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Giovanni Seabra

José Antonio Novaes da Silva


Ivo Thadeu Lira Mendonça
(organizadores)

A Conferência da Terra
Aquecimento global, sociedade e biodiversidade

Volume I

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa - PB
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
reitor
RÔMULO SOARES POLARI
vice-reitora
MARIA YARA CAMPOS MATOS

EDITORA UNIVERSITÁRIA
diretor
JOSÉ LUIZ DA SILVA
vice-diretor
JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
supervisor de editoração
ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Capa: Éric Seabra
Editoração: Ivo Thadeu Lira Mendonça
E-mail: gs_consultoria@yahoo.com.br

A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e


biodiversidade. Volume I / Giovanni de Farias Seabra, José
Antonio Novaes da Silva, Ivo Thadeu Lira Mendonça
(organizadores). – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB,
2010.

453 p.: il.

ISBN: 978-85-7745-532-4

1. Meio Ambiente. 2. Mudanças climáticas. 3. Educação ambiental. 4.


Ecossistemas terrestres e aquáticos. 5. Saúde global. I. Seabra,
Giovanni de Farias. II. Silva, José Antonio Novaes da. III.
Mendonça, Ivo Thadeu Lira.

UFPB/BC

As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores.

Todos os direitos desta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Foi feito depósito legal
Sumário

SUMÁRIO ..................................................................................................................................... 5

PREFÁCIO ................................................................................................................................... 8

UM NOVO PASSO... ................................................................................................................................................... 8

1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS, DESASTRES NATURAIS E IMPACTOS AMBIENTAIS 9

ANÁLISE RÍTMICA DA SÉRIE DE TEMPERATURA DO AR DE 1984 A 2008 DA CIDADE DE JOÃO PESSOA10


APLICAÇÃO DO TESTE DE MENN KENDALL NA ANALISE DE TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS - BACIA
HIDROGRAFICA DO RIO BRIGIDA – ESTADO DE PERNAMBUCO..............................................................17
EL ANÁLISIS COMPARATIVO CON LA PROTECCIÓN DEL MEDIO AMBIENTE ENTRE MÉXICO Y COREA:
LAS LEYES MEDIOAMBIENTALES, SUS DESARROLLOS INSTITUCIONALES Y SUS LÍMITES. .............25
EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA: CASO DE AVEIRO ........................................................................37
LOS PROBLEMAS DE LAS POLÍTICAS DE CAMBIO CLIMÁTICO DE COREA DEL SUR Y ARGENTINA......48
MODIFICAÇÕES CLIMÁTICAS E DESERTIFICAÇÃO .........................................................................................55
O SISTEMA MUNDIAL DE ENERGIA REQUERIDO PARA COMBATER O AQUECIMENTO GLOBAL ...........66
A COBERTURA VEGETAL COMO MODERADORA CLIMÁTICA DOS CENTROS URBANOS: UM ESTUDO
COM BASE NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB ..............................................................................................73
A DESERTIFICAÇÃO NO ESPAÇO NORTE-RIOGRANDENSE: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS
SOLUÇÕES .........................................................................................................................................................79
AGRESTE SETENTRIONAL DO ESTADO DE PE: IMPACTOS AMBIENTAIS CARACTERIZADOS PELO
PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO EM SERRA SECA-PE ..............................................................................87
ANTROPISMO E SEUS EFEITOS NA RESILIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA NO CEARÁ ...................94
AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A MIGRAÇÃO ANIMAL E HUMANA: PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS
........................................................................................................................................................................... 102
CONDICIONANTES CLIMÁTICAS E SAÚDE HUMANA: POTENCIAL BIOCLIMÁTICO DE
DESENVOLVIMENTO DO Aedes aegypti E SUA RELAÇÃO COM OS CASOS NOTIFICADOS DENGUE NO
MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN ....................................................................................................................... 109
ESTUDO MICROCLIMÁTICO ATRAVÉS DO ÍNDICE DE STEADMAN PARA MUNICÍPIO DE NATAL/RN:
NORDESTE DO BRASIL .................................................................................................................................. 116
O NOSSO PLANETA TEM PRESSA: UMA ABORDAGEM SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL EM UMA
ESCOLA PÚBLICA DO SERTÃO CENTRAL .................................................................................................. 123
SECAS SEVERAS NO NORDESTE DO BRASIL E A TEMPERATURA DA SUPERFÍCE DO MAR: UMA
REVISÃO .......................................................................................................................................................... 127
TENDÊNCIA DE MODIFICAÇÕES NA PRECIPITAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO EM
MESOREGIÕES ................................................................................................................................................ 133
S. AMERICAN ENERGY SECURITY PROBLEM: LOOKING FOR A CONFLICT-RESOLUTION REGIME ...... 138

2. BIODIVERSIDADE E MANEJO DOS ECOSSISTEMAS .............................................. 148

ORDENAMENTO TERRITORIAL E GESTÃO AMBIENTAL NOS PARQUES NACIONAIS DO BRASIL ......... 149
A IMPORTÂNCIA DO USO E MANEJO DOS RECURSOS SOLO E ÁGUA NO ASSENTAMENTO SANTO
ANTONIO, NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS – PB ....................................................................................... 153
A IMPORTÂNCIA DO USO E MANEJO DOS RECURSOS SOLO E ÁGUA NO ASSENTAMENTO SANTO
ANTONIO, NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS – PB ....................................................................................... 158
A SIGNIFICÂNCIA DOS PARQUES NACIONAIS BRASILEIROS E A BIODIVERSIDADE COMO VALOR
PATRIMONIAL ................................................................................................................................................. 163
ABUNDÃNCIA E RIQUEZA DE GASTRÓPODES DA REGIÃO ENTREMARÉS DOS COSTÕES ROCHOSOS DA
PRAIA MONTE AGHÁ, PIÚMA (ES): ANTES E DEPOIS DA REABERTURA DO CANAL PARA O MAR DO
RIO RIO NOVO ................................................................................................................................................. 172
ASSOCIAÇÕES DE Chthamallus bisinuatus COM O BIVALVO INVASOR Isognomon bicolor (C. B. ADAMS,
1845) EM COSTÕES ROCHOSOS DA BAÍA DE BENEVENTE (ES)............................................................... 177
BIODIVERSIDADE DE HYMENOPTERA (INSECTA) DO PARQUE ESTADUAL DE VASSUNUNGA, SANTA
RITA DO PASSA QUATRO, SP ........................................................................................................................ 181
BIOLOGICAL CONTROL OF FRUIT FLIES WITH ENTOMOPATHOGENIC FUNGI ......................................... 187
CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DA PAISAGEM: LENÇÓIS MARANHENSES –
BARREIRINHAS/MARANHÃO – BRASIL ...................................................................................................... 193
CAMINHOS QUE CONTAM A HISTÓRIA DE UMA ESTAÇÃO ECOLÓGICA .................................................. 200
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL NO CAMPUS I DA UFPB ................................................................................... 205
CONTROLE BIOLÓGICO CONSERVATIVO: UM PASSO PARA PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA................. 213
ESTUDO DA BIODIVERSIDADE LOCAL: CAMINHOS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................... 219
FITOINDICAÇÃO E FENOLOGIA: POTENCIAL DE Clitoria fairchildiana HOWARD (LEGUMINOSAE) EM
AMBIENTES URBANOS E DE MATA............................................................................................................. 227
ILHAS DE REFÚGIO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO: PLANALTO SEDIMENTAR DA IBIAPABA ................ 233
LEVANTAMENTO DA VEGETAÇÃO REMANESCENTE NAS ÁREAS ATINGIDAS PELA PCH- GOIANDIRA
(GO) ................................................................................................................................................................... 239
LEVANTAMENTO DE BORBOLETAS BIOINDICADORAS DE QUALIDADE AMBIENTAL NO MUNICÍPIO
DE AREIA, PARAÍBA ....................................................................................................................................... 246
MANEJO PARA O PARQUE ECOLÓGICO DE ENGENHEIRO ÁVIDOS NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS-
PARAÍBA. ......................................................................................................................................................... 255
MANEJO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA: UM INSTRUMENTO DE APOIO
PARA DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS, SEMIÁRIDO
PARAIBANO ..................................................................................................................................................... 260
MODIFICAÇÕES NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE UMA FLORESTA PRIMÁRIA ATINGIDA POR FOGO
NO ESTADO DO ACRE, AMAZÔNIA BRASILEIRA ...................................................................................... 266
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO CONDURU-BAHIA: ENTRAVES E CONFLITOS NO PROCESSO DE
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ..................................................................................................................... 274
PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE CONHECIMENTOS SOBRE OS INVERTEBRADOS MARINHOS: UMA
EVIDÊNCIA À CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA APA JENIPABU/RN-BRASIL ....................... 282
SUCESSÃO ECOLÓGICA NO AÇUDE DO BODOCONGÓ EM CAMPINA GRANDE – PB: EUTROFIZAÇÃO
ARTIFICIAL COMO FATOR ACELERADOR .................................................................................................. 289
ALTERNATIVE CONTROL TECHNIQUES FOR PESTS OF BANANA ............................................................... 296
APREENSÕES DE PREGUIÇAS Bradypus variegatus SCHINZ,1825 E CASOS DE ACIDENTES COM CHOQUES
ELÉTRICOS ENVOLVENDO ESTES ANIMAIS NA MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE,
PERNAMBUCO ................................................................................................................................................ 301
A BIODIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO PIATÓ NO MUNICÍPIO DE ASSU/RN .................. 309
AVES DE RAPINA DIURNAS E NOTURNAS NA FAZENDA MARACAJÁ EM SÃO JOÃO DO CARIRI – PB . 316
BANCO DE SEMENTES FLORESTAIS EXÓTICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO –
CAMPUS DE SINOP .......................................................................................................................................... 323
BANCO DE SEMENTES FLORESTAIS NATIVAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO –
CAMPUS DE SINOP .......................................................................................................................................... 327
COMPARAÇÃO DE ÉPOCAS DE CORTES NO COMPOSTO ORGÂNICO ......................................................... 331
CORRELAÇÃO DOS FATORES FÍSICO-QUÍMICOS COM PADRÕES BIOMÉTRICOS DA OSTRA Crassostrea
brasiliana (LAMARCK, 1819) (BIVALVIA, OSTREIDAE) NO MANGUEZAL DA REGIÃO ESTUARINA DE
RIO FORMOSO, PERNAMBUCO, BRASIL ..................................................................................................... 336
DADOS PARCIAIS DA DEGRADAÇÃO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DA MADEIRA DE
CINCO ESSÊNCIAS FLORESTAIS EM CONTATO COM SOLO .................................................................... 342
DADOS PARCIAIS DO EFEITO DO ATAQUE DE INSETOS XILÓFAGOS SOBRE A DEGRADAÇÃO DE
CINCO ESPÉCIES FLORESTAIS CULTIVADAS NO NORTE DE MATO GROSSO ...................................... 346
DIMENSÕES DA BIODIVERSIDADE: EVOLUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA E SUA INTEGRAÇÃO
COM O HOMEM – O EXEMPLO DA APA GUAPIMIRIM .............................................................................. 351
ESTUDO DA BIODIVERSIDADE DA FAUNA EM SERAPILHEIRA DE DIFERENTES ECOSSISTEMAS
FLORESTAIS .................................................................................................................................................... 358
ESTUDO DO TÁXON GNATHIFERA EM CAMPO E NO PROCESSO LÚDICO COMO ELEMENTOS DE
SENSIBILIZAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE ....................................................................................... 363
INVASÃO DE PLANTA AFRICANA NAS MATAS CILIARES CEARENSES...................................................... 368
INVENTÁRIO FAUNÍSTICO DO COMPLEXO ALUÍZIO CAMPOS – CAMPINA GRANDE-PB ........................ 376
LEVANTAMENTO DA COMUNIDADE ZOOPLACTÔNICA DE UM ECOSSISTEMA LACUSTRE NATURAL-
URBANO DA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB ................................................................................................ 383
MACROBENTOS DE DOIS COSTÕES ROCHOSOS ANTES E DEPOIS DA INVASÃO DO ISOGNOMON
BICOLOR (C. B. ADAMS, 1845) NA BAÍA DE BENEVENTE (ES).................................................................. 390
MANGUEZAL, CARCINICULTURA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL .................................................................... 397
OCORRÊNCIA DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES EM ESPÉCIES FLORESTAIS NATIVAS DO
NORTE DO MATO GROSSO ............................................................................................................................ 404
OCUPAÇÃO DA ROLINHA MARROM Columbina talpacoti (TEMMINCK, 1811) NA ZONA URBANA DE
CAMPINA GRANDE-PB................................................................................................................................... 408
PRAGA DO COCO, Coraliomela brunnea THUNBERG, (1821) (COLEOPTERA: CRISOMELIDAE) EM
PLANTIOS COMERCIAIS NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT ............................................................................ 414
PREGUIÇAS-DE-GARGANTA-MARROM Bradypus variegatus HABITANTES DE PRAÇAS PÚBLICAS NO
MUNICÍPIO DE RIO TINTO, PARAÍBA .......................................................................................................... 418
RELAÇÃO SOCIEDADE NATUREZA NO CAMPUS I DA UFPB – CONFLITO ENTRE OS ANIMAIS EXÓTICOS
E A MATA ATLÂNTICA E SEUS ANIMAIS ENDÓGENOS ........................................................................... 425
SISTEMÁTICA E ECOLOGIA DE ESPÉCIES DE MOLLUSCA DA REGIÃO ESTUARINA DE RIO FORMOSO E
BAIA DE TAMANDARÉ (PE – BRASIL): COLEÇÃO DE ZOOLOGIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
PERNAMBUCO, BRASIL ................................................................................................................................. 430
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO PIAUÍ: VANTAGENS E DESAFIOS ........................................................ 437
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE IMÓVEL RURAL NO SEMI-ÁRIDO DO ESTADO DE PERNAMBUCO...... 444
UTILIZAÇÃO DA PESQUISA SOBRE FAUNA ASSOCIADA À SERAPILHEIRA COMO FORMA DE INSERIR
ELEMENTOS PARA SENSIBILIZAR E PROMOVER IDEAIS DE CONSERVAÇÃO ..................................... 450
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 8

Prefácio

Um novo passo...

A
quecimento global ou resfriamento do Planeta Terra? Estas indagações fazem parte de um
elenco de incertezas com que a humanidade se defronta diante da realidade ambiental do
mundo atual, mais antropocêntrico e menos holístico. As questões ambientais estão
incorporadas no dia-a-dia das pessoas, invadindo as residências, as escolas e os ambientes de
trabalho, incidindo na estrutura e hábitos da sociedade humana, tornando-se tema de destaque em
reuniões de associações intelectuais e científicas. Os programas e ações ambientais são quase
sempre sustentados pelas grandes corporações empresariais e políticas, cuja sustentação reside no
capital multinacional e nacional e estes, paradoxalmente, constituem os maiores poluidores. Esta
situação cria incertezas no pensamento individual e coletivo, exigindo ações de conscientização e
mobilização efetivas e livres da pressão do capital. Somente assim teremos uma sociedade mais
justa no Mundo ecologicamente correto.
A Conferência da Terra surge como um importante instrumento de conscientização e
mobilização da população, um movimento contínuo em prol da saúde planetária. A Conferência da
Terra propicia a união de todos convergindo na perspectiva, do bem estar dos outros seres, e não
somente dos homens. De nada adianta estarmos sós no Planeta, sem a atmosfera e a biodiversidade
que nos permitem viver.
Na segunda edição, a Conferência da Terra 2010 apresenta-se como mais uma
oportunidade para representantes de instituições acadêmicas, sociedade civil e organizada, bem
como entidades governamentais e privadas reunirem-se com o objetivo de trazerem soluções para a
preservação do meio ambiente. Sob o tema ―Aquecimento global, sociedade e biodiversidade‖,
damos um novo passo no intuito de despertar o censo crítico e instigar ações conservacionistas
eficazes e livres das interferências políticas e institucionais.
A Conferência da Terra, uma realização da Universidade Federal da Paraíba, com apoio de
outras instituições, propiciou o acesso de todos os participantes ao que existe de mais novo, no
tocante às experiências profissionais e acadêmicas de centenas de pesquisadores e cidadãos
evolvendo meio ambiente, mudanças climáticas, educação ambiental, ecossistemas terrestres e
aquáticos e saúde global.

Giovanni Seabra
Ivo Thadeu Lira Mendonça
1. Mudanças Climáticas, Desastres Naturais e Impactos
Ambientais
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 10

ANÁLISE RÍTMICA DA SÉRIE DE TEMPERATURA DO AR DE


1984 A 2008 DA CIDADE DE JOÃO PESSOA

Liése Carneiro SOBREIRA


Mestranda. Centro de Tecnologia/UFPB.
lica1704@yahoo.com.br
Solange Maria LEDER
Orientadora. Centro de Tecnologia/UFPB.
solangeleder@yahoo.com.br
Paulo Roberto de O. ROSA
Professor. CCEN/UFPB.
paulorosa_ufpb@hotmail.com

ABSTRACT
The city of João Pessoa in recent years has shown a strong urban growth, so that from 1970
to 2009 its urban area increased by 28%. In this context, the objective of this study is to analyze the
climatic rhythm of the city of João Pessoa from the series of air temperature in the period 1984 to
2008 in order to verify the possible changes over this period. Data from two meteorological stations
located in the urban área of the city were used: Solar Energy Laboratory Station, located on the
campus I of the Federal University of Paraíba, and National Institute of Meteorology Station,
located in a urban area between João Pessoa and Cabedelo. For the analysis, only data from the
quarter colder and warmer years were used. To verify the climatic pattern, was made graphs of
linear trend and moving average. It was found that there was considerable increase in air
temperature in hottest quarter on data from the two stations. In the coldest quarter there was mild
trend of increasing temperature.
KEYWORDS: João Pessoa. Rhythmic analysis. Urban Climate.

RESUMO
A cidade de João Pessoa tem apresentado nos últimos anos um forte crescimento urbano,
de modo que de 1970 a 2009 sua mancha urbana aumentou 28%. Nesse contexto, o objetivo desse
trabalho é analisar o ritmo climático da cidade de João Pessoa a partir das séries de temperatura do
ar do período de 1984 a 2008, a fim de verificar as possíveis alterações ao longo desse período. Para
isso, foram utilizados dados de duas estações meteorológicas localizadas na cidade. Para a análise,
foram utilizados apenas dados do trimestre mais frio e mais quente do ano. Para verificação do
comportamento climático, foram gerados gráficos da tendência linear e média móvel. Verificou-se
que houve uma considerável elevação da temperatura do ar no trimestre mais quente nos dados das
duas estações. No trimestre mais frio foi verificada uma suave tendência de elevação da
temperatura.
PALAVRAS-CHAVES: João Pessoa. Análise rítmica. Clima urbano

INTRODUÇÃO
O município de João pessoa no Estado da Paraíba está situado no litoral da Região
Nordeste do Brasil, localizado nas coordenadas 7°5‘‘ de latitude Sul e 34°50‘ de longitude Oeste.
Limita-se ao Norte com o município de Cabedelo, ao Sul com Conde, e ao Oeste com Bayeux e
Santa Rita. Está inserido na microrregião de João Pessoa e na mesorregião da Mata Paraibana
No que se refere ao regime climático, a cidade está sob o domínio do Clima Tropical
quente-úmido, As‘, segundo classificação de Köppen-Geiger, caracterizada por uma precipitação
anual de 1.800 mm, com uma maior concentração de chuvas no final da estação do outono e inicio
do inverno, nos meses de maio, junho e julho, sendo junho o mês de maior concentração
pluviométrica.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o município de
João Pessoa abrange uma área de 210,55km² e em 2009 contava com uma população de 702.235
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 11

habitantes, sendo esta população eminentemente urbana. É relevante mencionar que o aumento
populacional da cidade de João Pessoa foi proporcionalmente maior do que o do Estado da Paraíba
e nas últimas três décadas a cidade quase triplicou o número de seu contingente populacional,
considerando que em 1970 a população residente era de 221.052 habitantes.
Juntamente ao crescimento populacional, verifica-se em João Pessoa a modificações da
mancha urbana nos últimos anos. De 1970 a 2009, a mancha urbana de João Pessoa cresceu 28%, o
que pode ser entendido como uma expansão relativamente pequena, considerando que no mesmo
período a população residente cresceu aproximadamente 140%, indicando que a cidade sofreu um
intenso processo de verticalização.
No entanto, essa expansão vem ocorrendo sem observar futuros transtornos que a elevação
do gabarito pode provocar em decorrência de fortes variações nas variáveis ambientais, pois,
juntamente com a construção de um edifício, tem-se o aumento da: circulação de veículos no
entorno, demanda de água, produção de resíduos sólidos, descargas de esgoto, impermeabilização
do solo, variações no vento e também na temperatura.
Isto posto, visto que a cidade de João Pessoa sofreu um intenso processo de expansão
urbana nas últimas décadas, este trabalho busca analisar o ritmo climático da cidade de João Pessoa
a partir das séries de temperatura do ar do período de 1984 a 2006, ambas oriundas de duas estações
meteorologias situadas na cidade, a fim de verificar as possíveis alterações ao longo desse período.

CLIMA URBANO
Atualmente metade da população mundial reside em áreas urbanas e por esse motivo o
estudo do clima desse espaço torna-se de grande relevância. Para Monteiro (2003), o clima urbano
observado numa perspectiva geográfica, deve ser entendido como o clima dentro da cidade,
diferentemente da abordagem meteorológica que entende o clima urbano como o clima acima da
cidade.
Para Gonçalves (2003), o estudo do clima da cidade deve ser entendido como resultante
das interações entre os componentes verticais que incidem sobre um determinado local e os
componentes horizontais que condicionam a sua sucessão habitual dos tipos de tempo. Assim, como
aponta Oke (1978 apud ROSSI, 2005) o clima urbano resulta das variações provocadas pelo
processo de urbanização na superfície terrestre e das características da atmosfera de um
determinado local.
São diversas as variações climáticas que podem ser verificadas e sentidas dentro do espaço
urbano, em que estas variações podem apresentar maior ou menor intensidade de acordo com a
pressão exercida pelas atividades humana no meio, como observa Geiger (1961, p. 503):
A causa das características peculiares do clima urbano está na alteração dos balanços
térmico e hídrico, e é ocasionada, em primeiro lugar, pela substituição do solo natural pela pedra,
sobre a qual, ainda por cima, a água da chuva escoa rapidamente; e pelos seus edifícios que em
conjunto aumentam a rugosidade da superfície. Acrescenta-se a estes fatos a fonte de calor
constituída pelos lumes caseiros e pela indústria, e finalmente o aumento das poeiras na atmosfera
urbana e a sua poluição com os gases de escape dos motores dos veículos, dos fogos das habitações
e da indústria.
Pelo que foi exposto acima, o estudo da temperatura do ar, torna-se um elemento de
fundamental importância no clima urbano.

METODOLOGIA
Os dados de temperatura do ar e precipitação são oriundos de duas estações
meteorológicas, ambas localizadas na mancha urbana de João Pessoa, que são as estações do
Laboratório de Energia Solar e do Instituto Nacional de Meteorologia. A estação do LES –
Laboratório de Energia Solar, localizada na Universidade Federal da Paraíba – CAMPUS I, realiza
observações acerca do clima em João Pessoa desde 1975, os dados são atualizados diariamente nos
horários das 09:00h, 15:00h e 21:00h, e são obtidos através de instrumentos analógicos. Algumas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 12

falhas nas medições foram constatadas, ou seja, alguns dados de temperatura e precipitação não
constavam no banco de dados fornecido pela entidade.
Outra estação de coleta de dados utilizada foi do INMET – Instituto Nacional de
Meteorologia, localizada às margens da BR-230, no Ministério da Agricultura, esta estação esta
coletando dados climáticos desde 1962, sendo registrados também de forma analógica três vezes ao
dia, 09:00h, 15:00h e 21:00h. Os dados do INMET foram solicitados em Brasília onde há o
arquivamento de todos os dados nacionais, mas é importante ressaltar que também foram
encontradas falhas e dados faltosos no banco de dados desta estação.
Em decorrência do volume de dados a serem analisados, optou-se por definir que seriam
analisados apenas os meses de maior oscilação e variação durante o ano. Assim, para análise, foram
escolhidos os dados dos meses do trimestre mais quente, que se referem aos meses de janeiro,
fevereiro e março, e os dados dos meses do trimestre mais frio, que são os meses de junho, julho e
agosto, de todas as estações em observação.
Para a verificação do ritmo do comportamento da Série Temporal1 de temperatura e
precipitação foram gerados gráficos da temperatura média e do acumulado mensal dos meses dos
trimestres mais quentes e mais frios do período de 1984 a 2008. Com isso, foi possível fazer uma
descrição 2 detalhada do comportamento da série destes períodos. Já para a visualização da
tendência 3 dessas variáveis, foram elaborados, com auxílio da planilha eletrônica Excel, gráficos
que representassem a tendência linear e a linha da média móvel, em que esta última também foi
escolhida pelo fato de suavizar flutuações de uma série de dados
RESULTADOS
As principais observações sobre os registros de temperatura do ar na estação do LES no
período de 1984 a 2008 são apresentados a seguir, a figura 1 complementa os destaques do texto,
que inicia com a análise sobre o trimestre mais quente.
A temperatura média do trimestre mais quente da estação do LES foi de 28,2°C. Verifica-
se um aumento da temperatura a partir de março de 1985, quando neste mês foi registrada a
temperatura média mensal mínima da série que foi de 27,1°C. Posterior a março de 1985, verifica-
se uma elevação da temperatura até fevereiro de 1989, quando a temperatura atinge 28,7°C. Entre
os anos de 1990 a 1997 a curva de temperatura varia entre períodos de elevação e declínio, sendo
que o mínimo e o máximo registrado nesse período foram 27,3°C e 28,8°C respectivamente. O ano
de 1998 foi o mais quente da série, atingido a média de 29,8°C no mês de março. Posterior a
temperatura máxima registrado em 1998, inicia-se um período de declínio que vai até março de
2004 com a temperatura de 27,5°C. De 2004 a 2008 a temperatura apresenta momentos de aclive e
de declive, em que a mínima foi inferior a 28,1°C e a máxima superior a 29,1°C.
A curva de tendência da temperatura do LES do trimestre mais quente indica que houve
uma expressiva elevação da temperatura. Já a curva da média móvel mostra que houve três períodos
de aquecimento, sendo um no final da década de 1980, outro na última metade da década de 1990, e
um terceiro nos últimos anos da série, à exceção do ano de 2008. Percebe-se que à exceção do pico
de temperatura ocorrido em 1998, o período de aquecimento dos últimos anos da série é mais
elevado que os dois outros períodos de elevação da temperatura ocorridos nas décadas de 1980 e
1990.

1
Série Temporal: O conceito de séries temporais está relacionado a um conjunto de observações de uma determinada
variável feita em períodos sucessivos de tempo e ao longo de um determinado intervalo, sendo um de seus objetivos de
se analisá-la é a sua Descrição. (FARIA, et al, 2008).
2
Descrição de uma série temporal consiste basicamente em conhecermos o comportamento de uma determinada
série, em que ―o primeiro passo para análise é elaborar o gráfico da série temporal com o objetivo de observar as
principais propriedades da série como: tendência, ciclo sazonal e outliers (pontos que não parecem consistentes com os
demais)‖. (REBOITA, 2005)
3
Tendência: ―A tendência de uma série indica o seu comportamento ―de longo prazo‖, isto é, ela cresce, decresce ou
permanece estável, e qual a velocidade destas mudanças‖. (BALBIO, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 13

Tendência da temperatura do trimeste mais quente da estação do


LES - 1984 a 2008

30,0

29,5

29,0
JAN-FEV-MAR
28,5

28,0 Linha de Tendência


Linear
27,5
Linha de Tendência
27,0 de Média Móvel

26,5
1984 1989 1994 1999 2004
Figura 1– Tendência de temperatura média dos meses do trimestre mais quente da estação do LES de
1984 a 2008

O gráfico apresentado na figura 2 ilustra as observações sobre o trimestre mais frio da


estação do LES, no período de 1984 a 2008. A temperatura média dos meses do trimestre mais frio
da estação do LES foi de 25,6°C. De 1984 a 1990 a temperatura manteve o comportamento estável,
não havendo eventos de consideráveis desvios ascendentes ou descendentes de temperatura. O ano
de 1992 foi caracterizado por um declínio de temperatura, em que foi registrado 24,8°C no mês de
agosto, um dos valores mais baixos medidos na série. Após este curto período de declínio, verifica-
se um aumento da temperatura nos anos seguintes, que foi de 1993 a 199,9 neste intervalo de tempo
a temperatura mínima foi 25°C em julho de 1996 e a máxima de 26,5°C em 1999. De 1999 a 2008
se verifica uma leve curva de declínio, ocorrendo máxima de 26,3°C em 2006.
Na figura 2 pode-se ainda observar a linha de tendência da temperatura do trimestre mais
frio da estação do LES, indicando que há uma pequena elevação. Da mesma forma, a curva da
média móvel não apresenta tendência de elevação da temperatura. Verifica-se, no entanto, que as
temperaturas mínimas, de modo geral são superiores a 25,5°C a partir da segunda metade dos anos
de 1990.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 14

Tendência da temperatura do trimeste mais frio da estação do LES -


1984 a 2008
27,0
26,5
26,0
25,5 JUN-JUL-AGO
25,0
Linha de Tendência
24,5
Linear
24,0 Linha de Tendência
23,5 Média Móvel

23,0
22,5
1984 1989 1994 1999 2004
Figura 2– Tendência de temperatura média dos meses do trimestre mais frio da estação do LES de 1984
a 2008

A seguir serão apresentadas as principais observações sobre os registros de temperatura do


ar da estação do INMET, no período de 1984 e 2008. As figuras 3 e 4 complementam a análise
textual.
A temperatura média dos meses do trimestre mais quente da estação do INMET foi de
28,6°C. De 1984 a 1991 observa-se que as temperaturas passaram por momentos de elevação e
declínio, a média mensal mínima foi 28°c em março de 1991 e a máxima foi 28,9°C em fevereiro
de 1988. Após 1992, ano de menor temperatura média da série, percebe-se uma elevação na
temperatura, iniciando em 1993 até o ano de 2008. Foram verificados apenas alguns períodos de
declínio, que ocorreram após o pico de temperatura média máxima registrada na série, que foi de
29,8°c em março de 1998. A partir de 2003 até 2008 se verifica outro período de elevação de
temperatura.
O gráfico da tendência do trimestre mais frio desta estação, Figura 3, aponta que houve um
expressivo aumento da temperatura no período de 1984 a 2008. Esse comportamento de elevação
também está nítido na linha da média móvel, sendo as temperaturas mais elevadas encontradas em
1998 e nos quatro últimos anos da série. É relevante observar que, em média, as temperaturas
mínimas dos últimos anos da série, de modo geral, são mais elevadas que as temperaturas dos anos
de 1980 e 1990, à exceção do ano de 1998.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 15

Tendência de temperatura do trimestre mais quentes da estação


do INMET - 1984 a 2008
30,0

29,5
JAN-FEV-MAR

29,0 Linha de Tendência


Linear

28,5 Linha de Tendência


Média Móvel

28,0

27,5
1984 1989 1994 1999 2004

Figura 3– Tendência de temperatura média dos meses do trimestre mais quente da estação do INMET de
1984 a 2008

A temperatura média dos meses do trimestre mais frio da estação do INMET entre 1984 a
2008 foi de 26°C, a Figura 4 ilustra as observações para este trimestre. De 1985 a 1991 a
temperatura oscilou entre períodos de elevação e declínio, com média mínima mensal de 24,8°C em
julho de 1985 e média máxima de 27,2°C em agosto de 1987. De 1992 a 2008 observa-se um
aumento na temperatura, sendo o período de 1991 a 1998 onde ocorreram elevações mais intensas
da temperatura do ar.
No gráfico da Figura 4 se pode observar que houve uma suave tendência de aquecimento
na série temperatura do trimestre mais frio do INMET no período de 1984 a 2008. Na curva da
média móvel também se percebe pequena elevação da temperatura, contudo é evidente que a partir
de 1994 ocorre um aumento das mínimas, com poucas exceções.

Tendência de temperatura do trimestre mais frio da estação do


INMET - 1984 a 2008
27,5

27,0

26,5 JUN-JUL-AGO

26,0 Linha de Tendência


Linear
25,5 Linha de Tendência
Média Móvel
25,0

24,5
1984 1989 1994 1999 2004
Figura 4– Tendência de temperatura média dos meses do trimestre mais frio da estação do INMET de
1984 a 2008

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de João Pessoa – PB apresentou um crescimento significativo nas décadas de
1980 a 2000, aumento de 28% na área urbana e crescimento da população residente de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 16

aproximadamente 140%, sendo de grande relevância estudos sobre os conseqüentes impactos desse
crescimento no clima local.
Este trabalho consiste na análise sobre registros de temperatura do ar no período de 1984 a
2008, a partir da descrição do ritmo da temperatura do ar dos trimestres mais quentes (janeiro-
fevereiro-março) e dos trimestres mais frios (junho-julho-agosto). Os registros de temperatura do ar
foram obtidos em duas estações meteorológicas localizadas no perímetro urbano da cidade de João
Pessoa: estação do Laboratório de Energia Solar – LES da UFPB e estação do Instituto Nacional de
Metereologia – INMET.
Os registros verificados, nas estações do LES e INMET, apresentaram comportamentos
diferenciados nos trimestres quentes e frios. Verifica-se que houve uma considerável elevação da
temperatura do ar no trimestre mais quente das duas estações, sendo verificado que a estação do
INMET apresentou elevação mais intensa. Já no trimestre mais frio foi verificada uma suave
tendência de elevação da temperatura, sendo observado, no entanto, que as temperaturas mínimas
registradas estão mais elevadas nos últimos anos da série.

REFERÊNCIAS
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passageiros no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro através de modelos convencionais.
Trabalho de Graduação – Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA. São José dos Campos, 2009.
FARIA, E. L. et al. Previsão de Séries Temporais utilizando métodos estatísticos. CBPF–NT–
003/2008. Disponível em:
http://cbpfindex.cbpf.br/publication_pdfs/nt00308.2009_01_16_13_12_34.pdf
GEIGER, R. Manual de microclimatologia – O clima da camada de ar junto ao solo. Trad.
Ivone Gouveia & Francisco C. Cabral. 2ªed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1990.
GONÇALVES, N. M. S. Impactos pluviais e desorganização do espaço urbano em Salvador. In:
MONTEIRO, C. A. F. & MENDONÇA, F. (Org.). Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003.
MONTEIRO, C. A. F. Teoria e Clima Urbano. . In: MONTEIRO, C. A. F. & MENDONÇA, F.
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REBOITA, M. S. Introdução à estatística aplicada à climatologia. Parte III – Análise de Séries
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ROSSI. F.A; KRÜGER, E. L. Análise da variação de temperaturas locais em função das
características de ocupação do solo em Curitiba. In: R. RA’E, Curitiba, n10, Editora UFPR, p93-
105, 2005.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 17

APLICAÇÃO DO TESTE DE MENN KENDALL NA ANALISE DE


TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS - BACIA HIDROGRAFICA DO RIO
BRIGIDA – ESTADO DE PERNAMBUCO

José Alegnoberto Leite FECHINE


Doutorando em Geografia - Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Av. Acadêmico Hélio
Ramos, s/n, CEP 50.670-900, C.P- 7803, Recife/PE, Brasil.
fechini02@yahoo.com.br
Josicleda Domiciano GALVÍNCIO
Profa. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Geografia - Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE.
josicleda@ibest.com

RESUMO
O correto entendimento das variações do clima, que podem ser observadas em uma região,
é uma das etapas fundamentais na redução do risco climático. O objetivo do trabalho foi analisar a
variabilidade temporal dos dados mensais de precipitação pluvial de vinte postos localizados na
bacia hidrográfica do Brígida. As investigações das tendências climáticas foram realizadas, por
meio do teste de Mann-Kendall. Observa-se elevada variabilidade temporal dos valores de
precipitação pluvial mensal dos vinte postos analisadas. O teste nos mostra que 50% dos postos
possuem tendência não significativa de queda nos índices pluviais e 30% com tendência
significativa. Ou seja, 80% dos postos da bacia possuem sinal negativo para o teste MK, o que
significa queda nos índices pluviais. Em relação ao sinal positivo do teste MK, somente 15% dos
postos possuem tendências não significativa de aumento e somente 5% dos postos com tendência de
aumento significativo. Ou seja, 20% dos postos o MK é positivo. Apesar dessa característica, não
houve detecção de marcantes tendências de ordem climática no regime de precipitação pluvial. Sob
o ponto de vista meteorológico, essa elevada variabilidade imprime considerável grau de incerteza
na determinação do potencial de atendimento hídrico em anos de El Niño.
PALAVRAS-CHAVE: El Niño, Tendências Climáticas, Mann Kendal

ABSTRACT
The correct understanding of climate variations, which can be observed in a region, is one
of the important steps in reducing climate risk. The objective of this study was to analyze the
temporal variability of the monthly rainfall of twenty stations located in the catchment area of
Bridget. The investigations of climate trends were performed by means of the Mann-Kendall. Is
observed high temporal variability of the valued of monthly rainfall of twenty stations analyzed.
The test shows that 50% of jobs are non-significant trend of drop in rainfall and 30% with
significant trend. That is, 80% of stations in the basin have a negative sign for the MK test, which
means drop in rainfall. In relation to the positive sign of the MK test, only 15% of those trends are
not significant increase and only 5% of those with a tendency to increase. That is, 20% of jobs MK
is positive. Despite this feature, there was no detection of salient trends in the climatic regime of
rainfall. From the meteorological point of view, this high variability prints, considerable uncertainty
in determining the potential of water supply in years of El Niño.
KEYWORDS: El Niño, Climate Trends, Mann Kendall

INTRODUÇÃO
O semi-árido apresenta um regime pluviométrico marcado por extrema irregularidade de
chuvas, no tempo e no espaço. Nesse cenário, a escassez de água constitui um forte entrave ao
desenvolvimento socioeconômico e, até mesmo, à subsistência da população. A ocorrência cíclica
das secas e seus efeitos catastróficos são por demais conhecidos e remontam aos primórdios da
história do Brasil (Filho (2002)).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 18

A descrição do contexto em que ocorrem as secas no semi-árido nordestino mostra as


dificuldades naturais e institucionais em que se dá a convivência do sertanejo com aquele fenômeno
climático. A seca continua sendo um flagelo para milhões de nordestino (Cavalcanti (1981)). A falta
de reorganização fundiária, disponibilidade e o uso adequado dos recursos hídricos, de tecnologias
apropriadas para a agricultura dependente de chuvas, de culturas adaptáveis às condições de clima e
solo, causam efeitos econômicos e sociais, ampliando, assim, o triste quadro representando pelos
milhões de flagelados que, periodicamente, ressurgem no sertão do Nordeste.
A zona semi-árida Nordestina, em particular à de Pernambuco encontra-se situada em
posição marginal relativamente às regiões de clima áridos e semi-áridos tropicais e subtropicais do
planeta. Os sistemas atmosféricos atuantes sobre o Nordeste são responsáveis pela grande
heterogeneidade que a região apresenta em comparação com outras do país.
Outra característica do regime pluviométrico diz respeito às variações na distribuição das
chuvas ao longo do inverno. Por essas razões, o semi-árido é considerado como as áreas do planeta
mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Diante do exposto, o objetivo deste escopo é averiguar tendências climáticas utilizando o
teste de Mann Kendall. Os postos pluviais onde o teste será aplicado são: Araripina, Ipubi, Bodocó,
Feitoria – Bodocó, Estaca – Bodocó, Exu, Moreilândia, Trindade, Granito, Serrita, Ipueira – Serrita,
Ouricuri, Santa Filomena - Ouricuri, Santa Cruz - Ouricuri, Engenho Camacho – Ouricuri, Bezerro
– Ouricuri, Parnamirim, Icaiçara – Parnamirim, Matias – Parnamirim, Aboboras – Parnamirim,
localizados no semi-árido pernambucano.
O Teste de Mann Kendall tem sido bastante empregado para verificar tendências em séries
pluviais no intuito de analisar mudanças climáticas.

CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A área de estudo é a Bacia hidrográfica do Rio Brígida, localizada no Sertão do Estado de
Pernambuco está entre as coordenadas 7° 30‘ a 9° 00‘ de latitude Sul e 39° 30‘ a 41° 00‘ de
longitude Oeste e aproximadamente 700m de altitude, com nascente na Chapada do Araripe e Foz
no Rio São Francisco, possui uma área de 14.366 Km² e uma extensão de 160 km. A Bacia possui
um total de 15 municípios, dentre os quais 6 estão completamente inseridos: Araripina, Bodocó,
Granito, Ipubi, Ouricuri e Trindade. Os outros municípios que fazem parte de seu território são:
Cabrobó, Exu, Moreilândia, Orocó, Parnamirim, Stª Maria da Boa Vista, Stª Cruz, Stª Filomena e
Serrita (BRASIL (2005(a))), Figura 1.

Figura 1: Localização da Bacia do Rio Brígida com seus municípios – Pernambuco – Brasil

3. MATERIAL E MÉTODOS
As informações hidrológicas foram fornecidas pelo Laboratório de Meteorologia e
Recursos Hídricos de Pernambuco (LAMEPE (2008)), o qual organiza, analisa e divulga as
informações sobre o clima pernambucano. Os dados pluviais obtidos e em seguida organizados
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 19

foram dos seguintes postos: Araripina, Ipubi, Bodocó, Feitoria – Bodocó, Estaca – Bodocó, Exu,
Moreilândia, Trindade, Granito, Serrita, Ipueira – Serrita, Ouricuri, Santa Filomena - Ouricuri,
Santa Cruz - Ouricuri – Anos, Engenho Camacho – Ouricuri, Bezerro – Ouricuri, Parnamirim,
Icaiçara – Parnamirim, Matias – Parnamirim, Aboboras – Parnamirim, no intuito de verificar
tendências climáticas.
Em primeiro momento se trabalhou as séries pluviais, de acordo com a Tabela 1 dos anos
de El Niño no século XX obtida no site do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos). A organização dos totais anuais de precipitação dos postos se deu da seguinte forma:
os dados foram ordenados de acordo com a faixa dos anos de El Niño, mediante que estes
atingissem os intervalos de anos considerados pela Tabela 1.

Tabela I – Anos de El Niño no século XX

Fonte: CPTEC (2002); METSUL (2007)


Em segundo momento a analise das tendências das séries pluviais foram realizadas de
acordo com o Teste de Mann Kendall, este teste tem sido bastante empregado para verificar
tendências em séries pluviais no intuito de analisar mudanças climáticas. Sendo assim, adotando-se
o nível de significância 5%, utilizado por Moraes et al. (1995), Back (2001) e Marengo et al.
(2007), Ho deve ser rejeitada sempre que o valor de u(t) estiver fora do intervalo de confiança [-
1,96; +1,96]. Em outras palavras, se o valor de u(t) foi inferior à -1,96 há, de acordo com o teste
MK, significativas tendências de queda nos valores da série sob investigação. Quando u(t) é
superior a 1,96 há significativas tendências de elevação. O MK foi aplicado, separadamente, em
cada série.
Para a validação do teste foi realizado também o teste de significância do coeficiente
angular. A análise de regressão pode ser utilizada para indicar alterações climáticas por meio do
teste de significância do coeficiente angular. Considerando a equação da reta do tipo: Y = aX + b, o
teste consiste em determinar o intervalo de confiança do coeficiente a, sendo que se este intervalo
não inclui o valor zero, a tendência é significativa. Este teste foi expresso em gráficos.
Para compreender melhor o valor do teste foi elaborada uma legenda.
SIGNIFICÃNCIA LEGENDA u(t)
SEM TENDÊNCIA St 0
TENDÊNCIA SIGNIFICATIVA DE AUMENTO Tsa > + 1,96
TENDÊNCIA SIGNIFICATIVA DE QUEDA Tsq < - 1,96
TENDÊNCIA NÃO SIGNIFICATIVA DE AUMENTO Tnsa < + 1,96
TENDÊNCIA NÃO SIGNIFICATIVA DE QUEDA Tnsq > -1,96

A legenda ajuda entender o teste, visto que os dados de u(t) maior que (+ 1,96) têm
tendência significativa de aumento; menor do que (+ 1,96) tem tendência não significativa de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 20

aumento. Já o u(t) menor do que (-1,96) têm-se tendência significativa de queda e maior do que (-
1,96) tendência não significativa de queda. Já u(t) zero não existe tendência na série.
O teste de Mann Kendall foi aplicado no intuito de verificar tendências climáticas, ou seja,
verificar se as precipitações estão aumentando ou diminuindo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Analise das precipitações em anos de El Niño na bacia hidrográfica do rio Brígida
O posto Araripina o MK calculado para os anos de 1939 a 2007 (38 anos), foi de tendência
não significativa de aumento nos índices pluviais (Tnsa). MK: 0,79203.
POSTO: ARARIPINA – ANOS: 1939 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsa
38 0,79203 Tnsa

O posto Ipubi o MK calculado para os anos de 1965 a 2007 (26 anos), foi de tendência não
significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). Mk: -1,16775.
POSTO: IPUBI – ANOS: 1965 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
26 - 1,16775 Tnsq

O posto Engenho Camacho - Ouricuri o MK calculado para 28 anos, foi de tendência não
significativa de aumento nos índices pluviais (Tnsa). Mk: 0,434643.
POSTO: BODOCÓ – ANOS: 1965 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsa
28 0,434643 Tnsa

O posto Feitoria - Bodocó o MK calculado para os anos de 1939 a 1988 foi de tendência
significativa de aumento nos índices pluviais (Tsa). MK: 2,148657.
POSTO: FEITORIA - BODOCÓ – ANOS: 1939 - 1988
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsa
25 2,148657 Tsa

O posto Feitoria - Bodocó o MK calculado para os anos de 1963 a 1990 foi de tendência
não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: - 0,87119.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 21

POSTO: ESTACA - BODOCÓ – ANOS: 1963 - 1990


TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
20 -0,87119 Tnsq

O posto Exu o MK calculado para os anos de 1946 a 2006 (34 anos) foi de tendência
significativa de queda nos índices pluviais ao longo dos anos (Tsq). MK: -3,03901.
POSTO: EXU – ANOS: 1946 - 2006
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsq
34 - 3,03901 Tsq

O posto Moreilândia o MK calculado para os anos de 1963 a 2007 foi de tendência


significativa de queda nos índices pluviais (Tsq). MK: - 2,91896.
POSTO: MOREILÂNDIA – ANOS: 1963 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsq
32 - 2,91896 Tsq

O posto Trindade o MK calculado para os anos de 1963 a 2005 foi de tendência


significativa de queda nos índices pluviais ao longo dos anos (Tsq). MK: -2,88744.
POSTO: TRINDADE – ANOS: 1963 - 2005
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsq
26 -2,88744 Tsq

O posto Granito o MK calculado para os anos de 1963 a 2006 foi de tendência não
significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -1,4013.
POSTO: GRANITO – ANOS: 1963 - 2006
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
25 -1,4013 Tnsq

O posto Serrita o MK calculado para os anos de 1939 a 2007 foi de tendência não
significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -0,08986.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 22

POSTO: SERRITA – ANOS: 1939 - 2007


TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
41 -0,08986 Tnsq

O posto Ipuieira - Serrita o MK calculado para os anos de 1963 a 1988 foi de tendência não
significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -0,41665.
POSTO: IPUEIRA - SERRITA – ANOS: 1963 - 1988
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
20 -0,41665 Tnsq

O posto Ouricuri o MK calculado para os anos de 1913 a 2007 foi de tendência não
significativa de aumento nos índices pluviais (Tnsa). MK: 0,445028.
POSTO: OURICURI – ANOS: 1913 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsa
44 0,445028 Tnsa

O posto Santa Filomena - Ouricuri o MK calculado para os anos de 1935 a 1992 foi de
tendência não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -0,48912.
POSTO: SANTA FILOMENA - OURICURI – ANOS: 1935 - 1992
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
45 -0,48912 Tnsq

O posto Santa Cruz - Ouricuri o MK calculado para os anos de 1939 a 1990 foi de
tendência não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -1,14658.
POSTO: SANTA CRUZ - OURICURI – ANOS: 1939 - 1990
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
27 -1,14658 Tnsq

O posto Engenho Camacho - Ouricuri o MK calculado para os anos de 1963 a 1990 foi de
tendência não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -0,65473.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 23

POSTO: ENGENHO CAMACHO - OURICURI – ANOS: 1963 - 1990


TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
20 -0,65473 Tnsq

O posto Bezerro - Ouricuri o MK calculado para os anos de 1963 a 1994 foi de tendência
não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: -1,92421.
POSTO: BEZERRO - OURICURI – ANOS: 1963 - 1994
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsq
20 -1,92421 Tnsq

O posto Parnamirim o MK calculado para os anos de 1913 a 2007 foi de tendência não
significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: - 1,71623.
POSTO: PARNAMIRIM – ANOS: 1913 - 2007
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
36 - 1,71623 Tnsq

O posto Icaiçara - Ouricuri o MK calculado para os anos de 1963 a 1992 foi de tendência
não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: - 1,26827.
POSTO: ICAIÇARA - PARNAMIRIM – ANOS: 1963 - 1992
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
21 - 1,26827 Tnsq

O posto Matias - Parnamirim o MK calculado para os anos de 1963 a 1993 foi de tendência
significativa de queda nos índices pluviais (Tsq). MK: - 1,993.
POSTO: MATIAS - PARNAMIRIM – ANOS: 1963 - 1993
TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tsq
20 - 1,993 Tsq

O posto Abóboras - Parnamirim o MK calculado para os anos de 1963 a 1993 foi de


tendência não significativa de queda nos índices pluviais (Tnsq). MK: - 0,90844.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 24

POSTO: ABOBORAS - PARNAMIRIM – ANOS: 1963 - 1993


TESTE MENN KENDALL GRÁFICO DE TENDÊNCIA LEGENDA
ANOS TESTE LEGENDA ANUAL Tnsq
20 - 0,90844 Tnsq

4.2. Resultado da Contagem do Teste de Mann Kendall – Tabela II

ANOS St Tsa Tsq Tnsa Tnsq Nº Postos


ANUAL 0 01 04 03 12 20
TOTAL 0 01 04 03 12 20
Em anos de El Niño, segundo o teste o MK, foi a seguinte: 60% dos postos possuem
tendência ―não‖ significativa de queda (Tnsq) nos índices pluviais e 20% com tendência
significativa de queda (Tsq). Ou seja, 80% dos postos da bacia possuem sinal negativo para o teste
MK, o que significa queda nos índices pluviais, queda esta significativa ou não. Em relação ao sinal
positivo do teste MK, 15% dos postos possuem tendências não significativa de aumento (Tnsa) e
somente 5% dos postos com tendência significativa de aumento (Tsa). Ou seja, 20% dos postos o
MK é positivo, o que significa tendência significativa ou não de aumento.
Os gráficos de tendências também refletem os mesmos resultados do teste MK. Sendo
assim, podemos inferir que os El Niño influenciam sim, as precipitações, porém, com uma atuação
limitada.

CONCLUSÕES
As analises dos dados pluviais no Teste de Mann Kendall trazem uma relação negativa
com os anos de El Niño, porém esta relação negativa é pouco significativa; ou seja, os El Niño
influenciam sim as precipitações, porém, com uma atuação limitada ou pouco significativa.

BIBLIOGRAFIA
CAVALCANTI, C. (1981). Nordeste do Brasil: um desenvolvimento conturbado. Recife: FUNDAJ,
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 25

EL ANÁLISIS COMPARATIVO CON LA PROTECCIÓN DEL


MEDIO AMBIENTE ENTRE MÉXICO Y COREA: LAS LEYES
MEDIOAMBIENTALES, SUS DESARROLLOS
INSTITUCIONALES Y SUS LÍMITES.

Kyung Won Chung


(Professor, ILAS in HUFS)

ABSTRACT
This paper addresses environmental law development in Mexico. Historical approaches
provide main problems of each development periods. Theoretically, this writing points out the
unmatchable development process between economic and socio-political concerns. Through the last
part, the development of environment law and its modernization process will be strongly argued on
the basis of the establishment of NAFTA. The unbalance development between economic and
society relation should be criticized here. Finally a few recommends comes out to make more
productive development within Mexican future society.
KEYWORDS: Mexico and Korea, Environment Law, Institutionalization, Economic
Development and Environmental Protection, Sustainable Development.

INTRODUCCIÓN
Después de La Cumbre del Cambio Climático de la ONU, Corea y México ya son partes
del ‗No-Anexo 1 de la Convención‘, juegan un papel muy importante a cerca del Cambio Climático
Internacional. Especialmente proponen varios modelos del Desarrollo Verde e intentan de
establecer nuevas políticas ambientales como la reducción de la contaminación atmósferica, la
eficiencia de energía por la inversión en el campo de la energía removable, el negocio de
CDM…etc. Lo dicho, ambos países son líderes en relación con el Cambio Climático y sus
posiciones toman una parte en establecer nuevas políticas y sistemas institucionales a nivel
internacional. Sin embargo, al revisar el pasado del desarrollo de la ley medioambiental e
institucional incluyendo las políticas reaccionistas al Cambio Climático, los dos países tienen
algunos problemas internos. Con esta tesis, me gustaría analizar y comparar los problemas que se
aparecieron en el desarrollo y el límite. Primero, revisaré los problemas aparecidos en el desarrollo
de la ley medioambiental e institucional y luego, preveré cuál es el límete más grave en el desarrollo
y cómo debe desarrollarse en el futuro. A nivel internacional de política medioambiental, el motivo
de estudiar el desarrollo institucional en ambos países que juegan un rol muy importante en el sector
del Cambio Climático, son ver la situación actual en que se entrentan para resolver y problemas
existentes en el país, e inducir las políticas adecuadas para el desarrollo institucional y de la ley
medioambiental del mundo analizando los procesos y límites institucionales.
El tema del medio ambiente, de actualidad en México, comenzó a ser un tema trascendente
gracias a la creación (y su consiguiente desarrollo económico y social) del NAFTA, organizado por
México, Canadá y Estados Unidos. Los políticos, sociólogos y economistas lo entendieron y
desarrollaron el proyecto, tomando en cuenta la naturaleza. Este estudio trata del proceso para la
conservación del medio ambiente de la Ley Ecológica Mexicana y Coreana, más se enfoca en cómo
se ha desarrollado hasta ahora. Los socio-ecologistas suponen que el desarrollo económico y el
fortalecimiento de la ley medioambiental se desarrollaron manteniendo el equilibrio, y que además,
la tendencia mejorará el desarrollo económico y social en México y en Corea. Sin embargo, existen
bastantes críticas al respecto.
Una de ellas es que el fortalecimiento de la ley medioambiental sirve para el crecimiento
de la economía pero no será tan favorable para resolver la desigualdad social. Si aceptamos la idea
antes mencionada, es posible decir que la Ley Medioambiental Mexicana y Coreana es una
amenaza para la protección de la naturaleza del país. Este estudio, básicamente, examinará los
problemas ecológicos de México y Corea y las normas para la protección medioambiental
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 26

implementadas para el desarrollo sostenible y después analizará los problemas existentes en la ley
medioambiental. Además, en la sección 2 intentará entender las normas acerca del medio ambiente
e investigará las fortalezas y las debilidades existentes en la política ecológica analizando casos
anteriores. Igualmente, revisará el proceso de desarrollo de la ley desde el punto de vista socio-
cultural y el proceso de modernización del eco-sistema. Una vez analizados estos problemas, este
estudio mostrará no sólo el nivel del desarrollo desde el punto de vista institucional y legal sino
también los problemas y el límite desde el punto de vista político y socio-económico. También
observará el futuro del desarrollo medioambiental. En la sección 3, examinará el límite institucional
en la ejecución de la Ley y la discusión de cómo se ha desarrollado la Ley Coreana en el proceso
del desarrollo económico e industrial. En conclusión, preverá el desarrollo y la institucionalización
del medioambiental a nivel internacional.

La Ley Medioambiental de México y el desarrollo institucional de Organizaciones


Ecológicas
A nivel nacional, la Secretaría de Medio Ambiente y Recursos Naturales (SEMARNAT),
tiene órganos desconcentrados como La Comisión Nacional para el Conocimiento y Uso de la
Biodiversidad (CONABIO) y La Comisión Nacional de Áreas Naturales Protegidas (CONANP),
que se encargan del control y la implementación de la política medioambiental.
Además, la Dirección General para la Protección del Medio Ambiente se encarga de la
aplicación de las políticas medioambientales. SEMARNAT es una organización administrativa del
gobierno que se ocupa del control de recursos naturales de México.
Principalmente, sus actividades sustantivas son las siguientes:
Proteger a los animales silvestres, monitorear a los animales, estudiar el cambio climático,
promover la planeación en el sector agrícola, promover y vigilar el cumplimiento de la legislación
ambiental y de los recursos naturales y administrar racionalmente los recursos asignados al sector
en un marco de mejora institucional. SEMARNAT, siendo una organización gubernamental, ha
colaborado con La Comisión para la Cooperación Ambiental (CCA) en la protección del medio
ambiente de América del Norte desde 1994. El fortalecimiento actual de las políticas de medio
ambiente a nivel nacional ha cooperado con las organizaciones de carácter descentralizado.
Resumiendo lo anterior, podemos decir que México tiene capacidad institucional de controlar y
aplicar normas medioambientales.
Revisando el desarrollo histórico y las actividades de la SEMARNAT, podemos confirmar
que la aplicación de la ley tuvo lugar debido a lo que se considera crimen medioambiental, es decir,
al uso indebido o a la explotación de recursos naturales. Especialmente, la ley se ha aplicado en
crímenes como la violación territorial, el comercio de animales en extinción, pesca ilegal, etc. Otras
leyes abarcan asuntos tales como la prevención de la contaminación del agua y aire y la
transportación de residuos y materiales peligrosos. La Ley Medioambiental de México tiene como
función proteger el bienestar público y en el área de trabajo. Al ser México un miembro de NAFTA,
los temas del medio ambiente y de la colaboración medioambiental se han controlado por las leyes
legisladas en La Comisión para la Cooperación Ambiental (CCA). La ley más reciente se ha
consolidado para proteger la biodiversidad y para evitar la importación de Maíz genéticamente
modificado que proviene de E.E.U.U. En 2002, La Asamblea Nacional Mexicana prohibió la
importación de este tipo de maíz.
Sin embargo, aunque México se esfuerza para proteger el medio ambiente y para seguir
con el desarrollo sostenible, existen numerosas limitaciones al respecto. Algunas de ellas son: la
falta de recursos humanos y las conductas ilegales en las que incurre la industria en el campo de los
residuos. El aumento de las empresas pequeñas que vierten materiales peligrosos sin tomar en
cuenta a la naturaleza es un factor que no ayuda para la consolidación de la política.
Gran superficie de México, la protección de flora y fauna silvestre y la restricción pesquera
en el océano son problemas graves para la protección del medio ambiente. También, la aplicación
de la ley a las regiones rurales donde explotan al máximo los recursos naturales es cada vez más
difícil a causa del alto índice de la pobreza.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 27

Es verdad que el aumento de los derechos a favor de los consumidores o usuarios hace que
el control del medio ambiente sea más difícil. Por ejemplo, el aumento de los derechos y el
comienzo de la época de consumo masivo incrementaron el uso de vehículos, que consideraron
unas leyes renovadas para proteger el aire. Por otro lado, destaca el hecho de que la población
mexicana no presta mucha atención sobre los asuntos ambientales debido a la corrupción de los
políticos.

La modernización institucional de la ecología y el medio ambiente


Igual que los cambios sociales, la modernización del medio ambiente se realizó
acompañada de factores institucionales o culturales. Como factor cultural, se dio importancia al
término ―Medio ambiente‖ incluida la alerta a la post-sociedad industrial, mencionada en ‗La
sociedad en peligro, Beck, 1992‘
La influencia del medio ambiente cambia dependiendo del nivel y de la velocidad del
desarrollo industrial. La influencia sobre el medio ambiente es menor en las sociedades de menor
desarrollo. Durante los últimos 50 años, la industria mexicana se ha desarrollado rápidamente. En la
fase entrante se ha desarrollado gracias a la industria de extracción como la del petróleo y con el
programa de las maquiladoras consiguió la diversificación en la fabricación; hoy en día, México se
ha convertido en uno de los líderes en el campo de la producción y del capital. Al mismo tiempo, se
ha desarrollado en el sector de la industria petroquímica, del acero, de las medicinas, de los
automóviles...etc. El Mercado doméstico creció gracias a la inversión de las empresas
multinacionales que habían tenido interés en el bajo costo laboral y la política a favor de esas
empresas promovió el desarrollo industrial.
Sin embargo la industrialización provocó la destrucción de la naturaleza de México.
Especialmente, este fenómeno tuvo un efecto muy grave en los Estados del Norte del país donde el
crecimiento democrático e industrial es alto. La transición rápida a la industrialización dio origen al
nacimiento de grupos civiles que apoyan el desarrollo verde.
El grupo élite y la clase media de México han comenzado a apoyar la legislación para el
medio ambiente, y cada vez más, se han establecido las leyes y las políticas medio ambientales.
Durante los últimos 20 años, el número de organizaciones que se dedican al medio ambiente se ha
duplicado, además, han aparecido asociaciones dedicadas a la protección de bosques, flora y fauna
silvestre.
La Unión de Grupos Ambientalistas (UGA) se estableció en 1993 y hasta 2005, unas
800.000 asociaciones participaban en las actividades organizadas por la UGA. Algunos sectores de
la élite mexicana y la clase media se convirtieron en partidarios para la prevención de la
contaminación atmosférica del Gobierno mexicano. El programa de la contaminación atmosférica
del gobierno federal puso en marcha el programa ―Hoy No Circula‖, un sistema en el que, según el
número de placa del conductor, si ésta coincide con la fecha, se le prohíbe al conductor la
circulación.
En el aspecto medioambiental de NAFTA, Canadá, E.E.U.U. y México representan su
situación del medio ambiente. Sin embargo, la aplicación de la ley medioambiental se lleva a cabo
basándose en la prioridad de las relaciones comerciales. Por lo tanto, lo más importante es la
aplicación de la ley medioambiental vinculada al Tratado del Libre Comercio. Asimismo, los
empresarios relacionados con SEMARNAT dan más importancia al rendimiento industrial y
entienden que el rendimiento será una manera de reducir la contaminación de la naturaleza.
Al final, parece que la industria Mexicana no sigue completamente las leyes del medio
ambiente ni el NAFTA, dado que toma partido a favor de las empresas y tiene un método
institucional para proteger el medio ambiente de México. Son estos factores los que demuestran la
necesidad de un cambio fundamental de los empresarios en el campo del medio ambiente.
El factor más importante para la modernización es obtener la racionalidad. Revisando el
proceso de la modernización, los 2 tipos para la racionalidad tienen relación con las restricciones y
la burocracia. La mejor manera de enfrentarse a la irracionalidad del sistema productivo es la
restricción, conocida por la población como ‗tragedia‘. Además de eso, la burocracia puede ser una
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 28

manera de supervisar las restricciones medioambientales. Los investigadores del medio ambiente
consideran que las 2 maneras mencionadas son las más eficientes para la protección
medioambiental. Hoy en día, las organizaciones públicas utilizan las dos, las cuales se entienden
como isomorfismo institucional en el proceso de la protección del medio ambiente.
México se ha esforzado mucho para el desarrollo equilibrado entre la industria y la
protección medioambiental con la ayuda del control de recursos naturales, el diseño del modelo
sostenible y organizaciones medioambientales como SEMARNAT. Por ejemplo, fomentó de
manera racional las restricciones en la contaminación atmosférica en el Distrito Federal y en la
contaminación de agua en el Río Grande y en el Río Bravo al norte del país. En la aplicación de
estas leyes, como en otros países, había polémica y conflictos sobre si la aplicación era adecuada
ecológica, oficial y económicamente, y esto aún no se ha resuelto.
No obstante, aunque la legislación y la aplicación de ley provocan la disminución de las
acciones productivas, la ley de medio ambiente mexicano debe mantenerse en equilibrio junto con
el desarrollo económico. La sugerencia a la ley medioambiental, aunque acepta el modelo del
neoliberalismo, era de establecer la institucionalización burocrática en la cual es posible supervisar
y monitorear para la consolidación de la ley.
Aún el sistema político sigue siendo clientelista y patriarcal pero los científicos, los
activistas, e incluso los políticos forman parte del Régimen Global del medio ambiente. Por eso las
políticas medioambientales aumentan y prácticamente, los estudios científicos, la intervención de
las organizaciones y la administración medioambiental se están llevando a cabo. Mientras tanto,
México participó en numerosos regímenes, tales como el Protocolo Montreal que trató de la capa de
ozono, el Protocolo de Kyoto que trató del cambio climático, la Convención Sobre el Comercio
Internacional de Especies Amenazadas de Fauna y Flora Silvestres, el Acuerdo de Basilea que trató
de la transportación de residuos sólidos peligrosos y el Acuerdo del medio ambiente de NAFTA.
Participando en los acuerdos, México está cumpliendo el monitoreo, las restricciones y los
estándares internacionales que son obligatorios. La presión internacional pidió a las asociaciones
privadas de México que siguiera los estándares de SEMARNAT y al mismo tiempo aconsejó a esta
institución que preparara una ley a nivel global. Como SEMARNAT tiene como función cooperar
con INE para la protección y el estudio de la ecología, los funcionarios deben implementar y
supervisar las políticas adecuadamente. De hecho, la aplicación de la ley tiene muchos problemas
por la incompetencia de las organizaciones que deben hacerlo.
Las dificultades son el problema financiero crónico y la corrupción que existe a la hora de
ejecutar las políticas medioambientales. El gobierno mexicano ha fracasado en las dos partes porque
no ha podido fomentar la aplicación de la ley ni ha podido obtener una justificación. Aunque está en
el camino del desarrollo medioambiental, parece que la ley mexicana tiene un futuro bastante
oscuro porque no existe un acuerdo claro sobre la protección y del control de la contaminación, ni
hay organizaciones que puedan fomentar y ofrecer los resultados del estudio científico.

La modernización de la ley ecológica-medioambiental desde el punto de vista socio-


cultural.
―Sociedad del riesgo‘ es una obra excelente y el autor-sociólogo Ulirich Beck sugirió
añadir la idea ‗Riesgo‘ a la teoría de la socio-cultura. Los socio-ecologistas prestaron mucha
atención a la idea creada por Beck. Especialmente en la época post-industrial, aceptando el riesgo
como factor importante cultural, los asuntos medioambientales empezaron a aumentar por las
acciones políticas para minimizar la amenaza relacionada con las actividades productivas. Eso
comienza con la suposición de transformar el paradigma en la sociedad jerárquica que se basa en el
materialismo. Podemos decir que la aparición del ‗Partido Verde‘ del movimiento medioambiental
en Alemania y numerosas reuniones y acuerdos organizados internacionalmente son las evidencias
claras.
Pero en el caso de México, sería bastante difícil aplicar el cambio de la estructura social y
la conciencia del medioambiente de Europa a la estructura social de México porque la población
económicamente activa está dividida en el campo de la agricultura y de la industria, y aún se da la
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 29

división de clases. En esta parte, podemos preguntarnos si el cambio cultural ocurre por entrar a la
sociedad post-materialista en México. Sin embargo, la ley que prohíbe el maíz genéticamente
manipulado provocó el conceso socio-cultural entre los ciudadanos, los partidos y las élites, por lo
que la sociedad mexicana ya tiene conciencia sobre la amenaza ecológica. La ley, basándose en el
conceso, aunque ese maíz sirve como forraje a los animales, prohíbe el cultivo y la importación.
Ahora en México se produce maíz genéticamente manipulado como forraje para los animales. En
algunas regiones rurales se produce intencionadamente dicha cosecha y esa tendencia se extiende
desde la zona norte hasta la del sur.
Claramente este maíz se cultiva en todo el país. La extensión de este fenómeno provoca
especies híbridas y perjudica seriamente la biodiversidad del maíz. Además, es un problema que no
solamente se da en México. Disminuir la destreza de la biodiversidad genética sería una opción para
reducir la amenaza al público internacional que los consume y a los animales, incluyendo los países
que los importan.
Junto con la crítica de los países vecinos sobre la producción de dicha cosecha, la opinión
pública en contra de la producción del maíz genéticamente manipulado está aumentando. El
gobierno mexicano preparó unos fondos e inversiones destinados a la educación pública para la
eliminación de este tipo de maíz. Además, el gobierno aplica una severa multa a la importación y al
cultivo de tales cosechas. La supervisión y el monitoreo sobre la contaminación se realizan a nivel
nacional y la prensa mexicana critica seriamente que las industrias agrícolas organizadas por las
empresas multinacionales son las que desacreditan la cultura tradicional mexicana. Considerando
estas reacciones existentes en México, las reacciones socio-culturales predominan con mayor fuerza
que las del mejoramiento de la calidad de vida, sobre la amenaza del medio ambiente. El maíz tiene
un papel fundamental en la historia y en la cultura gastronómica en México por lo tanto la
conciencia pública y la idea sugerida por Ulrich Beck armonizan en el ambiente socio-cultural y
rechazan el maíz genéticamente manipulado. Lo de la sociedad mexicana es un ejemplo que
demuestra, sin tener que ver con la estructura y el cambio, cómo controlar una sociedad de riesgo
relacionada con el medio ambiente.

Los problemas y límites en la modernización de la ley medioambiental


Aunque superaron el riesgo medioambiental y tomaron reacciones institucionales y socio-
culturales para la protección, el medio ambiente sigue destruyéndose. Tal deterioro en la naturaleza
se mantiene con el concepto de Treadmill Of Production. TOP es un concepto que se reproduce y se
discute continuamente en las relaciones entre el ser humano y la naturaleza junto con la producción
del capitalismo. En este punto, existen 4 críticas que demuestran el límite de la modernización y la
aplicación de la ley medioambiental. Primero, externar el costo medioambiental. Segundo, la
carrera hacia abajo (Race to the Bottom). Tercero, conciencia negativa por el medio ambiente. Y
por último, el gobierno juega un papel importante en el desarrollo económico e industrial. Los 4
factores no únicamente se aplicaran en el caso de México. Sería posible que se apliquen en el
capitalismo y los asuntos medioambientales.
El externar el costo se debe a la falta de fondos porque la fabricación provoca la
destrucción de la naturaleza pero los productores no pagan la cantidad necesaria. Por ejemplo, los
productores no cubren los gastos para el medioambiente y además, provocan la contaminación del
aire y del agua por lo tanto degeneran la salud de los ciudadanos y el medioambiente. En el caso de
la industria minera, como no cubre los gastos al recolectar recursos minerales, provoca el deterioro
de la naturaleza.
Los ecologistas-sociólogos izquierdistas consideran que externar este costo
medioambiental es una forma de explotación. Porque creen que el valor excedente se captura o se
privatiza.
La modernización del medio ambiente mexicano ha fracasado en muchos sectores como la
legalización de las políticas o de la institucionalización. Como la evidencia de los problemas
mencionados, existen numerosas formas de contaminación como la erosión terrestre provocada por
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cortar árboles, la extinción de arrecife de coral por la explotación en la zona de la Riviera Maya, la
contaminación industrial en el Valle de México y en la zona Norte.
Hasta ahora estos gastos no se han incluido en el costo de producción industrial por lo que
ha sido beneficioso para los productores mexicanos. Prácticamente, México aceptó el modelo de
desarrollo económico del neoliberalismo y las empresas mexicanas, siguiendo el sistema del
capitalismo, han intentado reducir el costo productivo para ser competentes en el mercado. Esta ‗la
carrera hacia abajo (Race to the Bottom)‘ tiene como estrategia reducir al máximo el costo laboral y
al mismo tiempo, no le presta atención a la protección de medio ambiente.
Igual que otros países latinoamericanos, el sistema del costo laboral no cumple el límite
necesario para la reproducción social. La clase pobre sobrevive con el sueldo mínimo y las cosechas
producidas por su familia. El sueldo muy bajo y el subsidio insuficiente hace a los mexicanos
explotar excesivamente los recursos naturales. En especial, estos fenómenos hicieron a los
trabajadores cultivar su propio alimento en su terreno. La ley del medio ambiente debe calcular
acerca del costo de producción. En los países donde existen las restricciones y las acciones legales
rigurosas, se ha tomado como si fuese una cosa que se hace normalmente.
Aunque hay evidencias para la re-disposición de la industria, muchas industrias suelen
moverse a los países en los que existan la ley o la aplicación suave de la misma. En los países del
Caribe, América central y de Asia donde el costo laboral es un elemento importante, las industrias
suelen desobedecer y fomentar la ley en los lugares en los que existen la ley e institucionalización
medioambiental. Por ejemplo, cuando México y E.E.U.U. estaban en conflicto sobre el caso de
prohibición de la pesca de atún, México refirió la cuestión a la política discriminatoria del comercio
de E.E.U.U. y aplicó el caso anterior que se trata de la protección de los delfines marítimos.
En ‗la carrera hacia abajo (Race to the Bottom)‘ los trabajadores mexicanos ganan menos y
están mayormente expuestos al riesgo medioambiental por eso el gobierno mexicano estableció las
normas medioambientales para superar el problema. Aunque la polémica sobre la contaminación
atmosférica y los el maíz genéticamente modificado ha conseguido el apoyo popular, aún la clase
pobre mexicana está sufriendo por los riesgos medioambientales. En la parte norte de México, en
Baja California, los trabajadores viven en un ambiente en el que hay residuos sólidos contaminados.
También, en la maquiladora situada junto al Estado de Texas, los residuos industriales no
controlados afectan gravemente a la sociedad como las debilidades del sistema nervioso o la
anencefalia. La tala desproporcionada de los árboles en la península de Yucatán, el aumento de la
tierra marginal, la región pobre, las regiones rurales...etc son los casos que se han considerado como
un daño medioambiental severo.
Por último, el gobierno mexicano en la era del neoliberalismo se enfoca en el aumento del
desarrollo económico. Esto significa el cambio de la imagen del país y la revolución mexicana
ocurrida desde 1910 hasta 1917. Generalmente, el país neoliberalista juega un rol importante en el
aumento de las acciones económicas. En los años 1980~1990, cuando México sufrió el déficit
financiero, los gobiernos aceptaron el modelo del desarrollo neoliberalista para resolver los
problemas sociales y económicos. Este modelo de desarrollo empieza con la confianza de
redistribución adecuada y eficiente, la que se obtiene después del desarrollo económico. La lógica
más importante de la que trata la teoría suele ignorar la protección del medio ambiente. Por lo tanto
aunque la ley medioambiental de México se ha ido desarrollando, el gobierno no ha podido
fomentar el control del medio ambiente ni la aplicación de la ley.

EL DESARROLLO INSTITUCIONAL DE LA LEY Y LAS POLÍTICAS DE COREA


Durante los últimos 30 años, la ecología y el medio ambiente de Corea se empeoró
gravemente. La causa principal sería la explosión demográfica rápida y el desarrollo económico
brillante, llamado el Milagro de Asia, y la urbanización y la modernización, acompañados del
desarrollo. Hasta ahora, el desarrollo económico al que el gobierno coreano da más importancia
salvó Corea de la pobreza pero le provocó un gran problema, el empeoramiento del medio
ambiente. El presidente Park, tomó el poder por el Golpe de Estado y para poder tener legitimidad
enfoncó en el desarrollo económico, y el autoritarismo duró hasta los principios de 1990 y en la
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 31

Administración del Gobierno Civil que tomó el poder 1992, también pusó más importancia al
desarrollo económico. Como la política del desarrollo económico se ha establecido para poder tener
legitimidad, la protección del medio ambiente considerada que estaba en contra del desarrollo
perdió su lugar. Por lo tanto, los gobiernos siguieron negando los fenómenos de la contaminación
aprecidos a partir del 1960 y suprimieron severamente las protestas sobre la contaminación
medioambiental. Pero el daño de medio ambiente se fue incrementando y el gobierno coreano no lo
pudó dejar que se siguiera por el aumento internacional de atención al medio ambiente y cada vez
más el pueblo coreano se fue más consciente. Por el resultado, el gobierno coreano, hasta entonces
muy tímido en la protección, se convirtió en un gobierno que lanza con entusiasmo desde 1980 y
con la ley establecida en el 1990, el gobierno se fortaleció en las políticas de medio ambiente.

El desarrollo de la institucionalización medioambiental desde 1980.


Los años 80
En los años 80, las políticas medioambientales de Corea se enfrenta a una nueva étapa muy
importante. Primero se estableció el Ministerio de Medio Ambiente que se encargara de las políticas
y empezó a trabajar con los asuntos del medio ambiente como la contaminación atmosférica y de
agua, residuos sólidos, el estudio de ecología. Además, el Instituto Nacional de Medio Ambiente,
hasta entonces pertenecido al Instituto Nacional de Salud, se convirtió en una parte del Ministerio
de Medio Ambiente y por primera vez en la historia de la ley coreana incluyó los derechos
medioambientales. Las políticas principales eran controlar la calidad de combustibles para reducir
la contaminación de ácido sulfuroso, introducir el sistema de la evaluación de medio ambiente y la
ejecución de la multa por la contaminación. Pero el presupuesto al medio ambiente marcó un
0.186% en 1980, un 0.313 en 1984, un 0.418 en 1987, como enseñan las cifras, no era suficiente. En
el campo de la ley, lanzó el sistema de la multa por la contaminación y se modificó la ley
medioambiental y se llevo a cabo, la ley modificada trató de ampliar el evaluación hasta en los
sectores privados, y también, dió el estándar para proteger animales y en el caso de fabricar o
importar los productos químicos, obligó que hiciera la inspección. Entonces el problema más grave
era la contaminación existente en Seúl, provocada por el ácido sulfuroso. El ácido sulfuroso se
produce por el uso del combustible fósil y para reducirlo, realizó la política de la suministración de
gasolina de baja ácido sulfuroso y prohibió el uso del carbón en las grandes ciudades. Al mismo
tiempo, a partir del 1986, preparó la política que aumentara el uso de automóviles con menor
contaminación y eso mejoró mucho la calidad del aire, especialmente se solvió el problema de
plomo. Mismo año, se estableció la ley del control de residuos que sustituyera la ley de la limpieza
y se puso en marcha al año siguiente y con la nueva ley ofreció el estándar de la colección y el
manejo de residuos sólidos, el agua contaminada, el agua residual industrial, el excremento...etc.
Con las Olimpiadas, celebradas en 1998, obligó usar Gases Naturales Licuados en los edificios
grandes y más tarde obligó el uso de Gases Naturales Licuados y el uso de Diesel y a los finales de
1980 se redució mucho el nivel de ácido sulfuroso. Desde 1986 hasta 1990 realizando el Primer
Estudio de la Naturaleza, las zona verdes se dividieron en 11 niveles y prohibió desarrollar las
zonas que se situaron en los primeros 8 niveles. Pero en 1980, no se realizaron bien las políticas
debido a las dificultades por el sufrimiento de la crisis de energía y las políticas medioambientales
existentes tampoco se realizaron con éxito por la teoría económica y las acciones en contra que
tomaron las empresas. Por ejemplo, la ampliación de evaluación hasta los sectores privados, que se
introdujó al modificar la ley, no se cumplió por la falta de cooperación gubernamental y ni la
obligación de instalación para la reducción del ruido ni la inspección del gas de automóviles
tampoco se realizó con éxito por lo cual la contaminación del medio ambiente cada vez más se fue
empeorando.

Los años 90
En los años 80, el gobierno coreano empezó a tomar en serio los problemas
medioambientales y considerar que la protección de medio ambiente era una de las políticas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 32

principales. El presupuesto al medio ambiente desde 1990 hasta 1997 subió más de 30%. El
porcentaje que ocupa el prespuesto al medio ambiente marcó un 0.81% en 1992, un 1.97% en 1995.
Pero el presupuesto debía reducirse frente a la crisis económica del 1997 y solo subió un 0.8% en el
1998, un 2.5% en el 1999. En el 1990, la ley de la conservación medioambietal se desapareció y
estableció la ley que controlara la contaminación del ruido, la calidad de agua, el manejo de los
materiales tóxicos. En 1991, la ley sobre el control de residuos sólidos y la prevención de la
contaminación marina se modificó y de nuevo se le añadió a cerca del agua contaminada, el
excremento, el coste para mejorar el medio ambiente. En el 1992, se hizo la ley para reducir el
consumo de recursos naturales y promover el uso de los productos reciclados, y también con la ley
para la conservación medioambiental el Ministerio de Medio Ambiente ha trabajado por las zonas
divididas como la zona verde, la zona ecológica, la zona para la protección de determinados
animals, la zona ecológica marina…etc.
En el 1992 anunció la Declaración Nacional del Medio Ambiente, en ella se trata de la
importancia de la naturaleza en seres humanos, y como el medio ambiente se empeoró por la
industrialización y la urbanización que se empezaron desde el 1960, la Declaración animó a todo el
pueblo que participara a la conservación medioambiental y para eso ofreció 14 principales para la
conservación. En el 1993, se hicieron las leyes de la contabilidad para el mejoramiento del medio
ambiente y para los recursos naturales. En el 1995, permitió la venta de agua mineral. En el 1996, se
estableció la ley para manejar la contaminación atmosférica y en el 1997, se hizo la ley para
proteger la biodiversidad y los paisajes del país.
El gobierno coreano, trabajando con entusiasmo para la conservación de la naturaleza,
puso en práctica las políticas principales para el medio ambiente. Primero, el esfuerzo para mejorar
la calidad del aire, es decir, dividió en 3 partes fases(91-94, 95-98, 99-presente) y se fue
fortaleciendo el nivel del permisio con motivo de alcanzar el nivel de los países desarrollados.
Además, desde enero del 1993, rebajó el porcentaje del sulfuro, de 0.4% a 0.1% y prohibió la venta
de la gasolina con plomo y decidió aumentar el uso de los combustibles que contuviera baja en
sulfuro. Segundo, para mejorar la calidad del agua, aumentó el porcentaje de alcantarillado al 45%
en el 1995 y el porcentaje de suministro de agua también subió al 78.4% en 1990. Tercero, intentó
reducir la cantidad de las basuras y aumentar el recilaje, usando la bolsa de las basuras y a
determinados productos se les introdujó el sistema de depósito. El porcentaje de reciclados se fue
aumentando en los años 90, en el año 90 marcó un 4.6% y en el año 1994 un 15.4% y en el año
1995 aumentó al 23.7%. Cuarto, animó a las empresas para que invertiera a las instalaciones para
mejorar la contaminación. En 1992, preparó el plan de Eco-Mark para que las empresas producieran
los productos familiares a la ecología. Además, seleccionó las empresas que intentaba mejorar el
medio ambiente y les ofreció ventajas financieras o de impuestos. Quinto, el Ministerio del Medio
Ambiente mejoró su función del manejo de las políticas por la evaluación del medio ambiente. La
evaluación del medio ambiente se incluyó por primera vez en la ley de conservación del medio
ambiente en el 1982 e hizo evaluar los sectores públicos y después amplió hasta los sectores
privados. En la ley de las políticas del medio ambiente establecida en 1990, se introdujo las
opiniones la evaluación medioambiental. En 1993, se consolidó por el establecimiento de la ley de
la evaluación. También el gobierno coreano prestó mucha atención a la educación y el uso de las
tecnologías verdes y ahora se participa en los Acuerdos Internacionales del medio ambiente. Es
verdad que a partir del 1990, el gobierno coreano toma las acciones positivas más que el anterior.
Pero su política principal sigue siendo el desarrollo económico y existen algunas vistas que
consideran el medio ambiente como un obstáculo. Pore so en el caso de la crisis económica, ellos
dan más importancia a la economía que al medio ambiente. A partir del 1992, algunas asociaciones
civiles insistieron que las políticas del medio ambiente se han retirado. Como la evidencia, hablan
de la ley especial que beneficia a las empresas y con esa ley, los estándares que las empresas debían
cumplir en las plantas se disminuyó y también al medio ambiente. Eso demuestra que en Corea el
poder de las empresas grandes es cada vez más fuerte y por lo tanto el gobierno coreano no pudo
tomar acciones correspondientes frente a los problemas del medio ambiente. Especialmente, la
crisis económica del 1997 hazo al gobierno prestara más atención a la economía.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 33

El límite del desarrollo medioambiental de Corea del siglo 21


La situación actual de las políticas e institucionalizaciones se han mejorado bastante. Las
reglas al medio ambiente se han alcanzado el nivel de los paíese desarrollados. Y el Ministerio de
Medio Ambiente, ya es un miembro del gabinete, tiene más poder y derechos comparando con lo
del pasado. Y los esfuerzos tomados para la prevención y el manejo mejoraron mucho la
contaminación que había seguido. Pero los coreanos sienten que la contaminación continua. En este
punto habrá muchas causas, una de ellas sería la acumulación de la contaminación que se apareció
desde el tiempo en que se enfocaba en el desarrollo económico. Y también, algunos problemas que
se mencionan abajo, pueden ser algunas de ellas.
Todavía Corea no ha llegado a un nivel económico de los países desarrollados, por lo tanto
su política principal tiende ser para la economía. Las políticas económicas siempre tenían más
prioridades que las del medio ambiente. En decir, era difícil de poner en marcha la política
favorable al medio ambiente, que hasta entonces considerada como un obstáculo para el desarrollo
económico. Además, el gobierno coreano y los politicos cooperaban íntimamente con las empresas
grandes que consideraban el esfuerzo al medio ambiente como un coste inecesario. Así que las
políticas medioambientales no pudieron cumplirse con éxito. Desde hace poco tiempo, el gobierno
coreano prestó más atención al medio ambiente y estableció el ministerio que se encargara del
medio ambiente. Pero los asuntos medioambientales se trabajaron en varias partes del gobierno y el
Ministerio del Medio Ambiente no tiene más poder que otros ministerios relacionados con la
economía y se dicen que las habilidades de manejar las políticas no son modernas. El bajo-estado
del Ministerio del Medio Ambiente significa que su influencia no es grande. En el pasado, muchos
planes realizados por el Ministerio del Medio Ambiente se habían anulados o modificados. Eso
muestra que el bajo-estado del Ministerio del Medio Ambiente y sus políticas ocupan el menor
espacio a nivel nacional comparando con otros ministerios. Las acciones del gobierno coreano
empezó por el manejo de la contaminación. Después el rango se ha ampliado y se aceptaron otras
políticas como la evaluación del medio ambiente, la prevención, los beneficios financieros, el uso
de los reciclados…etc para solucionar profundamente los problemas medioambientales. Pero los
problemas acutales serían que existen algunas partes que no cubren las políticas porque las políticas
se concentran en determinados puntos como el aire, la tierra, el agua…etc. El medio ambiente está
relacionado íntimamente con nuestra vida. Así que para solucionar los problemas existents hay que
tener una vista más amplia y tomar acciones colectivas. La administración medio ambiental de
Corea está dividido en la administración central y regional. El principal del ministerio establece las
políticas y coopera con los países extranjeros y el ministerio regional o las asociaciones autónomas
se encargan de la ejecución de las políticas. La estructura dividida en 2 partes puede ser un
elemento que impide la eficiencia de las políticas. Especialmente, las asociaciones autónomas
suelen aceptar los negocios que pueden dañar la naturaleza para su desarrollo económico y en
muchos casos no son capaces de controlarlo por la falta de cualidades o de habilidades. Tales
fenómenos están relacionados con el egoism regional que existen unos conflíctos entre regiones
como la construcción de las instalaciones basureras.

CONCLUSIÓN: El límite de la protección medioambiental y su futuro.


Observando las acciones realizadas por las organizaciones mexicanas (NGOs), podemos
decir que México es uno de los países que reconocen la importancia del medio ambiente a nivel
nacional. Y la industria que tiene relaciones con las empresas multinacionales, intenta cumplir el
estándar internacional o industrial para la protección del medio ambiente. Los gobiernos estatales y
central han fomentado las acciones legales para conservar el medio ambiente y para proteger la
salud del público. Pero parece que este ecologismo no se desarrolla únicamente en el grupo de
élites. Porque tales fenómenos se llevan a cabo para fomentar los derechos de los indigenas en el sur
y en el norte y al mismo tiempo existe una justicia fuerte en la sociedad. La ideología de E.E.U.U y
de Europa, ya no afecta a la sociedad mexicana. Porque México ha tomado una acción
independiente en el caso del maíz genéticamente manipulado y también participa activamente en los
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 34

regímenes internacionales. Todo esto demuestra que México está en el camino de la modernización
del medio ambiente.

Sin embargo, el medio ambiente mexicano ha empeorado drásticamente y por la presión


global que ocurre en las industrias, la supervisión y el sistema del control medioambiental son
insuficientes. La biodiversidad mexicana está en peligro en muchos aspectos. Por ejemplo, la
importación del maíz genéticamente manipulado, la destrucción forestal de la selva lacandona, la
extinción del arrecife de coral y la contaminación tóxica en el Mar de Cortes. Estos fenómenos
amenazan la biodiversidad. Aunque hoy en día ha mejorado mucho la calidad del aire en el Distrito
Federal y en el Valle de México, aún queda mucho para mejorar y que sea adecuado. En la mayoría
de las ciudades y regiones rurales, la contaminación y la destrucción del medio ambiente afectan
seriamente a la vida cotidiana de las personas aisladas(Comunidades indígenas o la clase pobre en
las ciudades).
¿Cómo es posible que ocurran estos resultados tan incompatibles?
Para la modernización del medio ambiente se requiere la participación o la cooperación del
estado, industrias, empresas multinacionales..etc en los movimientos para la protección. Sin
embargo, la protección en México todavía no se ha consolidado y la presión económica
internacional interrumpe la realización para la protección del medio ambiente y del bienestar.
Además, México tiene la identidad del país sub-centrado en la estructura industrial global
por lo tanto se caracteriza por la desigualdad excesiva que existe en la sociedad. La característica de
tales países está dividida en 2 partes: La parte oficial de la economía es racional y moderna. La
parte no oficial que se diferencia entre la sección económica y la racionalidad. En especial, la parte
no oficial se ocupa más que la otra y la racionalidad oficial que afecta a la política medioambiental
sigue teniendo el límite y considerándolo, el refuerzo de la ley sería cada vez más difícil.
Igualmente la corrupción de las organizaciones es un factor negativo en el rendimiento de las
políticas.
En conclusión, es verdad que México se ha esforzado mucho en el campo de la
institucionalización o la legalización de la ley medioambiental, pero aún le falta mucho por mejorar
en la protección del medioambiente y de la salud pública y debe superar la desigualdad, las
corrupciones y las características del capitalismo global. El enfrentamiento de la modernización con
la ley medioambiental tiene relación con el límite de la protección medioambiental que se desarrolla
a nivel nacional. Un caso a nivel nacional, como el de los productos agrícolas de manipulación
genética tiene más importancia que los problemas medioambientales de los estados nacionales.
Además, la experiencia de México se está enfrentando a la fase en la que los valores, las
instituciones, y las organizaciones medioambientales deben desarrollarse acompañadas con la
economía de la era post-industrial. Aunque la institucionalización sea más moderna, si no existe una
manera que la apoye, el problema va a ser más grave. Así que la ley e la institucionalización son las
cosas que no se deben separar. La ley y las políticas del medio ambiente de Corea alcanzan al nivel
de los países desarrollados pero el problema sería cómo se realice. Si el control sobre la violación
del medio ambiente no funciona o no existen medias necesarias para los casos de violación, sería
muy difícil de solucionar el problema del medio ambiente. Las medias de comunicación informan
de las violaciones medioambientales, muchas de ellas son descubiertas por las medias, no por el
gobierno. También alguans empresas que han violado la ley, ignoran las sanciones del gobierno que
exigen la arregla. Porque pagar la multa es más conveniente que arreglar. Si el gobierno esfuerza en
la protección, debe tomar las acciones serias a los casos de violaciones. Pero las sanciones del
gobierno no suelen ser Fuertes por la causa de la teoría económica. Una de las políticas para la
prevención, la evaluación del medio ambiente, se introdujeron tan temprano como otros países
desarrollados, y el porcentaje de que no cumplen el acuerdo o la regla no llega al 30%. Otros
problemas serían la meta de la política no está establecida lógicamente, la falta del presupuesto al
medio ambiente, la distribución no adecuada. Pero el problema más grave sería el esfuerzo del
gobierno para solucionar los problemas medioambientales. ―Las políticas de Corea no se han
desarrollado prácticamente, sino solo en cifras‖ significa que el límite de las políticas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 35

medioambientales. Sin embargo la exigencia del pueblo y de las asociaciones medioambientales, la


presión del negocio internacional, hacen al gobierno coreano que trate de los asuntos
medioambientales más profundo. Las políticas del siglo 21 necesitan una reforma completa. El
cambio de las políticas tanto para Corea como para México deberían desarrollarse con las siguientes
maneras.
Primero, la estructura institucional debe cambiarse completamente. Las políticas del medio
ambiente, hasta ahora, se han basado en la burocracia pero ahora debe dirigirse hacia lineas más
ecológicas. Por que hay que reconocer el valor de la ecología. Y los 2 gobiernos(Corea y México)
deben ofrecer un ambiente en que los seres humanos y la naturaleza convivan. Por supuesto, estos
cambios no son fáciles, incluso puede provocar malentendimiento o los conflictos entre las
accionistas. Por eso podemos decir que el cambio de las políticas es una cosa que es imprescindible
tanto para nosotros como para la naturaleza.
Segundo, es necesario establecer una manera democrática en la que todo el pueblo
participe. La administración cerrada y la toma de desición de autoritarismo se han sido critizados y
todavía no se han solucionado. Si permite la participación del pueblo, ya no van a aparecerse los
conflíctos entre el gobierno y el pueblo. Pero tales maneras de democracía deben ir acompañadas
con el proceso transparente y la publicación de las informaciones. Si no, va a quedarse como lo del
pasado y los problemas y los conflítos se seguirán.
Tercero, la administración debe ser unida y las políticas deben ser colectivas para la
prevención de la contaminación. Para eso, las políticas, ahora divididas en varias partes, deben ser
controladas por el Ministerio del Medio Ambiente o, por lo menos, debería haber una organización
superior que pueda regular los trabajos. Y las políticas deben ponerse en práctica con otros
elementos relacionados con el medio ambiente. Sería más eficiente que se controle totalmente, no
por dividido. Además, contaminado una vez, es casi imposible recuperar por eso la prevención sería
la clave muy importante.
Cuarto, como los problemas medioambientales se relaciona con nuestra vida, es muy difíl
solucionarlos solo con las políticas administravas o tecnologías. Eso requiere la transformación de
las accionistas incluyendo las empresas. Tales transformaciones pueden solucionarse con las medias
de administración, la educación…etc. Por eso el gobierno debe enfocar en este punto. Por supuesto
no podemos ignorar la tecnología porque nuestra sociedad se basa en la tecnología. Como los
problemas medioambientales se aprecen por efecto secundario de la tecnología, las soluciones de la
tecnología también es un elemento muy importante para el medio ambiente. Los problemas acutales
nos requieren tanto las soluciones técnicas como el establecimiento de las políticas.
Quinto, en los problemas medioambientales no existen fronteras. El viento arenoso que
proviene de China, contamina la atmosféra de Seúl, el Central Núnclear de Chernobyl provocó la
contaminación radiactiva de Europa, todos los países se sufre por el calentamiento global. Así que
hay que participar con entusiamo a los esfuerzos internacionales para poder proteger la naturaleza y
especialmente los países cercanos necesitan preparar, entre ellos, una manera para la mejor
cooperación.
Todas las políticas y el desarrollo institucional requieren la voluntad del gobierno, si no, no
obtendría eficiencias esperadas. En muchos países en vías de desarrollo, las políticas del medio
ambiente son para demostrar, que el gobierno no lanza con fuerza. En el proceso de la ejecución,
muchas veces se dirige hacia otros lineas más cercanas a la teoría económica o pierde su meta
original. Podemos decir que, las medias de comunicación y nosotros somos responsables de
supervisar la ejecución de las políticas y el establecimiento de las leyes medioambientales. El alto
nivel de la educación, el reconocimiento al medio ambiente y la participación serían una pasadera
para el futuro brillante del medio ambiente.

REFERENCIAS CONSULTADAS
Anderson Terry(1993), Nafta and the Environment, San Francisco: pacific Research Institute for
Public Policy.
Beck, Ulrich (1992), Risk Society (1997)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 36

Beck, Ulrich, et al, Reflexive Modernization: politics, Tradition and Aesthetics in the Modern Social
Order, Standford: Standford University Press(1998).
Gereffi, Gray(1990), ―Paths of Industrialization: An Overview,‖ Gary Gereffi and Donald
Wyman(ed.), Manufacturing Miracle: Paths of Industrialization in Latin America and East Asia,
Princeton: Princeton University Press.
Mumme, Stephen(1992), ―System maintenance and Environmental Reform in Mexico: Salinas‘s
Preemptive Strategy,‖ Latin American Perspectives 19(1): 123-43.

Websites
UNEP (United Nation and Environmental Plan)
ECLAC(Economic Committee of Latin America and Caribbean)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 37

EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA: CASO DE AVEIRO

Wagner Sousa de OLIVEIRA


Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial. Universidade de Aveiro. Campus Universitário
de Santiago – Aveiro. Telf: +351 234 370 361; fax: +351 234 370 215.
wagneroliveira@ua.pt
António Jorge FERNANDES
Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial. Universidade de Aveiro. Campus Universitário
de Santiago – Aveiro. Telf: +351 234 370 361; fax: +351 234 370 215.
afer@ua.pt
Elizabeth T. PEREIRA
Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial. Universidade de Aveiro. Campus Universitário
de Santiago – Aveiro. Telf: +351 234 370 361; fax: +351 234 370 215.
melisa@ua.pt

RESUMO
O objectivo deste artigo é analisar um caso sobre emissões dos transportes rodoviários na
Avenida Dr. Lourenço Peixinho em Aveiro – Portugal em cenários, com software COPERT 4. Os
poluentes analisados foram separados em locais (CO, NOx, VOC e partículas em suspensão) e
global (CO2). O cenário de referência (ano 2009) representa a situação actual, cujos resultados são:
287.453,37 t de CO2 e 4.673,86 t de CO, e o total de 1.385.376 veículos por ano. Os demais
cenários (C1 – ano 2010; C2 – ano 2011 e C3 – ano 2012) foram elaborados com restrições no fluxo
de veículos, com horários pré-determinados por categoria de veículos.
PALAVRAS-CHAVE: Emissões; Gases de Efeito Estufa; Veículos automotores; Aveiro

ABSTRACT
The goal of this paper is to analyze a case of road transport emissions at Avenida Dr.
Lourenço Peixinho in Aveiro – Portugal into scenarios with software COPERT 4. The pollutants
examined were divided into local (CO, NOx, VOC and particulate matter) and global (CO 2). The
basis scenario (year 2009) represents the current situation, the results are: 287,453.37 tons of CO 2
and 4673.86 tons of CO, and the total of 1,385,376 vehicles per year. Other scenarios (C 1 - 2010, C2
- year 2011 and C3 - 2012) were projected with restrictions on the flow of vehicles, with pre-
determined time by vehicle category.
KEYWORDS: Emissions; Greenhouse Gases; Automotive vehicles; Aveiro.

INTRODUÇÃO
Actualmente o tráfego rodoviário constitui uma das principais fontes de poluição do ar em
áreas urbanas e é responsável por uma significante porção das emissões antropogénicas. Para
desenvolver uma metodologia consistente de análise da poluição ambiental resultante do tráfego
rodoviário, é essencial uma precisa quantificação dos poluentes emitidos pelos veículos
motorizados. Uma das principais formas usadas para este propósito é a modelação de emissões. O
tráfego rodoviário na Avenida Dr. Lourenço Peixinho em Aveiro – Portugal apresenta fluxo em
função da dinâmica socioeconómica da localidade, no caso apresentado neste artigo são propostas
alterações a fim de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Como a localidade em análise representa um corredor comercial forte e serve de canal de
ligação para duas freguesias (Vera Cruz e Glória), nota-se claramente horários de intenso fluxo em
5 em 5 minutos, nomeadamente nos dias úteis da semana e no horário comercial (Fig.1).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 38

Para efeitos de comparação das emissões dos gases de efeito estufa foram traçados quatro
cenários. O primeiro reflecte a situação actual (ano 2009) e os demais representam alterações
sugeridas no fluxo de veículos, agrupados de acordo com legislação europeia relativa às emissões.

ENQUADRAMENTO
O principal propósito dos modelos de emissão consiste em estimar dados de emissões em
diferentes escalas temporais e espaciais, para serem usados em vastas aplicações. Correntemente,
os modelos de emissão dos veículos compreendem um conjunto de metodologias, variando desde
cálculos a uma escala microscópica (i.e. para um veículo individual, ou para uma estrada) até
cálculos à escala macroscópica (i.e. regional, nacional e global) através da inventariação de uma
rede de transportes urbanos [1]. Além disto, os modelos diferem na forma como contabilizam os
seguintes parâmetros: poluentes, tipo de emissões (quente, frio, evaporativas); composição da frota
(categoria do veículo, idade); tipo de condução (apenas velocidade media ou velocidade
instantânea e aceleração).
Com base nas metodologias acima mencionadas, vários modelos de emissão têm sido
desenvolvidos. Um dos mais usados é o modelo COPERT, cujo desenvolvimento foi financiado pela
agência Europeia do Ambiente e permite uma estimativa anual de emissões a nível nacional [2].
Estas incertezas podem não ser significativas para os objectivos com que inicialmente os
modelos foram desenvolvidos (análise de congestionamento de tráfego, eficiência económica,
desenvolvimento de padrões alternativos, etc.) mas para serem ligados a modelos de emissões o
grau de certeza dos dados de input, nomeadamente a velocidade média e a distância percorrida,
deve ser avaliado [3].
Um significante esforço para harmonizar diferentes metodologias e factores de emissão,
concorrentemente e independentemente desenvolvidos, tem sido levado a cabo em diversos
projectos, incluindo a acção COST 319 (sobre a estimativa das emissões dos transportes), o projecto
MEET (Methodologies to Estimate Emissions from Transport) apoiado pela Comissão Europeia, e o
projecto CORINAIR. Como resultado, está actualmente disponível uma metodologia harmonizada
para a estimativa das emissões do tráfego rodoviário [4], [5].
Com base nas metodologias acima mencionadas, vários modelos de emissão têm sido
desenvolvidos. Um dos mais usados é o modelo COPERT, cujo desenvolvimento foi financiado
pela agência Europeia do Ambiente e permite uma estimativa anual de emissões a nível nacional
[2].
OBJECTIVOS
Este artigo apresenta os resultados dos cenários de emissões dos gases de efeito estufa para
a Avenida Dr. Lourenço Peixinho em Aveiro – Portugal, em função das diferentes situações de
tráfego sugeridas em cada um dos cenários analisados. A comparação destes cenários serve para
indicar quais as possíveis e melhores acções por parte dos gestores públicos de Aveiro ligados ao
controle do espaço urbano e do tráfego de veículos. Para este propósito, os cenários estudados estão
estruturados numa base anual e as acções de restrição ou alteração no fluxo de veículos para a
localização em estudo são sugeridas considerando a realidade comercial e de tráfego. Finalmente foi
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 39

determinado qual é o melhor cenário em função das emissões provenientes dos veículos que
compõem tal situação.

METODOLOGIA
Em termos gerais, a estimativa das emissões dos transportes no COPERT 4 pode ser
baseada na equação:
Emissões por Período [g] = Factor de Emissões
[g/km] × Número de Veículos [veh.] × (1)
Quilometragem por Veículo por Período [km/veh.]

O factor de emissão, é usualmente expresso em g.km-1 e primariamente relacionado com as


condições de condução e tipo de veículo. A actividade é o produto entre o número de veículos de
cada categoria e a distância percorrida por veículo numa determinada unidade de tempo, em km.

FACTORES DE EMISSÃO
Os factores de emissão são baseados no procedimento seguido nos projectos MEET/COST.
Também, para se compilar um modelo consistente as seguintes condições foram tidas em
consideração:
Disponibilidade de dados, e
O destino dos resultados da modelação.
Então, considerou-se como ideal basear os factores de emissão na velocidade média (30
km/h) devido à ausência de informação mais detalhada sobre a dinâmica dos veículos. A
metodologia de cálculo das emissões pelo COPERT 4 considera ainda diferentes tecnologias (tipo
de motor, idade do veículo) e a cilindrada para derivar os factores de emissão. Os factores de
emissões são calculados e classificados em quente, frio e evaporativas.

POLUENTES CONSIDERADOS
O COPERT 4 tem algoritmos para calcular a emissão dos seguintes poluentes emitidos
pelo tráfego rodoviário:
Monóxido de carbono (CO);
Óxidos de azoto (NOx);
Compostos Orgânicos Voláteis (VOC), incluindo o metano;
Dióxido de carbono (CO2);
Partículas em suspensão ou matéria particulada (PM2.5 e PM10).

TIPOS DE EMISSÕES
O cálculo das emissões do tráfego rodoviário resulta do somatório das emissões a quente
(i.e. motor em perfeito funcionamento), emissões em arranque a frio (temperatura de água inferior a
70 ºC) e emissões evaporativas (provenientes da evaporação dos combustíveis).

CATEGORIAS DE VEÍCULOS
Para uma estimativa próxima da realidade das emissões de poluentes provenientes do
tráfego rodoviário é necessário separar os veículos em categorias. No modelo COPERT IV foram
adoptadas as categorias conforme Tabela I:

Tabela I
Sector e Subsector com respectiva legislação Europeia
Passenger Cars ―Ligeiros de Passageiros‖
Gasoline <1,4 l ECE 15/04
Gasoline 1,4 - 2,0 l PC Euro 1 - 91/441/EEC
Diesel <2,0 l PC Euro 2 - 94/12/EEC
Diesel <2,0 l PC Euro 3 - 98/69/EC
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 40

Stage2000
Diesel <2,0 l PC Euro 5 (post 2005)
Light Duty Vehicles ―Comerciais Ligeiros‖
Gasoline <3,5t Conventional
Gasoline <3,5t LD Euro 1 - 93/59/EEC
Diesel <3,5 t LD Euro 2 - 96/69/EEC
LD Euro 3 - 98/69/EC
Diesel <3,5 t
Stage2000
Diesel <3,5 t LD Euro 5 - 2008 Standards
Heavy Duty Trucks ―Pesados de Mercadorias‖
Rigid 7,5 - 12 t Conventional
HD Euro I - 91/542/EEC
Rigid 7,5 - 12 t
Stage I
Rigid 7,5 - 12 t HD Euro III - 2000 Standards
Rigid 7,5 - 12 t HD Euro IV - 2005 Standards
Rigid 7,5 - 12 t HD Euro V - 2008 Standards
Buses ―Autocarros‖
Urban Buses Midi <=15 t Conventional
HD Euro I - 91/542/EEC
Urban Buses Midi <=15 t
Stage I
Urban Buses Midi <=15 t HD Euro III - 2000 Standards
Urban Buses Midi <=15 t HD Euro IV - 2005 Standards
Urban Buses Midi <=15 t HD Euro V - 2008 Standards
Motorcycles ―Motociclos‖
4-stroke <250 cm³ Conventional
4-stroke <250 cm³ Mot - Euro III

Foi utilizada esta classificação em função da idade e modelo dos veículos conforme o
quadro nacional de veículos de Portugal Continental da ACAP (Associação Automóvel de
Portugal), de Dezembro de 2007. Foi considerado o mesmo cenário para a cidade de Aveiro, bem
como o actual fluxo de veículos medido pela Câmara Municipal de Aveiro e o Departamento de
Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, cuja configuração actual do parque de veículo
para este caso está demonstrado na Figura 2:

CARACTERIZAÇÃO DOS CENÁRIOS


Para a construção dos cenários foram considerados hipóteses quando ao horário e tipo de
veiculo considerado. O cenário actual (2009) é o cenário base. Para todos os cenários foram
considerados os seguintes parâmetros:
Velocidade média: 30 km.h-1
Distância do percurso: 2.14 km
Tempo do percurso: 0.07 h (4.30 minutos)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 41

Km.ano: 781.1 km
Zona: 100% urbana
Combustíveis e composição: gasolina e gasóleo [7].

No cenário actual (cenário de referência) foi considerado a livre circulação dos veículos
categorizados na Tabela I acima.

Tabela II - Cenário actual da distribuição do fluxo anual de veículos na Av. Dr. Lourenço Peixinho
em Aveiro – Portugal
Pesados de Pesados de
Motociclos Ligeiros de Comerciais
Passageiros Mercadorias (> TOTAL
com mais 50cc Passageiros Ligeiros
(< 7,5t) 7,5t)
89,808 874,560 272,832 102,528 45,648 1,385,376

Para o cenário 1 foi considerado uma redução em 50% (um sentido da avenida) na
circulação dos veículos (motociclos, ligeiro de passageiros, comerciais ligeiros e pesados de
mercadorias) nos dias úteis de 12:00h as 20:00h, cujos totais por categoria de veículos estão na
Tabela III.

Tabela III - Cenário 1 da distribuição do fluxo anual de veículos na Av. Dr. Lourenço Peixinho em
Aveiro – Portugal

Pesados de Pesados de
Motociclos com Ligeiros de Comerciais
Passageiros Mercadorias (> TOTAL
mais 50cc Passageiros Ligeiros
(< 7,5t) 7,5t)
61,128 662,592 221,760 102,528 32,040 1,080,048

Para o cenário 2 foi considerado uma redução em 100% (dois sentidos da avenida) na
circulação dos veículos (motociclos, ligeiros de passageiros, comerciais ligeiros e pesados de
mercadorias) nos dias úteis de 12:00h as 20:00h, cujos totais por categoria de veículos estão na
Tabela IV.

Tabela IV - Cenário 2 da distribuição do fluxo anual de veículos na Av. Dr. Lourenço Peixinho em
Aveiro – Portugal
Pesados de Pesados de
Motociclos Ligeiros de Comerciais
Passageiros Mercadorias (> TOTAL
com mais 50cc Passageiros Ligeiros
(< 7,5t) 7,5t)
24,192 372,480 141,216 102,528 15,168 655,584

Para o cenário 3 foi considerado uma redução em 100% (dois sentidos da avenida) na
circulação dos veículos (motociclos e ligeiros de passageiros) nos dias úteis de 12:00h as 20:00h,
cujos totais por categoria de veículos estão na Tabela V.

Tabela V - Cenário 3 da distribuição do fluxo anual de veículos na Av. Dr. Lourenço Peixinho em
Aveiro – Portugal
Pesados de Pesados de
Motociclos Ligeiros de Comerciais
Passageiros Mercadorias (> TOTAL
com mais 50cc Passageiros Ligeiros
(< 7,5t) 7,5t)
13,728 279,408 272,832 102,528 45,648 714,144

RESULTADOS
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 42

Os resultados foram divididos em duas partes (G e H). Na parte G são apresentadas as


alterações nas quantidades de veículos por categorias, conforme as hipóteses consideradas (Tabela
VI, Figura 3, 4, 5 e 6).

FLUXO DE VEÍCULOS

Tabela VI - Total de veículos por cenários e categorias


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 43
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 44

Na parte H estão as quantidades em toneladas dos poluentes analisados de acordo com as


alterações nas quantidades dos veículos já apresentados na parte G.
H. Análise das Emissões

Fig.7. Total Emissions of CO per Sector & Year

Fig.8. Total Emissions of NOx per Sector & Year

Fig.9. Total Emissions of VOC per Sector & Year


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 45

Fig.10. Total Emissions of CO2 per Sector & Year

Fig.11. Total Emissions of PM2.5 per Sector & Year

Fig.12. Total Emissions of PM10 per Sector & Year

DISCUSSÃO DE RESULTADOS E CONCLUSÕES


A discussão dos resultados e conclusões foram igualmente separados em duas partes (G e
H). Na parte G são apresentadas as alterações nas quantidades de veículos por categorias, conforme
as hipóteses consideradas nos cenários anteriormente descritos, enquanto na parte H estão as
quantidades em toneladas dos poluentes analisados de acordo com as alterações nas quantidades dos
veículos.
O CO2 para efeito de poluição do ar e do aquecimento global foi considerado como o
poluente determinante na escolha do melhor cenário, ou seja, em relação ao cenário actual com
287.453,37 t de CO2. O melhor cenário é aquele que proporciona a maior redução deste poluente,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 46

considerando as características comercias e sociais da Avenida Dr. Lourenço Peixinho em Aveiro –


Portugal.
O cenário actual (2009) apresenta uma frota anual de 1,385,376 veículos, sendo 63.1%
(ligeiros de passageiros), 19.7% (comerciais ligeiros), 7.4% (pesados de passageiros), 6.5%
(motociclos) e 3.3% (pesados de mercadorias), conforme Figura 2 e Tabela II.
Conforme as restrições no fluxo de veículos sugeridas, nota-se claramente uma redução na
quantidade de veículos em relação ao cenário actual (2009) na ordem de 65.5% (para 2010), 52.7%
(para 2011) e 48.5% (para 2012). Vale ressaltar que foi privilegiado o transporte público (pesados
de passageiros) e pesados de mercadorias (com excepção para 2011), por se tratar de um corredor
comercial e via de ligação para duas freguesias de Aveiro. Os principais aspectos a destacar são:
O cenário actual (2009) apresenta uma frota anual de 1,385,376 veículos, sendo 63.1%
(ligeiros de passageiros), 19.7% (comerciais ligeiros), 7.4% (pesados de passageiros), 6.5%
(motociclos) e 3.3% (pesados de mercadorias), conforme apresentados na Figura II e Tabela II.
Conforme as restrições no fluxo de veículos sugeridas, nota-se claramente uma redução na
quantidade de veículos em relação ao cenário actual (2009) na ordem de 65.5% (para 2010), 52.7%
(para 2011) e 48.5% (para 2012). Vale ressaltar que foi privilegiado o transporte público (pesados
de passageiros) e pesados de mercadorias (com excepção para 2011), por se tratar de um corredor
comercial e via de ligação para duas freguesias de Aveiro.
Para o cenário 1 (2010) prevê-se 136.815,44 t de CO2 e uma frota de 478,584 veículos/ano.
Neste cenário as emissões estão distribuídas em pesados de passageiros ―autocarros‖ (40.87%),
comerciais ligeiros (38.92%), pesados de mercadorias (10.38%), ligeiros de passageiros (7.18%) e
motociclos (2.66%), conforme Tabela VI e Figura 10.
Para o cenário 2 (2011) prevê-se 157.803,50 t de CO2 e uma frota de 655,584 veículos/ano.
Neste cenário as emissões estão distribuídas em pesados de passageiros ―autocarros‖ (35.43%),
comerciais ligeiros (21.49%), pesados de mercadorias (4.26%), ligeiros de passageiros (37.91%) e
motociclos (0.91%), conforme Tabela VI e Figura 10.
Para o cenário 3 (2012) prevê-se 187.351,11 t de CO2 e uma frota de 714,144 veículos/ano.
Neste cenário as emissões estão distribuídas em pesados de passageiros ―autocarros‖ (29.84%),
comerciais ligeiros (34.97%), pesados de mercadorias (10.80%), ligeiros de passageiros (23.95%) e
motociclos (0.44%), conforme Tabela VI e Figura 10.
A redução na quantidade de veículos dentre os cenários propostos em relação ao cenário
actual (2009) que melhor sinaliza qual a melhor decisão a ser tomada por parte dos gestores
públicos de Aveiro ligados ao controle do espaço urbano e do tráfego de veículos.
Aos analisarmos os cenários propostos, conclui-se que o melhor é o cenário C1 (2010), pois
este reflectirá a maior redução na quantidade dos veículos ligeiros de passageiros que representam
63.1% da frota de veículos na situação actual (2009). Em relação as emissões de CO2, impactará
numa redução dos actuais 140.453,58 t de CO2 para 9.817,12 t de CO2.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Câmara Municipal de Aveiro pela colaboração e informações
prestadas para a realização deste artigo.

REFERÊNCIAS
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LTE 9901, 1999.
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and ―Models of Pollutant Emission from Transport‖- COST 319 Final report, November 1997.
Hickman A.J. – Methodology for calculating transport emissions and energy consumption. METT
project, Deliverable nº22.
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Pishinger R. – Instantaneous Emission data and their use in estimating passenger car emissions.
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Methodologies for estimating air pollutant emissions from transport – emission factors for future
road vehicles. MEET project, Deliverable nº 26, December 1998.
Decreto-Lei n.º 89/2008.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 48

LOS PROBLEMAS DE LAS POLÍTICAS DE CAMBIO


CLIMÁTICO DE COREA DEL SUR Y ARGENTINA

Hye Hyun Son


(Korea-Latin America Green Convergence Center
Priority Research Professor)

ABSTRACT
This paper addresses the problems of the crisis and opportunities facing the current policies
of South Korea and Argentina in compliance with the actions to mitigate climate change. This paper
reviews climate change policies in South Korea, named ―Crecimiento Verde‖, and Argentina
criticizing and analyzing the problems and what is the ideological basis of those policies. Major
policy instruments in developed country include incentive-based policy, instruments such as climate
change levy and ecological tax, emission trading, voluntary agreements and this policy instruments
are designed based on the strategy of ecological modernization in spite of difference. However
policies in the both countries don‘t follow that trend.
KEYWORD: Climate change policy, South Korea, Argentina, Crecimiento Verde,
ecological modernization

INTRODUCCIÓN
Corea del Sur y Argentina son los líderes entre los países en desarrollo en repuesta al
cambio climático a pesar de los no-Anexo I paises que no tienen obligación del Protocolo de Kioto
sobre la reducción de las emisiones de gases de efecto invernadero. Sí Argentina paricipó muy
activamente al United Nations Framework Convention on Climate Change en la década los 90', hoy
en día, Corea del sur está llamando la atención de la comunidad internacional a la nueva estratégia
que combina el desarrollo económico con la protección medioambiental.
1997 la Primera Comunicación Nacional en virtud de UNFCCC, el
primero entre los no―annexo y ha presentado ante la Convención Marco de las Partes (COP5), los
objetivos voluntarios de mitigación de las emisiones de gases de efecto invernadero para el período
de 2008 a 2012, una reducción de 2―10% basada en el diferentes escenarios de crecimiento PIB.
Mientras tanto Corea del Sur es el primer país en el anexo I para indicar que se adoptará
cuantificables objetivos de reducción para 2020(el 30% de los niveles de BAU) y proclamó
―Crecimiento Verde en Bajo Carbono" como una nuevo paradigma de desarrollo nacional, que crea
nuevos motores de crecimiento y el empleo con la tecnología verde y la energía limpia
A pesar de estar un paso adelante en las acciones respecto al cambio climático en los
ambos países, las políticas y instituciones están siiendo criticadas por carecer de verdadero
significado ―verde‖ y la políticas adecuadas y inconsistencias en la teoría y la práctica. El propósito
de este estudio es revisar las políticas del cambio climático e
. Se pude decir
que los dos países son vanguardias de cambiar una crisis de cambio climático a una oportunidad de
crecimiento económico. Sin embargo les hace falta una conciencia para considerar el medio
ambiente como prioridad entre otras materias. Este estudio está construido en 5 capítulos. En la
segunda, se explora la base ideológica de la política de cambio climático, en la tercera se revisa la
tendencia y problemas de la política de cambio climático de Corea del Sur, se trata el caso de
Argentina en la curta, y al último se temina comparando la base ideológica de la política de cambio
climático con los casos de la Argentina y Corea del Sur.

TEORÍA Y CONCEPTO DE LA POLÍTICA DE CAMBIO CLIMÁTICO


1) Concepto de ¨Desarrollo sostenible¨
El término Desarrollo sostenible está bien conocido por el reporte de Brundtland en 1987
Comisión mundial de ambiente y desarrollo, y generalizado por el reporte ¨Nuestro futuro común¨
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 49

Por medio de este reporte el paradigma del crecimiento que dominaba al mundo fue la oportunidad
para luego ser sustituida por un nuevo paradigma. Al decir desarrollo sostenible desde el punto de
vista de un nuevo paradigma el crecimiento económico es imposible sin un sacrificio del la
naturaleza y del ambiente, así como se debe establecer un límite a la actividad económica, y
detalladamente reducir el uso de combutible fósil, y remarcar la dependencia de la energía
renovable para el un cambio de la economía mundial.
El desarrollo sostenible persigue acuerdos con objetivos sociales que todavía no se han
realizado. Aunque todos reclaman por un acuerdo a cerca de un contenido específico están llegando
a una investigación vacía. No obstante a través de muchas investigaciones y varias conferencias
internacionales, el desarrollo sostenible, estableció su equilibrio en sus tres pilares simultáneos , que
son elementos principales, economía, medio ambiente, sociedad.
Si se expresa detalladamente, son el crecimiento económico y la protección del medio
ambiente.

Se puede decir entonces que los tres elementos de la justicia social son considerados como
el desarrollo sostenible. Sin embargo la economía, el medio ambiente, y la sociedad se encuentran
ubicados triangularmente en cada vértice, Considerando A,B,C, en forma equilibrada, el desarrollo
sostenible será variado de acuerdo al vértice al cual se ponga mas énfasis.

TEORÍA DE MODERNIZACIÓN DE LA ECOLOGÍA


La teoría de modernización de la ecología fue propuesta por la primera vez por Sociólogos
Martin Janicke y Joseph Huber quienes examinaron e interpretaron la fase de desarrollo de
Alemania a principios de 1980. La teoría de modernización comienza con la conclusión que una
sociedad sostenible no se puede adquirir con las regulaciones de los ambientes tradicionales. Esto
consiste en el proceso de reconstrucción del sistema social corriente en un nivel más sano en la
estructura política y económica del capitalismo y ve posible los crecimientos económicos que son
diferentes en calidad. La teoría de modernización ecológica ve que los crecimientos económicos
sanos se pueden obtener resolviendo los problemas del ambiente reorganizando la modernización
del sistema político y económico del capitalismo en vez del anti-modernismo o el volver al pasado.
Aunque los problemas ambientales están conectados al sistema económico, un sistema
político y económico completamente nuevo no es necesario para resolver este problema, sino que se
pueden evitar los límites ecológicos planeando un sistema de crecimiento diferente en sus
cualidades. Adicionalmente, la teoría de modernización de la ecología promete mas ganancias a
compañías que adopten el sistema, y acentúa harmonía de la ecología y la economía (Dryzek, 2005:
250-256). Por lo tanto, el crecimiento económico y la preservación del ambiente no son
contradictorios u opositorios sino que se pueden obtener simultaneamiente, y esta relación muestra
un efecto de sinergia que es "win-win" a través de un sistema virtuoso. Adicionalmente, la teoría de
modernización de la ecología considera la prevención de la contaminación, el desarrollo de la
tecnología limpia y la política de la innovación de la ciencia y tecnología oportunidades
económicas. Esto significa que la tecnología verde es un nuevo poder de desarrollo que dirigirá el
crecimiento económico en tiempos de peligro de cambios climáticos. Entonces ¿Cómo se puede
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 50

desarrollar una política en la cual la economía y la ecología están en harmonia? ¿Cómo puede la
economía sustener a la ecología en la política del ambiente? Esto se puede adquirir a través de
cambios entre sectores económicos y cambios a través de la política de innovación de la ciencia y la
tecnología.

3. Política de repuesta al cambio climático de Corea del Sur


El mundo están interesados en la nueva visión del gobierno coreano para "crecimiento
verde". En el 15 de agosto de 2008, el Presidente Lee Myung-bak, proclamaó "Low Carbon
crecimiento verde" como un nuevo paradigma de desarrollo nacional, que crea nuevos motores de
crecimiento y el empleo con la tecnología verde y la energía limpia". Sin embargo, esta política de
crecimiento verde actualmente ha sido criticada para que no sea más que una visión de desarrollo
económico como base de la política de esta administración nacional verde. Grandes proyectos de
ingeniería civil a gran escala y de las construcciones, tales como plantas de energía nuclear, están
impulsando el medio ambiente coreana en una catástrofe.
La comunidad internacional también está vigilando la política de ―Crecimiento Verdes‖ en
Corea. El presidente hizó hincapié en la tecnología verde y la industria y se comprometió a
aumentar la independencia energética y el suministro de energías nuevas y renovables. El gobierno
anunció el New Deal Verde y los 4 Ríos principales proyectos de restauración, que se realizará en
los próximos 4 años con una inversión de 4 millones de dolares, que se destinarán, el SOC Verde
(Social Overhead Capital), bajo contenido de carbono / altas tecnologías de eficiencia, la vida eco-
amigable y verde, etc, con la creación de 960 mil puestos de trabajo.
Sin embargo, ¿Es Corea realmente avanzando en la dirección correcta para una sociedad
más verde? El 4 Gran Proyecto de Restauración de Ríos, un ingeniero civil enorme escala del
proyecto, realmente toma la delantera en el New Deal Verde. El siguiente se análiza de la política
de crecimiento verde de Coreano para indicar las problemas de la política verde coreana.

1) Objetivo pasivo de reducción de gases invernadero


El gobierno coreano anunció la reducción de gases de efecto invernado -4% en 2020 desde
los niveles de 2005 (30% de los niveles de 2020 de BAU). Por desgracia, el objetivo de reducción
de 4% es decepcionante y no cumple con su responsabilidad histórica por el cambio climático y la
capacidad del país para reducir aún más. Corea ocupa el puesto 9 º en el verde de las emisiones de
gases y 22 º en las emisiones acumuladas. Corea debería haber fijado objetivos más ambiciosos de
acuerdo con sus emisiones históricas.
A través de este proceso, el gobieno Lee mostró su actitud irresponsable y poco ético hacia
la crisis del cambio climático. El gobierno consideró una opción de destino de una reducción del
11% de los niveles en el 2005 pero no fue siquiera discutida con el público, ya que estaban
preocupados por la resistencia viene de los círculos industriales. El objetivo de reducción de escasos
establecidos por el gobierno de Corea es el resultado de la preparación incompleta por parte de la
Comisión Presidencial sobre el crecimiento verde y el cabildeo de las grandes industrias. EnCorea
organizaciones ecologistas creen que el gobierno coreano debería reducir gases de efecto
invernadero en un 25% para el 2020 a partir del 2005 los niveles de emisión y un objetivo de
reducción verdaderamente razonable debe ser re-examinado en vista de su responsabilidad histórica
y en un debate

2) Suministro centrada en la política energética


Consumo total de energía de Corea en el 2006 fue de 226 millones de TEP, que fue del
2,1% del consumo total de energía del mundo y ocupó el puesto 10 en el mundo (est. 2006, Fuente
BP Estadísticas 2007). En el 2005, Corea ocupó el cuarto lugar en las importaciones de petróleo, en
segundo lugar en las importaciones de carbón y el octavo en las importaciones de gas natural. Por
otra parte, Corea, con una dependencia muy alta de su energía en el extranjero del 97%, es muy
vulnerable a la crisis energética.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 51

Sin embargo, la política energética, la oferta del gobierno enfocado no ha cambiado. En


Plan Nacional Básico de Energía 2030, el gobierno prevé un aumento de la demanda anual de
energía en un 1,1% y el consumo total de energía se proyecta en 399,4 millones TOE, un aumento
del 32% sobre los niveles de 2006. En consecuencia, la demanda de energía per cápita se prevé que
aumente de 4,83 TEP, que fue en 2006, a 5,84 TEP en 2020 y 6,18 TEP en 2030. Esto demuestra
que el gobierno diseñó el plan de la energía se centra en la oferta y no en la gestión de la demanda
como se prevé en el crecimiento verde.
En 2030, los combustibles fósiles representan sólo el 61 por ciento del consumo total de
energía, por debajo del actual 83 por ciento, mientras que el uso de la energía nuclear aumentará a
27,8% del 14,9% en 2007 y el uso de las energías renovables se incrementará a 11% del 2,4% en
2007.
El Plan Nacional de Energía de la época de crecimiento ecológico deben dirigirse a
disminuir el consumo de energía. El crecimiento económico no significa necesariamente un
aumento proporcional en el consumo de energía. Algunos de los países europeos como Alemania
son los buenos ejemplos que muestran una disminución en el consumo de energía después de
alcanzar un cierto nivel de crecimiento económico. Usar menos energía puede crear mayor valor
añadido.

3) Crecimiento verde basándose en la expansión de la energía nuclear


El renacimiento nuclear está en pleno auge en Corea. El gobierno prevé un aumento anual
del 2,1% en la demanda de energía (KWh 368.5billion en 2008 - 500.1billion de KWh en 2022) en
el Plan Básico 4 de Largo Plazo de Suministro de Electricidad. Así, el gobierno planea establecer 12
estaciones de energía nuclear, 7 plantas de carbón y el 11 de GNL centrales. Según este plan, las
centrales nucleares se espera que el 33% del total de Corea del servicio de generación de energía y
el 48% de la capacidad de generación de energía. Para el año 2022, 32 plantas de energía nuclear en
el total estará en funcionamiento y dar cuenta de 32.920 MW de potencia. El Gobierno de Coreano
pone de relieve que el fortalecimiento del papel de la energía nuclear es inevitable para actuar
contra los elevados precios del petróleo y garantizar la reducción de las emisiones de GEI. Al final,
la energía nuclear se convierte en el apoyo a la energía verde política de crecimiento.
Históricamente, la palabra "verde" está muy cerca de "anti-nuclear". El gobierno debe poner fin a
sus políticas a favor de la energía nuclear, se centran en la gestión de la demanda de energía,
aumentar la eficiencia energética y diversificar las fuentes de energía con energías renovables, gas
natural licuado, y así sucesivamente, para asegurar una seguridad de suministro energético.

4) Insuficiente objetivo de energía renovable: "11% en 2030


El uso de energía renovable como fuente primaria de energía ha ido aumentando muy
lentamente. Sin embargo, las fuentes energía renovable para un mero 2,37% de la generación total
de energía. El Gobierno en su Plan Básico Nacional de Energía planea aumentar el uso de energía
renovable al 11% en 2030. Este nivel sigue siendo un objetivo muy insatisfactorio objetivo en
comparación con los objetivos de promedio de otros países de la OCDE. La utilización de energía
renovable en los países de la OCDE representa actualmente el 6,4% de la energía primaria y el
15,3% de la energía eléctrica mientras que Corea sigue estando mucho detrás en el 0,6% y 1,0%
respectivamente. (OECD / IEA, 2008, [Renovables Información] Estadística, excepto los residuos).
Política para la penetración de las energías renovables también va hacia atrás. El gobierno
declaró a la disminución de la subvención FIT con una pobre excusa de la falta de presupuesto y
capacidad de localización y previsto para que el reglamento RPS (Renewable Portfolio Standard) en
2012. RPS es un reglamento que requiere que el aumento de la producción de energía procedente de
fuentes de energía renovables La necesidad de la hora de planificar una estrategia de
industrialización de la energía renovable y desarrollar políticas y sistemas para mantener y
complementar el mecanismo de de la hora de planificar una estrategia de industrialización de la
energía renovable y desarrollar políticas y sistemas para mantener y complementar el mecanismo de
FIT.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 52

EL CO
1) Politicas de cambio climático.
Las políticas en la República Argentina para responder a los desafios del cambio climatico
son limitadas e incompletas. El cambio climático demanda simultaneamente mitigar sus causas y
adaptarse a las consecuencias que son inevitables y en muchos casos ya están presentes por el
aumento que se ha producido en la concentracion de gases de efecto invernadero en la atmosfera.
La primera y principal razón por la que no tenemos politica ambiental en la Argentina es que la
protección del ambiente y los recursos naturales no tienen prioridad en la agenda política argentina.
Claramente no han sido tema de las elecciones presidenciales. Las plataformas de los partidos
politicos no se ocupan del tema o lo hacen muy superficialmente. Según una encuesta internacional
realizada por Reuters/Ipsos aproximadamente dos tercios de la población cree que los gobiernos y
no están dando los pasos adecuados o al ritmo correcto para impedir el cambio climático.

, el protocolo de kyoto contiene


objetivos legalmente obligatorios para que los paises industrializados reduzcan las GEI.
Para garnatizar el cumplimiento de estos compromisos en la Argentina tienen su correlato
dentro de la Secretaria de Ambiente: La Unidad de , La Oficina Argentina del
Mecanismo para un Desarrollo Limpio, El fondo del Carbono.
Con la puesta en marcha del Protocolo de Kioto se crea el Fondo Argentino de Carbono
con el Decreto 1070-05 que, a la fecha (marzo de 2007) no ha sido

Kioto, sin embargo esto no s

.
. Primero, No se encontró evidencia de mecanismos
formales de coordinación institucional entre la UCC y los organismos de la administración pública
nacional, provincial y municipal relacionados con la problemática, así como con la comunidad
académica y los sectores productivos. Segundo, no se observa articulación con las políticas y
programas vigentes vinculados con la conservación y uso sustentable de los recursos naturales,
especialmente en aquellos casos en que los objetivos de dichos programas pueden estar en conflicto
con las acciones vistas referidas a mitigación del cambio climático (por ejemplo, manejo y usos
sustentable de bosques nativos). Tercero no se han definido metas ni prioridades nacionales para la
reducción de emisiones por sector. Cuarto, no se elaboró un inventario de estudios científicos a
nivel nacional sobre cambio climático, previsto por Plan de Acciones 2003-2007 de la UCC. La
estrategia aplicada para la recopilación de información, que consistió en la invitación a través de la
página web de la Secretaría, no resultó efectiva.
Con referencia a la formulación e implementación de los Programas Nacionales, se
detectaron las siguientes falencias: Los Programas Nacionales son 11, alguno de los cuales son:
―"Energías y Combustibles Alternativos‖", ―"Uso Racional de la Energía y Mejoras en la Eficiencia
Energética‖" y ―"Programas de Salud y Cambio Climático: Chagas, Dengue, otras enfermedades
infecciosas, salud en los grupos vulnerables urbanos‖", algunos fueron propuestos a partir del año
2001. A marzo de 2007 ninguno esta en ejecución debido, entre otros, a falta de financiamiento.
Sólo cuatro de los once programas han sido formalmente establecidos. - No existe documento que
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 53

detalle objetivos, alcance, acciones previstas, fechas de inicio ni responsabilidades para ninguno de
los programas. La UCC no cuenta con financiamiento para la ejecución de los programas. No se han
previsto mecanismos de control ni indicadores de avance de la implementación de dichos
programas.

. han presentados. Las


iniciativas de mediano y largo plazo, consistentes con la necesidad de morogerar el a

)‖, que incluye obras ya iniciadas y obras a abordar en el


mediano y largo plazo, el ―Programa de Uso Racional de l

(2,000Mw para el año 2015), la ley de Uso de biocombustibles.

fuente: Una estratégia energética sustentable para el siglo XXI

. En la oferta de energía primaria del 2003, el gas natural participa con el 48,4
por ciento sobre un total de 69,4 millones de toneladas equivalentes de petróleo (TEP). Si se agrega
el petróleo, la participación de estas fuentes fósiles llega al 86 por ciento. De acuerdo a
proyecciones de demanda energética que asumen tasas de crecimiento sostenido del producto del 3
por ciento en el 2020, sobre una oferta de energía primaria que llega a los 109 millones de TEP, la
participación relativa del gas natural sobre las fuentes primarias se eleva al 55,8 por ciento. Entre
petróoleo y gas las participaciones ascienden al 90,4 por cientos.
A pesar de una fuerte dependencia de los combustibles fósiles, Argentina es exitoso
rspectivamente en el control de las emisiones de gases de efecto invernadero, en parte, al hecho de
que gas natural tinene

.
A números de hoy, la diversificación de fuentes primarias es más costosa en inversiones,
pero más compatible con el me

.
El origen de la legislación es la ley de 25,019 para la energía eólica y solar, que decalaró la
generación de electricidad del viento y solar como uno de los principales intereses nacionales. La
reciente ley 26.910 propone tomar la participacion de ER a 8% en 2015. Pero no son suficientes
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 54

para mejorar la matríz energetica inestable. En el caso argentino, uno de los obstáculos más
importantes que la Argentina se enfrentará a lograr un crecimiento sostenible manteniendo de una
política ambiental racional son los recursos financieros. La scarecity de fondo para la inversión
representan un problema estricto de la aplicación de la política para mantener limpio el medio
ambiente

eficiente‖. El cambio de lámparas incandescentes por lámparas de bajo consumo es el primer paso
necesario para comenzar un proceso de incorporación de políticas de eficiencia. La eficiencia
energética es el camino más eficaz para reducir las emisiones de CO2 (dióxido de carbono) a la
atmósfera, y por tanto detener el cambio climático.

CONCLUSION
En término del desarrollo sostenible y la teoría de modernización ecológica las políticas de
cambio climático en Corea del Sur y Argentina no son suficientes para lograr los equilibrio entre
crecimiento económico, protección del medio amniente y justicia social. Lo mas importante en la
respuesta al cambio climático para reducir las GEI sería la política energética, sin embargo en
Argentina no puede garantizar hoy un crecimiento sustentable de su sector energético. Las políticas
energéticas en los paises desarrollados, especialmente en los paises europeos donde se basa en la
modernización ecológicos para llevar a cabo una sociedad de baja emisión de carbono, ponen más
hincapié en la prticipación activa de la sociedad civil en la toma de decisiones, equilibrio ecológico
y económico, la reforma fiscal y la política energética que se considera seriamente la energía
renovable y la eficacia energeética. Pero la matriz energética de la Argentina no refleja esta
tendencia. Apesar de su convocatoria clara, la política de ―Crecimiento Verde‖ de Corea
actualmente no es más que una visión de desarrollo económico como base de la política. Para
avanzar hacia una sociedad más sostenible, en Corea del Sur y tanto Argentina son necesarioa
desarrollar política más conscientes del medio ambiente y bienestar del pueblo.

REFERENCIAS
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University Press.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 55

MODIFICAÇÕES CLIMÁTICAS E DESERTIFICAÇÃO

Bartolomeu Israel de Souza


Prof. Dr. Universidade Federal da Paraíba.

INTRODUÇÃO
O quadro climático da Terra vem sofrendo modificações ao longo do tempo, o qual pode
ser comprovado através de testemunhos da flora, fauna, solos, etc.
O sistema climático é constituido pela atmosfera, hidrosfera, biosfera, litosfera e criosfera.
O estado climático varia conforme a quantidade de energia solar recebida por esse sistema, a
maneira como essa energia é distribuída e absorvida na superfície terrestre e como esses processos
interagem no sistema climático (Ayoade, 1996).
Apesar da mídia estar cada vez mais chamando atenção para os perigos da Mudança
Climática, isso acaba por popularizar um termo que na realidade denomina apenas um tipo de
variação do clima, relacionado este a determinada escala temporal.
O que se denomina de Mudança Climática é uma alteração do comportamento atmosférico
numa sequência de tempo de 10 milhões a 100 mil anos. Suas causas são externas e estão
relacionadas a mudanças na órbita de translação e na inclinação do eixo terrestre. Intervalos de
tempo diferentes deste recebem outras denominações e, conforme Hare et al. (1992), suas causas
também são distintas:
●Revolução Climática (acima de 10 milhões de anos): Provocada por atividade
geotectônica e possíveis variações polares;
●Flutuação Climática (100 mil a 10 anos): Provocada pelas atividades vulcânicas e
mudanças na emissão solar;
●Interação Climática (inferior a 10 anos): Provocada por fatores ligados a interação
atmosfera-oceano,a exemplo do fenômeno El Niño;
●Alteração Climática (muito curta): Provocada pela atividade antrópica, como a
urbanização, o desmatamento, grandes armazenamentos de água, etc.
Numa escala de tempo mais recente, mudanças climáticas ocorreram de maneira intensa
durante o Quaternário, onde fases mais frias (glaciais) sucederam fases mais quentes (interglaciais)
e vice-versa.
O último interglacial ocorreu a cerca de 15 mil anos, tendo atingido seu ponto máximo em
torno de 6 a 7 mil anos atrás, quando houve o chamado Ótimo Climático do Holoceno, onde as
temperaturas estavam cerca de 2ºC a 4ºC em média acima das do presente. Dessa forma, a
repartição dos grandes Geossistemas, tal como os vemos na história ainda mais recente da
humanidade, já foi modificada diversas vezes.
A partir do século XX, o Homem vem acelerando o ritmo das modificações climáticas do
globo, particularmente através das alterações no ciclo do carbono e também no albedo da superfície
terrestre. Se essas ações estariam levando o planeta a uma fase mais quente, como defendem alguns
pesquisadores, ou a uma fase mais fria, como defendem outros cientistas, é uma questão ainda sem
resposta definitiva.
A acentuação do Efeito Estufa é certamente a mais divulgada de todas as intervenções
antrópicas no tocante ao clima, assim como o alvo principal das polêmicas nas esferas científicas e
políticas em todo o mundo. Entretanto, a temática da Desertificação tem chamado cada vez mais a
atenção, existindo uma relação de causa e efeito com o clima e as ações antrópicas, embora esta
ainda não tenha sido completamente decifrada pelos pesquisadores.
A Desertificação é uma questão ambiental definida pela ONU como ―[...] a degradação da
terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de vários factores, incluindo as
variações climáticas e as actividades humanas.‖ (CCD, 1995, p.13). Por essa definição, sua origem
está relacionada tanto a causas naturais como aquelas derivadas da pressão exercida pelas atividades
humanas em ecossistemas frágeis, o que Conti (1995) denomina, respectivamente, de Desertificação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 56

Ecológica ou Antrópica e Desertificação Climática ou Natural, o que conduziria determinadas áreas


a se transformarem em desertos ou a eles se assemelharem.
Por degradação da terra, a CCD (1995, p.14) define como sendo
[...] a redução ou perda, nas zonas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas, da
produtividade biológica ou econômica e da complexidade das terras agrícolas de sequeiro, das terras
agrícolas de regadio, das pastagens naturais, das pastagens semeadas, das florestas ou das áreas com
arvoredo disperso, devido aos sistemas de utilização das terras ou a um processo ou combinação de
processos, incluindo os que resultam da actividade do homem e das suas formas de ocupação do
território, tais como:
A erosão do solo causada pelo vento e/ou pela água;
A deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas ou econômicas do solo e,
A destruição da vegetação por períodos prolongados.

No Brasil, a área considerada susceptível à desertificação está em grande parte concentrada


nas zonas de clima seco da Região Nordeste. Diversas pesquisas vem constatando um quadro
elevado de degradação ambiental nessas terras, o qual tem se acentuado com o passar dos anos,
existindo o medo de que estas alterações estejam acarretando um nível de comprometimento dos
ecossistemas envolvidos cuja recuperação, em determinados níveis, se não for impossível, é
bastante complexa e pode comprometer diversas outras regiões.

CLIMAS SECOS NO BRASIL E DESERTIFICAÇÃO


O significado da palavra Seca é muito variável, dependendo dos interesses específicos dos
usuários e também do próprio clima da região estudada, entretanto esta pode ser definida de forma
geral como uma deficiência de água com duração prolongada, de vasta atuação espacial e com
grande impacto nas atividades econômicas dominantes.
No semi-árido brasileiro registraram-se várias ocorrências de seca, sendo considerada
natural a sua existência tendo em vista as condições climáticas reinantes.
Do ponto de vista dos registros históricos, nos dois primeiros séculos de colonização da
Região Nordeste pouco se tem notícia da ocorrência de secas, certamente pelo fato da ocupação
inicial estar quase totalmente concentrada na faixa litorânea, onde raramente esse fenômeno
acontece, havendo inclusive poucas citações em documentos dispersos.
A partir do século XVIII, tendo havido uma maior ocupação do semi-árido através da
pecuária, ampliou-se também a documentação sobre esse fenômeno climático, comprovando a
secularidade desse flagelo.
Cadier (1994) destaca que a primeira grande seca registrada historicamente no Nordeste
brasileiro, logo após o descobrimento do país, foi relatada pela Companhia de Jesus, na Bahia, em
1559. Nos séculos XX e XXI este fenômeno continuou a se abater por sobre a região, fazendo com
que até mesmo a degradação dessas áreas se amplia nesses períodos uma vez que, para sobreviver,
os poucos habitantes que teimam em não fugir tem que retirar seu sustento de um ambiente já
naturalmente fragilizado.
Quanto ao estabelecimento do clima semi-árido em território nacional, seu mecanismo já
deixou de ser segredo a algum tempo. A ocorrência de chuvas no semi-árido nordestino é
determinada principalmente pelo deslocamento do Centro de Convergência Intertropical (CIT) para
o hemisfério sul durante o verão e outono, que por sua vez é consequência do resfriamento do
hemisfério norte. Se essa temperatura não baixar o suficiente, o deslocamento das massas úmidas
fica comprometido ao sul do Equador, resultando na falta de chuvas que, em anos bons de
―inverno‖ (o sertanejo atribui a estação chuvosa ao inverno) concentra-se em quatro meses
consecutivos do ano, geralmente de fevereiro à maio, havendo entretanto grandes variações
temporais e espaciais.
A origem desse mecanismo está localizada no Atlântico Norte, onde existe o Anticiclone
dos Açores, processando-se as chuvas quando os ventos Alíseos de Nordeste estão mais intensos
que o normal, empurrando a CIT mais ao sul, enquanto nos anos secos intensificam-se o
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 57

Anticiclone Subtropical do Atlântico e os Alíseos de Sudeste, deslocando a CIT mais ao norte


(SILANS et al., 1998).
Como essa região fica quase todo o ano sob o domínio do Anticiclone dos Açores, decorre
daí seu caráter seco, podendo também outros fatores serem relevantes.
No caso das correntes oceânicas frias, sua influência é observada de maneira indireta, já
que o giro anticiclônico da Corrente de Benguela transfere águas frias do sul da África para as
baixas latitudes, terminando nos litorais do Ceará e Rio Grande do Norte, ajudando a inibir a
ocorrência da chuvas, inclusive no arquipélago de Fernando de Noronha (Conti, 1995).
A semi-aridez também é influenciada pela topografia nas zonas à sotavento e a alta
refletividade da crosta (albedo elevado) que, nesse último caso, associado a destruição da biomassa,
reduz a absorção de energia solar, tornando a atmosfera sobre a região relativamente mais fria que a
das circunvizinhas, obrigando as massas de ar circundantes a realizarem um trabalho físico de
compressão adiabática (onde não há perda ou ganho de calor para fora do sistema) associado a
movimentos descendentes, intensificando-se assim outros movimentos descendentes da célula de
Hadley-Walker e inibindo ainda mais a produção de chuvas (MOLION, 1985).
A acentuação das secas também está diretamente relacionada a ocorrência do El Niño. Para
a compreensão deste fenômeno é necessário entender que as chuvas tem ligação direta às
convecções, movimentos ascendentes de ar úmido formados pela existência de pressões mais baixas
junto à superfície terrestre originadas pelo aquecimento do ar em contato com essa superfície.
As convecções são controladas pela Circulação Geral da Atmosfera, determinada pelas
oscilações de pressão atmosférica em dois centros principais: o Pacífico Ocidental (Indonésia e
norte da Austrália) e o Pacífico Oriental (próximo à costa oeste da América do Sul).
No Pacífico Ocidental as águas são geralmente mais quentes que no Pacífico Oriental,
ocorrendo na primeira região baixas pressões, convecções e chuvas abundantes. O ar quente dessa
região se eleva até uns 10 km, deslocando-se até o Pacífico Central e Oriental, onde desce
lentamente, fenômeno denominado subsidência, elevando a pressão junto à superfície. Tal
movimento corresponde a circulação de Walker (meteorologista inglês que primeiro relatou essas
variações de pressão).
As diferenças entre os desvios de pressão atmosférica ao nível do mar registrados nas
estações meteorológicas de Darwin (Austrália) e no Taiti, Pacífico Ocidental, irá determinar a
chamada Oscilação Sul (IOS), apresentando esta fases negativas e positivas.
É na fase negativa que ocorre o enfraquecimento do sistema de baixa pressão na Indonésia
e norte da Austrália, como o de alta pressão no Pacífico Oriental, diminuindo a intensidade dos
ventos alíseos, o transporte de águas e a ressurgência (afloramento de águas mais frias). No oceano
desenvolve-se então um fenômeno chamado Ondas de Kelvin, aquecendo as águas de superfície
próximas à costa oeste da América do Sul, denominando-se tal aquecimento de El Niño (Menino
Jesus). Nesse caso a circulação de Walker mudará completamente, fazendo com que o ar seco desça
sobre a Austrália, Indonésia, Amazônia e Nordeste brasileiro.
A origem desse aquecimento anômalo ainda não foi completamente determinada, embora
suponha-se que seja provocado por pequenas variações na rotação da Terra ou liberação de grandes
quantidades de calor de magma dos vulcões ativos no fundo do oceano relacionados à cordilheira
submarina que fica bem próxima a América do Sul (MOLION, 1992).
Valiente (1996) analisa a coincidência histórica entre as secas no semi-árido brasileiro
(1603 a 1983) e o fenômeno El Niño, concluindo que, embora não seja o único fator explicativo,
esse fenômeno é essencial para entender a sua ocorrência, pois quando este é muito forte sempre
aparece uma seca da mesma proporção, embora quando moderado só se produza a seca em 1/3 das
ocasiões.
Quanto a ocorrência de chuvas, Conti (1995) destaca uma série de processos capazes de
inibir esse fenômeno em ambientes semi-áridos, áridos e hiperáridos, atuantes em nível de macro-
escala (dimensões ao nível de um hemisfério) e meso e micro-escala (dimensões inferiores à de um
continente até as menores expressões), conforme vemos no quadro abaixo:
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 58

Quadro 01-Processos inibidores de chuva em ambientes semi-áridos, áridos e hiperáridos.


Macro-escala (*) Meso e micro-escala (**)
Anticiclones semipermantes Destruição da biomassa
Correntes oceânicas frias Escassez de núcleos biogênicos

Efeito orográfico se sotavento Albedo elevado

(*) Ação antrópica irrelevante (**) Ação antrópica muito relevante


Fonte: Conti (1995).

Observa-se que em meso e micro-escala, o papel da vegetação é determinante no que diz


respeito a continuidade ou inibição das chuvas nesses ambientes, uma vez que a destruição da
biomassa diminui o volume de micropartículas de origem vegetal em suspensão na atmosfera
(núcleos biogênicos), inibindo-se assim o processo de formação de nuvens que necessitam desses
núcleos para dar início a coalescência de gotículas de água (Conti, 1995).
Dessa forma, percebe-se a importância da vegetação dessas áreas no estabelecimento do
seu equilíbrio climático, sendo a sua retirada excessiva, como regra, a desencadeadora de uma série
de efeitos negativos ao solo, ao clima e á economia.
Conforme Eckholm & Brown (1977), provavelmente o efeito mais significativo da
devastação da vegetação e as consequências sobre o balanço hídrico esteja relacionado ao
comprometimento da habilidade do solo em absorver e usar o que cai em forma de chuva. Um solo
com vegetação esparsa está mais apto a gerar escoamento superficial do que a realizar absorção
d‘água. Neste caso, a água do subsolo fica cada vez menos regenerada e a erosão se intensifica,
transformando uma área verde naquela que normalmente se associa a um clima mais seco.
Acrescentamos a informação anterior, as modificações que o desmatamento traz em
relação aos balanços de energia e água na superfície do solo, uma vez que o albedo será alterado.
No primeiro caso, onde existe menos vegetação ou onde esta se encontra ausente, as temperaturas
diurnas tendem a ser mais elevadas, enquanto as noturnas tendem a diminuir, uma vez que nessa
situação o nível de reflectância da radiação solar pode aumentar em até 45%. Sob essas condições,
serão criadas dificuldades para a recolonização dessa área por espécies de plantas menos tolerantes
a esses extremos de temperatura, mesmo que a fertilidade dos solos seja pouco afetada pela retirada
da cobertura vegetal.
Em relação ao segundo caso, numa situação onde a cobertura vegetal esteja presente, a
umidade do ar é mantida pelas plantas que extraem água do interior do solo (em especial as árvores,
por conta das raízes serem mais profundas). Quando o solo está nu ou pouco protegido, este acaba
disponibilizando para evaporação apenas água contida em suas camadas mais superficiais, processo
esse que na estiagem, quando a evapotranspiração é sustentada pela água contida nas camadas mais
profundas do solo, fica comprometido, reduzindo a evapotranspiração, alterando o microclima e
possivelmente também a precipitação que ocorre nessas áreas (OYAMA, 2002).
Logo, a desertificação desencadeada pelo desmatamento excessivo nas zonas de clima
seco, não apenas aumentaria a incidência de estiagens, mas poderia provocar diminuição no total
das precipitações recebidas, como atestam as modelagens climáticas feitas para o Nordeste
brasileiro por Oyama (2002).
Acrescentando-se ao desmatamento o aumento do aquecimento global, outras modelagens,
como as executadas por Nobre et al. (2005) demonstram que, mesmo que as chuvas não sejam
afetadas em seu total, devido a elevação das temperaturas, diminuiria a água contida nos solos,
desencadeando a substituição dos Biomas atualmente existentes no Brasil por outros adaptados a
menor disponibilidade hídrica, havendo assim a substituição das florestas pelas savanas, das
savanas pela caatinga e da caatinga por formações desérticas (BRASIL, 2007; MARENGO, 2007).
Assim sendo, os efeitos desse processo, levando-se em consideração as duas situações,
expõem um quadro de possibilidades devastadoras, tanto para os Biomas como para as áreas
agrícolas existentes, inviabilizando ou tornando muito mais caro o cultivo de determinados gêneros
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 59

que são de grande importância para a economia brasileira, a exemplo da soja, do milho, do feijão,
do arroz e do café arábica. Além disso, em se tratando da Região Nordeste, em suas porções de
climas secos, a migração de milhares de pessoas acabaria se transformando numa das principais
estratégias de sobrevivência da população, acarretando diversos problemas econômicos e sociais em
outras regiões pelo país.

EXEMPLO DE CASO COMPLEXO: A DESERTIFICAÇÃO NO CARIRI PARAIBANO


O Cariri encontra-se localizado no centro-sul do estado da Paraíba, num eixo que se
distancia de 180 a pouco mais de 300km de João Pessoa (capital), perfazendo um vasto território
com área de 11.192,01km², o que equivale a pouco mais de 20% do estado em questão (figura 01).
Baseando-se no quadro atual da vegetação dessa região em relação a sua degradação,
através da análise de imagens de satélite, Souza (2008) atesta que somando-se todos os níveis de
desertificação encontrados (Moderado, Grave e Muito Grave), este alcança o número de
8.409,2km², o que implica em 77,4% de todo o Cariri comprometido com esse tipo de impacto
ambiental. Desses, 5.433,8km², ou 50,0% de toda a região, são terras que apresentam os níveis de
desertificação Grave e Muito Grave, onde a vegetação apresenta-se com elevada escassez e pouca
diversidade.

Figura 01- Localização dos Cariris Velhos na Paraíba/Brasil.

Fonte: Souza (2008).

Apesar desses resultados para essas terras na Paraíba, a complexidade em como esse tipo
de degradação se manifesta e as suas conseqüências para cada área é muito elevada, mesmo para o
que se espera de uma região onde o desmatamento é tão expressivo, como constatou Souza (2008).
Nesse caso, baseando-se na análise de 15 amostras de solos coletadas, em diversas situações,
inclusive naquelas consideradas como fisionomias desertificadas, em todas elas verificou-se que o
nível de fertilidade químico não havia se alterado.
Essa é uma constatação, em princípio, contraditória, uma vez que normalmente associamos
a diminuição da cobertura vegetal ao aumento da erosão e, consequentemente, a queda na
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 60

fertilidade natural do solo, o que também entra em choque com o que se convenciona esperar de
uma área desertificada.
Os resultados encontrados em relação a fertilidade dos solos do Cariri também se
contrapõem, em princípio, com as pesquisas até agora desenvolvidas sobre erosividade da chuva e
perda de sedimentos na região. Nesse caso, a erosividade é entendida como uma conseqüência da
intensidade e duração da precipitação e da massa, do diâmetro e da velocidade da gota da chuva,
influenciando diretamente o escoamento superficial e o desgaste pedológico. Logo, é um parâmetro
importante para se calcular a influência desses elementos na fertilidade dos solos.
Para os poucos trabalhos que até agora se propuseram a realizar esse cálculo para o Cariri
(ALBUQUERQUE et al., 2002 e 2005; SILVA et al., 2006), os resultados apresentaram elevado
potencial de perda de sedimentos nas áreas desmatadas. Logo, teoricamente, esses dados deveriam
estar influenciando diretamente a fertilidade dos solos da região, o que não correspondeu ao que foi
constatado nos resultados das análises efetuadas.
Como nas fórmulas desenvolvidas para calcular esse parâmetro são levadas em conta
apenas as questões inerentes as características da pluviosidade, consideramos que, para as condições
pedológicas do Cariri, a identificação da erosividade, por si só, não é suficiente para apontarmos as
prováveis conseqüências para o quadro de fertilidade dos solos da região em virtude da ocorrência
dos processos de desgaste passíveis de ocorrerem. Nesse caso, o cálculo da erodibilidade, por levar
em consideração as características intrínsecas do solo frente aos processos erosivos, adicionado ao
parâmetro erosividade, daria uma resposta mais segura a essa questão. É sabido
que em áreas onde a pecuária é dominante, como é o caso do Cariri, em comparação a agricultura,
os efeitos dessa primeira atividade no tocante as alterações possíveis de ocorrerem na fertilidade do
solo, são menores. Entretanto, reconhecemos que a elevada pedregosidade (calhaus e matacões)
encontrada nos solos dessa região oferece uma resposta mais efetiva a essa questão.
A presença de Pavimento Desértico, cobertura detrítica dominante por sobre quase todos
os tipos de solos do Cariri, exerce uma função de importância relevante quanto a proteção da
camada superficial em relação aos efeitos erosivos, notadamente os que são desencadeados pelos
eventos chuvosos e o conseqüente escoamento em lençol, contribuindo assim decisivamente para a
manutenção da sua fertilidade. Essa mesma característica e os seus efeitos foram observados por
diversos autores em experimentos nessa e em outras áreas do semi-árido (SILVA et al., 1986;
ALBUQUERQUE et al., 2004; SALES & OLIVEIRA, 2006).
Essas observações, por sua vez, encontram respaldo na ocorrência dos eventos
paleoclimáticos pelos quais passaram a atual zona semi-árida nordestina, onde vigoraram condições
de clima até mais seco que o atual, responsáveis, por exemplo, pela surgimento dos inselbergs
disseminados por essa região, interrompidas por condições de clima mais úmido (AB‘SABER,
1969, 1974, 1977; BIGARELLA et al., 1975; TRICART, 1959. Na primeira situação, sob o
domínio do intemperismo físico, do ponto de vista da cobertura superficial dos solos, ocorreria a
formação de sedimentos mais grosseiros, formando o Pavimento Desértico. Na segunda situação,
sob o domínio do intemperismo químico, seriam formados os sedimentos de granulação mais fina,
recobrindo a camada pedregosa.
Souza (2008) destaca que questões relacionadas a erodibilidade das classes de solos
existentes no Cariri e a sua relação com a fertilidade dos mesmos devem ser mais e melhor
estudadas. Neste sentido, Leprun (1983) fornece dados importantes para solucionar essa questão.
Nesse trabalho, o referido pesquisador realizou in situ o exame microscópico de lâminas delgadas
da superfície dos solos de diversas áreas do semi-árido, antes e depois da chuva, com o objetivo de
identificar o modo de reunião dos agregados, a juntura dos aglomerados microscópicos, a dispersão
e perturbação dos mesmos, para entender e explicar o mecanismo mais íntimo dos processos de
erosão.
Os resultados encontrados apontaram a presença de forte resistência dos agregados à
destruição pela água do horizonte superficial dos solos com elevado percentual de argila de alta
atividade coloidal (montmoriloníticas), dos quais, foram pesquisados e estão presentes no Cariri o
Luvissolo Crômico (42,7% da região), o Vertissolo Hidromórfico (8,9% da região), o Planossolo
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 61

(3,1% da região) e Redzina (0,2% da região). Além destes, com as mesmas características, estão os
solos cauliníticos que, dentre os pesquisados, encontra-se no Cariri o Luvissolo Hipocrômico (1,2%
da região).
Essa pesquisa demonstrou que os agregados dos horizontes destes solos, mesmo sofrendo
acentuado arrastamento ou transporte pela água, não são destruídos. Isso implica que a sua
fertilidade natural não é afetada por esses processos. Dessa forma, os resultados encontrados por
Souza (2008) quanto a não alteração da fertilidade dos solos analisados no Cariri, mesmo nas áreas
onde ocorreu forte degradação das caatingas, encontram explicação.
Noutras pesquisas desenvolvidas por Leprun (1983, 1988 e 1989) no Sahel e em parte do
semi-árido nordestino, incluindo-se aí alguns municípios do Cariri paraibano, relacionadas a erosão
e seus efeitos nos solos, são expostos alguns resultados que explicam e justificam ainda mais os
dados obtidos por Souza (2008) para essa região. Nesse caso, as pesquisas de Jean Claude Leprun
revelaram que:
Os índices de erosividade das chuvas no Sahel são bem mais elevados que no semi-árido
nordestino;
Os regimes pluviométricos e térmicos da zona semi-árida nordestina determinam
condições menos agressivas que no Sahel, sendo, portanto, mais favoráveis a boa conservação dos
solos e da água;
Os solos nordestinos são mais argilosos, situados próximos da rocha-mãe, (o que lhes
garante elevada riqueza em minerais alteráveis) e, em geral, não tendem à formação de crostas
superficiais. Dessa forma, são mais resistentes a erosão hídrica.
Os resultados apresentados por Souza (2008) em relação a vegetação e aos solos do Cariri
mostraram situações diferenciadas no que diz respeito a sua degradação, tornando ainda mais
complexos os estudos sobre o processo de desertificação e as diversas maneiras em que este pode se
manifestar.
Com base na permanência da fertilidade dos solos dessa região, poderíamos dizer
inicialmente que, a despeito da degradação da vegetação, diminuindo o uso das terras desertificadas,
os padrões de caatingas se recomporiam naturalmente conforme o que é previsto, obedecendo a
sequência média de 1 a 3 anos para o estádio herbáceo, 10 a 15 anos para o estádio arbustivo, acima
de 15 a 25 anos para o estádio arbustivo-arbóreo e acima de 25 anos para o estádio arbóreo-
arbustivo (ARAÚJO FILHO & CARVALHO, 1997).
Entretanto, não podemos fazer disso uma regra geral para todo o Cariri. Nesse sentido,
cabe chamar atenção para as observações de Leprun (1995) em relação ao semi-árido nordestino.
Os estudos desse autor indicam que a ocorrência de secas acentuadas, particularmente nas áreas
onde os solos apresentam pequena profundidade, como é o caso de grande parte do Cariri
paraibano, acabam criando uma situação em que a infiltração e o estoque da água utilizada pelas
plantas vai diminuindo de forma intensa, o que se torna um importante fator limitante para a
recolonização dessas áreas pela vegetação. Tais observações foram constatadas por Silva (2003)
para a região em estudo, calculando o balanço hídrico ao longo de 20 anos.
Entendemos também que a retirada parcial ou total da vegetação que vem se processando
no Cariri, acaba exercendo forte influência do ponto de vista pedológico e bioclimático (SILANS et
al., 2001a, 2001b, 2002a, 2002b e 2003). Esta situação acaba desfavorecendo a presença de espécies
das caatingas mais exigentes em água, dos tipos arbóreos e mais adensados dessa formação,
substituídos, cada vez mais, por pequenas ―ilhas de vegetação‖, o que pode ser considerado uma
estratégia das plantas sobreviventes a um ambiente cada vez mais inóspito (GOLDFARB, 2006),
portanto, de difícil recuperação espontânea.
As influências desse quadro de degradação também tem sido cada vez mais observado no
que diz respeito a economia dessa região, onde a caprinocultura vem recebendo um grande
incentivo. Neste sentido, a diminuição do tamanho das propriedades, associada aos incentivos à
pecuária e as transformações na agricultura do Cariri, provocaram forte aumento de pressão sobre
as pastagens nativas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 62

Os dados presentes na tabela 01, apresentados por Souza (2008), indicam uma redução
significativa da lavoura permanente e mesmo temporária, associada a um expressivo aumento da
caprinocultura nessa região. De forma mais específica, isto significa a decadência do algodão dos
tipos arbóreo e herbáceo (presentes, respectivamente, nas lavouras permanentes e temporárias),
também utilizado como alimento para o gado; a diminuição da produção do feijão, do milho, da
fava, da melancia e da batata-doce (lavoura temporária) que, através do restolho, entravam como
complemento na alimentação do rebanho (principalmente dos bovinos); o aumento da caprino-
ovinocultura e o não acompanhamento, no mesmo ritmo, do cultivo de pastagens plantadas para
esses tipos de gado e a diminuição da produção de palma-forrageira (Opuntia fícus indica).

Tabela 01- Evolução da agropecuária e da produção forrageira no Cariri.


Período 1970 1980 1985 1990 1996 2006
Lavoura 86.995 51.031 _ 4.356 _ 1.304
Permanente
(ha.)
Lavoura 48.632 117.278 _ 102.545 _ 54.492
Temporária
(ha.)
Bovinos 119.607 153.181 _ 169.415 _ 123.803
Caprinos 74.762 166.863 215.796 212.405 _ 304.105
Ovinos 82.993 107.096 _ 128.687 _ 134.577
Pastagem 545.886 441.898 _ _ 400.562 _
Natural (ha.)
Pastagem 8.288 16.848 _ _ 28.435 _
Plantada (ha.)
Palma- 250.935 318.015 200.042 _ 86.723 _
forrageira
(ton.)
Fonte: Souza (2008).

Em relação á pecuária, os dados dessa tabela revelam que, a partir da década de


1980, os bovinos, até anteriormente dominantes, passaram a crescer num ritmo cada vez menor em
relação aos ovinos e principalmente em relação aos caprinos, já sendo superados por estes últimos
nessa década. Essa transformação no processo produtivo da região constitui uma das razões que tem
acentuado a degradação da cobertura vegetal nativa desse território, devido ao seu elevado número,
seus hábitos alimentares que incluem grande parte das espécies de plantas da caatinga e a forma
semi-extensiva como estes são criados.
Os efeitos negativos dessa pecuarização, cuja base alimentar se fundamenta no uso
predominante de uma vegetação nativa que vem historicamente sofrendo fortes alterações, são
sentidos pela população de forma indireta, particularmente nos períodos de estiagem, quer estas
sejam ―normais‖ ou acentuadas, uma vez que a disponibilidade de biomassa tem uma queda natural,
mesmo em se tratando de ambientes menos degradados, fazendo com que a produção leiteira,
principal derivado do rebanho caprino da região, sofra uma forte redução.
Quanto aos efeitos sociais mais negativos que poderiam ser melhor visualizados nos
períodos das secas, também em conseqüência da desertificação na região, por sua vez, acabam
sendo mascarados pelas Políticas Públicas desenvolvidas pelo Estado, a exemplo do Programa
Fome Zero, as aposentadorias e os empregos no Serviço Público, gerando uma série de benefícios,
inclusive financeiros, atividades não produtivas essas que Gomes (2001) denomina de ―economia
sem produção‖.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O quadro de desertificação presente no mundo e particularmente no Brasil vem chamando
a atenção da comunidade internacional pelos efeitos ambientais, econômicos e sociais que podem
ocorrer ou mesmo já vem ocorrendo. A relação desse tipo de degradação com a questão das
alterações climáticas é cada vez mais percebida, embora a complexidade seja elevada, ainda
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 63

existindo muito a ser pesquisado. Mesmo assim, analisando à luz do campo das possibilidades
futuras, em continuando o nível de degradação das terras sujeitas a esse fenômeno em território
nacional, o quadro é preocupante particularmente no que diz respeito as modificações previstas em
relação ao padrão de umidade das regiões susceptíveis a esse fenômeno.
Sobre o Cariri paraibano, para além da situação de clima semi-árido dominante, a
desertificação encontrada atualmente nessa região é resultante de um processo de uso do solo e
conseqüente desagregação da vegetação. Dessa forma, degrada-se o Cariri pelas formas de uso
inadaptadas as suas condições físicas que, embora já venham demonstrando conseqüências
negativas para o ambiente e para a população, esta última não tem conseguido perceber com clareza
a ocorrência desse processo, não apenas por ser pouco conhecedora do tema, mas particularmente
por conta das intervenções assistencialistas do Estado que, através do incremento de vários
benefícios sociais, vem melhorando as condições de vida nessas terras.
Pelas razões colocadas, esse assistencialismo público, da forma como vem ocorrendo, se
torna negativo no sentido de que a população perceba e se conscientize mais do problema da
desertificação, tomando as medidas necessárias e/ou possíveis para resolver essa questão, evitando
assim a possibilidade de que o quadro ambiental atual se torne pior do que já se encontra, inclusive
do ponto de vista climático.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 66

O SISTEMA MUNDIAL DE ENERGIA REQUERIDO PARA


COMBATER O AQUECIMENTO GLOBAL

4
Fernando ALCOFORADO
IRAE- Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos.
falcoforado@uol.com.br

RESUMO
Este artigo tem por objetivo delinear o sistema mundial de energia requerido para combater
o aquecimento global. A metodologia adotada neste estudo consistiu na análise de publicações
relacionadas com o uso das diversas formas de energia utilizadas mundialmente e seus efeitos sobre
o aquecimento global, bem como de alternativas visando a implantação de um sistema de energia
mundial sustentável. O resultado deste estudo indicou que poderosas forças econômicas,
ambientalistas, políticas e sociais deverão empurrar o mundo para um sistema energético diferente
do atual que deve operar necessariamente com níveis muito inferiores de combustíveis fósseis.
PALAVRAS-CHAVE: Energia e desenvolvimento sustentável. Consumo e suprimento
mundial de energia. Os requisitos de um sistema de energia sustentável.

ABSTRACT
This article aims to outline the global system of energy required to combat global
warming. The methodology adopted in this study was the analysis of publications related to the
utilization of various forms of energy used worldwide and its effects on global warming and
alternatives aiming at establishing a sustainable global energy system. The study results indicated
that powerful economic forces, environmental, political and social will push the world into an
energy system than the current that must necessarily operate with much lower levels of fossil fuels.
KEYWORDS: Energy and sustainable development. Consumption and world supply of
energy. The requirements for a sustainable energy system..

INTRODUÇÃO
Independentemente das várias soluções que venham a ser adotadas para eliminar ou
mitigar as causas do efeito estufa, a mais importante é sem dúvidas a adoção de medidas que
contribuam para a eliminação ou redução do consumo de combustíveis fósseis na produção de
energia, bem como para seu uso mais eficiente nos transportes, na indústria, na agropecuária e nas
cidades (residências e comércio), haja vista ser o uso e a produção de energia responsáveis por 57%

4
FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO é doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha, em 2003, especialista em Engenharia Econômica
e Administração Industrial pela UFRJ- Universidade Federal de Rio de Janeiro em 1971, graduado em Engenharia
Elétrica pela UFBA - Universidade Federal de Bahia em 1966, professor universitário, consultor de organizações
públicas e privadas nacionais e internacionais nas áreas de planejamento econômico, planejamento e desenvolvimento
regional, planejamento de sistemas de energia e planejamento estratégico e membro do Conselho Diretor do Instituto
Rômulo Almeida de Altos Estudos. Exerceu os cargos de Secretário do Planejamento de Salvador (1986/1987),
Subsecretário de Energia do Estado da Bahia (1988/1991), Diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira
de Empresas Estaduais de Gás Canalizado (1990/1991), Presidente do Clube de Engenharia da Bahia (1992/1993),
Diretor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (1990/1993), Presidente do Instituto Rômulo
Almeida de Altos Estudos (1999/2000) e Diretor da Faculdade de Administração das Faculdades Integradas Olga
Mettig (2005/2007). É autor dos livros The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case
of the State of Bahia (VDM Publishing House Ltd., Beau-Bassin, 2010), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao
Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (Empresa Gráfica da Bahia, Salvador, 2007),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2007), Um projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), De Collor a FHC- o Brasil e a nova (des)ordem mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998) e
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), entre outros. Endereço: Rua do Benjoim, 209/1101, Caminho das
Árvores, CEP 41820-340, Salvador, Bahia. Telefone: (71) 33542967. E-mail: falcoforado@uol.com.br.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 67

dos gases de estufa emitidos pela atividade humana. Neste sentido, é imprescindível a implantação
de um sistema de energia sustentável nos termos expostos no item 3 deste artigo.

O ATUAL SISTEMA ENERGÉTICO MUNDIAL


O quadro 1 a seguir apresenta a participação das diversas fontes de energia no consumo de
energia no mundo. Os valores de 1998 foram os registrados enquanto os apresentados para 2010 e
2020 são projeções para a hipótese de que seja mantida a atual política energética mundial. A
análise do quadro 1 permite constatar que , mantida a tendência atual, a participação do consumo de
combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) evoluirá de 80% para 92% em 2020.

Quadro 1- Consumo de Energia no Mundo


Fonte: International Energy Agency, 1998.

A figura 1 apresentada a seguir indica a evolução do suprimento de energia primária


mundial por tipo de combustível em Mtoe (mega toneladas de petróleo equivalente) de 1971 a 1998.
Esta figura indica a predominância, pela ordem, do petróleo, do carvão e do gás natural como
combustível no suprimento mundial de energia.

Figura 1- Suprimento Mundial de Energia Primária por Combustível


Fonte: International Energy Agency, 1998 (Coal= Carvão; Oil= Petróleo; Gas= Gás Natural; Nuclear= Nuclear; Hydro=
Hidráulica; Combustible Renewables & Waste= Combustíveis Renováveis e Resíduos; Other= Outros)

A figura 2 a seguir apresenta a evolução do consumo mundial final total de energia de


1971 a 1998 por tipo de combustível utilizado.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 68

Figura 2- Consumo Mundial Total de Energia por Combustível


Fonte: International Energy Agency ,1998 (Coal= Carvão; Oil= Petróleo; Gas= Gás Natural; Combustible Renewables
& Waste= Combustíveis Renováveis e Resíduos; Electricity= Eletricidade; Other= Outros)

A análise da figura 2 permite constatar que o petróleo tem uma posição dominante entre as
fontes de energia utilizadas. O petróleo, a eletricidade, o gás natural e os combustíveis renováveis e
resíduos são, pela ordem, as fontes de energia mais utilizadas no consumo mundial final de energia.
A figura 3 a seguir apresenta a evolução do consumo mundial final total de energia de
1971 a 1998 por região. A análise da figura 3 permite constatar que os países da OECD são os
maiores consumidores de energia seguidos da China, ex-União Soviética e Ásia.

Figura 3- Consumo Mundial Total de Energia por Região


Fonte: International Energy Agency, 1998 (OECD= Países Industrializados; Middle East= Oriente Médio; Former
USSR= Ex- União Soviética; Non-OECD Europe= Países Europeus Não Integrantes da OECD; China= China; Asia=
Todos os Países da Ásia exceto China e Japão); Latin America= América Latina; Africa= África)

A figura 4 a seguir apresenta a evolução das emissões mundiais de CO2 (em Mt de CO2)
segundo o tipo de combustível de 1971 a 1998. Constata-se pela figura 4 que o petróleo e o carvão
são os maiores responsáveis pela emissão de CO2 na atmosfera.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 69

Figura 4- Emissões Mundiais de CO2 por Combustível (1000 t de CO2)


Fonte: International Energy Agency, 1998 (Coal= Carvão; Oil= Petróleo; Gas= Gás Natural)

A figura 5 a seguir apresenta a evolução das emissões mundiais de CO2 (em Mt de CO2)
segundo a região do planeta de 1971 a 1998. Constata-se que os maiores emissores de CO2 são os
países industrializados.

Figura 5- Emissões Mundiais de CO2 por Região (Mt deCO2)


Fonte: International Energy Agency, 1998 (OECD= Países Industrializados; Middle East= Oriente Médio; Former
USSR= Ex- União Soviética; Non-OECD Europe= Países Europeus Não Integrantes da OECD; China= China; Asia=
Todos os Países da Ásia exceto China e Japão); Latin America= América Latina; Africa= África; Bunkers= Containers
de Petróleo)

Se for mantida a tendência atual, é muito provável que, por volta do ano 2020, o mundo
estará fazendo uso de 75% a mais de energia e que a maior parte dela será fornecida pelo carvão,
pelo petróleo, pelo gás natural e pela energia nuclear. Nesta época, o Golfo Pérsico deverá fornecer
mais de 2/3 do petróleo do mundo, enquanto hoje esta parcela é de 26%. Além disso, serão
implantadas mais de 3 vezes usinas nucleares nos próximos 30 anos do que as que foram
construídas nos últimos 30 anos as quais serão acompanhadas por acidentes nucleares mais
frequentes e por crescentes aumentos do lixo nuclear e do plutônio. Este é o cenário energético de
referência para os próximos 30 anos, se a atual matriz energética mundial for mantida.
A figura 6 a seguir apresenta a estimativa para o suprimento mundial de energia até 2020
segundo o tipo de combustível (em Mtoe). Comparando as projeções para 2010 e 2020 com a
situação existente em 1998, pode-se concluir que haverá um aumento da participação do petróleo,
do carvão, do gás natural e da hidroeletricidade na matriz energética mundial. A maior participação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 70

do petróleo, do carvão e do gás natural implicará em maior emissão de CO2 na atmosfera do planeta
na mesma proporção do incremento no suprimento mundial de energia.

(Mtoe)

Figura 6- Estimativa para o Suprimento Mundial de Energia até 2020 por Combustível (Mtoe)
Fonte: International Energy Agency, 1998 (Coal= Carvão; Oil= Petróleo; Gas= Gás Natural; Nuclear= Nuclear; Hydro=
Hidráulica; Other= Outros)

OS REQUISITOS DE UM SISTEMA DE ENERGIA SUSTENTÁVEL


Modelos climáticos referenciados pelo IPCC da ONU projetam que as temperaturas
globais de superfície provavelmente aumentarão no intervalo entre 1,1 e 6,4 °C entre 1990 e 2100
em face dos níveis cada vez maiores de dióxido de carbono (CO2) e metano na atmosfera. Este
cenário só não acontecerá se as emissões globais de CO2 e metano forem cortadas (Ver o site
http://www.ipcc.ch).
Tudo leva a crer que poderosas forças econômicas, ambientalistas, políticas e sociais
deverão empurrar o mundo para um sistema energético diferente do atual que deve operar
necessariamente com níveis muito inferiores de combustíveis fósseis. A energia solar, a energia
geotérmica, a energia eólica e a energia da biomassa deverão ocupar cada vez mais espaço na
matriz energética mundial no futuro Tudo leva a crer que serão desenvolvidos grandes esforços
voltados para a eficiência energética, pois é improvável que a energia renovável venha a se tornar
tão barata quanto foi o petróleo.
O uso da energia solar e de outras energias renováveis provocará mudanças de grande
magnitude em todo o planeta destacando-se, entre elas, a criação de indústrias totalmente novas, o
desenvolvimento de novos sistemas de transporte e a modificação da agricultura e das cidades. O
grande desafio que se coloca na atualidade é o de prosseguir com o desenvolvimento de novas
tecnologias que aproveitem eficientemente a energia e utilizem economicamente recursos
renováveis. Este é o cenário energético alternativo que poderá substituir o cenário de referência
descrito linhas atrás evitando, desta forma, o comprometimento do meio ambiente global.
Isto significa dizer que mudanças profundas de política energética global devem ser
colocadas em prática para reduzir o consumo de combustíveis fósseis que respondem por 75% dos
suprimentos mundiais de energia. Um novo sistema de energia sustentável só será possível,
também, se a eficiência energética global for muito aperfeiçoada. Acima de tudo, o mundo terá de
produzir bens e serviços com um terço ou metade da energia que utiliza atualmente.
Já se acham disponíveis tecnologias que quadruplicarão a eficiência da maioria dos
sistemas de iluminação e duplicarão a de novos automóveis. Melhoramentos na eficiência elétrica
poderão reduzir em 40 a 75% a necessidade de energia. As necessidades de aquecimento e de
refrigeração de edifícios podem ser cortadas para uma fração ainda menor dos níveis atuais graças a
equipamentos de aquecimento e condicionadores de ar mais aperfeiçoados, bem como uma melhor
calefação e melhores janelas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 71

Quadruplicar a produção de energia renovável é também essencial para se obter um


sistema de energia sustentável no futuro. Isso requererá o uso da biomassa e da energia
hidroelétrica, especialmente em países de grande potencial, como é o caso do Brasil. Exigirá,
também, que a energia solar, eólica e geotérmica façam parte do ―mix‖ energético do mundo.
A maior parte das pessoas tem pouca idéia do que seria um sistema energético não baseado
em combustíveis fósseis. Nem parecem reconhecer que é possível uma abordagem alternativa. É
muito possível que o gás natural passe a ser o combustível fóssil predominante no futuro porque
produz duas vezes mais energia por quilo de carbono liberado. As maiores reservas conhecidas de
gás natural estão no Oriente Médio e na ex-União Soviética que, nos próximos 40 anos, poderão
estar produzindo tanta energia quanto fazem atualmente.
Certamente, a energia nuclear não será uma fonte importante de energia em um sistema
energético realmente sustentável. Nos últimos 10 anos, a expansão das usinas nucleares ficou mais
lenta, reduzindo-se até sua paralisação no mundo inteiro. Todos os reatores existentes estão
programados para sair de atividade nos próximos 40 anos e a maior parte deles não será reposta. Os
acidentes de Three Mile Island e de Tchernobil contribuíram para a queda na expansão das usinas
nucleares.
As tecnologias já se acham à disposição para dar início a essa transição histórica de
energias que só ocorrerá com mudanças fundamentais na política energética na grande maioria dos
países. O primeiro passo consiste em redirecionar um grande número de políticas governamentais
de modo que se destinem a realizar os objetivos centrais da eficiência energética e da redução do
uso de combustíveis fósseis. Por exemplo: recompensar a aquisição de veículos automotores
eficientes, encorajar alternativas de transporte de massa em substituição ao automóvel, reestruturar
as indústrias de energia e elevar os impostos sobre os combustíveis fósseis.
A biomassa e a energia hidroelétrica já fornecem cerca de 20% da energia mundial. A
biomassa sozinha satisfaz 35% das necessidades dos países em desenvolvimento. É provável que a
conversão direta de energia solar seja a pedra angular de um sistema mundial de energia
sustentável. A luz solar não apenas se acha disponível em grande quantidade como também está
mais extensamente distribuída do que qualquer outra fonte energética.
A energia solar é bem apropriada para fornecer calor na temperatura do ponto de ebulição
da água e abaixo dele, o que responde por 30 a 50 % do uso da energia nos países industrializados e
mais ainda nos países em desenvolvimento. Daqui há algumas décadas, poder-se-á utilizar o sol
para aquecer a maior parte da água necessária e novos edifícios poderão tirar vantagem do
aquecimento e do resfriamento natural para cortar em mais de 80% a energia que utilizam. Usar
eletricidade ou queimar diretamente combustíveis fósseis para aquecer a água e edifícios são meios
que poderão tornar-se raros nas próximas décadas.
O Quadro 2 apresentado a seguir indica como foi em 1989 e como deveria ser o uso
mundial da energia e as emissões de Carbono no ano 2030 para reduzir o efeito estufa.
O jornal Folha de S. Paulo de 28 de outubro de 2008 informa que Mundo pode banir
energia fóssil em 2090. O texto apresentado é o seguinte:
O mundo poderia eliminar os combustíveis fósseis em 2090, poupando US$ 18 trilhões e
criando uma indústria de energia limpa de US$ 360 bilhões. A conclusão é de um relatório do
Conselho Europeu de Energias Renováveis e da ONG Greenpeace. O estudo detalha como mudar a
matriz energética para estabilizar o clima. Segundo ele, seria necessário investir US$ 14 trilhões em
renováveis até 2030. Nesse período, só o custo do carvão mineral seria de US$ 15,9 trilhões.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 72

Quadro 2 - Consumo Mundial de Energia e Emissões de Carbono em 1989 e 2030


Fonte: Worldwatch Institute, 1990.
1989 2030
Fonte de Energia Energia Carbono Energia Carbono
(mtEP) (milhões de ton.) (mtEP) (milhões de ton.)

Petróleo 3.098 2.393 1.500 1.160


Carvão 2.231 2.396 240 430
Gás Natural 1.707 975 1.750 1.000
Renováveis 1.813 - 7.000 -
Nuclear 451 - 0 0
Total 9.300 5.764 10.490 2.590

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 73

A COBERTURA VEGETAL COMO MODERADORA CLIMÁTICA


DOS CENTROS URBANOS: UM ESTUDO COM BASE NA
CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB

Ronaldo de ANDRADE VIEIRA


UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
ronalvieira@hotmail.com
Ismael XAVIER DE ARAUJO
Professor. UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
araujoismael@hotmail.com

ABSTRACT
This paper is a case study whose objective is to demonstrate the influence of vegetation on
the variation of temperature in the city of João Pessoa. Due to the growth of the urban center such a
process may also explain the climatic variations in the major urban centers. To this end, were
collected during 10 days the temperatures in two climatic stations from João Pessoa, Paraíba. On
completion of the work we follow the perspective of geographers who defend the idea that
vegetation is a key factor in the maintenance of temperatures. It was found, in the case of João
Pessoa, that in the period of 10 days there was an average change of 1.37°C between the two
climatic stations because of the variation of the space occupied by the vegetation around these two
spaces. Broadening the focus, this study contributes to the pursuit of environmental protection
through the planning of urban centers, taking into account the conservation of flora, which implies a
better quality of life.
KEYWORDS: climate change, environment, urban centers, vegetation, heat island.

RESUMO
Este trabalho é um estudo de caso que tem por objeto demonstrar a influência da vegetação
na variação da temperatura na cidade de João Pessoa. Devido ao crescimento do centro urbano tal
processo pode explicar as variações climáticas também nos grandes centros urbanos. Para tal, foram
coletadas durante 10 dias as temperaturas em duas estações climáticas da cidade de João Pessoa,
Paraíba. Na realização do trabalho acompanhamos a perspectiva de geógrafos que defendem a idéia
que a cobertura vegetal é um fator primordial na manutenção das temperaturas. Foi possível
constatar que no caso específico de João Pessoa no período de 10 dias houve uma variação média
de 1,37ºC entre as duas estações climáticas, por causa da variação do espaço ocupado pela
vegetação ao redor desses dois espaços. Ampliando o foco, este estudo contribui com a busca pela
defesa ambiental através do planejamento dos centros urbanos, levando em consideração a
preservação da flora o que implica em melhor qualidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: variação climática, ambiente, centros urbanos, vegetação, ilha de
calor.

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS URBANOS E FORMAÇÃO DE ILHA


DE CALOR
O crescimento desordenado das cidades trás diversas conseqüências negativas para o
planeta em geral. Tendo em vista que o ser humano é o maior transformador do ambiente, este, em
busca de mais capital, promove uma ampliação da cidade, como apresentado por Rudolf Geiger, ―A
transformação completa da paisagem natural pelas casas, ruas, praças, grandes edifícios públicos,
torres e instalações industriais trouxe, no âmbito das grandes cidades, uma notória transformação do
clima (GEIGER, 1961, p.502)‖. Gerando dessa maneira o crescimento de dejetos e resíduos em
grande escala, impermeabilização do solo e a formação de ilhas de calor. Tais processos são
reflexos da acomodação de tamanha população e crescimento econômico. Sendo assim como
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 74

podemos conciliar esse grande crescimento populacional e econômico sem causar danos
irreparáveis à natureza?
Nesse artigo iremos falar sobre esse crescimento urbano, focando principalmente na
formação das chamadas ilhas de calor. Forma-se a ilha de calor pela elevada capacidade de
absorção de calor de superfícies urbanas como o asfalto, paredes de tijolo ou concreto, telhas de
barro e de amianto e etc. A retirada da vegetação prejudica o poder refletor de determinada
superfície (quanto maior a vegetação, maior é o poder refletor) e logo leva a uma maior absorção de
calor. A impermeabilização dos solos pelo calçamento e desvio da água por bueiros e galerias,
reduz o processo de evaporação, assim não dissipando o calor, e sim absorvendo. Podemos colocar
ainda como agravante deste processo, a grande concentração de edifícios nas cidades que interfere
diretamente na circulação dos ventos, a poluição atmosférica que retém a radiação solar causando o
aquecimento da atmosfera, e por último a utilização de energia de combustão interna pelos veículos
e alguns seguimentos industriais.
Como podemos notar o crescimento desordenado nas grandes cidades sem nenhuma
preocupação com o ambiente é sem dúvida, um dos principais catalisadores na formação de ilhas de
calor. Assim, podemos inserir que, ―as ciências do homem e as da natureza tomaram caminhos
próprios, ignorando-se mutuamente (GONÇALVES, 1995, p. 309)‖.
Devido aos fatores anteriormente citados, o ar atmosférico na cidade é mais quente que nas
áreas que circundam. Por exemplo, num campo de cultivo que se situa nas redondezas de uma
grande cidade, a absorção de calor é menor enquanto no centro dessa cidade a absorção de calor
pode chega a significativos 98%, assim, ―Considerando a média anual, a cidade é mais quente do
que os seus arredores. (GEIGER, 1961, p.506)‖.
O nome ilha de calor dá-se pelo fato de uma cidade apresentar em seu centro uma taxa de
calor mais alta, enquanto em suas redondezas a taxa de calor é normal, ou seja, o poder refletor de
calor de suas redondezas é muito maior do que no centro dessa cidade. A melhor camada refletora
da terra é o gelo situado nos pólos norte e sul terrestre, como essa formação não acontece em áreas
de baixa latitude esse papel é executado com maior eficácia pelas camadas vegetais da terra (nativas
ou cultivadas).
O Brasil é um país urbano, com o agronegócio, mecanização do campo, a população
brasileira acaba expulsa da zona rural para tentar encontrar um meio de vida nos grandes centros
urbanos. Os indicies de imigração já foram bem maiores, atualmente esse êxodo rural ainda existe
sendo que em menores proporções. Devido ao modelo de crescimento desigual adotado no país.
Nesse sentido, ―do ponto de vista do volume, pelo menos, este fenômeno é mais constante na
formação atual da população urbana. É resultante, ao mesmo tempo, da atração que a cidade exerce
e da repulsão do campo (SANTOS, 1989, p. 38)‖, força centrifuga esta decorrente do favorecimento
aos latifundiários.
Outro ponto importante no crescimento das regiões metropolitanas é a questão da água,
com o crescimento constante e desordenado das cidades recursos hídricos estão desaparecendo,
como as nascentes, riachos e a evaporação natural da água depositada no solo. A cobertura vegetal
tem o poder de aumentar os indicies pluviométrico, evitar as ilhas de calor, formar nascentes e
preservar os recursos hídricos depositados no solo (lençóis freáticos), umidade esta que melhora o
ar que respiramos.
Baixas umidades geralmente encontradas em desertos estão também aparecendo há algum
tempo em regiões metropolitanas distantes do litoral. É o caso de Brasília, situada no planalto
central. Devido a impermeabilizações do solo e baixas concentrações de cobertura vegetais que
impedem uma maior concentração de umidade no ar, sendo assim, com essa baixa umidade
climática, a densa urbanização contribui para que fique cada vez mais difícil a renovação dos
recursos hídricos presentes nas regiões urbanas. Assim descrito, ―A retirada da cobertura vegetal
acentua a ação do escoamento superficial e a diminuição da água no solo. Em vista disso, nas áreas
urbanizadas, a vegetação deve ter presença obrigatória, a fim de que seja mantido um microclima
adequado, que contribua para purificar o ar, evitando as nuvens de poeira e a concentração de gases
tóxicos. (PINTO, 1993, p. 548)‖.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 75

A FORMAÇÃO DAS ILHAS DE CALOR NOS CENTROS URBANOS: O CASO DA


UFPB

Nenhuma metrópole ou região metropolitana brasileira tem grande cobertura vegetal como
a da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), temos sim em algumas regiões áreas de preservação
permanente ou parques nacionais que se comparados ao tamanho das cidades em que se localizam,
não chegam a 20% do tamanho total da área urbana. As grandes cidades praticamente acabaram
com sua cobertura vegetal devido ao seu crescimento desordenado. Como exemplo, podemos citar a
destruição da mata atlântica que havia em praticamente todo o litoral brasileiro e hoje ela se
restringe a aproximadamente 6% da sua cobertura original sendo grande parte dela condicionada a
áreas de preservação e parques nacionais fechados e monitorados.
Como apresentado pelo professor Paulo Rosas; ―A UFPB tem edificações verticais na ordem
de 15 hectares, mas contando com outros espaços, como ruas, estacionamentos, quadras, chega a
aproximadamente 60 hectares. A área total da cidade universitária chega a mais de 140 hectares. (ROSAS,
2008)‖ . Sendo assim a Universidade Federal da Paraíba disponibiliza mais de 50% da sua área com
cobertura vegetal, dessa maneira o acúmulo de calor durante o dia por suas edificações, ruas e quadras têm
um impacto menor no ambiente em função de ilha de calor urbana.
As fotos abaixo correspondem às áreas onde foram coletadas as temperaturas locais:

I Figura - Imagem do ministério da agricultura.


Fonte: Google Earth
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 76

II Figura - Imagem da UFPB.


Fonte: Google Earth

Os dados para análise da temperatura ambiente foram coletados em duas estações


climáticas presentes em João Pessoa. A primeira localizada no bairro do Mandacaru dentro do
ministério da agricultura e a segunda no bairro do Castelo Branco dentro da UFPB.
Como podemos notar nos dados abaixo existem variações das temperaturas registradas de
uma estação para a outra:
Data E.C.M.Agricultura E.C.UFPB
01/03/2010 31,8ºC 31,0ºC
02/03/2010 31,8ºC 31,0ºC
03/03/2010 32,0ºC 31,0ºC
04/03/2010 32,6ºC 31,2ºC
05/03/2010 32,4ºC 31,0ºC
06/03/2010 32,4ºC 31,0ºC
07/03/2010 33,0ºC 31,0ºC
08/03/2010 32,8ºC 30,4ºC
09/03/2010 32,7ºC 31,4ºC
10/03/2010 32,2ºC 31,0ºC
I- Tabela referente aos dados coletados nas duas estações climáticas em questão.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 77

Os dados referentes à temperatura nessas duas estações climáticas foram todos coletados
exatamente as 15:00HS dos dias 01/03 ao 10/03/2010, a fim de verificar a influência da cobertura
vegetal na temperatura local de um ambiente. Separadas aproximadamente por 6 KM de distância e
praticamente encontradas na mesma altitude, elas registram temperaturas diferentes devido ao fato
da estação climática da UFPB ter ao seu redor uma maior cobertura vegetal. Logo as temperaturas
nesta estação são mais baixas como comprovado pelas medições realizadas. A temperatura média
da UFPB nesses dez dias de medições ficou em 31,0ºC. Contra 32,37ºC da estação climática do
Ministério da Agricultura. Resultando em média 1,37ºC de diferença entre elas. Com relação às
temperaturas mínimas encontradas nas duas estações temos uma diferença de 2,52% enquanto nas
temperaturas máximas encontramos um percentual maior de 4,85%.
Podemos então afirmar que a principal responsável pela média de temperatura mais baixa
registrada na estação climática da UFPB é a maior quantidade de cobertura vegetal presente naquela
localidade.

CONCLUSÃO
Com base nesses estudos, mesmo que de forma preliminar pela pesquisa ainda se encontrar
no início, foi possível notar o fundamental papel da cobertura vegetal como um dos principais
fatores para a manutenção das temperaturas nos locais descritos da cidade de João Pessoa. Levando
em conta que as estações climáticas se encontram no mesmo contexto separados apenas por 6
kilometros, podemos evidenciar como principal motivo para a variação da temperatura, a diferença
de área coberta por vegetação ao redor das duas estações.
No caso específico da cidade de João Pessoa podemos inferir que se não houvesse
nenhuma cobertura vegetal, as temperaturas estariam mais altas, ampliando assim o fenômeno de
ilha de calor neste município e também contribuindo para o aquecimento global.
A criação de ilhas de calor urbanas como sabido por nós é um dos agravantes do
aquecimento do nosso planeta. A manutenção da vegetação nas cidades, compreende um dos
principais meios para evitar este fenômeno.
Se nas áreas rurais que tem menor número de edificações e um melhor poder refletor de
radiação solar é lei que se mantenha 20% da vegetação nativa, então nas zonas urbanas os
percentuais de áreas verdes deveriam ser maiores do que em zonas rurais, sabendo que as zonas
urbanas absorvem mais calor devido suas edificações em geral. Lei Federal, ―Vinte por cento, na
propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País. (CÓDIGO
FLORESTAL, 1965)‖.
Isto implica dizer que devemos fazer de nossas cidades um local mais verde com mais
qualidade de vida, no crescimento urbano devemos exigir pelo menos cerca de 20% de áreas verdes
e onde temos enormes conglomerados urbanos devemos criar corredores de vegetação. Isso deve ser
tema de discussão e esforços interdisciplinares por parte de profissionais da engenharia e arquitetos
junto com profissionais da área ambiental como geógrafos, ecólogos, biólogos, engenheiros
florestais dentre outros.

REFERÊNCIAS
BRASIL. CODIGO FLORESTAL, Presidência da Republica Casa Civil. Lei nº 4.771, Artigo 16,
IV parágrafo.A 15 de setembro de 1965. [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm]
GEIGER, Rudolf. Manual de microclimatologia: 4a edição. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1961.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Formação sócio-espacial e a questão ambiental no Brasil. In:
CHRISTOFOLETT, Antônio; BECKER, Bertha K.; DAVIDOVICH, FANY R.; GEIGER, Pedro
P.(orgs).Geografia e meio ambiente no Brasil.São Paulo: Hucitec, 1995.
PINTO, Maria Novais. Cerrado: Caracterização, ocupação e perspectivas: 2a ed.. Brasília:
Universidade de Brasília, 1993.
ROSAS, Paulo. depoimento In: LINS, Aline. UFPB quer reaproveitar água da chuva. estudo
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 78

vai evitar agressões à natureza. Jornal da Paraíba, acessado em 23/11/2008.


[http://www.espacoecologiconoar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8533&It
emid=1]
SANTOS, Milton. Manual da geografia urbana: 2a edição. São Paulo: Hucitec, 1989.

Estações Climáticas:
. Ministério da Agricultura: Estrada BR230, Bairro de Mandacaru.
Universidade federal da Paraíba: José S. Navarro, Bairro Castelo Branco.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 79

A DESERTIFICAÇÃO NO ESPAÇO NORTE-RIOGRANDENSE:


CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Jurema Maria Silva ARAÚJO


Graduanda do Curso de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA), Mossoró-RN.
jurema.araujo@hotmail.com
Damiana Cleuma de MEDEIROS
Professora Substituta, Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas; Pós-Doutoranda em
Agronomia sub-área Fitotecnia na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró-RN.
damianacm@hotmail.com

RESUMO
Uma quantidade expressiva do território potiguar vem perdendo a sua biodiversidade e
capacidade produtiva, causando um problema que vem ganhando importância e destaque quando se
trata de meio ambiente, a desertificação. Grande parte da região estudada insere-se na porção semi-
árida do país, com baixa precipitação, alta evaporação e incidências de seca, sendo essas
características agravantes e tornando-a susceptível ao processo. Porém são as ações antrópicas
como a agricultura, a pecuária e a atividade ceramista que vêm afetando e destruindo a
produtividade de uma quantidade imensa de terras. No total são 38.630 km² da área do Estado
afetados, com classes entre moderada e muito grave. No Seridó existe uma extensão de 2.792.39
km² classificada em processo severo, sendo um dos núcleos de desertificação do país. Portanto,
torna-se necessária a ação urgente dos responsáveis para com essa questão, agindo diretamente na
causa do problema, criando oportunidades de que as populações menos favorecidas juntamente com
os grandes produtores possam fazer o uso sustentável dos recursos naturais e instituindo programas
de recuperação das áreas degradadas, garantindo o equilíbrio de um ecossistema tão frágil, porém
que permite total sustentabilidade aos seus usuários se respeitadas as suas limitações.
PALAVRAS-CHAVE: Meio-Ambiente, desertificação, semi-árido.

ABSTRACT
A significant amount of the Potiguar territory has been losing its biodiversity and
productive capacity, causing a problem that has been gaining importance and attention when it
comes to the environment, the desertification. Much of the studied area is part of the semi arid
portion of the country with low rainfall, high evaporation and drought impacts, as aggravating
features and making it susceptible to the process. However, the human actions such as agriculture,
livestock and activity ceramics are affecting productivity and destroying an immense amount of
land. In total, there is an affected area of 38,630 kilometers ² in the State, classified from moderate
to very severe. There is an extension of 4093.806 kilometers ². In Seridó ranked as a severe case,
being one main of desertification in the country. Therefore, it is necessary an urgent action of those
responsible for this issue, directly on the cause of the problem, creating opportunities for the
underprivileged populations with major producers to make sustainable use of natural resources and
setting up rehabilitation programs for degraded areas, ensuring the balance of a fragile ecosystem,
and allowing sustainability to its users if respected its limitations.
KEYWORDS: Environment, desertification, semi-arid.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho irá abordar um tema que vem ganhando importância a cada dia em
diversos estudos realizados. A ênfase que lhe vem sendo dada deve-se ao fato de que essa matéria é
um dos mais sérios problemas ambientais das regiões secas do planeta. Atualmente a demanda por
alimento é cada vez maior necessitando assim que haja uma produtividade crescente para que se
possa atendê-la. Um fator que agravaria possível carência seria a falta de terras aptas a produzir. E é
justamente isso que está acontecendo no semi-árido nordestino.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 80

Essa abordagem passou a ter visibilidade após episódios catastróficos, como a seca do
Sahel, região semi-árida abaixo do deserto do Saara que ocasionou a morte de pessoas e rebanhos
em função da falta de alimentos e a conseqüente desnutrição. Esse fato ocorreu entre os anos 1968 e
1964. Posteriormente a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma série de ações de
combate a desertificação na região. Em 1977, em Nairobi/Quênia, houve a Conferência das Nações
Unidas sobre a Desertificação que resultou num Plano de Ação para Combate à Desertificação,
lançando conhecimentos científicos sobre o processo (MMA, 2005).
A maioria dos trabalhos realizados nessa área aponta medidas que podem reverter
situações existentes e em circunstâncias extremamente graves. Indicam a sua origem em interações
de fatores físicos, biológicos, políticos, sociais, culturais e econômicos, porém não busca atividades
que visem alterar a forma que as pessoas vêm utilizando esse recurso de tão grande valor, o solo.
Regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas são mais vulneráveis ao processo, porém esse grau de
vulnerabilidade varia com as características sócio-ambientais e sócio-econômicas em relação aos
recursos, que podem ameaçar e ser a raiz de todo o problema.
Na região do Seridó do Estado do Rio Grande do Norte existe um dos quatro núcleos de
desertificação do país, aonde atividades impróprias vêm causando a destruição da fonte para
qualquer atividade, os recursos naturais. Os núcleos de desertificação correspondem às áreas de
amplitude variável onde aparecem ―manchas aproximadamente circulares‖ e ―a fisionomia desértica
se imprime mais denunciadora. No solo todo ou quase todo erodido, onde o horizonte A foi
arrastado, ou nunca existiu, a vegetação, mesmo nos períodos de chuva, se recupera muito
escassamente ou não se recupera‖ (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 65).
As populações locais mais pobres da zona rural são as que mais sofrem com esse quadro,
que precisa ser revertido de forma que passem a ter um novo contorno de relacionamento com a
natureza. É necessário que não só eles como os grandes produtores passem a utilizá-la da melhor
maneira possível, assegurando a subsistência e o desenvolvimento da região.
Então estudaremos esse tema para que se abra espaço para o mesmo, dada a sua
importância para a sustentabilidade das regiões pobres e para a conservação ecológica do planeta.
Determinando os fatores relevantes que o causam e as atividades que poderiam contê-lo, evitando a
destruição do potencial biológico da terra e incentivando a não apenas reverter situações existentes,
e sim agir na causa do problema.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
A área de estudo possui uma superfície de 52.796,791 km², distribuídas em 167
municípios e sua população corresponde a 2.776.782 (IBGE, 2000, p. 269). Possui temperatura
média anual em torno de 25,5º C, com máxima de 31,3º C e mínima de 21,1º C. Ocorre uma má
distribuição pluviométrica, concentrando-se entre os meses de janeiro e abril, a umidade relativa
varia entre 59% e 76%. O clima pode ser definido por dois tipos: Tropical Quente, Úmido e Sub-
úmido, e Tropical Quente e Seco ou Semi-árido (FELIPE; CARVALHO, 1999, p. 26).
As bacias hidrográficas são constituídas na maioria de rios intermitentes e as
principais são a Bacia do Rio Piranhas-Açu e do Apodi-Mossoró. A geologia do Rio Grande do
Norte é basicamente formada pelo embasamento cristalino e estruturas sedimentares (IDEMA,
2004, p. 15).
Essa região possui 60% da sua área composta pelo ecossistema Caatinga, que possui uma
biodiversidade imensa e a vegetação desempenha papel fundamental na economia da pequena
produção e como fonte de subsistência, sofrendo grandes alterações pelo homem (MMA, 2005).
Essas características do Estado favorecem o processo de desertificação e junto com
as atividades humanas vêm causando uma série de problemas ambientais, que favorecem o seu
surgimento.
Mapeamento das Áreas em Processos de Desertificação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 81

Foram gerados mapas e tabelas com dados referentes à desertificação para melhor
entendimento do local onde o processo ocorre e sua extensão. Para isso foram usados algumas
ferramentas e arquivos vetorias:
SIG (Sistema de Informação Geográfica), ferramenta de geoprocessamento responsável
pelo processamento dos dados e criação das cartas. O SIG utilizado foi o Terra View 3.2 de
propriedade do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);
Arquivos vetoriais das áreas suscetíveis e afetadas pelo processo de desertificação,
disponibilizados pela SRH (Secretaria de Recursos Hídricos) e MMA (Ministério do meio
Ambiente), sendo os dados gerados e utilizados pelo Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, 2004.
Tratamento dos Arquivos Georreferenciados
Inicialmente foi trabalhado o arquivo vetorial contendo todas as mesorregiões do país, que
foi editado para obtermos o mapa contendo apenas o Estado do Rio Grande do Norte. Em seguida,
os arquivos que continham as áreas de incidência de seca, suscetíveis e afetadas por processos de
desertificação foram editados de forma a se obter esses parâmetros apenas na região desejada para
que fosse possível a análise da porção afetada e de suas possíveis causas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o documento da Agenda 21 e da Convenção de Combate à Desertificação
(CCD), a desertificação foi definida como sendo:
―a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de
vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas, sendo que por degradação
da terra se entende a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e a redução da
qualidade de vida das populações afetadas‖ (BRASIL, 1996).
Apesar de todos os estudos realizados na área, ainda hoje existem diversas dificuldades de
entendimento do tema abordado. Isso se deve ao fato de que se trata de um processo particular que
combina variáveis locais e não é um processo generalizado de degradação global em determinadas
zonas. Portanto, é fundamental estudá-la em relação as suas causas e efeitos para que se possa
determinar as combinações de variáveis que atuam e agir de forma adequada.
Deve-se levar em consideração que por definição toda área árida, semi-árida e sub-úmida é
vulnerável a esse processo, e as alterações climáticas que vem ocorrendo são agravantes. Segundo
Ribot; Najam; Watson (1992):
―as conseqüências regionais do aquecimento global estimulado por ação antropogênica
ainda não podem ser previstas com grau satisfatório de confiança. Alguns impactos, entretanto, são
prováveis. As elevações de temperatura resultarão no aumento da evapotranspiração. Essas
elevações térmicas serão particularmente significantes nos local onde o clima já é quente nas
condições atuais. Se a precipitação pluvial desses locais irá aumentar ou diminuir, ainda constitui
questão bastante incerta‖.
De acordo com Sant‘Ana (2003), a seca ―não é ‗causa‘ de desertificação, mas pode atuar
como um acelerador dos processos‖. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente - MMA,
praticamente todo o Estado potiguar localiza-se na região supracitada, como podemos observar na
Figura 1. Apenas uma pequena porção situada na região leste do Estado não possui essa
predisposição.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 82

Figura 1 – Áreas Susceptíveis a Desertificação no RN. Fonte: PAN-Brasil (MMA/SRH, 2004).

Na Tabela 1 constam as respectivas áreas de cada região, a abrangência das áreas


susceptíveis a desertificação e sua percentagem em relação ao Estado.
Área (km²)
Áreas Susceptíveis
Total Percentagem (%)
Semi-árida 48.706,01 92,3
Sub-úmida 2.396,834 4,5
Do entorno 416,165 0,8
ASD do Estado 51.519,01 97,6
Estado (Total) 52.796,791 100,0
Tabela 1 – Abrangência das Áreas Susceptíveis a desertificação.
Podemos observar que 92,3% do território estadual inserem-se na região de clima semi-
árido, sendo ela susceptível a desertificação, abrangendo uma área de 48.706,01 km², o que
confirma a ligação direta desse ambiente com o processo. Somando-se as áreas sub-úmidas e do
entorno, o local estudado possui 51.519,01 km² de áreas que já perderam ou podem vir a perder sua
produtividade, 97,6% do território.
Porém, quando consideradas as verdadeiras causas da problematização concluímos que os
fatores climáticos são agravantes e não os causadores diretos. Já que no ambiente em questão é
totalmente possível um uso sustentável.
Atualmente, a região possui territórios em processos classificados como moderado, grave e
muito grave, além de abrigar um dos quatro núcleos de desertificação do país, situado na região do
Seridó (Figura 3).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 83

Figura 2 – Áreas Afetadas por Processos de Desertificação. Fontes: PAN-Brasil (MMA/SRH, 2004) ;
MMA. Mapa de Ocorrência de Desertificação e Áreas de Atenção Especial no Brasil. [1998].

A Tabela 2 nos mostra a abrangência de cada classe de intensidade e sua respectiva


porcentagem em relação ao Estado.
Área (km²)
Classe de Intensidade
Total Percentagem (%)
Muito Grave 12.965 24,6
Grave 20.545 38,9
Moderada 5.120 9,7
Total Afetado no RN 38.630 73,2
Estado 52.796,791 100,00
Tabela 2 – Abrangência das Classes de Intensidade dos Processos de Desertificação.

Na região classificada como em processo muito grave, o Seridó Potiguar, o processo de


desertificação vem atingindo proporções alarmantes, afetando uma extensão de 12.965 Km², em
virtude das atividades humanas que exploram os recursos naturais de forma desordenada. A
principal atividade que causa a degradação no local é a fabricação de telhas nas cerâmicas,
extraindo lenha e argila sem nenhuma cautela. Além da fabricação da cal e do carvão. O
sobrepastoreio vem causando a compactação e, a mineração também merece destaque, estando
presente em alguns municípios. Essas atividades juntas provocam um imenso desequilíbrio
ambiental na região que vem afetando tanto a biodiversidade local quanto à população residente.
Essa visão já era abordada por Sampaio (2003), afirmando que a projeção deste elenco de
fatores da degradação das terras, a partir das formas de uso do solo, sob o espaço nordestino revela
a sua ocorrência, embora existam alguns cuja interferência é mais aguda e cuja manifestação é
intensificada nos períodos de seca. Um exemplo é a utilização dos recursos de solo para o fabrico de
telhas e tijolos no Seridó potiguar, colocada como uma das principais razões da existência do
Núcleo de Desertificação na região.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 84

Os municípios que compões o núcleo de desertificação são Currais Novos, Acari, Cruzeta,
Carnaúba dos Dantas, Parelhas e Equador. A Tabela 3 apresenta as áreas de cada um e suas
respectivas percentagens.
Municípios Área (km²)
Total Percentagem (%)
Acari 608,56 1,2
Carnaúba dos Dantas 245,64 0,5
Currais Novos 864,34 1,6
Equador 264,98 0,5
Cruzeta 295,82 0,6
Parelhas 513,05 1,0
Total 2.792.39 5,4
Estado (Total) 52.796,791 100,00
Tabela 3 – Municípios que compõem o Núcleo de Desertificação do Seridó. (1998).

Como se pode observar na Tabela 3, o município com maior área em processo de


desertificação é Currais Novos, correspondendo a 864,34 km², 1,6% do núcleo, que somando-se aos
outros abrangem uma área de 2.792.39, 5,4% do território potiguar.
A classe correspondente a grave compreende um total de 20.545 km² e grande parte está
inserida no oeste potiguar, compreendida entre as regiões de Mossoró, Chapada do Apodi, Médio
Oeste, Vale do Açu, Litoral Nordeste, Baixa Verde e Angicos. O problema é causado
principalmente pelas atividades agrícolas. O manejo da irrigação vem provocando a salinização e
inviabilizando grandes áreas e perímetros irrigados. A responsabilidade vem tanto das populações
de baixa renda e sua organização da produção, que não possuem ferramentas para alcançar níveis de
renda satisfatórios e acabam utilizando os recursos naturais de forma inadequada, quanto dos
produtores que tem acesso a grandes áreas de produção, e acabam utilizando práticas agrícolas
modernas sem precauções quanto aos impactos ambientais.
A monocultura, o uso inadequado da mecanização e de defensivos agrícolas junto aos
fatores acima gera erosão e a própria salinização, que antecedem a desertificação.
O oeste da região também possui uma área de 5.120 km² classificada em processo
moderado, graças atividades pecuárias que desconsideram o suporte da mesma e causam a
compactação do solo. A situação ocorre nos municípios de Umarizal, Pau dos Ferros e Serra de São
Miguel.
Todas as atividades acima atuam diretamente na degradação ambiental, e junto com o
desmatamento causado pela agricultura, a pecuária e o uso da madeira, as populações mais pobres
não possuindo outras fontes de renda partem para a extração vegetal e a venda do carvão. Em
momentos de seca e estiagem essa atividade é agravada, ocorrendo praticamente em todas as áreas
do Estado. A retirada da vegetação faz com que se perca toda a biodiversidade e abre espaço para
que ocorra erosão, já que os solos passam a estar desprotegidos e diminui a intercepção das gotas de
água no solo. As fontes de água secam mais facilmente, a evapotranspiração aumenta. Com uma
média extremamente baixa de precipitação a perda de água fica cada vez mais negativa.
Além da perda da biodiversidade, do solo, da redução dos recursos hídricos e da
produtividade, há uma série de ações que afetam a qualidade de vida da população. Os pequenos
produtores geralmente abandonam as terras e procuram os centros urbanos causando uma série de
outros problemas de cunho social.
Em relação à economia há a diminuição da produtividade agrícola, a diminuição da renda
do consumo das populações e dificuldade de manter uma oferta de produtos agrícolas de maneira
constante, de modo a atender os mercados regionais e o nacional.
Sabendo-se das causas e conseqüências deste processo e o meio ambiente na área estudada,
é necessário que se analise situações que possam controlá-lo e prevenir o seu avanço, e se possível,
recuperar áreas degradadas para o uso produtivo.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 85

Para que esse quadro seja alterado, não basta combater a erosão, a salinização, ou o
assoreamento, é necessário que suas causas sejam combatidas, que se influa no comportamento
social, econômico e político local, apresentando soluções técnicas e decisões políticas relacionadas
a essa solução.
Neste caso é necessário que as entidades responsáveis passem a agir com o apoio do Plano
de Ação Nacional de Combate a Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, para que haja uma
mudança do quadro que se agrava a cada ano. Ações essas que estejam baseadas nas áreas
apresentadas pela Agenda 21, em 1992. Tendo elas como pontos centrais a busca pelo
conhecimento do assunto em questão e das regiões afetadas, o desenvolvimento de atividades contra
a degradação das terras, o fortalecimento de programas que visem à possibilidade de subsistência
das populações pobres e a luta contra a desertificação, a elaboração de planos contra a seca e
principalmente investir na área social, no que diz respeito à educação ambiental, para que as
pessoas estejam empenhadas em recuperar a capacidade produtiva das terras e permitir o
desenvolvimento da região, de forma ecologicamente sustentável. (SENADO FEDERAL BRASIL,
2001).
Além dessas ações, a busca de novas tecnologias existentes e disponíveis voltadas para o
correto manejo dos recursos naturais ou da recuperação de áreas degradadas deve ser procurada e
posta em prática pelos grandes produtores.

CONCLUSÃO
Com esse trabalho concluímos que é de extrema urgência estudos de ações que visem
evitar a expansão e que recuperem áreas já em processos de desertificação no Rio Grande do Norte.
Agindo de forma a combater as causas e não as conseqüências, porque do contrário, mais cedo ou
mais tarde as áreas voltam às mesmas condições.
Essas causas são as relacionadas às atividades humanas que são as principais no que diz
respeito à ação degradadora. Então temos que combatê-la, influenciando o comportamento social,
político e econômico da sociedade, apresentando soluções técnicas. Dessa forma seria um erro
combater a erosão, salinização, assoreamento ou tantas outras conseqüências, seria adiar o que
estaria por vir, visto que os agricultores não teriam incentivos e treinamento adequados.
A solução para o problema é a recuperação da capacidade produtiva das áreas
desertificadas do Nordeste e o fornecimento de uma proposta que sustentabilize o desenvolvimento
regional, de forma ecologicamente equilibrada.

BIBLIOGRAFIA
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Norte. João Pessoa: GRAFSET, 1999.
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2000.
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2002.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 87

AGRESTE SETENTRIONAL DO ESTADO DE PE: IMPACTOS


AMBIENTAIS CARACTERIZADOS PELO PROCESSO DE
DESERTIFICAÇÃO EM SERRA SECA-PE

Niédja Maria Galvão Araújo e OLIVEIRA


Universidade de Pernambuco/UPE
noliveir@oi.com.br
João Allyson Ribeiro de CARVALHO
Universidade de Pernambuco/UPE
allysondecarvalho@hotmail.com
Mariana Mendes NOGUEIRA
Universidade de Pernambuco/UPE, Bolsista PIBIC/CNPq

ABSTRACT
The protection of areas susceptible to desertification in Brazil should be seen as a priority
to the welfare of the nature and of the society which inhabits them. This research brings as aim to
analyze the resources of nature, that are in process of degradation in the area of Serra Seca in Santa
Maria do Cambucá-PE, while observing the continuation of a larger research project in this area.
About the methods and techniques, it was used a methodology connected directly in the field,
combined with analysis of staff, soil and interviews, all of these are the basis for a theoretical and
practical work. Still, we present the identification of the area undergoing rapid desertification,
which brings out a guiding of this process, through human activities, incompatible with the carrying
capacity of the environment.
Keywords: Desertification; Mineral Extraction, Soil Degradation.

RESUMO
A proteção das áreas susceptíveis a desertificação no Brasil devem ser vistas como
prioridade ao bem-estar da natureza e da sociedade que nelas habitam. A presente pesquisa versa à
leitura de objetivo voltado a analisar os recursos da natureza e da sociedade que encontram-se em
processo de degradação na área da Serra Seca no município de Santa Maria do Cambucá-PE,
pautando-se em continuidade de uma pesquisa maior dentro da área. No que se refere aos métodos e
técnicas, foram utilizadas a metodologia direta de campo consorciada com análises de gabinete,
analise de solo e entrevistas. Elementos basilares para fundamentação teorico-prática ao trabalho
com a identificação da área em acelerado processo de desertificação, apresentando características
que norteiam a esse processo, desencadeadas por atividades antrópicas incompatíveis com a
capacidade de suporte com o ambiente.
PALAVRAS-CHAVE: Desertificação. Extração Mineral. Degradação de Solos.

INTRODUÇÃO
O processo de desertificação é um fenômeno que vem preocupando diversos países, face à
sua grande perda da biodiversidade e inserção maléfica ao socioeconômico do lugar. O Brasil não
está excluído dessa realidade degradativa: oito estados do Nordeste, além do norte de Minas Gerais
sofrem riscos potenciais ao processo de desertificação. Muitos locais, já com variados níveis de
ocorrência, como se faz sentir na região de Serra Seca, área objeto de estudo, localizada no
Município de Santa Maria do Cambucá/PE, cuja posição geográfica é de 7º 48‘ 45‘‘ de latitude S e
35º 52‘ 50‘‘ de longitude W de Greenwich (Figura 01).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 88

Figura 01: Localização da área de estudo. Fonte: EMBRAPA, 2005.

O processo de desertificação vem sendo tratado desde os anos 30 do século passado. No


entanto, a evolução dos modelos de recuperação de tal processo se deu em 1992, na Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano do Rio de Janeiro, quando foi
possível delimitar conceitualmente o fenômeno desertificação, suas causas e efeitos, antes tratados
com várias divergências entre os estudiosos. Na referida Conferência foi aprovado o documento
discutido e válido até a atualidade. Pode-se exemplificar a partir da Agenda 21 nacional que em seu
12° capítulo define desertificação como:
“(...) a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de
vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas”.
Antes da formulação da Agenda 21 nacional, ocorreram discussões referenciando-se aos
fatores que atuavam na deflagração dos núcleos de desertificação, sem definição clara entre
desertificação e desertos. Além da Agenda 21, Nimer (1988, p. 04) também tratou do assunto,
diferenciando deserto como sendo um estágio final de degradação, tendo características próprias, e
a desertificação como um processo em que estas características se tornam variáveis de acordo com
o grau da evolução degradante:
“Deserto e Desertificação, embora tenham a mesma etimologia e, de certa forma,
fundamentos semelhantes, designam coisas distintas. Deserto é um fenômeno acabado e resultante
da evolução de processos que alcançaram certa estabilidade final, e que pode ser definida como
um clímax ecológico, isto é, por uma espécie de equilíbrio homeostático natural”.
Os impactos naturais vêm sendo visualizados, no ambiente, através da eliminação da
cobertura vegetal com consequente redução da biodiversidade local, permitindo que os solos fiquem
mais vulneráveis à erosão, como por exemplo: as águas da chuva que arrastam todos os seus
nutrientes inorgânicos e orgânicos, provocando nos rios enchimento dos leitos, fenômeno este
conhecido como assoreamento. Tais erosões fazem com que ocorram perdas, parcial ou total nos
solos, seja por fenômenos físicos (voçorocas) ou fenômenos químicos (salinização e alcalinização).
Além disso, a incapacidade de retenção de água nos solos aumenta à seca edáfica. Todos esses
fatores afetam a fertilidade e a produtividade agrícola, impactando o ambiente.
Elementos esses, problemas à economia, como a queda na produção e produtividade
agrícola, diminuindo a renda e o consumo da população, resultando na desorganização do mercado
local e regional. Prejuízos sociais como estes, são caracterizados pela diminuição da qualidade de
vida, o aumento da mortalidade infantil e diminuição da expectativa de vida da população. Em
geral, pode-se afirmar que a população de Serra Seca é uma das mais pobres do Estado sem acesso
à educação e à renda adequada.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 89

Os impactos na região de Serra Seca não deixam de ser perceptíveis, assim como as áreas
que sofrem com a desertificação, essa região padece consequências dos impactos citados acima,
principalmente os que afetam os aspectos físicos, com a retirada da cobertura vegetal, e da areia
para a construção civil, e os que afetam os aspectos econômicos com a perda da produção da
castanha de caju, entre outros que existem na região, desestruturando a renda familiar e o comércio
regional. A desertificação não é um processo irreversível, porém, as recuperações das áreas afetadas
podem ser inacessíveis para muitos.
É preocupante que, na maioria das localidades brasileiras, o desenvolvimento sustentável
ainda seja algo distante de ser percebido, principalmente, onde a desertificação e a seca estão
presentes, devido à carência da população que nela habita. O trabalho em referência já se encontra
em desenvolvimento desde 2008, na região do Sítio do Manduri, município em pauta, cujo norte de
intensificação da área de pesquisa passou a massificação face o processo de desertificação não estar
exclusivamente pontuado no Sítio do Manduri, mas que amplia-se em outras áreas implícitas no
município e até mesmo estendendo-se até outros, como se exemplifica em Vertente do Lério. Esse
último, através da extração do calcário. Diante do exposto, a pesquisa versa como objetivo de
potencializar análises do meio físico e socioeconômicos, de modo a priorizar o processo emergente
de desertificação na área e suas consequências no ambiente, associado a processos migratórios do
município de Santa Maria do Cambucá para as áreas adjacentes de oferta de mão-de-obra.

METODOLOGIA
Para a elaboração da pesquisa, foi necessário detectar o problema através da observação
em campo, do reconhecimento da degradação ambiental, das entrevistas e as pesquisas
bibliográficas no que diz respeito à desertificação, suas causas e consequências. Para obtenção dos
resultados, necessário se fez a parceira com a Prefeitura Municipal de Santa Maria do Cambucá e a
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco-
SECTMA/CONSEMA.
No concernente à metodologia aplicada, estriba-se numa combinação peculiar para
percepção das investigações a seguir: a revisão bibliográfica veio contribuir para o subsídio da
fundamentação teórica necessária ao embasamento deste trabalho. Utilizaram-se ainda mapas
climáticos, geológicos, pedológicos, hidrográficos, políticos e imagens de satélite. A coleta de
amostras do solo, para análise químico-física e teor de matéria orgânica será imprescindível para
verificação do grau de probabilidade ao processo de desertificação e ao mesmo tempo à execução
de um manejo sustentável. Essas análises estão sendo aferidas em laboratório.
Nesse sentido, pluraliza-se viabilidades de conscientização no âmbito ambiental. Os
participantes da pesquisa têm como objetivo fazer com que as famílias do município tenham
condições de viver do cultivo do caju, utilizando-o não apenas para a extração da castanha, mas
também aproveitando o seu pseudofruto, seja para a produção de doces e outros produtos. Para
tanto, o tratamento da presente proposta está sendo desenvolvida a partir de encontros e oficinas
com a população local.
Através das entrevistas foram coletados dados sobre a estrutura sócio-econômica do local,
buscando soluções para a problemática. Tais soluções estão pautadas na adoção de alternativas
como programas para a sensibilização das famílias residentes nas áreas de extração. Como material
técnico, foram utilizados: bússola para a aferição do grau das vertentes, o GPS para a localização e
avaliação do tamanho das áreas degradadas, altímetro, que junto com o GPS foi utilizado para
medir as altitudes, sacos plásticos, pás e espátulas para a coleta de material, e trenas para a medição
das vertentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A extração de areia que acontece na área foco de trabalho é um espelho das condições em
que vivem a população desfavorecidas da região. A necessidade e a desinformação são as principais
causas das vendas e alugueis de lotes para comercialização de sedimentos. A partir desta lacuna
aberta, as empresas propõem a estas famílias lucro imediato. Quem permite a extração em sua
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 90

propriedade não tem consciência de que a terra se tornará improdutiva. No sentido de compreender
e solucionar essa problemática encontra-se em processo de realização a tabulação dos dados obtidos
com as entrevistas realizadas com os moradores da área, uma vez que estes são os elementos
fundamentais por serem os atores diretos do processo de degradação in loco.
Encontra-se em fase de trabalho a conscientização da população, com visitas a colégios
locais e palestras abertas às pessoas diretamente ligadas à atividade de extração de areia. Essas
atividades vêm sendo apoiadas através da Prefeitura. As entrevistas com os atores locais para a
análise dos trabalhos encontram-se em desenvolvimento, portanto, as mesmas não deverão aparecer
no texto em face de não representarem no momento a realidade do processo social em estudo.
Com a sequência de trabalhos técnicos de campo, percebeu-se que a extração de areia é
feia a partir da venda ou aluguel de lotes de terra. Grande parte da areia retirada segue para
municípios vizinhos, para a indústria de construção civil. E, na maioria das vezes, não mais com a
retirada à base da pá (Figura 02), mas sim através de retro escavadeiras (Figura 03), retirando
sedimentos em volume muito mais acentuado, chegando a alimentar indústrias de construção civil
de grande porte na cidade do Recife.

Figura 02: utilização da pá enquanto ferramenta. Figura 03: uso de escavadeira.


No caso do caju, também é utilizado para a extração da castanha, que segundo uma das
entrevistadas, é comercializada com um lucro médio mensal de R$50,00. Esta prática pode
contribuir no combate à desertificação, já que para cessarem as vendas e os alugueis de terras, as
famílias precisam de um trabalho que traga renda. O estudo realizado pela EMBRAPA (2009)
mostra que o Município de Santa Maria do Cambucá possui 63% de aptidão para a cultura do caju,
o que é um bom percentual visto que o solo e o clima não são favoráveis para todos os tipos de
cultura. Porém, falta às famílias de produtores o aprimoramento desta atividade, como cursos de
capacitação que os ajudem, a trabalhar a matéria-prima. Segundo outro entrevistado, foi construída
uma Usina de Benefício do Caju e da Castanha, que ajudaria os agricultores no trabalho com o caju.
Porém, segundo ele, a mesma foi construída longe da população (no centro urbano) e acabou por
não fazer o trabalho para o qual se destinava. Todavia, a usina atualmente após esse trabalho de
pesquisa, já se encontra lotada na área de produção, para seu beneficiamento.
É notável que a desertificação gere múltiplos prejuízos econômicos e sociais. O êxodo
rural na região afetada é bastante comum. Considerando as entrevistas, foi percebido que as novas
gerações das famílias residentes na área vêm para a capital, tentando fugir da pobreza, fato que vem
agravando os problemas de infra-estrutura já existentes. No caso do município de Santa Maria do
Cambucá, o fenômeno do êxodo rural acontece quando as famílias percebem que a terra se tornou
pouco ou totalmente improdutiva após a degradação. De acordo com a SECTMA (1993, p. 03), a
degradação das terras causa sérios problemas econômicos. Isto se verifica principalmente no setor
agrícola, como comprometimento da produção de alimentos. Além do enorme prejuízo causado pela
quebra de safras e diminuição da produção.
Como a prática da retirada de areia é ativa em certos terrenos, é possível observar na
Figuras 04 e 05 as áreas desnudadas após a partida de caminhões que levam o mineral.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 91

Figura 04: Área degradada. Solo estéril. Figura 05: Cratera após a retirada da areia.

A retirada da areia junto ao lucro traz consigo uma condição irreversível para a terra, pois
o solo fica vulnerável à ação das chuvas, que escoam e carregam os nutrientes da área afetada,
destruindo a cobertura vegetal e trazendo prejuízos a médio e/ou longo prazo. Este fato se dá pela
falta de permeabilidade da rocha matriz, sendo esta formada pelo embasamento geneticamente de
origem do planalto da Borborema. A Figura 06 mostra o afloramento da rocha matriz após a
extração da areia.
Os prejuízos em longo prazo são mais preocupantes neste município, pois a agricultura é o
meio de subsistência da maioria das famílias residentes. Estas têm como principais atividades o
cultivo de feijão, milho e do caju, que na sua maioria são para consumo próprio. Com as visitas de
campo, foram coletados alguns dados sobre as crateras e locais degradados. Serão abordados a
seguir alguns fatores que mudam após modelos de uso e ocupação do solo inadequado.
Atividade degradante: Em média 80% das crateras visitadas já são inativas, ou seja,
chegaram a um ponto em que os nutrientes e sedimentos finos se extinguem só restando a rocha
matriz. Nessas áreas podem ser observados troncos de árvores empilhados a serem comercializados.
(Figura 07).

Figura 06: Afloramento da rocha matriz depois de retirada Figura 07: madeira a ser comercializada proveniente do
indiscriminada de sedimentos. Cajueiro.

Unidade de relevo: Representada por pediplanos. Grande parte das áreas analisadas
demonstra um relevo de depressão relativa, aplainado com baixas altitudes também causadas pelos
processos intempéricos. O relevo estudado variou entre ondulado, levemente ondulado ou plano,
não tendo grandes variações de altura, a não ser nas vertentes das crateras, que chegam até 7 metros,
visualizado na Figura 06.
Altitude: Foram aferidas com a ajuda do aparelho de GPS, medidas em cada ponto das
vertentes formando um ―X‖, variando de 423m a 494m. Um fato importante para a interpretação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 92

ambiental da área, que por sua vez não apresenta declividades acentuadas apesar das consideráveis
médias de altitude.
Hidrologia: Antes da retirada da areia, poucas vezes o solo consegue reservar água em sua
superfície pelo fato do relevo ser constituído de cobertura de regossolos, com altas taxas de
permeabilidade.
Solos: Foram encontrados os seguintes tipos de solo:
Regossolo: Em grande parte das áreas visitadas foi encontrado esse tipo de solo, quase
massificado localmente. As areias quartzosas distróficas ocupam o segundo tipo de solo mais
aflorante. Este solo como o regossolo possui grande poder de percolação, por ser um solo ácido não
retém umidade em seu perfil. Esse fato agrava o problema da população local, pois não existem
reservas para absorção de água necessária ao consumo. O Poder Público implementou nas áreas
críticas cisternas para o armazenamento de águas pluviais.
Vegetação: Foram encontrados tipos de vegetação arbórea, arbustivas e herbáceas
retratando o domínio da caatinga, verificou-se algumas espécies atípicas a este domínio sendo a
maioria frutíferas, como o caju nativo com predomínio, coco, pinha, limão, goiaba, tamarindo e jaca
(cultura), que pelo que aparentavam estavam adaptadas ao ambiente.
Dinâmica instável: Em alguns casos são encontradas moradias na proximidade das
crateras. Porém, na grande maioria, não há população perto das atividades de extração, enfatizando-
se, portanto, uma dinâmica voltada para a retirada indiscriminada de sedimentos.
Aptidão Natural: A maior parte dos terrenos possui aptidão para o cultivo do caju.
Também há, em alguns locais, aptidão para a palma, agricultura de subsistência, pecuária e
laboratório para aulas práticas.

CONCLUSÕES
A busca por condições sociais favoráveis nem sempre é bem sucedida. Na maior parte das
vezes, quem vem para a cidade no intuito de buscar melhores condições sociais, acaba vivendo à
margem da sociedade, não participando da força de trabalho e agravando a estrutura urbana. Para
que a degradação ambiental progressiva do Município de Santa Maria do Cambucá seja reduzida,
fazem-se necessárias Políticas Publicas que venham estimular a comunidade a se fixar no campo,
evitando o êxodo.
A degradação da área de Serra Seca ocorre devido à extração exacerbada das areias nas
áreas menos desenvolvidas, por meio da negociação com os proprietários dos lotes que alugam a
área para a retirada da areia. Essa extração é muitas vezes feita por indivíduos de municípios
vizinhos que procuram este tipo de solo para a retirada e utilização na construção civil. Esta prática
vem trazendo grandes problemas para a população, desde a falta de terra fértil para o plantio, quanto
à marginalização da parcela afetada por esta atividade.
A estrutura original da área se mostra por uma área de depressão relativa e em seu entorno,
testemunhos residuais do Planalto da Borborema e o calcário do município de Vertente do Lério. O
relevo local e tipo de solos, em junção com a escassez relativa de pluviosidade torna bastante difícil
o acúmulo de umidade no solo. Por ser de relevo de pediplano e solos porosa a água da chuva,
escoa e infiltra de forma a não permitir a concentração de nutrientes e consequentemente retenção
de umidade.
Apesar de toda a dificuldade de fertilidade, o cajueiro é bastante comum no local, o que
pode ser o ponto inicial da tomada para a sustentabilidade das famílias residentes ali, já que para a
extração da areia faz-se necessária a retirada da cobertura vegetal, e consequentemente, do solo.
Nessa instância, para que a cultura do caju possa progredir as retiradas de sedimentos precisam
cessar urgentemente. A adoção de ações pautadas na Educação Ambiental deve subsidiar as
atividades inseridas na área com vistas à meta do desenvolvimento local e sustentável. A presente
meta está sendo perseguida a partir de pequenas, todavia, importantes ações propostas pelo presente
estudo e com a anuência da Prefeitura Municipal. Só com o consórcio da comunidade, Poder
Público e Academia, o futuro do Município de Santa Maria do Cambucá poderá assegurar aos seus
cidadãos sustentabilidade local e ambiental.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 93

REFERÊNCIAS
BRASIL, Senado Federal. Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Rio 92. Agenda 21. Brasília: Senado Federal; Subsecretaria de edições técnicas,
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NIMER, E. Desertificação: Realidade ou Mito? Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro,
IBGE, 50 (1): 7 – 39 jan/mar, 1988.
PERNAMBUCO. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento
florestal e da conservação da biodiversidade de Pernambuco. Recife:Sectma-PE, 1993.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 94

ANTROPISMO E SEUS EFEITOS NA RESILIÊNCIA NO


MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA NO CEARÁ

F.A.A. LIMA
Integrante do Programa de Educação Tutorial (MEC-SESu) e graduanda em Ciências Biológicas pela
Universidade Estadual do Ceará
fatima_aurilane@hotmail.com
C.G. SOMBRA
I.M.A. COELHO
Integrantes do Programa de Educação Tutorial (MEC-SESu) e graduandas em Ciências Biológicas pela
Universidade Estadual do Ceará
O.B. HERRERA
Tutor do Programa de Educação Tutorial (MEC-SESu) e Professor Adjunto do Curso de Ciências Biológicas
da Universidade Estadual do Ceará- UECE
Av. Paranjana 1700, Campus do Itaperi- Fortaleza- Ceará – CEP; 60740-000

RESUMO
A desertificação é um problema de dimensões globais que afeta as regiões de clima árido,
semi-árido e sub-úmido seco. A questão climática, o problema das secas, a questão hídrica vista sob
o prisma global e local e os aspectos culturais e simbólicos presentes são fatores que estão ligados á
degradação de regiões que podem ser consideradas como possíveis focos de desertificação. O
município de Irauçuba situa-se na região norte do estado do Ceará e localiza-se a latitude sul de
3°44‘46‖ e longitude oeste 39°47‘00‖ com uma área absoluta de 1.461,22 Km² distando 150 Km da
capital cearense. O município em questão retrata de forma efetiva essa problemática caracterizada
pela degradação do potencial biológico. O fenômeno da desertificação nesse local deve-se à
predisposição geoecológica da área relacionada às atividades antrópicas dentre as quais salienta-se a
agricultura tradicional (sistema de roças), a pequária extensiva e o desmatamento da vegetação
local. A realização do reconhecimento dos fatores geoambientais e socio-econômicos,
principalmente através da percepção e das experiências presenciadas pelos moradores do local
serviram como base para este estudo que busca o controle e a preservação ambiental em meio ao
avanço da desertificação, enfocando a recuperação de áreas degradadas para o uso produtivo, a
melhoria da produtividade e o desenvolvimento de formas sustentáveis de produção agrícola nas
áreas susceptíveis à seca e à desertificação. O esclarecimento feito pela pesquisa desenvolvida
auxiliará na identificação das áreas naturais degradadas pelas ações antrópicas predatórias. Dessa
forma foram criados mecanismos apropriados para a conservação dos ecossistemas existentes, com
a atuação de espécies animais e vegetais como facilitadoras do processo de recuperação com o
mecanismo de dispersão do banco de sementes do local, por exemplo. Portanto, o processo de
resiliência do município se faz necessário e de forma urgente para que este não se transforme em
deserto.
PALAVRAS-CHAVE: deserto antrópico, desmatamento, foco de desertificação,
regeneração

ABSTRACT
Desertification is a problem of global dimensions affecting the arid, semi-arid and dry sub-
humid regions of the Earth. The climate, water and the problem of drought, seen through the global
and local prism and the cultural and symbolic aspects are factors that are intrinsically connected to
the degradation of areas considered as possible sources of desertification. The city of Irauçuba is
located in the northern region of the state of Ceará latitude south 3°44'46 "and longitude 39°47'00"
with an absolute area of 1461.22 Km² and is 150 km away from the capital of Ceará. This city
effectively portrays this problem characterized by the degradation of the biological potential. The
phenomenon of desertification, in this location, is due to the Geoecologic predisposition of the area
related to human activities highlighting the traditional agriculture, extensive livestock farming and
deforestation in the local vegetation - Caatinga. The recognition of geo-environmental and
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 95

socioeconomical factors, mainly through the perceptions and experiences witnessed by local
residents, were the basis for this study in the pursuit of control and environmental preservation
because of the advancing desertification, focusing on the recovery of degraded areas for
productivity improvement and sustainable forms of agricultural production in areas prone to
drought and desertification. The research will assist in the identification of natural areas and
disturbed areas degraded by both the interaction between geology, climate, topography, vegetation
and by the predation by man. Thus, this study contributes to the creation of appropriate mechanisms
for the conservation of existing ecosystems, such as the interaction of plant and animal species that
facilitate the recovery process due to the dispersal of the seed bank site, for example. Therefore, the
process of resilience, mainly due to human actions, is required in this city on an urgent basis so that
it does not become a desert.
KEYWORD: man-made desert, deforestation, desertification focus, regeneration.

INTRODUÇÃO
A desertificação começou a ser discutida pela comunidade científica nos anos 30, após a
ocorrência de um fenômeno no meio oeste americano conhecido como Dust Bowl, onde a intensa
degradação dos solos afetou uma área de 380.000 Km² nos estados de Oklahoma, Kansas, Novo
México e Colorado.
A desertificação ocorre atualmente em mais de 100 países e por isso é considerada um
problema global. As regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas, também chamadas de terras
secas, ocupam mais de 37% de toda a superfície do planeta, abrigando mais de um bilhão de
pessoas, ou seja, um sexto da população mundial. Em geral, as regiões afetadas pela desertificação
representam baixos indicadores sócio-econômicos conforme pesquisas realizadas pela Organização
Mundial de Saúde.
Segundo o Instituto Desert (2010), entre as principais conseqüências de natureza ambiental
e climática da ação desordenada do homem sobre o solo estão a perda da biodiversidade e da
capacidade produtiva dos solos. No aspecto social, a desertificação provoca o abandono das terras
por parte das populações mais pobres. A diminuição da qualidade de vida é percebida com a
verificação do aumento da mortalidade infantil, redução da expectativa de vida, o que promove a
desestruturação das famílias como unidades produtivas. Acrescido a este fato, observa-se a
intensificação da pobreza urbana devido às migrações que levam á desorganização das cidades e,
com isso, o agravamento dos problemas ambientais urbanos. Considerando-se o aspecto econômico,
há queda da produtividade e da produção agrícola, com conseqüente diminuição da renda, o que
influi na arrecadação de impostos e sua circulação.
Cerca de 10% da região semi-árida do Brasil é gravemente atingida por este fenômeno,
representando um total de nove estados nordestinos e o norte de Minas Gerais, onde a seca e a
estiagem são fatores que estão intrinsecamente ligados a este processo. No estado do Ceará o
processo avança à razão de 2,7% ao ano, segundo pesquisas da Universidade Federal do Ceará,
atingindo em torno de 20% do território. Esta mesma região é inserida no domínio climático semi-
árido que se caracteriza por apresentar uma paisagem com aspecto seco. O Município de Irauçuba,
localizado na região Centro Norte do Estado, tem sido apontado como uma área em processo de
desertificação através da disseminação de resultados de pesquisas onde este problema é estudado.
Os trabalhos desenvolvidos sob essa óptica quase sempre constituem estudos de caracterização
ambiental e apontam a ação antrópica como principal causadora da desertificação da área.
O município de Irauçuba é um dos pólos de maior aridez do semi-árido brasileiro, onde
predomina a Caatinga, um tipo de vegetação que pode demorar até 30 anos para se regenerar. A
ausência de vegetação, clarões de terra nua, sinais de erosão e predomínio de espécies vegetais
como o cacto são indícios de que Irauçuba está vivendo um processo acelerado de desertificação.
Enquanto a seca é um fenômeno periódico e climático, a desertificação é um processo de
eliminação da cobertura vegetal provocado por desmatamento ou excesso de pastoreio inadequado.
Irauçuba é vítima dos dois fatores, mas o processo de desertificação é agravado pelo fato de os
pecuaristas locais praticarem o superpastoreio. A população de bovinos é o dobro do que as
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 96

condições ambientais do município conseguem suportar. Há também a criação de ovelhas e de


bodes como recurso de maior sobrevivência às condições de degradação do ambiente. Dessa forma,
com o solo cada vez mais empobrecido não há alimento suficiente para o gado e para o próprio
sertanejo. Com o objetivo de reverter essa situação, a prefeitura de Irauçuba sancionou em junho a
primeira lei do país de combate à desertificação. Mesmo com todas estas medidas, é importante
ressaltar que mesmo sendo bastante planejadas, as atividades humanas, terminam sempre causando
impactos ambientais. Em regiões como as que encontramos em Irauçuba, além da tendência natural
dos solos para se tornarem salinos e facilmente degradados, temos também a baixa resiliência do
ecossistema que contribui muito em deflagrar uma situação ainda mais caótica, quanto à
recuperação natural ou artificial do ambiente. As intervenções humanas, mal planejadas e aquelas
estabelecidas pelas políticas publicas, são em sua grande maioria de curto prazo, ficando relegadas
ao rápido esquecimento pela população, contribuem para que o fenômeno da desertificação aumente
e se agrave mais em regiões onde a pobreza, o alto índice de analfabetismo e o baixo índice de
desenvolvimento humano potencializem o problema. Assim, o principal objetivo deste trabalho é
analisar como as interferências humanas em Irauçuba afetam a capacidade natural do ecossistema
para se auto-recompor.

METODOLOGIA
Para a elaboração da presente pesquisa, foi feita, inicialmente, uma caracterização da área
de estudo com a determinação dos fatores geoambietais e sócio-econômicos do município. Por
apresentar delimitação e contornos definidos, podendo ser similar a outras regiões do semi-árido
com problemas de desertificação, constituindo-se uma unidade dentro de um sistema, o presente
trabalho se classifica como estudo de caso, obtendo descrições tanto quantitativas quanto
qualitativas. Foram realizadas entrevistas com técnicos da EMATERCE que trabalharam no
município ou que possuíssem conhecimento sobre o referido processo de desertificação, líderes
locais e habitantes mais antigos, preferencialmente agricultores familiares com uma maior
possibilidade de informarem sobre as condições econômicas e ambientais para uma comparação
entre as características marcadamente presentes em situação anterior relacionada à situação
posterior à desertificação. Foi aplicado um questionário semi-aberto, contendo 08 perguntas
individuais a 50 moradores e 06 técnicos, abordando a problemática ambiental regional. O
questionário foi acompanhado por uma entrevista estruturada (LAKATOS, 1999) contendo
questões abertas previamente estabelecidas buscando investigar a existência e aplicação de uma
política municipal do Meio Ambiente. Com a caracterização geo-ambiental da região, procurou-se
associá-la à farta literatura existente, condicionando uma análise da situação de recuperação ou
degradação ambiental existente em Irauçuba.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Irauçuba localiza-se (Figura 1) na linha tropical (latitude: 3044‘46‖ Sul;
longitude 390 47‘ 00‖ W) dando-lhe a configuração tórrida, quente ( temperatura entre 260 e 280C) e
de baixa pluviosidade (539,5 mm/ano). Como fonte de renda predomina a pecuária, e, de forma
complementar, a agricultura de subsistência. O gado bovino entrou no Nordeste no século XVII.
Irauçuba originou-se em uma área de exploração pastoril muito grande (COIMBRA-FILHO e
CÂMARA, 1996), com pastagens exploradas basicamente durante o período chuvoso, ocorrendo a
transumância, uma prática existente ainda hoje, na qual, durante o período chuvoso, os donos do
gado bovino, principalmente a faixa litorânea, mobilizavam todo o gado para Irauçuba. Podemos
ressaltar a intensificação do processo de pastoreio como uma das causas que originaram a
desertificação, já que este compromete o mecanismo de reprodução das plantas.
Por ser território de excelente forragem, Irauçuba era um município onde se podia
encontrar espécie de rico valor nutritivo, como o stilosante e a milha, sobretudo a Stylosanthes
humilis Kunth, que é uma leguminosa componente do estrato herbáceo, sendo abundante entre as
forrageirase responsável pela excelente pastagem (TIGRE, 1964; NASCIMENTO et al., 1996),
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 97

pelo fato de possuir um sistema radicular muito profundo e engrossado, tornando as plantas
resistentes à seca e difíceis de serem arrancadas.
Entretanto, devido ao uso da terra através da pecuária intensiva, essas plantas que
produzem grande quantidade de sementes que permitem o surgimento de novas plantas logo ao
inicio das chuvas, são altamente consumidas pelos animais em todo momento, principalmente ao
final das chuvas e no período seco, vão desaparecendo aos poucos entre a vegetação da Caatinga
arbustiva aberta, deixando o solo exposto. Ali as sementes presentes no banco de sementes do solo
não conseguem mais crescer e com isto a superfície do mesmo vai perdendo a pouca umidade
remanescente, iniciando-se assim as pequenas ilhas de calor onde nenhuma planta consegue mais
crescer.

Figura 1: Mapa de localização do município de Irauçuba – Ceará. Fonte: IPECE - 2004

De um modo geral a população de Irauçuba é bastante carente. Fator facilmente percebido


através de análise sócio-econômica e cultural. A maioria da população não é contemplada com o
sistema de esgoto, fossas, banheiros, casas de alvenaria, água encanada, dentre outros. Segundo
IPECE 2004, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município é de 0,618, um dos mais
baixos do Ceará , junto com o alto índice de analfabetismo contribuem em muito para agravar o
problema da desertificação antrópica na região.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 98

O município de Irauçuba é formado pelos terrenos antigos do Pré-Cambriano (IPLANCE,


1989), pertencentes ao Complexo Nordestino, podendo encontrar-se rebaixados como superfícies
pediplanas e pequenos maciços residuais, inseridos na grande depressão sertaneja. As rochas estão
próximas a superfície, por isso os solos são rasos, pouco profundos e pobres em nutrientes. Possui
características físicas, químicas e morfológicas que facilitam a erosão, como por exemplo, a
predominância arenosa ou pedregosa. Este tipo de solo diferencia-se dos solos aluvionais, formados
pela presença de grande quantidade de matéria orgânica, como a área de inundação do rio Caxitoré.
Esta condição, sob a presença de planosolos solódicos e solos litólicos, potencializa a
tendência para configurar um ambiente semi-árido para árido, uma vez que durante o ano inteiro a
amplitude térmica (as temperaturas durante o dia podem atingir 38 oC) entre o dia e a noite varia
pouco, sentindo-se o efeito do aquecimento da superfície do solo e dos afloramentos rochosos
presentes em todo o município, caracterizando ilhas de calor. Isto também contribui em muito para
que as espécies vegetais em regeneração natural atinjam o ponto de murcha permanente e morram
rapidamente em conseqüência da desidratação, fator este a ser levado em consideração em qualquer
programa de recuperação de áreas degradadas. Segundo Boyé et al. (1982), nas regiões semi-áridas,
como é o caso do município estudado, mais do que em qualquer outras regiões as condições
edáficas desempenham um importante papel principalmente no que diz respeito ao comportamento
da água no solo, fator limitante sob este tipo de clima, de maneira que o solo pode, em larga
medida, compensar ou mesmo agravar a aridez climática. Isto explica, por que o clima de Irauçuba,
tem um nível de aridez maior do que o definido no clima regional, nível este que decorre de sua
localização na zona de sombra de chuva da serra de Uruburetama sendo o clima, portanto, de
natureza orográfica, e é acentuado pelas características dos solos e da vegetação.
Por outro lado, durante o período chuvoso, concentrado exclusivamente no primeiro
semestre, a chuva que cai (média 540 mm/ano), escorre rapidamente pela superfície do solo
esturricado, causando erosão laminar. A movimentação das águas superficiais entre os afloramentos
rochosos para lugares de menor energia fazem com que a mesma se acumule ligeiramente em
grandes açudes e lagos, cuja água se saliniza em curto espaço de tempo devido às altas
temperaturas, aparecendo com isso os chamados ecótonos salinos nas margens dos grandes açudes e
corpos de água. Nestes locais concentram-se apenas aquelas poucas espécies de plantas que toleram
a salinidade, as chamadas halófitas. A vegetação nativa aos poucos vai morrendo, cedendo espaço
às halófitas. Entretanto, aquelas espécies arbóreas arbustivas que conseguem sobreviver, são
aproveitadas pelos moradores locais, que precisam de estacas e lenha para transformar em carvão,
atividade esta que é desenvolvida, com o intuito de abastecer as necessidades das famílias e o
restante do carvão é vendido nas margens das estradas, para tentar conseguir outra fonte de ingresso
familiar. Esse processo é favorecido pelo desmatamento e dificulta a fixação da vegetação,
formando as células de areia. Fica em evidência que esta atividade também contribui para degradar
mais ainda o ambiente, cuja caatinga passa de um estado de ―caatinga arbustiva aberta‖ para um
estado de ―caatinga arbustiva rala‖ que não consegue mais sustentar os rebanhos, pois a mesma esta
sendo explorada além da sua capacidade de suporte.
O desmatamento para a agricultura e pecuária extensiva em solos arenosos, promove
processos erosivos que resultam na arenização ou mesmo na formação de desertos antrópicos.
Segundo o Instituto Desert (2010), entre as conseqüências de natureza ambiental e
climática da ação desordenada do homem sobre o solo, estão a perda da biodiversidade (flora e
fauna), a diminuição dos recursos hídricos e a perda da capacidade produtiva dos solos.
Sabe-se que fatores ecológicos limitantes para recuperação da floresta após abandono,
podem ser abióticos (luz, temperatura, água e fogo) e bióticos (competição radicular e predadores
de sementes e plântulas). Por outro lado, várias espécies animais e vegetais podem facilitar a
recuperação, como é o caso dos dispersores de sementes, morcegos e pássaros e espécies de árvores
ou arbustos que formam ―ilhas de vegetação‖ (MOUTINHO, 1998). Em florestas desmatadas sem
utilização do fogo, muitas fontes de recuperação mostram-se disponíveis, incluindo brotamento,
germinação a partir do banco de sementes do solo. Por outro lado quando se utiliza o fogo, o
brotamento geralmente é eliminado e dependendo da severidade da queimada, é possível que o
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 99

banco de sementes do solo tenha sido parcialmente ou completamente destruído (LUCAS et al,
1998). Nos ambientes semi-áridos como os presentes no Nordeste, este processo pode ser
seriamente comprometido, pois em Irauçuba, também são comuns as queimadas, em preparação do
solo para o plantio das chamadas culturas de subsistência. Segundo os resultados obtidos em
pesquisa realizada com os funcionários da EMATERCE, observa-se que as queimadas, a pecuária
intensiva e os desmatamentos são a principais causas da degradação ambiental no município.
A reincidência do fogo em uma mesmo área aumenta o grau de degradação e florestas
primárias não alteradas acumulam alterações após sucessivas queimadas, convertendo-se, ao final
da série, em savanas de baixa biomassa vegetal, com estrutura e composição muito simplificada.
A queima da matéria orgânica libera substâncias em forma de óxidos, permanecendo os
carbonatos que são depositados no solo junto com as cinzas, o quê favorece a redução da acidez do
solo. Soares (1985) apud Batista et al. (1997), diz que em experimentos de queimadas controladas,
a acidez foi reduzida em 2 a 3 unidades de pH, voltando ao normal 5 anos após a queima. Segundo
Lima (2000), a grande área queimada e o alto número de focos de calor ocorrido no Brasil nos
últimos anos, têm demonstrado a fragilidade do país no controle dos incêndios florestais, devido à
falta de política nacional e regional de prevenção e combate a incêndios. No Ceará, o mapa do risco
do fogo, mostra que o estado está em uma situação crítica em quase todo o seu território.
Podemos, assim, ainda destacar alguns fatores humanos agravantes da desertificação, como
as práticas agrícolas inadequadas que não permitem a reposição dos nutrientes retirados pelos
cultivos e não deixam a terra repousar; o roçado com queimadas que destrói o banco de sementes no
solo; o superpastoreio; o manejo incorreto do solo, particularmente em terrenos em declive; a
irrigação inadequada que provoca a salinização do solo o esterilizando, além da mineração
irresponsável que pode causar grande destruição.
Bertoni e Lombardi Neto (1999) apud Olímpio e Monteiro (2002), defendem que as terras
se estragam tornando-se menos produtivas, por quatro razões principais: perda da estrutura do solo,
da matéria orgânica, dos elementos nutritivos e do solo. A agricultura familiar, em geral, ocorre em
minifúndios, e os praticantes não têm conhecimentos de técnicas de preservação.
De acordo com Lemos (2001), pode-se listar alguns fatores causados pela agricultura que
degradam o ambiente. Primeiro, o elevado nível de concentração fundiária, que se constitui num
reflexo da forma como a terra está apropriada no Brasil, induzindo uma grande concentração de
famílias, quase sempre numerosas, em pequenos estabelecimentos ou minifúndios. A grande
concentração de pessoas nesses micro-estabelecimentos conduz a uma super-exploração, o que
representará sobrecarga dos produtos naturais.
Para que o processo de desenvolvimento ocorra com preservação dos recursos naturais é
necessária a utilização sustentável dos mesmos. Quando isto não ocorre, a produtividade da
agricultura é reduzida, os processos de desertificação avançam, os ecossistemas e mananciais
hídricos tornam-se mais fragilizados, o sustento das populações se reduz, crescem a pobreza e o
êxodo para as cidades maiores.
A problemática acima exposta deve induzir-nos a procurar, medidas urgentes para mitigar
ou diminuir os impactos causados pelas ações do homem sobre o ambiente. Neste sentido, digno é
de destacar na comunidade rural do Boqueirão, a poucos quilômetros do centro de Irauçuba, há a
plantação de uma agrofloresta alimentada por uma barragem subterrânea que acumula água no
subsolo. O cultivo no sistema de mandala garante excelente produção durante todo o ano,
propiciando a retirada, pelos moradores, de mais de 20 tipos de frutas, verduras e legumes em uma
área antes seca e devastada. Essa alternativa representa uma forma coerente de recuperação das
áreas degradadas, além de contribuir com a melhoria do sustento nutricional de uma região
fortemente marcada pela pobreza e conseqüente carência de fontes alimentares adequadas para a
sobrevivência de toda a população.
Além de todas essas formas de recompor um ambiente destruído, pode-se contar com o
banco de sementes do solo, que constituem um fator primordial para a sucessão, já que abriga
sementes de pioneiras e secundárias iniciais (LOPES et al., 2006), responsáveis pelo início da
restauração do ambiente degradado. A existência de sementes para formar o banco, depende da
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 100

chuva de sementes originada de indivíduos autóctones ou alóctones. A perda dessas sementes pode
estar relacionada a vários fatores, entre eles, a germinação, o parasitismo, e a senescência. A
viabilidade dessas depende de condições ambientais favoráveis, como intensidade luminosa,
temperatura, umidade e solo (SIQUEIRA, 2002).
Assim, é fácil perceber a viabilidade da recuperação de áreas intensamente degradadas, se
entendermos que o processo de desertificação começa muito antes de surgir a esterilidade do solo.
A análise da desertificação tem como fator extremamente importante a vegetação, já que se pode
afirmar que a formação de desertos começa com as mudanças na composição florística da
comunidade vegetal, passa pelo desaparecimento da vegetação original, com a conseqüente redução
do aporte de matéria orgânica, manifestando-se posteriormente no solo, através da erosão e da perda
de fertilidade da estrutura. Dessa forma, a revitalização ecológica, agropastoril e econômica do
semi-árido deve ser realizada levando-se em consideração as ações das instituições criadas para
estes fins com o objetivo de envolver totalmente a comunidade neste processo de recuperação, que
abrange, portanto, a compreensão de aspectos naturais, econômicos e sociais de conscientização
populacional.

CONCLUSÕES
O processo de degradação do município de Irauçuba encontra-se bastante avançado,
apresentando sua vegetação nativa descaracterizada.
O homem possui participação ativa no processo de degradação do semi-árido. A realização
das queimadas intencionais é um dos fatores deletérios característicos dessa ação.
As principais causas da degradação são o uso inadequado do solo e da água, o
desmatamento, as queimadas, o uso intensivo do solo sem descanso e sem técnicas de conservação
provocando erosão, além da irrigação mal conduzida que culmina com a salinização do solo.
A resiliência pode ocorrer de três maneiras. Naturalmente, tratando-se de um processo
inverso da degradação dos ecossistemas com o melhoramento da cobertura vegetal e, por
conseguinte, da fitomassa, aumento do teor de matéria orgânica do solo pela atividade biológica,
melhoramento do balanço hídrico do solo por redução do escoamento superficial e reabilitação do
conjunto de ecossistemas e da restauração de seu funcionamento. Semi-natural, ocorrendo quando é
facilitada por diversas ações do homem como trabalhos contra a erosão, o que implica em uma
política de conservação ligada ao uso da terra como sua fertilização, drenagem, técnicas de plantio,
dentre outras. Artificial quando há modificação do ecossistema pela introdução de plantas
autóctones que tinham sido eliminadas e pela utilização eficiente do banco de sementes que estas
plantas produzem, que iniciaram o recomposição das áreas expostas.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 102

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A MIGRAÇÃO ANIMAL E


HUMANA: PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS

Marcella R. D. L. TORRES
Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba
marcella_lins@hotmail.com -Autora.
Nara B. C. De FARIAS
Graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba
narabcf@hotmail.com – Autora.
Ricardo S. VIEIRA
Professor da Universidade Estadual da Paraíba – Lattes:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=N566556 - ricardostanziolavieira@live.fr – Orientador.

RESUMO
Devido ao agravamento do aquecimento global, vemos a necessidade do aprofundamento
nos estudos relativos aos efeitos que o mesmo vem causando à todos os seres vivos. A elevação das
temperaturas do planeta nos chama a atenção para as transformações nos diferentes ecossistemas,
estes estão a cada dia perdendo sua função primordial, que é a de fornecer condições favoráveis
para o desenvolvimento e manutenção da vida. Por meio de análise de pesquisas e projetos focados
neste tema, pudemos fazer um quadro geral à cerca desta problemática quanto às migrações
humanas e animais, dando ênfase à esta discussão no meio internacional. As mudanças climáticas
implicam em transformação e possível invalidação de certos habitats o que poderá gerar uma
superlotação dos ambientes. No caso dos animais, sua migração causa desequilíbrio nos
ecossistemas, transtorno na cadeia alimentar, isolamento e extinção de várias espécies. Já no caso
dos humanos, o problema pode vir a causar conflitos por território, perda de identidade cultural e
um número exorbitante de apátridas. Em ambos os casos, devemos atentar para o fato de que este é
um problema de caráter intercontinental, que não pode ser ignorado pelas autoridades políticas, pois
a situação requer soluções imediatas e conjuntas.
PALAVRAS-CHAVE: Mudanças climáticas, Migrações, Conseqüências, Relações
Internacionais

ABSTRACT
Due to the worsement of the global warmming, we can see the necessity to deepen the
studies about the consequences for the world's living beings. The rising temperatures in the planet
calls for our attention to the changes in the ecosystems, that are loosing their primordial function as
time passes, wich is to provide the necessary conditions for the development and the maintenance of
life. Through the analysis of researches and projects focused on this theme, we attemped to portray
a general picture about this subject related to the human and animal migrations, emphasizing this
discussion in the international environment. The climate changes imply in transformation and
possible nullification of some habitats, element that could engender an overcrowding of the
environments. Refering to the animals, their migration can generate imbalance in the ecosystems,
disorders in the food chain, isolation and extinction of several species. In the case of humans, the
problem could cause conflicts over territory, loss of cultural identity and an unreasonable number of
stateless people. In both cases we should be aware that this is an international problem that cannot
be ignored by political authorities, and requires immediate and joint actions.

INTRODUÇÃO
Após anos ignorando os possíveis efeitos que a destruição da natureza pudesse causar na
vida de todos os seres, hoje temos uma postura diferente. Diante dos fenômenos ditos naturais mas
que ganharam força e impulso devido às atitudes humanas, podemos observar uma crescente
preocupação por parte dos líderes de Estado atuais a este respeito.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 103

No âmbito das ciências biológicas o efeito estufa é uma problemática nem tão recente,e
suas conseqüências estavam previstas há algumas décadas, porém suas expectativas só se tornaram
populares quando as modificações no cerne do equilíbrio ambiental começaram a atingir
negativamente a humanidade.
Previsões indicam falta de água potável, crescimento da pobreza, derretimento de geleiras
e conseqüente aumento do nível do mar e o desaparecimento de 20% a 40% das espécies vegetais e
animais se o aumento de temperatura for de 1,5 ºC a 2,5 ºC (relatório do IPCC 5 2007). Com todas
essas mudanças nos ecossistemas surge uma outra conseqüência gravíssima do aquecimento global,
a mudança de habitat, de rota migratória dos animais e no caso dos humanos, os chamados
―refugiados do clima‖.
Devemos ressaltar, como discussão política, o fato de que os territórios mais afetados por
estes problemas são os menos responsáveis por tal degradação à natureza. A emissão de gases
poluentes que gera a diminuição da camada de ozônio ocasionando o efeito estufa, que aumenta a
temperatura terrestre causando os problemas já citados, forma uma cadeia de acontecimentos como
um efeito dominó, que vai progressivamente afetando cada vez mais lugares, animais e também
pessoas.
É correto afirmar que estes problemas acontecem com intensidades diferentes em cada
país, porém os indivíduos que migram devido a isto, espalham-se por toda a superfície do globo,
trazendo à tona a questão da soberania nacional, onde vemos países recebendo ―outros países‖(seu
povo) que instalam-se dentro do seu território. Também em relação à migração animal, vemos estes
mudarem suas rotas afetando então o equilíbrio de outros ambientes, podendo extinguir espécies,
afetar economias que tem sua base na utilização de recursos naturais e até mesmo interferir na
sociedade cosmopolita.
O número de lugares inóspitos no mundo vem crescendo a cada dia, conseqüentemente o
número de pessoas e animais sem um local apropriado para sobreviver também, o que gera uma
problemática universal.
A conscientização contínua deve ser instigada para que possamos, enfim, diminuir
bruscamente às agressões ao meio ambiente evitando dessa forma atingir algum futuro estado de
calamidade irreversível.

AS MIGRAÇÕES DEVIDO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


DE ANIMAIS
As migrações animais se constituem da mudança de local de uma determinada espécie em
busca de melhores condições de vida, de clima adequado para reprodução, enfim, em busca de
equilíbrio e perpetuação da espécie. As migrações podem ser temporárias ou permanentes, na
primeira a espécie retorna ao seu habitat de origem, na segunda se instala definitivamente no outro
local.
Forçados a se mudar graças à destruição de seus lugares de origem, os animais buscam
sobreviver em países que ofereçam condições climáticas similares a seus ex–habitats. Porém essa
migração dos animais afeta a cadeia alimentar bruscamente, já que muitas espécies não conseguem
se instalar em novos lugares graças a predadores ou falta de comida; algumas também são
impedidas de alcançar seus objetivos por conta de barreiras artificiais implantadas pelos humanos
ao longo dos anos, como cidades, hidrelétricas ,aterramento de mangues; e outras , como as
provenientes dos pólos, não encontram lugares com condições climáticas propícias para a
perpetuação da espécie.
Começando pelas aves, conhecidas por suas rotas migratórias que sobrevoam diversos
países, as vezes ultrapassando continentes. Nos casos mais simples, a ave realiza deslocamentos
anuais no interior da mesma zona climática. Os dois extremos de seu trajeto ficam em latitudes
vizinhas, de clima semelhante. Observa-se que, em muitos desses casos, o que a ave procura é uma

5 - Intergovernmental Panel on Climate Change- Órgão criado para fornecer informações científicas, técnicas e
sócio-econômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáticas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 104

formação vegetal diferente. Mais freqüentes, porém, são as migrações associadas a mudança de
clima, que se dão, geralmente, no sentido norte-sul.
Quando ocorrem êxodos em massa, as aves têm de encontrar, nos lugares distantes,
condições de alimentação favoráveis às quais possam adaptar-se e que sejam suficientes para
atender a toda a população que se desloca. Além disso, não pode haver competição muito acirrada
da fauna local. O Brasil recebe muitas dessas aves em busca de temperaturas favoráveis e alimento.
No ambiente aquático as distancias e as modificações são tão intensas quanto. O propósito
usualmente é para a reprodução ou para buscar locais mais apropriados, em termos de temperatura,
de proteção ou de alimentação.
Os peixes migrantes enquadram-se em duas categorias: os que se deslocam sem mudar de
ambiente, e os que alternadamente se deslocam da água doce para a salgada. Os dois tipos vêem
sendo afetados, o primeiro graças ao aquecimento das águas tropicais e esfriamento das águas
temperadas, que estão sendo infiltradas com água proveniente do derretimento das calotas polares.
O segundo devido à extinção de vários rios devido a seca, e também do avanço das águas marinhas
por entre os rios que deságuam no oceano, aumentando assim em quilômetros a área antes
percorrida pelos peixes para chegar na água doce,e utilizar-se de seus recursos.
Algo que vem ocorrendo é o aquecimento das correntes marítimas, levando-as a mudar sua
rota, assim confundindo animais e prejudicando diversas espécies que usam essas correntes como
forma de locomoção, como as águas-vivas, polvos, lulas e as tartarugas marinhas. (Ex: corrente do
Golfo).
Temos também o derretimento das calotas polares; ―as mudanças recentes constatadas no
Ártico se produzem a uma taxa muito mais rápida que o previsto", pela Avaliação dos impactos da
Mudança Climática no Ártico, publicada em 2005, e o relatório do Painel Intergovernamental para
Mudanças Climáticas de 2007, conclui o WWF6.
Este fenômeno levará à extinção dos ursos polares ate 2050, afetando desse modo toda a
cadeia alimentar drasticamente. Criaria uma super população de peixes, comendo os krills 7 ,
afetando desse modo as baleias que já estarão prejudicadas graças ao aquecimento das águas.(Ex:
Baleia cinza: Orcinus orça).
Além de todas essas conseqüências e vitimas do efeito estufa, ainda existem os animais
terrestres. Assim como os seres humanos, os demais mamíferos são afetados através de: falta de
água, calor intenso, aumento de doenças. Exemplo deste são os elefantes, que tem de andar
distancias absurdas enfrentando agora perigos diferentes em sua caminhada: na Índia esses animais
tem de passar por um núcleo de Física Nuclear para alcançarem seu destino.
Por fim, os répteis e anfíbios são tão afetados quanto os outros animais porém não possuem
migração periódica anual, tendo portanto um enfoque singelo neste trabalho. As larvas dos anfíbios
não sobrevivem para chegar no estado adulto em águas quentes, dessa forma o efeito estufa limita a
continuação da espécie desses animais.
Já os répteis dependem do calor para manter sua temperatura corporal adequada, já que são
exotérmicos. Dessa forma, com o aumento da temperatura do ambiente os animais precisaram estar
sempre submersos para se esfriarem, e conseqüentemente passarão por falta de alimento, já que se
alimentam principalmente de animais de grande porte que chegam nas margens de seus rios.
É pertinente, portanto, o pensamento de que o efeito estufa agravado pelo comportamento
imprudente do homem está causando grandes problemas ambientais, que afetam diretamente os
animais e a natureza em geral, mas também afeta-nos, pois somos também parte da natureza.

DE HUMANOS
Esta problemática é, atualmente, alvo de grandes discussões. Surge então um termo um
tanto polêmico: Refugiados do Clima; este não é considerado por alguns como sendo o termo mais

6 World Wide Fund for Nature


7 É o nome coletivo dado a um conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 105

adequado, pois refugiados seriam aqueles que de acordo com a Convenção Internacional relativa à
Proteção dos Refugiados8:
―devido a fundados receios de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade,
pertença a determinado grupo social ou opiniões políticas e encontrando-se fora do país de sua
nacionalidade ou residência e não podendo, ou a causa de tais receios, não queira acolher-se à
proteção de tal país.‖(Protocolo de 1967).

Logo, o termo mais apropriado seria ―migrantes ambientais‖.


O número de migrantes vem crescendo a cada dia. Marlowe Hood(2007), jornalista da
AFP( Agence France-Presse)9, afirma que de acordo com algumas estimativas, já há quase tantas
pessoas deslocadas no mundo em razão do clima quanto refugiados tradicionais. Os números
crescerão verdadeiramente, à medida que os efeitos das mudanças climáticas sejam mais
perceptíveis, e poderão chegar a 50 milhões de pessoas até 2010, segundo a principal autoridade da
ONU para o clima, durante uma entrevista coletiva à imprensa após uma reunião do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Um importante ponto que devemos ressaltar é que estes refugiados tem características
claramente diferentes dos refugiados políticos. Essas pessoas migram, não por opção, mas por falta
de alternativa. Os grupos de refugiados ambientais englobam em geral pessoas mais pobres,
mulheres, crianças e velhos que estão normalmente menos aptas a deslocar-se por grandes
distâncias.
A estes fatores somam-se outras complicações, como o freqüente tráfico de pessoas, a
marginalização destes refugiados, que normalmente não recebem os mesmos privilégios dos
habitantes naturais dos países para os quais migram, além de enfrentar conflitos regionais, como o
exemplo de Darfur no Sudão, que já sofre deste mau cuja origem está na disputa pelo controle da
escassa água.
Os problemas que essa perda de territórios poderá causar são imensos. Complementando o
que o jornalista Hood informou, Lester Brown (2001), do EPI-Earth Policy Institute10, afirma que,
além das Ilhas-Nações, outros países sofrerão problemas graves com a perda de territórios férteis
para agricultura, dentre eles está Bangladesh que poderá perder metade de seus arrozais.
A perda completa de seu território não implica somente a falta de um lugar para
estabelecer a população, mas envolve também a questão cultural e de identidade de um povo, que
perderá sua nacionalidade e os seus descendentes não poderão viver onde viveram seus ancestrais.
Além de gerar um outro problema: que países aceitarão receber um país dentro do seu?
Em termos de Direitos Humanos há muito que fazer por estes migrantes. São freqüentes as
dificuldades que estes tem de encontrar emprego, ter acesso à boa moradia, à saúde e educação.
Sofrem também por vezes com a falta de documentação, o que aumenta mais ainda sua dificuldade
de sobreviver com dignidade em qualquer lugar.
No caso dos refugiados do clima, esta problemática pode se agravar ainda mais, pois as
migrações aconteceriam não apenas devido a conflitos, mas por falta de territórios habitáveis. A
tensão seria maior, pelo fato de que estes migrantes não tem outra opção, e problemas como estes
que os refugiados políticos já sofrem podem se agravar, pois o número de refugiados do clima que
poderão surgir, de acordo com as previsões dos especialistas, seria algo jamais visto, logo a
população não estaria preparada para esta mudança tão drástica em suas vidas.
Hoje existem países que participam de um programa de reassentamento firmado entre os
governos e o ACNUR11 em 1999, onde cada país tem seu próprio processo de seleção para aceitar
os refugiados. Entretanto, devemos levar em consideração que nem sempre estes países podem dar

8 Assinada pela ONU em 1951 (protocolo de 1967)


9 Agência de notícias sediada na França, considerada uma das mais prestigiadas do mundo;fundada em 1835 e
tem base em Paris.
10 Organização não governamental baseada em Washington, DC.
11 Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 106

suporte aos que precisam, pois à vezes o choque cultural é demasiadamente grande, além dos
preconceitos e hostilidades que estes poderão sofrer.
A repórter da Agência Brasil 12 , Luana Lourenço(2009) ressalta em sua reportagem a
regulamentação de direitos e garantias a esse tipo de refugiado, citando o oficial de proteção do
ACNUR no Brasil, Wellington Carneiro:
―A rigor, no Direito Internacional de Refugiados, não existe uma figura que contemple o
refugiado ambiental, que se desloca devido à catástrofes da natureza. É um dos grandes problemas
que enfrentamos hoje em dia. Há 60 anos não havia debate sobre mudança climática. Mas é uma
crise humanitária como todas as outras. É preciso uma resposta coerente para proteger essas
pessoas.‖ Carneiro (2009) apud Lourenço (2009).
A repórter afirma ainda que este debate deve incluir a flexibilização de regras para
imigração.
A criação de ONG's e demais organizações para amenizar o sofrimento dessas pessoas, se
faz mais importante que nunca, já que hoje sentimos facilmente os impactos que os danos à
natureza estão nos causando. Porém não devemos apenas nos preocupar em estabelecer políticas de
apoio à refugiados sem pensarmos em soluções que possam evitar o agravamento dos problemas
ambientais em geral.

Perspectivas internacionais
A presente questão mostra-se claramente interligada às problemáticas internacionais, já
que ambos os tipos de migrações supracitados tem por característica interferirem em diversos
Estados. Podemos afirmar que todos os países tem sua parcela de culpa referente aos impactos
ambientais, e quando se tratando da emissão de gases contribuintes ao efeito estufa, alguns
extrapolam os limites determinados pelos acordos internacionais fazendo com que outros países
sofram as conseqüências dessas irregularidades.
Um exemplo de tratado internacional é o Protocolo de Kyoto, assinado em dezembro de
1997, que propõe um calendário pelo qual os países-membros têm a obrigação de reduzir a emissão
de gases do efeito estufa em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis de 1990 no período entre
2008 e 2012. Teve inicio com a assinatura de 55 países, e hoje já abrange 175, dessa forma
percebemos a real importância dessas metas.
As migrações por motivos climáticos se constituem fundamentalmente como fenômenos
transacionais pois devido à invalidez de alguns territórios se faz necessário o deslocamento, e este
não pode ser limitado por fronteiras políticas. Impedir ou recusar a entrada de migrantes que
perderam a área sobre a qual exerciam domínio infringe princípios dos direitos fundamentais.
Entretanto podemos ver neste caso a questão da soberania nacional, que pode ser reclamada pelos
Estados que por ventura venham a receber essas pessoas.
No caso dos animais esta questão foge ao alcance das autoridades, pois estas muitas vezes
não têm os recursos necessários para o controle dos desvios de rotas dos animais. Estes podem
então afetar os diversos aspectos dos lugares para onde migram, interferindo, por exemplo: em
programação de vôos, destruindo plantações e desequilibrando a fauna e flora local.
A cooperação entre os Estados se faz necessária para que sejam elaboradas metas
construtivas e de forma conjunta para que abranja todos âmbitos da presente situação. Da mesma
forma que a população européia já sente o choque com a brusca elevação das temperaturas, também
o continente Africano, que apesar de ser o que menos emite gases poluentes na atmosfera, sofre
graves conseqüências do efeito estufa como enchentes, secas e aumento de transmissão de doenças.
Isso mostra quão interligado estão todas as nações no que tange a questão aqui abordada.

Considerações finais
Atualmente vemos que estas questões de mudanças climáticas estão ganhando destaque na
imprensa, nas agendas de decisões políticas e até mesmo na consciência das pessoas comuns. Um

12 Portal de notícias mantido pelo governo brasileiro e administrado pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 107

exemplo bastante atual foi a Conferência de Copenhague 13 (Dezembro de 2009), que reuniu
diversos países em busca de soluções para amenizar os impactos à natureza.
Alem disso, um grande número de ativistas vem alertando e protestando em favor de
medidas que reduzam a poluição e conseqüentemente o sofrimento de animais e seres humanos
afetados por estes problemas. Até o presente momento existem alguns impasses para a consolidação
de tratados.
Além de resolver os problemas que já estão ocorrendo, deve-se pensar em soluções
concretas para que esta situação não tome proporções ainda maiores. Neste caso estamos nos
referindo a um planejamento para a redução dos impactos ambientais que são os responsáveis por
todos estes problemas já citados.
A emissão do CO2 e outros gases que colaboram com o efeito estufa e conseqüentemente
com as mudanças climáticas, é um dos principais temas discutidos. Os países mais ricos relutam em
reduzir suas emissões, e buscam medidas como a compra de créditos de emissão de outros países,
movimentando cerca de 6,5 bilhões de dólares (dados de 2008).
Na COP 15 o documento fechado pelos principais protagonistas do encontro –EUA e
China, alguns países emergentes, como Brasil, Índia e África do Sul, e as maiores potências da
União Européia – não teve nenhum valor prático no esforço de reverter o aquecimento global.
Porem as metas de redução de emissões, ponto chave para o combate às mudanças climáticas,
ficaram em aberto.
Nesta conferência, ficou acertado que a meta global até 2050 é de redução de 50% das
emissões em relação a 1990. De resto, a partir de 2012, quando vencem as exigências do Protocolo
de Quioto, os países industrializados estarão teoricamente sem obrigações a cumprir, embora
tenham concordado em assumir uma meta de redução de 80% de suas emissões até 2050.
Além das medidas tomadas no âmbito político internacional, atentamos também para as
―pequenas coisas‖ do dia-a-dia como a utilização de fontes energéticas limpas, através de novas
tecnologias. A principal autoridade da ONU para assuntos climáticos, Yvo de Boer, afirmou que um
mecanismo de transferências tecnológicas daria aos países em desenvolvimento maior acesso à
tecnologias de energia renovável, como a solar, eólica e hidrelétrica.
É importante que os líderes de Estado em todo o mundo, com destaque aos principais
poluidores, repensem suas políticas energéticas que vem causando danos à natureza e que tenham a
consciência de que é necessário tentar retardar o máximo possível o efeito que estas causam à
humanidade e também aos demais seres vivos.
Apesar de não podermos impedir que as previsões sobre o aquecimento se concretizem,
podemos tomar medidas para evitar o acumulo de gases na atmosfera, e conseqüentemente diminuir
a gravidade da situação.

5.Referências Bibliográficas
-BROWN, Lester. Elevação do Nível do Mar Força Evacuação de Ilha-Nação. (2001). disponível
em : (http://www.uma.org.br/artigos/005.html )
-Climate Change 2001: Impacts, Adaptation, and Vulnerability - Contribution of Working Group II
to teh IPCC Third Assessment Report 2001
-de MARCO, Gerson. Alterações Climáticas e Seus Impactos. disponível em
(http://66.102.1.104/scholar?q=cache:5JehShnql3MJ:scholar.google.com/+efeito+estufa+afeta+mig
ra%C3%A7ao&hl=pt-BR)
-FARENA, Maritza. Migrantes – Refugiados. (2006). disponível em:
(http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Refugiado)
-HANSEN, James, Desarmando a bomba-relógio do aquecimento global. Scientific American, São
Paulo, a.2, n.23, abr.2004, p. 30-39
-IPCC,2000- NAKICENOVIC, Nebojsa and SWART, Rob (Eds.), Emissions Scenarios
Cambridge University Press, UK. pp 570

13 United Nations Climate Change Conference ou COP15


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 108

Available from Cambridge University Press, The Edinburgh Building Shaftesbury Road,
Cambridge CB2 2RU ENGLAND
-MESSNER, Dirk. Global trends 2007: vulnerability and security in the 21st century Bonn.
-MYERS, Norman. Environmental Refugees: An Emergent Security Issue.(2005). disponível em:
(http://www.osce.org/documents/eea/2005/05/14488_en.pdf )
-NOBRE, C.; Assad, E.D. "Mudança ambiental no Brasil. Em Terra na estufa", edição especial
Scientific American Brasil, no 12, pp. 70-75. 2005.
-Sala, O.E. et.al. "Global biodiversity scenarios for the year 2100". Science 287:1770-1774. 2000.

5.1.Fontes primárias
-Ação humana levanta barreiras e faz animais desistirem de migrar, Folha de S.Paulo Online,
disponível em (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u575232.shtml), acessado em
02 de junho de 2009
-Aquecimento global aumenta percurso de aves migratórias, da France Presse, em Paris. Publicado
no Jornal Online da Uol, disponível em
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u550905.shtml) , acessado em 15/04/2009 -
11h19
-HOOD, Marlowe. Aquecimento Global poderá deixar milhões de ―refugiados do clima‖ (2007).
disponível em: ( http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2007/04/06/ult34u178189.jhtm )
-LOURENÇO, Luana. ONU estuda adoção de medidas para proteger refugiados do clima.(2009).
disponível em:(http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/02/27/materia.2009-02-
27.7286386427/view)
-MARINOTO, Ronny. Mundo: Duzentos milhões de refugiados do clima em 2040.(2007)
-―Quando a própria Natureza força a Migração‖, retirado do site
(http://www.duplaoportunidade.org/)
-VASCONCELOS, Yuri. Quais são os animais recordistas em migrações?. Revista Mundo
Estranho, Ed. 35, 2008.
-WENKEL, Rolf. Mudança do clima ameaça a segurança global, alerta especialista (2009).
disponível em: (http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4260085,00.html )
-WYNN, Gerard e SZABO, Michael. Chefe da ONU vê avanço em acordo de tecnologia
limpa.(2009). (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/12/10/chefe-da-onu-ve-avanco-em-
acordo-de-tecnologia-limpa-915144293.asp)
-WYNN, Gerard e SZABO, Michael. Copenhague pode abrandar regras do mercado de
carbono.(2009). (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/12/10/copenhague-pode-abrandar-
regras-do-mercado-de-carbono-915143809.asp)

5.2 Fontes oficiais:


-UNU, Universidade das Nações Unidas. ―The Way Forward. Researching the Environment and
Migration Nexus".
-(http://www.ehs.unu.edu/ )
-EFMSV. Environment, forced migration & social vulnerability.
-(http://www.efmsv2008.org/ )
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 109

CONDICIONANTES CLIMÁTICAS E SAÚDE HUMANA:


POTENCIAL BIOCLIMÁTICO DE DESENVOLVIMENTO DO
Aedes aegypti E SUA RELAÇÃO COM OS CASOS NOTIFICADOS
DENGUE NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN

Bruno Claytton Oliveira da SILVA


Prof. Msc. Av. João da Escóssia, s/n, Nova Bethânia, Mossoró-RN. Docente da Universidade Potiguar (UnP).
brunoclaytton@yahoo.com.br
Prof. Dr. Fernando Moreira da SILVA
Av. Sem. Salgado Filho, s/n, Mirassol, Natal-RN. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
fmoreyra@ufrnet.br
Luis Henrique Torquato COSTA
Av. João da Escóssia, s/n, Nova Bethânia, Mossoró-RN. luistorquato@unp.br
Breno Medeiros Menezes de AGUIAR
Av. João da Escóssia, s/n, Nova Bethânia, Mossoró-RN. brenom@unp.br

RESUMO
O Aedes aegypti figura como o principal vetor da dengue no meio urbano, habitando áreas
domiciliares e peridomicialiares deste meio. A literatura mostra a relevância do ambiente, sobretudo
das condicionantes climáticas (temperatura do ar e umidade relativa do ar), por propiciarem
condições favoráveis no ciclo do seu desenvolvimento. Tendo isso em vista, o artigo versa a
despeito da potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no município de Mossoró-RN e
correlacionar tais resultados aos casos notificados de dengue, com vistas a verificar se há relação
entre aquela potencialidade e estes casos. Em se tratando dos materiais e métodos, utilizou-se na
pesquisa: Coleta de Dados, Normal Climatológica, Estatística Descritiva – Medidas de Tendência
Central e Dispersão, software Estima_T, Correlação de Pearson e Distribuição Uniforme. Os
resultados apontaram para uma significativa amplitude (0.45) da potencialidade de
desenvolvimento do Aedes aegypti. Fato esse constatado pela elevada heterogeneidade da
potencialidade mensal de desenvolvimento do vetor da dengue, que se apresentou como baixa nos
primeiros meses do ano (janeiro e fevereiro, 0.47 e 0.58, respectivamente), elevando-se nos meses
subseqüentes (março a maio, 0.78, 0.68, 0.70, respectivamente). A partir do mês de junho,
observou-se um decréscimo na potencialidade de desenvolvimento Favorável do Aedes aegypti. Em
relação à correlação da média dos casos notificados de dengue (2000-2008) à potencialidade de
desenvolvimento do Aedes aegypti, observou-se que essa se apresentou com extremamente elevada
(0.92).
PALAVRAS-CHAVE: Condicionantes Climáticas; Aedes aegypti; Dengue; Saúde
Humana.

ABSTRACT
Aedes aegypti appears as the major vector of dengue in the urban areas and home
peridomicialiares inhabiting this environment. The literature shows the importance of the
environment, especially the climatic (air temperature and relative humidity), for providing favorable
conditions in its development cycle. Keeping this in view, the article deals despite the development
potential of Aedes aegypti in the Mossoró-RN and to correlate these results to reported cases of
dengue, with a view to ascertain whether there is relationship between this potential and these cases.
In terms of materials and methods used in the research: Data Collection, Climatological Normal,
Descriptive Statistics – Measures of Central Tendency and dispersion, software Estima_T, Pearson
correlation and Uniform Distribution. The results pointed to a significant extent (0.45) Potentiality
of development of Aedes aegypti. This fact was evidenced by the high heterogeneity of monthly
potential development of dengue vector, which appeared as low in the early months of the year
(January and February, 0.47 and 0.58, respectively), rising in subsequent months (March to May,
0.78, 0.68, 0.70, respectively). From the month of June, there was a decrease in development
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 110

potential Aedes aegypti. Regarding the correlation of the average of the reported cases of dengue
(2000-2008) the development potential of Aedes aegypti, we observed that if presented with
extremely high (0,92).
KEYWORDS: Climatic, Aedes aegypti, Dengue, Human Health.

INTRODUÇÃO
Atualmente, observa-se que a problemática da dengue não figura mais como um novo
problema de saúde pública no país, mas sim, como uma emergente enfermidade que tem acometido
milhares de pessoas há pelo menos duas décadas.
Dentro deste contexto, destacam-se as condicionantes climáticas, que podem ser
entendidas como o conjunto de variáveis intrínsecas ao sistema climático.
Dentre as interferências das condicionantes climáticas, destaca-se o seu papel na gênese,
abundância, longevidade, velocidade de reprodução e repasto sanguíneo e distribuição espacial da
principal espécie vetora do vírus da dengue, o Aedes aegypti. Tal relação vem sendo estuda por
diversos autores, tais como: Consoli e Oliveira (1998), Gubler (1989) apud Donalísio e Glasser
(2002), Ferreira (2003), Fernandes et al. (2006), Beserra e Castro Jr. (2008) e Silva (2009).
No centro da problemática está a espécie Aedes aegypti. Tal fato teve como primeiras
evidências os estudos de Bancroft, realizados em 1906, sendo realmente confirmados por
Agramonte e colaboradores no ano de 1908. Acredita-se que suas origens são do continente
africano e que o vetor da dengue chegou a América a partir das viagens exploradoras/colonizadoras
européias (TORRES, 1998).
A distribuição geográfica do vetor, segundo Marcondes (2001), dá-se, principalmente,
dentro dos limites de latitude 45° norte e 30° sul, podendo habitar em outras porções da Terra,
desde que essa esteja dentro da isoterma de 20ºC.
Em se tratando do ciclo de desenvolvimento do Aedes aegypti, o mesmo compreende
quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto que, como demonstra a literatura específica e experimentos
realizados, têm seu processamento fortemente associado condições sócio-ambientais de um dado
local.
Segundo Halstead (1981) apud Torres (1998), a origem da dengue ainda não é consenso
entre os pesquisadores, porém estes consideram como mais provável que as primeiras epidemias
que se tem informação ocorreram na ilha de Java em 1779 e, alguns anos depois, na
Filadélfia/EUA.
Ainda em relação aos dados do histórico da dengue no mundo, estes revelam que, no
período compreendido entre 1956 e 1980, foram notificados 1.547.760 casos, com uma média anual
de 61.910 casos. No período que compreende os cinco anos posteriores (1981-1985), notificou-se
um total de 1.304.305 casos de dengue, passando a média anual para 260.861. Continuado o ciclo
de expansão da dengue, o período que compreenderá os anos de 1986-1995, resultará em situação
ainda mais preocupante. Nesse intervalo, foram notificados 3.480.190 casos da doença em todo o
mundo, que representa uma média anual de 350.000 casos (TORRES, 1998, apud SILVA, 2009).
Os primeiros casos notificados e confirmados laboratorialmente da dengue, em uma
unidade da federação, foram registrados no início da década no ano 1982, no estado de Roraima.
Segundo dados do Ministério da Saúde (M.S, 2005), nesse mesmo ano, foram notificados, somente
nesse estado, 11.000 casos da doença.
Atualmente a incidência da dengue, em todas as regiões do Brasil, com exceção da região
sul, tem se mostrado, em alguns anos, como elevada resultando em impactos diretos e significativos
à saúde pública. O Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD, 2002) classifica as áreas
com incidência de dengue em três estratos: alta incidência, para regiões, estados ou municípios com
taxa de incidência maior que 300 casos por 100.000 habitantes; média incidência, para regiões,
estados ou municípios com taxa de incidência dentro do intervalo de 100 a 300 casos por 100.000
habitantes; baixa incidência, para regiões, estados ou municípios com incidência menor que 100
casos por 100.000 habitantes.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 111

A fim de exemplificação, no ano de 2006, todas as regiões do país, a exceção da Sul,


apresentaram de média a alta incidência da dengue. Segundo a Secretária de Vigilância em Saúde
(MS/SVS, 2006), a região Nordeste, nesse mesmo ano, contabilizou 30% dos casos notificados de
dengue no país. Ainda, destaca-se a posição do estado do Rio Grande do Norte, que apresentou alta
incidência, ou seja, mais de 300 casos por 100.000 habitantes, nesse mesmo ano.
No que tange ao município de Mossoró-RN, esse registrou, segundo a Secretária de Saúde
Pública do RN (SESAP-RN, 2007) e a Secretária Municipal de Saúde do Município de Mossoró-
RN (SMS-Mossoró, 2009), no período compreendido entre o ano 2000 e 2008, 3.473 casos
notificados de dengue.
A partir da problemática exposta, objetiva-se neste capítulo, estimar a potencialidade
média mensal de desenvolvimento do Aedes aegypti no município de Mossoró, baseada no
comportamento das variáveis climáticas temperatura do ar e umidade relativa do ar. Além disso,
para a mesma área de estudo, pretende-se correlacionar tais resultados à média mensal dos casos
notificados de dengue, do período de 2000 a 2008, a fim de observar se a potencialidade de
desenvolvimento do Aedes aegypti pode ser abordada como um fator explicador dos casos
notificados de dengue.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
Criado em 1854, o município de Mossoró possui uma área de 2.110.21 km² (3,96 % da
superfície do Rio Grande do Norte). O município situa-se na mesorregião Oeste Potiguar e na
microrregião Mossoró, limitando-se com os municípios de Tibau, Grossos, Areia Branca, Serra do
Mel, Açú, Upanema, Governador Dix-Sept Rosado, Baraúna e com o estado do Ceará (IDEMA,
1999 apud MME, 2005).
A sede do município tem 16m de altitude e apresenta o par de coordenadas geográficas
05°11‘16,8‖ de latitude sul e 37°20‘38,4‖ de longitude oeste. Além disso, Mossoró dista cerca de
277 km da capital do estado, a cidade de Natal-RN (IDEMA, 1999 apud MME, 2005). Segundo
dados do IBGE (2008), o município de Mossoró possui uma população estimada, atualmente, de
244.287 habitantes, sendo sua densidade demográfica de 101,84 hab/km2.
De acordo com a classificação climática de Köppen (1918) apud BNB (1969), Mossoró
apresenta, como mostra a figura 1, o clima Seco de Estepe com Verão Seco (BSs‘h). O referido tipo
climático tem seu período chuvoso iniciado ao final do verão estendendo-se até o outono, ou seja,
abrange os meses de fevereiro a maio.

Figura 1: Mapa climático do estado do Rio Grande do Norte.


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 112

Fonte: BNB (1969), modificado por SILVA (2008).

Metodologia
Coleta de Dados
A coleta de gabinete foi realizada junto às instituições que coletam e quantificam dados
relacionados às variáveis em estudo (temperatura média do ar, precipitação pluviométrica, umidade
relativa do ar e notificações de dengue): Instituto Nacional de Meteorologia, Secretária de Saúde
Pública do Rio Grande do Norte, além da Secretária Municipal de Saúde do município de Mossoró-
RN.

Normal Climatológica
Foram utilizadas as Normais do período de 1961 a 1990, tendo sido estas editadas, no
Brasil, pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no ano de 1992.

Estatística Descritiva
Far-se-á necessário a utilização da estatística descritiva, representada por medidas de
tendência central, bem como, medidas de dispersão.

Correlação de Pearson
A correlação de Pearson, compreendida, segundo Andriotti (2005), como uma associação
numérica entre duas variáveis, foi utilizada a fim de observar o grau de correlação existente entre o
número médio de casos notificados de dengue no período de 2006 e 2007 e o comportamento das
variáveis ambientais em estudo. O coeficiente de correlação foi obtido a partir da seguinte equação:
x x y y
r 2 2
x x y y
Onde:
r = um índice situado entre -1 e 1;
x e y = valores respectivos as variáveis em estudo.

Distribuição Uniforme
A distribuição, descrita por Fonseca e Martins (2006), foi utilizada nos cálculos da
potencialidade da condição Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti no município de
Mossoró-RN, sendo expressa pela seguinte equação:
. f(x) = 0 Para x fora de [a, b]
f(x) = 1 / b – a Para a ≤ x ≤ b
Onde:
x = Potencialidade da condição Favorável Desenvolvimento do Aedes aegypti;
a = Limite inferior da condição Favorável Desenvolvimento do Aedes aegypti;
b = Limite superior da condição Favorável Desenvolvimento do Aedes aegypti.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados para a potencialidade de desenvolvimento favorável do Aedes aegypti no
município expressaram como bastante satisfatórios, apresentando valores significativos de 0.45 de
amplitude e 0.15 de desvio padrão. As potencialidades mínimas foram registradas no período
compreendido entre os meses de agosto e outubro (0.34, 0.33, 0.36, respectivamente).
Contrariamente, no que tange o período de março a maio, registraram-se as potencialidades
máximas (0.78, 0.68, 0.70, respectivamente), como mostra o gráfico 2.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 113

1,00
0,90
0,80
Potencialidade 0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses

Figura 2: Potencialidade de Desenvolvimento do Aedes aegypti em Mossoró-RN


Fonte: Silva (2009).

A posteriori, realizou-se, a análise de correlação entre a potencialidade mensal de


desenvolvimento do Aedes aegypti com os casos notificados de dengue no município, destinando-se
a analisar a correlação entre a condição citada e o número médio mensal de casos notificados de
dengue no período. Os resultados desta análise culminaram em uma elevada correlação positiva
para o período analisado, 0,92.
Analisando o contexto temporal, a partir da figura 3, observa-se que o
comportamento/tendência das curvas segue praticamente o mesmo padrão, coincidindo, assim, o
intervalo de maior potencial de desenvolvimento do Aedes aegypti com o ápes da curva
representada pelo número médio mensal dos casos notificados de dengue no período.

80 1,00

0,90
70
0,80
60
0,70
50
0,60

40 0,50

0,40
30
0,30
20
0,20
10
0,10

0 0,00
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Média mensal dos casos notificados de dengue (2000-2008) Prob. Ae. aegypti

Figura 3: Correlação entre a potencialidade mensal de desenvolvimento do Aedes aegypti e a média mensal
dos casos notificados de dengue no município de Mossoró-RN (2000-2008).
Fonte: Silva (2009).

Desta forma, pode-se atribuir grande significância entre o comportamento sazonal da


condição de desenvolvimento em análise com os casos notificados de dengue, dada a
representatividade amostral do período em se tratando do número de casos notificados da doença no
município.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 114

CONCLUSÕES
A partir do estudo, pôde concluir, inicialmente, que a potencialidade de desenvolvimento
do Aedes aegypti no município de Mossoró-RN apresenta-se como significativamente variada. Tal
fato pôde ser constatado a partir da variância encontrada para a mesma. Entretanto, verificou-se que
as atenções, para o trato do controle do vetor, devem ser enfatizadas, sobretudo, no período
compreendido entre fevereiro a abril, meses estes onde se registrou maior potencialidade de
desenvolvimento do vetor. No que tange aos casos notificados de dengue verificou-se que estes
possuem, também, significativa variação espacial, no que tange ao registro do número de
notificações. Finalmente, destaca-se a forte correlação existente entre a potencialidade mensal de
desenvolvimento do Aedes aegypti e a média mensal dos casos notificados de dengue no município
em estudo. Tal correlação que, de modo geral, podem apresentar padrões distintos, dada a influência
de outras variáveis como a circulação do vírus e a disposição do hospedeiro humano, foi encontrada
despontando como um forte indicador e uma ferramenta relevante para o sistema de controle e
redução dos casos notificados da doença no município de Mossoró-RN.

REFERÊNCIAS
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2005. 165 p.
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Dengue. Revista Brasileira Epidemiologia, vol. 5, n. 3, 2002.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 115

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Anais... SP: SBMET, 1994. 12 p.
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- Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Programa
Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA.
TORRES, S, E. M. Dengue y dengue hemorrágico. Buenos Aires/Argentina: Editora Nacional da
Universidade de Quilmes, 1998, p. 24-58. 261p.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 116

ESTUDO MICROCLIMÁTICO ATRAVÉS DO ÍNDICE DE


STEADMAN PARA MUNICÍPIO DE NATAL/RN: NORDESTE DO
BRASIL

Aderson Stanrley PEIXOTO Santos


Universidade Federal do Rio Grande do Norte/DGE, Bolsista PROGRAD.
stanrleys@gmail.com
Juliana Rayssa SILVA Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Bacharel em Geografia.
rayssa480@hotmail.com
Fernando MOREIRA da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/DGE – Professor Doutor.
frmoreyra@ufrnet.br

RESUMO
Devido à crescente especulação imobiliária e ações públicas mal planejadas, faz com que a
paisagem urbana natalense passe por transformações que afetam na distribuição imobiliária e
vegetacional, que corrobora para conformações de problemas nos espaço urbano citadino no que
concerne ao conforto térmico. O objetivo deste trabalho visa avaliar os processos radiativos e a
contribuição da espacialidade vegetacional no conforto da cidade do Natal/RN. Os dados mensais
foram obtidos junto ao Laboratório de Climatologia (Estação Climatológica da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte) desde 1984 a 2008. A metodologia empregada basea-se em
equações semi-empíricas aliadas ao índice de Steadman. Como resultado do estudo, observa-se que
os dados finais se concentram na área do extremo cuidado (55 % dos dados) a perigoso (45%) o que
afeta nos ajustes metabólicos garantidores da estabilidade interna e externa da população, não
somente na questão do conforto como na questão da saúde pública. Portanto, apresentamos a
importância do estudo microclimatológico como alvo de grande respaldo para ser inserido como um
dos pontos chave na elaboração do planejamento urbano, havendo ainda, a necessidade de estudos a
respeito.
PALAVRAS-CHAVE: Microclima; Vegetação; Saldo de Radiação; Planejamento
territorial; Modelo de Steadman.

ABSTRACT
Due to the increasing speculation and ill-planned public actions, makes the urban
landscape natalense go through changes that affect the distribution property and vegetation, which
confirms conformations of problems in urban city with regard to thermal comfort. This study aims
to evaluate the contribution of radiative processes and spatial vegetation in the comfort of Natal /
RN. The monthly data were obtained from the Laboratory of Climatology (Climate Station of the
Federal University of Rio Grande do Norte) from 1984 to 2008. The methodology used were based
on semi-empirical equations combined with the Steadman index. As a result of the study, we
observed that the final data are concentrated in the area of extreme care (55% of data) to dangerous
(45%) which affects the metabolic adjustments guarantors of internal and external stability of the
population, not only in question comfort as the issue of public health. Therefore, we present the
importance of studying Microclimatology target of great support to be added as one of the key
points in the development of urban planning, and there is the need to study it.
KEYWORDS: Microclimate, Vegetation, Radiation balance; Planning territorial Model
Steadman.

INTRODUÇÃO
A ocupação pelo homem na cidade promove intensas alterações estruturais na
configuração desta, sendo cada vez mais intensificada quanto mais complexa for sua rede de
relações capitalistas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 117

As alterações estruturais e a falta de um planejamento territorial condizente com as


peculiaridades do espaço citadino contribuem para a mudança na paisagem, e, por conseqüência,
acabam por influir na distribuição radiativa, como também, de acordo com Barry; Choley (1999, p.
313), na penetração de calor na superfície, além de implicar na alteração, na visão de Ayoade (1998,
p. 63), na temperatura do ar, bem como da taxa de perda de calor proveniente do organismo. Dessa
forma, intervindo no conforto térmico humano (STEADMAN, 1979; LOMBARDO, 1985; FROTA;
SCHIFFER, 2001).
A dialética da (des)organização do espaço urbano acaba por também influir na
espacialização distributiva da vegetação. Esta, de grande importância para a questão do conforto
térmico, pois a ―absorção radiativa para os processos fotossintéticos e do sombreamento de sua
copa, permite a amenização do calor advindo da radiação e irradiação solar dos objetos concretos do
espaço‖ (SANTOS; SILVA, 2009). Assim, essa mudança na distribuição vegetacional, também
permeia alteração no sistema do balanço radiativo do ambiente local que finda na alteração do seu
balanço de energia. Logo, como respaldado por Mendonça; Monteiro (2003, p.93), os processos de
troca de energia e umidade entre solo e o ar assumem ampla complexidade, em decorrência da
diversidade espacial das estruturas (fixos) da superfície urbana.
Consoante a Mendonça; Oliveira (2007, p. 47), Mascaró (2005, p.11) e Lombardo (1985,
p. 23) a vegetação desempenha um papel primordial para um município, pois, ela age como
reguladora da umidade e de temperatura, diminuindo a disponibilidade de energia para aquecer o ar
abaixo delas, reduzindo os bolsões térmicos e o consumo de energia, auxiliando, desta maneira,
para alterar as características microclimáticas de desconforto térmico da população em suas
atividades.
Nesse ínterim, é importante salientar a significância da quantidade de espécimes, pois,
dependendo da quantidade de diversidade florística, segundo Pereira (2008, p.21), o balanço
energético final torna-se igual a das áreas com mesmo tipo vegetacional, porém o balanço térmico
torna-se variável ocorrendo maior transpiração, evapotranspiração e fluxo térmico na superfície do
solo até a camada de ar limítrofe. Desse modo, quanto mais diverso for a quantificação de
espécimes no local, principalmente arbóreas (para Natal), melhor o sombreamento e menor a carga
térmica proveniente da ação radiativa direta sobre o espaço urbano.
Pelo fato de sua proximidade com o Equador, a cidade do Natal/RN localizada na zona
litorânea Oriental do estado do Rio Grande do Norte/Brasil (Mapa 01), é o lócus de grande
incidência energética radiativa por unidade de área. Logo, é notória a necessidade de um plano
arborístico visando a amenização dos efeitos radiativos para o conforto térmico. Além deste fator,
esta cidade ―vivencia‖ um processo de intensa especulação imobiliária, com crescente foco em
empreendimentos prediais. Este fato contribui na intensificação do fator refletivo, emitância da
radiação e possível alteração no fluxo dos ventos na cidade.
Portanto, torna-se imprescindível a relação gestora do balanço radiativo com uma
concepção microclimática do conforto, através da qual a amenização térmica provocada pela
arborização deve ser colocada à luz do planejamento territorial dos diversos espaços citadinos de
Natal/RN, uma vez que a vegetação cria o arcabouço energético sobre o esse trazendo o que
Mascaró (2005, p.23) trata pela vegetação, como contribuidora de planos que organizem o espaço
urbano, trazendo como conseqüência as amenidades sobre este espaço por meio do trabalho
paisagístico arbóreo.
Nesse contexto, temos por objetivo avaliar os processos radiativos e a importância da
distribuição vegetacional, ambos, aliados ao conforto térmico das cidade, especificamente na cidade
de Natal/RN (zona litorânea Oriental do estado do Rio Grande do Norte/Brasil), então alvo do
presente estudo.

METODOLOGIA
Os dados utilizados para este estudo valem-se das médias da temperatura do termômetro de
bulbo seco, bulbo úmido e insolação diária dos anos de 1984 a 2008, referentes ao município de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 118

Natal/RN (Mapa 01), coletados na Estação Climatológica (05º55‘ Latitude Sul, 35º12‘ Longitude
Oeste) localizada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Mapa 1: Localização do município de Natal/RN.

Quanto ao balanço de radiação, este é descrito a partir de equações semi-empíricas dos


quais representam os fluxos radiativos que se dinamizam na atmosfera, descritas no quadro 1
abaixo:

Quadro 1: Equações semi-empíricas da obtenção dos fluxos radiativos. (Adaptado Tubelis – 1980)
Radiação Global (W/m²) (Eq. de Angstrom) Rg = Ro*[a + b* (n/N)]
Radiação Refletida (W/m²) Rr= *Rg
Radiação Absorvida (W/m²) Ra = (1- )*Rg
Radiação terrestre diária (W/m²) Rs = 1440 ∂ T4 ξ
Emissão efetiva terrestre (W/m²) Rol = Rs (0,09 * e¹/² - 0,56) * (0,1+0,9*(n/N)]
Balanço de Radiação (W/m²) R = Ra - Rol

Onde, ―Ro‖ é a radiação no topo da atmosfera, ―a‖ e ―b‖ são as constantes de Angstrom
conforme McCullosh e Glover apud Tubelis (1980, p. 40), ― ‖ é o albedo; ―∂‖ é a constante de
Stefan-Boltzmann; ―T‖ é a temperatura em ºC; ―ξ‖ Emissividade da superfície (ξ=1); ―e‖ é a tensão
de vapor; ―n/N― é a razão de insolação

Como modelo de conforto, utilizamos a índice proposto por Steadman (1979, p. 865)
denominado Índice de Temperatura Aparente - ITA. Conforme Quayle e Dohering (1981) apud
Baêta (1997, p. 72) este índice se apresenta como melhor na análise de conforto, sendo
operacionalizado pelo National Weather Service (1984) (BAÊTA, 1997).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 119

O índice de Steadman considera o estresse calórico biológico da sensação dos efeitos da


temperatura, umidade, velocidade do vento e radiação (saldo da radiação) sobre o corpo humano,
sendo um avaliador do conforto térmico.

A faixa de estresse calórico, o índice de Steadman, considera os valores que seguem a


interpretação da Tabela 2 e com o cruzamento do gráfico da figura 1, em cujo resultado final
corresponde à temperatura relativa à sensação térmica, no que concerne aos limites do diagrama da
figura 2.

Tabela 2: Escala do Índice de Temperatura Aparente (Adaptado de Baêta e Souza, 1997, p. 71).
UMIDADE RELATIVA (%) VENTO (m/s)
TBS
50 60 70 80 90 100 0-3 4 8 12
20 19 20 20 21 21 21 0 -1 -3 -4
21 20 21 21 22 22 23 0 -1 -3 -4
22 21 21 22 22 23 24 0 -1 -2 -4
23 23 23 24 24 24 25 0 -1 -2 -4
24 24 24 25 25 25 26 0 -1 -2 -4
25 25 25 26 27 27 28 0 -1 -2 -4
26 26 27 27 28 29 30 0 -1 -2 -3
27 27 28 29 30 31 33 0 -1 -2 -3
28 29 29 31 32 34 (36) 0 -1 -2 -3
29 30 31 33 35 37 (40) 0 0 -1 -3
30 31 33 35 37 (40) (45) 0 0 -1 -2
31 33 35 37 40 (45) 0 0 -1 -2
32 35 37 40 44 (51) 0 0 -1 -1
33 36 39 43 (49) 0 0 0 -1
34 38 42 (47) 0 0 0 0
35 40 (45) (51) 0 0 0 1

Figura 1: Gráfico da Temperatura Aparente Final


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 120

Figura 2: Qualificação do índice de Steadman (°C)

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao interligarmos os resultados da temperatura do bulbo seco, umidade relativa, velocidade
do vento, para Natal/RN, obtemos o incremento da temperatura aparente, e, correlacionando este
com os valores do saldo de radiação obtidos para a cidade, adquirimos o valor relativo ao índice de
Steadman, denominado de Temperatura Final Aparente. Este, de acordo com as faixas de seu valor
caracteriza a sensação térmica.
O gráfico 1 apresenta o resultado das faixas da Temperatura Aparente Final ao longo dos
anos (1984 a 2008) para Natal/RN. Correlacionando estes valores com o diagrama da figura 2,
obtemos a situação do estresse calórico.

Gráfico 1:Temperatura Aparente Final

Os dados estudados entre os meses dos anos de 1984-2008 resultantes da análise estatística
se concentram na faixa térmica entre 32 a 50ºC. Ou seja, de acordo com a qualificação, estes se
centralizam na área do extremo cuidado a perigoso, onde 55 % dos dados apresentam o estresse
calórico no limite do extremo cuidado e os outros 45%, na faixa do perigoso.
Conforme a proximidade das faixas acima, notamos que a atenção das variáveis externas
(temperatura, umidade, velocidade do vento, radiação e especulação imobiliária-predial) afetam nos
ajustes metabólicos garantidores da estabilidade interna e externa da população. Este contexto acaba
por influir não somente na questão do conforto como na questão da saúde pública.

CONCLUSÕES
Conforme o que foi relatado, observamos que na cidade do Natal/RN, a interferência
especulativa na ocupação do uso do solo e do planejamento influi na distribuição dos objetos do
espaço citadino e consequentemente afeta nas diversas variáveis climáticas, como: temperatura,
umidade, velocidade do vento e radiação.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 121

Os fatores atribuídos a esta situação de variação microclimática, portanto, ocorre devido a


estes dois fatores principais: construções de edifícios, com diversos gabaritos e a falta de
planejamento com relação a arborização, numa concepção paisagística e microclimática para o
conforto térmico de sua população.
Abordamos a variável radiativa como ênfase nesta pesquisa, pois esta, decorrente dos
planos de organização espacial arbórea e dos planos de organização predial, afeta nos níveis da
qualificação e quantificação sobre a pele humana, colaborando, nessa premissa, para situações de
interferência na saúde e na sensação de conforto da população.
Para atender essa prerrogativa, utilizamos o modelo de Steadman, cujo modelo retrata a
participação da radiação como item de fundamento na análise do conforto térmico, sob o foco da
ambiência externa, uma vez que, outros modelos analisados para o conforto térmico, como o Índice
de Temperatura e Umidade proposto por Tom (1959) e o modelo de Wind Chill Index (MUNN,
1970) não consideram a questão radiativa na análise da sensação térmica.
Nesse ínterim, creditamos que a presença da vegetação cria uma zona de controle dos
efeitos radiativos sobre a cidade e cria, de acordo com a Barbirato et al (2007, p. 109) e Mascaró
(2005, p. 65) aspectos paisagísticos influentes sobre a psicologia da população urbana. Dessa forma,
favorecendo a ―qualidade climática de recintos e a biodiversidade urbana‖ (BARBIRATO et al,
2007, p. 109).
Portanto, apresentamos a importância do estudo microclimatológico como alvo de grande
respaldo para ser inserido como um dos pontos chave na elaboração do planejamento urbano,
havendo ainda, a necessidade de estudos a respeito.

REFERÊNCIAS
AYOADE, J. O. Introdução a climatologia para os trópicos. Tradução: Maria Juraci dos Santos.
5.ed. Coordenação editorial de Antonio Cristofoletti. Rio de Janeiro/RJ: Bertrand Brasil,
1998.Tradução de Introduction of climatology for the tropics.
BAÊTA, Fernando da Costa; SOUZA, Cecília de Fátima. Ambiência em edificações rurais:
conforto animal. Viçosa/MG: UFV, 1997
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MENDONÇA, Francisco & OLIVEIRA, Inês Moresco Danni. Climatologia: noções básicas e
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MONTEIRO, CARLOS. A. F.; MENDONCA, Francisco. Clima Urbano. São Paulo/SP: Contexto,
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MUNN, R. E. Biometeorological Methods. New York and London. 1970
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radiação e planejamento em Natal/RN. Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física
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SILVA, Mário Adelmo Varejão. Meteorologia e climatologia. Recife/PE: INMET, 2006. (Versão
Digital).
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STEADMAN, Robert G. The assessment of sultriness. Part I: a temperature-humidity index based


on human physiology and clothing science. Colorado/EUA: Journal of Applied Meteorology, 18
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TUBELIS, Antônio; NASCIMENTO, José L. Meteorologia Descritiva: Fundamentos e aplicações.
São Paulo/SP: Livraria Nobel S.A. 1980.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 123

O NOSSO PLANETA TEM PRESSA: UMA ABORDAGEM SOBRE


O AQUECIMENTO GLOBAL EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO
SERTÃO CENTRAL

Priscylla Nayara Bezerra SOBREIRA


Graduandas do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE). Fazenda Saco S/N. Caixa Postal: 063. CEP:
56.900-000. Serra Talhada - PE.
priscylla.ufrpe@hotmail.com
Ayany Mychely dos Santos LIMA
Graduandas do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE).
Luciana de Matos Andrade BATISTA-LEITE2
2. Professor orientador da UAST/UFRPE

RESUMO
Nos últimos anos estamos acompanhando em jornais e revistas o efeito devastador do
aquecimento global. Os cientistas relatam que os desastres ambientais estão ocorrendo devido a
fortes ciclones, furacões, derretimento das calotas polares, alterações climáticas onde pode afetar os
ecossistemas e também a vida humana. Acredita-se que é devido à emissão de gases poluentes,
alguns derivados da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e ilhas de calor. Este trabalho
objetivou compreender os efeitos, causas e conseqüências do aquecimento global e como o ser
humano é agente transformador da natureza em que vive. A metodologia do trabalho consistiu na
aplicação de um pré-teste antes da palestra, com o intuito de verificar o conhecimento dos
estudantes. Em seguida, foi ministrada uma palestra com duração de uma hora, e após dois dias foi
reaplicado o questionário para reconhecer a simples memorização e proporcionar para os alunos a
contínua disseminação das informações adquiridas durante a palestra. Foram utilizados
procedimentos práticos que conduziu estratégias como o trabalho em grupo e elaboração de cartazes
no primeiro dia, que depois foram expostos.
PALAVRAS-CHAVE: Desastres ambientais, Alterações climáticas, Aquecimento Global.

ABSTRACT
In recent years we have observed in newspapers and magazines the devastating effect of
global warming. Scientists report that environmental disasters are occurring due to strong cyclones,
hurricanes, melting ice caps, where climate change can affect ecosystems and human life also. It is
believed that is due to greenhouse gas emissions, some derived from burning fossil fuels,
deforestation and heat islands. This study aimed to understand the effects, causes and consequences
of global warming and how humans are transforming agent of nature in which he lives. The
methodology of the work consisted of applying a pre-test before the lecture, in order to check the
students knowledge. He was then given a lecture lasting one hour and two days after the
questionnaire was reapplied to recognize the mere recording and to provide students continuous
dissemination of information acquired during the lecture. We used practical procedures which led
strategies such as group work and preparation of posters on the first day, which were then exposed.
KEYWORDS: Environmental disasters, climate change, Global Warming.

INTRODUÇÃO
O termo aquecimento global refere-se a uma mudança climática a escala global, ou seja, é
um aquecimento referente às décadas recente sendo subentendido por uma influência humana. As
causas do aquecimento é uma área ativa no centro de pesquisa, onde os estudiosos tentam explicar
os fenômenos que estão acontecendo em nosso planeta. Sendo uma conseqüência desse
aquecimento as alterações climáticas, o século XX foi um dos mais quentes pondo em risco a vida
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 124

de muitas espécies. A terra passa por ciclos de resfriamento e aquecimento, nas ultimas décadas a
temperatura aumentou em decorrência do efeito estufa. [1]
Segundo Baird (2002) é o efeito estufa que altera o clima em todo o mundo, o que é
necessário estudo sobre os seus mecanismos, como também as suas conseqüências ao ambiente. É o
efeito estufa que mantém o clima terrestre ameno, sem grandes variações entre o dia e a noite,
permitindo que a vida se mantenha. Sem ele, uma maior parte da superfície do nosso planeta seria
coberta de gelo. [2]
Para Branco (2002) uma das intervenções do efeito estufa seria o aumento de temperatura
nas grandes cidades, geradas pela movimentação dos veículos, causando grandes quantidades de
energia, de acordo com as leis da termodinâmica, a utilização de energia gera um aumento de
temperatura. [3]
O aumento de temperatura permite que um sistema mude completamente, onde algumas
espécies são forçadas a sair de seus habitats ou podem se espalhar invadindo outros ecossistemas.
As atividades humanas são responsáveis por uma grande emissão de gases na atmosfera,
principalmente o dióxido de carbono que é um produto de vários processos naturais como a
respiração dos seres vivos e emissões vulcânicas. No entanto, vários fatores contribuíram para
elevar a quantidade de dióxido de carbono presente na atmosfera. Dentre eles, os mais significativos
são o desenvolvimento industrial acelerado, a queima de combustíveis fósseis, os grandes
desmatamentos e as queimadas de florestas. Com mais dióxido de carbono, a atmosfera absorve
uma quantidade maior de radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre, aquecendo mais
do que deveria. Tendo como resultado o aumento de temperatura em todo o planeta, o chamado
aquecimento global. [4]
O ritmo do aquecimento global neste século será superior ao do século XX, provocando
grandes impactos sociais e ambientais. Com o derretimento das calotas polares o nível do mar irá
aumentar drasticamente, alterando a vida nas zonas costeiras. Devido à intensa freqüência de
tempestades, inundações, enchentes e deslizamentos de terra as comunidades mais pobres serão as
mais afetadas. A destruição da Amazônia também contribui para o aquecimento global, alterando o
clima regional, onde a floresta é substituída por um cerrado mais pobre em biodiversidade. Um dos
territórios também afetados pelo aquecimento é a caatinga, que pode ser transformada em um
deserto, tendo como resultado a elevação de evaporação e a disponibilidade de água. [5]
Os possíveis impactos das mudanças globais acarreta em um aumento na incidência de
eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar, perda das calotas polares, alterações na
disponibilidade de recursos hídricos, mudanças nos ecossistemas, desertificação, interferências na
agricultura e muitos impactos no bem-estar da população humana. [6]
Existe uma grande importância nas atividades de reflorestamento no que se refere à
remoção de CO2 da atmosfera e combate ao efeito estufa, a remoção desse gás na atmosfera é
realizada devido à fotossíntese, com o crescimento da vegetação o carbono vai sendo capturado
pelas partes da planta promovendo uma mudança mitigadora ao combate das mudanças climáticas.
[7]
Os setores econômicos devem está em pauta para a contribuição da redução de gases na
atmosfera. As decisões de grande escala estão nas mãos do governo, mas pequenas atitudes podem
fazer uma grande diferença.
Este trabalho teve como objetivo compreender os efeitos, causas e conseqüências do
aquecimento global e os possíveis impactos das mudanças climáticas a nível global, onde foram
elaborados questionários antes e após a palestra em sala de aula, cartazes e exposições de materiais,
como requisito para a obtenção dos resultados referidos mais adiante.

MATERIAIS E MÉTODOS
As ações educativas foram ministradas em uma escola pública no município de Verdejante,
Pernambuco, para proporcionar atividades de conscientização a nível global. Participaram das
atividades alunos com uma faixa etária entre 15 e 19 anos. A metodologia do trabalho consistiu na
elaboração de um pré-teste, onde foi possível diagnosticar o conhecimento dos estudantes. Logo
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 125

após, foi ministrada uma palestra com duração de uma hora, e após dois dias foi reaplicado o teste
para analisar o índice de aprendizagem dos adolescentes durante a palestra. A amostragem para
estudo foi de 96 entrevistados, sendo 48 antes da palestra e 48 entrevistados depois da palestra.
Foi organizada uma montagem de painéis para demonstrar as principais causas e as
conseqüências do aquecimento global com o objetivo de despertar nos alunos os principais agentes
transformadores do ambiente, onde foram discutidos conceitos básicos sobre esfeito estufa,
poluição, combustíveis fósseis e atmosfera. Onde as turmas foram divididas em grupos para
elaborarem cartazes explicativos que foram expostos depois nos corredores da escola. Para a
confecção dos cartazes foram utilizados jornais, revistas, cola, tesoura e cartolina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos resultados se refere à intensa intervenção do tema debatido em sala de aula
sobre o tema ―Aquecimento Global‖. A aplicação dos questionários apresentou os seguintes dados
relativos ao pré-teste (quadro I) e o pós-teste (quadro II) para as questões formuladas:

PRÉ-TESTE
PERGUNTAS RESPOSTAS (%)
SIM NÃO

I. Você sabe o que é o aquecimento global? 93% 7%


II. O que seria uma das conseqüências do aquecimento global em nosso planeta? 72% 28%

III. Quais os principais responsáveis pelo aquecimento global? 92% 8%


IV. O nosso planeta está ameaçado? 75% 25%
V.O aquecimento pode afetar as gerações futuras? 92% 8%
VI. Você já viu algum noticiário sobre o aquecimento global? 81% 19%
Quadro I: resultados pré-teste.

PÓS-TESTE

PERGUNTAS RESPOSTAS (%)


SIM NÃO

I. Você sabe o que é o aquecimento global? 98% 2%


II. O que seria uma das conseqüências do aquecimento global em nosso planeta? 82% 18%

III. Quais os principais responsáveis pelo aquecimento global? 94% 6%


IV. O nosso planeta está ameaçado? 96% 4%
V.O aquecimento pode afetar as gerações futuras? 98% 2%
VI. Você já viu algum noticiário sobre o aquecimento global? 100% --
Quadro II: resultados pós-teste.

Pela análise, observa-se uma melhora na aprendizagem depois do pós-teste aplicado, tal
êxito deve-se da intervenção do material focado como também na aprendizagem significativa. O
fator dentre as diferenças se dá devido ao índice de aprendizagem pré e pós-teste. O que acarreta em
um maior desempenho, interesse e participação, que oportunizou a associação e uma grande
percepção dos conteúdos discutidos em sala, sobre efeito estufa, combustíveis fósseis e atmosfera.
Um dos fatores que possibilitaram no maior índice de porcentagem, pós-teste foi à elaboração dos
cartazes em grupo, onde representou uma importante colaboração na construção do conhecimento.
Através deste trabalho foi possível conhecer o interesse dos alunos por esse tema ―o
aquecimento global‖. Onde a formação dos alunos, em diferentes áreas do conhecimento torna-se
fundamental. Existe a necessidade de haver uma base comum de conhecimento a todos e que as
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 126

questões típicas do mundo sejam debatidas também nas escolas. A organização de medidas e a
visão geral sobre o nosso planeta e seus acontecimentos foram propostas de uma forma dinâmica
onde os alunos também participaram na elaboração de cartazes, compreendendo o mundo como
uma capacidade de colher informações, avaliar e tomar decisões que possam ser úteis. É necessário
no planejamento escolar os assuntos sobre as condições ambientais e planetárias de sustentabilidade
onde hoje tais questões atuais é extremamente importante e constitui um grande desafio.
Este trabalho resultou na formação de 96 estudantes disseminadores capazes de pensar,
abstrair e multiplicar para a comunidade em geral a importância do equilíbrio do ambiente, além de
repassar informações, gerando um sistema dinâmico.

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[6][7] MOUTINHO, Pedro et. Perguntas e Respostas sobre o aquecimento global. Belém, Pará.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 127

SECAS SEVERAS NO NORDESTE DO BRASIL E A


TEMPERATURA DA SUPERFÍCE DO MAR: UMA REVISÃO

Gabriela Ayane Chagas Felipe SANTIAGO1


Graduanda em Geografia, UFPE
gabriela_ayane@hotmail.com
Camila Lucena MOTA
Graduanda em Geografia, UFPE
camila_lmota@yahoo.com.br
Ranyére Silva NÓBREGA
Meteorologista, D.Sc., Prof. Adjunto, Depto Ciências Geográficas, UFPE/Recife – PE
ranyere.nobrega@ufpe.br

RESUMO
Este trabalho tem por intuito esclarecer a gênese da irregularidade pluviométrica no
Nordeste do Brasil (NEB) mostrando que há uma grande influência do El Niño e do Dipolo do
Atlântico, que são variações nas características atmosféricas e na Temperatura da Superfície do Mar
(TSM) dos oceanos Pacífico e Atlântico, desmistificando assim que o El Niño é o único responsável
pelas secas do NEB. O El Niño é o aquecimento das águas superficiais do Pacífico Tropical
próximo à costa do Peru/Equador até o meio oeste do Pacífico, este fenômeno associado ás
mudanças de pressão do ar superior a sua atmosfera (Oscilação Sul (OS) é um dos responsáveis
pelas secas do NEB, porém a ainda acredita-se que o El Niño é o grande vilão das irregularidades
pluviométricas da região tratando-o de forma isolada e desconhecendo a interferência da TSM do
Atlântico (Dipolo). O Dipolo do Atlântico é um padrão de anomalias da TSM sobre o Oceano
Atlântico Tropical que influencia diretamente na movimentação da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), que é um dos principais reguladores de ocorrência de chuvas do NEB,
caracterizando uma relação oceano/atmosfera interferindo no regime pluviométrico da região. Para
esse entendimento foram feitas revisões bibliográficas e comparações de pesquisas que tiveram
como objetivo estudos das causas das secas severas do NEB. A finalidade deste artigo é destacar
que nem sempre que houver mudanças no índice de chuvas no NEB deve-se levar em consideração
um fenômeno isolado e sim a relação de vários fatores que causam tais mudanças.
PALAVRAS-CHAVE: El Niño, Dipolo do Atlântico, Secas severas, Nordeste do Brasil,
Climatologia.

ABSTRACT
This study is objetive to clarify the genesis of the irregular rainfall in Northeast Brazil
(NEB) showing that there is great influence of El Niño and the Atlantic dipole, which are variations
in atmospheric temperature and sea surface (SST) of Pacific and Atlantic oceans, demystifying how
the El Niño is solely responsible for the dry NEB. El Nino is the warming of surface waters in the
tropical Pacific off the coast of Peru / Ecuador to the middle of the western Pacific, a phenomenon
linked to changes in air pressure above the atmosphere (Southern Oscillation (SO) is one of those
responsible for NEB dry, but it still believes that the El Niño is the villain of the irregularities in
rainfall in the region treating it in isolation and ignoring the interference of the Atlantic SST
(dipole). The Atlantic Dipole is a pattern of anomalies SST over the Tropical Atlantic Ocean that
directly influences the movement of the Intertropical Convergence Zone (ITCZ), which is one of
the main regulators of rainfall NEB, featuring a relationship ocean / atmosphere interfering with the
rainfall in the region. For this understanding were made reviews and comparisons of research
conducted with the objective studies of the causes of the severe droughts of the NEB. The purpose
of this paper is to highlight that even when there are changes in rainfall in the NEB must take into
account an isolated phenomenon, but the relationship between several factors that cause such
changes.
KEYWORDS: El Niño, Atlantic Dipole, Extreme Drought, Northease Brazil, Climatology.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 128

INTRODUÇÃO
Desastres climáticos e suas variabilidades sempre estiveram presentes na história da
humanidade, e dentre estes desastres, sem dúvida os eventos de seca e inundações são os que trazem
maiores transtornos para o homem e suas atividades. Contudo, com a evolução da ciência
meteorológica, notadamente a partir dos anos 80, várias são as pesquisas que buscam desvendar o
porquê dessas irregularidades. Nessa busca constante verificou-se que a temperatura da superfície
do mar tem forte influência no tempo e clima de cada região. E em se tratando de Nordeste do
Brasil (NEB), muitos dos eventos de secas e chuvas anômalas, são atribuídos a estas variações,
sobretudo aos fenômenos El Niño e La Niña (UVO, 1998; TRENBERTH, 1997; NOBRE &
SHUKLA, 1996; MOURA & SHUKLA, 1981).
O regime de chuvas do NEB apresenta variabilidade sazonal e espacial significativa, com
os volumes diminuindo de leste para o oeste, resultante da interação oceano-atmosfera e das
características geográficas (como relevo, por exemplo) da região.Tais singularidades pluviométricas
ainda podem ser somadas a eventos de secas e enchentes, que trazem a essa região diversos
impactos ambientais, sociais e econômicos fazendo com que mesmo em períodos longos de chuva
não amenize os impactos causados pela seca. De acordo com Mendonça (2007), as condições
atmosféricas de um determinado lugar são fortemente influenciadas pela superfície sobre a qual se
forma. Isso explica o quanto é importante entender a gênese dos fenômenos climáticos que
influenciam na quantidade de chuvas do NEB.
Vários estudos procuram relacionar a ocorrência de El Niño com as secas severas no NEB,
baseados na hipótese de que alguns anos de El Niño fortes ou moderados (1877-1878, 1891, 1900,
1907, 1932, 1941,1958, 1983) Fortaleza, no NEB, sofreu secas severas (Kane,1997). No entanto,
segundo Andreoli et al. (2004) a relação entre El Niño e as secas no NEB não é unívoca, uma vez
que Kane (1997) mostrou que dos 46 El Niño (fortes e moderados) do período de 1849-1992,
somente 21 (45%) estiveram associados a secas severas em Fortaleza.
Diversos trabalhos científicos que utilizaram dados observacionais e modelagem numérica
da circulação geral da atmosfera evidenciam que o Padrão do Dipolo é o modo de variabilidade da
interação oceano-atmosfera na grande escala mais importante para o Atlântico Tropical para o
segundo semestre do ano (Lough. 1986; Servain, 1991 ; Ward e Folland, 1991 ; Nobre, 1993;
Hastenrath e Greischar, 1993; Uvo et al., 1994; Souza e Nobre, 1998).
De acordo com o exposto acima, este artigo tem por objetivo realizar uma revisão literária
sobre eventos extremos de secas e a relação entre os fenômenos de El Niño e Dipolo do Atlântico,
procurando evidenciar que não é apenas o El Niño o produtor de secas severas no NEB.

O EL NIÑO
Segundo Aragão (1998) o El Niño e a Oscilação do Sul (OS) são um fenômeno de escala
global resultante da interação oceano-atmosfera, conhecido como ENOS. A definição mais geral é
que o El Niño é o aquecimento da água do mar no Pacífico Tropical próximo à costa do
Peru/Equador até o meio oeste do Pacífico. Historicamente, o nome El Niño se refere ao Menino
Jesus, pois, desde o século XVI, pescadores da região de gênese do fenômeno observaram o
aquecimento das águas próximo do período do natal durante alguns anos.
Este aquecimento se torna acima da média histórica, desenvolvendo uma anomalia positiva
nos valores de temperatura da superfície do mar com grandes efeitos sobre o clima global. Na faixa
equatorial toda a convecção se desloca para o leste, alterando o posicionamento da Célula de
Walker (Figura 1 e 2).
Em condições normais (Figura 1), o ramo ascedente da Célula de Walker que é favorável a
formação de nuvens convectivas com grande desenvolvimento vertical ocorre sobre o Pacífico
Oeste-Equatorial, onde as águas são mais quentes, consequentemente acompanhadas de pressões
atmosféricas mais baixas. O contrário ocorre sobre a região do Pacífico Leste, próximo à costa
Ocidental da América do Sul, onde pode-se observar águas mais frias e pressões atmosféricas mais
altas, com isso há a formação do ramo subsidente da Célula, inibindo a precipitação. Quando se
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 129

configura o fenômeno El Niño ocorre o deslocamento da Célula para o Pacífico Leste (Figura 2)
devido ao aquecimento anômalo da superfície do mar, favorecendo subsidência de ar sobre a bacia
centro-oeste e sobre o Atlântico Equatorial, incluindo a Amazônia Oriental e o Nordeste do Brasil.

Figura 1: Esquematização da circulação atmosférica de grande escala no sentido zonal


(Célula de Walker) sobre a Bacia do Pacífico Tropical, em condições normais. Fonte: Monitor
Climático/Boletim de Monitoramento Climático – Edição Especial, 1997.

Figura 2: Esquematização Célula de Walker modificada em associação ao episódio El Niño sobre o


Oceano Pacífico. Fonte: Monitor Climático/Boletim de Monitoramento Climático – Edição
Especial, 1997.

Já a Oscilação do Sul é a variação anômala da pressão atmosférica tropical, sendo uma


resposta aérea ao El Niño, associada com a mudança na circulação geral da Atmosfera. Segundo
Klauer (2000) em anos de El Niño, a pressão tende a valores mais baixos no Pacífico e aumenta no
restante da região tropical. O índice (ou oscilição, a depender do autor) é definido como a diferença
entre os desvios normalizados da pressão na superfície entre as regiões do Tahiti, no Pacífico
central-sul e em Darwin, ao norte da Austrália.
Os ventos alísios sopram de NE e SE conhecidos como célula de Hadley. Um fluxo é
formado de leste para oeste na área do Pacífico equatorial, varrendo as águas superficiais, dando
lugar às águas profundas para aflorarem a superfície. Este mecanismo é chamado de ressurgência,
próximo à costa oeste da América do sul. Na presença do El Niño, a intensidade dos ventos alísios
diminui chegando em certo momento, a mudar de sentido, ou seja, de oeste para leste. Sem a força
dos alísios, o acumulo de água aquecida no lado oeste do Pacífico espalha-se pelo Oceano Pacífico
Equatorial central, chegando até o litoral Peruano tornando a termoclina (variação brusca de
temperatura em uma determinada profundidade do mar ou em ambientes de água doce) da região
mais profunda (BEZERRA & CAVALCANTI, 2008).
O fenômeno apresenta diferentes intensidades de anomalias na temperatura e também
espacialmente, de maneira que Quinn et al. (1978) introduziram quatro categorias de EI Nino (forte,
moderado, fraco, e muito fraco). Temporalmente o padrão observado é que episódio começa a se
desenvolver em meados de um ano, por volta de novembro, atinge sua máxima intensidade no final
do mesmo ano e dissipa-se em meados do ano seguinte.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 130

Marengo et al. (1993) observaram que durante anos de El Niño a ZCIT encontra-se
anomalamente mais ao norte de sua posição normal, assim os ventos alíseos de SE e NE são mais
fracos, reduzindo a umidade que penetra o NEB.
Melo (1999) questionou se o El Niño é o responsável por toda a série de secas ocorridas no
Brasil desde o período colonial, e o questionamento veio concomitantemente com o trabalho de
Aragão (1998) que com base em séries e relatos históricos procurou relacionar os eventos em
diversas intensidades e as secas no NEB. Melo (1999) descreveu que Aragão (1998) relatou 28 anos
secos entre 1914 e 1997, relacionados com o El Niño e nem todos de forte intensidade (6 fortes, 7
moderados e 10 fracos). Então, supõe-se que o fenômeno não é sempre sinônimo de seca.

O DIPOLO DO ATLÂNTICO
Estudos observacionais e estatísticos realizadas por Hastenrath e Heller (1977) e
Simulações numéricas por Moura e Shukla(1981), Servaim(1991), Nobre e Shukla(1995),
evidenciaram um padrão de anomalias da TSM sobre o oceano atlântico tropical, comumente
chamado de padrão de Dipolo do Atlântico, e que este padrão está associado a anomalias de
precipitação sobre a região Nordeste e Norte do Brasil.
O Dipolo do Atlântico é o fenômeno oceano/atmosférico identificado como uma mudança
anômala na temperatura da superfície água do mar no Oceano Atlântico Tropical, ou seja, quando
as águas do Atlântico Tropical Norte estão mais quentes e as águas do Atlântico Equatorial e
Tropical Sul estão mais frias existem movimentos descendentes transportando ar frio e seco dos
altos níveis da atmosfera sobre a região setentrional, central e sertão do Nordeste inibindo a
formação de nuvens e diminuindo a precipitação (Fase Positiva do Dipolo), podendo causar secas.
Por outro lado, quando as águas do Atlântico Tropical Norte estão mais frias e as águas do Atlântico
Tropical Sul estão mais quentes existem aumento nos movimentos ascendentes sobre estas regiões,
intensificando a formação de nuvens e aumentando os índices pluviométricos (Fase Negativa do
Dipolo) (HASTENRATH & HELLER, 1977; MOURA & SHUKLA, 1981; ARAGÃO, 1998).
Tal padrão de anomalias de TSM possibilita a ocorrência de gradientes meridionais de
anomalias de TSM, os quais influenciam bastante na posição latitudinal da ZCIT, alterando assim a
distribuição sazonal de precipitação pluviométrica sobre o Atlântico Equatorial, parte norte do
Nordeste do Brasil, até a parte central da Amazônia (Nobre and Shukla, 1996). Nos anos em que as
TSM sobre o Atlântico Tropical Sul (entre a linha do equador e 15°S) estão mais altas do que a
média de longo período durante março-abril-maio (MAM) e o Atlântico Tropical Norte (entre 5°N e
20°N) está menos aquecido do que a média, há formação de um gradiente meridional de anomalias
de TSM no sentido de norte para sul. Nessa situação observa-se no mesmo período uma pressão ao
nível do mar (PNM) mais baixa do que a média sobre o Atlântico Sul e mais alta do que a média
sobre o Atlântico Norte, os alísios de sudeste mais fracos do que a média e os alísios de nordeste
mais intensos do que a média, o eixo de baixa pressão à superfície e confluência dos ventos alísios
deslocado mais para sul, relativamente ao seu posicionamento médio, e totais pluviométricos acima
da média sobre o norte do Nordeste (HASTENRATH & HELLER, 1977).

Figura 3: Área de localização do El Niño 3 (5ºN-5ºS, 150ºW-90ºW) e 3.4 (5ºN-5ºS,


120ºW-170ºW), Dipolo do Atlântico (Norte: 5°N-20°N, 30°E-60°W; Sul: 0°-20°S, 30°W-60°W)
Fonte: Bezerra & Cavalcanti, 2008)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 131

AS SECAS SEVERAS NO NORDESTE DO BRASIL


Diversos autores já evidenciaram que sobre a depender da configuração das temperaturas
da superfície do mar do Pacífico leste e do Atlântico as secas podem ser mais significativas sobre o
Nordeste.
Nos anos em que o fenômeno ENOS coincide com a época da estação chuvosa sobre o
norte do Nordeste (de fevereiro a maio) os fenômenos atmosféricos e oceânicos sobre a bacia do
Atlântico Tropical são estatisticamente mais significativos para a variabilidade interanual do clima
sobre o Nordeste do Brasil do que os fenômenos sobre o Pacífico (CHU, 1984; HASTENRATH et
al., 1987). Muito embora as anomalias de TSM do Pacífico Equatorial ainda afetem na pluviometria
(Nóbrega et al., 2000).
A duração dos períodos secos e chuvosos em parte do NEB vão depender do período de
atuação, duração, intensidade e área coberta pelos fenômenos El Niño e Dipolo do Atlântico. Desse
modo, as variações interanuais e intersazonais da precipitação nessa Região brasileira são devidas
principalmente aos dois oceanos tropicais, Pacífico (El Niño) e Atlântico (Dipolo) com dois modos
principais:
Quando as águas do Oceano Pacífico estiver mais quente do que o normal (Pacífico
positivo) e as águas dos Oceanos Atlântico Sul mais frio e Atlântico Norte mais quente (Dipolo
negativo/positivo) corresponde redução acentuada da precipitação no Leste da Amazônia/Litoral
Norte Brasileiro e aos episódios de seca para o Nordeste do Brasil;
Quando as águas do Oceano Pacífico estiver mais fria do que o normal (Pacífico negativo)
e as águas dos Oceanos Atlântico Sul mais quente e Atlântico Norte mais frio (Dipolo
positivo/negativo) corresponde a episódios com excesso de chuvas. Aragão, 1998.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Os fenômenos conhecidos como El Niño e Dipolo do Atlântico Tropical modificam a
circulação de grande escala causando alterações nos índices pluviométricos em grande parte do
Nordeste, sobretudo na porção Setentrional, sertão e Litoral leste.
É importante frisar que estes fenômenos de grande escala interagem com mecanismos de
meso escala, que por sua vez, em se tratando de análise média mensal, um evento de meso escala
pode superar a média histórica mensal de precipitação durante um ano de ocorrência destes eventos,
e não ocorrer mais eventos. Neste caso, em média, a chuva foi normal ou acima do normal, mesmo
quando as condições de grande escala eram desfavoráveis, no entanto, a qualidade do período
chuvoso foi a comprometida. De fato, nestas circunstâncias uma análise do ritmo climático deverá
fornecer novas análises a cerca dos efeitos dos eventos sobre o NEB.
Uma vez que atualmente a temática de mudanças climáticas e aquecimento global está em
evidência em todas as ciências (naturais, exatas, sociais e saúde), é importante atentarmos para que
secas severas no NEB historicamente já ocorreram, e que o comportamento de tais secas com o
aquecimento global poderá resultar em secas mais severas, desde que os Pacífico e Atlântico
estejam favoráveis para tal, mas que um aquecimento apenas no Atlântico Sul, poderá ser favorável
para chuvas no NEB.
Como última consideração, queremos deixar claro que nem todo evento de El Niño
implicará em secas severas no NEB, mas que é necessário observar com muita atenção as condições
da TSM do Atlântico, e que a atuação dos El Niño e do dipolo positivo, sim, deverão resultar em
secas severas no Nordeste.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 133

TENDÊNCIA DE MODIFICAÇÕES NA PRECIPITAÇÃO DO


ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO EM MESOREGIÕES

Rafhael Fhelipe de Lima FARIAS


Estudante de graduação, UFPE
rafhael88@hotmail.com
Ranyére Silva NÓBREGA
Orientador, UFPE
ranyere.nobrega@ufpe.br

RESUMO
Neste artigo foi investigado se vêm ocorrendo possíveis alterações no regime de
precipitação de três pontos específicos do Estado de Pernambuco, localizados no Litoral (P1),
Agreste (P2) e o Sertão pernambucano (P3). Para tal foram utilizados dados diários de precipitação
para um período 27 anos (1978-2004) do Climate Prediction Center (CPC) e obtidos índices
climáticos utilizado o software RClimdex 1.9.0. Os resultados indicam que há tendência
significativa de aumento de dias úmidos e extremamente úmidos nos pontos do Litoral e do
Agreste, enquanto que no ponto do sertão não foi observado mudanças no padrão pluviométrico.
PALAVRAS-CHAVE: Precipitação, Índices climáticos, Pernambuco

ABSTRACT
This article explores whether possible changes in rainfall of three specific points in the
State of Pernambuco, located in Seaside (P1), Wild (P2) and the Hinterland Pernambuco (P3). For
that we used daily data of precipitation for a period of 27 years (1978-2004) of the Climate
Prediction Center (CPC) and climatic indices obtained using the software RClimdex 1.9.0. The
results indicate that there is significant trend of increasing of wet days and very humid on coastal
areas and towns of the Wasteland, while on the interior area (sertão) was not observed changes in
rainfall pattern.
KEYWORDS: Rainfall, Index Climate, Pernambuco

INTRODUÇÃO
O Estado de Pernambuco está localizado na região nordeste do Brasil (NEB), entre os
paralelos de -7° e -10° e os meridianos -35° e -42° com aproximadamente 98.311 Km2 (IBGE) de
extensão. O formato longitudinal de Pernambuco favorece a existência de diferentes tipos de
regimes na precipitação, tendo quatro regiões distintas quanto ao seu regime pluviométrico: Litoral
(P1), Zona da Mata, Agreste (P2) e Sertão (P3). Os totais pluviométricos no Estado vão diminuindo
no sentido Leste a Oeste – Litoral ao Sertão. No Litoral o total anual médio de precipitação pode
ultrapassar os 2000 mm, como no caso do Recife que sua precipitação média é de 2457 mm
(INMET, 1990), enquanto que no Sertão o total anual médio de precipitação pode chegar a algumas
cidades a valores bem próximos de 500 mm, como por exemplo, em Cabrobó, com 517 mm anuais
em média (INMET, 1990). Todavia, há paisagens de exceções no sertão, como os Brejos de
Altitude, cujo fator climático – o relevo – em conjunto com a circulação geral da atmosfera
influencia em um aumento da precipitação. Um exemplo que pode ser destacado desses brejos é a
cidade de Triunfo (Sertão), que se encontra a uma altitude de 1021,4 metros, e possui precipitação
média de 1372,5 mm (INMET, 1990).
O impacto de mudanças climáticas sobre os recursos hídricos no Brasil deverá ser mais
dramático, porém no Nordeste, onde há escassez de água, já é um problema. Atualmente, a
disponibilidade hídrica per capita na região é insuficiente nos Estados do Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sem contar as variações regionais, que tornam a situação
ainda mais insustentável para os oito milhões de habitantes do semi-árido (MARENGO, 2006).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 134

Eventos extremos, como secas severas ou grandes enchentes alteram consideravelmente as


características habituais de uma dada região, podendo causar grandes transtornos para população,
seja nos grandes centros urbanos, com inundações, como também estiagens prolongadas no sertão.
É devido a esses problemas relacionados a variabilidade quantitativa de uma região para
outra – déficit ou excesso – na precipitação pluvial e a importância da mesma, que se vê a
necessidade de pesquisas, aprofundando ainda mais em relação ao tema de variabilidade
modificações climáticas na precipitação.
Este trabalho tem como objetivo analisar/detectar extremos climáticos de precipitação
através de índices climáticos, e analisar se a precipitação dos pontos escolhidos vem apresentando
possíveis tendências de mudanças – positivas ou negativas – ao longo do período estudado.

METODOLOGIA
Os dados de precipitação utilizados são do ―Climate Prediction Center‖ (CPC) do
―National Oceanic and Atmospheric Administration‖ (NOAA) que fornecem uma distribuição
espacial de precipitação para a América do Sul usando dados diários de precipitação de diversas
instituições existentes no continente (CPC, 2008). Os dados são diários de 1978 a 2004 e
distribuídos em pontos de grade de 1º de latitude por 1º de longitude. Estudos recentes vêm
mostrando a confiabilidade destes dados, comparados com dados de estações meteorológicas e
apresentado as vantagens e desvantagens de seu uso (NÓBREGA & SANTOS NETO, 2008a,b).
Para este estudo foram selecionados três pontos pertencentes cada um a uma mesoregião
do Estado: Ponto 1 (P1) que fica na cidade de São Lourenço da Mata na Região Metropolitana de
Recife (RMR) – coordenada -8° -35° – que localiza-se na região Litorânea de Pernambuco; Ponto 2
(P2) encontra-se no município de Toritama – coordenada -8° 36° – que está inserido no Agreste
pernambucano; Ponto 3 (P3) município de Ouricuri – coordenada -8° 40° – localizado no Sertão
(Figura 1). Os pontos escolhidos mostram bem as características no regime de precipitação, de três
diferentes regiões: Litoral (São Lourenço), Agreste (Toritama) e Sertão (Ouricuri).

Figura 1: Localização dos pontos estudados.

Para a análise estatística foi utilizado o ambiente R que se trata de uma suíte de aplicativos
para manipulação de dados, cálculo e visualização gráfica e o módulo RClimDex desenvolvido
pelos pesquisadores Xuebin Zhang e Feng Yang (Alexander et al., 2006; Klein Tank et al., 2005;
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 135

Zhang e Yang, 2004). O RClimDex 1.9.0 é disponível gratuitamente na internet pelo site:
http://cccma.seos.uvic.ca/ETCCDMI/software.shtml.
A Tabela 1 mostra os nove índices climáticos utilizados na pesquisa, conforme a definição
realizada pelo ETCCDMI.

Tabela 1 – Índices climáticos dependentes da precipitação pluvial diária, com suas definições e
unidades (RR é o valor da precipitação diária; RR≥1mm representa um dia úmido e RR<1mm, um
dia seco).
ID Nome do Indicador Definição Unidade

Rx1Day Quantidade máxima de Máximo anual de precipitação em 1 mm


precipitação em um dia dia

Rx5Day Quantidade máxima de Máximo anual de precipitação em 5 mm


precipitação em cinco dias dias

R60mm Número de dias com precipitação Número de dias em 1 ano em que a mm


acima de 60mm precipitação foi > 60mm

R95p Dias muito úmidos Precipitação anual total em que mm


RR>95 percentil

R99p Dias extremamente úmidos Precipitação anual total em que RR mm


> 99 percentil

DCU Dias consecutivos úmidos Número máximo de dias Dias


consecutivos com RR > 1mm

DCS Dias consecutivos secos Número máximo de dias Dias


consecutivos com RR < 1mm

PRCPTOT Precipitação total anual em dias Precipitação total nos dias úmidos mm
úmidos (RR > 1mm)

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A princípio foi realizada uma análise climatológica da precipitação e obtiveram-se os
valores de precipitação média anuais de 1344,4 mm; 815,7 mm; 569,0 mm para os pontos P1, P2 e
P3, respectivamente, evidenciando a mal distribuição espacial da precipitação sobre o Estado.
Observou-se também que o mês de janeiro de 2004 apresentou o maior total pluviométrico, com
valor de 413,10 mm, bem acima da média histórica que é de 108, 81 mm, para o P3.
Segundo Alves et al. (2004) em janeiro de 2004, os ventos alísios de Nordeste ficaram
mais intensos do que os alísios de Sudeste, de maneira que ocorreu um impulsionamento Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) em direção Sul. Ainda, segundo os autores, neste período
também ocorreu um transporte anômalo de umidade oriundo da Amazônia e do Oceano Atlântico
na baixa troposfera, padrão termodinâmico, que favoreceu a intensificação da Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), possibilitando que penetrações das frentes frias oriundas do
sudeste do Brasil pudessem atingir localidades mais setentrionais do Nordeste. Este padrão é
incomum, sobretudo, possível.
A precipitação total sobre os três municípios foi analisada através do índice PRCTOT,
conforme podemos observar na Figura 2. Os valores de inclinação da reta de regressão indicam
tendência positiva nos valores anuais de precipitação na RMR em Toritama, e tendência negativa
em Ouricuri. No entanto, ao analisar a significância estatística dos resultados observa-se que os
valores de ρ para o teste de t Student foram de 0,5; 0,3; e 0,9, respectivamente. Ou seja,
estatisticamente as tendências não são representativas, ou significativas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 136

Figura 2: Precipitação total anual (1978-2004) para os municípios de São Lourenço da Mata (RMR),
Toritama e Ouricuri.

Na Tabela 2 temos os resultados da tendência dos índices climáticos para os três pontos
estudados. Os valores em vermelho indicam boa significância estatística e em azul indicam ótima
significância estatística, já os demais valores não são significativos estatisticamente.
Pode-se observar que para São Lourenço da Mata há tendência crescente significativa de
dias mais úmidos, tanto no percentil 95 quanto no 99. Os valores podem ser considerados coerentes
com o de precipitação total, que mostra tendência positiva, mas não foi significativo
estatisticamente, o que leva a supor que também está ocorrendo tendência de aumentos de dias
extremamente secos, sendo necessária posterior investigação sobre esta hipótese.
Em Toritama foi encontrado índices com alto grau de significância para os dias
consecutivos úmidos, dias muito úmidos e extremamente úmidos. Os resultados indicam
diminuição nos dias consecutivos úmidos e aumento de dias úmidos e extremamente úmidos. Mas
da mesma maneira, a precipitação total anual não indicou tendência estatisticamente significativa.
No entanto, os resultados podem indicar que há uma modificação na distribuição sazonal da
precipitação sobre a localidade já que há diminuição de dias consecutivos úmidos, mas também há
aumento de dias úmidos e extremamente úmidos.
Já em Ouricuri observa-se tendência negativa nos valores de Precipitação total (PRCPT) e
no número de dias consecutivos úmidos, no entanto, os resultados não são significativos segundo o
teste de t Student.
Vale ressaltar que para a região do Litoral onde está inserida a Região Metropolitana de
Recife, o aumento de dias úmidos e extremamente úmidos poderá trazer transtornos a população
urbana, como alagamentos, proliferação de doenças como a leptospirose, assim como os
deslizamentos de encostas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 137

Tabela 2 – Tendências dos índices climáticos para os três pontos observados.


Local DCS DCU PRCPT R60mm R95p R99p Rx1day Rx5day
São Lourenço da Mata (RMR) 0,205 0.038 8,04 0,205 8,75 5,27 0,62 1,25
Toritama -0,44 -0,17 6,175 0 2,83 1,54 0,24 0,01
Ouricuri 0,74 -0,194 -0,315 0,0 2,536 1,56 0,232 0,721

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De fato há incertezas científicas em relação as mudanças climáticas, sobretudo sobre a
precipitação. Os resultados obtidos evidenciam ainda mais as incertezas com relação as tendências
futuras para esta variável.
Os resultados demonstraram que a tendência positiva na precipitação total anual para os
pontos P1 e P2 e negativa para os pontos P3 não é estatisticamente significativa.
Também concluiu que há tendência positiva significativamente de aumento de dias úmidos
e extremamente úmidos nas localidades do Litoral e Agreste, enquanto que na localidade do sertão
não foram observadas tendências estatisticamente significativas. E em Toritama há tendência
negativa dos dias consecutivos úmidos.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao CNPq/PIBIC-UFPE pelo financiamento/concessão
da Bolsa de Iniciação Científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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precipitation, J. Geophys. Res. Vol. 111, D05109, doi:10.1029/2005JD006290, 2006.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 138

S. AMERICAN ENERGY SECURITY PROBLEM: LOOKING FOR


A CONFLICT-RESOLUTION REGIME14

Dr. Ha SANG SUB


(gcc-kolac in hufs, seoul in korea)
gcc-kolac@hufs.ac.kr

ABSTRACT
This paper addresses the multiple concepts of Energy Security(ES) and adopt it the cases
of S. American countries and seeking for real meanings of ES and applies it into the many current
arguments in S. American region. Based on main analysis and understanding of ES concepts, this
writing explores the real problems of energy insecurity in S. American region related with the
uprising of energy resource nationalism, intraregional and international energy conflicts in Atlantic
Ocean. Finally, this paper searches for many resolving methods and suggest the most suitable
alternatives normatively to be sorted out these energy insecurity problems in this region and toward
a new building of ES regime.
KEYWORDS: S. America, Energy Security, intraregional/international conflict, resolution
regime.

INTRODUCTION
Today, Energy Security (ES) commonly is defined as ‗reliable supplies at reasonable
prices‘ and emphasized with supply security, sustainability for a long term and competitiveness
concerned. However, if we expand its definition, broadly the terms of ES is all about security, or
stability through multiple dimensions. Thus a solely economic understanding of securing the energy
supply by means of trade and business is not good enough. It must be considered political stability
and the personal wellbeing of its citizens and environmental value by using of it as well. Thus today
security concerns, economic welfare and individual safety, the stability of a political system and the
protection of environment can be seen as core values of every society. Thus energy insecurity
comprises a major threat to those values all together. This paper delivers the multiple concepts and
meanings of ES and applies it to the case study of S. American countries. Firstly, this paper strongly
asks the real meanings of ES and applies it into the many current arguments in S. American energy
security and governance. Secondly, it brings some main analysis of energy security policy, such as
the uprising of energy resource nationalism and find out the intraregional and international conflicts
involved in energy insecurity matters in Atlantic Ocean. Finally, this paper searches for many
resolution methods and suggest the most suitable alternatives to be sorted out these security
problems in this region.

What is the Energy Security: Multiple Concepts of ES

The ES is a central concern of every country in the world, regardless of its size or
importance in global affairs and the discussion of ES in S. America departs from four basic
dimensions and shared premises such as; Energy resource is an essential component of economic
and social development in this region. As many scholars argue, there has also been a strong
relationship between ES and (international) politics, especially oil, natural gas and geopolitics, such
as the relationship between energy and resource nationalism uprisings in S. America currently.
Energy policy and security policy is important, internally and externally. As internal matters,
security policy is involved with extensive financial acquisitions for maintenance, energy efficiency
and extension of energy networks, especially the growing demand of electricity requires massive
investment in new grids and power plants and many infrastructures. Externally, making a supply

14
This paper is not completed version for a thesis. Please do not cite without permission.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 139

security is indispensable and could play an important role in safeguarding energy supply. Finally,
energy as security concerning refers environmental relationship, such as today climate change,
renewable energies, etc. Climate change and energy efficiency are to be vital issues involved in
energy security. In sum, ‗energy‘ as ‗security‘s reference: basically energy resources, economic
development, geopolitics such as security conflicts, security policy and environmental concerns as
well.

Energy resources in Latin American Region


By any measure, the region does not lack energy resources; in fact, an analysis of the
Americas as a whole or of Latin America and the Caribbean reveals that energy resources are
abundant. Latin America possesses 9.7 percent of the world‘s proven reserves of oil, and
contributes 13.8 percent of world output.

Particularly Venezuela currently stands 9th in global oil production. But if untapped
reserves in the Orinoco Belt in Caribbean Atlantic Ocean are counted, Venezuelan reserves exceed
those of Saudi Arabia, Venezuela also possesses the largest natural gas deposits in South America;
in the entire Western Hemisphere, Venezuela‘s gas reserves are second only to the United States
and almost triple those of Canada.

At the same time, Latin America consumes only 8.1 percent of world oil production,
making the region a net exporter of 3.3 million barrels of oil a day. These figures, of course, are due
to increase in light of the recent discoveries of major oil and gas deposits in Bacia de Santos (Santos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 140

Basin), Tupi fields off the coast of Brazil in S. Atlantic ocean may make it the largest Latin
American oil producer by 2012, surpassing Venezuela as well as Mexico, currently the Western
Hemisphere‘s second largest producer. Brazil is the world‘s largest producer of sugar cane-based
―ethanol‖, and second in total ethanol production only to the United States, which produces ethanol
from corn. By 2008, some 90 percent of all automobiles manufactured in Brazil ran on flex fuel.
Technical challenges are notwithstanding as well.
Petrobras controls almost all crude oil production in Brazil. The largest oil-production
region of the country is Rio de Janeiro state, which contains over 80 percent of Brazil‘s total
production.
Most of Brazil‘s crude oil production is offshore in very deep water and consists of mostly-
heavy grades.
While some of the world's largest oil producers, including Mexico and Iran, are struggling
to remain exporters, Brazil is moving in the opposite direction. A huge underwater oil field
discovered late last year has the potential to transform South America's largest country into a
sizable exporter and win it a seat at the table of the world's oil cartel.
The new oil, along with refining projects under way by Petrobras, the national oil
company, could eventually make Brazil a larger exporter of gasoline as well, adding to supplies in
the United States and other countries where it is all but impossible to build new refineries.
The subsalt basin that contains Tupi, the new deepwater field estimated to hold the
equivalent of five billion to eight billion barrels of light crude oil, is creating a buzz among the
world's largest oil companies. They have struggled lately to find global-scale projects worth
investing in, even with oil touching $100 a barrel. Tupi is the world's biggest oil find since a 12-
billion-barrel field discovered in 2000 in Kazakhstan.

EN and Security Policy debates in S. America


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 141

The concept of ES and Energy Resource Nationalization - where governments take


national control over industries within their borders - has changed in Latin America over the past
ten years. Recently, leaders have sought ways of increasing national control over their hydrocarbon
industries. Leaders instead asserted national control while pursuing a range of regulatory options
that accommodate a national oil or gas company as a new part of the hydrocarbon industry that
already exists within national borders (I. George, 1974: vii). In the last decade, the leaders of
governments in Argentina, Bolivia, and Venezuela reversed policies of decreasing national control
over oil and gas companies in their country in favor of those that increase control, in most cases
creating new state owned companies to control revenues. In increasing control, leaders have
exhibited convergence in policy choice toward that of Brazil, restarting or creating state-owned
hydrocarbon company.
Yet while these governments increased national control over resources, each has chosen a
divergent regulatory strategy in the production and sale of resources. In reality, the debate of EN,
and in its historical development, began in the late 1960s, powerful interests in small energy
supplying countries began to exert greater control of their energy resources. In the early 1970s,
Latin America, along with the rest of the world, experienced the first major increase in oil prices
and had the beginning of a discussion about its implications. The debates are not very different
today than they were forty years ago in the study of IPE. There has been a surprising trend toward
resource nationalism in S. America over the past several years. After pushing through controversial
reforms to liberalize the sector in the 1990s, several Left governments have recently moved to
increase state control over energy resource in a variety of ways.
In Venezuela, President Hugo Chavez (1998 – present) restructured the National Oil
Company (NOCs) to reduce its autonomy from the government, forced International Oil Companies
(IOCs) to accept new contract terms, and raised taxes and royalties.

―We are recovering property and management in these strategic areas. The privatization
of oil is over in Venezuela. This was the last area that we hadn‘t recovered. This is the true
nationalization of the oil. The oil belongs to all Venezuelans‖(Hugo Chavez on his 1 May 2007 oil
nationalization announcement).

During the presidential campaign in 1998, Chávez criticized the opening of petroleum to
private capital in the 1990s. His petroleum policies began to persuade OPEC to raise crude oil in
early 2000. A new Organic Hydrocarbons law issued November 2001, which raised royalty up to
30% and lowered income tax to 16%. Through a series of renationalization laws of foreign oil
companies from 2006 to 2009, all the foreign companies could participate in primary petroleum
production activities as minor partner to PDVSA or its affiliates or could be prevented. In its recent
drive to increase its control over the oil and gas industry, the Chávez government has announced its
intention to seize the assets of a total of 74 privately-owned companies working in the oil services
industry. Thirty-five of these takeovers were announced on May, 2009. The move came in response
to threats by some contractors that they would suspend production until outstanding payments from
PDVSA were made. The property seized includes at least 13 oil rigs, 39 terminals, around 300 boats
and other installations. The seizure of the contractors‘ assets is likely to inflict more damage to the
troubled state oil company and the economy(Economist Intelligence Unit 2009).

The Chávez government‘s oil and energy policies pursued four major goals(Manzano and
Monaldi 2008). First, they tried to renationalize petroleum industry as such prior to the opening in
the 1990s. February 2007, the government regulated to convert operating service agreements into
joint-venture, in which private capital could take only as minor partner(a maximum stake of 49%).
In cases of the conversion of the Orinoco Belt Association agreements and oil risk/profit sharing
agreements, foreign companies had to be converted into entities in which the CVP or other PDVSA
affiliates hold an equity participation of at least 60%(Economist Intelligence Unit 2009). In any
case, private and foreign companies could participate in primary petroleum production activities
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 142

only as minor partner to PDVSA and its subsidiaries. The ―downstream‖ activities, industries that
apply the already produced crude oil, remained open to private capital as before.

Second, the Chávez government gained the leading role of the executive in the design and
implementation of energy policies regarding to the oil industry as well as the operation of oil
companies. Since the nationalization of foreign oil companies in 1976, especially after the mid-
1980s, PDVSA had maintained a considerable autonomy of its management on investment and
production policies. Now, President and Ministry of Energy regained political leadership in
managing PDVSA and oil industry. PDVSA‘s resistance to the administration culminated in the
strike by oil workers in December 2002-January 2003, which virtually shut down production and
resulted in the dismissal of 18,000 employees out of a workforce of 40,000.
Third, the Chávez government aimed to raise the state rents from oil industry as much as
possible. Royalties on sales and taxes on profits were raised. Royalty rate jumped to 30% in 2000
and 33% in 2007 from 1 to 17% in the 1990s. Exceptionally, royalty rates could be reduced to 20%
for Orinoco Oil Belt. Major reasons for raising royalty rates were partly because they were simple
and easy to be collected and partly because that the government share of petroleum profits declined
considerably during emphasis on oil income tax rather than royalties in the 1990s. Fourth, the
Chávez government made efforts to strengthen OPEC by complying with its agreements, such as
production quota of oil.
Fourth, the Chávez government tries to internationalize petroleum production not by
market but by political arrangements with other foreign petroleum companies than the traditional oil
majors. Venezuela and Argentina executed a Memorandum of Understanding for the Acquisition
and/or Construction of Hydrocarbons and Derived Products Refining, Storage and Logistics Assets
September, 2008. As part of the Venezuelan President‘s visit to South Africa, Russia and China
several energy related agreements were executed: (1) PetroSA(South Africa‘s State-owned oil and
gas company) would be able to operate offshore natural gas exploration fields and extra heavy
crude blocks and PDVSA was asked to participate in a crude oil refinery at COEGA; (2) Russia and
Venezuela executed a Memorandum of Understanding for purposes of undertaking a special
intergovernmental agreement to govern the relations between the two countries with respect to
energy matters. It is expected that a joint company will be set up with the participation of TNK and
Lukoil and PDVSA; and (3) PDVSA will sell 500,000 bpd of crude to China as from 2009.
Finally, the Chávez government financed his extensive social spending programs with oil
profit. In 2005 the government required PDVSA to spend roughly US$4.4 billion of its US$19.5
billion budget on social programs. In 2006, the amount PDVSA set aside for social expenses rose to
above $6 billion. Additionally, PDVSA revenues were siphoned off to fund the Fondo Nacional del
Desarollo(FONDEN), the government‘s national development fund. Excessive oil income beyond
certain price level also would convert to the fund.
In the same line, in Bolivia, congress approved legislation to reconstitute the national oil
company in 2005 and raised taxes and royalties, while newly elected Evo Morales (2006 – present)
nationalized all hydrocarbons resources in mid-2006:

―Mission accomplished. We are exercising as Bolivians our property rights over natural
resources, without expelling anyone and without confiscating. With this measure, within 10 to 15
years, Bolivia will no longer be a little poor country, this beggar country, this country always
looking to international assistance‖(Evo Morales on the signing of new oil and gas contracts,
October 2006).

Argentine President Nestor Kirchner and his wife, Christina Kirchner (2003 – present)
have raised export taxes on oil and natural gas, controlled domestic hydrocarbons prices, and
formed a new National oil company that will have first preference over future offshore oil and
natural gas discoveries mainly in S. Atlantic Ocean. For each of these political regimes, rising
national hydrocarbons revenues have been used to finance governmental programs and state
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 143

interventionist policies in other areas of the economy. Foe examples, Bolivia: limited control over
hydrocarbon revenues, some control over allocation of hydrocarbon revenues, targeted
redistribution low but increasing as government spending increases; Venezuela: government
maximizes available revenue streams, augmenting overall social spending with targeted social
policy for the informal sector; Argentina: part of the burden of higher costs of energy and energy
rationing will still be supported by the industrial sector and the fiscal sector, which is already
showing signs of growing stress. Large distortions of relative prices will end up deeply affecting
energy supplies and economic activity and limited control over hydrocarbon revenues; does not
directly allocate revenue with targeted spending to the informal sector; Brazil: government controls
several revenue streams but limits spending targeted to the informal sector(C. Belasco, 2009: 37).

Mentioned above, there is a great tendency that commodity-dominated economies increase


the state control on the economy. And controlled economy, especially on prices and exchange,
cannot lead to diversification of national industries. The Venezuelan experience of energy(oil)
policies suggest that basic market principles of prices and currency should be respected for a stable
economic growth, although the state holds the ownership of some strategic industries.
Coincidentally most of those governments supporting the Chávez‘s ―21st century socialism‖ have
monolithic commodity-dependent economies. Ecuador, like Venezuela, depends on petroleum.
Bolivia depends on natural gas. Rafael Correa and Evo Morales all intensified their control of
commodity production under the state and kept away from private capital.

ES and Intraregional conflict in S. America Demand and Supply

The OAS emphasizes the close relationship between energy security and development,
noting the urgency of providing access to energy for the 15 % of the region‘s poor that still lack
access to power and electricity. Demand for energy is likely to increase significantly over coming
decades. The imbalance between producers (supply) and importers (demand) of energy creates an
imperative for greater cooperation and integration, but the politics of short-sighted self-interest
typically prevail, caused intraregional conflicts in S. Atlantic Ocean.
Numerous conflicts exist with energy linkages between and among countries of the region,
particularly in joint projects to produce hydroelectric power, integrate electrical grids, and build
transnational pipelines for natural gas. Yet the region has no shared strategy or vision for balancing
the needs of producers and consumers throughout the continent, and the trust needed to build
cooperation is low. S America could be self-sufficient in energy policies without balancing between
supply and demand, constructing a market that coordinated the production of electricity, gas, oil,
bio-fuels, and other forms of renewable energy.
Argentina continues to suffer energy shortages as a result of export restrictions and a price
freeze in the gas sector, Argentina must nonetheless rely on natural gas imports from Bolivia to
meet energy demands in the northern part of the country. Argentina has been one of the two
countries most affected by the nationalization policies of the Bolivian government. Chile suffers
from an overdependence on Argentine gas and power exports (much of which Argentina itself
imports from Bolivia); Chile has suffered when Argentina has restricted gas exports in order to
satisfy its own energy demands. Suggesting domestic energy development policies to ensure that
Chile can sustain economic growth, such as substituting coal or fuel oil for natural gas, develop
renewable energy sources, and explore the realm of nuclear power. Venezuelan National Oil
Company(NOCs) too often responded to political rather than market-based incentives in the
development and use of energy resources, and for the most part lack the capacity to meet the
technological challenges and capital needs of Venezuela‘s energy sector. Using energy income and
PDVSA itself regards as a tool for domestic social development. Even though Brazil has
constructed a diverse energy matrix through an emphasis on research, innovation, and the
development of human capital in the petroleum, hydropower, as well as bio-fuels sector, However,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 144

Brazil still must wrestle with its dependence on natural gas from Bolivia (the source of almost half
of its natural gas).
When Bolivia lost ―the War of the Pacific (1879–1884)‖, for example, it lost not only
access to the Pacific Ocean but also territory (seized by the Chileans) rich in nitrates, sulfur, and
copper. Thus, a proposal in 2003 to export Bolivian liquefied natural gas through Chile sparked
riots in Bolivia, contributing to the sequence of events that forced the resignation of President
Gonzalo Sanchez de Lozada. President Evo Morales‘ 2006 nationalization of the hydrocarbons
sector affected not only foreign consumers of Bolivian gas—but also deepened political polarization
within Bolivia, as regional governors (prefects) vie with the state for control of natural gas
revenues. The nationalization has led Brazil and Argentina, which have sustained robust levels of
economic growth, to look for substitutes for Bolivian. Chile imports two-thirds of its total inputs for
energy consumption, and Argentine gas provides one-quarter of Chile‘s energy needs for electricity.
As a result, Chile is in a delicate position, with higher dependence of imports of natural gas and
hydrocarbons, and Chile supports initiatives aimed at [cross-border] interconnection, although it
does not want to lose sight of its most desirable goal – energy autonomy. In sum, both economic as
well as geological factors should lead S. American countries toward greater energy integration in
support of economic growth. Numerous core challenges, however, to be increased energy
cooperation. These include the lack of medium- and long-term investment capital, the priority given
by some governments to domestic markets over exports, the lack of independent regulatory
regimes, and disputes over the fair distribution of energy rents. It should be emphasized the
importance of constructing and strengthening institutions to safeguard against intraregional conflicts
and rent-seeking behavior through the expansion of EN.

ES and International Tensions and Conflicts in Atlantic Ocean

Despite S. America‘s apparently advantageous situation with respect to energy, all


countries - whether suppliers or consumers - face problems; there is concern throughout the
Americas about the inability to supply reliable and affordable energy to meet national and
international needs. There is a serious imbalance between countries that produce and countries that
import energy resources. Countries live in different circumstances and at times in completely
opposite ways vis-a-vis world energy markets. This is especially true concerning the effects of
energy price increases and price volatility. Only three or four countries in Latin America are
significant oil producers, and rising prices for oil create problems among Latin American countries
and International societies. The S. American countries themselves own the resource; hence,
governments are able to manipulate public policy, not only regarding oil but also natural gas.
Furthermore, energy producers can use times of abundance to exert political pressure on importing
countries, seeking to create an area of influence or to obtain concessions, with the predictable result
that international political tensions are generated. The relationship between oil and international
politics cannot be avoided.

An additional political issue concerns the environment. The provision and use of energy
must go hand-in-hand with a search for ways to diminish the environmental impact of energy
consumption. This point cannot be overstated, as there is broad recognition that the principal source
of air pollution—with sulfur dioxide, carbon, mercury, and other substances—is the energy sector.
The sector‘s contribution to global warming is also no longer in doubt. The burning of fossil fuels is
the principal source of greenhouse gases. One-fourth of the global emission of greenhouse gases
comes from the generation of energy and heating used by buildings and industries. Global warming
is thus another constraint to increases in energy production; future production must be much
cleaner. Suggesting is possible below:

The promotion of rational and efficient use of conventional energy sources, principally
hydrocarbons.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 145

To take advantage of mechanisms for emissions trading, such as those envisioned in the
Kyoto Protocol, in order to attract the investment and technology necessary for ―clean‖ industrial
production in this region.
The diversification of the energy matrix, in order to obtain an adequate equilibrium among
different sources, thereby enhancing energy security and eliminating the possibility that resources
will be used for political ends.
There should be incentives for using alternative and renewable energy sources which have
minimal environmental impact. For example, bio-fuels, geothermal energy, wind power, and solar
and nuclear energy as well.

Conflict increases costs across the board. The use of energy as an instrument of foreign
policy is extremely sensitive and requires highly-skilled management of both politics and
diplomacy. Miscalculation creates major opportunities for conflict and impacts the level of trust
among different actors. Recovering trust is a lengthy and difficult process, at times more costly than
the energy itself, given that the impacts of energy policy are global and extend beyond a particular
country, region, or sub-region. The Western hemisphere is a region of sharp contrasts regarding
energy cooperation. There is wide-ranging cooperation as well as complementarities between the
United States and Canada. In contrast, there is scant cooperation among the S. American countries.
It should be noted that government policy varies from case to case regarding the roles assigned to
the state and private enterprises. Energy is also linked to questions of ―security governance‖ in S.
Atlantic region, included the USA, Latin American region and the Caribbean. Energy issues
contributed to make a great military tension in this region: the reappearance of US 4th Fleet with
SOUTHCOM, US Army expanding into Colombia vs increasing the defense costs in S, American
countries. Oil has conferred on the Venezuelan government vast economic resources to carry out its
domestic policies, as well as to undertake significant international initiatives such as Petrocaribe.
Throughout the region, energy crises have immediate international political repercussions.

The US re-established ―the 4th fleet‖ for Atlantic marine security in July 2008. This plan
involved with defense traditional American hegemony, especially energy security in S. Atlantic
ocean against expanding of China, Russia who aimed to regain traditional relationship with this
region between Russia and Cuba and secure their energy resource by ways of the enforcement of
energy diplomacy, such as between China and Venezuela.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 146

Another international conflict is the possibility of Oil War in Falkland Island /Islas
Malvinas. The Argentine foreign ministry in a statement said the government ―firmly rejects plans
of the UK to authorize operations of exploration and extraction of hydrocarbons in the area of the
Argentine continental shelf under illegitimate British occupation‖: the areas around this island are
said to have one of the world‘s largest reserves of hydrocarbons discovered in 1998 and estimated
the oil at about 60 billion barrels and natural gas. In contrast, the UK PM, Gordon Brown was
anxious to "avoid military confrontation". A spokesperson for the UK embassy in Argentina said
"We have no doubt about our sovereignty over the Falklands Islands and the surrounding maritime
area." And that "The Falkland Islands government is entitled to develop a hydrocarbons industry in
its waters and there is a long-standing policy to support this.

Source: World Map (2010)

IV. Looking for a Conflict-Resolution Regime

Initiatives for energy cooperation and security regime


It needs for straightforward rules of the game regarding regional integration efforts. It
should be advocated the establishment and strengthening of mediation bodies to prevent conflict
between producer and consumer nations; this body would ideally be entrusted to handle such
intraregional, international conflicts. Without energy security there can be no security for economic
and social development. Energy security, in turn, is associated with the diversification of the energy
matrix and especially the use of renewable energy. In pursuing energy security in this region, there
is no substitute for cooperation and integration. While some political leaders in S. Atlantic countries
seek integration and the complementarities of their energy matrices, they also include developing
interconnectedness among countries to deliver energy resources. The success of integration requires
taking all the necessary steps, starting with the initial yet fundamental ones, including investments
and the harmonization of policies, codes, and standards that would make Latin America more
competitive in world energy markets as well.

Political challenge for an international cooperation and security regime


As external energy policy, the existing two models such as Opening vs. Nationalists are to
be consolidating: consequences are the end of integration, and complement instead of integration. A
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 147

map of energy policy appears in S. America, divided by open countries (Chile, Colombia, Peru, and
Brazil) and state control (Venezuela, Bolivia, and Argentina). The great political challenge is to
transform the energy needs of both producers and consumers into an instrument that fosters
integration. For this to be possible requires high levels of trust among political, military, business,
and civil society actors to guarantee supply and investment, reduce uncertainties, and establish an
interdependent market. Interdependence is essential, as dependency gives rise to areas of tension.
Interdependence contributes to agreements for mutual benefit; dependency opens up spaces for
energy nationalism. Opening a path to greater integration requires putting forward a vision of
cooperation and coordination that would allow various governmental, private, and civil society
actors to agree on joint courses of action. This task presupposes establishing a specific agenda that
makes it possible to overcome conflict, reduce asymmetries, and establish opportunities for
negotiation toward the realization of shared goals. The coordination of policies will make it possible
to reduce uncertainties and advance along a shared path to mutual benefit.

How to build an international level of energy cooperation and security regime


For new building of energy security regime such as including an institution, or
organization in this region, it must be considered a few things below: 1) it must expand the concept
of energy security, not just economic reason, which means, it must encompass multiple concepts
and make more integrated security policy. Especially, with environmental security concerns today,
the issues of climate change and energy efficiency, should be considered as newly important
security agendas; 2) currently as an institutional level, and energy security, The OLADE (The Latin
American Energy Organization) is good example for research and policy suggestions for Latin
American energy market and policy-makers. However, it still lacks of many supports and
engagement from many states especially in S. American region and this low support make more
difficult to addressing energy policy effectively. In addition, this organization must add up much
more of environmental issues to suggest their future energy policy; 3) Diversification of energy
sources and expanding it are also keys for energy policy-making. In some countries, such as
Argentina, Brazil and Chile, nuclear plants generate electricity to meet a few percent of their needs,
and there are plans or discussions about increasing the number of nuclear plants. However, these
plans should be discussed with security regime through building of a new organization involved
nuclear plants in this region and harmonized international security body, such as IAEA; 4)
Investments in renewable as well as traditional energy will also be vital, but this needs private
investment as well as government funding in order to make a difference from old regimes; 5) The
most important thing is, however, making energy cooperation and security networks and
community in the level of international, playing many functions such as conflict-resolution roles
involved in energy resources and energy security, harmonizing energy policy with demand and
supply issues in the levels of intraregional or international, researches for climate change adopting
and mitigation in the regional level, participating many states and private enterprises, civil society,
NGOs, even social movement groups related to environmental issues as well considering social
policy harmonizing within international level.

Reference
Manzano, Osmel and Francisco Monaldi(2008), ―The Political Economy of Oil Production in Latin
America,‖ Economía, Vol. 9, No. 1, Fall: 59-103.
Economist Intelligence Unit(2009), Country Report Venezuela, May.
-------------., ―Assets grab,‖ Economist Intelligence Unit ViewsWire, May 12.
-------------., ―Government Nationalizes Oil services Industry,‖ Venezuela Country Report, May,
www.eiu.com.
-------------., ―Venezuela Industry Report: Energy,‖ May, www. eiu.com/viewswire.

Dr. Sang-Sub, Ha (Research Professor)/Email: gcc-kolac@hufs.ac.kr


Web: http://www.gcc-kolac.com Tel: 02-2173-3394, Fax: 02-2173-3395, Seoul, Korea
2. Biodiversidade e Manejo dos Ecossistemas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 149

ORDENAMENTO TERRITORIAL E GESTÃO AMBIENTAL NOS


PARQUES NACIONAIS DO BRASIL

Giovanni SEABRA
Doutor em Geografia, Professor Associado da UFPB
gioseabra@gmail.com

ABSTRACT
The purpose and guidelines of any environmental policy should consider the fragility, the
interdependence and the limited ability of ecosystems. But it is not what is observed in Brazil. The
direction taken by the project of economic growth of the federal government are causes for concern,
conducted on the wrong way of nature conservation and sustainable development. The territorial
planning of national parks and equivalent units requires the elaboration and implementation of
handling plan, the main instrument for environmental management of conservation units. However,
the vast majority of protected areas in Brazil do not have this management tool. Moreover, with rare
exceptions, conservation areas of Brazil that have the handling plan do not fulfill the objectives of
their creation.
KEYWORDS: Territorial planning. National Park. Handling Plan. Environmental
Management

RESUMO
O objetivo e a diretriz de toda e qualquer política ambiental deve considerar a fragilidade, a
interdependência e a capacidade limitadora dos ecossistemas. Mas não é o que se observa no Brasil.
São motivos de preocupação os rumos tomados pelo projeto de crescimento econômico do Governo
Federal, conduzido na contramão da conservação da natureza e do desenvolvimento sustentável. O
ordenamento territorial dos parques nacionais e unidades equivalentes requer a elaboração e
aplicação do plano de manejo, principal instrumento para a gestão ambiental das unidades de
conservação. Entretanto, a grande maioria das áreas protegidas do Brasil não dispõe deste
instrumento de gestão. Por outro lado, com raras exceções, as unidades de conservação do Brasil
que possuem o plano de manejo, não cumprem os objetivos de sua criação.
PALAVRAS-CHAVE: Ordenamento Territorial, Parque Nacional , Plano de Manejo,
Gestão Ambiental.

INTRODUÇÃO
Iniciamos a discussão do tema ―percepção e gestão ambiental em unidades de
conservação‖ com a indagação sobre a importância da conservação da natureza, ao considerarmos
que a degradação ambiental é um fato geologicamente histórico e está enraizada na cultura humana.
Como se sabe, a degradação ambiental é um reflexo do modelo econômico adotado,
envolvendo a expansão populacional, o desenvolvimento tecnológico, os produtos industrializados e
o consumo avassalador de produtos descartáveis e substâncias poluentes.
Ao longo da história geológica da vida na Terra as mudanças ambientais estiveram sempre
vinculadas aos fenômenos naturais, como a tectônica das placas, migração dos continentes,
levantamento das cordilheiras, aplainamento do relevo, erupções vulcânicas, mudanças climáticas,
quedas de meteoros, etc (Seabra, 2005). Muitos destes eventos provocaram grandes extinções da
vida no Planeta.
Os critérios que justificam o desenvolvimento sustentável, termo incorporado à questão
ambiental com a realização da Conferência Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente - ECO
92, sediada no Rio de Janeiro, são conflitantes com o modelo de consumo mundializado, cuja
estrutura mantém em risco permanente as sociedade e a natureza.. São fatos corriqueiros as
agressões ao ambiente provocadas pelas grandes empresas de bens duráveis e não duráveis, a
petroquímica, o agronegócio, e a indústria de alimentos, entre outros. Paradoxalmente, são estas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 150

empresas poluentes as principais financiadoras dos projetos ambientais. Tal procedimento está
previsto no princípio poluidor pagador. Ou seja, as grandes corporações oferecem contrapartidas
resguardando-se ao direito de poluir.
Infelizmente, a questão ambiental é vista de forma antropocêntrica, ou seja, em primeiro
lugar estão os grupos sociais mais favorecidos, do outro lado está a massa humana e a
biodiversidade. Pelo mesmo motivo, a criação e implantação das unidades de conservação, via-de-
regra, não obedecem os princípios básicos do conservacionismo. No Brasil, os parques nacionais e
unidades equivalentes são concebidos segundo o ponto de vista do homem urbano-industrial,
portanto, sem a devida experiência ou vivência no meio natural. Talvez por este motivo os planos
de manejo, quando existem, são ineficazes e totalmente distantes dos objetivos para o qual foram
concebidos.
O objetivo e a diretriz de toda e qualquer política ambiental deve levar em conta a
fragilidade, a interdependência e a capacidade limitadora dos ecossistemas e da natureza como um
todo. Neste contexto, as sociedades tradicionais cumprem papel importante na concepção e gestão
das UCs, sobretudo devido à percepção ambiental desenvolvida através da vivência e experiência
acumulada.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA, existem atualmente 68 parques nacionais no Brasil, na grande maioria apresentando
problemas relacionados ao cumprimento dos objetivos propostos no ato de sua criação. Porém, as
unidades de conservação não possuem recursos, infraestrutura e pessoal necessários à preservação
dos ecossistemas e acompanhamento dos visitantes, numa evidente infração às leis federais.
O objetivo primordial dos Parques Nacionais é conservar a natureza e manter as funções
ecológicas do meio ambiente. O território delimitado compreende áreas destinadas a fins científicos,
culturais, educativos e recreativos, cuja administração é de responsabilidade do Poder Público
Federal. O mesmo critério é extensivo aos estados (parques estaduais) e municípios (parques
municipais). Contudo, houve mudanças significativas nos objetivos dos parques nacionais, para
atender aos interesses econômicos dos setores privado e não governamental. Por conseguinte, a
administração dos parques nacionais, mediante convênios, é aos poucos transferida em favor das
organizações não governamentais, e os serviços ao setor privado. Para facilitar o processo de
privatização das unidades de conservação, o Governo Federal criou em 2007, o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMbio, oriundo do IBAMA.
O Governo Federal aprovou em 2000 a Lei Federal 9.985, instituindo o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação – SNUC, constituído pelo conjunto de unidades de conservação
federais, estaduais e municipais, classificadas em dois grupos (Brasil, 2000):

Unidades de Proteção Integral - Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional,


Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre.
Unidades de Uso Sustentável – Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse
Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento
Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Entretanto, são poucas as unidades de conservação criadas no Brasil que obtiveram êxito,
quanto aos objetivos de conservação e preservação ambiental, pondo em risco a credibilidade do
conceito de desenvolvimento sustentável. A grande maioria das unidades de conservação do Brasil
não dispõe do plano de manejo, instrumento de gestão que deve ser executado em no máximo 5
anos após a criação da UC. O plano de manejo está previsto no SNUC, sendo conceituado como

Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de
Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.

A eficácia do plano de manejo dependerá do cumprimento de objetivos específicos, como


dotação de recursos, corpo administrativo capacitado e permanente, programas de monitoramento
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 151

dos recursos naturais, programas de educação ambiental, controle de visitantes pautado na


capacidade de carga dos ecossistemas, entre outros.
A capacidade de carga serve para estimar o número máximo de visitantes que uma UC
pode comportar sem sofrer deterioração Ela é definida para cada zona, setor e trilha destinados ao
uso público.

DIAGNÓSTICO, ZONEAMENTO AMBIENTAL E GESTÃO PARTICIPATIVA


O método aplicado ao diagnóstico, zoneamento, manejo e gestão de unidades de
conservação, tem contribuído significativamente à preservação de áreas protegidas e das populações
tradicionais, sobretudo quando possui caráter multidisciplinar e participativo (Seabra, 2008). O
diagnóstico ambiental permite conhecer os diversos ambientes, ecossistemas e a biodiversidade das
áreas protegidas, definindo áreas homogêneas, para aplicação de programas de uso sustentável. O
diagnóstico físico-biótico compreende o levantamento e análise dos componentes ecossistêmicos
físicos e biológicos, como o clima e seus elementos, os relevos estruturais e morfoesculturais, os
diferentes tipos de solos, os recursos hídricos superficiais e subsuperficiais, e a biodiversidade,
inclusive o homem. O diagnóstico socioeconômico abrange os aspectos relacionados à estrutura
social e modelo econômico da sociedade local e regional, e como estes aspectos estão relacionados
com a conservação da natureza.
A definição e delimitação de zonas geoambientais corresponde ao mosaico de unidades
naturais e socioeconômicas de uma determinada paisagem, sendo conceituado pelo SNUC como

a definição de setores e zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e normas
específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da unidade
possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.

O zoneamento ambiental é imprescindível à execução dos programas de manejo da


unidade de conservação previstos no plano de manejo, cuja elaboração possibilita a conciliação da
preservação ambiental com o uso indireto dos recursos naturais e culturais. Neste sentido, torna-se
imperativo a conservação não somente dos ecossistemas naturais, mas também dos valores culturais
sistemicamente inseridos nas unidades de conservação, (Seabra, 1998). Este fato é da maior
importância, visto que cerca de 80% dos parques nacionais existentes no mundo mantêm
populações residentes dentro dos seus limites (Terborgh, 2002).
De acordo com a lógica mercadológica que transforma a natureza em produto a ser
consumido, a gestão participativa torna-se inviável, sobretudo porque, na maioria dos casos, as
comunidades locais são excluídas do processo de concepção e implantação dos projetos.
Ao invés de incentivar a gestão compartilhada e inclusiva, o Ministério do Meio Ambiente
está promovendo o Programa de Uso Público e Ecoturismo em Parques Nacionais – Oportunidade
de Negócios, com o objetivo de atrair investimentos e incentivar o acesso do público aos parques
nacionais.
Entre os parques nacionais inicialmente contemplados pela medida, estão o Parque
Nacional de Itatiaia, Parque Nacional de Brasília, Parque Nacional do Caparaó, Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros e outros, os quais já possuem diversos atrativos turísticos com valores
agregados, principalmente ligados à hotelaria, transporte, e os chamados esportes de aventura. Os
parques nacionais licitados, outrora unidades de conservação de uso restrito, são agora classificados
como de múltiplo uso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao consideramos o número superior a 1300 unidades de conservação existentes no Brasil,
são poucas as Ucs que alcançaram os objetivos de conservação e preservação ambiental. Este é uma
dos motivos que justificam a perda de credibilidade do conceito de desenvolvimento sustentável,
especialmente quando aplicado às unidades de conservação de proteção integral e as unidades de
conservação de uso sustentável.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 152

No presente artigo, apresentamos alguns passos necessários para ordenamento territorial e


gestão de unidades de conservação. O disciplinamento de uso e medidas de controle ambiental estão
previstos no zoneamento, de acordo com as características e potencialidades do território,
distinguindo-se as áreas protegidas, os sítios geomorfológicos, espeleológicos, arqueológicos e
paleontológicos, e as unidades ecossistêmicas, e os grupos sociais residentes.
Os administradores e gestores de unidades de conservação no Brasil adotam procedimentos
equivocados, no tocante às condições ecológicas que justificam a criação da UC, bem como os o
tratamento dispensado aos grupos tradicionais, alijados do processo de ecologização da paisagem.
Como são estranhas ao processo de ocupação e uso turístico das unidades de conservação, as comunidades
locais abandonam seus postos de trabalho, constituindo então uma mão de obra periférica e servil, para
atendimento ao fluxo de visitantes e empreendedores.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Nº 2.892. Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Brasília,
2000.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resoluções do CONAMA; 1984/91.
Brasília: Ibama, 1992.
EMBRATUR/IBAMA. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasília,
1994.
PESSOA, F. Ecologia e Território. Regionalização, desenvolvimento e ordenamento do
território numa perspectiva ecológica. Lisboa: Edições Afrontamento, 1985.
RODRIGUES, J. M. et al. Geoecologia das Paisagens. Fortaleza Editora UFC, 2004.
SEABRA, G. Do garimpo aos ecos do turismo: o Parque Nacional da Chapada
Diamantina. Tese de Doutorado. São Paulo: FFLCH / USP, 1998.
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_____________. Geografia: Fundamentos e Perspectivas (4ª edição). João Pessoa: Editora
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TERBORGH, J. e SCHAIK, C. Porque o mundo necessita de parques. In TERBORGH, J.
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trópicos. Curitiba: Fundação O Boticário / Editora UFPR, 2002.
TUAN, Y. Topofilia – um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Rio
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www.ibama.gov.br. Acesso em 30 de dezembro de 2007, às 11:45.
www.socioambiental.org. Acesso em 05 de janeiro de 2008, às 12:30.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 153

A IMPORTÂNCIA DO USO E MANEJO DOS RECURSOS SOLO E


ÁGUA NO ASSENTAMENTO SANTO ANTONIO, NO MUNICÍPIO
DE CAJAZEIRAS – PB

Janierk Pereira de FREITAS


Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Especialista em
Geopolítica e História pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP. Profª do Ensino Básico II da E.M.E.F. Antonio de
Souza Dias, Cajazeiras – PB
janierk_pfreitas@hotmail.com
Sandrilene Pessoa SOUZA
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Especialista em
Geopolítica e História pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP.
sandrilenepessoa@yahoo.com.br
Lucilandio Pereira MARECO
Licenciado em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Prof. do Ensino
Básico II da E.M.E.F. Antonio de Souza Dias, Cajazeiras – PB
lulogia@hotmail.com
José Deomar de Souza BARROS
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina
Grande – UFCG. Mestrando em Recursos Naturais; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.
deomarbarros@gmail.com

ABSTRACT
The present study analyzes the use of land use and water in the settlement holy Antonio,
where he witnesses a culture of subsistence farming with the use of fire and grazing for their
livestock, causing a decline in the ecological balance of area generating a progressive shortage of
fertility and quality of their resources. Review aimed to study the importance of the use and
management of land resources and water, with the community to a critical view of environmental
problems in a real situation, right next to your social life, observing their social and environmental
impacts arising from activities of occupation area and degradation of these resources generated by
the misuse of them. Promoting a form of control of water quality and land use through
environmental education developed with residents where they can play good practice in managing
these resources by designing measures to minimize damage, or even fix it so that it can ensure
sustainability and improved quality of life of local people.
KEYWORDS: Management, Soil, Water, Sustainability.

RESUMO
O trabalho apresentado faz uma analise da utilização do uso do solo e da água no
assentamento Santo Antonio, onde se presencia uma cultura de lavoura de subsistência com o uso
do fogo e pastagens para a criação de animais domésticos, ocasionando um declínio no equilíbrio
ecológico da área gerando uma escassez progressiva da fertilidade e qualidade dos respectivos
recursos. Tendo como objetivos estudar a importância do uso e manejo dos recursos de solo e água,
levando a comunidade a uma visão critica dos problemas ambientais em uma situação real, bem
próximo ao seu convívio social, observando seus impactos sócio-ambientais advindos das
atividades de ocupação da área e a degradação desses recursos gerada pela má utilização dos
mesmos. Promovendo uma forma de controle da qualidade da água e utilização do solo através de
uma educação ambiental desenvolvida junto aos moradores onde possam desempenhar práticas
adequadas no manejo desses recursos projetando medidas para minimiza os danos causados, ou até
mesmo solucioná-los de forma que possa garantir a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de
vida da população local.
PALAVRAS – CHAVES: Manejo, Solo, Água, Sustentabilidade.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 154

INTRODUÇÃO
O uso e manejo dos recursos naturais nos assentamentos rurais, na perspectiva da
sustentabilidade, tem se tornado centro de grandes discussões políticas a nível regional, nacional e
mundial. Porém, observa-se uma ausência dessa discussão junto à maioria da população assentada,
que muitas das vezes é quem faz uso direto dos recursos naturais, no caso do solo e da água, as leis
criadas para tratarem desses problemas adquirem, na maioria das vezes, um caráter punitivo,
deixando diversas lacunas no que diz respeito aos aspectos sócio-ambientais, impedindo, muitas
vezes, a criação de mecanismos educacionais que, dentre outros, despertariam, de forma mais
efetiva no contexto de multiplicação, uma consciência ambiental nos assentamentos rurais.

A luta pela terra, com a criação de projetos de assentamento no Brasil, assiste-se o


despertar mundial sobre a questão ambiental. Diante desta realidade a percepção da população local
sobre a problemática ambiental torna-se base para o desenvolvimento sustentável de uma nova
forma de relacionamento assentado/ ambiente em que a conscientização ambiental é base para essa
mudança (BEDUSCHI FILHO, 2003). A qualidade da água está diretamente ligada à qualidade de
vida e à saúde da população, torna-se necessário o controle e manutenção de sua qualidade, pois o
uso de uma água contaminada, segundo TUNDISI (2002), pode gerar muitas doenças vinculadas ao
ser, onde organismos patogênicos se desenvolvem e realizam parte do seu ciclo de vida.

Uma forma de controle da qualidade da água é a conscientização da população através da


Educação Ambiental. Segundo DIAS (2000), Educação Ambiental é definida como um processo no
qual as pessoas aprendem como funciona o ambiente, como dependemos dele, como podemos
interferir em seu equilíbrio e como minimizar tal interferência no sistema. Quanto ao estudo no
assentamento Santo Antônio, sobre a importância do uso e manejo do solo e da água, pode-se
justificar o desenvolvimento desta pesquisa, pelos seguintes fatores:

- Entender os aspectos que os impactos ambientais causados pela forma de exploração dos
recursos naturais, no caso solo e água, nesse assentamento, como também, buscar junto aos
assentados, soluções possíveis para amenizar a problemática ambiental ali existente.

- Esse plano propõe, de forma objetiva, apontar as causas e as conseqüências provocadas


pelo sistema inadequado de uso e manejo do solo e da água no ambiente de estudo, através de
levantamentos e pesquisas realizadas com instrumentos adequados como seja, questionários e
entrevistas com os diversos seguimentos da sociedade local.

- A partir do conhecimento do potencial econômico e social do espaço abrangido pela área


do assentamento, bem como das suas características físico-naturais. Visando oferecer alternativas e
soluções possíveis para a melhoria da produção agrícola e da qualidade de vida da população
assentada, este trabalho tem a finalidade de estudar e acompanhar as formas de exploração dos
recursos naturais (solo e água), observando os danos causados ao meio ambiente.

2. ASPECTOS FÍSICOS E SOCIAIS DO ASSENTAMENTO SANTO ANTONIO

O assentamento Santo Antônio, no município de Cajazeiras/PB está situado na Longitude


38º32‘ Oeste, latitude 6º47‘ Sul. O clima predominante é definido, de acordo com a classificação de
Koppen, como Awig, denominado de clima tropical chuvoso, com pequena variação de temperatura
média anual, ocorrendo precipitações de forma expressiva nos meses de janeiro, fevereiro, março e
abril. A temperatura varia entre as médias de 24º C e 29º C, com uma amplitude térmica em torno
de 5º C. Os meses mais frios correspondem a junho e julho e os mais quentes são outubro,
novembro e dezembro (IBGE, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 155

A geologia da área onde está localizada o assentamento Santo Antônio é representada por
rochas do embasamento cristalino do complexo gnaisse migmatítico com características xistosas e
freqüentemente presença de veias de quartzo e feldspato. A formação dos solos é influenciada por
mecanismos envolvidos, primeiramente, pelas condições climáticas e, secundariamente, pela
própria vegetação. A elevação na temperatura aumenta a velocidade das reações químicas
envolvidas na corrosão e decomposição das rochas (intemperismo) e na degradação de compostos
orgânicos presentes no solo; o aumento das chuvas converge para a maior disponibilidade de águas,
facilitando o crescimento das plantas, bem como as próprias reações de intemperismo. Por essas
razões, as formações dos solos nas regiões climáticas do globo são diferenciadas. Por isso, o solo é
encarado no seu conjunto como um ambiente integrado (BRANCO & CAVINATTO, 1999).

O regime pluviométrico da região se observa a existência de duas estações bem definidas:


uma chuvosa, compreendendo os meses de verão e outono; e outra, mais longa e seca, que se
estende pelos meses correspondentes ao inverno e primavera; caracterizado por irregularidade das
precipitações, no que diz respeito à sua distribuição no tempo e no espaço.

A utilização empregada hoje na cultura de lavoura de subsistência com o uso do fogo e


pastagens para a criação de animais domésticos vem ocasionando um declínio no equilíbrio
ecológico da área. Na qual a atual forma de produção é uma grande vilã da perda progressiva de
fertilidade e produtividade do solo.

A utilização de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos para a produção agrícola vem gerando


impactos ambientais amplamente conhecidos, bem como conseqüências à saúde humana e a
extinção da biodiversidade.

O uso e manejo inadequado do solo para o uso intensivo da pecuária vêm provocando
degradação como o aparecimento de área descobertas propiciando a erosão natural e o processo de
impermeabilização do solo pelo pisoteamento dos animais. A vegetação, constituída pela caatinga
hiperxerófila, encontra-se bastante degradada, pela ação dos próprios moradores da área que são
responsáveis pelo, corte, queima, uso para pasto e fabricação de carvão para o consumo doméstico e
comercialização do mesmo, gerando uma intensa erosão no solo pondo em risco a prática agrícola
na área.

O assentamento conta com a presença de um manancial hídrico permanente: o Açude


Santo Antonio conhecido por Soim este vem sofrendo sérios problemas de degradação como;
assoreamento, eutrofização e poluição. Com o período de estiagem que vai de abril a dezembro
devido o processo de evaporização ser muito intenso nesse período suas águas começam a baixar
rapidamente e na medida em que vai baixando os moradores começam a explorar de maneira
inadequada essas áreas descobertas. Com a presença diária de animais pastando nas suas margens,
construções de currais para a permanência noturna dos animais em áreas pertencentes ao açude,
vem ocasionando sérios problemas para o solo e a água como; o lançamento dos dejetos desses
animais na água e o pisoteamento constante do solo. O solo descoberto também é utilizado para a
plantação de capim e cultivos agrícolas sendo presentes a utilização de agrotóxicos. É percebível
também a presença de lixo nas suas margens gerando sérios problemas ambientais para o açude já
que este além de ser o principal fornecedor de água para o abastecimento do Assentamento Santo
abastece também a área urbana do distrito de Divinópolis, integrante do município de Cajazeiras e
também abastece outras comunidades circunvizinhas do Assentamento.

Essa problemática hídrica agrava-se com os impactos ambientais ocorridos no reservatório


que por ser um elemento vital a sobrevivência e ao desenvolvimento local e regional, possuem um
alto índice de população vivendo e dependendo deste manancial ameaçado. Os próprios moradores
do Assentamento sofrem com a escassez de água, pois não há um abastecimento auto-suficiente
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 156

para toda a população, parte da população utiliza apenas água de cisternas que garante apenas o
consumo humano e domestico (cozinhar e beber) não sendo suficiente para a manutenção de suas
hortas durante todo ano já que muitos dependem desse cultivo para a sobrevivência. Para os
assentados, a água significa trabalho e garantia de permanência na região. O trabalho diário, o uso
na roça, na horta e no uso doméstico, a água com qualidade representa parte do crescimento sócio-
econômico do assentamento (ROCHA, 2000).

A escassez da água com qualidade de consumo é um elemento gerador de conflitos que


representa a impossibilidade de todos se servirem ilimitadamente de tal bem (ROCHA, 2000).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região do Alto Sertão Paraibano foi ocupada, inicialmente, por desbravadores que
vinham em busca de áreas de pastagens para a criação de gado extensiva, principalmente nas
margens de rios e riachos. Após o ciclo do gado, passou a predominar a lavoura algodoeira, que foi
responsável pelo desmatamento da vegetação nativa. Atualmente, com a decadência da lavoura
algodoeira, uma das formas de ocupação e utilização do solo é a pecuária extensiva e a agricultura
de subsistência. A fragilidade dos solos e ausência de medidas conservacionistas esgotou
rapidamente o potencial produtivo das terras, passando a predominar a pecuária leiteira como
atividade que, além de ser mais adaptável aos solos pobres, consolidando os grandes latifúndios na
região (BEDUSCHI FILHO, 2003).

Não faz muito tempo, o Sítio Santo Antonio era uma área inteiramente coberta por
vegetação nativa de valor biótico singular. Prova disso é que a remanescente vegetação da caatinga
ainda abriga rica e importante biodiversidade. Como também o ambiente aquático através de açude
e barragens mantém as qualidades favoráveis ao desenvolvimento de vidas e uso pela comunidade
local. Para os assentados, a água significa trabalho e garantia de permanência na região.

A existência de conflitos pelo uso da água apresenta como causa básica não só a escassez
quantitativa da água, mas principalmente a deterioração da sua qualidade. Na busca de soluções
para esses conflitos os assentados procuram estabelecer acordos de regulação e controle sobre o uso
da água (ROCHA, 2000).

Encontram-se exemplos concretos de consciência ambiental e uma conseqüente


sustentabilidade em assentamentos rurais de reforma agrária. Estes espaços constituem uma
materialização da desconcentração e democratização da estrutura fundiária, visando uma melhor
distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, além de garantir acesso
aos meios de produção agrícola aos trabalhadores rurais, gerando trabalho, renda e melhores
condições de vida. O INCRA, afirma que a distribuição da renda, riqueza e do poder são condições
indispensáveis para o desenvolvimento sustentável com justiça social em qualquer país do mundo.
E a reforma agrária é uma exigência da sociedade e condição para o desenvolvimento sustentável
com justiça, paz e produção (SACHS, 2002).

O desenvolvimento sustentável é instrumento que implica na possibilidade de que o


desenvolvimento e o progresso possam continuar sua caminhada sem que os recursos sejam
exauridos. Trata-se da mitigação dos efeitos do desenvolvimento no meio ambiente. Não seria
errado dizer que é uma solução conciliadora do conflito "progresso versus preservação ambiental".
Trata-se do "desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os
recursos para o futuro‖ (WEBARTIGOS, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 157

Desta maneira, não mais se pode entender a preservação do meio ambiente como entrave
ao desenvolvimento sócio-econômico, mas como dado que constitui verdadeiro componente
indispensável ao desenvolvimento social. Não há desenvolvimento sustentável sem preservação
ambiental. Nesse passo, há que verificar que a carta magna brasileira estabelece que constitua
objetivo fundamental da República Federativa do Brasil "garantir o desenvolvimento nacional"
(WEBARTIGOS, 2009). De remate, considerando a indissociabilidade do desenvolvimento em
relação à preservação do meio ambiente, deflui-se que é objetivo fundamental a própria preservação
do meio ambiente, sem o que não há que se falar de desenvolvimento nacional. O desenvolvimento
sustentável, neste aspecto, é instrumento conciliador sociedade/natureza.

4. REFERÊNCIAS
BARROS, Aidil de J. Paes & LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de Pesquisa:
Propostas Metodológicas. Petrópolis – RJ: Vozes, 1990.
BEDUSCHI FILHO, L. C. Assentamentos rurais e conservação da natureza. São Paulo:
Iglu: FAPESP, 2003.
BRAGA, B. Introdução à engenharia ambiental. 1ª edição. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
BRANCO, Samuel Murgel & CAVINATTO, Vilma Maria. Solos: a base da vida terrestre.
São Paulo: Editora Moderna, 1999. (Coleção Polêmica).
DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 6ª edição. São Paulo: Gaia, 2000.
Ecologia Geral - Tutela do Meio Ambiente Sustentabilidade do Recurso Natural e sua
Tutela Legal. http://www.webartigos.com (em 19 julho 2009).
LAKATOS & MARCONI. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos,
pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4ª ed. São Paulo:
Atlas, 1992.
ROCHA, J. C. Diagnóstico rápido e participativo em recursos hídricos (DRPRH): Uma
ferramenta para auxiliar a gestão comunitária da água na região do Curimataú, PB. 2000.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organização: Paula Yone
Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
TUNDISI, J. G.; TUNDISI, T. M.; ROCHA, O. Ecossistemas de Águas Interiores. In:
Águas Doces No Brasil: Capital Ecológico, Uso E Conservação. Org.: Braga, B.; Tundisi, J. G.;
Rebouças, A. C. 2ª edição. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
VEIGA, J. E. O que é reforma agrária. São Paulo: Abril Cultural Brasiliense, 1984.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 158

A IMPORTÂNCIA DO USO E MANEJO DOS RECURSOS SOLO E


ÁGUA NO ASSENTAMENTO SANTO ANTONIO, NO MUNICÍPIO
DE CAJAZEIRAS – PB

Janierk Pereira de FREITAS


Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Especialista em
Geopolítica e História pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP. Profª do Ensino Básico II da E.M.E.F. Antonio de
Souza Dias, Cajazeiras – PB
janierk_pfreitas@hotmail.com
Sandrilene Pessoa SOUZA
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Especialista em
Geopolítica e História pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP.
sandrilenepessoa@yahoo.com.br
Lucilandio Pereira MARECO
Licenciado em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Prof. do Ensino
Básico II da E.M.E.F. Antonio de Souza Dias, Cajazeiras – PB
lulogia@hotmail.com
José Deomar de Souza BARROS
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina
Grande – UFCG. Mestrando em Recursos Naturais; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.
deomarbarros@gmail.com

RESUMO
O trabalho apresentado faz uma analise da utilização do uso do solo e da água no
assentamento Santo Antonio, onde se presencia uma cultura de lavoura de subsistência com o uso
do fogo e pastagens para a criação de animais domésticos, ocasionando um declínio no equilíbrio
ecológico da área gerando uma escassez progressiva da fertilidade e qualidade dos respectivos
recursos. Tendo como objetivos estudar a importância do uso e manejo dos recursos de solo e água,
levando a comunidade a uma visão critica dos problemas ambientais em uma situação real, bem
próximo ao seu convívio social, observando seus impactos sócio-ambientais advindos das
atividades de ocupação da área e a degradação desses recursos gerada pela má utilização dos
mesmos. Promovendo uma forma de controle da qualidade da água e utilização do solo através de
uma educação ambiental desenvolvida junto aos moradores onde possam desempenhar práticas
adequadas no manejo desses recursos projetando medidas para minimiza os danos causados, ou até
mesmo solucioná-los de forma que possa garantir a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de
vida da população local.
PALAVRAS – CHAVES: Manejo, Solo, Água, Sustentabilidade.

ABSTRACT
The present study analyzes the use of land use and water in the settlement holy Antonio,
where he witnesses a culture of subsistence farming with the use of fire and grazing for their
livestock, causing a decline in the ecological balance of area generating a progressive shortage of
fertility and quality of their resources. Review aimed to study the importance of the use and
management of land resources and water, with the community to a critical view of environmental
problems in a real situation, right next to your social life, observing their social and environmental
impacts arising from activities of occupation area and degradation of these resources generated by
the misuse of them. Promoting a form of control of water quality and land use through
environmental education developed with residents where they can play good practice in managing
these resources by designing measures to minimize damage, or even fix it so that it can ensure
sustainability and improved quality of life of local people.
KEYWORDS: Management, Soil, Water, Sustainability.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 159

1. INTRODUÇÃO
O uso e manejo dos recursos naturais nos assentamentos rurais, na perspectiva da
sustentabilidade, tem se tornado centro de grandes discussões políticas a nível regional, nacional e
mundial. Porém, observa-se uma ausência dessa discussão junto à maioria da população assentada,
que muitas das vezes é quem faz uso direto dos recursos naturais, no caso do solo e da água, as leis
criadas para tratarem desses problemas adquirem, na maioria das vezes, um caráter punitivo,
deixando diversas lacunas no que diz respeito aos aspectos sócio-ambientais, impedindo, muitas
vezes, a criação de mecanismos educacionais que, dentre outros, despertariam, de forma mais
efetiva no contexto de multiplicação, uma consciência ambiental nos assentamentos rurais.

A luta pela terra, com a criação de projetos de assentamento no Brasil, assiste-se o


despertar mundial sobre a questão ambiental. Diante desta realidade a percepção da população local
sobre a problemática ambiental torna-se base para o desenvolvimento sustentável de uma nova
forma de relacionamento assentado/ ambiente em que a conscientização ambiental é base para essa
mudança (BEDUSCHI FILHO, 2003). A qualidade da água está diretamente ligada à qualidade de
vida e à saúde da população, torna-se necessário o controle e manutenção de sua qualidade, pois o
uso de uma água contaminada, segundo TUNDISI (2002), pode gerar muitas doenças vinculadas ao
ser, onde organismos patogênicos se desenvolvem e realizam parte do seu ciclo de vida.

Uma forma de controle da qualidade da água é a conscientização da população através da


Educação Ambiental. Segundo DIAS (2000), Educação Ambiental é definida como um processo no
qual as pessoas aprendem como funciona o ambiente, como dependemos dele, como podemos
interferir em seu equilíbrio e como minimizar tal interferência no sistema. Quanto ao estudo no
assentamento Santo Antônio, sobre a importância do uso e manejo do solo e da água, pode-se
justificar o desenvolvimento desta pesquisa, pelos seguintes fatores:

- Entender os aspectos que os impactos ambientais causados pela forma de exploração dos
recursos naturais, no caso solo e água, nesse assentamento, como também, buscar junto aos
assentados, soluções possíveis para amenizar a problemática ambiental ali existente.

- Esse plano propõe, de forma objetiva, apontar as causas e as conseqüências provocadas


pelo sistema inadequado de uso e manejo do solo e da água no ambiente de estudo, através de
levantamentos e pesquisas realizadas com instrumentos adequados como seja, questionários e
entrevistas com os diversos seguimentos da sociedade local.

- A partir do conhecimento do potencial econômico e social do espaço abrangido pela área


do assentamento, bem como das suas características físico-naturais. Visando oferecer alternativas e
soluções possíveis para a melhoria da produção agrícola e da qualidade de vida da população
assentada, este trabalho tem a finalidade de estudar e acompanhar as formas de exploração dos
recursos naturais (solo e água), observando os danos causados ao meio ambiente.

2. ASPECTOS FÍSICOS E SOCIAIS DO ASSENTAMENTO SANTO ANTONIO

O assentamento Santo Antônio, no município de Cajazeiras/PB está situado na Longitude


38º32‘ Oeste, latitude 6º47‘ Sul. O clima predominante é definido, de acordo com a classificação de
Koppen, como Awig, denominado de clima tropical chuvoso, com pequena variação de temperatura
média anual, ocorrendo precipitações de forma expressiva nos meses de janeiro, fevereiro, março e
abril. A temperatura varia entre as médias de 24º C e 29º C, com uma amplitude térmica em torno
de 5º C. Os meses mais frios correspondem a junho e julho e os mais quentes são outubro,
novembro e dezembro (IBGE, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 160

A geologia da área onde está localizada o assentamento Santo Antônio é representada por
rochas do embasamento cristalino do complexo gnaisse migmatítico com características xistosas e
freqüentemente presença de veias de quartzo e feldspato. A formação dos solos é influenciada por
mecanismos envolvidos, primeiramente, pelas condições climáticas e, secundariamente, pela
própria vegetação. A elevação na temperatura aumenta a velocidade das reações químicas
envolvidas na corrosão e decomposição das rochas (intemperismo) e na degradação de compostos
orgânicos presentes no solo; o aumento das chuvas converge para a maior disponibilidade de águas,
facilitando o crescimento das plantas, bem como as próprias reações de intemperismo. Por essas
razões, as formações dos solos nas regiões climáticas do globo são diferenciadas. Por isso, o solo é
encarado no seu conjunto como um ambiente integrado (BRANCO & CAVINATTO, 1999).

O regime pluviométrico da região se observa a existência de duas estações bem definidas:


uma chuvosa, compreendendo os meses de verão e outono; e outra, mais longa e seca, que se
estende pelos meses correspondentes ao inverno e primavera; caracterizado por irregularidade das
precipitações, no que diz respeito à sua distribuição no tempo e no espaço.

A utilização empregada hoje na cultura de lavoura de subsistência com o uso do fogo e


pastagens para a criação de animais domésticos vem ocasionando um declínio no equilíbrio
ecológico da área. Na qual a atual forma de produção é uma grande vilã da perda progressiva de
fertilidade e produtividade do solo.

A utilização de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos para a produção agrícola vem gerando


impactos ambientais amplamente conhecidos, bem como conseqüências à saúde humana e a
extinção da biodiversidade.

O uso e manejo inadequado do solo para o uso intensivo da pecuária vêm provocando
degradação como o aparecimento de área descobertas propiciando a erosão natural e o processo de
impermeabilização do solo pelo pisoteamento dos animais. A vegetação, constituída pela caatinga
hiperxerófila, encontra-se bastante degradada, pela ação dos próprios moradores da área que são
responsáveis pelo, corte, queima, uso para pasto e fabricação de carvão para o consumo doméstico e
comercialização do mesmo, gerando uma intensa erosão no solo pondo em risco a prática agrícola
na área.

O assentamento conta com a presença de um manancial hídrico permanente: o Açude


Santo Antonio conhecido por Soim este vem sofrendo sérios problemas de degradação como;
assoreamento, eutrofização e poluição. Com o período de estiagem que vai de abril a dezembro
devido o processo de evaporização ser muito intenso nesse período suas águas começam a baixar
rapidamente e na medida em que vai baixando os moradores começam a explorar de maneira
inadequada essas áreas descobertas. Com a presença diária de animais pastando nas suas margens,
construções de currais para a permanência noturna dos animais em áreas pertencentes ao açude,
vem ocasionando sérios problemas para o solo e a água como; o lançamento dos dejetos desses
animais na água e o pisoteamento constante do solo. O solo descoberto também é utilizado para a
plantação de capim e cultivos agrícolas sendo presentes a utilização de agrotóxicos. É percebível
também a presença de lixo nas suas margens gerando sérios problemas ambientais para o açude já
que este além de ser o principal fornecedor de água para o abastecimento do Assentamento Santo
abastece também a área urbana do distrito de Divinópolis, integrante do município de Cajazeiras e
também abastece outras comunidades circunvizinhas do Assentamento.

Essa problemática hídrica agrava-se com os impactos ambientais ocorridos no reservatório


que por ser um elemento vital a sobrevivência e ao desenvolvimento local e regional, possuem um
alto índice de população vivendo e dependendo deste manancial ameaçado. Os próprios moradores
do Assentamento sofrem com a escassez de água, pois não há um abastecimento auto-suficiente
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 161

para toda a população, parte da população utiliza apenas água de cisternas que garante apenas o
consumo humano e domestico (cozinhar e beber) não sendo suficiente para a manutenção de suas
hortas durante todo ano já que muitos dependem desse cultivo para a sobrevivência. Para os
assentados, a água significa trabalho e garantia de permanência na região. O trabalho diário, o uso
na roça, na horta e no uso doméstico, a água com qualidade representa parte do crescimento sócio-
econômico do assentamento (ROCHA, 2000).

A escassez da água com qualidade de consumo é um elemento gerador de conflitos que


representa a impossibilidade de todos se servirem ilimitadamente de tal bem (ROCHA, 2000).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região do Alto Sertão Paraibano foi ocupada, inicialmente, por desbravadores que
vinham em busca de áreas de pastagens para a criação de gado extensiva, principalmente nas
margens de rios e riachos. Após o ciclo do gado, passou a predominar a lavoura algodoeira, que foi
responsável pelo desmatamento da vegetação nativa. Atualmente, com a decadência da lavoura
algodoeira, uma das formas de ocupação e utilização do solo é a pecuária extensiva e a agricultura
de subsistência. A fragilidade dos solos e ausência de medidas conservacionistas esgotou
rapidamente o potencial produtivo das terras, passando a predominar a pecuária leiteira como
atividade que, além de ser mais adaptável aos solos pobres, consolidando os grandes latifúndios na
região (BEDUSCHI FILHO, 2003).

Não faz muito tempo, o Sítio Santo Antonio era uma área inteiramente coberta por
vegetação nativa de valor biótico singular. Prova disso é que a remanescente vegetação da caatinga
ainda abriga rica e importante biodiversidade. Como também o ambiente aquático através de açude
e barragens mantém as qualidades favoráveis ao desenvolvimento de vidas e uso pela comunidade
local. Para os assentados, a água significa trabalho e garantia de permanência na região.

A existência de conflitos pelo uso da água apresenta como causa básica não só a escassez
quantitativa da água, mas principalmente a deterioração da sua qualidade. Na busca de soluções
para esses conflitos os assentados procuram estabelecer acordos de regulação e controle sobre o uso
da água (ROCHA, 2000).

Encontram-se exemplos concretos de consciência ambiental e uma conseqüente


sustentabilidade em assentamentos rurais de reforma agrária. Estes espaços constituem uma
materialização da desconcentração e democratização da estrutura fundiária, visando uma melhor
distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, além de garantir acesso
aos meios de produção agrícola aos trabalhadores rurais, gerando trabalho, renda e melhores
condições de vida. O INCRA, afirma que a distribuição da renda, riqueza e do poder são condições
indispensáveis para o desenvolvimento sustentável com justiça social em qualquer país do mundo.
E a reforma agrária é uma exigência da sociedade e condição para o desenvolvimento sustentável
com justiça, paz e produção (SACHS, 2002).

O desenvolvimento sustentável é instrumento que implica na possibilidade de que o


desenvolvimento e o progresso possam continuar sua caminhada sem que os recursos sejam
exauridos. Trata-se da mitigação dos efeitos do desenvolvimento no meio ambiente. Não seria
errado dizer que é uma solução conciliadora do conflito "progresso versus preservação ambiental".
Trata-se do "desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os
recursos para o futuro‖ (WEBARTIGOS, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 162

Desta maneira, não mais se pode entender a preservação do meio ambiente como entrave
ao desenvolvimento sócio-econômico, mas como dado que constitui verdadeiro componente
indispensável ao desenvolvimento social. Não há desenvolvimento sustentável sem preservação
ambiental. Nesse passo, há que verificar que a carta magna brasileira estabelece que constitua
objetivo fundamental da República Federativa do Brasil "garantir o desenvolvimento nacional"
(WEBARTIGOS, 2009). De remate, considerando a indissociabilidade do desenvolvimento em
relação à preservação do meio ambiente, deflui-se que é objetivo fundamental a própria preservação
do meio ambiente, sem o que não há que se falar de desenvolvimento nacional. O desenvolvimento
sustentável, neste aspecto, é instrumento conciliador sociedade/natureza.

4. REFERÊNCIAS
BARROS, Aidil de J. Paes & LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de Pesquisa:
Propostas Metodológicas. Petrópolis – RJ: Vozes, 1990.
BEDUSCHI FILHO, L. C. Assentamentos rurais e conservação da natureza. São Paulo:
Iglu: FAPESP, 2003.
BRAGA, B. Introdução à engenharia ambiental. 1ª edição. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
BRANCO, Samuel Murgel & CAVINATTO, Vilma Maria. Solos: a base da vida terrestre.
São Paulo: Editora Moderna, 1999. (Coleção Polêmica).
DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 6ª edição. São Paulo: Gaia, 2000.
Ecologia Geral - Tutela do Meio Ambiente Sustentabilidade do Recurso Natural e sua
Tutela Legal. http://www.webartigos.com (em 19 julho 2009).
LAKATOS & MARCONI. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos,
pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4ª ed. São Paulo:
Atlas, 1992.
ROCHA, J. C. Diagnóstico rápido e participativo em recursos hídricos (DRPRH): Uma
ferramenta para auxiliar a gestão comunitária da água na região do Curimataú, PB. 2000.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organização: Paula Yone
Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
TUNDISI, J. G.; TUNDISI, T. M.; ROCHA, O. Ecossistemas de Águas Interiores. In:
Águas Doces No Brasil: Capital Ecológico, Uso E Conservação. Org.: Braga, B.; Tundisi, J. G.;
Rebouças, A. C. 2ª edição. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
VEIGA, J. E. O que é reforma agrária. São Paulo: Abril Cultural Brasiliense, 1984.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 163

A SIGNIFICÂNCIA DOS PARQUES NACIONAIS BRASILEIROS E


A BIODIVERSIDADE COMO VALOR PATRIMONIAL

Onilda Gomes BEZERRA 15


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano – UFPE
onibezerra@yahoo.com.br

ABSTRACT
This paper is part of the doctoral research on conservation of natural heritage which is
being carried out by the author. In the light of both the theory of conservation and the concept of
significance adopted by the international organizations that safeguard these assets, it discusses how
the heritage values of Brazilian national parks are identified.
This theme relates to current discussions concerning the management models used by the
world system of protected areas, focusing on the development of theoretical-methodological
instruments for conserving the significance of the natural heritage. The problem of evaluating
heritage values has led managers and specialists to investigate effective management tools to
implement monitoring of their conservation.
The significance of an asset is characterized by its heritage values and this is a criterion for
evaluating heritage used by the World Heritage Committee when an asset is proposed for inclusion
on the World Heritage List. The identification of the significance of an asset and a conceptual
understanding of this are fundamental to consolidating of the conservation management of the
values inherent in the asset.
With this in view, this article sets out to analyse and identify the significance of the
Brazilian national parks as protected areas of world heritage. In so doing, basic concepts are defined
to form a theoretical-methodological framework for developing tools applicable to public policies,
planning and management of natural resources.
Amongst the main values of these protected areas, biodiversity stands out due to its innate
value, in other words the intrinsic value of nature. Biodiversity, after the 1992 Convention on
Biological Diversity, has been established as the basic concept of the theoretical framework
underpinning the theory of conservation of the natural heritage today
KEYWORDS: Significance. Natural significance. Existence value. Biodiversity. National
Parks.

RESUMO
O presente texto trata de parte da pesquisa de doutorado que esta autora vem
desenvolvendo sobre conservação do patrimônio natural. Objetiva discutir a identificação dos
valores dos parques nacionais brasileiros à luz da teoria da conservação e do conceito de
significância adotados pelos organismos internacionais que tutelam esses bens.
A temática abordada se inscreve nas atuais discussões acerca dos modelos de gestão
adotados pelo sistema mundial de áreas protegidas tendo em vista o desenvolvimento de
instrumentos teórico-metodológicos para a conservação da significância do patrimônio natural. O
problema da avaliação dos valores patrimoniais tem suscitado gestores e especialistas a investigar
mecanismos de gestão eficazes quanto à operacionalização do monitoramento de sua conservação.
Os valores patrimoniais de um bem é o que caracteriza sua significância e esta é um
critério de avaliação patrimonial utilizado pelo Comitê de Patrimônio Mundial quando da
candidatura do bem à Lista do Patrimônio Mundial. A identificação da significância e sua
compreensão conceitual são fundamentais para a consolidação dos processos de gestão da

15
Mestre em Geografia pela UFPE e professora de Geografia e Patrimônio Histórico-Cultural da Faculdade Maurício de
Nassau – Recife. Doutorado em fase de conclusão sob a orientação do Dr. Sílvio Mendes Zancheti (Prof. do Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco e pesquisador do Centro de
Estudos Avançados da Conservação Integrada – CECI).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 164

conservação dos valores intrínsecos ao bem. Nessa perspectiva, busca-se analisar e identificar a
significância dos parques nacionais brasileiros enquanto áreas protegidas patrimônios da
humanidade definindo-se conceitos básicos que sirvam de arcabouço teórico-metodológico para o
desenvolvimento de ferramentas aplicáveis às políticas publicas, planejamento e gestão dos recursos
naturais.
Dentre os principais valores dessas áreas protegidas, destaca-se a biodiversidade pelo seu
valor de existência ou valor intrínseco da natureza. A biodiversidade, após a Convenção da
Diversidade Biológica de 1992, consagra-se como o conceito basilar do arcabouço teórico que
ancora a teoria da conservação do patrimônio natural nos dias atuais.
PALAVRAS-CHAVE: Significância. Significância Natural. Valor de existência.
Biodiversidade. Parques Nacionais.

INTRODUÇÃO
Os crescentes índices de perda da biodiversidade registrados nas últimas décadas estão
sendo apontados como uma das mais preocupantes mudanças ambientais em nível global. Em que
pese a grande transformação natural a qual vem passando o planeta, é notória a transformação do
equilíbrio bioecológico e geofísico da superfície terrestre, promovida pela ação humana ao longo do
tempo.
As novas abordagens da conservação do patrimônio natural e cultural têm se voltado para
visões integradoras e holísticas. Parte-se do princípio que a relação sociedade/natureza se aproxima
da idéia de que o homem e a natureza formam conjuntamente um único sistema – visão ecocêntrica.
Essa concepção de mundo se distancia do tradicional antropocentrismo em que a civilização
ocidental se referenciou. A natureza é vital para o desenvolvimento humano físico e social. O
homem mantém com o meio natural uma complexa teia de relações imbricadas resultando em
processos híbridos, de caráter natural e cultural, interrelacionados e interdependentes.
O meio ambiente, enquanto patrimônio a ser protegido e conservado, está submetido ao
conjunto de diretrizes e procedimentos de gestão adotado pelo sistema global de conservação
patrimonial desenvolvido pela UNESCO16 e pelos principais órgãos gestores do patrimônio natural
e cultural – IUCN e ICOMOS. 17 Esse sistema se consolidou a partir da Convenção do Patrimônio
Cultural e Natural, Paris, 1972. A UNESCO montou um sistema mundial de gestão patrimonial cujo
instrumento de orientação básica é o Operational Guidelines for the Implementation of the World
Heritage Convention.18 A análise dos bens candidatos à Lista do Patrimônio Mundial se dá através
de uma avaliação baseada na Declaração de Significância apresentada pelos estados-membros
quando da sua inscrição à Lista a qual é analisada à luz de dez critérios estabelecidos pela
Convenção do Patrimônio Mundial. 19
A UNESCO faz o acompanhamento dos bens patrimônios mundiais através de uma
avaliação periódica20, único instrumento de avaliação e monitoramento da significância e do seu
estado da conservação. Daí, a significância se constituir como um conceito fundamental dos
procedimentos metodológicos do sistema de gestão do patrimônio mundial. A significância é um
conceito que pode servir de base teórica para construção de instrumentos de monitoramento da
conservação patrimonial. Assim sendo, questiona-se aqui o que vem a ser significância de um bem,
como identificá-la e até que ponto esse conceito contribui para os processos de avaliação da
conservação dos bens patrimoniais?

16
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
17
IUCN (International Union for the Conservation of Nature) ou União Mundial para Conservação da Natureza;
ICOMOS (International Council on Monuments and Sites).
18
UNESCO/World Heritage Center, 1977.
19
Para melhor compreensão dos dez critérios de avaliação adotado pela UNESCO consultar o site:
http://whc.unesco.org
20
Periodic Reporting. Esse procedimento se dá a cada seis anos sob a responsabilidade de uma equipe de especialistas
do WHC (World Heritage Convention).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 165

O conceito de significância, tomado como referência nesta investigação, é o estabelecido


na Carta do Patrimônio Natural 21 a qual define a biodiversidade, a geodiversidade e os
ecossistemas como os valores fundamentais dos bens naturais.
O conceito de biodiversidade, a partir da CDB, representa a grande mudança e
contribuição, tanto conceitual quanto empírica, no trato da questão da conservação e do
desenvolvimento sustentável tendo em vista o compromisso ético entre as presentes e as futuras
gerações. Insere-se, portanto, nas atuais abordagens da conservação patrimonial, compreendendo o
patrimônio em suas múltiplas dimensões que envolve desde os suportes físico-biológicos às
relações humanas com eles estabelecidas.
A identificação da significância dos parques nacionais brasileiros patrimônios mundiais,
objeto empírico da presente investigação, processa-se a partir do método “análise de conteúdo”
aplicado à documentação selecionada: textos oficiais da avaliação patrimonial da IUCN/UNESCO,
fichas cadastrais do IBAMA/ICMBio e os planos de manejos daquelas unidades de conservação.
Como resultado, obteve-se um conjunto de valores que caracterizam a significância desses parques,
os quais se expressam através de seus aspectos bioecológicos, geofísicos, cênicos e culturais.

1 A conservação da natureza como bem patrimonial


A preocupação com a defesa da natureza tem origem muito antiga, porém a consciência de
se empreender esforços globais no sentido de formalizar compromissos para sua proteção e gestão
data do início do século XX. Os primeiros atos oficiais surgem na Inglaterra quando a Coroa inglesa
realiza em Londres, 1900, uma reunião internacional visando discutir a regulação e limitação da
caça esportiva indiscriminada de animais, pássaros e peixes praticada nas colônias, sobretudo na
África por conta dos safáris. O maior destaque foi o I Congresso Internacional para Proteção da
Natureza, realizado em Paris em 1923, onde se discutiu a preservação ambiental. Em 1933, a
própria Inglaterra teve a iniciativa de formular um compromisso internacional visando, não só
proteger os animais, individualmente, mas toda a fauna e flora. No entanto esses encontros não
geraram resultados práticos eficazes. Finalmente, a experiência mais exitosa quanto a um
firmamento de compromisso internacional foi o Tratado Antártico. O acordo envolveu não só os
países do hemisfério sul em face de sua proximidade, como também os países do norte, tendo em
vista as conseqüências naturais catastróficas previstas com o crescimento das atividades
exploratórias naquele continente. Além da defesa ambiental do continente, incluíram-se nesse
compromisso os princípios da segurança e da exploração econômica (RIBEIRO, 2005, p.54-56).
De uma forma global, as preocupações com a relação entre o homem e o seu meio natural
se evidenciaram a partir da Segunda Guerra Mundial com as repercussões que teve a bomba
atômica, o desenvolvimento das comunicações e a tomada de consciência pública em relação aos
problemas que afligem a biosfera e seus ecossistemas. Entretanto a temática ambiental passa a
constar das pautas oficiais internacionais dos países com a criação da ONU, UNESCO e IUCN.
Coube a esses organismos a responsabilidade de estabelecer a cooperação internacional pela paz e
segurança no planeta, a promoção de intercâmbio científico e tecnológico entre as nações, como
também a implementação de programas educacionais visando à proteção da natureza.
A crescente ameaça à vida dos seres vivos sobre a face da Terra coloca em discussão a
relação homem/natureza no sentido de se repensar a postura em que se coloca o ser humano frente
ao seu meio. O paradoxo dessa relação identifica as divergentes posturas preservacionistas e
conservacionistas. Os preservacionistas defendem a intocabilidade dos sistemas naturais, argumento
indiscutível frentes às ameaças irreversíveis das espécies e ecossistemas. O conservacionismo,
vertente do ambientalismo, propõe o uso racional dos recursos naturais do planeta. Ou seja, admite-
se a apropriação da natureza pelo homem respeitando-se os processos bioecológicos e geofísicos.
Nesse sentido, desenvolve-se a visão ecocêntrica respaldada na evolução das ciências
naturais, a ecologia, a ecossistêmica dos organismos vivos, somadas aos movimentos
ambientalistas. Essa abordagem se alia às novas posturas éticas frente ao meio ambiente e à visão

21
Australia Natural Heritage Charter (1996).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 166

sistêmica do universo. Diferentemente da visão antropocêntrica, de cunho utilitarista, do


biocentrismo, que defende a justiça biótica e intocabilidade da natureza, a visão ecocêntrica,
segundo Mota (2006), além de se basear na ―ética da terra‖, assume um enfoque sistêmico.
Compreende o universo biótico como um único sistema onde todos os elementos estão interligados,
entre si e com o meio que o envolve. Incorpora o senso filosófico ético onde se admite o uso dos
recursos naturais pelo ser humano contanto que se respeite sua integridade ambiental, o equilíbrio
biofísico e suas qualidades estéticas. (MOTA, 2006, p.83-84),
Um dos primeiros grandes alertas oficiais culmina nos anos 70 com o Relatório do Clube
de Roma ou Limites de Crescimento. O Relatório denunciava a incapacidade do planeta de suportar
o crescimento populacional e os processos associados ao seu contexto como a industrialização, a
poluição, a escassez de alimentos e, conseqüentemente, a redução dos recursos naturais. Serviu
como embasamento teórico-oficial para o movimento ecologista, cuja bandeira de luta era negar o
“modo de vida das sociedades capitalistas adiantadas e ao modo industrial de produção, cuja
tecnologia, longe de neutra, tem altos custos sociais e ambientais” (BRESSAN, 1996, p.30-31).
Em 1972, ocorre a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em
Estocolmo, a qual legitima as preocupações sobre a sobrevivência dos seres vivos no planeta,
mediante constituição de fóruns oficiais de discussão. Segundo Bressan (1996, p.28), as discussões
convergiram para a formulação do conceito de ecodesenvolvimento, desenvolvimento
compatibilizado com as características locais, uso racional dos recursos naturais e aplicação de
tecnologias sem comprometer os ecossistemas. A natureza é ressaltada pelo seu valor intrínseco ou
valor de existência garantindo-se as condições de desenvolvimento humano das gerações presentes
e futuras. Isto significa que a manutenção da integridade dos processos ecológicos deve ocorrer em
função da sobrevivência física e social da humanidade. (UNEP, 1972). 22 Com isto, levanta-se a
discussão entre desenvolvimento e conservação da natureza sem, no entanto, menosprezar o valor
intrínseco dos bens naturais que, segundo Cox (1997, p.127), seria admitir que o ambiente, além do
“valor de uso”, tem um “valor de existência”, que significa que “o mundo não humano tem
interesses e relevância moral demasiado independentes de sua utilidade social”.
Paralelamente, acontece a Convenção do Patrimônio Mundial 23 que estabelece a
salvaguarda do patrimônio cultural e natural. O patrimônio cultural deixa de enfocar apenas os
objetos e monumentos isolados, passando a inserir os ambientes e as paisagens dos quais eles fazem
parte. Assim, o patrimônio de caráter universal excepcional incorpora, além dos valores históricos,
artísticos, estéticos e culturais, os bioecológicos, geofísicos e cênicos. Consolida-se o entendimento
do patrimônio cultural e natural integrado, associando os dois âmbitos de proteção. Desse modo,
formaliza-se o consenso mundial sobre as conexões entre desenvolvimento, natureza e conservação.
Na década de 80, acirra-se a preocupação com o desenvolvimento econômico associado à
conservação do meio ambiente. Os processos de gestão ambiental se voltam para o beneficiamento
das gerações atuais, mantendo-se a capacidade das gerações futuras serem igualmente atendidas.
Esse é o conteúdo do desenvolvimento sustentável contido no Relatório Bruntland de 1987.24
Em 1992, acontece a mais importante reunião sobre meio ambiente – a CNUMAD25 que,
dentre outros compromissos em defesa do meio ambiente, firma a Convenção sobre a Diversidade

22
UNEP - Organização das Nações para o Meio Ambiente – Declaração de Estocolmo, 1972.
23
Recomendação Paris – Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, 1972. Essa convenção considera
indispensável adotar um ―sistema eficaz de proteção coletiva do patrimônio cultural e natural de valor universal
excepcional, organizado de modo permanente e segundo métodos científicos e modernos‖.
24
Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas –-, eclodido em
1987, denominado Nosso Futuro Comum. Este relatório ratifica que ―não há limites absolutos, mas limitações impostas
pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da
biosfera de absorver os efeitos da atividade humana.‖ (BRESSAN, 1996, p.29).
25
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também chamada ECO-92 ou Rio-92,
assim denominada por ter sido realizada no Rio de Janeiro, Brasil.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 167

Biológica. 26 Essa Convenção objetivou a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de


seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes dos recursos
genéticos27. Define como biodiversidade "a variabilidade de organismos vivos de qualquer origem,
compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos
e os complexos ecológicos dos quais eles fazem parte. Isso compreendendo a diversidade no seio
das espécies e entre as espécies, bem como aquela dos ecossistemas”. 28 Consagra-se, a
biodiversidade como uma abordagem ampliada, trazendo uma nova força aos processos de
conservação da natureza. Conforme Inoue (2007, p.59), o conceito torna-se abrangente à medida
que incorpora “espécies domesticadas, a diversidade genética, habitats e ecossistemas e as suas
dimensões humanas”. Reforça essa autora que biodiversidade significa um processo de “construção
social e/ou política” que vai além do sentido restrito da palavra, muito utilizado de uma forma geral
em sua acepção taxonômica. 29
Um novo paradigma se desenha, onde a relação homem/natureza se torna cada vez mais
imbricada. Torna-se premente a necessidade de adequação das necessidades humanas à conservação
do patrimônio natural. A questão se distingue de duas formas: a tradicional, onde as dimensões
natural e cultural são tratadas de forma dicotômica e a abordagem da conservação integrada que
considera os processos holísticos e integrativos.
Com o conceito de biodiversidade, a biologia moderna consolida o entendimento de que a
diversidade da vida no planeta corresponde a espécies, genes e ecossistemas. Norteia a formação de
um conjunto de posturas e pressupostos adotados em nível global pelos organismos internacionais,
tutores do patrimônio natural. Forma-se o chamado regime30 ambiental mundial no qual se insere o
“regime global da biodiversidade”. 31
A CDB influenciou as políticas e os procedimentos metodológicos de criação do sistema
mundial de áreas protegidas. Nessa perspectiva, a IUCN formaliza o Sistema Mundial de Áreas
Protegidas em 199432, definindo categorias cujas características estão voltadas para os objetivos de
proteção. Os parques nacionais é uma das categorias – Categoria II –, que, segundo o Guidelines for
Protected Area Management Categories 33 , tem como objetivos de gestão a proteção dos
ecossistemas e a recreação. Os parques nacionais são definidos como grandes áreas naturais
estabelecidas com o objetivo de proteger os processos ecológicos compostos pelas espécies e
ecossistemas, característicos da área, de forma compatível com as atividades científicas,
educacionais, espirituais, recreacionais e de visitação.
O sistema de áreas protegidas 34 do Brasil é organizado segundo um conjunto de
instrumentos normativos, a política nacional de meio ambiente, órgãos de planejamento,
fiscalização e controle, em nível federal (IBAMA e ICMBio), além de planos e programas

26
Também denominada como CDB. A Declaração do Rio institui, além dos princípios da preservação da vida na Terra,
as obrigações ambientais e o direito ao desenvolvimento; a Declaração de Florestas; Convenção sobre Mudança do
Clima; a Agenda 21.
27
CDB, Artigo 1º.
28
CDB, Artigo 2.
29
Taxonomia é ―a ciência que cuida da classificação e identificação dos seres vivos (a sistemática, que se propõe a
desenvolver sistemas de classificação de seres vivos‖ (LEWINSOHN, T.M. & PRADO, P.I., 2008, p.20).
30
Regime é definido como ―uma coleção parcialmente integrada de organizações mundiais, entendimentos e
pressupostos que especificam a relação entre sociedade humana e natureza‖ (MEYER; FRANK; HIRONAKA;
SCHOFER; TUMA, 1997, p.623 apud INOUE, 2007, p.53)
31
Regime global da biodiversidade ―consiste no conjunto de elementos balizadores normativos e cognitivos ao redor
dos quais interagem os atores, produzindo, do global ao local, decisões, ações e dinâmicas de trocas de recursos e de
conhecimento sintonizadas com a Convenção sobre Diversidade Biológica‖. Inoue (2007, p.97).
32
Em 1994, a IUCN consolida o sistema mundial de áreas protegidas e cria as seguintes categorias: I - Reserva Natural
Restrita (Ia), Área de Vida Selvagem (Ib); II - Parque Nacional; III - Monumento Natural; IV - Habitats ou Espécies; V-
Paisagens Terrestres ou Marinhas; VI – Áreas de uso sustentável.
33
Área Protegida, conforme o Guidelines for Protected Area Management Categories, é um espaço geográfico
claramente definido, reconhecido, destinado e gerenciado por medidas legais ou outros meios efetivos que visem a
conservação da natureza a longo prazo e seja tratado, conjuntamente, com os serviços dos ecossistemas e seus valores
culturais.
34
As área protegidas brasileiras são denominadas de ―Unidades de Conservação‖.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 168

específicos na área. O estabelecimento do SNUC35 consolida o sistema que busca alinhar-se com as
diretrizes e pressupostos do sistema mundial. Classifica as áreas protegidas ou unidades de
conservação em: UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL objetivando a preservação da natureza
com admissão de apenas o uso indireto – os parques nacionais se inserem nesta Categoria; e
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL que visam a compatibilização entre conservação da
natureza e uso sustentável dos recursos. Criados pelo Decreto 84.017/1979, os parnas 36 brasileiros
são definidos como áreas “dotadas de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação
permanente” com “fins científicos, culturais, educativos e recreativos . 37
Os parques nacionais brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Mundial 38 são
reconhecidos como áreas protegidas e configuram-se de forma isolada ou formando grandes
complexos bioecológicos. São eles: Parques Nacionais do Iguaçu; Serra da Capivara; Superagui;
Pau Brasil; Monte Pascoal; Descobrimento; Pantanal Matogrossense; Fernando de Noronha;
Chapada dos Veadeiros; Emas; Jaú; e Anavilhana.
A avaliação patrimonial realizada pela UNESCO, tanto do patrimônio natural como do
cultural, é feito a partir da Declaração de Significância apresentada pelos estados-membros onde é
declarada a importância dos valores dos bens candidatos à Lista. O conceito de significância
cultural e natural foi definido em cartas patrimoniais, no entanto tem sido explorado teoricamente
por alguns autores no sentido de se esclarecer enquanto procedimento aplicável aos processos de
gestão da conservação patrimonial.

2 A significância natural e os valores do patrimônio natural


O termo significância aparece nas cartas patrimoniais a partir da expressão significação
cultural contida na Carta de Veneza sobre conservação e restauração de monumentos e sítios onde
se faz alusão ao valor histórico adquirido pelo patrimônio ao longo do tempo. Porém, é na Carta de
Burra que a designação significância cultural se traduz como sendo o “o valor estético, histórico,
científico, social espiritual de um bem para as gerações passadas, presentes ou futuras.” Conforme
esta carta, a significação cultural está incorporada “no próprio sítio, no seu tecido, entorno, usos,
associações, significados, registros, sítios e objetos relacionados. Os sítios podem ter variações de
valor para indivíduos ou grupos diferentes.”39
A significância do patrimônio natural, por sua vez, foi definida pela Australia Natural
Heritage Charter, em 1996, a qual objetivou uniformizar uma abordagem para a conservação dos
lugares de significância natural. Essa carta confere aos bens naturais um leque de valores que insere
desde o valor de existência aos valores sócio-culturais e ressalta que os processos naturais se
diferenciam dos culturais por sua capacidade de evolução natural, reproduzindo-se e se perpetuando
a partir da dinâmica dos sistemas ecológicos. Conceitua significância natural como a importância
dos ecossistemas, a biodiversidade e a geodiversidade, pelo seu valor de existência, ou em termos
do seu valor científico, social, estético e de suporte de vida para as presentes e futuras gerações.
Refere-se ao conjunto de valores composto pelos processos naturais pela importância intrínseca de
sua existência, pelo caráter social, estético e científico, sendo, portanto, portadores de vida que se
transmitem entre gerações. 40
Essa carta compreende uma larga interpretação dos bens naturais que se baseia no respeito
a esse patrimônio, reconhecendo os princípios de equidade entre gerações, valor de existência,
incerteza e precaução. A equidade entre gerações significa assegurar que as condições de saúde,
diversidade e produtividade sejam mantidas pelas presentes gerações em benefício das futuras; o

35
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, instituído em 2000, cujos objetivos estão voltados para a proteção,
uso, educação, valorização sócio-cultural e pesquisa científica dos recursos naturais.
36
Parnas é a forma contraída de como são denominados os parques nacionais brasileiros.
37
Decreto nº 84.017/79 – Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros. Artigo 1º.
38
A Lista do Patrimônio Mundial compreende 890 bens, donde 689 são culturais, 176 naturais e 25
mistos.www.unesco.org, acesso:22/01/10.
39
Austrália ICOMOS Burra Charter, 1999. A Carta de Burra foi construída pela primeira vez em 1980, tendo sido
revista por três vezes e em 1999 assume sua versão oficial.
40
Australia Natural Heritage Charter, 1996, p.3 e 6.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 169

princípio do valor de existência significa que os organismos vivos, os processos terrestres e os


ecossistemas possuem um valor que estão além do caráter social, econômico ou cultural dos seres
humanos. O princípio de incerteza quer dizer que o nosso conhecimento acerca do patrimônio
natural e dos processos que afetam são incompletos e que a significância potencial ou valor do
patrimônio natural permanece desconhecido por conta desse estado de incerteza do conhecimento; e
o princípio de precaução significa que, onde há ameaça ou potencial ameaça de sério ou
irreversível dano ambiental, a falta de certeza científica não poderá ser usada como uma razão para
adiar as medidas de prevenção contra a degradação ambiental. 41
A conservação da significância natural se dá em função da integridade de seus valores. A
integridade é o grau em que as condições, proporções e alterações em relação ao tamanho da
diversidade biológica e geofísica ou qualidade do habitat são retidas no bem. 42 Segundo ainda a
Australia Natural Heritage Charter, biodiversidade significa a variedade de formas de vida, as
diferentes plantas, animais e micro-organismos, os gens que eles contêm e os ecossistemas que eles
formam. A geodiversidade corresponde às formas da superfície terrestre, incluindo as feições
geológicas, geomorfológicas, paleontológicas, hidrológicas, pedológicas e atmosféricas, os sistemas
e processos terrestres. O ecossistema corresponde à interação dinâmica que ocorrem em um
complexo de organismos vivos, entre si e com o ambiente abiótico. 43 Assim, esses conceitos
compõem o conjunto de entendimentos, pressupostos e diretrizes basilares para a construção de
mecanismos de gestão da conservação do estado e da significância do patrimônio natural.

3 A significância dos parques nacionais brasileiros


O processo de identificação da significância dos parques nacionais brasileiros patrimônios
da humanidade, objeto desta investigação, se deu utilizando-se o método ―análise de conteúdo‖,
aplicado à documentação básica adotada pela pesquisa: os “Advisory Body Evaluation” 44 –, as
fichas-cadastro do IBAMA e ICMBio e os planos de manejos existentes.
A análise de conteúdo é considerado como “a hermenêutica controlada, baseada na
dedução: a inferência. Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os
dois pólos do rigor da objectividade e da fecundidade da subjectividade.” (BARDIN, 1970, p.11).45
Mediante leitura e interpretação dos conteúdos dos textos dos documentos selecionados,
realizou-se uma decomposição de termos – “as unidades de registro”. Estas, por sua vez, foram
classificadas por grupos de conteúdos ou categorias as quais foram relacionadas aos fundamentos
teórico-conceituais adotados resultando no conjunto de valores visados. As categorias de valores
formaram distintas tipologias, conforme suas características naturais ou culturais, a partir das
características bioecológicas, geofísicas, cênicas e culturais, identificadas em cada parque nacional.
Observa-se, portanto, que o conjunto de valores conformam-se numa moldura que envolve as duas
dimensões patrimoniais, por um lado, o patrimônio natural biológico e abiótico (valores não-
humanos) e, de outro, o patrimônio cultural (valor humano).
Daí, a significância natural dos parnas corresponder aos seus valores bioecológicos e
geofísicos que se referem à biodiversidade e à geodiversidade, à beleza cênica e às expressões

41
Australia Natural Heritage Charter, 1996, p.3.
42
Id ibid, p.6. A integridade natural é significativa em face das condições e limites impostos aos sistemas ecológicos em
relação a sua estrutura e funcionalidade de forma que não haja interferência ou alteração na inteireza do bem. Nesse
sentido, Pires (2004), afirma que a integridade ecológica dos ecossistemas naturais ‗implica a manutenção de suas áreas
naturais em condições satisfatórias de tamanho e de qualidade ambiental, na perspectiva de assegurar a continuidade
dos processos ecológicos ao longo do tempo‖. (PIRES et al, 2004, p.125).
43
Australia Natural Heritage Charter, 1996, p.6-7
44
O ―Advisory Body Evaluation‖ é um documento que resulta da avaliação dos bens culturais e naturais pelo Comitê
Mundial do Patrimônio. É elaborado a partir do relatório apresentado pelos estados-membros à UNESCO, na ocasião
em que os inscrevem para a Lista do Patrimônio Mundial.
45
Bardin ratifica que a análise de conteúdo se refere a um ―conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza
procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens‖ e que o seu objetivo é ―a inferência
de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a
indicadores quantitativos ou não)‖ (BARDIN, 1970, p.11).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 170

culturais inscritas no patrimônio natural. Vale destacar, no entanto, que a biodiversidade foi
identificada pela análise como o valor de maior relevância encontrada nos registros documentais
analisados, seguida da paisagem que representa o valor cênico.

O quadro abaixo traduz os resultados preliminares da pesquisa os quais serão


desenvolvidos e detalhados através de consultas a especialistas e verificações empíricas, realizando-
se um feed-back teórico-metodológico e de procedimentos operacionais.

Quadro 1 - Significância dos parques nacionais brasileiros


VALORES DIMENSÕES DOS CATEGORIAS DE VALOR
VALORES
SIGNIFICÂNCIA NATURAL
Valor não-humano
Formações fitogeográficas
Habitat‘s
PATRIMÔNIO NATURAL BIODIVERSIDADE Flora
BIOLÓGICO Fauna
História geológica da Terra
Formas e feições do relevo
PATRIMÔNIO NATURAL GEODIVERSIDADE Unidades de relevo
ABIÓTICO Estruturas geológicas
Formações geofísicas
Recursos hídricos
VALOR ESTÉTICO BELEZA CÊNICA Paisagem
SIGNIFICÂNCIA CULTURAL
Valor humano
Objetos e monumentos históricos e pré-históricos
VALOR CULTURAL EXPRESSÕES CULTURAIS Lugares e sítios históricos e pré-históricos
Povos indígenas
Associações a idéias e crenças
Fonte: elaborado pela própria autora.

Esses valores expressam a significância dos parques nacionais brasileiros patrimônios


mundiais e constituem a base conceitual para o desenvolvimento de instrumentos operacionais de
processos de gestão da conservação do patrimônio natural, a exemplo de sistema de indicadores de
conservação.

Conclusões
Os valores e as categorias de valores identificados para os parques nacionais brasileiros,
objeto empírico da pesquisa, relacionam-se com bases teórico-conceituais e, também, entre si,
podendo, ainda, interrelacionar-se com variáveis que, associadas a índices ou dados quantitativos,
apontem indicadores capazes de permitir avaliações específicas a cada valor encontrado. Assim, os
conceitos e as teorias aqui desenvolvidas podem servir ao processo de construção de sistemas de
indicadores de conservação, como é o caso estudado na pesquisa ora em desenvolvimento. 46 É
fundamental a importância desse instrumento no sentido de se criar mecanismos operacionais de
avaliação e monitoramento da conservação patrimonial.
Desse modo, demonstra-se que é possível desenvolver um raciocínio teórico-metodológico
a partir dos conceitos, princípios, diretrizes e procedimentos atualmente vigentes nos sistemas
mundiais de proteção patrimonial buscando o aperfeiçoamento dos processos de gestão da
conservação dos bens naturais e culturais.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J.R. Gestão ambiental para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro:
Thex Editora. 2006.
46
Segundo Carley (1985), é possível construir sistemas de indicadores a partir de bases teóricas as quais se
interrelacionam com variáveis e estas, através de métodos quantitativos, possibilitam ―estimativas de relações entre
variáveis teoricamente especificadas‖. Indicadores são ―sintomas ou sinais como indicações de estados ou situações
menos visíveis‖. (CARLEY,1985, p.68).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 171

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 172

ABUNDÃNCIA E RIQUEZA DE GASTRÓPODES DA REGIÃO


ENTREMARÉS DOS COSTÕES ROCHOSOS DA PRAIA MONTE
AGHÁ, PIÚMA (ES): ANTES E DEPOIS DA REABERTURA DO
CANAL PARA O MAR DO RIO RIO NOVO

CASTRO, G. A.
Prof. MSc./Orientador. Departamento de Zoologia, Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros, ICB,
Universidade Federal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG.
gilalex@terra.com.br
SILVA, C. C.
Biólogo voluntário do Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros, Departamento de Zoologia, ICB,
Universidade Federal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG.
clesio.bio@bol.com.br
LOPES, M. P.
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas, ICB, UFJF.
marcosvidebula@hotmail.com

ABSTRACT
The intertidal zone on rocky shores has one of the richest coastal environments for species
due to their substrate condition and the various factors which interfere with it. This work has as its
objective to characterize the gastropods in terms of composition and abundance of species in the
intertidal zone on the rocky shores of Itaipava and Itaoca beaches (ES), before and after the invasive
bivalve Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845). The collections were carried out on May 27 th (1 st
collection) and on October 13 th of 2005 (2 nd collection), on May 05 th of 2007 (3 rd collection), and
on July 21 st of 2009 (4 th collection). In order to conduct the collections on the mesolitoral along a
10 meter horizontal transect, 5 samples of the superior population and 5 samples of the inferior
population were randomly established, marking the interior of each stripe with the aid of an
aluminum sampler with 10cm X 10cm of area, and the samples were kept in the interior of zip zap
bags. In the region, we registered the following species: Littorina ziczac, Collisella subrugosa,
Tricolia affinis, Anachis obesa, Rissoina bryerea, Fissurela clenchi and Polinices hepaticus. The
relative frequency of occurrence showed occasional (A. obesa), common (F. clenchi, T. affinis, P.
hepaticus and R. bryerea) and constant species (L. ziczac and C. subrugosa).
KEYWORDS: Gastropoda, intertidal, estuary

RESUMO
A zona entremarés rochosas é um dos ambientes costeiros mais ricos em espécies devido
às condições do substrato e aos diversos fatores que nela confluem. Este trabalho tem por objetivo
caracterizar os gastrópodes em termos de composição e abundância das espécies na região
entremarés de costões rochosos das praias Itaipava e Itaoca (ES) antes e após a invasão bivalvo
Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845). As amostragens foram feitas no dia 27 de maio (1 a
amostragem) e 13 de outubro de 2005 (2a amostragem), 05 de maio de 2007 (3a amostragem) e 21
de julho de 2009 (4a amostragem). Para as coletas no mesolitoral foram demarcadas ao longo de 10
metros do transecto horizontal 5 amostras aleatórias no povoamento superior, e 5 amostras
aleatórias no povoamento inferior, efetuando raspagens no interior de cada uma das faixas marcadas
por meio de um amostrador de alumínio com 10cm X 10cm de área, sendo as amostras inseridas no
interior de sacos zip zap. Registramos na região as seguintes espécies Littorina ziczac, Collisella
subrugosa, Tricolia affinis, Anachis obesa, Rissoina bryerea, Fissurela clenchi e Polinices
hepaticus. A freqüência relativa de ocorrência apresentou espécies ocasional (A. obesa), comuns (F.
clenchi, T. affinis, P. hepaticus e R. bryerea) e constantes (L. ziczac e C. subrugosa).
PALAVRAS-CHAVE: Gastrópodes, entremarés, estuário.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 173

INTRODUÇÃO
A zona entre-marés rochosas é um dos ambientes costeiros mais ricos em espécies devido
às condições do substrato e aos diversos fatores que nela confluem. Valentine (1966) e Thurman &
Weber (1984) descrevem que o grau em que um organismo está exposto a condições tão variáveis
depende em grande parte de sua localização na zona entre-marés. A fauna de cada região esta
naturalmente adaptada para tolerar ou preferir o regime mais apropriado (VALENNTINE, 1966);
sem dúvida que as espécies mencionadas para a área de estudo devam desenvolver estratégias para
sua melhor adaptação ao ambiente.
Os moluscos geralmente apresentam uma zonação horizontal em regiões rasas relacionada
às variações ambientais e ao tipo de fundo (SALVAT, 1972 apud SHEPPARD, 1984), onde
mudanças na natureza do substrato podem influenciar na ocorrência das populações destas espécies
(AUGUSTIN et al., 1999). Os resultados obtidos no presente estudo corroboram com tais
informações, sendo verificada a variação dos gastrópodes às variações da região entre marés.
De uma forma geral, os organismos bentônicos que habitam os costões rochosos da costa
brasileira não foram adequadamente estudados. Há a necessidade de se levantar, nestes ambientes, a
fauna de invertebrados, principalmente nas costas de Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia
(COUTINHO, 2002).
No Estado do Espírito Santo, em especial nas regiões costeiras, a ocupação urbana e
industrial vem ocorrendo de forma acelerada e muitas vezes, desordenada e sem planejamento
adequado. Desta forma, estudos que auxiliem na caracterização das comunidades marinhas são de
extrema importância, na medida em que podem se tornar instrumentos de um monitoramento
ambiental (RODRIGUES, 2006).
Os objetivos relacionados a este trabalho foram avaliar a composição e diversidade de
espécies de gastrópodes presentes na região entremarés nos costões rochosos da praia Monte Aghá
com dados pretéritos e dados recentes após a reabertura do canal para o mar do rio Novo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O costão da praia Monte Aghá (20o 49‘ 40,5‖ e 40o 41‘ 23,6‖) (Figura 1) encontra-se
situado no litoral sul do Estado do Espírito Santo (Figura 2), na baía de Benevente (Figura 3) e o
costão localiza-se a cerca de 500 metros deste canal reaberto.
As coletas pretéritas foram realizadas em 21 de julho de 2001 e 02 de março de 2003 e no
dia 23 de julho de 2009 realizamos uma coleta para avaliar a atual situação da macrofauna bêntica
no costão da praia Monte Aghá.
Para as coletas no mesolitoral foram demarcadas ao longo de 10 metros do transecto
horizontal 5 amostras aleatórias no povoamento superior, como também 5 amostras aleatórias no
povoamento inferior, efetuando raspagens no interior de cada uma das faixas marcadas por meio de
um amostrador de alumínio com 10cm X 10cm de área, sendo as amostras inseridas no interior de
sacos zip zap para a retenção do macrozoobentos. Os organismos foram mantidos na água do mar
para o relaxamento e passadas 2 horas foram fixadas em formalina a 10% e levados para o
laboratório do Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros do litoral Sul do estado do Espírito Santo,
triados e identificados por meio de literatura especializada no Departamento de Zoologia, do ICB,
da UFJF. A análise dos dados avaliou com base na composição específica a abundância, diversidade
e equidade.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 174

Figura 1: Vista área da praia do Monte Aghá, Piúma (ES).

Figura 2: Localização da cidade de Piúma (ES).

Figura 3: Vista parcial da baía de Benevente (ES).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 175

Como abundâncias foram registradas 175 espécimes pertencentes a 10 espécies de


gastrópodes: Fissurella clenchi, Fissurella rosea, Collisella subrugosa, Tricolia affinis, Littorina
ziczac, Rissoina bryerea, Cerithiopsis gemmulosa, Costoanachis catenata, Olivella minuta e
Anachis obesa. As espécies C. subrugosa, L. ziczac e R. bryerea foram os táxons constantes,
enquanto C. gemmulosa, F. clenchi e T. affinis os táxons muito freqüentes e A. obesa, C. catenata,
F. rosea e O. minuta os táxons comuns. Quanto à abundância as espécies C. subrugosa e L. ziczac
foram os táxons pouco abundantes e as espécies C. gemmulosa, F. clenchi, T. affinis, A. obesa, C.
catenata, F. rosea e O. minuta os táxons raros.
A maior diversidade foi de 2,94 bits/indivíduo no dia 02 de março de 2003 e a menor de
0,99 bits/indivíduo no dia 23 de julho de 2009.
A similaridade entre as amostragens da praia Monte Aghá demonstrou que as amostragens
dos dias 22 de julho de 2001 foram mais similares à amostragem do dia 02 de março de 2003, do
que em relação à amostragem do dia 23 de julho de 2009. Essa similaridade provavelmente deve-se
ao fato dessas coletas apresentarem valores de abundância de organismos relativamente
semelhantes (Figura 4).

Dendograma gastrópodes entremarés costão praia Monte Aghá


Single Linkage
Euclidean distances
70

65

60

55
Linkage Distance

50

45

40

35

30

25
23/07/2009 02/03/2003 22/07/2001

Figura 4: Dendograma Gastrópodes Monte Aghá

CONCLUSÕES

A abundância e freqüência variaram em função da reabertura do canal para o mar do


Rio Novo, tanto para os gastrópodes herbívoros quanto carnívoros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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124.
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Monografia apresentada ao Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora,
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. 32p.
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VALENTINE, J. W. 1966. Numerical analysis of marine molluscan ranges on the
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 177

ASSOCIAÇÕES DE Chthamallus bisinuatus COM O BIVALVO


INVASOR Isognomon bicolor (C. B. ADAMS, 1845) EM COSTÕES
ROCHOSOS DA BAÍA DE BENEVENTE (ES)

SILVA, C. C.
Biólogo voluntário do Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros, Departamento de Zoologia, ICB,
Universidade Federal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG.
clesio.bio@bol.com.br
SILVA, C. N.
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, ICB, UFJF.
cagreenleaf@hotmail.com.
CASTRO, G. A.
Prof. MSc./Orientador. Departamento de Zoologia, Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros, ICB,
UniversidadeFederal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG.
gilalex@terra.com.br.

ABSTRACT
Sessile epibenthic species have their benthic larval phase started with the contact with the
substrate for fixation and metamorphosis. The objectives of the present work were to verify the
abundance of Chthamalus bisinuatus and its distribution on the surface of the valve of the bivalve
Isognomon bicolor. The collections were carried out on May 27th and on October 13 th of 2005, on
May 05 th of 2007, and on July 21 st of 2009. I. bicolor first occurred at the rocky coast of Itaipava
beach in 2007. In the collection on May 05 th of 2007, from the 43 specimens of I. bicolor, 9
showed C. bisinuatus, whereas in the collection on July 21 st of 2009, from the 82 specimens of I.
bicolor, 40 were with C. bisinuatus. In relation to the intertidal region at the rocky coast of Itaoca
beach, I. bicolor occurred since 2005, when from the 5 specimens of I. bicolor, only 1 specimen
showed C. bisinuatus, while in the collection on July 21 st of 2009, from the 84 specimens of I.
bicolor, 41 showed C. bisinuatus. Concerning the distribution of C. bisinuatus on the surface of the
I. bicolor shell, we verified variation in abundance of C. bisinuatus in relation to the shell
morphometry in the studied areas.
KEYWORDS: Epibenthic, intertidal, estuary

RESUMO
Espécies epibentônicas sésseis têm a fase larvar bentônica iniciada pelo contato com o
substrato para fixação e metamorfose. Os objetivos do presente trabalho foram verificar a
abundância do Chthamalus bisinuatus e a sua distribuição na superfície da valva do bivalvo
Isognomon bicolor. As amostragens foram feitas nos dias 27 de maio e 13 de outubro de 2005, 05
de maio de 2007 e 21 de julho de 2009. I. bicolor ocorreram no costão da praia Itaipava
inicialmente em 2007. Na amostragem do dia 05 de maio de 2007 dos 43 espécimes de I. bicolor, 9
apresentavam C. bisinuatus,enquanto na amostragem do dia 21 de julho de 2009 dos 82 espécimes
de I. bicolor, 40 estavam com C. bisinuatus. Quanto à região entremarés do costão rochoso da praia
Itaoca, I. bicolor ocorre a partir de 2005, sendo que dos 5 espécime de I. bicolor, apenas 1 espécime
apresentou C. bisinuatus, enquanto que na amostragem do dia 20 de julho de 2009, dos 84
espécimes de I. bicolor 41 apresentavam com C. bisinuatus. Em relação à distribuição de C.
bisinuatus na superfície da concha de I. bicolor, verificamos variações na abundância de C.
bisinuatus nas áreas relacionadas em relação à morfometria da concha.
PALAVRAS-CHAVE: Epibêntico, entremarés, estuário.

INTRODUÇÃO
O registro de espécies não nativas em ambientes naturais e artificiais vem sendo crescente
e como conseqüência observa-se uma homogeneização genética, funcional e taxonômica da biota
global (OLDEN et al. 2004).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 178

Espécies epibentônicas sésseis têm a fase larvar bentônica iniciada pelo contato com o
substrato para fixação e metamorfose. Estas fases de recrutamento dependem da aceitação da
superfície do substrato (PINEDA et al., 1997), distúrbios dos fenômenos físicos (JENKINS et al.,
1999), competição por espaço ou alimento devido à predação (GROSSELIN et al, 1997), sendo que
muitos processos pós-assentamento afetam o recrutamento (TOOD, 1998).
Muitas espécies de invertebrados sésseis, incluindo briozoários (HURLBUT, 1993),
ascídeas (HURLBUT, 1991), poliquetos (QIAN, 1999) e cracas (THOMPSON et al., 1998)
demonstram esta atividade na escolha de um ambiente adequado.
Os objetivos do presente trabalho foram analisar a abundância do Chthamallus bisinuatus e
a sua distribuição na superfície da valva do bivalvo Isognomon bicolor.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os balneários de Itaipava (20o 53‘30,5‖S e 40o 46‘ 4‖ W) e Itaoca (20o 54‘18,3‖ S e 40o
46‘ 36,7‖ W) localizam-se na Baía de Benevente onde a freqüência de turismo é constante durante o
ano. Foram comparados os dados das amostras de coletas feitas em 2005 (27 de maio e 13 de
outubro), 2007 (05 de maio) e 2009 (21 de julho de 2009). Para as coletas no mesolitoral foram
demarcadas ao longo de 10 metros do transecto horizontal 5 amostras aleatórias no povoamento
superior, como também 5 amostras aleatórias no povoamento inferior, efetuando raspagens no
interior de cada uma das faixas marcadas por meio de um amostrador de alumínio com 10cm X
10cm de área, sendo as amostras inseridas no interior de sacos zip zap para a retenção do
macrozoobentos. Os organismos foram mantidos na água do mar para o relaxamento e passadas 2
horas foram fixados em formalina a 10% e levados para o laboratório do Núcleo de Estudos de
Biomas Costeiros do litoral Sul do estado do Espírito Santo e depois triados com literatura
especializada no Departamento de Zoologia, do ICB, da UFJF. A análise dos dados avaliou a
abundância, densidade e a porcentagem de distribuição dos Chthamalus bisinuatus na superfície da
valva do bivalvo Isognomon bicolor.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Isognomon bicolor ocorreu no costão da praia Itaipava inicialmente em 2007. Na
amostragem do dia 05 de maio de 2007, dos 43 espécimes de I. bicolor, 9 apresentavam Chthmalus
bisinuatus (Fig. 1), enquanto na amostragem do dia 21 de julho de 2009 dos 82 espécimes de I.
bicolor, 40 estavam com C. bisinuatus (Tabela 1) Em relação à presença do C. bisinuatus na
superfície da valva do I. bicolor, foram divididas em três partes, um terço correspondendo a região
do umbo, o segundo terço a região mediana e o último terço a borda da valva. Verificamos
variações na abundância de C. bisinuatus nas áreas relacionadas em relação à morfometria da
concha (Figura 1 e Tabela 1).
120
Porcentagem de cobertura na valva do

100 UMBO

80
Isognomon bicolor

MEDIANO
60

40
BORDA

20

0 Abundância de
Chthamalus
3

bisinuatus
1

e
1,

1,

1,

1,

1,

2.

2,

ad
sid

Porcentagem de
en
D

cobertura em
Altura da valva de Isognomon bicolor (cm) Isognomon bicolor
(%)

Figura 1: Porcentagem de cobertura de Chthamalus bisinuatus em relação à superfície e


altura de Isognomon bicolor do costão rochoso da praia Itaipava na amostragem de 2007.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 179

Tabela 1: Porcentagem de cobertura de Chthamalus bisinuatus em relação à superfície e


altura de Isognomon bicolor do costão rochoso da praia Itaipava na amostragem de 2009.
Superfície / Abundância de Porcentagem de cobertura em
Altura (cm) UMBO MEDIANO BORDA Chthamalus Isognomon bicolor (%)
bisinuatus

1,3 8 18 7 33 15,38 - 76,92


1,4 3 2 4 9 14,28 - 71,43
1,5 15 7 7 29 20 - 66,67
1,6 17 3 2 22 25 - 62,5
1,7 6 5 12 23 5,88 - 88,23
1,8 13 10 15 38 11,11 - 83,33
1,9 12 8 11 31 26,31 - 89,47
2.0 12 8 5 25 25 - 75
2,3 0 0 1 1 13,04
2,7 11 7 6 24 40
Abundância 97 68 70 235

Quanto à região entremarés do costão rochoso da praia Itaoca, I. bicolor ocorre a partir de
2005, sendo que dos 5 espécimes de I. bicolor, apenas 1 espécime apresentou C. bisinuatus,
enquanto que na amostragem do dia 20 de julho de 2009, dos 84 espécimes de I. bicolor 41
apresentavam com C. bisinuatus (Tabela 2). Em relação à distribuição de C. bisinuatus na
superfície da concha de I. bicolor, verificamos variações na abundância de C. bisinuatus nas áreas
relacionadas em relação à morfometria da concha (Tabela 2).

Tabela 2: Abundância e densidade de Chthamalus bisinuatus na superfície da concha de


Isognomon bicolor do costão rochoso da praia Itaoca na amostragem de 2009.
Supe rfície / UMBO MEDIANO BORDA Abundância de Porcentagem de cobertura em
Altura (cm) Chthamalus Isognomon bicolor (%)
bisinuatus

0,9 0 2 0 2 22,22
1,1 2 3 5 10 45,45
1,3 1 3 3 7 15,38 - 38,46
1,4 6 7 7 20 28,57 - 50
1,5 11 1 0 20 20 - 46,66
1,6 8 10 10 28 18,75 - 93,75
1,7 12 14 16 41 11,76 - 88,23
1,8 1 2 5 8 55 - 88,23
1,9 12 19 15 45 10,53 - 78,95
2.0 5 2 0 7 75
2,7 2 0 1 3 7,41
Abundância 59 69 66 194

CONCLUSÕES
Em relação à distribuição de Chthamalus bisinuatus na superfície da concha de Isognomon
bicolor, verificamos variações na abundância de C. bisinuatus nas áreas relacionadas em relação à
morfometria da concha.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 181

BIODIVERSIDADE DE HYMENOPTERA (INSECTA) DO


PARQUE ESTADUAL DE VASSUNUNGA, SANTA RITA DO
PASSA QUATRO, SP

Indira Lopes Emérito


Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Possui
graduação em Bacharelado e Licenciatura pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Tem experiência na área
de Zoologia, com ênfase em Taxonomia dos Grupos Recentes, atuando principalmente nos seguintes temas:
Hymenoptera, superfamílias e taxonomia. Residencial Marina, Quadra C, Casa 04, Morada do Sol, CEP 64055-330
Teresina, Piauí.
Angélica Maria Penteado Martins Dias
Possui graduação em Licenciatura em História Natural pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio
Claro hoje, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) pela
Universidade de São Paulo e doutorado em Ciências (Zoologia) pela Universidade de São Paulo. Atualmente é
professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em
Taxonomia dos Grupos Recentes, atuando principalmente nos seguintes temas: Hymenoptera, Braconidae, parasitóides,
Ichneumonidae e taxonomia. Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos. Via
Washington Luiz Km 235, Caixa Postal 676, CEP 13565-905, São Carlos-SP, Brasil. Fone Fax - (16) 3351 8322,
angelica@power.ufscar.br

RESUMO
A ordem Hymenoptera possui grande diversidade biológica e ecológica, assim como uma
grande importância econômica. Esse estudo teve como objetivo identificar os hymenoptera ao nível
de superfamília e avaliar sua abundância, coletando-os através da armadilha Malaise, presentes nas
seguintes áreas: Capetinga Oeste, Praxedes, Maravilha e Pé-de-Gigante, localizadas no Parque
Estadual de Vassununga em Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brasil. E, assim, contribuir com o
conhecimento quanto à composição do grupo faunístico. As coletas foram realizadas no período de
janeiro de 2006 a janeiro de 2007 e foi amostrado um total de 7.701 himenópteros que pertencem a
10 superfamílias. As superfamílias mais abundantes foram Vespoidea e Ichneumonoidea com
69,05% e 9,28% respectivamente, representando 78,34% do total coletado. Cinco superfamílias
tiveram freqüências relativas inferiores a 6%.
PALAVRAS-CHAVE: hymenoptera. superfamílias. Malaise.

ABSTRACT
The order Hymenoptera has great biological diversity and ecological as well as great
economic importance. This study aimed to identify the hymenoptera the level of the superfamilies
and evaluate their abundance, collecting them through the trap Malaise, present in the areas
following: Capetinga West, Praxedes, Maravilha and Pé-de-Gigante, located in the State Park of
Vassununga in Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brazil. And, thus, contributing with to knowledge
regarding the composition of faunal group. The collections were performed in the period from
January 2006 to January 2007 and has been sampled a total of 7701 hymenoptera that belong to 10
superfamilies. The superfamilies most abundant were Vespoidea and Ichneumonoidea with 69.05%
and 9.28% respectively, representing 78.34% of the total collected. Five superfamilies had relative
frequencies below 6%.
KEYWORDS: hymenoptera. superfamilies. Malaise.

INTRODUÇÃO
A Ordem Hymenoptera (hymen = membrana; ptera = asa) é constituída pelos parasitóides
juntamente com as formigas, vespas e abelhas. Os Hymenoptera ocupam o segundo lugar entre as
ordens de insetos, com mais de 250.000 espécies estimadas; a estimativa para a região neotropical é
de 60.000 espécies (GAULD & BOLTON, 1988). Uma de suas características é que possuem
metamorfose completa, com a maioria de suas espécies sendo solitárias.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 182

O grande número de Hymenoptera Parasitica combinado com a sua habilidade em


responder à densidade das populações dos seus hospedeiros os torna essenciais para manter o
balanço ecológico e uma força que contribui para a diversidade de outros organismos (GAULD &
BOLTON, 1988; LASALLE & GAULD, 1992; SCATOLINI & PENTEADO-DIAS, 1997).
Os Hymenoptera Parasitica são os mais importantes agentes de controle biológico
responsáveis pelos benefícios econômicos e ambientais produzidos, podendo fornecer subsídios
para os estudos de biologia e conservação (LASALLE & GAULD, 1992).
A compreensão e o estudo e da fauna de Hymenoptera neotropicais tem dois problemas: a
escassez de taxonomistas e a diminuição dos ecossistemas e habitats onde está a maioria das
espécies. A fragmentação dos ambientes naturais é na atualidade é uma das maiores ameaças à
diversidade biológica (Melo, et al. 2004). No estado de São Paulo onde a cobertura vegetal natural
apresenta-se hoje quase totalmente modificada e fragmentada, as áreas naturais extensas e poucas
pertubadas são cada vez mais raras (Morellato & Leitão Filho, 1995).
Assim, cada fragmento, com histórico e estado de preservação próprios, tornam-se únicos,
o que aumenta sua importância para a conservação (Santos & Kinoshita, 2003). Portanto, é
fundamental aumentar o conhecimento sobre as florestas remanescentes, pois o maior objetivo da
conservação não é preservar um ideal de floresta intocada e sim a diversidade do ecossistema como
um todo (Morellato & Leitão Filho, 1995).
O Cerrado ocupa 23% do território brasileiro, estendendo-se da margem da Floresta
Amazônica até os Estados de São Paulo e Paraná (Ratter & Dargie, 1992; Oliveira-Filho & Ratter,
1995; Ratter et al. 1997. Entretanto, nos últimos 25 anos, o Cerrado vem recebendo ação direta do
desenvolvimento da agricultura (Ratter et al. 1996; 1997). Pivello & Coutinho (1996) afirmam que
atualmente, quase todo o ambiente de cerrado está sob intensa pressão humana e não é mais natural.
Assim sendo, deve-se envidar esforços no sentido de fornecer informações que possam contribuir
para o conhecimento e subsidiar ações de preservação dos fragmentos existentes (Fidelis & Godoy,
2003).
Os Cerrados remanescentes no Estado de São Paulo estão em áreas disjuntas que
sobreviveram à agricultura e ao pastoreio (Durigan et al. 1994); e, em decorrência do seu infindável
valor e do rápido processo de degradação, urge que providências sejam adotadas para que tais
remanescentes sejam preservados. Considerando o exposto, o presente trabalho visa ressaltar a
importância de estudos de biodiversidade nos ecossistemas brasileiros, principalmente o cerrado,
pois, com sua preservação estamos assegurando a manutenção deste, que é considerado um dos
últimos refúgios de biodiversidade.
Uma solução para a compreensão do impacto causado por essa destruição é a quantificação
das mudanças no ecossistema alterado com base em grupos bioindicadores, que podem ser de
invertebrados terrestres, em especial, os insetos (PEREIRA, G. A. & Penteado-Dias, 2002).
Portanto, será garantido que o estudo da biologia das espécies que lá habitam, assim como
o conhecimento de suas necessidades básicas, contribua para a perpetuação da sobrevivência dessas
populações e, em decorrência disto, surgirão dados que possam colaborar para o conhecimento e a
preservação destes remanescentes no Estado de São Paulo.
Objetivos
O objetivo desse estudo foi traçar o perfil da fauna de himenópteros do Parque Estadual de
Vassununga, no Município de Santa Rita do Passa Quatro, reconhecendo as superfamílias presentes
nas seguintes glebas: Capetinga, Praxedes, Maravilha e Pé-de-Gigante contribuindo assim com o
conhecimento do grupo e com isso, criar dados sobre o padrão de ocorrências das superfamílias nas
respectivas áreas.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido no Parque Estadual de Vassununga (PEV), criado em
1970, sendo uma das Unidades de Conservação administradas pelo Instituto Florestal e localizado
no município de Santa Rita do Passa Quatro, nordeste do Estado de São Paulo, sob as coordenadas
geográficas 21°36‘S e 47° 36‘W.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 183

Possui uma área total de 2069,24 hectares, distribuídos em 6 glebas isoladas e distintas:
Capão da Várzea (12,10 ha), a cerca de 700 metros da margem direita do rio Moji Guaçu;
Capetinga Oeste (327,83 ha), do lado esquerdo da SP-330 (via Anhanguera), no quilômetro 246;
Praxedes (152,75 ha); Maravilha (127,08 ha), à margem esquerda do rio Moji Guaçu; Capetinga
Leste (236,56 ha) e, por fim, Pé-de-Gigante (1.212,92), estendendo-se à esquerda da SP-330.
O clima da região pelo sistema de classificação de Köppen (1948) é do tipo Cwag',
ou seja, temperado, macrotérmico, moderadamente chuvoso com o inverno seco não rigoroso, com
temperatura anual média de 22 ºC. O período de chuvas vai de dezembro a fevereiro, com média de
254 mm e o de estiagem de junho a agosto, com média de 30,8 mm (Shida, 2000; Instituto Florestal
apud Korman, 2003). A vegetação predominante na região é a savânica, como o campo cerrado,
campo ―sujo‖, cerrado ―sensu stricto‖, florestais, como a floresta estacional semidecidual, floresta
de galeria (ripária ou mata ciliar), além de campos úmidos (em áreas de várzeas) (Martins, 1979;
Batalha, 1997).
A gleba ―Pé-de-Gigante‖ é a maior das glebas, com altitudes que variam de 590 a 740 m, é
a única composta por fisionomias de cerrado, desde campo cerrado até cerradão, e uma pequena
área composta por floresta estacional semidecidual (KORMAN, 2003).
O fragmento sofreu desmatamento em função do cultivo de cana-de-açúcar e cítricos além
do pastoreio, até o ano de 1970. Hoje, é totalmente cercado por monoculturas de eucalipto, cana-de-
açúcar e cítricos (LYRA-JORGE, 1999). As demais glebas (Maravilha, Praxedes, Capetinga Leste,
Capetinga Oeste e Capão da Várzea) são compostas por floresta estacional semidecidual
(KORMAN, 2003).
A gleba Maravilha cobre uma área de 127,08 ha sendo delimitada pelo rio Mogi-Guaçu
(40% da borda), por monoculturas de cana-de-açúcar (cerca de 50%) e pelo parque industrial da
Usina Santa Rita de Açúcar e Álcool (10%), estando sob forte pressão de degradação (Tibiriçá,
2006).
As glebas Capetinga Leste e Capetinga Oeste apresentam 236,56 ha e 327,83 ha,
respectivamente, cobrindo uma área total de 564,39 hectares. Elas se originaram devido à
construção da rodovia Anhanguera que cortou ao meio a gleba Capetinga. Nelas ocorrem as
formações vegetais floresta estacional semidecídua e mata ciliar (COLLI, 2004). A Gleba Praxedes
engloba uma área total de 152,75 hectares e possui floresta mesófila semidecídua com jequitibás,
assim como as glebas Capetinga e Maravilha.
As seis glebas do Parque Estadual de Vassununga são pequenos fragmentos de vegetação
natural, circundados por uma matriz de cultura de cana de açúcar, citros e silvicultura de eucalipto
(Padovesi & Kuvasney, 2002). Outros remanescentes de vegetação natural que são observáveis na
área estão situados em zonas de alta declividade ou nas margens dos rios, na sua quase totalidade
em estágio avançado de degradação devido principalmente aos efeitos da fragmentação (Padovesi &
Kuvasney, 2002).
As coletas vêm sendo realizadas utilizando-se principalmente armadilhas Malaise, local
onde os insetos são capturados por interceptação. O modelo proposto por Malaise (1937) tem
estrutura semelhante a uma tenda de rede fina, no interior da qual insetos voadores capturados
perambulariam e, na tendência natural de subir e escapar passariam para um aparelho coletor
instalado no topo da tenda (TOWNES,1962).
Durante o experimento, foi utilizada uma armadilha Malaise que consistiu de uma tenda de
malha fina, branca no teto e preta nas demais partes, com 2m de comprimento, 2m de altura na parte
frontal e1m na parte posterior, ápice da face frontal com um tubo com um orifício, no qual estava
acoplado o suporte do frasco coletor com solução de Dietrich (mistura de água destilada, álcool
70%, formol e ácido acético) local onde os insetos caíam, permanecendo ali fixados.
Na armadilha, posicionou-se o frasco coletor para o norte para atrair melhor os
parasitóides, sendo que a Malaise foi instalada ao nível do solo e fixada por um cordão frontal, um
posterior e quatro laterais. Foi utilizada uma armadilha em por área de coleta (gleba) estudada. Os
insetos atraídos caíram nessa mistura sendo daí retirados a cada 30 dias e mantidos em álcool a 70%
.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 184

A triagem e identificação do material foram feitas no laboratório de estudo de


Hymenoptera Parasítica do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da
Universidade Federal de São Carlos, em São Carlos-SP. Lá os Hymenoptera coletados por Malaise
foram separados dos demais insetos com o auxílio de microscópio estereoscópico, posteriormente
sendo identificados em nível de superfamílias. A principal bibliografia utilizada para identificação
das superfamílias foi Hanson & Gauld (1995). Os principais caracteres morfológicos para a
identificação desses himenópteros são encontrados nas asas, antenas, cabeça e abdômen (PEREIRA,
G.A. PENTEADO-DIAS, 2002).
Os exemplares previamente preservados em álcool a 70% serão assim conservados até
serem montados em alfinetes entomológicos, etiquetados e depositados na Coleção Taxonômica de
Entomologia do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de São Carlos,
São Carlos, SP (DEBE, UFSCar).
As amostras foram retiradas a cada 30 dias nos período de janeiro de 2006 a janeiro de
2007. Neste trabalho apresentamos os resultados das coletas foram feitas nos seguintes períodos: de
31/02/2006 a 31/03/2006 (30 dias), de 10/06/2006 a 10/07/2006 (30 dias), e de 29/11/2006 a
29/12/2006 (30 dias).
Resultados e Discussão
Dentro da subordem Apocrita houve maior densidade dos Aculeata em relação aos
Parasitica. Foram coletados apenas 39 indivíduos (0,50%) da subordem Symphyta.
Foram identificados 7.701 exemplares de Hymenoptera pertencentes a 10 superfamílias:
Vespoidea, Apoidea, Chrysidoidea, Ichneumonoidea, Chalcidoidea, Proctotrupoidea, Cynipoidea,
Platygastroidea, Ceraphronoidea e Evanioidea.
Pelo seu hábito parasitóide são utilizados no controle biológico de várias pragas
importantes (PENTEADO-DIAS, 1999). Incluem as duas maiores famílias de Hymenoptera:
Braconidae, com aproximadamente 12.000 espécies descritas e 40.000 espécies estimadas e
Ichneumonidae com 16.000 espécies descritas e 60.000 espécies estimadas, distribuídas por todo o
mundo, principalmente nas regiões temperadas e tropicais úmidas (PENTEADO-DIAS, 1999). As
duas famílias ocorrem em todo o mundo, em regiões temperadas e tropicais, em ambientes úmidos
ou secos (PENTEADO-DIAS, 1999).
As dez superfamílias de himenópteros encontradas no Parque Estadual de Vassununga,
pertencentes à subordem Apocrita, apresentaram as seguintes abundâncias relativas: 69,05% para
Vespoidea (5.318 indivíduos), 9,28% para Ichneumonoidea (715 indivíduos), 6,28% para Apoidea
(484 indivíduos), 5,83% para Chalcidoidea (449 indivíduos), 4,02% para Chrysidoidea (310
indivíduos), 2,02% para Proctotrupoidea (156 indivíduos), 1,86% para Cynipoidea (144
indivíduos), 1,07% para Platygastroidea (83 indivíduos), 0,40% para Evanioidea (31 indivíduos) e
0,14% para Ceraphronoidea (11 indivíduos).
As superfamílias mais abundantes foram Vespoidea e com 69,05% (5.318 indivíduos) e
9,28% (715 indivíduos), respectivamente, representando 78,34% do total coletado. Entre os
Aculeata estudados, predominaram os Vespoidea e entre os parasitóides, os Ichneumonoidea
tiveram maioria. Deste modo, os Aculeata preponderaram nas amostras estudadas com 79,36%
contra somente 20,63% dos Parasitica.
A maior freqüência relativa dos Ichneumonoidea pode refletir o fato de ser a mais
numerosa em espécies e que utiliza uma vasta diversidade de hospedeiros. Essa predominância
marcante em relação às demais superfamílias também deve estar relacionada à maior
disponibilidade de alimento a hospedeiros específicos para esse grupo.
Apoidea com 6,28% (484 indivíduos), com 5,83% (449 indivíduos) e Chrysidoidea com
4,02% (310 indivíduos) foram as três seguintes superfamílias mais representativas.
As espécies de Chalcidoidea representam uma significante parte da diversidade biológica
em ecossistemas terrestres e tem um importante papel na regulação das populações de insetos
nessas áreas (GRISSELL & SCHAUFF, 1997). É rica em número de espécies e utiliza uma grande
diversidade de hospedeiros, sendo 12 ordens de Insecta, duas ordens de Arachnida (Aranae e Acari)
e 1 família de Nematoda (Anguinidae) (GIBSON, 1993).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 185

As cinco superfamílias restantes formam o grupo com menor número de representantes e


apresentaram freqüências relativas, em relação ao total de insetos coletados, inferiores a 6%, sendo
2,02% para Proctotrupoidea (156 indivíduos), 1,86% para Cynipoidea (144 indivíduos), 1,07% para
Platygastroidea (83 indivíduos), 0,40% para Evanioidea (31 indivíduos) e 0,14% para
Ceraphronoidea (11 indivíduos).
Muitas espécies das superfamílias Ceraphronoidea, Evanioidea, Ichneumonoidea,
Proctotrupoidea e Chrysidoidea são parasitóides de insetos e outros artrópodes (BORROR et al.
1989). Platygastroidea é a terceira maior superfamília, depois de Ichneumonoidea e Chalcidoidea, e
parasitam exclusivamente ovos de insetos, principalmente Diptera, Coleoptera, Homoptera e
Neuroptera (MASNER, 1993).
No primeiro período de coleta, que correspondeu a 30 dias, (31/02/2006 a 31/03/2006),
2.605 indivíduos foram coletados, já no segundo período (10/06/2006 a 10/07/2006), foram 1.134
representando 33,82% e 14,72% respectivamente, do total de exemplares coletados. O terceiro e
último período (29/11/2006 a 29/12/2006), representou mais da metade dos exemplares com
51,44%, totalizando 3.962 indivíduos.
Esses resultados podem ter relação com os meses em que as coletas foram feitas,
sendo dezembro e março meses de estação chuvosa e julho um mês com temperaturas mais baixas,
já que fatores climáticos podem provocar variações na abundância dos insetos,o que pode ocorrer
também, em decorrência de alteracões na disponibilidade e na qualidade de recursos alimentares.
No que se refere à distribuição das superfamílias nas áreas onde foram coletadas,
observou-se que 39,33% (3029 indivíduos) dos exemplares desse experimento pertenciam à gleba
Praxedes, seguido pela gleba Pé-de-Gigante com 24,24% (1867 indivíduos), Capetinga com 23,72%
(1825 indivíduos) e por fim, Maravilha com 12,72% (980)
As áreas de mata são importantes como locais de refúgio e preservação de parasitóides
(MARCHIORI et al. 1998). As semelhanças nas freqüências relativas de superfamílias na
composição faunística de himenópteros parasitóides nestas diferentes glebas refletem a
disponibilidade de hospedeiros encontrados nestes ambientes e substratos. ( Souza et al. 2006.)
MARCHIORI et al. (1998) com Malaise, verificaram que essas armadilhas são
importantes na coleta de himenópteros parasitóides. Estes dados são importantes, pois contribuem
para o conhecimento e distribuição das superfamílias no estado de São Paulo (MARCHIORI et a.l
1998).
Conclusões
Este estudo permitiu concluir que: o perfil da fauna de himenópteros das glebas Capetinga,
Praxedes, Maravilha e Pé-de-Gigante, pertencentes ao Parque Estadual de Vassununga em Santa
Rita do Passa Quatro, SP é bastante diversificado, não tendo distribuição uniforme na área estudada
e com espécimes pertencentes a dez superfamílias com diferentes hábitos de obtenção de recursos
alimentares, incluindo os fitófagos, parasitóides e predadores.
Os Apocrita foram os himenópteros mais abundantes na fauna estudada com a
predominância dos Vespoidea; os Symphyta apareceram com densidade baixa, concordando com os
padrões usuais de distribuição encontrados para outros ecossistemas estudados.
A armadilha Malaise se mostrou bastante eficiente para a coleta dos grupos encontrados e,
um bom método para o seu monitoramento. A fauna de Hymenoptera na área estudada, em especial
de Vespoidea e Ichneumonoidea, foi mais abundante durante o período que coincide com o período
chuvoso (março e dezembro).
Os resultados apresentados indicam a importância da preservação de pequenas áreas verdes
nos ambientes antrópicos.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 187

BIOLOGICAL CONTROL OF FRUIT FLIES WITH


ENTOMOPATHOGENIC FUNGI

Flávia Queiroz de OLIVEIRA


Agronomist (UFPB). MSc Student in Environmental Science & Technology, Universidade Estadual da
Paraiba (UEPB), Brazil.
flavinha2010@ibest.com.br
Jacinto de L. BATISTA
Professor of Entomology, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Centro de Ciências Agrárias (CCA),
Brazil
jacinto@cca.ufpb.br
José Bruno MALAQUIAS
MSc Student in Entomology, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – (Esalq) - Universidade de
São Paulo (USP), Brazil
jbmalaquias@ig.com.br

ABSTRACT
This study work aims to quantify the effects of different conidia concentrations of
Beauveria bassiana (Balsamo) Vuill and Metarhizium anisopliae (Metsch) Sorok obtained
respectively of the commercial products BOVERIL WP ® and METARRIL WP®, on the larvae and
pupae mortality of Ceratitis capitata (Wiedemann) (Diptera: Tephritidae). The research was carried
out in the Entomology Laboratory, at Universidade Federal da Paraíba. The C. capitata specimens
used in the experiment were from laboratory rearing. The evaluated product concentrations were
10.00, 15.00, 20.00 and 25.00 g/L of water, corresponding, respectively, to an amount of 5.00x109;
7.50x109; 10.00x109 ; 12.50x109 viable conidia/L of water, of two products and control (0.0 g/L of
water). Were used in the experiment larvae of 1 st and 3rd instar, and pupae aged between 8 to 10
days of C. capitata. The results have shown that the C. capitata mortality depends on their
development stage or the studied entomopathogenic fungi species (P= 0.05). It was recorded total
mortality of larvae of the 1 st and 3rd instar of C. capitata, in all conidia concentrations of M.
anisopliae, and a dose-dependent effect was observed in other treatments. The obtained results in
this research have great importance to the optimization of alternative control strategies of C.
capitata.
KEYWORDS: control, microbial; mediterranean fruit fly.

RESUMEN
Este estudio tiene como objetivo cuantificar los efectos de diferentes concentraciones de
conidias de Beauveria bassiana (Balsamo) Vuill y Metarhizium anisopliae (Metsch) Sorok
obtenido, respectivamente, de los productos comerciales BOVERIL WP ® y METARRIL WP®, en
la mortalidad de larvas y pupas de Ceratitis capitata (Wiedemann) (Diptera: Tephritidae). La
investigación se llevó a cabo en el Laboratorio de Entomología, en la Universidade Federal da
Paraíba. Los especímenes de C. capitata utilizados en el experimento eran de la cría de laboratorio.
Las concentraciones de los productos evaluados fueron: 10,00, 15,00, 20,00 y 25,00 g/L de agua,
correspondiente, respectivamente, a un importe de 5,00x109; 7,50x109; 10,00x109; 12,50x109
conidias viables / L de agua, de dos productos y el control (0,0 g / L de agua). Fueron utilizados en
el experimento de las larvas de 1º y 3º estadio, y las pupas de entre 8 a 10 días de C. capitata. Los
resultados han mostrado que la mortalidad de C. capitata depende de su etapa de desarrollo o los
hongos entomopatógenos especies estudiadas (P = 0,05). Se registró la mortalidad total de las larvas
del 1º y 3 º estadio de C. capitata, en todas las concentraciones de conidios de M. anisopliae, y un
efecto dosis-dependiente se observó en los otros tratamientos. Los resultados obtenidos en esta
investigación tienen una gran importancia a la optimización de las estrategias alternativas de control
de C. capitata.
PALABRAS CLAVE: control, microbianos; mosca mediterránea de la fruta.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 188

INTRODUCTION
The fruit cultivation has stood out as an excellent agricultural activity in the irrigated areas
from northeastern Brazil. The fruit cultivation for export has shown promise, but the occurrence of
fruit flies is one of the limiting factors for achieving success in this activity (Carvalho and
Nascimento, 2002), in addition, it has been verified a growing increase in the frequency of this
insect, as a result of the natural dispersion processes peculiar to each species, or the unintentional
transport of infested fruit from one region to another (Morgante, 1991).
The mediterranean fruit fly, Ceratitis capitata (Wiedemann) (Diptera: Tephritidae), is
considered as cosmopolitan, infesting more than 250 host plant species widely distributed in South
America (Gallo et al., 2002). The development of control techniques of this pest is extremely
important, due to the considerable economic losses caused to fruit cultivation (Corsato, 2004). The
indiscriminate use of pesticides to control fruit flies causes a serious ecological imbalance and
triggers the emergence of other pests population by eliminating natural enemies, and lead to human
and the environment infection (Mendes et al., 2007).
A viable alternative is the biological control of insects, this control can be done in several
ways, involving different species, including other controller insects of agricultural pests. The
entomopathogenic fungi Beauveria bassiana (Balsamo) Vuill and Metarhizium anisopliae (Metsch)
Sorok. are known and used worldwide as biocontroller agents of many agricultural pests, they have
potential to control several insect orders (Pereira et al., 1993). Entomopathogenic fungi can be used
in programs to control C. capitata through the application in the soil against their larvae and pupae,
offering great advantages because it allows the multiplication of pathogens in agroecosystems.
Mochi et al. (2006) found that the application of conidial suspension of M. anisopliae on the soil
surface has provided a decrease in the survival of the pupal and adult phase of C. capitata.
According to Onofre et al. (2002) this is a promising alternative for controlling fruit flies, as they
are known to be pathogenic to Diptera like African fly tsé-tsé Glossina morsitans morsitans
Westwood (Diptera: Glossinidae) (Kaaya and MunyinyiI, 1995), C. capitata (Castillo et al., 2000)
and Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) (Steinkraus et al., 1990).
The microbial control of fruit flies can be a process that can partially replace other control
methods in integrated management programs for these insects, especially the use of agrochemicals,
presenting economic and environmental advantages for tropical fruit. Information about effects of
different concentrations of commercial products produced by these entomophatogenic organisms in
the mortality of immature stages of tephritidae are still very incipient, this way, this study aims to
evaluate the effects of different concentrations of the fungi B. bassiana and M. anisopliae on the
mortality of larvae and pupae of C. capitata.

MATERIAL AND METHODS


The research was carried out in the Entomology Laboratory of the Plant Department,
Universidade Federal da Paraíba - UFPB / CCA, Areia-PB. The fruit flies C. capitata used in the
experiment were from the Entomology Laboratory rearing from CCA – UPFB, Areia - PB. The
larvae were fed with artificial diet consisting of beer yeast (120g), raw carrot (600g) and Nipagin
(5g). The adult flies were kept in cages and fed daily with a solution of water and honey at 25%,
provided in cotton placed on top of the cage (50x50x60cm) during the oviposition period.
The fungi used were B. bassiana and M. anisopliae, from commercial products,
respectively, BOVERIL WP® and METARRIL WP® obtained ITAFORTE Bioproducts Company.
The concentrations of the evaluated products were 10.00, 15.00, 20.00 and 25.00 g/L of water,
corresponding to a minimum of 5.00x109 ; 7.50x109; 10.00x109 and 12.50x109 viable conidia/L of
water, the two products and control (0.0 g/L of water). Were used in the experiment larvae of 1 st
and 3rd instar, and pupae aged between 8 to 10 days of C. capitata.
Larvae and pupae were confined in Petri dishes, and the larvae of C. capitata were kept on
artificial diet, while the pupae were subjected to substrate containing washed sand. Topical
applications were made of fungi suspensions on the whole specimens body, the application was
made with micro spray, under temperature conditions 25±2°C, 12h of photophase and relative
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 189

humidity of 80±10%. After 6 to 8 days after application, time required for fungi action (Mochi et
al., 2006), flies mortality rate was verified.
In this study the experimental design was completely randomized in a 2x5 factorial (2
species of fungi x 5 concentrations of fungi). Were used 5 replicates, each repetition was composed
by 20 insects (larvae or pupae) for each treatment (fungi and concentration). The results regarding
the mortality of the specimens, presented in the figures, were transformed into (x+0.5) 1/2 to meet the
ANOVA requirements. Mortality data (%) of the treatments, shown in table, were corrected by
Abbott's formula Ma= (Mt-Mc)/(100-Mc)x100, where Ma= mortality corrected for control
treatment; Mt= mortality observed in dealing with the mycoinsecticides and Mc= mortality
observed in the control treatment (Abbott, 1925). Means were compared by Tukey test (P=0.05),
and subjected to regression analysis.

RESULTS AND DISCUSSION


The entomopathogenic fungi have affected the C. capitata mortality ((F (2, 19) = 1.80, P
<0.01). The results have shown that the C. capitata mortality depends on their development stage or
the entomopathogenic fungi species (F = 3.54 P <0.01). It was recorded an overall mortality of
larvae of the 1st and 3rd instar of C. capitata, at all concentrations of conidia of M. anisopliae, and a
dose-dependent effect in other treatments. The results shown in this research are similar to those
reported by Loureiro and Moino Jr. (2006) in total mortality caused by B. bassiana in aphids Aphis
gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) and Myzus persicae (Suzer) (Hemiptera: Aphidae).
In this study were reported high levels of mortality in all concentrations applied both for
specimens that received conidia of B. bassiana and M. anisopliae. It was recorded total mortality
(100%) in 1st instar larvae of C. capitata when it was applied doses of 20 and 25 g/L product
Boveril®, while the same response mortality of larvae on the same development stage was observed
in all concentration Metarril® product (Table I). Regarding the variation in the susceptibility of C.
capitata according to the instar in which it was submitted to the treatments, no significant difference
in the larvae mortality of C. capitata among the studied larval development stages. Furthermore,
mortality was significantly lower (P<0.05) in pupae that received applications of 10 and 15 g/L of
M. anisopliae and 20g/L of B. bassiana compared to other treatments (Table I).
We are showing results with are consistent with those obtained by Giustolin et al. (2001),
these authors found no change in mortality caused by B. bassiana among instars of Tuta absoluta
(Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae). However, larval instars more advanced Leptinotarsa
decemlineata (Say, 1824) (Chrysomelidae: Chrysomelinae) were more susceptible to B. bassiana
(Fargues, 1972). Perhaps, the higher mortality of larvae, both in larvae of 1 st instar, and the 3rd instar
in relation to the pupae of C. capitata are associated with an increased exposure route of infection,
in case, coat and digestive tract of the insect fungal spores contained in the fungal solution.
From the dose 10g/L of conidia of both B. bassiana and M. anisopliae, there was a high
mortality of larvae and pupae of C. capitata. Therefore, similarly to the response of larvae of the 1 st
instar M. anisopliae, was found in all concentrations, a high mortality of larvae of 3 rd instar of C.
capitata this pathogen. Results obtained by Reys (2003) on the effect of the M. anisopliae on the
mortality of Mexican fly larvae Anastrepha ludens (Loew, 1873) (Diptera: Tephritidae), revealed
high levels of pathogenicity of the M. anisopliae to larvae of this insect pest. Quesada-Moraga et al.
(2006) observed lethal and sub-lethal suspensions of B. bassiana and M. anisopliae in C. capitata,
causing mortality in adult C. capitata, ranging from 30 to 100%.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 190

Table I. Effects of Beauveria bassiana and Metarhizium anisopliae on the Mortality (Mean±SE) of Larvae and Pupae of Ceratitis capitata.
Mortality Abbott (% )
Concentrations (g/L) Larvae 1st instar Larvae 3rd instar Pupae
B. bassiana M. anisopliae B. bassiana M. anisopliae B. bassiana M. anisopliae
0.00 7.60±0.55aA 6.05±0.42aA 5.40±0,24aA 6.20±1.13aA 10.47±2.8aA 10.16±3.4aA
10.00 97.18±1.02aA 100.00±0.00aA 97.88±0,89aA 100.00±0.00aA 85.34±1.3aA 68.41±5.6bB
15.00 98.26±0.98aA 100.00±0.00aA 100.00±0,00aA 100.00±0.00aA 85.47±2.2aA 83.52±2.7bB
20.00 100.00±0.00aA 100.00±0.00aA 100.00±0,00aA 100.00±0.00aA 86.57±4.1bB 87.85±2.6aA
25.00 100.00±0.00aA 100.00±0.00Aa 100.00±0,00aA 100.00±0.00aA 87.82±1.7aA 96.66±1.3aA
1/2
Mean in original values; analysis of variance conducted with data transformed into (x+0.5) . Means followed by the same lower letter (in
relation to the stages) and capital letters (for species of fungi) did not differ significantly by Tukey test (P = 0.05).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 191

These researchers also found that B. bassiana reduced fecundity and fertility of C. capitata
up to 71.2% and 60.0%, respectively. Dimbi et al. (2003), reported an overall mortality of adult C.
capitata, C. rosa variety fasciventris Karsch and C. cosyra (Walker) (Diptera: Tephritidae)
submitted applications with low concentrations of conidia of B. bassiana and M. anisopliae.
Most research so far has stressed the adoption of strains of entomopathogenic fungi only in
control of pupae and adults of fruit flies. In other hands, the obtained results in this research show
the possibility of using two species of fungi B. bassiana and M. anisopliae as a further measure of
larvae control of 1st and 3rd instar of C. capitata, because the larvae control present in infested fruits
lying on the ground represent a great advantage in the multiplication of entomopathogenic
microorganisms and in preventing the spread of these insects in the field. On the other hand, it is
still necessary to learn about other parameters such as spores transmission ways of these pathogens
in real field conditions, being this one a major importance factor in pest control in the arid and
semi-arid areas (Shah et al., 1997), in addition, also has yet to develop technologies to control the
factors that interfere with the sequence of infective units crossing from the time of dispersal to the
process of infection of the target-insect (Sosa-Gomez and Moscardi, 1992), as the deleterious
effects of ultraviolet (Ignoffo, 1992), and compatibility with insecticides.

CONCLUSION
The high pathogenicity levels demonstrated in lower conidia concentrations of the tested
products, means a better efficiency from the point of economic and environmental terms, as it
allows lower costs to the products and also through the use of low conidia concentrations of B.
bassiana and M. anisopliae can enhance the selectivity of these organisms to the complex of natural
enemies involved in agroecosystems. Therefore, the obtained results in this research are extremely
important to the optimization of alternative control strategies of C. capitata.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 193

CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL E ANÁLISE DA


PAISAGEM: LENÇÓIS MARANHENSES –
BARREIRINHAS/MARANHÃO – BRASIL

Agostinho Paula Brito CAVALCANTI (P.DSc)


Departamento de Geografia. Universidade Federal do Piauí (UFPI)
agos@ufpi.edu.br

RESUMO
Nos últimos anos a paisagem natural está sendo modificada como resultado da ocupação
desordenada e da utilização inadequada de seus recursos, contribuindo para produzir alterações nas
características naturais da paisagem, incluindo as zonas costeiras. A área objeto deste estudo é
constituída por agentes e processos de acumulação marinha e fluvial pela alimentação de
sedimentos e pela configuração do modelado, condicionando a formação de dunas e manguezais. A
metodologia adotada seguiu os encaminhamentos das pesquisas científicas, como a observação,
entrevistas e complementação de dados, através de consultas a bibliografia específica. Como
resultados foram identificados unidades de paisagem: dunas dissipadas, dunas em processo de
estabilização e dunas estabilizadas, além das planícies flúvio-marinhas, compostas por manguezais.
Quanto aos aspectos da sustentabilidade ambiental tomou-se como referencial os impactos naturais
e antrópicos, onde os processos de degradação estão em ritmo crescente, ocorrendo uma diminuição
dos recursos naturais, causada pelas alterações que influem diretamente nas condições ambientais.
A partir das conclusões obtidas com esta análise pode-se formular um conjunto de propostas que
definam e orientem a organização do espaço em apreço.
PALAVRAS-CHAVES: Meio Ambiente; Paisagem, Maranhão.

ABSTRACT
In the last years the natural landscape is being modified as result of the disordered
occupation and the inadequate use for its resources, contributing to produce alterations in the
natural landscape characteristics, including the coastal zones. This study's area object is constituted
by agents and sea processes and fluvial accumulation for the feeding of sediments and the
configuration of the shaped one, conditioning the dune formation and mangroves. The adopted
methodology followed the scientific research directions, like comment, interviews and data
complementation, through specific library consultations. As results landscape units had been
identified: wasted dunes, stabilized dunes in stabilization process and dunes, beyond fluvial-marine
plaints, composed for mangroves. Referring to ambient supporting aspects its overcome the natural
impacts and humans, where the degradation processes are in increasing rhythms, occurring a
reduction of natural resources, caused for the directly alterations that influenced the ambient
conditions. From the conclusions gotten with this analyzes it‘s possible to formulate a set of
proposals that define and guide the organization of the space in apprise.
KEYWORDS: Environment, Landscape, Maranhão.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a paisagem natural está sendo modificada como resultado da ocupação
desordenada e da utilização inadequada de seus recursos, de forma praticamente sem controle. As
transformações produzidas pelos movimentos de terra ou o desmatamento, contribuem para
produzir alterações significativas nas características naturais da paisagem, sendo as que maiores
impactos recebem são inegavelmente as zonas costeiras.
A costa norte da região Nordeste apresenta-se com níveis modelados da Formação
Barreiras, originando as falésias; ora os vales fluviais afogados, formando as ―rias‖, com
reentrâncias. É neste contexto que está inserida a área dos Lençóis Maranhenses, no município de
Barreirinhas, no estado do Maranhão, constituída por dunas, que predominam em toda a sua
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 194

extensão oriental, acompanhando a linha da costa. Em sua extensão ocidental, ocorrem os terrenos
aluviais, periodicamente inundados pelas marés com fenômenos de hidromorfismo formando as
planícies fluviais e desenvolvimento de solos halomórficos, recobertos por manguezais,
constituindo as planícies flúvio-marinhas.
Na porção oriental dessa costa, situa-se a área objeto deste estudo, constituída por diversos
setores relacionados aos diferentes agentes e processos de acumulação marinha e fluvial pela
contribuição do rio Preguiças na alimentação de sedimentos na configuração do modelado, com a
deposição de sedimentos areno-argilosos, com a ocorrência predominante dos processos de erosão
marinha, em função dos ventos alísios de NE, que transportam e depositam sedimentos para o
interior do continente, condicionando a formação de dunas, dando origem aos ―Lençóis
Maranhenses‖.
Para a execução do presente trabalho, realizou-se inspeções de campo visando uma melhor
avaliação das atuais condições da área, não tendo apenas como embasamento os aspectos sociais e
econômicos, como também as bases ecológicas, possibilitando a integração dos diversos
conhecimentos científicos que possibilitem propostas de organização do espaço.

MÉTODOS
Utilizou-se a análise sistêmica da paisagem, como fundamento para a organização do
espaço na área dos Lençóis Maranhenses, objetivando uma caracterização geoambiental e a
avaliação das condições ambientais, tendo em vista a elaboração de proposições para minimizar os
efeitos dos impactos provenientes das atividades antrópicas.
Foram utilizados materiais necessários para o trabalho de campo, tais como: cartas
topográficas, imagens de satélite, planilhas para levantamento de campo e registros fotográficos
colhidos nos diversos locais da área de estudo.
Os métodos adotados seguiram os encaminhamentos fundamentais das pesquisas
científicas “in loco”, onde foram abordados procedimentos metodológicos como a observação,
entrevistas, acompanhamento de pessoas com conhecimento da área e complementação de dados,
através de consultas a bibliografia referente ao tema e/ou a área estudada.

CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL
Circunscrita à porção setentrional do estado do Maranhão, a área em estudo abrange o
segmento territorial que se estende de sua zona costeira com 02º 18' 25'' e 02º 43' 30'' de Latitude
Sul; limitando-se de 42º 34' 35'' do lado oriental e 43º 15' 40'' de Longitude Oeste de Greenwich, do
lado ocidental.
A formação das praias e dunas está associada aos movimentos de regressão e transgressão
marinha com a exposição e acumulação de sedimentos e o transporte efetuado pela deflação eólica.
A correlação entre o suprimento de sedimentos, área de drenagem e efeito anual das
precipitações é de fundamental importância para o estudo das zonas costeiras. Deve-se ainda atentar
para as taxas de dispersão das ondas, correntes e marés. Estas interações requerem a análise de
variados parâmetros de ordem topográfica, litológica, vegetacionais, climáticos e humanos
(Derbyshire et al.1979).
A área em apreço caracteriza-se pela existência de sedimentos terciários da Formação
Barreiras, ocupando uma faixa paralela à costa e de sedimentos reportados ao período Quaternário,
representados por praias e dunas constituídas de areias quartzosas homogêneas.
O clima apresenta como característica principal uma pluviometria tropical do tipo sub-
úmido com duas estações bem diferenciadas, indo à intensificação do período chuvoso de dezembro
a maio. O total médio das precipitações anuais situa-se em torno de 1.400 mm. A temperatura
média anual é superior a 27ºC e a umidade relativa do ar entre 79% e 82% de média durante o ano
(INMET, 2010).
As associações de solos predominantes são: areias quartzosas marinhas distróficas (dunas),
originadas de sedimentos fluviais e marinhos depositados na planície costeira e solos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 195

indiscriminados de mangue, encontrados nas áreas de inundação próximas à costa na zona de


influência das marés. Os solos aluviais, resultantes de deposições fluviais recentes, ocorrem
geralmente nas baixadas fluviais ao longo do rio Preguiças.
Os recursos hídricos são constituídos por cursos e reservatórios de água e áreas de
inundação, onde cada um apresenta características peculiares e funções específicas. A baixa energia
do rio Preguiças favorece uma maior intensificação dos processos construtivos, propiciando o
desenvolvimento de formações sedimentares, nas áreas de acumulação de sedimentos.
As características atuais da vegetação resultam dos processos de ocupação antrópica, com
a introdução de culturas, pastagens e núcleos urbanos, que contribuíram para a redução das espécies
nativas. As principais unidades de vegetação desenvolvem-se de acordo com as unidades de
paisagem, diferenciando-se devido às variações da composição edáfica e profundidade do lençol
freático. Os povoamentos faunísticos se revestem de fundamental importância para a manutenção
dos ciclos biogeoquímicos, constituindo-se como meios de matéria e energia no interior das cadeias
alimentares.
O processo histórico de ocupação espacial do litoral maranhense e a estrutura ocupacional
da população economicamente ativa demonstram uma maior parcela de mão-de-obra voltada para o
setor primário, distribuído a seguir por ordem de grandeza: extrativismo animal, extrativismo
vegetal, agricultura de subsistência, pecuária extensiva e produção artesanal, havendo ainda
atualmente um incremento das atividades comerciais voltadas para o turismo.

UNIDADES DE PAISAGEM
As unidades de paisagem estão relacionadas às praias e dunas e a planície flúvio-marinha
com manguezais. A ocorrência de dunas costeiras está vinculada ao abastecimento de sedimentos na
praia, a ausência de obstáculos permitindo a passagem dos ventos e da vegetação, onde os
sedimentos são arrastados da praia até a plataforma continental.
O campo de dunas classifica-se pela presença ou ausência de cobertura vegetal, sendo
denominadas de dissipadas, quando não apresentam cobertura vegetal ou ocorrem em sua superfície
somente espécies pioneiras e de pequeno porte. São instáveis e migratórias e em sua fase inicial,
originam-se da deposição eólica dos sedimentos arenosos levados até a praia pela ação marinha, que
aliada à intensidade e predomínio dos ventos, correspondem ao principal fator de sua formação e
mobilização.
Observa-se ainda a ocorrência de dunas em processo de estabilização, apresentando-se
parcialmente recobertas por vegetação pioneira psamófila, devido ao maior teor de matéria orgânica
e a ocorrência de um estrato superficial em processo de edafização, propiciando a presença do
caráter eutrófico que favorece o desenvolvimento de espécies vegetais; e as dunas estabilizadas,
quando recobertas por uma vegetação herbácea ou arbustiva, estando imobilizadas e
bioestabilizadas. As dunas estabilizadas favorecem a estabilização do relevo, que ocorre através da
melhoria das condições edáficas, contribuindo para uma maior estruturação das camadas
superficiais, através de suportes de matéria orgânica.
Com relação à formação de dunas costeiras, Paskoff (1985:50) assim se expressa:
“... en gènèral, les littoraux constituent dês milieux favorables à la formation de dunes.
Les cotes sont habituellement ventées parce qu’aucun obstacle topographique ne freine, jusqu’á ce
qu’ils abordent la terre, lês flux d’air qui arrivent du large”.
As formações dunares, acumuladas durante fases de regressão marinha, que foi sucedida
pela dissipação de sedimentos eólicos, estão localizadas em diferentes níveis topográficos, sendo
que alguns estão sendo erodidos pelo curso inferior do rio Preguiças.
Entre estas dunas observam-se depressões periodicamente inundadas quando da subida do
lençol freático, que por ser um aqüífero subsuperficial de importância relevante, pelo fenômeno de
ressurgência de águas pluviais, ocasiona o surgimento de reservatórios de água interdunares
permanentes e temporários de diversas profundidades, tamanhos e padrões, dependendo diretamente
do regime pluviométrico, constituindo-se em uma fonte de abastecimento humano e animal bastante
significativo, além de atrativo turístico.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 196

Sobre as interações existentes entre praias e dunas, Viles e Spencer (1995) observam que
existem quatro tipos, todos relacionados à energia cinética, assim determinada:
“... movements of sand (beach to dune and dune to beach); salt spray (beach to dune);
groundwater (dune to beach) and organic material (beach to dune and dune to beach)”.
A ocorrência de solos arenosos, apesar de pobres em matéria orgânica e apresentando
excessiva permeabilidade, proporciona o desenvolvimento da vegetação pioneira psamófila
refletindo a interação de diversos fatores que lhes impõe aspectos variados, devido às condições
físicas e químicas destes solos.
A cobertura vegetal de caráter subperenifólio apresenta uma série de adaptações contra a
perda de água e os efeitos de constante insolação e luminosidade, tais como: raízes profundas, copas
densas, ramificação abundante e folhas pequenas e coriáceas. É comum a disposição de forma
irregular, onde os indivíduos de porte herbáceo conseguem se instalar, tendo contra sua
sobrevivência uma série de fatores, como o aquecimento da camada superficial do solo, a derrubada
pelo vento e o soterramento pela areia.

PLANÍCIE FLÚVIO-MARINHA (MANGUEZAIS)


Podem-se enquadrar os manguezais como uma vegetação halofítica, dotada de significativa
individualidade fisionômica e funcional, caracterizando-se, sobretudo pela homogeneidade de seu
aspecto fisionômico, com um potencial ecológico profundamente ajustado a planície flúvio-
marinha, tendo em vista a constante mudança do nível da maré.
Ao longo do rio Preguiças, cujas margens possuem vertentes que estão ocupadas pelo
manguezal, devido o desmatamento, processa-se uma evolução lenta à medida que se vai elevando
o fundo do canal fluvial. Esta elevação provém em parte dos depósitos de sedimentos na preamar e
em alguns trechos na formação de matéria orgânica derivada de vegetais e animais.
Desempenha também outras funções que auxiliam no desenvolvimento sócio-econômico,
seja como fonte de recursos vegetais, que são utilizados principalmente como madeira para
construção e combustível, como fonte de recursos que são explorados por meio da pesca e da caça,
no enriquecimento da beleza paisagística, que favorece a exploração turística e como área de
reprodução de peixes marinhos de valor econômico para a região.
Como importância do poder de fertilização pode-se dizer que este é bastante elevado,
devido a sua possibilidade de produção ininterrupta de biomassa, a constante disponibilidade de
energia solar para a realização da fotossíntese e os suportes de nutrientes que recebem através das
águas.
Encontrados em áreas de inundação próximas à costa, em zona de influência das marés, os
solos são mal ou imperfeitamente drenados, apresentando sua superfície coberta irregularmente por
uma crosta branca de sais e que permanece após a evaporação da água.
Apesar da constância do impacto provocado pela variação do teor de salinidade, a fauna
está plenamente adaptada a este ambiente insalubre, constituindo-se em fonte de alimento, como
viveiro natural para larvas e alevinos e de zona de alimentação para uma variedade de espécies
animais.
Constatou-se a abundância e diversidade das espécies, apesar das constantes variações de
salinidade na área da desembocadura do rio Preguiças, através dos levantamentos efetuados, sendo
possível um levantamento que levasse em consideração a distribuição ecológica e a área de
ocorrência.
A maior parte das espécies avifauna apesar de não serem típicas de ambientes costeiros,
visita com freqüência estas áreas ou suas proximidades, seja a procura de alimentos ou para fins de
reprodução.
Dentre as espécies imigrantes foram observadas aquelas que só periodicamente são
encontradas em áreas estuarinas, não sendo, portanto, seu habitat preferencial. O grupo formado
pelas espécies visitantes são aquelas que apesar de não pertencerem aos ambientes costeiros,
eventualmente os freqüentam. De um modo geral, estas espécies são próprias de ambientes
circunvizinhos, vivendo em formações arbóreas ou arbustivas, próximos aos cursos de água, áreas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 197

inundáveis e outros habitats até mesmo mais distantes da costa, podendo deslocar-se facilmente de
uma área para outra.
Os crustáceos são invertebrados característicos da fauna dos manguezais, onde exercem
papel extremamente importante na dinâmica ambiental, como agentes participativos nos níveis
tróficos das cadeias alimentares ou na mobilização do substrato, favorecendo o incremento de
matéria orgânica neste ambiente.
Estão compostas por espécies que segundo as variações de salinidade, obedecem a uma
zonação caracterizada em três níveis distintos, a saber:
O primeiro, onde ocorrem espécies que vivem próximas ao oceano, formam um conjunto
de indivíduos predominantemente de regime marinho, que dispõem de mecanismos reguladores que
lhes permitem suportar variações bruscas de salinidade. O segundo nível é composto por elementos
típicos da interseção de água salgada e água doce, onde ocorrem à maioria das espécies, que tem
como habitats preferenciais o interior do manguezal, seja fixo as espécies vegetais (troncos e raízes)
ou em orifícios no substrato areno-argiloso. O terceiro nível, mais afastado do oceano, ocorre uma
menor diversidade de espécies, estando em áreas com baixos teores salinos.
Podem-se registrar ainda algumas espécies que embora sejam próprias de ambientes
estuarinos, durante o período de reprodução, penetram no oceano, onde os filhotes cumprem os
primeiros estágios de seu ciclo biológico.
As espécies representantes da malacofauna têm como habitat preferencial os troncos, raízes
ou sob as cascas das espécies vegetais do manguezal; sob ou sobre o substrato areno-argiloso; como
também junto com as algas que lhes servem de alimento, onde sua presença é bastante acentuada.
Os agrupamentos vegetais e a fauna representam comunidades bióticas que tem adaptações
morfológicas e fisiológicas próprias de ambientes costeiros. Nos diversos setores observados da
área estudada, as espécies vegetais apresentam fisionomias diferenciadas, em função do porte ou do
poder de adaptação de cada uma delas.
Floristicamente revelam diferenciações que vão desde espécies mais resistentes, lenhosas e
xeromórficas, representadas pelas leguminosas, rubiáceas e burseráceas, além das espécies próprias
do manguezal, até espécies gramíneas - herbáceas, pouco desenvolvidas, psamófilas e heliófilas,
constituídas principalmente pelas gramíneas e ciperáceas.
De acordo com o exposto, a área examinada neste estudo apresenta uma ampla diversidade
de nichos que abrigam espécies vegetais e animais, considerados imprescindíveis no contexto da
zona costeira. Os impactos causados pelo mau uso do solo, erosão e assoreamento, resultam em
perdas acentuadas de trechos significativos, através de alterações do equilíbrio água doce/salgada,
variações no ciclo de nutrientes e produtividade.

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
A sustentabilidade ambiental deve ser efetivada através da manutenção dos recursos
naturais, com sua utilização em quantidades compatíveis dentro dos limites da capacidade de
suporte das unidades ambientais descritas.
Tomou-se como referencial os impactos naturais e antrópicos. Por se tratar de uma área
costeira, esta sofre interferência marinha, continental e atmosférica, com um dinamismo próprio
desses ambientes, onde os processos de degradação são acelerados, em um ritmo crescente. Como
conseqüência, ocorre uma diminuição dos recursos naturais, que antes foram bastante abundantes e
atualmente tem se tornado cada vez mais raros, causada pelas alterações que influem diretamente
nas condições ambientais. A esse respeito, Cavalcanti (1997) assegura que a manutenção e o uso
sustentável das áreas costeiras necessitam de uma maior conscientização de sua importância e dos
impactos humanos sobre elas, que acarretarão a conservação dos processos ecológicos e da
diversidade biológica, além do desenvolvimento sustentável dos seus recursos.
A dinâmica natural é considerada como aquela que atua na origem das modificações
ambientais, sem sofrer interferência da ação humana, sendo constatados o avanço de dunas
proporcionado pela deflação eólica com transporte de sedimentos arenosos, acarretando o
recobrimento das margens externas do manguezal, recobrindo a vegetação e soterrando os canais
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 198

fluviais e a inundação periódica provocada na época das cheias do rio Preguiças, quando recobrem
as planícies aluviais, alterando a qualidade dos solos e efeitos específicos como salinização e
desoxigenação.
Constata-se ainda a sedimentação periódica provocada pelo aumento do fluxo de
sedimentos e nutrientes carreados pelos cursos de água, alterando a qualidade e modificações
ambientais do meio hídrico; o solapamento das margens dos cursos de água que devido o
desmatamento das áreas marginais, estes são constantemente soterrados por sedimentos, causando a
desestabilização das vertentes e erosão vertical, resultando na mobilização de sedimentos para o
interior dos canais fluviais; e a formação de reservatórios de água no lado do escorregamento das
dunas, pelo acúmulo de águas pluviais em seu interior.
Os impactos ambientais são considerados os agentes ou processos causadores de
modificações diretamente vinculados à ação humana, induzindo alterações com conseqüência de
maior ou menor intensidade.
Registrou-se o desmatamento com a retirada da vegetação natural para uso energético,
construção de embarcações, habitações e cercas, causando modificações que levam ao aumento da
temperatura, evaporação hídrica superficial e edáfica, aumentando a perda de água do solo; o
aterramento do manguezal com desenvolvimento progressivo, pela intensificação do avanço de
sedimentos sobre os mangues em áreas marginais, acarretando uma diminuição do potencial de uso
e regeneração dos recursos naturais, através da eliminação ou diminuição quantitativa de espécies
da fauna e flora; e as queimadas como prática comum para o desmatamento, ocasionando como
conseqüências a eliminação seletiva de espécies e alteração de sua complexidade estrutural,
compactação e diminuição da umidade dos solos e eliminação completa ou parcial da fauna.
Foi constatada a contaminação de águas superficiais e subterrâneas provocada pelo
lançamento de resíduos domésticos e agropecuários, com alterações hídricas das propriedades
físico-químicas, com o desaparecimento de espécies aquáticas; a pesca e caça predatória com a
utilização redes com malhas finas, a captura de filhotes e a não obediência aos períodos de
reprodução, levando a eliminação ou diminuição seletiva das espécies, desestruturação das cadeias
alimentares, perda do potencial genético e das funções ecológicas das espécies eliminadas.
Observa-se ainda a contaminação dos solos e águas subsuperficiais pelo lançamento dos
resíduos tóxicos utilizados na agricultura e ao acúmulo de resíduos domésticos líquidos e sólidos,
que são lançados de maneira inadequada no ambiente, trazendo consigo a transmissão de doenças
através de insetos e outros animais e pelo consumo de águas contaminadas; e a erosão devido à ação
da gravidade e a intensidade do escoamento superficial, afetando as vertentes mais íngremes, as
mais arenosas, aquelas desprovidas de vegetação e mal utilizadas na agricultura.
A erosão superficial ou laminar prepondera, onde a água atinge os solos na superfície,
desagregando-o e transportando as partículas menores. Estes solos possuem uma estrutura na qual
predominam elementos de forma e tamanhos variados e agregados constituídos por partículas
arenosas e sílticas, por argilas e matéria orgânica.
A disseminação das atividades agropecuárias, não resulta em uma produção satisfatória,
revelando o abandono de alguns trechos em função da baixa produtividade ou esgotamento
prematuro de seus solos.
Apenas as várzeas correspondem às áreas de maior diversificação da atividade agrícola,
sendo cultivados principalmente com culturas de subsistência, além de estarem sendo utilizados
para pastos em vários trechos e algumas culturas permanentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo procurou-se caracterizar parte da zona costeira maranhense, elegendo um
setor considerado como suficientemente representativo das características e problemas do conjunto
desta área, elaborando-se uma análise dos seus aspectos físicos e humanos, que servirão de base
para conclusões acerca da problemática sócio-econômica.
Através da formulação de um conjunto de propósitos pretendeu-se apontar soluções para
minorar os malefícios que recaem sobre este espaço, por ter chegado a um estado crítico e de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 199

extrema gravidade pela destruição e degradação estética e biológica, devido, sobretudo, a


implantação desordenada das construções de imóveis, comércio e de equipamentos turísticos.
No caso específico da área em apreço, pode-se afirmar que a gravidade destes problemas é
mais intensa, devido principalmente à acelerada especulação imobiliária e a eclosão turística, em
conjunto com um atraso em se abordar uma política integral de desenvolvimento costeiro.
Como recomendação básica poder-se-ia relacionar algumas propostas de ordenação
territorial, de acordo com os aspectos abordados, avaliando-se quantitativamente e qualitativamente
em diferentes pontos a definir, obtendo-se uma qualificação de cada um dos pontos investigados,
proporcionando uma evolução espacial mais adequada para cada setor.
A partir das conclusões obtidas com esta análise pode-se formular um conjunto de
propostas que definam ou pelo menos orientem uma metodologia de ordenação deste espaço.
Por último, sugere-se que sejam incentivadas pesquisas, para que se possa compreender o
funcionamento e a capacidade do espaço costeiro maranhense, permitindo um desenvolvimento que
distribua igualmente os benefícios do progresso econômico e proteja o meio ambiente, em benefício
das futuras gerações e melhore a qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTI, A.P.B. (org.) Desenvolvimento Sustentável e Planejamento – Bases
teóricas e conceituais. Fortaleza: Imprensa Universitária da UFC, 1997.
DERBYSHIRE, E.; GREGORY, K. J. & HAILS, J. R. Geomorphological Processes.
London: Butter Worths, 1979.
GUILCHER, A. Morfologia litoral y submarina. Barcelona: Ediciones Omega, 1957.
PASKOFF, R. Lês littoraux: impact dês aménagements sur leur évolution. Paris: Masson,
1985.
VILES, H. & SPENCER, T. Coastal Problems - Geomorphology, ecology and society at
the coast. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 200

CAMINHOS QUE CONTAM A HISTÓRIA DE UMA ESTAÇÃO


ECOLÓGICA

Sandra Maria de Almeida CAVALCANTI


Bióloga da Agência Estadual do Meio Ambiente – CPRH, Rua Santana, 367, Casa Forte, Recife, PE.
eseccaetes@cprh.pe.gov.br
Edivania do Nascimento PEREIRA
Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco
– UFRPE.
edivania_nascimento@hotmail.com
Manuel Hidelbrando de SOUZA JÚNIOR
Graduando do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRPE.
manuel_souza@hotmail.com
Gileno Antonio Araújo XAVIER
Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da UFRPE. Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE.
gileno@dmfa.ufrpe.br

RESUMO
A Unidade de Conservação de Proteção Integral categorizada como Estação Ecológica tem
como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, onde é proibida a
visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano
de Manejo da unidade ou regulamento específico. Ultimamente, nas Estações Ecológicas e Reservas
Biológicas se abre mais um importante espaço para a Interpretação Ambiental, tendo em vista que
mesmo sendo sua visitação somente de caráter educacional, o número de visitantes vem
aumentando nos últimos anos. O trabalho teve como objetivo analisar as características de trilhas
utilizadas em atividades de interpretação para os visitantes da Estação Ecológica de Caetés. Para o
estudo foram utilizadas duas trilhas interpretativas. Aspectos estruturais da área e técnicos para
desenvolvimento do programa interpretativo foram analisados. Foi observado que as trilhas não
possuem nomes específicos; encontram-se bem localizadas por estar nas proximidades do prédio de
visitação, fiscalização e administração. Os pontos de paradas ainda não foram definidos. Os
mirantes são pouco equipados com estruturas adicionais de proteção. Não foram observadas
adequações estruturais das trilhas para visitantes portadores de necessidades especiais. As trilhas
são do tipo linear, o menos indicado. Concluiu-se que se faz necessário transformar as duas trilhas
lineares em uma única trilha circular. Medidas devem ser tomadas para aprimorar a estrutura e o
planejamento das trilhas interpretativas.
PALAVRAS-CHAVES: Trilhas Interpretativas, Interpretação Ambiental, Educação
Ambiental, Área de Proteção, Unidade de Conservação.

ABSTRACT
The Conservation Unit of Integral Protection categorized as the Ecological Station aims to
conserve nature and conduct of scientific research, where public viewing is prohibited, except for
educational purposes, according to what provided in the Management Plan of the unit or specific
regulation. Lately, the Ecological Stations and Biological Reserves opens another important area for
environmental interpretation, bearing in mind that even though his only visit of character education,
the number of visitors has increased in recent years. The study aimed to analyze the characteristics
of tracks used in interpretation activities for visitors of the Ecological Station Caetés. For this study
we used two trails. Structural aspects of the area and technicians to develop the interpretive program
were analyzed. It was observed that the tracks do not have specific names, are well located to be
near the building of visitation, policing and administration. Points still remain to be defined. The
observatories are equipped with some additional protective structures. There were no structural
adjustments of the trails for visitors with special needs. The tracks are kind of linear, unless
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 201

indicated. It was concluded that it is necessary to transform the two linear tracks on a single circular
track. Measures should be taken to improve the structure and planning of trails.
KEYWORDS: Interpretive Trails, Environmental Interpretation, Environmental Education,
Protected Area, Conservation Unit.

INTRODUÇÃO
A Unidade de Conservação – UC de Proteção Integral categorizada como Estação
Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, onde
é proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que
dispuser o Plano de Manejo da Unidade ou regulamento específico (SNUC, 2000).
Ultimamente, nas Estações Ecológicas e Reservas Biológicas se abre mais um importante
espaço para a Interpretação Ambiental, tendo em vista que mesmo sendo sua visitação somente de
caráter educacional, o número de visitantes vem aumentando, significativamente, nos últimos anos.
Seus administradores sentem, assim, a necessidade de prever e realizar atividades, com a
finalidade de potencializar a reflexão a respeito da importância do ambiente, que se conserva
naquelas áreas, como afirma o Projeto Doces Matas (2002).
A UC que possibilita o uso público, oferece às pessoas a oportunidade de reencontros para
uma relação homem natureza mais responsável e mais sustentável. Nesse contexto, as trilhas
interpretativas desempenham uma grande função. A trilha é um caminho através de um espaço
geográfico, histórico ou cultural (VASCONCELLOS, 2006).
No que diz respeito à educação ambiental, a Estação Ecológica (ESEC) de Caetés é
comumente utilizada como palco para o desenvolvimento dos processos educativos com relação às
questões ligadas aos valores ambientais, históricos e culturais ali protegidos e da problemática
ambiental, de um modo geral (CPRH, 2006).
De acordo com o Projeto Doces Matas (2002), a interpretação ambiental está baseada na
maneira de perceber o mundo e no uso dos sentidos, na motivação para a observação do espaço, no
qual o homem está inserido e no enriquecimento das vivências pessoais, através do contato com as
paisagens naturais e construídas.
A interpretação, segundo Tilden (1977), é uma atividade educativa cujo objetivo é revelar
o significado e as relações com o uso de objetos originais, experiências em primeira mão e de forma
ilustrativa, ao invés de simplesmente comunicar informação dos fatos.
Uma das funções da interpretação ambiental em uma UC é o de transmitir aos visitantes a
idéia de porque ela existe. Fala-se da interpretação como uma atividade direcionada exclusivamente
para os recursos naturais. Quase todas as UC‘s têm recursos culturais que são muito importantes no
contexto de manejo e, portanto, da interpretação nas UC‘s. Os recursos culturais raramente recebem
a ênfase que deveriam ter, no entanto, do ponto de vista da interpretação, os recursos culturais são
extremamente úteis neste campo, porque com um pouco de imaginação, é fácil construir relações
entre populações humanas que vivem (ou viviam) na área da UC, e os recursos naturais. Desta
forma, o visitante obtém uma visão mais completa da Unidade, especialmente as inter-relações
entre os dois tipos de recursos (MOORE, 1993).
O tema interpretativo é uma mensagem. Esta mensagem está relacionada a uma idéia mais
geral sobre a qual se deseja falar. Os temas devem ser abordados de forma interessante e
motivadora, envolvendo os participantes, estimulando a observação, a ação e a reflexão (HAM,
1992).
Para Feinsinger (1997) uma trilha é considerada interpretativa quando seus recursos são
traduzidos para seus visitantes com a utilização de guias especializados, folhetos ou painéis.
As trilhas interpretativas são desenvolvidas considerando os seguintes métodos: guiadas e
autoguiadas (com placas e/ou com folhetos). Uma trilha guiada é uma atividade interpretativa em
que um guia interprete dirige um grupo de pessoas através de um caminho, com paradas pré-
estabelecidas, onde um tema é desenvolvido. A autoguiada é digirida a um grupo de pessoas através
de um caminho, com paradas pré-estabelecidas, onde cada uma representa uma parte de um tema
(VASCONCELLOS, 2006).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 202

O presente trabalho teve como objetivo analisar as características das trilhas interpretativas
utilizadas como instrumento de educação ambiental para os visitantes da Estação Ecológica de
Caetés.

MATERIAL E MÉTODOS
A ESEC-Caetés localiza-se no Município do Paulista, integrante da Região Metropolitana
do Recife, Estado de Pernambuco. Situa-se entre 7º55‘15‖ e 7º56‘30‖S e 34º55‘15‖ e 34º56‘30‖O.
Ocupa uma área de 157 ha, correspondendo a 1,54% da área do município.
A Estação dispõe de um Centro de Visitantes estruturado recebê-los oferecendo
informações e Interpretação sobre os vários elementos que compõem a Unidade, em especial os
recursos ambientais e histórico-culturais.
Para o estudo foram utilizadas duas trilhas interpretativas. Os aspectos estruturais do
ambiente foram analisados por meio da observação direta, do reconhecimento das áreas e de
registros de imagens. Os aspectos técnicos para desenvolvimento do programa interpretativo como
o método de desenvolvimento, a escolha de temas e o conhecimento do público foram pesquisados
nos arquivos da administração da UC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que as trilhas não possuem nomes específicos. Vasconcelos (2006) considera
interessante que trilhas tenham nomes e que esses próprios nomes, destacando um de seus atributos,
sejam atraentes e despertem a curiosidade do público.
As trilhas estão bem localizadas, pois se encontram nas proximidades do prédio de
visitação, da fiscalização e da administração, sendo de fácil acesso.
As trilhas apresentam curtas distâncias, em torno de 106 m e de 130 m de extensão. As
trilhas curtas apresentam caráter recreativo e educativo, com programação desenvolvida para
interpretação do ambiente natural (ANDRADE, 2003).
O ponto de saída ou inicial das trilhas compreende uma área ampla e antropicamente
arborizada próxima da borda da mata, conhecida como ―o bosque‖, um local agradável e acolhedor
onde ocorrem esporadicamente atividades educativas ou reuniões promovidas pela Estação.
Segundo o Projeto Doces Matas (2002), neste ponto deve-se despertar o interesse pelo tópico que
vai ser desenvolvido durante o percurso da trilha e fazer com que o visitante se sinta estimulado a
fazê-la.
Nas duas trilhas estudadas, os pontos de paradas ainda não foram definidos pela UC. A
maior parte do trajeto da primeira trilha na mata apresentou-se aberto e degradado, caracterizado
por vegetação arbustiva e arbórea e solo com pouco revestimento de serrapilheira. O ponto de
chegada ou final da trilha encontra-se em um mirante construído.
O trajeto da segunda trilha percorre inicialmente um pequeno seguimento de clareira,
seguido por um contínuo trecho de mata de vegetação arbórea, com solo rico em serrapilheira. Seu
ponto de chegada se dá em um talude. O talude foi construído para evitar a erosão do local e
funciona como um verdadeiro mirante por possibilitar aos visitantes uma bela paisagem da mata.
Os mirantes ajudam o visitante a entender melhor a paisagem e os processos naturais
ocorridos em um determinado lugar. Por si só já são excelentes pontos, para se realizar a
Interpretação Ambiental (PROJETO DOCES MATAS, 2002).
Considerando a segurança dos visitantes em mirantes, vulneráveis ao perigo, observou-se
que estes locais não apresentam sinalização ou placas de advertência e são pouco equipados com
estruturas adicionais de proteção (Figura 1). Vale salientar que durante o desenvolvimento das
atividades interpretativas em trilhas, os participantes são acompanhados por um ou mais integrantes
do Policiamento Ambiental.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 203

Não foram observadas adequações


estruturais das trilhas para visitantes
portadores de necessidades especiais.
As trilhas pesquisadas, quanto ao
formato, são do tipo linear, o menos
indicado. Esse é o formato mais simples e
comum. Apresenta as desvantagens do
caminho de volta ser igual ao de ida e a
possibilidade de passar por outros visitantes
no sentido contrário (Figura 2), não sendo
muito recomendado (PROJETO DOCES
MATAS, 2002; ANDRADE, 2003).
Quanto aos métodos utilizados
para o desenvolvimento das trilhas
interpretativas, não seria recomendado a
execução de trilhas autoguiadas devido à
presença de áreas de risco nos dois pontos
de chegada, mesmo que estes se constituem
Figura 1 – Vista da mata a partir do talude, ponto de de belezas cênicas de alto valor. Então é
chegada de uma das trilhas interpretativas da Estação Ecológica de
Caetés. Observar a ausência de estruturas de proteção. importante manter o método já utilizado, ou
seja, trilha guiada.
As temáticas abordadas durante o
desenvolvimento das trilhas relacionam-se a duas
vertentes, uma de caráter histórico ou cultural e
outra de caráter ambiental. A primeira retrata a
criação da ESEC, fruto do movimento da
comunidade local, de ambientalista e alguns
grupos empresariais da região, que fortalecidos,
conseguiram embargar a obra do aterro sanitário Figura 2 – Formato de trilha do tipo linear
segundo (ANDRADE, 2003).
que estava em construção naquele fragmento de
Mata Atlântica.
Quase todas as Unidades de Conservação têm recursos culturais que são muito importantes
no contexto de manejo e, portanto, da interpretação nas UC‘s (MOORE, 1993).
A temática ambiental refere-se às questões ambientais próprias do bioma Mata Atlântica e
principalmente no que se refere aos processos de regeneração dos trechos da mata que sofreram
maior ação antrópica devido às obras de construção do extinto aterro.
Verificou-se que as características do público visitante são bem diversificadas, constituído
de estudantes dos mais diversos níveis, escoteiros, funcionários de empresas, etc. No momento, um
estudo específico e aprofundado sobre o perfil deste público encontra-se em andamento. Tendo em
vista esta diversidade de público, é exigido por parte dos Gestores muito planejamento e
organização para promover atividades de interpretação ambiental por intermédio de trilhas
temáticas.

CONCLUSÕES
Apesar das duas trilhas serem classificadas no formato do tipo linear, o menos indicado,
elas ainda se mostram eficientes para o desenvolvimento de atividades interpretativas. Considera-se
que isto se deve às temáticas abordadas, principalmente as culturais, relacionadas à história da
Estação que notadamente exerce um grande poder sensibilizador junto ao público participante das
trilhas.
As trilhas de formato circular são as mais indicadas, por se apresentarem em circulo
fechado, ou seja, o ponto de partida e o de chegada coincidem no mesmo lugar. Considerando isto,
ao invés de se trabalhar em dois trajetos lineares, seria mais satisfatório desenvolver a interpretação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 204

ambiental através de uma única trilha. Para isso faz-se necessário uma reforma estrutural para
criação ou abertura de um pequeno trajeto para permitir que haja uma continuidade entre as duas
trilhas, uma vez que seus pontos de partidas são coincidentes.
Mesmo que algumas medidas devam ser tomadas no intuito de aprimorar a estrutura e o
planejamento das trilhas interpretativas, considera-se que a Estação Ecológica de Caetés possui um
grande potencial para realização de visitas públicas com objetivos educacionais voltados para as
questões ambientais e culturais da região em que está inserida.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HIDRICOS – CPRH.
Plano de Manejo Fase I - Estação Ecológica de Caetés. Recife; 2006. 63p.
ANDRADE, W.J. Implantação e manejo de trilhas. In: MITRAUD, S. (org.) Manual de
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Brasil, p.247-260. 2003.
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SNUC - Sistema Nacional de Unidades de conservação: texto da Lei 9.985 de 18 de julho
de 2000 e vetos da presidência da República ao PL aprovado pelo congresso Nacional. - São Paulo:
Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. 2ª edição ampliada (Cadernos da
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica: série conservação e áreas protegidas, 18). 2000. 76 p.
TILDEN, F. Interpreting our Heritage. Chapel Hill: The University of North Carolina
Press, 1977.
VASCONCELLOS, J.M.O. Educação e interpretação ambiental em Unidades de
Conservação. Cadernos de Conservação, Ano3. n.4. Curitiba: Fundação O Boticário de Proteção à
Natureza. 2006. 86p.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 205

COMPENSAÇÃO AMBIENTAL NO CAMPUS I DA UFPB

José Almeida Filho


Técnico UFPB
almeida@prefeitura.ufpb.br
Maria José Vicente de BARROS
CPA-UFPB
laecogeo@yahoo.com.br
Paulo Roberto de Oliveira ROSA
Professor UFPB
labema2002@yahoo.com.br

RESUMO
O presente estudo teve como objetivo principal efetuar a compensação ambiental em
passivos gerados pela retirada de indivíduos endógenos e exóticos oriundos de fragmentos da Mata
Atlântica em áreas do Campus I da UFPB, decorrentes da construção de novas edificações, em
virtude do processo de expansão desta instituição. Para isso, foram utilizados os dados constantes de
inventário realizado anteriormente, demonstrando a supressão de várias árvores exóticas e
endógenas. Apesar dos órgãos ambientais sugerirem a compensação de três indivíduos para cada
um suprimido, estabeleceu-se, neste trabalho, uma relação de dez para cada árvore retirada. Desse
modo, pode-se concluir que, não obstante as sucessivas ampliações na sua estrutura física, com a
consequente geração de passivos, a UFPB continua a preservar o meio ambiente, a partir da adoção
do mecanismo da compensação.
PALAVRAS-CHAVE: Ativo ambiental. Passivo ambiental. Compensação ambiental.

ABSTRACT
This study aimed to perform environmental compensation liabilities generated by the
removal of exotic and indigenous people coming from fragmentos da Atlantic areas of the Campus I
da Paraíba, in the construction of new buildings because of the expansion of this institution. For
this, we used the data from the inventory previously carried out, demonstrating the removal of
various indigenous and exotic trees. Despite the environmental agencies suggesting the
compensation of three individuals for each one removed, it was established in this work, a ratio of
ten for each tree removed. Thus we can conclude that, despite the subsequent additions to its
physical structure, with the consequent generation of liabilities, UFPB continues to preserve the
environment from the adoption of the mechanism of compensation.
KEYWORDS: active environmental. Environmental liabilities. Environmental
compensation.

INTRODUÇÃO
As florestas enquanto ativos ambientais
O ativo é toda área constituída de vegetação endêmica, composta por todo indivíduo
florestal, passível ou não de desmate. Compreende as grandes reservas florestais, manipuláveis ou
não. O ativo florestal é também um ativo ambiental. (JÁCOME, 2007). Os ativos ambientais
também incluem recursos não renováveis – petróleo e minério –, recursos renováveis – água,
animais e as florestas –, bem como serviços ambientais, tais como reciclagem de nutrientes, a
polinização de cultivares e assimilação de resíduos. Assim sendo esses ativos são responsáveis pelo
equilíbrio do clima, pela preservação da fauna e da flora e quando há desmatamento desordenado,
gerando passivos ambientais, o calor e a poluição aumentam, principalmente nos centros urbanos.
Podem ser vistos também como bens ambientais que podem ter os seus valores quantificados em
um futuro próximo, pois são partes ativas da ecoeconomia, mas, no momento, a sociedade só os
enxerga como bens qualitativos, daí o descaso com a sua preservação.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 206

Os ativos florestais da UFPB, nosso objeto de estudo, são remanescentes da Floresta


Ombrófila Aberta da Mata Atlântica, cuja vegetação é composta por palmeiras, bambus, cipós e
sororocas, com clima seco entre dois e quatro meses por ano e temperatura que varia de 24 a 25°C.
(JÁCOME, 2007). Portanto o uso do meio ambiente pelo homem se dá com três funções
econômicas básicas: como fornecedor de recursos, como fornecedor de bens e serviços e como
assimilador de dejetos. Por isso, procuram-se alternativas que permitam agregar valores que possam
constar na contabilidade de empresas que utilizam estes recursos. (ALMEIDA et al., 1994).
De acordo com Drew (2005), alterar a vegetação para fins agrícolas, com a consequente
mudança no microclima, leva inevitavelmente à modificação das propriedades do solo,
principalmente em relação à sua química e à biologia. As perspectivas de utilizar tais recursos
economicamente sem degradar o meio ambiente devem levar em conta o conhecimento sobre o
manejo desses ecossistemas, procurando aqueles solos mais apropriados à criação de animais e à
cultura de variadas espécies, uma vez que o monocultivo envolve riscos, empobrecendo estes
ecossistemas.

Contabilidade Ambiental nos Sistemas Naturais


A contabilidade ambiental surgiu em 1970 quando as empresas perceberam que muitas de
suas atividades estavam causando problemas ao meio ambiente. Segundo Kraemer (2009),
contabilidade ambiental é a contabilização dos benefícios e prejuízos que o desenvolvimento de um
produto ou serviço pode trazer ao meio ambiente. Para Donaire (1999), a utilização do meio
ambiente no processo de desenvolvimento deve ser feita de forma positiva, sem colocar em risco a
própria disponibilidade do recurso ao submetê-lo a uma super exploração indiscriminada.
Os assuntos ambientais estão crescendo em importância para a comunidade de negócios
em termos de responsabilidade social do consumidor, desenvolvimento de produtos e considerações
contábeis. A proteção do meio ambiente já faz parte dos objetivos das empresas, uma vez que parte
de seus patrimônios pode ser desviada para o ressarcimento de danos causados, muitas vezes
involuntariamente ao ambiente, envolvendo custos muito altos que não estavam previstos no
orçamento das mesmas.
As empresas não são punidas apenas com multas, mas também pelos consumidores que
deixam de adquirir seus produtos, preferindo aquelas que privilegiam a preservação ambiental. Por
tudo isso, tem havido mudanças relevantes no estilo de administrar. Apesar de demandar altos
custos e investimentos, as empresas percebem que o retorno é garantido tanto pela melhoria da sua
imagem junto à população como pelo próprio mercado e órgãos financiadores na concessão de
empréstimos e benefícios fiscais.
Na contabilidade ambiental financeira, os ativos ambientais representam os insumos, peças
e acessórios utilizados no processo de redução dos prejuízos causados na natureza. Também são
considerados ativos as máquinas, os equipamentos, os gastos com pesquisas e todos os outros bens
adquiridos pelas companhias com a finalidade de controlar, preservar e recuperar o meio ambiente
(KRAEMER, 2009b).
O passivo ambiental refere-se às obrigações contraídas por empresas que agrediram o meio
ambiente e têm que pagar multas vultuosas para a recuperação das áreas danificadas.
A contabilidade ambiental tem contribuído para incrementar a competitividade na
economia, uma vez que influencia os resultados econômicos financeiros da empresa em função da
perda de clientes para concorrentes ecologicamente corretos, da perda de investidores preocupados
com a questão ambiental, das penalidades governamentais e perdas de grande impacto no fluxo de
caixa das empresas.

A Compensação Ambiental enquanto Forma de Minimizar Impactos Ambientais


A compensação ambiental é um mecanismo para contrabalançar os impactos sofridos pelo
meio ambiente, identificados no processo de licenciamento ambiental no momento da implantação
de empreendimentos. Os recursos são destinados à implantação e regularização de unidades de
conservação, sejam elas federais, estaduais ou municipais. Foi instituída pela Lei 9.985 de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 207

18/07/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e foi


regulamentada pelo Decreto nº 4340,de 22 de agosto de 2002, alterado pelo Decreto nº 5.566/05. É
aplicada para empreendedores públicos e privados (WADA, 2007).
A avaliação do grau de impacto é realizada, partindo de estudos ambientais que são
solicitados pela Câmara de Proteção da Biodiversidade (CPB) do Copam no processo de
licenciamento. A compensação ambiental vem sendo muito utilizada para projetos de recuperação
ambiental por diversas entidades. Entretanto, na maioria das vezes, essa compensação é decorrente
de multas aplicadas por órgãos ambientais às referidas entidades. Isso por conta da não observação
dos trâmites legais estabelecidos pelas Políticas Públicas.

MÉTODOS E TÉCNICAS
A área de estudo se constitui do Campus I da Universidade Federal da Paraíba, situado no
município de João Pessoa, perfazendo um total de 1.617.500 m2, que foram doados pelo Governo
do Estado da Paraíba em duas etapas. A primeira, em 1959, correspondendo a 1.154.800 m2
destinados a construção do próprio Campus e a segunda em 1968, sendo 462.700 m2 referentes ao
Hospital Universitário, doados pelo governador João Agripino. Esta área fazia parte da Granja São
Rafael (BARBOSA, 1999).
Metodologia Utilizada
O trabalho foi realizado comportando trabalho de gabinete e pesquisa de campo. Em
gabinete foi verificada a planta de expansão com todas as edificações previstas. A partir disso foram
realizados trabalhos de campo com objetivo de verificar in loco se nas referidas áreas haveria
possibilidade de construir novas edificações com o mínimo de impacto possível, ou seja, se existia
no local árvores adultas, a quantidade e a possibilidade de adequação. Nesse momento, constatamos
que foram suprimidas 232 árvores, contabilizando 164 exóticas e 58 nativas.
Para a verificação do ativo ambiental, ou seja, a compensação ambiental realizada foi
realizado trabalho de campo, onde foram utilizados mapas do Campus I da UFPB, visando à
localização das mudas nativas nas respectivas áreas em que foram plantadas. A cada árvore
suprimida foram plantadas 10 mudas, perfazendo um total de 1.438 árvores.
De posse desse inventário, os dados foram sistematizados em planilha Excel, onde os
dados foram organizados por cada unidade administrativa no Campus I da Cidade Universitária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fragmentos Florestais no Campus I da UFPB
O Campus I foi implantado a Sudeste do Centro da cidade de João Pessoa, fato que ocorreu
no final da década de 1960, época em que o governo federal resolveu investir na expansão do
ensino superior no Brasil. O governo do Estado da Paraíba fez a doação de uma parte da atual área e
posteriormente doou a segunda parte que viria abrigar o Centro de Ciências da Saúde, incluindo o
Hospital Universitário (FIG. 01).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 208

Figura 1 - Imagem do Google Earth representando a Cidade Universitária do Campus I da


UFPB.
Fonte: Google Earth, 2009.

Em outros trabalhos já realizados visando à observação dos recuos e avanços da


comunidade florestal, tomando como premissa a relação entre a necessidade do crescimento da
Cidade Universitária e da resistência oferecida pela relação conservacionista contida como cultura
no seio da sociedade universitária, puderam-se observar momentos distintos em que houve recuos e
avanços da floresta (Tabela 1).
Tabela 1 – Série histórica referente aos recuos e avanços da Mata Atlântica no Campus I.
Anos
1969 1976 1985 1998 2007

501.400 m² 418.000 m² 477.500 m² 439.800 m² 440.860 m²


Fonte: BARBOSA, 1998 e XIMENES, 2007.

Em 2007, também foi realizada a quantificação das áreas florestais na Cidade


Universitária, sendo observado um aumento não apenas na população, como também nas áreas de
expansão da floresta (FIG. 02). Assim, torna-se claro que a Administração da UFPB não poupou
esforços para dar uma visão estética de paisagem entre os fragmentos de floresta e entre as
edificações, estabelecendo jardins com plantas tanto endógenas como exóticas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 209

Figura 2 - Quantificação automatizada das áreas florestadas na Cidade Universitária no


Campus I da UFPB.
Fonte: Ximenes, 2007.

Passivos Gerados com a Implantação de Novas Edificações no Campus I da UFPB

No avanço da interdisciplinaridade, faz-se presente a aplicação de termos de uma ou outra


arte, ou ciência para se poder argumentar com maior qualidade o que está posto na atualidade. A
questão ambiental que já foi vista como ―bens dadivosos‖ hoje ultrapassa essa categoria, haja vista
o enorme sistema produtivo e consumidor estabelecido pela ―voracidade‖ da população humana,
uma vez que esta não apenas consome para a satisfação biológica, como também pelas necessidades
espirituais.
A natureza no seio da literatura contábil é vista como ―coisa‖ (FRANCO, 1977). A coisa,
quando lhe atribuída uma utilidade, torna-se um ―bem‖ e posteriormente um ―produto‖. Partindo
dessa conceituação, pode-se seguir para a utilização do conceito Passivo Ambiental. Desta, a
expansão das edificações no Campus geraram passivos ambientais, pois o inventário apresentou
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 210

passivos gerados ou a se gerar, neste caso a supressão de 164 indivíduos exóticos e 58 endógenos
fora dos fragmentos protegidos. Um documento com estas informações foi encaminhado da reitoria
da UFPB para a SUDEMA, ficando assim estabelecido.
Assim sendo, foram plantadas 1438 árvores endógenas, sendo 987 dentro da Cidade
Universitária no Campus I distribuídos em vários setores (FIG 03) e 380 no NUPPA – Núcleo de
Pesquisa e Processamento de Alimentos da UFPB, perfazendo uma relação de aproximadamente
6,19 por cada árvore suprimida. No entanto, a recomendação se refere a cada árvore endógena e não
a exótica, por isso a relação sobe bem mais, ficando assim um total de 24,79 árvores endógenas
plantadas para cada uma suprimida.
A partir dessa situação de crédito florestal, nos propomos a construir um mapa contendo as
informações relativas aos lugares em que foram suprimidas e plantadas as árvores para receber as
edificações na Cidade Universitária, levando sempre em consideração a preservação dos fragmentos
de Mata Atlântica (FIG. 03).

Figura 03 – Ativo compensatório referente ao plano de expansão da Cidade Universitária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho fez uma abordagem acerca das florestas enquanto ativos ambientais,
demonstrando que as mesmas são responsáveis pelo equilíbrio do clima, bem como pela
preservação da fauna e da flora, alertando também sobre o crescente e paulatino desmatamento nos
grandes centros urbanos, decorrente de novas construções, culminando na análise dos ativos
florestais da Universidade Federal da Paraíba, caracterizados como remanescentes da Floresta
Ombrófila Aberta da Mata Atlântica.
Neste sentido, passou-se a conceituar Mata Atlântica, examinando a sua extensão e
apresentando também os diversos ecossistemas a ela associados até adentrar no estudo do seu
processo de devastação, que se iniciou com a colonização do Brasil, a partir de 1500, pelos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 211

europeus e se intensificou com a industrialização e a expansão dos núcleos urbanos.


Consequentemente, muitas espécies de plantas e animais estão ameaçadas de extinção em razão da
perda do seu habitat.
Em seguida, abordou-se teoricamente o instituto da contabilidade ambiental, criado em
1970, que se constitui em um mecanismo de quantificação dos benefícios e prejuízos que o
desenvolvimento de um produto pode causar ao meio ambiente.
Portanto, obtendo-se a relação entre passivos e ativos ambientais, a partir da utilização da
retrocitada contabilidade, é possível fazer uso do instrumento denominado compensação ambiental,
no intuito de recuperar as áreas devastadas. Foi exatamente esse o procedimento adotado pela
UFPB, quando da expansão da estrutura física do Campus I.
Adentrando, pois, no tema propriamente dito da pesquisa, que diz respeito à compensação
ambiental no âmbito do Campus I da referida universidade, analisou-se como foi levado a efeito tal
mecanismo.
Em virtude das sucessivas ampliações efetuadas na instituição e o consequente
desmatamento, surgiu a preocupação de minimizar os impactos ambientais daí decorrentes, uma vez
que os ativos florestais da universidade são, repita-se, fragmentos do Bioma Mata Atlântica,
protegidos por lei federal.
Inicialmente, a proporção entre árvores suprimidas e plantadas sugerida pelo IBAMA foi
de três para cada indivíduo nativo retirado. No entanto, a mencionada instituição de ensino superior
optou por plantar um número bem maior de árvores, perfazendo uma relação de aproximadamente
6,19 para cada suprimida, gerando, assim, uma situação de crédito florestal.
Diante de todo o estudo realizado sobre a compensação ambiental efetuada no Campus I da
UFPB, com os respectivos resultados – geração de crédito florestal, conclui-se que a universidade
em exame, apesar de gerar passivos ambientais devido à construção de novas edificações, aumentou
sua reserva florestal, em função da proporção adotada entre árvores retiradas e plantadas, que foi
acima da média sugerida pelo IBAMA.
Pode-se afirmar que a UFPB preserva o meio ambiente, cumprindo suas obrigações legais,
a partir da utilização da compensação ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UFPB. Monografia (Graduação em Geografia), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
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Disponível em:
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http://www.arvoresbrasil.com.br/?pg=arvore_ameacadas
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=./
gestao/agenda.html
http://planetasustentavel.abril.com.br/
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 213

CONTROLE BIOLÓGICO CONSERVATIVO: UM PASSO PARA


PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA

José Bruno MALAQUIAS


Mestrando em Entomologia Agrícola - Departamento de Zoologia e Entomologia Agrícola. Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz / Universidade de São Paulo – USP
jbmalaquias@ig.com.br
Dalvanice Leal AGUIAR
Mestranda em Ciência & Tecnologia Ambiental - Departamento de Ciência e Tecnologia /
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
dal.leal@hotmail.com.br
Flávia Queiroz de OLIVEIRA
Mestranda em Ciência & Tecnologia Ambiental - Departamento de Ciência e Tecnologia /
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
flavinha2010@ibest.com.br

RESUMO
Para obtenção de sucesso no uso de inimigos naturais é de grande relevância o
conhecimento sobre o seu potencial como agentes reguladores de insetos-praga. Desta forma, o
presente trabalho objetivou conscientizar agricultores familiares sobre técnicas de identificação e
conservação de insetos predadores em agroecossistemas de diferentes mesorregiões do Estado da
Paraiba. A trabalho foi direcionada para 15 famílias no Assentamento Oziel Pereira, localizado no
Município de Remígio; 10 famílias no Centro de Referência de Assistência Social, no Município de
Santana de Mangueira, e 7 famílias no Sítio Almeida, localizado no Município de Lagoa Seca. Os
predadores utilizados foram: tesourinha (Doru lineare), joaninhas (Cycloneda sanguinea), sirfídeos
(Toxomerus sp.) e bicho lixeiro (Chrysoperla externa). Após a visualização dos insetos, realizou-se
o trabalho de conscientização sobre a utilidade dos inimigos naturais apresentados, onde os
agricultores foram informados sobre as técnicas de identificação e conservação destes predadores
nos agroecossistemas supra-citados, pois nenhum produtor reconhecia a importância, até então, dos
referidos predadores. Além do mais, a maioria os associou como sendo praga, especialmente os
predadores C. sanguinea e Toxomerus sp. para a cultura do feijão e D. lineare para a cultura do
milho.
PALAVRAS-CHAVE: Controle biológico, conservação, agroecologia.

ABSTRACT
To achieve success in using natural enemies in the suppression of insect pests is very
important knowledge about the potential of these regulators. Thus, this study aimed to educate small
farmers on techniques of identification and conservation of insect predators in agroecosystems of
different meso-regions of the state of Paraiba. The training was directed to 15 families in the
Assentamento Oziel Pereira, located in the city of Remigio; 10 families in the Reference Center for
Social Services in the municipality of Santana de Mangueira, and 7 families in the Site Almeida,
located in the municipality of Lagoa Seca. Predators used were: earwig (Doru lineare), ladybugs
(Cycloneda sanguinea), syrphidae (Toxomerus sp.) and the lacewing (Chrysoperla externa). After
viewing insects, there was work to raise awareness about the usefulness of natural enemies
presented, where farmers were briefed on techniques for the identification and conservation of these
predators in agroecosystems above-mentioned, because no producer recognized the importance
hitherto, these predators, most associated as the pests, especially the predators C. sanguinea and
Toxomerus sp. for the cultivation of beans and D. lineare for the corn crop.
KEYWORDS: Biological control, conservation, agroecology.

INTRODUÇÃO
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 214

Os agroecossistemas da Paraíba estão estabelecidos em pequenas áreas e são


caracterizados pela elevada biodiversidade, onde é possível localizar polinizadores, inimigos
naturais, minhocas, microrganismos, diversidade de culturas. Estudos vêm demonstrando ser esse
um dos principais fatores para que haja a diminuição de problemas de pragas e doenças
(BARBOSA, 2007). No entanto, a utilização de produtos tóxicos não-seletivos como forma de
controle de pragas vem contribuindo para o aumento populacional destas, devido à eliminação de
seus inimigos naturais.
A manipulação do ambiente através do controle biológico conservativo para incrementar a
sobrevivência e o desempenho dos inimigos naturais, implica diretamente na redução populacional
das pragas. Na adoção de estratégias para o controle biológico conservativo faz-se necessária a
aplicação de diversas práticas, tais como: diversificação da vegetação na área cultivada, manutenção
da vegetação natural, seleção de variedades e fornecimento de recursos suplementares (VENZON et
al., 2006).
O controle biológico é uma das alternativas mais valorizadas, pois apresenta potencialidade
para diminuir ou mesmo para eliminar o uso de agroquímicos, reduzindo assim, os problemas que
estes compostos causam ao meio ambiente devido seu uso abusivo e indiscriminado (AZEVEDO &
WOLFF, 2000), além de constituir-se como uma das poucas alternativas para o futuro, devido a
uma exigência global por alimentos isentos de resíduos de agrotóxicos (AGUIAR-MENEZES &
MENEZES, 1997; CAMPANHOLA, 1998).
Os inimigos naturais são agentes capazes de estabilizar a população de pragas
economicamente importantes nos agroecossistemas, devendo ser preservados e, se possível,
aumentados através de táticas que manipulem o ambiente de forma favorável, empregando-se
práticas culturais adequadas como a preservação do habitat e/ou de fontes de alimentação (método
da conservação), utilização de plantas espontâneas que mantenham a população de inimigos
naturais. Alguns estudos têm demonstrado que estas práticas são importantes para favorecer a ação
de agentes naturais na mortalidade de pragas nos agroecossistemas, mantendo o equilíbrio entre as
diferentes populações (ALTIERI, 1992; PARRA et al., 2002).
No Estado da Paraíba o interesse por pesquisadores e pequenos produtores para adoção de
medidas alternativas para o controle de insetos-praga tem se mostrado crescente (SILVEIRA et al.,
2002; WANDERLEY et al., 2002; ABRASOM et al., 2006, 2007; LOPES et al., 2009). A
realização de programas de conscientização sobre a atuação de insetos predadores nos
agroecossistemas é de grande relevância. Por este motivo o presente trabalho procurou
conscientizar pequenos produtores sobre o potencial de insetos predadores associados à
agroecossistemas de diferentes mesorregiões da Paraiba.

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi direcionado para 15 produtores no Assentamento Oziel Pereira, localizado
no Município de Remígio, na Mesorregião do Curimataú paraibano (latitude -07° 49' 15''; longitude
38° 09' 10''); 10 produtores no Centro de Referência e Assistência Social, do Município de Santana
de Mangueira (latitude -07° 33' 18''; longitude 38° 19' 56''), localizado no Sertão Paraibano e 7
produtores do Sítio Almeida, localizado no Município de Lagoa Seca (latitude -07° 10' 15'';
longitude 35° 51' 13''), no Agreste Paraibano.
Os predadores utilizados foram: tesourinha (Doru lineare), joaninha (Cycloneda
sanguinea), sirfídeo (Toxomerus sp.) e bicho lixeiro (Chrysoperla externa) (figura 1). Os espécimes
de D. lineare e C. sanguinea foram coletados em plantas de milho, enquanto que Toxomerus sp.
foram coletados em feijão macassa. Exemplares de C. externa foram obtidos de criação estoque,
mantida pelo Laboratório de Entomologia da Embrapa Algodão, em Campina Grande/PB.
Para a avaliação do conhecimento dos agricultores sobre os inimigos naturais utilizados,
adotou-se metodologia semelhante à utilizada por Santos et al. (2002). Os insetos foram
acondicionados em placas de Pétri, para realização do reconhecimento pelos agricultores. Após esta
etapa, os agricultores foram conscientizados sobre a utilidade dos inimigos naturais apresentados,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 215

onde foram informados sobre o uso e conservação destes predadores em suas unidades de produção
agrícola.

Figura 1. Inimigos naturais utilizados no trabalho. A= Adulto de Cycloneda sanguinea.


B= Adulto de Doru lineare. C= Adulto de Chrysoperla externa. D= Larva de Toxomerus sp.

Neste trabalho foi realizada uma apresentação teórica, e posteriormente uma demonstração
in situ dos inimigos naturais. Foram demonstradas técnicas de se identificar insetos predadores e
parasitóides nos plantios agrícolas, através de caracteres morfológicos, como tipo e forma de
aparato bucal; e fisiológicos – comportamentais como hábitos alimentares e épocas de aparecimento
nos plantios. Além disto, também foram realizadas demonstrações em campo sobre técnicas para a
conservação destes insetos em campo, como: diversificação da vegetação na área cultivada;
manutenção da vegetação natural; seleção de variedades; aplicação de produtos de origem natural
(extratos, fungos e caldas); preservação nas hortas ou no roçado de plantas daninhas que são fontes
de pólen; realização de capinas alternadas; manejo seletivo do mato; utilização de quebra ventos ou
faixas protetoras; adubação com matéria orgânica e plantio em épocas corretas e com variedades
adaptadas ao clima e ao solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se neste trabalho uma elevada falta do conhecimento sobre o potencial dos
inimigos naturais. Apesar da facilidade de se encontrar estes inimigos naturais nos agroecossistemas
trabalhados (Malaquias & Rodrigues, 2009; Malaquias et al., 2010), os resultados revelaram que no
Município de Remígio, C. sanguinea foi reconhecido pela maioria dos produtores (86,66 %), os
predadores D. lineare, Toxomerus sp. e C. externa foram reconhecidos por 53,33; 53,33 e 20,00%
dos agricultores, respectivamente (figura 2).
Os resultados deste trabalho permitiram registrar também que nenhum agricultor
reconheceu Toxomerus sp., nos Municípios de Lagoa Seca, e de Santana de Mangueira. Apenas 2
(20,00%) e 4 (54,14%) produtores reconheceram D. lineare, respectivamente, nos Municípios de
Santana de Mangueira e Lagoa Seca. Além disso, registrou-se no Município de Santana de
Mangueira, que nenhum produtor reconheceu C. sanguinea e C. externa, enquanto que estas
espécies de predadores foram reconhecidas apenas por um produtor (14,28%) no Município de
Lagoa Seca (figura 2). Entretanto, nenhum produtor reconhecia, até então, a importância dos
referidos predadores, a maioria os associou como sendo praga, especialmente os predadores C.
sanguinea e Toxomerus sp. para a cultura do feijão e D. lineare para a cultura do milho.
Resultados similares aos obtidos neste trabalho foram registrados por Santos et al. (2002),
em que foi elevada a quantidade de agricultores que não reconheciam a utilidade de insetos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 216

predadores e a maioria os associou à insetos-praga. Em todos os municípios trabalhados,


conscientizou-se que o controle biológico conservativo é uma ferramenta que pode auxiliar nas
tomadas de decisões e ser adotado em sistemas agroecológicos. De acordo com Oliveira et al.
(2008), a obtenção de bons resultados através da utilização de medidas desta natureza está
diretamente relacionada com este trabalho de conscientização de produtores rurais sobre o uso e
conservação de inimigos naturais no controle de pragas alvo, sendo necessário, portanto, a
ampliação de programas de capacitação destes produtores, dentre outras tarefas, para identificação
das pragas e seus agentes de controle biológico natural.

Figura 2. Reconhecimento de espécies de insetos predadores por agricultores familiares de


diferentes municípios do Estado da Paraíba. Reconhecimento: % (número de agricultores).

O reconhecimento de inimigos naturais em um agroecossistema é de extrema importância,


pois pode possibilitar a redução ou exclusão do emprego de inseticidas convencionais. O controle
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 217

de pragas e doenças, baseados em princípios agroecológicos deve ser abordado sob ponto de vista
mais integrado nos sistemas de produção (BARBOSA, 1998; ALTIERI, 2002), desta maneira, as
informações repassadas aos agricultores no presente trabalho auxiliam na obtenção de resultados
positivos em processos de transição agroecógica, pois Oliveira et al. (2008), consideram que todos
os mecanismos de técnicas alternativas de controle de pragas podem ser invalidadas quando não se
considerar o conhecimento do potencial de organismos do terceiro nível trófico na regulação de
populações de insetos praga. Para a efetivação de programas de controle alternativo de pragas faz-se
necessária a promoção do desenvolvimento de condições para os agricultores possam usufruir de
técnicas de conservação e utilização de inimigos naturais como uma das alternativas e não como
medida isolada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação de programas de conscientização sobre técnicas de identificação, uso e
conservação de inimigos naturais nas localidades trabalhadas é de extrema importância, visto que,
há uma elevada falta de informação por parte dos agricultores a respeito destes insetos como tal.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 219

ESTUDO DA BIODIVERSIDADE LOCAL: CAMINHOS PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Joel Maciel Pereira CORDEIRO


Professor de Geografia (substituto) do ensino fundamental da escola ―Ulisses Maurício de Pontes‖ –
Sertãozinho, PB. Graduando em Geografia pela UEPB
joelmacielbig_all@hotmail.com
Josenilson Soares BASÍLIO
Professor de Ciências do ensino fundamental da escola ―Ulisses Maurício de Pontes‖ – Sertãozinho, PB.
Graduado em Geografia pela UEPB, Biologia pela UVA e Especialista em Agroecologia pela UFPB
josenilsonsoares@hotmail.com

RESUMO
A modernização do capitalismo industrial acentuou o agravamento dos problemas
ambientais em escala global e põe em risco a sobrevivência da diversidade de seres vivos no
planeta. As práticas voltadas a educação ambiental em sala de aula constituem, nesta ordem, uma
ferramenta indispensável no desenvolvimento da capacidade do aluno em refletir e preservar o meio
ambiente de forma que as diversas espécies de seres vivos – incluindo o próprio homem – garantam
sua sobrevivência no decorrer dos anos que se seguem. Deste modo, o presente trabalho demonstra
o estudo da biodiversidade do lugar como fator fundamental para o progresso da educação
ambiental na escola, contribuindo para elevar o conhecimento do aluno sobre as diversas espécies
animais e vegetais que fazem parte do espaço no qual o mesmo está inserido, além de despertar no
educando o interesse pelo estudo e pesquisa relacionados ao meio ambiente e a biodiversidade. O
referente trabalho resultou de uma pesquisa realizada com alunos do ensino fundamental da escola
―Ulisses Maurício de pontes‖ em Sertãozinho, no estado da Paraíba, onde foi tratado o estudo da
biodiversidade na zona rural do município como possibilidade de desenvolver o interesse dos
alunos por questões relacionadas ao meio ambiente. A pesquisa resultou na descoberta de 90
espécies animais (aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e insetos), 22 espécies de árvores
nativas da região e, acima de tudo, no desenvolvimento da consciência ambiental e no
conhecimento prático sobre questões relacionadas à biodiversidade local.
PALAVRAS-CHAVE: Biodiversidade. Educação Ambiental. Estudo do meio.

ABSTRACT
Capitalism industrial modernization increased the environmental problems on a global
scale and threatens living beings diversity survival on the planet. Practices related to environmental
education in classroom are, in order, an indispensable tool in the development of the student's
ability to reflect and preserve the environment, so that all species of living beings - including human
beings - to ensure their survival over the years that follow. Thus, this paper demonstrates local
biodiversity study as fundamental to the advancement of environmental education in schools,
helping to raise the student's knowledge about the various plant and animal species that are part of
the place they're in, and awaken in the student interest in studing and researching about
environment and biodiversity. This paper has resulted on a survey of students in the elementary
school "Ulisses Maurício de Pontes" in Sertãozinho/PB, where we studied the local biodiversity in
the rural area as a possibility to develop the students' interest about the environment. The search
discovered 90 species (birds, mammals, reptiles, amphibians, fish and insects), 22 species of native
trees and, above all, the development of environmental awareness and practical knowledge on
issues related to the local biodiversity.
KEYWORDS: Biodiversity. Environmental Education. Environment Study.

INTRODUÇÃO
O mundo globalizado guiado pela modernização do capitalismo industrial acentuou a
exploração dos recursos naturais pelo homem, agravando os problemas relacionados ao equilíbrio
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 220

ambiental e a diversidade de seres vivos no planeta. A respeito dessas mudanças provocadas pelo
capitalismo sobre a natureza em escala global, observa Milton Santos:

Com a marcha do capitalismo, amplia-se a tendência a que, sobre a diversificação da natureza, operada pelas
forças naturais, se realize uma outra diversificação, também à escala global, mediante forças sociais. Primeiro, o
―social‖ ficava nos interstícios; hoje é o ―natural‖ que se aloja ou se refugia nos interstícios do social (SANTOS, 2006,
p. 131).

Nesta perspectiva é indiscutível que os problemas ambientais devam estar entre os assuntos
prioritários na sociedade moderna. Nesta mesma ordem, a educação ambiental trabalhada no
cotidiano escolar constitui um instrumento eficiente para o estabelecimento de uma nova
perspectiva na relação entre o homem e a natureza.
A preocupação com o meio ambiente vem aumentando em função de uma nova visão das relações
sociedade/natureza, na qual a educação ambiental se faz necessária e deve ser abordada com olhar holístico, tendo como
alvo a mudança de posturas e comportamentos no modo de viver (ÚNGARO; SOUSA; LEAL, 2007, p. 52).

A educação ambiental representa, portanto, uma prática essencial na formação e/ou


transformação dos alunos em cidadãos críticos e atuantes frente a questões voltadas à preservação
do maio ambiente e a garantia de sobrevivência da biodiversidade no planeta.
O sentido da palavra biodiversidade refere-se aqui, como a grande diversidade de espécies
animais e vegetais existentes em determinada região, mais precisamente, conceituou Ianni:

Diversidade biológica refere-se à variedade e à variabilidade dos organismos vivos e à complexidade


ecológica onde eles ocorrem. Biodiversidade é também a variedade funcional e estrutural das diferentes formas de vida
genéticas, das populações, das espécies, das comunidades e dos diferentes níveis ecossistêmicos (IANNI, 2005).

Uma das formas de ampliar o conhecimento referente ao estudo da biodiversidade,


bem como a interação dos educandos com os problemas ambientais no espaço, o qual os mesmos
fazem parte, é através do estudo do meio. Diante deste recurso, o aluno relaciona o conhecimento
exposto em sala de aula com a realidade do lugar pesquisado, lugar este que o próprio aluno está
inserido.

[...] pode ser considerado um estudo do meio tanto uma excursão de média duração a lugares distantes quanto
um passeio a pé nas dependências da própria escola ou em suas imediações, desde que tal passeio esteja voltado para a
mobilização das sensações, percepções, representações, conhecimento dos alunos, acionados pelo contato direto com o
―meio‖ de estudo, com o ―meio‖ do próprio grupo envolvido (CAVALCANTI, 2002, p. 91)

A respeito do estudo do meio e suas contribuições para o processo de


ensino/aprendizagem, complementam Feltran e Filho:

Estudar o meio, o meio ambiente, a realidade, a vida (ou qualquer que seja o vocabulário escolhido), significa
tentar encontrar elementos para melhor compreender a interação do homem com o mundo, o que se faz a partir de
determinado ponto de vista ou enfoque teórico (FELTRAN e FILHO, 2007, p. 125).

O conhecimento da biodiversidade do lugar a partir do estudo do meio e outros


enfoques metodológicos constituem a base essencial ao trabalho da educação ambiental, ao
desenvolvimento da motivação e interesse dos alunos por tais questões.
Desta forma, objetivou-se demonstrar no presente artigo o estudo da biodiversidade
local como fator fundamental para o progresso da educação ambiental na escola, contribuindo para
elevar o conhecimento do aluno sobre as diversas espécies animais e vegetais que fazem parte do
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 221

espaço no qual o mesmo está inserido, além de despertar no educando o interesse pelo estudo e pela
pesquisa, relacionadas ao meio ambiente e a biodiversidade no espaço vivenciado.

Metodologia

O trabalho em si foi realizado através de um estudo desenvolvido com 65 alunos de idades


entre 14 e 17 anos que cursavam na época o 9º ano na escola municipal de ensino fundamental
―Ulisses Maurício de Pontes‖ em Sertãozinho, estado da Paraíba.
Em primeiro momento o conteúdo foi exposto em sala de aula por meio de explicações
teóricas, estudos de textos e discussões em círculo, conteúdos estes, relacionados à biodiversidade
do território brasileiro. Neste contexto, foram debatidos os problemas da degradação do meio
ambiente que repercutem diretamente na redução do número e diversidade das espécies animais e
vegetais, e de certa forma, na garantia da sobrevivência do próprio ser humano no planeta.
Sequencialmente foi proposto aos alunos a realização de uma pesquisa na forma de estudo
do meio/biodiversidade, onde foram realizada observações (in loco) na zona rural de Sertãozinho,
bem como pesquisas de dados primários com entrevistas e questionamentos aos moradores desta
localidade, afim de obter informações referentes aos nomes populares das espécies animais e
vegetais que eram encontradas na região, além de ampliar o conhecimento sobre as práticas que
repercutem na degradação do meio ambiente e na redução da biodiversidade destes lugares.
Depois do estudo do meio, com a orientação dos professores, os alunos realizaram a última
parte do estudo que se constituía na pesquisa em todas as fontes disponíveis (livros, dicionários,
internet, entre outros), para efetuar-se a classificação das espécies em suas respectivas classes,
ordens, famílias e nomes científicos, conforme os nomes populares descritos pelos habitantes
entrevistados.
Ressalta-se, contudo, que os resultados obtidos no trabalho realizado com os alunos foram
de caráter meramente educativo. As espécies nele descritas, foram classificadas conforme os nomes
relatados pelos moradores da zona rural, comparados com aqueles que aparecem nas fontes de
pesquisas bibliográficas consultadas, o que não significa afirmar com precisão que a espécie aqui
descrita e classificada seja realmente aquela popularmente conhecida na região. As informações
contidas neste artigo podem ser tomadas como base para a iniciação a pesquisas futuras, no entanto,
seria necessário um trabalho mais amplo e detalhado, com registros fotográficos, coletas de
amostras/dados e uma equipe de especialistas, para que se possa dá mais ênfase e precisão no
estudo da diversidade biológica da região.

Resultados e discussões

O trabalho desenvolvido com os alunos contribuiu de maneira expressiva para o


conhecimento da diversidade de espécies animais e vegetais que fazem parte do município de
Sertãozinho e regiões circunvizinhas.
Foram entrevistados cerca de 93 moradores com faixa etária entre 40 e 60 anos, todos
residiam a mais de 5 anos nos lugares pesquisados e demonstravam conhecimentos relevantes a
cerca da biodiversidade naquele espaço.
Nas tabelas a seguir encontram-se as espécies animais e vegetais descobertas nas pesquisas
realizadas na zona rural do município de Sertãozinho – Paraíba, através do estudo do meio e do
conhecimento popular dos habitantes locais. Suas respectivas classificações foram relacionadas
conforme as informações contidas nos trabalhos de Carvalho (1995), Lhering (2002), Costa et al.
(1980), Duck (1979), Mota e Coelho (2005).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 222

AVES
Nome popular Nome científico Família Ordem
Bem-te-vi Pitangus sulfuratus Tiranídeo Passeriforme
Bem-te-vi-pequeno Pitangus lictor Tiranídeo Passeriforme
Suiriri Tyrannus melancholicus Tiranídeo Passeriforme
Tirri/Pirrito Todirostrum cinereum Tiranídeo Passeriforme
Lavadeira Fluvicola pica Tiranídeo Passeriforme
Viuvinha Arundinicola leucocefala Tiranídeo Passeriforme
Cabeça-preta Sporophila nigricolis Fringilídeo Passeriforme
Golado/Coleira Sporophila caerulescens Fringilídeo Passeriforme
Canário Sincalis flaveola Fringilídeo Passeriforme
Cravina Coryphospingus pileatus Fringilídeo Passeriforme
Galo de campina Paroaria gularis Fringilídeo Passeriforme
Tíziu Volatinia jacarina Fringilídeo Passeriforme
Canário sapé Thlypopsis sordida Fringilídeo Passeriforme
Sanhaçu Thraupis cyanoptera Traupídeo Passeriforme
Saíra-amarela Tangara cayana Traupídeo Passeriforme
Vem-vem Euphonia violacea Traupídeo Passeriforme
Sabiá laranjeira Turdus rufiventris Turdídeo Passeriforme
Papo de fogo Leisteis militaris Icterídeo Passeriforme
Sebinho/Chupa-coco Coereba flaveola Coerebídeo Passeriforme
Mariquita/Gata magra Polioptila plúmbea Silviídeo Passeriforme
Pitiguari Cyclarhis gujanensis Vireonídeo Passeriforme
Xorró/Corruíra Troglodytes musculus Trogloditídeo Passeriforme
Acauã Herpetotheres cachinnans Falconídeo Falconiforme
Carcará/Caracará Polyborus plancus Falconídeo Falconiforme
Gavião Buteo magnirostris Acipitrídeo Falconiforme
Gavião peneira Elanus leucurus Acipitrídeo Falconiforme
Alma de gato Piaya cayana Cuculídeo Cuculiforme
Anu Crotophaga ani Cuculídeo Cuculiforme
Anu branco Guira guira Cuculídeo Cuculiforme
Peitica/Sem-fim Tapera naevia Cuculídeo Cuculiforme
Beija-flor-tesoura Eupetomena macroura Troquilídeo Apodeiforme
Rolinha Columbina passerina Columbídeo Columbiforme
Rolinha-vermelha Columbina talpacoti Columbídeo Columbiforme
Lambu/Pé roxo Crypturellus tataupa Tinamídeo Tinamiforme
Pica-pau-pequeno Picumnus pygmaeus Picídeo Piciforme
Garça-branca-pequena Egretta thula Ardeídeo Ciconiforme
Socoí Butorides striatus Ardeídeo Ciconiforme
Quero-quero/teu-téu Belonopterus chilensis Caradriídeo Caradriiforme
Jaçanã/Galinha d‘agua Jacana spinosa Jacanídeo Caradriiforme
Bacurau/Curiango Chordelles acutipennis Caprimulgídeo Caprimulgiforme
Coruja/Caburé Otus cholbia Estrigídeo Estrigiforme
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 223

MAMÍFEROS
Nome popular Nome científico Família Ordem
Cachorro do mato/Raposa Cerdocyon thous Canídeo Carnívoro
Maracajá Felis wiedii Felídeo Carnívoro
Gato do mato Felis tigrina Felídeo Carnívoro
Furão Grison vittatus Mustelídeo Carnívoro
Guaxinim/Mão pelada Procyon cancrivorus Procionídeo Carnívoro
Preá Galea flavidens Caviídeo Roedor
Rato do mato Oryzomys subflavus Cricetídeo Roedor
Sagüi Callithrix jacchus Calitriquídeo Primata
Tapiti/Coelho Sylvilagus brasiliensis Leporídeo Logomorfo
Tatupeba Euphractus sexcintus Dasipodídeo Desdentado
Tatu verdadeiro Dasypus novencintus Dasipodídeo Desdentado
Gambá/Timbu Didelphis marsupiales Didelfídeo Marsupial
Morcego das frutas Artibeus lituratus Filostomídeo Quiróptero

RÉPTEIS
Nome popular Nome científico Família Ordem
Iguana/Camaleão Iguana iguana Iguanídeo Sáurio
Lagartixa Tropidurus hispidus Iguanídeo Sáurio
Papa-vento/Calango cego Polychrus acutirostris Iguanídeo Sáurio
Lagarto/Calango Ameiva ameiva Teídeo Sáurio
Teju Tupinambis teguixim Teídeo Sáurio
Cágado Hydromedusa maximiliani Quelídeo Quelônio
Cobra cipó Chironius carinatus Colubrídeo Ofídio
Cobra corre-campo Dryophylax pallidus Colubrídeo Ofídio
Cobra verde Phillodryas olfersii Colubrídeo Ofídio
Cobra coral Erythrolamprus aesculapii Colubrídeo Ofídio
Cobra preta/muçurana Pseudoboa cloelia Colubrídeo Ofídio

ANFÍBIOS
Nome popular Nome científico Família Ordem
Sapo Bufo paracnemis Bufonídeo Anuro
Sapo cururu Bufo granulosus Bufonídeo Anuro
Jia/Rã Leptodactylus pentadactylus Leptodactilídeo Anuro
Caçote/Rã Leptodactylus ocellatus Leptodactilídeo Anuro
Rã verdadeira Rana palmipes Leptodactilídeo Anuro
Perereca do campo Phyllomedusa guentheri Hilídeo Anuro
Girinos Pseudis paradoxal pseudídeo Anuro

PEIXES
Nome popular Nome científico Família Ordem
Traíra Hoplias malabaricus Caracídeo Characiformes
Piaba Astyanax fasciatus Caracídeo Characiformes
Acará Geophagus brasiliensis Ciclídeo Perciformes
Muçum Synbranchus marmoratus Simbranquídeo Synbranchiformes
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 224

INSETOS
Nome popular Nome científico Ordem
Gafanhoto Acridium cristatum Ortóptero
Esperança Pheneropteridai sp Ortóptero
Cupim Eutermes rippertii Isóptero
Cigarra Cicada sp Homóptero
Maribondo Heros gigas Himenóptero
Cavalo do cão/Vespão Pepsis albomaculata Himenóptero
Mangangá Xylocopa frontalis Himenóptero
Formiga Atta sexdens Himenóptero
Borboleta Amadryas feronia Lepdóptero
Borboleta Heliconius narca Lepdóptero
Borboleta Colaenis Julia Lepdóptero
Mariposa Morpho deidamia Lepdóptero
Libélula Heterina pudica Odonato
Libélula Thore boliviana Odonato

ÁRVORES NATIVAS
Nome popular Nome científico Família
Jucá Caesalpinia ferrea Leguminosa
Jurema preta Mimosa nigra Leguminosa
Mororó Bauhinia macrostachya Leguminosa
Catingueira Caesalpinia pyramidalys Leguminosa
Angico Piptadenia macrocarpa Leguminosa
Bordão de velho Pithecolobium saman Leguminosa
Sabiá Mimosa caesalpiniaefolia Leguminosa
Aroeira Astronium urundeuva Anacardiácea
Cajueiro Anacardium occidentale Anacardiácea
Cajazeira Spondias lutea Anacardiácea
Burra leiteira Sapium lanceolatum Euforbiácea
Marmeleiro Cróton sincorensis Euforbiácea
Embaúba/Capeira Cecropia hololeuca Euforbiácea
Pau d‘arco Tabebuia chrysotricha Bignoniácea
Pau d‘arco roxo Tabebuia avellanedae Bignoniácea
Juazeiro Zizipus joazeiro Ramnácea
Mandacaru Cereus jamacaru Cactácea
Catolé Syagrus comosa Palmácea
Freijorje Cordia trichotoma Boraginácea
Jenipapeiro Genipa americana Rubiácea
Pitombeira Talisia esculenta Sapindácea

Com base nos dados obtidos e tabulados, foi possível fazer o levantamento da
biodiversidade local/nativa, bem como diagnosticar juntos aos alunos as agressões sofridas pela
nossa fauna e flora, haja vista a dificuldade hoje, de se encontrar a maioria das espécies aqui
relacionadas.
Algumas espécies deixaram de constar nas listas anteriores por não conter informações
adequadas ou suficientes nas descrições feitas pelos moradores, ou ainda, nas bibliografias
consultadas, o que impossibilitou suas respectivas classificações. É o caso de aves como o
―garrancheiro‖, o ―pirrichio‖, a ―xorró pedrês‖, o ―farinheiro‖; mamíferos como uma espécie de
felídeo (Felis sp), descrita pelos moradores como ―gato do mato vermelho‖; répteis como o
―calango que vira cobra‖ ( talvez tratar-se do Mabuya heathi), dentre outros. Pelo mesmo motivo,
espécies vegetais como a ―vassourinha‖, ―amorosa‖, ―espinho rei‖, e ―cabaçu‖ também deixaram de
ser classificadas.
Outras espécies vegetais que apareciam nas pesquisas de dados primários deixaram de
constar na lista por tratar-se de árvores invasoras que se encontravam nestes lugares por mera
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 225

interferência humana. É o caso da ―mangueira‖, ―jaqueira‖, ―graviola‖, ―castanhola‖, ―laranjeira‖ e


outras.
Na culminância do trabalho refletia-se com os alunos a respeito dos principais
problemas ambientais que repercutem na redução da biodiversidade deste lugar: as práticas de
queimadas e derrubadas da vegetação nativa para dar lugar a lavouras comerciais e de subsistência
ou para a criação de pastagens; a caça a animais silvestres; o simples ato de jogar sacolas plásticas,
garrafas pet e demais resíduos sólidos em riachos ou beiras de estradas, interferem diretamente no
equilíbrio ecológico e na sobrevivência das diversas espécies nativas da região. Ao mesmo tempo,
atribuía-se ao discurso um caráter educativo onde eram demonstrados aos alunos atitudes simples
no cotidiano que contribuem para a preservação da biodiversidade e do meio ambiente em escala
local e global; tais como, jogar lixo em lugares adequados, evitar a criação de animais silvestres ou
a compra de artigos produzidos a partir dos mesmos, plantar árvores (de preferência nativas da
região), andar de bicicleta, economizar energia elétrica. Desta forma, os alunos ganham mais
conhecimento e respeito ao meio ambiente, tomando para si a responsabilidade, como cidadãos, de
proteger o planeta e os demais seres vivos que o habitam, pois conforme afirmam Wanderley e
Lemos:

Toda a natureza funciona em ecossistemas, ou seja, em conjuntos ligados a determinados lugares. No


entanto, o homem precisa tomar conhecimento, de uma vez por todas, que está bem no centro dos equilíbrios ecológicos
e desequilíbrios tecnológicos e que a decadência dos conjuntos ecológicos também contribui para a decadência da raça
humana, de sua saúde, inteligência e vigor (WANDERLEY e LEMOS, 2007, pp. 69-70).

Mediante essa constatação, tornou-se evidente a importância da educação como


elemento indispensável para a formação/transformação da consciência ambiental dos nossos jovens,
a partir do conhecimento do meio, ou seja, da biodiversidade local.

Considerações finais

Os problemas ambientais que ameaçam o equilíbrio natural do planeta precisam ser


combatidos e amenizados para que se possa garantir a sobrevivência da diversidade existente no
nosso planeta. A educação ambiental trabalhada no cotidiano escolar representa uma forma de
ensinar os alunos que a preservação do planeta, bem como a diversidade biológica existente no
mesmo, é um dever de todos nós/cidadãos.
O estudo da diversidade biológica no município de Sertãozinho possibilitou um
conhecimento mais detalhado sobre as espécies animais e vegetais e os problemas ambientais que
os alunos, às vezes, se deparavam em seu cotidiano, mas que nunca teriam prestado atenção na
importância de seu estudo e sua preservação.
Do ponto de vista educativo, o trabalho possibilitou o desenvolvimento da
conscientização ecológica nos alunos ao aliar o conhecimento teórico com o prático no estudo do
meio, do qual o educando está habituado. Desta forma, os conhecimentos educativos ganharam
mais significado e os alunos sentiram-se mais motivados e interessados por temas relacionados ao
meio ambiente, principalmente no espaço sócio/natural em que os mesmos estão inseridos.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 227

FITOINDICAÇÃO E FENOLOGIA: POTENCIAL DE Clitoria


fairchildiana HOWARD (LEGUMINOSAE) EM AMBIENTES
URBANOS E DE MATA

Heloísa Thaís Rodrigues de SOUZA


Engenheira Florestal pela Universidade Federal de Sergipe, mestranda em Desenvolvimento e Meio
Ambiente pelo Prodema/UFS, membro do Geoplan - Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial
heloisathais@hotmail.com
Vinícius Silva REIS
Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Sergipe, membro do Geoplan - Grupo de
Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial
vinicius_bioufs@yahoo.com.br;
Micheline Cordeiro GOES
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe
michelinegoes@hotmail.com.
Rosemeri MELO e SOUZA
Professora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, do Núcleo de Pós-
Graduação em Geografia – NPGEO/UFS (Mestrado e Doutorado) e do Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente – Prodema/UFS (Mestrado e Doutorado). Líder do GEOPLAN - Grupo de Pesquisa
em Geoecologia e Planejamento Territorial/UFS – Universidade Federal de Sergipe, Av. Marechal Rondom s/n, 49100-
000, São Cristóvão – Sergipe, Brasil
rome@ufs.br

RESUMO
Há a necessidade da criação de estratégias de conservação e monitoramento de áreas
protegidas e remanescentes florestais. Nos últimos anos os indicadores ambientais e ecológicos vêm
sendo usados para monitorar as condições do ambiente. O objetivo desse trabalho é estabelecer
espécies vegetais que possam servir como indicadoras de mudanças ambientais em fragmentos
florestais e áreas urbanas através do estudo da sua fenologia. Para isso foi selecionado o Refúgio de
Vida Silvestre Mata do Junco. A lista de espécies arbóreas desse fragmento florestal de Mata
Atlântica foi então comparada com uma lista de espécies usadas na arborização da cidade de
Aracaju. A espécie em comum foi Clitoria fairchildiana, que teve sua fenologia observada nos
ambientes urbano e de mata. C. fairchildiana apresentou diferentes respostas fenológicas nas
diferentes populações estudadas, o que confere a essa espécie potencial para ser utilizada em
estudos de fitoindicação.
PALAVRAS-CHAVE: Fitoindicação, Clitoria fairchildiana, Mata Atlântica, Arborização.

ABSTRACT
There is the necessity to develop strategies of conservation and monitoring of protected
areas and forest remains. During the last years environmental and ecological indicators have been
used to monitor environmental conditions. This paper aims to establish plant species able to act as
indicators of environmental changes in forest patches and urban areas through the study of their
phenology. For this the Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco was selected. Then list of tree
species of this Atlantic rain forest patch was compared with a list with the most used species for tree
cover in Aracaju. The common species between the two lists was Clitoria fairchildiana and its
phenology was observed in forest and urban environments. C. fairchildiana showed different
phenological answers trhoughtout the studied populations, what gives to this species potential t be
used on phytoindication researches.
KEYWORDS: Phytoindication, Clitoria fairchildiana, Atlantic rain forest, tree cover.

INTRODUÇÃO
1. Indicadores Ambientais
A humanidade recorre a indicadores desde a antiguidade para poder entender o estado atual
da natureza ou para prognosticar eventos futuros. Desde muito cedo sociedades primitivas usaram
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 228

indicadores como migração sazonal de animais ou período de floração de plantas para obter
informações sobre mudanças no ambiente. O interesse no uso de indicadores ecológicos aumentou
nos últimos 40 anos, acompanhando a necessidade crescente do desenvolvimento de estratégias de
conservação e restauração dos ecossistemas (Niemi et al., 2004).
Segundo Magalhães-Junior (2007), indicadores são informações de caráter quantitativo
resultantes do cruzamento de variáveis primárias. São modelos simplificados da realidade, com a
capacidade de facilitar a compreensão dos fenômenos, de aumentar a capacidade de comunicação
de dados brutos e de adaptar as informações à linguagem e aos interesses locais dos decisores.
Uma concepção ainda mais ampla de indicador ecológico é a de que eles são características
mensuráveis da estrutura, composição e função dos sistemas ecológicos (Niemi et al., 2004). Os
indicadores ecológicos podem medir as respostas do ambiente tanto em relação a fatores de estresse
natural (ex., fogo) ou antrópicos (ex., poluição), porém no caso da avaliação das respostas por
fatores antrópicos, os indicadores ecológicos não se preocupariam necessariamente com a
identificação desses fatores (U. S. Environmental Protection Agency , 2002).
Os indicadores ecológicos podem servir para avaliar a condição do ambiente ou monitorar
tendências nessa condição ao longo do tempo. Eles podem prever mudanças ambientais,
diagnosticar a causa do problema ambiental (Dale e Beyeler, 2001), apontar ações de conservação
ou ainda, se monitorado ao longo do tempo, podem servir para identificar mudanças ou tendências
nos próprios indicadores (Niemi et al., 2004).
A escolha de um bom indicador depende do objetivo que se quer alcançar e o que se quer
descobrir no ambiente em questão, sendo assim então selecionada uma característica chave para que
sirva de indicador.
2. Fitoindicação , Fenologia e Mudanças Ambientais.
Os organismos se adaptam ao ambiente físico no sentido de tolerá-lo e utilizam as
periodicidades naturais do ambiente para ―programar‖ suas histórias vitais a fim de aproveitarem as
condições favoráveis. Entre as plantas superiores, algumas espécies florescem enquanto o
fotoperíodo está aumentando, sendo denominadas plantas de dia longo e outras que florescem nos
dias em que a luminosidade dura menos que 12 horas, e são denominadas de plantas de dias curtos
(Odum, 1988).
Lieth (1974), afirma que fenologia é o estudo da ocorrência de eventos biológicos
repetitivos, das causas de sua ocorrência em relação aos fatores bióticos e abióticos, e das inter-
relações entre as fases caracterizadas por esses eventos, para uma ou mais espécies (apud Nunes,
2005), funcionando assim como indicadores das condições climáticas e edáficas de uma região
(Fournier, 1974), e fornecendo embasamento para o entendimento do papel dos fatores ambientais
no desenvolvimento das plantas, inibindo ou desencadeando fenofases específicas.
O conhecimento da fenologia é baseado nas observações de estágios de desenvolvimento
extremamente visíveis (fenofases), como por exemplo a germinação das sementes, emergência das
gemas, desenvolvimento das folhas, floração, descoloração das folhas e senescência das herbáceas
(Larcher, 2004).
Nesse contexto, a fenologia das plantas, sendo caracterizada por eventos que respondem a
fatores ambientais, pode ser utilizada como indicador de mudanças no ambiente. No caso das
árvores de ambientes urbanos, segundo Troppmair (2002), fenômenos fenológicos como
germinação, floração e frutificação são acelerados em conseqüência das temperaturas mais altas
características de ambientes urbanos.
Então, o objetivo deste trabalho é de estabelecer espécies fitoindicadoras nos sistemas
ambientais de floresta decídua secundária e em áreas verdes urbanas para a construção de
indicadores de mudanças ambientais rápidas. Para isso foi os processos fenológicos das espécies
arbóreas de mata e de áreas urbanas foram investigados a fim de serem estabelecidas diferenças e
semelhanças.
Esses resultados podem ser utilizados para a averiguação da qualidade de vida nos centros
urbanos e também para indicar o grau de conservação do fragmento de mata onde aquela espécie foi
encontrada.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 229

Material e Métodos
O fragmento florestal escolhido para este estudo foi o Refúgio de Vida Silvestre Mata do
Junco (Mata do Junco), localizado no município de Capela, Sergipe, por ser uma área que vem
sendo foco de estudos nos últimos anos e também por ser um fragmento de Mata Atlântica, bioma
que tem um grande histórico de devastação. A Mata do Junco é um fragmento de mata atlântica de
grande expressividade em Sergipe, caracterizando-se como um importante resquício desse
ecossistema no estado. Situada a 86 km da capital, abriga uma variedade de espécies vegetais e
animais, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção como o macaco guigó (Callicebus
coimbrai) e é um fragmento constituído de manchas que possuem estratos arbóreos distintos,
principalmente devido à diferença de intensidade da ação antrópica (Souza et al., 2009).
Uma lista foi então confeccionada com espécies arbóreas que já eram conhecidas nesse
fragmento florestal fruto de levantamentos florísticos e fitossociológicos de pesquisas anteriores
(Souza, 2006). Para a seleção de espécies que pudessem ser usadas em estudos de fitoindicação,
essa primeira lista foi comparada com outra na qual constava um levantamento das espécies usadas
na arborização da cidade de Aracaju (Resende et al., 2009).
A espécie então escolhida foi Clitoria fairchildiana R. A. Howard, da família
Leguminosae, da subfamília Faboideae. É característica de formações secundárias da floresta
pluvial amazônica e sua ocorrência primária abrange os estados do Amazonas, Pará, Maranhão e
Tocantins. Largamente utilizada para arborização principalmente nas regiões Norte e Sudeste, pois
proporciona bom sombreamento e suas flores possuem potencial ornamental. Floresce durante o
verão, prolongando-se até abril ou maio, a depender da região; os frutos amadurecem em maio e
junho, quando começa a queda das folhas (Lorenzi, 1998).
Foi feita então uma ida à Mata do Junco para localizar os indivíduos de Clitoria
fairchildiana, e observar a presença de lianas, epífitas e líquens nos indivíduos e a presença de
serrapilheira no solo. Como essa espécie não é nativa da Mata Atlântica, foram encontrados apenas
cinco indivíduos, localizados na borda da mata, provavelmente em decorrência de ação antrópica.
Clitoria fairchildiana é um das cinco espécies mais predominantes na arborização da
cidade de Aracaju, somando 9,5% do total de espécies (Resende et al., 2009). Portanto, na escolha
dos indivíduos a serem observados na cidade de Aracaju, foram selecionadas populações que
estivessem em número mínimo de cinco indivíduos numa mesma área (Fournier e Charpantier,
1975).
Sendo válido ressaltar que quando a palavra população for usada ao longo deste artigo, ela
refere-se à amostra populacional, um número de indivíduos de C. fairchildiana que foi tomada
como amostra para o estudo, não sendo o reconhecimento de populações o objetivo deste trabalho.
A observação da fenologia de C. fairchildiana foi feita segundo Fournier (1974), usando o
método semi-quantitativo, no qual a fenofase é quantificada visualmente e então é atribuído um
número de 0 (zero) a 4 (quatro), onde zero é a ausência da fenofase e cada um dos outros números
representa um intervalo de classe de 25%. Essa metodologia fornece em porcentagem o índice de
intensidade de Fournier, que mostra a intensidade com que a população está manifestando certa
fenofase. Com esses mesmos dados pode ser avaliada também qualitativamente a fenofase, através
da quantidade de indivíduos que apresentaram uma certa fenofase naquela população (zero
representando a ausência da fenofase e qualquer um dos outros números a presença da fenofase),
sendo possível o cálculo do índice de atividade, que revela a quantidade de indivíduos que
apresentam aquela fenofase. Optou-se pelo uso de ambos os métodos por que cada um deles fornece
informações diferentes e complementares sobre a fenologia da espécie (Bencke e Morellato, 2002).
Para essas observações foi confeccionada uma tabela de observação fenológica onde as
características observadas puderam ser descritas. As fenofases observadas foram a queda foliar, a
frutificação, a floração e a emissão foliar.
Para a queda foliar foram observadas as folhas amarelas que os indivíduos possuíam, os
galhos que porventura estivessem sem folhas e ainda as folhas que estavam no chão da floresta. A
frutificação foi avaliada através da observação do total de frutos presentes na árvore, ressaltando
nas observações a presença de frutos verdes e ou maduros. A quantificação da floração se seguiu de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 230

modo análogo, o total de flores foi quantificado, porém foram feitas anotações sobre a presença de
botões florais e flores abertas (antese). A emissão foliar foi quantificada observando os botões
foliares e todas as folhas que aparentavam ser jovens em toda a copa da árvore.
Tanto nos indivíduos usados na arborização quanto naqueles observados na Mata do Junco
foi observada a incidência luminosa. Na mata foi observada se a incidência de luz era direta,
indireta ou se o indivíduo permanecia sombreado a maior parte do tempo. Nos indivíduos usados na
arborização, além da luminosidade, foi feita também uma análise de características chave do
ambiente urbano que poderiam interferir na fenologia da espécie, como por exemplo, o modo como
os indivíduos estavam arranjados no contexto da arborização (arranjo arbóreo) e o nível de
adensamento das edificações que circundavam a população em estudo.
Ainda foram medidas as circunferências à altura do peito (CAP) do indivíduo mais
desenvolvido e depois calculado o diâmetro à altura do peito (DAP) nas populações urbanas e
florestais de C. fairchildiana, bem como observadas as condições fitossanitárias dos indivíduos,
para que indivíduos doentes não fossem escolhidos para a observação da fenologia.
Resultados e Discussão
Foram realizadas duas saídas a campo, ambas no mês de novembro, uma para observação
dos indivíduos de Clitoria fairchildiana no Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco (Mata do
Junco) e outra para a observação dos indivíduos da mesma espécie usados na arborização da cidade
de Aracaju. As saídas de campo foram feitas nos dias 10 de novembro de 2009 e para a observação
dos indivíduos na Mata do Junco e 20 de novembro de 2009 para a observação das fenofases das
populações selecionadas.
Na cidade de Aracaju, foi escolhida a população de Clitoria fairchildiana usada na
arborização do canteiro central da Avenida Adélia Franco. Essa população foi escolhida por estar
submetida a condições climáticas bem características do clima urbano. Os resultados das
observações foram tabulados e transformados em gráficos que demonstram tanto o índice de
atividade quanto o índice de intensidade das fenofases.
Na Mata do Junco foram amostrados cinco indivíduos de Clitoria fairchildiana (n=5), que
se localizavam na borda do fragmento florestal, próximas entre si e recebiam influência direta da
luminosidade solar. Apenas dois indivíduos apresentavam lianas aderidas aos galhos e mesmo
assim não estavam em tamanho ou quantidade consideráveis.
As lianas são características de florestas tropicais e possuem papel benéfico na sua
dinâmica e regeneração e são indesejáveis quando passam a estar presentes em quantidades
exageradas, sendo esse apenas um indicativo da perda de sustentabilidade e não a causa, que
geralmente é de origem antrópica (Engel, 1998). Todos os indivíduos apresentavam liquens
aderidos ao tronco e galhos, o que pode refletir a boa qualidade do ar na área de estudo (Troppmair,
2002).
Os indivíduos possuíam o mesmo porte, sendo o maior diâmetro à altura do peito
registrada de 0,43 m e o menor de 0,24 m. O quinto indivíduo amostrado foi o que mais diferiu na
amostra, aparentava ser o mais velho, tinha a copa mais densa e arredondada. A serrapilheira ao
redor era mais abundante, bem como a presença de plântulas e de pteridófitas. A presença destas
últimas pode estar associada à proximidade com uma canaleta por onde escorre água da chuva.
A população de Clitoria fairchildiana da Mata do Junco não manifestou nenhuma das
fenofases observadas de maneira expressiva (Figura 1), sendo que o percentual de flores e frutos foi
nulo. A queda e a emissão de folhas foram pouco intensas, sendo que o índice de atividade da queda
foliar foi maior comparado ao das outras fenofases, o que significa que mais indivíduos estavam
apresentando esta fenofase.
QF EF FL FR
I.F. 10% 5% 0% 0%
I.A. 40% 20% 0% 0%
Tabela 1. Índices de Atividade (I.A.) e de Intensidade de Fournier (I.F.) registrados para a
população de Clitoria fairchildiana (n=5) no Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco, município
de Capela, em 10 de novembro de 2009. QF=Queda foliar; EF=Emissão foliar; FR=Frutificação;
FL=Floração.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 231

O fato de os indivíduos amostrados na Mata do Junco não ter manifestado a fenofase de


floração pode estar relacionado com o fato de eles não serem nativos da Mata Atlântica nordestina,
estando essa população submetida a fatores climáticos e pedológicos diferentes.
A ocorrência da fenofase de floração está freqüentemente associada a fatores abióticos
(e.g. fotoperíodo, temperatura, umidade). Tais fatores podem limitar a época de floração
diretamente, afetando a capacidade da planta de produzir flores, ou indiretamente, afetando os
agentes dispersores de pólen. (Rathcke e Lacey, 1985).
A Avenida Adélia Franco é uma das mais movimentadas de Aracaju, sendo intenso o fluxo
de automóveis durante todo o dia. A estrutura urbana da avenida é formada por asfalto com seu
percentual de reflexão da radiação solar mínimo, construções e prédios que além de aumentar a
superfície de absorção da radiação levam ao aumento da temperatura nesta área como também
modificam a circulação dos ventos e ajudam a impedir a dissipação dos poluentes influenciando o
microclima local.
Foram amostrados nove indivíduos (n=9) pertencentes ao canteiro central da avenida,
todos bem expostos a fatores como alta luminosidade solar e calor. Apenas um indivíduo não
apresentava liquens, sendo que todos os outros apresentavam em pequena quantidade. No canteiro,
além dos indivíduos de Clitoria fairchildiana amostrados, estavam presentes também alguns
indivíduos de Pithecelobium glaziovii (mata-fome) entre os indivíduos de C. fairchildiana. Nessa
amostra populacional era perceptível que o arranjo arbóreo dos indivíduos proporcionava uma
maior exposição a fatores como calor, poluição e luminosidade solar, pois as árvores estavam
distantes entre si, de modo que as copas não proporcionavam um canteiro sombreado.
Nesta população, houve alta sincronia entre os indivíduos em todas as fenofases (Tabela
2), sendo o menor índice de atividade registrado de sessenta e sete por cento na frutificação. A
fenofase queda foliar apresentou o maior índice de atividade registrado, sendo manifestada em
quase noventa por cento dos indivíduos, apesar da pouca intensidade. A emissão foliar e a floração
foram manifestadas por quase oitenta por cento dos indivíduos, apesar da baixa intensidade
manifestada por ambas as fenofases. Nessa população, frutificação também manifestou o menor dos
índices de intensidade.
QF EF FL FR
I.F. 30,5% 19% 22% 17%
I.A. 89% 78% 78% 67%
Tabela 2. Índices de Atividade (I.A.) e de Intensidade de Fournier (I.F.) da amostra
populacional de Clitoria fairchildiana (n=9) no canteiro central da Avenida Adélia Franco, Aracaju,
em 21 de novembro de 2009. QF=Queda foliar; EF=Emissão foliar; FR=Frutificação; FL=Floração.
Os altos picos de atividade observados nessa população podem estar relacionados com
características endógenas e com fatores abióticos que atuam sobre a fisiologia dos indivíduos dessa
população, determinando ou restringindo o período de ocorrência da fenofase (Bencke e Morellato,
2002). O alto índice de emissão de folhas provavelmente é uma resposta aos também altos índices
de queda foliar, fazendo parte de um processo natural de regeneração.
Considerações Finais
A população de C. fairchildiana amostrada na Avenida Adélia Franco teve suas
fenofases exibidas em um maior número de indivíduos e com uma maior intensidade o que pode ser
explicado pelo fato de os indivíduos estarem mais expostos a condições características do ambiente
urbano como poluição, luminosidade e temperaturas mais elevadas. Já na Mata do Junco, fatores
como disponibilidade de polinizadores, consequências do efeito de borda e o fato de a espécie não
ser nativa podem ter influenciado a fenologia da espécie.
Foi possível observar que houve grandes diferenças nas manifestações fenológicas das
populações amostradas nos diferentes ambientes, fato que colabora para que Clitoria fairchildiana
possa vir a ser usada como espécie fitoindicadora de mudanças ambientais.
O desenvolvimento de pesquisas na área de fitoindicação faz-se importante devido à
urgência de criação de estratégias de monitoramento que forneçam dados sobre o status de
conservação de remanescentes florestais alertando a sociedade sobre o uso insustentável dos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 232

recursos naturais e ameaças à biodiversidade, bem como favorecendo a manutenção da qualidade de


vida em áreas urbanas.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 233

ILHAS DE REFÚGIO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO:


PLANALTO SEDIMENTAR DA IBIAPABA

Livânia Norberta de OLIVEIRA


Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente. PRODEMA-UFPI
livaniageo@hotmail.com
Laryssa Sheydder de Oliveira LOPES
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente. PRODEMA/UFPI
sheydder@yahoo.com.br

RESUMO
O sertão do Nordeste brasileiro reside num compacto feixe de atributos: climáticos,
hidrológico e ecológico, centrados no clima semi-árido regional, muito quente e sazonalmente seco
que compromete os viventes dos sertões. Nesta região também encontramos os ―brejos de altitude‖
que são encraves da Mata Atlântica, considerada uma das 25 prioridades mundiais para a
conservação da biodiversidade. A existência destas ilhas de floresta está associada à ocorrência de
planaltos e chapadas entre 500 e 1000 m de altitude como a Borborema, a Chapada do Araripe, a
Chapada de Ibiapaba, onde as chuvas orográficas garantem níveis de precipitação superiores a 1200
mm/ano, formando ilhas de floresta úmida em plena região semi-árida cercadas por vegetação de
caatinga, tendo uma condição climática bastante atípica com relação à umidade, temperatura e
vegetação. O Planalto Sedimentar da Ibiapaba enquadra-se nestas características, e considerando
brejos de altitude como uma ―ilha de refúgio‖ no semi-árido brasileiro, o manejo inadequado da
terra pela população por meio de técnicas tradicionais, reduz a produtividade e compromete a
qualidade do ambiente. Com isso o presente trabalho utilizando-se de referencial teórico aliado à
pesquisa de campo objetiva apresentar as características deste Planalto utilizando este referencial.
PALAVRAS-CHAVES: Semi-árido. Brejos de altitude. Ilhas de refúgio.

ABSTRACT
The countryside of the Brazilian Northeast is a compact bundle of attributes: climatic,
hydrological, and ecological. It is focused on the semi-arid regional, very hot and seasonally dry
compromising the living of the hinterlands. In this region, we also find the "swamps of altitude"
which are enclaves of the Atlantic Forest, considered one of the 25 global priorities for biodiversity
conservation. The existence of these islands of forest are associated with the occurrence of plains
and plateaus between 500 and 1000 m altitude as the Borborema, the Chapada of Araripe, and the
Chapada of Ibiapaba, where orographic precipitation guarantee exceeding 1200 mm per year
forming islands of rainforest in the middle of the semi-arid area surrounded by savanna vegetation,
with a very unusual weather conditions related to humidity, temperature and vegetation. The
Plateau of Sedimentary Ibiapaba fits these characteristics, and considering the altitude marshes as
an island of refuge in the semi-arid region, the improper management of land by the population
through traditional techniques, reduces productivity and jeopardizes the quality of environment.
Thus, the present work using the theoretical combined with field research aimed at presenting the
characteristics of this plateau making use of this reference.
KEYWORDS: Semi-arid. Wetlands altitude. Islands of refuge.

INTRODUÇÃO
No Brasil podem ser destacadas inúmeras áreas que apresentam elevados índices de
degradação ambientais nos mais diferentes domínios morfoclimáticos. Na região Nordeste
encontra-se o Domínio das Depressões Interplanálticas Semi-áridas (AB‘SABER, 2003), que dispõe
de um limitado potencial produtivo em decorrência da semi-aridez, apresentando áreas de
vulnerabilidade ambiental extremamente elevada, podendo-se constatar até a presença de ambientes
em processo de desertificação. O semi-árido brasileiro abrange cerca de 18% do território nacional,
abrigando 29% da população do país (BASTOS,2005).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 234

A originalidade dos sertões no Nordeste brasileiro reside num compacto feixe de atributos:
climáticos, hidrológico e ecológico, centrados no clima semi-árido regional, muito quente e
sazonalmente seco que compromete os viventes dos sertões. No Nordeste também encontramos os
―brejos de altitude‖ que são encraves da Mata Atlântica, formando ilhas de floresta úmida em plena
região semi-árida cercadas por vegetação de caatinga, tendo uma condição climática bastante
atípica com relação à umidade, temperatura e vegetação (Tabarelli & Santos, 2004).
O Planalto Sedimentar da Ibiapaba enquadra-se nestas características, e considerando
brejos de altitude como uma ilha de refúgio, o presente trabalho utilizando-se de referencial teórico
aliado à pesquisa de campo objetiva apresentar as características deste Planalto utilizando este
referencial.

BREJOS DE ALTITUDE E/OU SERRAS ÚMIDAS NO NORDESTE BRASILEIRO

A floresta Atlântica brasileira é uma das 25 prioridades mundiais para a conservação da


biodiversidade, abrigando cerca de 20.000 espécies de plantas vasculares, sendo 8.000 endêmicas.
Parte da Floresta Atlântica brasileira é composta pelos brejos de altitude 3/4 ―ilhas‖ de floresta
estacional semidecidual montana estabelecidas nos domínios da caatinga onde a precipitação média
anual varia entre 240 - 900 mm. A existência destas ilhas de floresta está associada à ocorrência de
planaltos e chapadas entre 500 e 1000 m de altitude como a Borborema, a Chapada do Araripe, a
Chapada de Ibiapaba, onde as chuvas orográficas garantem níveis de precipitação superiores a 1200
mm/ano (figura 01).

Figura 01: Perfil esquemático dos brejos de altitude no Nordeste do Brasil.


Fonte: Tabarelli & Santos, 2004

A literatura refere-se à existência de 43 brejos de altitude (figura 02), distribuídos nos


estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, cobrindo uma área original de
aproximadamente 18.500 km2 (Tabarelli & Santos,2004).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 235

Figura 2: Área de distribuição original da floresta Atlântica nordestina


Fonte: Tabarelli & Santos (2004)

A hipótese mais aceita sobre a origem vegetacional dos brejos de altitude está associada às
variações climáticas ocorridas durante o Pleistoceno (últimos dois milhões – dez mil anos), as quais
permitiram que a floresta Atlântica penetrasse nos domínios da caatinga. Ao retornar a sua
distribuição original, após períodos interglaciais, ilhas de floresta Atlântica permaneceram em
locais de microclima favorável (Tabarelli;Santos,2004).
O estado do Ceará é revestido na sua quase totalidade por caatinga (92%), porém apresenta
um conjunto soberbo de ilhas de florestas úmidas, totalizando-se em nove situadas nas vertentes da
chapada do Araripe e planalto da Ibiapaba, sobre as serras (cristalinas) das Matas, do Machado, de
Aratanha, Maranguape, Meruoca, Uruburetama e Baturité. Estas serras úmidas favorecem a uma
maior produção agrícola e concentração demográfica, por apresentarem melhores condições edafo-
climáticas que as encontradas na semi-aridez das depressões sertanejas (CAVALCANTE, 2005).
Daí a importância desenvolver um uso sustentável destas áreas pela geração presente, como meio de
conservá-la para as futuras.

CARACTERÍSTICAS GEOAMBIENTAIS DA IBIAPABA


O Planalto da Bacia Sedimentar do Piauí-Maranhão atualmente recebe o nome de Planalto
Ibiapaba se inicia a 40 km do litoral cearense estendendo-se de norte a sul em sua porção oriental,
limitando-se com o estado do Piauí. Apresenta latitude de 3° 51‘ 12‖ S e longitude de 41° 5‘ 10‖ W,
com 110 km de serra e altitudes que variam de 800 a 1.100m. Nos períodos quentes do ano, quando
todo o Nordeste está em torno de 34 a 40 graus, a Ibiapaba se refastela com uma temperatura que é
a metade a menos daquelas. Fazem parte da Chapada de Ibiapaba as cidades de Viçosa do Ceará,
Ipu, Guaraciaba do Norte, Carnaubal, São Benedito, Ibiapina, Ubajara e Tianguá. De acesso fácil,
as cidade são todas interligadas por rodovias asfaltadas e próximas, umas das outras.
O Planalto Sedimentar da Ibiapaba compreende a área abrangida pela porção oriental da
Bacia Sedimentar do Parnaíba. Esta unidade geomorfológica é composta de rochas sedimentares da
Formação Serra Grande (Siluro-Devoniano) com litologia arenítica. Constitui-se um planalto
sedimentar do tipo cuestiforme. O relevo é dessimétrico constituído por uma sucessão alternada das
camadas com diferentes resistências ao desgaste e que se inclinam numa direção, formando um
declive suave no reverso, e um corte abrupto ou íngreme na chamada frente de cuesta (GUERRA,
2001). No Front da cuesta constata-se a presença de sulcos profundos por conseqüência da ação
erosiva dos cursos d‘água do tipo obsequentes originando os festões (figura 03).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 236

Figura 03: Relevo cuestiforme da Ibiapaba, com presença de festões no front


Fonte: Norberta, 2006

O relevo da cuesta da Ibiapaba apresenta dobramento sob controle de pacotes sedimentares


que geram um rebaixamento gradual por erosão até o rio Parnaíba. As altitudes variam de 300m no
sul a 800m no reverso imediato da Ibiapaba, com uma inclinação aproximada entre 11 e 8º
decrescendo rumo ao centro da bacia (RADAM BRASIL, 1973), evidenciando sulcos por
conseqüência da incisão dos cursos d‘águas de padrão do tipo conseqüente que correm segundo a
inclinação da camada (figura 04).
Segundo classificação de Köppen o clima nesta região é o Amw (tropical chuvoso de
monção) com a temperatura oscilando entre 19ºC e 30ºC e a precipitação média de 640 mm/ano,
com período chuvoso concentrando-se entre os meses de janeiro a maio, e o período seco
geralmente estendendo-se de julho a novembro (XAVIER, MAIA, OLIVEIRA et al, 2006).
Os solos dominantes são os Latossolos vermelho-amarelo e Areias Quartzosas (Neossolos
Quartzarênicos) e ainda ocorrência de Litólicos (Neossolo Litólicos) e Concrecionários Lateríticos
(RADAM BRASIL, 1973).
O Planalto Sedimentar da Ibiapaba dada as características topográficas e conseqüentemente
climáticas, enquadra-se na Teoria dos Refúgios defendida por Ab‘ Saber e Vanzolini na década de
70. Esta teoria pressupõe a ocorrência de oscilações climáticas, períodos de glaciações e
interglaciações. Nos períodos de glaciação nas regiões tropicais teria havido uma redução do índice
pluviométrico, com conseqüente redução da cobertura vegetal, e durante os períodos interglaciais as
áreas florestadas teriam se expandido. Portanto, durante as glaciações determinadas espécies de
animais teriam se refugiado nas áreas mais elevadas, conhecidas como brejos de altitude ou ainda
serras úmidas, com predomínio de Mata pluvio–nebular e de caatinga arbustiva, áreas estas,
propícias à existência da vida.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 237

Figura 4: Relevo cuestiforme da Ibiapaba


Fonte: Norberta, 2006

Segundo IBGE (1996) refúgio ecológico é toda e qualquer vegetação floristicamente


diferente do contexto geral da flora da região. Muitas vezes constitui uma vegetação relíquia.
De acordo com Rivas (1996) a fragilidade do ambiente varia de moderadamente instável à
ambiente estável devido a causas naturais como a erosividade e em especial a declividade, e a
causas antrópicas como o desmatamento para atividades agrícolas (cultivos de maracujá, chuchu,
banana, mamona, caju, etc.), o uso do solo para a pecuária, atividade que favorece o pisoteio, a
compactação do solo, acentuando, portanto, os processos erosivos e ainda para a introdução de
equipamentos urbanos.
Segundo Lins apud Tabarelli & Santos (2004) a população dos brejos é distribuída de
forma desproporcional entre proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes, sendo, em sua
maioria, constituída por analfabetos ou semi-analfabetos que manejam a terra por meio de técnicas
tradicionais, reduzindo a produtividade e comprometendo a qualidade do ambiente.

CONCLUSÃO

O Planalto Sedimentar da Ibiapaba, localizado em meio ao sertão nordestino se caracteriza


como uma ―ilha de refúgio‖ para a fauna e para os sertanejos que buscam se refugiar da extensa
estação seca do semi-árido. Apesar de importantes do ponto de vista da conservação da
biodiversidade, o atual ritmo de degradação pode levar os brejos ao completo desaparecimento em
um futuro muito próximo. Daí fazer-se necessário o estabelecimento de políticas capazes de reduzir
fortemente a probabilidade de extinção de espécies e garantir a manutenção dos ―serviços
ambientais‖ prestados pelos brejos de altitude às populações humanas de maneira sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA
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em: http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em: Outubro de 2006.
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XAVIER, Francisco Alisson da Silva; MAIA, Stoécio Malta Ferreira; OLIVEIRA,
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http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em: Outubro de 2006.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 239

LEVANTAMENTO DA VEGETAÇÃO REMANESCENTE NAS


ÁREAS ATINGIDAS PELA PCH- GOIANDIRA (GO)

Núbia Alves Mariano Teixeira PIRES1


Mestranda em geografia. Universidade Federal de Goiás – campus Catalão
Maria Inês Cruzeiro MORENO2
Doutora, professora adjunta. Universidade Federal de Goiás – campus Catalão. Departamento de biologia.
nubiamariano@hotmail.com

RESUMO
O estudo trata-se de um levantamento florístico complementado com os usos que podem
ser realizados com as espécies em questão. Foram encontradas até o momento 119 espécies
distribuídas em 43 famílias. Dentre os potenciais levantados, os usos para madeira, ornamental,
medicinal e fauna, tiveram representatividade de mais de 50 espécies. É interessante trabalhar com
as espécies do Cerrado, mostrando sua importância, como tentativa de minimizar os problemas
ambientais em relação à biodiversidade. E explorar a relação do homem com essa vegetação,
compreendendo melhor os usos e a importância dada para a vegetação.
PALVRAS- CHAVE: Biodiversidade, Cerrado, Vegetação.

ABSTRACT
The study treats about a floristic survey complemented with the use that can be made with
the species in question. The paper found until the moment one hundred species distributed in forty-
three families. Among the survey potential done, the uses for wood, ornamental, medical and the
animal conjuct, were represented for more than fifty species. It is interesting to work with Cerrado
species, showing your importance, trying to decrease the ambiental problems in relation to the
biodiversity. And it can explore the relation between the man and this vegetation, understanding
better the uses and the importance given to the vegetation.
KEYWORDS: Biodiversity, Cerrado, Vegetation

INTRODUÇÃO
A vegetação é importante para garantir a biodiversidade local, refletindo na conservação
ambiental global. Sendo assim, é necessário estudos de levantamento florístico, para que a
vegetação seja conhecida, não só nas literaturas, mas também pela população. Muitas espécies
vegetais do Cerrado têm seus usos conhecidos, mas no cotidiano poucas são utilizadas, e a maioria
das vezes os proprietários de terras, acabam vendo o Cerrado como um mato, que deve ser extraído
para a produção de grãos e pecuária.
O incentivo para a preservação do Cerrado é importante, visto que a cultura
estabelecida desde os primeiros processos de apropriação do Cerrado é expansionista, e visa à
retirada da cobertura vegetal nativa, para a implantação de produções mais rentáveis. Porém antes
mesmo deste inicio de desmatamento acelerado não foi estudado os benefícios que as plantas do
Cerrado podem prover. E assim, muitas espécies foram extintas, e outras estão à mercê da extinção,
por não ter sido dada a importância necessária as espécies.
Desta forma, o presente artigo objetivou conhecer a vegetação remanescente nas
propriedades onde foram implantada a PCH – Goiandira, de forma a compreender suas utilidades.

A importância da conservação da vegetação

Segundo Odum (1998), a conservação objetiva assegurar a preservação de um


ambiente de qualidade que garanta tanto as necessidades estéticas e de recreio como as de produto,
e também de assegurar uma produção contínua de plantas, animais e materiais úteis, mediante o
estabelecimento de um ciclo equilibrado de colheita e renovação.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 240

Para superar o problema da baixa diversidade de habitat sugere-se a necessidade de


se conservar fragmentos florestais ou amplas áreas de vegetação natural remanescente. Dentro de
uma área florestada para fins de ―produção‖, devem ser deixadas amplas manchas da vegetação
primitiva ocupando não apenas uma área de solo, mas abrangendo toda a gama possível de
condições ecológicas. Desta maneira, pode-se assegurar melhor a presença dos diferentes ecótipos
de uma população e os habitats necessários para as diferentes fases de vida de certos animais como
no caso dos anfíbios (POGGIANI ; OLIVEIRA, 1998).
As pesquisas sobre o modo como está organizada e distribuída à biodiversidade nas
comunidades do cerrado, são ainda reduzidas. Estas informações são necessárias para avaliar os
impactos decorrentes de atividades antrópicas, planejarem a criação de unidades de conservação e
para a adoção de técnicas de manejo (FELFILI ; FELFILI, 2001).
Dentro de uma ótica de utilização racional dos recursos naturais, existe premência
para que se desenvolvam esforços concentrados para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a
biodiversidade disponível, para determinar os potencias. Em termos gerais, no Brasil ocorrem
diversos tipos de plantas nativas que podem enriquecer o processo de utilização no
desenvolvimento agropecuário do país (VILELA- MORALES ; VALOIS, 2000).
O Brasil é um dos países mais ricos em diversidade biológica de plantas, animais e
microorganismos, além de possuir invejável acervo de recursos naturais edáficos, climáticos,
hídricos e de revestimento florístico. Acredita-se que o país possua cerca de 20% de toda a
biodiversidade existente no planeta, ao mesmo tempo que contém em torno de 19% dos solos
agriculturáveis do mundo. Trata-se de um país que ostenta os cinco principais domínios
vegetacionais implantados em seus 851 milhões de hectares, o quinto maior em extensão do globo
terrestre, onde somente para plantas o montante de 55 mil espécies, muitas delas endêmicas do país,
corresponde a cerca de 21% do total mundial catalogado. Isto eleva de sobremaneira a
responsabilidade nacional pela manutenção e uso sustentável desses recursos doados pela natureza,
principalmente para evitar a erosão genética ou mesmo a extinção de espécies que levaram séculos
para serem criadas e disponibilizadas para a população brasileira (VILELA- MORALES; VALOIS,
2000).
As atuais formas de uso e aproveitamento da terra são extremamente precárias e não
respeitam a complexidade desses delicados ecossistemas. Umas das alternativas que têm sido
apontadas para a resolução desses problemas é o estudo sobre o conhecimento e uso do que as
populações locais fazem dos recursos naturais e análise detalhada do impacto de suas atividades
sobre a biodiversidade (ALBURQUERQUE; ANDRADE, 2002).
A valoração econômica de recursos naturais pode atribuir valores aos benefícios
provenientes de bens e serviços que podem ser captados pelo mercado. Entre outros elementos,
podem ser destacados os benefícios gerados pela floresta pela sua capacidade de seqüestro de
carbono, contribuindo para a contenção do efeito-estufa, e preservação da biodiversidade (YOUNG;
FAUSTO, 1997).
Olimpio e Monteiro (2005) consideram o Cerrado o celeiro do Brasil, dada a sua
potencialidade agrícola na produção de alimentos e matérias-primas para a população. Os mesmos
autores questionam até que ponto os usuários dessa base produtiva têm tomado os necessários
cuidados, tendo em vista manter sua conservação para as gerações futuras. Destaca ainda a flora do
Cerrado, como a mais rica dentre as savanas do mundo, onde muitas espécies são utilizadas
localmente na alimentação (condimentares, aromatizantes e corantes), medicina, produção de
cortiça, fibras, mel, óleos, gorduras, tanino, artesanato e decoração.
Nessa perspectiva, Santos e Câmara (2002), acreditam que a perda acelerada de
riquezas naturais deve-se à exploração direta dos recursos naturais e à retirada da cobertura vegetal.
Reafirmam também que os impactos sobre os ecossistemas decorrem do processo de ocupação do
território, feito com o uso de práticas econômicas e sociais arcaicas, que são desenvolvidas
acreditando-se na inesgotabilidade dos recursos naturais.
Olimpio e Monteiro (2005), em seu trabalho discutem a necessidade de um método
de manejo e conservação, tendo como requisito básico a harmonia entre a exploração e a
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 241

conservação dos recursos naturais. Para tanto, faz-se necessária a utilização de métodos adequados
de manejo e conservação dos solos, tais como, manter o solo sob cobertura vegetal, incorporar
matéria orgânica (esterco animal, adubo verde, restos de culturas), reduzir ao máximo o tráfego de
máquinas pesadas no terreno, promover o controle biológico de pragas e doenças, além do uso do
Sistema de Plantio Direto (SPD). Ressaltam a implantação de programas ambientais, devido à falta
de conscientização acerca da necessidade de conservar os recursos naturais, associadas às precárias
condições em que vivem as populações rurais, são as principais causas e conseqüências dos
problemas ambientais mais comuns no Cerrado, tais como a degradação do solo, a contaminação
das águas (superficiais e subterrâneas), dos alimentos e do solo por resíduos químicos, as
queimadas, a redução da população de espécies da flora e da fauna.
Ferreira (2003) ressalta que o usuário dos recursos do Cerrado ainda não conseguiu
perceber a importância do mesmo, e não atribuiu valoração quanto à importância de sua
preservação, e acaba sendo incentivado pela ineficácia da fiscalização institucional. Falta, portanto,
a implantação de uma política educacional mais eficaz, com referência à preservação ambiental e do
patrimônio genético desse tipo vegetacional, bem como a estruturação de instituições de pesquisa
que visem o estudo para a preservação do Cerrado. Acredita-se que este processo de ocupação do
Cerrado deva ter limites definidos pelo equilíbrio global da região, utilizar de forma planejada os
recursos da região, combinando-se áreas nativas com cultivadas e manejadas segundo controles
específicos para a região.

Caracterização da área em estudo

A composição florística do Cerrado está entre as mais ricas dentre as savanas do


mundo, com uma estimativa próxima a 12.000 espécies vasculares. O Cerrado é reconhecido
internacionalmente como um dos 25 hotspots para a conservação em função da sua elevada
diversidade biológica sob ameaça da ocupação desordenada que já converteu mais de 50% da
vegetação natural em paisagens antropizadas (KLINK et al., 1995).
Os limites geográficos da região do cerrado reveste grande extensão dos Estados de
Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, parte do Mato Grosso, Oeste
da Bahia, Sul do Maranhão e Piauí, boa parte de São Paulo, com ramificações para Rondônia e
Paraná. Geograficamente a região do Cerrado situa-se em um local estratégico, pois que facilita o
intercâmbio florístico e faunístico do Cerrado, entre os biomas brasileiros. O Cerrado possui
formações florestais, savânicas e campestres, cada qual com diferentes tipos fitofisionômicos. As
formações florestais são: Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão, as formações
savânicas são: Cerrado Sentido Restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda; e as campestres:
Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre (RIBEIRO; VALTER, 2008).
O município de Goiandira (GO) tem como bioma o Cerrado, que é um dos cincos
grandes biomas do Brasil e ocorre como a principal vegetação na parte central do país. Goiandira
localiza-se ao Centro-Sul do Estado de Goiás, latitude 18º07‘54‘‘S, longitude 48º05‘06‘‘W a uma
altitude de 848m, distando 280km da capital, Goiânia (GO). A região é de fácil acesso através da
GO-210. O município possui uma área de 562,5km² e uma população de 4925 habitantes, com
densidade de 8,3 habitantes/km² sendo que a área urbanizada é de 0,368 km², e a área rural é de
562, 13km² (IBGE, 2007).
A área de abrangência desse estudo compreende as propriedades rurais atingidas pela
PCH- Goiandira localizadas na bacia hidrográfica do Rio Veríssimo (Figura 1), afluente pela
margem direita do rio Paranaíba. O rio Paranaíba, que por sua vez é tributário do rio Paraná, drena
uma área de aproximadamente 220.200 km2, constituindo uma bacia de importância, pois banha
território dos Estados de Goiás, Mato Grosso, além do Distrito Federal. Os seus mais destacados
afluentes situam-se no Estado de Goiás, rios São Marcos, Corumbá, Meia Ponte, dos Bois, Verde,
Claro, Corrente e Aporé. Enquanto pela margem esquerda rios Araguari e Tijuco. O estudo se aterá
ao Município de Goiandira, sendo que a área de implantação da PCH- Goiandira é de 3.278km².
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 242

Figura1- Bacia do Rio Veríssimo, 2006. Fonte: Adaptado do Centro


Tecnológico de Engenharia (2006) p. 5-3.

Levantamento florístico e dos potenciais das plantas do Cerrado

Por se tratar de um artigo que é parte de uma dissertação, até o momento foram
levantadas 119 espécies vegetais (Figura 2), distribuídas em 43 famílias, dentre elas as mais
representativas foram: FABACEA, cuja frequência foi 29,75%; APOCYNACEAE (9,52%);
BIGNONIACEAE (7,14%); MYRTACEAE E VOCHYSIACEAE (5,95%); as demais famílias
apresentaram freqüência abaixo de 5%, o que pode vir a indicar que as espécies que compõem a
área do estudo podem ser raras, ou mesmo que houve um intensivo processo de desmatamento.
Dentre os potenciais levantados (Figura 3), usos para madeira, ornamental, medicinal
e fauna, tiveram mais de 50 espécies. Os autores Albuquerque e Andrade (2002) desenvolveram um
trabalho que explora a relação planta/homem na caatinga no município de Alagoinha no Estado de
Pernambuco, com o objetivo de avaliar o conhecimento e aproveitamento dos recursos naturais da
região. Verificaram portanto, que a comunidade estudada identifica e usa 75 espécies pertencentes a
62 gêneros e 31 famílias. Destas, 48 plantas são usadas para fins medicinais, correspondendo a 64%
do total. E das mesmas 41,6% também foram indicadas para outras finalidades. As espécies que
fornecem madeiras para a comunidade estudada correspondem a 17,33% de todas as plantas
documentadas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 243

Figura 2: Levantamento das espécies vegetais nativas do Cerrado presentes nas áreas
atingidas pela PCH-Goiandira (Go).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 244

Pozo (1997), estudando a dinâmica extrativista do pequi (Caryocar brasiliense) no


cerrado do norte de Minas Gerais, procurou uma alternativa sócio-econômica para a exploração
desse bioma sem destruí-lo. Buscou também compreender a dinâmica social e econômica do
sistema extrativista dessa espécie que pudesse embasar ações voltadas ao desenvolvimento
sustentável daquela região
De acordo com Gomes (1998), no cerrado encontram-se muitas espécies de plantas
potencialmente úteis e viáveis para exploração econômica: alimentícias, oleaginosas, fibrosas,
forrageiras, frutíferas muito apreciadas, como pequi (Caryocar brasiliense Camb.), araticum
(Annona crassiflora Mart.), araçá (Psidium sp.), mangaba (Hancornia speciosa Gomez), murici
(Byrsonisa verbascifolia Rich.), coco buriti (Mauritia vinifera Mart.), macaúba (Acrocomia
aculeata Mart.) e centenas de espécies medicinais, das quais as populações locais fazem uso e que
contêm elevado potencial de cura das mais variadas doenças, dezenas delas já sendo extraídas em
larga escala para suprir a demanda de laboratórios farmacêuticos internacionais, como é o caso da
fava d‘anta (Dimorphandra sp.).

Figura 3. Levantamento das potencialidades da vegetação do Cerrado nas


áreas atingidas pela PCH- Goiandira (Go).

Acredita-se que a conservação da vegetação pode ser beneficiada, com os estudos


taxonômicos e etnobotânicos, onde o registro do uso das espécies do Cerrado pode contribuir para
um melhor manejo das áreas remanescentes.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 245

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 246

LEVANTAMENTO DE BORBOLETAS BIOINDICADORAS DE


QUALIDADE AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE AREIA,
PARAÍBA

Catarina de M. BANDEIRA
Bióloga, Doutoranda em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba, Laboratório de Entomologia, Campus
II, CEP: 58.397-000, Areia, Paraíba, Brasil. Fone: (83) 3362-2300, R.315.:
catmbio@hotmail.com
Klerton R. F. XAVIER
Biólogo, Doutorando em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba, Laboratório de Ecologia Vegetal,
Campus II, CEP: 58.397-000, Areia, Paraíba, Brasil. Fone: (83) 3362-2300, R.254.
klertonxavier@hotmail.com
Jacinto de L. BATISTA
Eng. Agr. D.Sc., Professor Associado, Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, Universidade
Federal da Paraíba, Laboratório de Entomologia, Campus II, CEP: 58.397-000, Areia, Paraíba, Brasil. Fone: (83) 3362-
2300, R.315.
jacinto@cca.ufpb.br
Erisvaldo de S. BURITI
Eng. Agr., Universidade Federal da Paraíba, Laboratório de Entomologia, Campus II, CEP: 58.397-000,
Areia, Paraíba, Brasil. Fone: (83) 3362-2300, R.315.
eriagronomia@hotmail.com

RESUMO
Considerando que as borboletas são insetos muito sensíveis as alterações ambientais, o
objetivo do presente trabalho foi inventariar as borboletas bioindicadoras de qualidade ambiental
através da composição e a estrutura das comunidades ocorrentes em duas áreas de mata atlântica no
brejo paraibano. Foram selecionadas duas áreas, a saber: área conservada (Ambiente I) e capoeira
abandonada (Ambiente II). As coletas foram realizadas no período de agosto de 2007 a março de
2008, sempre no período da manhã, ao acaso, percorrendo-se uma área média de 2 ha para cada
área, num tempo médio de 180 minutos. A estrutura da comunidade foi avaliada através de
parâmetros convencionais. Calculou-se também, o índice de diversidade Shannon-Weiner e de
similaridade Jaccard entre os ambientes. No total, foram amostrados 286 indivíduos, pertencentes a
3 famílias, 4 subfamílias e 22 espécies. No Ambiente I, Heliconius erato phyllis foi a espécie mais
abundante, enquanto no Ambiente II, sobressaiu-se a Euptoieta hegesia. O índice de diversidade
nos Ambientes foi considerado baixo e através do índice de Jaccard verificou-se similaridade entre
eles. Os resultados demonstraram que as espécies H. erato phyllis, H. narceae, A. vanille e Phoebis
sp. possuem potencial bioindicador.
PALAVRAS-CHAVES: Lepidópteras, Entomofauna, Floresta Atlântica

ABSTRACT
Considering that the butterflies are very sensible insects to the ambient alterations, the
present work aimed to inventory the ambient quality bioindicators butterflies of through currents
communities‘ composition and structure in two areas of atlantic forest in the paraiban heath. Two
areas had been selected, named: conserved area (Environment I) and abandoned secondary forest
(Environment II). The collections had been carried through in August/2007 until March/2008,
always in the morning, random, covering an average area of 2 ha for each ones, in an average time
of 180 minutes. The structure of the community was evaluated through conventional parameters. It
was also calculated, the index of diversity Shannon-Weiner and Jaccard similarity between
environments. In the total, the 3 families, 4 subfamilies and 22 species had been showed to 286
individuals, pertaining. In the Environment I, Heliconius erato phyllis it was the species most
abundant, while in Environment II, it Hegesia euptoieta most representative. The index of diversity
in Environments was considered low and through the index of Jaccard verified similarity between
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 247

them. The results had demonstrated that H. erato phyllis, H. narceae, A. vanille and Phoebis sp.
they have bioindicator potential.
KEYWORDS: Lepdoptera, entomofauna, atlantic forest

INTRODUÇÃO
A situação do bioma mata atlântica é crítica em todo Brasil, particularmente nos brejos de
altitude, a situação é ainda mais grave, já que vem sofrendo ao longo dos anos uma intensa e
acelerada transformação em função das atividades econômicas como agricultura e pecuária, além da
retirada de madeira para fins domésticos, resultando na formação ―ilhas‖ de vegetação, causando
perdas na diversidade biológica (Tabarelli & Santos, 2004).
De acordo com Viana e Pinheiro (1998) a fragmentação desses ambientes tem ocasionado
alterações na composição florística e faunística, resultando em isolamentos de populações e até a
extinção de espécies. Segundo Terborgh & Boza (2002) estas florestas foram bastante alteradas pela
ação antrópica, restando apenas manchas isoladas restritas a áreas de difícil acesso ou áreas
abandonadas formando capoeiras. Mesmo com toda a descaracterização sofrida, as florestas dos
brejos de altitude ainda constituem importantes depositários da biodiversidade autóctone e do
patrimônio natural da floresta atlântica (Andrade et al., 2002), o que torna imperativo estudos que
visem adquirir instrumentos que auxiliem na recuperação desses ambientes.
Nesse contexto está inserida a entomofauna, haja vista que muitos insetos são considerados
especialistas na indicação da qualidade ambiental, devido a sua grande abundância, diversidade,
ampla variedade no tamanho e na distribuição, taxa evolutiva rápida associada à capacidade de
exibir respostas às mudanças ambientais. Estes animais podem promover uma rica base de
informações que auxiliem na conservação da biodiversidade, no planejamento de reservas florestais,
pois são sensíveis e possuem respostas rápidas às perturbações nos recursos do seu hábitat, bem
como às alterações da paisagem e às mudanças na estrutura (Freitas et al., 2003). Dessa forma,
podemos considerá-los como importantes ferramentas na identificação de alterações, principalmente
na água e no ar, assim como na determinação da qualidade do ambiente no qual estão inseridos,
assumindo o papel de excelentes bioindicadores (Julião et al., 2005).
O uso de insetos como bioindicadores da qualidade de um ambiente requer, inicialmente,
um bom levantamento e conhecimento das espécies ocorrentes para cada ambiente em questão. Em
relação às borboletas, informações inerentes ao uso desses insetos como bioindicadores ainda são
bastante restritas, muito em parte devido à escassez de inventários e de levantamentos bibliográficos
(Brown Jr. & Freitas 1999; Uehara-Prado et al., 2004).
De forma geral, as borboletas são os animais mais freqüentes em listas de espécies
protegidas em comparação com outros grupos de invertebrados. Em verdade, esses animais
possuem grande empatia perante o público em geral, sendo este, um fator positivo a ser utilizado em
programas de conservação do seu ambiente, podendo servir como bandeira ecológica para a
preservação, a exemplo do que acontece com outros animais, em especial alguns mamíferos, que
possuem maior apelo. Dessa forma, a preservação de alguns táxons específicos de borboleta pode
servir como "grupo guarda-chuva" para a preservação de outros táxons (New, 1997).
O objetivo do presente trabalho foi inventariar as borboletas bioindicadoras de qualidade
ambiental através da composição e da estrutura das comunidades ocorrentes em duas áreas de mata
atlântica no município de Areia, PB.

MATERIAL E MÉTODOS

A Reserva Ecológica Estadual Mata do Pau-Ferro se apresenta como um dos poucos


remanescentes florestais dos Brejos de Altitude do interior do Nordeste, sendo, certamente, um dos
mais representativos. A reserva localizada na Microrregião do Brejo Paraibano, no município de
Areia (6º 58' S, 35º 42' W), possui uma área de aproximadamente 600 hectares, altitude variando
entre 400m e 600m, temperatura média anual de 22º C, umidade relativa média de 85%
(BARBOSA et al., 2004) e relevo ondulado a fortemente ondulado. O clima da região segundo a
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 248

classificação de Köppen é do tipo As (Mcknight & Hess, 2000), ou seja, tropical quente-úmido,
com precipitação média anual superior a 1.400 mm. Os solos são predominantemente os Podzólicos
Vermelho Amarelo Equivalente Eutrófico (Embrapa, 2009). Na classificação atual da vegetação
brasileira os brejos de altitude nordestinos se enquadram como disjunção da Floresta Ombrófila
Aberta (Veloso et al., 1991).
Foram selecionadas duas áreas, uma no interior da Reserva (Ambiente I), caracterizada por
ser uma floresta secundária com árvores de grande porte, já a outra, foi selecionada na borda da
Reserva, na fazenda Chã de Jardim, pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba (Ambiente II), sendo esta, uma capoeira abandonada após uso agrícola e em
estágio primário de sucessão ecológica.
As coletas foram realizadas no período de Agosto de 2007 a março de 2008. No presente
trabalho optou-se pelo uso de borboletas como bioindicadores, devido a esses insetos serem
pequenos, de fácil coleta, especializados, alta fidelidade nutricional e de ciclo rápido, sendo,
portanto, bastante sensíveis as alterações ambientais. Além disso, esses insetos possuem fácil
identificação taxonômica.
Para captura das borboletas foi utilizada redes entomológicas de varreduras, sempre no
período da manhã, ao acaso, percorrendo-se uma área média de 2 ha para cada área, num tempo
médio de 180 minutos. O material coletado foi adequadamente acondicionado (envelopes
entomológicos ou recipientes plásticos) e levado ao Laboratório de Entomologia do Centro de
Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, onde foram feitas a triagem, a separação, a
montagem e a classificação dos indivíduos coletados.
A estrutura da comunidade foi avaliada através dos parâmetros usuais, a saber: densidade,
freqüência e constância. As análises foram realizadas tomando-se a abundância dos indivíduos a
nível de família (Hutcheson, 1990; Marinoni & Dutra, 1997). Calculou-se também para cada
Ambiente o índice de diversidade de Shannon-Weiner (Weaver & Shannon, 1949). Para avaliar a
similaridade entre as duas áreas, utilizou-se o índice de Jaccard (Ricklefs, 1996), pelo método par a
par.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software MVSP 3.1© (MVSP/PLUS,
1998), sendo as demais realizadas de acordo com o que estabelece Silveira Neto (1976).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram amostrados 286 indivíduos, pertencentes a 3 famílias, 4 subfamílias e 22 espécies,


dos quais 152 indivíduos, representados por 3 famílias, 4 subfamílias e 16 espécies no Ambiente I e
134 indivíduos, representados por 3 famílias, 3 subfamílias e 13 espécies no Ambiente II (Tabela 1).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 249

Tabela 1. Lista taxonômica das áreas estudadas. Sendo: AI = área conservada; AII =
capoeira abandonada; T = total de indivíduos
Família Subfamílias Espécies AI AII T
Pieridae
Terias sp 4 3 7
Ascia monuste 8 0 8
Phoebis SP 0 14 14
Phoebis sennae 0 7 7
Dismorphia cretaceae 2 0 2
Nymphalidae
Heliconinae
Heliconius narcaea 40 0 40
Dryas jula 15 2 17
Heliconius erato phyllis 67 0 67
Agraulis vanille 0 12 12
Dryadula phaelusa 2 15 17
Nymphalinae
Hamadryas feronia 1 0 1
Hamadryas februa 0 4 4
Anartia amathea roeselia 0 1 1
Callicore SP 1 0 1
Anartia jatrophae 2 12 14
Euptoieta hegesia 1 41 42
Junonia evarete 1 16 17
Siproeta stelenes 1 0 1
Ithomiinae
Methona themisto 1 0 1
Danainae
Lycorea cleobaea halia 4 0 4
Danaus gilippus 0 3 3
Papilionidae
Battus polidamas 2 4 6

As famílias mais abundantes por ordem decrescentes foram: no Ambiente I, Nymphalidae


(136), Pieridae (14) e Papilionidae (2), enquanto no Ambiente II, Nymphalidae (106), Pieridae (24)
e Papilionidae (4). Dentre as famílias coletadas, a Nymphalidae (246) foi dominante nos dois
ambientes analisados, seguida de Pieridae (44) e Papilionidae (6). Valores próximos foram
apresentados por Fernández e Medina (2006), para a família Pieridae (54), superiores para a
Nymphalidae (418), quando estudou a caracterização da fauna de lepidóptera em cinco diferentes
localidades na Colômbia.
Em termos percentuais, no Ambiente I a família Nymphalidae apresentou 89,47%, seguida
da Pieridae com 9,21% e Papilionidae 1,32% da amostra, enquanto o Ambiente II, Nymphalidae
obteve 79,1%, Pieridae com 17,91% e Papilionidae com 2,99% (Figura 1). O maior valor percentual
da família Pieridae no Ambiente II, ocorreu possivelmente, devido à condição do local, que
apresenta características intrínsecas dos habitats onde as espécies dessa família costumam aparecer,
a exemplo dos ambientes mais abertos e degradados (Freitas et al., 2003). As espécies dessa família
são muito resistentes às variações ambientais pela ação antrópica, resistindo bem em ambientes
urbanos e poluídos, sendo, portanto, facilmente observada em áreas de matas densas, assim como
nos centro de grandes cidades. Os valores encontrados nesse trabalho mostram-se semelhantes aos
encontrados por Dessuy & Moraes (2007), estudando a diversidade de borboletas em fragmentos de
floresta estacional decidual nos estados Santa Catarina e Rio Grande Do Sul, nos quais encontrou
7% para Pieridae e valores superiores para Nymphalidae (59%) e Papilionidae (10%).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 250

Figura 1. Percentual do número de indivíduos por família de lepidópteros nos ambientes


estudados. Sendo: AI = área conservada e AII = capoeira abandonada

A constância representa os mesmos valores que a frequência absoluta em termos


percentuais, assim os valores para as famílias Pieridae, Nymphalidae e Papilionidae no Ambiente I
foram de 50%, 95% e 15%, respectivamente, enquanto no Ambiente II as mesmas famílias
obtiveram 45%, 70% e 10%, respectivamente (Tabela 2). Em relação a freqüência, as famílias mais
abundantes foram a Nymphalidae (59,37%) e Pieridae (31,25%) no Ambiente I. Seguindo a mesma
tendência, no Ambiente II as famílias mais freqüentes foram a Nymphalidae (56 %) e a Pieridae
(36%).
As espécies da família Papilionidae são pouco freqüentes na região do brejo paraibano,
demonstrando uma baixa abundância, portanto, se comportando como não abundante devido aos
baixos índices de freqüência absoluta. Podem ser consideradas dominantes as famílias que
apresentam freqüências relativas superiores a 10%, assim, levando em consideração os valores de
FR (%), a família Nymphalidae e Pieridae são altamente abundantes.
Segundo Brown Jr e Freitas (1999), as famílias mais ricas em espécies no Brasil são:
Hesperidae (36%), Lycanidae (36%), Nymphalidae (24%), Pieridae (2%) e Papilionidae (2%). No
entanto, Iserhard e Romanowski (2004), apresentam valores muito próximos aos coletados nas duas
áreas, Pieridae (6%), Nymphalidae (35%) e valores superiores para Papilionidae (8%).

Tabela 2. Parâmetros das áreas estudadas. Sendo: AI = área conservada, AII = capoeira
abandonada, FA = Freqüência Absoluta e FR = Freqüência Relativa

FRAGMENTOS FAMÍLIA FA FR (%)

NYMPHALIDAE 0,95 59,38


AI PIERIDAE 0,50 31,24
PAPILIONIDAE 0,15 9,38
NYMPHALIDAE 0,70 56,00
AII PIERIDAE 0,45 36,00
PAPILIONIDAE 0,10 8,00
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 251

Existem vários modelos de classificação para a ordem lepidoptera, desta forma, algumas
famílias foram incorporadas a família Nymphalidae. Neste levantamento as subfamílias
Nymphalinae, Heliconinae, Danainae e Ithomiinae foram comuns aos dois ambientes. No Ambiente
I, as subfamílias mais abundantes em ordem decrescente foram Heliconinae (91,17%),
Nymphalinae (5,14%), Danainae (2,94%) e Ithomiinae (0,75%), já no Ambiente II, foram
observadas apenas as subfamílias Nymphalinae (71,84%) e Heliconinae (28,16%). Esses valores
foram semelhantes aos encontrados por Paz et al., (2008) estudando as famílias Nymphalidae,
Papilionidae e Pieridae da Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul, porém inferiores aos encontrados
por Fernández & Medina (2006), quando estudaram a caracterização de lepidoptera em diferentes
localidades.
Dentre as subfamílias citadas, há um destaque para as espécies da Heliconinae. Para alguns
autores e especialistas como Brown & Freitas (2000), algumas borboletas do grupo dos
Heliconinius possuem potencial para atuarem como Bioindicadores de qualidade ambiental,
principalmente aquelas que habitam determinados locais exclusivos.
As espécies mais abundantes no Ambiente I foram (Figura 2): Heliconius erato phyllis
(67), Heliconius narceae (40), Dryas jula (15), Ascia monuste (8), Lycorea cleobaea halia (4),
Terias sp (4), Anartia jatrophae (2), Battus polidamas (2), Dryadula phaelusa (2), Dismophia
cretaceae (2), Euptoieta hegesia (1), Siproeta stelenes (1) e Methona themisto (1). Já no Ambiente
II, as mais abundantes foram: E. hegesia (41), Junonia evarete (16), D. phaelusa (15), Phoebis. sp
(14), A. jatrophae (12), Agraulis vanille (12), Hamadryas februa (4), B. polidamas (4), Danaus
gilippus (3), Terias sp (3) e Anartia amathea roeselia (1). Estas espécies foram encontradas por Paz
et al., (2008) na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul e por Freitas et al., (2003) na Reserva da
Usina Serra Grande no estado de Alagoas.

Figura 2. Espécies mais abundantes encontrada nos ambientes estudados. Sendo: AI = área
conservada e AII = capoeira abandonada

A menor densidade observada no Ambiente II pode está relacionada com o histórico de uso
da área, que ao passar dos anos sofreu as mais diversas pressões antrópicas, apresentando-se
atualmente como uma capoeira em estágio inicial de regeneração natural, corroborando com Scariot
et al., (2003) que afirma que os danos causados pelo antropismo podem afetar a composição da
entomofauna. Mesmo diante dessa problemática, Fernández & Medina (2006) ressalta a
necessidade do monitoramento dessas áreas impactadas com intuito de identificar as possíveis
espécies indicadoras, bem como sua importância na conservação desses ambientes.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 252

O maior número de indivíduos da espécie H. erato phyllis no Ambiente I, pode ser


atribuído a maior disponibilidade de Angiospermas na reserva em comparação ao Ambiente II, uma
vez que este grupo apresenta certa preferência alimentar por esses vegetais. Segundo Correa et al.,
(2001), no Brasil existe 56 espécies de Angiospermas que servem como fonte de alimento para
esses lepidópteros. Dessa forma, alterações na estrutura vegetacional da comunidade de
Angiospermas, refletirá diretamente na população dessa espécie de borboleta.
Alguns fatores físicos podem ter influenciados na composição faunística da região,
particularmente no mês de Junho, ocorrendo redução na reprodução das espécies e na capacidade de
vôo, devido a este período apresentar maior intensidade de chuvas e baixas temperaturas.
Observou-se ainda que, as espécies encontradas nos ambientes estudados não estão
ameaçadas de extinção (MMA, 2008) e que algumas delas, por sua exclusividade e abundância,
podem atuar como agente bioindicador de conservação, como é o caso das espécies H. erato phyllis
e H. narceae abundantes e restritas ao Ambiente I ou bioindicador de perturbação como Agraulis
vanille e Phoebis sp. que ocorreram apenas no Ambiente II.
O índice de diversidade no Ambiente I foi de 1,71, já no Ambiente II foi de 2,16, se
mostrando inferiores aos valores encontrados por Palacios & Constantino (2006) estudando a
diversidade de lepidoptera em dois ambientes. O menor valor no Ambiente I a despeito do maior
número de espécies deve-se a grande quantidade de espécies raras. A semelhança nos valores deve-
se possivelmente, a proximidade entre os ambientes, o que favorece a presença e o trânsito das
espécies entre essas áreas, visto que a diversidade está relacionada com o tamanho do fragmento,
bem como o seu isolamento, aliada as condições climáticas, busca por alimentação, fontes de água,
dentre outras (Baz & Boyero, 1995; Tumuhimbis et al., 2001). Através do índice de Jaccard,
observou-se que existe analogia entre os ambientes estudados, pois o valor do índice (31,8%) foi
superior a 25%.

CONCLUSÕES

As espécies amostradas nesse levantamento não integram listas de espécies ameaçadas de


extinção, e dessas, as espécies H. erato phyllis, H. narceae, A. vanille e Phoebis sp. possuem
potencial bioindicador, sendo a família Nymphalidae a mais abundante neste trabalho.

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MANEJO PARA O PARQUE ECOLÓGICO DE ENGENHEIRO


ÁVIDOS NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS-PARAÍBA.

LUCILANDIO Pereira Mareco


Especialista em Meio Ambiente/ Graduado em Ciências Biológicas pela UEPB e Professor do Ensino
Fundamental Básica II na EMEIEF Cecília Estolano Meireles. Cajazeiras-PB.
lulogia@hotmail.com.
JANIERK Pereira de Freitas
Professora do Ensino Fundamental Básica II na EMEIEF Antonio de Sousa Dias, Cajazeiras-PB
janierk_pfreitas@hotmail.com.
SANDRILENE Pessoa Souza
Especialista em Geopolítica pelas Faculdades Integradas de Patos (FIP).
sandrilenepessoa@yahoo.com.br
JOSÉ DEOMAR de Souza Barros
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina
Grande - UFCG. Especialista em Agroecologia; Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialista em Ensino de
Química; Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando em Recursos Naturais; Universidade Federal de
Campina Grande - UFCG.
deomarbarros@gmail.com

RESUMO
A possibilidade de geração de renda pelo turismo em parques e a rápida devastação das
florestas, são os fatores que explicam o aumento da unidade de conservação pelo mundo, que são
áreas protegidas. Entretanto, a simples criação de um parque não garante seu manejo adequado,
torna-se necessário produzir subsídios para melhor uso público, analises ambiental da área do seu
entorno. O trabalho visa tópicos de manejo e conhecer os desejos da comunidade da área para que
sejam conservadas amostras de ecossistemas naturais; proteger recursos hídricos e genéticos e
estimular a educação ambiental e o lazer em contato com a natureza como também para a
preservação do meio ambiente para deleite de gerações futuras.
PALAVRAS-CHAVES: Biodiversidade. Conservações. Parque Ecológico.

ABSTRACT
The possibility of generating income from tourism in parks and rapid deforestation, are the
factors that explain the increase in protected area in the world, which are protected areas. However,
the mere creation of a park does not guarantee its proper management, it is necessary to produce
better benefits for public use, environmental analysis of the area around it. The work aims to topics
in management and know the desires of the community of the area to be preserved samples of
natural ecosystems and protect genetic resources and stimulate environmental education and
recreation in touch with nature but also for the preservation of the environment to treat of future
generations.
KEYWORDS: Biodiversity. Holdovers. Ecological Park.

INTRODUÇÃO
A idéia de criar áreas naturais protegidas surtidas nos Estados Unidos, tem se
transformada em estratégias usadas especialmente nos países subdesenvolvidos para a conservação
da natureza, pois são essas áreas que preservam espaços com atributos ecológicos. A conservação é
uma atitude necessária ao uso racional da natureza, isto é, pelo maior tempo possível e beneficiando
o maior número de pessoas, é necessário, pois preservá-la e resguardá-la tal como ela ainda existe
em certas áreas, ou seja, a conservação é a utilização racional do meio ambiente com o fim de
conseguir a mais alta qualidade de vida para o homem.
O Brasil está entre o três países de maior diversidade biológica do mundo, já que,
aproximadamente, 20% das espécies conhecidas do mundo são encontradas aqui. Os cientistas
estimam que existam entre 10 e 50 milhões de espécies no mundo, mas apenas 1,5 milhões já foram
descritas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 256

A sociedade humana depende da biodiversidade para sua sobrevivência. As plantas,


os animais, os microorganismos fornecem alimentação, remédios e uma boa parte daquilo que
utilizamos nas indústrias, no comércio e em tudo que consumimos no dia-a-dia.
A biodiversidade contempla, além das espécies da fauna e da flora existentes em uma
determinada região, suas relações de dependência e vinculação, com o meio físico, a terra, a água e
o ar, bem como suas relações inter e intra-específicas, através das quais a existência de uma espécie
afeta diretamente muitas outras. Para proteção da biodiversidade vêm sendo implantadas áreas
protegidas, com funções distingas e complementares, conhecidas como Unidades de Conservação, e
que somam cerca de 4% do território brasileiro. De acordo com Ghimire (1993) a rápida devastação
das florestas e a perda da biodiversidade, a disponibilidade de fundos internacionais para a
conservação e a possibilidade de geração de renda pelo o turismo em parques, são os fatores que
explicam o aumento das Unidades de Conservação. No Brasil nas décadas de 70 e 80, houve um
grande impulso à criação.
Na primeira parte deste trabalho, através de investigação junto aos órgãos públicos
municipais, estaduais e federais, serão caracterizados os dados socioeconômicos e ambientais da
área desde a sua criação até os dias atuais, englobando o açude e enfatizando a criança do Parque
Ecológico.
Na última parte, a análise volta-se para um diagnóstico dos fatores econômicos,
sociais e ecológicos da comunidade de Engenheiro Ávidos que através de entrevistas foram
apontados problemas da realidade vivida por esta população. Em seguida apresentamos alternativas
para um manejo adequado do parque.
A história dos parques nacionais no Brasil começa em 1937, com a criação do Parque
Nacional do Itatiaia. Porém, antes disso, em 1816, foi elaborado um decreto governamental para
desapropriação da área das Cataratas do Iguaçu com o objetivo de criar um parque. O Parque
Nacional do Iguaçu foi efetivamente constituído em 1939, localizado no oeste do Estado do Paraná.
Desde 1986, é reconhecido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, a
Ciência e a Cultura) como Patrimônio Natural da Humanidade, e é um dos pontos turísticos mais
visitados do país. Por esses motivos foi escolhido como ponto de partida para a Campanha de
Valorização dos Parques Nacionais.
Os parques nacionais brasileiros, criados por Decretos Federais específicos, são áreas
que se incorporam ao patrimônio público através da compra, doação, desapropriação e outras
formas legais permitidas.
Na atualidade, o Brasil possui 44 Parques Nacionais e o órgão federal responsável
pela sua criação, implantação e manejo é o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis).
No semi-árido o processo de conscientização e conservação do ambiente, tem levado
a criação de áreas tais como a Reserva Ecológica da Serra Negra-RN, a Reserva Ecológica de
Aiuaba-CE, de modo que o ecossistema representativo da Caatinga nos sertões nordestinos, dentro
da ótica da conservação para as futuras gerações.

CRIAÇÃO DO PARQUE ECOLÓGICO DO DISTRITO DE ENGENHEIRO ÁVIDOS-


CAJAZEIRAS-PARAÍBA
O ecologista Gilvan Meireles elaborou o projeto de criação do Parque Ecológico no
distrito de Engenheiro Ávidos. O projeto de criação do Parque Ecológico tem como base à Lei
Orgânica do Município, no título V – art. 236, I; e dá ouras providências. Na Lei 1.147-GP/97, no
artigo 1° o Prefeito Municipal de Cajazeiras, faz saber que a Câmara Municipal de Cajazeiras-PB,
decreta que ―o Distrito de Engenheiro Ávidos, passas a ter uma reserva natural que compreende a
área da bacia do açude e suas margens onde se encontram árvores e vegetação nativa, várias delas
em processo de extinção, bem como animais e peixes‖.
Enquadrando assim como unidade de conservação, pois se trata de áreas de território
Municipal, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, de domínio
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 257

público ou privado, legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos e limites definidos,
sob regime especial de gerenciamento as quais se aplicam garantias e adequadas proteção de uso.
O presente estudo foi realizado na comunidade de Engenheiro Ávidos no município
de Cajazeiras-Paraíba. A comunidade está localizada no entorno do Parque Ecológico, onde
entrevistamos os moradores do Distrito de Engenheiro Ávidos entre eles, agricultores, pescadores,
donas de casa, comerciantes e professores, com objetivo de conhecer as percepções, aspirações,
sentimentos e as atitudes em relação ao Parque Ecológico e ao meio ambiente como um todo.
Em um universo de 35 pessoas, ao perguntamos o que significava um Parque
Ecológico a maioria dos entrevistados não sabia defini-lo, porém, afirmava ter conhecimento sobre
a fauna e flora. Isso demonstra como um ponto positivo para a conservação das áreas protegidas. O
conhecimento e a presença dos moradores contribuem para que não haja uma degradação das áreas
dos parques, uma vez que, frequentemente, por falta de fiscalização, a população vizinha invade
para explorar ilegalmente seus recursos naturais. De acordo com Diegues (1988, p. 28).

É comum em grande parte dos países do Terceiro Mundo, as populações tradicionais, serem transferidas das
regiões onde viveram seus antepassados, para regiões ecológicas e culturalmente diferentes. O estabelecimento de
parques nacionais significa para essas populações aumento de restr4icoes no uso de recursos naturais que inviabilizaram
sua sobrevivência.

No caso de Engenheiro Ávidos depois da implantação do Parque Ecológico não houve


expulsão de moradores, uma vez que, sua delimitação ainda não foi determinada, mas, os relatos
nos mostra que houve uma significativa diminuição do desmatamento, pois o IBAMA proibiu
qualquer cultivo naquela unidade de conservação.
De acordo com a resposta da pergunta n°6, os entrevistados dizem ter vistos na área
animais como veado, raposa, tatu, lobo guará, macacos, aves como rolinha, bem-te-vi, galo de
campina, canção e diversos tipos de cobras. Explicaram que os animais, principalmente os veados e
pássaros são caçados clandestinamente por pessoas da região e que em virtude dessa atitude vem
ocorrendo um desaparecimento dos mesmos. Em relação à pesca dos peixes, existe um controle do
IBAMA, não permitindo pesca de redes de arrasto. A prática da caça e pesca são realizadas tanto
para o consumo como para a venda. Quando os biólogos advertem para os riscos de extinção de
populações locais ou para ameaça de extinção global de espécies, eles estão chamando a atenção
para atividades humanas insensatas, como caca e pesca excessivas, poluição, introdução de espécies
exóticas e destruição de habitats, que ampliam ainda mais esses riscos.
Ao perguntarmos sobre a flora citaram espécies características da caatinga como os
juazeiros, jurema, pinheiro, coqueiro, eucalipto, cedro, aroeira, etc. Sabe-se que a flora nativa
brasileira é uma das mais importantes do mundo, pois é uma das de maior diversidade de espécies,
inclusive calcula-se que existam muitas plantas que ainda não foram identificadas e descritas.
Ao analisarmos as respostas das entrevistas com os professores das escolas do
Distrito de Engenheiro Ávidos, ficou patente que não há preocupação com a área de preservação e
do seu entorno. A educação neste setor é uma educação tradicional não existindo uma
interdisciplinaridade nos conteúdos, quando não aplica o método teoria versus prática. Sabemos que
a interdisciplinaridade em Educação Ambiental se revela quando cada profissional faz uma leitura
do ambiente de acordo com o seu domínio do conhecimento específico, contribuindo para a
compreensão e auxílio para outras áreas do tema em questão, desenvolvendo atividades dentro e
fora da escola em todos os níveis de ensino, tem que haver uma busca dos diversos segmentos
sociais nos encaminhamentos e soluções dos problemas ambientais da comunidade.
Acreditamos que a interdisciplinaridade, representa para a Educação Ambiental um
ponto máximo para se manter uma qualidade de vida e ao mesmo tempo resgatar os aspectos físicos
e biológicos não deixando os fatores sociais esquecidos. Percebemos que os professores não
conhecem ou ignoram o potencial que a área do Parque representa para a comunidade, falta então
uma inserção no estudo do meio ambiente e a importância da preservação para a própria
comunidade usufruir de forma racional os bens e serviço que o Parque Ecológico pode fornecer.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 258

A Escola Municipal José Antônio Dias, um dos meios de acesso à leitura escrita é
responsável pelo ensino formal, que é realizado em sala de aula, eles se restringem aos conteúdos
dos livros didáticos. Sabemos da enorme preocupação sobre o tema meio ambiente, preservação e
Educação Ambiental, pois temos a certeza que com uma prática pedagógica voltada nesse sentido
os alunos do Distrito de Engenheiro Ávidos se tornariam agentes multiplicadores da preservação do
meio. Sabemos que, ao nível de legislação, a Educação Ambiental surge na Lei n°6.938 de 1981,
que segundo Guarim (2002) institui a Política Nacional de Meio Ambiente e apresentada como
princípio, será propiciada em todos os níveis de ensino, inclusive, a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la, para a participação ativa na defesa do Meio Ambiente e tem como objetivo:
―[...] a formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio ecológico‖.
A pergunta n°11, que visa as questões de como a comunidade lida com o lixo, ficou
claro que apesar de discutir o problema, não há uma consciência e a deposição é feita nas encostas
sendo depois carreado para o manancial.
O lixo acarreta impactos ambientais e problemas sociais, tais como a diminuição do
fluxo de turista ao parque como isso ocorre uma redução da renda que circula na área. O lixo que
sobra da produção e do consumo é uma realidade cotidiana de todos, os momentos e lugares. É
possível, portanto, afirmar que a geração desses resíduos jamais cessará, enquanto houver um só ser
humano na face da terra, pois o homem tem a capacidade extraordinária de transformar matérias-
primas em produtos beneficiados e de seu processamento, gerar materiais que são denominados
resíduos.
A reciclagem não é apenas um subproduto, mas um produto nobre pois ela nos
oferece a chance de sermos nobres e racionais na medida que aprendemos como sugar menos da
natureza. Segundo Gradvohl (2001), a reciclagem gera ótima oportunidade de investimentos, o que,
por si só, já bastaria para envolver empresários de uma maneira geral, entretanto, os empresários
atuais devem se preocupar com os ser humano como um todo. Independentemente de aspecto
econômico e da diminuição da utilização dos recursos naturais, a reciclagem tem sido uma realidade
no combate a poluição ambiental e ao crescimento do ciclo de vida dos aterros sanitários.
A pergunta relativa à melhoria das condições de vida teve quase que a unanimidade
das respostas que seria bom que as autoridades investissem na área praticando ações tais como:
controlar a área do açude para evitar sua poluição, controlar o acesso a pescaria e, principalmente,
melhorar as estradas para dar conforto e segurança aos turistas, ou seja, a maioria absoluta entende
que a chave para o desenvolvimento econômica seria investir na preservação da área para atrair os
visitantes.
Com base nas informações encontradas sugerimos que seja cumprido o que
determina o art5. Da sua criação Lei n° 1.147-GP/97 parágrafo único que assim se expressa: ―A
administração do Parque Ecológico de Engenheiro Ávidos caberá a uma ONG (Organização Não
Governamental), sem fins lucrativos, entidade civil que tenha objetivo ambientalista e que apresente
reconhecimento de utilidade pública‖.
Pelo artigo 3°da mesma Lei, diz que: ―Terá uma instalação de uma colônia de
pescadores, bem como, desenvolverá atividade de Ecoturismo e de Educação Ambiental‖.
Considerando o levantamento efetuado da infra-estrutura encontrada, entende-se o
porquê do parque não ser atrativo, pois não apresenta nenhuma infra-estrutura para receber uma
população bem diversificada como: amantes da natureza, pesquisadores, cientistas, moradores das
cidades próximas que procuram lazer etc. Sugerimos então que haja uma definição de roteiro para
visitação predeterminada, placas indicativas dos pontos de interesse dos visitantes, placas
educativas, locais par estacionamentos de veículos, vasilhames para coleta de lixo com design
apropriado para tal, local definido para piqueniques. Na entrada do parque deve existir um local
onde relate data da sua criação, dados da fauna e flora, a estrada de acesso deve ser estruturada para
um melhor acesso.
A escola é responsável pelas mudanças de atitudes e comportamentos, mesmo sendo
de forma elementar e até mesmo sabendo de forma agressiva os professores devem contribuir para a
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 259

formação dos educandos voltando-os para uma maior sensibilização com o meio ambiente. Os
professores devem agir de maneira que os alunos se sintam fazendo parte do meio ambiente, devem
também valorizar a cultura dominante, ela está presente no currículo oculto. Segundo Giroux (1986)
o currículo oculto nas escolas se referem as normas, valores e atitudes subjacentes que são
frequentemente transmitidos tacitamente, através das relações sociais da escola e da sala de aula. A
Secretaria de Educação deve incentivar os professores a executar cursos de extensão sobre meio
ambiente.
Sobre o lixo encontrado no Parque Ecológico Engenheiro Ávidos sugerimos medidas
tais como: é preciso que haja um plano de desenvolvimento para atividades dos resíduos sólidos
encontrados no parque, criação de leis que incentive a atividade de reciclagem do lixo, fiscalização
rígida e contínua por pare da instituição pública responsável, programas de conscientização e
educação nas escolas.
Os recursos hídricos devem ser protegidos, levando-se em conta o funcionamento
dos ecossistemas aquáticos e a perenidade destes recursos a fim de satisfazer e conciliar as
necessidades da água e de seu manejo adequado. Deve existir também uma proteção par evitar a
depredação por parte dos visitantes.
As propostas aqui citadas têm objetivo de conservar amostras dos ecossistemas
naturais, proteger e recuperar recursos hídricos, edáficos e genéticos e estimular o desenvolvimento
da educação ambiental e das atividades de recreação e lazer em contato harmônico com a natureza,
melhorar o desenvolvimento da atividades de visitação, como também para preservação do meio
ambiente, para deleite das presentes e futuras gerações.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 260

MANEJO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS DA


CAATINGA: UM INSTRUMENTO DE APOIO PARA
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL NO MUNICÍPIO
DE CAJAZEIRAS, SEMIÁRIDO PARAIBANO

Alecksandra Vieira de LACERDA


Professora Adjunto, UATEC/CDSA/UFCG, CEP 58.540-000, Sumé – PB.
alecvieira@yahoo.com.br
Adeilza Dutra GOMES
Extensionista Social – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (EMATER/PB)

RESUMO
O presente trabalho objetivou-se identificar os cultivos agrícolas realizados e interpretar a
percepção dos agricultores familiares sobre práticas agroecológicas no município de Cajazeiras, alto
sertão paraibano. Para a definição dos estudos foram realizados essencialmente levantamentos de
dados pretéritos acerca da região, além dos trabalhos de campo que, juntos, perfizeram um período
de três meses de atividades (janeiro a março/2010). Particularmente, os trabalhos de campo
definiram-se através da amostragem de agricultores familiares de dez comunidades rurais de
Cajazeiras. A percepção dos agricultores foi definida mediante a técnica de observação e da
aplicação de entrevistas semi-estruturada. Assim, nas comunidades rurais estudas os principais
cultivos agrícolas são as seguintes: milho, feijão, arroz, capim e hortaliças. Os tipos elencados de
hortaliças e legumes plantados foram: coentro, alface, cebolinha, tomate, batata doce e jerimum. As
frutas mais presentes foram: acerola, goiaba, caju, manga e melancia. Relacionado aos dados
referentes à cobertura da vegetação nativa presente nas comunidades rurais pesquisadas, tem-se citado
pelos agricultores familiares um total de 15 espécies nativas. Destas, foram citadas para cultivos com
base em princípios agroecológicos: Juazeiro, Mofumbo e Aroeira. Portanto, esta base de dados vem a
ratificar a necessidade de orientações e incentivos que tenham como substrato um processo educativo
promotor de mudanças de atitude e que definam a relevância da prática agroecológicas na região
semiárida brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Culturas ecológicas, plantas nativas, atores sociais.

ABSTRACT
It was aimed at in that work to identify the accomplished agricultural cultivations and to
interpret the family farmers' perception on practices agro ecological in the municipal district of
Cajazeiras, high interior paraibano. For the definition of the studies they were accomplished risings
of past data essentially concerning the area, besides the field works that, together, represented a
period of three months of activities (January the march/2010). Particularly, the field works were
defined through the ten rural communities' of Cajazeiras farmers relatives' sampling. The farmers'
perception was defined by the observation technique and of the application of interviews semi-
structured. Like this, in the rural communities you study the principal agricultural cultivations they
are the following ones: corn, bean, rice, grass, palm and vegetables. The types listed of vegetables
and planted vegetables were: cilantro, lettuce, green onion, tomato and pumpkin. The most present
fruits were pine cone, guava, mango and watermelon. Related to the referring data the covering of the
present native vegetation in the researched rural communities, it has been mentioning for the family
farmers a total of 15 native species. Of these, they were mentioned for cultivations with base in
beginnings agro ecological: Juazeiro, Mofumbo and Aroeira. Therefore, this base of data comes to
ratify the need of orientations and incentives that have as substratum a process educational promoter
of attitude changes and that define the relevance of the practice agro ecological in the area Brazilian
semiarid.
KEYWORDS: ecological Cultures, native plants, social actors.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 261

INTRODUÇÃO
Considerando o seu processo de evolução, os homens vêm buscando estabelecer estilos de
agricultura menos agressivos ao meio ambiente, capazes de proteger os recursos naturais e que
sejam duráveis no tempo, tentando fugir do estilo convencional de agricultura que passou a ser
hegemônico a partir dos novos descobrimentos da química agrícola, da biologia e da mecânica,
ocorridos já no início do século XX. Desta maneira, as práticas agrícolas convencionais praticadas
vêm interagindo de forma complexa sobre a biosfera, modificando habitats naturais e colocando
novos desafios às atuais e futuras gerações (LACERDA 2003). Considerando esta definição tem-se
buscado estabelecer métodos sustentáveis com base na agricultura ecológica (CAPORAL &
COSTABEBER 2004, AMBROSANO 2000, GLIESSMAN 2000, KATHOUNIAN 2002,
FUKUOKA 1995, PRIMAVESI 1992).
Assim, a agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é aquela que, tendo
como base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz de atender, de maneira
integrada, aos seguintes critérios: a) baixa dependência de insumos comerciais; b) uso de recursos
renováveis localmente acessíveis; c) utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio
ambiente local; d) aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da
intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente; e) manutenção a longo prazo da
capacidade produtiva; f) preservação da diversidade biológica e cultural; g) utilização do
conhecimento e da cultura da população local; e h) produção de mercadorias para o consumo
interno e para a exportação (GIESSMAN 2000). Assim, logo, quando se fala de agricultura
sustentável, se está falando de estilos de agricultura de base ecológica que atendam a requisitos de
solidariedade entre as gerações atuais e destas para com as futuras gerações, o que alguns autores
chamam de uma ―ética da solidariedade‖ (CAPORAL & COSTABEBER 2004).
Portanto, considerando a relevância da agricultura ecológica, objetivou-se nesse trabalho
identificar os cultivos agrícolas realizados e interpretar a percepção dos agricultores familiares
sobre práticas agroecológicas no município de Cajazeiras, alto sertão paraibano. Esta base de dados
poderá oferecer subsídios para a sustentabilidade dos recursos naturais na região semiárida
brasileira.

METODOLOGIA
Área de Estudo – O estudo foi realizado no município de Cajazeiras, o qual está localizado
na região Oeste do Estado da Paraíba (Figura 1) e ocupa uma área de 567,5 km2. A sede municipal
apresenta uma altitude de 295 m e coordenadas geográficas de 38o33‘43‘‘ de longitude oeste e
06o53‘24‘‘ de latitude sul. De acordo com último censo do IBGE, a comunidade possui uma
população de 54.715 habitantes, dos quais 26.026 são homens e 28.689 mulheres. Desse total o
número de alfabetizados com idade igual ou superior a 10 anos é de 33.293 o que corresponde a
uma taxa de alfabetização de 74,9% (CPRM 2005).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 262

Figura 1 - Localização do município de Cajazeiras, Paraíba.


Em termos climatológicos o município acha-se inserido no denominado ―Polígono das
Secas‖, constituindo um tipo semiárido quente e seco, segundo a classificação de Koppen (CPRM
2005). As temperaturas são elevadas durante o dia, amenizando a noite, com variações anuais
dentro de um intervalo 23 a 30º C, com ocasionais picos mais elevados, principalmente durante a
estação seca. O regime pluviométrico, além de baixo é irregular com médias anuais de 880,6
mm/ano com mínimas e máximas de 227,1 e 1961,0 mm/ano respectivamente. No geral,
caracteriza-se pela presença de apenas 02 estações: a seca que constitui o verão, cujo clímax é de
Setembro a Dezembro e a chuvosa denominada pelo sertanejo de inverno, restrito a um período de 3
a 4 meses por ano.
A vegetação é de pequeno porte, típica de caatinga xerofítica, onde se destaca a presença
de cactáceas, arbustos e árvores de pequeno a médio porte. Segundo ANDRADE-LIMA (1981) a
caatinga é uma vegetação do tipo caducifólia espinhosa presente na parte mais seca do Nordeste do
Brasil. Nesse sentido, tem-se observado que a Caatinga é um tipo vegetacional semiárido único,
ocorrendo somente no Brasil (SAMPAIO 1995, AGUIAR et al. 2002, MMA 2002) quase que
exclusivamente na região Nordeste. É a quarta maior formação vegetacional brasileira, após a
Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica (AGUIAR et al. 2002), cobrindo cerca de 800.000 Km2 do
território brasileiro (MMA 2002), o que corresponde a quase 50% da região Nordeste e 8,6% do
País. Discutindo sobre a vegetação vários autores mencionam que o termo caatinga, de origem
indígena, significa mato branco ou esbranquiçado ou mesmo ralo, em decorrência de sua aparência
no período mais seco (KUHLMANN 1977, ANDRADE-LIMA 1981, MIRANDA 1984).
Os solos são resultantes da desagregação e decomposição das rochas cristalinas do
embasamento, sendo em sua maioria do tipo Podizólico Vermelho-Amarelo de composição
arenoargilosa, tendo-se localmente latossolos e porções restritas de solos de aluvião. O relevo acha-
se incluso na denominada ―Planície Sertaneja‖, a qual constitui um extenso pediplano arrasado,
durante o Ciclo Paraguaçu, onde localmente se destacam elevações residuais alongadas e alinhadas
com o ―trend‖ da estrutura geológica regional.
Relacionado aos seus recursos hídricos, tem-se que o município de Cajazeiras encontra-se
inserido nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Piranhas, sub-bacia do Rio do Peixe. Os
principais cursos d‘ água são os riachos: Papa Mel, do Cipó, Terra Molhada, dos Mirandas, do
meio, da Caiçara, do Amaro e das Marimbas. Os principais corpos de acumulação são: a Lagoa do
Arroz (80.220.750m3) e os açudes: Escurinho, Descanso, Cajazeiras e Eng° Ávidos
(255.000.000m3). Todos os cursos d‘água têm regime de escoamento intermitente e o padrão de
drenagem é o dendrítico.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 263

Coleta e Análise dos Dados – Para a execução dos trabalhos foram realizadas
essencialmente levantamentos de dados pretéritos acerca da região além dos trabalhos de campo
que, juntos, perfizeram um período de três meses de atividades (janeiro a março/2010).
Particularmente, os trabalhos de campo definiram-se através da amostragem de agricultores
familiares das seguintes comunidades rurais de Cajazeiras: Almas, Arruído, Barreirinhos, Caiçara I,
Catolé, Gado Preto, Marias Pretas II, Prensa, Serrinha e Zé Dias.
Para cada comunidade pesquisada foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com os
agricultores locais. O critério de seleção adotado para a amostragem dos atores sociais entrevistados
foi a sua representatividade na comunidade e seu conhecimento local. Além disso, a percepção dos
agricultores foi definida mediante a técnica de observação participante sendo explorados
comportamentos, hábitos e estratégias de usos dos recursos presentes na área. Na ótica de
RICHARDSON (1985) a observação participante é uma técnica importante na pesquisa qualitativa
porque faz com que o observador não seja apenas um espectador do fato que está sendo estudado,
ou seja, na verdade esta mesma técnica faz com que o pesquisador se coloque na posição dos seres
que compõem o fenômeno a ser observado. Assim, o observador participante tem mais condições de
compreender os hábitos, atitudes, interesses, relações pessoais e características da vida diária da
comunidade do que o observador não-participante. HAGUETTE (1997) ratifica essas idéias ao
expressar a importância que tem a participação do pesquisador no local investigado e a relevância
de ver o mundo através dos olhos do pesquisado.
Portanto, foram aplicados um total de 10 entrevistas. Por conseguinte, tem-se presente que
o universo amostrado para a pesquisa qualitativa compreendeu apenas uma parte dos elementos que
compõem o grupo, uma vez que estes são demasiadamente grandes, o que resultou na
impossibilidade de obter informações de todos os indivíduos presentes na área. Desta forma, a
escolha reduzida do número amostrado, é, portanto, válida na pesquisa qualitativa cuja fonte se
alicerça em estudos como os de MINAYO (1996) que mostra que o critério assumido pela pesquisa
qualitativa não é o numérico, ou seja, é observado pela autora que uma amostra ideal é aquela capaz
de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O homem vem, através dos tempos, transformando o ambiente. Sua forma de vida e suas
atividades profissionais variam de uma área para outra, em uma ação permanente para capacitar a
natureza a atender as suas necessidades (ANDRADE 1970). Assim caracterizado, o ser humano vem
desenvolvendo as mais variadas estratégias para sobreviver em regiões como a semiárida brasileira.
Dentro deste contexto o nordeste semiárido conta com a peculiaridade de ser uma das regiões
semiáridas mais povoadas entre todas as terras secas existentes nos trópicos ou entre os trópicos
(Ab‘SÁBER 1985). Assim nesses espaços são grandes as relações que marcam os elementos naturais
com os sociais, mostrando através dos tempos, ações pela busca da sobrevivência.
Considerando as estratégias de sobrevivência, tem-se que nas comunidades rurais
pesquisadas no município de Cajazeiras, o perfil, em particular, da ocupação das terras no que se
refere às formas de produção, é delineado pelas seguintes culturas: milho, feijão, arroz, capim, palma
e hortaliças. Os tipos elencados de hortaliças e legumes plantados foram: coentro, alface, cebolinha,
tomate e jerimum. As frutas mais presentes foram pinha, goiaba, manga e melancia. Quanto ao
destino da produção, tem-se que as poucas culturas que geram excedentes são absorvidas atualmente
pelo mercado local, sendo o milho, feijão e arroz os mais comercializados. O capim, em particular,
tem o seu cultivo destinado para a manutenção do rebanho do proprietário, sendo os tipos principais:
agropolo, capim roxo e capim-braquiária.
Discutindo questões relacionadas com o uso sustentável de terras destinadas ao uso de
cultivos, tem-se observado a necessidade de realizar um planejamento que identifiquem elementos
como: quais os tipos de culturas adequadas e os manejos que podem ser adotados com menores riscos
de empobrecer os solos ou aumentar o teor de sódio trocável ou ainda desencadear a erosão; qual a
quantidade de fertilizante que pode ser utilizada em determinada área sem perigo de provocar a
saturação e a poluição das águas e dos solos; ou como captar e utilizar a água disponível; ou como e
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 264

onde construir obras de infra-estrutura sem modificar drasticamente o escoamento e causar prejuízos
irreparáveis (SILVA 1986). Além desses cuidados, é preciso ainda se incentivar a implementação de
ações que dêem prioridade as espécies adaptadas à agricultura de sequeiro, conjugando a genética a
esta técnica de manejo dos solos para obtenção de variedades resistentes às secas, a partir das plantas
nativas da região semiárida (COELHO 1985).
Relacionado aos dados referentes à cobertura da vegetação nativa presente nas comunidades
rurais pesquisadas, tem-se citado pelos agricultores familiares um total de 15 espécies nativas. Assim,
a Jurema e o Mofumbo foram as espécies citadas por todos os entrevistados, sendo estas seguidas por
Aroeira e Marmeleiro citadas por sete agricultores e Juazeiro por cinco. As espécies menos citadas
foram Angico, Catingueira e Pau Ferro citadas por dois entrevistados e Baraúna, Mandacaru, Mata
Pasto, Espinheiro, Alfazema, Mororó, Pereiro citado por apenas um agricultor familiar.
Autores como TAVARES et al. (1975) colocam que expressivos valores de freqüência
obtidos para espécies como a jurema ratificam a idéia que nestas áreas as matas primitivas foram
retiradas para, provavelmente, a implantação de cultivos. Para este autor a jurema, em particular,
seria uma das indicadoras de áreas degradadas, atuando como espécies iniciais na sucessão
ecológica. Diante do quadro, tornam-se necessárias medidas no sentido de reverter o quadro de
degradação existente, uma vez que as espécies nativas exercem uma importante função protetora
sobre todo o ecossistema, servindo assim como proteção do solo; fonte de matéria-prima;
influenciadora do microclima; habitat para fauna; beleza cênica e regulação do regime hídrico
(LACERDA 2003).
Refletindo questões relacionadas com as espécies nativas que poderiam ser cultivadas em
sistemas baseados em princípios agroecológicos, os agricultores familiares citaram: Juazeiro (citado
pelos 10 agricultores familiares), Mofumbo (colocado por seis agricultores) e Aroeira (referenciada
por apenas três entrevistados). A importância ressaltada para cada espécie está a seguir elencadas
- Juazeiro - Faz sombra e serve para fazer ração animal
- Mofumbo - Ração animal
- Aroeira - A madeira serve para fazer linha, cerca, etc.
Além das espécies nativas, também foi citada por quatro entrevistados a Algaroba (Prosopis
juliflora (SW) D.C), tendo como justificativa para o seu plantio em sistemas agroecológico a
importância da espécie para a alimentação bovina e caprina. Entretanto, autores como LACERDA
(2003) vem alertando para os problemas gerados com a disseminação da Algaroba, sendo esta uma
espécie introduzida sem nenhuma preocupação de manejo. Portanto, é colocado que o poder
dispersivo da Algaroba aliado a sua dominância em determinadas áreas são características que
indicam a necessidade de se implementar técnicas de manejo que tenham como base a promoção de
ações revestidas de orientações técnicas, junto aos proprietários da região semiárida brasileira..
De modo geral, analisando a relevância da agroecologia, autores como PAULUS et al.
(2000) coloca que a natureza é o modelo mais evoluído que se conhece. As plantas que ocorrem
naturalmente em uma região têm a seu favor milhões de anos de adaptação. Segundo o último autor,
ao longo da história, os agricultores também foram evoluindo e se adaptando, aprendendo com as
lições da natureza. Infelizmente, isso está bastante esquecido, com a introdução da agricultura
convencional. Mas o fato é que, quanto mais o nosso jeito de produzir imitar o que acontece no
ecossistema que predomina no lugar ou na região, maior será a biodiversidade e mais chances vamos
ter de produzir sem a necessidade de usar agrotóxicos e com o mínimo de insumos que vêm de fora da
propriedade, como os adubos. Desta maneira, para se difundir a compreensão da importância de
práticas de cultivos que assumam os princípios agroecológicos, são necessárias orientações e
incentivos que tenham como substrato um processo educativo promotor de mudanças. Portanto, para a
definição de mudanças de atitude é preciso ainda que se assumam como ponto de partida, problemas
concretos e mais próximos do dia-a-dia e dos interesses da comunidade.

AGRADECIMENTOS
Aos agricultores familiares da região de Cajazeiras pelas informações disponibilizadas nos
dando a oportunidade de socialização do conhecimento gerado.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 265

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 266

MODIFICAÇÕES NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE UMA


FLORESTA PRIMÁRIA ATINGIDA POR FOGO NO ESTADO DO
ACRE, AMAZÔNIA BRASILEIRA

Henrique José Borges de ARAUJO


Eng. Ftal., Pesquisador da EMBRAPA Acre
henrique@cpafac.embrapa.br
Luis Cláudio de OLIVEIRA
Eng. Ftal., Pesquisador da EMBRAPA Acre
lclaudio@cpafac.embrapa.br
Sumaia Saldanha de VASCONCELOS
Eng. Agr., Doutoranda do INPA/CFT
sumaia_sv@hotmail.com
Claudenor Pinho de SÁ
Eng. Agr., Pesquisador da EMBRAPA Acre
claude@cpafac.embrapa.br

RESUMO
A emissão do CO2 é uma das principais causas do efeito estufa e as queimadas amazônicas
contribuem para isso. Devido à alta umidade retida, a floresta primária amazônica é considerada
imune a queimadas, todavia, sob condições climáticas anormais é vulnerável. Este estudo objetiva
avaliar os efeitos do fogo, decorrentes de incêndios florestais ocorridos em 2005, sobre a
composição florística de uma floresta natural primária no estado do Acre. Foram monitorados
árvores lenhosas, palmeiras e cipós em três níveis de tamanho: I-DAP≥5cm; II-5cm>DAP≥2cm; e
III-DAP<2cm e altura ≥1,0m. Foram efetuadas cinco avaliações, a primeira em novembro de 2005 e
a ultima em janeiro de 2009. Os resultados mostraram modificações significativas na composição
florística da área estudada. Foi verificado redução na diversidade de espécies de 15,6% no Nível I e
32,3% no Nível II, mostrando que quanto menor o tamanho dos indivíduos maiores são as taxas de
mortalidade e as modificações na estrutura florística. No Nível III (regeneração) foi observado
acréscimo de 42,5% na diversidade de espécies, o que pode indicar um processo de recuperação da
floresta e que o banco de sementes não foi comprometido.
PALAVRAS-CHAVE: floresta amazônica; mudanças climáticas; queimadas; incêndios
florestais.

ABSTRACT
The emission of CO2 is an important cause of the greenhouse effect and the Amazonian
burns contribute to it. Because of the high moisture retained the primary Amazon forest is
considered immune to fire, however, under abnormal climate conditions is vulnerable. The
objective of this study is to evaluate the effects of fire, originated from forest-fires occurred in 2005,
in floristic composition of a natural primary forest in the state of Acre, Brazilian Amazon. Were
monitored trees, palm trees and lianas in three levels of size: I-DBH≥5cm; II-5cm>DBH≥2cm; and
III-DBH<2cm and height ≥1,0m. Five evaluations were made, the first in November 2005 and last
in January 2009. The results showed significant changes in floristic composition of the studied area.
Was observed reduction in species diversity of the 15.6% in Level I and of the 32.3% in Level II,
showing that the smaller trees are those with the highest mortality rates and changes in floristic
structure. At Level III (regeneration) was observed 42.5% increase in species diversity, this may
indicate a process of forest recovery and that the seed bank was not damaged.
KEYWORDS: Amazon forest; climate change; Amazonian burns; forest-fires.

INTRODUÇÃO
Além das agressões antrópicas desmedidas que vem sofrendo, originadas nos anos setenta
e oitenta pela ocupação econômica induzida por incentivos e políticas governamentais, e
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 267

intensificadas nos anos noventa sob a lógica privada, sem o estímulo de governo, e ligadas à
especulação de terras, crescimento das cidades, abertura de estradas, expansão da pecuária bovina,
exploração irregular madeireira, agricultura familiar e, mais recentemente, agricultura mecanizada
(MARGULIS, 2003; FEARNSIDE, 2003; ALENCAR et al., 2004; LAURANCE et al., 2004;
FERREIRA et al., 2005), a floresta amazônica é impactada severamente pelas mudanças climáticas
globais em curso.
Estudos mostram que entre os principais fatores de desequilíbrio global do clima está
a emissão de gases, especialmente o CO2, causadores do efeito estufa (COX et al., 2000;
NEPSTAD et al., 2002; FEARNSIDE, 2003; NOBRE et al., 2007; PHILLIPS et al., 2009).
Contudo, as queimadas e incêndios florestais ocorrentes na região amazônica, na maior parte em
áreas desflorestadas e em novos desmates, contribuem expressivamente para isto, portanto, foi
criado um círculo vicioso em que a emissão de gases das queimadas provoca aquecimento e seca
(efeito estufa), propiciando condições ambientais ainda mais favoráveis às queimadas e incêndios.
A cobertura florestal da região amazônica exerce um papel preponderante para a
redução da velocidade das mudanças climáticas, e na medida em que essa cobertura é removida
agrava-se o quadro, pois fica reduzida sua capacidade de guardar e capturar o CO 2, ao mesmo
tempo em que, pela conseqüente queima da biomassa, é aumentada a emissão deste gás para a
atmosfera. De acordo com Phillips et al. (2009), na eventualidade de diminuir o seqüestro de
carbono realizado pelo planeta, ou ao contrário de seqüestrar carbono as áreas florestais passarem a
emitir, os níveis de CO2 aumentarão em uma velocidade muito maior, requerendo cortes profundos
nos atuais padrões de emissões de carbono para estabilizar o clima. A potencialização do efeito
estufa causa nas florestas a estagnação do crescimento das árvores, o que reduz significativamente a
captura de carbono, alem de aumentar a quantidade de material orgânico morto que se transforma
em combustível e fonte de emissão de gás carbônico (NEPSTAD et al., 2004; BRANDO et al.,
2008).
Em razão da alta umidade retida pelos vegetais e ambiente, sobretudo no solo e
entorno (raízes, resíduos vegetais e líter), pode-se afirmar que o ecossistema florestal amazônico é
dotado de imunidade natural contra queimadas. Todavia, quando exposto a condições climáticas
anormais é verificado que esse ecossistema não possui defesas e é bastante vulnerável ao fogo. Foi
o caso da grande seca de 2005, atribuída ao aquecimento global (COX et al., 2008; MARENGO et
al., 2008a, 2008b), que afetou principalmente a parte sul da Amazônia onde as habituais queimadas
fugiram totalmente ao controle e atingiram grandes áreas de florestas primárias.
O conceito de imunidade ao fogo da floresta primária é corroborado por outros autores
(BARLOW & PERES, 2003; MENDOZA, 2003; NESPSTAD et al., 2004; VASCONCELOS et al.,
2005) quando afirmam que a maior parte das florestas tropicais da Amazônia são normalmente
imunes ao fogo em razão de que a cobertura densa do dossel mantém altos níveis de umidade no
sub-bosque, evitando que a camada de folhas mortas e galhos finos sequem e se incorporem à carga
potencial de combustível, o que torna incêndios em florestas úmidas extremamente raros. Estudos
de datação de carbono em carvão fossilizado no solo indicam que tais incêndios ocorrem somente
em alguns lugares uma ou duas vezes a cada milênio ou a intervalos ainda mais longos
(COCHRANE, 2003) e estão relacionados a eventos de El Niño (MEGGERS,1994).
Na Amazônia eventos de fogo podem ser de três tipos: a) queimadas para desmatamento –
são resultantes da derrubada e queima da floresta; b) queimadas em áreas desmatadas - são
associadas à manutenção e limpeza de pastagens, lavouras e capoeiras; e c) incêndios florestais
rasteiros - são oriundos de queimadas que escapam ao controle e invadem florestas primárias ou
exploradas para madeira (NEPSTAD et al., 1999).
O ecossistema florestal amazônico quando impactado por secas e pelo fogo pode
ficar severamente comprometido. Isso se deve em razão de que são poucas as espécies de árvores
capazes de tolerar o estresse térmico e a perturbação provocada, alem de que afeta também a
capacidade de regeneração da floresta, uma vez plantas jovens em estágio de muda são destruídas e
o banco de sementes das gerações futuras é danificado. Balch (2008), em experimento realizado em
uma floresta primária no sudeste amazônico brasileiro, verificou que a repetição de queimadas em
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 268

uma mesma área parece exaurir o poder de recuperação da floresta, dado que na primeira queimada
havia germinação de sementes e brotação de plântulas de várias espécies, no entanto, depois da
terceira queimada, o número de espécies em regeneração caiu pela metade. A maioria das espécies
de árvores da Amazônia tem uma casca protetora muito fina para o tamanho do tronco e sua
resistência ao fogo, portanto, é mínima (BARLOW & PERES, 2003).
O presente estudo objetiva avaliar os efeitos do fogo, em termos de alterações na
composição florística, em uma floresta natural primária atingida por incêndio no estado do Acre,
região amazônica brasileira.
MATERIAL E MÉTODOS
A área do estudo é localizada no Projeto de Colonização Pedro Peixoto, nas margens
da rodovia BR-364, município de Senador Guiomard, a cerca de 110 km da cidade de Rio Branco,
capital do estado do Acre, Amazônia brasileira. É composta por pequenas propriedades que, juntas,
possuem 470 hectares de florestas em regime de manejo florestal comunitário de um projeto de
pesquisa conduzido pela Embrapa e uma associação de pequenos produtores rurais. De acordo com
a literatura, o clima é do tipo Aw (Köpper), com três meses de período seco, precipitação anual
entre 1.800 a 2.000 mm e temperatura média anual de 24°C; os solos predominantes são distróficos,
com alto teor de argila; a rede de drenagem é constituída na maior parte por pequenos igarapés
semi-perenes; a topografia é plana; a vegetação predominante é floresta tropical semi-perenifólia,
com formações de floresta aberta e floresta densa (BRASIL, 1976).
Nos meses de agosto e setembro de 2005, durante a violenta seca ocorrida na região
amazônica, a área do estudo foi atingida por incêndios do tipo rasteiro em cerca de 85% da toda sua
extensão, o que representa aproximadamente 400 hectares. Ressalta-se que na área do estudo não há
registros de ocorrência de incêndios no passado e de que estes não mais ocorreram após o início do
monitoramento de que trata este estudo.
A seca de 2005 é, em termos históricos, considerada a mais intensa já ocorrida na região
amazônica (BROWN et al., 2006; PHILLIPS et al., 2009). No estado do Acre, especificamente na
estação meteorológica de Rio Branco (MAPA/Agritempo-INMET), no período de maio a setembro
de 2005 houve considerável redução das chuvas ao mesmo tempo em que a temperatura máxima,
exceto nos meses de julho e setembro, manteve-se acima da média no mesmo período (Figura 1).

Figura 1. Precipitação pluviométrica e temperatura máxima mensal: média histórica e para


2005.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 269

Foram alocadas na área do estudo 40 parcelas amostrais permanentes de 400m2 cada


(Figura 2). Nestas parcelas foram monitorados os indivíduos ocorrentes com predominância de
árvores lenhosas, seguido de palmeiras e cipós. Foram efetuadas cinco avaliações em intervalos
médios de 10 meses, assim distribuídas: 1ª avaliação, em novembro de 2005; 2ª avaliação, em maio
de 2006; 3ª avaliação, em março de 2007; 4ª avaliação, em janeiro de 2008; e 5ª avaliação, em
janeiro de 2009. O intervalo entre a primeira e a ultima avaliação totalizou três anos e dois meses.

Figura 2. Localização da área de estudo no município de Senador Guiomard, Estado do


Acre, Brasil, e das parcelas amostrais permanentes (quadrados no círculo pontilhado).

As parcelas amostrais foram distribuídas sistematicamente pelas áreas florestais


incendiadas. O monitoramento foi efetuado em três níveis de abordagem (tamanho), quais sejam: I-
indivíduos com DAP≥5cm (parcela com 400m2); II- indivíduos com 5cm>DAP≥2cm (sub-parcela
com 100m2); e III- regeneração com DAP<2cm e altura ≥1,0m (sub-parcela com 25m2).
Para cada indivíduo ocorrente nos níveis I e II foi efetuado, alem da verificação do dano
causado pelo fogo (estudo descrito por ARAUJO e OLIVEIRA, 2009), a identificação da espécie
(nome vulgar, fornecido por mateiro, sem coleta de material botânico), mensurado o DAP (diâmetro
à altura do peito - 1,30m do solo) e observado a existência de brotação. A identificação botânica foi
baseada no trabalho de Araujo e Silva (2000). Para o Nível III (regeneração) não foi efetuada a
verificação do dano do fogo, mas apenas a identificação da espécie (nome vulgar) e contagem das
plantas presentes.
Ressalta-se que, com a finalidade de padronizar as análises do estudo, nos níveis I e II o
número total de indivíduos não variou no decorrer das avaliações, pois aqueles não mais
encontrados em relação à 1ª avaliação receberam a classificação ―sem informação‖ e também não
foram consideradas as possíveis mudanças de classes diamétricas (ingressos decorridos do
crescimento das árvores), mas apenas a medida do DAP da 1ª avaliação. Os indivíduos não mais
encontrados, a maioria de pequeno porte, foram suprimidos por causas naturais (a exemplo de
quedas causadas pelo vento e pelo próprio efeito do fogo) ou não (a exemplo de retirada da madeira,
devido a morte, para uso em benfeitorias da propriedade).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação inicial (1ª) a distribuição dos indivíduos ocorrentes de acordo com a forma de
vida, em cada nível de abordagem, foi a seguinte: Nível I - total de 1856 indivíduos, sendo 1590
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 270

(85,7%) árvores lenhosas, 151 (8,1%) palmeiras e 115 (6,2%) cipós; Nível II - total de 974
indivíduos, sendo 812 (83,4%) árvores lenhosas, 14 (1,4%) palmeiras e 148 (15,2%) cipós. No
Nível III de abordagem foi identificado em campo na avaliação inicial (correspondente à 2ª
avaliação do monitoramento, dado que a regeneração encontrava-se destruída na 1ª avaliação) um
total de 73 espécies e na avaliação final (5ª) um total de 104 espécies.
Na 1ª avaliação do Nível I foi identificado em campo um total de 173 espécies, sendo
156 (90,2%) árvores lenhosas, 10 (5,8%) palmeiras e 7 (4,0%) cipós. Na 5ª avaliação do Nível I,
excluídos os indivíduos mortos e suprimidos, foi identificado um total de 146 espécies, das quais
130 (89,0%) foram árvores lenhosas, 10 (6,8%) palmeiras e 6 (4,1%) cipós. Deste modo, houve
uma redução de 27 (15,6%) espécies na diversidade existente originalmente nas parcelas amostrais
(Tabela 1), sendo que 26 são espécies de árvores lenhosas e 1 de cipó.

Tabela 1. Distribuição quantitativa das espécies, gêneros e famílias botânicas identificadas


em campo no Nível I de abordagem (DAP≥5cm) para a 1ª e 5ª avaliações.
1ª AVALIAÇÃO 5ª AVALIAÇÃO INCREMENTO INCREMENTO %
Espécies 173 146 -27 -15,6
Gêneros 133 113 -20 -15,0
Famílias 43 40 -3 -7,0

Entre as famílias mais freqüentes no Nível I constam: CAESALPINIACEAE (12


espécies); FABACEAE, MORACEAE e RUBIACEAE (11 espécies); MIMOSACEAE (10
espécies); ARECACEAE (9 espécies); ANNONACEAE, EUPHORBIACEAE, MELIACEAE e
SAPOTACEAE (7 espécies). Dentre os gêneros mais freqüentes no Nível I constam: Inga (4
espécies); Aspidosperma e Trichilia (3 espécies); Bauhinia, Rheedia, Miconia, Brosimum,
Pseudolmedia, Matayba, Chrysophyllum, Theobroma e Apeiba (2 espécies).
Dentre as 27 espécies não mais presentes na última avaliação do Nível I, destacam-se as de
interesse comercial madeireiro, tais como: Angico (Parkia sp.), Cedro rosa (Cedrela odorata L.),
Imbirindiba (Terminalia sp.), Itaúba (Mezilaurus itauba (Meissn.) Taub.), Mamalu (Calycophyllum
acreanum), Samaúma branca (Ceiba pentandra (L.) Gaertn.) e Violeta (Platymiscium duckei Hub.).
As famílias e gêneros não mais presentes na última avaliação do Nível I foram: CECROPIACEAE,
COMBRETACEAE e MIMOSACEAE; Acalypha, Ampelocera, Calycophyllum, Cecropia,
Cedrela, Dialium, Galipea, Hirtella, Leonia, Mezilaurus, Nectandra, Ochroma, Parkia, Platypodium,
Pourouma, Psidium, Sclerolobium, Swartzia, Terminalia e Xylopia.
Na 1ª avaliação do Nível II foi identificado em campo um total de 96 espécies, sendo
87 (90,6%) árvores lenhosas, 3 (3,1%) palmeiras e 6 (6,3%) cipós. Na 5ª avaliação do Nível II,
excluídos os indivíduos mortos e suprimidos, foi identificado um total de 65 espécies, das quais 61
(93,8%) foram árvores lenhosas, 2 (3,1%) palmeiras e 2 (3,1%) cipós. Deste modo, houve uma
redução de 31 (32,3%) espécies na diversidade existente originalmente nas parcelas amostrais
(Tabela 2), sendo que 26 são espécies de árvores lenhosas, 1 de palmeira e 4 de cipós.

Tabela 2. Distribuição quantitativa das espécies, gêneros e famílias botânicas identificadas


em campo no Nível II de abordagem (5cm>DAP≥2cm) para a 1ª e 5ª avaliações.
1ª AVALIAÇÃO 5ª AVALIAÇÃO INCREMENTO INCREMENTO %
Espécies 96 65 -31 -32,3
Gêneros 76 53 -23 -30,3
Famílias 39 29 -10 -25,6

Entre as famílias mais freqüentes no Nível II constam: MORACEAE (7 espécies);


EUPHORBIACEAE e RUBIACEAE (6 espécies); MIMOSACEAE e SAPOTACEAE (5 espécies);
MELIACEAE e STERCULIACEAE (4 espécies); ANNONACEAE, APOCYNACEAE,
ARECACEAE, BORAGINACEAE, RUTACEAE e CHRYSOBALANACEAE (3 espécies).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 271

Dentre os gêneros mais freqüentes no Nível II constam: Aspidosperma, Cordia, Inga e


Pseudolmedia (3 espécies); Bactris, Brosimum, Casearia, Drypetes, Pourouma, Theobroma e
Trichilia (2 espécies).
Dentre as 31 espécies não mais presentes na última avaliação do Nível II, destacam-se as
de interesse comercial, tais como: Cafezinho (Ampelocera ruizii Kuhlm.), Cernambi de índio
(Drypetes sp.), Guariuba (Clarisia racemosa Ruiz et Pav.), Jenipapo (Genipa americana L.),
Laranjinha (Casearia gossypiospermum) e Seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.). As famílias
e gêneros não mais presentes na última avaliação do Nível II foram: ARACEAE,
BOMBACACEAE, CECROPIACEAE, CLUSIACEAE, DILLENACEAE, PIPPERACEAE,
FLACOURTIACEAE, MELASTOMATACEAE, TILIACEAE e VERBENACEAE; Acácia,
Acalypha, Ampelocera, Annona, Apeiba, Casearia, Clarisia, Davilla, Genipa, Hevea, Matayba,
Miconia, Micropholis, Nectandra, Pétrea, Philodendron, Piper, Pourouma, Pouteria, Quararibea,
Rheedia, Uncaria e Urbenella.
Para o Nível III de abordagem (regeneração), os resultados revelaram, em 40 sub-parcelas
2
de 25m , a ocorrência de 73 espécies na avaliação inicial (correspondente à 2ª avaliação do
monitoramento) e de 104 espécies regenerantes na ultima avaliação (5ª), representando um
acréscimo de 31 (42,5%) espécies (Tabela 3). Das 73 espécies identificadas em campo na avaliação
inicial, 66 (90,4%) foram árvores lenhosas, 2 (2,7%) foram palmeiras e 5 (6,9%) foram cipós e das
104 espécies identificadas na avaliação final (5ª), 93 (89,4%) foram árvores lenhosas, 5 (4,8%)
foram palmeiras e 6 (5,8%) foram cipós.

Tabela 3. Distribuição quantitativa das espécies, gêneros e famílias botânicas identificadas


em campo no Nível III de abordagem (regeneração com DAP<2cm e altura≥1,0m) para a 1ª e 5ª
avaliações.
1ª AVALIAÇÃO 5ª AVALIAÇÃO INCREMENTO INCREMENTO %
Espécies 73 104 31 42,5
Gêneros 59 80 21 35,6
Famílias 36 41 5 13,9

Entre as famílias mais freqüentes no Nível III na última avaliação constam:


BORAGINACEAE, MIMOSACEAE e CLUSIACEAE (3 espécies); TILIACEAE, ARECACEAE,
MORACEAE, RUBIACEAE, CECROPIACEAE, FABACEAE, MORACEAE, VIOLACEAE,
ANACARDIACEAE e STERCULIACEAE (2 espécies). Dentre os gêneros mais freqüentes no
Nível III na última avaliação constam: Cordia, Ingá e Vismia (3 espécies); Apeiba, Brosimum,
Calycophyllum, Cecropia, Pseudolmedia, Spondias e Theobroma (2 espécies).
Dentre as 31 espécies acrescidas na última avaliação do Nível III, destacam-se as de
interesse comercial, tais como: Andiroba (Carapa guianensis Aubl.), Angelim amargoso (Vatairea
sp.), Cumaru-ferro (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd), Jutaí (Hymenaea oblongifolia Hub.) e Mamalu
(Calycophyllum acreanum). As famílias e gêneros acrescidos na última avaliação do Nível III
foram: MONIMIACEAE, NYCTAGINACEAE, RHAMNACEAE, SAPOTACEAE e
STERCULIACEAE; Astrocaryum, Carapa, Celtis, Colubrina, Dipteryx, Euterpe, Gouania,
Guatteria, Himatanthus, Hymenaea, Neea, Pouteria, Protium, Pseudolmedia, Rinoreocarpus,
Siparuna, Sterculia, Tachigali, Theobroma, Toulicia e Vatairea.
Entre as espécies não mais presentes conjuntamente na última avaliação dos níveis I e II
não houveram coincidências e, entre as famílias e gêneros, houve coincidência para
CECROPIACEAE, Acalypha, Ampelocera, Nectandra e Pourouma. No Nível III, em relação aos
níveis I e II, foi observada coincidência de não presença na última avaliação dos gêneros
Ampelocera e Nectandra, representados pelas espécies Envira iodo (Ampelocera edentula Kuhlm.),
Cafezinho (Ampelocera ruizii Kuhlm.) e Louro amarelo (Nectandra sp.), significando que tais
espécies e gêneros foram excluídos das áreas das parcelas amostrais e, talvez, da floresta estudada.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 272

CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo mostraram modificações bastante significativas na
composição florística das áreas florestais incendiadas. Os dados de redução da diversidade
observados (15,6% no Nível I e 32,3% no Nível II) e a exclusão de algumas espécies das parcelas
amostrais, permitem inferir que a floresta em conjunto pode ter sido gravemente afetada em relação
à condição original. Esses percentuais revelam uma relação inversa entre o porte dos indivíduos e os
impactos danosos do fogo incidente, mostrando que quanto menor o tamanho dos indivíduos
maiores são as taxas de mortalidade sobrevindas e as modificações na estrutura florística. O
incremento de 42,5% na diversidade de espécies presentes no Nível III de abordagem (regeneração)
pode ser interpretado como indicativo de um processo de recuperação da floresta frente ao fogo e de
que o banco de sementes não foi comprometido. Contudo, dado que este estudo é preliminar, para
melhor responder a questões referentes aos impactos do fogo na estrutura florística da floresta são
necessários mais repetições e abordagens das informações obtidas.

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Anais.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 274

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO CONDURU-BAHIA:


ENTRAVES E CONFLITOS NO PROCESSO DE
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

SOUZA, Eliane Dutra de


Engenheira Ambiental, FTC, Itabuna-Bahia
lany_331@hotmail.com
MASSENA, Fábio dos Santos
Professor da UESB, Itapetinga-Bahia
fabiomassena@gmail.com

RESUMO
Este estudo foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra do Conduru (PESC) localizado
no Sul da Bahia, na denominada micro-região Ilhéus – Itabuna. O presente trabalho teve como
objetivo caracterizar o processo de Regularização Fundiária no Parque Estadual da Serra do
Conduru, especificamente versando sobre a identificação das propriedades e posses já
indenizadas/desapropriadas; verificar os impactos ambientais negativos originados pelos
proprietários e posseiros e diagnosticar os principais entraves e conflitos existentes no processo de
desapropriação. Foi utilizado o estudo de caso, o qual corresponde a uma das formas de realizar
uma pesquisa empírica de caráter qualitativo, como fonte de coleta de dados, realizou-se entrevistas
semi-estruturadas com proprietários e posseiros do PESC, ao todo 17 e os técnicos da Secretaria de
Meio Ambiente (SEMA) do escritório de Itabuna, ao todo 3. Os resultados do estudo foram
relevantes ao mostrarem que 94% dos entrevistados não estão insatisfeitos com o processo de
desapropriação/indenização no parque, alegando a morosidade no andamento dos processos, haja
vista que, o parque foi criado em 1997 e até hoje não foram indenizados e a desvalorização no valor
a ser indenizado pelo decurso do tempo. Foi possível concluir que o PESC foi implantado de forma
inadequada, sem consulta pública e o processo de desapropriação é injusto, moroso e engessado
pelo Estado. Verificaram-se vários entraves e conflito: comunidade versus Administração do
Parque; conflito de interesses; organização versus regulamentação fundiária; características e
fragilidade dos ecossistemas versus exploração econômica e êxodo da população.
PALAVRAS-CHAVE: Entraves, regularização fundiária, parque.

ABSTRACT
The State Park of the Sierra Conduru is located in the south of Bahia, in the so-called
micro-region islets - Glasgow This study aimed to characterize the process of regularization Land
State Park in the Sierra Conduru, specifically deal with the identification of properties and
possessions already indemnified / desapropriadas; check the negative environmental impacts caused
by the owners and settlers and diagnose the main obstacles and conflicts existing in the process of
expropriation. We used the case study, which is one way of doing empirical research of a qualitative
nature, as a source of data collection, was held semi-structured interviews with owners and settlers
of the CFSP, to 17 and all the technicians the Department of Environment (EMS) office in
Glasgow, the whole 3. The study results were relevant to show that the majority (94%) of
respondents are dissatisfied with regard to the expropriation / compensation in the park, claiming
the slow progress of the proceedings, there is a view that the park was created in 1997 and up today
have not been indemnified and the depreciation in value to be indemnified by the passage of time. It
was possible to conclude that the CFSP was established in inappropriate way, without public
consultation and the process of expropriation is unfair, lengthy and plaster by the state. There were
several obstacles and conflict: community versus the Park Administration; conflict of interest;
organization versus land regulations; features and fragile ecosystems versus economic exploitation
and population exodus.
KEYWORDS: Barriers, land regularization, park.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 275

1 INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica é um bioma altamente ameaçado e riquíssimo em biodiversidade; por


isso é reconhecido como um dos 25 hotspots do mundo. Considerando sua extensão e o alto grau de
fragmentação, está cada dia mais reduzida devido ao crescente desmatamento, o que tem levado
muitas espécies ao risco de extinção.
As Unidades de Conservação foram criadas com o propósito de manter a diversidade
biológica e os recursos genéticos no país. Protegem as espécies ameaçadas de extinção, preservam e
restauram a diversidade de ecossistemas naturais e promovem a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais. Também estimulam o desenvolvimento regional, protegem as paisagens naturais,
incentivam atividades de pesquisa científica e favorecem condições para a educação. Além disso,
possibilita a recreação em contato com a natureza, o que ultimamente passou a ser conhecido por
turismo ecológico. Tais unidades, especialmente as de proteção integral, são componentes
essenciais para a conservação da biodiversidade, e desempenham um importante papel para o bem
estar da sociedade.
Atualmente, face ao quadro de degradação do meio ambiente e aos modos de vida
precários das populações locais das Unidades de Conservação, o Brasil e o mundo se vêem
obrigados a voltar sua atenção para a premente necessidade de buscar o equilíbrio entre as questões
ambientais, sociais e de desenvolvimento, tema já reconhecido pelos órgãos de apoio à pesquisa, de
implementação, legislação e incentivo, como pode ser observado nas expectativas do Ministério do
Meio Ambiente.
A criação e implantação de unidades de conservação de uso indireto em propriedades
particulares revela-se um problema de suma importância. De um lado as instituições protetoras do
meio ambiente requerem ampliação dessas unidades de proteção integral e sua preservação e de
outra vertente, proprietários/posseiros das terras não admitem a interferência do governo em suas
propriedades sem prévia e justa indenização. O conflito é evidenciado quando o Estado baseado em
legislações específicas impõe novas regras de uso e obtenção dos recursos naturais, regras estas,
voltadas para o não uso, desta forma, evidenciando os conflitos socioambientais.
O Parque Estadual da Serra do Conduru (PESC), enquadra-se nas características expostas e
é foco deste estudo, está situado no Sul da Bahia, na micro região Itabuna-Ilhéus, possui
características naturais relevantes, abrigando uma das maiores diversidades de espécies vegetais
arbóreas conhecidas no mundo, contando com 144 espécies lenhosas em mil e também está Inserido
no Corredor Central da Mata Atlântica e é considerado uma das zonas núcleo da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica (RBMA).
O objetivo do trabalho fora caracterizar o processo de Regularização Fundiária no Parque
Estadual da Serra do Conduru, especificamente versando sobre a identificação das propriedades e
posses já indenizadas/desapropriadas, verificando os impactos ambientais negativos originados
pelos proprietários e posseiros e diagnosticando os principais entraves e conflitos existentes no
processo de desapropriação.
Visando atender aos objetivos propostos foram entrevistados 17 posseiros e proprietários,
esclarecendo preliminarmente o objetivo da pesquisa e sua finalidade. Optou-se por esta amostra,
em virtude destes se encontrarem no processo de indenização mais adiantado, o que facilitou a
percepção. Entrevistas com técnicos da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), 3 ao todo, com as
quais foi possível ouvir dos entrevistados o relato e receber a contribuição dos que presenciaram nas
iniciativas e andamento do processo de regularização fundiária do PESC.
Ao longo da pesquisa, novas questões foram sendo suscitadas, redirecionando o olhar para
outras possibilidades e levando a refletir sobre elas no intuito de atender ao tema e ao problema
elegido.
A justificativa da escolha do estudo de caso pode ser retirada de Bruyne et al (1977), que
destacam que ele permite, entre suas características, aprofundar casos particulares. Sendo assim,
pressupõe-se, que com este estudo se desvendará o fenômeno investigado a partir da exploração de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 276

um caso, reunindo grande quantidade de informações detalhadas, buscando delimitar a sua


compreensão e extensão em sua complexidade (GOLDENBERG, 1997).
Foram realizados levantamentos bibliográficos em biblioteca, livros, internet, Banco de
Teses e consulta a experts, objetivando obter informação sobre Regularização Fundiária em
Unidades de Conservação e em específico sobre a categoria parque, igualmente, efetivada
levantamentos documentais, entre eles, o projeto de Implantação do PESC, o Plano de Manejo do
Parque Estadual da Serra do Conduru, os Relatórios realizados pelo antigo Departamento de
Desenvolvimento Florestal (DDF) e a Empresa de Meio Ambiente do Brasil (EMAB), com a
finalidade de obter maiores informações sobre a área e o objeto de estudo e sobre o processo de
desapropriação. A pesquisa documental foi constante durante todo o tempo dedicado ao estudo do
tema.
As observações foram realizadas nas visitas técnicas: inicialmente em 2007, três à
sede do Parque Estadual da Serra do Conduru, durante as quais foi possível acompanhar os projetos
e o trabalho dos técnicos a serviço da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), responsável pela
administração e regularização fundiária da unidade, além de desfrutar da paisagem em que se
localiza à área. Posteriormente em 2008, houve novas visitas e participação em reuniões; durante
participação em reuniões na sede do parque; participação em reuniões promovidas pelo Conselho
Consultivo do PESC (como ouvinte), com presença de várias Instituições, inclusive proprietários e
posseiros, com o objetivo de discutir questões fundiárias e conflitos.
A modalidade de entrevista utilizada foi a semi-estruturada, porque esse tipo de coleta de
dados procura criar condições para uma narrativa pessoal da experiência vivida, ao mesmo tempo
em que estimula a comunicação do entrevistado com o conteúdo que se quer pesquisar
(GONÇALVES FILHO, 2003 apud ACKERMANN, 2007). Desta forma, procurou-se cuidar para
que as questões propostas propiciassem narrativas e não respostas simples a perguntas fechadas.
Os dados coletados nas entrevistas foram organizados por similaridade, utilizando as
ferramentas do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) propostas por Lefèvre (2003) apud Massena
(2007).

2 PROCESSO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NO PARQUE ESTADUAL DA


SERRA DO CONDURU

Os botânicos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e do


Jardim Botânico de Nova York em 1988 detectaram em um hectare no município de Uruçuca, uma
riqueza de 458 espécies arbóreas (THOMAS et al apud BAHIA, 1997). Tal estudo mobilizou a
comunidade técnico-científica para a criação de uma unidade de conservação (UC) de uso indireto
na região, e deste modo foi criado o Parque Estadual Serra do Conduru, fruto de uma articulação
entre o Governo da Bahia e Organizações Não Governamentais (ONGs) locais e internacionais
(OLIVEIRA, 2000).
Segundo Oliveira (2000), para o início das ações de regularização fundiária no PESC,
houve a demarcação do polígono, a monumentalização de treze vértices e o aceiramento das
fronteiras secas, foi realizada por meio convênio entre o Departamento de Desenvolvimento
Florestal (DDF) e o Instituto de Terras da Bahia (INTERBA). Sabe-se que o INTERBA em
dezembro de 1997 realizou a delimitação da poligonal do PESC e em janeiro de 1998 efetuou a
medição de 45 imóveis na área.
Em seguida, iniciou-se o cadastramento dos proprietários e posseiros da área. Em cada
imóvel rural foram descritas e medidas as instalações, culturas agrícolas e a área total. As áreas
levantadas foram digitalizadas no software ArcView pelos técnicos do Laboratório de
Geoprocessamento do DDF, gerando uma base cartográfica que, composta também por um banco
de dados, subsidiou o planejamento das indenizações.
Para a avaliação dos bens cadastrados, houve elaboração conjunta de uma tabela entre a
DDF, a CEPLAC, o INTERBA e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA).
Adicionalmente, criou-se o Grupo de Trabalho para Indenização, através de Portaria n o 152, de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 277

28/09/99, incorporando ao órgão gestor do PESC, técnicos especializados em ações demarcatórias,


vindos do extinto INTERBA. A partir disto, houve a elaboração dos laudos dos imóveis do PESC,
efetuados com a participação de advogados, engenheiros agrônomos, agrimensores, engenheiros
florestais, biólogos e topógrafos.
A base cartográfica desenvolvida auxiliou na indenização das primeiras áreas, e foi
subsidiando a tomada de decisões a respeito das próximas indenizações, onde foram priorizados os
imóveis que possuíam grandes áreas de floresta primária ou em estágio avançado de sucessão
florestal. A sede do Parque foi eleita em função da facilidade de acesso para outros pontos da gleba
sul do Parque, além de oferecer estrutura para abrigar o escritório, abriga formações de estágio
avançado de sucessão florestal (OLIVEIRA, 2000).
Segundo a mesma autora, na avaliação dos imóveis do PESC, utilizou-se como referencia a
do Banco do Nordeste. Na avaliação não houve incorporação de parâmetros ambientais nos cálculos
das indenizações. Alguns aspectos como disponibilidade de água, energia, distância da sede do
município, condições de acesso e classe de solo poderiam ter ocasionado variações no valor base da
terra nua. Foi sugerido então que, no cálculo do valor da terra nua fosse incluído um fator de
correção ambiental, com índices estipulados em função da porcentagem de área preservada na
propriedade, para evitar que 1 ha de pasto alcance maior valor na avaliação que 1 ha de floresta (
OLIVEIRA, 2000).
O artigo 225 da Constituição de 1988 preceitua que o meio ambiente é bem de uso comum
de todos, portanto, os parâmetros ambientais sugeridos pela autora, não poderiam ser incorporado
na avaliação de indenização e segundo o artigo 12, parágrafo 2º, da lei nº 8.629/93, que regulamenta
os dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, estabelecendo que: Integram o preço da
terra as florestas naturais, matas nativas e qualquer outro tipo de vegetação natural, não podendo o
preço apurado superar, em qualquer hipótese, o preço de mercado do imóvel (BRASIL, 1993).
Em abril de 2000 foram concluídos os Estudos Temáticos como ações precursoras para
confecção do Plano de Manejo do PESC. Em janeiro de 2001 a Empresa Costa Cirne S/C Ltda
ganhou a licitação para o Serviço de Levantamento Topográfico, Planimétrico e Cadastral, da
situação atual dos limites físico, territorial e dominial das ocupações e propriedades, como também,
as avaliações das benfeitorias do PESC, iniciando suas atividades em 2002 e atualizando a
poligonal do PESC para 9.275 hectares.
Extinto o Departamento de Desenvolvimento Florestal (DDF), o PESC, passou a ser
administrado pela Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidade de Conservação
(SFC), através do decreto 8.538 de 20/12/2002, alterada pela Lei nº 9.525, de 21 de junho de 2005,
que instituiu a Diretoria de Gestão e Unidade de Conservação (DIREC), pertencente à Secretaria de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH).
No ano de 2008, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) foi
reestruturada, através da lei nº 11.050 de 06 de junho de 2008, passando a denominar-se Secretaria
do Meio Ambiente (SEMA) e a Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidade de
Conservação (SFC) passa a denominar-se Superintendência de Políticas Florestais, Conservação e
Biodiversidade, órgão atual responsável pela administração do PESC.

3 DESAPROPRIAÇÕES REALIZADAS NO PERÍODO DE 1997 A 2008

Segundo dados fornecidos pelo escritório local da SEMA (2008) da cidade de Itabuna, do
período que foi implantado o parque até 2004, houve 24 indenizações/desapropriações no PESC,
sendo 18 propriedades e 6 posses indenizadas, perfazendo um total em áreas de 1.504,4911 em
hectares indenizados /desapropriados e R$ 1.051.573,99 pago neste período.
A primeira propriedade desapropriada aconteceu no ano de 2000; 22 processos foram
pagos até o ano de 2002 e os 4 restantes foram pagos no período 2002 até 2004, isto quer dizer que,
em dois anos só houve 4 indenizações. Nesta perspectiva é relevante que se faça uma análise a fim
de verificar o motivo de poucas desapropriações entre o período de 2002 a 2004.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 278

Vale mencionar que, se tratando de relação possessória e não de propriedade, o valor a ser
indenizado deverá corresponder apenas ao ressarcimento pela posse, benfeitorias e acessões, ou
seja, benfeitoria é uma reforma, enquanto acessão é uma construção, esta pode ser natural ou
artificial não compreendendo o montante referente à terra nua.
O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias bem como as acessões, se
não lhe forem pagas, a levantá-las e poderá exercer o direito de retenção (BRASIL, 2002). Diante
do exposto pode-se inferir que as posses inseridas no parque se enquadram em posses de boa-fé,
uma vez que, os posseiros recebem pelas benfeitorias e acessões.
No ano de 2005 ocorreram 31 indenizações/desapropriações no PESC, sendo 30 posses e 1
propriedade, totalizando um quantitativo de 348,92 hectares e R$ 428.781,06 pago, referentes as
indenizações/desapropriações neste ano.
No ano de 2006, aconteceram pouquíssimas indenizações/desapropriações, computando 3
propriedades e 1 posse, perfazendo um total de 974,7823 hectares e R$ 450.292,03 pagos neste
período. Ressalta-se que as três propriedades indenizadas neste período pertenciam a uma única
proprietária.
Todavia, o administrador do parque, explicou que no ano de 2005 foi disponibilizado
muito recurso financeiro para as indenizações, priorizando os posseiros, contudo, houve pouca
execução e aproveitamento deste dinheiro, que teve como conseqüência, o retorno do recurso para a
conta única do governo, não podendo ser reaproveitado em 2006.
Percebe-se que o ano de 2007 aconteceu 25 indenizações no PESC, sendo 20 posses e 5
propriedades, totalizando em áreas de 882,1 hectares e R$1.500.648,17 pago pelas indenizações
nesta fase. No ano de 2008 houve apenas uma indenização de uma propriedade com 101 hectares e
R$ 86.622,00 pago.
Diante dos resultados constata-se que, até o momento (setembro, 2008), o total de áreas
indenizadas é de 3710,3 hectares, totalizando um percentual de 40% dos 9.275 hectares do PESC,
desta forma é importante que se faça um levantamento para saber se houve orçamento para este ano
(2008) e um diagnóstico do quantitativo de indenizações/desapropriações no ano vigente, uma vez
que, foram abertos 46 processos neste período.

4 ATIVIDADES SUSPENSAS APÓS IMPLANTAÇÃO DO PESC

Constatou-se que 82% dos entrevistados tiveram a agricultura interrompida após a


implantação do PESC, deixando de realizar o plantio de frutíferas, cacau entre outros; 6% cessaram
a pecuária e 12% afirmam que foram instruídos para cessar o plantio, desmatamento, no sentido de
retirar a mata para criar gado, e queimadas para realização de plantios, ou seja, paralisaram todas as
atividades.
Verificou-se que a indignação maior dos moradores do PESC, diz respeito à proibição de
plantios frente à falta de solução para sua situação o que pode ser confirmado por Brasil (2005).
Houve um desencantamento por parte dos pequenos e médios produtores da região do PESC,
devido ao uso agrícola das terras, causado pela escassez de crédito subsidiado e pela baixíssima
qualidade dos solos. Em janeiro de 1997 havia um número significativo de propriedades à venda
e/ou abandonadas na área do parque (BAHIA, 2000).
Nas grandes propriedades, mesmo sabendo do processo de desapropriação da área, os
investindo continuam a acontecer, mesmo na parte pertencente ao parque. Um dos proprietários
relatou que continua plantando e que não pretende paralisar suas atividades, visto que, a terra é sua,
sob a alegação de que, quando o PESC foi criado não houve consulta pública.
Pelo fato destes usos serem conflitantes com o objetivo da unidade, medidas foram
tomadas para disciplinar tal uso, como a não realização de queimadas, a retirada de vegetação,
ampliação de lavouras, criação de gado fora dos limites da propriedade e a realização de novas
construções e benfeitorias (BAHIA, 2000).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 279

Diante do exposto, é importante esclarecer que o PESC foi criado antes da lei
9985/2000, onde foi estabelecida a obrigatoriedade da consulta pública, desta forma, não poderia ter
ocorrido o pleiteado, uma vez que, não havia lei anterior que definia tal obrigatoriedade.

5 IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS OCORRIDOS NO PESC


As florestas atraíram serrarias de porte médio, consumindo intensamente os recursos das
Serras do Conduru e do Capitão, gerando menos de cem empregos diretos em vilas rurais,
notadamente em Serra Grande, Taboquinhas e Uruçuca. Aliada à atividade madeireira, algumas
propriedades desenvolvem a pecuária como fonte de renda alternativa aliada à cabruca, sistema
tradicional de plantio de cacau no sul da Bahia (BRASIL, 2005).
Os entrevistados definiram como principais ameaças: o desmatamento; a caça e pesca
predatória e a demora na regulamentação fundiária o que é corroborado por Brasil (2005). A
maioria dos agentes é unânime em reconhecer que a caça (46%) e a extração de madeira (46%) são
os principais impactos ambientais negativos ocorridos antes da criação do PESC e apenas 8%
declararam acesso ilegal nos limites da Unidade.
Segundo técnicos da SEMA, os principais impactos, originados pela população residente
são: pecuária extensiva, agricultura de subsistência no sistema de corte e queima extração ilegal de
essências florestais nativas, caça predatória, plantio agrícola em larga escala, usos de pesticidas e
extração de madeira.
O artigo 186 da Constituição Federal de 1988 vislumbra que: ―A função social é cumprida
quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das
disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Infere-se que, a realização de usos inadequados dos recursos naturais e a inobservância da
preservação ambiental revela-se o não cumprimento dos pré- requisitos da função social da
propriedade.

6 PERMANÊNCIA DOS PROPRIETÁRIOS E POSSEIROS NO PESC

Com relação à possibilidade de permanência dos proprietários e posseiros na área do


PESC, 53% dos entrevistados são favoráveis e 47% não são favoráveis, alegando que, os moradores
não iriam obedecer às regras do parque.
Vale mencionar que 53% entendem que só seria possível a permanência dos moradores nos
limites do PESC, precedida de um trabalho adequado de Educação Ambiental. Segundo técnica da
SEMA, há falta de projetos de Educação Ambiental nas escolas municipais e estaduais localizadas
no entorno do Parque.
A Educação Ambiental é o processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Um dos princípios da lei 6938/81 que Institui a Política Nacional de Meio Ambiente
estabelece que a educação ambiental deva estar presente em todos os níveis de ensino, inclusive a
educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente (SIRVINKAS, 2008).
Os técnicos da SEMA entendem que não é possível a permanência dos proprietários e
posseiros no PESC, uma vez que, irá conflitar com os objetivos da Unidade de Conservação,
preceituado na lei 9985/2000.
O dispositivo legal que rege o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, diz que, a
categoria parque é de posse e domínio público, sendo que as áreas particulares inseridas nos seus
limites devem ser desapropriadas conforme dispõe a lei.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 280

Pode-se constatar que, mesmo havendo a possibilidade moral da permanência dos


moradores nas áreas do PESC, não seria possível, haja vista que, conflitaria com os objetivos da
categoria e os preceitos elencados no decreto que criou o PESC e a lei 9985/2000 que institui o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificaram-se conflitos de várias ordens: comunidade versus Administração do Parque;


conflito de interesses; organização versus regulamentação fundiária; características e fragilidade dos
ecossistemas versus exploração econômica e êxodo da população. Em conseqüência, a busca por
soluções é tensa, o que amplia a extensão dos conflitos. A ausência de pessoal capacitado e a sua
descontinuidade, envolvido diretamente com a questão fundiária, reflete um dos entraves para a
celeridade do processo de desapropriação.
O decurso do tempo no andamento dos processos e conseqüentemente a morosidade das
indenizações/desapropriações resultam na continuidade dos impactos ambientais negativos, na
insatisfação da população residente e no requerimento realizado pelos mesmos para agilidade do
processo indenizatório. Isso se reflete na falta de coordenação e nos parcos recursos financeiros
destinados e aplicados efetivamente na regularização fundiária da unidade de conservação estudada.
A pura e simples retirada das populações de suas áreas representam uma violação dos
princípios constitucionais, principalmente aqueles referentes ao respeito à cultura, ao meio ambiente
e ao direito agrário. Portanto, é um problema tanto agrário como ambiental, um problema
socioambiental.

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trabalho informal, o emprego e o desemprego na trajetória de trabalhadores. Dissertação de
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Sul. Brasil, 2007.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 282

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE CONHECIMENTOS SOBRE OS


INVERTEBRADOS MARINHOS: UMA EVIDÊNCIA À
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NA APA JENIPABU/RN-
BRASIL

Elinei Araújo-de-Almeida
Professora de Zoologia. Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA;
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
elineiaraujo@yahoo.com.br
Leonardo Oliveira da Silva
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA; Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
Maria Vitória Élida Nascimento
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA; Universidade Federal do
Rio Grande do Norte
Roberto Lima Santos
Biólogo do Depto Botânica Ecologia e Zoologia, Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente – PRODEMA; Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO
O foco deste trabalho foi mostrar a importância da pesquisa-ação no contexto do ensino-
aprendizagem associada à construção de conhecimentos incluindo o estudo dos invertebrados
marinhos e sua conservação, contextualizados com uma Área de Proteção Ambiental. Ações de
sensibilização ambiental em campo e direcionamento para produção de textos cientificamente
organizados foram efetivados para duas turmas de alunos recém ingressos no Curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Após serem concluídas as atividades
de campo na APA Jenipabu (Apaj), os alunos participantes desenvolveram trabalhos escritos para
apresentação em eventos científicos diversos, para fins de divulgação de elementos de pesquisa
sobre a biodiversidade da Apaj. O interesse e a motivação despertados pelos alunos em se expressar
por meio de seus escritos científicos levaram a uma qualidade maior nos estudos e ainda
proporcionaram a cooperação com profissionais vinculados à respectiva Unidade de Conservação.
PALAVRAS-CHAVE: Ações educativas, Praia de Santa Rita, Unidade de Conservação,
Rio Grande do Norte

ABSTRACT
The focus of this study was to show the importance of action research in the context of
teaching and learning associated with the construction of knowledge including the study of marine
invertebrates and their conservation in context with an Environmental Protection Area. Actions of
environmental awareness in the field and direction for the production of production of texts
scientifically organized were hired for two classes of students newly enrolling in the course of
Biological Sciences, of Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN. After they
completed the field activities in APA Jenipabu (Apaj), the students developed papers written for
presentation at various scientific events, for dissemination of research evidence, on the biodiversity
of Apaj. The interest and motivation expressed by the students in develop themselves through their
writings led to a higher quality studies and provided further cooperation with professionals linked to
its Conservation Area.
KEYWORDS: Educational Actions, Conservation Unit, Santa Rita Beach, Rio Grande do
Norte

INTRODUÇÃO
Durante anos, a sociedade conviveu com as conseqüências da degradação ambiental, com o
argumento de que esses prejuízos eram necessários à produção do desenvolvimento, uma vez que a
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 283

concepção de progresso sempre esteve associada à degradação do meio, ao domínio da natureza e


ao homem como um ser superior, resultando, na sociedade moderna, efetivação de ações
profundamente predatórias e antiecológicas (CASTRO, 1999). Nesse aspecto, grande conseqüência
negativa recaiu para toda a biodiversidade, já que a maior parte dos organismos depende do meio
ambiente para sobreviver.
Segundo Diegues (2004), um dos principais mecanismos, na atualidade, para salvar a
biodiversidade, tem sido o estabelecimento de Unidades de Conservação (UC´s). Porém, o
procedimento de criação da UC por si só, não tem possibilitado os resultados esperados, uma vez
que os processos de degradação ambiental ainda são evidentes. Sendo assim, há necessidades
urgentes de se pensar como melhor desenvolver estratégias educativas para solucionar problemas
dessa natureza, principalmente porque, segundo colocam Lewinsohn e Prado (2000, 2005), o Brasil
é o país que apresenta a maior diversidade de espécies da Terra.
Para resolver os impasses da degradação ambiental e proteger as espécies vivas associadas,
uma das soluções apontadas é a implementação efetiva de ações educacionais voltadas para a
sensibilização dos seres a fim de que novas perspectivas possam ser vislumbradas frente a um estilo
de vida mais sustentável.
Como se apreende de Evans (2006), a Educação Ambiental deve ser iniciada já nos
primeiros anos de formação da criança, pois os adultos costumam ser mais resistentes para adquirir
uma perspectiva sistêmica, começando por ter que desaprender grande parte do que pensam que
sabem, em vista de que nem sempre estes pensamentos e saberes tradicionais estão corretos. Porém,
levando em consideração o que Soulé (1997) destacou, dificuldade não é sinônimo de
impossibilidade, visto que cada um de nós é uma lente exclusiva, fundamentada e polida por
temperamento e educação. Segundo este autor, nossa resposta à natureza – ao mundo – são tão
diversas, como nossas personalidades, embora cada um em momentos distintos possa ficar atônitos,
horrorizados, deslumbrados ou simplesmente entretidos pela natureza. Portanto, é necessário
formarmos cidadãos lúcidos diante da situação imposta no seu cotidiano. E esse empreendimento
pode ser feito nos espaços educacionais tanto formais quanto informais.
Leff (2001) diz que a Educação Ambiental (EA) discutida nos espaços de ensino, assume
uma função crítica e transformadora, objetivando co-responsabilizar os indivíduos na promoção de
um novo modelo de desenvolvimento. Essa intenção pode ser efetivada de forma mais pertinente
quando os espaços formais de ensino assumem compromissos voltados para a exploração e
produção de conhecimentos, contextualizando-os com a realidade local.
Uma proposta instigante de conduzir à produção de conhecimentos é a busca de
experiências diferenciadas proporcionadas por uma abordagem diversificada. Segundo Brito Filho
(2004, p. 200), é ―importante notar a necessidade de práticas educativas interdisciplinares,
permitindo aos professores conversar, interagir suas práticas e, a partir daí, buscar novas práticas‖.
A abordagem interdisciplinar, neste caso, é instigante para repensar as ações do professor
principalmente quando se intenta chamar atenção para a biodiversidade, que no momento, é o
centro de atenção para a sobrevivência da vida no Planeta.
Segundo Fazenda (1993), a concepção da interdisciplinaridade corresponde ao ponto de
partida para que a diversificação de conteúdos aconteça. Neste caso, o professor pode enriquecer
suas informações, inserindo práticas interdisciplinares contextualizadas com os conhecimentos
prévios dos alunos ou pelas experiências e vivências dos alunos em disciplinas paralelas no
percurso de sua formação.Também, como visto em Araújo-de-Almeida et al. (2009), a geração de
experiências didáticas inovadoras podem elevar às aspirações e potencialidades dos alunos
incentivando o desenvolvimento autônomo dos mesmos, para fins diversos. Com isso, também se
pode potencializar novos horizontes para a pesquisa sobre biodiversidade no contexto educacional
(ver FONSECA, 2007; NASCIMENTO; ARAÚJO-DE-ALMEIDA, 2009a).
As considerações aqui defendidas traçam na experiência de produção coletiva do
conhecimento, para que um saber mais significativo sobre a diversidade animal, principalmente,
acerca dos metazoários invertebrados, esteja em coerência com os princípios de envolver uma
ligação íntima com áreas de proteção ambiental, no percurso de formação dos estudantes. Para isso,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 284

seguiu-se exemplos do percurso efetivado para o desenvolvimento de produções textuais pelos


alunos orientados pelo professor, tal como destacados, por exemplo, em Araújo-de-Almeida (2009),
fundamentados na perspectiva de Vasconcellos (2005).
Na concepção de Vasconcellos (2005), o conhecimento do qual o professor apresenta
precisa ser trabalhado, refletido, reelaborado, pelo aluno, para se constituir em conhecimento dele,
compondo, assim, o método dialético que este autor defende. A proposta do método dialético de
construção do conhecimento em sala de aula segundo esse autor pode ser expressa através de três
grandes dimensões ou eixos do educador no decorrer do trabalho pedagógico. Trata-se, então, da
―mobilização do conhecimento‖, ―construção do conhecimento‖ e ―elaboração de síntese‖.
A inclusão de projetos didáticos envolvendo os alunos no processo de ensino-
aprendizagem traz uma série de possibilidades para exploração das informações locais. Neste
sentido, referindo-se ao estudo dos animais, os conhecimentos da comunidade são de grande
significado para enriquecer o banco de dados informativos apresentado na sala de aula (ver
ARAÚJO-DE-ALMEIDA, 2009). Esse conhecimento, quando trabalhado, no contexto da pesquisa,
torna-se um grande elemento potencial de divulgação para comunicar os aspectos positivos de uma
área de conservação e ao mesmo tempo proporcionar materiais de estudos científicos a serem
explorados em sala de aula. Essa forma de divulgação pode atingir meios de comunicação diversos,
entre eles, Periódicos nacionais e internacionais, Anais de eventos científicos diversos e Jornais de
Notícias. Dessa forma, cumprindo-se, então, os objetivos da Estratégia Nacional de Comunicação e
Educação Ambiental – Encea (BRASIL, 2009), ao trabalhar na perspectiva da Educomunicação,
uma área de conhecimento bem explorada por Soares (2002), a qual vem ganhando espaços de
interesse nas pesquisas sobre Educação Ambiental.
Os objetivos deste trabalho foram documentar acerca de aulas efetivadas em
ambiente costeiro voltadas para o estudo e produção de conhecimentos sobre os Invertebrados
marinhos contextualizando as informações trabalhadas em campo com a perspectiva de visualizar e
aprofundar, por meio de sensibilização ambiental, o entendimento da importância de uma Unidade
da Conservação para que a biodiversidade continue sempre existindo.

METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos para investigação e construção de conhecimentos
se iniciaram com a fase de mobilização, seguindo as considerações de Vasconcellos (2005) acerca
das dimensões de um trabalho pedagógico construtivista: ―mobilização do conhecimento‖,
―construção do conhecimento‖ e ―elaboração de síntese‖. Neste trabalho também foi vivenciada
uma etapa posterior, a divulgação dos conhecimentos produzidos.
A mobilização do conhecimento foi iniciada para 70 alunos divididos em duas
turmas de ensino de Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), no ano de 2009 ao estudar o tema ―Invertebrados‖ inserido na disciplina
Biodiversidade I. Aplicou-se uma discussão, em caráter diagnóstico, sobre o tema relacionado ao
estudo dos Invertebrados e destacou-se a importância das Unidades de Conservação para a
manutenção dos organismos a serem estudados. Com a intenção de gerar expectativas de
aprendizagens mais significativas sobre o tema, foi abordado acerca do entendimento relacionado à
conservação da Biodiversidade, tema esse, pouco conhecido dos alunos recém ingressos deste curso
de graduação Esse modelo teve intenção de levar os estudantes a práticas investigativas e promover
os conteúdos pelo enriquecimento das aulas ministradas com os elementos didáticos adicionais.
Elegeu-se para realização de atividade de campo uma Área de Proteção Ambiental localizada em
ambiente marinho do Estado do Rio Grande do Norte.
As atividades de campo foram, então, centradas na APA de Jenipabu, que está
localizada entre os municípios de Natal e Extremoz (35º 12' 56"W e 05º 40' 40"S), litoral Norte do
Estado do Rio Grande do Norte com uma área de 1.881 ha, tendo como ato de criação o Decreto
Estadual n.° 12.620, de 17 de maio de 1995. Segundo o Idema (BRASIL, 2009), o surgimento desta
Unidade de Conservação deveu-se à necessidade de proteger, em caráter permanente e emergencial,
toda biodiversidade existente nesta zona costeira.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 285

As visitas a campo centraram em duas áreas distintas: uma mais interna contendo matas,
lagoas e dunas e a outra mais externa, sendo esta representada pelos recifes da Praia de Santa Rita.
A ida aos recifes da Praia de Santa Rita (representando a parte externa) foi feita para todos os
alunos matriculados (turnos diurno e noturno) da disciplina citada neste local pode-se observar a
maior parte dos táxons em estudo. Já na parte interna foram realizadas trilhas na mata de restinga,
aplicadas a um grupo menor de estudantes, para observação e registro dos invertebrados aí
presentes, principalmente aracnídeos, e coletas de água nas lagoas com fins de observação dos
invertebrados microscópicos não obtidos em área de recife da Praia visitada. Essas atividades foram
direcionadas com algum enfoque de sensibilização ambiental de um grupo pequeno de alunos,
conduzidas por biólogos estagiários desta Unidade de Conservação.
Considerando que o interesse e motivação dos alunos juntamente com os monitores
que acompanharam a atividade de campo voltada para observação e anotações de registros visuais
sobre os animais em campo era grande, nesse momento, também se explicitou a presença de
elementos da fase de mobilização do conhecimento para com os alunos.
A construção do conhecimento, segunda categoria determinada por Vasconcellos
(2005), foi efetivada no momento que os alunos iniciaram seus escritos documentando o significado
da atividade de sensibilização em campo voltada para a aprendizagem dos grupos de Invertebrados
existentes nos recifes da Praia de Santa Rita/Extremoz-RN, como também empreenderam-se
pesquisas em fontes bibliográficas diversas para enriquecer o estudo de campo efetivado. Foram
disponibilizados, para os alunos, alguns trabalhos científicos já efetivados por outros autores,
envolvendo a contextualização do conhecimento zoológico com Unidades de Conservação.
Por fim, a fase de síntese foi implementada com a produção de textos científicos
elaborados pelos grupos de alunos e seus colaboradores externos (monitores da disciplina,
estagiários de iniciação científica, biólogo da UFRN e biólogos estagiários da APA Jenipabu) e a
professora orientadora (primeira autora desta pesquisa).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na fase de síntese contemplou-se a riqueza de conhecimento proporcionada pela efetivação
da atividade em campo: a produção de 16 textos científicos elaborados pelos alunos e seus
colaboradores e a orientadora. Os textos produzidos sobre a diversidade de Invertebrados existentes
nos recifes da Praia de Santa/Extremoz contextualizados com o exercício de sensibilização
ambiental, realizado em uma área de Proteção Ambiental constituíram textos inéditos. Foram
expostos 16 trabalhos no VIII Simpósio do Centro de Biociências – UFRN (realizado em outubro
de 2009 na cidade de Natal), pelos alunos participantes; como também, destes trabalhos, seis foram
publicados nos Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Zoologia ocorrido em Fevereiro de 2010
na cidade de Belém/PA.
Publicações de trabalhos já efetivados em sala de aula sobre a importância da APA
Jenipabu na conservação dos Invertebrados vêm sendo de grande importância, não só para
enriquecer os conhecimentos sobre a biodiversidade (ver SILVA; ARAÚJO-DE-ALMEIDA;
FREIRE, 2007; FREIRE et al., 2008 e MELO et al., 2008; NASCIMENTO; ARAÚJO-DE-
ALMEIDA, 2009a, 2009b ), como já destacado anteriormente, também é um elemento de
educomunicação tal como recomenda o documento Encea inserido no Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). Estas observações vêm a enriquecer todo o cenário da produção
do conhecimento envolvendo alunos e professores num processo de cooperação acadêmica para fins
de transformação social (ver ARAÚJO-DE-ALMEIDA et al., 2009). A efetivação de uma
aprendizagem direcionada pela construção do conhecimento corresponde a uma experiência crítica
e emancipatória, no sentido de uma relação dialógica, tal como sugere Freire (2006, 2007). E, como
se infere de Galiazzi (2001), é uma forma de aprender pela pesquisa.
É importante colocar que Oliveira, Chaves e Bezerra (2009) desenvolveram um estudo
exploratório com alguns representantes moradores da APAJ e diagnosticaram alguns elementos
conflitantes em relação à percepção que têm frente à criação da Unidade de Conservação, os quais
estão inseridos. Mas, os entrevistados também apontaram caminhos de solução por meio de ações
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 286

educacionais e uma participação mais efetiva dos órgãos estaduais para que rumos mais
sustentáveis possam ser aplicados para comunidade. Seguindo as considerações de Pegoraro e
Sorrentino (1998), sobre a inclusão de uma educação ambiental voltada para a conservação da
biodiversidade, é de grande importância que se busquem caminhos urgentes para efetivação desta
prática, pois, a realização de ações educacionais enfocando sobre a relevância do conhecimento
sobre os organismos nas escolas mobiliza mais fortemente o intuito de conservação da
biodiversidade. Inclusão de pesquisas educacionais envolvendo ações tal como recomendam
Tozoni-Reis (2005), Cazoto e Tozoni-Reis (2008) na perspectiva da pesquisa-ação de Thiollent
(2000), são de ótimos resultados para as intenções de sensibilização ambiental e mudanças de visão
sobre as finalidades de uma Unidade de Conservação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse tipo de produção de conhecimentos sobre a Biodiversidade de Invertebrados
contextualizados com um estudo específico em Área de Proteção Ambiental traz grandes
contribuições para enriquecer as experiências que envolvem o meio ambiente e sua conservação. E,
a publicação das idéias desenvolvidas em sala de aula acrescida ao processo de criação do
conhecimento, torna ainda mais significativa a perspectiva de transformação social. Sendo assim,
úteis como documentos que se articulam ao processo de reflexão sobre as práticas de sensibilização
imersas no mundo da experiência humana. Também se constata com esse exercício que, a
participação efetiva dos alunos em colaboração com agentes externos, enriquece a aprendizagem
demandando um amadurecimento e comprometimento com as questões ambientais envolvidas com
a sua realidade. Também essa pesquisa de ação educacional, realizada de forma cooperativa, vem
proporcionando estreitamento das interações com o Conselho Gestor da respectiva Apa Junipabu
juntamente com o órgão governamental, Idema-RN.

AGRADECIMENTOS
Somos gratos aos alunos de Ciências Biológicas que desenvolveram seus trabalhos
integrando o estudo dos Invertebrados com os elementos ambientais da Apa Jenipabu e seguiram
além dos intuitos de uma avaliação conceitual em uma disciplina, publicando seus escritos em
Eventos Científicos. Agradecemos especialmente aos monitores Luiz Cláudio Cardoso Chaves e
Icemária Felipe Silva pela participação efetiva nas atividades criativas da sala de aula. Lembramos
também as contribuições de Carla Baeta de Sales e Fábio Simas Estevam, biólogos atuantes da
APAJ, que colaboraram nos diversos atendimentos aos alunos quando buscaram aprender mais
especificidades de uma Unidade de Conservação. Lembramos também a amizade e o acolhimento
dos Conselheiros dessa APA na busca por um fazer mais sustentável para a comunidade.
Ressaltamos o apoio e o interesse pelas nossas idéias demonstrados pela vice-presidente Fátima de
Freitas Rêgo (Idema), Alinne Kadidja de S. Fernandes (Coordenadora do NUC/Idema).

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 289

SUCESSÃO ECOLÓGICA NO AÇUDE DO BODOCONGÓ EM


CAMPINA GRANDE – PB: EUTROFIZAÇÃO ARTIFICIAL
COMO FATOR ACELERADOR

Leonardo Rodrigues dos SANTOS


(UEPB) Especialista em Gestão e Análise Ambiental e professor de Biologia.
leo_santosrodrigues@hotmail.com
Emmanuelle de Vasconcelos SIQUEIRA
(UEPB) graduanda em Ciências Biológicas.
emmanuelle.vs@gmail.com
Leonardo Alves Porto VITÓRIO
(UEPB) graduando em Ciências Biológicas.
leonardoapv@gmail.com
Joana D‘arc Araújo FERREIRA
(UEPB) Doutora em Recursos Naturais (UFCG) e professora titular da Universidade
Estadual da Paraíba.
joanaarcn@yahoo.com.br

RESUMO
As modificações das características naturais de ecossistema aquático para terrestre, são
notadas no Açude do Bodocongó. Tal evento é conhecido pelos pesquisadores como sucessão
ecológica. As sucessões ecológicas são processos que remetem a eventos muito demorados que
ocorrem ao longo de anos. Em um de seus conceitos sucessão ecológica é um processo gradativo de
modificações climáticas, físico-químicas e biológicas em um meio, por motivos naturais ou
antrópicos, que por fim, modificam a estrutura original daquele meio. Neste estudo, a sucessão em
questão é do tipo secundária, por acontecer em ecossistema onde já haviam comunidades
estabelecidas (ODUM & BARRETT, 2007). Neste caso o proceso de sucessão pode ser observado
em curtos períodos de tempo em locais bastante como terrenos, campos, matas, lagos ou
reservatórios. Focaremos tambem a eutrofização como fator acelerador de sucessão ecológica
(ESTEVES, 1998). A eutrofização é o aumento da concentração de nutrientes, especialmente
fósforo e nitrogênio (TOWNSEND, BEGON & HARPER, 2006), nos ecossistemas aquáticos,
consequentemente o aumento de suas produtividades (ESTEVES, 1998). Este evento permite surgir
microorganismos decompositores, diminuindo a taxa de oxigênio. A análise do processo de
sucessão ecológica foi feita a partir da observação das modificações do ecossistema em questão,
artigos relacionados aos aspectos qualitativos da água e sua degradação ambiental, visitas in loccu,
fotografias e conceitos encontrados em bibliografias especializadas. Um trabalho do poder público,
pesquisadores e estudantes especializados, no sentido de preservar o restante do espelho d‘água
presente, levará a manutenção das características deste açude. Um dos principais focos dos
envolvidos neste processo de recuperação deve ser a diminuição, o tratamento ou interrupção dos
efluentes contaminados que provocam a eutrofização, já que este é um processo de degradação que
acelera as transformações ocorridas neste açude. Ainda conscientizar os moradores que se localizam
às suas margens no intuito de preservar este ecossistema.
PALAVRAS-CHAVES: açude, sucessão ecológica, eutrofização, degradação, preservar.

ABSTRACT
The changes of the characteristics of the aquatic ecosystem are noticed in the Bodocongó
dam. This event is known by researchers of the area as ecological succession. The ecological
successions are processes that when they commented, refer to very long events of years. An
succession is a gradual process of climatic, physics-chemistry and biological changes in a certain
environment, for natural or anthropic reasons that in the end, along of a certain period of time,
modify the original structure of that environment. A process of succession, however, can be
observed in short periods of time (some years and even months) in really commom places like lots,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 290

fields, forests, lakes and reservoirs. We will also focus the eutrophication as accelerator factor of
ecological succession in the dam in question. The eutrophication happens due to indiscriminated
deposition of organic matter in large quantities constantly released in a body of water. This event
allows greater decomposition in the water and the consequent fall in the rate of oxygen. The
analyses of the process of ecological succession in the Bodocongó dam was made from the
temporal observation of the changes in the ecosystem, article related to the qualitative aspects of the
water and its environmental degradation, visits in loccu and photographic registrations besides the
concept found in specialized bibliographies. A performed work of the public power, researchers and
students in the specialized areas, in the sense of preserving the rest of the blade of water still present
there, can lead to the maintenance of the original characteristics of the dam. One of the main
focuses of the people involved in this process of recuparation must be the fall of the process of
eutrophication, since this showed itself a process of degradation accelerator of the changes occurred
in the dam in question.
KEYWORDS: dam, ecological succession, eutrophication, degradation, to preserve.

INTRODUÇÃO
As sucessões ecológicas são processos que quando comentados, inicialmente, remetem a
eventos muito demorados que podem ocorrer ao longo de muitos anos. Uma floresta que devido a
eventos naturais intensos transforma-se em um grande deserto ou locais rochosos, de origem
vulcânica que passam de ambientes inóspitos a férteis, são outros bons exemplos de sucessão
ecológica. Tais afirmações são possíveis devido principalmente a achados fósseis como grandes
reservas petrolíferas em certos ambientes desérticos que induzem que grandes quantidades de seres
vivos ali tenham existido. Muitas definições podem ser usadas para um processo de sucessão
ecológica. Todas basicamente chegam a um mesmo raciocínio. Sucessão ecológica é um processo
gradativo de modificações climáticas, físico-químicas e principalmente biológicas sofridas em um
determinado meio, por motivos naturais ou antrópicos, que por fim, ao longo de um certo período
de tempo, modificam a estrutura original daquele meio. Porem um proceso de sucessão pode ser
também observado em curtos períodos de tempo (alguns anos e até mesmo meses) em locais
bastante variados como terrenos, campos, matas, lagos ou reservatórios. No caso de sucessões mais
rápidas, em geral, podemos observar a ação de fatores não-naturais como por exemplo a ação
degradadora do homem. O foco deste artigo é um processo de sucessão ecológica que vem
ocorrendo no Açude do Bodocongó na cidade de Campina Grande – Paraíba. Neste local, onde
existia uma grande área de espelho d‘água, já se observa uma grande parte de área bastante
modificada (assoreada) pelo estabelecimento de um solo firme que já abriga várias espécimes de
seres vivos de pequeno e grande porte, principalmente vegetais e animais. As comunidades
terrestres ali estabelecidas, no que antes era uma área de ecossistema lêntico, ou seja, de águas
paradas (ODUM & BARRETT, 2007) demonstrarm então um lento processo de adaptação mas que
culminou na formação de um ecossistema bem distinto do que ali existia (passagem de ecossistema
aquático para ecossistema terrestre). Um outro foco é a relação do processo de eutrofização do
açude em questão, que leva a modificações qualitativas e quantitativas profundas nas comunidades
aquáticas (ESTEVES, 1998) e tende a acelerar mais ainda as modificações naturais (estruturais,
fisícas e químicas) do ecossistema aquático em questão.
2. METODOLOGIA
A análise do processo de eutrofização como fator acelerador do processo de sucessão
ecológica no Açude do Bodocongó foi basicamente feita a partir da observação temporal das
modificações do ecossistema em questão. Pesquisas em artigos e trabalhos científicos que tratam de
estudos relacionados aos aspectos qualitativos da água (temperatura, oxigênio dissolvido, pH,
nitrogênio total, fósforo total, condutividade elétrica, coliformes totais e solidos totais) com
amostragens no período de 2006 - 2007 (CARVALHO, 2008) e da degradação ambiental
(lançamento de esgotos, deposição de resíduos sólidos nas margens, extração de areia, processos
erosivos, assoreamentos) deste açude no período de 1998 – 2007 (CARVALHO, 2009). Tais artigos
apontam o processo de eutrofização como um fator de modificação estrutural deste meio aquático.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 291

Visitas in loccu e registros fotográficos também se mostraram importantes na análise e


reconhecimento do processo de sucessão ecológica neste açude. Conceitos e conclusões encontradas
em bibliografias especializadas complementaram a metodologia para o estudo em questão.
3. DISCUSSÃO
A partir de observações feitas ao longo do tempo, mais precisamente o período entre 1989
e os dias atuais, uma drástica mudança das características estruturais deste corpo d‘água passou a
ser percebida. É bem perceptível que a área do espelho d‘água do açude do Bodocongó, um
ecossistema aquático de grande valor ambiental e histórico para a cidade de Campina Grande, vem
diminuindo gradativamente.

Fig. 1 - Vista do Açude do Bodocongó por imagem de satélite mostrando em escuro a


lâmina d‘água restante. A linha vermelha representa porção do açude modificada (solo). A linha
amarela identifica a proliferação da planta ―baronesa‖ sobre a lâmina d‘água.
Fonte: Google Earth.

Tal processo logo passou a ser alvo de reportagens e estudos de uma maneira que, chegou-
se a conclusão de que as modificações caracterizavam um caso de sucessão ecológica. Este é um
processo gradativo que ocorre em certos ecossistemas devido a modificações climáticas, físico-
químicas e principalmente biológicas sofridas em um determinado meio, por motivos naturais ou
antrópicos, que por fim, ao longo de um certo período de tempo, modificam a estrutura original
daquele meio. No caso do açude do Bodocongó, a observação espaço-temporal e estudos
específicos (trabalhos, publicações e artigos científicos) mostram que a área do espelho d‘água está
aos poucos dando espaço ao surgimento de novas comunidades que, gradativamente, estão
modificando a estrutura natural deste meio, tranformando um ambiente aquático em ambiente
terrestre. Estudos já constataram que ocorreu uma redução de 19% do espelho d‘água deste açude
ao longo de 18 anos ou seja, mais precisamente uma redução de 27,28 ha ( julho, 1989 ) para 22,17
ha (abril, 2007) segundo dados obtidos da imagem do Land Sat 5 e CBERS 2, nas datas informadas
respectivamente (CARVALHO, 2009). Os processos de sucessão em um ecossistema podem
ocorrer naturalmente, mas no caso do açude do Bodocongó constatou-se que atividades antrópicas
tem sido um fator fundamental para as rápidas mudanças estruturais observadas. Um dos processos
que aceleram ainda mais tais modificações é a eutrofização artificial, ou seja, induzida pelo homem
(ESTEVES, 1998). Entende-se por eutrofização uma deposição de matéria orgânica em certas
quantidades liberadas num corpo d‘água. Neste caso específico, por ser um processo artificial, a
deposição de matéria organica é depositada de forma indiscriminada e constante por fontes como:
lançamento de esgotos residenciais oriundos de bairros próximos como Araxá, Bodocongó,
Jeremias e a ―vila dos teimosos‖, de residênciais, esgotos industriais e de repartições públicas que
ali se estabeleceram.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 292

Fig.2 – Abertura de esgoto sendo lançado direto no açude.


Fonte: Autor.

Deposição de resíduos sólidos orgânicos às margens do açude (restos não comercializados


de frutas e verduras) e outros produtos biodegradáveis, por exemplo.

Fig. 3 – Lixo caseiro junto a amontoado de cebolas jogados ás márgens do açude (motivo
de eutrofização).
Fonte: Autor.

Por si só a eutrofização já é um processo natural de maturação de um ecossistema lacustre


(BRAGA et al. 2005). Desse modo podemos apontar a eutrofização artificial como um processo
acelerador da sucessão ecológica no açude do Bodocongó, seguindo uma certa sequência de
eventos. A matéria orgânica depositada na água é fonte de alimento para microorganismos
decompositores aeróbios que passam a se proliferar e com isso consumir grandes quantidades de
oxigênio da água. Tal consumo leva a uma ―baixa‖ na quantidade de oxigênio dissolvido o que
acarreta em mortalidade de peixes que, de certa forma se traduz em mais matéria orgânica a ser
decomposta. Com a decomposição acelerada e constante, até os microorganismos aeróbios tendem a
ser eliminados, abrindo espaço para o surgimento de grandes populações de microorganismos
decompositores anaeróbios ( bactérias e cianobactérias ) que passam a liberar também grandes
quantidades de gases mal cheirosos como o gás metâno, por exemplo. Apesar de toda essa aparente
criação de um ambiente inóspito, algumas macrófitas aquáticas passam a se desenvolver devido a
grande deposição de nutrientes presentes na água. Estas proliferam e dominam grandes áreas do
espelho d‘água deste açude. Uma planta muito desenvolvida neste meio é da espécie Eichornea
crassipes (ESTEVES, 1998) vulgarmente conhecida por ―baronesa‖ ou mesmo ―aguapé‖.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 293

Fig. 4 – Proliferação das ―baronesas‖ sobre a lâmina d‘água do açude do bodocongó.


Fonte: Autor.

A população dessas macrófitas então passam a competir pelos recursos deste meio e, com
isso um grande número de indivíduos desta população vegetal, vem a morrer. Com o crescimento
desenfreado dessas plantas os indivíduos mortos são ―empurrados‖ ou soterrados literalmente para o
meio abaixo do espelho d‘água e isso de forma constante, diminuindo gradativamente a
profundidade do açude. Um compactado inicial de biomassa vegetal se forma, algo semelhante a
um ―solo‖ de material vegetal. Já que certas áreas diminuíram a profundidade, permitem assim que
alguns animais bovinos, caprinos, aves e invertebrados, por exemplo, possam ir buscar alimento
bem próximo das ―novas‖ margens. Podemos imaginar então que estes novos indivíduos passam a
frequentar este novo meio, enriquecendo-o com suas excretas (fezes, principalmente) que tendem
formar uma camada orgânica superficial, riquíssima em nutrientes (TOWNSEND, BEGON &
HARPER, 2006).

Fig. 5 – Planta ―baronesa‖ (acima) e gramíneas (abaixo). Ainda porção de fezes de cavalo
já em contato com a água do açude.
Fonte: Autor.

Assim há o estabelecimento gradativo de novas espécimes vegetais como musgos,


gramíneas, pequenos e médios arbustos que desta forma, passam a atrair novos indivíduos
(consumidores primários, secundários e outros níveis tróficos de uma nova cadeia alimentar).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 294

Fig. 6 – As várias populações vegetais já estabelecidas no que antes era lâmina d‘água do
açude.
Fonte: Autor.

Percebe-se então que a sequência de eventos desta sucessão tem início na grande demanda
de nutrientes na água seguido da decomposição, proliferação rápida de macrófitas aquáticas devido
aos nutrientes oriundos da decomposição dos compostos orgânicos. É bom citar que o proceso de
sucessão ecológica que está sendo descrito é do tipo secundário, já que a formação do novo
ecossistema ocorreu a partir de um outro já existente (ODUM & BARRETT, 2007). Atualmente
observamos que os próprios habitantes das ―margens‖ do Açude do Bodocongó já utilizam a área de
solo surgida para aumentarem seus quintais e assim suas próprias moradias, o que reforça mais
ainda o processo de profunda modificação do ecossistema em questão. Obviamente, vários outros
fatores bióticos e abióticos poderiam ser citados para o evento de sucessão ecológica descrito,
porém o objetivo deste artigo é o de apontar como a eutrofização artificial acelera as modificações
estruturais de um meio aquático levando-o a sucessivas modificações.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sucessão ecológica no Açude do Bodocongó já é um processo bastante adiantado com o
estabelecimento de várias populações que não eram observadas anteriormente. A análise deste
processo no açude demostram que atividades antrópicas aliadas à falta de consciência por parte da
população que ali reside, a ausência de fiscalização e a omissão dos poderes públicos permitiram
um avançado estágio de degradação, de difícil recuperação em algumas partes e por que não dizer,
sem nenhuma chance de recuperação natural para estas partes. Um trabalho atuante do poder
público, de pesquisadores e estudantes de áreas especializadas, no sentido de preservar o restante do
espelho d‘água ainda presente, pode levar a manutenção das características originais do açude. Um
primeiro passo seria o tratamento e aproveitamento dos esgotos ali derramados o que iria diminuir
de forma bem efetiva a indiscriminada deposição de materiais orgânicos neste corpo d‘água,
amenizando a sua degradação pela eutrofização que, como comentada neste artigo, se mostrou um
fator acelerador de transformação do ecossistema em questão. Atualmente já existem tecnologias
para aproveitar a água proveniente de esgotos e para utilizar os resíduos semi-sólidos na produção
de fertilizantes e gás metâno, o qual pode ser empregado como combustível. Ainda, por meio de
palestras e outros encontros, buscar a conscientização da população que vive as margens do açude
no que diz respeito a sua preservação, demonstrando assim sua importância ecológica e social.

5. REFERÊNCIAS
BRAGA, Benedito et al. Introdução a engenharia ambiental. 2ª edição. Ed. Pearson
Prentice Hall. São Paulo - SP, 2005.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 295

CARVALHO, A. P. Aspectos qualitativos da água do açude de Bodocongó em Campina


Grande – Paraíba. Parte de dissertação de mestrado do autor apresentada ao programa de pós-
graduação em engenharia agrícola, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, 2008.
CARVALHO, A. P. Estudo da degradação ambiental do Açude de Bodocongó em
Campina Grande – Paraíba. Parte de dissertação de mestrado do autor apresentada ao programa de
pós-graduação em engenharia agrícola, Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, 2009.
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TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, John L. Fundamentos Em Ecologia.
2ª edição. Ed. Artmed. Porto Alegre – RS, 2006.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 296

ALTERNATIVE CONTROL TECHNIQUES FOR PESTS OF


BANANA

José Bruno MALAQUIAS


Orientador. Agrônomo (UFPB). Consultor da Organização Não Governamental Grupo de Disseminação
Científico & Tecnológico – GDCITE, Guarabira-PB, Brasil.
jbmalaquias@ig.com.br
Flávia Q. de OLIVEIRA
Agrônoma (UFPB). Estudante de Mestrado em Ciência & Tecnologia Ambiental, Universidade Estadual da
Paraiba (UEPB), Brazil.
flavinha2010@ibest.com.br
Dalva Maria A. da SILVA
Estudante de Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Centro de Ciências Agrárias (CCA),
Brazil
dalvaalmeida@hotmail.com

ABSTRACT
This research sought to study the compatibility between the molasses and the
entomopathogenic fungi Beauveria bassiana (Balsamo) Vuill on the control Metamasius
hemipterus Horn, 1873 and Cosmopolites sorditus Germar, 1824. The study was conducted in the
municipality of Areia, Paraiba. The results showed that the constancy of C. sorditus and M.
hemipterus was significantly higher in traps consisting of molasses+fungi (P <0.01). And
significantly lower in traps without yeast and molasses to C. sorditus, and without fungi in baits and
traps with molasses and only fungi to M. hemipterus. The frequency of C. sorditus was classified as
accidental in traps with only B. bassiana (23.44%) and in traps without the addition of B. bassiana
and molasses (10.71%), and being accessory in traps consisting of molasses (28.43%) and in traps
with molasses+fungi (37.27%). While the frequency of M. hemipterus was accidental in traps with
only B. bassiana (9.99%) and bait with no added molasses and B. bassiana (5.96%); incidental baits
with added molasses (29.73%), and set traps in the presence of molasses + fungi (54.23%).
Therefore the food bait molasses along with the fungi B. bassiana, may be used in an integrated
control of C. sorditus and M. hemipterus in banana plantations.
Keywords: Capture, efficiency, drill.

RESUMO
Esta pesquisa procurou estudar a compatibilidade entre o melaço e o fungo
entomopatogênico Beauveria bassiana (Balsamo) Vuill no controle de Metamasius hemipterus
Horn, 1873 e Cosmopolites sorditus Germar, 1824. O estudo foi conduzido no Sítio Pitiá no
Município de Areia, brejo paraibano. Os resultados evidenciaram que a constância de C. sorditus e
M. hemipterus foi significativamente superior em armadilhas constituídas de melaço+fungo (P<
0,01). E significativamente inferior em armadilhas sem fungo e melaço para C. sorditus; e em iscas
sem fungo e melaço e em armadilhas com somente fungos para M. hemipterus. A frequência de C.
sorditus foi classificada em acidental em armadilhas com somente B. bassiana (23,44%) e em
armadilhas sem adição de B. bassiana e melaço (10,71%), e sendo acessória em armadilhas
constituídas de melaço (28,43%) e em armadilhas com melaço+fungo (37,27%). Enquanto que a
freqüência de M. hemipterus foi acidental em armadilhas com somente B. bassiana (9,99%) e em
iscas sem adição de melaço e B. bassiana (5,96%); acessória em iscas com adição de melaço
(29,73%), e constante em armadilhas com a presença de melaço+fungo (54,23%). Portanto, o
atrativo alimentar melaço juntamente com o fungo B. bassiana, poderão ser utilizados de forma
integrada no controle de C. sorditus e M. hemipterus na cultura da bananeira.
Palavras-chave: Captura, eficiência, brocas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 297

INTRODUCTION
Metamasius hemipterus Horn, 1873 and Cosmopolites sorditus Germar, 1824, are frequent
in the banana plantations, with a wide distribution in the Americas, from the United States to Brazil
(ZORZENO et al., 2000; GALLO et al., 2002; PRESTES et al., 2006). Several control measures
can be taken to reduce the incidence of drill bits in banana plantations, such as the production of
bait, you can type and type cheese tile, cultural control through the application of vegetation and
microbial control, using entomopathogenic fungi.
The microbial control of pests is a branch of biological control is the rational use of
entomopathogenic maintaining populations of target organisms below the economic threshold
(MOINO Jr, 2006). A viable alternative is the biological control of insects, this control can be done
in several ways, involving different species, including other controller insects of agricultural pests.
Entomopathogenic fungi are known and used worldwide as biocontroller agents of many
agricultural pests, they have potential to control several insect orders (BRIDGE et al., 1990;
ALVES, 1992; PEREIRA et al., 1993). The use of entomopathogenic microorganisms for pest
control has grown in proportion to the interest in a pesticide-free farming chemicals, coupled with
environmental preservation (ALMEIDA & BATISTA FILHO, 2006). To control of banana drill the
fungi Beauveria bassiana has been shown to be feasible, reducing the insect population of the
economic injury level (BURG & MAYER, 2006).
The entomopathogenic fungi B. bassiana is one of the most studied and used biological
control agents of C. sorditus in Brazil (FANCELLI et al., 2004), this species of fungi occurs
frequently on insects and soil samples, which can persist for a long time saprogenesis colonizing in
the form field epizootic and enzootic (ALVES, 1998; 2004) oral infection can occur in some
insects, and can penetrate the respiratory system via the spiracle (ROBINSON, 1966).
As a result of harmful effects to humans and the environment, caused by chemicals,
alternatives that reduce those problems and are compatible with other control tactics must be
studied (PEREIRA et al., 2005; 2006), so there is a growing demand other methods of control. The
use of bait in the presence of attractive food and entomopathogenic fungi may serve as a tool of
paramount importance in monitoring programs and control bits in bananas, although the knowledge
on the integrated use of these elements is considered undeveloped. Therefore this study aimed to
assess the field compatibility between the food bait molasses with the entomopathogenic fungi in
the control of banana weevils of the M. hemipterus and C. sorditus.

MATERIAL AND METHODS


The study was conducted on the Site Pitiá in a banana plantation of approximately 250 m2,
located in the municipality of Areia, Paraiba. The fungi used was B. bassiana obtained by Boveril®
product manufactured by ITAFORTE BioProdutos Company. The attraction was used molasses
sugar, diluted with water (10%). In this study, we used the traps: cheese and tile. The fungal
solution was prepared by diluting 30g product Boveril® in 2 liters of water, as proposed by Burg &
Mayer (2006), the product was mixed and applied with or without the attractive molasses traps.
The experimental design was randomized blocks, distributed in a 2x4, and 2 types of traps:
type cheese and tile. As each trap consists of the following treatments: only attractive, only fungus
traps with fungus+attractive traps and only traps (control). Each treatment consisted of 3 blocks,
each block consisting of 3 traps. To fulfill the requirements of ANOVA, data were transformed into
(x+0.5)1/2. The results were analyzed by SNK test.
The data were subjected to analysis of constancy of each pest specie, the constancy was
determined with the formula: C= P x 100/ T, where C= constancy index; P= total number of
collections with a specific trap and pest species; N= total number of collections. Pest species and
traps were classified in the following categories based on constancy indexes (BODENHEIMER,
1955; SILVEIRA NETO et al., 1976, GALLO et al., 2002): ―constant‖= present in more than 50%
of collections; ―accessory‖= present in 25% to 50% of collections and ―accidental‖= present in less
than 25% of collections.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 298

RESULTS AND DISCUSSION


The results of this study enabled the observation of the constancy of both kinds of drills,
independent of the type of trap (p> 0.1000, F = 0.0711, Gl: 3, 33). Therefore, the results of both the
traps were summed and analyzed together. Moreover, no significant difference between the
constancy of C. sorditus and M. hemipterus (P> 0.1000).
The results showed that the constancy of C. sorditus and M. hemipterus was significantly
higher in traps consisting of molasses+fungi (P <0.01). And significantly lower in traps without
fungi and molasses to C. sorditus and without fungi in baits and traps and molasses with only fungi
to M. hemipterus. In other hands, it was found that the frequency of C. sorditus was classified as
accidental in traps with only B. bassiana (23.44%) and in traps without the addition of B. bassiana
and molasses (10.71%), and being accessory in traps consisting of molasses (28.43%) and in traps
with molasses+fungi (37.27%). While the frequency of M. hemipterus was accidental in traps with
only B. bassiana (9.99%) and bait with no added molasses and B. bassiana (5.96%); accessory baits
with added molasses (29.73%), and constant in the traps with presence of molasses+fungi (54.23%).
Traps consisted of molasses and B. bassiana, were more promising for the control of C.
sorditus and M. hemipterus. Results obtained by Fancelli et al. (2006) confirm the practical
possibility of using entomopathogenic fungi to control drills banana. Allied to this tactic to control
the bait with food baits in the case of molasses cane sugar, because they are inexpensive and easy to
obtain (PEREIRA et al., 2005; 2006) can increase the efficiency of control of these insects in the
field.

Figure 1. Effects of different forms of attractive baits clothing in constancy (Mean±SE) of


Cosmopolites sorditus and Metamasius hemipterus. Mean in original values; analysis of variance
conducted with data transformed into (x+0.5) 1/2. Means followed by the same letter (into the
horizontal barrs) did not differ significantly by SNK test (P = 0.05).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 299

The compatibility between these two products is of great importance, since the use of
molasses along with B. bassiana did not affect the frequency of C. sorditus and M. hemipterus
traps. Moreover, the addition of B. bassiana is considered prolonged (BURG & MAYER, 2006), is
unnecessary in most cases to repeat the application in the same year. As Fancelli et al. (2006) after
the adult to be infected with the conidia, remains alive, helping to disperse the entomopathogen,
even to areas not treated. Therefore, the results of this research confirmed the possibility of
integration between fungi and attractive food molasses bait, since the fungi former is considered
viable, and the latter product can be readily obtained.

CONCLUSION
The results of this research show that the food bait molasses along with the fungi B.
bassiana are compatible and may be used in an integrated control of insects- pest C. sorditus and M.
hemipterus in banana plantations.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 301

APREENSÕES DE PREGUIÇAS Bradypus variegatus SCHINZ,1825


E CASOS DE ACIDENTES COM CHOQUES ELÉTRICOS
ENVOLVENDO ESTES ANIMAIS NA MESORREGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO

Gileno Antonio Araújo XAVIER


Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal – DMFA da Universidade Federal
Rural de Pernambuco – UFRPE, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, 52171-900, Dois Irmãos, Recife-PE.
gileno@dmfa.ufrpe.br
Tacyana Duarte AMORA
Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFRPE.
tacyanaduarte@yahoo.com.br
Yuri Marinho VALENÇA
Biólogo do Núcleo de Fauna – NUFA da Superintendência do Estado de Pernambuco - SUPES/PE do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA
yurivaleca@gmail.com
Maria Catarina Cavalcanti CABRAL
Bióloga, Chefe do NUFA/SUPES/PE/IBAMA, Rua 17 de Agosto, nº. 1047, 52.060-590, Casa Forte, Recife-
PE.
catarina.cabral@ibama.gov.br

RESUMO
A fragmentação de habitat é a maior ameaça para todas as espécies de preguiças e tem
isolado muitas populações de suas áreas de alimentação e da capacidade de pareamento reprodutivo,
levando à extinções locais. Os espaços abertos, culturas agrícolas e infra-estrutura urbana tornam-se
obstáculos insuperáveis para elas. O presente trabalho objetivou realizar levantamento documental
dos recebimentos de preguiça-de-garganta-marrom Bradypus variegatus no CETAS/IBAMA/PE e
relatar os casos com incidência de acidentes com choques elétricos sofridos por estes animais. Com
base nos resultados desse estudo, considera-se que até este momento poucas ações destinadas à
defesa e à conservação da nossa fauna estão sendo tomadas por parte da sociedade como um todo. É
imprescindível e urgente que esta mesma sociedade seja bem informada sobre esta situação
alarmante, reflita e mobilize-se no intuito de encontrar soluções que possam minimizar os efeitos
danosos que vem ameaçando a espécie Bradypus variegatus na Mesorregião Metropolitana do
Recife.
PALAVRAS-CHAVE: Bradypus variegatus, Centro de Triagem, IBAMA, Fauna
Apreendida, Acidentes por Choque Elétrico.

ABSTRACT
Habitat fragmentation is the greatest threat to all species of sloths and has isolated many
populations of their areas of nutrition and reproductive capacity of pairing, leading to local
extinctions. The open spaces, agricultural crops and urban infrastructure become insurmountable
obstacles for them. This study aimed to make a documentary survey of receipts of brown-throated
three-toed sloth Bradypus variegatus in CETAS/IBAMA/PE and report cases with an incidence of
accidents involving electric shock suffered by these animals. Based on the results of this study, it is
considered up to this moment few actions for the protection and conservation of our wildlife are
being taken by society as a whole. It is imperative and urgent that the society be advised about this
alarming situation to reflect and put it self in motion to find solutions that could minimize the
harmful effects that treatening the specie Bradypus variegatus in the Metropolitan mesoregion of
Recife.
KEYWORDS: Bradypus variegatus, Screening Center, IBAMA, Fauna Seized, Accident
Electric Shock.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 302

INTRODUÇÃO
A população humana é densa na Mata Atlântica, mais de 100 milhões de pessoas. O
crescimento populacional tem levado à destruição da mata, tendo em vista a expansão urbana
descontrolada, a industrialização, crescimento de áreas cultivadas e urbanas e aumento da malha
rodoviária. A extensa perda de hábitats que ocorre ameaça inúmeras espécies, deixando poucos
ecossistemas extensos e intactos, com cobertura florestal contínua. (COSTA et al., 2005;
GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005). Tais condições forçam os animais a ocupar uma área
menor que a ocupada originalmente, aumentando a competição e a frequência de encontros
agressivos, induzindo assim a mortalidade e emigração (JOHANNESEN & IMS, 1996).
O extremo nordeste é a porção mais ameaçada da Mata Atlântica (BROOKS &
RYLANDS, 2005). Restam menos de 5% da extensão original das florestas de Pernambuco,
Alagoas e Sergipe (CI do Brasil et al., 2000). O Estado de Pernambuco mantém 2,0% da área
originalmente coberta pela Floresta Atlântica (CIMA, 1991). Diversos tipos de atividades se
destacaram na eliminação da Mata Atlântica em Pernambuco como as queimadas nas lutas dos
colonizadores contra indígenas e na expulsão de invasores e os desmatamentos destinados à
extração do pau-brasil (Caesalpinia echinata); ao desenvolvimento de ocupações agrícolas, como
canaviais; da pecuária bovina extensiva e à construção de estradas, barragens, cidades, etc (LIMA,
1998). E segundo Melo & Furtado (2006) a cidade do Recife está inserida no Domínio da Mata
Atlântica. O ecossistema de mata sofreu decremento desde o início da colonização no território da
cidade para dar espaço à cultura da canavieira e á cidade.
A fauna vem sendo sistematicamente comprometida por estas ações antrópicas do
ambiente natural (BRANCO, 2007). É urgente realizar esforços para a manutenção dos ambientes
naturais paralelamente aos estudos das espécies em vida livre e em cativeiro (ROCHA-MENDES et
al., 2006). Todas as ações voltadas à defesa e preservação da fauna não estão à altura do status
diferenciado que este recurso ambiental adquiriu a partir da Constituição de 1988 (BRANCO,
2007).
Os Centros de Triagem de Animais Silvestres – CETAS têm como objetivo de recepcionar
os animais apreendidos, resgatados ou doados, prestar-lhes os cuidados necessários e destiná-los
adequadamente (BRANCO, 2000). Devem ser avaliados quanto às suas condições físicas e
comportamentais com a finalidade de se obter informações sobre a capacidade de retornar à vida
livre. Os mutilados muitas vezes não podem ser recuperados e nem ser reintroduzidos. Nesses
casos, devem ser encaminhados a instituições destinadas ao tratamento e manutenção de espécies
como zoológicos, criadouros registrados no IBAMA ou centros de pesquisa (ROCHA-MENDES et
al., 2006).
Branco (2000) afirmou que, segundo o IBAMA, um número reduzido de CETAS no Brasil
está em condições de receber animais e desenvolverem suas atividades normalmente e enfrentam
dificuldades financeiras e técnicas, funcionando superlotados.
Em 2001 o número de preguiças recolhidas pelo CETAS/IBAMA/PE foi de 37 animais,
sendo 23 indivíduos recebidos por meio de doações e 14, encaminhados pelo Policiamento
Ambiental (BARROS, 2004).
A fragmentação de habitat é a maior ameaça para todas as espécies de preguiças e tem
isolado muitas populações de suas áreas de alimentação e da capacidade de pareamento reprodutivo,
levando à extinções locais. Os espaços abertos, culturas agrícolas e infra-estrutura urbana tornam-se
obstáculos insuperáveis para elas. É pouco provável que pequenos fragmentos de matas isoladas
possam conter populações viáveis em longo prazo, devido às limitações genéticas (MORENO &
PLESE, 2006).
As preguiças-de-garganta-marrom Bradypus variegatus são folívoras, alimentam-se
preferencialmente de brotos, folhas jovens, flores e frutos; e são arborícolas, sendo encontradas
próximo ao topo das árvores. É considerado o mais importante vertebrado consumidor primário da
copa das florestas neotropicais (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975). Nenhum mamífero está
tão bem adaptado para viver em árvores e se alimentar delas como as preguiças. (SANTOS, 1945;
LUNDY, 1952; MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975). Elas são vitais para a saúde dos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 303

ecossistemas. Estes herbívoros arbóreos são capazes de alcançar ramos inacessíveis às outras
espécies e exerce um papel importante como recicladores dos nutrientes das matas (MORENO et
al., 2008). Não se adaptam facilmente à vida em cativeiro, pois são pouco resistentes.
Provavelmente, esta dificuldade não seja somente uma resposta a esta situação, mas também um
reflexo de requerimentos nutricionais específicos (CRANDALL, 1964; MONTGOMERY &
SUNQUIST, 1975). As preguiças caem comumente do alto das árvores. Com as quedas podem
sofrer ferimentos com consequências graves. Em algumas vezes os casos são letais
(LUEDERWALDT, 1918; MESSIAS-COSTA, 2001; CONSENTINO, 2004; AMA, 2010).
Uma das principais causas de acidentes para esta espécie são os fios de alta tensão, que
podem ser utilizadas pelos animais como apoio para se deslocarem, levando violentos choques que
causam queimaduras, amputações e morte (MESSIAS-COSTA, 2001; CONSENTINO, 2004;
MARTÍNEZ et al. 2004).
Ao comentar sobre como os zoológicos não foram planejados para alojar bichos soltos e
que acidentes esparsos vitimam alguns animais, Vaz (1990) exemplifica o acidente em que uma
preguiça fêmea morreu eletrocutada, juntamente com o seu filhote, nas dependências da Fundação
Rio Zôo, RJ.
A Associação de Defesa do Meio Ambiente do Médio Paraíba – A.M.A.-Médio Paraíba,
que desenvolve o ―Projeto Preguiça‖, relata, como um dos principais casos clínicos ocorridos em
uma população de B. variegatus da Praça XV de Novembro, em Valença-RJ, que um macho foi
encontrado em junho de 1996 sem o membro posterior esquerdo, amputado provavelmente por um
choque na rede de alta tensão. Recebeu tratamento cirúrgico para retirada dos tecidos necrosados
em outubro de 1997 e, durante dois meses, foi mantido em cativeiro doméstico, nas casas dos
ambientalistas. Em dezembro deste mesmo ano, foi devolvido ao jardim e passou a ser alvo de
constantes observações. O animal apresentou pouco ganho de peso e sofreu quedas frequentes do
alto das árvores. Recebeu marcação eletrônica em novembro de 1999 e em janeiro de 2002 caiu da
árvore e morreu (AMA, 2010).
Martínez et al. (2004) citam uma fêmea que sofreu queimaduras por descargas elétricas e
perdeu as garras de um dos membros. O exame de saúde de 277 preguiças tratadas no Centro de
Reabilitação de Preguiças da Fundação Unau, Colômbia, nos seus primeiros cinco anos de
operação, 2000 a 2005, mostrou que os traumas induzidos pelo homem, tais como a mutilação de
unhas, extrações de dentes, contusões, choques elétricos, queimaduras e outros ferimentos foram 5
casos, ou seja, 2% (MORENO & PLESE, 2006).
Lima (2007) relata o caso de uma fêmea da espécie Choloepus didactylus encaminhada ao
Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS no Centro de Pesquisa da Fauna e
Flora do Amazônia – CPFFAM, em Manaus-AM, com queimaduras na face e membros e laceração
quase total do membro anterior esquerdo, provocados por choque elétrico. O animal recebeu
tratamento local das feridas e tratamento cirúrgico para amputação do membro atingido.
Werneck et al. (2008) utilizaram para o desenvolvimento de seu trabalho de pesquisa uma
preguiça fêmea da espécie B. variegatus que foi encontrada enroscada em fio elétrico. Segundo
relato destes autores, o animal recebeu um choque de 13.000 volts, porém morreu logo após o início
do tratamento.
Para McKenzie et al. (2008), em trabalho realizado no Centro de Resgate e Reabilitação
Animais do Parque Natural Metropolitano da Cidade do Panamá, as causas mais frequentes de
morte de animais são os atropelamentos em estradas e os menos frequentes incluem acidentes com
fios elétricos, contaminação das águas, derramamentos de petróleo, queda de troncos de árvores e
doenças.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo realizar levantamento
documental dos recebimentos de preguiça-de-garganta-marrom Bradypus variegatus no
CETAS/IBAMA/PE e relatar os casos com incidência de acidentes com choques elétricos sofridos
por estes animais na Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 304

METODOLOGIA
Para realização da pesquisa, foram coletadas as informações junto ao Núcleo de Fauna –
NUFA/CETAS/IBAMA/PE. Os dados sobre entradas dos animais foram referentes ao período de
2002 a 2010 e os relativos aos acidentes, de 2008 a fevereiro de 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre os anos de 2002 a 2007 foi registrado um total de 343 preguiças recebidas.
Analisando a modalidades de recebimento, observou-se que os animais procederam de entregas
voluntárias (ou doações) e apreensões realizadas por fiscais do IBAMA, pelo Corpo de Bombeiros e
pelo CIPOMA – Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Figura 1).
Em 2008, a maior quantidade de entradas dos animais se deu por intermédio da entrega
voluntária e concentrou-se entre os meses de outubro a dezembro (Tabela 1).

Figura. 1 – Números de registros de entradas de Bradypus variegatus e de entradas


por modalidades de recebimentos no NUFAS/CETAS/IBAMA/PE, no período de 2002 a 2007.

Mereceram destaque os registros ocorridos em 2009. Naquele ano foi atingida a fatídica
marca dos 86 animais (Tabela 2), com maiores incidências no período de setembro a novembro.
Nos dois primeiros meses de 2010 foi registrado um total de nove preguiças. Estes dados
revelaram que, em comparação com o mesmo período dos dois anos antecedentes, houve um
aumento de animais destinados à triagem (Tabela 3).

Tabela 1 - Números de registros de entradas de Bradypus variegatus e de entradas por modalidades de recebimentos no
NUFAS/CETAS/IBAMA/PE em 2008.
Procedências Entrega Fiscali- Polícia
Meses voluntária zação ambiental Total
Janeiro 03 - 01 04
Fevereiro 01 - 01 02
Março - - - -
Abril 01 - 01 02
Maio - - 05 05
Junho - - 01 01
Julho 01 03 03 07
Agosto 02 03 - 05
Setembro 02 01 02 05
Outubro 10 - - 10
Novembro 10 02 02 14
Dezembro 05 04 01 10
65
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 305
Tabela 2 - Números de registros de entradas de Bradypus variegatus e de entradas por modalidades de recebimentos no
NUFAS/CETAS/IBAMA/PE em 2009.
Procedências Entrega Fiscali- Polícia
Meses voluntária zação ambiental Total
Janeiro 05 - - 05
Fevereiro - - - -
Março 07 02 01 10
Abril 04 02 03 09
Maio 02 - - 02
Junho 02 - 02 04
Julho 01 04 - 05
Agosto 05 - 02 07
Setembro 06 - 04 10
Outubro 05 - 07 12
Novembro 09 01 05 15
Dezembro 07 - - 07
86

Tabela 3 - Números de registros de entradas de Bradypus variegatus e de entradas por modalidades de recebimentos no
NUFAS/CETAS/IBAMA/PE em 2010.
Procedências Entrega Fiscali- Polícia
Meses voluntária zação ambiental Total
Janeiro 01 01 03 05
Fevereiro 04 - - 04
09

O CETAS/IBAMA/PE registrou entre os anos de 2008 a 2010 o maior número de


exemplares de B. variegatus acidentados por choques elétricos, como exposto na Tabela 4.

Tabela 4 - Número de casos de acidentes em B. variegatus registrados no NUFAS/CETAS/IBAMA/PE, de


2008 a fevereiro de2010.
Anos 2008 2009 2010
Meses Total
Janeiro - - 01 01
Fevereiro - - 01 01
Março - 02 02
Abril - - -
Maio - - -
Junho 01 - 01
Julho - - -
Agosto 02 01 03
Setembro - 02 02
Outubro 01 05 06
Novembro 03 04 07
Dezembro 01 - 01
Total 08 14 02 24

Observa-se que estes resultados confirmam as afirmativas de Messias-Costa (2001),


Consentino (2004) e Martínez et al. (2004).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 306

Esse tipo de acidente quando não leva o animal a óbito ocasiona perda das garras ou
membros inteiros (Figura 2). Resultantes dos processos adaptativos, os membros e,
especificamente, as garras das preguiças são ferramentas corporais imprescindíveis para a
sobrevivência destes animais no sistema arbóreo. Quando as funções destas estruturas são
prejudicadas por algum motivo, impossibilita o retorno ou reintrodução do animal na natureza,
como afirmaram ROCHA-MENDES
et al. (2006). Tal impossibilidade de
animais mutilados sobreviverem
livremente, uma situação difícil de
ser contornada, foi registrada pela
AMA (2010).

A Mata de Aldeia, um dos


maiores fragmentos de Mata
Atlântica da Mesorregião
Metropolitana do Recife – MMR,
possui aproximadamente 3.000ha
que se estendem pelos municípios de
Abreu e Lima, Araçoiaba,
Camaragibe, Igarassú, Paudalho,
Paulista e São Lourenço da Mata,
formando um único bloco de mata
ladeado por outros fragmentos
menores, a região de onde o
Figura 2. Lesões provocadas por descarga elétrica em preguiça B. CETAS/PE tem recebido o maior
variegatus recebida pelo CETAS/IBAMA/PE. Observar ferimentos número de exemplares de B.
no focinho e nas extremidades dos membros, variegatus acidentados em redes de
alta tensão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados desse estudo, considera-se que até o m poucas ações destinadas
para defesa e conservação da nossa fauna estão sendo tomadas por parte da sociedade como um
todo. É imprescindível e urgente que esta mesma sociedade seja informada sobre esta situação
alarmante, reflita e mobilize-se no intuito de encontrar soluções que possam minimizar os efeitos
danosos que vem ameaçando a espécie Bradypus variegatus na Mesorregião Metropolitana do
Recife.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 309

A BIODIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO PIATÓ


NO MUNICÍPIO DE ASSU/RN

Gabrielle Mendonça SANTANA


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Av. Senador Salgado
Filho 1559, 59015-000, fone: (84) 4005-2668; Graduanda em Gestão Ambiental.
gmsantana@ymail.com
Xaila Sant´Anna AMARAL
Graduanda em Gestão Ambiental do IFRN
xailinha@hotmail.com
Samir Cristino de SOUZA
Prof. Dr. do IFRN
samir.souza@ifrn.edu.br

RESUMO
O município de Assú, localizado no Estado do Rio Grande do Norte se encontra na
microrregião do Vale do Assú, que está na Mesorregião do Oeste Potiguar e é banhado pelo rio
Assú. A área territorial do município é de 1.292 km². Este ocupa o posto de segundo município
mais populoso do Oeste Potiguar e o oitavo do Rio Grande do Norte, sendo considerado um dos
municípios mais importantes do Estado. A lagoa do Piató, localizada no município de Assu/ RN,
com capacidade para acumular cerca de 96 milhões de metros cúbicos d‘água, é um dos maiores
reservatórios do Estado, sendo importante fonte de subsistência para os moradores da região. O
ecossistema da lagoa é formado pelo bioma de Caatinga, com grande biodiversidade, clima semi-
árido e um sistema de chuvas irregular que resulta em períodos de secas e cheias severas. O objetivo
deste trabalho é apresentar a rica biodiversidade do ecossistema da região em que está localizada a
Lagoa do Piató, visando conhecer as potencialidades, a cultura, os saberes tradicionais e como os
moradores da região protegem esse ecossistema. A pesquisa se constituiu de um estudo de caso,
entrevista, revisão da literatura e técnicas de análise crítica dos textos selecionados a partir de
pesquisa bibliográfica. Espera-se como resultado conhecer a biodiversidade do ecossistema da lagoa
do Piató, constatar a sua importância visando realizar pesquisas mais específicas e aprofundadas do
seu ecossistema.
PALAVRAS-CHAVE: Lagoa do Piató; Assú; Biodiversidade; Ecossistema.

ABSTRACT
The city of Assú, located in Rio Grande do Norte is located in the micro Assú Valley,
which is in Southwest Potiguar and is bathed by the Assú River. The municipality territorial area is
1292 km ². This ranks as the second most populated city from west Rio Grande do Norte and the
eighth from Rio Grande do Norte and it is considered one of the most important cities of the state.
The Piató lagoon, located in the city of Assu / RN, with capacity to build about 96 million cubic
meters of water, is one of the largest reservoirs in the State, being an important source of livelihood
for local residents. The ecosystem of the lagoon is formed by the Caatinga biome with great
biodiversity, semi-arid climate and a system of irregular rains resulting in periods of severe drought
and floods. The research intends to present the rich biodiversity of the region's ecosystem that is
located in Piató Lagoon, aiming to know the capabilities, culture, traditional knowledge and how
local residents protect this ecosystem. The research consisted of a case study, interview, literature
review and technical review of selected texts from literature. It is expected as a result of knowing
the biodiversity of the Piató lagoon's ecosystem, acknowledge its importance in order to make
searches more specific and detailed their ecosystem.
KEYWORDS: Lagoon of Piató; Assú; Biodiversity; Ecosystem

INTRODUÇÃO
Um ecossistema é o conjunto de uma comunidade de diferentes espécies interagindo umas
com as outras e com o seu meio físico de matéria e energia. Os ecossistemas podem variar de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 310

tamanho, de uma poça d‘água a um riacho, de um trecho de uma mata a uma floresta inteira ou um
deserto. Os ecossistemas podem ser naturais ou artificiais. O conjunto de todos os ecossistemas
terrestres forma a biosfera.
Dois tipos de componentes formam a biosfera e seus ecossistemas: componentes
abióticos ou não vivos, como a água, o ar, os nutrientes e a energia solar, e os componentes
biológicos bióticos ou vivos, como as plantas, os animais e os micróbios. Espécies diferentes
crescem sob condições físicas distintas. Algumas necessitam da luz do Sol; outras nascem à sombra.
Algumas precisam de um ambiente quente; outras preferem o frio. Algumas se saem melhor sob
condições úmidas; outras prosperam em condições secas.
Cada população em um ecossistema tem uma faixa de tolerância a variações em seu
ambiente físico e químico. Os indivíduos dentro de uma mesma população podem apresentar faixas
de tolerância ligeiramente diferentes em relação à temperatura ou a outros fatores em razão de
pequenas diferenças na composição genética, condição de saúde ou idade. A lei da tolerância é o
que determina a existência, abundância e distribuição de uma espécie no ecossistema. Assim, uma
espécie pode apresentar alta capacidade de tolerância para alguns fatores e baixa capacidade para
outros. A maioria dos organismos é menos tolerante durante a juventude ou na fase de reprodução.
Espécies altamente tolerantes podem viver em uma variedade de habitats de condições bastante
distintas. É o que constatamos na Lagoa do Piató e no seu entorno, uma rica biodiversidade
adaptada ao seu ecossistema.
A biodiversidade de um ecossistema é a riqueza ou capital biológico que ajuda a nos
manter vivos. Ela também auxilia na preservação da qualidade do ar e da água, na manutenção da
fertilidade dos solos, descarte de resíduos e controle de populações de pestes que atacam plantações
e florestas. É um recurso renovável, contanto que vivamos daquilo que ela nos fornece, preservando
o capital natural que provê tais elementos. Compreender, proteger e manter a biodiversidade é o
grande objetivo da ecologia.
Assim, o objetivo deste trabalho é desenvolver conhecimentos contextualizados do
ecossistema e dos biomas da lagoa do Piató e do seu entorno, visando conhecer as potencialidades,
a cultura e os saberes tradicionais dos moradores da região e como eles convivem e protegem a rica
biodiversidade desse ecossistema.
LAGOA DO PIATÓ: LOCALIZAÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO

O município de Assú, localizado no Estado do Rio Grande do Norte se encontra na


microrregião do Vale do Assú, que está na Mesorregião do Oeste Potiguar e é banhado pelo rio
Assú. De acordo com estimativa do IBGE para 2009 a sua população é de 53.282 habitantes. A área
territorial do município é de 1.292 km². Este ocupa o posto de segundo município mais populoso do
Oeste Potiguar e o oitavo do Rio Grande do Norte, sendo considerado um dos municípios mais
importantes do Estado.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 311

Figura 1 – mapa do Rio Grande do Norte, destacando o município de Assú.

A lagoa do Piató, localizada no município de Assú, possui 28 km de extensão e 2,5 km de


largura, além de ter a capacidade de acumular 96 milhões de metros cúbicos d‘água. É considerada
um dos maiores reservatórios do Estado e, com o açude Mendubim, só perde para o Itans em Caicó.
A lagoa além de seus olheiros permanentes é abastecida pelo complexo Piranhas-Assú, através do
canal do Pataxó. No passado o volume da lagoa dependia exclusivamente da maior ou menor vazão
do grande rio Assú, em função da abundância ou escassez das chuvas. Hoje, após a construção da
Barragem Engenheiro Armando Gonçalves, a entrada de água na lagoa passa a depender, também,
do reabastecimento do rio pela grande barragem cuja capacidade para acumular água é da ordem de
2,4 bilhões de m³.

Figura 2 – destaque da Lagoa do Piató

De acordo com Almeida e Pereira (2006), a historiografia que trata da região onde está
situada a Lagoa do Piató tem por referência Lima (1929), Medeiros Filho (1984) e Taunay (1936).
Essas histórias consideradas oficiais apresentam o registro das populações indígenas e sua luta
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 312

contra os colonizadores, conhecida como Guerra dos Bárbaros; o domínio das terras nativas; o
início da colonização do Rio Grande do Norte, capitania subordinada à Bahia até 1701 e depois a
Pernambuco, de onde se emancipa para formar a Capitania do Rio Grande.
Um dos primeiros relatos da existência de índios na região do Assú é feito por Ferreira
Nobre, em sua Breve História sobre Província do Rio Grande do Norte, 1877 (apud. LIMA).
Segundo o autor, ―no ano de 1650, uma tribo de numerosos índios levantou seus fundamentos da
cidade, dando-lhe o nome de Taba-Assu, que quer dizer aldeia grande”.
A colonização da ribeira denominada Assú tem início no ano de 1668. É para lá que se
dirige o Capitão João Fernandes Vieira ao ser informado da sua existência e de seus habitantes
naturais – várias nações Tapuia. Tendo sob seu comando uma expedição de homens, incluíndo os
índios Potyguara, chega ao lugar e funda o Arrayal, à margem esquerda do rio Assú, área escolhida
como centro de operações. A ocupação definitiva e a colonização da Ribeira do Assú de fato só
vingaram após mais de trinta anos de luta contra os índios – verdadeiros donos daquelas terras
(ALMEIDA; PERIERA, 2006).
Dos rios destacam-se, o Assú e Piranhas, que nascem em Conceição do Piancó-PB e
começa a banhar o Assú no lugar denominado Saquinho. Divide-se em dois braços: um à esquerda,
chamado Córrego, que volta passando o seu leito em Casa Forte, e outro que vai desaguar na Lagoa
do Piató, passando antes pelas localidades de Sipó e Linda Flor. Outros braços são também
conhecidos como: Rios dos Cavalos, que banha alguns lugares tais como Panon, Mutamba, Olho
D‘água, o rio das Conchas e Tabatinga (LIMA apud, ALMEIDA; PEREIRA, 2006).
Nas várzeas da lagoa do Piató, no ano de 1920, plantavam-se cereais, algodão, cana-de-
açúcar, frutas (melão, melancia), hortaliças, cebola, batata, de Tabuí – espécie de capim do qual se
extraía uma fibra sedosa. Os peixes eram a curimatã, o coro (peixe-branco), traíra, o piau e a
piranha. Além desses, os que sobem do mar rio acima como: xaréu, cavala, cioba, camorupim,
garoupa, sorgo, enxova, parum e pampa. Pescava-se em tarrafa de malha grande e pequena e, nos
anos 1877-78, existiam aproximadamente 200 canoas de duas ou três pessoas.
O sistema produtivo dos atuais habitantes do Piató está ancorado sobre o eixo de três
atividades principais – a pesca, a agricultura e o assalariamento. O consórcio entre as referidas
atividades, bem como a exclusividade de uma delas como fonte de reprodução familiar, está em
função do acesso diferencial das comunidades a terra, o que condiciona igualmente o acesso à
propriedade dos meios de produção da pesca. Assim, os pescadores que são também pequenos
proprietários dispõe de mais condições para a atividade pesqueira. São eles, em geral, possuidores
de suas próprias canoas, redes etc. o que lhes permite maior autonomia e melhores rendimentos
(ALMEIDA; PEREIRA, 2006).
Sendo atualmente uma das principais fontes de renda e atividade que envolve um maior
numero de pessoas, a pesca também orienta a divisão social do trabalho e fornece os elementos
fundantes da auto identificação dos moradores. Assim, os que trabalham diretamente na pesca são,
segundo se auto definem: sujeitos, quando trabalham para o dono da canoa e dos instrumentos de
pesca, ou autônomos, quando possuem aqueles meios e trabalho. Grande parte dos pescadores, no
entanto, é sujeito ao dono que paga 50% do preço/quilo estabelecido, com muita variação, pelos
intermediários.
Entre os que não executam a pescaria, mas estão a ela atrelados como fonte de renda,
temos: o dono dos instrumentos de trabalho; o barraqueiro; o atravessador que compra o peixe do
barraqueiro ou dos pescadores e o revende, e por fim, o artesão, que confecciona e remenda as redes
de pesca.

O ECOSSISTEMA DA LAGOA DO PIATÓ

A Caatinga é o bioma predominante na região da Lagoa do Piató. A palavra ―caatinga‖ é


de origem tupi e significa mato branco. É um termo que se refere ao aspecto dessa vegetação típica
da região nordestina de clima semi-árido em que a maioria das árvores perdem as folhas e os
troncos esbranquiçados e secos dominam a paisagem (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007, p.9).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 313

O clima é do tipo árido e semi-árido, com temperaturas médias anuais elevadas,


compreendidas entre 27º e 29º. A Caatinga é também caracterizada por um sistema de chuvas
extremante irregular de ano para ano, o que resulta em severas secas periódicas e torna a vida do
sertanejo difícil, levando-o a emigrar. A maioria das chuvas na Caatinga (50% - 70%) concentra-se
em três meses consecutivos, embora exista grande variação anual, além de serem freqüentes longos
períodos de seca (ALMEIDA- CORTEZ et al. 2007, p.12).
Na região da lagoa a vegetação é composta por: Carnaúba, que é uma árvore da família
Arecacease, endêmica no semi-árido do nordeste brasileiro. É conhecida como árvore da vida, pois
oferece uma infinidade de uso ao homem: as raízes têm uso medicinal como eficiência diurética, os
frutos são ricos em nutrientes para ração de animal, o tronco é madeira de qualidade para
construção e suas palhas servem para a produção artesanal.
Os pés da carnaúba macho e fêmea são diferentes entre si, dada uma certa característica: o
tronco da fêmea tem suas frestas viradas para a esquerda, enquanto no macho elas são viradas para
direita. Elas se reproduzem principalmente por estarem muito próximas. O vento, as pássaros e as
abelhas também ajudam, fazem a fecundação. Quando ela nasce, forma o caule para cima. Ás vezes,
por causa da erosão e de enchente da lagoa, a raiz apodrece dentro d‘água, ela arreia, mas não
morre. Ela procura se defender, ela quer viver! Ela está torta daquele jeito, mas procura sempre a
linha do Sol! (SILVA, 2007, p.35).

O Juazeiro é uma árvore de grande porte e copa frondosa; seus frutos, folhas e ramos são
utilizados como forragem para bovinos, caprinos e suínos. As raspas da entrecasca (a casca interna),
rica em saponina, servem para a confecção de sabão e pasta de dente. A casca é excelente tônico
capilar quando em infusão. A infusão serve para problemas estomacais e a água do fruto (juá) serve
para amaciar e clarear a pele (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007, p.22).
A Jurema ―suporta a seca e, com um ano bom de inverno, ela reage. Com cinco ou seis
anos você corta um partido de jurema e com mais cinco ou seis anos aquele cipó que ficou dá
madeira novamente. É a madeira mais procurada aqui na nossa região por ser a mais rápida no
crescimento‖ (SILVA, 2007, P.37).
O Facheiro, ao ser queimados seus espinhos, seus ramos servem de alimentação para
bovinos. O fruto carnoso, do tipo baga é comestível. Também empregado na ornamentação para
avenidas, ruas, praças e jardins. A madeira é branca, leve e utilizada como tábuas para carpintaria.
As raízes são aproveitadas na confecção de colheres de pau. Outras espécies também são
encontradas na região da lagoa. Por exemplo, Umbuzeiro, Mandacaru, Catingueira-verdadeira,
Faveleira (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007).
Há outros tipos de vegetação que é comum na região e que forma o ecossistema da lagoa.
Existe uma categoria de plantas que são agrupadas conforme o tipo de ambiente em que vivem. Na
caatinga tem mais a jurema, a catingueira, o pereiro. Na chapada, você encontra mais o marmeleiro,
o mufumbo, a catingueira, a catanduva, a aroeira (SILVA, 2007, P. 34).
Para Silva, na sua sabedoria de quem vive observando a natureza,
a palmatória quando o ano é mau de inverno, você chega num partido (área delimitada de
plantio) de palmatória e dificilmente vê uma fruta. Já o juazeiro, o pereiro e o cumaru são plantas
que se revestem na caatinga sem receber água, porque a natureza oferece um ciclo de oxigênio para
elas se revestirem, para quando chegar a chuva elas estarem prontas para vagear, para produzir sua
semente. O problema é que o homem faz a devastação e a terra fica totalmente raleada, queimada.
Isso faz com que a outra planta que iria se reproduzir, como o juazeiro, o pereiro, o cumaru, essas
plantas que se revestem antes de o inverno pegar, morram. Estão morrendo porque o solo está
desprotegido e elas estão recebendo muita quentura no caule não dá para reagir. Acredito que essas
plantas que se revestem fornecem um tipo de gás que contribui para as nuvens e para a atmosfera da
Terra (SILVA, 2007, p. 34).

A reprodução das carnaúbas é feita pelo vento, pássaros e abelhas que ajudam na
fecundação. Ao nascer, a carnaúba forma o caule para cima, mas às vezes, por causa da erosão e da
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 314

enchente da lagoa, a raiz apodrece dentro da água, ela arreia, mas não morre. ―Ela procura se
defender, ela quer viver! Ela está torta daquele jeito, mas procura sempre a linha do Sol!‖ (SILVA,
2007, p.35).
Outra planta presente na região é o Vive-morre, que segundo Silva (2007) ―é uma planta
que não é tóxica‖, para o gado que está acostumado com ela. Mas, para o que não está acostumado
ela é tóxica. Ataca o coração do animal e ele morre na hora.
A fauna é composta por diversos tipos de animais que são de extrema importância para o
ecossistema local. Além disso, alguns são fontes de renda para a população como é o caso dos
peixes da lagoa. A lagoa possui grande variedade na sua fauna aquática como Tucunaré, Tilápia,
Coró, Curimatã, Traíra, Piáu, entre outros de água doce, mas os que ganham destaque na
piscicultura são a Tilápia e o Tucunaré, pois são peixes de maior importância comercial do nordeste
do Brasil. É a partir da pesca destes que os habitantes da Lagoa do Piató complementam sua renda
familiar, com a venda para empresas de peixes do Rio Grande do Norte, Paraíba e Fortaleza. A
Lagoa do Piató, ainda, compreende uma fauna terrestre bastante diversificada (ALMEIDA;
PEREIRA, 2006).
Tem o Mocó, que é um roedor típico da Caatinga que se assemelha bastante a um preá,
porém um pouco maior e atinge, na fase adulta, cerca de 40 cm de comprimento e 800g de peso.
Vive entre rochedos e regiões pedregosas da Caatinga, abrigando-se em buracos ou fendas (locas)
existentes entre as pedras. A coloração predominante é cinza-claro, sendo a parte posterior da coxa
castanho ferruginoso. O mocó apresenta nas patas, coxins calosos e unhas rígidas desenvolvidas,
que tornam possível esse animal escalar árvores. Alimentam-se de folhas, brotos, ramos, frutos,
casca de árvores, raízes e tubérculos encontrados na vegetação. Possuem comportamento social,
formando grupos familiares (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007, p. 35).
A Asa-branca é uma ave muito bela e sua alimentação consiste de sementes e pequenos
frutos, coletados principalmente no solo. A asa-branca nidifica em árvores, onde constrói um ninho
achatado com gravetos entrelaçados. A postura é de um único ovo branco, incubado pelo casal,
neste caso, macho e fêmea se revezam no tratamento do filhote (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007,
p. 40).
O Gavião-Carcará é um falconiforme, com uma face de coloração uva, amarela ou
vermelha e com um penacho em sua nuca. Suas pernas são grandes e fortes, de cor amarelada. O
carcará se alimenta de vários tipos de pequenos animais, como lagartixas, anfíbios, caracóis,
serpentes e pequenas aves. O alimento que não consegue digerir é regurgitado em forma de pelotas
(ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007, p. 42).
Sapo-Cururu: É muito comum observar este anfíbio de hábitos noturnos próximos de águas
paradas, onde realizam a postura de seus ovos. Os machos são menores do que as fêmeas e coaxam
para atraí-las. As fêmeas, por sua vez, não emitem som. Os machos também possuem cores
diferentes das fêmeas, sendo amarelo-pardacento; já as fêmeas são caracterizadas por ter uma
coloração mais escura (ALMEIDA-CORTEZ et al. 2007, p. 49).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas caminhadas no meio da caatinga, nos passeios de barco na Lagoa do Piató e nas
pescarias aprendemos ao vivo, um dos princípios mais importantes que é a religação da natureza
com a cultura. Francisco Lucas da Silva morador da região e profundo conhecedor do ecossistema
local cultiva a consciência de que é preciso cuidar da natureza, porque ela dá todo o sustento e
sobrevivência ao homem. Mas alguns homens, no desejo de explorar, agridem a natureza com suas
tecnologias resultantes do saber científico predador, impulsionados pelo desejo do lucro a todo
custo, subjugam a natureza de forma irresponsável.
Percebe-se claramente, vendo Francisco Lucas da Silva explicar, que ali a natureza do
homem e dos outros elementos que compõem o mundo se entrelaça em uma profunda integração
amorosa, provocando mudanças que vão se processando simultaneamente. A forma de sentir,
interagir, conhecer e interpretar a natureza torna possível compreender, a partir de outro referencial,
a relação do ser humano com o mundo natural.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 315

A integração do ser humano com a natureza fica bastante visíveis na lagoa do Piató e em
outras comunidades que, afastadas e isoladas dos grandes centros urbanos, estabelecem uma relação
de extrema intimidade com o ambiente em que vivem. As tarefas e os rituais diários são regulados
pelo ritmo biológico e cultural do corpo e da vida em comunidade, em consonância com o ritmo da
natureza. Podemos ver que o trabalho da pesca artesanal na Lagoa, uma das principais atividades de
seus moradores, demonstra uma estreita relação entre o pescador, a terra, a lagoa e o céu, o que
torna difícil determinar os limites entre um espaço e outro.
A pesca artesanal na lagoa, a revela ainda, os fios que entrelaçam clima, seres e espaços de
forma semelhante aos fios que fazem uma rede de pescar. A perspectiva de interpretar o ser humano
integrado na natureza demonstra outras concepções de natureza, em que ela pode se manifestar
como sujeito, mãe, irmã, sobrenatural e espiritual. Francisco Lucas da Silva demonstra claramente o
que significa a natureza para ele quando afirma que ela não é um objeto, mas um ser vivo e merece
respeito e merece zelo e é o que constata-se em grande parte dos moradores da região.
Por isso faz sentido aprender com Francisco Lucas da Silva que, ao mergulhar na lagoa e
ouvir o ronco dos peixes, é possível saber qual espécie habita o ambiente. Aprende-se que a jurema
(planta típica da caatinga) tanto serve para fazer remédio como para fazer cercas, a diferença entre
uma carnaúba macho e uma carnaúba fêmea. Conhecem-se as previsões de inverno a partir dos
sinais emitidos pelo peixe curimatã, pelas formigas ou pelo juazeiro. Aprende-se que ‗conversar‘
com as pedras e ouvir o vento ajuda a diminuir as dores da alma.
Constata-se, também, na maioria das culturas indígenas essa mesma concepção e interação
com a natureza que se estabelece por meio de uma reciprocidade em que todos os elementos são
considerados e respeitados como sujeitos. Isso implica em um tipo de relação natural entre as partes
em que não há posse nem dono.
Assim, essa ligação é fundamental para resgatar e reintegrar o ser humano a natureza, para
que ele reconheça a sua responsabilidade em proteger e cuidar do mundo natural, pois o homem
partilha a Terra e a vida com outros seres.
Portanto, essa maneira integrada de conviver com a natureza possibilita um saber que vai
sendo transmitido oralmente de geração em geração pelos moradores da região. O homem do
campo estreitou os laços na teia da vida, identificando e compreendendo as relações ecológicas
entre os seres vivos. Faz a leitura do mundo natural para ler a si próprio e estabelecer uma
interconexão com as formas de vida, para incorporá-las e não excluí-las. Esse comportamento
encontramos entre alguns moradores do entorno da lagoa do Piató, mais precisamente, em
Francisco Lucas da Silva que com muita sabedoria e amor cuida da diversidade biológica da região
da lagoa do Piató.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 316

AVES DE RAPINA DIURNAS E NOTURNAS NA FAZENDA


MARACAJÁ EM SÃO JOÃO DO CARIRI – PB

Eduardo Noberto Adamastor de SOUSA


Graduando em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e Estagiário do Centro de
Conservação dos Répteis da Caatinga – CCRC.
eduardobiologo@hotmail.com
João Carlos MARQUES
Graduando em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
jcarlos0128@hotmail.com
José da Silva BARBOSA
Biólogo da Fundação Universitária de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão.
sjose45@gmail.com
Helder N. ALBUQUERQUE
Orientador. Biólogo. Doutorando em Agronomia CCA/UFPB/Areia
helderbiologo@gmail.com

RESUMO
As aves de rapina são seres que possuem um importante papel na natureza, pois controlam
a população de roedores, lagartos, serpentes, morcegos entre outros, garantindo uma o equilíbrio da
biodiversidade e, além disso, podem ser utilizadas como bioindicadores da qualidade ambiental de
uma determinada área. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das aves de rapina
diurnas e noturnas da fazenda Maracajá, além de estabelecer questões sobre as principais ameaças e
medidas para preservação do grupo na região. Foram percorridas trilhas e estradas fazendo
observações diretas por contato visual e auditivo, com jornadas pelo horário da manhã, sempre ao
nascer do sol com duração de sete horas, cinco pela manhã e duas ao entardecer. O estudo foi
realizado no período de março a dezembro de 2009. Foram identificadas 14 espécies de aves de 04
famílias. A perda de habitats, causada pelo desmatamento ilegal e a caça predatória estão entre as
principais ameaças das aves de rapina nessa região. Estratégias de conservação devem ser adotadas,
com o intuito de preservar as espécies e também conscientizar a população sobre a preservação e
importância das aves de rapina na natureza.
PALAVRAS-CHAVE: Aves de rapina, ornitofauna, Paraíba.

ABSTRACT
The birds of prey have an important function in the nature, because they control the
rodents, lizards, snakes, bats and others populations that warrant the biodiversity equilibrium and
also they can be utilized as bioindicator of the environmental quality of a determinate area. The aim
of this work was realize a survey of the birds of prey daytime and nocturnes from the Maracajá
farm, also establish questions about the most threats and measures for preservation of the groups in
region. Trails and roads were analyzed by the visual and auditory contacts; the journey was in the
morning during five hours since sunrise and in the afternoon during two hours before sundown,
total of seven hours. The study was realized from March till December of 2009. Thirteen kinds of
birds from four families were identified. The losses of the habitats were caused by the illegal‘s
woods and the poaching are among the principals threats to the birds of prey in the region.
Conservation‘s strategy must be adopted with the intention of preserve the species and also leave
the population aware about the importance of the birds of prey in the nature.
KEYWORDS: birds of prey, ornitofauna, Paraíba.

INTRODUÇÃO
De acordo com World Conservation Monitoring Center (2001), em todo mundo 295
espécies de animais vertebrados foram extintos recentemente, 19 estão extintas na natureza, 553
estão criticamente ameaçadas de extinção, 773 estão ameaçadas de extinção e 1985 são
consideradas vulneráveis.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 317

O Brasil detém uma das maiores biodiversidades do planeta no seu território encontram-se
cerca de 10% de todas as espécies existentes no Globo. Os animais brasileiros, em razão, às vezes,
de estarem na condição de espécie rara, por possuir beleza estética e também pelo seu canto, atraem
a cobiça de colecionadores inescrupulosos que são alimentados pelos traficantes que por sua vez
exploram a pobreza de lavradores e, particularmente no Nordeste, crianças e adolescentes
(MENEZES, 2004).
Nos últimos dois anos temos visto um crescente interesse na até então pouco estudada
Caatinga. Único ecossistema endêmico do Brasil, geralmente considerado como biologicamente
pobre, na realidade tem uma riqueza biológica que já era conhecida dos pesquisadores que ali
trabalham, mas que só agora começa a ter melhor divulgação para pesquisas (REIS, 2005).
O Estado da Paraíba, de acordo com Schulz (1995), apresenta uma diversidade de 335
espécies de aves, agrupadas em 55 famílias, onde 16 estão ameaçadas de extinção, 29 são
consideradas raras e 20 vulneráveis. A Paraíba, ainda hoje, tem escassez de trabalhos em relação ao
estudo das populações e comunidades de aves de rapina. A grande ameaça para as aves e em
particular, as aves de rapina brasileiras é a fragmentação de habitats pelo desmatamento ilegal,
principalmente na caatinga paraibana; pela carência de informações sobre a biologia básica destas
espécies e o crescimento do número de espécies ameaçadas.
Apesar da Caatinga ter sido sempre identificada como um importante centro de endemismo
para aves sul-americanas a distribuição, a evolução e a ecologia da avifauna da região continuam
ainda muito pouco estudadas quando comparadas com esforços feito para a Amazônia, o Cerrado, a
floresta atlântica e o pantanal (LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003). Possui 510 espécies de aves e
15 espécies destas são endêmicas, cerca de 2,9% (SILVA et al., 2003).
Segundo Paiva (1999), ―a fauna Nordestina era abundante e rica em espécies, a
intensificação da semi-aridez levou ao desaparecimento daquelas de maior porte, das mais frágeis
e mais sedentárias, subsistindo as mais resistentes e de maior distribuição geográfica”. Além da
semi-aridez, a fauna Nordestina, assim como as de outras regiões do país, sofre grandemente com a
caça indiscriminada, biopirataria e principalmente com tráfico, devido a sua beleza, vocalização e
facilidade de captura, além de algumas espécies serem usadas como alimento É costume da
população sertaneja, criar pássaros silvestres em gaiolas. Por esse motivo há muitos anos acontece
uma proliferação deste tipo de ação, as pessoas vêem as outras criarem pássaros e também querem
fazê-lo, assim como uma criança ver o pai colocando um pássaro em uma gaiola e também quer
fazer o mesmo.
Inserido neste contexto, os problemas são ainda maiores. Com a devastação e
fragmentação dos habitats, muitos animais, principalmente os grandes predadores, pois, acabam por
perecer, devido à falta de alimento, território, estresse (causado pela ação humana) e matança
indiscriminada. Além disso, poucos são os estudos de levantamentos de fauna e flora nas áreas
restantes, dificultando o trabalho correto de reintrodução das espécies endêmicas (OLIBVEIRA,
2002).
Sob a ótica da conservação ambiental e das espécies, o estabelecimento de ações
prioritárias para a Caatinga é a principal, primeiro porque é o único Bioma exclusivamente
brasileiro (RODRIGUES, 2000); segundo, porque a Caatinga abriga uma fauna, com muitas
espécies endêmicas (TABARELLI, 2002). Por fim, porque a Caatinga é um dos biomas mais
ameaçados do Brasil, com grande parte de sua área tendo sido bastante modificada pelas atividades
humanas.
Diante disso, este trabalho objetivou realizar o primeiro levantamento das aves de rapina e
seu comportamento de espreita eme um fragmento de caatinga na Fazenda Maracajá, município da
cidade de São João do Cariri, microrregião do Cariri Oriental – Paraíba.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo: O trabalho foi realizado numa área de caatinga localizada na fazenda
Maracajá que pertence ao município de São João do Cariri – Paraíba, e faz parte da microrregião do
Cariri Oriental ou antigo Cariris Velhos. A fazenda tem uma área de aproximadamente 1300 ha,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 318

com áreas de caatinga densa e bem preservada e partes de agriculturas de subsistência e boa parte
das terras cortada pelo rio Gurjão.
A altitude média é de 458m, cujo macro-relevo é a Superfície Aplainada do Planalto da
Borborema, esculpida sobre litológica cristalina (ARAÚJO et al, 2005). A região onde a fazenda
está localizada apresenta características de semi-aridez mais acentuada que o sertão por estar
situada segundo Silva (1993), na diagonal seca existente na superfície da Borborema, linha de fluxo
e refluxo das massas de ar que atuam no Nordeste. É importante destacar que a região dos Cariris
Velhos apresenta índices climáticos com estiagens acentuadas e pluviosidade que em muitos anos
não ultrapassa a média dos 350 mm anuais, podendo ser considerada, segundo o IBGE (2008) como
subdeserto. A umidade relativa do ar é de 70%, aproximadamente, temperatura varia de 27,2ºC no
período novembro-março a 23,1ºC em julho (ARAÚJO et al, 2005).

Métodos: Para a execução do trabalho foram utilizados: binóculo 12x25 e máquina


fotográfica digital Canon EOS XTI 400d; para a identificação dos indivíduos adotou-se Sick (2004)
e Höfling e Camargo (2002). A metodologia se baseou no censo de aves a partir de visualização
e/ou registro sonoro.
O trabalho foi realizado pela manhã, pois segundo Souza (2001) é o período de maior
atividade da maioria das aves, sendo o início do percurso ao nascer do sol (entre 5:00 e 6:00h),
terminando sempre após cinco horas de observação, já para as aves noturnas, foi iniciado as
dezessete horas com duração de duas horas de observação. A direção do percurso, a ser seguido
diariamente foi escolhido através de sorteio para evitar tendenciosidades.
Durante a execução do percurso, a velocidade percorrida foi sempre a mesma, com paradas
de 30 minutos nos pontos de observação. A pesquisa foi realizada através de 40 jornadas divididas
entre o período de março a dezembro de 2009, em media dois finais de semanas por mês,
acumulando um total de 280 horas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No estudo foram registradas 14 espécies de aves de 04 famílias. Para os cariris velhos, até
o momento, sendo este caracterizado como o primeiro levantamento específico para aves de rapina.
As famílias e espécies encontradas encontram-se distribuídas no Quadro 01 a seguir:

QUADRO 01. Descrição e classificação das aves de rapina encontradas no estudo.


ORDEM FAMILIA NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO
Falcão de coleira Falco femoralis (Temminck, 1822)
Quiri quiri Falco sparverius (Linnaeus, 1758)
Acauã Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758)
Falconiformes Falconidea
Caracara cheriway (Jacquin, 1784)
Caracará
Caracara plancus (Miller, 1777)
Carrapateiro Milvago chimachima (Vieillot, 1816)
Gavião carijó Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
Gavião caboclo Heterospizias meridionalis (Latham, 1790)
Gavião asa de
Falconiformes Acipitridea Parabuteo unicinctus (Temminck, 1824)
telha
Gavião peneira Elanus leucurus (Vieillot, 1818)
Gavião pernilongo Geranospiza caerulescens (Vieillot, 1817)
Coruja buraqueira Athene cunicularia (Molina, 1782)
Strigiformes Stringidae
Corujinha do mato Megascops choliba (Vieillot, 1817)
Strigiformes Tytonidae Rasga mortalha Tyto alba (Scopoli, 1769)

DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES ENCONTRADAS NA ÁREA DE ESTUDO


Falco femoralis: pode ser encontrado em todo o Brasil. O casal costuma cercar a presa
cooperativamente, Nas queimadas, mantém-se pousados próximos à frente do fogo, capturando
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 319

insetos e pequenos vertebrados assustados pelas labaredas, Usa muito as asas, com rápidas batidas,
para um vôo direto e acelerado. Além de peneirar ocasionalmente, costuma fazer planeios longos e
altos, utilizando-se das correntes de ar quente ascendente para ganhar altura. Ele tem silhueta de
longa cauda, com as asas pontiagudas e longas que é conhecido também na região como gavião de
asa fina (SICK, 2004)
Falco sparverius: é o menor dos falcões brasileiros. Caça a partir de poleiros fixos,
Alimenta-se de lagartos e grandes insetos; ocasionalmente, apanha roedores, pequenas cobras e
aves. Vive em áreas abertas, ocupando desertos e campos naturais ou alterados por atividades
agrícolas a espécie também exibe um acentuado dimorfismo sexual, sendo os machos bem menores
que as fêmeas. Ele é conhecido por ser bastante agressivo contra os invasores nos locais próximos
ao ninho, os pais fazem vôos rasantes sobre o intruso. Conhecido também como gaviãozinho
(WHITE et al, 1994; SICK, 2004).
Herpetotheres cachinnans: é um falcão bem diferente, possui uma mascara negra ate a
nuca, ele é bem cabeçudo, sua alimentação é de lagartos morcegos e principalmente cobras. Com
canto único e muito forte costuma cantar ao entardecer e ao amanhecer, seu canto tanto é
considerado bom como de mau agouro, dependendo da região do país, na região dos Cariris
velhos acredita se quando ele canta em árvore seca, o ano será de seca, quando ele canta em uma
árvore com folhas o ano terá chuvas boas. Esse comportamento etnoornitológica com os moradores
de comunidades rurais já foi comprovado também por Araujo et al (2005).
Caracara cheriway e Caracara plancus: são animais muito temidos e talvez os mais temidos
entre as aves de rapina na região, porque as pessoas na zona rural, como costumam criar galinhas,
cabras e ovelhas; porém com a degradação da vegetação e a conseqüente falta de alimentos no
ambiente natural, essas aves costumam se alimentar dos filhotes destes animais, com isso colocam
esses animais em sua dieta. Por esse motivo, as aves de rapina são chamadas pela população local
de impiedosas e malvadas que, em muitos casos, a própria população chega a matar as aves para
evitar as perdas de suas crias (NOBREGA JR et al, 2005).
Milvago chimachima: foi observado comendo um fruto de coco catolé bem maduro, um
comportamento adverso para algumas aves de rapina, esse mesmo comportamento de se alimentar
de frutos de palmeira foi relatado por Olmos et al (2006).
Rupornis magnirostris: Apresenta uma grande variação de cores da plumagem, conforme a
região do país. Seu peito finamente barrado da barriga e a cauda com várias faixas claras (quatro ou
cinco), em contraste as faixas cinza escuro ou negras. Esse barrado do peito dá origem ao nome
comum mais freqüente, gavião carijó. É o gavião mais abundante no Brasil, distribuído por todo o
país (SICK, 2004). Apresenta uma dieta bastante diversificada (insetos, répteis, anfíbios, pequenos
roedores) ao longo de sua distribuição (HAVERSCHMIDT, 1962; MASSOIA, 1988; BELTZER,
1990; ROBINSON, 1994; PANASCI e WHITACRE, 2000).
Heterospizias meridionalis: diferentemente do que foi observado no mato grosso por
Olmos et al (2006), no local do estudo não foi observado ataque a aves ou a grupo de pássaros, lá
esse animal se alimenta especialmente de lagartos, serpentes e pequenos roedores.
Parabuteo unicinctus: ocorre no Brasil oriental, meridional e central (SICK, 2004).
Caracteriza o animal muito temido na região porque as pessoas costumam criar galinhas e as aves
de rapina costumam atacar e comer os filhotes destes animais, pelo fato de suas presas naturais,
estarem escassos na região onde vivem , é também conhecido como Gavião de facha branca. Ele já
foi encontrado também em centros urbanos, como no Parque dos Manguezais em dezembro de 2004
em Recife por Dantas et al (2006).
Elanus leucurus: sua particularidade é que no momento da caça ele fica peneirando no ar
para localizar sua presa, ele ocorre desde o sul e oeste dos Estados Unidos, norte do México,
América Central, centro e leste da América do Sul, até o sul da Argentina e Chile (FERGUSON-
LEES e CHRISTIE, 2001). No Brasil, esta espécie habita os cerrados, campos e pastagens com
árvores, e vem se beneficiando com o avanço das zonas agrícolas (ANTAS e CAVALCANTI,
1988; SICK, 2004).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 320

Geranospiza caerulescens: de corpo franzino, asas largas, cauda longa, pernas compridas
ultrapassando a cauda durante o vôo, adaptado especialmente para inspecionar cavidades
sobretudo extrair pererecas dentro de bromélias, tateando com os pés entre as folhas
(BOKERMANN, 1978). Ave de rapina típica da América do Sul, que ocorre no Brasil, Guianas,
Venezuela, Colômbia, Equador e zona Norte do Peru, Bolívia e Argentina (SICK, 2004)
Athene cunicularia: conhecida também por coruja buraqueira, recebe esse nome, pois vive
em buracos cavados no solo; embora seja capaz de cavar seu próprio buraco, prefere os buracos
abandonados de outros animais, é uma coruja terrícola de hábitos diurnos e noturnos, animal muito
comum e abundante em toda região dos Cariris Velhos, sendo muito comum encontrá-las na beira
das estradas e rodovias, ficando encandeadas pelos faróis dos carros, por isso muitas vezes esses
animais são encontrados atropelados, fato observado também por Novelli, Takase e Castro (1988)

Megascops choliba: animal de habito estritamente noturno, é uma espécie pequena que
destacam-se as duas “orelhas”nos lados da cabeça, Caça grandes insetos como gafanhotos,
mariposas, camundongos e pequenos pássaros. É encontrada Da Costa Rica à Bolívia, Paraguai e
Argentina, bem como em todo o Brasil, principalmente em orla de matas, cerrados, sítios e cidades
(SICK, 2004)
Tyto Alba: é uma ave de rapina com hábitos noturnos, vivendo em áreas abertas e semi-
abertas, cujo desmatamento, aliado as grandes concentrações em áreas urbanas, contribui para o
aumento nas populações de roedores, principalmente ratos e camundongos, que constituem os mais
importantes itens em sua dieta, essa observação também é concordada por Pinto Silva et al (2007).
De acordo com as observações durante o estudo foi possível determinar os estratos onde
os animais foram visualizados e as táticas de espreita e forrageamento das espécies encontradas,
conforme descrita no Quadro 02.
QUADRO 01. Descrição e classificação das aves de rapina encontradas no estudo.
TÁTICA DE ESPREITA E
NOME CIENTÍFICO ESTRATO
FORRAGEAMENTO
Vôo de observação e vôo de captura;
Falco femoralis herbáceo e arbustivo
forrageamento em poleiro.
Falco sparverius herbáceo Peneirando e caça em vôo.
Caça a partir de poleiros e o forrageamento em
Herpetotheres cachinnans arbóreo poleiro.
Caça em vôo e forrageamento em poleiro e
Caracara cheriway herbáceo, arbustivo e
solo firme se alimentando de animais em
Caracara plancus arbóreo
putrefação.
Caça a partir de poleiros e o forrageamento em
Milvago chimachima herbáceo e arbóreo poleiro e solo firme.
herbáceo, arbustivo e Caça a partir de poleiros e o forrageamento em
Rupornis magnirostris poleiro.
arbóreo
Caça a partir de poleiros e o forrageamento em solo
Heterospizias meridionalis herbáceo firme.
Caça em vôo e a partir de poleiro;
Parabuteo unicinctus herbáceo e arbóreo
forrageamento em poleiro e solo firme.
Caça em vôo e forrageamento em poleiro e
Elanus leucurus Herbáceo
solo firme
Caça a partir de poleiros e o forrageamento em
Geranospiza caerulescens Arbóreo poleiro e solo firme.
Caça a partir de poleiros e o forrageamento em solo
Athene cunicularia herbáceo e arbustivo firme.
herbáceo, arbustivo e Caça a partir de poleiros e o forrageamento em solo
Megascops choliba firme.
arbóreo
Caça em vôo e a partir de poleiros e o forrageamento
Tyto alba * em solo firme.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 321
* A espécie Tyto alba foi visualizada no período diurno em uma fresta de uma ponte de concreto e no
período noturno em sobrevôo.

CONCLUSÃO
Mesmo a região de estudo ser da caatinga antropizada estando alterada em relação a sua
vegetação original, ainda existe uma grande variedade de espécies de aves de rapina, totalizando 14
espécies de 04 famílias.
As famílias Falconidea e Acipitridea foram as que tiveram maior número de espécies com
05 espécies cada;
Dentre as 14 espécies, 06 são falcões: Falco femoralis, Falco sparverius, Herpetotheres
cachinnans, Caracara cheriway, Caracara plancus e Milvago chimachima
Esses animais, apesar de terem a fama de predadores dos animais domesticados das
populações da zona rural da região, são os principais biocontroladores de roedores e répteis das
regiões da caatinga;
As espécies Caracara cheriway e Caracara plancus, além de biocontroladoras naturais
ainda contribuem para o consumo dos animais que estão em estado de decomposição.
Mesmo com grande importância para o bioma da caatinga, estes animais estão ameaçados
na área devido as ações antrópicas como o desmatamento ilegal e a caça predatória reduzem
consideravelmente a riqueza de espécies mais sensíveis na Caatinga.

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BANCO DE SEMENTES FLORESTAIS EXÓTICAS DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – CAMPUS DE
SINOP

Raquel Braga de ALMEIDA


Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop. Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
keubragga@hotmail.com
Jessé Lopes CARVALHO
Acadêmico do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop. Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
carvalhoflorestal@yahoo.com.br
Leticia Vallezzi MÜLLER
Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop. Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
leticiavallezzi@hotmail.com
Pastor Amador MOJENA
Professor (Orientador). Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop. Av. Alexandre Ferronato,
1200, Setor Industrial
pamadormojena@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo quantificar o número de espécies exóticas
existentes no banco de sementes do laboratório de sementes do Instituto de Ciências Agrárias e
Ambientais (ICAA) que serão utilizadas para realização e padronização de futuros testes de
germinação assim como estabelecer as técnicas de armazenamento de sementes e visando a melhor
diretriz para a produção de mudas na Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop
identificando-as com: nome popular, nome cientifico, família, classificação para armazenamento
(ortodoxas ou recalcitrantes) e seus principais usos, tanto da madeira quanto das sementes.
PALAVRAS-CHAVES: sementes exóticas, ortodoxas, recalcitrantes, germinação

ABSTRACT
This study aimed to quantify the number of exotic species existing in the seed bank seed
laboratory of the Institute of Agricultural and Environmental Sciences (ICAA) to be used for
development and standardization of future tests of germination and establish techniques for storage
seed and seeking the best guideline for the production of seedlings at the Federal University of
Mato Grosso - Campus Sinop identifying them with: popular name, scientific name, family
classification for storage (orthodox or recalcitrant) and its main uses, both of wood and the seeds.
KEYWORDS: exotic seeds, orthodox, recalcitrant, seed

INTRODUÇÃO
A crescente exploração dos recursos naturais tem levado a perdas de muitas espécies, sem
antes ter-se estudado ou mesmo tomado conhecimento de sua existência. Obviamente que uma vez
extinta, a espécie não mais reaparece. Pela teoria da seleção natural (DARWIN, 1985), a extinção
das formas antigas e a produção de novas formas aperfeiçoadas estão intimamente correlacionadas.
A região de Sinop teve uma ocupação acelerada nos últimos anos e a vegetação nativa foi
retirada em grande parte, para a implantação de centros urbanos e atividades tais como exploração
da madeira, criação de gado e cultura de grãos (soja, milho, arroz) além do cultivo do algodão.
O reflorestamento com espécies exóticas de parte dessas áreas, além dos benefícios
ecológicos, aumentaria a oferta de madeira reflorestada na região, diminuindo a pressão sobre as
florestas naturais remanescentes.
Segundo WADSWORTH (2000), os argumentos a favor das plantações florestais se
baseiam na disponibilidade de terrenos e na expectativa de escassez de madeira no futuro. Além de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 324

se encontrarem muito dispersas, em áreas de difícil acesso, as florestas naturais apresentam baixas
taxas de crescimento e poucas árvores de valor comercial, o que dificulta o seu aproveitamento
comercial.
As sementes florestais são o princípio do povoamento das futuras florestas, significam
perpetuação e a continuidade das espécies tão importantes para que a floresta continue sendo
considerado um recurso renovável. As espécies exóticas favorecem as espécies nativas, pois
diminui a pressão sobre a mesma e ao mesmo tempo suprir o mercado consumidor do produto
madeireiro.
Para a utilização das sementes como método de manutenção e continuidade das florestas é
necessário que se conheça a fisiologia das sementes. ROBERTS (1973) citado por VÁSQUEZ-
YANES & OROZCO-SEGOVIA [19--] dividiu as sementes em dois grupos: ortodoxas e
recalcitrantes. Sementes ortodoxas são descritas como relativamente pequenas, com baixas taxas de
metabolismo e respiração, permanecem com sucesso por um longo período de tempo com baixa
umidade e baixa temperatura. Sementes recalcitrantes são geralmente grandes, com altas taxas de
metabolismo e respiração, não sobrevivem sob condições secas ou de alta umidade, sua viabilidade
é muito curta, somente são capazes de sobreviver em condições especiais de armazenamento.
O presente trabalho teve como objetivo quantificar o número de espécies exóticas
existentes no banco de sementes do laboratório de sementes do Instituto de Ciências Agrárias e
Ambientais (ICAA) que serão utilizadas para realização e padronização de futuros testes de
germinação assim como estabelecer as técnicas de armazenamento de sementes e visando a melhor
diretriz para a produção de mudas na Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop
identificando-as com: nome popular, nome cientifico, família, classificação para armazenamento
(ortodoxas ou recalcitrantes) e seus principais usos, tanto da madeira quanto das sementes.

MATERIAL E MÉTODOS
A cidade de Sinop localiza-se a uma latitude 11º50'53" sul e a uma longitude 55º38'57"
oeste, estando a uma altitude de 384 metros. Sua população é de aproximadamente 114.051
habitantes (IBGE, 2009) e possui uma área de 3.206,86 km². Sinop é uma das principais cidades do
estado e faz parte da Amazônia Legal.
A região norte matogrossense tem como característica marcante um clima tropical semi-
úmido, com temperaturas elevadas todo o ano e duas estações definidas pela distribuição espacial e
temporal das chuvas: uma estação seca (outono-inverno) e uma estação chuvosa (primavera-verão).
As sementes foram coletadas por alunos do curso de Engenharia Florestal da
Universidade Federal de Mato Grosso - Campus de Sinop/MT. As coletas das sementes foram
realizadas durante as atividades de campo nas fazendas e plantios florestais, onde se realizaram as
aulas e nas áreas de coletas na região de Sinop.
Após a coleta as sementes foram levadas ao laboratório de sementes do Instituto de
Ciências Agrárias e Ambientais (ICAA). As sementes serão beneficiadas, e posteriormente
realizarão os testes mais importantes como: pureza, peso de 1000 sementes, porcentagem de
germinação, número de frutos por quilograma, teor de umidade e testes de quebra de dormência
como: escarificação química e física, entre outras; assim como armazenadas em diferentes
recipientes plásticos, latas, sacos de papel kraft e devidamente identificadas e classificadas quanto a
capacidade de armazenamento (ortodoxa e recalcitrante).

RESULTADOS

As sementes coletadas foram devidamente identificadas, catalogadas e armazenadas de


acordo com sua denominação quanto à capacidade de armazenamento (recalcitrante ou ortodoxa),
suas respectivas famílias e principais usos das espécies.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 325

Tabela 1: apresenta as espécies de sementes exóticas encontradas na região que estão


armazenadas no laboratório, seguindo o nome popular, nome específico e família.
Nome popular Nome científico Família
Cassia imperial Cassia fistula L. Fabaceae
Cassia-rósea Cassia javanica L. Fabaceae
Acácia-australiana Acacia mangium Willd. Mimosaceae
Bauínia-de-hong-kong Bauhinia blakeana Dunn Fabaceae
Eucalipto-de- camaldulis Eucalyptus camaldulensis Myrtaceae
Eucalipto-fantasma Eucalyptus papuana Myrtaceae
Eucalipto-limão Corymbia citriodora Myrtaceae
Olho-de-pavão Adenanthera pavonina L. Fabaceae
Flamboyant Delonix regia Fabaceae
Leucena Leucaena leucocephala Fabaceae
Mulungu Erythrina humeana Spreng. Fabaceae
Pata-de-vaca-roxa Bauhinia purpurea L. Fabaceae
Pinhão-paraguayo Jatropha curcas L. Euphorbiaceae
Siraricito, zarcilito Cojoba sophorocarpa (Benth.) Fabaceae
Tamarindo, tamarino Tamarindus indica L. Fabaceae
Teca Tectona grandis L.f. Verbenaceae

Tabela 2: apresenta as espécies de sementes exóticas encontradas na região que estão


armazenadas no laboratório, seguindo a classificação para armazenamento e utilização da espécie.
Comportamento no
Nome popular Uso da espécie¹
armazenamento
Cassia imperial NC² Árvore para parques e arborização de ruas
Cassia-rósea Ortodoxas Uso paisagístico na composição de parques e grandes jardins
Acácia- NC Para fins paisagísticos. Na arborização urbana e rural. Reflorestamentos
australiana destinados a produção de lenha
Bauínia-de- Ortodoxas Uso paisagístico, principalmente em cultivo isolado em parques e jardins.
hong-kong
Eucalipto-de- Ortodoxas Reflorestamento, arborização de caminhos, estradas e para quebra-ventos.
camaldulis Madeira para construção, moirões, dormentes e carvão.
Eucalipto- Ortodoxas Arborização de parques e grandes jardins. Reflorestamentos em geral.
fantasma
Eucalipto-limão Ortodoxas Reflorestamento e extração do óleo essencial das folhas para indústria de
perfumaria e desinfetante
Olho-de-pavão Ortodoxas Construção civil e marcenaria. Arborização de parques e ruas. As
sementes são utilizadas em artesanatos, principalmente na confecção de
bijuterias
Flamboyant Ortodoxas Arborização de parques e jardins. Adequada para uso paisagístico em geral
onde haja espaço suficiente para seu desenvolvimento.
Leucena Ortodoxas Suas folhas consideradas forrageiras para o gado e sua madeira pode ser
aproveitada como lenha.
Mulungu NC Arvoreta muito ornamental é adequada para arborização de parques,
praças e jardins.
Pata-de-vaca- Ortodoxas Possui atributos ornamentais singulares. Recomendada para uso
roxa paisagístico na arborização de parques, ruas e avenidas.
Pinhão- NC Cultivadas apenas em coleções botânicas; muito utilizada outrora na
paraguayo formação de cercas-vivas. Também cultivada para fins medicinais. Suas
sementes são ricas em óleo tóxico.
Siraricito, NC Utilizada na arborização de parques e grandes jardins. Vedado seu plantio
zarcilito em calçadas por possuir copa muito baixa e larga.
Tamarindo, Ortodoxas Seus frutos são consumidos em todo pais para o preparo de sucos bem
tamarino como para fins medicinais.
Teca Ortodoxas Produz madeira valiosa pela qualidade e durabilidade, de grande
importância na construção naval.
¹Segundo Harri Lorenzi. Árvores Exóticas No Brasil: madeireiras, ornamentais e
aromáticas.
²Espécie ainda não classificada no laboratório.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 326

CONCLUSÃO
Os testes de vigor e quebra de dormência já realizados no laboratório de sementes,
confirmou que algumas espécies precisam de maiores estudos para aumentar a porcentagem de
sobrevivência na germinação e no plantio caso que se realize a semeadura direta, justificando assim
a necessidade de se ter um banco de sementes para futuros estudos mais detalhados.
No desenvolvimento das pesquisas a serem realizadas no laboratório de sementes do
Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais da UFMT- Campus de Sinop será testado às hipóteses
sobre o caráter recalcitrante ou ortodoxas das sementes exóticas armazenadas durante um período
pré-determinado para cada espécie, assim como testes para avaliação de vigor e métodos para
quebra de dormência.

BIBLIOGRAFIA
CALDATO, S. L.; FLOSS, P. A.; CROCE, D. M.; LONGHI, S. J. Estudo Da Regeneração
Natural, Banco De Sementes E Chuva De Sementes Na Reserva Genética Florestal De Caçador,
SC. Ciência Florestal, Santa Maria, v.6, n.1, p.27-38, 1996.
DARWIN, C. Origem Das Espécies. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, São Paulo, 1985. 366 p.
FONSECA, G. P. da S.; SOUZA, S. C.; ZAMPARONI, C. A. G. P. Variabilidade
Climática Em Áreas Da Amazônia Mato-Grossense. p 14-16
LORENZI, H; SOUZA, H. M; TORRES, M. A. V; BACHER, L. B. Árvores Exóticas No
Brasil: madeireira, ornamentais e aromáticas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.
LÚCIO, A. D.; FORTES, F. O.; STORCK, L.; FILHO, A. C. Abordagem Multivariada Em
Análises De Semente De Espécies Florestais Exóticas. Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 27-37, jan./mar.
2006.
ROBERTS, E.H. 1973. Predicting The Storage Life Of Seeds. Seed Sci. & Technol.,
1:499-514.
SOUZA, V. C. Botânica Sistemática: Guia Ilustrado Para Identificação Das Famílias De
Fanerógamas Nativas E Exóticas No Brasil, Baseado Em APG II/ Vinicius Castro Souza, Harri
Lorenzi. 2º ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008.
TONINI, H.; VERDE, M. F. A.; SCHWENGBER, D.; MOURÃO, M. Avaliação De
Espécies Florestais Em Área De Mata No Estado De Roraima. Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 8-18,
jan./mar. 2006.
VÁSQUEZ-YANES, C.; OROZCO-SEGOVIA, A. Seed Viabillity, Longevity And
Dormancy In Tropical Rain Forest. México, Centro de ecologia, UNAM, [19--].
WADSWORTH, F. H. Producción Forestal Para América Tropical. Washington: USDA,
2000. p.563.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 327

BANCO DE SEMENTES FLORESTAIS NATIVAS DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – CAMPUS DE
SINOP

Leticia Vallezzi MÜLLER


Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso –
Campus de Sinop. Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
leticiavallezzi@hotmail.com
Jessé Lopes CARVALHO
Acadêmico do curso de Engenharia Florestal.Universidade Federal de Mato Grosso –
Campus de Sinop. Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
carvalhoflorestal@yahoo.com.br
Raquel Braga de ALMEIDA
Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso –
Campus de Sinop. Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
keubragga@hotmail.com
Pastor Amador MOJENA
Professor. Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop. Av. Alexandre
Ferronato, 1200, Setor Industrial
pamadormojena@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo quantificar o número de espécies nativas existentes
no banco de sementes do laboratório de sementes do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais
(ICAA) que serão utilizadas para realização de futuros testes de germinação assim como estabelecer
as técnicas de armazenamento de sementes e visando a melhor diretriz para a produção de mudas na
Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop, identificando-as com: nome popular,
nome cientifico, família e classificação para armazenamento (ortodoxas ou recalcitrantes).
PALAVRAS-CHAVE: sementes exóticas, ortodoxas, recalcitrantes, germinação

ABSTRACT
This study aimed to quantify the number of native species existing in the seed bank of the
seed laboratory of the Institute of Agrarian and Environmental Sciences to be used for development
of future germination and establish techniques for storage seed and seeking the best guideline for
the production of seedlings at the Federal University of Mato Grosso - Campus Sinop, identifying
them with: common name, scientific name, family classification and storage (orthodox or
recalcitrant).
KEYWORDS: exotic seeds, orthodox, recalcitrant, germination

INTRODUÇÃO
As sementes florestais são o princípio do povoamento das futuras florestas, significa
perpetuação, a continuidade de espécies tão importantes na vida dos povos da floresta. Ao longo da
história destes povos as sementes florestais conseguiram unir os saberes tradicionais e científicos,
numa busca constante para manutenção da biodiversidade florestal.
Alterações temporais na composição florística de uma comunidade, variações sazonais na
frutificação e na dispersão influenciam na abundância de sementes, no número de espécies e nas
formas de vida disponíveis no solo de uma comunidade durante o ano ou de ano para ano (Young et
al. 1987, Alvarez-Buylla & Martínez-Ramos 1990, Dalling et al. 1997, 1998).
O processo de ocupação da Amazônia nas últimas décadas levou à abertura de estradas, à
implantação de grandes projetos minero-metalúrgicos, à expansão da atividade pecuária e ao
surgimento de novas frentes de colonização, contribuindo para o crescimento econômico dos
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 328

Estados. Por outro lado, instalaram problemas ambientais e sociais, com uma taxa de devastação de
cerca de 17% da cobertura florestal, no Pará e de 28%, em Mato Grosso. A atividade florestal e
agropecuária, apesar de dinamizar a economia regional, pode trazer impactos negativos, como a
erosão dos solos, assoreamento de rios, lagos e represas, alterações microclimáticas, liberação de
CO2 e poluição atmosférica; e biótico, como a perda de biodiversidade, a contaminação e o
comprometimento da cadeia trófica.
Um dos motivos para a condução de poucas pesquisas com espécies arbóreas nativas da
Amazônia é carência de sementes para instalação de ensaios. Sementes essas geralmente oriundas
de floresta nativa onde a densidade de indivíduos de determinada espécie por hectare é baixa, mas
chega a alcançar cerca de 1 árvore/ha. Vale ressaltar que, considerável número de espécies possui
sementes recalcitrantes, sensíveis ao dessecamento, conseqüentemente não toleram a redução do
grau de umidade e o armazenamento a baixas temperaturas por tempo prolongado (Dulloo et al.,
2004).Portanto, o conhecimento sobre as sementes das espécies florestais nativas da Amazônia é
incipiente e, a realização de pesquisas com essas espécies deverá promover a conservação, manejo,
e uso sustentável desses recursos.
O presente trabalho teve como objetivo quantificar o número de espécies nativas existentes
no banco de sementes do laboratório de sementes do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais
(ICAA) que serão utilizadas para realização de futuros testes de germinação e como estabelecer as
técnicas de armazenamento de sementes, visando o melhor método para a produção de mudas na
Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Sinop identificando-as com: nome popular,
nome cientifico, família e seus principais usos, tanto da madeira quanto das sementes.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Amazônia Mato-grossense, integrante da Amazônia Legal, compreende o centro norte


do estado de Mato Grosso, e estende-se na direção latitudinal, de 15º até 8º de Latitude Sul,
localizando-se na zona tropical e interior do continente sul-americano. Na direção centro para norte,
a vegetação de cerrado vai gradualmente dando lugar a Mata de Transição que antecede a Floresta
Amazônica presente no extremo norte do Estado. A região é drenada por rios pertencentes à Bacia
Amazônica e Tocantins, nas direções norte e nordeste e rios que correm para a Bacia do Paraguai,
na direção sul.
Considerando a demanda de sementes nas áreas desmatadas das Florestas Ombrófila e
Estacional, pertencente ao bioma Amazônia, que representa 58% do total da vegetação do norte do
Mato Grosso, torna-se necessário o investimento em tecnologia e produção de sementes das
espécies florestais nativas. Para tanto, há a necessidade da criação de grupos de trabalhos com
representantes das entidades envolvidas no projeto, no sentido de elaboração e divulgação de
normas técnicas para utilização das sementes destas espécies.
Sinop é uma das principais cidades do estado e pertencente da Amazônia Legal, localiza-se
a uma latitude 11º50‘53‖ sul e a uma longitude 55º38'57" oeste, e possui clima tropical semi-úmido,
com temperaturas elevadas todo o ano e duas estações definidas pela distribuição espacial e
temporal das chuvas: uma estação seca (outono-inverno) e uma estação chuvosa (primavera-verão).
As sementes analisadas encontram-se no laboratório de sementes do Instituto de Ciências
Agrárias e Ambientais (ICAA) da Universidade Federal de Mato Grosso - Campus de Sinop/MT, e
foram coletadas pelos os alunos do curso de Engenharia Florestal, durante as aulas de campo, na
própria universidade, na cidade e região de Sinop.

RESULTADOS

As sementes localizadas no laboratório de sementes do Instituto de Ciências Agrárias e


Ambientais (ICAA) da Universidade Federal de Mato Grosso - Campus de Sinop/MT foram
identificadas e armazenadas como exóticas ou nativas, recalcitrante ou ortodoxa e suas respectivas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 329

famílias. A tabela 1 apresenta as espécies de sementes nativas encontradas na região que estão
armazenadas no laboratório.

Nome Científico Nome Popular

Albizia hasslerii farinha-seca


Albizia polycephala angico-branco
Amburana cearensis cerejeira-rajada, amburana
Anacardium occidentale cajueiro
Aspidosperma macrocarpon guatambu, peroba-cetim
Aspidosperma polyneuron peroba, peroba-rosa
Astronium graveolens guaritá, gibatão, pau-ferro
Bauhinia forficata pata-de-vaca, mororó
Bertholletia excelsa castanha-do-brasil, castanha-do-pará
Bombacopsis glabra castanha-do-maranhão
Bowdichia virgilioides sucupira-preto, sucupira-do-cerrado
Byrsonima basiloba murici-do-campo
Caesalpinia peltroforoides sibipiruna
Campomanesia guazumaefolia sete-capotes, sete-capas
Cariniana legalis jequitibá-rosa, jequitibá-vermelho
Cecropia pachystachya embaúba, imbaúba
Cedrela fissilis cedro, cedro-rosa, cedro-branco
Chorisia speciosa paineira-rosa, paineira, paineira-branca
Copaifera langsdorffii copaíba, copaíba-vermelha, bálsamo
Dalbergia nigra jacarandá-da-bahia, jacarandá-preto
Didymopanax morototonii morototó, pau-mandioca, mandiocão
Enterolobium contortisiliquum timburi, timbaúva, orelha-de-macaco
Eriotheca candolleana catuaba, embiruçu
Euterpe oleracea açaí, palmito-açaí, açaí-do-pará
Hevea brasiliensis seringueira, seringa-verdadeira
Hymenaea stigonocarpa jatobá-do-cerrado
Jacaranda cuspidifolia caroba, jacarandá-de-minas, jacarandá
Mabea fistulifera mamoninha-do-mato, canudeira
Micrandra elata leiteiro-branco, árvore-de-mamona
Ochroma pyramidale pau-de-balsa, pau-de-jangada
Parkia pendula fava-de-bolota, andirá
Tabebuia heptaphylla ipê-rosa
Tabebuia ochracea ipê-amarelo
Tabebuia roseoalba ipê-branco
Tabela 1: Nome científico e nome popular das espécies florestais encontradas no
laboratório de sementes.

CONCLUSÃO
Pesquisas estão sendo realizadas no laboratório de sementes para testar as hipóteses sobre
o caráter das sementes nativas armazenadas de cada espécie, além de testes para avaliação de vigor
e métodos para quebra de dormência.
Testes realizados no laboratório de semente confirmaram que algumas espécies precisam
de maiores estudos para aumentar a porcentagem de sobrevivência na germinação e no plantio caso
que se realize a semeadura direta, o que explica a necessidade de se ter um banco de sementes para
futuros estudos mais detalhados.

BIBLIOGRAFIA
CALDATO, S. L.; FLOSS, P. A.; CROCE, D. M.; LONGHI, S. J. Estudo Da Regeneração
Natural, Banco De Sementes E Chuva De Sementes Na Reserva Genética Florestal De Caçador,
SC. Ciência Florestal, Santa Maria, v.6, n.1, p.27-38, 1996.
FONSECA, G. P. da S.; SOUZA, S. C.; ZAMPARONI, C. A. G. P. Variabilidade
Climática Em Áreas Da Amazônia Mato-Grossense. p 14-16
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 330

LÚCIO, A. D.; FORTES, F. O.; STORCK, L.; FILHO, A. C. Abordagem Multivariada Em


Análises De Semente De Espécies Florestais Exóticas. Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 27-37, jan./mar.
2006.
ROBERTS, E.H. 1973. Predicting The Storage Life Of Seeds. Seed Sci. & Technol.,
1:499-514.
TONINI, H.; VERDE, M. F. A.; SCHWENGBER, D.; MOURÃO, M. Avaliação De
Espécies Florestais Em Área De Mata No Estado De Roraima. Cerne, Lavras, v. 12, n. 1, p. 8-18,
jan./mar. 2006.
VÁSQUEZ-YANES, C.; OROZCO-SEGOVIA, A. Seed Viabillity, Longevity And
Dormancy In Tropical Rain Forest. México, Centro de ecologia, UNAM, [19--].
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 331

COMPARAÇÃO DE ÉPOCAS DE CORTES NO COMPOSTO


ORGÂNICO

CARVALHO, José Carlos Ribeiro de


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Professor Adjunto da UFRB
jcrc48@yahoo.com.br
OLIVEIRA JÚNIOR, Arismário Gomes de
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Engenheiro Agrônomo
DOURADO, Camila da Silva
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Graduanda em Engenharia Agronômica
milasdourado@hotmail.com
SANTOS, Carlos Henrique Barbosa
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Graduando em Engenharia em Agronômica.
carlosufrb@hotmail.com

RESUMO
A pesquisa foi desenvolvida no Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, situada no município de Cruz das Almas – Bahia,
tendo como objetivo verificar a influência de diferentes épocas de corte ou reviramento no processo
de compostagem. Empregou-se o delineamento experimental blocos ao acaso constando de três e
duas repetições. Os tratamentos foram: corte de 3 em 3 dias (T1), corte de 7 em 7 dias (T2) e corte
de 15 em 15 dias (T3). Para avaliação das variáveis: pH, carbono, nitrogênio e relação C/N foi
utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade, também empregou-se o teste da graxa para
avaliação do grau de humificação dos tratamentos empregados.
PALAVRAS-CHAVE: épocas de reviramento, compostagem, grau de humificação

ABSTRACT
The research was conducted at the Center for Agricultural Sciences, Environmental and
Biological Recôncavo Federal University of Bahia, located in Cruz das Almas - Bahia, aiming to
verify the influence of different harvest time or roll in the composting process. We applied the
randomized block experimental design consisting of three and two replicates. The treatments were
cut from 3 in 3 days (T1), cut 7 in 7 days (T2) and cut from 15 to 15 days (T3). To evaluate the
variables: pH, carbon, nitrogen and C / N ratio was used Tukey test at 5% probability, also
employed to test the grease to assess the degree of humification of treatments.
KEYWORDS: epoch you roll, composting, degree of humification

INTRODUÇÃO
Os problemas de degradação ambiental causados pelo modelo atual agrícola são
exaustivamente conhecidos, motivo pelo qual a visão da produtividade e qualidade na agricultura
brasileira tem que ser contemplada num enfoque ambientalista. Sistemas diversificados de produção
que se baseiam na reciclagem de matéria orgânica, pelo uso de compostagem orgânica necessita ser
melhor estudado sob a ótica técnico-científica (Souza, 1998). O desenvolvimento de práticas em
agricultura orgânica, baseadas na recuperação e conservação do solo, métodos alternativos de
controle de pragas e doenças, manejo de plantas invasoras, cobertura morta, rotação de culturas,
dentre outros, necessitam de uma compreensão científica de seus efeitos, quando utilizados de
forma integrada.
O manejo orgânico do solo é feito pela reciclagem da biomassa que envolve a preservação
dos restos de cultura, pela compostagem orgânica, pelo emprego de cobertura morta e outras
práticas que conduzem à reciclagem de nutrientes. O adubo denominado composto é uma mistura
de todos os resíduos, restos e mais substâncias sem valor imediato, existentes ou produzidos na
fazenda, reunidos e preparados para fins de estrumação. Grande parcela dos resíduos produzidos
pelo homem são de natureza orgânica resultante de atividades industriais, comerciais, agrícolas,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 332

domiciliares e outras. Em geral, esses resíduos se apresentam na forma de sobras de alimentos,


frutas e legumes, folhas, gramas e sobra de culturas.
O termo ―matéria orgânica ou resíduo orgânico‖ é dado à todo composto de carbono
susceptível a degradação. O termo degradação ou biodegradação dos resíduos orgânicos diz respeito
à decomposição desses resíduos por microorganismos. Essa decomposição é mais ou menos rápida,
em função das características dos resíduos orgânicos. A biodegradação controlada dos resíduos é
uma medida a fim de viabilizar o potencial de fertilização da matéria orgânica e evitar os fatores
adversos causados pela degradação descontrolada do meio ambiente. A forma mais eficiente de
obter a biodegradação dos resíduos orgânicos é por meio de um processo de compostagem (Neto,
1996).
O composto é utilizado para designar o fertilizante orgânico preparado pelo amontoamento
de restos de animais e vegetais, ricos em substancias nitrogenadas, misturados com outros resíduos
vegetais ricos em carbono. A associação desses restos tem por finalidade fazer com que os mesmos
entrem em processos de decomposição microbiológica, levando ao estágio parcial ou total de
humificação (Kiel, 1985). O produto final da compostagem, ou seja, o composto orgânico
humificado, é reconhecidamente um excelente condicionador para o solo, podendo proporcionar
melhorias em suas propriedades físicas por aumentar a capacidade de retenção de água e a
macroporosidade; nas propriedades químicas elevando a disponibilidade de macro e
micronutrientes; físico-químicas equilibrando a capacidade de troca catiônica e nas biológicas por
estimular a proliferação de microorganismos úteis, agindo no controle de fitopatógenos (Matos et
al., 1998; Febrer, 2002).
O tempo necessário para promover a compostagem de resíduos orgânicos depende da
relação C/N (carbono/nitrogênio), do teor de nitrogênio da matéria-prima, das dimensões das
partículas, da aeração da mesma e do número e frequência dos reviramentos. Kiel (1985), citado por
Teixeira (2002) define compostagem como sendo: ―um processo controlado de decomposição
microbiana, de oxidação e oxigenação de uma massa heterogênea de matéria orgânica‖ e nesse
processo ocorre uma aceleração da decomposição aeróbica dos resíduos orgânicos por populações
microbianas, concentração das condições ideais para que os microorganismos decompositores se
desenvolvam, (temperatura, umidade, aeração, pH, tipo de compostos orgânicos existentes e tipos
de nutrientes disponíveis), pois utilizam essa matéria orgânica como alimento e sua eficiência
baseia-se na interdependência e inter-relacionamento desses fatores. O processo é caracterizado por
fatores de estabilização e maturação que variam de poucos dias a várias semanas, dependendo do
ambiente.
Durante a época em que o composto atinge o estágio de bioestabilização e humificação,
procede-se os testes de cura do composto orgânico, um dos mais utilizados é o teste da graxa. Neste
são retiradas oito a dez subamostras, que depois de homogeneizadas e umedecidas, devem ser
friccionadas nas palmas das mãos, caso as mesmas fiquem engraxadas, como graxas de sapato preto
é sinal que a concentração de ácidos húmicos, fúlvicos, himatumelânicos e humina é alta, logo o
adubo está humificado podendo ser utilizado no campo.
O emprego dos compostos orgânicos como base central de sistemas orgânicos de produção
é uma tecnologia adotada no mundo inteiro. Seu grau de eficiência, de acordo com Souza (1998),
depende do sistema e da forma como se executa o processo de preparo do mesmo e das matérias-
primas utilizadas, podendo ocorrer elevadas variações de qualidade e de custos. Poucas informações
existem sobre dados econômicos de compostagem orgânica que permitam nortear a discussão sobre
sua viabilidade técnica. Assim sendo, objetivou-se com este trabalho identificar e avaliar o melhor
intervalo dias para o corte ou reviramento do composto orgânico nas condições climáticas do
município de Cruz das Almas- BA, bem como a interferência deste na qualidade do composto.

METODOLOGIA
O experimento foi desenvolvido no campo experimental I, no campus da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, no
município de Cruz das Almas, BA. Este se localiza a 12°40‘19‖ de latitude Sul e 39°06‘22‖ de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 333

Longitude Oeste de Greenwich, com 220m de altitude. O clima é tropical quente úmido, Aw a Am,
segundo a classificação de Koppen. A pluviosidade média anual é de 1.224mm, assim como
temperatura de 24,5°C e umidade relativa de 80% (Almeida, 1999).
O delineamento usado foi de blocos inteiramente ao acaso constando de 3 (três)
tratamentos. Os tratamentos foram: corte de 3 em 3 dias ( T01), cortes de 7 em 7 dias ( T02) e corte
de 15 em 15 dias (T03), com duas repetições. Foram utilizados como matérias-prima: capim de
corte, esterco bovino cru (inóculo) e calcário (material neutralizante). Para avaliação das variáveis
pH, carbono, nitrogênio e relação C/N, foi aplicado o teste e Tukey a 5% de probabilidade. Além
dessas avaliações, foi utilizado o teste da graxa para obtenção de uma melhor avaliação do processo
de humificação do composto orgânico, que consiste em empregar uma amostra composta de adubo
no final do processo de cura, constatando-se a humificação, caso as palmas fiquem inteiramente
engraxadas ( Kiel, 1985).
Os tratamentos foram dispostos em pilhas com aproximadamente 1,5m de altura e 2m de
largura. O manejo das pilhas constou de: formação, tomada de temperatura, cortes ou reviramentos
e irrigações de dois em dois dias. As tomadas de temperaturas foram feitas antes dos cortes, com
uso de termômetro digital. Foram processadas análises no final do processo de compostagem para
determinação de pH, carbono, nitrogênio e relação C/N.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aplicando-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade, observou-se que a variável pH não
diferiu entre os tratamentos testados, apresentando pH neutro (pH=7,0), denotando a completa
decomposição da matéria orgânica (Figura 1). Os tratamentos 1 e 2 apresentaram maior valor
absoluto de carbono, diferenciando do tratamento 3, evidenciando a possibilidade de maior grau de
humificação dos tratamentos 1 e 2 quando aplicados no solo (Figura 1). O tratamento três
apresentou maior valor absoluto da concentração de nitrogênio, sendo que diferiu estatisticamente
do tratamento 1, quando se aplicou o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Observou-se que pelos
valores da relação C/N dos tratamentos testados há a necessidade da aplicação do composto com
antecedência no plantio para evitar imobilização do nitrogênio pelos microrganismos. Dos
tratamentos testados, aquele que apresentou maior relação C/N foi o primeiro tratamento (Figura 1).
Todos os tratamentos diferiram entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 334

Figura 1: Propriedades químicas da compostagem submetida a diferentes tipos de corte e


reviramento.

Os valores médios da temperatura não diferiram estatisticamente entre os tratamentos. No


segundo corte ou reviramento foi onde ocorreu maiores valores médios da temperatura, devido a
ação dos microrganismos na decomposição da matéria orgânica (Tabela 1).

Tabela 1: Valores de temperatura nos diferentes tratamentos.

Quanto ao teste de graxa, todos os tratamentos apresentaram-se com amplo grau de


humificação, pois as mãos ficaram enegrecidas sem esboroamento do material. Observou-se
também, a pegajocidade acentuando-se do material e após a lavagem das mãos, as mesmas
apresentaram-se bastante sedosas.

CONCLUSÃO
Os tratamentos 1 e 2 apresentaram maior valor absoluto de carbono evidenciando a
possibilidade de menor grau de humificação quando aplicados no solo. Pelos valores da relação C/N
dos tratamentos testados há a necessidade da aplicação do composto com antecedência no plantio
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 335

para evitar imobilização do nitrogênio pelos microrganismos, sendo os três tratamentos indicados
nas condições do município de Cruz das Almas - BA.

REFERÊNCIAS
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Ambiental, Campina Grande, v.2, n.2, 2006.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 336

CORRELAÇÃO DOS FATORES FÍSICO-QUÍMICOS COM


PADRÕES BIOMÉTRICOS DA OSTRA Crassostrea brasiliana
(LAMARCK, 1819) (BIVALVIA, OSTREIDAE) NO MANGUEZAL
DA REGIÃO ESTUARINA DE RIO FORMOSO, PERNAMBUCO,
BRASIL

Célio Roberto Fernandes da SILVA JÚNIOR


Universidade Católica de Pernambuco. Bolsista de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq.
Estudante de graduação em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP) /CCBS.
celio_jr@msn.com
Goretti SÔNIA-SILVA
Centro de Ciências Biológicas e Saúde (CCBS) /UNICAP

ABSTRACT
The basin of the Formoso River, located in the area of Pernambuco, is one of the small
coastal basins of the state. The Formoso River estuary is 12 km long and is located 76 km south of
the city of Recife, and about 4 km north of the Bay Tamandaré. It has extensive mangroves which is
part tropical coastal ecosystems, between land and sea, located on low ground, with soil flooded by
tidal variations. Estuaries are excellent breeding grounds for many aquatic organisms, which depend
on water quality as one of the important factors for maintaining the life cycle. The objective of this
research is to examine some abiotic factors of water flow of the estuary of the River Formoso (PE,
Brazil) and its influence on the development and distribution of species of oyster Crassostrea
brasiliana, in mangrove forests. The analysis of abiotic factors was performed monthly and
observations were made during the daytime high tide, from January to December of 2008. The
values of the biometric specimens of oysters collected showed variation between maximum height
of 8.6 cm, 3.95 cm wide and 2.3 cm thick at station E1 and a minimum of 3.0 cm in height, 2,23 cm
wide and 1.4 cm. At the station E2 values showed the highest biometric standards development with
a height of 10.38 cm, width of 6.7 cm and a thickness of 3.7 cm, the smallest biometric standards
reached 8.22 inches tall, 4 , 0 inches wide and 1.88 cm thick. The values of hydrological and
environmental parameters in the stations studied in the estuarine river Formoso (PE, Brazil),
showed mostly a small seasonality. The rainfall and some abiotic factors were determining factors
for the development and distribution of the oyster Crassostrea brasiliana.
KEYWORDS: ecology, estuary, physical-chemical parameters.

RESUMO
A bacia hidrográfica do Município do Rio Formoso, situada na zona da Mata de
Pernambuco, faz parte das pequenas bacias litorâneas do Estado. O estuário de rio Formoso possui
12 km de extensão e dista 76 km ao sul da cidade do Recife e cerca de 4 km ao norte da Baia de
Tamandaré. Possui extensos manguezais que faz parte sistema ecológico costeiro tropical, entre a
terra e o mar, localizado em terrenos baixos, com solo inundado pelas variações das marés. Os
estuários são excelentes criadouros de vários organismos aquáticos, os quais dependem da
qualidade da água como um dos fatores importantes para a manutenção do ciclo vital. O objetivo
dessa pesquisa consiste em analisar alguns fatores abióticos do fluxo hídrico do estuário do rio
Formoso (PE, Brasil) e sua influência no desenvolvimento e na distribuição da espécie de ostra
Crassostrea brasiliana, nos bosques de mangues. A análise dos fatores abióticos foi realizada
mensalmente e observações foram feitas durante a preamar diurna, de janeiro a dezembro do ano de
2008. Os valores biométricos dos espécimes de ostras coletadas mostraram variação entre máxima
de 8,60 cm de altura, 3,95 cm de largura e 2,30 cm de espessura na estação E1 e mínima de 3,00 cm
de altura, 2,23 cm de largura e 1,40 cm. Na estação E2 os valores biométricos atingiram os maiores
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 337

padrões de desenvolvimento com altura de 10,38 cm, largura de 6,70 cm e espessura de 3,70 cm; os
menores padrões biométricos alcançaram 8,22 cm de altura, 4,00 cm de largura e 1,88 cm de
espessura. Os valores dos parâmetros hidrológicos e ambientais nas estações estudadas na área
estuarina de rio Formoso (PE, Brasil), apresentaram na sua maioria uma pequena sazonalidade. Os
índices pluviométricos e alguns fatores abióticos foram elementos condicionantes para o
desenvolvimento e distribuição da ostra Crassostrea brasiliana.
PALAVRAS-CHAVE: ecologia, estuário, parâmetros físico-químico.

INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica do Município do Rio Formoso, situada na zona da Mata de
Pernambuco, faz parte das pequenas bacias litorâneas do Estado, estando limitada, ao norte e a
oeste, pela bacia do rio Sirinhaém, ao sul, pela bacia do rio Una; e a leste, pelo Oceano Atlântico. O
seu estuário com 12 km de extensão dista 76 km ao sul da cidade do Recife e cerca de 4 km ao norte
da Baia de Tamandaré (CPRH, 2003). Possui extensos manguezais que faz parte sistema ecológico
costeiro tropical, entre a terra e o mar, localizado em terrenos baixos, com solo inundado pelas
variações das marés (CORREIA, SOVIERZOSKI, 2005).
Os estuários são excelentes criadouros de vários organismos aquáticos. A distribuição
espacial da macrofauna bentônica estuarina está intimamente relacionada com os fatores abióticos
(KENNISH, 2000). A qualidade da água representa um parâmetro vital para a vida dos seres vivos,
como também do desenvolvimento econômico e da saúde da população. As fontes hídricas possuem
diversas utilidades para a humanidade e o desenvolvimento da flora e da fauna (sendo alimento
básico e fonte de renda da população, especialmente de áreas ribeirinhas) (NASCIMENTO, 2007).
Os ecossistemas estuarinos, neste contexto, representam áreas atualmente diversificadas e
que forneci condições adequadas para o abrigo e reprodução de diversas espécies marinhas
responsáveis por grande parte do fornecimento de nutrientes para as comunidades pesqueiras,
servindo hoje de base de pesquisas em monitoramento ambiental (COELHO et al., 2004;
CORREIA, SOVIERZOSKI, 2005; MENEZES, PEIXOTO, 2000). Devido, no entanto, a
localização próxima a centros urbanos, os estuários sofrem forte influencia de impactos constantes
pela exploração não racionalizada, seja por exploração pesqueira, derrubadas de mangue, poluição
por dejetos industriais ou domésticos, aterros, turismo ou simples especulação imobiliária,
acarretando efeitos nocivos ao sistema como todo, interferindo nos aspectos físicos, químicos e
biológicos (BARROS et al., 2000; MACÊDO et al., 2004).
É necessário compreender as amplificações dos manejos desses recursos e dos impactos
estressantes para se conservar os recursos naturais. Por tanto se torna necessário a ligação do
enfoque conservacionista, e que os ecologistas desenvolvam métodos para monitorar a integridade
ecológica através do uso de indicadores dessas mudanças (DALE, BEYELER, 2001). Em se
tratando de pesquisas científicas realizadas com espécimes de ostras têm indicado que o
desenvolvimento e a distribuição das mesmas são afetados por alguns parâmetros físico-químicos
(GUIMARÃES et al., 2008; PEREIRA et al., 2001; RAMOS, CASTRO, 2004). Objetiva-se nessa
pesquisa analisar se alguns fatores abióticos do fluxo hídrico interferem no desenvolvimento da
Crassostrea brasiliana, nos bosques de mangues que margeiam o rio Formoso, possibilitando a
aquisição de dados inerentes à conservação de espécies naturais em áreas aquáticas, justificada pela
importância do ecossistema estuarino no qual se desenvolvem.

MATERIAL E MÉTODOS
Para obter dados de alguns fatores abióticos do fluxo hídrico sobre a ostra Crassostrea
brasiliana (Lamarck, 1819) em seu ambiente natural, foram realizados mensalmente observações
durante a preamar diurna, de janeiro a dezembro do ano de 2008 conforme previsão constante das
tábuas das marés para Porto de Suape, editada pelo DHN – Ministério da Marinha, em duas
estações, E1 e E2, ao longo do estuário rio Formoso (PE, Brasil) situado entre as coordenadas
geográficas de 8°39‘45‖ Latitude Sul e 35°09‘15‖ Longitude Oeste.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 338

As amostras de água foram analisadas in loco nas duas estações, levando em consideração
os períodos estacionais anuais da região (seco e chuvoso) obtendo-se os dados pluviométricos pelo
Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), registrando a temperatura (°C) e a salinidade da
água, utilizando o termômetro manual e o refratômetro Hanna Instruments (escala de 0,0 e intervalo
de l.), respectivamente. Para análise do pH utilizou-se o pHmetro digital AT - 730 e do oxigênio
por meio do Oxímetro digital AT – 120. Amostras de água foram coletadas com garrafas de
polietileno e levadas ao laboratório de Zoologia da Universidade Católica de Pernambuco para
análise de alcalinidade, amônia e nitrato por meio do Kit Colorimétrica-Água Salgada da Alfakit.
As observações mensais foram realizadas com embarcação motorizada, sido percorrido desde
proximidades da cabeceira do rio até a zona de transição marinha, na Baía de Tamandaré.
Para observar os espécimes de ostras in loco, foram feitas, mensalmente, avaliações
biométricas de indivíduos selecionados nas raízes-escoras dos mangues da espécie Rhizophora
mangle L., localizadas nas franjas dos bosques de mangue que margeiam o leito do estuário,
medindo-se o tamanho dos mesmos com paquímetro, com precisão de 0,05 mm. Indivíduos jovens
e adultos de espécimes de ostra foram coletados aleatoriamente, destacando-os das árvores com
auxílio de facão, acondicionados em sacos, devidamente etiquetados e levados ao laboratório de
zoologia da Universidade Católica de Pernambuco, para posteriores análises.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pluviometria no ano de 2008 (Figura 1) apresentou valores inferiores no verão nos meses
de janeiro, fevereiro, setembro, outubro, novembro e dezembro. Os maiores valores da precipitação
pluviométrica ocorreram no inverno de março a agosto, sendo a maior precipitação no mês de julho.
O total anual de chuvas atingiu 2049,9 mm com média de 170, 824 mm. A água é de suma
importância para a vida estando de fato atuando no processo metabólico dos organismos de forma
direta ou indireta (ESTEVES, 1998). Os parâmetros físico-químicos são variáveis que afetam os
seres vivos, visto que os processos biológicos ocorrerem em estreita ligação com os fatores
ambientais.
A salinidade máxima registrada foi de 26 na estação E2 (Atalhos ou Paus) no verão e
mínima de 5 em E1 (Ziza) no inverno (Figura 2). Evidentemente, a salinidade é um índice da
diluição da água marinha pela água doce, proveniente tanto da vazão dos rios quanto da chuva;
quanto menor for este índice, maior a influência destes fatores. A salinidade da água é influenciada
pela altura das marés, distância do mar e regime do rio. Quanto maior a amplitude de maré, maior a
invasão de água do mar no estuário. Quanto maior a distância do mar, menor a entrada da água do
mar. Quanto maior a vazão do rio, menor a penetração de água do mar no seu estuário (TORRES et
al. 2004). Foram observadas diferenças significativas de salinidade entre as estações prospectadas.

Figura 1. Precipitação pluviométrica (mm) mensal no Figura 2. Salinidade da água nas duas estações
Município de Rio Formoso, PE – Brasil, durante o ano estudadas, rio Formoso, PE – Brasil, no ano de 2008.
de 2008. Fonte: ITEP.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 339

A temperatura variou de 29°C durante o verão a 20°C no inverno em E1. Em E2 a variação


da temperatura foi de 29°C no verão e mínima de 22°C no inverno (Figura 3). Observou-se que as
condições de temperatura apresentaram pequenas amplitudes de variação. A temperatura é um fator
muito importante pelo fato de que a velocidade dos processos fisiológicos está ligada à lei geral da
velocidade das reações químicas (TORRES et al., 2004).
Os teores de oxigênio dissolvido variaram de 8 mg/L durante o inverno em julho, à 3 mg/L
no verão em novembro, na primeira estação E1 (Figura 4). A segunda estação E2, alcançou máxima
de 6 mg/L no inverno e mínima no verão de 3,2 mg/L. O teor de oxigênio dissolvido é considerado
um parâmetro não conservativo da água do mar. Uma grande parte dos organismos vivos necessita
de energia para suprir suas necessidades metabólicas. É um parâmetro comumente determinado na
água do mar como salinidade e a temperatura. Atua como traçador das massas d‘água e é um
indicador sensível para os processos biológicos e químicos que ocorrem na água (SILVA, 2004).
Constatou-se que quanto mais fria a água, maior foi a concentração de oxigênio dissolvido. Sendo a
estação próxima a desembocadura do rio (E2), o índice de oxigênio dissolvido apresentou valores
mais baixos. A concentração de oxigênio dissolvido revelou que as águas estuarinas apresentam-se
bem oxigenadas.

Figura 3. Temperatura da água (°C) nas duas estações Figura 4. Variação de Oxigênio dissolvido na água
estudadas, rio Formoso, PE – Brasil, no ano de 2008. (mg/L) nas duas estações rio Formoso, PE – Brasil, no
ano de 2008.

O pH atingiu a máxima de 8,3 em dezembro, próximo a Baia de Tamandaré, e mínima de 6


nas duas estações (Figura 5). Os valores máximos de pH nas estações estudas foram alcalinos,
sendo os valores mínimos ácidos. O pH é um parâmetro que pode influenciar muitos fenômenos
químicos e biológicos. Nas comunidades aquáticas o pH atua nos processos de permeabilidade da
membrana celular, ou seja, no transporte iônico intra e extracelular e entre os organismos e o meio
(ESTEVES, 1998).

Figura 5. Variação do Potencial de hidrogeniônico do Figura 6. Variação do teor de Alcalinidade do fluxo


fluxo hídrico, nas duas estações estudadas, rio hídrico, nas duas estações estudadas, rio Formoso, PE –
Formoso, PE – Brasil, no ano de 2008. Brasil, no ano de 2008.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 340

Os valores de alcalinidade variaram bastante nas estações (Figura 6). A maior alcalinidade
registrada atingiu 60 mg/L no inverno nas duas estações, mas os menores valores foi diferente para
as estações de 20 mg/L em E1 e 22 mg/L em E2, resultado registrados no verão.
A amônia variou de 3 mg/L a 0,5 mg/L e o nitrato de 5 mg/L a 2,5 mg/L na estação
E1; na estação E2 apresentou uma variação de 1 mg/L a 0,5 mg/L em amônia, o nitrato de 5,5 mg/L
a 4 mg/L (Figura 7 e 8). O maior nível de amônia detectado ocorreu em novembro, no verão,
próximo a cabeceira do rio Formoso (PE – Brasil) (E1), com a mínima tanto na primeira como na
segunda estação, sendo os menores valores encontrados próxima a baia de Tamandaré (PE, Brasil)
(E2), porém com os maiores valores de nitrato e taxa menores nas proximidades da cabeceira do rio.

Figura 7. Variação do teor de Amônia, nas duas estações Figura 8. Variação do teor de Nitrato, nas duas estações
estudadas, rio Formoso, PE – Brasil, no ano de 2008. estudadas, rio Formoso, PE – Brasil, no ano de 2008.

O nitrogênio é um dos elementos mais importantes no metabolismo de ecossistemas


aquáticos (ESTEVES, 1998). O nitrogênio está presente nos ambientes aquáticos sobe várias
formas: nitrato, nitrito, amônia, íon amônio, oxido nitroso, nitrogênio molecular além de outras
formas orgânicas. Dentre estas formas os que são mais utilizados pelos produtores primários são o
nitrato e amônia (COSTA et al., 2004).
Em se tratando dos espécimes de ostras coletadas nas duas estações verificou-se que os
valores biométricos atingiram máxima de 8,60 cm de altura, 3,95 cm de largura e 2,30 cm de
espessura; e mínima de 3,00 cm de altura, 2,23 cm de largura e 1,40 cm, na estação E1.
Na estação E2 os valores biométricos atingiram os maiores padrões de desenvolvimento
com altura de 10,38 cm, largura de 6,70 cm e espessura de 3,70 cm; os menores padrões
biométricos alcançaram 8,22 cm de altura, 4,00 cm de largura e 1,88 cm de espessura.

CONCLUSÃO
De acordo com os dados obtidos e análise dos resultados, a espécie Crassostrea brasiliana
(ostra) são mais frequentes, com valores biométricos maiores, próximas as zonas de transição de
áreas marinhas, com redução em direção a cabeceira de rios, conforme o gradiente de salinidade. Os
valores dos parâmetros hidrológicos e ambientais nas estações estudadas na área estuarina de rio
Formoso (PE, Brasil), apresentaram na sua maioria uma pequena sazonalidade. Os índices
pluviométricos e alguns fatores abióticos foram elementos condicionantes para o desenvolvimento
da ostra Crassostrea brasiliana. Contudo, constatou-se que a pouca variação da temperatura entre
as estações estudadas apresentou pequena amplitude sugerindo não haver influência no
desenvolvimento dos espécimes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 342

DADOS PARCIAIS DA DEGRADAÇÃO NAS PROPRIEDADES


FÍSICAS E MECÂNICAS DA MADEIRA DE CINCO ESSÊNCIAS
FLORESTAIS EM CONTATO COM SOLO
Ivanclei Brandt de Mattos
UFMT/Sinop ( Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmico de Engenharia Florestal;
ivan.floresta@hotmail.com
Janaina De Nadai
UFMT/Sinop ( Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Eng. Florestal Drª Depto Engenharia Florestal;
janadenadai@gmail.com
Tamara Cristina Tariga
UFMT/Sinop ( Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmica de Engenharia Florestal;
tamara.florestal@gmail.com
Jorge Cândido Moreno
UFMT/Sinop ( Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmico de Engenharia Florestal
jorgecandidomoreno@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho visa estudar a durabilidade de cinco madeiras de essências florestais para que
possam ser indicadas ou não, em situações de utilização em contato com o solo, para o uso em
construção e estruturas de suporte, ou ainda em outras aplicabilidades onde os riscos de danos
ocasionados por fatores climáticos e abióticos. Para isso, foram utilizadas cinco espécies florestais
da região do norte matogrossense, com base na disponibilidade das mesmas e principalmente no
interesse comercial de madeiras para ambientes externos. As espécies utilizadas foram: Tectona
grandis ―Teca‖ (Lamiaceae), Azadaractina indica. ―Nim‖(Meliaceae), Inga sp. ―Ingá‖
(Mimosaceae), Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis Aubl.
―Tatajuba‖ (Moraceae). As amostras dessas madeiras permanecerão expostas ao longo de 24 meses
a intempéries bióticos e abióticos. Para verificar a ação do intemperismo, foram realizadas
avaliações das toras quanto ao nível de descascamento, rachaduras longitudinais e uma avaliação de
campo com um leve movimento circular das toras, para verificar se a resistência da madeira na
parte em contato com o solo foi reduzida a tal ponto a provocar a sua quebra. As madeiras de Teca,
Nim e Amescla apresentaram-se mais resistentes para uso em ambientes externos, pois 100% delas
não apresentaram rachaduras longitudinais e descascamento. As madeiras mais susceptíveis ao
intemperismo, até o presente momento, foram a Tatajuba e Ingá.
PALAVRAS-CHAVE: Madeira, Intemperismo, Xilófagos, Durabilidade, Aplicabilidade.

ABSTRACT
The study aims to study the durability of five forest essence woods so that they can be
indicated or not, in situations of usage in contact with the soil, the usage in buldengs and frame
structares, or even in other aplicabilities where damage risks caused by weathe and abotic factors.
So, it has been used five foreste specis from the north of the state of mato grosso, based on their
avaliability and chufly on the wood commercial interest for external envionmeht. The species used
were: Tectona grandis ―Teak‖ (Lamiaceae), Azadaractina indica. ―Nim‖(Meliaceae), Inga sp.
―Ingá‖ (Mimosaceae), Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis
Aubl. ―amescla‖ (Moraceae). The samplesof these wood will remain exposed biotics and abiotic. To
verify the degradation process , pieces of wood were checked on their level of degradation,
longitudinal cracks and an evaluation of fildd with a light circular movement of the logs, to verify
if wood resistence was reduced in a way to provoke its break. The teak, nim and amescla woods
presented more resistence to be used in external environment because 100% of them dids not show
longitudinal cracksand peeling. The mont susceptible to westhe exposure have been Tatajuba and
Ingá, so far.
KEYWORDS: Wood, Degradation, Xilophagos, Durability, Aplicability.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 343

INTRODUÇÃO
Sem dúvida, a madeira é uma das matérias primas mais importantes para economia
nacional, devido aos seus aspectos econômicos e características peculiares, como alta resistência
mecânica, facilidade de manuseio, resistência química apreciável, bom isolante térmico e grande
variedade de textura que é peculiar a cada espécie - possibilitando vários fins como, mourões,
chapas, aglomerados, laminados, construção civil e naval, celulose e papel.
Ao longo do tempo, as madeireiras exploraram madeiras mais nobre, de melhor
aspecto e mais duráveis, utilizadas na confecção de produtos de maior preço como móveis,
construção naval, construção civil, peças de decoração e acabamento (GONZAGA, 2006).
A exploração florestal padrão, no norte matogrossense, tem sido do tipo maciça e
predatória, com possibilidade de grandes lucros, porém tem colocado em risco a extinção de muitas
espécies e contribuído para um desenvolvimento não sustentável. Diagnóstico e Avaliação do Setor
Florestal Brasileiro (FUNATURA/ITTO, 2007) indicou que a extração se tornou ainda mais
concentrada, pois mais de três quartos de toda madeira extraída das florestas do estado de Mato
Grosso são apenas de três espécies: cedrinho (Erisma uncinatum), amescla (Trattinnickia cf.
burseraefolia) e peroba (Aspidosperma macrocarpon). Pois se trata de espécies nobres,
apresentando boa qualidade para várias finalidades e clima.
A qualidade da madeira, que esta diretamente relacionada com sua finalidade, é de
grande exigência do mercado consumidor. Por isso, é necessário realizar ensaios de campo, com
espécies da região, para obter resultados que possibilitam a classificação da degradação e a
recomendação ou não do uso em ambientes externos (JESUS et al., 1998) na região. Este tipo de
estudo complementa o conhecimento das demais propriedades tecnológicas.
O objetivo desse trabalho é avaliar o efeito do intemperismo sobre a durabilidade
natural de toras de cinco essências florestais em contato com o solo, definindo as espécies mais
resistentes para uso em ambiente externo.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento está sendo conduzido a campo em uma área de preservação
permanente (APP) do viveiro Flora Sinop, no município de Sinop-MT. O clima da região é
predominantemente seco, com ocorrência de duas ―estações‖ a seca (inverno-primavera) e a
chuvosa (verão-outono). O solo é caracterizado como Latossolo vermelho amarelo, classe tipo II.
As madeiras utilizadas foram obtidas de árvores cultivadas em propriedades da
região do próprio município, com base na disponibilidade das mesmas e principalmente no interesse
comercial de madeiras para ambientes externos. As espécies utilizadas foram: Tectona grandis
―Teca‖ (Lamiaceae), Azadirachta indica. ―Nim‖ (Meliaceae), Inga sp. ―Ingá‖ (Mimosaceae),
Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis Aubl. ―Tatajuba‖
(Moraceae). A madeira de Teca é proveniente de um plantio de 13 anos e as demais, de um plantio
de 11 anos de idade. Foram extraídas cinco toras de cada espécie florestal padronizadas em 1,2 m
de comprimento e entre 0,25 e 0,45 m de circunferência, conforme metodologia proposta por
Trevisan et al (2003), com máxima uniformidade e sem defeitos na madeira, seguindo
recomendações de Lopez & Milano (1986).
Imediatamente após o abate das árvores, outubro de 2009, as amostras (toras)
retiradas de cada uma delas foram dispostas na área experimental dividida em cinco blocos, com
cinco amostras para cada um deles. A disposição das amostras por espécie florestal em cada bloco
foi feita aleatoriamente, com espaçamento de 1,0 m entre amostras e 1,5 m entre blocos. As
amostras foram enterradas verticalmente no solo (campo de apodrecimento) a uma profundidade de
0,30 m, conforme TREVISAN et al., 2003.
Os blocos foram instalados próximos a uma mata de regeneração secundária
localizada na área de Preservação Permanente do viveiro Flora Sinop, onde permanecerão durante
24 meses, mantendo as inspeções semanais para coletas de dados como, avaliação das toras quanto
ao nível de descascamento e rachaduras longitudinais.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 344

Para verificar a ação do intemperismo, foi realizada uma avaliação de campo com um leve
movimento circular das toras, para verificar se a resistência da madeira na parte em contato com o
solo foi reduzida a tal ponto a provocar a sua quebra.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A avaliação, até o momento, das toras quanto ao nível de descascamento, queda
natural da casca, e rachaduras longitudinais, revelou que as toras de Tatajuba e Ingá apresentaram
20% e 60% de rachaduras, respectivamente. Por outro lado, 100% das espécies de Tatajuba e Ingá,
dispostas no campo experimental apresentaram descascamento. As amostras de Teca, Nim e
Amescla permaneceram intactas quanto à degradação por rachaduras longitudinais e
descascamento. Segundo CAVALCANTE (1985), o comportamento da mesma madeira pode
ser diferente em dois ambientes distintos, porque cada qual apresentará condições características de,
por exemplo, umidade, insolação, aeração, temperatura etc. Esses fatores têm atuação sobre a
madeira, determinando sua durabilidade.
As amostras de Teca, Nim e Amescla apresentam baixo fator anisotrópico, sendo por
isso, menos propensões à rachamentos, e conseqüentemente, mais estáveis. Este comportamento é
aconselhável, quando se pretende utilizar madeira com menor trabalhabilidade natural, como em
pisos, esquadrias e portas, por exemplo. A determinação da razão entre as retrações tangencial e
radial, conhecida como coeficiente de anisotropia, é um importante índice no estudo das retrações,
uma vez que quanto mais elevado, maior a probabilidade de formação de fendas (rachaduras) e
empenamentos na madeira (OLIVEIRA, 1988). Madeiras com um coeficiente de anisotropia
superior a dois, geralmente são muito difíceis de secar e, como regra geral, aquelas que menos
contraem são mais estáveis.
Na avaliação da durabilidade das toras em contato com o solo, todas apresentaram
resistência até o momento, ou seja, nenhuma das espécies florestais dispostas no campo
experimental apresentou sinal de fragilidade ou ruptura na parte em contato com o solo.
Neste sentido, conhecendo o potencial intríseco de cada essência florestal, pode se
evitar o desperdício ocasionado pelo colapso de estruturas construídas com madeiras inadequadas
ao ambiente.

CONCLUSÕES
Até o momento, as madeiras de Teca, Nim e Amescla apresentaram-se mais
resistentes para uso em ambientes externos, pois 100% delas não apresentaram rachaduras
longitudinais e descascamento.
As madeiras mais susceptíveis ao intemperismo, até o presente momento, foram a
Tatajuba e Ingá, apresentaram 20% e 60% de rachaduras, respectivamente e 100% delas
apresentaram descascamento.

AGRADECIMENTOS
À PROPeq – Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) e ao CNPQ/PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica), pela
concessão da bolsa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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n.2, p.1-5, 1983.
FUNATURA/ ITTA.2006. Disponível em www.rainforest-alliance.org/.../. Acesso em: 08
março 2010.
GONZAGA, A. L. Madeira: uso e conservação. Cadernos Técnicos. Brasília, DF:
IPHAN/MONUMENTA, 2006.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 345

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LEPAGE, E. S. (Coord.) Manual de preservação de madeiras. São Paulo: IPT, 1986. v. 1. p. 99-
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TREVISAN, H. Degradação natural de toras e sua influência nas propriedades físicas
e mecânicas da madeira de cinco espécies florestais. 2006. 56 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências florestal) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de janeiro- RJ.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 346

DADOS PARCIAIS DO EFEITO DO ATAQUE DE INSETOS


XILÓFAGOS SOBRE A DEGRADAÇÃO DE CINCO ESPÉCIES
FLORESTAIS CULTIVADAS NO NORTE DE MATO GROSSO

Tamara Cristina Tariga


UFMT/Sinop (Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmica de Engenharia Florestal
tamara.florestal@gmail.com
Janaina De Nadai
UFMT/Sinop (Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Eng. Florestal Drª Depto Engenharia Florestal
janadenadai@gmail.com
Ivanclei Brandt de Mattos
UFMT/Sinop (Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmico de Engenharia Florestal
ivan.floresta@hotmail.com
Jorge Candido Moreno
UFMT/Sinop (Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200), Acadêmico de Engenharia Florestal
jorgecandidomoreno@hotmail

RESUMO
A degradação natural da madeira consiste na ação de agentes deterioradores que atuam na
decomposição da matéria e sua intensidade pode variar de acordo com a estrutura anatômica de
cada espécie. Esse estudo objetiva estudar o efeito do ataque de insetos xilófagos sobre a
degradação da madeira de cinco espécies florestais em contato com o solo. As espécies utilizadas
foram Tectona grandis L. f. ―Teca‖ (Lamiaceae), Azadirachta indica. ―Nim‖ (Meliaceae), Inga sp.
―Ingá‖ (Mimosaceae), Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis
Aubl. ―Tatajuba‖ (Moraceae). O experimento foi instalado em uma mata de regeneração secundária
em Sinop, Mato Grosso, Brasil, onde foram realizadas durante seis meses, duas inspeções semanais,
para coleta e registro de insetos e temperatura, respectivamente. Foram coletados exemplares de
insetos da família Bostrichidae (Coleoptera) e Curculionidae (Coleoptera). Até o momento foi
registrado que 60% das madeiras utilizadas no experimento foram atacadas por insetos xilófagos,
entre as espécies atacadas 20% passou por ataque de coleobrocas, 8% por térmitas e 32% por
coleobrocas e térmitas. A madeira de Azadirachta indica apresentou-se mais resistente aos ataques
de insetos xilófagos. Por outro lado, a madeira de ―Tatajuba‖ foi a mais susceptível ao ataque com
100% das amostras atacadas por térmitas e coleobrocas.
PALAVRAS-CHAVE: Proteção Florestal, Madeira, Degradação natural, Silvicultura,
Ambiente externo.

ABSTRACT
The natural degradation of the wood consists in the action of the deteriorative agent that
act in the decomposition of the substance and its intensity can change according to the anatomical
structure of each specie. This study objective study the the effect of wood-destroying insect attack
on the degradation of the wood of five tree species in contact with the ground. The species used had
been Tectona grandis ―Theca‖ (Lamiaceae), Azadirachta indicate ―Nim‖ (Meliaceae), Inga sp.
―Ingá‖ (Mimosaceae), Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis
Aubl. ―Tatajuba‖ (Moraceae). The experiment was installed in a bush of secondary regeneration, in
Sinop, Mato Grosso, were they had been carried through during six months, two inspections per
week, to collect and to register the attack of xilófagos insects and to evaluate the physiological
reactions. They had been collected exemplary of insects of the family Bostrichidae (Coleopter) and
Curculionidae (Coleopter). By the time it was announced that 60% of wood used in the experiment
were attacked by wood-destroying insects between species has attacked 20% of attacking beetles,
termites by 8% and 32% for beetles and termites. The wood of Azadirachta indica was more
resistant to attack by wood-destroying insects. On the other hand, the wood of Bagassa guianensis
was likely to the attack with 100% of the samples attacked for termites and beetles.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 347

KEYWORDS: Forest protection, Wood, natural Degradation, Forestry, external


Environment.

INTRODUÇÃO
A madeira é um produto fundamental para o setor florestal brasileiro e, conseqüentemente
para a economia nacional, servindo como fonte de matéria-prima para produção de postes, mourões,
serraria, chapas, aglomerados, laminados, celulose, papel dentre outros. A durabilidade e a
qualidade da madeira são fatores de grande exigência do mercado consumidor madeireiro, além de
apresenta algumas propriedades que a tornaram, desde os primórdios da humanidade, cobiçada e
com um lugar de destaque no desenvolvimento da civilização.
Segundo Aprile et al. (1999), a madeira encontra-se entre os materiais biológicos de mais
difícil decomposição, devido à sua estrutura anatômica e à presença de grandes quantidades de
substâncias recalcitrantes, como a lignina, além de outros compostos do metabolismo secundário.
Sabe-se que a decomposição de materiais biológicos depende de uma série de fatores bióticos e
abióticos, tais como as condições climáticas, a composição da comunidade decompositora, sua
afinidade com o substrato e as características físicas e químicas do material a ser decomposto
(SWIFT et al., 1979).
A durabilidade natural da madeira permite avaliar a vida média útil e a susceptibilidade a
organismos xilófagos. A madeira exala, principalmente quando não é seca adequadamente,
substâncias atrativas a besouros broqueadores o que resulta em ataques que provocam perfurações
visíveis e alterações importantes na resistência mecânica da madeira. Devido às características da
madeira, principalmente a celulose, quando exposta à condição de alta umidade ou ao contato com a
água, apresenta elevados riscos de deterioração por insetos xilófagos. Por outro lado, os resultados
obtidos em ensaios de campo com madeiras em contato com o solo, possibilitam a classificação da
sua degradação e a recomendação ou não do seu uso em ambientes externos (JESUS et al., 1998). O
mesmo autor ressalta que as informações obtidas neste tipo de estudo complementam o
conhecimento das demais propriedades tecnológicas, que em conjunto, podem fornecer diretrizes
não só para o melhor uso, como também viabiliza a comercialização de espécies florestais com
potencialidades na indústria madeireira.
Dentre os organismos xilófagos existentes, destacam-se os insetos da ordem Isoptera e
Coleoptera popularmente conhecidos como cupins ou térmitas e carunchos, respectivamente.
Contudo, são mundialmente reconhecidos pelos danos e prejuízos causados em certas culturas e em
edificações e construções que empreguem quaisquer materiais de origem vegetal (ZORZENON e
POTENZA, 1998). Segundo CAVALCANTE (1983) não é raro o colapso de estruturas como
pontes, ancoradouros e construções rurais, devido ao emprego de madeira inadequada, de baixa
durabilidade.
Os cupins que atacam madeira em contato com o solo são facilmente perceptíveis pelas
suas típicas galerias ascendentes, considerados de difícil controle por apresentarem ninhos
subterrâneos (SANTINI, 1988). Entretanto, as coleobrocas representadas pela família Scolytidae
principalmente pelo gênero Xyleborus sp. constroem galerias na madeira de árvores recém-abatidas
e/ou debilitadas, que ainda estejam em processo de fermentação da seiva, liberando voláteis
atrativos (SIMEONE, 1965 e FURNISS & CAROLIN, 1977).
Neste estudo objetivou-se avaliar o efeito do ataque de insetos xilófagos sobre a
degradação da madeira de cinco espécies florestais em contato com o solo.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento está sendo conduzido a campo em uma área de preservação permanente
(APP) do viveiro Flora Sinop, no município de Sinop-MT. O clima da região é predominantemente
seco, com ocorrência de duas estações, seca (inverno-primavera) e a chuvosa (verão-outono).
A madeira utilizada neste trabalho foi obtida de árvores cultivadas no viveiro Flora
Sinop no município de Sinop – MT. As espécies utilizadas foram: Tectona grandis L. f. ―Teca‖
(Lamiaceae), Azadirachta indica. ―Nim‖ (Meliaceae), Inga sp. ―Ingá‖ (Mimosaceae), Trattinnickia
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 348

rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), Bagassa guianensis Aubl. ―Tatajuba‖ (Moraceae). A


madeira de Teca é proveniente de um plantio de 13 anos e as demais, de um plantio de 11 anos de
idade.
Foram extraídas cinco toras de cada espécie florestal padronizadas em 1,2 m de
comprimento e entre 0,25 e 0,45 m de circunferência, conforme metodologia proposta por Trevisan
et al (2003), com máxima uniformidade e sem defeitos na madeira, seguindo recomendações de
Lopez & Milano (1986).
No campo experimental foi instalado um termohigrômetro, devidamente protegido
da insolação e da precipitação, para coleta diária da temperatura e umidade.
Imediatamente após o abate das árvores, outubro de 2009, as amostras (toras)
retiradas de cada uma delas foram dispostas na área experimental dividida em cinco blocos, com
cinco amostras para cada um deles. A disposição das amostras por espécie florestal em cada bloco
foi feita aleatoriamente, com espaçamento de 1,0 m entre amostras e 1,5 m entre blocos. As
amostras foram enterradas verticalmente no solo (campo de apodrecimento) a uma profundidade de
0,30 m, conforme TREVISAN et al., 2003.
Os blocos foram instalados próximos a uma mata de regeneração secundária
localizada na área de Preservação Permanente do viveiro Flora Sinop, onde permanecerão durante
24 meses, mantendo as inspeções semanais para coletas de dados como temperatura e registros de
ocorrência de insetos.
Foram realizadas durante seis meses, duas inspeções por semana, para obtenção da reação
fisiológica da casca, perfurações por insetos broqueadores, mas principalmente, para coleta de
insetos xilófagos adultos presentes nas amostras. Os insetos adultos presentes nas amostras, só
foram coletados quando estavam em condições favoráveis, livres sobre a superfície da amostra.
Aqueles que já estavam perfurando a madeira só foram coletados quando não havia risco de
danificar o inseto e o material lenhoso.
Os insetos coletados foram acondicionados em frascos com álcool a 70%,
etiquetados e indicado o bloco e a tora da espécie florestal a qual foi coletado. Esse material foi
devidamente identificado em nível de família na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT –
Campus de Sinop.
Para indicar o nível de degradação das madeiras, em função do ataque dos insetos,
foi realizada uma avaliação onde as toras dispostas no campo experimental foram classificadas de
acordo com o nível de degradação por insetos xilófagos, seguindo o critério: Toras sem ataque;
toras com baixo ataque de térmitas (amostras apresentando visivelmente pelo menos uma galeria
ocasionada por térmitas); Toras com baixo ataque de coleobrocas (amostras apresentando
visivelmente pelo menos um orifício ocasionado por coleobrocas); Toras com médio ataque de
térmitas (amostra apresentando visivelmente pelo menos 30% de danos ocasionados por
coleobrocas); Toras com médio ataque de coleobrocas (amostra apresentando visivelmente pelo
menos 30% de danos ocasionados por ataque de coleobrocas); Toras com ataque na casca e Toras
com ataque no alburno.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A média de temperatura e umidade relativa do ar de setembro de 2009 a janeiro de
2010, obtida no campo experimental foram de 28,41°C e 77,85%, respectivamente.
Vinte por cento da madeira de Azadirachta indica apresentaram reação fisiológica, ou seja,
emitiram brotações após cinco semanas e meia da montagem dos blocos e que perduram até o
momento. Esse registro torna-se importante para o estudo da resistência dessa espécie ao ataque de
insetos xilófagos. O Nim é capaz de se proteger contra grande número de pragas por meio de uma
grande quantidade de compostos bioativos (MOSSINI & KEMMELMEIER, 2005), portanto,
estando ela ativa fisiologicamente, compostos voláteis bioativos desta espécie poderiam estar
inibindo o ataque de insetos sobre esta madeira, ganhando maior durabilidade que as demais
espécies.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 349

O primeiro registro de ataque de coleobrocas foi registrado em 24 de outubro de


2009 na amostra de Amescla. O inseto estava perfurando apenas a casca da tora, o que pode ser
comprovado pela presença dos orifícios e serragem. Nesse dia o termohigrometro registrava 32°C e
44,5% de umidade relativa do ar. De acordo com Silveira Neto et al. (1976), com o aumento da
temperatura nos dias quentes ocorrem maior movimentação e dispersão de insetos. Segundo
Hudson (1986), apesar da madeira ser ambiente favorável para o desenvolvimento dos insetos,
como as coleobrocas, ela não serve de alimento para eles, que se alimentam de células
leveduriformes que germinam nas galerias formadas por este grupo de insetos.
O primeiro registro de ataque por cupins foi na primeira quinzena de novembro de 2009
nas madeiras de Tatajuba e Ingá. A temperatura e umidade relativa eram de 30°C e 78%,
respectivamente. Os insetos estavam construindo caminhos para o deslocamento ao longo da tora e
conseqüentemente estabelecimento da colônia. O sucesso na dispersão das térmitas e
estabelecimento das colônias, para Nutting (1970), depende de condições meteorológicas favoráveis
para o vôo, como temperatura, umidade do ar, luminosidade, número de alados produzidos e taxa de
predação.
Foram coletados exemplares de insetos da família Bostrichidae (Coleoptera) na casca
da madeira de Ingá; exemplares da família Curculionidae (Coleoptera) foram encontrados na parte
externa da madeira de Nim e a mesma família perfurando a madeira de Amescla. Os insetos
coletados foram enviados à especialista da Universidade Federal de Viçosa e ao Museu Nacional do
Rio de janeiro para identificação em nível de espécie. Bossoes (2009) registrou aproximadamente
1% de Curculionidae e Bostrichidae, representando os menores valores dos coleópteros coletados
na madeira de Eucalyptus urophylla. De acordo com Oliveira et al. (1986), o ataque de coleobrocas
pode ocorrer sob as seguintes condições, madeira com baixo teor de umidade, 30%, é atacada por
Anobiidae e Lyctidae; madeira em fase de secagem é atacada por Bostrichidae; árvores recém-
abatidas, ainda com alto teor de umidade e liberando substâncias químicas, atraem mais
intensamente insetos das famílias Scolytidae e Platypodidae.
A madeira de Tatajuba foi a mais susceptível ao ataque de insetos xilófagos com
100% das amostras atacadas por térmitas e coleobrocas. A madeira de Nim não apresentou nenhum
ataque de térmitas e coleobrocas (Tabela 1).

Tabela 1- Nível de ataque por insetos (%) nas espécies florestais Tectona grandis L. f.
―Teca‖ (Lamiaceae), Azadirachta indica. ―Nim‖ (Meliaceae), Inga sp. ―Ingá‖ (Mimosaceae),
Trattinnickia rhoifolia Willd. ―Amescla‖ (Burseraceae), e Bagassa guianensis Aubl. ―Tatajuba‖
(Moraceae) ), Sinop- MT, 2010.

Nível de ataque por xilófagos Tectona Azadirachta Inga sp. Trattinnickia Bagassa
grandis indica rhoifolia guianensis
Nenhum ataque 100
Baixo* ataque de térmitas 40 40 20
Baixo ataque de coleobrocas 60 60 100
Médio** ataque de térmitas 100
Médio ataque de coleobrocas 20 40
Ataque na casca 40 40 20 100
Ataque no alburno 100 100 100
Obs: *As amostras apresentam visivelmente pelo menos um orifício ou uma galeria ocasionada por coleobrocas e/ou
térmitas, respectivamente. ** A amostra apresenta visivelmente pelo menos 30% de danos ocasionados pelo ataque de
organismos xilófagos.

CONCLUSÕES
Até o momento, 60% das toras dispostas no campo experimental foram atacadas por
insetos xilófagos. Entre as espécies atacadas, 20% passou por ataque por coleobrocas, 8% por
térmitas e 32% por coleobrocas e térmitas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 350

A madeira de Azadirachta indica apresentou-se mais resistente aos ataques de insetos


xilófagos. Por outro lado, a madeira de Tatajuba foi a mais susceptível ao ataque com 100% das
amostras injuriadas por térmitas e coleobrocas.
Vinte por cento da madeira de Azadirachta indica apresentaram reação fisiológica.

AGRADECIMENTOS
À PROPeq – Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e
ao CNPQ/PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica), pela concessão da
bolsa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 351

DIMENSÕES DA BIODIVERSIDADE: EVOLUÇÃO DA


CONCEPÇÃO DE NATUREZA E SUA INTEGRAÇÃO COM O
HOMEM – O EXEMPLO DA APA GUAPIMIRIM

C. Budakian ARAMIAN
Estudante da Graduação do curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense
clarisse-aramian@hotmail.com
L. Goulart da SILVA
Estudante da Graduação do curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense
livia_goulart@hotmail.com
M. Felix MOURA
Estudante da Graduação do curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense
milfelix@hotmail.com
R. Olibano ROSAS
(Orientador) Coordenador do curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense
reiner@vm.uff.br

RESUMO
A partir do reconhecimento de que áreas protegidas são um importante mecanismo e
possuem grande relevância na política ambiental brasileira; e dentre estas, as unidades de
conservação merecem destaque tanto por suas especificidades quanto por serem criadas buscando
intencionalmente a promoção da biodiversidade local, associando de forma harmônica (dir-se-ia
hoje sustentável) todos os elementos envolvidos num sistema de manejo que possa contemplar
favoravelmente estes mesmos elementos, destaca-se aqui sua evolução e relevância. A análise da
trajetória destas mesmas unidades de conservação no sentido de sua intencionalidade e formas de
manejo materializa a evolução dada nas últimas décadas relativas à visão da natureza. Houve – e
talvez ainda esteja em curso – uma mudança de paradigma onde a natureza passa de simples objeto
constituinte do ambiente natural e com fins contemplativos, a chamada wilderness, e se torna um
elemento integrante e dinâmico dos processos sócio-espaciais. Desta forma, tendo como exemplo
uma unidade de conservação de uso sustentável – a Área de proteção ambiental de Guapimirim – é
possível a percepção da necessidade do reconhecimento da forte relação do homem com a natureza,
mesmo dentro dos limites de unidades de conservação, e da necessidade premente de considerar
também o fator homem quando da elaboração dos planos de manejo, das estratégias e ações da UC,
além do sucesso alcançado quando assim se atua.
PALAVRAS-CHAVE: Paradigma da natureza, Sustentabilidade, Manejo, APA
Guapimirim.

ABSTRACT
From the recognition that protected areas are an important mechanism and have great
relevance in Brazilian environmental policy, and among these, the conservation units should be
highlighted not only by their specificities but also by their intentionally creation which seeks to
promote local biodiversity, associating in harmony (or in a sustainable way) all the elements
involved in a management system that can favorably address these same elements, stands out here
its evolution and relevance. The trajectory analysis of these same conservation units in the sense of
intentionality and management forms materialize the evolution in recent decades concerning the
view of nature. There was - and perhaps still ongoing - a paradigm shift where nature is mere object
constituent of the natural environment and for a contemplative purposes , the so-called wilderness,
and becomes an integral and dynamic socio-spatial processes. Thus, taking as example a
conservation unit for sustainable use - Guapimirim Environmental Protection Area - it is possible
the perception need to recognize the strong relationship between man and nature, even within the
limits of conservation units, and the urgent need to consider also the human factor when drawing up
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 352

management plans, strategies and actions of the conservation units, beyond success when it works
well.
KEYWORDS: Paradigm of nature, Sustainability, Management, Guapimirim
Environmental Protection Area.

INTRODUÇÃO
Durante toda a história do homem, sua relação com a natureza foi pensada e repensada, de
maneira instintiva ou consciente. E nos últimos anos esse processo de pensar conscientemente a
natureza e suas dinâmicas cresceu em importância. A natureza não mais existe isoladamente. ―Nada
há mais, hoje, que escape à presença do homem ou, em todo caso, ao seu olhar multiplicado, visão
alargada e aprofundada por instrumentos de observação, cuja acuidade vem crescendo a galope no
curso deste século. [...] Hoje a sociedade humana tem como seu domínio a Terra; o planeta, todo ele
é o habitat da sociedade humana. Na realidade, habitat e ecúmeno são, agora, sinônimos, cobrindo
igualmente toda a superfície da Terra, pois o planeta e a comunidade humana se confundem num
todo único. A presença do homem é um fato em toda a face da Terra, e a ocupação que não se
materializa é, todavia, politicamente existente.‖ (SANTOS, 2008, p. 99) Desta forma, considerar a
natureza e seus processos desconsiderando o fator homem pode não levar a lugar algum ou a
conseqüências desastrosas. É preciso, utilizando o termo de Irene Garay, considerar as dimensões
humanas da biodiversidade.
Hoje ambientes (naturais ou não, se é que ainda podemos falar em ambientes naturais),
espaços e principalmente territórios (devido as cada vez mais intrincadas relações de poder
materializadas) são construídos e reconstruídos a todo tempo, num complexo jogo de atores, os
mais diversos que estão cada vez mais ligados uns aos outros em diferentes conformações de poder
e ligados também à natureza. Este processo merece uma pausa para reflexão: as dinâmicas não são
exclusivamente de controle dos homens, nem de igual controle por parte de todos os homens. (Elas
não são democráticas). As dinâmicas estão também boa parte condicionadas à natureza e seu
próprio dinamismo. É preciso que se leve em conta os tempos da natureza, é preciso que se leve em
conta os limites da natureza. E assim, mesmo que os interesses em jogo possam ultrapassar esses
condicionantes, a eles ficam subordinados. Desenvolvimento sustentável. A nobre tentativa de aliar
à manutenção da natureza o desenvolvimento econômico.
Nesse contexto torna-se relevante levantar-se a questão das unidades de conservação.
Pensadas inicialmente para a conservação da natureza, estas se vêem frente a uma nova leitura do
ambiente natural. Como fica a preservação da biodiversidade? Como fica o desenvolvimento
econômico na região onde a UC se localiza? Ela deve integrar-se ou não a dinâmica econômica
local?
O presente artigo visa uma breve leitura acerca da mudança de paradigma entre uma
natureza contemplativa e uma natureza integrada social e economicamente bem como da evolução
das formas de manejo da biodiversidade com materialização desse processo. Como exemplo,
lançaremos mão do caso da APA Guapimirim, recôncavo da Baia de Guanabara, no estado do Rio
de Janeiro com sua gestão participativa e integradora da comunidade que possui nos manguezais da
região sua fonte de renda. Além disto, integrando desenvolvimento científico, sócio-econômico
local e ecoturismo.

ENTRE IDÉIAS PRESERVACIONISTAS E CONSERVACIONISTAS:


As áreas naturais protegidas - o termo proteção aqui cabe a todos os significados e
formas distintas de proteção - além de ser um meio de conservação governamental, explicita tipos
de relações e concepções específicas de relação homem/natureza. A criação de parques e reservas
desabitados, surgida nos Estados Unidos em meados do século XIX e exportada posteriormente,
possuía como objetivo a preservação de espaços com atributos ecológicos significativos, protegendo
a suposta ―vida selvagem‖ ameaçada pela sociedade urbano-industrial-tecnicista. A idéia da
existência de um mundo natural, selvagem reflete a perda do contato e de trabalho no meio rural por
parte das populações urbanas citadas anteriormente. Todavia, mais do que a criação de um espaço,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 353

uma unidade física por si, existem concepções de conservação que auxiliaram e culminaram na
reprodução concreta de teorização do ambiente natural. O embate entre as correntes
conservacionistas e preservacionistas tanto nos Estados Unidos quanto fora dos mesmos,
expressavam teorias divergentes acerca da conservação dos recursos, sendo a segunda citada àquela
amplamente utilizada e adotada na forma de áreas desabitadas que detivessem grande apreciação
estética, forjando um mundo natural selvagem, intocado e intocável.
A transposição de tal neomito dos Estados Unidos para países do terceiro mundo,
afirmado pela concretização histórica mediante a criação de parques e reservas, ocorreu apesar das
distintas situações ecológicas, sociais, culturais. Atualmente, a adoção de parques e afins ainda se
faz presente, em áreas habitadas por populações tradicionais, portadoras, por sua vez, de outros
mitos e simbologias relativos à natureza (DIEGUES,1996). Grandes contingente das florestas
tropicais são constituídos por populações indígenas, ribeirinhas etc. que detém uma cultura calcada
em mitos particulares e de relações com o mundo natural baseados em variedades de modos de
vida.
O Brasil é um país que apresenta culturas diferenciadas que são consideradas
tradicionais. As mesmas são caracterizadas por desenvolverem modos de vida particulares que
envolvem dependência dos ciclos naturais, biológicos, recursos naturais, simbologias e mitos que,
indubitavelmente, participam na conservação da natureza e traduzem uma concepção alternativa da
relação homem/natureza. A crítica se refere ao fato de uma vez estabelecida a dicotomia entre a
humanidade e a natureza, o manejo existente nas áreas tradicionais é desconsiderado, ou seja,
expondo um modelo importado que não reflete as aspirações e os conceitos sobre a real relação
homem/natureza nos trópicos.
Apesar de variados fatores explicarem o aumento da preocupação mundial pelas
unidades de conservação, como perda da biodiversidade e disponibilidade de fundos para a
conservação, a questão das mesmas gera inúmeras questões de caráter político, econômico e social.
Uma vez sendo estabelecida, ocorre um determinado impacto político fundiário, expulsão das
populações humanas presentes e, com este último, questões sociais e étnicas relativos a tais
populações. Como afirma Diegues: ―Com essa ação autoritária, em benefício das populações
urbanizadas, o Estado contribui para a perda de grande arsenal de etnoconhecimento e etnociência,
de sistemas engenhosos de manejo de recursos naturais e da própria diversidade cultural.‖.
Muitas das questões relativas à problemática ambiental requerem mudanças de
mentalidades e entendimento como diferentes sujeitos formam e constroem o território. Dessa
forma, pode-se afirmar que a percepção da natureza se modificou com o decorrer do tempo
associada a múltiplos fatores, bem como distintas concepções de natureza e território. Relacionada a
um sistema econômico que terminou por gerar um impasse entre o meio ambiente e os interesses
econômicos hegemônicos correntes.

OS REFLEXOS A NÍVEL NACIONAL DAS MUDANÇAS DE PERCEPÇÃO DA


NATUREZA:
O grande impulso no sentido das mudanças que ocorreram em relação à visão e ao trato da
natureza se deu na segunda metade do século XX. Cresce a percepção de que os modelos de
desenvolvimento econômicos vigentes tendiam a um grande desequilíbrio natural e movimentos de
cunho ambientalista crescem e ganham destaque em várias regiões do mundo, chegando até os
debates em instâncias internacionais. Bom exemplo destes grupos de debate é o Clube de Roma,
entidade formada por empresários e intelectuais buscando discutir a preservação dos recursos
naturais do planeta. Responsável pelas primeiras publicações científicas nesse sentido, foi o Clube
de Roma o responsável pela publicação em 1972 de ―Os limites do crescimento‖; obra inclusive
considerada como propulsora dos debates a nível mundial, tendo como ponto culminante a
realização neste mesmo ano da Conferência de Estocolmo. Ainda no ano de 1972, mais
especificamente no mês de dezembro, foi estabelecida em Assembléia Geral da ONU a criação do
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Assim o meio ambiente em todas
as suas nuances (naturais, políticas e econômicas) entra definitivamente em pauta dos debates a
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 354

nível internacional. Ainda citando as relevantes contribuições dessa época para as mudanças de
então na visão corrente de natureza, válido é citar o produto da Comissão Mundial para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento da ONU do ano de 1987. Nesta reunião foi elaborado um documento
intitulado Our Common Future (Nosso Futuro Comum), ou Relatório Brundtland, como ficou
conhecido. Dentre as diversas contribuições deste documento, ele é amplamente conhecido por
definir, pela primeira vez o então novo conceito de desenvolvimento sustentável, que passa a partir
daí a nortear a grande maioria das práticas que visam o equilíbrio entre desenvolvimento econômico
e meio ambiente.
Como reflexo de toda essa reconstrução conceitual e emergência de novas visões sobre a
natureza, ocorre no Brasil o desenvolvimento de políticas nacionais concernentes a este tema.
Apesar de unidades de conservação serem instrumentos antigos no país (o primeiro parque Nacional
teve sua fundação em 1937), houve uma intensificação da criação destas pós 90 – num novo
contexto histórico, de debates sobre meio ambiente e traduzindo uma política ambiental bastante
específica a se desenvolver no país.
O principal mecanismo norteador dessa política emergente é a CDB (Convenção da
Diversidade Biológica), que é um dos principais frutos da Convenção das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD (Rio 92) e um dos mais importantes instrumentos
internacionais relativos à temática ambiental. O Brasil, como primeiro país a assinar a Convenção,
desenvolveu e ainda desenvolve uma serie de mecanismos seguindo a lógica da CDB voltados a
uma diferente forma de gerir, ou melhor dizendo, diferentes formas de manejo da biodiversidade
nacional.
No ano de 2000, foi promulgada a atual legislação reguladora dos aparelhos de proteção e
conservação da natureza, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Esta lei surge
como fruto de uma nova visão de meio ambiente, e reflete em si uma tentativa de ajuste entre as
diferentes correntes de debate sobre manejo de ambientes naturais, incluindo todas as novas noções
de conservação para as gerações futuras defendidas pelo esquema do desenvolvimento sustentável.
Equilibra as forças discordantes nos debates sobre meio ambiente no sentido de estabelecer
diferentes categorias de unidades de conservação divididas em dois grandes grupos com
características específicas: as de proteção integral, tendo como objetivo básico a preservação da
natureza; e as unidades de uso sustentável, norteadas pelo princípio de aliar conservação dos
ambientes naturais e uso sustentável de seus recursos.
O SNUC traz muitos avanços para a criação e caracterização das Unidades de Conservação
nacionais. Porém, o que talvez reflita de maneira mais eficiente os avanços dados desde a primeira
CNUMAD são a melhor definição e expansão das categorias de unidades de uso sustentável. É
como se a natureza não estive mais presa atrás de grades e passasse a integrar oficialmente as
dinâmicas da sociedade. Desta forma, passa-se a estender a área de atuação quando se fala em
conservação da natureza, pois se deixa de levar em consideração apenas os meios físico e biológico,
alcançando-se a dita dimensão humana – os meios sociais, econômicos e políticos. É deixada um
pouco de lado a noção de ―natureza protegida‖, que garante apenas a manutenção de ambientes
naturais intocados. Pois, em sua maioria, os processos de preservação, conservação e manejo da
biodiversidade se materializam numa conjuntura diversa, envolvendo diferentes atores num
contexto de conjugação de espaços naturais e humanos. ―A biodiversidade não é um conceito
abstrato, mas, sim, também humano, pois tem uma localização geográfica e formas de apropriação
com feições específicas, o que lhe confere uma feição material, concreta e, portanto, a insere
necessariamente no contexto das relações sociais.‖ (Becker, 2001, apud JUNIOR, COUTINHO,
FREITAS, 2009, p. 29). Sendo assim, as hoje existentes unidades de conservação – principalmente
aquelas de uso sustentável – são fragmentos ecossistêmicos atuando em conjunto com sistemas
sociais completos. É uma associação espaço temporal de homem e natureza, e tal fator deve ser
levado em consideração quando da intenção de se estabelecer as formas necessárias de se realizar o
manejo dessas áreas.
No Brasil, a criação e manejo de unidades de conservação (com apenas uma exceção – as
Reservas Particulares de Preservação da Natureza) é papel do Estado conforme definido pelo
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 355

SNUC. Porém, a gestão destas áreas deve ser feita em associação com a sociedade civil. Esta é uma
das grandes inovações do SNUC, a criação dos Conselhos Gestores das Unidades de Conservação –
a incorporação das dimensões humanas na gestão da biodiversidade da qual elas são parte.
Ainda no sentido de representação no campo legal da mudança de paradigma e nova
interpretação da natureza, mais recentemente foi promulgado o Decreto 5758/06 que estabelece o
Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas – PNAP. Este plano surge como resultado direto
dos compromissos assumidos pelo Brasil na CNUMAD 92 ao se considerar que planos, políticas,
estratégias dentre outras formas de gerir unidades de conservação são ferramentas importantes
dentro dos compromissos assumidos através da CDB, além de intentar a formação de um sistema de
áreas protegidas abrangente, eficaz no sentido ecológico e manejado de forma efetiva. Acompanhar
historicamente a evolução das UCs nacionais, é perceber materialmente a evolução da forma como
o homem considera a natureza. O corpo legal brasileiro é um bom exemplo por sua evolução quase
que concomitante às discussões a nível internacional e este é um processo que ainda não findou.
Muito há para ser discutido e considerado, mas provavelmente o maior passo já foi dado – a
percepção da total integração das dinâmicas sociais e naturais.

A APA GUAPIMIRIM, SUAS AÇÕES E A ―NOVA NATUREZA‖:


Tendo como prerrogativa a já mencionada mudança de paradigma e suas conseqüências
verificadas na política ambiental brasileira é válido propor um estudo de caso para melhor
apresentar a tomada de consciência do papel do homem em consórcio com a natureza e não em
separado. Para tal foi selecionado um tipo específico de Unidade de Conservação: a Área de
Proteção Ambiental (APA), por se tratar de uma modalidade com características bastante
específicas, segundo regulamentado pelo SNUC: ―A Área de Proteção Ambiental é uma área em
geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,
estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.‖ (Art. 15 Lei
9985/00). Desta forma, a APA visa não apenas a conservação da biodiversidade, mas permite
também a existência de grupamentos sociais complexos em seu interior, como é o caso da Unidade
em questão.
Antes de ressaltar as devidas potencialidades do projeto desenvolvido por esta Unidade de
Conservação com relação ao tipo de manejo empregado é válido apresentá-la. A Área de Proteção
Ambiental (APA) Guapimirim – a qual foi selecionada para realizar-se o estudo de caso – foi criada
pelo Decreto 90.225 de 25 de setembro de 1984 é uma unidade de uso sustentável situada na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro em parte dos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São
Gonçalo. A APA é constituída por áreas públicas e áreas privadas. Localiza-se na região do
recôncavo da Baía de Guanabara, abrangendo uma área total de 138,25 km²; desta,
aproximadamente 45% corresponde a manguezais em diversos estados de conservação e
regeneração. Este trecho representa o último reduto contínuo deste ecossistema na região.
É importante, além do potencial ecológico da área, salientar a crescente pressão que a APA
sofre com a expansão urbana desordenada. Com uma população em sua área de influência de três
mil habitantes, grande parte dos quais envolvidos com a pesca artesanal e com a captura de
caranguejos, a APA toma para si a tarefa de criar mecanismos político-administrativos voltados
para educação ambiental e a gestão ambiental participativa que objetivam a manutenção da biota de
maneira conjunta ao desenvolvimento pleno do homem que habita a região, como forma de sanar a
atual ameaçada pelo crescimento urbano dos municípios onde se localiza. Para tanto, valendo-se
dos mecanismos inerentes ao próprio modelo de Unidade de Conservação, e também como parte de
uma gestão participativa, foi criado o Circuito de Ecoturismo da APA Guapimirim. Tal projeto foi
arquitetado mediante diversos seminários no Conselho gestor da APA Guapimirim tendo em vista a
plena participação de representantes da sociedade civil, somando-se às diretrizes do Plano de
manejo da UC e através de estudos realizados com a população local (pescadores) para melhor
percepção dos saberes vividos (empíricos). Somando-se a esse arcabouço participativo é válido
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 356

ressaltar que além desses preceitos foi levado em consideração o caderno de Diretrizes para
Visitação em Unidades de Conservação e do Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas, agora
abarcando também o nível federal (Ministério do Meio Ambiente).
O mecanismo criado visa organizar um circuito turístico na região de influencia da APA
Guapimirim, tendo como eixo norteador o desenvolvimento do Turismo Sustentável, através da sua
operação integrada ao Ecoturismo de Base Comunitária. E de forma mais prática, corresponde a
uma estratégia que pretende a geração de renda para as comunidades de pescadores da região,
fortalecendo o desenvolvimento social e econômico e garantindo a conservação dos bens naturais e
do patrimônio biogenético único. Ainda como ferramenta do desenvolvimento socioeconômico da
população diretamente envolvida com a APA, a mesma promove a capacitação destes indivíduos,
como noções de turismo, ou turismo sustentado, a fim de que sejam eles a trabalhar nessa iniciativa
da UC. Além disto, a APA funciona também como incubadora da Cooperativa Manguezal
Fluminense, formada pelos moradores da sua área de influência e trabalhando com artesanato a
partir de materiais naturais da região, entre outros. O objetivo maior desse tipo de iniciativa da
APA não é somente preservar o ecossistema em questão, mas também promover a valorização e
autenticidade dos saberes locais da população que reside sob a área de influência da Unidade de
conservação. Assim, um projeto visa abarcar diferentes dimensões, não somente a ambiental, mas
também a humana, sempre se levando em conta o ambiente em sua complexidade. A prática de
visitação sustentável e consciente, que é proposta pela APA, valoriza a cultura local, garantindo a
sua perpetuação pelas novas gerações, demonstra à sociedade a viabilidade de unidades de
conservação como espaço a ser preservado, gera recursos através de atividades alternativas às
comunidades locais, respaldando a importância de conservá-las.

CONCLUSÃO
A evolução sempre ocorre quando da percepção, ou da prova de que os modelos em vigor
não mais satisfazem às necessidades existentes, seja em níveis locais ou globais. Assim acontece
também relativo ao meio ambiente e suas noções. E nesse caso também o desenvolvimento e suas
noções – ambos aparentemente tão opostos, mas hoje nitidamente correlacionados. A consciência
ambiental que se mostrou em diversas formas e que hoje toma destaque não somente no meio
acadêmico é fruto da conseqüente insuficiência de outras consciências anteriormente propostas que
não abarcaram de forma plena o ambiente, como ele é de fato: o homem sempre em consórcio com
a natureza.
Depois do todo exposto fica clara, não a total mudança de paradigma, mas o início de uma
total transformação de noções e preceitos. Está se transformando conservação em cooperação;
preservação em sustentabilidade. Vale lembrar as palavras de Leff (2001) ―A gestão ambiental
participativa está propondo, além da oportunidade de reverter os custos ecológicos e sociais da crise
econômica, a possibilidade de integrar a população marginalizada num processo de produção para
satisfazer suas necessidades fundamentais, aproveitando o potencial ecológico de seus recursos
ambientais e respeitando suas identidades coletivas. Assim estão surgindo ‗iniciativas descentradas‘
para construir uma nova racionalidade produtiva, fundada em práticas de manejo múltiplo,
integrado e sustentado dos recursos naturais, adaptadas às condições ecológicas particulares de cada
região e aos valores culturais das comunidades.‖.
Iniciativas como a da APA Guapimirim podem até parecer pequenas ou com um raio de
alcance reduzido. Porém é preciso lembrar que este é um processo ainda em curso. Ações pontuais
como essa, somadas, podem representar muito mais do que o inicialmente imaginado. E mais além,
de forma mais permanente e até mesmo eficaz, ações desse tipo são a representação clara da noção
de natureza que emerge, são o elemento divulgador daquilo que antes era debatido a nível nacional
ou internacional e as pessoas só tomavam conhecimento a partir da mídia. Ações como essa são a
materialidade do que antes era o discurso do possível, e comprovam a crença de que o homem e
natureza podem conviver e se desenvolver de maneira conjunta, ou melhor, sustentável.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 357

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 358

ESTUDO DA BIODIVERSIDADE DA FAUNA EM SERAPILHEIRA


DE DIFERENTES ECOSSISTEMAS FLORESTAIS

Jessé Lopes CARVALHO


Acadêmico do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso
Campus de Sinop, Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
carvalhoflorestal@yahoo.com.br
Janaína DE NADAI
Prof. Adjunto I. Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av. Alexandre
Ferronato, 1200, Setor Industrial
janadenadai@gmail.com
Raquel Braga de ALMEIDA
Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av. Alexandre Ferronato, 1200,
Setor Industrial- keubraga@yahoo.com.br, Acadêmica do curso de Engenharia Florestal.
Adriana Cristina SANTOS
Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso
Campus de Sinop, Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
drikflorestal@hotmail.com

RESUMO
A maior parte do produto da fotossíntese de uma floresta mais cedo ou mais tarde acaba
retornado-a ao piso da floresta, como serapilheira, árvores inteiras tombadas, excrementos ou
animais mortos. Após as matérias entrarem na cadeia de detritos eles começam a se decompor. A
fauna do solo tem um papel fundamental, no processo de decomposição de resíduos, atuando
principalmente como facilitadora da atuação de fungos e bactérias, que são os principais agentes
decompositores no solo. O objetivo desse trabalho é estudar a diversidade de animais existentes na
serapilheira e no solo da floresta comparando os diferentes extratos florestais. O estudo foi
conduzido na cidade de Sinop, MT, região plana ao norte do Estado, e de transição entre os biomas,
Cerrado e Floresta Amazônica. Foram coletados 10 amostras de serapilheira em uma área de
preservação permanente APP (mata nativa) e, em povoamentos de Tectona grandis L.f (Teca) e
Eucalyptos ssp. O material coletado foi então embalado em sacos plásticos e levado para o
laboratório. Após feita analise das amostras foram contabilizados o numero de indivíduos no qual o
a amostra de Teca obteve 353 e de eucalipto 311 individuo já amostra de APP (mata nativa)
apresentou-se um maior numero num total de 592 individuo. Aplicou-se o teste da diferença entre
duas proporções, no qual se verificou que, na amostra de APP (mata nativa), a porcentagem de
individuo foi superior aos demais (p<0,05), já as amostra de T eca e Eucalipto não se diferenciaram
ente si (p>0,05). Em áreas florestais nativas a um predomínio na biodiversidade da flora e
conseqüentemente na fauna, isto é devido um maior fornecimento de matéria de compositora sendo
meio atrativos para os organismos de compositores e sua cadeia.
PALAVRAS-CHAVE: serapilheira, biodiversidade, ecossistemas florestais, biomassa
vegetal.

ABSTRACT
Most of the products of photosynthesis of a forest sooner or later it just returned to the
forest floor as litter, whole trees toppled, dung or dead animals. After the materials entering the
waste chain they begin to decompose. The soil fauna plays a key role in the process of
decomposition of waste, mainly acting as a facilitator of the action of fungi and bacteria, which are
the main agents in soil decomposers. The aim of this study is the diversity of animals living in
forest litter and forest floor comparing the different extracts forest. The study was conducted in the
city of Sinop, MT, flat region to the north of the state, and transition between the biomes, the
Cerrado and the Amazon rainforest. We collected 10 samples of litter in an area of permanent
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 359

preservation (APP Forest) and in stands of Tectona grandis Lf (Teak) and Eucalyptos ssp. The
collected material was then packed in plastic bags and taken to the laboratory. Made after analysis
of the samples were counted the number of individuals in which the the sample of teak and
eucalyptus obtained 353 311 already individual sample of APP (Forest) presented the highest
number for a total of 592 individual. Applied the test of difference between two proportions, in
which it appears that the sample of APP (Forest), the percentage of individual was superior to the
others (p <0.05), the sample of T eac and Eucalyptus ment itself did not differ (p> 0.05). In areas
with a predominantly native forest biodiversity of flora and fauna consequently, this is due to a
greater supply of raw songwriting and attractive environment for organisms of composers and their
supply chain.
KEYWORDS: litter, biodiversity, forest ecosystems, plant biomass

INTRODUÇÃO
A decomposição do material orgânico, extremamente rico em nutrientes, proporciona a
liberação dos seus minerais para posterior absorção pelas raízes das plantas que sobrevivem neste
ambiente. A importância desse ciclo de nutrientes, que se forma entre a comunidade viva e o seu
meio é fundamental para sustentabilidade da fauna que vive na serapilheira, conhecida também
como manta florestal.(Schumacher et al., 2003). A serapilheira representa a reserva central de
elementos minerais e orgânicos em ecossistemas de florestas tropicais, onde os solos são
quimicamente pobres. (Martius et al., 2004).
A maior parte do produto da fotossíntese de uma floresta mais cedo ou mais tarde acaba
retornado-a ao piso da floresta, como serapilheira, em seguida a matéria entra na cadeia de detritos e
começa a se decompor. A fauna do solo tem um papel fundamental, no processo de decomposição
de resíduos, atuando principalmente como facilitadora da atuação de fungos e bactérias, que são os
principais agentes decompositores no solo.
O desaparecimento da serapilheira através do processo de decomposição e a liberação dos
elementos inorgânicos que estão ligados aos detritos de mineralização são essenciais para a
manutenção da produtividade dos ecossistemas florestais. Fungos e bactérias são diretamente
responsáveis pela maior parte da decomposição da matéria orgânica, mas um diverso conjunto de
animais influencia de maneira decisiva o funcionamento da flora decompositora, como resultado
direto e indireto de sua atividade de alimentação.
O solo florestal pode ser visto como um ecossistema, em que a parte biótica inclui as raízes
das plantas, a microflora e fauna do solo, em uma intricada rede de relações entre os componentes
bióticos e o meio. A fauna do solo desempenha muitos papéis dentro do ecossistema solo, tais
como, a fragmentação dos resíduos orgânicos, mistura destes com o solo mineral, ou ainda a
regulação de populações de fungos e bactérias através da predação ou da dispersão de propulso
desses organismos.
O objetivo desse trabalho é estudar a diversidade da fauna existente na serapilheira de
diferentes ecossistemas florestais.

MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi conduzido na cidade de Sinop, MT, região plana ao norte do estado de
transição entre os biomas Cerrado e Floresta Amazônica, com cerca de 384 metros de altitude,
precipitação pluviométrica média de 2000mm/ano e temperatura média anual entre 24 e 26° C
(INMET, 2009).
Foram coletadas 10 amostras de 30 x 30 cm de serapilheira nos seguintes ecossistemas,
mata nativa de uma Área de Preservação Permanente (APP) com aproximadamente 26 anos,
povoamento de Tectona grandis L.f (Teca) com 15 anos e Eucalyptus sp com 12 anos. Foi realizada
uma única coleta com 10 amostras em cada ecossistema florestal em dias distintos, para a coleta
utilizou enxada para raspar a serapilheira até o solo mineral ficar exposto e pá para colocar dentro
dos sacos plásticos.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 360

O material coletado foi embalado em sacos plásticos e encaminhado ao laboratório de


Biologia Vegetal da Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, no qual foi realizado
a triagem do material e identificação dos indivíduos em nível de orden com utilização de
microscópicos e chave de identificação.

.RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pouco se conhece sobre a variação na composição das espécies e abundância relativa entre
áreas diferentes. Sabese que certas espécies são concentradas em uma certa área e que a fauna de
lugares diferentes tende a diferir. Entretanto, raramente essas diferenças têm sido quantificadas
(Wolda, 1996).
Florestas e matas, de uma maneira geral, fornecem condições diversificadas para a
existência de uma maior biodiversidade devido às suas estruturas mais complexas: grande número
de espécies vegetais, estratificação vertical, copas interconectadas formando um dossel contínuo
(Elton 1973). Entre tais condições, destacam-se: maior variedade e disponibilidade de compostos
orgânicos presentes na serrapilheira fornecendo uma maior diversidade de itens alimentares;
microclima mais estável com maior sombreamento e umidade, favorecendo espécies menos
tolerantes; maior possibilidade de refúgios contra predadores; dentre outras (Vallejo et al. 1987).
As áreas de monoculturas possuí um dossel descontínuo , que permitia uma intensa
irradiação solar (dados visuais, não mensurados) que causava, provavelmente, uma elevada
evaporação no solo. Outros fatores contribuem para uma gradual diminuição da diversidade da
fauna do solo em monoculturas, dentre eles destacam-se maior variação de temperatura e forte
impacto da chuva no solo. O grupo encontrado em maior abundância foi a ordem Hymenoptera, o
que já era previsto, uma vez que as formigas são consideradas animais dominantes na maioria dos
ecossistemas terrestres (Alonso & Agosti, 2000). A presença de alguns grupos taxonômicos como
Diptera, Isoptera, Hemiptera, Arachnida e Coleoptera pode ser considerada atípica em serapilheira,
pois estes grupos aparentemente não apresentam, nenhuma associação funcional com o sub-sistema
decompositor. Contudo, estes animais utilizam o folhiço como abrigo, sítio de reprodução, ou para
forragear.

Tabela 1: Número de indivíduos em nível de ordens por amostras de serapilheira do


ecossistema florestal de área de APP (mata nativa) coleta realizada no dia 15 de Janeiro de 2010,
Sinop-MT.
Ordens Amostras APP (mata nativa)
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 Total
Hymenoptera 8 6 2 5 3 13 19 29 7 11 103
Araneae 1 - 1 - 1 2 1 4 - 3 13
Isoptera 6 17 1 6 34 120 30 76 8 15 298
Chílopoda - 3 2 - 1 2 - 8 - - 16
Pseudoscoscorpionida - 2 - - 1 - 2 - 1 - 6
Collembola 5 4 2 3 5 - 5 3 - 4 32
Coleoptera 1 5 - 2 - 3 2 - 5 2 20
Crustacea 2 - 3 1 2 - 3 3 - 3 17
Annelida 3 4 1 - 27 19 1 5 3 5 68
Diplopoda 2 1 3 1 3 1 - 3 1 4 19
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 361

Tabela 2: Número de indivíduos em nível de ordens por amostras de serapilheira do


ecossistema de povoamento de Tectonas grandis L.f. (Teca), coleta realizada no dia 19 de Janeiro
de 2010, Sinop-MT.
Ordens Amostras
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 Total
Hymenoptera 5 13 8 2 6 7 15 10 16 4 86
Araneae 1 - 2 - 2 - 1 - 1 3 9
Isoptera 21 19 3 2 3 15 45 15 3 8 134
Chílopoda 1 - 4 3 - 2 1 5 2 1 19
Pseudoscoscorpionida 1 - 1 - 1 - 1 - 1 - 5
Collembola 3 7 3 1 - 3 1 - 2 5 25
Coleoptera 2 1 3 - 1 4 - 3 1 - 15
Crustacea 3 1 1 3 - 1 - 5 1 1 16
Annelida - 11 5 2 - 6 3 1 - 2 34
Diplopoda 1 - 2 2 1 - 1 - - 3 10

Tabela 3: Número de indivíduos em nível de ordens por amostras de serapilheira do


ecossistema de povoamento de Eucalyptos ssp, coleta realizada no dia 22 de Janeiro de 2010,
Sinop-MT.
Ordens Amostras
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 Total
Hymenoptera 5 3 8 2 6 7 10 5 11 5 62
Araneae 1 2 - 2 - 1 - 1 3 9
Isoptera 12 19 3 3 13 15 25 15 14 8 127
Chílopoda 1 - 4 3 - 2 1 3 2 1 17
Pseudoscoscorpionida 1 - 1 - 1 - 3 - 1 - 7
Collembola 3 7 3 1 - 3 1 - 2 5 25
Coleoptera 2 1 3 - 1 3 - 3 1 - 14
Crustacea 3 1 1 2 - 1 - 3 1 1 13
Annelida - 9 5 2 - 6 3 1 - 2 28
Diplopoda 1 - 2 2 1 - 1 - - 2 9
Após feita analise das amostras foi contabilizado o número de indivíduos por ecossistemas
amostral no qual, a amostra de APP (mata nativa) apresentou-se um maior numero num total de 592
individuos, já amostra de Teca obteve 353 e de Eucalyptos ssp 311 individuos. Aplicou-se o teste da
diferença entre duas proporções, no qual se verificou que, na amostra de APP (mata nativa), a
porcentagem de individuo foi superior aos demais (p<0,05), já as amostra de T eca e Eucalipto não
se diferenciaram ente si (p>0,05).
A incidência de maior número de indivíduos na amostra da área de APP (mata nativa) é
justificada devido a uma maior biodiversidade de plantas tendo um ambiente mais adequado para o
convívio das espécies visto que, na amostra de Teca e Eucalipto possui uma menor biodiversidade
de plantas e o ambiente esta sempre sofrendo tratos silviculturais. E a ordem mais representativa foi
a ordem Isoptera isto devido o ambiente dos ecossistemas apresentar neste período condições
favoráveis a colonização destes pois, este necessita de ambiente úmido que corresponde com o
período de coleta. Além da grande variação da diversidade, percebeu-se, também, uma nítida
substituição na composição faunística entre as formações vegetais.

CONCLUSÕES
Em áreas florestais nativas a um predomínio na biodiversidade da flora e
conseqüentemente na fauna, isto é devido um maior fornecimento de matéria decompositora sendo
meio atrativos para os organismos decompositores e sua cadeia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Overview, p. 1-8. In D. Agosti, J. D. Majer, L. E. Alonso & T. R. Schultz (eds.), Ants: standard
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 362

methods for measuring and monitoring biodiversity. Smithsonian Institution Press, Washington,
280p.
ELTON, C.S. 1973. The structure of invertebrate populations inside neotropical rain forest.
J. Anim. Ecol. 42: 55-103.
MARTIUS, C., HOFER, H., GARCIA, M.V.B., ROMBKE, J. & HANAGARTH, W.
2004. Litterfall, litter stocks and decomposition rates in rainforest and agroforestry sites in central
Amazonia. Nutr. Cycl. Agroecos. 68:137-154.
SCHUMACHER ,M. V., BRUN, E. J. , RODRIGUES L. M. , DOS SANTOS, E. M.
Retorno de nutrientes via deposição de serapilheira em um povoamento de acácia-negra (Acacia
mearnsii De Wild.) no Estado do Rio Grande do Sul. Sociedade de Investigações Florestais R.
Árvore. Viçosa-MG, v.27, n.6, p.791-798, 2003.
SCLITTLER, F.H.M., MARINIS, G. & CÉSAR, O. 1993. Produção de serapilheira na
floresta no Morro do Diabo, Pontal do Paranapanema, SP. Naturalis 18:135-147.
Vallejo, L.R., C.L. Fonseca, & D.R.P. Gonçalves. 1987. Estudo comparativo da mesofauna
do solo entre áreas de Eucaliptus citriodora e mata secundária heterogênea. Rev. Brasil. Biol. 47:
363 370.
WOLDA, H. 1996. Between-site similarity in species composition of a number of
Panamanian insect group. Miscellània Zoològica 19: 39–50.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 363

ESTUDO DO TÁXON GNATHIFERA EM CAMPO E NO


PROCESSO LÚDICO COMO ELEMENTOS DE
SENSIBILIZAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

BAUCHWITZ, Camila Porto


Alunas do curso de graduação em Ciências Biológicas. Centro de Biociências Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59.072-970, Natal/RN.
SANTOS, Luana Carla dos
Alunas do curso de graduação em Ciências Biológicas. Centro de Biociências Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59.072-970, Natal/RN.
ARAÚJO-DE-ALMEIDA, Elineí.
Professora de Zoologia (Laboratório de Taxonomia e Filogenia - Departamento de
Botânica, Ecologia e Zoologia), Centro de Biociências Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59.072-970, Natal/RN.

RESUMO
Dentro dos Invertebrados vários grupos são completamente esquecidos de sua existência,
entre eles destacam-se os seres pertencentes à linhagem dos Gnathifera, táxon o qual se encontra
inserido o grupo Rotifera. Considerando que a aplicação de diversas experiências de campo são
elementos facilitadores da aprendizagem, é importante destacar que estes procedimentos tornam-se
um método muito eficaz quando aplicado ao processo de ensino que abordam conhecimentos pouco
trabalhados. A busca de estudo sobre animais pouco estudados em uma Unidade de Conservação
(APA Jenipabu/RN) torna mais interessantemente contextualizado o ensino sobre táxons
negligenciados. Além de serem pouco abordados, os táxons gnathíferos constituem um desafio para
o processo de aprendizagem quando são abordados no percurso de ensino. Mas é mesclando
conhecimentos com métodos de fixação de conteúdos que se pode atrair a atenção para os táxons e
sensibilizar colegas em sala de aula e contribuir para a formação de agentes multiplicadores
ambientais focados no estudo e entendimento da dinâmica sobre seres taxonômicos raros. O foco da
pesquisa foi, então, analisar que significados podem ser observados no decorrer do processo de
ensino sobre táxons poucos estudados para que os conhecimentos possam tornar mais facilmente
apreensíveis após contextualizados nos aspectos da conservação da biodiversidade afim de
contribuir com o órgão gestor da APA Jenipabu no sentido de que elementos da educomunicação
estão envolvidos na modalidade relacionada com a vivência e divulgação sobre os conhecimentos
pesquisados.
PALAVRAS-CHAVE: Investigação em campo, ludicidade, conservação da biodiversidade

ABSTRACT
Within the various invertebrate groups there are some completely forgotten, among them
stand the being belonging to the lineage of Gnathifera, a taxon which is inserted in the group
Rotifera. Whereas the application of various field experiences are key facilitators of learning, it is
important to note that these procedures have become a very effective method when applied to the
teaching skills that address obscure subjects. The search for rarely researched animals in a
conservation area (APA Jenipabu / RN) becomes more interesting as it contextualizes teaching
about overlooked taxons. In addition to being poorly treated, the taxon Gnathifera constitutes a
challenge to the learning process when they are covered in the course of teaching. But by merging
knowledge with memorization methods that it is possible to atract the attention to the taxons and
inform colleagues in the classroom and contribute for the formation of field researchers focused in
the study and understanding of the dynamics about rare taxonomic beings. The focus of the research
was, therefore, to analyze the meanings that can be observed in the on-going process of teaching
about obscure taxons so that this knowledge may be more easily acquired after contextualized in the
aspects of conservation of biodiversity in order to contribute to the administrative organ of APA
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 364

Jenipabu in the sense that the elements of educational-communication are involved in the modality
related with the familiarity and dissemination about the researched subjects.
KEYWORDS: Field Research, playfulness, biodiversity conservation

INTRODUÇÃO
A biodiversidade animal inclui uma variedade de organismos muito ampla e os
invertebrados representam 96,8% dessa diversidade. Dentro dos Invertebrados vários grupos são
completamente esquecidos de sua existência, entre eles destacam-se os seres pertencentes à
linhagem dos Gnathifera, táxon o qual se encontra inserido o grupo Rotifera, que é um conjunto de
organismos microscópicos comumente encontrados em águas continentais. Por apresentarem taxas
reprodutivas muito rápidas, os rotíferos são fundamentais na conversão da produção primária em
biomassa para consumidores maiores (larvas de insetos e peixes jovens) e, não raramente,
constituem fonte única de alimento para alevinos de peixes em estádios iniciais (RUPPERT; FOX;
BARNES, 2005).
Além do grupo Rotifera, os Gnathifera incluem vários outros organismos
(Micrognathozoa, Gnathostomulida, Seisonida e Acanthocephala), também portadores de faringe
muscular (mástax) com um complexo conjunto de peças duras que atuam como mandíbula
(RUPPERT; FOX; BARNES, 2005). Eles dominam o zooplâncton de água doce, e os rotíferas, são
os mais comuns. São importantes na reciclagem dos nutrientes nos sistemas aquáticos, mas pouco
se conhece a respeito desses organismos enigmáticos.
Além de serem negligenciados, os táxons gnathíferos constituem um desafio para o
processo de aprendizagem quando são abordados no percurso de ensino. Mas segundo vem sendo
demonstrado por trabalhos que dinamizaram o ensino para explorar os conhecimentos zoológicos
diversos, é mesclando conhecimentos com métodos de fixação de conteúdos que se pode atrair a
atenção para os táxons em estudo e direcionar caminhos para sensibilizar colegas em sala de aula e
contribuir na formação de agentes multiplicadores ambientais focados no estudo e entendimento da
dinâmica de seres taxonômicos raros.
Tomando-se como exemplo a utilização de jogos e de pesquisa de campo pode-se
garantir a possibilidade de facilitação do processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva mais
construtivista. Na opinião de educadores, dando destaque a Rebello, Monteiro e Vargas (2001), o
jogo atinge seus objetivos porque gera debates, fornece informação e esclarece dúvidas de forma
satisfatória.
Verifica-se constantemente a grandiosa contribuição que os jogos pedagógicos têm a nos
oferecer, incluindo a contribuição com o aprendizado, e proporcionando as aulas mais proveitosas,
tornando o processo educacional mais simplificado. De acordo com Magalhães (2007), ainda
podemos dizer que este processo se mostra como uma possibilidade viável e interessante de busca
de alternativas educativas cada vez mais significativas para os alunos. Por sua natureza lúdica e
educativa, e por seu comprometimento com as aprendizagens e formação de profissionais, eles
atuarão essencialmente em contexto de interações humanas que lidarão com emoções, com vidas.
Portanto, proporcionar-lhes uma formação mais humanizada e sensível a esses interesses se
mostram bastante apropriados, e o constante repensar desse tipo de prática docente é mais que
oportuno, é necessário.
Determinar os limites dos conteúdos necessários para a formação de profissionais cujas
competências a serem atingidas sejam o entendimento da biodiversidade é algo que se pode
considerar corresponde a uma necessidade urgente. ―Mas, para que possamos defender no sentido
de que tenhamos mais domínios sobre os fenômenos interacionais da nossa existência, é necessário
que conheçamos todos os organismos, não somente em seus aspectos morfológicos, fisiológicos e
comportamentais, e principalmente, filogenéticos, que os contextualizam historicamente.‖
(ARAÚJO-DE-ALMEIDA et al., 2009).
Sabemos também que a pesquisa de campo, já conhecida como método de aprendizagem
eficaz, podendo estar associada ao domínio do lúdico, para enriquecer ainda mais esse processo.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 365

Considerando também a aplicação de diversas experiências de campo como elementos


facilitadores da aprendizagem, é importante destacar que estes procedimentos tornam-se um método
muito eficaz quando aplicado ao processo de ensino. A inserção dessa metodologia diferenciada,
realizada no percurso da sala de aula, proporciona vivências concretas com os organismos, tornando
os conteúdos mais facilmente apreensíveis. Além do mais, tornam-se um exercício para
sensibilização ambiental envolvendo a contextualização com ambientes que hoje são conservados
por leis municipais, estaduais ou nacionais.
Como destacaram Araújo-de-Almeida et al. (2009), para que possamos defender estes
seres no sentido de que tenhamos mais domínios sobre os fenômenos interacionais da nossa
existência, é necessário que conheçamos todos os organismos, não somente em seus aspectos
morfológicos, fisiológicos e comportamentais, mas principalmente, filogenéticos, os quais
contextualizam os seres historicamente.

OBJETIVOS
O foco da pesquisa foi analisar que significados podem ser observados no decorrer do
processo de ensino sobre táxons poucos estudados para que os conhecimentos possam tornar mais
facilmente apreensíveis e elemento sobre a conservação da biodiversidade sejam efetivamente
contextualizados no percurso da aprendizagem sobre animais pouco estudados.

METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido por alunas (primeira e segunda autoras) do curso de
Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2° período do
ano de 2009, sob a orientação da terceira autora deste artigo.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa de campo em Área de Proteção Ambiental (APA)
no mês de agosto do ano de 2009. A área de estudo correspondeu a APA Jenipabu, Unidade de
Conservação localizada nos municípios de Natal e Extremoz (35º 12' 56"W e 05º 40' 40"S), litoral
norte do Estado do Rio Grande do Norte, com uma superfície total de 1.881ha, foi instituída pelo
Decreto Estadual n.º 12.620 de 17.05.95/ IDEMA-RN. No ambiente costeiro desta Área de Proteção
Ambiental incluem duas Praias: Genipabu e Santa Rita.
Após o entendimento do significado sobre o que é uma Unidade de Conservação (UC), os
alunos foram a campo para recolher as amostras de água em três lagoas dunares presentes nesta UC
e entender mais profundamente um local de proteção ambiental: Lagoa dos Cágados, Lagoa de
Prainha e Lagoa de Genipabu.
As amostras foram analisadas em laboratório com o uso do microscópio ótico. Após esse
procedimento, foi elaborado um esquema para transmitir essas informações aos estudantes colegas
de turma. Além dos conhecimentos obtidos em sala de aula e em livros de Zoologia, informações
oriundas de campo foram consideradas.
Posteriormente foi organizado o material didático para explanação dos conteúdos na sala
de aula. Foram confeccionados instrumentos lúdicos para auxiliar no processo de visualização das
estruturas dos organismos. Enfatizou-se a importância da presença de organismos negligenciados
existentes na APA Jenipabu, sendo lembrada a fundamental importância da conservação desses
organismos.
Um jogo de casas foi criado, depois de algumas reflexões sobre a dinâmica. Um jogo de
mesa, com perguntas, prendas e recompensas foi escolhido para mobilizar a participação da turma.
Um dado feito de caixas vazias foi um dos elementos que chamaram atenção dos colegas
porque o material foi exclusivamente de fonte reciclada. As perguntas fundamentais na pesquisa
sobre Gnathifera que foram testadas no jogo de tabuleiro tinham como finalidade fixar as partes
mais importantes ou mais marcantes sobre os elementos faunísticos de organismos tão comuns em
lagoas e, no entanto, tão pouco estudados.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 366

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando a pesquisa como um meio de ressaltar a importância dos grupos
negligenciados em relação à biodiversidade e, introduzindo como campo de investigação, uma área
de preservação ambiental, a APA-Jenipabu/RN, percebeu-se que isso proporcionou incentivo para
as pesquisas sobre táxons negligenciados nos alunos de Ciências Biológicas. Segundo demonstrado
por Galiazzi (2003) e Demo (2004) a aprendizagem por meio da pesquisa é uma forma de grande
eficiência para mobilizar ações para a condução do ensino em sala de aula.
A atividade de campo realizada na APAJ trouxe como resultados a investigação de dois
grupos dentro da linhagem dos Rotifera: os táxons Monogononta e Digononta. Também permitiu
aos alunos um exercício de atividade científica dentro da abordagem comparativa de lagoas
dunares. Dos três ambientes analisados, a Lagoa de Genipabu foi a que apresentou o maior número
de espécimes, graças ao meio apresentar-se mais ricos em nutrientes sedimentares. Nesse sentido, a
contextualização corresponde a um meio de motivar o aluno e dar significado ao que é ensinado em
sala de aula (LOBATO, 2005).
Com os resultados das amostras adicionados às informações da APA Jenipbu e o
esquema lúdico do jogo de tabuleiro aplicado ao estudo dos Gnathifera, pode-se enriquecer os
elementos de aprendizagem sobre as diversas linhagens. Os métodos lúdicos tornaram-se, então
ferramentas significativas para auxiliar na explanação e fixação dos conteúdos. A aplicação de
jogos de tabuleiro sobre o táxon abordado, também facilitou muito o aprendizado dos alunos, e com
essa dinâmica conseguiu-se uma maior interação entre o conteúdo fornecido e a receptividade dos
alunos. Como observou Toscani (2007), o jogo de tabuleiro obtém, sempre, grande aceitação por
parte do público ao qual é destinado. Quando aplicado, há grande procura pelos estudantes e muitos
deles ficam esperando ativamente sua vez de jogar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido foi experimentado no percurso metodológico, o que se chama
metalinguagem, onde em uma só vivência foram colididas três metas que na verdade tornaram-se
uma só: o cuidado com biodiversidade efetivada na busca de aprendizagem significativa.
A grande aceitação por parte dos alunos acerca das atividades de campo contextualizada
com uma Área de Proteção Ambiental e da aplicação do lúdico, mostraram que é possível
enriquecer o processo de ensino de Zoologia sobre caracteres relacionados à forma e função dos
seres de uma forma bastante simples e eficaz. Exercitou-se, também, uma percepção mais
aprofundada sobre os aspectos da diversidade da vida em seu ambiente, associando isso à
necessidade de explorar o tema conservação da biodiversidade no percurso do ensino sobre
Zoologia (enfatizando os invertebrados negligenciados), voltados para a sustentabilidade.

REFERÊNCIAS
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refletindo sobre a pouca evidência no estudo de determinados grupos de invertebrados. In: Anais do
IX Congresso de Ecologia do Brasil. São Lourenço/MG, 2009.
DEMO, P. Pesquisa como princípio educativo na Universidade. In: MORAES, P.; LIMA,
V. M. R. (org.). Pesquisa em sala de aula: tendências para a Educação em Novos Tempos. 2004,
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GALIAZZI, M. C. Educar pela pesquisa: ambiente de formação de professores de
Ciências. 2003, p. 83-133.
LOBATO, A. C. Contextualização e transversalidade: conceitos em debate. 34p.
Monografia de Especialização – UFMG: Belo Horizonte, 2005.
MAGALHAES, C. R. O jogo como pretexto educativo: educar e educar-se em curso de
formação em saúde. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 11, n. 23,dez. 2007.
REBELLO, S.; MONTEIRO, S.; VARGAS, E. P. A visão de escolares sobre drogas no
uso de um jogo educativo. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 5, n. 8, fev, 2001.
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RUPPERT, E. E.; BARNES, R. D.; FOX R. S. Zoologia dos invertebrados. 7ªed, São
Paulo; Roca, 2005.
TOSCANI, Nadima Vieira et al. Desenvolvimento e análise de jogo educativo para
crianças visando à prevenção de doenças parasitológicas. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 11, n.
22,ago. 2007.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 368

INVASÃO DE PLANTA AFRICANA NAS MATAS CILIARES


CEARENSES

BRITO, C.B.M.
Graduando em Ciências Biológicas/Integrante do grupo PET/UECE;
caco_brito@hotmail.com
HERRERA, O.B.
Professor Adjunto do Curso de Ciências Biológicas e Tutor do Grupo PET-Biologia – UECE; Av, Paranjana
1700, Campus do Itaperi – Fortaleza, Ceará, CEP: 60.740-000;
oriel@uece.br
CARNEIRO, L.A.
Graduandas em Ciências Biológicas/Integrantes do PET/UECE;
luanalvesc@gmail.com
ANSELMO, G.C.
Graduandas em Ciências Biológicas/Integrantes do PET/UECE;
gizele_carvalho@ymail.com

RESUMO
Plantas exóticas e invasoras têm alta capacidade de competição e adaptação, ocupando o
espaço de plantas nativas. Às margens da Rodovia Estadual CE-040, próximo à ponte sobre o rio
Pacoti, município de Aquiraz, no Ceará, tem sido observada a invasão em carnaubais pela
Cryptostegia madagascariensis. Esta planta invasora, conhecida popularmente por unha-do-cão, é
originária de Madagascar e foi introduzida no Brasil com fins ornamentais. No Ceará foi constatado
que ela mata as carnaúbas juvenis e adultas por estrangulamento e sombreamento. Sabe-se que a
cadeia produtiva da carnaúba tem sido a principal fonte de renda de muitas comunidades locais e,
há pelo menos quarenta anos, a cera desta palmeira é produzida no Ceará e no Piauí, respondendo
por cerca de 87% da produção nacional. Logo, a ameaça desta bioinvasão aos carnaubais
certamente acarretará uma problemática sócio-ambiental sem precedentes no estado. Assim, o
presente trabalho foi realizado a fim de caracterizar essa espécie no espaço cearense, de modo que
haja um melhor controle de sua ação. Pode-se perceber que a C. madagascariensis apresentou
índice de germinação das sementes de frutos maduros elevado e o extrato seco da unha-do-cão
promoveu a redução da germinação da espécie bioindicadora Lactuca sativa em conseqüência de
seus efeitos alelopáticos. Conclui-se que o sucesso reprodutivo da unha-do-cão, entre outras
características, tende a desequilibrar o ecossistema, afetando de maneira negativa as espécies locais
da flora. Logo, conhecer a biologia e a biogeografia das espécies invasoras, assim como as relações
interespecíficas é fundamental para controlar episódios de bioinvasão, fazendo surgir a necessidade
de investimentos na prevenção e no controle de bioinvasores.
PALAVRAS-CHAVE: Bioinvasão; Cryptostegia madagascariensis; Carnaúba

ABSTRACT
Exotic plants and weeds have high competitive ability and adaptation, occupying the area
of native plants. On the banks of the state highway CE-040, near the bridge over the Pacoti river,
city of Aquiraz, Ceará, the invasion of Cryptostegia madagascariensis on carnaúba has been
observed. This invasive plant, popularly known as unha-do-cão, comes from Madagascar and was
introduced in Brazil for ornamental purposes. In Ceará it is known that it kills the adult and juvenile
Carnaúbas by strangulation and shading. It is known that the production chain of carnaúba has been
the main source of income for many local communities and, for at least forty years, this palm wax is
produced in Ceará and Piauí, accounting for about 87% of national production. Therefore, the threat
of this bio-invasion in riparian will certainly lead to socio-environmental problems with no
precedent in the state. Consequently, the present work was to characterize this species in the state of
Ceará, so that there is a better control of its action. You can see that C. madagascariensis presented
a high index of germination of ripe fruit and that the dry extract of the unha-do-cão caused a
reduction of germination of Lactuca sativa as a result of allelopathic effects. It was concluded that
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the reproductive success of the unha-do-cão, among other characteristics, tend to disrupt the
ecosystem, affecting negatively the local species of flora. Hence, to know the biology and
biogeography of invasive species, and interspecific relations it is essential to control episodes of
bio-invasion, giving rise to the need to invest in prevention and control of bio-invaders.
KEYWORDS: Bioinvasion; Cryptostegia madagascariensis; Carnaúba

INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, observou-se a intensificação das ações antrópicas
sobre o meio ambiente, contribuindo de forma intencional ou acidental com a destruição das
barreiras ecológicas e conseqüentemente, com a migração e a extinção de espécies. Como resultado
deste desequilíbrio biológico, verifica-se a proliferação das espécies exóticas invasoras que
juntamente com a intervenção humana, alteram as características naturais dos ecossistemas e
reduzem as populações de espécies nativas (ANSELMO et al., 2009).
No caso das espécies de plantas invasoras, estas competem com outras plantas por água,
luz, nutrientes e espaço, pois estas espécies exóticas estão livres de seus competidores e predadores
naturais que existiam em seu habitat de origem. Desta forma, as bioinvasoras, em geral, se adaptam
e se proliferam facilmente no novo ecossistema, sendo que este crescimento exacerbado, muitas
vezes, põe em risco a biodiversidade do local (ZILLER & ZALBA 2007). Segundo Ziller (2001), as
invasoras são consideradas a segunda maior ameaça à biodiversidade, além de propiciar prejuízos à
economia e se constituírem em risco a saúde humana. Foi por isso que a ONU em 1997 criou o
programa GISP para monitorar da introdução destas espécies em novos ecossistemas (HÓRUS,
2010).
Muitas das espécies vegetais caracterizadas atualmente como invasoras foram introduzidas
no território brasileiro como alimento, como controle biológico de pragas ou com a finalidade de
serem utilizadas na ornamentação, sendo que passaram a se propagar e tornaram-se verdadeiras
pragas nacionais. A propagação destas espécies da flora muitas vezes ocorre por meio da
reprodução assexuada, devido à ausência de agentes polinizadores que são restritos ao local de
origem da planta. (VIEIRA et al., 2004).
Além da ausência de competidores e predadores, as causas destas invasões também estão
relacionadas com a semelhança do local de origem com o ambiente invadido, as alterações
climáticas, a fertilização do solo e ao número de espécies introduzidas no novo habitat
(REJMANEK et al., 2005).
De acordo com Bonilla e Major (2006), as espécies exóticas quando em baixa densidade
permanecem despercebidas no local invadido, porém na ausência de um predador natural para tais
espécies estas podem se proliferar e se tornar verdadeiras pragas. Assim, é de fundamental
importância detectar o início do processo de invasão para a elaboração de estratégias viáveis que
ajudem a evitar a proliferação das populações invasoras e com isso, impedir as perdas biológicas
(BEZERRA et al., 2009 apud SAKAI et al., 2001).
Trabalhos de pesquisa envolvendo invasões biológicas e a suscetibilidade dos ambientes à
problemática são relativamente recentes, restringindo-se as últimas décadas (ROY, 1990;
REJMANEK e RICHARDSON, 1996; PEGADO et al. 2006; LAWES e GRICE, 2007;
ANDRADE; FABRICANTE e ALVES, 2008 SANTANA e ENCINAS, 2008). Este fato também
é evidente no Brasil, especialmente nas regiões menos favorecidas pelas políticas públicas, onde os
ecossistemas que se encontram no semi-árido recebem a introdução de espécies exóticas sem
nenhum protocolo de introdução e sem conhecer como será o comportamento dessa espécie no novo
ambiente.
No estado do Ceará, dentre os bioinvasores em estudo, temos entre as espécies da flora a
Cryptostegia madagascariensis Bojer ex Decne, planta originária da ilha de Madagascar, na África,
da família Asclepiadaceae, sendo popularmente conhecida como unha-do-cão, unha-de-moça, cipó-
de-sapo ou boca-de-leão, e trazida ao Brasil com fins de ornamentação devido a sua bela flor lilás
(D‘ALVA, 2004). Sendo que a invasão da unha-do-cão não é apenas um problema do nordeste, nas
matas ciliares cearenses, mas um problema global, como por exemplo, na Australia, Nova Zelândia
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 370

e Haiti. Na Australia, foi observada a presença da Cryptostegia grandiflora, sendo esta muito
parecida morfologicamente com a C. madagascariensis. A C. grandiflora poliniza-se por meio de
insetos e propaga-se por meio de sementes. Também floresce durante todo o ano, se a temperatura e
a água não forem fatores limitantes. No Haiti, os indivíduos estudados apresentaram flores sempre
no mesmo período anualmente, produzindo frutos em períodos de chuva e, em maior quantidade
após dois meses de picos de pluviosidade (TOMLEY, 1995 apud VIEIRA et al., 2004.; TOMLEY e
EVANS, 2004). No norte da Australia, verifica-se também que, numa única etapa de reprodução, a
espécie pode dispersar 8.000 sementes e mais de 90% germinam dentro de dez dias, em condições
favoráveis (GRICE, 1996 apud VIEIRA et al., 2004).
No Ceará, verificou-se que a principal vítima da unha-do-cão é a palmeira conhecida como
carnaúba e considerada a árvore símbolo do Ceará, Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore.
Durante o ataque, devido à agressividade da unha-do-cão na ocupação dos espaços e por ser uma
espécie do tipo trepadeira oportunista, vários indivíduos da espécie invasora atacam uma só
carnaúba e atingem a copa da árvore de aproximadamente 7 à 10 metros de altura.
No município de Aquiraz, Ceará, observa-se a unha-do-cão matando centenas de carnaúbas
por sombreamento e estrangulamento. Inúmeros indivíduos da espécie invasora circundam uma só
carnaúba e crescem fechando toda a copa da árvore, impedindo a fotossintese e dificultando a
respiração. Segundo D‘alva (2004), a cadeia produtiva da carnaúba tem sido a principal fonte de
renda de muitas comunidades locais e, há pelo menos 40 anos, a cera desta palmeira é produzida no
Ceará e no Piauí, respondendo por cera de 87% da produção nacional. Com o crescente número de
C. madagascariensis nestas matas de carnaubais, a problemática sócio-ambiental de comunidades
que dependem da carnaúba será certamente afetada.
Para amenizar este crescente problema de bioinvasão que vem prejudicando as
matas ciliares cearenses, registra-se a ocorrência de Cryptostegia madagascariensis, analisando o
seu caráter invasor sobre a mata de carnaúba do estado do Ceará e seu efeito nas matas ciliares,
especificamente nas proximidades do Rio Pacoti, no município de Aquiraz. Foi estudada a biologia
da unha-do-cão, bem como, seu crescimento e dominância sobre a carnaúba através de testes de
germinação em laboratório. Assim, o presente trabalho foi realizado com a finalidade de
compreender a ecologia da relação entre a espécie invasora mencionada e a carnaúba, buscando
localizar, qualificar e quantificar o processo invasivo, além de contribuir com os bancos de registros
de espécies invasoras nacionais e internacionais.

MATERIAL E MÉTODOS
Através de excursões técnicas foram feitas diversas visitas a vários municípios do Estado
do Ceará, para verificar junto ás matas ciliares dos rios Ceará, Maranguapinho, Pacoti, Pirangi e
Jaguaribe, entre outros com o intuito de verificar as condições em que estas se encontravam.
Finalmente foram selecionadas três áreas que melhor expressassem a mata ciliar, junto ás margens
do Rio Pacoti, próximo a Rodovia Estadual CE-040, no município de Aquiraz, e ali foram
identificadas as principais espécies de plantas da mata ciliar, destacando-se duas espécies: a
carnaubeira e a unha-do-cão. De acordo com Mueller-Dombois e Ellenberg (1974), foram
selecionadas 3 parcelas medindo 200 m2 (20 m x 10 m), distribuídos aleatoriamente ao longo das
margem do rio.
Nas 3 parcelas foram marcadas e georeferenciadas quinze carnaúbas e 80 indivíduos de
Cryptostegia madagascariensis que as circundavam. Foram realizadas visitas ao campo duas vezes
ao mês, de agosto de 2008 a fevereiro de 2009, para a mediação da altura e do diâmetro de copa das
plantas marcadas. Acompanhou-se o caráter envolvente da unha-do-cão em cima das palmeiras de
carnaúba, para estimar em que tempo esta planta consegue dominar plenamente a carnaúba,
segundo o descrito por Mackey et al. (1996). Tambem foram coletadas amostras de flores, folhas e
frutos maduros e verdes de C. madagascariensis para realizar estudos sistemáticos, fenológicos,
determinar síndromes de dispersão (VAN DER PIJL, 1982) e testes de germinação com as
sementes, assim como o crescimento das plantas. Outros municípios como Beberibe e Limoeiro do
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 371

Norte, por exemplo, que também exibem a problemática da bioinvasão da unha-do-cão nas matas
ciliares foram visitados para haver o registro fotográfico das invasoras nestes locais.
Análise em laboratório foi realizada no Laboratório de Ecologia (LABOECO) da UECE,
no Campus do Itaperi, localizado no Instituto Superior de Ciências Biomédicas. De acordo com a
chave de identificação para o gênero Cryptostegia (C. grandiflora e C. madagascariensis),
Klackenberg (2001) descreveu-se duas características distintivas principais: o tamanho do fruto e o
formato da corona da flor, o qual foram seguidos para chegar a uma classificação correta.
Sementes de frutos maduros e verdes de Cryptostegia madagascariensis foram utilizadas
nos testes de germinação. Para isso uma incubadeira de germinação de sementes foi utilizada e
regulada para apresentar fotoperíodo de 12h, variando a temperatura de 30˚C (dia) para 20˚C
(noite). As placas de petri revestidas internamente com papel filtro contiham sementes que foram
regadas com água destilada em dias alternados até que as plântulas se desprendessem das sementes.
Foram utilizadas 25 sementes da unha-do-cão para cada placa de petri, sendo 16 o total de placas,
ou seja, o experimento foi dividido em 4 grupos (A, B, C, D) de quatro placas cada. Nenhuma das
sementes passaram por tratamento prévio antes de serem colocadas para germinar nas placas de
petri.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos ambientes tropicais o regime de cheia dos rios e a oscilação do lençol freático exerce
importante influência sobre o encharcamento do solo, afetando diretamente a vegetação, definindo
espécies que ocorrem em condições mais úmidas e as que são encontradas apenas nas áreas mais
secas ao longo dos rios. Por este motivo, as matas ciliares, florestas ripárias, matas de galeria,
florestas beiradeiras, florestas ripícolas e florestas ribeirinhas são os principais termos encontrados
na literatura para designar formações que ocorrem ao longo dos cursos de água. Visto que os cursos
de água estão presentes em diferentes regiões, a vegetação ciliar é influenciada pelo clima, pela
topografia e pela formação florestal em que está inserida. Dessa forma, uma grande
heterogeneidade fisionômica, florística e estrutural é encontrada na mata ciliar (MARTINS, 2001).
Não é o caso típico da maioria dos rios do Nordeste do Brasil, os quais, devido á má
distribuição das chuvas e altas temperaturas, passam a ser intermitentes em alguns trechos e outros
chegam a desaparecer por completo na época seca, com isto, contribuindo para uma configuração
florística da mata ciliar, composta por poucas espécies, quando comparada como ambientes onde o
regime das chuvas é maior. Esta condição favorece a ocupação dos ambientes por algumas espécies
vegetais que são pouco exigentes, que tem uma grande eficiência no uso da água e ai passam a
competir entre si, ficando a área composto por pequeno número de espécies, dominando aquelas
mais sensíveis e levando-as ao completo desaparecimento, principalmente as espécies nativas.
Muitas destas plantas dominam sobre outras emitindo substâncias que inibem o crescimento de
outras. Este processo é conhecido como Alelopatia, que é a capacidade das plantas produzirem
substâncias químicas que podem influenciar outras, favorável ou desfavoravelmente, quando
liberadas no ambiente (MONTEIRO; VIEIRA, 2002). Essas substâncias alelopáticas estão
implicadas numa grande diversidade de efeitos nas plantas, tais como: atraso ou inibição completa
da germinação de sementes, crescimento paralisado, injúria no sistema radicular, murcha e morte
das plantas (CORREIA, 2002), sendo elas presentes em muitas plantas invasoras.
Nas áreas analisadas, percebe-se que a mata ciliar que compõem as margens da maioria
dos rios no Ceará esta invadida pela Cryptostegia madagascariensis ou unha-do cão, onde mistura-
se com outras espécies nativas, como a carnaúba (Copernica prunifera) e a oiticica (Licannia
rígida).
Segundo Ziller (2001), afirma que talvez o melhor indicador para caracterizar uma espécie
como sendo invasora é o fato desta já ter apresentado um registro de invasão em algum lugar do
planeta. Daí a importância da criação de listas de espécies invasoras nacionais e internacionais.
Segundo Starr (2003), a unha-do-cão foi levada da ilha de Madagascar para países
vizinhos, Nova Zelândia e Austrália, como planta ornamental. Depois passou a ser usada como
fonte de borracha natural. Quando usada com mais de um fim, maior tende a ser sua disseminação e
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seu potencial de invasão (ZILLER, 2001). Com o passar dos anos percebeu-se que a borracha
produzida era de péssima qualidade e de difícil manuseio, causando irritações na pele e nas vias
respiratórias dos trabalhadores. Por conta disso, ela deixou de ser utilizada e fugiu do controle dos
criadores, tornando-se uma problemática ambiental e sócio-econômica. A unha-do-cão ocupou as
florestas de eucalipto e áreas de pastagem, registrando na Nova Zelândia, em 1994, uma porção
invadida estimada em 40.000 km2 (TOMLEY e EVANS, 2004).
Diante dos prejuízos econômicos, principalmente relacionados à pecuária, com a perda de
pastagem para o gado, o governo da Nova Zelândia resolveu testar medidas de controle biológico
para conter o avanço daquela planta bioinvasora.
No GISP (2008) é possível encontrar a C. grandiflora fazendo parte da mais importante
listagem internacional de espécies invasoras, apontando sua ocorrência na Europa, Ásia, Oceania e
América Central, incluindo diversas ilhas. A sua ocorrência na América do Sul ainda é
desconhecida por muitos estudiosos do assunto. O caráter bioinvasor da unha-do-cão nos carnaubais
do Ceará é semelhante ao ocorrido na Austrália e Nova Zelândia. A característica de trepadeira
oportunista permite à unha-do-cão alcançar o topo das carnaúbas recobrindo a sua copa (Figura 1).
Desse modo, a planta invasora mata as carnaúbas por sombreamento e estrangulamento. O avanço
da planta invasora ocorre de maneira agressiva e rápida modificando a paisagem natural.
Cryptostegia madagascariensis é uma planta arbustiva de cerca de 3 metros de altura,
latescente, possui folhas opostas, simples, sem estípulas e com bordas inteiras. A inflorescência é do
tipo cima dicásio com flores lilás vistosas, bissexuadas, actinomorfas e diclamídeas. O cálice é
pentâmero, sendo a unha-do-cão dialissépala, com prefloração imbricada, corola pentâmera,
gamopétala e exibindo cinco elementos de corona corolino inteira (LIEDE e KUNZE, 1993). Cinco
estames epipétalos, anteras rimosas e pólen em polínias constituem a estrutura reprodutiva da flor.
De acordo com Gonçalves e Lorenzi (2007), plantas que produzem polínias são capazes de fecundar
um grande número de óvulos em um único evento satisfatório de polinização.

Figura 1: Aspecto da Cryptostegia madagascariensis envolvendo uma planta de


carnaúba com sete anos de idade. Ao término de mais dois anos, a carnaúba morrerá.

A flor é formada por dois ovários súperos e dois estiletes. A cabeça dos estiletes e as
anteras unem-se para formar o ginostégio (ENDRESS; BRUYNS, 2000), uma estrutura peculiar à
família Apocynaceae.
O fruto é do tipo folículo gêmeo seco deiscente, variando em comprimento de 6 a 9 cm
onde guardam, em média, 83 sementes comosas por folículo. Seguindo a chave de Klackenberg
(2001), o tamanho médio dos frutos e formato inteiro da corona corolino foram suficientes para
classificação da espécie estudada como sendo C. madagascariensis, comprovando que ―a
bioinvasão que ocorre às carnaúbas no município de Limoeiro do Norte, no Ceará é de C.
madagascariensis e não de C. grandiflora, como anunciado publicamente.‖ (DA SILVA,
BARRETO E PEREIRA, 2008).
O índice de germinação das sementes de frutos maduros de C. madagascariensis foi
considerado alto, uma vez que 91,25% germinaram, 8,75% não germinaram e 6,5% não
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germinaram devido à presença de fungos. A germinação das sementes teve início no 2° dia e
estendeu-se até o 9° dia. No 10° dia, 342 sementes exibiam folíolos, ou seja, 93,70% das sementes
germinadas. A dispersão das sementes é por anemocoria.
O índice de germinação das sementes de frutos verdes submetidas a tratamento prévio
(secas) foi considerado muito alto, 100% germinaram em 10 dias e nenhuma sofreu contaminação
por fungos. No 4º dia de observação do teste, todas as sementes já haviam germinado. A
germinação da primeira semente ocorreu após 24h do início do experimento. No 6° dia, 40% do
total de sementes germinadas já exibiam folíolos.
Os resultados comprovaram o alto poder germinativo das sementes de frutos verdes,
submetidas a tratamentos prévios, inclusive em relação às sementes de frutos maduros dessa espécie
invasora. Isso explica o alto potencial competitivo desta planta em ambientes naturais, de tal forma
que ao instalar-se no solo, estando o fruto maduro ou ainda verde, as sementes têm vigor para
atingir altos índices germinativos.O teste de alelopatia com extrato seco de folhas de C.
madagascariensis em estado de senescência evidenciou poder parcialmente inibitório sobre a
germinação da Lactuca sativa (alface alfa), espécie bioindicadora para este tipo de experimento. O
triturado de folhas presente no substrato aumentou o tempo necessário para germinação da alface,
ocorrendo emergência das primeiras radículas apenas no 4° dia de germinação. Já nas placas de
petri com substrato papel, ou seja, no grupo controle, a germinação teve início a partir do 3° dia. As
sementes de alface não germinadas submetidas ao extrato seco de folhas da unha-do-cão
permaneceram sem germinar, do 4° ao 7° dia. (Figura 2).

Figura 2 – Teste de alelopatia com extrato seco de Cryptostegia


madagascariensis.
Nas condições em que foi realizado o experimento, pode-se concluir que o extrato seco da
unha-do-cão reduz a germinação da espécie bioindicadora L. sativa em conseqüência de seus efeitos
alelopáticos. A presença da unha-do-cão no solo possivelmente influenciará na germinação do
banco de sementes de espécies nativas, intensificando a sua problemática como invasora.

CONCLUSÕES
Pelas características morfológicas da planta e com base nos estudos da flor e do fruto,
registramos a presença de C. madagascariensis em rápido avanço de ocupação, dominando os
bosques naturais de carnaubeiras no município de Aquiraz, Ceará. A característica de trepadeira
oportunista permite à unha-do-cão alcançar o topo da palmeira nativa recobrindo a sua copa, assim,
a planta invasora mata as carnaúbas por sombreamento e estrangulamento. O sucesso reprodutivo
da unha-do-cão, entre outras características, tende a desequilibrar o ecossistema, afetando de
maneira negativa as espécies locais da flora.
A influência da unha-do-cão sobre o crescimento em altura das carnaúbas aliada ao efeito
alelopático das folhas secas sobre a germinação da alface, permitiu comprovar uma de suas
estratégias competitivas, destacando o seu notório poder de invasão.
Comprova-se a boa viabilidade e a rápida germinação das sementes verdes de C.
madagascariensis submetidas a tratamento prévio, superando o elevado índice de germinação das
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 374

sementes provenientes de frutos maduros. Os testes de germinação confirmaram a boa adaptação, a


fácil disseminação e a rápida ocupação dessa planta exótica invasora aos ambientes por ela
invadidos.
Conhecer a biologia e a biogeografia das espécies invasoras, assim como as relações
interespecíficas é fundamental para controlar episódios de bioinvasão, fazendo surgir a necessidade
de investimentos na prevenção e no controle. Entretanto, quando a espécie invasora já está bem
adaptada e estabelecida no ambiente, medidas de controle precisam ser testadas em longo e médio
prazo, tornando-se mais difícil conter o seu avanço.

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INVENTÁRIO FAUNÍSTICO DO COMPLEXO ALUÍZIO CAMPOS


– CAMPINA GRANDE-PB

Bruno Halluan S. de OLIVEIRA


Estudante de Ciências Biológicas da Universidade Estadual da Paraíba
brunohalluan@hotmail.com
José da Silva BARBOSA
Biólogo – Fundação Universitária de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão
sjose45@gmail.com
Andréia Kethely M. SILVA
Estudante de Ciências Biológicas da Universidade Estadual da Paraíba
keth-girl@hotmail.com
Helder N. ALBUQUERQUE
Orientador. Biólogo. Doutorando em Agronomia CCA/UFPB/Areia
helderbiologo@gmail.com

RESUMO
Este estudo pretende expor um levantamento preliminar faunístico no Complexo Aluízio
Campos, em Campina Grande, Paraíba. A pesquisa, que ocorreu numa área de 30 hectares, foi
realizada no período de maio a julho de 2009 e fevereiro de 2010, através de buscas ativas e
armadilhas de queda. Os resultados revelaram a captura de 158 indivíduos, de 41 espécies,
compreendendo anuros, répteis, miriápodes e alguns tipos de insetos e aracnídeos. Tal inventário
visa à criação de um parque ecológico de preservação e um espaço destinado à educação ambiental.
PALAVRAS-CHAVES: Caatinga, biodiversidade, Complexo Aluízio Campos.

ABSTRACT
This study aims at showing the faunal preliminary survey in the Aluízio Campos Complex,
in Campina Grande city. The research occurred in an area of 18 hectares and it was carried out of
May 2009 at February 2009 through active search and pitfall. The results showed a catch of 158
individuals, of 41 species, including frogs, reptiles, myriapodes and some kind of insects and
arachnids. It can be noticed that despite little sample realized in a short time, this area has a big
wealth of animals species, emphasized the necessity of deeper studies and the immediacy creation
of preservation areas that will be called Horto Florestal Aluízio Campos.
KEYWORDS: Caatinga, biodiversity, Complex Aluizio Campos

INTRODUÇÃO
Na busca da conservação da biodiversidade e, em especial, da fauna selvagem, a prioridade
tem sido dada à preservação de ecossistemas naturais ou mesmo sua reconstituição. Desta forma,
pouca atenção tem sido conferida ao efetivo papel das áreas protegidas ou associadas destinadas a
criação de hortos florestais na manutenção da biodiversidade animal e vegetal. A presença da fauna
selvagem nessas áreas no bioma caatinga é um fato ainda pouco estudado e quase não existem
informações sobre a capacidade de adaptação das espécies a esse bioma e quais as dimensões de
nichos ecológicos podem ser preenchidas na caatinga (MIRANDA et al., 2008).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), 80% do território da caatinga foram
antropizados, apenas 7% se encontram em unidades de conservação e 1% em unidades de proteção
integral. Além disso, as unidade existentes enfrentam problema de monitoramento e
implementação, como também o uso indiscriminado de sua fauna e flora.
A redução da vegetação original e fauna característica do Bioma Caatinga, determinada
pelos processos degenerativos resultantes da desordenada atividade humana sob estes ambientes em
áreas urbanas, não representam boas perspectivas para a conservação, visto que a perda da
diversidade biológica e genética gera redução na capacidade de adaptação das espécies às mudanças
ambientais, aumentando drasticamente as possibilidades de extinção.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 377

O conhecimento da situação inicial de uma determinada área de estudo que se encontra


degradada é fundamental para a elaboração do diagnóstico e planejamento de projetos que busquem
a transformação desta realidade (LIMA et al., 2003).
Poucos inventários biológicos já foram realizados na Caatinga, e em especial no Estado da
Paraíba, o que compromete diretamente o real conhecimento da diversidade biológica deste bioma,
pré-requisito essencial para a elaboração de planos de manejo e conservação (LEAL et al., 2005
apud MARQUES, 2007).
De forma a suprir parte destas necessidades, foi estabelecido um estudo para inventariar e
mapear a ocorrência de espécies de grupos ecológicos representativos na área do Complexo Aluizio
Campos na cidade de Campina Grande-PB. Este estudo executou inventários rápidos da fauna
dentro da área citada, gerando conhecimento científico sobre a biodiversidade e subsídios para a
elaboração dos planos de conservação e implementação do Parque e Horto Florestal Aluizio
Campos.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O estudo foi realizado no município de Campina Grande que está assentado sobre uma área
de 970 km2. A cidade situa-se a uma altitude de aproximadamente 550 metros acima do nível do
mar, na região oriental do Planalto da Borborema, distante 130 km da capital do Estado, João
Pessoa, cuja vegetação nativa engloba áreas de Caatinga. A temperatura média anual oscila em
torno dos 22 graus centígrados, podendo atingir 30°C nos dias mais quentes e 15°C nas noites mais
frias do ano. A umidade relativa do ar, na área urbana, varia entre 75 a 83%.
A cidade situa-se na fronteira entre microrregiões de clima e vegetação diferentes. Ao
nordeste, a paisagem é verde e arborizada, típica do brejo presente nas partes mais altas do planalto.
Ao sudeste, encontra-se uma paisagem típica do agreste, com árvores e pastagens. As regiões oeste
e sul do município são dominadas pelo clima e vegetação do Cariri, com vastas áreas de vegetação
rasteira (Caatinga) e clima seco. (IBGE, 2008).
O crescimento desordenado desse município provocou a ocupação de terrenos
desobedecendo às normas ambientais, invadindo locais susceptíveis e importantes para a
conservação de seus recursos biológicos. O resultado foi a redução das áreas de mata conservada
com fins ecológicos, paisagísticos, recreativos e que possam diminuir o superaquecimento do ar
atmosférico, como conseqüência temos o surgimento de uma ―Ilha de calor‖ na sede do município.
Um exemplo das consequências enfrentadas por conta desse crescimento é o estado que se
encontra o terreno da Fundação Universitária de Apoio a Pesquisa, Ensino e Extensão (FURNE)
que possui 30 hectares e localiza-se entre a Avenida Senador Argemiro de Figueiredo, as margens
da BR 104.

Figura 01. Mapa do Brasil com o detalhe para o município de Campina Grande-PB
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 378

A área com dois hectares está sendo destinada à construção de um Memorial ao ex-
promotor e ex-deputado federal Aluízio Afonso Campos, que morreu em 2002, deixando em
testamento essa área total de 30 hectares, a Fundação Universitária de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Extensão (FURNE), com fins ligados ao meio científico e a projetos relacionados à educação
ambiental, beneficiando também a população e a comunidade local (QUEIROZ et al, 2009; SILVA
et al, 2009).
O estudo contemplou duas localidades no Complexo Aluízio Campos, ambas com área de
100 m, e foi realizado através de buscas ativas, com o uso de armadilhas de solo (pitfalls) e
observações do ambiente.
O primeiro local situado 7° 16 ' 54,5'' S e 35° 53' 13''W, é delimitado a leste pela BR 104 e
possui um lago rodeado por uma área aberta, com predominância de gramíneas.
O segundo, localizado a 7° 16' 34'' S e 35° 53' 7,8'' W, também possui um lago, e a
vegetação é arbustiva havendo a presença de bastante folhiços e pedras em alguns pontos.

Etapa de campo

Os inventários biológicos realizados seguem o Programa de Avaliação Rápida (RAP)


desenvolvido pela Conservation International (MARTINS, BERNARD e GREGORIN, 2006), que
consiste na execução de estudos de curta duração, focados no registro do maior número possível de
espécies em grupos pré-determinados de organismos em áreas pouco conhecidas.
O objetivo desta abordagem não é gerar uma lista completa de espécies para os locais
visitados, mas sim fornecer dados primordiais sobre a diversidade de uma área, para que estes sejam
disponibilizados rapidamente, seja para embasar futuros estudos ou para iniciativas emergenciais de
conservação.
Para este estudo foi estabelecido que as amostragens devessem ficar restritas a uma linha
amostral a partir do ponto estabelecido e que esta receberia um esforço de 12 horas de inventário.
As espécies inventariadas foram amostradas ao longo de trilhas no meio da vegetação através de
busca ativa e a orientação destas trilhas foi feita de modo a cobrir a maior diversidade possível de
habitats.
As observações foram realizadas no período vespertino, utilizando coletas de vestígios
diretos ou indiretos, encontros visuais, auditivos e registro fotográfico. Além disso, foram
registradas a presença de ações antrópicas e a incidência de espécies vegetais conhecidas pelos
observadores e representativos do ambiente.
No primeiro transecto, foram realizadas somente buscas ativas semanais das 08h30minh às
10h30minh da manhã, durante o período de 20 de maio a 29 de julho de 2009.
No segundo transecto, foram colocadas 20 pitfalls traps dispostas em duas fileiras de 20m
de comprimento cada e com distancia entre as linhas de 10m. Dentro de uma fileira, foram
colocadas 10 armadilhas, distanciando-se 2m uma das outras, e foram conectados pela a cerca-guia,
feita com uma lona com 10 cm de altura. Para a confecção das armadilhas, foram utilizadas garrafas
PET de 2L cortadas ao meio (20 cm de profundidade). Foi utilizados pedaços de ferro para prender
a lona ao solo e pedaço de bambu com 15 cm de altura para sustentação das caixas de ovos que
serviam como cobertura das armadilhas, impedindo assim que o sol e chuva penetrem diretamente.
As armadilhas ficaram instaladas no local e permaneceram durante o período de 06/02 a 02/03/10 e
foram efetuadas 14 vistorias. Foi realizada apenas uma busca ativa no dia 20/02/10, com duração de
duas horas. Em duas ocasiões, após a vistoria das armadilhas, foram feitas buscas nas proximidades
das armadilhas.
Nas varreduras, a procura pelos espécimes ocorreu ao vasculhar pedras e telhas
empilhadas, fezes bovinas e folhiço, e à observação da vegetação local. Todos os animais avistados
passíveis de identificação através da observação foram registrados. Para a identificação dos
espécimes foram utilizados Maury (1982), Albuquerque et al (2004), Freitas e Silva(2007), Batista
(2008) e Nogueira et al.(2008).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 379

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante esse levantamento preliminar, foram capturados 150 espécimes e 08 observadas


no local, totalizando 158 indivíduos.
Dentre os animais capturados, 105 foram através de armadilhas de queda, compreendendo
31 táxons. Sendo que a maioria era composta por escorpiões dos gêneros Bothriurus e Rhopalurus
Na linha A foram encontrados 56 indivíduos de 14 espécies. Já na linha B, pode-se observar a maior
variedade de espécies (17), porém havia 49 representantes. Nesta linha, chamou a atenção o
encontro de três espécies de lagartos e do anuro Dermatonotus muelleri, conhecida como rã-
manteiga. Provavelmente isso se deve à proximidade da linha B com a vegetação fechada e algumas
pedras, que podem servir de abrigo para os animais.
Com relação aos representantes encontrados nas buscas ativas, pode-se ver a maior
variedade de répteis e escorpiões. Quanto aos escorpiões, no primeiro transecto foram capturados
apenas indivíduos da espécie Tityus stigmurus, fato explicado pela maior interferência do homem
nesse local; no segundo local, foi encontrado apenas um T. stigmurus, predominando os Rhopalurus
sp e Bothriurus sp, demonstrando pouca ação humana nessa área.
Quanto aos répteis, se compararmos com o levantamento de répteis realizado por Barbosa
et al (2007) em uma área de vegetação arbórea de transição pode-se dizer que o resultado obtido no
Complexo Aluízio Campos foi bastante positivo, pois através de varredura foram encontrados 6
espécies de serpentes e 9 de lagartos; já através de pitfall, nove de serpentes e 10 de lagartos. Em
outras pesquisas feitas em área de caatinga, as localidades melhor amostradas na Paraíba,
continham o máximo de nove serpentes, 16 lagartos e oito anuros (RODRIGUES, 2003).
Além disso, a presença de espécies pouco estudadas, como o Diploglossus lessonae mostra
que ainda há muito que descobrir na Caatinga.
Ao contrário de que alguns autores diziam sobre a caatinga, essa pequena amostra
realizada em um período reduzido já pode demonstrar a riqueza desse bioma.
Analisando a Tabela 01, pode-se ter uma visão preliminar do Complexo, pois é possível
perceber um nível de preservação considerável. Isso porque foram encontradas várias espécies de
animais que são indicadoras ambientais como expressos no Quadro 01.

GRUPO Nº DE ESPÉCIES Nº DE INDIVÍDUOS


Anura 4 7
Lagartos 7 19
Escorpiões 5 38
Diplópoda 2 5
Quilópoda 1 10
Serpentes 5 9
Aranhas 5 19
Opiliões 2 2
Insetos 10 49
TOTAL 41 158
Tabela 01. Resultado com o número de espécies e indivíduos de cada grupo capturados.

Entre os indicadores, podemos destacar os anuros, que são extremamente sensíveis às


mudanças ambientais (LOEBMANN, 2005).
Também vale citar o lagarto Anotosaura vanzolinia, que nunca é encontrado em áreas
abertas, somente em locais que tenham condições especiais, com vegetação que propicie um clima
mais ameno (RODRIGUES, 2003; DELFIM e FREIRE, 2007). E os escorpiões dos gêneros
Bothriurus e Rhopalurus costumam ser muito exigentes no que se diz respeito às condições
ambientais (NOGUEIRA et al., 2008).
Além disso, a quantidade de insetos e miriápodes pode ajudar a avaliar a ―saúde‖ do
ambiente. Isso porque a macrofauna do solo participa modificando a estrutura e composição do
solo, agindo diretamente na ciclagem orgânica do ambiente e influenciando na disponibilidade de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 380

nutrientes assimilados por plantas e outros seres. (LAVELLE, 2002; SILVA et al, 2006). Por isso
são chamados de ―engenheiros do ecossistema‖ (AQUINO e CORREIA, 2005).

GRUPO ESPÉCIME Nº DE INDIVÍDUOS HÁBITOS


Dermatonotus muelleri 2 Terrestre

Leptodactylus ocellatus 3 Terrestre


Anura
Chaunus jimi 1 Terrestre
Scinax eurydice 1 Arborícola ou terrestre
Tityus stigmurus 6 Terrestre
Escorpiones Bothriurus sp 19 Terrestre
Rhopalurus sp 13 Terrestre
GRUPO ESPÉCIME Nº DE INDIVÍDUOS HÁBITOS
C
Anotosaura vanzolinia 3 Semi- fossorialontinua...

Anotosaura vanzolinia 3 Semi- fossorial

Diploglossus lessonae 4 Fossorial

Tropidurus hispidus 5 Terrestre


Lacertilia
Tropidurus semitaeniatus 2 Terrestre

Iguana iguana 1 Arborícola

Tupinambis merianae 2 Terrestre


Gymnodactylos gekoides 1 Terrestre
Oxyrhopus trigeminus 2 Terrestre

Philodryas olfersii 3 Terrestre ou semi-arborícola


Ophidios
Philodryas nattereri 1 Terrestre

Liophis poecilogyrus 2 Terrestre


Epicrates assisi 1 Terrestre
Scutigera sp 10 Terrestre
Miriápoda
Diplópoda 5 Fossorial
Lasiodora parahybana 2 Terrestre

Acanthoscurria sp 4 Terrestre
Aranae
Lycosa sp 4 Terrestre
Outras aranhas 9 Terrestre
Opliones Opiliões 2 Terrestre
Phibalosoma sp 1 Arborícola

Insecta Dinoponera sp 14 Terrestre

Outras formigas 6 Terrestre


A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 381

Lepidóptera (lagarta) 1 Arborícola

Orthoptera (grilos) 13 Terrestre

Coleóptera 5 Terrestre

Baratas 9 Terrestre
Tatuzinho-de jardim 1 Terrestre
Total 158
Quadro 01. Espécimes capturados no Complexo Aluizio Campos, Campina Grande-PB.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de muito tempo a caatinga foi vista como um bioma pobre em diversidade,
porém, é o menos conhecido do país, e pouco valorizado. Devido à fisionomia seca e pálida
apresentada por este ecossistema durante o período de estiagem, criou-se uma cultura de
desvalorização, na qual podem desmatar e degradar a Caatinga, porque não estarão perdendo nada.
Com os resultados apresentados por este trabalho, pode-se notar que, apesar da pequena
amostra realizada em um curto período, essa área possui uma grande riqueza de espécies animais;
salientando a necessidade de estudos mais aprofundados e a necessidade de criação de área de
preservação como um Horto Florestal.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 383

LEVANTAMENTO DA COMUNIDADE ZOOPLACTÔNICA DE


UM ECOSSISTEMA LACUSTRE NATURAL-URBANO DA
CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB

CASTRO, A. W.
Universidade Federal da Paraíba Campus IV, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rua da
Mangueira s/n,58.297-000, Rio Tinto,Paraíba Brasil.
waleskadecastro@hotmail.com
NASCIMENTO, P.D.
Universidade Federal da Paraíba Campus IV, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente, Rua da
Mangueira s/n,58.297-000, Rio Tinto,Paraíba Brasil.
LIMA-SILVA, L.
Universidade Federal da Paraíba, Campus I/ CCEN
CRISPIM,C.M.
Universidade Federal da Paraíba, Campus I/ CCEN

RESUMO
Objetivando avaliar biodiversidade da comunidade zooplanctonica em um ecossistema
lacustre Parque Sólon de Lucena-João Pessoa-PB. Por serem bioindicadores faz necessário o
levantamento da biodiversidade dos zooplanctons na limnologia para analisar como o ecossistema
está respondendo a ação humana sobre o seu corpo d‘agua.Onde foram feitas duas coletas no ano de
2009,sendo a primeira no período de seca realizada no mês de fevereiro e no mês de Outubro
período de chuva, foram demarcados 3 pontos de coleta sendo um dos pontos afetado por
lançamento de esgoto orgânico, para assim se ter um melhor resultado. Com o levantamento da
identificação das comunidades zooplactônicas existente nesse ecossistema, mostrou-se uma grande
baixa na biodiversidade zooplanctônica, isso se dá por ser um recurso hídrico bastante propício a
ação antrópica. Caracteriza a parte física do ecossistema aquático, onde é feita a relação dos
parâmetros físicos com a parte biótica do ambiente, obtendo-se fatores ecológicos que leva a
adquirir um diagnostico preciso da lagoa. Com os parâmetros necessários para se fazer esse estudo
obtivemos um resultado negativo da qualidade da água da Lagoa, entre os parâmetros físicos a
transparência se deu um pouco alta além do normal, conseqüência da drenagem feita nessa época.
Observou-se uma abundância no gênero Rotifera e Copepoda, sendo esses, mais resistentes a
poluição. Onde a espécie Ephifanea senta se mostrou com maior freqüência em todos os pontos.
Com a ausência dos Cladoceras concluímos que a Lagoa Parque Sólon de Lucena está totalmente
poluída, sendo esse recurso hídrico prejudicado pela ação antropica.
PALAVRAS-CHAVE: Zooplancton, identificação, lagoa.

ABSTRACT
Aiming at to evaluate biodiversity of the zooplanktonic community in a lacustrine
ecosystem Sólon de Lucena Park - João Pessoa - PB. For they be bioindicators make necessary the
rising of the biodiversity of the zooplanktons in the limnology to analyze how the ecosystem is
answering to the human action on its body of water. Where was made two collections in the year of
2009, being the first in the drought period accomplished in the month of February and in the month
of October rain period, 3 collection points were demarcated being one of the points affected by
launching of organic sewer, for have a better result. With the rising of the identification of the
existent zooplaktonics communities in that ecosystem, a great decrease was shown in the
zooplanktonic biodiversity, for being a hydric resource quite favorable to the anthropic action. It
characterizes the physical part of the aquatic ecosystem, where it is made the physicist parameters
relationship with the biotic part of the atmosphere, being obtained ecological factors that takes to
acquire a precise diagnose of the Lake. With the necessary parameters to do that study obtained a
negative result of the quality of the water of the Lake, among the physicist parameters the
transparency felt a little high besides the normal, consequence of the drainage done in that time.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 384

Abundance was observed in the Rotiphera and Copepoda genders, being those, more resistant to the
pollution. Where the Ephiphanes senta species showed more frequently in all of the points. With
the absence of Cladoceras we concluded that Sólon de Lucena's Park is totally polluted, being that
hydric resource harmed by the anthropic action.
KEYWORDS: Zooplankton, Identification, Lake

1.INTRODUÇÃO
Localizado em área urbana e densamente povoada, o ecossistema aquático sofre
intensamente com as atividades antrópicas. A formação de grandes aglomerados urbanos e
industriais, com crescente necessidade de água para o abastecimento doméstico e industrial, além de
irrigação e lazer, faz com que, hoje, a quase-totalidade das atividades humanas seja cada vez mais
dependente da disponibilidade das águas continentais. Além disso, grande parte dos efluentes
domésticos e industriais é lançada diretamente nos corpos d‘água, reduzindo ainda mais a
possibilidade de utilização dos recursos hídricos (ESTEVES, 1998).
Os reservatórios urbanos apresentam restrições quanto ao seu tamanho e oscilam desde
pequenos açudes até outros com milhões de metros cúbicos (STRAKRABA; TUNIDISI, 2000). Os
estudos limnológicos da comunidade zooplanctônica, junto com os fatores abióticos e antrópicos
são de suma importância para o conhecimento e caracterização de uma lagoa urbana. Constatou-se
que, em decorrência da expansão urbana, as lagoas perderam as características de natureza primitiva
e ganharam outras de natureza transformada, substituindo a cobertura vegetal natural pela
arborização urbana; o solo pela cobertura de asfaltos e os riachos por galerias de águas pluviais
sintetizando, assim, os novos aspectos da geomorfologia urbana. O entorno das lagoas foi ocupado
por praças, prédios públicos e particulares, causando degradações consideráveis (MEDEIROS,
2009).
A comunidade zooplanctônica é caracterizada por um conjunto de organismos aquáticos
(protozoários, rotíferos, cladóceros e copépodos) que não têm capacidade fotossintética e que vivem
dispersos na coluna de água, apresentando pouca capacidade de locomoção (são, em grande parte,
carreados pelas correntes aquáticas). Estas espécies respondem rapidamente às diferentes condições
ambientais das massas de água, tais como temperatura, condutividade, pH e concentrações de
nutrientes, determinam em conjunto um―envelope‖ de condições em que se desenvolve estes
organismos, tornando-os excelentes Bioindicadores, seu tamanho varia desde 40 µm a 2,5 cm
(TUNDISI, 1997). O zooplâncton limnético apresenta baixa diversidade específica, mas pode
apresentar elevada densidade populacional, sendo consumidores primários herbívoros (CUTOLO,
1996).
O crescimento da malha urbana e sua proximidade destes corpos hídricos, em alguns casos,
transformaram- nos em elementos não mais da paisagem natural, mas sim, unidade da paisagem
urbana, transmutando por vezes a sua funcionalidade no espaço. Se, durante um determinado
período, os reservatórios tinham a função hídrica local, em alguns espaços passaram a funcionar
como verdadeiras ―lagoas‖ de desgastes de esgoto urbano sem tratamento (in natura), sendo este
um dos principais fatores de depleção da qualidade da água em reservatórios urbanos no Brasil e no
mundo (TUCCI, 2002). Essa realidade foi encontrada na Lagoa do Parque Sólon de Lucena
localizada no centro da cidade de João Pessoa e o estudo da sua biodiversidade zooplanctônica com
os parâmetros abióticos, forneceram dados importantes sobre o mecanismo de transferência de
energia, regeneração e transporte de nutrientes, sendo a estruturação dessa comunidade resultante
dos processos de colonização da mesma (ARMENGOL, 1980, CASABLANCA; SENDACZ,
1985).
Os dejetos do centro da cidade de João Pessoa, principalmente os do Mercado Central,
são lançados na Lagoa de uma forma irregular. Caracteristicamente lagoas urbanas estão
submetidas a grandes pressões pelas populações existentes no seu entorno e a qualidade da água
esta intimamente ligada às condições higiênicas e econômicas ali presente, o aumento das
atividades humanas impactantes e o contínuo crescimento populacional nessa área tem levado o
ecossistema a níveis cada vez mais elevados de poluição. Para promover uma avaliação do impacto
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 385

ambiental real da localidade e seu grau de autodepuração, faz-se necessário a analise desses
invertebrados, não só pelo fato deles ocorrerem em vários ambientes, permitindo assim a elevada
gama de comparação e análise, como também porque muitas espécies sensíveis a alterações
ambientais podem ser utilizadas como indicadores e monitoras da saúde desse ecossistema lacustre.
Este estudo vem a analisar quantitativa e qualitativamente a comunidade zooplanctônica que
caracterizam o presente ambiente, a fim de complementar a avaliação da qualidade da água e
detectar os efeitos negativos a médio e longo prazo.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 –Área de estudo

FIGURA 1: Área de estudo Parque Sólon de Lucena- João Pessoa-PB. Os círculos em


cores exemplificam os pontos de coleta. Ponto 1 – vermelho; Ponto 2 – azul e Ponto 3 – verde.

Na administração do governador Sólon de Lucena, por volta de 1922 (Rodriguez,


1992), a velha lagoa foi, finalmente, transformada em parque público. Daí surgiu a denominação
Parque Sólon de Lucena, em homenagem ao governador da época (Cabral, 1998). É área tombada
pelo IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba) desde 26 de
agosto de 1980 (CAMELO,2009). É responsável por parte considerável da movimentação
econômica da cidade por meio de lojas de departamento, escritórios, bancos, principalmente, por
causa do comércio informal que se amplia dia a dia. O parque ainda guarda a característica de um
bairro residencial e é um lugar ideal para a prática de esportes, como, a caminhada, ciclismo e
corrida (GOMES, 2009). Localiza-se geograficamente com latitude de 7° 9'1.96"S e longitude de
34°51'44.03"O (Google Earth, 2009). Possui uma profundidade média variável entre 0,20 a 2,80
metros (second-jp, 2009). Mesmo se tratando de um ecossistema de elevado valor ambiental e
social, poucos foram os trabalhos realizados em suas águas, citando apenas: Paz (1986) que estudou
a produtividade primária e seus fatores ambientais; e, os parâmetros limnológicos básicos da Lagoa
(1996); estudos da SUDEMA (1990 e 1991) com informações sobre o monitoramento de suas
águas; Lima-Silva (2003), que realizou estudos de sobrevivência de zooplâncton (Daphnia similis)
nas águas deste ambiente em duas estações climáticas diferentes do ano.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 386

2.2 Coleta do zooplanctônico


As coletas foram realizadas no ano de 2009 em dois período climáticos distintos sendo o
primeiro no mês de Fevereiro e o segundo no mês de Outubro, por se ter uma mudança sazonal,
mostrando-se no mês de fevereiro seco e no mês de outubro época chuvosa. Inicialmente foram
determinados três pontos de coleta, cada um com três réplicas, para a análise do zooplâncton
(Figura 1). Utilizou-se uma rede de plâncton com abertura de malha de 4mm, para a filtragem (30 L
de água) e captura dos espécimes a serem identificados em laboratório. Todas as amostras foram
fixadas com formol a 4%, armazenadas em recipientes plásticos de capacidade de 10 ml,
previamente identificados e etiquetados. Em paralelo, foram verificados os valores de temperatura
(termômetro eletrônico), condutividade (condutivímetro) e transparência da água (disco de Secchi).

2.3 – Identificação laboratorial do zooplâncton


Foram analisados os indivíduos de maior predominância encontrados nas amostras, a
qual foi realizada com a utilização de uma placa de contagem, pipeta graduada, microscópio óptico
comum e manuais de identificação: Elmoor-Loureiro,Lourdes Maria Abdu,1997-KOSTE,Walter,
1978.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Fatores abióticos
A lagoa do Parque Sólon de Lucena, semelhantes a outras lagoas localizadas em
áreas que sofre constante influência antrópica apresentou valores alarmantes. A menor temperatura
foi registrada no mês de Outubro no P1, com 25°C, se tratando de época chuvosa e a maior foi
registrada no mês de fevereiro (verão) no P3, com 32,9°C . O valor mínimo de transparência foi
registrado em Outubro no P3, com 18cm, esse valor pode ser explicado pelo fato da lagoa estar
passando por um processo de drenagem, na qual deixou o seu nível bem abaixo do normal,
acentuando assim, o processo de eutrofização que lá ocorre e o valor máximo foi registrado em
Fevereiro no mesmo ponto, com 59cm. O oxigênio dissolvido foi obtido com menor valor em
Fevereiro no P1, com 5,1 mg/l, abaixo dos padrões aceitáveis (CONAMA, 1986) .

3.2 – Comunidade Zooplanctônica


No presente estudo, observou-se que a comunidade zooplanctônica apresentou baixa
diversidade, o que é fato característico de ambiente lacustre, em águas doce a diversidade
zooplanctonica é mais baixa do que em águas marinhas, por questão da salinidade. Foi observado
que na segunda coleta (Outubro) houve uma maior abundância do gênero Rotífera. Entre os
Rotíferas,a espécie Ephifanea senta apresentou uma maior predominância, principalmente no P3. O
que demonstrou que essa espécie é mais resistente as variações encontradas nos diferentes
ambientes estudados na lagoa. Uma maior riqueza de táxons do grupo Rotífero é um fato bem
relatado em ambientes de água doce, tanto lênticos como lóticos (Lansac Tôha et al., 1992,
Sendacz, 1993; Nogueira & Matsumura-Tundisi,1996; Nunes et al., 1996; Landa, 1997,entre
outros). Isto se deve ao fato de ser um grupo composto por organismos mais oportunistas que os
Cladoceras e Copepoda (Allan,1976). Tanto Rotífera como Copepados em ambientes eutrofizados
artificialmente que vem a ser o caso da Lagoa em estudo, tem maior abundância relacionado aos
Cladoceras, pois possui maior resistência a poluição aquática enquanto que os Cladoceras são mais
sensíveis a poluição. Como se ver no gráfico (Figura 2), na segunda coleta a presença de Rotifera é
bem mais expressiva, isso se dar por ser no período de seca, onde o ambiente se mostrou bastante
eutrofizado não só com a eutrofização natural,pela própria condição ambiental, mas sim uma
eutrofização artificial,virtude da ação humana.Naturalmente no período seco ocorre um decréscimo
no nível das águas,o que acentua a deposição e maior observação de poluentes,em principal nos
pontos P1 e P2, onde ocorre os lançamentos de esgotos e forma clandestina e ilegal.( PAZ,J.R.
1996)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 387

200

150

100 1P1
1P2
50
1P3
0
2P1

Notholca…

Brachionus…
Copepodo…

Keratella…
Keratella…

Dicanophows

Brachionus falcatus
Naúplio

Latenzei
Keratella tropica
Keratella valga

Ornata myers
Epiphanes senta
Copepodita II
Copepodita I

Forficula trachea
2P2
2P3

Figura 2:Frequência da distribuição de cada espécie de zooplâncton em uma ano de


estudo.

Os Copepoda apresentaram uma baixa riqueza de espécie e a abundância observada


foi, sobretudo, devido aos estágios juvenis de náuplios e copepoditos sendo raros os representantes
na forma adulta. Os copepodas calanóides apresentaram uma maior representação na segunda
coleta, sobretudo observado no P3. Alguns autores citam que copépodes calanóides assumem
menores proporções em ambientes mais eutrofizados que copépodes ciclopóides e cladóceros
(Gannon & Stemberger, 1978). A relação entre as duas ordens de copépodes (Calanoida e
Cyclopoida) foi analisada em reservatórios do Estado de São Paulo (Tundisi et al., 1988) e
demonstrou ser baixa (com abundância de ciclopóides) em ambientes eutrofizados e alta (com
abundância de Calanoida) em reservatórios menos eutróficos. As espécies Keratella valga, K.
cruciformes, K. cochlearis, K. tropica, Dicanophows, Notholca cabeislabis, Brachionus falcatus, B.
leydigi rotundus, Forficula trachea, Ornata Myers, Latenzei poderão ser usada como indicadores
de condições ecológicas especifica existentes na lagoa. A espécie K. cochlearis indica possíveis
condições de eutrofização do sistema aquático ( CUTOLO,1996) e K. tropica como indicadora de
ambientes menos autrofizados.(COELHO-BOTELHO,2003).
Tento a comparação entres as duas épocas sazonais, mostrou que mesmo no período
onde a lagoa deveria mostrar-se oligotrofica, a mesma não apresentou a presença de Cladocera,
demonstrando assim que o ambiente não está expressando uma boa qualidade de água e uma baixa
biodiversidade de comunidades zooplanctonicas. Implica que o ambiente por se ter foco de esgoto
orgânico, modificou as características físicas e químicas da água, acarretando assim uma maior
concentração de nutrientes e uma diminuição na concentração de oxigênio.

4. CONCLUSÃO
Diante do estudo das comunidades zooplanctônica e de todas as análises realizada
está claro que o lançamento de esgoto na Lagoa do Parque Sólon de Lucena está afetando de
maneira agressiva a qualidade da água e alterando o ecossistema natural. Sendo observado com
maior freqüência a espécie Ephifanea senta, isso vem reforçar o que se apresentou anteriormente,
pois trata-se de uma espécie eficientemente resistente a poluição aquática.
Tornando essas águas impróprias para uso, formando assim uma problemática nesse
recurso hídrico onde irá afetar a saúde da população e em principal os organismo que está contido
nesse ambiente lacustre.

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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 390

MACROBENTOS DE DOIS COSTÕES ROCHOSOS ANTES E


DEPOIS DA INVASÃO DO Isognomon bicolor (C. B. ADAMS, 1845)
NA BAÍA DE BENEVENTE (ES)

SILVA, C. N.
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, ICB, UFJF
cagreenleaf@hotmail.com
SILVA, C. C. da
Biólogo voluntário do Núcleo de Estudos de Biomas Costeiros, Departamento de Zoologia,
ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG
clesio.bio@bol.com.br
CASTRO, G. A.
Prof. MSc./Orientador. Departamento de Zoologia, Núcleo de Estudos de Biomas
Costeiros, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, CEP 36036-900, Juiz de Fora, MG
gilalex@terra.com.br

ABSTRACT
Communities from rocky coasts, mainly the species on incrustations in the mesolitoral
region, occur in wide, dense and very well defined mobile belts, known as zones. This work had as
its objective to identify the behavior of the macrofauna with the presence of the invasive bivalve
Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845), on rocky coasts at Itaoca and Itaipava beaches in the
Benevente Bay (ES), during a period from 2005 to 2009. The collections were carried out on May
27 th (1 st collection) and on October13 th of 2005 (2 nd collection), on May 05 th of 2007 (3 rd
collection) and on July 21 st of 2009 (4 th collection). For the collections on the mesolitoral, along a
10 meter horizontal transect, there were 5 samples randomly established from the superior
population and 5 samples from the inferior population, by scratching the interior of each one of the
stripe marked with the aid of an aluminum sampler with 10cm X 10cm of area, and keeping the
samples inside zip zap bags. The species found were Brachidontes solisianus, Perna perna,
Collisella subrugosa, Chthamallus bisinuatus and Isognomon bicolor. The populations are
behaving identically with an increase in C. bisinuatus, although it also has been occurring an
expressive increase in I. bicolor in both rocky coasts.
KEYWORDS: Intertidal, benthos, estuary

RESUMO
As comunidades de costões rochosos, sobretudo as espécies incrustantes da região
mesolitorânea, desenvolvem-se em cinturões amplos e densos bem marcantes, conhecidos como
zonas. Este trabalho teve como objetivo identificar o comportamento da macrofauna com a presença
do bivalvo invasor Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845) em costões rochosos das praias Itaoca e
Itaipava na baia de Benevente (ES) no período de 2005 a 2009. As amostragens foram feitas nos
dias 27 de maio (1a amostragem) e 13 de outubro de 2005 (2a amostragem), 05 de maio de 2007 (3a
amostragem) e 21 de julho de 2009 (4a amostragem). Para as coletas no mesolitoral foram
demarcados ao longo de 10 metros do transecto horizontal 5 amostras aleatórias no povoamento
superior e 5 amostras aleatórias no povoamento inferior efetuando raspagens no interior de cada
uma das faixas marcadas por meio de um amostrador de alumínio com 10cm X 10cm de área, sendo
as amostras inseridas no interior de sacos zip zap. As espécies presentes foram: Brachidontes
solisianus, Perna perna, Collisella subrugosa, Chthamallus bisinuatus e Isognomon bicolor. As
populações estão se comportando de maneiras idênticas com um aumento de C. bisinuatus embora
tenham ocorrido um aumento expressivo de I. bicolor em ambos os costões rochosos.
PALAVRAS-CHAVE: Mesolitoral, bentos, estuário.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 391

INTRODUÇÃO
A introdução de espécies exóticas é considerada um dos principais fatores responsáveis por
alterações na biogeografia de espécies. A introdução afeta diretamente a interação entre as espécies,
a ciclagem de nutrientes e o fluxo de energia o que resulta em grandes conseqüências para toda a
comunidade (CARLTON, 2001). Em ecossistemas marinhos, a introdução é muito comum e causa
sérios danos ao ambiente (LAFFERTY et al., 1996).
Espécies exóticas vêm sendo introduzidas pelo homem em ambientes marinhos há vários
séculos, transportadas nos cascos de navios por incrustação. Além disso, a transferência de
organismos também ocorre através da água de lastro, maricultura, aqüicultura e plataformas de
petróleo. Faz-se necessário conhecer a atual população de I. bicolor no litoral sul do Espírito Santo,
contribuindo para a compreensão da dinâmica de interações de uma invasão biológica recente,
evitando danos maiores à comunidade litofílica, e também possibilitando a apresentação de dados
inovadores.
Segundo Lopes et al. (1994) a presença desses cinturões formados por invertebrados como
cracas, mexilhões e ostras, além de espécies vegetais (algas), favorece a ocorrência de uma grande
quantidade de espécies menores (fauna vágil ou acompanhante) que aproveita os diversos
microhabitats formados.
Investigações sobre comunidades bênticas têm sido propostas como instrumentos
essenciais em programas de biomonitoramento para a avaliação da qualidade ambiental, sendo
capazes de orientar medidas mitigadoras para os efeitos negativos de empreendimentos implantados
em zonas costeiras e de fornecer subsídios práticos para o gerenciamento desses ambientes
(WARWICK et al., 1989).
Este trabalho teve como objetivo identificar o comportamento da macrofauna com a
presença do bivalvo invasor Isognomon bicolor (C. B. Adams, 1845) em costões rochosos das
praias Itaoca e Itaipava na baia de Benevente (ES) no período de 2005 a 2009. Assim, os aspectos a
serem considerados foram: abundância, e morfometria do bivalvo Isognomon bicolor.

MATERIAIS E MÉTODOS
Os balneários de Itaipava (20o 53‘30,5‖S e 40o 46‘ 4‖ W) e Itaoca (20o 54‘18,3‖ S e 40o
46‘ 36,7‖ W) localizam-se na Baía de Benevente onde a freqüência de turismo é constante durante o
ano. As amostragens foram feitas nos dias 27 de maio (C1) e 13 de outubro de 2005 (C2), 05 de
maio de 2007 (C3) e 21 de julho de 2009 (C4) em ambos costões rochosos. Para as coletas no
mesolitoral foram demarcadas ao longo de 10 metros do transecto horizontal 5 amostras aleatórias
no povoamento superior, como também 5 amostras aleatórias no povoamento inferior, efetuando
raspagens no interior de cada uma das faixas marcadas por meio de um amostrador de alumínio com
10cm X 10cm de área, sendo as amostras inseridas no interior de sacos zip zap para a retenção do
macrozoobentos. Os organismos foram mantidos na água do mar para o relaxamento e passadas 2
horas foram fixadas em formalina a 10% e levados para o laboratório do Núcleo de Estudos de
Biomas Costeiros do litoral Sul do estado do Espírito Santo e depois triados com literatura
especializada no Departamento de Zoologia, do ICB, da UFJF. A análise dos dados avaliou com
base na composição específica a abundância, diversidade e equidade. A análise de similaridade foi
feita através do programa ―STATISTICA: Basic Statistics and tabels‖.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
As espécies presentes nas quatro amostragens da região entremarés dos costões rochosos
das praias Itaoca e Itaipava foram: Brachidontes solisianus, Perna perna, Collisella subrugosa,
Chthamallus bisinuatus e Isognomon bicolor.
Comparando-se os resultados das coletas de ambas as praias, verificou-se a existência de
oscilações, na abundância das espécies, de coleta para coleta (Figuras 1 e 2).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 392

Figura 1: Variação da abundância das espécies-chave encontradas na praia de Itaipava.


Figura 2: Variação da abundância das espécies-chave encontradas na praia de Itaoca.

A praia de Itaoca apresentou uma menor riqueza em relação à praia de Itaipava. Esse
parâmetro foi bastante semelhante para C1, C2 e C3 de Itaoca e C2 de Itaipava, e para C1 e C4 de
Itaipava e C4 de Itaoca. A terceira coleta de Itaipava, por sua vez, apresentou uma riqueza muito
superior às demais (Figura 3).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 393

Figura 3: Comparação da riqueza (S) entre as praias por coleta.

Ambas as praias apresentaram-se heterogêneas em todas as quatro coletas, uma vez que
para elas o índice de equidade (J‘) foi sempre menor que 70%. Essa baixa uniformidade pode
indicar uma espécie predominante (no caso, B. solesianus ou C. bisinuatus, ou ambas), com elevada
taxa de abundância e um grande número de espécies, com baixa abundância. Entretanto, por
apresentar valores de J‘ ligeiramente maiores, pode-se dizer que a praia de Itaoca apresentou maior
uniformidade em relação à praia de Itaipava (Figura 4). Uma distribuição mais homogênea dos
organismos permite uma baixa invasão por espécies exóticas. O nicho de oportunidade é o potencial
provido pela comunidade que permite à espécie exótica ter um crescimento positivo a partir de uma
baixa abundância (SHEA & CHESSON, 2002). Com um baixo nicho, a comunidade não é invadida
com sucesso. Todas as espécies competem pelos mesmos recursos de forma mais homogênea e,
dessa forma, não há espaços vazios que permitam uma invasão eficiente. De fato, pode-se observar
que na coleta mais heterogênea de Itaoca, ou seja, a coleta C4, na qual J‘=0,5, houve um maior
número de indivíduos invasores (84). O mesmo vale para Itaipava, a qual mostrou uma maior
quantidade de espécimes de I. bicolor (82) na quarta coleta, a mais heterogênea delas (J‘= 0,39).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 394

Figura 4: Comparação da uniformidade (J‘) entre as praias por coleta.

A diversidade e a diversidade máxima foram baixas (3 bits/indivíduo), a praia de Itaoca


teve os maiores valores de diversidade e diversidade máxima nas coletas C2 (H‘=1,34
bits/indivíduo e H‘ máx=2,32 bits/indivíduo) e C4 (H‘=1,16 e H‘máx=2,32), justamente aquelas
que tiveram a presença do bivalve invasor (Figura 5). Os mais baixos índices de diversidade em
Itaoca correspondem às estações de coleta C1 e C3, nas quais não foi registrada a presença de
nenhum indivíduo da espécie invasora. Em Itaipava, por outro lado, de C1 para C2 houve um
decréscimo na diversidade, embora em C2 tenha sido registrado o primeiro indivíduo invasor para
essa praia. Para C3 de Itaipava foram registrados os maiores valores de diversidade e diversidade
máxima (H‘=1,7 bits/indivíduo e H‘máx=3), justamente quando houve um grande acréscimo na
população de I. bicolor, que passou a ser representada por 43 indivíduos. Entretanto, quando
Itaipava teve o maior número de espécimes invasores registrados (82, em C4), houve uma
diminuição significativa da diversidade, que atingiu o menor valor para essa praia (H‘=1,0
bits/indivíduo), embora a diversidade máxima não tenha sido a menor (H‘máx=2,58).

Figura 5: Diversidade nas quatro coletas dos costões rochosos das praias Itaoca e Itaipava.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 395

Segundo ELTON (1958), comunidades com maior diversidade são mais resistentes à
invasão (SHEA & CHESSON, 2002). Entretanto, pode-se notar que, em geral, as coletas que
apresentaram uma maior diversidade foram aquelas que mostraram uma maior susceptibilidade à
invasão. O costão da praia de Itaoca, que apresentou uma menor diversidade, foi a que obteve uma
maior resistência ao aumento de I. bicolor, e o costão da praia de Itaipava, que apresentou maior
diversidade, foi a mais susceptível. A maior diversidade observada em Itaipava pode estar
relacionada com uma abundância de B. solesianus e C. bisinuatus.
Segundo VILLA-VERDE (2006), a região da baía de Benevente (ES) possui um
inverno chuvoso e as chuvas acabam por provocar mudanças no pH, na salinidade e na disposição
de matéria orgânica, o que dificulta o processo reprodutivo das espécies. Sendo assim, seria de se
esperar que houvesse um aumento da diversidade de C1 (27/05/2005), para C2 (12/10/2005) e uma
posterior diminuição em C3 (05/05/2007). Embora tenha ocorrido o esperado para Itaoca, Itaipava
apresentou o comportamento inverso. Isso pode ter ocorrido graças à implantação de um porto
pesqueiro sobre o início do costão de Itaipava com um quebra-mar, o que diminuiu a ação das ondas
no local. A baixa circulação de água nessa parte da baía diminui a velocidade de circulação dos
nutrientes, mantendo-os por mais tempo no local e permitindo que os mesmos se acumulem ali sem
serem levados a alto mar (ODUM, 1985). Assim, uma grande quantidade de recursos é
disponibilizada para os organismos que são filtradores. Além disso, grande quantidade de matéria
orgânica que é despejada no local devido ao esgoto doméstico fica praticamente retida nessa região,
o que aumenta a taxa de nutrientes disponíveis para a macrofauna incrustante, a qual é composta
por organismos filtradores detritívoros.
A similaridade entre as coletas dos dois costões demonstrou que a coleta C3 de Itaipava
(Itaip_C3) foi mais similar à coleta C3 de Itaoca (Itaoc_C3), enquanto a coleta C1 de Itaoca
(Itaoc_C1) foi mais similar à C2 da mesma praia (Itaoc_C2), sendo essas duas, juntamente, mais
similares à coleta C1 de Itaipava (Itaip_C1) e, essas últimas três, em conjunto, similares à coleta C2
de Itaipava (Itaip_C2). Essa similaridade provavelmente deve-se ao fato dessas coletas
apresentarem valores de abundância de organismos relativamente semelhantes (Figura 6).

Tree Diagram for 6 Variables


Single Linkage
Euclidean distances
2400

2200

2000
Linkage Distance

1800

1600

1400

1200

1000

800
ITAIP_C3 ITAOC_C3 ITAIP_C2 ITAIP_C1 ITAOC_C2 ITAOC_C1

Figura 6: Dendograma de similaridade entre os costões das praias Itaoca e Itaipava.

CONCLUSÕES
Com estes resultados podemos concluir que as populações das áreas de estudo estão se
comportando de maneiras idênticas onde na região entremarés do costão rochoso das praias Itaoca e
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 396

Itaipava a espécie C. bisinuatus está ocupando mais espaço nesta região do que B. solisianus,
embora tenha ocorrido um aumento expressivo de I. bicolor em ambos costões rochosos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARLTON, J.T. 2001. Introduced Species in U.S. Coastal Waters: Environmental Impacts
and Management Priorities. Pew Oceans Commission, Arkington, Virginia. 28pp.
ELTON, C.S. 1958. The ecology of invasions by animals and plants. London: Methuen.
LAFFERTY, K. D. & KURIS, A. M. Biological Control of Marine Pests. Ecology. 77 (7):
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LOPES, C. F.; MILANELLI, J. C. C. & JOHNSCHER-FORNASARO, G.
Biomonitoramento de costões rochosos sujeitos a impactos por petróleo. III Simpósio de
ecossistemas da costa brasileira. Aciesp no 87 vol. 3. Serra Negra, São Paulo. p. 293-300. 1994.
ODUM, E. P. 1985. Ecologia. Guanabara Koogan. P. 145.
SHEA, K. & CHESSON, P. 2002. Community ecology theory as a framework for
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VILLA-VERDE, W. G. 2006. Análise Comparativa da Diversidade da Macrofauna dos
Costões Rochosos da Baía de Beneventes (ES). Monografia apresentada no Departamento de
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applications. Eds. WULFF, F., FIELD, J. G. & MANN, K. H. p. 119-60. 1989.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 397

MANGUEZAL, CARCINICULTURA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Hortência de Carvalho FEITOSA


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN); Av. Sen. Salgado Filho, 1559, Tirol,
Natal-RN, CEP: 59015-000
hortencia-carvalho@hotmail.com
Samir Cristino de SOUZA
Prof. Dr. do IFRN
samir.souza@ifrn.edu.br

RESUMO
O manguezal é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo
o globo, tendo o Brasil uma das maiores extensões de manguezais do mundo. Origina-se a partir
do encontro das águas doce e salgada, formando a água salobra. Seus solos são muito moles e
ricos em matéria orgânica em decomposição. Os manguezais possuem elevada produtividade
biológica, pois neste ecossistema encontram-se representantes do elo da cadeia alimentar. Serve
de refúgio natural para a reprodução e desenvolvimento, por isso chamado de berçário natural,
assim como local para alimentação e proteção para crustáceos, moluscos e peixes de valor
comercial. Com a descoberta da importância econômica dos manguezais, estes ambientes
passaram a ser degradados diariamente pela ação e ocupação do homem. Essa ocupação
desordenada deve-se principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à
instalação de empreendimentos como a carcinicultura os quais, normalmente, visam atender
interesses comerciais particulares. O objetivo deste trabalho é discutir a importância do
manguezal e os impactos causados pela atividade da carcinicultura no estuário do Rio Potengi na
cidade de Natal no Rio Grande do Norte. A pesquisa foi desenvolvida a partir de revisão
bibliográfica e pesquisa de campo na área delimitada para estudo. A contribuição deste trabalho
está na produção do conhecimento dos principais problemas ambientais causados pela
carcinicultura no ecossistema de manguezal e como podemos, por meio da educação ambiental,
mitigar estes impactos.
PALAVRAS-CHAVE: manguezal; carcinicultura; educação ambiental.

ABSTRACT
The mangrove is a particular ecosystem, which is established in tropical regions around the
globe, with Brazil one of the largest expanses of mangroves in the world. It originates from the
meeting of fresh and salt water, forming the brackish water. Its soil is very soft and rich in
decomposing organic matter. Mangroves have high biological productivity, as this ecosystem are
representatives of the food chain. Serves as a natural refuge for reproduction and development, so
called natural nursery, as well as the site for food and protection for crustaceans, molluscs and fish
of commercial value. With the discovery of the economic importance of mangroves, these
environments have become degraded by the daily action and the human occupation. This disordered
occupation is mainly the fact that these sites present favorable conditions for the installation of new
developments such as shrimp farms which typically aim to serve private business interests. The aim
of this paper is to discuss the importance of mangroves and impacts caused by the activity of shrimp
in the estuary of the River Potengi in Natal in Rio Grande do Norte. The survey was developed
from literature review and field research in the defined area for study. The contribution of this work
is the production of knowledge of the main environmental problems caused by shrimp farming in
mangrove ecosystem and how we can, through environmental education, mitigate these impacts.
KEYWORDS: mangrove, shrimp farming, environmental education.

INTRODUÇÃO
O manguezal é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais de todo
o globo, tendo o Brasil uma das maiores extensões de manguezais do mundo, margeando
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 398

estuários, lagunas e enseadas. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada, formando
a água salobra. Apresenta água com salinidade variável, sendo exclusivo das regiões costeiras.
Não se encontra manguezais em todos os litorais das áreas tropicais, pois eles não
ocorrem nas faixas arenosas e litorais rochosos, desenvolvem-se melhor em regiões de grande
deposição de sedimentos e matéria orgânica. Nos manguezais, as condições físicas e químicas
existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e freqüentam.
Os manguezais possuem elevada produtividade biológica, pois neste ecossistema estão
presentes representantes do elo da cadeia alimentar. As folhas que caem das árvores se misturam
com o sedimento e os excrementos dos animais, vertebrados e invertebrados, formando
compostos orgânicos de vital importância para as bactérias, fungos e protozoários. Os próximos
níveis da cadeia alimentar são constituídos por integrantes do plâncton, dos bentos e do necton,
como crustáceos, moluscos, peixes, aves e até pelo homem, no topo da pirâmide.
Esse ecossistema está entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das
atividades pesqueiras das regiões tropicais. Serve de refúgio natural para a reprodução e
desenvolvimento, por isso chamado de berçário natural, assim como local para alimentação e
proteção para crustáceos, moluscos e peixes de valor comercial. Além destas funções, os
manguezais ainda contribuem para a sobrevivência de aves, répteis e mamíferos, muitos deles
integrando as listas de espécies ameaçadas ou em risco de extinção (MAJOR, 2002).
Toda essa riqueza encontra-se ameaçada por práticas depredadoras do mangue para
exploração comercial de camarão. A carcinicultura no Rio Grande do Norte se tornou uma
atividade comercial de grande valor econômico para exportação o que vem contribuindo, também,
para a poluição dos mangues causando desastres ambientais de grandes proporções, como o
ocorrido em 2007 que matou muitos peixes, poluiu o rio Potengi e os manguezais, prejudicando
as atividades da pesca de subsistência dos ribeirinhos.
Portanto, o objetivo deste trabalho é desenvolver o conhecimento acerca do ecossistema
do mangue em uma área delimitada do rio Potengi em Natal, no Rio Grande do Norte, para
desenvolver atividades de educação ambiental nas escolas e nas comunidades que residem
próximo do manguezal visando despertar para o compromisso com uma prática de preservação do
manguezal tendo em vista a sua importância como ecossistema e que possibilita uma atividade
econômica de subsistência.
MANGUEZAL: CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

O manguezal é um ecossistema costeiro, tropical, com vegetação típica adaptada às


condições inóspitas do ambiente. Possui algumas características próprias que podem ser descritas
como: ecossistema de transição entre ambiente terrestre, aquático doce e marinho, é um ambient e
lodoso, de cores escuras, parcial ou totalmente submersas e o húmus que aí se forma contribui
para ativar o processo de fermentação. Rico em sais e pobre em oxigênio em função do
alagamento periódico a que o solo é submetido. Nele, apenas algumas espécies vegetais se
desenvolvem, apresentando uma série de adaptações, constituindo uma vegetação simples que
alimenta uma das mais ricas e variáveis faunas do mundo.

Localização
O Brasil tem uma das maiores extensões de manguezais do mundo ao longo de sua costa,
sendo encontrados em todo o litoral. As florestas distribuem-se ao longo de 6.800 km de costa, do
rio Oiapoque, Amapá, à Praia do Sonho, Santa Catarina, o seu limite mais oriental encontra-se na
ilha oceânica de Fernando de Noronha. Estimativas mais recentes sobre a área total de mangues do
Brasil variam de 1,01 a 1, 38 milhão de hectares.
Muitas destas regiões de mangue se encontram em avançado estado de devastação. Em
tempos passados, quase toda foz dos rios no Nordeste do Brasil era formada por florestas de
mangues. Mas hoje só podemos encontrá-los em poucos lugares, e as áreas ocupadas pelos
manguezais diminuem a cada dia. O litoral do Rio Grande do Norte possui 400 km de extensão e
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 399

apresenta um manguezal bastante desenvolvido no litoral oriental. O estuário do rio Potengi tem
20 km de extensão (figura 1), onde está localizada a área investigada.
Figura 1 – área de manguezal delimitada para pesquisa

Fonte: http://escandalo.100free.com/index3.htm

Embora, no passado, o manguezal fosse caracterizado como um ambiente inóspito, sujo e


criadouro de agentes transmissores de doenças, como febre amarela, dengue e malária, hoje
sabemos que constitui ambiente rico em biodiversidade, verdadeiro santuário ecológico. Nele,
inúmeras espécies de algas, zooplâncton, peixes, moluscos e crustáceos procriam, determinando a
existência de uma exuberante teia alimentar. Infelizmente, os aterros e a destinação de muitas
áreas para o cultivo de vegetais e camarões colocam em risco a existência desse importante
ecossistema. Alguns fatores são fundamentais para explicar a ocorrência dos manguezais em
determinadas áreas ao longo do litoral: as características das formas da costa, o solo, o clima e as
correntes marítimas.
Encontramos manguezais em áreas de reentrâncias de costa, contornos de baías e foz de
rios, ou seja, em áreas litorâneas que apresentam forte influencia do continente, das águas doces e
salgadas (salobras) e sem a agitação direta das ondas do mar. Seus solos são tradicionalmente
alagados (influência das marés), lodosos, movediços, inconsistentes, salgados e com deficiência
de oxigênio. Essa formação vegetal litorânea é restrito ás áreas tropicais com elevadas
precipitações e altas temperaturas médias, características climáticas indispensáveis a sua
ocorrência.
As correntes marítimas também influenciam a presença dos manguezais. As áreas
banhadas por correntes frias não desenvolvem esse tipo de vegetação, estando restrita a áreas
atingidas pelas correntes quentes dos oceanos. Isso explica a ausência de manguezais no Rio
Grande do Sul, banhado principalmente por correntes frias (ALVES, 2004).

VEGETAÇÃO
O mangue é a cobertura vegetal típica dos ambientes flúvio-marinhos tropicais. As
espécies de plantas dos manguezais pertencem a pelo menos dezenas de famílias diferentes, tendo
desenvolvido vários tipos de adaptações morfológicas e fisiológicas à salinidade, submersão, déficit
de oxigênio no substrato; desenvolveram também diferentes mecanismos para a perpetuação das
espécies, através de processos evolutivos convergentes.
A vegetação possui raízes respiratórias que abastecem com oxigênio as outras
raízes enterradas e diminuem o impacto das ondas da maré. Possuem caules de escora, capacidade
de filtragem da água salobra e desenvolvimento das plântulas na planta materna (viviparidade),
que são posteriormente dispersadas pela água do mar. Os manguezais usam para o transporte da
água e dos nutrientes dissolvidos a força da capilaridade. Entre as raízes e folhas das árvores do
manguezal existem milhões de capilares finos. Na superfície das folhas e nas raízes sempre há um
volume de líquidos que ao atingir a superfície se evaporam automaticamente (ALVES, 2004).
Assim, as plantas do manguezal encontram jeito para viver junto da água salgada, com
solo muito lamoso, pouco compactado e pobre em oxigênio. O primeiro segredo é o método
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 400

especial de alimentação, o transporte da água e de nutrientes dissolvidos em células dentro do


corpo da árvore. Naturalmente, no ambiente da água salgada, nem a difusão, nem a osmose e
diálise funcionam corretamente, por isso as plantas não podem alimentar-se do mesmo modo que
as outras árvores terrestres.
Para as folhas é de fundamental importância, que a capilaridade seja sempre ativa,
fazendo as folhas evaporarem continuamente, fato possível somente em áreas tropicais, onde a
temperatura alta garante a continuidade deste processo. Os manguezais podem viver somente no
ambiente tropical, porque a temperatura alta é a chave do perfeito funcionamento da floresta.
Encontramos manguezais apenas nos litorais entre os trópicos, onde a temperatura anual é de
20ºC, e a temperatura mínima acima de 15 ºC, e a precipitação anual é maior que 1.000 milímetros.
As raízes dos mangues são especiais podendo se apresentar como raízes aéreas e raízes-
escoras (figura 2). As primeiras ajudam na captação de oxigênio, enquanto as raízes-escoras
ajudam na sustentação em solo lamacento.
Figura 2 – raízes-escoras de mangue vermelho

Fonte: Hortência de Carvalho Feitosa

As folhas do manguezal são alimento básico para os animais herbívoros, principalmente


os insetos, que quando caem na água servem de alimento para crustáceos. O número de animais
herbívoros depende do número de folhas verdes. Isto é um grande contraste entre os animais e
vegetais do ecossistema manguezal, uma vez que os herbívoros precisam das folhas verdes para
comer, as plantas verdes também precisam de folhas completas não somente para fotossíntese,
mas para a evaporação. Para que ocorra a evaporação há necessidade de grande superfície, ou
seja, folhas inteiras, por isso nessa floresta nunca encontramos árvores carecas.

ATIVIDADES PRODUTIVAS E DEGRADAÇÃO


O manguezal é um produtor de bens e serviços ambientais gratuito por suas
particularidades. É utilizado por inúmeras espécies como área de alimentação e procriação.
Entretanto, as áreas ocupadas pelo manguezal são constantemente lesadas, suprimidas e
substituídas perante o argumento de que são pouco rentáveis economicamente. Esses danos
ambientais poderiam ser reduzidos e eliminados através de um amplo programa de educação
ambiental com as pessoas que moram no entorno e sobrevivem da extração animal e vegetal do
mangue, e a população de um modo geral, além do cumprimento da legislação vigente e aplicação
das medidas punitivas necessárias a quem degrada o mangue por parte dos órgãos ambientais.
O Manguezal e a Carcinicultura
Durante muitos anos, os manguezais foram considerados e até mesmo classificados como
terras improdutivas, aptos apenas para abrigar mosquitos e pântanos mal-cheirosos, por isso, essas
floresta s tropicais litorâneas estão entre os habitats mais ameaçados do mundo.
Com a descoberta da grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes
passaram a ser degradados diariamente pela ação e ocupação do homem. Essa ocupação
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 401

desordenada deve-se principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à


instalação de empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares.
A expansão urbana, o desenvolvimento do petróleo, a indústria do carvão, as estradas e o
turismo, todos se aproveitaram de grandes extensões de florestas de mangue. Atualmente, esses
ecossistemas danificados enfrentam ainda mais prejuízos devido à criação de camarão (figura 3).

Figura 3 – Fazenda destinada à criação de camarão

Fonte: Hortência de Carvalho Feitosa

Os criadores de camarão procuram o mangue por motivos ambientais e econômicos.


Além de a água ser de boa qualidade, não precisa ser bombeada para os viveiros, o que barateia
bastante a atividade. A maré faz o trabalho da máquina, de graça. Em curto prazo, portanto, o
cultivo de camarão no mangue é altamente rentável.
A região Nordeste é responsável por 94% da produção nacional, tendo o Rio Grande do
Norte como um dos principais estados produtores. O desenvolvimento dessa atividade é resultado
de uma demanda crescente do mercado internacional por camarão, mas por outro lado, o
crescimento desta atividade vem sendo cada vez mais associado à destruição dos manguezais
(figura 4).
Figura 4 – Fazendas de camarão no manguezal do Rio Potengi

Fonte: http://escandalo.100free.com/index3.htm

Nesse contexto, são inúmeros os possíveis impactos que podem ser causados pela
implantação de fazendas de camarão, tais como, segundo Ferreira Melo e Costa Neto (2008), a
degradação do ecossistema e da paisagem, perda da cobertura vegetal, redução da capacidade
assimilativa de impactos futuros, redução de áreas propícias à presença de espécies em extinção,
alteração da função de filtro biológico, alterações físico químicas e biológicas de corpos
receptores de efluentes, impactos sobre o aqüífero e conseqüente aumento da cunha salina
(hipersalinidade). Além disso, a carcinicultura, como as demais atividades produtivas, provoca
alterações no meio ambiente. São inúmeros os impactos ambientais causados, desde
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 402

contaminação dos recursos hídricos naturais, através do lançamento de matéria orgânica


produzida ao longo de todo o processo de despesca, destruição de manguezais e vegetação nativa,
a salinização do solo e, conseqüentemente da água nas áreas próximas às fazendas de camarão.
Ao atingir o meio ambiente, a carcinicultura ainda ameaça a fonte de sobrevivência e a
cultura de milhares de pessoas que habitam tradicionalmente as regiões de mangue, em especial,
pescadores e pequenos agricultores.
O Código Florestal brasileiro classifica os mangues como áreas de preservação
permanente, o que significa que suas terras pertencem à União. As únicas atividades permitidas
nesse ecossistema são obras de utilidade pública, como transporte. Mas a legislação deixa brechas
para interpretações conflitantes. E assim a produção industrial de camarão vem representando a
pior ameaça para as florestas de mangue que ainda existem no mundo e para a vida silvestre e as
comunidades por elas sustentadas. Aproximadamente um milhão de hectares, no mundo afora, de
pântanos litorâneos incluindo manguezais foram clareados para serem transformados em granjas
de camarão. Um sinal representativo desta indústria invasiva é que aproximadamente 250 mil
hectares estão agora abandonados por causa de doenças e poluição.
A indústria brasileira do camarão acarretaria, desta maneira, os mesmos problemas
ambientais que causou em outros lugares, decorrentes do excessivo uso de pesticidas e
antibióticos nos próprios tanques de camarão, considerável poluição da água, devastadoras
doenças virais espalhadas entre as granjas de camarão, perda de importante hábitat marinho
litorâneo como mangues, bancos de lama e bancos salinos. Essa realidade provoca uma severa
diminuição de peixes, perda do hábitat de aves migratórias e perda de meios de vida tradicionais
das comunidades litorâneas.
Essa indústria não só causou prejuízos em termos de recursos naturais, mas também, em
alguns casos, de violência e morte. Um grande número de investidores nacionais e multinacionais
disputou as ricas áreas ao longo do litoral brasileiro para estabelecer novos empreendimentos
comerciais de camarão. Na maioria dos casos, eram terras públicas e os moradores locais, durant e
muitas décadas, colhiam delas todos os produtos que necessitavam para sobreviver e sustentar a
economia local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação ambiental é uma ação destinada a reformular comportamentos humanos e a
conscientização como um processo educativo fundamental para garantir um ambiente sadio para
todos os homens e para todas as formas de vida. Partindo do pressuposto de que a educação
ambiental é sempre realizada a partir da concepção de ambiente, apontamos para a necessidade
urgente e radical de mudança de mentalidade sobre as ideias acerca das ações de exploração
predadora e destruidora dos mangues baseadas nos modelos de desenvolvimento.
O cuidado com o meio ambiente é um exercício da ética e da responsabilidade social. A
busca de novos conhecimentos e saberes articulados aos compromissos políticos de transformação
social, a participação ativa dos sujeitos e o investimento na construção de valores e atitudes
responsáveis com relação ao ambiente constituem o conceito de educação ambiental, base teórico-
prática da pedagogia que desenvolveremos no trabalho com os estudantes das escolas públicas de
Natal, no Rio Grande do Norte, por meio de um material didático multimídia construído para
efetivar uma ação educativa no que diz respeito ao cuidado e a proteção dos mangues.
Sabemos que é muito difícil atribuir valor a qualquer coisa que seja natural. O valor de
uma árvore, por exemplo, não é somente o valor da madeira, precisamos considerar sua função na
natureza, como parte do ecossistema, uma vez que ela alimenta muitos animais, produz oxigênio
para a atmosfera, atua contra a erosão, a poluição e faz parte da paisagem.
A valorização de um ecossistema é ainda mais complexa e em se tratando de manguezal,
podemos citar alguns dados importantes, como o fato de o manguezal encontrar-se onde não
podem existir outras florestas; esse ecossistema garante a possibilidade de vida não só para os
animais moradores permanentes, mas para os migratórios e os visitantes; o manguezal é o lugar
para a reprodução de muitos animais marítimos e de água doce; a produtividade do manguezal é
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 403

muito alta; ele oferece possibilidades de fonte de renda para muitos moradores locais; e ainda é
um ecossistema muito especial, que não pode se reproduzir em nenhum outro local do mundo.
Por ser tão especial e também muito sensível, qualquer modificação no ambiente original
pode causar a destruição total dessa comunidade. No seu lugar não é possível produzir um outro
tipo de vida tão rica. Por isso, a importância do trabalho de educação ambiental nas escolas e nas
comunidades que residem e sobrevivem nas áreas próximas aos manguezais.
Acima de tudo a educação ambiental é educação. Educação em suas várias dimensões.
Assim, é preciso considerar a formação do homem no espaço educacional mais amplo ou no
espaço educacional mais restrito, a escola. Portanto, é no espaço da escola que começaremos a
nossa atuação desenvolvendo atividades visando o compromisso dos jovens em conhecer para
preservar os manguezais, tendo em vista uma mobilização organizada da sociedade para coibir
atividades produtivas em larga escala, como a carcinicultura, que por ventura venha a destruir o
manguezal e seu ecossistema.

REFERÊNCIAS
ALVES, André. Os Argonautas do mangue. São Paulo: UNICAMP, 2004.
FEREIRA, D. de M.; MELO, J. V. de; COSTA NETO, L. X. da. Influencia da
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<http://www.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/1 71/156>. Acesso em: 14 ago.
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MAOJOR, I. Manguezal. Fortaleza: Democrito Rocha, 2002.
SOUZA, Nelson Mello. Educação ambiental: dilemas da prática contemporânea. Rio de
Janeiro: Tex, 2000.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 404

OCORRÊNCIA DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES


EM ESPÉCIES FLORESTAIS NATIVAS DO NORTE DO MATO
GROSSO

Thuany Bitencort ANGELIN


Aluno de graduação em Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop;
thubitencort@hotmail.com
Márcia MATSUOKA
Professora Adjunto II; Universidade Federal de Mato Grosso –campus Sinop;
marciamatsuoka@yahoo.com.br
Fábio Ferreiro de AZEVEDO
Aluno de graduação em Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop;
fabioferreira_az@hotmail.com
Anna Karolyne da Silva NOGUEIRA
Aluno de graduação em Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop;
Anna_lyne_nogueira@hotmail.com

RESUMO
Os fungos micorrízicos arbusculares ao favorecer o crescimento das plantas hospedeiras
pode ser um fator importante para as espécies florestais da região norte de Mato Grosso. Com o
objetivo de avaliar a ocorrência de fungos micorrízicos arbusculares, foram coletadas amostras de
solo e raízes de dez espécies florestais da região norte de Mato Grosso e avaliada a porcentagem de
colonização micorrízica. Em todas as amostras estudadas foram observadas a colonização por
fungos micorrizicos arbusculares com uma porcentagem de colonização média de 38%, sendo que a
espécie mogno (Swietenia macrophylla) foi a que apresentou maior colonização entre as espécies
estudadas.
PALAVRAS-CHAVES: micorriza arbuscular, espécies arbóreas, simbiose.

ABSTRACT
Mycorrhizal fungi to enhance growth of host plants may be an important factor for forest
species in the northern region of Mato Grosso. The objective of this work was to evaluate the
occurrence of mycorrhizal fungi and soil samples were collected and roots of ten species forest of
northern Mato Grosso and evaluated the percentage of mycorrhizal colonization. In all samples
studied were found to colonization by arbuscular mycorrhizal fungi as a percentage of colonization
of 38%, and the species mogno (Swietenia macrophylla) showed the highest colonization among
species.
KEYWORDS: arbuscular mycorrhizal; arboreal species; symbiosis

INTRODUÇÃO
A exploração de espécies florestais através da extração direta nos ecossistemas tropicais
tem levado a redução drástica das populações naturais, seja pelo processo predatório de exploração,
seja pelo desconhecimento dos mecanismos de perpetuação das mesmas. Assim, a domesticação e
cultivo aparecem como opção para obtenção da matéria prima de interesse econômico e redução do
extrativismo nas áreas florestais.
A produção de mudas de espécies arbóreas, para reflorestamento, ou recomposição de
áreas degradadas, é de grande importância para o uso em programas de recuperação de áreas
devastadas, tendo como finalidade a diminuição do impacto ambiental, a melhoria das condições
edafo-climáticas e a conservação da biodiversidade. Entretanto, a conservação desses ecossistemas
envolve necessariamente alternativas de uso que permitam retorno econômico (Simões, 2004).
Nesse sentido, a preocupação e a responsabilidade com respeito à questão ambiental deve
ser um esforço conjunto da mídia, escolas, universidades, organizações não governamentais (Ongs),
empresas públicas e privadas, no sentido de buscar uma consciência de desenvolvimento com
qualidade de vida.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 405

Os estudos relacionados às associações micorrízicas com diferentes espécies vegetais,


apresentam se como um grande potencial de uso de um componente biológico de grande
importância para os sistemas naturais e agrícolas.
A planta durante todo seu ciclo esta relacionada intimamente com os
microrganismos. Todas as plantas, com exceção de Crucíferas e Liliáceas, possuem fungos
micorrízicos em suas raízes. A associação ocorre tanto em plantas arbóreas como em herbáceas,
perenes ou anuais, hoje, sabe-se que praticamente não existe planta que não consiga entrar em
simbiose com fungos. (Primavesi, 2002).
Os fungos micorrízicos arbusculares são de ocorrência generalizada em solos agricultáveis
e colonizam o sistema radicular da maioria das espécies vegetais, tendo um papel importante na
nutrição das plantas, que através da fotossíntese, fornece energia e carbono para a sobrevivência e
multiplicação dos fungos, enquanto estes absorvem nutrientes minerais e água do solo, transferindo-
os para as raízes da planta, estabelecendo assim a mutualista da simbiose (Silveira, 1992).
O efeito benéfico mais marcante desta associação simbiótica está na melhoria
nutricional, resultando no aumento do crescimento das plantas mediante a maior absorção de
nutrientes, especialmente aqueles menos solúveis, como o fósforo. Conseqüente a isto, resultam em
plantas mais nutridas e vigorosas com maiores índices de sobrevivência especialmente em
ambientes que os fatores edáficos e climáticos são adversos.
Quanto ao crescimento das mudas, a maioria das espécies arbustivas e arbóreas tropicais
frutíferas com micorriza desenvolve-se mais rapidamente, ficando menos tempo no viveiro e
podendo ser disponibilizadas mais cedo para o produtor. Além disso, elas são mais tolerantes ao
estresse do transplante apresentando maior sobrevivência no campo. Finalmente, essa prática
permite, também, reduzir a quantidade e aumentar a eficiência de uso dos corretivos e fertilizantes
adicionados nos substratos.
Um grande número dessas espécies arbóreas se beneficia da inoculação. Entre elas pode-se
citar: café, manga, acerola, abacate, mamão, maracujá, pequi, baru, jacarandá-da-bahia, sucupira,
eucalipto, palmeiras como: buriti, guariroba, e forrageiras como: leucena, além das espécies
arbóreas destinadas à recuperação das matas de galeria e de áreas degradadas (Miranda, 2005).
Assim, o conhecimento da ocorrência de fungos micorrízicos arbusculares, bem como
estudos futuros da densidade de propágulos infectivos, da capacidade infectiva e da efetividade dos
fungos micorrízicos indígenas é fundamental para o desenvolvimento de estudos sobre ecologia e
manejo destes microrganismos, bem como para auxiliar na introdução, através da inoculação de
fungos nativos e exóticos ao sistema.
Considerando a importância dos fungos micorrízicos para a sustentabilidade dos sistemas
naturais e para a produção de mudas de diversas espécies florestais, este estudo tem como objetivo
avaliar a porcentagem de colonização por fungos micorrrízicos em espécies florestais com potencial
para uso em projetos de reflorestamento em áreas do Estado de Mato Grosso.

MATERIAL E MÉTODOS
A avaliação da colonização de fungos micorrizícos arbusculares nativos associados as
espécies florestais, foi conduzido no laboratório de Fitopatologia e Microbiologia da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) campus de Sinop.
Foram coletadas raízes finas de diferentes espécies arbóreas tais como: Mogno (Swietenia
macrophylla), pau de balsa (Ochroma pyramidale), copaíba (Copaifera langsdorffii), castanha da
Amazônia (Bertholletia axcelsa), paineira (Chorisia speciosa), andiroba (Carapa guianensis),
tatajuba (Bagassa guianensis), pinho cuiabano (Schizolobium amazonicum), garapeira (Apuleia
leiocarpa) e freijó (Cordia alliodora).
As coletas foram realizadas em outubro de 2009, no Viveiro Flora Sinop localizado no
município de Sinop-MT. As amostras de solo e raízes finas foram retiradas e acondicionadas em
sacos plásticos, colocados em isopor e mantidas sob refrigeração até o momento de preparo para
análise.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 406

Primeiramente as raízes coletadas foram lavadas com água destilada e posteriormente


imersas em hidróxido de potássio a 2,5% e levadas para banho maria a 90°C por uma hora. Após,
foram lavadas novamente com água destilada e clarificadas com H 2O2 alcalina por trinta minutos e
posteriormente acidificada por 24 horas em ácido clorídrico a 1%. A coloração foi realizada com
uma solução ácida de glicerol contendo 0,05% de fucsina ácida em banho maria a 90°C por uma
hora, segundo a metodologia de Koske e Gemma, (1989). As raízes coradas foram conservadas em
glicerol ácido claro até o memento da avaliação.
A porcentagem do comprimento das raízes colonizadas foi realizada pelo método de
intercessão em placas quadriculada descrito por Giovanetti e Mosse, (1980), adaptado a partir do
método de medida de comprimento de raízes (Newman, 1966).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As médias da porcentagem de colonização micorrízica das espécies florestais avaliadas são
apresentadas na Tabela 01.
As raízes das espécies florestais analisadas exibiram colonização típica de fungos
micorrízicos arbusculares, com arbúsculos, vesículas, hifas e grau de colonização muito variado.
Tabela 01. Porcentagem de colonização por fungos micorrízicos em dez espécies florestais
da região norte de Mato Grosso (Média de 2 repetições).
Espécies florestais Colonização micorrízica (%)
Garapeira (Apuleia leiocarpa) 27,90
Castanha da Amazônia (Bertholletia axcelsa) 43,31
Pinho Cuiabano (Schizolobium amazonicum) 35,09
Mogno (Swietenia macrophylla) 48,50
Tatajuba (Bagassa guianensis) 44,60
Copaíba (Copaifera langsdorffii) 39,39
Paineira (Chorisia speciosa) 43,30
Pau-de-Balsa (Ochroma pyramidale) 31,15
Andiroba (Carapa guianensis) 26,76
Freijó (Cordia alliodora) 38,38
MÉDIA 37,84
Todas as espécies florestais estudadas apresentaram colonização por fungos micorrízicos.
A porcentagem média de colonização variou de 26,76% a 48,50% sendo que a menor porcentagem
média foi observada para a andiroba e a maior porcentagem média de colonização por fungos
micorrízicos foi observada na espécie mogno (Tabela 01).
Outros trabalhos também evidenciaram a colonização micorrízica em espécies florestais.
No Rio Grande do Sul, Andreazza et al. (2008), observaram a associação com fungos micorrízicos
arbusculares em seis essências florestais nativas.
O comportamento das espécies de fungos micorrízicos arbusculares estabelecidas em áreas
revegetadas de mata ciliar, em amostras de solo rizosférico de Cróton urucurana Baill., Inga striata
Willd. e Genipa americana L, espécies arbóreas indígenas em matas ciliares, foram observadas por
Carrenho et al., (2001). Nesse trabalho, vinte e duas espécies de fungos micorrízicos arbusculares
foram identificadas.
Como o processo de colonização radicular pode ser influenciado por variações do período
sazonal, novas coletas serão feitas, em momentos diferentes do ano, a fim de se confirmar a real
condição simbiotrófica desta espécie.
Além disso, a quantificação do número de esporos de fungos micorrízicos arbusculares no
solo está sendo realizada a fim de avaliar o potencial de inoculo desses microrganismos benéficos
para as plantas.
O conhecimento sobre a capacidade das espécies florestais em formar simbiose com certos
fungos do solo é de fundamental importância para estimular as espécies de fungos micorrízicos
arbusculares nativa e para promover o seu uso na inoculação de plantas na fase de formação de
mudas e sua utilização nos programas de reflorestamento e revegetação de áreas degradadas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 407

CONCLUSÃO
As espécies florestais: mogno (Swietenia macrophylla), pau de balsa (Ochroma
pyramidale), copaíba (Copaifera langsdorffii), castanha da Amazônia (Bertholletia axcelsa),
paineira (Chorisia speciosa), andiroba (Carapa guianensis), tatajuba (Bagassa guianensis), pinho
cuiabano (Schizolobium amazonicum), garapeira (Apuleia leiocarpa) e freijó (Cordia alliodora)
apresentam associação com fungos micorrízicos arbusculares nativos em solo da região Norte do
Mato Grosso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREAZZA R.; ANTONIOLLI, Z.I.; OLIVEIRA, V.L.de; LEAL, L.T; JUNIOR,
C.A.M.; PIENIZ, S. Ocorrência de associação micorrízica em seis essências florestais nativas do
Rio Grande do Sul. Ciência Florestal, Santa Maria, v.18, n.3, 343-351. 2008
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Botânica Brasílica. São Paulo. v.15, n.1, 2001
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SILVEIRA, A. P. D. Microbiologia do Solo, Campinas-SP, Sociedade Brasileira de
Ciências do Solo, 1992, 282p.
SIMÕES, C. M. O. Frmacognosia: da planta ao medicamento. Santa Catarina: Editora
da Universidade, 4 ed., 2004.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Engenheiro Florestal Jaldes Langer proprietário do Viveiro Flora
Sinop localizado no município de Sinop/MT por disponibilizar a área onde foram realizadas as
coletas de raízes e solos.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 408

OCUPAÇÃO DA ROLINHA MARROM Columbina talpacoti


(TEMMINCK, 1811) NA ZONA URBANA DE CAMPINA GRANDE-
PB

João Carlos MARQUES


Graduando em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
jcarlos0128@hotmail.com
Eliene Araújo FREIRES
Graduanda em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e Universidade Estadual da
Paraíba – UEPB
eliene-pb@hotmail.com
Eduardo Noberto Adamastor de SOUSA
Graduando em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
eduardobiologo@hotmail.com
Helder Neves de ALBUQUERQUE
Orientador. Biólogo. Doutorando em Agronomia CCA/UFPB/Areia
helderbiologo@gmail.com

RESUMO
O Estado da Paraíba apresenta uma diversidade de 335 espécies de aves, agrupadas em 55
famílias, onde 16 estão ameaçadas de extinção, 29 são consideradas raras e 20 vulneráveis. Dessa
forma foi verificada a incidência e aumento desta espécie na zona urbana no período de 2008/2009,
das comunidades de aves Columbina talpacoti (Temminck, 1811) da cidade de Campina Grande –
PB, utilizando-se de transectos e pontos de observação no horário da manhã, sempre ao nascer do
sol, e a tarde, sempre ao crepuscular com jornada de três horas diárias. Foram encontradas estas
aves em todos os bairros da cidade. O que parece ter levado essas aves a migrar de habitat são os
desmatamentos, a construção civil, com isso, a espécie, está se adaptando bem na zona urbana de
Campina Grande-PB, devido a condições favoráveis encontradas na cidade tais como: alimentação
natural e fornecida, árvores típicas para a construção de ninhos e a visão da população, em sua
grande maioria, não associar a ave como forma de alimento; havendo apenas um pequeno grupo de
pessoas aproveitando-se deste acontecimento para fins meramente lucrativos com a captura e venda
dessas aves nas feiras locais. Assim faz-se necessário trabalhos e campanhas, junto a população no
aspecto de preservação e conservação ambiental dos ambientes naturais das aves.
PALAVRAS-CHAVE: Aves, incidência, preservação, ocupação desordenada.

ABSTRACT
Paraiba state has a diversity with 335 species of birds, grouped in 55 families where 16 are
threatened of extinction, 29 are rares and 20 vunerables. Thus, was verified the incidence and
growth of the birds communities Columbina talpacoti (Temminick, 1811) in the urban area in the
period of 2008/2009, in Campina Grande City – PB, using transect and observation points on
morning sunrise and the afternoon twilight with three daily hours journey. These birds were found
in all city´s neighborhoods. Probably, the motivation that makes these birds change from their
habitat are deforestation and constructions. Thereby, the specie is being adapted in the urban area
from Campina Grande, because of goods conditions found in the city such: provided and natural
food, typical tress for nest's construction and the biggest part of population‘s point of view that don't
associate the birds like a kind of food; there was only a small group of people taking this event to
purely for profit with catch and sale this birds in folk trade. Thus, it's necessary papers and
campaigns with the population in the aspect of preservation and conservation of the birds' natural
environmental.
KEYWORDS: Birds, incidence, preservation, disorderly.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 409

INTRODUÇÃO
O Continente Sul-americano é a região mais rica do mundo em diversidade de aves, com
cerca de 2.650 espécies residentes e cerca de 300 migrantes. O Brasil possui cerca de 1.672
espécies. No Nordeste Brasileiro estão distribuídas cerca de 695 espécies catalogas até o presente,
abrigadas em 20 ordens e 63 famílias (SICK, 1997). A Caatinga, único bioma estritamente
brasileiro, apresenta atualmente 348 espécies de aves com um nível de endemismo de 4,3% (LEAL,
TABARELLI, SILVA, 2003).
O Estado da Paraíba, de acordo com Schulz (1995), apresenta uma diversidade de 335
espécies de aves, agrupadas em 55 famílias, onde 16 estão ameaçadas de extinção, 29 são
consideradas raras e 20 vulneráveis. Quando se fala em columbiformes vale salientar que existe
cerca de aproximadamente 310 espécies catalogadas (POUGH; et al, 2003), cujo nome popular é
rolinha-marrom e o cientifico Columbina talpacoti (Temminck, 1811). Tendo em vista que é um
animal popularmente encontrado nas regiões do Brasil, e bem típico da Região Nordeste, mais
especificamente da Zona Rural e Caatinga, e que em virtude da ação do homem vem sofrendo
agressões ambientais que tem levado estas a progredirem do êxodo rural para o urbano (ALVES,
2000).
As aves dessa família têm ampla distribuição geográfica, invadindo praticamente todos os
ambientes terrestres. Apesar do controle endotérmico que essas aves possuem, com o aumento da
construção civil em áreas que antes tinha a flora predominante, com o desmatamento, que é um dos
motivos de sua saída do campo para a cidade, o seu habitat vem se tornando mais aquecido.
A redução da cobertura florestal a fragmentos pequenos vem trazendo conseqüências
negativas para a avifauna, empobrecendo-a consideravelmente (D‘ÂNGELO-NETO et al.,1998). A
degradação atinge também outras vegetações como campos e savanas refletindo em biomas como a
Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Pantanal Mato-Grossense entre outros,
prejudicando principalmente, a fauna e flora endêmicas desses locais. Sendo assim, torna-se
essencial a realização de pesquisas com o intuito de se avaliar o grau de degradação, formular
estratégias para minimizar esses efeitos negativos e contribuir para o desenvolvimento sustentável,
essencial para a vida humana (FIGUEIREDO, 1993).
Como se não bastasse o aquecimento global, o homem ainda contribui para que esses
animais sejam afetados de forma direta com o aquecimento (BORGES; GUILHERME, 2000;
TATSUJ, 2003).

2. OBJETIVOS
Verificar a incidência da espécie Columbina talpacoti;
Avaliar os fatores que tem contribuído com o êxodo rural da espécie
Identificar como está ocorrendo a adaptação na zona urbana;
Comparar a ecologia urbana da Columbina talpacoti com a do Passer domesticus.

3. METODOLOGIA
A pesquisa foi de caráter exploratório, com observação direta da espécie in loco e coleta de
dados da espécie e informações dos moradores.
Os procedimentos do estudo tiveram como base os trabalhos de: D´Angelo Neto et al.
(1998).
O estudo foi desenvolvido através da utilização de transectos (com liberdade de
deslocamento de 10m para ambos os lados) e pontos de observação (com raio de 10m) para as
zonas de mata nativa, em sucessão e através do acompanhamento das vias e alamedas para as áreas
edificadas (ANJOS, 1996; ).
O trabalho teve seu início pela manha, que é o período de maior atividade da maioria das
aves, duas vezes por semana, sendo o inicio no crepuscular ao nascer do sol (entre 05:30h e 07:30h)
e dando continuidade no período da tarde (entre 16:30 e 17:30), a direção do percurso a ser seguida
diariamente foi dividida em grupos escolhidas por zonas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 410

A pesquisa foi realizada entre os anos de 2008 e 2009, na cidade de Campina Grande-PB.
Para execução do trabalho foram utilizados máquina fotográfica digital Sony 4x, e para
identificação do indivíduo adotou-se o guia de identificação do CENTRO DE PESQUISAS PARA
CONSERVAÇÃO DAS AVES SILVESTRES (CEMAVE).
Também foi utilizado um questionário com entrevistas estruturadas (com roteiro), junto à
população desta cidade, a fim de confrontar tais informações observadas durante o trabalho e
opinião da população.

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o estudo foi registrado um elevado número de espécimes da espécie Columbina
talpacoti na zona urbana de Campina Grande-PB.
O registro de alta quantidade de espécimes encontrados na cidade é possivelmente de uma
conseqüência do estado precário de conservação das zonas verificadas, principalmente a rural, ou
porque o seu habitat originário esta localizado em uma área de construção urbana que vem
crescendo com o aumento da cidade de Campina Grande-PB, pois é através dos recursos
alimentares, locais para nidificação e refugio disponíveis que as aves, assim como quaisquer
indivíduos de outros táxons, foram se estabelecer.
Em um estudo da avifauna associada a um reflorestamento de sombreiros nos bairros da
cidade de Campina Grande-PB, demonstraram que, em geral, essa vegetação serve de maneira
natural para reprodução desta espécie, tendo em vista a questão que os galhos são bem próximos e a
folhagem bem extensa, Primarck e Rodrigues, (2001), pois do contrario, quanto menor a
complexidade estrutural da vegetação, menor a riqueza de espécies de aves. Dentre as demais
espécies vistas, duas apresentaram uma media de abundancia, ou seja, foram vistas mais de dez
indivíduos por áreas da zona de observação.
Este número pode ser explicado pelo fato de serem aves com boa adaptação geográfica no
Brasil, pouco exigentes e comuns em áreas urbanizadas a exemplo do pardal Passer domesticus.
As alterações antrópicas drásticas da paisagem implicam que os outros ambientes naturais
podem tornar-se pequeno demais para abrigar espécies de animais que exigem um espaço mais
amplo para sobreviver.
Não é possível preservar a avifauna nos ambientes oferecendo-lhe apenas sobras de
hábitat, desrespeitando as mínimas exigências. Manter aves voláteis em pequenas áreas ou lotes de
mata e campos primitivos, espaços entre terrenos cultivados, impede-as de manter o ciclo biológico
durante o ano todo. Por isso, muitas espécies, após a reprodução, costumam empreender migrações
locais, ligadas em geral à procura de alimentos diferentes, como certas frutas e sementes cuja
ocorrência pode ser local e varia durante o ano. A escassez de lugar para nidificar, como ocos de
árvores de grande porte, pode ser também um fator limitante. Isto proporciona uma migração para
os ambientes urbanos onde encontram tudo o que foi retirado do ambiente natural e ainda tem,
devido às campanhas educativas e os cursos de ciências biológicas da cidade de Campina Grande,
uma redução dos predadores.
À medida que os ambientes naturais são transformados pela atividade humana, os espaços
antes ocupados pelas espécies extintas são tomados por espécies generalistas e amplamente
distribuídos (muitas vezes exóticas), que não só sobrevivem preferencialmente em ambientes
criados pelos humanos, mas também prosperam desproporcionalmente na sua presença, devido à
disponibilidade de recursos alimentares. A exemplo das espécies propensas à extinção, essas
espécies invasoras também tendem a provir de alguns grupos específicos. Ou seja, através de vastas
regiões originalmente heterogêneas e biologicamente ricas, a fauna e a flora estão perdendo as suas
peculiaridades regionais e cada vez mais um número relativamente reduzido de espécies
aparentadas está ocupando a maior parte dos habitats disponíveis.
De acordo com o estudo, os moradores entrevistados afirmaram que são as construções
civis, com o aumento da modernização, instalações de fabricas e habitações populares (Fig. 01 e
02), que com o desmatamento para tais fins, destroem os habitats naturais dessas aves, que por sua
vez atrapalham a sua reprodução, por não haver árvores nativas para construção de seus ninhos,
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 411

como também a escassez de alimento. Estas observações foram constatadas nas observações e
corroboram com dos dados de Sick, 2001; Höfling e Camargo, 2002; Fontana et al, 2003 e Telino-
Junior et al, 2005.
O aumento da construção civil, antropizando as áreas que antes naturais com o
desmatamento, é o principal fator que proporciona a sua migração do campo para as cidades. Isto
também foi verificado em Campina Grande, cuja que a maior incidência urbano foi na zona Sul
(Fig. 03), com um total de 53% dos espécimes totais encontrados.

Figura 01 e 02: Espécimes Zona Sul da cidade de Campina Grande. Foto: MARQUES, João Carlos. 2009

Figura 03: Dados Percentuais dos espécimes encontrados por zona em Campina Grande-PB.
Como considerou Carlton (1996), a adaptação das aves ao ambiente urbano por ser
considerada como uma bioinvasão que é a chegada, o estabelecimento e a expansão de uma espécie
exótica em um local onde não é o seu habitat natural historicamente conhecido, resultante de
dispersão acidental ou intencional por atividades humanas.
As espécies exóticas ou introduzidas são hábeis não somente pela capacidade de se
estabelecerem, mas por tornarem-se invasoras e, então, afetarem as comunidades nativas em seus
respectivos ecossistemas, alterando sua estrutura e função, como é o caso da Columbina talpacoti e
do Passer domesticus. Devido, muitas vezes, à alta adaptação ao local invadido, as espécies
introduzidas ou migratórias acabam por diminuir a biodiversidade nativa através de predação,
competição e doenças trazidas consigo, para as quais as espécies nativas não estão acostumadas.
Para avaliar a ocupação da Columbina talpacoti, foi feito comparações entre a ecologia
urbana das espécies Columbina talpacoti e Passer domesticus no que diz respeito à ocupação no
ambiente urbano e antropizados, através de observações diretas, levantamento bibliográfico e
segundo os dados coletados nas entrevistas, conforme expresso na Tabela 01, a seguir.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 412

ESPECIE Passer domesticus Columbina talpacoti


Alimentação Variável Sementes / grãos
Todos os locais e
Próximo as residências ou em
preferencialmente em lugares
Busca por alimento terrenos baldios para cata de
com presença, restos e dejetos
grãos e sementes
liberados pelos humanos
Ninho Telhados e construções Árvores
Ninhada 05 02
Grupos Dezenas Pares
Interesse humano Considerado praga Caça / Cativeiro
Reprodução Poligamia Monogamia
Tabela 01: Comparativo da ecologia de ocupação das espécies estudadas

Com esses dados fica notório a desvantagem que a C. talpacoti tem contra os P.
domesticus. O fato de sobreviverem em árvores, aos pares e se alimentarem de grãos e sementes e
serem monogâmicos, essa espécie (mesmo no ambiente urbano) não tem muitas vantagens para
sobreviverem.
Ao chegar ao ambiente urbano, a existência de novos concorrentes, como os pardais,
podem diminuir a taxa de captura de alimentos nessas novas áreas, obrigando-as a mudar de local
novamente, agora dentro do próprio ambiente urbano.
Além do ambiente degradado, a escassez da maioria das fontes de alimentos usadas e a
competição por alimento com os pardais em suas áreas naturais, pode está contribuindo para a
expulsão das Columbina talpacoti para as zonas urbanas dos grandes centros.
Uma vez ocupando os centros urbanos a sua permanência parece está associada à
alimentação, pois a sua permanência e reprodução esta associada à fartura de alimentos.
Características comportamentais, uma vez que está espécie é bioindicadora de qualidade
ambiental, também facilitam sua adaptação, como a sua coloração, pois suas cores e os padrões
passam a ter papel importante no comportamento social das aves e na habilidade de ser detectadas
por predadores. Esta coloração facilita o mimetismo durante os momentos de forrageio, para
disfarçar durante a busca por alimento no chão, tendo em vista que em áreas descampadas e por
estradas, ela passa por despercebida. Na zona urbana ela se beneficia da coloração das telhas de
barro para fazer o mesmo processo. Pois segundo Fernandes (1981), as cores das penas
freqüentemente assemelham-se ao ambiente o que serve como proteção.

5. CONCLUSÕES
A espécie Columbina talpacoti, esta se adaptando bem na zona urbana de Campina
Grande-PB, devido a condições favoráveis encontradas na cidade tais como: alimentação natural e
fornecida, árvores típicas para a construção de ninhos e a visão da população, em sua grande
maioria, não associar a ave como forma de alimento; havendo apenas um pequeno grupo de pessoas
aproveitando-se deste acontecimento para fins meramente lucrativos com a captura e venda dessas
aves nas feiras locais;
O que parece ter levado essas aves a migrar de habitat são os desmatamentos, a construção
civil e a concorrência com outras aves, tais como o pardal, que tem infestado o seu habitat de
origem;
Torna-se necessário preservar o seu habitat natural, como também, proporcionar condições
favoráveis a estas aves que já se encontraram em nosso meio;
Mesmo estando dividindo o ambiente urbano junto com os pardais, as columbinas levam
desvantagens adaptativas devido às diferenças ecológicas;
Os seres humanos podem contribuir, pois, é o único animal que modifica o ambiente que
ocupa e pode até destruir habitats acelerando o processo de desaparecimento de muitas espécies, é
bom lembrar que a natureza precisa ser respeitada para estar em equilíbrio, aos poucos sem perceber
podemos estar ameaçando a nossa própria sobrevivência.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 413

6. REFERÊNCIAS
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Janeiro: EdUERJ, 2000. p.273-285.
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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 414

PRAGA DO COCO, Coraliomela brunnea THUNBERG, (1821)


(COLEOPTERA: CRISOMELIDAE) EM PLANTIOS
COMERCIAIS NO MUNICÍPIO DE SINOP-MT

Ronaldo Augusto Dreher FERRARI


Acadêmico do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
ronaldo.df.florestal@hotmail.com
Janaína DE NADAI
Prof. Adjunto I. Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av. Alexandre Ferronato, 1200,
Setor Industrial - janadenadai@gmail.com
Letícia F. RAMOS
Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
leticiaramosengf@gmail.com
Érica M. da ROCHA
Acadêmica do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Mato Grosso Campus de Sinop, Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial
erika__menininha@hotmail.com

RESUMO
O cultivo de coco (Cocos nucifera L.) é uma importante alternativa de emprego e renda
para pequenos produtores rurais do norte de Mato Grosso. A Falsa-barata Coraliomela brunnea
Thunberg, (1821) é uma praga que ataca as plantas causando danos irreversíveis resultando em
perda significativa na produção de coco. Foi realizado um estudo com o objetivo de registrar pela
primeira vez a ocorrência da Falsa-barata e as injúrias ocasionadas aos coqueiros localizados no
município de Sinop Mato Grosso, Brasil. As injúrias foram analisadas em plantas com 12 e 07 anos
de idade. Todas as plantas apresentaram sinal do ataque da praga porém as plantas mais jovens
foram mais severamente atacadas.
PALAVRAS-CHAVE: Falsa-Barata; Praga Florestal; Proteção Florestal

ABSTRACT
The cultivation of coconut (Cocos nucifera L.) is an important alternative employment and
income for small rural producers of northern Mato Grosso. The false-cheap Coraliomela brunnea
Thunberg, (1821) is a plague strikes plants causing irreversible damage resulting in significant loss
in production of Coco. A study was carried out with the goal of registering for the first time the
occurrence of False-cheap and injuries occasioned to coconut located in the municipality of Sinop
Mato Grosso, Brazil. The injuries were analyzed in plants with 12 and 7 years of age. All plants
showed sign of attack of Prague but younger plants were more severely affected.
KEYWORDS: False-Cheap; Forest Prague; Forest Protection

INTRODUÇÃO
O município de Sinop localizado ao norte do Mato Grosso tem na extração de madeira,
pecuária e agricultura a base da economia, que é dominada pelos grandes fazendeiros e indústrias
madeireiras, dessa forma pequenos produtores tem dificuldades para manter suas atividades
agropecuárias bem como disputar pelo mercado cada vez mais competitivo, entretanto estes
pequenos produtores encontraram na cultura do coco (Cocos nucifera L.) uma alternativa de
sobrevivência e renda familiar, visto que as condições edafoclimáticas e o mercado consumidor
local são favoráveis a produção da referida cultura.
No Brasil tem-se realizado o cultivo de coco com duas finalidades distintas,
produção de coco-seco com pouca expressão no cenário nacional e coco-verde, vendido e
consumido in natura, Teixeira et al. (2005). O mercado da água de coco cresce de forma
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 415

significativa a cada ano, principalmente pelas recentes descobertas que revelaram, na água de coco,
uma gama de sais minerais e outros elementos essenciais à saúde humana.
A incidência de insetos desfolhadores prejudica significativamente a produção de
coco, pois diminui a área verde da planta, reduzindo a produção de fotoassimilados tendo
conseqüente decréscimo na produção de frutos, resultando em prejuízos econômicos aos produtores.
As pragas atacam a cultura do coqueiro em todas as suas diferentes fases fenológicas. Lepesme
(1947) listou 751 espécies que ocorrem em palmeiras, das quais 22% são específicas ao coqueiro.
Nirula (1955) revisou a distribuição mundial das pragas do coqueiro e listou 106 insetos e um ácaro
ocorrendo em vários países do mundo. A FAO (Food and Agriculture Organization of the United
Nations) divulgou 254 espécies (1964); Lever (1969) descreveu 110 espécies e Kurian et al. (1979)
listou 547 insetos e ácaros atacando o coqueiro em diversos países produtores.
Dentre as pragas do coqueiro a Falsa-barata, Coraliomela brunnea Thunberg, (1821)
merece destaque. É citada como praga do coqueiro por vários autores entre os quais Bondar (1940);
Lepesme (1947); Franco (1968); Ferreira et al. (1984); e Ferreira et al. (1998) relacionados à
cultura. As larvas da Falsa-barata alimentam-se fazendo perfurações nos folíolos reduzindo a área
foliar da planta jovem e provocando atraso do desenvolvimento e da produção do coqueiro. A
intensidade do dano está diretamente relacionada ao tamanho e número de larvas e adultos na
planta. No caso de severas infestações, pode ocorrer completa destruição das folhas centrais e morte
da planta. Apesar de não haver na literatura registro de dados que mostrem as perdas econômicas de
um plantio, em razão do ataque da Falsa-barata, medidas adequadas de controle devem ser
adotadas, tão logo sejam notados os primeiros sinais de ataque desta praga.
A presença da Falsa-barata tem sido registrada no Brasil, Paraguai e Argentina,
(Lepesme, 1947). No Brasil, é observada nos estados do Amazonas, Bahia, Maranhão, Mato
Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul,
Sergipe e São Paulo, Silva et al. (1968).
O objetivo deste estudo é registrar, pela primeira vez, a ocorrência de Coraliomela
brunnea e suas injúrias a um plantio comercial de coqueiro no município de Sinop MT.

MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado em um coqueiral de 7,4 ha, espaçamento de 6m x 5m entre linhas e
plantas totalizando 2.480 plantas, divididas em dois talhões, um com plantas de 12 anos de idade e
outro com plantas de 7 anos. A área de estudo fica localizada na Chácara 462, Bairro São Cristovão,
Km 1 na cidade de Sinop, estado de Mato Grosso, em região plana de transição entre Cerrado e
Floresta Amazônica, com cerca de 384 metros de altitude, precipitação pluviométrica média de
2000mm/ano e temperatura média anual entre 24 e 26° C (INMET, 2009).
A praga foi diagnosticada através de vistorias e coletas, posteriormente identificada
com auxílio de chaves dicotômicas no laboratório de Biologia Animal da Universidade Federal de
Mato Grosso - Campus de Sinop.
Para quantificar os danos causados às plantas foram instaladas, de forma aleatória,
seis parcelas de 50m x 10m, sendo três parcelas no talhão de plantas com 12 anos e três parcelas no
talhão de plantas com 07 anos. Cada planta recebeu uma identificação metálica presa ao fuste por
fio de arame galvanizado contendo o número da planta. Para isso, um mesmo avaliador atribuiu
uma nota para cada planta de cada parcela, aquelas com 12 e aquelas com 07 anos de idade,
definida com base em uma escala visual de intensidade de estragos nas folhas, adaptada de uma
metodologia descrita por De Nadai (2008), onde: Nota 0 = planta com folhas não atacadas; Nota 1 =
planta pouco atacada, menos de 50% da área verde da planta, e Nota 2 = planta muito atacada, mais
de 50% da área verde da planta.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A presença da Falsa-barata foi verificada nas primeiras horas do dia através de vistoria
realizada no início da primeira quinzena de novembro de 2009 quando foi confirmada a presença de
3 a 12 insetos por planta, em geral em folhas novas e após períodos de chuva.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 416

Todas as plantas observadas apresentaram sinal de dano, ocasionado pela Falsa-


barata, os dados estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Quantidade de plantas atacadas, em local de ocorrência de ataque por


Coraliomela brunnea Thunberg, (1821). Sinop, MT, 2009.

Idade Nota (*)


Plantas mortas
(anos) 0 1 2

7 0 13 25 0

12 0 31 6 1

(*) Nota 0 = planta com folhas não atacadas; Nota 1 = planta pouco atacada, menos de
50% da área verde da planta e Nota 2 = planta muito atacada, mais de 50% da área verde da planta.

Para cada talhão foi calculado o percentual de plantas classificadas com Nota 1 e 2. No
talhão de plantas com 7 anos foram analisadas um total de 38 plantas sendo que destas 34,2%
receberam Nota 1 ou seja, tiveram menos de 50% da área verde atacada, 65,8% das plantas
receberam Nota 2 ou seja, apresentaram mais de 50% da área verde atacada e nem uma planta morta
em função do ataque da praga. No talhão de plantas com 12 anos foram analisadas um total de 38
plantas, sendo que destas, 81,6% receberam Nota 1 ou seja, tiveram menos de 50% da área verde
atacada, 15,8% das plantas receberam Nota 2 ou seja, tiveram mais de 50% da área verde atacada e
uma planta morta em função do ataque da praga. Ferreira et al. (1984) relataram que altas
infestações dessa praga em coqueiros jovens, podem matar as plantas.
O talhão com plantas de menor idade foi mais severamente atacado, isto é condizente
com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA (2006) quando relatou associações
da praga à cultura nas fases mais jovens e em áreas recém implantadas. Franco (1968) registrou o
afinamento do tronco do coqueiro e efeitos negativos na frutificação a partir da infestação da praga.

CONCLUSÂO
A presença de Coraliomela brunnea Thunberg (1821), foi identificada pela primeira
vez em Sinop MT no mês de novembro de 2009;
As injúrias ocasionadas à planta de coco resultam na redução da fotossíntese e até a
morte da planta;
O ataque é mais severo em plantas jovens. Em 100% da plantação de coqueiro
vistoriada havia sinais do ataque.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DE NADAI. Morfologia, conseqüência do ataque de Lampetis nigerrima (Kerremans,
1897) (Coleoptera: Buprestidae) e poda de correção em clone de eucalipto. 2008. 85p. Tese
(Doutorado em Entomologia) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA), MOREIRA,
M. A. B.; TUPINAMBÁ, E. A.; Avaliação de Genótipos de Coqueiro, Cocos nucifera (L.)
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Chrysomelidae) no Estado de Sergipe. EMBRAPA – Circular Técnica N° 43, Aracaju SE,
dezembro, 2006.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 417

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Colombo, Sri Lanka, 30 Nov. 8 Dec. 1964).
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no Brasil. 2a. Ed Aracaju: Embrapa-SPI, 1998. 309 p.
FRANCO, E. A barata do coqueiro. Mundo Agrícola, v. 9, p. 8-9, 1968.
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KURIAN, C.; SATHIAMMA, B.; PILLAI, G.B. World distribution of pests of coconut.
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LEPESME, P. Les insectes des palmiers. Paris: Paul Lechevalier, 1947. 904p.
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NIRULA, K. K. Investigations on the pests of coconut palm. Part I. Indian Coc. J., v.8,
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SILVA, A. G. D‘Araújo; GONÇALVES, C. R.; GALVÃO, D. M. et. al. Quarto catálogo
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TEIXEIRA, L.A.J.; BATAGLIA, O.C.; BUZETTI, S.; Adubação com NPK em coqueiro
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Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 27, n. 1, p. 115-119, Abril 2005

AGRADECIMENTOS
A madeireira Brites & Brites Madeiras por disponibilizar a área estudada.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 418

PREGUIÇAS-DE-GARGANTA-MARROM Bradypus variegatus


HABITANTES DE PRAÇAS PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DE RIO
TINTO, PARAÍBA

Manuel Hidelbrando de SOUZA JÚNIOR


Graduando do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco
– UFRPE.
manuelhsjunior@gmail.com
Scheilla Araújo Xavier de MELLO
Graduanda do Curso de Medicina Veterinária da UFRPE.
scheillaaxm@hotmail.com
Gileno Antonio Araújo XAVIER
Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal – DMFA da UFRPE, Rua Dom
Manoel de Medeiros, s/n, 52.171-900, Recife – PE.
gileno@dmfa.ufrpe.br

RESUMO
A arborização realizada, em muitas cidades, com o uso de poucas espécies e ainda de
forma descontínua, propicia perdas de biodiversidade, ou seja, as espécies de fauna que poderiam
visitar áreas urbanas, não são atraídas para tal em função de abrigos precários e pouca fonte de
alimentação. Este trabalho objetivou analisar as condições de vida da população de preguiça-de-
garganta-marrom Bradypus variegatus em praças públicas de Rio Tinto-PB e demonstrar a
necessidade de arborização destas áreas para a conservação desses animais.Com base nos resultados
do presente estudo, relata-se pela primeira vez a observação do comportamento de preguiças da
espécie Bradypus variegatus, de vida livre, que eliminam seus excrementos depositando-os no
tronco ou das bordas das árvores. Os dados aqui apresentados podem servir como argumentos
científicos para alertar os órgãos competentes sobre a necessidade de arborização da Praça João
Pessoa, enriquecendo-a com espécies arbóreas nativas visando a conservação das preguiças que ali
habitam.
PALAVRAS-CHAVE: Preguiça-de-garganta-marrom, Bradypus variegatus, Fauna
Urbana, Arborização.

ABSTRACT
The trees held in many cities, with the use of few species and even discontinuously,
promotes loss of biodiversity, namely species of wildlife that might visit urban areas, are not
attracted to it due to poor shelter and little power supply. This study aimed to examine the
conditions of life of brown-throated three-toed sloth Bradypus variegatus in public squares of Rio
Tinto-PB and demonstrate the need for afforestation of these areas in the preservation of animais.
Based on the results of this study, reports for the first time to observe the behavior of the species of
sloths Bradypus variegatus, free life, which eliminate their excrement depositing them in the trunk
or the edges of trees The data presented here can serve as scientific arguments to alert the
competent bodies about the need for afforestation of Praça João Pessoa, enriching it with native tree
species to promote the conservation of sloths who live there.
KEYWORDS: Brown-throated three-toed sloth Bradypus variegatus, Fauna Urban,
Afforestation

INTRODUÇÃO
É urgente realizar esforços para a manutenção dos ambientes naturais paralelamente aos
estudos das espécies em vida livre e em cativeiro (ROCHA-MENDES et al., 2006). Todas as ações
voltadas à defesa e preservação da fauna não estão à altura do status diferenciado que este recurso
ambiental adquiriu a partir da Constituição de 1988 (BRANCO, 2007).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 419

Durante o século XIX, com o aumento das populações urbanas e a mudança dos hábitos
sociais, inicia-se o projeto de paisagismo urbano no país, tendo como principal cliente, a elite do
Império e da República Velha, que patrocinou o ajardinamento e tratamento paisagístico das suas
áreas de moradia, promovendo a criação de praças, parques, promenades e jardins sofisticados,
pelas quais passeavam as famílias de posses (WEIMER, 2005).
Nas áreas urbanas, os parques desempenham um importante papel para a sociedade, pois
proporcionam uma maior qualidade de vida à população, podendo servir como local de lazer,
recreação e educação ambiental (MAGNOLI, 1986). Da mesma forma podem ser fundamentais
para a conservação de espécies, podendo servir como refúgio para populações faunísticas afetadas
pela destruição de habitats naturais (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Como resultado da intervenção antrópica, a paisagem urbana geralmente se apresenta
fragmentada em um mosaico de diferentes ambientes e, tanto a estrutura da vegetação, quanto a sua
composição florística, costumam diferir daquela originalmente presente, disponibilizando, portanto,
condições e recursos distintos a serem explorados pela fauna (MENDONÇA & ANJOS, 2005).
Nesta estrutura modificada, a arborização realizada, em muitas cidades, com o uso de
poucas espécies e ainda de forma descontínua, propicia perdas de biodiversidade, ou seja, as
espécies de fauna que poderiam visitar áreas urbanas, não são atraídas para tal em função de abrigos
precários e pouca fonte de alimentação. Nestas condições, apenas poucas espécies conseguem
sobreviver em áreas urbanas (BRUNI et al., 2007).
Em seu artigo sobre observações de preguiças, Luederwaldt (1918) menciona a presença
desses animais em praças públicas de grandes cidades. O autor cita populações de preguiças que
habitavam livremente o Jardim da Luz, São Paulo-SP e um jardim público na Cidade de Santos-SP.
Em 1948, preguiças foram introduzidas em uma praça de Barra Mansa-RJ, o Parque
Centenário, também conhecido como Jardim da Preguiça devido à presença dessa espécie. O parque
hoje hospeda pouco mais que 15 animais, mas já foi habitado por até 50 preguiças (ROCHA, 2006;
RAMOS et al., 2007). Nesta mesma década, um casal de preguiças foi levado para a Praça XV de
Novembro em Valença-RJ. Os animais de Barra Mansa são considerados os antepassados dos que
vivem em Valença (ROCHA, 2006).
Em seus estudos ROCHA et al. (1998) analisaram o modo de vida de preguiças que viviam
na porção norte da Praça do Derby, Recife-PE.
Quando realizaram pesquisas para analisar a presença de parasitoses e a dieta consumida
por uma população de preguiças, Manchester et al. (2003a) utilizaram 25 animais que habitavam a
Praça Tiradentes no centro da cidade de Teófilo Otoni-MG.
Em outra pesquisa realizada com esta mesma população de preguiças, Manchester et al.
(2003b) afirmaram o nascimento de animais albinos, a morte prematura de filhotes, a ocorrência de
animais com malformações nos membros notadas em várias preguiças desta população isolada na
praça, podem ter sido consequencias de endocruzamemtos. Segundo estes autores a endogamia em
animais depende do acasalamento entre indivíduos aparentados e a probabilidade de que isso ocorra
depende da capacidade de dispersão dos mesmos; e que o resultado desta endogamia em populações
pequenas, devido aos efeitos de fundador e de deriva genética, pode ocasionar o nascimento de
animais portadores de alterações genéticas e a diminuição do valor adaptativo da progênie.
Os resultados da pesquisa realizada por Manchester et al. (2003b) serviram de argumentos
científicos para alertar os órgãos competentes sobre a necessidade de um manejo adequado daqueles
animais para um novo local, com indivíduos da mesma espécie, para permitir o restabelecimento
do fluxo gênico.
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Teófilo Otoni-MG, existe um
projeto que visa transferir as preguiças, que há décadas habitam a Praça Tiradentes, para um
―Parque das Preguiças‖, longe do movimento do centro comercial e da poluição sonora, que
estariam comprometendo a saúde, estressando e dizimando os animais. Atualmente são 20
indivíduos de uma mesma família que ainda vivem na praça (GONÇALVES, 2009).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 420

Situada no centro do Município de Valença-RJ, a Praça XV de Novembro, conhecida


popularmente como Jardim de Baixo, caracteriza-se pela presença de uma população de 12
preguiças que habita ali a cerca de 50 anos (CONSENTINO, 2004; AMA, 2006).
As preguiças-de-garganta-marrom, Bradypus variegatus, são folívoras, preferencialmente
brotos, folhas jovens, flores e frutos, e arborícolas, sendo encontradas próximo ao topo das árvores
(MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975). Queiroz (1995) encontrou 94% de folhas na sua dieta.
A seletividade alimentar das preguiças é notadamente alta (EISENBERG &
MALINIAK,1985). Na natureza, as preguiças, enquanto espécie, foram consideradas generalistas e,
enquanto indivíduos, foram considerados especialistas, utilizando pequeno números de espécies
vegetais (MONTGOMERY & SUNQUIST,1975).
São consideradas o mais importante vertebrado consumidor primário da copa das florestas
neotropicais. As áreas de uso das preguiças são, em média, inferiores a 2 ha (MONTGOMERY &
SUNQUIST, 1975). Nenhum mamífero está tão bem adaptado para viver em árvores e se alimentar
delas como as preguiças. (SANTOS, 1945; LUNDY, 1952; MONTGOMERY & SUNQUIST,
1975). Elas são vitais para a saúde dos ecossistemas. Estes herbívoros arbóreos são capazes de
alcançar ramos inacessíveis às outras espécies e exercem um papel importante como recicladores
dos nutrientes das matas (MORENO et al, 2008).
Luerdwaldt (1918) observou que as preguiças possuem memorial local. Montgomery &
Sunquist (1975) afirmaram que cada preguiça possui ―árvores modais‖ onde concentram sua
atividade e onde são freqüentemente encontrados. Nessas árvores são geralmente depositadas urina
e fezes produzidas semanalmente após lenta descida do animal ao pé da mesma (MONTGOMERY,
1983).
Segundo Eisenberg (1981), as preguiças não são exatamente animais solitários, e sim
animais com estrutura social não-coesiva, uma vez que existem anualmente dois tipos de associação
forte entre preguiças: macho-fêmea durante acasalamento e mãe-filhote. Comportamentos
agonísticos foram citados por diversos autores (LUERDWALDT, 1918; LUNDY, 1952; GREENE,
1989).
Um dos principais causadores de acidentes para esta espécie são os fios de alta tensão
quando usados pelos animais como apoio para se deslocarem, levando violentos choques que
causam desde queimaduras até amputações e morte (MESSIAS-COSTA, 2001; CONSENTINO,
2004; MARTÍNEZ et al. 2004).
Seus hábitos arborícolas torná-os altamente vulnerável no chão (MORENO & PLESE,
2006). Não se adaptam facilmente à vida em cativeiro, pois são pouco resistentes. Quando
removidas do seu habitat natural, sobrevivem por poucos meses (CRANDALL, 1964).
Provavelmente, esta dificuldade não seja somente uma resposta a esta situação, mas também um
reflexo de requerimentos nutricionais específicos (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1975). Não se
recomenda sua manutenção em cativeiro devido a sua alimentação altamente especializada,
(IBAMA, 2002).
Atualmente, devido às grandes alterações geradas pelas atividades humanas,
principalmente pelo processo de urbanização, é de grande importância a realização de trabalhos de
avaliação da alteração da fauna devido à influência humana e recursos necessários para sua
sobrevivência (BRUNI et al., 2007).
Com base nestes aspectos, o presente trabalho objetivou analisar as condições de vida da
população de preguiça-de-garganta-marrom Bradypus variegatus em praças públicas de Rio Tinto-
PB e demonstrar a necessidade de arborização destas áreas para a conservação desses animais.

METODOLOGIA
O Município de Rio Tinto foi criado em 1956 e está localizado na Microrregião Rio Tinto
e na Mesorregião da Mata Paraibana, a 60 km da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. Com
sede municipal nas coordenadas 6º4‘23.29‖ S e 35º04‘30.54‖ W, ocupa uma área de 466 Km2. O
clima é do tipo Tropical Chuvoso, com precipitação média anual de 1.634.2mm (PBTUR, 2010).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 421

Para a coleta de dados foi realizado pesquisa e reconhecimento da área; observações


diretas, com auxilio de binóculo; coleta de informações com transeuntes e com relatos de moradores
do entorno, além de registros de imagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Praça João Pessoa – reconheceu-se que a praça tem o formato em meia lua, porém
constituída por dois segmentos separados por uma avenida. Para fins de descrição convencionou-se
enumerar os dois segmentos. Tomando-se como referência à avenida no sentido sul-norte a porção
01 corresponde a hemi-praça localiza-se à direita e a porção 02, à esquerda da avenida.
A porção 01, apresenta de uma pequena travessa, uma ruela que corta esta porção
diagonalmente. Ruela na qual funciona um terminal de ônibus. Possui 13 árvores, sendo quatro da
Família Combretaceae Terminalia catappa relativamente jovens e distribuídas de modo espaçado e
nove, Moraceae Ficus benjamina, centenárias. Segundo SVMA-SP (2005) a T. catappa são
originárias da Malásia e suas copas podem atingir grandes dimensões e F. benjamina são de origem
pantropical podendo atingir grandes dimensões em altura, diâmetro de tronco e copa.
Com relação a F. benjamina, a base do tronco de todos exemplares está circunscrita por
mureta, de aproximadamente 30cm de altura, contendo substratos arenosos. Somente seis destas
árvores apresentam conectividade de copas.
Apesar de uma moradora antiga relatar sobre a existência de uma grande quantidade de
preguiças, há muitos anos atrás, não foram observados animais e nem depósitos de fezes nesta área
da praça.
Por sua vez, a porção 02 também apresenta uma pequena travessa, que foi transformada
recentemente em calçadão para lazer e esporte da comunidade, o que inviabilizou o trânsito de
automóveis no seu interior. Também se destaca a presença de pequenas lojas, bares e restaurantes.
Possuindo 15 árvores, sendo quatro T. Catappa e 11 F. benjamina com características semelhantes
às citadas anteriormente. Deste lado da praça, todas as F. benjamina apresentam também as
estruturas de muretas na base de seus troncos. Destas, oito mantém conexão de suas copas e servem
de abrigo para 11 preguiças.
Nas duas áreas, foram observados que: as espécies vegetais não apresentam conexões das
suas copas; os fios de alta tensão e de telefonia mantêm grande proximidade com os galhos das
árvores; podas não são realizadas de modo sistemático e as mesmas não são delimitadas por cercas
de proteção.
Praça Casto Alves – localizada a esquerda da porção 02 da Praça João Pessoa e separada
desta por um quarteirão residencial. Não apresenta características estruturais de uma praça
urbanizada, pois está constituída de uma pequena área de formato retangular que comparta,
somente, quatro árvores de grande porte distribuídas linearmente ao longo do seu comprimento.
Estas árvores centenárias, da Família Moraceae não se encontram circunscrita por canteiros como
observado na Praça João Pessoa; apresentam conexões de suas copas. Nela ocorre semanalmente a
venda de animais domésticos, fios de alta tenção e de telefonia não mantêm proximidade com as
árvores. Foram observados apenas quatro animais.
As preguiças das praças de Rio Tinto modificaram seus hábitos alimentares forçosamente,
sobrevivendo apenas das folhas de uma única espécie de árvore, F. benjamina, mesmo sendo
consideradas generalistas de acordo com afirmação de Montgomery & Sunquist (1975).
Segundo relatos de moradores antigos, nas duas praças as preguiças deslocam-se para as
extremidades dos galhos no intuito de eliminar, do alto, os excrementos, as fezes e urinas. Tal
comportamento não condiz com as afirmações de Montgomery & Sunquist (1975) e Montgomery
(1983). Também relataram que os animais levam aproximadamente 30 minutos, sendo risco para
transeunte pouco atento.
Em uma única árvore da espécie F. benjamina, localizada na Praça João Pessoa,
especificamente em uma das ramificações do seu tronco principal, foi observado um grande
acúmulo de fezes destes animais (Figura 1). Tal volume de excrementos trasborda e também se
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 422

acumulam nas ramificações das raízes aéreas localizada logo abaixo e no substrato arenoso do
canteiro que delimita a árvore (Figura 2).
Apesar da literatura citar que é comum o comportamento agonístico entre machos, foi
observado o encontro de dois machos em um mesmo galho, porém não expressaram tal
comportamento.
Foram relatados casos em que dois animais, em situações distintas, utilizaram fios de
telefonia como substratos para realizar deslocamentos em busca de outras áreas de uso. Um deles
foi capturado pela comunidade, antes que o animal atingisse fios de alta tensão e sofresse acidente
com choque elétrico, porém o outro
não teve a mesma sorte, morreu
eletrocutado.
Percebeu-se a necessidade
urgente de arborização de grande
parte da Praça João Pessoa que se
encontram desprovidas de cobertura
vegetal, como afirmaram Bruni et
al. (2007).

Figura 1 - Deposito de fezes de B. variegatus em tronco de F.


benjamina, visto do alto da árvore.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados do presente
estudo, relata-se pela primeira vez a observação do
comportamento de preguiças da espécie Bradypus
variegatus, de vida livre, que eliminam seus
excrementos depositando-os no tronco ou das bordas
das árvores. Os dados aqui apresentados podem
servir como argumentos científicos para alertar os
órgãos competentes sobre a necessidade de
arborização da Praça João Pessoa, enriquecendo-a
com espécies arbóreas nativas visando à
conservação das preguiças que ali habitam.

AGRADECIMENTOS
Aos moradores da Cidade de Rio Tinto pela Figura 2 – Árvore F. benjamina modal onde se
simpatia, acolhimento e atenção na hora das coletas encontra o depósito de fezes. A seta indica o local do
das informações. acúmulo.

REFERÊNCIAS
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 423

BRANCO, A. M. Vida silvestre: o estreito limiar entre preservação e destruição.


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A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 425

RELAÇÃO SOCIEDADE NATUREZA NO CAMPUS I DA UFPB –


CONFLITO ENTRE OS ANIMAIS EXÓTICOS E A MATA
ATLÂNTICA E SEUS ANIMAIS ENDÓGENOS

Cleytiane Santos da SILVA


Graduandos no Curso de Geografia da UFPB
cleytiane_santos@hotmail.com
Dinaever Lima de MOURA
Graduandos no Curso de Geografia da UFPB
dinaeverufpb@hotmail.com
Pablo Rodrigues ROSA
Consultor Ambiental
prrosa@hotmail.com
Paulo Roberto de Oliveira ROSA
professor da UFPB
paulorosa_ufpb@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar as relações sociedade natureza no Campus I da
UFPB, tendo como base os conflitos existentes entre os animais exóticos e a Mata Atlântica lá existente e
seus animais endógenos. Para isso esclarecemos a necessidade da existência de um planejamento para que se
possa efetuar a gestão geo-ambiental através da definição de conflitos provenientes da relação inadequada da
sociedade com a natureza. Percebendo que a Cidade Universitária está dentro de um sistema florestal de
Mata Atlântica e que nela encontram-se cães e gatos domésticos, os quais não constam em sua
biodiversidade natural, constituindo uma grande quantidade de seres exóticos ao ecossistema, destaca-se o
daí o conflito que embasa este trabalho. Buscou-se a compreensão da questão ambiental existente neste
território identificando de forma democrática algumas alternativas para solucionar a questão através da
metodologia que englobou a consulta aos usuários do campus. O resultado da consulta apontado como
solução para o conflito ambiental pesquisado foi o de levar os animais para adoção.
PALAVRAS-CHAVE: planejamento – gestão geo-ambiental – animais exóticos e
endógenos – mata atlântica.

ABSTRACT
This work aims to present the relations between society and nature in the Campus I of
UFPB, based on the conflicts among the exotic animals and the Atlantic Forest and it biome. For
that, we clarify the need to have a plan to improve the geo-environmental management through
knowledge of the conflict between society and nature. Identifying that the campus is in the Atlantic
Forest biome and that dogs and cats found there are exogenous to this system, stands around the
conflict. We sought provide a better understanding of environmental questions existing in this
territory identifying some options for solving the problem in a democratic way, for such, we used as
the methodology a public consult with campus users. The query result as a solution to the
environmental conflict has to bring the animals up for adoption.
KEYWORDS: planning – geoambiental management – exotic and endogenous animals –
atlantic forest.

INTRODUÇÃO
O Campus I da Universidade Federal da Paraíba está localizado em João Pessoa, no Estado
da Paraíba, onde se encontra um remanescente florestal de Mata Atlântica. Apesar desta mata se
encontrar fragmentada e intercalada pelas edificações, verifica-se nesse sistema florestal populações
vegetais endógenas que compõem sua biodiversidade natural e que ainda persistem na vivência
dentro e no entorno de tais fragmentos.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 426

Por outro lado se verifica a abundância de cães e gatos domésticos no interior do Campus,
e que não constando na biodiversidade natural do ecossistema dos fragmentos florestais, acabam
constituindo uma grande quantidade de seres exóticos à paisagem ali remanescente.
A sociedade vizinha do Campus tem trazido cães e gatos, abandonando-os de forma
arbitrária e não advertida dentro das suas dependências, talvez por acharem que ali estarão seguros e
terão alguma chance de sobrevida. Contudo, com o incremento populacional desses animais no
Campus I da UFPB, alguns problemas ambientais têm sido observados a tal incremento
populacional associado.
Perante o que já se viu, afirma-se da necessidade de planejamento, principalmente no que
tange à tomada de decisões futuras ao tipo de problema ambiental envolvido, isto é, desequilíbrio
populacional, sendo para tal indispensável o embasamento teórico para dar sustentação aos
argumentos propostos e que formarão os objetivos e as estratégias nas decisões a respeito.
A viabilidade de uma gestão ambiental responsável depende de um coerente planejamento
de ações que intervenham no meio ambiente.
Com base nessas observações e assertivas, é salutar aos gestores do Campus I, promover
ações mitigadoras ante ao desequilíbrio ambiental decorrente do elevado número de cães e gatos
domésticos e exógenos à paisagem natural dos fragmentos de mata Atlântica nas dependências da
UFPB em João Pessoa, sem que, no entanto, privem esses animais exóticos de todas as assistências
que lhes são necessárias.
Teve então por objetivo este trabalho a realização de uma consulta pública aos usuários do
Campus I, com fins de coletar dados e analisá-los, visando elaborar um documento propício à
gestão do problema ambiental apresentado.

PLANEJAMENTO E GESTÃO GEO AMBIENTAL


O planejamento pode ser conceituado como um processo, desenvolvido para o alcance de
uma situação desejada de um modo mais eficiente e efetivo, com a melhor concentração de esforços
e recursos (OLIVEIRA, 2006, p. 20).
Ao planejar é preciso considerar os interesses de todas as partes envolvidas, ou seja, para
que ou para quem se está planejando, devendo assim atender não só aos interesses dos seus
gestores, mas de todos os envolvidos no processo, caso contrário o sucesso será parcial e a
insatisfação no futuro poderá comprometer toda a estrutura de uma dada instituição. Segundo
Oliveira (2006), o propósito do planejamento é o desenvolvimento de processos, técnicas e atitudes
administrativas, as quais proporcionam uma situação viável de avaliar as implicações futuras.
Para Franco (1985), gestão é o conjunto dos acontecimentos verificados na entidade, sejam
fatos contábeis ou atos administrativos. Sendo assim, a gestão se divide em duas partes, uma de
caráter econômico e outra de natureza puramente técnica ou administrativa. A gestão técnica atua
em cunho social, a exemplo da produção de bens, na indústria, ou serviços e nas entidades
prestadoras de serviços, enquanto a gestão administrativa é aquela que rege o pessoal envolvido a
procura dos objetivos sociais.
A gestão ambiental está essencialmente voltada para organizações, podendo ser definida
como sendo um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e operacionais que
levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente através da
minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação,
ampliação, realocação de empreendimentos ou atividades.
Para designar ações ambientais em determinados espaços geográficos, tem-se, por
exemplo, a gestão ambiental de bacias hidrográficas, gestão ambiental de parques e reservas
florestais, gestão de áreas de proteção ambiental, gestão ambiental de reservas de biosfera e outras
tantas modalidades de gestão que incluam aspectos ambientais.
De acordo com as diretivas acima enunciadas, percebe-se ser necessário que todas as
organizações possuam planejamentos estratégico, táticos e operacionais, para que se realize uma
gestão técnica ou administrativa geo-ambiental, buscando assim minimizar os riscos de impactos
futuros que a sociedade possa causar ao meio ambiente.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 427

RELAÇÃO SOCIEDADE NATUREZA


Após o ECO 92, verifica-se a existência de uma preocupação com as ações humanas e suas
consequências sobre o meio ambiente, o que vem fortalecendo algumas atitudes para com a
preservação do meio ambiente por parte dos cidadãos, de modo tal que as florestas passaram a ter
maior reconhecimento como espaço que presta serviços ambientais múltiplos, fundamentalmente
ecológicos e socioculturais. Associada à visão que esta constitui sobre espaço natural, que deve ser
preservado em boas condições para as gerações futuras, isso implica em novas práticas e formas de
conservar as suas características ecológicas.
O homem, porém mesmo com todos os avanços no que diz respeito às questões ambientais,
ainda provoca alteração em seu ambiente visando um fim imediato e óbvio. E suas intervenções ao
ambiente sob o ponto de vista humano podem ser benéficas, porém para a natureza alteram o seu
ciclo e podem provocar mudanças inesperadas como: extinção de espécies animais e vegetais,
mudanças climáticas, entre outros impactos ao meio ambiente.
Segundo Drew (2002), o método empregado para iniciar uma alteração ambiental recebe o
nome de desencadeamento, sendo vários os fatores, e.g., fogo, introdução de uma planta ou espécies
estranhas de animais, eliminação de um fator condicionante de vegetais ou animais e a introdução
de um novo componente no ambiente.
A Cidade Universitária está dentro de um sistema florestal de Mata Atlântica, contudo, do
ponto de vista da mata dentro do campus (e não do campus dentro da mata) o que se observa são
fragmentos de matas intercaladas pelas edificações implantadas no território do Campus I da UFPB
(FIGURA 1); no entanto, mesmo com essa descontinuidade, observam-se nos fragmentos florestais
populações endógenas que compõem sua biodiversidade natural, tais como Sabiás e tantas outras
espécies nativas que ainda persistem na vivência dentro e no entorno de tais fragmentos.

Figura 1 - Campus I da UFPB.


Fonte: Google EARTH

Nesse ecossistema de Mata Atlântica, que é predominante no Campus I, encontram-se em


quantidade elevada cães (FIGURA 2) e gatos domésticos (FIGURAS 3 e 4), os quais não constam
na biodiversidade natural da mata.
fotografias Dinaever Lima

FIGURA 2: Cães FIGURA 3: Gato FIGURA 4: Gatos sendo


amamentados
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 428

O crescimento da população de cães e gatos é elevado. Salienta-se que esse crescimento se


dá principalmente por meio de migrações artificiais desses animais e não por seu crescimento
vegetativo, ou seja, estão sendo trazidos pela sociedade que residem na vizinhança do Campus, para
serem abandonados de forma arbitrária e não advertida dentro do território da UFPB, constituindo
uma grande quantidade de seres exóticos ao ecossistema natural.

INSTRUMENTO DE CONSULTA PÚBLICA

Como a presença de cães e gatos no Campus I da UFPB é uma situação cercada de


divergência de opiniões, tornou-se necessário um consulta para conhecer a opinião pública.
No histórico administrativo da Prefeitura Universitária – PU – consta um questionamento
sobre a retirada dos animais do Campus I.
Esse questionamento comina em um trabalho técnico, fruto de consulta da opinião pública
sobre o tema Cães e Gatos no Campus I, cuja finalidade foi a de corroborar com o processo
administrativo para retirada desses indivíduos do território do campus.
Diante disso a Prefeitura da UFPB solicitou ao professor Paulo Rosa, Assessor para
Assuntos Ambientais da Reitoria, sugestões de como solucionar o referido problema. O mesmo, por
ser professor no curso de Geografia do CCEN na disciplina Planejamento e Gestão Geo-ambiental,
tomou a iniciativa de informar aos estudantes da disciplina sobre tais acontecimentos, convidando-
os para efetuar um levantamento acerca dessa situação aqui relatada.
Após um debate polêmico com os estudantes sobre o assunto, ficou acertado que o grupo
realizaria uma pesquisa junto aos usuários do Campus sobre a questão em pauta. Para isso foi
sistematizado um instrumento de consulta pública, sendo utilizado como forma de planejamento
para facilitar as decisões futuras e se obter uma melhor gestão ambiental, já que ele é um meio mais
democrático em relação aos que foram anteriormente usados.
O instrumento de consulta pública idealizada consta de treze questões sendo doze questões
objetivas e mais genéricas, no sentido de contextualização, e uma subjetiva. Nesta última questão
pediam-se sugestões para a situação dos animais dentro do Campus. Esse instrumento de opinião foi
realizado em diversos Centros e em horários diversificados, para aumentar a aleatoriedade da
amostra.
Foram aplicados 587 questionários, após a aplicação dos mesmos foi construído um banco
de dados, por um grupo de alunos, facilitando o tratamento e as correlações desses dados.
Como principal resultado obtido da consulta, a análise dos dados mostra que 125 (dos 587
questionados) acham necessário manter a população de gatos e cães dentro do Campus, enquanto
444 usuários não acham imprescindível a presença desses animais exóticos no Campus (GRÁFICO
1). Dos 587, 18 preferiram não responder.
Na última questão, solicitou-se ao aos usuários do Campus I, sugerir qual seria a melhor
maneira de resolver o problema desses animais. Dos 444 usuários que responderam não achar
necessária a presença desses animais, apenas 402 responderam a essa questão, fazendo sugestões.
As respostas dadas foram agrupadas em sete categorias, retiradas do próprio conteúdo respondido,
de modo a verificar a frequência das respostas, sendo elas: adoção, zoonoses, remover, castração,
sacrifício, permanência e diversas (GRÁFICO 2). Obteve-se como resposta mais frequente a adoção
como sugestão para os cães e gatos localizados no campus.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 429

GRÁFICO 1 GRÁFICO 2

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos fatos mencionados podemos observar que as questões referentes às categorias
de adoção e remoção foram as mais contundentes no sentido de preservação da vida, já que essas
passaram a ter um só sentido, compondo 41% dos respondentes que se preocupam com a vida dos
gatos e cães fora do Campus.
No sentido das providências a serem tomadas sobre a permanência ou não dos gatos e cães
no Campus, diante da pesquisa de opinião sobre o problema abordado e verificando-se que o
Campus I da UFPB encontra-se em um fragmento de Mata Atlântica, se torna necessário que uma
solução em que se preze por uma melhor qualidade de vida, humana e para o animal seja obtida.
Portanto, espera-se que essa pesquisa seja ampliada para que se tome uma decisão de
forma democrática, que não venha promover um desequilíbrio em um ambiente natural, nem prive
esses animais de todas as assistências que lhes são necessárias, sendo a adoção uma das soluções
mais adequadas.

REFERÊNCIAS
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metodologia e práticas. São Paulo: Atlas, 2006. p. 20 e 21.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 430

SISTEMÁTICA E ECOLOGIA DE ESPÉCIES DE MOLLUSCA DA


REGIÃO ESTUARINA DE RIO FORMOSO E BAIA DE
TAMANDARÉ (PE – BRASIL): COLEÇÃO DE ZOOLOGIA DA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO, BRASIL

Bianca Oliveira BARBOSA


Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) / Centro de Ciências Biológicas e Saúde
(CCBS). Estagiária do Laboratório de Zoologia da UNICAP. Estudante de graduação em
Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNICAP
bianca.oli@hotmail.com
Célio Roberto Fernandes da SILVA JÚNIOR
Bolsista de Iniciação Científica – UNICAP
Goretti SÔNIA – SILVA
Centro de Ciências Biológicas e Saúde (CCBS) / UNICAP

ABSTRACT
The century XIX, for example, went to the time of gold of the Zoology, the museums of
natural history had already conquered a preponderant paper in the biological sciences as centers of
study of the biodiversity. The benthic marine biodiversity, including mollusks, is seriously is
threatened by the population growth in the coastal areas. The research in systematics, that deals
with scientific collections, came to represent the spine of the knowledge in biodiversity. Thus the
Brazilian zoological collections constitute an inexhaustible quantity of essential information that
possibly, the future, they will be able to cause discovered important still it are of the technological
reach of this generation. Therefore, the collections constitute a database essential for the studies of
species characterization. The objective of this research to identify and to weave ecological
considerations of bivalve inserted in the collection of the laboratory of zoology at the University
Catholic of Pernambuco, Brazil. Benthic faune are composites for specimens collected in marine
areas of the south coast of Pernambuco. The material studied was collected in the estuary of Rio
Formoso (PE, Brazil) and Bay of Tamandaré (PE, Brazil). The specimens were selected, screened,
observed complete copies (shell and soft parts), identified and packaged and preserved in alcohol
70%. According to the survey of species of mollusks, six taxons were identified representatives of
the class Gastropoda. All gastropods belong to the taxon identified with two groups
Orthogastropoda Caenogastropoda and Neritaemorphi. Among the bivalves were identified 8
taxons. While it is important to catalog and identify species that we may know, to protect the
malacofauna regions studied in the register of scientific collections.
KEYWORDS: mollusc, systematics, taxonomy.

RESUMO
O século XIX, por exemplo, foi à época de ouro da Zoologia, os museus de história natural
já haviam conquistado um papel preponderante nas ciências biológicas como centros de estudo da
biodiversidade. A biodiversidade bêntica marinha, entre eles os moluscos, está gravemente
ameaçada pelo crescimento populacional nas áreas costeiras. A pesquisa em sistemática, que trata
de coleções científicas, passou a representar a espinha dorsal do conhecimento em biodiversidade.
Assim as coleções zoológicas brasileiras constituem um acervo inesgotável de informação essencial
que possivelmente, no futuro, poderão acarretar descobertas importantes ainda fora do alcance
tecnológico desta geração. Portanto, as coleções constituem uma base de dados essencial para os
estudos de caracterização de espécies. Objetivou-se nesta pesquisa identificar e tecer
considerações ecológicas de moluscos inseridos na coleção do laboratório de zoologia da
Universidade Católica de Pernambuco, Brasil. Moluscos inseridos na coleção estão compostos por
espécimes coletados em áreas marinhas do litoral Sul de Pernambuco. O material estudado foi
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 431

coletado no estuário do Rio Formoso (PE, Brasil) e Baía de Tamandaré (PE, Brasil). Os exemplares
foram selecionados, triados, observados exemplares completos (concha e partes moles),
identificados e posteriormente acondicionados e preservados em álcool a 70%. De acordo com o
levantamento dos espécimes de moluscos, foram identificados seis táxons representantes da classe
Gastropoda. Todos os gastrópodes identificados pertencem ao táxon Orthogastropoda com dois
grupos Caenogastropoda e Neritaemorphi. Dentre os Bivalves foram identificados 8 táxons. A
malacofauna marinha do Brasil ainda está em crescente desenvolvimento científico e a catalogação
de espécies de moluscos do litoral brasileiro é fundamental no registro de coleções cientificas.
PALAVRAS-CHAVE: malacofauna, sistemática, taxonomia.

INTRODUÇÃO
Os moluscos são os invertebrados mais familiares e evidentes, que incluem os caramujos,
os caracóis, lesmas, mexelhões, ostras, lulas e povos. São bem abundantes em espécies com em
torno de 50.000 espécies, sendo o segundo maior filo de invertebrados. Os moluscos possuem
grande radiação adaptativa, estando representados nos mais variados tipos de ambientes e com
hábitos dos mais diversos. Possuem importância econômica principalmente no que se refere à
alimentação, ao comércio de conchas e à confecção de joias (SANTOS, 1982).
A biodiversidade bentônica marinha está gravemente ameaçada pelo crescimento
populacional nas áreas costeiras. Os aterros, construções imobiliárias, portuárias e industriais
estão provocando impactos nas comunidades biológicas. Esses organismos são muito sensíveis a
presença de certas substâncias estranhas ao ambiente e são usadas no monitoramento ambiental,
enquanto outras espécies, resistentes as condições físicas e químicas, são consideradas
bioindicadoras de ambientes degradados e poluídos (COELHO et al., 2004).
A biodiversidade atual representa apenas uma pequena parcela desta diversidade do
passado. Não se tem ideia do número de organismos que habita a Terra. Estima-se que devam
existir de 10 a 100 milhões de espécies. Já foram catalogados cerca de 1,7 milhões de espécies,
uma pequena fração de toda a diversidade estimada, e cada vez mais espécie continua a serem
descobertas diariamente.
O século XIX, por exemplo, foi à época de ouro da Zoologia, os museus de história
natural já haviam conquistado um papel preponderante nas ciências biológicas como centros de
estudo da biodiversidade. A pesquisa em sistemática, que trata dessas coleções científicas, passou
a representar a espinha dorsal do conhecimento em biodiversidade (ZAHER e YOUNG, 2003).
É inegável a importância das coleções científicas. As coleções de história natural em
quase todos os países do mundo em que as ciências biológicas são consideradas de primeira
importância para o desenvolvimento social. Coleções de abrangência mundial abrigam dezenas de
milhões de exemplares e têm um fluxo de visitação ininterrupto de biologistas, ambientalistas e
outros pesquisadores que necessitam consultar o seu acervo. As coleções científicas é uma fonte
crucial de informação para todos aqueles que possuem atividades que entrem em contato com seres
vivos. As coleções zoológicas brasileiras constituem um acervo inesgotável de informação
essencial que possivelmente, no futuro, acarretar descobertas importantes ainda fora do alcance
tecnológico desta geração. As coleções representam também uma herança cultural; um testemunho
da rica história do descobrimento e da expansão da sociedade brasileira em seu território
nacional. Por meio das coleções científicas que encontramos representantes da fauna já extinta,
que habitou um dia os ecossistemas alterados de forma irreversível pela ação antrópica. Portanto,
as coleções constituem uma base de dados essencial para os estudos de caracterização e impacto
ambiental (ZAHER e YOUNG, 2003). Assim sendo, objetiva-se nesta pesquisa identificar e tecer
considerações ecológicas de moluscos inseridos na coleção do laboratório de zoologia da
Universidade Católica de Pernambuco, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS
A coleção da fauna bentônica do laboratório de Zoologia da Universidade Católica de
Pernambuco está composta por espécimes coletados em áreas marinhas do litoral Sul de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 432

Pernambuco. O material estudado, composto apenas de moluscos, foi coletado no estuário do Rio
Formoso (PE, Brasil) e Baía de Tamandaré (PE, Brasil). Os exemplares foram selecionados,
triados, observados exemplares completos (concha e partes moles) e posteriormente acondicionados
e preservados em álcool a 70%. Os espécimes foram identificados e catalogados por meio da
literatura segundo Rios (1994).

RESULTADO E DISCUSSÃO
De acordo com o levantamento dos espécimes de moluscos, foram identificados seis
táxons representantes da classe Gastropoda: Littorina flava, Neritina virginea, Pleuroploca
aurantiaca, Tegula patagonica, Thais deltoida e Turbinella leavigata. Seis espécimes foram
coletados na Baia de Tamandaré e duas em rio Formoso, sendo a Littorina flava comum nas duas
regiões. Todos os gastrópodes identificados pertencem ao táxon Orthogastropoda e está organizado
em dois grupos: o Caenogastropoda com seis representantes; e a Neritaemorphi com apenas um
representante a Neritina virginia. Dentre os Bivalves foram identificados seis táxons:
Anomalocardia brasiliana, Crassostrea brasiliana, Crassostrea rhizophorae, Lucina pectinata,
Mytella charruana e Tagelus plebeius. Todas pertencentes a subclasse Metabranchia. Três
espécimes pertencem ao Filibranchia, Crassostrea brasiliana, Crassostrea rhizophorae e Mytella
charruana, e os demais Eulamellibranchia, Anomalocardia brasiliana, Lucina pectinata e Tagelus
plebeius. Predominaram representantes da família Ostreidea, Crassostrea brasiliana e Crassostrea
rhizophorae. Representante da família Mytilidae apenas fora coletado na região estuarina de rio
Formoso, a Mytella charruana.
Os moluscos são os invertebrados mais familiares e evidentes. São bem abundantes em
espécies com em torno de 50.000 espécies, sendo o segundo maior filo de invertebrados. Possuem
grande radiação adaptativa, com características ecológicas especificas e adaptações morfológicas e
fisiológicas diretamente associadas às características ambientais dos mais diversos. Além disso as
espécies comerciais tem grande importância econômica principalmente no que se refere à
alimentação, ao comércio de conchas e à confecção de joias.
Rios (2004) registrou uma extensa lista da malacofauna do Brasil com devidas
ocorrências, distribuição geográfica e a sistemática. Ainda assim há pouca literatura especializada
na sistemática de molusco em comparação a grande extensão da costa brasileira. Muitas pesquisas
estão em andamento em relação a ecologia de moluscos do litoral brasileiro que contribuem para a
crescente conhecimento da malacofauna no que se diz respeito ao aproveitamento e exploração dos
moluscos marinhos (GUIMARÃES et al., 2008; MELLO, LACERDA, 1983; MELLO, TENÓRIO
2000; PEREIRA et al., 2001; RAMOS, CASTRO, 2004; SALVADOR et al., 1998).
Para Mello e Tenório (2000) a influência das águas costeiras oceânicas,
principalmente em locais próximos a desembocadura de rios pode explicar sobre a ocorrência de
grande número de espécies de origem marinha, predominantemente nos substratos móveis e
infaunais. As espécies estuarinas são típicas, podendo ser encontradas em outras áreas com
características semelhantes.

DESCRIÇÃO SISTEMÁTICA
Classe Gastropoda Cuvier, 1795
Subclasse Orthogastropoda Ponder & Lindberg, 1996
Superordem Caenogastropoda Cox, 1960
Ordem Sorbeoconcha Ponder & Lindberg, 1997
Subordem Hypsogastropoda Ponder & Lindberg, 1997
Infraordem Neogastropoda Thiele, 1929
Superfamília Buccinoidea Rafinesque, 1815
Família Fasciolariidae J.E. Gray, 1853
Subfamília Fasciolariinae J.E. Gray, 1853
Gênero Pleuroploca Fischer, 1884
Espécie Pleuroploca aurantiaca (Lamark, 1816)
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 433

Características ecológicas: Vivem em fundos de cascalho de coral, pedra ou conchas.


Frequência comum e pode chegar a profundidade de 70m. Seu tamanho é de 80 - 170 mm.
Ocorrência: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará.
Material colecionado: Baía de Tamandaré (PE)

Superfamília Muricoidea Rafinesque, 1815


Família Muricidae Rafinesque, 1815
Subfamília Thaidinae Jousseaume, 1888
Gênero Thais P.F. Röding, 1798
Espécie Thais deltoidea (Lamark, 1822)

Características ecológicas: Frequência muito comum e pode chegar a profundidade de


10m. Seu tamanho é de 49 mm.
Ocorrência: Bahia, Pernambuco, Espírito Santo.
Material colecionado: Baía de Tamandaré (PE)

Família Turbinellidae Swainson, 1835


Subfamília TurbinellinaeSwainson, 1840
Gênero Turbinella
Espécie Turbinella leavigata Anton, 1839

Características ecológicas: Vive em fundos arenosos, enterrada ou sob ele, e em fundos


lodosos. Frequência comum e pode chegar a profundidade de 70 m. Seu tamanho de até 23- 170
mm.
Ocorrência: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,
Piauí.
Material colecionado: Baía de Tamandaré (PE)

Infraordem Littorinimorpha Golikov & Starobogatov, 1975


Superfamília Littorinoidea J.G. Children, 1834
Família Littorinidae J.G. Children, 1834
Subfamília Littorininae J.G. Children, 1834
Gênero Littorina A.E.J. de Férussac, 1822
Espécie Littorina flava King e Broderip, 1832

Características ecológicas: Vive sob ou sobre pedras. Frequência abundante e pode chegar
a profundidade de 10m. Seu tamanho é de 17 mm.
Ocorrência: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, são Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí,
Maranhão.
Material colecionado: Baía de Tamandaré (PE) e Rio Formoso (PE)

Subordem Vetigastropoda Salvini-Plawen, 1980


Superfamília Trochoidea C.S. Rafinesque, 1815
Família Trochidae C.S. Rafinesque, 1815
Subfamília Tegulinae T. Kuroda et al., 1971
Gênero Tegula R.P. Lesson, 1835
Espécie Tegula patagonica Orbigny, 1840

Características ecológicas: Vive sob ou sobre pedras. Frequência incomum e pode chegar a
profundidade de 30m. Seu tamanho é de 15-20 mm.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 434

Ocorrência: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande Norte, Ceará.
Material colecionado: Baía de Tamandaré (PE).

Superordem Neritaemorphi Koken, 1896


Ordem Neritopsina Cox & Knight, 1960
Superfamília Neritoidea Rafinesque, 1815
Família Neritidae Rafinesque, 1815
Subfamília Neritinae J.B.P.A. de Lamarck, 1809
Gênero Neritina Lamarck, 1816
Espécie Neritina virginea

Características ecológicas: Vive em fundos arenosos, enterrada ou sob ele, em fundos


lodosos e Vive sob ou sobre pedras. Frequência comum e pode chegar a profundidade de 10m. Seu
tamanho de até 15-20 mm.
Ocorrência: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará.
Material colecionado: Rio Formoso (PE)

Classe Bivalvia C. Linnaeus, 1758


Subclasse Metabranchia
Superordem Filibranchia
Ordem Pteriomorpha
Superfamília Ostreoidea
Família Ostreidae Rafinesque, 1815
Subfamília Ostreinae Rafinesque, 1815
Gênero Crassostrea Sacco, 1897
Espécie Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1829)

Características ecológicas: A Crassostrea rhizophorae (ostra-do-mangue) utilizam-se das


raízes de Rhizophora mangle como substrato para se incrustarem, bem como formações rochosas
que ficam submersas durante a maré alta. Frequência comum e pode chegar a profundidade de 30m.
Seu tamanho de 30-90 mm.
Ocorrência: Toda costa brasileira.
Material colecionado: Rio Formoso (PE)

Espécie Crassostrea brasiliana (Lamarck, 1819)

Características ecológicas: conhecida como ―ostra-de-fundo‖, ocorre no infralitoral sendo


considerada uma espécie de grande porte e podendo alcançar mais de 20 cm de altura de concha.
Ocorrência: Do Maranhão a Santa Catarina.
Material: Rio Formoso (PE).

Superfamília Mytiloidea
Família Mytilidae Rafinesque, 1815
Subfamília Mytilinae Rafinesque, 1815
Gênero Mytella
Espécie Mytella charruana (Orbigny, 1842)

Características ecológicas: Vive sob ou sobre pedras, presos a certos animais ou


parasitando. Frequência incomum e pode chegar a profundidade de 10m. Seu tamanho de 58 mm.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 435

Ocorrência: Costa do Pacífico, do México ao Equador, e na costa do Atlântico, da


Venezuela à Argentina.
Material colecionado: Rio Formoso (PE).

Superordem Eulamellibranchia
Ordem Lucinoida
Superfamília Lucinoidea
Família Lucinidae Fleming, 1828
Subfamília Lucininae Fleming, 1828
Gênero Lucina
Espécie Lucina pectinata

Características ecológicas: Vive em fundos arenosos, enterrada ou sob ele, Vive em fundos
lodosos. Frequência comum e pode chegar a profundidade de 10m. Seu tamanho de 40-80 mm.
Ocorrência: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia,
Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará,
Amapá.
Material colecionado: Rio Formoso (PE)

Ordem Veneroida H. & A. Adams, 1856


Superfamília Veneroidea
Família Veneridae Rafinesque, 1815
Subfamília Chioninae Frizzell, 1936
Gênero Anomalocardia Schumacher, 1817
Espécie Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)

Características ecológicas: Vive em fundos arenosos, enterrada ou sob ele e em fundos


lodosos. Frequência abundante e pode chegar a profundidade de 30m. Seu tamanho é de 31 mm.
Ocorrência: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí,
Maranhão.
Material colecionado: Rio Formoso (PE)

Superfamília Tellinoidea
Família Solecurtidae d'Orbigny, 1846
Subfamília Solecurtinae
Gênero Tagelus
Espécie Tagelus plebeius (Lightfoot, 1786)

Características ecológicas: Vive em fundos arenosos, enterrada ou sob ele e em fundos


lodosos. Frequência comum e pode chegar a profundidade de 10m. Seu tamanho de 40 – 55 mm.
Ocorrência: Toda costa brasileira.
Material colecionado: Rio Formoso (PE).

CONCLUSÃO
A malacofauna marinha do Brasil ainda está em crescente desenvolvimento científico e os
registros de espécies ainda são prematuras por conta do tamanho da costa brasileira e pela rica
diversidade biológica. Há pouco sistematas e taxonomistas no Brasil especialmente em moluscos,
ainda assim o levantamento de dados de novas espécies de moluscos seria fundamental para o
entendimento de espécies catalogadas em coleções cientificas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 436

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Bêntica do Estado de Pernambuco. ESKINAZI-LEÇA, E., NEUMANN-LEITÃO, S., COSTA, M.
F. In: Oceanografia: um cenário tropical. Recife: Bagaço, 2004. p. 477-527.
GUIMARÃES, I. M.; ANTONIO, I. G.; PEIXOTO, S.; OLIVERA, A. Influência da
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Ciências do Mar, Fortaleza, v. 41, n.1, p. 118 - 122, 2008.
MELLO, R. L. S.; TENÓRIO, D. O. A Malacofauna. In: BARROS, H. M.; ESKINAZI-
LEÇA, S. J.; MACEDO, S. J.; LIMA, T. Gerenciamento Participativo de Estuários e
Manguezais. Recife – PE: Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, 2000. p.
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MELLO, R. T. S.; LACERDA FILHO, A. L. Moluscos de interesse comercial do litoral
sul de Pernambuco, Bacia do Pina (Recife) e Barra das Jangadas (Jaboatão). In: Anais do Encontro
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PEREIRA, O. M.; MACHADO, I. C.; HENRIQUES, M. B.; GALVÃO, M. S. N.;
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Região Estuarino-Lagunar de Cananéia (São Paulo, Brasil). Boletim do Instituto de Pesca, São
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RAMOS, R. S.; CASTRO, A. C. L. Monitoramento das Variáveis físico-químicas no
Cultivo de Crassostrea rhizophorae (Mollusca) (Guilding, 1928) no Estuário de Paquatiua –
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RIOS, E.C. Coastal Brazilian seashells. 2ª ed. Rio Grande: Fundação Cidade do Rio
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ZAHER, H.; YOUNG, P.S. As coleções zoológicas brasileiras: panorama e desafios.
Ciência e Cultura 55(3): 24-26, 2003.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 437

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO PIAUÍ: VANTAGENS E


DESAFIOS

Luciana Alves de PINHO


Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia/UFPI
luciana_ufpi@hotmail.com
Maria de Jesus de Araújo RAMOS
Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia/UFPI
maryufpi@gmail.com
Raimundo Wilson Pereira dos SANTOS
Prof. Mestre da Universidade Federal do Piauí, Doutorando em Geografia pela UFMG
wilson.ufpi@yahoo.com.br

RESUMO
A partir da segunda metade do século XX têm-se observado no mundo uma grande preocupação
com o meio ambiente e em conseqüência disso, notou-se radicalmente as mudanças nas relações do homem
com a natureza. Nessa perspectiva, o presente artigo destaca as áreas de conservação no âmbito Federal e
Estadual, localizadas no estado do Piauí, buscando compreender os motivos pelos quais levaram a sua
criação assim como os benefícios para a sociedade e, principalmente para o meio ambiente. A pesquisa teve
como suporte fundamental as informações cedidas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Renováveis – IBAMA, pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMAR, pelo
Sistema Nacional de Unidades de Conservação e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – ICMBio, além de bibliografias publicadas na internet. A grande maioria das áreas de
conservação criadas, com exceção dos Parques Nacionais de Sete Cidades, Serra da Capivara e, Estaduais da
Serra Branca e Parque Zoobotânico, todas as demais não dispõem de um plano de manejo, estando ainda
sendo criado pelos órgãos responsáveis. A criação de unidades de conservação é de fundamental importância
para preservar e conservar áreas consideradas raras ou que estão sendo degradadas pela ação antrópica. Não
basta, pois, criá-las, delimitando-as, mas é de suma necessidade a implementação do plano de manejo, que
define todas as finalidades e condições ambientais.
Palavras-chave: Conservação. Preservação. Unidade de manejo e uso sustentável.

ABSTRACT
From the second half of the twentieth century have been observed in the whole world a great
concern for the environment and as a result, it was a radical change in relations between man and nature.
From this perspective, this article highlights the conservation areas under Federal and state courts located in
the state of Piauí, trying to understand the reasons which led to its creation as well as the benefits to society
and especially to the environment. The research was supported fundamental information provided by the
Brazilian Institute of Environment and Renewable Resources - IBAMA, the State Department of
Environment and Water Resources - SEMAR, the National System of Protected Areas and the Chico Mendes
Institute for Biodiversity Conservation -- ICMBio, and bibliographies published on the Internet. The vast
majority of conservation areas established, with the exception of the National Parks of Seven Cities, Sierra
and the Capybara, State of Sierra Blanca and botanical park, all others do not have a management plan and is
still being created by the responsible agencies. The creation of conservation units is of fundamental
importance to preserve and conserve areas considered rare or that are being degraded by human activities. It
is not enough, create them, limiting it, but it is extremely important to implement the management plan,
which sets all the purposes and environmental conditions.
KEYWORDS: Conservation. Preservation. Unit management and sustainable use.

1 INTRODUÇÃO
Desde a sua colonização pelos portugueses, o Brasil tem passado por várias transformações
no que diz respeito às áreas florestais, pois dentre os fenômenos históricos pertencentes à economia
brasileira que tiveram grande impacto sobre o meio natural, destaca-se a exploração do Pau-Brasil,
seguido pelos ciclos da cana-de-açúcar, mineração, plantação de café e borracha. Atualmente, os
grandes projetos agropecuários são notadamente os responsáveis pelas queimadas e derrubadas das
florestas, provocando por sua vez enormes perdas da flora e fauna.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 438

Devido à crescente consciência da sociedade de se preservar a biodiversidade através da


criação de áreas de conservação e preservação ambiental, tem crescido, simultaneamente, a
importância da preservação tanto da fauna como flora. Além disso, devem-se conservar ainda os
seus recursos naturais, visando assim proteger não só os recursos bióticos, mas também os recursos
físicos e culturais de um mesmo espaço natural. Nesse sentido, criaram-se no Brasil e no mundo,
diversas unidades de conservação, cujo conceito é um espaço territorial com limites definidos
contendo os seus recursos naturais, incluindo água jurisdicional, com características naturais
relevantes às quais são legalmente instituídas pelo poder público, tendo por objetivo a conservação.
Segundo estudos de Rylands & Brandon (2005) ―o Brasil conta com 478 unidades de conservação
federal e estadual de proteção integral, correspondendo a uma área de 37.019.697 ha, sendo 436
áreas de uso sustentável em 74.592.691 ha, estando distribuídas pelas vinte e sete unidades da
federação‖.
O presente artigo visa destacar todas as unidades de conservação situadas no estado do
Piauí tanto em nível federal quanto estadual, buscando compreender os objetivos e finalidades de
criação, além de demonstrar os principais desafios que os órgãos responsáveis pelas UCS têm que
enfrentar e as vantagens de mantê-las conservadas e preservadas.

2 METODOLOGIA
A pesquisa inicialmente contemplou bibliografia pertinente ao tema, além de
levantamentos nos sites do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA (www.ibama.gov.br), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos - SEMAR - (www.semar.pi.gov.br) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade - ICMBio - (www.icmbio.gov.br). Ainda foram realizadas conversas informais com
técnicos do IBAMA e com o diretor de Parques e Florestas da SEMAR.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Aspectos Históricos
Desde o século XVI já se tinha um conhecimento da destruição da biodiversidade no
Brasil. No entanto, foi após a criação do Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos no
ano de 1872 que André Rebouças, considerado o pioneiro da ética de conservação no Brasil,
defendeu a necessidade de criação de Parques Nacionais, indicando a área de Ilha do Bananal e
outra área compreendida entre as Cataratas de Guairá e do Iguaçu. Treze anos depois da morte de
Rebouças, Gonzaga de Campos continua com a reivindicação através da elaboração de um mapa
sobre os ecossistemas brasileiros, resultando, pois, na criação da Reserva Florestal do Território do
Acre em 1911, a qual representou um falso começo já que foi ignorada (RYLANDS & BRANDON,
2005).
A primeira experiência praticada no Brasil é de 1934 quando, com base no Código
Florestal/34, foi criado o Parque Nacional de Itatiaia do Rio de Janeiro, além o de Iguaçu, da Serra
dos Órgãos e Sete Quedas em 1939 (RYLANDS & BRANDON, 2005). A partir de então outros
parques foram criados pelo mundo, recebendo a denominação genérica de unidade de conservação.
Este termo passa a ser entendido, segundo Schenini, Costa & Casarin (2004), como sendo todas as
áreas protegidas que possuem regras próprias de uso e de manejo, com a finalidade própria de
preservação e proteção de espécies vegetais ou animais, de culturas tradicionais, de belezas
paisagísticas, ou de fontes científicas, dependendo da categoria em que se enquadra.
Para o SNUC, as unidades de conservação são entendidas como...

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. (Art. 2,
Inciso I, p. 1)

Outra importante contribuição foi a de Paulo Nogueira-Neto que reconheceu a


necessidade do desenvolvimento de estações de pesquisa e de capacidade, criando então uma série
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 439

de estações ecológicas e unidades de conservação, as quais representavam os principais


ecossistemas brasileiros. De 1974 a 1989, com a combinação de esforços da Secretaria Especial do
meio Ambiente – SEMA e do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, houve, no
Brasil, a criação de vinte dois parques nacionais (22), vinte reservas biológicas (20) e vinte e cinco
estações ecológicas (25), compreendendo no total uma área de 144.180km² (MITTERMEIER,
FONSECA, RYLANDS & BRANDON, 2005).
Em 1988, a ONG, fundação Pró-Natureza (Funatura, criada por Jorge Pádua), ficou
encarregada de formular um Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) que só foi
oficialmente instituído por lei em 2000, definindo e regulamentando as categorias das unidades de
conservação em níveis tanto federal, estadual quanto municipal (MITTERMEIER, FONSECA,
RYLANDS & BRANDON, 2005).

3.2 SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação


Para dar suporte à proteção da biodiversidade brasileira foi criado, através da Lei Nº.
9.985 de Julho de 2000, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza cujo objetivo
é estabelecer critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação
(Art. 1º, SNUC).
O SNUC é constituído por unidades de conservação federal, estadual e municipal que
se subdividem em: Unidades de Proteção Integral e de Uso Sustentável.
A criação das unidades de conservação está condicionada à realização de estudos
técnicos prévios e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os
limites mais adequados para a unidade. Nesse sentido, toda área de conservação ambiental deve
possuir um plano de manejo, documento técnico baseado nos objetivos gerais da unidade que
estabelece o zoneamento e as normas de uso da área e o manejo dos recursos naturais, que abranja a
zona de amortecimento e corredores ecológicos.

3.3 Unidades de Conservação


3.3.1 Unidades de Proteção Integral
São unidades que tem por objetivo a preservação da natureza, ou seja, a manutenção
dos ecossistemas livres de alterações provocadas pela ação humana, sendo permitido apenas o uso
indireto de seus recursos. Todas estas unidades são de posse e domínio público, exceto o
monumento natural e o refúgio de vida silvestre as quais podem ser constituídas tanto por áreas
particulares como públicas, sendo admitidas apenas às modificações que objetivem preservar ou
restaurar o ecossistema. Estas se subdividem em:
Estação ecológica: objetiva prioritamente a preservação da natureza e a realização de
pesquisas científicas, sendo que as de grande impacto podem ser realizadas no máximo em três por
cento da área total, assim como as áreas particulares pertencentes aos seus limites.
Reserva biológica: tem por finalidade preservar integralmente a biota e os demais atributos
naturais em torno de seus limites.
Parque nacional: objetiva a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e belezas cênicas.
Monumento natural: propõe basicamente a preservação de sítios naturais raros, singulares
ou de grande beleza cênica.
Refúgio de vida silvestre: finaliza proteger ambientes naturais que asseguram condições
para a existência ou reprodução de espécies ou de comunidades locais.
Observa-se que em algumas dessas áreas a visitação só é permitida com fins de
educação ambiental e restrita às condições colocadas no plano de manejo, tais como a reserva
biológica, o refúgio de vida silvestre, a estação ecológica e o monumento natural, enquanto que em
outras a visitação ao público é liberada, desde que obedeçam as restrições do plano de manejo da
área. Com exceção da estação ecológica, a realização de pesquisas científicas está condicionada a
autorização do órgão responsável pela administração.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 440

3.3.2 Unidades de Uso Sustentável


São unidades que pretendem compatibilizar a conservação da natureza com o uso
sustentável de parcela dos recursos naturais. Entre as unidades de uso sustentável têm-se algumas
como as APAS e as Áreas de Relevante Interesse Ecológico que podem ser constituídas tanto por
terras públicas como privadas desde que os interesses do proprietário não vão de encontro com os
objetivos de proteção destas unidades, enquanto que a Reserva Particular de Patrimônio Natural é
constituída unicamente por terras privadas. Todas as demais são de posse e domínio público.
Categorias:
Área de Proteção Ambiental (APA): área natural geralmente extensa que contém certo grau
de ocupação humana com o objetivo de proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais.
Área de Relevante Interesse Ecológico: geralmente de pequena extensão, esta área
apresenta extraordinárias características naturais ou resguarda raros exemplares da biota regional,
objetivando manter os ecossistemas naturais que seja de importância regional ou local, regulando,
assim, o uso de seus recursos.
Floresta Nacional: corresponde a uma área de cobertura florestal cujas espécies residentes
são predominantemente nativas, tendo por objetivo o uso múltiplo sustentável dos recursos
florestais e a pesquisa científica.
Reserva Extrativista: área onde a população tradicional retira prioritariamente o seu
sustento do extrativismo e complementarmente da agricultura de subsistência e da criação de
animais de pequeno porte. Sendo permitida, ainda, a exploração comercial de recursos madeireiros
desde que em base sustentável. Objetiva proteger tanto os meios de vida dessa população quanto
assegurar o uso sustentável dos recursos naturais.
Reserva de Fauna: área natural com população de animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas que sejam residentes ou migratórias. É ideal para realização de estudos a respeito do
manejo econômico sustentável de recursos faunísticos, sendo proibida a prática da caça amadura ou
profissional.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável: tendo por objetivo preservar a natureza e
assegurar as condições, os meios de reprodução e a melhoria da qualidade de vida e exploração dos
recursos naturais das populações tradicionais, esta categoria corresponde a uma área natural que
abriga populações tradicionais as quais se baseiam em sistemas sustentáveis de exploração dos
recursos naturais, desenvolvido e transmitido ao longo das gerações.
Reserva Particular do patrimônio Natural: área privada que finaliza conservar o patrimônio
biológico.
Quanto à visitação, nas unidades de posse e domínio público é permitida desde que esteja
de acordo com os condicionantes do plano de manejo, enquanto que nas unidades de terras privadas
são dependentes das condições estabelecidas pelo proprietário. A realização de pesquisa científica é
condicionada por uma autorização prévia do órgão administrador.

3.4 Unidades de Conservação do Piauí


3.4.1 Unidades de Conservação Federal do Piauí
Estão presentes no estado do Piauí vinte unidades de conservação entre estaduais e
federais. Sendo as federais de responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), e as estaduais a cargo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos
Recursos Hídricos – SEMAR.
O estado do Piauí possui ao todo treze unidades de conservação federal. Sendo oito
de proteção integral dentre as quais estão quatro Parques Nacionais, três Áreas de Proteção
Permanente, que não serão destacadas neste trabalho, uma Estação Ecológica e seis unidades de
conservação de uso sustentável (quatro APAS, uma Reserva extrativista e uma Floresta Nacional).
Parque Nacional:
Parque Nacional de Sete Cidades: criado pelo Decreto nº. 50.744 de Jul. de 1961 e com
uma área de aproximadamente 7.700 hectares, este parque limita-se ao Norte com as glebas
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 441

Suçuarana e Boqueirão, a Oeste com as glebas de Bananeiras e Extremas, e ao Sul com a Baixa
Comprida. Porém, o seu plano de manejo data do ano de 1975.
Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba: criado pelo Decreto de 16 de Jul. de
2002, este parque possui uma área de 729.813,551 hectares, estando localizado, pois, na divisa dos
estados do Piauí e Maranhão, Bahia e Tocantins. Tem a finalidade de preservar os recursos naturais,
a diversidade biológica bem como a realização de pesquisas científicas, atividades educacionais
recreativas e o turismo ecológico.
Parque Nacional Serra das Confusões: correspondendo uma área de 502.411 hectares, este
parque foi criado pelo Decreto de 02 de Out. de 1998, sendo estabelecido a partir da data de sua
publicação o prazo de cinco anos para a elaboração do plano de manejo.
Parque Nacional Serra da Capivara: instituído pelo Decreto nº. 83.548 de Jun. de 1979 e
possuindo uma área de 100. 000 hectare, este parque está subordinado ao Instituto Brasileiro de
desenvolvimento Florestal (IBDF), uma autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura. Tem por
finalidade a proteção da flora e fauna além das belezas naturais e monumentos arqueológicos.
Estação Ecológica de Uruçuí-Una: implementada a partir do Decreto nº. 86.061 de Jun. de
1981 e com uma área de 135.000 hectares, esta estação abrange os municípios de Santa Filomena,
Baixa Grande do Ribeiro e Bom Jesus, sendo sua administração de responsabilidade da SEMA
(Secretaria Especial do Meio Ambiente) e do Ministério do Interior.
Áreas de Proteção Ambiental:
APA do Delta do Parnaíba: com o objetivo de proteger os deltas dos rios Parnaíba,
Timonha e Ubatuba bem como sua fauna e flora e complexos do mar além dos remanescentes de
mata aluvial, recursos hídricos, como melhorar a qualidade de vida das populações residentes,
formentar o turismo ecológico e educação ambiental, prevendo a cultura e tradições locais, esta
APA está localizada nos municípios de Luis Correa, Morro da Mariana e Parnaíba no Piauí,
Araióses e Tutóia no Maranhão, Chaval e Barroquinha no Ceará e águas jurisdicionais.
APA Serra da Ibiapaba: implantada pelo Decreto de 26 de Nov. 1996 e estando localizada
na biorregião do Complexo da Serra Grande que abrange municípios dos Estados do Piauí e do
Ceará, e nas águas jurisdicionais, esta APA finaliza garantir a conservação dos remanescentes dos
cerrados, caatinga e mata atlântica, proteger os recursos hídricos, a fauna e flora silvestres assim
como melhorar a qualidade de vida da população residente, ordenar o turismo ecológico,
implementar a educação ambiental além de preservar as culturas e tradições locais.
APA Chapada do Araripe: criada pelo Decreto de 04 de Ago. de 1997 e abrangendo
municípios dos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão, esta APA objetiva proteger a fauna e a flora
especialmente as espécies ameaçadas de extinção, garantir a conservação de remanescentes de mata
aluvial, dos leitos naturais das águas pluviais e reservas hídricas e a proteção dos sitos cênicos,
arqueológicos e paleontológicos do Cretáceo Inferior do Complexo do Araripe além de ordenar o
turismo ecológico, científico e cultural bem como as atividades econômicas compatíveis com a
conservação e incentivar as manifestações culturais, assegurando a sustentabilidade dos recursos
naturais para melhorar a qualidade de vida da população residente da APA e de seu entorno.
APA da Serra da Tabatinga: criada pelo Decreto nº. 99.278 de 06 de Jun. de 1990 e,
compreendendo os municípios do Alto Parnaíba - MA e Ponte do Norte-10, esta APA tem por
finalidade a proteção das nascentes do Rio Parnaíba, assegurando não só a qualidade das águas e
das vazões de mananciais da região, mas também as condições de sobrevivência das populações
residentes ao longo de seu afluente.
Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba: abrangendo os municípios de Ilha
Grande de Santa Isabel do Piauí, Araióses e Água Doce no estado do Maranhão, esta reserva
apresenta uma área de aproximadamente 27.021,069 ha. Tem como objetivo garantir a exploração
auto - sustentável e a conservação dos recursos naturais não renováveis já tradicionalmente
utilizados por sua população extrativista. Porém, o uso desses recursos por essa população tem que
ser formalizada junto ao órgão responsável.
Floresta Nacional de Palmares: criada pelo Decreto de 21 de Fev. de 2005 e com uma área
de aproximadamente 170 hectares, esta floresta está localizada no município de Altos, tendo por
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 442

finalidade promover o manejo de uso múltiplo dos recursos florestais, manutenção do banco de
gemoplasmas e in situ de espécies florestais nativas bem como das características da vegetação do
cerrado e da caatinga, além da recuperação das áreas degradadas e atividades de educação
ambiental.

3.4.2 Unidades de Conservação Estadual do Piauí


O estado do Piauí possui ao todo sete unidades de conservação estadual,
dentre as quais cinco são de uso sustentável, todas pertencentes à categoria das APAS e duas de
Proteção Integral, representadas por um Parque e uma Estação Ecológica.
APA Serra das Mangabeiras: criada pelo Decreto nº. 5.329 de Fev. de 1983 e destinada à
preservação do ecossistema da região das nascentes do Rio Parnaíba no território Piauiense, esta
APA situa-se no município de Barreiras do Piauí, abrangendo, pois, a parte direita da Bacia do
Parnaíba, compreendendo assim uma área de aproximadamente 96.742 hectares com a finalidade de
ordenar a ocupação e o uso racional do solo além de preservar as características dos ambientes
naturais (Dec. nº. 7.299 de Fev. de 1988).
APA Lagoa de Nazaré: estabelecida pelo Decreto nº. 8.923 de jun. de 1993 e objetivando a
proteção e conservação da biota nativa e manancial hídrico para a melhoria da qualidade de vida da
população local, esta APA abrange os municípios de Nazaré e São Francisco do Piauí.
APA Rangel: localizada no município de Curimatá e instituída pelo Decreto nº. 9.927 de
Jun. de 1998, esta APA visa proteger e conservar a biota nativa e os mananciais hídricos para
melhorar a qualidade de vida da população nativa. Sendo ainda composta por uma zona de vida
silvestre que compreende a Serra do Zumbi e as Nascentes do Riacho do Rangel a fim de priorizar a
proteção da biota nativa para garantir a proteção dos habitantes e reprodução de espécies raras
endêmicas em período de extinção.
APA Ingazeiras: objetivando proteger a biota nativa bem como os mananciais hídricos para
a melhoria da qualidade de vida da população além de conservar a flora e a fauna local e mata ciliar,
esta APA foi criada pelo Decreto nº. 10.003 de Jan. de 1999, estando então situada no município de
Paulistana compreendendo uma área de 653,9659 ha. Desta, 2.160 m² são destinadas ao uso público
para a prática de recreação. Está destinada a exploração do ecoturismo, educação e pesquisas
ambientais, estudos, pesquisas e desenvolvimento de pscicultura e estudos para a preservação e
reprodução da fauna e flora da região.
APA Cachoeira do Urubu: criada pelo Decreto nº. 9.736 de Jun. de 1997, esta APA
abrange os municípios de Batalha e Esperantina, totalizando uma área de 3.063 hectares. Desta,
7,54.17 ha são destinadas a exploração do ecoturismo. Tem por objetivo proteger e conservar tanto
a biota nativa quanto os mananciais hídricos para a melhoria da qualidade de vida da população
local além da mata ciliar do rio Longá.
Parque Zoobotânico: situado no município de Teresina e criado pelo Decreto nº. 1.608 de
Maio de 1973, este parque finaliza manter não só a coleção de plantas e animais nativos para
recriação, educação e pesquisa biológica, pesquisas e estudos sobre a flora e a fauna da região como
também facilitar o trabalho de pesquisadores nacionais e estrangeiros no campo da zoologia e
botânica, contribuindo ainda para a formação populacional da mentalidade conservacionista.
Estação Ecológica da Chapada da Serra Branca: criada pelo Decreto nº. 13.080 de Jun. de
2008, esta estação totaliza uma área de 21.587,7090 ha e mais 3.066,5040 ha para a Zona de
amortecimento que deve conter dois quilômetros de largura, localizada em uma gleba pertencente
aos municípios de São Braz do Piauí e São Raimundo Nonato.

4 Vantagens e Desafios
As unidades de conservação agregam muitas vantagens para a proteção da biodiversidade
e dos recursos naturais, sendo impossível negar os inúmeros benefícios que trazem ao meio
ambiente e à sociedade, dentre os quais podemos destacar a manutenção da riqueza natural da
biodiversidade dos ecossistemas.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 443

Outra vantagem está no aumento da consciência da população quanto à importância da


conservação do meio ambiente através da educação ambiental, além dos investimentos feitos nas
unidades de conservação proporcionar o desenvolvimento de estudos relacionados à pesquisa
científica e turismo ecológico.
Por outro lado, as unidades de conservação promovem a mitigação dos problemas de
degradação ambiental e apresentam-se como uma barreira à intervenção humana e, um dos
principais desafios é a resistência da população quanto a criação de novas áreas de conservação,
uma vez que os interesses da sociedade local pode ir ao encontro aos dos ambientalistas. Porém, o
maior desafio está relacionado à pequena disponibilidade de recursos financeiros, que tem como
primeira consequência a dificuldade na elaboração do plano de manejo, o qual é de fundamental
importância para uma boa gestão.

5 Considerações Finais
Ao analisar as unidades de conservação do estado do Piauí, pode-se concluir que, pela
definição e finalidade, estas têm um grande potencial a oferecer às comunidades no que diz respeito
à manutenção e preservação dos recursos naturais. No entanto, os desafios encontrados não
permitem o aproveitamento máximo deste potencial, pois estes restringem em cada área a utilização
mínima, como exemplo os parques nacionais quando desprovidos do plano de manejo não podem
ser abertos à visitação nem à realização de pesquisa científica.
Por fim, apesar do progresso na conscientização e na evolução da legislação ambiental, a
exemplo do SNUC que organiza o gerenciamento nas unidades de conservação, uma das
ferramentas utilizadas para a conservação dos ecossistemas e de seus recursos, percebe-se uma
ausência de interesse por parte das autoridades no que diz respeito aos objetivos da própria
legislação ambiental como destinação de recursos suficientes para órgãos ambientais a fim de que
possam gerenciar as unidades com a devida responsabilidade.

6 REFERÊNCIAS
ICMBio Histórico. Disponível em <http://wikipedia.org/wiki/ICMBio.> acessado em 20 de
Out. de 2009.
Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.pesquisa&busca=snuc > acessado em 20 de
Out. de 2009.
Uma breve história da conservação da biodiversidade no Brasil. Disponível em
<http://www.conservacao.org/publicacoes/files/04_Mittermeier_et_al.pdf> acessado em 20 de Out.
de 2009.
Unidades de conservação. Disponível em <http://www.ibamapr.hpg.com.br/faqibama.htm>
acessado em 20 Out. de 2009.
Unidades de conservação. Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/> acessado em 20 de
Out. de 2009.
Unidades de conservação. Disponível em <http://www.semar.pi.gov.br/index.php>
acessado em 20 de Out. de 2009.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 444

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE IMÓVEL RURAL NO SEMI-


ÁRIDO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Helena Café de Moura MENDES


Graduanda em Engenharia Agrícola e Ambiental. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE
helenacafe@yahoo.com.br
Fernando Cartaxo ROLIM NETO
Professor Associado/UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE
fernandocartaxo@yahoo.com.br
Manoel Viera de FRANÇA
Professor Adjunto/UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE
manoelvieira.ufrpe@ig.com.br
Sérgio Monthezuma Santoianni GUERRA
Professor Adjunto/UFRPE. Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE
smsguerra@hotmail.com

RESUMO
Foi estudada uma área localizada na região de transição entre as regiões Agreste e Sertão
de Pernambuco, pertencente à propriedade particular de nome Fazenda Arizona, no município de
Sertânia – PE. Realizou-se inicialmente o georreferenciamento com base na Lei 10.267/2001 do
INCRA, utilizando-se para tal um rastreador de satélite no Sistema GPS, da marca Novatel e
Modelo DL4 Plus. Com base na planta produzida após o levantamento topográfico, foi realizado um
caminhamento, em que toda área foi percorrida realizando-se anotações relativas à declividade,
erosão, drenagem, vegetação e relevo. Foram obtidos os mapas de declividade e de uso e ocupação
dos solos. Foi comprovada a existência de solos pertencentes às classes dos Neossolos,
Cambissolos, Luvissolos, Planossolos e Latossolos, sendo o representante dos Latossolos, o que
melhor se presta para o cultivo agrícola. Os Neossolos Litólicos são os principais componentes,
ocupando cerca de 61,36% do total da área. Sob o ponto de vista das exigências ambientais, as áreas
destinadas à preservação permanente ocupam cerca de 24,41% do total. A fragilidade do ambiente é
aumentada em função da pouca profundidade dos solos e elevada pedregosidade à superfície.
PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento de solos, imóvel rural, SRTM, mapa de declividade,
geoprocessamento

ABSTRACT
It was studied an area located in the transition region between the Agreste and the Sertão
regions of Pernambuco, owned by private property named Fazenda Arizona, in the municipality of
Sertânia - PE. Was initially performed the georeferencing based on Law 10267/2001 of the INCRA,
using for such a satellite tracking in GPS system, DL4 Plus model made by Novatel. Based on the
topographical map produced, was made a field tracking, being the whole area observed and making
annotations related to the slope, erosion, drainage, vegetation and relief. It was obtained the slope
and the use and soil occupation maps. It was proved the occurrence of soils belonging to Entisols,
Cambisols, Luvisols, Alfisols and Oxisols classes, being the representant of the Oxisols, the best
one suited for agricultural use. The Entisols are the main components, occupying about 61.36% of
the total area. From the point of view of environmental requirements, the areas for the permanent
preservation occupy about 24,41% of the total. The fragility of the environment is increased as a
function of shallow soils and high surface stoniness.
KEYWORDS: Soil mapping, rural property, SRTM, slope map, geoprocessing

INTRODUÇÃO
Situada na zona de transição entre o Agreste e o Sertão, no município de Sertânia – PE
encontra-se a fazenda Arizona com aproximadamente 1000 hectares de área. Sendo de propriedade
particular, esteve sujeita à invasão dos ―Sem Terra‖ e desapropriação pelo INCRA, tendo sido
desmembrada logo em seguida.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 445

Esse imóvel rural compreende terras dispostas no sentido Norte – Sul, com formato
retangular, estando seus extremos situados em serras denominadas Maniçoba e Pinheiro. Nessas
partes mais elevadas, apresenta solos com características peculiares, particularmente na porção sul,
que é mais úmida, devido à existência de chuvas orográficas (França, 2010). Por conta disso, os
solos são de melhor qualidade nessa porção, favorecendo o aparecimento de uma vegetação mais
densa e com porte mais elevado. É também nas encostas dessa área, que ocorrem pontos de minação
de água, os chamados ―olhos d‘água‖ (Caldas, 2007).
No geral, além do clima, os recursos de água e solo são considerados fatores limitantes à
produção agropecuária, pois a água apresenta-se salobra, enquanto predominam solos rasos com
pedregosidade à superfície, em relevo suave ondulado a ondulado, e solos arenosos com mudança
textural abrupta, em relevo plano. Além de dois ―olhos d‘água‖, a fazenda possui um poço artesiano
com cata-vento, três pequenos açudes e parte da água de uma represa, pertencente a uma
propriedade vizinha situada à jusante no riacho Pinheiro, que divide a Arizona ao meio.
Em função dos recursos de água e solo, a Arizona encontra-se atualmente explorada com
criação de, aproximadamente, 700 cabeças de gado caprino e um plantel de 30 éguas mestiças com
a raça quarto de milha. Para que isto seja possível, há uma área com pastagem artificial de capim
Buffel (Cenchrus ciliaris), de aproximadamente 334 hectares.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o uso e ocupação do solo na fazenda
Arizona localizada no município de Sertânia – PE.

MATERIAL E MÉTODOS
1.Área de estudo
A área estudada constitui-se no imóvel Fazenda Arizona, pertencente ao Sr Severino Souto
Filho, situada no Distrito de Henrique Dias, no município e comarca de Sertânia, estado de
Pernambuco (SILVA et al., 2001).

2.Trabalhos de campo
A primeira etapa dos trabalhos de campo compreendeu uma incursão à área de estudo,
realizando-se um caminhamento por toda a área, visando a identificação dos diversos tipos de usos
e ocupações e suas distribuições nas paisagens. Foram registrados dados referentes às características
dos ambientes, com observações referentes à declividade, erosão, drenagem, vegetação e relevo. Foi
feito um planejamento a partir do caminhamento, seguindo-se os divisores e talvegues mais
evidentes, bem como as partes de topo e de baixadas. Em muitas ocasiões a progressão foi feita no
interior da própria mata, pois não havia quaisquer caminhos.

3.Levantamento da área
Foi realizado um levantamento topográfico do perímetro de acordo com a norma de
georreferenciamento de imóveis rurais do INCRA, em atendimento a Lei 10.267 de 28 de Agosto
de 2001 (INCRA, 2003).
O levantamento da poligonal da propriedade resultou num total de 15 (quinze) marcos,
sendo usado o modo Estático, com tempo de rastreio de cerca de 15 quinze minutos em cada vértice
e sempre a partir de uma estação base denominada E1. O levantamento dos limites das áreas de
Reserva Legal e Área de Preservação Permanente (APP), foi realizado de acordo com as exigências
para averbação pela CPRH - PE (Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de
Pernambuco), em que os detalhes planimétricos tais como aqueles referentes a estradas, riachos e
linhas de transmissão, foram levantados com receptor GPS geodésico de dupla–freqüência, modelo
DL4 Plus da Novatel, no modo Cinemático, com taxa de gravação de 1 segundo. O cadastro de
todas as benfeitorias, tais como casas e currais, foi efetuado com o mesmo receptor GPS, no modo
stop and go com tempo de ocupação de 1 (um) minuto.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 446

4 Desenho dos mapas


Após a transformação de coordenadas, executada no software Posição 2004 da MANFRA
LTDA, o desenho da área da fazenda Arizona foi realizado no software AutoCAD 2004 gerando os
arquivos digitais nas extensões DWG e DXF. Os dados gráficos da planta (pontos e feições),
originaram-se do pós-processamento no software EZSurv da VIASAT, sendo exportados a partir do
seu módulo GRAPHICS, juntamente com o limite das áreas de reserva legal e área de preservação
permanente, destacadas conforme exigências para certificação pela CPRH - PE e averbação no
cartório de Sertânia - PE.
Os trabalhos de digitalização dos mapas, bem com os cálculos de áreas e percentuais
respectivos, foram realizados mediante o uso de um micro computador rodando um sistema
geográfico de informações – Software Arc Gis 9.3.
Com intuito de se extrair as curvas de nível, bem como subsidiar a elaboração da carta de
declividade da área em estudo, foi obtida uma imagem SRTM (Shuttle Radar Topography Mission).
Realizou-se para tal o processamento digital do recorte de uma imagem SRTM, de maneira a se
obter um produto que se ajustou à área da Fazenda Arizona. Em seguida a imagem correspondente à
área estudada, com pixels de 90 metros de resolução, foi re-amostrada para que a imagem resultante
passasse a ter uma resolução de 30 metros.
Na geração de informações foram criados os mapas temáticos Altimétrico e de Uso e
Ocupação do Solo. O Mapa Altimétrico, com eqüidistância de 20 metros, foi gerado a partir da
interpolação das cotas correspondentes a cada um dos pixels da imagem SRTM re-amostrada. O
Mapa de Uso e Ocupação do Solo retrata as informações coletadas nos trabalhos de campo, gerado
em formato digital.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A figura 1 evidencia o mapa com o uso e ocupação do solo, o planejamento das áreas a
serem destinadas para reserva legal e delimitação das APP´s para atender às exigências da CPRH -
PE, além dos limites e cadastro das benfeitorias.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 447

Figura 1 – Mapa de uso e ocupação do solo da fazenda Arizona

Atendendo às exigências do Código Florestal (citação do código florestal) as Áreas de


Preservação Permanente (APP) foram demarcadas nas margens dos corpos d´água tais como
riachos, olhos d´água, açudes e barreiros, e também nas áreas com inclinação maior que 45 graus ou
altitude acima dos 750 metros. Nas duas margens do riacho Pinheiro, principal curso d´água que
corta a fazenda, e margens dos açudes, foram demarcadas faixas com 50 metros de largura,
enquanto que nos riachos menores e barreiros, as faixas foram de 30 metros.
Para a demarcação da Reserva Legal, optou-se por áreas com vegetação nativas mais
preservadas e contíguas às de preservação permanente. Não foi possível o estabelecimento de um
corredor ecológico, ligando as APP`s situadas nas serras dos pontos extremos da propriedade, pelo
fato de existir uma estrada municipal cortando a propriedade aproximadamente ao meio, ligando a
BR 232 e a comunidade Henrique Dias.
A partir da figura 1, foram calculadas as áreas relacionadas ao uso e ocupação do solo
apresentadas no quadro 1.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 448

Quadro 1 – Valores em hectares e percentuais das áreas relativas ao uso e ocupação do


solo.
CLASSE DE USO ÁREA (ha) ÁREA* (%)
PRESERVAÇÃO PERMANENTE
282,53 24,41
(APP)
RESERVA LEGAL 384,08 33,19
PASTO NATURAL 147,88 12,78
CAPIM BUFFEL 333,62 28,83
OUTRAS ÁREAS 9,24 0,80
TOTAL 1157,35 100
*Percentual relacionado à área total de 1157,35 ha originados do mapa vetorial

Ficou evidente a fragilidade do ambiente na fazenda Arizona, impondo limitações a uma


exploração agrícola intensiva, devido às limitações dos recursos água e, principalmente, solo. Este
fato observado no campo pode ser corroborado por França (2010), que afirma que os solos
Neossolos constituem 73,85% da área. Deste percentual, 710,12 hectares são solos Litólicos,
representando cerca de 61,36% da área total, que somados aos 6,13% de afloramentos de rochas,
totalizam 67,49% da área da Arizona, correspondendo a aproximadamente 781,1 hectares.
Devido à área ocupada pelo riacho Pinheiro e àquelas ocupadas pelos açudes e barreiros,
totalizando 9,24 hectares, e a necessidade de atendimento à legislação ambiental, com 384,08
hectares destinados a reserva legal e 282,53 hectares para a APP, resultam apenas 481,5 hectares
para exploração. Somem-se a isto as limitações de solo, particularmente devidas à baixa
profundidade e pedregosidade, e de quantidade e qualidade de água, principalmente durante os
períodos de estiagem.
Na fazenda Arizona foi iniciado, há três anos, um processo de desapropriação pelo
INCRA, para fins de reforma agrária, não tendo este órgão logrado êxito por vários motivos. Entre
eles está o fato, como comprovado in loco, de que a fazenda encontra-se com suas terras sendo
exploradas e tendo contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. Mesmo assim, imaginando-
se que fosse o seu destino a desapropriação e colocação de famílias de agricultores em suas terras,
de forma que o módulo rural ou fiscal pudesse ser implantado, ficaria a dúvida sobre o tamanho
deste módulo. Segundo alguns autores, nas condições do Semi-árido, o módulo rural deve ser de
150 hectares, para que uma família de 4 pessoas possa sobreviver e progredir socialmente. Assim,
apenas 3,2 famílias poderiam ser assentadas na Arizona, e caso não fossem tomados os devidos
cuidados com o meio ambiente e com a exploração da terra, o sistema se tornaria degradado.
Mesmo não tendo este trabalho o objetivo de avaliar os aspectos econômicos envolvidos na
exploração da fazenda Arizona, parece que tem dado certo o sistema produtivo atual com pecuária
de gado caprino, em regime extensivo. Desta feita, a sabedoria popular evidenciada pelas práticas
do homem do campo, mais uma vez vem à tona e demonstra que o conhecimento e experiências
passadas de geração em geração, em muitos casos, são fortes argumentos e justificativas para a
manutenção de procedimentos, muitas vezes ignorados na Academia.

CONCLUSÕES
Das áreas ocupadas a que melhor se presta para a produção agrícola, em virtude das boas
qualidades físicas e químicas do solo impostas pela altitude e relevo em que se encontra, pertence à
Área de Preservação Ambiental.
As Áreas de Preservação Permanente constituem cerca de 405,96 hectares, correspondendo
a 35,05 da fazenda Arizona, enquanto as de Reserva Legal ocupam 384,08 hectares,
correspondendo a 33,19 % do referido imóvel.
Na maioria das áreas, a pouca profundidade e elevada pedregosidade que aparecem nos
solos, tornam mais evidente a fragilidade do ambiente, impondo fortes limitações à exploração
agrícola.
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 449

REFERÊNCIAS
CALDAS, A.M. Solos, antropização e morfometria da microbacia do Prata, Recife-PE.
Recife-PE: Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), 2007. (Dissertação de Mestrado)
FRANÇA, M. V. Georreferenciamento, Classificação e Uso do Solo no Semi-árido do
estado de Pernambuco. Recife, 2010. Dissertação de Mestrado. p..
INCRA. Norma Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais. Brasília, Nov.2003.
SILVA, J.X.; ZAIDAN, R.T. Geoprocessamento e Análise Ambiental - Aplicações. 1. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. v. 01. 368 p
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 450

UTILIZAÇÃO DA PESQUISA SOBRE FAUNA ASSOCIADA À


SERAPILHEIRA COMO FORMA DE INSERIR ELEMENTOS
PARA SENSIBILIZAR E PROMOVER IDEAIS DE
CONSERVAÇÃO

Luiz Cláudio Cardozo Chaves


Alunos do curso de graduação em Ciências Biológicas; 3Biólogo; 4Professora de Zoologia
Icemária Felipe Silva
Alunos do curso de graduação em Ciências Biológicas; 3Biólogo; 4Professora de Zoologia
Roberto Lima Santos
Laboratório de Taxonomia e Filogenia/Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia, Centro de Biociências –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59.072-970, Natal/RN
Elinei Araújo-de-Almeida
Laboratório de Taxonomia e Filogenia/Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia, Centro de Biociências –
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Av. Senador Salgado Filho, Lagoa Nova, 59.072-970, Natal/RN

RESUMO
Tomando como base exemplos de pesquisas realizadas em ambientes de acúmulos de
folhas e ramos secos para o estudo da macrofauna, empreendeu-se um levantamento sobre a sua
importância para que algumas considerações ambientais pudessem servir como elementos para
auxiliar o processo de conservação destes organismos a partir de ações sensibilizadoras.
Foi efetivado o processo de investigação científica sobre a fauna associada à vegetação de
leguminosas psamófitas em área de restinga na praia de Alagamar, Natal/ RN e macrofauna
associada à serapilheira de psamófita fixadora de dunas em ambientes costeiros na cidade do
Natal/RN, Brasil, para que pudessem servir de ponto de partida para uma discussão inicial sobre o
tema já que se trata de uma publicação sobre a fauna local.
PALAVRAS-CHAVE: Invertebrados; Biodiversidade; Ambientes dunares

ABSTRACT
Based on examples from research conducted in accumulation of leaves and twigs for the
study of macrofauna, a survey was undertaken on their significance for some environmental
considerations could serve as elements to assist the process of conservation of these organisms from
sensitizing actions. He assumed the process of scientific research on the fauna associated with the
legume psammophyte vegetation in an area of dunes at beach Alagamar, Natal / RN and
macrofauna on litter psammophyte stabilizing dunes in coastal environments in the city of Natal /
RN, Brazil so they could serve as a starting point for an initial discussion on the topic since it is a
publication about the local fauna.
KEYWORDS: Invertebrates ; Biodiversidy; Dune environments

INTRODUÇÃO
Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em
cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise
ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de
pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea. Uma forma de
facilitar tal ação é a conscientização precoce sobre o meio ambiente da nova geração que está
crescendo no mundo atual.
Ferramentas como artigos científicos, pesquisa e construção coleções para amostras
introduzidas no contexto da sala de aula atuam tanto como ferramentas facilitadoras do
ensino/aprendizagem como elementos que visam enriquecer o entendimento da fauna local de um
ambiente pouco conhecido como a serapilheira assim como a sua importância ecológica, através do
contato direto com estes animais e assim propiciar a introdução também de noções de conservação
desta biodiversidade, como foi destacado por Araújo-de-Almeida et al. (2007) e Marandino (2006).
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 451

Além de ser possível associar esta metodologia de pesquisa científica com atividades práticas, como
a realização de aulas práticas de laboratórios, importantes uma vez que permitem que os alunos
manipulem materiais, equipamentos e observem os organismos, desenvolvendo familiaridades com
os mesmos (KRASILCHIK, 1996).
É a partir da proposta de utilizar a ferramenta de pesquisa científica dentro da área de
ensino para inserir idéias de conservação do meio ambiente que este trabalho foi desenvolvido.
Essas práticas foram discutidas por Araújo-de-Almeida et al. (2007) com relação ao exercício de
iniciação científica por meio da pesquisa em campo e posteriormente a construção de um texto
cientificamente organizado registrando à fauna associada à vegetação de leguminosas psamófitas
em área de restinga na praia de Alagamar, Natal/ RN e macrofauna associada à serapilheira de
psamofita fixadora de dunas em ambientes costeiros na cidade do Natal/RN,
Serapilheira é o acúmulo de folhas e ramos secos os quais são reciclados por bactérias e
fungos, após terem sido processados por organismos detritívoros (BRAY; GORHAM, 1964;
SEASTEDT, 1984).
A vegetação de dunas da costa oriental do Rio Grande do Norte caracteriza-se pela sua
resistência aos sais marinhos, às altas temperaturas, à escassez de água e à forte ação dos ventos
dominantes (TRINDADE, 1982). Tal cobertura herbácea contribui para a pedogenização do campo
dunar, possibilitando o estabelecimento de espécies lenhosas de maior porte (RIZZINI, 1997). O
folhiço, conserva a umidade ambiente e serve como isolante térmico contra as variações da
temperatura ambiente. As camadas espessas e superpostas de serapilheira favorecem o
aparecimento de microhabitats distintos que permitem a convivência de um número maior de
indivíduos de espécies diferentes (WILSON, 1994).
Considerando a pouca informação sobre ecossistemas dunares do Nordeste do Brasil, o
presente estudo objetiva conhecer a riqueza, abundância e diversidade da macrofauna associada a
serapilheira de psamófita fixadora de dunas na costa leste do Rio Grande do Norte.

METODOLOGIA
A partir de um levantamento dos trabalhos desenvolvidos no laboratório de taxonomia e
filogenia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil (UFRN), considerando a
bibliografia clássica utilizada para explicitar os conceitos envolvidos na pesquisa de serapilheira,
foram referenciados neste trabalho a pesquisa de SANTOS et al. (2008) que contou com a análise
do material coletado na serapilheira das psamófitas fixadoras de dunas em ambientes costeiros na
cidade do Natal/RN, e MENDONÇA et al. (2005) realizou análise da coleta da fauna associada à
vegetação de leguminosas psamófitas em área de restinga na praia de Alagamar, Natal/ RN.
As coletas para estudo da fauna associada às psamófilas leguminosas e serapilheira foram
realizadas com a utilização do método flotação (BROWER et al., 1989) usado para extrair os
espécimes do folhiço. Após a coleta todo o material foi direcionado para o laboratório para a devida
fixação com solução de etanol a 70%, identificação, contabilidade e estudo. Tais procedimentos
foram realizados com o auxílio de estereomicroscópio e de acordo com a bibliografia especializada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a análise de dados, foi possível reunir diversos números sobre a fauna associada à
vegetação de leguminosas psamófitas e serapilheira que tornarão todo o processo da pesquisa
satisfatório.
Através da análise do material coletado na serapilheira das psamófitas fixadora de dunas
em ambientes costeiros na cidade do Natal/RN, foram registrados 11 táxons de artrópodes
apresentado em SANTOS et al. (2008), predominando numericamente os acaros oribatídeos e na
qual foi observado que os detritívoros representaram a guilda alimentar dominante. Na análise da
coleta da fauna associada à vegetação de leguminosas psamófitas em área de restinga na praia de
Alagamar, Natal/ RN em MENDONÇA et al. (2005), foi observado um total de 1286 espécimes
incluindo táxons diversos como Chelicerata, Hexapoda e Mollusca. A comunidade faunística
associada a depósitos de serrapilheira caracterizou-se pela presença com dominância taxonômica de
A Conferência da Terra: Aquecimento global, sociedade e biodiversidade 452

hexápodes. Apesar do ambiente xérico e das altas temperaturas diurnas observadas, a comunidade
apresentou alta diversidade.
Estes resultados podem ser utilizados como elemento de sensibilização da comunidade
para que as pessoas percebam a importância de ambientes pouco conhecidos e estudados, porém de
uma importância ecológica que deve ser levada em consideração principalmente diante de ações
educadoras, as quais relevam a importância da biodiversidade na realidade essencial para a
sobrevivência humana. (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
É importante que o trabalho de sensibilização seja feito com a comunidade em geral,
porém, em especial, trabalhos como os de levantamento faunísticos mostrados nesta pesquisa
podem ser utilizados de diversos modos para chegar no objetivo principal de semear o conceito e a
importância da conservação do meio ambiente, pois possuem a capacidade de serem modificados
para se tornar: ferramentas facilitadoras do processo de ensino aprendizagem através de uma
metodologia didática que envolve aula de campo, coleta, análise de material, desenvolvimento de
artigos científicos e montagem de coleções e mostruários, que apesar de utilizarem estratégias
diferentes, objetivam proporcionar além do aprendizado, um contato direto com a biodiversidade
encontrada em locais antropizados e conspícuos como o da serapilheira, mas que devem ser
conservados devido à grande biodiversidade associada a estes locais.
Esta necessidade da implementação de metodologias didáticas para auxiliar no processo de
sensibilização é trabalhada em Leff (2001), que fala sobre a impossibilidade de resolver os
crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança
radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de
racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando os números relacionados das pesquisas de SANTOS et al. (2008) e
MENDONÇA et al. (2005) é possível dar ênfase à a fauna associada com vegetação de leguminosas
psamófitas e do folhiço através da visualização das relações ecológicas, não como um todo, mas
como uma parte bastante significativa de um ―micro-ecossistema‖, capaz de demonstrar vários
pontos importantes das interações ecológicas além é claro da grande diversidade de espécies
encontradas na pesquisa.
A aplicação de experimentos utilizando folhiço em sala de aula para a observação da fauna
associada em aulas aplicadas para alunos do curso de ciências biológicas da UFRN mostrou ser um
grande sucesso entre os alunos, uma vez que despertou a curiosidade, cativou a atenção e
proporcionou uma maior aprendizagem.

REFERÊNCIAS
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