das atividades que seriam realizadas com os alunos das escolas municipais, tendo em
vistas o nível de escolaridade deles e as informações obtidas com a pesquisa de campo.

FASE II

5 – Atividades de Sensibilização nas Escolas – Conforme o planejamento resultante


dos encontros e das reavaliações feitas a cada semana durante as reuniões que continuaram
ocorrendo sistematicamente, as atividades de sensibilização junto ao público-alvo das escolas foram
desenvolvidas, mediante a seguinte metodologia:
I – Interação com a turma através de conversa informal.

II - Audição das canções: ―Lixo no Lixo‖, autor desconhecido; ―O lixo que você joga no lixo - Rap
do Cascão‖ (Turma da Mônica); ―Palavrinhas Mágicas‖, com Eliana; e ―Xote Ecológico‖, de Luiz
Gonzaga.

III - Apresentação dos documentários (filme curta-metragem): ―É preciso reciclar‖; ―Impacto das
pilhas‖; ―Os Animais Salvam o Planeta‖; ―A Natureza Pede Socorro‖; ―O brincar e o planeta -
Professor Sassá‖; ―Os impactos do lixo na natureza‖ e ―A reciclagem como uma solução‖.

IV - Debate com os alunos.

865
V - Informações sobre o trabalho das pessoas que coletam lixo e sobre o que é coleta seletiva e o
que é reciclagem.

VI - Apresentação e oficina prática de trabalhos manuais feitos a partir de materiais recolhidos dos
lixos (reaproveitamento).

VII - Atividades escritas sobre a coleta seletiva, desmatamento e reflorestamento.

VIII - Atividades práticas e simuladas sobre a coleta seletiva, com coletores coloridos na sala de
aula.

FASE III

6 – Encerramento das atividades na escola – O término das atividades nas escolas


aconteceu com uma Palestra relacionada a todas as informações repassadas nas fases anteriores,

culminando com um plantio de uma árvore em duas escolas e uma horta suspensa com garrafas pet
para o cultivo de condimentos em outras duas escolas.

FASE IV

Avaliação dos resultados do Projeto pela equipe executora.

3. DESCRIÇÃO DO TRABALHO DOS PARTICIPANTES

Os Membros Participantes

N° total de participantes 14

Coordenadores 02

Professores Colaboradores 02

Alunos 10

Por ser interdisciplinar, o projeto ―Educação Ambiental e Letramento: os Gêneros Textuais


como Via de Sensibilização nas Escolas Públicas‖ foi desenvolvido sob a responsabilidade de duas
Coordenadoras, uma, Doutora em Reaproveitamento de Resíduos Sólidos – Coleta Seletiva, e a
outra Doutora em Letras.
Além das funções gerais previstas para a coordenação do projeto, coube a uma
coordenadora a função específica de orientar o grupo sobre os conhecimentos relativos à Educação
Ambiental, Coleta Seletiva e Reciclagem. À outra professora coube a função específica de orientar
866
as atividades de leitura dos textos selecionados para estudos em grupo, as atividades de produção de
gêneros textuais utilizados para a sensibilização nas escolas, bem como orientar as atividades que
visem ao exercício da exposição oral pelos participantes do grupo.
Os dois professores colaboradores, Mestres em Educação, coube as funções de
oferecer apoio pedagógico nas atividades de sensibilização na escola onde o trabalho foi realizado.
Aos alunos participantes coube as funções de:

a) participar de todas as atividades de estudos em grupo;

b) participar de todas as atividades de oficinas em grupo;

c) levantar os dados da pesquisa na escola;

d) realizar as atividades de sensibilização com os alunos, em sala de aula, na escola:

Com esta equipe, este projeto educativo foi desenvolvido no período de abril a
outubro de 2012, em quatro escolas municipais da cidade de Solânea – Paraíba, a saber: Escola
Municipal de Ensino Fundamental I Sônia Eliane, Escola Municipal de Ensino Fundamental I
Adelaide Gracindo, Escola Municipal de Ensino Fundamental I Antônio da Costa Souto, localizadas
na área urbana e Escola Municipal de Ensino Fundamental I Santiago Chianca localizada na zona
rural.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que trabalhar a conscientização não é nada fácil, tendo em vista que a formação
cultural pesa diante de novos conceitos. No Brasil, atualmente, evidencia-se a melhoria do bem
estar da população decorrente de uma melhoria econômica. Mas, por ainda ter na educação do seu
povo o maior desafio para que esse bem-estar seja verdadeiramente assimilado e mantido, é preciso
adotar ações educativas que promovam mudanças de atitudes necessárias à promoção e manutenção
da melhoria na qualidade de vida dos cidadãos.
Portanto, avaliamos como um resultado positivo o dado considerável de 14 docentes (que
lecionam nas escolas municipais) e 283 crianças contempladas com este projeto educativo.
Acreditamos que através das ações educativas realizadas nas Escolas Municipais de Ensino
Fundamental I foram de grande proveito, já que conseguimos despertar, nos alunos e professores
destas escolas, uma consciência em relação à necessidade da coleta seletiva e da reciclagem e de, no
mínimo, jogar o lixo nas lixeiras de acordo com a sua cor e função.
Com o apoio e parceria dos órgãos governamentais e instituições de Educação que, no caso
do nosso trabalho foi firmado entre a Secretaria Municipal de Solânea e o CCHSA, Campus da
UFPB localizado na cidade de Bananeiras – PB, podemos promover ações que contribuam para a
867
melhoria da qualidade de vida e bem-estar da população.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Coleta seletiva de lixo. Disponível em: http://www.abrelpe. Acesso em: 22 de


fevereiro de 2009.

BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Formação do leitor: alternativas


metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003.

DIONÍSIO, Ângela, MACHADO, Anna Rachel, BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros textuais e
ensino. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

EIGENHEER, E. M. Coleta seletiva de lixo: o real e o imaginário. In: Seminário da Indústria e do


Meio Ambiente, 1,2002, São Paulo. Anais. São Paulo,2002, p.55-60.

FERREIRA, S.M. Catadores de lixo no Brasil. Revista Urutágua. Universidade Estadual de Maringá.
Maringá- PR, v.7, p.13-15,mai, 2004.

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ABES: João Pessoa/PB,2005.

http://www.youtube.com/watch?v=NgV7O_fJsD8-É preciso reciclar Turma da Mônica (vídeo) –


acesso em 20 de julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=oWxifuMMbpc-Palavrinhas Mágicas-Eliana (vídeo) – acesso


em 20 de julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=8Q-eHJjXAEg - Impacto das pilhas (vídeo) – acesso em 20 de


julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=UJeO5PmZF0o - Os Animais Salvam o Planeta – Dublado


(vídeo) – acesso em 20 de julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=P7oeR3MTdwY- Natureza Pede Socorro (vídeo) – acesso em


20 de julho de 2012.

http://ensinar-aprender.blogspot.com.br/2011/06/varias-musicas-com-o-tema-meio-ambiente.html
Paródias sobre o meio ambiente (músicas) – acesso em 20 de julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=OR_J8KUkXMI - O Brincar e o Planeta - Professor Sassá


(vídeo) – acesso em 20 de julho de 2012.

http://www.youtube.com/watch?v=ltD7A_Mhwt8&feature=fvwrel - Os impactos do lixo na


natureza. A reciclagem como uma solução (vídeo) – acesso em 20 de julho de 2012.

868
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS EDUCADORES DE DUAS ESCOLAS NO MUNICÍPIO DE
MOSSORÓ/RN

Maria Aparecida Nogueira MARQUES (graduanda, DGA/UERN) – apmarkiss@hotmail.com


Louise Duarte Matias de AMORIM (mestranda, PPGCN/UERN) – louiseuern@yahoo.com.br
Maria Alcilene MORAIS (mestranda, PPGMSA/UFERSA) – alcilenemorais@ymail.com
Ramiro Gustavo Valera CAMACHO (prof. Dr., DECB/UERN) – ramirogustavo@uern.br

RESUMO
A percepção da crise ambiental ainda no século XX estimulou a sensibilidade ambiental das pessoas
passando a fazer parte do cotidiano de muitos cidadãos tendo um papel fundamental nessa
perspectiva. A presente pesquisa objetiva analisar a percepção ambiental de professores da
educação básica em escolas públicas de Mossoró/RN. A partir de uma abordagem quali/quantitativa
foram aplicados questionários com professores de duas escolas nomeadas A e B. Com a obtenção
dos dados constatou-se uma divergência quando a percepção ambiental nas duas escolas analisadas,
quanto as questões levantadas integrando a prática da Educação Ambiental nas salas de aulas, o
entendimento sobre o meio ambiente e a Educação Ambiental. Deste modo, apesar de não ser uma
prática vivenciada em todas as escolas, a Educação ambiental formal tem uma grande relevância
para a formação de multiplicadores ambientais e sujeitos ecológicos propícios a disseminação da
sensibilização ambiental na sociedade.

Palavras-chaves: Sujeito Ecológico; multiplicadores ambientais; Educação Ambiental formal.

ABSTRACT
The perception of environmental crisis in the 20th century stimulated population‘s environmental
sensitivity becoming part of lots of citizens‘ routine assuming a relevant role in this perspective.
The present work aims at analyzing the environmental perception of elementary and high school
teachers in public schools from Mossoró/RN. Using a qualitative/quantitative approach,
questionnaires with teachers from two schools labeled A and B were applied. By obtaining the
necessary data it was found that there was a divergence concerning the environmental perception in
both analyzed schools in relation to the issues raised about the practice of Environmental Education
in classroom, the understanding about environment and the Environmental Education itself. This
way, although it is not an action carried out in all schools, the formal Environmental Education is
very valuable for the formation of environmental multipliers and ecological subjects who are able
to spread environmental sensitization in society.

Keywords: Ecological Subject; environmental multipliers; formal Environmental Education.

869
INTRODUÇÃO
O ser humano está em constantes modificações, alterando o seu meio e transformando a
natureza em busca de recursos que sacie suas atividades diárias. A partir da revolução industrial os
impactos ambientais aceleraram e a necessidade de consumir e produzir em massa tornou-se cada
vez mais crescente na sociedade, desencadeando a crise ambiental atual (CASSINO, 2000).
Entretanto, a percepção dessa crise ambiental ainda no século XX estimulou a sensibilidade
ambiental das pessoas passando a fazer parte do cotidiano de muitos cidadãos tendo um papel
fundamental nessa perspectiva. Para DIAS (1999), a Educação Ambiental (EA), desenvolve o senso
crítico a partir do conhecimento adquirido de um indivíduo, sendo este, capaz de transformar suas
atitudes e adequá-las para uma nova postura diante da realidade inserida.
A legislação brasileira dispõe em sua Política Nacional de Educação Ambiental, que,
(art. 2º. da lei 9.795, de 17 de abril de 1999)

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 2010, p.322)

Nesse sentido a (EA) é disseminada a partir do momento em que o pensamento de


equilíbrio ambiental é colocado em prática, onde todos trabalham em busca de um ambiente sadio
formando multiplicadores dessa ideia. A constituição brasileira assegura que a educação ambiental
deve ser promovida em todos os níveis de ensino e a conscientização publica para a preservação do
meio ambiente, (Brasil 1988).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) aborda em sua metodologia dentro dos
Parâmetros em Ação – Meio Ambiente que:

De acordo com a concepção metodológica de formação que norteia o programa Parâmetros


em Ação, os Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola Considera o professor como
sujeito ativo e singular, que domina conhecimentos marcados por sua formação, suas
experiências e suas representações sociais. Trata-se de um princípio para promover atitudes
de respeito pessoal, profissional e intelectual, além de uma escolha metodológica (BRASIL,
p. 9, 2001).

A partir desse contexto entende-se que o professor como sujeito multiplicador do


conhecimento tem o papel de transmissão através de suas boas práticas, levando a sensibilização ao
corpo discente e funcionários da escola.
Nessa realidade surge o Programa Novos Talentos, que apoia projetos extracurriculares
que se propõem a investir em novos talentos da rede de educação pública para inclusão social e
desenvolvimento da cultura científica. Através de edital lançado pela CAPS//DEB Nº 033/2010, o
projeto Educação Ambiental e a Construção de Saberes no Exercício da Cidadania na Escola
Pública visa entre outras coisas identificar as ações desenvolvidas pelos professores da educação

870
básica nas diferentes disciplinas que dimensionam uma abordagem para a educação ambiental e
propor estratégias metodológicas para trabalhar este conteúdo em sala de aula, de forma
contextualizada, transversal e interdisciplinar. A metodologia do projeto baseia-se na execução de
cursos e oficinas para professores e alunos de escolas públicas. Nas oficinas ministradas para os
professores busca-se entre outras coisas identificar conteúdos e estratégias utilizadas pelos mesmos
para trabalhar as questões ambientais no contexto local, além discutir teorias e criação de propostas
metodológicas voltadas para a educação ambiental na escola.
Com o objetivo de analisar a percepção ambiental de professores da educação básica em
escolas públicas de Mossoró, nos propusemos a realizar um estudo de cunho quali/quantitativa
abordando principalmente aspectos relativos a formação do professor anterior ao desenvolvimento
das atividades do projeto. Assim, o projeto visa compreender quais os caminhos trilhados pelos
educadores na sua formação pessoal e profissional que os conduziram ao campo ambiental, e como
suas trajetórias forjaram suas identidades de sujeito ecológico, este entendido como um tipo ideal
portador de valores éticos, atitudes e comportamentos ecologicamente orientados, que incidem
sobre o plano individual e coletivo (CARVALHO, 2004).
Para tanto, foram aplicados questionários semi-estruturados aos educadores de 2 (duas)
escolas públicas do município de Mossoró/RN nomeadas A e B, todas parceiras do projeto
―Educação Ambiental e a Construção de Saberes no Exercício da Cidadania na Escola Pública‖.
Participaram da pesquisa 8 (oito) professores da escola A e 6 (seis) da escola B, todos lecionando
no ensino fundamental e médio. Como afirma Carvalho (2005):

A análise das trajetórias biográficas dá acesso às relações recursivas entre campo social e
trajetória de vida, tomando a condição narrativa destas interações como referencial teórico e
a análise das trajetórias como caminho metodológico. (p. 53).

Nesse contexto, nosso trabalho apontou para a relação entre a formação do Sujeito
Ecológico e da identidade ambiental dos educadores e os elementos que estão presentes
influenciando esse processo de ingresso no Campo Ambiental (Carvalho, 2005).
Segundo Dias (2005),
[...] o uso das narrativas tende a superar o modelo de formação, que reduz o docente à
condição de audiência passiva, a mero executor de propostas idealizadas por outros –
especialistas que se consideram detentores do saber – (re) colocando-os como participantes
do processo de formação [...] Decorre dessa afirmação a relevância da abordagem
(auto)biográfica nos estudos sobre o desenvolvimento profissional, pois podem impulsionar
mudanças nos cursos de formação, no sentido de (des)construir imagens e identidades, que
vão sendo repassadas como modelo único e ideal a ser assumido pelos futuros docentes.
(p.162).

Procuramos identificar nas trajetórias de vida de educadores ambientais, os processos


influentes nesta constituição e na construção de suas identidades enquanto sujeitos ecológicos.
Entendendo a construção da identidade enquanto um processo essencialmente ético na medida em
871
que é articulação de valores, crenças, conceitos e sensibilidades os elementos que servirão como
lastro da subjetividade e como baliza das atitudes sociais e da prática docente.
Dessa forma, procuraremos nos debruçar sobre os discursos dos sujeitos e entender
nessas falas quais os elementos mais significativos, na visão dos questionários.
Dos questionários efetuados aos professores das escolas A e B tiveram suas respostas
diferenciadas em algumas e semelhantes em outras. Quando questionados quanto a pergunta o que
vocês entendem por meio ambiente?:

Gráfico 1: Resposta dos professores das escolas A e B quando a pergunta: O que você entende por meio ambiente?

O gráfico 1 mostra uma realidade dos professores identificada também na maioria da


pessoas que o meio ambiente é um lugar pra viver ou apenas natureza, seguidos de recurso, sistema,
biosfera, problema, por ultimo projeto comunitário e nenhum dos entrevistados colocou todas os
quesitos. Sauvé (1997) relaciona em suas tipologias sobre meio ambiente que, meio ambiente como
natureza é visto como um lugar para ser preservado, o ambiente como problema é para ser
resolvido, como um lugar para se viver é visto como um ambiente para conhecer e aprender sobre,
para planejar e para cuidar, um ambiente como biosfera é onde devemos viver juntos, um ambiente
como recurso é para ser gerenciado e um ambiente como projeto comunitário é onde todas as
pessoas são envolvidas. Sendo assim o meio ambiente é tudo que nos envolve e não somente uma
parte como identificado nas respostas, revelando a ausência de conhecimento dos mesmos sobre a
temática meio ambiente.
Diante da questão: O que você entende por Educação Ambiental? Os professores da escola A
responderam em sua maioria ao todo 5 (cinco) que a EA vai além de uma metodologia ela incentiva a
mudança de pensamento do ser humano, 2 (dois) disseram que se tratava se uma metodologia adotada pelas
872
pessoas para falar sobre o meio ambiente 2 (dois) colocaram que deveria ser uma prática cotidiana. Na escola
B as respostas dos professores em sua maioria 3 (três) disseram que seria um cuidado com o meio ambiente,
1 (um) informou que parte de uma reflexão entre homem e natureza e 2 (dois) não souberam responder.
Segundo Carvalho:

A EA tanto pode ser fruto de um engajamento prévio como constituir-se em um passaporte


para o campo ambiental. Desta forma identificar-se como sujeito e tornar-se educador
ambiental podem ser processos simultâneos. (CARVALHO, 2005, p. 55)

Isso nos mostra que as duas escolas apresentam pensamentos diferentes sobre EA, tendo
na A profissionais mais propícios a serem multiplicadores ambientais e sujeitos ecológicos pela
maneira e reflexão sobre EA, uma vez que a maioria interpretou que EA vai além de uma
metodologia e sim incentiva a mudança de pensamento do ser humano, já o B respondeu em sua
maioria que seria um cuidado com o meio ambiente.
Na questão Você trabalha com Educação Ambiental nas salas de aulas, como? Todos da
escola A informaram que sim, a partir de projetos, textos, oficinas, palestras, vídeos e discussões. Já
na escola B os houve uma divergência nas repostas, pois, 1 (um) não respondeu, 2 (dois)
responderam que raramente já não conseguiam associar o conteúdo a disciplina de matemática e
história e 3 (três) disseram que trabalhavam sim através de músicas e textos. A diferença entre os
dois colégios quanto a prática da EA nos mostra o quanto ainda é pouco disseminada essa atitude e
varia de uma instituição pra outra. Segundo Sauvé p. 17 (2005), ―os diferentes autores adotam
diferentes discursos sobre a EA e propõem diversas maneiras de conceber e de praticar a ação
educativa neste campo‖.
Quando questionados sobre quais trabalhos que tinham desenvolvido e participado
sobre EA? todos os professores tanto da escola A como B alavancaram situações pontuais como
projetos de reciclagem, oficinas, palestras geralmente executados na semana do meio ambiente.
Focando a necessidade de se desenvolver mais atividades contínuas, onde a EA seja trabalhada no
cotidiano escolar e não somente em datas comemorativas.
A partir do acima exposto, verificamos que os professores das duas escolas A e B
apresentam distinções quanto a teoria sobre EA e meio ambiente, pois os docentes da A tem uma
visão teórica mais aprofundada, porém quando se trata da prática ambas as escolas A e B
necessitam reciclar suas atitudes e desenvolver trabalhos voltados para uma EA contínua, onde o
meio ambiente faça parte do cotidiano dos indivíduos.
Diante das observações, identificamos a carência de incentivos por parte das secretarias
de educação e governos, que não disponibilizam recursos e métodos para que esses professores
consigam desenvolver atividades nas salas de aulas dentro de todas as disciplinas e não apenas

873
biologia, ciências e geografia, levando aos alunos e colegas a disseminação de uma sensibilidade
ambiental.
Portanto, apesar de não ser uma prática vivenciada em todas as escolas, a Educação
ambiental formal tem uma grande relevância para a proliferação de multiplicadores ambientais e
sujeitos ecológicos levando a sensibilização ambiental desde a escola até a sociedade.

REFERÊNCIAS

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Joyce Angher]- 5. ed. – São Paulo: Rideel, (2010, p. 37)
CARVALHO, SATO. Educação ambiental: pesquisa e desafios / organizado por Michele Sato e
Isabel Cristina Moura Carvalho.- Porto Alegre: Artmed, 2005.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.
3ªed. São Paulo, SP: Cortez, 2004.
CASSINO, Fábio. Educação Ambiental: princípios, história e formação de professores. 2ª ed. São
Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.
DIAS, Cleuza Maria Sobral. Possibilidades e limites no uso da abordagem (auto)biográfica no
campo da Educação Ambiental. In: GALIZZI, Maria do Carmo; FREIRE, José Vicente (orgs).
DIAS, Genebaldo Freire. Elementos para capacitação em educação ambiental/Genebaldo Freire
Dias.-Editus, (1999, p. 79.)
REIGOTA, Marcos; POSSAS, Raquel; RIBEIRO, Adalberto (orgs.). Trajetórias e Narrativas
Através da Educação Ambiental. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.
TEIXEIRA, Cláudia Hlebetz. Onde os intérpretes da informação? In: INFORMARE: Cadernos do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.37-44,
jul./dez.1995.
SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Uma Análise complexa. In:
revista de educação púplica.v. 006 nº 010 jul/dez-1997.

874
PROJETO RETRATO: UM NOVO OLHAR SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS
Caiâne Paraguahy Marcolino OLSEN (UFSC)97 - caiane_olsen@hotmail.com
Maria Flavia Barbosa XAVIER (UFSC) - mflaviabx@gmail.com
Orientador: Alberto LINDNER (UFSC) - alindner@ccb.ufsc.br

Resumo
O problema do desperdício relacionado aos resíduos sólidos sempre esteve presente no
cotidiano do ser humano. Algumas medidas simples podem ser tomadas para reduzir esse problema,
como a aplicação dos 3R‘s (redução, reutilização e reciclagem). O Projeto Retrato surgiu da
necessidade de destacar a visão do resíduo em uma perspectiva de Redução e Reutilização, ao invés
de dar destaque apenas à Reciclagem, que normalmente é assunto principal nos projetos
relacionados aos resíduos. Reduzir e reutilizar são etapas prioritárias em relação à reciclagem, já
que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água e energia, e também poluem,
devendo ser a última etapa. O projeto foi realizado com estudantes do 6º ano do Ensino
Fundamental da Escola Estadual Básica Henrique Stodieck, em Florianópolis, Santa Catarina, com
duração de quatro encontros durante as aulas de Ciências. Foram realizadas dinâmicas, como um
jogo confeccionado com figuras do que pode ou não ser reutilizável, repetido no fim do projeto para
avaliação da sensibilização dos alunos; degustação de alimentos feitos com o que é considerado
resíduo, como casca de banana, e uma visita ao centro de triagem dos resíduos sólidos da cidade.
Ao final, para incentivar a escola e os estudantes a continuarem se preocupando com os resíduos,
foi montada uma exposição de arte com objetos confeccionados pela turma com o que normalmente
é considerado lixo, no pátio da escola. Os alunos foram convidados a escrever uma redação sobre o
que eles acharam dos encontros, das dinâmicas, da saída e do Projeto. Os resultados das dinâmicas
foram analisados e comparados para ver a eficácia do projeto, que foram satisfatórios para o grupo,
pois demonstra que houve uma sensibilização dos alunos em relação ao tema reutilização.
Atualmente o projeto está tendo continuidade no CCB-Recicla, grupo de estudos sobre a reciclagem
da Universidade Federal de Santa Catarina.

Palavras-chave: Reutilizar Educação Ambiental Escola

Abstract
The problem of waste was always present in the everyday life of humans. Some simple
measures can be taken to reduce this problem, as the adoption of 3R's (reduce, reuse and recycle).
The ―Projeto Retrato‖ was created from the need to highlight the vision of the residue in a

97
Universidade Federal de Santa Catarina

875
perspective of reduction and reuse, instead of highlighting only the recycling, which is normally the
primary subject in projects related to solid waste. Reduce and reuse are the priorities steps in
relation to recycling, since recycling involves industrial processes that consume water and energy,
and also pollute, it should be the last step. The project was conducted with 6th grade students in the
―Escola Estadual básica Henrique Stodieck‖ in Florianópolis, Santa Catarina, with duration of four
meetings during Sciences Classes. There were dynamics, as a game made with figures of which
may or may not be reusable, repeated at the end of the project for the assessment of awareness of
the students; tasting of foods made with what is considered as waste, such as shell of banana and
passion fruit and a visit to the center of sorting of solid waste in the city. At the end to encourage
the school and the students to continue worrying about the waste was made an exhibition of art with
objects made by the class with what normally we call garbage in the courtyard of the school. The
students were invited to write an essay on what they thought of the meetings, dynamics, and a
review of the project. The results of dynamics were analyzed and compared to see the effectiveness
of the project, which was satisfactory to the group. Now the project has a parthnership with CCB
Recicla, a study group on Recycling and Reduce.

Keywords: Reuse Environmental Education School

Introdução
O problema do desperdício sempre esteve presente no cotidiano do ser humano. Vivemos
em uma sociedade onde o consumo é estimulado através da indústria do marketing, da propaganda e
do sistema capitalista no qual vivemos. Há uma visão, nessa situação globalizada, de que
consumismo é sinônimo de desenvolvimento e prosperidade. Diante desse fato, nos deparamos com
a chamada obsolescência programada, onde ―criam-se produtos novos, tornando algumas coisas
obsoletas em pouco tempo‖ (AVANCINI; FAVARETTO, 1997, p. 462), ou seja, o produto é
projetado de modo a ter um curto período de funcionamento ou durabilidade.
A aplicação tecnológica e dos conhecimentos científicos, que tem sido de extrema
importância para o ser humano em diversos aspectos, é hoje um dos principais responsáveis pelo
excesso de resíduos gerados, isso por que um produto é logo substituído por outro mais avançado e
moderno. Assim, como ressalta Dubos (1972), acabamos explorando os recursos naturais do
mundo, quase sempre sem levar em conta as necessidades humanas genuínas, o que realmente
necessitamos.
Medidas simples podem ser tomadas para reduzir esse problema. Uma delas é a reciclagem,
que torna o resíduo matéria-prima para novos produtos, reduzindo a quantidade de lixo nos aterros,

876
gerando empregos e recolocando no ciclo de produção um material que poderia estar contaminando
o solo, os recursos hídricos e o ar. Para introduzir a reciclagem no cotidiano popular, é necessário
que a visão de que o lixo é uma coisa suja e inútil seja mudada. Deve-se também aprender a ―não
misturar cegamente o que, separado, manteria um valor, como papel e restos de comida, por
exemplo‖ (LUTZENBERGER, 1985, p. 58).
Outras medidas que podem ser tomadas são a redução do consumo e do desperdício e a
reutilização de produtos. Segundo Lutzenberger (1985), é necessário que aprendamos a produzir
menos lixo, ―rejeitando os apelos publicitários‖ que nos incitam a adquirir ―sempre mais produtos e
embalagens desnecessárias‖. Nesse contexto entra a Educação Ambiental, que para Ab‘Saber
(1991) constitui em um processo vigoroso, que envolve um esforço de recuperação de realidades e
que não é simples, já que acaba atingindo toda a cultura de um povo quando sugere-se mudanças de
hábitos.
A Educação Ambiental deve ser realizada no intuito de sensibilizar e informar, para que, a
partir daí, mudanças possam ser alcançadas. Além disso, como destacam Dias (1994) e Guimarães
(1995), necessita ser um ―processo contínuo e permanente‖, adotando uma ―perspectiva
interdisciplinar‖ para que tenha uma abrangência global e equilibrada.
O Projeto Retrato surgiu da necessidade de destacar a visão do resíduo em uma perspectiva
de Redução e Reutilização, ao invés de dar destaque apenas à Reciclagem, que normalmente é
assunto principal nos projetos relacionados ao lixo. Alterar a visão do resíduo como sinônimo de
sujeira e inutilidade é peça fundamental para que sejam tomadas atitudes a respeito do problema
―lixo‖. Grande parte do que vai para a lixeira poderia de alguma forma ser reaproveitado,
modificando hábitos e a idéia da descartabilidade, onde boa parte das coisas que adquirimos perde,
aparentemente, a função em pouco tempo.
O desperdício, assunto preocupante na sociedade de consumo atual, é o tema central do
Projeto, que visa mostrar soluções baratas e ecológicas para o que seria jogado fora. Como ressalta
Lutzenberger (1985), ―a miséria é grande, os materiais são valiosos e não falta mercado‖, o que
ressalta a riqueza do que jogamos fora e que pode ser reutilizado mantendo um tempo de vida
maior.
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 30%
dos brasileiros passa fome, vivendo abaixo da chamada ―segurança alimentar‖, que significa o
―direito de todos ao acesso regular e permanente de alimentos de qualidade, em quantidade
suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas
alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social,
econômica e ambientalmente sustentáveis‖ (IBGE). Nesse contexto, a reutilização dos alimentos
que antes iriam para o lixo torna-se fundamental na sustentabilidade desses três parâmetros citados.
877
A quantidade de resíduos sólidos secos que vai para o lixo também é grande. Estes podem
ter sua vida prolongada através de práticas criativas de reutilização de embalagens, garrafas pet,
latinhas, entre outros. Vale ressaltar que Reutilizar é diferente de Reciclar, já que Reciclar significa
transformar um produto que não tem mais utilidade em outro igual, como transformar papel em
papel reciclado, enquanto Reutilizar é atribuir a um produto, sem modifica-lo, uma nova utilidade,
como, por exemplo, transformar garrafas pet em objetos artísticos e de decoração.
Em 1997, a produção mundial de lixo chegou a 400 milhões de toneladas. No Brasil,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000 o país produziu cerca
de 90 milhões de toneladas, e esses dados tendem a aumentar. Em Florianópolis, Santa Catarina,
segundo dados da Companhia Melhoramentos da Capital (COMCAP), empresa que realiza a coleta
do lixo na cidade, a produção diária de resíduos é de 400 toneladas/dia, sendo que 84% poderia ser
reciclado, destes, 46% orgânico e 38% resíduo seco reciclável. Os gastos com o depósito no aterro
sanitário privado, localizado em Biguaçu, são de aproximadamente R$ 98,00/tonelada, ou seja, os
gastos da prefeitura só com o aterramento do lixo passam dos R$ 39.000,00/dia.
A destinação incorreta do lixo é um dos maiores problemas relacionados ao assunto. No
Brasil, 90% dos resíduos não passam por um processo de seleção, indo diretamente para aterros e
lixões. Destes, 76% são lançados a céu aberto (IBGE, 2000). Isso demonstra o enorme descaso e
desinteresse que há, ainda hoje, com essa problemática.
A visão cultural que se tem do resíduo como algo sujo e inútil é uma das principais causas
desse ponto de vista e, sendo assim, um dos principais pontos que deve ser atingido para uma
possível solução do problema. Ao mostrar o resíduo como algo que pode ser reaproveitado, seja na
forma de arte, objetos e até mesmo alimentos, são expostas novas possibilidades e visões
alternativas para aquilo que chamamos de ―lixo‖.
Dentro disso, a relação que se tem com a produção de resíduos pode se tornar também peça
chave na discussão sobre o tema. Perceber a quantidade de resíduos que jogamos no lixo todos os
dias, que no Brasil é de cerca de 1,25 kg/dia por habitante (IBGE, 2000), pode acabar nos levando a
mudanças de hábitos, principalmente os de consumo.
Os 3R‘s são as iniciais das palavras Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Essa política surgiu como
uma forma de enfrentamento da cultura consumista e da geração de resíduos. A ordem de prioridade
dos 3R‘s segue uma abordagem preventiva que parte do menor para o maior impacto, ou seja,
devemos antes evitar consumir itens supérfluos do que reciclá-los. Eles questionam a cultura do
desperdício e da necessidade que temos do consumo excessivo. Precisamos realmente adquirir tudo
o que queremos, ou fazemos isso por status?
Reduzir então seria a etapa mais importante desse processo, porém a mais difícil de ser
alcançada. Torna-se a mais importante tendo em vista que, se o resíduo é visto como um problema,
878
a solução mais lógica seria a redução na produção. Ao mesmo tempo é a mais difícil pelo fato de ser
uma ação que mexe em hábitos e na questão cultural. A ideologia do consumismo, que é a base do
modelo capitalista, é um dos principais fatores de problemas ambientais como esse, onde a
importância do que ―devemos‖ adquirir dá lugar ao status do que ―podemos‖ financeiramente
consumir.
Reduzir a produção de lixo segue algumas medidas como evitar adquirir o desnecessário
para que não se torne lixo, procurar não utilizar e não comprar, produtos com embalagens
sobressalentes e utilizar, quando possível, produtos duráveis.
Reutilizar também se torna uma forma de redução, já que o que iria para o lixo ganha uma
nova finalidade. Dessa forma, a vida útil do resíduo é aumentada e, conseqüentemente, diminui-se o
consumo de energia, o lixo e a poluição gerada. Diversos itens podem ser reutilizados. Cascas de
abacaxi e de maracujá podem virar geléia; garrafas pet podem tornar-se puffs, vasos, brinquedos e
até painéis solares; caixinhas de leite viram carteiras. Outras formas de reutilizar o que iria para o
lixo incluem usar frente e verso de folhas, antes de serem descartadas, fazer uso de coadores de café
não descartáveis, preferir fraldas laváveis às descartáveis, entre outras.
Por fim, Reciclar é o retorno do resíduo ao ciclo de produção, seja ele industrial, como no
caso das latinhas de alumínio; agrícola, como os adubos feitos com resíduos orgânicos; ou mesmo
artesanal, como no caso do papel reciclado artesanalmente com polpa de papel usado.
Reduzir e reutilizar são etapas prioritárias em relação à reciclagem. Pode-se dizer que
―reciclar é pedir desculpas à natureza, enquanto reduzir é não ofender em primeiro lugar‖
(BLAUTH). Deve-se lembrar que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água
e energia, e também poluem, devendo ser a última etapa, mas não a menos importante. A
reciclagem retira os resíduos que iriam para lixões e aterros, evitando o inchaço e a ocupação
excessiva nestes. Assim, é de extrema importância, principalmente quando aliada à Redução e à
Reutilização.
Levar o conceitos desses 3 R‘s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) ao conhecimento dos
estudantes é uma forma de fazer com que todo o desperdício, a que estamos culturalmente
acostumados, seja repensado.

Metodologia

O Projeto Retrato foi realizado na Escola Estadual Básica Henrique Stodieck, localizada no
Centro de Florianópolis, Rua Esteves Júnior, nº 65. A preferência por esta escola se deu pela opção
de se trabalhar com uma escola pública.

879
A Escola recebe em torno de 820 alunos, distribuídos da 1ª série do Ensino Fundamental a 3ª
série do Ensino Médio, nos turnos matutino, vespertino e noturno. É dirigida atualmente pela
Professora Margarete dos Santos e pela Assessora de Direção Elenice Wagner, contando com cerca
de 65 profissionais entre assistente de educação, professores e professoras, orientador educacional,
administrador, assistente técnico pedagógico, serventes e merendeiras.
O público alvo do Projeto Retrato foram alunos do 6º ano do Ensino Fundamental (antiga 5ª
série) da escola. A escolha foi feita porque os alunos dessa série possuem no conteúdo programático
matérias como água, ar e solo, que envolvem o meio ambiente e a sua conservação, além de
disciplinas que tratam de temas como a indústria e o comércio, relacionados com o tema central do
Projeto. Também nessa idade os estudantes estão formando opiniões, conceitos e julgamentos que
precisam ser consolidados com boas práticas e exemplos.
O Projeto foi realizado em quatro encontros com os alunos. O primeiro, terceiro e quarto
encontros foram realizados em sala de aula, nos dias 9, 11 e 16 de agosto de 2010, respectivamente.
No segundo encontro, realizado no dia 10 do mesmo mês, foi realizada uma saída de estudos.
Os temas abordados em sala de aula foram:
• A visão que temos dos resíduos;
• O que pode ser reutilizado;
• A utilização de alimentos que normalmente jogamos no lixo;
• A reutilização de embalagens

Encontro I

O primeiro encontro, em sala de aula, no dia 9 de agosto de 2010, teve a duração de


aproximadamente 75 minutos. No primeiro momento, o grupo se apresentou e o projeto foi
explicado. Após isto, realizamos uma sondagem com os alunos sobre a visão que estes tem sobre o
lixo e sobre o que pode ser reaproveitado.
Inicialmente, realizou-se o jogo ―Será que é?‖, confeccionado com figuras do que pode e do
que não pode reutilizável, como cascas de frutas, garrafas pet, papéis usados, talos de hortaliças,
entre outros. Convidamos os alunos, dispostos em um círculo no chão, a separarem as fichas de
acordo com o que eles consideram reutilizável e o que não é reutilizável, em dois recipientes
distintos identificados, que levamos para a sala de aula. Cada aluno levava sua ficha até os
recipientes, falando em voz alta o que era a figura e todos votavam se era reutilizável ou não.
Após essa atividade, mostramos que muito do que é avaliado como lixo pode vir a não ser,
podendo ser reutilizado de diversas maneiras, de forma a reduzir a quantidade de lixo produzida e
evitando o desperdício.

880
No segundo momento do encontro levamos alimentos feitos com o que é considerado
resíduo. Foram levados: bolo de cascas de banana, geléia de casca de maracujá, chá de casca de
abacaxi e sopa de talos de hortaliças. Os alimentos foram feitos no dia anterior e levados já prontos
para a dinâmica. Os alunos foram vendados, convidados a provar os alimentos, sem saber o que
eram e do que eram feitos. Após provarem, questionamos se haviam gostado ou não.
Posteriormente, explicamos que foi feito do que por muitos de nós é considerado resíduo, e que
mesmo assim eram alimentos muito saborosos.
Os alimentos tiveram uma boa aceitação, respeitando-se os que não quiseram provar, e o
fato de serem feitos do que consideramos ―lixo‖ causou certo espanto nos alunos.

Encontro II

O segundo encontro, realizado no dia 10 de agosto de 2010, teve duração de


aproximadamente 2 horas e 30 minutos. Foi feita uma saída de estudo ao centro de triagem de
resíduos da COMCAP (Companhia Melhoramentos da Capital), localizado no bairro Itacorubi,
onde os alunos conheceram, através do guia Adriano, o roteiro do lixo, sua separação, como é feita
a compostagem e, por fim, o Museu do Lixo. O Museu abriga diversos objetos retirados do lixo,
como instrumentos musicais, máquinas de escrever, eletrodomésticos, além do artesanato
confeccionado pelo Ney, funcionário da COMCAP, também guia e responsável pelo Museu. A
saída de estudos foi realizada perante autorização por escrito dos pais dos alunos, através do ônibus
cedido pelo IFSC.
Nesse encontro propusemos um concurso de arte com o tema ―lixo‖. Sugerimos aos
estudantes fazerem uma escultura, um desenho ou qualquer manifestação artística, confeccionada
com materiais que eles jogariam no lixo, para serem apresentadas no último encontro.
Também pedimos aos alunos para que levassem caixas de leite e garrafas PET para o
próximo encontro, já que realizaríamos as oficinas de carteiras de caixa de leite e puffs de garrafa
PET.

Encontro III

O terceiro encontro foi realizado no dia 11 de agosto de 2010 e teve duração de


aproximadamente 100 minutos. Foi realizado em sala de aula, e no primeiro momento cada aluno
permaneceu em sua carteira para a oficina de carteiras de caixa de leite. Cada aluno recebeu uma
caixa de leite, e os que levaram de casa usaram as suas. Mostramos cada passo e esperávamos todas
acabarem a mesma parte para prosseguir com a explicação. No segundo momento, as carteiras
foram afastadas deixando o centro da sala livre para a elaboração do puff de garrafa PET. Os alunos
881
foram divididos em pequenos grupos para passarem a fita adesiva em volta das garrafas. Quando o
puff ficou pronto, todos tiveram a oportunidade de sentar e ver como ficou.
Nesse encontro, pedimos aos alunos para que fizessem uma redação para entregar no último
dia do projeto, sobre o que eles acharam dos encontros, das dinâmicas, da saída e do Projeto.

Encontro IV

O quarto e último encontro foi realizado no dia 16 de agosto de 2010 e teve duração de
aproximadamente 50 minutos. Realizamos o mesmo jogo proposto no primeiro encontro, para
comparação dos resultados. Foram entregues cartilhas, confeccionadas previamente pelo grupo,
contendo as receitas usadas no primeiro encontro, dicas para diminuir a quantidade de lixo e
reaproveitar materiais, horário da coleta seletiva, jogos sobre o lixo e sites onde eles poderiam
encontrar mais receitas e jogos. O papel utilizado na capa e contra capa foi confeccionado no
Laboratório Experimental de Papel Artesanal (LEPA), no IFSC com a ajuda da Professora Beatriz
Zoucas. O restante da cartilha foi impresso em papel reciclado industrial.
Os estudantes apresentaram os objetos feitos para a exposição de arte. Entregaram também
as redações solicitadas.
A exposição foi realizada no dia 18 de agosto. Para montagem, foi solicitada a autorização
da diretora, Professora Margarete dos Santos, que cedeu o espaço, mesa e papel para cobrir a mesa.
Montamos a mostra no pátio interno da escola ficando a vista de todos os estudantes do Henrique
Stodieck. A montagem foi feita apenas pelo grupo, sem a presença dos alunos e teve a duração de
cerca de uma hora, ficando a mostra por alguns dias.

Resultados e Discussão

Em relação ao jogo ―Será que é?‖, foram analisadas as respostas obtidas no jogo e em
seguida comparadas as respostas dadas na primeira e segunda realização do jogo (primeiro e último
encontro, respectivamente). No primeiro encontro, a porcentagem de erros foi de 35%, contra 65%
de acerto. Isso revela que já havia certo conhecimento da turma sobre o tema abordado. Como foi
de conhecimento do grupo após a atividade, a professora Alice, que dá aula de Ciências para a
turma, já havia abordado o tema reciclagem em suas aulas com os alunos anteriormente, o que
explica o alto número de acertos no jogo.
No último dia, a porcentagem de erros foi de 3%, o que equivale a apenas um erro, contra
97% de acerto. O resultado foi bastante satisfatório para o grupo, pois demonstra que houve uma
sensibilização dos alunos em relação ao tema de reutilização.

882
Com as obras de arte com resíduos, feitas pelos alunos, foi realizada uma exposição para
toda a escola, no pátio central. Os alunos ficaram animados com a idéia, embora nem todos tenham
participado.
As redações feitas pelos alunos sobre o projeto e sobre os encontros foram positivas e
mostraram um grande interesse pelos temas abordados, demonstrando também que eles gostaram
das dinâmicas, oficinas e da saída para a COMCAP.
Alguns pontos negativos também estiveram presentes, a falta de domínio pedagógico para
lidar com as crianças e o curto período de tempo para a obtenção dos materiais, principalmente das
oficinas, que exigiu grande quantidade de caixas de leite e garrafas PET.

Considerações Finais

O Projeto começou a ser desenvolvido como um Projeto de Conclusão de Curso do Curso


Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC) em 2010 e atualmente,
está vinculado ao grupo de estudos CCB Recicla, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), que é um grupo idealizado por funcionários e alunos da UFSC
que realiza atividades tanto em escolas, em especial na Escola Estadual Básica Henrique Stodieck,
quanto na própria Universidade, com oficinas de reutilização de materiais recicláveis, mutirões para
coleta de Lixo Eletrônico, coleta de pilhas e baterias e resíduos recicláveis que são vendidos para
uma cooperativa. O Projeto Retrato participa com atividades na escola e nas oficinas de reutilização
de materiais.

BIBLIOGRAFIA

AB‘SABER, A. N. (Re) conceituando Educação Ambiental. Rio de Janeiro: CNPq, MAST, 1991.
BLAUTH, P. O que fazer com tanto lixo?, Site Jardim de Flores. Disponível em:
<http://www.jardimdeflores.com.br/ECOLOGIA/A19consumoconsciente2.htm> Acesso em: 30 de
julho de 2010.

Blog Escola Estadual Básica Professor Henrique Stodieck. Disponível em:


<http://eebhs.blogspot.com/> Acesso em: 31 de julho de 2010.

BRITO, E. A.; FAVARETTO, J. A. Alterações no equilíbrio ecológico: a sociedade de consumo.


In:______ Biologia: uma abordagem evolutiva e ecológica. 1ª Edição. São Paulo: Moderna, 1997.
p. 462-464.

DIAS, G. F. Educação Ambiental Princípios e Práticas, São Paulo. Global, 1998.

DUBOS, R. O Despertar da Razão: Por uma Ciência Mais Humana. São Paulo:
Melhoramentos/Edusp, 1972. 185p.
883
GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campinas: Papirus, 1995

LEME, P. S. Entrevista Ecologicamente Correta. Disponível em: <http://boletim.ifsc.usp.br/Todas-


Noticias.php?rowid=297&rowid_vol=20> Acesso em: 3 de setembro de 2010.

LUTZENBERGER, J. Do Jardim ao Poder. 11ª Edição. Porto Alegre: L&PM, 1992. 187p.
Recicloteca – Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente. Disponível em:
<http://www.recicloteca.org.br> Acesso em: 3 de setembro de 2010.

Redação Ambiente Brasil. Reciclagem, 2008, Site Ambiente Brasil. Disponível em:
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/reciclagem/reciclagem.html> Acesso em: 30 de
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Redação Terra. Produção Mundial chega a 400 milhões de toneladas, 2007, Site Terra. Disponível
em: <http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1404267-EI299,00.html> Acesso em: 30 de
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Redação Tetra Pak. Reciclagem, Site Tetra Pak. Disponível em:


<http://www.tetrapak.com/br/meio_ambiente/ciclo_de_vida_da_embalagem/pages/reciclagem.aspx
> Acesso em: 30 de julho de 2010.

884
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: QUESTÕES AMBIENTAIS ENVOLVIDAS COM A
UTILIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DE
BIOLOGIA

Maria José dias de ANDRADE


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Bolsista
Cidade Universitária - CEP: 58051-900 - João Pessoa - PB – Brasil
mariadiasandrade@gmail.com
Silvia Raquel Busatto Silva de OLIVEIRA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba/Bolsista
silviabusatto@gmail.com
Rivete Silva de LIMA
Professor adjunto do Departamento de Sistemática e Ecologia / Orientador
Biologia- Campus I, João Pessoa, da Universidade Federal da Paraíba (DSE/UFPB)
rivete@terra.com.br
José Antônio Novaes da SILVA
Professor adjunto do Departamento de Biologia molecular / Orientador
Biologia- Campus I, João Pessoa, da Universidade Federal da Paraíba (DBM/UFPB)
baruty@gmail.com

RESUMO

O consumo de combustíveis fósseis e derivados do petróleo apresenta um impacto


significativo na qualidade do meio ambiente. A poluição do ar, as mudanças climáticas, os
derramamentos de óleo e a geração de resíduos tóxicos estão relacionados com o uso e produção
desse tipo de combustível. O presente trabalho teve como objetivo trabalhar a temática Meio
Ambiente e Educação Ambiental, assim como os conceitos chaves da Ecologia, na busca da
conscientização dos alunos sobre os impactos ambientais envolvidos na utilização de combustíveis
fósseis e da real necessidade de conservação ambiental. Ao longo do primeiro e segundo semestre
trabalhou-se com os estudantes do 2º ano do ensino médio da escola Estadual Liceu Paraibano,
sendo abordados os seguintes temas: Origem dos combustíveis fósseis, questões ambientais
associadas ao petróleo, desastres ecológicos durante a exploração do petróleo, petróleo e o
aquecimento global. A biologia é uma disciplina considerada pelos discentes de difícil
entendimento, mas com estratégias inovadoras e diferentes abordagens em sala de aula é possível
motivar a turma sobre o assunto. Tentou-se fazê-los compreender as etapas que envolvem todo o
processo de refino e consumo dos combustíveis fósseis, buscou-se relacionar este estudo com o dia
a dia dos alunos, interligando o uso dos combustíveis fósseis com os impactos ambientais. O
trabalho com os estudantes foi feito por meio de oficinas educativas e no final das oficinas eles

885
foram avaliados por meio de questões de vestibular e do ENEM. Ao final do trabalho e das oficinas,
observaram-se bons resultados referentes aos temas abordados, o que implica numa ótima resposta
às metodologias utilizadas.

Palavras Chave: Combustíveis Fósseis, Educação Ambiental, Biologia.

ABSTRACT

The consumption of fossil fuels and oil derivatives has a significant impact on
environmental quality. Air pollution, climate change, oil spills and toxic generation of residues are
results of the use and production of these fuels. The present paper aimed to work the theme
Environment and Environmental Education, as well as the key concepts of ecology, in search of
students' awareness about environmental impacts involved in the use of fossil fuels and the real
need for environmental conservation. Throughout the first and second semester were worked with
students of 2nd year from high school of the state school Liceu Paraibano, being focused on the
following themes: Origin of fossil fuels, Environmental issues Associated to Petroleum, Ecological
Disaster during oil exploration, oil and Global warming. Biology is a discipline considered by
students difficult to understand, but with innovative strategies and different approaches in the
classroom it‘s possible to motivate the class on the subject. They tried to make them understand the
stages involved throughout the process of refining and consumption of fossil fuels, sought to relate
this study with the day-to-day, linking the use of fossil fuels with environmental impacts. Was
worked with students through educational workshops, at the end of the workshops they were
assessed through questions of University entrance exam and ENEM, where participated great
results related to the themes discussed, which implies in a great response to the methodologies used.

Keywords: Fossil Fuels, Environmental Education, Biology.

INTRODUÇÃO

A importância do petróleo em nossa sociedade é extensa e fundamental. O petróleo não é


apenas uma das principais fontes de energia utilizadas pela humanidade. Além de sua importância
como fornecedor de energia, os seus derivados são a matéria-prima para a manufatura de inúmeros
bens de consumo, e, deste modo, têm um papel cada dia mais presente e relevante na vida das
pessoas.

886
A importância do refino dentro de toda a cadeia produtiva do petróleo não se resume apenas
ao ponto de vista estratégico. Do ponto de vista ambiental, as refinarias são grandes geradoras de
poluição. Elas consomem grandes quantidades de água e de energia, produzem grandes quantidades
de despejos líquidos, liberam diversos gases nocivos para a atmosfera e produzem resíduos sólidos
de difícil tratamento e disposição. Em decorrência de tais fatos, a indústria de refino de petróleo,
pode ser, e muitas vezes é uma grande degradadora do meio ambiente, pois tem potencial para
afetá-lo em todos os níveis: ar, água, solo e, consequentemente, a todos os seres vivos que habitam
nosso planeta.
Entretanto, sabemos que o petróleo não deixará de apresentar a importância que possui ao
longo dos próximos anos, a menos que haja alguma incrível e revolucionária descoberta de algum
substituto a altura. Deste modo, podemos admitir que as refinarias continuarão existindo, pelo
menos enquanto as reservas de petróleo continuarem a ser exploradas e continuarem a produzir.
Assim sendo, faz-se necessária a integração da variável ambiental no planejamento, na
concepção, e, acima de tudo, na operação das refinarias. A solução para o problema da poluição
certamente não é fechar as refinarias ou reduzir os níveis de produção, um pensamento totalmente
inviável do ponto de vista prático.
Em nossa realidade ampliou-se ainda mais a exploração dos recursos naturais para atender
um novo mercado mundial, baseado em uma sociedade consumista, que exige cada vez mais a
exploração da natureza. O que o ser humano desconsiderou durante sua trajetória de crescimento
predatório é que os recursos naturais são findáveis, como o caso da água potável e dos combustíveis
fósseis (estima-se que as reservas mundiais de petróleo possam durar cerca de 40 anos, a manterem-
se os atuais níveis de produção).
Tendo em vista as consequências do uso dos combustíveis fósseis, em espacial o petróleo, a
escola como formadora de cidadãos bem informados, formadores de opinião e capazes de resolver
problemas, precisa conscientizar os alunos dos impactos ambientais causados pela utilização dos
derivados do petróleo, entre outros.
Problematizar as questões que fazem parte do cotidiano dos jovens e que causam grandes
dúvidas no que se diz respeito em como lidar com elas, é um dos objetivos da aplicabilidade dos
temas transversais na escola. Buscando que os alunos se posicionem de maneira crítica, responsável
e construtiva nas diferentes situações sociais, buscando usar o diálogo como forma de mediar os
conflitos e de tomar decisões coletivas.
O papel da escola é coordenar e compatibilizar a construção do conhecimento com a
realidade cotidiana, e os temas transversais são instrumentos privilegiados para isso. Criada para dar
educação formal ao cidadão, a escola tem uma função socializadora, por tanto a postura assumida
por todos os seus componentes faz parte não só do cotidiano dos que a exercitam, mas também do
887
aprendizado dos alunos. À medida que a escola começa a trabalhar assuntos que estão interligados
com a vida dos alunos e da comunidade, estes se sentem tocados, identificando-se com a temática, e
começam a participar de forma mais efetiva e significativa das atividades escolares.
A forma como nos relacionamos com o meio ambiente à nossa volta está diretamente ligada
à qualidade de vida que nós temos. Dessa forma, é função da escola usar intensamente o tema
―meio ambiente‖ de forma transversal através de ações reflexivas, práticas ou teóricas, para que o
aluno possa aprender a amar e respeitar tudo que está a sua volta, incorporando dessa maneira,
desde a mais tenra idade a responsabilidade e respeito com a natureza.
Esse é o papel da educação ambiental que, além de tratar de assuntos relacionados à
proteção e uso racional dos recursos naturais, também deve estar focada na proposição de ideias e
princípios que possibilitem a construção de um mundo sustentável.
Assim, uma nova forma de ação educacional deve proporcionar um movimento que busque
integrar a questão ambiental com o sistema educacional, procurando transformar práticas
tradicionais de ensino em práticas que possam mostrar a realidade e os desafios existentes nessa
temática de grande importância para todos.
Desta forma, com esta proposta de intervenção pedagógica pretende-se implementar um
projeto com o objetivo de contribuir para uma maior conscientização dos alunos com relação as
questões ambientais, que sejam locais ou globais e com o consumo consciente e racional dos
recursos naturais, em especial dos combustíveis fosseis.

REFERENCIAL TEÓRICO

A educação ambiental deve estar presente dentro de todos os níveis educacionais, como o
objetivo de atingir todos os alunos em fase escolar. Os professores podem desenvolver projetos
ambientais e trabalhar com conceitos e conhecimentos voltados para a preservação ambiental e uso
sustentável dos recursos naturais.
A Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999, através do artigo 2º diz: ―A educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não formal‖.
Segundo Sato (2004, P.23) a educação ambiental esta envolvida num processo de formação
do individuo na construção de habilidades interativa entre o meio em que vivem e suas relações
com ele.

888
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos,
objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para
entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos suas culturas e seus meios biofísicos. A
Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que
conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

Segundo Zabala (1998) as escolas devem promover a formação integral dos alunos, suas
relações interpessoais e sua atuação na sociedade.

Educar quer dizer formar cidadãos e cidadãs, que não estão parcelados em compartimentos estanques,
em capacidade isolada [...] a capacidade de uma pessoa para se relacionar depende das experiências
que vive, e as educacionais são um dos lugares preferenciais, nesta época, para se estabelecer vínculos
e relações que condicionam e definem as próprias concepções pessoais sobre si mesmo e sobre os
demais (ZABALA, 1998, p. 28).

Paulo Freire (2005) defende uma Pedagogia de Comunicação que propõe uma educação e
conscientização embasadas no método capaz de fazer com que o homem se torne crítico, criando
condições desafiadoras, oferecidas para um determinado grupo desde que estas representem sentido
para os mesmos.

[...] método ativo que fosse capaz de criticar o homem através do debate de situações desafiadoras,
postas diante do grupo, estas situações teriam de ser existenciais para os grupos. Fora disso estaríamos
repetindo os erros de uma educação alienada, por isso ininstrumental (FREIRE, 2005, p. 114).

Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) defendem o uso de temas transversais nas


escolas como instrumentos para uma melhor qualificação na formação dos alunos. Dentro dos temas
transversais a Educação Ambiental aparece com os seguintes subtemas:
Meio Ambiente: Natureza, sociedade e meio ambiente; Conservação ambiental; Princípios e
conceitos sobre Educação Ambiental.

Os temas transversais, que constituem o centro das atuais preocupações sociais, devem ser o
eixo em torno do qual deve girar a temática das áreas curriculares, que adquirem assim, tanto para o
corpo docente como para os alunos, o valor de instrumentos necessários para a obtenção das
finalidades desejadas. (BUSQUETS, 2001, p.37).

O petróleo é um óleo mineral, tem cor escura e um cheiro forte. E constituído basicamente
por hidrocarbonetos e a sua refinação consiste na sua separação em diversos componentes, e
permite obter os mais variados combustíveis e matérias-primas (Gregoire, 1979).
Segundo Yeomans (2006) desde que acordamos de manha ate a hora em que vamos dormir,
o petróleo controla a nossa vida. A sua influencia estende-se à politica, negócios internacionais,
economia global, direitos humanos e saúde ambiental do nosso país.

889
Nós como formadores e educadores devemos utilizar de metodologias que proporcionem aos
alunos uma visão crítica e solucionadora dos problemas causados pelo uso exagerado e muitas
vezes prejudicial dos recursos ambientais.

OBJETIVOS

 Desenvolver nos alunos o espirito crítico, a cooperação, a responsabilidade, a aquisição de


competências, no sentido de se tornarem verdadeiros cidadãos livre e capazes de resolverem
problemas, sempre no sentido da sustentabilidade futura.
 Sensibilizar os alunos sobre os impactos causados pelo uso de combustíveis fósseis,
conscientizando-os sobre um uso sustentável destes como forma de conservação do ambiente.
 Fomentar uma Educação Ambiental como principal impulsionadora de futuras práticas
positivas para a preservação do Ambiente.

METODOLOGIA

Foi desenvolvido um projeto de Investigação-Ação, com o objetivo central de informar e


sensibilizar os alunos sobre a importância de poupar e utilizar de maneira sustentável a energia
proveniente de fontes fósseis, direcionando as futuras ações para o uso das fontes de energias
renováveis, correlacionando os benefícios que outras fontes renováveis trariam, com os impactos
que os combustíveis fósseis têm sobre o meio ambiente. Para melhor fundamentar o assunto
abordado foram realizadas pesquisas em biblioteca e artigos, foi discutido como o tema seria
transmitido em sala de aula em turmas.
Trabalhamos em duas turmas do 2º ano do ensino médio da escola Estadual Liceu
Paraibano. A primeira turma que assistiu às aulas do projeto foi uma turma do turno matutino. As
aulas com essa turma tiveram inicio no dia 04 de abril de 2012 e finalização no dia 09 de maio de
2012, como mostra o cronograma abaixo. Com a turma do vespertino as aulas tiveram início dia 27
de agosto e foram finalizadas dia 19 de setembro de 2012.

Público alvo: 2ª. Série do ensino médio - manhã

Inicio: 1º. Bimestre de 2011

As aulas do turno da manhã foram aplicadas na turma 10 do 2º ano do ensino médio.


Iniciamos as aulas no dia 04 de abril de 2012 com o tema: Origem dos combustíveis fósseis a partir

890
de plantas e animais. Foram utilizados como recursos didáticos Data Show e Notebook. O tema foi
discutido durante duas aulas consecutivas tendo uma duração de 90 minutos. Ao final da aula
aplicamos um exercício para verificar o aprendizado dos alunos.
O segundo tema abordado foi: Questões Ambientais Associadas ao Petróleo e seus
subprodutos. Trabalhamos esse tema utilizando Data Show e Notebook para melhor demonstração
do assunto abordado. Foram utilizadas duas aulas para melhor trabalhar o tema, onde na primeira
foi feita a exposição do conteúdo e na segunda aula fizemos um debate e aplicamos um exercício.
Ao total o tema foi trabalhado durante 90 minutos com essa turma, no dia 11 de abril de 2012.
No dia 02 de maio trabalhamos a temática: Desastres Ecológicos durante a exploração do
petróleo: O Brasil está preparado? Utilizamos os mesmos recursos didáticos das aulas anteriores,
trabalhamos o tema durante duas aulas consecutivas, tendo uma carga horária de 90 minutos, onde
houve a exposição do tema, discussão e aplicação de exercícios.
No dia 09 de maio finalizamos as aulas na turma 10 do turno da manhã com o tema:
Petróleo e o aquecimento Global. Utilizamos a mesma metodologia de aula e os mesmos recursos
das aulas anteriores. A aula teve duração de 90 minutos, onde, além da exposição do tema,
discussão e aplicação de exercícios, nós tivemos também uma conversa com os alunos sobre as
metodologias abordadas, os temas e a influência do projeto na formação deles.

Público alvo: 2ª. Série do ensino médio – tarde

Inicio: 3º bimestre

No turno da tarde trabalhamos com a turma 34 do 2º ano do ensino médio. Iniciamos as


aulas no dia 27 de setembro com o tema: Origem dos combustíveis fósseis a partir de plantas e
animais. Utilizamos Data Show e Notebook como recursos didáticos para fazer a exposição do
tema. Após a exposição foi realizado um debate com os alunos e sequentemente foi aplicado um
exercício para verificação do aprendizado.
No dia 05 de outubro trabalhamos o tema: Questões Ambientais Associadas ao Petróleo e
seus subprodutos. Durante duas aulas consecutivas, os debates se mostraram de fundamental
importância para a verificação do entendimento dos alunos a cerca do tema, auxiliados pelos
exercícios que foram aplicados.
O tema: Desastres Ecológicos durante a exploração do petróleo: O Brasil está preparado?
Foi trabalhado no dia 12 de outubro, com uma duração de duas aulas, o que corresponde a 90
minutos. Utilizamos os mesmos recursos das aulas anteriores, como Data Show, Notebook e
exercícios para verificação do aprendizado.

891
Finalizamos nossas aulas no dia 19 de outubro, com o tema: Petróleo e o aquecimento
Global. Onde, após a exposição do tema com auxilio do Data show, notebook e exercício, nós
pedimos aos alunos que fizessem uma avaliação das aulas, focando nas metodologias utilizadas, no
grau de atualização dos temas, bem como, nos resultados alcançados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No início das aulas foi feita uma sondagem com os alunos para saber o nível de
conhecimento deles a cerca do tema abordado. Correlacionamos em nossas perguntas o tema:
Combustíveis fósseis e educação ambiental, levando para os alunos o questionamento sobre o efeito
desses no clima, na natureza e consequentemente na biodiversidade.
Foi visto que, os alunos estavam atualizados sobre alguns temas referentes à educação
ambiental, mas não sabiam relacionar os combustíveis fósseis com os efeitos causados no ambiente,
como poluição do ar, efeito estufa, poluição das águas causadas por resíduos ou por vazamentos,
dentre outros.
Durante as aulas os alunos participaram de forma bastante efetiva, mostraram bastante
interesse, tiraram duvidas, colocaram seus pontos de vista sobre os assuntos abordados e fizeram a
observação de que é necessário para os professores utilizar temas mais atualizados e com
abordagens diferentes e que esteja correlacionada com o dia a dia dos alunos.
Ao fim de cada aula foram aplicados questionários referentes a cada tema abordado,
contendo questões atualizadas e utilizadas no ENEM em diferentes processos seletivos
(vestibulares) pelo Brasil.
Trabalhamos com cerca de 100 alunos ao todo, contando com a turma de manhã e a turma
do turno da tarde.
Selecionamos a 1ª questão dos exercícios aplicados em cada aula para apresentar os
resultados. Na questão 1 obtivemos uma ótima porcentagem de acertos. Onde 0% marcou a
alternativa A, 7,8 marcou a alternativa B, 0% marcou C, 2,6% marcou D e 89,4% marcou a
alternativa correta, letra E.

Questão 1

(Enem 2000) Para compreender o processo de exploração e o consumo dos recursos


petrolíferos é fundamental conhecer a gênese e o processo de formação do petróleo descritos no
texto abaixo.

892
“O petróleo é um combustível fóssil, originado provavelmente de restos de vida aquática
acumulados no fundo dos oceanos primitivos e cobertos por sedimentos. O tempo e a pressão do
sedimento sobre o material depositado no fundo do mar transformaram esses restos em massas
viscosas de coloração negra denominadas jazidas de petróleo.”(Adaptado de tundisi. Usos de
energia. são Paulo: Atual editora, 1991)
As informações do texto permitem afirmar que:

a) O petróleo é um recurso energético, renovável em curto prazo, em razão de sua constante


formação geológico.

b) A exploração de petróleo é realizada apenas em áreas marinhas.

c) A extração e o aproveitamento do petróleo são atividades não poluentes dada sua origem
natural.

d) O petróleo é um recurso energético distribuído homogeneamente, em todas as regiões,


independentemente de sua origem.

e) O petróleo é um recurso não renovável em curto prazo, explorado em áreas continentais


de origem marinha ou em áreas submarinas.

De acordo com a seguinte questão obtivemos os referentes resultados: letra A 18,4%, B


50%, C 10,5%, D 0 % e E 21,5%. Nessa questão metade dos alunos marcou a alternativa correta,
letra B.

Questão 2

(UFSCar) A energia do Sol entra na atmosfera sob a forma de ondas de luz, aquecendo a
Terra. Parte dessa energia é refletida e volta a irradiar-se no espaço, sob forma de ondas
infravermelhas. Em condições normais, uma parte dessa radiação infravermelha que volta para o
espaço é, naturalmente, retida pela atmosfera... O problema que enfrentamos agora é que essa fina
camada atmosférica está ficando mais espessa em consequência da enorme quantidade de dióxido
de carbono e outros gases-estufa produzidos pelo homem, resultando no aquecimento global. (Al
Gore, "Uma Verdade Inconveniente", 2006.)
Embora as hipóteses hoje levantadas em relação às causas do efeito estufa não sejam
consensuais, podemos dizer que, dentre as atividades humanas que intensificam esse fenômeno,
destacam-se:
a) as queimadas, que aumentam a quantidade de CO2 e diminuem a camada de ozônio (O3).
b) a utilização de combustíveis fósseis e queimadas, que elevam o nível de CO2.
893
c) a utilização de combustíveis minerais e queimadas, que diminuem a concentração de
oxigênio na atmosfera.
d) o desmatamento e o uso do CFC, que afetam a quantidade de CO2 na atmosfera.
e) a utilização de combustíveis fósseis, as queimadas e o uso do CFC, que alteram as
proporções de O2 e CO2 na atmosfera.

Durante a aula sobre os desastres ambientais, os alunos demonstraram um ótimo domínio do


conteúdo e ótimo interesse durante as explanações que foram feitas, a mídia está em primeiro lugar na
divulgação desses acontecimentos, e a maioria dos alunos afirmou que a TV é o único meio por onde
eles têm contato com o tema.

Questão 3

Leia o texto seguinte: A Mancha da Impunidade Numa série de erros, a Petrobrás deixa
vazar 4 milhões de litros de óleo e emporcalha dois rios no Paraná (...) Aves e pequenos mamíferos
que tentavam chegar até a água ficavam cobertos pelo óleo. De cada oito animais retirados pelas
equipes de resgate, apenas um sobreviveu. (Revista "Veja", 26/07/2000)

A mortandade dos animais citados na reportagem explica-se, principalmente, pelo seguinte


fato:

a) a impregnação da superfície de seus corpos com o óleo mata-os por intoxicação e por
impedimento da termorregulação.

b) o óleo provoca a obstrução das vias respiratórias desses animais que morrem por asfixia.

c) bactérias que degradam o petróleo proliferam em grande quantidade sobre os animais


provocando infecções agudas e causando a sua morte.

d) o óleo ingerido pelos animais provoca graves lesões no sistema nervoso central
ocasionando a morte.

e) o óleo na superfície corporal dos animais concentra os raios solares que incidem sobre
eles, provocando queimaduras severas na pele e levando-os à morte.

A questão acima presentou unanimidade nas respostas dos alunos, obteve-se 100% de alunos
que marcaram a letra A como correta, e todos os alunos acertaram com êxito a alternativa.

894
Numa 4ª questão referente aos impactos ambientais causados pelo uso de combustíveis fósseis,
em especial, relacionados com o derramamento de óleo os alunos obtiveram os seguintes resultados:

Gráfico 1 - Resultado das respostas dos alunos sobre uma questão referente aos impactos ambientais
causados por derramamentos de óleo.

Várias questões foram aplicadas aos alunos, e em todas nós obtivemos uma grande
percentual de acertos. O que nos mostra uma boa qualidade nos resultados finais do projeto, pois o
objetivo de informa, sensibilizar e conscientizar os alunos sobre os impactos ambientais causados
com o uso de combustíveis fósseis foi devidamente cumprido, provocando nos alunos vários
questionamentos sobre novas alternativas de uso de combustíveis que visem minimizar os efeitos
causados sobre o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos com o projeto, fica clara a importância de se trabalhar de
forma atualizada e com abordagens diferentes, temas relacionados com o ensino de biologia, em
especial com temas tão frequentemente comentados na mídia e por toda sociedade, que são os temas
sobre educação ambiental.
Além de diferentes abordagens, estas precisam estar direcionadas com a assimilação do
conteúdo pelos alunos, que eles consigam relacionar esses temas com seu dia a dia. Propiciando a
estes que formem uma visão crítica e cada vez mais participativa a cerca de diversos temas da
atualidade.
Muitas vezes as pessoas não associam as relações causa-efeito entre o que lhes acontece e o
local onde vivem, é por isso que são necessárias medidas informativas e interventivas de forma que
todos tomem consciência que a mudança de atitudes contribui para o bem-estar individual e global.
895
A nossa intervenção pedagógica foi pensada para promover um pensamento reflexivo nos
alunos, ajudando com que estes se situem no nível dos problemas ambientais, procurando a
aquisição de atitudes, condutas e conceitos necessários para a clarificação de valores.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999. Institui a política Nacional de Educação Ambiental.
Diário Oficial da república Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 abril 1999. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321> Acesso em 08 Mar. 2012.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
BUSQUETS, M. D. et al. Temas Transversais em Educação: Bases para uma formação integral.2.
ed. Série Fundamentos. São Paulo: Ática, 2001.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
Gregoire, J. Viver sem petróleo. Mem Martins: Europa América, 1979.
Portal do professor: Questões de vestibular. Disponível em
<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=26874> Acesso 8 Mar. 2012.
SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos, RiMa, 2004.
Yeomans, M. Petróleo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2006.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

896
PERCEPÇÃO REFERENTE A PROBLEMAS AMBIENTAIS PELOS ALUNOS DO 5° ANO DA
ESCOLA MUNICIPAL MAGALHÃES BASTOS, RECIFE/ PERNAMBUCO.

Natache GONÇALVES DE MOURA FERRÃO (CCB / UFPE)98 – natacheramone@yahoo.com.br


Nathália LINS SILVA (CCB / UFPE)99 - nathalialsilva@yahoo.com.br
Talita PEREIRA SILVA (CCB / UFPE)25 – talitapsilva@hotmail.com
Euzelina dos SANTOS BORGES INÁCIO (CCSA / UFPE)100 - euzi_inacio@yahoo.com.br

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo central avaliar a percepção dos alunos do 5° ano
referente aos problemas ambientais ocorridos no bairro. A atividade intitulada ―Percepção
Ambiental‖, foi realizada no dia 29 de maio de 2012, na Escola Municipal Magalhães Bastos,
localizada na Rua Francisco Lacerda S/N no bairro da Várzea, Recife- PE com o intuito de
iniciação do Projeto de Extensão pela PROEXT, intitulado ―Educação ambiental, sustentabilidade e
saúde na Escola Magalhães Bastos – Várzea, Recife / Pernambuco‖. Foi aplicado um questionário
composto por sete perguntas discursivas (qualitativas) e múltipla escolha (quantitativas), referente à
percepção ambiental. Os resultados mostraram que os alunos possuem uma boa percepção dos
problemas ambientais ocorridos em seu bairro, mostrando-se bastante interessados na procura de
soluções. As crianças possuem uma ideia bem simplista relacionada ao meio ambiente, fazendo
comparações com seu cotidiano familiar e social.

Palavra-chave: percepção ambiental; poluição; natureza.

Abstract

This study aimed to assess the central perception of year 5 students regarding environmental
problems occurring in the neighborhood. The activity titled "Environmental Awareness" was held
on May 29, 2012, at the Municipal School Magalhães Bastos, located at Rua Francisco Lacerda S /
N in the neighborhood of the Meadow, Recife-PE in order to start the Extension Project PROEXT
entitled "environmental education, sustainability and health at the School Magalhães Bastos -

98
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais UFPE, Bolsista PROEXT
99
Graduandas do Curso de Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais
100
Professor Adjunto do Departamento de Biofísica e Radiobiologia da UFPE

897
Lowland, Recife / Pernambuco". We used a questionnaire composed of seven essay questions
(qualitative) and multiple choice (quantitative) related to environmental perception. The results
showed that the students have a good perception of environmental problems occurring in your
neighborhood, being very interested in finding solutions. Children have a very simplistic idea
related to the environment, making comparisons with their daily social and family.

Keyword: environmental perception; pollution; nature.

Introdução

O ambiente é de suma importância para a manutenção da vida, pois estabelece uma


complexa conexão entre diversos fatores, garantindo a manutenção da biodiversidade. Portanto, a
partir do momento em que a relação entre homem e ambiente começa a ser convertida em uma
relação de dominância, onde o homem possui a função apenas de explorador, servindo-se sem
consciência do futuro, problemas como, aumento no número de doenças por pragas; e enchentes
vão se tornando mais frequentes. Estas alterações físicas e biológicas ao longo do tempo vão
modificando e comprometendo os ecossistemas (BRANCO 2008; FERNANDEZ 2004; MUCELIN
2008; PORTELA 2010).
Com o propósito da mitigação de problemas ambientais, está a Educação Ambiental, que
segundo PHILIPPI 2005, tem a função de capacitar os indivíduos ao pleno exercício da cidadania,
de modo a permitir que sejam superados os obstáculos á utilização sustentável do meio.
SANTOS em 2004 comenta que o alto padrão da sociedade e o intenso processo de
urbanização das cidades brasileiras vêm gerando diversos problemas de ordem ambiental, como a
ausência de saneamento básico. Através deste fato nota-se que a sociedade vem perdendo a
capacidade de análise e proximidade dos problemas ambientais com o seu cotidiano, visando a
Educação Ambiental apenas como atividades de grande magnitude, exemplificada pelo combate ao
desmatamento.
De acordo com a Lei 9795/99, a Educação Ambiental tem por definição um processo por
meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como o uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e a sua sustentabilidade. Com isso, uma Educação
Ambiental trabalhada de forma efetiva nas escolas, por exemplo, será capaz de propiciar a
construção de cidadãos capazes de atuar em questões ambientais.
Desse modo, o trabalho teve como objetivo avaliar a percepção dos alunos do 5° ano da
Escola Municipal Magalhães Bastos referente aos problemas ambientais encontrados em seu bairro,

898
a fim de serem estabelecidas através de discussões soluções para tais problemas proporcionando um
envolvimento dos alunos e consequentemente da comunidade na conservação ambiental.

Material e Métodos

A atividade intitulada ―Percepção Ambiental‖, foi realizada no dia 29 de maio de 2012, na


Escola Municipal Magalhães Bastos, localizada na Rua Francisco Lacerda S/N no bairro da Várzea,
Recife- PE, funcionando no turno da manhã e da tarde com turmas de Educação Infantil ao 5º ano
(Ensino Fundamento I). A escola possui Projeto Pedagógico elaborado anualmente, sempre no
início de cada ano.
O bairro da Várzea é o 2º maior em extensão territorial da cidade do Recife, com 2.264,0
hectares de área. É um bairro bastante arborizado, cortado pelo Rio Capibaribe. Possui 70.453
habitantes e uma taxa de alfabetização da população (10 anos e mais) de 93,2% (PREFEITURA DA
CIDADE DO RECIFE). O bairro possui vários casarões, dentre eles o que serve de sede ao
Educandário Magalhães Bastos. Construído em 1897 por Napoleão Duarte, o prédio destinava-se,
segundo placa comemorativa, ao "Asilo da Infância Desvalida, de ambos os sexos‖, fundado e
ditado pelo Com. Antônio José de Magalhães Bastos.
Para avaliar a percepção ambiental foi aplicado um questionário com os alunos do 5° ano
composto por sete questões, mescladas entre discursivas (qualitativas) e múltipla escolha
(quantitativas). As perguntas tiveram como temas: Preservação Ambiental; Educação Ambiental;
Problemas ambientais no bairro; Resíduos sólidos; e Saneamento básico. Para traçar um perfil geral
e avaliar as concepções que os alunos têm a respeito do meio ambiente, aplicaram-se as seguintes
questões por meio de questionário semi- estruturado:
1 – O que é preservar o meio ambiente?
2 – Você já teve aula de Educação Ambiental?
( ) sim ( ) não
3 – O que a Educação Ambiental te ensina?
4 – Existem problemas ambientais n seu bairro? Caso sim, quais?
5 – Para onde vai o lixo da sua casa?
( ) coletado pelo caminhão ( ) jogado na rua ( ) colocado em outros locais. Quais?
_____________________________________
6 – Para onde vai o esgoto da sua casa?
7 – Você acha que causa algum dano ao meio ambiente?
( ) sim ( ) não
Caso sim, qual? _______________________________

899
Para a obtenção dos dados utilizou-se uma amostra composta por 22 alunos do 5° ano do
Ensino Fundamental I, com faixa etária variando entre 9 e 14 anos.
Escolheu-se trabalhar com alunos do 5° ano com base no trabalho de Bezerra et al. (2008),
que em seu estudo também definiram dessa forma por se tratar da série inicial do Ensino
Fundamental I, uma fase de transição em que os alunos dominam razoavelmente a escrita, mais
ainda estão na infância, trazendo consigo um conhecimento prévio do ambiente.
A coleta de dados com aplicação dos questionários foi realizada no mês de maio de 2012.
De posse dos dados, estes foram registrados e analisados. Nesta fase, os dados para as resposta
objetivas foram avaliados quantitativamente. Quanto ás questões abertas, estas foram comparados
entre si e agrupados quanto á semelhança de significados. Em seguida, foi realizada uma contagem
da quantidade de sujeitos que apresentou, em suas respostas, cada categoria específica e da
quantidade de temas diferentes presentes em cada categoria formada.

Resultados

Quando perguntados sobre o que é preservar o meio ambiente, 33% dos alunos responderam
que é não jogar lixo nas ruas; 26% não poluir os rios; 14% cuidar bem da Natureza; 12% não
desperdiçar água; 7% reciclar; 5% não deixar o chuveiro muito tempo aberto no banho; 3%
direcionar corretamente o lixo, óleo de cozinha (Figura 1).

Figura 8. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a


pergunta ―O que é preservar o meio ambiente?‖ referente ao questionário aplicado sobre
Percepção Ambiental em 29 de maio de 2012.

900
Ao serem questionados sobre se já haviam tido aula de Educação Ambiental, 21 alunos,
representando 95% dos alunos entrevistados responderam que tem ou já tiveram aula de Educação
Ambiental (Figura 2.).

Figura 2. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a


pergunta ―Você tem ou já teve aula de Educação Ambiental?‖ do questionário aplicado
sobre Percepção Ambiental em 29 de maio de 2012.

Como todos os alunos fazem parte da mesma escola e segundo o projeto pedagógico das
escolas, aulas de Educação Ambiental são inseridas no contexto das disciplinas de ciências, as
respostas negativas a esta questão (5%) pode ser devido aos alunos não terem conseguido
estabelecer uma relação entre o contexto abordado e as questões ambientais.
Na terceira questão ―O que a Educação Ambiental te ensina?‖ 38% dos alunos responderam
que a Educação Ambiental ensina a não poluir; 19% a não desperdiçar água; 14% preservar a
Natureza e os rios; e 5% responderam não deixar o ambiente sujo, e não cortar árvores; empatado
com 5% não souberam responder.
As respostas dos alunos condisseram com práticas de boas maneiras e consciência ambiental
estabelecidas pelos professores na escola.
Na questão, ―Existem problemas ambientais no seu bairro?‖, 86% dos alunos responderam
que há problemas e enquanto que 14% alunos responderam não verifica a existência de problemas
ambientais no bairro que residem. Dentre os problemas citados estão: lixos nos rios; lixo em
terrenos baldios; lixo na rua; praça destruída; e animais mortos, representados de acordo com os
percentuais de respostas na (Figura 3.).

901
Figura 3. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a
pergunta ―Existem problemas ambientais em seu bairro?‖ do questionário aplicado sobre
Percepção Ambiental em 29 de maio de 2012.

Na pergunta em que foram questionados sobre a destinação do lixo residencial, 20 alunos


relataram que o lixo doméstico é coletado pelo caminhão do lixo; e 2 alunos lançam o lixo em
outros locais. Os locais indicados pelas crianças são terrenos baldios ou pontos específicos onde
todos os moradores da rua colocam os seus resíduos domésticos. Na pergunta sobre a destinação do
esgoto de sua residência, 41% das crianças relataram que possuem saneamento básico; 23%
responderam que o esgoto corre a céu aberto; 9% possuem fossa e 27% não sabem a destinação do
esgoto residencial (Figura 4).

Figura 4. Respostas dos alunos do 5° ano da Escola Municipal Magalhães Bastos, a


pergunta ―Para onde vai o lixo da sua casa?‖ do questionário aplicado sobre Percepção
Ambiental em 29 de maio de 2012.

Em resposta última pergunta: ―Você acha que causa algum dano ao meio ambiente?‖, 15
alunos responderam que sim e 7 alunos responderam que não causam danos ao meio ambiente. Os
danos relatados pelas crianças foram: jogar lixo na rua e não economizar água.

902
Discussão

A escola é um ambiente bastante favorável para a construção de novas idéias, através de um


ensino participativo. AMANTE 2001 e FRAZÃO 2010 relatam que a percepção é o ato ou
faculdade de perceber e adquirir conhecimento a partir de algo por meio dos sentidos, compreender
e ouvir.
Neste pressuposto, a percepção ambiental abrange a compreensão das inter-relações entre o
meio ambiente e os indivíduos, ou seja, como a sociedade percebe o seu meio circundante,
expressando suas opiniões, expectativas e propondo linhas de condutas (FAGIONATO, 2011;
GOMES 2007).
Ao participarem da atividade, as crianças trouxeram para o questionário as suas realidades
pessoais, como a manutenção da limpeza das ruas de seu bairro e escola; a falta de saneamento; e
até mesmo o ato de jogar lixo no chão pelos colegas, mostrando uma associação entre preservação
do meio ambiente com o meio familiar e social. Demonstrando que um indivíduo é capaz de
sustentar sonhos que busquem valores ecológicos, em prol da luta por uma sociedade que viva
integrada e engajada em um processo de difusão de uma vida mais saudável (CARVALHO 2004).
Após aplicação do questionário, foi estabelecida uma pequena discussão referente à visão
que estes têm do ambiente, sendo evidenciado pelas crianças a poluição, e a necessidade em
expressar que a Educação Ambiental ensina a não poluir. Contudo, os alunos entrevistados como
em outros trabalhos sobre Percepção Ambiental realizado no mesmo bairro (ESPÍDOLA 2011),
mostram que mesmo tendo consciência da preservação do meio ambiente, mencionam práticas do
seu dia-a-dia que prejudicam o meio ambiente, como: jogar lixo nas ruas e rios; deixar a torneira
aberta; deixar a televisão ligada sem que esteja utilizando.
Relacionaram também que onde há um ambiente poluído, não há uma conscientização das
pessoas viventes no local. No entanto foi percebido que os alunos sentem falta de um método de
ensino relacionado à Educação Ambiental, mas dinâmico e participativo.

Conclusão

Com a realização da atividade pela aplicação do questionário, ficou evidente que apesar de
pouca idade, os alunos têm uma grande consciência dos problemas ambientais, citando e
comparando os temas propostos com a sua realidade.

Agradecimentos

903
Agradecemos ao corpo docente da Escola Magalhães Bastos, por nos propiciar a
oportunidade da aplicação do projeto; aos alunos pela participação efetiva na atividade; a PROEXT
pelo financiamento das atividades.

Referências

AMANTE, F. A. Carta de enchente da Praça da Bandeira e Tijuca – RJ. 110 p. 2001. Monografia
(Graduação em Geografia) - Universidade Estadual do Rio de Janeiro/ Instituto de Geografia, Rio
de Janeiro. 2001.
BRANCO, S. Educação ambiental: metodologia e prática de ensino. 80 p. Dunya Editora. Rio de
Janeiro. 2003.
BRASIL. Lei n.º 9795 de 27 de abril de 1999: Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental Nacional.
CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 3ª Editora Cortez.
2008.
ESPÍDOLA, M. et al. A Percepção Ambiental como subsídio para a formação do sujeito ecológico
na comunidade Loteamento Padre Henrique, Várzea Recife PE. Cientec- Revista de Ciência,
Tecnologia e Humanidades do IFPE. v.3. n.1. 2011.
FAGIONATO, S.R. Perspectivas de crianças de 5 e 6 anos sobre natureza e sua relação com ela-
contribuições para se pensar o currículo na educação infantil. Forum Ambiental da Alta Paulista-
ANAP. v.7. n.6 2011.
FERNANDEZ, F.A.S. O poema imperfeito: crônicas de Biologia, conservação da natureza, e seus
heróis. 2. ed. Editora UFPR. Curitiba. 2004.
FRAZÃO, J.O, et al. Percepção ambiental de alunos e professores na preservação das tartarugas
marinhas na praia de Pipa – RN. Revista eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v.24.
FURG/RS. 2010.
GOMES, A.P.W. Percepção Ambiental dos alunos da Faculdade de viçosa – FDV. Semana
Acadêmica de Meio Ambiente: Gestão, Educação e Inovação Tecnológica. v.1. Viçosa/MG. 2007.
MUCELIN, A.C; BELLINI, M. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano.
Sociedade & Natureza, Uberlândia/MG. 2008.
PHILIPPI J.R; et al. Educação ambiental e sustentabilidade. Universidade de São Paulo. Editora
Manole. 2005.
PORTELA, T.S et al. Educação Ambiental: entre a intenção e a ação. Revista Eletrônica do
Mestrado em Educação Ambiental. v. 24. FURG/ RS. 2010.
SANTOS, R. Saneamento e Educação Ambiental: A Experiência do Bahia Azul nas Escolas.
Florianópolis/SC. 2004.
VASCONCELOS, A.K.P; VILAROUCA, J. Avaliação da percepção ambiental dos alunos da
EMEIF Dagmar Gentil: Estudo de caso. Fortaleza/ CE. 2010.
http://www2.recife.pe.gov.br/a-cidade/perfil-dos-bairros/rpa-4/varzea/. Acessado: 24 de agosto de
2012.
904
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO: COMO
INSTITUIR ESSA REALIDADE?

Nikolle Nebl Jardim ARAVANIS (DTR/UFRPE) - nikollearavanis@gmail.com


Graduanda de Engenharia Agrícola e Ambiental e
Pesquisadora do Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe)

Wagner José de AGUIAR (DB/UFRPE) - wagner.wja@gmail.com


Graduando de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas e
Pesquisador do Gampe

Rodrigo Cândido Passos da SILVA (DTR/UFRPE) - rodrigo.candido.passos@hotmail.com


Graduando de Engenharia Agrícola e Ambiental e
Pesquisador do Gampe

Soraya Giovanetti EL-DEIR (DTR/UFRPE) - sorayageldeir@gmail.com


Professora Orientadora, Adjunta nesta universidade e
Coordenadora do Gampe

Resumo

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que cobre quase 10% do território nacional
(CASTRO et al., 2006). Esse bioma que sofre forte pressão antrópica, por muito tempo foi tratado
como um ambiente de pouca riqueza biológica, entretanto, quando comparado a outras regiões
semiáridas do mundo, a Caatinga apresenta um alto grau de diversidade biológica (LEAL et al.,
2005; MENDES, 1997). Diante disso, a implementação de atividades de sensibilização ambiental
nos diferentes espaços educativos pode contribuir para o conhecimento da biodiversidade loco
regional e a consequente conservação desta. Logo, Educação Ambiental sendo um processo
participativo, onde o aluno assume o papel de elemento central do processo de ensino-aprendizagem
desejado, procura buscar a participação ativa dos alunos na análise dos problemas ambientais,
procurando também soluções através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes.
Nessa perspectiva, o presente trabalho tem o objetivo de investigar a percepção ambiental dos
jovens de Poço da Cruz, a fim de perceber o nível de entendimento acerca dos principais problemas
ambientais e a relação da população estudantil com o ambiente em que estão inseridos. Conhecendo
esta realidade e a interrelação estabelecida com o meio ambiente, torna-se possível trabalhar a
Educação Ambiental efetivamente nas escolas.

Palavras-chaves: Escolas; Percepção ambiental; Caatinga.

905
Abstract

The Caatinga is an exclusively Brazilian biome that covers almost 10% of the country (Castro et al.,
2006). This biome suffering strong anthropic pressure, has long been treated as an environment of
little biological richness, however, when compared to other semi-arid regions of the world, the
Caatinga has a high degree of biological diversity (Leal et al., 2005; MENDES, 1997). Therefore,
the implementation of environmental awareness activities in different educational spaces can
contribute to knowledge of biodiversity conservation and subsequent locoregional this. Soon,
Environmental Education is a participatory process where the student assumes the role of a central
element of the process of learning and teaching desired, searching seek the active participation of
students in the analysis of environmental problems, seeking solutions also through the development
of skills and training attitudes. This work aims mainly to study the environmental perception of
young Pit Cross in order to realize the level of understanding of the major environmental problems
of the student population and the relationship with the environment in which they live. Knowing
this reality and inter-established relationship with the environment, it becomes possible to work
effectively in schools Environmental Education.

Keywords: Schools; Environmental perception; Caatinga.

Introdução

Diante do uso predatório dos recursos naturais, o planeta tem enfrentado diversos problemas
que traduzidos nas ameaças ao equilíbrio ecológico e que, por conseguinte, comprometem a
biodiversidade, levando à extinção de espécies vegetais e animais, assim como a condições
desfavoráveis para a vida humana (EL-DEIR, 2012). Partindo do princípio de caracterização da
sociedade atual como ―sociedade de risco‖ (BECK, 1995; JACOBI, 2005), a comunidade global
tem se deparado, cada vez mais, com os riscos produzidos por ela mesma e, nesse contato, buscado
reagir aos problemas desencadeados, tornando-se autocrítica. Até então, a sociedade encontrava-se
imersa numa racionalidade ilusória, e as pessoas não se davam conta que estavam subordinadas a
uma rede de interesses que se voltavam para a exploração dos recursos existentes em seus
territórios. Não se tinha uma percepção crítica acerca da forma como eram conduzidos os
investimentos e a distribuição das riquezas obtidas por meio destes, a sociedade daquela época não
era capaz de olhar a ―pobreza material‖ por diferentes ângulos. A crise do século não era de ordem
específica, isto é, não se limitava ao fator econômico, ao fator social ou exclusivamente ao
ambiental: a sociedade do século XX vivia uma ―crise de percepção‖ (CAPRA, 2006).
906
A preocupação da sociedade por uma crise ambiental, fez com que na década de 60 no
século XX, surgisse um movimento ecológico que estimulava uma cultura de ligação entre a
sociedade e a natureza, através da criação de uma consciência ecológica e de atividades e projetos
no intuito de educar as comunidades, por meio de sensibilização, mobilizando-as para atividades e
posturas benéficas ao equilíbrio do ambiente. Da década de 60 aos anos 80, vivencia-se uma
sequência de discussões acerca das questões ambientais, até ocorrer a institucionalização dessas
questões enquanto política pública, com a criação da Educação Ambiental (EA). Certamente, esse
processo não se deu de forma homogênea, em termos de tempo e de espaço já que, em 1965, a
expressão Educação Ambiental (ou Environmental Education) fora lançada na Inglaterra, numa
Conferência de Educação que aconteceu na Universidade de Keele (BOTELHO, 1998)
No Brasil, a institucionalização das questões ambientais se deu a partir da implantação da
Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81) e da Política Nacional de Educação Ambiental -
PNEA (Lei 9.795/99), sendo esta regulamentada pelo decreto 4.281/02. No Art. 7. da PNEA está
estabelecido que a EA esta deve envolver a participação não apenas dos órgãos e entidades do
Sisnama101, mas também de instituições educacionais e das organizações não-governamentais com
atuação em educação ambiental, dentre outros atores institucionais. Não obstante, Furlan (2012)
afirma que há limitações para implantação da EA, e elas referem-se ao ponto de vista metodológico.
As pessoas sabem muito sobre o tema meio ambiente, mas não sabem atuar para resolver os
problemas. Há uma grande diferença entre falar sobre o tema e fazer Educação Ambiental.
De acordo com Vasconcellos (1997), a presença, em todas as práticas educativas, da
reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele e do ser humano com seus
semelhantes é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra. Dentro desse
contexto, sobressaem-se as escolas, como espaços privilegiados na implementação de atividades
que propiciem essa reflexão, pois isso necessita de atividades de sala de aula e atividades de campo,
com ações orientadas em projetos e em processos de participação que levem à autoconfiança, a
atitudes positivas e ao comprometimento das pessoas com a proteção ambiental implementados de
modo interdisciplinar (DIAS, 1992).
Face a esse panorama, o Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental de Pernambuco (Gampe), da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, tem atuado junto às diferentes instâncias da sociedade,
buscando contribuir para o desenvolvimento sustentável em Pernambuco através de iniciativas de
gestão ambiental (SILVA et al., 2011). Partindo do princípio de que a EA se consolida como um
caminho estruturante no processo de gestão ambiental, a discussão a ser empreendida no presente
101
Sistema Nacional de Meio Ambiente: instituído pela Lei 6.938 no dia 31 de agosto de 1981, é um sistema que
congrega órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal, incluindo o Distrito Federal, cuja finalidade é
proteger e melhorar a qualidade ambiental.

907
estudo se voltará para a análise do fortalecimento das instituições de educação básica – no caso, as
escolas – no que concerne à participação social na promoção do desenvolvimento sustentável,
tomando como norte a ideia de formação do sujeito ecológico trazida por Carvalho (2006), tendo
este sujeito um posicionamento autônomo e líder na busca de soluções para os conflitos
socioambientais.
O presente trabalho apresenta o contexto de Poço da Cruz, comunidade rural do semiárido
pernambucano, sob a perspectiva da EA por meio das atividades educativas e socioambientais
realizadas nas escolas da comunidade em questão. Propõe-se analisar a percepção socioambiental
dos populares e o impacto das ações educativas desenvolvidas pelo Gampe nas escolas, tomando
como base a inserção e a participação dos atores escolares na discussão acerca das questões
ambientais locais. De modo especial, buscaremos ainda ilustrar, de modo qualitativo e quantitativo,
as ações desenvolvidas, na tentativa de suprir demandas pedagógicas da comunidade escolar dentro
do eixo da educação ambiental, justificando os resultados alcançados nesta pesquisa.

Metodologia

O estudo resultou de uma pesquisa descritiva (GIL, 1991), uma vez que se visou descrever
as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Em função do seu caráter, a pesquisa incluiu levantamento, processamento e análise de
dados secundários. O levantamento dos dados ocorreu com a aplicação de 30, 50, 48 e 49
questionários, aplicados respectivamente nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012, através de diálogos
informais com moradores da comunidade de Poço da Cruz em Ibimirim, Pernambuco. Justifica-se a
utilização do questionário como instrumento de pesquisa, pois este pode ser aplicado a um grande
número de pessoas e constitui-se num instrumento que mobiliza a exposição das ideias dos sujeitos
pesquisados sem a influência de possíveis opiniões do entrevistador (GIL, 1999).
Quanto ao foco de investigação, o questionário trazia perguntas objetivas e subjetivas, com foco na
percepção ambiental dos entrevistados, buscando uma aproximação com as impressões e
concepções dos moradores acerca de problemas ambientais globais e locais. Caso alguma resposta
fornecida pelo entrevistado não tivesse coerência, a mesma era automaticamente considerada como
―não soube responder‖. Dentre as questões trazidas no questionário, foram as elencadas para a nossa
pesquisa: (i) Noção sobre o conceito de Meio Ambiente; (ii) Quais eram os principais problemas
ambientais globais e locais. As perguntas abertas foram plotadas utilizando os dados percentuais das
respostas. Fez-se necessário o uso do software Microsoft Excel para a plotagem e realização de
análises estatísticas.

908
Resultados e Considerações Finais

Dados sobre a escolaridade e a percepção ambiental

Visto o significado do contexto escolar para a pesquisa, considerou-se como importante,


antes de adentrar o foco da percepção ambiental, traçar um perfil de escolaridade da comunidade
entrevistada. De um quantitativo de 400 entrevistados, 80% desse total correspondiam ao sexo
feminino. A idade média dos entrevistados diminui no decorrer dos quatro anos, passando de 41,96
em 2009 para 40,02 em 2012. O nível escolar desses entrevistados é demonstrado na Figura 1,
expondo que a grande parte da população, tanto em 2011 quanto em 2012, ou é analfabeta ou possui
nível escolar incompleto (Figura 1).

Gráfico 01 - Nível de escolaridade dos entrevistados

Estando entre as regiões pernambucanas consideradas de baixo desenvolvimento humano,


Ibimirim possui um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) igual 0, 566
ocupando, assim, a posição de 167º no rank estadual (PNUD, 2010). Tal realidade exprime o grau
de deficiência da educação escolar ofertada no município o que, ao analisarmos a viabilização das
práticas de Educação Ambiental nos contextos pedagógicos formais, traz implicações a serem
consideradas, no sentido de levar em conta que o público participante da escola tende a cada vez
mais ficar reduzido, diminuindo significativamente a esfera de sujeitos alcançados com as ações
educativas direcionadas para as escolas. Nesse sentido, pode-se atestar a prioridade de público
historicamente instituída pelas ações do Gampe: a maior parte das experiências contínuas tem sido
voltada para os populares das comunidades rurais, como pequenos agricultores e pescadores;
todavia, sem ignorar a importância das escolas, uma vez que estas são dotadas de um referencial

909
social em função do seu potencial agregador, expresso na execução dos projetos de
Responsabilidade Socioambiental Universitária (RSU)102 desenvolvidos pelo Gampe todos os anos.
No quesito da percepção ambiental, quando se questionou sobre o conceito de ―meio
ambiente‖ (Figura 2), percebeu-se que com o passar dos anos, as pessoas começaram a ter
conhecimento sobre o assunto. Em 2011, dos 48 entrevistados, somente 10 conseguiram responder a
pergunta de modo contextualizado, isto é, com exemplos da realidade do seu entorno. Em 2012, dos
49 entrevistados, 28 conceituaram ―meio ambiente‖ de modo contextualizado.

Gráfico 02 - Conceito de meio ambiente na perspectiva dos entrevistados

Na perspectiva de contextualização, a maior parte dos exemplos trazidos remetia aos problemas
ambientais, sendo estes componentes da nossa próxima categoria de análise. Quando questionados
sobre os ―problemas ambientais globais‖, os entrevistados destacaram como principais: enchentes
(1, 6, 8 e zero), poluição (2, 5, 3, 8), poluição do ar (2, 5, 3, 8), queimadas (1, 5, 11, 7), lixo (1, 4,
12, 17) e, principalmente, desmatamento (5, 18, 4, 14); sendo que muitos não souberam responder
(17, 17, 16 e 6) ou destacaram outras opções (2, 7, zero, 7). Tais números expressos, entre
parênteses, correspondem ao número de entrevistados que afirmaram o problema em suas respostas,
nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012, respectivamente.
Diante da análise das respostas para os ―problemas ambientais globais‖, pode-se perceber que os
populares detinham uma visão ampla da crise ambiental enfrentada atualmente pelo planeta. Por
outro lado, outros estudos apontam uma dimensão negativa de um olhar amplo dissociado das
especificidades, que ocasiona um prevalecimento das causas globais sobre os problemas locais. A

102
As ações de RSU desenvolvidas pelo Gampe tratam de questões que perpassam o empoderamento das
comunidades rurais, o processo de construção da ecocidadania do alunato e a essência da educação ambiental nas
atividades realizadas. São as três ações específicas: a Páscoa Solidária, a Leitura Solidária e o Natal Solidário (SILVA;
CHAGAS; EL-DEIR, 2011).

910
exemplo dessa afirmação, Silva (2011), ao analisar as práticas de Educação Ambiental
desenvolvidas em escolas do semiárido alagoano, pode constatar que muitos professores tinham o
foco de suas atividades centradas no tema água (em virtude das escolas estarem situadas numa
localidade cortada pelo Rio São Francisco), mas sem atentar para o desmatamento da Caatinga
enquanto bioma local, em contraposição ao conhecimento trazido por alguns sobre a floresta
amazônica e os manguezais, atípicos da localidade.
Em termos de ―problemas ambientais locais‖, estes foram menos facilmente identificados pela
comunidade, aumentando a parcela de entrevistados que não sabiam responder (14, 23, 17, 8). As
respostadas obtidas traduziam enquanto problemas locais: a questão do lixo (6, 8, 12, 23), que foi
fortemente evidenciada nas falas dos entrevistados, sendo este o problema predominante da
localidade, seguido por poluição hídrica (2, 3, 7, 8), animais soltos (4, 4, 1, 6), poluição do ar (2,
zero, 1, zero), além de outros (2, 15, 14, 20). Visto o quão expressivo foi o reconhecimento da
questão do lixo, verificou-se ainda que os populares exprimiam uma visão sociopolítica do
problema, pela qual a coleta, o transporte, o acondicionamento, o tratamento e a eliminação dos
resíduos sólidos são considerados limpeza pública, portanto, uma atribuição que cabe ao poder
público municipal‖ (PEREIRA NETO, 1993; SOARES, SALGUEIRO; GANIZEL, 2007). Tal
observação é expressa graficamente abaixo (Figura 3).

Gráfico 03 - Situação/periodicidade da coleta de lixo


É importante destacar que a coleta de lixo na comunidade de Poço da Cruz não é uma
realidade estabelecida homogeneamente. De acordo com El-Deir et al (2010) apud Araújo et al
(2011), comunidade de Poço da Cruz é composta de 3 vilas: Mecânica, do Hospital e do Comércio.
Dessas três, a vila do Hospital é a única que apresenta um leve grau de organização, pois possui
água encanada e coleta de lixo, igreja, posto de saúde e escola.
A partir da realidade observada e das inferências feitas face as reflexões emergentes, nota-se
que o empoderamento social, através da apreensão de novas informações e conhecimentos,
constitui-se como um processo que requer, cada vez mais, um investimento permanente por parte
911
dos atores e instituições sociais, por meio da junção de esforços. Tal investimento pressupõe uma
atuação articulada e, nessa perspectiva, o Gampe tem buscado constante diálogo e parceria com os
diferentes setores sociais. Porém, uma questão nos é posta, ao problematizarmos a Educação
Ambiental no semiárido pernambucano: como incluir as escolas nessa rede de cooperação,
possibilitando a instituição plena da Educação Ambiental também nesses espaços formais, embora
se tenha a compreensão de que a escola não é o único de espaço de formação social mas, por outro
lado, ela assume uma condição de espaço incentivador da causa socioambiental, sobretudo no
semiárido?

Em busca de uma abordagem teórico-conceitual

A EA é um processo cíclico e contínuo (Smith, apud, Sato, 1995). A EA é vista hoje como
uma possibilidade de transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por
meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria (Loureiro, 2006).
Instituiu a necessidade da inclusão da EA em todos os níveis de ensino, incluindo a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente.
Evidenciando a capilaridade que se desejava imprimir a essa prática pedagógica (BRASIL, 2005).

Gráfico 04 - Representação da maneira como subdividimos as unidades de análise (adaptada)

De acordo com Sato (2004) o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece
motivos que levam os alunos se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz
pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para
as futuras gerações. Entretanto, não raramente a escola atua como mantenedora e reprodutora de
uma cultura que é predatória ao ambiente. Nesse caso, as reflexões que dão início à implementação
da Educação Ambiental devem contemplar aspectos que não apenas possam gerar alternativas para
a superação desse quadro, mas que o invertam, de modo a produzir conseqüências benéficas
(ANDRADE, 2006), favorecendo a paulatina compreensão global da fundamental importância de
todas as formas de vida coexistentes em nosso planeta, do meio em que estão inseridas, e o
desenvolvimento do respeito mútuo entre todos os membros da nossa espécie (CURRIE, 1998).

912
Ainda conforme Sato (2000), uma grande dificuldade encontrada hoje é de uma implantação
de uma disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar regular, pelo fato de ser um ramo
que requer conhecimento amplo de várias disciplinas, dificilmente se encontrariam profissionais
com estes requisitos. Logo, segundo Andrade (2000), para a implementação efetiva da Educação
Ambiental nas escolas, evidentemente, devemos nos posicionar diante de um processo de
implementação que não seja hierárquico, agressivo, competitivo e exclusivista, mas que seja levado
adiante fundamentado pela cooperação, participação e pela geração de autonomia dos atores
envolvidos.
Conforme Dias (1992), as escolas devem ter como objetivos a sensibilização e a
conscientização; buscar uma mudança comportamental; formar um cidadão mais atuante; (...)
sensibilizar o professor, principal agente promotor da EA; (...) criar condições para que, no ensino
formal, a EA seja um processo contínuo e permanente, através de ações interdisciplinares
globalizantes e da instrumentação dos professores; procurar a integração entre escola e comunidade,
objetivando a proteção ambiental em harmonia com o desenvolvimento sustentado.
Entretanto, a implantação de uma consciência ambiental não é nenhuma tarefa fácil ou
rápida. A Educação Ambiental não se dá por atividades pontuais, mas por toda uma mudança de
paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, sendo
necessário efetuarem pesquisas sobre os obstáculos, inerentes ao comportamento ambiental, que se
opõem às modificações dos conceitos, valores e atitudes das pessoas (DIAS, 1992). As dificuldades
e limitações de formação de projetos e atividades, assim como sua manutenção, têm criado uma
exaustão, um desânimo, na implementação da Educação Ambiental nas escolas.

―... fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de profissionais, predisposição


destes passar por um processo de treinamento, vontade de todos em realmente implementar
um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc, além de fatores resultantes da
integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como obstáculos à
implementação da Educação Ambiental.‖ (ANDRADE 2000).

A EA realizada em escolas é um instrumento que incentiva estudantes a construírem uma


visão de sociedade ambientalmente correta reforçando o papel do cidadão na mudança de
pensamento e comportamento para que o desenvolvimento sustentável se torne uma realidade.
Embora haja escolas com suas fragilidades estruturais, devem ser buscadas alternativas que
ultrapassem o condicionamento do ato educativo ao espaço físico. O processo de sensibilização
ambiental da comunidade escolar pode incentivar iniciativas que ultrapassem o ambiente escolar,
atingindo tanto o bairro em que a escola está inserida como em comunidades mais afastadas nas
quais residam funcionários, professores e os alunos das escolas.

913
Para não concluir

Diante do estudo da percepção ambiental dos populares em consonância com o ideal


buscado na implementação da EA nas escolas do semiárido, podemos concluir a população da
comunidade de Poço da Cruz traz um grau considerável de percepção ambiental, diante do
entendimento conceitual e contextual do meio ambiente, o qual foi possível quantificar por meio
das entrevistas realizadas através dos anos. Mesmo havendo apresentado questões de caráter global,
os moradores pontuaram ainda a problemática do lixo como a mais expressiva da sua localidade:
sobre tal aspecto foi possível analisar a frequência da coleta (quando reconhecida como existente),
bem como as principais formas de destinação, havendo o predomínio dos lixões e da queima dos
resíduos.
Com base na evolução (constatada graficamente) de alguns dados, acreditamos que a
dimensão ambiental tem sido um elemento que, gradativamente, está sendo internalizado pela
comunidade e que, de certa forma nos mostra um resultado possível das ações e dos projetos
desenvolvidos pelo Gampe, nos diferentes segmentos de atuação, inclusive pelas atividades de
caráter educativo, firmadas no ato da Educação Ambiental enquanto um instrumento importante no
processo da gestão ambiental. Nesse sentido, é fundamental uma maior articulação das ações do
Gampe como as atividades desenvolvidas nas escolas, no sentido de contribuir para a
ambientalização curricular também das escolas do semiárido, em diálogo com as ações
desenvolvidas nas comunidades do entorno escolar: esse processo de ambientalização corresponde à
inserção da temática ambiental nas práticas escolares e que, de certa maneira, exprime o sucesso da
implementação das diretrizes e princípios trazidos na PNEA e em outros documentos de referência.
Espera-se que esta pesquisa possa servir de suporte para um melhor direcionamento para
projetos e ações no campo da EA que dialoguem com as demandas reais do semiárido, tanto no
quesito ambiental como no social, tomando a escola como referência institucional para a ampliação
do fazer ambiental rumo à construção de uma sustentabilidade emancipatória, em que o cidadão do
semiárido não seja considerado como ingênuo diante da complexa caracterização da sociedade
atual, mas como um sujeito provido de uma identidade própria, com seu estilo de vida, de
organização e de liberdade. É através desta percepção, da mudança de mentalidade que a real
implantação da Educação Ambiental será viabilizada. O passo a seguir é transformar a escola em
exemplo de sustentabilidade, com uso responsável de recursos, no consumo de energias, na
manutenção dos equipamentos, na utilização dos materiais, com a qualidade de vida e do ambiente
na escola.

914
Referências
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Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, 2000.
ARAÚJO, G. V. R.; et al. Ausência de saneamento básico no semiárido pernambucano: a
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rurais do semi-árido brasileiro. In: Congresso Nacional de Meio Ambiente, Poços de Caldas, 2010.
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In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Natal, 1993. Anais do Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1993.
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http://www.pnud.org.br/educacao/reportagens/index.php?id01=1938&lay=ecu. Acesso em: 12 set.
2010.
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comunidades rurais do município de Ibimirim, Pernambuco. In: SEABRA, Giovanni;
MENDONÇA, Ivo. (Orgs.). Educação Ambiental: responsabilidade para a conservação da
sociobiodiversidade. 1a ed. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011, v. 1, p. 1313-1318.
SILVA, T. A. A. Educação Ambiental no Semiárido Nordestino: apontamento de pesquisa e notas
sobre prática educativa. Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade,
n.1, set. 2011
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VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projetos de Educação Ambiental. In: PEDRINI,
A. G. (org.). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

915
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS MUNÍCIPAIS DE PATOS-PB PROGRAMA IDEA-
INFORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO DE MEIOS SUSTENTÁVEIS

Rafaella de Lucena SALVIANO (CCEA/UEPB - Graduanda) – rafi.lucena@hotmail.com


Roberto de Sousa NASCIMENTO (PPGCS/UFPB – Pós-graduando) – roberto.uni@gmail.com
Rosângela da Silva FIGUEREDO (CCEA/UEPB – Orientadora) - figueredo.rosa@hotmail.com
Ricardo de Sousa NASCIMENTO (IFPB/Picuí - Graduando) - ricardosousapb@gmail.com

Resumo

A Educação Ambiental surge como uma das possíveis estratégias de enfrentamento da crise
econômica, cultural e social em que vivemos. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa a
deflagração de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudança, com isso viemos por
meio do Projeto de Extensão do Programa Ideia promover a conscientização dos alunos e a práticas
da reciclagem dos resíduos orgânicos em algumas escolas do município de Patos - PB, bem como a
inserção de professores neste contexto de mudança de hábitos. O projeto foi conduzido no período
de agosto de 2011 a agosto de 2012 por alunos do curso de Bacharelado em Administração e
colaboradores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII, município de Patos - PB,
na mesorregião do Sertão Paraibano. Toda ação foi desenvolvida através de seminários e palestras,
bem como a demonstração prática da compostagem de resíduos orgânicos, visando a formação do
pensamento crítico dos alunos a respeito da responsabilidade socioambiental. Apesar de ser um
desafio para escolas, a educação ambiental deve ser conduzida de forma interdisciplinar que integre
a comunidade escolar e extraescolar. Dessa forma, conseguimos conciliar teoria e prática, sendo
possível observar, analisar e repensar fatos e situações inerentes ao problema do lixo no meio
ambiente.

Palavras-chaves: Educação ambiental; resíduos orgânico; conscientização.

Abstract

Environmental education emerged as one of the possible strategies for dealing with the economic
crisis, cultural and social environment in which we live. Its critical and emancipatory aims to trigger
processes in which the quest for individual and collective change, with it came through Project
extension program Idea promote awareness of students and the practices of recycling organic waste
in some schools of the city of Patos - PB, as well as the inclusion of teachers in this context of
changing habits. The project was carried out from August 2011 to August 2012 by students of
916
Bachelor in Administration and collaborators from the State University of Paraíba (UEPB), Campus
VII, city of Patos - PB, the region Sertão Paraibano. Every action was developed through seminars
and lectures as well as practical demonstration of composting organic waste, for the training of
students' critical thinking about environmental responsibility. Despite of the fact that it is a school
challenge, the environmental education should be developed in an interdisciplinary context that
integrates community inside and outside the school. Thereby, can combine theory and practice,
being able to observe, analyze and rethink on facts and situations inherent to the problem of trash on
environment.

Keywords: Environmental education, organic waste; awareness.

Introdução

O meio ambiente é onde se manifesta a vida em todas as suas formas, e todos os elementos
nele existentes, observando assim ainter-relação entre os mesmos e o meio em que vive (FARIAS,
2007). O problema do lixo apresenta riscos para saúde, flora e fauna, Leite (2003) conceitua lixo
como todo e qualquer resíduo que aparentemente não tem utilidade e resulta das atividades diárias
do homem na sociedade.
Com o aumento da população, consequentemente maiores as quantidades de resíduos
gerados, Segundo Pereira Neto (1999), lixo é uma massa heterogênea de resíduos sólidos,
resultantes das atividades humanas, os quais podem ser reciclados e parcialmente utilizados, entre
outros benefícios, proteção à saúde pública e economia de energia e de recursos naturais. Neste
contexto observamos a importância da conscientização da comunidade escolas e extraescolar sobre
a problemática socioambiental do lixo.
A educação ambiental leva a sensibilização que estimula a comunidade a encarar o meio em
que vive como parte integrante de suas vidas, ela deve estar inserida em diversas disciplinas
educativas e experimentos educativos ao conhecimento e a compreensão do meio ambiente
(SOUZA, 2011).
O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios, pois, por um lado,
nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a
poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a ideia do Desenvolvimento
Sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental
(CAVALCANTI, 1995).
A reciclagem vem como uma das formas de promover esse desenvolvimento sustentável,
pois possui como maiores vantagens à minimização da utilização de fontes naturais e da quantidade
917
de resíduos de tratamento final, como aterramento, ou incineração, além da geração de riquezas,
beneficiando a todos, com a redução da quantidade de lixo, melhorando a limpeza da cidade e o
aumento da conscientização dos cidadãos (GROSSI, 2008).
A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que envolve um
conjunto de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de
conhecimento, a capacidade de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva
interdisciplinar. Neste sentido, a produção do conhecimento deve necessariamente contemplar as
inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o
papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das
ações alternativas de um novo desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental
(JACOBI, 2003).
Por isso, surgiu o Projeto de Extensão do Programa Idea, conduzido por alunos do curso de
Bacharelado em Administração na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII,
município de Patos - PB, na mesorregião do Sertão Paraibano, com o objetivo de promover a
educação ambiental através da conscientização dos alunos e de praticas da reciclagem de resíduos
orgânicos, bem como a inserção de professores e alunos sobre a responsabilidade socioambiental e
a importância da mudança de hábitos.

Metodologia

A ação foi conduzida no período de agosto de 2011 a agosto de 2012 por alunos do curso de
administração e colaboradoresda Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus VII,
município de Patos - PB, na mesorregião do Sertão Paraibano, caracterizando-se como uma
conscientização de natureza qualitativa.
Para a formação do pensamento crítico dos alunos, a respeito do contexto socioambiental,
foram realizadosseminários e palestras, sobre a abordagem do tema, bem como uma demonstração
prática do mesmo. Promovendo a inserção, de professores e alunos no contexto de mudança de
hábitos enfocando os 3R‘s (reduzir, reutilizar e reciclar), integrando universidade, sociedade e
atores públicos.
Na parte teórica foi feito um levantamento das características enfocando o meio ambiente
sempre buscando formas de reaproveitar produtos. Mostrando vantagens e importâncias para o
presente e o futuro dando um embasamento teórico para pesquisas e estudos na área, com ênfase no
papel da escola no processo de formação, tanto social quanto ambiental, dos seus alunos.
Contribuindo com a ampliação da visão social, tanto dos participantes como dos colaboradores,

918
trazendo um grande aproveitamento. Gerando assim um melhor preparo e mais compreensão sobre
o assunto.
Conscientizando sobre a problemática do lixo e sua devida separação, para facilitar a
reciclagem buscando alternativas para a reutilização dos resíduos com o intuito de gerar reflexões
individuais ou em grupo sobre a responsabilidade de produção e destino do lixo nas escolas, casa e
nos espaços em comum da cidade.
Na parte prática foi produzida uma pilha de compostagem, com intuito de demonstrar como
se dá o processo de transformação de resíduos, aproveitando materiais oferecidos pela própria
escola. Para a escolha do local de instalação da pilha de compostagem sugerimos que
considerassem o fácil acesso, a disponibilidade de água para molhar a pilha, levando em
consideração as características do solo (boa drenagem e leve declive). Com a finalidade de evitar a
compactação das camadas durante o processo de construção da compostagem, os materiais foram
cortados em partículas menores, facilitando a aeração. À medida que foi formada cada uma das
camadas adicionou água diariamente na pilha de compostagem para acelerar as reações
microbianas, como também para controlar temperatura e umidade. A cada 15 dias revolveram a
pilha para haver uma boa homogeneização do material. Em sua confecção houve o empilhado em
camadas sobrepostas em dimensões de 1 m de altura, 2 m de comprimento e 1m de largura. Após o
último estado da compostagem, o processo de mineralização da matéria orgânica estava concluído,
sendo assim beneficiamos e aplicamos em plantas e hortas da escola, levando em conta as
orientações da literatura.
Em termos gerais, essa metodologia de trabalho vem a contribuir com a busca de
alternativas para uma contínua reflexãoe ampliação dos conhecimentos sobre a educação ambiental,
através do desenvolvimento dessas atividades.

Resultados alcançados

A aplicação desse trabalho foi possível observar, analisar e repensar fatos e situações
inerentes ao problema do lixo e meio ambiente, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de
atuar de modo propositivo para reduzir a produção de resíduos gerados na escola. Estimulandoos
alunos a diminuir essa quantidade de resíduos, promovendo modificações nos padrões de produção
e consumo, mostrando que o lixo não é, em absoluto, um conjunto de materiais sólidos sem
utilidade. Para Travassos (2006), o papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta
seletiva do lixo, em seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os
valores consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A
necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores e comportamentos. Essas mudanças,

919
segundo Reigota (1994), devem acima de tudo, ―levar os indivíduos e os grupos a adquirir o sentido
dos valores sociais, um sentimento profundo de interesse pelo meio ambiente e a vontade de
contribuir para a sua proteção e qualidade‖.

Com o trabalho também foi possível formular opiniões e sugestões dos professores, onde os
mesmo destacam alguns pontos para viabilizar a adoção desse modelo para a conscientização
sustentável dos alunos:

 ―a abordagem teórica do assunto e em seguida uma prática é muito importante, pois diante dos
problemas mencionados os alunos fixam melhor o conhecimento e se preocupam em engajar-se,
havendo uma melhor conscientização‖;
 ―iniciativas como essas são fundamentais para os jovens alunos do ensino fundamental
construir uma visão crítica nesse contexto da problemática socioambiental‖;
 ―A compostagem é um ótimo exemplo para demonstrar soluções viáveis e de fácil entendimento
para o destino do lixo, permitindo assim essa prática sejafeita até mesmo em casa”;
Desta forma foi possível esclarecer a necessidade de repensar o nosso modelo de
desenvolvimento econômico e criar mecanismos efetivos que disciplinem a geração de bens de
consumo, o reaproveitamento e a reciclagem de materiais incentivando a minimização do
desperdício e dos impactos ambientais associados, tendo como base o pensamento crítico e
inovador, promovendo a transformação e desenvolvendo uma consciência ética utilizando a
Educação Ambiental nas bases. Ideia reforçada por Carvalho (2004), onde aborda que a educação
acontece como parte de uma ação humana de transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe
sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e das experiências. Além disso, Reigota (1994)
destaca que a compreensão mais global sobre o tema, proporciona o intercâmbio de experiências
entre professores e alunos e envolver toda a comunidade escolar e extraescolar. Para que isso ocorra
o programa a Educação Ambiental nas escolas não deve ser tratada isoladamente ou relacionado
apenas com algumas disciplinas e sim de uma forma interdisciplinar praticada no dia-a-dia da
escola, para que possa ser levada também para fora da mesma e para o ambiente de cada indivíduo
(TRAVASSOS, 2006).

Considerações finais

A educação ambiental é um desafio para qualquer escola, porém com as observações do


presente trabalho a mesma deve ser desenvolvida em um contexto interdisciplinar que integre a
comunidade escolar e extraescolar, de forma que os alunos consigam conciliar teoria e práticapara
construir uma visão crítica.

920
Através da educação ambiental e a conscientização, pode-se entender esse contexto da
problemática socioambiental. Sendo possível observar, analisar e repensar os fatos e situações,
inerentes ao problema do lixo e meio ambiente, reconhecendo a necessidade de reduzir a produção
de resíduos gerados.

Referências

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TRAVASSOS, E. G. A prática da educação ambiental nas escolas . Porto Alegre:
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922
HORTA MEDICINAL E AROMÁTICA NA ESCOLA: UMA AÇÃO SOCIOAMBIENTAL

Ramon da Silva SANTOS103 (UFPB/ PB) – ramonjp@hotmail.com


Thamiris de Melo SILVA29 (UFPB/PB) – thamiris.hana@gmail.com
Lenyneves Duarte Alvino de ARAÚJO104 – lenyneves@cca.ufpb.br
Núbia Pereira da COSTA30 – núbia@cca.ufpb.br

Resumo
Os problemas socioambientais, vistos como ameaças à sobrevivência do homem na terra, são
relativamente novos no mundo e se agravaram no momento em que o homem distanciou-se da
natureza e passou a encará-la como uma fonte de recursos ilimitados. Nesse contexto, objetivou-se
implantar em escolas, hortas tradicionais e verticais, incentivando a interdisciplinaridade e a
educação ambiental, de forma a propor a conscientização dos alunos com a preservação do meio
ambiente. O projeto foi desenvolvido em duas escolas, uma pública e outra particular, ambas
localizadas no município de Areia/PB. Foram realizadas atividades envolvendo conteúdos sobre
educação ambiental, conhecimento botânico, potencial medicinal e aromático das plantas visando à
educação ambiental, o resgate da cultura popular e a interdisciplinaridade, contribuindo com o
socioambiental nas escolas. A criação de uma horta na escola com plantas medicinais e aromáticas,
utilizando-se garrafas recicláveis, registrou a aceitação de 98% dos alunos. Desse modo, um lugar
ocioso na escola foi utilizado para despertar o interesse dos alunos através das aulas e experiências
adquiridas na horta, de forma que esse conhecimento, provavelmente, foi repassado aos seus
familiares. Foram citadas 17 espécies de plantas medicinais e aromáticas pelos alunos da escola
particular e 15 espécies da escola da rede pública, onde 71% dos alunos afirmaram conhecer o
potencial medicinal, bem como utilizar, por indicação dos pais, algumas das plantas citadas. Além
disso, 100% dos professores confirmaram o incentivo a conscientização ambiental, a
interdisciplinaridade e o maior desenvolvimento da aprendizagem dos alunos através do trabalho
desenvolvido com a implantação da horta. Os objetivos do projeto foram alcançados de forma
efetiva, uma vez que contribuiu com a formação de cidadãos conscientes, comprometidos e capazes
de atuar na preservação do meio ambiente.

Palavras-chave: Educação ambiental, interdisciplinaridade, cidadania.

103
Curso de Ciências Biológicas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária,
CEP:58397-000, Areia-PB , Brasil.
104
Departamento de Ciências Biológicas, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba, Cidade
Universitária, CEP:58397-000, Areia-PB , Brasil.
923
Abstract:
The environmental problems, seen as threats to the survival of man on earth, are relatively new in
the world and are aggravated when the man distanced himself of nature and came to regard it as a
source of unlimited resources. In this context, the objective was to deploy in schools, traditional and
verticals gardens, encouraging the interdisciplinarity and environmental education, in order to
propose the awareness of students with environmental preservation. The project was developed in
two schools, one public and one private, both located in the city Areia/PB. Activities were engaging
content about environmental education, botanical knowledge, medicinal and aromatic potential of
the plants, aimed at environmental education, rescue of popular culture and the interdisciplinarity,
contributing to the socio and environmental in the schools. The creation of a school garden with
medicinal and aromatic plants, using recyclable bottles, recorded the acceptance of 98% of the
students. Thus, an idle place in school was used for arouse the interest of students through the
lessons and experiences gained in the garden, so that this knowledge was probably passed on to
their families. Were cited 17 species of medicinal and aromatic plants by private school children
and 15 species of public school, where 71% of students said they knew the medicinal potential, and
used, by indication of parents, some of the plants indicated. In addition, 100% of the teachers
confirmed the incentive the environmental awareness, the interdisciplinarity and further
development of student learning through work with the deployment of the garden. The project
objectives were achieved effectively as it contributed to the formation of concerned citizens,
committed and able to act in the preservation of the environment.

Keywords: Environmental education, interdisciplinarity, citizenship.

Introdução
Os problemas socioambientais, vistos como ameaças à sobrevivência do homem na terra, são
relativamente novos no mundo e tais problemas passaram a se agravar a partir do momento em que o homem
tornou-se distante da natureza e passou a encará-la como uma fonte de recursos disponíveis e ilimitados
(PENTEADO, 1999). Uma forma de minimizar o impacto dessa ideia está no desenvolvimento de projetos
socioambientais, como caminho para multiplicar o saber, desenvolvendo ações em conjunto na busca de um
ambiente harmonioso para todos (PADUA & TABANEZ, 1997).
A educação ambiental é uma forma abrangente de educação, através de um processo
pedagógico participativo, que procura estimular no aluno uma consciência crítica sobre os
problemas do ambiente. A prática da Educação Ambiental surge da necessidade de conservação do
meio ambiente, o que é indiscutível nos dias atuais. Os indivíduos precisam ser educados para que

924
sejam capazes de desenvolver a consciência socioambiental e para que esta tomada de consciência
se propague entre, as presentes e futuras gerações, é importante que se trabalhe essa forma de
educação dentro e fora da escola, através de projetos que envolvam toda a comunidade acadêmica.
A educação ambiental vem sendo aceita, nos últimos anos, como sinônimo de educação para
o desenvolvimento sustentável e, por isso, a introdução de projetos que promovam a educação
ambiental tornam-se importantes para o currículo escolar, de maneira interdisciplinar, em todas as
práticas diárias da escola (PESTANA, 2007). No entanto, implantar a educação ambiental nas
escolas tem se mostrado uma tarefa exaustiva devido as grandes dificuldades nas atividades de
sensibilização e formação, na implantação de atividades, projetos e, principalmente, na manutenção
e continuidade dos já existentes (VASCONCELLOS, 1997; ANDRADE, 2000).
A horta na escola vem se mostrando como um projeto de suma importância, pois possibilita
o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação socioambiental auxiliando no
processo de ensino-aprendizagem. Assim, a teoria e a prática encontram-se a partir do trabalho
coletivo nos indivíduos envolvidos nesses projetos. Este processo torna-se importante para auxiliar
a comunidade escolar na conscientização ambiental, valorizando a importância da reciclagem de
materiais, estabelecendo conceitos de sustentabilidade, entre outros (MORGADO, 2006).
A horta implantada na escola tem diversas vantagens para toda comunidade acadêmica, tais
como a redução dos gastos com a alimentação por parte das escolas, a promoção de uma
alimentação saudável, o resgate da cultura popular através da utilização de plantas medicinais e
aromáticas utilizadas na região, permite a colaboração dos alunos enriquecendo o conhecimento,
estimula o interesse dos mesmos pelos temas desenvolvidos com a horta, além de promover à saúde
do alunado (JARDZWSKI, 2005). Essas vantagens intensificam-se quando na construção da horta,
são introduzidas a utilização de garrafas PETs nos canteiros, tanto nos tradicionais como,
principalmente, nos de uma horta vertical, estimulando os alunos à prática de reciclagem. As
garrafas PETs são utilizadas principalmente por indústrias de refrigerantes e sucos, elas
movimentam hoje um mercado que produz cerca de 9 bilhões de unidades anualmente só no Brasil,
das quais 53% não são reaproveitadas. Com isso, cerca de 4,7 bilhões de unidades por ano são
descartadas na natureza, contaminando rios, indo para lixões ou mesmo espalhadas por terrenos
vazios (ALEGRIA 2007).
Se analisarmos o uso dessas garrafas sobre aspectos econômicos é muito interessante tanto para
quem produz como para quem consome. No entanto, em aspectos ambientais é muito preocupante, sendo 10
milhões de garrafas fabricadas por dia, havendo poucos dias entre produção, uso e descarte e séculos para a
decomposição (SILVA et. al., 2007).

Materiais e Métodos
925
A partir desse contexto, objetivou-se implantar em escolas do município de Areia, hortas
tradicionais e verticais, incentivando a interdisciplinaridade, a educação ambiental entre os
estudantes através da reciclagem, de forma a estimular a conscientização dos alunos,
comprometendo-se, assim, com a preservação e defesa do meio ambiente, como cidadãos
responsáveis.
O trabalho foi desenvolvido em duas escolas, sendo uma da rede publica (Escola Municipal
Madre Trautlinde) e a outra da rede privada (Escola de Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio),
ambas localizadas no município de Areia (6º58‘12‘ S e 35º42‘15‘ W), situada na mesorregião do
Agreste Paraibano e Microrregião do Brejo Paraibano.
Durante os períodos de junho a setembro de 2011 e junho a setembro de 2012, foram
realizadas atividades dinâmicas envolvendo conteúdos como educação ambiental, potencial
medicinal e aromático das plantas, além dos conteúdos básicos como ciências, matemática, artes,
entre outras, visando incentivar o resgate da cultura popular, a interdisciplinaridade e a educação
ambiental entre os alunos através da reciclagem, estimulando a conscientização dos estudantes.
Foram realizadas palestras com temas relacionados à educação ambiental e na sequência
foram aplicados questionários junto aos alunos das turmas do 2º ao 9º ano nas escolas e seus
respectivos professores para obter informações relevantes sobre a utilização de plantas medicinais e
aromáticas, bem como o interesse em cultivar uma horta em sua escola com o intuito de identificar
quais espécies poderiam e desejariam cultivar.
Uma campanha para a coleta de garrafas PET foi instalada nas escolas, onde as mesmas foram
utilizadas na confecção dos canteiros das hortas tradicionais, bem como na construção das hortas
verticais.
As etapas seguintes consistiram na implantação e manutenção da horta a partir do
escalonamento das turmas, que participaram na construção dos canteiros em quatro formas
geométricas (triângulo, círculo, quadrado e retângulo) com garrafas pet e do plantio e rega das
espécies indicadas pelos alunos nos questionários.

Resultados e Discussão
Na Escola Municipal Madre Trautlinde, a participação do alunado foi imprescindível, pois
contribuíram diretamente na coleta das garrafas PET, bem como na utilização das mesmas nos
canteiros. A partir das atividades desenvolvidas na horta tais como o transplante de mudas das
sementeiras para os canteiros, da rega e dos cuidados com as plantas pôde-se promover a
interdisciplinaridade e a educação ambiental entre os alunos e professores. Foram trabalhados temas
como a importância das plantas para o meio ambiente e formas consciente de reciclagem ajudando

926
na preservação do meio ambiente. Com essa temática pôde-se despertar o interesse do alunado em
cuidar do meio ambiente de forma consciente (Figura I).
Pela falta de espaço na Escola de Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio, uma horta vertical
foi feita, mostrando assim outras formas de reaproveitamento não só das garrafas PET, mas de
pequenos espaços. A ideia foi aprovada por todos os alunos que mostraram interesse em
desenvolver essa técnica em suas residências, o que motivou os pais desses alunos a conhecerem a
horta na escola. Foi registrado que 98% dos alunos afirmaram a importância da criação de uma
horta na escola com plantas medicinais e aromáticas, utilizando-se garrafas recicláveis, pois com
isso eles afirmaram estarem contribuindo com o meio ambiente através da redução da poluição.

A B

C D

E F

Figura I: Horta medicinal e aromática nas escolas. Implantação da horta tradicional (A),
transplante de mudas pelos alunos (B), rega pelos alunos (C), horta vertical (D e F) e horta
tradicional (E).

927
A comunicação como fundamental para a co-participação dos sujeitos no ato de conhecer
(FREIRE, 1992) e a proposta da Educomunicação que afirma que a Educação Ambiental precisa se
expressar em múltiplas linguagens, para além da fala e da escrita (TRAJBER, 2005), pôde ser vista
através das dinâmicas realizadas na horta.
Assim, um lugar antes ocioso, tornou-se um espaço de dinamização do currículo na escola,
capaz de despertar o interesse socioambiental dos alunos através das aulas e das experiências
adquiridas na horta, de forma que essa educação, provavelmente, foi repassada aos seus familiares.
Portanto, a abordagem foi dada valorizando o espaço, o reciclável e o ocioso pois na prática da
Educação Ambiental, novas perspectivas de pensar o viver, o habitar e o produzir são transmitidas,
expandindo o uso e o consumo não só de aspectos materiais de produção, mas também de formas
não materiais (SILVA e DUARTE, 1999 ).
Foram citadas 17 espécies de plantas medicinais e aromáticas pelos alunos da escola de
Ensino Infantil e Fundamental Pinóquio, as quais destacaram-se como as mais citadas pelos alunos:
hortelã (Mentha s.p) (19%), seguida do capim santo (Cymbopogon citratus) (10%), da erva-cidreira
(Melissa officinalis) (10%) e do eucalipto (Eucalyptus globulus) (10%) (Figura II). Foi observado
que 71% dos alunos afirmaram conhecer o potencial medicinal das plantas citadas e as utilizavam
segundo o conhecimento empírico dos pais que foi passado culturalmente.

Figura II: Percentual das plantas medicinais e aromáticas indicadas entre os alunos das escolas e
Pinóquio, Areia/PB.

Já na escola Municipal Madre Trautlinde, diferentemente da escola Pinóquio, foram citadas


15 espécies de plantas medicinais, das quais o capim santo (Cymbopogon citratus) foi o mais citado
entre os alunos (26%), seguidos da erva-cidreira (Melissa officinalis) (21%), boldo (Peumus boldus)
(15%), erva-doce (Foeniculum vulgare (11%) e hortelã (Mentha s.p) (11%) (Figura III). Os alunos

928
relataram saber a utilidade de algumas plantas medicinais como o boldo e a erva-cidreira para
auxiliar nos distúrbios estomacais e intestinais e calmante, respectivamente.

Figura III: Porcentagem das plantas medicinais conhecidas e indicadas pelos alunos da escola Madre
Trautlinde, Areia/PB.

Observou-se que as plantas citadas pelos alunos, são espécies comumente utilizadas como
condimentos na alimentação e na medicina popular, fruto de uma cultura que aos poucos está se
perdendo entre as gerações.
Observou-se durante o desenvolvimento do projeto o interesse do alunado entre a faixa etária
de 5 e 12 anos, os quais mostraram-se mais envolvidos diretamente com as atividades realizadas na
horta, por outro lado o alunado da faixa etária de 13 a 16 anos, inicialmente mostraram-se
desinteressados, mas com o desenvolvimento do projeto foram tornando-se mais receptivos as
atividades realizadas na horta.
Os professores das disciplinas de ciências, artes, matemática, entre outras, tiveram a
oportunidade de trabalhar conteúdos didáticos associados às formas de incentivo da educação
ambiental, o que refletiu em um aumento na qualidade de suas aulas, utilizando a horta como um
laboratório vivo nas escolas. Isso foi corroborado nos questionários, nos quais 100% dos
professores confirmaram a prática da conscientização ambiental, da interdisciplinaridade e do
desenvolvimento do nível de aprendizagem dos alunos através do trabalho desenvolvido com a
implantação da horta.

Conclusão
A partir da implantação de hortas tradicionais e verticais em escolas do município de Areia,
alcançou-se os objetivos de incentivar a interdisciplinaridade, o resgate da cultura popular e a

929
educação ambiental entre os alunos, tornando-os capazes de atuar como cidadãos conscientes e
comprometidos com a preservação e defesa do meio ambiente.

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da Educação. Coordenação Geral de Educação Ambiental. - 3. ed - Brasília : Ministério do Meio
Ambiente, 2005.

930
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES

Rayane Carla de Batista da SILVA. UERN/rayane_carlabs@hotmail.com105


Maria Cleonice SOARES. UERN/cleonice_s@hotmail.com106
Aline Patrícia Lopes QUINTINO. UERN/alinepatricia@yahoo.com.br107
Maria do Socorro da Silva BATISTA. UERN/ msbatista-@hotmail.com108

RESUMO

Na sociedade contemporânea a problemática ambiental ultrapassou os aspectos meramente


biológicos. Passou a exigir da sociedade o desenvolvimento de atitudes e comportamentos, bem
como o exercício de reflexão sobre as dificuldades que o meio ambiente vem enfrentando. Isto vem
ocorrendo tendo como meta o alcance de mudanças de hábitos para garantir o bem-estar e a
qualidade de vida das pessoas. Nesse contexto, o presente estudo se desenvolveu a partir da
necessidade de refletirmos sobre as problemáticas ambientais e a formação de agentes
multiplicadores capazes de modificar suas posturas e atitudes para com o meio em que vivem.
Nesse sentido, a universidade tem um papel de extrema importância na construção de um
pensamento crítico dos educadores por ela formados. O trabalho objetiva discutir os problemas
ambientais contemporâneos e ainda o papel da universidade na formação de sujeitos com
pensamento crítico. A pesquisa discorreu a partir de revisão bibliográfica e análise documental.
Respaldamo-nos em autores como: CARVALHO (2008), REIGOTA (2001) MEDINA (1999),
dentre outros. Com os resultados, constatou-se que as questões ambientais se constituem como um
fator essencial na formação do educador, pois auxilia significativamente no desenvolvimento das
práticas pedagógicas. Consideramos assim, que a educação ambiental contribui de maneira positiva
para a criação de uma consciência socioambiental e para aumentar os conhecimentos acerca da
problemática ambiental enfrentada pela sociedade atual.

PALAVRAS-CHAVES: Universidade; Consciência Socioambiental; Formação;

ABSTRACT

In the contemporary society, environmental issues outpaced purely biological aspects. It began
requiring society the development of attitudes and behaviors, as well as the exercise of reflection on
the difficulties that the environment has been facing. This has been happening with the goal of
achieving changes in habits to ensure people's well-being and quality of life. In this context, the this
study developed itself from the need to reflect the course for the formation of multipliers capable of

105
Aluna da Graduação do curso de Pedagogia da faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte-UERN. Monitora no Programa Novos Talentos.
106
Aluna da Graduação do curso de Pedagogia da faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte-UERN. Monitora no Programa Novos Talentos.
Graduada do curso do curso de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN.
107
Aluna da Graduação do curso do curso de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-
UERN. Monitora no Programa Novos talentos.
108
Dr. em Educação Ambienta, Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN.

931
modifying their postures and attitudes towards the environment in which they live. Accordingly the
university has a critically important role in building critical thinking in the educators formed by it.
In that perspective, the work discusses the formation of socioenvironmental awareness from the
subjects in the area of deepening environmental education, present in the curriculum of the course.
The qualitative research was developed from literature review and documentary analysis backed by
authors such as: CARVALHO (2008), REIGOTA (2001), MEDINA (1999), among others. With
the results, it was found that environmental issues are constituted as an essential factor in teacher
education, it helps significantly in the development of teaching practices. We consider therefore that
environmental education contributes positively to the creation of environmental awareness and
increase knowledge about environmental issues faced by society today.
KEYWORDS: University; Environmental consciousness; Formation

INTRODUÇÃO

No século XXI, podemos perceber que a problemática ambiental excede a esfera biológica e
exige um posicionamento da sociedade. Esse posicionamento deve ocorrer através de atitudes e
valores, para que a mesma possa refletir sobre as dificuldades que o meio ambiente vem
enfrentando, garantindo assim, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.
Discutir a formação de educadores à luz das demandas socioambientais atuais se constitui
em um compromisso político-social e humano, pois a construção de atitudes sustentáveis na relação
homem natureza é condição indispensável para a continuidade da existência humana no planeta.
Nesse sentido, a escola, lócus de educação intencional tem um importante papel na formação de
educadores na perspectiva de um pensamento crítico. Nessa perspectiva, o presente estudo discute
as problemáticas ambientais e os desafios no processo de formação dos educadores, abordando
aspectos relacionados ao consumismo exacerbado da sociedade contemporânea.
A pesquisa foi desenvolvida a partir de revisão bibliográfica, análise documental, e está
respaldada em autores como: CARVALHO (2008), que descreve acerca dos nossos conceitos já
formados e a necessidade de mudar as posturas impostas pela sociedade; REIGOTA (2001) que
ressalta o surgimento da Educação Ambiental como fator resultante da preocupação com o futuro;
MEDINA (1999), que aborda a educação como contribuinte essencial na formação do sujeito, e que
precisa acordar com a realidade; dentre outros autores.
Acreditamos que este estudo é pertinente para repensar a formação dos educadores no
tocante às questões ambientais, pois direcionar a problemática para a formação acadêmica é um
fator positivo, uma vez que o educador contribui de maneira significativa na formação das crianças,
colaborando assim para a formação ética de modo geral.
A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: ANÁLISE CRÍTICA DE SUAS CAUSAS E
CONSEQUÊNCIAS

932
A incompatibilidade entre as ações humanas e a natureza resulta no processo de degradação
do meio em que vivemos, provocando consequências nefastas para a qualidade de vida. Sobre tal
aspecto, Lima apud Herculano (2000) define qualidade de vida como a soma das condições
econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à
disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades.
Até início do século XX, a população mundial acreditava que os recursos naturais do planeta
eram intermináveis, e que o homem poderia tirar o máximo proveito desses, sem que houvesse
consequências futuras. Porém, no contexto atual, considerando as graves questões ambientais
enfrentadas pelo homem, e diante dos inúmeros acontecimentos como catástrofes naturais,
aquecimento global, elevação do nível do mar, escassez de água e de alimentos etc., acontecendo
cada vez mais frequentes, pode-se perceber que a natureza não mais comporta tamanhas agressões
como desflorestamento, queimadas, emissões de gases, despejos de lixos industriais, poluição dos
rios, uso inadequado de agrotóxicos, desperdício de água potável, dentre outros.
A humanidade está traçando um caminho que parece não ter volta e para amenizarmos esses
efeitos precisamos repensar as ações de maneira que a população tanto local quanto global, leve em
consideração que os resultados de nossas mudanças trarão benefícios comuns para todos. As ações
humanas determinadas pelo modelo de desenvolvimento provocam fortes degradações ambientais.
A esse respeito, Leff (2003) analisa que:

Mudanças catastróficas na natureza ocorreram nas diversas fases de evolução


geológica e ecológica do planeta. A crise ecológica atual pela primeira vez não é
uma mudança natural; é uma transformação da natureza induzida pelas concepções
metafísicas, filosóficas, ética, científica e tecnológica do mundo (p. 19).

O meio ambiente sofreu um forte impacto com a Segunda Guerra Mundial, onde
precisamente aconteceram, entre tantas outras degradações, as explosões de bombas atômicas nas
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Após o término da Guerra, objetivou-se recuperar a
economia dos países envolvidos o mais rápido possível. Assim, passou-se a produzir em massa,
todo tipo de bens de consumo, incentivando-se também a formação de um público para consumir
em excesso todos os produtos ―considerados indispensáveis‖.
Esses produtos possuem ―vida‖ cada vez mais curta garantindo o seu rápido descarte e
consequentemente a aquisição de outros, cada vez mais elaborados. Isto incentiva para que as
pessoas se desfaçam dos mesmos e comprem novamente, dando margem para a economia se
reestabelecer e se ampliar. Esses aspectos levam à formação da sociedade baseada no modelo
consumista. De acordo com Guimarães (2004) esse modelo é baseado em uma visão
antropocêntrica de mundo, que beneficia os interesses privados em perda dos bens coletivos,

933
―gerando impactos predatórios, causadores dos graves desequilíbrios socioambientais da
atualidade‖.
O consumismo passou a ser de fundamental ―importância‖ para a sociedade, a ponto de ser
considerado o elemento chave para a evolução dos países. Isto fica claro quando, por exemplo, a
presidente Dilma Rousseff, declara para o site Reuters, que ―o governo vai continuar estimulando o
consumo no país para alavancar o crescimento da economia em meio à crise internacional‖.
Enquanto isso, a população brasileira e também mundial vem crescendo consideravelmente,
principalmente nos países com maiores índices de pobreza.
O atual modelo de desenvolvimento econômico está, comprovadamente, desencadeando
intensas transformações no planeta. O desperdício dos bens naturais e o acúmulo de lixo são
exemplos nítidos do estímulo à produção que o capitalismo exerce. A evolução que acompanhou as
indústrias e a tecnologia após a Segunda Guerra Mundial levou o meio ambiente a um estado de
destruição nunca visto antes.
A população precisa adquirir maiores conhecimentos acerca dos problemas ambientais e
exigir soluções por parte dos governos, uma vez que este se constitui como representante dos
interesses sociais. Tristão (2004) discorre que a efetivação das políticas para as ações sustentáveis é
relacionada com uma nova racionalidade, que se caracteriza por uma postura de responsabilidade
entre as gerações atuais e futuras, e de atitudes da população que compõe a sociedade
contemporânea. Essa postura compreende a educação como um elemento imprescindível na
preparação de das pessoas, além de reestabelecer sociedades diminuindo a pobreza e a exclusão
social. Visa ainda a criação de uma política que possa perceber a problemática ambiental como
fator de urgente resolução. (MACEDO FILHO apud BATISTA, 2011), esclarece que:

A Política Nacional de Meio Ambiente originou-se em um contexto de imposições


de normas internacionais, decorrente da necessidade do Brasil vir a conseguir,
através dos organismos financiadores, como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional, financiamento de projetos que exigiam a avaliação dos
impactos ambientais, para os quais não tínhamos, até então, legislação específica.
(p. 51)

No Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente objetiva a conservação e preservação da


qualidade ambiental, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico,
tendo em seu artigo 2°, os seguintes princípios: Ação governamental na manutenção do equilíbrio
ecológico; proteção de áreas ameaçadas de degradação; educação ambiental em todos os níveis do
ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na
defesa do meio ambiente, dentre outros. Percebemos diante dos princípios acima citados, que o
meio ambiente tem sido uma ‗preocupação‘ dos gestores no momento de sua formulação, bem

934
como tem sido motivo de mobilização de parcela da população exigindo iniciativas dos poderes
públicos. No entanto, Ferreira (1998) delineia que:

As políticas públicas estão hoje a meio caminho entre um discurso atualizado e um


comportamento social bastante predatório: por um lado, as políticas públicas têm
contribuído para o estabelecimento de um sistema de proteção ambiental no país;
mas, por outro, o poder público é incapaz de fazer cumprir aos indivíduos e às
empresas uma proporção importante da legislação ambiental (p. 107).

Tomando por base a implantação dessas políticas, percebemos que há ainda muito a ser feito
para que a preocupação com a qualidade de vida dos indivíduos pelo poder público seja efetivada. É
certo dizer que houve um aumento nas leis de proteção ambiental, nas pesquisas, tecnologias e na
participação da sociedade, porém, todos esses avanços ainda não são suficientes para salvar o
planeta das inúmeras ameaças que vem sofrendo. Batista (2011) descreve que:

As causas da degradação ambiental estão no desconhecimento técnico, na


ineficiência das políticas públicas e na falta de sensibilidade da população. Desse
modo, a educação com elevado nível de formação técnica, com planejamento e
com sensibilização social é apontada como solução para a efetivação de um modelo
sustentável de desenvolvimento, evitando-se, dessa forma, a degradação do meio
ambiente. (p. 43)

A resolução desse problema não é tão simples. Conseguimos aumentar, de certa forma, a
consciência ecológica e ver surgir leis mais rígidas, mas não conseguimos fazer com que haja mais
ação política efetiva nessa área. Nesse aspecto, a educação seria uma maneira viável de nos orientar
na mudança de atitudes. Assim, a educação ambiental se faz imprescindível e surge como possível
estratégia para enfrentar essa crise da sociedade.
Com isso, podemos inferir que devido ao crescente descontrole ambiental nesses últimos
tempos, a sociedade precisa adquirir uma nova postura, movida por uma ética que possa reorientar
os hábitos, os costumes e as práticas desenvolvidas no atual modelo de sociedade. Nesse contexto,
Medina (1999) afirma que a educação não pode permanecer alheia à realidade social, que exige
respostas inovadoras e criativas, permitindo formar efetivamente cidadãos críticos, reflexivos e
participativos, aptos à tomada de decisões, condizentes com a consolidação de democracias
verdadeiras e sem exclusão da maioria dos seus membros.
No Brasil, a educação ambiental surgiu inicialmente pela via dos movimentos sociais na luta
pela democracia em oposição ao governo militar, onde denunciavam os riscos e impactos das
indústrias contemporâneas e tinha como horizonte utópico uma vida livre e em harmonia com a
natureza. A partir das décadas de 70 e 80 começou a se configurar um conjunto de ações e de

935
movimentos que se nomeavam como ecológicos ou ambientais. Henrique apud Batista (2007)
contextualiza que:

A Educação Ambiental surge no Brasil muito antes da sua institucionalização no


Governo Federal. Temos a existência de um persistente movimento
conservacionista até o início dos anos 70, quando ocorre a emergência de um
ambientalismo que se une às lutas pelas liberdades democráticas, manifestada
através da ação isolada de professores, estudantes e escolas, por meio de pequenas
ações de organizações da sociedade civil, de prefeituras municipais e governos
estaduais, com atividades educacionais voltadas à ações para recuperação,
conservação e melhoria do meio ambiente. (p. 13)

Nesse contexto, Reigota (2001) vem ressaltar que a educação ambiental surgiu a partir da
preocupação da sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e
futuras gerações. Em seu primeiro momento, ela nasceu como preocupação dos movimentos sociais
ecológicos a fim de envolver e chamar a atenção dos cidadãos para a finitude e a má distribuição do
acesso aos recursos naturais. Em um segundo momento, ela vai se transformando em proposta
educativa com suas teorias e conhecimentos. Para o autor, de acordo com a Carta de Belgrado,
definida em reunião com especialistas em educação, biologia, dentre outros, na Iugoslávia no ano
de 1975, um dos objetivos da EA é levar os indivíduos a adquirir uma compreensão essencial do
meio ambiente global, dos problemas que estão a ele interligados e o papel e lugar da
responsabilidade crítica do ser humano. Tal posicionamento encontra respaldo em Freire (2000),
quando afirma:

Entendemos que, para o [humano], o mundo é uma realidade objetiva,


independente dele, possível de ser conhecida. É fundamental, contudo, partirmos
de que o [ser humano], ser de relações e não só de contatos, não apenas está ‗no‘
mundo, mas ‗com‘ o mundo. Estar ‗com‘ o mundo resulta de sua abertura à
realidade, que o faz ser ente de relações que é. (p.47)

É necessário termos o entendimento de que somos seres integrantes do meio. Devemos ser
agente ativo, mobilizador e transformador, a partir do conhecimento, e as pessoas devem ter acesso
a ele. Reigota (2001) retrata que a formação de novas atitudes e posturas ambientais deveria integrar
a educação de todos os cidadãos. Essa concepção é enfatizada pela Política Nacional de Educação
Ambiental, instituída pela Lei 9.705 de 27/2/1999, que entende por esse tipo de educação:

Os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores


sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999, s.p.).

936
Outro documento importante refere-se ao Tratado de Educação Ambiental para as
Sociedades Sustentáveis (elaborado pelas ONG‘S e pelos movimentos sociais de todo o mundo no
Fórum Global, onde teve como marco o projeto pedagógico da EA) que tem buscado estabelecer
uma perspectiva interdisciplinar para compreender os problemas que afetam o homem e sua relação
com o meio ambiente, com o intuito de intervir nelas. Nas escolas, a EA não se constitui como
disciplina, mas sim como conteúdo a se fazer presente no desenvolvimento das atividades, de
maneira interdisciplinar, abrangendo ao mais variados conteúdos. A EA embora tenha várias
concepções se ancora sempre no agir (processo) e se concretiza por mudanças de comportamento e
de hábitos, pela absorção de uma nova filosofia de vida frente à sensibilização adquirida. De acordo
com a percepção de com Loureiro (2004):

[...] a educação como elemento de transformação social (movimento integrado de


mudança de valores e de padrões cognitivos com ação política democrática e
reestruturação das relações econômicas), inspirada no fortalecimento dos sujeitos,
no exercício da cidadania, para a superação das formas de dominação capitalistas,
compreendendo o mundo em sua complexidade como totalidade. (p.66).

Assim sendo, a educação se caracteriza como uma prática que não pode se prender apenas
aos discursos de preservação, mas também levar à reflexão nas relações humanas. É essencial a
reconstrução de valores na relação entre os homens e destes com o ambiente em que vivem, e a
educação faz parte desse processo de construção social. ―Significa uma construção social por estar
diretamente envolvida na socialização e formação dos sujeitos pedagógicos e de sua identidade
social e cultural‖ (LIMA, 2002, p. 120).
Carvalho (2008) enfatiza que a educação ambiental constitui uma proposta pedagógica
concebida como nova orientação em educação a partir da consciência da crise ambiental. No plano
pedagógico, a EA tem se caracterizado pela crítica à divisão do conhecimento em disciplinas.
A demanda pela EA, decorrente também dos problemas ambientais vivenciados por toda a
sociedade, provoca a necessidade de formar profissionais aptos a trabalhar com essa área, tendo o
importante papel de estimular a relação do ser humano com o meio ambiente. Relação essa
desconsiderada pela maioria dos seres humanos, que desenvolvem uma consciência individual,
assim, cada vez mais vai deixando de se incluir como parte integrante, assumindo-se apenas como
um ser a parte da natureza.
No século XXI, o ser humano se afasta mais e mais da natureza, o individualismo já é
característica marcante na sociedade. O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe
mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente,
causando grandes desequilíbrios ambientais, Guimarães (1995, p. 12). Nesse contexto, DIAS
(2004,) define que a:

937
Educação Ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a
comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e
resolver problemas ambientais, presentes e futuros. (p. 523).

Assim, a Educação Ambiental ultrapassa o saber racional, os conteúdos e as informações


conceituais que nos são impostas. Ela trata, além disso, da consciência ambiental, tendo como
elemento base a sensibilização como consequência da consciência. Para ela, mais importante que
saber é sentir, nós preservamos aquilo que amamos. E não basta apenas amá-lo, temos que nos
sentir parte dele, inseridos nesse ambiente. A EA precisa ser crítica e transformadora, e estar
inserida em todos os níveis de ensino, incluindo assim, o ensino superior.

O PAPEL DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES – O ESPAÇO DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Para adquirimos uma educação crítica e transformadora, temos como lócus imprescindível a
Universidade, onde existe suporte na produção e organização do conhecimento. Nessa perspectiva,
a universidade passa por inúmeros desafios na formação de sujeitos não só para o mercado de
trabalho, mas para a vida e para o mundo.
É oportuno ressaltar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, afirma
o direito à educação, e descreve em seu Art. 43°. Inciso VI que a educação superior tem por
finalidade estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e
regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de
reciprocidade. Assim, a Universidade vem buscando a formação ambiental para adquirir novas
maneiras de olhar a sociedade, que é marcada por valores e paradigmas diversos, a fim de
desenvolver uma consciência crítica na relação do ser humano com os outros e com o ambiente em
que se encontram. De acordo com Leff (2001), a formação ambiental:

[...] é pertinente para compreender a transformação da realidade causada pela


problemática do desenvolvimento. A formação implica um processo mais orgânico
e reflexivo de reorganização do saber e da sociedade na construção de novas
capacidades para compreender e intervir na transformação do mundo. (p. 254)

Então, precisamos estar atentos diante da crise socioambiental que presenciando no século
XXI, e percebermos que se faz emergente o repensar das nossas ações. É nessa perspectiva de
mudança que a educação ambiental deve ser pensada academicamente de forma interdisciplinar,
para ajudar na resolução desses problemas. Para Leff (2001)
938
É nessa construção e compreensão que a EA irrompe, como mediadora e resposta à
problemática ambiental, dentro das perspectivas de uma mudança sócio-ambiental
e da complexidade ambiental. Dessa forma, a complexidade ambiental abre uma
nova compreensão do mundo, incorporando o limite do conhecimento. (p. 195):

Ainda de acordo com Leff (2001), a interdisciplinaridade surge como uma tentativa de
reorientar a formação profissional na busca de um pensamento capaz de solucionar os problemas
gerados pela racionalidade social, econômica e tecnológica. Podemos ressaltar assim, que a EA
desenvolve-se como uma possibilidade do trabalho interdisciplinar, possibilitando novos
conhecimentos.
Araújo (2004) assinala que as universidades, como formadoras de educadores ambientais,
têm duas principais funções: formar professores para os diferentes níveis de escolaridade; e investir
em pesquisa de práticas educativas e metodologias fundadas na interdisciplinaridade e na
investigação. No entanto, as instituições universitárias em geral, desenvolvem suas atividades para a
produção do conhecimento e para a formação profissional, em função da necessidade do mercado
de trabalho.
Esse contexto tem se caracterizado como um sério obstáculo para que as instituições
educacionais possam inserir a educação ambiental na formação de recursos humanos de maneira
que consigam resolver os problemas socioambientais do nosso tempo Leff (2001). É necessário,
porém, que as Universidades transmitam aos seus alunos os conhecimentos básicos essenciais para
que possam estar cientes de inserir, em suas futuras práticas educativas, atividades que englobem
benefícios para o meio em que vivemos.
Desde a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela
UNESCO em colaboração com o PNUMA e realizada na cidade de Tibilisi em outubro de 1977,
percebeu-se a necessidade e urgência de formação de educadores ambientais. Na mesma, foram
delineadas algumas diretrizes em que a educação ambiental, nos espaços universitários deveria:
romper com os modelos tradicionais de educação ao aceitar a interdisciplinaridade para a solução de
problemas socioambientais; desenvolver materiais pedagógicos locais e estabelecer cooperações
locais, nacionais e internacionais, bem como incluir no programa de formação de professores a
educação ambiental; ajudar docentes dos centros de formação de professores na área de educação
ambiental e facilitar, aos futuros professores, formação ambiental apropriada ao meio urbano ou
rural (UNESCO, 1994).
Em decorrência desses primeiros seminários e conferências nacionais sobre meio ambiente e
universidade, aconteceu em 1990, o I Curso Latino-Americano de Especialização em Educação
Ambiental ofertado pelo PNUMA, IBAMA e Universidade Federal do Mato Grosso. Depois disso,

939
diversas universidades, tomaram como exemplo as recomendações e diretrizes traçadas nesses
seminários, e criaram estratégias para incorporar a dimensão ambiental. Criaram assim, disciplinas
optativas, programas e cursos interdisciplinares, e também implantaram cursos de pós-graduação
lato e stricto-sensu na área de educação e meio ambiente. Desde então, várias iniciativas vem se
firmando frente às questões socioambientais nas universidades, assumindo também a
responsabilidade da incorporação ambiental nos sistemas de educação e formação profissional,
principalmente em cursos de pós-graduação.
Assim, podemos perceber que a oferta por cursos na área ambiental é crescente, e que esta se
estabiliza na formação e na qualificação de profissionais educadores ambientais. Vale ressaltar que,
podemos encontrar alguns programas que se lançam para atender a demanda do mercado, mas que
podem não ter em seus conteúdos ambientais, a questão ambiental de forma crítica e reflexiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos, contudo, que a escola e a universidade exercem papeis fundamentais no que


concerne à visão de mundo do aluno. Assim, Carvalho (2004) descreve que é necessário internalizar
nos espaços institucionais do campo educativo a formação de uma sensibilidade e de uma leitura
crítica dos problemas socioambientais. As duas instituições, apesar de responsáveis, oferecem
poucos cursos voltados para a formação ambiental. Seria necessária uma reformulação na proposta
educativa para atender as novas demandas, usando de novos paradigmas no desenvolvimento da
aula, fazendo com que o aluno deixe de receber passivamente o conhecimento, e se torne um ser
pensante, crítico, e participativo na escola e na sociedade. O professor precisa estar ciente que o
diálogo com os próprios alunos se constitui como fator importante nesse processo. Nessa
perspectiva, Penteado (1994) considera que a escola deve orientar os trabalhos escolares por uma
lógica ambiental, a fim de contribuir para a formação de pessoas capazes de criar e ampliar espaços
de participação nas decisões acerca dos nossos problemas socioambientais.
Sabemos que diante da crise ambiental, precisamos refletir sobre nossas ações e atentarmos
para as consequências das mesmas. Ao longo dessa pesquisa, percebemos que a formação docente
que considere a educação ambiental é extremamente importante. E que o mesmo precisa
desenvolver estratégias que auxiliem na relação homem-natureza, e ser capaz de acompanhar as
mudanças sociais e ambientais da sociedade para que possamos ter bons resultados na formação da
consciência socioambiental.
Concluímos assim que os educadores ambientais tem um grande desafio: a formação da
consciência ambiental dos alunos, ancorada com o exercício da sua cidadania, através da
transformação de seus comportamentos, atitudes e paradigmas. E que o lócus escolar é um espaço
940
onde essa formação pode estar sendo desenvolvida. Os educadores precisam adotar práticas que
tenha relação com as questões ambientais, bem como as relações pessoais, e a cultura da nossa
sociedade.

REFFÊNCIAS

ARAÚJO, M. I. de O. A universidade e a formação de professores para a educação ambiental. In:


Revista Brasileira de educação ambiental. n.0. Brasília, 2004.

BATISTA. M.S.S. A temática ambiental na educação superior: políticas, gestão acadêmica e


projetos de formação nos cursos da Universidade do Estado do Rio grande do Norte. Tese de
Doutorado. UFRN Natal, 2011.

CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São

Paulo: Cortez, 2004.

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra,

1967/ 24 ed. 2000.

GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis:


Vozes, 2001.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Crise ambiental, educação e cidadania: os desafios da


sustentabilidade emancipatória. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo;

MEDINA, N. M., SANTOS, E da C. Educação Ambiental: uma metodologia participativa de


formação. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

PIMENTA, S.G.; ANASTASIOU, L. das G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez,
2002. (Coleção Docência em Formação).

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001. – (Coleção
primeiros passos; 292).

TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. São Paulo:


Annablume, 2004.

941
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO ATRAVÉS DA
METODOLOGIA DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO, SEMIÁRIDO POTIGUAR

Thais Cristina de Souza LOPES (UFERSA) – thaiscristina13@hotmail.com


Roselene de Lucena ALCÂNTARA (Professora da UFERSA, Campus Angicos) –
roselene@ufersa.edu.br

Resumo

Objetivou-se analisar a percepção ambiental dos estudantes de uma escola no município de


Angicos/RN, a partir da vivência individual de cada um na perspectiva de se entender os diferentes
níveis de interação do indivíduo com o ambiente, utilizando-se para tanto, a prática da Educação
ambiental e a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados balizam que o processo
educacional pode oportunizar a sensibilização e a conscientização dos educandos. E que a
metodologia do discurso do sujeito coletivo mostra-se eficaz na compreensão de experiências
coletivas.
Palavras-chave: Percepção Ambiental. Educação Ambiental. Estudantes. Discurso do Sujeito
Coletivo.

Abstract
This study aimed to analyze the environmental perception of students in the city of Angicos/RN,
from the experience of each individual in the perspective to understand the different levels of the
individual's interaction with the environment, using for both, the practice of environmental
education and methodology of the Collective Subject Discourse. The results mark out that the
educational process can promote awareness of students. And the methodology of the collective
subject discourse is effective in understanding collective experiences.
Keywords: Environmental Perception. Environmental Education. Students. Collective Subject
Discourse.

Introdução

Em virtude dos desequilíbrios ambientais ocasionados pelas inadequadas práticas da


sociedade e pela necessária mudança de paradigma imposta pelo universo consumista, a Educação
Ambiental se expõe como uma ferramenta de fundamental importância, já que, apenas uma
sociedade informada e consciente das limitações dos recursos naturais irá garantir a permanência
das atuais e futuras gerações (ARAÚJO, 2010).

942
É notável a forma agravante em que os problemas socioambientais estão se desenvolvendo,
ao observar a paisagem no entorno das comunidades, vilas, municípios, cidades e capitais. A
degradação ambiental vem se tornando cada vez mais presente ao longo das últimas décadas, pela
ação e postura que a sociedade tem estabelecido com seu habitual modo de vida, e pela falta de
percepção que se dá, muitas vezes, pela deficiência do conhecimento acerca dessa problemática.
Com efeito, a relação que existe entre o meio ambiente e a educação adquire um papel cada
vez mais desafiador, que exige a manifestação de novos saberes para compreender processos sociais
observáveis através de diferentes aspectos, e riscos ambientais que se intensificam (JACOBI, 2003).
É a partir daí que é enfatizado que, para conservar e preservar os recursos naturais é preciso o
despertar da consciência para educação ambiental.
Os resultados das escolhas e atitudes que o homem tem apresentado, quanto ao meio
ambiente e a degradação gerada pelo mesmo, fazem com que se repense o seu modelo de
crescimento econômico, buscando direcioná-lo ao ideal do desenvolvimento sustentável. Sendo
assim, a crise atual global é uma oportunidade para a humanidade parar, pensar e identificar onde
estão os erros e como evitá-los (SEABRA; MENDONÇA, 2009).
No contexto da educação ambiental, existem diferentes possibilidades para a compreensão
de conceitos que se originam das diferentes visões de mundo que a constituíram ao longo do tempo
e da multiplicidade de perspectivas de ensino relacionados à sua prática.
A educação ambiental está interligada aos aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e
culturais, onde a mesma se apresenta como um dos meios de desempenho para a reflexão crítica
acerca dos melhores caminhos para sustentabilidade, onde o ser humano passa a adequar sua vida
em relação aos demais seres vivos e à natureza enquanto totalidade (SCHIAVI et al., 2012).
Diante disso, o estudo da percepção ambiental é uma das ferramentas utilizadas para obter
dados acerca do conhecimento ambiental nas escolas e apontar caminhos através da interação entre
a construção pedagógica e a proposta da educação ambiental (SILVA; RAMOS, 2012). Deste
modo, o plano da prática da educação ambiental nas escolas é centrado na conscientização,
mudança de conduta, no desenvolvimento de competências, disposição de análise e o estímulo à
participação dos educandos.
Com isso, o objetivo do presente trabalho é analisar a percepção ambiental dos estudantes de
uma Escola Estadual de Ensino Médio no Município de Angicos/RN, a partir da vivência de cada
um, na perspectiva de se entender os diferentes níveis de interação do indivíduo com o ambiente,
utilizando-se para tanto, a prática da Educação ambiental e a metodologia do Discurso do Sujeito
Coletivo.

943
Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida em uma Escola Estadual de Ensino Médio, município de
Angicos/RN, durante os meses de Agosto – Novembro de 2011, por intermédio da prática da
educação ambiental através de palestras educativas e aplicação de questionário. Os participantes
foram os alunos dos 3º anos (A e B), turno manhã.
O município de Angicos/RN está localizado na micro-região central do Estado, bem no
coração do Rio Grande do Norte. Limita-se com os municípios de Ipanguaçu (oeste), Afonso
Bezerra e Pedro Avelino (norte), Lajes, Fernando Pedroza e Santana do Matos (sul) e Itajá (sul e
oeste). A distância rodoviária até a capital é de 171 km . A população estimada é de 11.549
habitantes (IBGE, 2010).
No tocante à educação, o município de Angicos notabilizou-se pelas experiências pioneiras
do educador Paulo Freire com seu método de alfabetização de adultos, fato que torna o município
mundialmente conhecido. Paulo Freire recebeu o título de Cidadão Angicano em 28/08/1993 e em
discurso proferido, enfatizou: ―Em nenhum lugar do mundo onde estive, fiquei mais tocado do que
aqui e agora‖.
A técnica de pesquisa utilizada fundamentou-se nos procedimentos da documentação
indireta e da documentação direta – intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005). Para o
desenvolvimento da pesquisa foi utilizada abordagem qualitativa-quantitativa com a aplicação da
estratégia do Discurso do Sujeito Coletivo - DSC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003). Para tanto,
inicialmente as atividades desenvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico dos
temas relacionados à educação e percepção ambiental, objetivando a elaboração de material
didático e de palestras.
Concomitante, foram elaborados e aplicados questionários abertos objetivando realizar um
diagnóstico situacional dos discentes contemplados pela pesquisa, para verificar como os alunos se
identificam quanto às suas responsabilidades perante os problemas ambientais e a possibilidade de
suas ações contribuírem para a sustentabilidade do meio ambiente. As perguntas foram aplicadas ao
término das palestras objetivando avaliar a percepção ambiental dos alunos.
Analisar a percepção ambiental através do Discurso do Sujeito Coletivo é eficaz na
compreensão de experiências, percepções e das limitações vivenciam no exercício de seu papel de
formador de senso crítico dos estudantes de uma escola (LEFEVRE; LEFEVRE, 2006).
O método do discurso do sujeito coletivo tem como objetivo expressar, empiricamente, o
pensamento coletivo. Ao extrair os depoimentos em pesquisas empíricas de opinião por meio de
questões abertas, operações que expressam, ao final do procedimento, em depoimentos coletivos
extraídos de depoimentos individuais (LEFÈVRE; LEFRÈVE, 2003).

944
Resultados e discussão

Inicialmente, procurou-se o responsável pela Escola Estadual de Ensino Médio, e explicou-


se a respeito dos objetivos e metas do trabalho. O mesmo informou que apesar de existir a Lei de n°
9.795 para promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, à implantação da
educação ambiental somente é abordada nas disciplinas de geografia e biologia quando o assunto
que está sendo ministrado em sala apresenta determinada relação com o meio ambiente.
Neste contexto, procurou-se a professora da disciplina de geografia, que, gentilmente aceitou
que o trabalho fosse desenvolvido em suas turmas.
Os primeiros contatos com as duas turmas contempladas pelo trabalho ocorreram no mês de
agosto/11, objetivando informar aos alunos sobre a finalidade e o desenvolvimento do trabalho.

Palestras

O desenvolvimento do trabalho foi balizado pela educação ambiental, que se constitui em


uma forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, por intermédio de um
processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência
crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a
gênese e a evolução de problemas ambientais (EDUCACAO..., 2007).
Ou seja, é um processo participativo, onde o educando assume o papel de elemento central
do processo ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos
problemas ambientais e busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, por
intermédio do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, por meio de uma conduta
ética, condizente ao exercício da cidadania.
O primeiro tema desenvolvido em sala de aula foi ―Meio Ambiente e Recursos Naturais‖.
Os tópicos abordados foram: definição do meio ambiente de acordo com a Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA) na Lei 6.938 artigo 3°; o que são recursos naturais, os tipos de recursos:
renováveis e não-renováveis, o mau uso dos recursos e toda uma abordagem com relação a nossas
atitudes e o que precisa ser mudado em cada um de nós, promovendo assim, a sensibilização
ambiental através do tema abordado.
O segundo tema foi ―A água‖, onde, inicialmente fez-se uma abordagem da importância da
água para os seres vivos, como também a sua composição, origem e utilização; a Política Nacional
de Recursos Hídricos; poluição e contaminação aquática; as doenças que podem ser transmitidas
pela água e as classes de infecções. Na sequência, foi apresentado um registro fotográfico de um
corpo aquático local, denominado ―Açude Coronel José Teodoro‖, objetivando debater e aproximar
a realidade do Município de Angicos/RN no tocante à poluição visual no entorno do açude ali
945
existente. Para finalizar, foram apresentadas as possíveis medidas mitigadoras, enfatizando as
dimensões e os valores da água no tocante à hidratação e alimentação, higiene pessoal e bem estar,
e, de maneira geral, sobre os usos da água.
A terceira temática foi a dos resíduos sólidos no contexto da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (Lei nº 12.305/10) (BRASIL, 2010), que é o novo marco na gestão de resíduos sólidos no
Brasil, estabelecendo obrigatoriedades fundamentais para que deixemos de ser um país onde
prevalecem os lixões, o desperdício e a falta de dignidade aos cidadãos que trabalham com os
materiais recicláveis.

Questionários – Análise do discurso do sujeito coletivo

Os questionários foram aplicados com os alunos atendidos pela pesquisa, num total de 32
estudantes, com intuito de avaliar a percepção ambiental destes. As respostas permitiram a
elaboração dos discursos com trechos selecionados dos depoimentos individuais, a partir da escrita
dos participantes, ou seja, dos fragmentos indicados dos depoimentos individuais dos alunos
participantes. O Discurso do Sujeito Coletivo produzido encontra-se em itálico em destaque do
restante do texto. Para cada um dos discursos é indicada, entre parênteses, a quantidade de
respondentes que apresentaram aquela Ideia Central (IC) em sua fala/escrita (N1), em relação ao
número total de correspondentes (N), como indicado por Lefèvre e Lefèvre (2003) (QUADRO 1).
Os Discursos do sujeito coletivo formados para as quatro perguntas foram divididos em 14
ideias centrais (IC) e estão apresentados no QUADRO 1.

QUADRO 1 - Síntese das ideias centrais


PERGUNTA IDEIA CENTRAL – ( /N)

A) O que você O meio em que vivemos (17/32)


entende por meio Toda forma de vida existente no planeta (5/32)
ambiente? Conjunto dos fatores vivos e não vivos (5/32)
É o lugar onde precisa ser preservado e cuidado (5/32)
B) O que você Condições adequadas de saúde e saneamento básico (17/32)
entende por Viver em harmonia com o meio ambiente (9/32)
qualidade de vida? Nós que fazemos nossa própria qualidade de vida (5/32)
Ter nossos direitos (1/32)
C) Qual o seu É tudo aquilo que danifica o meio ambiente (15/32)
entendimento sobre Quando alteramos as propriedades naturais do meio ambiente (9/32)
poluição? É quando jogamos o lixo no meio ambiente (8/32)
D) Qual o tema Água (17/32)
trabalhado em sala Meio ambiente e recursos naturais (11/32)
de aula que mais te Resíduos sólidos (4/32)
interessou?
Nota: N1: número de entrevistados que apresentaram a Ideia Central; N: número total de entrevistados.

946
 O que você entende por meio ambiente?

Segundo Rebouças (2012), a percepção do homem quando se refere ao termo ―meio


ambiente‖ geralmente é usado como sinônimo de natureza, porém é necessário se pensar um pouco
mais a respeito do termo e estabelecer a noção dos vínculos naturais em que o ser humano se
encontra com o meio ambiente e que é por meio da natureza que a sociedade reencontra suas
origens e sua identidade cultural e biológica.
A lei que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) define meio
ambiente como o ―Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas‖. Neste contexto, ao analisar os
discursos dos alunos atendidos pela pesquisa, foi possível agrupá-los em 4 categorias (QUADRO
1).
Ao verificar as discussões acerca da pergunta A, se referindo ao que o aluno entendia de
meio ambiente, foi visto que grande parte dos alunos, 17 dos 32 respondentes, destacou que seria
―O meio em que vivemos‖. De acordo com o ponto de vista de Ribeiro et al. (2012), essa resposta
seria considerada coerente, pois o meio ambiente não se refere apenas ao aspecto natural, mas a
conjunção da sociedade e o meio, ou seja, o que está ao nosso redor, o lugar no qual estamos
inseridos.
Nesse sentido, os outros alunos se manifestaram em diferentes aspectos em relação a sua
percepção do que seria meio ambiente se referindo como “Toda forma de vida existente no
planeta”, “Conjunto dos fatores vivos e não vivos” e que “É o lugar onde precisa ser preservado e
cuidado”. Apesar desses discursos apresentados não definirem com clareza o que é ―meio
ambiente‖, demonstra diversos aspectos da definição exata do que seria, e demonstra o
entendimento de cada aluno sobre o assunto.
Um discurso de destaque de um dos alunos foi o seguinte: ―Meio ambiente é um lugar aonde
nos vivemos com outros seres, onde a unidade que forma o meio ambiente é estar em contato com
ele e viver nele buscando melhorias de sobrevivência‖. Diante disso, Granziera (2009) afirma que, a
proteção ao meio ambiente é uma questão de suma importância, e os problemas causados por sua
degradação independem do país em que localizados. A poluição do ar, a contaminação das águas, o
efeito estufa e tantas outras formas de danos à natureza acabam por ferir o direito de todos ao meio
ambiente equilibrado.

 O que você entende por qualidade de vida?

Quando questionados sobre o que entendiam por ―Qualidade de vida‖, a maioria dos
respondentes, 17 dos 32 alunos, se referiu a ―Condições adequadas de saúde e saneamento básico”,
947
com destaque para a seguinte resposta: ―Viver em um ambiente limpo e saudável e usufruir de água
de boa qualidade”. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001), as reflexões
acerca das relações sociais e econômicas estão inseridas na tomada de decisão dos gestores públicos
de forma a se adequar a cada passo que será dado em direção à qualidade de vida, crescimento
cultural e o equilíbrio ambiental satisfazendo a sociedade.
Portanto, a população deve participar de maneira efetiva do processo de saneamento em sua
cidade, pela busca da melhoria da saúde pública e da qualidade de vida, desde a compreensão e o
planejamento até a gestão e monitoramento das ações (SCHIAVI et al., 2012).
Nesse contexto, houve alunos que pensaram de uma forma distinta, demonstrando em seus
depoimentos que qualidade de vida é ―Viver em harmonia com o meio ambiente‖, com destaque
para 9 estudantes dos 32 respondentes, onde os mesmos ressaltaram a importância de viver bem
com o nosso meio. Bem como para a seguinte resposta ―Qualidade de vida é estar bem com si
próprio e com tudo que está em nossa volta, é ter um bom lugar para se morar, com saúde,
buscando encontrar boas formas de viver‖.
A prática da educação ambiental permite despertar a percepção ambiental dos estudantes,
modificando condutas e costumes para uma relação harmoniosa com o meio ambiente (SCHIAVI et
al., 2012).
A educação em prol do beneficiamento da qualidade de vida tem como objetivo conservar o
meio, além do investimento no conhecimento do saber, desenvolver no educando um envolvimento
emocional e uma responsabilidade maior com os problemas ambientais. Assim, a maneira que o
aluno percebe tais definições é de fundamental importância para a difusão da educação ambiental na
comunidade e as mudanças de paradigma da população (SILVA; RAMOS, 2012).

 Qual o seu entendimento sobre poluição?

A concepção sobre poluição demonstrada pelos alunos, 15 dos 32 respondnetes, foi que,
poluição é ―Tudo aquilo que danifica o meio ambiente‖. Em concordância, Mota (2012), afirma que
a poluição pode ser entendida como tudo aquilo que provoca modificações em um ambiente, de
maneira que o torne prejudicial às pessoas e outras formas de vida.
Os outros dois grupos de alunos afirmaram ainda em seu entendimento sobre que poluição:
―Quando alteramos as propriedades naturais do meio ambiente‖ e ―É quando jogamos o lixo no
meio ambiente‖. Dados obtidos em outrsas pesquisas mostram que cada indivíduo percebe e reage
diferentemente às ações sobre o meio em que vivem. As respostas são resultados das percepções
dos conhecimentos e expectativas de cada pessoa, influenciadas também pela cultura (SILVA;
RAMOS, 2012).

948
 Qual o tema trabalhado em sala de aula que mais te interessou?

Nesta questão, pontos importantes a serem considerados estão relacionados aos recursos
naturais, destacando-se a água, enquanto fonte e recurso para a manutenção da vida, e meio
ambiente e recursos naturais, temas trabalhados com os alunos. Quando questionados sobre qual o
tema que eles mais se interessaram, 17 dos 32 alunos afirmaram que seria o tema ―Água‖. Na
sequência, 11 estudantes declararam que a palestra que mais interessou foi sobre ―Meio ambiente e
recursos naturais‖.
Pelo exposto, por intermédio do processo educativo é possível promover a sensibilização e a
conscientização para a preservação dos ecossistemas, tendo como base a utilização racional dos
recursos naturais e a sustentabilidade da biodiversidade (BRASIL, 1997).
A escola se sobressai como um espaço privilegiado e interdisciplinar na geração de
atividades que possam propiciar a importância da temática ambiental, onde o aluno absorve, em sala
de aula e em diversas atividades de campo e/ou excursões, o prazer e o encanto que a natureza
representa (REIGOTA, 2008).

Considerações finais

Com base nos resultados apresentados, pode-se concluir que este trabalho aborda parâmetros
ambientais importantes, educação ambiental no contexto escolar e a análise da percepção ambiental
dos educandos através do uso do discurso do sujeito coletivo, que se apresentou apropriado para
esse tipo de pesquisa, certificando por preservar a natureza do discurso e da opinião dos sujeitos
envolvidos na pesquisa, representando a expressão individual de um grupo de estudantes, que
exprimem um pensamento coletivo.
Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, a escola
devera oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais e humanos,
desenvolva suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construídos
para consigo mesmo e para com seu meio, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente
sustentável e socialmente justa.

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950
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951
SALA VERDE ÁGUA VIVA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A SUSTENTABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL

Thania Oliveira CARVALHO (Graduanda, Departamento de Geografia da UFC)


thania_oc@yahoo.com

Dayane de Siqueira GONÇALVES (Graduanda, Departamento de Geografia da UFC)


dayanedesiqueira@yahoo.com.br

Nicolly Santos LEITE (Graduanda, Departamento de Geografia da UFC)


nicollyleite2@gmail.com

Antônio Jeovah de Andrade MEIRELES (Prof. Dr. Departamento de Geografia da UFC)


meireles@ufc.br

Resumo

O presente artigo tem por finalidade apresentar um significativo histórico dos grandes eventos da
Educação Ambiental a nível nacional e internacional, abordando posteriormente o Projeto Sala
Verde Água Viva e o desenvolvimento de suas ações de sustentabilidade socioambiental. O modelo
vigente de desenvolvimento econômico, pautado na exploração desordenada de recursos naturais,
vem ocasionando uma série de impactos que comprometem o meio ambiente, causando direta e
indiretamente crises sociais e econômicas. Como agente disseminador da importância de práticas
que visam o desenvolvimento sustentável, a Educação Ambiental vem de encontro a essa realidade,
objetivando minimizar os impactos ambientais, buscando a preservação do meio ambiente. Nessa
perspectiva, o projeto Sala Verde Água Viva, vinculado ao Laboratório de Geoecologia da
Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN) do Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Ceará, que faz parte de um programa nacional de caráter ambiental
coordenado pela (DEA/MMA), que promove um conjunto de ações visando o desenvolvimento de
questionamentos, reflexões e a sensibilização dos integrantes diretamente envolvidos nesse
processo, objetiva a manutenção de sistemas naturais, conciliando atividades econômicas com
conservação ambiental, onde natureza e sociedade possam manter relações harmoniosas.

Palavras-chaves: Educação Ambiental; Sustentabilidade; Sala Verde.

952
Abstract

This paper aims to present a significant historical events of great environmental education
nationally and internationally, addressing the later Projeto Sala Verde Água Viva and the
development of their environmental sustainability initiatives. Prevailing model of economic
development, based on the exploitation disorderly natural resources, has caused a number of
impacts that affect the environment, causing direct and indirect social and economic crises. Because
of the importance of disseminating agent practices aimed at sustainable development,
Environmental Education comes against this reality, aiming to minimize environmental impacts,
seeking to preserve the environment. From this perspective, the Projeto Sala Verde Água Viva,
linked to the Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN) of
Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, which is part of a national program
coordinated by environmental character (DEA / MMA ), which promov and a set of
actions development questions, reflections and awareness d members directly involved in this
process, objective maintenance of natural systems, combining economic activities with
environmental conservation, where nature and society can maintain harmonious relations.

Keywords: Environmental Education; Sustainability; Sala Verde.

Introdução

O conceito de meio ambiente formulado por Reigota (1994), apresenta a sociedade e a


natureza como elementos que interagem e mantêm relações dinâmicas entre si. Essas relações
implicam processos de criação cultural e tecnológica, processos históricos e sociais de
transformação do meio natural e construído. A dominação das técnicas, desde as mais rudimentares
voltadas à sobrevivência, ou ao desenvolvimento da recente e extraordinária tecnologia atual, ao
longo da história do homem, foi obtida concomitantemente à exploração dos recursos disponíveis
no meio ambiente, mas até que ponto dessa utilização o ambiente suporta?
O modelo vigente de desenvolvimento econômico, pautado na exploração desordenada dos
sistemas naturais, vem ocasionando uma série de impactos que comprometem o meio ambiente,
causando direta e indiretamente crises sociais e econômicas. Contudo, é somente a partir do final do
século XX que o padrão de desenvolvimento prevalecente entrou em crise, quando a sociedade
começou a evidenciar que o desenvolvimento obtido através da exploração da natureza não era
capaz de sanar os impactos ocasionados na mesma.

953
Com a observação dos impactos originados pelo crescimento econômico a qualquer custo,
é que se iniciaram inquietações a nível internacional, e em 1965 durante a Conferência em
Educação realizada na Grã-Bretanha surge o termo Environmental Education (Educação
Ambiental). Entretanto, as primeiras discussões a nível mundial em relação à crise do modelo de
desenvolvimento e os impactos exercidos por ela no meio ambiente só foram iniciadas no ano de
1968, através dos questionamentos da delegação sueca na Organização das Nações Unidas – ONU,
que apresentavam a necessidade de uma abordagem a nível mundial na busca de soluções contra o
agravamento dos problemas ambientais (DIAS, 2004).
Segundo Dias, (2004) a sobrevivência do planeta e consequentemente da nossa própria
espécie, depende do grau de equilíbrio que o ser humano deve alcançar, procurando minimizar a
degradação ambiental; reutilizando e reciclando produtos aumentando a vida útil dos mesmos,
reduzindo o consumo e consequentemente os resíduos produzidos, repensando o nosso modo de
vida para a construção de um sistema mais responsável e sustentável; buscando a diminuição das
desigualdades sociais e fomentar soluções para as questões locais e globais, não imediatistas e
equivocadas, mas sim a longo prazo.

Breve histórico inicial sobre Educação Ambiental no mundo

Inicialmente a preocupação com o meio ambiente, incipiente e reduzida apenas a


advertências no meio científico, restringia-se a um pequeno número de estudiosos. Como nos
lembra Dias (2004), em seus estudos sobre Educação Ambiental, somente a partir da metade do
século XX que se deu inicio aos questionamentos sobre os problemas ambientais, o que conduziu,
em 1968, à discussões a nível internacional pela delegação da Suécia na ONU. No mesmo ano foi
criado o Clube de Roma, formado por um grupo de especialistas com a finalidade de evidenciar o
início da discussão sobre a crise socioambiental atual.
Quatro anos depois, em 1972, o Clube de Roma publicou um relatório intitulado de ―Os
limites do crescimento”, que de acordo com Diegues (1992), apresentava um panorama sombrio
para a humanidade, por anunciar a limitação do meio ambiente com o crescimento da população, do
consumo e da exploração dos recursos naturais, predizendo uma explosão demográfica, aumento da
poluição e degradação dos ecossistemas, implicando diretamente na diminuição da qualidade de
vida. Propunha também, um modelo de crescimento global em equilíbrio e por fim alertava a
sociedade contra o falso otimismo de que a tecnologia moderna poderia solucionar esses problemas.
No ano de 1972, foi decisivo para o crescimento da abordagem ambiental no mundo,
estimulado pela repercussão do relatório do Clube de Roma, a ONU promove a ―Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano‖, conhecida como a Conferência de Estocolmo, que
954
estabeleceu um ―Plano de Ação Mundial‖ e em particular recomendou um Programa Internacional
de Educação Ambiental, constituindo por tanto, no primeiro pronunciamento a nível mundial sobre
a necessidade da Educação Ambiental.
Na Declaração da Conferência de Estocolmo, o Princípio nº 19 estabelece:

É indispensável o trabalho de educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações


jovens como aos adultos, e que tenha a devida atenção com a população menos
privilegiada, para erigir as bases de uma opinião pública bem informada e uma conduta dos
indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade
com a proteção e melhoria do meio em toda a sua dimensão humana. (Declaração da
conferência de Estocolmo, 1972).

A partir da Conferência de Estocolmo, a Educação Ambiental torna-se uma recomendação


imprescindível e através dela são criados importantes projetos, tais como o PNUMA (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente), considerado atualmente a principal autoridade global em
meio ambiente, de acordo com o site do referido projeto no Brasil, o PNUMA é a agência do
Sistema das Nações Unidas responsável por promover a conservação do meio ambiente e uso
eficiente dos recursos no contexto do desenvolvimento sustentável.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
juntamente ao PNUMA, de acordo com a necessidade de estender a formação e a educação
ambiental à população, criam em 1975 o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA),
cuja primeira atuação foi no mesmo ano, na organização do Encontro Internacional para a Educação
Ambiental, em Belgrado, Iugoslávia, no qual foram formulados princípios e orientações para o
programa de Educação Ambiental.
A Carta de Belgrado documento gerado no encontro recomendava que os recursos
disponíveis deveriam ser utilizados de modo igualitário e benéfico a todos, permitindo a melhoria
da qualidade de vida e exibia também a necessidade de uma nova ética global:

uma ética dos indivíduos e da sociedade que corresponda ao lugar do homem na biosfera;
uma ética que reconheça e responda com sensibilidade as relações complexas, e em
contínua evolução, entre o homem e a natureza e com seus similares. (Carta de Belgrado,
1975).

Em 1977 ocorreu o evento mais importante para a evolução da Educação Ambiental, a


Primeira Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental (Conferência de Tbilisi),
realizada em Tbilisi, Geórgia (ex-URSS), prolongamento dos encontros anteriores, a Conferência de
Tbilisi foi considerada o marco histórico do desenvolvimento da Educação Ambiental, pois foi
nesta conferência que foram originados conceitos mais formais sobre essa nova dimensão
educativa, definindo sua natureza, seus princípios, objetivos e características, formulando
recomendações e estratégias pertinentes a toda escala mundial.
955
A Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental de Tbilisi
define como função da educação ambiental criar uma consciência e compreensão dos problemas
ambientais e estimular a formação de comportamentos positivos. Segundo estudos de Dias (2004),
acerca da Declaração da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental, a
Educação Ambiental, deveria constituir em uma educação permanente, com estruturas formais e
não formais, não possuindo distinção de público-alvo, preparando o indivíduo mediante a
compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe
conhecimentos técnicos e qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva com
vistas a melhorar a vida e proteger o meio ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos.
O documento expressa ainda o caráter interdisciplinar da Educação Ambiental; a profunda
interdependência entre a natureza e a sociedade; traz convocações às nações para a incorporação de
conteúdos, diretrizes e atividades ambientais às políticas educacionais, intensificando assim a
divulgação e promoção da Educação Ambiental; fixa o valor e a necessidade da cooperação a níveis
local, nacional e internacional para prevenção e resolução dos problemas ambientais; solicita uma
maior consideração dos aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e de crescimento
econômico e social; e apresenta ainda diversas estratégias de desenvolvimento da Educação
Ambiental.
Em 1979, foi realizado pela UNESCO o Seminário sobre Educação Ambiental para a
América Latina, na Costa Rica. Influenciados pelas discussões vigentes em diversos encontros
internacionais, particularmente a Conferência de Tbilisi, o Seminário da Costa Rica, como ficou
conhecido, auxiliou no estabelecimento e desenvolvimento dos princípios e características da
Educação Ambiental na América Latina.
Uma década após a Conferência de Tbilisi, foi promovido em Moscou, Rússia, o
Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambientais, mais conhecido como Congresso
de Moscou. O objetivo do mesmo era avaliar a situação da Educação Ambiental, dez anos depois de
originados sua base, os progressos alcançados bem como as dificuldades encontradas para sua
realização.
Segundo Pardo Díaz (2002), o Congresso de Moscou propõe, em suma, tornar mais
operacionais as reflexões da Conferência de Tbilisi, elaborando uma estratégia para a introdução da
Educação e Formação Ambiental na década de 90, fixando-se como meta fortalecer as grandes
orientações formuladas em Tbilisi, adaptando-as aos novos problemas. O conjunto de estratégias
instituídas pelo Congresso de Moscou

inclui a introdução da educação ambiental nos planos de estudo de todos os níveis de


ensino, a qualificação de pessoal e a elaboração de materiais didáticos de qualidade.
Também insiste no estabelecimento de canais fluidos de informação e na necessidade de
envolver os meios de comunicação de massas. Em cada item, recordam-se as orientações da
956
Conferência de Tbilisi sobre a questão particular, formula-se um objetivo preciso e propõe-
se uma série de ações específicas para alcançá-lo. (Congresso Internacional sobre Educação
e Formação Ambientais, 1987).

Posteriormente, em 1992, duas décadas depois da realização da Conferência de Estocolmo


em 1972, é realizado no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Conferência Rio-92, como ficou conhecida. Na Conferência foi proposto a
adoção de uma estratégia global, denominada Agenda 21, como um modo de instrumentalização de
uma política mundial a nível internacional. Embora a Educação Ambiental esteja presente em quase
todos os capítulos desse plano de ação para a sustentabilidade no século XXI, especificamente a
Seção IV, Cap. 4, referente à educação, propõe um esforço global para fortalecer atitudes, valores e
ações que sejam ambientalmente saudáveis por meio da promoção do ensino, reorientando-o ao
desenvolvimento sustentável, do aumento da conscientização da população e da promoção do
treinamento de formadores ambientais.
Em 1998, a Conferência de Thessaloniki, em Tessalônica, Grécia, organizada pela
UNESCO, teve como enfoque atividades que contribuíram como o Capítulo 36 da Agenda 21,
sendo por tanto uma continuidade dos trabalhos realizados durante a Conferência de Tbilisi sobre
Educação Ambiental, reaquecida com as discussões sobre a sustentabilidade do mundo na Rio-92.
A Conferência teve como documento final a Declaração de Tessalônica, onde, segundo a mesma, os
principais pontos de destaque são o reconhecimento do papel crítico da educação e da consciência
pública, de considerar a importante contribuição da Educação Ambiental e de fornecer elementos
para o desenvolvimento do programa de trabalho da Comissão de Desenvolvimento Sustentável da
ONU.

Educação Ambiental no Brasil

Os encontros brasileiros sobre Educação Ambiental iniciaram-se somente a partir da


década de 90, mais precisamente em 1991 com o Encontro Nacional de Políticas e Metodologias
para a Educação Ambiental, promovido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) e pela
SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente), no qual adotaram princípios norteadores para a
implementação da Educação Ambiental no Brasil. A Educação Ambiental de acordo com a
elaboração das propostas desse encontro, segundo Dias (2002), deve ser contínua, com uma visão
multi, inter e transdisciplinar, dirigida a todos os níveis de ensino, dando ao indivíduo um perfil
atuante, interativo, analítico, transformador, consciente, participativo e crítico, incentivando a
produção de conteúdos e materiais didáticos adequados e de boa qualidade, de acordo com as
diretrizes para a Educação Ambiental estabelecidas pela UNESCO na Conferência de Tbilisi.

957
Nos anos de 1991 e 1992, foram promovidos pelo Grupo de Trabalho de Formadores
Ambientais do MEC e SEMAN, os Encontros Técnicos de Educação Ambiental em cada região
brasileira, tiveram como objetivos as definições de critérios e estratégias para apoiar e implementar
programas de Educação Ambiental em cada região e promover intercâmbio das experiências em
âmbito regional.
A Educação Ambiental no Brasil é regida pela PNEA (Política Nacional de Educação
Ambiental), estabelecida pela Lei Nº 9795, de abril de 1999, que em seu 1º Artigo reflete Educação
Ambiental como:

os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade. (POLÍTICA, 1999)

Rodriguez e Silva (2009) expõem que o surgimento da Educação Ambiental, é de acordo


com a necessidade de ultrapassar a crise ambiental atual, um dos meios para se adquirir os
conceitos, técnicas e as atitudes necessárias para alavancar uma transformação de valores e atitudes
socioambientais responsáveis.

Projeto Sala Verde

O Projeto Sala Verde, coordenado pela Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do


Meio Ambiente (DEA/MMA), foi inicialmente desenvolvido em 2003, sendo inicialmente
concebido com foco considerável no caráter biblioteca verde, ambiente onde se podem fazer
pesquisas e estudos sobre temas voltados ao meio ambiente, como resposta a contínua demanda por
informações socioambientais produzidas pelo MMA. A partir do desenvolvimento e da evolução
deste Projeto, passou-se a visualizar as Salas Verdes como espaços com múltiplas potencialidades,
que além do acesso às informações, podem desenvolver atividades diversas de Educação Ambiental
como: cursos, palestras, oficinas, eventos, encontros, reuniões, campanhas.
A perspectiva desse projeto é a de potencializar ambientes, espaços e iniciativas já
existentes em diversas instituições, que já desempenham papel e realizam ações com a perspectiva
de disponibilização e democratização de informações ambientais nas localidades e com os públicos
com os quais atuam. Busca maximizar as possibilidades dos materiais distribuídos, colaborando
para a construção de um espaço, que além do acesso à informação, ofereça a possibilidade de
reflexão e construção do pensamento/ação ambiental.
Acima de tudo, as Salas Verdes são ambientes que dispõe de uma série de potencialidades,
quais sejam: ambientais, culturais, sociais, informacionais, de pesquisa, articuladoras, dentre outras,
958
são espaços interativos de informação, educação, formação e ação socioambiental, onde as pessoas
poderão realizar leituras, ouvir, acessar e ver documentos, participar de atividades educacionais e de
eventos promovidos por elas, dentre outras atividades.
Nessa perspectiva, a Sala Verde Água Viva, vinculada ao Laboratório de Geoecologia da
Paisagem e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN), situado no Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Ceará – UFC, busca promover um conjunto de ações visando à
sensibilização dos integrantes diretamente envolvidos nesse processo à manutenção de sistemas
naturais, conciliando atividades econômicas com conservação ambiental, onde natureza e sociedade
mantém uma relação sustentável.
O desenvolvimento das práticas de Educação Ambiental é realizado em diferentes espaços,
abrangendo professores e alunos do Departamento de Geografia da UFC, comunidades tradicionais
no Iguape, município de Aquiraz - CE, comunidade Quilombola da Serra do Evaristo, município em
Baturité - CE, comunidade costeira de Mundaú - CE à escolas públicas de ensino fundamental e
médio do município de Fortaleza, Ceará, a fim de potencializar a informação e a formação de
indivíduos ativo, capazes de gerar modificações que impulsionem transformações sociais.
Para o desenvolvimento dessas atividades, a Sala Verde Água Viva, dispõe de um acervo
bibliográfico sobre Meio Ambiente, Legislação Ambiental, Educação Ambiental, Ecologia,
Recursos Hídricos, Formação Pedagógica, entre outros, produzidas e/ou fornecidas pelo Ministério
do Meio Ambiente, bem como publicações do próprio Departamento de Geografia da UFC,
disponíveis para exposição ou consulta local, o acervo tem por finalidade fundamental ampliar o
acesso à informação acerca das questões ambientais e sociais. A figura 1, mostra alguns livros e
cartilhas do acervo da Sala Verde Água Viva em exposição na Feira de Ciências com alunos do
ensino médio da Escola de Ensino Fundamental e Médio Estado do Paraná, no bairro Montese,
Fortaleza – CE, acerca do Ecossistema Manguezal.

Fonte: do autor, 2012.


Figura 1 – Exposição do acervo Sala Verde Água Viva na EEFM Estado do Paraná.
959
O projeto possui ainda um acervo midiático, com o qual promove através do Cine Sala
Verde, a exibição de filmes, curtas-metragens e documentários que abordam diversos temas, como
utilização de agrotóxicos, alterações climáticas, ecossistema manguezal e cotidiano das
comunidades costeiras, consumismo, impactos ambientais, resíduos sólidos, reciclagem,
degradação, gestão e manejo dos recursos hídricos. As sessões proporcionam em sua conclusão uma
discussão sobre o tema, levando aos participantes a desenvolver questionamentos e reflexões acerca
de questões ambientais. A Figura 2 apresenta alunos da graduação do Departamento de Geografia
da UFC participando da exibição de um documentário acerca da gestão e do manejo dos recursos
hídricos.

Fonte: do autor, 2012.


Figura 2 – Alunos da Graduação participam de Cine Sala Verde.

Dentre outras ações que a Sala Verde exerce, pode-se especificar a realização de cursos e
oficinas de Educação Ambiental que estimulam o enfrentamento das questões ambientais e sociais,
tais como: Desenvolvimento Sustentável, Ecologia dos Ecossistemas Costeiros, A Água no Século
XXI, Reciclagem e Resíduos Sólidos (Figura 3), Consumo Sustentável, Artesanato com produtos
naturais, dentre outros. Os participantes dessas atividades são ―incentivados e informados para
atuarem como agentes multiplicadores dos programas de Educação Ambiental‖. (MEIRELES et al,
2011).

960
Fonte: do autor, 2012.

Figura 3 – Reciclagem de jornal na Comunidade Quilombola da Serra do Evaristo, Baturité, Ceará.

Considerações Finais

A necessidade de uma crescente disseminação de informações acerca da problemática


ambiental, um conhecimento em construção, demanda esforço para o fortalecimento de visões
integradoras que, centradas no desenvolvimento sustentável, estimulem uma reflexão sobre a
diversidade e a construção de conhecimentos em torno das relações sociedade-natureza, dos
impactos ambientais globais e locais e das relações ambiente-desenvolvimento. A educação
ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um espaço para repensar práticas sociais e o papel
dos integrantes como mediadores e transmissores de um conhecimento necessário para que outros
participantes também possam vir a adquirir uma base adequada de compreensão essencial do meio
ambiente, da interdependência dos problemas e soluções e da importância da responsabilidade de
cada um na construção de uma sociedade planetária mais igualitária e ambientalmente sustentável.

Referências

BRASIL. Lei Nº 9.795, de abril de 1999.


DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
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dos modelos aos novos paradigmas. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, n. 6, p. 22-29, jun. 1996.
Disponível em: < http://www.seade.sp.gov.br/produtos/spp/v06n01-02/v06n01-02_05.pdf>. Acesso
em: 24 set. 2012.
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São
Paulo, n. 118, p.189-205, mar. 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf>. Acesso em: 24 set. 2012.

961
MEIRELES, Antônio Jeovah de Andrade et al. Sala Verde água Viva: Educação Ambiental, Cultura
e Cidadania. In: SILVA, Edson Vicente da et al. Educação Ambiental e Indígena: caminhos da
extensão universitária na gestão de comunidades tradicionais. Fortaleza: Edições Ufc, 2011. Cap. 6,
p. 103-121.
PARDO DÍAZ, Alberto. Educação Ambiental como projeto; trad. Fátima Murad. 2.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2002
PNUMA (Ed.). PNUMA no Brasil. Disponível em: <http://www.pnuma.org.br/interna.php?id=44>.
Acesso em: 28 set. 2012.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1994.
RODRIGUES, José Mateo et al. Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável: problemática,
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UNESCO. Carta de Belgrado. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/crt_belgrado>. Acesso em: 30 set. 2012.
UNESCO/PNUMA (Org.). Algumas Recomendações da Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental aos Países Membros. Disponível em:
<http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/coea/Tbilisi>. Acesso em: 01 out. 2012.
< http://www.silex.com.br/leis/normas/estocolmo.htm>. Acesso em: 29 set. 2012.

962
CONCEPÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO SERIDÓ POTIGUÁR
A CONCEPÇÃO AMBIENTAL

ARAÚJO FILHO, Valfredo Pereira de ¹


vpgeografia@yahoo.com.br
BEZERRA DA NÓBREGA, Mariana Lucena²
CHIANCA E SILVA, Igsson Rauan²
ROCHA. Renato de Medeiros³
Licenciado em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, (UFRN)¹
Licenciando em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)²
Orientador Dr. e coordenador do Laboratório de Ecologia do Semiárido (LABESA)³

RESUMO
Numa perspectiva de melhorar os conhecimentos relativos às questões do meio ambiente, a
educação ambiental é trabalhada no ensino do primeiro e segundo grau, nas escolas públicas e
particulares, enquanto a uma possibilidade de instruir indivíduos, para tornarem-se conscientizados,
e aptos a praticarem cidadania. Este trabalho tem por objetivo identificar as concepções ambientais
e práticas pedagógicas dos professores e alunos de escolas públicas e privadas da região do Seridó
potiguar, como também referente à concepção ambiental de alunos do ensino fundamental e médio,
tornando emergentes os discursos dos professores e suas possíveis contribuições para uma retomada
de consciência quanto às questões socioambientais. Neste trabalho de educação ambiental teve a
participação de 23 alunos do curso de geografia bacharelado e licenciatura da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), em escolas do ensino fundamental de 3ª a 9ª ano, e do 1º ao 3ª
ano do ensino médio em várias cidades do interior do Rio Grande do Norte, mas precisamente na
cidade de Caicó. É fácil perceber que todos os alunos questionados tratam o meio ambiente como
sendo a natureza o local onde se vive e da qual são retirados os recursos para a sobrevivência
humana. Assim retratam o meio ambiente numa percepção antrópica, cuja origem se dá na ética
humana de concepção, no que situa o homem dependente do meio natural. Em grande parte das
respostas dos questionários, as concepções de educação ambiental dos entrevistados baseiam-se em
conceitos informacionais comumente sem vínculo de proposta de ação para contribuir para a
preservação do meio ambiente, não havendo mudanças de valore e posturas éticas diante das
questões ambientais. Nesse sentido, este artigo apresenta a ética ambiental como sendo a forma de
analise crítica do contexto contemporâneo no que diz respeito entre a interação do ser humano e a
natureza.
Palavras chaves: educação ambiental, concepção ambiental, formação de conhecimentos.

963
ABSTRACT

In order to improve knowledge concerning the issues of the environment, environmental education
is crafted in teaching first and second grade in public and private schools, while a possibility of
instructing individuals to become aware, and able to practice citizenship. This study aims to identify
the environmental conceptions and teaching practices of teachers and students in public and private
schools in the region Seridó RN, but also on the environmental design of elementary students and
middle, making emerging discourse among teachers and their possible contributions to a resumption
of awareness regarding environmental issues. This environmental education program was attended
by 23 students of geography baccalaureate and graduate of the Federal University of Rio Grande do
Norte (UFRN) in elementary schools 3 rd to 9 th year, and the 1st to 3rd year of high school several
cities in the interior of Rio Grande do Norte, but precisely in the city of Caico. It is easy to see that
all students questioned treat the environment as nature being the place where one lives and which
resources are withdrawn for human survival. Thus portray the environment in a perception
anthropogenic origin which occurs in the human ethics of design, which places the man dependent
on the natural environment. In most of the answers to the questionnaires, the concepts of
environmental education of the respondents are based on concepts commonly informational without
bond proposal for action to help preserve the environment, with no changes valore and ethical
stances on environmental issues. In this sense, this paper presents the environmental ethics as a
form of critical analysis of the contemporary context regarding the interaction between humans and
nature.

Keywords: environmental education, environmental design, training knowledge.

INTRODUÇÃO

O atual desenvolvimento econômico baseia-se na exploração exacerbada dos bens naturais


desencadeando grandes consequências de âmbito social, e econômico e ambiental. As ações
antrópicas estão diretamente relacionadas com a percepção ambiental do ser humano, pois é a partir
desta percepção que o ser humano atua sobre o meio ambiente.
Deve-se observar que a temática ambiental é retratada por muitos educadores como dos
principais referenciais de mudanças no setor da educação. Reigota (1998) citado por Tamoio
(2002), ao discorrer sobre ao desafio da educação ambiental na escola, mostra que:

964
A educação ambiental na escola ou fora dela continuará a se ruma concepção radical de educação, não
por que se refere a 4ª tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim por que
nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacificas (p.
14).

No entanto, a educação ambiental, pelo que se mostra, vem se tornando um instrumento de


desenvolvimento dando um lugar importante nas escolas, quase que exclusivamente na sua
dimensão natural e técnica.
O meio ambiente só é tratado enquanto se refere da questão humana enquanto que o mesmo
não recebe nenhum mérito sem o seu espaço. Desde que se coloca a relação Homem-Meio
Ambiente é íntima, permanente e afetiva, sendo assim, por conseguinte uma reciprocidade
necessária e universal. (OLIVEIRA, 2002,).
Há cinco fatores que são analisados para preferencia da paisagem que são: as características
dos pesquisadores; à medida que são selecionadas para apresentação; o formato de uma resposta; as
feições ambientais relevantes da fisionomia; a natureza de intermediação do cenário específico.
A conclusão e a estética são definidas como: a estima associada com sentimentos de alegria
e a atividade produzida pelo choque com o ambiente (FORMAN & GODRON, 1986). A utilização
de figuras sensibiliza as pessoas e autoriza a memória concepções anterior às imagens vistas.
Para realização desta pesquisa foram escolhidas 07 escolas do ensino fundamental e médio
das cidades de Caicó, São José do Seridó, Santana do Seridó, Jardim do Seridó, Currais Novos, São
João do Sabugi e São Fenando, no estado do Rio Grande do Norte/RN.
A partir das observações, realizadas pelos monitores auxiliares do projeto A Caatinga vai À
Escola, e a aplicação de questionário com questões a cerca do meio ambiente com estudantes do
ensino fundamental e médio que foram selecionados por turma. Cada questionário apresenta uma
quantidade de 10 questões todas relacionado ao meio ambiente.
Com a análise do material coletado foi criado um banco de dados no qual foram observados
e comparados à concepção ambiental de todos os participantes sobre cada questão elaborada, na
qual buscou se identificar o que há de mais significativo na concepção do indivíduo nos diferentes
níveis, com as quais considerou a maturidade das concepções de meio ambiente com cada classe
trabalhada.

965
OBJETVO GERAL

 O presente trabalho tem por objetivo coletar dados e conceitos sobre o meio ambiente
descritos por alunos de diversos níveis de ensino, de forma a perceber a importância dos
mesmos para a humanidade, e perceber como estes são interpretados.

OBJETIVOS

 Verificar se a educação ambiental nas escolas da zona urbana nas cidades do Seridó
potiguar.
 Analisar os conteúdos programáticos para inserção de programas ambientais na comunidade,
valorizando os saberes nas atividades escolares.
 Subsidiar a comunidade escolar com fundamentos teóricos- metodológicos para abordagem
ambiental no cotidiano escolar.
 Observar os conhecimentos do alunado na comunidade e instituições de educacionais de
ensino fundamental e médio.

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido nas escolas de cidades da região do Seridó no estado do Rio
Grande do Norte, mais precisamente na cidade de Caicó, foi baseado na pesquisa-ação, que
possibilita além de conhecer a realidade vivida, como também estudada, o envolvimento das
pessoas que vivem a essa realidade, tanto na questão do realizar, quanto no refazer (FREIRE e
SHOR, 1991), esse fato torna-se importante no desenvolvimento de atividades de extensão, quando
trata de questões necessárias de conhecer a realidade aonde se vai trabalhar, aonde podemos
introduzir conhecimentos tendo como ponto de partida os saberes da comunidade promovendo uma
transformação da pratica pedagógica desenvolvendo nas escolas novos projetos dando prioridade ao

966
conhecimento sistemático numa concepção ambiental, e explorando no cotidiano escolar o tema
meio ambiente.
Esse enfoque visa o melhor desempenho do conhecimento dos alunos e professore para o
desenvolvimento sustentável, exigindo da escola uma resposta às necessidades de introduzir a
educação ambiental no currículo escolar, no qual torna explicito nas ações educativas promovendo
reflexivas as novas atitudes e valores que contribuem para formar cidadãos críticos.
Nessa concepção, a educação está diretamente envolvida com a emergência da qualidade de
vida, e cabe a escola a promoção de novos métodos levando formas de conhecimento, objetivando a
formação de cidadãos conscientes, valorizando e articulando o saber existente. Segundo
(OLIVEIRA, 1989:7), ―cabe ao professor (a) uma nova visão da realidade que transcenda os limites
disciplinares e conceitos do conhecimento‖. Possibilitando assim ao ensino aprendizagem uma nova
forma de apresentar e agregar conhecimentos a comunidade escolar, fortalecendo as relações entre o
que constitui as concepções de cada indivíduo escolar, expandindo se a comunidade na qual
encontra se inserida.
Nesta concepção, a sociedade interpreta o mundo e a natureza visando à sustentabilidade do
planeta, garantindo a qualidade de vida presente e no futuro, da sociedade e das relações humanas
essenciais para um novo modelo de desenvolvimento.
Esse enfoque visa o desenvolvimento sustentável, e exige da escola, uma resposta às
necessidades atuais, e a introdução da educação ambiental no currículo escolar, visando explicitar a
realidade promovendo novas atitudes dando reflexivos valores aos cidadãos.
O trabalho desenvolvido nas comunidades da região do Seridó Potiguar foi explorado
através de aulas e situações nas quais proporcionou aos professores exercitar ―uma nova visão da
realidade que fortalecendo as relações os seres humanos que constituem a comunidade escolar, até
refletir os pensamentos cognitivos dos participantes‖.
Trabalho, no qual os saberes (tanto daquele que ensina como daquele que aprende) foram o
ponto de partida, para, numa atuação crítica, provocando a transformação da prática pedagógica
desenvolvida na escola, abordando o conhecimento sistemático numa concepção ambiental,
explorando no cotidiano escolar, o tema unificador dessa comunidade.
De acordo com Sato (2001, p.8).
Cada pessoa ou grupo social pode ter a sua representação, ou a sua própria trajetória. O que é
inadmissível é que as pessoas livrem-se do poder da criticidade e reproduzam discursos e práticas
orientadas para desmobilização de ED, ora como gestão ambiental ora como uma prática educativa
qualquer.

Perante o exposto, devemos afirmar que a educação ambiental não deva consistir em transmissão de
verdades, e informações, demonstrações em modelos, mas, sim em processo de ação-reflexão que
levem o aluno a aprender por si só, conquistar essas verdades e assim, desenvolver novas estratégias
967
de compreensão da realidade. A metodologia adotada para realização deste trabalho buscou unir
teoria e prática, para que houvesse uma maior abstração dos conteúdos expostos.

FIG 01: aplicação de questionários FIG 02: mostruário de plantas FIG 03: quadros ilustrativos

fonte do autor fonte do autor fonte do autor

RESULTADOS

Foi com o propósito de valorizar a biodiversidade da Caatinga, que este projeto atendeu no
ano de 2010/2011 oito escolas: sendo seis da rede Estadual, uma da rede municipal e uma da rede
privada. Na ocasião foram feitas as visitas nas escolas, enquanto fomos atendidos pelos diretores,
dos quais recebemos o apoio físico e moral, dando-nos suporte para uma boa visão por parte dos
participantes e ouvintes estudantes.
O projeto teve como resultado um bom aprendizado e sensibilização a respeito da
conservação e preservação da biodiversidade da Caatinga, onde foi atendido um público de
aproximadamente 5.700 pessoas entre eles alunos e professores.
Esse projeto é de suma importância porque partir dele que os alunos obtém uma melhor
noção do que seja bioma Caatinga, vale salientar que esse assunto vem sendo esquecido nas salas de
aulas por parte dos educadores, é aí que nota-se a importância do projeto, que tem como objetivo
passar aos alunos/professores informações importantes do que seja a biodiversidade existente em
nosso bioma.

TABELA 01: Número de alunos das Escolas visitadas no ano de 2010 a 2011

ESCOLAS CIDADES DAS ESCOLAS NÚMERO DE ALUNOS


VISITADAS NO ANO DE VISITADAS ATENDIDOS NAS ESCOLAS
2010 A 2011

Escola Municipal Raul de São José do Seridó/RN 571


Medeiros Dantas

Escola Estadual M São Fernando/RN 340


Walfredo Gurgel

968
Escola Estadual J Santana do Seridó/RN 460
Vilar da Cunha

Centro Educacional Jardim do Seridó/RN 908


Felinto Elísio

Escola Estadual M 490


Walfredo Gurgel Caicó/RN

Escola Estadual São João do Sabugi/RN 550


Senador José Bernardes

Escola Estadual Calp. Caicó/RN 500


Caldas de Amorim

SESC/Seridó Caicó/RN 500

Número de alunos/escolas visitados/total 5.613

CONCLUSÃO

Dessa forma o ensino de educação ambiental é de suma importância para as atuais e


futuras gerações, esse ensino se da principalmente nas escolas. A escola é o espaço social e o local
onde o aluno dará sequência ao seu processo de socialização.
O que nela se faz se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a sociedade
deseja e aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no
cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis.
É fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas
pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade
socialmente justa, em um ambiente saudável.
É por isso, que o projeto ―A Caatinga vai À escola‖ é importante, porque é uma forma que
o aluno tem de aprender sobre o bioma da região na qual mora. Notamos que em alguns casos
alguns alunos nem sabiam o significado da palavra Caatinga, isso mostra que as escolas não vêm
trabalhando sobre esses temas.
Daí a importância do projeto, porque é a partir dele que os alunos principalmente das
escolas publicas aprendem a respeito do bioma Caatinga e de como conservar e preservar a
biodiversidade existente.
Dessa forma, as aulas de Educação Ambiental foram realizadas por meio de banners,
palestras, aulas ministradas pelos monitores do projeto discutindo sobre o bioma Caatinga,
969
mostrando e proporcionando a sensibilização do publico sobre a temática ambiental do bioma
Caatinga na Região do Seridó Potiguar, permitindo uma reflexão sobre a importância do bioma
Caatinga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje em dia, o estrato vegetal da Caatinga encontra-se em estado muito devastado, em


quase todos os lugares, sua biota está bastante reduzida comparando com a vegetação intacta. Isso é o
resultado de um conjunto de ações prejudiciais praticadas pela população que não estava consciente
dos efeitos em longo prazo, já que a natureza vigorosa parecia recuperar qualquer dano. Assim,
práticas que em pequena escala não causavam maiores danos, foram aplicadas em grande escala,
ultrapassando a capacidade de recuperação natural (MAIA, 2004). A vegetação nativa existente nas
margens dos cursos d‘água é na maioria das vezes retirada para a plantação de pequenas roças, como
o plantio de culturas de milho, feijão e melancia, por exemplo, como também, para atividades de
pisciculturas e de lazer que acabam gerando impactos no ambiente.
Dentre os problemas encontrados, a ação antrópica é a principal modeladora do espaço,
causando uma degradação ambiental que gera perdas de espécies nativas da nossa flora e fauna, além
de provocar o desequilíbrio. É relevante a análise dos impactos negativos ocorrentes nesse meio
como uma perspectiva de se apontar propostas de manejo capazes de minimizar os seus efeitos e até
prevenir futuras ações impactantes (LACERDA, 2003). Depois de realizado este trabalho, espera-se
que os resultados venham a contribuir para a tomada de decisões no que concerne ao manejo
sustentável do bioma Caatinga, além de contribuir na mudança da metodologia aplicada pelo
educando em relação ao Bioma Caatinga.

Bibliografia
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Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

FREIRE, P e SHOR, I. Medo e ousadia – o cotidiano do professor. 7ª ed.. Rio de Janeiro: Paz
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LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ:


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LUCK, H. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos. 2ª ed. Petrópolis, RJ:


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MAIA, Guerda Nickel. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo/SP: D&Z
Computação Gráfica e Editora 2004.
970
OLIVEIRA, A.B. A unidade esquecida: homem-universo. Rio de Janeiro, Espaço e Tempo, 1999.

SATO, M. (2001). Debatendo os desafios da educação ambiental. In: Congresso de Educação


Ambiental Pró Mar de Dentro, 1. 2001. Rio Grande. Anais... Rio Grande: Mestrado em Educação
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contemporâneo: um paradigma de interação comunicacional dialógica. Tese (Doutorado) – UFRJ,
Escola de Comunicação, 2002.

TAMOIO, I. A Meditação o professor na construção de conceito de natureza. Campinas, 2000.


Dissert. (Mestr.) FE/UNICAMP.

971
BREVES RELAÇÕES: CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDIAIS, EDUCAÇÃO
AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Viviane Silva dos SANTOS


Graduanda em Gestão Ambiental Universidade de Brasília/Campus de Planaltina
vivi2_unb@hotmail.com

RESUMO
Desde a Conferência de Estocolmo (1972) existe uma preocupação de que o crescimento
exponencial da população e o atual modelo de produção e consumo modifiquem as condições
ambientais da Terra, causando a degradação do meio ambiente. Duas décadas se passaram, desde a
realização da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (1992),
considerada a mais importante conferência ambiental mundial realizada até hoje. Mesmo depois de
tanto tempo, o que se verifica é que ainda há muito a fazer na agenda socioambiental mundial
proposta durante o encontro no Rio de Janeiro. Com o objetivo de assegurar um comprometimento
político renovado para o desenvolvimento sustentável e avaliar o progresso feito até o momento,
além de abordar os novos desafios emergentes, o Brasil sediou novamente o encontro organizado
pela Organização das Nações Unidas (ONU), marcado de 13 a 22 de junho de 2012. É com base
neste contexto que o presente documento tendo como ferramenta a educação ambiental tem como
objetivo fazer uma reflexão sobre a importância do consumo consciente como elemento de
desenvolvimento sustentável e promoção da cidadania na sociedade contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Conferência ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Educação
Ambiental, Cidadania.

ABSTRACT
Since the Stockholm Conference (1972) there is a concern that the exponential growth of population
and the current model of production and consumption modify environmental conditions on Earth,
causing the degradation of the environment. Two decades have passed since realization the United
Nations Conference on social environment and development (1992), considered the most important
global environmental conference held today. Even after so long what is checks is that there is still
much to do in the global social environmental agenda proposed during the meeting in Rio de
Janeiro. Aiming to secure a renewed political commitment to sustainable development and assess
the progress made so far, in addition to addressing the new challenges emerging, Brazil hosted
again the meeting organized by the United Nations (UN), marked from 13 to June 22, 2012. It is
based in this context that the present document have tool environmental education as aims to reflect

972
on the importance of conscious consumption as an element of sustainable development and
promoting citizenship in contemporary society.
KEYWORDS: Environmental Conference, Sustainable Development, Environmental Education,
Citizenship.

INTRODUÇÃO
Desde a primeira Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (ECO 92), movimentos populares,
organizações sociais, associações profissionais, fóruns e redes nacionais e internacionais da
sociedade civil assumiram o desafio de construir um modelo de sociedade e de vida urbana
sustentável, baseado nos princípios de solidariedade, liberdade, igualdade, dignidade e justiça
social.
O meio ambiente é um conjunto de forças e condições que cercam todos os seres vivos no
Planeta Terra, constituído de elementos bióticos (condições de alimentação, educação, modo e
qualidade de vida na sociedade, saúde e entre outros) e abióticos (clima, solo, pressão, iluminação,
água e etc.). O equilíbrio e a manutenção de ambos os elementos são necessários para uma melhor
ambiência a todos os seres vivos do Planeta Terra. As atividades antrópicas, como a industrialização
e urbanização, acabam indo de encontro à proposta de uma ambiência melhor, porque provocam
diversos problemas, danos e impactos ambientais, com destaque para a questão dos resíduos
sólidos, do consumo demasiado de produtos industrializados e do excesso de lixo produzido pela
sociedade, entre outros, acarretando um distanciamento da sustentabilidade. O padrão de vida e de
consumo do homem atual está ocasionando a insustentabilidade em relação aos recursos naturais de
que o Planeta Terra dispõe. As atividades antrópicas relacionadas ao padrão de vida e consumo
devem ser modificadas por meio da conscientização e sensibilização das pessoas, visando a
encontrar um padrão de vida e consumo que busque a sustentabilidade (Bervig, 2010).
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) que
ocorreu no Brasil de 13 a 22 de junho de 2012 marcando o 20º aniversário da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), que também ocorreu no Rio
de Janeiro em 1992, e o 10º aniversário da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável
(WSSD), ocorrida em Johanesburgo em 2002. Com a presença de Chefes de Estado e de Governo a
Conferência é pautada pela resolução ONU GA 64/236 de 24/12/2009, que definiu como seus
objetivos: assegurar um comprometimento político renovado para o desenvolvimento sustentável;
avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existem na implementação dos
resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável e abordar os desafios novos
e emergentes. Os dois temas em foco na Conferência foram: (a) uma economia verde no contexto

973
do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e (b) o quadro institucional para o
desenvolvimento sustentável.

HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL DAS NAÇÕES UNIDAS


Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo trouxe as nações industrializadas e em desenvolvimento um conjunto para delinear os
"direitos" da família humana a um ambiente saudável e produtivo. Uma série de reuniões seguidas,
por exemplo, sobre os direitos das pessoas à alimentação adequada, ao som moradia, à água
potável, ao acesso aos meios de planeamento familiar. O reconhecimento de revitalizar a conexão
da humanidade com a natureza levou à criação de instituições globais dentro do sistema da ONU.
Em 1980, a União Internacional para a Conservação dos Recursos Naturais (IUCN)
publicou a Estratégia de Conservação Mundial (WCS), que forneceu um precursor do conceito de
desenvolvimento sustentável. A Estratégia afirmou que a conservação da natureza não pode ser
alcançada sem o desenvolvimento de aliviar a pobreza e miséria de centenas de milhões de pessoas
e destacou a interdependência de conservação e de desenvolvimento em que o desenvolvimento
depende de cuidar da Terra. A menos que a fertilidade e produtividade do planeta sejam salvos e
guardados, o futuro da humanidade está em risco.
Dez anos mais tarde, no plenário 48 da Assembleia Geral, em 1982, a iniciativa WCS
culminou com a aprovação da Carta Mundial para a Natureza. A Carta afirma que "a humanidade é
parte da natureza e da vida depende do funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais".
Em 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED) foi
criada e, em 1984, foi constituída como um órgão independente pela Assembleia Geral das Nações
Unidas. WCED foi convidado a formular "Uma agenda global para a mudança". Em 1987, no seu
relatório Nosso Futuro Comum, o WCED avançou a compreensão da interdependência global e as
relações entre a economia e o ambiente previamente introduzida pela WCS. O relatório entrelaçou
as questões sociais, econômicas, culturais e ambientais e soluções globais. Ele reafirmou que "o
meio ambiente não existe como uma esfera separada de ações humanas, ambições e necessidades, e,
portanto, não deve ser considerado isoladamente de preocupações humanas. E o desenvolvimento é
o que todos nós fazemos na tentativa de melhorar o nosso muito dentro dessa morada. Os dois são
inseparáveis".
Em junho de 1992, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio de Janeiro, e adotada uma agenda de meio ambiente
e desenvolvimento no século 21, a Agenda 21, um programa de ação para o Desenvolvimento
Sustentável que contém a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e reconhece
o direito de cada nação buscar o progresso econômico e social e, é atribuído aos Estados à
974
responsabilidade de adoptar um modelo de desenvolvimento sustentável, e, a Declaração de
Floresta Princípios. Acordos foram também alcançados sobre a Convenção sobre Diversidade
Biológica e da Convenção sobre Mudança do Clima. A UNCED pela primeira vez mobilizou os
grandes grupos e legitimada a sua participação no processo de desenvolvimento sustentável. Essa
participação tem se mantido uma constante até hoje. Pela primeira vez também, o estilo de vida da
civilização atual foi abordado no Princípio 8 da Declaração do Rio. A urgência de uma profunda
mudança nos padrões de consumo e produção foi expressa e amplamente reconhecida por líderes de
Estado. A Agenda 21 reafirmou ainda que o desenvolvimento sustentável foi delimitado pela
integração dos pilares econômico, social e ambiental. O espírito da conferência foi capturado pela
expressão "Harmonia com a Natureza", que foi o primeiro princípio da Declaração do Rio: "Os
seres humanos estão no centro das preocupações para o desenvolvimento sustentável. Têm direito a
uma vida saudável e produtiva vida em harmonia com a natureza".
Em 1993, CNUMAD instituiu a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) para o
acompanhamento da implementação da Agenda 21. Em junho de 1997, a Assembleia Geral
dedicou a sua 19 ª Sessão Especial (UNGASS-19) para projetar um "Programa de Implementação
da Agenda 21". Em 2002, dez anos após a Declaração do Rio, uma conferência de seguimento, a
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS) em Johanesburgo foi convocada para
renovar o compromisso global para o desenvolvimento sustentável. A conferência decidiu aprovar o
Plano de Implementação de Johanesburgo (JPOI) e ainda encarregou o CSD para acompanhamento
da implementação do desenvolvimento sustentável. Em 24 de Dezembro de 2009 a Assembleia
Geral da ONU aprovou uma resolução (A/RES/64/236) concordando em manter a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) em 2012 - também conhecida como
Rio + 20.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA


SUSTENTABILIDADDE E DA CIDADANIA
O futuro do planeta Terra depende do equilíbrio do meio ambiente. Sem uma relação
harmônica e equilibrada entre o ser humano e a natureza, não há como assegurar a saudável
qualidade de vida no presente, e fica comprometida a existência das futuras gerações.
Diante deste panorama, percebe-se a necessidade de se buscar uma nova ética, regida por
um sentimento de pertença mútua entre todos os seres. A ética sempre esteve preocupada com as
questões de existência do homem, mas agora deve voltar-se principalmente para a sua inter-relação
com o planeta – uma ética voltada a um relacionamento equilibrado entre a natureza e o ser
humano. De modo que é necessária a construção de uma ética ambiental voltada ao futuro, para que

975
o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado possa ser assegurado para as
presentes e futuras gerações (Sirvinskas, 2002).
Deve-se buscar a consciência ecológica através da educação ambiental fundamentada na
ética ambiental (Sirvinskas, 2002). A educação ambiental é definida pelo art. 1º da Lei 9.795/99
como o conjunto de processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A
própria Constituição Federal estabelece que é dever do Poder Público ―promover a educação
ambiental em todos os níveis do ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente‖ (art. 225, §1º, VI/CF). O artigo 2º da Lei 9.795/99 assim estabelece: ―A educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não formal‖.
A preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica, e a formação
desta consciência depende da educação e, em particular, da educação ambiental. Nesse processo de
formação de uma nova consciência voltada para a preservação do planeta é essencial à educação do
consumidor, com a conscientização da importância de novos hábitos de consumo, visto que grande
parte dos problemas ambientais presentes é fruto dos padrões impostos pela economia de mercado
através da publicidade, difundida pelos meios de comunicação de massa, impondo um estilo de vida
insustentável e inatingível para a maioria. A educação deve passar a adquirir novos significados na
construção de uma sociedade sustentável, democrática, participativa e socialmente justa, capaz de
exercer efetivamente a solidariedade com as gerações presentes e futuras. E se não chega a ser um
sinônimo de solução, a educação é, sem dúvida, o melhor caminho para melhorarmos a nossa
sociedade (Gomes, 2006).
O modelo econômico vigente atualmente proporciona e induz a um alto padrão de
consumo, que, mesmo ao alcance de poucos, é insustentável pelos danos que acarreta para o meio
ambiente. Diante desse cenário, para que o desenvolvimento siga no caminho da sustentabilidade é
preciso alterar os padrões de consumo.
O termo sociedade de consumo é uma das inúmeras tentativas de compreensão das
mudanças que vêm ocorrendo nas sociedades contemporâneas. Refere-se à importância que o
consumo tem ganhado na formação e fortalecimento das nossas identidades e na construção das
relações sociais. Assim, o nível e o estilo de consumo se tornam a principal fonte de identidade
cultural, de participação na vida coletiva, de aceitação em um grupo e de distinção com os demais.
Podemos chamar de consumismo a expansão da cultura do ―ter‖ em detrimento da cultura do ―ser‖.
O consumo invade diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política. Neste processo, os
976
serviços públicos, as relações sociais, a natureza, o tempo e o próprio corpo humano se transformam
em mercadorias. Até mesmo a política virou uma questão de mercado, comercializando a
participação cívica e misturando valores comerciais com valores cívicos. Isto seria uma ―vitória‖ do
consumo como um fim em si mesmo. O consumo passa a ser encarado, mais do que um direito ou
um prazer, como um dever do cidadão. Seja como for, o consumismo, que emergiu na Europa
Ocidental no século XVIII, vem se espalhando rapidamente para distintas regiões do planeta,
assumindo formas diversas. O início do século XXI está sendo marcado por profundas inovações
que afetam nossas experiências de consumo, como a globalização, o desenvolvimento de novas
tecnologias de comunicação, o comércio através da internet, a biotecnologia, o debate ambientalista
etc.. Ao mesmo tempo, novos tipos de protestos e reações ao consumismo emergem, exigindo uma
nova postura do consumidor (Manual de Educação para o Consumo Sustentável, 2005).
De acordo com Spínola,
―Para adotar a ética da vida sustentável, os consumidores deverão reexaminar seus valores
e alterar seu comportamento. A sociedade deverá estimular os valores quer apoiem esta ética e
desencorajar aqueles incompatíveis com um modo de vida sustentável‖. (Spínola, 2001, p. 213).
A partir do crescimento do movimento ambientalista, surgem novos argumentos contra os
hábitos ostensivos, perdulários e consumistas, deixando evidente que o padrão de consumo das
sociedades ocidentais modernas, além de ser socialmente injusto e moralmente indefensável, é
ambientalmente insustentável. A crise ambiental mostrou que não é possível a incorporação de
todos no universo de consumo em função da finitude dos recursos naturais. O ambiente natural está
sofrendo uma exploração excessiva que ameaça a estabilidade dos seus sistemas de sustentação
(exaustão de recursos naturais renováveis e não renováveis, desfiguração do solo, perda de florestas,
poluição da água e do ar, perda de biodiversidade, mudanças climáticas etc.). Por outro lado, o
resultado dessa exploração excessiva não é repartido equitativamente e apenas uma minoria da
população planetária se beneficia desta riqueza. Assim, se o consumo ostensivo já indicava uma
desigualdade dentro de uma mesma geração (intrageracional), o ambientalismo veio mostrar que o
consumismo indica também uma desigualdade intergeracional, já que este estilo de vida
ostentatório e desigual pode dificultar a garantia de serviços ambientais equivalentes para as futuras
gerações (Manual de Educação para o Consumo Sustentável, 2005).
O consumo sustentável utiliza os recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais,
sem comprometer as necessidades e aspirações das gerações futuras. O consumo consciente e
responsável é a principal manifestação de responsabilidade social do cidadão. A responsabilidade
social é uma nova consciência do contexto social e cultural no qual se inserem as empresas e os
cidadãos. Ela pode ser entendida como a contribuição direta destes para o desenvolvimento social e

977
a criação de uma sociedade mais justa e igualitária, por meio da condução correta de seus negócios
e de suas ações pessoais (Gomes, 2006).
O consumidor deve ser incentivado a fazer com que o seu ato de consumo seja também um
ato de cidadania, ao escolher em que mundo quer viver. Cada pessoa deve escolher produtos e
serviços que satisfaçam suas necessidades sem prejudicar o bem-estar da coletividade, seja ela atual
ou futura. O conceito de cidadania sempre esteve fortemente atrelado à noção de direitos,
especialmente os políticos. De maneira a permitir que o indivíduo intervenha, participe das decisões
dos negócios públicos do Estado, de modo direto ou indireto. Desde a formação do governo e de
sua administração. E esses direitos também são acompanhados de uma contrapartida de deveres em
prol da coletividade, ou seja, o respeito aos direitos individuais e coletivos que trazem benefícios à
sociedade em geral (Canto, 2008).
Se cidadania é essencialmente respeito aos direitos coletivos, sustentabilidade também é,
pois se tivermos noção dos direitos e deveres coletivos e das nossas responsabilidades individuais,
estaremos caminhando em direção a um mundo mais harmônico, gentil e respeitoso entre humanos
e, consequentemente, também em relação a todas as espécies que nos cercam. Afinal, o respeito que
devemos ter por nosso semelhante deve ser o mesmo destinado às plantas, árvores e animais (Canto,
2008).
Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante,
ciberespaço, multimídia, internet, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar
e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade
de vida. Ou seja, a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a
co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover o
desenvolvimento sustentável (Jacobi, 2003).

INICIATIVAS VOLTADAS À MUDANÇA DE ATITUDES


Com o objetivo de despertar as pessoas sobre a importância do consumo consciente como
elemento de desenvolvimento sustentável e promoção da cidadania propõem se algumas iniciativas
têm como instrumento a educação ambiental. As propostas são compartilhadas através de mostras,
fóruns, debates e feiras envolvem metodologias específicas voltadas para a inserção da Educação
Ambiental interdisciplinarmente, buscando promover uma relação ética de respeito à vida em sua
totalidade.
 Oficina de campo, uma aventura nos biomas brasileiros: objetiva através de trilhas
interpretativas conscientizar os participantes sobre a importância destes ambientes
relacionando conhecimento empírico e científico, apontando ações para sua conservação e
preservação.
978
 Exposição de fotografias retratando nosso meio: possibilita através da mostra de espaços
fotografados a discussão sobre a importância de cada espaço, seu estado de conservação e
responsabilidade de todos no cuidado ambiental.
 Oficina de reutilização reeducando hábitos: através de fóruns e palestras, participantes
embasam seu conhecimento sobre a crescente produção de lixo e a necessidade de mudanças
de hábito, a importância da reciclagem e reutilização e da coleta seletiva, qualidade de vida,
dignidade humana, e a responsabilidade social e do poder público.
 Feira de trocas vivendo a sustentabilidade: objetiva propiciar uma reflexão sobre o consumo,
a acumulação desnecessária, o lucro elevado e o descarte excessivo de produtos e materiais
colocando em prática os princípios da economia solidária que valoriza a solidariedade, a
cooperação, os diferentes saberes e fazeres e o equilíbrio socioambiental.
 Redes e cooperativas de consumo: objetiva permitir aos consumidores escapar, mesmo que
temporariamente, das relações de exploração existentes na esfera do consumo, procurando
fortalece uma percepção coletiva sobre a exploração e os abusos que acontecem nesta esfera.
 Vivenciando a economia solidária: é uma prática de colaboração e solidariedade, inspirada
em valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade
econômica, ao invés da acumulação da riqueza e de capital. Baseia-se numa globalização
mais humana e valoriza o trabalho, o saber e a criatividade, buscando satisfazer as
necessidades de todos e combater a exclusão social.
 Forum Conferências sobre Meio Ambiente: objetiva destacar a importância desses espaços
para a discussão do futuro do planeta. Trata-se de uma atividade que pretende promover um
diálogo sobre sustentabilidade e participação civil contando com pessoas que vivenciaram as
discussões nas diversas conferências ambientais mundiais de modo a repassar suas
experiências e perspectivas.

CONCLUSÃO
Ao longo do desenvolvimento desse projeto procurou se mostrar que a adoção da educação
ambiental como instrumento de promoção da sustentabilidade e da cidadania pode propiciar aos
indivíduos um olhar mais reflexivo e crítico sobre o seu fazer e participar ―cidadão‖ no espaço que
vivem. As tomadas de decisão, as reflexões e o exercício da cidadania objetivadas com as
atividades produzem repercussão na formação de cada individuo, na construção de novos valores e
na relação mantida entre eles e o meio, possibilitando o desenvolvimento e aprendizagens
individuais e coletivas. A busca por essa experiência nos leva a concluir que a Educação Ambiental
alimenta o processo de construção do indivíduo consciente de sua conexão com o mundo e o

979
próximo, devendo ser pensada como um caminho de muitas possibilidades de aprender a viver
considerando a complexidade das inter-relações entre os seres vivos e o futuro do planeta.
Diante das consequências de nossa degradação onde depositamos toda a fé na capacidade
da tecnologia de nos tirar da crise sem mudar nosso estilo de vida poluidor e consumista é preciso
procurar um novo caminho para seguir, um caminho fundado numa relação saudável com o planeta,
reconhecendo que somos parte do mundo natural. É necessário abandonar o atual modelo de
desenvolvimento, que busca apenas o crescimento econômico, o lucro, e buscar um modelo de
desenvolvimento que respeite a natureza e utilize de modo racional os recursos naturais. É preciso
questionar os valores impostos pela sociedade de consumo, e buscar novos modelos para a vida em
sociedade. Expressões como consumo sustentável, consumo responsável e consumo ético surgiram
como forma de introduzir a preocupação com aspectos sociais, e não só ecológicos, nas atividades
de consumo. Os consumidores devem incluir, em suas escolhas de compra, um compromisso ético,
uma consciência e uma responsabilidade quanto aos impactos sociais e ambientais que suas
escolhas e comportamentos podem causar em ecossistemas e outros grupos sociais. A
sustentabilidade não pode ser vista como mero modismo ou uma utopia, um sonho inalcançável,
mas como uma necessidade para a sobrevivência do planeta Terra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Militar de Santa Maria. Revista Eletrônica Mestrado Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, v. 24,
2010.
CANTO, Reinaldo. Cidadania e Sustentabilidade: tudo a ver. Agencia Envolverde, 2008.
CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de Educação. Brasília: Consumers International/ MMA/
MEC/IDEC, 160 p. 2005.
GOMES, Daniela Vasconcellos. Educação para o Consumo Ético e Sustentável. Revista eletrônica
Mestrado Educação Ambiental. ISSN 1517-1256, v.16, 2006.
JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, nº 118,
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SIRVINSKAS, Luís Paulo. Meio ambiente e cidadania. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos.
Bauru, n. 35, p. 305-307, ago. 2002.
SPÍNOLA, Ana Luiza. Consumo sustentável: o alto custo dos produtos que consumimos. Revista
de Direito Ambiental. São Paulo, v. 6, n. 24, p. 209-216, out-dez, 2001.
HTTP://www.rio20.info/2012

980
POR UMA EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NUMA
PERSPECTIVA AMBIENTAL109

Danilo dos Reis Cardoso PASSOS (CCAAB/UFRB)


danilocpassos@hotmail.com, estudante
Fabiane Pereira Machado DIAS (CCAAB/UFRB
bia-machado@hotmail.com, estudante
Daniel Melo de CASTRO (CCAAB/UFRB)
danielmec@gmail.com, profissional
Resumo

Perante as transformações que sociedade na qual estamos inseridos vem sofrendo nas últimas
décadas, percebe-se que a questão ambiental tornou-se parte essencial do cotidiano da população.
Em um momento em que experimentamos uma crise ambiental em função das mudanças climáticas,
escassez de água doce e limpa, produção monumental de lixo, destruição da biodiversidade, uso
indiscriminado de agrotóxicos, crescimento desordenado e caótico das cidades, entre outros fatores
que geram desequilíbrio e instabilidade deixando em dúvida o futuro do planeta; diante dos
problemas ambientais relatados, é essencial que as novas gerações possam ter em seus currículos
escolares a dimensão ambiental porque a escola é um lugar ideal para que esse processo aconteça.
Neste sentido, a Educação Ambiental exerce um papel importante enquanto um meio que possibilite
a formação de cidadãos críticos e atuantes diante da sociedade, desenvolvendo formas conscientes
de consumo com o intuito de preservar o meio ambiente. O presente artigo objetivou avaliar o
conhecimento de alunos do ensino médio na cidade de Cruz das Almas, aplicando-se um
questionário aos alunos de duas escolas, sendo uma de Ensino Médio pública e uma particular sobre
produtos orgânicos e seus hábitos alimentares, além de desenvolver atividades teóricas e práticas
diretamente relacionadas aos impactos sociais, ambientais e econômicos causados pela
modernização da agricultura.
Palavras-chaves: meio ambiente; mudanças climáticas; alimentos orgânicos; agricultura.

Abstract

Given the changes that society in which we operate has undergone in recent decades, it is
clear that the environmental issue has become an essential part of everyday life of the population.

109
Projeto que está sendo desenvolvido na cidade de Cruz das Almas no Recôncavo da Bahia.

981
At a time when we experience an environmental crisis due to climate change, scarcity of fresh water
and clean production monumental waste, biodiversity destruction, indiscriminate use of pesticides,
and chaotic sprawl of cities, among other factors that cause imbalance and instability leaving in
doubt the future of the planet; reported on environmental issues, it is essential that new generations
may have in their curricula the environmental dimension because the school is an ideal place for
this process to happen. In this sense, the Environmental Education plays an important role as a
medium that enables the formation of critical and active citizens in society, developing ways
conscious consumer in order to preserve the environment. This paper aims to assess the knowledge
of high school students in the city of Cruz das Almas, applying a questionnaire to students from two
schools, one high school and a particular public about organic products and their eating habits, and
develop theoretical and practical activities directly related to social, environmental and economic
impacts caused by the modernization of agriculture.
Keywords: environment, climate change, organic food, agriculture.

Introdução

Assistiu-se a partir da década de 1960, um processo de modernização da agricultura


brasileira. Assim, procura-se demonstrar a significância do artifício de modernização e suas
consequências, bem como a atual dinâmica produtiva do país, destacando-se o desenvolvimento
sustentável. A análise do processo de modernização enseja um debate teórico e pode ser sintetizado
em duas consequências: uma os impactos ambientais, com os problemas mais frequentes,
provocados pelo padrão de produção de monocultura foram: a destruição das florestas e da
biodiversidade genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos;
a outra, os impactos socioeconômicos, causadas pelas transformações rápidas e complexas da
produção agrícola, implantadas no campo, e os interesses dominantes do estilo de desenvolvimento
adotado provocaram resultados sociais e econômicos (BALSAN, 2006).
A modernização da agricultura chamada Revolução Verde pós-segunda guerra mundial
surgiu com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola baseando-se na tese de Malthus,
segundo o qual ocorreria um descompasso entre o crescimento populacional, de proporções
geométricas e o crescimento alimentar de proporções aritméticas, como instrumento de
transformação e desenvolvimento do espaço rural que ora trouxe prosperidade, ora decadência. O
discurso que sustentou esse modelo era garantir alimentação farta e sadia para todos, porém no
mundo ainda existem quase 870 milhões de pessoas passando fome no mundo, ou seja, 12,5% da
população mundial indica um relatório sobre o biênio 2010-2012 divulgado, pela Organização das

982
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), evidenciando o fracasso da revolução verde,
o que nos leva a perceber que a fome não é uma questão técnica e sim política.
No entanto, tal padrão de produção não é mais unanimidade e o aumento da produtividade
em detrimento à qualidade do produto gerado, vem sendo amplamente questionado nos países mais
desenvolvidos. Os produtores se veem cada vez mais dependentes de insumos químicos
dispendiosos, custos de produção elevados e preços pouco estimulantes aos seus produtos, e por
outro lado, os consumidores passaram a ver neste modo de produção, um risco ao meio ambiente e
à própria saúde. (SOUZA & ALCANTARA s/d)
Dados demonstram que o os alimentos livres de agrotóxicos devem ser encarados como um
próspero nicho de mercado movimentando, em termos globais e regionais, uma fatia considerável
de recursos físicos e financeiros. Esse impulso é resultado de um consumidor mais consciente, que
busca uma melhor qualidade de vida através do consumo de alimentos mais saudáveis e
absolutamente naturais. Mas, para que haja a expansão desse novo comportamento se faz necessária
uma melhor e maior troca de informações, fundamentais e imprescindíveis para o esclarecimento
sobre a amplitude do mercado (FLEURY & LIMA).
Em um momento em que o mundo experimenta uma crise ambiental em função
das mudanças climáticas, escassez de água doce e limpa, produção monumental de lixo, destruição
da biodiversidade, transgenia irresponsável, uso indiscriminado de agrotóxicos, crescimento
desordenado e caótico das cidades, entre outros fatores que geram desequilíbrio e instabilidade
deixando em dúvida o futuro do planeta, torna-se urgente mobilizar a comunidade na busca por
alternativas sustentáveis, incentivando as escolas e instituições de ensino a prepararem a
comunidade para o desafio. Para gerar um novo entendimento sobre os problemas ambientais nos
quais estamos inseridos surge à educação ambiental como umas das possíveis estratégias para
formar cidadãos conscientes, uma vez que a educação é o principal instrumento para promover
transformações e melhorias em todos os setores da sociedade.
A preservação ambiental tornou-se um desafio para a melhoria da qualidade de vida e a
sociedade começou a cobrar das escolas uma educação voltada para conscientização ambiental
(SANTANA & ARAÚJO, 2011). Quando nos referimos à Educação Ambiental relacionamos o
tema meio ambiente como foco central da educação. Entretanto, a educação ambiental é mais que o
ensino de ciências e de ecologia, pois tem como objetivo mudanças de atitudes, cuidado e respeito
dos sujeitos com o ambiente (TOZONI-REIS, 2004).
Segundo Mano (2005), a educação ambiental passa a ser mola propulsora para uma solução
ambiental do planeta, sendo possível apenas ter um meio ambiente saudável para gerações futuras
se nossa sociedade atual educar-se ambientalmente.

983
A educação ambiental permite ao cidadão pensar o ambiente de forma consciente,
preocupando-se com os problemas ambientais e socioeconômicos desenvolvendo uma reflexão e
raciocínio crítico com relação ao meio, dessa forma, despertando habilidades para trabalhar
individual e coletivamente buscando mudar seus hábitos e atitudes em busca de soluções para
resolver os problemas atuais e prevenir os futuros.
Diante do exposto, na presente pesquisa objetivou-se avaliar o conhecimento de alunos do
ensino médio de duas escolas no município de Cruz das Almas, Bahia sobre produtos orgânicos e
seus hábitos alimentares. Em paralelo foi assumida a responsabilidade de esclarecer também aos
estudantes sobre os impactos sociais, ambientais e econômicos causados pela modernização da
agricultura iniciando um amplo diálogo sobre meio ambiente.

Material e métodos

As escolas escolhidas para a realização deste trabalho, como parte das atividades do projeto
―ORGÂNICOS: Sabor sem Veneno‖ apoiado pelo CCAAB/UFRB, foi uma escola estadual e uma
escola particular, localizadas em Cruz das Almas, Bahia, sendo que essa segunda funciona em
período integral. A atividade foi realizada com alunos do ensino médio no horário normal de aula.
Foram realizadas atividades práticas pedagógicas que proporcionassem uma educação
voltada à construção cidadã dos alunos. Dentre as atividades realizou-se leitura de textos sobre
problemas ambientais, apresentações de vídeos sobre os efeitos contraproducentes dos agrotóxicos
no meio ambiente e na saúde humana, além da distribuição de mudas de girassol mexicano
(Tithonia rotundifolia) e de cartilhas informativas sobre o tema.
A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de questionários com 10 questões
objetivas, aplicado antes da realização das atividades programadas, objetivando respostas sem
qualquer tipo de interferência derivada das atividades planejadas; tendo como finalidade investigar
o conhecimento dos alunos sobre produtos orgânicos e conhecer seus hábitos alimentares.

O questionário dirigido aos alunos possuía os seguintes questionamentos:

1º. O que acha da interação entre alunos da graduação e de ensino médio e a realização de projetos
de extensão dentro da escola?
2º. Você se preocupa com problemas ambientais?
3º. Acredita que agrotóxicos podem afetar sua saúde?
4º. E o meio ambiente?
5º. Conhece alimentos orgânicos?
984
6º. Acredita que os orgânicos sejam mais nutritivos e saborosos que os convencionais?
7º Consome orgânicos?
8º. Acredita que consumindo orgânicos está ajudando a preservar o meio ambiente?
9º. Sobre suas preferências alimentares:
10º. Em sua opinião, o que dificulta as pessoas adquirirem os produtos orgânicos?

Resultados e discussões

Na figura 1 pode-se observar que a idade média dos alunos da escola estadual é superior a
média dos alunos da escola particular o que nos leva a considerar a hipótese de que pode haver
maior número de alunos repetentes. 89% dos alunos da escola estadual residem na zona urbana
enquanto que na escola particular esse percentual é de 94%. Portanto, os estudantes pesquisados são
jovens que residem predominantemente na zona urbana.

Figura 1. Idade média dos alunos do ensino médio das duas escolas avaliadas.

Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em


cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise
ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de
pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea (JACOBI, 2003).
A primeira pergunta do questionário aplicado diz respeito à opinião dos alunos a sobre a
interação universidade e escola e a realização de projetos de extensão com estudantes de ensino
médio para verificar se esse tipo de ação é bem vista entre eles. Pode-se notar que a grande maioria
dos alunos acha importante a interação entre estudantes de graduação e de nível médio. Isso
demonstra que os jovens começam a ter maior consciência de que a universidade e a sociedade
devem ter maior interação, ao menos entre os vários níveis escolares. No Colégio Estadual 85% dos
985
alunos são a favor dessa interação, já no Colégio Particular 95% dos estudantes do ensino médio
concordam com a realização desse tipo de atividade.
De acordo com Sato (2004) o aprendizado ambiental é um componente vital, pois oferece
motivos que levam os alunos se reconhecerem como parte integrante do meio em que vivem e faz
pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar a manter os recursos para
as futuras gerações.
Os alunos se mostraram preocupados com o meio ambiente uma porcentagem muito grande
dos estudantes pesquisados declarou preocupação, o que corrobora com impressões que atualmente
se possui em relação ao grau de importância que os jovens dão à questão ambiental. No Colégio
Estadual 86% dos alunos do 1º ano afirmaram se preocupar com o meio ambiente, já os alunos do
2º e 3º ano foram unânimes em afirmar sua preocupação em relação aos problemas ambientais. Já
no Colégio Particular dos alunos do 1º ano 97% se preocupam, no 2º ano 84%, com o 3º ano o
resultado não foi muito diferente 81% afirmaram se preocupar com problemas ambientais.
A maioria dos estudantes pesquisados demonstrou acreditar que os agrotóxicos podem afetar
a saúde humana. Para DAROLT (2003), atualmente, é praticamente inquestionável que o sistema de
produção convencional de alimentos tem deixado resíduos de agrotóxicos em níveis preocupantes
para a saúde pública. 94% dos alunos do 1º ano do Colégio Particular acredita que os agrotóxicos
utilizados na agricultura podem afetar de alguma forma a saúde humana, na turma do 2º ano 94%
dos alunos também acreditam que os agrotóxicos podem afetar a saúde, já os alunos do 3º ano 95%
dos alunos afirmaram. No Colégio Estadual 86% da turma do 1º ano afirmou acreditar que os
agrotóxicos afetam a saúde, na turma do 2º ano 94% dos alunos afirmou acreditar, já no 3º ano a
turma foi o unânime em afirmar que acreditam que os agrotóxicos afetar de alguma forma a saúde.
Nota-se que os estudantes do 1º e 2º ano apresentaram uma pequena divergência, o que se pode
atribuir à menor maturidade e grau de informação desses estudantes.
Segundo DAROLT (2003), apesar de dados demonstrarem que estamos diante de um quadro
preocupante, não há ainda pesquisas conclusivas no Brasil que demonstrem os perigos do uso de
alimentos contaminados por agrotóxicos pelos seres humanos. Porém, segundo médicos sanitaristas,
a médio e longo prazo, quem consome alimentos com resíduos de agrotóxicos pode apresentar
problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema nervoso central. O risco vai depender da
quantidade de agrotóxico acumulada e das características do organismo de cada pessoa.
Quando perguntado se conhecem alimentos orgânicos, em ambos os colégios mais de 80%
(figura 2.) de todo o ensino médio alegou conhecer, porém no decorrer das atividades, observou-se
que os estudantes possuíam um conhecimento prévio sobre tais alimentos, mas não obtinham um
conceito concreto e condizente sobre essa categoria de alimentos.

986
Figura 2. Conhecimento dos estudantes sobre os alimentos orgânicos.

Quando questionados se os alimentos orgânicos são mais nutritivos e saborosos que os


alimentos convencionais, cerca de 75% (figura 3.) do ensino médio de ambos os colégios,
concordam que os alimentos orgânicos são mais saborosos que os convencionais, dados esses
demonstram que o mercado de orgânicos possui grande potencial, mas existem grandes obstáculos,
como o preço elevado e a pouca divulgação desses alimentos, que impedem que tais alimentos
tenham sucesso no mercado, como se pode observar na discussão da pergunta 10.

Figura 3. Acredita que os alimentos orgânicos são mais nutritivos e saborosos que os alimentos
produzidos de maneira convencional?

Ao serem questionados se consumiam alimentos orgânicos, pode-se perceber (figura 4.) uma
clara diferença nas respostas e nas interpretações dos estudantes nos distintos colégios. No colégio
987
público, a maioria afirmou que consome tais alimentos. Cruz das Almas, por se tratar de um
município com características de interior, a população ainda tem o hábito de fazer compras de
alimentos em feiras-livres, fato esse que proporcionou aos estudantes afirmarem que consomem
alimentos orgânicos, ao contrario dos estudantes do colégio particular, tendo sua maioria afirmando
―indiferente‖, nota-se que por suas famílias possuírem um maior poder aquisitivo, geralmente fazem
suas comprar em grandes redes de supermercados, e como nos supermercados da cidade não se
encontra muitos produtos orgânicos, associa-se assim a resposta ―indiferente‖ pelos estudantes do
colégio particular; conclusões essas que tornam ainda mais necessário a inclusão de atividades
relacionada à educação ambiental nos colégios privados e os pertencentes a rede pública de
educação.

Figura 4. Consome alimentos orgânicos?

Os alunos também foram indagados sobre se acreditam que consumindo alimentos orgânicos
estariam ajudando a preservar o meio ambiente. Segundo DAROLT (2003), a alimentação moderna
tem conduzido não apenas a um desastre na saúde humana, mas também a uma serie de problemas
ambientais. No Colégio Estadual 11% dos alunos discordam, e 82% acreditam que optando por
alimentos orgânicos estão ajudando a preservar o meio ambiente de alguma maneira. No Colégio
Particular 82,1% afirmou concordar que a produção orgânica contribui na preservação do meio
ambiente (figura 5).

988
Figura 5. Acredita que consumindo orgânicos está ajudando a preservar o meio ambiente?

Para SOARES & MATTOS (s.d.) pode-se dar as pessoas com a educação ambiental, meios
e métodos para todos criarem um plano de ação em prol do planeta, com o conhecimento adquirido
e práticas responsáveis, pode-se criar a partir deste trabalho, novas pessoas engajadas nas questões
de preservação em vários métodos de gestão ambiental.
Quando perguntado aos alunos a cerca de suas preferências alimentares no Colégio
Particular 42,4% da turma do 1º ano usa indistintamente produtos naturais ou industrializados,
apenas 12,1% priorizam alimentação natural e 45,5% afirmou que a correria do dia-a-dia exige a
praticidade dos industrializados, no 2º ano 61% usa indistintamente produtos naturais ou
industrializados, enquanto que apenas 7% priorizam a alimentação natural e 32% afirmou que a
correria do dia-a-dia exige a praticidade dos industrializados, na turma do 3º ano 2% dos alunos
afirmaram consumir apenas alimentação natural e orgânica, 62% usam indistintamente produtos
naturais ou industrializados, 10% dá prioridade à alimentação natural e 26% afirmou que o corre-
corre do dia-a-dia exige a praticidade dos industrializados. No Colégio Estadual 60% dos alunos do
1º ano usam indistintamente produtos naturais ou industrializados, apenas 7% priorizam
alimentação natural e 33% afirmam que a correria do dia-a-dia exige a praticidade dos
industrializados, 5% dos alunos da turma do 2º ano consome apenas alimentação natural e orgânica,
50% usam indistintamente produtos naturais ou industrializados e 45% dizem que a correria do dia-
a-dia exige a praticidade dos industrializados, dos alunos do 3º ano 7% consomem apenas
alimentação natural e orgânica, 53% usam indistintamente produtos naturais ou industrializados
20% prioriza alimentação natural e 20% afirmam que a correria do dia-a-dia exige a praticidade dos
industrializados.

989
Figura 6. Dados médios sobre a preferência alimentar dos alunos do ensino médio das duas
escolas avaliadas.

Pode-se observar na figura 6 que os alunos em sua maioria de modo geral consomem
produtos naturais ou industrializados indistintamente e outra fatia considerável na rotina do dia-a-
dia acaba recorrendo aos industrializados devido a sua praticidade, apenas uma minoria que não
totaliza nem 10% prioriza a alimentação natural e menos de 5% consome apenas alimentação
natural e orgânica.
Existe por tanto a necessidade de se discutir de forma ampla e continuada no ambiente
escolar às consequências de hábitos alimentares inadequados, desta forma, a preocupação dos
estudantes em relação a sua saúde só será despertada e seus hábitos modificados, se houver um
trabalho mais eficiente de sensibilização.
O intuito desse trabalho foi realizar um debate de fácil compreensão que colabore na
formação de cidadãos conscientes, levando-o a desenvolverem a reflexão, a curiosidade e o
raciocínio crítico com relação ao meio ambiente, advertindo que qualidade de vida e o equilíbrio
entre a natureza e homem só será possível se este desenvolver sua inteligência ambiental, passando
por uma reeducação ecológica. O objetivo é mobilizar a sociedade despertando-a para os problemas
ambientais decorrentes da modernização da agricultura.
Foi perguntado aos alunos sobre quais as dificuldades eles acreditam que os consumidores
enfrentam ao tentar adquirir alimentos orgânicos, no Colégio Estadual 4% afirmou que as pessoas
não compram porque não há no mercado, 17% acreditam que seja pela falta de divulgação desses
produtos e de seus benefícios, 20% afirmou que a falta de variedade dos produtos pode ser uma
dificuldade, 24% acredita que as pessoas não compram porque não conhece, 26% acredita que o

990
preço elevado é um fator determinante e 9% não fez nenhuma relação, no Colégio Particular apenas
5% disse que as pessoas não compram porque não há oferta desses produtos, 22% acha que existe
pouca divulgação, 17% associou a pouca variedade dos mesmos, 28% afirmou que as pessoas não
compram porque desconhece, e apenas 16% associou o preço elevado como fator determinante na
hora da compra, 12% não fizeram nenhuma associação.
O que nos leva a constatar a necessidade que existe de uma divulgação maior e mais
eficiente dos produtos orgânicos, conscientizando a população dos efeitos nocivos causados pelos
resíduos de agrotóxicos presentes nos alimentos convencionais.
Guerra & Gusmão (2004) perceberam que o aluno é um bom agente multiplicador de
informação no sentido escola - comunidade, por isso torna-se cada vez mais importante inverter o
fluxo de informação, para que os ensinamentos, não menos importantes, da cultura popular possam
dessa forma chegar à escola ou como costuma-se dizer, romper os muros da escola. Para que isso
possa efetivamente acontecer é preciso que todos participem, mas é preciso também que esse
processo seja organizado por alguns dos atores dessas instituições.

Conclusão

Através da análise dos questionários, ficou perceptível que os Estudantes do Ensino Médio
do município de Cruz das Almas estão preocupados com a atual situação em que se encontra o meio
ambiente, tendo em vista que eles são peça-chave para uma possível transformação do sistema
alimentar atual, tanto em âmbito local, regional, nacional e mundial.
Portanto, diante dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que a Educação Ambiental
precisa ser um processo contínuo e permanente no ambiente escolar, com a inclusão de atividades
extracurriculares diretamente ligadas à educação ambiental em parceria com instituições públicas e
privadas, uma vez que ela deve ser uma ação integradora, ou seja, a educação ambiental é de
responsabilidade da sociedade como um todo.
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Associados, 2004.

992
3 – Planejamento, Programas e Ações
Ambientais

993
A INDISSOCIABILIDADE DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

EM AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Afonso Takao MURATA


Professor UFPR

Marília Pinto Ferreira MURATA


Professora UFPR

Jucélia Regina Silva SENE


Bolsista-Estudante UFPR

Resumo

Este artigo tem por objetivo discutir a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão nas
ações em que envolva a Educação Ambiental e o processo de inclusão, buscando cruzar a barreira
entre a teoria e a prática, a ideia do artigo surge no intuito de desvelar as ações desenvolvidas pelo
projeto de extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ ligada a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão na constante busca do protagonismo dos autores na construção de uma sociedade mais
consciente as questões ambientais e a sustentabilidade. No sentido de se abarcar a indissociabilidade
o projeto propõe uma metodologia do trabalho por demandas, onde não são apresentadas demandas
da universidade a comunidade, mas sim o inverso, ou seja, a comunidade apresenta suas demandas
para que a Universidade possa atuar. O acolhimento das demandas inicia-se com a visita ao local a
ser atendido. Se existirem demandas os componentes do projeto realizam um estudo teórico
aprofundado sobre o tema, em seguida é realizado o diagnóstico, após o diagnóstico é formulado
uma proposta e um plano trabalho, que após ser discutido com a comunidade é proposta, se a
proposta é aceita a etapa seguinte é a realização do processo de intervenção. Após a intervenção é
realizado uma avaliação se o objetivo foi alcançado.

Palavras Chaves: Universidade; Indissociabilidade do ensino da pesquisa e da extensão; Projeto de


extensão; Educação Ambiental.

Abstract

This article was conducted with the objective to discuss inseparability principle between education,
research and extension, in practices that involving environmental education and the inclusion
process, trying to cross the barrier from theory to practice, the idea of the article appears in order to
994
uncover the actions developed by extension project "Agroecology and Inclusion" linked the
inseparability principle between education, research and extension in constant search of the authors'
role in building a society more aware of environmental issues and sustainability. In order to cater to
the inseparability project proposes a methodology of project by demands, which is not taken the
demands of the university to community, but rather the reverse, i.e., the community presents their
demands to the University. After analyze the demands. It was starts the diagnosis, after this is made
a proposal and a plan to work, after being discussed this proposal with the community, is performed
the intervention process. After this, evaluates whether the objective was an attained.

Keywords: University; inseparability principle between education, research; extension project;


environmental education.

Introdução

A importante discussão sobre o modelo de Universidade que almejamos, perpassa pelo


modo como a Instituição se comunica com a sociedade. Neste sentido quando da aprovação da
emenda popular, que gerou o artigo 207 da Constituição que discorre sobre o princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como paradigma da expressão da expectativa
de construção de um projeto democrático de sociedade e de uma universidade socialmente
referenciada.
Estes aspectos serviram de marco para que os princípios configurados pudessem pautar o
papel social da universidade brasileira. Considerando tudo que já foi construído legalmente e com o
objetivo de transpor da teoria para a prática, é que surgiu a ideia do artigo, tomando como exemplo,
as ações desenvolvidas pelo projeto de extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ no sentido de se
demonstrar o trabalho abrangente da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, que
procura levar o protagonismo dos autores e parceiros na construção de uma sociedade mais
consciente as questões ambientais e a sustentabilidade.
Para aguçar a consciência ambiental e de sustentabilidade o projeto tem atuado em diversas
vertentes ligadas a Educação Ambiental de forma a trabalhar transversalmente a temática em todas
as suas atividades desenvolvidas.
Atendendo integralmente a Lei No 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a
educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental que em seu artigo 2o
apresenta que a educação ambiental ―é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal‖. (BRASIL, 1999)

995
Desta forma as ações desenvolvidas pelo projeto também busca trabalhar o processo de
inclusão, inclusive atendendo a visão disposta na lei em seu artigo 3o que determina que, ―como
parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental‖, determinando
inclusive em se parágrafo segundo que é delegada ―às instituições educativas, promover a educação
ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem‖. Neste sentido o
Projeto de Extensão que promove ações da UFPR, procura cumprir o seu papel junto a sociedade e
atuar em consonância com os preceitos legais. (BRASIL, 1999)
Neste sentido, o projeto ―Agroecologia e Inclusão‖ iniciou suas atividades em 01/05/2011,
ele está vinculado ao programa de extensão ―Acessibilidade e Inclusão: Semeando‖, registrado na
Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná e vem desenvolvendo ações
em comunidades do litoral paranaense.
O programa tem por objetivo caracterizar necessidades e intervir nas situações de
acessibilidade, inclusão e de condições de promoção da saúde e da educação nas diferentes etapas
do ciclo vital, por meio de ações agroecológicas e de paisagismo nos espaços físicos das diferentes
instituições envolvidas, colaborando para que os usuários possam despertar a memória, afetividade
e promover a melhoria da qualidade de vida.
Outros objetivos propostos são a Integração da UFPR Setor litoral e as entidades parceiras
com a comunidade; proporcionar troca de experiências para o desenvolvimento de estratégias e
ações agroecológicas; levantar os fatores de risco e as necessidades do público-alvo; elaborar e
programar estratégias de ações diferenciadas que ajudem a inclusão das pessoas com necessidades
especiais; programar ações que visem à melhoria da qualidade de vida do público-alvo; colaborar
com a divulgação do projeto institucional; realizar eventos voltados para a integração do público-
alvo com a comunidade; realizar atividades formativas (palestras e cursos); oportunizar aos
estudantes atividades formativas de integração entre extensão-ensino-pesquisa por meio de
vivências prática junto à comunidade atendida; estimular o desenvolvimento de trabalho em grupos
e trabalhar aspectos voltados a Educação Ambiental.
A parceria entre o projeto e a comunidade coaduna com ―o enfoque humanista, holístico,
democrático e participativo‖ disposto no artigo Art. 4o da Lei Nº 9.795 § I, além disso o projeto
procura trabalhar dentro da ―concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a
interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da
sustentabilidade‖, conforme disposto no § II deste mesma lei e artigo, de forma a se trabalhar de
forma plural a inter, multi e transdisciplinaridade (BRASIL, 1999). Importante ressaltar que as
ações procuram atender aos preceitos éticos e deontológicos em suas ações, respeitando e
reconhecendo de forma imperiosa a pluralidade e à diversidade individual e cultural. Para tanto o
projeto conta com alunos de vários cursos como: Agroecologia; Gestão Ambiental, Gestão
Empreendedorismo, Serviço Social, que são bolsistas (Proec ou Fundação Araucária) ou trabalham
de forma voluntária.

996
Metodologia

No sentido de se trabalhar a indissociabilidade o projeto propõe uma metodologia do


trabalho por demandas, onde as demandas advêm das comunidades. Normalmente as demandas
aparecem quando do primeiro contato do projeto com a comunidade ou ao agricultor familiar,
escola, etc.. Se existem demandas ou interesse do trabalho compartilhado, o passo seguinte é o
quando os componentes do projeto fazem um aprofundado levantamento teórico, no sentido de que
todas as ações sejam referendadas, no momento seguinte é realizado uma pesquisa diagnóstica, e
em seguida a análise destes dados coletados, buscando identificar as deficiências e potencialidades
da comunidade envolvida (usuários, familiares, profissionais que atuam nas instituições) que são
avaliadas e reavaliadas durante o processo de intervenção, com vistas a identificar a eficiência das
ações executadas.
Este processo é realizado por meio de instrumentos de observação, avaliação e
acompanhamento. Os dados obtidos foram analisados pela estatística aplicada, aliadas as pesquisas
diagnósticas estão sendo realizadas a partir da construção de instrumentos de coleta de dados
(Questionários semiestruturados) e também com uma proposta de pesquisa etnográfica (BEAUD;
WEBER, 2007), articulando observações, diário de campo e entrevistas narrativas. A interpretação
é feita é sustentada numa abordagem quali-quantitativa baseada na Técnica de Análise de Conteúdo
proposta por Bardin (1997). Estas técnicas e metodologias utilizadas possuem características mais
interdisciplinares e coerentes com os objetivos propostos.

Da Teoria a Prática

As ações propostas têm sido atendidas em diversas práticas desenvolvidas pelo projeto e
com diferentes públicos, como exemplo, o projeto desenvolve ações mensais com agricultores da
localizados no entorno da PR 508 no litoral paranaense, com reuniões mensais com o grupo, mas
com visitas semanais a propriedades participantes, no intuito de incentivar a transição do
convencional para o orgânico, disponibilizando ferramentas para que suas ações possam ser
praticadas de forma sustentável. Além disso, tem se trabalhado o processo de certificação daqueles
que já adotaram esta prática, para que o processo de inclusão possa se dar pelos programas de
aquisição de alimentos (PAA) ou mesmo a venda direta ao consumidor.
Outra ação desenvolvida pelo projeto é com os idosos, internos em um asilo situado na
cidade de Paranaguá, Pr. Onde são desenvolvidos trabalhos de sensibilização utilizando chás, ervas
medicinais, eventos de integração, além disso, existe a proposta de colaborar em ações de
paisagismo para ofertar um ambiente mais aconchegante aos internos.
O projeto atende ainda crianças da educação infantil da cidade de Pontal do Paraná, PR,
onde desenvolve ações de educação ambiental a partir da prática de montagem de hortas, além de
997
trabalhar um espaço em parceria como a Prefeitura municipal, onde são realizadas semanalmente
oficinas de compostagem e vermicompostagem.
Nesta mesma cidade o programa ao qual o projeto é vinculado ofertou a 33 professoras do
município um curso de extensão de 40 horas com a temática da Educação Ambiental, este curso foi
ofertado após a pesquisa diagnóstica que constou que as grandes maiorias das professoras não
tinham capacitação em Educação Ambiental, e que estavam atuando com a temática, pois era o que
foi disponibilizado num primeiro momento.
Indo ao encontro ao que descreveu Carvalho, 2001 (p. 11 e 12), onde a pesquisadora afirma
que, os professores são profissionais de extrema importância nos processos de mudança das
sociedades, desempenham um papel essencial nas escolas. Se forem deixados à margem, as
decisões pedagógicas e curriculares alheias, por mais interessantes que possam parecer não se
efetivam, não geram efeitos sobre a sociedade. Por isso é preciso investir na formação e no
desenvolvimento profissional dos professores.
Outro público que foi atendido pelo projeto foram alunos com deficiência da APAE em
Morretes, esta ação está bem consolidada e será retomada quando surgirem novas demandas, neste
sentido será dado um destaque maior a uma ação realizada neste espaço que foi o do uso da
educação ambiental em oficina de reciclagem de papel. Outras ações desenvolvidas foram a
montagem de uma espiral de ervas para práticas de educação ambiental, este espiral de ervas foi
montado com uma altura adequado para que pudesse haver a participação dos cadeirantes e que
desta forma houvesse a inclusão destes alunos. Segundo Sassaki (1999, p.3), ―conceitua-se inclusão
social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas
especiais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente estas se preparam para
assumir seus papéis na sociedade‖.
Desenvolveu-se ainda um momento em que foram utilizadas embalagens UHT de leite, para
a confecção de vasos onde foram plantadas flores, hortaliças e condimentos, os alunos fizeram toda
uma ornamentação na embalagem que foram entregues no dia dos pais.
Outra ação realizada e aqui detalhada com maior amplitude foi a:

Utilização da Reciclagem de Papel para Fins de Educação Ambiental com Crianças Deficientes

- A Importância da Inclusão Social e Conscientização Ambiental


Sendo assim, é necessário reinventar e adaptar métodos de acordo com a nossa realidade.
Mudar a práxis tantas quantas vezes for preciso e acreditar no potencial dos nossos alunos.
Acreditando nesse potencial é que planejamos e desenvolvemos atividade que é importante para a
preservação do ambiente e para o desenvolvimento humano.
Neste contexto, o trabalho tenta contribuir para minimizar a exclusão social e conscientizar
para os problemas ambientais, pois o objetivo com essa atividade é despertar o interesse, a
998
criatividade, o envolvimento e a conscientização dos alunos na fabricação do papel reciclado
artesanal. Como aponta Morin (2002), a consciência ecológica deve nutrir a aspiração do homem de
convivibilidade sobre a terra. Sendo assim, conciliar a educação ambiental e inclusão social,
preparando para conviver em sociedade com uma melhor qualidade de vida e autonomia.
Supõe-se que apesar dos preconceitos e restrições, os alunos assimilam de maneira efetiva o
conteúdo trabalhado, além disso, a atividade pode trazer bem-estar e aumentar a autoestima. Sendo
assim, é possível de forma prazerosa trazer atividades e métodos de trabalho adaptados para esse
público.
É necessária a inclusão para evitar a marginalização e nesse processo deve ocorrer uma
mudança de alteração da visão social, onde a inclusão escolar e o acatamento à legislação vigente
são necessários para que todos possam ter acesso a uma educação de qualidade.

- Educação Ambiental e Educação Especial


Contudo, considerando que a Educação Ambiental além da ação individual, observa-se que
as ações educacionais realizadas podem ajudar a informar e conscientizar. Observando a
importância de preservação do ambiente, temos a educação ambiental como aliada nesta tarefa de
conscientização da sociedade. Portanto, unir educação ambiental e inclusão social é quase um
desafio, que pode ser atingido com uma educação de qualidade e a utilização de técnicas simples
como, por exemplo, a de fazer papel reciclado artesanal.
Desta forma, em se tratando de alunos deficientes, os estereótipos a limitam e até exclui, a
postura clássica tem sido a de colocar esses indivíduos à parte, à margem da sociedade. As
perspectivas e práticas adotadas nos procedimentos de reabilitação e na educação familiar e escolar
é importante para o desenvolvimento e qualidade da aprendizagem desses alunos, onde cada um
tem suas especificidade, decorrente de cada tipo de deficiência.
No entanto, há limitação intelectual em graus variáveis, mas tem os que apresentam
inteligência normal e obtêm resultados significativos na sua aprendizagem. Sendo assim, são
visíveis as diferenças e especificidade de cada aluno, onde as necessidades educacionais devem ser
relacionadas às dificuldades específicas. A ideia é, através da atividade, aperfeiçoar a qualidade
de vida dos alunos e consequentemente uma melhor reabilitação psicossocial, proporcionando ao
Portador de Deficiência uma participação ativa no processo da sociedade atual e futura.

- Papel e reciclagem
Hoje a importância do papel é fundamental no nosso dia a dia, porém, alguns problemas
ambientais não podem ficar no esquecimento, segundo estudos, conforme a Associação Brasileira
Técnica de Celulose e Papel - ABTCP (2004) seja qual for o tipo de papel fabricado, a matéria-
999
prima básica é a celulose, virgem ou de papel reciclado, que pode ser dividida em dois grupos: a de
fibra longa (obtida de espécies como o pínus e a araucária), indicada para papéis de embalagem; e a
de fibra curta (derivada de eucalipto, acácia, gmelina, bétula, entre outros), utilizada principalmente
na fabricação de papéis para imprimir e escrever e para fins sanitários.
A produção de papel consome enorme quantidade de energia e água, que são ingredientes
essenciais na fabricação de papel como parte integrante da massa (polpa) e utilização na remoção de
impurezas da celulose mediante lavagens repetidas, sendo que a emissão de efluentes na água é um
dos impactos ambientais mais significantes causados pela fabricação de papel e celulose. É possível
constatar, que as fábricas de papel, utilizam quantidades significantes de água fresca, se comparada
com outras indústrias, sendo considerada, portanto, uma ―indústria intensiva‖ neste aspecto Nunes
(2007).
A água é utilizada em diferentes setores: no transporte e dispersão das matérias primas, na
formação de folha de papel, para limpeza, resfriamento, selagem e lubrificação. Sendo assim a
reciclagem é necessária e já é uma realidade no país atingindo índices invejáveis para alguns
produtos, como papel ondulado 79% (CEMPRE, 2006b); papel de escritório 33% (CEMPRE,
2006a). Vilhena (1996) afirma que a educação ambiental é a mola propulsora de qualquer iniciativa
de preservação ambiental, que tenha o cidadão como personagem principal.
A reciclagem do papel é de extrema importância para o meio ambiente, pois o papel quando
largado no ambiente leva de três meses a até alguns anos para se decompor. Como sabemos, o papel
é produzido através da celulose de determinados tipos de árvores. Quando reciclamos o papel ou
compramos papel reciclado estamos contribuindo com o meio ambiente, pois árvores deixaram de
ser cortadas.
A grande geração de papel pode poluir o meio ambiente e destruir florestas, sendo assim, é
viável ambientalmente e economicamente que se recicle. Segundo Hisatugo (2007) os indicadores
da reciclagem de papel são: Economia de energia elétrica através da reciclagem 3,51 mil kWh/t -
Economia de matéria-prima é de 20 árvores por tonelada - Economia de água é de 29.202 litros/t -
Produção de papel reciclado 1,2 t de papel usado produz uma tonelada de papel reciclado. Portanto
para cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 01 hectare de floresta.

Materiais e Métodos

Nesta ação, buscaram-se os valores como a solidariedade, a cooperação, o respeito, a


autonomia, a participação, a responsabilidade, a tolerância entre outros. O trabalho foi dividido em
duas partes: uma de cunho teórico, onde foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica e outra de
cunho prático, consistindo esta última na atividade na escola. O processo foi reconhecido e

1000
oportuno para que os alunos tivessem um momento de aquisição de conhecimento com ludicidade,
Observou–se ainda que mesmo com diferentes tipos de deficiências, idade e sexo, o processo foi
importante para todos os 15 alunos atendidos pelo projeto.

Tabela 01 – Tipo de deficiências, Gênero, Idade dos alunos da APAE Morretes que participaram da ação de reciclagem
de papel para fins de educação ambiental desenvolvido pelo projeto de extensão‖Agroecologia e Inclusão‖
SUJEITO GÊNERO IDADE TIPO DE DEFICIÊNCIA
01 F 26 anos Deficiência mental moderada
02 F 45 anos Deficiência mental moderada
03 F 24 anos Deficiência mental moderada
04 F 10 anos Síndrome de Down
05 M 11 anos Deficiência mental moderada
06 M 49 anos Deficiência mental moderada
07 M 22 anos Deficiência mental moderada
08 F 8 anos Deficiência mental moderada
09 F 7 anos Síndrome de Down
10 F 9 anos Deficiência mental moderada
11 M 9 anos Paralisia cerebral
12 F 9 anos Deficiência mental moderada
13 M 13 anos Deficiência mental moderada
14 F 14 anos Deficiência mental moderada
15 M 10 anos Deficiência mental moderada

Ao analisar os dados apresentado na Tabela 01, observa-se que a maioria dos alunos
atendidos (46,67%) é de crianças na faixa etária de 0 a 10 anos; 20% são constituídos de
adolescentes com idade variando de 11 a 21 anos e 33,33% são adultos com idade entre 22 a 49
anos.
Outra contratação observada nesta pesquisa diagnóstica é que 80% dos alunos apresentam
Deficiência Mental Moderada, 13,33%; Síndrome de Down; 6,67% Paralisia cerebral.
Nesse processo observou-se os casos de Síndrome de Down e os de Paralisia Cerebral, como
também observado por Buckley e Bird (1994), os portadores de síndrome de Down por
apresentarem habilidades de processamento e de memória visual mais desenvolvidas do que aquelas
referentes às capacidades de processamento e memória auditivas, as crianças portadoras de
Síndrome de Down se beneficiaram de recursos de ensino que utilizam suporte visual para trabalhar
as informações. Porém, ocorre o atraso no desenvolvimento da linguagem, o menor reconhecimento
das regras gramaticais e sintáticas da língua. E no caso da Paralisia cerebral, se apresenta
clinicamente distúrbios da motricidade, isto é, alterações do movimento, da postura, do equilíbrio,
da coordenação com presença variável de movimentos involuntários.
Dentre esse alunos 60% eram do sexo feminino e 40% do sexo masculino, corroborando
com os dados apresentados na educação formal, onde existem mais mulheres estudantes do que

1001
homens. Segundo Ferraro (2009), este fato apoia-se principalmente num estudo de caso, que
focaliza a trajetória da relação entre gênero e alfabetização no Brasil no período de 1940 a 2000. Tal
estudo revela que as mulheres passaram a superar os homens quanto à alfabetização desde o Censo
1940, a começar pelos grupos de idade mais jovem (5 a 9 anos e 10 a 14 anos), estendendo-se essa
vantagem, no Censo 2000, até o grupo 40 a 44 anos.
Após o diagnóstico inicial, numa segunda etapa do projeto visando atender a demanda da
direção da escola para que fosse desenvolvida uma atividade de Educação ambiental com os alunos,
foi proposto e após acordado, foi desenvolvida a oficina com a reciclagem de papel.
A ideia principal foi a de inclusão dos alunos, para o desenvolvimento da técnica da
reciclagem do papel artesanal, foi repassado o método que é realizado seguindo-se oito etapas:
1ª - Picar o papel;
2ª – Colocar o papel picado no balde com água, deixar por 24 horas;
3ª - Colocar o papel em um recipiente contendo água e cola;
4ª - Trituração e homogeneização do papel;
5ª - Coar a mistura;
6ª - Absorção da água contida no papel;
7ª - Prensagem do papel;
8ª - Secagem do papel.
Todos os alunos participaram de forma ativa e satisfatória, onde fizeram a trituração do
papel, a prensagem e secagem.

Resultados

Nesta atividade o projeto procurou incentivar os alunos a desenvolverem ações, como forma
de respeito ao meio ambiente, apreender sobre a Educação Ambiental, inclusão social, dignidade,
aumento da autoestima e principalmente liberdade, para que, mesmo com os seus limites, possam
participar e serem incluídos sem ter que levar em conta os preconceitos.
Durante o trabalho realizado, o importante foi o processo e não o produto final porque, os
integrantes do projeto entendem que a prática estimula a participação dos alunos com temas
relativos ao meio ambiente e contribui para o desenvolvimento de uma consciência ecológica e
também, nesse caso, para uma melhor coordenação motora e para o desenvolvimento cognitivo no
processo de aprendizagem do aluno.
O trabalho desenvolvido teve pleno êxito, pois foi desenvolvido respeitando a
indissociabilidade ensino pesquisa e extensão. Os produtos finais (Figura 01) foram motivo de

1002
alegria e realização aos alunos da APAE, mas também para os participantes do projeto, professores
e familiares.

Figura 01 – Cartões elaborados com papel reciclado, obtidos em oficina de reciclagem de papel ofertado pelo projeto de
extensão ―Agroecologia e Inclusão‖ a alunos da APAE Morretes em ações de Educação Ambiental.

Dos 15 alunos que participaram da oficina 40% conseguiram fazer todo processo somente
com a orientação, 30% conseguiram com a ajuda em algumas etapas, e 30% fizeram com ajuda na
maioria das etapas.

Considerações Finais

O projeto tem desenvolvido suas ações de forma satisfatória diagnosticando e caracterizando


as necessidades da comunidade parceira e intervindo nas situações de acessibilidade, inclusão e de
condições de promoção da saúde e da educação nas diferentes etapas do ciclo vital, por meio de
ações agroecológicas, de educação Ambiental e de paisagismo nos espaços físicos das diferentes
instituições envolvidas, colaborando para que os usuários possam despertar a memória, afetividade
e melhorando a qualidade de vida.
Além disso, as ações desenvolvidas têm colaborado com a divulgação do projeto
institucional, aproximando a universidade da comunidade, a partir da realização de eventos voltados
para a integração do público-alvo com a comunidade; realizar atividades formativas (palestras e
cursos). Estas ações têm oportunizado aos estudantes atividades formativas de integração entre
extensão-ensino-pesquisa por meio de vivências prática junto à comunidade atendida aliadas a
intensa fundamentação teórica, estimulando o desenvolvimento de trabalho em grupos e
trabalhando aspectos voltados a Educação Ambiental.

1003
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1005
PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL:
DISCUSSÃO SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL

ALINE Carolina da SILVA110 (PPGCAM/UFPB)


alinesilva.ambiental@gmail.com

Claudia Nóbrega COUTINHO111 (DEC/PPGCAM/UFPB)


claudiacn@uol.com.br

Carmem Lúcia Moreira GADELHA112 (DEC/PPGCAM/UFPB)


carmemgadelha@yahoo.com.br

Eudes de Oliveira BOMFIM113 (PPGCAM/UFPB)


eudes.bomfim@ig.com.br

Resumo

Este trabalho avaliou os aspectos do espaço urbano e fatores relevantes para o planejamento do uso
e ocupação do solo e, nesse contexto, a problemática acerca dos resíduos sólidos urbanos,
principalmente no que se refere ao cumprimento da Lei Federal no 12.305, de agosto de 2010, que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esta Lei que estabeleceu prazos ou limites
temporais para algumas ações tais como a eliminação de lixões e a consequente disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos até 2014, é um marco histórico para o desenvolvimento
sustentável do Brasil. Contudo, existe a possibilidade de fracasso na sua implantação se não houver
um comprometimento entre os entes da federação, ou seja, municípios, estados e União. Também,
a falta de capacitação de pessoal pode ser uma barreira para o sucesso da empreitada. Assim, o
gerenciamento de resíduos sólidos passou a ser uma questão prioritária para os gestores municipais,
tornando-se um desafio encontrar soluções ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.
Concluiu-se, então, que assim como os Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano Ambiental
não obtiveram o alcance e a eficiência previstos, os Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos devem contemplar um diagnóstico completo sobre a realidade municipal, a fim de que

110
Mestranda em Engenharia Urbana e Ambiental do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental
(PPGCAM), Centro de Tecnologia – Universidade Federal da Paraíba - Campus I, Cidade Universitária, João Pessoa –
PB – Brasil – Cep: 58051-900. Bolsista da Capes.
111
Professora Associada II da UFPB/CT/DECA/PPGCAM, Campus I. Doutora em Recursos Naturais pela UFCG.
112
Professora Associada II da UFPB/CT/DECA/PPGCAM, Campus I. Doutora em Engenharia Sanitária pela Escola de
Engenharia de São Carlos/USP.
113
Mestrando em Engenharia Urbana e Ambiental do PPGCAM. Bolsista da Capes.

1006
contemplem uma gestão integrada fundamental para a promoção de um ambiente mais saudável,
com menos riscos à população.
Palavras-chave: Política Nacional de Resíduos Sólidos, Planejamento Urbano, Meio Ambiente.

Abstract

This study evaluated aspects of urban space and factors relevant to planning the use and occupation
of land and, in this context, the issue about the municipal solid waste, especially with regard to
compliance with Federal Law 12 305, August 2010 establishing a National Policy on Solid Waste.
This Act which established deadlines or time limits for certain actions such as landfills and the
consequent elimination of environmentally sound disposal of waste by 2014, is a landmark for the
sustainable development of Brazil. However, there is a possibility of failure in its implementation if
there is not a commitment among federal agencies, ie municipalities, states and Union. Also, lack of
staff training can be a barrier to the success of the venture. Thus, the solid waste management has
become a priority issue for city managers, making it a challenge to find solutions environmentally
sustainable and economically viable. We conclude, then, that just as the Master Plan for Urban
Development Environmental had not foreseen the extent and effectiveness, Plans Integrated
Management of Urban Solid Waste must include a full diagnostic on the municipal reality in order
to that contemplate management integrated fundamental to promoting a healthier environment with
less risk to the population.

Keywords: National Policy on Solid Waste, Urban Planning, Environment.

Introdução
Quando os centros urbanos crescem sem planejamento, a qualidade de vida da população
tende a ser comprometida. O ambiente e o ser humano se tornam as grandes vítimas do progresso.
No caso brasileiro, a lógica capitalista de desenvolvimento fez a população urbana crescer em
demasia, o que gerou um acentuado êxodo rural e graves distorções regionais.
A necessidade de intervir neste processo de crescimento levou as metrópoles e grandes
cidades a adotarem, desde os anos 1970, planos urbanos como principal instrumento de controle,
que se tornaram nos Planos Diretores atuais. Regras e normas consubstanciadas em um documento
amplo, que abrange os setores da vida urbana, passaram a fornecer diretrizes e apoiar os projetos
urbanos globalizantes, que assumiam as questões de forma ampla (OLIVEIRA, 2005).
Na história recente do planejamento urbano brasileiro observam-se diferentes tentativas de
compreensão e de ordenamento do espaço das cidades. Alternam-se conceitos, mecanismos,

1007
legislação e prioridades. A mudança de enfoques sobre um mesmo problema indica até mesmo uma
mudança referencial no modo de ver a cidade.
Os resíduos sólidos (RS) são um dos grandes problemas atuais e provocam impactos
socioeconômicos e ambientais. A solução para os problemas gerados por esses resíduos pode ser
considerada um dos maiores desafios enfrentados pelas autoridades públicas. Franco (1990) explica
que esse assunto teve como ponto de partida o crescimento das cidades e a mudança no ritmo e
padrão de consumo, o que tornou oneroso e complexo o tratamento a ser dado à questão.
Ao gerenciar os RS de forma adequada, evita-se ou minimizam-se os problemas à saúde
pública e à poluição ambiental, além de manter as características estéticas da cidade e do bem-estar
para a população e, consequentemente, contribui para um desenvolvimento sustentável (ROLIM,
2000 apud DALTRO FILHO et al., 2008).
De maneira geral, os municípios brasileiros apresentam um gerenciamento inadequado dos
resíduos sólidos, comprometendo as condições de vida da comunidade e do meio ambiente. Esses
municípios apresentam deficiências de saneamento ambiental, principalmente na área de resíduos
sólidos urbanos (RSU).

Planejamento Urbano e Ambiental

No debate sobre a cidade atual emergem fatos como a violência, a favelização, a expansão
descontrolada e a fragmentação, a segregação sócio espacial, as deficiências de transporte, os
impactos negativos ao meio ambiente, etc. Esses aspectos são comumente observados como
elementos do caos urbano (SILVEIRA, 2011).
Faz-se necessário lembrar que o desenvolvimento econômico interfere diretamente sobre o
setor urbano. É o caso, por exemplo, da indústria automobilística que geralmente causa
modificações no sistema ambiental e de economia no processo de desenvolvimento (BEZZON,
2004).
Uma séria dificuldade que se apresenta para a construção da história do planejamento urbano
no Brasil é que nele, em geral, discurso e prática se mesclam de tal forma que é difícil separá-los. É
comum entre os cidadãos, por exemplo, considerar como sendo política urbana o discurso do Estado
acerca de sua ação sobre o urbano (VILLAÇA, 1999).
Villaça (2000) expõe que o caos ou o denominado crescimento desordenado são explicações
plausíveis para os problemas urbanos. Este autor defende que o crescimento ordenado é apenas uma
forma de camuflar a pobreza urbana oriunda dos baixos investimentos em equipamentos sociais e
infraestrutura urbana, assim como, da má distribuição espacial.

1008
Os planos diretores ou planejamento urbano têm sido difundidos com uma lógica interna com
o enfoque da organização social e instrumento de solução para os problemas urbanos. Eles se
difundiram no Brasil a partir da década de 1940, mas foram substituídos por diversos outros nomes
na década de 1960, até ter o nome atual na Constituição Federal de 1988.
Nos primeiros anos os planos diretores eram direcionados para embelezar as cidades e eram
sintetizados por arquitetos urbanistas. Após algumas décadas os planos passaram a ser diagnósticos
técnicos das cidades, feitos por equipes multidisciplinares. Eles foram elaborados com o objetivo de
serem aplicados pelo Estado para que houvesse uma correta ação sobre o espaço urbano, porém,
foram em pouco tempo abandonados e sem a devida aplicabilidade.
Para efetivar as necessidades e obrigações de uma cidade, surgiu em 2001 a Lei Federal n o
10.257, que estabeleceu o Estatuto da Cidade, que regulamentou os artigos 182 e 183 da
Constituição e reuniu importantes instrumentos urbanísticos, tributários e jurídicos que podiam
garantir efetividade ao Plano Diretor.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM (2001), os Planos
Diretores devem orientar a elaboração dos Planos Plurianuais (PPA), a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária, visto que essas são leis e regras determinam como cada
governo municipal deverá gastar seus recursos e fazer investimentos.
Importante aspecto dos planos diretores é que neles são considerados a participação popular
em todas as suas fases, elaboração, acompanhamento e revisão. A participação da sociedade pode
acontecer de distintas maneiras, como por exemplo, nos processos de discussão das potencialidades
e identificação dos problemas existentes na escala local, através de conselhos, comitês ou comissões
de representantes de variados segmentos da população, do empresariado e das diferentes esferas de
governo (IBAM, 2001).
Para a realização das audiências públicas, que visam à participação popular no planejamento
urbano das cidades, é imprescindível que seja estudada a realidade local para a formulação das
metodologias participativas a serem utilizadas, por poderem levar ao fracasso do processo decisório
devido aos possíveis conflitos locais existentes.
Apesar de todos os avanços quanto à participação social nos processos decisórios municipais,
às informações e às propostas existentes, e consistentes, advindas da população, ainda verificam-se
os ajustes aos interesses políticos na formulação final dos planos diretores. Passos (2010) ressalta
que é inconcebível imaginar que se continue a reunir as pessoas para que participem dos espaços de
discussão, que se realizem inúmeras reuniões, quando na verdade, o que a população deliberou
acaba por se ajustar ao tipo de instrumento definido de cima para baixo. Parece oportuno fazer o
contrário, visto que os instrumentos devem ser adaptados às questões locais, inclusive modificando-
os totalmente, caso necessário.
1009
Villaça (2012) defende que os planos diretores são altamente manipulados pela ideologia
dominante, um exemplo disso é precisamente uma questão que trata o planejamento urbano: é
consenso entre os competentes que o Plano Diretor é um assunto complexo e, por isso, só
compreendido pelos mais instruídos. Os menos instruídos necessitam fazer curso de capacitação
para compreendê-lo. A analogia feita por Villaça (2012) mostra à complexidade do assunto, visto
que uma das consequências da falta de consciência social é ausência de visão de conjunto de longo
prazo da cidade e de seus problemas.
No âmbito dos municípios, uma das expressões mais significantes da descrença no
planejamento se revela nas estruturas administrativas. É difícil encontrar uma Secretaria de
Planejamento, sendo mais comuns estruturas que contemplam secretarias de Finanças e
Planejamento ou Administração e Planejamento, ou até mesmo, Educação e Planejamento, o que
mostra que as atividades de planejamento sempre foram deixadas em segundo plano. A gestão do
planejamento, no âmbito municipal, é um grande desafio a ser vencido. Observando, por exemplo, o
caso do Plano Diretor, verificam-se que muitos municípios enfrentam dificuldades na sua
implementação (CNM, 2008).
Entende-se que a Lei no 12.305/2010, estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos é
um marco histórico na gestão ambiental do país, pois mostra uma visão moderna na luta contra um
dos maiores problemas do planeta: o lixo urbano. Tendo como princípio a responsabilidade
compartilhada entre governo, empresas e população. A nova legislação impulsionou o retorno dos
produtos às indústrias após o consumo e obriga o poder público a realizar planos para o
gerenciamento do lixo. Entre as novidades, a lei consagra o viés social da reciclagem, com
participação formal dos catadores organizados em cooperativas (CEMPRE, 2010).

Gestão de Resíduos Sólidos no Planejamento Urbano

O estado de limpeza de uma comunidade reflete, sem dúvida, o grau de civilização de seus
habitantes e a eficiência e seriedade dos administradores locais. Silva (2000) explica que a falta de
limpeza gera diversos malefícios do ponto de vista sanitário. Do ponto de vista econômico, são
decorrentes de um sistema precário de limpeza pública, a desvalorização dos terrenos e prédios
localizados nas proximidades das áreas com acúmulo de lixo. Além disso, ocorrem ainda problemas
como: gastos frequentes com a limpeza de rios e galerias de águas pluviais; reflexos negativos no
turismo da região; falta de estímulo à fixação de novos habitantes e de novos empreendimentos
comerciais e industriais; e problemas operacionais relacionados à ausência de critérios para a
disposição dos resíduos no solo (BRAGA; CARVALHO, 2002).

1010
O modo de produção, o advento da industrialização, os aglomerados urbanos, a era dos
descartáveis e a cultura do consumismo geram um grave problema ambiental e de saúde pública.
Estes resíduos dispostos inadequadamente nos territórios urbanos e rurais repercutem
negativamente sobre a qualidade ambiental, da vida e da saúde da população.
A utilização do Plano Diretor como um instrumento de gestão de resíduos sólidos, deve
levantar dados que contemplem um diagnóstico completo da realidade do gerenciamento do
município a fim de implementar uma gestão integrada dos resíduos sólidos, maximizar a
reutilização, a reciclagem e garantir a disposição final de forma que não comprometa a saúde
pública e ambiental, assim como assegurar a inclusão social dos catadores no sistema de gestão
adotado.
A gestão dos resíduos sólidos é de competência municipal, cabendo a ele definir sua própria
regulamentação para coleta, tratamento e destinação final. Dentre as várias formas de tratamento
destaca-se a incineração, a reciclagem e a compostagem; quanto ao destino final do lixo, tem os
aterros sanitários, os aterros controlados e os vazadouros a céu aberto (lixões).
Qualquer tecnologia usada no tratamento ou no destino adequado do lixo requer
investimentos com altos custos operacionais, administrativos, sociais e ambientais. Assim, a escolha
do tipo adequado para o tratamento e para o destino final dos resíduos sólidos deve levar em conta
as especificidades locais e os custos implícitos nas estratégias de tecnologias adotadas (OLIVEIRA,
2005). Em se tratando de gestão de resíduos sólidos municipais a determinação dos custos é
extremamente relevante para a avaliação da eficiência e do desempenho do serviço prestado.
Outro elemento importante para o entendimento da gestão de resíduos municipais refere-se
aos dados relacionados com a existência da cobrança pelo serviço de limpeza pública. Levando-se
em conta essas considerações, os municípios, não têm sido capazes de equacionalizar os custos de
uma gestão integrada de resíduos sólidos. Diante de tais custos questiona-se: os municípios são
capazes de assumir as despesas decorrentes da implantação de um sistema de coleta, tratamento e
destino final de resíduos sólidos com as atuais formas de arrecadação de impostos?

Planos de Gestão de Resíduos

O plano de gestão integrada de resíduos sólidos é um instrumento básico para conceber,


implementar e administrar sistemas de limpeza pública, contemplando os aspectos operacionais,
legislação, administrativos, fiscalização e controle, financeiros, informação e comunicação, inserção
social dos catadores e educação ambiental (MONTEIRO, 2001).
O Brasil conta com o Programa de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos
(PGIRSU), sendo pioneiro na América do Sul. Esse programa possui como objetivos: a organização

1011
dos catadores visando à emancipação econômica desses agentes; a ampliação dos serviços, com
inclusão social e sustentabilidade dos empreendimentos de limpeza urbana; redução, reutilização e
reciclagem de resíduos e erradicação dos lixões (CARVALHO; LOURENZANI, 2006).
A lei no 12.305/2010 obriga a elaboração de um plano nacional com horizonte de duas
décadas, atualizado a cada quatro anos, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente. O
trabalho, previsto para ser executado a partir da mobilização e participação popular em audiências
públicas, inclui metas para melhorar o cenário dos resíduos no país, normas para acesso a recursos
federais e meios de fiscalização.
Depara-se, hoje, com diferentes obstáculos de diversificadas ordens para a resolução da
problemática que engloba os resíduos sólidos. Viveiros (2006) coloca que no campo econômico as
principais alegações dão conta da eterna insuficiência de recursos financeiros públicos para a
implantação das soluções necessárias. Na esfera técnica, as polêmicas giram em torno da relação
custo/benefício das alternativas existentes para minimização, destinação final e tratamento dos
resíduos, da sua adaptação e adequação à realidade local e da formação profissional deficiente dos
quadros do funcionalismo público.
O sistema de destinação de resíduos é um sistema complexo, com ações integradas e
encadeadas. Não há solução única e nem medida isolada para lidar com os resíduos. Faz-se
necessário um efetivo planejamento nesse sentido, através do qual deverão ser avaliadas as
características dos resíduos sólidos, para então se definir a conjunção mais adequada e mais
indicada para a situação local. Tais ações competem ao planejamento urbano e ambiental municipal.

Lei no 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos: dificuldades, perspectivas e


tendências

Os lixões, apesar de ser uma prática inadequada, continuam sendo, formas de disposição do
lixo, pois, cerca de 76% dos resíduos sólidos produzidos no Brasil são depositados em locais
inadequados, 13% para aterros controlados, 10% para aterros sanitários e apenas 1% passa por
processos de compostagem, reciclagem ou incineração (IBGE, 2002). Este fato tem gerado grandes
problemas de poluição e degradação dos recursos naturais ainda disponíveis.
Não havendo uma destinação adequada, os resíduos sólidos se transformam em um grande
problema de ordem econômica, social, sanitária e ambiental. Quanto aos aspectos econômicos, os
lixões recebem uma grande quantidade de materiais que poderiam ser reutilizados ou reciclados
(plástico, papel, vidro e metal), ocorrendo, portanto, desperdício de mão-de-obra, energia, recursos
naturais e matéria-prima.

1012
Machado (2004) afirma que a partir da década de 1970, o Governo Federal disponibilizou
linhas de créditos para as prefeituras através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social – BNDES e da Caixa Econômica Federal – CEF as quais poderiam ser utilizadas na
aquisição de equipamentos, implantação de usinas de triagem e compostagem e auxílio à
infraestrutura dos sistemas de limpeza. Com esses recursos, vários municípios candidataram-se a
tais linhas de créditos e o tipo de recurso mais solicitado foi referente à aquisição de equipamentos
industriais. Uma vez que a capacitação técnica dos gestores de limpeza urbana era mínima, vários
projetos não foram condizentes com a estrutura do município tanto na sustentabilidade financeira do
projeto como nas condições técnicas e administrativas numa perspectiva de longo prazo.
Tais programas são mais paliativos do que preventivos, apontando claramente a falta de
racionalidade política com relação à gestão de resíduos sólidos municipais. No entanto, vale
salientar que para a maioria dos recursos disponibilizados, inclusive por meio do FGTS através do
Ministério das Cidades, não houve demanda suficiente, talvez explicável em função da baixa
capacitação técnica dos responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos municipais em apresentarem
projetos (BORZINO, 2005), ou então, pela dificuldade existente com relação à captação de recursos
para financiamento de projetos. Esta questão pode também estar relacionada com a falta de suporte
técnico na elaboração de projetos, pois segundo Machado et al. (2004), na natureza legal na busca
de captação de recursos, grande parte dos municípios não consegue captar recursos na esfera
federal, por estarem inadimplentes e não apresentarem as certidões negativas exigidas.
Outro fator que implica negativamente na gestão de resíduos sólidos municipais refere-se a
grande quantidade de municípios de pequeno porte que não cobram nenhum tipo de taxa para a
cobertura desses serviços. Isto implica em dificuldades não apenas econômico-financeiras, mas
também na não garantia da prestação do serviço com qualidade para a comunidade (IBGE, 2002).
Os Estados deverão elaborar seus planos de resíduos sólidos urbanos com vigência
indeterminada, antevendo um horizonte de vinte anos e prevendo revisões a cada quatro. A política
fornece a orientação de conteúdo, determinando o que deve constar do plano estadual, exigindo que
o poder público faça um diagnóstico e acompanhe os fluxos dos resíduos. Isto implicará em
incentivo a reciclagem e aproveitamento, patrocinando a coleta seletiva dentre outras medidas.
Outra determinação relevante é o comprometimento maior dos Estados em abrir espaço para a
redução de resíduos, reciclagem, reutilização e outras formas sustentáveis, visando à redução dos
rejeitos. A contra partida será a prioridade na obtenção de recursos da União de acordo com a
regulamentação.
Outro ponto forte abordado pela PNRS é a logística reversa, já existente em casos pontuais
como fabricantes de pilhas e pneus quando, atribui aos responsáveis o recolhimento ou o retorno
dos resíduos ou partes inservíveis do produto visando à correta destinação ambientalmente indicada.
1013
Inclui, também, o correto descarte de embalagens, resíduos da construção civil, dentre outros.
Acordos setoriais em todas as instâncias de governo com a iniciativa privada são pontos fortes da
política.
A Lei no 12.305/2010 institui que as prefeituras devem implantar a coleta seletiva de lixo
reciclável nas residências, no prazo de 4 anos, além de sistemas de compostagem para resíduos
orgânicos, como restos de alimentos – o que reduz a quantidade levada para os aterros, com
benefícios ambientais e econômicos. As providências tomadas pelos municípios fazem parte de um
novo conceito: o gerenciamento integrado do lixo, que envolve diferentes soluções, como a
reciclagem e a disposição dos rejeitos em aterros que seguem critérios ambientais.
Existe a possibilidade de fracasso na implantação da lei se não houver comprometimento
entre os entes da federação, ou seja, municípios, estados e União. Ao resolver o problema do
acúmulo de resíduos em locais inadequados, como os lixões, até com o recurso a novas tecnologias,
coloca-se outro problema: como aproveitar os catadores de material reciclável que, atualmente
fazem da atividade seu ganha-pão? Faz-se necessária uma solução que passe pela inserção dos
catadores no processo produtivo, no caso de haver automação desse trabalho, e que não se traduza
em desemprego para uma gama de trabalhadores.
Segundo o IBAM (2011) a coleta seletiva no Brasil cresceu apenas 9,3%, nos dois últimos
anos. O número de municípios que possuem o sistema de coleta no país, subiu de 405, para 443,
entre 2008 e 2010, e somente sete dessas cidades conseguem atender toda a sua população.
Atualmente, somente 8% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva, e a maior parte
deles está nas regiões Sul e Sudeste. Para tornar esse sistema mais viável, principalmente para
municípios pequenos, é preciso fazer consórcio entre eles para que a quantidade de material
arrecadado adquira valor comercial e gere lucro para as duas cidades (CEMPRE, 2010).
Para o setor de resíduos sólidos esta Lei em conjunto com a Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei no 6.938/1981), a Lei de Crimes Ambientais (Lei no 9.605/1998) e a Política de
Saneamento Básico (Lei no 11.445/2007) passam a formar o arcabouço regulatório necessário para
alterar a situação existente de negligência com os impactos ambientais gerados pelos resíduos. A
Lei de Consórcio (Lei no 11.107/2005) apoia quanto aos aspectos da gestão, da sustentabilidade
econômico-financeira, possibilitando ganhos em escala, dos sistemas municipais de resíduos sólidos
de forma consorciada entre vários municípios.

Aplicabilidade da Legislação Frente às Dificuldades Municipais

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece a implantação de aterros sanitários até
2 agosto de 2014, foi aprovado em 2010 após 20 anos de tramitação no Congresso. O Plano previa
ainda que até 2 de agosto de 2012, os municípios apresentassem seus planos de resíduos sólidos. A
elaboração do plano municipal é um pré-requisito para receber recursos do governo federal.
1014
A dois anos do prazo, a instalação de aterros sanitários em todas as cidades brasileiras ainda
precisa atingir 3.371 municípios, que adotam destinação considerada inadequada para seus resíduos
sólidos. Com 60,6% dos 5.565 municípios do país utilizando lixões e aterros controlados – terrenos
sem condições técnicas – a tendência é que a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) seja adiada em alguns anos (CNM, 2012).
Caso a média de crescimento do setor nos últimos cinco anos seja repetida, a meta só será
atingida em 150 anos. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apresentou que de 2007 a
2011, o número de cidades que adotaram destinação correta para os resíduos sólidos cresceu 1,67%
(0,33% ao ano em média). Em 2007, havia 2.159 municípios com aterros sanitários instalados e em
2011 esse número passou para 2.194 (CNM, 2012).
De acordo com o MMA (2012), 229 municípios apresentaram planos municipais ao órgão
para pleitear recursos para implementá-los. Levantamento feito pela CNM (2012), aponta que de
3.457 municípios, apenas 334 (9%) concluíram seus planos. Já 1.694 cidades (49%) ainda não
deram início à elaboração dos planos. Para tais resultados os municípios justificam a inexistência de
equipe técnica, falta de recursos financeiros ou espera da liberação de recursos prometida pelo
governo federal e não repassada.
Entre os municípios que ainda não começaram a elaborar política para os resíduos sólidos,
221 (6,4%) declararam não conhecer a lei. Outros 1.449 (42%) já iniciaram a elaboração dos
projetos, mas ainda não os concluíram (CNM, 2012).
Além do histórico e dos dados, que mostram avanço lento do setor, o prazo de quatro anos
para implantar os aterros sanitários em todo o país também se mostra pequeno quando comparado
com metas estabelecidas em outros países.
O custo de implantação de aterros nos mais de 3 mil municípios, que precisam do serviço,
custará R$ 70 bilhões, enquanto a arrecadação de todos as 5,5 mil cidades chega a R$ 80 bilhões
por ano (CNM, 2012).
Na Europa, os países que compõem a União Europeia tiveram 12 anos, de 1998 a 2010 para
resolver o problema, mas precisaram postergar o prazo para conseguir destinar todo o lixo
adequadamente. Nesse contexto, o gerenciamento de resíduos sólidos passou a ser uma questão
prioritária para os gestores municipais, tornando-se um desafio encontrar soluções ambientalmente
sustentáveis e economicamente viáveis.
Entretanto, mesmo o Brasil tendo uma das legislações ambientais mais bem elaboradas do
mundo, a fiscalização para a efetivação dessa lei é insuficiente, não sendo, portanto, tarefa fácil
definir um plano de gerenciamento integrado de resíduos sólidos devido a fatores como: i)
limitações de ordem financeira; ii) deficiência na capacitação técnica e profissional; iii)
descontinuidade política e administrativa; iv) deficiência de controle ambiental.
1015
Considerações Finais

A gestão do planejamento, no âmbito municipal, é um grande desafio a ser vencido. Os


obstáculos são de diversos tipos e vão desde a falta de estrutura adequada até a escassez de recursos
para promover a implementação do que foi planejado.
O Planejamento Urbano, quando bem utilizado, transforma-se em um grande aliado dos
municípios para a prevenção e a solução dos problemas relacionados ao uso do território urbano, na
medida em que estabelece as diretrizes que devem ser observadas para a correta utilização do
espaço. Porém, o que ocorre com a maioria dos planos formulados é o engavetamento, sem a ação
do que foi elaborado, como também, a elaboração por equipe não qualificada, que prejudica o
desenvolvimento ordenado do município.
A gestão de resíduos sólidos tem se tornado um expediente cada vez mais importante no
contexto econômico da sociedade contemporânea. A complexidade existente principalmente na
destinação final dos resíduos sólidos tem causado em nosso país problemas de ordem social
(associados à pobreza) e ambiental (contaminação do solo, do ar e da água), com reflexos
econômicos (externalidades negativas) para a sociedade em geral.
Positivamente, as soluções para os resíduos sólidos por exigirem forte participação do
gerador, estão sendo concebidas considerando o envolvimento de todos os atores que interferem no
ciclo, da geração até a destinação, ou seja, produção/geração, distribuição/geração,
consumo/geração.
Embora não se tenha receita pronta para resolver os problemas dos resíduos sólidos nos
municípios, em função das diferentes soluções para diferentes locais, a mistura dos ingredientes
existentes, se bem utilizados: base legal, mudança de conceitos, inserção de novos e a exigência do
envolvimento da sociedade, em um processo de educação ambiental, com financiamento para o
setor, formarão os elementos norteadores das soluções preconizadas. A dimensão participativa ao
envolver o cidadão nas decisões que são tomadas pelo Poder Público deve ser uma constante nos
projetos de resíduos sólidos.
As cidades brasileiras de maior porte, investem em soluções para a disposição final, porém,
soluções para toneladas de resíduos diariamente gerados exigem ações que não visem apenas o seu
aterramento, mas, a exemplo do que faz a natureza, os reincorpore a um ciclo fechado, da geração à
transformação.
A problemática dos resíduos sólidos tem que ser analisada de maneira mais abrangente que a
mera solução tecnológica, de modo geral concentrada na etapa de disposição final: é preciso
também ver a montante da produção crescente de resíduos, questionando os mecanismos que levam
a ela e as consequências daí advindas.

1016
A administração dos resíduos sólidos urbanos e as políticas governamentais devem
vislumbrar simultaneamente todas as fases do processo, buscando reduzir sua geração e investir no
processo de tratamento dos resíduos gerados que possam ser reutilizados ou aproveitados pelo
sistema econômico, dispondo somente rejeitos em aterros sanitários ou alternativas tecnológicas de
destinação de resíduos, alcançando, com isso, um sistema circular de manejo de resíduos
produzidos.

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1018
ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DOS IMPACTOS
PROVOCADOS PELO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ―MATA VIVA DO BELÉM‖
NA COMUNIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO BELÉM - ES,
A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS SEUS SUJEITOS

Charles Moura NETTO (FARESE)


cmnetto@gmail.com114

Sandra Maria GUISSO (UFES)


sguisso@gmail.com115

Resumo

O presente estudo analisa os impactos ambientais provocados pelo Projeto de Educação Ambiental
―Mata Viva do Belém‖ na comunidade de São Sebastião do Belém em Santa Maria de Jetibá-ES, a
partir da percepção dos seus sujeitos. Os pressupostos teóricos assumidos estão relacionados a partir
da perspectiva da Educação Ambiental crítica e transformadora que teve como uma grande
referência o educador Paulo Freire. O papel da educação transformadora se realiza quando a
interferência na percepção e na consciência e em sua estrutura promove, nos sujeitos, uma vigorosa
atividade intelectual (formação de conceitos) entrelaçada aos conteúdos afetivos (emoções) e sócio-
políticos (novas habilidades para atuar no contexto socioambiental). Adotou-se como metodologia a
pesquisa exploratória. Este estudo foi realizado com 35 alunos de 14 a 16 anos, pertencentes ao 9°
ano do ensino fundamental e 1° e 2° anos do ensino médio, a 4 professores do ensino médio, a 4
funcionários da escola e 10 famílias do entorno da escola estadual de ensino fundamental e médio
―Prof. Hermann Berger‖ . Os dados foram coletados por meio da observação do pesquisador junto
às atividades do programa, tanto na escola quanto na comunidade de confissão luterana de Belém
quando da realização de ações aos participantes, e também pelo uso de entrevistas e formulários
semiestruturados. Os resultados encontrados demonstram que o Projeto de Educação Ambiental
―Mata Viva do Belém‖ foi capaz de alterar as análises da percepção da comunidade em relação às
questões socioambientais, lhes proporcionando autonomia na tomada de decisões sem a necessidade
de recorrer a agentes externos.

Palavras-Chave: Projeto ―Mata Viva do Belém‖; Comunidade-Escola; Educação ambiental;


Percepção; Impactos socioambientais.

114
Professor Mestre da Faculdade da Região Serrana – FARESE.
115
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.

1019
Abstract

The present study examines the environmental impacts caused by the Environmental education
project "Mata Viva do Belém" in the community of São Sebastião do Belém in Santa Maria de
Jetibá-ES, from the perception of its subject. The theoretical assumptions made are related from the
perspective of critical and transformative environmental education which took as a great educator
Paulo Freire reference. The role of transforming education takes place when the interference in
perception and consciousness and its structure promotes, in the subject, a vigorous intellectual
activity (concepts) are interlaced to affective content (emotions) and socio-political (new skills to
work in the socioenvironmental context). Adopted as the exploratory research methodology. This
study was conducted with 35 students from 14 to 16 years, belonging to 9° year of elementary
school and 1° and 2° years of high school, 4 school teachers, school staff and 10 4 families around
the State School of primary and secondary school "Prof. Hermann Berger". The data were collected
through observation of the researcher with the program's activities, both in school and in the
community of Lutheran confession of Bethlehem when performing actions to participants, and also
through the use of interviews and semi-structured forms. The results demonstrate that the
Environmental education project "Mata Viva of Bethlehem" was able to change the analysis of
perception of the community in relation to social and environmental issues, providing them with
autonomy in decision-making without the need to resort to external agents.

Keywords: Project ―Mata Viva do Belém‖; Community-School; Environmental education;


Perception; -Environmental impacts.

Introdução

Os problemas ambientais ficaram mais em evidência a partir da década de 1960 e se


tornaram conteúdo programático das escolas na década de 1990, a partir da homologação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Básica de 1996 (BRASIL, 1996) que estipula em seu artigo 22 que
―A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe formação comum
indispensável para o exercício da cidadania [...]‖. Leff ( 2001) relata a dificuldade de resolver os
crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança
sistemática nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos baseados no aspecto
econômico do desenvolvimento vigente.
Baseando-se em novas tendências, no Brasil várias propostas e projetos de Educação
Ambiental foram formulados na educação formal e não formal na tentativa de possibilitar uma
mudança de valores e atitudes, contribuindo para a formação de um sujeito ecológico

1020
(CARVALHO, 2004). Muitas destas propostas de educação ambiental nos últimos anos se
caracterizam por uma hegemonia de perspectivas e práticas educacionais voltadas a visões limitadas
sobre o meio ambiente e sobre a relação entre o homem e seu meio natural (GUIMARÃES, 2004;
LOUREIRO, 2004).
As críticas à Educação Ambiental se voltam para o seu caráter convencional, aspectos
técnicos e reducionistas (LAYRARGUES, 2003; LOUREIRO 2004), sua distância em relação a
discussão dos fundamentos políticos e teóricos da mesma, assim como a sua prática através de
iniciativas de caráter aplicativo ou instrumental, afastando-a de uma abordagem socioambiental.
A Educação Ambiental (EA) é um processo educativo e social que tem por finalidade a
construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da
realidade da vida e a atuação consciente e responsável de atores sociais individuais e coletivos no
ambiente, tendo em vista a qualidade de vida individual e coletiva do planeta (LOUREIRO, 2002).
A partir destas explanações começaram a aparecer algumas indagações: Estão os projetos de
Educação Ambiental alcançando seus objetivos? Como avaliar a aplicabilidade dos projetos de
Educação Ambiental? Alba e Gaudiano (1997, 27) consideram que a avaliação precisa ser um
processo contínuo e ocorrer em todas as fases do desenvolvimento das atividades: ―Está associada
com todo o processo educativo. Não a concebemos só como uma atividade final, nem diagnóstica,
senão como um processo estreitamente articulado com o fazer educativo.‖ Fazendo um paralelo
com a Educação Ambiental, Guimarães (1995) acredita ser importante realizar uma avaliação no
decorrer de todo o desenvolvimento de atividades de um projeto de Educação Ambiental.
Responder qual impacto um projeto de educação ambiental ocasiona, a partir de uma
experiência que mostra o fazer ambiental, envolvendo uma comunidade numa cidade do interior e
suas interrelações foi a intenção desta pesquisa que se baseou na análise dos impactos ocasionados
na comunidade de São Sebastião de Belém. A seguir serão apresentados dados das ações dos cinco
anos de implantação e intervenção do projeto de Educação Ambiental ―MATA VIVA DO
BELÉM‖.
Neste período, o projeto teve visibilidade regional e estadual, com reportagens e registros
pela mídia local, estadual e pela Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo. Alguns
questionamentos permearam a pesquisa, a saber: É possível identificar mudanças nas concepções
dos problemas ambientais dos sujeitos envolvidos no projeto? Quais os impactos diretos deste
projeto de Educação Ambiental na comunidade? Houve mudanças de hábitos e comportamento nos
indivíduos com relação ao meio ambiente?
O presente estudo pode ser classificado como sendo uma pesquisa qualitativa exploratória
que utilizou como meios de coleta de dados a entrevista e a aplicação de formulários para conhecer
as diversas manifestações do processo de construção do Projeto Mata Viva do Belém e dos atores
1021
envolvidos. Foi ainda utilizada a análise de conteúdo para analisar os dados obtidos. Foram
entrevistados a diretora da escola da EEEF Profº Hermann Berger, o pastor da Igreja de Confissão
Luterana ―São Sebastião do Belém e a coordenadora do Projeto Mata Viva do Belém. Foram
aplicados formulários a 35 alunos de 14 a 16 anos , pertencentes ao 9° ano do ensino fundamental e
1° e 2° anos do ensino médio, 4 professores do ensino médio, 4 funcionários e 10 famílias do
entorno da Escola estadual de ensino fundamental e médio Prof. Hermann Berger .

A Comunidade e a Introdução do Projeto Mata Viva do Belém

Para compreender como se constitui uma comunidade e seus movimentos próprios de


resolução de problemas locais é importante que sejam apresentadas algumas de suas características,
para como diz Augé (2008) entendermos de que lugar se fala. O município de Santa Maria de Jetibá
está localizado na região serrana do Estado do Espírito Santo (figura 1), possui uma área de 734
km2. Distante 80 km da capital, Vitória, possui aproximadamente 34.000 habitantes, sendo 80%
população de origem pomerana. Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2000),
Santa Maria de Jetibá tem um índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,724 (inferior a média
estadual de 0,735) e uma distribuição populacional de 17,73% na zona urbana e 82,27% zona rural.

Figura 1 - Mapa do estado Espírito Santo, localização do município de Santa Maria de Jetibá e a localidade de São
Sebastião do Belém.

1022
A característica regional de predominância de pequenas propriedades rurais reforça a
ocorrência de devastação da mata nativa, pela necessidade de ampliação das áreas para o cultivo. A
cobertura vegetal local é a Mata Atlântica de altitude, que se encontra em intenso processo de
degradação. Os fragmentos de florestas da região estão isolados por áreas de pasto, agricultura e
redes elétricas.
Apesar do contexto de devastação florestal, a região apresenta ainda uma variedade de
espécies vegetais e animais, sendo que algumas dessas espécies estão ameaçadas de extinção como
Callicebus personatus (sauá), Bradypus torquatus (preguiça de coleira), Puma concolar
capricorniensis (sussuarana) e Brachyteles arachnoides ( muriqui) (BRASIL, 2003).
Esta comunidade também possui pequenas propriedades rurais, sendo a agricultura familiar
sua principal forma de renda. São Sebastião do Belém é uma comunidade que se caracteriza pela
forte participação em assuntos de interesse coletivo, que têm a Igreja de Confissão Luterana de São
Sebastião de Belém e a Escola Estadual Prof. Hermann Berger como fóruns organizadores destes
debates.
Demonstra esta postura coletiva o fato da Escola Estadual Prof. Hermann Berger ter criado,
por iniciativa própria, o projeto de Educação Ambiental intitulado ―Mata Viva do Belém‖,
envolvendo a comunidade de São Sebastião de Belém, nas discussões sobre as questões regionais e
globais, atendendo, desta forma, ao princípio legal (BRASIL, 1996) que confere às escolas o papel
de sensibilização e orientação.
O Projeto ―Mata viva do Belém! foi fundado dia 1º de julho de 2005 na escola pública
estadual de Ensino Fundamental e Médio ―Hermann Berger‖ e teve como idealizadores a direção e
os professores da escola, baseando-se nos princípios da conferência de Tbilisi (UNESCO, 1997)
que recomenda que a Educação Ambiental deve ser um processo continuo e permanente, que deve
se inserir na educação formal e não formal e despertar o senso crítico para a complexidade dos
problemas ambientais e suas possíveis resoluções. A necessidade deste projeto ficou mais evidente
devido ao desconhecimento da comunidade do entorno escolar a respeito da situação atual da Mata
Atlântica local e da espécie-bandeira, o muriqui-do-norte – o maior macaco das Américas e uma das
25 espécies de macacos mais ameaçados no mundo – presente nos fragmentos florestais ao redor da
escola. Foi acordado que a escola seria o agente que iria atuar sensibilizando e difundindo o
conhecimento científico na comunidade, para que todos se sentissem motivados a realizar ações
concretas para conservar a flora e fauna. A necessidade da criação deste projeto se justificou, ainda,
porque a escola se localiza em zona rural e conta com mais de 90 por cento dos alunos oriundos de
zona rural e que possuem uma forte ligação com a natureza.
Primeiramente foi aplicado um questionário pela diretora da escola para diagnosticar o
conhecimento prévio tanto de alunos, quanto dos funcionários em relação a temáticas ambientais
1023
locais. Os resultados confirmaram as expectativas iniciais de precário nível de conhecimento sobre
a degradação do meio ambiente, sua identificação, as possíveis causas e consequências, bem como
das relações do homem, da sociedade com o meio ambiente. A partir desta verificação, foram
realizadas semanalmente, durante dois meses reuniões de planejamento e construção do plano de
ações do projeto. Na verificação dos questionários ficou também evidente a falta de preparo técnico
da direção da escola e dos docentes em trabalhar com ações estritamente técnicas relacionadas ao
meio ambiente. Sendo assim, a coordenação do projeto optou em procurar possíveis parceiros para
trabalharem juntos nesta construção do saber. Este processo de parceira demandou tempo e
persistência e foi construído efetivamente ao longo de três anos de reuniões onde foram feitos
contatos com as seguintes instituições: Projeto Muriqui - IPEMA (Instituto de Pesquisas da Mata
Atlântica), INCAPER (Instituto Capixaba de Produtores Rurais), Secretaria Municipal de Meio
Ambiente de Santa Maria de Jetibá, Secretaria Municipal de Agricultura de Santa Maria de Jetibá e
Polícia Ambiental do Estado do Espirito Santo. Foram feitos, a princípio, contatos telefônicos e
posteriormente foram realizadas reuniões entre os diversos parceiros e a coordenação do projeto
para apresentar o plano de ação do projeto Mata Viva do Belém. Foram discutidos a problemática,
os planejamentos, o cronograma de ações, as competências e as possíveis parcerias e suas atuações.
Este processo aconteceu a partir de 2005 e se atualiza de forma dinâmica e presente.
A princípio, o maior problema enfrentado pelo Projeto Mata Viva do Belém foi o
convencimento de alguns estudantes, funcionários, familiares e integrantes da sociedade do entorno
da escola de se envolverem com o projeto, pois a maioria da população brasileira tem consciência
da importância da preservação de áreas de coberturas vegetais para preservação da flora e fauna,
mas a participação ativa dos indivíduos ainda é uma situação difícil de alcançar. Este processo de
conscientização e fraturas de paradigmas é lento e trabalhoso, necessitando de muita persistência,
didática, estratégia e planejamento. A estratégia adotada foi o trabalho interno da escola com a
informação e a formação de sujeitos ecológicos com visão de um meio ambiente na sua totalidade
que integrasse fauna, flora, sociedade, desenvolvimento e suas relações. Este processo é de
permanente formação o que obrigatoriamente passa pela prática escolar de uma Educação
Ambiental, que proporcione o diálogo entre os vários saberes da educação e o empoderamento do
indivíduo com o viés ambiental.
Com a implantação dos cursos e oficinas oferecidos aos alunos, professores, funcionários e a
comunidade do entorno da escola que aderiram ao projeto de educação ambiental ―Mata Viva do
Belém‖ e o planejamento das ações a partir das identificações dos principais problemas ambientais,
a adesão aconteceu de forma natural e espontânea, mas não sem antes entender que um projeto de
Educação Ambiental, necessariamente precisa envolver indireta e diretamente os vários grupos
sociais que formam aquela sociedade. A partir deste entendimento, a Igreja de Confissão Luterana
1024
―São Sebastião do Belém‖ foi convidada a participar do projeto como instituição formadora de
opinião, de valores morais e éticos da sociedade local e que possibilitou dialogar principalmente
com moradores que não possuíam filhos ou parentes no ambiente escolar. A partir desta adesão aos
cursos, as palestras e reuniões de planejamento e de avaliações aconteceram tanto na Igreja de
Confissão Luterana de São Sebastião de Belém quanto na Escola Estadual Profº Hermann Berger
(figura 2) permitindo uma maior integração de ideias e de ações dos vários grupos envolvidos no
projeto.

Fig. 2 - Igreja de Confissão Luterana de São Sebastião do Belém

Nos cinco anos de atuação do Projeto ―Mata Viva do Belém‖ várias estratégias foram
utilizadas para alcançar as metas e os objetivos do projeto e se caracterizam pela forte atuação da
comunidade local em atividades desenvolvidas, tanto na região de São Sebastião do Belém, como
em outras partes do município e do estado. As estratégias utilizadas tiveram como primícias a
gnoses e a práxis. Estas atividades foram resultado do planejamento dos parceiros e da coordenação
do Projeto ―Mata Viva do Belém‖, a partir dos três grupos de trabalho (Informação e
Conscientização, Capacitação e Formação e Ação e Multiplicação) que atuaram na formação e na
ação dos indivíduos no projeto de Educação Ambiental e culminaram com resultados práticos
expressivos, a saber:
 Desenvolvimento de artesanato pela comunidade resultando em uma opção de renda
adicional à algumas famílias;

1025
 Participação na Feira Científico-Cultural Estadual em 2006, 2007 e 2008 proporcionando
aos discentes a oportunidade de atuarem como educadores ambientais na explanação do
Projeto ―Mata Viva do Belém‖ a outras escolas do estado.
 Participação na Feira do Verde em Vitória nos anos de 2007 e 2009 oportunizando aos
integrantes do projeto (alunos, professores, funcionários e moradores do entorno) a
divulgação do projeto (proposta, objetivos, metas e resultados) a sociedade capixaba.
 Projeto escolhido pela Secretaria Estadual de Educação (SEDU) como um dos cinco
melhores em Educação Ambiental desenvolvido nas Escolas Estaduais no ano de 2008. Essa
escolha proporcionou uma visibilidade do projeto em ambiente escolar estadual.
 Projeto selecionado dentre as 90 melhores experiências do Prêmio INOVES 2008 e 2009,
pela secretaria de estado de recursos humanos. Esta seleção divulgou o projeto de Educação
Ambiental em setores governamentais e não governamentais.
 Visitação de Escolas e outros órgãos como ―Projeto de Referência‖, a partir dos
reconhecimentos a escola e o projeto passaram a receber visitas de público interno e externo
do município, sendo reconhecido pela secretaria de turismo de Santa Maria de Jetibá, em
2009 como um ―Circuito de Turismo Pedagógico e Científico‖.
 Criação de comércio local intitulado ―Broudhuss‖ que comercializa produtos da culinária
pomerana resultando em uma opção de renda econômica adicional á algumas famílias.
 Formação do Clube ―Amigos do Projeto Mata Viva do Belém‖, grupo formado com o
objetivo de captar adeptos da causa ambiental e que possam contribuir com qualquer
iniciativa.
 Criação da Horta Orgânica, Compostagem e Minhocário na Escola que serve para fornecer
substratos tanto para a alimentação do lanche da escola, como para suprir as necessidades do
viveiro de mudas de árvores nativas da mata atlântica.
 Criação de uma logomarca (figura 3) do Projeto Mata Viva do Belém, como forma de
institucionalizar o marketing do projeto.

1026
Figura 3 - Logomarca do Projeto Mata Viva do Belém

 Criação do Viveiro de mudas de árvores nativas, a partir dos reconhecimentos e resgate das
árvores da Mata Atlântica de altitude como etapa do processo de reflorestamento das áreas
degradadas no entorno da escola.

 Adoção de áreas degradadas que foram previamente identificadas com potencial de


reflorestamento e de ligação entre fragmentos de mata nativa que possuíam populações de
macacos muriquis, potencializando sua perpetuação. Esta ―adoção‖ se deu através de
consentimento espontâneo de proprietários rurais participantes do projeto e que aderiram a
prática de reflorestamento com árvores nativas. Foi criado um documento intitulado
―Contrato de Comodato de Imóvel Rural‖ no qual o proprietário cede em regime de
comodato, uma área da sua propriedade para reflorestamento por um período de 20 anos. O
monitoramento da área e todas as etapas do reflorestamento são de responsabilidade do
Projeto Mata do Belém. A primeira área a aderir a este regime de comodato foi a área do
proprietário rural Geraldo Saick, que se localiza no entorno da escola, distante 500 metros e
possui 6,0821 hectares e se encontra demarcada entre as seguintes coordenadas geográficas:
Área 1 Latitude 322187, Longitude 7782979; Área 2 Latitude 322208, Longitude 7783139;
Área 3 Latitude 322299, Longitude 7783109 – demarcadas por GPS. A área total
disponibilizada foi subdividida em três áreas e seu reflorestamento está acontecendo
respeitando o seguinte cronograma: Área 1 – inicio do reflorestamento em 2009, Área 2 –
inicio do reflorestamento em 2010 e Área 3 – inicio do reflorestamento em 2011.

1027
Figura 4 - Propriedade de Geraldo Saick (6,0821 ha) e as 3 áreas que estão
sendo reflorestadas em São Sebastião do Belém – Santa Maria de Jetibá - ES

 Reflorestamento de áreas degradadas selecionadas pelo projeto Mata Viva de Belém (figura
4) com as etapas de capina do local, adubação, coroamento e manutenção. Esta atividade é
realizada pelos alunos, professores, funcionários e moradores em escala de rodízio. O
reflorestamento é acompanhado por técnicos do IPEMA (Instituto de Pesquisas da Mata
Atlântica).

Passados cinco anos de sua implantação, o projeto ―Mata viva do Belém‖ teve uma
significativa visibilidade e cobertura de suas ações por parte da mídia local e regional, além do
reconhecimento da Secretaria Estadual de Educação.

Considerações Finais
A principal proposta deste trabalho foi apresentar as várias etapas de construção do Projeto
de Educação Ambiental Mata Viva do Belém e sua influência na comunidade local através da
percepção de seus integrantes. À princípio, o projeto foi idealizado como proposta de educação
ambiental para a escola e conscientização dos moradores do entorno, mas passados cinco anos da
implantação do projeto de educação ambiental Mata Viva do Belém é visível o alto grau de
comprometimento dos vários agentes envolvidos no projeto, tanto por parte da Escola (alunos,
funcionários, professores e direção), quanto da comunidade de Belém (moradores do entorno,
lideranças religiosas e comunitárias), órgãos governamentais e não governamentais. Neste processo,
foi possível identificar que existem agentes que atuam formalmente no projeto e estão inscritos
como colaboradores nas várias etapas de execução do mesmo (administrativo, logístico, de
1028
formação e de execução) e são compostos por alunos, funcionários, professores, pais, simpatizantes,
moradores da escola e órgãos citados. Muitos agentes participam de modo não formal, oferecendo
alguma forma de auxílio (administrativo, logístico, de formação e de execução) e se declaram
simpatizantes da causa ambiental e são compostos principalmente por professores, moradores do
entorno e munícipes de localidades de Santa Maria de Jetibá.
O reconhecimento da direção da escola da importância de buscar parceiros em órgãos
governamentais e não governamentais foi de suma importância para a construção do projeto
planejado, com metas, objetivos e diretrizes. Este projeto conseguiu construir bases pedagógicas
sólidas com gnoses e práxis, respaldados na vivência de temáticas ambientais locais. O projeto
empoderou seus participantes com cursos e oficinas para informar, conscientizar, capacitar e
multiplicar a causa ambiental através de inúmeras palestras. Essas ações possibilitam um diálogo
constante entre os vários saberes da educação formal, ao menos tempo que possibilitou o acesso da
informação à comunidade do entorno proporcionando uma educação ambiental não formal. A opção
por um complemento de renda através de um comércio de comidas e artesanatos pomeranos foi uma
opção real de frear a pressão sobre o esgotamento de reservas naturais e se constitui um exemplo de
sustentabilidade local.
O Projeto Mata Viva do Belém aproximou para uma mesma causa comum, o bem-estar
ambiental da comunidade, escola e igreja, duas instituições seculares que se aproximam e às vezes
se distanciam em conhecimentos, valores e crenças. Desprovidos de pré-conceitos e dogmas, mas
sabendo valer sua ―autoridade constituída‖ como instituições que o são, os lados buscaram o
diálogo, a informação e formação dos seus tutelados.
Os indivíduos pertencentes a comunidade são capazes de perceber a importância que o
―Projeto Mata Viva do Belém‖ desempenha na região após sua implantação e relatam de forma
expressiva que ―reflorestamento‖, ―preservação ambiental‖, ―preservação das nascentes‖ e
―preservação das espécies‖ são fatos observados na região e que foram motivados nos indivíduos
após o seu envolvimento direto ou indireto com o projeto.
Os participantes do projeto (alunos, professores, funcionários e moradores do entorno)
relatam de forma significativa que ocorreram mudanças práticas com ele mesmo, no dia a dia com
as questões ambientais. E mesmo com a heterogeneidade da amostra algumas respostas relatadas
tiveram um alto grau de repetição como: ―conscientização ambiental‖, ―realização da
compostagem‖, ―cultivo e uso de produtos orgânicos‖, ―reflorestamento‖, ―separação do lixo
orgânico‖ e ―preservação ambiental‖.
Estas argumentações levam a concluir que o ―Projeto Mata Viva do Belém‖ foi capaz de
alterar a análise da comunidade em relação às questões socioambientais, lhes proporcionando
autonomia na tomada de decisões sem a necessidade de recorrer a agentes externos.
1029
É importante ressaltar que a maioria das inciativas desenvolvidas não possui qualquer tipo
de financiamento e que o projeto mesmo assim consegue alcançar seus objetivos com apoio de
parceiros, simpatizantes e comunidade local. Por outro lado, é importante ressaltar que a falta de um
apoio financeiro permanente pode levar o projeto à insustentabilidade e comprometer sua
continuidade.

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1030
POLÍTICAS PÚBLICAS, PROGRAMAS E AÇÕES QUE PERMEIAM A AGRICULTURA
FAMILIAR NO CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE

Christiane Fernandes dos SANTOS (UFERSA) 116


chrisfernandes@hotmail.com
Elis Regina Costa de MORAIS (UFERSA) 117
elisregina@ufersa.edu.br

Zildenice Matias Guedes MAIA (UFERSA) 118


zildenice@hotmail.com
Emanoella Delfino Figueirêdo REINALDO (UERN) 119
emanoelladelfino@hotmail.com
Resumo

O presente artigo tem como objetivo principal tecer uma análise sobre as políticas públicas,
programas e ações que vem sendo implementadas na zona rural do município de Janduís- RN, com
o intuito de investigar se tais intervenções contribuem para o desenvolvimento sustentável dos
agricultores familiares que vivem nesse espaço. A metodologia utilizada para alcançar esse fim,
além de uma concisa revisão bibliográfica, consistiu na aplicação de questionários junto a
agricultores, que, hora, comercializam na Feira da Economia Popular Solidária do município
anteriormente citado; também, investigou-se, através de outro questionário de semelhante natureza,
mas com questionamentos distintos, a Secretaria Municipal de Agricultura. Contudo, a pesquisa
revelou que as políticas públicas desenvolvidas na zona rural daquele município não possuem
caráter sustentável, principalmente quando são analisadas através dos aspectos sociais, ambientais e
econômicos numa perspectiva interdisciplinar. É possível evidenciar que as políticas, assim como as
demais intervenções, chegam às comunidades rurais sem antes ter existido um momento de
planejamento, que propiciasse a participação ativa dos agricultores na construção e delineamento
das mesmas. Pode-se perceber, ainda, que não existe um entendimento mais sistematizado, por
parte deles, sobre políticas públicas, porém asseguram que mesmo tendo um impacto positivo não
tem sido suficientes para atender às reais necessidades da agricultura familiar.

Palavras-chave: Políticas públicas. Agricultura Familiar. Sustentabilidade.


Abstract

116
Mestranda em Ambiente Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA

117
Prof.ª Dr.ª do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológica - UFERSA
118
Mestranda em Ambiente Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Semi Árido - UFERSA

119
Mestranda em Ciências Naturais pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN

1031
This paper's main objective is to weave an analysis of public policies, programs and actions that
have been implemented in the rural municipality of Janduís-RN, in order to investigate whether
such interventions contribute to the sustainable development of small farmers living this space. The
methodology used to achieve this end, and a concise review of the literature, consisted of
questionnaires to farmers, who, time, trade in Popular Solidarity Economy Fair of the county
aforesaid; also investigated, using another questionnaire similar nature, but with different questions,
the Municipal Agriculture. However, the survey revealed that public policies developed in a rural
county that does not have character development, especially when they are analyzed by the social,
environmental and economic an interdisciplinary perspective. It is possible to show that policies,
like other interventions, reach rural communities have existed before without a moment of planning,
that would provide the active participation of farmers in the design and construction of the same.
One can see also that there is not a more systematic understanding, on their part, on public policy,
but ensure that even having a positive impact has not been sufficient to meet the real needs of the
family farm.

Keywords: Public policies. Family Agriculture. Sustainability.

Introdução

O debate constante sobre uma proposta de desenvolvimento que possa amenizar os


desgastes causados aos recursos da natureza, bem como reduzir as diferenças socioeconômicas
entre classes tem ofuscado a concepção moderna de desenvolvimento, visto que, essa contribuía,
significantemente, para a degradação do meio ambiente e o agravamento das desigualdades sociais
colocando em risco as gerações presentes e futuras.
A agricultura moderna, conforme afirma Garcia (2001) além de modificadora da paisagem e
da estrutura organizacional e funcional dos sistemas naturais, caracteriza-se pela dependência de
insumos exógenos como, por exemplo, o adubo químico e o agrotóxico, podendo provocar danos
ambientais, e também afetar a saúde humana.
No que concerne à agricultura familiar é pertinente ressaltarmos que a transição do sistema
agrícola convencional, ainda dominante, para um sistema agrícola ancorado nos conceitos da
sustentabilidade é bastante complexa. Pois o entendimento desse último exige uma visão integrada
dos elementos que compõem o sistema de produção.
Corroborando com esse entendimento Hardi (2000) citado por Bellen (2006) diz que a maior
dificuldade para avaliar a sustentabilidade é o desafio de explorar e analisar um sistema holístico,

1032
pois não requer apenas uma percepção dos sistemas econômicos, sociais e ecológicos, por si só
complexo, mas também compreender a interação existente entre eles.
É diante dessa gama de problemas econômicos, ambientais e sociais que se destaca a
proposta de desenvolvimento sustentável. Muitos são os conceitos formulados em volta de seu
entendimento. No entanto, para uma primeira compreensão recorremos ao Relatório Brundtland ou
Nosso Futuro Comum, no qual o conceito de sustentabilidade apareceu de forma mais
sistematizada, associando a ideia de desenvolvimento com a valorização do meio ambiente e ao
atendimento das aspirações humanas. Logo, passa a ser entendido como uma forma de
―desenvolvimento que busca atender as necessidades da geração presente sem comprometer a
capacidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades‖ (CMMAD, 1991).
Compreender o desenvolvimento sustentável no contexto da agricultura familiar exige, pois,
que se considere, em igual grau de importância, a sua diversidade produtiva, a preservação
ambiental e cultural, as tecnologias mais apropriadas ao seu meio, enfim, todos os elementos
pertinentes e relacionados ao bem estar do ambiente e das pessoas. Nesse contexto, Buainaim e
Romeiro (2000), afirmam que a agricultura familiar desenvolve, em geral, sistemas complexos de
produção, combinando várias culturas, criações animais e transformações primárias, tanto para o
consumo da família como para o mercado. Afirmam, ainda que os produtores familiares
apresentam, frequentemente, as seguintes características: diversificação, investimento progressivo, a
combinação de subsistemas e a capacidade de adaptação.
Dessa maneira, é pertinente ressaltar que o desenvolvimento sustentável das comunidades
rurais do Semi-Árido Brasileiro deve estar pautado em propostas e práticas focalizadas nas
diferentes dimensões sociais, econômicas, ambientais, tecnológicas e também culturais, de maneira
articulada com os atores sociais e a realidade do local. Pensar a sustentabilidade de forma
participativa pressupõe, pois, propostas e práticas que incluam a comunidade de forma ativa, pois
isso favorece o entendimento e valorização da sua cultura.
Dessa forma, os conhecimentos adquiridos no decorrer do trabalho de pesquisa deverão
proporcionar respostas às interrogações seguintes, dentre outras: Como as políticas públicas, os
programas e ações desenvolvidas no município de Janduís–RN contribuem para a sustentabilidade
das famílias rurais? Qual o entendimento, dessas mesmas famílias, sobre a importância dessas
intervenções? Essas intervenções colaboram para o desenvolvimento local sustentável do ponto de
vista ambiental, social e econômico?
A metodologia utilizada para alcançar esse fim consistiu, além de uma sucinta revisão
bibliográfica, na aplicação de questionários composto por questões aberta e semi-abertas, com cinco
agricultores, que, hora, comercializam na Feira da Economia Popular Solidária do município
anteriormente citado. A escolha por estes agricultores se deu pelo fato dos mesmos constituírem um
1033
espaço de comercialização solidária, facilitando assim a coleta dos dados almejados na presente
pesquisa. Também, investigou-se, através de outro questionário de semelhante natureza, mas com
questionamentos distintos, a Secretaria Municipal de Agricultura com a finalidade de comparar as
percepções desses dois grupos distintos a cerca das intervenções no espaço rural.
Dessa forma, quanto a sua forma de abordagem, a pesquisa se apresenta como qualitativa,
visto que procura compreender fenômenos da realidade baseados em informações que não,
necessariamente, precisam ser quantificadas. Na percepção de Mynayo (1994) citado por Brêtas
(2000) ao definir o aspecto qualitativo do objeto estamos considerando como ―sujeito de estudo:
gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas
crenças, valores e significados‖ (BRÊTAS, 2000, p.83).
Já com relação ao objetivo do estudo, a pesquisa se caracteriza como explicativa, pois além
de buscar dados e analisá-los, busca identificar suas causas ―através da interpretação possibilitada
pelos métodos qualitativos‖ (SEVERINO, 2007, p.123).
Quanto à natureza das fontes utilizadas para a abordagem do tema em questão, a pesquisa
pode ser considerada como bibliográfica e de campo: A pesquisa bibliográfica ―é aquela que se
realiza a partir de registros disponíveis, decorrentes de pesquisas anteriores, em documentos
impressos como livros, artigos, teses, etc.‖ (SEVERINO, 2007, p. 122); Na pesquisa documental
utiliza-se como fonte documentos diversos como jornais, fotos, filmes, entre outros. Já, a pesquisa
em campo acontece quando a coleta dos dados se faz no local onde o fenômeno a ser estudado
ocorre.
Vale salientar que a literatura que trata da questão das políticas públicas no contexto da
agricultura familiar brasileira é relativamente escassa. Pois, a maioria dos estudos se propõe a
avaliar o sucesso ou descaso de um programa específico, principalmente aqueles voltados à
produção e comercialização agrícola. É sabido que outras políticas mais voltadas para o bem-estar
social como os programas de saúde e habitação, por exemplo, também perpassam aquele meio,
mesmo que de forma tímida.
Assim sendo, esse estudo não é por si só um estudo pronto e acabado, mas que está à mercê
de novos olhares e reflexões. No entanto, acredita-se ser de grande proveito para todos os
profissionais e acadêmicos, em especial para os gestores locais, que almejam refletir sobre a
sustentabilidade no contexto da agricultura familiar local.

Agricultura Familiar e Sustentabilidade

A agricultura familiar está, intrinsecamente, relacionada ao uso dos recursos naturais. Pode-
se dizer que ela depende necessariamente deles, das tecnologias que utiliza para o seu usufruto,
assim como do trabalho humano. No entanto, alguns fatores externos como as políticas públicas,
1034
programas e ações impostas ao meio rural influenciam o sistema de produção, deixando a margem,
em muitas situações os saberes dos agricultores que emergem de suas próprias vivências.
Muitas são as definições em torno do entendimento sobre agricultura familiar. Antes, de
citar alguns autores que colaboram com tal entendimento é cabível saber que existem uma
diversidade de grupos que ocupam ou desenvolvem suas atividades no espaço rural, podendo ser
erroneamente considerados como agricultores familiares. Quanto a essa diversidade recorremos a
Lages (2001), pois o mesmo afirma que:

Em certas áreas predomina o conflito fundiário, em outras a agricultura familiar


considerada marginal ou sub-familiar, extremamente empobrecida. Em outras
encontramos os novos ―com-terra‖ em assentamentos rurais, mas ainda sem
perspectivas concretas de emancipação, ou ainda os neorurais, profissionais liberais
ou empresários que adquirem glebas rurais para o desenvolvimento de atividades
produtivas ou mesmo como residência secundária ou chácaras de lazer (LAGES,
2001, p. 49).
É sabido que o Estado interfere, através da implantação de políticas públicas, no
desenvolvimento produtivo do setor agrícola, contudo considera como agricultor familiar aquele
que atende aos seguintes requisitos:

Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; tenha renda familiar
predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio
estabelecimento ou empreendimento; dirija seu estabelecimento ou
empreendimento com sua família (Artigo 3º da Lei nº 11.326 de 2006).

Wanderley (2009, p. 156) entende a agricultura familiar ―como aquela em que a família, ao
mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento
produtivo‖. Considera a agricultura camponesa tradicional como uma das formas sociais derivada
daquela, uma vez que se fundamenta na relação propriedade, trabalho e família. Para essa autora, a
autonomia econômica das sociedades camponesas se expressa pela capacidade que esse grupo tem
de prover a subsistência do grupo familiar. E essa subsistência se dá em dois níveis
complementares: ―a subsistência imediata, isto é, o atendimento ás necessidades do grupo
doméstico, e a reprodução da família pelas gerações subsequentes‖ (p.157). Ainda em relação a esse
tipo de autonomia que perpassa nesse grupo destaca que:

Para além da garantia da sobrevivência no presente, as relações no interior da


família camponesa tem como referência o horizonte das gerações, isto é, um
1035
projeto para o futuro. Com efeito, um dos eixos centrais da associação camponesa
entre família, produção e trabalho é a expectativa de que todo o investimento em
recursos materiais e de trabalho despendido na unidade de produção, pela geração
atual, possa vir a ser transmitido à geração seguinte, garantindo a esta, as condições
de sua sobrevivência (WANDERLEY, 2009, p.159).

As considerações da autora, por mais que nos mostre uma realidade um pouco ―romântica‖
quanto ás relações de trabalho, nos faz refletir sobre a sustentabilidade cultural e econômica
embutida nos propósitos que se procura alcançar. Pois, ainda na visão de Wanderley (2009, p. 160),
aquelas famílias ―definem estratégias que visam, ao mesmo tempo, assegurar a sua sobrevivência
imediata e garantir a reprodução das gerações subsequentes‖.
É pertinente considerar nesse contexto a estreita relação que o agricultor estabelece com a
natureza através da efetividade de seu trabalho. Portanto, um estudo centrado nessa classe se torna
necessário para se estabelecer caminhos para o alcance da sustentabilidade na agricultura. O fato de
se considerar importante a busca por sua sustentabilidade, nesse espaço de vida e trabalho é devido
a uma parcela significativa da população rural ―depender primariamente da agricultura de pequena
escala, orientada para a subsistência e baseada no trabalho da família‖ (CNUMAD, 2001, p. 493).
Porém, a limitação ao uso de tecnologia e aos meios alternativos de produção e subsistência são
características presentes na sua forma de produzir. Por essa razão, exploram de forma excessiva os
recursos da natureza, sem muita preocupação aos danos ocasionados.
A agricultura além de ser uma atividade produtiva que, desde os seus primórdios, se
encontra intrinsecamente relacionada aos recursos naturais, é uma atividade cuja prática se encontra
indissociada do trabalho humano e com as técnicas desenvolvidas para a sua execução.
As famílias rurais, as populações indígenas e suas comunidades e os agricultores têm sido os
administradores de boa parte dos recursos da Terra. Entretanto se reconhece que os agricultores
devem conservar o meio físico, pois dependem dele para sua subsistência. Ao longo dos últimos
vinte anos, houve um aumento impressionante da produção agrícola agregada. Todavia, em algumas
regiões, esse aumento foi superado pelo crescimento da população, a dívida internacional ou a
queda dos preços dos produtos básicos. Além disso, os recursos naturais que sustentam a atividade
agrícola precisam de cuidados adequados e é cada vez maior a preocupação com a sustentabilidade
dos sistemas de produção agrícola (CNUMAD, 2001, p.493).
Em relação ao desenvolvimento sustentável Lages (2001, p. 47) afirma que se trata de ―uma
condição ideal ou desejável, e não como um modelo teórico fechado, com o qual podemos construir
hipóteses de trabalho facilmente verificáveis através de experiências empíricas‖. Segundo esse

1036
mesmo autor, podemos considerá-lo ―[...] como aquele que envolve eficácia econômica, equidade, e
justiça social, além de prudência ecológica‖ (LAGES, 2001, p. 54).
Dentro dessa mesma perspectiva, compartilhamos da ideia que desenvolvimento sustentável
deve estar relacionado às transformações ocorridas no âmbito das relações entre o homem e a
natureza, procurando o equilíbrio e o bem-estar desses dois componentes nos mais diferentes
aspectos. Assim sendo, a evolução desse conceito tem nos levado a perceber a relação intrínseca
entre as variáveis econômicas, ambientais, sociais, tecnológicas e também culturais.
A figura abaixo tem o propósito de facilitar o entendimento mais sistematizado e integrado
do conceito de desenvolvimento sustentável na agricultura familiar. De acordo com a sua leitura
podemos inferir que o alcance da sustentabilidade das diferentes dimensões ambiental, econômica,
cultural, tecnológica e social, por exemplo, levaria a própria sustentabilidade das famílias rurais.

Diante da Figura acima é pertinente considerar dois principais fatores: Primeiro, a


sustentabilidade nas dimensões acima trabalhadas não devem ser vistas de forma particularizadas,

1037
mas sim de forma articulada com todas as outras dimensões propostas. Ou seja, para se pensar numa
política focada no meio ambiente, é essencial que se analise a sua sustentabilidade não apenas no
âmbito ambiental, mas também se considere a sua sustentabilidade na condição cultural, econômica,
tecnológica e social. Esse é o principal desafio da sustentabilidade, a sua visão holística. O segundo
fator a ser considerado é a questão política, pois é a partir dela, seja no âmbito local ou global, que
se faz emergir programas, ações, ou qualquer outro tipo de políticas públicas voltadas para a área
social, ambiental ou tecnológica, por exemplo, direcionada ou não para o alcance de uma
agricultura sustentável.

As políticas públicas à luz dos atores locais

Janduís possui uma área territorial de 351,1 km², situando-se na micro-região homogênea do
Médio-Oeste, sertão do Rio Grande do Norte com uma população de 3.761 habitantes na zona
urbana e 1.836 na zona rural, distribuída em 58 comunidades.

A sede do município localiza-se à margem do pequeno rio ―Adquinhon‖ ou das ―Croas‖. O


clima é semiárido, atingindo temperaturas superiores a 35°C e chuvas, irregulares, oscilam entre
janeiro a junho, com precipitação anual média é de 569,5 mm, concentrados principalmente no
verão. O município tem também um dos maiores índices de insolação do Rio Grande do Norte. Está
situado em área de abrangência das rochas metamórficas. Os minerais mais comuns são o calcário
cristalino, mármore, chelita, rocha ornamental, entre outros. A economia é fundamentada na
agricultura de subsistência com a cultura do feijão, do milho, do arroz e da batata doce, e a pecuária
com criação de rebanhos bovinos, ovinos e caprinos. Essa economia se fortalece também com a
1038
renda do funcionalismo público municipal e estadual, aposentados e pensionistas e com recursos
oriundos de Programas do Governo Federal como o Programa Bolsa Família, o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF) (PREFEITURA MUNICIPAL DE JANDUÍS, 2002).
A construção de políticas públicas para a agricultura familiar brasileira teve seu início na
década de 1990, e paulatinamente, provocou mudanças de enfoque em relação ao contexto
vivenciado até então. Antes da efetivação de algumas políticas destinadas, especificamente, aos
agricultores familiares ás ações do governo eram voltadas, principalmente, para a inovação
científica e tecnológica, estabilização de preço, produção em grande escala, monocultivo, entre
outras.
A agricultura familiar do município em questão recebe forte influência dos movimentos
sociais. É comum os agricultores participarem do quadro de sócios de associações comunitárias
rurais, e também do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Porém, quando questionados sobre
a importância de participarem desse espaço de discussão e decisão afirmam que ―participando fica
mais fácil conseguir alguma coisa‖. Já, em relação à participação desses mesmos atores no STR,
justificam a segurança de uma aposentadoria. Em nenhum momento, foi identificado nos discursos
dos agricultores que nesses espaços são lócus de discussão, planejamento e avaliação de projetos,
programas e demais ações destinadas ao fortalecimento da agricultura.
Parte dos agricultores que colaboraram com a pesquisa não possuem um entendimento
organizado sobre o conceito de políticas públicas, outros as definiram como ―os programas
direcionados aos agricultores‖. Segundo a Secretaria de Agricultura do município, políticas públicas
se definem pelo conjunto de ações a serem desenvolvidas, objetivando beneficiar um determinado
público, as mesmas podem ser desencadeadas pelos governos municipal, estadual e federal. E, tem
como objetivo apoiar o desenvolvimento do meio rural, através de ações e projetos que gerem
emprego e renda para as famílias. No entanto, é pertinente ressaltarmos que as Políticas Públicas
não devem ser relacionadas apenas aos poderes públicos, visto que as ONGs possuem importantes
programas, projetos e ações que podem ser caracterizados como não estatais.
Entretanto, não se pode esquecer que de uma forma geral os movimentos sociais rurais têm
tido um papel importante na mobilização de políticas públicas estatais, como a luta pela terra na
efetivação da política de assentamentos; o movimento sindical na conquista de direitos como a
previdência social rural e um crédito agrícola voltado especificamente para a agricultura familiar,
entre outros exemplos (HEREDIA e CITRÃO, 2006). Nesse sentido, podemos afirmar que os
movimentos sociais rurais, tem um importante papel no desencadeamento de políticas públicas,
propiciando uma melhor qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

1039
De fato, a discussão sobre essa temática, na agricultura familiar é relativamente nova, pois
de acordo com Silva (2003) somente na década de noventa, o Estado Brasileiro estabeleceu
políticas explicitas voltadas para a agricultura familiar através do Programa de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF). Contudo, quando questionados se as ações do poder público local
e de outras organizações têm ajudado no desenvolvimento da agricultura familiar local,os
agricultores respondem que sim, mas que muitas ações precisam ser melhoradas, pois não são
suficientes para atender com precisão às necessidades do agricultor.
É possível evidenciar, também, que as políticas, assim como os demais programas e ações,
desenvolvidas pelo poder público ou pelas organizações não governamentais, ou ainda, pela
parceria entre estes, chegam às comunidades rurais sem antes ter existido um momento de
planejamento, que propiciasse a participação dos agricultores na construção e delineamento das
mesmas. No que concerne a Secretaria de Agricultura, o processo de avaliação é considerado
ineficaz devido a precariedade de recursos humanos. Pode-se perceber, ainda, que mesmo não
existindo um entendimento mais sistematizado, por parte daqueles agricultores, sobre políticas
públicas, asseguram que as mesmas tem um impacto positivo na vida do agricultor, apesar de não
serem suficientes para atender às reais necessidades da agricultura familiar.
Com o intuito de obter informações a respeito da diversidade de programas, projetos ou
ações que as famílias rurais estão sendo beneficiadas, fizemos questionamentos por área. O quadro,
logo abaixo, apresenta a síntese das informações obtidas:

Outras ações como banco de sementes comunitário, corte de terra; garantia safra; produção
de ensilagem; construção, reforma e ampliação de barreiros e açudes foram citadas como
1040
responsabilidade daquela secretaria municipal, como forma de incentivo ao fortalecimento da
agricultura local.

Considerações Finais

Diante do exposto, pode-se inferir que as políticas públicas, programas e ações,


desenvolvidas na zona rural daquele município não possuem caráter sustentável, principalmente
quando são analisadas através dos aspectos sociais, ambientais e econômicos. Pois, não há uma
preocupação em considerar, no desenvolvimento ou implantação de uma política pública na zona
rural do município de Janduís, interdependência os diferentes elementos de ordem sociais,
econômicos ambientais, e outros, envolvidos num determinado processo. A causa das deficiências
nos processos de planejamento, implantação e avaliação das políticas públicas podem estar
atreladas a visão linear, imediatista e assistencialista que se sobrepõem a elas.
Nessa perspectiva, e para fins de definição de agricultura sustentável, entendendo que se
trata de termo relativamente recente, recorremos ao conceito da Food and Agriculture Organization
(FAO), qual seja:

O manejo e a conservação da base de recursos naturais, e a orientação da mudança


tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação
contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal
desenvolvimento sustentável (na agricultura, na exploração vegetal, na pesca)
resulta na conservação do solo, da água e dos recursos s genéticos animais e
vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado,
economicamente viável e socialmente aceitável. (FAO, 1991 apud EHLERS, 1998,
p. 92).

É diante desse contexto que se torna necessário refletir sobre uma proposta de
implementação de políticas públicas, pautadas na sustentabilidade. Para tanto, é preciso reconhecer
os elementos naturais, as tecnologias apropriadas, os aspectos socioeconômicos como
interdependentes entre si. Isso implica numa percepção holística entre os diferentes elementos que
determinam a produção e o bem estar social das famílias da área rural.

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1042
DO LOCAL AO GLOBAL: GOVERNANÇA PARTICIPATIVA DE BENS COMUNS –
A EXPERIÊNCIA DO COMITÊ FACILITADOR DA SOCIEDADE CIVIL
CATARINENSE PARA A RIO+20120

Diego Carlos Batista SOUSA (PPGRI/UFSC)


diegocarlosjp@hotmail.com

Virgínia Sebastião da SILVA (PPGA/UFRGS)


virginiass28@gmail.com

Rívea Medri BORGES (PPGEA/UFSC)


riveamborges@gmail.com

Luan Harder GONSALVES (ENS/UFSC)


luanharder@gmail.com

Resumo

O aumento das demandas civilizatórias acerca dos bens comuns tem alcançado grande repercussão
na sociedade moderna. Temas como esse ganharam mais espaço nas agendas internacionais e
locais sobre o meio ambiente especialmente na última Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho de 2012. Este artigo tem por objetivo apresentar
as transversalidades que emergiram a partir de análises em nível global e local a respeito dos
entendimentos políticos sobre o meio ambiente e a sustentabilidade, realizadas pelo trabalho do
Comitê Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20. O trabalho envolveu a realização
de Diálogos Sociais Temáticos que, através de uma metodologia construtivista e participativa de
governança local, buscou o empoderamento da sociedade civil para uma contribuição qualificada
acerca temas cruciais da sustentabilidade. O processo do Comitê trouxe como resultado o
documento ―Demandas Civilizatórias do Processo de Facilitação da Sociedade Civil Catarinense à
Rio+20‖, de onde emergiram elementos cognitivos de pertinência transdisciplinar, denominados
sínteses transversais, sendo trabalhadas três essências da ética da sustentabilidade: cultural,
pedagógica e política.

Palavras-chave: governança, bens comuns, ética, sustentabilidade, Rio+20.

120
Pesquisa desenvolvida pelo Grupo Transdisciplinar de Pesquisa em Governança da Água e do Território - GTHidro,
através do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20, projeto de extensão da Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC, sob orientação do Prof. Dr. Daniel José da Silva.
1043
Abstract
The increasing of civilizing demands on the commons has achieved great impact on modern
society. Issues like this have gained more space in local and international environment agendas
especially in the last UN Conference on Sustainable Development, Rio +20, in June 2012. This
paper aims to present the transversalities that emerged from analysis on global and local level about
the political understandings on environment and sustainability, work carried out by the Comitê
Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20. The work involved the Thematic Social
Dialogue that, through a constructivist methodology and participatory local governance, sought the
empowerment of civil society to a qualified contribution about crucial issues of sustainability. The
committee process as a result brought the document ―Demandas Civilizatórias do Processo de
Facilitação da Sociedade Civil Catarinense à Rio+20‖, from which emerged cognitive elements of
transdisciplinary relevance, called transverse syntheses, and worked three essences of the ethics of
sustainability: cultural, pedagogical and political.

Keywords: governance, commons, ethics, sustainability, Rio +20.

Introdução

O avanço das relações globais e da interdependência entre as nações tem fomentado as


discussões sobre novas formas de organização social, participação e gestão de políticas públicas
num ambiente transnacionalizado. As temáticas sobre meio ambiente ganham cada vez mais
importância no cenário internacional e passam a ter cada vez mais notoriedade entre os países em
desenvolvimento, que encontram uma oportunidade de reformulação de instituições e de políticas
públicas, valorizando a iniciativa social e a complexidade de dinâmicas locais.
Os problemas ambientais e, por consequência, suas soluções, originam-se em atividades
locais. Assim, atuar no nível local assume importância inequívoca para o êxito frente a essa
problemática. As estratégias para o Desenvolvimento Sustentável (DS) que se originarem deste
movimento devem ser o produto de um diálogo entre poder público, cidadãos, organizações locais e
empresas privadas, de uma forma que traduza o melhor para todos (FERNANDES NETO, 2010;
MONTIBELLER-FILHO, 2008; FURTADO, 1978; LEEF, 2010).
A ideia de governança nasce como uma oportunidade de construção de novos padrões para a
prática da gestão local. Surge no vazio provocado pelo distanciamento do Estado resultante do
avanço das políticas neoliberais e da aplicação do conceito de reengenharia aos processos públicos.
Governança significa o aumento da capacidade de governar no nível local, no qual a comunidade de
interessados passa de consumidores a definidores e gestores políticos local, sendo associado ao
fenômeno da gestão compartilhada de bens comuns (SILVA, 2006). A forma para se chegar à
1044
resolução do conflito na gestão dos bens comuns é através da organização e da cooperação entre
indivíduos e/ou instituições que precisam utilizar os mesmos recursos e que estão empenhados em
fazê-lo de uma forma sustentável, respeitando o tempo de reposição. (OSTROM, 1990).
Neste contexto, foi inevitável a abertura de espaços de questionamento no sentido de
repensar a orientação do desenvolvimento, fazendo emergir movimentos sociais e políticos que
buscam reverter este quadro, pôr a economia a serviço da sociedade e construir alternativas de
desenvolvimento e de organização social fundadas na solidariedade, na inclusão social, na busca da
equidade, no respeito aos direitos humanos, na preservação ecológica, na justiça social
(SLAUGHTER, 2004; RIBEIRO, 2005; GUIMARAES, 1998; HURREL, 1992; SACHS 1986).
No âmbito global, as discussões sobre o modelo de desenvolvimento iniciaram à partir de
1972, com a publicação do relatório ―Os Limites do Crescimento‖ e a realização da Conferência de
Escotolmo, pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde muitos países consideraram inviável
incluir a conservação ambiental em seus respectivos planos nacionais (CORDANI, 1995). O
termo Desenvolvimento Sustentável (DS) só começou a ganhar notoriedade à partir de 1978, com a
divulgação do Relatório Brundtland. À partir de então, a ONU passa a organizar conferências,
reuniões e cúpulas com vistas à criação e incremento de ações que buscassem a mitigação dos
problemas de degradação ambiental, em especial a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, ―Cúpula da Terra‖, ou Rio-92, de onde resultaram documentos como
a Agenda 21, a qual consolidou o slogan ―Pensar globalmente, agir localmente‖.
No mês de junho de 2012, vinte anos após a Conferência Rio-92, foi realizada a Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, com o objetivo de renovar o
compromisso político para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso alcançado e as
lacunas ainda existentes. A Rio+20 foi organizada em torno de dois temas centrais: a economia
verde e o combate à pobreza, e a criação de uma governança global para o desenvolvimento
sustentável.
O presente artigo tem por objetivo apresentar o processo de concepção e desenvolvimento
das atividades do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20. A seguir serão
apresentadas as metodologias de articulação e empoderamento da sociedade civil catarinense para a
atuação nos processos decisórios discutidos no âmbito da Rio+20, além de apontar os pontos em
comum em todas as esferas de diálogos, ou seja, os temas transversais e suas implicações para a
formação de uma ética da sustentabilidade. Os resultados foram alcançados através de uma
abordagem transdisciplinar de governança local para a gestão dos bens comuns, considerando uma
visão holística da complexidade e da necessidade de um diálogo de saberes sobre os problemas
socioambientais.
O Modelo de Governança da Água e do Território para a Sustentabilidade - GATS
1045
Diante do quadro de abandono e degradação ambiental vivenciado pela maior parte das
comunidades do Brasil, Silva (2006) propõe um modelo de governança para auxiliar a construção
de leituras complexas de crises com a finalidade de buscar respostas inovadoras e perenes para
todos. A abordagem preconizada pelo autor contextualiza a existência de diferentes realidades,
estabelecendo estratégias para a solução de problemas, baseadas nas lacunas identificadas na gestão
dos bens comuns, a qual o autor chamou de ―vazios‖ cultural, pedagógico e político.
Segundo Matulja (2009) o vazio cultural está nas dificuldades de entendimento entre o saber
técnico e o saber das comunidades, em que a atuação técnica apesar de incorporar valores
sustentáveis, não está comprometida com a dimensão civilizatória de passado, presente e futuro de
um território. Isto implica na necessidade em transcender a visão tecnicista (critério da verdade) e o
agir tecnocrático (fonte do poder), em direção a algo transdisciplinar (que considera os diversos
níveis de realidade) e o agir em equidade de poderes. Esta visão histórica surge de uma estratégia
cultural de construção de uma sociedade sustentável, conectando as atuais gerações das
comunidades com o passado e o futuro.
O vazio pedagógico está nas dificuldades de comunicação. Trata-se de uma visão cognitiva
do processo de participação social, sujeito a metodologias, teorias e epistemes comprometidas com
uma perspectiva humanista e humanizadora. E o vazio político está nas dificuldades de
implementação na gestão dos bens comuns. Estas dificuldades residem no espírito competitivo, na
exclusão de conhecimentos e na imobilização dos contraditórios. O espírito competitivo na disputa
pelos recursos naturais leva a gestão do melhor para todos ao engano do somatório das partes. A
exclusão dos conhecimentos locais está relacionada a atribuição da atividade de gestão aos
especialistas. Por fim, a imobilização advém da dificuldade de construção de consensos que
culmina na utilização da maioria democrática para a tomada de decisões.
A ideia de governança, além de ser uma resposta mediadora para as lacunas existentes,
afirma-se como uma oportunidade de construção de novos padrões para a prática da gestão local.
Estas respostas devem partir da própria comunidade como o resultado de um processo de
empoderamento, que subsidiará as iniciativas legítimas que delas partem, ampliando sua capacidade
de soberania e gestão local. A essência do empoderamento está na transferência de conhecimento
para que a comunidade possa atuar de forma qualificada, ―agindo com prudência e respeito, e
fazendo frente à atual onda avassaladora de homogeneização econômica e cultural‖. (SILVA,
2006).
Com o intuito de preencher estes vazios surge o Modelo de Governança da Água e do
Território para a Sustentabilidade (GATS), desenvolvido pelo Grupo Transdisciplinar de
Governança da Água e do Território (GTHidro), do Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
1046
O Modelo GATS é estruturado em cinco ciclos (figura 01) de aprendizagem, no qual em
cada um deles a comunidade se organiza e decide aprender um conhecimento novo, seja na forma
de um conceito, de uma metodologia ou de uma técnica, ou mesmo de uma experiência externa, que
se aglutinam num processo contínuo para proporcionar o empoderamento. Os ciclos são
representados por ondas, que se propagam sinergicamente no tempo do trabalho (FERNANDES
NETO, 2010).

Figura 01: Ciclos do Modelo GATS. Fonte: Fernandes Neto (2012)

Como estratégia cultural, o Modelo GATS estabelece os ciclos de Acordo Inicial e


Economia de Experiência. O vazio pedagógico é preenchido no ciclo denominado Comunidade de
Aprendizagem. Por fim, os ciclos Estratégias de Governança e Avaliação e Prospecção preenchem
o vazio político da sustentabilidade.
O Ciclo 1, Acordo Inicial, tem por objetivo firmar o compromisso de todos os participantes
nas três éticas da sustentabilidade, a fim de se operar em conjunto sobre os melhores caminhos a
serem trilhados na busca dos objetivos acordados. Neste acordo é formado o grupo do qual se irá
iniciar a construção dos objetivos, metodologias e resultados esperados.
A primeira ética acordada é a da solidariedade, que emerge da associação intergeracional. A
solidariedade é a emoção do partilhar, do doar e pressupõe uma economia prévia, uma poupança.
Não se pode partilhar o que não se tem. Com esta ética o DS está propondo que deixemos um
mundo melhor como legado para os que virão. Trata-se, portanto de colocar-nos num acordo sobre
a construção deste legado e de como todos poderão participar. A ética de solidariedade com as
gerações futuras implica numa solidariedade entre as próprias gerações atuais, de modo a reduzir a
indiferença humana, causa maior da degradação da natureza, da violência de nossas sociedades e da
dificuldade das pessoas em usufruírem de uma melhor qualidade de vida.
A segunda ética é a da sustentabilidade, que se define pela emoção de colher o fruto, de
plantar a semente, de cultivar a maturidade, sempre com a consciência de não esgotar as fontes. O
DS, ao propor relações sustentáveis entre as atuais gerações e a natureza, está propondo que
1047
aprendamos a usufruir da natureza conhecendo e preservando seus limites ecológicos e suas
dimensões organizacionais. A ética da sustentabilidade implica numa adequação ecológica e
cultural de nosso planejamento e gestão dos territórios, de modo a reduzir a arrogância econômica e
a intolerância política, causas maiores da geração e perpetuação dos conflitos ambientais e sociais.
A terceira ética do conceito de DS diz respeito à emoção fundadora de como fazer, de como
trilhar o caminho entre a solidariedade e a sustentabilidade. É a ética da cooperação. A cooperação é
a ação de operar em conjunto. É a lógica de operação de todos os sistemas naturais sustentáveis. Ela
não exclui a competição, mas esta é um comportamento menor e circunstancial, nunca determinante
e exclusivo. Esta terceira ética, ao tratar do caminho, nos diz apenas que ele deverá ser realizado
com todos os interessados, com todos os participantes, com todos aqueles que têm o compromisso
com as suas gerações futuras. Trata-se, portanto, apenas de garantir uma forma de participação, de
aprender a ouvir a opinião do outro, mesmo que com ela não se concorde, de dar-se os tempos
necessários a que todos possam se inserir de forma qualificada no processo, e nele possam influir
estrategicamente.
O Ciclo 2 é denominado Economia de Experiência. Tem por objetivo reconhecer e valorizar
as experiências locais à partir do resgate histórico da comunidade, somado ao levantamento das
melhores práticas a fim de se errar menos, gastar menos, perder menos e incluir mais, de se
distribuir mais, poupar mais, etc.
A Comunidade de Aprendizagem, terceiro ciclo do Modelo GATS, tem por objetivo
preencher o vazio pedagógico, e é baseado nas seguintes teorias: Pedagogia da Autonomia, de Paulo
Freire (1997); Teoria da Autopoiese, de Maturana e Varela (1980); Transdiciplinaridade, de
Nicolescu (1994); e as Estratégias Cooperativas, de Silva (1998). O enfoque transdisciplinar do
modelo justifica-se pelos três pilares preconizados pelas teorias: a complexidade, que contribui para
a ampliação da percepção complexa sobre o ambiente; a lógica ternária, que contribui para a
facilitação da mediação e construção de consensos; e os diferentes níveis de realidade, que auxiliam
na distinção das lógicas que determinam cada nível de existência do mundo e das pessoas
(PALAVIZINI, 2006).
A Comunidade de Aprendizagem é definida como um grupo de pessoas que decide trabalhar
pedagogicamente sua autonomia na perspectiva de transformação no ambiente do qual estão
inseridos, reconhecendo suas limitações internas e as potencialidades de diálogo e intercâmbio
externo. Este trabalho pedagógico acontece com a definição de temas específicos de interesse das
comunidades e da organização de textos e tempos para realizar o diálogo com os temas transversais
contextualizadores da aprendizagem, resultando em estratégicas cooperativas para o
desenvolvimento sustentável local (FERNANDES NETO, 2010).

1048
O quarto ciclo é dedicado as Estratégias de Governança, o qual contribui para o
preenchimento do vazio político da sustentabilidade. Neste ciclo, o conhecimento construído até
então embasa a elaboração de estratégias de ação local, de forma cooperativa entre todos os
participantes do processo, incluindo as esferas públicas, privada, sociedade civil organizada,
famílias e indivíduos da comunidade.
Por fim, o último ciclo de aprendizagem do Modelo GATS compreende a Avaliação e
Prospecção, o qual se destina a empreender uma avaliação do processo de governança conduzido
junto às comunidades envolvidas e consolidar sua perspectiva de continuidade, mediante a
prospecção de novos planos de ação surgidos a partir das demandas sociais e das estratégias
elaboradas.

Gorvernança Local: o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Catarinense para a Rio+20

Em janeiro de 2012, com o objetivo de trazer as discussões da Rio+20 ao nível local e


reafirmar os compromissos para o Desenvolvimento Sustentável iniciados na RIO-92, assumindo
um compromisso de gerações, membros do GTHidro convocam as primeiras reuniões abertas para a
construção de uma proposta. Neste contexto, surge o Comitê Facilitador da Sociedade Civil
Catarinense para a RIO+20, visando facilitar o envolvimento da sociedade civil catarinense no
processo transitório para o Desenvolvimento Sustentável posto em pauta nas inúmeras conferências
que constituíram a Rio+20.
Com o aporte de uma metodologia de empoderamento - Modelo GATS - a fim de
compreender as diferentes realidades e consolidar um processo de valorização dos contextos locais,
organizaram-se comitês locais, facilitados por membros do corpo principal, em cinco cidades:
Florianópolis, Joinville, Araranguá, Chapecó e Lages. Estas cidades, além da representatividade
regional no estado de Santa Catarina, foram selecionadas pela presença de campis da UFSC, que
facilitou a articulação de recursos para o desenvolvimento das atividades.
O processo de participação da sociedade civil deu-se por meio de Diálogos Sociais
Temáticos acerca de seis temas diagnosticados cruciais para o diálogo sobre DS, sendo eles, Água e
Saneamento, Educação e Cultura, Planejamento Territorial, Agricultura, Economia Verde e
Governança. Estes encontros tinham como objetivo empoderar os participantes para a contribuição
qualificada na construção coletiva de demandas civilizatórias.
Para facilitar um processo de cooperação, de forma a evitar conflitos de ideologias que
ocasionasse um desgaste na relação social do grupo, utilizou-se a Pedagogia do Amor (SILVA,
1998), como abordagem cognitiva dos Diálogos Sociais.

1049
Esta pedagogia, baseada no método construtivista, possui como princípio epistêmico
fundamental a valorização do outro como legítimo na convivência pedagógica, facilitando a
construção de conceitos, ideias e propostas de forma cooperativa, de modo que todo o grupo
compartilhe dos mesmos significados e sinta-se parte do processo que está sendo construído.
A Pedagogia do Amor é organizada em quatro etapas. O primeiro momento é denominado
Revelação da Subjetividade sobre o tema, que se dá através de um estimulo à reflexão sobre o
modelo atual frente à sustentabilidade, iniciado pela introdução de uma pergunta geradora. Sendo
assim, a realidade social e cognitiva da pessoa é o ponto de partida para a produção coletiva do
conhecimento.
A segunda etapa refere-se à Contribuição da Diversidade, e parte do princípio que para
avançar em um novo modelo de desenvolvimento, é necessário reconhecer o saber científico
produzido sobre o tema. Nesta etapa, é realizada uma breve apresentação da bibliografia sobre
determinado tema. Desta forma, enriquecendo o conceito inicialmente produzido à partir apenas da
subjetividade do participante.
A terceira etapa trata-se da Construção da Intersubjetividade, e parte do reconhecimento do
outro. São formados pequenos grupos com o objetivo de facilitar a expressão das ideias de cada um
sobre o tema, assim, todos falam e são ouvidos. Nesta etapa é construído um conceito
compartilhado entre todos os indivíduos do grupo sobre a ideia inicial, utilizando-se do diálogo para
identificar as essências semânticas através de palavras-chaves encontradas nos diversos conceitos.
Os critérios são os seguintes: a) a síntese não pode mudar a essência dos conceitos individuais; b)
pode-se agregar adjetivos, substantivos e verbos, desde que estejam presentes em algum dos
conceitos individuais e c) pode-se mudar a pontuação para melhorar o entendimento (SILVA,
1998).
A quarta e última etapa refere-se à Construção do Domínio Linguístico. É um trabalho de
síntese, onde cada pequeno grupo apresenta sua proposição ao grande grupo, ouve as críticas, e por
aproximações sucessivas constrói-se a síntese do grupo. É o momento de maior significado prático
do modelo cognitivo, pois através desta construção coletiva de documentos abre-se possibilidade de
planejar ações conjuntas de transformação da realidade. Nos Diálogos Sociais, essa etapa deu-se por
meio da estruturação de um documento em cada região em Desafios e Soluções sobre o tema
trabalhado com vista a sustentabilidade.
Em conjunto foram promovidos eventos paralelos de mobilização da sociedade civil acerca
dos temas que seriam tratados na Rio+20, como: piqueniques, passeatas, atividades de educação
ambiental em escolas, manifestações artísticas, entre outros. Ao todo, participaram dos encontros
representantes das comunidades, associações, lideranças locais, agricultores, grupos religiosos,

1050
organizações de representação profissional, ONG´s, professores, universitários, estudantes do
ensino médio, fundamental e técnico, dentre outros atores sociais.
Os documentos gerados em cada região foram validados pela sociedade civil catarinense
durante a Conferência Preparatória SC+20 e posteriormente sintetizados no documento ―Demandas
Civilizatórias do Processo de Facilitação da Sociedade Civil Catarinense à Rio+20‖. Esse resultado
foi levado ao Rio de Janeiro com o objetivo de apoiar a representação da sociedade civil catarinense
durante a Rio+20. Entre os eventos que o comitê participou pode-se citar: Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, SD-Learning, Cúpula dos Povos: na Rio+20 por
Justiça Social e Ambiental, Aldeia Nova Terra, Fórum de Empreendedorismo Social na nova
economia, etc.
Na Cúpula dos Povos, o Comitê Catarinense se reuniu aos demais Comitês Facilitadores
Estaduais, organizações que buscaram suprir o vazio de envolvimento da sociedade civil brasileira
nas discussões acerca da Rio+20 no âmbito local. Neste encontro de convergência estimou-se que
os comitês estaduais tenham dialogado diretamente com aproximadamente 100 mil pessoas em São
Paulo, Santa Catarina, Amazonas, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro
e Distrito Federal. O resultado desta convergência gerou um documento denominado ―Carta dos
Comitês Estaduais e Locais à Assembleia dos Povos‖.
Após a RIO+20, os resultados de todo o processo foram discutidos em Audiência Pública
convocada pela Reitoria da UFSC, onde foram apresentados os documentos oficiais da Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Declaração Final da Cúpula dos Povos na
Rio+20, a Carta dos Comitês Estaduais e Locais à Assembleia dos Povos, a Síntese das Demandas
Civilizatórias do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Catarinense, a Declaração Kari-Oca dos
Povos Indígenas sobre a Rio+20 e a Mãe Terra e a Carta do Major Group Crianças e Jovens. Ao
final da audiência, foram elaboradas estratégias de continuidade e disseminação dos compromissos
no Estado de Santa Catarina.

Resultados

Em todo o processo do Comitê buscou-se identificar as transversalidades a partir da análise


transdisciplinar dos documentos produzidos nos diversos níveis local, regional e internacional,
foram identificadas as seguintes: Conectividade com a Mãe-Terra, Conectividade política e
Educação, presentes em todos os documentos, de onde emergiram elementos cognitivos,
denominados sínteses transversais, onde são trabalhadas três essências da ética da sustentabilidade:
cultural, pedagógica e política.

1051
Pela primeira vez um documento protocolado pela ONU reconhece a expressão Mãe-Terra,
o conceito também está presente nos textos da síntese do comitê catarinense, do documento final da
Cúpula dos Povos e na carta dos povos indígenas. A transversalidade identificada é a garantia dos
direitos da mãe-terra e de considerá-la como fundadora da vida, devendo a nós zelar pela sua
proteção.
A transversalidade da conectividade política diz respeito as formas de diálogos permanentes
sobre a implementação do desenvolvimento sustentável nas agendas locais e globais. No documento
oficial da ONU é instituído um Fórum de Alto Nível Político, responsável por acompanhar as
atividades do desenvolvimento sustentável. Os comitês estaduais lançaram na Cúpula dos Povos o
Fórum dos Povos, uma rede virtual de mobilização de propostas e agendas. Dos resultados do
processo do comitê catarinense surgiu a proposta de uma rede de instituições públicas para a
sustentabilidade, com a participação de universidades, organizações da sociedade civil, ministério
público e cidadãos.
A transversalidade da educação é, sem dúvida, a de maior representatividade nas discussões
do processo Rio+20 em que o comitê catarinense esteve envolvido. As discussões sobre o modelo
educacional, bem como a democratização, estiveram presentes em todos os eventos e documentos.
Os resultados indicam a necessidade de um modelo educacional inserido nas realidades locais
através de uma Pedagogia do Encantamento, que considere indivíduo como ator no processo de
construção do conhecimento e forme cidadãos engajados com a cultura da sustentabilidade.
Estas três transversalidades, por sua vez, dialogam com os vazios identificados na gestão dos
bens comuns, os quais o Modelo GATS busca preencher. A transversalidade da Mãe-Terra diz
respeito a uma estratégia cultura, pois trata das éticas e emoções. A transversalidade da
conectividade política diz respeito a uma estratégia de governança, como forma de estabelecer um
diálogo entre os atores a fim de se alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável. Por fim, a
transversalidade da educação diz respeito a uma estratégia pedagógica.
Na Audiência Pública de Apresentação do Processo do Comitê Catarinense, que ocorreu no
dia 15 de setembro de 2012, estiveram presentes aproximadamente 100 pessoas, entre
representantes de ONG‘s, Reitora da UFSC, Reitor da UDESC, professores, estudantes, cidadãos,
representantes de conselhos profissionais, representes de comitês de bacias hidrográficas, líderes
religiosos. Ao final do dia, foram elaboradas estratégias cooperativas de continuidade, estruturadas
em três níveis:
a. Institucional - Rede Institucional Social para Sustentabilidade; Pacto Catarinense pela Mata
Atlântica; Valorização Institucional da Transdisciplinaridade; Apresentação dos Resultados
da RIO+20; Elaboração de documentos, relatórios e livros; Produção de Material Gráfico.

1052
b. Pedagógica - Disseminação dos resultados da Rio+20 nas Escolas; Disseminação da
Pedagogia do Cuidado, da Valorização da Vida e dos Bens Comuns; Inserção das Éticas
Transversais Civilizatórias; Hortas Comunitárias; Formação e Capacitação Humana;
Transdisciplinas.
c. Institucionalização do Comitê - Propor e manter pesquisas e financiamentos nas temáticas
da Rio+20; Agregar parceiros para elaboração de projetos; Formar e facilitar conselhos de
políticas públicas inspiradas nos resultados da Rio+20.

Foram identificadas sínteses transversais nos parágrafos de cada tema trabalhado. Essas
sínteses são emergências do conteúdo, e estão presentes na maioria dos parágrafos. Foram
identificadas três essências dessas emergências de conteúdo, apresentadas no quadro 01, uma diz
respeito a conteúdos de natureza ética, a que chamamos de dimensão cultural da sustentabilidade.
Outra diz respeito a conteúdos de natureza pedagógica, a que chamamos de dimensão pedagógica
da sustentabilidade e, finalmente, foram identificadas essências transversais de natureza política, a
que chamamos de dimensão política da sustentabilidade.
Esse processo alavancou uma nova visão sobre a organização social e política nas regiões
que foram mobilizadas, bifurcando grupos e indivíduos e despertando-os para uma cultura da
sustentabilidade baseada nas três éticas do desenvolvimento sustentável.
As redes constituídas permanecem em atividade, articuladas e em expansão para colocar em
prática as estratégias de disseminação sobre temas pertinentes ao processo Rio+20 com respectivos
conteúdos de leis, acordos, teorias, metodologias, tecnologias e experiências, organizadas para a
formação humana e capacitação profissional em habilidades e responsabilidades para a efetivação
de políticas públicas de bens comuns.

1053
Sínteses Transversais Gerais
Natureza Síntese

Cultural Não nos enganemos mais: sem uma emoção capaz de refundar o humano em toda sua plenitude de
sentimentos, inteligência, espiritualidade, altruísmo, cooperação, honestidade, respeito, cuidado,
proteção, coragem, gentileza, tolerância, criatividade e talentos não teremos uma cultura da
sustentabilidade. Se não abrirmos um espaço educacional urgente e imediato para a formação humana
nas éticas justificadoras de nossas ações e de nosso agir no mundo, vencerá a indiferença com o seu
vazio de emoções. A cultura da sustentabilidade baseada na ética de emoções verdadeiras parece ser um
bom caminho, senão o único, de nos afastarmos desta atual cultura da indiferença, do desamor e da
arrogância. É aqui, na dimensão ética da cultura que devemos definir os limites e as conexões das
diversas outras atividades humanas, a começar pela educação, política e economia.

Pedagógica Não nos enganemos mais uma vez: sem uma pedagogia que nos reencante para a valorização das
emoções, ficaremos somente com a razão instrumental para mediar nosso agir no mundo. É a pedagogia
do encantamento que poderá nos formar numa razão substantiva capaz de nos dar justificativas
humanistas e emocionais para a valorização dos meios frente aos fins. É preciso que se afirme: a cultura
da sustentabilidade é aquela na qual nenhum fim justifica os meios degradantes e desumanizadores às
escalas globalizantes e homogeneizantes como as que estamos vivendo hoje.

Política Não nos enganemos por uma última vez: sem uma inovação política da democracia, ficaremos somente
com o vazio de poder na dimensão local do mundo, provocado pela globalização da cultura da
indiferença. Esta inovação política da democracia facilitará uma transição à cultura da sustentabilidade.
São duas as inovações políticas que precisamos consolidar, pois elas já estão disponíveis no mundo: a
primeira diz respeito à democracia participativa que complementa e dinamiza a democracia
representativa. E a segunda inovação diz respeito à legitimação (mediante leis) dos instrumentos da
participação da sociedade, que em seu conjunto formam a governança local de políticas públicas de
bens comuns.

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1055
O USO DA NORMA COMO FERRAMENTA DE CONTROLE AMBIENTAL:
UM ESTUDO DE CASO DOS BUFFETS DE MOSSORÓ / RN

Ligia Valleria de Oliveira SILVA


Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais e Humanas/UERN
ligia_oliva@hotmail.com

Geovânia da Silva TOSCANO (Orientadora)


Profª. Drª. do Depto. de Ciências Sociais/UFPB e do PPG em Ciências Sociais e Humanas/UERN
geotoscano@gmail.com

Resumo
Este trabalho propõe o desafio de analisar como a normatização do espaço/território no cenário
contemporâneo, contribui com a mitigação de conflitos de interesse público e privado, tendo como
ferramenta o uso de políticas públicas aplicadas, no caso a fiscalização ambiental do município de
Mossoró/RN. A relação com o meio ambiente é afetada, seja pelo fenômeno de ocupações
irregulares do meio ou por questões ligadas à qualidade de vida da população. Santos (2004)
considera que os espaços são estabelecidos com certas finalidades e que as “... normas são
recriadas ao sabor das conjunturas localmente definidas”. (p.232). A ocupação do território e, sua
normatização enquanto forma de estabelecer critérios de uso adequado, será o eixo norteador deste
trabalho e, como objeto empírico será apresentado estudo de caso sobre a regularização ambiental
das casas de festas – buffets – no município de Mossoró/RN.

Palavras Chave: Meio Ambiente – Norma – Espaço/Território – Política Pública

Abstract
This paper proposes the challenge of analyzing how the standardization of space / territory in
contemporary society, contributes to the mitigation of conflicts of interest public and private, with
the tool using public policies applied in the case of the environmental inspection the Mossoró / RN.
The relationship with the environment is affected, is the phenomenon of irregular occupations of
middle or matters related to the quality of life. Santos (2004) considers that the spaces are
established with certain aims and that "... standards are recreated the flavor of locally defined
situations". (p.232). The occupation of the territory and its standardization as a way to establish
criteria for appropriate use, will be the guiding principle of this work and, as empirical object will
be presented a case study on the environmental regularization of houses for parties - buffets - in the
Mossoró / RN.

Keywords: Environment - Norm - Area / Territory - Public Policy


1056
Introdução

As questões ambientais nas últimas décadas do século XX e primeira década do século XXI
têm sido temas de relevantes debates nas esferas política, econômica, cultural, acadêmica e
midiática. Isto demonstra a força do fenômeno ambiental na construção do debate público
contemporâneo que envolve o cenário mundial, nacional, estadual e municipal.
A cidade de Mossoró / RN, localizada no nordeste brasileiro, com cerca de 260 mil
121
habitantes (IBGE) é uma cidade média que vive o desafio de lhe dar com uma série de
problemas sócios estruturais, tais como: o aumento na demanda por serviços de saúde, educação,
moradia e segurança pública. Diante deste cenário de transformação urbana é perceptível o
aumento da problemática ambiental nesta cidade.
Diante do crescimento acelerado dos problemas ambientais, atrelados à falta de estrutura
física, da ausência de uma educação ambiental e de políticas atuantes direcionadas para tais
questões passamos a presenciar o surgimento e o aumento dos diversos conflitos
sócio/ambientais/econômicos na cidade de Mossoró/RN. Esses conflitos passaram a desafiar o
poder público a apresentar soluções cabíveis capazes de responder positivamente a todos os
segmentos envolvidos.
Como embasamento teórico para este artigo, será trabalhado alguns conceitos fundamentais
sobre interdisciplinaridade que mostram o caminho percorrido pela ciência tradicional até o
momento com a interação de outros saberes, onde se inclui a Geografia. E dentre os conceitos
geográficos, Milton Santos será o colaborador para o entendimento de conceitos como o papel das
―rugosidades‖ em determinadas localidades e a normatização do espaço/território como uma nova
postura da ordem mundial.
Erving Goffman nos ajudará a compreender o conceito de ―representação‖ a partir dos
papeis representados pelos sujeitos na sociedade em que vivem e, como sua atuação pode contribuir
na valoração dos seus direitos. Alain Touraine contribui com o entendimento do que venha a ser
―consciência‖ e as ações decorrentes desta.
A partir destes conceitos será possível compreender porque na conjuntura atual os sujeitos
buscam cada vez mais uma melhor relação com meio em que está inserido e, respondendo aos
interesses de cada um, o que possivelmente irá provocar desacordo entre as partes –
público/privado.
Como procedimento metodológico além da bibliografia estudada, buscou-se acesso aos
protocolos de denúncias e relatórios circunstanciados, que são documentos públicos, produzidos e

121
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=240800 visitado em 20/09/2012.

1057
existentes no setor de Fiscalização Ambiental da Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA,
órgão responsável pela gestão, controle, monitoramente e fiscalização ambiental no município de
Mossoró/RN.
Esta investigação origina-se das reflexões que estão sendo desenvolvidas no âmbito do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais na Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte.

Interdisciplinaridade: a Geografia como ramificação desse processo

A interdisciplinaridade como proposta de uma nova avaliação metodológica e cientifica nos


convida a pensar como a trajetória do seu surgimento veio a contribuir com a expansão do
pensamento acadêmico em relação a este tema.
É contemporânea a discussão sobre a interação cientifica e, é clara a linha divisória entre o
que é ou não aceitável enquanto ciência. Sendo que esse diálogo permeia pelo conceito do que
venha a ser ciência verdadeira e falsa, como se deu sua construção no espaço/tempo e a sua
relevância para a evolução e o desenvolvimento no panorama cientifico. Como bem colocou Santos
(2007, p. 01) existe um abismo onde em meio a verdade da ciência metódica não há espaço para a
subjetividade do saber popular.
Passado o reconhecimento exclusivo das primeiras disciplinas como a Matemática, a Física,
a Biologia e a Química, o homem decodificou seu olhar, antes engessado por uma ―verdade única‖
e, passou a reconhecer quão rico poderia ser introduzir os demais saberes em seus trabalhos.
Foi através das ciências que o homem superou os limites das suas suposições e, pôde ver
literalmente, além dos seus olhos. Construíram ao longo de sua história sistemas de pensamento, as
descobertas biológicas, os estudos sobre os planetas e o espaço, o domínio da mecânica, entre
outros artefatos. Tal forma de compreensão humana e de realidade possibilitou o reconhecimento de
que a ciência pode ser feita e pensada de diversas formas e através dos muitos conhecimentos que
envolvem não só homem como todo o universo.
A metodologia interdisciplinar de pesquisa consiste em compreender historicamente a
complexidade que as novas explicações científicas, apresentam diante da diversidade de fenômenos
que foram surgindo com as modificações da humanidade e do meio. Comporta fatores como
cultura, sociedade, ambiente, espaço, tempo e demais elementos que fazem parte da conjuntura dos
estudos em ciência. Vários são os autores que assumem o desafio de contextualizar em diferentes
aspectos a prática da interdisciplinaridade.
Para contribuir com este trabalho foram analisados certos aspectos da pesquisa
interdisciplinar desenvolvida a partir do diagnóstico de Japiassu (1976) o qual defende este caminho

1058
para a investigação como um ―remédio‖ para o ―mal‖ da ciência moderna. Esta reconhecida como a
―verdadeira‖, atravancou durante muito tempo o uso de outros procedimentos e forma de saberes
nas produções cientifica.
A interdisciplinaridade caminhou pelo tempo e pelo espaço, até chegar a ser reconhecida
como método capaz de agregar valor ao mecanismo de aprendizagem, Prigogine (2009) faz a
relação entre tempo/espaço/natureza e mostra que a ―flecha do tempo‖ e as transformações causadas
por ela implicam que a ciência começa a ser pensada não só pela razão, mas também pela emoção.
E, que a negação (Einstein) do tempo enquanto parte constituinte da produção científica deveria ser
repensada.
A contribuição de Gonçalves-Maia (2011) apontando a introdução da Filosofia e da História
no mundo cientifico tradicional (Grécia Clássica), trás a tona as polêmicas expostas pelos
conservadores, assim como, apresenta ao mundo o surgimentos das novas disciplinas (bioquímica à
cibernética) que emergiram das disciplinas tradicionais. No entanto, não havia mais como não
considerá-las, pois a importância das suas descobertas já proporia um novo olhar para um novo
panorama de ciência universal.
O aporte teórico dos autores referenciados confirma a possibilidade de se explorar diversos
conteúdos em um mesmo estudo. Aqui usaremos o meio ambiente como ator principal deste
cenário, e a Geografia será a disciplina base para o entendimento de como a ocupação do
espaço/território pode desencadear conflito de interesse público/privado, assim como a
normatização desses espaços/territórios através de políticas públicas, podem ser mediadoras desses
conflitos.

Uso do Espaço / Território

O espaço geográfico poder ser considerado um reflexo da sociedade e, por isso está sempre
passível às transformações sofrida pela mesma. O contexto histórico de uma localidade pode
contribuir para a compreensão das modificações ocorridas ao longo do tempo e, os espaços podem
carregar consigo características preexistentes que se tornaram marco de imponência daquele lugar e,
que nem mesmo as modificações advindas das necessidades de mudanças apagam o seu valor.
Os valores atribuídos aos espaços originais vão sendo sobrepostos por outros valores ao
sabor das intencionalidades culturais, econômicas, sociais... de um povo. São essas características
construídas como afirmativas das identidades locais que Milton Santos chama de ―rugosidades‖ do
espaço-tempo. ―Chamemos rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço construído,
paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se
substituem e acumulam em todos os lugares. (SANTOS, 2004 p. 140)

1059
Dessa forma, Santos (2004) aponta para o entendimento de que a “paisagem atual”, não
pode desprezar o ―meio ambiente construído”, pois o primeiro é parte resultante do processo
evolutivo do segundo e, sempre carregará consigo dados dos eventos corridos no passado, e, que se
não refletem, pelo menos localiza no espaço e no tempo o momento atualmente vivido. As
―rugosidades‖ são os traços que marcam a linha do tempo, que no futuro trará à tona a história que
será alicerce da “paisagem atual” contemporânea.

O espaço portanto é um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de


produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem
criada. Assim o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se desfaz
paralelamente à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se adaptam
às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para se inserir
dentro delas. (SANTOS, 1980, p. 138).

Mas enxergar o processo de desenvolvimento em comunhão com nuances já existentes


(cultura, sociedade, ambiente, etc.) respeitando e aceitando como integrante deste processo, nem
sempre faz parte do entendimento do setor econômico, que por vezes, assume uma postura
impositiva sobre o social e o ambiental quando há ausência da norma.
Àqueles espaços duráveis que em certo momento respondiam as expectativas de um modo
de produção econômica de um determinado setor, pode ter executado suas atividades durante muito
tempo sem a interferência da sociedade, tanto pelo desconhecimento da mesma em relação ao seu
direito por uma boa qualidade de vida, como pela ausência de normas que regulamentassem
determinadas atividades em determinados locais.
Assim, uma empresa poderia se instalar em meio a uma área residencial, trazendo consigo
todos os impactos ambientais e sociais possíveis, sem a preocupação em mitigar danos àquela
comunidade. Transformavam espaços antes ―luminosos‖ por serem minimamente confortáveis aos
seus moradores ou pela inexistência de maiores impactos, em espaços ―opacos‖, pois de alguma
forma passou a ofuscar o sossego coletivo daquela localidade. (SANTOS, 2004, p.326)
Diante de tantos dissabores, pensar a normatização do espaço/território vai além da esfera
legal, é necessário compreender que este espaço/território não poder ser visto apenas como esfera
geográfica e muito menos econômica. Convém visualizar a composição de todos esses segmentos
somados a presença humana e ambiental, que também representam memória viva nessa composição
tão complexa.

A Influência dos Sujeitos e o Uso das Normas

A ocupação do espaço/território e, sua normatização enquanto forma de estabelecer critérios


de uso adequado, atualmente é uma tendência intencionalmente elaborada pelo poder público para

1060
atender aos dissabores conflitais que permearam por séculos as sociedades e que vem se
evidenciando cada vez mais a partir do século XX.
Com a maior conscientização da população, com os movimentos sociais atuantes, as
conquistas de direitos e o avanço da democracia deram força à sociedade civil que passou a exigir
do poder público maior respaldo e pertinência jurídica para mitigação desses conflitos. De acordo
com Santos (2004, p. 229):

As próprias exigências do intercâmbio internacional (...) ―ao lado dos direitos


nacionais e do direito internacional público, os operadores privados - mais ou
menos de acordo com o Estado - organizam o seu sistema de normas e
progressivamente as impõem". Paralelamente à proliferação de normas jurídicas,
no conjunto do campo das relações sociais (Z. Laïdi, 1992, p. 37), impõe-se uma
outra tendência, à uniformização, o que se verifica, segundo J. L. Margolin (1991,
p. 97) "no campo da gestão, da tecnologia, do consumo e dos modos de vida".

Dessa forma podemos perceber que atuação social coletiva pode refletir interesses
compartilhados quando um grupo social se organiza em detrimento de causas que respondam a
demandas não individuais e, sim amplamente representativas naquela comunidade.
Dentro da discussão de representatividade coletiva Touraine (2009) aponta para a
importância dos sujeitos reconhecerem em si mesmo o que venha a ser ―consciência‖ a partir dos
seus próprios atos, para então compreender a generalidade das ações dentro de um contexto
coletivo. Ressalta ainda, que só com a ―consciência‖ os sujeitos serão capazes de instrumentalizar
suas causas e mostrar que “o mundo dos direitos e deveres não existe a não ser quando dito,
declarado”. (TOURAINE, 2009 p. 142)

O que entendo por consciência é a presença num individuo, ou num grupo


de indivíduos, de representações em si que carregam nelas julgamentos de valores
morais sobre as condutas deste individuo ou deste grupo (...) o reconhecimento de
nossa responsabilidade em relação a nós mesmos e, consequentemente de nossos
direitos no seio da sociedade. (TOURAINE, 2009 p. 142)

A importância da ação consciente representa a conquista da legitimidade de direitos, da


liberdade que os sujeitos têm em coordenar, participar e, sobretudo fazer uso das ações coletivas e
dos movimentos sociais em busca de ―direitos fundamentais‖ que para Touraine (2009) ―indica
claramente que o que está em jogo vai além do social, e diz respeito à própria humanidade dos
seres humanos”. (TOURAINE, 2009 p. 147)
Foi através desta perspectiva de ―consciência‖ individual e coletiva que os sujeitos atuantes
(denunciantes) que compõe este trabalho fizeram uso do conhecimento dos seus direitos e
provocaram o poder público através de denúncias, a tomar medidas mitigadoras fazendo uso da
norma, em relação à poluição sonora advindas dos buffets.
Essa atitude por parte da população se apresenta segundo os conceitos de Goffman (2002)
como uma ―representação formal‖ que o sujeito tem diante da aproximação com o problema que lhe
1061
acomete, que pode desencadear reação individual ou coletiva. A ―representação formal‖ tem valia à
medida que esse sujeito registra formalmente sua insatisfação com determinada causa. Ele pode
fazer uso do que Goffman (2002) chama de ―fachada social‖, que seria usufruir de posturas já
estabelecidas, neste caso, usar a seu favor as normas e ou legislações locais pré-existentes para
solucionar conflitos.
―... a fachada social tende a se tornar institucionalizadas em termos das
expectativas estereotipadas abstratas às quais dá lugar e tende a receber um sentido
e uma estabilidade à parte das tarefas especificas que no momento são realizadas
em seu nome. A fachada torna-se uma ―representação coletiva‖ e um fato, por
direito próprio‖. (GOFFMAN, 2002 p. 34)

O município de Mossoró / RN na última década tem passado por um processo de


transformação urbanístico e ambiental, de forma bem mais orientada, no que tange à preocupação
em fazer uso das legislações que regulam o município no setor das construções (uso e ocupação do
solo) assim como área ambiental, que hoje se encontra diretamente atrelada ao primeiro setor.
Associadas a outras legislações (federais e estaduais) o município de Mossoró/RN lança
mão especificamente de três normas para coordenar os processos urbanísticos e ambientais são: Lei
Complementar Nº 012/2006 que dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Mossoró/RN que
regula em seu:
Art. 51. Os usos e atividades deverão atender aos requisitos de instalação definidos
em função do nível de impacto decorrentes de sua potencialidade como geradores
de:
I – incômodo;
I – impacto de vizinhança.
Parágrafo Único: considera-se impacto o estado de desacordo de uso ou atividade
com os condicionantes locais, causando reação adversa sobre a vizinhança, tendo
em vista suas estruturas físicas e vivências sociais.

A Lei Complementar Nº 047/2010 que institui o Código de Obras Posturas e Edificações no


município de Mossoró/RN e por fim a Lei Complementar Nº 026/2008 que rege o Código
Municipal de Meio Ambiente (CMMA), que irá instrumentalizar todas as normas e adequações
ligadas ao controle e gestão ambiental do município, vê art. 2º:

Art. 2º. O Código de meio ambiente é o instrumento da Política municipal de meio


ambiente, de desenvolvimento sustentável e de expansão urbana, determinante para
os agentes públicos e privados que atuam no Município.

De posse de tantos instrumentos normativos, é obrigação do poder público fazer uso destes,
para garantir que os espaços/territórios públicos e privados do município possam desempenhar os
papeis aos quais estejam destinados, dentro dos padrões estabelecidos, para assim garantirem suas
funcionalidades de acordo com as normas.

Estudo de Caso: buffets em Mossoró / RN


1062
Para ilustrar de maneira concreta este trabalho, será apresentado um estudo de caso realizado
na cidade de Mossoró/RN envolvendo um setor privado da economia local, que são as casa de
festas chamadas de Buffets. Segundo dados colhidos em documentos públicos pertencente à
Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA (setor de Fiscalização) e pela imprensa local122,
até meados de 2011 todas as casas do ramo existentes na cidade funcionavam sem o devido
Licenciamento Ambiental123. Isto poderia indicar a falta de adequação desses locais para a
realização de tal atividade, já que todos eles estavam situados em áreas residenciais e não possuía
isolamento acústico, gerando poluição sonora. Motivos estes que desencadearam inúmeras
denúncias por parte da população atingida pelo incômodo, que passaram a exigir posicionamento do
poder público, enquanto órgão regulador do Estado.
Em resposta a mobilização civil a Gerência Executiva da Gestão Ambiental – GGA realizou
audiência pública com os empresários do setor, a fim de orientá-los à regularizarem seus espaços de
acordo com o que está determinado pelo Código Municipal do Meio Ambiente, Lei Complementar
026/2008, onde segundo o ―Art. 35 V – licença de regularização de operação (LRO), concedida aos
empreendimentos e atividades que, na data de publicação desta Lei, estejam em operação e ainda
não tenham sido licenciados”.
A audiência técnica foi realizada no dia 05 de Julho de 2011 onde os empresários e a GGA
ajustaram os prazos para cumprimento das determinações do licenciamento, prazo este, estipulado
em três meses para que os responsáveis pelos empreendimentos protocolassem pedido de licença
junto ao órgão responsável – GGA.
Findado todos os limites dos acordos entre os empresários e a Gerência e diante das
contínuas denúncias da vizinhança, foi acionado o setor de Fiscalização Ambiental, iniciando
vistorias nas casas de festas e instaurando processos administrativos para a apuração das
irregularidades ambientais nos locais.
Inicialmente os buffets que ainda não tinham iniciado seu processo de regularização foram
multados pelo funcionamento sem licença ambiental e, encerrado o prazo administrativo para a
resposta e ou recurso do autuado (15 dias), estes locais sofreram interdição de suas atividades até
que os mesmos se regularizassem junto ao órgão municipal.

Art. 133. A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade


estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida,
ou com violação de disposição legal ou regulamentar. (Lei 026/2008 – CMMA)

122
http://omossoroense.uol.com.br/cotidiano/15394-nove-buffets-sao-interditados-por-falta-de-licenciamento
123
Instrumento de controle e proteção ambiental Lei Complementar 026/2008 – Código Municipal de Meio Ambiente –
CMMA.

1063
Quando o poder público dispõe da norma, da técnica e do corpo técnico especializado, ele
possui uma importante ferramenta de controle ambiental, capaz de fiscalizar, monitorar, gerir,
orientar e punir quando necessário. É relevante frisar, que estabelecer a ordem das coisas não é uma
tarefa fácil e, é antes de tudo primar pelos interesses da coletividade, por um bem comum que é
direito de todos.
Apresentaremos um quadro demonstrativo da situação dos estabelecimentos envolvidos no
processo de regularização. Por motivo de descrição profissional ocultaremos a razão social das
empresas usando um termo figurativo.

Tabela 1 - status dos buffets de Mossoró/RN em fevereiro 2012


FONTE: Gerência Executiva da Gestão Ambiental (Setor de Fiscalização)

Tomadas essas medidas, posteriormente todos os locais envolvidos buscaram a


regularização e normatização das suas atividades. Segundo informações da GGA, cessaram-se as
denúncias contra os buffets, o que representa um indicador positivo da eficácia da normatização do
espaço/território sobre essa problemática urbana. Neste sentido, corrobora Santos (2004, p. 231),
“O território como um todo se torna um dado dessa harmonia forçada entre lugares e agentes
neles instalados, em função de uma inteligência maior, situada nos centros motores da
informação”.
Assim contatamos a emergência de práticas de denúncias e ao mesmo tempo um setor
receptor e gestor ambiental para procurar soluções para enfrentamento destes fatores ambientais que
envolvem a qualidade de vida dos sujeitos em seus espaços/territórios.

Considerações

Este trabalho buscou o debate interativo entre diversos conceitos científicos a fim de
divulgar um dos problemas que assolam as cidades brasileiras, que são os conflitos sociais,

1064
ambientais e econômicos, que facilmente se cruzam em eventos cotidianos provocando impasses
que precisam na maioria das vezes, da interferência do poder público através do uso da norma para
fazer a ponte entre os lados.
A discussão sobre normatização do espaço/território perpassa pela definição de estratégia de
ação que vise à regulamentação dos espaços público/privados quando estes interferem ambiental e
socialmente nos espaços coletivos. Assim gestores locais precisam estar em sintonia com as
demandas e buscar efetivar o espaço público de debate propondo a solução coletivamente dos
conflitos.
Pensar a normatização do espaço/território vai além das regras de conformidade operacional
e legislativa. É pensar o ambiente em uma estrutura bem mais complexa, que envolve desde o
próprio meio até a relação e interação que as pessoas têm com esse meio. É buscar nas normas o
equilíbrio socioambiental e econômico para o desenvolvimento sustentável e saudável, que se
expande do local para o todo, proporcionando a interação dos segmentos que compõe a cadeia da
vida.

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Francisco moras. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

1066
O DIÁLOGO CIENTIFICO COMO INSTRUMENTO
DE PERCEPÇAO AMBIENTAL HIDRICA: SOCIALIZAÇAO DE UMA EXPERIÊNCIA
REALIZADA NA REGIÃO DA ZONA DA MATA – RO¹

Nubia CARAMELLO
(FAROL/LABOGEOPA/SEDUC) - geocaramellourfj@gmail.com

Irene CARNIATTO
(UNIOESTE/PR) - irenecarniatto@yahoo.com.br

Monica dos Santos MARÇAL


(UFRJ/RJ) - monicamarcal@ufrj.br

Luis Fernando Maia Lima


(UNIR-RO) – maialima2000@gmail.com

Resumo

Busca-se com o presente artigo apresentar ações e diálogos científicos desenvolvidos em Rolim de
Moura – RO, em busca de despertar a sociedade local, nacional e internacional a respeito do cenário
das águas no Estado de Rondônia, no recorte territorial Zona da Mata. Nos últimos anos o
diagnostico apresentado pelo Sistema de Proteção Ambiental da Amazônia – SIPAM, através do
programa PROBACIA, a respeito da possibilidade de faltar água nas torneiras urbanas e nos
principais mananciais de abastecimento do estado, vem trazendo o Ministério Público para o
dialogo ambiental, buscando tornar a sociedade e os usuários cientes de suas responsabilidades
ambientais. Através dos diálogos estabelecidos com a Comunidade constatamos ter lacunas no
sentindo da sociedade desconhecer tanto a atual realidade, quanto os fatores que influenciam na
qualidade e quantidade das águas em seus espaços de vivencia. Buscando contribuir com esse
diálogo, criaram-se metodologias e mecanismos de multiplicar as informações sobre o cenário
anunciado, correlacionando o desenvolvimento de várias pesquisas com a aplicabilidade das Leis
Hdricas Nacional 9.433/97 e Estadual 255/2002, em busca da mobilização para a urgência da
implantação da Gestão das Águas Continentais na escala de vivencia, através da realização do I
Simpósio Hídrico da Zona da Mata, resultando na obra Amazônia: recursos hídricos e diálogos
socioambientais, um livro que pretende ser um instrumento na busca de contribuir com as políticas
publicas ambientais do Estado de Rondônia.

Palavras-chaves: metodologia socioambiental, diálogo científico, Recursos Hídricos.


1067
Abstract

The present study shows actions and scientific dialogues developed in Rolim de Moura – RO, to
wake up the local national and international society to the water scene of the state of Rondonia, at
cropping land Zona da Mata. In the last years, the diagnostic showed by Environmental Protection
System of the Amazon – SIPAM, by the program PROBACIA, about the possibility of missing
water in the urban taps and in the main water source supplied by the state, has brought the Public
Ministry into the environmental dialogue and has made society and the users more conscious about
their environmental responsibilities. Through a dialogue with the community, we saw that there are
gaps in the knowledge of society about the present reality and the factors that influence water
quality and quantity in their public spaces. To contribute to this dialogue, methodology and
mechanisms were made to increase information about the scenario showed, correlating the
development of many investigations with the applicability of Water National Law 9.433/97 and
Water State Law 255/2002, urgently seeking the mobilization of the implementation of Continental
Water Management in a range of public spaces, through the realization of I Zona da Mata Water
Symposium, that resulted in the work: ―Amazônia: recursos hídricos e diálogos socioambientais‖, a
book that is a tool for contributing to the environmental public politics of state of Rondonia.

Keywords: environmental methodology, scientific dialogue, Water Resources.

Introdução - A Problemática Motivadora da Proposta

Morar na Amazônia, vem há décadas sendo visto pelos olhares mundiais, como um grande
privilégio. Pensamento que tem entre sua base a suposta disponibilidade hídrica, ―cobiçada‖ assim,
por esse precioso bem natural. Entretanto, nós Povos da Floresta, atualmente nos deparamos com
questões referentes tanto a quantidade quanto a qualidade dos recursos hídricos em nossa região.
Percepção possível apenas através do olhar local.
O fato é que o espaço Amazônico contemporâneo é reflexo de uma ocupação desordenada,
que tem em suas águas a maior testemunha das consequências, pela falta de políticas públicas
voltadas para conservação dos recursos naturais e de um planejamento ambiental integrado, ferindo
o Princípio da Precaução presente na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei N° 6.938/81.
Nesse sentido, Lemos (2010), evidencia que quase metade da floresta amazônica existente
em Rondônia foi devastada pelas mãos de garimpeiros, pecuaristas, grileiros, o que representa um
total de 92.957 km². De 1998 a 2004 a retirada da floresta, chamou bastante atenção como pode ser
verificado na Figura 01.

1068
Figura 01 - Taxa de desmatamento anual (km²/ano) no estado de Rondônia realizado através do
programa PRODES.
Fonte: Lemos, 2010.

A diminuição da taxa de desmatamento é algo a se comemorar, entretanto oculta a angustia


local, pois o principal desmatamento sentido são o das margens dos rios de pequeno porte,
provocando o assoreamento dos canais hídricos cuja falta da água, é uma realidade presente,
agravada em períodos de estiagens prolongadas, como ocorreu em setembro de 2012, no município
de Rolim de Moura – RO, noticiado pela mídia local.
Acordar para o desafio de alterar esse quadro enquanto ainda há tempo como medida
preventiva, se faz necessário para que não deixemos de herança para as futuras gerações um cenário
hídrico como a região Sudeste, Sul e Nordeste, que buscam hoje por intermédio da implantação de
seus comitês hidrográficos reverterem o quadro já existente de escassez de água potável.
Segundo Carniatto (2007, p. 20), citando o relatório de Avaliação das Águas do Brasil
(BRASIL, 2002b):
Nas áreas mais desenvolvidas do País, o aproveitamento descontrolado das águas
para seus múltiplos usos como: geração de energia elétrica, abastecimento público
urbano eindustrial, diluição de efluentes, irrigação, navegação, recreação,
manutenção de ecossistemas, em paralelo à industrialização, urbanização e
agricultura intensivas em regiões, outrora ricas em recursos naturais, está
desencadeando crescentes conflitos pelo uso da água. O resultado é a perda de
eficácia para vultosos investimentos públicos e privados, assim como o acúmulo de
consideráveis prejuízos tanto do ponto de vista político-institucional como para os
usuários menos estruturados.

1069
Portanto, um dos maiores desafios apresentado pelo órgão Gestor de Recursos Hídricos do
Estado - SEDAM, refere-se à falta de participação da sociedade e a extensão territorial de
237.576,167km², do Estado de Rondônia, divididas em sete bacias hidrográficas (Figura 02),
através da Lei das Águas Estadual 255/2002, podem ser alguns dos fatores que vêm
comprometendo a real implantação de comitês de bacias hidrográficas que atendam as
particularidades sócio-territoriais das sub-bacias. Ao mesmo tempo e principalmente, pode
comprometer o diálogo dos usuários das bacias que precisam de espaços para serem ouvidos e
articularem entre si, o cenário atual e o desejado.
A Lei Complementar N°255, de 25 de janeiro de 2002, apresenta em seu Artigo 13,
parágrafo 4º, a possibilidade da articulação para implantação de comitês em ―sub-bacias‖,
entretanto, no âmbito da legislação nacional não há legalmente uma demarcação de extensão para
classificar uma sub-bacia, podendo variar de metros a quilômetros quadrados, desde que se
respeitem as demarcações físicas que as classificam e o interesse de gestão sobre as mesmas.

Figura 02 – Mapa da Divisão Hidrográfica do Estado de Rondônia Lei 255/2002


Fonte: SEDAM

Quanto menor a escala de diálogos maiores se tornam as chances de juntos os atores da


bacia hidrográfica, buscarem a melhor forma de Gestão das Águas regionais, de modo que o direito
de um não sobressaia sobre o direito do outro (CARAMELLO et al 2011).
Um dos princípios mais valorizados nas modernas abordagens de gestão da água é a adoção
da bacia hidrográfica como unidade principal de planejamento e gestão. A partir da escolha de uma
1070
unidade territorial adequada, a gestão da água deve ser incorporada em um processo mais amplo de
gestão ambiental integrada (Figura 03), compreendida como a gestão de abordagem sistêmica, na
qual o desafio é realizar a transição demográfica, econômica, social e ambiental rumo a um
equilíbrio durável.

Gestão tradicional Gestão integrada


Tomada de decisão ―top down‖ Participação em diferentes níveis
Centralizada, linear Descentralização, retroalimentação
Aversa a riscos Admite riscos
Decisões finalistas Aceita revisar/revisitar e admite erros
Visão impositiva Visões compartilhadas
Limites administrativos Alem dos limites administrativos
Ator individual Parcerias
Figura 03 – Quadro com as diferenças entre a gestão tradicional e a gestão integrada
Fonte: Holling (in Lewis, 2001) apud Magalhães-Junior, 2007, p.67

Um dos principais fatores que diferenciam a Gestão Tradicional da Gestão Integrada é o


nível de flexibilidade de tomada de decisões e a participação aberta aos atores envolvidos na
concepção do espaço em discussão.
A Lei Nacional 9.433, de 8 de janeiro de 1997, renova as discussões sobre os mecanismos
necessários para a construção de uma realidade local menos degradante, reforça em seu Cap. III o
espaço onde os diálogos sustentáveis possam ocorrer, delimitando no Art. 37 as áreas de atuação
dos Comitês de Bacia Hidrográfica (MMA, 2008, p.36):

I – a totalidade de uma bacia hidrográfica;


II – sub-bacias hidrográficas de tributário do curso de água principal da bacia, ou
de tributários desse tributário; ou
III – grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contínuas.

A Proposta Metodológica de Diálogo Hídrico Científico

Sob esse prisma, que surgiu através do olhar do Grupo de Pesquisadores e Pós-graduandos
de Pericia e Auditoria Ambiental, a proposta de realizar o I ENCONTRO DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS DA ZONA DA MATA, sub-região do Estado de Rondônia, composta por onze
municípios (Figura 04): São Miguel do Guaporé, São Felipe, Costa Marques, Santa Luzia,
Brasilândia, Alta Floresta, Castanheiras, Novo Horizonte, Rolim de Moura, Alta Alegre e Parecis,
localizados nas Bacias Hidrográficas Guaporé e Machado, cujo impacto ambiental hídrico quali-
quantitativo encontra-se presente, demandando a realização (ou implantação) de ações em busca da

1071
reparação ambiental pelos Órgãos Públicos, Ministério Público, ONG ECOPORE e a Sociedade
Civil Organizada.

Figura 04 – Mapa das bacias hidrográficas que compõem a Zona da Mata - RO

Tomamos como exemplos os projetos de recuperação das matas ciliares do rio Bamburro
(estagnado) e do Igarapé D‘Alincuort que se encontram em execução, ambos os projetos estão
localizados no planalto dos Parecis, divisor de águas da Bacia do Guaporé e do Machado, uma área
frágil, sobre a faixa de transição do Planalto dos Parecis para a Planície Amazônica, e contam com
resultados bem diferenciados.
Em 2002, o Estado de Rondônia através da Lei Complementar 255, torna pública a Política
Estadual dos Recursos Hídricos, todavia a ausência da implantação de comitês de bacias no Estado
de Rondônia e a falta de um Conselho Estadual de Recurso Hídrico (CERH) ativo, contribuíram
durante 10 anos para desarticulação e falta da autonomia legal de Gestão das Águas, nas ―pequenas
bacias hidrográficas em nível local‖. Através da política estadual possibilitaria a criação de sub-
comitês e com eles a existência da Agencia de Bacia Hidrográfica nesses sub-comitês, dessa forma
contribuiria para a Gestão das Bacias Hidrográficas e a sustentabilidade de projetos socioambientais
desenvolvidos com foco na degradação quali-quantitativa dos espaços hídricos.

1072
Após o contato com os pesquisadores do Estado de Rondônia, Rio de Janeiro, Brasília e
Paraná, foi possível formular a pauta do evento e estruturar uma agenda de ações, tendo como foco
principal a socialização do cenário hídrico, com base em pesquisas desenvolvidas por vários
pesquisadores de estados e instituições diferentes.
O segundo passo, focou-se em buscar recursos financeiros para a implantação da proposta,
fato que levou a comissão aos municípios que compõem a Zona da Mata, estabelecendo um dialogo
informativo sobre a relevância de tornar efetiva a Política Estadual dos Recursos Hídricos do Estado
de Rondônia (Lei Complementar 255/2002), de maneira que os aspectos naturais e
socioeconômicos possam ser realmente contemplados, requer uma revisão e adaptação da mesma
junto à comunidade. A relevância da presença dos representantes de todos os setores da sociedade,
seguindo a proposta da Lei 9433/97, também foi abordada, tendo em contra partida a colaboração
para ser co-proponente da proposta, estabelecendo o numero de vagas correspondente a cada
representatividade legal.
A abertura oficial da programação do evento com chamada para artigos, que se
enquadravam em uma das linhas temáticas do evento, foram fundamentais para que as pesquisas
desenvolvida em bacias hidrográficas do estado, pudesse ser uma reflexão com base cientifica à
cada estudo de caso apresentado, de acordo com o tema dos trabalhos, adaptados a um dos eixos
abaixo:

 Teoria, Métodos e Linguagem de Pesquisa Socioambiental: Contribuição ao Plano de Bacia;


 Conflitos por Recursos Naturais, Relação Sociedade e Natureza: Problemas Ambientais no
Campo e na Cidade;
 Gestão de Recursos Hídricos em Rondônia com Ênfase na Zona da Mata e no Vale do
Guaporé;
 Gestão Ambiental e dos Recursos Hídricos;
 Cultura / Etnogeografia, Percepção Ambiental e Sustentabilidade: Diálogos entre os Povos
da(na) Amazônia.

Dessa forma, o Diálogo em prol das Águas da Zona da Mata convidou os atores envolvidos
a se fazerem presentes em um Espaço de Diálogo Aberto, para que pelo acesso aos mecanismos da
implantação de um comitê possa haver uma reflexão sobre os direitos e deveres de cada um, em
busca da mudança do quadro hídrico atual, na perspectiva de olhar o quadro que temos e o quadro
que almejamos conquistar a curto, médio e longo tempo.
Os comitês de bacias hidrográficas constituem um espaço de explicitação e resolução de
conflitos, pois são os fóruns de diálogo por excelência. A criação de novos direitos e o confronto
com o instituído são marcas da democracia. Neste processo dialógico, o papel do Estado consiste

1073
em promover e assegurar a coexistência dos segmentos sociais e a defesa das regras de um jogo
transparente, democrático e participativo, possibilitando uma gestão descentralizada.
Diante do exposto, o público participante desse diálogo, presente no I ENCONTRO DE
BACIAS HIDROGRÁFICAS DA ZONA DA MATA, contou com a presença de 480 pessoas,
registrando a presença de vários segmentos (Figura 05).

Figura 05 – Representação dos Participantes do I Simpósio de Recursos Hídricos da Zona da Mata – RO.
Fonte: Banco de dados do evento

Destacando-se entre os presentes, os representantes do: Ministério Público, Associações de


Bairros, Associação Rural, Associação Comercial, Pesquisadores Independentes, ONGs, Sociedade
Civil Organizada, Moradores da zona urbana e rural da região da Zona da Mata; Estudantes de
graduação, especialização, mestrado e doutorado com interesse de pesquisa envolvendo a temática
Água e suas interfaces, Representantes civis, governamentais e sociedade organizada,
Empreendedores e demais interessados, que se fizeram presentes para contribuir com esse diálogo.
O espaço de diálogo aberto por este Simpósio figura como mais um passo, entre muitos
outros, que já estão sendo dados, em busca de se constituir e fortificar as políticas públicas
descentralizadoras, voltadas à qualidade e quantidade das águas rondoniense. Tendo sido pautado
pelo objetivo de proporcionar um encontro de representantes de todas as esferas sociais e
governamentais, em prol do diálogo quali-quantitativo dos recursos hídricos da Zona da Mata,
buscando fomentar as reflexões necessárias sobre um novo reordenamento da Lei Complementar
N°255/2002.

1074
Instrumentalizar os diálogos através de palestras e de oficinas, envolvendo temáticas sobre
Gestão e Plano de Bacias Hidrográficas, que apresentarão o cenário hídrico local e o referencial
teórico para o diálogo em questão, formular propostas de políticas públicas, por meio de uma
metodologia participativa, que produza um plano de ação para o alcance de um cenário hídrico de
futuro desejável pela comunidade local e, que leve em consideração a análise das vulnerabilidades e
potencialidades de sua base econômica, social, cultural e ambiental, foram a bússola da proposta do
evento culminando com a publicação da obra ―Amazônia: recursos hídricos e diálogos
socioambientais‖.
A presente obra a identificação do cenário hídrico do Estado, ao mesmo tempo em que
busca provocar a reflexão aos demais leitores espaciais, sobre as grandes lacunas entre a visão
romântica existente ainda sobre o espaço amazônico e a realidade quali-quantitativa vivenciada
pelos atores locais.

Referencias

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente do Brasil - MMA. Avaliação das Águas do Brasil.
Secretaria de Recursos Hídricos. Brasília, 2002b.
BRASIL. Presidência da Republica. Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Instituiu a Política Nacional
de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de e Recursos Hídricos, 1997.
CARAMELLO, Nubia; CARNIATTO, Irene; MARÇAL, Monica dos Santos e PINHEIRO, Zairo.
Amazonia: recursos hídricos e diálogos socioambientais. Ed. CRV, Curitiba 2011.
CARNIATTO, Irene. Subsídios para um Processo de Gestão de Recursos Hídricos e Educação
Ambiental nas Sub-Bacias Xaxim e Santa Rosa, Bacia Hidrográfica Paraná III. Tese (Doutorado) -
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Setor de Ciências Agrárias da Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
LEMOS, André Luiz Ferreira. Desmatamento na Amazônia Legal: evolução, causas,
monitoramento e possibilidades de mitigação através do fundo Amazônia. Dissertação de Graduação,
disponível em <http://www.if.ufrrj.br/inst/monografia/2010I/Andre.pdf> acesso em 20 de agosto de
2011.
MAGALHÃES-JUNIOR, Antonio Pereira. Indicadores Ambientais e Recursos Hídricos: realidade
e perspectivas para o Brasil a partir da experiência francesa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2007.
MMA. Conjunto de Normas Legais: recursos hídricos. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de
Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. – 6. ed. – Brasília: MMA, 2008. 466 p.

1075
GESTÃO AMBIENTAL COMPARTILHADA NA PARAÍBA:
UM DESAFIO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NO ESTADO E MUNICÍPIOS

Maria das Dores de Souza ABREU (UFPB)


mdabreu_bio@hotmail.com

Belinda Pereira da CUNHA (UFPB)


belindacunha@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho tem por finalidade discutir e refletir sobre a Gestão Ambiental Pública do
Estado da Paraíba e a sua atuação quanto ao objetivo da Gestão Ambiental Pública Nacional de
desenvolver uma gestão ambiental compartilhada entre as esferas nacional, estadual e municipal,
fundamentada na elevação da qualidade de vida e do ambiente dos municípios. Para realização
deste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas e documentais visando o levantamento de dados
compreendidos como fundamentais. O governo do Estado da Paraíba dispõe da Secretaria de Estado
dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia – SERHMACT, que tem a
função de promover e desenvolver as Políticas Públicas Estaduais no âmbito de suas competências.
Encontram-se em suas autarquias: SUDEMA – Superintendência Estadual de Meio Ambiente da
Paraíba, AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba e FAPESQ –
Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba. Dos 223 municípios paraibanos, cerca de 20
apresentam algum órgão relacionado ao meio ambiente. A reativação da Comissão Tripartite da
Paraíba representa um avanço para execução de uma política ambiental ativa e integrada no Estado.
As Comissões Tripartites de Meio Ambiente consistem no espaço formal de diálogo e articulação
entre os órgãos e entidades ambientais, sendo comissões (são) fundamentais para promoção da
gestão ambiental compartilhada e descentralizada. As dificuldades na área ambiental são grandes
precisando somar efetivamente os três níveis de governo, substituindo eventuais disputas e
sombreamentos por uma situação de compartilhamento de responsabilidades. Só assim haverá
forças suficientes para mudança e evolução da gestão pública ambiental ou de qualquer outro
segmento na implementação de um desenvolvimento sustentável fundamentado na qualidade de
vida.

Palavras-chaves: Sustentabilidade Ambiental; Gestão Compartilhada; Estado; Municípios.

1076
Abstract

The present study aims discuss and reflect on the Public Environmental Management of State of
Paraiba and its performance on the goal of the Environmental Management National Public at
develop an environmental management shared between national spheres, state and municipal, based
on raising the quality of life and environment of municipalities. For this study were made researches
bibliographic and documentary aimed at data collection understood as fundamental. The
government of the state of Paraíba has the Secretary of State of Water Resources, of Environment
and Science and Technology – SERHMACT, which has the function to promote and develop the
State Public Policy within their competence. Are found in their autarchies: SUDEMA - State
Superintendent of Environment of Paraíba, AESA - Executive Agency for Water Management in
the State of Paraíba and FAPERQ - Foundation for Research Support of the State of Paraíba. Of the
223 municipalities paraibanos, about 20 present an organ related to the environment. The
reactivation of the Tripartite Commission of Paraíba presents a breakthrough for execution of an
environmental policy active and integrated in the State. The Tripartite Commissions on
Environment consist of the formal space for dialogue and joint between agencies and entities
environmental, being commissions (are) fundamental to promote environmental management
shared and decentralized. The difficulties in the environmental area are great needing to add
effectively the three levels of government, substituted any disputes and shaders by a situation of
shared responsibility. Only then there will be sufficient forces for change and evolution of
environmental public management or any segment in the implementation of sustainable
development based on quality of life.

Keywords: Environmental Sustainability; Shared Management; State; Municipalities.

Introdução

A Lei Federal nº 6.938 (BRASIL, 1981), que dispõe sobre a Política Nacional de Meio
Ambiente – PNMA tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Passados 31 anos da
existência desse instrumento de gestão ambiental averigua-se que a atuação dos municípios nesse
contexto ainda não foi disseminada efetivamente em todo Brasil. A gestão ambiental compartilhada
tem por objetivo a integração de todas as esferas governamentais e não-governamentais para que se
possa realmente promover um desenvolvimento social, ambiental e econômico de forma
equilibrada.
1077
Temos um enorme desafio pela frente1, tocando a todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no país (a) cuidar do Brasil, enfatizando que desenvolver essa tarefa é também trabalhar
com os governos estaduais e municipais para assegurar qualidade de vida em nossas cidades, onde
vivem quase 80% dos brasileiros. A missão da gestão ambiental pública nacional é de fazer uma
política ambiental a ser respeitada por todos, fundamentada em quatro grandes diretrizes: a política
ambiental integrada, o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, o
controle e a participação social, e o desenvolvimento sustentável, que, a rigor, é o objetivo principal
da política ambiental de governo (Silva, 2004).
Nesse contexto, foram criadas as Comissões Tripartites de Meio Ambiente como um espaço
formal de diálogo e articulação entre os órgãos e entidades ambientais. Essas comissões são
fundamentais para promoção da gestão ambiental compartilhada e descentralizada. É consenso, na
Comissão Tripartite Nacional a necessidade de avançar em diversos aspectos para o
compartilhamento e a descentralização da gestão ambiental, como: A regulamentação, por Lei
Complementar, do Art. 23 da Constituição Federal que trata da divisão de competências entre os
entes federados, no que diz respeito à gestão ambiental; O desdobramento da Resolução CONAMA
237/97 em outras normas e procedimentos no âmbito dos estados e municípios; A implementação
do Programa Nacional de Formação e Capacitação de Gestores Municipais, visando à inclusão
maciça dos municípios na gestão ambiental compartilhada; e a articulação para a necessária
implementação do Sistema Nacional de Informações de Meio Ambiente, dentre outros (MMA,
2006).
As Comissões Tripartites têm por objetivo primordial (de) estabelecer o diálogo entre os três
níveis de governo, onde tudo deverá operar por consenso nestas três esferas, sendo a ocasião de se
discutir como é possível resolver melhor a relação Ibama/Estado/Municípios, bem como os
problemas de sombreamento e superposição de atividades e discutir também uma estratégia
conjunta para fortalecer o município, sobretudo ao que diz respeito à capacitação dos municípios
para a questão ambiental.
O estado da Paraíba possui 223 municípios e sua gestão ambiental pública é executada pela
Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência de Tecnologia –
SERHMACT, que tem a função de promover e desenvolver as Políticas Públicas Estaduais no
âmbito de suas competências. Tendo nas suas autarquias SUDEMA – Superintendência Estadual de
Meio Ambiente da Paraíba, AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba
e FAPESQ – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba.
O campo da gestão ambiental é muito amplo. E essa extensão se explica porque o próprio
tema meio ambiente precisa ser entendido em sua complexidade como um conjunto de fatores que
constitui um todo (Leff, 2001).
1078
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo discutir e refletir sobre a Gestão
Ambiental Pública do Estado da Paraíba e a sua operacionalidade quanto ao objetivo da Gestão
Ambiental Pública Nacional de desenvolver uma gestão ambiental compartilhada entre as esferas
nacional, estadual e municipal, fundamentada na elevação da qualidade de vida e do ambiente dos
municípios, uma vez que a gestão ambiental compartilhada pode contribuir para a sustentabilidade
do desenvolvimento econômico, social e ambiental local nas cidades e assim com a proteção
ambiental no seu contexto de totalidade.

Metodologia

Para realização deste trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas e documentais afim de
levantamento de dados fundamentais para a pesquisa. Alves-Mazzoti & Gewandsznajder (1999)
consideram como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de
informação. Foram feitas visitas para coletas de informações no órgão público ambiental do estado
da Paraíba - SERHMACT e no IBAMA, onde fora aplicado um questionário descritivo com a
finalidade de coletar informações importantes quanto à situação da gestão ambiental pública
paraibana.
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida pela
mestranda autora ABREU, aprovada em seleção para o Programa de Mestrado e Doutorado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB. A
referida pesquisa intitulada como: LICENCIAMENTO AMBIENTAL NA PARAÍBA:
Descentralização, Entraves e Aplicabilidade, tem por objetivo analisar o processo de Licenciamento
Ambiental executado no estado da Paraíba e quais os entraves se põem diante da aplicabilidade e
consequente descentralização para os municípios, como previsto na Política Nacional do Meio
Ambiente (e) regulamentada pela Lei Complementar nº: 140 do ano de 2011. Nesse contexto se faz
necessário entender como funciona a Gestão Ambiental Pública na Paraíba, desde a sua estrutura
até a sua execução prática.

Fundamentação Teórica

No momento em que o Brasil retoma índices de crescimento de sua economia, cuidar


também quer dizer contribuir para que as atividades produtivas, especialmente na área de infra-
estrutura, se instalem e se desenvolvam de maneira ambientalmente sustentável (Silva, 2004). Nesse
momento faz-se necessário enfrentar a discussão e reflexão sobre os temas e questões perplexas que
rondam a proteção ambiental, seus aspectos polêmicos e notáveis, a partir da sociedade moderna,
com vistas ao desenvolvimento baseado no respeito ao meio ambiente, decorrente dos necessários
1079
crescimentos humano e econômico, suas ideologias e necessidades, respeitadas as diferenças
culturais e regionais em circunstâncias determinadas (Cunha, 2012).
A capacidade de atuação do Estado na área ambiental baseia-se na idéia de
responsabilidades compartilhadas entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, além da
relação desses com os diversos setores da sociedade (MMA, 2006).
Dessa forma, com base nas diretrizes de gestão ambiental nacional, um grupo de Trabalho
criado pela Comissão Tripartite Nacional elaborou um Projeto de Lei Complementar fixando
normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no que se
refere às competências comuns previstas no artigo 23 - incisos III, VI e VII e parágrafo único,
estabelecendo questões fundamentais como: (i) a repartição de competências entre os membros do
SISNAMA em relação ao licenciamento ambiental, tendo como base a abrangência e magnitude do
impacto ambiental da atividade; (ii) harmonização entre as competências para a realização do
licenciamento ambiental e autorização para a supressão de vegetação; (iii) regras claras para ação da
fiscalização e da gestão florestal; (iv) competência supletiva dos entes federados e não apenas da
União, dentre outras (MMA, 2006).
O resultado desse Projeto foi a Lei Complementar nº 140/2011, que dispõe sobre o artigo 23,
parágrafo único, e incisos III, VI e VII da Constituição Federal e trata da competência para o
licenciamento ambiental (BRASIL, 2011). Resultou assim alterada a Lei nº 6.938/81 dispondo
sobre "a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações
administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens
naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas
e à preservação das florestas, da fauna e da flora" (Ribeiro, 2011).
A implementação dessa lei será coordenada pelas comissões tripartites, que consiste na
Comissão Tripartite Nacional formada, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão
ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos. As Comissões Tripartites
Estaduais são formadas, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos da União, dos
Estados e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e
descentralizada entre os entes federativos.
A Comissão Tripartite é uma articulação institucional promovida pelo Ministério do Meio
Ambiente - MMA para garantir ações compartilhadas dos órgãos ambientais dos três níveis de
governo (União, Estados e Municípios), onde o principal foco é garantir a eficiência da execução
das políticas ambientais, além de ser um fórum que procura dirimir conflitos de competência no
licenciamento ambiental e otimizar ações de fiscalização de combate aos crimes ambientais
(IBAMA, 2011).
1080
Estas comissões são fundamentais para promoção da gestão ambiental compartilhada e
descentralizada entre os entes federados, uma vez que o artigo 23 da Constituição Federal
estabelece que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas. As Comissões
Técnicas Tripartites Estaduais e a Nacional, são compostas por representações paritárias dos órgãos
e entidades ambientais da federação, os quais desenvolvem seus trabalhos de acordo com uma
lógica de consenso, onde as decisões são construídas por unanimidade (Paz, 2011).
Como encaminhamento do seminário ―Repartição de Competências‖, realizado no ano de
2006, realizado em Brasília, DF, nos dias 23 e 24 de novembro de 2006, ficou estabelecido que
paralelamente à discussão da regulamentação do Artigo 23 da CF, a Comissão Tripartite Nacional
iria sugerir às Comissões Técnicas Tripartites Estaduais critérios para a definição das atividades
consideradas com características de impacto local. Considerando que é fundamental para o
exercício da competência e da gestão ambiental compartilhada a compreensão sobre abrangência de
impactos ambientais, a proposta de regulamentação do artigo 23 da CF estabelece que para
definição de impacto ambiental serão levados em consideração o porte e o potencial poluidor do
empreendimento ou atividade a ser licenciada ou autorizada, e apresenta o seguinte entendimento
sobre impacto ambiental de âmbito local:

“aquele que afete diretamente, no todo ou em parte, o território de um


município sem ultrapassar o seu limite territorial” (MMA, 2006).

O processo de definição de políticas públicas para uma sociedade reflete os conflitos de


interesses, os arranjos feitos nas esferas de poder que perpassam as instituições do Estado e da
sociedade como um todo. As formas de organização, o poder de pressão e articulação de diferentes
grupos sociais no processo de estabelecimento e reivindicação de demandas são fatores
fundamentais na conquista de novos e mais amplos direitos sociais, incorporados ao exercício da
cidadania. As ações públicas, articuladas com as demandas da sociedade, devem se voltar para a
construção de direitos sociais (Höfling, 2001).
Para avançar rumo ao desenvolvimento justo e sustentável, o poder público tem um grande
desafio a ser vencido, que é a compreensão de que uma política ambiental integrada, articulada com
estados e municípios, sendo fruto de diálogo com a sociedade, constituindo um fator essencial para
o desenvolvimento do país. Incorporar a dimensão socioambiental nas metas de crescimento
econômico é condição, e não obstáculo, para o desenvolvimento duradouro, sustentável e
socialmente inclusivo (Silva, 2004).
Preservar o meio-ambiente não pode e nem deve, ser uma tarefa apenas do Estado, mas
também dos municípios, ONGs e sociedade em geral. Os caminhos para essa gestão compartilhada
1081
podem ser vários, depende mesmo é da decisão política dos dirigentes. No entanto, é importante
ressaltar que a municipalização da gestão ambiental só será possível se os funcionários das
prefeituras forem capacitados e treinados para fazerem uma administração fundamentada na
sustentabilidade. Não adianta transferir ou dividir a gestão ambiental com os municípios, se o corpo
funcional da prefeitura não conhece, não entende e não se interessa pelas questões ambientais
(FAMUP, 2009). Preservar o meio-ambiente não pode e nem deve ser uma tarefa apenas do Estado,
mas também dos municípios, organizações não governamentais e sociedade em geral. Os caminhos
para essa gestão compartilhada podem ser vários, depende mesmo é da decisão política dos
dirigentes. No entanto, é importante ressaltar que a municipalização da gestão ambiental só será
possível se os funcionários das prefeituras forem capacitados e treinados para fazerem uma
administração fundamentada na sustentabilidade. Não adianta transferir ou dividir a gestão
ambiental com os municípios, se o corpo funcional da prefeitura desconhecer as questões
ambientais atinentes às suas funções integradas (FAMUP, 2009).

Resultados

Coletados e analisados os dados necessários obteve-se informações de que o Estado da


Paraíba dispõe da Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência de
Tecnologia – SERHMACT, que tem a função de promover e desenvolver as Políticas Públicas
Estaduais no âmbito de suas competências. Encontram-se em suas autarquias: SUDEMA –
Superintendência Estadual de Meio Ambiente da Paraíba, AESA – Agência Executiva de Gestão
das Águas do Estado da Paraíba e FAPESQ – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba.
Segundo Rogério dos Santos Ferreira, o Gerente Executivo de Meio Ambiente da
SERHMACT, a respeito de como as ações da SERHMACT chegam aos municípios, uma vez que a
Secretaria é múltipla, os municípios do Estado da Paraíba são contemplados com as ações desta
Secretaria Executiva quando procuram ou quando são visitados a partir da identificação de uma
necessidade de parceria entre ambos. Cabendo deixar claro que poucos são os municípios no Estado
com política voltada para as questões ambientais, apesar de toda a demanda existente
(SERHMACT, 2012).
Segundo o referido Gerente Executivo de Meio Ambiente da SERHMACT, pensando na
questão do complemento, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente trabalha de forma solitária e
solidária quando não vê interesse nos Municípios em desenvolver políticas ambientais locais. Dos
poucos municípios que atualmente dispõe de alguns órgãos ligado ao Meio Ambiente, cerca de 20
apenas, dos 223 municípios do Estado, nenhum apresenta, ao menos publicamente, uma Política
Ambiental a qual possa integrar ao Estado. Sendo destaque neste ponto, a integração total desta

1082
Secretaria com outros órgãos como UFPB, UFCG, IFPB e outros que buscam promover as ações
nos municípios em sua ausência de atuação.
A Comissão Tripartite da Paraíba foi criada no ano de 2004, sendo formada naquele
momento por representantes do IBAMA – PB, da SERHMACT, da SUDEMA, da SEMAM –
Secretaria de Meio Ambiente do município de João Pessoa e de um representante da FAMUP –
Federação das Associações de Municípios da Paraíba. Atualmente a Comissão Tripartite da Paraíba
encontrava-se sem funcionamento de suas atividades e foi no fim do ano de 2011 que a mesma
voltou a exercer suas funções, reativando a realização de suas reuniões e atividades e agora com o
Instituto Chico Mendes de proteção à Biodiversidade – ICMBio como mais um membro. Segundo o
atual Superintendente da unidade do IBAMA na Paraíba, Bruno Dunda, que assumiu a pasta no ano
de 2011, a Comissão Tripartite da Paraíba funciona como um fórum de discussões dos órgãos
ambientais das esferas nacional, estadual e municipal, que tem por objetivo desenvolver uma gestão
compartilhada na Paraíba e evoluir na descentralização e desconcentração da gestão ambiental
pública paraibana, de forma a garantir a eficácia na proteção ao meio ambiente (IBAMA, 2012).
Com a reativação da Comissão Tripartite da Paraíba, várias questões estão sendo discutidas,
entre elas estão: o regimento interno da mesma, a criação de grupos de trabalhos dentro da comissão
para levantamento de questões a serem discutidas, a execução das competências definidas na Lei
Complementar 140/2011, a tensão entre SUDEMA e municípios quanto a essa descentralização de
gestão, definição das atividade de impacto local fundamental para a questão da descentralização do
licenciamento ambiental para os municípios, entre outras questões tão importantes dentro da gestão
ambiental pública.
Passados seis anos do referido seminário ―Repartição de Competências‖ onde entrou em
discussão a definição de quais seriam as atividades consideradas de impacto local, a Comissão
Tripartite do Estado da Paraíba, que atualmente encontra-se se rearticulando para reativar suas
atividades, está fazendo discussões para definição das respectivas atividades consideradas de
impacto local, considerando suas peculiaridades regionais, adotando critérios para regulamentar as
tipologias de empreendimentos e atividades com características de impacto local, no intuito de
difundir a descentralização do licenciamento ambiental e atuação dos municípios para com o
mesmo.
Existe um entrave entre a gestão estadual e municipal, onde o governo do estado se depara
com a falta de interesse da maioria dos municípios quanto à gestão ambiental e o fato de que
existem municípios paraibanos que já dispõem de alguma estrutura para desenvolver essa função e
principalmente o interesse para desenvolver essa importante atividade e que se deparam com a falta
de estrutura do governo do Estado para capacitar e efetivar essa integração entre os mesmos. É
necessário conscientizar os municípios de que eles podem assumir a gestão ambiental, definir e
1083
difundir o que a prefeitura deve fazer para gerir o meio-ambiente, os pontos positivos dessa
municipalização, como estruturar a Secretaria ou o Departamento desta área para essa atuação e
muitos outros assuntos relacionados para que essa evolução ocorra de fato. A reativação da
Comissão Tripartite da Paraíba representa um passo à frente para execução de uma política
ambiental ativa e integrada no estado.

Para Não Concluir

Tendo em vista a necessidade desse assunto para o andamento da pesquisa de mestrado


citada e sua importância para o entendimento da real situação da gestão ambiental pública paraibana
e da maioria dos estados brasileiros, destacando a necessidade de promoção de políticas públicas
para a mudança e melhora desse quadro observa-se a necessidade de discutir e analisar
conjuntamente a maneira como estas três esferas de atuação na área ambiental: nacional, estadual e
municipal, trabalham e se integram, esclarecendo dúvidas quanto ao papel de cada uma. As
dificuldades na área ambiental são grandes precisando somar efetivamente os três níveis de
governo, substituindo eventuais disputas e sombreamentos por uma situação de compartilhamento
de responsabilidades. Portanto, se quisermos pensar em um sistema eficiente, é preciso sensibilizar
os gestores da importância disso e pensar novas maneiras de capacitação dos municípios para esta
atribuição, assim como viabilizar mecanismos de financiamento e trabalhar conjuntamente a
questão da sustentabilidade. Mesmo com dificuldades visíveis e em alguns casos compreensíveis,
alguns passos significativos vêm sendo dados também na articulação da política ambiental integrada
junto aos estados e municípios, consolidando gradativamente o Sistema Nacional de Meio
Ambiente – SISNAMA, mostrando que é também a divisão de protagonismo que fortalece e torna
real essa possibilidade a cada dia.
Em virtude de aspectos como: o modelo de desenvolvimento seguido pelo Brasil, uma
gestão ambiental centralizadora desde os seus primórdios e a descredibilidade que infelizmente
representantes do poder público tem dado à gestão pública, se torna urgente o grande desafio citado
por Luis Inácio Lula da Silva, enquanto presidente do Brasil, que é a missão de devolver a auto-
estima ao povo brasileiro. Este se torna, sem dúvida, o sentido do desenvolvimento que precisamos:
socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente sustentável. Só assim haverá forças
suficientes para mudança e evolução da gestão pública, seja ambiental ou de qualquer outro
segmento na promoção de um desenvolvimento sustentável fundamentado na qualidade de vida.

Referências

ALVES-MAZZOTTI, A. J. & GEWANDSZNADER, F. O Método nas Ciências Naturais e


Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Thomson, 1999.
1084
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional de Meio
Ambiente.
BRASIL. Lei Complementar nº 140, de 08 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos
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CUNHA, Belinda Pereira (org.). Temas Fundamentais de Direito e Sustentabilidade
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2011.<http://www.vitrinedocariri.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=37314&I
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Lúcia M. Orth. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
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Ministério de Meio Ambiente, 2006.
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RIBEIRO, Roseli. Já está em vigor a nova Lei de competência Ambiental.
<http://www.cargaurbana.org.br/ws/Principal/Legislacao.aspx?MateriaId=3455&EditoriaId=7>.
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SILVA, Marina. Dá pra Casar: meio ambiente e desenvolvimento. Revista Eco-21, Edição 91.
Acesso em: <http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=803>. Em: 17 set. 2012.

1085
NOTAS SOBRE A GÊNESE DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL CEARENSE:
CONTEXTO HISTÓRICO JURÍDICO-INSTITUCIONAL124

Maria Rita VIDAL


Doutoranda em Geografia, DGE/UFC
mritavidal@yahoo.com.br

Camila Campos LOPES


Doutoranda em Geografia, DGE/UFC
camila.npc@hotmail.com

Nubélia Moreira da SILVA


Doutoranda em Geografia, DGE/UFC
nubeliamoreira@yahoo.com.br

Abraão Levi dos Santos MASCARENHAS


Prof. da Universidade Federal do Pará, DGE/UFPA
abraaolevi@hotmail.co

Resumo
As áreas de Proteção Ambiental - APAs constituem um dos instrumentos da Política Ambiental
Brasileira, estas, se configuram como espaços voltados para a proteção do uso sustentável dos
recursos naturais. Historicamente, essas áreas tem apresentado problemas no tocante ao
cumprimento de seus objetivos frente a conservação e/ou proteção dos atributos ambientais. Pelo
exposto, o estudo versa sobre a gênese das Áreas de Proteção Ambiental Estaduais cearenses,
buscando identificar e debater sobre as dificuldades da implantação e implementação desses
espaços em função da sua forma de criação. Os dados apresentados foram elaborados a partir de
informações obtidas na Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará – SEMACE, bem
como no banco de dados do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação do Ministério de Meio
Ambiente-MMA. As maiores dificuldades encontradas para a implantação e efetivação das áreas de
proteção ambiental, estão expressas pela forma de gestão realizada nessas áreas, bem como a falta
de recursos financeiros e humanos para geri-las. A gestão participativa envolvendo os órgãos

124
Trabalho referente ao desenvolvimento de Pesquisa de Pós Graduação em Geografia com linha de pesquisa em
Estudos Socioambientais na Zona Costeira da Universidade Federal do Ceará.

1086
governamentais, o setor privado e a sociedade civil organizada se mostram como uma das saídas
para a efetivação desses espaços.

Palavras – chave: Área de Proteção Ambiental; Conservação; Gestão Participativa.

Abstract
The Environmental Protection Areas - APAs constitute themselves as an instrument of the Brazilian
Environmental Policy, these, are configured as spaces dedicated to the protection of the sustainable
use of natural resources. Historically, these areas have been presenting problems in the fulfillment
of their objectives regarding of conservation and / or protection of environmental attributes. For
these reasons, the study focuses on the genesis of the creation of the Environmental Protection
Areas in the State of Ceará, seeking identify and discuss the difficulties in implantation and
implementation of these spaces according to their scheme of creation. Data were elaborate from
sources obtained from the Environment Superintendent State of Ceará - SEMACE as well the
database of the National Register of Protected Areas of the Ministry of Environment-MMA. The
major difficulties founded in the implementation and effectuation of environmental protection areas,
are expressed by way of management conducted in these areas, as well the lack of financial and
human resources to manage them. Participatory management involving government agencies,
private sector and civil society organizations appear as one of the outputs for the effectuation of
these spaces.

Keywords: environmental protection area, conservation, participatory management.

Introdução

As áreas protegidas Brasileiras constituem-se como instrumentos da Política Nacional de


Meio Ambiente – PNMA, sendo estas, uma das estratégias desenvolvidas para a conservação e/ou
preservação dos recursos naturais nacionais.
As Áreas Protegidas definem-se como espaços territoriais legalmente protegidos por meio
da legislação ambiental específica. Nesses espaços estão inseridas as Áreas de Reserva Legal (RL),
Áreas de Preservação Permanente (APP‘s), as Terras Indígenas (TI‘s), sendo, portanto, diferentes
do conceito de Unidades de Conservação-UCs. As UCs, à luz da legislação ambiental brasileira, são
definidas, como um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público (VIANA;
GABEM, 2005).
De acordo com (COELHO et al, 2009) a constituição das variadas Unidades de Conservação
sejam de proteção integral ou de uso sustentável, levam á sobreposição de múltiplas
1087
territorialidades, sendo as Unidades de Conservação ao mesmo tempo território de conservação,
território de vida, território de produção e território de pesquisa acadêmica. Ainda de acordo com os
autores, as Unidades de Conservação brasileiras estão cunhadas por ideais ambientalistas e
territoriais, refletindo nas formas de criação e implantação dessas unidades no território nacional
As Unidades de Conservação são classificadas em dois grupos, distribuídas em doze
categorias com características específicas a saber: Grupo 01-Proteção Integral – admitem apenas
usos indiretos dos seus recursos naturais, Grupo 02-Uso Sustentável – que compatibilizam a
conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais; é na categoria
de uso sustentável que estão inseridas as Áreas de Proteção Ambiental – APAs (BRASIL, 2000).
As Áreas de Proteção Ambiental - APAs foram criadas como uma nova categoria no Brasil
em 1981, cuja especificidade reside no fato de buscar conciliar o desenvolvimento da área, aliado à
sua proteção ambiental. As terras permanecem sob o domínio particular ou do estado, porém, estão
(ou deveriam estar) sujeitas às restrições de uso do solo e dos recursos naturais segundo os objetivos
de proteção da área, através de ações de planejamento e gestão territorial.
O Sistema Nacional de Unidade de Conservação - SNUC, em seu Art.15, define Área de
Proteção Ambiental (APA) como:

(...) ―área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, com
predicativos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais importantes para a qualidade
de vida e o bem-estar das sociedades humanas como objetivos básicos de proteger
a diversidade biológica, disciplinando o processo de ocupação além de assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais‖ (BRASIL, 2000).

A partir das definições do conceito de APA pode-se inferir que a mesma busca conciliar o
desenvolvimento econômico com a conservação dos recursos naturais dentro do mesmo espaço, os
múltiplos usos nessa área atribui elevada complexidade na gestão e manejo.
São intermináveis os debates em relação à eficácia das unidades de conservação de uso
sustentável. A abrangência das especificações/possibilidades de desenvolvimento de atividades
econômicas nas APAs, gerou a ―resistência‖ que muitos estudiosos e conservacionistas têm em
relação a esta categoria, suscitando críticas no tocante à sua real aplicabilidade.
Concordamos com (CÔRTE, 1997), quando afirma que as APAs têm sido usadas no
território brasileiro como um instrumento de correção e minimizador da degradação ambiental.
Porém a transformação de uma área em APA historicamente tem demonstrado não ser suficiente
para controlar o processo de degradação nesses espaços.
Diante do exposto, e tomando como exemplo às APAS estaduais, é possível inferir que estas
unidades de conservação, trazem consigo uma série de problemas pontuados pela falta de recursos
financeiros e humanos, pela inexistência de planos de manejo e efetivação dos Conselhos Gestores,
1088
levando à dificuldades no planejamento e gestão desses espaços. Todos esses fatores contribuíram
para levar a APA ao rol da categoria mais desacreditada do Sistema Nacional de Unidade de
Conservação Brasileiro.
Dessa forma, o presente trabalho discute a criação das Áreas de Proteção Ambiental
cearenses, buscando identificar e debater sobre as dificuldades da implantação e implementação
desses espaços.

Material e Métodos

Para a coleta de informações sobre a criação, distribuição e situação atual das APAs no
Estado do Ceará, foram utilizados como fonte de pesquisa dados provenientes da Superintendência
Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. Dados de ordem estatísticos e quantitativos foram obtidos
através do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, do Ministério de Meio Ambiente –
MMA e na Legislação Federal e Estadual referente à figura legal das APAs. Os Decretos de criação
das APAs estaduais foram utilizados como fonte de análise para o entendimento da justificativa de
criação, dos objetivos, as peculiaridades e as restrições impostas ao uso e ocupação de cada APA
estudada.
Para fundamentar as idéias de áreas protegidas e unidades de conservação optou-se por
conceitos adotados no Sistema Brasileiro de Unidade de Conservação e no Sistema Estadual de
Unidades de Conservação do Ceará, bem como as aportações de autores como: Morsello (2001),
que aborda o tratamento de áreas protegidas no tocante à conservação dos recursos naturais, com
ênfase na seleção e manejo em áreas públicas e privadas. Viana; Ganem (2005) que trazem a
caracterização da evolução e criação das APAs no contexto nacional. Cabral e Souza (2005) que
apresentam as diferentes abordagens conceituais das áreas protegidas no mundo, discutindo o
planejamento e gestão das áreas protegidas usando como estudo de caso as áreas de proteção
ambiental - APAs.

Da Criação das Áreas de Proteção Ambiental Cearenses

O Ceará inicia a experiência de gestão sobre Unidades de Conservação, no final da década


de 1980, através do Decreto de nº 20.253/09/1989, que trata da desapropriação das áreas de terra
compreendidas no contorno do, que seria hoje, Parque Ecológico do Rio Cocó, com objetivo de
minimizar os impactos urbanos sobre o ecossistema manguezal.
Através da Lei Estadual n° 12.488, de 13/09/1995, que dispõe sobre a Política Florestal
Estadual, inicia-se a criação de inúmeras unidades de conservação, na década de 1990, sobretudo,
no tocante às unidades de uso sustentável como as Áreas de Proteção Ambiental. Estas unidades

1089
predominam em número e se localizam em sua grande maioria nos ecossistemas costeiros do
Estado.
Decorridas quase duas décadas desde a criação da primeira unidade de conservação estadual
(Parque do Cocó), somente no ano de 2009, através da Lei Estadual nº 14.390, o Governo do Ceará
instituiu o Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC. A referida lei traz à incumbência
de adequar as áreas protegidas do Estado dentro das categorias estabelecidas pelo SNUC.
Um ano depois, através do Decerto nº 3.834, de 2001, fica determinada a exigência da
adequação das categorias existentes às categorias propostas pelo SNUC. No Ceará existiam e ainda
existem categorias fora das estabelecidas pelo SNUC, a exemplo das Reservas Ecológicas
Particulares (REP), extintas pela determinação do Decreto acima e do Parque Botânico do Ceará,
ainda em funcionamento.

Áreas de Proteção Ambiental Estaduais: da conservação a contradições

Frente aos problemas enfrentados pelas APAs no tocante a falta de recursos financeiros e
humanos, distorção em relação a suas áreas, inoperância dos Conselhos Gestores e, a não
coadunação do Estado e as propriedades privadas, pode-se observar que grande parte das APAs
cearenses no modelo atual, não cumpre seus objetivos.
Para embasar tal fato, parte-se de premissas que levam a reflexão sobre a gênese das APAs
estaduais e os seus principais problemas, quais sejam: redação de seus decretos de criação, ao
tamanho das áreas, a distribuição/concentração espacial no território, e as relações estabelecidas (ou
não), entre a institucionalização desses espaços e as populações residentes nos mesmos.

- Mal nascidas, mal criadas...

O que nos leva a tal constatação reside no fato de, que existe uma semelhança exacerbada
nos Decretos de criação, onde a redação de seus artigos apresenta semelhança incontestável
evidenciando a não consideração das características locais de cada área delimitada. (quadro 01).
APA Justificativa da Criação Objetivos e Peculiaridades

Bica do Ipu Valor ecológico e turístico/fragilidade do Proteger e conservar as comunidades bióticas,


equilíbrio ecológico da Bica do recursos hídricos, solos/ordenar o turismo
25.354/1999 Ipu/conscientização da população ecológico, científico e cultural/desenvolver a
regional sobre a preservação da área. consciência ecológica.

Dunas da Refúgios biológicos/fragilidade do Proteger e conservar as comunidades bióticas,


Lagoinha equilíbrio ecológico das Dunas da recursos hídricos, solos/ordenar o turismo
25.41/1999 Lagoinha/conscientização da população. ecológico, científico e cultural/desenvolver a
consciência ecológica.

Dunas de Valor ecológico e turístico/fragilidade do Proteger e conservar as comunidades bióticas,

1090
Paracuru equilíbrio ecológico das Dunas de recursos hídricos, solos/ordenar o turismo
25.418/1999 Paracuru/conscientização da população. ecológico, científico e cultural/desenvolver a
consciência ecológica.

Lagoa de Jijoca Valor ecológico e turístico/fragilidade do Proteger comunidades bióticas e o


25.975/2000 equilíbrio ecológico/conscientização da solo/conservação de remanescentes da mata
população regional sobre a preservação aluvial, leitos naturais, águas pluviais/ordenar o
da área. turismo ecológico, científico e
cultural/desenvolver a consciência ecológica.

Lagoa do Uruaú Peculiaridades ambientais das margens Proteger as comunidades bióticas nativas e o
da Lagoa/refúgio solo/ Garantir a conservação de remanescentes
25.355/1999 biológico/conscientização da população de mata aluvial/desenvolver a consciência
regional sobre a preservação da área. ecológica.

Serra de Fragilidade do equilíbrio ecológico Proteger as comunidades bióticas nativas,


Aratanha ambiental da Serra/ de conscientização nascentes e vertentes/ conservar os
24.959/1998 ambiental da população. remanescentes da Mata Atlântica/ordenar o
turismo ecológico, científico e cultural.

Serra de Conservação e melhoria das condições Proteger as comunidades bióticas nativas,


Baturité ecológicas regionais assegurando o bem nascentes dos rios, as vertentes e os
estar das populações humanas/ solos/desenvolver na população regional
Nº 20.956/1990 consciência ecológica e conservacionista

Estuário do Rio Valor ecológico e turístico/fragilidade do Proteger as comunidades bióticas nativas, os


Ceará equilíbrio ecológico/conscientização da recursos hídricos e os solos/ordenar o turismo
25.413/1999 população. ecológico, científico e cultural/desenvolver, na
população consciência ecológica e
conservacionista.

APA do Valor ecológico e turístico/fragilidade do Proteger e conservar as comunidades bióticas


Estuário do Rio equilíbrio ecológico/conscientização da nativas, os recursos hídricos e os solos/
Curu população. proporcionar a população métodos e técnicas
apropriadas ao uso do solo/ ordenar o turismo
25.416/1999 ecológico, científico e cultural.

APA do Refúgio biológico/fragilidade do Proteger e conservar as comunidades bióticas


Estuario do Rio equilíbrio ecológico do nativas, os recursos hídricos e os solos/
Mundaú Estuário/conscientização da população. proporcionar a população métodos e técnicas
apropriadas ao uso do solo/ ordenar o turismo
25.414/1999 ecológico, científico e cultural.

Rio Pacoti Riqueza e relevância dos ecossistemas Proteger a biodiversidade/garantir qualidade


presentes no entorno do Rio/preservação dos recursos hídricos/ preservar as margens do
25.778/2000 da foz/Importância da bacia para o Rio/ordenar o turismo ecológico, científico e
Sistema de Abastecimento d‘água da cultural/proteger o cordão dunar/preservar o
cidade de Fortaleza. manguezal.

APA do Peculiaridades ambientais do Lagamar Proteger as comunidades bióticas nativas, as


Lagamar do do Cauípe e dos entornos da Lagoa do nascentes rios, as vertentes e os solos; /garantir

1091
Cauípe e APA Pecém/refúgios biológicos de grande a conservação de remanescentes de mata
do Pecem valor/ambientes dotados de equilíbrio aluvial, dos leitos naturais das águas pluviais e
24.957/1998 ecológico frágeis. das reservas hídricas/ordenar o turismo
ecológico, científico e cultural.

Quadro 01 - Síntese dos principias componentes dos Decretos de criação das APAs Cearenses.
Fonte: Elaboração pelos autores.

Decorrida um pouco mais de uma década do surgimento das APAs cearenses, estas ainda
não alcançaram os objetivos aos quais se propõem. Verifica-se através deste estudo que, quanto à
elaboração dos objetivos, a tendência para as APAs cearenses é de estabelecer objetivos
generalizados, não levando em consideração as características locais que cada área requer, e ainda,
que existem objetivos citados nos decretos que não são característicos da categoria. Conforme se
pode perceber na redação em relação a atividades de lazer e atividades de educação ambiental.
Os objetivos de proteção de uma APA precisam ser bem especificados em seus decretos de
criação, uma vez que estes orientam o processo de planejamento e gestão territorial de uma área
específica, levando em consideração as suas peculiaridades e especificidades dos atributos
ambientais e locais.
Com base nos decretos analisados e na possibilidade destes auxiliarem o processo de gestão,
observa-se aqueles que melhor foram estruturados de alguma maneira, mesmo que de forma tímida,
reportaram características locais e endêmicas da unidade em questão, a exemplo temos a APA do
Rio Pacoti, que traz a ―Importância da bacia hidrográfica para o sistema de abastecimento d‘água da
cidade de Fortaleza‖, e a APA da Serra de Aratanha, que aborda a conservação dos remanescentes
da Mata Atlântica.
A data de criação dessas áreas também nos remete a uma reflexão. A maioria tem como
marco de criação a data de 29 de março de 1999 seu marco de criação. Verifica-se que, sete das
trezes APAs existentes, foram criadas na referida data, isso implica dizer que, 54% das APAs
Estaduais foram criadas em data conjunta, ou seja em bloco.
Desse modo, algumas áreas foram incluídas em categorias inadequadas no tocante às suas
características e objetivos de manejo, de modo que não condizem com seu uso atual, ou foram
incluídas em categorias que não têm objetivos claros e determinados.

- Mal Nascidas, Mal Criadas e Mal Distribuídas...

Outro fator relevante se expressa pela distribuição espacial das APAs no território cearense.
Evidenciando a concentração na zona costeira, esse desequilíbrio espacial, implica na baixa
capacidade de proteção dos ecossistemas e recursos naturais como um todo, tendo consequências na
proteção da sociobiodiversidade.

1092
Atualmente o Estado do Ceará conta com 13 Áreas de Proteção Ambiental sob sua
administração, distribuídas em sua quase totalidade na Zona Costeira Cearense. (figura 01).

1. APA da lagoa da Jijoca


2. APA do estuário do Rio Mundaú
3. APA da duna de Lagoinha
4. APA do estuário do Rio Curu
5. APA das Duna do Paracuru
6. APA do Pecém
7. APA do Estuário do Rio Ceará
8. APA do Lagamar do Cauípe
9. APA da Serra de Aratanha
10. APA do Rio Pacoti
11. APA da Serra de Baturité
12. APA da Bica do Ipú
13. APA da Lagoa do Uruaú

Figura 01 – Espacialização das Áreas de Proteção Ambiental Estaduais do Ceará.


Fonte: Vidal; Mascarenhas (2012)
Outro fator relevante se expressa pela distribuição espacial das APAs no território cearense.
Evidenciando a concentração na zona costeira, esse desequilíbrio espacial, implica na baixa
capacidade de proteção dos ecossistemas e recursos naturais como um todo, tendo consequências na
proteção da sociobiodiversidade.
Atualmente o Estado do Ceará conta com 13 Áreas de Proteção Ambiental sob sua
administração, distribuídas em sua quase totalidade na Zona Costeira Cearense. (figura 01).

- Mal Nascidas, Mal Criadas, Mal Distribuídas e Mal Planejadas...

Além da distribuição espacial voltada para a zona costeira, nota-se ainda, a disparidade
entre a extensão (em hectares) das áreas de proteção ambiental cearenses (figura 02). Algumas
perfazendo grandes áreas, como é o caso da APA da Bica do Ipu que de acordo com seu Decreto de
Criação nº 25.354, de 26 de janeiro de 1999, tem uma área de 3.484.665 hectares se contrapondo à
APA do Estuário do Estuário do Rio Curu que tem apenas 881,94 hectares (Decreto nº 25.416 de
1999).

1093
Distribuição das APAS Cearenses em hectares
Serra de Baturite
0,03% Lagamar do cauípe
0,55% 20,61%
6,71% Pecém
4,49% 0,11% Aratuba
2,68% Bica do Ipu
0,05%
Lagoinha
Duna paracuru
0,15%
Estuário do Rio Ceará
4,61%
Estuário do rio Curu
0,66% 58,49%
Estuário do Rio Pacoti
Estuário do Rio Mundaú
0,88% Lagoa do Uruaú
Lagoa de Jijoca

Figura 02 - O tamanho das áreas de proteção ambiental estaduais em hectares.


Fonte: Vidal; Mascarenhas (2012)

Para além da extensão, Sampaio (2007), chama atenção para a incoerência na criação das
Áreas de Proteção Ambiental do Estuário do Rio Curu e das Dunas de Lagoinha, ambas no
município de Paraipaba, cujas características de criação são incompatíveis com a categoria prevista
pelo SNUC, cujo Artigo 15, define as APAs como ―áreas em geral extensas e com um certo grau de
ocupação‖. Essa afirmação vai contra o tamanho das APAs citadas, 881,94ha e 523,48 ha
respectivamente, e no baixo grau de ocupação humana que as mesmas contêm atualmente.

- Mal Nascidas, Mal Criadas, Mal Distribuídas, Mal Planejadas, mas Tiveram Proliferação
Rápida e Midiática

A grande vantagem das APAs para os detentores do poder público é que a sua criação
dispensa custosas desapropriações exigidas nas outras unidades de conservação. Para estabelecê-las
basta um decreto federal, estadual ou municipal. Para o gestor público criá-las passa uma imagem
de protetor da natureza sem ter o ônus de dispensar vultosos recursos necessários em uma unidade
de conservação mais eficaz.
Isso nos leva a pensar nas razões de ter a APA proliferado tão rapidamente no Brasil e no
Ceará, com frequência atendendo a motivos puramente demagógicos, ou em total desacordo com as
finalidades dessa unidade de conservação. (PÁDUA, 2006)
As APAs cearenses comprem uma importante função: aumentam as estatísticas do volume
de áreas protegidas no país, de certo elas não atendem aos objetivos de conservação propostos.
Somente a categoria APA ocupa cinco por cento (5,7%) do território cearense e somando todas as
outras categorias existentes no Estado o total de área protegida equivalem a dois por cento (2,0%).

1094
Do ponto de vista da conservação esse dado que evidencia o predomínio das APAs sobre as
outras categorias no Ceará, nos remete a uma reflexão preocupante, pois essa categoria é sem
sombra de dúvidas a menos restritiva das categorias pertencentes ao SNUC. A comprovação vem
em ser esta categoria a única a permitir dentro de seus limites a pesquisa, moradia e o cultivo de
organismos geneticamente modificados.
Outra especificidade reside no fato das terras poderem ser de domínio público ou
permanecerem sob o domínio dos proprietários, mesmo que sejam feitas tentativas de restrições de
uso do solo e dos recursos naturais. Esta peculiaridade introduz um caráter de complexidade à
questão trazendo em cena a busca de práticas de sustentabilidade e convivência harmônica com o
meio.
No Ceará como nos demais estados do Brasil, em geral, a criação das Unidades de
Conservação não obedeceu a critérios técnicos e científicos e essas áreas passaram a ser
estabelecidas muito em função das belezas cênicas ou como resultado de vontades e oportunidades
políticas.
As dificuldades referentes à gestão das unidades se expressam dentre outros fatores pela
inexistência dos planos de manejo. De acordo com os dados pesquisados no Cadastro Nacional de
Unidade de Conservação-CNUC, das treze unidades de proteção ambiental estaduais, nenhuma tem
plano de manejo. Em relação aos Conselhos Gestores o número atualmente rege três conselhos
constituídos (APA da Lagoa da Jijoca, APA da Serra de Baturité e APA do Rio Ceará). (BRASIL,
2012).
Existe ainda a precariedade na infraestrutura física e operativa das unidades, a perda da
capacidade operativa dos conselhos gestores criados e/ ou formados, evidenciando a necessidade de
capacitação para os gestores das UCs. (PROBIO/CEARÁ, 2004).
E é aqui que entra o questionamento norteador desse ensaio: o estado atual das APAs
cearenses explica-se em função da sua forma de criação? Se a afirmativa para esse indagação não
der conta do resultado, pode-se dizer que a grande força impulsionadora da má implantação e não
efetivação das APAs cearenses se deu em função da sua forma impensada, mas não intencional de
criação.
Talvez ir além seja preciso, principalmente, no que diz respeito às funções que esses espaços
estabelecem nos territórios, para que as mesma não continuem sendo uma forma de
institucionalização dos espaços e sobretudo, uma expressão dos interesses políticos.
As APAs só cumprirão seu papel frente à conservação/proteção e uso dos recursos naturais,
quando o processo de criação dessas unidades for definitivamente uma decisão que parta das
populações que habitam esse espaço (VIDAL, 2006), e que, os conselhos gestores sejam
efetivamente compostos por cidadãos conscientes da sua participação nas tomadas de decisões.
1095
Enquanto as políticas ambientais não adotarem critérios mais aproximativos da problemática
ambiental, tais como equidades econômica e social de forma específica a cada espaço que se queira
proteger/conservar, haverá necessidade de se achar outras categorias que possam atender a esses
desígnios, ou seja, recategorizar as APAs é urgente para se propor novas formas de ordenação do
território cearense.

Conclusões

Tomando de forma introdutória os argumentos acima apresentados é possível observar que


as Áreas de Proteção Ambiental em sua grande maioria não cumprem a funções/objetivos
estabelecidos em seus Decretos, pois há uma série de dificuldades referentes à forma como estas
áreas foram planejadas e ainda são implantadas pelo Estado.
Os dados apresentados acima, ilustrando sua desigual distribuição espacial, a proliferação
rápida e midiática a que envolveu a criação das áreas de proteção ambiental, lhes garantiram a
herança de serem tachadas como instrumentos políticos-demagógicos desde sua criação até os dias
atuais.
A esse espetáculo, se junta as irregularidades sobre a equidade em suas extensões
territoriais, onde não coadunam o público com o privado e ainda a separação consumada
estabelecida entre a instituição desses espaços e a população que o habita.

Referências

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da Natureza.
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Disponível em: <http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs> Acesso em 22
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Bica do Ipú. Disponível em <http://www.semace.ce.gov.br> Acesso em: 07 de Set. 2012.
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estuário do rio Curu. Disponível em <http://www.semace.ce.gov.br> Acesso em: 07 de Set. 2012.
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Ceará: 2004.
1096
_______. Superintendência Estadual de Meio Ambiente. Criação do Sistema Estadual de Unidades
de Conservação – SEUC. Disponível em: <http://www.semace.ce.gov.br> Acesso em: 07 de Set.
2012.
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Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
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Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Anais...Natal-RN, 2012
PÁDUA, M.T. J. 2006. O Fim da APA de Guaraqueçaba?. Disponível em: http://
www.oeco.com.br .Acesso em: 13 abr.2012.

1097
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA ARTICULADA NA REDE PÚBLICA125
MUNICIPAL EM ÁREAS DE NASCENTES DO RIO MAMANGUAPE

Maria Zélia ARAÚJO (COOPACNE/UNESC/FIP)


zelinha_araujo@hotmail.com

Josilda de França XAVIER (COOPACNE/UFCG)


josildaxavier@yahoo.com.br

Daniel Gregorio JÚNIOR (COOPACNE)


gregorio_junior2@hotmail.com

Maria José dos SANTOS (COOPACNE) 126


mjsquintino@yahoo.com)

Resumo

O presente trabalho tem por finalidade apresentar uma proposta articulada na rede pública
Municipal em áreas de nascentes do Rio Mamanguape concernente a Educação Ambiental no
processo ensino aprendizagem para que se tenha no ensino formal a construção de uma consciência
crítica a respeito das ações antrópicas e, assim, possa contemplar nas novas gerações cidadãos que
tem como eixo principal a preservação e conservação do meio ambiente. Sabe-se que a Educação
Ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, na qual se propõe atingir todos os
indivíduos na formação de cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente
que procura não somente incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática
ambiental, mas que eles compreendam como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de
problemas ambientais detectados no meio ambiente. O estudo baseou-se numa abordagem teórica
com enfoque descritivo-reflexivo, sobre o processo da capacitação a partir da articulação realizada
em cada Secretaria de Educação tendo como referencial as leis a partir da Constituição Federal
Brasileira sobre o cuidado com o meio ambiente. O foco da capacitação de educadores(as) estava
inserido no tema transversal: Educação Ambiental, conforme preconiza o PCN, proporcionando no

125
Projeto Rio Mamanguape, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental capacita educadores
(as) do ensino fundamental da Rede Pública Municipal da área de abrangência do referido Projeto.
126
Coordenadora geral do Projeto Rio Mamanguape.

1098
processo de desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes um senso critico no que se
refere à qualidade de vida e a convivência com o semiárido. Com a capacitação dos(as)
educadores(as) foi possível dar uma contribuição não somente de apresentar novas técnicas
pedagógicas, mas também proporcionar momentos de ações práticas entre os participantes e eles
poderem argui que se é possível galgar novos tempos em meio a situações caóticas encontradas no
cerne do que se tem feito com a mãe natureza, e que nessas novas ações pedagógicas envolvem não
somente educadores(as) e alunos, mas também gestores, comunidade acadêmica e a comunidade de
entorno das escolas.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Meio Ambiente; Educadores; Rede Pública Municipal;


Preservação de nascentes.

Abstract
This paper aims to present a proposal articulated in the public hall in headwater areas of Rio
Mamanguape concerning Environmental Education in the learning process in order to have formal
education in building a critical awareness about the human actions and thus , can contemplate the
younger generation citizens whose main axis of the preservation and conservation of the
environment. It is known that environmental education constitutes a comprehensive education,
which proposes reach all individuals in the formation of citizens, through a continuing participatory
learning process that not only seeks to instill in the student a critical awareness of environmental
issues, but they understand how critical the ability to grasp the genesis and evolution of
environmental problems detected in the environment. The study was based on a theoretical
approach focusing descriptive and reflective about the process of training through the joint held in
each Department of Education as reference the laws from the Federal Constitution on the care for
the environment. The focus of teacher training (as) was inserted into the transversal theme:
Environmental Education, as recommended by the NCP, providing in the process of cognitive
development of children and adolescents a critical sense with regard to quality of life and
coexistence with the semiarid. With the capacity of (the) teachers (as) could make a contribution not
only to introduce new teaching techniques, but also provide moments of practical actions between
participants and they can let us reason together that new times can climb amid chaotic situations
found at the heart of what has been done with mother nature, and that these new pedagogical actions
involve not only educators (as) and students, but also managers, academia and the community
surrounding the school.

Keywords: Environmental Education, Environment, Educators; municipal public; Preservation


springs.
1099
Introdução

A Educação Ambiental (EA) é uma temática que vem sendo arguida, a nível mundial, desde
1945, época em que foram criadas as primeiras organizações internacionais dedicadas à proteção da
natureza. Entretanto, no Brasil, sua arguição data de meados da década de 1980. Como política
nacional, só veio acontecer, em 1999, com a Lei nº. 9795/99, a qual foi sancionada pelo Decreto nº.
4281/02, em junho de 2002.
Piazza, et al. (2006), que afirma que a educação ambiental se constitui numa forma
abrangente de educação, na qual se propõe atingir todos os indivíduos no processo da educação
formal dos cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura não
somente incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, mas que eles
compreendam como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais
detectados no meio ambiente.
Esta conceituação ajuda a compreender que se pode afirmar que a natureza pode contribuir
de diversas maneiras no processo ensino aprendizagem no que concerne a construção da educação
formal, principalmente das crianças e adolescentes, que se encontram no processo de construção de
valores. Pois, é preciso que se entenda que toda a matéria utilizada no dia-a-dia dos indivíduos pode
servir de contra partida para vários trabalhos voltados para recuperação e preservação do meio
ambiente, quando esse indivíduo é consciente dos atos que realiza no espaço onde reside e no seu
entorno e, isto acontecerá a contento quando o mesmo tem em seu nexo a educação ambiental.
De conformidade com Loureiro (2002, p. 69) a Educação Ambiental é uma práxis educativa
e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que
possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais
individuais e coletivos no ambiente. Portanto, pode-se afirmar que nesse sentido, a Educação
Ambiental contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário
distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza.
Andrade (2008, p.17) apud Carvalho (2007) argumenta que a Educação Ambiental ―fomenta
sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo do ponto de vista
ambiental‖. Ainda afirma Carvalho (2007) que a Educação Ambiental se constitui numa forma
abrangente de educação, que se propõe a atingir todos os cidadãos, através de um processo
pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre
a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a
evolução de problemas ambientais.
Diante desta percepção, a autora supracitada estabelece como mediação para múltiplas
compreensões a experiência do indivíduo e dos coletivos sociais em suas relações com o ambiente.
Arguindo que esse processo de aprendizagem, por via da perspectiva da leitura, dá-se
particularmente pela ação do educador como intérprete dos nexos entre sociedade, meio ambiente e

1100
a Educação Ambiental que é apresentada como mediadora na construção social de novas
sensibilidades e posturas éticas diante do mundo.
Tendo como eixo de partida essa percepção é que foi realizada uma capacitação de
educadores (as), através do Projeto Rio Mamanguape, na área de abrangência do referido Projeto,
nos municípios de Alagoa Nova, Areial, Esperança, Lagoa Seca, Matinhas, Montadas e São
Sebastião de Lagoa de Roça, o qual é patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras
Ambiental e executado pela Cooperativa de Projetos Assistência Técnica capacitação do Nordeste
Ltda. (Coopacne).
O referido Projeto tem como objetivo geral conservar e preservar as nascentes do Rio
Mamanguape, estimulando o desenvolvimento sustentável de sua área de abrangência tendo como
eixo o uso e manejo racional de recursos hídricos e a qualidade de vida da população ribeirinha e
como objetivo especifico da área de educação ambiental promover a educação ambiental, através de
capacitação para professores, ou seja, apoiar as escolas da rede pública municipal na produção da
Educação Ambiental das novas gerações e para convivência com o semiárido.
O interesse em enfocar o processo de articulação da capacitação de educadores (as) da rede
pública municipal da área de abrangência do Projeto deu-se em razão não só da importância que
tem a Educação Ambiental no que concerne a preservação e conservação do meio ambiente para
que os sujeitos sociais usufruam de uma melhor qualidade de vida, mas principalmente contribuir
na construção de valores que serão desenvolvidos no processo ensino aprendizagem à medida que
se elabora esse saber como tema transversal na grade curricular do saber formal a nível
fundamental I e II e ensino médio como menciona os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN,
1997) que enfatiza que devem ser tratados os aspectos sociais, econômicos, políticos e ecológicos.
Dessa forma terão com a Educação Ambiental as vantagens de se ter a possibilidade de uma visão
mais integradora e melhorada no que tange a compreensão referente às questões socioambientais
como um todo.
Ainda vale ressaltar que a própria legislação relacionada à Política Nacional de Educação
Ambiental brasileira mostra que a temática ambiental deve permear todo o processo de
escolarização, incluindo também o Ensino Superior desde a graduação até a pós-graduação.
Em se tratando da Educação Ambiental, mais precisamente no que tange ao processo
formativo é fora considerado como importante dar um enfoque mais apurado no nível de
conhecimento que os (as) educadores (as) para que todos trabalhassem dentro de um mesmo nível é
que o Projeto Rio Mamanguape se propõe em capacitar os educadores (as) em algumas áreas de
nascentes do Rio Mamanguape. Vale ressaltar que, no que concerne às nascentes da Bacia
Hidrográfica do Rio Mamanguape, sua inserção não se deu apenas como tema transversal, como é
designado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas teve a inserção da mesma também pelo
referido Projeto Rio Mamanguape, em 2005, indo até início de 2008, quando da realização do

1101
primeiro Projeto, e, tendo seu retorno, em 2010, num segundo Projeto com o mesmo título, ambos
patrocinados pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental e executado pela Coopacne.

Metodologia
O processo metodológico para a realização da capacitação de educadores (as) nos sete
municípios da área de abrangência do Projeto Rio Mamanguape, inicialmente fez-se uma visita a
cada Secretaria de Educação de cada um dos municípios para que os (as) secretários (as) fizessem
um levantamento de dados referentes ao número de professores efetivos que compõem o quadro
funcional do ensino fundamental da rede pública municipal; quantos foram capacitados em
educação ambiental no primeiro Projeto; qual o nível educacional de cada um dos (as) educadores
(as) para que se tivesse uma capacitação que viesse atender ao nivelamento de todos; o período de
realização da capacitação, considerando tanto o turno que cada um dos (as) educadores (as) se
encontra em sala de aula e qual a disponibilidade dos mesmos, em termo de liberação para a
capacitação oferecida pelo Projeto Rio Mamanguape.
Ainda foi considerado o número de educadores (as) efetivos (as) que já haviam sido
capacitados (as) em Educação Ambiental no primeiro Projeto Rio Mamanguape; o número de
educadores (as) que não haviam sidos capacitados (as) pelo Projeto, mas que tinham especialização
em Educação Ambiental; o horário de trabalho de cada um (a) deles (as) no município e se eles (as)
também trabalhavam em outros municípios. Vale aqui ressaltar que essa preocupação deu-se em
razão da capacitação acontecer no período letivo e não se ter educadores suficientes para substituir
a sala de aula enquanto estivesse acontecendo a referida capacitação.
Com a visita foi acordado que para a capacitação dos (as) educadores (as) em educação
ambiental seria utilizado o seguinte procedimento: 1. A Secretaria de Educação de cada município
realizaria o levantamento do nível de conhecimento dos (as) educadores (as), do quadro efetivo, em
educação ambiental; 2. Após o levantamento, que apresentasse 20 educadores (as) para ser
capacitado; 3. Realização de um Planejamento com os/as secretários/as e a coordenadora da área de
educação ambiental do Projeto definindo o período a ser realizada a capacitação.
Com as restrições apresentadas os (as) secretários (as) apresentaram mais de 20 educadores
(as) por município, mas como um dos requisitos do Projeto era que cada município só poderia
apresentar, no máximo, 20 educadores (as), a maioria dos municípios entraram como parceiros e o
número de educadores (as) foram maiores do que o estimado, que era de 140, perfazendo um total
de 245, isto de acordo com a indicação de cada município, pois os (as) secretários (as) não
gostariam que nenhum dos (as) educadores (as) do quadro efetivo fosse excluído e que após a
capacitação eles (as) realizariam o processo de replicação em cada escola. Os participantes só
poderiam ter duas faltas, caso ultrapassasse em mais essa teria que ser por motivo de doença, e a
mesma deveria ser justificada com atestado médico.

1102
A capacitação compreendeu seis encontros, de quatro horas, sendo distribuído da seguinte
forma: a) exposição geral sobre o Projeto Rio Mamanguape e sobre a Educação Ambiental; b)
exposição sobre recursos hídricos e manejo e conservação do solo; c) teoria e prática sobre
georreferenciamento; d) elaboração e exposição de projetos pedagógicos. Os encontros foram
quinzenais e/ou mensais sendo em alguns municípios pela manhã e outros à tarde.
O processo deu-se de forma expositiva, dialogal, reflexiva, representação gráfica e
apresentação dos projetos elaborados durante a capacitação. As atividades foram: algumas
individuais e outras coletivas. O material utilizado foi: apostilhas, mapas, vídeos, GPS e material
gráfico, todos doados pelo Projeto.
O local da capacitação era indicado pelo município acontecendo em auditórios e ou sala de
aula de algumas escolas, Câmara Municipal e num Centro Artesanal, buscando sempre oferecer o
melhor para os participantes.
O processo de interação e integração entre os participantes deu-se através da divisão de
grupo e da realização de algumas atividades que foram desenvolvidas de forma coletiva. A
formação dos grupos seguiu a seletividade entre os (as) educadores (as) que eram da mesma escola
ou de escolas próximas em razão de se ter a partir do quarto encontro a elaboração de projetos
pedagógicos que seriam implantados nas escolas após a capacitação.

Resultados e discussão

De acordo com o planejamento elaborado pela coordenadora da área de Educação


Ambiental e os (as) secretários (as) dos sete municípios pode-se afirmar que o processo de
capacitação aconteceu a contento atingindo-se o objetivo esperado.
Seus resultados foram compilados através de quadros, tabelas e fotografias como podem ser
vistos a seguir:

N° DE EDUCADORES N° DE EDUCADORES RELAÇÃO


(AS) NO INICIO DA (AS) QUE FORAM PERCENTUAL ENTRE
CAPACITAÇÃO CAPACITADOS OS EDUCADORES (AS)
QUE INICIARAM E OS
MUNICÍPIOS QUE FORAM
CAPACITADOS (%)

ALAGOA NOVA 22 13 59

AREIAL 23 16 70

ESPERANÇA 51 36 71

LAGOA SECA 42 32 76

MATINHAS 55 48 87

MONTADAS 31 28 90

1103
SÃO SEBASTIÃO DE
LAGOA DE ROÇA

21 13 62

TOTAL 245 186 76

Quadro 1. Distribuição dos (as) educadores (as) que se apresentaram no inicio da capacitação e que foram
capacitados por município
Fonte: Autoria própria
Dos 245 participantes que estiveram presentes no primeiro ou segundo encontro do
processo de capacitação de educadores (as), só 186 foram capacitados. Não foi feito uma exclusão
por parte do município nem do Projeto. Entretanto, havia uma norma que fora partilhada com
todos, no inicio da capacitação, que só poderia receber certificado os participantes que estivesse
dentro dessa norma, e, assim aconteceu. O fato foi acompanhado através da lista de frequência que
era passada em cada encontro.
Analisando o Quadro 1 pode-se perceber que, aproximadamente 76% do total geral (245)
de todos os educadores que foram indicados por cada um dos municípios e estiveram presentes no
primeiro ou segundo encontro da capacitação. Pode-se ainda enfatizar que apenas o grupo de
educadores (as) de Alagoa Nova foi abaixo de 60%, e, em contra partida o grupo de Montadas
permaneceu com 90% do seu total. Os demais variaram entre 62 a 87%.
Descrevendo não somente o processo dos encontros da capacitação, mas também seus
resultados, os mesmos podem ser vislumbrados através de algumas fotos, ora elencado:

Após o fechamento da programação da capacitação em cada um dos municípios o processo


da mesma deu-se com o recebimento dos participantes, para o credenciamento de todos e a entrega
de um kit contendo uma camisa, um boné, uma caneta, apostilhas e o material didático a ser
utilizado no primeiro encontro, bem como o que se referia as atividades a serem desenvolvidas em
casa e na sala de aula com o alunado, o que pode ser verificado na Foto 1. Na Foto 2 tem-se a
1104
atuação de um técnico trabalhando a parte prática de georreferenciamento com os (as) educadores
(as) tendo como objetivo ajudar no processo prático de localização e demarcação de espaço.

Já, nas Fotos 3 e 4 tem-se a divisão de pequenos grupos e estes discutiam os problemas
referentes ao meio ambiente e a Educação Ambiental encontrados na escola, no seu entorno e na
comunidade, buscando nessa discussão a definição de um ou mais aspecto para compor o objeto
que redundaria no projeto pedagógico a ser desenvolvido após o termino da capacitação.

Na Foto 5 tem-se o demonstrativo de um grupo representando o seu projeto de forma


figurada. Nas Fotos 6, 7, 8, 9 e 10 tem-se a exposição de várias ilustrações de projetos pedagógicos
para o plenário. Essa proposição foi para demonstrar que se pode trabalhar o processo ensino
aprendizagem de várias maneiras, despertando o alunado par ao melhor cuidado com o meio
ambiente, ao tempo que vai gerando o processo de conscientização no que concerne a preservação
e conservação da natureza. Pode-se ainda observar que alguns grupos também apresentaram seus
1105
projetos através da musica e poesia. Esse modelo foi seguido em todos os grupos e em todos os
municípios.

1106
Na Foto 12 tem-se a representação de parte do encerramento da capacitação, que fora um
momento em que um técnico realizava um gesto e este deveria percorre todo o circulo chegando
em si ao termino da ação, demonstrando se havia ou não a atenção dos participantes e a
integralidade do grupo. Essa demonstração tinha como objetivo a prática dos (as) educadores (as)
nas escolas e assim venham gerar o processo de inclusão de todos os seus alunos,
independentemente deles serem ou não extrovertidos ou introvertidos.

Conclusão

Com a capacitação dos (as) educadores (as) dos sete municípios da área de abrangência
conclui-se que foi dada uma contribuição não somente de novas técnicas pedagógicas, mas também
foi proporcionado momentos de ações práticas entre os participantes e eles puderam argui que se é
possível, em meio a situações caóticas encontradas no cerne do que se tem feito na mãe natureza,
através das ações antrópicas, mudanças a partir de práticas simples como a reciclagem de garrafas
pet‘s e outros produtos que são considerados como lixo e que levam tempo para serem diluídos na
natureza. Conclui-se também que a ação pedagógica envolve não somente educadores (as) e
alunos, mas também gestores, a comunidade acadêmica e a comunidade de entorno das escolas.

Referências

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BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Coleciona Volume III / 2008. Brasília - DF: Ministério do
Meio Ambiente, 2008. p. 17 - 18

1107
CARVALHO, Isabel C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. BRASIL.
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LEI n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em:
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PO 002A - Educação Ambiental e Cidadania: vivendo a diversidade na escola. Artigo da UFPB,
disponível em: <http://www.dse.ufpb.br/ea/Masters/Artigo_1.pdf >. Acesso em: 03 out. 2011.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução
aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: EC/SEF,
1997. 126p.

1108
EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE MOSSORÓ - RN:
IDENTIFICAÇÃO DAS AÇÕES VOLTADAS À GESTÃO AMBIENTAL

Marta Vick POSTAI NETA


Mestranda em Ciências Naturais – UERN
martavick@hotmail.com

Márcia Regina Farias da SILVA


Professora Adjunta III do Departamento de Gestão Ambiental – UERN
marciaregina@uern.br

Resumo
As organizações empresariais estão cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar um
desempenho satisfatório em relação ao meio ambiente. Reside neste fator a importância da adoção
do Sistema de Gestão Ambiental - SGA, que envolva a mudança da cultura da empresa e introduza
o componente ambiental entre as preocupações da população interna. Nesse contexto, objetivou-se
identificar as ações voltadas para gestão ambiental de empresas da construção civil na cidade de
Mossoró (RN). Como metodologia foi aplicados questionários com dirigentes e/ou responsáveis por
empresas do ramo da construção civil de Mossoró, associadas ao SINDUSCON (Sindicato da
Indústria da Construção Civil). Os dados foram agrupados em quatro eixos temáticos que tratam:
(a) aspectos ambientais das atividades; (b) destinação final dos resíduos das empresas; (c) ações de
controle e/ou prevenção dos aspectos ambientais (d) principais dificuldades para a melhoria
ambiental. Verificou-se como resultado, que 85% das empresas citam que são os resíduos sólidos
não perigosos classe II b, o aspecto ambiental mais observado nas atividades produtivas da
construção civil. Em relação à destinação final dos seus resíduos, as empresas afirmaram que se
destinam apenas 23% para a coleta seletiva. A respeito das ações de controle e prevenção
ambiental, aproximadamente, 62% das empresas dispõem adequadamente seus resíduos, no qual a
remoção desses ficava a cargo de empresas privadas, especializadas na retirada dos entulhos, como
também na coleta pública da cidade, 62% afirmam ser a falta de informação técnica dos
funcionários uma das principais barreiras para a adoção de praticas voltada para a gestão ambiental.
Conclui-se, portanto, que as ações ambientais ainda não são internalizadas como um aspecto
positivo para as empresas da construção civil que atuam na cidade de Mossoró. Todavia, há uma
intenção de implantação do SGA por parte dos dirigentes, caso haja exigências legais e cobranças
do mercado consumidor.

Palavras- chaves: Ações ambientais, construção civil, SGA.


1109
Abstract
Business organizations are increasingly concerned with achieving and demonstrating satisfactory
performance in relation to the environment. Resides in this factor, the importance of adopting
Environmental Management System - SGA, which involves changing the culture of the company
and introduction of the environmental component to the employees concerns. In this context, the
objective was to identify actions for environmental management of civil construction companies in
the city of Mossoró (RN). As methodology, questionnaires were filled with executives and / or
companies responsible for the construction business Mossoró, associated SINDUSCON (Union of
Construction Industry). Data were grouped into four themes that address: (a) environmental aspects
of activities, (b) disposal of waste from businesses, (c) actions to control and/or prevention of
environmental aspects (d) main difficulties for improvement environment. It was found as a result
that 85% of companies report that they are non-hazardous solid waste class II b, the environmental
aspect more observed in the productive activities of construction. Regarding the disposal of their
waste, companies said they intended only 23% for collection. Regarding actions to control and
prevent environmental approximately 62% of companies arrange their waste properly, in which the
removal of these was in charge of private companies, specializing in the removal of debris, but also
in the public collection of the city, 62% claim to be the lack of technical information, one of the
main barriers to adoption of practices aimed at environmental management. We conclude, therefore,
that the environmental actions are not yet internalized as a positive aspect for construction
companies that operate in the city of Mossoro. However, there is an intention to implement EMS by
the leaders, if any legal demands were required from the consumer market.

Keywords: Environmental Activities, Civil Construction, SGA

Introdução

A partir da década de 1960 a preocupação com as questões ambientais ganharam força na


sociedade, conduzindo a população a participar de movimentos em prol da melhoria ambiental e da
qualidade de vida. Nessa direção, as organizações começaram a despertar para a necessidade de se
preocupar com as questões ambientais e não somente para a eficiência dos sistemas produtivos.
A gestão ambiental é um aspecto funcional da gestão de uma empresa, que desenvolve e
implanta as políticas e estratégias ambientais e tem se tornado uma das mais importantes atividades
relacionadas com qualquer empreendimento, por isso que muitas organizações empresariais estão
cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar um desempenho mais satisfatório em relação ao
meio ambiente. (KRAEMER, 2004).

1110
Para Tachizawa (2002) a gestão ambiental pode ser entendida como o exame e a revisão das
operações de uma organização da perspectiva ecológica, motivada pela mudança dos valores e da
cultura empresarial, que incide em pelo menos dois interesses: da dominação para a parceria e da
ideologia do crescimento econômico para a sustentabilidade ecológica. O mesmo autor discorre que
a gestão ambiental envolve a passagem do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico,
no qual um aspecto essencial dessa mudança é que a percepção do mundo como máquina, cede
lugar à percepção do mundo como sistema vivo.
Assim, nos dias de hoje as empresas que optam pela a implantação de um Sistema de Gestão
Ambiental (SGA), que adotam métodos de produção mais limpa, ou ainda que assumem
compromissos ordem social encontram um espaço diferenciado no mercado. Tais práticas podem
ser consideradas como indicativos para se pensar a possibilidade de um modelo de produção
alternativo ao vigente, não no sentido utópico e sim, no sentido de buscar uma via paralela, ao
modelo hegemônico de produção, visando a construção de uma sociedade sustentável.
As empresas precisam se adequar as exigências ambientais e dos consumidores e as
imposições normativas, que as obrigam conceberem produtos e sistemas de produção que
minimizem os impactos ambientais negativos. Porém, no setor da construção civil, em particular, as
medidas relativas à minimização dos problemas ambientais, ainda aparecem de forma pontual. A
adoção de ações relativas ao compromisso com a qualidade ambiental nessas empresas parece
caminhar de forma gradual.
Portanto, ao considerar a relevância desse debate objetivou-se identificar os problemas
ambientais ocasionados pelo setor da construção civil e as ações voltadas para a gestão ambiental,
desenvolvidas pelas empresas do referido setor, no município de Mossoró, RN.

Metodologia

Esta pesquisa adotou como referencial metodológico das abordagens quantitativa e


qualitativa. Cabe destacar que o aspecto qualitativo pode estar presente em informações obtidas por
estudos essencialmente quantitativos, sem perder seu caráter qualitativo quando transformados em
dados quantificáveis. (RICHARDSON, 1999).
Trata-se de um estudo descritivo, e a coleta de dados foi realizada por meio de questionários,
aplicados com dirigentes e/ou responsáveis por empresas do ramo da construção civil de Mossoró,
associadas ao SINDUSCON (Sindicato da Indústria da Construção Civil).
O estudo foi desenvolvido no período de maio a setembro de 2009. Inicialmente, foi
elaborado um questionário semi-estruturado com 16 perguntas, abertas e fechadas, bem como um
texto de apresentação da pesquisa, que foi enviado por e-mail para 35 empresas associadas ao

1111
SINDUSCON. Em posse aos questionários respondidos, estes foram tabulados e quantificados com
auxílio do Excel.

Resultados

Em relação os problemas ambientais relacionados com as atividades da construção civil das


empresas questionadas foram citados como principais: a produção de resíduos sólidos não
perigosos; o lançamento de efluentes; as emissões atmosféricas; os ruídos e as vibrações, Figura 01.

Figura 01: Aspectos ambientais relacionados às atividades das empresas da construção civil.
Fonte: Dados da pesquisa em campo, 2009.

Observa-se que 85% das empresas citam que são os resíduos sólidos não perigosos classe II
b, o aspecto ambiental mais observado como resultado das atividades produtivas da construção
civil. Outro item importante, que vale estacar é a presença de emissões atmosféricas com 23%;
juntamente com vibrações e ruídos com 54%, citados como aspectos ambientais negativos,
resultantes das atividades do setor da construção civil. Devido a esses fatores citados estão
ocorrendo alterações ambientais, as quais comprometem a qualidade do solo, ar e os recursos
hídricos.
Destaca-se nesta investigação que a Resolução nº 307/02 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) foi um marco para o setor da construção civil participar das discussões a
respeito do controle e da responsabilidade pela destinação dos resíduos sólidos. Tal resolução
considera a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução de impactos
ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil como também vem tratar do

1112
gerenciamento adequado dos resíduos produzidos pelas empresas, incluindo a sua redução,
reutilização e reciclagem, tornando o processo construtivo mais rentável e competitivo, além de
mais saudável.
Em relação ao destino final dos seus resíduos as empresas afirmaram que destinavam grande
parte para a coleta pública da cidade 62% (Figura 02) sendo destinado apenas 23% para a coleta
seletiva, para uma melhor compreensão foram separados os resíduos por tipos: orgânicos,
inorgânicos, efluentes, entulhos e direcionados a sua destinação. Esses dados conduzem a
compreensão que as empresas da construção civil de Mossoró vem timidamente desenvolvendo
uma consciência ambiental em relação a reciclagem de seus resíduos .

Figura 02: Destinação final dos resíduos.


Fonte: Dados da pesquisa em Campo, 2009.

Houve também, uma minoria mas que mereçe ser destacada, de empresas que disseram em
suas respostas queimarem seus residuos 8% (1) o que vem ocasionar grandes transtornos à
população.
De acordo com o Código Municipal de Meio Ambiente, aprovado em 2008, e que contém
resoluções pertinentes as edificações e suas condições ambientais de coleta, manuseio, transportes
de resíduos sólidos urbano de qualquer natureza, planejado pelo CODEMA e Gerência Executiva de
Gestão Ambiental contendo em suas diretrizes procedimentos para gestão dos resíduos da
construção civil na cidade; uma das finalidades do Código do Meio Ambiente Municipal é
exatamente proteger a área urbana contra as ações antrópicas, que venham degradar a cidade, como
também proteger a população, bem como, promover a conscientização e sensibilização para o meio
ambiente. Nas diretrizes do capítulo IV, que se refere à coleta, transporte e disposições finais dos
resíduos sólidos urbanos do Código do Meio Ambiente Municipal (2008), no art. 100, consta que:

O acondicionamento, coleta, transporte, manejo e tratamento e disposição final dos


resíduos devem ser processados em condições que não tragam malefícios ou
1113
inconvenientes à saúde, à segurança alimentar, ao bem-estar e meio ambiente
(CÓDIGO DO MEIO AMBIENTE MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2008, p. 7).

Segundo Araújo (2009), além de recolher e transportar, as empresas também são


responsáveis pelas deposições. Contudo, apenas uma empresa investigada por esse autor no
município de Mossoró apresentou um local adequado para a deposição do RCC‘s as demais
empresas utilizam o Lixão de Cajazeiras para destinação dos entulhos, o que no caso apenas estão
transferindo o problema de um local para outro. Entretanto, 31% (4) das empresas dizem reutilizar
entulhos para novas obras, o que é muito lucrativo, pois além de não estar colaborando para
degradação do meio ambiente, também é muito econômico para a empresa, pois não haverá outros
gastos com materiais que podem ser reaproveitados ou reciclados pela própria empresa.
No que se refere às ações de controle e prevenção ambiental aproximadamente 62% das
empresas questionadas dispõem adequadamente seus resíduos no qual, a responsabilidade pela
remoção desses resíduos ficava a cargo de empresas privadas especializadas na retirada dos
entulhos como também a coleta pública da cidade, Figura 03.

Figura 03: Ações de controle e prevenção dos aspectos ambientais. Fonte: Dados da pesquisa em Campo,
2009.

Nesse sentido, comprometem a preocupação em atingir e demonstrar um desempenho mais


satisfatório em relação ao meio ambiente, pois segundo o Kraemer (2004) a adoção de ações
voltadas para a qualidade ambiental adotadas por estas empresas poderiam se tornar um diferencial
positivo, atraindo a atenção daqueles consumidores mais exigentes, e também comprometidos com
a melhoria das condições socioambientais
Em relação a existência de uma política de redução de desperdício de materiais nas
empresas, 54% afirmaram que procuram reduzir materiais como: papéis que utilizados em seus
escritórios eram reaproveitados para rascunhos, a disponibilização de um copo para cada
1114
funcionário, onde reduziam o uso excessivo de copos descartáveis, havia por parte de algumas
empresas um reaproveitamento de tijolos, telhas, cerâmicas, ferros. Essa constatação vem mostrar
que mesmo timidamente em algumas ações pode-se perceber que para a maioria das empresas, a
política de redução de materiais vem se tornando uma preocupação.
Sobre os procedimentos que eram utilizados para a minimização e economia de energia
elétrica, água e veículos, os mais citados foram de minimização de energia elétrica que apresentou
um porcentual 62%, por meio dos procedimentos descritos pelos dirigentes: desligarem todos os
equipamentos, inclusive bebedouros em fins de semana; do início da manhã não são utilizados ar
condicionados nos escritórios; mudanças dos equipamentos de refrigeração do ambiente
anualmente; orientação aos funcionários para procurarem sempre fiscalizar luzes ligadas sem
necessidades e os computadores; trocam-se lâmpadas quando necessário, com intuito de reduzir
custos, bem como o maquinário antigo, por um mais econômico.
É possível constatar com base nos dados, que existe por parte de algumas empresas uma
preocupação em adotar ações voltadas para a gestão ambiental, com o intuito de diminuir gastos
desnecessários com o uso indiscriminado de água, energia e utilização de veículos. Uma pequena
parcela também já adota Programas de Coleta Seletiva e de Gerenciamento de Resíduos Sólidos em
suas obras. No entanto, a grande maioria não desenvolve nenhum tipo de projeto que levem em
conta as questões ambientais, o evidencia a ausência de uma consciência ambiental por parte dos
empresários, sobretudo em relação à implantação de programas e projetos voltados à gestão
ambiental.
A diferença nos tipos de dificuldades para melhoria ambiental se deve, especialmente, às
distintas capacidades técnicas e financeiras, das empresas. Porém, existem alguns aspectos que são
relevantes para todos os tipos de empresa de acordo com a figura 04, a falta de informação técnica
dos funcionários 62% é fator mencionado como uma das principais barreiras.

1115
Figura 04: Gráfico das principais dificuldades para a melhoria ambiental da empresa (n=13). Dados da
pesquisa em campo, 2009.

Conclusão

Destaca-se, que no município de Mossoró não existe uma atuação social e política para que
as empresas da construção civil atuem numa perspectiva de implantação de medidas ambientais no
setor. Esse fato pode justificar o desinteresse das empresas em praticarem ações ambientalmente
responsáveis, embora a cidade esteja passando por um intenso e acelerado processo de
verticalização.
As organizações pesquisadas já estão consolidadas no município e, portanto, já poderiam
apresentar uma política interna voltada para a gestão ambiental e para a responsabilidade social.
As empresas da construção civil necessitam se comprometer com a adoção de medidas que
venham a minimizar os impactos ambientais da atividade. A maioria delas não possui um setor
ambiental ou um responsável pelas questões ambientais.
Portanto, o dilema das empresas da construção civil de Mossoró é adaptar-se a este processo
de melhoria de desempenho ambiental ou correr o risco de perder espaços em um mercado
competitivo e globalizado, que advoga pela adoção de práticas ambientalmente corretas, sendo
indispensável à adoção princípios de gerenciamento ambiental condizentes com os desígnios do
desenvolvimento sustentável.

Referências

ARAÚJO, Cirliany Maria Bezerra. Resíduos Sólidos da Construção Civil na Zona Urbana do
Município de Mossoró – RN . 52 p. Monografia (Curso de Bacharelado em Gestão Ambiental) –
Faculdade de Ciências Econômicas, Departamento de Gestão Ambiental, Núcleo Avançado de
Educação Superior de Areia Branca, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Areia
Branca.
CONAMA, Resolução nº 307 de 05 de julho de 2002. Disponível em <
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>Acesso em 07 de junho de 2011.
KRAEMER, Maria Elisabeth. Gestão Ambiental: um enfoque no desenvolvimento sustentável.
Itajaí: Univali, 2004.
MOSSORÓ. Câmara Municipal de Mossoró. Lei complementar n° 026 de 10 de dezembro de 2008.
Institui o Código de Meio Ambiente e cria o Sistema Municipal do Meio Ambiente do Município de
Mossoró. Jornal Oficial de Mossoró, p. 7-8, 2008.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

1116
TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa: estratégias de
negócios focadas na realidade brasileira. São Paulo: Atlas, 2002.

1117
MOVIMENTO DE MASSA COMO AGENTES CAUSAIS DOS DESEQUILIBRIOS DOS
TALUDES DA BR-101 NORTE / PE

Natércia Maria Correia de ARAÚJO (CPRH/PE)


naterciamcaraujo@hotmail.com

Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA (ITEP/PE)


noliveira825@gmail.com

Resumo

O trabalho registra resultados obtidos no monitoramento dos taludes e encostas da BR-101 Norte da
cidade do Recife-PE, que sofreram movimentos de massa, no período de agosto de 2011 a julho de
2012. Propõem-se medidas de controle de estabilização por meio da técnica de Bioengenharia de
solos, Brushlayers, associada a biomanta natural para a proteção do talude, evitando o processo
erosivo e a inserção da vegetação a apreender os solos e produzir uma evapotranspiração,
diminuindo o índice de umidade em subsolo. Constataram-se os movimentos de massa vistos na
área da pesquisa mediante o monitoramento das vertentes durante o período de um ano,
classificando-os em movimento Rotacional, Translacional e o movimento complexo de massa
através das Voçorocas. Concluiu-se que as nove vertentes monitoradas encontravam-se em processo
de degradação, considerando a perda de solo, em face do solo Distrófico e o alto índice de
precipitação pluviométrica, além da umidade relativa do ar ter-se constado de forma elevada.

Palavras-chave: Encostas. Erosão. Movimento de massa. Rodovia.

Abstract

The paper reports results obtained in the monitoring of embankments and slopes of BR-101 north of
the city of Recife-PE, which suffered landslides, from August 2011 to July 2012. It proposes
measures to control stabilization through Soil bioengineering technique, Brushlayers associated
with biodegradable natural slope protection, preventing soil erosion and the insertion of vegetation
to capture and produce a soil evapotranspiration, reducing the rate of subsoil moisture. Were found
in the landslides seen in research by monitoring the slopes during the period of one year, classifying
them in motion Rotational, Translational and complex landslides through the Gullies. It was
concluded that the nine sections monitored were in the process of degradation, whereas soil loss in
the face of Dystrophic soil and high rainfall levels, plus the relative humidity have been featured in
high fashion.
Keywords: Slopes. Erosion. Landslides. Highway
1118
Introdução

O modal rodoviário exerce considerável influência no desenvolvimento de um país e, em


especial, de uma região. No entanto, as obras de rodovia são potencialmente impactantes ao meio
ambiente. A dimensão ambiental das estradas não se restringe à sua construção; prolonga-se por
toda a sua vida útil, nas fases de operação, restauração e duplicação, entre outras intervenções de
caráter natural. A ausência de medidas mitigadoras acelera o surgimento dos processos de
instabilização de taludes, provocados pelo desencadeamento dos movimentos de massa como
agentes causais dos desequilíbrios dos taludes da BR-101 Norte/PE.
Esses fatores são frequentes causas de danos econômicos, sociais e ambientais – refletindo
na população usuária da rodovia por meio de acidentes humanos, muitas vezes atingindo a
letalidade –, de danos materiais na interdição das pistas e comprometimento da estrutura física do
sistema linear, destruindo espaços e encostas e o que nelas existe. A questão ambiental está cada
vez mais presente no cotidiano das pessoas que transitam em rodovias, necessitando de
pressupostos que materializem a sustentabilidade.
Nesta visão o trabalho permeia seu limítrofe na região da Mata Norte de Pernambuco,
restringindo-se à BR-101 Norte, trecho da divisa do estado da Paraíba com o município de Goiana /
PE até o município de Igarassu, 41,4 km (Figura 1), entre as coordenadas geográficas E: 280991; N:
9170720 e E: 289054; N: 9133447, do sistema SIRGAS 2000, MC 33° WGr, segundo a Projeção
Universal de Mercator (UTM). Constata-se que nesse trecho da rodovia o relevo ondulado e de
baixa ondulação de colinas e tabuleiros favorece os processos de deslizamentos.

Figura 1 – Localização do trecho rodoviário, objeto da pesquisa


Fonte: Google Earth, 2011.

O projeto de duplicação da rodovia, conjugado com os taludes de corte e aterro de alturas


significativas, caracterizam os problemas de instabilidade associados aos processos erosivos de
grande porte e deslizamentos rasos e profundos existentes no trecho estudado. Nessa ótica existe a
1119
prevalência do clima da área, segundo Köppen, A‘s tropical chuvoso com precipitações de 1900
mm anuais, com chuvas de outono-inverno e umidade relativa do ar em torno de 84%, que favorece
as ações erosivas.
A literatura reconhece uma variedade de movimentos de massa, os quais resultam de
diferentes fatores atuando sobre diversos materiais, induzidos tanto pelos condicionantes naturais
quanto pelos antrópicos. Guidicini e Nieble (1984) definem os movimentos gravitacionais de massa
como ―todo movimento coletivo de solos e de rochas‖, enquanto Wicander e Monroe (2009)
definem como ―movimento de descida, pela encosta abaixo, de material, sob a influência direta da
gravidade‖. Esses últimos acrescentam que os mecanismos de desencadeamento mais comuns são
as fortes vibrações dos terremotos e a quantidade excessiva de água no período chuvoso pela
elevação do grau de saturação no solo. No que diz respeito aos taludes e encostas de rodovia,
segundo Gusmão Filho (2008), a instabilidade é causada pelos escoamentos superficial e
subsuperficial sob a influência de fatores naturais: a precipitação de chuvas (intensidade e total
pluviométrico) e a energia cinética associada; as propriedades do solo, como textura, densidade,
porosidade, teor de matéria orgânica, etc.; o tipo e a porcentagem de cobertura vegetal influenciadas
pela geometria da encosta (inclinação, comprimento e forma).
No que se refere aos movimentos de massa na rodovia BR-101, são desencadeados como
resposta à ação das intervenções dos projetos estruturadores de impacto negativo e do processo de
industrialização da região que contribui para o aumento da carga produzida por tráfego pesado e
operação de máquinas, que passam a transmitir vibrações contínuas ao substrato levando ao
processo de deslizamento de taludes. Dentre os investimentos de maior dimensão previstos para se
instalar na Mata Norte, encontram-se a fábrica da Fiat, um terminal marítimo e um aeroporto de
cargas, esses dois últimos em estágio de viabilização (GOIANA..., 2011). Essas afirmações levam a
admitir que modificações nas formas naturais conduzam à ruptura do equilíbrio entre a relação
estável e instável de uma encosta, desencadeando movimento de massa gerado pela ação antrópica.
Sob esse aspecto, a pesquisa teve como objetivo central identificar os taludes e as encostas
da rodovia BR-101 Norte da cidade do Recife, que sofreram movimentos de massa como processo
de instabilização, e sugerir a técnica de Bioengenharia de solos, Brushlayer (SOTIR; GRAY, 1992),
como recurso de promover a estabilidade das superfícies das vertentes.
Metodologicamente, a pesquisa envolveu uma revisão bibliográfica, e para fundamentação
do processo evolutivo das perdas de solo nas bordas dos taludes, realizaram-se trabalho de campo
por meio do monitoramento das encostas e análises climáticas. Utilizou-se o GPS para obtenção das
coordenadas de cada vertente no processo de monitoramento, estacas de madeira com 90 cm de
comprimento e 5 cm de diâmetro, martelo para fixação da estaca e trena para aferir medida entre a
borda da vertente e a estaca, observando que deverá ficar enterrado no solo pelo menos 30 cm, de
1120
maneira firme e retilínea, para assegurar a interferência de animais. Fixaram-se estacas na área
superior das nove vertentes, distando 2 m da borda, em linha reta (Figura 2 a e b).
No monitoramento das vertentes, a análise foi por analogia; partindo de resultados iniciais,
conhecia-se o valor da diferença entre a aferição pretérita e a presente. Aplicou-se a metodologia
proposta por Cunha e Guerra (1996), modificada por Oliveira, Carvalho e Silva Neto (2007), que
define métodos de monitoramento da evolução das perdas de solo nas bordas dos taludes. A escolha
dos locos monitorados realizou-se de forma a abranger todo o trecho da pesquisa, selecionando os
taludes de corte e aterro de declividade acentuada de forma a obter uma representatividade da
geomorfologia da área. A identificação dos taludes ocorreu com o procedimento de fixação de
estacas-testemunha numeradas de 1 a 9.

a) b)
Figura 2 – Monitoramento dos taludes
a) momento da marcação da distância da estaca para a borda do talude 1; b) detalhe da estaca
com a numeração.
Fonte: a autora, 2012.

Resultados e Discussão

O monitoramento consistiu em aferir mensalmente as distâncias em cada marco, por um


período de doze meses consecutivos, iniciando em 29 de agosto de 2011 e finalizando em 29 de
julho de 2012. A caracterização e descrição dos solos citadas na análise do monitoramento
extraíram-se de Araújo Filho et al. (2000). Na área pesquisada, ocorrem solos das classes
Latossolos Amarelos; Podzólicos Amarelos e Vermelho-Amarelos; Gleissolos Distróficos e solos
Aluviais. As medições realizaram-se com uma trena, cuja medida era tomada desde a estaca até a
borda da vertente, obtendo-se o resultado mensal das perdas de solo nas bordas do talude por efeito
da erosão, para se avaliar o grau de perdas entre a porção estável e a porção móvel dos taludes. Os
1121
pontos selecionados distribuem-se na margem esquerda e direita da rodovia, numerados em ordem
crescente a partir da divisa PB-PE. Os dados de campo explicitam-se na Tabela 1, com identificação
das datas e medidas coletadas durante o desenvolvimento da pesquisa, fornecendo elementos
tratados para a conclusão da análise.

Tabela 1 – Dados do monitoramento dos taludes da BR-101 Norte / PE

Fonte: a autora, 2012.

Com o apoio desses dados, elaborou-se o Gráfico M1 (Figura 3), onde pode ser lido que, nos
cinco primeiros meses de agosto a dezembro de 2011, e nos meses de janeiro a maio de 2012, não
houve alteração das medidas iniciais dos marcos 2; 3; 4 e 9.

Figura 3 – Gráfico M 1 com o resultado do monitoramento das perdas de solo nos taludes
Fonte: a autora, 2012.
Quanto aos marcos 1, 5, 6, 7 e 8, sofreram intenso processo erosivo induzido pelo alto índice
pluviométrico nos meses de junho e julho/2012 com um quantitativo de 244,9 mm e 276,1 mm
simultaneamente, apresentados na Figura 4 (Gráfico M2), pertinente ao período associado à alta
umidade relativa do ar com 82%, Figura 5 (Gráfico M 3).
1122
700

600

500 ago/2007-jul/2008

400 ago/2008-jul/2009
mm ago/2009-jul/2010
300 ago/2010-jul/2011

200 ago/2011-jul/2012

100

0
ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul

Figura 4 – Gráfico M 2, dados pluviométricos, período de agosto de 2007 a julho de 2012


Fonte : a autora, 2012.

Figura 5 – Gráfico M 3, umidade relativa do ar, período de agosto de 2007 a julho de 2012
Fonte : a autora, 2012.

Nesta seção apresentam-se os marcos monitorados: Marco 1 – característico por talude de


corte com coordenadas E: 280255 N: 9167277, componentes de solo da ordem Podzólico Amarelo
(60%) e Podzólico Amarelo e Vermelho-Amarelo (40%), sendo todos Álicos desenvolvidos em
ambientes sedimentares do Grupo Barreiras do Terciário-Quaternário (Tabuleiros Costeiros). Até o
décimo mês do monitoramento, não houve registro de perdas de solo, no entanto, nesse período,
conforme análise climática, o baixo índice de chuvas na região contribuiu para a estabilização da
superfície da encosta. Nos meses de junho e julho de 2012, de valores de 244,9 mm e 276,1 mm de
chuvas; a classe de solo e a inclinação do talude contribuíram para a ocorrência de erosão, com
perda de 3,2 m na borda do talude, apresentado na Figura 6: verifica-se o movimento de massa do

1123
tipo Translacional, indicando instabilidade do talude por efeito da ação hidráulica e sua constituição
genética.

Figura 6 – Deslizamento Translacional ocorrido no marco 1


Fonte: a autora, 2012.

Marcos 5 e 6 – localizados em taludes de corte, distintos, têm as mesmas classes de solos. O


marco 5 encontra-se nas coordenadas E: 287798; N: 9150127, e o 6 nas coordenadas E: 287820; N:
9150088, ambos com declividade 45° e borda com recobrimento vegetal. Nesses pontos o solo
compõe-se de duas classes: a primeira, Podzólicos Amarelos (70%); a segunda, Podzólicos (30%)
desenvolvidos em sedimentos do Grupo Barreiras do Terciário-Quaternário. No início do
monitoramento, em agosto de 2011, as condições climáticas da área apresentaram um baixo índice
de precipitação com 162 mm, e 52 mm no fim de 2011 (Figura 4), fato que tornou o solo seco, não
se visualizando movimento de massa nos taludes nesse período, permanecendo assim até o fim de
maio de 2012. Com o início do mês de junho e fim de julho de 2012, ocorreram as chuvas de final
de outono; com precipitação máxima do período analisado, provocando deslizamento com perda
total de aproximadamente 4,5 m de borda, para os dois meses, em ambos os taludes, como
apresentado na Tabela 1.
A contribuição hídrica nos solos de textura arenosa/média a argilosa, a alta acidez dos solos
e a baixa saturação de base levaram a maior infiltração, que norteou o movimento de massa
Rotacional nos marcos 5 e 6, apresentado na Figura 7. A ruptura teve início na borda da superfície
atravessando a zona de cisalhamento até a base do talude, com volume de massa consistente.
Avançou em velocidade acelerada atingindo a rodovia, vindo a ocupar toda a área do acostamento,
passando a ser um elemento impeditivo ao tráfego, deixando uma cicatriz íngreme e bem definida;

1124
Figura 7 – Deslizamento Rotacional nos marcos 5 e 6 da área monitorada
Fonte: a autora, 2012.

Marco 7 – identificado com as coordenadas E: 285827; N: 9145580, locado na borda da


voçoroca de grande dimensão, situada na margem esquerda da BR-101, considerando o sentido
Paraíba-Pernambuco. O solo se apresenta em três classes: os Podzólicos Amarelos com 40%
seguido dos Podzólicos com o mesmo percentual e os Latossolos Amarelos em 20%. Em julho de
2012, em razão da intensidade pluviométrica de 276,1 mm, levou à ocorrência de deslizamentos na
área, conforme Figura 8, com destruição das calhas de drenagem resultantes do efeito da velocidade
produzida pela energia das águas da chuva, nesse sentido o voçorocamento foi favorecido por solos
ácidos de textura arenosa a argilosa, tipo de solos suscetíveis à erosão.

Figura 8 – Voçoroca na proximidade da margem da rodovia


Fonte: a autora, 2012.

Marco 8 – localizado em área urbana, ocupa espaço de relevo plano, coordenadas E: 286469
N: 9142733, declividade 2:3; pertence à classe dos Gleissolos Distróficos (65%) mais 35% de solos
1125
Aluviais Distróficos e Eutróficos. Por serem solos de planícies Aluvionares formados em terrenos
baixos, são naturalmente de mal a muito mal drenados, de classe textural argilosa. Nesse marco,
tomou-se como referência a defensa da rodovia distando 2,0 m da borda do talude. A Figura 9
mostra a perda de solo, 0,70 m, ocorrida nos meses de junho e julho/2012. Destaca-se com clareza o
início de processo de voçorocamento, em que se observam as ravinas profundas no solo, provocado
pelas águas drenadas da área da plataforma da rodovia, que escoam em direção às partes mais
baixas. Como se trata de solo pouco compactado, portanto ácido e com superfície exposta à ação
climática, o processo de voçorocamento avança de maneira a se aproximar da margem da rodovia.
Caso semelhante, porém em menor escala, ao do marco 7, detalhado anteriormente, que atingiu
grandes proporções.

Defensa

RAVINAS

Figura 9 – Erosão no talude de aterro, marco 8, na BR-101 Norte


Fonte: a autora, 2012.

No que concerne aos solos, diante do concebido, importante se faz direcionar o norte do
agente hídrico da área para explicar os sucessivos movimentos de massa produzindo o
deslocamento dos taludes, movimentos naturais de área rural a movimentos resultantes dos cortes
antigos da BR, ou por efeito dos novos traçados da sua duplicação. Fato justificado pela perda da
cobertura vegetal nas encostas da rodovia, associada a outros fatores, que levaram à maximização
dos processos de deslizamento, com consequência na instabilidade dos taludes, pôde-se verificar na
Tabela 1 e Gráfico M1 de resultados do monitoramento.
Diante dos cenários observados, na solução para a estabilização das encostas da citada
rodovia, podem-se considerar projetos de Bioengenharia de solos, assim como da engenharia

1126
convencional, onde a situação passa a requerer medidas mais efetivas para solução dos problemas,
que venham a dirimir os constantes traumas nas rodovias brasileiras, em especial, na rodovia
pesquisada. A Bioengenharia passa a ser uma técnica que prioriza o material vivo e precedente de
origem da Mata Atlântica como elementos equalizadores para a manutenção do equilíbrio sistêmico
na área do talude da BR-101 Norte.
Nesse sentido propõe-se a técnica Brushlayers, que consiste num sistema de camadas de
ramos vivos dispostos perpendiculares à face do talude, em fileiras, intercalados entre camadas de
solo, na qual os ramos vivos preenchem os espaços vazios à medida que se enraízam ao longo do
seu comprimento, reforçando o solo por meio da ligação das partículas, adicionando resistência ao
deslizamento. O espaçamento vertical entre as camadas normalmente são entre 30 e 90 cm. Agem
como drenos horizontais e proporcionam a perda da umidade excessiva mediante a
evapotranspiração. Sugere-se que o plantio não seja realizado durante o período de dormência da
planta.
Os solos do trecho da rodovia estudada, conforme apresentado na análise do monitoramento
das vertentes, são suscetíveis à erosão. Nesse caso sugere-se para o recobrimento superficial da
encosta a biomanta natural com pequenas aberturas, intercaladas, quando elas deverão ser
preenchidas, por meio da vegetação, utilizando a técnica da Bioengenharia de solos, Brushlayers,
como se verifica na Figura 10 a e b.

a) b)
Figura 10 – Técnica de Bioengenharia de solos e biomanta
a) detalhes da instalação da Brushlayers com vegetação nativa; (b) talude de corte com movimento
de massa Translacional recoberto em faixas por biomanta natural.
Fonte: a) Gray e Sotir (1995, p. 5)

A técnica sugerida se materializa por reduzir a inclinação do talude, o terraceamento das


camadas intersticiais e por meio da biomanta evita o processo erosivo o que permite a cobertura
vegetal tornar-se estabilizada, maximizando-se o índice de evapotranspiração mediante as plantas
introduzidas e minimizando o percentual hídrico do solo. A implantação da técnica é de baixo
1127
custo, execução e praticidade reduzidas, constituindo-se por ter alta taxa de sobrevivência dos
indivíduos. A vegetação deverá ser do ambiente de origem, de preferência leguminosas com raízes
pivotantes.

Conclusão

A duplicação da rodovia BR-101 Norte estimulou a procura por áreas para expansão do
setor produtivo, imobiliário, comercial e de turismo. O desenvolvimento da região intensifica o
tráfego pesado e produz vibrações contínuas ao substrato, contribuindo para o processo de
deslizamento dos taludes. Os movimentos de massa na BR estudada são dos tipos Rotacionais e
Translacionais, aparecendo como uma forma complexa do movimento de massa, o sistema de
voçorocas. Nos agentes causadores dos movimentos de massa nos taludes da BR-101 Norte,
observaram-se as ações do clima úmido com índice de precipitação que atinge 276,1 mm,
produzindo erosão superficial e ao mesmo tempo ocorrendo a infiltração para subsolo, deixando a
área saturada, fator que leva ao deslocamento da massa.
Os solos passam a ser agentes indutores à absorção da água precipitada por serem de
formação Álica. Os taludes, de forma genérica, aparecem sem retaludamento e desnudos de
vegetação propiciando a absorção hídrica. Na correlação entre os parâmetros analisados e os
movimentos de massa nas encostas, concluiu-se que a influência de natureza hidrológica associada
às variáveis da composição geológica favorecem os movimentos de massa, de modo a se tornar
possível as previsões das consequências e as ações preventivas do poder público.
Em relação às técnicas da Bioengenharia de solos, são adequadas dentro da variedade de
situações, em especial a estabilização de encostas naturais e taludes de corte e aterro dessa rodovia,
levando em consideração as limitações das vantagens e os benefícios na recomposição ambiental da
área afetada. Dessa forma, conclui-se que os dados obtidos na pesquisa fornecem um acervo
importante para aplicação metodológica com vista à regeneração e preservação dos taludes,
passando o trabalho a executar um papel técnico-científico subsidiando o Estado como gestor da
malha rodoviária, vindo a consolidar a satisfação humana.

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1129
AGENDA 21 LOCAL:
O CASO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA COLÔNIA DE PELOTAS127

Neuza Maria Corrêa da SILVA


neuzacorrea@ifsul.edu.br

Resumo

Esta pesquisa apresenta o estudo sobre as transformações socioambientais observadas no sétimo


e oitavo distritos da Colônia de Pelotas, a partir da criação e atuação do Núcleo de Educação
Ambiental (NEA) com a implantação da Agenda 21 local. Com isso, objetivamos avaliar
durante um ano de atuação deste (NEA), as possíveis transformações no que tange aos seus
conhecimentos, habilidades, valores, comportamentos e capacidade de avaliação dos problemas
sociais, econômicos e ambientais por eles enfrentados. Na verdade, os pensamentos de vários
educadores ambientais sobre Educação Ambiental e suas complexidades, permitem a reflexão
sobre o papel destes nas transformações político-econômico-sociais; com isso, o
desenvolvimento da ética ambiental, permitindo ampliar a visão da complexidade e das
conexões que se estabelecem entre os seres. A governabilidade local torna-se um dos mais
importantes mecanismos de inovação democrática e ambiental. Esse processo, contudo,
desafiam, de maneira radical, as práticas ambientais, sociais e econômicas tradicionais e
vigentes na esfera municipal. A metodologia utilizada é a pesquisa-ação-participante, com a qual
nos envolvemos de modo cooperativo, participativo. Através do método de entrevista gravada e
escrita, foi possível conhecermos como pensa, sente e age a comunidade diante dos problemas
socioambientais enfrentados por eles e o que esperam da Agenda 21. A partir da compreensão
do que é Agenda 21, e como ela pode favorecer as práticas políticas sociais, utilizamo-nos dos
informativos do Ministério do Meio Ambiente e da Agenda 21 Nacional. Os dados nos revelam
que a Agenda 21, por si só, não constitui o único instrumento que devemos utilizar para
desenvolvermos um trabalho de conscientização e de desenvolvimento da ética ambiental ; mas
quando levado a sério, poderá ser um decisivo instrumento para a prática de Educação
Ambiental multiplicadora e mobilizadora.

Palavras-chave: Educação Ambiental - Agenda 21 Local – Núcleo de Educação Ambiental.

127
Instituto Federal Sul Rio-grandense – Campus Pelotas

Docente/Supervisora Pedagógica do IFSul

1130
Abstract

This research presents the study on social environmental changes observed in the seventh and
eighth districts in Pelotas country area, after the beginning and the work of Environmental
Education Nucleus, with the implantation of local Agenda 21. With this we aimed at evaluating
for a year of work of the Nucleus, the possible changes considering its knowledge, skills values,
behavior and capacity of evaluating social, economical and environmental problems faced by
the people from these districts. Actually, the thoughts of several environmental educators on
Environmental Education and its complexities, enable the thought about their role in these
social, political, economical changes; therefore, the development of environmental ethics,
enabling enlarging the view of complexity and of the connections which are established among
the people. The local administration becomes one of the most important mechanisms of
democratic and environmental innovation. This process, however, challenges, in a radical way,
the environmental, social and economical traditional practices and present in the local content.
The methodology used is the action-paticipant research, with which we involve, in acooperative,
participative form. Through the method of recorded and written interview, it was possible for us
to know how the community thinks, feels, acts when facing social and environmental problems
faced by them and what they expect from Agenda 21. From the understanding of what Agenda
21 is, and how it can favor the social political practices, we used informative from the
Environment Ministry and the National Agenda 21. The data revealed that Agenda 21, itself,
does not constitute the only tool which we should use to develop a work of making people aware
and of development of environmental ethics; but, when taken seriously, it can be a very
important tool for the practice of a multiplying and mobilizing Environmental Education.

Keywords: Environmental Education – Local Agenda 21 – Environmental Education Nucleus.

Introdução

O município de Pelotas tem, aproximadamente, 323.158 habitantes (IBGE 2005) e com


área de 1500 Km². Possui uma área rural de plantio contrastando com a área de planície banhada
pela laguna dos Patos ao Leste, possuindo resquício de Mata Atlântica e um conjunto de áreas
úmidas de significativo valor ambiental. Pelotas está situada na região fisiográfica denominada
Encosta do Sudeste, uma das onze regiões em que pode ser dividido o Rio Grande do Sul. O
espaço do município está estendido das mais baixas ondulações da encosta oriental da Serra dos
Tapes, à Planície Costeira do Rio Grande do Sul, sob o ponto de vista físico. Pelotas encontra-se
numa região de encosta. Duas grandes paisagens foram determinadas por este aspecto, naturais e

1131
humanas: umas paisagens serranas, onduladas e elevadas, correspondentes à zona rural, onde é
utilizada a policultura nas colônias; a paisagem de planície, com utilização da pecuária e
orizicultura. O clima é subtropical úmido, inverno ameno e verão suave. A forte influência do
Oceano Atlântico, denominada de maritimidade, tende a amenizar o clima. Colônia de Pelotas é
composta por 8 distritos e o número total de habitantes da Colônia de Pelotas, segundo IBGE
(2004) é de 22.077 habitantes distribuídos entre eles. O núcleo atuará nos seguintes locais:
Quilombo e Rincão da Cruz, compostos por vários subdistritos, (7º distrito) Vila Nova, Colônia
Francesa, Santo Antônio, Grupelli, Três Cerros, Bachini, Santa Maria, (8º distrito) Chicuta
Oliveira, Dona Júlia, São Manoel, Maciel. A zona rural é rica em beleza natural, apresentando
paisagens de colinas e cerros com cachoeiras, lajeados e zona de mata; um parque de
preservação ambiental e vários pontos turísticos. As populações dos distritos pesquisadas são do
Rincão da Cruz (8º distrito), urbano 27, rural 2.387, totalizando 2.414 habitantes e do Quilombo
(7º distrito), urbano 108, rural 2.746, totalizando 2.854 habitantes. Os dois distritos somam
5.268 habitantes. A pesquisa atingiu 50 famílias 25 pertencentes ao 7º Distrito (Quilombo), e 25
famílias no 8º distrito (Rincão da Cruz), avaliando a realidade atual e posterior ao trabalho do
Núcleo de Educação Ambiental (NEA), as possíveis mudanças, no conhecimento, nos valores,
nas habilidades, nos comportamentos com relação ao meio ambiente. Tais comunidades
diferenciam-se pela suas tradições e costumes, decorrentes de suas origens alemã, francesa e
italiana. Lamentavelmente, esses grupos encontram-se um tanto abandonados pelas políticas
públicas municipais.

Metodologia de Pesquisa

A metodologia utilizada nesta pesquisa é a metodologia da pesquisa-ação, houve uma


avaliação dos resultados e uma tentativa de resolução dos problemas da comunidade somado ao
objetivo de transformação. Além disso, ocorreu uma participação de ação planejada de caráter
comunitário, social e cooperativo. Do ponto de vista sociológico, a proposta de pesquisa-ação dá
ênfase à análise das diferentes formas de pensar, se comportar, sentir e agir, aliando
conhecimento e mudança. A pesquisa-ação, enquanto linha de pesquisa associada a diversas
formas de ação coletiva é orientada em função da resolução de problemas ou de objetivos de
transformação. Para THIOLLENT (2003, p.14)
[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica
que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os

1132
participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de
modo cooperativo ou participativo.

Ao nível das definições, uma questão frequentemente discutida é a de saber se existe


uma diferença entre pesquisa-ação e pesquisa participante. THIOLLENT (2003, p.15)
Isto é uma questão de terminologia acerca da qual não há unanimidade.
Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisa é do tipo participativo: a
participação das pessoas implicadas nos problemas investigados é
absolutamente necessária. No entanto, tudo o que é chamado pesquisa
participante não é pesquisa-ação.

Pesquisa-ação participante, porque houve uma participação e ao mesmo tempo uma ação
durante todo o processo e por todos envolvidos na pesquisa, tanto pesquisador como
pesquisados. Dando suporte para ambos se tornarem capazes de responderem com maior
eficiência aos problemas da situação em que vivem, em particular sob forma de diretrizes de
ação transformadora, facilitando-me a busca de possíveis soluções dos problemas reais para os
quais o procedimento convencional não contribuiria. Enquanto (DEMO, 1995), não faz distinção
entre pesquisa participante e pesquisa-ação.
Não fazemos aqui distinção entre pesquisa participante e pesquisa-
ação, porque nos parece que o compromisso com a prática é o mesmo em
ambas, ainda que pudéssemos inventar filigranas, do tipo: nem toda ação
precisa ser diretamente política, o que levaria a aceitar que participação é
apenas um tipo de ação social. Ainda, na intenção original da pesquisa-ação
não está a colocação genérica e dispersa de qualquer ação social, mas ação
conscientemente política, no sentido de aliar conhecimento e mudança. (1995,
p.231)

A pesquisa participante também pode ser conceituada como um conjunto de estratégias


de investigação que, com a participação efetiva da população busca uma nova práxis que
preconize mudanças na situação de opressão das subalternas. Portanto, a metodologia de
pesquisa participante é um importante mecanismo de transformação da realidade, no que tange
ao enfrentamento de problemas que afetam a maior parte das comunidades. As técnicas para a
coleta de dados e desenvolvimento da pesquisa foram, entrevistas semiestruturadas gravadas,
questionário escrito, observação, diário de campo e fotografias.
A pesquisa começou acontecer desde o primeiro encontro com o Núcleo em abril de
2004, na localidade da Vila Nova no 7º distrito, onde houve uma reunião com o grupo
componente do NEA, ou seja, os dois distritos 7º e 8º. Neste encontro eu representava a
1133
Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA), junto com mais três integrantes da ONG Teia
Ecológica e componentes do NEA Rural. A reunião começou com a exposição sobre o curso de
formação de coordenadores e multiplicadores de Educação Ambiental. O curso teve duração de
80h, as quais foram divididas em 4 módulos de 20h, cada módulo foi composto por cinco
encontros mensais, com duração de 4h. Apresentou os seguintes temas geradores de cada
módulo. Módulo I - Fundamentação Teórica "Sociedade e Meio Ambiente‖, Agenda 21,
modelos de desenvolvimento, valores, ecossistemas, recursos naturais e efeitos da globalização.
Módulo II - Diagnóstico Socioambiental "A Identidade Local", meio ambiente natural e
construído, saída de campo para estudo do meio, identidade da comunidade, finalização do
diagnóstico, reunião com os semeadores e a comunidade para apresentação do diagnóstico,
bases para a ação local. Modulo III - ―Visão de futuro‖, palestra sobre instrumentos de
planejamento, pesquisa sobre legislação Federal, estadual e municipal sobre meio ambiente,
identificação e definição das ações estratégicas incorporadas pela comunidade, sistematizar os
resultados obtidos e construir os cenários socioambientais, reunião para discutir e avaliar os
cenários socioambientais. Módulo IV – Desenvolvimento das ações locais, ―Construindo a
Agenda 21 de Pelotas‖, elaboração de Projetos, montagem e desenvolvimento do projeto,
finalização dos projetos, discussão e avaliação dos projetos, apresentação dos projetos. Neste
encontro e em todos os outros que vieram posteriormente, foram feitos registros no caderno de
campo e muitas observações, avaliando o grupo a partir dos objetivos da Educação Ambiental,
comportamentos, as habilidades, os conhecimentos, e os valores ambientais. As perguntas do
questionário-entrevista foram elaboradas de acordo com os objetivos da EA, para avaliar as
possíveis mudanças socioambientais na comunidade. Foram escolhidas 25 pessoas do 7º e 25
pessoas do 8º distritos, cada um foi entrevistado duas vezes, uma entrevista antes da atuação do
núcleo e outra após um ano de atuação do núcleo, fazendo assim a comparação entre as duas
respostas, a escolha dos entrevistados foi feita aleatoriamente, por uma integrante da
comunidade de cada distrito, sendo ela a responsável por realizar as entrevistas, portanto foram
duas colaboradoras no processo de avaliação. Preferi a neutralidade, na hora da entrevista, para
que a comunidade ficasse a vontade nas respostas, já que pertencia a (SQA), poderia desta forma
influenciar nas respostas. Durante o ano de 2004 aconteceu à implantação do Núcleo, neste
período houve 24 encontros, sendo 12 no 7º e 12 no 8º distritos, em todos os encontros estive
presente como coordenadora representando a SQA, motorista da Kombi que levava e buscava os
integrantes do NEA para se reunirem e como pesquisadora. No final de 2004 o Núcleo já estava
formado (sensibilizado) para desenvolverem suas funções, com o diagnóstico socioambiental
pronto, com os projetos determinados, a partir daí atuarem como agentes multiplicadores de EA.
Foram escolhidas aleatoriamente 25 casas em cada distrito, as questões foram elaboradas junto
1134
com o orientador da pesquisadora e aplicadas durante todo o ano de 2005, após a 1ª entrevista o
núcleo se reunia quinzenalmente para a elaboração dos projetos e programarem ações de EA nas
comunidades (7º e 8º), finais de semana participavam nas atividades da comunidade
aproveitando para disseminarem os conhecimentos adquiridos durante a formação, entregar
materiais educativos sobre EA, Agenda 21, assim como, implantação de viveiros com mudas de
árvores nativas, incentivando toda a comunidade da importância do mesmo, trazendo inclusive
pessoas qualificadas para falar sobre como produzir, porque produzir e quais as vantagens da
produção de árvores nativas, a partir de viveiros. Foi realizadas algumas ações junto ao Núcleo,
como escolha e transporte de palestrante para falarem sobre os temas escolhidos por eles, pedido
na Câmara dos vereadores para entrarem com um projeto para dar nome a praça e para adoção
junto a SQA. No final de 2005, foi realizada a 2ª entrevista com as mesmas pessoas e as mesmas
perguntas da primeira, possibilitando assim a comparação, análise e conclusão do que realmente
aconteceu durante um ano de atuação do núcleo. A partir da análise da tabulação separadamente
das duas entrevistas, dos dois distritos, pode-se chegar a uma conclusão da pesquisa realizada e
responder se os objetivos da EA foram desenvolvidos na comunidade ou não. A coleta dos
dados e as questões foram analisadas, com as seguintes divisões: Análise dos dados gerais,
análise dos valores, análise dos conhecimentos, análise dos comportamentos e análise das
habilidades. Os resultados das entrevistas de 2004 e 2005 de cada distrito foram comparados
através de gráficos com percentagens.

Conclusão

Relembramos que o objetivo da pesquisa foi avaliar os resultados socioambientais da


Agenda 21local, através do trabalho do Núcleo de Educação Ambiental da Colônia, entre os
anos de 2004 e 2005, no 7º e 8º distritos da zona rural de Pelotas. Acompanhar a implantação e a
atuação do NEA e pesquisar sobre as possíveis transformações socioambientais nessas
comunidades foram à tarefa a que nos propusemos. A partir do que pretendíamos na proposta da
pesquisa, foram realizadas muitas reuniões, visitas, entrevistas e acompanhamento desde a
implantação do NEA até o momento atual em que já estão sendo criados vários projetos pelo
Núcleo, envolvendo a comunidade local. Os resultados esperados pela Agenda 21 local, como a
formação de NEAs, aconteceu em parte, alguns não chegaram a se formar totalmente, dos seis
previstos, três estão organizados, já com atuação na comunidade e três precisam de
reestruturação.Quanto a participação consciente das comunidades nas decisões referentes a
questões socioambientais: Conselho Municipal de Proteção Ambiental, OP, Fóruns da Agenda
21 Local, esta se dá, através do COMPAM. Foi criado uma Câmara Técnica do Fórum da

1135
Agenda XXI, com representatividade dos NEAs, ONGs e Instituições governamentais, tratando
da continuidade da Agenda XXI e fortalecimento dos NEAs. Onde previa o desenvolvimento de
postura quanto às formas de interação entre seres humanos e ambientes, buscando uma melhor
qualidade de vida, as comunidades estão tentando que criarem alternativas, através de projetos
criados por elas, de acordo com as necessidades locais. O engajamento da comunidade na
construção de uma cidade sustentável, os NEAs estão sendo uma ponte entre a comunidade e a
Secretaria de Urbanismo, para que as necessidades regionais sejam contempladas no plano
diretor da cidade. A formação de uma consciência coletiva quanto a necessidade de conservação
do meio ambiente, a promoção da defesa de bens e direitos sociais, patrimônio cultural, direitos
humanos e o desenvolvimento sustentável, estão sendo construída muito lentamente pela falta de
apoio político e estrutura dos NEAs. O objetivo principal da Agenda 21 local é, na verdade, a
formulação e implantação de políticas públicas, por meio de metodologia participativa, que
produza um plano de ação para o alcance de um cenário de futuro desejável pela comunidade
local. Esse precisa atentar para a análise das vulnerabilidades e potencialidades de sua base
econômica, social, cultural e ambiental. Ainda o objetivo da Agenda 21 Local de Pelotas
consiste em assegurar o desenvolvimento sustentável, contemplando ações na esfera econômica,
social e ambiental. Como instrumento educativo, pretende garantir debates socioambientais,
atendendo às necessidades atuais, sem comprometer a futura geração. Diante das intenções
acima citadas, asseguramos, de acordo com os dados pesquisados, que a comunidade da zona
rural de Pelotas precisa ter mais espaço, incentivos, orientações, políticas públicas voltadas para
a realidade colonial. A agenda 21 deu apenas um passo inicial rumo a esses compromissos, mas
é necessário muito mais. Urge, que a partir de agora, o Núcleo seja fortalecido para cumprir seu
papel e seu verdadeiro objetivo: trabalhar os problemas locais e formar lideranças na
comunidade, através de um processo permanente de formação e informação, possibilitando cada
vez mais que estes desenvolvam habilidades e atitudes voltadas à conservação e ao manejo do
meio ambiente, por meio da Educação Ambienta. Desse modo, estaremos formando cidadãos
críticos e conscientes para suas tomadas de decisões, para uma comunidade sustentável. O
Núcleo nasceu compreendendo duas comunidades distintas, com realidades diversas em alguns
pontos, noutros com muita semelhança, separados pela distância de mais ou menos de 20km.
Com o tempo, adquiriu forma e não se extinguiu, como as ONGs que foram responsáveis pela
sua formação. Unidos pela mesma força, vontade e necessidade de trocarem experiências,
conhecimentos e sempre buscando orientação, seguiram em frente, formando uma rede de
trocas. Com todas as dificuldades encontradas para se fazer presente, e com pouco tempo para se
dedicar a reflexões, estudos e divulgação da importância de se ter uma Agenda 21 Local, o
Núcleo persistiu. Vale novamente enfatizarmos que a Agenda trabalha questões relacionadas à
1136
sustentabilidade, questões estas delicadas para quem vive na terra e da terra. Mesmo com todos
esses problemas, o grupo se dedica, cada vez mais, para que a comunidade vislumbre uma
maneira de conquistar uma melhoria na qualidade de vida da zona rural. Não há exagero ao
afirmarmos que os integrantes do NEA foram heróis, porque foram abandonados pelas ONGs,
que ganharam verba Federal, infra-estrutura Municipal para formá-los e acompanhá-los, e não o
fizeram. Mesmo com muitas turbulências, entenderam que dependia mais deles, enquanto
comunidade do que de pessoas descomprometidas com as questões socioambientais e com falta
de ética profissional. A continuidade aconteceu, pelo engajamento e persistência do grupo, ainda
pela disponibilidade, respeito e comprometimento da coordenadora de EA da SQA, que,
incansavelmente, era a motorista da Kombi que levava o grupo para as reuniões noturnas todas
as semanas se deslocava da cidade, ia até a zona rural rodava em média 150 Km, para reunir o
Núcleo. Quando necessário, levava consigo um palestrante para falar sobre temas de interesse da
comunidade como, por exemplo, Fauna, Flora, Meio Ambiente Natural e Construído, entre
outros. Os objetivos da pesquisa foi plenamente realizado, uma vez que verificamos uma
sensível mudança de comportamentos, de hábitos, de conhecimentos e habilidades, sobre as
questões ambientais. Podemos dizer que o trabalho do NEA foi desenvolvido dentro das
condições precárias com as quais se deparou. Estamos no ano de 2006, e ainda o núcleo sequer
recebeu o computador e a impressora, para montar sua sala na escola sede. O descaso do poder
público municipal e das ONGs que deveria acompanhá-los, é injustificável e total. Essa pesquisa
serve de exemplo para que outros municípios não cometam os mesmos erros, como contratar
ONGs sem critérios de seleção, que usam o dinheiro público com interesses políticos,
pagamento para as pessoas participarem de cursos, sem nenhum comprometimento ético,
projetos mirabolantes, sem previsão de continuidade. Um dos grandes problemas detectado no
processo de continuidade da Agenda 21 local foi à mudança de governo municipal no meio do
projeto. O comprometimento de um e o descomprometimento do outro, prejudicou o projeto.
Inclusive, um ano se passou até o atual governo entender que a Agenda 21 é um projeto
grandioso, importante para ser desenvolvido a partir das necessidades locais e não de interesses
políticos ou particulares, ela é de toda sociedade. O que se propõe é que a Agenda 21 Local
tenha apenas, como um dos parceiros, as prefeituras, procurando envolver várias instituições e,
principalmente, Conselhos Municipais de Proteção Ambiental, ONGs engajadas em questões
ambientais e que sejam idôneas, sindicatos, associações de bairros, universidades. Enfim, toda a
comunidade, para que não fiquem somente ligadas ao Poder Executivo. Embasados nos dados
levantados, podemos concluir que houve um trabalho de sensibilização, de divulgação, de
reflexão e de transformação de hábitos e de comportamento das comunidades em foco. As
pessoas passaram a entender um pouco mais sobre o meio onde vivem e qual é o seu papel neste
1137
ambiente, tendo respeito pelo trabalho do NEA, vendo-o até como referencial para informações
e orientações sobre muitos problemas ambientais, enfrentados pela comunidade. A Agenda 21
de Pelotas está tendo continuidade com a criação do Fórum XXI, hoje, uma Câmara Técnica do
Conselho Municipal de Proteção Ambiental (COMPAM), composto por três instituições não
governamentais e três governamentais. Essa Câmara confere institucionalidade aos NEAs. O
que é decidido pelo Fórum entra em votação no conselho; caso aprovado, poderá ser executado.
Esse foi o encaminhamento que julgamos mais eficaz para garantir a continuidade do processo
de Agenda 21 no município. O novo paradigma de gerenciamento de um conjunto de dinâmicas
sociais e políticas representadas pela Agenda 21, e pela perspectiva do desenvolvimento local,
integrado e sustentável, apoia-se de forma central nas ideias anteriormente expostas. Sua grande
aposta está em conceber os membros da sociedade como sujeitos de seu próprio destino e dos
rumos tomados pela sociedade ou pela comunidade em que vivem. Ela é uma metodologia
voltada para a consecução dos objetivos relacionados com a viabilização do desenvolvimento
sustentável nas suas diversas facetas, capazes de garantir um presente e um futuro melhores para
as atuais e as futuras gerações. Por isso, sua implantação demanda uma mudança no enfoque, na
postura, nas mentalidades, de forma que permitam e estimulem a participação da sociedade na
superação de seus dilemas. Por derradeiro, enfatizamos a inquestionável relevância da Educação
Ambiental, para intensificar e diversificar as formas de participação individual e coletiva e,
também, para buscar outros caminhos eficazes que, ao lado da educação e da participação,
contribuam para a mudança de mentalidade. Conjugar esforços, em todas as escalas da
sociedade, com objetivos mais diversos, em uma permanente aprendizagem, parece-nos ser a
única via para combater a indiferença e alcançar os significados profundos dos valores presentes
nos conceitos de democracia, tolerância, solidariedade e compromisso individual e social. É
importante destacar o que diz no preâmbulo da carta da terra sobre os desafios para o futuro.
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e
uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a diversidade da vida. São necessárias
mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos
entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento
humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Nossos desafios
ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos
poderemos forjar soluções includentes. (Carta da Terra, 2004, p.14).

O bem estar da humanidade e a grande comunidade de vida dependem do nosso


compromisso pessoal, integridade ecológica, justiça social e econômica, democracia e liberdade.

1138
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1140
DINÂMICA MIGRATÓRIA E O PROCESSO DE DESFLORESTAMENTO
DA BACIA DO IGARAPÉ D´ALINCUORT- RO¹

Nubia Deborah Araujo CARAMELLO


nubiacaramello@yahoo.com.br

Luis Fernando MAIA LIMA


maialima2000@gmail.com

Dorisvalder Dias NUNES


dorisvalder@pq.cnpq.br

Monica dos Santos MARÇAL


monicamarcal@ufrj.br

Resumo

Estado de Rondônia desde sua origem esteve voltado para a exploração de seus recursos naturais
através de incentivos públicos ligados a ciclos econômicos e atrelados à dinâmica migratória. O
desenvolvimento regional desprovido de planejamento ambiental resultou no surgimento de um
quadro ambiental preocupante, tendo o desmatamento como principal indicador de Estado/Pressão.
O artigo visa identificar o desmatamento durante os anos de 1975 a 2009 e relacionar com os
fatores socioeconômicos que desencadearam o cenário atual na Bacia do Igarapé D`Alincuort – RO.
Realizou-se interpretação da metodologia de analise Pressão/ Estado/ Impacto/ Resposta, para
identificar a dinâmica migratória para a Bacia e construiu-se série histórica com imagens
LANDSAT de 1975 a 2009, com intervalos de 5 a 10 anos devido a qualidade das imagens. A
análise das imagens espaciais mostra que ao longo de quase quatro décadas, a bacia do Igarapé
D`Alincourt vem sofrendo alterações em sua paisagem natural e os questionários mostram os
fatores que estimularam o fluxo migratório da década de 70 à década atual para a bacia. Entretanto,
os erros podem continuar se novas dinâmicas não forem implantadas com o principio de governança
de compartilhar as ações e não ordena-las para que ações como a recuperação das matas ciliares do
Igarapé D´Alincuort seja algo constante.

Palavra chave: Percepção Ambiental, Ciclo Migratório, Desmatamento

1141
Abstract

Rondônia State since its inception has been focused on exploiting its natural resources through
public incentives linked to economic cycles and is tied to migration dynamics. Development of the
regional environmental planning resulted in the emergence of a framework environmental concern
and deforestation as the main indicator of State/ Pressure. The article aims to identify deforestation
during the years 1975 to 2009 and relate to socioeconomic factors that triggered the current scenario
in D `IgarapéAlincuort Basin at Rondonia State. Held interpretation of the analysis methodology
Pressure/ State /Impact /Response to identify the dynamics of migration to the basin and built-in
series with Landsat images from 1975 to 2009, with intervals of 5 to 10 years because the quality of
its images. The analysis of space imagery shows that over almost four decades, the Igarapé D
`Alincourtbasin has undergone changes in its natural landscape and questionnaires show the factors
that stimulated the migration of the 70s decade for the basin. However, errors may still be if new
dynamics are not deployed to the principle of governance to share actions and not ordering them so
that actions such as restoration of riparian forests of D'IgarapéAlincuort is a constant.

Key-words: Environmental Perception, Migratory Cycle, Deforestation

Introdução

O Estado de Rondônia desde sua origem esteve voltado para a exploração de seus recursos
naturais, através de incentivos públicos, assim sendo, no decorrer de sua história, os ciclos
econômicos estiveram atrelados aos ciclos migratórios. Na corrida pela ocupação desse novo
espaço que se desenhava no mapa brasileiro, não foram levadas em consideração as aptidões da
terra e nem a particularidade da vegetação e do clima próprio da floresta amazônica, essa falta de
planejamento integrada provocou choques de saberes agrícolas, onde o maior perdedor foi e vem
sendo a biodiversidade (AMARAL, 2001; SANTOS, 2001; SILVA, 2003).
Nesse contexto, inicia-se em 1975, ocupação da Bacia do Igarapé D´Alincuort (BHIDA) -
RO, oriundo da implantação do Projeto de assentamento Rolim de Moura, desenvolvido pelo
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) destinado ao assentamento de
famílias de migrantes procedente dos diversos Estados do País que vieram à procura de uma nova
oportunidade (SANTOS, 2001; CARNEIRO, 2008).região em que se localiza a bacia hidrográfica
em estudo. Na classificação do pesquisador Carlos Santos (2001), esse município engloba a região
do Vale do Guaporé, devido à sua importância como eixo de integração dos municípios de Alta
Floresta D`Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Castanheiras, Costa Marques, Nova Brasilândia
1142
D´Oeste, São Francisco do Guaporé, São Miguel do Guaporé e Seringueiras, Santa Luzia, Novo
Horizonte D‘Oeste, municípios que também estão inseridos dentro da região da Zona da Mata,
sendo Rolim de Moura nomeada como sua Capital.
O desenvolvimento regional desprovido de planejamento ambiental resultou no surgimento
de um quadro ambiental preocupante, tendo o desmatamento como principal indicador de
Estado/Pressão, segundo o SIPAM (2004 – carta imagem de desmatamento) da área total de
1.457,885 km² da extensão municipal, o percentual 76,12% encontrava-se desmatado até o ano de
2004, fato que atinge diretamente os recursos hídricos da região.

Material e Método

A Bacia Hidrográfica do Igarapé D´Alincourt ocupa uma área de 65,54 km², faz parte do
conjunto de afluentes da Sub-bacia Muqui,, que integra a Bacia Hidrográfica do Machado, um forte
afluente da Bacia do Rio Madeira (Figura 01).

Mapa01 - Delimitação da Bacia do Igarapé D´Alincuort.


Fonte: SEDAM (base cartográfica)

Está localizada no perímetro rural do município de Rolim de Moura, entre as latitudes


11º46` a 11º48` S e longitudes de 61º48` a 61º54` W,possui suas principais nascentes (Corgo do Zé,
Rio do Morro, Igarapé do Morro) localizadas no Planalto de Parecis com variação de 305 a405 m de
altitude, com acesso através da linha vicinal 172. Sua estrutura geomorfológica proporciona a
existência da rede fluvial de padrão predominantemente dentrítico, é caracterizada por vales
entalhados e densidade de drenagem média a alta. Seu interfluvio é divisor d águas da Bacia a
Hidrográfica do Guaporé e da Bacia do Machado o qual a BHIDA está inserida.

1143
A presente pesquisa foi desenvolvida nos moldes quali-quantitivo envolvendo a aplicação
deentrevista a 45 propriedades rurais de um total de 90, foi utilizado questionário com questões
semi-abertas. Sua elaboração considerou em primeira instância os dados necessários para o Plano de
Bacia condido na Lei 9433/97, utilizou-se como diretrizes a Tese de Doutorado de Carniatto (2007),
dissertação de Mestrado de Silva (2006);(ANA)128, buscando identificar as percepções sobre:
Impactos na qualidade da água superficial utilizou -se o CNAR; Influência do Projeto de
Recuperação das Matas Ciliares D`Lincourt no comportamento dos moradores da Bacia; Nível de
satisfação em morar na área; e Percepção sobre o desenvolvimento do projeto de recuperação de
áreas de preservação permanente - APP.
Na construção da série historia, foram utilizadas Imagens LANDSAT-5 órbita 231/68 com a
composição de bandas 5R4G3B, adquiridas no banco de imagens do INPE. Os respectivos anos das
imagens adquiridas foram 1975, 1980, 1990, 2000 e 2009. Através do software Global Mapper9.03
as imagens foram georreferenciadas, tendo como base as cenas GEOCOVER do ano de 2000. As
bases cartográficas utilizadas neste trabalho, tais como: malha viária, malha hidrográfica,
delimitação de municípios, Estados e distritos são da SEDAM (Secretária de Estado de
Desenvolvimento Ambiental).
Para estabelecer os níveis de desmatamento, de acordo com a série histórica escolhida, foi
utilizado o software ARCGIS 9.2. A princípio foi feito o recorte das imagens, de acordo com a área
de estudo definida anteriormente. Após o recorte foi feita uma reclassificação dos pixels da imagem
através da Ferramenta SpatialAnalyst e a opção Reclassify. Assim, foi definido através de
classificação supervisionada o que era área desmatada e o que era floresta.

Resultados Obtidos

A análise das imagens espaciais da área foi fundamental na construção da série histórica do
desmatamento (1975-2009) na qual ao longo de quase quatro décadas, a bacia do Igarapé
D`Alincourt (Figura o2), vem sofrendo alterações em sua paisagem natural, pois, paralelo ao
processo de colonização da BHIDA houve os interesses de desenvolvimento econômico: a)
endógeno: por parte dos novos colonos, sendo influenciado pelas oportunidades de produção e a
obrigatoriedade em delimitar os lotes adquiridos através da retirada da vegetação natural, e b)
exógeno: estimulado pelas indústrias madeireiras que se instalaram juntamente com o processo de
colonização. Inicia-se então na década de 1980 o primeiro ciclo econômico na BHIDA: o ciclo
madeireiro.

128
Instituído através da Resolução ANA nº 317, de 26 de agosto de 2003.

1144
Mapa 02 - Mosaico da evolução de desmatamento da Bacia do Igarapé D ´Alincourt1975 a 2009.
Fonte: Dados extraídos da pesquisa em campo e foto interpretação da série LANDSAT, imagens 1975, 1980, 1990,
2000 e 2009, composição R5G4B3.

Até a década de 80, o fluxo migratório para a BHIDA tinha o movimentopopulacional


oriundo de várias regiões brasileiras, predominando a região Sul do país com 41,67%, sendo a
maioria procedente do Estado do Paraná, a região Sudeste é a segunda mais expressiva, com a taxa
de 31,25%, com destaque para o Estado do Espírito Santo, da região Centro-Oeste com o percentual
de 14,58%, sendo este o que apresentou menor fluxo.
A aplicação do questionário possibilitou identificar os fatores que estimularam ofluxo
migratório da década de 70 à década atual para a bacia em estudo. Como se pode observar no
Gráfico 01, o processo migratório para a Bacia do Igarapé D´Alincourt, iniciou na década de 70 do
século passado, nesse período vieram para a mesma 25,58% dos moradores atuais, foi na década de
1980 que a Bacia, recebeu o maior contingente populacional com o percentual de 41,86% e na
década de 1990, chega mais 13,95% moradores.
A população da Bacia ganha um novo fluxo migratório na década atual movida por dois
fatores que encontra-se conectado: fragmentação dos lotes através da venda e o desconhecimento a
respeito do ―Projeto de Recuperação das Matas Ciliares do Igarapé D´Alincourt‖, gerando um
sentimento de incapacidade de uso e ocupação da propriedade.

1145
Fonte: Banco de dadosdo projeto, obtidos em pesquisa de campo entre 2009 a 2010 .
Gráfico 01 - Dinâmica migratória para BHIDA e Taxa de Desmatamento(1970-2009).

De certa forma, a busca por um espaço de produção estava presente na intenção de todos os
migrantes, atuais moradores da BHIDA, prevalecendo a herança cultural de uso e ocupação da terra
dos estados de origens. Inicialmente, cada proprietário recebeu 100 alqueires (estrutura fundiária
montada no padrão modular do INCRA) de terra (Santos, 2001; SEDAM, 2005, Carneiro, 2008).
Aqueles que manifestassem interesse em obter mais terras, segundo 80% dos entrevistados,
deveriam derrubar toda a área o mais rápido possível. Desta forma, contrariando o Código Florestal
vigente desde 1965. Os colonizadores, ao avançar a cada década no processo de desmatamento de
sua propriedade, provocaram a substituição da paisagem natural pela paisagem antrópica, dando
espaço a pastagens e à agricultura cafeeira.
Entretanto, é importante observar que o documento recebido como termo de posse só era
entregue após a benfeitoria recomendada pelo órgão governamental, e nele continha de fato em seu
verso o comunicado que a área só poderia ser desmatada 50%. Um dado oficial que contradiz, na
prática, as ações desenvolvidas para garantir o assentamento local e a ocupação populacional do
então intitulado ―vazio demográficas‖ coordenadas pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária - INCRA.
A falta de recursos para investimentos na propriedade e a ineficiência de um planejamento
ambiental, aliado ao projeto de assentamento na época, levou inúmeros proprietários rurais a iniciar
um novo modelo de fragmentação do lote, optando-se pela venda parcial da propriedade, elevando
desta forma o fluxo migratório para a área em estudo e conseqüentemente a taxa de desmatamento
em novas áreas foram se elevando.
Esses fatores proporcionaram um mosaico de propriedades diferenciadas (Gráfico 02), com
variações de posse por proprietário de 1 a 200 alqueires de terra, episódio que vem contribuiu
1146
com o processo de substituição da vegetação natural daárea, incentivado pela própria política
econômica municipal, formando uma estrutura intitulada por Florenzano como espinha de peixe.

Fonte: Banco de dadosdo projeto, obtidos em pesquisa de campo entre 2009 a 2010
Gráfico 02 - Dimensão atual das propriedades da BHIDA.

De forma geral, 71,11% dos proprietários entrevistados possuem de 1 a 30 alqueires


totalizando aproximadamente 1.090 alqueires, enquanto que a parcela de 29,89% dos entrevistados
possuem de 31 a 200 alqueires, concentrando aproximadamente 1.654 alqueires da BHIDA. Este
fato indica que mesmo a bacia se enquadrando em áreas de pequenas propriedades (até 100
alqueires) a concentração de terras da bacia está na mão dos trinta por cento dos proprietários.
Na década de 70 e 80 do século passado, as variações de desmatamento na área estudada
eram respectivamente 3,0 e 13,7 % ( Figura 02) sendo mais evidentes nas estradas vicinais e frente
das propriedades de forma uniforme. Porém nas últimas décadas do século XX, houve um elevado
aumento de desmatamento chegando dobrar o índice de desmatamento na década de 90 atingindo
37,33% de uma área total de 65,54 km², iniciando um cenário espacial intitulada por Florenzano
(2002) de espinha de peixe. Configurando um cenário de desmatamento na primeira década do
século XXI incomparável.
É importante destacar que, análogo à substituição da vegetação natural, ocorreu a
implantação do que Guerra e Marçal (2006) define como uma vegetação antrópica, nesse caso a
monocultura cafeeira vem em substituição a vegetação natural, e a criação de gado, herança de uma
cultura importada do Sudeste e Sul do país, tão marcante e presente atualmente que permite
classificar a área em estudo de ―Bacia Hidrografia Café com Leite‖ sendo esse o palco do segundo
ciclo econômico da BHIDA.
O percentual de 60% dos entrevistados classificaram como principal função produtiva da
área a agropecuária leiteira e de corte, desse percentual, 30% dos proprietários rurais possuem como

1147
única função, permitindo concluir que a agropecuária é uma forte tendência na bacia, a agricultura
apontada refere-se ao plantio de café, pequenas hortas (verdura, legumes, frutas) para
comercialização direta nas feiras livres realizadas no municio de Rolim de Moura - RO.Esses dados
condizem com o principal produto comerciálizavel pelos produtores, sendo que 57,5% dos
produtores possuem a criação bovina de corte, leite e procriação como principal fonte de renda,
aliado ao cultivo de café, sendo essas duas produções as que ocupam a maior porcentagem do uso
da terra na BHIDA.
A comercialização da produção das propriedades é voltada, para as empresas de Rolim de
Moura, fato que representa 63,8% comercializado dentro do próprio município, sendo os
frigoríficos e indústrias de beneficiamento de leite as principais consumidoras; 6,4% e
comercializado no restante dos municípios da zona da Mata; 2,13% comercializam com
atravessador; 6,4% produz apenas para consumo próprio e 15,00% optaram em não informar o
destino de sua produção.
Esse cenário vem tendo algumas alterações com substituição na primeira década do século
XXI, pela criação intensiva da pecuária bovina de corte e de leite, surgindo aqui o terceiro e atual
ciclo econômico, levando em parte a substituição do plantio de café pela pastagem, em busca de
atender a alta demanda de leite e carne nas indústrias localizadas no Município de Rolim de Moura.
Essas interferências na paisagem natural levaram a década de 1990 e a primeiradécada do século
XXI a serem identificadas como o período de maior desmatamento da bacia atingindo um total de
77.68.% desmatado da vegetação natural. O resultado dessa metamorfose espacial foi o elevado
índice de desmatamento, que vem trazendo atualmente impacto ambiental na bacia atingindo os
recursos naturais da mesma entre eles visivelmente podemos destacar os canais hídricos (Figura 03)
que se encontram em processo de assoreamento no canal principal e eutrofização nos pequenos
afluentes no período seco.
Linha 180 – Período A –chuvoso/ B - seco

Figura 01 - Presença de Eutrofização na BHIDA.


Foto: Luis Fernando Maia Lima 10/05/2009.

1148
Nesse sentido Braga et al (2002 ) alerta que a quantidade de vegetação dentro dos canais
torna o fluxo de água mais lentoscontribuindo para um processo de eutrofização cultural ou
acelerada devido à intervenção humana.

O Projeto de Recuperação das Matas Ciliares do Igarapé D`Alincourt: um indicador de resposta

Através da intervenção do Ministério Público frente aos impactos ambientais que


vêmocorrendo no igarapé D`Alincourt, como mortandade de espécie aquáticas (SEDAM, 2008),
alto índice de assoreamento e erosão as margens do mesmo surgiu o ―Projeto de recuperação das
matas ciliares do Igarapé D`Alincourt‖ elaborado por profissionais técnicos dos órgãos da SEDAM
e IBAMA do núcleo de Rolim de Moura.Conduzidos pelo objetivo principal de recuperação das
matas ciliares, visando a recuperação e proteção dos solos e cursos d´água, buscando diminuir
impactos ambientais como de erosão, assoreamento e alteração nos padrões de qualidade da água da
bacia hidrográfica.
Os recursos econômicos para o desenvolvimento do projeto são providos de multas
referentes a impactos ambientais consubstanciados no Art. 4º, VIII da Lei 6.938/81, levam em conta
que os recursos ambientais são escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos ora
resultando sua degradação, ora resultando sua escassez, utilizando dois princípios: a) poluidor-
pagador (quem poluiu deve pagar pela poluição causada ou que pode ser causada). Os proprietários
rurais da BHIDA foram enquadrados neste princípio e b) usuário pagador (estabelece que quem
utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos) enquadrados a empresa responsável pelo
abastecimento publico, neste principio, através do qual foi injetado aproximadamente um milhão de
reais no projeto.
A participação dos proprietários na proposta de recuperação da mata ciliar ocorreu após uma
entrevista socioambiental, desenvolvida pela entidade SEDAM e UNIR – Curso de Agronomia, na
qual foram constatadas algumas irregularidades ambientais e acionado o Ministério Público. Ao
serem convocados para audiência publica, tomou-se conhecimento da finalidade da pesquisa, e de
suas responsabilidades como poluidor-pagador, onde nesse momento foram comunicados que
deveriam recuperar a faixa da mata ciliar garantida nas leis vigentes que regem sobre proteção de
áreas de preservação permanentes (APP).
Diante do fato, foram ―convidados‖ a assinarem um termo de compromisso com o
Ministério Público no qual foi estabelecido que iriam receber gratuitamente mudas, (todas as
propriedades), e arame (apenas pequenas propriedades) e assistência para plantio e manutenção das
mudas na fase inicial, em troca deveria plantar e monitorar com ações necessárias para que a
recuperação das área degradadas fosse possível.Atualmente, o projeto possui como infraestrutura
1149
um viveiro de mudas com banco de sementes contendo a vegetação natural local, este viveiro
pertencente a ONG ECOPORÉ (Ação Ecológica do Vale do Guaporé) e assistência técnica de um
engenheiro que acompanha o desenvolvimento do projeto diretamente nas propriedades, conforme
relatou o coordenador da ONG.
Apesar desse diálogo ter iniciado em 2005 os resultados já são perceptíveis em nível de
interpretação espacial (figura 02), entretanto a sustentabilidade do projeto em longo prazo, é
questionável, tendo em vista que a percepção dos moradores é fundamental para se manter uma
proposta com essa característica. Dessa forma a lacuna identificada refere-se à percepção dos
moradores frente ao desenvolvimento do projeto, pois os mesmo se sente alheios a proposta mesmo
sendo eles os principais responsáveis pela eficácia da mesma. Foi possível identificar nos
entrevistados, um desconforto em participar do projeto, os quais afirmam que só fizeram parte do
diálogo da proposta de recuperação no momento da audiência pública, sendo envolvidos,
posteriormente, em palestras para esclarecer a relevância do projeto e apresentação das parcerias
com o apoio de um técnico, maquinários entre outros. Fato que levou no primeiro momento alguns
produtores rurais a venderem suas propriedades e atualmente ainda é um fator de preocupação.
Nesse sentido a legislação dos recursos hídricos 9.433/97 enfatiza a obrigatoriedade de uma
gestão de recursos hídricos descentralizados e participativos, cujas propostas de intervenção devam
atender à necessidade de todos os atores envolvidos direta ou indiretamente no cenário de diálogo,
devendo os mesmos ser integrados no processo de construção das mesmas e não uma imposição de
proposta pronta, em virtude da possibilidade de uma mudança de atitude não sustentável a longo
prazo. Souza (2002) propõem que em uma etapa de processo de gestão do ambiente, seja efetiva
participação de todos autores envolvidos para que a estratégia de ação seja consistente, pois é nela
que se define a intensidade e o alcance das medidas de controle, incentivo ou desestímulo e de
proteção e recuperação ambiental a serem concretizadas pelas próximas etapas do processo.
Portanto, na análise ambiental as partes envolvidas precisam assumir determinados direitos e
obrigações.
Dos entrevistados, 40% assinalaram como fatores positivos que o desenvolvimento do
projeto vem trazendo a drenagem de suas propriedades: recuperação da vazão e melhoria das águas
como principal contribuição. Os demais 60% optaram em não responder essa pergunta. No quadro
de apresentação das respostas manteve-se a expressão de fala utilizada pelos entrevistados para que
os mesmo possam identificar suas respostas quando esse documento se tornar publico, atende-se
assim uma reivindicação de transparência da fala proposta pelos entrevistados.
Os fatores negativos, que foram apontados por 51,11% dos entrevistados, referem-se ao fato
de não terem sido convidados para participação no diálogo de construção da proposta; falta de
conhecimento na época de colonização sobre a necessidade de preservação da vegetação em
1150
questão de percentual; perca de áreas em m² da propriedade alegando que esse fator trará prejuízo
econômico, e o envolvimento da mão de obra do proprietário, que precisam se dividir entre as
atividades da propriedade e o monitoramento da área plantada, fator que vem provocando a morte
de grande quantidade de mudas. Sendo significativo o processo de regeneração nos áreas que foram
cercadas e plantadas as mudas.
No discurso dos entrevistados, percebe-se tom de desabafo, referente aos pontos negativos
que a preocupação com a relação de produção econômica. Torna-se evidente no desabafo carregado
de aflição sobre o investimento necessário e o tempo que precisam destinar a manutenção das
mudas, se dividindo entre as atividades na propriedade e o tempo de manutenção da área
reflorestada. Essa preocupação trás a tona o desconhecimento sobre os benefícios reais que o
projeto de recuperação de matar ciliar poderá trazer a sua propriedade em médio e longo prazo
ainda estão presente.
Outro fator, que justifica a necessidade de uma proposta de gestão compartilhada, deve ao
fato de cinco anos após a implantação do projeto, 79% dos entrevistados classificarem terceiros
como beneficiados diretos da preservação e apenas 21% reconhecerem como de importância para
todos. Atribuindo ao poder público como principal responsável pela recuperação das matas ciliares
totalizando 33%, e apenas 16% dos entrevistados alegaram serem responsáveis por esse processo de
recuperação.
Ao serem questionados sobre a importância do envolvimento da população em diálogos
ambientais na área de vivência, houve manifestação da importância da informação ambiental,
classificando de forma geral como relevante, entretanto, afirmam não se sentirem motivados a
participar dessas reuniões, a não ser quando realmente são obrigados a irem e, não por interesse. A
dificuldade do envolvimento da população local é uma realidade presente em todas as experiências
de construção de Planos de Bacia — diálogos presenciados no XII Encontro de Comitê de Bacia
Hidrográficas no Rio de Janeiro, em 2008 —, fato que compromete a real compartilização dos
direitos e deveres dos usuários do recurso hídrico, bem como a busca pela amenização do problema
identificado por uma equipe técnica.

Considerações

As lacunas entre o interesse econômico e ambiental foram perceptíveisna presente pesquisa,


momento em que foi possível diagnosticar que o Código Florestal de 1965 não foi considerado no
objetivo de colonizar para não entregar, bandeira do governo federal da época. Hoje, com as novas
resoluções ambientais e forte pressão nacional e internacional sobre a relevância das águas na
Amazônia as percepções qualitativas e quantitativas sobre as águas da Rondônia se tornam presente,

1151
buscando então como medidas mitigadoras a recuperação das matas ciliares nos espaços hídricos
em que o caos esta implantado.
Entretanto os erros podem continuar se novas dinâmicas não foram implantadas como
principio de governança de compartilhar as ações e não ordena-las para que ações como a
recuperação das matas ciliares do Igarapé D´Alincuorte seja algo constante. Em busca de identificar
uma metodologia para que, a participação dos moradores nas reuniões ambientais realizada pelos
Órgãos Ambientais, Instituições de pesquisa e educacional, fosse ampliada, tendo em vista a pouca
expressividade na BHIDA, foi levantado junto com os mesmos os critérios que poderiam estimular
a mudança esse quadro. A opinião expressa pelos entrevistados evidencia o olhar críticos dos
moradores da BHIDA, momento em que propõem as seguintes alternativas: trazer informação e
planejar junto; informação preventiva; fazer com que as pessoas tornem-se comprometidas; mais
valor ao produtor rural; respeitar as condições financeiras dos proprietários; colocar pessoas que
têm experiência nazona rural no desenvolvimento dos projetos. Segundo eles essas considerações
provocariam uma integração maior nos diálogos ambientais na BHIDA entre moradores locais,
representantes governamentais e entidade civil organizada.
Ao contrário do que se poderia deduzir a população apresenta interesse em colaborar com a
mudança do cenário ambiental, entretanto se esbarra na questão econômica, na falta de informações
a respeito do quadro real da BHIDA, na identificação dos principais ações de uso e ocupação que
impactam o ambiente e o grau dessa imputabilidade na quantidade e qualidade dos recursos
hídricos.

Agradecimentos

A Secretária de Meio Ambiente do Estado de Rondônia – SEDAM, CAERD, e ao Mestrado


em Geografia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, laboratório de Geografia e
Planejamento Ambiental a qual faço parte fica o reconhecimento de que sem a parceria estabelecida
os presentes resultados não poderiam ser apresentados. As Doutoras Irene Carniatto (UNIOESTE) e
Monica Marçal(UFRJ) e Ana Strava (SIPAM) pelas inúmeras horas de trocas de conhecimento e
grande contribuição a pesquisa.

Referencias

AMARAL, Januário. Mata Virgem: terra prostituta. São Paulo: Terceira Margem, 2004.

BENITEZ, Ivo. Legislação Ambiental Federal e de Rondônia. Salvador/BH: PODIVM, 2009.

1152
BRASIL. Presidência da Republica. Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Instituiu a Política Nacional
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CARNEIRO, Neri de Paula. Educação em Rolim d Moura: das iniciativas privadas às ações
públicas (1975-1983). Dissertação de Mestrado em Educação apresentado a Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul - Centro de Ciências Humanas e Sociais. Campo Grande, 008. No prelo.
(cd).

CARNIATTO, Irene. Subsídios para um Processo de Gestão de Recursos Hídricos e Educação


Ambiental nas Sub-Bacias Xaxim e Santa Rosa, Bacia Hidrográfica Paraná III. Tese de
Doutoradoem Ciências Florestais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Setor de
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná, defendida em 2007. Disponibilizado pela
autora via online em 4/08/2009.

FLORENZANO, Tereza Gallotti. Imagens de Satélite para Estudos Ambientais. São Paulo: Oficina
de Textos, 2002.

GUERRA, Antonio Jose Teixeira e MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio
de Janeiro, Bertrand Brasil, 2006.

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Climatológico de Rondônia, ano 2004. SEDAM, Porto Velho, 2005. Disponível em
www.sedam.ro.gov.br. Acessado 17/03/2010.

SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho/RO. EDUFRO. 2001.

SEDAN/UNIR. DIAGNÓSTICO SÓCIO-AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO


IGARAPÉ D‟ALINCOURT. Relatório de Campo, 2005 e 2008.

SILVA, Maria das Graças S. N. O Espaço Ribeirinho. Porto Velho: Terceira Margem, 2003.

SIPAM. Sistema de Proteção da Amazônia Centro Técnico e Operacional de Porto Velho


coordenação de operações integradas divisão de meteorologia e climatologia. Diagnóstico
Climático para o Município de Rolim de Moura. Porto Velho, 2006.

1153
A CIDADE INDUSTRIAL SÃO BENTO DO SUL:
TOPOGRAFIA, IMIGRAÇÃO, COLONIZAÇÃO, ACESSOS, E ARRUAMENTO

Oto Roberto BORMANN129


Arlindo COSTA130
Resumo

A cidade de São Bento do Sul apresenta diversas características importantes, desde a colonização
com planejamento de lotes rurais e urbanos, industrialização diversificada, forte investimento em
música atividades folclóricas. Apresenta desafios relativos a rede viária urbana em função da
topografia muito irregular, outro grande desafio, que não é exclusivo de São Bento do Sul, são os
acessos, tanto pela Rodovia BR280 quando pela Rodovia SC- 301, assim como pela Rodovia
estadual que lhe liga a BR116, com uma grande profusão de curvas, subidas e descidas, que
aumentam em muito o tempo de deslocamento e a distância a percorrer.

Palavras-chave: São Bento do Sul; topografia; colonização; planejamento.

Abstract

The city of São Bento do Sul has several important features, from colonization with lots of planning
urban and rural industrialization diversified, strong investment activities in folk music. It presents
challenges related to urban road network due to the very irregular topography, another major
challenge, which is not unique to São Bento do Sul, are hits, both by highway BR280 highway
when the SC-301, as well as the state highway which BR116 connects with a wealth of curves,
climbs and descents, which greatly increase the travel time and the distance traveled.

Keywords: São Bento do Sul; topography; colonization; planning.

Introdução

Neste breve estudo, fortemente influenciado pela multidisciplinaridade da Escola Alemã,


temperado por sua vez com o pragmatismo da Escola Anglo-Saxônica americana,a intenção é poder
apresentar um resumido detalhe da interessante cidade de São Bento do Sul, desde sua colonização
até os dias atuais. A abordagem está baseada nos conceitos apresentados na obra Imagens da Cidade

129
Doutorando em Geografia e Meio Ambiente - UFPR
130
Aluno Especial do Geografia e Meio Ambiente - UFPR

1154
de Kevin Lynch, de como se a vê e vive. Igualmente, não há aqui qualquer intenção implícita ou
explícita de se tecer juízos de valor, apenas apresentar a cidade que cordialmente acolhe quem a
visita e também quem nela trabalha e, lhe quer o progresso mantendo a qualidade vida que todas
merecem ter.

O Enfoque

Espera-se que uma cidade para ser moderna ou comportar as condições de moderna tenha,
ainda que em menor escala as facilidades encontradiças nas cidades globais.
Com este preâmbulo reportar-se-á à obra Teorias da Cidade (FREITAG 2008), onde entre
muitas constatações encontra-se na página 154, a seguinte e seminal observação:
As cidades globais são sítios fundamentais para os meios modernos de serviços e
telecomunicações, necessárias para efetivar a gestão das operações econômicas
globais. Elas também tendem a concentrar as sedes de firmas, especialmente firmas
que operam em mais de um país (cf. SASSEN 1994, p. 19).

Como o mundo dos negócios é globalizado (talvez já fosse há muito) tempo e,


apenas se criou um neologismo para uma realidade já vivida há muito tempo, há uma clara
tendência atual de se esperar que também as pequenas e médias cidades tenham se não todas as
facilidades apontadas por Sassen na obra acima referida, possuam pelo menos as mais prementes no
mundo atual, tais como acessos modernos, seja por rodovia ou ferrovia, que o traçado urbano
ofereça facilidade de locomoção e, que serviços e telecomunicações, segurança pública e saúde
estejam no que oferecem, à altura ou próximos dos das cidades ditas globais.
Em tal cenário geográfico-econômico e cultural far-se-á um breve exercício sobre as
condições na cidade de São Bento do Sul, com alguns detalhes de sua colonização, relevo, clima,
etnias e situação atual.

Figura 01: Localização geográfica de São Bento Sul


Localização: latitude 26º15'01" sul, longitude 49º22'43" oeste e altitude de 838,39
Fonte: maps.google.com.br

1155
Colonização

Segundo o site da Prefeitura Municipal de São Bento do Sul,

No século retrasado, a Cia. Colonizadora com sede em Hamburgo, mesmo


não mais possuindo terras na região da, então, Colônia Dona Francisca (hoje
Joinville), continuava a embarcar colonos para a região.O número de alojados no
rancho da Companhia aqui no Brasil aumentava sem que houvesse terras para eles.
Em 1873, um pequeno grupo de homens subiu a Serra Geral a pé em direção ao
planalto, com mantimentos e ferramentas no lombo de mulas. Após dois dias de
caminhada, chegaram às margens do Riacho São Bento. Ali construíram o primeiro
rancho e de lá partiram para abrir os primeiros caminhos na mata, sempre ao longo
do riacho São Bento.

Pelo resumo histórico acima infere-se que,já na época da colonização da região da antiga
Colônia Dona Francisca havia problemas quanto ao domínio ou posse da terra (que em princípio é
ou deveria ser do Estado Brasileiro, de direito e de fato, fazendo-se observar os instrumentos legais
existentes por seus subordinados nos locais onde estivesse ocorrendo uma colonização para
povoamento e desenvolvimento do território).
Uma colonização (evita-se neste breve estudo o termo ocupação, devido ao seu emprego por
movimentos sociais, também à procura de terras, mas nem sempre com a disposição de criar
realmente uma colônia, depois uma vila, uma cidade, e assim por diante, mas salvo melhor juízo,
mais empenhados em tomar posse na forma de esbulho, ao invés de enfrentar as agruras, e a
odisséia que foi a colonização de muitas regiões brasileiras). No presente caso com foco em São
Bento do Sul, dá-se com pessoas, especificamente famílias, que transportam o pouco que têm de
material, mas muita disposição para o trabalho e progresso.
Isto posto, é de bom alvitre permitir um vislumbre, ainda que breve e, sem nenhuma
pretensão de ser exaustivo nem preconceituoso ou definitivo, dos grupos étnicos que colonizaram
São Bento do Sul, dado que, cada um deles trouxe sua língua natal, sua cultura, religião, usos e
costumes.Os primeiros colonos, imigrantes, migrantes e habitantes.
Do mesmo portal da Prefeitura Municipal de São Bento do Sul tem-se a seguinte informação
histórica:
Da Áustria, Bavária, Prússia, Polônia, Saxônia, Tchecoslováquia e mesmo
do Brasil vinham os primeiros habitantes. Enfrentaram uma realidade dura: mata
virgem, floresta densa, povoada por inúmeros animais e pássaros. Foi preciso muita
coragem e vontade de trabalhar para construir aqui uma réplica, ao menos parecida
com a pátria que deixaram.Trouxeram sua história, usos e costumes, lembranças,

1156
religião, língua e saudade. Cultivavam os campos e a cultura era expressa na
música, literatura, no teatro. Um misto de lembrança e determinação de vencer
compensava as imensas dificuldades.

Vieram para explorar a nova terra, e construir sua nova pátria e, não apenas esbulhar.
Puseram-se a trabalhar com o que sabiam, empenhando-seem aprender com a situação diária o que
poderiam fazer.
Deve-se ter em mente que, a Geografia e a topografia e clima eram totalmente
diferentesdaquelasde seus vários países ou estados de origem, o mesmo se dando com a
alimentação. Era uma situação totalmente diversa da de ir a um passeio turístico ou a um safári, pois
se está com família, composta de bebês, crianças, moças, rapazes, senhoras e senhores idosos que
também necessitavam atendimento que em nenhuma circunstância era similar a encontradiça em
seus lugares de origem, tendo-se que se defender de alguma forma.
Logo, precisavam construir suas habitações e, também, os galpões para os animais (é
importante observar que a cultura de construções de casas para abrigar os animais, cultura e estilo
esses trazidos principalmente pelos vindos do Império Germânico e/ou de sua influência, ainda se
mantém nos distritos de Pirabeiraba (Joinville/Santa Catarina), visíveis facilmente da BR101.
(Para as construções tiveram que aprender a trabalhar com a esplêndida madeira nativa v.g.,
pinheiro (Araucaria angustifolia), cedro (Cedrela odoratta), imbuia (Ocotea porosa) esta última
com troncos cujo diâmetro costumava passar de 3,0 m), além de outras como o sassafrás (de odor
muito agradável).

Figura 02: árvores nobres da região


Fotos (fonte: www.itsnature.org/plant/_) da esquerda para a direita: imbuia, cedro rosa, sassafrás)

1157
Figura 03: Pinheiros do Paraná e de Santa Catarina
Fonte: www.guiageo-parana.com.br/araucariária.htm

Consultando-se novamente o Portal da Prefeitura de São Bento do Sul no que concerne ao


seu desenvolvimento, aprende-se que a Madeira foi um importante, talvez o mais importante
vetordo desenvolvimento e, que seu corte também propiciou o plantio da lavoura de subsistência,
modalidade comum em todo o Planalto Norte Catarinense e Sul Paranaense.

Colonia Agrícola de São Bento

Consultando a história de São Bento do Sul, (PEREYRA, 2006)131, tem-se alguns fatos(não
todos) de importância para se visualizar a imagem atual da cidade, pois ela foi construída a partir do
que se planejou no alvorecer de sua colonização, quando já houve uma preocupação de se evitar
tortuosidade maior do que a imposta pela topografia irregular, assim como, eventuais desavenças
sobre limites das propriedades.
Reportando-se á importante obra de Pereya, encontra-se na página 29 o seguinte:

No dia 23 de setembro (nota: é feriado Municipal ), os colonos


formalmente receberam os primeiros quatro lotes na nova ColôniaAgrícola. No dia
seguinte iniciaram-se as derrubadas das árvores e demarcação dos lotes,localizadas
entreduas picadas: a picada Murinelli (que leva o nome do engenheiro topográfico
que a construiu, que mais tarde seria parte integrante da estrada dona Francisca) e a
picada Wunderwald-nome também originário do engenheiro que a construiu.

131
PEREYRA, Rubén Benedicto. Arquitetura e desenvolvimento urbano de São Bento do Sul.Prefeitura Municipal,
fundação cultural de São Bento do Sul, 2006.

1158
Nos dias atuais a picada Wunderwald é a Rua Augusto Wunderwald, com intenso trânsito,
rica em curvas, subidas e descidas, constituindo-se na principal artéria de ligação entre bairros,
assim como, uma das saídas para Joinville e Corupá, servindo ainda como marginal à BR 301 –
Dona Francisca, como mostra o mapa a seguir.

Figura 04 Mapa de São Bento – Rua Augusto Wunderwald X BR301

Detalhes Ilustrativos do Espírito Organizador na Fundação da Colônia São Bento

É fato conhecido que, a organização de uma colônia, vila, cidade ou região de fazendas ou
reservas florestais, quer públicas ou privadas, para ter funcionamento pacífico e progredir, está
embasada em alguns fatores cruciais, entre ele, a definição de propriedades e suas incontroversas
delimitações.
Neste sentido, a Colônia São Bento procurou se estabelecer dentro de ditames e práticas
legais para delimitar e garantir a propriedade e, que nela os colonos estabelecidos trabalhassem e
progredissem, o que garantiria o progresso da dita também.
É, salvo melhor juízo, importante ter em mente, alguns pontos fundamentais do Estado
Moderno e Liberal, eventualmente diverso de algumas ideologias, no que concerne aos referenciais
de liberdade e progresso. Neste sentido, passar-se-á a citar dois autores clássicos sobre o assunto em
epígrafe, não se pretende com isso ser exaustivo nem polêmico:
1. John Locke132: Totalmente avesso ao absolutismo, propõe a idéia de que é preciso
garantir a existência de um governo ou estado que garanta a liberdade e a preservação da
propriedade, direitos naturais do homem. ...
133
BASTIAT, Frèdèric :

132
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. SãoPaulo: Martin Claret, 2000.
133
BASTIAT, Claude Frèdèric. A Lei. Instituto Liberal 1991, Rio de Janeiro, ISBN 85-85054-21-2

1159
O homem não pode viver e desfrutar a vida, a não ser pela assimilação e
apropriação perpétua, isto é, por meio da incessante aplicação de suas faculdades às
coisas, por meio do trabalho. Daí emana a propriedade. Por outro lado, o
homem pode também viver e desfrutar a vida, assimilando e apropriando-se do
produto das faculdades de seus semelhantes. Daí a espoliação.Ora, sendo o trabalho
em si mesmo um sacrifício, e sendo o homem naturalmente levado a evitar os
sacrifícios, segue-se daí que – e a história bem o prova – sempre que a espoliação
se apresentar como mais fácil que o trabalho, ela prevalece. Ela prevalece sem que
nem mesmo a religião ou a moral possam, neste caso, impedi-la. ...

Isto posto e lembrando, pode-se contra-argumentar que dificilmente ou só eventualmente os


colonizadores da Colônia São Bento fossem dotados de tais finezas culturais ou filosóficas,
conduziram dentro do viável, seus trabalhos no sentido de ter proprietários regulares e produtivos. É
também de se aventar a hipótese de que coerção para a observação da lei (Law enforcement –
inglês), em virtude das enormes dimensões do Brasil, não pudesse ser muito eficaz, ipso facto
tomaram-se as medidas preventivas e éticas possíveis para, se não evitar, pelo menos minimizar
conflitos de terra e/ou propriedade.
Alguns exemplos deste tipo de preocupação, legítima e ética, são ilustrados nas figuras a
seguir, com os mapas históricos dos primeiros planejamentos na Colônia São Bento, segundo a obra
já citada, de Pereyra:

Figura 05: Distribuição dos primeiros lotes em 1873

Segundo Pereyra (citado) cada lote tinha 30 hectares, com aproximadamente 200m de
frente. Pode-se eventualmente objetar que tais medidas não eram exatas, em virtude da topografia
extremamente acidentada e, dos parcos recursos técnicos para se efetuar tais medições com a
precisão hodierna, o que no caso em apreço não compromete o resultado, tendo-se evitado até onde
possível, o uso e costume demarcações do gênero até onde a vista alcança.

1160
Figura 06: Esquema urbano 1873 – Distribuição dos primeiros lotes urbanos

Figura 07: Distribuição dos lotes coloniais em 1874

(Os mapas foram impressos em tamanho grande para permitir a visualização de detalhes,
dado que esta é uma de suas importantes funções).

1161
Figura08: Plano geral dos lotes distribuídos até 1879

Ainda segundo Pereyra, dos anos de 1874 até 1879, foram demarcadas novas áreas para a
colonização e, houve a distribuição de lotes como forma de pagamento na região, como forma de
pagamento pelos trabalhos deles na delimitação da Estrada Dona Francisca e, por conhecerem
muito bem a região, o que demonstra o caráter ético de quem o fez.

A Madeira, Passado, Presente e Futuro?

São Bento do Sul descobriu na transformação da madeira sua vocação. No


início a madeira da floresta moldou ranchos, cercas e vendas. Antes das indústrias
vieram as serrarias, carpintarias, tanoarias, tamancarias e marcenarias. As rodas
d'água e tração animal moviam serras, moinhos, furadeiras e tupias. Da imbuía, do
pinheiro e da canela eram produzidos móveis, cabos de ferramentas, equipamentos
para agricultura e carroças. Da iniciativa do pequeno agricultor em montar sua
fábrica artesanal, São Bento do Sul começou a delinear seu futuro. Hoje, com 134
anos de fundação, o município é a Capital Nacional dos Móveis e se destaca nos
setores cerâmico, plástico, metalúrgico, fiação e tecelagem. (Fonte: Portal da
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BENTO DO SUL)

O extrativismo da erva mate e da madeira, e a agricultura de subsistência acompanharam a


colonização. Por mais simples que fosse a vida, necessitavam os colonos de vias de transporte,
inicialmente carreiros para andar a pé e a cavalo, posteriormente alargados para transitar com
carroças ou carroções. Estas vias de transporte, em função da Topografia da região chamada de
Planalto Norte Catarinense e, que é gêmea do Planalto Sul Paranaense, apresentou e continua
apresentando desafios de grandes proporções para a construção de vias (estradas, ruas, avenidas,
1162
etc.), sendo quase inviável a sua construção com uma trajetória que se aproxime de linhas retas,
condicionando a uma configuração tortuosa, apresentadora de dificuldades de se ler a cidade , o
mesmo se dando com todos os acessos rodoviários, ricos em intermináveis curvas em três
dimensões.
Tal observação é importante, dado que, se espera em tempos modernos e globalizados um
traçado tanto interestadual, intermunicipal e urbano que tenda ao regular e não em circunvoluções
geradoras de desperdício de tempo (o tempo é um recurso finito, restrito, não renovável e sem
substituto – Oto R. Bormann), além de aumentar o consumo de combustível e o desgaste dos
veículos. Pode-se inferir que haja maior desgaste no sistema de locomoção do corpo humano em
terrenos muito acidentados, tornando as caminhadas menos interessantes.
A seguir, alguns recortes de bairros de São Bento do Sul, mostrando outra característica
local que são as ruelas do tipo servidão de passagem, mais encontradiças em cidades de colonização
lusitana.

FONTE: GOOGLE MAPAS

Figura 09 Arruamento de parte de São Bento do Sul

Positivamente não se consegue observar nos mapas de recortes de São Bento do Sul a
topografia íngreme.São Bento do Sul pela sua topografia remete o visitante ou morador a uma
sensação ambiental próxima a dos Alpes Suíços e Austríacos. Neste sentido, em se reportando às
observações de Lynch (1997), e tendo em mente a colonização haveria de se ter uma expectativa de
arquitetura que remetesse o visitante àquela que lembrasse as origens, o que é perceptível, sendo
que é, não há uma predominância ou onipresença de arquitetura do tipo saxã ou eslava ou lusitana,
havendo alguns exemplares da germânica/saxã/bávara e a predominância é de arquitetura atual,
simbiose comosoe o padrão brasileiro, o que se pode ver na imagens a seguir.

1163
Fotos São Bento do Sul – fonte: www.ferias.tur.br/sao-bento-do-sul-sc

Figura 10: Brasão de São Bento do Sul, e Prefeitura Municipal (Centro)

Figura 11: Arquivo Histórico e Igreja Matriz

1164
Figura 12: Foto da esquerda: Prédio de dois pavimentos na esquina à esquerda: Secretaria Municipal de
Turismo e foto da direita: Praça Getúlio Vargas com Coreto ao fundo

Figura 13: Calçadão e Igreja Luterana

Conclusão

São Bento do Sul tem por base uma cultura de trabalho, forte empenho em música e
folklore, trazida pelos seus imigrantes e migrantes, convivente pacificamente com várias etnias, que
de uma ou outra forma deixaram e continuam deixando suas marcas.
Devido a sua irregular topografia, propicia grandes desafios técnico-ambientais no
concernente ao planejamento e execução de vias terrestres que facilitem a circulação veicular de
pequeno porte e acentuadamente a de grande porte, incluindo o transporte coletivo.
Tem paisagem bonita, é agradável, além do frio invernal e a umidade, que, no entanto são
características em função de sua latitude e altitude, além da relativa proximidade com o mar.

Referências

BASTIAT, Claude Frèdèric. A Lei. Instituto Liberal 1991, Rio de Janeiro, ISBN 85-85054-21-2

COSTA, Arlindo. Metodologia Científica. Mafra: Nosde, 2006.

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Martin Claret, 2000.

KEVIN LYNCH. A Imagem das Cidades. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

PEREYRA, Rubén Benedicto. Arquitetura e Desenvolvimento Urbano de São Bento do Sul.


Prefeitura Municipal, Fundação Cultural de São Bento do Sul, 2006.
1165
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO NO
ESTADO DA PARAÍBA134

Rachel de Souza MELO


rachelmelo2@hotmail.com

Ione Macena da SILVA


ionemacena@yahoo.com.br

Catarina de Medeiros BANDEIRA


catmbio@hotmail.com

Cláudia Bene Batista da SILVA


claudia-bene25@hotmail.com

Resumo

Os objetivos deste trabalho foram promover a discussão e a construção da temática


ambiental, de forma coletiva e interdisciplinar, e levantar o perfil ambiental das escolas e dos
professores. Este foi conduzido em escolas de ensino fundamental e médio, sendo duas localizadas
nos municípios de Solânea e Bananeiras e uma em Massaranduba, no estado da Paraíba, com a
participação de 20 educadores, quatro em cada escola. Foram desenvolvidas a metodologia
participativa, com ações educativas e a participação em reuniões de planejamento pedagógico e
eventos. Além disso, foi realizado um levantamento, por meio de diálogos e da aplicação de
questionários semi estruturados, do perfil ambiental das escolas e do trabalho de educação
ambiental desenvolvidos pelos professores. Todos os profissionais pesquisados possuem formação
acadêmica de nível superior. De acordo com os perfis ambientais das escolas avaliadas, todas as
variáveis relativas ao trabalho de educação ambiental tiveram resultados acima de 60%, entretanto,
apenas 20% das escolas possuem áreas arborizadas. Dos educadores pesquisados, respectivamente,
59,5; 100 e 87,5% desenvolvem projetos ou atividades, percebem o interesse dos alunos e a
participação da escola no processo de ensino e aprendizagem ligados à educação ambiental. Porém,
os projetos são restritos ao ambiente escolar e com temas comuns como poluição, queimadas,
desmatamento, aquecimento global, preservação ambiental, coleta seletiva, reciclagem, arborização

134
Pesquisa de extensão que está sendo desenvolvida em cidades do estado da Paraíba, coordenada pela Profª. Rachel de Souza
Melo. Conta com apoio financeiro do Programa de Bolsas de Extensão – PROBEX - UFPB

1166
urbana, erosão e tratamento de água e do esgoto. Verificou-se que a direção e professores
mostraram-se acessíveis e interessados nos trabalhos e palestras oferecidas com a temática
estudada, no qual se pode constatar participação coletiva e integrada. No entanto, podemos perceber
que, utilizar efetivamente à educação ambiental, em sua essência politicamente atuante,
ecologicamente correta e socialmente crítica, como se faz solícito, está além dos muros das nossas
escolas. É necessário abrir os olhos para essa visão sistêmica e holística da realidade
socioambiental, inserida na educação.

Palavras-chave: Meio ambiente, escola pública, interdisciplinaridade.

Abstract

The objectives of this work went to promote the discussion and the construction of the
environmental theme, in a collective and interdisciplinary way, and to lift the environmental profile
of the schools and of the teachers. This work was accomplished at High School and junior high
school, being two located in the Solânea and Bananeira cities and one in Massaranduba city, in the
state of Paraíba, with the 20 theachers participation, four in each school. The dynamic methods
were developed, with educational actions and the participation in meetings of pedagogic planning
and events. Besides, a rising was accomplished, through dialogues and of the application of
questionnaires structured semi, of the environmental profile of the schools and of the work of
environmental education developed by the teachers. All the researched professionals made
university. In agreement with the environmental profiles of the appraised schools, all the variables
to the work of environmental education had results above 60%, however, only 20% of the schools
possess vegetation areas. Of the researched teachers, respectively, 59.5, 100 and 87.5% develop
environmental projects or activities, they notice the student‘s interest and the participation of the
school in the teaching process and learning called to the environmental education. However, the
projects are restricted to the school and with common themes as pollution, burning, deforestation,
global heating, environmental preservation, collects selective, recycling, urban forestation, erosion
and treatment of water and of the sewer. It was verified that the school director and teachers were
shown accessible and interested parties in the works and lectures offered with the work, we verified
collective participation and integrated. However, we can notice that, to use indeed to the
environmental education, in it essence politically active, ecologically correct and socially critic, it is
besides the walls of our schools. It is necessary to open the eyes for that systemic and holism vision
of the reality social environmental, inserted in the education.

Wordkey: Environment, interdisciplinary, public school

1167
Introdução

Para a abordagem sócio-histórica, conforme Ozellam (2003), a adolescência é compreendida


como um processo construído dentro de um contexto histórico e social e que tem um significado
cultural. Definir o que se entende por juventude ou adolescência a faz importante, uma vez que seu
significado irá determinar as ações políticas, pessoais, sociais e profissionais empreendidas em
relação a ela. Assim, concordando com Ozella (2003), entende-se que superar a visão naturalizante
desta fase da vida humana e compreendê-la como uma construção social, é colocar o jovem numa
posição ativa, como um parceiro propiciador de mudanças positivas para a sociedade, sendo este um
dos objetivos deste trabalho.
Nesta direção, é importante destacar a função social do educador: ser agente de
transformação. Como afirmam Serrão e Baleeiro (1999), este profissional irá auxiliar na
organização dos desejos e necessidades da população com a qual trabalha, utilizando diversas
metodologias e instrumentos para tal intento. Uma dessas possibilidades é o trabalho com grupos.
Uma vez que a vivência em grupo permite ao facilitador propiciar um espaço de desenvolvimento
pessoal e social para as crianças e jovens, fomentando a tomada de iniciativa e a conscientização
ambiental e de cidadania, na medida em que constroem reflexões e aprendizagens. Conforme as
autoras citadas:
―A educação é uma chave. Chave que abre a possibilidade de se
transformar o homem anônimo, sem rosto, naquele que sabe que pode
escolher que é sujeito participante de sua reflexão, da reflexão do mundo e
da sua própria história, assumindo a responsabilidade de seus atos e das
mudanças que fizer acontecer. Esta chave nos permite modificar a
realidade, alterando o seu rumo, provocando as rupturas necessárias e
aglutinando as forças que garantem a sustentação de espaços onde o novo
seja buscado, construído e refletido‖ (p.23).

Com os conteúdos ambientais permeando todas as disciplinas do currículo e


contextualizados com a realidade da comunidade, a escola deve ajudar ao aluno a perceber a
correlação dos fatores e a ter uma visão holística. Para isso, a Educação Ambiental deve ser
abordada de forma transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão
ambiental de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades
escolares. Porém, nem sempre esses temas são abordados em sala de aula. Por isso, a participação
de pessoas integradas em diferentes áreas do conhecimento na abordagem de temáticas ambientais é
de grande importância na construção do conhecimento e da conscientização ambiental.

1168
A abordagem do tema transversal ―meio ambiente‖ requer abordagens e metodologias
didáticas integradas, transdisciplinares, coletivas e transformadoras que propiciem a reflexão, a
conscientização e a tomada de iniciativa diante das situações cotidianas e do contexto educacional.
As problemáticas ambientais estão se tornando mais evidentes e a sociedade tem
demonstrado que o nível de informações relacionado à temática ambiental é inversamente
proporcional ao interesse na busca por estas informações e por ações mais efetivas na resolução
desses problemas. Por isso, surge a motivação em desenvolver abordagens de Educação Ambiental
em escolas públicas dos ensinos fundamental e médio, na tentativa de associar diversas disciplinas a
ações extensionistas, mostrando assim a indissociabilidade entre ensino, considerando, assim, a
necessidade de reconhecer o (a) jovem como protagonista e agente de mudanças.
A Educação Ambiental (EA) se destaca por ser um processo participativo de ação
interdisciplinar e integrada, onde professores e alunos podem atuar de forma conjunta durante o
processo de ensino e aprendizagem, sendo agentes multiplicadores e atuantes em todo o processo.
Em 2000, Minini relatou que a EA é um processo que consiste em propiciar às pessoas uma
compreensão crítica e global do meio ambiente para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes
permitam adotar uma posição consciente e participativa, a respeito das questões relacionadas com a
conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a
eliminação da pobreza e do consumismo exacerbados.
Estamos vivendo em uma época em que prevalece a cultura consumista e, mesmo que
muitos tenham consciência a respeito dos problemas ambientais vigentes, está cada vez mais rara a
tomada de decisões para colocar em exercício as práticas sustentáveis a fim de melhorar a qualidade
de vida e do meio ambiente. O aumento desenfreado do consumo gera a cada dia milhares de
toneladas de resíduos que irão parar nos lixões virando apenas entulho, gerando a degradação da
qualidade ambiental, como a produção do chorume, que polui o solo e os lençóis freáticos. Com
tantos problemas ambientais ocasionados pelo ser humano, surge como meio de mitigá-los a
educação ambiental.
A EA como eixo transversal e de natureza interdisciplinar no projeto político-pedagógico
pode contribuir para que se contemplem ações coletivas que resultarão na elaboração de uma
proposta partilhada entre diferentes disciplinas escolares. A ação pedagógica através da
interdisciplinaridade propicia a construção de uma escola participativa e decisiva na formação
social do indivíduo, bem como uma prática coletiva e solidária na organização da escola.
Portanto, neste trabalho objetivou-se realizar um levantamento dos perfis ambientais de
escolas públicas e de seus educadores, além de promover, de forma coletiva e interdisciplinar,
oportunidades para reflexão, compreensão, discussão e ações quanto às questões relacionadas à

1169
temática ambiental em escolas de ensino fundamental e médio localizadas nas cidades de
Bananeiras, Solânea e Massaranduba, no estado da Paraíba.

Procedimentos Metodológicos

O presente trabalho teve a colaboração do ―Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agroecologia


no Território da Borborema‖ e da ―Comissão do Meio Ambiente (CCHSA/UFPB)‖. Foi conduzido
em cinco escolas de ensino fundamental e médio, sendo duas localizadas no município de Solânea,
duas no município de Bananeiras e uma no município de Massaranduba, no Estado da Paraíba, com
um universo amostral de 20 educadores, quatro em cada escola. Foi empregada a metodologia
participativa, com ações educativas e participação em reuniões de planejamento pedagógico e
eventos ligados à temática ambiental nas escolas envolvidas no projeto, com a realização de
exposição de produtos confeccionados pelos alunos.
Na tabela abaixo estão descritas a caracterização das escolas pesquisadas e o perfil
profissional das diretoras das escolas, bem como a quantidade de educadores e alunos presentes no
ambiente escolar (Tabela 1).

Cidade Escola Formação Nº de Nº de


alunos educadores
Bananeiras 1 Licenciatura em História 761 _____
2 Bacharelado em Pedagogia 58 3
Solânea 3 Licenciatura Plena 300 13
4 Licenciatura Plena em Pedagogia- 722 31
Habilitada em Administração Escolar
Massaranduba 5 Psicologia Educacional / 920 36
Psicopedagoga
Tabela 1: Caracterização das escolas pesquisadas e perfil profissional do (a) diretor (a) da escola, 2011/2012.

Na tabela 2 está descrita o perfil profissional dos educadores pesquisados.

Tempo em que Disciplinas


Cidade Professor Formação acadêmica
leciona (anos) que leciona

Bananeiras

Licenciatura em Ciências
1 27 Várias*
Agrárias

2 Licenciatura em História 8 História


(Especialização em História do
1170
Brasil)

Licenciatura em Matemática e
3 11 Matemática
Geografia

4 Licenciatura em Matemática 8 Matemática

5 Bacharelado em Pedagogia 4 Várias

6 Bacharelado em Pedagogia 23 Várias

7 Bacharelado em Pedagogia 28 Várias

Solânea Várias

Bacharelado em Pedagogia
1 (Especialização em Supervisão 15 Várias
Escolar)

Bacharelado em Pedagogia
2 (Especialização em Pedagogia - 12 Várias
Psicopedagogia)

Especialização em Língua,
3 15 Várias
Linguagem e Ensino

4 Licenciatura Plena em Letras 12 Várias

5 Licenciatura Plena em História 28 Várias

Licenciatura Plena em História


6 (Especialização em Educação 24 Várias
Básica)

Licenciatura em História
7 (Especialização em Educação 27 Várias
Básica)

8 Bacharelado em Pedagogia 5 Várias

Massaranduba

1 Licenciatura Plena em Biologia 3 Biologia

2 Especialização em Linguística 3 Português

Licenciatura em Geografia
3 (Especialização em Gestão e 12 Geografia
Análise Ambiental)

4 Licenciatura em Química 1 Química

* Turmas polivalentes
Tabela 2: Caracterização do perfil dos educadores que lecionam nas escolas estudadas, 2011/2012.

1171
Para melhor detectar a problemática, as expectativas e as características dos diferentes
grupos trabalhados, no que concerne à educação ambiental, realizou-se uma pesquisa exploratória,
através de diálogos e da aplicação de questionários semi estruturados junto à direção, para realizar
um levantamento do perfil ambiental da escola, e aos educadores ligados à educação dessas crianças
e jovens.
A coleta de dados e as análises das respostas foram realizadas conforme as chamadas
abordagens quanti-qualitativas citadas por Freitas e Janissek, (2000). Os dados foram agrupados em
categorias, recebendo um tratamento quanti/qualitativo, dependendo da natureza da pergunta, a fim
de evidenciar os resultados relativos aos objetivos da pesquisa, inclusive, com citação de trechos
das respostas dos educadores. Quanto às respostas objetivas presentes no questionário definiram-se
por indicadores de quantidade. Os resultados das questões quantitativas foram agrupados de acordo
com a natureza das perguntas e a sequência lógica dos assuntos a fim de facilitar a compreensão do
leitor.
Dentre os vários problemas e expectativas detectados, priorizou-se por desenvolver
atividades focalizando assuntos apontados em nossa pesquisa, tendo como temas centrais: Meio
ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental. Foram realizados encontros
quinzenais, no período do ano letivo do ano de 2011 e 2012, com grupos de crianças e jovens. Em
nossos encontros, utilizou-se como instrumentos e técnicas de trabalho: Vivências e dinâmicas de
grupos, vídeos, apresentações na forma de palestra de temas ambientais com profissionais
qualificados e confecção de brinquedos e produtos com a reutilização de resíduos sólidos.
Foram realizadas palestras com convidados de diferentes áreas do conhecimento, com os
seguintes temas: ―As atividades humanas e o meio ambiente: Qual é o nosso papel?‖; ―Qualidade
alimentar e a Agroecologia: Valorização dos saberes polulares‖; ―Os três R‘s: Reciclar, Reduzir e
Reutilizar‖; e "Água: Fonte da vida".
Além disso, foram desenvolvidas oficinas para dinamizar o aprendizado dos alunos, onde
foram abordados os temas ―Confecção de material didático com resíduos sólidos reutilizados‖,
―Transformando lixo em arte‖ e ―Agricultura sustentável‖, esta última com o propósito de ensinar a
produzir compostagem e biofertilizantes. Posteriormente pretende-se realizar nas escolas incluídas
no projeto uma oficina cujo tema será: ―As abordagens da Educação Ambiental na escola:
Planejamento e aplicação prática‖, que propiciará a continuidade das atividades.
Dentre as atividades desenvolvidas destaca-se a Campanha ―Adote uma Muda‖. Mudas de
plantas nativas e de hortaliças foram disponibilizadas pelo Setor de Agricultura do Centro de
Ciências Humanas Sociais e Agrárias da UFPB e doadas para escolas de ensino fundamental para
compor e tornar mais verde o ambiente escolar, com plantio e cuidados realizados pelos próprios

1172
alunos. Essa atividade visou desenvolver ainda mais a conscientização ambiental, a qualidade de
vida no ambiente escolar e o ensino da forma correta de plantar e manejar plantas.

Análises dos resultados

Durante o desenvolvimento das atividades do projeto foram aplicados questionários semi


estruturados à Direção de cada escola pesquisada, possibilitando o levantamento do perfil
profissional do (a) diretor (a) e do perfil ambiental da mesma. Um fator de interesse observado é
que todos os diretores são do sexo feminino.
Dentre as perguntas subjetivas, algumas incluíam conhecimentos básicos em relação ao
meio ambiente, à Educação Ambiental e ao conceito de interdisciplinaridade.
Na pergunta relacionada ao conceito de meio ambiente e sua relação com a educação as
diretoras responderam que: ―... a educação no ensino formal é comprometida com a construção da
cidadania, conscientizando o homem a perceber-se integrante e agente transformador do ambiente
em que se vive‖; ―... um povo educado é um povo que certamente cuidará do meio em que vive‖; ―É
muito importante em nosso meio educacional que cuidemos do nosso meio ambiente, protegendo o
local onde vivemos‖; ―... a educação é o maior veículo de sensibilização na importância de
preservação e cuidado com o meio ambiente‖; e ―Estamos num mundo onde precisamos respirar ar
puro e precisamos aprender‖.
Os educadores, diante do mesmo questionamento, responderam que: ―A relação de ambos
são de reciprocidade, a educação fornece subsídios que possibilite reconhecer no meio ambiente os
problemas e soluções que nos cerca‖; ―Uma relação de dependência, pois se o homem não foi
educado para preservar o meio em que vive, por consequência ele o destruirá‖; ―... O homem para
que possa satisfazer seus desejos e necessidade tem que ser um cidadão consciente e a escola
também tem o papel de fazer com que os alunos sejam conscientes para que haja a possibilidade de
mudança e melhoria de seu ambiente total‖; e ―Todas as disciplinas podem fazer relação de seus
conteúdos com o meio ambiente ... despertando o interesse pela questão ambiental‖. O que
demonstra a concepção de interação e interdependência entre o tema meio ambiente e o papel da
escola nesta conjectura, sendo também identificado a concepção de interdisciplinaridade neste
processo.
Em relação ao questionamento sobre o que é Educação Ambiental, as diretoras responderam
que: ―... a educação ambiental não se refere apenas ao entorno físico do ambiente, mas também os
aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos inter-relacionados‖; ―Trata-se da educação da
sociedade de forma que convivam com o ambiente em harmonia, conservando-o‖; ―... trata-se do
meio em que vivemos‖; ―... educar para o ambiente; rever erros no meio inserido quanto o

1173
equilíbrio da fauna e flora; buscar oportunidades e soluções para uma vida melhor e mais saudável‖;
―Um lugar onde todos trabalham para o bem estar de todos os seres vivos, preservação de tudo que
temos‖. Percebe-se que a concepção de Educação Ambiental, em alguns casos, confundi-se com o
conceito de meio ambiente, e, em outros, percebe-se a concepção holística de complexidade em
relação ao tema, incluindo não apenas o meio ambiente físico, mas os ambientes sociais,
econômicos e políticos integrados.
Alguns professores responderam em relação à concepção de Educação Ambiental que: ―É
um processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atividades e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente ... É o instrumento de formação de uma consciência por meio do conhecimento e da
reflexão sobre a realidade ambiental‖; ―É um processo de reconhecimento de valores e classificação
de conceitos objetivando o desenvolvimento das atividades e modificando as atitudes em relação ao
meio para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios
biofísico‖; ―É toda ação educativa que leva o ser humano a cuidar e a preservar o meio ambiente‖.
Tais concepções abrangem mais o conceito de Educação Ambiental, entretanto, alguns educadores
ainda restringem este conceito ao ambiente físico e natural.
Outro instrumento necessário à educação ambiental é a interdisciplinaridade. As diretoras
das escolas pesquisadas consideram como conceito de interdisciplinaridade: ―... devido à
complexidade do real e a teia de relações entre os diferentes e contraditórios aspectos, refere-se a
uma relação entre disciplinas‖; ―Inserir não só nas disciplinas afins, uma temática de grande
relevância para o ser humano nos aspectos bio-psico-pedagógicos, em conteúdos que possam ser
esclarecidos por vários profissionais de diferentes áreas, a importância do tema em questão‖;
―Qualidade de vida e desenvolvimento sustentável‖; ―São assuntos que correspondem as matérias
estudadas em sala e que são desenvolvidas com interdisciplinaridade‖; ―... onde todas as disciplinas
estão inseridas num contexto de forma objetiva a facilitar a aprendizagem do aluno‖. A maioria das
diretoras percebe a relação existente entre interdisciplinaridade e as variadas áreas do
conhecimento. Entretanto, também se percebe o pouco conhecimento em relação ao tema. Quatro
das cinco diretoras acreditam que a temática ambiental possa ser trabalhada de forma
interdisciplinar e transversal.
Dentre os conceitos apresentados pelos professores, a interdisciplinaridade vem a ser ―uma
ação conjunta entre duas ou mais disciplinas, com características individuais para atingir um
objetivo comum e coletivo‖. É também entendida como uma ação educativa onde se possa trabalhar
qualquer assunto dentro de determinada perspectiva, usando as mais variadas disciplinas, de forma
que venha a ajudar no processo de ensino aprendizagem‖, ―... envolvendo o aluno e mostrando que

1174
o mesmo objeto de estudo pode ser trabalhado em outras disciplinas‖. Os educadores apresentam
maior maturidade e intimidade em relação ao tema, em relação às diretoras.
Na tabela 3 podem-se observar alguns parâmetros que foram avaliados em relação ao perfil
ambiental das escolas pesquisadas.

Variável analisada Sim Não


Trabalham-se os temas ambientais de forma interdisciplinar 100% -
Desenvolve projetos na área ambiental 80% 20%
Incentiva os professores a participarem de projetos/atividades de 100% -
educação ambiental
Identifica-se o interesse dos alunos em participarem de 80% 20%
projetos/atividades d e educação ambiental
Identifica-se o interesse dos professores em participarem de 100% -
projetos/atividades de educação ambiental
Existe área arborizada na escola 20% 80%
Existe interesse da escola em arborizar o ambiente escolar 100% -
Coleta-se de forma seletiva os resíduos sólidos produzidos no 60% 40%
ambiente escolar
Tabela 3: Levantamento de variáveis relativas ao perfil ambiental das escolas estudadas, em
porcentagem, 2011/ 2012.

Todas as variáveis relativas ao trabalho de educação ambiental tiveram resultados acima de


60%, entretanto, apenas 20% das escolas possuem áreas arborizadas. Dos educadores pesquisados,
apenas 59,5% desenvolve projetos ou atividades ligados à educação ambiental, e, na percepção dos
mesmos, 100% identificam interesse dos alunos e 87,5% identificam interesse e participação da
escola no processo de ensino e aprendizagem ligado à educação ambiental.
Na Tabela 4 estão os principais temas ligados à temática ambiental que foram trabalhados
pelos professores no ambiente escolar.
Cidades Temas
Bananeiras Poluição
Queimadas
Desmatamento
Aquecimento global
Preservação ambiental
Reciclagem
Solânea Reciclagem
Preservação ambiental
Arborização urbana
Poluição
Aquecimento global
Coleta seletiva
Massaranduba Reciclagem
Produtos orgânicos e inorgânicos
Adubação orgânica

1175
Poluição
Desmatamento
Erosão
Limpeza urbana
Queimadas
Tratamento de água e do esgoto
Tabela 4: Principais temas abordados com temática ambiental nas escolas estudadas 2011/2012.
Podemos perceber através dessa tabela que os temas relacionados ao meio ambiente
desenvolvidos em atividades e projetos são restritos ao ambiente escolar e com temas comuns,
como poluição, queimadas, desmatamento, aquecimento global, preservação ambiental, coleta
seletiva, reciclagem, arborização urbana, erosão e tratamento de água e do esgoto. No entanto,
podemos perceber que, adentrar efetivamente à educação ambiental, em sua essência politicamente
atuante, ecologicamente correta e socialmente crítica, como se faz solícito, está além dos muros das
nossas escolas. É necessário abrir os olhos para essa visão sistêmica e holística da realidade
socioambiental, inserida na educação.
Na Tabela 5 consta, segundo a percepção dos educadores, o nível de interesse próprio, dos
alunos e da Direção em relação a aplicação da Educação Ambiental na escola.

Variáveis analisadas Cidades

Bananeiras Solânea Massaranduba

Desenvolve projetos ou atividades ligados à 28,6% 75% 75%


educação ambiental

Identifica interesse dos alunos em relação aos 100% 100% 100%


temas ambientais

Identifica participação ou interesse da escola em 100% 87,5% 75%


desenvolver ações de educação ambiental

Tabela 5: Percepção dos educadores pesquisados em relação à participação dos mesmos, dos alunos e da escola
no processo de ensino e aprendizagem ligado à educação ambiental, 2011/2012.

Conclusão

Os resultados encontrados nos permitiram identificar que mesmo de forma tênue, a educação
ambiental vem sendo desenvolvida nas escolas pesquisadas.
Que para além da educação ambiental tradicional que sempre encontramos, com trabalhos,
projetos e ações educativas contemplando apenas temas como preservação do meio ambiente, já
podemos ver no horizonte dessa dimensão a inclusão da relação social e também a preocupação do
educador com o desenvolvimento critico reflexivo e atuante dos alunos em relação ao meio em que
está inserido.

1176
Assim, concluímos que, mesmo de forma discreta, a educação ambiental tem sido trabalhada
nas escolas assistidas pelo projeto e que as mesmas estão alcançando novos horizontes no intuito de
compreender o que vem a ser essa problemática inserida no contexto escolar, e de pesquisar e
desenvolver trabalhos de forma crítica acerca da dimensão ambiental.

Referências

FREITAS, Henrique Mello Rodrigues de; JANISSEK, Raquel. Análise de dados quantitativos e
qualitativos: casos aplicados. Porto Alegre: Sphinx: Editora Sagra Luzzatto, 2000.
MININI, apud DIAS, Genebaldo Freire Dias. Educação Ambiental – Princípios e práticas. São
Paulo, Gaia, 1992.
SERRÃO, M.; BALEEIRO, M. C. Aprendendo a Ser e a Conviver. São Paulo: FTD, 1999.
ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: uma proposta para o currículo
escolar. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2002

1177
INTERLIGAÇÃO RURAL-URBANA: FRAGMENTOS DA CONSTRUÇÃO DE UMA
CRISE ANUNCIADA E POSSÍVEIS PERSPECTIVAS

Rafaela Dias de MELO


dm.rafaela@gmail.com
Mário Jarbas de Lima Júnior
mariojarbas@hotmail.com

Resumo
O atual momento de crise socioambiental tem sua construção a partir de uma ciência reificadora do
mundo, que baniu uma noção dos limites de recuperação ambiental. A degradação ambiental
consequente do atual modelo de desenvolvimento gerador da crise está, também, fortemente
associada a questões de degradação social. Deste modo, o efeito da concentração dos meios de
produção, consumo e excessiva objetificação do mundo levaram ao desenvolvimento de profundas
distorções que se apresentam tanto no ambiente rural, como no urbano. A hierarquização social,
bem como a hierarquização de espaços preferenciais para o desenvolvimento, se sedimentam nas
atuais estruturas e nas dinâmicas urbanas e rurais com consequências nocivas diretas sobre o
ambiente e sobre a sociedade. Diante disso, o presente artigo busca destacar fragmentos históricos
da construção da atual situação de crise relacionada aos ambientes rurais e urbanos, bem como,
apontar perspectivas de desenvolvimento baseadas na multiplicidade das relações sociais e
ambientais.
Palavras chave: Meio Ambiente; Rural-urbano; Saber ambiental

Abstract
The current times of environmental crisis is based in a refrying perception of the world, which has
banned the limits of environmental recuperation. The environmental degradation resulting from the
current model of development of the crisis is, also, strongly associated to social degradation.
Therefore, the effects of the concentration of the production manners, consumption and excessive
objectification of the world have led into the development of great distortions that are visible either
in the rural and urban environments. The social hierarchy, and also the hierachization of preferable
places to be the object of development root themselves in the current urban and rural structures and
dynamics, with direct vicious consequences into the environment and the society. In this point of
view, this paper highlights historical fragments of the construction of the current crisis situation
1178
related to the rural and urban environments, and also appoints perspectives of development based in
the multiplicity of the social and environmental relations.
Keywords: Environment; Rural-urban; Environmental Knowledge.

Introdução

Qualquer sistema econômico parte de uma apropriação do ambiente já que, em última


análise, os bens de consumo são retirados direta ou indiretamente da natureza. Mesmo na sociedade
atual, fruto de um chamado ―capitalismo leve‖ (BAUMAN, 2001), no qual há uma aparente
liberdade maior de consumo e de escolhas que o ―capitalismo duro‖ da metade do século XX,
vivencia-se essa apropriação do ambiente pelo sistema econômico. Por trás da fluidez das relações
econômicas, e das premissas da globalização, a partir da qual passa haver uma maior integração
econômica entre os países, existem, ainda, graves questões nas quais o homem, deliberadamente, se
apropria do ambiente de uma maneira incoerente do ponto de vista ambiental.
O processo econômico e social que resultou na constituição da sociedade atual traz uma
noção de desenvolvimento, normalmente representadas pelo ideal de progresso tecnológico. No
entanto, essa racionalidade econômica baniu a natureza da esfera da produção gerando processos de
destruição ecológica e degradação ambiental bastante grave (CAVALCANTI, 2001), como o
esgotamento dos recursos naturais, a geração de resíduos, e a disseminação de doenças. Todo esse
quadro fez configurar o que Ulrich Beck (1992) classificou como uma ―sociedade de risco‖ em que
os efeitos da industrialização começam a ganhar contornos de ameaça planetária.
Diante da atual crise ambiental, novos modos de se relacionar com a natureza devem
emergir. A crise ambiental é consequência de um modo de produção que tem o meio ambiente
como externalidade, de um modo de produção que se baseia na acumulação ilimitada e na,
igualmente ilimitada, utilização dos recursos naturais. A ciência econômica clássica não considera
os limites do ambiente, visto que objetiva suprir matéria prima ilimitadamente ao seu processo
produtivo. Como resultado, a crise ambiental está cada vez mais presente nas discussões
econômicas, sociais e políticas.
É necessário compreender que os processos econômicos, além de serem gerados a partir de
uma irracionalidade econômica que não contempla os limites ambientais, são responsáveis
indubitavelmente por profundas injustiças sociais. Diante disso, existe uma necessidade e se
construir um novo ―saber ambiental‖ que contemple tanto as limitações ambientais como a
diversidade de saberes relacionado ao ambiente (LEFF, 2006). A mesma racionalidade econômica
geradora de crise ambiental, também domina os processos produtivos e estabelece hierarquias
sociais que deslegitimam uma heterogeneidade cultural e social.
1179
Face à acumulação centralizadora proveniente do capitalismo, responsável por gerar um
processo de desenvolvimento desigual e injusto que beneficia apenas parte da população integrante
do processo produtivo, Porto-Gonçalves (2006, p. 72) afirma que a ―humanidade toda, embora de
modo desigual, está submetida a riscos derivados de ações decididas por alguns e para benefícios de
alguns‖, visto que a globalização é comandada pela lógica econômica, que ignora sua inserção nos
recursos naturais e a distribuição equânime das riquezas produzidas.
Diante da complexidade dos conflitos de natureza socioambiental, faz-se necessário uma
visão interdisciplinar, que implica na integração de processos naturais e sociais de diferentes ordens
de materialidade e esferas de racionalidade (LEFF, 2001). Dessa forma, as questões ambientais não
podem ser vistas de forma isolada e unilateral, deve-se integrar os diversos saberes na busca de
compreender a natureza complexa da relação entre sociedade e meio ambiente.
Os atuais desafios ambientais nos colocam diante da questão de que há limites para
dominação da natureza e para a irracionalidade ecológica dos padrões dominantes de produção e
consumo, os quais requerem a busca de paradigmas alternativos de desenvolvimento, ou seja,
―novos princípios de valorização da natureza, novas estratégias de reapropriação dos processos
produtivos e novos sentidos que mobilizem e reorganizem a sociedade‖ (LEFF, 2001, p. 75;
PORTO-GONÇALVES, 2006).
O presente trabalho surge diante da necessidade de debater e divulgar possíveis alternativas
ao atual modelo de desenvolvimento baseado em uma ciência econômica limitada e incoerente com
os limites ambientais e relações sociais. Nesse sentido, objetiva-se montar um breve panorama
histórico dos problemas ambientais que apontam para um cenário de crise nos ambientes rural e
urbano. E, por fim, apontar possíveis direcionamentos para o enfrentamento da crise levando em
consideração as dimensões sociais e ambientais tanto objetivas como subjetivas.

Panorama da Crise Ambiental na Interligação Rural-Urbano na Contemporaneidade

A relação entre o campo e a cidade muitas vezes é vista baseada em uma dicotomia que dá
ao campo sinônimo de atraso, local onde predominam atividades agrícolas por excelência; enquanto
as cidades representam tudo que é moderno, onde tudo acontece. Essa tipologia acaba por transmitir
a ideia de que o campo deve estar subordinado a cidade e aos efeitos da sua reprodução (SILVA,
2012 - TARCÍSIO; LEFEBVRE, 2004).
Do ponto de vista das atividades econômicas, o campo não pode ser visto exclusivamente
como agricultura e pecuária, nem a cidade apenas como atividade industrial. Apesar de haver uma
diferenciação entre trabalho rural e urbano, eles devem ser vistos de modo interligado, formando
um todo único e indissociável (SANTOS, 1997; ROSSINI, 2009).

1180
Nos dias atuais, apesar das diferenciações, está cada vez mais difícil delimitar o que é campo
e o que é cidade. A cidade está, cada vez mais, invadindo o campo na busca de espaço para
desenvolver suas atividades, modificando o modo de vida do camponês, assim como suas
atividades.
Andrade (1995) destaca diferentes formas de influência que o meio urbano exerce sobre o
rural, contribuindo para destruição da vida camponesa, entre elas: a facilidade de acesso às
informações (como o uso do rádio de pilha e televisão) que fez com que certos valores e hábitos
interioranos fossem se modificando, influenciados por hábitos e valores urbanos; os meios de
comunicação que levam ao camponês os problemas urbanos e contribuem para uma uniformização
dos costumes e do modo de falar por meio, por exemplo, dos programas televisivos; e a inserção do
camponês no mercado levando-o a adquirir informações sobre os produtos comercializados nas
cidades gerando a vontade de diversificar o seu consumo.
Segundo Gehlen (2010), ―o processo de urbanização vem ―rompendo‖ ou ―pressionando‖ os
limites políticos dos distritos e municípios politicamente definidos do seu entorno, engolfando a
produção pecuária, causando o abandono de outras atividades agrícolas e levando a uma
deterioração do meio ambiente‖.
Por volta do século XVI a redução da produção agrícola em detrimento a produção
industrial, caracterizando o que Lefebvre (2004) chama de cidade industrial, associada ao
capitalismo em expansão, provocou uma intensa migração do camponês para as cidades a procura
de novas oportunidades, contribuindo para a formação de grandes concentrações urbanas.
A partir da década de 1950, o processo industrial brasileiro foi acelerado devido à
intensificação da política desenvolvimentista, durante o governo de Juscelino Kubitscheck. Além
das dificuldades de importação ocasionadas pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, maiores
investimentos no setor industrial contribuíram para o aumento da população urbana. Mais do que a
própria industrialização, a migração rural-urbana foi causada principalmente pela estrutura fundiária
concentradora e as péssimas condições de vida do campo (SOUZA, 2009).
Na região Nordeste, o processo de industrialização trouxe novos investimentos à produção
açucareira e novas terras foram incorporadas ao latifúndio de cultivo da cana. Os camponeses,
contudo, perderam suas terras e suas lavouras de subsistência, deixando de produzir parte da sua
alimentação. ―Como de costume, a expansão expandiu a fome‖ (GALEANO, 1983). Trabalhadores
rurais deixaram, em massa, suas terras para avigorar as forças operárias dos centros urbanos e/ou a
categoria do trabalho informal ou do chamado subemprego.
A respeito dessa migração em direção aos centros urbanos, para Santos (1997) quando o
camponês vai para a cidade grande, certamente, deixar para trás uma cultura herdada para se
encontrar com uma outra. Ainda segundo o referido autor ―quando o homem se defronta com um
1181
espaço que não ajudou a criar, cuja história desconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a
sede de uma vigorosa alienação‖ (SANTOS, 1997, p. 222).
Na década de 60 a população brasileira era em sua maioria rural, representando cerca de
55.3% da população total – contra 44,7% de população urbana – aproximadamente 10 anos depois
observa-se o oposto, 55,9% da população passa a ser urbana (ROLNICK, 2002). De acordo com
censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), 84,2% da população brasileira
está residindo em área urbana. Isso significa que nesse período as cidades receberam
aproximadamente mais 160 milhões de habitantes. Essa migração para as cidades desruraliza o
camponês sem fazê-lo adquirir o hábito do trabalhador urbano, passando a formar populações
marginalizadas, vivendo as margens da sociedade. Diante disso, a população cresceu sem que as
cidades estivessem preparadas para atender as suas necessidades, originando diversos problemas de
moradia, saneamento e saúde pública. Na verdade, esse crescimento urbano na ausência de um
planejamento adequado trata-se, muito mais de uma inchação do que de um crescimento
(ANDRADE, 1995) - A questão do território no Brasil.
Embora o crescimento do número de habitantes nas cidades tenha se intensificado,
principalmente a partir da década de 1950, uma política nacional urbana só surge no país após quase
quatro décadas, quando a proporção da população que residia nas cidades já beirava os 75%. No
entanto, as desordens no crescimento urbano, e consequentes problemas ambientais, não são
suficientemente explicados pelo desenvolvimento tardio de políticas urbanas ou sua ineficiência.
Tais problemas são, principalmente, reflexos de uma estrutura social hierarquizada e de uma
economia baseada na concentração de terras e dos meios de produção.
A própria ocupação e organização das capitais brasileiras ocorreram baseadas em
desequilíbrios, que aglutinavam problemas não apenas de ordem ambiental, como a ocupação
desordenada, o aterro fluvial e o desmatamento como também de ordem social e simbólica, como as
péssimas condições de vida dos negros e a própria estratificação das camadas sociais.
De fato, as políticas econômicas dos últimos 40 anos, da Ditadura militar e ao próprio
neoliberalismo dos primeiros governos democráticos pós-64, condensavam as camadas populares
dentro de uma estrutura com pouca mobilidade econômica, ao mesmo tempo em que não havia, nas
cidades, as reformas urbanas necessárias para receber o contingente de migrantes que,
constantemente, chegavam à cidade em busca de melhores condições de vida.
A associação de três fatores - a falta de condições de emprego digno, associada à falta de
uma ampla reforma urbana e à concentração de terras - contribuíram decisivamente para o
aparecimento em massa de favelas nas cidades brasileiras. Não coincidentemente esses aglomerados
urbanos são compostos principalmente pelos expropriados rurais, exilados dos latifúndios, e os
negros, ex-escravos, que ―órfãos‖ da Lei Áurea não eram acolhidos no sistema econômico em
1182
virtude do preconceito histórico implementado por quase quatro séculos de racismo legitimado.
Assim, as favelas no Brasil crescem, à cada crise econômica ou a cada novo hectare de terra
invadida pela cana. Novas levas de ―Severinos‖, no dizer de João Cabral de Melo Neto (2000)
migram em busca de condições de vida digna e findam encontrando nas cidades, um sistema
econômico que oferece para eles emprego ―informal‖ e moradia nas áreas mais vulneráveis como
áreas sujeitas a inundações, próximas a lixões e áreas de risco.
Essas desigualdades persistem desde o período colonial, visto que desde início da
colonização as terras brasileiras são propriedade de uma minoria. As sesmarias do período colonial
e o aforo de terras da república foram instrumentos de manutenção de oligarquias que se mantém
estruturadas até hoje. O acesso a terras tanto rurais quanto urbanas ainda é muito restrito. Mais
especificamente sobre as áreas urbanas: a concentração de terras nas mãos dessas oligarquias
determina quem são os beneficiários das políticas urbanas ao mesmo tempo em que delimitam os
piores ambientes da cidade para o assentamento habitacional dos mais pobres.
Acerca dessas desigualdades, Andrade (1997) afirma que a pobreza no Nordeste não é
resultado da inexistência de recursos, nem da incapacidade da população, mas sim de um governo
profundamente concentrador que age em benefício de um grupo dominante em detrimento dos mais
pobres ou em fase de ocupação, portanto, faz-se necessário uma modernidade que tenha
compromisso com a eliminação da miséria e com a preservação ambiental, contrapondo-se a atual
modernização injusta e dolorosa.

O “Saber Ambiental” como Alternativa à Degradação Socioambiental

Uma mudança na atual sociedade capitalista exige a busca de novos paradigmas, que não
tenha no crescimento econômico e na modernização concentradora um sinônimo de
desenvolvimento e que considere os diferentes saberes em detrimento da homogeneização
dominante. É indispensável a criação de políticas públicas que realmente venham para atender as
demandas de grupos menos favorecidos em detrimento aquelas que, direta ou indiretamente,
atendem as necessidades da classe dominante. Há a necessidade de políticas, por exemplo, que
criem condições ao agricultor de se manter no campo, realizando as suas atividades tradicionais, e
não migrando para centros urbanos para viverem nas periferias, à margem da sociedade; assim
como políticas urbanas de reordenamento territorial objetivando reduzir a fragmentação do espaço
urbano e garantindo a todos o devido direito à cidade.
A racionalidade científica hegemônica associada à racionalidade econômica e a
racionalidade jurídica legitima certas formas de acesso, propriedade e exploração dos recursos
naturais, justamente aquelas formas que culminam na atual degradação socioambiental (LEFF,

1183
2006). Deste modo, o autor vai desenvolver o conceito de um Saber Ambiental o qual diz respeito a
uma reorientação o desenvolvimento do conhecimento em três níveis: a aplicação de saberes
científicos através de demandas sociais; elaboração de um conhecimento integrado através de
métodos interdisciplinares e de sistemas complexos; a problematização de paradigmas teóricos de
diferentes ciências, determinando reelaboração de conceitos. O que significaria a construção de
novas bases epistemológicas.
É possível afirmar que as bases epistemológicas das quais nos fala Leff (2006) não estão por
serem construídas, mas se encontram em desenvolvimento, especialmente a partir dos movimentos
sociais e ambientais que se tornam emergentes nas décadas de 1950-60. No entanto, uma
reorientação no projeto de desenvolvimento adotado hegemonicamente só pode fazer sentido se
posto em exercício, quer dizer, se assimilado pelas práticas cotidianas. Assim, a crise
socioambiental se acentua não por falta de conhecimento ou de novas bases epistemológicas, mas
por uma desconexão entre as práticas de produção e acumulação e o conhecimento já desenvolvido.
A questão é, portanto, estrutural. A própria formação do Estado burguês está baseada no
processo de acumulação, na propriedade privada e na hierarquização social. Na medida em que as
forças do Estado estão voltados para assegurar a continuidade de tal modelo de desenvolvimento o
conhecimento científico socioambientalmente coerente tem o seu poder transformador arrefecido.
A internalização das ideias apresentadas por uma racionalidade ambiental no cotidiano
prático da vida social demanda, necessariamente, uma apropriação destas ideias por parte das
políticas públicas. É sabido, no entanto, que a definição das políticas está condicionada a estruturas
administrativas, jurídicas e legislativas que se desenvolveram, por sua vez, dentro da mesma
racionalidade científica que culminou na racionalidade econômica atual. Deste modo, é necessário
compreender que uma nova constituição social deve estar associada a uma profunda mudança
também nos paradigmas administrativo, jurídico e legislativo. Analisar as diferentes dimensões nos
processos de formulação das políticas, sejam elas ambientais, sociais ou econômicas, pode oferecer
indicativos e suportes teóricos nos processos de mudanças epistemológicas.
Uma nova racionalidade deve estar internalizada tanto no nível das estruturas políticas e
jurídica; no processos de participação e representação popular; como no nível mais material do
conteúdo das políticas. No entanto, além do caráter participativo das políticas ambientais, devem
estar inseridas as dimensões de subjetividade, como noção de pertencimento, territorialidade e
afeto; aspectos culturais, os quais também constituem parte de uma nova epistemologia ambiental.
As políticas voltadas à democratização de uso da terra, no entanto, devem trazer consigo tais
dimensões do ambiente, normalmente esquecido ou ignorado pela racionalidade cientificista
hegemônica. Superar o entendimento de espaço meramente como recurso, vendo-o também como
um local de relações, vínculo, afeto e pertencimento é um desafio ambiental, social e político. Vale
1184
salientar, que a participação é trazida aqui sob a forma de um diálogo interminável, onde os atores
sociais criam uma identidade coletiva que ―envolve a crença de que quando as pessoas se abrem
umas com as outras, cria-se um tecido que as mantém unidas‖ (THEODORO, 2005, p. 49).
Nesse sentido, Lefebvre (2010) vai falar da construção do ambiente urbano e rural em sua
dimensão de ―obra‖, superando a forma de entender o espaço meramente como ―produto‖. A
dimensão ―Obra‖ diz respeito a um espaço construído e vivido coletivamente cheio de significados
de dimensões subjetivas, construído historicamente. Leff (2006), afirma que por meio do saber
ambiental criam-se mecanismos para: reconhece as potencialidades do real, além de incorporar
valores e identidades no saber; de interiorizar as condições de subjetividade do ser; conduz ao
reposicionamento do ser através do saber; gera o inédito no encontro com a alteridade; é oposto a
todo e qualquer princípio homogeneizante, a todo conhecimento unitário, a toda globalidade
totalizadora. Finalmente, o Saber ambiental proporcionaria uma reapropriação social da natureza
gerando novos territórios de ação política.

Considerações Finais

Superar a visão de ambiente predominantemente como produto bem como a reapropriação


social da natureza (LEFF, 2006) e participação política levaria a uma reestruturação profunda do
papel do Estado e um redirecionamento dos interesses contidos em sua dimensão legislativa,
executiva e judiciária. A aplicação das idéias da "racionalidade ambiental" na pauta das políticas
públicas (considerando a identidade cultural, as relações de pertencimento e a formação de
territorialidades associado ao espaço), seria capaz de direcionar o caráter teórico do conceito de
racionalidade ambiental às práticas das políticas (urbanas, econômicas, rurais), como forma de
minimizar os efeitos da fragmentação rural-urbana, assim como as suas consequências nocivas.
A estrutura Estatal, política e econômica que observamos hoje se desenvolveu a partir de um
contexto histórico e de uma racionalidade científica. Contudo, tais estruturas são tencionadas na
medida em que seus efeitos negativos sobre o mundo cotidiano se explicitam. As questões
territoriais no campo e na cidade, a degradação ambiental, perda da diversidade cultural e biológica
além de tantos outros efeitos negativos trazem a tona os limites desta dada racionalidade. Um novo
contexto social e ambiental demanda novas formas de se relacionar com o mundo. Neste sentido, a
mudança de paradigmas científicos e econômicos é mais que uma questão teórica, é uma demanda
do nosso tempo.

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1185
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1186
AS REPRESENTAÇÕES SÓCIOAMBIENTAIS
DOS AGENTES AMBIENTAIS ACERCA DO TRABALHO135

Sandra Maria Guisso


sguisso@gmail.com

Resumo

Este texto analisa, na perspectiva das representações sociais, as narrativas dos agentes ambientais
acerca do trabalho. Os discursos foram retirados de entrevistas com os agentes ambientais de três
municípios da região serrana do Espírito Santo. A discussão proposta é estabelecer conexão dos
discursos com a teoria das representações sociais, fundamentando as discussões em Moscovici e
outros autores.

Palavras chave: Representações Sociais; Preconceito, Trabalho; Meio Ambiente; Lixo.

Abstract

This text analyzes, from the perspective of social representations, the narratives of the
environmental agents about the work. The speeches were taken from interviews with environmental
agents of three municipalities in the mountainous region of Espírito Santo. The discussion is
proposed to connect the speeches with the theory of social representations, basing the discussions
on Moscovici and other authors.

Keywords: social representations; Prejudice, Work; Environment; Trash.

Introdução

Giddens (1991) destaca o império da razão e da técnica como os pontos principais nas
discussões a respeito da sociedade moderna e ressalta a configuração de uma sociedade
individualista e as suas conseqüências para a humanidade.
A sociedade moderna definida como individualista, na qual a premissa é a produção e o
consumo de bens cada vez mais elaborados para atender aos anseios dos consumidores e justificar

135
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. A pesquisa foi
apoiada pela CAPES.

1187
os ganhos cada vez maiores. É interessante analisar que nesta sociedade exigente e ansiosa por
novidades, as pessoas são comparadas a uma moeda, com maior ou menor valor, ou seja, elas
adquirem um valor monetário, um exemplo disso é a venda da força de trabalho.
Dessa forma, a mão-de-obra terá valor de acordo com a necessidade do mercado e de acordo
com a demanda de trabalhadores oferecidos pela sociedade. Cria-se então uma divisão de classes na
sociedade: os compradores de mão-de-obra e os vendedores da mesma.
Neste contexto, é importante ressaltar que para aqueles que comercializam a sua mão-de-
obra, muitas vezes, para garantir a sobrevivência, sobra somente á resignação e o comum acordo de
permanecer no mercado de trabalho.
Essa visão em relação á importância da mão-de-obra e ao mesmo tempo a desvalorização do
ser humano (detentor da mesma), que não teve as oportunidades, leva a questionamentos na relação
trabalho-trabalhador.
De acordo com Marx (1996), o homem agrega valor a matéria prima a partir do momento
que ele usa a sua força de trabalho e produz o material de consumo. Apesar disso, as novas
tecnologias que vieram associadas á modernidade proporcionaram riqueza para alguns e pobreza
para muitos, pois apesar da força de trabalho ser fundamental para valorizar os produtos
consumidos, ela também exige uma qualificação que parte significativa da população não tem
acesso, gerando dessa forma, além do problema de empregos que pagam baixos salários, há ainda o
problema do desemprego.
Essa organização individualista da sociedade moderna proporcionou a criação de nichos de
trabalhadores que para sobreviver recorreram a informalidade, fazendo surgir e proliferar uma
estatística não contabilizada nos registros formais (MARX, 1996).
Essa população que hoje incha o mercado de trabalho informal, em sua maioria, é
proveniente do campo, que com a expansão das atividades industriais nas grandes cidades,
vislumbrou a oportunidade de ganhos ―mais fáceis‖ nas cidades. No entanto, as atividades
industriais não foram suficientes para absorver toda a mão-de-obra disponível nos centros urbanos.
A falta de qualificação profissional e de postos de trabalho proporcionou o surgimento de um nicho
populacional marginal que passou a habitar as franjas da periferia. Para este nicho populacional
restou apenas profissões alternativas e ou ignoradas aliadas a total falta de direitos elementares,
como alimentação, saúde e moradia.
Como defende Filho (2007) as novas tecnologias são muito importantes para o processo de
desenvolvimento mundial, o que é questionável é o modelo adotado pela sociedade na utilização
dessas tecnologias, que as fazem desencadear um dinamismo excludente sem precedentes. Esse
processo de exclusão social endêmico a sociedade moderna passa necessariamente pela falta de

1188
planejamento social, político e econômico. Wanderley discorre a respeito disso quando destaca
René Lenoir como um dos precursores nas discussões a respeito da exclusão social:
Dentre suas causas destacava o rápido e desordenado processo de urbanização, a
inadaptação e uniformização do sistema escolar, o desenraizamento causado pela
mobilidade profissional, as desigualdades de renda e de acesso aos serviços
(WANDERLEY, 2004, p.17).

São vários os fatores que combinados propiciam a exclusão social, destes além do êxodo
rural, as novas tecnologias e ainda a falta de qualificação da mão-de-obra são determinantes para o
afastamento de milhares de trabalhadores dos postos formais de trabalho. Ocorre que em muitos
casos existem vagas e não há mão-de-obra especializada para as ocuparem. De qualquer forma, é
importante ficarmos atentos a outra forma de exclusão, desencadeada e mantida pelas restrições
impostas no mundo do trabalho, que é a exclusão cultural (WANDERLEY, 2004). Essa exclusão
não se restringe a países pobres, mas é claro que em países em desenvolvimento como o Brasil, as
conseqüências são inúmeras, trazendo grandes prejuízos sociais e econômicos ao país. Diante desse
quadro social a catação constitui-se como a única oportunidade desses trabalhadores garantirem a
sobrevivência (ROCHA, 2004).
De acordo com Legaspe (1996), a população, que vive da catação, o faz depois de esgotar
todas as formas de trabalho, quando nem o trabalho braçal é aceito, encontra no que a sociedade
chama de lixo, a última esperança de vida.
A sociedade moderna caracterizada pelo consumo excessivo descarta o que considera inútil em
termos materiais e sociais. O lixo produzido através do consumo é tido como algo externo aos que o
produzem, gerando estranhamento da sociedade para com quem vive desse lixo. Em relação ao
fenômeno da exclusão, Wanderley (2004, p. 17-18) discorre:
[...] existem valores e representações do mundo que acabam por excluir as
pessoas. Os excluídos não são simplesmente rejeitados física, geográfica ou
materialmente, não apenas do mercado e de suas trocas, mas de todas as riquezas
espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também uma exclusão
cultural.

Para Bursztyn (2000) no Brasil, o catador de lixo é mal incluído economicamente e


excluído socialmente. De acordo com o autor eles fazem parte de um nicho organizacional sem os
direitos básicos, como saúde, alimentação, moradia e muitas vezes as condições nas quais eles se
encontram os limitam até no direito de ir e vir.
Muitas vezes na tentativa de diminuir as distâncias sociais e econômicas alguns subsídios
são oferecidos a essa população, na forma de ajuda financeira para suprir algumas necessidades

1189
básicas e imediatas, mas é importante ressaltar como diz Sawaia (2004, p.08) que
A sociedade exclui para incluir e essa transmutação é condição da ordem social
desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de
algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades
econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida através da
insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do econômico.

Neste processo é fundamental conscientizar que do outro lado do lixo, há um outro, um


catador, que sobrevive dos resíduos e que o utiliza como fonte de renda, mas muitas vezes é
através dele que a sociedade consegue ver o lado obscuro do crescimento econômico sem
planejamento social, o que muitas vezes gera desconforto e aversão por parte de quem
simplesmente assiste a essa parcela da população lutar para sobreviver (CATALÃO, 2003). O mais
interessante de uma sociedade voltada para o consumo é que a mesma tem muita dificuldade de ver
o outro. Em relação á cegueira social Maturana (2000), discorre que se não vemos o outro como
um outro legítimo então não nos importamos com ele.
É importante ressaltar que além da cegueira social a sociedade de consumo também
desenvolve a cegueira ambiental, acreditando que a capacidade de suporte de poluição do planeta é
infinita. Esta crise de degradação ambiental, risco de colapso ecológico e o avanço da desigualdade
e da pobreza, veio questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionaram e
legitimaram o crescimento econômico negando a natureza e a criatividade humana.

Neste artigo buscou-se analisar os discursos dos agentes ambientais de três municípios da
região serrana do Espírito Santo acerca do trabalho. Para a compreensão das narrativas utilizou-se a
teoria das representações sociais, a qual constitui-se em um processo de compreensão e
comunicação daquilo que nós já sabemos (MOSCOVICI, 2007). Dessa forma a representação social
poderia ser definida como: ―Uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,
com um objetivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social‖ (JODELET apud VALA, 1997, p. 354).

Procedimentos Metodológicos
- Participantes

Participaram deste estudo 13 pessoas com idades variando de 24 à 68 anos, de três


municípios da região serrana do Espírito Santo. Estes sujeitos foram designados como agentes
ambientais, pois todos trabalhavam com a manipulação de resíduos sólidos. Foi utilizada a técnica
de amostragem por aglomerado, por entender que nesta os entrevistados são escolhidos
aleatoriamente e podem indicar outras pessoas para as entrevistas, ou as que estão ao seu redor
1190
(CORTES, 1994). A coleta dos dados foi iniciada desde a primeira conversa com os agentes e as
entrevistas foram realizadas no local de trabalho dos entrevistados visando o confronto das falas
com as práticas dos mesmos (BECKER, 1999). Antes de iniciar as entrevistas foi explicado o
objetivo da pesquisa dando-lhes a liberdade de participarem ou não. Além disso, os entrevistados
foram consultados a respeito da utilização do gravador para otimizar a coleta de dados. As falas dos
entrevistados não foram interrompidas com o intuito de não romper o raciocínio dos mesmos,
quando foi conveniente algumas perguntas foram inseridas para extrair maiores informações a
respeito de determinado tema.

- Características dos participantes da pesquisa

Homens: foram entrevistados cinco homens com idades entre 24 e 68 anos. Somente um não
era casado e não tinha filhos. O grau de escolaridade variou entre ensino médio completo até
analfabeto funcional. Somente um deles trabalhava de carteira assinada. Neste artigo eles foram
identificados como M1, M2, M3, M4, M5.

Mulheres: foram entrevistadas sete mulheres com idades entre 25 e 68 anos. Todas eram ou
já tinham sido casadas e com filhos. O grau de escolaridade variou entre 4º série e 7º série do ensino
fundamental. Neste artigo elas foram identificadas como F1, F2, F3, F4, F5, F6 e F7.

Método

Para a coleta dos dados realizou-se uma pesquisa do tipo qualitativa, na qual o método
adotado foi á entrevista semi estruturada. Para análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo
que de acordo com Puglisi e Franco (2003, p. 13) ―o ponto de partida da Análise de Conteúdo é a
mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou
diretamente provocada. Necessariamente, ela expressa um significado e um sentido‖. A teoria das
representações sociais, seus conceitos e pressupostos foram usados como fonte de apoio para a
compreensão das narrativas dos agentes.

Resultados

As Representações dos Agentes sobre Trabalho, Oportunidade e Preconceito

O homem apesar de ser o polidor dos materiais produzidos para abastecer o mercado não
consegue, muitas vezes, se manter através do pagamento de seu próprio trabalho, fortalecendo a
segregação social entre as diferentes camadas da sociedade. Dejours (1998), explica claramente essa
categorização de pessoas quando coloca que a sociedade divide a organização do trabalho e também
1191
divide os grupos de trabalhadores de acordo com as funções que eles exercem e as relações que
estabelecem. Apesar da exclusão ser um fenômeno multifacetado, ela necessariamente passa pelo
trabalho e este pelas oportunidades que o indivíduo identifica ao longo de sua vida.
Além da sobrevivência, o trabalho tem uma função social e emocional, pois através dessa
ferramenta muitos projetos, desejos, sonhos estão sendo mantidos, abandonados ou realizados.
Dessa forma, a sua importância para a formação do sujeito é crucial, sendo muitas vezes, uma
relação de realização, outras de desprezo e humilhação. O trabalho está envolvido na construção dos
sentidos, na formação da identidade e na forma como os sujeitos reagem diante de situações de
cidadania, sendo sujeitos críticos e participativos das mudanças políticas, econômicas e sociais ou
simplesmente observadores desses fenômenos (DEJOURS, 1998).
Essa relação psicológica com o trabalho está presente nas narrativas dos agentes ambientais.
Várias foram ás situações em que eles verbalizaram que gostavam da atividade que exerciam,
demonstraram satisfação e até gratidão pelas conquistas alcançadas através do trabalho. A seguir
alguns discursos dos agentes ambientais, quando perguntados: ―O que o seu trabalho significa para
você?‖
“Prazer, eu gosto de trabalhar, eu não gosto de ficar em casa, eu gosto do que eu estou fazendo. Dinheiro, a
gente precisa trabalhar, para ter o sustento.” (F1 39 anos, casada, três filhos, 4º série do ensino
fundamental, trabalha separando lixo, para uma empresa)
“Ah! Ele significa uma coisa muito boa que se fosse para eu sair daqui para ir trabalhar na roça só se for o
caso de aqui fechar mesmo porque do contrário eu não largo não.” (F4 30 anos, casada, dois filhos, 4º
série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)

“Eu me sinto muito bem trabalhando aqui, eu gosto de fazer esse trabalho. O meu trabalho é tudo para mim
eu dependo dele, significa tudo.” (F7 34 anos, casada, dois filhos, 5º série do ensino fundamental,
trabalha separando lixo numa usina)

“Esse trabalho é bem melhor. Um sonho era operar uma máquina, eu sempre tive muita vontade e graças a
Deus hoje eu sei operar uma máquina e daí se Deus quiser para melhor.” (M4 24 anos, casado, um filho,
3º série ensino fundamental, trabalha separando e transportando lixo para o aterro)

“Pra mim é ganhar dinheiro pra ter um futuro melhor. Com o trabalho a gente pode comprar as coisas e
melhorar a vida.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo, trabalha coletando
papel na rua).

A resposta de M5 deixou claro que o trabalho constitui-se em um meio de obtenção de


produtos e através desse poder de compra limitado ele tem a impressão de que faz parte dessa
sociedade que consome. Martins (1997 apud VERÁS, 2004) alerta para o fato da possibilidade de

1192
compra levar a um entendimento de que o sujeito está incluído socialmente, o que faz com que o
mesmo não enxergue o abismo que há entre ele e a sociedade, deixando, dessa forma, de reivindicar
pela diminuição dessas distâncias.
O conformismo inerente as classes desfavorecidas, nas quais os direitos básicos se tornam
ajudas e a simples possibilidade de sobrevivência vem acompanhada de gratidão, deixando claro
que talvez nem essa atividade, negligenciada por muitos, fosse digna dessa população. Jodelet faz
um questionamento interessante a respeito dessa passividade diante da desigualdade social.

O que é que faz com que em sociedades que cultuam valores democráticos e
igualitários, as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar ou tolerar
frente àqueles que não são seus pares ou como eles, práticas de discriminação que
os excluem? (JODELET, 2004, p. 54)
É importante ressaltar que a condição democrática de uma sociedade é estabelecida e
mantida por essa sociedade. No entanto, é espantoso ver como a democracia é concebida como algo
externo a sociedade e que incorpora poderes surreais, ou seja, os membros dessa sociedade não se
sentem responsáveis pelo cumprimento dos princípios básicos de cidadania. Carone entende a
relação da sociedade com a democracia da seguinte maneira:

Quando nos referimos às enormes desigualdades sociais e à flagrante má


distribuição de recursos no país, não parecemos nos incomodar muito, como se a
democracia tivesse algum poder de resolver isso, ou seja, de passar da idéia de
igualdade para uma realização progressiva dessa idéia, sabe-se lá como e quando
(CARONE, 2004, p. 07).

A construção do sujeito passa pelas experiências com o trabalho. O trabalho é um espaço de


construção de sentido e, portanto, de conquista de identidade, da continuidade e historização do
sujeito. Através do trabalho o sujeito começa a entender o funcionamento do sistema e qual a sua
função no mundo do trabalho, passa também a defender e a reagir às situações ameaçadoras. As
situações de defesa são fortemente singularizadas em função do passado, da história e da estrutura
de personalidade de cada sujeito (DEJOURS, 1998). As oportunidades que os indivíduos
identificam ao longo da vida, são o reflexo das suas experiências sejam elas emocionais, pessoais
ou coletivas e profissionais.
No questionamento feito aos agentes ambientais, sobre oportunidade não foi mencionado o
trabalho como uma oportunidade, mas todos associaram imediatamente a palavra oportunidade ao
trabalho que estavam executando no momento. A pergunta dirigida aos agentes ambientais foi: ―O
que a palavra oportunidade significa para você?‖. A seguir algumas respostas:

1193
“É o que faltou. A gente está trabalhando assim porque faltou oportunidade, se tivesse tido oportunidade de
estudar com certeza estaria trabalhando em outra coisa. É porque com certeza faltou”. (F1 39 anos,
casada, três filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo para uma empresa)

“... Como hoje eu vejo falar na televisão agora para os catadores de papel existe carteira assinada, nós não
tivemos oportunidade porque eu tive que fazer abaixo assinado pra poder trabalhar. A catação foi a única
oportunidade que eu consegui na minha vida, para poder ter o sustento...” (F3 68 anos, casada, três
filhos, 7º série do ensino fundamental, trabalha catando papel na rua)

“Eu tive. Tive muitas oportunidades e essa é uma delas. Essa é uma oportunidade que eu tive e tenho.” (F5
32 anos, casada, quatro filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)

“Quase não tive nenhuma. Se eu tivesse tido oportunidade de estudar teria mudado tudo. Eu engravidei e
casei muito nova, tinha 17 anos, se eu tivesse tido aconselhamento a minha vida teria sido muito melhor.
Esse trabalho para mim é uma oportunidade não é onde eu queria chegar mais está ótimo.‖ (F7 34 anos,
casada, dois filhos, 5º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)

“Sim. Eu aproveitei as oportunidades. Esse trabalho por enquanto ele é uma oportunidade.” (F8 49 anos,
solteira, um filho, 7º série do ensino fundamental, trabalha separando o lixo numa usina)

“Antes não, agora eu tenho.” (M4 24 anos, casado, um filho, 3º série ensino fundamental, trabalha
separando e levando lixo para o aterro)

“Eu já tive muito, nunca precisei correr atrás de serviço, eles que me oferecem serviço não aceito para ficar
trabalhando de empregado para os outros.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo,
trabalha coletando papel na rua)

Analisando as narrativas acima é possível ter a dimensão da importância do trabalho. Como


através dele os sujeitos constroem suas identidades, se reconhecem dentro de um contexto
globalizado e como a falta dele no decorrer da existência pode provocar lacunas nas suas histórias.
Essa representação tão intensa do trabalho associado à oportunidade, ou seja, em algum momento
de sua história esse sujeito foi tolido desse mecanismo poderoso de inclusão. Em relação a esse
pensamento Carone expõe que:

As iniciativas de igualar as oportunidades para os segmentos excluídos têm sido


chamadas de ‗ações afirmativas‘, cujo objetivo é tornar os muito excluídos de
ontem em (poucos ou muitos?) incluídos de amanhã. A igualdade de condições é,
portanto, a única igualdade de sentido positivo nas democracias atuais e representa
não apenas o reconhecimento de desigualdades sociais que afetam a igualdade
política, mas também a percepção de que são desigualdades diferenciadas com
1194
base na existência de práticas de discriminação e de exclusão por origem, raça,
etnia, idade, sexo, credo religioso, convicção política, ou orientação sexual,
resultantes de processos sociais nem sempre exclusivamente econômicos
(CARONE, 1998 apud CARONE, 2004, p. 19)

Os agentes ambientais representam uma parcela significativa da população e se caracterizam


como uma população na qual a falta é constante em suas histórias. A falta de trabalho é a porta de
entrada para que as outras manifestações exclusivistas entrem em ação, todo o tipo de abstinência
pode ser identificado nestas histórias, mas acredito que a mais marcante para o ser humano é a
social, aquela que afeta as relações. Vivemos em sociedade porque estabelecemos relações e
quando essas relações são afetadas, ocorre o que chamamos de categorização da sociedade. O
preconceito aparece como a mais marcante manifestação da categorização da sociedade, pois
através da sua expressão é possível identificar os mais favorecidos e os menos favorecidos. Os
discursos abaixo são um exemplo de que as manifestações preconceituosas estão presentes em todas
as formas de execução do trabalho com os resíduos sólidos, seja catando na rua ou separando lixo
na usina, as pessoas estão associadas à sua atividade com o lixo. Neste caso o questionamento
dirigido aos agentes foi: ―Você acha que as atividades ligadas ao lixo sofrem preconceito?‖ A
seguir algumas respostas dos agentes:

“Tem preconceito, tem preconceito. Eu sinto uma ignorância, nas caixinhas que a gente juntava e junta tem
as setas, três setas – reciclagem- nós estamos fazendo limpeza na cidade. Eles abusavam da gente, ah é
lixeiro não sei o que, para você ver como é que são as coisas.” (M3 68 anos, casado, três filhos, 4º série
do ensino fundamental, trabalha coletando papel na rua)

“Algumas pessoa tem preconceito, aquele negócio de mexer com papel, acham que é lixo no caso. Para mim
eu ganhando o meu dinheiro não ligo.” (M5 30 anos, solteiro, sem filhos, ensino médio completo,
trabalha coletando papel na rua)

“Com certeza, ou fala ah! Ela trabalha ali porque é nojento, é fedorento.” (F1 39 anos, casada, três
filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo, para uma empresa)

“Elas olhavam pra mim, as mulheres que iam toda arrumadinha, eu estava ainda carregando as coisas nas
costa, porque eu nunca tive assim carrocinha, não. Carregava era nas costas mesmo, ia lá desdobrava uma
porção ia colocando uma dentro da outra , fazia aquela arrumadazinha e aí eu ia. Muitas pessoa riam, mas
riam mesmo de deboche falavam assim: poxa essa mulher só vive carregando lixo e era assim, então eu
cheguei um dia lá e falei ... faz o símbolo da reciclagem, aí o ... fez, eu não consigo fazer, eu já pelejei com
aquelas três setas assim, né. Você faz um daqueles bem grandão que eu quero fazer uma blusa e colocar, aí
quando eles olharem para mim e debochar eu vou mostrar para eles o que é que eu estou fazendo, eu não
estou catando lixo, eu estou catando papelão e papelão é reciclável, ele não é lixo ele serve para vim e
1195
voltar, eu estou ajudando a natureza e eu quero continuar fazendo isso...” (F3 68 anos, casada, três
filhos, 7º série do ensino fundamental, trabalho catando papel na rua)

“Tem. Eu vou falar o que aconteceu um tempo atrás. Veio um primo do meu marido ele falou assim: ih! Sua
mãe é lixeira, ela trabalha com lixo. Aí eu falei assim: é, eu trabalho com lixo, eu tenho muito orgulho de
trabalhar lá, que é de lá que vem o nosso sustento. Aí ele calou a boca dele, pra mim foi tudo.” (F5 32 anos,
casada, quatro filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando o lixo numa usina)

“Sim. Fala muito, o povo fala muito. Eles falam eles fedem, esse povo fala muito, nojera, essa não vida pra
vocês.” (F6 41 anos, casada, três filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo
numa usina)

“Oh! se tem. O nojo, né, a crítica, em vez de falar cooperativa eles falam lá no lixão.” (F4 30 anos,
casada, dois filhos, 4º série do ensino fundamental, trabalha separando lixo numa usina)

Pelas narrativas ficou claro que a categorização está bem delimitada, ou seja, existem os que
trabalham com o lixo e os que não trabalham com o lixo. Dentre as diversas atividades econômicas
desfavorecidas o trabalho com o lixo é a mais discriminada, pois a sociedade tende a descartar o
resíduo material e o humano também. Na concepção de Jodelet a categorização tem dois sentidos
principais, a saber: classificação em uma divisão social e a atribuição de uma característica à
alguém. Nesse sentido na concepção de Jodelet:

Existe, é claro, uma relação entre esses dois sentidos: imputar uma característica a
um conjunto de objetos pode servir para constituí-lo em uma classe definida pela
divisão dessa característica; inversamente, basta ser afetado por uma categoria,
para que se veja atribuir-se a si mesmo uma característica que é típica dela [...]
(JODELET, 2004, p. 60).

As Narrativas dos Agentes e a Teoria das Representações Sociais

Foi escolhido a teoria das representações sociais para analisar os discursos dos agentes
ambientais já que as narrativas atendiam as características das representações que constituem-se nas
concepções dos indivíduos acerca de um objeto e as interações entre os membros de um grupo ou
entre grupos para compartilhar essas concepções. Além de tornar conhecido o desconhecido e,
dessa forma, possibilitar a estabilidade das relações. (MOSCOVICI, 2007).
Paugam (2004) utiliza um termo adequado para descrever a condição das pessoas que se
encontram em situação de pobreza. Para o autor a pobreza está associada a um processo e não a um
estado perpétuo e imutável. Dessa forma o termo desqualificação social pode levar a compreensão
1196
desse processo como a saída gradativa do mercado de trabalho e todas as implicações que estão
associadas á desqualificação social do sujeito.
Nos discursos dos agentes ambientais ficou claro que o trabalho com o lixo só foi
incorporado depois de cessarem todas as outras formas de trabalho, e em muitos casos todas as
ajudas sob a forma de assistência social, já não eram suficientes para o sustento da família.
Paugam (2004) classifica em fases a inserção na pobreza. De acordo com o autor quando
passa a fase da dependência social, na maioria das vezes contra a vontade do sujeito, vem á fase de
ruptura com os vínculos sociais, normalmente nessa fase o sujeito vai se submeter à atividades até
então discriminadas por ele mesmo.
Em alguns momentos da entrevista os agentes ambientais foram questionados sobre
profissão, se eles consideravam a sua atividade com o lixo como uma profissão, a maioria afirmou
que sim, mas alguns falaram que não, que não teriam coragem de assumir o lixo como a sua
profissão em uma compra em uma loja, por exemplo. Em relação a negação dos sujeitos a respeito
do trabalho com o lixo Triandafillidis discorre que:
Se a negação é a resposta do ego quando ele se recusa a crer em uma percepção
que contradiz de modo intolerável um dos seus desejos, mas que no entanto, é
impossível de rejeitar totalmente, pois ela é imposta pela realidade, então a
negação faz parte da vida; as situações que necessitam de negação são inerentes à
vida (TRIANDAFILLIDIS, 1988 apud CARRETEIRO, 2004, p. 90).

As representações sociais dos agentes ambientais demonstraram que eles convivem com
situações muito peculiares de trabalho, ficou evidente também que desenvolveram estratégias de
enfrentamento com relação a reação da sociedade para com a atividade desenvolvida por eles. Por
outro lado ficou evidente que a sociedade ainda não assimilou o trabalho com os resíduos como
uma atividade digna e necessária, ou seja, para ela ainda está distante do cotidiano, ainda não é
comum ver algum manipulando o lixo e, principalmente, considerando essa atividade como uma
profissão. Em relação ao familiar e ao não familiar Moscovici discorre:

A presença real de algo ausente, a ‗exatidão relativa‘ de um objeto é o que


caracteriza a não-familiaridade. Algo parece ser visível sem o ser: ser semelhante,
embora sendo diferente, ser acessível e, no entanto, ser inacessível. O não-familiar
atrai e intriga as pessoas e comunidades enquanto, ao mesmo tempo, as alarma, as
obriga a tornar explícitos os pressupostos implícitos que são básicos ao consenso
(MOSCOVICI, 2007, p.56).

1197
Para a sociedade é mais fácil tratar o corpo doente do que tratar o que o faz ficar doente – o
mal estar social – causado pela discriminação preconceito e pela falta de atendimento por meio das
dimensões institucionais básicas.
Através das narrativas os agentes ambientais transmitiram as suas impressões, suas angústias
e constrangimentos durante as suas trajetórias no mundo do trabalho. De acordo com Moscovici
(2007, p. 30) ―nós percebemos o mundo tal como é e todas as nossas percepções, idéias e
atribuições são respostas a estímulos do ambiente físico ou quase-físico, em que nós vivemos‖.
É relevante ressaltar a importância do grupo na teoria das representações sociais, pois os
sentimentos de medo, injustiça, impotência não se originam isoladamente. Também existe uma
cumplicidade com o grupo interno (ingroup), em relação a adjetivos positivos e negativos, sendo
associado ao grupo de pertença os positivos e negativos aos grupos externos (outgroup), mantendo,
dessa forma, a ordem e o controle interno.
Os agentes ambientais constituem um grupo social, os discursos deixaram claro que eles,
apesar de almejarem algo melhor para suas vidas, valorizam esse trabalho e esse grupo ao qual
pertencem. Na medida do possível vão buscando um espaço digno através da aceitação interna da
sua atividade para então, no futuro, esperar que a sociedade compreenda a importância do trabalho,
seja ele qual for, para a manutenção do equilíbrio social.
Nesse sentido, a partir de Moscovici e outros autores a análise dos agentes ambientais vem
reforçar a compreensão operacional de como as representações sociais são elaboradas coletivamente
a partir da realidade cotidiana.

Referências

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Editora Vozes,

1200
ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA GEOMORFOLOGIA PARA O PLANEJAMENTO
URBANO O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DA CIDADE DE MACAÍBA-RN136

Danyelle Rayane DANTAS (DGE/UFRN) danyelle.rayane@hotmail.com


Silviane Batista Da SILVA (DGE/UFRN) silvianebsilva@hotmail.com
Wellington Costa de MIRANDA (DGE/UFRN) wellingtonmiranda1967@hotmail.com
Orientadora: Profª Drª. Maria Francisca de Jesus Lírio RAMALHO (DGE/UFRN) franci@ufrnet.br

Resumo

Essa pesquisa tem como intenção estudar a importância da geomorfologia para o planejamento
urbano da cidade, em especial na elaboração de seu Plano Diretor. Sabemos que a relação do
homem com o espaço sempre esteve associada à base territorial em que se encontre, possuindo essa
uma dinâmica específica que deve ser respeitada para manutenção do próprio ambiente, da
sociedade atual e futuras gerações, respeitando assim a natureza enquanto recurso finito. A criação
de um plano diretor que utilize os conhecimentos da geomorfologia para proposição de medidas
preventivas e severas no uso e ocupação do solo pode diminuir os efeitos danosos causados ao meio
natural e a vida humana.

Palavras chave: Geomorfologia; Planejamento urbano; Plano Diretor; uso do solo; políticas
públicas.

Abstract
This research is intended to study the importance of geomorphology for urban planning of the city,
especially in the preparation of Master Plan. We know that man's relationship to space has always
been associated with a territorial base in which it is, having the specific dynamics which must be
respected to maintain the proper environment, society and future generations, thereby respecting
nature as finite resource. The creation of a master plan that uses the knowledge of geomorphology
to propose preventive measures and stringent land use and soil can reduce the harmful effects
caused to the natural environment and human life.

Keywords: Geomorphology, Urban Planning, Master Plan, land use, public policies.

136
Pesquisa desenvolvida para conclusão da disciplina Meio Ambiente e Desenvolvimento, orientada pela ProfªDrª.
Maria Francisca de Jesus Lírio Ramalho,no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.

1201
Introdução

A relação do homem com o espaço sempre esteve associada à base territorial em que se
encontre e que essa possui uma dinâmica específica que deve ser respeitada para manutenção do
próprio ambiente, bem como da sociedade que ali habita e modifica. Além das medidas necessárias
para utilização da natureza como recurso finito.
Um dos maiores desafios da gestão urbana é o da convivência harmoniosa entre sociedade e
natureza, tendo em vista que os impactos causados pelo uso indiscriminado de recursos ambientais
afetam tanto a sua disponibilidade como a saúde e qualidade de vida da sociedade.
Esse desafio é da gestão urbana porque é a partir dessa que são elaboradas as normas e padrões
de uso e ocupação do solo, assim como as penalidades e medidas preventivas, por exemplo, da
ocupação de encostas, proximidade a leitos de rios, taxas de permeabilização, gabarito de prédios,
saneamento ambiental, parcelamento do solo e criação de áreas de preservação.
Nós, enquanto pesquisadores, temos interesse em aprofundar nossos conhecimentos acerca da
geomorfologia no que diz respeito ao desenvolvimento da cidade, já que diversos problemas são
gerados pela forma desordenada com que a sociedade ocupa o território. Isso pode causar
desequilíbrios e transtornos nas áreas urbanas, tais como aumento do escoamento superficial das
águas de chuvas em detrimento da infiltração, o que pode provocar enchentes, aumento da sensação
de calor, poluição e assoreamento de corpos d‘água e ampliação da erosão.
A criação de um plano diretor que utilize os conhecimentos da geomorfologia para proposição
de medidas preventivas e severas no uso e ocupação do solo pode mitigar os efeitos maléficos
causados ao meio natural e a vida humana.
Neste trabalho, pretendemos analisar a importância da geomorfologia como ciência de apoio ao
planejamento urbano e das medidas propostas para o uso e ocupação do solo no Plano Diretor
Participativo da cidade de Macaíba-RN.
Com isso teremos a oportunidade de investigar os aspectos geomorfológicos abordados no
Plano e sua importância caso seja ou não bem utilizado. Tomando por base aspectos naturais,
sociais e históricos da ocupação da cidade que resultaram na paisagem atual.
O maior interesse em desenvolver esta pesquisa gira em torno da nossa curiosidade em
aprofundar/conhecer/saber a importância da geomorfologia em estabelecer medidas preventivas ao
uso urbano do solo, observando suas limitações e potencialidades. Além disso, acreditamos que a
experiência e o conhecimento adquiridos com a pesquisa serão fundamentais para a vida
profissional/acadêmica dos geógrafos e dos atores da gestão da cidade em saber lidar com os
indivíduos que desenvolvem esse transtorno.
1202
Sabemos também que, enquanto professores de geografia, temos de estar aptos a mostrar aos
estudantes do ensino básico sua responsabilidade enquanto cidadãos no conhecimento das políticas
de gestão de sua cidade. Como também a colaboração que a geografia pode fornecer para análise da
eficiência de tais políticas.

Importância da geomorfologia para o planejamento urbano

Desde que o homem se tornou sedentário e transformou a natureza em recurso as formas de


relação deste com o meio ambiente causam desequilíbrios. A natureza possui uma dinâmica própria
que permanece independente das mudanças provocadas pela fixação do homem no território, mas
que pode se acentuar ou regredir a partir da intensidade com que o homem modifica uma dada área.
De acordo com SAADI (2009) no Brasil, bem como na maior parte dos países do Terceiro
Mundo,
a aceleração descontrolada deste crescimento tem gerado formas anárquicas de adaptação
da urbanização ao relevo. O relevo constitui a expressão física das condições de equilíbrio
reinantes na litosfera, ou seja, no substrato de todos os equipamentos implantados pelo
homem (P. 1).

O papel da geomorfologia na compreensão das formas de relevo contribui para o


reconhecimento dos processos existentes numa área e os impactos negativos que uma determinada
forma de ocupação pode causar ao ambiente e a população que ali se encontra.
A classificação e o mapeamento geomorfológico são de fundamental importância para questões
de planejamento territorial, político, urbano e ambiental. Sua aplicação se dá em projetos de
gerenciamento ambiental, no diagnóstico de impactos ambientais, no planejamento de uso da terra,
para a engenharia, hidrologia, solos e conservação, ainda na agricultura e controle de erosão e na
delimitação de unidades de paisagem.
A ocupação do solo pela sociedade pode provocar novas morfologias à paisagem, além de
criar áreas de risco numa cidade, por exemplo. Essas áreas não são ―perigosas por natureza‖ é o
homem quem cria o risco ocupando áreas sem conhecer/respeitar os limites impostos por processos
naturais.
Pedro (2009) aponta que a sociedade cria espaços que são idealizados, modelados,
esculturados, destruídos e reconstruídos, como por exemplo,

pode-se citar a edificação de grandes obras de engenharia, tais como a construção de


rodovias, no qual o relevo é modelado com cortes (taludes) criando novas formas, novos
usos e novas dinâmicas. Outro exemplo refere-se à canalização de rios, que passam a escoar
por meio de tubos e canais, alterando não só a dinâmica natural, mas também a social. (p.4)

1203
Logo, um dos maiores desafios para a geografia e a geomorfologia, assim como outras
ciências, na atualidade é o de ―ajustar suas metodologias, ou redirecionar suas ações, na tentativa de
apontar mecanismos e possíveis respostas que possam levar a soluções, que, no mínimo, orientem a
forma adequada de planejar, recuperar ou conservar as diversas paisagens‖. (GUERRA, 2006).
Pedro (2009) ainda ressalta acerca das ações da sociedade no espaço que:

As ações da sociedade resultam na construção de um espaço com características próprias,


sendo um reflexo do avanço da ciência e das técnicas. As ações humanas são conduzidas de
acordo com os interesses políticos, econômicos e sociais, que se expressam no espaço por
meio das formas (as edificações e construções em geral) e as decisões (leis, interesses,
relações de poder, etc.) tomadas pelos setores públicos e privadas.

A fim de entender o papel das decisões, na forma de leis, e da geomorfologia para esse
controle é que escolhemos a cidade de Macaíba que só muito recentemente institui seu Plano
Diretor com controle de uso e ocupação do solo e com alguma preocupação com o meio ambiente.

O Plano Diretor de Macaíba

Localizado na mesorregião Leste Potiguar (Mapa 01), o município de Macaíba integra a


região metropolitana de Natal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) possui uma área de 510,753 KM², o censo 2010 aponta uma população de 69.467
habitantes, sendo 42.631 da zona urbana.

A sede do município tem uma altitude média de 11 m e apresenta coordenadas 05°51‘28,8‖


de latitude sul e 35°21‘14,4‖ de longitude oeste, estando a cerca de 17 km da capital, sendo seu
acesso, a partir de Natal, efetuado através da rodovia pavimentada BR-304.

1204
O município de Macaíba possui 71,95% de seu território inserido nos domínios da bacia
hidrográfica do Rio Potengi e 26% nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Pirangi, sendo
banhado pela sub-bacia do Rio Grande, que o atravessa na direção SW-NE. Os principais tributários
são: os rios Jundiaí, Grande e Japecanga, além dos riachos: Lamarão,Água Vermelha, Taborda, do
Mel e do Sangue. Os principais corpos de acumulação são: as lagoas dos Cavalos, Seca, Santo
Antônio, Tapará, do Papagaio, Grande e do Sítio; e os açudes: Alfredo Mesquita, Cajazeiras,
Bêbado (108.000m3), Cana Brava (100.000m3) e Jambeiro (100.000m3). O padrão de drenagem é
o dendrítico e os cursos d‘água têm regime intermitente.
Possui clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se para o
outono. Com relevo de menos de 100 metros de altitude, planícies fluviais - terrenos baixos e planos
situados nas margens dos rios, vales. Biomas de Caatinga e Mata Atlântica. O mapa 2 mostra que o
município se encontra, em sua maior parte, nos relevos de Planícies Fluviais e Tabuleiros Costeiros.

Mapa 2. Relevo do RN

A ocupação do território do município de Macaíba se deu ao redor do rio Jundiaí em virtude


da circulação de mercadorias no estado que acontecia por este canal. As construções foram
perpetradas próximas as margens do rio e por estarem numa área de vale as vertentes pluviais
descem exatamente para o centro da cidade, parte mais urbanizada, podendo causar alagamentos,
uma vez que o Rio Jundiaí não mais possui seu leito de enchente, ou seja, não tem para onde se
espraiar. Por isso aconteceram muitas enchentes na cidade, esse problema foi, de certa forma,
sanado com a construção de uma barragem.

1205
Ainda hoje o adensamento urbano do município permanece muito próximo ao rio, mas
grande parte de sua área é rural. Como mostra o mapa 3retirado do Plano Diretor.

Mapa 3. Macrozoneamento de Macaíba/RN.

O Plano Diretor de Macaíba/RN diz em seu Art. 2º O Plano Diretor Participativo de


Macaíba é o instrumento básico da política de desenvolvimento territorial sustentável do Município
e no Art. 3º que deve ser observado pelos agentes públicos e privados que atuam conjuntamente na
construção, planejamento e na gestão do território.
Tem como um dos princípios em seu artigo 5º inciso I orientar, promover e direcionar o
desenvolvimento do Município, assegurando a conservação de suas características naturais; além
de garantir o desenvolvimento sustentável, ainda no Art. 5º inciso VIII – adequar o adensamento à
capacidade de suporte do meio físico, o que não ocorre de fato.
Constitui-se uma das diretrizes básicas da política territorial no Art. 6º I – compatibilizar o
uso e ocupação do solo com a proteção ao meio-ambiente, reduzindo a especulação imobiliária e
orientando a distribuição de infraestrutura básica e equipamentos urbanos. Mas, em alguns casos,
por exemplo, é permitida a instalação de indústrias muito próximas a leitos de rios, desobedecendo
a própria lei municipal.
A zona urbana do município apresenta diversos problemas de ordem ambiental e histórica,
tendo em vista que se encontra, em sua maior parte, a margem do Rio Jundiaí, ainda não tem

1206
saneamento básico, ou seja, o esgoto é jogado no rio. A rede de drenagem é muito deficiente. Mas o
saneamento está sendo implantado.
A maioria da área construída não possui área permeável, dificultando a infiltração de águas
pluviais e a maioria das novas residências continua com essa característica, pois a população ainda
desconhece o que está na legislação urbanística que prevê recuos frontal, lateral e de fundo.
O Plano Diretor não institui nenhuma zona de proteção ambiental, mesmo havendo na zona
urbana algumas áreas que necessitam serem preservadas. Como é o caso da mata ao redor do Solar
do Ferreiro Torto, área de mangue. A mata ciliar do Rio Jundiaí nos bairros Tavares de Lira,
Ferreiro Torto, Auta de Souza e Centro, entre outras. Entretanto prevê em seu artigo 9º três Zonas
de Proteção Ambiental (ZPA), que deverão estar previstas em Lei específica do Município, Código
Municipal de Meio Ambiente, o qual não existe.
A ZPA I, §1º constitui-se de áreas de domínio público ou privado, destinadas a recuperação
ambiental urbana, à proteção dos mananciais, à proteção das áreas estuarinas e seus ecossistemas
associados, e as várias formas de vegetação natural de preservação permanente, inclusive
manguezais, sendo incluídas as margens dos rios e bacias fechadas de águas pluviais, onde
quaisquer atividades modificadoras do meio ambiente natural só serão permitidas mediante
licenciamento ambiental e autorização expressa dos órgãos de controle urbanístico e ambiental do
Município.
A ZPA II §2º constitui-se de áreas de domínio público ou privado, que venham a ser
classificadas pelo órgão ambiental do Município como áreas de risco sujeitas aos eventos
ambientais, que possam trazer riscos aos assentamentos humanos e ao patrimônio natural, histórico,
turístico e cultural ou que apresentem espécies ameaçadas ou em risco de extinção, classificadas em
listas oficiais.
A ZPA III §3º constitui-se de áreas de domínio público ou privado, destinadas à proteção
integral dos recursos ambientais nela inseridos, especialmente os ecossistemas lacustres associados
a afloramentos do aquífero sob os tabuleiros costeiros, a vegetação de transição da Mata Atlântica
para a caatinga e demais formas de vegetação natural de preservação permanente, onde não serão
permitidas quaisquer atividades modificadoras do meio ambiente natural ou atividades geradoras de
pressão antrópica.
Nesta seção do Plano Diretor fica percebida a importância de conhecimentos da
geomorfologia da cidade aplicados no mesmo. Considerando a dinâmica das formas de relevo e o
risco aos assentamentos humanos.
Também são observados padrões ambientais e de qualidade de vida na seção que trata das
prescrições urbanísticas da Zona de Adensamento Básico, onde são estabelecidos parâmetros como
taxa de permeabilização, coeficiente de aproveitamento do solo e gabarito máximo das edificações.
1207
Além da seção nove do capítulo II título III que institui o Estudo Prévio de Impacto de
Vizinhança para ―subsidiar o licenciamento de empreendimentos ou atividades, públicas ou
privadas, que na sua instalação ou operação possam causar impactos ao meio ambiente, sistema
viário, entorno ou à comunidade de forma geral, no âmbito do Município‖.
No título IV, capítulo III discute a Política Municipal de Meio Ambiente e tem como
objetivos do Art. 82:

I – manter conservada a cobertura vegetal nas zonas de proteção ambiental;

II – controlar as atividades poluidoras e as que provoquem impacto ambiental;


III – promover a utilização racional dos recursos naturais;
IV – preservar e buscar a recuperação de ecossistemas essenciais;
V – viabilizar a criação de unidades de conservação da natureza no plano municipal.

Entretanto se revela de uma forma generalista no que tange a forma de cumprimento de seus
objetivos.
Em entrevista a SEMUR (Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo) de Macaíba/RN nos
foi informado que a secretaria possui o mapeamento geomorfológico, entretanto esse não foi
utilizado na elaboração do Plano Diretor e está numa escala muito pequena, dificultando sua
utilização em pequenos projetos.
Ainda foi informado que o município possui áreas de risco de ocupação, mas que estas até o
momento não eram protegidas, ou seja, também não há áreas de proteção permanente apesar de
haver necessidade, especialmente nas margens do rio Jundiaí. Não existe nenhum monitoramento
para qualidade das águas do rio nem projetos de proteção do mangue e da fauna aquática.
As indústrias que ficam na zona urbana e de adensamento urbano que não se encontram no
Distrito Industrial de Macaíba (DIM) não possuem plano de tratamento de efluentes e despejam
seus efluentes no rio, contra decisão municipal que prevê que a indústria trate o esgoto antes de
despejá-lo.

Considerações finais

Por meio deste projeto foi possível compreender de forma sucinta as aplicações dos
conhecimentos geomorfológicos ao meio ambiente e ao planejamento e gestão da cidade, em
especial o caso de Macaíba/RN.
A cidade de Macaíba apresenta diversos problemas de ordem ambiental e, apesar da existência
do plano Diretor, as não conformidades continuam acontecendo, não só nas construções e reformas
residências. Talvez mais ainda com relação à indústria e comércio, os quais mesmo necessitando de

1208
licenciamento insistem em não cumprir as normas ambientais e urbanísticas presentes no Plano
Diretor. Sem falar no que o Plano ainda não trata e que deve ser estudado e inserido para que
padrões ambientais seja, cumpridos no município.
Os órgãos de gestão do território nas diferentes esferas do governo devem realizar o
planejamento urbanístico em conformidade com os critérios e informações das ciências afins, em
especial a geomorfologia por sua capacidade de determinar limites para a ocupação humana.
Dado o exposto, podemos inferir que a geomorfologia e o mapeamento geomorfológico
permitem ―estabelecer fieis prognósticos sobre as potencialidades ofertadas ao uso urbano do solo,
bem como sobre as limitações impostas ao mesmo‖.

Referencial Teórico

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dezembro de 2008.

1209
OS MUNICÍPIOS DE ORIGEM DOS ALUNOS MATRICULADOS NO CEFET CURVELO NA
PERSPECTIVA DE PLANEJAMENTO, PROGRAMAS E AÇÕES AMBIENTAIS

Joyce de Matos RAMOS137 (CEFET/MG) – joyceramos.m@hotmail.com

Resumo

Este artigo abordou a área da análise ambiental, a qual pode ser definida como a leitura ou
interpretação de uma dada área, lugar, região ou espaço visando coletar e integrar informações,
diagnosticar, programar e planejar ambientes. Não foi pretensão desta pesquisa apresentar de forma
detalhada ou acurada, um planejamento, um programa e nem mesmo uma ação ambiental ao objeto
de estudo. Embora todas as etapas elencadas anteriormente sejam de suma importância, a
estruturação da análise ambiental se ateve à coleta de dados e à interpretação ou leitura dos
mesmos. O objeto de estudo deste artigo foi cartografar a área geográfica dos municípios de origens
dos alunos matriculados no Cefet Curvelo. Com o objeto delimitado, foi aplicado um questionário
simples contendo perguntas sobre a cidade de origem dos alunos matriculados na instituição e,
algumas perguntas com variáveis para apontar o motivo da escolha em estudar e consequentemente
se deslocar para a cidade de Curvelo, onde a escola está localizada. Para facilitar a análise dos
dados coletados, utilizou-se do ferramental constituído por gráficos, tabelas e mapa. Já o objetivo
do artigo é proporcionar o leitor a partir da compreensão da análise abordada neste estudo, como
didaticamente é fácil realizar a análise ambiental de espaços quaisquer, aguçando este, a mergulhar
na iniciação científica e, consequentemente, contribuir para o campo da pesquisa. O presente artigo
está estruturado da seguinte maneira; uma breve introdução abarcando parte da história do Cefet,
transitando com a apresentação da importância de mapas, gráficos a da análise ambiental para a
leitura de um dado lugar. Posteriormente, discorrerá sobre a metodologia utilizada na pesquisa
assim como a interpretação dos gráficos e mapas gerados a partir do questionário que foi aplicado.
E por fim, as considerações finais, situando a importância da análise ambiental para a interpretação
de lugares quaisquer.

Palavras-chaves: Análise Ambiental; Interpretação Cartográfica, CEFET-MG

137
Estudante do Curso Técnico Integrado de Nível Médio em Meio Ambiente no CEFET/MG – Campus Curvelo.
Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, da Fundação de Amparo à Pesquisa de
Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).Orientador
Prof. Clayton Ângelo Silva Costa, Professor Efetivo do CEFET-MG.
Graduado em Geografia Licenciatura Plena e Bacharelado pela Puc-Minas. Mestre em Ciências Ambientais pela
UEMG. Doutorando em Relações Internacionais pela Puc-Minas.
1210
Abstract

This article covered the area of environmental analysis, which can be defined as reading or
interpretation of a given area, place, area or space in order to collect and integrate information,
diagnose, plan and plan environments. No claim of this research was to present a detailed and
accurate, a plan, a program or even an environmental action to the object of study. Although all the
steps listed above are of paramount importance, the structuring of environmental analysis adhered
to data collection and interpretation or reading them. The object of this article is to map the
geographic area of the counties of origin of students enrolled in Cefet Curvelo. With the object
bounded, we applied a simple questionnaire containing questions about the city of origin of students
enrolled at the institution, and some variables to point to questions about why they chose to study
and consequently move to the city of Curvelo, where the school is located. To facilitate data
analysis, we used the tooling consists of charts, tables and map. Since the aim of the paper is to
provide the reader from understanding the analysis discussed in this study, as didactically is easier
to perform environmental analysis of any space, this sharpening, the plunge in undergraduate
research and thus contribute to the research field. This paper is structured as follows: a brief
introduction of the history of embracing Cefet, moving with the presentation of the importance of
maps, charts the environmental analysis for the reading of a given place. Later, will discuss the
methodology used in the research as well as the interpretation of graphs and maps generated from
the questionnaire that was applied. And finally, the final considerations, placing the importance of
environmental analysis for the interpretation of any places.

Keywords: Environmental Analysis, Cartographic Interpretation, CEFET-MG

Introdução

A análise ambiental pode ser enquadrada como uma ação ambiental a partir do momento que
se tem as informações de um dado lugar para que haja o apontamento de medidas mitigadoras. Não
obstante, pode ajudar no posicionamento crítico da sociedade fazendo com que essa busque e
almeje o planejamento, programas e ações ambientais por parte dos governantes. Nesse contexto, a
partir do diagnóstico do lugar, as autoridades políticas podem traçar intervenções, caracterizando
assim, de fato, uma ação ambiental.
Com o intuito de formular as problemáticas que nortearam a presente pesquisa foi
fundamental buscar o ferramental histórico para compreender a instituição. Logo, para a melhor
compreensão deste artigo, também é interessante ressaltar a história do Cefet-MG. Esse Centro de
Educação Tecnológica (antiga Escola de Aprendizes Artífices de Minas Gerais) foi criado em 23 de

1211
Setembro de 1909, localizado na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte/MG. Em 1942 a escola
se tornou técnica o que foi um grande avanço na época, pois abriu uma série de oportunidades de
estudo (nível superior, cursos técnicos); e os reflexos dessa mudança são muito significativos até
hoje, tudo indica que foi a partir desse momento que o CEFET-MG começou a ganhar um destaque
no mercado de trabalho e na sociedade, por oferecer um ensino de qualidade e ao alcance de
praticamente todos. Esse fato pode ser enfatizado através da citação de OLIVEIRA (1994), onde ele
afirma como a sociedade produz o seu espaço através de seus interesses.

A Geografia explica como as sociedades produzem o espaço conforme seus


interesses em determinados momentos históricos e que esse processo implica uma
transformação contínua (Ariovaldo Umbelino de OLIVEIRA (org) [et al]. Para onde
vai o ensino da Geografia. 5ª ed. Contexto. SP, 1994. p.142).

Para auxiliar na escolha das variáveis apontadas no questionário que foi elaborado e
aplicado aos alunos da instituição, teve-se a preocupação em mencionar o histórico relativo aos
cursos ofertados. Com a criação de novos cursos, a demanda para ingressar na instituição foi
aumentando gradativamente, pois o mercado de trabalho também foi exigindo trabalhadores mais
especializados. E como não podia ser diferente, atualmente o mesmo acontece e a procura por uma
instituição onde se tenha uma tradição (renome) cresce constantemente. Esse fato é percebido
claramente, pois como no Campus X quanto nos outros campus do CEFET, a demanda por uma
vaga é relativamente expressiva, como pode ser visualizado nas tabelas 01 e 02:

Processo Seletivo - 2º semestre de 2012


Unidade Curso Vagas Candidatos/Vagas
Curvelo Engenharia Civil 40 10,43
Fonte: Adaptado http://www.copeve.cefetmg.br/galerias/arquivos_download/CandidatosVagasGraduacao_20 122.pdf
(Acessado em 25/07/2012).
Tabela 01: Relação de candidatos/vagas para o Curso de Engenharia Civil.

Cursos Relação candidato/vaga


Engenharia de Produção Civil 21,44
Engenharia Mecânica 18
Engenharia Elétrica 12,41
Fonte: Adaptado- CEFET-MG http://www.cefetmg.br/noticias/2012/06/noticia0013.html(Acessado em 15/07/2012).
Tabela 02: Relação candidato/vaga para o 2˚ Semestre de 2012 em Belo Horizonte.

A tabela 01 mostra claramente o quanto é concorrido o vestibular para ingressar no CEFET-


MG. Os cursos foram sendo modificados baseando-se na demanda do mercado e possivelmente
atraindo cada vez mais pessoas interessadas no ensino oferecido pela instituição.
O CEFET-MG (Campus X) foi inaugurado no ano de 2010 no município de Curvelo/MG,
localizado na região central de Minas Gerais, a aproximadamente 170 KM da Capital, Belo

1212
Horizonte. No primeiro ano de funcionamento foram ofertados os cursos de Edificações,
Eletrotécnica e Meio Ambiente; a demanda entre os inscritos interessados em ingressar na
Instituição pode ser percebido durante o processo de inscrição, pois segundo os dados da COPEVE
(Comissão Permanente do Vestibular) teve-se uma média de 18,6 alunos inscritos para cada vaga,
isso mostra que a instalação do CEFET em Curvelo despertou o interesse de muitas pessoas. Como
pode ser visto na Tabela 03.
Curso Técnico N˚ de alunos por vaga
Edificações 11,15
Eletrotécnica 15,38
Meio Ambiente 27,03

Fonte: CEFET-MG-http://www.cefetmg.br/noticias/2009/12/noticia0009.html (Acessado em 15/07/2012).


Tabela 03: Número de candidatos em relação ao número de vagas em 2010, Campus X.

Após o breve passeio pela história da instituição as variáveis para integrarem o questionário
que foi aplicado aos alunos, foram traçadas, e posteriormente elaborados os gráficos e mapas que
constituem esta pesquisa. Essa realidade serviu para demonstrar que os mapas são ferramentas
utilizadas para apontar os aspectos existentes em um determinado local em um determinado espaço
de tempo. Eles são utilizados, por exemplo, para demonstrar os estados no nosso país, a vegetação,
o clima, relevo, dentre vários outros aspectos. Sendo de suma importância para se analisar e/ou
planejar um dado ambiente. Segundo R. F. Santos, em seu livro ―Planejamento Ambiental: Teoria e
Prática‖, o planejamento ambiental pode ser definido como o ―planejamento de uma região, visando
integrar informações, diagnosticar ambientes, prever ações e normatizar seu uso através de uma
linha ética de desenvolvimento‖.
Com o passar dos anos, o mapa se tornou uma ferramenta de muita importância em nossas
vidas, pois está presente a todo tempo em nosso cotidiano; com o uso de GPS (Sistema de
Posicionamento Global), com as previsões do tempo, para se planejar uma cidade (Plano Diretor),
enfim são várias as utilidades do mapa. O mapa possui varias utilidades, e dentro da geografia ele
pode ser utilizado tanto para a investigação quanto para a constatação de dados, como pode ser
observado na citação abaixo, na visão de Almeida:

Uma vez que a geografia é uma ciência que se preocupa com a organização do
espaço, para ela o mapa é utilizado tanto para investigação quanto para a constatação
de seus dados. (ALMEIDA 2006, Repensando o Ensino. P. 16)

O mapa neste artigo foi utilizado como uma ferramenta de constatação de informações, ou
seja, durante a pesquisa foram coletados dados e a partir dos mesmos foram confeccionados mapas.
Disso foi possível fazer a análise do espaço, ou seja, nesse caso a análise ambiental a partir da
visualização dos municípios de origem dos alunos matriculados na instituição.

1213
Segundo Lopes, Loch e Bahr (2004), resultados de uma pesquisa, apresentados sob a forma
gráfica de mapas temáticos, torna a informação mais impactante e provoca reação positiva no
administrador, estimulando-o para que soluções sejam providenciadas de forma mais rápida. E foi
nesse sentido de tornar impactante a informação sobre a origem dos alunos do CEFET que foi
criado o referido mapa temático, pois além de mostrar as informações necessárias de forma clara e
objetiva, ele permite ao leitor uma aproximação maior com a realidade e com os dados ali
expressados.

Discussões e Métodos

O artigo foi proposto com a intenção de obter dados sobre a origem dos discentes
matriculados em janeiro dos anos de 2011 e 2012, no Campus Curvelo. E com isso observar os
dados obtidos e fazer as suas devidas interpretações sobre o assunto, relacionando-os com a matéria
de Análise Ambiental, procurando respostas sobre o motivo pelo qual muitos desses alunos
matriculados na instituição optaram por se deslocarem de sua cidade para Curvelo.
Os dados sobre a cidade de origem de cada aluno foram coletados junto ao Registro Escolar
do Campus para haver maior precisão nos resultados aqui mostrados. A partir da obtenção desses
dados foi possível perceber a grande área de influência que o Campus X tem em sua região, pois
como mostra os gráficos 01 e 02 há alunos de vários municípios vizinhos que ingressaram na
instituição, tanto no ano de 2011 quanto no ano de 2012. Vale ressaltar que esta pesquisa foi
apoiada por intermédio de bolsa vinculada ao Programa de Iniciação Científica BIC-Jr.

Fonte: Joyce de Matos Ramos.


Obs: No gráfico onde a porcentagem consta 0% se refere a quantidade de 1 aluno.
Gráfico 01: Cidade de Origem dos alunos do Campus X, no ano de 2011.

1214
Fonte: Joyce de Matos Ramos.
Gráfico 02: Cidade de Origem dos Alunos do Campus X, em 2012.

A instalação do CEFET no Município de Curvelo indica que houve o interesse de alunos de


várias cidades de Minas Gerais, como mostra os gráficos 01 e 02. Desde municípios situados
próximos à Curvelo, que permitem o deslocamento de alunos diariamente, quanto municípios mais
distantes onde há a necessidade dos alunos se mudarem para Curvelo. Esse deslocamento diário de
alunos de municípios vizinhos pode ser caracterizado como um movimento pendular, ou seja, é o
deslocamento diário de uma cidade para outra com alguma finalidade (trabalhar e/ou estudar). Para
a autora BEAUJEU-GARNIER o movimento pendular pode ser definido com o termo commuting:

se reconhecermos que, de fato, há enorme número de pessoas envolvidas nesse


movimento diário, comumente realizado duas vezes por dia, poderemos restringir o
uso do termo ‗commuting‘ a movimentos que encerram três características:
apreciável extensão, uso de alguns meios de transporte mecânicos e certo grau de
convergência (BEAUJEU- GARNIER 1980, p. 292-293).

O deslocamento diário de vários desses alunos (movimento pendular) apontou a força de


vontade dos mesmos em realizar deslocamentos expressivos para alcançarem ou almejarem uma
vida melhor no seu cada dia-a-dia. Para Andan, D'Arcier e Raux (1994, p. 247), a mobilidade
corresponde ao conjunto de deslocamentos que o indivíduo efetua para executar os atos de sua vida
cotidiana (trabalho, compras, lazer).
Através de conversas informais com os estudantes, aferiu-se que os deslocamentos são feitos
diariamente através de carros e transportes públicos. Havendo a necessidade de se ter um
planejamento do trânsito para que o deslocamento seja feito com êxito e não prejudique as
atividades desenvolvidas no município (Curvelo). Essa realidade serve para demonstrar uma ação
ambiental que poderá ser planejada pelo gestor municipal mediante o exposto.
Apesar da grande maioria dos alunos (75% em 2011 e 64% em 2012) serem do próprio
município, o CEFET conseguiu atrair alunos de várias cidades, mostrando desse modo o poder de
atração que o Campus possui, em tão pouco tempo de funcionamento.
1215
Com a oferta de vários cursos, ensino de qualidade, e reconhecimento perante parte da
sociedade, o CEFET parece despertar cada vez mais o interesse de várias pessoas de diferentes
localidades. Pensando nessa realidade foi aplicado um questionário aos alunos com o objetivo de
traçar quais variáveis são responsáveis por atrair alunos oriundos de outros municípios adjacentes a
cidade onde o Campus se localiza. Para demonstrar a variedade de pessoas vindas de outros
municípios, a pesquisa foi capaz de delimitar a área de Influência do CEFET-MG a partir dos dados
relativos a cidades de origem dos alunos matriculados na escola. Essa área de Influência do
Campus X pode ser visualizada nas tabelas 04 e 05, onde há relação entre a cidade de origem e o
número de alunos no Campi.

Tabela 04
Tabela da área de influência do Cefet-MG/ Campus X (2011)
Cidade de Origem dos alunos Número de alunos
Curvelo 163
Felixlândia 7
Lassance 1
Buenópolis 2
Morro da Garça 4
Três Marias 9
Augusto de Lima 5
Presidente Juscelino 3
Sete Lagoas 1
Inimutaba 8
Corinto 9
Paineiras 1
Diamantina 1
Pompéu 2
Cordisburgo 1
Total de Alunos 217
Fonte: Registro Escolar do Campus X
Fonte: Joyce de Matos Ramos, 2011.
*Os dados da tabela 03 se referem aos alunos matriculados no ano de
2011.

1216
Tabela 05
Tabela da área de Influência do Cefet-MG/ Campus X (2012)
Cidade de Origem dos Alunos Número de Alunos
Curvelo 66
Corinto 8
Buenópolis 6
Felixlândia 6
Três Marias 5
Augusto de Lima 2
Belo Horizonte 2
Sete Lagoas 2
Diamantina 1
Monjolos 1
Morro da Garça 1
João Pinheiro 1
Várzea da Palma 1
Total de Alunos 102
Fonte: Registro Escolar do Campus X
*Os dados da tabela se referem aos alunos matriculados ano de 2012.
Fonte: Joyce de Matos Ramos, 2012.

Para ser mais preciso foram 17 municípios diferentes, demonstrando assim a variedade de
alunos de cidades distintas em uma única instituição. Com a leitura das tabelas, percebe-se que a
grande maioria dos alunos são de origem do próprio município de Curvelo, depois vêm os
municípios que se encontram mais próximos ao Campus e que permitem o deslocamento diário dos
alunos. Posteriormente, estão os municípios que estão mais distantes do campus(o mais distante,
com 262Km de distância) e que por esse motivo faz com que os alunos nessa situação residam
próximos à instituição durante o período de estudo, contribuindo dessa maneira com a dinâmica da
economia da cidade em questão.
Para haver uma fidelidade mais expressiva na pesquisa, foi elaborado e aplicado um
questionário quantitativo para se saber os reais motivos e/ou variáveis pelo qual o Campus Curvelo,
foi escolhido para local de estudos. Para Richardson (1999),

método Quantitativo, significa a escolha de procedimentos sistemáticos para


descrição e explicação de fenômenos. O método quantitativo representa, em
princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de
análise e interpretação, possibilitando consequentemente, uma margem de segurança
quanto às inferências.

O questionário foi feito de modo a procurar identificar quais foram os motivos mais
relevantes para a escolha do Campus como a escola para se estudar. Segundo Parasuraman (1991),
um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para gerar os dados necessários para
se atingir os objetivos do projeto.
1217
Na visão de Alyrio (2008), o método quantitativo é utilizado:
nos casos em que se procura identificar quantitativamente o nível de conhecimento,
as opiniões, impressões, hábitos, comportamentos, quando se procura observar o
alcance do tema, do ponto de vista do universo pesquisado, em relação a um produto,
serviço, comunicação ou instituição.

E por isso que foi utilizado o método quantitativo nesse artigo, pois permiti obter dados mais
precisos, sobre a temática utilizada.
Tal questionário apresentou perguntas como, o porquê da escolha do CEFET como
instituição de ensino, quem o incentivou a ingressar na instituição, idade, dentre outras perguntas.
Houve certa dificuldade em obter esses dados dos alunos, pois no período de aplicação do
questionário, a Instituição se encontrava em greve, e não houve o retorno esperado de todos.
Devido essa condição ou realidade o questionário foi enviado ao e-mail de cada turma para
que o mesmo fosse respondido, a partir das respostas obtidas foi elaborado três gráficos, os quais
auxiliaram na cartografia do mapa temático que demonstrou a origem dos municípios dos alunos
matriculados.

Fonte: Joyce de Matos Ramos.


Gráfico 03: Cidade de Origem dos Entrevistados.

Fonte: Joyce de Matos Ramos.


Gráfico 04: Quem o incentivou em ingressar na Instituição.

1218
Fonte: Joyce de Matos Ramos.
OBS.: Alguns alunos responderam com mais de uma opção as perguntas referentes
ao gráfico 03 e 04.
Gráfico 05: O que o levou a escolher o Cefet como instituição de ensino.

Como se observa no Gráfico 03, aproximadamente 25 das pessoas que foram entrevistadas
são do próprio município de Curvelo, e os restantes são de outros municípios (Felixlândia,
Inimutaba, Diamantina, Três Marias e Augusto de Lima); o Gráfico 04 apresenta os resultados
sobre quem os incentivou a ingressar na Instituição, e as respostas mais ditas foram por decisão
própria ou incentivo de pais e familiares, demonstrando assim o grande interesse dos alunos em
ingressar no CEFET, e o apoio por parte da família. Já o Gráfico 05, mostra qual foi o fator que
mais influenciou para o Campus X ser escolhido como escola, a grande maioria dos entrevistados
responderam que foi por causa do ensino de qualidade. Esse fato enfatiza alguns dizeres acima, pois
demonstra a importância do ensino de qualidade ofertado pela instituição e o seu reconhecimento.
Segundo a American Marketing Association (AMA), a área de influência é uma área
geográfica contendo os consumidores de uma empresa particular ou grupo de empresas para bens
ou serviços específicos (Bennett citado por Berman e Evans, 1998). De acordo com os dizeres da
AMA, o CEFET Campus Curvelo, pode ser enquadrado em serviços específicos, ou seja, na
prestação de serviços; no caso, educacionais.
A figura 1 apresenta o mapa temático que demonstra a cidade origem dos alunos
matriculados no CEFET CURVELO, ou seja, representa a área de atração que o Campus possui,
representando assim os ―consumidores‖/alunos do CEFET.

Fonte: Adaptado a partir do mapa disponível no site do IBGE


(http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?uf=31&dados=1).
Figura 01 - Mapa da Área de Influência do CEFET-MG/ Campus X.

1219
Em outras palavras, o mapa acima representa o espaço geográfico da Área de Influência do
CEFET-MG/Campus Curvelo, representando o espaço geográfico da origem dos alunos
matriculados na escola. Para Brunet (2001 [1990]) ―o espaço geográfico é formado pelo conjunto de
populações, por suas obras, suas relações localizadas, pelo seu meio de vida‖.
A figura 1 apresenta os municípios de origem de cada aluno do Campus X, como
demonstrado no mapa, Curvelo atrai alunos de várias cidades, desde cidades mais próximas como
Inimutaba que se localiza a aproximadamente 10,3 km de Curvelo, até cidades mais distantes, como
João Pinheiro que fica à 262 km do município em questão (dados obtidos a partir do Google Earth).
Apesar do número de alunos provindos desses municípios serem relativamente pequeno se
comparado com os do município de Curvelo (como pode ser observado nas tabelas 03 e 04) é muito
importante observar o mapa para se ter uma ideia mais clara sobre a importância que essa realidade
esboça, pois como pode ser observado, vários são os municípios e é a partir dessa análise espacial
que o Campus Curvelo desenha o seu poder de atração em tão pouco tempo de funcionamento.
Segundo Santos:
o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,
de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas
como o quadro único no qual a história se dá (Santos, 1999, p. 51).

As análises dos gráficos contidos no artigo nos remetem a credibilidade da instituição ao


ponto de atrair alunos de lugares distantes, como foi apontado pelas respostas obtidas mediante a
aplicação do questionário. Essa realidade reflete o destaque que o CEFET-MG (Sede) tem ganhado
ao longo dos seus 102 anos de funcionamento, fazendo que isso reflita em seus Campi. Nesse
contexto, o presente artigo poderá chamar a atenção dos gestores dos municípios que possuem
alunos que estudam no Cefet Curvelo, a planejarem melhor suas respectivas cidades com o intuito
de alocar ou direcionar mais investimentos na educação, evitando assim, o aumento do
deslocamento pendular. Realidade essa que caracterizaria uma ação ambiental mediante o
planejamento e programas de cunho ambientais.

Reflexões Finais

Espera-se que esta pesquisa abra as portas para que novos estudos envolvendo a análise
ambiental sejam realizados, aguçando assim, a intenção de jovens vislumbrarem o campo da
iniciação científica. Temáticas diversas poderão ser trabalhadas ou pesquisadas utilizando-se do
ferramental constituído de mapas, gráficos e tabelas. A exemplo da referida diversidade, podemos
mencionar a temática abordada neste artigo, a qual demonstrou os municípios de origem dos alunos
matriculados no Cefet Campus Curvelo ao longo de seus 2 anos de funcionamento, numa área
abarcando 17 municípios na totalidade.

1220
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1221
MEIO AMBIENTE, OCUPAÇÃO URBANA E TURISMO: O CASO DA PONTA DO SEIXAS,
PONTO MAIS ORIENTAL DAS AMÉRICAS

Alexandre dos Santos SOUZA


Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduando do curso de Geografia
alesougeo@gmail.com
Wesley Ramos NÓBREGA
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduando do curso de Geografia
wesjppb@gmail.com
Maria Emanuella Firmino BARBOSA
mariaemanuellaf@gmail.com
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestranda do curso de Geografia
Max FURRIER
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Orientador Dr. e Prof. do Departamento de Geociências
max.furrier@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho tem por objetivos norteadores, fazer uma análise dos aspectos físicos e
ambientais da área compreendida pela Ponta do Seixas, ponto mais oriental das Américas,
localizado na coordenada 34º47ʹO, na porção leste do município de João Pessoa, capital do estado
da Paraíba. Nessa zona costeira (como em outros pontos do litoral paraibano e brasileiro) os
processos modeladores naturais atrelados ao uso e ocupação do solo por atividades antrópicas, tem
dinamizado os processos erosivos e a degradação do ambiente costeiro. Em decorrência disso,
torna-se imprescindível a fiscalização, monitoramento e a conservação da área por parte dos órgãos
responsáveis, criando ações que garantam o cumprimento da legislação vigente. Entre as
implicações da ocupação do terreno costeiro supracitado, averigua-se concomitantemente intensa
ação erosiva na faixa de praia. A caracterização do espaço costeiro apresentada nesse trabalho
constatou o desequilíbrio ambiental em que se encontra essa zona litorânea, fato averiguado tanto
na dinâmica costeira, como também nas obras de engenharia civil que estão projetadas, em sua
maioria, sobre a área limítrofe da berma praial.

Palavras-chaves: Ponta de Seixas; Planejamento ambiental; Ocupação imobiliária; Terreno costeiro.

Abstract

The following research has as its leading objectives, analyze the physical and environmental aspects
of the area known as Seixa's Pontal, the eastern most point in the Americas, located at 34º47 W, in
the eastern portion of the municipality of João Pessoa, the capital of the state of Paraíba. In this
coastal zone (as in other locations of the brazilian, and in other locations of the Paraiba‘s coast).
1222
The natural modeling processes along with the occupation of the area for anthropic activity has sped
up the eroding process and degradation of the coastal line. Due to this occurrence monitoring has
become something of the highest order. The monitoring and the conservation of the area by the
appropriated governmental branches, creating policies that will guarantee the fulfillment of the
current legislation. Among the implications of occupancy of the coastal terrain mentioned above, it
can be evaluated that the intense concomitantly erosive action of the coastal line. The
characterization of the coast presented in this essay conveyed that the environmental misbalance
happening in this coastal zone, this fact being seen in coastal dynamics, as it is also seen in civil
engineering that are projected, in its majority, about the area bordering the beach berm.

Keywords: Seixa's Pontal, Environmental Planning, Real State Occupation, Coastal Terrain

Introdução

A zona costeira onde está localizada a Ponta do Seixas, porção leste do município de João
Pessoa, capital do estado da Paraíba (Figura 1), tem evidenciado nos últimos anos uma série de
problemas de natureza socioambiental entre os quais podemos elencar: degradação da vegetação
nativa, ocupação irregular da orla praial por elementos antrópicos, e erosão costeira.
No caso dos ambientes costeiros, sendo esses, terrenos propícios a intensa especulação
imobiliária e turismo em virtude dos atrativos de recreação que tais ambientes naturais oferecem,
torna-se de grande importância ações de planejamento visando mitigar processos que degradem
esses espaços de extrema relevância no que diz respeito a questões de natureza socioambiental. Para
SEABRA (2005), tais espaços representam perímetros suscetíveis aos processos predatórios que
ocorrem em toda região do litoral nordestino em decorrência do uso e ocupação inadequada desses
terrenos.
Nesse contexto as regiões litorâneas (ou costeiras) constituem as faixas limítrofes entre os
continentes (terras emersas) e os oceanos (terras submersas), representando uma das áreas de mais
intenso intercâmbio de energia e matéria do sistema Terra. Essas regiões estão sendo invadidas, em
escala mundial, pelo rápido incremento populacional, que constitui uma das consequências diretas
do desenvolvimento econômico (SOUZA e SUGUIO, 2003).
Entre os ambientes naturais, aqueles suscetíveis aos processos erosivos são os mais ativos e
frágeis a alterações do equilíbrio dinâmico. Nesse aspecto, as faixas costeiras, sobretudo as com
bases litológicas arenosas, representam indubitavelmente uma área propicia a problemas de erosão.
Segundo BIRD (1993 apud Lins-de-Barros 2005, p.83) esses problemas decorrentes da erosão
costeira vêm sendo observado em diferentes locais do mundo, o que faz da questão um fenômeno
de natureza global.

1223
Para Addad (l997, p.5), a linha de pesquisa mais disseminada, defende que a principal causa
dos processos erosivos nos terrenos costeiros advém em função da "subida global do nível do mar,
responsabilizando" o efeito estufa e consequentemente o aumento da temperatura do planeta, "da
ordem de 0,5ºC nos últimos l00 anos" como principais causadores desse fenômeno.
Outra abordagem científica que tem sido amplamente observada nos últimos anos aponta a
intervenção antrópica nos mecanismo que suprem de sedimento os ambientes marinhos, como fato
que agrava e influi mais intensamente na dinâmica erosiva das orlas praiais. Neste sentido, a
construção de barragens e outros meios de retenção da carga sedimentar que deveria ser depositada
na faixa costeira representam fatores causadores de desequilíbrio no sistema dinâmico da
morfologia praial.

Figura 1 – Localização da área de estudo.

Materiais e Métodos

Para desenvolvimento desse trabalho, foram utilizadas: imagens de satélite e a carta


topográfica Nossa Senhora da Penha 1:25.000 (SB.25-Y-C-III-1-SE); além de registros
iconográficos; consulta à bibliografia especializada e pesquisas de campo. Através desses critérios,

1224
foram balizadas as informações que possibilitaram o estudo da situação geográfica do trecho
analisado.

Caracterização Geológica e Geomorfológica

A Ponta do Seixas é parte integrante da unidade geológica que forma o arcabouço


litoestratigráfico que compõem a Formação Barreiras. O material sedimentar desta unidade advém
basicamente da atuação dos agentes exógenos sobre as rochas do embasamento cristalino, situado
no interior do continente sendo composto por sedimentos areno-argilosos mal consolidados
(FURRIER et al., 2006, p.62). Conforme também citar esse autor, "a Formação Barreiras representa
a evolução de um sistema fluvial desenvolvido em fortes gradientes e sob clima predominantemente
árido e sujeito a oscilações" (FURRIER 2006, p.64, apud ALHEIROS et al., l998).
O terreno estudado está inserido na Baixada Litorânea, que é compreendida por uma forma
de relevo plana constituída de sedimentos recentes do Quaternário, que ocupa as cotas mais baixas
da orla marítima, representada pelas praias e áreas baixas de restingas litorâneas. Essa unidade é
definida por Suguio (1998) como planície de baixo gradiente que margeia corpos de água de
grandes extensões, como o mar ou oceano, representado habitualmente por faixas de terra
recentemente emersas, compostas de sedimentos marinhos e fluviomarinhos, em geral de idade
quaternária.
Nesta perspectiva tem-se a planície costeira local como uma forma de relevo onde os
processos de deposição são superiores aos de desgaste ou dissecação da paisagem. Isto significa
dizer que a verdadeira planície é uma forma de relevo relativamente recente (GUERRA, 2006). As
planícies podem ter diversas classificações (marítimas, continentais, inundação, lacustre, deltaica,
dentre outras), mas a área estudada apresenta-se inserida em uma área de planície litorânea
(FIGURA 2).

1225
Figura 2 – Morfologia da área de estudo. (Fonte: Google Earth 2012).

Na porção estudada, além da diminuição na deposição dos sedimentos arenosos, atrelada ao


transporte natural ocorrente perpendicular à faixa de praia, que intensifica a abrasão dos grãos em
detrimento dos movimentos causados pelas ondas, interferindo diretamente na manutenção do
equilibro dinâmicos da área, verifica-se também que a ocupação inadequada do pós-praia, tem
constituído um cenário desastroso que contribui significativamente na modificação e degradação do
ambiente costeiro em questão.
Um aspecto importante da geomorfologia da porção estudada é a proximidade entre o Baixo
Planalto Costeiro e a planície costeira, tal característica, favorece o surgimento de trechos de
falésias e praias relativamente estreitas (Figura 2). A plataforma continental é resultante de espessas
bacias sedimentares tectônicas, que receberam milhares de metros de sedimento marinho durante a
separação de África e Brasil, através dos grandes movimentos tectônicos de placas, (AB‘SABER,
2005).
Na porção marinha que abrange a Ponta do Seixas, há presença de beach rocks (Figura 3)
fator esse que influência significativamente na dissipação das ondas que na área em questão não
ultrapassam l m, mesmo nas marés altas. A respeito dessas formações marinhas Ab‘Saber, (2005 p.
5) comenta:
Um dos atributos de grande presença no litoral brasileiro, sob a forma de
paleopraias de arenito e representado pela grande extensão de recifes,

1226
ocasionalmente entremeados por setores biogênicos coralígenos. Predominam na
nossa costa recifes em forma de barreiras paralelas dos mais diferentes setores do
litoral intertropical, sobretudo desde o Ceará até o sul da Bahia.

FIGURA 3 – Localização dos beach rocks na área de estudo. (Fontes: Google earth 2012; Foto na imagem:
Valéria Silva 2008).

É importante ressaltar também que as ondas atuam como os principais agentes modeladores
do prisma praial, e que no litoral paraibano são registradas marés que oscilam entre as amplitudes
de -0.1m (micro maré) e máximas de 2.7 m, conforme dados apresentados pela Diretoria de
Hidrografia e Navegação (DHN).
Como se sabe, uma zona costeira é um ambiente muito dinâmico, frágil e fácil de sofrer
alterações em seu equilíbrio. Como principal evidência de fatores que desequilibram esses
ambientes tem-se a erosão costeira, processo natural em faixas litorâneas e que por outro lado pode
trazer sérios danos sócios ambientais quando é acelerado por intervenções de natureza antrópica
(Figura 4).

1227
Figura 4 – a) Localização da Palhoça do Seixas no ano de 2005. Fonte: Google Earth, 2005; b) Área na qual estava
situada a antiga Palhoça do Seixas. Fonte: Google Earth, 2009; c) Imagem aérea onde estava construída a antiga
palhoça do Seixas, estabelecimento muito frequentado na década de 1990. Disponível em:
http://www.panoramio.com/photo/8859527. Acesso em: 15 setembro 2012; d) Situação atual da área em questão. A
erosão nesse trecho apresenta um grau bastante considerável e já compromete toda a infraestrutura (estacionamento
público e sistema de drenagem fluvial) da área (Foto: Alexandre Souza, 2012).

É importante observar também que a dinâmica responsável pelo comportamento das praias
principia sua atuação na base da antepraia (shoreface), a qual representa o limite externo da camada
limite da costa, e que dependendo do clima de ondas, essa camada se estenderá a profundidades de
uma a duas dezenas de metros e tendo a praia como perímetro mais interno, (CALLIARI et al.,
2003, p. 64).
Na orla ao norte da Ponta do Seixas, especificamente na zona limítrofe do trecho estudado
encontramos a mais ilustre falésia do estado da Paraíba, denominada de falésia do Cabo Branco,
importante ponto turístico e que também tem sido afetada por intensos processos erosivos conforme
(Figura 5 a/b). Ao sul, encontramos a desembocadura do rio do Cabelo (Figura 5 c/d), bastante
degradado por elementos antrópicos, salientando que os rios são elementos fundamentais para
reabastecimento de sedimentos das praias. Sobre isso, Addad (1997, p. 5) comenta que a
interferência humana nos suprimentos sedimentares das praias aumentou dramaticamente nas
ultimas décadas, fato que pode ser considerado como fator desequilibrante do perfil das praias.

1228
Figura 5 – a) Falésia do Cabo Branco; b) Face praial da Falésia do Cabo Branco vista a partir da Praia do Seixas;
c) Construções na margem do leito do rio do Cabelo; d) Desembocadura do rio do Cabelo, porção ao sul da
Ponta do Seixas.

No que tange os processos erosivos ocorridos na linha de costa estudada, foi possível
averiguar um processo natural de desgaste que se agrava em áreas onde ocorrem pontões e
enseadas. No caso da Ponta do Seixas, ocorre a uma taxa maior devido à concentração das ondas
refratadas durantes as marés altas. No espaço em questão, esses processos intensificam a erosão na
faixa limítrofe da berma em decorrência de uma série de construções impróprias e indevidas que
estão postas na zona de pós-praia conforme citado anteriormente.
Outro agravante que altera a paisagem local e atesta o quanto a região carece de
planejamento técnico são as barricadas de contenção feitas com estacas de madeira e rocha calcária
na zona da berma. Nesse aspecto tem-se o calcário como um material inadequado uma vez que sua
composição cárstica, tem como característica principal a dissolução química, processo que em
decorrência da dinâmica imposta pela atmosfera costeira se torna consideravelmente acelerado,
fazendo-se necessário a reposição do material periodicamente, em virtude do desgaste provocado
pelos fatores exógenos atuantes na área (Figura 6).

1229
Figura 5 – a) Bares da orla do Seixas afetados pela erosão; b e c) Construções obstruindo a linha de berma e
consequentemente o acesso de pessoas à praia; d) Enrocamento improvisado com utilização de estacas de madeira
e rochas calcárias, outro elemento que impede a livre circulação de pessoas a face praial.

No escopo de compreender a situação ambiental da área estudada, torna-se relevante analisar


o meio físico a luz de normas regulamentares instituídas que proponham a preservação do Meio
Ambiente, bem como o estabelecimento humano no espaço geográfico. Principalmente, porque no
litoral do brasileiro são comuns muitos problemas de natureza antrópica bem conhecidos, entre os
quais são citados por Ab‘Saber (2005, p. 12).'

Falta de fiscalização do poder público sobre o uso do solo da linha de costa, que
resulta em degradação estética da orla e na alta densidade urbana de pontos
turísticos do litoral; Lixo residencial que desce pelos múltiplos rios do litoral em
dias de enxurrada, composto em parte de materiais não biodegradáveis, que se
acabam depositando no fundo do mar ou alcançando as praias da região; Lixo que
se deposita nas praias próximas dos centros urbanos litorâneos; Falta de recursos
financeiros e determinação política para o gerenciamento costeiro.

Desta forma foram observados alguns parâmetros da Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1931,
da Política Nacional do Meio Ambiente. Segundo essa Lei, conforme disposto no Art. 2º, ―A
Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.‖
1230
Baseado no Artigo supracitado e examinando a situação da área de estudo foram sublinhados os
seguintes princípios que constam nos parágrafos regulamentadores da mesma Lei:

 IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;


 VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
 IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação;
 X. Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Desta forma, considerando o fato de que a faixa de pós-praia da Ponta do Seixas e sua
adjacência norte e sul encontram-se sobre forte intervenção antrópica, sobressai-se notória
possibilidade ser esse um trecho que bem exemplifica (no que tange os itens supracitados da Lei Nº
6.938 da Política Nacional do Meio Ambiente), um espaço onde a normas legais de planejamento
ambiental não foram respeitadas, contribuindo assim com o processo de degradação da área.
Tais conclusões avigoram-se com o Artigo 3º da mesma Lei que define como ―degradação
da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente‖ (item II) e que de
alguma forma resultem em atividades que: ―criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas; e afetem desfavoravelmente a biota‖, (conforme subitens B e C, item III da mesma
Lei).
A porção estudada conforme observado nas (Figuras 5 e 6 acima) apresenta o terreno
costeiro de pós-praia ocupado por uma quantidade significativa de construções civis (casas, bares e
associações recreativas) e que de acordo com as aferições realizadas infringem a artigos da lei Nº
7.661, de 16 de maio de 1988 do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, uma vez que,
conforme o Art.10 dessa lei ―As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo
assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido,
ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas
protegidas por legislação específica‖.
A partir do que expõe o artigo supracitado, tem-se na área total descumprimento da
legislação vigente que regula a ocupação do acrescido de marinha da União, fato comprovado
através dos registros efetuados na área, uma vez que, conforme o parágrafo 1º do Art.10 ―Não será
permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou
dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo‖. A partir dos pressupostos legais apresentados
foi definida a seguinte situação do trecho estudado:

A) Pós-praia estreita e intensamente ocupada em algumas áreas devido ao processo de


urbanização e visivelmente afetado pela abrasão das preamares de sizígias.

1231
B) Degradação da desembocadura do rio do Cabelo evidenciando a grave interferência
antrópica.
C) Construção de enrocamentos a base de blocos de calcário e estacas de madeira na área de
berma, visando conter o avanço do mar, fato que pode agravar ainda mais o equilíbrio
dinâmico da face praial.
D) Orla costeira bordejada por construções de casas, bares e restaurantes servindo como
contenção aos sedimentos que deveriam ser depositados naturalmente na praia pela ação
gravitacional existente, levando em consideração a proximidade com os trechos escarpados
dos tabuleiros litorâneos.
E) Destruição de estruturas artificiais construídas sobre a face praial e pós-praia provocada
durante as marés altas.

Considerações Finais

Como resultado final desse trabalho, concluímos que o processo de ocupação do espaço
costeiro que abrange a Ponta do Seixas e suas adjacências, traz consigo fortes implicações que têm
como saldo: degradação da paisagem; ausência de planejamento no uso do solo; e ocupação
desordenada da orla praial por infraestruturas inadequadas em áreas de risco.
Destarte, faz-se imperativa a necessidade de soluções eficazes que visem mitigar os efeitos
da deterioração em que se encontra a zona em questão, permitindo assegurar de maneira efetiva,
uma ocupação adequada e sem maiores danos a sociedade e ao meio ambiente. Para tanto, será
imprescindível que tais soluções, aconteçam por intermédio de uma ação integradora entre a
sociedade e poder público, onde os esforços técnicos, financeiros e humanos, sejam conjugados, a
fim de conter os impactos causados num ambiente consideravelmente frágil, como é a zona praial.
Em suma, deve-se ressaltar que, tais medidas, sejam implantadas a fim de promover a
recuperação e a preservação desse ambiente, uma vez que, a análise da área demonstrou uma série
de consequências socioeconômicas negativas em função da falta de planejamento e ocupação do
solo da zona costeira estudada. Fazendo-se necessário assim, a intervenção por parte dos órgãos
públicos responsáveis pela fiscalização desse bem público, a fim de promover um ordenamento
adequado do espaço em questão considerando sua vulnerabilidade física e a importância turística do
terreno costeiro que abarca a Ponta do Seixas.

1232
Referências

AB'SABER, A. Litoral do Brasil / Brazilian coast. Sao Paulo, Metalivros, 2005, 281 p., publicado
na Obra de Aziz Nacib Ab´Saber, 2010.

ADDAD, J. Alterações fluviais e erosão costeira. Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume
2, n.2 Jul/Dez 1997, 21-44.

BORGES, P., et al. A erosão costeira como factor condicionante da sustentabilidade. 15º
Congresso da APDR, p. 66-75, 2009.

CALLIARI, L. J., et al. Morfodinâmica praial: uma breve revisão. Revista Brasileira de
Oceanografia, 51: 63-78, 2003.

FURRIER, F., et al. Geomorfologia e Tectônica da Formação Barreiras no Estado da Paraíba.


Revista do Instituto de Geociências – USP. Geol. USP Sér. Cient., São Paulo, v. 6, n. 2, p. 61-70,
outubro 2006.

GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico - geomorfológico. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 5ª ed. p.652, 2006.

LINS-DE-BARROS, F. M. Risco, vulnerabilidade física à erosão costeira e impactos sócio-


econômicos na orla urbanizada do município de maricá, rio de janeiro. Revista Brasileira de
Geomorfologia - Ano 6, nº 2 (2005) 83-90.

SEABRA, Giovanni de Farias. Turismo Insustentável: degradação da cultura e do meio ambiente


no Estado da Paraíba. In Revista Paraibana de Geografia. Vol. II. Número 1. João Pessoa: DGEOC
- UFPB, 2000 (89-100).

SOUZA, C.R de G. e SUGUIO, K. The coastal erosion risk zoning and the São Paulo Plan for
Coastal Management. Journal of Coastal Research, Special Issue 35, p. 530-547, 2003.

SUGUIO, K. Dicionário de Geologia Sedimentar e Áreas Afins. Rio de Janeiro. Ed. Bertand Brasil.
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SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais: (passado + presente = futuro?).


São Paulo: Paulo‘s comunicação e Artes Gráficas, p.366. 1999.

DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO. Disponível em:


https://www.mar.mil.br/dhn/dhn/index.html. Acesso em: 13 de Setembro 2012.

LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1931, DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em 22 de Setembro
2012.

LEI Nº 7.661, DE 16 DE MAIO DE 1988, PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO


COSTEIRO - PNGC. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7661.htm. Acesso
em 22 de Setembro 2012.

1233
BASES MOTIVACIONAIS PARA O CUIDADO AMBIENTAL: UM EXAME DA
LITERATURA EM PSICOLOGIA

Dandara MORAIS
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bolsista IC/CNPq – dandaramrs@gmail.com
Raquel Farias DINIZ
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Doutoranda – raquelfdiniz@gmail.com
José Q. PINHEIRO
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Prof. Dr. – pinheiro@cchla.ufrn.br

Resumo

O mundo vivencia um contexto de crise generalizada das condições ambientais, que revela fatores
críticos considerados consequências da ação humana sobre o meio ambiente. Dessa forma, os
esforços para superar tais condições por meio da promoção de mudanças nesse contexto, precisam
partir, inicialmente, de mudanças de conduta nos indivíduos. Objetivando uma melhor compreensão
dos fatores subjetivos que compõem o compromisso pró-ecológico, realizamos levantamento de
literatura voltada para o tema motivação, com foco em quatro teorias sobre bases motivacionais: a
teoria da autodeterminação, a teoria da ativação da norma, a teoria do valor-crença-norma e a teoria
do comportamento planejado. Os modelos teóricos se centram em três predisposições psicológicas:
valores, atitudes e normas e apresentam diferentes possibilidades de compreensão do
comportamento, além de abrirem espaço para intervenções e incentivos ao aumento das ações pró-
ecológicas.

Palavras-chave: motivação, compromisso pró-ecológico, comportamento pró-ecológico

Abstract

The world has experienced a context of generalized crisis of environmental conditions, which
reveals critical factors considered consequences of the human action over the environment. Thus,
the efforts to overcome these conditions by fostering changes in this context should start from
individual behavioral changes. Aiming at a better understanding of the subjective factors that are
part of the pro-ecological commitment, we have conducted a survey of studies about the topic
motivations. Our review was focused on four theories: self-determination, norm-activation, value-
belief-norm and the theory of planned behavior. These models focus on three psychological
predispositions: values, attitudes and norms, presenting different possibilities on how to
comprehend behavior and propose interventions and incentives to increase pro-environmental
actions.

Keywords: motivation, pro-ecological commitment, pro-ecological


1234
Introdução

O mundo vivencia um contexto de crise generalizada das condições ambientais. Crise esta
que se revela nos sinais de escassez dos recursos naturais, produção descontrolada de lixo, consumo
excessivo de produtos, níveis crescentes de poluição – para citar alguns pontos mais alarmantes.
Estes fatores podem ser considerados consequências da ação humana sobre o meio, o que faz com
que esta se constitua como uma crise comportamental de efeitos diretos sobre o meio ambiente, ou
seja, uma crise humano-ambiental (Pinheiro & Pinheiro, 2007; Tuan, 1980). Os esforços em vista
de superar tais condições demandam não apenas o enfoque das ciências físicas e biológicas, as
ciências humanas tem um papel central para perpetrar mudanças nesse contexto, a partir das
mudanças de conduta nos indivíduos (Kurz 2002; Oskamp, 2000). Nesse sentido, a Psicologia
busca cumprir seu papel no entendimento dos processos cognitivos, emocionais e motivacionais que
favorecem comportamentos em favor do meio ambiente. O estudo das transações entre as pessoas e
o ambiente busca promover uma harmonia entre ambos e, consequentemente, o bem-estar humano e
a sustentabilidade ambiental (Bonnes & Bonaiuto, 2002; Wiesenfeld, 2005).
A importância de atuar para mudar tal contexto ambiental é largamente reconhecida e há
muito conhecimento facilmente disponível sobre quais são as questões a serem revistas e de que
forma cada indivíduo pode mobilizar-se para isso. O bem estar físico e psicológico e, de maneira
geral, o futuro coletivo, dependem da restauração e manutenção da qualidade do ambiente, porém
as pessoas continuam relativamente inativas a esse respeito (Pelletier, 1998). Não obstante, as
atitudes pró-ambientais permanecem fortalecidas, a maior parte das pessoas concorda que conservar
o meio ambiente é algo bom (Vining & Ebreo, 2002). Sendo assim, por que não há mais
comportamentos pró-ambientais? Se há informação disponível e predisposições favoráveis, por que
o número de pessoas envolvidas em ações de conservação não é maior? No intuito de acessar as
razões para essa questão e compreender algumas das razões para a permanência dos
comportamentos, nos propusemos ao estudo das motivações para o compromisso pró-ecológico.
De forma simplificada, a motivação pode ser compreendida como motivo, referente a um
estado de carência, uma necessidade que impele à ação, sendo essa necessidade a própria instância
que desencadeia a ação (Pisani, Pereira, & Rizzon, 1994). Em outras palavras, a motivação
predispõe à ação, portanto, estudá-la possibilita um maior esclarecimento sobre as razões para que
um comportamento ocorra em detrimento de outros. Essa compreensão auxilia no desenvolvimento
de estratégias que incentivem o surgimento de determinados comportamentos, incluindo as que
busquem criar as condições ideais para que certo número de pessoas se sinta motivada a preservar o
ambiente (Tabernero & Hernández, 2006). O crescente interesse pelo estudo do tema, então, se
justifica por seu potencial prático em aperfeiçoar o desenvolvimento, desempenho e bem-estar das

1235
pessoas (Ryan & Deci, 2000). Assim, o objetivo deste estudo foi realizar um aprofundamento
teórico sobre o tema motivação, tendo como foco a literatura psicológica que trata das bases
motivacionais do comportamento pró-ecológico.

Método

Foi realizada revisão de literatura, por meio de leitura e análise crítica de referências
bibliográficas relativas ao comportamento pró-ecológico. Tais referências foram identificadas a
partir de trabalhos anteriores de nosso grupo de pesquisa (Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-
Ambiente – GEPA/UFRN), bem como por meio de bancos de dados bibliográficos, como o
PsycINFO, acessados via Portal de Periódicos da Capes. Elas apresentam, em sua maioria, sínteses
de diferentes formas de compreender a motivação, propostas por vários teóricos.
A partir dessa revisão inicial foi feito o levantamento de algumas teorias sobre bases
motivacionais que vem sendo amplamente utilizadas nos estudos sobre comportamento pró-
ecológico (Vining & Ebreo, 2002). Este levantamento se deu por via de leituras, seguidas de
fichamentos e discussões semanais entre os pesquisadores responsáveis pelo estudo, que
possibilitaram a delimitação dos aportes teóricos a serem aprofundados. Neste segundo momento,
foi realizado, também, o aprofundamento em alguns conceitos da Psicologia Social – quais sejam:
atitudes, valores e normas – a fim de introduzir e facilitar o entendimento das proposições teóricas.
Por fim, foi dado seguimento ao mesmo processo de apropriação do conteúdo: leitura,
elaboração de fichamentos e discussões semanais. Nessa etapa foi feita uma análise em
profundidade das proposições e conceitos de cada teoria, elencadas na etapa anterior e apresentadas
na seção de resultados, a seguir.

Resultados

Ao se estudar mais profundamente o tema da motivação (para a prática da conservação


ambiental), observa-se que se trata de um conceito amplo e de difícil delimitação, que é abordado
de diferentes formas (Corral-Verdugo, 2001). A ideia de motivação engloba um conjunto de fatores
que funcionam como bases motivacionais, diferentes conceitos que fazem parte das teorias
consideradas neste estudo. Inicialmente, para facilitar a compreensão das teorias, apresentamos
esses conceitos.
As atitudes são predisposições, maneiras organizadas de pensar, sentir e reagir a
determinado objeto ou classe de objetos, sejam pessoas, grupos, problemas sociais ou qualquer
acontecimento no ambiente. Possuem três componentes: cognitivo, o conjunto de crenças e
cognições acerca do objeto; afetivo, correspondente à carga afetiva a favor ou contra o objeto; e
comportamental, a predisposição à ação (Pisani et al., 1994).
1236
Os valores, embora também impliquem estes três componentes, diferem das atitudes por
serem conceitos mais gerais e abrangentes, que podem servir de ponto de partida para várias delas.
Eles orientam e fornecem parâmetros para o julgamento, avaliação e adoção de condutas, doutrinas,
crenças, ideologias e culturas (Pisani et al. 1994). As orientações de valor tomam forma durante o
processo de socialização e são razoavelmente estáveis em adultos. Além disso, não são exclusivas,
ou seja, os indivíduos podem ter vários valores para a mesma situação (Stern & Dietz, 1994).
As normas são crenças compartilhadas sobre como se deve agir, podendo ser de dois tipos,
pessoal ou social. A norma social, ou norma subjetiva, se baseia em expectativas de grupo acerca
de como agir, sendo definidas e impostas externamente (Ros & Gouveia, 2001). Por sua vez, a
norma pessoal, ou norma moral, refere-se às expectativas do próprio indivíduo sobre uma ação
específica em uma situação particular, sendo assim definida internamente e experimentada como
um sentimento de obrigação moral (Thøgersen, 2006). Portanto, a norma pessoal e a norma social
diferenciam-se pelo grau de internalização.
O presente estudo contemplou quatro proposições teóricas desenvolvidas em Psicologia que
abordam est as bases motivacionais para o comportamento e que servem aos estudos da pró-
ambientalidade: a teoria da autodeterminação, a teoria da ativação da norma, a teoria do valor-
crença-norma e a teoria do comportamento planejado. Em seguida, tais proposições serão
apresentadas de forma sintética.

Teoria da Autodeterminação
A teoria da autodeterminação estipula que o ser humano possui uma propensão inerente de
crescimento e necessidades biológicas inatas, entre elas competência, vínculo e autonomia, que são
as bases de sua motivação (Ryan & Deci, 2000). Segundo essa teoria, o comportamento se baseia
em três tipos gerais de motivação: intrínseca, extrínseca e amotivação, que se diferenciam pelo seu
nível de autodeterminação.
A amotivação é o estado de falta de intenção para agir, quando o sujeito não realiza a ação
ou a realiza sem intento, apenas seguindo uma moção. Resulta de não valorizar uma atividade, não
sentir-se competente para fazê-la, ou não esperar que esta atinja uma consequência desejada. Por
sua vez, a motivação intrínseca está no outro extremo da autodeterminação, é a mais interna das
três, sendo a própria tendência inerente ao ser humano de buscar por novidades e desafios, aumentar
e explorar suas capacidades. Gera melhor desempenho, persistência e criatividade, além de
autoestima e bem-estar, que a motivação extrínseca (Ryan & Deci, 2000). Para que o indivíduo
possa ser motivado intrinsecamente, a atividade precisa representar um interesse intrínseco para ele,
para a qual ele possua sentimentos de competência e, principalmente, um senso de autonomia.
Portanto, recompensas tangíveis, bem como ameaças, prazos, diretivas, avaliações e metas impostas

1237
minam a motivação intrínseca, pois conduzem a uma percepção de causalidade externa. A
motivação extrínseca acontece quando a ação se deve a reforços ou punições externas, e ocorre para
alcançar consequências positivas ou evitar negativas.
Um estudo desenvolvido por Osbaldiston e Sheldon (2003) buscou verificar a eficácia desta
teoria em promover comportamento pró-ecológico. Os autores acessaram as motivações de 162
participantes por meio de metas pessoais auto-selecionadas. Inicialmente, eram fornecidas
informações acerca dos problemas ambientais, para demonstrar a importância das metas. Então, a
partir de uma lista, os participantes selecionaram três metas ambientais que eles pudessem alcançar
no decorrer de uma semana. Durante esse período, os pesquisadores mediram o suporte percebido, a
autonomia, a motivação internalizada, o desempenho da meta e as intenções futuras. Seus resultados
demonstraram que a motivação autodeterminada pode promover uma mudança mais duradoura no
comportamento pró-ecológico, e que os participantes que apresentaram formas intrínsecas de
motivação tiveram melhores desempenhos que os demais.

Teoria da Ativação da Norma


A teoria da ativação da norma, proposta por Schwartz, aborda o processo de formação das
normas pessoais (Harland, Staats, & Wilke, 2007). São centrais para isto os ativadores, sendo
quatro fatores situacionais e dois traços de personalidade.
Os ativadores situacionais são: consciência da necessidade, que diz respeito a quanto a
atenção do indivíduo está voltada para alguém ou algo (como o meio ambiente) em necessidade;
responsabilidade situacional, referente a quanto o indivíduo se sente responsável por aquela
necessidade e suas consequências; eficácia, ou seja, o quanto ele percebe que suas ações podem
aliviar a necessidade; e habilidade, a percepção do indivíduo da disponibilidade de recursos e suas
capacidades para desempenhar o comportamento (Harland et al., 2007). Os traços de personalidade
ativadores são atribuição de responsabilidade, ou seja, a tendência a reconhecer ou negar a
responsabilidade por suas ações; e consciência das consequências, a compreensão pelo indivíduo de
que suas ações podem ter consequências para o bem-estar dos demais (Milfont, Sibley & Duckitt,
2010).
Os ativadores predispõem ao comportamento. Assim, na presença de ativadores situacionais,
a avaliação do indivíduo ativa a norma pessoal, que funciona como mediadora e leva à ação. Os
traços de personalidade ativadores, por outro lado, por serem inerentes ao indivíduo, são
suficientemente motivadores por si só; assim a ação pode ocorrer sem a mediação da norma pessoal
(Harland et al., 2007).
Em um estudo para verificar a aplicabilidade da teoria para o comportamento pró-ecológico
auto-relatado, Milfont et al. (2010) confirmaram a possibilidade de generalização do papel

1238
moderador dos componentes da ativação da norma, ou seja, os autores observaram que há uma
relação entre a percepção dos problemas ambientais, a atribuição de responsabilidade e valores
altruístas e que estes fatores levam ao comportamento pró-ecológico independentemente do grupo
cultural.

Teoria do Valor-Crença-Norma
A teoria do valor-crença-norma surgiu no contexto da Psicologia Ambiental, desenvolvida
no intuito de compreender o compromisso pró-ecológico em diferentes níveis: do comportamento
em uma esfera individual a qualquer ação de natureza participativa desenvolvida para melhorar a
qualidade do meio ambiente (Sevillano, Aragonés, & Schultz, 2010).
A proposta apresentada pela teoria é de que os valores podem afetar as crenças sobre as
consequências dos objetos de atitude para as coisas que um indivíduo valoriza e, assim, ter
consequências para as atitudes e o comportamento do indivíduo (Stern & Dietz, 1994). Utilizando
os movimentos ativistas como ponto de partida para sua análise, os autores sustentam que
indivíduos que aceitam os valores básicos de um movimento, acreditam que objetos de valor estão
ameaçados, e acreditam que suas ações podem ajudar a restaurar estes objetos de valor,
experimentam uma obrigação moral que os predispõem a fornecer suporte (Stern, Dietz, Abel,
Guagnano, & Kalof, 1999).
Desta forma, os valores funcionam como ponto de partida para a formação das crenças que,
por sua vez, ativam as normas - geradoras de comportamento.

Teoria do Comportamento Planejado


A teoria do comportamento planejado, elaborada por Ajzen (1991), propõe que o
comportamento humano é guiado por três tipos de considerações: crenças sobre as prováveis
consequências ou outro atributo do comportamento (crenças comportamentais), crenças sobre as
expectativas normativas das outras pessoas (crenças normativas), e crenças sobre a presença de
fatores que podem melhorar ou dificultar o desempenho do comportamento (crenças sobre
controle). As crenças comportamentais produzem uma atitude acerca do comportamento; as crenças
normativas resultam em pressão social percebida, ou norma subjetiva; e as crenças sobre controle
dão origem ao controle percebido do comportamento, que diz respeito à facilidade ou dificuldade
percebida em desempenhar o comportamento (Ajzen, 2002).
A união dos três fatores (ou seja, atitude, norma subjetiva e controle percebido) leva à
formação de uma intenção de comportamento, que é o antecedente imediato do comportamento.
Quando o controle real sobre o comportamento é suficiente, isto é, quando as pessoas são realistas
em seus julgamentos acerca do controle sobre o comportamento, o indivíduo tende a agir quando
surge a oportunidade (Ajzen, 1991, 2002).
1239
No estudo de Cheung, Chan e Wong (1999), 82 estudantes universitários responderam a um
questionário sobre o comportamento de reciclagem. Os autores constataram que a teoria do
comportamento planejado conseguiu predizer significativamente tanto a intenção comportamental
quanto o comportamento auto-relatado de reciclagem do lixo um mês após a aplicação do
questionário.

Discussão

As teorias apresentadas são amplamente utilizadas nos estudos de psicologia ambiental, na


análise da predisposição para o cuidado ambiental. Elas fornecem importantes subsídios para a
compreensão da motivação para atuar em favor do meio ambiente, podendo assim, além disso,
embasar estratégias interventivas. Entre as diferentes ideias apresentadas em cada uma delas, é
possível identificar alguns pontos em comum, como a ênfase dada a certos aspectos individuais
internos. Na teoria da autodeterminação, o indivíduo não apenas precisa sentir-se capaz de realizar a
ação, é necessário também que ele se perceba autônomo, e tão mais intensa será a motivação quão
mais auto-regulada ela for. Da mesma forma, a teoria do comportamento planejado pressupõe que o
indivíduo se perceba em controle do comportamento em questão, para que este se concretize. A
teoria da ativação da norma apresenta entre seus ativadores situacionais a eficácia e a habilidade,
que são referentes ao mesmo tipo de noção de percepção do indivíduo.
No mesmo sentido de focalizar aspectos subjetivos, a teoria do valor-crença-norma e a teoria
do comportamento planejado valorizam a capacidade de raciocínio e análise do ser humano – e a
segunda, de fato, parte da suposição de que as pessoas são essencialmente racionais, fazendo uso
sistemático das informações disponíveis e não sendo controladas por motivos não-conscientes nem
apresentando comportamentos impensados (Kollmuss & Agyeman, 2002).
Além de sublinharem a importância da auto-regulação, algumas das teorias apontam para a
maior intensidade da motivação que se funda em aspectos inerentes ao indivíduo, como o interesse
intrínseco que esse possa sentir pela atividade em questão, ou os traços de personalidade que geram
a tendência a assumir responsabilidades e compreender as consequências das próprias ações. Tais
características de tal maneira inerentes ao sujeito são de difícil manipulação, tanto que os próprios
autores não manifestam expectativas de que seja possível incentivar o surgimento de motivações
intrínsecas, mas somente autodeterminadas até certo nível.
Os conceitos estudados como bases motivacionais possuem grande valor para uma melhor
compreensão dos indivíduos, porém apresentam algumas dificuldades de aplicação em
intervenções. Dimensões internas como atitudes e percepções são difíceis de definir objetivamente e
de mudar diretamente. Modelos de intervenção baseados no indivíduo são pouco efetivos em
grupos, organizações ou comunidades, pois o foco requer interação individual extensa com um
1240
especialista treinado (Geller, 2002). No entanto, outros tipos de abordagem, que busquem fazer o
caminho inverso – ou seja, promover mudanças comportamentais para alcançar as mudanças de
atitude indiretamente – também são possíveis.
Como já apontado, as atitudes possuem pouca influência direta na ocorrência dos
comportamentos. Tal incongruência pode ser reflexo não apenas de dificuldades teóricas, mas
também metodológicas, uma vez que atitudes generalistas não podem estar fortemente relacionadas
a comportamentos específicos; essas medidas precisariam conter e expressar o mesmo nível de
especificidade (como mencionado por Vining & Ebreo, 2002, entre outros autores). Ao mesmo
tempo, o uso de estratégias comportamentais no incentivo ao comportamento pró-ecológico é
comumente criticado como pouco eficaz, por surtir efeito apenas a curto prazo, uma vez que
extinguindo-se o elemento recompensador, o comportamento também tenderia a extinguir-se
(Vining & Ebreo, 2002).
No entanto, Geller (2002), ao defender a união da psicologia ambiental com a análise
aplicada do comportamento, aponta que é possível desenvolver uma estratégia interventiva baseada
no comportamento que sustente um impacto a longo prazo. De maneira geral, bastaria fazer uso de
recompensas menos poderosas, suficientes apenas para iniciar a mudança, empregar representações
gerais dos resultados desejados e acompanhar as estratégias de informações acerca dos motivos para
realizar tal comportamento. Além disso, três princípios básicos precisariam ser seguidos: focar a
intervenção em comportamentos observáveis, buscar fatores externos para melhorar o desempenho
e valorizar as consequências positivas para motivar o comportamento.
Geller (2002) também aponta sugestões de intervenção, que consistem em abordagens
diferenciadas dependendo do estágio de desempenho em que estejam os indivíduos. Uma
intervenção motivacional, que se dá por meio de um programa de recompensas e incentivos, é
necessária para um indivíduo que possui informações sobre como agir, porém não age. Por outro
lado, para um indivíduo que já esteja motivado, seria feito uso de uma intervenção de apoio, que
caracterize suporte para que o comportamento se mantenha até tornar-se um hábito. E, por fim, uma
vez que o comportamento esteja no estágio automático, torna-se aplicável uma intervenção
educativa, para aprimorar e dar maior direcionamento ao comportamento.
Cada modelo teórico apresenta uma possibilidade de compreensão do comportamento pró-
ecológico, e possui diferentes vantagens e desvantagens. Muitos são os fatores, internos e externos
ao indivíduo, que conflitam e competem para moldar as ações e decisões, e apenas uma teoria não
seria capaz de abordar todos eles. Contudo, o estudo das bases motivacionais para o comportamento
pró-ecológico não somente possibilita um conhecimento valioso para a melhor compreensão deste;
fornece potencialidades preditivas e, principalmente, possibilidades de intervenção e incentivo ao
aumento das ações pró-ecológicas.
1241
As teorias abordadas neste trabalho foram analisadas com base em diferentes aspectos
motivacionais e contemplam subsídios variados para uma melhor compreensão do comportamento
pró-ecológico e para possíveis estratégias de intervenção. Tais proposições teóricas se centram em
características mais internas e individuais, porém modelos baseados em comportamentos
observáveis que busquem atingir tais características de maneiras indiretas também são possíveis.
Existem ainda outras teorias sobre o assunto, não tratadas neste estudo, que abordam o tema
de diferentes maneiras. Há, por exemplo, abordagens focadas nos aspectos morais que motivam o
comportamento, e em bases emocionais e afetivas. Assim, há espaço para outras pesquisas na área
que busquem aprofundar estes outros aspectos e desenvolver estudos empíricos.

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1244
ECOTRILHAS: UM INSTRUMENTO PARA A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL

138
Francisca Fábricia Teodoro COSTA (IFCE) - e-mail: fabriciaguiadeturismo@hotmail.com
139
Lucas da SILVA (IFCE) - e-mail: lucasilva@ifce.com.br
140
Alexandre Queiroz PEREIRA (IFCE) - e-mail: aqp@ifce.edu.br
141
Francisca Maria Damasceno Góis (IFCE) - franciscagois@ifce.edu.br

Resumo

O projeto Ecotrilhas surgiu de uma iniciativa do Instituto Federal do Ceará, campus Quixadá, e
consiste na realização de trilhas interpretativas, direcionadas aos alunos do ensino básico e técnico
do município de Quixadá, oportunizando estabelecer um contato saudável e educativo com o
ambiente natural. Tem como objetivo despertar a imaginação geográfica e a consciência ambiental
da sociedade local, através do desenvolvimento de atividades lúdicas e práticas em caminhos
urbanos e em trilhas ecológicas, através de uma abordagem pedagógica de caráter multi e
interdisciplinar, procurando contribuir para o desenvolvimento de uma consciência sobre a
importância turística, cultural, educativa e socioeconômica da atividade. O presente artigo buscou
discutir a contribuição desse projeto na promoção da educação ambiental. Para isso foi aplicado
questionário estruturado, com questões abertas e fechadas, englobando as seguintes dimensões: a)
sensorial (percepção); b) emocional (sensibilidade, interesse); c) cognitiva (conhecimento,
consciência), d) social (vivencia social), e) pró-ativa (adoção de atitudes, posicionamentos e
cuidados referente à questão ambiental). Foi observado que o projeto Ecotrilhas se apresenta como
uma excelente fonte para promover a educação ambiental, podendo ser adaptado e aplicado a outros
segmentos da comunidade local, como os próprios moradores.

Palavras–chave: Educação ambiental, trilha ecológica, consciência ambiental.

Abstract

The project Ecotrilhas arose from an initiative of the Federal Institute of Ceará, Quixadá campus,
and consists of making trails, directed to students of primary and technical council of Quixadá,

138 Estudante do curso Técnico em Guia de Turismo do Instituto Federal do Ceará- Campus Quixadá

139 Prof. MsC. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – Campus Quixadá. (Orientador)
140
Professor Dr. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Quixadá.
141
Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Quixadá.

1245
providing opportunities to establish a healthy and educational contact with the natural environment.
Aims to awaken the imagination geographical and environmental awareness of local society
through the development of recreational activities and practices on urban roads and trails ecologies,
through a pedagogical approach of multi and interdisciplinary character, seeking to contribute to the
development of an awareness of the importance of tourism, cultural, educational and socioeconomic
activity. The present paper aims to discuss the contribution of this project to promote environmental
education. To this was applied a structured questionnaire with open and closed questions, including
the following dimensions: a) sensory (perception), b) emotional (sensitivity, interest); c) cognitive
(knowledge, awareness), d) social (social experience), e) proactive (adoption of attitudes, positions
and care regarding environmental issues). It was observed that the project Ecotrilhas presents itself
as a source for determining promote environmental education and can be adapted and applied to
other segments of the local community, as the residents themselves.

Keywords: environmental education, ecological trail, environmental awareness

INTRODUÇÃO

A sociedade atual passa por profunda crise civilizatória, de caráter ambiental, em que a
população ascendente, vem cada vez mais aumentando seu padrão de consumo, exigindo cada vez
mais recursos ambientais, que já se encontram escassos, devido à forma desastrosa que o homem
sempre se relacionou com a natureza, sempre extraindo, sem se preocupar com sua reposição e
regeneração natural.
É notório que, se a sociedade atual, quiser garantir sua existência e das futuras gerações, tem
que mudar radicalmente seu modo de se relacionar com a natureza, sobretudo, permitindo que haja
um equilíbrio salutar entre a necessidade de consumir e a disponibilidade dos recursos ambientais
disponíveis.
Para tanto é exigido da sociedade mudanças de atitude e incorporação de novos valores que
possam garantir a sensibilidade para lidar com as questões ambientais. O contexto social exige o
empenho de todas as áreas do conhecimento nas discussões para a superação das trágicas
consequências desse modelo prejudicial de desenvolvimento. E nesse cenário de crise, destaca-se a
função primordial da educação.
A Educação Ambiental (EA), cuja origem data dos anos 60, nasceu através da percepção de
que a revolução industrial e o desenvolvimento tecnológico desenfreado não trariam somente
benefícios, mas também consequências desastrosas ao meio ambiente e aos seres que nele vive,
incluindo a espécie humana. Essa situação tornou urgente e necessário que a sociedade refletisse

1246
estratégias que garantissem a preservação dos ecossistemas naturais propondo uma educação
diferenciada da tradicional.
Neste contexto, a educação ambiental através de trilhas ecológicas se constitui hoje com
uma das alternativas. Considerando que a paisagem, enquanto notável recurso didático, propõe a
interação entre o homem e a natureza, principalmente por seu apelo estético, entende-se que os
indivíduos são conduzidos a contemplação, estimulando a imaginação e a reflexão sobre meio em
que estão inseridos. Constata-se que o contato e a observação direta com a natureza tornam as
pessoas mais sensíveis a perceber as consequências das ações sociais no meio ambiente.
Segundo Guillaumon (1977 apud Andrade, 2007, p.05) define as trilhas interpretativas
―como sendo um percurso em um sitio natural que consegue promover um contato mais estreito
entre o homem e a natureza‖. O autor considera a trilha como importante instrumento pedagógico,
que através da exposição dos recursos naturais (flora, fauna, diversidade biológica e paisagística)
estimula os visitantes a refletirem sobre as questões ambientais.
Hoje o processo educativo é encarado como o principal formador de atores sociais críticos,
que podem desenvolver uma cidadania plena e ativa sobre essas questões ambientais atuais. Foi
partindo desse pressuposto que o projeto Ecotrilhas do Instituto Federal do Ceará, Campus Quixadá,
foi constituído, planejando ações para a promoção da Educação Ambiental.
Este projeto consiste na realização de trilhas interpretativas, direcionadas principalmente aos
alunos de ensino básico e técnico do município de Quixadá, em que terão a oportunidade de
estabelecer um contato saudável e educativo com o ambiente natural e urbano visitado. Promovendo
também a criação de novas destinações urbanas e ecoturisticas que permitem um desenvolvimento
econômico e sustentável, compatível com a preservação ambiental. O seu principal objetivo é
despertar a conscientização desses alunos, para com o meio ambiente em que estão inseridos, e com
o Bioma Caatinga.
O presente artigo pretende avaliar se esse projeto contribui de fato como um instrumento de
educação ambiental, para os estudantes do município, e de que forma ele colabora para que o
individuo enxergue o meio ambiente de forma mais ampla, consciente e sustentável.

DESENVOLVIMENTO

A área de estudo da pesquisa foi o município de Quixadá, sob as coordenadas 4º 58' 17‘ de
Latitude (S) e 39º 00' 55"Longitude (WGr), localizado no sertão central cearense, na microrregião
de Quixeramobim.
1247
O Município está inserido no semiárido nordestino, caracterizado por solos que ressecam
rapidamente nos períodos de estiagem e se encharcam na chuva. A vegetação é típica da caatinga,
com cactáceas, lençóis de água superficiais geralmente salinizados e com clima tropical quente.
Uma característica bastante presente no relevo da cidade são as rochas graníticas de diferentes
formatos que se destacam na paisagem, essas rochas são denominadas monólitos. Apresenta clima
tropical quente semiárido, com precipitação média anual de 838,1 mm e temperatura média
variando entre 26°C a 28°C. A vegetação é caatinga arbustiva densa, caatinga arbustiva fechada e
floresta caducifólia espinhosa (IPECE, 2009).
A metodologia do artigo foi desenvolvida em três fases, sendo a primeira constituída de um
levantamento bibliográfico, em que foram levantados conceitos e discussões inerentes ao tema
proposto, como educação ambiental, trilhas, ecoturismo e etc. A segunda consistiu em observações
assistemáticas e holísticas das experiências dos participantes das trilhas interpretativas, guiadas
pelos alunos do curso técnico em Guia de Turismo do IFCE, Campus Quixadá. Na terceira fase se
deu a verificação da eficácia do Ecotrilhas na promoção efetiva da educação ambiental, utilizando-
se da técnica quanto-qualitativa, através de questionário estruturado, com questões abertas e
fechadas, englobando as seguintes dimensões: a) sensorial (percepção); b) emocional (sensibilidade,
interesse); c) cognitiva (conhecimento, consciência), d) social (vivencia social), e) pró-ativa (adoção
de atitudes, posicionamentos e cuidados referente a questão ambiental). O estudo foi realizado entre
os meses de Janeiro e Agosto de 2012, e os questionários foram aplicados durante o mês de
setembro, com os alunos participantes da ultima edição do projeto. Era composto por vinte e uma
questões, sendo duas subjetivas. O total aplicado foram o de trinta questionários.
As trilhas interpretativas constituem estratégias educativas adotadas para integrar o visitante à
natureza, propiciando-lhe conhecimento do ambiente, e para atuar como fator de motivação na
preservação das áreas silvestres (ROBIM & TABANEZ, 1993). E a educação, como meio de
sensibilizar as pessoas frente aos problemas ambientais e de responsabilizá-las enquanto seres
críticos, capazes de modificar de forma positiva ou negativa o meio onde vive, é uma forma eficaz
de instigar a percepção das pessoas fazendo-as refletir sobre a situação de crise vigente.
Assim o projeto Ecotrilhas alia a trilha ecológica à educação ambiental construindo dessa
forma uma ampliação do olhar, em que se trabalha a identidade de pertencimento ao meio,
provocando uma mudança de foco, que contempla uma compreensão ampla da realidade
socioambiental, e que motiva os alunos a se envolver nas discussões sobre a problemática
ambiental.
A Figura 1 expõe a opinião dos participantes sobre o Ecotrilhas e o que os motivaram a
participar do mesmo.

1248
Figura 1 GRAFICO ―A‖- representando a avaliação geral do projeto Ecotrilhas. GRAFICO ―B‖- representando o que
leva o estudante a participar do Ecotrilhas/ Trilhas Ecológicas.

O gráfico A mostra a visão geral dos entrevistados a respeito do projeto Ecotrilhas, em que
3% disseram ter sido regular, 13% bom, 46% muito bom e 38% o considerou excelente. Ou seja,
uma grande parte dos participantes encontrou satisfação na forma como o projeto foi desenvolvido.
Basicamente o Ecotrilhas tem uma abordagem pedagógica com caráter multi e
interdisciplinar, procurando contribuir para o desenvolvimento de uma consciência sobre a
importância turística, cultural, educativa e socioeconômica da região, além disso a trilha ecológica
como um instrumento para o desenvolvimento do tema transversal ―meio ambiente‖ apresenta
também a possibilidade de interação entre as diversas disciplinas como história, geografia, ciências,
português, o que contribui para que os alunos enxerguem a realidade além da sala de aula.
Já o gráfico B expõe o que leva os alunos a participar do projeto, sendo 3% por influência de
professor (notas), 10% o vislumbra como uma oportunidade de praticar atividade física,
contribuindo com a saúde, 40% participa para manter um maior contato com a natureza e apreciar a
paisagem e 47% para obter conhecimento sobre a flora/fauna regional e ambiental.
Esses números comprovam a importância e credibilidade que o Ecotrilhas adquiriu ao longo
dos anos, como uma importante fonte para obtenção de conhecimentos locais, como também para a
interação dos indivíduos com o ambiente, sendo possível apresentar as diferentes realidades aos
alunos, incluindo desde os aspectos gerais do local até a identificação dos problemas ambientais e
seus possíveis tratamentos.
Na figura 2 tem-se a interação entre trilha e a educação ambiental. No gráfico C, 64% dos
alunos acreditam que a trilha é capaz de promover a educação ambiental, e outros 33% disseram
que talvez e apenas 3% acham pouco provável. Já o gráfico D é relativamente parecido com o C, no
entanto a diferença se encontra na forma como o aluno foi incitado a respondê-lo, pois ele avalia a
si mesmo e seu respectivo conhecimento sobre a questão ambiental. A partir disso os resultados
tiveram um valor positivo maior, já que 74% dos alunos acreditam que o projeto conseguiu
despertar seus interesses sobre o ambiente, e outros 20% disseram talvez e apenas 6% acham que
pouca coisa mudou sobre sua relação com a EA.

1249
Figura 2 GRAFICO ―C‖- representando se a trilha ecológica é capaz de promover a educação ambiental. GRAFICO
―D‖- representando se o projeto conseguiu despertar a educação ambiental do estudante.

De acordo com Tilden (1977) a interpretação ambiental tem como objetivo básico revelar os
significados, relações ou fenômenos naturais por intermédio de experiências práticas e meios
interpretativos, ao invés da simples comunicação de dados e fatos.
Dessa forma a educação ambiental tão requisitada nas instituições de ensino está alem do
repasse das informações sobre o meio ambiente, ela abrande também a forma como o aluno se
relaciona com o meio, e o que ele pensa sobre a questão ambiental, e o modelo econômico vigente
que influencia diretamente na forma como a natureza é utilizada.
Apesar de a educação ambiental fazer parte da filosofia das propostas curriculares atuais e
de haver incentivos para que seja implantada na rede geral de ensino, esbarra-se com a dificuldade
dos professores em não se sentirem capacitados para implantar projetos desta natureza em suas
programações letivas (Grandis,1999).
E o Ecotrilhas atualmente é coordenado por um grupo de professores do IFCE, campus
Quixadá, que perceberam a importância do projeto tanto para despertar a consciência ambiental dos
alunos guiados, como também para aprimorar os conhecimentos técnicos dos alunos, futuros guias
de turismo, que são os responsáveis pelo acompanhamento dos grupos e repasse de todas as
informações.
Torna-se assim evidente que a execução do projeto tem caráter prático e positivo para todos
os envolvidos. E que o desenvolvimento da EA está diretamente vinculada à forma como a
instituição de ensino pretende desperta-lá no aluno. Já que aliar a teoria e pratica hoje em dia nos
meios educacionais, é a melhor forma de fazer o aluno compreender o todo, pois a pratica apenas
consiste em aplicar o que se aprendeu dentro da sala de aula em outros ambientes.

1250
A educação ao ar livre é uma prática educacional que utiliza como recursos educativos
desafios encontrados em ambiente naturais, e objetiva o desenvolvimento educacional do ser
humano (BARROS, 2000).
Por isso sempre que possível, as instituições de ensino devem buscar formas de mostrar a
teoria ensinada a seus alunos na sala de aula, na forma pratica, realizando-as em ambientes naturais,
para que o aluno interaja desde cedo como o meio.
A interpretação nas trilhas pode incluir: atividades dinâmicas e participativas, em que o
público recebe informações sobre, por exemplo, recursos naturais, exploração racional, conservação
e preservação, aspectos culturais, históricos, econômicos, arqueológicos etc (Tabanez et al., 1997
apud Tabanez & Pádua, 1997 ).
A seguir a figura 3 representa o que aluno mais aprende durante o percurso da trilha.

Figura 3 GRAFICO ―E‖- representando o que mais se aprendeu durante a trilha

Dentre os temas apresentados aos estudantes, 2% disseram ter aprendido mais sobre a
fauna da região, 14% sobre o bioma Caatinga, e 36% sobre a importância da preservação
ambiental. Já 46% dos alunos acreditam que aprenderam sobre os três temas anteriores de forma
paralela.
E o projeto preza justamente por essa união de aprendizados, já que o aluno deve ser capaz
de fazer relações entre os temas apresentados, como também fazer associações entre o que aprendeu
em sala de aula com os aspectos socioambientais visto na trilha.

1251
Pois a trilha ecológica além de servir como um instrumento para o desenvolvimento do tema
transversal ―meio ambiente‖ apresenta também a possibilidade de interação entre as diversas
disciplinas como história, geografia, ciências, artes, português entre outras.
Para o projeto Ecotrilhas é fundamental ressaltar a importância do Bioma Caatinga, tanto
por ser o único bioma exclusivamente brasileiro, como também por sua diversidade e fenômenos
característicos. E o tema preservação ambiental ingressa justamente quando entendemos que esse
nosso patrimônio encontra-se ameaçado, devido à exploração feita de forma extrativista pela
população local.
Na próxima figura, de número 4, têm-se as ações que os alunos passaram a praticar depois
de ter participado do projeto.

Figura 4 GRAFICO ―F‖- representando a ação que o entrevistado passou a praticar depois da trilha

Dentre as ações praticadas 12% e 16 % respectivamente disse não desperdiçar mais energia
e água, tanto para economizar dinheiro como para poupar a natureza de um desgaste desnecessário.
Já outros 30% relatou não maltratar a flora e a fauna, principalmente por que os alunos guias
focavam a todo instante a questão da preservação ambiental e a importância do Bioma Caatinga. E
outros 35% disseram não jogar mais lixo no chão. O que também foi exposto durante a trilha, e os
condutores chegaram a levar sacos plásticos para que os alunos depositassem qualquer resíduo
utilizado. Essa foi mais uma forma de mostrar na pratica o que se aprende na teoria em sala de aula,
sobre o respeito para com o meio ambiente.

1252
CONCLUSÃO

A educação pode contribuir muito para construir uma sociedade consciente, no entanto, está
é realmente uma tarefa grande demais para ficar só no âmbito escolar. Seria necessária uma
cooperação entre diferentes instituições a partir de uma relação de complementaridade. O projeto
Ecotrilhas atualmente é destinado apenas aos alunos, no entanto devido a sua influência e
capacidade de convencimento sobre os indivíduos, ele pode ser adaptado e produzido dentro da
comunidade quixadaense, como uma forma de despertar a consciência ambiental dos moradores, os
auxiliando a lidar melhor com o meio onde vivem.
Através desse projeto muitos foram os alunos que conseguiram desenvolver o senso critico,
e hoje se consideram verdadeiros praticantes da educação de qualidade, que está alem dos
conteúdos vistos em sala, e dos seus conhecimentos técnicos. As instituições de ensino além de
formar bons profissionais para o mercado de trabalho, devem se preocupar também em formar bons
cidadãos, que interferem de forma positiva no ambiente em que atuam.
O projeto tem grande influência sobre a educação e percepção dos alunos para com o meio
ambiente e as questões nele inseridas. E é uma ótima fonte para promover a educação ambiental,
podendo ser adaptado e aplicado a outros segmentos da comunidade local, como os próprios
moradores.

REFERÊNCIAS

BARROS, M. I. A. de. Outdoor Education: uma alternativa para a educação ambiental através do
turismo de aventura. In: SERRANO, C. (org.). A Educação pelas Pedras. São Paulo: Chronos,
2000. p. 85-110.

GRANDIS, C. A. M. . et AL. Curso de Educação Ambiental na Estação Ecológica dos Caetetus


para professores de 1º e 2º graus .Assis: Floresta Estadual deAssis, 1999. (RelatórioAnual da
Floresta Estadual deAssis).

GUILLAUMON, J.R al. Análise das trilhas de interpretação. São Paulo: Instituto Federal, 1977.
Bol.Técn.

IPECE - INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ - Perfil


básico municipal – Quixadá. Disponível em:
http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/perfil-basico-municipal-2009. Acessado em:
29/09/2012

1253
ROBIM, M. J.; TABANEZ M. F. Subsídios para implantação da Trilha Interpretativa da
Cachoeira – Parque Estadual de Campos do Jordão-SP. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 5, n. 1, p. 65-
89, 1993.

TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. (orgs.) 1997. Educação Ambiental: caminhos trilhados no
Brasil. Instituto de Pesquisas Ecol ógicas - IP Ê. Brasília. 283 pp.

TABANEZ, M. F. & PADUA, S.M. 1997. Uma abordagem participativa para a conservação de
áreas naturais: Educação ambiental na mata atlântica. Anais do Congresso brasileiro de
comunidades de conservação. Curitiba-Paraná. Vol.02.

TILDEN, F. Interpreting our heritage. 3rd. ed. Chapel Hill: The University of North Carolina,
1977. 138 p.

1254
AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIDASPELO PROGRAMA ―NOVOS
TALENTOS‖ EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE MOSSORÓ/RN142

Jarlenede Almeida MELO - jarlenemelo@hotmail.com


Discente do Curso de Gestão Ambiental (DGA/UERN)
Hiara Ruth da Silva CÂMARA- hiara_ruth@hotmail.com
Discente do Curso de Gestão Ambiental (DGA/UERN)
Maria da Conceiçãode MELO- melo.ceica@yahoo.com
Discente do Curso de Gestão Ambiental (DGA/UERN)
Ramiro Gustavo ValeraCAMACHO143 (CEMAD/UERN) - ramirogustavo@uern.br

Resumo

O presente trabalho tem por objetivoobservar o desenvolvimento de ações pontuais de Educação


Ambiental (EA) realizadaspelo do Programa ―Novos Talentos‖, a partir da percepção dos monitores
quanto à participação dos alunos durante a realização das oficinas de EA em uma escola pública de
Mossoró/RN. Para embasar a parte teórica do trabalho, recorreu-se a livros, preferindo-se os mais
atualizados, principalmente aqueles que tratam do tema educação ambiental e temas afins. Como
suporte para a pesquisa de campo, aplicou-se questionários dirigidos aos monitores do programa,
por ocasião de uma das oficinas de EA na escola.A análise das respostas permitiu concluir que os
assuntos tratados na EA vêm se tornandoum instrumento de disseminação de novos conceitos e
valores para o cotidiano escolar dos alunos, configurando-se, portanto, a necessidade de
desenvolver outros projetos que viabilizem melhor interação e participação dos alunos na relação
sociedade-natureza, mostrando que a EA construída de forma consciente e cotidiana, e não
somentepontual, podealcançarum nível de sustentabilidade mais equilibrada e duradoura.

Palavras-chaves: Escola Pública;Ensino Fundamental;Sustentabilidade.

Abstract

This work aims to observe the development of punctual actions in environmental education
included in a program called ―Novos Talentos‖ through the perception which the auxiliaries
monitors have about the participation of public school students‘ in Mossoró/RN/Brazil, while they

142
Trabalho apresentado à Conferência da Terra, resultado das ações realizadas pelo Programa “Novos Talentos”,
desenvolvidas pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semiárido
(CEMAD), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
143
Orientador /Professor Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Doutor em Botânicapela Universidade de São Paulo-USP.
1255
are teaching the themes in a workshop.The theoretical was based on books about environmental
education and similar topics. As support for the search, some questionnaires were answered by the
auxiliariesmonitors. Based on their answers, it was possible to conclude that environmental
education is becoming an important instrument to disseminate new values and concepts to the
students‘ life. So, it‘s important to develop other projects that make easier students‘ interaction and
participation in their relationship with the environmental, showing that environmental education
built consciously and in everyday, not just on time, can reach a more balanced and lasting
sustainability level.

Keywords:Public School; Fundamental Level;Sustainability.

INTRODUÇÃO

A prática da Educação Ambiental (EA), nos mais variados âmbitos, consiste em um grande
desafio quando se remete às questões de conservação, preservação do meio ambiente e recursos
naturais, visto que é uma problemática importantea ser discutida. Porém, a necessidade de criação
de projetos e propostas para a inserção de componentes de Educação Ambiental em escolas públicas
vem sendo vista como grande alavanca para a mudança de valores de cidadania em relação às
questões ambientais.
A prática da EAé destacada como um grande problema no cotidiano escolar, visto que é de
fundamental importância mostrar para os alunos das escolas, principalmente as públicas que esta é
umaferramenta de disseminação de práticas consideradas sustentáveis e que podem influenciar no
cotidiano de cada um. Baseado nesse argumento objetivou-seobservar o desenvolvimento de ações
de EA realizadas pelo Programa ―Novos Talentos‖, através da percepção dosmonitores quanto à
participação dos alunos durante a realização das oficinas de EA em uma escola pública de
Mossoró/RN.
A escolha da EA deu-se através da observação feita durante a realização das oficinas, nas
escolas públicas no município de Mossoró/RN. Isto porque é perceptível a necessidade de mostrar a
compreensão dos alunos sobre o conhecimento dotema, principalmente porque há ainda pouca
difusão em alguns espaços do universo escolar, e não ao cotidiano dos alunos.

METODOLOGIA

Caracterização da Área de Estudo

No intuito de desenvolver a pesquisa sobre a percepção de participação dos envolvidos no


projeto, optou-se por realizar a pesquisa na Escola Estadual Manoel Justiniano de Melo, localizada

1256
na Rua Dom Helder Câmara, nº 79, bairro Belo Horizonte, zona urbana do município de Mossoró-
RN. Estaoferece níveis de ensino fundamental I e II, nos turnos matutino e vespertino, e o programa
de Educação para Jovens e Adultos (EJA) no turno noturno. Ao todo, resultam em um número de
550 alunos, aproximadamente, distribuídos entre os níveis de ensino descritos acima. Que no
universo geral das escolas trabalhadas, configura-se como um elemento mediador com
características semelhantes a todas as escolas inseridas.

Material e Métodos

Para embasar a parte teórica do trabalho, a priori recorreu-se a livros, preferindo-se os mais
atualizados, principalmente aqueles que tratam do tema educação ambiental e temas afins.
Foi desenvolvido um curso de formação de EA com os monitores do Programa Novos
Talentos, promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional do Semiárido (CEMAD/UERN), em sua própria sede, com objetivo de formação para
realização das oficinas e demais atividades do programa.
Como suporte para a pesquisa de campo, aplicou-se questionários dirigidos aos monitores do
programa, por ocasião de uma das oficinas de EA na escola.No referido momento foram aplicados
sete questionários, com perguntas abertas e fechadas entre os quinzemonitores do programa que
participaram das oficinas nesta escola, com objetivo de observar como se dá a participação do aluno
quanto ao desenvolvimento de atividades educativas realizadas de forma pontual.
As ações ocorreramno dia 31 de agosto de 2012, iniciando às 13h 30min, com término às
17h30 min. Sendo desenvolvida,simultaneamente, uma oficina de capacitação para professores e
gestores desta escola, ministrada pelo coordenador do Programa, bem comooficinas de Educação
Ambiental em salas de aula, com os alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental II, ministradas
pelos monitores que participam deste.
Durante estas oficinas foram trabalhadas as seguintes etapas:o primeiro momento com
apresentação de atividade cultural, com músicas, enfocando a temática ambiental e a relação
sociedade-natureza, mostrando a relevância da valorização da cultura nordestina.
No segundo momento, as turmasforam divididas em grupos (respectivas salas de aula) e os
monitores expõem sugestões para a construção de cartazes feitos pelos alunos atentando em
responder à questão ―Que futuro nós queremos?‖ (FIGURA 1). Com o propósito de observar como
conhecimento prévio a percepção destes em relação à temática ambiental antes do desenvolvimento
das demaisatividades de educação ambiental.

1257
Figura 1 - Alunos da escola durante a confecção dos cartazes nas oficinas de EA.
Fonte: MELO, 2012.

Em seguida, foram feitas apresentações, pelos monitores, em slides, vídeos, seguidas de


discussões sobre a temática do bioma local (caatinga) e a importância da conservação ambiental
(fauna, flora, recursos, etc.) deste ecossistema. Adicionalmente, alertou-se sobre a questão da água e
disposição dos resíduos sólidos (lixo), enfatizando a coleta seletiva como instrumento que auxilia na
minimização da disposição inadequada destes resíduos, além disso, promove a geração de renda de
muitas famílias quase sustentam dessa atividade.
Como última parte desta etapa no referido dia, colheu-se o entendimento destes alunos
diante do que foi mostrado e o que eles gostariam de modificar em relação o que foi confeccionado
nos cartazes, discutindo sobre o que eles poderam compreender após o conteúdo educativo que lhes
foi exposto.No final das oficinas foram recolhidos os questionários distribuídos aos monitores,a fim
de entender e avaliar como ocorreu o desenvolvimento das atividades durante as oficinas.
Como complemento das atividades de EA realizou-se uma aula de campo, no dia 01 de
setembro de 2012, com cerca de 40 alunos selecionados pela direção da escola e também com os
professores que participaram das oficinas de EA no dia anterior, com o objetivo de ressaltar o que
foi visto nas oficinas, ou seja,demonstrar na prática como os conceitos e valores podem ser
exercitados no cotidiano destes, mostrando a beleza e a biodiversidade do local, a importância da
preservação e conservação ambiental, e com isso proporcionando uma melhor compreensão e
conciliação da teoria e da prática.
Como local escolhido para a viabilização da aula foi a Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), Unidade de Conservação localizada entre os
municípios de Macau e Guamaré/RN, que tem a história de sua criação como principal marco, pois
foi através da incansável luta dos moradores locais por melhores condições de vida, e a preocupação
1258
com a preservação e conservação dos recursos naturais locais que levaram a ser instituída como
uma Unidade de Desenvolvimento Sustentável.
Assim, foram relatados pelos guias e representantes da RDSEPT (FIGURA 2), aos alunos e
professores toda a história da criação e como ocorre a busca cotidiana da população pela viabilidade
do desenvolvimento sustentável dentro do local, a partir de movimentos populares, projetos,
associações, cooperativas, e principalmente pelo fortalecimento da economia baseada na pesca
tradicional.

Figura 2 - Aula de campo na RDSEPT-RN. Fonte: GARCIA, 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Educação Ambiental

Nas últimas décadas, tem sido evidenciada uma série de problemas ambientais ocasionados
pela ação humana, inicialmente nos países desenvolvidos e, mais recentemente, também nas áreas
urbanas dos países em desenvolvimento. Nesse sentido, tanto organizações de cunho ambientalista
quanto sociedade civil vem se fortalecendo na preservação dos recursos naturais ainda existentes.
Para isso, organizam-se em eventos por todo o mundo, chamando a atenção dos governos e da
sociedade para o agravamento da crise existente, movida pelo pensamento de que os recursos
ambientais constituem-se como um bem amplamente renovável e infinito.
A EA enquanto conceito estabelecido tem sua origem em um desses eventos. Loureiro et al
(2005, p. 13) ressalta ―A primeira vez que se adotou o termo educação ambiental foi em evento
deeducação promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido, no ano de1965‖.Após uma
década, tornou-se um objetivo educativo específico com a realização do I Seminário Internacional
de Educação Ambiental, em Belgrado (LOUREIRO et al, 2005).

1259
A comemoração das duas décadas de realização da Conferência de Tbilisi, em 1977, na
capital da Geórgia, Ex-União Soviética,resultou num documento final que é base para a moderna
visão da educação ambiental (BRASIL, 2008). Este evento foi o marco mais importante para
evolução da EA no mundo. Nesta conferência, foi ponto culminante a primeira fase do Programa
Internacional de EA, de acordo com Dias (2004), este deveria ser o resultado de uma reorientação e
articulação de diversas disciplinas e exposições educativas que facilitassem a visão integrada do
ambiente.
Mais tarde, no ano de 1988, é promulgada a Constituição Federal Brasileira, dedicando um
capítulo exclusivo ao meio ambiente e destacando o papel de se promover a EA em todos os níveis
de ensino. Nesse contexto, ocorre no Brasil, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, ou Rio-92. Nela, é aprovado o Tratado de Educação Ambiental para
sociedades sustentáveis, constituindo um avanço para as discussões sobre a temática. Destaca-se
ainda:
Desde 1994, as ações públicas nesse setor eram orientadas pela primeira versão do
Programa Nacional de EA (ProNEA), instituído pela Presidência da República por
instrução ministerial. Nele, constava a missão da Coordenação de EA do Ministério da
Educação [...] de se voltar mais para a ―educação ambiental formal‖, isto é, vinculada ao
sistema de ensino, em todos os níveis (BRASIL, 2008, p. 19).

Em 1997, segundo Abílio (2011) o Ministério de Educação e Cultura (MEC) apresentou a


comunidade escolar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino fundamental e mais
adiante no ano de 2000 para o ensino médio.
Segundo Seabra (2011) a publicação da Lei nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional
de Educação Ambiental (PNEA) institucionaliza a EA e regulariza seus princípios, uma política
públicaque proporciona a sociedade um instrumento de cobrança para a sua promoção.A EA é
entendida como:
―Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖ (BRASIL, 1999. Art. 1º).

Assim, a EAvem sendo inserida nas escolas como um instrumento de alerta quanto ao
agravamento das questões ambientais, cada vez mais presentes devido à ação humana. Por isso, a
prática da EA está sendo reconhecida como um dos principais mecanismos para se chegar à
conscientização dos alunos na escola, pois tem como intuito promover ações cotidianas que levem o
indivíduo a repensar sobre as suas ações relacionando-as ao meio em que vive.

O Programa Novos Talentos

1260
O Programa de Apoio a Projetos Extracurriculares: Investindo em Novos Talentos da Rede
de Educação Pública para Inclusão Social e Desenvolvimento da Cultura Científica é um projeto
financiado pela Capes e ―visa à inclusão social e desenvolvimento da cultura científica por meio de
atividades extracurriculares para alunos e professores das escolas da rede pública de educação
básica‖ (PROGRAMA NOVOS TALENTOS, 2012).
Através do programa ―Novos Talentos‖, o projeto intitulado de ―Divulgando a Educação
Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN‖,
executado pelo CEMAD, é possível realizar ações de educação ambiental nas escolas públicas do
município de Mossoró/RN, com o propósito de divulgar a educação ambiental como principal meio
de disseminação denovos conceitos, quebrando paradigmas sobre a importância da preservação
ambiental e a conservação dos recursos naturais, como assuntos primordiais no universo cotidiano
escolar.
As ações do programa se dão semanalmente, por meio de oficinasteóricas nas escolas,
geralmente às sextas-feiras, abordando temas como: bioma caatinga, disposição adequada dos
resíduos sólidos (lixo), através da coleta seletiva e a importância da preservação e conservação dos
recursos naturais e outros.

Ações de Educação Ambiental na Escola Estadual Manoel Justiniano de Melo

A prática da EA dentro de uma escola tem como ponto forte a participação dos alunos, pois
permite que eles acumulem o conhecimento dos assuntos abordados, de grande relevância e, assim,
podem repassá-los em seus hábitos cotidianos, afinal é no espaço escolar que se permite expor
novas ideias, questões, antes não ou pouco discutidas. Abílio (2011, p. 116) vem destacar ―a escola
é um local imprescindível de se promover a ―consciência‖ ambiental a partir da conjugação das
questões ambientais com as questões sócio-culturais‖.
No caso da escola pesquisada, os monitores poderam ver na prática o quanto os alunos
conseguem compreender de forma coerente os conteúdos abordados sobre temáticas ambientais, e
como essa relação homem-natureza é construída.Com a aplicação dos questionários entre os
monitores, foi possível perceber esse real interesse,o que configura como um ponto bem relevante,
já que foi destacado durante as oficinas pelos alunos que não são vistas com tanta freqüência no
conteúdo disciplinar temáticas deste tipo.Do total de monitores questionados (7), 43% relataram que
os alunos se mostraram curiosos em saber mais sobre os assuntos abordados nas oficinas(Conforme
o Gráfico 1).

1261
Gráfico 1 – Percepção dos monitores quanto ao conhecimento dos alunos sobre o
conteúdo
Fonte: MELO, 2012.

Em relação ao interesse dos alunossobre os temas abordados, os monitores poderam


observar um maior interesse por questões referentes à água, biodiversidade no bioma caatinga
(demonstravam bastantes curiosos sobre as espécies florísticas e faunísticas do bioma) e de outros
temas como escassez de alimentos, e consequências ambientais devido à ação do homem contra a
natureza (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Percepção dos Monitores quanto ao interesse dos alunos sobre os temas
apresentados.
Fonte: MELO,2012.

1262
Porém, durante a realização das oficinas foi possível verificar algumas dificuldades na
escola, proporcionando em alguns momentos a ideia de não eficiência das ações educativas
realizadas, conforme pode ser observado no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Dificuldades percebidas durante as oficinas.Fonte: MELO, 2012.

De acordo com o Gráfico3 pode-se observar que boa parte dos monitores elencou ter
encontrado dificuldades em relação à falta de atenção,interação e comportamento de alguns alunos
durante as oficinas, o que pode ser um ponto negativo, já que para se alcançar o objetivo do
programa é necessário que haja uma interação dos alunos. Outros elencaram perceber dificuldades
em relação as estrutura funcional e estrutural da própria escola, podendo ser destacado dificuldade
de salas disponíveis, seleção das turmas trabalhadas, desconforto quanto à estrutura física e
ambiental das salas de aula (desconforto térmico, falta de ventilação, iluminação), o que pode vir a
propiciar uma dispersão entre os alunos nos momentos de realizar algumas tarefas orientadas pelo
monitores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a participação dos alunos nas oficinas, desenvolvidas foi perceptível a necessidade
de elaboração e desenvolvimento de outros projetos que viabilizem uma melhor interação e
participação dos alunos no contexto das questões ambientais. Diante da efetiva participação dos
alunos, e da observação da necessidade do aprofundamento nas discussões que envolvem as
relações sociedade-natureza.
A análise das respostas permitiu concluir que os assuntos tratados na EA vêm se tornando
um instrumento de disseminação de novos conceitos e valores para o cotidiano escolar dos alunos,
configurando-se, portanto, a necessidade de desenvolver outros projetos que viabilizem melhor
interação e participação dos alunos na relação sociedade-natureza, mostrando que a EA construída
1263
de forma consciente e cotidiana, e não somente pontual, pode alcançar um nível de sustentabilidade
mais equilibrada e duradoura, pois os alunos carecem de aulas que possam introduzir a sua
realidade um melhor entendimento e conhecimento sobre uma consciência ambiental. Para isso,
também se propõem a melhoria na qualidade de conteúdos repassados no âmbito das disciplinas, e a
promoção de aulas mais práticas, que viabilizem aos alunos uma melhor compreensão do que é
estudado, pois muitas vezes, as aulas não admitem uma interação interdisciplinar entre os mais
diversos dilemas da educação.

REFERÊNCIAS

ABÍLIO, Francisco José Pegado. Educação ambiental: conceitos, princípios e tendências.


In_____.Educação ambiental para o Semiárido. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB,
2011.cap. 2.

BRASIL.Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial [da] República Federativa do


Brasil.Poder Executivo, Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/lei9795.pdf>. Acesso em: 07 de
agosto de 2012.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente; Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania


Ambiental; Departamento de Educação Ambiental. Os diferentes matizes da educação ambiental no
Brasil: 1997-2007.Brasília, DF: MMA, 2008.
Disponívelem:<http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/dif_matizes.pdf>. Acesso
em: 20 ago. 2012.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.

LOUREIRO, Carlos Frederico B. et al (Orgs.). Educação ambiental e gestão participativa em


unidades de conservação. 2. ed. Rio de Janeiro: Ibama, 2005.

PROGRAMA NOVOS TALENTOS. Página digital. Disponível em:


<http://www.capes.gov.br/educacao-basica/novos-talentos>. Acesso em: 25 jul. 2012.

SILVA, Paulo Sergio. Ações efetivas para a educação ambiental na prática escolar. In: SEABRA,
Giovanni. (Org.). Educação ambiental no mundo globalizado: uma ecologia de riscos, desafios e
resistência. João Pessoa: Editora Universitária, 2011. p.113-124.

1264
PROJETO MUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE: AÇÕES DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL EM ESCOLAS PÚBLICAS E COMUNIDADES DA REGIÃO
METROPOLITANA DE FORTALEZA - CEARÁ

Nicolly Santos LEITE


Graduanda, Departamento de Geografia da UFC
kollysantosleiteleite@yahoo.com.br

Wallason Farias de SOUZA


Graduando, Departamento de Geografia da UFC
wallasonfarias@alu.ufc.br

Francisco Otávio Landim NETO


Mestrando em Geografia pela UFC
otaviogeo@oi.com.br

Adryane GORAYEB
Profa. Dra. Departamento de Geografia da UFC
adryanegorayeb@yahoo.com.br

Resumo

Integrado ao Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental do curso de


Geografia da Universidade Federal do Ceará, o Projeto Museu de Ciências Ambientais Mundo
Livre vem, desde 2002, desenvolvendo atividadesde extensão voltadas à Educação Ambiental junto
às escolas da rede pública de Fortaleza e da Região Metropolitana. O projeto em questão atua como
disseminadorda cultura indígenae da Educação Ambiental, tendo como um de seus principais
objetivos o fomentoda construção de uma consciência ecológica e social.Para isso, o principal
artifício usado diz respeito à visitação de escolas ao espaço do museu,localizado no Departamento
de Geografiada Universidade Federal do Ceará (UFC), que atualmente oferece três diferentes
exposições:1) ecossistema manguezal; 2) cultura indígena e 3) cultura africana. Este trabalho tem
por objetivo demonstrar e discutir sobre a importância das atividades realizadas nos anos de 2011 e
2012 pelo projeto supracitado. Nesse sentido, foram realizadas diversasoficinas, como a de sabão a
partir de óleo doméstico e oficina de papel reciclado; exposições do acervo do museu em escolas
públicas e em comunidades da Região Metropolitana de Fortaleza-CE; rodas de debates
comdiferentes temáticas, entre elas ―A importância da água‖, ―Má destinação dos resíduos sólidos e
Reciclagem‖, ―As mudanças no Código Florestal brasileiro‖,que sãoatividades de caráter
conscientizador e informativo. O projeto ao longo destes dois anos vem despertando em crianças e
jovens uma consciência mais crítica sobre os temas abordados e incentivaações sustentáveis junto

1265
às escolas e às comunidades onde as atividades foram realizadas. Assim, oprojeto Mundo Livre
fomenta as discussões e práticas acerca da preservação e conservação dos recursos naturais,
buscando privilegiar as ações extensionistas voltadas para a sustentabilidade ambiental.

Palavras Chave: Museu Mundo Livre; Educação Ambiental e Sustentabilidade.

Abstract

Integrated to Laboratory of GeoecologyofLandscape and Environmental Planning course of


Geography, Federal University of Ceará, theProject Environmental Science Free World Museum
has, since 2002, developing extension activities focused on environmental education at the public
schools and Fortaleza Metropolitan Region. The project in question works as a disseminator of
indigenous culture and environmental education, having as one of its main objectives the promotion
of the construction of social and ecological conscience. For this, the mainartifice used concerns the
schools visitationto the space of the Museum, located in the Department of Geography, Federal
University of Ceará (UFC), which currently offers three different exposures: 1) mangrove
ecosystem, 2) indigenous culture and 3) african culture. This work aims to demonstrate and discuss
the importance of the activities performed in the 2011 and 2012 years by aforementioned project.
Accordingly, were performedmany workshops, such as recycled soap from domestic oil and
recycled paper workshop; exhibitions of the museum collection at schools and in the communities
Metropolitan Region of Fortaleza-CE; discussions with differentsthematics, including "The
Importance of Water", "Bad disposal of solid waste and recycling", "Changes in the Brazilian
Forest Code," which are activities conscientizing and character informative. The project over these
two years has stimulated young and children a more critical conscience about the themes and
encourages sustainable actions at the schools and communities where the activities were performed.
Thus, the Museum Free World project fosters the practical and discussions about the preservation
and conservation of the natural resources, seeking privilege the extension actions aimed at
environmental sustainability.

Keywords: Museum Free World; Environmental Education; Sustainability.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas ocorreram mudanças no âmbito dos meios de produção e na exploração
dos recursos naturais. No Brasil, é possível identificar áreas com elevados índices de degradação
ambiental. Essa apropriação dos recursos naturais tem se intensificado drasticamente, trazendo
consequências ao meio ambiente, nesse sentido as questões ambientais não podem ser entendidas

1266
sem levar em consideração a ação do homem sobre o meio. A desenfreada busca pelo progresso,
consumo, modernização e desenvolvimento tendo como principal custo os danos ao meio ambiente,
tem levado a sociedade a refletir acerca das suas formas de utilização dos recursos naturais
(BRASIL; SANTOS, 2004).
Nesse contexto,o presente trabalho tem por objetivo demonstrar a importância das atividades
de Educação Ambiental realizadas pelo projetode extensão universitária Museu de Ciências
Ambientais Mundo Livre, nos anos de 2011 e 2012. Convém destacar que as atividades de extensão
universitária vinculadas ao projetosão desenvolvidas em três momentos: (i) exposição dos
elementos que compõem o ecossistema manguezal e exposições sobre cultura indígena; (ii)
realização de oficinas e (iii) palestras acerca de temas ligados a Educação Ambiental.

REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO AMBIENTAL

A partir do final do século XVIII, com as mudanças no modo de produção, o


desenvolvimento da indústria, a intensificação na utilização e na busca por recursos naturais e o
intenso desenvolvimento urbano, houve consideráveis aumentos da poluição ambiental que foram
mais facilmente sentidos pelas populações no decorrer dos anos. Somente no século XX, com a
emergência por mudanças que viabilizem um melhor uso dos recursos naturais assegurando uma
melhor qualidade de vida, começa-se a pensar e organizar ações que caracterizam a ―crise do
ambiente humano‖ como uma questão global. As discussões ambientais tomaram forma nítida com
a Conferência de Estocolmo em 1972 promovida pela ONU (DIAS, 2004). A conferência buscava
soluções para conter a intensificação dos problemas ambientais que já começavam a ser percebidos
pelas populações do mundo.
A partir da Conferência de Estocolmo, a Educação Ambiental passa a ser considerada como
um importante projeto e uma questão fundamental para o controle dos problemas socioambientais já
tão discutidos. Nos anos seguintes à conferência, uma série de outros importantes eventos
enfocando questões socioambientais foi organizada, como o Seminário Internacional de Educação
Ambiental em 1975, conhecido principalmente como Conferência de Belgrado, que teve como
resultado a Carta de Belgrado. Nesse documento várias iniciativas foram estimuladas para a
diminuição dos problemas da humanidade e da natureza (DIAS, 2004).
A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (Tbilisi) em 1977 é mais um
importante evento, sendo a continuação da Conferência de Belgrado. No Brasil, por sua vez, não se
avaliava com profundidade a perspectiva de promoção da Educação Ambiental (EA). A dificuldade
de implantação da Educação Ambiental persistiria durante alguns anos (DIAS, 2004). Pode-se
perceber que a partir da década de 80 a Educação ambiental ganha maior relevância pelo governo,
sendo considerado o seu caráter multidisciplinar. Percebem-se, também várias outras iniciativas a
1267
partir de Organizações Não Governamentais (ONGs),associações, universidades e escolas que se
multiplicam nas comunidades e no país (SATO, 2004).
Seguem-se a esses vários outros eventos até 1992, ano em que foi realizada a Conferência
Internacional Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro. Nesta, a ideia
de desenvolvimento sustentável foi o foco principal. A Conferência teve como um dos principais
resultados a criação da Agenda 21, um importante documento onde são apresentadas alternativas às
nações para que estas possam alcançar o desenvolvimento sustentável.
Apesar disso, a Agenda 21 não faz referência somente ao modo como devem ser tratadosos
problemas ambientais. O Documento faz menção, também, à importância da relação entre os países
e a forma como as questões humanas podem ser lidadas pelas nações, para que seja garantida uma
distribuição mais igualitária dos recursos naturais, buscando, assim, o desenvolvimento sustentável
e não simplesmente o desenvolvimento econômico.
Em 2012, observou-se mais uma tentativa de se discutir o desenvolvimento sustentável, a
partir da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Esta teve
como um de seus objetivos avaliar o cumprimento, ou não, das ações de desenvolvimento
sustentável promovidas nos vários eventos da ONU ocorridos após a Conferência Internacional
Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) (VITAE CIVILIS, 2012).
Portanto, a Conferência se mostrou como um ótimo momento de discussão sobre a forma
como as Nações lidam com seus recursos naturais e humanos, promovendo uma reflexão acerca do
modelo de desenvolvimento adotado e incentivando a ―construção de uma sociedade socialmente
justa, economicamente próspera e ambientalmente sustentável.‖ (VITAE CIVILIS, 2012, p.2).
O evento teve como resultado um documento de 49 páginas com propostas para se alcançar
o desenvolvimento sustentável pelos países presentes na conferência, no entanto o texto propõe que
estas serão efetivadas diferenciadamente em países desenvolvidos e em desenvolvimento, levando
em consideração, portanto, as particularidades de cada Estado. O documento não se apresentou
como uma obrigação para os países que o aceitaram, mas sim como propostas de novas posturas.

AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS E NAS COMUNIDADES

A ideia de se fazer a Educação Ambiental a partir de uma nova educação vem do


pressuposto de que a educação tradicional, não só implantada no Brasil, não seria capaz de
desenvolvê-la plenamente, já que não se pensa em Educação Ambiental como uma disciplina
propriamente dita, mas sim como uma troca de saberes que cria uma consciência ambiental.
Assim, a Educação Ambiental é uma forma de educar e aprender, tendo como finalidade
―[...] a emancipação para a transformação dos sujeitos, o que significa a construção de sua
autonomia e liberdade‖ (Loureiro, 2006 apud Araújo, 2010, p. 44), estando incluído aí, estudos de

1268
problemas ecológicos e regras de conservação da natureza. Pode-se destacar a importância da
Educação Ambiental no sentido de proporcionar várias descobertas valiosas, compreendendo-se
melhor o meio em que se vive, passando a admirá-lo e protegê-lo mais ainda. O fórum global da
sociedade civil definiu por ocasião da Cúpula do Rio de Janeiro em junho de 1992, alguns
princípios básicos do que considerou Educação Ambiental, orientada para uma sociedade
sustentável e de responsabilidade global.

A INFRAESTRUTURA DOPROJETOMUSEU DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS MUNDO LIVRE

O Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre foi criado em Junho de 2002, desenvolvido
no Departamento e Geografia da Universidade Federal do Ceará, estando integrado ao Laboratório
de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental.O Museu é constituído por um espaço com
17, 38m² que dispõe de três exposições permanentes, são elas: cultura indígena, ecossistema
manguezal e fósseis além de materiais sobre cultura africana, voltado para a visitação de escolas,
instituições e ONGs. As atividades desenvolvidas pelo projeto ocorrem de maneiras distintas, como
as visitas monitoradas por alunos ao museu, realização decursos, oficinas e palestras ministradas no
Departamento de Geografia. Em outros momentos, as atividades acontecem em algumas
comunidades e escolas públicas e organizadas por bolsistas, estagiários e pelos coordenadores do
projeto.
Procura-se, assim, beneficiar não só os estudantes do curso de Geografia, como também
estudantes de outros cursos da Universidade e de escolas públicas, em especial pessoas de
comunidades estuarinas onde o Laboratório de Geoecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental
desenvolve suas atividades.
O projeto de caráter permanente destaca-se atualmente como um espaço aberto às discussões
e atividades que já vem integrando a universidade com outros segmentos da sociedade. Portanto, há
fomento das ações de extensão e pesquisa, à medida que se auxilia e facilita os estudos feitos sobre
o ecossistema manguezal e possibilita uma maior discussão e conscientização acerca da temática
ambiental, não só no âmbito da Universidade, mas, também, em escolas particulares e públicas e em
comunidades da Região Metropolitana de Fortaleza, através das ações de extensão realizadas pelos
integrantes do projeto.
O espaço Mundo Livre vem se apresentando como uma importante alternativa à
disseminação da Educação Ambiental nas áreas onde atua. A figura 1 representa um mosaico de
fotografias do Museu Mundo Livre.

1269
Figura 1: Mosaico representativo do espaço do Museu Mundo Livre com seu acervo e organização.
Fonte: Nicolly Santos Leite, 2012.
T
endo como base a importância da Educação Ambiental, foram montadas três exposições que contam
Fonte:peças
com LEITE, 2011.
demonstrativas no Museu Mundo Livre. Uma delas é da fauna do ecossistema
manguezal, com várias espécies de crustáceos e peixes conservados em frascos com formol. Uma
exposição sobre a cultura indígena também foi montada, contendo diversos elementos do cotidiano
de uma aldeia, como cestos de palha e cuias decoradas, bancos de madeira feitos em formato de
animais, instrumentos usados para a caça e para a guerra, como lanças, flechas, bordunas e
zarabatanas, encontra-se, também, adornos pessoais usados no cotidiano e em festejos e pinturas
elaboradas pelos próprios índios. O acervo indígena é composto por peças demonstrativas da arte e
da cultura das etnias dos Guajajara, que vivem no Maranhão, e os Baniwa de São Gabriel da
Cachoeira/AM. Os materiais sobre cultura africana, banners e maquetes foram doações de escolas
que o projeto atua.
O acervo do ecossistema manguezal merece destaque no espaço, pois além de representar o
esforço da coleta, armazenamento e do cuidado desse material pela equipe de trabalho do projeto,
ele assinala o compromisso do projeto com esse ecossistema,que é afetado por impactos ambientais,
como despejo de resíduos sólidos e líquidos e outras atividades degradantes como a carcinicultura,
mas que possui grande relevância no já referido equilíbrio entre sociedade/natureza.
As espécies foram coletadas em diferentes áreas de manguezal do estado do Ceará sendo
eles, o estuário do rio Coreaú, o estuário do rio Ceará, e nos estuários do rio Timonha, Jaguaribe e
Mundaú.Essas coletas foram realizadas em diferentes anos, sendo a primeira em 2003, logo após a
criação do projeto e as duas últimas foram realizadas em 2011, no estuário do rio Ceará,e no
estuário do rio Jaguaribe,localizados nos municípios de Caucaia-CE e Aracati-CE, respectivamente.
Para a realização das coletas tivemos a ajuda de bolsistas do projeto Mangue Vivo do curso de
Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará e de pescadores e moradores das
comunidades visitadas, cientes que as coletas seriam para fins de Educação Ambiental, com intuito
de incentivar a preservação do ecossistema.
Dois procedimentos diferentes foram realizados para a conservação das espécies em frascos.
Nos primeiros anos do projeto, utilizou-se uma solução de álcool etílico 70%; já nas últimas coletas
1270
foi usada uma solução de formol 40% e água. Os outros passos feitos após a conservação são iguais
para os dois diferentes procedimentos, como colocar nome científico e vulgar das espécies, o local e
data de coleta e a pessoa que os identificou para exposição.De modo complementar, realizou-se o
processo de taxidermia com três crustáceos coletados, sendo um Siri Pimenta e dois Caranguejo-
Uçá (Callinectesbocourti e UcidesCordatus,respectivamente).Estas espécies, portanto, passaram
por um processo diferenciado, onde foi preciso fazer uma limpeza interna, além de injetar formou
4% nas articulações. Para realizar esse processo contamos com o apoio de um Engenheiro de Pesca,
especialista no processo de taxidermia em crustáceos, peixes e mamíferos.
O acervo é variado, possuindo peixes e crustáceos, entre as espécies temos a Muré
(Bathygobiossoporator), o Baiacu (Sphoeroidestestudineus), a Tilápia (Oreochromisniloticus),a
Sóia (Apionichthysasphyxiatus), a Guarajuba-preta (Caranxcrysos), o Bagre
(Sciadeichthysluniscutis), o Pirambu (Anisotremussurinamensis), o Pampo-cabeça-mole
(Trachinotuscarolinus), o Camarão-rosa (Penaeus brasiliensis), a Carapeba (Eugerresbrasilianus),
a Tainha (Mugil brasiliensis), o Cavalo marinho (Hippocampusreidi), o Siri Pimenta
(Callinectesbocourti), o Aratu(Aratus pisonii), o Caranguejo-Uçá (UcidesCordatus), o Chama-
Maré (Uca thayeri), dentre outras ainda em processo de identificação.
As atividades do projeto vão além da visitação ao espaço do museu, por isso têm-se
elaborado alternativas às atividades realizadas fora do Departamento de Geografia. Desenvolvem-
se, portanto, outras formas de transmissão e troca de conhecimentos, como a realização de rodas de
debate, palestras, oficinas e a exibição de filmes, dinâmicas lúdicas,exposições de slides em
projetor, enfim, dependendo sempre do tempo disponível, em média 2 a 4 horas.O Quadro 1
apresenta as ações realizadas, os objetivos, as metas alcançadas e o registro fotográfico
representativo das atividades desenvolvidas pelo projeto.

1271
AÇÃO REALIZADA OBJETIVOS METAS ALCANÇADAS REGISTRO
FOTOGRÁFICO
Roda de conversa na EEM Liceu •Fornecer informações sobre o destino dos resíduos •Grande participação dos alunos nos dois momentos: roda
Vila Velha, em Fortaleza-CE com o sólidos humanos nas cidades, e principalmente em de conversa e reciclagem de papel conscientizando-os
tema ―O problema da má destinação Fortaleza, alertando para os problemas gerados pela acerca dos problemas existentes em Fortaleza devido à
dos residos sólidos‖ onde se má destinação desses resíduos sólidos. destinação incorreta dos resíduos.
apresentou partes do filme ―Lixo •Apresentar alternativas como a reciclagem e seus •Incentivo do coordenador e de professores em
Extraordinário‖ (99 min, direção benefícios despertando-os para novas posturas com desenvolver ações de reciclagem na escola, como
Lucy Walker) e se realizou uma o meio ambiente. separação dos resíduos.
oficina de reciclagem de papel.
Palestra com o tema ―A diversidade •Esclarecer os alunos acerca das riquezas •A palestra gerou grande curiosidade nos alunos, visto que
cultural, religiosa, linguística e os paisagísticas e da diversidade de culturas, religiões o assunto estava sendo abordado por bolsista nascido em
estigmas enfrentados pelo continente existentes no continente africano. São Tomé e Príncipe, oeste da África.
africano.‖ com alunos da EEM Liceu •Enfocar as dificuldades enfrentadas por países •A atividade possibilitou aos alunos desconstruírem
Vila Velha, em Fortaleza-CE. africanos e a história de lutas e escravidão sofridas imagens estereotipadas sobre o continente africano.
por diversas populações do continente.
Oficina de Educação Ambiental para •Apresentar de forma lúdica aos alunos a •Houve grande participação durante a oficina e
os alunos de Ensino Fundamental I diversidade biológica do ecossistema marinho. diagnosticou-se que os alunos já entendem a importância
da EMEF Raimundo Fagner, •Ressaltar os problemas causados pela má da preservação do ambiente que os rodeia, de modo que se
localizada na Praia das Fontes em destinação dos resíduos sólidos na área de praia procurou despertá-los para a importância da reciclagem
Beberibe-CE, abordando ―A morte tanto para os animais marinhos quanto para o para manter a praia limpa e evitar as mortes de animais
de animais marinhos pela ingestão de próprio ser humano. marinhos pela ingestão de lixo.
sacos plásticos (lixo) no litoral da •Conscientizar e estimular mudanças de atitudes. •Os alunos elaboraram, em conjunto, um grande mural,
Praia das Fontes‖. •Confeccionar materiais para a exposição na onde eles mostravam como seria a praia que desejavam:
própria escola em conjunto com os alunos. limpa.

Oficina de elaboração de sabão em •Alertar para os problemas causados pelo despejo •Através da oficina foi possível gerar uma conscientização
barra a partir de óleo doméstico na do óleo na natureza. a cerca da contaminação gerada pelo óleo nos recursos
Praia das Fontes, em Beberibe-CE. •Sugerir e conscientizar estratégias para uma hídricos.
melhor destinação do óleo utilizado na comunidade, •As mulheres conseguiram desenvolver com êxito a
principalmente nas várias barracas de praia oficina, sendo feito uma grande quantidade de sabão que
existentes, além da possibilidade de uma renda foi distribuído entre elas.
sustentável (pela venda do sabão produzido) para as
mulheres da comunidade.

1272
Exposição de parte do acervo •Apresentar aos visitantes da exposição peças •Houve uma grande visitação ao espaço onde foi repassado
indígena do Museu no município de representativas da cultura indígena que demonstram o conhecimento acerca do modo de vida e de como usam a
Pindoretama- CE, em espaço cedido o modo de vida, a cultura e a arte das etnias Baniwa palha para a fabricação de diferentes artigos, além das
pela Secretária de Educação e Guajajara. diferentes pinturas e artes plumárias.
Municipal.

AÇÃO REALIZADA OBJETIVOS METAS ALCANÇADAS REGISTRO


FOTOGRÁFICO
Em vista das discussões e •Disponibilizar maiores informações à comunidade •Ao final da fala dos professores foi possível discutir,
mobilizações sobre as mudanças no acadêmica sobre a questão que é tão importante sendo este um momento muito produtivo, já que os alunos
Código Florestal brasileiro, foi para os ambientalistas, mas que ao mesmo tempo de diversos cursos presentes (Geografia; Engenharia de
realizada no início de 2012 uma roda havia muito desconhecimento e muitas dúvidas. Meio Ambiente; Ciências Biológicas e Engenharia de
de discussãodestinada aos discentes •Promover uma troca de conhecimentos entre os Pesca) e integrantes do Movimento Pró-árvore ouviram e
sobre questões referentes ao participantes, alertando para o nosso papel como esclareceram dúvidas,além de compartilharem os seus
tema.Participaram do momento dois ambientalistas, educadores ambientais ou apenas conhecimentos.
professores doutores do preocupados com a causa ambiental. •Foi ressaltada por diversos participantes a importância da
Departamento de Geografia que •Chamar atenção para as consequências Educação Ambiental para a mudança de mentalidade das
apresentaram as seguintes temáticas socioambientais das mudanças no CódigoFlorestal pessoas e assim torná-las mais ativas.
―As ameaças das possíveis mudanças e quem eram os principais interessados nas •O momento trouxe mais informações e um maior
no Código Florestal para as áreas de mudanças. entusiasmo para lutar pela causa, através do repasse dos
manguezal‖ e ―A vulnerabilidade conhecimentos adquiridos e até maior mobilização nas
socioambiental na Região diversas atividades de oposição que ocorriam na cidade.
Metropolitana de Fortaleza‖.
Foi realizada uma oficina com o •Transmitir aos alunos, de forma lúdica e •Os alunos participaram bastante durante a oficina,
tema ―Água: cuidados e importância‖ descontraída, onde podemos encontrar a água na principalmente quando era perguntado o que eles
em vista do dia mundial da água (22 natureza, seus estados físicos e o ciclo da água, entendiam dos desenhos infantis abordando a temática.
de março) na EIMEF Inah Arruda alémda importância da água para o ser humano. •Ao final, os alunos puderam formar grupos e fazer um
localizada no município de Caucaia- •Apresentar osdiferentes usos e a distribuição do mural onde mostraram o que aprenderam com a oficina.
Ce. Esta foi destinada aos alunos do recurso no planeta, a fim de desenvolver nos alunos Em geral, eles demonstraram a importância da água para a
4º ano do ensino fundamental. uma consciência ambiental e também alertar para as nossa vida.
atividades econômicas que mais a utiliza, como a •Os alunos desenvolveram uma consciência acerca das
irrigação. atitudes necessárias para se preservar este valioso bem.
•Levar conhecimento acerca dos problemas Não se esquecendo de entender que em algumas atividades
enfrentados pela água no nosso século, como a econômicas há grande uso da mesma.
poluição e contaminação dos recursos hídricos
superficiais e do lençol subterrâneos.
1273
Foi realizada exposição com peças •Demonstrar a importância e riqueza biológica do •A exposição trouxe maior conhecimento aos alunos
do acervo ―cultura indígena‖ e Ecossistema Manguezal, assim como a degradação acerca da temática.
―ecossistema manguezal‖ do projeto sofrida pelo mesmo, como o despejo de esgotos, •Foi incentivado o respeito e a valorização da cultura
Museu Mundo Livre na EEFM resíduos sólidos, carcinicultura, entre outros. indígena, visto que muitos dos nossos costumes são
Heráclito de Castro e Silva localizada •Apresentar aos alunos a riqueza da cultura herdados dos índios. Além de transparecer aos alunos a
no bairro João XXIII em Fortaleza- indígena,o cotidiano, os rituais e a arte também ligação dessas comunidades com o meio ambiente natural.
CE. foram demonstrados na exposição, a fim de
incentivar a valorização da cultura indígena.

1274
O projeto conseguiu, através das atividades realizadas em 2011 e 2012, despertar uma
consciência crítica sobre os temas abordados, além de levar um pensamento ecológico que
pressupõe a ―aquisição de atitudes, conceitos e técnicas necessárias para construir uma nova forma
de adaptação cultural para os sistemas ambientais‖ (SILVA; RABELO; RODRIGUEZ, 2011, p.
19). Em vista da atual forma de apropriação dos recursos naturais, as atividades extensionistas
relatadas sugerem o equilíbrio na relação natureza-homem levando em consideração o contexto
social, histórico e econômico, promovendo uma maior qualidade de vida das populações e
comunidades onde são realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto de Extensão Universitária Museu de Ciências Ambientais Mundo Livre interage


com pessoas de vários cursos e setores da universidade, servindo de apoio e fonte de pesquisa para a
comunidade científica e a sociedade em geral levando o conhecimento para além dos muros da
universidade, à medida que são realizados cursos, palestras, oficinas e visitas monitoradas a
diversas escolas e comunidades, além da troca de conhecimentos (tanto o científico e quanto
tradicional) promovido nestas atividades e, também, na possibilidade de visitação de jovens ao
espaço do Museu.
Nos momentos de discussão e das atividades em geral foi possível avaliar o nível de
satisfação dos indivíduos beneficiados pelo projeto. A partir da interação, da dinâmica e
participação voluntária, em relação às atividades desenvolvidas junto às escolas e comunidades,
observou-se a importância das mesmas e também a necessidade destas serem estimuladas e
propagadas para a comunidade acadêmica, professores, alunos e órgãos e entidades apoiadoras da
extensão. Dessa forma, os atores envolvidos nas atividades educacionais propagam os
conhecimentos adquiridos e transmitidos durante os encontros extensionistas e em outros encontros
e congressos, sempre ressaltando a importância de valorizar as práticas de extensão na promoção da
Educação Ambiental junto às escolas e às comunidades.
As atividades de extensão realizadas em escolas e comunidades já mencionadas, e a própria
visita ao espaço interativo são atitudes simples, mas que quando desenvolvidas com compromisso,
dedicação e com certa continuidade podem desenvolver sensibilidade e criticidade naqueles a quem
se deseja alcançar, transformando-os em agentes multiplicadores. A importância deste e de outros
projetos se apresentam, então, a partir da ideia de disseminação do conhecimento socioambiental
que se revestirá em atitudes mais conscientes e responsáveis para com o meio ambiente. É um
______________________________________________

¹ Apresentação parcial dos dados obtidos durante a pesquisa de Mestrado junto a Universidade Federal de
Rondônia , sob o titulo ELEMENTOS PARA O PLANO DE BACIA DO IGARAPE D’ALINCUORT: ROLIM DE MOURA - RO,
projeto hospedado no Laboratorio de Geografia e Planejamento Ambiental de fevereiro de 2008 a maio de 2010,
quando foi defendido.
processo em que resultados grandiosos só são percebidos em longo prazo, mas que para existirem
necessitam, também, das iniciativas extensionistas.

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1277
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E AMBIENTAL NA DINAMIZAÇÃO DO CURRÍCULO
ESCOLAR POR MEIO DE HORTAS, AREIA/PB

Tarciso Botelho PEREIRAFILHO - Graduando CCA/ UFPB-tarciso.filho@bol.com.br


Rodolfo César de ALBUQUERQUE - Graduando CCA/ UFPB - rcesar_fi@hotmail.com
Núbia Pereira da COSTA144- Professora CCA/UFPB-nubia@cca.ufp.br
Lenyneves Duarte Alvino de ARAUJO - Professora CCA/ UFPB - lenyneves@cca.ufpb.br

Resumo

O presente trabalho se destina a demonstração prática das diferentes formas de dinamizar o


currículo através da construção de hortas escolares trabalhando educação alimentar e educação
ambiental em escolas particulares e públicas de ensino fundamental do município de Areia-PB. As
transformações na urbanização e modernização ocorridas na sociedade implicam em mudanças no
estilo de vida, principalmente nos hábitos alimentares e na conscientização ambiental da população.
A horta escolar realiza esse importante papel, uma vez que ao interligar conceitos teórico se
práticos, auxilia no processo de ensino e aprendizagem, se constituindo uma importante ferramenta
capaz de atuar no desenvolvimento dos conteúdos de forma interdisciplinar. Este estudo baseia-se
numa abordagem prática sob a ótica da descrição e reflexão como referencial para analisar os
benefícios de hortas inseridas em ambiente escolar. Observa-se a riqueza do tema, que a princípio
aparenta uma prática simples, cujos resultados apontam uma profunda reflexão e aprendizado sobre
como dinamizar as aulas á luz das práticas alimentares e ambientais corretas.

Palavras-chave: reciclagem, hortaliças, hábitos alimentares, escolas

Abstract

This paper is intended to demonstrate the implementation of different forms of boosting the
curriculum by constructing school gardens and food education working environmental education in
private schools and public elementary schools of the city of Areia-PB. The changes in urbanization
and modernization occurred in society imply changes in lifestyle, especially eating habits and
environmental awareness of the population. The school garden performs this important role, since
by linking theoretical concepts and practical aids in the process of teaching and learning, is

144
Orientadora

1278
becoming an important tool capable of operating in the development of content in an
interdisciplinary way. This study is based on a practical approach from the perspective of
description and reflection as a reference to assess the benefits of gardens entered in the school
environment. Note the richness of the subject, which at first seems a simple practice, the results
point to a deep reflection and learning lessons on how to streamline the light of feeding practices
and environmental correct.

Keywords: recycling, vegetables, eating habits, schools

1. Introdução

As grades curriculares das escolas oferecem suas disciplinas separadas em conhecimento


específico. O que aponta uma complexidade caduca dos saberes que não pode ser explicada de
forma total e/ou inteira.No dia a dia das escolas particulares e públicasde ensino fundamental
observa-se a necessidade por parte do aluno e a dificuldade dos educadores, em dinamizar o
currículo escolar. Sob a criatividade dos envolvidos, a horta torna-se uma ferramenta lúdica e
concreta capaz de incentivar e integrar as diversas fontes e recursos de aprendizagem, inserindo a
multidisciplinaridade nas estruturas do ambiente de ensino, gerando uma fonte de observação e
pesquisa diversa e exigindo uma reflexão diária por parte dos educadores e educandos envolvidos
nesta ação coletiva.
Por se tratar de um paradigma sempre atual, não ultrapassado, mas que ultrapassa os
resultados esperados à medida que é discutido nos corredores da escola enquanto o aluno se dirige à
horta ou quando este consegue enxergar que o conhecimento teórico tem sua utilidade no momento
que ele se depara com um problema prático, a horta gera possibilidades para o desenvolvimento de
ações pedagógicas por permitir experiências práticas em equipe explorando as diversas formas de
aprender.

1.1. Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade e Transdisciplinaridade

Na idade moderna surgiu o pensamento da organização disciplinar. Estudos revelam que


ainda assim, muitos educadores sentem-se bloqueados por essa organização disciplinar da escola,
que se mostra dificultosa, e às vezes até impeditiva, de ações pedagógicas mais eficazes, dinâmicas
e atraentes para os educandos.
Observando as escolas, Pichinin (2012) percebeu que as disciplinas são tratadas como se
fossem únicas e sem nenhuma relação entre si, deixando o aluno alienado e com dificuldades de
observar que os conhecimentos de cada professor fazem parte de uma só realidade, que deve ser
concebido como parte de um grande salto de conhecimento. O que se busca são possibilidades

1279
concretas de superação dessa estrutura compartimentada que isola os campos do saber limitando a
ação dos professores e contribui para os insatisfatórios desempenhos dos educandos, constatados
pelas pesquisas realizadas pelo INEP/MEC.
Procurando cada vez mais a realidade do próprio aluno, é possível construir um currículo
aparentemente informal, mas real. Buscando a supremacia do conhecimento, é necessário o
rompimento das barreiras entre as disciplinas alcançando uma visão interdisciplinar do saber que
seja capaz de respeitar a verdade e a relatividade de cada disciplina.
Entende-se como interdisciplinaridade, disciplinas que se inter-relacionam na realidade.
Assim, Cardona (2012) afirma que um elemento pode ao mesmo tempo ser estudado por diferentes
disciplinas, no entanto, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento
analisado. Este termo abre a discursão sobre como o conhecimento deve ser entendido, uma vez que
as matérias curriculares fazem parte de um todo e não devem ser especializadas.
É possível trabalhar qualquer tema, o desafio está em como abordá-lo com cada grupo de
alunos e em especificar o que podem aprender de cada tema que se estabelece na busca de solução
para os problemas existentes na realidade dos alunos e no contexto em que vivem e atuam como
seres humanos pensantes que podem a partir de uma estrutura buscar soluções para cada tema
(MAGALHÃES, 1999).
Contudo, o termo acima evidencia insuficiência, uma vez que as realidades na verdade são
múltiplas.No eixo multidisciplinaridade,as disciplinas se interconectam através das várias
realidades. Este termo vai além da simples justaposição das disciplinas, encontra-se aqui um
processo de coparticipação, diálogo, reciprocidade que permeiam as disciplinas, e o mais
importante, todos os envolvidos no processo educativo. O conhecimento das disciplinas torna-se
assim, integrado, onde a interação acaba com algo setorizado. Pichinin (2012) reforça esta idéia,
para ele, a multidisciplinaridade é um formato verdadeiramente dinamizador de currículos,em que
os temas passam a ser o eixo e não a própria disciplina, parecendo ser a mais viável e condizente
com a realidade social e cultural que vivemos e da qual fazemos parte.
Outro processo de ensino/aprendizado é a transdisciplinaridade, tão importante que foi
recomendada pela UNESCO em 1998, em uma conferência mundial para o ensino Superior. Neste
caso, praticamente inexiste as fronteiras das disciplinas, suas sobreposições são tantas que seu
começo e fim tornam-se identificável.
À vista do acima exposto, a horta se mostra ser uma estratégia forte, por se tratar de um
espaço de construção coletiva em torno de temas pontuais, especiais e necessários, no qual, os
professores podem expor seus próprios conteúdos, de acordo com a sua disciplina de trabalho, ou
também, como nos temas transversais. Ou seja, se escolhe alguns temas que atravessarão cada uma

1280
das matérias ensinadas na escola. Nesse caso, o tema educação alimentar ou educação ambiental
passa a ser o eixo curricular à medida que se trabalha na horta.
1.2. Educação alimentar

Tem-se observado nos últimos anos uma grande preocupação com o hábito alimentar na
infância, já que o mau hábito alimentar acarreta inúmeros problemas à saúde. Ainda que em
pequena proporção, percebe-se a iniciativa de algumas instituições de ensino na formação dos bons
hábitos alimentares das crianças. Promover a adoção de hábitos alimentares saudáveis representa
um grande desafio para os profissionais da saúde da educação. Tendo em vista o papel fundamental
da alimentação na definição do estado de saúde das crianças, a escola se apresenta como um espaço
e tempo privilegiados para promover a saúde, por ser um local onde muitas pessoas passam grande
parte do seu tempo, vivem, aprendem e trabalham (COSTA et al., 2001).
No Brasil de hoje, a má alimentação não é problema exclusivo de pobres nem de ricos, pois
pessoas de todas as classes sociais se alimentam mal. Os problemas decorrentes de uma alimentação
inadequada, como desnutrição, anemia, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, afetam
tanto crianças, quanto jovens e adultos. Por isso, a educação alimentar desde a mais tenra idade é
fundamental (HULSE, 2006).
Segundo relatório de Segurança Alimentar e Nutricional do estado da Paraíba (MDS,
2012),59,04% era o percentual de domicílios em situação de segurança alimentar e nutricional em
2009. Os demais domicílios apresentavam percentual de insegurança alimentar e nutricional de leve
a grave.
Observa-se que a obesidade infantil vem crescendo mundialmente em países desenvolvidos
e em desenvolvimento, com sérias repercussões na saúde da população infanto-juvenil. Tal situação
é favorecida pela mídia. A televisão, por exemplo, mostra alimentos modernos como o drivethru,
fast-food,serviços de delivery além dos alimentos congelados, pré-cozidos ou enlatados. Existem
ainda, além da força da mídia, outros fatores que tem contribuído bruscamente para as mudanças
nos hábitos alimentares dessas crianças. Entre eles, a falta de tempo dos pais, levando essas crianças
ao consumo de alimentos industrializados e a provável falta de conhecimento dos pais sobre
alimentação saudável.
Chegando ao ambiente escolar, essas crianças deveriam encontrar uma estrutura mais
adequada de alimentação e nutrição. No entanto, estudos demonstram que os alimentos das cantinas
escolares são muito energéticos, ricos em açúcares, gorduras e sal, indicando a preferência dos
estudantes pelos mesmos. Em especial nas cantinas públicas, encontra-se pouca ou nenhuma
diversidade na alimentação, com número reduzido de hortaliças. Essa realidade necessita ser
modificada, passando, a cantina,a ser um espaço que reforce e estimule a prática de hábitos

1281
alimentares saudáveis, abordado pelo educador nas aulas. Para Souzaet al.(2007), mais do que
representar apenas um dos períodos para a alimentação, a escola é responsável por uma parcela
importante do conteúdo educativo global, inclusive do ponto de vista nutricional.
A escola se revela um espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de melhoria das
condições de saúde e do estado nutricional das crianças e dos adolescentes que passam boa parte do
seu dia neste ambiente, sendo um setor estratégico para a concretização de iniciativas de promoção
da saúde, que incentiva o desenvolvimento humano saudável e as relações construtivas e
harmônicas.
Segundo Ferreira apud Hulse (1998), a familiaridade com o alimento é fator preponderante
para sua aceitação e a partir daí aprende-se a gostar do que está disponível. A escola é
indiscutivelmente o melhor agente para promover a educação alimentar, uma vez que é na infância
a na adolescência, que se fixam atitudes e práticas alimentares difíceis de modificar na idade adulta
(TURANO, 1990). A finalidade da educação alimentar é transformar o alimento em um instrumento
pedagógico, transpondo os limites do ato alimentar, fazendo com que este se transforme em um
ponto de partida para novas descobertas (CASTRO, 1985).
Apesar dos alimentos estarem presentes nas escolas, raramente ele é visto como conteúdo de
ensino. A presença da horta no ambiente de estudo, no entanto, vai além do processo pedagógico e
mais ainda da sua própria produção de alimentos. A horta, e as atividades nela desenvolvida,
envolvem, além do trabalho coletivo dos alunos, a participação de vários membros da comunidade
escolar, de forma a fortalecer a relação da comunidade com a escola, aproximando a escola da
realidade que a cerca.

1.3. Educação ambiental

Em 1999 foi aprovada a Lei no 9.795/99, que institucionalizou e legalizou a Educação


Ambiental, como sendo "os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes ecompetências voltadas para aconservação do
meio ambiente, bem de uso comum dopovo, essencial à sadia qualidade de vida e
suasustentabilidade". Desta forma, a educação ambiental é um componente essencial e permanente
da educação que deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades de
ensino do sistema educacional brasileiro, em caráter formal e não-formal.
Fica claro que não bastam apenas projetos de educação ambiental nas escolas para que a
educação seja totalizada. É essencial que professores se sintam comprometidos com um permanente
processo de autoformação, com a busca de atividades alternativas e sensibilizadoras dos educandos
para a construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada.

1282
O Art. 10da Lei acimareferida ressalta um aspecto extremamente positivo quando afirma
que a educação ambiental "não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de
ensino", antes deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente
em todos os níveis e modalidades do ensino formal.
No sentido da busca de atividades alternativas para incorporação da educação ambiental no
currículo, a horta escolar se apresenta como um "ecossistema", onde educandos, professores,
funcionários da escola e pais dos alunos podem trabalhar de maneira solidária e cooperativa em
favor da aprendizagem de todos e da mudança na cultura alimentar.
Quando se refere à Educação Ambiental, do ponto de vista integrador,MINC
(2005:71)afirma que ―as escolas devem funcionar como pólosirradiadores da consciência ecológica,
envolvendo as famílias e a comunidade‖. Em concordância, Reigota (1999) afirma que: O principal
e fundamental objetivo é fazer por meio do processo pedagógico, com que as pessoas possam obter
uma melhor e mais abrangente compreensão do problema (geralmente complexo, como é o caso das
questões ambientais) e que possibilite uma ação em busca de alternativas e soluções.

2. Descrição metodológica

Trata-se de um estudo descritivo e reflexivo, com dados de quatro escolasda cidade de


Areia-PB, sendo duas da rede pública e duas da rede privada, entre os anos de 2010, 2011 e 2012,
abrangendo um total de 476 alunos do segundo ao nono ano do ensino fundamental.Inicialmente,
foram levantados os dados dos estudantes e dos pais, para caracterização de seus perfis, com a
aplicação de questionário. Comparo-se o perfil entre os hábitos alimentares dos alunos e seus pais,
nas escolas da rede pública e da rede privada.
Com o intuito de mobilizar as escolas, uma palestra foi ministrada para o alunado e para os
professores a fim de que os mesmos se engajassem no projeto. Nessa palestra foi apresentada a
proposta de trabalho,discutido a educação ambiental,alimentar, importância nutricional das
hortaliças e apresentado a proposta da utilização de garrafas PET na confecção da horta,bem com,
forma de reciclagem de resíduos das cozinhas das escolas como fonte de adubos para as hortas.

1283
Figura 9 - Aplicação de questionários aos alunos (A) e palestra para apresentação do projeto nas escolas (B).

Feita a escolha da área, os trabalhos de implantação da horta tiveram início utilizando as


técnicas agronômicas adequadas. Em seguida, os alunos acompanhavam sempre atentos, a
semeadura de algumas hortaliças e o transplantio de outras. Indo à horta diariamente, cada turma
praticava os tratos culturais como a rega e a capina manual, manuseavam as ferramentas de
jardinagem e conheciam as técnicas de horticultura, tendo sempre atenção por parte dos tutores do
projeto, na aplicação dos conhecimentos transversais que poderiam ser recriados em outros
ambientes de moradia ou trabalho.

Figura 10 - Manejo dos canteiros (A) e colheita das hortaliças (B).

Na escola onde não existia uma área adequada com solo para a construção dos canteiros
tradicionais, estes foram feitos utilizando-se em garrafas PET que os próprios alunos traziam de
suas casas. A horta foi implantada, de forma vertical nas paredes do muro da escola.

1284
Figura 11 - Aproveitamento do espaço vertical (A) e manejo da horta vertical (B).

3. Resultados

Com a metodologia proposta foi possível mobilizar e conhecer o perfil alimentar dos
estudantes envolvidos, bem como o seu nível de entendimento a respeito dos benefícios das
hortaliças na alimentação. Durante os três anos os dados revelaram que o consumo de hortaliças é
maior entre os alunos das escolas públicas. Deixando-se revelar que a má alimentação é
influenciada pelo suposto maior poder aquisitivo dos pais que tem seus filhos em escola particular,
pois, as crianças, ao terem maior oportunidade de escolha, acabam escolhendo um alimento
inadequado para se alimentar. Comparando-se o consumo de hortaliças dos pais e dos alunos,
observou-se que tanto os da rede pública quanto os da rede privada, o consumo de hortaliças pelos
pais é mais acentuado que os dos filhos, demonstrando que apenas o ambiente familiar não está
sendo suficiente para influenciar de forma significativa na alimentação dos filhos, sendo de extrema
importância a intervenção da escola.
Quanto à preferência de hortaliças, os alunos consomem geralmente aquelas mais
tradicionais: alface, tomate, batatinha e cenoura. Esses resultados indicam que as hortaliças
escolhidas são as mais consumidas em seus lares e as mais disponíveis no mercado nacional
(LIMA, 2010).
Sempre quando indagados sobre a presença do projeto horta na escola, alunos e professores
reconheceram a importância da sua implantação, seja pelo motivo da melhoria na merenda escolar,
ou porque aprenderam a cultivar o alimento.
Sempre estimulados a começarem os trabalhos, a princípio, notava-se nos alunos a
curiosidade ao cavarem o solo, colocarem as garrafas PET e aos poucos vendo os canteiros
ganhando formas geométricas. Quando requisitados a fazerem a semeadura ou o transplante da
mudas, foi possível perceber o interesse e a evolução dos conhecimentos dos alunos que, ao ver as
sementes germinarem e as mudas crescerem sadias, puderam perceber a importância dos nutrientes
no solo para uma hortaliça de boa qualidade.

1285
No manejo diário da horta cada um já sabia o que era preciso fazer dentro da programação
do dia, além da rega, realizavam a limpa manual nos canteiros ao redor, bem como observavam se
as plantas do canteiro estavam sendo atacadas por pragas ou acometidas por doenças. Nesta
vivência do desenvolvimento das atividades na horta, sempre era enfatizado e explicado o porquê
de cada tarefa, possibilitando-se o entendimento na teoria e na prática de todas as etapas de
realização do cultivo.
No entanto, a horta escolar deixou de ser apenas de produção de alimento e se tornou
produtora de novos conhecimentos. Tornando-se uma horta pedagógica, não produziu apenas
alimento saudável, ela educou a criança e o pré-adolescente para se tornarem um cidadão
responsável pelo mundo que vive.

4. Conclusão

Educar no âmbito da educação alimentar e ambiental é uma construção conjunta de


processos permanentes e contínuos que devem unir escola e família, a implantação de um projeto de
horta em escolas, leva ao conhecimento não somente da produção de alimentos, de forma adequada,
saudável e segura, mas também, da construção de conhecimentos que ganham força e são
reproduzidos à medida que são desenvolvidos por educandos e educadores.

Referências

CARDONA, Fernando. Transdisciplinaridade, Interdisciplinaridade e


Multidisciplinaridade.Disponívelem:http://www.mundojovem.com.br/artigos/interdisciplinaridade-
ou multidisciplinaridade. Acesso em 18/09/2012.

COSTA, E. D. Q.; RIBEIRO, V. M. B.; RIBEIRO, E. C. D. O. Programa de alimentação escolar:


espaço de aprendizagem e produção de conhecimento. Rev. Nutr. Campinas, v. 3,n. 14 p.225-229,
set./dez. 2001.

MAGALHÂES, Altina Costa. Interdisciplinaridade. Brasil (1999, p.89)

MDS - (Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome). Relatório de Segurança


Alimentar e Nutricional do estado da Paraíba. Plano Brasil Sem Miséria, 2012. 4 p.

MINC, Carlos. Ecologia e Cidadania. São Paulo: Moderna, 2005.

MORGADO, S. F.; SANTOS, A. M. A. A Horta Escolar na Educação Ambiental e Alimentar:


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NOGUEIRA, C. L. N.; RAMOS, S. V. Horta na Escola-“Uma Alternativa de Melhoria na
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Belo Horizonte.

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Americano de coletivos escolares e rede de professores que fazem investigação na sua escola, 2002.
Anais... Estrela.

PICHININ, Dailton Sidnei. Interdisciplinaridade ou Multidisciplinaridade. Disponível em:


http://www.mundojovem.com.br/artigos/interdisciplinaridade-oumultidisciplinaridade. Acesso em
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SOUZA, E. C. G.; PAIXÃO, J. A. D.; ARÊDES, E. M.; BASTOS, K. P. L.; GOMES, D. M.. O
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65-67, mar/ abr. 2007.

1287
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DA PERIFERIA DO MUNICÍPIO DE SERRA
TALHADA, PERNAMBUCO, BRASIL145

Valdilene Gomes de MELO (UFRPE/UAST) - valdilenemelo.uast@gmail.com


Morgana Maria Gouveia da SILVA (UFRPE/UAST) - morgana.uast@gmail.com
Isabela Janne de LIMA (UFRPE/UAST) - bel.lima.2@hotmail.com
Luciana de Matos Andrade BATISTA-LEITE (UFRPE/UAST) - luciana_matos1@hotmail.com

Resumo

Ações antropogênicas exercidas no ambiente trouxeram uma série de consequências para a biota,
exigindo o repensar da sociedade. A Educação Ambiental é a principal ferramenta de
conscientização e/ou conservação dos recursos naturais, podendo definir valores, motivações e
conduzir modelos ecotecnológicos de comportamento. Objetivou-se avaliar a percepção dos
estudantes do Ensino Fundamental II sobre meio ambiente, com intuito de conscientizá-los a partir
de suas vivências e concepções. A coleta de dados foi baseada em três etapas: a. Aplicação de
questionários estruturados; b. Palestra educativa dialogada; c. Confecção de cartazes. Foram
amostrados 75 educandos (59,87% meninos e 40,13% meninas), entre 10 a 16 anos, onde 100%
residem na periferia. Os estudantes foram questionados quanto ao conceito de meio ambiente:
86,67% afirmaram que sabiam o conceito. Destes, 58,09% não responderam satisfatoriamente. Em
seguida, foi indagado se faziam algo que prejudicasse o meio ambiente: 43,37% dos alunos
afirmaram realizar práticas de agressão ao ambiente, conforme meme: [...] jogo lixo nas ruas fazo
fogueira Todos nos fasemos coisas que prejudica o meio hambiente [...] Menina (13 anos). Quanto
ao destino do lixo doméstico: 82,41% relataram recolhimento pela prefeitura. Posteriormente, foi
questionado se a população de Serra Talhada-PE se preocupa com o ambiente: 74,03% responderam
que não, descrevendo o meme: [...] por que eles matam as plantas e jogam lixo nas caatingas e
destroe elas [...] Menino (13 anos). Finalmente, foi indagado se havia presenciado alguma ação de
agressão ao meio ambiente: 32% responderam que sim, através de queima do lixo, derrubas de
árvores e desperdício de água. Evidenciou-se motivação e envolvimento na atividade dos cartazes,
que perceptivelmente despertou um olhar crítico e consciente, retratados nas ilustrações.
Indiscutivelmente, a educação ambiental funciona como um elo entre homem versus natureza
consciente, um alicerce para a sensibilização humana, incluindo-os não como expectadores, mas
sim, como sujeitos participantes.

145
Pesquisa realizada pelo Programa de Educação Tutorial (PET Biologia UAST/UFRPE) na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Acadêmica de Serra Talhada. Com o apoio financeiro do MEC/SeSu/SECAD.

1288

Palavras Chaves: Educação Ambiental, Ensino Fundamental II, Periferia, Serra Talhada-PE.

Abstract

Anthropogenic actions performed in the environment brought a number of consequences for biota,
requiring a rethinking of society. Environmental education is the main tool of awareness and / or
conservation of natural resources and can define values, motivations and conduct eco-technology
models of behavior. This study aimed to assess students' perceptions of Elementary Education II on
environment, aiming to make them aware from their experiences and conceptions. Data collection
was based on three steps: a. Structured questionnaires, b. Educational lecture dialogued c. Making
posters. We sampled 75 students (59.87% boys and 40.13% girls), between 10 and 16 years, where
100% live on the periphery. Students were asked about the concept of environment: 86.67% said
they knew the concept. Of these, 58.09% did not answer satisfactorily. And then they were asked if
they did anything that harmed the environment: 43.37% of students reported receiving practices of
aggression to the environment, as meme: [...] we throw trash in the streets do fire. We do all things
that affect the environment [...] Girl (13 years old). About for the fate of household waste: 82.41%
reported clean service streets by the city hall. Later, he was asked whether the population of Serra
Talhada-PE cares about the environment: 74.03% answered no, describing the meme: [...] because
they kill the plants and throw garbage in scrublands and destroys them [...] Boy (13 years). Finally,
he was asked if he had seen any action harmful to the environment: 32% answered yes, by burning
waste, cutting of trees and water waste. It became clear motivation and involvement in the activity
of the posters, which noticeably aroused a critical look and conscious, portrayed in the illustrations.
Undoubtedly, environmental education serves as a link between man versus nature conscious, a
foundation for human awareness, including them not as spectators, but as subjects.

Key Words: Environmental Education, Elementary II, Outskirts, Serra Talhada-PE.

Introdução

A chegada da revolução industrial possibilitou um aumento de renda, fazendo o homem


atuar sobre a natureza não só a fim de garantir o sustento, mas com a expectativa de obter bens e,
consequentemente lucros (Oliveira et al, 2007). Assim, a grandeza do desperdício que a sociedade
moderna efetua tem sido um reflexo desse processo de industrialização, no qual tem provocado

1289
condições desfavoráveis a sobrevivência da humanidade, sendo necessário minimizar seu fluxo de
desenvolvimento (Mazzotti, 1998). Dessa forma, a ação do homem sobre a natureza trouxe uma
série de conseqüências para o planeta, exigindo o repensar da sociedade.

Além disso, o avanço na industrialização em todo o mundo proporcionou uma aceleração


nos processos de urbanização, de forma que promoveu o maior desenvolvimento das cidades. A
partir disso, aproximadamente no final do século XIX, surgiu o termo ―periferia‖, relacionada com
ocupações realizadas a margem do espaço urbano legal e regular de uma determinada cidade
(Tanaka, 2006). Esses espaços urbanos caracterizam-se por apresentar uma população normalmente
de baixa renda, onde as condições de moradia, acessibilidade, infraestrutura são precárias, bem
como se registra péssima qualidade ambiental e da paisagem urbana (Costa, 1984), contribuindo
ainda mais para uma falta de conscientização ambiental e preservação do meio ambiente.
A Educação Ambiental apresenta-se como uma ferramenta de conscientização e de
preservação dos recursos naturais. De acordo com Dias (1998), a educação ambiental tem como
objetivo a definição de valores e motivações, conduzindo a modelos de comportamento de
preservação e melhoria do meio ambiente.
As crianças e jovens são os principais norteadores para o exercício da Educação Ambiental,
e a escola se torna parceira e local adequado para fórum de discussões sobre a importância do
manejo dos recursos naturais limitados do planeta. Além disso, a escola funciona como instituição
que centraliza informações e transmite conhecimentos aos educandos, destacando-se pelo papel
conscientizador dos problemas ambientais, bem como esclarecedor, objetivando amenizar e/ou
evitar os problemas sociais e ambientais (Fernandes et al, 2012).
A percepção ambiental de uma dada população torna-se de suma importância para nortear
políticas públicas em educação ambiental (Lacerda et al., 2012). Ao longo do seu caminho, a
educação ambiental, esteve sempre presente na legislação brasileira, voltada a universalização desse
método educativo por toda a sociedade, conforme o Decreto de Nº 73.030, de 30 de outubro de
1973, que em suas atribuições criou a Secretaria do Meio Ambiente, na qual especificava, dentre
suas responsabilidades, a necessidade de esclarecimentos e educação do povo brasileiro, para que os
mesmos pudessem usar adequadamente os recursos naturais, conservando dessa forma o meio
ambiente (BRASIL, 2007).
Para ser eficaz a Educação Ambiental, não pode estar ligada somente à transmissão de
conteúdos sobre a natureza, mas sim, está alicerçada como processo contínuo e permanente de
construção de conhecimento, o que possibilita a participação política dos cidadãos e isso só se
tornará possível se estiver presente em todos os segmentos da sociedade, seja de caráter formal,
não-formal ou informal, considerando a escola como um ambiente imprescindível para o seu

1290
desenvolvimento, porque é de sua competência trabalhar na formação integral do sujeito (Pazda et
al., 2009).
Desta forma, o presente trabalho objetivou avaliar a percepção dos estudantes do Ensino
Fundamental II sobre meio ambiente, com intuito de conscientizá-los a partir de suas vivências e
concepções.

Metodologia

1. Caracterização da Área de Estudo


O município de Serra Talhada (coordenadas geográficas: 07º59‘10‖S e 38º17'47"W) (mapa 01),
está inserido no Semiárido, pertence à Mesorregião do Sertão Pernambucano, microrregião do
Pajeú, apresentando uma área de 2.952,8 km2, distando 423 km da capital. De acordo com o Censo
realizado em 2010, estima-se que a população de Serra Talhada-PE é de 79.232 habitantes,
distribuída de forma similar entre a área urbana e a área rural. O município em questão está inserido
no bioma Caatinga, exclusivamente brasileiro (IBGE, 2010).

Mapa 01. Localização do município de Serra Talhada – PE – Brasil (coordenadas geográficas: 07 07º59‘10‖S e 38º17'47"W),
adaptado do IGBE (2010).

2. Coleta de Dados
A amostragem foi realizada durante o mês de junho de 2011, em uma atividade de Extensão
intitulada: ―Ações Educativas em Prol do Meio Ambiente‖ do Planejamento Anual de Atividades
2011 do Grupo do Programa de Educação Tutorial (PET Biologia UAST/UFRPE), entre estudantes
da Rede Pública do Ensino Fundamental II. As instituições educacionais objeto de estudo foram:
Escola Estadual Irnero Ignácio, (bairro da Borborema), Escola Estadual Methódio de Godoy Lima
(bairro da COHAB) e Escola Municipal Vicente Inácio de Oliveira (bairro do Mutirão).
O processo metodológico consistiu em três etapas: I. Aplicação de questionários estruturados

1291
individuais, com intuito de verificar a percepção prévia dos estudantes sobre meio ambiente. Este
foi elaborado com questões objetivas e discursivas para os estudantes do 6º, 7º e 8º anos do Ensino
Fundamental II. Os conteúdos abordados nestes questionários foram: a. Dados pessoais (escola,
idade, série e sexo); b. Sondagem dos conhecimentos sobre meio ambiente; II. Palestras educativas
dialogadas; III. Estimulação a confecção de cartazes, para verificar a assimilação do conhecimento
adquirido durante as palestras educativas dialogadas (figura 01).

Figura 01. Etapas do processo metodológico. Fig. 01A – Aplicação dos questionários individuais; Fig. 01B – Palestra Educativa
dialogada; Fig. 01C e Fig. 01D – Confecção dos cartazes.

O tempo de aplicação dos questionários individuais foi de aproximadamente 15 minutos,


seguido das palestras educativas dialogadas que foram proferidas em 50 minutos.
As palestras foram elaboradas no Programa Computacional Microsoft® PowerPoint e
apresentadas com auxílio do recurso audiovisual (Data Show). A técnica de abordagem foi
dialogada, com o uso de linguagem clara e adequada ao público-alvo.
O momento de vivência e experiência expressas através do grafismo infantil/adolescente foi
oportunizado um período de 40 minutos, onde foram articulados em grupo e oferecido cartolina
branca, lápis de cor revestido de madeira, lápis de cor do tipo hidrocor e tinta guache (nas cores
verde, amarelo, azul, vermelho, branco e preto), tesoura, cola branca, revistas, jornais e pinceis. Os
educandos foram estimulados a representar o meio ambiente de forma livre e espontânea, através
dos conhecimentos aprimorados durante as palestras educativas dialogadas. Os estudantes se
mostraram inteiramente envolvidos com a atividade que despertou um olhar crítico e consciente da
situação que nosso planeta se encontra.
Ao final da confecção, os cartazes foram fixados no pátio da escola, local este, que
possibilitou a visualização pelos demais estudantes da instituição, de forma que houvesse o

1292
despertar para as questões ambientais.
As informações obtidas nos questionários individuais foram registradas em um banco de
dados do Programa Computacional Microsoft® Excel Windows. Alguns fragmentos mêmicos (ou
memes) foram transcritos, conforme metodologia de Batista-Leite (2005).

Resultados e Discussão
Foram amostrados 75 estudantes regularmente matriculados no Ensino Fundamental II de
três escolas da rede pública de ensino. O universo amostral foi representado por 59,87% do sexo
masculino e 40,13% representantes do sexo feminino, com faixa etária de 10 a 16 anos, onde
63,24% residiam próximo a escola e 36,7% relataram morar em bairros vizinhos, porém também
periféricos, pois o intuito foi verificar a percepção ambiental destes estudantes residentes na
periferia.
A- Aplicação dos Questionários Individuais
Os educandos foram questionados quanto ao conceito de Meio Ambiente: 86,67%
afirmaram que sabiam o conceito. Destes, 58,09% não responderam satisfatoriamente, enquanto que
34,92% conceituaram corretamente e 6,99% não opinaram.
Os que não acertaram o conceito de Meio Ambiente, atribuíram diferentes respostas como:
―são vários tipos de preservação‖ ou ―é não jogar lixo nos rios‖ ou ―não pegar passarinho‖, não
fazendo menção ao espaço em que vivemos.
Quando questionados se faziam algo que prejudicasse o meio ambiente: 56,63% afirmaram
que não realizavam práticas de agressão ao ambiente, enquanto 43,37% afirmaram que sim, de
acordo com o seguinte fragmento mêmico:
[...] jogo lixo nas ruas fazo fogueira Todos nos fasemos coisas que prejudica o meio hambiente
[...] Menina, 13 anos.

Guimarães (1995) afirmou que o homem tem se afastado cada vez mais da natureza e nos
últimos tempos essa situação tem piorado em virtude do individualismo. Além disso, vem agindo de
forma desarmônica com o meio em que vive, provocando desta forma grande desequilíbrio.
Com relação ao destino do lixo doméstico: 82,41% relataram que despejam em lixeiras,
onde a coleta municipal se encarrega do destino final. Contudo, 17,59% responderam que jogam no
―mato‖ e queimam. De forma generalista, a população entende que todo problema que o lixo
acarreta é resolvido quando o mesmo é depositado fora de suas residências para ser coletado.
Porém, conforme Barba (2002), o problema reside especialmente a partir desse momento.
Em seguida, os estudantes foram arguidos se em sua percepção a população de Serra
Talhada-PE se preocupava com o meio ambiente: 25,97% afirmaram que sim e 74,03%

1293
responderam que não. Os memos exibem o descaso com o meio ambiente, expresso na percepção
estudantil:
[...] por que eles matam as plantas e jogam lixo nas caatingas e destroe elas [...] Menino, 13
anos.
[...] por que a cidade está toda suja [...] Menina, 12 anos.

De forma geral, comumente se observa nas grandes cidades brasileiras, o lixo doméstico
lançado diretamente no meio ambiente, sem nenhum tratamento prévio, sendo muitas vezes
queimado, abrindo assim um espaço para a proliferação de vetores de doenças, como contribuindo
para a poluição do solo, da água e do ar, alterando desta forma todo o ecossistema (PROSAB,
2012).
Posteriormente, foi questionado aos educandos se em algum momento presenciou em Serra
Talhada-PE alguma ação de agressão ao meio ambiente: 32% responderam que sim e 68%
afirmaram não ter vivenciado nenhuma ação desta natureza. Mas, aqueles que responderam sim,
indicaram ações de pessoas queimando lixo, derrubando árvores e desperdiçando água.
Mesmo que a percepção dos estudantes não tenha uma magnitude de informações
conscientes em 100% das questões avaliadas, nitidamente se verifica preocupação com o meio
ambiente, como também se mostraram conscientes das ações prejudiciais ao ambiente natural.
Todavia, esta consciência ainda não garante integralmente boas práticas no seu cotidiano, com
manutenção de atos que agridem a natureza, entre eles: jogar lixo a céu aberto e queimá-lo, de
forma que se faz necessário uma mudança de atitude, veiculada pela reconstrução de paradigmas e o
exercício da cidadania.
Além disso, o fato dos estudantes residirem em bairros periféricos pode ter alta relevância,
uma vez que na maioria dos casos, esses bairros não possuem saneamento básico, nem coleta
domiciliar dos resíduos sólidos, decorrentes em parte do descaso dos gestores municipais.
Vale ressaltar ainda, que apesar da maioria dos discentes terem afirmados que a população
de Serra Talhada-PE não se preocupa com o meio ambiente, somente 32% relataram ter presenciado
algum tipo de agressão ambiental.
Dessa forma, a escola se destaca pelo papel importante na formação de cidadãos conscientes
e críticos, sendo a educação ambiental o centro norteador para boas práticas ambientais, só assim
haverá possibilidade de reversão ou minimização dos impactos antropogênicos.
B- Confecção dos Cartazes
Em síntese, os educandos descreveram em seus cartazes diversas formas de agressão ao
meio ambiente, tais como: desmatamento, queimadas e poluição nas suas diversas formas. Contudo,
na maioria das ilustrações, foram retratadas paisagens saudáveis, livre de impactos negativos, dando

1294
a entender um ambiente pretendido pelos autores (figura 02).

Figura 02. Cartazes confeccionados pelos estudantes durante o estudo realizado nas escolas públicas de Serra Talhada-PE, durante
em junho de 2012.

Dessa forma, a Educação Ambiental consiste em uma área de conhecimento que busca obter
o aprendizado, bem como conscientizar o homem sobre o pensar e o fazer diante do meio ambiente,
tendo como intuito, informar e sensibilizar a população sobre os danos ambientais e suas possíveis
implicações/soluções, como também fazer com que os indivíduos se transformem em participantes
das decisões do grupo (BRASIL, 2004).

Conclusão
O meio ambiente está cada vez mais degradado, não sendo possível deixar para depois uma
mudança de atitude da humanidade, categorizados como consumidores em potencial, agindo com
descaso ao ambiente que vivem. A educação ambiental vem sendo continuamente discutida.
Contudo, as boas práticas ambientais não são aplicadas por grande parte da população e educar
indivíduos comprometidos em conservar/preservar o meio ambiente se faz necessário.
A periferia constitui-se muitas vezes de um espaço sem infraestrutura e condições básicas
para sobrevivência, sendo um lugar onde cenas de poluição são rotineiras, atitudes como jogar lixo
a céu aberto, bem como a queima do mesmo, são presenciadas constantemente.
A preocupação dos entrevistados é evidente, uma vez que tem consciência que muitas ações
causam danos ambientais, bem como sabem que a população do seu município não se preocupa
com o meio ambiente, apesar de alguns estudantes ter relatado a não presença de agressões que
afetassem o meio ambiente, no entanto há uma grande falta de conhecimento por parte destes, que
não tem suporte escolar direcionado a esta problemática.
Desse modo, formar pessoas conscientes que se preocupam com o meio ambiente é a base
para o futuro, e isso será possível através da educação ambiental, que deve fazer parte não só do

1295
ambiente escolar, como do ambiente familiar e da comunidade onde estão inseridos, bem como
deve haver mais envolvimento dos poderes públicos.

Referências
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Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 163p. 2006.
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de Mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1984.
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1296
A AGENDA 21 ESCOLAR COMO POTENCIALIZADORA DAS PRÁTICAS
ECOPEDAGÓGICAS: PROMOVENDO ESPAÇOS DE AUTONOMIA PARA A
CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PLANETÁRIA 146

Wagner José de AGUIAR (Depto. Biologia/UFRPE) – wagner.wja@gmail.com1


Renata Alves de BRITO (Depto. Educação/UFRPE) – renataalvesdebrito@gmail.com2
Alexandro Cardoso TENÓRIO (Depto. Educação /UFRPE) – act72@yahoo.com3

1, 2 – Estudantes de graduação; 3 – Professor adjunto/Orientador

Resumo
No cenário de uma sociedade de consumo e, ao mesmo tempo, produtora de riscos, temos
observado que os cidadãos têm buscado novos ideais para combater as ameaçadas ambientais
geradas pelo desenfreado consumismo e, nesse contexto, a Educação Ambiental tem se inserido de
modo a otimizar esse ―despertar‖ da sociedade. Partindo do princípio de que a Ecopedagogia,
enquanto uma das identidades da Educação Ambiental brasileira, que se constitui a partir de
princípios que valorizam a autonomia e participação coletiva, com base na experiência cotidiana, o
estudo ocupou-se na análise de uma experiência de construção de uma Agenda 21 escolar,
discutindo as potencialidades desta para a produção de uma cidadania planetária a partir da
promoção de espaços propiciadores de autonomia no campo escolar. Procedeu-se também com o
relato da uma experiência de uma oficina desenvolvida com alunos e professores de uma escola da
rede pública estadual de Pernambuco/Brasil. Pode-se ratificar que, embora os atores da comunidade
escolar estejam ambientalmente sensibilizados, permanece em evidência um tratamento
fragmentado, na perspectiva disciplinar, frente à necessidade de uma compreensão sistêmica da
realidade onde a escola está situada, que situe a temática da qualidade de vida enquanto uma
abordagem complexa e derivada da construção de uma cidadania ambiental em nível local e
planetário.
Palavras-chaves: Ecopedagogia; Agenda 21 escolar; Educação para a sustentabilidade; Cidadania
planetária.

146
Estudo desenvolvido como parte do plano de trabalho intitulado: ―A implementação de políticas públicas de
Educação Ambiental nos espaços pedagógicos formais: possibilidades e desafios a partir da ambientalização curricular
da educação pública‖, no âmbito do PET/Conexões de Saberes: Avaliação de Políticas Públicas em Ações Afirmativas
para a Juventude. Conta com o apoio financeiro do Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Superior
(MEC/SESu).

1297
Abstract
In the context of a consumer society and at the same time, producing risks to human life, we have
noticed that individuals have sought alternatives to face the new threat environment, generated by
rampant consumerism. And so, Environmental Education has been inserted in order to optimize this
"awakening" of society. Assuming that Ecopedagogy while identity of a Brazilian Environmental
Education, is founded upon principles that value autonomy and collective participation, a holistic
view of the human relationship with the world and everyday life while the sense of place of learning
practices productive. The study focuses on the analysis of an experience of building a school
Agenda 21, discussing the potential for construction a planetary citizenship, from spaces enablers of
autonomy. Also proceeded with an account of an experience of a workshop developed with students
and teachers at a public school in the state of Pernambuco/Brazil. We can confirm that although the
subjects of the school community have the sensitivity to environmental challenges, is still evident
treatment adopted as fragmented and discipline, despite the need for a systemic understanding of
reality, in which school is situated, as it deems quality of life, through a complex approach and
derived from an environmental citizenship in the local and global.
Keywords: Ecopedagogy; Agenda 21 school; Education for sustainability; Planetary Citizenship.

Introdução
A sociedade contemporânea tem sofrido grandes mudanças, a maior parte destas
desencadeada com o crescimento exponencial da economia em sintonia com o avanço tecnológico,
traduzido no retrato de um mundo informacional e economicamente globalizado. Diante da nossa
atual configuração cultural como uma ―sociedade de consumo‖, é fato que o padrão de vida adotado
pelas pessoas não tem sido o mesmo de outrora, principalmente em função da facilidade de acesso
às benesses resultantes da interação crescimento/avanço alcançadas por uma parcela da sociedade
global. Paralelamente a esse aparente ―progresso‖, tem sido visível um veloz e acentuado processo
de exploração dos recursos naturais, a partir do qual regiões que antes eram grandes mantenedoras
do patrimônio ambiental foram se tornando áreas extremamente pobres e vulneráveis.
Frente a esse quadro, coletivos de civis e governos têm se mobilizado desde a segunda
metade do século XX, na tentativa de reverter os prejuízos gerados ao ambiente pela nossa
―sociedade de risco‖ (BECK, 1997) já que, dentro dos atributos desse perfil de sociedade, são
típicos a imprevisibilidade dos riscos e o movimento reativo da sociedade às ameaças ambientais
produzidas pelo consumismo exacerbado. A partir desse contato com os riscos produzidos por si
própria, a sociedade tem se tornado cada vez mais reflexiva, tornando-se autocrítica (JACOBI,
2005) e, nesse processo, a Educação Ambiental (EA) tem tido um papel fundamental, no sentido de

1298
otimizar esse ―despertar‖ em direção à construção de conhecimentos, habilidades e atitudes
imprescindíveis à conservação e proteção do bem ambiental.
Embora se demonstre persistente a lógica hegemônica que tem caracterizado a EA com
práticas pontuais, disciplinatórias, fragmentadas e despolitizadas, emergiram na esfera pedagógica
movimentos contra-hegemônicos, dentre eles a Ecopedagogia, fundamentada numa perspectiva de
formação integral, holística e firmada no cotidiano, tendo como foco a instituição de uma cultura da
sustentabilidade em consonância com o exercício de uma cidadania aliada ao pertencimento e ao
convívio harmônico com o planeta, configurando assim a ―cidadania planetária‖ (GADOTTI,
2001). Segundo Boff (1995), a cidadania planetária é uma expressão adotada para expressar um
conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos que demonstra uma nova percepção da
terra como uma única comunidade. Sob esse viés, a EA tem adquirido uma função instrumental na
construção de um planeta sustentável, sobretudo após a criação da Agenda 21 147, documento de
referência universal com princípios norteadores para a projeção de um desenvolvimento capaz de
conciliar justiça social e equilíbrio ambiental, com a manutenção do bem ambiental para as
gerações do presente e do futuro.
Partindo da projeção da Agenda 21 para os diferentes contextos da atuação social, a Agenda
21 escolar constitui-se numa proposta político-pedagógica capaz de favorecer a autonomia do aluno
e de toda comunidade escolar, tendo o propósito de instituir no terreno da escola uma cultura de
cooperação e participação ativa na promoção da sustentabilidade socioambiental, permeada por
princípios como o diálogo e a solidariedade, em interface com a articulação ação local/pensamento
global. Para Jacobi & Santos (2000, p.12), a elaboração da Agenda 21 na escola se insere no quadro
das práticas educativas que ampliam a compreensão de contextos de aprendizagem e a relevância de
processos e metodologias realmente dialógicas e participativas.
Nesse sentido, a Agenda 21 escolar constitui o objeto de reflexão do presente trabalho, o
qual tem como objetivo principal apresentar uma experiência de concepção de uma Agenda 21
escolar, discutindo as potencialidades desta para a construção de uma cidadania planetária a partir
da promoção de espaços propiciadores de autonomia no campo escolar, de forma aliada ao
fortalecimento da Ecopedagogia, já que não se pode falar em cidadania planetária ou global sem
uma efetiva cidadania na esfera local e nacional (GADOTTI, 2001, p.117).
A experiência a ser relatada procedeu de uma oficina desenvolvida com alunos da Escola
Estadual de Referência em Ensino Médio Artur Mendonça, localizada no município de Moreno,

147
A agenda 21 foi um dos documentos resultantes da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano (ECO-92/Rio-92) e corresponde a um plano de ação alicerçado na sinergia das
sustentabilidades ambiental, social e econômica, a ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do
sistema das nações unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio
ambiente.

1299
Pernambuco. Intitulada como ―Práticas de Educação Socioambiental na Agenda 21 Escolar‖, a
oficina foi realizada por ocasião da I Semana de Meio Ambiente da Escola Artur Mendonça,
realizada em junho de 2012 e organizada pelos gestores e professores da escola em parceria com a
Coordenação de Integração Comunitária da Pró-Reitoria de Extensão, da Universidade Federal
Rural de Pernambuco. A oficina integrou parte da programação do evento, tendo como objetivo
divulgar a proposta da Agenda 21 na escola, além de propiciar à comunidade escolar uma
experimentação do processo de construção de uma agenda ambiental na escola, dentro dos seus
princípios norteadores para a construção da Agenda 21 escolar.
Metodologicamente, a oficina abrangeu cinco etapas principais:
148
(1) Leitura e discussão do texto ―O aluno e a consciência ambiental‖ , que traz algumas
reflexões acerca da cidadania ambiental no contexto da escola. O objetivo dessa etapa
consistia em chamar os alunos à reflexão acerca do papel social da escola e da
capacidade política de cada membro da comunidade escolar;
149
(2) Apresentação do vídeo intitulado ―Esse problema não é meu‖ , sucedido de uma roda
de diálogos. Nesse momento, buscou-se uma abordagem contextualizada, possibilitando
a identificação dos problemas da realidade escolar, bem como a análise do nível de
envolvimento da comunidade escolar com os problemas;
(3) Exposição dialogada acerca da ―Agenda 21‖, precedida por uma tempestade de ideias
sobre o tema. Nessa fase, pretendeu-se uma aproximação com o conhecimento prévio de
alunos e professores, de tal forma que houvesse um nivelamento posterior em termos de
conceitos e aplicações;
(4) Elaboração de propostas resolutivas, onde os alunos foram agrupados em equipes, tendo
como sugestão de atividade a estruturação de propostas para os problemas anteriormente
identificados pelo coletivo. Cada equipe ocupou-se de um problema específico
(escolhido voluntariamente), tendo como material de suporte um roteiro sugerido pelos
facilitadores, que destacava como etapas das propostas a serem formuladas:
identificação do problema (problema?), descrição dos efeitos do problema
(consequências?), apresentação de propostas resolutivas (como resolver?), indicação de
parceiros (quem pode ajudar?) e cronograma (em quanto tempo?);

148
Extraído da seguinte obra: PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. 2. Ed. – São
Paulo: Cortez, 1997.
149
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=jjw7DQSUak0

1300
(5) Montagem do plano de ação (agenda ambiental da escola), a partir da socialização das
propostas criadas por cada grupo. O propósito dessa etapa era permitir o reconhecimento
dos problemas por todo o coletivo, fomentando uma leitura crítica de cada proposta
resolutiva, principalmente no que tangia as ideias sistematizadas e aos procedimentos de
operacionalização pensados para cada proposta, além de reforçar a responsabilização de
cada um pela execução do plano, concebido pelo coletivo.

A oficina foi desenvolvida num intervalo de três horas, reunindo alunos das séries terminais
do ensino fundamental II e das turmas do ensino médio. Além dos alunos, também foi registrada a
participação de dois professores da escola, sendo um da área de História e outro da área de Língua
Portuguesa.

A concepção da Agenda 21 escolar e os desdobramentos para a cidadania ambiental e planetária:


algumas notas a partir da experiência vivenciada

Em continuidade ao relato da experiência, inicialmente pode-se observar que a temática da


Agenda 21 era desconhecida por uma grande parte dos alunos, e até mesmo de alguns professores.
Tal constatação foi possível através de observações, na medida em que se percebia que os alunos,
ao se direcionar para a sala onde estava sendo realizada a oficina, questionavam-se uns aos outros
sobre o assunto a ser tratado naquela atividade. Nessa primeira observação, pode-se inferir que a
curiosidade é um elemento favorável a uma nova forma de ler a realidade e de intervir sobre, já que
segundo Freire (1996):
―O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de
conjecturar, de comparar, (...) Satisfeita uma curiosidade a capacidade de inquietar-me a
buscar continua em pé. Não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao
mundo, sem a transitividade de nossa consciência.‖ (Ibid, p.88).

Com base no entendimento de que a essência da cidadania é a consciência de direitos e


deveres (GADOTTI, 2001), verificou-se que os alunos tinham poucos argumentos construídos para
a discussão acerca da sua capacidade política, da mesma forma que para a ideia de cidadania
ambiental. De acordo com Higuchi & Azevedo (2004, p.68), a cidadania ambiental ―envolve ações
de efetiva participação e de mobilização, com outras pessoas, na busca de soluções aos problemas
da relação pessoa/ ambiente, ou na prevenção de possíveis riscos ambientais a partir de
comportamentos ecologicamente desequilibrados‖.
Dos poucos pronunciamentos feitos, observou-se a tendência de exposição oral dos alunos
ainda remetem bastante aos exemplos que, de certa forma, possibilitam um diálogo contextualizado,
mas, ao mesmo tempo, nem sempre podem trazer uma leitura crítica da realidade, reafirmando a
realidade do jeito que está posta. Frente a essa percepção, o educador, enquanto facilitador da

1301
construção do aprendizado e adepto a uma perspectiva construtivista de ensino-aprendizagem, deve
buscar alternativas problematizadoras de se abordar a temática ambiental, capazes de evidenciar o
caráter holístico e sistêmico característico da realidade e inerente ao debate ambiental alicerçado na
Ecopedagogia.
Frente às observações da primeira etapa, optou-se pela apresentação e discussão do vídeo ―O
problema não é meu‖ (etapa 2) o qual, em função da sua natureza (formato de desenho, linguagem,
conteúdo, etc.) exprimiu ter sido mais apropriado pelos alunos do que o instrumento utilizado na
etapa anterior (texto). Como o vídeo traduz uma situação em que emerge um problema, para o qual
a lógica de resolução proposta é a que preza pela responsabilização individual, foi possível a
recordação/apresentação de situações reais do cotidiano, a exemplo da ideia de que o responsável
pelo cuidado/zelo do patrimônio escolar é sempre o diretor ou os funcionários de serviços gerais.
Além do exemplo acima, foram também trazidas situações do dia-a-dia da comunidade e, ao
serem indagados quanto à responsabilização pelo problema da escola ou da comunidade, os alunos
refletiam e afirmavam que o empenho para a resolução dos problemas deveria ser coletivo, pelo fato
de que, diante de uma possível ameaça ambiental, o coletivo como um todo pode ser afetado. Nesse
quesito, é importante destacar que o trabalho coletivo é um indicativo metodológico da EA
Transformadora (MIRANDA; MIRANDA; GIOTTO, 2009) e que, numa perspectiva de instituição
de uma cultura da sustentabilidade, é válido reconsiderarmos que somos seres de relações, onde
―nossa individualidade se completa na relação com o outro no mundo‖ (LOUREIRO, 2004): são as
relações estabelecidas entre os indivíduos que irão definir os princípios do coletivo constituído.
Em relação à etapa 3, constatou-se mais uma vez o desconhecimento pleno do assunto por
uma boa parte do coletivo. O estabelecimento da noção de Agenda 21 se deu com base na
tempestade de ideias, que convergiu em questões do tipo: por que agenda? Por que 21?
Complementarmente a discussão, foi feita uma exposição dialogada com a utilização de slides e de
um material audiovisual educativo elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, que trazia um
breve histórico das questões ambientais com a culminância na criação da Agenda 21. Além dos
princípios gerais, discutiu-se ainda a expansão da agenda para os níveis nacionais e locais, incluindo
as escolas, dando margem para o entendimento da relevância do trabalho empreendido naquela
situação de ensino-aprendizagem, sobretudo pela socialização do princípio 21 da Declaração do Rio
de Janeiro sobre Meio Ambiente150, que afirma: ―Devem ser mobilizados a criatividade, os ideais e
o valor dos jovens do mundo para forjar uma aliança mundial orientada para obter o

150
Documento originado, assim com a Agenda 21, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano (ECO-92/Rio-92), no qual são estabelecidos 27 princípios sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Segundo Gadotti (2010, p.15), ela

1302
desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos‖. Tal princípio preconiza a
necessidade de se preparar os jovens para uma postura protagonista na construção da cultura da
sustentabilidade e, no âmbito da nossa reflexão, essa ideia adquire significado real através das
práticas inovadoras de Educação Ambiental, inerentes ao trabalho com a Agenda 21 escolar.
Uma vez cientes do conceito e das aplicações da Agenda 21, o próximo passo foi a
elaboração de propostas resolutivas para os problemas observados (etapa 4), no qual os alunos
elegeram os seguintes problemas, montando as propostas descritas abaixo:

Proposta (1)
1) Problema/tema: poluição sonora.
2) Consequências: interfere na concentração do aluno, gera brigas.
3) Como resolver: proibir a reprodução de músicas na sala de aula.
4) Parceiros: professores, supervisores e colegas.
5) Tempo ideal para resolução: 6 meses.

Proposta (2)
1) Problema: falta de arborização e jardins.
2) Consequências: clima desagradável.
3) Como resolver: discutir o problema com a comunidade escolar e busca apoio junto à
prefeitura.
4) Parceiros: professores, colegas e zeladores.
5) Tempo ideal para resolução: 6 meses.

Proposta (3)
1) Problema: lixo.
2) Consequências: interfere na qualidade do meio ambiente escolar.
3) Como resolver: sensibilizando os colegas para que, após o consumo de algum
alimento/lanche, descarte o lixo no local correto.
4) Parceiros: toda a comunidade escolar.
5) Tempo ideal para resolução: 2 meses.

Diante das problemáticas identificadas pelos alunos, pode-se frisar que a escolha temática do
―lixo‖ estava dentro das expectativas dos facilitadores, uma vez que, diante de uma sociedade
altamente consumista e, ao mesmo tempo, uma ―sociedade dos descartáveis‖ – ou ―throwaway
society‖ (HENRY, 1996), a mídia tem contribuído muito para a internalização dessa temática na
maioria das discussões relacionadas ao meio ambiente, inclusive nas orientações trazidas nos

1303
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tomados como referência pelos professores. Por outro
lado, não fazia parte das expectativas do trabalho a opção pela temática da ―poluição sonora‖, uma
vez que, face a rapidez com a qual tem se dado a inovação no setor tecnológico e, paralelamente, a
difusão dos novos produtos pela mídia e a facilitação no acesso a estes, tem se instituído em grande
parte das escolas uma cultura de utilização massiva de artefatos tecnológicos multifuncionais, que
permitem ao usuário, além de se comunicar (função tradicional), fotografar, filmar, reproduzir e
trocar arquivos, como músicas e vídeos. Em contraponto a essas benesses, valorizadas pela maioria
da nossa juventude escolar, o uso desqualificado dessas tecnologias em sala de aula tem sido um
grande impacto negativo para a qualidade do trabalho pedagógico: os professores participantes da
oficina ratificaram esse posicionamento em suas falas mas, em síntese, o inesperado consistiu no
posicionamento contra-hegemônico dos alunos.
Em relação à etapa 5 (montagem do plano de ação), foi feita uma socialização das propostas
construídas em cada equipe. Houve reconhecimento dos problemas existentes pelo coletivo, e
inclusive percepções críticas acerca de alguns aspectos trazidos, como exemplo, do tempo
idealizado para operacionalização das propostas: segundo alguns posicionamentos, alguns prazos
poderiam ser revistos, pois a depender do problema, o tempo de resolução poderia ser tanto curto
como longo. Nesse quesito, pontuou-se como fundamental o estabelecimento e a consideração de
alguns parâmetros para um planejamento mais detalhado e eficaz, por exemplo, tomar a gravidade
do problema e o grau de envolvimento do público escolar com um determinado problema como
referenciais para a organização das propostas de intervenção.
Já em relação à responsabilização pela execução do plano, foi levantada pelo público a
importância de se promover um espaço/momento na escola, em que os alunos que participaram da
oficina poderiam assumir uma postura líder, socializando, com o apoio da gestão e do corpo
docente, as suas propostas e, em diálogo com os colegas, firmar articulações para executar as ideias,
em forma de redes de colaboração. Além do apoio da escola, os alunos também contariam com o
apoio da comunidade acadêmica da UFRPE, representada nos estudantes e coordenadores que
tiveram participação na composição daquele evento de comemoração ao dia do meio ambiente.
Nesse sentido, o movimento feito até então foi de repasse das produções feitas na oficina para a
gestão escolar de tal maneira que, em diálogo com o corpo docente e com os voluntários da
UFRPE, sejam pensados fóruns consultivos e deliberativos para que, então, a Agenda 21 da escola
se constitua de maneira plena.

Em busca de uma abordagem teórico-conceitual

1304
Conforme algumas sinalizações feitas no início, a Educação Ambiental (EA) tem sido
configurado, em função do seu caráter político e ideológico, em duas perspectivas: uma
hegemônica, caracterizada pela racionalidade de que a função da EA seja a ―adaptação‖ dos
indivíduos a um ―renovado‖ modelo de sociedade (TOZONI-REIS, 2008, p.157), sem
questionamentos ao modelo vigente de desenvolvimento, reproduzindo as relações socioambientais
definidas pela modernidade; e outra contra-hegemônica, que parte de ―análises críticas das relações
entre os grupos sociais e deles com o ambiente em que vivem, compreendendo-as como relações
históricas‖ (Ibid, p.158).
Frente a essa ―bipolarização ideológica‖, têm emergido diferentes correntes e concepções de
EA e, especificamente quando se discutia a Agenda 21 escolar, uma delas configura-se como uma
das identidades da EA no Brasil – a Ecopedagogia. Segundo Gadotti (2001), a Ecopedagogia parte
de uma consciência planetária (gêneros, espécies, reinos, educação formal, informal e não-formal),
tendo uma configuração de uma EA mais ampla, de uma Educação sustentável que se preocupa com
o sentido mais profundo da existência humana, a partir da vida cotidiana (Ibid, p.99) já que, nessa
perspectiva, ―a vida cotidiana é o lugar do sentido e das práticas de aprendizagem produtiva‖
(GUTIÉRREZ & PRADO, 1999).
Partindo do princípio de que a Ecopedagogia abrange diversos contextos pedagógicos
formais e não formais, é fundamental que se tome o contexto da escola, em virtude do foco de
estudo. Alguns autores adeptos dessa corrente filosófica fazem críticas diversas a EA instituída nas
escolas, sobretudo quando esta traz em sua composição práticas limitadas a conteúdos desprovidos
de significado para o aluno, configurando o que muitos deles denominam ―pedagogia da
declaração‖ (GUTIÉRREZ & PRADO, 2000; AVANZI, 2004) ou ―pedagogia da proclamação‖
(GADOTTI, 2001). Essa pedagogia, sendo conservadora, se estabelece com base em metodologias
expositivas, enunciativas e impositivas com ênfase nos conteúdos e, majoritariamente, ―a
participação está mais em função daquele que ensina e do conteúdo que é ensinado do que naquele
que aprende‖ (GADOTTI, 2001).
Em contraposição a essa vertente, a Ecopedagogia propõe uma ―pedagogia da demanda‖,
que tem como propósito satisfazer as necessidades identificadas, durante o processo educativo, por
seus protagonistas (AVANZI, 2004, p.45). Nesse contexto, a autora destaca quatro dimensões dessa
pedagogia, segundo Gutiérrez & Prado (2000): a) sócio-política: marcada pela democracia
participativa; b) técnico-científica: que consiste na fundamentação do processo; c) pedagógica: que-
fazer situado na cotidianidade; d) espaço-temporal: que considera a educação como um processo
consumidor de tempo. Nesse ponto, ao tomarmos o trabalho da Agenda 21 escolar como uma
proposta inovadora, perceberemos que as suas diretrizes metodológicas dialogam diretamente com

1305
os princípios próprios dessa ―pedagogia da demanda‖, sobretudo com as dimensões sócio-política e
pedagógica, dando assim uma nova configuração à cultura organizacional da escola.
Ao considerarmos o currículo uma dimensão dessa cultura organizacional da escola, Avanzi
(2004) afirma que a Ecopedagogia, como abordagem curricular, implica na reorientação dos
currículos escolares de modo a trabalharem com conteúdos significativos para o aluno e para o
contexto mais amplo, no qual estão incluídos os princípios da sustentabilidade. Nas práticas
ecopedagógicas, a compreensão de conteúdo não é subordinada aos conteúdos determinados pela
pedagogia clássica, mas abrangem os vínculos e as relações como conteúdos primordiais, tendo
como pauta a instituição de uma cultura permeada pela democracia e pela participação. Segundo
Gadotti (2001, p.93) a Ecopedagogia propõe uma nova forma de governabilidade diante da
ingovernabilidade do gigantismo dos sistemas atuais de ensino, propondo a descentralização
democrática e uma racionalidade baseadas na ação comunicativa, já que a comunicação supõe
diálogo, e o diálogo é ―uma das matrizes em que nasce a própria democracia‖ (FREIRE, 2001,
p.15).
Nesse viés, a cidadania planetária implica também na existência de uma democracia
planetária. Para Gadotti (2001, p.117), ―ao contrário do que sustentam os neoliberais, estamos
muito longe de uma efetiva cidadania planetária, e inalcançável se for limitada apenas ao
desenvolvimento tecnológico‖. É preciso o devido tratamento sistêmico para a discussão acerca da
construção da cidadania planetária, que perpasse todos os níveis e/ou ―dimensões complementares
da cidadania151‖ (CORTINA, 1997): política, social, econômica, civil e intercultural.
Ao tratar-se, especificamente, das experiências de concepção e implementação da Agenda
21 escolar, Formis (2006, p.53) coloca que ―o desafio da construção da Agenda 21 na escola é
utilizar-se de uma estratégia metodológica para compartilhar os conhecimentos científicos, de
mundo, de vida sem fronteiras entre eles‖. Nesse contexto, observa-se que a Ecopedagogia, acima
focada, consolida-se enquanto fundamento epistemológico para as práticas bem sucedidas no
trabalho da Agenda 21 escolar, uma vez que, além dos pressupostos de uma ―pedagogia da
demanda‖, a Ecopedagogia traz princípios sustentados numa visão planetária, coletivista e firmada
no cotidiano, essenciais a uma nova escola, escolada cidadã e gestora do conhecimento, construtora

151
Como afirma Adela Cortina (1997), são as dimensões complementares da cidadania:
1. Cidadania política: participação numa comunidade política.
2. Cidadania social: justiça como exigência ética (da sociedade de bem-estar à sociedade justa).
3. Cidadania econômica: a empresa cidadã, ética e a transformação da economia: os trabalhadores do saber, o terceiro
setor (privado, porém, público).
4. Cidadania civil: a sociedade civil e a civilidade, civilização. Valores cívicos: liberdade, igualdade, respeito ativo,
solidariedade, diálogo.
5. Cidadania intercultural: multiculturalidade, interculturalidade, transculturalidade. A interculturaldade como projeto
ético e político (miséria do etnocentrismo).

1306
de sentido e plugada no mundo (GADOTTI, 2001). A educação continua sendo a chave para o
desenvolvimento sustentável (Ibid, p.99) e, uma vez transformada, a escola estará apta à construção
de cidadãos localmente participativos e globalmente comprometidos; porém, frente à resistência da
vertente hegemônica da EA, observa-se a necessidade de uma relação dialética, em que a Agenda
21 escolar, além de potencializada pela Ecopedagogia, precisa fortalecer metodologicamente essa
nova vertente, por meio dos seus potenciais.

Para não concluir


Este trabalho compôs uma análise de uma experiência de pesquisa-ação, como parte de uma
pesquisa que ainda está em andamento. Ao optarmos pela temática da Agenda 21 escolar e buscar
numa experiência prática, propiciada pela práxis extensionista, elementos que atestassem a inserção
da temática ambiental nas práticas curriculares instituídas na escola (configurando, assim, um
currículo ambientalizado), foi possível ratificar que, embora os atores da comunidade escolar
estejam ambientalmente sensibilizados, permanece em evidência um tratamento fragmentado e
disciplinatório frente à necessidade de uma compreensão sistêmica da realidade onde a escola está
situada, onde se estabelecem formas de pensar e de agir e, por conseguinte, de ser.
Uma vez constituída como subtema de um debate ecumênico, a qualidade de vida
compreende um ponto a ser encarado criticamente pelos cidadãos em nível local e global; não
obstante, há de convirmos que é fundamental que se propiciem meios para que a Educação
Ambiental possa ocorrer de forma dinâmica e integrada, de tal modo que a comunidade escolar
trace objetivos e caminhos para se promover, coletivamente, melhorias na qualidade de vida da
sociedade global. Foi nesse sentido que se deu o enfoque para a Ecopedagogia, enquanto
movimento em processo de instituição a partir da promoção de espaços férteis à autonomia e a
emancipação, sobretudo nas escolas, onde boa parte ainda permanece regida de forma tradicional,
adaptando os alunos a uma realidade aceitada por uma maioria e reproduzindo as feições de uma
sociedade marcada pelo consumo e pelo risco.

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1307
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1308
DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA ARMAZENADA EM CISTERNAS POR
MEIO DE PARÂMETROS FÍSICOS, QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS.

Aderaldo de Souza SILVA152


Célia Maria M. de Souza SILVA (MC.SS) célia_maganhotto@yahoo.com.br
André Luiz da SILVA (IFPB) andre.silvajp@gmail.com
Luiza Teixeira de Lima BRITO (EMBRAPA SEMIÁRIDO) luizatlb@cpatsa.embrapa.br

RESUMO
Este trabalho avaliou a qualidade da água para o consumo humano, armazenada em cisternas
localizadas em 63 comunidades rurais pertencentes a 46 (quarenta e seis) municípios de nove
Estados da região semiárida. Foram realizadas análises físicas, químicas e microbiológicas em 777
amostras de água abrangendo mananciais, cisternas e reservatórios caseiros. A partir dos resultados
das análises físicas e químicas foi elaborado o Índice de Uso da Água Doméstica (IUD) para
monitorar a qualidade da água das cisternas e identificar a sua procedência. O IUD foi calculado a
partir dos valores médios dos dados obtidos com o auxílio do software Statistical Analysis System,
utilizando o procedimento Factor. A análise do componente principal agrupou o conjunto de
variáveis pré-selecionadas em quatro indicadores: salinidade, alcalinidade, poluição da água e saúde
da água. Como resultado há agregação de 48 pontos amostrados com IUD elevado, 48 com IUD
alto, 63 com IUD médio e 618 com IUD baixo, significando que a maioria das cisternas apresenta
água de boa qualidade. Observou-se que a maioria das cisternas (97,18 %) está localizada em
territórios onde predominam as águas superficiais do tipo bicarbonatadas e cloretadas, sódicas e
mistas. Dessa forma, ao se detectar estas características físicas e químicas nas águas armazenadas
nas cisternas, pode-se concluir que a mesma não é proveniente de captação de água de chuva e sim
de outras fontes alternativas de abastecimento. Foi constatada a ausência de coliformes totais em
79,15 % das amostras e ausência de Escherichia coli em 94,08 %, O que resulta em água de boa
qualidade.
Palavras chave: Índice de uso da água doméstica; água para consumo humano.

ABSTRACT
This study evaluated the quality of water stored in cisterns for human consumption, located in rural
communities (63) of 46 (forty six) counties of nine states in the semiarid region. Thus 777 samples

152
Pesquisador Orientador da Embrapa Semiárido, BR 428, Km 152, Zona Rural - Caixa Postal 23,
Petrolina, PE CEP 56302-970. aderaldo@cpatsa.com.br

1309
from various water sources were collected, including springs, cisterns and home made storage
tanks. These samples were submitted to microbiological and physicochemical analyses. Total
coliforms were absent in 79.15% of the samples and Escherichia coli in 94.08%. From the results of
physical and chemical analysis was formulated a Domestic Water Use Index (DWUI) to monitor the
quality of water in cisterns and identify its origin. The DWUI was calculated from the mean values
of the data obtained with the aid of the software Statistical Analysis System, using the factor
procedure. The principal component analysis grouped the pre-selected variables into four indicators:
salinity, alkalinity, water pollution and water health. As a result there was an aggregate of 48 points
sampled with an elevated DWUI, 48 with a high DWUI, 63 with a medium DWUI and 618 with a
low DWUI, signifying that the majority of the cisterns presented good quality water. It was shown
that the majority of the cisterns (97.18%) were located in terrains where surface waters of the
bicarbonate and chloride, sodium and mixed types predominated. Thus, by detecting these physical
and chemical characteristics in water stored in cisterns, we can conclude that it does not come from
capturing rain water, but other alternative sources of supply.
Index terms: Domestic Water Use Index (DWUI), water for human consumption.

INTRODUÇÃO

O abastecimento de água é uma questão essencial às populações, pelos riscos que sua
ausência ou seu fornecimento inadequado podem causar à saúde. Por exemplo, a ingestão direta de
água contaminada ou a preparação de alimentos e higiene pessoal utilizando água contaminada, o
uso na agricultura, na higiene do ambiente, nos processos industriais e nas atividades de lazer,
podem trazer graves riscos à saúde da população. Por este motivo, a universalização do
abastecimento de água é a grande meta para os países em desenvolvimento.
A falta de recursos hídricos afeta severamente as condições de sobrevivência dos milhões de
brasileiros que vivem, principalmente, nas áreas rurais do Semiárido nordestino. A chuva representa
a única fonte de água renovável da região, cujos valores normais no conjunto de 24 unidades
hidrográficas de planejamento, variam entre 640 e 1840 mm/ano, representando 1778 bilhões
m3/ano (SUDENE/ÁRIDAS, 1994). Todavia, a previsão segura das quantidades de água precipitada
é um problema complexo, porque depende de fatores meteorológicos situados fora da região e
variam, sensivelmente, tanto no espaço como no tempo.
Nesse caso, a solução encontrada foi o armazenamento da água de chuva em cisternas, que
são pequenos reservatórios individuais construídos junto, em geral, às casas. A cisterna tem

1310
aplicação tanto em áreas de grande como de baixa pluviosidade. No meio rural são geralmente
empregadas para acumular água para atender as necessidades de consumo doméstico. No Brasil,
como em muitos outros países, as águas das cisternas rurais são utilizadas inclusive para beber,
quase sempre sem qualquer tratamento. Portanto, é de fundamental importância a segurança
sanitária dessas águas, que devem atender aos padrões de portabilidade. Vários estudos que
examinaram a qualidade de águas de chuva armazenadas em cisternas concluíram que estas
geralmente atendem os padrões de portabilidade da Organização Mundial de Saúde para os
parâmetros físico-químicos, porém frequentemente não atendem aos padrões de portabilidade da
OMS quanto aos critérios de qualidade microbiológica (Andrade Neto, 2012).
A perda de qualidade e a contaminação da água de chuva ocorrem, sobretudo, na superfície
de captação ou quando está armazenada de forma não protegida. Quando escoa sobre a superfície de
captação a água lava e carreia a sujeira acumulada no intervalo entre duas chuvas. A proteção
sanitária de cisternas é relativamente simples. Basicamente requer o desvio das primeiras águas das
chuvas, que lava a atmosfera e a superfície de captação e não deve ir para a cisterna, e um manejo
adequado.
Além disso, as cisternas também estão sendo utilizadas como reservatório de água trazida
por carros-pipa, o que pode comprometer a qualidade da água armazenada. Algumas famílias
pertencentes às comunidades que utilizam cisternas em diversos Estados da Federação informaram
que estão colocando água de outras fontes quando a água da chuva acaba. É importante salientar
que segundo as mesmas, a água da chuva não dura para todo o período da estiagem. Além disso, há
de se considerar que algumas famílias estão utilizando água da cisterna para outras finalidades,
além das preconizadas como beber, cozinhar e escovar os dentes (Brito et al., 2007; Brasil, 2006).
Reconhece-se que há grande importância em buscar o conhecimento da realidade rural,
caracterizada por populações com menor acesso às medidas de saneamento e pela presença de
atividades agropecuárias altamente impactantes, podendo interferir na qualidade da água dos
mananciais, muitos desses utilizados no abastecimento de água. Também já é de conhecimento que
a grande diversidade dos regimes hidrológicos dos rios do semiárido nordestino advém das
diferentes condições pluviométricas, das diversas características físicas e da forma da rede
hidrográfica, bem como de suas morfologia e vegetação.
Neste trabalho objetiva-se avaliar a qualidade física, química e microbiológica das águas
armazenadas em cisternas e em diferentes reservatórios e corpos de água, bem como formular um
Índice de Uso da Água Doméstica (IUD) para monitorar a qualidade das águas armazenadas em
cisternas e identificar a sua procedência, isto é se é proveniente da água de chuva ou dos
mananciais.

1311
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa abrangeu 63 (sessenta e três) comunidades rurais pertencentes a 46 (quarenta e
seis) municípios localizados em nove Estados da região semiárida: Bahia (24,49% dos domicílios);
Piauí (19,61%); Pernambuco (20,47%); Rio Grande do Norte (11,36%), Sergipe (3,32%); Alagoas
(7,98%); Ceará (6,06%) e Paraíba (4,77%). A pesquisa abrangeu 55 (cinquenta e cinco) Unidades
Geoambientais (Silva et al., 2002). Nas comunidades selecionadas foram coletadas amostras de
água armazenadas em cisternas, filtros ou potes, bem como amostras de água dos mananciais
utilizados como fonte alternativa de água de uso doméstico, para que fosse possível conhecer a
procedência das águas utilizadas pelas famílias, isto é, se são provenientes da captação de água de
chuva dos telhados, das barragens, rios, açudes, barreiros, cacimbas ou de poços tubulares
(profundos) ou amazonas (rasos).
Na coleta de amostras de água, quando a fonte era superficial, como em lagos, rios, ou
reservatórios (açudes e barreiros), teve-se a precaução que estas fossem coletadas no centro do
manancial e abaixo da camada superficial de água. Ao total foram coletadas 777 amostras de água,
georeferênciadas, que foram engarrafadas, resfriadas e transportadas para o Laboratório de
Sustentabilidade Ambiental da Embrapa Semiárido e mantidas sob refrigeração, até o momento das
análises físicas e químicas.
Em condições de campo, as amostras foram submetidas à análises microbiológicas para a
detecção da presença ou ausência de coliformes fecais e Escherichia coli. Na realização dessas
análises foi usado o Kit de meio de cultura enriquecido (Kit Readycult – Coliforms 100), que
possibilita determinar a presença ou ausência de Coliformes Totais e/ou Escherichia coli. Este Kit é
aprovado pela Agência Ambiental Americana – EPA. Após a adição das amostras ao Kit de meio de
cultura, essas foram transportadas e armazenadas, em laboratório, em estufa a 37 oC, por um
período de 24 h. A presença de Coliformes Totais foi detectada pela mudança de cor nas amostras
(esverdeada-azulada/presença), enquanto a E. coli foi detectada por luminescência na presença de
luz UV.
Na determinação das características físicas e químicas das águas foi utilizada, além das
análises laboratoriais, a sonda multiparâmetros (equipamento portátil de medição de qualidade de
água - www. ysi.com), cujo terminal de leitura, poderá ser visualizado na Figura 3. Esse
equipamento permite a leitura instantânea dos seguintes parâmetros: temperatura (oC), turbidez
(NTU), condutividade (mS cm-1), sal (mg L-1), oxigênio dissolvido (mg L-1), sólidos totais
dissolvidos (mg L-1), amônia (mg L-1), amônio (mg L-1), cloretos (mg L-1) e nitrato (mg L-1)..
O Índice de Uso da Água Doméstica (IUD), determinado para as 63 (sessenta e três)
comunidades rurais avaliadas, foi elaborado a partir dos resultados das análises físicas e químicas.

1312
Para a análise estatística foram considerados os valores médios dos dados coletados nos 777 pontos
de coleta georreferenciados. Após a plotagem dos dados, realizou-se a análise estatística com o
auxílio do software SAS (Statistical Analysis System), utilizando o procedimento Factor (SAS,
2002; Harman, 1976).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresenta-se na Tabela 1 os valores alcançados para as cargas fatoriais rotacionadas pelo


método Varimax, as estimativas finais das comunalidades, e as percentagens explicadas da
variância total relativa a cada fator e acumulada para dois, três e quatro fatores, para os 777
(setecentos e setenta e sete) pontos de água avaliados. As cargas fatoriais são os coeficientes de
correlação entre cada uma das variáveis e os respectivos fatores. As comunalidades fornecem a
proporção da variância de cada variável que é explicada pelo número de fatores considerados
adequados na análise.
Verifica-se pelas comunalidades finais, que as variáveis mais explicadas foram sólidos
(sólidos totais dissolvidos) e salinidade (teor de sais dissolvidos).

Tabela 1. Cargas Fatoriais para os resultados obtidos, pelo método Varimax, com a rotação
ortogonal dos fatores principais das variáveis físico-químicas das águas de beber,
provenientes das regiões de amostragem.
Procedimento fatorial - Método Varimax rotacionado
Variáveis Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Sólidos 0.993 0.042 0.022 0.030
Salinidade 0.992 0.043 0.026 0.031
Cloretos 0.124 0.796 0.087 -0.026
pH -0.176 0.771 0.220 -0.055
Óxido 0.165 0.575 -0.290 0.194
Amônia 0.063 0.101 0.941 -0.029
Oxigênio 0.035 0.023 -0.038 0.987
Sólidos – parâmetro de sólidos totais dissolvidos na água coletada
Salinidade - teor de sais dissolvidos; mg L-1
Cloretos – teor de cloreto, em mg L-1
pH – potencial hidrogênio iônico
Óxido – potencial de óxido redução, mg L-1
Amônia – teor de amônia (Íon amônia) presente na água coletada, mg L-1
Oxigênio - teor de oxigênio dissolvido, mg L-1

A análise do componente principal discriminada na Tabela 1 agrupou de maneira satisfatória


o conjunto de variáveis pré-selecionadas. A análise de agrupamento possibilitou a construção de
quatro indicadores, os quais são discriminados a continuação:

1313
Indicador 1 - SALINIDADE – Os parâmetros de qualidade de água para este indicador foram
relacionados a duas variáveis: sólidos e salinidade. Este indicador representou 79,54% do total de
amostras analisadas e foi classificado com um IUD entre 0, 0003 e 0, 1926 para um escore que
variou entre 0,03% e 19,26%. Por este motivo, em função de suas características físicas e químicas
foi avaliado como sem restrições ao uso pelas famílias suarias de cisternas e se representou o Índice
de Uso da Água Doméstica - IUD com a cor azul (Figura 1).
Indicador 2 - ALCALINIDADE – Foi interpretado como um fator de alcalinidade, em função da
variável pH se encontrar associada as variáveis Cloretos, pH e ORP (potencial de óxido redução).
Este esteve presente em 48 (quarenta e oito) pontos de amostragem, totalizando 6,18% das amostras
analisadas, sendo considerado na análise como o grupo de amostras de água de uso doméstico com
restrição moderada, com amplitude do IUD entre 0,1933 e 0,2319 para um escore que variou entre
19,33% e 23,19%, tendo sido interpretado como de Médio risco. Foi-lhe atribuída a cor ―verde‖
Mapa da hidroquímica dos mananciais de superfície (Figura 1).

Figura 1. Classificação dos tipos de água em função da hidroquímica dos mananciais de superfície e
subterrâneos no Semiárido Brasileiro, adaptada pela Embrapa Semiárido de estudos
realizados pelo IBGE.·.

Indicador 3 - POLUIÇÃO DA ÁGUA – Foi interpretado como um indicador responsável pela


poluição da água devido a presença da variável Amônia (Íon amônia) que é outra forma inorgânica
do nitrogênio. Este indicador representou 8,11% de todas as amostras pesquisadas, sendo
classificado com um IUD entre 0,2329 e 0,2768 para um escore que variou entre 23,29% e 27,68%.
Este indicador permitiu convencionar o Grupo 3 com a cor ―amarela‖, no Mapa da hidroquímica
dos mananciais de superfície (Figura 1).

1314
Indicador 4 - SAÚDE DA ÁGUA – Interpretou-se como o parâmetro responsável pela saúde da
água em função da presença da variável oxigênio dissolvido (OD). Esse parâmetro é considerado
um indicador básico da saúde do ecossistema e sua análise mede a quantidade de oxigênio (O2)
dissolvido em soluções aquosas, cuja concentração varia com a temperatura, salinidade, atividade
biológica e a taxa de transferência de O2 da atmosfera. O estado de equilíbrio constitui a saturação,
dependente de pressão e temperatura. Devido às interferências naturais e antropogênicas, as
concentrações de oxigênio diferem deste equilíbrio.
O adequado OD é necessário para uma boa qualidade de água. Os processos de purificação de um
fluxo de água requerem níveis adequados de oxigênio para permitir formas de vida aeróbicas.
Quando os níveis de oxigênio na água caem abaixo de 5 mg L-1 de água, a vida aquática fica sob
estresse e é letal para muitos organismos em níveis menores do que 3 mg L-1. Também as
concentrações muito baixas de OD podem como resultado, mobilizar concentrações ínfimas (traços)
de metais.
O indicador 4 representou 6,69% da qualidade das águas pesquisadas no âmbito dos mananciais e
dos domicílios rurais pesquisados. Este foi classificado com um IUD entre 0,2781 e 0,3367 para um
escore de 27,81% e 33,67%, considerado como de risco Elevado para a saúde, se consumida sem
tratamento e lhe foi atribuída a cor ―vermelha‖, no Mapa da hidroquímica dos mananciais de
superfície (Figura 1).

Procedência da água das cisternas


Os tipos de água das fontes alternativas de uso doméstico, utilizadas pelas famílias
beneficiárias do Programa cisternas, podem ser mapeadas por bacia hidrográfica. Na Figura 1 pode
ser observado o tipo de água superficial e subterrânea que ocorre em cada território. Acredita-se que
esta informação seja primordial na detecção da procedência das águas domésticas, quando estas não
forem provenientes da captação de água de chuva. Os tipos de água das fontes alternativas
dominantes (cloretadas-mistas, bicarbonatadas-cálcicas, cloretadas-sódicas, etc.) estão
representados por diferentes cores. Salienta-se que os tipos de água ocorrem quase sempre em
setores coincidentes com as zonas de menor precipitação e quase sempre associadas às rochas
cristalinas.
Observou-se que a maioria das cisternas (97,18 %) está localizada em territórios onde predominam
as águas superficiais do tipo bicarbonatadas e cloretadas, sódicas e mistas (Figura 1). Dessa forma,
ao se detectar estas características físicas e químicas nas águas armazenadas nas cisternas, pode-se
concluir que a mesma não é proveniente de captação de água de chuva e sim de outras fontes
alternativas de abastecimento.

1315
Análises microbiologicas
A Tabela 2 apresenta os resultados em relação aos parâmetros microbiológicos das águas
provenientes de fontes alternativas, da própria cisterna e dos recepientes caseiros (potes e filtros),
no âmbito dos domicílios e da comunidade, coletados em 777 (setecentos e setenta e sete) pontos de
amostragem.

Tabela 2: Distribuição de amostras quanto à presença ou ausência de coliformes totais e Escherichia


coli e potabilidade

Amostras Percentagem
Análises
(no.) (%)
Coliformes Totais
Ausente 615 79,15
Presente 162 20,85
Escherichia coli
Ausente 731 94,08
Presente 46 5,92
Potabilidade
Não-Potável (provável) 176 22,65
Potável (provável) 597 76,83
Sem informação 4 0,51

Observa-se que 79 % das amostras coletadas apresentam ausência de coliformes fecais e


94% ausência de Escherichia coli. Isso indica que essas águas podem ser consumidas pelas famílias
pois, no Brasil, a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde define os padrões de potabilidade da
água com base nas exigências da OMS (Organização Mundial de Saúde). De acordo com a Portaria
518/2004, os padrões que determinam se uma água é potável ou não (Brasil, 2006), estão descritos
na Tabela 3.
Tabela 3. Padrão de potabilidade de água adotado pelo Ministério da Saúde

Parâmetros Valor Máximo Permitido


Água para consumo humano
Coliformes totais Ausência em 100 mL
Escherichia coli ou coliformes termotolerantes Ausência em 100 mL

Nas cisternas restantes, que apresentaram contaminação microbiológica, é necessário


investigar o motivo, pois tanto pode ser pelo manejo inadequado, quanto pela utilização de outras
fontes alternativas de água para o preenchimento das mesmas. No entanto, considerando os

1316
resultados das análises físicas e químicas nos mesmos pontos de amostragem, é possível deduzir
que a utilização de fontes alternativas foi o principal motivo.

REFERENCIAS

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Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. XI SILUBESA Simp ósio Luso-
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1317
PROPOSTA METODOLÓGICA DE GESTÃO AMBIENTAL EM AMBIENTES ACADÊMICOS

Rodrigo Cândido Passos da SILVA (DTR/UFRPE) - rodrigo.candido.passos@hotmail.com,


Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisador do Gampe

Anna Carolina Faustino Xavier da SILVA (DB/UFRPE) - acfxs.carol@gmail.com,


Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas e Pesquisadora do Gampe

Gabriela Valones Rodrigues de ARAÚJO (DTR/UFRPE) – gabivalones@gmail.com


Graduanda de Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisadora do Gampe

Diogo Henrique Fernandes da PAZ (DTR/UFRPE) – diogo.henriquepaz@gmail.com


Graduando de Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisador do Gampe

Resumo

A preocupação com o desenvolvimento sustentável e ações de gestão ambiental vem ganhando


espaço crescente em ambientes acadêmicos. Isso tem se revelado, a partir da abordagem
educacional, na preparação de estudantes e colaboradores da instituição o fornecimento de
informações e conhecimento sobre gestão ambiental. A proposta de uma sistematização de
procedimentos, considerando um modelo para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), deve ser adaptada às universidades, e permitir a estas o controle dos impactos ambientais e a
adequação à legislação. Essa situação revela a preocupação crescente em relação à adaptação das
universidades em busca de um desenvolvimento sustentável, não somente no aspecto do ensino,
mas também nas práticas de pesquisa e extensão. A proposta de gestão ambiental apresentada neste
trabalho vem sendo desenvolvida pelo Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE) na
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Palavras-chave: Universidades; Gestão Ambiental; Desenvolvimento Sustentável.

Abstract

The concern with sustainable development and environmental management actions is gaining
increasing space in academic environments. It has been revealed from the educational approach in

5,6
Orientadores: Soraya Giovanetti EL-DEIR, Coordenadora do Gampe, Professora Adjunta da UFRPE; Fernando
Joaquim Ferreira MAIA, Pesquisador do Gampe, Professor Adjunto da UFRPE.
preparing students and employees of the institution to provide information and knowledge about
environmental management. The proposal of a systematic procedure for considering a model for the

1318
implementation of an Environmental Management System (EMS), must be adapted to the
universities, and enable them to control the environmental impacts and compliance with legislation.
This situation reveals the growing concern regarding the adaptation of universities in pursuit of
sustainable development, not only in the aspect of education, but also in practice research and
extension. The proposed environmental management presented in this paper has been developed by
the Environmental Management Group in Pernambuco (Gampe) at Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE).
Keywords: Universities; Environmental Management; Sustainable Development.

Introdução

A gestão ambiental vem ganhando um espaço crescente no meio empresarial. O


desenvolvimento da consciência ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade mundial
acaba por envolver também o setor da educação, a exemplo das Instituições de Ensino Superior
(IES) (TAUCHEN & BRANDLI, 2006). No entanto, ainda são poucas as práticas observadas nas
IES, as quais têm o papel de qualificar e formar cidadãos-profissionais críticos e responsáveis com
o futuro.
De acordo com Tauchen & Brandli (2006), existem duas correntes de pensamento principais
referentes ao papel das IES no tocante ao desenvolvimento sustentável. A primeira destaca a
questão educacional como uma prática fundamental para que as IES, pela formação, possam
contribuir na qualificação de seus egressos, futuros tomadores de decisão, para que incluam em suas
práticas profissionais a preocupação com as questões ambientais. A segunda corrente destaca a
postura de algumas IES na implementação de SGAs em seus campi universitários, como modelos e
exemplos práticos de gestão sustentável para a sociedade.
Tauchen et al. (2005), enfatizam que o desenvolvimento sustentável procura nas IES um
agente especialmente equipado para liderar o caminho. A missão das IES são o ensino e a formação
dos tomadores de decisão do futuro – ou dos cidadãos mais capacitados para a tomada de decisão.
Essas instituições possuem experiência na investigação interdisciplinar e, por serem promotores do
conhecimento, acabam assumindo um papel essencial na construção de um projeto de
sustentabilidade.
Isso vem ao encontro de Fouto (2002) que, ao discutir o papel do Ensino Superior no
desenvolvimento sustentável, apresenta a visão da Universidade Politécnica da Catalunha, sob a
forma de um modelo (Figura 1). O modelo apresentado por Fouto aponta quatro níveis de
intervenção para as IES: (I) Educação dos tomadores de decisão para um futuro sustentável; (II)

1319
Investigação de soluções, paradigmas e valores que sirvam uma sociedade sustentável; (III)
Operação dos campi universitários como modelos e exemplos práticos de sustentabilidade à escala
local; e (IV) Coordenação e comunicação entre os níveis anteriores e entre estes e a sociedade.

Figura 01 – O papel das universidades na sociedade, relativo ao desenvolvimento sustentável

Promover a educação, a consciência pública e reorientar a educação para o Desenvolvimento


Sustentável são idéias que constam nos artigos da Rio/92, nos quais se destaca a importância de
determinar a integração dos conceitos de ambiente e o desenvolvimento em todos os programas de
educação, em particular, a análise das causas dos problemas que lhes estão associados num contexto
local, como um objetivo específico (AGENDA 21, 1992).
Existem razões significativas para implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) numa
Instituição de Ensino Superior, entre elas o fato de que as faculdades e universidades podem ser
comparadas com pequenos núcleos urbanos, envolvendo diversas atividades de ensino, pesquisa e
extensão. No tocante ao que cerne, o SGA é definido pela NBR 14004 (1996), como um sistema de
gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,
práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar
criticamente e manter a política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais.
Segundo Rodrigues et.al (2007), as universidades brasileiras ainda encontram inúmeros
obstáculos para incorporar a gestão ambiental à formação de recursos humanos, devido a fatores,
como: abordagem da questão ambiental de forma setorial e multidisciplinar e estudos de caráter
técnico, em detrimento dos aspectos epistemológicos e metodológicos. Desta forma, o presente
artigo propende mostrar uma proposta metodológica de gestão ambiental em espaços acadêmicos
(universidades e faculdades) na perspectiva do tripé acadêmico, ensino, pesquisa e extensão, a partir
das ações desenvolvidas pelo grupo pesquisa de Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

1320
Material e Método

Generalidades
O presente artigo foi desenvolvido a partir de dados primários, referentes às experiências das
ações e atividades do Gampe na UFRPE, secundários e levantamento bibliográfico quanto à questão
da gestão ambiental em espaços acadêmicos. A partir do suporte teórico foi possível desenhar um
modelo metodológico de gestão ambiental passível a ser implantado em centros acadêmicos.

Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE)


O Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe) é um grupo de pesquisa voltado para
o estudo e desenvolvimento de propostas para a gestão ambiental no Estado de Pernambuco. Em
sua filosofia, o Gampe entende que é possível contribuir para o desenvolvimento sustentável em
Pernambuco através de iniciativas de gestão ambiental voltadas para os diversos setores da
sociedade, como: micro e pequenas empresas, comunidades tradicionais, escolas e setor público e
privado, de uma maneira geral.
Surgiu em junho de 2009, tendo sido agraciado no mesmo ano com o Prêmio Von Martius
de Sustentabilidade 2009, na categoria Humanidade, como Honra ao Mérito, da Câmara de
Comércio Brasil/Alemanha, pelo conjunto de projetos em desenvolvimento e pela sua forma de
atuação. Em 2012, foi premiado pelo Prêmio Benchmarking pelas ações de caráter ambiental que
vem sendo realizadas. Faz parte do Departamento de Tecnologia Rural (DTR) da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), sendo formada por uma equipe multidisciplinar de aluno e
professores da UFRPE, em associação com colaboradores externos e parceiros institucionais, de
diversas áreas do conhecimento como: Biologia, Economia, Engenharia Agrícola e Ambiental,
Engenharia Química, Gastronomia, Gestão Ambiental, Turismo.

Resultados e Discussão

A proposta de implantar um sistema de gestão ambiental na universidade fundamenta-se na


Agenda 21, a qual estabelece que as instituições de ensino universitário tenham responsabilidades
diversas no que se refere à formação de uma sociedade sustentável. Entretanto, para se implantar
um sistema de gestão ambiental em uma universidade, deve-se ter em mente que ela é uma
organização altamente complexa, devido à diversificação de suas atividades, ao meio social
heterogêneo que incorpora e ao modelo estrutural que utiliza.
De acordo com Tauchen & Brandli (2006), o levantamento dos requisitos legais e aspectos
ambientais deverá influenciar a definição da Política Ambiental de um Campus. Depois de

1321
identificados os aspectos ambientais, pode ser aplicado o ciclo do PDCA. Com a identificação dos
aspectos ambientais da atividade exercida pela IES e a criação da política ambiental, pode-se avaliar
e determinar quem será responsável por cada etapa do processo, quais as mudanças físicas
necessárias, e, principalmente, qual a receita disponível para investir nesse projeto de melhoria.
Após a execução do proposto, segue-se com o monitoramento das etapas produtivas, buscando
corrigir falhas que possam existir e minimizar possíveis problemas que não condizem com o
objetivo do SGA.
O ciclo PDCA pode ser brevemente descrito da seguinte forma, conforme Tauchen e Brandli
(2006): Planejar (PLAN): envolve o estabelecimento dos objetivos e processos necessários para
atingir os resultados, de acordo com a política ambiental da organização; Executar (DO): envolve a
implementação dos processos; Verificar (CHECK): envolve o monitoramento e medição dos
processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e
relatar os resultados; Agir (ACTION): envolve a execução de ações para melhorar continuamente o
desempenho do sistema da gestão ambiental.
O modelo apresentado a seguir está esquematizado no tripé acadêmico: ensino, pesquisa e
extensão.

I - ENSINO

Grupos de Estudo
São grupos estruturados com a finalidade de estudar eixos temáticos diversos. As linhas
temáticas estudadas pelo Gampe são: Saneamento ambiental, resíduos sólidos, agroecologia, gestão
ambiental empresarial, economia verde, educação ambiental e direito ambiental. O grupo de estudo
proporciona uma imersão do aluno no tema e a elaboração de projetos e artigos científicos.

Educação Ambiental Universitária


A educação ambiental é o processo onde o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente. Sua
importância reside na base de eficiência das ações de gestão ambiental através da alteração de
comportamentos e elevação da consciência ambiental. Trata-se, portanto, de um elemento central e
imprescindível ao desenvolvimento sustentável.
Há basicamente duas vias para se promover a educação ambiental: i) formal (desenvolvida
nos espaços formais de ensino, como escolas e universidades) e ii) informal (praticada fora dos
estabelecimentos de ensino formal como igrejas, organizações não governamentais e outros).

1322
No que se refere à educação ambiental formal, o grupo atua através da elaboração de
Calendário Ecológico; de eventos Uniculturais (atividades realizadas dentro da universidade que
proporciona a interação do aluno com temáticas voltadas às questões ambientais, estas serão
desenvolvidas através de cinemas, palestras, debates, gincanas, minisursos). Quanto à educação
ambiental informal, o grupo atua através da elaboração de cartilhas com preceitos ambientais
voltadas para os estudantes da instituição.

Empoderamento de Lideranças Estudantis Universitária


A palavra empoderamento foi uma das expressões ricamente definidas por Paulo Freire,
embora a palavra ―empowerment” já existisse na língua inglesa significando ―dar poder‖ a alguém
para realizar uma tarefa sem precisar de permissão de outras pessoas, o conceito de Empoderamento
em Paulo Freire segue uma lógica diferente. Para o educador, a pessoa, grupo ou instituição
empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a evoluir e se
fortalecer. Empoderamento implica conquista, avanço e superação por parte daquele que se
empodera (sujeito ativo do processo), e não uma simples doação ou transferência por benevolência
como denota o termo em inglês ―empowerment‖, que transforma o sujeito em objeto passivo
(SCHIAVO & MOREIRA, 2005).
Empoderamento, portanto, difere das simples construção de habilidades e competências,
saber comumente associado à escola formal. A educação pelo empoderamento difere do
conhecimento formal tanto pela sua ênfase nos grupos (mais do que indivíduos), quanto pelo seu
foco na transformação cultural (mais do que na adaptação social).
É nesse contexto que o empoderamento de lideranças estudantis dentro dos espaços
acadêmicos terá uma grande importância, pois conduzirá o estudante à um processo contínuo de
evolução pessoal, mas principalmente profissional, levando-os a serem líderes de situações, a
tomarem decisões conscientes e construtivas, a trabalhar em equipe, através de reuniões dialógicas,
e a enxergarem a sua vida profissional como um ramo de oportunidades a serem almejadas. O
estudante participará de organização de eventos como, por exemplo: palestras, seminários,
congressos lançamentos de livros, mini cursos e cursos de extensão; escrita de capítulo de livro e
artigos (resumo, resumo expandido, artigos: simples, completo e em revista científica); em amostras
de eventos na organização de stands e na organização de projetos de extensão. Todos esses
mecanismos de empoderamento estudantis trarão a prática atividades por eles realizadas no futuro,
sendo assim, servirá como um processo de amadurecimento profissional do estudante universitário.

II - PESQUISA

Gestão Ambiental Universitária

1323
A proposta geral do modelo de Gestão Ambiental Universitária apresenta-se em forma de
ações (Figura 2) de maneira a sistematizar as atividades a serem realizadas de acordo com as
temáticas abordadas em cada ação buscando dar um desenvolvimento lógico e continuidade do
trabalho realizado.

Figura 02 - Modelo de Gestão Ambiental Universitária

A outra proposta visa à análise institucional e a elaboração de uma proposta de


Planejamento Estratégico Ambiental (PEA) para a Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Embasando subsídios para a estruturação de um desenho inicial de Gestão Ambiental e a busca de
cenários favoráveis para o fortalecimento da atividade e a conservação ambiental. As ações versão
as temáticas: Resíduos Sólidos, Água, Eficiência Energética e Qualidade Ambiental. Buscando,
desta forma, a inserção do paradigma ambiental nas práticas neste setor, a minimização de
potenciais impactos ambientais e perdas processuais, a consolidação da sustentabilidade,
disseminando práticas e hábitos sustentáveis.

Ação I: Resíduos Sólidos


A primeira ação versa sobre Resíduos Sólidos, buscando desenvolver um modelo integrado
de gestão. Ordenamento da Gestão de Resíduos Sólidos para a Universidade Federal Rural de
Pernambuco, de forma articulada, sistêmica, integrada, baseado em dados coletados a partir da
realidade existente e dos potenciais de mudança, de acordo com diretriz da gestão. A ação
apresenta dois momentos distintos e subseqüentes: (i) sensibilização e diagnóstico de resíduos
sólidos e (ii) implantação do projeto de gestão integrada de resíduos sólidos. Concomitantemente,
se desenvolverá um diagnóstico da universidade analisando à organização no ambiente externo
(oportunidades e ameaças) e suas forças e fraquezas no ambiente interno (dentro da organização).

a) Etapa I: Sensibilização Ambiental e Diagnóstico de Resíduos Sólidos


A sensibilização ambiental e o diagnóstico de resíduos sólidos são atividades realizadas
concomitantes e paralelas. Para a sensibilização ambiental pode-se desenvolver atividades que
busquem o envolvimento da universidade com o programa de Gestão Ambiental a ser implantado,
bem como a alteração de práticas cotidianas, voltando-as para uma realidade contextualizada na
Educação Ambiental de todo o staff. Para tanto, atividades como palestra/ oficinas são
fundamentais. Para o diagnóstico de percepção será elaborado um questionário sobre aspectos

1324
envolvendo a gestão de resíduos da instituição, sendo aplicado por meio de entrevista e plotados os
dados para análise.
No campo do diagnóstico, pretende-se realizar levantamento de informações sobre compras
e descartes da universidade. Neste sentido, será realizada ausculta dos colaboradores, determinação
do perfil de compras e estudo gravimétrico e quali-quantitativo dos descartes da empresa, destino
final destes e potencial impactante. Este será dividido em duas partes: ausculta e coleta de dados, e
apresentação e conclusão do estudo. Na primeira parte, elabora-se um fluxograma de entrada (input)
e saída (output) de materiais dentro do campus de ensino, estando focados em: Identificar os inputs
(compra de materiais e consumo interno); Quantificar os inputs (obter em números a representação
deste consumo); Tipificar os inputs (origem, processo de aquisição, periodicidade e qualidade,
conhecimento sobre os editais e normas de compra da empresa; Tipificar os outputs (Classificação
do resíduo gerado. Necessário para o dimensionamento de um possível projeto de coleta seletiva a
ser implantado). O registro formal dos resultados e inventário fotográfico constituirão a fase final
desde módulo.

b) Etapa II: Implantação do Projeto de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos


Os dados levantados no diagnóstico serão utilizados no planejamento estratégico buscando
identificar inicialmente pequenas ações que gerem movimento no sentido de implantação de
práticas de gestão ambiental universitária, buscando responder de forma crescente as demandas
identificadas pelos colaboradores e priorizadas pelos estudantes.

Ação II: Gestão Integrada da Água


A segunda ação tem como foco a Gestão Integrada da Água, buscando desenvolver um
diagnóstico da situação atual, bem como uma proposta para a melhoria desta atividade. Esta
apresenta dois momentos distintos e subseqüentes: (i) sensibilização e diagnóstico da gestão da
água e (ii) Implantação do Projeto de Gestão Integrada da Água.

a) Etapa I: Sensibilização Ambiental e Diagnóstico de Gestão da Água


No aspecto da educação e sensibilização ambiental, serão realizadas palestras sobre o
consumo consciente da água, a responsabilidade individual na gestão deste recurso e a importância
que deste em nossas atividades diárias, bem como um esclarecimento sobre o ciclo da água, a atual
demanda mundial e os conflitos gerados a partir desta.
Para o diagnóstico de percepção será elaborado um questionário sobre aspectos envolvendo
a Gestão da Água da Empresa, que será aplicado por meio de entrevista e plotados os dados para
análise. Ao final deste módulo será entregue o relatório de atividades juntamente com a proposta de
manutenção e melhorias para a gestão deste recurso.

b) Etapa II: Implantação do Projeto de Gestão Integrada da Água


O estudo sobre a atual situação da estrutura hidráulica dos prédios e identificação dos pontos
onde ocorrem desperdícios ou falha na distribuição será implementado por meio da verificação de
torneiras, registros, tubulações da empresa e dados gerais sobre gastos. Estes darão base para o

1325
desenvolvimento do fluxograma desde recurso. Será necessário o levantamento do inventário
fotográfico para a complementação do diagnóstico. Estes dados serão plotados nos formatos
planilha, gráfico e texto para discussão com a equipe de engenharia responsável para o fechamento
do relatório e a formatação da proposta para a melhoria da gestão deste recurso pela Universidade.

Ação III: Eficiência Energética


O termo Eco-eficiência (EE) foi lançado em 1991 pelo WBCSD como sendo a entrega de
produtos e serviços a preço competitivo, que satisfaçam a necessidade humana e traga qualidade de
vida, enquanto reduza progressivamente os impactos ecológicos e a intensidade do uso de recursos
ao longo do seu ciclo de vida, a um nível pelo menos dentro da capacidade de suporte da Terra.
Logo, nota-se que a EE desafia as universidades a obterem mais valor para produtos e serviços,
reduzindo as quantidades de materiais, energia e emissões.
O plano de ação para implantação da gestão da energia no Campus da universidade seguirá
os preceitos da Eco-eficiência energética proposta por Lehni (2000), que apresenta sete elementos
da EE, sendo eles: 1) reduzir a intensidade de materiais; 2) reduzir a intensidade de energia; 3)
reduzir a dispersão de substancias toxicas; 4) aumentar a reciclabilidade; 5) maximizar o uso de
materiais renováveis; 6) prolongar a durabilidade de produtos e 7) aumentar a intensidade dos
serviços.

Ação IV: Qualidade Ambiental


A Qualidade Ambiental consiste no atendimento aos requisitos de natureza física, química,
biológica, econômica e tecnológica que assegurem a estabilidade das relações ambientais no
ecossistema no qual se inserem as atividades da instituição. No ambiente interno da instituição é
necessário segurança, higiene e condições satisfatórias, para que seja assegurado o cumprimento da
legislação e sejam mantidos os princípios sadios de uma política ambiental avançada.
Visando garantir a salubridade do ambiente da universidade e assegurar a qualidade do meio
ambiente, serão controlados os impactos gerados pelas operações da mesma sobre o meio ambiente
externo seja por meio da geração de resíduos ou pela utilização conscienciosa de matérias-primas e
energia, assim como também, serão criadas rotinas para evitar a contaminação cruzada no interior
do campus.

III – EXTENSÃO

Responsabilidade Socioambiental Universitária (RSU)

1326
As ações de RSU realizadas pelo Gampe tratam de questões que perpassam o
empoderamento das comunidades rurais, o processo de construção da ecocidadania do alunato e a
essência da educação ambiental nas atividades realizadas. Neste sentido, reflexões teóricas
basearam na praxis acadêmica no desenvolvimento dos trabalhos na comunidade rural do
Município de Ibimirim, em Pernambuco.
As atividades de RSU realizadas na UFRPE foram estruturadas, em ordem cronológica de
execução, em três ações específicas (Páscoa Solidária, a Leitura Solidária e o Natal Solidário). As
ações possuem características e propósitos peculiares, pautados na educação ambiental, e foram
desenvolvidas por uma lógica temporal que envolveu sete etapas, como: Liderança, Planejamento,
Implantação, Arrecadação, Execução, Resultados Obtidos e Publicação das Informações (tabela 1).

ETAPA DAS AÇÕES

Ações Liderança Planejamento Implantação Arrecadação Execução Avaliação Publicação


Páscoa março/ A partir de
fevereiro fevereiro março abril abril
Solidária abril maio
Leitura junho/ A partir de
maio maio junho setembro setembro
Solidária setembro setembro
Natal outubro/ A partir de
setembro Setembro outubro janeiro janeiro
Solidário dezembro fevereiro
Tabela 01 - Lógica temporal das etapas das ações de responsabilidade socioambiental universitário

A escolha da liderança é o passo inicial para a estruturação de cada ação. Nesta fase, através
de conversas dialógicas, é identificado um líder para gerenciar todas as atividades desencadeadas. O
segundo passo é o planejamento, o líder juntamente com sua equipe, traça estratégias para que a
idéia do projeto assuma forma e proporção entre os alunos da universidade, ou de outras instituições
e empresas. A partir de um planejamento sólido, a equipe segue para a etapa de Implantação.
Nesta etapa, as idéias saem de uma realidade logística e estrutural para uma efetiva
realização. A metodologia de implantação e os meios para tal divulgação são decorrentes da equipe
do projeto, bem como os locais, além da universidade, que participam como parceiros da ação. Na
etapa de arrecadação, os objetos de solidariedade definidos na etapa de planejamento são
arrecadados no hall da universidade e instituições participantes até o final da ação. Estes são
destinados para a comunidade de Poço da Cruz e de forma integrada, são realizadas palestras,
oficinas com os moradores à respeito de temáticas como: segurança alimentar, qualidade de vida,
meio ambiente, uso sustentável dos recursos naturais e a importância da educação ambiental e da
leitura no âmbito interno, relacionado ao seu crescimento pessoal, e externo voltado para o
crescimento econômico e proteção ambiental. Caracterizando assim a fase de execução do projeto.

1327
A penúltima etapa da ação consiste na contabilização e avaliação dos resultados obtidos. Os
pontos analisados são: número de participantes envolvidos, repercussão positiva ou negativa no
âmbito interno e externo da universidade e da comunidade, qualidade da ação, contribuição na
elevação socioambiental dos partícipes e percepção da eficiência dos instrumentos de educação
ambiental utilizados. Além dos citados, os demais tipos de informações de relevância para o
projeto, no segmento social, econômico e ambiental, são analisados.
Por fim, os dados obtidos antes, durante e após a ação são consubstanciados em relatórios
técnicos e publicados como artigos científicos (resumo, resumo expandido, artigo simples, artigo
completo e artigo para revistas científicas). Desse modo, o estudante versa por vários caminhos de
tamanha importância para sua vida, como: preparação de líderes para o presente e o futuro,
aprendizagem constante de relação dialógica em trabalhos com equipe, cientistas comprometidos
com a pesquisa e um melhoramento da qualidade de vida das comunidades atendidas, além de seres
humanos mais comprometidos com a vida e com um ambiente equilibrado.

Ações de Responsabilidade Socioambiental Universitária

Páscoa Solidária
A Páscoa Solidária é uma ação voltada para crianças e adolescentes de comunidades rurais
do semi-árido pernambucano e alunos da rede pública do município. Dentre as atividades
realizadas, destacam-se as oficinas sobre higiene pessoal e a distribuição de Kits de escovação
dentária para o público participante, além de todo um trabalho cultural em prol da data
comemorativa como: pintura dos rostos em forma de coelho e utilização de orelhas de coelho
confeccionadas com materiais reciclados.

Leitura Solidária
A Leitura Solidária visa estruturar e/ou enriquecer as bibliotecas das escolas públicas em
comunidades rurais carentes, com a doação de livros didáticos e paradidáticos, além de estimular o
hábito da leitura em crianças que muitas vezes vivem em situação de miséria através de oficinas de
interpretação, expressão e leitura. O Projeto propende discutir os temas ambientais relacionados à
realidade vivenciada pelas crianças e elevar o grau de articulação entre a comunidade acadêmica e a
população em geral, por meio de ações integradas de ensino/aprendizagem e extensão rural.

Natal Solidário
O Natal Solidário engloba oficinas para os adultos sobre temas relativos a gênero, geração e
ética, além de oficinas sobre segurança alimentar, hídrica, qualidade de vida, agricultura orgânica e

1328
uso sustentável dos recursos naturais através de oficinas de coité, além de atividade lúdica com as
crianças, explorando as habilidades motoras e artísticas através de atividades utilizando a técnica do
origami, desenhos e jogos, e distribuição de sacolas com roupas, sapatos e cestas básicas
alimentícias.

Conclusão

As instituições de ensino superior ainda são restritas em relação ao seu gerenciamento


ambiental. Entretanto, demonstram a sua preocupação com o desenvolvimento sustentável, tanto no
que diz respeito ao ensino dos alunos quanto às práticas ambientais. As ações desenvolvidas pelo
GAMPE na UFRPE tem trazido melhorias significativas, seja no aspecto acadêmico quanto no
crescimento pessoal e profissional do alunato. Dessa forma, é importante salientar que os benefícios
de um SGA são muitos para a instituição; entre eles, destacam-se a redução no consumo de energia,
água e materiais de expediente; o estabelecimento das conformidades com a legislação ambiental;
melhora na imagem externa da instituição; além da geração de oportunidades de pesquisa.

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1330
PAA E PNAE FOMENTANDO A AGRICULTURA FAMILIAR DO AGRESTE MERIDIONAL
DE PERNAMBUCO153

Cássia Roberta de Melo LEITE (UFRPE/UAG) – cassia.melol@hotmail.com, Estudante


Lauana Souza MUNIZ (UFRPE/UAG) – lauanasm@hotmail.com, Estudante
Horasa Maria Lima da Silva ANDRADE (UFRPE) – horasaa@gmail.com, Orientadora
Luciano Pires de ANDRADE (UFRPE/UAG) – lucianoandrade@uag.ufrpe.br, Co-orientador

Resumo

Neste artigo pretende-se mostrar a realidade das políticas públicas, PAA e PNAE, no Agreste
Meridional de Pernambuco e a forma que o Projeto AGROFAMILIAR154 apoia a inserção dos
agricultores familiares nesses programas junto aos órgãos responsáveis dos municípios. Os
agricultores familiares da região estão sendo sensibilizados quanto ao funcionamento do PAA e
PNAE, para que eles entendam como poderão ser inseridos nessas políticas públicas, com oficinas,
rodas de debate e comunicação, Fóruns e Encontros sobre a temática Agroecologia, participação nas
reuniões do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDRS) dos municípios. A compra
direta dos produtos que são cultivados pela agricultura familiar do município fomenta a renda de
cada agricultor familiar, já que a região se destaca na produção de mandioca, feijão, milho, além de
frutas e hortaliças. A discussão de todos os processos para a implantação do PAA e PNAE acontece
no Sindicato dos Trabalhadores Rurais dos municípios, junto ao Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), onde tem a participação dos órgãos governamentais
(Prefeitura, secretarias, IPA155), da UFRPE/UAG156 (Professores e alunos) e dos agricultores
familiares. Assim a colaboração da UFRPE/UAG, representada pelo Projeto AGROFAMILIAR, se
torna de grande importância no âmbito técnico - cientifico e tem gerado aprendizagem no auxílio
junto aos agricultores para a produção Agroecológica.

153
Pesquisa que está sendo desenvolvida pelo Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia, Agricultura
Familiar e Camponesa da Universidade Federal de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns. Conta com apoio
financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq);
154
Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia, Agricultura Familiar e Camponesa da Universidade
Federal de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns;
155
Instituto Agronômico de Pernambuco;
156
Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns.

1331
Palavras-chaves: Agroecologia, Políticas Públicas, Produção Rural Sustentável.
Abstract

This article aims to show you the reality of public policy, PAA and PNAE, in South Agreste of
Pernambuco and the way that Project AGROFAMILIAR supports the inclusion of family farmers in
these programs together the bodies of the municipalities. Family farmers in the region are being
sensitized on the workings of PAA and PNAE, so they understand how they can be entered in these
policies, with workshops, debate and communication, forums and meetings on the subject
Agroecology, participation in Council meetings Municipal Rural Development (CMDRS)
municipalities. The direct purchase of products that are grown by family farmers in the municipality
encourages the family income of each farmer, as the region excels in the production of cassava,
beans, corn, and fruits and vegetables. A discussion of all the processes for implementing the PAA
and PNAE happens in the Rural Workers Union of municipalities, with the City Council for
Sustainable Rural Development (CMDRS), which has the participation of government agencies
(City, secretaries, IPA), the UFRPE / UAG (Teachers and students) and family farmers. Thus the
collaboration of UFRPE / UAG, represented by Project AGROFAMILIAR, becomes of great
importance in technical - and has generated scientific learning in aid to farmers for the production
Agroecological.

Keywords: Agroecology, Public Policy, Rural Sustainable Production.

Introdução

Atualmente no Brasil, vários são os programas que estão sendo desenvolvidos e implantados
para fomentar a agricultura familiar e valorizar cada vez mais seus produtos, além da realização da
assistência para que os agricultores tenham a facilidade de comercializar a sua produção.
Uma das formas dessa facilitação é a venda dos produtos vindos da agricultura familiar é o
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), onde ocorre a compra e a valorização desses produtos:

―O PAA é desenvolvido com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e


Combate à Fome - MDS e do Desenvolvimento Agrário - MDA. As diretrizes do PAA são
definidas por um Grupo Gestor, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome e composto por mais cinco Ministérios: Fazenda; Planejamento
Orçamento e Gestão; Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representado pela
Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB; Desenvolvimento Agrário e
Educação, representado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE‖
(Ministério do Desenvolvimento Social e Cambate à Fome, 2010, p.3).

1332
Outra Política Pública direcionada ao apoio da Agricultura Familiar no Brasil é o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que está sendo implantado para ajudar na venda dos
produtos produzidos pelos agricultores familiares e proporcionar um alimento mais saudável para os
alunos matriculados nas escolas públicas dos municípios onde o PNAE é inserido. As Políticas
Públicas são as totalidades de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou
municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. Com a certeza que
as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas
prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade
(SEBRAE/MG, 2008).
Em 1993, iniciou-se o processo de descentralização dos recursos financeiros destinados ao
PNAE para os estados e municípios com o intuito de otimizar o desempenho; introduzir mudanças
na sistemática de compras; implantar a produção alternativa de alimentos e utilizar produtos básicos
in natura e beneficiados, o que permitiu melhorar a aceitabilidade das refeições e diversificar os
cardápios para alunos das escolas públicas e creches (ABREU, 1996).
A construção dos saberes sobre a Política Pública no âmbito técnico–científico se torna
indispensável para a organização dos agricultores quanto à produção e venda de seus produtos para
a prefeitura municipal, que é o mediador da compra de tais produtos oferecidos pelos agricultores
familiares.
No Brasil embora a agricultura familiar não tenha força política suficiente para influenciar a
formulação de políticas agroecológicas, observa-se que militantes e líderes de movimento
alternativo e ecológico vêm ocupando espaços na administração do poder local (BRANDENBURG,
2002).
Muitas vezes no processo de comercialização de seus produtos o agricultor precisa da
presença de uma terceira pessoa (―o atravessador‖) para que assim consiga fazer a venda,
consequentemente acaba perdendo o valor de seus produtos ou ainda não conseguindo gerar lucro.
Então, com base nas problemáticas, estão sendo realizados processos de sensibilização sobre a atual
questão e a inserção dos agricultores familiares nos programas direcionados à venda de produtos
vindos da agricultura familiar. Como ANDRADE (2011, p. 4) comentando sobre os processos de
sensibilização de agricultores, ressalta em seu trabalho:

―As atividades e oficinas realizadas sobre políticas públicas favoreceram a participação


ativa dos agricultores nas discussões que aconteceram nos Conselhos Municipais de
Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Permitiram ainda, levantar que dos 26
municípios do agreste meridional cerca de 70% implementaram o PAA e o PNAE, sendo
fundamental o papel dos parceiros junto aos gestores municipais e agricultores nas
discussões para o conhecimento e a implementação destes programas‖.

1333
Como a agricultura familiar é administrada pelo próprio agricultor, ou seja, ele sabe o
quanto que pode gastar com as despesas da casa a cada plantio. Então quanto mais ele puder
diminuir esses gastos, com a venda direta do seu produto, sem a ajuda de terceiros, melhor será para
a renda da família.
Considerando a importância de inserir o agricultor em alguma Política Pública que fomenta
a agricultura familiar, como o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos e PNAE – Programa
Nacional de Alimentação Escolar, que auxiliam esses agricultores facilitando a venda de seus
produtos e a geração de renda para melhorar a qualidade de vida de sua família dentro das suas
realidades, é extremamente relevante buscar maneiras mais fáceis de sensibilizar e auxiliar esses
agricultores familiares nessa inserção em programas que favorecem a comercialização em mercados
institucionais.
Um das maneiras de apoiar os agricultores nesta inserção de mercados é diagnosticando os
problemas que surgem na agricultura familiar, nos processos de produção e comercialização,
facilitando a realização das atividades de apoio aos agricultores e consequentemente gerando
estratégias para que seus produtos consigam chegar ao consumidor mais rápido e com uma melhor
qualidade.
Portanto o PAA e o PNAE vão promover uma renda mais segura para os agricultores
familiares do Agreste Meridional, pois esses terão a produção de uma forma mais saudável para
oferecer seus produtos para esses programas. Deseja-se avançar na construção de alternativas de
produção agrícola de base ecológica, como forma de contribuir efetivamente para o
desenvolvimento local e regional, e ter serviços de pesquisa, assistência técnica e extensão rural que
ajudem nessa empreitada. Mas deve-se, no entanto, analisar com cuidado quais são as
possibilidades e limitações para avançarmos nessa direção e ter a prudência de não alimentar ilusões
(DENARDI, 2001).
Dessa forma neste artigo pretende-se mostrar a pesquisa realizada para saber qual a
realidade sobre as políticas públicas (PAA e PNAE) na região do Agreste Meridional de
Pernambuco e o processo de sensibilização e apoio do Projeto AGROFAMILIAR aos agricultores
familiares são de suma importância para o Desenvolvimento Rural Sustentável.

Metodologia

O Agreste meridional de Pernambuco em destaque é localizado na Mesorregião do Agreste e


do Sertão Pernambucano, sendo uma área intermediária entre a Mata e o Sertão e tem sua
composição 26 municípios (Figura 1).

1334
Figura1 - Mapa do território do Agreste Meridional de Pernambuco.
(Fonte: http://blogdoronaldocesar.blogspot.com.br/2011/01/as-prefeituras-do-agreste-meridional-e.html)

As práticas agrícolas que se destacam na região são as altas produções de mandioca, milho e
feijão. Além da produção de frutas, hortaliças e uma grande parte da produção leiteira do estado. As
propriedades variam em média de 0,5 a 3 ha, onde pais e filhos sobrevivem e dependem
inteiramente da pequena propriedade que possuem. Não há diversificação da produção, tampouco
segurança alimentar para a base familiar.
Este trabalho é desenvolvido pelo Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia
e Agricultura Familiar e Camponesa (AGROFAMILIAR) da Universidade Federal Rural de
Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG), coordenado pela Professora
Horasa Maria Lima da Silva Andrade, durante o período de janeiro a dezembro de 2012 e tem como
principais objetivos dinamizar o debate sobre Agroecologia, o apoio ao desenvolvimento de
experiências, auxiliar os processos de reconversão visando a construção e adoção de sistemas de
produção agroecológicos com perspectivas ao fortalecimento da agricultura familiar, a inserção em
políticas públicas, e geração processos de desenvolvimento rural sustentável e participativo.
O Projeto AGROFAMILIAR desenvolve um trabalho que envolve as dimensões Educativas,
Produtivas e Políticas Públicas, gerando para os municípios atividades como oficinas, rodas de
debate e comunicação, Fóruns e Encontros sobre a temática Agroecologia, visitando algumas
propriedades modelos de sistemas produtivos agroecológicos, e é a partir dessas atividades que se
faz a interação entre o agricultor e todos os envolvidos com o projeto. O principal foco é fazer com
que o agricultor familiar troque experiências e aprenda os princípios novos que a Agroecologia traz
para a realidade de cada agricultor, fazendo com que ele inicie o processo de transição e suas
práticas agrícolas sejam de uma forma de base ecológica, uma agricultura ―mais saudável‖.
Dentre as atividades já proporcionadas para os agricultores dos municípios durante as ações
desenvolvidas pelo projeto, há destaque em uma delas, referente à discussão sobre as Políticas

1335
Públicas (PAA e PNAE), que fomentam a agricultura familiar.

Outra forma de apoio na implantação desses programas oferecido pelo projeto


AGROFAMILIAR se dá através da participação efetiva nas reuniões do Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural Sustentável (Figuras 2 e 3), que acontece mensalmente em todos os
municípios, de forma que a discussão sobre os parâmetros e exigências que os agricultores terão que
dispor como: Quais os produtos que cada agricultor pode oferecer (Frutas, hortaliças, milho,
mandioca, leite, carne, ovos); Como é feito à chamada pública na região; Como é feito o cardápio
para cada escola de acordo com as exigências nutricionais disposta pela nutricionista da Secretaria
de Saúde do município, entre outros.
Então, como base a pesquisa-ação (THIOLLENT, 2005), inicialmente foram aplicados
questionários com cinco agricultores de 22 municípios (totalizando 110 agricultores) no período de
abril a julho de 2012. As aplicações dos questionários ocorreram nas reuniões do CMDRS, onde
esse constava de perguntas para conhecer o perfil do agricultor (Social, Produtivo e Cultural), dessa
forma diagnosticando a realidade dos agricultores e de cada município do Agreste Meridional de
Pernambuco. Os questionários também foram aplicados às entidades que participavam da reunião
do CMDRS (IPA – Instituto Agronômico de Pernambuco, Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
associações, cooperativas, entre outras), diagnosticando assim qual a situação da assistência dada
por essas entidades já que essas são responsáveis por auxiliar os agricultores de seu município.
Essa pesquisa é parte de um trabalho que está sendo desenvolvido pelo Projeto
AGROFAMILIAR, o Mapeamento de Experiências Agroecológicas do Agreste Meridional de
Pernambuco, tendo como principal objetivo de conhecer onde estão localizados os agricultores que
tem práticas agrícolas com base agroecológica, que estão em processo de transição de um sistema
convencional para um sistema agroecológico.
A análise dos dados dos questionários foi feita através de uma classificação, categorização e
tematização das informações e dados levantados (TOLEDO, 1992; CRESWELL 2010),
considerando os eixos: Social, produtivo e políticas públicas. A tabulação dos dados foi feita a partir
do estabelecimento frequências que foram representadas por gráficos (MILES E HUBERMAN
1984).
A forma de apoio desenvolvido pelo Projeto AGROFAMILIAR é através da metodologia
participativa, devolvendo as informações geradas no processo investigativo, como a participação
efetiva nas reuniões do CMDRS, no grupo de estudos em Agroecologia realizado semanalmente
pelo Núcleo AGROFAMILIAR na UFRPE/UAG, realização de oficinas temáticas para os
agricultores, participação no Encontro de Agroecologia do Agreste Meridional de Pernambuco,

1336
socializações das atividades junto aos parceiros.

Figura 2 – Reunião do CMDRS de Garanhuns – PE. Figura 3 – Reunião do CMDRS de Jupi – PE.

Resultados e discussão

No perfil social dos agricultores familiares do Agreste Meridional de Pernambuco pode-se


destacar uma característica importante é que 90% desses agricultores vêm de famílias que já
trabalhavam na agricultura, ou seja, eles já trazem experiências de seus pais, avôs, entre outros
familiares. E há uma preocupação de que suas propriedades rurais sejam passadas para seus filhos e
netos, pois dessa forma há uma maior valorização de suas terras e consequentemente a continuação
das práticas agrícolas realizadas nessas propriedades.
Observa-se que todos da família trabalham nas propriedades, seja de forma direta (atividades
de produção) ou indireta (processo de comercialização), destacando assim a participação da mulher
cada vez mais freqüente e forte nessas atividades. Como SOUZA (2010, p. 6) discuti em seu
trabalho que a questão de gênero dentro das atividades agrícolas , onde a mulher vem se destacando
com o forte trabalho e com seus direitos garantidos:

―Nos dias atuais esse contexto está se transformando e a mulher ganhando espaço e
consolidando-se sem tanto preconceito, realizando-se pessoal e profissionalmente. Todas
as conquistas alcançadas pelas mulheres a tornam mais fortes não diminuindo a sua
feminilidade e mostrando o quanto podem, em se tratando de trabalhos realizados por
homens, através de garra, determinação e força de vontade, pegar na enxada e realizá-lo
com perfeição‖.

Dentre alguns problemas que foram diagnosticados no eixo das políticas públicas (PAA e
PNAE), destaca-se a presença do ―atravessador‖, que compra o produto diretamente do agricultor
por um valor menor que o do mercado ou programas do governo. O que LEITE (2012, p. 4) discutiu
em seu trabalho, que esse ―atravessador‖ facilita os processos de compra e venda dos produtos, mas
desvaloriza os produtos advindos da agricultora familiar e consequentemente diminui a renda do

1337
agricultor.
Com a participação nas reuniões dos CMDRS dos municípios do Agreste Meridional de
Pernambuco percebeu-se que os agricultores familiares vêm mostrando cada vez mais o interesse
em estar inseridos nessas Políticas Públicas e em alguns municípios é assídua a discussão sobre o
PAA e PNAE, cada um expõe os interesses individuais que se tem em produzir e vender para os
programas, colocando em questão os alimentos que se têm disponíveis em sua propriedade, pois
além da percepção de fortalecer e garantir uma renda sustentável para sua família, eles vão propiciar
aos alunos das escolas públicas dos municípios um alimento mais saudável, que consequentemente
ajuda no aprendizado e incentivo da participação desses alunos nas escolas através do oferecimento
de alimentos mais saudáveis ou por seus pais poder está vendendo os produtos cultivados nas suas
propriedades.
Assim com a aplicação dos questionários podemos diagnosticar quais municípios já estão
inseridos em alguma Política Pública (PAA e PNAE) e quais os produtos que os agricultores
fornecem para esses programas.

45% Sim

55% Não

Gráfico 01 – Porcentagem dos 22 municípios do Agreste Meridional de Pernambuco que participam de


Políticas Públicas

Diante desses dados (Gráfico 01), podemos observar que doze municípios (o que
corresponde a 55%) dos vinte e dois municípios da região do Agreste de Pernambuco, em que
foram aplicados os questionários, já estão inseridos em algum dos programas do governo (PAA e
PNAE) e que os agricultores que comercializam seus produtos nestes programas têm uma renda
garantida, assim proporcionando a sua família uma qualidade de vida melhor. Além de
disponibilizar aos consumidores produtos mais saudáveis. SILVA (2011, p. 17) comenta em seu
trabalho a importância da inserção dos agricultores nas políticas públicas e dessa forma garantindo a
produção e comercialização dos produtos e assegurando a renda do agricultor:

1338
―As políticas públicas voltadas para o setor agrário, em especial a agricultura familiar tem
desempenhado papel importante do Estado na intervenção no processo produtivo e
comercial dos produtos agrícolas. A implementação do PAA e do PNAE no município de
Bananeiras - Paraíba pôde garantir pela prefeitura local e pelos conselhos das escolas
estaduais a compra da produção familiar, possibilitando maior estabilidade à atividade
agrícola, garantindo ocupação e renda ao produtor em seu próprio local, incentivando a
permanência e a inclusão social no campo e proporcionando melhores condições de vida.
Dessa forma, o agricultor e sua família passam a desenvolver a atividade de forma mais
ampla e sistemática, explorando com maior racionalidade o espaço rural‖.

Na tabulação dos dados dos questionários observou-se que dos doze municípios que estão
inseridos no PAA e PNAE, seis no PAA e PNAE, apenas um no PAA e cinco no PNAE (Gráfico
02). Mostra que os municípios estão sendo mais inseridos no PNAE pelo fato de que o estado e o
município têm que disponibilizar alimentos saudáveis na dieta dos alunos que estão matriculados
nas escolas públicas e filantrópicas e creches. Assim oferecendo produtos advindos da agricultura
familiar, fortalecendo e assegurando a renda do agricultor. Como podemos observa na lei sobre
alimentação escolar, que refere-se ao recursos do programa PNAE onde no mínimo 30% deve ser
advindo da agricultura familiar:

―Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no
mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros
alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de
suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades
tradicionais indígenas e comunidades quilombolas‖.

12

10
Quantidade de municípios

0
PAA PNAE
Políticas Públicas

Gráfico 02 – Quantidade de municípios do Agreste Meridional de Pernambuco que estão inseridos


nas Políticas Públicas

No levantamento da produção constatou-se que os principais produtos comercializados são


in natura, sendo poucos os produtos beneficiados e quase inexistentes ou ainda não explorados os
produtos de origem animal advindos de uma produção rural familiar.

1339
Uma parte da produção de mandioca, milho, feijão, hortaliças, leite e frutas dos municípios
da região do Agreste Meridional de Pernambuco é comercializada para os programas PAA e PNAE
(Gráfico 03). Há possibilidade do agricultor já oferecer o produto beneficiado (bolos, doces, entres
outros) para ser disponibilizado às escolas públicas e creches dos municípios através das prefeituras
municipais. Os agricultores também podem estar disponibilizando para a venda in natura ou de
outras formas, desde que eles garantam uma produção constante, como é previsto legalmente em
um contrato feito pela prefeitura municipal, assistido pelo IPA e outros órgãos relacionados com
essa venda.

Leite Bolo Hortaliças Feijão Frutas mandioca

mandioca
12%
Frutas Leite
8% 32%

Feijão
12%

Bolo
8%
Hortaliças
28%

Gráfico 03 – Porcentagem dos produtos comercializados nos municípios nos programas


PAA e PNAE

O apoio que o Projeto AGROFAMILIAR realiza para auxiliar esses agricultores na inserção
e sensibilização das políticas públicas (PAA e PNAE), participação efetiva nas reuniões do
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável dos municípios, em congressos
nacionais e internacionais, encontros regionais de agroecologia, socialização das atividades junto
aos parceiros, nos encontros semanais do grupo de estudo em agroecologia realizado pelo Núcleo
AGROFAMILIAR, realização de oficinas temáticas (PAA e PNAE, Associativismos e
Cooperativismo, Produção de hortaliças, Criação de pequenos animais, entre outras), apoio a Rede
Produtiva do Feijão do Agreste Meridional de Pernambuco. Além da crescente busca que estar
sendo feita pelos agricultores para ser realizada a assistência em suas produções agrícola e pecuária.
Portanto o trabalho de sensibilizar esses agricultores familiares de produzir com práticas
mais sustentáveis e vender para programas que fomentem a agricultura familiar é continuo,
tornando a realidade da região do Agreste Meridional de Pernambuco melhor para todos.

1340
Agradecimentos

Os autores agradecem à orientação e coordenação da Professora Horasa Maria Lima da Silva


Andrade, ao apoio e colaboração do IPA, ProRural e movimentos sociais na realização das
atividades do projeto e ao CNPq no financiamento do projeto AGROFAMILIAR, Edital
MDA/SAF/CNPq Nº 58/2010, Processo nº 564209/2010-4.

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1342
AÇÕES EXTENSIONISTAS NO LITORAL DO IGUAPE – AQUIRAZ/CE: A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL COMO SUBSÍDIO PARA A CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DOS
RECURSOS NATURAIS

Dayane de Siqueira GONÇALVES


Graduanda, Departamento de Geografia da UFC
dayanedesiqueira@yahoo.com.br
Alysa Lumi Kuroki SASAHARA
Graduanda, Departamento de Geografia da UFC
lumisasahara@gmail.com
Thania Oliveira CARVALHO
Graduanda, Departamento de Geografia da UFC
Thania_oc@yahoo.com
Antonio Jeovah de Andrade MEIRELES
Professor Doutor do Departamento de Geografia da UFC
meireles@ufc.br

RESUMO
Aquiraz é um município do estado do Ceará localizado na Região Metropolitana de Fortaleza que
possui uma variedade paisagística explorada por pesquisadores e turistas. Possui oito distritos
(Aquiraz - sede, Camará, Caponga de Bernarda, Jacaúna, João de Castro, Justiniano de Serpa,
Patacas e Tapera) e algumas comunidades tradicionais, como a comunidade quilombola Lagoa do
Ramo e Goiabeira e a comunidade indígena Jenipapo-Kanindé, as quais praticam atividades
tradicionais como a renda e a pesca em seu litoral. O distrito de Jacaúna destaca-se por suas praias,
tais como a do Presídio, Barro Preto e a praia do Iguape. Esta última possui unidades de paisagens
diversas, como praia e pós-praia, tabuleiro litorâneo, dunas fixas e móveis, planície lacustre e
planície flúvio-marinha. Toda essa heterogeneidade de paisagens estruturais propiciou o
desenvolvimento de uma paisagem social e cultural que passa de geração em geração através da
Associação de Rendeiras do Iguape, da Dança do Coco do Iguape, além da prática da pesca
artesanal, que caracterizaram a comunidade em um local de grande atração turística. Apesar de
apresentar um quadro paisagístico tão rico, a comunidade vem sofrendo sérios danos ocasionados
principalmente pelos processos de uso e ocupação desordenadas que resultaram em impactos
ambientais. Assim, este artigo tem por objetivo compreender a relação da comunidade com o meio,
através da análise das unidades de paisagens e de aspectos do uso e ocupação para a realização da
prática da educação ambiental, através do projeto MANGROVE: Educação Ambiental em Áreas de
Manguezal, visando formar pessoas críticas do seu momento presente e agentes de seus futuros.

Palavras-chaves: Paisagem, Iguape, Caracterização, Degradação, Educação Ambiental.

ABSTRACT

Aquiraz is a township of the state of Ceará located at the Metropolitan Region of Fortaleza that has
a landscape variety explored by researchers and tourists. It has eight conties (Aquiraz – seat,
Camará, Caponga de Bernarda, Jacaúna, João de Castro, Justiniano de Serpa, Patacas e Tapera) and
some traditional communities, like the quilombola community Lagoa do Ramo and Goiabeira and

1343
the indigenous community Jenipapo-Kaninde, which maintain traditional activities like sewing and
fishing in their coast. Jacauna‘s county stands out for its beaches, like Presidio, Barro Preto and
Iguape. The latter has several landscape units, like beach and post-beach, coastal plain, fixed and
mobile dunes, lowland lake and fluvine-marine plain. All this heterogeinity of structural landscapes
led to the development of a cultural and social landscape that passes from generation to generation
through the Association of Sewing Women of Iguape, the Iguape Coco Dance, and the practice of
handicrafted fishing, which have made of the community a place of great touristic attraction.
Despite presenting such a rich landscape mosaic, the community has been suffering serious
damages caused mainly by the processes of use and disorderly occcupation of the land that have
resulted in environmental impacts. Thus, this article aims to understand the relation between the
community and its environment through the analysis of the landscape units and of the aspects of the
use and occupation of the land to carry out the practise of environmental awareness through the
MANGROVE project: Environmental Awareness in Mangrove Areas, which aims to educate
people to be critics of their present and agents of their future.

Key words: landscape, Iguape, description, degradation, environmental awareness.

1. INTRODUÇÃO

Aquiraz é um município do estado do Ceará localizado na Região Metropolitana de


Fortaleza. Dentre seus oito distritos (Aquiraz - sede, Camará, Caponga de Bernarda, Jacaúna, João
de Castro, Justiniano de Serpa, Patacas e Tapera), em Jacaúna é onde se encontra a comunidade do
Iguape onde se desenvolveram as atividades de educação ambiental do projeto MANGROVE:
Educação Ambiental em Áreas de Manguezal.
O MANGROVE consiste em um projeto de extensão universitária vinculado ao
Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará - UFC, financiado pela Pró-Reitoria
de Extensão - PREX/UFC. Através do projeto objetiva-se, desenvolver ações de Educação
Ambiental em áreas de manguezais, beneficiando comunidades tradicionais (pesqueiras e
ribeirinhas) e buscando despertar a preocupação individual e coletiva sobre a degradação ambiental
através de oficinas, palestras, discussões e outros instrumentos pedagógicos para a disseminação de
uma consciência crítica, para que o público alvo se veja como sujeito atuante na conservação do
meio ambiente. Espera-se que as pessoas atendidas pelo projeto trabalhem como agentes protetores
da natureza, colocando o conhecimento adquirido em prática no dia-a-dia.
Além de sua variedade cultural, que se mostra através do trabalho de pescadores, das
rendeiras e das dançadeiras de Coco, o Iguape também apresenta uma variedade de unidades
geoambientais, como dunas (fixas e móveis), planície flúvio-marinha, planície lacustre, faixa de
praia e planície de deflação, que tornam essa comunidade de singular importância como é mostrado
na Figura 1. A escolha dessa comunidade para a realização do projeto ocorre por que, apesar da
beleza encontrada nela, também se observa um quadro de degradação que precisa ser revestido.

1344
Figura 1 – Mapa da comunidade do Iguape.
Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.

2. A GEOECOLOGIA DAS PAISAGENS COMO SUPORTE TEÓRICO-METODÓLOGICO


PARA OS ESTUDOS INTEGRADOS NO LITORAL DO IGUAPE

A Geoecologia das Paisagens consiste na análise das paisagens sob a óptica de um conjunto
de sistemas formando um todo no qual há realizações de fluxos contribuindo para uma íntima
interação, por isso este método

Reveste-se de fundamental importância no âmbito de uma nova


perspectiva, onde as idéias da multidisciplinaridade valorizam a questão ambiental,
rompendo fronteiras padronizadas, dedicando-se às características, aos estudos e
aos processos dos elementos da natureza e da sociedade. (RODRIGUEZ; SILVA;
CAVALCANTE, 2010, p. 13)

Dessa maneira, as paisagens tornam-se um dos principais focos de estudo da análise


geoecológica das paisagens, pois alia as interações entre homem e natureza. Em função desse
caráter sistêmico e integrado, a Geoecologia das Paisagens foi utilizada como referencial teórico e
metodológico para o estudo do Lagamar do Iguape, considerando três importantes conceitos,
paisagem natural, social e cultural.

3. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM NATURAL DO IGUAPE

No estudo da paisagem natural há uma ―interpretação tipológica, que concebe a paisagem


como um território com traços comuns, que distingue-se pela semelhança.‖ (RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTE, 2010. p. 15 ). Assim a paisagem natural

1345
Concebe-se como uma realidade, cujos elementos estão dispostos de
maneira tal que substituem desde o todo, e o todo subsiste desde os elementos, não
como estivessem caoticamente mesclados, mas sim como conexões harmônicas de
estrutura e função. (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTE, 2010, p. 7)

Assim, no Iguape, temos geótopos como unidades básicas de nível local de diferenciação da
paisagem, que serão caracterizados a seguir (figura 2).

Figura 2 – Mapa das Unidades Geoambientais da comunidade do Iguape.


Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.

 Praia e Pós-praia
As praias ―podem ser conceituadas como ambientes sedimentares costeiros, formados mais
comumente por areias, de composição variada‖ (TESSLER; MAHIQUES, 2009, p. 273). Após a
praia localiza-se a pós-praia, que é uma área com areias mais consolidadas e onde encontra-se a
vegetação pioneira samófila.
A Praia do Iguape atualmente sofre um processo de erosão acentuado, cuja principal
conseqüência é a destruição das construções que estão sobre a pós-praia. Barracas de praia, casas de
veraneio e o calçadão, que a prefeitura construiu para que os pescadores pudessem guardar suas
jangadas, estão sendo prejudicados pelas ondas. Além disso,
A faixa de praia e pós-praia tem se tornado paisagem para carros a tração
que compactam o solo e diminuem a vegetação pioneira. Encontram-se ainda, nesta
faixa, latinhas de cervejas e refrigerantes, além de garrafas plásticas, depositados

1346
durante a passagem de finais de semana por visitantes e proprietários de segundas
residências. (CARDOSO; SILVA, 2011. p. 21).

A diminuição da faixa de praia ocorre por processos naturais como o aumento da ação
abrasiva do mar e do vento, e atinge os moradores e veranistas pelo fato das construções serem à
beira-mar. Pescadores relatam que a faixa de praia chegava a mais de dez metros e que nos últimos
anos ela vem diminuindo em ritmo acelerado.

 Campo de Dunas
As dunas são formadas por sedimentos areno-quartzosos altamente triados pelo vento, de
granulometria fina, que se depositam sobre uma litologia mais antiga. Esses sedimentos, em sua
maioria, têm origem continental, de onde foram transportados pela ação fluvial até a costa, sendo
distribuídos ao longo das praias, pela ação das ondas, e depositadas em forma de dunas pela ação do
vento.
As dunas são caracterizadas em fixas, quando recobertas por vegetação que dão a ela
estabilidade; e móveis, quando estão desprovidas de vegetação, estando em frequente mutabilidade.
No extenso cordão de dunas fixas que contorna o Iguape, representado em verde no mapa
(Figura 2), se formou um solo de composição orgânica que sustenta uma vegetação de pequeno e
médio porte. Também nele se desenvolveu um aquífero que abastece a comunidade com água
potável e disponível para todos, a qual é retirada pelos moradores através de uma fonte.
Esse ambiente vem sendo ameaçado constantemente pela ocorrência de queimadas, avanço
de construções e moradias nas dunas fixas e pela retirada de areia das dunas móveis (Figuras 3 e 4).
A diminuição da praia e pós-praia também contribui de forma negativa na acumulação de
sedimentos nas dunas.

Figura 3 e 4 – Comunidade do Iguape na planície de deflação e a presença de construções


próximas ao campo de dunas.
Fonte: Alysa Lumi Kuroki Sasahara, 2012.

 Planície Flúvio-marinha

1347
Os manguezais são um ecossistema de transição entre os ambientes terrestre e marinho,
regidos pela maré, e característicos de regiões tropicais e subtropicais. Este ecossistema
desempenha um papel fundamental na conservação da biodiversidade, na estabilidade da
geomorfologia costeira e na manutenção de recursos pesqueiros.
A planície flúvio-marinha do Iguape é formada pelo encontro da água doce proveniente das
águas fluviais vindas do continente e do aquífero contido no campo de dunas com a água do mar
que entra por um canal que é constantemente fechado através da dinâmica natural dos sedimentos e
reaberto periodicamente por um trator a mando da prefeitura, gerando uma água salobra essencial
para o desenvolvimento da vegetação do manguezal.
Essa interação de fluxos gera um ambiente propício para a formação de um ecossistema
manguezal de médio porte, onde encontramos os tipos de vegetação de mangue mais
preponderantes no litoral brasileiro que são a Rhizophora mangle (mangue vermelho, mangue
verdadeiro ou sapateiro), Avicena schaueriana e Avicennia germinans (mangue-preto, seriúba ou
canoé), Laguncularia racemosa (mangue-branco) e Conocarpus erectus (mangue-de-botão).
A fauna que se alimenta e se reproduz no manguezal varia desde peixes, mamíferos, aves,
moluscos e crustáceos até microalgas e bactérias, que caracterizam este ambiente como um berçário
natural, principalmente da vida marinha.
Apesar de sua importância do ponto de vista da biodiversidade, de servir como amortecedor
da erosão costeira e como fonte de subsistência para a comunidade, o manguezal do Iguape sofre
com
Os desmatamentos e aterros das margens dos manguezais para a construção
de equipamentos urbanos, residenciais, hotéis, salinas e tanques para criação de
camarões, alteram o equilíbrio dos processos morfogênicos, constituindo uma
ameaça à biodiversidade e levando à perda da qualidade paisagística. (MEIRELES;
SILVA, 2002).

A pressão exercida pelo assoreamento, desmatamento, ocupação residencial,


estrangulamento de seus canais, poluição e contaminação hídrica causada pelo lançamento de
esgoto nesse manguezal é muito forte. Isso faz com que esse ecossistema se encontre degradado,
apesar de ser ainda utilizado para pesca.

 Planície Lacustre
A estrada que liga Iguape à Fortaleza divide dois ambientes distintos: o primeiro, mais
próximo ao mar, forma uma planície flúvio-marinha, com a ocorrência de um ecossistema

1348
manguezal característico, e a segunda, depois da estrada, forma uma planície lacustre. Abaixo da
estrada existe um canal que liga esses dois ambientes. Resquícios de mangue no Lagamar indicam
que provavelmente o manguezal abrangia toda a área da planície fluvial.
O Lagamar do Iguape, assim chamado pelos moradores locais, é uma laguna costeira sendo
muito utilizada por pessoas que veem na pesca uma complementação alimentar.
Originalmente, outra lagoa existia e ocupava grande parte da comunidade, porém, com a
pressão exercida pela especulação imobiliária que limitou as opções da população mais pobre, a
lagoa foi aterrada dando lugar a casas, que formam à rua da Lama, assim denominada pelos
moradores.

 Planície de Deflação
A comunidade do Iguape foi construída sobre uma planície de deflação, caracterizada por
ser um ambiente de erosão entre dunas. Esse processo ocorre, pois ―os sedimentos são transportados
da praia para o interior, migram sobre a planície costeira e retornam parcialmente ao mar através do
sistema de drenagem ou pelas dunas que constituem a planície de deflação.‖ (CASTRO;
CALHEIROS, 2003, P. 1)
Por ser um ambiente instável do ponto de vista ambiental, não é propício para ocupação.
Isso é visível no Iguape no período mais chuvoso, caracteristicamente no começo do ano, onde as
casas são alagadas devido ao aumento do nível do lençol freático. Outro problema é a avanço das
dunas na comunidade, acentuado pela retirada de areia das dunas móveis.

4. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL DO IGUAPE

Entende-se que a paisagem é ―um aspecto físico e um sistema de recursos naturais aos quais
integram-se as sociedades em um binômio inseparável Sociedade/ Natureza.‖ (RODRIGUEZ;
SILVA; CAVALCANTE, 2010, p. 7).
Assim, temos no Iguape, além da paisagem natural mostrada anteriormente, a paisagem
formada pela sociedade, onde se encontram as relações sociais. A paisagem cultural

É formada a partir da paisagem natural pelo grupo cultural. O grupo é força


ativa, a área natural é o meio (milieu) no qual o grupo atua e a paisagem cultural é
resultado. Sob a influência de uma determinada cultura, que muda com o tempo, a
paisagem é desenvolvida ou deformada, alcançando talvez um clímax de
desenvolvimento, a não ser que o rejuvenescimento ocorra por conta da introdução
de novos elementos culturais. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p. 68)

Dessa maneira, observa-se a importância de entender a paisagem cultural que se formou no


Iguape, através da vivência dos pescadores, rendeiras e também turistas.

1349
Os pescadores da comunidade tiveram uma grande relevância na formação da paisagem,
pois ela formou-se principalmente pela presença e ação constante da comunidade no espaço, sendo
que estes foram seus primeiros moradores. A comunidade do Iguape surgiu com um pequeno
conjunto de casas de pescadores que foram estabelecendo-se e formando famílias. Durante esse
período eles viviam principalmente da pesca no mar.
Por ser dotado de uma beleza natural, o Iguape, chamou a atenção de muitos turistas que
passaram a frequentar a comunidade principalmente nas décadas de 1970 e 1980, no quais foram os
anos caracterizados pelo crescimento da comunidade, devido o grande número de construções de
casas de veraneio, que passaram a ocupar os locais onde encontravam-se as antigas casas dos
pescadores. Esse fato é explicado por Dantas (2011) ao dizer que

Os amantes de praia, não satisfeitos com o estado das zonas de praia


fortalezense – poluídas ou ocupadas por atores indesejáveis –, podem, após a
chegada do carro, utilizar as vias de circulação para se deslocar às praias distantes
de Fortaleza. Aproveitando-se da frágil infraestrutura desenvolvida para garantir o
transporte de produtos provenientes das comunidades litorâneas, o veraneio ocupa,
inicialmente, as praias vizinhas de Fortaleza, notadamente as do Icaraí e de
Cumbuco, em Caucaia, e a praia de Iguape, em Aquiraz. (DANTAS, 2011, p. 70)

Os antigos moradores deixaram de ocupar o local próximo a faixa de praia e passaram a


morar em áreas mais distantes da mesma. Como consequências da intervenção do turismo houve
uma intensa modificação na cultura dos moradores que tiveram a sua rotina e vivência alteradas, ou
seja, muitos pescadores deixaram de exercer sua profissão e passaram a atender aos turistas,
disponibilizando seus barcos para passeios em alto mar ou tornando-se caseiros em segundas
residências. Tais mudanças acarretaram outras sérias consequências, como a poluição do lagamar,
por lançamento de esgoto e lixo, avanço de moradias nas dunas, o rápido avanço do mar devido à
diminuição da faixa de praia, resultado de construções indevidas de casas de veraneio, entre outros.
Tais fatores contribuíram para que a comunidade deixasse de ser uma atração para turistas,
prejudicando a economia local que desde as décadas de 1970 e 1980 dedicava-se principalmente ao
turismo.
O problema também foi agravado pelo aumento da infraestrutura, que permitiu o acesso a
praias cada vez mais distantes, turistas (estrangeiros e nacionais) e a classe alta fortalezense passam
as suas férias em praias cada vez mais distantes de Fortaleza, onde há mais infraestrutura e onde as
classes baixas tem pouco acesso, causando o declínio do turismo na comunidade do Iguape.
A falta de planejamento e investimento para que a introdução desses elementos, como o
turismo, na cultura da população fosse realizada de uma forma menos destrutiva, acarretou
problemas como os vivenciados hoje pelas rendeiras, que tiveram que se instalar em um local de

1350
venda diferente do habitual contribuindo para a queda de suas vendas, pois a nova localidade
apresenta péssimas condições, dentre elas infiltrações nas paredes, danificando as rendas postas à
venda. A associação de rendeiras do Iguape, que antes era muito visitada por veranistas que iam em
direção às praias do Presídio, Iguape e Barro Preto, viu suas vendas locais gradativamente
diminuírem o que fez com que as rendeiras investissem em mercados cada vez mais longe, como
Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.
Outro aspecto cultural do Iguape são os dançadores de coco, que tem sua tradição passada
por gerações de pescadores, e ainda hoje se apresentam não somente na própria comunidade como
também em eventos em Fortaleza e outra capitais do Brasil.
Apesar de ter um quadro paisagístico e cultural tão belo, o Iguape vem perdendo muito de
sua caracterização ambiental original devida a pressão exercida pela ocupação residencial
desordenada e especulação imobiliária. O resultado é a degradação do manguezal e estrangulamento
de seus canais, a poluição e assoreamento do lagamar, desmatamento, extrativismo mineral
indiscriminado através da retirada de areia das dunas, pesca predatória, lixo a céu aberto, ocupação
residencial desordenada em dunas e áreas alagáveis, poluição e contaminação hídrica causada pelo
lançamento de esgoto, retirada de areia das dunas, além da falta de planejamento urbano que se nota
através da ausência de saneamento básico, pavimentação inadequada e ausência na coleta de lixo.
Nesse sentido, se faz necessário elaborar ações de educação ambiental, que possibilitem a à
valorização e a preservação das paisagens do Iguape, para que as futuras gerações não sofram com
as consequências dos impactos ambientais causados pela degradação atual.

5. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TRANSFORMADORA DAS PERCEPÇÕES


HUMANAS

Estamos vivendo hoje uma crise ambiental fundamentalmente cultural ―causada pelo
desenvolvimento explosivo da capacidade cultural da exploração dos seres humanos e dos bens
naturais‖ (RODRIGUEZ; SILVA, 2010). Para mudar esse quadro se faz necessária a educação
ambiental, pois esta visa à mudança de atitude das pessoas em relação ao meio ambiente.
De acordo com Rodriguez; Silva (2010), cada existem diferentes concepções políticas e
filosóficas de educação ambiental, cada uma tendo uma visão diferenciada para o que causa a crise
ambiental e suas possíveis soluções. Para a realização dos trabalhos de educação ambiental no
Iguape, foi utilizada a educação ambiental ético-social que é voltada para a formação dos indivíduos
não só com conhecimento científico, mas também ambiental. Tencionando tornar os indivíduos

1351
mais críticos, capazes de entender e modificar o mundo e a sociedade, critica o padrão da sociedade
capitalista e imagina uma sociedade socialista em comunhão com o meio ambiente.
Assim, de acordo com os conceitos da educação ambiental ético-social, o projeto
MANGROVE - Educação Ambiental em Áreas de Manguezal visa uma mudança de valores e de
atitudes através de palestras e oficinas onde o conhecimento científico acerca do meio ambiente e os
valores solidários acerca da sua preservação objetivam formar pessoas críticas do seu momento
presente e agentes de seus futuros.
Nesse contexto, é importante trabalhar a educação ambiental com jovens e crianças, pois
estamos conscientizando futuros cidadãos para a importância da preservação do meio ambiente.

6. AÇÕES CONCRETAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Tendo em vista a importância da conscientização ecológica através da educação ambiental,


os alunos universitários que participam do projeto MANGROVE: Educação Ambiental em Áreas de
Manguezal vem desenvolvendo atividades em escolas do Iguape.

Figura 6 e 7 – Oficina no manguezal do Iguape com jovens da comunidade.


Fonte: Dayane de Siqueira Gonçalves, 2012.

São desenvolvidos estudos e pesquisas no Laboratório de Geoecologia da Paisagem e


Planejamento Ambiental – LAGEPLAN - do Departamento de Geografia da UFC, sobre
metodologias e materiais didáticos que serão utilizados nas oficinas, como cartazes, banners,
apresentação de slides, vídeos, além de outros recursos para maximizar a compreensão do público-
alvo nas exposições temáticas.
As atividades foram desenvolvidas em parceria com a E.E.F.M. Cel. Osvaldo Studart,
buscando que os jovens da comunidade do Iguape se tornem atuantes em seu próprio meio a fim de

1352
se tornarem cidadãos autônomos e conscientes de seu papel na sociedade e de seu poder de muda-
lá.
As metodologias utilizadas para o desenvolvimento dos trabalhos foram palestras e
discussões sobre o futuro do planeta, a escassez de água potável, mudanças climáticas, consumismo
exacerbado e o papel dos jovens nesse quadro visam que os alunos tomem para si a
responsabilidade dos problemas ambientais e possam visualizar o seu verdadeiro papel na
degradação do planeta. Dessa maneira, os jovens e crianças passaram a perceber que quem polui o
ambiente não é somente o lixo e que a população que mora no entorno joga, mas também a falta de
saneamento, especulação imobiliária que vem valorizando a ocupação de áreas do litoral, o turismo
de massa, entre outros.

CONCLUSÃO

A comunidade do Iguape vem sofrendo um processo de degradação acentuado que é


consequência da falta de planejamento, de infra-estrutura e investimento para a introdução do
turismo. A especulação imobiliária pressiona as classes mais baixas a ocuparem áreas de risco,
como as dunas e as margens do lagamar que não possuem infraestrutura e são inadequadas para a
ocupação urbana. Assim, são essenciais atividades sustentáveis que integrem a comunidade como
pesca de subsistência, atividades turísticas, recreativas, educacionais e pesquisa científica.
Para que haja essa mobilização, é necessária a educação ambiental com o intuito de
despertar a responsabilidade sobre o meio para que o ser humano se perceba como principal agente
para determinar e garantir a manutenção do meio ambiente. Realizando atividades de
conscientização desenvolvidas pelo projeto, buscamos que os moradores, em particular os jovens,
que futuramente cuidarão da comunidade, respeitem as paisagens do Iguape pela importância que
tem e cuidem delas, visando à melhoria de qualidade de vida da população e a conservação e
preservação dos recursos naturais.

REFERÊNCIAS

CASTRO, J.W.A. & CALHEIROS, A.L.S. 2003. Geoindicadores resultantes dos episódios El
Niño/La Niña em dunas costeiras do litoral setentrional do Nordeste brasileiro. IX Congresso da
Associação de Estudos do Quaternário (ABEQUA). Anais. CD-Rom. Recife, Pernambuco. Brasil

CORRÊA, Lobato Roberto; ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Geografia Cultural: Um século (1). Rio
de Janeiro: Editora UERJ, 2000. 168 p.

1353
DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. Mar à Vista: estudo da maritimidade em Fortaleza:
Fortaleza: Museu do Ceará, Secretaria de Cultura e Desporto, 2002. Disponível em:
<http://cocodoiguape.no.comunidades.net/>. Acesso em 16 de Set. de 2012.
SILVA, Edson Vicente da; MEIRELES, Antônio Jeovah de Andrade. Abordagem geomorfológica
para a realização de estudos integrados para o planejamento e gestão em ambientes fúvio-
marinhos. 2002. Disponível em:<http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-118.htm>. Acesso em: 6 jul.
2011.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. Educação ambiental e
Desenvolvimento Sustentável: Problemática, Tendências e Desafios. Fortaleza: edições UFC, 2009.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da Silva; CAVALCANTI, Agostinho
Paula Brito. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 3. ed.
Fortaleza: Edições UFC, 2010. 222 p.

SILVA, Edson Vicente da; CARDOSO, Evanildo Santos. Litoral de Iguape, Barro Preto e Presídio:
Situação da ocupação e propostas de zoneamento geoambiental. In: SILVA, Edson Vicente da;
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; GORAYEB, Adryane (Orgs.). Planejamento ambiental e
bacias hidrográficas: gestão, sustentabilidade e turismo (Tomo2 – ―estudo de casos‖). Fortaleza:
Edições UFC, 2011. p. 11–48.

TESSLER, Moysés Gonsalez; MAHIQUES, Michel Michaelovitch de. Processos oceânicos e a


fisiografia dos fundos marinhos. In: TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta de;
FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fabio (Orgs.). Decifrando a terra. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2009. p. 261 – 284.

1354
APRESENTANDO O PET MATA ATLÂNTICA: CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Diana Ribeiro TOSATO (CCAAB/UFRB) – dia_tosato@hotmail.com


Ana Paula Moreira CEZAR (CCAAB/UFRB) – apmcezar@gmail.com
Clarisse Dias CRUZ (CCAAB/UFRB) – claribiologia@gmail.com
Alessandra Nasser CAIAFA (CCAAB/UFRB) – ancaiafapet@gmail.com

Resumo

O programa de Educação Tutorial foi instituído pela Lei Nº 11.180 de vinte e três de setembro de
dois mil e cinco se constituindo como um programa organizado a partir de cursos de graduação que
preza pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, objetivando o estímulo à formação
profissional, a contribuição para a melhoria na qualidade do ensino superior, além de estímulo à
formação de um espírito crítico, solidário e ambientalmente engajado dos estudantes atendidos. O
PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento foi criado no final de 2010 e implantado na
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, localizada em uma região de relevância para a
conservação da Mata Atlântica. O programa propõe três linhas de ação: Conhecendo a
Biodiversidade; Interações Homem e Natureza; e Educação e Desenvolvimento, agindo direta e
indiretamente num dos ecossistemas mais devastados do mundo. Através de parcerias com
organizações do terceiro setor e apoio de empresas, o grupo organiza eventos de conscientização e
formação de estudantes sobre os aspectos vegetativos, faunísticos e humanos do bioma para que
haja uma ação de conservação aliada ao desenvolvimento da região. Dentro do programa o
estudante conhece o bioma através da academia e do campo, em contato direto com comunidades
tradicionais adquirindo conhecimento empírico que se transforma em grande diferencial dentro da
graduação, como em sua formação profissional, seguindo como base os preceitos do PET de
formação de alunos de excelência com responsabilidade socioambiental. Baseado nos ideais de uma
educação emancipadora transformadora da realidade social, o PET Mata Atlântica: Conservação e
Desenvolvimento se dispõe a levar o conhecimento adquirido em sala de aula e projetos de pesquisa
e extensionistas, realizados no âmbito do programa de educação tutorial, às comunidades externas
ao ambiente universitário, compartilhando o ideal conservacionista, sempre aliado ao
desenvolvimento das regiões de relevante interesse ecológico e seus habitantes.

Palavras-chaves: bioma; preservação; formação; graduação.

Abstract

1355
The Education Tutorial Program was instituted by Law Nr. 11.180 of September 23, 2005 being
constituted as a program developed in organized groups from undergraduation courses that values
by the inseparability between education, research and extension, objectifying the stimulus to the
professional graduation, to contribute for the higher education improvement and to stimulate the
critical, of solidarity and environmentally engaged spirit of the attended students. The PET Mata
Atlântica: Conservação e Desenvolvimento was created in the end of 2010 and deployed in
Universidade Federal do Recôncavo da Bahua located in a relevant area to the conservation of
Atlantic Forest. The project proposes three working lines: Knowing the biodiversity, man-nature
interactions and education and development, acting directly and indirectly in one of the ecosystems
most devastated in the world. By partnerships with third sector organizations and companies
support, the group organizes events of awareness and formation of students about vegetative, faunal
and human aspects of the biome, in order that to have an action of conservation combined with
region development. Inside the program, the student knows the biome through the academy and the
field, in direct contact with traditional communities acquiring an empirical knowledge which
becomes a differential as inside the undergraduation as on your professional formation, following as
base the PET precepts of training students for excellence with socioenvironmental responsibility.
Based in the ideals of an emancipator education, converter of the social reality, the PET Mata
Atlântica: Conservação e Desenvolvimento is willing to deliver the knowledge acquired in class and
in research and extensionist projects, carried out at the scope of Education Tutorial Program to the
communities outside the university environment, sharing the conservationist ideal, always allied to
the development of relevant ecological interest regions and their inhabitants.

Keywords: biome; preservation; training; undergraduation.

Introdução e Apresentação do Grupo

O Programa de Educação Tutorial foi criado em 1979 pela CAPES pelo então Diretor Geral
Prof. Dr. Cláudio de Moura e Castro, inicialmente chamado de Programa Especial de
Treinamento.Preocupado com a qualidade do ensino superior, o Professor Castro criou o Programa
baseado na sua própria experiência como bolsista de um programa que havia na Faculdade de
Ciências Econômicas (FACE), em Minas Gerais, desde a década de 50. O programa, na FACE, era
inspirado em programas de Universidades americanas e em procedimentos adotados em
Universidades inglesas.

1356
O PET foi implantado como um programa de excelência, selecionando alunos de um
determinado curso para desenvolverem atividades acadêmicas extracurriculares em período integral
formando grupos de estudos e tutorados por um professor. A função do tutor seria estimular a
aprendizagem ativa, através de vivências, reflexões e discussões informais, prevalecendo à
cooperação no grupo. Desde então o programa de educação tutorial passou por diversas fases e
transformações. A principal delas é a não obrigatoriedade de se vincular a apenas um curso de
graduação e sim poder se constituir de forma interdisciplinar, com a participação de alunos de
diferentes curso de graduação num único grupo trabalhando em prol do desenvolvimento de áreas
temáticas.
O programa de Educação Tutorial foi instituído nos seus moldes atuais, pela Lei Nº 11.180 de
23 de setembro de 2005, se constituindo como um programa desenvolvido em grupos organizados a
partir de cursos de graduação, e composto por, no máximo, 12 estudantes bolsistas e um professor
tutor. Garantindo que os grupos sejam pautados pelo principio da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão. O programa traz como objetivos principais: desenvolver atividades acadêmicas
com padrão de excelência, contribuir para a elevação da qualidade de formação acadêmica dos
alunos de graduação, estimular o espírito crítico, bem como a atuação profissional pautada pela
cidadania e pela função social da educação superior. Nessa nova fase o PET se encontra sob
responsabilidade da Coordenação-Geral de Relações Estudantis (CGRE) da Diretoria da Rede IFES
(DIFES), subordinados ao Ministério da Educação.
No Edital PET n 09 de 2010, o Programa de Educação Tutorial mais uma vez se reformula e
se fusiona ao Programa Conexões de Saberes, estimulando maior articulação entre as IES e as
comunidades populares, oferendo a devida troca de saberes além do oferecimento da formação de
excelência aos estudantes oriundos de populações urbanas de risco, do campo ou quilombolas, e
comunidades indígenas. Nesse contexto, é criado o PET Mata Atlântica: Conservação e
Desenvolvimento, um grupo interdisciplinar que tem como temática principal a conservação
ambiental.
Assim como no restante do País, no Recôncavo Sul Baiano, a situação de degradação e
descaracterização dos fragmentos de Mata Atlântica e Ecossistemas Associados, e de seus
habitantes tradicionais é alarmante. Com o intuito de transformar essa realidade no âmbito do
ambiente universitário do Recôncavo Baiano e para fora dele, O PET Mata Atlântica: Conservação
e Desenvolvimento realiza atividades nos eixos de ensino, pesquisa e extensão. O grupo foi criado
na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e encontra-se vinculado a Pró-reitora de
Graduação (PROGRAD) e conta com o apoio da administração central da Instituição.

1357
O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento é um grupo interdisciplinar e
temático, composto pelos cursos de Biologia (Bacharelado e Licenciatura), Tecnológico em
Agroecologia, Engenharia Florestal, Agronomia e Tecnológico em Gestão de Cooperativas tem a
possibilidade concreta de transformação da realidade a qual estamos inseridos, por meio de uma
desafiadora e contínua dinamização das atividades, em parceria obrigatória entre a universidade e a
comunidade regional.
O objetivo principal de criação do grupo aqui apresentando é contribuir para a formação de
excelência dos estudantes a partir de um olhar interdisciplinar da Mata Atlântica e ecossistemas
associados; porém não somente dos discentes envolvidos diretamente no Programa de Educação
Tutorial, mas sim de todos os acadêmicos da UFRB. Assim, privilegia-se a indissociabilidade entre
Ensino, Pesquisa e Extensão, buscando uma melhoria nos cursos de formação de graduação da
UFRB, tornando nossos futuros egressos cidadãos éticos e conscientes de seu papel de agente
transformador da sociedade.
Neste sentindo a proposta do PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento articula-
se ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFRB (quinquênio 2010-2014), principal
instrumento de gestão da Instituição que tem como objetivo principal interagir com o potencial
socioambiental de cada espaço do Recôncavo Baiano. A UFRB foi criada pela Lei nº 11.151 de 29
de Julho de 2005, que iniciou suas atividades em 03 de Julho de 2006, integrando o programa de
interiorização do ensino superior no Brasil. Possuindo o modelo multicampi, com campus nos
municípios de Amargosa, Santo Antônio de Jesus e Cruz das Almas, onde esta sediado o grupo PET
Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento.

Contexto da Região de Atuação do PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento

Sob o ponto de vista ambiental a Região Recôncavo Sul Baiano tem como característica
marcante a pluralidade de paisagens dotadas de belezas naturais. Em termos ecossistêmicos o
insere-se predominantemente no Domínio da Mata Atlântica, e um de seus remanescentes florestais
mais bem preservados, a Serra da Jibóia, representa o extremo norte do Corredor Central da Mata
Atlântica. O conceito senso amplo de Domínio da Mata Atlântica, engloba as formações florestais
Ombrófilas Densas e Abertas, as florestas Estacionais Semideciduais e Deciduais, bem como os
ecossistemas associados: Afloramentos Rochosos, Restingas e Manguezais. Todas estas fisionomias
de vegetação encontram-se representadas em diferentes graus de conservação no Recôncavo Sul
Baiano.
A Mata Atlântica é o conjunto de ecossistemas mais ocupado e devastado do País. Em nossa
região do Recôncavo Sul Baiano a situação dos remanescentes florestais é alarmante, em virtude da

1358
fragmentação e dos constantes desmatamentos. Temos duas ecorregiões prioritárias: uma
denominada ―Recôncavo e Baía de Todos os Santos‖, apontada como de alta importância biológica
e a ―Serra da Jibóia‖, categorizada como insuficientemente conhecida, mas de provável importância
biológica. Não é a primeira vez que a Serra da Jibóia, distante apenas 60 km da sede da UFRB é
citada em artigos pelo desconhecimento de sua biodiversidade. Sendo então necessários esforços
para o conhecimento de seu potencial biológico.
A relação harmônica ―Homem-Bioma‖ tem se intensificado a partir da década de 80 quando
as populações nativas foram incorporadas em ações de manejo de áreas protegidas. Há um
entendimento que a limitação do uso tradicional dos recursos naturais pode resultar na
desestruturação social dessas populações e na perda do conhecimento sobre os ecossistemas.
Diversos autores destacam a importância do conhecimento nativo ou tradicional para a conservação
da Biodiversidade. Porém a realidade é que as populações tradicionais estão desaparecendo mais
rápido do que as florestas nas quais habitam. No Recôncavo Sul Baiano são várias as populações
quilombolas, rurais e ribeirinhas que vivem em condições precárias e sem apoio para a manutenção
de suas atividades tradicionais, o que vem causando a descarcterização de sua cultura.
Neste cenário os estudantes participantes do grupo, de diferentes cursos de formação de
graduação, serão capazes de exercer a tríade ensino, pesquisa e extensão de forma plena e assim
contribuir ao desenvolvimento sustentável de importantes remanescentes do Domínio da Mata
Atlântica no Recôncavo Sul. É uma obrigação do PET – MATA ATLÂNTICA: Conservação e
Desenvolvimento, a articulação entre o saber científico e a complexa realidade do Recôncavo Sul
Baiano.

Linhas de Ação

O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento se fundamenta em três linhas de


ação. A 1ª linha ―Conhecendo a Biodiversidade‖ tem correlação com o Grupo de Pesquisa
Biodiversidade e Conservação do Recôncavo Baiano. Ressalta-se que, hoje, temos na instituição
uma gama de profissionais que já focam suas pesquisas no conhecimento da biodiversidade e
também na possibilidade de bioprospecção sustentável da Mata Atlântica e seus ecossistemas
associados.
A 2ª linha abrange as ―Interações Homem-Natureza‖. Como os habitantes da Mata Atlântica
entendem este ecossistema? Há alguma forma de utilização? O grande desafio posto é a necessidade
de construir juntamente com a sociedade, soluções que atendam as demandas sociais da produção
do conhecimento, integrando os saberes acadêmicos e tradicionais/populares, com a participação de

1359
todos os atores envolvidos no processo de pesquisa e ensino, promovendo o desenvolvimento
humano, sócio-ambiental, cultural e econômico.
Na 3ª linha a temática ―Educação e Desenvolvimento‖, destina-se a investigar as
possibilidades de uso da educação enquanto ponte de comunicação, mobilização e transformação de
padrões sociais. Os envolvidos irão atuar no ensino formal, reciclando os professores das escolas do
Recôncavo Sul Baiano e oferecendo perspectivas de novas abordagens pedagógicas. Tais ações
poderão interagir com projetos de pesquisa em educação da própria UFRB.

Funcionamento do Grupo

Metodologicamente, para o bom andamento das atividades e desenvolvimento do grupo,


optamos por dividi-lo em quatro coordenações, sendo elas: Coordenação Administrativa,
Coordenação Financeira, Coordenação de Estrutura-física e Coordenação de Comunicação. Sendo
que cada coordenação desenvolve atividades diárias de demandas do grupo, e também executa as
atividades que lhe cabem no Planejamento Anual do PET Mata Atlântica: Conservação e
Desenvolvimento.
Nossos encontros são feitos em reuniões ordinárias semanais, para que dentro desse período,
entre uma e outra reunião, haja um prazo de execução de demandas deliberadas para cada petiano.
Nossas reuniões são registradas com atas, feitas sempre pelos petianos da Coordenação
Administrativa, que ficam armazenadas na sala do PET juntamente com todos os outros
documentos necessários para o funcionamento do grupo.
Na sala PET Mata Atlântica, dispomos de boletins informativos cedidos em sua grande
maioria pelo Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA), que distribuímos para a comunidade
acadêmica da UFRB à medida que nos visitam na sala do PET nos horário dos plantões dos
petianos. Dispomos também de um pequeno e importante acervo bibliográfico de Mata Atlântica ou
temática ambientais, doadas pelas diversas ONG‘s, como o SOS Mata Atlântica e a Conservação
Internacional do Brasil, que podem ser consultados pela comunidade acadêmica. Esse acervo é a
base para criação de nossas propostas de ação e projetos.

Atividades Desenvolvidas

Buscando alcançar estes objetivos o grupo desenvolve atividades baseadas na tríade: ensino,
pesquisa e extensão. Dentre as atividades de extensão desenvolvidas destacam-se o Dia Nacional da
Mata Atlântica, que está na sua segunda edição e a proposta é que seja realizado todos os anos na
data comemorativa da Mata Atlântica (27 de Maio).

1360
Na primeira edição em 2011, o ―Dia da Mata Atlântica no Ano Internacional das Florestas‖,
buscou inserir a Floresta Atlântica no contexto das florestas de forma ampla e abrangente, trazendo
ao debate resultados atuais sobre a degradação e as ações conservacionistas empenhadas para
amenizar a degradação. Este ano, o ―II Dia Nacional da Mata Atlântica no contexto dos Hotspots:
―Pontos Quentes‖ de Biodiversidade‖, proporcionou a discussão da situação em que se encontra o
bioma Mata Atlântica no contexto de hotspots mundial e mais uma vez, por ser a missão primordial
deste projeto, buscou-se fomentar o debate para uma política eficiente e a conscientização dos
participantes quanto a conservação da Mata Atlântica.
A parceria com o GAMBA (Grupo Ambientalista da Bahia) proporcionou ao PET Mata
Atlântica o envolvimento em mais um projeto conservacionista, o SERMATA (Seminário Regional
de Ações Conservacionistas do Recôncavo Sul), realizado no dia 19 de novembro de 2011, fazendo
parte do projeto ―Ações Ambientais Sustentáveis no Recôncavo Sul Baiano‖, que por meio de ações
ambientais sustentáveis beneficiará diretamente cerca de 6.000 pessoas. A realização deste trabalho
dá continuidade às ações de recuperação de áreas degradadas da Mata Atlântica e busca contribuir
para influenciar mudanças de atitudes das comunidades locais, da sociedade civil organizada e do
poder público da região, quanto à conservação dos sistemas ambientais e a sobrevivência destas
comunidades.
Estes eventos que trazem como temática primordial as ações de conservação, envolvem a
sociedade como sua principal aliada. O intuito dos eventos desenvolvidos pelo grupo é promover a
disseminação da informação, a partir de consórcio do conhecimento acadêmico com o potencial de
mudança que a sociedade tem, mas que muitas vezes desconhece. Por isso é tão importante alertar,
educar e fomentar debates com estes princípios. Apenas a sociedade é capaz de transformar o
impacto de décadas causado a Mata atlântica.
A atividade de pesquisa em destaque que o grupo está implantando na UFRB é uma
Experiência em Reflorestamento com espécies Nativas da Mata Atlântica, denominado ―Talhão
Memoria‖. A proposta é daqui a alguns anos estabelecer um fragmento de Mata Atlântica, dentro de
uma área totalmente impactada por ações antrópicas. Fazendo com que essa área sirva de referencia
para estudos comparativos em sistemas de manejo de produção agrícola. Sendo que nessa área os
petianos tiveram e estão tendo contato direto com diversos áreas do conhecimento como:
Georreferenciamento, Identificação Taxonômica, Restauração Ambiental, bem como controle de
espécies daninhas e avaliação da progressão da área a ser reflorestada. Podendo ainda esse hectare
ser contabilizado como área de Reserva Legal do Campus de Cruz das Almas e servir como modelo
a ser implantado em pequenas propriedades rurais como forma de mitigar potenciais impactos
ambientais e o principal recuperar a prestação dos serviços ecossistêmicos.

1361
No ―PET vai a Escola‖ o grupo promoveu uma atividade em uma escola de ensino primário
no município de Casto Alves, localizada no entorno de um fragmento de Mata Atlântica que abriga
a única Unidade de Conservação da Serra da Jibóia, a RPPN Guarirú. Em nossos encontros com os
alunos e professoras da escola, buscamos compreender qual o olhar que esses atores lançam sobre a
Mata Atlântica, ou seja, suas percepções sobre a paisagem faunística e florística na qual estão
inseridos. O grupo realizou com as crianças um teatro com bonecos de pano para entretenimento a
partir da temática da educação ambiental, foi proposto que as crianças fizessem desenhos para
expressar os animais que eles já viram na mata, e as paisagens que elas mais se identificam, nestas
atividades com as crianças pode-se perceber o quanto elas se sentam parte da natureza e a forma
como elas veem o processo da degradação ambiental da Mata Atlântica, que ocorre no entorno de
onde elas moram e estudam. Na segunda etapa de atividades no ―PET vai a Escola‖ em andamento
estamos construindo uma proposta de material didático complementar, em parceria com as
professoras da escola a ser distribuído e utilizado nas escolas da região da Serra da Jibóia.
Com o intuito de facilitar nossas pesquisas e sistematizar todas as formas de literatura
produzidas sobre a Mata Atlântica, foi criado em encontra-se em fase de alimentação, um banco de
dados sobre a Mata Atlântica em ambiente Microsoft Access. O objetivo desta ação é organizar a
bibliografia a cerca da temática (legislação, artigos, livros, manuais). Esta bibliografia será
disponibilizada aos petianos e aos estudantes da UFRB que tiverem interesse no campo de estudo.
O banco de dados até o momento, possui cerca de 150 trabalhos. A partir de sua consolidação
estudaremos uma forma de disponibiliza-lo na rede virtual, para que possa atingir um público bem
mais amplo, proporcionando a disseminação da informação a nível exponencial.
Uma visita técnica denominada: ―Conhecendo a Mata Atlântica e seus Habitantes‖,foi
realizada em área de restinga e mangue (ecossistemas associados) e em dois fragmentos florestais
da Mata Atlântica. Essa atividade teve por objetivo possibilitar aos participantes do grupo e seus
convidados uma percepção real do nosso campo de estudo. Compreender de perto seus aspectos e
características são definidores para a qualidade da pesquisa. Por sermos um PET com esta temática,
não existe outra forma melhor de aprender sobre nosso campo de interesse do que presencialmente,
esta é sem dúvida a melhor estratégia de aprendizado.

Meios de Comunicação

Buscando veicular as informações pertinentes a Mata Atlântica e as atividades realizadas


pelo grupo foram criados meios eletrônicos, um mural e os jornais do PET com a identidade do
grupo para divulgar estas informações.

1362
O mural é dinâmico e informativo, localizado em um dos pavilhões de aulas da UFRB, ao
lado da sala destinada ao funcionamento do grupo. Ele foi dividido em tem três sessões: na primeira
seção tem uma descrição do grupo, sua missão e seus objetivos, na segunda seção um calendário
das principais datas ambientais comemorativas, e na terceira trabalhamos com uma temática que é
variável, a depender do período do ano e da abordagem de questões pertinentes, como a divulgação
de eventos, notícias sobre a Mata Atlântica ou temas ambientais e questões atuais da sociedade e da
Universidade.
O Jornal da Mata é mais um meio informativo que ainda se encontra em fase de
diagramação do primeiro número. Será trabalhado no jornal, temas diretamente ligados a Mata
Atlântica e a questões ambientais, além de informações sobre o Programa de Educação Tutorial e
das atividades desenvolvidas pelo grupo. O objetivo dessa atividade é promover maior integração
entre PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento e a comunidade acadêmica da UFRB e
de outros ambientes do qual o PET esteja participando.
No meio eletrônico o grupo criou um site oficial do PET, dentro do domínio da
universidade: www.ufrb.edu.br/petmataatlantica, onde divulgamos o grupo PET, os petianos e
nossas atividades. Foi criado também um blog no intuito de ser um veículo mais dinâmico e mais
interativo para os internautas: www.deolhonamataatlantica.blospot.com, nele divulgamos
informações e referências de livros, cartilhas, artigos e textos acerca da Mata Atlântica, não se
restringindo as notícias do PET. Desta forma o blog funciona como um indicativo de acervo
bibliográfico da temática, onde os links de arquivos ligados a temática estarão disponíveis para
download.

Considerações Finais

Através da tríade fundamental entre ensino, pesquisa e extensão, o Programa de Educação


Tutorial transforma os participantes em alunos diferenciados, além de cidadãos críticos e
formadores de opinião, os quais agem como multiplicadores de conhecimento dentro do âmbito
acadêmico e na sociedade.
O PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento atendeu mais de 780 estudantes da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, de diferentes formações de toda a região do
Recôncavo Sul Baiano, com cursos voltados à conservação do bioma e formação pessoal como:
relações humanas: aprendendo a trabalhar em grupo; práticas educacionais; manejo e alimentação
de animais silvestres; conhecendo o novo código florestal; solos da Mata Atlântica; etnozoologia;
conhecendo a vegetação da Mata Atlântica; mastozoologia; restauração de áreas degradadas;
florística da Mata Atlântica; coleta e conservação de sementes de árvores da Mata Atlântica e

1363
Economia verde. Grupos de discussão e trabalho também foram fomentados e tiveram a
participação do Grupo Ambientalista da Bahia como: adequação ambiental; leis da mata atlântica;
uso sustentável dos recursos naturais; economia solidária e agroecologia no Recôncavo; educação
ambiental na formação crítica e conservação dos recursos hídricos. Todas essas atividades contam
com parceiros valorosos que atuam como docentes em nossa Instituição, e que participam de nossos
eventos e ações de forma voluntária, bem com docentes de outras IES como a Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Universidade
Federal de Viçosa (UFV). Além de organizações do terceiro setor como o Grupo Ambientalista da
Bahia, SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional do Brasil. O convívio dos participantes de
nossas ações com diferentes profissionais gabaritados, pode influenciar suas decisões profissionais.
Os participantes do grupo Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento possuem uma
formação diferenciada, devido à vivência com as diversas experiências executadas pelo grupo. Essa
multiplicidade de funções desempenhada pelos participantes do grupo faz com que os mesmos
desenvolvem um senso de responsabilidade profissional, além de desenvoltura para resolver
problemas de forma coletiva e saber dividir seu tempo entre os estudos e sua formação/atuação
diferenciada. Devido a necessidade da manutenção de um escore elevado, os participantes se
transformam em estudantes de excelência com desempenho diferenciado em pesquisas, prática de
ensino e extensão. Isso os capacita como agentes transformadores da sociedade com foco no
Recôncavo Baiano, dividindo o conhecimento com os demais colegas de graduação e toda região. O
PET Mata Atlântica: Conservação e Desenvolvimento com apenas dois anos conseguiu
proporcionar mudanças na Universidade, incentivos na região e crescimento na vida dos seus
participantes diretos e indiretos, dentro e fora dos limites da Universidade e tem como perspectiva
que todos as ações continuem e sejam multiplicadas, em prol da conservação da Mata Atlântica,
objetivo fundamental da criação do grupo.

Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conexões de Saberes. Disponível em:


<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12360&Itemid=714>.
Acesso em: 19 out. 2012.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Programa de Educação Tutorial. Disponível em:


<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12360&Itemid=714>.
Acesso em: 19 out. 2012.

BRASIL. Lei nº 11.180, de 13 de setembro de 2005. Institui o Projeto Escola de Fábrica, autoriza a
concessão de bolsas de permanência a estudantes beneficiários do Programa Universidade para

1364
Todos – PROUNI, institui o Programa de Educação Tutorial – PET, altera a Lei no5.537, de 21 de
novembro de 1968, e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
no5.452, de 1o de maio de 1943, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13
set. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/L11180.htm>.
Acesso em: 28 set. 2012.

BRASIL. Lei nº 11.151 de 29 de julho de 2005. Dispõe sobre criação da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia – UFRB, por desmembramento da Universidade Federal da Bahia – UFBA, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 jul. 2005. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11151.htm>. Acesso em: 28 set.
2012.

CASTRO, C. M. O PET visto por seu criador. Disponível em:


<http://www.fisica.ufpb.br/~pet/Outros/O%20PET%20visto%20por%20seu%20criador.pdf>
Acesso em: 10 out. 2012.

1365
PLANEJAMENTO E AÇÕES AMBIENTAIS NO PARQUE ESTADUAL MARINHO DE AREIA
VERMELHA, CABEDELO, PB

Juan Diego Silva LOURENÇO (DB/UEPB) – lourenco.cbio@gmail.com


José Jailson de FARIAS (CEM/UEPB) – zafari@ig.com.br
Christinne Costa ELOY (IFPB/Cabedelo) – christinne.eloy@gmail.com

Resumo

O Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha (PEMAV) é um dos pontos turísticos mais visitados
na região metropolitana de João Pessoa-PB e, embora tendo sido criado a mais de uma década,
necessita da efetivação de um plano de manejo adequado à atividade turística. Como suporte ao
plano emergencial de manejo da Unidade de Conservação, a Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB) desenvolveu o projeto de extensão ―Educação e preservação ambiental no PEMAV‖,
executado com a Sudema-PB, e tendo como parceiros e colaboradores o IFPB, Secretaria de Pesca e
Meio Ambiente de Cabedelo e associação Guajiru que, de forma conjunta, realizaram ações de
educação ambiental com informação e orientação sobre normas para visitação do Parque. Foram
elaborados vários materiais educativos divulgados em folders, banners e mídia de comunicação
local contendo as normas de conduta consciente e um mapa de visitação, que foram essenciais na
sensibilização dos atores envolvidos e implantação de práticas de manejo sustentáveis para o
parque. Como forma de ordenamento, agentes ambientais foram treinados e atuaram na orientação
dos visitantes desde os pontos de embarque, nas embarcações e na ilha propriamente dita. O
resultado das ações demonstrou a importância da educação ambiental no parque, uma vez que 98%
dos visitantes indicam a visita e pretendem retornar à ilha e mais de 40% deles já visitaram o parque
mais de uma vez. Por se tratar de uma área com prioridade de preservação para os recifes de corais,
as ações desenvolvidas foram essenciais para a orientação de um plano de manejo que deve estar
adequado ao desenvolvimento econômico e socioambiental, integrando a comunidade no sentido de
desenvolver um turismo ecologicamente correto e sustentável.

Palavras-chave: Educação ambiental; Unidade de Conservação Marinha; Turismo sustentável.

Abstract

The Marine State Park of the Areia Vermelha (PEMAV) is the most visited tourist sites in the
metropolitan area of João Pessoa and although having been created over a decade requires the
execution of a management plan suited to tourism. How to support emergency management plan of
the Conservation Unit, the State University of Paraiba (UEPB) developed extension project
―Education and environmental preservation in PEMAV‖, performed with the Sudema/PB and
having as partners and collaborators to IFPB, Bureal of Fisheries and Environment of Cabedelo and
Association Guajiru which jointly conducted environmental education with information and
guidance on rules for visiting the Park. Were developed several educational materials published in
folders, banners and media communication site containing the rules of conduct conscious and map
of visitation, which were instrumental in sensitizing stakeholders and implementation of sustainable
management practices for the park. As a way of planning, environmental agents have been trained

1366
and worked in guiding visitors from points of embarkation, in boats and on the island itself. The
result of the actions demonstrated the importance of environmental education in the park, since 98%
of show visitors to visit and plan to return to the island and more them 40% of them have visited the
park more than once. Since this is an area of priority for the preservation of coral reefs, the actions
taken were essential for the guidance of a management plan that must be adequate to economic
development and environmental integrating the community to develop a tourism greener and
sustainable.

Key-words:Environmental Education; Marine Protect Areas; Sustainable tourism.

INTRODUÇÃO

De fato, as Unidades de Conservação (UC‘s) são tidas como as melhores áreas protegidas
para conservação in sito de espécies, populações e de ecossistemas num pensamento logístico. Estas
por sua estão distribuídas por todo o litoral e abrangem quase todas as ilhas oceânicas do Brasil
segundo Prates & Pereira (2000), desempenhando assim importantes serviços ambientais para a
sociedade.
O Brasil, através da promoção do Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) em
2000, estabeleceu uma significativa expansão da superfície destas áreas protegidas, sendo
responsável por 74% de todas as áreas protegidas criadas entre 2003 e 2008 no mundo (Jenkins &
Joppa, 2009) fazendo com que o país atingisse as metas estabelecidas na 7ª Conferência das Partes
da Convenção da Diversidade Biológica. Atualmente o Brasil possui 1.771 Unidades de
Conservação distribuídas nas categorias de Proteção Integral e de Uso Sustentável, sobre as esferas:
municipal, estadual e federal (MMA, 2012).
Os ambientes recifais estão distribuídos por cerca de 3.000 quilômetros ao longo da costa
brasileira e de acordo com Ferreira et al. (2006) apresentam suas formações mais representativas no
litoral do nordeste. Reaka-Kluda (1997) considera os ambientes recifais, juntamente com as
florestas tropicais, como sendo uma das mais diversas comunidades naturais do planeta. Estes
ambientes fornecem uma variedade de bens e serviços à humanidade, destacando-se: a proteção do
litoral contra a ação das ondas, potencialidade para a descoberta de compostos medicinais, berçários
para espécies marinhas e benefícios provenientes do uso recreativo e turístico dentre outros
(Moberg & Folke, 1999). Os mesmo autores comentam ainda que a maior parte dos bens e serviços
provindos por esses ambientes é dependente de inter-relações dinâmicas e complexas entre redes de
espécies dentro e entre ecossistemas.
A Paraíba abriga ao longo da sua região costeira apenas uma Unidade de Conservação
estritamente marinha, o Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha, historicamente famoso por
ser um dos principais roteiros turísticos da região. Branner (1904) relata que moradores locais e os

1367
habitantes de cidades vizinhas extraiam grandes quantidades de corais para a produção de cal e que
estas ações foram responsáveis pela pobre fauna de corais encontrada no Parque, que só veio a se
tornar área protegida a partir do Decreto Estadual de n° 21.263 de 28 de agosto de 2000. Neste
contexto, este trabalho objetivou-se em promover ações de educação ambiental junto aos diversos
atores envolvidos direta e indiretamente com o Parque, como forma de sensibilizá-los para uma
prática de turismo sustentável.

MATERIAIS E MÉTODOS

Localização e caracterização da área


O PEMAV (07°00‘37.31‖ S e 34°49‘01.36‖ O) encontra-se localizado no município de
Cabedelo a aproximadamente 800 metros da praia de Camboinha. Possui uma extensão de 3,4 km
no sentido Norte-Sul e perfaz uma área de 230,91 hectares, que durante as marés mais baixas exibe
seus bancos de areia e piscinas naturais (Figura 1).

Figura 1. PEMAV: banco de areia à esquerda e piscinas naturais à direita. Foto: Juan Lourenço.

Planejamento das ações

O Projeto de Educação Ambiental no Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha


(PEMAV), sob iniciativa do Prof. Jailson Farias, juntou-se com outros projetos da mesma linha
temática e formou o Programa de Educação Ambiental no Campus V, da Universidade Estadual da
Paraíba, o qual foi vinculado a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. O órgão gestor
do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha, a Superintendência de Administração do Meio
Ambiente (Sudema/PB) aprovou o projeto e o inseriu ao Projeto Conduta Consciente no Parque
Estadual Marinho de Areia Vermelha, como meta para ações de sensibilização ambiental e turismo
sustentável no parque.

1368
Para ganhar mais força e melhorar a viabilidade das ações de implantação e suporte, o
projeto contou também com a parceria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Paraíba – IFPB, que desenvolveu juntamente com a UEPB, as ações ambientais através de
coordenadores e agentes ambientais. O projeto também contou com o apoio da Prefeitura Municipal
de Cabedelo através da Secretaria de Pesca e Meio Ambiente, a Associação Guajiru: Ciência-
Educação-Meio Ambiente, através do Projeto Tartarugas Urbanas e o próprio órgão gestor do
parque.
Para desenvolver a proposta de zoneamento do PEMAV, a equipe, fez várias visitas ao
parque, observando a rotina de visitação já estabelecida no local. Foram entrevistados comerciantes,
policiais ambientais, donos de embarcações, turistas, sendo a participação de todos fundamental
para o direcionamento do zoneamento.
Com o intuito de capacitar os agentes ambientais que participariam das ações na ilha foi
promovido pelas instituições de ensino e a Coordenadorias de Educação Ambiental da Sudema um
curso de formação que contemplou em seu currículo as normas de conduta estabelecidas para o
parque, educação ambiental e biodiversidade em ambientais recifais, além de técnicas de canoagem
(Figura 2).

Figura 2. Curso de capacitação para os agentes ambientais (A e B - Aulas teórica e prática; C e D –


Aula de canoagem).
Execução das ações

As ações educativas ocorreram no verão, entre dezembro e fevereiro de 2012, nos dias em
que a maré encontrava-se igual ou inferior a 0,5 metros, com duas equipes, uma de mar e outra de

1369
terra, ambas acompanhadas por um coordenador. As duas equipes ficavam encarregadas de prestar
informações ao público sobre as normas de visitação do parque durante o translado nos catamarãs
cadastrados à visitação no parque. A equipe terra ficou responsável pela fixação e monitoramento
dos banners nas áreas de embarque, bem como a prestação de informações. Já a equipe mar
monitorava as áreas intangíveis do parque prestando informações e tirando dúvidas com o público e
com auxílio de caiaques também monitoravam as áreas de fundeio das embarcações informando
sobre a proposta de zoneamento.

Resultados e Discussão

A elaboração da proposta de zoneamento do PEMAV foi uma etapa fundamental para todo o
processo de sensibilização que se seguiu. Como resultado desta proposta foram elaborados, junto
com os parceiros do projeto, materiais de sinalização e informativos com a proposta para
zoneamento emergencial (Figura 3). Foi elaborado um folder bilíngue com orientações básicas
sobre as normas de conduta do parque e um mapa de visitação. O parque foi subdividido em áreas
prioritárias para conservação da biodiversidade, áreas seguras para banhista, área de fundeio de
embarcações e os pontos de embarque para visitantes. Também foram identificados no folder os
agentes ambientais e a polícia ambiental, presenças fundamentais na orientação e fiscalização do
Parque.

Figura 3. A - normas de conduta; B - mapa de visitação; C - folder com as normas de


conduta e mapa de visitação; D - boias de sinalização; E - placa de sinalização; F -
banner com mapa de informação. Fotos: A e B – Sudema; C, D, E e F - Juan Lourenço.

1370
Estas medidas visaram um ordenamento temporário, uma vez que o Parque trata-se de
unidade de conservação de proteção integral e ainda não possui seu plano de gestão, mesmo tendo
sido criado há mais de uma década. Outros autores, como Lourenço (2010), Gondim et al. (2011) e
Costa et al. (2007) já enfatizaram a necessidade de ser ter um plano de gestão efetivo como medida
mais eficaz para preservação da biodiversidade do parque, diante do grande fluxo de turismo não
ordenado.
O treinamento dos agentes ambientais tornou-os aptos a prestar as informações necessárias
aos visitantes e sua ação provou ser uma forma eficaz de divulgação das normas de conduta. As
entrevistas realizadas antes e depois da ação dos agentes na ilha demonstraram uma maior
efetividade da divulgação das normas depois da ação, onde tínhamos apenas cerca de 10% dos
visitantes com informações sobre as normas de conduta na Unidade de Conservação antes da ação
dos agentes, chegando a 87% de visitantes informados durante o período de ação.
De todos os entrevistados durante a pesquisa, 98% disseram indicar o passeio para outras
pessoas. Destes, 58% estavam visitando o parque pela primeira vez, enquanto os 42% restantes
estavam retornando à unidade de conservação, o que reforça a necessidade e efetividade de
trabalhar a educação ambiental no local, uma vez que o parque apresenta um alto número de
visitantes frequentes que podem ser sensibilizados para, inclusive, serem multiplicadores das
normas de conduta.
A divulgação dos materiais informativos atingiu de forma efetiva a região metropolitana da
grande João Pessoa, uma vez que através de vários meios de comunicação tentou-se sensibilizar a
comunidade no que cerne ao turismo sustentável, desenvolvendo ações ecológicas educativas de
responsabilidade coletiva amenizando os impactos ambientais providos pela visitação. Estas
medidas tiveram também como resultado o estabelecimento de uma integração entre os atores
envolvidos no PEMAV que participaram efetivamente, colaborando para consolidar uma conduta
consciente.
As entrevistas realizadas antes da ação dos agentes mostraram que o foco do turista na
visitação estava, em sua maioria, direcionado para o turismo e a infraestrutura local. Quando
questionados sobre qual seria a importância de preservar aquele ambiente, a maioria dos turistas
(54%) respondeu ser importante para o turismo, para manter o ambiente limpo e para que ele
mesmo pudesse voltar outras vezes. Depois do processo educativo realizado no parque e a
divulgação da importância das normas de conduta para uma visitação segura e sustentável, houve
uma sensível mudança nas respostas dadas pelos visitantes. A maioria apontou como importante
para a preservação do ambiente para as futuras gerações (46%) e a conservação da biodiversidade

1371
marinha (30%). O foco exclusivamente na manutenção do turismo ficou em 22%, revelando uma
maior preocupação com a conservação do ambiente (Figura 4).

Figura 4. Importância da preservação do PEMAV segundo os visitantes entrevistados durante o


período de ação dos agentes ambientais no Projeto de Educação Ambiental no PEMAV 2011/2012.

A utilização dos agentes como educadores ambientais no parque funcionou como uma
excelente ferramenta no processo de divulgação das normas de conduta bem como nas ações de
extensão e ensino. Estes extensionistas também conseguiram estabelecer juntamente com as práticas
turísticas no parque a sensibilização para preservação pelos visitantes.
O mapa de visitação disponível nos materiais informativos teve grande valia na execução do
projeto, uma vez que as proposições sugeridas abrangeram tanto a preservação da unidade de
conservação, quanto a integridade física dos visitantes.
Sendo assim, o planejamento e as ações executadas no PEMAV durante a primeira fase do
projeto conseguiram levantar informações importantes que irão servir de subsídio para a elaboração
do plano de manejo, essencial e necessário para a conservação da biodiversidade no parque.

REFERENCIAS

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1373
DESENVOLVENDO A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO
PESSOA ATRAVÉS DO PROJETO ―O FUTURO VISITA O PASSADO‖ 

Jullyane SATURNINO, UFPB,jullyanesaturnino@hotmail.com


Estudante da Graduação

Lindomar BARBOSA, UFPB, Lindinha19_00@hotmail.com


Estudante da Graduação

RESUMO

Este trabalho explora os caminhos percorridos pela educação patrimonial trabalhada nas escolas
públicas municipais da cidade de João Pessoa, na Paraíba, através do projeto ―O futuro visita o
passado‖. O projeto trabalha com crianças e procura estabelecer um elo entre elas e o patrimônio da
cidade, propondo recordar as memórias e associar os monumentos a acontecimentos importantes
para a história da sua cidade, fazendo com que elas se sintam inseridas neste processo e agentes
importantes na preservação e salvaguarda do patrimônio histórico e cultural sejam eles materiais ou
imateriais. A aula de campo também se constitui em uma importante ferramenta, sendo fundamental
para o desenvolvimento do projeto, pois possibilita ao aluno conhecer através dos seus próprios
sentidos, ao observar e estar presente, de certa forma vivenciando a história da cidade por meio de
suas construções antigas. É de suma importância trabalhar estas questões ainda no Ensino
Fundamental, para que consigamos forma cidadãos conscientes e preocupados com a manutenção
do patrimônio da cidade, reconhecendo o seu valor histórico, artístico e cultural.

Palavras-chaves: Educação Patrimonial; Cultura; Ensino; Pertencimento.

Abstract

This article explores the paths of heritage education worked in the public schools of the city of João
Pessoa, Paraíba, through the project "The future visit the past." The project works with children and
seeks to establish a link between them and the city property, offering associate recall the memories
and the monuments to important events in the history of their city, making them feel included in the
process and important actors in preserving and safeguarding of cultural heritage and whether
tangible or intangible. The class field also constitutes an important tool, being fundamental to the


Orientado por Marcelo de Oliveira Moura (Universidade Federal da Paraíba)

1374
development of the project, as it allows students to learn through their own senses, to observe and
be present in some way experiencing the city's history through its buildings old. It is extremely
important to work these issues still in elementary school, so that we can shape and conscientious
citizens concerned with the maintenance of city property, recognizing their historical value, artistic
and cultural.

Keywords: Heritage Education, Culture, Belonging.

Introdução

A nossa proposta neste trabalho foi discutir acerca das formas de trabalhar a educação
patrimonial nas escolas, especialmente com alunos do Ensino Fundamental. Para tanto utilizamos
como ferramenta para sua construção, a experiência do projeto ―O futuro visita o passado‖,
desenvolvido nas escolas municipais de João Pessoa.
Fundamentando-se nesta experiência, o trabalho foi desenvolvido numa primeira parte
dedicada a tratar do processo de aprendizagem, do desenvolvimento do aluno na escola e da
educação patrimonial e sua importância em resgatar valores e realizar uma aproximação entre os
alunos e a cidade onde eles vivem, procurando restabelecer os laços de pertencimento com o lugar
do qual fazem parte.
Trabalhando o conceito de ―conhecer para preservar‖, em seguida mostra o trabalho
desenvolvido pelo projeto ―O futuro visita o passado‖ e como se dá a aplicação do mesmo junto às
escolas da rede municipal da cidade de João Pessoa. A importância da aula de campo como
ferramenta metodológica para melhor desenvolvimento do aprendizado e maior interação do aluno
com a realidade em que vive também será tratada no decorrer do trabalho.

Ensino, Educação Patrimonial e a Valorização do Pertencimento ao Lugar

A partir do memento em que nasce o homem começa a desenvolver sua capacidade de


aprendizado, até as pequenas atividades do dia-dia do ser humano são aprendidas no convívio social
deste indivíduo, seja com a família ou com a sociedade como um todo. Ou seja, o homem é
naturalmente um ser social e sua formação se dá sob forte influência do meio em que vive. A
formação do homem acontece de maneira contínua, tendo em vista que tudo que ele vive, todos os
sentimentos que tem, bem como as outras pessoas e os ambientes por onde passa, exercem, de
alguma forma, algum tipo de influência em sua vida. Portanto, o processo de aprendizagem e
desenvolvimento do homem nunca acaba.

1375
O homem, enquanto ser social e em constante transformação, carrega consigo tudo o que ele
viveu e a influência de todas as relações travadas por ele. O indivíduo, ao mesmo tempo em que é
formado pela realidade em que vive, vai construindo sua própria identidade calcada nesta realidade.
A sociedade ou o convívio social em geral desempenha um papel de formador do homem e de sua
história. Pois, durante todas as etapas de sua vida, todas as atividades de qualquer tipo, em qualquer
instância e em qualquer lugar, que ele venha realizar, certamente são frutos de seu conhecimento
construído através da sua vivência e das relações por ele estabelecidas. Dentro desta perspectiva o
processo de educacão efetiva na formação social do homem.
Atualmente, podemos perceber que em grade parte das salas de aula de Educação Básica no
nosso país, as atividades propostas pelos professores visam apenas fixar o conteúdo através de
técnicas, como por exemplo a de copiar os assuntos do quadro e/ou livro didático, que não
desenvolvem a capacidade intelectual dos alunos nem tampouco ajudam na sua formação como
cidadãos de uma forma efetiva, e também demonstram a falta de comprometimento dos professores
que são pouco estimulados dentro de sistema educacional do país.
Ao colocar a escola na dimensão da formação do homem pela ação social, valorizando o
desenvolvimento de atividades que estimulem a formação do aluno enquanto cidadão pertencente e
atuante na sua cidade. A sala de aula é, sem dúvida, o ambiente mais importante para o
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem entre aluno e professor, pois, este processo é
sempre uma troca, nas palavras de Paulo Freire, ―ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo‖. Logo, entende-se que a
experiência extra classe tem um papel fundamental no desenvolvimento do aprendizado do aluno e,
portanto, na sua formação como cidadão. Pois, desta forma, o aluno pode na prática sentir-se
inserido neste mundo. Tais atividades tanto melhoram o desempenho dos alunos em seus estudos
quanto na sua vida.
Neste caso, tratamos da educação patrimonial desenvolvida nas escolas. Para o IPHAN, toda
vez que as pessoas se reúnem para construir e dividir novos conhecimentos, investigam pra
conhecer melhor, entender e transformar a realidade que nos cerca, estamos falando de uma ação
educativa. Quando fazemos tudo isso levando em conta alguma coisa que tenha relação ao com
nosso patrimônio cultural, então estamos falando de Educação Patrimonial.
O patrimônio cultural não diz respeito apenas a imóveis isolados como igrejas, casarões
antigos e etc., considera-se também patrimônio cultural Os patrimônios culturais materiais são
protegidos através do tombamento, que é um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o
objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico,
cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que

1376
venham a ser destruídos ou descaracterizados. Segundo o IPHAN, Eles estão divididos em bens
imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis
como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos,
videográficos, fotográficos e cinematográficos. Já o patrimônio cultural imaterial é definido pela
UNESCO como "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os
grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural." O patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração.
O papel da educação patrimonial neste sentido é de conhecer para preservar e preservar para
que as futuras gerações também possam conhecer, ou seja, não é apenas preservar por preservar,
saber o que se preserva saber que é parte da história e se sentir parte disso.

O Projeto ―O Futuro visita o Passado‖

―O futuro visita o passado‖ é um projeto de educação patrimonial nas escolas municipais


coordenado e desenvolvido pela Secretaria de Educação e Cultura (SEDEC) como uma ação
integrada ao Programa de Educação Patrimonial ―João Pessoa, Minha Cidade‖, uma parceira do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da Prefeitura Municipal de João
Pessoa. O projeto é de âmbito interdisciplinar e, de acordo com uma parceria firmada entre a PMJP
e a Universidade Federal da Paraíba, os estagiários responsáveis pelo desenvolvimento do projeto
nas escolas municipais são alunos desta Instituição, abrangendo os cursos de Artes, Geografia,
História e Turismo. Os estagiários passam por processo seletivo e em seguida por um treinamento
para capacitá-los para trabalharem em todas as etapas do projeto nas escolas. Nas escolas, o projeto
é composto por três etapas diferentes, realizadas em dias diferentes, são elas: a sensibilização, a aula
de campo e o retorno para avaliação.
A sensibilização consiste em estabelecer um primeiro contato com os alunos trabalhando em
sala de aula o que é a educação patrimonial e introduzir conceitos básicos a serem trabalhados
durante todo o processo (FOTO 1). Trabalham-se os conceitos de cultura, memória,identidade e
patrimônio. O Compreende-se como CULTURA todo complexo que inclui conhecimentos, crenças,
arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade de hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade. Cultura também pode ser entendida como padrões de comportamento
transmitidos socialmente. A MEMÓRIA está atrelada à construção de sua identidade. Ela é o
resultado de um trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de
unidade, de continuidade e de experiência, isto é, de identidade. IDENTIDADE é o termo utilizado

1377
para definir o sentimento de um individuo ou grupo em pertencer a uma determinada região, prática
social, ideia e/ou sistema de valores. PATRIMÔNIO CULTURAL são considerados os
monumentos e bens históricos, registros arqueológicos e paleontológicos, paisagens naturais, festas
tradicionais, manifestações culturais, artesanato e tantas outras expressões que se revestem de
importância para a memória e identidade de um povo. Os monitores estagiários tentam estabelecer
um elo entre estes conceitos e a realidade dos alunos, que se encontram no 3º, 4º e 5º anos do
Ensino Fundamental, numa faixa etária de 8 a 14 anos. Isso é feito tentando interagir ao máximo
com os alunos, fazendo com que eles se sintam inseridos no processo, através de dinâmicas.
Enquanto conversam e tentam saber um pouco mais sobre a vivência dos alunos em seu bairro e na
cidade (centro histórico), os monitores lêem os conceitos que os próprios alunos construíram e
explicam a importância de conhecer sua cidade para despertar nos alunos o sentimento de
pertencimento a mesma. Introduzidos estes conceitos, são dados os avisos pertinentes a realização
da segunda etapa do projeto, que é a aula de campo, a ser realizada em data posterior com as
devidas autorizações dos responsáveis pelos alunos e medidas a serem tomadas pela escola.

1 SENSIBILIZAÇÃO FOTO: Laciene Karoline em 17/05/2012

Na aula de campo, os alunos vão ao Centro Histórico de João Pessoa nos ônibus
disponibilizados pela PMJP, acompanhados dos monitores do projeto e supervisionados por
funcionários da escola, percorrendo tanto a Cidade Alta quanto a Cidade Baixa, parando em pontos
pré-determinados para observação e aprendizado.
Na Cidade Alta, o percurso se inicia na Praça Dom Adauto, visitando-se o Complexo
Carmelita (Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Capela de Santa Thereza D‘Ávila e Arquidiocese da

1378
Paraíba (antigo convento das carmelitas), além de conhecerem o Casarão dos Azulejos e o Casarão
34. Em seguida, seguem para o Complexo Franciscano e posteriormente, para a Catedral Basílica de
Nossa Senhora das Neves, observando o ponto onde a cidade se iniciou. O Complexo beneditino
fecha o circuito da cidade alta. Há uma pausa para o lanche na metade do percurso descrito acima.
Na cidade baixa o percurso se inicia na Praça Antenor Navarro, observando os casarões
antigos e em seguida visita-se o Largo de São Pedro e a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves. Por
último, os alunos visitam o Hotel Globo, de onde podem observar o antigo comércio e o Rio
Sanhauá, onde se começou o desenvolvimento da cidade (FOTO 2).

2 AULA DE CAMPO FOTO: Araly Araújo 02/08/2012

Algum tempo após a realização da aula de campo, os monitores retornam à escola para uma
terceira e última etapa do projeto, que visa ter um feedback do que foi desenvolvido na
sensibilização e na aula de campo. Nesta etapa é aplicado um questionário junto aos alunos e com
os professores, bem como a confecção de desenhos pelos alunos. Com isso, pode-se saber se o
objetivo do projeto foi alcançado e possíveis melhorias a serem feitas.
Portanto, o projeto surge como uma ferramenta metodológica diferenciada que torna o
aprendizado acerca do tema mais dinâmico e envolve os alunos, valorizando os laços de
pertencimento com a cidade. O apoio das escolas é muito importante para a continuidade do
processo, fortalecendo o que foi construí através do projeto e incentivando a formação de um aluno

1379
mais comprometido com a sua cidade e as pessoas que vivem nela hoje, que visitam e, também,
com as gerações futuras, respeitando o patrimônio cultura seja ele material ou imaterial.

Considerações Finais

O patrimônio é o elo entre o passado, o presente e o futuro. A educação patrimonial é tida


como um caminho pedagógico que vai além da sala de aula e leva o aluno a conhecer um mundo
novo. Trabalhar a educação patrimonial é desenvolver a valorização dos laços de pertencimento do
aluno com sua cidade e assim a sua história, representada pelo seu patrimônio cultural. Iniciar este
processo no Ensino Fundamental contribui para a formação de cidadãos conscientes de seu papel na
preservação do patrimônio da cidade para as gerações futuras.
O desenvolvimento do projeto ―O futuro visita o passado‖ tem se mostrado um grande
aliado na preservação no patrimônio cultural da cidade, bem como na formação de um aluno mais
preocupado em proteger a história de sua cidade e com isso, sua própria história.
A preservação do patrimônio cultural de uma cidade também é muito importante para o
desenvolvimento do Turismo. O Turismo Cultural leva o visitante a conhecer a história do lugar e
sua cultura. Sabendo que esta é uma atividade econômica, manter conservado o patrimônio da
cidade para que outras pessoas de outros lugares possam apreciar as riquezas nela presentes.

Referências Bibliográficas

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IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional www.iphan.gov.br Acesso em


15/10/2012

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra

1380
MUNICÍPIO DE GROSSOS-RN: UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA UMA
GESTÃO PARTICIPATIVA

Felipe Vercely Arrais de ANDRADE


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduando do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
felipe_vercely@hotmail.com

Lívia Laiane Barbosa ALVES


Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA
Graduanda do Curso Engenharia Florestal
liviabarbosa17@yahoo.com.br

Melissa Rafaela Costa PIMENTA


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Professora do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
melissarafaela@uern.br/melissa_pimenta2@hotmail.com

Samylle Ruana Marinho de MEDEIROS


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduanda do Curso Bacharelado em Gestão Ambiental
samyllemedeiros@yahoo.com

RESUMO

As potencialidades dos recursos naturais presentes nas áreas litorâneas despertaram o interesse
econômico de diversos setores da sociedade. Sendo assim, há uma relevância de se trabalhar a
gestão participativa no Município de Grossos-RN, já que o mesmo está inserido nesse contexto e
apresenta como principais atividades econômicas a pesca, a agricultura e a exploração do sal
marinho. Atividades estas que possuem uma estreita relação com o ambiente, pois dependem
totalmente da qualidade do meio para tornarem-se viáveis, e também possuem uma forte relação
com as comunidades, considerando que o sustento das mesmas é proveniente delas. Diante disso, o
presente trabalho tem por objetivo propor elementos para um plano de ação que contribua para a
integração e participação da sociedade na gestão do território. A fim de alcançar esse objetivo foi
realizada uma entrevista com o Gerente Executivo da Agricultura do município, e procedimentos
metodológicos de campo e de registro fotográfico da área. A pesquisa identificou que os pescadores
e salineiros artesãos não têm nenhuma forma de organização, seja associação ou conselho, apenas
os agricultores que tem um conselho constituído e um sindicato atuando no município, o plano de
ação proposto ao município contempla as seguintes metas: Elaborar estratégias de comunicação
efetiva, que todas as classes da sociedade participem da gestão e que esta seja igualitária; Pressionar

1381
órgãos públicos; Realizar um manejo adequado dos recursos naturais; Estudar a viabilidade das
propostas do plano de ação; Comprometimento com as ações planejadas. No entanto para o alcance
da gestão participativa a sociedade local tem que passar a assumir uma postura de cooperação, de
solidariedade e de respeito; enfatizando também que para a consolidação da proposta, tanto em seu
aspecto teórico como metodológico, é preciso que haja um posicionamento político sobre a questão.

PALAVRAS-CHAVES: Gestão Ambiental; Desenvolvimento Sustentável; Planejamento;


Comunidades Tradicionais.

ABSTRACT

The natural resources potentialities at the northern coast, aroused the economic interest in many
parts of society. Under these circumstances, there is a relevance on studying the participative
management in the city of Grossos-RN, once it is inserted in this context and presents fishing,
agriculture and sea salt extraction as main economic activities. Therefore, these activities have a
close relation to the environment (because they depend of its quality) and are the base of
local community's livelihood. Due to this, this paper aims to suggest couple improvements in an
action plan for those administrators who care of the land. For this might be possible, the group did
an interview with the city's Chief of Agriculture Affairs and also took pictures of the area. The
research realized that the fishermen and sea salt miners do not have a syndicate, but the
agriculturists have an organized labor union. Accordingly, the goals of the paper were: To make
effective comunication strategies where everyone could join; To pressure government; To do
specific natural resources handling; To study the feasibility of the project; To commit with the plan.
Thus, to see the proposal of a participative management come true, it is indispensable to reconcile
native's cooperation with public power effort.

KEYWORDS: Environmental Management; Sustainable Development; Planning; Traditional


Communities.

INTRODUÇÃO

As potencialidades dos recursos naturais presentes nas áreas litorâneas despertaram o


interesse econômico de diversos setores da sociedade. Com isso, ao longo dos anos vem se
perpetuando um cenário de degradação ambiental dessas áreas, pois os recursos submetidos a um

1382
mau gerenciamento geram conflitos e problemas socioambientais. Tal situação exige uma mudança
de gestão que seja pautada na democracia, na equidade e que tenha por base os princípios da
sustentabilidade.
Sendo assim, a relevância de se trabalhar a gestão participativa no município de Grossos-RN
se faz pertinente em virtude do mesmo apresentar em seu contexto histórico-social uma relação
insustentável na interação entre sociedade e ambiente.
O município estudado está localizado no Estado do Rio Grande do Norte, na Mesorregião
Oeste Potiguar. Situado à margem esquerda do Rio Apodi-Mossoró, foi um território intensamente
disputado em demorado conflito judicial, pelos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. Sua
área era reivindicada pelo Ceará que chegou a transformá-la em vila, daí iniciou-se uma longa
batalha judicial com o Rio Grande do Norte lutando pela localidade. Em 17 de julho de 1920, o
Estado do Rio Grande do Norte venceu a disputa judicial e assumiu definitivamente os direitos
sobre o território de Grossos, que até então fazia parte do município de Areia Branca. No dia 11 de
dezembro de 1953, através da Lei nº 1.025, Grossos desmembrou-se de Areia Branca tornando-se
município do Rio Grande do Norte (IBGE, 2012).
Atualmente, Grossos possui uma população de 9.393 habitantes, conforme o censo realizado
no ano de 2010 (IBGE, 2012). Além de seu perímetro urbano, fazem parte dos limites municipais
sete comunidades, onde quatro encontram-se mais próximas do litoral. As principais atividades
econômicas desenvolvidas no local são a pesca, a agricultura e a exploração do sal marinho, estas
apresentam uma estreita relação com o ambiente, pois dependem totalmente da qualidade do meio
para tornarem-se viáveis, e também uma forte relação com as comunidades, considerando que o
sustento das mesmas é proveniente destas atividades. Surge daí a necessidade de se trabalhar a
sustentabilidade local, que consiste em considerar a quantidade de recursos ambientais que é
extraído da natureza e conciliar com a conservação da mesma de modo que o ambiente e os futuros
moradores não venham a sofrer consequências em virtude do mau uso dos recursos.
Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo propor elementos para um plano de ação
que contribua para a integração e participação da sociedade na gestão do território, pois conforme
Bauman (2000, p.25), ―a participação é a promoção da cidadania, a realização do sujeito histórico, o
instrumento por excelência para a construção do sentido de responsabilidade e de pertencimento a
um grupo, classe, comunidade e local‖.
Contudo, a proposta do plano de ação não tem como finalidade ser aplicado em uma
Unidade de Conservação – UC, já que o município não possui em seu limite territorial uma UC
constituída, no entanto, não se deve descartar a importância que tal instrumento tem na relação que
o próprio município estabelece com o ambiente natural, pois a exploração dos recursos naturais

1383
evidente no local necessita de mecanismos de gerenciamento equitativo, que preze o bem estar de
todos os atores envolvidos na relação sociedade e ambiente.
METODOLOGIA

Para da proposição de um plano de ação para o município de Grossos-RN, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica que nos permitiu um embasamento teórico sobre a questão proposta e
discorrer elementos para a prática e o desenvolvimento de uma gestão participativa no município já
citado.
Foi realizada também uma entrevista, no dia 10 de fevereiro de 2012, com o Gerente
Executivo da Agricultura do Município de Grossos-RN, gerência esta que é vinculada a Secretaria
de Meio Ambiente do município, e que atualmente está atuando nas questões ambientais, já que o
município encontra-se desprovido de secretario (a) de Meio Ambiente, para conhecer a opinião e
atitudes do poder público em relação a gestão participativa, além das obtidas pela pesquisa
bibliográfica, documental e de campo.
Foram realizadas 3 (três) visitas ao campo de estudo, nos dias 8, 9 e 10 de fevereiro de 2012
para realização das atividades e o registro fotográfico da área pesquisada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Leff (2006), a gestão participativa consiste em um processo de interação social que
gera o diálogo entre os diferentes atores sociais envolvidos com a situação na definição do espaço
comum e do destino coletivo, opondo-se, de certa forma, à hierarquia social. Trata-se de uma nova
linha de raciocínio, que rever a maneira de como a sociedade se organiza politicamente e
descentraliza as tomadas de decisão.
Pautado na sustentabilidade, ―o princípio da gestão participativa no manejo dos recursos
ambientais implica a construção de uma racionalidade produtiva fundada nas condições e potenciais
da natureza e da cultura (LEFF, 2006, p. 473)‖, racionalidade esta que Leff chama de ambiental, e
que atua contrária a lógica econômica do mercado – polarizadora e excludente. No processo de
gestão participativa a tomada de decisão é descentralizada, os diversos atores sociais que fazem
parte da convivência local têm voz e vez perante as decisões, em entrevista ao Gerente Executivo da
Agricultura de Grossos foi questionado se este considerava importante à gestão participativa na
tomada de decisão, obtendo-se a seguinte fala:

1384
Claro que sim, vamos partir desse pensamento: quando nós estamos doentes
e vamos ao médico, ele não pode nos ajudar se a gente não conta a ele o que
esta nos incomodando, aí diante do que nós contamos, ele pode nos receitar
o remédio. É assim também numa gestão participativa, se faz necessário
ouvirmos a sociedade, para que juntos possamos diagnosticar seus
problemas e encontrar suas causas, e juntos, governo e sociedade traçar
metas para melhorar a vida do povo. Uma boa gestão se dá quando o
governo tem a humildade de ouvir o seu povo157.

Segundo Dowbor (2001, p. 6) ―as transformações reais são as que se enraízam em termos de
empoderamento, de criação de novas culturas políticas assimiladas pela própria população,
processos frequentemente pouco tangíveis‖. Assim sendo, para que aconteça o progresso na
organização social de um local, é necessário que também ocorra mudanças nas formas das
estruturas políticas que limitam e controlam o poder local.

Aspectos Socioambientais

Com base nos trabalhos elaborados por Medeiros, Gê e Moura (2011), Carvalho (2011) e
visitas a campo, constatou-se a presença de problemas e conflitos socioambientais no município. No
que diz respeito aos problemas ambientais, consideram-se principais: o avanço do mar e a migração
de sedimentos das dunas e faixa de praia sobre as comunidades (FIGURA 01).

Figura 01 – Migração de sedimentos das dunas e faixa de praia sobre a comunidade de


Pernambuquinho, Grossos-RN.

157
Entrevista realizada com Pedro Gomes de Melo, Gerente Executivo da Agricultura do Município de Grossos-RN, no
doa 10 de fevereiro de 2012.

1385
A presença da atividade pecuária no campo de dunas, que descaracteriza a mesma, e o
descaso com o ecossistema manguezal que sofre tanto pela proximidade que existe entre o mesmo e
as indústrias salineiras, quanto pela disposição de resíduos sólidos urbanos (FIGURA 02).

Figura 02: Acúmulo de lixo em área de Manguezal, Grossos/RN.

No entanto, os conflitos conforme Medeiros, Gê e Moura (2011), se estabelecem diante das


relações sociais que se dão em torno de uma luta que um grupo ou indivíduo acredite corresponder
ao seu papel, são os modos de pensar e atuar diferentes que geram a tensão e promovem o conflito.
A comunidade de Pernambuquinho, em Grossos-RN, vivencia conflitos com o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. A colônia de pescadores
residente no local depende exclusivamente da pesca, quando não permitido o desenvolvimento da
atividade em virtude do período de defeso, estes dependem da ajuda de custo advinda do governo,
que por muitas vezes atrasa o pagamento, comprometendo a renda familiar e levando os pescadores
a transgredirem o contrato, pescando também no período de defeso.
Os pescadores não possuem nenhuma forma de organização, nenhuma associação ou
conselho teve sucesso quando criado, as divergências entre os próprios pescadores impossibilitam a
gestão, o que dificulta a solução dos conflitos e a conquista de benefícios para a comunidade.
Além destes, os salineiros artesãos também não possuem uma forma de organização
constituída. Questões como estipular um valor de venda comum para o sal geram muitas discussões,
e por muitas vezes o sal é vendido por preços variados, e nesse contexto uns são mais beneficiados
que outros.

1386
O gerente executivo da agricultura do município, quando questionado sobre quais eram os
maiores obstáculos que existiam na criação de organizações e na participação da população, relatou
que:
―Na minha visão é preciso que nós voltemos a confiar no outro e em nós
mesmos, acreditando que só como sociedade organizada é que poderemos
mudar essa realidade. É chegado o momento de deixarmos o individualismo
de lado e sermos protagonista de uma realidade‖.

A problemática da participação popular na gestão trata-se de uma questão de maturidade


política, somos um país que está começando a desenvolver uma cultura participativa, e a
transformação do nível de consciência sempre leva tempo (DOWBOR, 2008). Mas o cenário
político está mudando em nosso país, por isso,é importante a atenção voltada a instrumentos
concretos de controle social como a criação de uma sociedade civil organizada.

Participação e Formulação do Plano de Ação

Segundo LEFF (2006), faz-se necessária uma maior participação da sociedade em geral nos
processos e nas discussões que permeiam a realidade das mesmas, pois somente elas conhecem a
fundo os locais que habitam e as dinâmicas em que os mesmos estão envolvidos, podendo assim
identificar mais facilmente os problemas e as necessidades de cada local, e, consequentemente,
discutir sobre essas questões e buscar alternativas que visem solucionar possíveis pendências.
No município de Grossos, diferentemente do contexto da classe ligada à pesca e à atividade
salineira, a classe dos agricultores desenvolvem procedimentos de uma gestão participativa, existe
uma associação constituída, conforme a seguinte fala do Gerente Executivo da Agricultura:

―Os agricultores, ou seja, uma grande parte deles estão organizados em


associações comunitárias. Temos o conselho municipal de agricultura,
formado pelos representantes do governo e da sociedade organizada, ou
seja, pelo representante das associações, e o sindicato atuando no
município‖.

Contudo, identifica-se a necessidade da implementação de conselhos e associações às


demais classes trabalhistas, que são os próprios moradores do local, e que conhecem as dificuldades
e realidades do município. Estes estão cobertos de respaldo para discutir políticas públicas com
vistas à melhoria na qualidade de vida. Sendo assim, o primeiro passo ao almejar uma gestão com
base na participação da sociedade é criar um conselho e eleger um líder, seja este comunitário ou
representante da atividade. Em seguida, devem-se estabelecer funções e direcioná-las a

1387
determinados membros. Por fim, o conselho estruturado deve realizar constantes debates, tratando
do interesse comum de todos. O plano de ação é resultante das discussões que se dão no conselho, e
devem constar os elementos apresentados no Quadro 01.

Quadro 01 – Elementos para um Plano de Ação em Grossos-RN (Adaptado)

METAS PROBLEMAS CAUSAS O QUE FAZER? COMO QUANDO QUEM


FAZER? FAZER? FAZER?

Palestras
Comprometime Poucas pessoas A sociedade informativas e
nto com as comprometidas não conhece comparativas;
ações as ações exposições em - - -
planejadas murais

Descaso e falta A falta de Cobrar ações do


Pressionar de apoio do cobrança e de poder público
órgãos públicos poder público mobilização - - -
da sociedade

Distribuição
Realizar um Esgotamento dos de renda Melhorar e
manejo Recursos ineficaz; fiscalizar a
adequado dos Naturais manejo distribuição de
Recursos inadequado renda para a - - -
Naturais dos recursos sociedade
naturais

Viabilidade das Elaboração de Estabelecer Estabelecer ações


propostas do propostas de metas que não e metas possíveis
plano de ação ação inviáveis podem ser de serem
alcançadas alcançadas e - - -
viáveis
Falta de A falta de Realizar reuniões
Estratégias de divulgação sobre interesse e e debates com
comunicação as ações organização frequência - - -
efetiva
Influência
Participação de A priorização social das A forte resistência
todas as classes das classes mais classes mais de grupos
da sociedade de altas frente às altas; conservadores
maneira demais interesses - - -
igualitária políticos ou
pessoais
Fonte: GESTÃO PARTICIPATIVA, 2012.

As metas contidas no plano de ação dizem respeito aos objetivos que o conselho deseja
alcançar, com base nos problemas antes identificados no grupo, pois é baseado na problemática
vivenciada que se estipula as metas. No tocante as causas, estas são os motivos que geram os

1388
problemas. Depois de identificados esses pontos, o conselho decide como vai solucionar o problema
e atingir as metas (Como fazer?), estipula os prazos para o cumprimento destas, se a curto, médio
ou longo prazo (Quando fazer?), e por fim, determina as pessoas responsáveis pelo seu
cumprimento (Quem fazer?).
O Quadro 01 é apenas um modelo de como o plano de ação pode ser estruturado, os
questionamentos de como fazer, quando fazer e quem fazer não foram comentados, considerando
que estes são pontos que cabem somente ao conselho discutir e deliberar. Deve-se considerar
também que outras metas podem e devem ser inseridas, cada grupo social sabe de suas necessidades
e desejos, e consequentemente conhece o melhor caminho a percorrer.

CONCLUSÃO

Ao tratarmos da questão de planos de ação e analisarmos o quadro do município de Grossos-


RN, exposto e discutido durante este trabalho, a busca por um manejo sustentável torna-se uma
necessidade e não mais uma opção. E, para se alcançar e promover esse novo modelo de manejo,
faz-se imprescindível uma gestão integrada, que abranja a população e os recursos naturais e
ambientais, ou seja, faz-se imprescindível uma gestão participativa.
Uma grande diversidade de atores sociais e interesses envolvidos estão inseridos no contexto
do município, isso dificulta a realização de uma gestão que busque integrar os interesses comuns a
fim de melhorar a relação sociedade-natureza-economia.
Para a elaboração de um plano de ação que vise alcançar a gestão participativa em Grossos,
tem que ser considerado os aspectos aqui discutidos, o quadro exposto e analisado, e a sociedade
local tem que passar a assumir uma postura de cooperação, de solidariedade e de respeito;
enfatizando também que para a consolidação da proposta, tanto em seu aspecto teórico como
metodológico, é preciso que haja um posicionamento político sobre a questão.

REFERÊNCIAS

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1389
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Acesso em: 10. fev. 2012.

1390
ANÁLISE DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Anne Louise Carneiro Girão VIANA (IFCE) – louisegirao@gmail.com - Estudante


Luana Iarima NOGUEIRA (IFCE) – luana_iarima@hotmail.com - Estudante
Raquel Rodrigues da SILVA (IFCE) – raq_el14@hotmail.com - Estudante
Diego Gadelha de ALMEIDA (IFCE) – diegogadelha@ifce.edu.br – Professor/Mestre/Orientador

Resumo
A gestão ambiental é um sistema de administração que visa amenizar e/ou solucionar os impactos
ambientais dos recursos naturais, por meio da implementação de políticas públicas. Seguindo este
conceito o presente estudo tem como objetivo analisar se os municípios brasileiros estão
estruturando um arcabouço institucional na área de meio ambiente, bem como, se estão fazendo uso
dos instrumentos de política e de gestão, disponíveis na Política Nacional de Meio Ambiente, para
tratar das questões ambientais, baseando-se nos dados da Pesquisa de Informações Básicas
Municipais - MUNIC 2009. Os resultados obtidos na análise mostram que os municípios brasileiros
estão formando uma estrutura ambiental, porém, não fazem uso completo dos instrumentos de
gestão, e que a maior ou menor capacidade estrutural ambiental sempre está associada ao tamanho
populacional do município.

Palavras–chave: Gestão Pública, Meio Ambiente, Municípios Brasileiros.

Abstract
Environmental management is a management system that aims to mitigate and / or resolve the
environmental impacts of natural resources through the implementation of
public policies. Following this concept the present study aims to analyze whether Brazilian
municipalities are structuring an institutional framework in the area of environment, as well as, are
making use of policy instruments and management, available in the National Policy on
Environment, to treat environmental issues, based on data from the Pesquisa de Informações
Básicas Municipais - MUNIC 2009. The results of the analysis show that the municipalities are
forming an environmental structure, however, does not make full use of management tools, and the
greater or lesser capacity structural environment is always associated with the county population
size.

Keywords: Public Management, Environment, Brazilian Municipalities.

1391
Introdução

A gestão ambiental surgiu da necessidade do ser humano organizar-se melhor com suas
diferentes formas de relação com o meio ambiente. O conceito de gestão ambiental pode ter
diferentes significados, dependendo do objetivo almejado; ele pode ser entendido como ―a
condução do processo de manutenção e garantia ambiental em face da utilização dos recursos
naturais (renováveis e não renováveis) e da produção de quaisquer resíduos [...]‖ (Milaré apud De
Carlo, 2006, p. 73), por meio da implementação de políticas públicas com participação da sociedade
civil organizada, garantindo assim, o equilíbrio e as características essenciais dos meios natural e
construído (assentamentos humanos).
As políticas públicas, quando possuem planos, projetos, programas e ações que objetivam a
proteção ou conservação do meio ambiente, são denominadas políticas ambientais. A temática
ambiental é alvo de preocupações desde o período colonial, mesmo que restrita à legislação que
regulava a proteção florestal. Porém, foi somente a partir do século XX que essas preocupações
aumentaram. A lei nº. 6.938, de 31 de 08 de 1981, foi um passo pioneiro tanto no que concerne às
questões ambientais do país, como também, à história da administração pública brasileira. Essa lei
instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA e o Sistema Nacional de Meio Ambiente,
um sistema descentralizado que integra as três esferas de governo - federal, estadual e municipal -
separando e atribuindo competências políticas, executivas e judiciais; criou o Conselho Nacional de
Meio Ambiente, de caráter consultivo e deliberativo, e os instrumentos operacionais que dirigem as
ações de gestão ambiental.
Entretanto, apesar desta lei criar um arcabouço institucional descentralizado e integrado, foi
somente com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 que
ocorreu o aumento na descentralização e democratização da política ambiental, visto que, ela trouxe
um capítulo exclusivo sobre o meio ambiente, onde o reconhece como bem jurídico, prevê o direito
do meio ambiente, eleva os municípios à unidade federativa dotada de autonomia e reparte as
competências entre as unidades da Federação. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988)
Sendo o município um ente federativo dotado de autonomia, é dever do mesmo estruturar-se
e assumir as competências inerentes à gestão ambiental local. Considerando-se que é nessa esfera
que se materializam os problemas de degradação ambiental, há que se ter em mente que é também
nessa instância que devem receber o tratamento necessário à sua solução, através dos mecanismos
disponíveis na PNMA. O presente trabalho tem por objetivo analisar os Sistemas de Gestão
Ambiental Pública dos municípios brasileiros, com base na Pesquisa de Informações Básicas
Municipais – MUNIC 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

1392
Material e Métodos

A presente pesquisa procurou responder algumas indagações: Os municípios brasileiros estão


montando um arcabouço institucional para gerir as questões ambientais em nível local? Os
municípios estão fazendo uso dos instrumentos de gestão ambiental disponíveis na PNMA? Para
construir respostas, a pesquisa analisou os dados fornecidos pela MUNIC - 2009, do IBGE; para
posterior construção de tabelas e gráficos das informações estudadas. Na busca de perceber a real
situação dos Sistemas Municipais de Meio Ambiente, foram selecionadas as seguintes variáveis:
Estrutura Ambiental (EA): órgão gestor e responsável pela implementação da política ambiental do
município; Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA): órgão colegiado consultivo e
deliberativo, responsável por acompanhar, fiscalizar e assessorar a implementação da política
ambiental; Fundo de Meio Ambiente (FMA): instrumento destinado a prover condições financeiras
e de gestão dos recursos para a gestão ambiental; Agenda 21: instrumento de planejamento local;
Legislação Ambiental Específica (LAE): instrumento legal que condicionará o funcionamento do
Sistema Municipal de Meio Ambiente; Licenciamento Ambiental (LA) de atividades
potencialmente poluidoras de impacto local; Comitê de Bacia Hidrográfica: saber a participação
social, na gestão dos recursos hídricos; Articulação Interinstitucional: se possui consorcio público
intermunicipal; Contrato de prestação de serviço (terceirização) com empresas na área de meio
ambiente. Como estratégia de classificação, os municípios foram analisados isoladamente,
compondo o cenário nacional e em compartimentos por classes de tamanho de população: de até
5000 habitantes à mais de 500000 habitantes.

Resultados e Discussão

Como resultados, pode-se observar que em 2009, 84,5% dos municípios brasileiros tinham
alguma EA; e que este percentual é crescente à medida que se avança nas classes de tamanho da
população dos municípios, dos menos, para os mais populosos.

1393
Figura 1 – Percentual de municípios com estrutura na área de meio ambiente, segundo as classes de
tamanho da população dos municípios – 2009.

Observou-se que 56,3% dos municípios dispõem de CMMA; e com relação às atribuições dos
mesmos, predominam os de caráter deliberativo (80,9% dos conselhos) e/ou consultivo (77,8%),
seguindo os de caráter fiscalizador (47,9%) e com atribuição normativa (40,2%).

Figura 2 – Percentual de municípios com Conselho Municipal de Meio Ambiente, segundo as


classes de tamanho da população dos municípios – 2009.

1394
A análise dos dados revela que 29,6% dos municípios tinham FMA; e que esta variável está
presente em 95,0% dos municípios com mais de 500.000 habitantes.

Figura 3 – Percentual de municípios com Fundo Municipal de Meio Ambiente, segundo as classes
de tamanho da população dos municípios – 2009.

No que se refere à Agenda 21, 19,9% dos municípios haviam iniciado o processo de
elaboração; sobretudo nos municípios de maior porte populacional – mais de 500.000 habitantes
(60,0%).

1395
Figura 4 – Percentual de municípios com elaboração de Agenda 21 iniciada, segundo as classes de
tamanho da população dos municípios – 2009.

Quanto a existência de LAE, 46,8% dos municípios brasileiros dispunham desta variável;
havendo uma disparidade entre os municípios com menos de 5 000 habitantes (35,6%) e aqueles
com mais de 500 000 habitantes (100,0%).

Figura 5 – Percentual de municípios com Legislação Ambiental Específica, segundo as classes de


tamanho da população dos municípios – 2009.

Dos 5.565 municípios brasileiros, 30,8% realizam LA de impacto local; sendo esta variável
crescente a partir dos municípios de 5.001 a 10.000 habitantes (32,4%), até atingir 80% nos de
maior porte.

Figura 6 – Percentual de municípios com Licenciamento Ambiental de impacto local, segundo as


classes de tamanho da população dos municípios – 2009.

1396
Os dados nos revela que 61,1% dos municípios participam de algum Comitê de Bacia
Hidrográfica; sendo crescente dos municípios de menor porte 51,9%, aos municípios de maior porte
populacional 90%.

Figura 7 – Percentual de municípios com participação em Comitê de Bacia Hidrográfica, segundo


as classes de tamanho da população dos municípios – 2009.

Observou-se que 17,5% dos municípios participam de Consórcio Público Intermunicipal. Na


análise por classe de tamanho da população, observamos que a participação dos municípios nesse
tipo de Consórcio evolui de 11,1% nos de menor porte, para 37,5% nos de maior porte.

Figura 8 – Percentual de municípios com Consórcio Público Intermunicipal, segundo as classes de


tamanho da população dos municípios – 2009.

1397
Por fim, em 2009, 18,4% dos municípios tiveram contrato de prestação de serviços com
empresas na área de meio ambiente para exercício de funções; a terceirização aumenta à medida
que avança nas classes de tamanho da população, ou seja, dos menos (14,6%) para os mais
populosos (55%).

Figura 9 – Percentual de municípios com contrato de prestação de serviço com empresas na área do
meio ambiente, segundo as classes de tamanho da população dos municípios – 2009.

Com base nos dados analisados anteriormente, pode-se afirmar que existe uma tendência de
os municípios montarem um arcabouço institucional para gerenciar as questões ambientais, visto
que, um número relativamente elevado (84,5%) dessas municipalidades possuem alguma Estrutura
Ambiental, principalmente os com mais de 500 000 habitantes (100%). O que pode ser justificado
pelo fato de os municípios de maior porte terem problemas ambientais mais visíveis, além de maior
dotação orçamentária. Entretanto, a existência de um arcabouço institucional, não implica em uma
gestão ambiental eficaz. A existência de Conselho Municipal de Meio Ambiente, Fundo Municipal
de Meio Ambiente, consolidação da Agenda 21, criação de Legislação Ambiental Específica,
realização de Licenciamento Ambiental de atividades de impacto local, existência de contrato de
terceirização com empresas na área de meio ambiente e a participação em consórcio intermunicipal,
são instrumentos legais pouco utilizados pelos municípios brasileiros. Além dessas variáveis, é
necessário se fazer uso dos demais instrumentos de gestão disponíveis na Política Nacional de Meio
Ambiente. Podemos afirmar também, que a existência de estrutura administrativa, assim como os
demais instrumentos, estão cada vez mais presentes nos municípios de maior porte populacional
(mais de 500 000 habitantes).

1398
Considerações Finais

Podemos concluir que uma parcela considerável dos municípios brasileiros possui alguma
estrutura ambiental, contudo, não utilizam os instrumentos de gestão disponível na PNMA. Além
disso, a menor ou maior capacidade estrutural em termos de gestão municipal sempre estará
associada com o tamanho populacional do município.
Apesar da ausência de um banco de dados atualizado, a análise apresentada nos revela a real
situação dos Sistemas Municipais de Meio Ambiente do Brasil, demonstrando que há uma
necessidade de os municípios repensarem sobre a importância do meio ambiente para a qualidade
de vida da sociedade, bem como do uso dos mais variados instrumentos que auxiliam na gestão
ambiental.

Referências

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Sandra Baptista; GUERRA, Antônio Teixeira (Orgs.). A questão ambiental: diferentes abordagens.
4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

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FIORILLO. Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. rev., atual. e
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Revista dos Tribunais, 2005.

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PHILIPPI JR., Arlindo. O impacto da capacitação em gestão ambiental. 240p. [Tese de Livre-
Docência. Faculdade de Saúde Pública da USP). São Paulo: Universidade de São Paulo. Faculdade

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PHILIPPI JR. Arlindo; ZULAUF, Werner. Estruturação dos municípios para a criação e
implementação do sistema de gestão ambiental. In: PHILIPPI JR. Arlindo; MAGLIO, Ivan Carlos;
et al. Municípios e meio ambiente: perspectivas para municipalização da gestão ambiental no Brasil.
São Paulo: ANAMMA, 1999.

1400
CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO BÁSICO EM COMUNIDADES
RURAIS NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ E REGIÃO, RIO GRANDE DO NORTE

Solange Aparecida Goularte DOMBROSKI (DCAT-UFERSA) – solangedombroski@ufersa.edu.br


Diana Gonçalves LUNARDI (DCAT-UFERSA) – lunardi.diana@ufersa.edu.br
Lunara Grazielly Costa e SILVA (UFERSA) – lunaragrazielly@msn.com
Marco Antonio DIODATO (DCAT-UFERSA) – diodato@ufersa.edu.br

Resumo
A região do Semiárido é sem dúvida a porção do Brasil que mais sofre com a escassez hídrica,
devido principalmente à pequena disponibilidade de água das bacias hidrográficas, intensa radiação
solar, baixa pluviosidade e chuvas bastante irregulares. Esses fatores climáticos, aliados a má gestão
dos recursos hídricos, são os grandes responsáveis pela baixa qualidade de vida humana em áreas
rurais. Assim, os principais objetivos desse estudo foram caracterizar as condições de saneamento
básico, sobretudo o acesso à água em comunidades rurais no município de Mossoró e região, e
analisar as estratégias de reutilização da água por famílias rurais. Neste estudo, um total de 80
famílias pertencentes às comunidades de Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba
(Mossoró), RN, foram entrevistadas a partir de um questionário semiestruturado. Para realização
deste estudo, foram levantadas informações sobre o tipo de domicílio, abastecimento de água,
esgotamento sanitário e destino de lixo. Embora aproximadamente metade dos domicílios
dispusesse de canalização interna para abastecimento de água, o seu fornecimento era insuficiente e
bastante irregular, o que levava muitas famílias a utilizarem fontes alternativas, tais como o
fornecimento por caminhão-pipa ou a compra de água de fornecedores locais. Para amenizar a
situação de extrema escassez de água, muitas famílias dispunham de reservatórios tais como
cisternas, caixas de água, tambores metálicos e/ou bombonas plásticas. O número e tipo de
reservatório por residência variou conforme a disponibilidade financeira de cada grupo familiar.
Apesar das condições precárias, a grande maioria dos entrevistados dispunha de banheiro com fossa
rudimentar. Como esperado, os resultados apresentados neste estudo mostraram a ausência de
universalização do acesso à fonte de água tratada. Isso ressalta a importância do estabelecimento de
estratégias que visem reverter esta situação em busca de um desenvolvimento rural sustentável.

Palavras-chave: Mossoró; Saneamento Básico Rural; Semiárido; Aproveitamento de água.

Abstract
The semiarid region is the portion of Brazil that more suffers from water scarcity, mainly due to the
low availability of water from watersheds, intense solar radiation, low and very irregular rainfall.

1401
These climatic factors linked to mismanagement of water resources, are largely responsible for the
low quality of life in rural areas. Thus, the main objectives of this study were to characterize the
conditions of sanitation, especially the access to water in rural communities at Mossoró and region,
and analyze the strategies of water reuse for rural families. In this study, a total of 80 families from
the communities of Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca and Quixaba (Mossoró), RN, were
interviewed from a semi-structured questionnaire. For this study, we investigated information on the
type of household, water supply, sewage and garbage destination. Although approximately half of
the homes had indoor plumbing for water supply, their supply was very irregular and insufficient.
Consequently, many families used alternative sources, such as supply by water truck or buying
water from local suppliers. To reduce extreme water scarcity, many families had reservoirs such as
water tanks and metal and plastic drums. The number and type of container per household varied
according to the availability of funds for each family group. Despite the poor conditions, the vast
majority of respondents had a bathroom with rudimentary sewage. As expected, the results
presented in this study showed the absence of universal access to improved water source. This
highlight the importance of establishing strategies to reverse this situation in search of sustainable
rural development.

Keywords: Mossoró, Rural Sanitation, Semi-arid, Water Use.

Introdução

O semiárido brasileiro ocupa uma área de aproximadamente 970 mil km2, abrangendo
1.133 municípios entre os estados de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais (BRASIL, 2007a). A delimitação da região semiárida do
Brasil é baseada em três critérios técnicos: (i) precipitação pluviométrica média anual inferior a 800
mm; (ii) índice de aridez de até 0,5 (balanço hídrico que relaciona as precipitações e a
evapotranspiração potencial); e (iii) risco de seca maior que 60% (BRASIL, 2007a). Nas regiões
semiáridas, os rios são, na sua maioria, intermitentes, as chuvas bastante irregulares, os solos rasos e
as taxas de evapotranspiração altas, o que favorece o fenômeno de seca. Das 12 Regiões
Hidrográficas organizadas segundo a localização das principais bacias hidrográficas do País, a de
maior escassez de água (disponibilidade hídrica inferior a 100 m³/s) é a Região Hidrográfica
Atlântico Nordeste Oriental, que abrange o Rio Grande do Norte, a Paraíba e parte dos estados do
Ceará, Pernambuco, Alagoas e um pequeno trecho do Piauí (ANA, 2010).
A Região Nordeste se destaca por apresentar os maiores problemas de mananciais devido,
basicamente, à escassez hídrica da sua porção semiárida e à pequena disponibilidade de água das

1402
bacias hidrográficas litorâneas. Nesta Região, o número de sedes urbanas com sistemas de
abastecimento de água em situação satisfatória até 2015 corresponde a 26% do total, mas apenas
18% da população é atendida por esses sistemas. Assim, são necessários investimentos para solução
de problemas de abastecimento a 82% da população (ANA, 2010).
Na tabela 1 são apresentados os dados sobre o abastecimento de água em domicílios na
área urbana e rural do Brasil, da Região Nordeste e no Rio Grande do Norte publicados pelo IBGE
(2009) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). De acordo com a PNAD, 84,4%
dos domicílios brasileiros tinham abastecimento de água por rede geral. Para a Região Nordeste e
RN, estes valores corresponderam a 76,8 e 88,5%, respectivamente (IBGE, 2009, tabela 1).
Conforme os dados contidos na tabela 1, observam-se grandes desigualdades no acesso aos serviços
de abastecimento de água em áreas urbanas e rurais. No âmbito do Brasil, apenas 32,8% dos
domicílios rurais estavam ligados à rede de distribuição de água, enquanto na Região Nordeste e
RN esses valores foram de 36,4% e 64,5%.

Tabela 1 – Abastecimento de água em domicílios na área urbana e rural do Brasil, da Região


Nordeste e do Estado do Rio Grande do Norte (Adaptado de IBGE, 2009).
Domicílios ligados a rede (%) Outras formas (%)
Nº total de
Com Sem Com Sem
Local Área domicílios
canalização canalização Total canalização canalização Total
x 1000
interna interna interna interna
Urbana 49.827 92,6 0,9 93,5 4,9 1,6 6,5
Brasil Rural 8.750 28,9 3,8 32,8 39,9 27,4 67,2
Total 58.577 83,1 1,4 84,4 10,1 5,5 15,6
Região Urbana 39.094 89,6 2,4 92,0 4,1 3,9 8,0
Nor- Rural 14.698 29.7 6,7 36,4 19,6 44,0 63,6
deste Total 53.792 73,2 3,6 76,8 8,4 14,8 23,2
Rio Urbana 680 95,6 1,3 96,9 0,7 2,2 2,9
Grande Rural 242 57,4 7,0 64,5 14,0 21,5 35,5
do
Total 922 85,7 2,8 88,5 4,2 7,4 11,6
Norte

O conceito de recursos hídricos baseia-se em três aspectos fundamentais associados a


disponibilidade de água: garantia, qualidade e acessibilidade, e um dos maiores desafios para a
convivência com a região semiárida é, sem dúvida, a gestão das águas (ARAÚJO, 2012). Assim, a
redução de perdas nos sistemas de transporte, a melhoria na eficiência da irrigação e o reuso das
águas têm sido apontados como os principais desafios para a gestão dos recursos hídricos do
semiárido. Seguramente, o reuso das águas é o mais relevante instrumento para garantir a
sustentabilidade hídrica das regiões secas (ARAÚJO, 2012).
As respostas humanas à escassez de água envolvem aspectos ambientais, sociais e culturais
complexos (GALIZONI et al., 2008). Um estudo realizado no alto do Jequitinhonha, Nordeste de

1403
Minas Gerais, apontou que famílias e comunidades rurais construíram estratégias produtivas,
reprodutivas e politicas para lidar com situações críticas e cíclicas de escassez de água. Ao longo do
tempo, essas famílias criaram critérios de prioridade de uso da água e técnicas de gestão
comunitária de abastecimento e acesso às fontes (GALIZONI et al., 2008). Outro estudo realizado
em Vitória, Austrália, projetou e construiu uma casa ‗ecologicamente sustentável‘ em eficiência
energética e reaproveitamento eficiente de água. A casa construída permitiu uma economia de até
77% de água potável e uma reutilização significativa de águas residuais para abastecer vasos
sanitários e irrigar jardins (MUTHUKUMARAN et al., 2011).
A escassez de água e a forma como diferentes comunidades em situações sócio-econômico-
culturais e ambientais particulares lidam com o problema criam um universo altamente complexo
que deve ser compreendido a partir da realidade de cada região, visando a proposição de estratégias
para uma melhor gestão dos recursos hídricos. Portanto, os objetivos desse estudo foram: (i)
caracterizar as condições de saneamento básico, sobretudo o acesso à água em comunidades rurais
no município de Mossoró e região e (ii) analisar as estratégias de reutilização da água por famílias
rurais.

Métodos

Área de estudo
Neste estudo, quatro comunidades rurais foram investigadas, uma pertencente ao município
de Tibau, e as demais, ao município de Mossoró, no Rio Grande do Norte (Figura 1).
O Rio Grande do Norte (RN) apresenta uma localização estratégica no segmento oriental do
Nordeste Brasileiro, entre os paralelos (4º 49‘ S; 34º 58‘ W à 6º 58‘ S; 38º 34‘ W). É o Estado do
Nordeste com maior proporção de área semiárida, com 93,4% dos 53.077 km² da sua área total
(NEVES et al., 2011). O Estado tem 167 municípios e sua população em 2010 era cerca de 3
milhões de habitantes (IBGE, 2010a).
Mossoró e Tibau estão entre os municípios localizados em região semiárida do Rio Grande
do Norte (MMA, 2004). Mossoró possui uma área de 2.099 km² e sua população em 2010 era de
259.815 habitantes. Deste total, 22.574 pessoas eram residentes em área rural (IBGE, 2010b). O
município de Tibau apresenta uma área de 169 km² com uma população total, em 2010, de 3.687
habitantes, sendo 2.836 residentes em área urbana e apenas 851 em área rural (IBGE, 2010b).
Coleta de dados
Para a realização deste estudo, 20 famílias foram entrevistadas em cada uma das quatro
comunidades rurais amostradas, totalizando 80 famílias. As entrevistas ocorreram no dia 16 de

1404
setembro de 2012, domingo, de 07:00h às 17:00h, quando a probabilidade dos moradores estarem
em casa era maior.

Figura 1 – Localização das comunidades investigadas:


Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba
(Mossoró), Rio Grande do Norte, Brasil.

A coleta de dados foi realizada a partir de um questionário semiestruturado por quatro


pesquisadores previamente treinados. As informações levantadas sobre o tipo de domicílio,
abastecimento de água, esgotamento sanitário e destino de lixo se basearam em conceitos e
definições apresentadas pelo IBGE (2010c). Além da entrevista, havendo permissão dos moradores,
os pesquisadores também conheceram o interior da casa e as condições de armazenamento de água.
As estimativas de consumo de água por família foram realizadas a partir de declarações dadas pelas
próprias famílias e do volume dos recipientes usados frequentemente para armazenar água (ver
GALIZONI et al., 2008).

Resultados e Discussão

Das 81 pessoas entrevistadas 54 pertenciam ao gênero feminino e 27 ao gênero masculino.


Em cada residência foi contabilizado o número de residentes, o que totalizou para a amostra
realizada na pesquisa um universo de 294 pessoas. A renda referia-se ao grupo familiar, portanto o
quadro retratado aqui se refere às 294 pessoas e não apenas às 81 pessoas da amostra. A renda
familiar mensal da maioria (57,7%) foi de até um salário mínimo (SM), seguido de uma renda na
faixa de 1,1 até 2 SM (38,5%) e, por último, apenas 3,8% manifestaram ganhar acima de 2,1 SM.

1405
A tabela 2 mostra que a maioria das famílias investigadas neste estudo obtém renda de
salário e/ou benefícios sociais. Apenas uma pequena parcela manifestou ser autônomo ou dona de
casa. Os empregos temporários, popularmente chamados de bicos, são uma forma comum de
mascarar o desemprego e também foram representados por uma minoria (4,2%). As maiores
ocorrências de origem de renda referiram-se à aposentadoria (31,6%) e empregado no setor privado
(29,5%). Embora a área de estudo esteja localizada em zona rural de municípios de interior, era
esperado uma taxa de emprego significativa no setor privado, devido às atividades petrolíferas da
região.

Tabela 2 – Situação laboral dos entrevistados, em valores absolutos e porcentagem para as


comunidades de Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba (Mossoró), RN.
Situação laboral Total % % total
Aposentadoria 30 31,6
Pensão 5 5,3 Benefícios
44,2
Bolsa família 6 6,3 sociais
Bolsa Escola 1 1,1
Trabalhador rural 6 6,3
Empregado Empresa Privada 28 29,5
Funcionário(a) Público(a) 6 6,3
Autônomo(a) 5 5,3 55,8 Outros
Empregada Doméstica 2 2,1
Emprego temporário 4 4,2
Dona de casa 2 2,1

As residências também foram caracterizadas conforme o número de cômodos existentes,


incluindo sala, cozinha, banheiro e área de serviço, entre outros. Assim, obteve-se uma média de 5,2
cômodos nas residências contempladas na pesquisa, variando de um mínimo de apenas um cômodo
até um máximo de oito cômodos. Isto prova a variedade de estilos de residências analisadas.
Residências de apenas um cômodo podem ser categorizadas como precárias, o que também
significa a inexistência de banheiro. Nesses casos, quando os entrevistados eram consultados,
relatavam que usavam a mata mais próxima como banheiro improvisado. No que se refere ao acesso
à água, a maioria dos entrevistados (52%) se servia de fontes alternativas de água, que não a rede
geral, tais como o fornecimento por caminhão-pipa, seja fornecido pela prefeitura local ou pelo
exército (Figura 2). Em algumas comunidades foi relatada a compra de água de fornecedores locais,
transportada precariamente em carroças. A busca de água em outras comunidades mais favorecidas
no fornecimento também foi mencionada.
Vale lembrar que entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) propostos em
2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU), estão: até 2015, diminuição pela metade, em

1406
relação aos valores de 1990, da proporção de pessoas sem acesso sustentável à fonte segura de água
para consumo e saneamento básico.

Figura 2 – Frequência de diferentes fontes de água nas


comunidades de Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra Branca e
Quixaba (Mossoró), RN.

Os indicadores das Nações Unidas utilizados para monitoramento do progresso desses


objetivos são, respectivamente, a proporção da população (urbana e rural) com acesso a uma fonte
de água tratada (para o acesso a água por rede geral, poço ou nascente ou outro tipo) e a proporção
de pessoas usando melhores instalações sanitárias, em meio rural e urbano, para esgoto por rede
geral, fossa séptica, fossa rudimentar e outros tipos (THE WORLD BANK, 2011). Para estes
mesmos objetivos, os indicadores brasileiros são o percentual de moradores em domicílios
particulares permanentes com abastecimento de água adequado, em áreas rurais e urbanas e o
percentual de moradores em domicílios particulares permanentes urbanos com acesso simultâneo a
água canalizada de rede geral e esgoto de rede geral ou fossa séptica (IPEA e MPGO-SPIE, 2010).
Disto, infere-se que nas comunidades pesquisadas, apenas 33% dos domicílios atenderam o
indicador brasileiro de abastecimento adequado de água. Esse valor foi próximo aos identificados
para áreas rurais do Brasil como um todo (32,8%) e da Região Nordeste (36,4%), e inferior ao
indicado para o RN (64,5%), conforme mostrado na tabela 1 em relação a domicílios ligados a rede
geral de água.
Para as comunidades estudadas, a porcentagem de domicílios ligados à rede geral de água
sobe para 48% quando se consideram aqueles cuja fonte de água era a rede geral (33%) e a rede
geral e outra fonte (15%). Entretanto, pode-se observar que a ligação à rede geral de água não
implicava, necessariamente, em fornecimento adequado de água, levando às pessoas a procurarem
fontes alternativas.
De maneira geral, é fundamental o estabelecimento de estratégias para o cumprimento dos
objetivos da Política Federal de Saneamento Básico, especificados no Art. 49 da Lei Federal nº
11.445/2007 (BRASIL, 2007b), entre os quais, cita-se ―proporcionar condições adequadas de

1407
salubridade ambiental às populações rurais e de pequenos núcleos urbanos isolados‖. Para tanto,
torna-se necessário, entre outros, o acesso à água em quantidade e qualidade adequadas.
Uma vez que a água chegava à residência pelas diferentes formas de fornecimento, esta era
mantida em reservatórios específicos. Em geral, além da caixa de água, o uso de cisternas foi
comum na região. Manter ambos os reservatórios na residência foi a opção da maioria (23,2%)
(Figura 3), porém, nem todos tinham condições financeiras de construir uma cisterna, que era
substituída por tambores metálicos e/ou bombonas plásticas, preferencialmente de 100 litros. Esse
grupo representou 22% das residências visitadas. O número de tambores/bombonas por residência
variou conforme a disponibilidade financeira de cada grupo familiar. A porcentagem de residências
que continham apenas a caixa de água representou 19,5%. Em geral, a caixa de água localizava-se
em cima do banheiro, sempre próximo à cozinha. Entretanto, 49,4% das residências não
apresentaram canalização interna, condições essas que obrigaram os residentes a disporem da caixa
de água mais próximo do chão, isto é, ao alcance da coleta de água por baldes, que são conduzidos
até a cozinha e banheiro para seu uso. Das 80 residências visitadas, em apenas três (3,8%) não
existia banheiro.

Figura 3 – Frequência de diferentes formas de armazenamento de


água nas comunidades de Gangorra (Tibau), Sussuarana, Pedra
Branca e Quixaba (Mossoró), RN.

Após utilização da água, 91,2% das residências estudadas (Figura 4) derivavam as águas
residuais para uma fossa rudimentar, 5% não apresentavam esgotamento sanitário e apenas 3,8%
enviavam as águas para fossas sépticas. As águas residuais oriundas de outros usos dentro das
residências, como da cozinha e área de serviço, por exemplo, em sua maioria (88,8%) eram
encaminhadas para o quintal, visando o seu aproveitamento para outros usos como aguar árvores
frutíferas (77,8%, tabela 3). O uso das águas residuais para irrigar plantas do quintal é prática
comum no semiárido, pois a escassez deste recurso inibe seu desperdício e estimula o seu

1408
aproveitamento ao máximo. As plantas são geralmente frutíferas, e são valorizadas pelo
fornecimento de alimento.

Figura 4 – Frequência dos diferentes destinos das águas residuais


do vaso sanitário nas comunidades de Gangorra (Tibau),
Sussuarana, Pedra Branca e Quixaba (Mossoró), RN.

Nas comunidades, observou-se que em residências com escassez frequente de água, poucas
plantas eram mantidas no quintal, às vezes nenhuma. Já as residências que dispunham de
fornecimento frequente, seja pela facilidade de acesso ou por melhor condição financeira,
mantinham, além das frutíferas, plantas ornamentais. Ambas as situações foram observadas,
algumas vezes, em residências vizinhas, o que marcou um destoante visual de contraposição dessas
duas realidades. Parece obvio que o recurso financeiro é o indicador dessas duas situações: de
escassez e de relativa abundância desse recurso natural.

Tabela 3 – Reaproveitamento de águas residuais (excluindo águas residuais do vaso sanitário) em


valores absolutos e porcentagem.

Reaproveitamento de águas
Total %
residuais
Regar árvores frutíferas 49 77,8
Molhar o quintal/Aguar terreno 9 14,3
Limpar a casa 4 6,3
Para os animais 1 1,6
Total 63 100,0

Na tabela 4 são apresentados os resultados da destinação dada ao lixo gerado pelas


residências contempladas neste estudo. A maioria das residências (63,8%) tem coleta periódica de
lixo efetuada pela prefeitura, no entanto, por diversas razões o serviço não é oferecido por alguns

1409
períodos, optando os moradores por enterrar, queimar ou descartar o lixo em áreas de vegetação
próximas à comunidade.

Tabela 4 – Destinação dada ao lixo nas residências estudadas, em valores absolutos e porcentagem.
Destino do lixo Total %
Coletado 51 63,8
Queimado 19 23,8
Coletado e enterrado 3 3,8
Coletado e queimado 3 3,8
Coletado e descartado 2 2,5
Queimado e descartado 1 1,3
Coletado, queimado e descartado 1 1,3
Total 80 100,0

A tabela 5 apresenta uma comparação entre os resultados obtidos neste estudo e aqueles da
PNAD 2009 (IBGE, 2010c) com relação ao abastecimento de água, esgotamento sanitário,
disponibilidade de banheiro e destino do lixo.

Tabela 5 – Comparação entre dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) em
área rural do Rio Grande do Norte (RN) e de 4 comunidades rurais de Mossoró e Tibau, RN.
Domicílios particulares permanentes¹
Dados levantados no
Situação e características do domicílio Dados da PNAD 2009²
presente trabalho em 4
para o estado do RN
comunidades rurais do RN
Nº x 1.000 % N° %
Abastecimento de água 242 100 81 100
Com canalização interna 173 72 41 51
Rede geral 139 81 19 46
Outro 34 19 22 54
Sem canalização interna 69 28 40 49
Rede geral 17 24 20 50
Outro 52 76 20 50
Esgotamento sanitário 242 100 80 100
Tinham 220 91 76 95
Rede coletora 11 5 0 0
Fossa séptica ligada à rede coletora 10 4 0 0
Fossa séptica não ligada à rede 44 20 3 4
coletora
Fossa rudimentar 151 69 73 96
Outro 4 2 0 0
Não tinham 23 9 4 5
Banheiro ou sanitário 242 100 80 100
Tinham 220 91 77 96
De uso exclusivo 216 98 77 100
Comum a mais de um 3 2 0 0
Não tinham 23 9 3 4
Destino do lixo 242 100 80 100

1410
Coletado diretamente 125 52 60 75
Coletado indiretamente 3 1 0 0
Outro 114 47 20 25
¹Conforme definição de IBGE (2010c). ²IBGE (2010c).

Com relação ao abastecimento de água nas comunidades estudadas, observou-se um menor


percentual (51%) de domicílios com canalização interna em relação à amostragem para o estado do
RN (72%). Para esta situação, um menor percentual (46%) contava com água da rede geral,
comparando-se com o valor da PNAD 2009 (81%). Quanto ao esgotamento sanitário, mais de 90%
dos domicílios tinham alguma forma de esgotamento, tanto para os dados levantados para o Rio
Grande do Norte como um todo (91%), quanto para as comunidades pesquisadas neste trabalho
(95%).
Vale ressaltar neste estudo que nos domicílios que contavam com esgotamento sanitário
identificou-se o uso de fossa rudimentar (96%) e fossa séptica não ligada à rede coletora (4%). Já na
PNAD 2009, foram verificadas outras formas de esgotamento como: rede coletora (5%), fossa
séptica ligada à rede coletora (4%) e outro (2%), além de fossa rudimentar (69%) e fossa séptica
não ligada à rede coletora (20%). Com relação à disponibilidade de banheiro, observou-se 4% de
domicílios sem esta funcionalidade nas comunidades estudadas, sendo observados 9% pela PNAD
2009. Entre os serviços de saneamento básico levantados neste estudo, a coleta de lixo apresentou
maior percentual de atendimento (75%), quando comparado com dados obtidos para o estado do
RN como um todo (52%).
Como esperado, os resultados apresentados neste estudo mostraram a ausência de
universalização do acesso a fonte de água tratada, além de uma maior frequência de esgotamento
sanitário com uso de fossa rudimentar. Isso ressalta a importância do estabelecimento de estratégias
que visem reverter esta situação em busca de desenvolvimento rural sustentável.

Referências
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abastecimento urbano de água: panorama nacional. Brasília: ANA, ENGECORPS/COBRAPE, v. 1,
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1411
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de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nº
6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993,
8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei nº 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras
providências. 2007b.

GALIZONI, F. M.; RIBEIRO, E. M.; LIMA, V. M. P.; DOS SANTOS, I. F.; CHIODI, R. E.;
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos demográficos


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PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO (MPOG) - Secretaria de Planejamento e
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Norte – período: 1963-2009. Natal: EMPARN, 2011.
THE WORLD BANK. World development indicators 2011. Washington: International Bank. 2011.

1413
ARTICULAÇÕES ENTRE O PERCURSO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E
A SOCIEDADE DE CONSUMO

Maria Cleonice SOARES – UERN/ cleonice_s@hotmail.com 158


Iáskara Michelly de Medeiros SILVEIRA – UERN/ iaskarasilveira@hotmail.com 159
Rayane Carla B. da SILVA – UERN/ rayane_carlabs@hotmail.com 160
Louise Duarte Matias de AMORIM – UERN/ louiseuern@yahoo.com.br 161

RESUMO
As problemáticas envolvendo o tema sociedade de consumo são bastante abordadas no meio social
em que vivemos. A preocupação com o destino do lixo produzido por essa sociedade tem
mobilizado instituições apesar de ainda não haver uma solução concreta para o problema. O
consumismo é algo arraigado em nossas vidas e continua sendo estimulado principalmente pelos
meios de comunicação. O Projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e
Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN,‖ tenciona mostrar através do
desenvolvimento de atividades com alunos e professores de escolas públicas, entre outras coisas,
possibilidades, alternativas capazes de proporcionar a melhoria da qualidade de vida das
comunidades escolares, sem causar danos ao meio ambiente. Este trabalho aborda o tema de uma
oficina específica, na qual o nosso direcionamento apontou para a seguinte pergunta: Que sociedade
queremos no futuro? Nos baseamos autores que abordam a questão do consumo tais como: Adorno
(1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974); Moles
(1975); Padilha, (2006) e Santos (1998). Na oficina inicialmente pedimos para que os alunos
respondessem ao questionamento através da confecção de cartazes utilizando imagens que
poderiam ser extraídas de revistas ou produzidas por eles. Após a problematização, apresentamos o
vídeo ―A História das Coisas‖ de Annie Leonard (2007), que desencadeou uma discussão em sala
158
Aluna da graduação em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
FE/UERN. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES. Monitora do Projeto
Novos talentos- CEMAD/UERN.
159
Aluna da graduação do curso de Gestão Ambiental da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – FACEM/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.
160
Aluna da graduação em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
FE/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.
161
Orientadora - Graduada em Ciências biológicas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
Especialista em Biologia Geral pelas Faculdades Integradas de Jacarépaguá, RJ. Mestranda em Ciências Naturais pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais- UERN. Pesquisadora pelo Grupo de pesquisa: Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilidade (GEEAMAS).

1414
levando ao conhecimento dos alunos todo o ciclo produtivo dos bens de consumo e o quanto somos
vitimas conscientes desse ciclo ininterrupto de trabalho/consumo. Ao final das discussões os alunos
puderam apresentar seus cartazes e perceber em suas próprias falas a restrição quanto aos itens
inicialmente apontados por eles como essenciais a vida de uma sociedade, agregando outros valores
como indispensáveis a sociedade que almejam pro seu futuro. Com isso percebe-se a necessidade
urgente do fazer ambiental face aos desafios da contemporaneidade.

Palavras-chave: construção de saberes; consumismo; recursos ambientais; valores sociais.

Abstract

The issues involving the theme consumer society are very stated in the social context in which we
live. The worry about the destiny of the garbage produced by this society has mobilized some
institutions, although there has not been a concrete solution to the problem. Consumerism is
something ingrained in our lives and it continues being stimulated mainly by the media. The project
―Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola
Pública em Mossoró-RN‖ aims at showing through the development of activities with public
schools‘ students and teachers possibilities, alternatives able to favor the improvement of life
quality of school communities, without damaging the environment. This work addresses the content
of a specific workshop where our direction pointed to the following question: What society do we
want in the future? To answer it, we are based on authors who address the issue of consumption
such as Adorno (1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx
(1974); Moles (1975); Padilha, (2006) and Santos (1998). In the workshop we asked initially for
students to answer to questions by making posters using images that could be extracted from
magazines or produced by them. After the questioning, we presented the video "A História das
Coisas‖ by Annie Leonard (2007), which promoted a discussion in class leading the students to the
knowledge of the production cycle of consumer goods and how we are victims concerned about
this uninterrupted cycle of work / consumption. At the end of the discussions, the students could
present their posters and notice about their own lines the restriction related to the items initially
pointed by them as essential to the life of any society, adding other values as essential to the society
they want for their future. From the exposed it is realized the urgent necessity of the environmental
acting face to the challenges of the contemporary world.

Keywords: building of knowledge; consumerism, environmental resources, social values.

INTRODUÇÃO

As problemáticas envolvendo o tema sociedade de consumo são bastante abordadas no meio


social que vivemos. Hoje a preocupação com o destino de todo lixo produzido pelo consumismo
tem mobilizado uma série de instituições, todavia, o problema apesar de bastante discutido não tem
apresentado soluções concretas, pois o consumismo está arraigado em nossas vidas, estamos
vivendo em um mundo que cria necessidades para que compremos coisas (MOLES, 1975).

1415
Preocupados com estas questões, após termos percebido em alguns casos que os alunos
apresentam como essencial a seu futuro alguns bens de consumo, direcionamos algumas atividades
desenvolvidas nas escolas públicas de Mossoró/RN, através do Projeto ―Divulgando a Educação
Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN,
para a questão do consumismo exacerbado que leva à exploração de matérias primas e a uma grande
produção de lixo na fabricação desses bens de consumo. Apresentaremos a visão dos alunos na
perspectiva do consumo em meio a sociedade atual, através de uma atividade desenvolvida em uma
das oficinas, numa turma do ensino médio, ressaltamos, todavia, que esta oficina teve o
direcionamento exclusivo a questão do consumo.
Utilizamos como elemento provocador o vídeo ―A História das Coisas‖ que apresentado por
Annie Leonard (EUA, 2007) que aborda e enfatiza a questão do consumismo desenfreado e a
produção de lixo e desgaste de recursos naturais com fins lucrativos, refletindo o modelo capitalista
da sociedade moderna. E para a construção deste texto, nos aportamos em autores tais como:
Adorno (1996); Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974);
Moles (1975); Padilha, (2006) e Santos (1998) que abordam a questão do consumismo na sociedade
atual.
Assim, este trabalho se divide em três momentos, faremos uma pequena abordagem do
Projeto, sua intenção e objetivos e a relação que o mesmo faz com o consumo através da aplicação
das oficinas, em seguida traremos um pouco da abordagem de como surge o tema consumismo
através da construção de cartazes pelos alunos em uma das oficinas realizadas, nos quais eles
demonstram sua visão de mundo e a perspectiva de futuro que os mesmos possuem articulando-a ao
tema consumismo. Por fim apresentaremos a abordagem interventiva das oficinas, sobreposta à
construção dos cartazes dos alunos.
Ainda discorreremos acerca da construção de saberes inerentes ao exercício da cidadania na
escola pública através do programa Novos Talentos, e sobre a visão de consumo exposta pelos
alunos durante a oficina trabalhada enfatizando o novo olhar construído a partir dos conhecimentos
discutidas no decorrer da oficina de Educação Ambiental.

O PROJETO ―DIVULGANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO DE


SABERES E EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA EM MOSSORÓ-RN‖.

Através do Programa Novos Talentos criou-se com a aprovação do edital da CAPES/DEB


Nº 033/2010 o projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da
Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN‖, executado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilidade (GEEAMAS), vinculado ao Centro de

1416
Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semi-Árido (CEMAD) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN, sob a coordenação do Professor Doutor
Ramiro Gustavo Valera Camacho162.
O projeto tenciona mostrar outras possibilidades, alternativas e técnicas de exploração dos
recursos ambientais capazes de proporcionar a melhoria da qualidade de vida das comunidades
escolares, sem causar danos ao meio ambiente. Para tanto, o projeto arquiteta dimensionar uma
abordagem para a educação ambiental e propor estratégias metodológicas para trabalhar este
conteúdo em sala de aula, de forma contextualizada, transversal e interdisciplinar. Promovendo,
através de oficinas a sensibilização do corpo docente e discente escolar para a interdisciplinaridade
da educação ambiental, desenvolvendo seminários/oficinas/minicursos com professores e alunos a
fim de discutir teorias e a elaboração de estratégias e metodologias voltados para a Educação
Ambiental escolar de forma transversal.
O projeto aborda através das oficinas temas relevantes e atuais sobre questões ambientais, a
saber: degradação ambiental, biomas regionais, reconhecimento local, cultura ambiental, produção e
consumo, escassez de água, poluição, fauna e flora, crescimento demográfico, produção e destino
do lixo, sustentabilidade, preservação ambiental, dentre outros assuntos que transpassem o tema
Educação Ambiental.
O Projeto em andamento já atendeu várias escolas públicas de Mossoró e Região, do ensino
fundamental menor ao ensino médio. Em cada escola, as oficinas seguem um planejamento
abordando as questões relacionadas à temática ambiental, direcionando sempre a uma postura de
sensibilização dos alunos, fazendo com que eles dirijam seus olhares e se percebam como sujeitos
ambientais, fazedores do ambiente em que vivem. No dia seguinte a realização das oficinas, os
alunos tem a oportunidade de conhecer uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (aula de
campo) onde é possível ao aluno perceber a existência de alternativas de vida sustentável utilizando
os recursos locais disponíveis sem exauri-los.

DESVELANDO CONCEITOS: SOCIEDADE DE CONSUMO E A PROPOSTA DO PROJETO


DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

Ao levarmos o tema Educação Ambiental para as escolas públicas através do Projeto


―Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola

162
Ramiro Gustavo Valera Camacho é professor. Dr. do Departamento de Ciências Biológicas - DECB/UERN. E
coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semi-Árido
(CEMAD) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilidade (GEEAMAS).

1417
Pública mm Mossoró-Rn‖, buscamos primeiramente, perceber qual a visão dos alunos quanto ao
conceito de educação ambiental, e quanto a esperança de uma sociedade futura. Esta ultima
concepção, trabalhada na forma de pergunta é respondida por eles através da construção de um
cartaz, onde representam, por meio de imagens, quer extraída de revistas (corte e colagem) quer
produzidas por eles mesmos, suas visões, expectativas, projeções, anseios e medos de uma
sociedade que está se construindo. Através dessa atividade os alunos, em grupo, podem discutir,
interagir, se questionar, nos questionar acerca da participação humana dentro desse processo, se
identificando como sujeitos e co-participantes desse sistema em construção.
Contatamos que a construção destes cartazes enfatizam dois aspectos interessantes: movidos
pela temática apresentada, os alunos tendem a colocar o verde, a preservação da fauna e da flora,
em alguns casos a questão da saúde e da família, mas também fortemente, aparece o consumismo, o
ter, uma vez que o consumismo está diretamente ligado a visão de poder, de possuir, a satisfação
pessoal, como uma coisa indispensável ao futuro. Assim percebemos que a sociedade de uma forma
geral, almeja ser possuidora de bens de consumo, apesar de a temática apresentada ter um caráter
ambiental. Nos cartazes os alunos enfatizam tanto a preservação ambiental quanto o possuir,
indicando-os como indispensáveis ao seu futuro. Esse consumismo, antes da problematização dos
temas, toma conta da visão dos jovens alunos pois como referencia Baudrillard (1970), a sociedade
atual é uma sociedade de consumo,

[...] também a sociedade de aprendizado do consumo, do condicionamento social do


consumo – isto é, um modo novo e específico de socialização, em relação com a
emergência de novas forças produtivas e a reestruturação monopolística de um sistema
econômico a produtividade alta.

Assim percebemos que o consumismo é algo que aprendemos a fazer, somos induzidos a
ele. O consumismo na visão de Padilha (2006, p. 55), é a valoração que os objetos passaram a ter ao
serem adquiridos, não pelo seu valor de uso, mas pelo significado social de sua posse, não é a
necessidade que se tem destes, mas também o consumo de imagens e de valores para uma grande
parte da sociedade. Os alunos representam-no não apenas como algo de sua vontade, mas como
uma forma de fazer parte do meio social, de estar atualizado com o mundo contemporâneo de
possuir coisas.
Baudrillard (1995) apresenta quatro modelos que revelam a lógica dessa estruturação de
consumo que representa para a sociedade a felicidade e a realização pessoal: o kitsch, o gadget, o
lúdico e corpo.
O kitsch é o conjunto de artefatos da tradição de uma determinada cultura que se torna
mercadoria de consumo. São adornos, bugigangas, quinquilharias como estatuetas, bibelôs, colares,

1418
biscuit, ou seja, são objetos que, além de perder seu significado por estar sendo comercializados
fora de seu contexto, não se têm valor de uso. É o consumir por consumir na tentativa incansável de
encontrar alguma realização plena.
Outro aspecto interessante é a reciclagem cultural industrializada que também caracteriza o
kitsch: o que era antigo é relançado como novo alimentando o ciclo vicioso de seguir a moda das
tendências atuais mesmo que sejam velhas novidades. Isso garante a circulação do mercado que
impossibilita o acúmulo de riqueza pelos consumidores (BAUDRILLARD, 1995). Quanto a isso,
alguns cartazes, principalmente, entre as meninas, demonstram essa visão de consumo de adornos,
objetos que não tem um valor de uso, mas que são ditados pela mídia como sendo necessários a
agregar valor a beleza, ou apenas tendências da moda, e assim, portanto, necessário ao bem estar
pessoal.
Os gadget´s são produtos que tem utilidade prática, mas passam a ter mais valor pelos seus
acessórios que pela sua função inicial, como no caso dos telefones celulares. Inicialmente serviam
para fazer ligações, hoje em dia passaram a servir para fazer contas, anotar lembretes, tirar fotos,
jogar, ver as horas, assistir a vídeos, despertar, passar mensagens, trocar arquivos, ou seja, a função
principal se tornou a que menos agrega valor ao celular. Percebemos que alunos que já portam
celulares, ao ver um modelo mais avançado nas revistas que oferecemos para o corte e colagem, o
desejam e colocam em seus cartazes como sendo algo de fundamental importância a seu futuro.
Outra característica desnorteada da sociedade de consumo, denunciada por Baudrillard
(1995) é a importância do lúdico, pois segundo este autor a realização plena se tornou fuga da
realidade. Essa visão contraditória que leva os sujeitos a encontrar nas baladas, passeios, novelas,
filmes, músicas, dentre outros os raros momentos de felicidade. Trabalha-se seis dias da semana
com o objetivo de custear esses raros ―momentos de felicidade‖, em festas, praias e viagens. Isso
torna-se um ciclo infindável, como aborda o vídeo ― A história das coisas‖ utilizado nas oficinas
como atividade desencadeadora. Percebe-se na própria fala dos alunos, ao apresentarem os cartazes,
o desejo de dispor de recursos financeiros para adquirir isso ou aquilo, como se o ter fosse na
verdade uma válvula de escape, e solução para todos os problemas.

Divertir-se significa, que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, mesmo onde
ela se mostra. Na sua base do divertimento, planta-se a impotência. É, de fato, fuga, mas
não, como pretende, fuga da realidade perversa, mas sim do último grão de resistência que
a realidade ainda pode haver deixado (LIMA, 1990, p. 182).

Diante disso, percebemos que o consumismo é uma ilusão que envolve as pessoas, pois estas
entregam-se a um ciclo de vida, entre trabalhar e consumir pra ser feliz, numa miraculosa
associação de inversão de valores que, por vezes, são contraditórios. E a quem se deve isso? ―a

1419
publicidade constitui um dos pontos estratégicos de semelhante processo‖ (BAUDRILLARD, 1995,
p. 134). Ou seja, o autor citado denuncia que os meios de comunicação se tornaram atividades
míticas essenciais para orquestrar a sociedade de consumo, pois os anúncios dizem o que devemos
comprar o que nos fará felizes, as revistas utilizadas pelos alunos são cheias desses bens de
consumo, e encharcadas de anúncios dizendo o que se deve ter.
A associação não falsa e, ao mesmo tempo, não verdadeira entre produto e felicidade é
mítica como a suprarrealidade da arte. Os publicitários não mentem, mas realizam relações
absurdas, possíveis de acontecer tão somente na ficção (BAUDRILLARD, 1995). Os produtos de
consumo estão associados aos prazeres, ao corpo, ao que satisfaz pessoalmente cada individuo do
ponto de vista do status, aquilo que é representado na sociedade. O que leva ao uso e desuso de
recursos naturais sem a preocupação com o destino do lixo produzido ao se fabricar tantos bens,
onde um dos objetivos principais é movimentar a economia e não garantir o bem estar de quem esta
comprando.
Nossos alunos ao atentar para isso ressaltam em suas apresentações que a troca de celulares
ocorre com frequência em decorrência da aparição de modelos mais atuais e com mais funções o
que leva a uma substituição de um produto que ainda serve ao uso, mas que de acordo com a
sociedade não esta mais dentro dos padrões e não contempla o seu usuário.
Abordamos, com os alunos de uma das escolas participantes, o tempo de utilidades dos
produtos e a quantidade de lixo gerado na sua produção e no descarte destes, os alunos atentaram ao
fator de que o desgaste planetário e a poluição serão consequências advindas dessa produção e
consumo exacerbado de bens materiais, o que não é de conhecimento público. Com isso visamos
articular os conhecimentos prévios dos alunos (construção dos cartazes antes da oficina) com o
conhecimento apreendido no decorrer das oficinas, observando –os na apresentação dos cartazes ao
final da oficina.

ARTICULAÇÕES ENTRE O TEMA SOCEIDADE DE CONSUMO E AS OFICINAS DO


PROJETO

Após a apresentação dos cartazes pelos alunos, ao final da oficina, eles já possuem outra
visão acerca do tema ―consumismo‖, e já agregam outros valores como indispensáveis a sociedade
que almejam a seu futuro, pois a partir das discussões acerca das questões ambientais, eles
articulam que a aquisição de bens de consumo, ditados pela mídia capitalista, tem a finalidade de
movimentar a economia e vender seus produtos. Assim a discussão da temática no decorrer da
oficina, após a construção dos cartazes permitem aos alunos trocarem as lentes (CARVALHO,
2004), e passarem a ver o mesmo objeto que antes almejavam como essencial a sua vida futura,

1420
percebendo-o agora apenas como um produto feito para ser vendido. Conhecendo toda a história de
extração de recursos naturais, poluição do solo, ar e água, e toda a questão envolvida por trás e que
a mídia não aborda, leva os alunos à conclusão de que ―o consumidor real torna-se um consumidor
de ilusões‖ (DEBORD 1992, p. 9).
Somente a partir da problematização, do direcionamento, do novo olhar, quando são
estimulados a refletir: ―será que eu realmente preciso de tantas coisas, são elas essenciais a mim?‖ é
que os alunos, confrontados com esses temas, passam a se perceber consumistas, ou seja, ―a
natureza artificializada, instrumentalizada ao extremo, recusa-se a deixar entender diretamente. Os
homens não vêem o que enxergam.‖ (SANTOS, 1998, p. 51).
Estamos nos tornando uma sociedade mecanizada, direcionada de acordo com os interesses
do mercado e do capital, mesmo no seu momento de lazer. Estamos nos tornando cada vez menos
participantes e conformados com aquilo que nos é imposto, estamos extraindo da natureza tudo que
ela pode ofertar e devolvendo todo o lixo produzido por isso, e nem ao menos nos damos conta. É o
que Adorno (1996), chama de ―semicultos‖, onde os homens pensam unicamente no momento, no
instante, sem o interesse a um aprofundamento crítico sobre o que esta fazendo.
Esse direcionamento levou os alunos a perceberem que a produção cria os objetos de
consumo e o consumo cria o sujeito para esse objeto, mas além de criar o sujeito para esse objeto, o
consumo inventa todo o espaço que esse sujeito faz parte. A empresa não cria o objeto (a
mercadoria), mas o mundo onde o objeto existe. Ela não cria tampouco o sujeito (trabalhador e
consumidor), mas o mundo onde o sujeito existe (MARX ,1974). Assim tem-se:
A produção é, pois imediatamente consumo; o consumo é, imediatamente, produção. Cada
qual é imediatamente seu contrário. Mas, ao mesmo tempo, opera-se um movimento
mediador entre ambos. São elementos de uma totalidade (MARX ,1974, p.115).

Tanto o consumo como a produção são dependentes, o que nos leva a inferir que sem o
consumismo não há motivos para se produzir tanto, e só se produz muito porque há quem consuma
todas as mercadorias, a preocupação é apenas com a movimentação da economia, que depende das
vendas, consequentemente, do consumo, e toda produção utiliza matérias primas e a sua fabricação,
aumentando a degradação, a poluição, além de outros agravantes ao meio ambiente, assim:

O consumo não pode, então, ser considerado um momento autônomo, ele se encontra
determinado, seja, pelo complexo processo constitutivo dos desejos humanos, seja pela
lógica de produção, o que, nas sociedades capitalistas, significa dizer que se encontra
estabelecido pela lógica do lucro (Padilha, 2006, p. 85).

Esse consumismo todo não aconteceu por acaso, os alunos questionam-se quando se
tornaram consumistas? Recorremos a Santos (1998), para entender como se deu esse processo, o
autor afirma que a sociedade no final do século XX, influenciada pelo processo intenso de

1421
globalização, torna-se uma sociedade de indivíduos consumistas, enraizando na cultura esse
aspecto, que promove novos conceitos de socialização, aumentando a individualidade, reduzindo a
personalidade, tornando todos muito parecidos, senão iguais. A exaltação do consumo reduz muitas
sensibilidades do homem, e intensifica e alimenta um individualismo feroz e sem fronteiras. O
consumo, ainda de acordo com Santos (1998), dizima a personalidade, sem a qual o homem não se
reconhece como único, a partir da igualdade entre todos.
Este trabalho, em uma das oficinas demonstrou o quanto ainda somos ingênuos diante do
modelo capitalista onde vivemos, as influências ditadas na mídia, e por outros meios de
comunicação facilmente nos iludem e nos levam ao consumismo desenfreado daquilo que
acreditamos ter necessidade, algumas coisas realmente são necessárias a nós, mas outras nem tanto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse contexto, de cerca de 200 anos de revolução industrial, que aqueceu a economia e
estimulou o consumismo vigente até hoje, surge à educação ambiental que assume uma posição de
destaque para construir os fundamentos de uma sociedade sustentável, apresentando uma
importante função num tempo ainda consumista/capitalista, mas ao mesmo tempo em pleno
processo de despertamento frente as questões ambientais, ao propiciar a base necessária aos
processos de mudança culturais rumo a uma consciência ecológica. O projeto ―Divulgando a
Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em
Mossoró-RN‖, faz parte desse processo, uma vez que através de uma equipe multidisciplinar de
professores e alunos atuando em escolas da rede pública de ensino em Mossoró/RN, tem trazido a
tona e chamado à responsabilidade de educadores e alunos face aos desafios da contemporaneidade.
A problemática envolvendo o tema consumismo, abordado em uma das oficinas numa turma
do ensino médio, possibilitou a apreensão da visão dos alunos quanto a este tema, o direcionamento
da construção dos cartazes que enfatizava o futuro que eles almejavam, demonstrou que a cultura
consumista está inserida na vida das pessoas como algo comum, e que somente ao trocar as lentes,
ao expor o que há por trás da produção e comercialização desses bens de consumo é que os alunos
passam a enxergar o lado da exploração dos recursos naturais e da poluição que a fabricação e
descartes destes produtos ocasiona.
O Programa Novos Talentos com o seu Projeto ―Divulgando a Educação Ambiental na
Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN, tem alcançado
seus objetivos, pois tem conseguido por meio dessas oficinas, levar a informação aos alunos da rede
básica de educação, onde acreditamos, ser a informação a base primaria para uma nova postura

1422
diante da sociedade, estamos assim, construindo saberes no exercício da cidadania, e nos
posicionando diante das problemáticas ambientais, levando os alunos a reflexão e sensibilização
diante da própria postura, de seu papel como sujeito participante desse processo.
Os alunos se perceberam consumistas, e além desta concepção atentaram ao fato de que
alguns desses bens não necessários, são comprados apenas porque dizem que precisamos, quando
nunca o usamos para um fim de fato necessário. É assim que a sociedade consumista se mantém
buscando no consumismo uma felicidade e satisfação que acreditam não ter, é um ciclo
interminável, pois, a mídia, principal, responsável pela divulgação e venda dos produtos, nos faz
acreditar que somente comprando determinado objeto seremos realizados, e essa realização nunca
chega por o pelo fato de o mercado estar sobrecarregado de coisas que ainda precisam ser vendidas,
então deve-se sempre haver necessidades para que hajam compradores.

REFERÊNCIAS

ADORNO, T. Teoria da semicultura. Educação & Sociedade, São Paulo, ano XVII, n.56,
dez. 1996.

LEONARD, Annie. A História das Coisas ('The Story of Stuff'). Direção: Louis Fox. EUA, 2007.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa. Edições 70, 1995.

CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São


Paulo: Cortez, 2004.

DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1992.

LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1990.

MARX, K. Introdução à crítica da economia política. São Paulo: Abril, 1974. p.109-113 (Os
pensadores, v.35).

MOLES, A. O Kitsch: a arte da felicidade. São Paulo: Editora perspectiva, 1975.

PADILHA, Valquíria. Shopping Center: a catedral das mercadorias. São Paulo, Boitempo, 2006.

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. São Paulo, Nobel, 1998.

1423
POTENCIALIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: ENTRELAÇAMENTOS PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Mikael Bernardo Vasconcelos de ARAÚJO (PIBIC/UEPB) –


mikaelbernado_cg@hotmail.com

Rafaela Dias FERNANDES (PIBIC/UEPB) – rafaela_dadiva@hotmail.com

Ângela Maria Cavalcanti RAMALHO (DFCS/UEPB) - angelaramalho@oi.com.br

Sandra Sereide Ferreira da SILVA (UEPB) - sandrasereide@yahoo.com.br

RESUMO

No contexto da sociedade atual em que se processa cada vez mais o dinamismo do capitalismo, faz-
se necessário a implantação de políticas capazes de fortalecer a redistribuição de renda e
democratização das oportunidades. Neste cenário a economia solidária surge como uma rede de
ideias e experiências que se encontram focalizadas nas lutas das organizações dos trabalhadores em
contraposição ao capitalismo e tem como um dos seus fundamentos ser hegemônico no quadro
econômico atual, buscando com isso diminuir a competitividade gerada nos mercados, que por
consequência traz desigualdades sociais, marginalização do mercado de trabalho formal, má
distribuição de renda e degradação do meio ambiente. A formação de redes de economia solidária é
um passo importante para a construção de uma identidade territorial com base nas potencialidades
locais, que permita aos atores sociais - trabalhadores uma reação autônoma através de novas
modalidades de trabalho na busca da geração de renda. Com bases nesses pressupostos o estudo tem
como foco principal analisar como a economia solidária a partir das potencialidades locais tem
contribuído para o desenvolvimento local sustentável. Buscando compreender como de processa as
relações sociais, econômicas e ambientais nos empreendimentos econômicos solidários e com isso
obter atuações concretas sobre a exequibilidade da economia solidária a partir de seus princípios
estabelecidos abrindo um leque de oportunidade para a observação da humanização do trabalho,
geração de renda e a sustentabilidade ambiental. A pesquisa desenvolvida foi do tipo exploratória,
tomando como base um levantamento das atividades econômicas e sociais, em potencial,
desenvolvida na cidade de Remígio, PB. Os resultados apontam um potencial econômico e social

1424
significativo o que sinaliza para a criação e ampliação de redes de economia solidária na busca do
desenvolvimento local sustentável

PALAVRAS-CHAVE: Economia Solidária; Potencialidades Locais; Desenvolvimento Sustentável.

ABSTRACT

In the context of today's society that is increasingly renders the dynamism of capitalism, it is
necessary to implement policies that strengthen democratization and redistribution of income
opportunities. In this scenario the solidarity economy emerges as a network of ideas and
experiences that are focused on the struggles of workers' organizations in opposition to capitalism
and has as one of its foundations be hegemonic in the current economic context, intending to
diminish the competitiveness generated in markets which consequently brings social inequalities,
marginalization of the formal labor market, unequal distribution of income and environmental
degradation. The formation of networks of economic solidarity is an important step towards the
construction of a territorial identity based on local potential, enabling social actors - a reaction
autonomous workers through new ways of working in the pursuit of generating income. With bases
assumptions that the study focused primarily on examining how the social economy from local
potential has contributed to sustainable local development. Trying to understand how processes of
social, economic and environmental solidarity in economic enterprises and thereby obtain concrete
actions on the feasibility of the solidarity economy from its principles established by opening a
range of opportunity for observing the humanization of work, income generation and environmental
sustainability. The survey was developed like taking an exploratory survey of economic and social
activities in potential developed in the city of Remígio, PB. The results indicate a potential
economic and social impact which signals to the creation and expansion of networks of economic
solidarity in the pursuit of sustainable local development.

KEYWORDS: Solidarity Economy; Potential Sites; Sustainable Development

1. INTRODUÇÃO

A Economia Solidária surge no Século 19 como um movimento social na Inglaterra, como


forma de resistência - por parte da população socialmente excluída - ao crescimento desenfreado do

1425
capitalismo industrial, levando milhares de trabalhadores a se organizarem na busca da melhoria da
qualidade de vida.
Como resultado, com força cada vez maior os empreendimentos solidários surgiram como
―respostas a crises nas empresas, ao desemprego e à exclusão social. Mas, em determinadas regiões,
a economia solidária atingiu densidade tal que domina a vida econômica e pauta a sua expansão‖
(SINGER, 2002, p.121).
Sendo assim, a Economia Solidária pode ser entendida como uma rede de ideias e
experiências que traz no seu bojo raízes históricas que se encontram focalizadas nas ações e lutas
das organizações de trabalhadores, de movimentos populares, de grupos ativistas nas universidades
e nas igrejas. Um movimento que se fortalece e se organiza a cada dia, recebendo apoio da
sociedade civil, do poder público e das empresas.
Destarte, a mobilização, a organização dos atores sociais em associações e/ou em
cooperativas viabiliza a criação de redes solidárias na busca da geração de trabalho e renda dos
atores sociais nos diversos territórios e a promoção do desenvolvimento local de forma sustentável.
Assim, a economia solidária preconiza o entendimento do trabalho como um meio de
libertação humana dentro de um processo de democratização econômica, criando uma alternativa à
dimensão alienante e assalariada das relações do trabalho capitalista, reafirmando a emergência de
milhares de trabalhadoras e trabalhadores se emanciparem como sujeitos históricos.
Além disso, a economia solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, envolve a
dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, além da visão econômica de
geração de trabalho e renda, as experiências de economia solidária se projetam no espaço público,
no qual estão inseridas, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e
sustentável.
A literatura acadêmica-cientifica versa que a economia solidária é ―[...] um conjunto de
atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas sob
a forma de autogestão, isto é, pela propriedade coletiva do capital e participação democrática nas
decisões dos membros da entidade promotora da atividade, tendo como finalidade a reprodução
ampliada da vida‖ (SINGER, 2002, p.48).
Vale ressaltar que a economia solidária não se confunde com o chamado "Terceiro Setor"
que substitui o Estado nas suas obrigações legais e inibe a emancipação de trabalhadoras e
trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A economia solidária reafirma a
emergência de atores sociais, ou seja, a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos
históricos.

1426
Evidencia-se que muitos trabalhadores no mundo inteiro estão se unindo para fazer e
vivenciar a Economia Solidária porque entendem que os frutos da economia capitalista dominante,
como a exclusão social, o desemprego e a degradação do meio ambiente, são muito amargos e
sacrificantes. Rompendo com a lógica do lucro, na Economia Solidária o mais importante é a vida.
Para tanto, essa economia funciona a partir de empreendimentos todos os participantes decidem em
conjunto, cooperando sem hierarquias ou patrões.
Com bases nesses pressupostos o estudo tem como foco principal analisar como a economia
solidária a partir das potencialidades locais tem contribuído para o desenvolvimento local
sustentável. Buscando compreender como de processa as relações sociais, econômicas e ambientais
nos empreendimentos Econômico Solidários e com isso obter atuações concretas sobre a
exequibilidade da Economia Solidária a partir de seus princípios estabelecidos abrindo um leque de
oportunidade para a observação da humanização do trabalho, geração de renda e a sustentabilidade
ambiental.
Quanto à metodologia como caminho para o desenvolvimento da pesquisa em função do
objeto estudado optou-se por uma pesquisa do tipo exploratória com abordagem qualitativa,
tomando como base um levantamento das atividades econômicas e sociais em potencial
desenvolvida na cidade de Remígio, PB e os empreendimentos de economia solidária existentes no
município.
A partir do enfoque elucidado, evidencia-se que formação de redes de economia solidária é
um passo importante para a construção do processo de desenvolvimento local, além da construção
da identidade territorial com base nas potencialidades locais, que permita aos atores sociais -
trabalhadores uma reação autônoma através de novas modalidades de trabalho para a geração de
renda. Perspectiva que indica caminhos para se erigir o processo de desenvolvimento local
sustentável.

1.1 Economia Solidária, Potencialidades Econômicas e Desenvolvimento local


Sustentável

A economia solidaria contribui para a configuração de uma nova realidade social ao


proporcionar a geração de um trabalho emancipado, autônomo e constituído de trabalhadores e
consumidores como sujeitos históricos para superação dos problemas sociais oriundos da lógica
sistêmica que gerou graves problemas sociais e ambientais. Portanto, a economia solidária torna-se
possível a partir da interface cooperação, autogestão e solidariedade entre os atores sociais na
realização das atividades econômicas, ao estabelecer novas relações entre produtores e

1427
consumidores contribuindo para o surgimento cada vez mais de movimentos emancipatórios na
sociedade.
Sendo assim, o empreendimento econômico solidário viabiliza a manutenção do emprego
local a partir de uma demanda dos serviços disponíveis nos territórios; também a permanência de
uma parcela significativa da população jovem e adulta na gestão do território; manutenção do
emprego agrícola para assegurar outros serviços multifuncionais incluídos os ambientais e os
turísticos. Além evidentemente da manutenção da paisagem e do meio ambiente, através de uma
agricultura com um povoamento regional equilibrado; manutenção do habitat no espaço rural, a
partir de e princípios ecológicos.
Assim, diante da perspectiva de uma sociedade mais justas, o movimento da economia
solidária deve se fortalecer como uma das alternativas à crise econômica e de emprego, bem como
ao enfrentamento de instabilidades sociais e ambientais, com isso o movimento ganhou força
nacional disseminando assim, os princípios de solidariedade e participação e criando novos
empreendimentos.
Também o fortalecimento das relações nas cooperativas populares têm proporcionado, a
seus integrantes, possibilidades de vislumbrar a diminuição do desemprego e da exclusão social.
Porém, a partir do momento em que se articula com outros movimentos sociais e, ampliam suas
agendas, passam a atuar como agentes de mudanças sociais no território em que atuam. Isto
significa que se apresentam, num primeiro momento, como instrumentos de proteção social e num
segundo momento, como instrumentos de mudança social.
Neste processo de organização da sociedade civil, busca-se a concretização da práxis a partir
da reorganização do processo de produção, comercialização e consumo com vistas à promoção da
coletividade de forma equitativa, com uma distribuição da riqueza socialmente produzida, com base
na autogestão dos trabalhadores. Vislumbrando um desenvolvimento que seja solidário e
principalmente sustentável, propiciando a melhoria da qualidade de vida de milhares de
trabalhadores no campo e na cidade.
Assim sendo, é relevante assinalar que o desenvolvimento precisa ser entendido como a
efetivação universal do conjunto dos direitos humanos, desde os direitos políticos e cívicos,
passando pelos direitos econômicos, sociais e culturais, e terminando nos direitos ditos coletivos,
entre os quais está, por exemplo, o direito a um ambiente saudável (SACHS, 2008).
Com base nessa lógica, o desenvolvimento deve possuir qualidades inerentes, como ser
sustentável, endógeno, integrado, social e humano, para que assim consiga atingir todas as classes
sociais. O desenvolvimento é uma construção social que consegue estabelecer uma dinâmica
territorial nas quais são potencializadas as fontes de poder e de riqueza locais, através da interação

1428
estratégica entre atores sociais, políticos, econômicos e culturais, considerando seus recursos
físicos, humanos, culturais além de sua infraestrutura (SACHS, 2008).
Este viés elucida que o desenvolvimento sustentável, se baseia em pressupostos éticos que
demandam duas solidariedades interligadas: solidariedade sincrônica, com a geração a qual
pertencemos, e solidariedade diacrônica com as gerações futuras, o bem-estar das gerações atuais
não pode comprometer as oportunidades e necessidades futuras, reduzindo as possibilidades de
reprodução e desenvolvimento futuro (Op cit., 2008).
Relevante pontuar ainda, que o desenvolvimento local deve ser concebido a partir das
concepções culturais e políticas próprias dos grupos sociais, considerando-se suas relações de
diálogo e de integração com a sociedade maior, através de representação em espaços comunitários
ou em conselhos políticos e profissionais (COSTABEBER e CAPORAL, 2003).
Sendo assim, as potencialidades socioeconômicas locais são fundamentais na composição de
mecanismos estratégicos de desenvolvimento local. As potencialidades são constituídas de seus
aspectos sociais, culturais e históricos, do capital social existente e acumulado, da identidade ou
pertencimento dos que nasceram na região, além do acervo natural que caracteriza a localidade e o
visual fotográfico que embeleza o local, cuja população está sempre em cooperação umas para com
as outras ao mesmo tempo em que recebe informações externas para buscarem implantar um
processo de desenvolvimento.
A partir dessa perspectiva evidencia-se que os empreendimentos de economia solidária
particularmente, nas regiões do semiárido, pode se caracterizar como a mola propulsora para guiar
as atividades desenvolvidas partir das potencialidades socioeconômicas nos espaços urbanos e
rurais na busca do desenvolvimento local sustentável. Considerando ainda, que as atividades
econômicas no meio rural são desenvolvidas e se processam na agricultura familiar utilizando
basicamente a mão de obra da família.
Evidencia-se ainda que a agregação dos valores dos produtos de cada território traz na sua
matiz um fator significante que são as tradições culturais regionais e os modos específicos de
manufaturar os produtos oriundos de cada cidade e região, também os recursos naturais
geograficamente diferenciados e históricos é um diferencial significativo do produto confeccionado
em dada região.
Segundo Amaral Filho (1996) as regiões que possuírem maior abrangência na agregação de
valor poderão aumentar a produção, acelerar o crescimento, aumentar o produto e possibilitar uma
melhor distribuição da renda. Desse modo, define que o desenvolvimento local.

1429
[...] é um processo de crescimento econômico implicando em uma
contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem
como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do
excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes
provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação do
emprego, do produto e da renda do local ou da região mais ou menos definido
dentro de um modelo específico de desenvolvimento regional (Op. Cit., 1999).

Sendo assim, evidencia-se que o desenvolvimento local no semiárido demanda um incentivo


e apoio a empreendimentos econômicos solidários includentes, a partir da produção de bens e
serviços de pequenos empreendedores (individuais, ou em associações ou cooperativas), que
possam contar com um mínimo de suporte e incentivo nas ações das políticas públicas, para
alavancar de forma sustentável, atividades econômicas que possibilitem ocupação e renda dos
habitantes dessa região.
Diante dos desafios da problemática social, econômica e ambiental do semiárido que se
configura em um cenário que mutila sonhos, esperanças e felicidade dos sujeitos que os constrói,
descortina- se movimentos, fluxos, descontinuidade e, extasiados e perplexos diante da realidade
posta, descobre-se também, que nos faltam conceitos e até mesmo palavras que permitam indicar o
que está diante dos nossos olhos, por isso precisamos buscar respostas nas descobertas feitas através
dos estudos metódicos desenvolvidos cotidianamente.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento da investigação científica o caminho metodológico percorrido no


primeiro momento foi uma pesquisa bibliográfica com base em aportes teóricos que analisam as
categorias economia solidária e desenvolvimento sustentável. Seguido de uma pesquisa exploratória
a partir de um mapeamento das atividades econômicas e sociais em potencial desenvolvidas na
cidade de Remígio, PB.
A pesquisa foi realizada em duas etapas. Na primeira etapa se procedeu o levantamento de
dados sobre as potencialidades no lócus social pesquisa. Para isso se entrevistou lideres
comunitários assim com funcionários de instituições públicas, pesquisadores e pessoas ligadas ao
desenvolvimento do município. Na segunda fase se procedeu à coleta de dados primários - que
foram coletados utilizando a técnica da observação participante e a entrevista semiestruturada.

1430
Tomou-se como cenário o local para apreender como potenciais econômicos e sociais ecoam
na estrutura do local operando profundas transformações em todas as manifestações da vida
cotidiana: mudando estruturas, formas de pensar e de compreender o mundo, transformando-se em
uma grande força de ação social coletiva que poderá provocar o alavancamento do processo de
desenvolvimento local.
Algumas questões descortinadas pela pesquisa sobre desenvolvimento econômico sugerem
investigações mais detalhadas, como experiências de desenvolvimento local, implementação de
redes de economia solidária, a participação da sociedade nos processos de planejamento e
conselhos, fóruns e outras instituições; o papel dos governos municipais e estaduais no fomento as
atividades produtivas e competitivas dos territórios.

2.1. Caracterização da área estudada

O município de Remígio está localizado na Microrregião do Curimatáu Ocidental e na


Mesorregião Agreste Paraibano do Estado da Paraíba de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). A cidade de Remígio tem população estimada em 17.581 habitantes e área
territorial de 178 km² representando 0.3155% do Estado, 0.0115% da Região e 0.0021% de todo o
território brasileiro. A sede do município tem uma altitude aproximada de 593 metros distando
109,7 Km da capital. O acesso é feito, a partir de João Pessoa, PB.
O município de Remígio fica no topo da serra da Borborema. Na encosta voltada para o lado
do mar encontra-se a região mais chuvosa, o brejo. Na encostada voltada para o Norte fica a região
mais seca, o Curimatáu. E nos envoltos do município tem o agreste, que é uma transição dessas
duas regiões.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da pesquisa exploratória desenvolvida foi possível mapear as potencialidades


econômicas da cidade Remígio no estado da Paraíba, associando-as a exploração econômica de
produtos e serviços que se destacam por sua qualidade, peculiaridade e cultura. O município possui
características específicas para o desenvolvimento de um produto ou serviço com diferenciação dos
demais existentes no mercado, além de qualidades intrínsecas agregadoras de valor, como por
exemplo, a tradição, a cultura e os saberes envolvidos nos produtos/serviços que são associados a
produtos amplamente comercializados no Estado e em outras regiões.

1431
Esses produtos carregam consigo uma chancela e associa o produto/atividade/serviço a uma
determinada região do Estado. Muitas vezes associando o produto a cidade, tornando-o o cartão de
visitas, construído durante anos pela tradição.
O estudo possibilitou ainda apontar o potencial no município em análise, verificando como
estes elementos podem provocar mudanças na ocupação e geração de renda, além das formas de
produção e comercialização, contribuindo para um mapeamento mais ampliado de indicadores que
viabilizam o desenvolvimento local, servindo de base para um estudo mais aprofundado em um
segundo momento.
Sinalizando ainda, que as atividades que são exploradas não recebem o devido apoio e
incentivo através das políticas públicas, no processo de desenvolvimento de aptidões econômicas e
dotação de empreendedores (individuais ou coletivos) locais de capacitação e infraestrutura para o
seu desenvolvimento socioeconômico.
Assim, a aptidão agrícola no município muda de acordo com o seu ambiente. Na região mais
úmida onde se encontra os Sítios Camará, Caiana e Mata Redonda observa-se uma estratégia
econômica viabilizada através do plantio de laranja e banana. Próximo à cidade fica a região do
brejo que uma concentração maior de áreas de ―roçado‖ (produção para subsistência), como o
feijão, o milho e fava, além da produção de tubérculos e hortaliças, como a batata doce, macaxeira e
cenoura.
Na região do Agreste e Curimataú se encontram as áreas de assentamento da reforma
agrária. Essa área tem produzido bastante feijão e milho, chegando a produzir toneladas
significativas, sendo que 60% são comercializadas nas feiras livres no município e o restante nos
municípios circunvizinhos.
A criação animal está mais localizada nesta região, como gado, ovelhas e cabras, sendo a
renda familiar rural mais significativa, existindo outras rendas com as pequenas criações.
No mercado da agricultura familiar tem comerciantes que compram direto nas propriedades,
realiza a venda dos produtos na feira livre, outros agricultores estão envolvidos em programas de
aquisição de alimento nas políticas públicas do Governo Federal. Além dessas culturas há também
comercialização de amendoim, castanha de caju, inhame e outras frutas no Agreste. Também a
criação de pequenos animais, como galinha e peru em épocas de São João e Natal. ―Casando a
cultura com as culturas‖
No que desrespeita a organização social dos trabalhadores no município, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Remígio tem um trabalho amplo e significativo na agricultura familiar
agroecológica. Esse trabalho tem como principio básico a agroecologia, a autonomia e os princípios
da economia solidária. Esses três princípios atuam em interface. O trabalho é organizado em

1432
comissões temáticas por interesse, formado através das comissões: saúde e alimentação, sementes,
água, criação de animais e placas, que no período de longa estiagem recebe recursos de algumas
ONGs.
Os recursos recebidos das ONGs são transformados em fundos rotativos solidários com a
gestão da própria comunidade. Anteriormente havia nas comunidades apenas cinco cisternas,
todavia em dois ou três anos se multiplicavam em mais de mil cisternas de placas.
Relevante assinalar, que em 2005 no município houve um salto de qualidade no programa de
FRS (Fundo Rotativo Solidário), com a criação da comissão de saúde e alimentação. Também foi
criado um fundo rotativo com telas na criação de galinhas, como plásticas para cilagem e troca de
sementes. Na comunidade Lagoa do Jogo o fundo rotativo solidário tem apoiado várias iniciativas
tanto de teor econômico como social, a exemplo do frete do transporte para o deslocamento dos
produtos dos agricultores, além da ajuda nas copias de documentação para aposentadorias.
Dessa forma, é importante potencializar o local para dinamizar a reciprocidade entre os
atores sociais, além evidentemente dos mecanismos redistributivos de renda na busca da melhoria
da qualidade de vida, a partir das diferentes formas de organização pensando na gestão econômica
centrada na comunidade, com capacidade de auto-organização no campo político, econômico, social
e ambiental.
Assim sendo, constata-se um significativo fortalecimento da organização dos trabalhadores
no município, contribuindo significativamente para a ampliação do número de associações, que hoje
conta com cerca de 30 associações, dentre elas a Associação Comunitária de Desenvolvimento de
Caiana (ACODECA), Associação dos Produtores Rurais do Município de Remígio (APROMUR),
Associação dos Agricultores Familiares das Comunidades de Malacheta e Jacaré (AAFCMJ).
Destaca-se a Associação de Comunidade Negra de Camará - ACONCA, uma comunidade
remanescente de quilombo que residem cerca de 26 famílias. Sua principal fonte de renda vem da
agricultura camponesa (produção de laranja, manga, abacate, entre outros). Tem como objetivo o
fornecimento de alimento para a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) e essa
instituição distribuí os produtos para os projetos solidários existentes no município, também com as
famílias de baixa renda.
A comunidade tem um potencial de capital social significativo, principalmente o cultural e
os traços geográficos com um enraizamento social peculiar, se caracterizando como um mecanismo
para o processo de desenvolvimento sustentável local.
Dessa forma, é importante potencializar o território para dinamizar a reciprocidade entre os
atores sociais, além evidentemente dos mecanismos redistributivos de renda na busca da melhoria
da qualidade de vida, a partir das diferentes formas de organização pensando na gestão econômica

1433
centrada na comunidade, com capacidade de autoorganização no campo político, econômico, social
e ambiental.
A partir dos dados obtidos, advindos de pesquisas e da utilização de procedimentos
científicos, ou seja, a utilização de conhecimentos teóricos, métodos e técnicas, para compreender
quais princípios norteiam esses empreendimentos, o trabalho observou-se que a economia solidária
enquanto mecanismo estratégico de desenvolvimento a partir das potencialidades socioeconômicas
do território da cidade de Remígio pode contribuído para viabilizar o desenvolvimento local
sustentável.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da sistematização do estudo foi possível evidenciar que o processo de


desenvolvimento local requer uma maior aproximação e fortalecimento das relações entre a
comunidade e os profissionais denominados como ―agentes de desenvolvimento‖ que são os bancos
públicos, serviços públicos (como por exemplo, o SEBRAE), agências de fomento da economia
solidária, ligadas à Igreja, sindicatos ou universidades além dos movimentos sociais. Demandando
que os ―agentes‖ levem até a comunidade informações necessárias sobre as formas de
desenvolvimento e como é possível implantar o processo através do esforço conjunto da
comunidade.
Nesse processo, a própria comunidade necessita buscar capacitar–se para o manejo e
interpretação das informações, para que possa se empoderar e manter uma relação igualitária com
os agentes diante da troca de saberes, também para dialogar sobre as propostas e orientações
apresentadas pelos ―agentes de desenvolvimento‖.
Nesse processo de diálogo profícuo, os atores sociais da comunidade ao mesmo tempo em
que recebem ensinamentos também oferecem aos agentes, estabelecendo uma relação dialética de
educação política mútua. As experiências das incubadoras universitárias e das cooperativas
populares atestam que este tipo de relação necessária para que o desenvolvimento solidário possa
acontecer efetivamente.
Sendo assim, é possível buscar promover o que se considera fundamental para os territórios,
principalmente nas regiões semiáridas do nordeste como: gerar ocupação e renda, ampliar o número
de proprietários produtivos, elevar o nível de escolaridade da população, além do número de
organizações da sociedade civil, para a democratização do acesso à riqueza.
Um elemento importante para instigar a consciência é levar para o conjunto da comunidade
as informações necessárias sobre as novas formas de desenvolvimento, o que deve desencadear um

1434
processo de educação política, econômica e financeira de todos os atores. No decorrer do processo,
instituições vão surgindo por meio das quais a comunidade se organiza para promover o seu
desenvolvimento como, por exemplo, assembleia de cidadãos, comissões para desenvolver
diferentes tarefas, empresas individuais, familiares, cooperativas e associações de diferentes
naturezas.
Diante da discussão sistematizada, é mister ressaltar que efetivamente todo desenvolvimento
só acontecerá quando surgirem novos e múltiplos laços de realimentação de saberes e experiências.
A partir dinâmica do aumento de mais capital humano cresce o capital social, que vai gerar mais
renda e mais capital humano.
A partir dos pressupostos circunscritos, elucida-se que a economia solidária torna-se um
elemento medular na composição de mecanismos estratégicos na oxigenação do desenvolvimento
local do território ao viabilizar a economia a partir das potencialidades socioeconômicas como meta
para gerar localmente trabalho e renda, valorizando a cultura, as aptidões locais e a cooperação
empreendida entre os trabalhadores de forma organizada, ao mesmo tempo em que oferece
elementos ao poder público local para apoio e incentivo às atividades empreendidas, bem como as
políticas públicas com elementos para de traçar um desenvolvimento que se quer sustentável.

BIBLIOGRAFIA

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Planejamento e políticas públicas. Brasília, IPEA, n. 14. dez.1996

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico para


apoiar o desenvolvimento rural sustentável: texto provisório para debate. Porto Alegre:
EMATER/RS-ASCAR, 2002. 54 p. (Programa de Formação Técnica Social da EMATER/RS.
Sustentabilidade e Cidadania, textos, 5).

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Elimar Pinheiro do.; VIANA, João Nildo (Orgs). Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

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ampliando as exigências de novas tecnologias sociais. In:____ Tecnologia social: uma estratégia
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SINGER, P; SOUZA, A. R. de. (Orgs.). A Economia solidária no Brasil: a autogestão como


resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. (Coleção Economia).

1436
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL NO SÍTIO ÇARAKURA COMO FERRAMENTA DE
POTENCIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Caiâne Paraguahy Marcolino OLSEN, UFSC163, caiane_olsen@hotmail.com, Estudante


Maria Flavia Barbosa XAVIER, UFSC, mflaviabx@gmail.com, Estudante
Natália SILVÉRIO, UFSC, nataliasilverio.ma@gmail.com, Estudante
Fernando Soares Pinto SANT´ANNA, UFSC, santanna@ens.ufsc.br, Orientador

RESUMO

O Instituto Çarakura, Organização Não governamental, localizada no Sítio Çarakura (Bairro de


Ratones, Florianópolis-SC) realiza várias ações de educação ambiental, muitas delas em parceria
com o NEAmb (Núcleo de Educação Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC) . No sítio
Çarakura estão instalados alguns sistemas alternativos de saneamento descentralizado, como o
Banheiro Seco, Espiral de Aguapés (para águas cinza) e Wetlands (zona de raízes). Devido ao
desenvolvimento dessas tecnologias sociais e de práticas sustentáveis, o Sítio Çarakura recebe
centenas estudantes de diversas instituições, escolas e voluntários de outros países. O Projeto
Adequação Ambiental no Sítio Çarakura tem como objetivo principal implantar ações e medidas de
gestão ambiental, através do diagnóstico do local, a fim de propor melhorias e alternativas para o
Sítio.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Saneamento Ecológico, Diagnóstico.

ABSTRACT

The Çarakura Institute is a Non Governmental Organization, that is located on ―Sítio Çarakura‖
(Ratones. Florianópolis/SC). It realizes many actions of Environmental Educations, and some of
them in a partnership with NEAmb (Núcleo de Educação Ambiental do Centro Tecnológico da
UFSC). In Sítio Çarakura are installed some alternatives systems of ecosan, as composting toilets
and wetlands. Because of the developments of these social technologies and sustainable practices,
the Sítio Çarakura receives, thousands students of different institutions and school and some
volunteers, some from foreign countries. This project has as objective to implement actions and
measures of environmental management, through the diagnosis of the Sítio Çarakura, in order to
propose improvements and alternatives.

Keywords: Environmental Education, Ecosan, Diagnostic

163
Universidade Federal de Santa Catarina

1437
INTRODUÇÃO
Atualmente a população mundial chegou a 7 bilhões de pessoas, e o crescimento da
população mundial trás consigo o aumento no consumo de bens e produtos, que geralmente causam
grandes impactos ao meio ambiente. Além do consumo o estilo de vida das pessoas se modifica
com o passar dos anos, exigindo cada vez mais a exploração da natureza para suprir as
―necessidades‖ da sociedade atual.
O modelo insustentável de produção requer a exploração intensa dos recursos naturais, e
alem disso, geram resíduos e efluentes que deveriam ser minimizados e tratados antes de retornar à
natureza. A fim de minimizar os impactos ambientais causados pelo homem, tecnologias para
controle dos impactos ambientais devem ser desenvolvidas e utilizadas. Além do desenvolvimento
de novos meios para reduzir os impactos ambientais, faz-se necessário uma educação ambiental da
sociedade para que cresça entre nós uma cultura preservacionista, que faça oposição ao atual
consumismo exacerbado.
Com o intuito de desenvolver projetos de educação ambiental, o Instituto Çarakura sediado
no Sítio Çarakura, localizado no bairro Ratones, Florianópolis-SC, tem por objetivo praticar ―ações
referentes à pesquisa científica e tecnológica que facilitem a aplicação de tecnologias sociais, ou
seja, simples, eficiente, de baixo custo e baixo impacto ambiental, aplicáveis principalmente na
construção de habitações ecológicas, utilização de energias renováveis, recuperação de áreas
degradadas, sistemas alternativos de saneamento básico e outras iniciativas que possam fomentar o
desenvolvimento sócio-ambiental sustentável‖.
Em parceria com o Núcleo de Educação Ambiental (NEAmb) do Centro Tecnológico (CTC)
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Instituto Çarakura realiza projetos de
educação ambiental, que visam o desenvolvimento tecnológico e a preservação da natureza através
do conhecimento científico obtido na Universidade. Suas ações já chegaram a mais de 5 mil
pessoas. A partir desta parceria surgiu a oportunidade de desenvolver um projeto no próprio sítio,
pois o local recebe vários visitantes interessados em conhecer os projetos que são desenvolvidos
pelo Instituto Çarakura.
O objetivo do projeto é de potencializar as visitas e ações de educação ambiental realizadas
no sítio, que resultarão na disseminação do conhecimento técnico, científico e socioambiental para
os visitantes, e principalmente para a comunidade local.
O Sítio Çarakura é uma propriedade particular de 16 hectares, localizada em área rural de
Florianópolis, sede do Instituto Çarakura (ONG). No local estão instalados alguns sistemas
alternativos de saneamento descentralizado, como o Banheiro Seco, Espiral de Aguapés (para águas
cinza) e Wetlands (zona de raízes). Os três sistemas apresentam a necessidade de manutenção. O

1438
sistema de wetlands é recente, foi implantado este ano. Já existe no local, antes do tanque de
wetlands um sistema fossa-filtro.
Devido ao desenvolvimento dessas tecnologias de saneamento e práticas sustentáveis, o
Sítio Çarakura recebe centenas de visitantes, incluindo estudantes de diversas instituições, escolas e
voluntários de outros países. Os centros acadêmicos da UFSC realizam o trote eco-solidário no
Çarakura. Isto proporciona um novo espaço de integração solidária entre calouros e veteranos e
também entre a UFSC e a comunidade.
A necessidade dos estudantes em participar de projetos de educação ambiental que visam o
desenvolvimento socioambiental está prevista na Política Nacional de Educação Ambiental,
instituída em 2002, pelo decreto número 4.281, através da regulamentação da lei 9.795/1999. Nos
Artigos 2 e 3 do capítulo 1, está escrito que: "A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal(...)." "Como parte do processo
educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental.". Baseado nesse princípio, as
práticas de educação ambiental adotadas pelo Projeto alertam a população sobre a necessidade de
preservação da natureza, fornecendo ferramentas para que os cidadãos sejam mais conscientes com
os recursos naturais.

MATERIAIS E MÉTODOS
O passo inicial do Projeto foi realizar um diagnóstico com visitas ―in loco‖ para o
conhecimento da situação da captação e consumo de água, geração e tratamento de efluentes,
geração e disposição dos resíduos sólidos, consumo de energia elétrica e capacidade de acolhimento
dos visitantes.
Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre o que iria ser abordado no
diagnóstico, inclusive sobre trabalhos científicos que foram desenvolvidos no próprio Sítio
Çarakura.
Foram realizadas cerca de quinze visitas em turno integral, ao longo de cinco meses, para a
coleta dos dados para análise. Foram feitos registros fotográficos e elaboração de relatórios a cada
visita feita. Ao fim do diagnóstico, foi feito um relatório final para reunir todos os relatórios
pontuais de cada visita.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Sítio Çarakura é abastecido por um curso d‘água que passa pela propriedade. São dois
pontos de captação responsáveis pelo abastecimento. Os pontos de captação não estão localizados

1439
na nascente do curso d‘água, sabe-se apenas que a nascente está situada longe da propriedade, e que
acima do ponto de captação há algumas casas, pastagens e uma trilha turística (trilha da Costa da
Lagoa).
Tendo em vista a declividade do terreno, a água é encaminhada para os reservatórios por
gravidade, e para torneiras e chuveiros pelo mesmo princípio.
A água é captada de forma simples, são utilizadas mangueiras de polietileno de ¾‘ de
diâmetro. Inicialmente a mangueira principal não possuía nenhuma espécie de filtro, porém
recentemente foi colocado um saco de verduras para filtrar os sólidos grosseiros que entravam na
mangueira.
A água é armazenada em duas caixas d‘água, uma de polietileno e outra de fibra. A água é
utilizada para consumo humano e dessedentação dos animais, descarga dos dois únicos banheiros
convencionais da propriedade, nos banheiros (chuveiros e pias), cozinha (preparação de alimentos e
pia) e limpeza da casa. A fixação das mangueiras no local é feita com o auxílio de pedras e arames.
Em dias com muita chuva o nível do curso d‘água sobe, com isso as pedras responsáveis
pela fixação das mangueiras acabam se soltando. Isto ocasiona a interrupção do abastecimento de
água, além de propiciar a entrada de ar nos canos. Essa é uma problemática bem frequente no sítio,
pois requer atenção constante dos moradores para que não falte água na propriedade.
Em relação ao tratamento de efluentes, o sítio Çarakura possui duas tecnologias sociais, o
Wetlands e a Espiral de Aguapés. Ambas possuem o tratamento bem parecido, pois utilizam
macrófitas aquáticas para tratar o efluente.
As Wetlands construídas são alagados artificiais que podem ser considerados filtros
biológicos nos quais os microorganismos (aeróbios e anaeróbios) e as macrófitas aquáticas são os
principais responsáveis pela remoção de nutrientes dos efluentes (Wood, 1995).
Estes sistemas de tratamento foram desenhados e construídos para o tratamento de efluentes
domésticos e industriais, visando principalmente a decomposição da matéria orgânica e a remoção
das formas de nitrogênio e fósforo pela transformação e absorção direta pelas macrófitas aquáticas
(Cooper & Findlater, 1990).
Na propriedade, o Wetlands é utilizado para tratar o efluente proveniente do banheiro
convencional. Após passar na fossa séptica, o efluente é canalizado para o wetlands.
Já a espiral de aguapés é utilizada no tratamento do efluente da pia da cozinha. Após passar pela
caixa de gordura, o efluente é canalizado para a espiral de aguapés.
O projeto do Wetlands foi feito pela Engenheira Sanitarista Maria Elisa Magri, sendo o
dimensionamento planejado para oito pessoas. A estrutura do tanque ficou pronta apenas neste ano,

1440
porém as macrófitas aquáticas foram plantadas em Agosto de 2012. A espécie utilizada foi o
Cypeus papyros, popularmente conhecida como ‖Papiro‖.
O banheiro seco utiliza de tecnologia que evita o uso de água potável para descartar os
dejetos. Os resíduos gerados pelo banheiro são tratados pelo processo de desidratação, seguindo a
orientação de uma pesquisa de doutorado da pesquisadora Maria Elisa Magri do Grupo de Estudos
em Saneamento Descentralizado (GESAD) do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental.
Nas visitas realizadas foram percebidos alguns problemas na estrutura do banheiro e nos
sistemas sanitários e conexões utilizadas. Havia água nas bombonas de armazenamento das fezes,
proporcionada pela infiltração pelas conexões mal vedadas e a entrada de água pelo próprio vaso
sanitário segregador, pois a cobertura da estrutura não cobria a área do banheiro por inteira.
As bombonas contendo as fezes devem permanecer lacradas por um período de 6 meses a
um ano, afastadas do local de circulação dos visitantes.
No Sítio Çarakura, eventualmente parte dos resíduos recicláveis é separada e levada a um
ponto da coleta seletiva municipal, porém normalmente sua destinação fica restrita ao Sítio. Os
resíduos orgânicos são utilizados para tratar os animais que os proprietários criam (vaca, cabras,
jegue, ganso, cães e gato). É importante salientar que não há consumo de qualquer tipo de carne na
propriedade, então todo o resíduo orgânico é proveniente de frutas e verduras. Estes resíduos são
armazenados provisoriamente em um recipiente localizado na cozinha. O que sobra da alimentação
dos animais é utilizado na compostagem.
Em relação aos resíduos recicláveis, há alguns pontos principais onde estes são
armazenados. Um deles é na cozinha, onde alguns resíduos sólidos são deixados provisoriamente
em uma caixa de papelão antes de serem lavados e, posteriormente, armazenados em uma lixeira
atrás da casa.
Boa parte do que é produzido no sítio é utilizado localmente, como o emprego de garrafas
de vidro em bioconstruções, além de garrafas PET e potes de margarina para utilização em mudas, e
PET no uso de construções com bambu.
Muito do material que não é utilizado fica armazenado em um depósito aberto na entrada do
sítio. O local foi considerado pelo grupo como sendo um local de risco, já que há a deposição de
madeira, ferro, entre outros entulhos em que os visitantes, especialmente crianças, podem
eventualmente entrar em contato.
Com o objetivo de analisar o consumo de energia elétrica na propriedade, foi obtido o
histórico de consumo através do site da concessionária de energia elétrica, a CELESC. Com os
dados de CPF do proprietário e número da unidade consumidora, conseguimos dados de no máximo
dois anos atrás.

1441
Foi feito um histórico do consumo da propriedade e o levantamento dos equipamentos
eletro-eletrônicos de uso na propriedade. Além deste levantamento conversou-se com os moradores
sobre as causas dos picos máximos de consumo de energia elétrica.
Em relação ao número de visitantes do Sítio Çarakura, atualmente não há um controle.
Algumas visitas são registradas, como de algumas escolas, porém não há uma quantificação feita a
rigor, de forma sistemática. Com base em alguns desses registros, chegou-se a um número
aproximado dos visitantes no ano de 2010, de 2080 pessoas, e o de 2011, de aproximadamente
2040. Dentre essas visitas, cerca de 70% foram apenas de meio período.
É importante que o levantamento e arquivamento do número de pessoas que frequentam o
local sejam feito, para posterior estudo de impactos e capacidade suporte do mesmo. O Sítio possui
uma estrutura limitada para receber os visitantes, e com isso o excedente de pessoas poderia causar
impactos no local.
Em relação à estrutura física, foi feito o levantamento de alguns dados considerados
importantes no acolhimento dos visitantes como número de colchões, camas, banheiros, chuveiros,
entre outros.

MELHORIAS PROPOSTAS PARA O SÍTIO


A fim de resolver os problemas na captação de água da propriedade, buscou-se materiais
científicos para melhorar este aspecto do diagnóstico. Foram também consultados professores do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Estas pesquisas, indicaram duas
propostas para a captação de água na propriedade:
Proposta A: 1.1 Fixação da mangueira: Fazer uma forma geométrica parecida com um cubo
com pedras. O cubo seria sustentado, firmado por tela de arame, como as utilizadas em galinheiros;
1.2 Mangueiras: as mangueiras ficariam inseridas no interior do cubo, de forma que fiquem fixas na
estrutura. Além disso, seriam feitos furos nas mangueiras e uma cobertura de manta de Bidim.
Proposta B: 2.1 Fazer um represamento com pedras, de forma a aumentar o nível d‘água; 2.2
Mangueiras: as mangueiras ficariam no meio desta barragem, de forma que fiquem fixas na
estrutura. Além disso, seriam feitos furos nas mangueiras e uma cobertura de manta de Bidim;
Sobre o Espiral de Aguapés há uma graduanda do curso de Ciências Biológicas que está
realizando o Trabalho de Conclusão do Curso sobre o funcionamento e manutenção do sistema de
saneamento. Após a conclusão do trabalho será disponibilizado para o Projeto os dados e análises
realizadas no sistema.

1442
Infelizmente o Wetland até o momento de conclusão do diagnóstico não estava em pleno
funcionamento para se obter dados coerentes sobre o tratamento do efluente, pois as macrófitas
aquáticas utilizadas ainda estavam se adaptando ao local.
O banheiro seco estava necessitando de modificações estruturais e sanitárias. O diagnóstico
detectou problemas estruturais, em vigas que comprometiam a estrutura do banheiro. Além disso,
observou-se que a forma de armazenamento das fezes não estava adequada. Como recomendação
orientou-se que fossem modificadas as vigas de sustentação, a cobertura, a impermeabilização do
solo que aloja as bombonas, além da vedação dos sistemas sanitários do banheiro. Durante as
semanas de realização do diagnóstico ocorreram muitas mudanças no banheiro seco e a maioria das
recomendações do grupo do Projeto foram seguidas e modificadas. Este foi um grande passo para
melhoria deste sistema.
Além das modificações no próprio banheiro, determinou-se uma área na propriedade que
abrigará as bombonas para ficarem de 6 meses a um ano lacradas para que ocorra o tratamento. O
local determinado já possuía o chão de cimento, porém estava coberto por mato. Logo, sugeriu-se
que a área fosse limpa, isolada e que fosse construída uma cobertura para impedir a infiltração de
água nas bombonas. O transporte das mesmas a partir do banheiro seco para o local será feito por
um carrinho tipo armazém, de duas rodas, que facilitará o deslocamento até o local. A proposta foi
bem recebida pelos proprietários, o local foi limpo e isolado, porém ainda não foi possível a
construção da cobertura e a compra do carrinho.
Os resíduos sólidos gerados no sítio são em sua maioria resíduos orgânicos. O sítio não
possui problema em relação à destinação destes resíduos, pois eles são destinados para alimentação
dos animais e compostagem. Quanto aos demais resíduos sólidos gerados no sítio, como
embalagens plásticas, vidros, madeira, ferros, resíduos do banheiro, entre outros, a destinação final
é variada.
Uma parte dos resíduos é utilizada em bioconstrução (objetos de vidro), garrafas PET e
embalagens de margarina são usadas para fazer mudas de plantas para doação à comunidade, uma
pequena parte é destinada para a central de resíduos recicláveis do município. Recomenda-se a
construção de um local fechado e coberto para triagem e armazenamento provisório dos mesmos,
que será atrás do banheiro seco, próximo à casa, para facilitar o acesso. Além disso, os resíduos
ficariam centralizados em apenas um local, e não espalhado em vários focos.
Há alguns entulhos, como madeiras, ferro e objetos não utilizados, como janelas, cadeiras,
etc. que são acomodados na entrada do sítio, gerando problemas estéticos e atraindo animais e
insetos. Recomendou-se, então, o fechamento e cobertura do local adequando-o para um depósito
do material. O material já acumulado deverá ser separado e o que estiver em boas condições e com

1443
possível utilidade será armazenado neste ambiente adequado, de forma organizada. O que não
estiver em bom estado deverá ser separado e enviado aos seus destinos corretos, como a coleta
seletiva, ferro-velho ou outros locais que recebam o determinado resíduo sólido.
Os resíduos do banheiro atualmente são queimados no Sítio, porém a queima do lixo libera
alguns gases que podem ser nocivos ao ambiente, principalmente se entre os resíduos houver
plástico de embalagens, como de absorventes ou sabonetes. Dessa forma, o melhor destino para os
resíduos do banheiro é encaminhar para a coleta municipal, pois o caminhão da coleta passa pela
propriedade.
Outro tipo de resíduo presente no sítio eram os eletrônicos. Sobre estes, entramos em
contato com uma ONG que realiza trabalhos sociais com o aproveitamento dos resíduos eletrônicos.
Os resíduos foram devidamente recolhidos, e será utilizado pelos beneficiados do projeto.
Através do acesso ao site da companhia elétrica de Florianópolis, a CELESC, obtiveram-se
os dados de consumo de energia elétrica de até dois anos atrás.
A média aritmética do consumo de cada mês foi de 312,59 kWh. Os meses de maior
consumo foram de junho a setembro de 2011. Estes valores foram apresentados aos proprietários,
para que eles pudessem justificar a causa do aumento. Nestes meses um membro da família estava
adoecido, então foi necessária a utilização de um aquecedor elétrico, pois o inverno na região sul foi
bem rigoroso.
Nos outros meses não houve a utilização do aquecedor, como resultado o consumo da
energia elétrica diminuiu consideravelmente. Foi realizado o levantamento de todos os aparelhos
elétricos da casa. Todas as lâmpadas são fluorescentes e há apenas dois chuveiros elétricos, três
máquinas de lavar, ferro de passar, entre outros. Em conversa com os moradores constatou-se que o
maior consumo de energia elétrica no inverno deve-se ao chuveiro elétrico, pois o sítio recebe
vários visitantes. No entanto, o tempo máximo dos usuários no chuveiro, estipulado pelos
proprietários, é de no máximo 5 minutos, medida que economiza energia elétrica e água.
Com isso, vimos que o Sítio Çarakura não possui um consumo de energia elétrica excessivo,
mesmo com frequente visitação diária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico no Sítio Çarakura foi importante para melhor conhecimento da propriedade e
de alguns pontos críticos das tecnologias sociais ali utilizadas, a fim de buscar melhorias e ampliar
o potencial que o local possui para receber visitantes.
Há diversas melhorias que podem ser feitas. Entretanto, medidas iniciais importantes já
foram tomadas e, com isso, o Sítio encontra-se em processo de adequação. O projeto teve como

1444
função principal fornecer um embasamento científico e bibliográfico para a aplicação correta das
tecnologias sociais utilizadas no local, já que a maior parte delas era implementada de forma
intuitiva, sem uma fundamentação teórica, tendo como consequência tecnologias não adequadas aos
padrões de aceitação para visitas no sítio.
Há a intenção do Sítio em receber o título de Reserva Particular de Patrimônio Natural
(RPPN). Dessa forma, é necessário que as recomendações feitas pelo grupo do projeto sejam
aplicadas e seguidas, o que pode ajudar no enquadramento de RPPN e também beneficiará a
instituição e potencializará as visitas realizadas pela mesma.

AGRADECIMENTOS
Professor Fernando S. P. Sant‘Anna – Orientador e Coordenador do Projeto;
Richard Smith - Coorientador do Projeto;
Maria Elisa Magri - Doutoranda em Engenharia Sanitária e Ambiental;
Andréa e Percy Ney - Proprietários do Sítio Çarakura, que gentilmente abriram as portas do Sítio
para o estudo;
Núcleo de Estudos Ambientais (NEAmb) que recebeu o projeto de braços abertos;
Aos membros do NEAmb e do Instituto Çarakura;
Julia Sfredo que gentilmente fornecerá os dados da sua pesquisa para o nosso projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARQUES, Joana Lentz. Estudo de caso: Diagnóstico do Uso e Manejo de Sanitário Compostável
Localizado em Ratones, Florianópolis. 2010. 79 f. Tcc (Graduação) - Departamento de ENS, Ufsc,
Florianópolis, 2010.

MAGRI, Maria Elisa et al. II-298 – Avaliação do Processo de Desidratação das Fezes Humanas
para Implementação de Banheiro Seco Segregador. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 26., 2011, Porto Alegre, RS.

Site Rede de Tecnologia Social. – Tecnologia Social - Conceito. Disponível em:


<http://www.rts.org.br/> Acesso em: 30 set. 2012.

ÇARAKURA, Instituto. Histórico. Disponível em:


<http://www.institutocarakura.org.br/index.php?mod=pagina&id=8419>. Acesso em: 01 out. 2012.

ONU BRASIL. A ONU e a população mundial. Disponível em: <http://www.onu.org.br/a-onu-em-


acao/a-onu-em-acao/a-onu-e-a-populacao-mundial/>. Acesso em: 08 fev. 2012.

1445
ÇARAKURA, Instituto. Quem Somos. Disponível em:
<http://www.institutocarakura.org.br/index.php?mod=pagina&id=8395&grupo=>. Acesso em: 02
fev. 2012.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 08 fev. 2012.

1446
DESAFIOS NA REDEFINIÇÃO DOS LIMITES MUNICIPAIS DE SÃO LUÍS E SÃO JOSÉ DE
RIBAMAR / MARANHÃO164.

Danillo José Salazar SERRA (Acadêmico - Geografia/UEMA) – djss206@hotmail.com


Rosalva de Jesus dos REIS (Docente/UEMA) - rosalvareis@oi.com.br

Resumo

O presente estudo tem por escopo discutir os aspectos territoriais relacionados à formação das
divisas intermunicipais na Ilha do Maranhão, pontualmente nos municípios de São Luís e São José
de Ribamar, localizados no Estado do Maranhão. Com o levantamento de referencial teórico-
metodológico em fontes secundárias de dados, buscou-se acarear as indefinições das divisas nos
municípios supracitados com a ausência de políticas direcionadas às populações que convivem nas
periferias destes municípios. Com o crescimento urbano destas regiões, as leis que definem as
divisas municipais tornam-se equívocas, pois utilizam parâmetros meramente geodésicos, ou seja,
sem a adoção de parâmetros cartográficos. Diante deste cenário, os gestores municipais deixam a
mercê, um recorte significativo da população que habita na penumbra das divisas. Com o censo
demográfico de 2010, corroborou-se a necessidade de redefinição das divisas intermunicipais e
neste processo surgiu a proposta de redefinição dos limites municipais do Estado do Maranhão,
elaborada pelo Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC) em
parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ressalta-se a utilização de
parâmetros cartográficos na elaboração da proposta. Os interesses na redefinição das divisas
perpassam várias esferas, todavia alguns desafios são latentes.

Palavras-chave: Divisas municipais. Aspectos geodésicos. Redefinição.

Abstract

The scope of this study is to discuss aspects related to the formation of territorial limits in inter
island of Maranhão, punctually in the cities of St. Louis and San Jose de Ribamar, located in the
State of Maranhão. With a survey of theoretical and methodological secondary sources of data, we
attempted to confront the uncertainties of the currencies in the municipalities with the
aforementioned lack of policies directed to people who live on the outskirts of these cities. With
urban growth of these regions, the laws defining the boundaries municipal become equivocal,
merely because they use geodetic parameters, without the adoption of cartographic parameters.
Given this scenario, populations are left without assistance. With the census of 2010, confirmed the
need for a redefinition of limit intercity and this process was proposed the redefinition of municipal
borders of the State of Maranhão, prepared by the Institute for Socioeconomic Studies and
Cartographic of Maranhão (IMESC) in partnership with the Institute Brazilian Geography and
Statistics (IBGE), using de cartographic parameters in the proposal. The interests in redefinition are
in various spheres, but the challenges are great.

Keywords: Municipal boundaries. Geodetic aspects. Redefinition.

164
Artigo elaborado com a colaboração de Wenderson Carlos da Silva Teixeira - Técnico em Geoprocessamento do
Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).

1447
Introdução

A formação do território maranhense deu-se de forma gradativa através de divisões político-


administrativas que se iniciaram na primeira metade do século XVI, conforme Trovão (2008). A
primeira divisão ocorreu em 1534 quando o Maranhão era uma capitania composta por quatro lotes
que se estendiam dos atuais estados do Rio Grande do Norte até o Pará. A extinção da capitania em
1621 efetivou o Estado autônomo do Maranhão que compreendia os atuais estados do Ceará e Pará,
correspondia a cerca de 50 % do território nacional.
Com a extinção do Estado autônomo, pela carta régia de 25 de fevereiro de 1652, foram
criadas duas capitanias gerais: Grão Pará e São Luís. Estas foram extintas pela carta régia de 25 de
agosto de 1654, que estabeleceu os estados do Maranhão e Grão Pará. O Estado do Maranhão
criado no século XVII e sua divisão política foram se constituindo gradualmente.
À proporção que os municípios maranhenses foram sendo criados, concomitantemente,
foram surgindo os desafios na definição e redefinição de seus limites. Estes desafios tornaram-se
latentes no censo demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), onde se teve a necessidade de redefinição de alguns limites municipais do Estado, para
uma contagem apropriada da população.
Utilizando-se de uma parceria com o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e
Cartográficos (IMESC), o IBGE retificou alguns limites municipais, dividindo o território
maranhense em setores censitários. Entre os municípios que se situavam em zonas de indefinição de
limites, estavam os de São Luís (mais populoso do Estado) e São José de Ribamar (terceiro mais
populoso do Estado), situados na Ilha do Maranhão, a linha de divisa segregava algumas
localidades, como se evidenciará em análises posteriores.
Ressalta-se que o impasse na redefinição destes limites contribui para que as populações
situadas nestas áreas fiquem a mercê de políticas assistencialistas, recebendo cobranças duais de
impostos e ficando desnorteadas nas lutas pelos direitos citadinos.
A priori a pesquisa estruturou-se com o levantamento de referencial teórico sobre a
redefinição dos limites territoriais da Ilha do Maranhão, realizada em livros, artigos, e sites.
Posteriormente, foram identificados os principais bairros limítrofes entre os municípios de São Luís
e São José de Ribamar, elencando-se os problemas enfrentados pelas populações nestas localidades.
Conclui-se o estudo apresentando a proposta de redefinição dos limites territoriais do Instituto
Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC) adotada no censo demográfico
de 2010.

1448
Ilha do Maranhão

Situado no nordeste do Brasil, o Estado do Maranhão limita-se ao norte com o Oceano


Atlântico, oeste com o estado do Pará, sul e sudeste com Tocantins e leste com Piauí. Delineia-se
em uma área de 331.935,507 km², com uma população de 6.574.789 habitantes (IBGE, 2010),
distribuída em 217 municípios. Cerca de 20 % da população do Estado situa-se na Ilha do
Maranhão (Mapa 1), localizada ao norte do Estado e composta pelos municípios de São Luís
(capital), São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

44º 20’ 00” W 44º 10’ 00” W

RAPOSA
OCEANO ATLÂNTICO Ilha do Curupu

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Ponta do Arraial Limite Intermunicipal
Rodovia Federal
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Rodovia Estadual
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Rodovia Municipal
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ra Sede do Município
itos Ar Povoado
do
ía Porção Continental
Ba Porto
0 2,42 km
Ilha
Tatipá

FONTE: FONSÊCA (2004). adaptado por REIS (2005)


FIGURA 02 - ILHA DO MARANHÃO

Fonte: Fonseca (2004), adaptado por Reis (2005).


Mapa 1- Ilha do Maranhão

As divisões político-administrativas que criaram e desmembraram os municípios de Paço do


Lumiar, Raposa, São José de Ribamar e São Luís contribuíram para a mudança na nomenclatura da
Ilha de São Luís para Ilha do Maranhão. Desponta-se nos parágrafos posteriores um breve histórico
da evolução político-administrativa dos municípios pertencentes à Ilha do Maranhão.

1449
São Luís

A cidade de São Luís (capital do Estado do Maranhão) foi fundada em 08 de setembro de


1612 pelos franceses Daniel de La Touche e François de Rasilly, que em homenagem ao Rei da
França, Luís XIII, colocaram o nome da cidade de São Luís. Apenas em 1645, após a expulsão de
franceses e holandeses, iniciou-se definitivamente a colonização portuguesa da antiga Upaon Açú
ou Ilha Grande (denominação Tupinambá para a Ilha de São Luís).
O distrito de São Luís foi criado apenas em 17 de dezembro de 1896 com a lei municipal n°
17. Em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, o
município aparecia constituído de 03 distritos: São Luís, Paço do Lumiar e São José de Ribamar.
Com a divisão territorial datada de 01 de julho de 1950, o município passou a ser
constituído de 03 distritos: São Luís, Anil e Ribamar. Através da lei estadual n°758, de 24 de
setembro de 1952, ocorreu um desmembramento do distrito de Ribamar (elevado à categoria de
município) de São Luís. Em 15 de julho de 1997, São Luís aparece constituído apenas do distrito
sede, sendo extinto o distrito Anil, assim permanecendo em divisão territorial.
De acordo com o IBGE (2010), o município de São Luís (Figura 1) possuía 1.014.837
habitantes que se distribuíam em uma área de 834.780 km². A densidade demográfica do município
era de 1.215,69 hab/km².

Fonte: www.visitesaoluis.com (2012).


Figura 1 - Vista parcial do centro histórico de São Luís

São José de Ribamar

O atual município de São José de Ribamar foi, em tempos primitivos, habitado por índios
conhecidos como ―gamelas‖, localizados nas terras dos religiosos da Companhia de Jesus,

1450
concedidas por sesmarias e doadas por Francisco Coelho de Carvalho, então governador do
Maranhão, em 16 de dezembro de 1627.
Através do alvará de 07 de junho de 1755, restitui-se aos índios a liberdade e terras para a
subsistência de 200 casais na localidade. Esta medida favoreceu o processo de povoamento da
região. Após mais de um século, em 1896, a localidade possuía 19 casas cobertas de telha e outras
de palha, em torno da igreja.
O decreto-lei estadual n° 820, de 30 de dezembro de 1943, elevou à categoria de município
com a denominação de Ribamar. No entanto, em 1948 foi extinto da categoria de município,
tornando-se distrito anexado ao município de São Luís.
O município de Ribamar desmembrou-se definitivamente de São Luís em 1952, quando foi
elevado à categoria de município novamente, sendo constituído de 3 distritos: Ribamar, Mata e
Vila Paço. A toponímia atual foi data pela lei estadual nº 2980, de 16 de setembro de 1969. Em
1979, ocorreu a última divisão administrativa em São José de Ribamar, com a extinção do distrito
Vila Paço.
De acordo com o IBGE (2010), o município de São José de Ribamar (Figura 2) possuía
163.045 habitantes que se espacializam em uma área de 388.369 km². A densidade do município
correspondia a 419.82 hab./km².

Fonte: www.mp.ma.gov.br (2012).


Figura 2- Vista parcial da cidade de São José de Ribamar com o santo padroeiro ao centro.

Paço do Lumiar

O processo de ocupação do atual município de Paço do Lumiar iniciou-se em 1625, quando


o jesuíta Luís Figueira recebeu uma légua de terras no sítio Anindiba, estas atraíram populações e o
então governador Joaquim de Melo e Póvoas, em virtude da Carta Régia de 11 de junho de 1761,
elevou as terras à categoria de vila, com o nome de Paço do Lumiar, devido à semelhança com um

1451
lugar de mesmo nome em Portugal165. A fim de promover a fixação das famílias e o
desenvolvimento da Vila, mandou para o núcleo famílias indígenas e numerosos homens brancos.
Em 1931, o município foi extinto, sendo seu território anexado ao município de São Luís,
dois anos após, Paço do Lumiar figurou como distrito do município da capital estadual. Com o
decreto-lei estadual nº 159, de 06 de dezembro de 1938, o distrito foi extinto, sendo seu território
anexado ao distrito de São José de Ribamar.
A lei estadual nº 1890 de 07 de dezembro de 1959 elevou Paço do Lumiar à categoria de
município, desmembrado de Ribamar. A constituição de apenas um distrito-sede em 1960 foi à
última divisão territorial no município.
De acordo com o IBGE (2010), o município de Paço do Lumiar (Figura 03) possuía 105.121
habitantes e uma área territorial de 124,753 km². A densidade demográfica do município
correspondia a 842,63 hab./km²

Fonte: COSTA, Denílson (2012).


Figura 3 – Vista parcial de um porto em Paço do Lumiar.

Raposa

O crescimento do povoado de Raposa culminou, recentemente, com sua emancipação de


Paço Lumiar, ganhando o status de município166. Considerado a maior colônia de pescadores
cearenses no Maranhão, o município de Raposa também é conhecido pelos artesanatos e belezas
naturais. A última divisão territorial foi em 1997, quando ficou constituído de um distrito-sede.
De acordo com o IBGE (2010), Raposa (Figura 4) possuía 26.327 habitantes e uma área
territorial de 64,35 km², com uma densidade demográfica de 409,10 hab./km².

165
A denominação de Paço do Lumiar foi concedida pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757 e a elevação à
categoria de vila, pela Carta Régia nº 7, em 29 de abril de 1835.
166
A Lei Estadual nº 6.132, de 10 de novembro de 1994, elevou o povoado à categoria de município e distrito com a
denominação de Raposa, desmembrado de Paço do Lumiar.

1452
Fonte: http://www.facebook.com/equipe.oros ( 2012).
Figura 4- Praia de Carimã em Raposa-MA

Pressupostos teóricos

A formação da Ilha do Maranhão deu-se através do desmembramento de territórios e


concomitante formação dos municípios. Nesta perspectiva, surgiram intervenções espaciais nas
localidades, com a estruturação, subdivisão, e gestão destes espaços. Torna-se fundamental para a
compreensão desta dinâmica, o conceito de território.
De acordo com Costa (1997), o território é formado pela dimensão simbólica e identitária
dos grupos que o constitui, ou seja, a formação do território entrelaça-se com a identidade das
populações, o grau de pertencimento com o lugar e suas relações de poder.
As divisões territoriais ocorridas na Ilha do Maranhão favorecem a formação da identidade
territorial da população. Conforme advogam Souza e Pedon (2007), a identidade territorial não
existe nem a priori nem a posteriori à constituição do território. Sua constituição resulta de
permanentes transformações que vão ocorrendo ao longo da história.
A conurbação dos municípios e a indefinição de seus limites contribuíram para a formação
de uma identidade territorial diferenciada, onde a população apregoa-se descaber do território legal.
Nestas localidades, são formadas zonas de penumbra onde o conflito entre os limites territoriais
definidos e a assistência fornecida pelos municípios, quando existe, são díspares, deixando
populações às margens do crescimento econômico.
Maricato (2000) advoga que nestas regiões formam-se espaços duais com características da
cidade globalizada do Terceiro Mundo.
Há duas cidades dentro de cada cidade brasileira: a primeira, uma cidade formal, onde
ocorrem os investimentos públicos, para a qual há planejamento urbano, leis, mercado e
cidadania; e a segunda, uma cidade clandestina, às margens de quaisquer investimentos que
venham a proporcionar qualidade de vida para a população ali residente. Esta dualidade é
uma característica da cidade globalizada do Terceiro Mundo.

A organização de cidades com mais de 20 mil habitantes deve se nortear pelo Plano Diretor,
como prevê a Constituição Federal de 1988, no Capítulo II, parágrafos 182 e 183. Este instrumento

1453
contem normas, diretrizes, objetivos, programas e metas que projetam o desenvolvimento
econômico-social em suas múltiplas esferas. Segundo Diniz (2006) o ―bum‖ no crescimento da
população nas áreas de divisa na Ilha do Maranhão, deu-se com a criação de conjuntos
habitacionais.
[...] na definição das diretrizes e proposições com vista ao desenvolvimento integral do
município de São Luís como um todo, no seu processo de expansão urbana, destaca-se o
perceptível avanço das frentes urbanas do referido município sobre as áreas fronteiriças dos
outros três confundindo-se já inteiramente os limites municipais, com a construção de
grandes conjuntos habitacionais populares, onde a população de São José de Ribamar e
Paço do Lumiar, praticamente, foi duplicada em 1991.

A redefinição dos limites territoriais dos municípios maranhenses, utilizando-se de


instrumentos técnicos e legais, favorece a mitigação de problemas político-administrativos e
concomitantemente sociais.
Diante deste panorama, destacar-se-á os entraves da definição das divisas entre os
municípios de São Luís e São José de Ribamar diante da proposta do Instituto Maranhense de
Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).

Divisas territoriais entre São Luís e São José de Ribamar

Com base em um levantamento técnico realizado pela empresa Geomap-Geoprocessamento


e Consultoria LTA, em 2005, identificou-se que os limites territoriais entre São Luís e São José
Ribamar não estavam sendo oficialmente reconhecidos, ocasionando perdas de receitas, arrecadação
de impostos e equívocos na contagem populacional, principalmente, para o município de São José
de Ribamar.
A ausência de critérios técnicos na criação e desmembramentos dos municípios da Ilha do
Maranhão provocou uma disparidade entre a área perimetral do município, segurada por lei, e a
abrangência do poder municipal. Neste cenário, povoados e bairros limítrofes deixavam de ser
assistidos e ficavam no insulamento.
Em 2010, o IMESC constatou a ineficácia da utilização da Lei N°758, de 24 de setembro de
1952, a qual cria o Município de São José de Ribamar e a Lei N° 269, de 31 de dezembro de 1948
que descreve as divisas do Município de São Luís167.
Nas especificações da Lei n. 758, de 24 de setembro de 1952, a qual cria o Município de São
José de Ribamar, a divisa municipal com o Município de São Luís:

167
Informações retiradas do Relatório Técnico elaborado pelo Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e
Cartográficos (IMESC) em 08 de março de 2010.

1454
[...] Começa na foz do Rio Tajipuru; segue pelo veio deste rio à montante até a sua
cabeceira; daí uma reta a Lagoa da Mata e outra até a cabeceira do Rio Amaro, afluente do
Rio Paciência; segue por outra reta a cabeceira do Rio Jaguarema, e por este a jusante até a
foz no Oceano Atlântico [...] (MARANHÃO, 1952).

Nas especificações da Lei n. 269, de 31 de dezembro de 1948, a qual cria o Município de


São Luís, a divisa municipal com o Município de São José de Ribamar:
[...] Começa no limite das águas territoriais, ao norte defronte a foz do Rio Jaguarema;
segue a essa foz na costa norte da Ilha de São Luís; segue pelo talvegue do Rio Jaguarema à
montante, até a sua cabeceira; daí por um alinhamento reto a cabeceira do Rio Amaro,
afluente do Rio Paciência; daí por um alinhamento reto até a Lagoa da Mata; ainda por
outro alinhamento reto à cabeceira do Rio Tajipuru; segue pelo veio desse rio à jusante, até
a sua foz na Baia do Arraial [...].

Com o crescimento populacional e concomitantemente ocupação das divisas municipais,


constatou-se que as leis supracitadas, por não adotarem parâmetros cartográficos, passaram a ser
obsoletas.
No Quadro 1 estão citadas algumas localidades situadas nas divisas da Ilha do Maranhão e
suas respectivas localizações de acordo com o mapa político-administrativo do Estado. Ressalta-se
que nesta divisão o Município de São José de Ribamar, por exemplo, perde algumas localidades,
apesar de fornecer assistências.

Localidade ( Bairros) Localização (Mapa do IBGE)


Cidade Olímpica São Luís
Conjunto Parque Farol Paço do Lumiar / São José de Ribamar
Invasão Caveira Paço do Lumiar
Invasão Rosa de Saron Paço do Lumiar
Lot. Olho de Porco Paço do Lumiar / São José de Ribamar
Lot. Portal do Cohatrac Paço do Lumiar
Loteamento Vila Fiori Paço do Lumiar
Lot. Világio o Cohatrac V São Luís/ São José de Ribamar
Parque Bob Keneddy Paço do Lumiar
Parque Jair Paço do Lumiar
Parque Morada do Sol Paço do Lumiar
Santa Efigênia São Luís
Trizidela de Maioba São Luís / São José de Ribamar
Vila José Reinaldo Tavares São Luís
Vila Sarney Costa São Luís
Vila Temer São Luís
Fonte: Adaptado do Ministério Público do Estado do Maranhão, 2011.
Quadro 1 – Distribuição de localidades em divisas na Ilha do Maranhão.

As populações que habitam na zona de conurbação dos municípios supracitados convivem


com falta de garantias, infraestrutura e bitributação. Os gestores municipais demonstram
insatisfação com a indefinição dos limites, principalmente, no que tange a perda de recursos do

1455
Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A Figura 5 retrata uma das realidades nestas
localidades.

Fonte: http://joaodeca.blogspot.com.br (2010).


Figura 5 – Ponte no bairro Trizidela da Maioba.

A proposta de redefinição dos limites (São Luís e São José de Ribamar)

Com a necessidade de atualização da malha municipal do Estado do Maranhão, o Instituto


Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), autarquia estadual vinculada a
Secretaria do Estado do Planejamento e Orçamento, elaborou o projeto de Redefinição das Divisas
para Consolidação dos Limites dos Municípios do Estado do Maranhão. Este projeto ampara-se na
Constituição Federal, especificamente, em seu artigo 18 § 4°com redação apregoada pela Emenda
Constitucional n° 15/96.
A priori, o IMESC atuou na análise das leis de criação de todos os 217 municípios
maranhenses, aproximadamente, 370 leis, constatando equívocos na redação das mesmas.
Posteriormente, dispondo de equipamentos de cartografia digital e sensoriamento remoto, mapeou
(através de avançadas tecnologias na área de cartografia digital e técnicas de sensoriamento remoto)
cerca de 60% do território estadual, propondo novas divisas aos gestores municipais e ao IBGE para
as possíveis correções.
Através da parceria IBGE/IMESC foi possível a elaboração dos setores censitários e
contagem populacional no censo demográfico de 2010. O IMESC propôs uma nova linha divisória,
representada na cor vermelha, para os municípios de São Luís e São José de Ribamar, com base na
Figura 6.

1456
Fonte: Relatório IMESC, 2010.
Figura 6- Recorte da proposta elaborada pelo IMESC.

Observa-se significativas mudanças nos limites estabelecidos no mapa político-


administrativo, linha na cor preta, e a proposta do IMESC. Nesta perspectiva, para que a proposta
seja definitivamente adotada é preciso a apreciação da Assembleia Legislativa do Estado e dos
gestores municipais que sinalizam pela aprovação.
Em geral, as prestadoras de serviços nos municípios supracitados já adotam na emissão das
cobranças, os limites estabelecidos na proposta.

Algumas reflexões

Os parâmetros cartográficos utilizados na elaboração da proposta de redefinição dos limites


municipais, pelo IMESC, fornecem subsídios para que a penumbra da conurbação seja minimizada
e, desta forma favorecer a inclusão de um recorte da população que se sente excluída dos
municípios.
A dual cobrança de impostos e a ausência de investimentos dos gestores municipais nas
localidades de divisas estão sendo minimizadas com a proposta, porém os recursos do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM), por exemplo, são entraves na ratificação de acordos
definitivos. Diante deste cenário, a população anseia por investimentos públicos e privados em seus
territórios ou lugares repudiados.

1457
A utilização de parâmetros meramente geodésicos na definição de limites torna-se algo
efêmero e impreciso. Nesta perspectiva, os limites estabelecidos em lei entre os municípios de São
Luís e São José de Ribamar necessitam de atualização através da inclusão de parâmetros
cartográficos vigentes, afinal no centro das indefinições coexiste uma população desassistida.

Referências

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Niterói: EDUF, 1997.

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de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 9 ago. 2012.

INSTITUTO MARANHENSE DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS E CARTOGRÁFICOS.


limites territoriais da Ilha do Maranhão. São Luís, 2010. Disponível em: <www.imesc.ma.gov.br>.
Acesso em: 10 ago. 2012.

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municipal com o Município de São José de Ribamar. São Luís, 1948.

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divisa municipal com o município de São Luís. São Luís, 1952.

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TROVÃO, José de Ribamar. O processo de ocupação do território maranhense. São Luís: IMESC,
2008.

1458
QUALIDADE DE VIDA E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DOS ESPORTES DE
AVENTURA: UMA INTERAÇÃO HOMEM, ANIMAL E NATUREZA

Vanessa da Silva SANTOS (CCA/UFPB) - vanessa_ufpb@hotmail.com


Bruno Ferreira da SILVA (CCA/UFPB) - brunoufpb10.1@gmail.com
Lidiane Alves SOARES (CCA/UFPB) - lidiane_alves16@hotmail.com
Thiago Siqueira Paiva de SOUZA (CCA/UFPB) - thiago@cca.ufpb.br

RESUMO

Pode-se afirmar que uma das modalidades praticadas no lazer que mais tem crescido nas últimas
décadas é o esporte de aventura. Tornando-se assim, um dos meios de promoção de qualidade de
vida. Essa busca por emoções pode representar uma possibilidade de reaproximação com o
ambiente natural, pelo contado com: a flora, fauna, amplitudes, altura, água e outros, gerando assim
uma sensibilização com o cuidado com esse ambiente. O presente trabalho tem por finalidade,
enriquecer e discutir qual é o embasamento técnico-cientifico acerca dos esportes de aventura e a
interação homem-animal-natureza, e dessa forma, contribuir com o desenvolvimento, lazer e
qualidade de vida. Trata-se de um relato de experiência da atividade extensionista curricular:
Esportes em uma interação: homem, animal e natureza. Atividade esta oferecida pela Universidade
Federal da Paraíba – Centro de Ciências Agrária – Areia-PB.
Palavras-chaves: Esportes de aventura, qualidade de vida, sensibilização ambiental

ABSTRACT

It can be argued that one of the methods practiced in leisure that has grown the most in recent
decades is the adventure sport becoming thus a means of promoting quality of life. This search for
emotions may represent a possible rapprochement with the natural environment, by contact with:
the flora, fauna, amplitude, time, water and others, thus creating an awareness with the care of this
environment. The present study aims to enrich and discuss what is the technical-scientific about
adventure sports and the human-animal-nature, and thus contribute to the development, leisure and
quality of life. This is an experience report extensionist curricular activity: Sports in an interaction:
man, animal and nature. This activity offered by the Universidade Federal da Paraíba – Centro de
Ciências Agrárias - Areia-PB.

1459
INTRODUÇÃO

Podemos afirmar que a busca por desenvolvimento tem sido uma constante na história da
humanidade. O ser humano sempre buscou aprimorar o meio que o cerca para atender seus
objetivos, sejam estes individuais ou coletivos. A verdade é que nessa busca, o homem nem sempre
encontrou tal aprimoramento. Conforme Cardoso (2002, p.29) o crescimento econômico, da
maneira como ocorre atualmente, interfere negativamente sobre o meio ambiente e, devido a isto, é
necessário repensar quer os fins quer os meios do desenvolvimento. Para além do meio ambiente,
acreditamos que o atual modelo de desenvolvimento vem provocando consequências negativas
também na qualidade de vida populacional. Diante disto, é necessário compreender melhor o que é
desenvolvimento.
O termo ―desenvolver‖, de acordo com o dicionário Michaelis, significa ―tirar do invólucro,
descobrir o que estava envolvido; melhorar, aperfeiçoar, fazer progredir‖, ou seja, pode-se entender
o desenvolvimento como processo de descoberta da realidade, levantando informações acerca da
realidade, potenciais e dificuldades, para posterior tomada de medidas onde ocorra aperfeiçoamento
e progresso do que se pretende desenvolver. Boisier (1996, p. 26-33) contribui para esse debate
quando coloca que construir socialmente uma região significa potencializar sua capacidade de auto-
organização, transformando uma sociedade inanimada, segmentadas por interesse setoriais, pouco
perceptivas de sua identidade territorial e, em definitivo, passiva, em outra, organizada, coesa,
consciente da identidade sociedade-região, capaz de transformar-se em sujeito de seu próprio
desenvolvimento.
Para tanto, é necessário uma mudança cultural muito grande, um processo educacional
intenso e efetivo, valorizar a vantagem coletiva em detrimento da pessoal, sem esquecer, no entanto,
dos grupos minoritários, preservando a cultura local e regional (MÜLLER, 2002). Nesse sentido, de
um desenvolvimento amplo, sustentável, que se posiciona além do mero crescimento econômico,
que consideramos a relação do lazer com o desenvolvimento regional, pois, conforme Müller
(2002) não há como haver desenvolvimento se a dimensão humana do descanso, do divertimento e
do desenvolvimento pessoal e social, que são funções do lazer, não atingir a cada um dos atores
sociais.
Queremos deixar claro que entendemos o lazer, em conformidade com Marcellino (2002),
como cultura, compreendida em seu sentido mais amplo, vivenciada no tempo disponível, com suas
especificidades, inclusive, enquanto política pública, mas não pode ser tratado de forma isolada de
outras questões sociais. Segundo Müller (2002), citando Dumazedier (1980) e Camargo (1986), o
lazer pode ser classificado em seis conteúdos culturais quais sejam: social, turístico, artístico, físico-

1460
desportivo, intelectual e manual. Pode-se afirmar que uma das modalidades praticadas no lazer que
mais tem crescido nas últimas décadas é o esporte de aventura. A palavra aventura deriva do latim
adventura, quer dizer o que está por vir, com o sentido de desconhecido, imprevisível. Disto, pode-
se relatar que os esportes de aventura aproximam-se do sentimento de buscar algo que não é
tangível num primeiro momento, o que é muito comum aos praticantes de atividades físicas na
natureza (PEREIRA e ARMBRUST, 2010).
De acordo com Pereira et al (2004), as atividades físicas na natureza obtiveram um
crescimento no número de praticantes em todas as faixas etárias, pelos mais diversos motivos.
Conforme o mesmo autor os adultos têm procurado para sair da rotina e combater o estresse, os
jovens têm o intuito de buscar atividades que proporcionem a liberação de adrenalina; e as crianças
para fugir da monotonia e poder experimentar espaços mais amplos. Além destes, podemos
mencionar os idosos cujo principal impulsionador acredita-se ser a busca por qualidade de vida e
longevidade. Bruhns (2003) coloca que essa busca por emoções, pode representar uma possibilidade
de reaproximação com os estados de surpresa, medo e repugnância constituídos num ambiente
natural (pelo contato com a flora, fauna, amplitudes, altura, água e outros) ao qual o acesso era
limitado. Além disso, acrescenta-se a reaproximação com a cultura e a história de uma determinada
cidade e/ou microrregião quando se entram em contato com monumentos e marcos histórico-
culturais acompanhados de uma rica orientação.
Essa explosão dos esportes de aventura proporcionou um aumento do número de turistas,
principalmente em ambientes naturais. Esse avanço turístico permite aos economistas ampliar o
crescimento das taxas de desenvolvimento das diferentes regiões. Nesse contexto, o turismo é
tomado como atividade de forte apelo econômico. Quanto mais cresce, mais cria necessidades:
hotéis, restaurantes, etc., gerando um espiral de bens e serviços, empregando mais mão-de-obra
(SOUZA, 2000).
O presente trabalho fora produto de uma Atividade Extentensionista Curricular, intitulada
por: ―Esportes em uma interação homem, animal e natureza‖. Atividade esta, oferecida pela
instituição superior, Universidade Federal da Paraíba – Centro de Ciências Agrárias – Campus II –
Areia –PB.
Reconhecendo o potencial existente no município de Areia/PB para a prática de esportes de
aventura, de maneira geral, pretendeu-se fornecer um embasamento técnico-científico acerca dos
esportes de aventura e a interação homem – animal - natureza, para posterior atuação na promoção
dessa variante esportiva e, dessa forma, contribuir com o desenvolvimento, lazer e qualidade de
vida no município.

1461
De modo específico buscou-se contribuir na formação estudantil onde estes compreendam e
valorizem as atividades de aventura na natureza e com animais e a importância destes para o
desenvolvimento, o lazer e a qualidade de vida; organizar, mapear e divulgar áreas próprias para
treinos de esportes de aventura, bem como analisar e gerenciar o risco nesses locais; promover os
esportes de aventura local; promover cursos e oficinas de iniciação e atualização em modalidades de
esportes de aventura; organizar eventos dessa variante esportiva em nível local; incentivar a
formação de grupos e equipes de aventura para participarem de competições em outras localidades e
em nível estadual; contribuir com o debate científico acerca da temática, por meio de publicações
em eventos e/ou revistas.

METODOLOGIA

Este estudo consiste em um relato de experiência vivenciado no âmbito do Campus II da


UFPB. Para nortear a nossa metodologia das atividades, foi utilizada algumas questões básicas
propostas por Zingoni (2002). Nesse sentido, uma política de desenvolvimento sustentável por meio
do lazer deve atentar-se às potencialidades e limites do meio ambiente; a um mercado orientado
para a universalização do acesso; às potencialidades de emprego; à adequação das políticas de lazer
às condições de vida específicas da população; e aos valores de sociabilidade, cooperação e
associativismo.
Nesse intuito, a primeira parte dessa Atividade Extensionista Curricular teve como
prioridade dar embasamento teórico aos estudantes matriculados. Para isso, foram realizadas
oficinas e palestras, no qual foi ministrados os temas: Introdução aos esportes de aventura;
Fundamentos científicos dos esportes de aventura; Desenvolvimento, lazer e qualidade de vida;
Atividades físicas na natureza e com animais; gerenciamento de risco em esportes de aventura;
análise de impacto ambiental.
Após, a definição das áreas e locais de práticas de esportes de aventura. Esta ação teve por
finalidade facilitar o encontro de pessoas praticante das modalidades, estimulando a troca de
informações e a formação de grupos. No intuito de preservar os espaços que foram utilizados pelo
projeto, utilizamos uma ficha de campo proposta por Souza e Martos (2008). Para a obtenção de
dados sobre o grau de impacto ambiental nos pontos selecionados aleatoriamente, a ficha de campo
buscou analisar parâmetros biofísicos e antrópicos, adaptada de Magro (1999), de cada ponto
analisado, sendo utilizado como parâmetro uma classificação de 0 a 3, na qual o 0 corresponde à
ausência de impacto, 1 baixo impacto, 2 impacto moderado e 3 alto impacto. Os indicadores a
serem utilizados foram: raízes expostas, presença de espécies exóticas, indícios de fogo, árvores e

1462
arbustos com galhos quebrados, área de solo nu, área de vegetação degradada, serrapilheira, erosão,
vandalismo em estruturas, inscrições em rochas, árvores com danos/inscrições, lixo, presença de
construções ou edificações, presença de árvores com bromélias e orquídeas.
Realizada a etapa inicial, procedemos com a divulgação e realização de oficinas de iniciação
em cada modalidade com a comunidade. Em comum, essas oficinas tiveram o histórico da
modalidade, conhecimento e manuseio dos equipamentos para a prática e regras. Antes de
procedermos com o início do treinamento, será proposto aos participantes a realizarem uma
avaliação física e de qualidade de vida, no qual analisamos alguns componentes da aptidão física,
tais como força, resistência, flexibilidade; composição corporal; respostas fisiológicas agudas e
crônicas; e níveis de qualidade de vida.
Durante todo período de treinamento foram organizados alguns cursos de atualizações,
oportunizando o aprofundamento e conhecimento de novas técnicas de cada modalidade. E foram
realizadas, também, novas avaliações físicas e de qualidade de vida.
E ao final do projeto, realizou-se um evento de esportes de aventura, que teve por objetivo
estimular mais os que praticaram ao longo do projeto, assim como divulgar para o município essa
variante esportiva, promovendo a prática da mesma.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades do projeto ocorreram em todo o território municipal de Areia, tendo como


praticantes desde crianças até idosos, qualquer interessado que gozasse de relativa saúde pode
participar. Ao final do projeto, tivemos mais de 500 pessoas atendidas, seja nas oficinas de
iniciação, palestras de apresentação e divulgação de modalidades e competições. Visto que, as
modalidades de aventura possuem forte apelo turístico e, conforme as palavras de Souza (2000),
quanto mais crescem o turismo, mais cria novas necessidades. Como hotéis, estradas,
comunicações, entretenimento, o que gera uma gama de bens e serviços, proporcionando um
incremento na mão-de-obra contratada. Dessa maneira acreditamos que inserindo esses esportes de
aventura contribuímos com o desenvolvimento local, beneficiando, indiretamente, milhares de
areienses.
Podemos colocar a integração acadêmica, pois os estudantes puderam não somente vivenciar
atividades desportivas como o Canicross e o Slackline, como também coletaram dados clínicos dos
cães envolvidos para futuras publicações e analisaram os impactos da prática do Slackline na
vegetação. Outro bom resultado foi a interdisciplinaridade, principalmente entre as áreas da

1463
Educação Física, Ciências Biológicas, Zootecnia, Medicina Veterinária e Agronomia. Além desses
houve a difusão desses esportes para a comunidade areiense.
A Atividade Extensionista Curricular tratada nesse trabalho proporcionou a organização de
cursos e oficinas de iniciação nos esportes de orientação, Slackline e Canicross; palestra no III
Semana de Medicina Veterinária organizada no CCA/UFPB sobre esportes com animais; e
preparação de estudos e eventos nas áreas centrais dessa extensão.
Dentre as principais mudanças ocorridas, podemos mencionar:
- Conhecimento da população acerca de esportes de aventura;
- População de esportes antes desconhecidos;
- Valorização do respeito ao meio ambiente;
- Reconhecimento externo da potencialidade do município areiense para a prática de
esportes de aventura;
- Estimulo à prática de atividade física.

CONCLUSÃO

Após a realização das atividades previstas e avaliação por parte da equipe de execução e
público atendido, podemos concluir que:
 Os esportes de aventura são um excelente precursor, para a melhoria da qualidade de vida;
 As práticas de esportes de aventura contribuíram para a difusão de uma sensibilização
ambiental e respeito ao meio ambiente;
 Os estímulos à prática de esportes de aventuras devem ocorrer cada vez mais na região, visto
o potencial existente no município;
 A organização de eventos competitivos é uma excelente ferramenta de divulgação das
modalidades e estímulo a continuidade da prática.

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ecoturismo em Areia/PB. 2008. 67f. Monografia (Curso de Pós-graduação em nível de
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Esportes de aventura: uma opção de lazer e Desenvolvimento para o município de Areia - PB.
Boletim FIEP, v., n.. 2011.

1465
PERCEPÇÃO ENTOMOLÓGICA POR DISCENTES DO 8º e 9º ANO NA REDE PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE AREIA – PB

Wyara Jéssica D. COSTA (DCB/UFPB) – wyarajessica@hotmail.com


Mileny dos Santosde SOUZA (DFCA/UFPB) –mileny.lopes67@hotmail.com
Hallan Emannuel G. da SILVA (EEMJAA/PB) – hg.silv@yahoo.com.br
Carlos H. de BRITO (DCB/UFPB) – carlos@cca.ufpb.br

Resumo

Os insetos são os seres que se encontram em maior abundância e com diversas funções no planeta
sendo apenas 10% que prejudica o homem, no entanto, existe ainda uma visão negativa em relação
ao mundo dos insetos. A presente pesquisa analisou a percepção entomológica dos discentes quanto
ao conhecimento que possuem sobre os insetos na Escola Estadual Ministro José Américo de
Almeida na cidade de Areia - PB. O estudo foi realizado através de questionários não estruturados
composto por quatro questões para 37 e 35 discentes nas séries de 8º e 9º ano, respectivamente
totalizando 72 discentes. Quando indagado à definição de insetos apenas 44% dos discentes definiu
o termo ―inseto‖ de maneira correta. Ao analisar os questionários, constatou-se que 84,61% dos
discentes classificaram de maneira correta os organismos pertencentes à classe insecta, e os demais
indivíduos ―insetos‖ eram de outras categorias taxonômicas amphibia, arachnida, chilopoda,
gastropoda, hirudínea, mammalia, oligochaeta e reptilia. Quando os discentes foram perguntados
sobre a sua reação ao observar um inseto, 30% dos responderam que os matam. Já para a
importância dos insetos no meio ambiente, 40% relataram que os insetos são importantes, uma vez
que, fazem parte da cadeia trófica na manutenção dos ecossistemas na natureza. Essa visão pode ser
explicada pela hipótese da ambivalência entomoprojetiva, onde os seres humanos tendem a projetar
sentimentos de nocividade, periculosidade, irritabilidade, repugnância e menosprezo aos animais
determinados culturalmente como "insetos" e classificá-los em uma mesma categoria. Nesse
sentido, os discentes ainda tem pouco conhecimento sobre os aspectos positivo dos insetos sendo
necessário que os docentes busquem formas para transmitir o tema.

Palavras-chave: Discentes; Etnoentomologia; Insetos; Meio ambiente.

1466
Abstract

Insects are the most abundant beings found and with several functions on the planet, only 10% of
them could harm men, however, there is still a negative view regarding the world of insects. The
present study analyzed the entomological perception of students regarding their knowledge about
insects at the Ministro José Américo de Almeida State School, in Areia city - PB. The study was
carried out through unstructured questionnaires composed by four questions for 37 and 35 students
in 8th and 9th grade, respectively, totaling 72 students. When asked to define what an insect is, only
44% of the students defined the term "insect" correctly. Analyzing the questionnaires, it was noticed
that 84.61% of the students classified in a correct way the organisms which belong to the class
insecta, and other individuals "insects" were from other taxonomic categories amphibia, arachnida,
chilopoda, gastropoda, hirudínea, mammalia, oligochaeta and reptilia. When students were asked
about their reaction when watching an insect, 30% of the respondents said that use to kill them.
About the importance of insects for the environment, 40% have said that the insects are important,
since they are part of the trophic chain in keeping the ecosystems in nature. This view may be
explained by the hypothesis of entomoprojective ambivalence, where humans tend to project
feelings of harmfulness, dangerousness, irritability, loathing and contempt to animals culturally
determined as "insects" and classify them in the same category. This way, the students still have
little knowledge about the positive aspects of the insects, being necessary that teachers find ways
how to convey the theme.

Key words: Students, Etnoentomology, insects, environment.

Introdução

A classe insecta destaca-se pela sua abundância na natureza, cujo sucesso atribui-se a
presença de um exoesqueleto que tem por finalidade proteger os órgãos internos e a presença de
asas funcionais que facilita aos insetos: a dispersão, a fuga dos inimigos naturais e a captura de
alimentos (BUZZI,2010).Estes seres são de fundamental importância devido as suas diferentes
funções ecológicas que desempenham no ecossistema, uma vez que, agem como herbívoros,
decompositores, predadores e parasitóides.
Os insetos são seres que estão interligados ao homem de tal forma que pode-se afirmar, que
a humanidade não conseguiria sobreviver sem os insetos, pois o abastecimento de alimentos seria
afetado, diversas doenças como a malária e a peste bubônica não teriam controle com a ausência
dos mesmos.Muitos insetos a serem observados são rotulados como maléficos, pois existe uma
concepção generalizada de que todos ou pelo menos grande parte dos insetos são

1467
prejudiciais,afirmação essa errônea. Pois os insetos em relação ao homem podem ser divididos em
três categorias:os insetos úteis;nocivos; e demais insetos que não causam nenhum benefício ou
malefício ao homem,porém fazem parte da cadeia alimentar de outros animais(BUZZI, 2010)
Devido a sua grande diversidade,fácil coleta e importância ecológica esses animais podem
ser utilizados como bioindidicadores do grau de alteração ambiental,pois fornece informações
importantes para conservação,restauração,monitoramento e uso sustentável de recursos naturais
(LEWINSOHN et al., 2005; FREITAS et al., 2006).
São frequentes tais perguntas: quantas espécies há no Brasil, nos biomas ou em
determinadas áreas? Por que é importante saber isso? A resposta é clara: ninguém sabe, com
certeza, o número de espécies existentes; se tem apenas estimativas, especialmente quando se trata
de invertebrados. A relevância do tema baseia-se no fato de que a biodiversidade, além de ser
imprescindível para a manutenção da vida na Terra, também é fundamental para atender
necessidades básicas do ser humano. Além disso, estes recursos são propriedades do país que os
detém e devem ser considerados estratégicos para o desenvolvimento da nação. Deste modo como
indica Camargo (2009), as coleções devem ser vistas como bancos de dados fundamentais para o
desenvolvimento científico e tecnológico.
A diversidade de insetos presente no território nacional é imensa considerando o numero
ainda não descrito que aguardam nas gavetas das nossas coleções cientificas e as enormes lacunas
de amostragem na maioria dos biomas brasileiros, podemos considerar que o número real de insetos
que habitam o território nacional deve ser dez vezes maior. É importante desmistificar falsas
verdades e mudar paradigmas estabelecidos sobre certos grupos da fauna. Existe uma concepção
errônea e generalizada de que todos (ou a maioria dos insetos) são prejudiciais. No entanto, estudos
em projetos agrícolas efetuados pela Embrapa Cerrados em cooperação técnica com Japan
Internacional CooperationAgency (JICA) demonstraram que apenas um pequeno percentual dos
insetos (8-13%) eram pragas com alguma importância econômica, portanto é claro a necessidade de
mudança conceitual para a quebra de alguns paradigmas nessa área.
Desta forma, o presente estudo analisou a percepção entomológica dos discentes quanto ao
conhecimento que possuem sobre os insetos na Escola Estadual Ministro José Américo de Almeida
na cidade de Areia - PB.

Metodologia

O presente estudo foi realizado na escola da rede Estadual de Ensino ―Ministro José
Américo de Almeida‖no município de Areia–PB, localizada na microrregião do brejo paraibano.
Segundo os dados censitários, o município possui cerca de 23.829 habitantes.Na pesquisa contou

1468
com a participação de 72 discentes do Ensino Fundamental-II abrangendo as séries do 8° e 9° ano
com faixa etária entre 13 e 17 anos,sendo que 60% destes discentes são do gênero masculino e 40%
do gênero feminino.A aplicação dos questionários não estruturados, contendo questões subjetivas
sobre os insetos. Após a aplicação dos questionários os dados obtidos passaram por um padrão de
contagem e atribuição de percentual, sendo utilizada para a representação dos dados gráficos.

Resultados e discussão

De acordo com o gráfico 1, quando questionados sobre o que são insetos 44% dos discentes
acertaram totalmente ou parcialmente, que a maioria afirma que os insetos são seres pequenos e
invertebrados que voam sendo de grande importância para o planeta, porém 39% errou e 17% não
soube responder. Resultados semelhantes foram encontrados por Modroet al.(2009),quando
constataram que os discentes entrevistados, definem os ―insetos‖como seres
pequenos(61%),perigosos(28%) ou nojentos(24%).

Gráfico 1- Resposta dos alunos quando indagados sobre o que são insetos.

Na tabela1, quando os discentes foram questionados a respeito dos insetos que conhecem, a
maioria dos seres vivos citados pertence à classe Insecta (84,61%) e os outros considerados por eles
insetos, pertencem às classes do Reino Animalia: Amphibia(1,03%), Arachnida(7,69%),
Gastropoda(0,21%), Hirudinea(0,2%), Mammalia(1,66%), Oligochaeta(2,49%) e Reptilia(1,45%).
Esta observação no presente estudo é similar aos deModroet al.(2009),quando pesquisaramquea
maior parte dos organismos vivos percebidos como ―insetos‖, pertencem a classe Insecta(82,75) e
os demais seres citados a outras classes taxonômicas.Isso pode ser explicado em decorrência da
ambivalência entomoprojetiva, onde os seres humanos tendem a projetar sentimentos de
nocividade, periculosidade, irritabilidade, repugnância e menosprezo aos animais determinados
culturalmente como "insetos" e classificá-los em uma mesma categoria (COSTA-NETO, 1999).

1469
Reino * Classe* Etnocategoria Citações (%)
taxonômica
Animalia Amphibia Rã 0,21
Sapo 0,83
Arachnida Aranha 4,16
Caranguejeira 0,41
Carrapato 2,50
Escorpião 0,62
Chilopoda Centopeia 0,62
Gastropoda Lesma 0,21
Hirudinea Sanguessuga 0,21
Insecta Abelha 4,78
Arapuá 0,21
Barbeiro 0,83
Barata 12,70
Besouro 1,04
Bicho-pau 0,21
Bicho da seda 0,21
Borboleta 6,03
Cavalo do cão 0,62
Cigarra 0,83
Cupim 1,66
Escaravelho 0,21
Esperança 0,41
Formiga 8,52
Gafanhoto 5,00
Grilo 6,65
Joaninha 1,04
Lagarta 1,87
Louva-deus 0,41
Mosca 11,85
Muriçoca 4,16
Mané mago 0,21
Maribondo 2,50
Mariposa 0,21
Maruim 0,41
Mosquito da dengue 1,25
Mosquito 4,57
Percevejo 0,21
Pernilongo 1,87
Piolho 0,62
Pulga 0,62
Rola bosta 0,21
Serra-pau 0,21
Tanajura 0,62
Traça 0,21
Vagalume 0,41
Varejeira 0,41
Vespa 0,21
Zangão 0,62
Mammalia Morcego 0,83
Rato 0,83
Oligochaeta Minhoca 2,50
Reptilia Cobra 0,41
Jiboia 0,21
Lagarto 0,41
Lagartixa 0,41

1470
O Gráfico 2, demostra que 40% dos discentes consideram os insetos muito importantes,
pois afirmam que esses seres fazem parte da cadeia trófica de outros animais que, por conseguinte,
a sua presença na natureza mantém oecossistema equilibrado,porém 18% dos discentes consideram
que os insetos são pouco importantes e 42% dos discentes não atribuíram importância alguma aos
insetos. Esses resultados assemelham aos de Silva et al. (2009), que ao fazer o mesmo
questionamento, os discentes atribuíram a importância dos insetos as diversas funções
desempenhadas no equilíbrio do ecossistema, na cadeia trófica e na saúde humana.Desta forma, é
necessário que os docentes realizem práticas educacionais que enfatizem a importância dos insetos
no ecossistema e as ações funções desempenhadas pelos discentes.

Gráfico 2- A importância dos insetos para os discentes

Analisando o Gráfico 3, observou-se que quando os discentes foram indagados sobre a sua
reação ao observar um inseto 30% dos responderam que os matam,3% reagem de forma normal,7%
não responderam,29% disseram que depende do inseto,7% observam o comportamento,6% sentem
nojo,15% sentem medo e 35% liberam os insetos na natureza.A pesquisa realizadana escola do
ensino fundamental e médio por Modro et al.(2009), constatou que a principal reação dos discentes
ao observar um inseto é matá-lo.De acordo com Costa-Neto(2004), o modo como a maioria das
sociedades percebe e se expressa com relação tanto aos próprios insetos quanto aos animais não

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insetos, identificando-os como ―insetos‖, evidenciam as atitudes, os sentimentos de desprezo, medo
e aversão que os seres humanos geralmente demonstram pelos invertebrados.

Gráfico 3 -Reação dos discentes ao ver um inseto.

Consideração final

O conhecimento dos discentes ainda é pouco sobre os aspectos positivo dos insetos sendo
necessário que os docentes busquem formas para transmitir o tema.

Referências

MODRO,A.F.H.;COSTA,M.S.;MAIA,E.;ABURAYA,F.H.Percepção entomológica por docentes e


discentes do município de Santa Cruz do Xingu,Mato Grosso,Brasil.Biotemas,v. 22,n. 2, p. 153-
159,2009.

1472
COSTA NETO,E.M.Etnocategoria “inseto” e a hipótese da ambivalência projetiva. Acta
Biológica Leopoldensia,v. 21, n. 1, p. 7-14,1999.

COSTA NETO,E.M.Os insetos que “ofendem”:Artropodoses na visão dos moradores da região da


Serra da Jibóia,Bahia,Brasil.Sitientibus,Série Ciências Biológicas,4 (1/2), p. 59-68,2004.
BUZZI, Z. J. Entomologia didática, 5. ed. Curitiba: UFPR, 2010.

SILVA, M. L. L. S.; OLIVEIRA, C. R. F.; MATOS, C. H. C.; BEZERRA, Y. B. S.; FERRAZ, C.


S.Redescobrindo o mundo dos insetos nas escolas do sertão do Pajeú.In: IX JORNADA DE
ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 2009, Recife-PE. Resumos. Recife-PE: JEPEX, 2009. CD
Rom.

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