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Ciências Ambientais
pesquisas e experiências multidisciplinares
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ciências Ambientais
pesquisas e experiências multidisciplinares
V&V Editora
Diadema - SP
2022
Conselho Editorial
Profa. Dra. Marilena Rosalen Prof. Dr. Ivan Fortunato
Profa. Dra. Angela Martins Baeder Prof. Dr. José Guilherme Franchi
Profa. Dra. Eunice Nunes Prof. Dr. Luiz Afonso V. Figueiredo
Profa. Dra. Luciana A. Farias Prof. Dr. Flávio José M. Gonçalves
Profa. Dra. Maria Célia S. Gonçalves Prof. Dr. Giovano Candiani
Profa. Dra. Rita C. Borges M. Amaral Prof. Me. Arnaldo Silva Junior
Profa. Dra. Silvana Pasetto Prof. Me. Pedro L. Castrillo Yagüe
Profa. Ma. Beatriz Milz Prof. Me. Everton Viesba-Garcia
Profa. Ma. Marta Angela Marcondes Profa. Ma. Letícia Moreira Viesba
Profa. Ma. Erika Brunelli Profa. Ma. Sarah Arruda
Expediente
Coordenação Editorial: Everton Viesba-Garcia
Coordenação de Área: Letícia Moreira Viesba
Organização
Os textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação da Coordenação
e/ou Conselho Editorial da V&V Editora, sendo aprovados na revisão por pares para
publicação.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-88471-57-9
DOI 10.47247/GC/88471.57.9
CDD 363.7
V&V Editora
Diadema, São Paulo – Brasil
Tel./Whatsapp: (11) 94019-0635 E-mail: contato@vveditora.com
vveditora.com
Sumário
Apresentação ............................................................................................ 9
Giovano Candiani
Letícia Viesba
10.47247/GC/88471.57.9.1
9
É com grande satisfação que a V&V Editora e os autores dos
trabalhos aqui expostos lançam os dois primeiros livros da Coleção
Ciências Ambientais, contando com a obra “Ciências Ambientais:
estudos e inspirações em Educação Ambiental e Sustentabilidade" e a
obra "Ciências Ambientais: pesquisas e experiências
multidisciplinares”.
Este volume apresenta em seus 17 capítulos, temáticas
ambientais relacionadas as problemáticas da gestão e do
planejamento ambiental, avaliação de impactos ambientais,
ecoturismo, comunidades locais, biotecnologia, agronegócio,
legislação ambiental, entre outros temas.
As Ciências Ambientais é um campo científico de estudos com
ampla importância acadêmica relacionado a aplicação das concepções
sistêmicas e integrada para compreender os complexos fenômenos
ambientais e construção do conhecimento interdisciplinar.
O uso da interdisciplinaridade como fundamento
metodológico presente nos trabalhos dessa obra, estabelece
premissas importantíssimas na construção dos conhecimentos no
campo das Ciências Ambientais.
Desse modo, a obra apresenta resultados importantes
obtidos pelos diversos autores, que se dedicaram na elaboração das
suas pesquisas e trabalhos, apresentando-os de forma concisa e
didática aqui, esforço louvável e de suma importância para divulgação
científica no campo das Ciências Ambientais.
No volume 2, o primeiro capítulo, “Padrões Espaciais e
Temporais da Umidade do Solo no Nordeste do Brasil”, apresenta os
resultados da pesquisa de análise dos padrões espaciais e temporais
da umidade do solo no Nordeste do Brasil, relacionando-se os padrões
reconhecidos de umidade obtidas nas estações meteorológicas com
as secas na região, revelando características quanto a intensidade,
duração e extensão.
O segundo capítulo, “Bioprospecção ambiental: enzimas
microbianas a partir de diferentes biomas brasileiros”, apresenta os
resultados da análise das potencialidades dos biomas brasileiros,
como patrimônio natural com riquíssima biodiversidade microbiana e
potencial biotecnológico no contexto ambiental, com inúmeras
aplicações industriais e de remediação de áreas contaminadas.
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O terceiro capítulo, “Avaliação do Projeto de
Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata Atlântica em Parques do
Estado de São Paulo”, apresenta os resultados da análise do Projeto
de Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata Atlântica, financiado pelo
Governo do Estado de São Paulo para desenvolvimento de políticas
públicas direcionadas a criação de mecanismos de preservação do
meio ambiente e promoção do desenvolvimento social e econômico
das comunidades ao redor das áreas protegidas.
O quarto capítulo, “A Ecossistêmica dos Cães de Rua da
Cidade de Mossoró – RN”, apresenta as observações realizadas do
comportamento de cães de rua, mostrando como um animal se
comporta em relação à aproximação humana, condição indicativa de
como foi a história de vida desse animal.
O quinto capítulo, “Planejamento agroambiental sustentável
de uso do solo em uma microbacia da Zona da Mata de Minas Gerais”,
apresenta os resultados da pesquisa para determinar, com base nas
classes de solos e distribuição espacial, a aptidão agrícola das terras e
propor a otimização dos recursos naturais de uma microbacia situada
em Viçosa, Zona da Mata de MG.
O sexto capítulo, “Cultivo de Cogumelos Pleurotus
pulmonarius (fr.) Quel. como fonte adicional de renda na pequena
propriedade agrícola”, apresenta os resultados do estudo realizado na
Universidade Federal do Tocantins, Campus de Gurupi no Laboratório
de Compostos Bioativos, com o cultivo de cogumelos comestíveis, a
partir de substratos de resíduos florestais e composto orgânico, como
atividade interessante para pequenos produtores e agricultores
familiares.
O sétimo capítulo, “A prevenção e o controle das infecções
em pronto Socorro: questão para a saúde do trabalhador, do usuário e
do ambiente”, apresenta os resultados da pesquisa de identificação de
medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à
assistência à saúde, praticadas pela equipe de enfermagem em um
pronto atendimento hospitalar.
O oitavo capítulo, “A saúde e a homogeneização de
tratamento de água e coleta de esgoto no Brasil”, apresenta os
resultados obtidos da pesquisa de análise da evolução da legislação
ambiental brasileira, relacionada à proteção dos recursos hídricos e o
plano nacional de saneamento básico.
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O nono capítulo, “Respeito à Terra: impactos socioambientais
do uso de agrotóxicos no Brasil”, apresenta os resultados das
reflexões quanto ao uso dos agrotóxicos e seus impactos
socioambientais e proposição de ações de conscientização da
sociedade e participação quanto à liberação de agrotóxicos pelos
governos nacionais.
O décimo capítulo, “Mitigação dos impactos da salmoura em
ambiente marinho resultante da construção de cavernas geológicas
para estoque de CO2”, apresenta os resultados da pesquisa de análise
dos impactos ambientais causados pela emissão de salmoura em
ambiente marinho, motivado pelo projeto de construção de cavernas
geológicas com previsão de estocar CO2 para mitigação das mudanças
climáticas, evitando-se novos passivos ambientais.
O décimo primeiro capítulo, “Brasil frente ao Plano de
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm)”, apresenta os resultados da pesquisa de análise da
posição nacional e seu compromisso com as metas nacionais e
internacionais, de controle do desmatamento e redução das emissões
de gases de efeito estufa.
O décimo segundo capítulo, “A distribuição espacial das
emissões industriais de GEE nos estados de SP, PR e MS”, apresenta os
resultados da pesquisa de compreensão do potencial mercado
consumidor de gás não-convencional nos estados de SP, PR e MS, do
ponto de vista da transição energética, ao analisar emissões industriais
de gases de efeito estufa dos municípios.
O décimo terceiro capítulo, “Influência da sazonalidade na
qualidade das águas do Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de Brumadinho (MG)”, apresenta os resultados do
diagnóstico da qualidade das águas superficiais do Rio Paraopeba no
triênio após o rompimento da barragem de Brumadinho (MG),
examinando possíveis aumentos nos teores de elementos químicos
nas águas superficiais devido à sazonalidade na região, severamente
impactada pelos rejeitos de minério de ferro.
O décimo quarto capítulo, “A Comunidade Cigana Calon no
Sertão da Paraíba no contexto da civilização capitalista” apresenta um
estudo socioambiental pela perspectiva da Ecologia Política Latino-
americana.
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O décimo quinto capítulo, “Gestão de RSU e o Potencial de
Valorização dos Resíduos Vítreos”, apresenta e discute o panorama
nacional e a Região Carbonífera como espaço de estudo e produção
de dados.
O décimo sexto capítulo, “Estudo da presença de
enteroparasitas em alface (Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa L.)”
apresenta uma comparação da prevalência de enteroparasitas em
amostras de hortaliças cultivadas com água de reuso procedentes de
uma horta experimental.
E, por fim, o décimo sétimo capítulo, “Açai (Euterpe
oleracea), an Amazon rainforest fruit, ameliorates diabetic
nephropathy in rats” discute os efeitos do extrato de açaí na
proteinúria em ratos com nefropatia diabética.
Assuntos diversos e interessantes, são, dessa forma, tratados
aqui, certamente proporcionando um material riquíssimo de
fundamentação do conhecimento a acadêmicos, professores e
pessoas que, de alguma maneira, se interessam pelas questões
ambientais e, fundamentalmente no campo das Ciências Ambientais e
da Sustentabilidade.
Ótima leitura!
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Padrões espaciais e temporais da umidade do
solo no Nordeste do Brasil
Keylla Donato, Marcelo Zeri e Karina Williams
10.47247/GC/88471.57.9.2
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Introdução
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desenvolvimento vegetativo e trazer grandes perdas econômicas e
sociais em áreas de cultivo agrícola sem irrigação. Séries temporais de
umidade do solo podem revelar características da seca, como sua
duração ou intensidade (SVOBODA; FUCHS, 2017).
A ocorrência de eventos climáticos em uma região influencia
diversos fenômenos ambientais, incluindo as secas no Nordeste.
Episódios de El Niño, sendo uma variação da temperatura do Oceano
Pacífico, traz consequências diretas para a região brasileira (ARAÚJO,
2012). O impacto gerado por essa ocorrência é a escassez de chuvas na
região do Nordeste, além de diferentes efeitos ao redor do mundo. A
dinâmica da análise espacial e temporal auxilia na identificação de
episódios de seca e a relações com o El Niño, contribuindo no
processo de investigação e observação de eventos climáticos.
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais) possui uma rede de sensores de umidade do solo
na região do semiárido do Brasil. Dados dessa rede têm sido utilizados
em pesquisas de aplicações para quantificar o impacto de secas (Zeri
et al., 2018), além de serem apresentados nos boletins mensais do
Centro. Medidas feitas no período de 2016 a 2017 foram usadas para
avaliar a água no solo do modelo de superfície Jules (Best et al., 2011;
Clark et al., 2011; Osborne et al., 2015), desenvolvido no Reino Unido.
Dada a correlação satisfatória entre modelo e medidas (Zeri et al.,
2020), decidiu-se usar as séries de água no solo do modelo neste
trabalho. Os dados do modelo cobrem o período de 1979 a 2018,
calculados para pontos de uma grade de 0.5˚ (aproximadamente 50
km entre os pontos da grade). Assim, séries de longo prazo de
umidade do solo próximos das localidades das estações do Cemaden e
nos pontos de grade do modelo permitem que se investigue padrões
temporais e espaciais das secas ocorridas no período.
À vista de tudo que foi exposto, o objetivo deste capítulo é
investigar os padrões espaciais e temporais da umidade do solo no
Nordeste do Brasil. Do mesmo modo, busca-se relacionar os padrões
reconhecidos de umidade obtidas nas estações meteorológicas com
as secas na região, podendo ainda revelar as características quanto a
intensidade, duração e extensão.
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Metodologia
Análise de agrupamento
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Modelo Jules
Resultados
Agrupamento espacial
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Alagoas, Sergipe e parte norte da Bahia sofreram com baixos índices
de umidade na época. O mesmo pode ser visualizado em 1998 e 2012.
A seca dos dois primeiros períodos pode ser explicada pela ocorrência
do fenômeno El Niño (CPTEC/INPE, 2019), com intensidade de seca na
parte norte da região estudada, enquanto o ano de 2012 (sem El Niño)
pode ser justificada de acordo com CUNHA (2018, p 6, apud Rodrigues
e Mcphaden, 2014):
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Monte em Alagoas (figura 3) e Muquém de São Francisco na Bahia
(figura 4). A intenção dessas observações é analisar se existe algum
padrão climático e se a localização diferenciada por latitude, longitude
e continentalidade são fatores que interferem na umidade do solo no
semiárido.
A partir das figuras foi possível visualizar que a umidade do
solo tem diferentes padrões, dependendo da sazonalidade das chuvas
e temperatura do ar em cada localidade. Em Jandaíra (RN), o máximo
da umidade do solo ocorre entre abril e maio, aproximadamente em
sincroniza com os máximos de chuva durante o outono, quando a
temperatura do ar está diminuindo. Já em Belo Monte (AL), a
temperatura foi inversa as chuvas. Quando a temperatura diminui as
chuvas aumentam e a umidade do solo também aumenta. Para o local
escolhido na Bahia (Figura 4), observou-se uma época chuvosa mais
longa do que nos outros locais, com totais de chuva mais altos de
dezembro e março. Como consequência, a umidade do solo também
tem seus maiores valores nesses meses.
Os boxplots das figuras 2, 3 e 4 foram feitos para 3 períodos
distintos: 1979 a 1995, 1996 a 2011, e 2012 a 2018. É possível visualizar
que nos três locais escolhidos a temperatura média é mais elevada em
vários meses nos períodos mais recentes (2012 a 2018);
adicionalmente, observa-se que os totais de chuva e umidade do solo
também são menores. Essas tendências são sinais muito concretos
dos efeitos de mudanças climáticas na região.
A variabilidade dos dados também é uma questão relevante,
ou seja, o tamanho das caixas nos boxplots, visto que nos primeiros
anos da análise ocorreram variações em maior magnitude em todos os
índices e atualmente os parâmetros seguem um padrão pouco
alterado. Isso pode ser visto pela ausência de outliers positivos de
chuva nos boxplots de 2012 a 2018. A figura 3, em Belo Monte – AL,
ilustra essa modificação, é perceptível que atualmente não há uma
considerável mudança nos parâmetros de umidade, temperatura e
chuvas como antigamente havia.
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Figura 2 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Jandaíra – RN.
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Figura 3 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Belo Monte –
AL.
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Figura 4 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Muquém de
São Francisco – BA.
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Análise espacial da Água Disponível no Solo
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Figura 6 - Análise espacial da umidade do solo nos anos de 2012, 2013, 2014 e
2015.
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Discussão
Conclusão
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forma homogênea, considerando similaridades entre alguns estados
do Nordeste, apesar de grande variação. Este trabalho foi realizando
utilizando-se das saídas do modelo Jules, especificamente dados de
água no solo entre 10 e 35 cm de profundidade (Bett et al. 2020). Os
dados do modelo cobriam todo o semiárido do Nordeste, num período
de 39 anos, permitindo assim muitas análises espaciais e temporais da
umidade do solo.
Foi identificado em um dos resultados que a seca é mais
severa em alguns estados do semiárido, como Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sendo possível identificar
que em épocas com fenômenos de El Niño essa é a área mais
prejudicada. Em contrapartida, foi analisado que a região costeira da
Bahia mantém um padrão de solo mais úmido quando comparado com
todo o estado, essa diferença pode ser justificada pela quantidade
mais elevada de chuva presente na localidade.
A seca em uma região é influenciada por diversos fatores e
sua duração é sempre imprecisa, pois depende de diversas condições
climáticas e ambientais. A variabilidade espacial e temporal da seca é
um fator importante a ser considerado em análises de vulnerabilidade
a extremos climáticos, especialmente no contexto de mudanças
climáticas, que podem levar a secas mais intensas e frequentes em
diversas regiões do Brasil. Existem padrões espaciais de seca que têm
semelhanças com outros anos, mas as divergências e variabilidades
são bastante comuns em análises climatológicas, e provavelmente vão
sofrer mudanças nos próximos anos e décadas.
Referências
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Clark, D. B., Mercado, L. M., Sitch, S., Jones, C. D., Gedney, N., Best, M.
J., Pryor, M., Rooney, G. G., Essery, R. L. H., Blyth, E., Boucher, O.,
Harding, R. J., Huntingford, C., and Cox, P. M.: The Joint UK Land
Environment Simulator (JULES), model description – Part 2: Carbon
fluxes and vegetation dynamics, Geosci. Model Dev., 4, 701–722,
https://doi.org/10.5194/gmd-4-701-2011, 2011.
Osborne, T., Gornall, J., Hooker, J., Williams, K., Wiltshire, A., Betts, R.,
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28
UK Land Environment Simulator. Geosci. Model Dev. 8, 1139–1155.
https://doi.org/10.5194/gmd-8-1139-2015
Zeri, M., Alvalá, R.C.S., Carneiro, R., Cunha-Zeri, G., Costa, J.M.,
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https://doi.org/10.3390/w10101421.
Zeri, M., Williams, K., Blyth, E., Cunha, A.P., Marthews, T., Hayman, G.,
Galdos, M., 2020. Assessment of the JULES model surface soil
moisture using in-situ observations over the Brazilian North East
semiarid region, in: EGU General Assembly Conference Abstracts.
Vienna, Austria, p. 2373.
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Bioprospecção ambiental: enzimas microbianas a
partir de diferentes biomas brasileiros
Vitor Gonçalves Vital, Keith Dayane Leite Lira,
Giovanna dos Santos Matos Paiva,
Tomás Rodrigues Alvares de Almeida Amaral,
Lidiane Maria dos Santos Lima e Suzan Pantaroto de Vasconcellos
10.47247/GC/88471.57.9.3
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Biomas brasileiros e diversidade microbiana
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do clima e microclima local, entre outros (Amazonas, 2009; IPBES,
2019).
Assim como sua vasta diversidade de flora e fauna, a região
possui densa diversidade microbiana associada, característica esta
elucidada em diversos estudos. Em estudo bastante preliminar
realizado por Borneman e Triplett (1997) relatou-se sobre a
diversidade microbiana encontrada a partir de amostragens de solos
amazônicos, coletados no Pará, revelando sequências gênicas até
então desconhecidas pela literatura. Mari (2008) relatou acerca de
microrganismos degradadores de hidrocarbonetos isolados a partir de
amostras de solos amazônicos. Prado (2009) observou a presença de
microrganismos produtores de enzimas em solos amazônicos e
relatou a produção das enzimas amilase, protease, celulase, urease e
lipase por microrganismos isolados de solos de floresta nativa no
Amazonas.
Avançando, Junior, Oliveira e Oliveira (2009) realizaram a
caracterização da elevada diversidade de rizóbios isolados dos
nódulos de feijão caupi (Vigna unguiculata L. Walp.), obtidos a partir de
amostras de solos de terra firme e várzea no Amazonas.
Silva e colaboradores (2011) avaliaram a ocorrência de
bactérias solubilizadoras de fosfato, nas raízes de plantas de pequenas
propriedades rurais no Estado do Amazonas. Os resultados obtidos
permitiram aos autores inferirem acerca da diversidade de tais
bactérias interferirem sobre o pH dos solos na região amostrada.
Branco et al. (2019) descreveram sobre as habilidades
enzimáticas de uma actinobactéria caracterizada como Streptomyces
cinereus, isolada a partir da rizosfera de Aniba parviflora Syn fragans
(macacaporanga), a qual constitui árvore nativa da região Amazônica.
No mesmo ano, Souza et al. (2019) propôs o estabelecimento de uma
micoteca de fungos endofíticos isolados a partir de plantas regionais
com potencial antimalárico. Foram obtidas 210 linhagens pertencentes
aos filos Ascomycota e Basidiomycota, as quais apresentaram
habilidades à produção de metabólitos secundários de elevada valia
biotecnológica. Destacaram-se os fungos caracterizados como
Paecilomyces sp. (MMSRG-024) e Aspergillus sydowii (MMSRG-031),
que apresentaram elevado potencial antimalárico com inibição na
concentração mínima de 6,25 μg/mL.
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Recentemente, Minelli-Oliveira et al. (2020) avaliaram a
atividade de α-amilase termotolerantes, em rizobactérias isoladas de
nódulos de leguminosas de solos amazônicos. Os dados obtidos pelos
autores permitiram inferir que as rizobactérias avaliadas eram
potencialmente aplicáveis à indústria, devido à eficiente produção de
α-amilases, e ao fato de não serem bactérias patogênicas. No ano
seguinte, Oka (2021) realizou a identificação de fungos amazônicos
produtores de metabólitos secundários e avaliou que fungos do
gênero Penicillium foram eficazes no teste antimicrobiano frente aos
patógenos testados Enterococcus faecalis e Candida albicans.
Partindo para o sul brasileiro, os campos sulinos só foram
reconhecidos como bioma em 2004 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). O bioma Pampas representa 2% do território
nacional, o que corresponde a 63% do território do Estado do Rio
Grande do Sul, ou seja, 176.496 km² de forma ainda ser o único bioma
restrito a um único estado (Bencke et al., 2016; Bortoluzzi, 2019). É
bem caracterizado por ser heterogêneo, tanto quanto a sua
vegetação, solo e variabilidade climática (Boldrini, 2010). Sua
vegetação varia desde arbustos a plantas rasteiras, de forma a ser a
reserva de densa diversidade de vegetação campestre, em nível
mundial (Godoy, 2012; König, 2014). Seu solo apresenta-se
particularmente como arenoso, de forma a constituir substrato para
todo o bioma (Suertegaray, 2014). O clima é caracterizado por
alternância entre frio e seco (Santos, 2009). Possui elevada relevância
geológica, uma vez que reserva testemunhos climáticos que
constituem verdadeiros tesouros para interpretações climáticas de
períodos antepassados (Behling, 2009).
O bioma Pampas também pode ser considerado como frágil,
tanto pelas degradações naturais, devido ao seu característico solo
arenoso, quanto por manejo inadequado, gerando efeitos deletérios
sobre a biota e microbiota existente na região (Altmann, 2020; Pereira,
2012) .
Os manguezais e ecossistemas costeiros encontram-se
distribuídos ao longo do litoral brasileiro em regiões de clima tropical.
Quanto à sua distribuição geográfica, são encontrados nas Américas,
África, Ásia e Oceania (Kathiresan et al., 2001). Os manguezais, em
especial, são biomas de solo salino que recebem água do mar e que
não resistem a temperaturas mais baixas que 18 °C. O bioma pode
contar com apenas alguns metros de largura até quilômetros
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(Coutinho, 2016). Característico de ambientes estuarinos, os
manguezais muitas vezes se encontram em áreas por onde desaguam
os rios do continente em encontro com o mar (Ghizelini et al., 2012;
Sebastianes et al., 2017) .
A vegetação é composta por árvores, arbustos e herbáceas e
conta com porte de até 20 metros, sendo que alguns pontos contam
com copas acima do nível do mar. A maré alaga o manguezal em dois
períodos do dia, adicionando mais cloreto de sódio ao bioma. As
condições de temperatura elevada, altos níveis de salinidade, pH alto e
baixa aeração tornam os manguezais ambientes com características
únicas, onde apenas determinadas espécies adaptadas conseguem
sobreviver (Dias et al., 2009). O alagamento constante leva à
diminuição de oxigênio no ambiente, assim, as espécies vegetais se
adaptaram a essa condição por meio do desenvolvimento de raízes
aéreas (Coutinho, 2016; Ezcurra et al., 2016). As espécies encontradas
no Brasil afiliam-se basicamente a três gêneros: Avicennia, Laguncularia
e Rhizophora (Francisco et al., 2018). Para fins de comparação quanto à
sua diversidade vegetal, a Mata Atlântica possui mais de 20 mil
espécies vegetais (Brandon et al., 2005).
Os manguezais apresentam papel essencial na ciclagem de
energia e nutriente de ecossistemas estuarinos (Martinho et al., 2019).
São considerados berçários de diversas espécies que contam com
parte ou todo seu ciclo de vida nesse ambiente. Devido às
características já mencionadas dos manguezais, os microrganismos
que sobrevivem a tais condições apresentam potencial
biotecnológico, como fontes de compostos bioativos e metabólitos
secundários (Cadamuro et al., 2021) que vem sendo investigado ao
longo das décadas. São encontrados nos manguezais fungos,
bactérias, algas e protozoários (Ghizelini et al., 2012). As bactérias são
responsáveis pelos ciclos biogeoquímicos, realizando a ciclagem de
nutrientes (Kathiresan et al., 2001). Os fungos, por sua vez,
apresentam papel essencial na degradação de celulose e lignina.
Fungos e bactérias em conjunto realizam a oxidação da matéria
orgânica e promovem a ciclagem do carbono (Ghizelini et al., 2012).
Importante destacar que os microrganismos isolados para
fins de bioprospecção podem ser coletados em áreas afetadas por
contaminação, podendo eles mesmos promoverem a biorremediação
da área (Ghizelini et al., 2012; Martinho et al., 2019). Em manguezais
acometidos por contaminação de hidrocarbonetos policíclicos
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aromáticos já se encontram estudos sobre a biorremediação
intermediada por microrganismos presentes no ecossistema.
O bioma Mata Atlântica é composto por elevada diversidade
de ecossistemas, abrigando um conjunto de formações florestais que
apresenta características diversas, responsáveis pela formação de
paisagens encantadoras e distintas (Campanili e Schaffer, 2010). Os
conjuntos ambientais que compõem a Mata Atlântica são: Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Mista,
Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, Savana,
Savana-estépica, Estepe e Formações Pioneiras (IBGE, 2012). O bioma
ocupa cerca de 13% do território brasileiro e se encontra na região
litorânea do país, onde aproximadamente 50% da população vive,
trazendo ameaças quanto a impactos ambientais para o bioma (IBGE,
2012).
As características dos conjuntos florestais da Mata Atlântica
variam em relação à composição da vegetação, podendo ser
composta densamente por árvores, como a Floresta Ombrófila Densa,
a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Ombrófila Mista, a Floresta
Estacional Semidecidual, e a Floresta Estacional Decidual, até uma
vegetação mais rasteira, como a Savana, Savana-estépica, Estepe e
Formações Pioneiras (IBGE, 2012). A umidade e a temperatura são
outros fatores determinantes dos ecossistemas da Mata Atlântica,
criando condições para que uma ampla diversidade de espécies
vegetais, animais e microbianas possa se estabelecer.
Devido à sua diversidade, a Mata Atlântica é considerada um
hotspot da biodiversidade de acordo com a Conservação Internacional
(2011), ou seja, área prioritária frente à conservação do bioma
(Rezende et al., 2018). A degradação da Mata Atlântica compromete
os serviços ambientais prestados pelo bioma, bem como a qualidade
de vida das espécies, incluindo os microrganismos.
Por conta das várias condições ambientais encontradas na
Mata Atlântica, sua biodiversidade microbiana vem sendo abordada
por meio de estudos científicos a fim de mapear as encontradas, bem
como identificar seu potencial biotecnológico. Algumas dessas
espécies são: Paraburkholderia youngii sp. (Mavima et al., 2021),
Burkholderia nodosa (Chen et al. 2007 ), para bactérias e para fungos:
Candida ssp (Santos et al., 2011; Barbosa et al., 2009), Ophiocordyceps
ssp (Evans et al., 2011), Hypochnella verrucospora (Coelho et al., 2010).
35
O Pantanal (150.355 km²) apresenta-se como uma área úmida,
de clima tropical, localizada no centro do continente sul-americano, na
bacia do Alto Paraguai, ocupando os estados brasileiros Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, correspondendo a quase 2% do território
brasileiro (MMA, 2022), além de uma porção da Bolívia e do Paraguai
(Schulz et al., 2019). Apresenta duas estações definidas, inverno seco e
verão úmido, a precipitação média anual varia de 600 a 1600 mm. Os
solos são aluviais e arenosos (Marengo et al., 2021). Trata-se de um
bioma complexo, com um mosaico de ecossistemas distintos
“moldados pela influência de fatores climáticos, ecológicos e
antropogênicos” (Pott et al., 2011).
O Pantanal constitui a maior planície de inundação contínua
do mundo, marcada por períodos alternados de cheia (inundações) e
seca (Junk et al., 2006). Isso ocorre devido à existência de um “regime
de água de pulso de inundação previsível” (Frota et al., 2020),
proveniente de chuvas originadas ao norte do rio Paraguai (Bergier et
al., 2018; Oliveira et al., 2018). As inundações determinam a extensão e
a disponibilidade de áreas terrestres e habitats aquáticos, com
implicações na migração da avifauna, na ciclagem de nutrientes nas
regiões de várzea, na ocupação da terra pelo pantaneiro e no
desenvolvimento da pesca e pecuária (Schulz et al., 2019).
Também é reconhecido como um refúgio de biodiversidade
uma vez que possui uma fauna diversificada e abundante (Alho e Silva,
2012), sendo registrada espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis e
anfíbios (Benedicto, 2018). De acordo com Alho et al. (2019) “a riqueza
de espécies no Pantanal mostra-se maior do que nos biomas vizinhos,
quando comparada a área total de cada bioma”. É importante
destacar que o Pantanal é um ecótone, uma área de transição de
biomas circundado pela Amazônia ao norte, Cerrado a leste, Mata
Atlântica ao sul e Chaco (Paraguai) a oeste, tendo forte influência na
biogeografia do ecossistema.
Tratando-se da vegetação tem-se uma distribuição
diversificada com espécies adaptadas a sazonalidade hídrica, ao passo
que formações florestais (floresta sazonal decídua e semidecídua),
bem como formações arbustivas e herbáceas, a exemplo do cerrado
(capão do cerrado e mato de cerrado - cerradão) são recorrentes.
Também são descritos campos inundáveis, macrófitas aquáticas em
áreas alagadas, mata ciliares, brejos e algumas plantas endêmicas
(Alho et al., 2019; Pott et al., 2011).
36
O Pantanal encontra-se em uma área de transição de biomas,
por conseguinte apresenta uma variedade de habitats que se
constituem em um reservatório microbiano. Alguns estudos acerca de
microrganismos endofíticos nesse ecossistema já foram publicados
(Noriler et al., 2018), no entanto a maioria está associada a
bioprospecção de linhagens produtoras de bioativos com potencial
biotecnológico, enquanto a análise da comunidade microbiana é
pouco valorizada (Sousa et al., 2017; Glienke e Savi, 2017).
Nesse contexto, estudos da biodiversidade microbiana no
Pantanal ainda carecem de consolidação, e podem ser apoiados com o
desenvolvimento de pesquisas que conciliam a biodiversidade e a
bioprospecção da comunidade microbiana (Glienke e Savi, 2017).
Fungos endofíticos são comumente isolados no ecossistema Pantanal
nos estudos de bioprospecção, tal interesse é devido a síntese de
metabólitos secundários com atividade biológica (Silva et al., 2016),
endófitos usados como controle biológico ou promotores de
crescimento vegetal (Souza et al., 2016).
Noriler et al. (2018) analisaram a comunidade fúngica
associada à espécie vegetal Vochysia divergens “monodominante
durante a seca e cheia no Pantanal”. Os autores relataram a
predominância dos gêneros Diaporthe, Phyllosticta Neofusicoccum
recorrentes em outras espécies vegetais do bioma Cerrado. Em
contrapartida, os gêneros Alternaria, Coniochaeta, Neopestalotiopsis,
Paraphaeosphaeria, Daldinia, Efibula e Roussoella são exclusivos dessa
planta.
Bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico foram relatadas
em gramíneas forrageiras no Pantanal mato-grossense. Segundo os
autores, os resultados evidenciaram a presença de bactérias
diazotróficas do gênero Azospirillum, Herbaspirillum e Burkholderia nas
“folhas e raízes de gramíneas forrageiras e no solo” (Brasil et al.,
2005).
O Cerrado ou Savana Brasileira compreende uma área de 2
milhões de km2, é considerado como o segundo maior bioma do Brasil,
localizado no Planalto Central, limitado aos demais biomas do país
(Procópio e Barreto, 2021). O clima é tropical, com temperatura média
anual de 22 a 28 ºC e precipitação anual acima de 2000 mm. Os solos
no geral são ácidos com altas concentrações de óxidos de ferro e
37
alumínio, pobres em nutrientes e baixa disponibilidade de água
(Lambers et al., 2020; Lopes e Guimarães Guilherme, 2016).
Basicamente a fitofisionomia do Cerrado apresenta três
grandes formações: florestas (cerradão e mata seca), savanas
(cerrado) e campos (campo sujo, campo cerrado e campo limpo)
(Ribeiro e Walter, 1998; Eiten, 1994). As savanas e campos encontram-
se em meio a florestas úmidas e secas com espécies adaptadas à
variação do clima sazonal (Ratter et al., 1997). Em virtude da
variabilidade de habitats (pastagens, florestas de dossel seco,
florestas úmidas margeando rios, córregos ou matas de galeria) esses
ambientes tornam-se únicos, pois acomodam diferentes grupos de
animais, plantas vasculares e microrganismos (Françoso et al., 2015).
Consequentemente, o Cerrado abriga uma relevante diversidade de
fauna e flora, com espécies endêmicas que não são encontradas em
nenhum outro lugar do globo, portanto um hotspot de biodiversidade
no mundo (Lambers et al., 2020; Françoso et al., 2015).
Embora se reconheça a importância da biodiversidade do
Cerrado, a mesma ainda é pouco compreendida, e com novas espécies
ainda não descritas (Colli et al., 2016). Nos últimos anos uma parte
desse bioma foi alterado para o estabelecimento de serviços
ecossistêmicos (produção de pastagens, terras agrícolas e
monoculturas), tendo-se áreas de vegetação nativa substituídas por
“paisagens fragmentadas e reconfiguradas” (Lambers et al., 2020).
A comunidade microbiana do Cerrado varia com a vegetação
e qualidade do solo (Procópio e Barreto, 2021). Estudos anteriores
descreveram uma biodiversidade de microrganismos, no entanto
ainda é necessário compreender a influência da sazonalidade hídrica e
cobertura vegetal com o padrão de distribuição microbiana (Castro et
al., 2016). Recentemente diversas publicações adotaram técnicas
metagenômicas e de sequenciamento de genes de RNA ribossômico
16S (rRNA) de bactérias (Procópio e Barreto, 2021) com o propósito de
elucidar associações de micróbios nas fisionomias vegetais (Castro et
al., 2016).
Na fisionomia “cerradão” existe a predominância de
proteobactérias, enquanto em terras agrícolas foram identificadas
Azospirillum e Rhizobium bactérias fixadoras de nitrogênio na rizosfera
de leguminosas e forrageiras. No solo foram detectadas a abundância
de acidobactérias, assim como o filo Firmicutes cuja formação de
38
esporos favorece a resistência em ambientes com condições adversas
(Souza et al., 2016).
Nos campos e florestas decíduas as actinobactérias são
abundantes e contribuem com a ciclagem de nutrientes, formação de
matéria orgânica e produção de enzimas, sendo amplamente
encontradas no Cerrado (Kumar et al. 2020). Streptomyces é o gênero
mais comum no solo e vastamente descrito em estudos de diversidade
microbiana (Silva et al., 2013). Por outro lado, nas matas de galerias
foram encontradas bactérias do filo Verrucomicrobia, além de
arqueias durante a estação chuvosa com abundância relativa (Castro
et al., 2016).
Fungos também são encontrados no Cerrado uma vez que
atuam na decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e
manutenção da qualidade do solo (Procópio e Barreto, 2021), e ainda
associados às raízes das plantas. Consequentemente, a variabilidade
de gêneros fúngicos se mostra distinta quando se compara diferentes
áreas de uso como cerrado, floresta margeada por rio, plantação de
soja e pastagem. A diversidade fúngica encontrada nessas áreas
demonstrou a presença majoritária do filo Ascomiceto, tendo-se
exemplares de Fusarium, Verticillium e Gliocadium (Castro et al., 2008).
O sucesso desse filo no Cerrado se deve a habilidade em produzir
enzimas extracelulares para degradar biopolímeros (celulose e
hemicelulose) nas formações de floresta (Araújo et al., 2017). Em
contraste, o filo Basidiomiceto é dominante em florestas decíduas e
pastagens, os membros desse filo atuam na degradação de lignina e
ciclagem de carbono (Procópio e Barreto, 2021).
A biodiversidade de fungos endofíticos do Cerrado também é
relatada na literatura. Noriler et al. (2018) identificaram os gêneros
dominantes Diaporthe, Phyllosticta e Neofusicoccum isolados da planta
medicinal (Stryphnodendron Adstringens) popularmente conhecida
como barbatimão. Estudo similar de Ferreira et al. (2017) investigaram
a comunidade fúngica associada a planta endêmica (Vellozia gigantea)
nos campos do cerrado, segundo os autores os gêneros mais
abundantes foram Diaporthe, Xylaria, Nigrospora, Colletotrichum e
Trichoderma.
Comunidades micorrízicas arbusculares também foram
encontradas nesse bioma, ofertando incremento nutricional à planta,
39
de modo que Glomus sp. constitui o principal gênero prevalente nas
fisionomias do Cerrado (Araújo et al., 2021; Duarte et al., 2019).
A Caatinga é o bioma brasileiro que corresponde à maior
parte da região semi-árida do Nordeste, responsável por ocupar uma
área correspondente a aproximadamente 10% do território nacional,
presente em oito estados nordestinos, sendo estes Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia e o norte de Minas Gerais (IBGE, 2015; Queiroz, 2009). Este
bioma abrange diversas tipologias vegetais, tais como savana, savana
estépica, floresta estacional e formações pioneiras (IBGE, 2019). O
nome Caatinga deriva da língua Tupi e significa “Mata branca”,
fazendo referência ao aspecto acinzentado e claro evidenciado no
período de estiagem (Queiroz, 2009), uma vez que este bioma é
caracterizado por estações secas e chuvosas distintas e bem definidas,
apresentando baixos índices de precipitação (300-1000 mm/ano), cujo
as chuvas concentram-se em 3 a 5 meses (Queiroz, 2009; Beuchle et
al., 2015).
A vegetação presente é adaptada às condições de aridez
local, dotada de estratégias adaptativas como a presença de órgãos
armazenadores de água, e por mais que a aparência acinzentada e
estações secas possam imprimir uma falsa percepção sobre a
biodiversidade deste território, a Caatinga possui um expressivo
número de espécies endêmicas, sendo considerada de suma
importância em termos biológicos, além de tratar-se de um bioma
exclusivamente brasileiro, ou seja, não ocorre em nenhum outro lugar
do mundo (Sá e Silva, 2010; Silva-Lacerda et al., 2016).
Entretanto, apesar da grande biodiversidade, as unidades de
conservação (UC) federais e estaduais de proteção integral
correspondem apenas a 1% da Caatinga (Roma e Viana, 2013), fato este
que expressa preocupação, visto o estudo de Pereira et al. (2022)
acerca do solo da Caatinga aponta resultados que indicam a mudança
das funções previstas das comunidades microbianas após o processo
de degradação, acarretando a diminuição da diversidade microbiana.
A diversidade microbiana dos solos desse bioma ainda é
pouco conhecida, embora Pacchioni et al. (2014) formula a hipótese de
que devido às condições de solo específicas e presença de flora
endêmica, os microorganismos do solo mostram uma composição
funcional e taxonomia distinta quando comparado a microbiota de
40
outros biomas, neste estudo, os resultados evidenciaram que os filos
mais abundantes são Actinobacteria, Proteobacteria e Acidobacteria,
cujos gêneros de Actinobacteria com representação significativa são
Conexibacter, Nocardioides, Rubrobacter e Geodermatophilus. Nesse
sentido, os resultados de um estudo elaborado por Gorlach-Lira
Coutinho (2007) acerca da dinâmica populacional de bactérias
presentes na rizosfera de Aristida adscensionis (Poaceae) sugeriram o
desenvolvimento de adaptações pelos microrganismos, como é
observado e foi citado anteriormente para as plantas.
Sendo assim, a diversidade microbiana apresenta um
repertório extenso para novas descobertas e aplicações tecnológicas,
bem como o estudo desenvolvido por Martins et al. (2016) elucida,
mostrando que entre os isolados analisados, foi possível detectar
cepas com atividades enzimáticas estáveis para todas as condições
testadas.
A sequência do genoma da primeira espécie de Streptomyces
isolada da Caatinga brasileira, denominada como Streptomyces
caatingaensis CMAA 1322, foi relatada por Santos et al. (2015),
contendo um grande número de genes previstos para codificar
proteínas com funções relacionadas às respostas ao estresse,
incluindo o estresse osmótico, oxidativo e choque térmico.
Braga (2016) estudou bactérias associadas à Mimosa
artemisiana, nativa do bioma, e obteve resultados que sugerem que
linhagens de Paenibacillus sp. e Bacillus sp. mitigaram os efeitos
negativos impostos pelo estresse hídrico em plantios de soja (Glycine
max L.). Recentemente, Santos et al. (2020) mostraram que Bacillus sp.
isolados da rizosfera de cactos da Caatinga evidenciam o potencial
para promoção do crescimento de milho em condições de seca.
Ademais, Diogo et al. (2020) avaliou a capacidade de
actinobactérias oriundas de solos secos da Caatinga em inibir o
crescimento micelial do fungo Aspergillus niger, resultando em seis
isolados eficientes para tal inibição, cujo três destes demonstraram
capacidade inibitória de 100%.
Aplicações biotecnológicas
41
contaminadas, desenvolver novas estratégias tornando processos
mais sustentáveis, desenvolvendo produtos com baixo ou nenhum
impacto ambiental, promovendo a extração de compostos de
relevância a partir de resíduos, dentre outras tantas possibilidades. A
remediação de áreas contaminadas é um ramo que vem sendo
investigado a fim de mitigar impactos ambientais. Como mencionado
anteriormente, há microrganismos capazes de degradar
hidrocarbonetos, gerando subprodutos menos tóxicos ao meio
ambiente. Outras aplicações incluem a produção de bioinoculantes a
partir de actinobactéria isolada do solo do Cerrado (Hoyos et al., 2021).
A actinobactéria é capaz de solubilizar fosfato no solo, permitindo um
melhor crescimento de plantas, no caso do estudo de Hoyos et al
(2021), o foco foi em plantação de soja.
Quanto às enzimas envolvidas nesse processo foram descritas
principalmente as quitinases e celulases (Lacombe-Harvey et al., 2018;
Bettache et al., 2018). Estes estudos promovem benefícios ambientais,
uma vez que tais bioinoculantes podem substituir fertilizantes
convencionais, causando menos impacto por meio de sua produção
sustentável. A investigação de microrganismos como as
actinobactérias possibilitam o desenvolvimento de novas estratégias
dentro da agricultura, buscando práticas mais sustentáveis e assim,
ressaltando a importância da biotecnologia para fins ambientais.
Ainda dentro do contexto de meio ambiente e agricultura,
estudos acerca da produção de biocombustíveis ganham destaque
dentro da biotecnologia. Os resíduos provenientes da agricultura
fornecem matéria prima para que microrganismos possam
transformá-los em combustível, como o estudo dirigido por Santos et
al. (2011). O grupo investigou o potencial da Candida queiroziae em
hidrolisar a celulose e assim gerar biocombustível. A levedura realizou
a fermentação da celulose por meio do complexo de enzimas
celulases, incluindo celobiohidrolases, endoglucanases e beta-
glicosidases (Santos et al., 2011).
A produção de celulases por microrganismos oriundos de
biomas brasileiros também foi investigada por Goldbeck et al. (2012). O
grupo se dedicou à produção da enzima celulase com o intuito de
aplicação não somente para a produção de biocombustível como
também ao potencial uso da enzima na indústria têxtil e de papel
(Santos et al., 2010). A celulase é uma enzima bastante investigada,
com elevada especificidade, podendo participar da conversão de
42
açúcares em bioetanol (Silva et al., 2020). No Cerrado também se
encontram fungos que produzem celulases, principalmente
basidiomicetos, tal como descrito por Silva et al. (2020). Os autores
investigaram o potencial de fungos da podridão branca quanto à
produção de diversas enzimas, incluindo: celulases, lacases, manganês
peroxidases, e lignina peroxidases (Silva et al., 2020). Outro estudo
sobre as celulases e também as proteases indicam o potencial dessas
enzimas em hidrolisar estruturas lignocelulolíticas, levando à produção
de bioetanol (Ramos et al., 2016). Tais enzimas foram obtidas a partir
de bactérias encontradas no trato gastrointestinal de hipopótamo,
sendo uma fonte inovadora de microrganismos.
As lipases também são enzimas de relevância biotecnológica.
São enzimas disponíveis não somente em microrganismos, mas
também em animais e plantas. Sua função é catalisar a quebra de
óleos e gorduras (Goldbeck e Filho, 2013), e por isso vem sendo
explorada na literatura para fins industriais, tendo importante atuação
na indústria farmacêutica, de cosméticos, fragrâncias, e síntese de
biodiesel (França et al., 2022). Tal função é de grande importância no
contexto industrial para a geração de compostos de maneira mais
eficiente e econômica (Goldbeck e Filho, 2013). Os fungos endofíticos
são descritos na literatura pelo seu potencial em produzir lipases, por
isso sua relevância nos estudos acerca dessa classe de enzimas
(Bhadra et al., 2022; Amaral et al., 2022).
Ademais, a biotecnologia se faz presente em outros
espaços, como na medicina, desempenhando papel crucial, a partir do
desenvolvimento de técnicas e ferramentas diagnósticas para
detecção de doenças utilizando anticorpos monoclonais, tecnologia
de biossensores, tecnologia do chip de DNA, tecnologia do anti-senso
(Oliveira, Costa e Fonseca, 2006). Além de sua aplicação ser de suma
importância para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas, bem
como o aprimoramento de vacinas já existentes (Diniz e Ferreira,
2010). Nesse contexto, a biotransformação tem despertado a atenção
devido às suas aplicações promissoras (Burragoni e Jeon, 2020).
Os microrganismos, entre estes, bactérias e fungos
endofíticos, representam um verdadeiro reservatório de metabólitos
bioativos, incluindo diversas aplicações, tais como: antibióticos,
imunossupressores, agroquímicos, anti-inflamatórios e antitumorais.
Importante ressaltar sobre os metabólitos antioxidantes, os quais
agem diretamente na proteção das células contra espécies reativas de
43
oxigênio e radicais livres, promotoras da degeneração celular
(Burragoni e Jeon, 2021; Gunatilaka, 2006).
44
uma nova classe de enzimas à base de cobre, as mono-oxigenases
líticas de polissacarídeo (LPMOS) vieram para impulsionar a
desconstrução da biomassa lignocelulósica através da clivagem
oxidativa de polissacarídeos recalcitrantes (Johansen, 2016). Outras
proteínas microbianas são descritas, a exemplo das pectinases,
proteases, amilases, lipases, esterases, quitinases, catalases e fitases
(Corrêa et al., 2014;Gomes et al, 2016).
Adicionalmente, a biotransformação microbiana “envolve o
uso de enzimas, células inteiras ou suas combinações” na reação de
conversão de uma molécula precursora em produtos
biotransformados. No geral, células inteiras são adotadas como uma
abordagem econômica e ambientalmente correta permitindo a
renovação das enzimas e cofatores (Nascimento et al., 2019).
Os fungos filamentosos são comumente empregados em
rotas de biotransformação microbiana. Liu et al. (2019) relataram a
presença de metabólito menos polar da bioconversão de
ginsenosídeos (bioativo do ginseng) pelo fungo Schizophyllum
commune. Nascimento et al. (2019) investigaram a biotransformação
de compostos cumarínicos empregando os fungos Cunninghamella
elegans e Aspergillus brasiliensis. A biotransformação da droga
antimalárica artemisinina em derivados com bioatividade mais efetiva
tem sido relatada a partir de rotas microbianas promissoras utilizando
fungo Aspergillus terreus (Yu et al., 2017) e actinomiceto Streptomyces
griseus (Hegazy et al., 2015).
Em síntese, os microrganismos são eficientes fábricas de
enzimas, promotores de coquetéis e preparações reacionais de ampla
aplicação industrial e ambiental. A facilidade da utilização de
microrganismos, ou produtos de origem microbianas, tais como
extratos enzimáticos, ou enzimas, em processos de biotransformação
constituem valiosa ferramenta na síntese e/ou derivatização de
moléculas bioativas, ou blocos de construção para a obtenção de
importantes comodities. Os biomas brasileiros, por apresentarem
características únicas e distintas entre si, apresentam-se como
patrimônio natural e valioso da riquíssima biodiversidade microbiana,
a qual necessita de continuidade à sua investigação e manutenção
para que haja o alcance do equilíbrio da sobrevida humana e as demais
espécies de vida presentes na Terra.
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2016.
59
SINGH, Nasib, SINGH, Joginder. Secretomics of Wood-Degrading Fungi
and Anaerobic Rumen Fungi Associated with Biodegradation of
Recalcitrant Plant Biomass. In: YADAV, A.N., MISHRA, S., SINGH, S.,
GUPTA, A. (org.). Recent Advancement in White Biotechnology
Through Fungi, Fungal Biology. Springer Nature. 2019, p. 1-16.
60
Avaliação do Projeto de Desenvolvimento do
Ecoturismo na Mata Atlântica em Parques do
Estado de São Paulo
Daniela Midori Kaneshiro e Zysman Neiman
10.47247/GC/88471.57.9.4
61
Introdução
62
Ambiente como documento final de prestação de contas ao Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), financiador do Projeto.
63
responsável por sua administração. Desta forma, nas UCPI, está
proibida a visitação pública nas Reservas Biológicas e nas Estações
Ecológicas, apenas podendo ser realizada com regulamento específico
com objetivo educacional, o que demonstra ainda mais a importância
de um documento regulador como o Plano de Manejo (BRASIL, 2002).
O conceito de Plano de Manejo é definido no Art. 2º - XVII do
SNUC como
64
de março de 2009. Antes dessa publicação, apenas o Parque Estadual
de Intervales pertencia a FF e todas as outras Unidades eram
gerenciadas pelo Instituto Florestal.
De acordo com o Decreto, o SIEFLOR é um sistema criado
para conferir eficácia na gestão das florestas públicas e outras áreas
naturais protegidas, em face da extrema importância da conservação
da Mata Atlântica tida como patrimônio estadual e nacional, do
cerrado e de outras formações vegetais naturais do Estado de São
Paulo, bem como sua fauna associada.
As atividades de uso público nas UCs que devem constar no
plano de manejo são: visitação, áreas de visitação, e novas
potencialidades, período de maior frequência, serviços de condução e
guia ofertada, atividades educacionais, assim como a análise dos
impactos evidentes causados por essas atividades nas diferentes áreas
de visitação pública, se existentes (BRASIL, 2002).
O Uso público é também um importante meio de arrecadação
de recursos financeiros nas Unidades de Conservação e a
administração dos parques tem o difícil papel de conciliar o uso
público com a preservação do meio ambiente (TAKAHASHI, 2004).
Mas atualmente, a dificuldade de manejá-lo juntamente com
programas contemplados no Plano de Manejo, além da gerência
administrativa geral do parque limitada em recursos humanos, e a
dificuldade de conseguir fundos financeiros, resulta em baixa
qualidade no serviço. Takahashi (2004) aponta a disponibilidade
financeira como um dos fatores que restringem a recreação em áreas
naturais no Brasil.
65
duas regiões já foram reconhecidas pela UNESCO como
patrimônio da humanidade, além de possuírem várias unidades
de conservação que, dentre outras atribuições, devem
proporcionar aos cidadãos condições para a realização de
atividades de recreação e educação ambiental (SÃO PAULO,
2003, p.76).
66
Figura 1 - Mapa com a localização das Unidades de Conservação do Projeto.
67
• Componente 3: Fortalecimento da gestão pública para o
ecoturismo através de políticas públicas e capacitações dos
servidores públicos.
68
Tabela 1 - Informações básicas das Unidades de Conservação do Projeto
Ecoturismo.
Possui
Núcleos
Parque Área Decreto de Possui Plano de Conselho
de
Estadual (ha) Criação Manejo (PM)? instituído?
Visitação
Qual?
1– Decreto-
PEJ Caverna 150.000 Lei nº 145 Não Não
do Diabo de 8/8/69
Apenas o Plano de
Manejo
Lei 12.810 Sim,
1- Caverna Espeleológico
PECD 40.219 em Conselho
do Diabo elaborado em 2010
21/02/2008 Consultivo
(em análise no CECAV
desde 2010)
Sim, Plano de
1- Ouro
Manejo do Parque
Grosso
em análise no
2-
Decreto nº CONSEMA desde Sim,
Caboclos
PETAR 35.712 32.283 de 2009 e Plano de Conselho
3-
19/05/1958 Manejo Consultivo
Santana
Espeleológico na
4- Casa de
análise pelo CECAV
Pedra
desde 2010
1- Decreto nº Sim, Plano de Sim,
PEIC Perequê 22.500 40.319 de Manejo do Parque Conselho
2- Marujá 03/07/1962 aprovado em 2000 Consultivo
1 - Sete
Barras
Decreto nº Sim, Plano de Sim,
2- São
PECB 37.644 19.499 de Manejo do Parque Conselho
Miguel
1982 aprovado em 2008 Consultivo
Arcanjo
(sede)
Sim, Plano de
1 – Sede Decreto Manejo do Parque
2 - Bulha nº.135 de aprovado em 2008 e Sim,
PEI D'Água 46.086 08 de Plano de Manejo Conselho
3- junho de Espeleológico na Consultivo
Saibadela 1995 análise pelo CECAV
desde 2010
Sim,
Decreto nº Sim, em análise no
PEIb 1 – Sede 27.025 Conselho
9.414/77 CONSEMA.
Consultivo
Fonte: adaptado Fundação Florestal, 2013.
69
Ressalta-se que, no início do Projeto Ecoturismo, o Parque
Estadual de Jacupiranga (PEJ), criado pelo Decreto-Lei Nº 145 de 8 de
agosto de 1969, se transformou no Mosaico Jacupiranga em 2008,
devido a muitos conflitos e falta de efetividade, além de ser
atravessado por uma rodovia (BR-116) que liga a região sul e sudeste
do Brasil. O PEJ foi subdividido e ampliado, composto por três Parques
Estaduais: Caverna do Diabo (PECD), do Rio Turvo (PERT) e Lagamar
de Cananéia (PELC) e mais onze Unidades de Conservação de uso
sustentável nas categorias APA, RDS e RESEX.
Para acompanhar todos os investimentos, foi criada na
Secretaria uma Unidade de Coordenação de Projetos – UCP, sendo
composta por núcleos com funções definidas e a formação acadêmica
necessária para as atividades:
I) Núcleo de Controle e Monitoramento:
a) Responder pelo controle e monitoramento dos
procedimentos relativos às aquisições, contratações,
organização administrativo-financeira e orçamentária e
operacional do Projeto, em articulação com as demais
Unidades definidas no artigo 1º, parágrafo segundo, do
Decreto 50.406 de 27 de dezembro de 2005;
b) A equipe deve ser composta por técnicos com experiência em
aquisições e em gestão de projetos;
II) Núcleo de Infraestrutura e Paisagem:
a) Responder por todos os assuntos referentes às intervenções
físicas (projetos e obras civis) que serão efetuadas no âmbito
do Projeto;
b) Deve contar com engenheiros civis com experiência em
projetos e execução de obras, e arquitetos com experiência
em projetos e execução de obras, paisagismo, programação
visual e projetos expositivos;
III) Núcleo de Gestão da Visitação para o Ecoturismo:
a) Responder por assuntos relativos à implantação de um
sistema de recepção e ordenamento da visitação nos Parques
Estaduais do Projeto;
70
b) Deve contar com técnicos com experiência em gestão de
visitação em Unidades de Conservação e turismo;
IV) Núcleo de Apoio à Cadeia Produtiva do Turismo:
a) Responder por ações destinadas às comunidades, aos micro,
pequenos e médios empresários da cadeia produtiva do
turismo, e aos municípios da zona de influência dos parques
para fomentar sua participação nos benefícios do Projeto;
b) Deve contar com técnicos com experiência em mobilização
comunitária e condução de equipes;
V) Núcleo de Comunicação e Marketing:
a) Responder por assuntos relativos ao mercado turístico,
principalmente promoção e gerenciamento de planos de
parcerias com o setor privado, ações de planejamento,
marketing, campanha publicitária voltada para promoção do
ecoturismo em Parques e da área de influência, comunicação
com visitantes, mercado e mídia em geral;
b) Deve contar com técnicos da área de marketing e negócios
turísticos.
Metodologia
71
A primeira etapa, de planejamento, foi linear, com meta de
contextualizar e entender o projeto através do resgate histórico,
desde sua concepção até sua implantação, sendo constituída por uma
análise documental.
A segunda consistiu em apresentar os trabalhos realizados
durante os 7 (sete) anos de contrato de empréstimo.
A terceira etapa, de Verificação, constituiu-se da
interpretação dos indicadores do Projeto Ecoturismo apresentados na
sua concepção em 2006 até o término dos trabalhos em 2012, a fim de
verificar o que foi e o que não foi atingido, além da sua eficácia.
Na etapa de verificação, foram averiguados:
• fonte dos dados, visto que a FF não possui um sistema de
gestão da visitação implantado em todos os parques.
• tempo do projeto.
• inflação no período do projeto (como calcular?)
• Quantidade de planos de manejo aprovados
• ingressantes repetidos?
• base da receita? Inclui, pernoite? Alimentação? Taxa de
entrada?
• plano de manejo (uso público x execução do projeto)
Por último, a etapa de Ação, e já prevendo os próximos
passos para o desenvolvimento do turismo em Unidades de
Conservação, na qual foram fornecidos recomendações e indicadores
a serem aplicados nos próximos projetos.
Resultados e discussão
Componente I:
72
impacto da visitação de atrativos) e sistema de trilhas (trilhas
existentes e proposta de implantação – 545 km);
• Estudo para elaboração do plano de contingência e
gerenciamento de riscos;
• Estudo para elaboração do plano de sinalização para os
parques;
• Projeto Executivo para readequação do píer do Núcleo
Perequê – PEIC;
• Projeto executivo para reforma do sistema de iluminação da
Caverna do Diabo;
• Projeto Executivo para revitalização do núcleo Santana -
PETAR que inclui: centro de interpretação ambiental,
recepção de visitantes, área administrativa, sanitários e obras
complementares;
• Projeto Executivo do desenho das exposições dos Centros de
Visitante;
• Contratação de serviços fotográficos para exposição temática
360º;
• Obra de restauração do edifício histórico para uso como sede
do Parque Estadual de Ilhabela, loja e Centro de visitantes;
• Obras de revitalização do núcleo Santana - PETAR que inclui:
edifício contemplando um centro de visitantes, uma recepção,
uma lanchonete, uma loja e sanitários, além de um mirante;
• Obras de revitalização do núcleo Caverna do Diabo - PECD
(restaurante, centro de visitantes, sanitários, estacionamento,
guarita);
• Obras de instalação do sistema de iluminação da Caverna do
Diabo – um sistema automatizado e dividido por setores,
reduzindo o gasto de energia e evitando a iluminação da
Caverna em trechos sem visitação e iluminando formações
espeleológicas específicas para trabalhar com a imaginação;
• Obras de instalação da rede elétrica de alta tensão do Parque
Estadual Caverna do Diabo;
73
• Obras de revitalização da Sede em Ribeirão Grande - PEI
(Pousadas Lontra);
• Obras no núcleo Perequê - PEIC (pousada, alojamento,
sanitários, centro de visitantes, recepção e área
administrativa);
• Obras do sistema de sinalização de Parques (placas
nominativas e interpretativas);
• Obras de Implantação do sistema de trilhas e trilhas de longo
percurso e atrativos turísticos (186Km) – os três primeiros
trechos da trilha de longo percurso (PETAR até o PEI) e uma
trilha com total acessibilidade no PECB e a ponte do Betari no
PETAR são algumas intervenções importantes realizadas no
Projeto;
• Implantação das exposições temáticas nos centros de
visitantes de todos os Parques;.
• Projeto Executivo e Obras de revitalização da estrada da
Macaca - PECB (equipamentos de vigilância e serviço ao
visitante);
• Aquisição de diversos equipamentos para auxiliar as
atividades nos parques, seja para primeiros socorros (em
atendimento ao Plano de Gerenciamento de Riscos e
Contingências), para manutenção e monitoramento do
sistema trilhas (São Paulo, 2009b), para atividades
administrativas e fiscalizadoras;
• Aquisição de Mobiliário para as unidades de negócios
implantados pelo Projeto;
• Aquisição de Software para acompanhamento dos projetos
do Sistema Trilhas e Atrativos e do Plano de Manejo nos
parques estaduais paulistas.
Algumas considerações sobre o projeto inicial e o produto
final são relatados por Holtz (2013), já que foi implantada a Pousada
Lontra no PEI, mas não foi executada a Pousada Monocarvoeiro, que
também fazia parte do projeto inicial. Além disso, um dos 4 módulos
da Pousada Lontra foi excluído por falta de verba. A obra de
revitalização do píer do núcleo Perequê – PEIC, também não foi
realizada, já que o projeto executivo demorou demasiadamente para
74
ser concluído e o custo previsto em planilha foi muito subestimado. A
implantação da Pousada no PECB foi paralisada pois encontrou-se
falhas no projeto executivo e sua retomada não foi mais possível por
aumento de custos na Pousada Lontra e pela variação negativa do
dólar. As obras de estrutura de apoio aos visitantes da estrada de
Castelhanos não puderam ser realizadas pela falta de projeto
executivo de pavimentação da mesma e pelas condições de acesso na
época (apenas era possível transitar com veículos 4x4 e não havia
tráfego para dois veículos ao mesmo tempo), impossibilitando o
transporte de material para sua execução. Cumpre informar que a
pavimentação da estrada é de responsabilidade de outro órgão, o
Departamento de Estradas e Rodagem de São Paulo. Existindo a
possibilidade de o Projeto implantar as estruturas de apoio ao longo
da estrada em locais que talvez houvesse a ampliação da faixa da
estrada poderia ser considerado uma falha muito grave no
investimento do Projeto. Por esta razão e por não ser possível
transportar o material na estrada, o projeto das estruturas a serem
implantadas foi enviado aos responsáveis do DER para contemplar
junto com a reforma da pavimentação da estrada.
Os investimentos do Componente 1 resultaram maiores do
que os orçados originalmente e as licitações deram desertas ou
fracassadas, gerando a necessidade de replanilhar os preços em
decorrência do aquecimento do mercado de construção civil no
estado de SP e a localização/porte das obras distantes de grandes
centros urbanos.
Componente II:
75
comunidades moradoras do Vale do Ribeira e Alto
Parapanema;
• Estruturação das Unidades de Negócios contemplando 32
Planos de Negócios, Manual de identidade visual (vide Foto
15), Projetos Executivos para os Centros de Visitantes e
Proposta de intervenção espacial para implantação das
Unidades de Negócios;
• Manuais de identidade visual com diretrizes de aplicação da
marca por parque;
• Plano de Marketing Turístico;
• Organização de Fóruns para estruturação da entidade
articuladora da cadeia do ecoturismo;
• Cursos de capacitação para 366 pessoas de 31 comunidades
da área de influência do Projeto em 10 temas: Monitor
Socioambiental, Artesanato Tradicional, Elaboração e Gestão
de Projetos, Organização Institucional, Manejo Florestal e
Agroecologia, Plano de Negócios e Gestão de
Empreendimentos Institucional, para Artesanato e para
Produtos Agroflorestais, Sementes Tradicionais, mudas e
sementes florestais e Apicultura e meliponicultura;
• Capacitação aos profissionais de turismo do entorno dos seis
parques do Projeto contemplando 2.200 pessoas, em 9 temas:
Cenário atual do Turismo no Brasil, Serviços de Alimentos e
Bebidas, Atendimento ao Cliente, Primeiros Socorros, Noções
de Meio de Hospedagem, Atividades Recreativas, Gestão em
Meios de Hospedagem, Gestão de Alimentos e Bebidas e
Gestão de Turismo;
• Curso de capacitação de planejamento e gestão do turismo,
com ênfase em áreas protegidas, para 30 gestores municipais
dos 13 municípios das áreas de influência direta do Projeto;
• Constituição de Entidades articuladoras da cadeia produtiva
do ecoturismo na área de influência dos parques.
• Participação em eventos em conjunto com a Secretaria de
Turismo (SPTuris) para promover o ecoturismo e os parques
em São Paulo.
76
O Componente II envolveu as pessoas que vivem na área de
influência, também conhecida como o entorno dos Parques, são
impactadas diretamente pela existência das Unidades de Conservação,
já que são áreas ricas e restritas legalmente, contudo podem ser
beneficiadas pelas ações do Projeto, através do incremento da
visitação na região. Foram constituídos 6 (seis) GTs (Grupo de
Trabalho) da cadeia produtiva do turismo ao invés das entidades
articuladoras porque os membros optaram por não criar novas
instituições jurídicas, mas continuam se reunindo e organizando ações
nas áreas de influência dos parques. São elas:
• Parque Estadual Carlos Botelho: São Miguel Arcanjo, Tapiraí e
Sete Barras.
• Parque Estadual Intervales: Capão Bonito, Ribeirão Grande e
Guapiara.
• Parque Estadual da Caverna do Diabo: Eldorado, Barra do
Turvo e Cajati.
• PETAR: Iporanga e Apiaí
• Parque Estadual da Ilha do Cardoso: Cananéia, Iguape, Ilha
Comprida e Pariquera-Açu
• Parque Estadual de Ilhabela: Ilhabela
Para o Componente II, houve alteração de fonte financeira na
visita técnica de novembro de 2008, passando o BID a financiar uma
parcela maior do que a inicialmente prevista.
Componente III:
77
Fundação Florestal (FF) em matéria de ecoturismo, gestão de
visitantes e gestão de impactos ambientais e atividades
ilegais;
• Medidas de controle e incentivos para melhorar as relações
entre os parques e as comunidades na zona de influência
direta dos parques;
• Elaboração de Política estadual e regulamentação da gestão
do ecoturismo e uso dos parques contemplando: Política
tarifaria, Cadastro de prestadores de serviço, Política de
Voluntariado, Sistema de informação ao visitante e Controle e
monitoramento das receitas e alocação dos recursos oriundos
dos ingressos às UCs e demais serviços prestados;
• Acordo com a Secretaria de Turismo nas atividades de
articulação e promoção;
• Contratação de Assistentes Técnicos de visitação pública para
cada Parque;
• Capacitação de Gestores de Parque sobre as normas ABNT
relacionadas a turismo de aventura e gestão da segurança.
78
• foi criado um Núcleo na Fundação Florestal chamado Gerência
do Ecoturismo para focar na gestão do uso público da
visitação.
• foram realizados estudos para padronizar as informações e a
identidade visual dos parques paulistas, conhecer as
atividades de uso público possíveis de serem realizadas, além
do gerenciamento de riscos.
• houve dois pedidos de prorrogação dos parques, uma em
2009 e outra em 2011, aprovadas pela SEAIN (Secretaria de
Assuntos Internacionais) e pelo BID.
• apresentou diversas mudanças na gestão do Banco, do
Projeto e da equipe UCP;
• informa a demora no consenso nos modelos de editais entre a
Consultoria Jurídica e o setor jurídico do Banco;
• houve uma solicitação da UCP para o Banco para uma reunião
entre a publicação do edital e o recebimento das propostas
para sanar eventuais dúvidas das fornecedoras, sendo
aprovada pelo Banco e apresentando resultados eficazes,
como o comparecimento de empresas nas reuniões e
propostas homologadas;
• foi informada em uma das reuniões que a média para
elaboração de um processo licitatório até a publicação do
edital é de, no mínimo, 6 meses.
• foram realizados estudos sobre concessão.
Além das Ajudas Memórias, os relatórios de manutenção,
elaborados e emitidos anualmente pela equipe do Projeto eram
simples, continham todos os materiais e serviços contratados e
identificaram que não houve manutenção das infraestruturas
implantadas e dos equipamentos adquiridos. As aquisições foram
apontadas em sua maioria em bom estado de conservação. Pela
cláusula do Banco, todo o financiamento deveria ser utilizado para
investimentos e não para a manutenção, que ficou, portanto, sob a
responsabilidade de FF. O Banco, em um dos Ofícios após recebimento
do relatório de manutenção, demonstrou sua preocupação com o
abandono dos produtos e solicitou providências por parte do
mutuário.
79
O Relatório de Progresso também era um documento
elaborado e semestralmente enviado para o Banco. Continham
informações sobre o andamento dos processos, os resultados e as
atividades previstas para o próximo semestre para cada um dos
componentes do Projeto. Além das ocorrências no período, também
são relatadas as ações complementares que ocorriam nos parques, o
desempenho financeiro do Projeto e uma avaliação crítica da
implantação, com respostas similares às Ajudas Memórias. Nas
versões finais também foram adicionados um resumo executivo do
projeto, os riscos, as lições aprendidas durante o semestre.
Ambos os relatórios de Manutenção e Progresso atendiam as
cláusulas do contrato de empréstimo. É preciso lembrar que os
documentos seguiam um modelo do Banco, que mudou durante o
projeto. No caso do Relatório de Progresso, a partir de agosto de 2011,
a versão final era elaborada somente em planilhas e não mais em
documentos de texto. De fato, as informações ficaram mais objetivas
e diretas para o leitor. Por conta dessas mudanças, a base para o
histórico das informações utilizadas neste estudo foram as Ajudas
Memórias, que não tiveram mudanças significativas ao longo do
projeto e as informações, embora mais enxutas, resumiam o Relatório
de Progresso. O último Relatório de Progresso, datado de fevereiro de
2013 mostrava os indicadores do projeto, os riscos e lições aprendidas.
Os dados finais foram apresentados no Relatório de Encerramento do
Projeto.
Além desses relatórios, durante o tempo de vida do Projeto
Ecoturismo, inclusive o ano seguinte ao término do contrato, a UCP
recebia três visitas anualmente: auditoria do tribunal de contas, da
secretaria da fazenda, auditoria contratada pelo Projeto em
atendimento ao contrato de empréstimo. Assim, pelo tempo de cada
auditoria, pôde-se perceber que a equipe passava pelo menos um
trimestre do ano atendendo os auditores e respondendo os
respectivos relatórios, isso com a demanda de recursos humanos
limitada e com diversos processos licitatórios em andamento. Por mais
que a Ajudas Memórias ressaltassem as obras, havia diversos outros
processos de aquisição sucedendo no Projeto.
Todos os investimentos encontram-se detalhados no Plano de
Aquisições, instrumento utilizado pelo Banco para definir a
elegibilidade das despesas, principalmente nos projetos com revisão
ex-post (auditoria e aprovação dos gastos após execução do
80
contrato), sendo um resumo das contratações apresentado na Tabela
2.
81
Tabela 3 - Valores gastos por componente e por fonte.
Valores contratados (US$)
BID RTE TOTAL
CONTRATO 9.000.000 6.000.000 15.000.000
Componente 1 7.365.953 5.661.551 13027504
Componente 2 897.510 751.759 1649269
Componente 3 0 581.872 581872
UCP 603.601 701.309 1304910
Total 8.867.064 7.696.490 16.563.554
Fonte: Relatório de Encerramento do Projeto (HOLTZ, 2013).
82
Figura 3 - Gráfico com os investimentos (em US$) realizados ao longo da
execução do Projeto.
83
Figura 4 - Gráfico com os investimentos (em US$) realizados por Componente
a cada ano do Projeto.
$3.500
$3.000
$2.500
Componente 1
$2.000
Componente 2
$1.500
Componente 3
$1.000
Outros
$500
$0
84
Tabela 4 - Resultado dos Indicadores-Chaves do Projeto Ecoturismo.
Indicadores-chave Meta Base Alcançado
(2005)
Receita anual auferida pela visitação pública R$ R$ R$
nos seis Parques do Projeto 400.000,00 277.517,46 667.359,61*
85
Embora fosse primordial para a visitação, cerca de 40
Unidades de Conservação ainda aguardam Planos de Manejo e de Uso
Público para elaboração ou aprovação ou revisão, inclusive os do
âmbito do Projeto Ecoturismo. Os empregos diretos no setor turístico
e empresas turísticas que operam na região são dados obtidos pelo
IBGE, e que, portanto, ainda não foram levantados, o que só será
possível em médio prazo.
A Figura 5 demonstra que a participação nos Conselhos tem
aumentado desde a concepção do Projeto, o que é positivo para
agregar a sociedade na participação das atividades nos parques. Do
número de visitantes por ano, a UCP recebia da FF uma planilha com
as informações de visitantes, porém, sem apresentar maiores
detalhes, tais como: alunos, pesquisadores, turistas, conforme Tabela
5, exceto no caso do PEIC e PEI, porém, as planilhas são diferentes. Na
gestão da Ilha do Cardoso são separados em escolas, outros grupos e
público geral (frequentadores), enquanto, em Intervales são
separados por escolas, visitantes regionais, demais visitantes e
pesquisadores. Alguns parques possuem mais de um Núcleo, como
PETAR, PEIC, PECB e não há informações se os visitantes se repetem.
140
120
100
80 homem
mulher
60
40
20
0
2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011 2012
86
Tabela 5 - Número de Visitantes nos Parques Paulistas entre 2007 a 2012.
Número de visitantes nos Parques Estaduais por ano
87
Tabela 6 - Informações financeiras da receita dos Parques Estaduais Paulistas
(jul-dez/ 2012).
UC Receita Valor
Hospedagem/Pernoite 8.303,00
Ingressos 2.850,00
Ingressos 8.331,50
Monitoria 19.891,50
Hospedagem/Pernoite 6.254,50
Ingressos 78.480,00
88
Holtz (2013) apresentou algumas dificuldades que a UCP
enfrentou durante a execução do contrato, tais como a falta de
avaliação na proporção das fontes externa e RTE em cada uma das
linhas de investimento. Contratações cujo objeto necessitasse de
conhecimento da região deveriam ser de fonte RTE para facilitar a
contratação e execução dos trabalhos. Para outros casos, usaria fonte
do Banco, como a aquisição de equipamentos, por exemplo. Inserir as
duas fontes em uma linha de financiamento exigia o atendimento da
norma do Banco e da legislação brasileira.
Considerações finais
89
devido à variação da taxa cambial. Foram vencidas muitas dificuldades
em licitar projetos inéditos com a dificuldade de atender as normas do
Banco. O investimento por meio de financiamento externo não sofreu
muitas influências com os mandatos, embora não sejam expressivos,
comparados a outros parques que aguardam a possibilidade de
receber investimentos através da Câmara de Compensação Ambiental
Para projetos voltados ao ecoturismo e meio ambiente,
sugere-se o uso de indicadores de monitoramento de impacto
ambiental nas trilhas, instalação de placas, registro de incidentes ou
acidentes.
Passados agora 10 anos desde sua conclusão, não houve a
continuidade do projeto, e atualmente as políticas públicas para as
Unidades de Conservação do Estado de São Paulo têm se voltado para
a tentativa de concretizar a Concessão do Uso Público para a iniciativa
privada, o que tem gerado preocupação e incisiva reação das
comunidades residentes em seu entorno. Após um investimento
público tão vultuoso, como este que foi analisado neste estudo,
esperava-se que após uma década as atividades de Ecoturismo
estivem mais bem consolidada nas UCs contempladas, o que
infelizmente não aconteceu.
Referências
90
Ecoturismo Em Áreas Protegidas Brasileiras. Coimbra, Portugal: Anais
do VI Seminário latino-americano de Geografia Física da universidade
de Coimbra, 2010. Disponível em
http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema5/nadja, Acesso em
07 de abril 2022.
91
SANTOS, K.M.P.S. A atividade artesanal com fibra de bananeira em
comunidades quilombolas do Vale do Ribeira (SP). Piracicaba: Escola
Superior de Agricultura Luiza de Queiroz, 2005, 99p.
92
A ecossistêmica dos cães de rua da
cidade de Mossoró – RN
Helenaide Gomes de Paiva, Bárbara de Almeida Paiva e
Ana Cláudia Sales Rocha Albuquerque
10.47247/GC/88471.57.9.5
93
Introdução
94
Diante desses aspectos, a presente pesquisa objetivou
observar o comportamento de cães de rua na sua vida diária, para
descrever como se relacionam entre si e com outras espécies,
principalmente com o homem e com o ambiente físico onde estão
inseridos, no intuito de discutir os impactos dessas relações na
ecossistêmica desses indivíduos.
Metodologia
Resultados e discussão
95
(covid-19), e por uma estação seca. Posteriormente, uma segunda fase
de observações ocorreu durante a estação chuvosa.
Os animais alvo das coletas foram aqueles que frequentavam
os locais de observação, e podiam ser os mesmos ou novos atores. A
quantidade de cães observados variou, principalmente na matilha,
com uma alternância de 5 até 18 cães. E nos locais de cães isolados,
variou de 1 a 6 cães. Nas pontes e no Mercado do Bom Jardim, apesar
de serem locais elencados para a coleta durante o estudo piloto, não
foram vistos animais, pois. O Mercado do Bom Jardim estava em obras
e provavelmente esse deve ter sido o motivo do afastamento dos
cães.
Observou-se um cão de rua (Figura 1) alimentado por um
homem que colocava água e comida na calçada. O cão mostrava uma
interação pacífica com outros cães quando circulava em outros locais,
mas quando ele estava na calçada da casa onde se alimentava,
costumava latir para outros cães, determinando que ali era o seu
território. Ferraz (2011), define território como “uma área delimitada e
defendida pelo seu ocupante e sua manutenção consiste em demarcá-
la e defendê-la dos rivais”.
Figura 1 – Cão próximo a calçada da casa onde lhe era servida comida e água.
96
Outra forma de registro comportamental interespecífico dos
cães na presente pesquisa, se refere às características de suas
interações de forte companheirismo com humanos também em
situação de rua. Nesse contexto e em consonância com os registros de
Baltar e Garcia (2019), que investigando fragmentos de união entre
pessoas moradoras de ruas e seus cães, encontraram a concepção do
cão como protetor com maior frequência, considerando que a
vulnerabilidades no contexto das ruas são ainda maiores e mais
diversas, o que não é verificável de modo relevante entre grupos de
domiciliados. Além disso, esses autores verificaram que no contexto
das ruas a separação entre essa díade resulta em vulnerabilidade para
ambos aos perigos das ruas e, como consequência, é comum
constituir-se entre eles uma relação simbiótica, com constante
acompanhamento do cão nas atividades humanas, uma vez que
ambos parecem mutuamente protetores e protegidos.
Os cães normalmente são encontrados em diferentes pontos
da cidade, mas essa realidade mudou com a pandemia, diminuindo a
presença nos grandes centros e nas proximidades de bares e
restaurantes, uma vez que por estarem fechados, as fontes
alimentares que normalmente eram disponibilizadas deixaram de
existir.
97
como motivo a existência de cio em uma fêmea da matilha, a qual deu
início ao ataque, sendo acompanhada em seguida por outros
indivíduos do grupo. Uma vez que “a dispersão dos odores produzidos
durante o cio estimula a ocorrência de estresse e agressividade nos
animais” (FERRAZ,2011, p.106), esse provavelmente foi o gatilho para
os comportamentos exibidos.
Figura 3 – A matilha.
98
penetração, enquanto os reflexos genitais permitem ereção,
movimentos do pênis e distensão da vagina para a cópula. A
fecundação por sua vez, ocorre com a ejaculação do sêmen e a
fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Para evitar que o sêmen
saia da vagina, “os cães apresentam a fixação mecânica do pênis na
vagina, mantendo unidos macho e fêmea por vários minutos após a
ejaculação e impedindo que outros machos fertilizem aquela fêmea”
(Ferraz,2011, p.156).
Figura 5 – Acasalamento.
99
das fêmeas. Em um momento apareceu um gato Felis catus Carolus
Linnaeus, 1758, que foi afugentado por todos os cães do grupo,
mostrando a “competição interespecífica por espaço e alimento”
(ALCOCK,2011, p.274).
Alguns donos deixam seus cães livres nas ruas, permite que
ele cubra fêmeas de rua e aumente a população de cães abandonados.
Uma guarda não responsável pode resultar do desconhecimento das
100
leis e da proliferação de doenças, nesse contexto a Educação
ambiental tem um papel importante. A Lei N° 9.605, de 12 de fevereiro
de 1988, no Capítulo II, Art. 6°, observa sanções penais e
administrativas para condutas danosas ao meio ambiente1 e agora
temos a Lei Nº 14.064, de 29 de setembro de 2020, que altera a Lei nº
9.605 de 1998 para aumentar as penas cominadas de maus-tratos aos
animais, cão ou gato2.
Em março de 2021 iniciou-se a estação chuvosa e ocorreu uma
nova coleta de dados nos pontos anteriormente percorridos. Também
houve a diminuição do isolamento social. A reabertura de
estabelecimentos comerciais e o aumento na circulação de pessoas
nos espaços públicos, influenciou a mobilização dos cães nas ruas.
Esses resultados sugerem que a reabertura de restaurantes,
lanchonetes e bares, significa para os cães que ali há uma fonte de
alimento. “As adaptações a um dado ambiente estão relacionadas
com mudanças comportamentais observadas no animal, objetivando a
sobrevivência em condições adversas,” (BRIDI,2010). Se antes havia
uma matilha que amanhecia todos os dias dormindo em um campo de
futebol, ela agora já não era mais vista no local. Os animais saíram em
busca de abrigo, apresentando uma mudança sazonal de território.
“A ocorrência de maus-tratos é perceptível quando o animal
não aceita a aproximação, e promove comportamento defensivo de
fuga e esquiva” (FRANZINI,2015, p. 19). Na tentativa de aproximação a
uma cadela, ela se levantou e saiu em direção a um outro cão e os dois
se esquivaram do local, mostrando uma associação que oferece
vantagens para a sua proteção. Esse relato exemplifica como um
animal se comporta, trazendo informações acerca da sua biologia,
ecologia e estrutura social.
Nossos resultados sugerem que conhecer a expressão do
comportamento de cães de rua pode trazer indicadores que
favoreçam a tomada de atitudes de humanos no sentido da
101
conscientização sobre os impactos de suas ações sobre o equilíbrio da
ecossistêmica desses animais.
Conclusão
Referências
102
%20JULIANA%20TOZZI%20DE%20ALMEIDA%20.pdf?sequence=1&isAllow
ed=y Acesso em 24 set 2020.
103
POUGH, F.H, JANIS, C.M. & HEISER, J.B. 2008. A vida dos vertebrados
(4 edição). Atheneu, São Paulo. 750p.
104
Planejamento Agroambiental Sustentável de
uso do solo em uma microbacia da Zona da Mata
de Minas Gerais
Diego Barcellos, João Luiz Lani, Silvério Oliveira Campos e
Gabriel Gonçalves Reis
10.47247/GC/88471.57.9.6
105
Introdução
106
esses cinco fatores de manejo (N, A, O, M e E), sendo esses graus de
desvios estimados numericamente como nulo (0), ligeiro (1),
moderado (2), forte (3) e muito forte (4) (RAMALHO FILHO & BEEK,
1995).
Um dos sistemas mais utilizados e adaptados para as
condições edafoclimáticas do Brasil é o da FAO/Brasileiro de Avaliação
da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO & BEEK, 1995).
Nesse sistema foram incluídos os diferentes níveis de manejo ou nível
tecnológico da produção tendo em vista práticas agrícolas
primordialmente braçais com baixo nível tecnológico (Manejo A),
práticas agrícolas com tração animal e/ou pulverização costal com
médio nível tecnológico (Manejo B) e práticas agrícolas com
mecanização e alto nível tecnológico (Manejo C). Diante das
características edafoclimáticas do terreno dos parâmetros e desvios
(N, A, O, M e E), realiza-se uma classificação das terras de acordo com
a aptidão agrícola, tendo em vista o melhor uso dos recursos naturais,
a preservação ambiental e práticas sustentáveis (PEREIRA et al., 2003;
ALTIERI, 2008). O sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras
pode inclusive auxiliar nas decisões de implementação de projetos
agrícolas de diferentes níveis tecnológicos, auxiliar no zoneamento
ecológico econômico de regiões, e como subsídio para assentamento
de famílias rurais (FERREIRA NETO et al., 2011; SILVA et al., 2010)
Logo, o direcionamento do uso das terras em escalas de
microbacias com base na classificação de solos e nas características
edafoclimáticas é de grande importância para potencializar o seu uso
dos recursos naturais, e tendo em vista a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento para o melhor manejo dos solos, incluindo
aspectos socioeconômicos e de preservação ambiental (EMBRAPA,
2003).
Objetivo
107
Metodologias
Fonte: NEPUT/DPS/UFV.
108
Figura 02 - Área de Estudo (Viçosa/MG).
109
Regionalmente, a microbacia é inserida no ambiente geral de
Mares de Morros (AB´SABER, 1966), de ampla distribuição na
paisagem, cujos vales estreitos apresentam relevo forte ondulado e
montanhoso (REZENDE & RESENDE, 1996). O local de estudo é típico
da descrição regional, predominando encostas com pedoformas
côncava-côncava e convexa-convexa, Terraços e várzeas (leito maior)
(MARAGON et al., 2013).
Predomina o clima Cwb, mesotérmico, com verões chuvosos,
invernos frios e secos com precipitação média anual é de
aproximadamente 1.200 mm (MARTINS et al., 2018). A vegetação
primária é Floresta Estacional Semidecídua (PAULA et al., 2004).
Entretanto, com a ocupação antrópica predominam pastagens de
brachiaria (Brachiaria decumbens), gordura (Melinis minutiflora) nos
topos e encostas e angola (Brachiaria mutica), nos vales. Há resquícios
de floresta original, e algumas em estágio sucessional de recuperação.
Nas várzeas predominam plantas hidrófilas, a exemplo de tiririca
(Cyperus sp) e taboa (Typha domingensis).
110
elefante (Pennisetum purpureum) nos Terraços e terço inferior
das encostas, predominantemente, com 27 % de declive.
Material de origem: sedimentar;
d) LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico (LVAd)
sob pastagem braquiária e gordura na pedoforma convexa-
convexa das encostas, com 36 % de declive. Material de
origem: gnaisse mesocrático;
e) GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico (Gh) sob taboas na
várzea, com 2% de declive. Material de origem: cobertura
coluvionar, sobreposta ao dique de diabásio.
Os Anexos apresentam a descrição geral e morfológica
detalhada de cada solo. Na Zona da Mata de MG a classe de solo maior
ocorrência em área é a dos Latossolos (88%), seguida dos Argissolos
(6%) e outras classes de menor ocorrência, como Cambissolos,
Neossolos, Gleissolos e outros (DA SILVA et al., 2018).
111
Tabela 02 - Caracterização química dos solos amostrados.
112
(B)
(C)
113
(D)
(E)
Fotos: autores.
114
Tabela 03 - Area ocupada por cada tipo de solo (em hectares e % da área total).
115
• - 5s(n): Terras pertencentes à classe de aptidão regular para
silvicultura e restrita para pastagem natural. Situada no
Cambissolo Háplico sob floresta tropical sub-perenifólia na
pedoforma côncava-côncava das encostas, com 90 % de
declive.
Ademais, foi gerado um mapa contendo os subgrupos de
aptidão agrícola das terras (Figura 04b), na escala 1:7000, bem como
as áreas ocupadas por cada subgrupo (Tabela 04).
Tabela 04 - Area ocupada por cada subgrupo de aptidão agrícola (em hectares
e % da área total)
116
O uso da área é recomendado para as atividades de
silvicultura, fruticultura, plantas ornamentais, lavouras, cafeicultura e
eqüinos; sendo destinada uma boa parcela da área (32%) para reserva
legal (Figura 04C). Diante da legislação vigente, que concebe ao
agricultor o direito do uso das terras que já haviam sido agricultáveis
antes do ato da lei, o planejamento da propriedade sugerido está
dentro do permissível; e a Reserva Legal será destinada a APP (área de
Preservação Permanente)
Sendo assim, o uso adequado dos solos e recursos naturais
dessa microbacia tem como base a distribuição e características física
e químicas das diferentes classes de solo (Tabela 03) bem como dos
critérios utilizados para a separação entre as classes de aptidão
agrícola das terras (Tabela 04). Logo são apresentadas sugestões de
uso das terras de acordo com cada classe de solo:
O Cambissolo pode ser destinado para Reserva Legal (tendo
25 ha, 32% da área total) e um pequena parcela deste será utilizada
para plantio de eucalipto para a produção de madeira (5,3 ha, 6% da
área total). O critério de escolha foi baseado na baixa fertilidade e na
declividade acentuada, evitando processos erosivos. Logo, essa área
servirá para infiltração de água no solo, favorecendo a qualidade e
constância no fluxo de água ao longo do ano para toda a bacia
hidrográfica.
O Nitossolo também foi vinculado à silvicultura, sendo
recomendado o cultivo de eucalipto, o qual apresenta
desenvolvimento rápido (de 6 anos, em média) e alto poder de
rebrota, tendo em vista a declividade e a pequena porção de área
ocupada pelo Nitossolo (4,3 ha, 5% da área total), sendo uma área
contínua com o cultivo de eucalipto sugerido também para parte da
área de Cambissolo. A madeira produzida nessas áreas poderá ser
destinada ao consumo interno dos produtores rurais, como moirões
para construção de cerca.
O Argissolo (área de 21 ha, 27% da área total) possui
características que remetem ao uso de lavouras e/ou frutíferas, dada a
declividade pouco acentuada (em grande parte da sua área) e média
fertilidade do solo, se comparado às outras classes de solos. Assim
sendo, a sugestão é dividir a área de Argissolo para a rotação de
culturas e fruticultura. A rotação de culturas é recomendada com o
uso de uma leguminosa (por exemplo, Stylosanthes sp.) e três
117
gramíneas, como milho (Zea mays), capim elefante (Pennisetum
purpureum), croast-cross (Cynodon dactilon), que podem ser
empregadas para agricultores da região da Zona da Mata mineira. Na
outra área poderão ser implementadas frutíferas como acerola,
banana e figo, que podem ser irrigadas devido à proximidade de
lagoas na microbacia, tendo em vista uma boa produção mesmo em
épocas de menor precipitação pluviométrica.
O Latossolo (área de 16 ha, 21% da área total) é recomendado
para o uso da cultura do cafeeiro arábica, pois esse solo é muito
profundo, com boa drenagem, e menor susceptibilidade a
compactação. Nas entrelinhas do café é recomendado utilizar o
consorcio com Stylosanthes sp. que promovem a fixação de nitrogênio
no solo. Essa leguminosa poderá ser colhida e armazenada como feno,
sendo fornecido como fonte de proteína para os eqüinos.
O Gleissolo (área de 2,5 ha, 3% da área total) poderá ser
utilizado para o cultivo de plantas ornamentais, por exemplo: lírio-do-
brejo (Hedychium coronarium) e helicônia (Heliconia rostrata). É
importante ressaltar que há uma grande exigência por matéria
orgânica e alta umidade por todo ano para o bom desenvolvimento
dessas plantas, uma vez que o Gleissolo é adequado para tal
finalidade.
118
Figura 04 - (A) Mapa de solos; (B) Mapa de aptidão agrícola das terras;
(C) Mapa de planejamento estratégico da propriedade rural.
(A)
119
(B)
120
(C)
Conclusões
121
erosão e desvalorização dos serviços ecossistêmicos. Foram
apresentadas várias propostas integradas para cada tipo de solo com
vista a agro diversidade (diversidade de uso da terra), incluindo a
preservação ambiental, sistemas agrícolas, pecuários e silviculturais.
Foi observado que os Cambissolos predominam na microbacia
(38%), com baixa fertilidade natural, declividade acentuada e elevado
potencial de erosão, o que implica em maior atenção para o manejo
dessa área. Em contrates, apenas uma pequena parte da microbacia
tem solos com melhores condições físicas e químicas e com menor
declividade (Argissolo e Nitossolo: 27%), o qual foi enquadrado para
lavoura e fruticultura. Ademais, o uso do Gleissolo como plantas
ornamentais é uma alternativa para a agricultura familiar.
Os resultados desse trabalho fornecem informações
importantes para empreendimentos agrossilvipastoris regionais e para
agências ambientais e reguladoras, com indicações importantes
quanto ao planejamento e zoneamento agroambiental dos solos zona
da mata mineira.
Perfil 1
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Cambissolo
CLASSIFICAÇÃO SiBCS: CAMBISSOLO HÁPLICO Tb distrófico latossólico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: CX
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0723115, 7703715
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço superior da encosta, com 90 % de
declive, sob pastagem de capim gordura (degrada).
ALTITUDE: 650 metros.
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático.
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade.
CRONOLOGIA: Pré-cambriano.
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada.
PEDREGOSIDADE: Ligeiramente pedregoso.
ROCHOSIDADE: Não rochoso.
RELEVO LOCAL: Montanhoso.
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano.
EROSÃO: Laminar moderada e sulcos rasos frequentes.
122
DRENAGEM: Moderadamente drenado.
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua.
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 -3, praticamente inexistente (não classificado)
Bi: 3 – 50 cm, vermelho (2,5YR 3/6, úmida). Argiloso; fraca a moderada média
granular; macio, friável, plástico e ligeiramente pegajoso; transição clara e
ondulada (2,5 – 7,5 cm).
C: 50 – 150 cm +, coloração variegada; franco argilossiltosa; estrutura original
de rocha.
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, orientadas horizontalmente, no
horizonte A; raras finas no Bi e inexistente no Cr.
Perfil 2
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Terra Roxa Estruturada
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: NITOSSOLO VERMELHO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: NVd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0722837, 7703975
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
trincheira próxima ao topo do morro, com 38 % de declive, sob pastagem de
capim gordura (degrada)
ALTITUDE: 650 metros
LITOLOGIA: Diabásio
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Intrusão de dique de diabásio
CRONOLOGIA: Desconhecida
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar moderada e sulcos rasos frequentes
DRENAGEM: Moderadamente drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 17 cm, vermelho – amarelo (5YR 5/4). muito argiloso, macio, friável,
ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.
123
Bn: 17 - 150 cm +, vermelho (2,5YR 3/6, úmida). Argiloso; moderada média
bloco sub-angulares; macio, friável, plástico e ligeiramente pegajoso; transição
clara e ondulada (2,5 – 7,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, no horizonte A; poucas e medias no
Bn.
OBSERVAÇÕES: Cerosidade média
Perfil 2
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Podizólico Vermelho-Amarelo
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: PVAd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0722961, 7704043
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço médio da encosta, com 27 % de declive,
sob pastagem de grama batatais (degradada).
ALTITUDE: 650 metros
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade
CRONOLOGIA: Pré-cambriano
MATERIAL ORIGINÁRIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar ligeira e sulcos rasos ocasionais
DRENAGEM: Bem drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 17 cm, vermelho – amarelo (5YR 4/4), argiloso, macio, friável,
ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.
Bt: 17 – 150 cm+, vermelho (2,5YR 4/8, seco). Muito Argiloso; moderada
pequena em blocos subangulares; ligeiramente duro, firme, não plástico e
ligeiramente pegajoso; e comum transição abrupta e ondulada (< 2,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, no horizonte A; raras e muito finas no
Bt.
OBSERVAÇÕES: cerosidade fraca a moderada
124
Perfil 4
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Latossolo Vermelho
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: LVAd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23S 0723398 7704120
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço médio da encosta, com 36 % de
declive, sob pastagem de capim Brachiarão e gordura (degrada)
ALTITUDE: 724 metros
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade
CRONOLOGIA: Pré-cambriano
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte Ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar ligeira e sulcos rasos ocasionais
DRENAGEM: Acentuadamente Drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecidual
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 30 cm, vermelho – amarelo (5YR 5/4); Muito Argiloso, macio, friável, não
plástico e ligeiramente pegajoso transição difusa e ondulada (maior que 12,5
cm).
AB: 30 – 80 cm, vermelho-amarelo (5YR 4/3, úmida). Argiloso, fraca a
moderada media granular; macio, friável, não plástico e ligeiramente
pegajoso; transição difusa e ondulada (maior que 12,5 cm).
Bw: 80 – 150 cm+, vermelho (5YR 6/8, úmida). Argiloso; fraca a moderada
media granular; macio, friável, não plástico e ligeiramente pegajoso.
RAÍZES: Comuns finas e poucas médias, o horizonte A; raras finas no Bw.
Perfil 5
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Glei
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: Bg
125
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equedicultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0723286 7704045
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
no leito menor do córrego, com 2% de declive, sob vegetação de Jussiaea sp.
ALTITUDE: 610 metros
LITOLOGIA: Cobertura Coluvionar.
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Cobertura Coluvionar Quaternária.
CRONOLOGIA: Quaternário
MATERIAL ORIGINARIO: Sedimentos provenientes das encostas a montante
do local de deposição.
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Plano
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Não aparente
DRENAGEM: Muito Mal Drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Higrófila de Várzea
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 10 cm coloração acinzentada (7,5YR 4/2, úmida). Argiloso.
Bg: 10 – 150 cm+, coloração acinzentada (7,5YR 4/2, úmida). Argiloso; plástico e
pegajoso; transição gradual (7,0 a 12,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas médias no horizonte A; raras finas no Bg
Referências
126
CUNHA, Alexson de Mello et al. Qualidade das águas dos córregos
Capivara dos Gomes, Turvo Sujo e Grama e aspectos dos solos de suas
várzeas, no planalto de Viçosa, Minas Gerais. Revista Ceres, v. 50, n.
291., p. 241-257, 2003.
127
NUNES, W. A. G. A. et al. Relação solo-paisagem-material de origem e
gênese de alguns solos no domínio do" Mar de Morros", Minas Gerais.
Revista brasileira de ciência do solo, v. 25, n. 2, p. 341-354, 2001.
SANTOS, R.D.; LEMOS, R.C.; SANTOS, H.G.; KER, J.C. & ANJOS, L.H.C.
Manual de descrição e coleta de solo no campo. 5. ed. Viçosa: SBCS,
2005. 92p.
128
SILVA, Edson Arlindo; PEREIRA, Nádia Campos; DOS REIS BERNARDO,
Denise Carneiro. As regiões de planejamento de Minas Gerais sob a
ótica do desenvolvimento rural sustentável: uma abordagem teórico-
metodológica. Revista de Administração da UFSM, v. 2, n. 2, p. 158-179,
2009.
129
Cultivo de cogumelos pleurotus pulmonarius (fr.)
Quél. Como fonte adicional de renda na pequena
propriedade agrícola
Ana Cristina de Menezes, Francisco Menino Destefanis Vitola e
Augustus Caeser Franke Portella
10.47247/GC/88471.57.9.7
130
Introdução
131
Devido à pouca oferta no mercado e preço elevado, os
cogumelos não fazem parte da cultura e nem da dieta dos brasileiros
(URBEN, 2017), porém esse hábito já está sendo modificado e o
consumo per capita já gira em torno de 200 g/ano, embora bem menor
que o dos países asiáticos e europeus que possuem um consumo per
capita entre 4 k e 8 k/ano (PAZZA et al., 2019; URBEN; OLIVEIRA, 2017).
Os principais cogumelos produzidos são o champignon de Paris
(Agaricus bisporus ou bitorquis), o shiitake (Lentinula edodes), o shimeji
(Pleurotus ostreatus) e o houbitake (Pleurotus sajor-caju) (CABRERA et
al., 2020).
Apesar da produção reduzida e os maiores cultivadores
estarem nas regiões sul e sudeste, o mercado interno sempre se
mostrou promissor na expansão do consumo dos cogumelos,
dependendo ainda de maior divulgação das propriedades nutritivas e
nutracêuticas desses alimentos (BELLETTINI; FIORDA; BELLETTINI,
2015).
O cultivo de cogumelos comestíveis, pode ser classificado
como uma cultura sustentável, por aproveitar resíduos agrícolas e
florestais, requerer áreas pequenas e pode ter altos níveis de
produtividade (OLIVEIRA; NAOZUKA, 2020), e ao final do ciclo, seus
substratos exauridos podem ser usados para compostagem,
vermicompostagem, adubo e proteção do solo (ALMEIDA, et al.,
2019).
A primeira etapa no processo de produção de cogumelos, é o
cultivo de inóculos, também chamados de Spawns, sementes ou
matrizes, que são fragmentos miceliais inoculados geralmente em
grãos de algum cereal, e devem proporcionar homogeneidade dos
cogumelos e rapidez na colonização do substrato, evitando a
contaminação por outros fungos ou agentes patológicos.
A preparação do substrato é outro passo importante, que
pode ser influenciada por técnicas de gerenciamento de
compostagem (VIEIRA; ANDRADE, 2016).
Segundo Carrasco et al. (2018), cogumelos cultivados em
diferentes substratos possuem variações no conteúdo nutricional, e
Bach (2017), afirma que a composição dos bioativos depende da
espécie, tipo do substrato, clima, idade do micélio, processamento e
preservação.
132
Dentre as substâncias bioativas e terapêuticas dos
cogumelos, estão os compostos fenólicos, sendo os mais
encontrados, o ácido gálico, ácido protocatecuico, ácido gentísico e
naringenina (LI; SHAH, 2013).
Em um estudo que visava identificar essas propriedades,
realizado na Universidade Federal do Tocantins, Campus de Gurupi no
Laboratório de Compostos Bioativos foi usado como substrato no
cultivo de Pleurotus pulmonarius (FR.) QUÉL. (Fig. 2), conhecido
popularmente como Houbitake, resíduos florestais de Syagrus oleracea
(Mart.) Becc - Gueroba, com suplementação de polpa de Hymenaea
courbaril Linn – Jatobá, farinha da casca de Caryocar brasiliense
Cambess – Pequi e composto orgânico.
133
a 15 cm de comprimento, com endocarpo farináceo comestível, de cor
amarela, e altos teores de fibras, cálcio, potássio, magnésio e zinco
(RAMOS et al., 2018; SOUSA et al., 2012).
Caryocar brasiliense Cambess, pequi, é um fruto característico
do Cerrado, muito apreciado em pratos típicos regionais, pode ser
consumido tanto in natura, quanto cozido, em diversos
acompanhamentos, também usado na medicina popular, sua polpa é
rica em lipídeos, fibras, carotenoides e potássio (ARRUDA; CRUZ;
ALMEIDA, 2012). Seu fruto apresenta casca (pericarpo) de coloração
verde, com polpa amarela alaranjada e amêndoa coberta com
espinhos finos de 2 a 5 mm de comprimento (BATISTA; SOUSA, 2019),
a casca apresenta alto teor de fibras alimentares, quando maduro
representa cerca de 84% do peso, a polpa representa 10% e a semente
6% do peso total (COSTA; PINTO, SOARES, 2017). Apesar de estudos
mostrando a importância dos subprodutos do fruto do pequizeiro,
normalmente são descartados, gerando um volume grande de
resíduos, principalmente as cascas.
No Brasil, entre 50% e 60% dos resíduos gerados são
orgânicos, sobrecarregando os aterros sanitários, a compostagem
pode evitar que esses resíduos fiquem acumulados, podendo
transformá-los em fertilizante de alta qualidade, que pode ser usado
em hortas, jardins, pomares e cultivos comerciais.
Material e método
134
Repicagem da matriz primária
135
Depois de escorridos, foi colocado 300 g dos cereais em 47
potes de vidros reutilizados, com capacidade para 500 ml, as tampas
foram furadas com auxílio de uma furadeira doméstica, a abertura foi
vedada com 3 camadas de esparadrapo microporoso, para possibilitar
a troca gasosa sem haver contaminação.
Os vidros foram esterilizados em autoclave por 2 horas a 121
ºC. Após o resfriamento, foram inoculados com pedaços de micélios de
P. pulmonarius, de aproximadamente 5 x 5 cm e colocados em B.O.D. a
25 ºC ± 2, no escuro, por 13 a 20 dias, até observar a completa
colonização. Os vidros foram colonizados em 13 dias e armazenados
sob refrigeração a 4 ºC no CEMAF, e LACOMBI.
Preparação do substrato
136
A umidade do material é considerada ideal quando ao apertar escorrer
poucas gotas de água, conforme demonstrado na figura 5.
137
LACOMBI/UFT denominada de Cabana de Frutificação (Figura 7), que
foi construída a um custo baixíssimo, onde ocorreu a colonização e
frutificação dos cogumelos.
138
solução saturada de Na2CO3 e 4 ml de água destilada. Após
homogeneização das misturas, os tubos foram deixados em repouso
por 25 minutos em temperatura ambiente (aproximadamente 25ºC).
Após este intervalo, os tubos foram centrifugados por 10 minutos a
3000 RPM. Ao final, a absorbância do sobrenadante foi lida a 725 nm
em espectrofotômetro e os valores foram comparados com uma curva
de calibração de ácido gálico (0 a 200 mg/L). Os resultados foram
apresentados em mg de ácido gálico equivalente (GAE).
Análise estatística
Resultados e discussão
139
Figura 8 - Curva padrão de ácido gálico.
0,00018
0,00016
0,00014
0,00012
0,0001
0,00008
0,00006
0,00004
0,00002
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
Fonte: Ana Cristina de Menezes (2022)
140
Tabela 1 - Compostos Fenólicos totais obtidos nos extratos hidroalcóolicos das
amostras, de acordo com a composição do substrato utilizado
Fenólicos
Amostra
Totais*
Corpos
Substrato EAG
Frutificação
(mg/L)/10g
01 Gueroba (controle) 60±0,6
02 Gueroba com 10 % Polpa de Jatobá 61±3,5
03 Gueroba com 20% Polpa de Jatobá 59±0,9
04 Gueroba com 30% Polpa de Jatobá 58±0,3
05 Gueroba com 10% Composto 64±0,0
06 Gueroba com 20% Composto 62±0,7
07 Gueroba com 30% Composto 64±2,6
08 Gueroba com 10% Farinha da Casca de Pequi 74±2,0
09 Gueroba com 20% Farinha da Casca de Pequi 53±2,2
10 Gueroba com 30% Farinha da Casca de Pequi 57±3,7
*As amostras não diferenciaram entre si pelo teste Tukey (p < 0,05).
141
Os valores encontrados nas amostras, foram maiores que
Woldegiorgis et al. (2014), que relatou 4,47 ± 0,22 mg EAG/g em
Plerotus ostreatus e Liang et al. (2013) com 5,24 ± 0,02mg EAG/g,
cultivos de Pleurotus eryngii, mas ficaram abaixo dos valores de
Chilante (2016), que mostrou valores entre 31,30 ± 0,26 mg EAG/g e 47
± 0,12mg EAG/g em Pleurotus spp cultivados em 94% de serragem de
Pinus sp suplementada com 5% de farelo de trigo.
Yıldız et al. (2017), cultivando P. citrinopileatus em serragem
de Castanea sativa, encontraram conteúdo fenólico total de 2,52 ±
0,010 mg EAG/g. Devido a capacidade de biorremediação dos
cogumelos, podem absorver diversas substâncias encontradas no
substrato de cultivo; mas existem poucos estudos sobre os perfis
individuais de compostos fenólicos em cogumelos comestíveis
(PALACIOS et al., 2014).
Na Figura 9, pelo diagrama de Pareto, pode-se observar a
absorção dos compostos fenólicos pelos cogumelos por tipo de
substrato.
Legenda: FCP 10%, FCP 20% e FCP 30%: Palha de Gueroba suplementada com
Farinha da Casca do Pequi; PJ 10%, PJ 20% e PJ 30%: Palha de Gueroba
suplementada Polpa de jatobá; C 10%, C 20% e C 30%: Palha de Gueroba
suplementada Composto; GUE: palha de gueroba sem suplementação.
142
Corroborando com os metabólitos secundários encontrados
nos cogumelos, os vegetais que foram usados nos substratos, são
descritos na literatura como importantes fontes de compostos
fenólicos, sendo o menos estudado, a palha de Syagrus oleracea, com
apenas uma citação sobre a composição de CFTs (REIS et al., 2017),
mas sem quantificação.
Santos (2012), observou em seu estudo com compostagem de
brócolis, couve-penca, castanha, palha de trigo, relva e jatropha, que
na fase mesofílica, aos 11 dias, os compostos fenólicos apresentaram
teores altos, mas entrando na fase termofílica, os teores caíram e se
mantiveram estáveis até a maturação; o estudo abrangeu vegetais
diferentes dos usados neste estudo, que foi feito com uma variedade
maior, com tomates, batatas, cenouras, abóboras de várias
variedades, entre outros. Apesar da diferenciação do material vegetal,
é sabido que as plantas naturalmente produzem CFTs, sendo esperado
sua presença nos cogumelos onde foram cultivados.
Os frutos do Cerrado têm sido estudados por suas
propriedades nutricionais, medicinais e na aplicação dos metabólitos
secundários como coadjuvantes no tratamento de doenças (BATISTA;
SOUSA, 2019; MOREIRA-ARAÚJO, 2019; BELISÁRIO et al., 2020; SILVA
et al., 2020).
O pequi, que é considerado umas das frutas mais nutritivas
do Cerrado, mas nos cogumelos amostrados, a maior quantidade de
CFTs encontrados, foi nos cultivados em substrato com 10% da
suplementação com a farinha da casca do pequi; é possível que isso
tenha ocorrido, devido ao fato da facilidade de os cogumelos fazerem
a biorremediação em substratos menos suplementado, devido ao
balanceamento C/N.
Pesquisas sobre CFTs no gênero Hymenaea são escassas,
sendo Hymenaea stigonocarpa a espécie mais estudada. Miranda et al.
(2014) encontraram em Hymenaea stigonocarpa considerável
quantidade de compostos fenólicos, através de análises do extrato
bruto hexânico e extrato bruto etanólico das folhas, por
espectrofotometria, pelo método de Folin-Ciocalteu.
Apesar de serem espécies diferentes, deve-se ter
semelhanças na composição de CFTs, já que foi amostrado valores
desse composto químico nos basidiomas cultivados nos substratos
com suplementação com H. courbaril.
143
Conclusão
Referências
144
BATISTA, F. O.; SOUSA, R. S. de. Compostos bioativos em frutos pequi
(caryocar brasiliense camb.) E baru (dipteryx alata vogel) e seus usos
potenciais: uma revisão. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.
5, n. 7, p. 9259-9270, 2019.
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HAZARIKA, S. Spawn production and mushroom cutlivation
technology. ICAR Research Complex for NEH Region, Meghalaya,
India, 2019, 46p.
145
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Agrarias UNCUYO, v. 49, n. 2, p. 331-344, 2017.
LIANG, C.-H.; HO, K.-J.; HUANG, L.-Y.; TSAI, C.-H.; LIN, S.-Y; MAU, J.-L.
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products of the culinary- medicinal king oyster mushroom, Pleurotus
eryngii (higher Basidiomycetes), with high ergothioneine contente.
International Journal of Medicinal Mushrooms, v. 15, n. 3, p. 267–276,
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146
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plantas arbóreas nativas do Brasil. 8.ed. Instituto Plantarum, Nova
Odessa, SP, v.1, 384p., 2020.
147
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Gueroba. In: VIEIRA, R. F.; CAMILO, J.; CORADIN, L. (Ed.). Espécies
nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial:
plantas para o futuro - região Centro-Oeste. – Brasília, DF, MMA, 2016,
1.160p.
148
STEFFEN, G. P. K.; STEFFEN, R. B.; HANDTE, V. G. Produção de
cogumelos comestíveis no Brasil – um mercado em ascensão. Campo
& Negócios on-line, 9 mai. 2019. Disponível em:
https://revistacampoenegocios.com.br/producao-de-cogumelos-
comestiveis-no-brasil-um-mercado-em-ascensao/ . Acesso em 15 mar.
2022.
YILDIZ, S.; YILMAZ, A.; CAN, Z.; KILIÇ, C.; YILDIZ, Ü. C. Total phenolic,
flavonoid, tannin contents and antioxidant properties of Pleurotus
ostreatus and Pleurotus citrinopileatus cultivated on various sawdust.
The Journal of Food, v. 42, n. 3, p. 315-323, 2017.
149
A prevenção e o controle das infecções em
pronto Socorro: questão para a saúde do
trabalhador, do usuário e do ambiente
Carolini Aguiar da Silva Sartori, Rosane Teresinha Fontana,
Vivian Lemes Lobo Bittencourt e Maria Cristina Meneghetti
10.47247/GC/88471.57.9.8
150
Introdução
151
tocar o paciente, antes de realizar procedimento limpo/asséptico,
após risco de exposição a fluidos corporais, após tocar o paciente e
após tocar superfícies próximas ao paciente (BRASIL, 2016).
Uma pesquisa realizada em três Unidades de Terapia
Intensiva Pediátrica de hospitais universitários públicos da região sul
do Brasil, confrontou a adesão da HM por categorias da enfermagem e
constatou que os técnicos apresentaram menor adesão a HM do que
os enfermeiros. Essa situação se torna preocupante na medida em que
os técnicos são os trabalhadores que mais tempo estão em contato
com o paciente, no turno de trabalho (RAIMONDI et al., 2017).
Outro estudo realizado em um hospital-escola, no Recife/PE,
identificou que todos os profissionais técnicos de enfermagem (100%),
tinham conhecimento adequado sobre a necessidade da HM antes de
qualquer tipo de manipulação de dispositivos, porém, somente 79,3%
revelaram colocar este conhecimento em prática. Constatou que, dos
92,79% que afirmaram que é importante higienizar as mãos antes de
usar luvas, contudo, apenas 48,6% realizaram na prática (COSTA et
al.,2020). Neste contexto, a Portaria n° 529, de 01 de abril de 2013, que
trata da segurança do paciente, aborda a HM como uma meta para o
cuidado seguro (BRASIL, 2013).
A atenção às precauções padrão é uma prática que deve estar
presente de forma consciente em todos os processos de cuidado.
Envolvem um conjunto de medidas que devem ser aplicadas no
atendimento de todos os pacientes, independente se estiver com
diagnóstico de infecção ao não, assim como na manipulação de
artigos. Devem ser usadas se possibilidade de contato com sangue,
líquidos corpóreos, secreções e excreções, pele com solução de
continuidade e mucosas implicam no uso de Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs), como luvas, aventais, máscaras e
protetores oculares, higienização das mãos antes e após o contato
com pacientes e fluidos corpóreos e antes e após o uso de luvas e
cuidados com materiais perfuro cortantes (FERREIRA et al., 2017).
Com o objetivo de verificar o nível de adesão às precauções
padrão dos profissionais da equipe de enfermagem do setor de Clínica
Médica de um hospital de ensino e descrever a relação do nível de
adesão com a categoria profissional e o tempo de exercício
profissional, uma pesquisa demonstrou que o nível de adesão da
equipe de enfermagem às precauções padrão foi intermediário, sem
152
diferença estatisticamente significativa dos escores médios globais de
adesão e as categorias profissionais de enfermagem e tempo de
exercício profissional. Porém, foi identificado que o tempo de
experiência profissional (10 anos ou mais) influenciou positivamente
na adesão ao item ‘lavar as mãos após retirar luvas descartáveis’
(FERREIRA et al., 2017), resultados que merecem atenção e
intervenções no processo de educação permanente com foco na
segurança tanto dos profissionais quanto dos pacientes.
Pesquisa que avaliou a adesão dos profissionais de
enfermagem que atuam nos serviços de urgência e emergência às
medidas de precaução padrão constatou não conformidades ao seu
uso, sugerindo que essa situação está associada a fatores inter-
relacionados entre perfil pessoal, organizacional e estrutural da
unidade, tornando-se fundamental que gestores desenvolvam ações
educativas com o escopo de “promover orientação, sensibilização,
incentivo e habilitação dos profissionais de saúde acerca do uso
adequado e da importância do cumprimento das normas de
biossegurança para a prática profissional segura”. Indispensável,
ainda, é a oferta de recursos materiais pelo serviço, assim como
dimensionamento adequado de recursos humanos e implantação de
procedimentos operacionais padrão nos setores para regulamentar o
uso dos equipamentos (MENDES et al., 2019, p.581).
Válido é complementar que se tem ainda as precauções por
meio da transmissão, que são as Precauções de contato, Precauções
contra gotículas e Precauções transportadas pelo ar (aerossóis). As
Precauções de Contato visam prevenir a transmissão de
microrganismos que são disseminados por contato direto ou indireto.
As precauções contra gotículas previnem a transmissão de patógenos
disseminados pelo contato próximo da membrana respiratória ou
mucosa com as secreções respiratórias. Como esses patógenos não
permanecem infecciosos por longas distâncias, o manuseio de ar e
ventilação especiais não são necessários para prevenir a transmissão.
São exemplos caxumba, influenza e rubéola (CDC, 2019). Essas
precauções são usadas para evitar transmissão de microrganismos
maiores do que 5 micras (UNICAMP, 2019).
As precauções aerotransportadas (por aerossóis) evitam a
transmissão de agentes infecciosos que permanecem infecciosos por
longas distâncias quando suspensos no ar, tais como vírus do
sarampo, varicela, M. tuberculosis e possivelmente SARS-CoV.
153
Pacientes que requerem essas precauções devem ficar em uma sala de
isolamento de infecção aerotransportada (AIIR), ou seja, uma sala
para um único paciente equipada com capacidade especial de
ventilação e tratamento de ar, isto é, pressão negativa monitorada em
relação à área circundante, 12 trocas de ar por hora para novas
construções e reformas e 6 trocas de ar por hora para instalações
existentes, ar exaurido diretamente para o exterior ou recirculado
através de filtragem HEPA antes do retorno (CDC, 2019). Essas
precauções são usadas para evitar transmissão de microrganismos
menores do que 5 micras (UNICAMP, 2019).
Pela necessidade de conhecer as habilidades relacionadas ao
gerenciamento de risco feito por enfermeiros de um pronto-socorro
de um hospital de ensino, um estudo identificou que os riscos
prevalentes na unidade foram os de infecção, de identificação e de
flebite nos pacientes. Os autores observaram que fatores internos e
externos podem influenciar no gerenciamento do risco, na gestão do
cuidado e das pessoas do setor, dados que apontam para uma
reorganização do serviço (SANTOS et al., 2017) e uma especial atenção
a estes setores no hospital.
Uma pesquisa que teve o objetivo de identificar a
compreensão, a prática e as necessidades de profissionais acerca das
IRAS em um Pronto-Socorro, apontou que as especificidades
características do ambiente, como superlotação, carga de trabalho,
falta de tempo e déficit de funcionários distingue a unidade como
crítica e, portanto, predisposta às infecções (BUENO; PIO; CHIRELLI,
2019).
Pesquisa que buscou analisar a adesão à HM dos profissionais
de saúde em unidade de pronto-socorro identificou que a taxa de
adesão à HM nesta unidade foi baixa (54,2%). Os autores discorrem
sobre a necessidade de “infraestrutura adequada e abordagens
educativas multidisciplinares” [...] e sobre a importância da
aproximação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar e o
Núcleo de Segurança do Paciente dos trabalhadores de saúde como
uma ‘estratégia para formar parcerias que desenvolvam a
aprendizagem e efetivação de práticas de HM” (ZOTELLE et al., 2017,
p.6-7).
Diante desta contextualização, pretende-se estudar sobre as
medidas de prevenção e controle de IRAS em um pronto atendimento
154
considerando que esta unidade é um ambiente de grande rotatividade
de pacientes, que carecem de cuidados imediatos, exigindo rapidez e
eficiência nos procedimentos para a preservação da vida, situação que
expõe tanto profissionais quanto usuários a possibilidades de
transmissão de infecções.
Atualmente as IRAS representam um problema de saúde
pública e a adesão dos trabalhadores às condutas e comportamentos
que possam prevenir a transmissão de microrganismos são
fundamentais a todo serviço que almeja o cuidado seguro a si e aos
usuários. Assim, este estudo pretende contribuir para a segurança e
qualidade de vida e de trabalho de pacientes e profissionais, na
medida em que pode apontar lacunas às práticas seguras e incentivar
estratégias que possam promover o cuidado seguro ao usuário e ao
trabalhador.
Sendo assim, parte-se da seguinte questão norteadora: As
medidas de prevenção e controle das IRAS, adotadas pela equipe de
enfermagem em um pronto atendimento hospitalar estão de acordo
com as normas que as regulamentam? O objetivo geral deste estudo é
identificar medidas de prevenção e controle de IRAS praticadas pela
equipe de enfermagem em um pronto atendimento hospitalar. Como
objetivos específicos pretende-se averiguar saberes da equipe de
enfermagem relativas às IRAS e conhecer fatores que dificultam e/ou
facilitem a adesão às medidas de prevenção às IRAS pelos
trabalhadores da equipe de enfermagem de um pronto atendimento
hospitalar.
Metodologia
155
A população do estudo foi composta por profissionais da
enfermagem, sendo enfermeiros e técnicos de enfermagem que
atuam em um pronto atendimento hospitalar. Os critérios de inclusão
foram ter experiência de, pelo menos, seis meses na unidade de
pesquisa e trabalhar ativamente, e, os critérios para exclusão foram
estar de férias, atestado médico ou licença.
O estudo foi desenvolvido em uma Unidade de Pronto
Atendimento localizada em um hospital de um município da Região
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, durante o segundo
semestre de 2021.
A coleta de dados foi feita por meio de um questionário,
sendo entregue a todos os trabalhadores da equipe de enfermagem,
convidados a participar, após serem esclarecidos os objetivos da
pesquisa e, em todos os turnos (manhã, tarde e noite). O participante
que aceitou participar assinou um termo de consentimento livre e
esclarecido.
Os questionários foram recolhidos no mesmo dia, conforme a
disponibilidade de cada entrevistado, em um envelope, de modo que
o pesquisador não os identificasse. Questionário é um instrumento
utilizado para investigação, composta por perguntas, que precisam ser
respondidas de forma escrita, sem a interferência do entrevistador
(LAKATOS; MARCONI,2003). As perguntas foram adaptadas de uma
pesquisa realizada por Dallagnol (2016).
Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva.
A análise estatística possibilita ao pesquisador entender dados
envolvendo números. Estatística descritiva compreende a utilização da
frequência como forma de descrever dados (POLIT et al.,2019).
O estudo respeitou os aspectos éticos em pesquisa
envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde e a coleta de dados foi realizada somente
após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, campus de Santo
Ângelo, sob n. 4.841.694. Foi solicitada a assinatura, pelo gestor do
hospital, do Termo de Anuência, autorizando a pesquisa no local. Todo
participante que aceitou participar, assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, uma via para o
pesquisador e outra para o participante. Para manter o anonimato, os
156
participantes serão identificados como Participante 1 (P1) ,
Participante 2 (P2), e assim sucessivamente.
Resultados e discussões
157
medidas para evitar IRAS, dentre as alternativas. Preocupante é que a
higienização das mãos foi citada por apenas uma pessoa (n=1- 2,86%).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (2017)
recomenda como um dos cuidados de enfermagem, elevar a cabeceira
entre 30° a 45° para pacientes em uso de ventilação mecânica, como
forma de diminuir a chance de broncoaspiração,e, consequentemente
reduzir a possibilidade de pneumonia associada à ventilação mecânica.
Em relação à mudança de decúbito de 2 em 2 horas, essa é uma
medida que pode evitar o desenvolvimento de lesão por pressão,
assim como usar lençóis adequados, manter a pele limpa e hidratada,
oferecendo ao paciente um ambiente com boas condições de higiene.
Se isso não for possível podem ocorrer complicações como a infecção
da ferida, retardando o processo de cicatrização (GUERRA et al., 2021).
158
relatam ter recebido algum treinamento. Isso se torna evidente em
outro estudo realizado com 267 profissionais de enfermagem que
demonstrou que 241 (90,3%) profissionais afirmaram ter recebido
treinamento sobre HM (DERHUN et al., 2016).
Ao investigar se existe preparação alcoólica suficiente e
disponível para HM no hospital 35 (100%) informou que sim. A maioria
respondeu que há álcool gel e álcool 70%. No mesmo estudo citado
anteriormente (DERHUN et al., 2016), 262 (98,1%) referiram saber da
disponibilidade/existência na instituição de preparação alcoólica para
fricção das mãos. Sendo assim, fica demonstrado que o hospital segue
a Normativa Regulamentadora n.42/2010 que legisla sobre a
obrigatoriedade de disponibilização de preparação alcoólica para
fricção antisséptica das mãos, pelos serviços de saúde do país
(BRASIL, 2010).
Os respondentes referiram que a gerência da unidade está
sensibilizada sobre a importância da HM. Entre todos os assuntos
relativos à segurança do paciente, a HM, segundo 22 participantes
(62,86%), está sendo vista pela gerência da unidade como prioridade
muito alta. Embora mais da metade perceba essa preocupação da
gestão, tendo em vista a ocorrência da pandemia em curso, poderia
ser maior. Em uma pesquisa realizada com 165 profissionais de saúde
em um hospital de ensino de Ribeirão Preto/SP, os resultados
demonstraram que 158 (96,3%) trabalhadores relataram higienizar as
mãos após contato com material potencialmente contaminado, 146
(89%) sempre higienizavam as mãos após retirar as luvas e 138 (84,1%)
profissionais relataram realizar o procedimento entre o cuidado a
diferentes pacientes (PASSOS, MARZIALE, 2020), demonstrando
significativa atenção à HM.
159
A sonda vesical, para 31 (88,58%) respondentes, são artigos
críticos. Máscaras de inalação, para 16 (45,71%) são artigos semicríticos
e instrumentais cirúrgicos são artigos críticos para 31 (88,58%). Embora
com algumas prevalências baixas, a maioria dos respondentes sabem
classificar os artigos, conhecimento fundamental para designação do
tipo de tratamento do material. Se desinfecção, esterilização ou
descarte. Segue quadro com classificação dos produtos para a saúde.
160
Na análise da tabela acima observa-se que a maioria
respondeu inadequadamente à classificação da mesa de exame em
ambulatório e das pias e vasos sanitários, visto que 17 (48,57%)
consideraram não críticos. As pias e vasos sanitários, são artigos
semicríticos para 13 pessoas (37,14%), menos da metade dos
respondentes. Segundo a ANVISA (BRASIL, 2018) são artigos
semicríticos os que entram em contato com mucosas íntegras
colonizadas ou pele não íntegra, tais como pias e mesas. Observou-se,
também, que a maioria dos profissionais correlacionaram comadres e
papagaios a item semicrítico, mas estes são artigos considerados não
críticos. Segundo a ANVISA (BRASIL, 2018), os artigos não críticos são
aqueles que entram em contato somente com a pele íntegra.
161
Tabela 3 - EPIs utilizados pelos profissionais em isolamento respiratório por
gotículas
162
Tabela 4 - EPIs utilizado pelos trabalhadores de saúde no Pronto Atendimento.
163
Tabela 6 - Impacto das IRAS na evolução clínica do paciente
164
Sobre a pergunta se o trabalho de controle de infecção
hospitalar é significativo no seu cotidiano de trabalho, todos
responderam positivamente. Consideram que este serviço pode
oferecer segurança ao profissional e ao usuário do serviço, assim
como qualificar o cuidado, como demonstrado nas falas abaixo.
165
Conclusão
166
Referências
167
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9431.htm >. Acesso em: 06
abr. 2020.
168
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_20
13.html>. Acesso em 28 abr. 2021.
169
DERHUN, F.M. et al. CONHECIMENTO DE PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM SOBRE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS. Cogitare
Enfermagem, [S.l.], v. 21, n. 3, set. 2016. ISSN 2176-9133. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/45588>. Acesso em: 13
out. 2021.
170
LAKATOS, E.M; MARCONI, M.A. Fundamentos de metodologia
científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. Disponível
em:<https://docente.ifrn.edu.br/olivianeta/disciplinas/copy_of_historia
-i/historia-ii/china-e-india >. Acesso em: 31 mai. 2020.
171
2017. DOI: <https://doi.org/10.15600/2238-1244/sr.v17n45p79-88>.
Acesso em: 22 jun. 2021.
172
A saúde e a homogeneização de tratamento de
água e coleta de esgoto no Brasil
Henrique Michelutti Petroni e Mario Roberto Attanasio Junior
10.47247/GC/88471.57.9.9
173
Introdução
174
como expectativa ser reconhecido como protagonista no esforço pela
universalização do saneamento básico através das metas de redução
pela metade do número de pessoas sem acesso aos serviços de
saneamento básico até o ano de 2015 com base na quantidade de
atendimento deste serviço nos anos de 1990.
O documento do Plano de 2019, assinalou que
175
31 de dezembro de 2033, assim como metas quantitativas de
não intermitência do abastecimento, de redução de perdas e
de melhoria dos processos de tratamento”.
176
Objetivos
Metodologia
177
Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado CID12.
Fonte: FUNASA.13
178
Essas Drsai identificadas pela FUNASA estavam tabuladas no
sistema TABNET como:
• Tratamento de Febres Por Arbovírus E Febres Hemorrágicas
Virais
• Tratamento de Hepatites Virais
• Tratamento de Dengue Clássica
• Tratamento de Dengue Hemorrágica
• Tratamento de Malária
• Tratamento de Dermatites e Eczemas
• Tratamento de Micoses (B35 A B49)
• Tratamento de Helmintíases (B65 A B83)
• Tratamento de Outras Doenças Bacterianas
• Tratamento de Doenças Bacterianas Zoonóticas
• Tratamento de Outras Doenças Devidas a Protozoários (B55 A
B64)
No TABNET foram geradas as tabelas através da seleção dos
“procedimentos” (Tratamento de Febres, Hepatites… [indicadores
auxiliares]), período (anos) e as escalas (macrorregiões, Unidades
Federativas e municipais).
A partir dos dados de internações pelos indicadores auxiliares
foi obtida a proporção entre internações por Drsai nas diferentes
escalas pela quantidade de habitantes que continham segundo o
censo14, o que revelou a macrorregião Sudeste com o melhor
desempenho (1,99%) e Norte com o pior desempenho (2,55%). Na
macrorregião Sudeste a Unidade Federativa (UF) com melhor
desempenho foi São Paulo (1,66%) com o município de Biritiba-Mirim
(0,00%). Já a UF de Minas Gerais foi a que teve o pior desempenho
(2,49%) com o município de Mirabela (29,17%). Na macrorregião Norte
a UF que desempenhou melhor foi o estado do Amapá (1,43%) com o
município de Tartarugalzinho (0,01%). Já o estado de Rondônia (4,21%)
179
teve o pior desempenho com o município de Mirante da Serra
(12,04%).
O número de habitantes dos municípios é: Biritiba-Mirim/SP -
28.575,00; Tartarugalzinho/AP - 12.563,00; Mirabela/MG - 13.042,00 e
Mirante da Serra/RO - 11.878,00
180
Tudo isso para adquirir as informações sobre o saneamento
nos municípios de Biritiba-Mirim; Mirabela; Tartarugalzinho e Mirante
da Serra.
Os índices utilizados para caracterizar a situação do
saneamento nestes municípios foram IN015 e IN055, Índice percentual
de coleta de esgoto e Índice percentual de atendimento total de água
respectivamente17. Segue a maneira pela qual esses índices foram
calculados: IN015 (ES005/AG010)*100 e IN055 (AG001/GE12a)*100
onde: AG010: volume de água consumido, AG019: volume de água
tratada exportado, ES005: volume de esgoto coletado, AG001
população total atendida com abastecimento de água, GE12a:
população total residente do(s) município(s) com abastecimento de
água, segundo o IBGE e POP_TOT: população total do município do
ano de referência segundo IBGE.
181
Autor: Henrique Michelutti Petroni
182
Discussão e resultados
183
foi o município que apresentou a série histórica mais completa entre
os índices IN015 e IN055.
Em Mirabela é observado que o índice de atendimento de
água se mantém estável de 2006 à 2014 e em 2015 ele sofreu uma
diminuição. Enquanto neste momento o índice de coleta de esgoto
está aumentando rapidamente em 2015 o número de internações por
Drsai apresenta queda e conforme há uma aparente estabilização nos
índices IN015, nos anos de 2016 a 2020 e IN055 de 2015 a 2020, os
casos de internações por Drsai diminuem bruscamente após o ano de
2015 à 2017 e após realizam variações na amplitude de internações
menos agudas e inferiores aos valores anteriores ao início da coleta de
esgoto no município, o que pode ser um indicativo prático do
investimento na coleta de esgoto.
Tartarugalzinho foi o Município que apresentou apenas uma
internação por Drsai em 2019 e também apresentou a série de dados
sobre o atendimento de água mais longa, com o primeiro registro em
1997. Infelizmente a série histórica dos índices sobre a coleta de
esgoto não foi apresentada em nenhum momento ao SNIS o que não
viabiliza uma análise concisa vinculada aos dados de internações por
Drsai, mesmo que a série histórica de índice de tratamento de água
apresente majoritariamente um desempenho médio baixo de 16,85%.
Outra consideração a ser feita é que saneamento não é dependente
apenas do tratamento de água e coleta de esgoto, muitos outros
fatores podem ser considerados, como qualidade do meio ambiente e
recursos hídricos, coleta de resíduos sólidos, entre muitos outros que
podem influenciar no desempenho apresentado por Tartarugalzinho
no número de internações por Drsai.
Considerações finais
184
dados, gráficos e textos científicos, as quais devem ser atualizadas e
compreensíveis, de modo a fundamentar com segurança e precisão
qualquer estudo ou decisões tomadas a partir delas, de acordo com
arts 4°, V e 9°, XI da Lei 6.938/8120.
Os esforços sobre o tema devem continuar a ser
empreendidos e exigidos tanto pela população quanto pelos poderes
públicos.
Neste estudo foi notado que uma periodicidade menor nas
publicações dos dados seria vantajosa para resultar em ações mais
bem sucedidas que contribua para melhorar rapidamente o problema.
Como sugestão para próximos estudos seria interessante
analisar e produzir dados e informações sobre aspectos econômicos
como financiamento dos projetos, custos de operação e tarifas.
Referências
185
2010. p- 31. Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/estudosPesquisas_ImpactosSaude.pdf>. Acesso em:
24/03/2022.
186
do Direito. v.7, n.13/14. 2010. p. 174. Disponível em:
<https://core.ac.uk/download/pdf/270203222.pdf>. Acesso em:
24/03/2022.
187
Respeito à Terra: impactos socioambientais do
uso de agrotóxicos no Brasil
Luciana A. A. Previato Fonseca, Alessandra Suzin Bertan e
Marco Aurélio Cremasco
10.47247/GC/88471.57.9.10
188
Introdução
189
Utilização de agrotóxicos nas lavouras do Brasil
190
ambientais e de exposição de sua população a produtos químicos
perigosos e tóxicos.
A facilidade permitida pela legislação brasileira para liberação
e uso de agrotóxicos resultou do avanço do setor do agronegócio no
Congresso Nacional no início da década 2020 (REUTERS, 2022). Em
consequência, pode-se imaginar que o país enfrentará sérios
problemas de saúde pública, bem como distúrbios ambientais nos
ecossistemas agrícolas e naturais. Se assim for, esse quadro não
poderia ser atribuído ao destino, mas a uma série de escolhas políticas
e econômicas equivocadas (SAMPAIO, 2022). Além disso, parece
relevante discutir os custos sociais e econômicos associados às
decisões políticas então adotadas pelo governo brasileiro e pelo
Congresso Nacional sobre os montantes de verba pública que devem
ser direcionadas para apoiar o tratamento do crescente número de
fisiopatologias relacionadas a agrotóxicos, além da perda de força de
trabalho nas lavouras, pondo em risco as gerações futuras e
maculando, por via de consequência, um princípio básico do
Desenvolvimento Sustentável.
Saúde humana
191
ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação
fetal, disfunções hormonais e reprodutivas (ARANHA; ROCHA, 2019).
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e
Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) elaboraram um Relatório, o Dossiê
Abrasco (2015), apontando a relação entre agrotóxicos e problemas
neurológicos e motores, distúrbios de comportamento, problemas na
produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má
formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia
dos testículos e câncer de variados tipos. O Dossiê evidenciou que os
agrotóxicos estavam presentes nas frutas, nas verduras, nas carnes e
até mesmo no leite materno, ressaltando que em um mesmo alimento
havia agrotóxicos diferentes.
No Brasil, a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989,
estabelece que os agrotóxicos somente podem ser utilizados no país
caso registrados em órgão federal competente, de acordo com as
diretrizes e exigências dos órgãos responsáveis pelos setores da
saúde, do meio ambiente e da agricultura. As disposições dessa lei
foram regulamentadas pelo Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002,
incluindo a classificação quanto à toxicidade (BRASIL, 2002). O
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou
decisão da ANVISA sobre a reclassificação toxicológica dos
agrotóxicos registrados no país seguindo a norma internacional do
Sistema GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e
Rotulagem de Produtos Químicos) (TOOGE; MANZANO, 2022). Nessa
classificação, há 5 categorias toxicológicas: 1) extremamente tóxico
(vermelha/perigo), 2) altamente tóxico (vermelho/perigo), 3)
moderadamente tóxico (amarelo/perigo), 4) pouco tóxico
(azul/cuidado) e 5) improvável de causar dano agudo (azul/cuidado),
além de “não classificado” (sem advertência) (ASBRAN, 2019).
Segundo a ANVISA o objetivo da nova classificação é a de proteger o
trabalhador que manipula os pesticidas. No entanto, ambientalistas
alertavam, no início da década de 2020, que pesticidas considerados
altamente tóxicos poderiam ser rotulados de forma mais branda
(TOOGE; MANZANO, 2022). A Figura 1 apresenta a distribuição dos
agrotóxicos nas novas categorias de classificação toxicológica.
192
Figura 1 – Distribuição dos agrotóxicos analisados nas novas categorias
toxicológicas.
193
Meio Ambiente
194
b) Contaminação dos solos: “Tribunal dos povos discute
denúncias de contaminação por agrotóxicos e ataque aos
sistemas agrícolas tradicionais no Cerrado” (CONEXÃO
TOCANTINS, 2022). Os agrotóxicos ficam retidos no solo e
com o tempo o tornam mais frágil, reduzindo sua fertilidade e
sua biodiversidade, desencadeando a morte de
microrganismos benéficos como as micorrizas, provocando
acidez, entre outros malefícios (REVISTA CULTIVAR, 2015).
c) Contaminação por volatilização: “Produtor rural que atingiu
lavoura vizinha terá de indenizar” (DIREITO AGRÁRIO, 2018).
Os vapores gerados pela volatilização dos herbicidas atingem
outras plantas, microrganismos do solo e insetos benéficos.
Estes compostos voláteis viajam pelo ar, atingindo
comunidades a quilômetros de distância.
d) Impactos em organismos não alvo: “Agrotóxicos colocam em
risco a vida aquática e também são identificados em abelhas”
(FRANCO, 2021), “O agrotóxico que matou 50 milhões de
abelhas em Santa Catarina em um só mês” (TORRES, 2019).
Os efeitos dos agrotóxicos podem ser sentidos por vários
organismos, como insetos benéficos ao solo e à polinização,
peixes e outros seres aquáticos, pássaros e espécies
selvagens.
e) Integração ser humano e meio ambiente e a luta pela
sobrevivência: “Agrotóxico é usado como 'arma química'
contra aldeias indígenas em Mato Grosso do Sul”
(BERTOLOTTO, 2022). Essa denúncia ganhou notoriedade por
impactar um ecossistema na sua integridade devido ao seu
efeito danoso e criminoso em consequência de pulverização
aérea de agrotóxico, sofrido pela aldeia Guyraroká, no
município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, expondo seres
humanos e a natureza dizimando-os indistintamente,
chamando a atenção que o ser humano é parte integrante do
meio ambiente e não a sua totalidade.
195
Considerações finais
Referências
196
APREAA (Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e
aos Agrotóxicos). Perigo: O Brasil é o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo. 21 de dezembro de 2017. Portal de notícias G1.
Disponível em: <https://g1.globo.com/pr/parana/especial-
publicitario/apreaa/noticia/perigo-o-brasil-e-o-maior-consumidor-de-
agrotoxicos-do-mundo.ghtml>. Acesso em 05 mar. 2022.
197
CARNEIRO, Fernando Ferreria; AUGUSTO, Lia Giraldo da Silva;
RIGOTTO, Raquel Maria, FRIEDRICH, Karen; BÚRIGO, Andre Campos.
Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na
saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015, 614
p.
198
DIREITO AGRÁRIO. Produtor rural que atingiu lavoura vizinha terá de
indenizar. 21 de maio de 2018. Direito Agrário.org. Disponível em:
<https://direitoagrario.com/produtor-rural-que-e-atingiu-lavoura-
vizinha-ao-aplicar-agrotoxico-tera-de-indenizar/>. Acesso em 05 mar.
2022.
199
LAABS, Volker; AMELUNG, Wulf; PINTO, Alicio; ZECH, Wolfgang. Fate
of pesticides in tropical soils of Brazil under field conditions. Journal of
Environmental Quality, n. 31, p. 256-268, 2002.
DOI: https://doi.org/10.2134/jeq2002.1636.
SALATI, Paula. Após novo recorde, Brasil encerra 2021 com 562
agrotóxicos liberados, sendo 33 inéditos (2022). Portal de Notícias G1.
Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/01/18/apos
-novo-recorde-brasil-encerra-2021-com-562-agrotoxicos-liberados-
sendo-33-ineditos.ghtml>. Acesso em 23 fev. 2022.
200
SAMPAIO, Cristiane. PL do Veneno" causará "danos irreparáveis", diz
Fiocruz em nota enviada aos senadores. 14 de fevereiro de 2022. Brasil
de Fato. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2022/02/14/pl-do-veneno-causara-
danos-irreparaveis-diz-fiocruz-em-nota-enviada-aos-senadores>.
Acesso em 12 mar. 2022.
201
Mitigação dos impactos da salmoura em
ambiente marinho resultante da construção de
cavernas geológicas para estoque de CO2
Rodrigo Fernandes Paes, Hirdan Katarina de Medeiros Costa,
Dominique Mouette, Luis Antônio Bittar Venturi e Yuri Tavares
10.47247/GC/88471.57.9.11
202
A Caverna de Sal
203
pelo processo de lixiviação através da circulação da água do mar na
rocha salina, de modo que ela seja dissolvida, abrindo uma cavidade na
formação e ampliando este espaço até atingir o espaço projetado da
caverna salina. Uma vez que a caverna de sal atinja o tamanho
desejado, a salmoura remanescente no interior caverna é expulsa por
injeção de gás a uma pressão superior à pressão hidrostática da
salmoura no fundo da caverna (figura 2). Este procedimento produz
grandes volumes de salmoura com descarte em ambiente marinho
(COSTA, P. et al., 2019).
Salmoura
204
salmouras são frequentemente modeladas como soluções NaCl
(FRANCKE; THORADE, 2010). A salmoura pode conter substâncias
dissolvidas, como o CO2 (DUAN et al., 2003) e CH4 (DUAN; SUN, 1992),
dependendo do processo envolvido durante sua produção. Existem
vários modelos para prever propriedades de salmoura, como
saturação NaCl, densidade, condutividade térmica, viscosidade e
coeficiente de capacidade térmica (SHARQAWY; LIENHARD, 2010;
NAYAR et al., 2016).
A dessalinização de água do mar é a atividade humana
responsável pela maior quantidade de salmoura produzida no mundo.
Neste processo, separam-se os sais dissolvidos na água do mar para
produzir água doce artificialmente. Os dois principais métodos usados
por plantas de dessalinização de água do mar são o de Osmose
Reversa, que produz uma salmoura com concentração de 1,3 a 1,7
vezes superior à água do mar originalmente capitada. Outro método é
usado em plantas térmicas MSF (Multi Stage Flash), o qual produz
salmoura com concentração entre 1,1 e 1,5 vezes maior que a água
capitada (EINAV et al., 2003).
Quanto aos conhecimentos produzidos pela indústria de
dessalinização de água do mar, no que se refere aos impactos e à
mitigação dos efeitos da salmoura, faz-se necessário diferenciar do
processo de construção de uma caverna de sal, a qual introduz novos
sais ao ecótopo e em concentração muito superior ao efluente das
plantas de dessalinização.
205
do ecótopo2, com o potencial de impactar negativamente a produção
primária, bem como os recifes de coral, os quais são especialmente
sensíveis às variações do meio, seja por mudanças hidrodinâmicas, de
temperatura ou da salinidade (MARINE, 1999; PALOMAR e LOSADA,
2011).
Desta forma, para os animais que conseguem controlar sua
flutuação há menores consequências em comparação aos que
dependem da constante gravidade específica da água para a
manterem (Palomar e Losada, 2011), isto ocorre porque alterações
deste tipo podem resultar na precipitação destas espécies, impedindo
a realização de fotossíntese.
O sistema bentônico3 é especialmente afetado, quando as
espécies não estão adaptadas a esta alta salinidade (García e
Ballesteros, 2001; Sánchez-Lizaso et al., 2008), uma vez que a
salmoura, por maior densidade, se concentra no leito oceânico,
impactando as espécies que evoluíram em ambientes com uma
salinidade mais baixa ou estável (Lattemann e Höpner, 2003). A
consequência é o potencial de se afetar toda a cadeia alimentar,
finalmente atingindo comunidades humanas com a escassez de
determinados recursos ecológicos importantes para atividades
econômicas como a pesca e o turismo (PAES, 2021).
A Salmoura da Caverna
206
utilizou-se do SALGAS, software de propriedade da SMRI (Solution
Mining Research Institute), licenciada para MODECOM:
207
A densidade da salmoura cresce de forma mais abrupta nos
100 primeiros dias de operação e posteriormente mais gradativamente
até o final da lixiviação aos 910 dias.
Durante o processo contínuo de lixiviação, o volume da
caverna aumenta de forma linear até alcançar aproximadamente
2.000.000 m³ ao longo de 910 dias.
A produção de sal, transportado pela salmoura, cresce
rapidamente nos 100 primeiros dias de operação e posteriormente de
forma mais gradual, até aproximadamente 4.300 toneladas por dia
durante 910 dias, alcançando 3.700.000 toneladas ao longo de 910
dias.
A quantidade de água do mar injetada sobe continuamente,
ultrapassando 14.200.000 m³ ao longo de 910 dias e o total estimado
de salmoura produzida é de aproximadamente 13.700.000 m³ ao longo
de 910 dias.
Considerando que a área do domo salino estudado comporta
15 cavernas com o potencial de estocar 108 milhões de toneladas de
CO2 (COSTA et al., 2020b), cada uma com o volume de salmoura
produzida, faz-se necessário tomar medidas para mitigar os impactos
derivados do despejo do efluente.
208
densidade entre a pluma salina e o ambiente receptor. Nesta região a
taxa de diluição é muito baixa e quase constante em uma escala de
quilômetros e horas.
209
ambiental, assim como a proteção de ecossistemas marinhos
localizados na área afetada pelo descarte e se houver ecossistemas
protegidos ao longo do leito, nos arredores da zona de descarte é
recomendado evitar a liberação da salmoura em superfície devido ao
baixo grau de mistura e diluição (PALOMAR; LOSADA, 2011). Para
maximizar a diluição, é recomendado sistemas de descarte com
múltiplos jatos difusores (PALOMAR; LOSADA, 2011). Desta forma,
com o devido planejamento, é possível mitigar os impactos da
salmoura despejada em meio marinho.
Entretanto, além das recomendações supracitadas, em um
esforço para minimizar os efeitos no meio marinho, a diluição do
efluente pode reduzir os impactos ambientais através do uso de
difusores (DEL-PILAR-RUSO et al., 2015)
A utilização da tecnologia de difusores venturi (figura 4) já é
bem conhecida em distintos processos de diluição de líquidos na
indústria química e petrolífera. O equipamento consiste em uma
estrutura cilíndrica ou em formato de corneta por onde o efluente
passa em velocidade, promovendo a sucção do fluido onde está
imerso (pela zona de sucção de 360°), promovendo a mistura, a qual
pode alcançar uma taxa de 1 – 4 (PORTILLO et al., 2013).
210
De acordo com os resultados obtidos a partir do uso do CFD
(Computational Fluid Dynamics), o descarte da salmoura oriunda de
plantas de dessalinização em ambiente marinho pode ter os impactos
reduzidos (NARANJO; TRUJILLO, 2019). Trata-se de um método de
modelagem para simular e prever o comportamento do fluido com
precisão. Então efetuaram a simulação de um fenômeno de
transporte, convecção e difusão combinado com um processo de
mistura da salmoura com a água do mar. Utilizaram um jato dispersor
do tipo venturi em diferentes configurações e os resultados
demonstraram que o descarte mais ineficiente em termos de diluição
da salmoura e impacto em maior abrangência geográfica é o efetuado
sem o uso de difusor e o mais eficiente utiliza difusor venturi em
ângulo de 60° de inclinação.
Nos 8 anos de estudos de Del-Pilar-Ruso, Y. et al. (2015), em
San Pedro del Pinatar (Espanha), concluiu-se haver uma conexão
direta entre as medidas mitigatórias implementadas e a recuperação
da comunidade bentônica. A instalação de difusores venturi para
aumentar a diluição da salmoura com a água do mar reduziu os
impactos da planta de dessalinização (figura 5), promovendo o
aumento, relativamente rápido das espécies afetadas, na ordem de
meses.
211
Considerações finais
Agradecimentos
Referências
COSTA, A. et al. Hybrid Subsea CCS System. In: 14th Greenhouse Gas
Control Technologies Conference Melbourne. 2018. p. 21-26.
212
______. Hybrid subsea CCS system-CO2 storage in offshore ultra deep-
water salt caverns. Current Trends in Civil and Structural
Engineering–Iris Publisher, 2019a.
______. Potential of storing gas with high CO2 content in salt caverns
built in ultra‐deep water in Brazil. Greenhouse Gases: Science and
Technology, v. 9, n. 1, p. 79-94, 2019b.
213
DEL-PILAR-RUSO, Yoana et al. Benthic community recovery from brine
impact after the implementation of mitigation measures. Water
research, v. 70, p. 325-336, 2015.
214
PAES, Rodrigo Fernandes. Estudo do impacto ambiental causado pelo
descarte de salmoura em ambientes marinhos e medidas de
mitigação para projeto de caverna de sal no campo de Sapinhoá. 2021.
33 f. Trabalho de Geografia Individual - Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2021.
215
Brasil frente ao Plano de Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm)
Gabriela Sueza Cabelo Silva e Mario Roberto Attanasio Junior
10.47247/GC/88471.57.9.12
216
Introdução
O quadro brasileiro
217
surge, através de iniciativa do governo federal, o Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm). Em 2004, a área desmatada atingiu cerca de 16% do
território de floresta da AmL, desde então, com a criação do plano, as
taxas anuais de desmatamento apresentaram drástica redução em
seus valores absolutos (MMA, 2013).
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea
(2008), a Amazônia Legal (AmL) é área definida pelo Estado brasileiro
com o intuito de otimizar o planejamento e desenvolvimento
econômico da região. Seu território não se limita à área do
ecossistema, sua abrangência já foi bastante alterada decorrente de
mudanças na divisão política do país. Atualmente a área da AmL
abrange os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Roraima, Rondônia e Tocantins e, parcialmente, o Estado do
Maranhão, com área total de cerca de 5.217.423 Km² (EMBRAPA, 2011).
No início de 2020, foi publicado o 4° Relatório de Atualização
Bienal (BUR4) no Brasil. Sendo resultado de esforço interministerial, a
elaboração do documento segue os padrões estabelecidos entre a
comunidade internacional e se baseia nas diretrizes previstas pela
Convenção do Clima, de acordo com a Decisão 2/CP.17 - Anexo 03
(UNFCCC, 2012). Foram apresentados dados correspondentes aos
levantamentos realizados em 2018 e 2019, e, dentre seus capítulos,
estão as “ações de mitigação e seus efeitos” estabelecidos pelo país,
considerando as circunstâncias do território nacional durante aquele
período. Este item é contemplado no terceiro capítulo do documento,
desde sua primeira edição (MRE, 2020).
Neste capítulo, estão detalhadas as Ações de Mitigação
Nacionalmente Apropriadas (NAMAs), correspondentes aos Planos
Setoriais estabelecidos pelo governo em nível nacional, conforme
regulamenta a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC),
instituída pela Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009 (MRE, 2020).
Conforme pontua o Ministério das Relações Exteriores (2020), o Brasil
tem implementado as NAMAs de maneira consistente, contribuindo
para a redução das emissões mundiais de GEEs, como consta no BUR4.
O PPCDAm integra as NAMAs apresentadas no relatório e foi
selecionado para desenvolvimento desta pesquisa. O Plano está
subdividido em objetivos específicos, para os quais são apresentados
218
os indicadores de progresso (IP), as metas e os respectivos resultados,
relativos aos anos de 2018 e 2019, os quais serão objetos deste estudo.
Dentre os objetivos específicos do PPCDAm presentes no
BUR4, destacam-se para desenvolvimento deste trabalho os
objetivos: (I) promover a responsabilização pelos crimes e infrações
ambientais (IP: área desmatada (AD) - Km²), e objetivo (II), prevenir e
combater a ocorrência de incêndios florestais (IP: área queimada (AQ) -
Km² e número de focos de calor (FC)) (MRE, 2020).
Com este quadro, através dos IP, quantificáveis e verificáveis,
propõe-se com esta pesquisa discutir a implementação dos objetivos
selecionados e analisar se o país está atendendo, gradativamente, as
metas indicadas no PPCDAm. Com isso, busca-se apresentar uma visão
contemporânea e prática, quanto à atuação do Brasil no combate à
degradação de vegetação nativa na AmL, a fim de posicionar os
tomadores de decisão quanto ao aporte do país para os esforços
internacionais de mitigação das MC.
Para tal, propõe-se, como metodologia, a realização de uma
análise comparativa entre os resultados apresentados em relação à
AD, AQ e número de FC no BUR4 e, os dados produzidos através de
monitoramento remoto da vegetação nativa na Amazônia Legal
(AmL), nos anos seguintes, 2020 e 2021, considerando como
parâmetro de análise a unidade expressa para os IPs relativos a cada
variável, visando a realização de análise adequada.
Segundo o BUR4, a meta estabelecida para o objetivo (I),
“Responsabilização pelos Crimes Ambientais”, é a redução do
desmatamento no território da AmL, de forma que, através da
responsabilização e punição, seja por meio de multas, infração
administrativa ou sentença penal decorrentes de ilícitos ambientais, os
infratores sejam persuadidos a mudar suas intenções. Os resultados
desta meta são mensurados em área desmatada (Km²), o que sugere
que a fiscalização e os processos de autuação minimizem atividades de
degradação no meio ambiente (MRE, 2020).
Em relação ao objetivo (II), “Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais”, é pontuado que a principal meta é a redução de
incêndios florestais danosos, uma vez que os incêndios são um dos
principais agentes de degradação ambiental, sendo notório os
prejuízos à biodiversidade e sua contribuição para emissão de GEEs.
Para isso, é essencial conhecer a dinâmica do fogo nos diferentes
219
biomas e realizar o manejo integrado do mesmo. A área queimada
(Km²) e o número de focos de calor são os parâmetros utilizados
como IP para este objetivo (MRE, 2020).
220
Na tabela 1, observa-se que a fiscalização e os processos
desenvolvidos na área, entre 2018- 2019, demonstram resultados
positivos em relação às taxas produzidas em 2004, sendo favoráveis à
meta indicada para o item (I), uma vez que, foram apresentadas
reduções superiores a 50% em AD. As conclusões para as ações
mencionadas não são indicadas pelo relatório.
221
aponta uma redução de uma área de 157.007 km² em 2004 para
72.501km² de área atingida pelo fogo em 2019. As medidas adotadas
neste período contribuíram para reduções superiores a 50% nas AQ,
quando comparadas ao ano de 2004 (MRE,2020).
222
formações de florestas tropicais na Amazônia com a mesma área de
abrangência que o PRODES (INPE, 2019).
Os dados são divulgados em mapas digitais com todas as
observações de desmatamento, com áreas maiores que 25 ha, de
forma que, busca detectar também os estágios intermediários deste
processo, através de análises que identificam as frações de solo
exposto relacionadas a queimadas recorrentes (INPE, 2008).
O painel DETER utiliza dados de entrada do programa
Queimadas, também articulado pelo INPE, que são detectados por
satélite com objetivo de analisar os focos de queimada e incêndios
florestais. Através deste monitoramento contribui com a modelagem
de extensão e riscos de fogo ativo, principalmente em regiões de
acesso limitado (INPE - Apresentação).
223
Tabela 03 - Levantamento de Valores absolutos para AD, AQ e FC no período
de 2020 -2021.
Objetivo (I) Responsabilização pelos crimes ambientais
103.161 77.396
105.090 45.585
224
Da análise da tabela acima se pode inferir que exceto para
AQ, as taxas apresentaram incremento para eventos os quais
registram, ou seja, as taxas apresentadas ao nº de FC e à AD foram
superiores, em valores absolutos, no período de 2020-2021 em relação
a 2018-2019.
Visando uma análise adequada foram utilizados os mesmos
padrões e métricas do BUR4 para a presente pesquisa. Portanto, os
dados coletados nos sistemas de monitoramento (tabela 03) foram
relacionados às taxas apresentadas em 2004 (tabela 04), para avaliar o
progresso relativo ao início do plano. Posteriormente foi realizada a
análise proposta, comparando os resultados entre os períodos 2018-
2019 e 2020-2021 (tabela 05).
225
Tabela 05 - Média por período e Incremento calculado para AD, AQ e FC no
período de 2020 -2021.
Resultados - em relação ao níveis de 2004 - Diferença
(%) média das
taxas - entre
Ano os períodos
226
Gráfico 01 - Taxas de desmatamento na AmL - Início do PPCDAm a 2021.
227
Gráfico 02 - Variação percentual das taxas em relação aos níveis de 2004.
228
eficazes para proteção da vegetação nativa na AmL, sempre atreladas
ao conhecimento científico, capacitação e processos participativos
que envolvam entes do governo e da sociedade civil.
Por meio deste trabalho é possível analisar a posição do Brasil
e seu compromisso com as metas nacionais e internacionais, de
controle do desmatamento e redução das emissões de GEE.
Importante avaliar se os resultados aqui apresentados são ocasionais
ou se existe, de fato, uma tendência para direcionar as ações do
PPCDAm, sendo necessário comparativo das taxas anuais não apenas
com as taxas produzidas no início do plano, em 2004, mas também
período a período, como demonstrado nesta pesquisa.
Conclusão e perspectivas
229
Além disso, deve ser ressaltada a importância do
desenvolvimento tecnológico e constante otimização dos sistemas de
monitoramento remoto, que contribuem com afinco para o
desenvolvimento de pesquisas como esta e, diretamente, podem
orientar tomadores de decisão na elaboração de políticas públicas, de
forma que seja possível garantir a segurança da população em uma
sociedade cada vez mais ameaçada pela alteração do clima.
Referências
230
<https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal/informacoes/aprese
ntacao> Acesso em 04 de janeiro de 2022.
231
Ministério das Relações Exteriores – MRE. Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações – MCTI. Quarto Relatório De Atualização
Bienal do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre
Mudança Do Clima. Brasília: MRE, 2020. 112 p. Disponível em <
https://antigo.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/ciencia/SEP
ED/clima/arquivos/BUR/BUR4_Brasil_Port.pdf>. Acesso em 29 de
junho de 2021.
232
A distribuição espacial das emissões industriais
de GEE nos estados de SP, PR e MS
Júlio Barboza Chiquetto e Dominique Mouette
10.47247/GC/88471.57.9.13
233
Introdução
Fator de Emissão
Combustível
kg CO2/kWh)
Carvão 0,34
Diesel 0,27
Gasolina 0,25
Querosene 0,26
Gás de Refinaria 0,24
Gás Natural 0,22
Fonte: QUASCHNING, 2016.
234
No estado de São Paulo, a maior parte da energia utilizada
pelo setor industrial é proveniente de fontes renováveis ou fósseis
menos poluentes, como o gás natural (GN), que, somadas com o uso
de bagaço de cana e eletricidade, atingiram 83,5% do consumo de
energia pela indústria no estado em 2019. Isto indica que, neste
cenário, existem oportunidades para a mitigação de emissões. A lenha
apresenta menores emissões de CO2 devido à retirada de carbono da
atmosfera durante o crescimento da vegetação; no entanto, a sua
queima acarreta a emissão de diversos poluentes tóxicos à saúde, tais
como os hidrocarbonetos e o material particulado, poluentes com
baixos fatores de emissão pelo GnC (Cremonese et al., 2019).
Somando as porcentagens de consumo energético por combustíveis
fósseis e lenha (devido às emissões de poluentes tóxicos e GEE),
chegou-se, em 2019, à 16,5% da energia consumida pela indústria no
estado de São Paulo (Balanço energético do estado de São Paulo –
São Paulo, 2020).Se numa análise rápida o uso destes combustíveis
parecem não ser altos, em valores absolutos estas emissões não são
nada desprezíveis, pois SP é o estado mais industrializado do país e a
região mais industrializada de todo o Hemisfério Sul. De acordo com o
Balanço Energético do Estado de São Paulo, em 2019, as emissões de
CO2 no estado foram de 71,50 x 106 tCO2/ano correspondente a 1,61
tCO2/hab. Os setores mais poluentes foram o transporte com 47,2 x
106 tCO2 e a indústria com 15,0 x 106 tCO2. Dentre os combustíveis, os
que mais impactaram as emissões foram o óleo diesel com 31,12 x 106
tCO2, a gasolina com 12,33 x 106 tCO2 e o gás natural com 11,43 x 106
tCO2 (São Paulo, 2020). Assim, a transição energética pelo uso do GnC
no setor industrial poderá se consolidar em uma boa estratégia de
mitigação e atingir valores absolutos consideráveis.
De acordo com o Balanço Energético do Estado do Paraná
(Paraná, 2010), o uso de petróleo e derivados correspondia a 42,8% das
emissões provenientes do uso de energia pela indústria,
demonstrando assim grande potencial de mitigação pela substituição
por GnC. O GN gás natural representou 33,3% do consumo de energia
do setor de papel e celulose. As emissões totais de CO2 no PR foram
de 77 MtCO2e em 2019, sendo o décimo maior emissor no Brasil1. A
indústria responde por 11% das emissões decorrentes do uso de
energia no estado, e 84,4% foram do setor de produtos minerais, e
1 http://seeg.eco.br/
235
15,6% da indústria química (não havia informações disponíveis sobre o
uso de GN na indústria).
No MS, de acordo com o balanço energético do estado (Mato
Grosso do Sul, 2014), o consumo energético pela indústria apresenta
os seguintes números: diesel, 15,9%, óleo combustível e outros, 12,6% e
gasolina, 7,6%. Estes, somados, atingem a porcentagem de 36,1%. O gás
natural soma apenas 2%, por isso, o potencial de mitigação das
emissões de CO2 por combustíveis fósseis poluentes em MS é
proporcionalmente maior do que em SP e PR, apesar da sua baixa
atividade industrial em relação aos outros estados analisados. As
emissões totais chegaram à 63 MtCO2e em 2019, sendo o décimo
segundo estado em emissões no Brasil1. As emissões do setor de
transportes dominam as emissões devido ao consumo de
combustíveis derivados de petróleo no estado, sendo que a indústria
corresponde a apenas 13,9%, o setor de produtos minerais é
responsável por 100% das emissões industriais1.
Uma vez que a demanda por energia continuará a crescer
globalmente, aumentando em 33% até 2040 (Tanaka et al., 2019), o GN
e o GnC oferecem boas alternativas para suprir essa demanda
crescente, por conta de emitirem menos GEE e poluentes tóxicos em
relação aos combustíveis fósseis tradicionais (Cremonese et al., 2019),
juntamente com o desenvolvimento de energias renováveis e mais
limpas.
Esta pesquisa visou compreender o potencial mercado
consumidor de GnC nos estados de SP, PR e MS, do ponto de vista da
transição energética, ao analisar emissões industriais de GEE por
município e a localização destes em relação à área de concessão da 12a
rodada de Licitações realizada pela Agência Nacional de Petróleo2
(ANP), referente ao Pontal do Paranapanema (SP). A análise sugeriu
algumas regiões prioritárias para o uso de GnC devido à proximidade
com a área do pontal e à intensidade das emissões por combustíveis
fósseis tradicionais, o que poderia resultar na mitigação das emissões
de GEE. Assim, estes municípios se configuram em potencial mercado
consumidor do GnC extraído na região do Pontal, se ele vier a
apresentar preços competitivos em relação aos combustíveis fósseis já
utilizados na região.
2 https://www.gov.br/anp/pt-br/rodadas-anp/rodadas-andamento/12a-rodada-
licitacoes-blocos/areas-oferta
236
Materiais e métodos
3 https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/dados-de-transportes/bit/b
itmodosmapas/#mapduto
237
indústria (emissões industriais) e energia (no caso, o consumo de
energia fóssil pela indústria) e posteriormente tabulados. Analisou-se
as emissões provenientes do consumo industrial de coque de
petróleo; diesel de petróleo; gás de refinaria (exceto para MS, onde
não houve emissão por gás de refinaria); GLP; óleo combustível e óleo
diesel, do ano de 2018, o mais recente disponível no momento de
elaboração deste estudo. Agregou-se os dados de diferentes setores e
combustíveis no nível do município, somando-se todas as emissões.
Foram então construídos mapas com estes dados, que mostram as
emissões por combustíveis fósseis totais (Fig. 2), as emissões somente
pelo uso de GLP (Fig. 3) e óleo diesel (Fig. 4).
Resultados
238
Figura 2 - Emissões de CO2 equivalente nos estados de MS, PR e SP por
município para combustíveis fósseis totais nos setores industrial e de energia
(2018).
239
poderão se beneficiar particularmente devido ao fato de estarem
próximos do Pontal do Paranapanema (pouco mais de 100 km).
Finalmente, para as emissões por combustíveis fósseis totais
no estado de São Paulo, destacam-se principalmente municípios
localizados em toda a faixa leste do estado, entre o município de
Campinas e o estado de Minas Gerais (desde o Vale do Ribeira até o
Vale do Paraíba, e expandindo-se ao nordeste). O município de São
José do Rio Preto (identificado em amarelo na porção centro-norte do
estado) está localizado a cerca de 300 km da área do Pontal e
apresentou emissões entre 10.000 e 20.000 t/CO2e em 2018. As
análises das emissões somente para GLP e Diesel (Figuras 3 e 4,
respectivamente) apresentam maior detalhamento para o estado de
SP.
240
na faixa de 2.001-5.000 t/CO2e, e que apresenta potencial para
mitigação devido à proximidade com o Pontal.
No Paraná, as emissões mais intensas ocorrem na região
centro-oriental do estado, a leste da Região Metropolitana de Curitiba,
distante da área de concessão de exploração de GnC e próxima aos
gasodutos já existentes. De qualquer forma, o município de Cambará,
localizado na divisa com SP (identificado em amarelo na Fig. 3), bem
como municípios localizados na região no norte do estado, tais como
Maringá e Cornélio Procópio, apresentam a proximidade com o Pontal
e emissões mais altas que o restante do estado.
Da mesma forma, as emissões provenientes de GLP no estado
de São Paulo também estão concentradas na porção leste. Alguns
municípios bastante próximos ao Pontal apresentam emissões
moderadamente altas em relação ao resto do estado, como Tupã,
Pompéia Marília (em verde na Fig. 3, a leste da área de concessão),
além de Avaré, no centro-oeste do estado (identificado em amarelo na
Fig. 3).
241
também apresentam intensas emissões de diesel (Figura 4),
constituídas por óleo diesel e diesel de petróleo. O município de Três
Lagoas destaca-se pela emissão de 187.889 t/CO2e em 2018, o valor
máximo observado dentre os três estados analisados para consumo
de diesel pela indústria.
Outros municípios que aparecem com emissões
moderadamente altas para o estado de MS, localizados na região
sudeste do estado, são Ivinhema e Rio Brilhante (em laranja na Figura
4), com emissões provenientes de diesel entre 10 e 20 mil t/CO2e em
2018. O município de Angélica (localizado exatamente entre Ivinhema
e Rio Brilhante, em amarelo na Fig. 4), aparece com 9.605 t/CO2e
emitidas. Assim, o estado de MS apresenta grande potencial do ponto
de vista da transição energética pela mitigação das emissões de GEE
provenientes de diesel, devido à intensidade das emissões e
proximidade com a área de exploração de GnC, facilitando o seu
escoamento.
Para o diesel no estado do Paraná, os municípios de Telêmaco
Borba e Ortigueira apresentam intensas emissões (assim como para
combustíveis fósseis totais e GLP), identificados pelas cores vermelho
e vermelho escuro na Figura 4, com 84 mil e 43 mil t/CO2e emitidos em
2018, respectivamente. No norte do estado, Maringá também se
destaca nas emissões por diesel (identificada em amarelo). A norte de
Maringá, os municípios de Colorado, Paranacity e Santo Inácio formam
uma região localizada muito próxima da Área de Concessão (50 km) e,
que apresenta emissões entre 5 e 10 mil t/CO2e somente pelo uso do
diesel (identificados também em amarelo na Figura 4).
Emissões expressivas por diesel no estado de SP ocorrem na
capital e regiões adjacentes, no centro e norte do estado. O estado
todo é caracterizado por emissões moderadamente altas
(identificadas em amarelo, entre 5 e 10 mil t/CO2e), incluindo regiões
localizadas dentro da Área de Concessão para Exploração, como os
municípios de Presidente Prudente, Valparaíso, Guararapes e Castilho,
bem como os municípios de São José do Rio Preto e adjacentes, a uma
distância de cerca de 200 km do Pontal.
242
Conclusões e considerações finais
243
Por outro lado, algumas das áreas com emissões de GEE mais
altas, localizadas a leste e sudeste dos estados de SP e PR. já estão
servidas por gasodutos, e, portanto, já utilizam o gás natural. As
emissões de GN são semelhantes às do GnC, o que não representaria
um grande avanço do ponto de vista da transição
energética/mitigação de GEE. No entanto, caso o GnC venha a
apresentar preços competitivos em comparação ao gás natural, essas
áreas podem ser consideradas como potenciais mercados
consumidores de GnC, como sugerido pela análise das emissões. O
escoamento de GnC poderia ser facilitado pela presença do gasoduto
que conecta a região do Pontal do Paranapanema com estas regiões.
No entanto, todos estes cenários dependem de investimentos
públicos, potencialmente na forma de incentivos fiscais ou
instrumentos semelhantes, com o objetivo de se mitigar as emissões
de GEE e incentivar energias mais limpas.
Trabalhos futuros poderão realizar uma análise quantitativa
da mitigação nas emissões de GEE ao se substituir todo ou parte do
consumo industrial e de energia de diesel, petróleo e GLP por GnC nos
estados e regiões identificadas, demonstrando o potencial desta fonte
para uma transição energética em direção a energias mais limpas.
Também podem ser analisadas adoção de tecnologias de captura e
armazenamento de carbono. Além disso, poderão ser realizadas
pesquisas com poluentes do ar tóxicos emitidos pela atividade
industrial, tais como os óxidos de nitrogênio (NOx) ou o material
particulado (MP), utilizando-se de relatórios de institutos ambientais
ou outras publicações, calculando as vantagens provenientes destas
ações do ponto de vista econômico e da promoção da saúde.
Agradecimentos
244
Referências
CREMONESE, L., WEGER, L.B., DENIER VAN DER GON, H., BARTELS,
M., BUTLER, T., HELMIG, D. AND SCHWIETZKE, S. Emission scenarios
of a potential shale gas industry in Germany and the United Kingdom.
Elementa: Science of the Anthropocene, 7, 2019.
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9042-
pesquisa-industrial-anual.html?=&t=downloads acesso em 21/05/2021
https://www.copel.com/hpcopel/root/sitearquivos2.nsf/arquivos/balan
co_energetico_do_parana-2010-
ano_base_2009/$FILE/Balanco_Energetico_do_Parana-2010-
Ano_Base_2009.pdf Acesso em 13/05/2021
245
TANAKA, K., CAVALETT, O., COLLINS, W.J. e CHERUBINI, F. Asserting
the climate benefits of the coal-to-gas shift across temporal and
spatial scales. Nature Climate Change, 9(5), pp.389-396, 2019.
https://doi.org/10.1038/s41558-019-0457-1
246
Influência da sazonalidade na qualidade das
águas do Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de Brumadinho (MG)
Diego Barcellos, Cláudio V. P de Azevedo Andrade e
Pablo de Azevedo Rocha
10.47247/GC/88471.57.9.14
247
Introdução
248
Os óxidos de Fe presentes no rejeito, podem ser induzidos à
redução dissolutiva de FeIII para FeII em condições redutoras
favoráveis, e na presença de microrganismos ativos e carbono
orgânico lábil (BARCELLOS et al., 2018; CALABRESE et al., 2020),
favorecendo a liberação de metais potencialmente tóxicos para o
meio aquático, que podem se tornar nocivos para organismos e
humanos. A sazonalidade, caracterizada pela mudança nos padrões de
precipitação ao longo do ano, pode alterar os ciclos biogeoquímicos
do Fe, favorecendo uma condição mais redutora (solos mais úmidos
ou encharcados) no período mais chuvoso, geralmente de outubro a
março na região 2 do Rio Paraopeba, bem como o transporte do
rejeito para a calha do rio (SILVA et al., 2015).
Sendo assim, uma das maiores preocupações ambientais e
ecológica refere-se ao aumento dos teores de metais potencialmente
tóxicos em águas superficiais, que podem oferecer riscos de
contaminação e toxicidade para humanos, animais e plantas que
utilizam dos recursos hídricos da região.
Objetivos
Métodos
249
Além da série contínua de dados com valores máximos
(dez/2019 a fev/2022), o Boletim também fornece valores máximos
para o monitoramento na série histórica (de 2000 a 2018) antes do
rompimento da barragem, que considera apenas o período do 1°
trimestre do ano (meses de janeiro, fevereiro e março). O Boletim
também fornece os valores de máximo e mínimo obtidos nos
primeiros 60 dias após o desastre.
Os pontos de coleta de água pelo IGAM para análises nesse
trabalho foram aqueles com maior impacto (IGAM, 2022) e que
englobaram os seguintes municípios (e estações de coleta):
Brumadinho (BPE2), Mário Campos (BP068), São Joaquim de Bicas
(BP070), Betim e Juatuba (BP072), conforme a Tabela 01 e Figura 01.
Para os gráficos gerados para cada elemento e turbidez, além
dos dados obtidos no Boletim Informativo do IGAM, foram inseridos
os valores máximos permitidos segundo a Deliberação Normativa
(DN) Conjunta COPAM/CERH-MG nº 01, de 05 de maio de 2008
(COPAM, 2008) para águas superficiais na Classe 2, as quais podem ser
destinadas: “ao abastecimento para consumo humano, à proteção de
comunidades aquáticas, à recreação de contato primário, à irrigação
de plantas, e à aquicultura (COPAM, 2008).”
250
Figura 01 - Mapa com as estações de monitoramento de qualidade da água do
IGAM (Boletim Informativo) ao no Rio Paraopeba, para os pontos BP036,
BPE2, BP068, BP070, BP072, e localização do ponto de rompimento da
barragem B1 em Brumadinho (MG).
251
Referente aos cinco pontos selecionados para a interpretação
dos dados de qualidade da água, vale ressaltar que o ponto BP036
está a 10 km a montante do local atingido pela barragem rompida da
Mina Córrego do Feijão (ou seja, é um ponto de coleta não
impactado), o ponto BPE2 está logo a jusante da barragem (20 km a
jusante, em Brumadinho, MG, cuja água é captada para abastecimento
da região metropolitana de Belo Horizonte), o ponto BP068 no
município de Mário Campos, o ponto BP070 no município de São
Joaquim de Bicas, e o ponto BP072 entre Betim e Juatuba (Tabela 01).
Dados de precipitação da região 2 e proximidades também
foram utilizados para ampliar a compreensão do comportamento
geoquímico dos elementos que afetam a qualidade das águas
superficiais, bem como averiguar possíveis diferenças entre os
períodos seco e chuvoso (sazonalidade). Os dados de precipitação
(em mm) foram computados através da média mensal de
precipitação, adquiridos de quatro estações meteorológicas operantes
(Belo Horizonte/Pampulha, Belo Horizonte/Cercadinho, Florestal, e
Ibirité/Rola Moça) de 2018 a 2021 (Tabela 02).
252
Resultados e discussão
253
Figura 02 - Precipitação mensal (em mm) na região 2 da Bacia do Rio
Paraopeba, através da média de precipitação obtida de quatro estações
meteorológicas operantes (Belo Horizonte/Pampulha, Belo
Horizonte/Cercadinho, Florestal, e Ibirité/Rola Moça).
254
Durante os três períodos chuvosos, de dezembro/2019-
março/2020, novembro/2020-março/2021 e novembro/2021-
fevereiro/2022, todos os valores de Al dissolvido para todos os 5
pontos apresentados foram acima do limite de 0,1 mg/L (Classe 2,
COPAM DN 01/2008). Alguns dos valores mais elevados foram (Figura
03A): 0,72 mg/L em BP072 (Betim/Juatuba), 0,59 mg/L em BPE2
(Brumadinho, 20 km a jusante da barragem) e 0,58 mg/L em BP070
(São Joaquim de Bicas).
Já nos dois períodos secos, abril/2020-outubro/2020 e
abril/2021-setembro/2021, os dados de Al dissolvido oscilaram
próximos ao limite de 0,1 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008),
variando entre 0,03 e 0,16 mg/L. Esses valores de Al dissolvido no
período seco são consideravelmente menores do que aqueles
apresentados no período chuvoso.
Por conseguinte, o período chuvoso apresenta maiores riscos
de contaminação e ingestão de água com teores elevados de Al pela
população na bacia do Rio Paraopeba. O Al apresenta efeitos
toxicológicos adversos tanto para os organismos aquáticos quanto
para o ser humano que utiliza das águas (BECARIA, CAMPBELL,
BONDY, 2002). Inclusive, ingestão prolongada de águas contendo
elevados teores de Al têm sido apontado como uma das causas para o
desenvolvimento de doenças neurais e relacionadas ao Alzheimer
(FLATEN, 2001). Sendo assim, maiores cuidados devem ser tomados
sobretudo nas épocas de alta pluviosidade para evitar utilização e
ingestão de águas nos municípios que utilizam das águas do Rio
Paraopeba.
255
valores de Fe em água aumentaram de 4, 4, 5 e 4 vezes,
respectivamente para os pontos BPE2 (Brumadinho, jusante da
barragem), BP068 (Mário Campos), BP070 (São Joaquim de Bicas) e
BP072 (Betim/Juatuba). O valor mais alto atingido nos 60 dias após o
rompimento da barragem foi de 1,55 mg/L de Fe dissolvido no ponto
BP070 (São Joaquim de Bicas). De forma similar ao alumínio,
manganês e outros elementos, o ferro dissolvido em água apresenta
clara sazonalidade para o período seco e chuvoso (Figura 03B), para o
período de monitoramento mensal contínuo pelo IGAM (Boletim
Informativo).
Nos três períodos chuvosos, de dezembro/2019-março/2020,
novembro/2020-março/2021 e novembro/2021-fevereiro/2022, todos os
valores de Fe dissolvido para todos os 5 pontos apresentados ficaram
acima do limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008), conforme
evidenciado na Figura 03B. Alguns dos valores mais elevados foram:
1,00 mg/L em BP068 (Mário Campos), 0,91 mg/L em BP072
(Betim/Juatuba), 0,83 mg/L em BP070 (São Joaquim de Bicas).
Para os dois períodos secos, abril/2020-outubro/2020 e
abril/2021-setembro/2021, os dados de Fe dissolvido se encontraram
em grande parte acima do limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN
01/2008), com apenas 3 ou 4 meses com valores abaixo desse limite,
por exemplo, 0,03 mg/L tanto em agosto/2020 quanto em agosto/2021
para ambos os pontos BP070 (São Joaquim de Bicas) e BP072
(Betim/Juatuba). De forma geral, os valores de ferro dissolvido são
consideravelmente elevados durante o período chuvoso, e
ultrapassam o limite estabelecido por lei (0,3 mg/L) em alguns dos
meses do período seco. Sendo assim, o Fe dissolvido é um elemento
que dever ser realizado um constante monitoramento nos corpos
d’água do Rio Paraopeba para os próximos meses e anos.
Apesar do ferro ser o quarto elemento mais comum na crosta
Terrestre e estar presente em abundância na maioria dos solos no
território brasileiro, concentrações elevadas de Fe dissolvido em água
podem causar problemas ambientais e de saúde para humanos e
demais organismos. Quando os teores de Fe dissolvido em água
ultrapassam o limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008), que é
o padrão de potabilidade da água para abastecimento público,
problemas relacionados podem ocorrer como o sabor de ferrugem na
água e o crescimento de ferrobactérias que podem induzir problemas
de saúde quando da ingestão da água (NASCIMENTO & BARBOSA,
2005). Quando ingerido por organismos, elevados teores de Fe
256
ocasionam a formação de radicais livres que podem ser carcinogênicos
(BATISTA-GALLEP, 2018).
257
Joaquim de Bicas, Betim e Juatuba. Em 2021, os valores de Mn foram
menores que o limite nos meses de maio até agosto, exceto valores
acima do limite em junho/2021 para Mário Campos, São Joaquim de
Bicas e Brumadinho.
Portanto, similar ao ferro, os teores de Mn em água são
consideravelmente preocupantes tanto no período chuvoso quanto
no período seco. Por conseguinte, o constante monitoramento da
qualidade da água deve ser cuidadoso para o Mn. Altas concentrações
de Mn em água (acima do limite de 0,1 mg/L) podem causar graves
danos eco-toxicológicos, tendo potencial de contaminação para
espécies aquáticas, causar efeitos adversos à saúde, como distúrbio
neurodegenerativo, toxicidade cardiovascular e lesão hepática
(QUEIROZ et al., 2021; GABRIEL et al., 2020).
258
em BP070 (São Joaquim de Bicas), e 0,021 mg/L em BP068 (Mário
Campos). Em ambos os períodos de seca para 2020 e 2021, os valores
de Pb total em água, decresceram para valores abaixo do limite legal
de 0,01 mg/L (Figura 03E).
Em humanos a alta exposição ao chumbo pode gerar
distúrbios gastrointestinais, neuromusculares e no Sistema Nervoso
Central (SNC), além de alterar a pressão arterial e afetar
negativamente o fígado, o sistema renal e a biossíntese da heme
(JACOB et al., 2002). Em plantas, altas concentrações de chumbo
desfavorecem o desenvolvimento, induzem ao escurecimento do
sistema radicular, inibição da fotossíntese, alteração da nutrição
mineral e do balanço hídrico, modificação do estado hormonal e
modificações na membrana (SHARMA & DUBEY, 2005).
Turbidez (NTU)
259
(São Joaquim de Bicas), o que corresponde a um aumento de 14 vezes
o valor máximo de turbidez permitido pela COPAM (2008). Ademais,
em ambos os períodos de seca para 2020 e 2021, os valores de
turbidez ficaram abaixo do limite legal de 100 NTU (Figura 03F e 03G).
A turbidez é um importante parâmetro de qualidade
ambiental e utilizado como métrica para obter o computar o IQA
(Índice de Qualidade da Água) (CETESB, 2019). A turbidez
evidentemente elevada no Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de rejeitos evidencia o carreamento e suspensão de
partículas ao longo do Rio Paraopeba. Além do rejeito da barragem, a
turbidez também é influenciada pelos processos erosivos na bacia
hidrográfica, os períodos chuvosos com maior escoamento superficial
e carreamento de partículas, e outras atividades industriais e agrícolas
presentes. Sendo assim a turbidez é um parâmetro de grande
importância para monitoramento ambiental das águas do Rio
Paraopeba e deve ser realizado de forma constante.
260
261
Liberação de metais para o meio aquoso por redução dissolutiva do
ferro no rejeito
262
alterações de oxirredução do ambiente ocasionadas por aumento da
umidade do solo e sedimentos, sobretudo na época chuvosa
(BARCELLOS et al., 2022). Alterações do ambiente para uma condição
mais redutora (solos mais úmidos ou encharcados pela ação das
chuvas), podem causam alterações nos ciclos biogeoquímicos do Fe e
favorecer a redução de FeIII à FeII (BARCELLOS et al., 2018), o que
favorece à liberação de metais traço retidos e oclusos no rejeito de
minério (podendo tornar-se biodisponíveis). O manganês é um
elemento que também pode ter alterações de valência (MnII, MnIII e
MnIV) de acordo com as condições de oxirredução do ambiente, tendo
comportamento similar ao Fe em ambientes geoquímicos de
oxirredução (KEILUWEIT et al., 2015).
Os gráficos dos elementos apresentados (Al, Fe, Mn e Pb) a
partir dos dados do IGAM, mostram claramente o aumento dos teores
desses elementos no período chuvoso, dado que o Fe é principal
elemento que compõe o rejeito de minério depositado no Rio
Paraopeba, e que no período chuvoso pode ocorrer a redução
dissolutiva dos minerais de Fe e liberação de metais associados ao
ecossistema aquático. Ademais, ficou evidente que mesmo no período
das secas, as concentrações dos elementos apresentados podem ficar
acima dos limites estabelecidos por lei e, portanto, também causar
problemas adversos para o ambiente e organismos que irão ingerir
água.
263
que carreiam mais rejeitos advindos de áreas à montante da bacia do
Rio Doce, esses processos biogeoquímicos de liberação de metais
podem ser retroalimentados e gerar contaminação continuada para as
populações afetadas.
Foram realizadas projeções/modelagens para cada elemento
nas águas superficiais utilizando as médias para os três períodos
chuvosos: de dezembro/2019-março/2020, novembro/2020-março/2021
e novembro/2021-fevereiro/2022. Na Tabela 03 são apresentadas as
projeções/modelagens com equações que apresentavam melhor
“fitting” (R2) quando utilizados os valores dos três períodos chuvosos.
Foram estimados quantos anos durariam até que os teores dos
elementos voltassem aos limites basais estabelecidos pelas normas
ambientais (nesse caso, Classe 2 da COPAM DN 01/2008).
É possível observar que existe uma elevada probabilidade de
que os teores de alguns elementos químicos em água (como Al, Fe,
Mn e Pb) permanecem em concentrações acima dos VMP por mais
alguns anos (Figura 4A até D). Por exemplo, o problema de teores
elevados de Al e Mn deve perdurar até 2026, de Pb até 2024, e de Fe
até 2023. A modelagem para a turbidez não atingiu um R2 satisfatório
(de 0,4517, o que é bem baixo), e, portanto, não é possível realizar
conclusões referentes às previsões para esses parâmetros.
Recomenda-se a coleta de dados de turbidez por mais tempo para
obter uma projeção mais acurada. Considerando então os parâmetros
que apresentaram R2 elevados (sobretudo para Al, Fe e Mn, com R2 >
0,90), podemos afirmar que a contaminação na região 02 do Rio
Paraopeba pode perdurar até 2026 no período chuvoso (outubro-
março).
Ademais, os resultados apresentados nas figuras e tabelas
reforçam a recomendação de que o IGAM e demais entidades públicas
e privadas devem continuar o monitoramento da qualidade das águas
superficiais por pelo menos mais 5 anos. As equações de modelagem
na Tabela 03 podem ser retroalimentadas com novos dados e então
favorecer uma melhor predição dos efeitos crônicos dos
contaminantes.
264
Tabela 03 - Parâmetros de qualidade de água analisados para águas
superficiais do Rio Paraopeba (IGAM, 2022). Foram realizadas
projeções/modelagem com equações que apresentavam melhor “fitting” (R2).
Foram estimados o tempo (em anos) até que os teores dos elementos
voltassem aos limites basais estabelecidos pelas normas ambientais
(COPAM, 2008)
(A)
265
(B)
(C)
266
(D)
Conclusões
267
Referências
268
GABRIEL, FA et al. Ecological risks of metal and metalloid
contamination in the Rio Doce estuary. Integrated environmental
assessment and management, v. 16, n. 5, p. 655-660, 2020.
GOMES, Luiz Eduardo et al. The impacts of the Samarco mine tailing
spill on the Rio Doce estuary, Eastern Brazil. Marine Pollution Bulletin,
v. 120, n. 1-2, p. 28-36, 2017.
ROTTA, Luiz Henrique Silva et al. The 2019 Brumadinho tailings dam
collapse: Possible cause and impacts of the worst human and
269
environmental disaster in Brazil. International Journal of Applied
Earth Observation and Geoinformation, v. 90, p. 102119, 2020.
SILVA, Bruno Marcel Barros da; SILVA, Demetrius David da; MOREIRA,
Michel Castro. Influência da sazonalidade das vazões nos critérios de
outorga de uso da água: estudo de caso da bacia do rio Paraopeba.
Revista Ambiente & Água, v. 10, p. 623-634, 2015.
270
A Comunidade Cigana Calon no Sertão da Paraíba
no contexto da civilização capitalista: um estudo
socioambiental pela perspectiva da Ecologia
Política Latino-americana
Luan Gomes dos Santos de Oliveira
10.47247/GC/88471.57.9.15
271
Introdução
272
essencialmente o lugar da alteridade. É isso o que faz dela uma
realidade singular. À primeira vista é o lugar do encontro dos
que por diferentes razões são diferentes entre si, como índios
de um lado e os ditos civilizados de outro; como os grandes
proprietários de terra, de um lado, e os camponeses pobres, de
outro. Mas o conflito faz com que a fronteira seja
essencialmente, a um só tempo, um lugar de descoberta do
outro e de desencontro. Não só o desencontro e o conflito
decorrentes das diferentes concepções de vida e visões de
mundo de cada um desses grupos humanos. O desencontro na
fronteira é o desencontro de temporalidades históricas, pois
cada um desses grupos está situado diversamente no tempo da
história (MARTINS, 2019, p. 133).
273
vida da cidade, marcados pelo preconceito e anticiganismo, o que
implica diretamente na fragilidade de promoção de políticas públicas e
sociais na própria comunidade. Isso é embasado no fato d A
população cigana ainda é estigmatizada como um povo “sujo”,
esperto, ladrão: essas representações convivem na cultura da cidade
de Sousa/PB e dificultam o acesso ao livre direito à própria cultura e
território.
As categorias analíticas com as quais pretendo trabalhar são:
sociologia do cotidiano, ecofeminismo, etnicidade, gênero e ecologia
política, território e territorialidades e racismo ambiental. Essas
categorias sócio-históricas estão apoiadas em experiências e vivências
afetivas e políticas prévias vivenciadas junto à comunidade cigana
Calon desde o ano de 2019 no projeto Lutas socioterritoriais e políticas
públicas no território cigano calon sousense e organização de uma live
no mês de outubro de 2020 tematizando o protagonismo das
mulheres Calon na Paraíba.
A partir destas incursões analíticas, foi possível notar que um
dos obstáculos principais que perpassa as lutas socioterritoriais do
povo cigano Calon é o anticiganismo, uma das expressões do racismo
ambiental que atravessa o modo como a sociedade ainda percebe as
ciganas. É na cidade de Sousa/PB que se encontra uma das maiores
partes da população cigana no Brasil. A comunidade, com
aproximadamente três mil habitantes, é constituída por três grupos
que estão situados territorialmente próximos à BR 230, a 3 km do
centro do município, na periferia da cidade, próximos à sede do
Instituto Federal de Educação e Tecnologia da Paraíba/IFPB.
Há 40 anos aproximadamente, desde a década de 1980, esses
grupos passaram a se sedentarizar no território da cidade, atuando
desde ali na construção política e identitária de seu território. É
fundamental aprimorar o conhecimento sobre essa comunidade para
construir um corpus consistente, localizado e atualizado que possa
informar políticas por parte do poder público da região, do Estado e
da esfera federal. O presente projeto propõe a concretização de
estudos que reconheçam a responsabilidade de estar em coletivo
produzindo políticas públicas com e para os/as ciganas/os, seja no
âmbito da Saúde, Meio Ambiente, Assistência Social, Educação ou
Cultura.
Então, como pautar o protagonismo feminino como um
problematizador das relações de gênero no cotidiano da comunidade
274
cigana Calon no Sertão da Paraíba, incluindo os marcadores sociais de
diferença, gênero – classe – etnia - território pelas lentes da sociologia
da vida cotidiana, da ecologia política e do ecofeminismo?
Tendo como objetivo principal compreender como o
protagonismo feminino e a equidade de gênero incidem na percepção
e organização do território a partir de uma leitura crítica e
ecofeminista das relações de gênero acompanhada dos marcadores
sociais de diferença de classe, etnia e ancestralidade na vida cotidiana
da Comunidade Cigana Calon, no contexto do alto sertão da Paraíba.
Assim numa via de complementaridade, a ecologia política latino-
americana feminista a partir do pensamento de Maristella Svampa
(2019) como um projeto de sociedade mundo, de sociedade em
movimento que questiona o extrativismo dos recursos naturais
associado ao patriarcado.
Metodologia
275
sociológica (MILLS, 2009), o que não significa impor um ponto de vista
científico à Comunidade Cigana Calon, mas tratá-la como sujeito de
suas próprias histórias, dar visibilidade aos saberes e práticas diversas,
tendo por base um princípio metodológico a compreensão as relações
de gênero desde uma perspectiva ecofeminista que inclui a
complementaridade entre saberes científicos e saberes ancestrais-
territoriais. Tendo exposto isso, cabe saber que, esse protagonismo
feminino não pode ser lido como um fenômeno a parte da vida
cotidiana da comunidade cigana. Dessa maneira, pode se apresentar
como se dará o ciclo desta pesquisa, orientando por uma lógica de
planejamento aberto e pautada na aceitabilidade dos interlocutores.
Os procedimentos de elaboração teórica e metodológica da
sociologia da vida cotidiana orientada pelo artesanato intelectual e o
exercício da imaginação sociológica serão acompanhados por alguns
princípios epistemológica de método: 1 – Consciência dialógica entre
observador-observado; 2 – Estar pronto a ouvir; 3 – A atenção social,
como processo histórico; 4 – Pôr a história no cotidiano; 5 – A escrita
rigorosa, histórica e criativa. Essas perguntas estarão associadas a
construção de um artesanato intelectual, que é guiado por um
conjunto de procedimentos metodológicos tão caros a pesquisa de
base etnográfica. Logo,
276
Construção de um diário de pesquisa teórico-metodológico para
subsidiar a construção do artesanato intelectual; 4 – Construção de
roteiros de entrevistas e escrita da tese.
Além disso, poderá se fazer uso de fontes documentais,
fotográficas, áudio-visuais que relatem o contexto da vida cotidiana do
povo cigano e do protagonismo feminino pela ecologia política. Pois,
“[...] é nos resíduos sociológicos desse peneiramento que está a
riqueza da informação visual e que estão os desafios da fotografia às
ciências sociais (MARTINS, 2017, p.11).
Resultados
277
colonialidade do poder, processo apontado por Quijano (2005). Assim
o território é um espaço de produção de saberes e de res-existência
(PORTO GONÇALVES, 2011) isto é, é preciso incluir na análise dos
conflitos socioambientais a diversidade territorialidades que se
expressam em diferentes lógicas e racionalidades que distinguem
valores e éticas. Essa ecologia política crítica toma como um dos eixos
de análise a perspectiva do ecologismo dos pobres (ALIER, 2018) que
expõe no marco das lutas socioambientais o protagonismo de
comunidades e grupos sociais subalternizados frente a lógica de
mercantilização da vida. Para tanto, requer-se observar isso no plano
de uma análise sociológica da comunidade cigana Calon, no sentido de
que vários conflitos socioambientais dinamizam com tensões a vida
cotidiana. Tais conflitos socioambientais são entendidos como:
“Aqueles ligados ao acesso e ao controle dos bens naturais e do
território, que confrontam interesses e valores divergentes por parte
dos agentes envolvidos, em um contexto de grande assimetria de
poder. Tais conflitos expressam diferentes concepções do território,
da natureza e do ambiente” (SVAMPA, 2019, p. 46).
Nesse sentido, cabe apontar os conflitos socioambientais que
atingem diretamente a comunidade cigana calon no sertão da Paraíba,
desde o racismo ambiental, uma vez que a comunidade foi segregada
espacialmente e territorialmente da cidade, vivendo em uma fronteira,
que os marca negativamente como um povo perigoso, sujo. Outro
conflito socioambiental são as condições desiguais de acesso a água
potável, a moradia, acesso aos programas sociais e políticas sociais.
Além disso, outro processo de conflito socioambiental
emergiu nos últimos anos, a desapropriação das terras em que estão
assentados há 30 (trinta anos), algo exigido por empresários do sertão
que as querem para especulação imobiliária, desrespeitando todo um
processo histórico, político, social, territorial que funda a existência
material e simbólica da cotidianidade cigana. Sem essas terras as suas
vidas estarão comprometidas. Como resposta a isso, há em curso na
comunidade um protagonismo feminino cigano. Esta fronteira é
paradoxal na constituição do território e das territorialidades que
semeiam espaços de protagonismo feminino.
Este protagonismo feminino, que marca o surgimento de
lideranças femininas jovens é uma informação de pesquisa, pois as
mulheres desde filhas, solteiras, casadas se organizam para lutar por
suas terras, viajam para encontros de articulação do povo cigano, e
defendem acesso igualitário a água enquanto um direito no sertão.
278
Tento em vista que o território do sertão sofre com a particularidade
das secas, enquanto um fenômeno político, não apenas climático,
ocorrendo um processo de injustiça ambiental, de distribuição
desigual da água, em que já ocorreram furtos de água denunciados
pela mídia local e nacional, por empresários da água e do ramo
monocultura do coqueiro.
A vida cotidiana da civilização capitalista ocidental está
assentada num modo de viver predatório. Essa degradação se
materializou de maneira mais visível no que se convencionou chamar
de natureza, como um objeto, uma mercadoria exterior e submetida a
uma lógica de dominação pelos humanos. No entanto, é preciso
distinguir que nessa relação sociedade e natureza, há outros aspectos
que ficaram escamoteados pelas etnografias clássicas, que são os
marcadores sociais de diferença gênero-etnia-raça-classe-
ancestralidade, tomando como território de vida, de resistência e de
lutas o meio ambiente, um meio de vida (SANTOS, 1995).
É certo que ao retomar a epígrafe, a pauta que se configura
como um cenário epistemológico inicial é a equidade de gênero. É
bem notório que na história do mundo moderno o feminismo avançou
muito como um movimento político-teórico que trouxe para a vida
diária a conquista de direitos por parte das mulheres, assim como
trouxe para o centro da batalha de ideias a necessidade de se debater
gênero enquanto uma ferramenta analítica (SCOTT, 1990) que
perpassa e estrutura as sociabilidades no mundo contemporâneo.
Além disso, reconhece-se que aliado a hierarquização dos
sexos, reforça-se uma base paradigmática em que se assenta a
civilização capitalista como bem defende Immanuel Wallerstein (2001)
é reforçada naquilo que Vandana Shiva (2003) chama de “a identidade
mágica é desenvolvimento igual a modernização que é igual a
ocidentalização” (p. 161).
Posto isso, cabe questionar a epígrafe que abre esta
problematização, o feminismo é para todos? Como as relações de
gênero e meio ambiente afetam o modo de vida do povo cigano?
Como repensar uma sociedade gendrada que vive assombrada pelas
lógicas de dominação capitalista e patriarcal? Como recuperar a
dimensão ancestral no contexto da religação entre feminismo e
natureza no contexto do androcentrismo?
279
Como parte dessa questão, há que se complementar essa
problemática reconhecendo as estratégias de subversão,
reconhecendo, Ecologismo e Feminismo são movimentos que
pretendem subverter a ordem hierárquica do mundo e
substituir a distribuição do poder verticalizado por um poder
diluído por toda a sociedade. Esses movimentos, em suas várias
vertentes, tentam resgatar antigas tradições, muito diferentes
das que forjaram uma civilização bélica, falocêntrica, racista,
sexista e “especista” (GARCIA, 2017, p. 13).
280
Entre os problemas que emergem e são denunciados no
cotidiano por lideranças femininas estão: a disputa pela terra, na qual
se situa a comunidade, quando atualmente empresários alegam a
posse do território, com tentativas de desapropriação da população
cigana, além disso, apontam a precária rede de saneamento
ambiental, má distribuição de água e ausência de efetividade da
política de saúde voltada a saúde do povo cigano conforme pressupõe
o Sistema Único de Saúde no Brasil. A terra, a água, a vida entram
como recursos serem disputados no campo do território, e é dessa
dialética de processos sociais que se destaca o ecofeminismo na
comunidade cigana calon.
É relevante situar a problemática em um aspecto do cotidiano
da comunidade cigana calon, algumas lideranças femininas expõem o
seu engajamento nas lutas da comunidade, afirmando que viajam sem
seus companheiros ou pais, podem escolher não casar-se, e seu
ativismo é perceptível frente aos homens anciãos, porém observa-se
que um fio deste problema aponta uma investigação, mesmo que o
protagonismo feminino seja percebido como uma realidade em prol
da equidade de gênero, mas essa equidade é condicionada e
reconhecida pelos líderes homens. Isso pode ser mais compreendido
pelo argumento de que, “resistência e obediência não são apenas
diferentes tipos de agência, mas também aspectos de diferentes tipos
de subjetividade construídos a partir das estruturas diferenciadas
fundadas no gênero, na raça, na etnicidade, na religião” (GARCIA,
2017, p. 18).
Mediante isso, cabe questionar, como esse protagonismo
institui novas relações de gênero? Dessa maneira, pode-se entender
que o protagonismo por um lado é uma iniciativa de emergência da
liderança feminina, mas uma liderança que ainda é submetida nas
relações patriarcais. Logo, tais questões podem ser de grande
utilidade para entender as relações de gênero/sexo além do dualismo
e essencialismo, buscando entender como os/as sujeitos/as
engendram e assumem posições a partir de discursos sobre o gênero
situados nas intersecções políticas e culturais (BUTLER, 2018; 2020).
Dessa forma, para romper com os dualismos natureza/cultura,
mulher/homem, sexo/gênero, parte-se do entendimento de que,
281
produz opressão da mulher, como constrói uma sociedade
orientada para a agressão. Um estudo do impacto da
generificação precisa estar contextualizado no interior de
condições sócio-históricas, eventos e processos. (GARCIA, 2017,
p. 57)
282
sentido, se comporta como um imperativo ético que questiona os
modos de produzir o conhecimento, as relações de gênero no
contexto do patriarcado, a crise ecológica de base sexista e do “mau
desenvolvimento”, expressão cara a pensadora ecofeminista Vandana
Shiva, que em sua obra coletiva com a Maria Mies, Ecofeminismo
(1988), atestando e denunciando que há uma conexão entre o sistema
patriarcal/capitalista com a opressão histórica das mulheres no
mundo.
As ecofeministas questionam não só o antropocentrismo,
mas o androcentrismo, rumo a uma visão complexa que abarque a
ideia fundamental de que as relações hierárquicas que instauram
desigualdades entre mulheres e homens e a superexploração da
natureza são parte de um mesmo fenômeno (ORTNER, 1996). De
forma a complementar este debate sobre o sagrado a comunidade
cigana calon preserva parte de seus rituais sagrados em conexão com
a natureza, inserindo a dinâmica dos quatro elementos que
mitologicamente compõem o mundo, o ar, o fogo, a água e a terra.
Não se vêem separados do meio ambiente, seus corpos são como
partes vivas do território.
Por causa de seu nomadismo histórico e do anticiganismo
agudizado durante a segunda guerra mundial (1939-1945), tiveram que
estrategicamente sincretizar suas divindades, adotaram a deusa Santa
Sara Kali, a qual cultivam devoção. Além disso, as mulheres são
iniciadas nos rituais cartomancia e quiromancia, tradicionalmente
usam as forças míticas da natureza como guias sagrados. O
ecofeminismo conforme Garcia (2017) permite a reconexão da
humanidade com a natureza a partir de seu interior.
A constituição de uma sociologia da vida cotidiana da
Comunidade Cigana calon repercute no questionamento de quem são,
o que são, como se formaram, e como mantem as suas tradições de
serem nômades e sedentários, e como isso se conjuga na construção
de uma identidade, ou de uma etnicidade construída no território
físico e simbólico (MOONEN, 1996).
Considerações finais
283
esse nomadismo foi naturalizado, despolitizado, opondo-se a
sedentarização, que obrigaria o Estado e o poder local a dar atenção
socioassistencial e de saúde, mas a comunidade cigana, mantem o
nomadismo e a fixação como uma das possibilidades de seu modo de
ser cigano1, e isso requer lutar por direitos num território afetado por
injustiças ambientais e racismo ambiental. Territorialmente, ou seja,
existem dois grupos conhecidos e reconhecidos inclusive pelos
moradores da cidade: Rancho de Baixo e Rancho de Cima, com
condições sociais, econômicas e ambientais distintas, o que aumenta a
variação na sociabilidade.
Nessa pesquisa, o conceito de etnicidade é pautado no
pensamento do antropólogo Frederik Barth (2000), que faz uma
crítica a redução de etnicidade a perspectiva meramente cultural, de
identificação de traços físicos, ou tradicionais. A construção da
identidade étnica dos ciganos/as configura-se como um processo
coletivo, por isso eles passam a mediar a sua existência no território
nacional e local, chamando a atenção dos órgãos públicos na demanda
por direitos e políticas públicas e sociais.
Com a Constituição Federal de 1988, o Estado atua como
protetor e promotor de ações, políticas e garantias de direitos aos
povos tradicionais. Sendo o povo cigano, um povo tradicional por
meio do Decreto 6040/2007, pois são: “Grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e
284
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social,
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações
e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.
O ecofeminismo é para todas as pessoas. É um projeto de
sociedade emancipada humanamente que se expressa na tomada de
consciência crítica frente aos sistemas patriarcal, capitalista que
tratam a natureza e a mulher como mercadorias. Só uma
desestruturação nas bases da dicotomia natureza/cultural e nas
relações desiguais de gênero, só assim poderá se pensar num
ecofeminismo concreto. Trata-se do ponto de vista da pesquisa de
compreender como o protagonismo feminino se coloca como um
aspecto da vida simples da comunidade cigana Calon, e que em muitas
pesquisas, este elemento foi sufocado em nome de se manter uma
homogeneidade nos aspectos étnicos do povo cigano. Mais do que
elemento desagregador, a categoria gênero, complexifica o debate
socioambiental, na medida em que traz para a cena da vida cotidiana
um povo silenciado historicamente.
Referências
285
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto:
imagem e som: um manual prático. Tradução de Pedrinho A.
Gauareshi. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
GARCIA, Loreley. Gênero & Meio Ambiente. São Paulo: Senac, 2017.
286
GOLDFARB, Maria Patrícia Lopes. Nômades e peregrinos: o passado
como elemento identitário entre os ciganos Calons na cidade de
Sousa/PB. Cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 1-384, 2010.
287
ORTNER, Sharry. Making Gender: the politics and erotics of culture.
Boston: Beacon Press, 1996.
288
Gestão de RSU e o Potencial de Valorização dos
Resíduos Vítreos: o panorama nacional e a Região
Carbonífera como lócus de estudo
Gláucia Cardoso de Souza-Dal Bó, Adriano Michael Bernardin e
Viviane Kraieski de Assunção
10.47247/GC/88471.57.9.16
289
Introdução
290
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGCA/UNESC)1. No âmbito
da linha de pesquisa intitulada “valorização de resíduos”,
problematizou-se a gestão de RSU com enfoque no potencial de
geração e valorização dos resíduos vítreos, admitindo o panorama
nacional e a Região Carbonífera como recorte espacial a ser estudado.
Quais são as formas de destinação dos RSU adotadas na
Região Carbonífera? Qual a quantidade gerada e qual o potencial de
reaproveitamento do vidro descartado pelas fontes domiciliares e
públicas, no Brasil e na AMEC? Os resíduos vítreos são comercializados
pela base da cadeia de reciclagem estabelecida nesse conjunto de
municípios? Comparativamente ao cenário nacional, o vidro pós-
consumo é um resíduo subaproveitado no âmbito da AMREC? Essas
são algumas das questões norteadoras do presente estudo.
Procedimentos metodológicos
291
Figura 1 – Localização da unidade de estudo: conjunto de municípios
integrantes da Associação dos Municípios da Região Carbonífera – AMREC.
292
(CIRSURES, 2013; CIRSURES, 2018), bem como, nos planos municipais
de Criciúma, Içara e Siderópolis, além das estimativas populacionais do
IBGE (CIRSURES, 2013; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; SIDERÓPOLIS,
2016; IBGE, 2018). Calculou-se a taxa de desvio do lixo, para os cenários
nacional e regional a partir de indicadores presentes nos planos
nacional e municipais (BRASIL, 2012; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016;
SIDERÓPOLIS, 2016), empregando a fórmula descrita por Vilhena;
D’Almeida (2018, p. 79):
Panorama nacional
293
e as alternativas impróprias de disposição, como os lixões e aterros
controlados ainda se fazem presentes no país, recebendo,
respetivamente, 9,6 e 7,6 milhões de t/ano de resíduos (SNIS, 2021).
Ainda que o percentual da fração orgânica presente no lixo do
brasileiro tenha reduzido ao longo dos anos, na medida em que houve
o incremento no consumo dos materiais seletivos, especialmente, do
plástico, a matéria orgânica ainda é a categoria mais representativa De
acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a fração úmida
corresponde atualmente a 51,4% do montante descartado, enquanto
os materiais potencialmente recicláveis totalizam 34,8%. Logo, o
potencial de reaproveitamento da fração seca descartada no Brasil é
de aproximadamente 35%, no entanto, a taxa de recuperação não
ultrapassa 3% (BRASIL, 2012; SNIS, 2020, 2021).
Em países em desenvolvimento, considerados de baixa renda,
a quantidade de material orgânico pode chegar a 65%. Em países de
renda média, essa categoria representa 43%, ao passo que em países
industrializados a fração úmida corresponde a somente 25% (BARROS,
2012; CEMPRE, 2013). Os EUA e a Europa apresentam as composições
com menor quantidade de matéria orgânica e um percentual mais
elevado da fração reciclável seca, superior a 60% do total (Tabela 1).
294
Considerando os dados da ABRELPE e do SNIS entre os anos
de 2010 e 2020, estima-se que um brasileiro gera anualmente cerca de
355 kg de RSU (Figura 2). Deste montante, 8,5 kg caracterizam-se por
resíduos vítreos. Esses valores situam-se na faixa descrita pela
Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (ABIVIDRO, 2011) como
característica do consumo per capita de embalagens no país, que
oscila entre 4 e 11 kg/hab./ano. Por outro lado, são inferiores ao
consumo anual de um habitante europeu, que varia entre 13 e 47
kg/hab./ano (ACR+, 2012).
400
8,80 8,23 8,50 8,54 8,80 8,63 8,28
8,28 8,41 8,50 8,72
Massa per capita
350
(kg/hab./ano)
300
250
358,0
200 358,0 345,6 336,6 342,0 354,5
150 345,6
334,9 347,3 350,9 336,6
100
50
0
295
Figura 3 – Estimativa da massa total coletada de RSU e de resíduos vítreos
(milhões t/ano), Brasil (2010-2020).
80
70 1,6 1,6 1,6 1,6 1,6 1,7 1,7
1,5 1,6
(milhões t/ano)
1,4 1,5
Massa total
60
50
40
69,6
63,5 66,9 66,2 64,3 65,1 66,1 67,2
30 56,8 59,6 61,3
20
10
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 20192020
296
Figura 4 – Composição gravimétrica dos RSU gerados no país e estimativa de
geração e recuperação dos resíduos vítreos.
Massa
recuperada de
vidro pelos
programas de
coleta seletiva
(3,4% da massa
gerada vidro)
50,9 mil t/ano
297
Panorama regional
298
Com exceção de Içara, foram relatadas iniciativas de coleta
seletiva nos demais municípios, seja na modalidade porta-a-porta ou
na disponibilidade de Pontos de Entrega Voluntária (PEV) à população.
Considerado os indicadores relativos à abrangência da coleta seletiva
(%) e à taxa de desvio de aterro (%), os municípios que se sobressaem
no cenário regional por apresentarem ambos os indicadores em
percentuais mais elevados são Forquilhinha e Treviso. De todo modo,
a estimativa de reaproveitamento da fração reciclável seca na região
está muito aquém do que efetivamente poderia ser praticado, assim
como ocorre no cenário nacional (BALNEÁRIO RINCÃO, 2016;
CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; CIRSURES, 2017; SAVIATO, 2017; SOUZA-
DAL BÓ, 2019).
Em média, 55% da população da AMREC é atendida pelo
serviço de coleta seletiva. Os municípios cujas taxas são inferiores à
média são Urussanga (43,7%), Lauro Muller (37,5%), Orleans (24,4%) e,
sobretudo, Nova Veneza (5%). No cenário regional, a taxa de desvio
das vias de disposição final é semelhante ao panorama nacional: em
média, 2,6% do montante coletado está deixando de ser aterrado e
seguindo para as unidades de triagem locais, um percentual
inexpressivo diante do montante descartado (BALNEÁRIO RINCÃO,
2016; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; CIRSURES, 2017; SAVIATO, 2017;
SOUZA-DAL BÓ, 2019). A Figura 7 mostra a composição gravimétrica
característica da Região Carbonífera, comparativamente aos cenários
estadual e nacional.
100%
13,8 18,6 24,5
80%
34,8 37,5
60% 38,5
40%
20% 51,4 43,9 37,0
0%
Brasil Santa Catarina Região Carbonífera
299
Admitindo os valores médios para os municípios da AMREC, o
percentual da fração seca potencialmente reciclável (38,5%) equipara-
se à fração orgânica (37%). De modo geral, a composição média da
Região Carbonífera difere dos dados estaduais e nacionais no que se
refere ao percentual de matéria orgânica e de rejeito: gera-se mais
rejeito e menos matéria orgânica. Quanto à geração de resíduos
vítreos, cada município detém uma geração e um percentual
específicos (Figura 8).
400
350 10,7
300
(kg/hab./ano)
5,3 2,7
250 7,4 12,0
15,2 18,2
200 5,6 6,9 9,3
332,4 3,1
150 4,5
229,9228,9 257,5 249,2
100 181,9187,8193,5
173,3172,0 153,8
50 130,6
0
300
Tão logo, da totalidade de RSU descartada na Região
Carbonífera, na ordem de 93,5 mil t/ano, cerca de 36 mil t/ano
equivalem a materiais potencialmente recicláveis. No entanto, as
unidades de triagem recebem, em média, 3 mil t/ano, ou seja, 3,2% do
total de RSU descartado. Quanto aos resíduos vítreos, embora sejam
geradas aproximadamente 4,1 mil t/ano, são comercializadas pelas
associações e cooperativas locais somente 160,6 t/ano de vidro na
forma de caco misto, revelando um percentual de reaproveitamento
de cerca de 4,0% desse material, conforme ilustra o fluxograma
abaixo.
301
Considerações finais
302
propostas críticas e transformadoras, mantidas no rol de prioridades
da gestão pública municipal de RSU.
Referências
303
BALNEÁRIO RINCÃO. Ecopontos recebem mais de 6,5 toneladas de
recicláveis em janeiro. 2016. Disponível em:
<https://www.balneariorincao.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaIt
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304
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http://www.cirsures.sc.gov.br/biblioteca/relatorios/download/pdf/a7d
46306ecb15176fa18a18003df0130/relatorio-fatma-abril-de-2016_2016-
05-20.pdf>. Acesso em mai. 2021.
305
______. Panorama: população estimada. 2017. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em abr. 2021.
306
(Doutorado em Ciências Ambientais) – Universidade do
Extremo Sul Catarinense, Santa Catarina, 2019.
307
Estudo da presença de enteroparasitas em alface
(Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa L.)
Mariana Frari Ragazzi, Brisa Maria Fregonesi,
Carolina Sampaio Machado e Susana Segura-Muñoz
10.47247/GC/88471.57.9.17
308
Introdução
309
estresse hídrico no futuro, tanto no Brasil quanto em outras
localidades do mundo.
Métodos
310
Resultados
311
acúmulo de substâncias nocivas e contaminação dos produtos
agrícolas por microrganismos patogênicos.
O processo de limpeza das hortaliças é fundamental para a
diminuição do risco de infecções alimentares. Ao eliminar as impurezas
presentes na hortaliça, grande parte dos parasitas tende a ser
eliminada. Entretanto, devido a características morfológicas da parede
do ovo, cisto ou parasita, algumas estruturas parasitárias não são
facilmente removidas apenas pela ação mecânica da lavagem das
folhas (COELHO et al., 2001) o que salienta a importância da aplicação
rigorosa de práticas sanitárias durante todo o processo de cultivo,
embalagem, transporte e manuseio das hortaliças.
Cabe ressaltar também que existem muitas fontes de
contaminação de hortaliças além da água utilizada para irrigação. Elas
podem ser contaminadas por insetos, roedores e outros animais que
transitam pela horta, pelo tipo de adubo utilizado, durante seu
transporte e acondicionamento e até mesmo no momento de sua
comercialização, pelo manuseio de diversas pessoas. As diferenças
observadas entre os diversos trabalhos que abordam a contaminação
de hortaliças devem-se muito ao quadro tão diverso de fatores que
influenciam na qualidade desses alimentos (COELHO et al., 2001;
SOARES et al., 2006).
A normatização brasileira vigente para a qualidade
microbiológica de alimentos enuncia que as hortaliças devem
obedecer ao padrão de “ausência de sujidades, parasitas e larvas”
como forma de atestar a sua qualidade microscópica (BRASIL, 1978).
Dessa forma, a maioria das hortaliças pesquisadas no presente estudo,
se encontram inadequadas para consumo humano.
Cryptosporidium spp. e Giardia spp. são considerados
parasitas de veiculação hídrica transmitidos pela rota fecal-oral, ou
seja, são excretados nas fezes de hospedeiros infectados e ingeridos
diretamente na água ou em alimentos contaminados por água.
Khouja et al, (2010) analisaram águas residuais tratadas provenientes
de sistema de tratamento de esgoto e seus resultados apontaram a
presença de Cryptosporidium spp. e a Giardia spp. Este fato sugere,
assim como no presente estudo, que o sistema de tratamento de
esgoto não foi totalmente eficiente na remoção desses
microrganismos, alertando para a necessidade de monitoramento das
fontes de água alternativas utilizadas nas culturas que são
consumidas in natura.
312
O Ministério da Saúde, através da Portaria GM/MS Nº 888 que
estabelece responsabilidades para a água para consumo humano e
subsídios para o monitoramento da qualidade dessa água, traz sua
preocupação quanto à presença de Cryptosporidium spp. e Giardia spp.
em água, recomendado incluir a pesquisa desses microrganismos para
atingir a meta de ausência desses parasitas em água potável. A
EMBRAPA (2006), em suas orientações para o setor hortifrutícula,
enuncia que a água, ao entrar em contato com os alimentos frescos,
consumidos crus, dita o potencial da contaminação patogênica, por
poder atuar como agente veiculador de diversos microrganismos.
Mesmo em pequenas quantidades, esses microrganismos podem levar
a um quadro de infecção alimentar, podendo afetar principalmente
grupos populacionais imunologicamente vulneráveis.
Tanto a alface (Lactuca sativa) quanto a rúcula (Eruca sativa)
são hortaliças com grande participação na dieta dos brasileiros, e seu
consumo vem aumentando nos últimos anos. O controle da qualidade
microbiológica de hortaliças consumidas cruas é fundamental, dadas
as muitas pesquisas que apresentam alto índice de contaminação
microbiológica. As parasitoses intestinais ainda são altamente
relevantes para a saúde pública, especialmente nos países em
desenvolvimento. A transmissão dessas doenças, principalmente por
via oral, requer atenção redobrada para a qualidade da água e dos
alimentos oferecidos à população humana.
Ao apontar contaminação por Giardia spp., Cryptosporidium
spp. e outros parasitas intestinais, é possível afirmar que, para
irrigação de culturas consumidas cruas a utilização de efluentes de
esgotos tratados não é viável sem um processo criterioso de
desinfecção. Para viabilizar a utilização de água de reuso na agricultura
é necessário monitorar constantemente a qualidade dos produtos
agrícolas e do ambiente de cultivo, a fim de evitar contaminação pelo
acúmulo de metais.
Diante do quadro crescente de aumento da demanda por
água e alimentos, gerado pelo aumento da população, e do
comprometimento da qualidade dos recursos ambientais em diversas
partes do mundo, mostra-se imprescindível buscar usos alternativos
não potáveis para efluentes, visando contornar os problemas já
existentes de escassez de água, para assim, preservar as fontes de
água de qualidade para usos mais nobres, garantindo a preservação
de fontes de água no futuro.
313
Referências
314
nteprocessadas_000fdejd97n02wx5eo0a2ndxyb8wg7w1.pdf.
Acessado em:27 de março de 2022.
315
Tabela 2 – Cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp.
encontrados em amostras de alface (Lactuca sativa) durante as análises
realizadas no LEPA, utilizando o método 1623/EPA17
Giardia spp. Cryptosporidium spp.
Amostra Alface - Alface -
(50 g) Alface - feiras livres Alface - horta experimental feiras horta
livres experimental
1 0 0 0 0
2 0 15 0 0
3 0 6 0 0
4 0 12 0 3
5 0 6 0 3
Color
35 35 24 40
seed (%)
316
Açai (Euterpe oleracea), an Amazon rainforest
fruit, ameliorates diabetic nephropathy in rats
Deyse Yorgos de Lima, Giovana Rita Punaro,
Adelson Marçal Rodrigues, Margaret Gori Mouro,
Lucas Ferres, Robson Souza Serralha, Moises Nascimento,
Manoel Victor da Silva e Elisa Mieko Suemitsu Higa
10.47247/GC/88471.57.9.18
317
Introduction
318
complications, due to its high content of antioxidants. The aim of this
study is to analyze the effects of açai on the experimental DN in rats.
Materials
Animal model
Male Wistar rats (n= 40), seven weeks old (approximately 210
g), were obtained from the Central Animal Housing of Escola Paulista
de Medicina. All experiments were approved by the Ethics Committee
in Research of Universidade Federal de Sao Paulo, protocol
#6729100418. The animals were maintained in the Animal Housing of
Nephrology Division at temperatures of 22 ± 2ºC and a light/dark cycle
of 12/12 h, beginning at 06:00 a.m.
Unilateral nephrectomy
319
nephrectomy is a widely used technique to accelerate the DN
development in experimental models [10].
Diabetes induction
Metabolic profile
Euthanasia
320
collected, washed with 0.9% saline and stored at −80 °C for further
analysis.
Histological analysis
Statistical analysis
Results
321
treatment, there was a reduction in water and food intake and, after
30 days, diuresis is significantly reduced in diabetic animals that
received açai when compared to those that received only water. At
the end of the treatment, the DMEA showed reduced intake of water
and food, and reduced diuresis. On the other hand, these animals
showed recovery of body weight vs. DM group (p < 0.05).
Table. 1 - Metabolic parameters at the beginning, during and at the end of the
protocol.
Groups DM DMEA
Parameters/Tim
e of treatment 3d 30d 60d 3d 30d 60d
322
Açai improves renal function and proteinuria in DN-induced rats
In Figure 1A, we can observe that the short (after 3 days) and
intermediate (after 30 days) treatment with EA reduced plasmatic
creatinine. There was no statistical difference at the end of the
treatment. Creatinine clearance was reduced in diabetic animals and
increased in DMEA group at all times of treatment; p < 0.05 (Figure
1B). Diabetic animals showed high levels of plasmatic urea after 30 and
60 days of treatment when compared to control animals. However, EA
promoted a significant reduction in these levels after 3, 30 and 60 days
of treatment (Figure 1C). Urea excretion was significantly reduced
(DM vs. CTL), but açai extract did not improve this parameter during
treatment (Figure 1D).
Fig.1. Renal function after 3, 30 and 60 days of treatment with EA. Plasmatic
creatinine (A), Urinary creatinine (B), Plasmatic urea (C) and Urinary urea (D).
Data are expressed as mean ± SE. Parametric: One way ANOVA with Holm-
Sidak's posttest. Non-parametric: Kruskal-Wallis with Dunn's posttest. CTL:
control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic group; DMEA:
diabetic who received açai. N = 8-12 per group. P<0.05: *vs. CTL of the same
time; #vs. DM of the same time.
323
Proteinuria levels were bigger in diabetic rats when compared
to controls; however, when diabetic animals receive EA, these levels
were reduced close to basal levels of the CTL group after short (Figure
2A), medium (Figure 2B), and prolonged treatment (Figure 2C).
Fig.2. Proteinuria after 3 (A), 30 (B) and 60 (C) days of treatment with EA. Data
are expressed as mean ± SE. Parametric: One way ANOVA with Holm-Sidak's
posttest. CTL: control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic
group; DMEA: diabetic who received açai. N = 8-12 per group. P<0.05: *vs. CTL;
#vs. DM.
324
Açai reduces structural changes in the renal cortex of DN-induced rats
325
accumulation – a marker of glycosidic degeneration (thin blue arrows).
However, there was a considerable reduction in these changes in
DMEA vs. DM. In MTC staining, it was observed that diabetic animals
showed collagen IV deposition (thin green arrows). However, this
marker was reduced in açai-treated diabetic animals.
Fig.3. Microscopic analysis of renal tissue sections after 60 days of açai (x400).
CTL: control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic group and
DMEA: diabetic group with açai. HE: Glomeruli with diffuse sclerosis and
increased mesangial matrix (thick yellow arrow), and loss of tubular microvilli
(thin yellow arrows); PAS: tubules with glycosidic and hyaline degenerations
(thin blue arrows); MTC: collagen IV deposition (thin green arrows).
Discussion
326
associated with generation of ROS, resulting in oxidative damage
mainly in the kidneys [14]. The strict control of glycemia in diabetics
considerably reduces the risk of kidney disease, including
macroalbuminuria; being the chronic hyperglycemia the main
responsible for the functional and structural changes in the kidneys,
resulting in proteinuria [15] – agreeing with the findings of our
experimental model. Matheus et. al. [16], showed that the
anthocyanins present in açai reduced NO via iNOS inhibition, which
could be the activated pathway in our study.
Accumulation of pro-inflammatory cytokines (IL-6, TNF-α, and
TGF-β1) enhances the production of free radicals and causes apoptosis
and necrosis of renal tissue. This is a well-established event in the
progression of diabetic kidney disease. DN associated with
morphological and structural changes within the kidney is determined
by the clinical manifestation of the disease [17]. Antidiabetic drugs do
not have high efficacy in the prevention and containment progression
of DN, even those acting in the renin-angiotensin-aldosterone system
pathway. One of the main triggering factors to the activation of the
sequential chain of oxidative stress, inflammation and fibrosis in DN
are the advanced glycation end-products (AGEs) induced by
hyperglycemia [18].
After 3 days of treatment with EA, there was a significant
reduction in blood glucose, plasmatic creatinine and proteinuria,
revealing that EA was able to minimize the acute effects caused by
STZ (increased oxidative stress and inflammation). Beneficial effects
of this extract were shown in another study in a short period of time,
using EA doses of 500 and 1000 mg/kg/day administered to adult
Wistar rats for 15 days, suppressing the levels of serum creatinine,
plasma urea nitrogen and kidney injury molecule-1 (KIM-1), also
reducing the levels of malondialdehyde, IFN-γ, caspase-3, collagen IV,
endothelin-1 and IL-1; increasing the content of IL-10, resulting in the
improvement of kidney injury induced by bilateral
ischemia/reperfusion in rats, in a dose-dependent manner [19],
corroborating with our findings.
After half-period treatment, the EA continued to reduce the
animals' blood glucose, as well as markers of renal function. Studies
with STZ-induced diabetic rats, treated with extract seed açai (ESA) at
a dose of 200 mg/kg/day for 40 and 45 days, showed reduced serum
levels of urea, creatinine and albumin, albuminuria, renal fibrosis and
oxidative damage markers such as TBARS, carbonyl and 8-isoprostane,
327
in addition to preventing the increase in systolic blood pressure. On
the other hand, it increased the activity of antioxidant enzymes
(superoxide dismutase, catalase and glutathione peroxidase) [20, 21].
In DM2 rats, which were induced by high-fat diet and STZ (35
mg/kg ip), treatment with ESA (200 mg/kg/day) for 4 weeks reduced
blood glucose, insulin resistance, IL-6, lipid profile (triglycerides, total
cholesterol and VLDL) and vascular dysfunction; increasing the
expression of insulin signaling proteins in skeletal muscle and adipose
tissue, as well the plasma levels of glucagon-like peptide-1 (GLP-1).
Physical training (30 min/day; 5 days/week) potentiated the glucose-
lowering effect, activating the adiponectin-AMPK pathway,
demonstrating antidiabetic effect and anti-inflammatory action [22].
Antioxidants have been widely used by many researchers to
alleviate the complications of DN. Rat model of STZ-induced DN and
high fat and sugar diet treatment with 300 mg/kg/day curcumin
(derived from flavonoids), effectively improved renal function,
reduced levels of glucose, serum creatinine, urea nitrogen and urinary
albumin and even attenuated histomorphological changes in rats [23].
Animals administered with polyherbal formulation, rich in
antioxidants, exhibited noteworthy decrease in lipidic profile, serum
creatinine, urinary protein, urinary albumin excretion rate and AGEs
[24]. Studies have shown that polyphenols, especially the flavonoids,
are capable of stimulating the transcription of enzymes of the
antioxidant defense system, activating the antioxidant response
element (ARE) through the erythroid-derived nuclear factor 2 (Nrf2)
[25].
Anthocyanins can regulate carbohydrate metabolism in the
body due to up-regulation of GLUT4 (insulin-regulated glucose
transporter) translocation, increased activation of PPARγ (peroxisome
proliferator activated receptor γ) in adipose tissue and skeletal muscle
[26]. Clinical studies with women and basic research with animals have
shown that anthocyanins decrease insulin resistance, this may occur
through upregulation of GLUT4, activation of AMP-activated protein
kinase and downregulation of expression of retinol binding protein 4
(RBP4) [27, 28]. Anthocyanins also increased tissue glucose uptake
and utilization in diabetic rats and mice induced by STZ [29]. Another
mechanism that may explain the reduction in blood glucose is that
anthocyanins inhibit intestinal α-glucosidase and pancreatic α-amylase,
which was shown in a study comparing a meal with anthocyanins and
the absence of these compounds [30].
328
Nrf2 plays a crucial role in renoprotection, it is one of the main
factors involved in the transcription of genes that encode antioxidant
enzymes, in addition to acting in the modulation of inflammatory
responses. It is known that protection against DN is, at least, partially
through the inhibition of TGF-β1 and reduction in the production of
extracellular matrix.
Antioxidant compounds activate the Nrf2/ARE signaling
pathway. STZ-induced DN model revealed that Nrf2-null mice
developed severe kidney injury with greater oxidative damage to DNA
[31], furthermore showed in human renal mesangial cells that the high
glucose content induced the production of ROS and activated the
Nrf2. Thus, a study with resveratrol (polyphenol with high antioxidant
power) at a concentration of 40 mg/kg administered to aged mice for
6 months, activated Nrf2, improved renal function, proteinuria,
glomerulosclerosis, tubular interstitial fibrosis, inflammation and
apoptosis in this model of kidney injury. These protective effects were
mediated by activation of SIRT1/AMPK and PPARα signaling, pathway
by which açai probably promoted its effects in our study [32].
Conclusions
Acknowledgements
329
Conflicts of interest statement
Funding sources
References
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Sobre o organizador e a organizadora
Giovano Candiani
Letícia Viesba
Diego Barcellos
Dominique Mouette
Karina Williams
Moises Nascimento
Susana Segura-Muñoz
Yuri Tavares
Zysman Neiman
Páginas 352
Edição 1
Volume 1
Ano 2022
Cidade Diadema
ISBN 978-65-88471-57-9
DOI 10.47247/GC/88471.57.9
REFERÊNCIA
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