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CAPA

Ciências Ambientais
pesquisas e experiências multidisciplinares

Giovano Candiani e Letícia Viesba


(Orgs.)
Nota 1: Esta obra foi elaborada de forma colaborativa, tornando-se uma coletânea. Os
capítulos respeitam as normas técnicas e recomendações da ABNT. Alguns capítulos
podem ser derivados de outros trabalhos e apresentações em eventos acadêmicos,
todavia, os autores foram instruídos ao cuidado com o autoplágio. A responsabilidade
pelo conteúdo de cada capítulo é de competência dos/as respectivos/as autores/as, não
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experiências multidisciplinares, organizado por Giovano Candiani e Letícia Viesba
também está licenciado com uma Licença de Atribuição Creative Commons – Atribuição
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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ciências Ambientais
pesquisas e experiências multidisciplinares

Giovano Candiani e Letícia Viesba


(Orgs.)

V&V Editora
Diadema - SP
2022
Conselho Editorial
Profa. Dra. Marilena Rosalen Prof. Dr. Ivan Fortunato
Profa. Dra. Angela Martins Baeder Prof. Dr. José Guilherme Franchi
Profa. Dra. Eunice Nunes Prof. Dr. Luiz Afonso V. Figueiredo
Profa. Dra. Luciana A. Farias Prof. Dr. Flávio José M. Gonçalves
Profa. Dra. Maria Célia S. Gonçalves Prof. Dr. Giovano Candiani
Profa. Dra. Rita C. Borges M. Amaral Prof. Me. Arnaldo Silva Junior
Profa. Dra. Silvana Pasetto Prof. Me. Pedro L. Castrillo Yagüe
Profa. Ma. Beatriz Milz Prof. Me. Everton Viesba-Garcia
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Profa. Ma. Erika Brunelli Profa. Ma. Sarah Arruda

Expediente
Coordenação Editorial: Everton Viesba-Garcia
Coordenação de Área: Letícia Moreira Viesba

Organização

Organização: Giovano Candiani e Letícia Viesba

Parecer e revisão por pares

Os textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação da Coordenação
e/ou Conselho Editorial da V&V Editora, sendo aprovados na revisão por pares para
publicação.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C569 Ciências Ambientais: pesquisas e experiências


multidisciplinares / Giovano Candiani e Letícia Viesba
(organizadores) – Diadema: V&V Editora, 2022.
360 p. : 14 x 21 cm

Inclui bibliografia
ISBN 978-65-88471-57-9
DOI 10.47247/GC/88471.57.9

1. Ciências ambientais. 2. Meio ambiente. 3. Proteção


ambiental. I. Candiani, Giovano. II. Viesba, Letícia. III. Série.

CDD 363.7

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

V&V Editora
Diadema, São Paulo – Brasil
Tel./Whatsapp: (11) 94019-0635 E-mail: contato@vveditora.com
vveditora.com
Sumário
 Apresentação ............................................................................................ 9
Giovano Candiani
Letícia Viesba

 Padrões espaciais e temporais da umidade do solo no Nordeste do


Brasil........................................................................................................ 14
Keylla Donato
Marcelo Zeri
Karina Williams

 Bioprospecção ambiental: enzimas microbianas a partir de diferentes


biomas brasileiros .................................................................................. 30
Vitor Gonçalves Vital
Keith Dayane Leite Lira
Giovanna dos Santos Matos Paiva
Tomás Rodrigues Alvares de Almeida Amaral
Lidiane Maria dos Santos Lima
Suzan Pantaroto de Vasconcellos

 Avaliação do Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata


Atlântica em Parques do Estado de São Paulo ..................................... 61
Daniela Midori Kaneshiro
Zysman Neiman

 A ecossistêmica dos cães de rua da cidade de Mossoró – RN ............. 93


Helenaide Gomes de Paiva
Bárbara de Almeida Paiva
Ana Cláudia Sales Rocha Albuquerque

 Planejamento Agroambiental Sustentável de uso do solo em uma


microbacia da Zona da Mata de Minas Gerais .....................................105
Diego Barcellos
João Luiz Lani
Silvério Oliveira Campos
Gabriel Gonçalves Reis

 Cultivo de cogumelos pleurotus pulmonarius (fr.) Quél. Como fonte


adicional de renda na pequena propriedade agrícola ........................130
Ana Cristina de Menezes
Francisco Menino Destefanis Vitola
Augustus Caeser Franke Portella
 A prevenção e o controle das infecções em pronto Socorro: questão
para a saúde do trabalhador, do usuário e do ambiente ....................150
Carolini Aguiar da Silva Sartori
Rosane Teresinha Fontana
Vivian Lemes Lobo Bittencourt
Maria Cristina Meneghetti

 A saúde e a homogeneização de tratamento de água e coleta de


esgoto no Brasil ..................................................................................... 173
Henrique Michelutti Petroni
Mario Roberto Attanasio Junior

 Respeito à Terra: impactos socioambientais do uso de agrotóxicos no


Brasil...................................................................................................... 188
Luciana A. A. Previato Fonseca
Alessandra Suzin Bertan
Marco Aurélio Cremasco

 Mitigação dos impactos da salmoura em ambiente marinho


resultante da construção de cavernas geológicas para estoque de
CO2 ........................................................................................................ 202
Rodrigo Fernandes Paes
Hirdan Katarina de Medeiros Costa
Dominique Mouette
Luis Antônio Bittar Venturi
Yuri Tavares

 Brasil frente ao Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na


Amazônia Legal (PPCDAm) ...................................................................216
Gabriela Sueza Cabelo Silva
Mario Roberto Attanasio Junior

 A distribuição espacial das emissões industriais de GEE nos estados de


SP, PR e MS ........................................................................................... 233
Júlio Barboza Chiquetto
Dominique Mouette

 Influência da sazonalidade na qualidade das águas do Rio Paraopeba


após o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) ................... 247
Diego Barcellos
Cláudio V. P de Azevedo Andrade
Pablo de Azevedo Rocha
 A Comunidade Cigana Calon no Sertão da Paraíba no contexto da
civilização capitalista: um estudo socioambiental pela perspectiva da
Ecologia Política Latino-americana ...................................................... 271
Luan Gomes dos Santos de Oliveira

 Gestão de RSU e o Potencial de Valorização dos Resíduos Vítreos: o


panorama nacional e a Região Carbonífera como lócus de estudo .. 289
Gláucia Cardoso de Souza-Dal Bó
Adriano Michael Bernardin
Viviane Kraieski de Assunção

 Estudo da presença de enteroparasitas em alface (Lactuca sativa) e


rúcula (Eruca sativa L.) ......................................................................... 308
Mariana Frari Ragazzi
Brisa Maria Fregonesi
Carolina Sampaio Machado
Susana Segura-Muñoz

 Açai (Euterpe oleracea), an Amazon rainforest fruit, ameliorates


diabetic nephropathy in rats ................................................................ 317
Deyse Yorgos de Lima
Giovana Rita Punaro
Adelson Marçal Rodrigues
Margaret Gori Mouro
Lucas Ferres
Robson Souza Serralha
Moises Nascimento
Manoel Victor da Silva
Elisa Mieko Suemitsu Higa

 Sobre o organizador e a organizadora ............................................... 334


 Sobre as autoras e os autores ............................................................. 335
 Índice remissivo ..................................................................................... 351
 Ficha técnica ......................................................................................... 352
Apresentação
Giovano Candiani e Letícia Viesba

10.47247/GC/88471.57.9.1

9
É com grande satisfação que a V&V Editora e os autores dos
trabalhos aqui expostos lançam os dois primeiros livros da Coleção
Ciências Ambientais, contando com a obra “Ciências Ambientais:
estudos e inspirações em Educação Ambiental e Sustentabilidade" e a
obra "Ciências Ambientais: pesquisas e experiências
multidisciplinares”.
Este volume apresenta em seus 17 capítulos, temáticas
ambientais relacionadas as problemáticas da gestão e do
planejamento ambiental, avaliação de impactos ambientais,
ecoturismo, comunidades locais, biotecnologia, agronegócio,
legislação ambiental, entre outros temas.
As Ciências Ambientais é um campo científico de estudos com
ampla importância acadêmica relacionado a aplicação das concepções
sistêmicas e integrada para compreender os complexos fenômenos
ambientais e construção do conhecimento interdisciplinar.
O uso da interdisciplinaridade como fundamento
metodológico presente nos trabalhos dessa obra, estabelece
premissas importantíssimas na construção dos conhecimentos no
campo das Ciências Ambientais.
Desse modo, a obra apresenta resultados importantes
obtidos pelos diversos autores, que se dedicaram na elaboração das
suas pesquisas e trabalhos, apresentando-os de forma concisa e
didática aqui, esforço louvável e de suma importância para divulgação
científica no campo das Ciências Ambientais.
No volume 2, o primeiro capítulo, “Padrões Espaciais e
Temporais da Umidade do Solo no Nordeste do Brasil”, apresenta os
resultados da pesquisa de análise dos padrões espaciais e temporais
da umidade do solo no Nordeste do Brasil, relacionando-se os padrões
reconhecidos de umidade obtidas nas estações meteorológicas com
as secas na região, revelando características quanto a intensidade,
duração e extensão.
O segundo capítulo, “Bioprospecção ambiental: enzimas
microbianas a partir de diferentes biomas brasileiros”, apresenta os
resultados da análise das potencialidades dos biomas brasileiros,
como patrimônio natural com riquíssima biodiversidade microbiana e
potencial biotecnológico no contexto ambiental, com inúmeras
aplicações industriais e de remediação de áreas contaminadas.

10
O terceiro capítulo, “Avaliação do Projeto de
Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata Atlântica em Parques do
Estado de São Paulo”, apresenta os resultados da análise do Projeto
de Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata Atlântica, financiado pelo
Governo do Estado de São Paulo para desenvolvimento de políticas
públicas direcionadas a criação de mecanismos de preservação do
meio ambiente e promoção do desenvolvimento social e econômico
das comunidades ao redor das áreas protegidas.
O quarto capítulo, “A Ecossistêmica dos Cães de Rua da
Cidade de Mossoró – RN”, apresenta as observações realizadas do
comportamento de cães de rua, mostrando como um animal se
comporta em relação à aproximação humana, condição indicativa de
como foi a história de vida desse animal.
O quinto capítulo, “Planejamento agroambiental sustentável
de uso do solo em uma microbacia da Zona da Mata de Minas Gerais”,
apresenta os resultados da pesquisa para determinar, com base nas
classes de solos e distribuição espacial, a aptidão agrícola das terras e
propor a otimização dos recursos naturais de uma microbacia situada
em Viçosa, Zona da Mata de MG.
O sexto capítulo, “Cultivo de Cogumelos Pleurotus
pulmonarius (fr.) Quel. como fonte adicional de renda na pequena
propriedade agrícola”, apresenta os resultados do estudo realizado na
Universidade Federal do Tocantins, Campus de Gurupi no Laboratório
de Compostos Bioativos, com o cultivo de cogumelos comestíveis, a
partir de substratos de resíduos florestais e composto orgânico, como
atividade interessante para pequenos produtores e agricultores
familiares.
O sétimo capítulo, “A prevenção e o controle das infecções
em pronto Socorro: questão para a saúde do trabalhador, do usuário e
do ambiente”, apresenta os resultados da pesquisa de identificação de
medidas de prevenção e controle de infecções relacionadas à
assistência à saúde, praticadas pela equipe de enfermagem em um
pronto atendimento hospitalar.
O oitavo capítulo, “A saúde e a homogeneização de
tratamento de água e coleta de esgoto no Brasil”, apresenta os
resultados obtidos da pesquisa de análise da evolução da legislação
ambiental brasileira, relacionada à proteção dos recursos hídricos e o
plano nacional de saneamento básico.

11
O nono capítulo, “Respeito à Terra: impactos socioambientais
do uso de agrotóxicos no Brasil”, apresenta os resultados das
reflexões quanto ao uso dos agrotóxicos e seus impactos
socioambientais e proposição de ações de conscientização da
sociedade e participação quanto à liberação de agrotóxicos pelos
governos nacionais.
O décimo capítulo, “Mitigação dos impactos da salmoura em
ambiente marinho resultante da construção de cavernas geológicas
para estoque de CO2”, apresenta os resultados da pesquisa de análise
dos impactos ambientais causados pela emissão de salmoura em
ambiente marinho, motivado pelo projeto de construção de cavernas
geológicas com previsão de estocar CO2 para mitigação das mudanças
climáticas, evitando-se novos passivos ambientais.
O décimo primeiro capítulo, “Brasil frente ao Plano de
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm)”, apresenta os resultados da pesquisa de análise da
posição nacional e seu compromisso com as metas nacionais e
internacionais, de controle do desmatamento e redução das emissões
de gases de efeito estufa.
O décimo segundo capítulo, “A distribuição espacial das
emissões industriais de GEE nos estados de SP, PR e MS”, apresenta os
resultados da pesquisa de compreensão do potencial mercado
consumidor de gás não-convencional nos estados de SP, PR e MS, do
ponto de vista da transição energética, ao analisar emissões industriais
de gases de efeito estufa dos municípios.
O décimo terceiro capítulo, “Influência da sazonalidade na
qualidade das águas do Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de Brumadinho (MG)”, apresenta os resultados do
diagnóstico da qualidade das águas superficiais do Rio Paraopeba no
triênio após o rompimento da barragem de Brumadinho (MG),
examinando possíveis aumentos nos teores de elementos químicos
nas águas superficiais devido à sazonalidade na região, severamente
impactada pelos rejeitos de minério de ferro.
O décimo quarto capítulo, “A Comunidade Cigana Calon no
Sertão da Paraíba no contexto da civilização capitalista” apresenta um
estudo socioambiental pela perspectiva da Ecologia Política Latino-
americana.

12
O décimo quinto capítulo, “Gestão de RSU e o Potencial de
Valorização dos Resíduos Vítreos”, apresenta e discute o panorama
nacional e a Região Carbonífera como espaço de estudo e produção
de dados.
O décimo sexto capítulo, “Estudo da presença de
enteroparasitas em alface (Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa L.)”
apresenta uma comparação da prevalência de enteroparasitas em
amostras de hortaliças cultivadas com água de reuso procedentes de
uma horta experimental.
E, por fim, o décimo sétimo capítulo, “Açai (Euterpe
oleracea), an Amazon rainforest fruit, ameliorates diabetic
nephropathy in rats” discute os efeitos do extrato de açaí na
proteinúria em ratos com nefropatia diabética.
Assuntos diversos e interessantes, são, dessa forma, tratados
aqui, certamente proporcionando um material riquíssimo de
fundamentação do conhecimento a acadêmicos, professores e
pessoas que, de alguma maneira, se interessam pelas questões
ambientais e, fundamentalmente no campo das Ciências Ambientais e
da Sustentabilidade.

Ótima leitura!

Prof. Dr. Giovano Candiani


Profa. Ma. Letícia Viesba

13
Padrões espaciais e temporais da umidade do
solo no Nordeste do Brasil
Keylla Donato, Marcelo Zeri e Karina Williams

10.47247/GC/88471.57.9.2

14
Introdução

A região do semiárido no Nordeste do Brasil é uma área com


numerosas fragilidades ambientais e climáticas. A seca traz
vulnerabilidade para a habitação nessa região, afetando as chuvas
necessárias para a agricultura de sequeiro, a água no solo para o
desenvolvimento das plantas, e níveis de rios e reservatórios. Segundo
Ramalho (2013), as regiões de secas no Nordeste englobam uma área
com cerca de 60 mil hectares, em que a desproporção entre
temperaturas muito altas e a escassez de chuvas sensibilizam oito
estados da região.
O solo representa um recurso natural muito explorado e
indispensável para diversas produções e indústrias. Sua função varia
desde a agropecuária ao plantio, sendo substancial para a vida de
organismos e para o ecossistema em sua totalidade (PES; GIACOMINI,
2017). A função do solo está diretamente ligada com questões
ambientais, a sua interação com seres vivos e a ciclagem de nutrientes
permite a riqueza de vida em uma determinada região, além de sua
necessidade no ecossistema (VARGAS; BARCELLOS, 2007). Diante da
utilidade do solo, a água é um recurso requerido para exercer
inúmeras das suas funções.
Parte das transformações nas características do solo podem
ser influenciadas pela precipitação e pela temperatura. Em climas
como o semiárido nordestino, onde a precipitação é baixa e as
temperaturas são elevadas, os solos da região são pouco
intemperizados, mais rasos e com vegetação escassa (LIMA; LIMA,
2007). Algumas dessas particularidades devem-se ao fato do
ecossistema predominante ser a Caatinga, com plantas adaptadas às
peculiaridades da região que permitem, por exemplo, o
armazenamento de água em suas raízes e caule. A condição do
semiárido propicia grandes variações quanto ao volume de chuva,
qualidade do solo, rede hidrográfica e intervenção humana (CORREIA
et al., 2011).
A umidade do solo é um fator importante para muitos
recursos naturais e para o clima de uma região. Adicionalmente, a
cobertura vegetal no solo favorece a infiltração de água, mantendo a
umidade nas camadas superficiais do solo (CAMPOS et al., 1994).
Níveis baixos de umidade do solo podem levar a prejuízos no

15
desenvolvimento vegetativo e trazer grandes perdas econômicas e
sociais em áreas de cultivo agrícola sem irrigação. Séries temporais de
umidade do solo podem revelar características da seca, como sua
duração ou intensidade (SVOBODA; FUCHS, 2017).
A ocorrência de eventos climáticos em uma região influencia
diversos fenômenos ambientais, incluindo as secas no Nordeste.
Episódios de El Niño, sendo uma variação da temperatura do Oceano
Pacífico, traz consequências diretas para a região brasileira (ARAÚJO,
2012). O impacto gerado por essa ocorrência é a escassez de chuvas na
região do Nordeste, além de diferentes efeitos ao redor do mundo. A
dinâmica da análise espacial e temporal auxilia na identificação de
episódios de seca e a relações com o El Niño, contribuindo no
processo de investigação e observação de eventos climáticos.
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais) possui uma rede de sensores de umidade do solo
na região do semiárido do Brasil. Dados dessa rede têm sido utilizados
em pesquisas de aplicações para quantificar o impacto de secas (Zeri
et al., 2018), além de serem apresentados nos boletins mensais do
Centro. Medidas feitas no período de 2016 a 2017 foram usadas para
avaliar a água no solo do modelo de superfície Jules (Best et al., 2011;
Clark et al., 2011; Osborne et al., 2015), desenvolvido no Reino Unido.
Dada a correlação satisfatória entre modelo e medidas (Zeri et al.,
2020), decidiu-se usar as séries de água no solo do modelo neste
trabalho. Os dados do modelo cobrem o período de 1979 a 2018,
calculados para pontos de uma grade de 0.5˚ (aproximadamente 50
km entre os pontos da grade). Assim, séries de longo prazo de
umidade do solo próximos das localidades das estações do Cemaden e
nos pontos de grade do modelo permitem que se investigue padrões
temporais e espaciais das secas ocorridas no período.
À vista de tudo que foi exposto, o objetivo deste capítulo é
investigar os padrões espaciais e temporais da umidade do solo no
Nordeste do Brasil. Do mesmo modo, busca-se relacionar os padrões
reconhecidos de umidade obtidas nas estações meteorológicas com
as secas na região, podendo ainda revelar as características quanto a
intensidade, duração e extensão.

16
Metodologia

Diversos métodos foram utilizados para trabalhar com os


dados climáticos e de umidade do solo, como, por exemplo,
ferramentas estatísticas para cálculo de regressão linear e correlações,
análises de tendências, cálculo de anomalias de longo prazo e análise
de agrupamento espacial. Ademais, ferramentas de Geographical
Information System (GIS) foram usadas para visualizar dados em
mapas. Todo o processamento de dados, estatísticas e gráficos foram
feitos usando as linguagens de programação Python e R.

Análise de agrupamento

Agrupamento (clustering) hierárquico é um algoritmo muito


utilizado para agrupar pontos de dados semelhantes. Esse processo
tem por razão dividir um conjunto de dados em pequenos grupos
mostrando as interligações. Adicionalmente, a informação sobre os
grupos pode também ser usada para visualizar padrões espaciais,
quando variáveis como latitude e longitude são usadas no
agrupamento. Nesse caso, variáveis ambientais como umidade do
solo, precipitação ou temperatura do ar podem ser agrupadas em
regiões homogêneas, revelando de forma objetiva padrões espaciais
associados ao clima, a localização geográfica ou outros fatores.
A análise de agrupamento é uma ferramenta favorável para o
estudo com múltiplos dados, por ser capaz de exercer diversas
funções. Pode ser utilizada para simplificar grandes conjuntos de
dados, visto que as bases de pesquisa são amplas e de difícil
visualização. Complementarmente, o agrupamento facilita a
representação dos resultados e a compreensão para conclusões. Essa
técnica é importante por auxiliar na extração de propriedades do
material de estudo que não são claras, promovendo hipóteses e
representações diversas sobre os dados (LINDEN, 2009).
Este trabalho faz utilização de clustering hierárquico para um
melhor entendimento e visualização dos dados. A busca é de um
resultado claro que represente de forma sucinta os dados de umidade
do solo obtidos do modelo Jules. A base de dados contém registros de
39 anos, sendo necessária uma simplificação por análise de
agrupamento.

17
Modelo Jules

O modelo JULES (Joint UK Land Environment Simulator) é um


simulador ambiental que possui um esquema amplo e diverso de
diferentes temperaturas de superfície, fluxos radioativos de ondas
curtas e longas, de calor sensível e latente, umidade do dossel, níveis
de massa de neve e taxas de derretimentos que são calculados para
uma caixa de grade. De acordo com o modelo, temperatura do ar,
umidade, velocidade do vento e temperatura do solo são
considerados homogêneos em uma caixa de grade. Essa simulação de
fluxos de carbono, energia e água com a atmosfera é muito
importante para o entendimento dos ciclos biogeoquímicos em
escalas de tempo de anos a décadas (Best et al., 2011; Clark et al., 2011).
Os dados utilizados neste trabalho são provenientes de uma
rodada do modelo Jules feita para o trabalho de Bett et al. (2020). As
seguintes variáveis foram utilizadas: umidade do solo entre 10 e 35 cm,
temperatura do ar e precipitação. Os dados foram calculados em uma
grade regular sobre o Nordeste do Brasil, de 1979 a 2018. Análises
espaciais foram feitas selecionando anos específicos com impactos de
seca. Para análises de séries temporais, utilizou-se pontos de grade do
modelo mais próximos da coordenada escolhida.

Resultados

Os resultados obtidos na análise de padrões espaciais e


temporais da umidade do solo no Nordeste do Brasil foram divididos
em 3 tópicos: agrupamento espacial, com a distribuição da umidade
pelos estados nordestinos; relação entre chuva, temperatura e
umidade do solo, comparando esses parâmetros e, por fim, análise
espacial e anual da água disponível no solo.

Agrupamento espacial

Os resultados de agrupamento espacial da umidade do solo


foram obtidos a partir de três períodos, conforme análise dos dados.
Os anos foram 1993, 1998 e 2012 (figura 1), nos quais é possível
identificar baixos índices de umidade do solo, caracterizado como um
período de condições severas de seca na região do Nordeste. No ano
de 1993 é possível visualizar a diferença espacial da umidade do solo,
onde os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,

18
Alagoas, Sergipe e parte norte da Bahia sofreram com baixos índices
de umidade na época. O mesmo pode ser visualizado em 1998 e 2012.
A seca dos dois primeiros períodos pode ser explicada pela ocorrência
do fenômeno El Niño (CPTEC/INPE, 2019), com intensidade de seca na
parte norte da região estudada, enquanto o ano de 2012 (sem El Niño)
pode ser justificada de acordo com CUNHA (2018, p 6, apud Rodrigues
e Mcphaden, 2014):

“[...] o evento de 2012–2016 está associado a Zona de


Convergência Intertropical (ZCIT) em direção ao norte,
migração seguida por um evento El Niño.”

Figura 1 - Agrupamento espacial da umidade do solo (10-35 cm (m3m-3)) no


Nordeste do Brasil nos anos de 1993, 1998 e 2012.

Relação entre chuva, temperatura e umidade

Para analisar a umidade do solo é importante investigar


outras variáveis climáticas que afetam a forma como avaliamos
determinada área ao longo do tempo. A chuva e a temperatura têm
influência direta na quantidade de água no solo, dado que as
temperaturas influenciam na evaporação do solo, evapotranspiração
das plantas, e a chuva influencia na recarga da umidade no solo. À
vista disso, é importante relacionar essas medidas para descrever a
umidade do solo diante de outras variantes.
Para essa análise foram selecionados pontos distribuídos pelo
semiárido nordestino com a finalidade de analisar os parâmetros:
chuva, temperatura e umidade do solo, simultaneamente. Os pontos
selecionados foram: Jandaíra no Rio Grande do Norte (figura 2); Belo

19
Monte em Alagoas (figura 3) e Muquém de São Francisco na Bahia
(figura 4). A intenção dessas observações é analisar se existe algum
padrão climático e se a localização diferenciada por latitude, longitude
e continentalidade são fatores que interferem na umidade do solo no
semiárido.
A partir das figuras foi possível visualizar que a umidade do
solo tem diferentes padrões, dependendo da sazonalidade das chuvas
e temperatura do ar em cada localidade. Em Jandaíra (RN), o máximo
da umidade do solo ocorre entre abril e maio, aproximadamente em
sincroniza com os máximos de chuva durante o outono, quando a
temperatura do ar está diminuindo. Já em Belo Monte (AL), a
temperatura foi inversa as chuvas. Quando a temperatura diminui as
chuvas aumentam e a umidade do solo também aumenta. Para o local
escolhido na Bahia (Figura 4), observou-se uma época chuvosa mais
longa do que nos outros locais, com totais de chuva mais altos de
dezembro e março. Como consequência, a umidade do solo também
tem seus maiores valores nesses meses.
Os boxplots das figuras 2, 3 e 4 foram feitos para 3 períodos
distintos: 1979 a 1995, 1996 a 2011, e 2012 a 2018. É possível visualizar
que nos três locais escolhidos a temperatura média é mais elevada em
vários meses nos períodos mais recentes (2012 a 2018);
adicionalmente, observa-se que os totais de chuva e umidade do solo
também são menores. Essas tendências são sinais muito concretos
dos efeitos de mudanças climáticas na região.
A variabilidade dos dados também é uma questão relevante,
ou seja, o tamanho das caixas nos boxplots, visto que nos primeiros
anos da análise ocorreram variações em maior magnitude em todos os
índices e atualmente os parâmetros seguem um padrão pouco
alterado. Isso pode ser visto pela ausência de outliers positivos de
chuva nos boxplots de 2012 a 2018. A figura 3, em Belo Monte – AL,
ilustra essa modificação, é perceptível que atualmente não há uma
considerável mudança nos parâmetros de umidade, temperatura e
chuvas como antigamente havia.

20
Figura 2 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Jandaíra – RN.

21
Figura 3 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Belo Monte –
AL.

22
Figura 4 - Relação de chuva, temperatura e umidade do solo em Muquém de
São Francisco – BA.

23
Análise espacial da Água Disponível no Solo

A Água Disponível no Solo (ADS) é uma medida semelhante


ao SMI (Soil Moisture Index), mas expressa em porcentagem, com
estresse hídrico para valores abaixo de 30% e solo saturado com
índices próximos a 100%. A ADS foi calculada pela normalização da
umidade do solo utilizando-se seus valores máximos e mínimos no
período. Assim pode-se comparar a disponibilidade de água para as
plantas em diferentes locais e em anos distintos.
O padrão de seca dificilmente é igual todos os anos, pois o
clima é irregular e a umidade do solo será, consequentemente, mais
intensa em alguns anos do que em outros. Um claro exemplo dessa
diferença é ilustrado na figura 5, que mostra os anos de 1985 e 1993,
respectivamente. O ano de 1985 foi o mais úmido de todos os 39 anos
de dados, enquanto em 1993, ano com influência de El Niño, foi o mais
seco registrado espacialmente.
Quanto a duração da seca, a figura 6 mostra a baixa água
disponível no solo de 2012 e os vestígios desta problemática 3 anos
depois, em 2013, 2014 e 2015, registrando uma seca multianual. A
influência do El Niño ou outro evento climático pode interferir na
umidade do solo nos anos subsequentes e persistir durante alguns
anos, também pode haver vestígios iniciais de uma grande seca ou
ocorrer repentinamente.

Figura 5 - Análise espacial da umidade do solo nos anos de 1985 e 1993.

24
Figura 6 - Análise espacial da umidade do solo nos anos de 2012, 2013, 2014 e
2015.

25
Discussão

Na seção de agrupamento espacial foi possível visualizar os


impactos do El Niño com grandes implicações no Nordeste de forma
espontânea, regular e intensa. O agrupamento permitiu a amostragem
espacial de uma área que constantemente sofre com eventos de seca
e exemplificar a repentina variação em um curto período. Além do El
Niño, outros fatores influenciam a escassez de chuvas e baixos índices
de umidade, esses mecanismos influenciadores, de acordo com Santos
e Horta (2020, p. 102) podem ser: Temperatura da Superfície do Mar
(TSM), Ventos Alísios, Pressão ao Nível do Mar (PNM), Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), Frentes Frias, Vórtices Ciclônicos de
Altos Níveis (VCAN), Linhas de Instabilidade (LI) e Complexos
Convectivos de Mesoescala (CCM).
A seção cujo objetivo é relacionar índices de chuva,
temperatura e umidade demonstra que os parâmetros sofrem
modificações ao longo dos anos e podem servir para indicar
influências na umidade do solo. De acordo com Correia et al. (2011), a
precipitação e a temperatura são essenciais no Nordeste
principalmente para a escolha de regiões propensas à criação de gado
e plantio, pois essas produções necessitam desses elementos
climáticos para prosperarem.
Na seção de padrões espaciais da água disponível no solo são
nítidas as ocorrências de secas intensas e multianuais, como em 2012.
Em todos os 39 anos de dados, que pouco representam para a história
da Terra, e que para estudos climáticos representam apenas uma
fração de acontecimentos, foi possível visualizar uma grande
divergência nos padrões de seca e as respostas aos estímulos
ambientais. Porém, uma similaridade pode ser observada, em que a
parte costeira da Bahia durante os anos apresentou uma média com
ADS acima de 50%, mostrando uma estabilidade na região e um padrão
que ocorre há bastante tempo.

Conclusão

A partir dos resultados obtidos com este trabalho, foi possível


concluir que a umidade do solo tem padrões espaciais e temporais
diferentes sobre o semiárido nordestino. A investigação desses
padrões permitiu relacionar regiões da área de estudo e agrupá-las de

26
forma homogênea, considerando similaridades entre alguns estados
do Nordeste, apesar de grande variação. Este trabalho foi realizando
utilizando-se das saídas do modelo Jules, especificamente dados de
água no solo entre 10 e 35 cm de profundidade (Bett et al. 2020). Os
dados do modelo cobriam todo o semiárido do Nordeste, num período
de 39 anos, permitindo assim muitas análises espaciais e temporais da
umidade do solo.
Foi identificado em um dos resultados que a seca é mais
severa em alguns estados do semiárido, como Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sendo possível identificar
que em épocas com fenômenos de El Niño essa é a área mais
prejudicada. Em contrapartida, foi analisado que a região costeira da
Bahia mantém um padrão de solo mais úmido quando comparado com
todo o estado, essa diferença pode ser justificada pela quantidade
mais elevada de chuva presente na localidade.
A seca em uma região é influenciada por diversos fatores e
sua duração é sempre imprecisa, pois depende de diversas condições
climáticas e ambientais. A variabilidade espacial e temporal da seca é
um fator importante a ser considerado em análises de vulnerabilidade
a extremos climáticos, especialmente no contexto de mudanças
climáticas, que podem levar a secas mais intensas e frequentes em
diversas regiões do Brasil. Existem padrões espaciais de seca que têm
semelhanças com outros anos, mas as divergências e variabilidades
são bastante comuns em análises climatológicas, e provavelmente vão
sofrer mudanças nos próximos anos e décadas.

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29
Bioprospecção ambiental: enzimas microbianas a
partir de diferentes biomas brasileiros
Vitor Gonçalves Vital, Keith Dayane Leite Lira,
Giovanna dos Santos Matos Paiva,
Tomás Rodrigues Alvares de Almeida Amaral,
Lidiane Maria dos Santos Lima e Suzan Pantaroto de Vasconcellos

10.47247/GC/88471.57.9.3

30
Biomas brasileiros e diversidade microbiana

Os biomas são macroambientes naturais, caracterizados pela


uniformidade de fatores bióticos e abióticos, tais como, clima,
condições do solo, fauna e fitofisionomia (Coutinho, 2016). Os biomas
brasileiros, por sua vez, apresentam níveis elevados de riqueza e
endemismo, constituindo importantes centros da biodiversidade do
planeta (Aleixo, 2010).
No que se refere à Amazônia ou Bioma Mata Amazônica,
como costuma ser denominado, tal macrorregião não se caracteriza
como um único bioma, mas sim como um conjunto, uma vez que
congrega em um mesmo território distintos ambientes de vida (Val,
2014). A região Amazônica compreende um território amplo,
responsável por abrigar a maior floresta tropical do planeta Terra,
abrangendo cerca de 6,7 milhões de quilômetros quadrados, sendo
que em torno de 60,1% de tal área, encontra-se em território brasileiro.
Compreende os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá,
Rondônia, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins (Borneman e Triplett,
1997; IPEA, 2008; Amazonas, 2009; Embrapa, 2020). É amplamente
conhecida devido à elevada diversidade de flora e fauna, incluindo
cerca de 40.000 espécies vegetais, embora, devido à sua vasta
extensão territorial e existência de partes inóspitas, constitua a região
brasileira com a menor investigação científica acerca dos seus solos e
biodiversidade macro e microscópica (Borneman e Triplett, 1997;
Embrapa, 2020; Oliveira, 2021).
Os ecossistemas presentes nesta região abrangem diferentes
tipos de florestas, tanto florestas de várzea, quanto florestas de terra
firme, igapós, além de campinas (Copertino, 2019; Amazonas, 2009).
Apresenta clima tropical equatorial, quente e úmido, com precipitação
entre 2.000 a aproximadamente 4.000 mm/ano. Em florestas densas,
a vegetação varia entre 30 e 40 metros, com árvores de dossel que
podem alcançar 60 metros de altura (Santos, 2017).
As florestas constituem ecossistemas, uma vez que seu
conjunto é formado pela interação entre componentes bióticos e
componentes abióticos. Sendo assim, são responsáveis por gerar
serviços ecossistêmicos, que correspondem aos benefícios prestados
pela natureza aos seres humanos. Entre os serviços ecossistêmicos
pode-se citar a provisão de alimentos, plantas medicinais, regulação

31
do clima e microclima local, entre outros (Amazonas, 2009; IPBES,
2019).
Assim como sua vasta diversidade de flora e fauna, a região
possui densa diversidade microbiana associada, característica esta
elucidada em diversos estudos. Em estudo bastante preliminar
realizado por Borneman e Triplett (1997) relatou-se sobre a
diversidade microbiana encontrada a partir de amostragens de solos
amazônicos, coletados no Pará, revelando sequências gênicas até
então desconhecidas pela literatura. Mari (2008) relatou acerca de
microrganismos degradadores de hidrocarbonetos isolados a partir de
amostras de solos amazônicos. Prado (2009) observou a presença de
microrganismos produtores de enzimas em solos amazônicos e
relatou a produção das enzimas amilase, protease, celulase, urease e
lipase por microrganismos isolados de solos de floresta nativa no
Amazonas.
Avançando, Junior, Oliveira e Oliveira (2009) realizaram a
caracterização da elevada diversidade de rizóbios isolados dos
nódulos de feijão caupi (Vigna unguiculata L. Walp.), obtidos a partir de
amostras de solos de terra firme e várzea no Amazonas.
Silva e colaboradores (2011) avaliaram a ocorrência de
bactérias solubilizadoras de fosfato, nas raízes de plantas de pequenas
propriedades rurais no Estado do Amazonas. Os resultados obtidos
permitiram aos autores inferirem acerca da diversidade de tais
bactérias interferirem sobre o pH dos solos na região amostrada.
Branco et al. (2019) descreveram sobre as habilidades
enzimáticas de uma actinobactéria caracterizada como Streptomyces
cinereus, isolada a partir da rizosfera de Aniba parviflora Syn fragans
(macacaporanga), a qual constitui árvore nativa da região Amazônica.
No mesmo ano, Souza et al. (2019) propôs o estabelecimento de uma
micoteca de fungos endofíticos isolados a partir de plantas regionais
com potencial antimalárico. Foram obtidas 210 linhagens pertencentes
aos filos Ascomycota e Basidiomycota, as quais apresentaram
habilidades à produção de metabólitos secundários de elevada valia
biotecnológica. Destacaram-se os fungos caracterizados como
Paecilomyces sp. (MMSRG-024) e Aspergillus sydowii (MMSRG-031),
que apresentaram elevado potencial antimalárico com inibição na
concentração mínima de 6,25 μg/mL.

32
Recentemente, Minelli-Oliveira et al. (2020) avaliaram a
atividade de α-amilase termotolerantes, em rizobactérias isoladas de
nódulos de leguminosas de solos amazônicos. Os dados obtidos pelos
autores permitiram inferir que as rizobactérias avaliadas eram
potencialmente aplicáveis à indústria, devido à eficiente produção de
α-amilases, e ao fato de não serem bactérias patogênicas. No ano
seguinte, Oka (2021) realizou a identificação de fungos amazônicos
produtores de metabólitos secundários e avaliou que fungos do
gênero Penicillium foram eficazes no teste antimicrobiano frente aos
patógenos testados Enterococcus faecalis e Candida albicans.
Partindo para o sul brasileiro, os campos sulinos só foram
reconhecidos como bioma em 2004 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). O bioma Pampas representa 2% do território
nacional, o que corresponde a 63% do território do Estado do Rio
Grande do Sul, ou seja, 176.496 km² de forma ainda ser o único bioma
restrito a um único estado (Bencke et al., 2016; Bortoluzzi, 2019). É
bem caracterizado por ser heterogêneo, tanto quanto a sua
vegetação, solo e variabilidade climática (Boldrini, 2010). Sua
vegetação varia desde arbustos a plantas rasteiras, de forma a ser a
reserva de densa diversidade de vegetação campestre, em nível
mundial (Godoy, 2012; König, 2014). Seu solo apresenta-se
particularmente como arenoso, de forma a constituir substrato para
todo o bioma (Suertegaray, 2014). O clima é caracterizado por
alternância entre frio e seco (Santos, 2009). Possui elevada relevância
geológica, uma vez que reserva testemunhos climáticos que
constituem verdadeiros tesouros para interpretações climáticas de
períodos antepassados (Behling, 2009).
O bioma Pampas também pode ser considerado como frágil,
tanto pelas degradações naturais, devido ao seu característico solo
arenoso, quanto por manejo inadequado, gerando efeitos deletérios
sobre a biota e microbiota existente na região (Altmann, 2020; Pereira,
2012) .
Os manguezais e ecossistemas costeiros encontram-se
distribuídos ao longo do litoral brasileiro em regiões de clima tropical.
Quanto à sua distribuição geográfica, são encontrados nas Américas,
África, Ásia e Oceania (Kathiresan et al., 2001). Os manguezais, em
especial, são biomas de solo salino que recebem água do mar e que
não resistem a temperaturas mais baixas que 18 °C. O bioma pode
contar com apenas alguns metros de largura até quilômetros

33
(Coutinho, 2016). Característico de ambientes estuarinos, os
manguezais muitas vezes se encontram em áreas por onde desaguam
os rios do continente em encontro com o mar (Ghizelini et al., 2012;
Sebastianes et al., 2017) .
A vegetação é composta por árvores, arbustos e herbáceas e
conta com porte de até 20 metros, sendo que alguns pontos contam
com copas acima do nível do mar. A maré alaga o manguezal em dois
períodos do dia, adicionando mais cloreto de sódio ao bioma. As
condições de temperatura elevada, altos níveis de salinidade, pH alto e
baixa aeração tornam os manguezais ambientes com características
únicas, onde apenas determinadas espécies adaptadas conseguem
sobreviver (Dias et al., 2009). O alagamento constante leva à
diminuição de oxigênio no ambiente, assim, as espécies vegetais se
adaptaram a essa condição por meio do desenvolvimento de raízes
aéreas (Coutinho, 2016; Ezcurra et al., 2016). As espécies encontradas
no Brasil afiliam-se basicamente a três gêneros: Avicennia, Laguncularia
e Rhizophora (Francisco et al., 2018). Para fins de comparação quanto à
sua diversidade vegetal, a Mata Atlântica possui mais de 20 mil
espécies vegetais (Brandon et al., 2005).
Os manguezais apresentam papel essencial na ciclagem de
energia e nutriente de ecossistemas estuarinos (Martinho et al., 2019).
São considerados berçários de diversas espécies que contam com
parte ou todo seu ciclo de vida nesse ambiente. Devido às
características já mencionadas dos manguezais, os microrganismos
que sobrevivem a tais condições apresentam potencial
biotecnológico, como fontes de compostos bioativos e metabólitos
secundários (Cadamuro et al., 2021) que vem sendo investigado ao
longo das décadas. São encontrados nos manguezais fungos,
bactérias, algas e protozoários (Ghizelini et al., 2012). As bactérias são
responsáveis pelos ciclos biogeoquímicos, realizando a ciclagem de
nutrientes (Kathiresan et al., 2001). Os fungos, por sua vez,
apresentam papel essencial na degradação de celulose e lignina.
Fungos e bactérias em conjunto realizam a oxidação da matéria
orgânica e promovem a ciclagem do carbono (Ghizelini et al., 2012).
Importante destacar que os microrganismos isolados para
fins de bioprospecção podem ser coletados em áreas afetadas por
contaminação, podendo eles mesmos promoverem a biorremediação
da área (Ghizelini et al., 2012; Martinho et al., 2019). Em manguezais
acometidos por contaminação de hidrocarbonetos policíclicos

34
aromáticos já se encontram estudos sobre a biorremediação
intermediada por microrganismos presentes no ecossistema.
O bioma Mata Atlântica é composto por elevada diversidade
de ecossistemas, abrigando um conjunto de formações florestais que
apresenta características diversas, responsáveis pela formação de
paisagens encantadoras e distintas (Campanili e Schaffer, 2010). Os
conjuntos ambientais que compõem a Mata Atlântica são: Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Mista,
Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, Savana,
Savana-estépica, Estepe e Formações Pioneiras (IBGE, 2012). O bioma
ocupa cerca de 13% do território brasileiro e se encontra na região
litorânea do país, onde aproximadamente 50% da população vive,
trazendo ameaças quanto a impactos ambientais para o bioma (IBGE,
2012).
As características dos conjuntos florestais da Mata Atlântica
variam em relação à composição da vegetação, podendo ser
composta densamente por árvores, como a Floresta Ombrófila Densa,
a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Ombrófila Mista, a Floresta
Estacional Semidecidual, e a Floresta Estacional Decidual, até uma
vegetação mais rasteira, como a Savana, Savana-estépica, Estepe e
Formações Pioneiras (IBGE, 2012). A umidade e a temperatura são
outros fatores determinantes dos ecossistemas da Mata Atlântica,
criando condições para que uma ampla diversidade de espécies
vegetais, animais e microbianas possa se estabelecer.
Devido à sua diversidade, a Mata Atlântica é considerada um
hotspot da biodiversidade de acordo com a Conservação Internacional
(2011), ou seja, área prioritária frente à conservação do bioma
(Rezende et al., 2018). A degradação da Mata Atlântica compromete
os serviços ambientais prestados pelo bioma, bem como a qualidade
de vida das espécies, incluindo os microrganismos.
Por conta das várias condições ambientais encontradas na
Mata Atlântica, sua biodiversidade microbiana vem sendo abordada
por meio de estudos científicos a fim de mapear as encontradas, bem
como identificar seu potencial biotecnológico. Algumas dessas
espécies são: Paraburkholderia youngii sp. (Mavima et al., 2021),
Burkholderia nodosa (Chen et al. 2007 ), para bactérias e para fungos:
Candida ssp (Santos et al., 2011; Barbosa et al., 2009), Ophiocordyceps
ssp (Evans et al., 2011), Hypochnella verrucospora (Coelho et al., 2010).

35
O Pantanal (150.355 km²) apresenta-se como uma área úmida,
de clima tropical, localizada no centro do continente sul-americano, na
bacia do Alto Paraguai, ocupando os estados brasileiros Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, correspondendo a quase 2% do território
brasileiro (MMA, 2022), além de uma porção da Bolívia e do Paraguai
(Schulz et al., 2019). Apresenta duas estações definidas, inverno seco e
verão úmido, a precipitação média anual varia de 600 a 1600 mm. Os
solos são aluviais e arenosos (Marengo et al., 2021). Trata-se de um
bioma complexo, com um mosaico de ecossistemas distintos
“moldados pela influência de fatores climáticos, ecológicos e
antropogênicos” (Pott et al., 2011).
O Pantanal constitui a maior planície de inundação contínua
do mundo, marcada por períodos alternados de cheia (inundações) e
seca (Junk et al., 2006). Isso ocorre devido à existência de um “regime
de água de pulso de inundação previsível” (Frota et al., 2020),
proveniente de chuvas originadas ao norte do rio Paraguai (Bergier et
al., 2018; Oliveira et al., 2018). As inundações determinam a extensão e
a disponibilidade de áreas terrestres e habitats aquáticos, com
implicações na migração da avifauna, na ciclagem de nutrientes nas
regiões de várzea, na ocupação da terra pelo pantaneiro e no
desenvolvimento da pesca e pecuária (Schulz et al., 2019).
Também é reconhecido como um refúgio de biodiversidade
uma vez que possui uma fauna diversificada e abundante (Alho e Silva,
2012), sendo registrada espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis e
anfíbios (Benedicto, 2018). De acordo com Alho et al. (2019) “a riqueza
de espécies no Pantanal mostra-se maior do que nos biomas vizinhos,
quando comparada a área total de cada bioma”. É importante
destacar que o Pantanal é um ecótone, uma área de transição de
biomas circundado pela Amazônia ao norte, Cerrado a leste, Mata
Atlântica ao sul e Chaco (Paraguai) a oeste, tendo forte influência na
biogeografia do ecossistema.
Tratando-se da vegetação tem-se uma distribuição
diversificada com espécies adaptadas a sazonalidade hídrica, ao passo
que formações florestais (floresta sazonal decídua e semidecídua),
bem como formações arbustivas e herbáceas, a exemplo do cerrado
(capão do cerrado e mato de cerrado - cerradão) são recorrentes.
Também são descritos campos inundáveis, macrófitas aquáticas em
áreas alagadas, mata ciliares, brejos e algumas plantas endêmicas
(Alho et al., 2019; Pott et al., 2011).

36
O Pantanal encontra-se em uma área de transição de biomas,
por conseguinte apresenta uma variedade de habitats que se
constituem em um reservatório microbiano. Alguns estudos acerca de
microrganismos endofíticos nesse ecossistema já foram publicados
(Noriler et al., 2018), no entanto a maioria está associada a
bioprospecção de linhagens produtoras de bioativos com potencial
biotecnológico, enquanto a análise da comunidade microbiana é
pouco valorizada (Sousa et al., 2017; Glienke e Savi, 2017).
Nesse contexto, estudos da biodiversidade microbiana no
Pantanal ainda carecem de consolidação, e podem ser apoiados com o
desenvolvimento de pesquisas que conciliam a biodiversidade e a
bioprospecção da comunidade microbiana (Glienke e Savi, 2017).
Fungos endofíticos são comumente isolados no ecossistema Pantanal
nos estudos de bioprospecção, tal interesse é devido a síntese de
metabólitos secundários com atividade biológica (Silva et al., 2016),
endófitos usados como controle biológico ou promotores de
crescimento vegetal (Souza et al., 2016).
Noriler et al. (2018) analisaram a comunidade fúngica
associada à espécie vegetal Vochysia divergens “monodominante
durante a seca e cheia no Pantanal”. Os autores relataram a
predominância dos gêneros Diaporthe, Phyllosticta Neofusicoccum
recorrentes em outras espécies vegetais do bioma Cerrado. Em
contrapartida, os gêneros Alternaria, Coniochaeta, Neopestalotiopsis,
Paraphaeosphaeria, Daldinia, Efibula e Roussoella são exclusivos dessa
planta.
Bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico foram relatadas
em gramíneas forrageiras no Pantanal mato-grossense. Segundo os
autores, os resultados evidenciaram a presença de bactérias
diazotróficas do gênero Azospirillum, Herbaspirillum e Burkholderia nas
“folhas e raízes de gramíneas forrageiras e no solo” (Brasil et al.,
2005).
O Cerrado ou Savana Brasileira compreende uma área de 2
milhões de km2, é considerado como o segundo maior bioma do Brasil,
localizado no Planalto Central, limitado aos demais biomas do país
(Procópio e Barreto, 2021). O clima é tropical, com temperatura média
anual de 22 a 28 ºC e precipitação anual acima de 2000 mm. Os solos
no geral são ácidos com altas concentrações de óxidos de ferro e

37
alumínio, pobres em nutrientes e baixa disponibilidade de água
(Lambers et al., 2020; Lopes e Guimarães Guilherme, 2016).
Basicamente a fitofisionomia do Cerrado apresenta três
grandes formações: florestas (cerradão e mata seca), savanas
(cerrado) e campos (campo sujo, campo cerrado e campo limpo)
(Ribeiro e Walter, 1998; Eiten, 1994). As savanas e campos encontram-
se em meio a florestas úmidas e secas com espécies adaptadas à
variação do clima sazonal (Ratter et al., 1997). Em virtude da
variabilidade de habitats (pastagens, florestas de dossel seco,
florestas úmidas margeando rios, córregos ou matas de galeria) esses
ambientes tornam-se únicos, pois acomodam diferentes grupos de
animais, plantas vasculares e microrganismos (Françoso et al., 2015).
Consequentemente, o Cerrado abriga uma relevante diversidade de
fauna e flora, com espécies endêmicas que não são encontradas em
nenhum outro lugar do globo, portanto um hotspot de biodiversidade
no mundo (Lambers et al., 2020; Françoso et al., 2015).
Embora se reconheça a importância da biodiversidade do
Cerrado, a mesma ainda é pouco compreendida, e com novas espécies
ainda não descritas (Colli et al., 2016). Nos últimos anos uma parte
desse bioma foi alterado para o estabelecimento de serviços
ecossistêmicos (produção de pastagens, terras agrícolas e
monoculturas), tendo-se áreas de vegetação nativa substituídas por
“paisagens fragmentadas e reconfiguradas” (Lambers et al., 2020).
A comunidade microbiana do Cerrado varia com a vegetação
e qualidade do solo (Procópio e Barreto, 2021). Estudos anteriores
descreveram uma biodiversidade de microrganismos, no entanto
ainda é necessário compreender a influência da sazonalidade hídrica e
cobertura vegetal com o padrão de distribuição microbiana (Castro et
al., 2016). Recentemente diversas publicações adotaram técnicas
metagenômicas e de sequenciamento de genes de RNA ribossômico
16S (rRNA) de bactérias (Procópio e Barreto, 2021) com o propósito de
elucidar associações de micróbios nas fisionomias vegetais (Castro et
al., 2016).
Na fisionomia “cerradão” existe a predominância de
proteobactérias, enquanto em terras agrícolas foram identificadas
Azospirillum e Rhizobium bactérias fixadoras de nitrogênio na rizosfera
de leguminosas e forrageiras. No solo foram detectadas a abundância
de acidobactérias, assim como o filo Firmicutes cuja formação de

38
esporos favorece a resistência em ambientes com condições adversas
(Souza et al., 2016).
Nos campos e florestas decíduas as actinobactérias são
abundantes e contribuem com a ciclagem de nutrientes, formação de
matéria orgânica e produção de enzimas, sendo amplamente
encontradas no Cerrado (Kumar et al. 2020). Streptomyces é o gênero
mais comum no solo e vastamente descrito em estudos de diversidade
microbiana (Silva et al., 2013). Por outro lado, nas matas de galerias
foram encontradas bactérias do filo Verrucomicrobia, além de
arqueias durante a estação chuvosa com abundância relativa (Castro
et al., 2016).
Fungos também são encontrados no Cerrado uma vez que
atuam na decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e
manutenção da qualidade do solo (Procópio e Barreto, 2021), e ainda
associados às raízes das plantas. Consequentemente, a variabilidade
de gêneros fúngicos se mostra distinta quando se compara diferentes
áreas de uso como cerrado, floresta margeada por rio, plantação de
soja e pastagem. A diversidade fúngica encontrada nessas áreas
demonstrou a presença majoritária do filo Ascomiceto, tendo-se
exemplares de Fusarium, Verticillium e Gliocadium (Castro et al., 2008).
O sucesso desse filo no Cerrado se deve a habilidade em produzir
enzimas extracelulares para degradar biopolímeros (celulose e
hemicelulose) nas formações de floresta (Araújo et al., 2017). Em
contraste, o filo Basidiomiceto é dominante em florestas decíduas e
pastagens, os membros desse filo atuam na degradação de lignina e
ciclagem de carbono (Procópio e Barreto, 2021).
A biodiversidade de fungos endofíticos do Cerrado também é
relatada na literatura. Noriler et al. (2018) identificaram os gêneros
dominantes Diaporthe, Phyllosticta e Neofusicoccum isolados da planta
medicinal (Stryphnodendron Adstringens) popularmente conhecida
como barbatimão. Estudo similar de Ferreira et al. (2017) investigaram
a comunidade fúngica associada a planta endêmica (Vellozia gigantea)
nos campos do cerrado, segundo os autores os gêneros mais
abundantes foram Diaporthe, Xylaria, Nigrospora, Colletotrichum e
Trichoderma.
Comunidades micorrízicas arbusculares também foram
encontradas nesse bioma, ofertando incremento nutricional à planta,

39
de modo que Glomus sp. constitui o principal gênero prevalente nas
fisionomias do Cerrado (Araújo et al., 2021; Duarte et al., 2019).
A Caatinga é o bioma brasileiro que corresponde à maior
parte da região semi-árida do Nordeste, responsável por ocupar uma
área correspondente a aproximadamente 10% do território nacional,
presente em oito estados nordestinos, sendo estes Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia e o norte de Minas Gerais (IBGE, 2015; Queiroz, 2009). Este
bioma abrange diversas tipologias vegetais, tais como savana, savana
estépica, floresta estacional e formações pioneiras (IBGE, 2019). O
nome Caatinga deriva da língua Tupi e significa “Mata branca”,
fazendo referência ao aspecto acinzentado e claro evidenciado no
período de estiagem (Queiroz, 2009), uma vez que este bioma é
caracterizado por estações secas e chuvosas distintas e bem definidas,
apresentando baixos índices de precipitação (300-1000 mm/ano), cujo
as chuvas concentram-se em 3 a 5 meses (Queiroz, 2009; Beuchle et
al., 2015).
A vegetação presente é adaptada às condições de aridez
local, dotada de estratégias adaptativas como a presença de órgãos
armazenadores de água, e por mais que a aparência acinzentada e
estações secas possam imprimir uma falsa percepção sobre a
biodiversidade deste território, a Caatinga possui um expressivo
número de espécies endêmicas, sendo considerada de suma
importância em termos biológicos, além de tratar-se de um bioma
exclusivamente brasileiro, ou seja, não ocorre em nenhum outro lugar
do mundo (Sá e Silva, 2010; Silva-Lacerda et al., 2016).
Entretanto, apesar da grande biodiversidade, as unidades de
conservação (UC) federais e estaduais de proteção integral
correspondem apenas a 1% da Caatinga (Roma e Viana, 2013), fato este
que expressa preocupação, visto o estudo de Pereira et al. (2022)
acerca do solo da Caatinga aponta resultados que indicam a mudança
das funções previstas das comunidades microbianas após o processo
de degradação, acarretando a diminuição da diversidade microbiana.
A diversidade microbiana dos solos desse bioma ainda é
pouco conhecida, embora Pacchioni et al. (2014) formula a hipótese de
que devido às condições de solo específicas e presença de flora
endêmica, os microorganismos do solo mostram uma composição
funcional e taxonomia distinta quando comparado a microbiota de

40
outros biomas, neste estudo, os resultados evidenciaram que os filos
mais abundantes são Actinobacteria, Proteobacteria e Acidobacteria,
cujos gêneros de Actinobacteria com representação significativa são
Conexibacter, Nocardioides, Rubrobacter e Geodermatophilus. Nesse
sentido, os resultados de um estudo elaborado por Gorlach-Lira
Coutinho (2007) acerca da dinâmica populacional de bactérias
presentes na rizosfera de Aristida adscensionis (Poaceae) sugeriram o
desenvolvimento de adaptações pelos microrganismos, como é
observado e foi citado anteriormente para as plantas.
Sendo assim, a diversidade microbiana apresenta um
repertório extenso para novas descobertas e aplicações tecnológicas,
bem como o estudo desenvolvido por Martins et al. (2016) elucida,
mostrando que entre os isolados analisados, foi possível detectar
cepas com atividades enzimáticas estáveis para todas as condições
testadas.
A sequência do genoma da primeira espécie de Streptomyces
isolada da Caatinga brasileira, denominada como Streptomyces
caatingaensis CMAA 1322, foi relatada por Santos et al. (2015),
contendo um grande número de genes previstos para codificar
proteínas com funções relacionadas às respostas ao estresse,
incluindo o estresse osmótico, oxidativo e choque térmico.
Braga (2016) estudou bactérias associadas à Mimosa
artemisiana, nativa do bioma, e obteve resultados que sugerem que
linhagens de Paenibacillus sp. e Bacillus sp. mitigaram os efeitos
negativos impostos pelo estresse hídrico em plantios de soja (Glycine
max L.). Recentemente, Santos et al. (2020) mostraram que Bacillus sp.
isolados da rizosfera de cactos da Caatinga evidenciam o potencial
para promoção do crescimento de milho em condições de seca.
Ademais, Diogo et al. (2020) avaliou a capacidade de
actinobactérias oriundas de solos secos da Caatinga em inibir o
crescimento micelial do fungo Aspergillus niger, resultando em seis
isolados eficientes para tal inibição, cujo três destes demonstraram
capacidade inibitória de 100%.

Aplicações biotecnológicas

O potencial biotecnológico no contexto ambiental apresenta


uma ampla gama de aplicações, tanto para remediar áreas

41
contaminadas, desenvolver novas estratégias tornando processos
mais sustentáveis, desenvolvendo produtos com baixo ou nenhum
impacto ambiental, promovendo a extração de compostos de
relevância a partir de resíduos, dentre outras tantas possibilidades. A
remediação de áreas contaminadas é um ramo que vem sendo
investigado a fim de mitigar impactos ambientais. Como mencionado
anteriormente, há microrganismos capazes de degradar
hidrocarbonetos, gerando subprodutos menos tóxicos ao meio
ambiente. Outras aplicações incluem a produção de bioinoculantes a
partir de actinobactéria isolada do solo do Cerrado (Hoyos et al., 2021).
A actinobactéria é capaz de solubilizar fosfato no solo, permitindo um
melhor crescimento de plantas, no caso do estudo de Hoyos et al
(2021), o foco foi em plantação de soja.
Quanto às enzimas envolvidas nesse processo foram descritas
principalmente as quitinases e celulases (Lacombe-Harvey et al., 2018;
Bettache et al., 2018). Estes estudos promovem benefícios ambientais,
uma vez que tais bioinoculantes podem substituir fertilizantes
convencionais, causando menos impacto por meio de sua produção
sustentável. A investigação de microrganismos como as
actinobactérias possibilitam o desenvolvimento de novas estratégias
dentro da agricultura, buscando práticas mais sustentáveis e assim,
ressaltando a importância da biotecnologia para fins ambientais.
Ainda dentro do contexto de meio ambiente e agricultura,
estudos acerca da produção de biocombustíveis ganham destaque
dentro da biotecnologia. Os resíduos provenientes da agricultura
fornecem matéria prima para que microrganismos possam
transformá-los em combustível, como o estudo dirigido por Santos et
al. (2011). O grupo investigou o potencial da Candida queiroziae em
hidrolisar a celulose e assim gerar biocombustível. A levedura realizou
a fermentação da celulose por meio do complexo de enzimas
celulases, incluindo celobiohidrolases, endoglucanases e beta-
glicosidases (Santos et al., 2011).
A produção de celulases por microrganismos oriundos de
biomas brasileiros também foi investigada por Goldbeck et al. (2012). O
grupo se dedicou à produção da enzima celulase com o intuito de
aplicação não somente para a produção de biocombustível como
também ao potencial uso da enzima na indústria têxtil e de papel
(Santos et al., 2010). A celulase é uma enzima bastante investigada,
com elevada especificidade, podendo participar da conversão de

42
açúcares em bioetanol (Silva et al., 2020). No Cerrado também se
encontram fungos que produzem celulases, principalmente
basidiomicetos, tal como descrito por Silva et al. (2020). Os autores
investigaram o potencial de fungos da podridão branca quanto à
produção de diversas enzimas, incluindo: celulases, lacases, manganês
peroxidases, e lignina peroxidases (Silva et al., 2020). Outro estudo
sobre as celulases e também as proteases indicam o potencial dessas
enzimas em hidrolisar estruturas lignocelulolíticas, levando à produção
de bioetanol (Ramos et al., 2016). Tais enzimas foram obtidas a partir
de bactérias encontradas no trato gastrointestinal de hipopótamo,
sendo uma fonte inovadora de microrganismos.
As lipases também são enzimas de relevância biotecnológica.
São enzimas disponíveis não somente em microrganismos, mas
também em animais e plantas. Sua função é catalisar a quebra de
óleos e gorduras (Goldbeck e Filho, 2013), e por isso vem sendo
explorada na literatura para fins industriais, tendo importante atuação
na indústria farmacêutica, de cosméticos, fragrâncias, e síntese de
biodiesel (França et al., 2022). Tal função é de grande importância no
contexto industrial para a geração de compostos de maneira mais
eficiente e econômica (Goldbeck e Filho, 2013). Os fungos endofíticos
são descritos na literatura pelo seu potencial em produzir lipases, por
isso sua relevância nos estudos acerca dessa classe de enzimas
(Bhadra et al., 2022; Amaral et al., 2022).
Ademais, a biotecnologia se faz presente em outros
espaços, como na medicina, desempenhando papel crucial, a partir do
desenvolvimento de técnicas e ferramentas diagnósticas para
detecção de doenças utilizando anticorpos monoclonais, tecnologia
de biossensores, tecnologia do chip de DNA, tecnologia do anti-senso
(Oliveira, Costa e Fonseca, 2006). Além de sua aplicação ser de suma
importância para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas, bem
como o aprimoramento de vacinas já existentes (Diniz e Ferreira,
2010). Nesse contexto, a biotransformação tem despertado a atenção
devido às suas aplicações promissoras (Burragoni e Jeon, 2020).
Os microrganismos, entre estes, bactérias e fungos
endofíticos, representam um verdadeiro reservatório de metabólitos
bioativos, incluindo diversas aplicações, tais como: antibióticos,
imunossupressores, agroquímicos, anti-inflamatórios e antitumorais.
Importante ressaltar sobre os metabólitos antioxidantes, os quais
agem diretamente na proteção das células contra espécies reativas de

43
oxigênio e radicais livres, promotoras da degeneração celular
(Burragoni e Jeon, 2021; Gunatilaka, 2006).

Arsenais enzimáticos microbianos - Lignocelulases

Enzimas são proteínas que atuam nas reações de forma


rápida e eficiente, sendo altamente específicas e seletivas com
importante papel nos processos de reprodução, metabolismo e
sobrevivência (Nelson e Cox, 2019, p. 190). Os microrganismos são
fontes de enzimas uma vez que são seres onipresentes nos
ecossistemas, tendo que sobreviver em condições desfavoráveis, ou
como agentes modificadores, com atuação na ciclagem de nutrientes
e na decomposição ou biodegradação de compostos orgânicos
complexos (Gupta et al., 2016).
Na natureza existem bactérias e fungos capazes de
biodegradar materiais lignocelulósicos, com eficiência de extrema
relevância à ciclagem de nutrientes e manutenção das diferentes
formas e vida no planeta. Materiais lignocelulósicos são reconhecidos
por sua recalcitrância, devido a serem constituídos pela associação de
biopolímeros como celulose, hemicelulose e lignina (Baruah et al.,
2018). A degradação da lignocelulose por microrganismos refere-se à
produção microbiana de um arsenal enzimático, que promova
diferentes reações catalíticas eficientes na desconstrução de tais
biopolímeros (Rakotoarivonina et al., 2012; Baruah et al., 2018).
O arsenal enzimático microbiano tem ação coordenada e
simultânea de múltiplas proteínas para promover a hidrólise do
material e possibilitar a absorção dos nutrientes pelo microrganismo
(Santos et al., 2019). Portanto, a capacidade da bactéria ou fungo em
assimilar compostos mais simples, a partir de substratos complexos,
depende da sua habilidade para produzir enzimas que degradam o
substrato (Singh e Singh, 2019).
Dessa maneira, o arsenal enzimático lignocelulítico consiste
na atuação sinérgica e conjunta de enzimas como hidrolases
glicosídicas (celulases e hemicelulases) e ligninases (peroxidases e
lacases) (Rakotoarivonina et al., 2012). Adicionalmente, enzimas
modificadores de lignina (aril álcool oxidase, glioxal oxidase, glicose
oxidase, piranose-2-oxidase e celobiose desidrogenase) também
atuam sinergicamente junto as enzimas lignocelulolíticas (Singh e
Singh, 2019; Kumar e Chandra, 2020). Recentemente, a descoberta de

44
uma nova classe de enzimas à base de cobre, as mono-oxigenases
líticas de polissacarídeo (LPMOS) vieram para impulsionar a
desconstrução da biomassa lignocelulósica através da clivagem
oxidativa de polissacarídeos recalcitrantes (Johansen, 2016). Outras
proteínas microbianas são descritas, a exemplo das pectinases,
proteases, amilases, lipases, esterases, quitinases, catalases e fitases
(Corrêa et al., 2014;Gomes et al, 2016).
Adicionalmente, a biotransformação microbiana “envolve o
uso de enzimas, células inteiras ou suas combinações” na reação de
conversão de uma molécula precursora em produtos
biotransformados. No geral, células inteiras são adotadas como uma
abordagem econômica e ambientalmente correta permitindo a
renovação das enzimas e cofatores (Nascimento et al., 2019).
Os fungos filamentosos são comumente empregados em
rotas de biotransformação microbiana. Liu et al. (2019) relataram a
presença de metabólito menos polar da bioconversão de
ginsenosídeos (bioativo do ginseng) pelo fungo Schizophyllum
commune. Nascimento et al. (2019) investigaram a biotransformação
de compostos cumarínicos empregando os fungos Cunninghamella
elegans e Aspergillus brasiliensis. A biotransformação da droga
antimalárica artemisinina em derivados com bioatividade mais efetiva
tem sido relatada a partir de rotas microbianas promissoras utilizando
fungo Aspergillus terreus (Yu et al., 2017) e actinomiceto Streptomyces
griseus (Hegazy et al., 2015).
Em síntese, os microrganismos são eficientes fábricas de
enzimas, promotores de coquetéis e preparações reacionais de ampla
aplicação industrial e ambiental. A facilidade da utilização de
microrganismos, ou produtos de origem microbianas, tais como
extratos enzimáticos, ou enzimas, em processos de biotransformação
constituem valiosa ferramenta na síntese e/ou derivatização de
moléculas bioativas, ou blocos de construção para a obtenção de
importantes comodities. Os biomas brasileiros, por apresentarem
características únicas e distintas entre si, apresentam-se como
patrimônio natural e valioso da riquíssima biodiversidade microbiana,
a qual necessita de continuidade à sua investigação e manutenção
para que haja o alcance do equilíbrio da sobrevida humana e as demais
espécies de vida presentes na Terra.

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60
Avaliação do Projeto de Desenvolvimento do
Ecoturismo na Mata Atlântica em Parques do
Estado de São Paulo
Daniela Midori Kaneshiro e Zysman Neiman

10.47247/GC/88471.57.9.4

61
Introdução

A região da Mata Atlântica é um destino turístico e as suas


Unidades de Conservação (UCs) são locais especialmente distintos
para o desenvolvimento do ecoturismo, gerando muitas pesquisas e
estudos relacionados à educação ambiental, aos impactos do turismo,
mudanças socioambientais causadas pela invasão de visitantes, entre
outros temas, conforme Chabaribery et al. (2004), Santos (2005), Lobo
(2008), Neiman e Rabinovici (2008), Martins et al. (2009), entre
outros.
Visando impulsionar o desenvolvimento socioeconômico da
área de influência dessas UVs, aliado à conservação da natureza, o
Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na Mata Atlântica foi um
financiamento de 15 milhões de dólares do Governo do Estado de São
Paulo, representado pela Secretaria do Meio Ambiente1, que significou
uma mudança de paradigma nas políticas públicas até então
desenvolvidas no Estado, pois proporcionou ao poder público a
oportunidade de criar mecanismos que possibilitem tanto a
preservação do meio ambiente como a promoção do
desenvolvimento social e econômico das comunidades ao redor das
áreas protegidas.
Após a execução de um contrato de financiamento e de
implantação do Projeto, foi necessária uma análise qualitativa dos
resultados, tanto para o Banco financiador, quanto para os
beneficiários, para avaliar o sucesso ou não dos trabalhos. Todo
gerenciamento de projetos analisa os resultados e as metas atingidas
para, se positivo, realizar novas tratativas e outros investimentos.
Assim, passados 10 anos desde a sua conclusão, o objetivo geral do
presente estudo foi avaliar os indicadores do Projeto de
Desenvolvimento do Ecoturismo na região da Mata Atlântica no
Estado de São Paulo. A análise foi realizada a partir dos dados do
Relatório de Encerramento disponibilizados pela Secretaria do Meio

1 No Estado de São Paulo, a Fundação para a Conservação e a Produção


Florestal do Estado de São Paulo (Fundação Florestal ou FF), órgão ligado à
Secretaria de Meio Ambiente, é a responsável pela gerência das Unidades de
Conservação.

62
Ambiente como documento final de prestação de contas ao Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), financiador do Projeto.

Turismo e Unidades de Conservação

Durante muito tempo, o turismo não era considerado como


uma ameaça à natureza e ao ambiente. Contudo, este quadro alterou-
se perante a evolução e dinâmica do setor, constadando-se, cada vez
mais, o aumento dos impactos negativoas a uma forte relação entre o
turismo e a queda da qualidade do ambiente.
Uma alternativa menos impactante seria adotar os princípios
do ecoturismo, pois, conforme Costa et al. (2010: 01), na prática, ele

pode se tornar um grande aliado na conservação ambiental de


vários ecossistemas, na medida em que consiga efetivamente
se realizar alicerçado no tripé: proteção dos recursos naturais,
sustentabilidade econômico-social e educação para a
conservação.

O ecoturismo é um segmento da atividade turística que


utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva
sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações (MICT; MMA, 1994). Na visão mais empreendedora,
Lindemberg e Hawkins (1995) definem que ecoturismo é um
fenômeno complexo e multidisciplinar e que muitos aspectos devem
ser levados em conta a fim de que ele seja um empreendimento bem-
sucedido para todos os envolvidos: consumidores, administradores,
povos originários e fornecedores. E as áreas protegidas oferecem
atrativos para realizar o ecoturismo.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
instituído pela Lei Federal nº 9.985/2000 e sua regulamentação pelo
Decreto nº 4.340/2002, fornecem diretrizes e procedimentos oficiais
para criação, implantação e gestão de Unidades de Conservação (UC).
Das categorias de áreas protegida determinas pelo SNUC, nas
Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI), as atividades
de visitação pública estão previstas nos Parques Nacionais, incluindo
Parque Estadual ou Natural Municipal, Monumentos Naturais e
Refúgios da Vida Silvestre, estando sujeitas às condições estabelecidas
no Plano de Manejo da Unidade, e às normas indicadas pelo órgão

63
responsável por sua administração. Desta forma, nas UCPI, está
proibida a visitação pública nas Reservas Biológicas e nas Estações
Ecológicas, apenas podendo ser realizada com regulamento específico
com objetivo educacional, o que demonstra ainda mais a importância
de um documento regulador como o Plano de Manejo (BRASIL, 2002).
O conceito de Plano de Manejo é definido no Art. 2º - XVII do
SNUC como

documento técnico mediante o qual, com fundamentos dos


objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se
estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir
o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da
Unidade.

No Brasil a realização de atividades de contato com


ambientes naturais, a diversificação de modalidades do ecoturismo e o
maior número de praticantes, demandou aos órgãos responsáveis das
UC o estabelecimento de diretrizes e normas para que a visitação
nesses locais seja realizada de maneira adequada, respeitando o
principal objetivo das áreas protegidas que é a conservação da
natureza. Por conta disso definiu-se que um dos programas de manejo
das UCs deva ser voltado a atender essa demanda crescente, sendo
denominado como programa de uso público (SÃO PAULO, 2018).
O Ministério do Meio Ambiente define uso público em
Unidades de Conservação como as atividades recreativas, científicas,
educativas e de interpretação ambiental, proporcionando ao visitante
a oportunidade de conhecer, entender e valorizar os recursos naturais
e culturais existentes (BRASIL, 2002). Em São Paulo, é utilizado o
termo “Uso Público” para designar uma ação que tenha usufruto do
público com a finalidade recreativa, educativa, científica, turística,
artística, espiritual que são realizadas dentro das Unidades de
Conservação e sempre de acordo com o Plano de Manejo (MAGRO,
1999; SÃO PAULO, 2018).
No final de 2006, com o decreto 51.453/2006 que cria no Brasil
o Sistema Estadual de Florestas (SIEFLOR), a Fundação para a
Conservação e Produção Florestal (Fundação Florestal – FF) passou a
responsabilizar-se pela gestão das unidades públicas de conservação e
produção do Estado de São Paulo através do Decreto nº 54.079, de 4

64
de março de 2009. Antes dessa publicação, apenas o Parque Estadual
de Intervales pertencia a FF e todas as outras Unidades eram
gerenciadas pelo Instituto Florestal.
De acordo com o Decreto, o SIEFLOR é um sistema criado
para conferir eficácia na gestão das florestas públicas e outras áreas
naturais protegidas, em face da extrema importância da conservação
da Mata Atlântica tida como patrimônio estadual e nacional, do
cerrado e de outras formações vegetais naturais do Estado de São
Paulo, bem como sua fauna associada.
As atividades de uso público nas UCs que devem constar no
plano de manejo são: visitação, áreas de visitação, e novas
potencialidades, período de maior frequência, serviços de condução e
guia ofertada, atividades educacionais, assim como a análise dos
impactos evidentes causados por essas atividades nas diferentes áreas
de visitação pública, se existentes (BRASIL, 2002).
O Uso público é também um importante meio de arrecadação
de recursos financeiros nas Unidades de Conservação e a
administração dos parques tem o difícil papel de conciliar o uso
público com a preservação do meio ambiente (TAKAHASHI, 2004).
Mas atualmente, a dificuldade de manejá-lo juntamente com
programas contemplados no Plano de Manejo, além da gerência
administrativa geral do parque limitada em recursos humanos, e a
dificuldade de conseguir fundos financeiros, resulta em baixa
qualidade no serviço. Takahashi (2004) aponta a disponibilidade
financeira como um dos fatores que restringem a recreação em áreas
naturais no Brasil.

O Projeto “Ecoturismo na Mata Atlântica”

Em junho de 2003, o então secretário do Meio Ambiente, José


Goldemberg elaborou a seguinte justificativa para solicitar que
Governador do Estado de São Paulo enviasse uma Carta Consulta à
Comissão de Financiamentos Externos (COFIEX) para obter
financiamento internacional de um Projeto:

A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade


do planeta e também um dos mais ameaçados tem,
especialmente no Vale do Ribeira e Litoral Norte, sua porção
mais conservada e contínua. Por essa razão, porções dessas

65
duas regiões já foram reconhecidas pela UNESCO como
patrimônio da humanidade, além de possuírem várias unidades
de conservação que, dentre outras atribuições, devem
proporcionar aos cidadãos condições para a realização de
atividades de recreação e educação ambiental (SÃO PAULO,
2003, p.76).

O intuito era elaborar um projeto piloto para colocar as


Unidades de Conservação a serviço do desenvolvimento regional por
meio do ecoturismo, estimando gerar mais de 3000 postos de
trabalhos ou empregos e duplicar o número de turistas aos parques
escolhidos e, ao mesmo tempo, melhorar a proteção da
biodiversidade nos parques e no entorno. E não somente aproveitar
os atrativos da região com enorme potencial turístico, mas também
aperfeiçoar a gastronomia, o atendimento hospitaleiro e a capacidade
produtiva de artesãos, contribuindo para a economia da região.
O Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na Região da
Mata Atlântica foi implantado entre fevereiro de 2006 até fevereiro de
2013, através da Secretaria do Meio Ambiente, financiado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), com ações que visavam
estimular o aproveitamento turístico dos parques estaduais
envolvidos, inserindo uma mudança de paradigma onde o setor
público cria mecanismos que melhorem a preservação do meio
ambiente e a promoção do desenvolvimento social e econômico das
comunidades do entorno dos parques paulistas e servindo de modelo
para outras áreas protegidas (SÃO PAULO, 2005). Esse potencial é
possível, desde que haja um bom planejamento turístico e as ações e
seus impactos sejam medidos e monitorados, com o objetivo de
minimizá-los, além de tornar essas atividades, uma fonte de renda
para as comunidades locais, conforme relata de Tito (2003),
Ruschmann (1997) e Pedrini et al. (2011).
O Projeto abrangeu seis Unidades de Conservação de
categoria Parques Estaduais (PE), sendo cinco localizados no Vale do
Ribeira e Alto Paranapanema: PE Turístico do Alto Ribeira (PETAR), PE
Caverna do Diabo (PECD), PE Ilha do Cardoso (PEIC), PE “Carlos
Botelho” (PECB), PE Intervales (PEI); e um no Litoral Norte: PE Ilhabela
(PEIb), conforme pode ser observado pelo mapa na Figura 1.

66
Figura 1 - Mapa com a localização das Unidades de Conservação do Projeto.

Fonte: Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2005).

Entre 2003 e 2005 foram realizadas oficinas participativas


para a estruturação do Projeto, resultando em um esqueleto com 3
componentes, atendendo os trabalhos realizados entre 2003 a 2005,
em oficinas participativas, conforme pode ser observado na Figura 2,
que deveriam se interligar:
• Componente 1: visava estruturar as UCs para a visitação, além
de subsidiar os outros componentes através da construção de
alojamentos, pousadas, infraestrutura sanitária, Centro de
Visitantes e restaurantes visando o atendimento da demanda
turística para, ao mesmo tempo, gerar oportunidades para o
desenvolvimento econômico da região através de
concessões.
• Componente 2: Focado na cadeia produtiva da região,
realizava articulações entre prefeituras, empresários e outros
atores do entorno dos parques, além de promover cursos de
capacitação para aperfeiçoar as atividades já existentes
relacionadas ao ecoturismo. Além disso, serviu para captar os
potenciais existentes na região para realização da Campanha
Publicitária das Unidades de Conservação.

67
• Componente 3: Fortalecimento da gestão pública para o
ecoturismo através de políticas públicas e capacitações dos
servidores públicos.

Figura 2 - Imagem da estrutura das linhas de investimento do Projeto


Ecoturismo.

Fonte: Projeto de Ecoturismo da Mata Atlântica.

A Tabela 1 apresenta os elementos básicos do Projeto


Ecoturismo sobre as Unidades de Conservação, sua criação, áreas de
visitação e dados sobre o plano de manejo.

68
Tabela 1 - Informações básicas das Unidades de Conservação do Projeto
Ecoturismo.
Possui
Núcleos
Parque Área Decreto de Possui Plano de Conselho
de
Estadual (ha) Criação Manejo (PM)? instituído?
Visitação
Qual?
1– Decreto-
PEJ Caverna 150.000 Lei nº 145 Não Não
do Diabo de 8/8/69
Apenas o Plano de
Manejo
Lei 12.810 Sim,
1- Caverna Espeleológico
PECD 40.219 em Conselho
do Diabo elaborado em 2010
21/02/2008 Consultivo
(em análise no CECAV
desde 2010)
Sim, Plano de
1- Ouro
Manejo do Parque
Grosso
em análise no
2-
Decreto nº CONSEMA desde Sim,
Caboclos
PETAR 35.712 32.283 de 2009 e Plano de Conselho
3-
19/05/1958 Manejo Consultivo
Santana
Espeleológico na
4- Casa de
análise pelo CECAV
Pedra
desde 2010
1- Decreto nº Sim, Plano de Sim,
PEIC Perequê 22.500 40.319 de Manejo do Parque Conselho
2- Marujá 03/07/1962 aprovado em 2000 Consultivo
1 - Sete
Barras
Decreto nº Sim, Plano de Sim,
2- São
PECB 37.644 19.499 de Manejo do Parque Conselho
Miguel
1982 aprovado em 2008 Consultivo
Arcanjo
(sede)
Sim, Plano de
1 – Sede Decreto Manejo do Parque
2 - Bulha nº.135 de aprovado em 2008 e Sim,
PEI D'Água 46.086 08 de Plano de Manejo Conselho
3- junho de Espeleológico na Consultivo
Saibadela 1995 análise pelo CECAV
desde 2010
Sim,
Decreto nº Sim, em análise no
PEIb 1 – Sede 27.025 Conselho
9.414/77 CONSEMA.
Consultivo
Fonte: adaptado Fundação Florestal, 2013.

69
Ressalta-se que, no início do Projeto Ecoturismo, o Parque
Estadual de Jacupiranga (PEJ), criado pelo Decreto-Lei Nº 145 de 8 de
agosto de 1969, se transformou no Mosaico Jacupiranga em 2008,
devido a muitos conflitos e falta de efetividade, além de ser
atravessado por uma rodovia (BR-116) que liga a região sul e sudeste
do Brasil. O PEJ foi subdividido e ampliado, composto por três Parques
Estaduais: Caverna do Diabo (PECD), do Rio Turvo (PERT) e Lagamar
de Cananéia (PELC) e mais onze Unidades de Conservação de uso
sustentável nas categorias APA, RDS e RESEX.
Para acompanhar todos os investimentos, foi criada na
Secretaria uma Unidade de Coordenação de Projetos – UCP, sendo
composta por núcleos com funções definidas e a formação acadêmica
necessária para as atividades:
I) Núcleo de Controle e Monitoramento:
a) Responder pelo controle e monitoramento dos
procedimentos relativos às aquisições, contratações,
organização administrativo-financeira e orçamentária e
operacional do Projeto, em articulação com as demais
Unidades definidas no artigo 1º, parágrafo segundo, do
Decreto 50.406 de 27 de dezembro de 2005;
b) A equipe deve ser composta por técnicos com experiência em
aquisições e em gestão de projetos;
II) Núcleo de Infraestrutura e Paisagem:
a) Responder por todos os assuntos referentes às intervenções
físicas (projetos e obras civis) que serão efetuadas no âmbito
do Projeto;
b) Deve contar com engenheiros civis com experiência em
projetos e execução de obras, e arquitetos com experiência
em projetos e execução de obras, paisagismo, programação
visual e projetos expositivos;
III) Núcleo de Gestão da Visitação para o Ecoturismo:
a) Responder por assuntos relativos à implantação de um
sistema de recepção e ordenamento da visitação nos Parques
Estaduais do Projeto;

70
b) Deve contar com técnicos com experiência em gestão de
visitação em Unidades de Conservação e turismo;
IV) Núcleo de Apoio à Cadeia Produtiva do Turismo:
a) Responder por ações destinadas às comunidades, aos micro,
pequenos e médios empresários da cadeia produtiva do
turismo, e aos municípios da zona de influência dos parques
para fomentar sua participação nos benefícios do Projeto;
b) Deve contar com técnicos com experiência em mobilização
comunitária e condução de equipes;
V) Núcleo de Comunicação e Marketing:
a) Responder por assuntos relativos ao mercado turístico,
principalmente promoção e gerenciamento de planos de
parcerias com o setor privado, ações de planejamento,
marketing, campanha publicitária voltada para promoção do
ecoturismo em Parques e da área de influência, comunicação
com visitantes, mercado e mídia em geral;
b) Deve contar com técnicos da área de marketing e negócios
turísticos.

Metodologia

A metodologia investigativa utilizada neste constituiu-se de


uma revisão bibliográfica, principalmente por meio dos documentos
elaborados pelo Projeto Ecoturismo. O principal documento utilizado
foi o Relatório de Encerramento do Projeto, que apresentou os
resultados alcançados após sua implantação.
Para entender o Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo
na região da Mata Atlântica, foi aplicado, também, o ciclo PDCA (Plan –
Do – Check – Act), uma ferramenta utilizada para nortear a gestão de
projetos em busca da melhoria contínua. É uma metodologia que
exige que se tenha constante monitoramento e avaliação nas
atividades que estão sendo realizadas e a cada mudança, nova análise
deve ser efetivada. Esse ciclo exige uma mão de obra e ferramentas
continuamente. No caso do projeto Ecoturismo na Mata Atlântica, a
aplicação dele se faz necessária para apresentação dos resultados
anualmente até 2018, uma exigência contratual do financiador para
analisar a efetividade dos investimentos realizados.

71
A primeira etapa, de planejamento, foi linear, com meta de
contextualizar e entender o projeto através do resgate histórico,
desde sua concepção até sua implantação, sendo constituída por uma
análise documental.
A segunda consistiu em apresentar os trabalhos realizados
durante os 7 (sete) anos de contrato de empréstimo.
A terceira etapa, de Verificação, constituiu-se da
interpretação dos indicadores do Projeto Ecoturismo apresentados na
sua concepção em 2006 até o término dos trabalhos em 2012, a fim de
verificar o que foi e o que não foi atingido, além da sua eficácia.
Na etapa de verificação, foram averiguados:
• fonte dos dados, visto que a FF não possui um sistema de
gestão da visitação implantado em todos os parques.
• tempo do projeto.
• inflação no período do projeto (como calcular?)
• Quantidade de planos de manejo aprovados
• ingressantes repetidos?
• base da receita? Inclui, pernoite? Alimentação? Taxa de
entrada?
• plano de manejo (uso público x execução do projeto)
Por último, a etapa de Ação, e já prevendo os próximos
passos para o desenvolvimento do turismo em Unidades de
Conservação, na qual foram fornecidos recomendações e indicadores
a serem aplicados nos próximos projetos.

Resultados e discussão

O Projeto Ecoturismo promoveu as seguintes atividades em


cada um dos três componentes estratégicos:

Componente I:

• Estudo de melhoria atrativos turísticos dos Parques


(intervenções necessárias para habilitação para uso turístico e

72
impacto da visitação de atrativos) e sistema de trilhas (trilhas
existentes e proposta de implantação – 545 km);
• Estudo para elaboração do plano de contingência e
gerenciamento de riscos;
• Estudo para elaboração do plano de sinalização para os
parques;
• Projeto Executivo para readequação do píer do Núcleo
Perequê – PEIC;
• Projeto executivo para reforma do sistema de iluminação da
Caverna do Diabo;
• Projeto Executivo para revitalização do núcleo Santana -
PETAR que inclui: centro de interpretação ambiental,
recepção de visitantes, área administrativa, sanitários e obras
complementares;
• Projeto Executivo do desenho das exposições dos Centros de
Visitante;
• Contratação de serviços fotográficos para exposição temática
360º;
• Obra de restauração do edifício histórico para uso como sede
do Parque Estadual de Ilhabela, loja e Centro de visitantes;
• Obras de revitalização do núcleo Santana - PETAR que inclui:
edifício contemplando um centro de visitantes, uma recepção,
uma lanchonete, uma loja e sanitários, além de um mirante;
• Obras de revitalização do núcleo Caverna do Diabo - PECD
(restaurante, centro de visitantes, sanitários, estacionamento,
guarita);
• Obras de instalação do sistema de iluminação da Caverna do
Diabo – um sistema automatizado e dividido por setores,
reduzindo o gasto de energia e evitando a iluminação da
Caverna em trechos sem visitação e iluminando formações
espeleológicas específicas para trabalhar com a imaginação;
• Obras de instalação da rede elétrica de alta tensão do Parque
Estadual Caverna do Diabo;

73
• Obras de revitalização da Sede em Ribeirão Grande - PEI
(Pousadas Lontra);
• Obras no núcleo Perequê - PEIC (pousada, alojamento,
sanitários, centro de visitantes, recepção e área
administrativa);
• Obras do sistema de sinalização de Parques (placas
nominativas e interpretativas);
• Obras de Implantação do sistema de trilhas e trilhas de longo
percurso e atrativos turísticos (186Km) – os três primeiros
trechos da trilha de longo percurso (PETAR até o PEI) e uma
trilha com total acessibilidade no PECB e a ponte do Betari no
PETAR são algumas intervenções importantes realizadas no
Projeto;
• Implantação das exposições temáticas nos centros de
visitantes de todos os Parques;.
• Projeto Executivo e Obras de revitalização da estrada da
Macaca - PECB (equipamentos de vigilância e serviço ao
visitante);
• Aquisição de diversos equipamentos para auxiliar as
atividades nos parques, seja para primeiros socorros (em
atendimento ao Plano de Gerenciamento de Riscos e
Contingências), para manutenção e monitoramento do
sistema trilhas (São Paulo, 2009b), para atividades
administrativas e fiscalizadoras;
• Aquisição de Mobiliário para as unidades de negócios
implantados pelo Projeto;
• Aquisição de Software para acompanhamento dos projetos
do Sistema Trilhas e Atrativos e do Plano de Manejo nos
parques estaduais paulistas.
Algumas considerações sobre o projeto inicial e o produto
final são relatados por Holtz (2013), já que foi implantada a Pousada
Lontra no PEI, mas não foi executada a Pousada Monocarvoeiro, que
também fazia parte do projeto inicial. Além disso, um dos 4 módulos
da Pousada Lontra foi excluído por falta de verba. A obra de
revitalização do píer do núcleo Perequê – PEIC, também não foi
realizada, já que o projeto executivo demorou demasiadamente para

74
ser concluído e o custo previsto em planilha foi muito subestimado. A
implantação da Pousada no PECB foi paralisada pois encontrou-se
falhas no projeto executivo e sua retomada não foi mais possível por
aumento de custos na Pousada Lontra e pela variação negativa do
dólar. As obras de estrutura de apoio aos visitantes da estrada de
Castelhanos não puderam ser realizadas pela falta de projeto
executivo de pavimentação da mesma e pelas condições de acesso na
época (apenas era possível transitar com veículos 4x4 e não havia
tráfego para dois veículos ao mesmo tempo), impossibilitando o
transporte de material para sua execução. Cumpre informar que a
pavimentação da estrada é de responsabilidade de outro órgão, o
Departamento de Estradas e Rodagem de São Paulo. Existindo a
possibilidade de o Projeto implantar as estruturas de apoio ao longo
da estrada em locais que talvez houvesse a ampliação da faixa da
estrada poderia ser considerado uma falha muito grave no
investimento do Projeto. Por esta razão e por não ser possível
transportar o material na estrada, o projeto das estruturas a serem
implantadas foi enviado aos responsáveis do DER para contemplar
junto com a reforma da pavimentação da estrada.
Os investimentos do Componente 1 resultaram maiores do
que os orçados originalmente e as licitações deram desertas ou
fracassadas, gerando a necessidade de replanilhar os preços em
decorrência do aquecimento do mercado de construção civil no
estado de SP e a localização/porte das obras distantes de grandes
centros urbanos.

Componente II:

Neste componente estratégico, o Projeto de Ecoturismo


implementou ações com o objetivo de fortalecer os organismos
envolvidos com as atividades de turismo e meio ambiente na região do
entorno dos Parques a fim de fortalecer sua participação na gestão do
ecoturismo. A partir dessas atividades, os envolvidos passaram a
formar uma cadeia produtiva do ecoturismo organizada e articulada
para desdobrar um crescimento sustentável. Atividades executadas
neste componente:
• Plano estratégico de capacitação comunitária a partir de
reuniões de planejamento participativo com mais de 30

75
comunidades moradoras do Vale do Ribeira e Alto
Parapanema;
• Estruturação das Unidades de Negócios contemplando 32
Planos de Negócios, Manual de identidade visual (vide Foto
15), Projetos Executivos para os Centros de Visitantes e
Proposta de intervenção espacial para implantação das
Unidades de Negócios;
• Manuais de identidade visual com diretrizes de aplicação da
marca por parque;
• Plano de Marketing Turístico;
• Organização de Fóruns para estruturação da entidade
articuladora da cadeia do ecoturismo;
• Cursos de capacitação para 366 pessoas de 31 comunidades
da área de influência do Projeto em 10 temas: Monitor
Socioambiental, Artesanato Tradicional, Elaboração e Gestão
de Projetos, Organização Institucional, Manejo Florestal e
Agroecologia, Plano de Negócios e Gestão de
Empreendimentos Institucional, para Artesanato e para
Produtos Agroflorestais, Sementes Tradicionais, mudas e
sementes florestais e Apicultura e meliponicultura;
• Capacitação aos profissionais de turismo do entorno dos seis
parques do Projeto contemplando 2.200 pessoas, em 9 temas:
Cenário atual do Turismo no Brasil, Serviços de Alimentos e
Bebidas, Atendimento ao Cliente, Primeiros Socorros, Noções
de Meio de Hospedagem, Atividades Recreativas, Gestão em
Meios de Hospedagem, Gestão de Alimentos e Bebidas e
Gestão de Turismo;
• Curso de capacitação de planejamento e gestão do turismo,
com ênfase em áreas protegidas, para 30 gestores municipais
dos 13 municípios das áreas de influência direta do Projeto;
• Constituição de Entidades articuladoras da cadeia produtiva
do ecoturismo na área de influência dos parques.
• Participação em eventos em conjunto com a Secretaria de
Turismo (SPTuris) para promover o ecoturismo e os parques
em São Paulo.

76
O Componente II envolveu as pessoas que vivem na área de
influência, também conhecida como o entorno dos Parques, são
impactadas diretamente pela existência das Unidades de Conservação,
já que são áreas ricas e restritas legalmente, contudo podem ser
beneficiadas pelas ações do Projeto, através do incremento da
visitação na região. Foram constituídos 6 (seis) GTs (Grupo de
Trabalho) da cadeia produtiva do turismo ao invés das entidades
articuladoras porque os membros optaram por não criar novas
instituições jurídicas, mas continuam se reunindo e organizando ações
nas áreas de influência dos parques. São elas:
• Parque Estadual Carlos Botelho: São Miguel Arcanjo, Tapiraí e
Sete Barras.
• Parque Estadual Intervales: Capão Bonito, Ribeirão Grande e
Guapiara.
• Parque Estadual da Caverna do Diabo: Eldorado, Barra do
Turvo e Cajati.
• PETAR: Iporanga e Apiaí
• Parque Estadual da Ilha do Cardoso: Cananéia, Iguape, Ilha
Comprida e Pariquera-Açu
• Parque Estadual de Ilhabela: Ilhabela
Para o Componente II, houve alteração de fonte financeira na
visita técnica de novembro de 2008, passando o BID a financiar uma
parcela maior do que a inicialmente prevista.

Componente III:

Destacamos algumas ações importantes para o


fortalecimento institucional:
• Alternativas de organização interna da SMA para a gestão do
ecoturismo e a visitação pública nos parques;
• Mecanismos e atividades para a modernização das funções
administrativas e operacionais vinculadas à gestão do
ecoturismo;
• Identificação de necessidades e prioridades de capacitação
específicas do pessoal da SMA, Instituto Florestal (IF) e

77
Fundação Florestal (FF) em matéria de ecoturismo, gestão de
visitantes e gestão de impactos ambientais e atividades
ilegais;
• Medidas de controle e incentivos para melhorar as relações
entre os parques e as comunidades na zona de influência
direta dos parques;
• Elaboração de Política estadual e regulamentação da gestão
do ecoturismo e uso dos parques contemplando: Política
tarifaria, Cadastro de prestadores de serviço, Política de
Voluntariado, Sistema de informação ao visitante e Controle e
monitoramento das receitas e alocação dos recursos oriundos
dos ingressos às UCs e demais serviços prestados;
• Acordo com a Secretaria de Turismo nas atividades de
articulação e promoção;
• Contratação de Assistentes Técnicos de visitação pública para
cada Parque;
• Capacitação de Gestores de Parque sobre as normas ABNT
relacionadas a turismo de aventura e gestão da segurança.

O Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na região da


Mata Atlântica, durante os sete anos de implantação, realizou 30
visitas do BID, todas relatadas nas Ajudas Memórias, termo utilizado
pelo BID para as atas de reunião realizadas durante visitas ao projeto
para analisar o seu andamento, preocupações, metas, soluções e
auxiliar nas decisões de investimento. Em resumo, destacaram-se
alguns pontos nas Ajudas Memórias:
• foram relatados o lento arranque do Projeto com um baixo
ritmo de desembolso;
• foram relatadas as dificuldades no gerenciamento dos
investimentos, uma vez que a variação da taxa cambial do
dólar diminuía. À época da assinatura do contrato o valor do
dólar era US$ 1,00 para R$ 3,00 e durante a execução chegou
a R$ 1,70, resultando no cancelamento em diversas linhas de
investimento.

78
• foi criado um Núcleo na Fundação Florestal chamado Gerência
do Ecoturismo para focar na gestão do uso público da
visitação.
• foram realizados estudos para padronizar as informações e a
identidade visual dos parques paulistas, conhecer as
atividades de uso público possíveis de serem realizadas, além
do gerenciamento de riscos.
• houve dois pedidos de prorrogação dos parques, uma em
2009 e outra em 2011, aprovadas pela SEAIN (Secretaria de
Assuntos Internacionais) e pelo BID.
• apresentou diversas mudanças na gestão do Banco, do
Projeto e da equipe UCP;
• informa a demora no consenso nos modelos de editais entre a
Consultoria Jurídica e o setor jurídico do Banco;
• houve uma solicitação da UCP para o Banco para uma reunião
entre a publicação do edital e o recebimento das propostas
para sanar eventuais dúvidas das fornecedoras, sendo
aprovada pelo Banco e apresentando resultados eficazes,
como o comparecimento de empresas nas reuniões e
propostas homologadas;
• foi informada em uma das reuniões que a média para
elaboração de um processo licitatório até a publicação do
edital é de, no mínimo, 6 meses.
• foram realizados estudos sobre concessão.
Além das Ajudas Memórias, os relatórios de manutenção,
elaborados e emitidos anualmente pela equipe do Projeto eram
simples, continham todos os materiais e serviços contratados e
identificaram que não houve manutenção das infraestruturas
implantadas e dos equipamentos adquiridos. As aquisições foram
apontadas em sua maioria em bom estado de conservação. Pela
cláusula do Banco, todo o financiamento deveria ser utilizado para
investimentos e não para a manutenção, que ficou, portanto, sob a
responsabilidade de FF. O Banco, em um dos Ofícios após recebimento
do relatório de manutenção, demonstrou sua preocupação com o
abandono dos produtos e solicitou providências por parte do
mutuário.

79
O Relatório de Progresso também era um documento
elaborado e semestralmente enviado para o Banco. Continham
informações sobre o andamento dos processos, os resultados e as
atividades previstas para o próximo semestre para cada um dos
componentes do Projeto. Além das ocorrências no período, também
são relatadas as ações complementares que ocorriam nos parques, o
desempenho financeiro do Projeto e uma avaliação crítica da
implantação, com respostas similares às Ajudas Memórias. Nas
versões finais também foram adicionados um resumo executivo do
projeto, os riscos, as lições aprendidas durante o semestre.
Ambos os relatórios de Manutenção e Progresso atendiam as
cláusulas do contrato de empréstimo. É preciso lembrar que os
documentos seguiam um modelo do Banco, que mudou durante o
projeto. No caso do Relatório de Progresso, a partir de agosto de 2011,
a versão final era elaborada somente em planilhas e não mais em
documentos de texto. De fato, as informações ficaram mais objetivas
e diretas para o leitor. Por conta dessas mudanças, a base para o
histórico das informações utilizadas neste estudo foram as Ajudas
Memórias, que não tiveram mudanças significativas ao longo do
projeto e as informações, embora mais enxutas, resumiam o Relatório
de Progresso. O último Relatório de Progresso, datado de fevereiro de
2013 mostrava os indicadores do projeto, os riscos e lições aprendidas.
Os dados finais foram apresentados no Relatório de Encerramento do
Projeto.
Além desses relatórios, durante o tempo de vida do Projeto
Ecoturismo, inclusive o ano seguinte ao término do contrato, a UCP
recebia três visitas anualmente: auditoria do tribunal de contas, da
secretaria da fazenda, auditoria contratada pelo Projeto em
atendimento ao contrato de empréstimo. Assim, pelo tempo de cada
auditoria, pôde-se perceber que a equipe passava pelo menos um
trimestre do ano atendendo os auditores e respondendo os
respectivos relatórios, isso com a demanda de recursos humanos
limitada e com diversos processos licitatórios em andamento. Por mais
que a Ajudas Memórias ressaltassem as obras, havia diversos outros
processos de aquisição sucedendo no Projeto.
Todos os investimentos encontram-se detalhados no Plano de
Aquisições, instrumento utilizado pelo Banco para definir a
elegibilidade das despesas, principalmente nos projetos com revisão
ex-post (auditoria e aprovação dos gastos após execução do

80
contrato), sendo um resumo das contratações apresentado na Tabela
2.

Tabela 2 - Resumo das contratações realizadas pelo Projeto.


Contratações: Valores (R$) Empresa
Contratada
Revitalização do Núcleo Perequê – PEIC 7.923.341 Lacon Engenharia
Construção da Pousada Lontra – PEI 3.533.003 Lacon Engenharia
Implantação de trilhas e atrativos 1.608.565 Tectom Serviços
Verticais
Revitalização do Núcleo Caverna do Diabo 1.352.865 Tropical
Engenharia
Revitalização do Núcleo Santana – PETAR 1.302.457 Tropical
Engenharia
Exposições temáticas para os Centros de 1.268.375 Ecoview Marketing
Visitantes dos Parques
Implantação da rede de energia e iluminação da 1.232.290 Fares & Fares /
Caverna do Diabo Engecon
Engenharia
Estudos e Projetos Executivos 1.904.991 Diversas
Construção de estruturas na Estrada Parque 876.359 EBCI
PECB
Reforma da antiga cadeia e fórum de Ilhabela 739.534 Fazer Construções
e Engenharia
Concepção de identidade visual para os Parques 578.081 Idom Ingenieria
Plano de contingência e gerenciamento de riscos 560.000 Modulo Security
Implantação de sinalização para os Parques 400.000 Sinalta Propista
Mobiliários para os Parques 391.476 Diversas
Equipamentos e utensílios para os Parques 344.196 Diversas
Veículos e embarcações 313.500 Diversas
Plano de monitoramento de impacto da visitação 137.300 BK Consultoria
Outros 70.912 Diversas
TOTAL 24.537.245
Fonte: São Paulo, 2013.

A Tabela 3 apresenta o valor total do contrato e também a


proporção para a fonte externa (BID) e o de contrapartida (Recursos
do Tesouro do Estado – RTE), além de exibir quanto foi gasto em cada
componente.

81
Tabela 3 - Valores gastos por componente e por fonte.
Valores contratados (US$)
BID RTE TOTAL
CONTRATO 9.000.000 6.000.000 15.000.000
Componente 1 7.365.953 5.661.551 13027504
Componente 2 897.510 751.759 1649269
Componente 3 0 581.872 581872
UCP 603.601 701.309 1304910
Total 8.867.064 7.696.490 16.563.554
Fonte: Relatório de Encerramento do Projeto (HOLTZ, 2013).

Os trabalhos demonstram que foram desembolsados 98,15%


do empréstimo. Pela Tabela 2 é possível estabelecer que os gastos de
contrapartida foram cerca de 28% mais altos que o inicial para cobrir os
gastos de monitoramento e investimentos do Componente 1 e para
suprir a variação do dólar durante a execução do Projeto. Com a
valorização do dólar no último semestre de 2012 não foi possível
gastar os 1,85% do empréstimo que restaram, além de algumas
licitações de bens fracassarem.
O Relatório de Encerramento do Projeto apresentou os
resultados alcançados pelo esforço da equipe da UCP e seus parceiros,
tais valores foram apresentados no Seminário de Encerramento do
Projeto Ecoturismo em janeiro de 2013, gravados em vídeo e cuja
transcrição foi relatada pelo consultor indicado pelo financiador, Holtz
(2013) e apresentados pelas Tabelas 2 e 3 e pelos gráficos abaixo.
Na Figura 3 observa-se que o maior montante investido foi no
Componente 1, tanto na fonte RTE como o recurso externo e não
houve investimento do BID no Componente 3, já que se tratava de
investimento na estrutura interna da SMA e FF.

82
Figura 3 - Gráfico com os investimentos (em US$) realizados ao longo da
execução do Projeto.

Valores dos Investimentos por Componente


14.000.000
12.000.000
10.000.000
8.000.000
RTE
6.000.000
BID
4.000.000
2.000.000
0
Compon. 1 Compon. 2 Compon. 3 UCP

Fonte: Relatório de término do Projeto (HOLTZ, 2013 adaptado).

Pelas Ajudas Memórias, as preocupações do BID em relação à


vagarosidade na execução do Projeto são facilmente observadas na
Figura 4, já que havia a necessidade de elaborar termos de referência e
aguardar estudos que norteassem outras contratações. Também é
possível identificar que no primeiro ano de execução do projeto foi
gasto apenas a fonte de contrapartida, pois houve o reconhecimento
do Banco para algumas ações que estavam sendo executadas antes da
assinatura do contrato.

83
Figura 4 - Gráfico com os investimentos (em US$) realizados por Componente
a cada ano do Projeto.

Investimento realizado por ano e por


componente
$4.000

$3.500

$3.000

$2.500
Componente 1
$2.000
Componente 2
$1.500
Componente 3
$1.000
Outros
$500

$0

Fonte: Relatório de Encerramento do Projeto (HOLTZ, 2013).

As Figuras 3 e 4 mostram que os investimentos se


concentraram principalmente no Componente 1, onde estão as obras
de infraestrutura dos parques para visitação que exigiram maiores
aportes e onde estavam os projetos de Unidades de Negócios que
subsidiariam os componentes 2 e 3 e, consequentemente, a
sustentabilidade dos parques através das concessões. Ainda pela
Figura 4 é possível observar que os gastos se concentraram nos
últimos anos do projeto. Holtz (2013) relata que a equipe estava mais
experiente para executar os trabalhos conforme as normas do Banco
Desde o início da concepção do projeto (SÃO PAULO, 2003)
foram estabelecidos indicadores para analisar o Projeto após sua
execução, assim como foram lançadas as metas a serem atingidas com
os investimentos. Houve uma perda das memórias de cálculo e das
referências durante o decorrer do Projeto, principalmente devido à
rotatividade de funcionários na UCP, culminando em ajustes e
aprovação entre o BID para alguns indicadores. Deste modo, foi
realizado um levantamento dos mesmos dados no final do projeto,
resultando na Tabela 4.

84
Tabela 4 - Resultado dos Indicadores-Chaves do Projeto Ecoturismo.
Indicadores-chave Meta Base Alcançado
(2005)
Receita anual auferida pela visitação pública R$ R$ R$
nos seis Parques do Projeto 400.000,00 277.517,46 667.359,61*

Instrumentos normativos de inserção do 1 0 10*


ecoturismo como ferramenta de gestão nas
UCs do estado de SP
% de parques estaduais com planos de uso 20,00% 0,00% 37,8%*
público aprovados
Número de visitantes por ano nos seis 300.000 170.000 198.839*
parques do Projeto
Emprego direto no setor turístico, nos 13 2,01% 1,34% 1,02%
municípios da área de influência do Projeto
no Vale do Ribeira
Empresas turísticas que operam na região de 1013 681 638
influência do Projeto no Vale do Ribeira

Aumenta a participação das mulheres nos 50% 30% 31%


Conselhos Consultivos dos Parques

0,01% da superfície territorial total do Estado 0,01% 0,00% 0,008%


de São Paulo com zonas terrestres e
marinhas efetivamente protegidas, através
de uma melhor gestão das áreas dos seis
parques;
Receita média auferida pelos Parques R$ 6,00 R$ 4,18 R$6,38*
Estaduais Intervales, Caverna do Diabo, Ilha
do Cardoso e Turístico do Alto Ribeira, por
visitante, por ano
* Dados da FF de 2012. / Fonte: Relatório de Término do Projeto (HOLTZ, 2013)

Dos nove indicadores, cinco ainda não atingiram a meta do


projeto, mas o acompanhamento para análise de efetividade do
Projeto será avaliado novamente. Conforme normas do Banco, será
realizado uma avaliação ex-post após 5 anos (em fevereiro de 2018).
Para tanto foi firmado um Convênio entre a FF e SMA para
acompanhar os resultados dos investimentos.
Apesar de ter alcançado a meta, a quantidade de
instrumentos normativos na gestão das UC, ainda é pouco
significativa, dada a coleção de estudos e trabalhos padronizados
adquiridos pelo Projeto não institucionalizados até o momento, tais
como o Plano de Gerenciamento de Riscos e de Contingências, Estudo
de Trilhas e Atrativos, Projeto de Centros de Visitantes, Identidade
Visual dos Parques, entre outros.

85
Embora fosse primordial para a visitação, cerca de 40
Unidades de Conservação ainda aguardam Planos de Manejo e de Uso
Público para elaboração ou aprovação ou revisão, inclusive os do
âmbito do Projeto Ecoturismo. Os empregos diretos no setor turístico
e empresas turísticas que operam na região são dados obtidos pelo
IBGE, e que, portanto, ainda não foram levantados, o que só será
possível em médio prazo.
A Figura 5 demonstra que a participação nos Conselhos tem
aumentado desde a concepção do Projeto, o que é positivo para
agregar a sociedade na participação das atividades nos parques. Do
número de visitantes por ano, a UCP recebia da FF uma planilha com
as informações de visitantes, porém, sem apresentar maiores
detalhes, tais como: alunos, pesquisadores, turistas, conforme Tabela
5, exceto no caso do PEIC e PEI, porém, as planilhas são diferentes. Na
gestão da Ilha do Cardoso são separados em escolas, outros grupos e
público geral (frequentadores), enquanto, em Intervales são
separados por escolas, visitantes regionais, demais visitantes e
pesquisadores. Alguns parques possuem mais de um Núcleo, como
PETAR, PEIC, PECB e não há informações se os visitantes se repetem.

Figura 5 – Representação da participação de homens e mulheres no Conselho


Consultivo dos Parques (quantidade x ano).
160

140

120

100

80 homem
mulher
60

40

20

0
2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011 2012

86
Tabela 5 - Número de Visitantes nos Parques Paulistas entre 2007 a 2012.
Número de visitantes nos Parques Estaduais por ano

Ano/Parque 2007 2008 2009 2010 2011 2012


Estadual
Intervales 9.756 7.098 7.175 16.083 15.778 16.718

Ilhabela 22.280 14.756 35.535 39.106 54.606 83.972

Carlos Botelho 14.175 16.384 16.288 32.966 35.128 13.327

Caverna do Diabo 27.545 9.198 24.453 26.162 26.871 27.143

PETAR 25.794 25.155 21.689 34.980 36.856 37.301

Ilha do Cardoso 40.480 64.756 23.242 34.280 27.000 20.378

Total 142.037 139.355 128.382 183.577 196.239 198.839

Fonte: Fundação Florestal.

Já o valor da participação da mulher em Conselhos


Consultivos nos parques, este ainda é pouco expressivo e contabiliza
apenas uma pequena parte da sociedade do entorno. A Figura 5
também apresenta a variação da presença feminina em relação à
masculina nos conselhos por ano.
Em receitas auferidas, o valor de cada parque variou devido às
instalações e atividades. Foram inseridos no valor a venda dos
passaportes e guias, reembolso de ligações telefônicas, hospedagens,
cessão de espaço físico para eventos, ingressos, monitoria, mudas e
sementes, receitas eventuais e camping.
A receita média auferida atingiu a meta, porém são de 4
Unidades de Conservação apenas, sendo que, como pode ser
observado na Tabela 6, os ganhos de cada parque são distintos.

87
Tabela 6 - Informações financeiras da receita dos Parques Estaduais Paulistas
(jul-dez/ 2012).
UC Receita Valor

Hospedagem/Pernoite 8.303,00

Ingressos 2.850,00

Passaportes e Guia 975,00

Reembolso de Ligações Telefônicas 66,64


PE CARLOS BOTELHO 12.194,64
Cessão de Espaço Físico (vídeo, foto, quadra,
4.260,00
restaurante etc)
Ingressos 59.889,50
PE CAVERNA DO DIABO 64.149,50
Passaportes e Guia 30,00
PE ILHA BELA 30,00
Hospedagem/Pernoite 1.860,00

Passaportes e Guia 135,00


PE ILHA DO CARDOSO 1.995,00
Cessão de Espaço Físico (vídeo, foto, quadra,
10.957,61
restaurante etc)
Hospedagem/Pernoite 112.450,24

Ingressos 8.331,50

Monitoria 19.891,50

Mudas e Sementes 753,00

Passaportes e Guia 1.485,00

Reembolso de Ligações Telefônicas 623,00


PE INTERVALES 154.491,85
Camping 2.124,00

Hospedagem/Pernoite 6.254,50

Ingressos 78.480,00

Passaportes e Guia 1.125,00

Receitas Eventuais 1.776,40


PE TURÍSTICO DO ALTO
89.759,90
RIBEIRA
Total geral 322.620,89
Fonte: Fundação Florestal.

88
Holtz (2013) apresentou algumas dificuldades que a UCP
enfrentou durante a execução do contrato, tais como a falta de
avaliação na proporção das fontes externa e RTE em cada uma das
linhas de investimento. Contratações cujo objeto necessitasse de
conhecimento da região deveriam ser de fonte RTE para facilitar a
contratação e execução dos trabalhos. Para outros casos, usaria fonte
do Banco, como a aquisição de equipamentos, por exemplo. Inserir as
duas fontes em uma linha de financiamento exigia o atendimento da
norma do Banco e da legislação brasileira.

Considerações finais

De acordo com Holtz (2013) houve uma importante mudança


de mentalidade com relação aos parques do Estado de São Paulo, que
anteriormente eram tratados mais como centros de pesquisa do que
locais para visitação. Além disso, entende-se que a abertura dos
parques à visitação turística, aliada a criação de atividades econômicas
no seu entorno, provocou dois efeitos positivos simultâneos: a
presença dos turistas, que inibe as ações de práticas ilegais e aumenta
a renda do parque e, concomitantemente, a oferta de trabalho na
prestação de serviços relacionados ao ecoturismo permitem que as
pessoas que exerciam o extrativismo, por falta de oportunidade,
tenham uma alternativa efetiva e válida. Assim se aumenta a proteção
ambiental de maneira mais sustentável.
Para o Banco os resultados foram muito positivos. Foram
desembolsados 98% do valor do contrato e há projetos e estudos a
serem desenvolvidos e implantados. O BID mostrou preocupação no
baixo arranque da execução do Projeto e aguarda uma melhora na
avaliação ex-post a ser realizada em 2018 (HOLTZ, 2018).
Para os gerentes dos parques, o saldo foi positivo, não em
questões financeiras, já que há um valor de manutenção com as
instalações novas ou revitalizadas, mas houve ganho com ferramentas
para educação ambiental e manutenção das trilhas, além dos estudos
das áreas de uso público dos parques, como o Plano de
Gerenciamento de Riscos.
Na avaliação mais detalhada dos dados, os resultados dos
indicadores encontram-se muito próximos ou abaixo da meta. Se a
meta do Projeto era gastar o investimento, foi feito. Houve resultados
negativos como o cancelamento de algumas linhas de investimento

89
devido à variação da taxa cambial. Foram vencidas muitas dificuldades
em licitar projetos inéditos com a dificuldade de atender as normas do
Banco. O investimento por meio de financiamento externo não sofreu
muitas influências com os mandatos, embora não sejam expressivos,
comparados a outros parques que aguardam a possibilidade de
receber investimentos através da Câmara de Compensação Ambiental
Para projetos voltados ao ecoturismo e meio ambiente,
sugere-se o uso de indicadores de monitoramento de impacto
ambiental nas trilhas, instalação de placas, registro de incidentes ou
acidentes.
Passados agora 10 anos desde sua conclusão, não houve a
continuidade do projeto, e atualmente as políticas públicas para as
Unidades de Conservação do Estado de São Paulo têm se voltado para
a tentativa de concretizar a Concessão do Uso Público para a iniciativa
privada, o que tem gerado preocupação e incisiva reação das
comunidades residentes em seu entorno. Após um investimento
público tão vultuoso, como este que foi analisado neste estudo,
esperava-se que após uma década as atividades de Ecoturismo
estivem mais bem consolidada nas UCs contempladas, o que
infelizmente não aconteceu.

Referências

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Presidência da República ao PL aprovado pelo Congresso Nacional e
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92
A ecossistêmica dos cães de rua da
cidade de Mossoró – RN
Helenaide Gomes de Paiva, Bárbara de Almeida Paiva e
Ana Cláudia Sales Rocha Albuquerque

10.47247/GC/88471.57.9.5

93
Introdução

O comportamento é o resultado da interação entre


organismos e o ambiente, e entre o sistema nervoso e o ecossistema,
significando uma das propriedades mais importantes da vida de um
animal e tendo um papel fundamental nas adaptações das suas
funções biológicas (SNOWDON,1999). O comportamento de um
animal corresponde a ações que ele realiza (mesmo que não
caracterizem um movimento) ao longo do dia (DEL-CLARO, 2004). De
acordo com Prezoto et al.(2021, p.12), “as atividades incluem ações de
locomoção, de cópula, de defesa de território, de forrageamento, de
alimentação, de interações sociais e de comunicação”. Assim,
conhecer o comportamento de um animal é crucial para se
compreender e vislumbrar uma harmonização ecossistêmica.
No que se refere aos cães Canis familiaris (LINEU1758) seus
comportamentos são reflexos da sua bagagem genética, do seu
temperamento e fundamentalmente se configuram como respostas
aos variados estímulos que recebem, incluindo a postura que o ser
humano tem para com ele (SUHETT et al.,2021). Qualquer cão sem
controle direto por uma pessoa, sem restrição para efetuar
deslocamentos, podendo estar perdido ou abandonado, é
considerado um cão de rua. “O abandono é caracterizado pela falência
do vínculo entre o ser humano e o seu animal, causando prejuízo nos
âmbitos da saúde pública, social, ecológica, econômica e do bem estar
animal” (ALMEIDA,2021, p.15).
Experiências ao longo da vida podem ser diferentes,
impactando o comportamento canino. Esses animais interagem com
humanos e recebem estímulos positivos, como comida e carinho; e
negativos, como agressões. “Eles são capazes de entender nossa
linguagem corporal, e tomam decisões a partir da sua compreensão,
mostrando inteligência e adaptabilidade” (BHATTACHARJEE et
al.,2020).
Considerando que o conhecimento da etologia canina nos
permite avaliar as expressões dos comportamentos desses indivíduos
e dessa forma respeitar os seus limites (FRANZINI, 2015), surge daí
uma ferramenta essencial para a execução de projetos
conservacionistas para a promoção do bem-estar não apenas desses
animais, mas também do ecossistema em que estão inseridos.

94
Diante desses aspectos, a presente pesquisa objetivou
observar o comportamento de cães de rua na sua vida diária, para
descrever como se relacionam entre si e com outras espécies,
principalmente com o homem e com o ambiente físico onde estão
inseridos, no intuito de discutir os impactos dessas relações na
ecossistêmica desses indivíduos.

Metodologia

Tratou-se de uma pesquisa de diagnóstico, com abordagem


qualitativa e descritiva (GIL,1991; LAKATOS & MARCONI,1992). Os
dados foram colhidos nos locais que predeterminados no estudo
piloto, na cidade de Mossoró-RN.
O monitoramento dos animais foi realizado por observação
direta das suas atividades diárias, de forma “ad libitum,” com registro
de tempo contínuo (DEL-CLARO,2004, p.79), nos turnos da manhã e
da tarde, entre dezembro de 2020 e março de 2021. O turno da manhã
iniciava-se às 05:00 horas e se estendia até às 12:00 horas e o turno da
tarde, das 12:00 horas até às18:00 horas. As observações foram
anotadas em caderno de campo de capa dura. Os registros
fotográficos foram realizados usando-se um celular SAMSUNG Galaxy
J7 METAL SM-J710MN.
A escolha dos pontos de coleta de dados foi determinada a
partir de observações preliminares sobre locais de maior incidência
dos animais na cidade de Mossoró, RN, quais sejam: Ponte na Av.
Jerônimo Dix-Neuf Rosado – Paredões; Ponte na Rua Coelho Neto –
Alto da Conceição; Mercado na Avenida Alberto Maranhão - Alto da
Conceição; Praça da Convivência – Avenida Rio Branco; Mercado
Público Central - Rua Francisco Peregrino – Centro; Mercado Bom
Jardim – Avenida Afonso Pena; Terminal Rodoviário Mossoró - Estrada
do Contorno – Dix-Sept Rosado.
As coletas de dados foram realizadas em 22 dias de
observações e a escolha do local de coleta em cada expedição, sempre
foi feita de forma randômica.

Resultados e discussão

As primeiras observações tiveram início em um período


marcado pelo isolamento social, devido à pandemia do coronavírus

95
(covid-19), e por uma estação seca. Posteriormente, uma segunda fase
de observações ocorreu durante a estação chuvosa.
Os animais alvo das coletas foram aqueles que frequentavam
os locais de observação, e podiam ser os mesmos ou novos atores. A
quantidade de cães observados variou, principalmente na matilha,
com uma alternância de 5 até 18 cães. E nos locais de cães isolados,
variou de 1 a 6 cães. Nas pontes e no Mercado do Bom Jardim, apesar
de serem locais elencados para a coleta durante o estudo piloto, não
foram vistos animais, pois. O Mercado do Bom Jardim estava em obras
e provavelmente esse deve ter sido o motivo do afastamento dos
cães.
Observou-se um cão de rua (Figura 1) alimentado por um
homem que colocava água e comida na calçada. O cão mostrava uma
interação pacífica com outros cães quando circulava em outros locais,
mas quando ele estava na calçada da casa onde se alimentava,
costumava latir para outros cães, determinando que ali era o seu
território. Ferraz (2011), define território como “uma área delimitada e
defendida pelo seu ocupante e sua manutenção consiste em demarcá-
la e defendê-la dos rivais”.

Figura 1 – Cão próximo a calçada da casa onde lhe era servida comida e água.

Cães circulavam livremente no Mercado Público do Alto da


Conceição, fuçavam sacolas de lixo, comiam restos de carne (Figura 2)
e demarcavam pontos do local com sua urina. Esses animais dormem
em calçadas, debaixo de carros ou buscam outros abrigos como
pontes ou proximidade com moradores de rua. Viam-se nas calçadas
de algumas casas, vasilhas com água e comida para ajudar na
sobrevivência dos cães, evidenciando-se assim, uma relação de meia
adoção entre humanos e esses animais.

96
Outra forma de registro comportamental interespecífico dos
cães na presente pesquisa, se refere às características de suas
interações de forte companheirismo com humanos também em
situação de rua. Nesse contexto e em consonância com os registros de
Baltar e Garcia (2019), que investigando fragmentos de união entre
pessoas moradoras de ruas e seus cães, encontraram a concepção do
cão como protetor com maior frequência, considerando que a
vulnerabilidades no contexto das ruas são ainda maiores e mais
diversas, o que não é verificável de modo relevante entre grupos de
domiciliados. Além disso, esses autores verificaram que no contexto
das ruas a separação entre essa díade resulta em vulnerabilidade para
ambos aos perigos das ruas e, como consequência, é comum
constituir-se entre eles uma relação simbiótica, com constante
acompanhamento do cão nas atividades humanas, uma vez que
ambos parecem mutuamente protetores e protegidos.
Os cães normalmente são encontrados em diferentes pontos
da cidade, mas essa realidade mudou com a pandemia, diminuindo a
presença nos grandes centros e nas proximidades de bares e
restaurantes, uma vez que por estarem fechados, as fontes
alimentares que normalmente eram disponibilizadas deixaram de
existir.

Figura 2 – Cão comendo restos de carne no Mercado do Alto da Conceição

Em um campo de futebol foi observada uma matilha


dormindo (Figura 3). Uma fêmea intrusa tentou se aproximar da
matilha, mas foi expulsa com vários cães avançando ferozmente na
sua direção (Figura 4). A competição intraespecífica pode ser acirrada,
sobretudo no período de acasalamento. A expulsão da cadela teve

97
como motivo a existência de cio em uma fêmea da matilha, a qual deu
início ao ataque, sendo acompanhada em seguida por outros
indivíduos do grupo. Uma vez que “a dispersão dos odores produzidos
durante o cio estimula a ocorrência de estresse e agressividade nos
animais” (FERRAZ,2011, p.106), esse provavelmente foi o gatilho para
os comportamentos exibidos.

Figura 3 – A matilha.

Figura 4 – Ataque à fêmea intrusa.

O cão líder da matilha interagia com uma fêmea (Figura 5),


cheirava e lambia a sua genitália, e tentava a cópula. O acasalamento
compreende eventos que seguem padrões modais, reflexos genitais e
fecundação. Nos padrões modais estão as posturas que permitem a

98
penetração, enquanto os reflexos genitais permitem ereção,
movimentos do pênis e distensão da vagina para a cópula. A
fecundação por sua vez, ocorre com a ejaculação do sêmen e a
fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Para evitar que o sêmen
saia da vagina, “os cães apresentam a fixação mecânica do pênis na
vagina, mantendo unidos macho e fêmea por vários minutos após a
ejaculação e impedindo que outros machos fertilizem aquela fêmea”
(Ferraz,2011, p.156).

Figura 5 – Acasalamento.

As fezes, a urina e produtos orgânicos expostos no ambiente


pelos cães, ou mesmo o ataque com mordidas, são fontes de doenças,
que podem acometer os cães e outros animais, incluindo o homem. A
raiva é uma zoonose que leva suas vítimas ao óbito em praticamente
100% dos casos. Os cães continuam sendo os mais importantes
reservatórios e a raiva humana se constitui um grave problema de
saúde pública¹. Cães nas ruas, com livre trânsito em diversas áreas,
proporcionam condições epidemiológicas necessárias para a
existência de doenças parasitárias.
O comportamento de forrageamento refere-se à busca e
aquisição de alimentos (POUGH et al. 2008 ) (Figura 6). Embora
existam cães que caçam de forma solitária, “uma grande parte vive em
matilhas, uma característica herdada de seus ancestrais lobos (Canis
lupus, Lineu, 1758), os quais seguem um líder e caçam
cooperativamente” (FERRAZ,2011, p.121).
Nas proximidades de uma churrascaria, registrou-se a
presença de cães com uma fêmea no cio, notado pelo entumecimento
da genitália externa, característica marcante do período reprodutivo

99
das fêmeas. Em um momento apareceu um gato Felis catus Carolus
Linnaeus, 1758, que foi afugentado por todos os cães do grupo,
mostrando a “competição interespecífica por espaço e alimento”
(ALCOCK,2011, p.274).

Figura 6 – Cães em matilha na busca de alimento.

Ao tentar uma aproximação para fazer um registro


fotográfico, fomos ameaçadas com latidos em nossa direção por um
dos cães do grupo. “Quando um animal, de forma individual ou em
grupo, adota uma vigilância contínua e reage à presença de intrusos
(Figura 7) para evitar a sua aproximação (ALCOCK,2011, p.274),
demonstra um comportamento de enfrentamento, característico da
territorialidade”.

Figura 7 – Vigilância evitando à aproximação

Alguns donos deixam seus cães livres nas ruas, permite que
ele cubra fêmeas de rua e aumente a população de cães abandonados.
Uma guarda não responsável pode resultar do desconhecimento das

100
leis e da proliferação de doenças, nesse contexto a Educação
ambiental tem um papel importante. A Lei N° 9.605, de 12 de fevereiro
de 1988, no Capítulo II, Art. 6°, observa sanções penais e
administrativas para condutas danosas ao meio ambiente1 e agora
temos a Lei Nº 14.064, de 29 de setembro de 2020, que altera a Lei nº
9.605 de 1998 para aumentar as penas cominadas de maus-tratos aos
animais, cão ou gato2.
Em março de 2021 iniciou-se a estação chuvosa e ocorreu uma
nova coleta de dados nos pontos anteriormente percorridos. Também
houve a diminuição do isolamento social. A reabertura de
estabelecimentos comerciais e o aumento na circulação de pessoas
nos espaços públicos, influenciou a mobilização dos cães nas ruas.
Esses resultados sugerem que a reabertura de restaurantes,
lanchonetes e bares, significa para os cães que ali há uma fonte de
alimento. “As adaptações a um dado ambiente estão relacionadas
com mudanças comportamentais observadas no animal, objetivando a
sobrevivência em condições adversas,” (BRIDI,2010). Se antes havia
uma matilha que amanhecia todos os dias dormindo em um campo de
futebol, ela agora já não era mais vista no local. Os animais saíram em
busca de abrigo, apresentando uma mudança sazonal de território.
“A ocorrência de maus-tratos é perceptível quando o animal
não aceita a aproximação, e promove comportamento defensivo de
fuga e esquiva” (FRANZINI,2015, p. 19). Na tentativa de aproximação a
uma cadela, ela se levantou e saiu em direção a um outro cão e os dois
se esquivaram do local, mostrando uma associação que oferece
vantagens para a sua proteção. Esse relato exemplifica como um
animal se comporta, trazendo informações acerca da sua biologia,
ecologia e estrutura social.
Nossos resultados sugerem que conhecer a expressão do
comportamento de cães de rua pode trazer indicadores que
favoreçam a tomada de atitudes de humanos no sentido da

1GOV. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 [Internet]. Brasília: GOV.BR;


1998 Feb 12 [Acessado em 2021 Apr 9]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
2 GOV. LEI Nº 14.064, DE 29 DE SETEMBRO DE 2020 [Internet]. Brasília:

GOV.BR; 2020 Sep 29 [Acessado em 2021 Apr 9]. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14064.htm

101
conscientização sobre os impactos de suas ações sobre o equilíbrio da
ecossistêmica desses animais.

Conclusão

Cães de rua determinam um local como território e o defende


agressivamente. Os cães dormem em calçadas, debaixo de carros ou
buscam outros abrigos. Evidencia-se relação de meia adoção entre
humanos e esses animais.
O isolamento social devido a pandemia diminui a presença
dos animais em alguns pontos. Cães de rua podem ser encontrados
isolados ou em matilhas. A competição intraespecífica é muito
acirrada no período de acasalamento. As fezes, a urina e produtos
orgânicos expostos pelos cães ou o ataque com mordidas são fontes
de doenças.
Há competição interespecífica gerando comportamento de
territorialidade. Cães de rua adotam vigilância e reagem à presença de
intrusos. A perda do vínculo cuidador e animal sé dá por problemas na
manutenção do animal e pelo desconhecimento das leis. Na estação
chuvosa os animais procuram abrigo gerando deslocamento de
território.
A flexibilização de isolamento social influencia a mobilização
dos cães. Um tutor que deixa seu animal conviver com cães de rua
contribui para o aumento da população de cães abandonados e com a
disseminação de doenças. A forma como um animal se comporta em
relação à aproximação humana é um indicativo de como foi a história
de vida desse animal.

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104
Planejamento Agroambiental Sustentável de
uso do solo em uma microbacia da Zona da Mata
de Minas Gerais
Diego Barcellos, João Luiz Lani, Silvério Oliveira Campos e
Gabriel Gonçalves Reis

10.47247/GC/88471.57.9.6

105
Introdução

O processo de planejar estrategicamente uma propriedade


rural visa indicar as atividades agrossilvipastoris, conhecer as
vantagens competitivas, além de definir quais ações devem ser
implementadas para tornar o empreendimento rural o mais
sustentável possível (LAL, 1999; SILVA, PEREIRA, REIS BERNARDO,
2009). O solo é um excelente indicador para a estratificação de
ambientes (RESENDE et al., 2018), a exemplo dos solos da região da
Zona da Mata de Minas Gerais, região que é fisiograficamente
favorável à diversidade pedológica (AB'SABER, 1966). Por
conseguinte, são várias as possibilidades de uso dentro de uma
propriedade rural com vista ao uso sustentável dos recursos naturais.
A região da Zona da Mata de Minas Gerais tem um histórico
de séculos de ocupação e uso desordenado dos solos e demais
recursos naturais, induzindo a problemas como erosão e
desvalorização dos serviços ecossistêmicos (REZENDE & RESENDE,
1996). Historicamente, a cafeicultura foi a principal atividade
agronômica que induziram a grande perda da cobertura vegetal
natural pelo desmatamento (SOARES, 2011). Com os baixos
rendimentos na cafeicultura, agricultores migravam para a pecuária
com as pastagens, que sendo mal manejada, promoveram uma
degradação maior dos solos e recursos naturais da região (BARUQUI,
1985; ROCHA et al., 2019).
No Planalto de Viçosa (pertencente à Zona da Mata mineira),
os solos dos morros são utilizados para reflorestamento de eucalipto,
pecuária extensiva e lavouras de café (NUNES et al., 2001). Nos
terraços e nos leitos maiores o uso é voltado para plantações anuais,
urbanização, uso industrial, e as várzeas para preservação ou cultivos
com plantas adaptadas à inundação (REZENDE & RESENDE, 1996).
Para um manejo agroambiental sustentável do solo é
necessário a compreensão de que existe um “solo ideal” e um “solo
real” (RESENDE et al., 2018). O solo ideal, sobretudo do ponto de vista
agroambiental, é aquele que apresenta poucas limitações quanto à
deficiência de nutrientes (N), deficiência de água (A), drenagem
favorável (O), declividade propícia para mecanização (M) e ausência
de problemas de erosão (E) (RESENDE et al., 2018). Praticamente não
existe esse solo ideal, sendo que os solos de forma geral apresentam
algum grau de desvio (ou afastamento) desse solo ideal, em relação a

106
esses cinco fatores de manejo (N, A, O, M e E), sendo esses graus de
desvios estimados numericamente como nulo (0), ligeiro (1),
moderado (2), forte (3) e muito forte (4) (RAMALHO FILHO & BEEK,
1995).
Um dos sistemas mais utilizados e adaptados para as
condições edafoclimáticas do Brasil é o da FAO/Brasileiro de Avaliação
da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO & BEEK, 1995).
Nesse sistema foram incluídos os diferentes níveis de manejo ou nível
tecnológico da produção tendo em vista práticas agrícolas
primordialmente braçais com baixo nível tecnológico (Manejo A),
práticas agrícolas com tração animal e/ou pulverização costal com
médio nível tecnológico (Manejo B) e práticas agrícolas com
mecanização e alto nível tecnológico (Manejo C). Diante das
características edafoclimáticas do terreno dos parâmetros e desvios
(N, A, O, M e E), realiza-se uma classificação das terras de acordo com
a aptidão agrícola, tendo em vista o melhor uso dos recursos naturais,
a preservação ambiental e práticas sustentáveis (PEREIRA et al., 2003;
ALTIERI, 2008). O sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras
pode inclusive auxiliar nas decisões de implementação de projetos
agrícolas de diferentes níveis tecnológicos, auxiliar no zoneamento
ecológico econômico de regiões, e como subsídio para assentamento
de famílias rurais (FERREIRA NETO et al., 2011; SILVA et al., 2010)
Logo, o direcionamento do uso das terras em escalas de
microbacias com base na classificação de solos e nas características
edafoclimáticas é de grande importância para potencializar o seu uso
dos recursos naturais, e tendo em vista a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento para o melhor manejo dos solos, incluindo
aspectos socioeconômicos e de preservação ambiental (EMBRAPA,
2003).

Objetivo

Este trabalho teve como objetivo determinar, com base nas


classes de solos e distribuição espacial, a aptidão agrícola das terras e
propor a otimização dos recursos naturais de uma microbacia de 80 ha
situada em Viçosa, Zona da Mata de MG.

107
Metodologias

A área estudo é a cabeceira de uma microbacia de 80 hectares


localizada no sítio da Equideocultura (Universidade Federal de Viçosa –
UFV, Viçosa/MG), na bacia do Ribeirão Turvo Sujo (Figuras 01 e 02). As
coordenadas geográficas do centro da área são UTM 23S 0723447 e
7703985.
O levantamento de solos foi realizado em nível ultra
detalhado na escala 1:7.000 adotando-se a prática de caminhamento
com prospecção por tradagem (EMBRAPA, 1995). Em locais
característicos de cada unidade de mapeamento foram abertas
trincheiras para caracterização morfológica dos solos, levando-se em
consideração as possíveis interferências locais, e coletadas amostras
de solos para cada horizonte representativo (SANTOS et al., 2005),
sendo analisadas para a caracterização química e física para fins
pedológicos, segundo EMBRAPA (2017).
A classificação dos solos foi feita mediante o Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2018). A interpretação
da aptidão agrícola das terras foi feita segundo critérios preconizados
por RAMALHO FILHO & BEEK (1995). Os mapas foram gerados com o
software ArcGIS.

Figura 01 - Aerofoto da área de estudo (Viçosa/MG).

Fonte: NEPUT/DPS/UFV.

108
Figura 02 - Área de Estudo (Viçosa/MG).

Características edafoclimáticas da área de estudo

A área possui diferentes litologias, compostas por gnaisses


Pré-cambrianos, dique de diabásio e sedimentos Quaternários nas
áreas coluvionares e aluviais. Tais formações geológicas são
importantes na formação e evolução da paisagem, bem como na
formação dos solos (CORRÊA, 1984; CUNHA et al., 2003).

109
Regionalmente, a microbacia é inserida no ambiente geral de
Mares de Morros (AB´SABER, 1966), de ampla distribuição na
paisagem, cujos vales estreitos apresentam relevo forte ondulado e
montanhoso (REZENDE & RESENDE, 1996). O local de estudo é típico
da descrição regional, predominando encostas com pedoformas
côncava-côncava e convexa-convexa, Terraços e várzeas (leito maior)
(MARAGON et al., 2013).
Predomina o clima Cwb, mesotérmico, com verões chuvosos,
invernos frios e secos com precipitação média anual é de
aproximadamente 1.200 mm (MARTINS et al., 2018). A vegetação
primária é Floresta Estacional Semidecídua (PAULA et al., 2004).
Entretanto, com a ocupação antrópica predominam pastagens de
brachiaria (Brachiaria decumbens), gordura (Melinis minutiflora) nos
topos e encostas e angola (Brachiaria mutica), nos vales. Há resquícios
de floresta original, e algumas em estágio sucessional de recuperação.
Nas várzeas predominam plantas hidrófilas, a exemplo de tiririca
(Cyperus sp) e taboa (Typha domingensis).

Levantamento, Mapeamento e Classificação de Solos

Com o levantamento pedológico (Figura 03), base


cartográfica, observações de campo e os resultados das análises
químicas e físicas dos solos (Tabelas 01 e 02), foi realizada a
classificação dos solos (EMBRAPA, 2018). Foi elaborado um mapa de
solos na escala 1:7000 (Figura 04A), sendo computada a área ocupada
por cada classe (Tabela 03). As principais classes de solos
identificadas, bem como suas respectivas unidades de mapeamento
são (Figura 03 e 04A):
a) CAMBISSOLO HÁPLICO Tb distrófico latossólico (CXd) sob
floresta tropical sub-perenifólia, encosta, em pedoforma
côncava-côncava com 90 % de declive. Material de origem:
gnaisse mesocrático;
b) NITOSSOLO VERMELHO distrófico típico (NVd) sob capim
rabo de burro (Andropogon sp) e gordura (Melinis minutiflora)
próximo ao topo do morro, com 38 % de declive. Material de
origem: intrusão de dique de diabásio;
c) ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico (PVAd)
sob pastagem de grama batatais (Paspalum notatum) e capim

110
elefante (Pennisetum purpureum) nos Terraços e terço inferior
das encostas, predominantemente, com 27 % de declive.
Material de origem: sedimentar;
d) LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico (LVAd)
sob pastagem braquiária e gordura na pedoforma convexa-
convexa das encostas, com 36 % de declive. Material de
origem: gnaisse mesocrático;
e) GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico (Gh) sob taboas na
várzea, com 2% de declive. Material de origem: cobertura
coluvionar, sobreposta ao dique de diabásio.
Os Anexos apresentam a descrição geral e morfológica
detalhada de cada solo. Na Zona da Mata de MG a classe de solo maior
ocorrência em área é a dos Latossolos (88%), seguida dos Argissolos
(6%) e outras classes de menor ocorrência, como Cambissolos,
Neossolos, Gleissolos e outros (DA SILVA et al., 2018).

Tabela 01 - Caracterização física dos solos amostrados.

111
Tabela 02 - Caracterização química dos solos amostrados.

Figura 3 - Perfis de solos (A) Cambissolo; (B) Nitossolo; (C);


Argissolo; (D) Latossolo; (E) Gleissolo.
(A)

112
(B)

(C)

113
(D)

(E)

Fotos: autores.

114
Tabela 03 - Area ocupada por cada tipo de solo (em hectares e % da área total).

Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras

Com base no sistema proposto por RAMALHO FILHO & BEEK


(1995), foram determinadas as seguintes classes de aptidão agrícola
das terras, com as respectivas interpretações:
• - 2bc: Terras pertencentes à classe de aptidão regular para
lavouras nos níveis de manejo B e C, e inapta no nível A. Essa
classe aptidão é representada pelo Argissolo Vermelho-
Amarelo sob capim elefante (nos terraços), com 7 % de
declividade.
• - 3(bc): Terras pertencentes à classe de aptidão restrita para
lavouras nos níveis de manejo B e C, e inapta no nível A. Classe
de aptidão representada pelo Latossolo Vermelho-Amarelo
sob pastagem de braquiarão e gordura na pedoforma
convexa-convexa das encostas, com 36 % de declive.
• - 3(c): Terras pertencentes à classe de aptidão restrita para
lavouras no nível de manejo C, e inapta nos níveis A e B.
Localizada no Gleissolo Háplico sob taboas na várzea, com 2%
de declive.
• - 4P: Terras pertencentes à classe de aptidão boa para
pastagens plantadas. Representada pelo Argissolo Vermelho-
Amarelo, sob pastagem de grama batatais, com 27% de
declive;
• - 4p: Terras pertencentes à classe de aptidão regular para
pastagem plantada. Representada pelo Nitossolo Vermelho
sob capim rabo de burro e gordura próximo ao topo do
morro, com 38 % de declive.

115
• - 5s(n): Terras pertencentes à classe de aptidão regular para
silvicultura e restrita para pastagem natural. Situada no
Cambissolo Háplico sob floresta tropical sub-perenifólia na
pedoforma côncava-côncava das encostas, com 90 % de
declive.
Ademais, foi gerado um mapa contendo os subgrupos de
aptidão agrícola das terras (Figura 04b), na escala 1:7000, bem como
as áreas ocupadas por cada subgrupo (Tabela 04).

Tabela 04 - Area ocupada por cada subgrupo de aptidão agrícola (em hectares
e % da área total)

Foi possível separar a área em subgrupos de aptidão segundo


o sistema FAO/Brasileiro, sendo considerado que a área da microbacia
de 80 ha nessa região da Zona da Mata mineira não é indicada para
nível de manejo A (baixo nível tecnológico), por apresentar baixa
fertilidade dos solos, pouca disponibilidade de água e declividade
acentuada na maioria da área, os quais são fatores limitantes ao
agricultor com baixo nível tecnológico. Deste modo, a recomendação
da área de estudo é para o nível de manejo B (pouco desenvolvido),
uma vez que esse tipo de agricultor possui tecnologia para investir em
fertilizantes, corretivos agrícolas, cultivares mais adaptados e sistemas
de irrigação de baixo custo.

Planejamento Estratégico e Sustentável dos Solos

O planejamento estratégico e sustentável de uma microbacia


e de propriedades rurais consiste em adequar a produção
agrosilvipastoril de forma racional dentro de um agro ecossistema,
visando ótimas produtividades, sem perder de vista a sustentabilidade
(EMBRAPA, 2003; LAL, 1999).

116
O uso da área é recomendado para as atividades de
silvicultura, fruticultura, plantas ornamentais, lavouras, cafeicultura e
eqüinos; sendo destinada uma boa parcela da área (32%) para reserva
legal (Figura 04C). Diante da legislação vigente, que concebe ao
agricultor o direito do uso das terras que já haviam sido agricultáveis
antes do ato da lei, o planejamento da propriedade sugerido está
dentro do permissível; e a Reserva Legal será destinada a APP (área de
Preservação Permanente)
Sendo assim, o uso adequado dos solos e recursos naturais
dessa microbacia tem como base a distribuição e características física
e químicas das diferentes classes de solo (Tabela 03) bem como dos
critérios utilizados para a separação entre as classes de aptidão
agrícola das terras (Tabela 04). Logo são apresentadas sugestões de
uso das terras de acordo com cada classe de solo:
O Cambissolo pode ser destinado para Reserva Legal (tendo
25 ha, 32% da área total) e um pequena parcela deste será utilizada
para plantio de eucalipto para a produção de madeira (5,3 ha, 6% da
área total). O critério de escolha foi baseado na baixa fertilidade e na
declividade acentuada, evitando processos erosivos. Logo, essa área
servirá para infiltração de água no solo, favorecendo a qualidade e
constância no fluxo de água ao longo do ano para toda a bacia
hidrográfica.
O Nitossolo também foi vinculado à silvicultura, sendo
recomendado o cultivo de eucalipto, o qual apresenta
desenvolvimento rápido (de 6 anos, em média) e alto poder de
rebrota, tendo em vista a declividade e a pequena porção de área
ocupada pelo Nitossolo (4,3 ha, 5% da área total), sendo uma área
contínua com o cultivo de eucalipto sugerido também para parte da
área de Cambissolo. A madeira produzida nessas áreas poderá ser
destinada ao consumo interno dos produtores rurais, como moirões
para construção de cerca.
O Argissolo (área de 21 ha, 27% da área total) possui
características que remetem ao uso de lavouras e/ou frutíferas, dada a
declividade pouco acentuada (em grande parte da sua área) e média
fertilidade do solo, se comparado às outras classes de solos. Assim
sendo, a sugestão é dividir a área de Argissolo para a rotação de
culturas e fruticultura. A rotação de culturas é recomendada com o
uso de uma leguminosa (por exemplo, Stylosanthes sp.) e três

117
gramíneas, como milho (Zea mays), capim elefante (Pennisetum
purpureum), croast-cross (Cynodon dactilon), que podem ser
empregadas para agricultores da região da Zona da Mata mineira. Na
outra área poderão ser implementadas frutíferas como acerola,
banana e figo, que podem ser irrigadas devido à proximidade de
lagoas na microbacia, tendo em vista uma boa produção mesmo em
épocas de menor precipitação pluviométrica.
O Latossolo (área de 16 ha, 21% da área total) é recomendado
para o uso da cultura do cafeeiro arábica, pois esse solo é muito
profundo, com boa drenagem, e menor susceptibilidade a
compactação. Nas entrelinhas do café é recomendado utilizar o
consorcio com Stylosanthes sp. que promovem a fixação de nitrogênio
no solo. Essa leguminosa poderá ser colhida e armazenada como feno,
sendo fornecido como fonte de proteína para os eqüinos.
O Gleissolo (área de 2,5 ha, 3% da área total) poderá ser
utilizado para o cultivo de plantas ornamentais, por exemplo: lírio-do-
brejo (Hedychium coronarium) e helicônia (Heliconia rostrata). É
importante ressaltar que há uma grande exigência por matéria
orgânica e alta umidade por todo ano para o bom desenvolvimento
dessas plantas, uma vez que o Gleissolo é adequado para tal
finalidade.

Tabela 05 - Áreas para uso sustentável das terras


(em hectares e % da área total)

118
Figura 04 - (A) Mapa de solos; (B) Mapa de aptidão agrícola das terras;
(C) Mapa de planejamento estratégico da propriedade rural.
(A)

119
(B)

120
(C)

Conclusões

O presente trabalho apresenta uma proposta de


planejamento estratégico e sustentável de uma microbacia como
unidade de planejamento na região da Zona da Mata mineira. Esta
região tem um histórico de séculos de ocupação e uso desordenado
dos solos e demais recursos naturais, induzindo a problemas como

121
erosão e desvalorização dos serviços ecossistêmicos. Foram
apresentadas várias propostas integradas para cada tipo de solo com
vista a agro diversidade (diversidade de uso da terra), incluindo a
preservação ambiental, sistemas agrícolas, pecuários e silviculturais.
Foi observado que os Cambissolos predominam na microbacia
(38%), com baixa fertilidade natural, declividade acentuada e elevado
potencial de erosão, o que implica em maior atenção para o manejo
dessa área. Em contrates, apenas uma pequena parte da microbacia
tem solos com melhores condições físicas e químicas e com menor
declividade (Argissolo e Nitossolo: 27%), o qual foi enquadrado para
lavoura e fruticultura. Ademais, o uso do Gleissolo como plantas
ornamentais é uma alternativa para a agricultura familiar.
Os resultados desse trabalho fornecem informações
importantes para empreendimentos agrossilvipastoris regionais e para
agências ambientais e reguladoras, com indicações importantes
quanto ao planejamento e zoneamento agroambiental dos solos zona
da mata mineira.

Anexos: Descrição Geral e Morfológica dos Perfis de Solos

Perfil 1
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Cambissolo
CLASSIFICAÇÃO SiBCS: CAMBISSOLO HÁPLICO Tb distrófico latossólico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: CX
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0723115, 7703715
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço superior da encosta, com 90 % de
declive, sob pastagem de capim gordura (degrada).
ALTITUDE: 650 metros.
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático.
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade.
CRONOLOGIA: Pré-cambriano.
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada.
PEDREGOSIDADE: Ligeiramente pedregoso.
ROCHOSIDADE: Não rochoso.
RELEVO LOCAL: Montanhoso.
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano.
EROSÃO: Laminar moderada e sulcos rasos frequentes.

122
DRENAGEM: Moderadamente drenado.
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua.
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 -3, praticamente inexistente (não classificado)
Bi: 3 – 50 cm, vermelho (2,5YR 3/6, úmida). Argiloso; fraca a moderada média
granular; macio, friável, plástico e ligeiramente pegajoso; transição clara e
ondulada (2,5 – 7,5 cm).
C: 50 – 150 cm +, coloração variegada; franco argilossiltosa; estrutura original
de rocha.
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, orientadas horizontalmente, no
horizonte A; raras finas no Bi e inexistente no Cr.

Perfil 2
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Terra Roxa Estruturada
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: NITOSSOLO VERMELHO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: NVd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0722837, 7703975
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
trincheira próxima ao topo do morro, com 38 % de declive, sob pastagem de
capim gordura (degrada)
ALTITUDE: 650 metros
LITOLOGIA: Diabásio
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Intrusão de dique de diabásio
CRONOLOGIA: Desconhecida
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar moderada e sulcos rasos frequentes
DRENAGEM: Moderadamente drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 17 cm, vermelho – amarelo (5YR 5/4). muito argiloso, macio, friável,
ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.

123
Bn: 17 - 150 cm +, vermelho (2,5YR 3/6, úmida). Argiloso; moderada média
bloco sub-angulares; macio, friável, plástico e ligeiramente pegajoso; transição
clara e ondulada (2,5 – 7,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, no horizonte A; poucas e medias no
Bn.
OBSERVAÇÕES: Cerosidade média

Perfil 2
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Podizólico Vermelho-Amarelo
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: PVAd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0722961, 7704043
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço médio da encosta, com 27 % de declive,
sob pastagem de grama batatais (degradada).
ALTITUDE: 650 metros
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático
FORMAÇÃO GEOLÓGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade
CRONOLOGIA: Pré-cambriano
MATERIAL ORIGINÁRIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar ligeira e sulcos rasos ocasionais
DRENAGEM: Bem drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecídua
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 17 cm, vermelho – amarelo (5YR 4/4), argiloso, macio, friável,
ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.
Bt: 17 – 150 cm+, vermelho (2,5YR 4/8, seco). Muito Argiloso; moderada
pequena em blocos subangulares; ligeiramente duro, firme, não plástico e
ligeiramente pegajoso; e comum transição abrupta e ondulada (< 2,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas medias, no horizonte A; raras e muito finas no
Bt.
OBSERVAÇÕES: cerosidade fraca a moderada

124
Perfil 4
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Latossolo Vermelho
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: LVAd
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equideocultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23S 0723398 7704120
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
barranco de corte de estrada, em terço médio da encosta, com 36 % de
declive, sob pastagem de capim Brachiarão e gordura (degrada)
ALTITUDE: 724 metros
LITOLOGIA: Gnaisse mesocrático
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Complexo Mantiqueira e Complexo Piedade
CRONOLOGIA: Pré-cambriano
MATERIAL ORIGINARIO: formação eluvionar da litologia supracitada
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Forte Ondulado
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Laminar ligeira e sulcos rasos ocasionais
DRENAGEM: Acentuadamente Drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Floresta Estacional Semidecidual
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 30 cm, vermelho – amarelo (5YR 5/4); Muito Argiloso, macio, friável, não
plástico e ligeiramente pegajoso transição difusa e ondulada (maior que 12,5
cm).
AB: 30 – 80 cm, vermelho-amarelo (5YR 4/3, úmida). Argiloso, fraca a
moderada media granular; macio, friável, não plástico e ligeiramente
pegajoso; transição difusa e ondulada (maior que 12,5 cm).
Bw: 80 – 150 cm+, vermelho (5YR 6/8, úmida). Argiloso; fraca a moderada
media granular; macio, friável, não plástico e ligeiramente pegajoso.
RAÍZES: Comuns finas e poucas médias, o horizonte A; raras finas no Bw.

Perfil 5
Descrição Geral:
DATA: 22/10/2009
CLASSIFICAÇÃO ANTERIOR: Glei
CLASSIFICAÇÃO SIBCS: GLEISSOLO HÁPLICO Tb Distrófico típico
UNIDADE DE MAPEAMENTO: Bg

125
LOCALIDADE, MUNICÍPIO, ESTADO: Sítio da Equedicultura - UFV, Viçosa/MG
COORDENADAS: UTM 23 S 0723286 7704045
SITUAÇÃO E COBERTURA VEGETAL SOBRE O PERFIL: Descrito e coletado em
no leito menor do córrego, com 2% de declive, sob vegetação de Jussiaea sp.
ALTITUDE: 610 metros
LITOLOGIA: Cobertura Coluvionar.
FORMAÇÃO GEOLOGICA: Cobertura Coluvionar Quaternária.
CRONOLOGIA: Quaternário
MATERIAL ORIGINARIO: Sedimentos provenientes das encostas a montante
do local de deposição.
PEDREGOSIDADE: Não pedregoso
ROCHOSIDADE: Não rochoso
RELEVO LOCAL: Plano
RELEVO REGIONAL: Montanhoso (predominante), ondulado e plano
EROSÃO: Não aparente
DRENAGEM: Muito Mal Drenado
VEGETAÇÃO PRIMARIA: Higrófila de Várzea
CLIMA: Mesotérmico de altitude (Cwb na classificação de Köpen)
DESCRITO E COLETADO POR: Diego Barcellos; Silvério Campos; Gabriel
Gonçalves.
Descrição Morfológica:
A: 0 – 10 cm coloração acinzentada (7,5YR 4/2, úmida). Argiloso.
Bg: 10 – 150 cm+, coloração acinzentada (7,5YR 4/2, úmida). Argiloso; plástico e
pegajoso; transição gradual (7,0 a 12,5 cm).
RAÍZES: Comuns finas e poucas médias no horizonte A; raras finas no Bg

Referências

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Zona da Mata mineira no século XVIII e primeira metade do XIX.
Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, v.
20, n. 2, 2011.

129
Cultivo de cogumelos pleurotus pulmonarius (fr.)
Quél. Como fonte adicional de renda na pequena
propriedade agrícola
Ana Cristina de Menezes, Francisco Menino Destefanis Vitola e
Augustus Caeser Franke Portella

10.47247/GC/88471.57.9.7

130
Introdução

Estudos sobre cultivo de cogumelos comestíveis têm sido


impulsionados a cada ano, em decorrência das descobertas dos seus
valores nutritivos, medicinais, e devido ao aumento de dietas
saudáveis, são considerados o alimento do futuro (SINGH;
MAHENDRA; SHEKHAR, 2020), possuem poucas calorias, sem
gorduras, colesterol e glúten, baixo teor de sódio, além de minerais
como potássio, ferro, cobre, zinco e manganês (SINGH; MAHENDRA;
SHEKHAR, 2020).
O mercado mundial de cogumelos, movimentou
aproximadamente US$35 bilhões/ano segundo a última estimativa
publicada em 2018 (GOMES, 2018), e já havia uma expectativa de
crescimento para os próximos anos, no Brasil, esse setor movimentou
R$21 milhões e gerou por volta de 3 mil empregos neste mesmo ano
(STEFFEN; STEFFEN; HANDTE, 2019). O gênero Pleurotus, também
conhecido como cogumelos ostras, é o segundo mais produzido no
mundo, cerca de 25 países da Ásia, Europa e América cultivam em
grande escala, sendo a China o principal fornecedor, com 85% da
produção mundial (RATHOD et al., 2021), sua facilidade de cultivo se
dá devido a sua capacidade de bioconversão, ampla faixa de
temperatura ideal, entre 20 e 30 ºC, tecnologia simples e rápido
crescimento; pode ocupar pequenos espaços com baixo custo de
produção e frutifica o ano todo em ambiente controlado (BORAH et
al., 2019).

Figura 1 – Esquema de um cogumelo.

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2021)

131
Devido à pouca oferta no mercado e preço elevado, os
cogumelos não fazem parte da cultura e nem da dieta dos brasileiros
(URBEN, 2017), porém esse hábito já está sendo modificado e o
consumo per capita já gira em torno de 200 g/ano, embora bem menor
que o dos países asiáticos e europeus que possuem um consumo per
capita entre 4 k e 8 k/ano (PAZZA et al., 2019; URBEN; OLIVEIRA, 2017).
Os principais cogumelos produzidos são o champignon de Paris
(Agaricus bisporus ou bitorquis), o shiitake (Lentinula edodes), o shimeji
(Pleurotus ostreatus) e o houbitake (Pleurotus sajor-caju) (CABRERA et
al., 2020).
Apesar da produção reduzida e os maiores cultivadores
estarem nas regiões sul e sudeste, o mercado interno sempre se
mostrou promissor na expansão do consumo dos cogumelos,
dependendo ainda de maior divulgação das propriedades nutritivas e
nutracêuticas desses alimentos (BELLETTINI; FIORDA; BELLETTINI,
2015).
O cultivo de cogumelos comestíveis, pode ser classificado
como uma cultura sustentável, por aproveitar resíduos agrícolas e
florestais, requerer áreas pequenas e pode ter altos níveis de
produtividade (OLIVEIRA; NAOZUKA, 2020), e ao final do ciclo, seus
substratos exauridos podem ser usados para compostagem,
vermicompostagem, adubo e proteção do solo (ALMEIDA, et al.,
2019).
A primeira etapa no processo de produção de cogumelos, é o
cultivo de inóculos, também chamados de Spawns, sementes ou
matrizes, que são fragmentos miceliais inoculados geralmente em
grãos de algum cereal, e devem proporcionar homogeneidade dos
cogumelos e rapidez na colonização do substrato, evitando a
contaminação por outros fungos ou agentes patológicos.
A preparação do substrato é outro passo importante, que
pode ser influenciada por técnicas de gerenciamento de
compostagem (VIEIRA; ANDRADE, 2016).
Segundo Carrasco et al. (2018), cogumelos cultivados em
diferentes substratos possuem variações no conteúdo nutricional, e
Bach (2017), afirma que a composição dos bioativos depende da
espécie, tipo do substrato, clima, idade do micélio, processamento e
preservação.

132
Dentre as substâncias bioativas e terapêuticas dos
cogumelos, estão os compostos fenólicos, sendo os mais
encontrados, o ácido gálico, ácido protocatecuico, ácido gentísico e
naringenina (LI; SHAH, 2013).
Em um estudo que visava identificar essas propriedades,
realizado na Universidade Federal do Tocantins, Campus de Gurupi no
Laboratório de Compostos Bioativos foi usado como substrato no
cultivo de Pleurotus pulmonarius (FR.) QUÉL. (Fig. 2), conhecido
popularmente como Houbitake, resíduos florestais de Syagrus oleracea
(Mart.) Becc - Gueroba, com suplementação de polpa de Hymenaea
courbaril Linn – Jatobá, farinha da casca de Caryocar brasiliense
Cambess – Pequi e composto orgânico.

Figura 2 – Pleurotus pulmonarius

Fonte: Ana Cristina de Menezes, 2021

A gueroba ou guariroba (Syagrus oleracea (Mart.) Becc.) é


uma palmeira nativa do Cerrado e produz palmito de gosto amargo,
muito apreciado localmente, é obtido da natureza geralmente de
maneira extrativista e vendido em feiras livres. A sua utilização
econômica abrange diferentes áreas, devido às suas possibilidades e
potencial alimentar, aromático, forrageiro, medicinal e paisagístico
(REIS; PINTO; FALEIRO, 2016).
O jatobá, Hymeneae courbaril Linn, é uma espécie arbórea, da
família Leguminosae, que ocorre no Cerrado, sua madeira possui
média resistência ao ataque de insetos, sendo muito utilizada na
construção civil em caibros, vigas, acabamentos internos, assoalho e
na fabricação de móveis (LORENZI, 2020; SOUSA et al., 2012). Seu
fruto é uma vagem lenhosa, glabra, oblonga a cilíndrica, medindo de 8

133
a 15 cm de comprimento, com endocarpo farináceo comestível, de cor
amarela, e altos teores de fibras, cálcio, potássio, magnésio e zinco
(RAMOS et al., 2018; SOUSA et al., 2012).
Caryocar brasiliense Cambess, pequi, é um fruto característico
do Cerrado, muito apreciado em pratos típicos regionais, pode ser
consumido tanto in natura, quanto cozido, em diversos
acompanhamentos, também usado na medicina popular, sua polpa é
rica em lipídeos, fibras, carotenoides e potássio (ARRUDA; CRUZ;
ALMEIDA, 2012). Seu fruto apresenta casca (pericarpo) de coloração
verde, com polpa amarela alaranjada e amêndoa coberta com
espinhos finos de 2 a 5 mm de comprimento (BATISTA; SOUSA, 2019),
a casca apresenta alto teor de fibras alimentares, quando maduro
representa cerca de 84% do peso, a polpa representa 10% e a semente
6% do peso total (COSTA; PINTO, SOARES, 2017). Apesar de estudos
mostrando a importância dos subprodutos do fruto do pequizeiro,
normalmente são descartados, gerando um volume grande de
resíduos, principalmente as cascas.
No Brasil, entre 50% e 60% dos resíduos gerados são
orgânicos, sobrecarregando os aterros sanitários, a compostagem
pode evitar que esses resíduos fiquem acumulados, podendo
transformá-los em fertilizante de alta qualidade, que pode ser usado
em hortas, jardins, pomares e cultivos comerciais.

Material e método

O inóculo de Pleurotus pulmonarius (Fr) Quel. faz parte de


uma coleção de fungos e foi cedido pelo Laboratório de Compostos
Bioativos, na Universidade Federal do Tocantins (LACOMBI/UFT), o
meio de cultura Batata-Dextrose-Ágar - BDA foi preparado
artesanalmente no laboratório do Centro de Monitoramento
Ambiental e Manejo do Fogo (CEMAF) da Universidade Federal do
Tocantins, Campus de Gurupi. O meio de cultura para ativação dos
fungos foi preparado em vidros tipo Erlenmeyer, contendo 40 gramas
de meio de cultura comercial BDA Kasvi®, diluído em 1 litro de água
deionizada. Posteriormente, foi esterilizado em autoclave a 121ºC por
20 minutos, adicionado um comprimido de amoxicilina de 500 mg
diluído no meio de cultura para evitar contaminações bacterianas, e
vertido nas placas de Petri, em câmara de fluxo laminar previamente
esterilizada com luz ultravioleta e álcool 70º.

134
Repicagem da matriz primária

Esse processo deve ser executado em ambiente estéreo, de


preferência em câmara de fluxo laminar quando em laboratório,
esterilizada com luz ultravioleta e álcool 70°. Neste estudo,
fragmentos do inóculo de P. pulmonarius foram repicados em 12 placas
de Petri com meio BDA KASVI®, para a corrida micelial, as matrizes
secundárias ficaram 15 dias em câmara B.O.D., na ausência de luz a 25
ºC ±2 e o material foi depositado no laboratório do Centro de
Monitoramento Ambiental e Manejo do Fogo, na Universidade Federal
do Tocantins (CEMAF/UFT), campus Gurupi, conservado sob
refrigeração a 4 ºC.

Figura 3 - Fragmento inoculado (A); Colonização (B); Placa totalmente


colonizada (C)

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2020)

Preparação dos spawns

Depois de bem desenvolvido colonizando totalmente a


placa, o micélio é inserido num cereal que pode ser trigo ou aveia
(que são os mais baratos) previamente esterilizados. Depois de
ocorrer a colonização do micélio neste cereal, forma-se o spawn-
mother ou a semente-mãe tornando os grãos escolhidos totalmente
coberto por micélio (totalmente branco). É a partir daí que se inicia a
produção de spawn, caracterizada na produção em grandes
quantidades de micélio em grão.
Neste trabalho para a produção de Spawns foram utilizados
sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) e milho (Zea mays L.), os cereais
foram lavados, colocados em água e fervidos por 20 minutos. Após o
procedimento, os grãos foram despejados em uma peneira de malha
55, coberta com um pano de algodão para drenar o excesso de água
por 2 horas.

135
Depois de escorridos, foi colocado 300 g dos cereais em 47
potes de vidros reutilizados, com capacidade para 500 ml, as tampas
foram furadas com auxílio de uma furadeira doméstica, a abertura foi
vedada com 3 camadas de esparadrapo microporoso, para possibilitar
a troca gasosa sem haver contaminação.
Os vidros foram esterilizados em autoclave por 2 horas a 121
ºC. Após o resfriamento, foram inoculados com pedaços de micélios de
P. pulmonarius, de aproximadamente 5 x 5 cm e colocados em B.O.D. a
25 ºC ± 2, no escuro, por 13 a 20 dias, até observar a completa
colonização. Os vidros foram colonizados em 13 dias e armazenados
sob refrigeração a 4 ºC no CEMAF, e LACOMBI.

Figura 4 - Grãos de sorgo inoculados (A) e Grãos de sorgo colonizados –


Spawns (B)

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2021)

A maioria dos agricultores, pequenos produtores e agricultura


familiar não tem os recursos e materiais/equipamentos que
necessitam para este processo, e portanto, optam pela aquisição
destes a empresas especializadas.

Preparação do substrato

A palha de gueroba – Syagrus oleracea foi coletada no local de


beneficiamento do palmito, e moída em moinho de grãos. O material
seco foi pesado, acrescentado 2 % de cal virgem e deixado de molho
por 12 horas, posteriormente escorrido por mais 12 horas em peneira.

136
A umidade do material é considerada ideal quando ao apertar escorrer
poucas gotas de água, conforme demonstrado na figura 5.

Figura 5 - Substrato com excesso de umidade (A); Substrato com umidade


ideal (B).

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2021)

Após o processamento, foram colocados 600 g de palha de


gueroba em sacos de polipropileno de alta densidade e suplementada
com polpa de jatobá in natura, farinha da casca de pequi, aferventada
por 6 minutos, seca em estufa de ventilação forçada por 46 horas a 75
ºC e triturada em liquidificador industrial, e adicionado ainda um
composto oriundo da compostagem de resíduos orgânicos, também
triturado em liquidificador industrial (Figura 6).

Figura 6 - Polpa de jatobá (A); farinha da casca do pequi (B); composto


orgânico (C).

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2021)

Os sacos foram esterilizados por 2 horas em autoclave, e


depois de esfriar naturalmente, inoculados com 15 g de Spawns de
sorgo e milho. Os substratos inoculados foram levados para uma sala
que foi adaptada para servir de estufa de produção, localizada do

137
LACOMBI/UFT denominada de Cabana de Frutificação (Figura 7), que
foi construída a um custo baixíssimo, onde ocorreu a colonização e
frutificação dos cogumelos.

Figura 7 - Cabana de frutificação, sala adaptada para servir de estufa para


cultivo dos cogumelos Pleurotus pulmonarius.

Fonte: Ana Cristina de Menezes (2020)

As frutificações foram pesadas, liofilizadas e analisadas


bromatologicamente. Foram processadas 10 amostras, trituradas em
um moinho de facas até a granulometria de 0.5mm (mesh 34),
pesadas em balança analítica e 1g de cada foi colocado em Erlenmeyer
de 250ml. Após, adicionado 100ml de água destilada, os frascos foram
tamponados (tampão e papel kraft) e levados para uma incubadora
com agitação orbital (shaker) a 120 RPM / 25 a 35ºC por 40 minutos. Na
sequência, 45 ml do caldo agitado foram levados para centrífuga a
4000 RPM, por 15 minutos. Ao final o sobrenadante foi armazenado
sob refrigeração a 10ºC.
A concentração de compostos fenólicos totais (CFT) nos
extratos, foi determinada com o reagente colorimétrico Folin-
Ciocalteu, método adaptado de Ribeiro et al. (2013) com alterações, e
ácido gálico como padrão. As reações foram realizadas em tubos tipo
falcon de 15 ml revestidos por papel alumínio. Cada tubo recebeu: 250
L de extrato, 250 L do reagente de Folin-Ciocalteu, 500 L de uma

138
solução saturada de Na2CO3 e 4 ml de água destilada. Após
homogeneização das misturas, os tubos foram deixados em repouso
por 25 minutos em temperatura ambiente (aproximadamente 25ºC).
Após este intervalo, os tubos foram centrifugados por 10 minutos a
3000 RPM. Ao final, a absorbância do sobrenadante foi lida a 725 nm
em espectrofotômetro e os valores foram comparados com uma curva
de calibração de ácido gálico (0 a 200 mg/L). Os resultados foram
apresentados em mg de ácido gálico equivalente (GAE).

Análise estatística

A análise estatística dos resultados (análise de variância, teste


de Pareto nível de significância de 95% (p≤0,05).

Resultados e discussão

Os compostos fenólicos têm despertado grande


interesse dos pesquisadores em diversas áreas, como biologia,
química, medicina, ecologia e agricultura. Apenas as plantas e
microrganismos são capazes de sintetizar compostos fenólicos. Com
importantes exceções, a função da maior parte dos compostos
fenólicos ainda é desconhecida.
Através da estimativa dos compostos fenólicos presentes nos
cogumelos comestíveis é possível caracterizar suas propriedades
nutricionais e importância como alimento saudável. Para a
quantificação dos compostos fenólicos totais presentes nos extratos
aquosos nos diferentes substratos testados dos cogumelos Pleurotus
pulmonarius, fez-se a curva padrão de ácido gálico, obtendo-se a
Figura 8.

139
Figura 8 - Curva padrão de ácido gálico.

0,00018
0,00016
0,00014
0,00012
0,0001
0,00008
0,00006
0,00004
0,00002
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
Fonte: Ana Cristina de Menezes (2022)

Após o ajuste linear de absorbância e concentração de ácido


gálico obteve-se a equação da reta y = 0,0001x+0,0000001 e um valor
de R2 igual a 0,9996, indicando que a equação obtida poderia ser
utilizada para a quantificação de fenólicos nos extratos aquosos. Após
a leitura em espectrofotômetro a 765 nm, os resultados obtidos foram
expressos em equivalentes de ácido gálico (GAE) por grama de
amostra seca. A quantidade de fenólicos totais nos cogumelos
Pleurotus pulmonarius, variou de 53 mg EAG/g a 74 mg EAG/g
conforme demonstrado na Tabela 1.

140
Tabela 1 - Compostos Fenólicos totais obtidos nos extratos hidroalcóolicos das
amostras, de acordo com a composição do substrato utilizado
Fenólicos
Amostra
Totais*
Corpos
Substrato EAG
Frutificação
(mg/L)/10g
01 Gueroba (controle) 60±0,6
02 Gueroba com 10 % Polpa de Jatobá 61±3,5
03 Gueroba com 20% Polpa de Jatobá 59±0,9
04 Gueroba com 30% Polpa de Jatobá 58±0,3
05 Gueroba com 10% Composto 64±0,0
06 Gueroba com 20% Composto 62±0,7
07 Gueroba com 30% Composto 64±2,6
08 Gueroba com 10% Farinha da Casca de Pequi 74±2,0
09 Gueroba com 20% Farinha da Casca de Pequi 53±2,2
10 Gueroba com 30% Farinha da Casca de Pequi 57±3,7
*As amostras não diferenciaram entre si pelo teste Tukey (p < 0,05).

A Tabela 1 mostra que os cogumelos que apresentaram maior


concentração de fenólicos totais (CFTs), foram os cultivados em
substrato de gueroba suplementado com 10% de farinha da casca do
pequi. Analisando as amostras por tipo de substrato, nota-se que a
maior parte das amostras que apresentaram maior quantidade de
CFTs foram as que tiveram menores suplementações, ou nenhuma
como no caso do substrato controle, composto apenas por palha de
de gueroba, a exceção foram os substratos suplementados com
composto maduro, que não apresentaram diferenças significativas.
Cueva, Hernández e Niño-Ruiz (2017), Siqueira et al. (2012) e
Graciolli et al. (2010), em experimentos com Pleurotus ostreatus
relataram que o enriquecimento de substratos a partir de
determinados teores de nitrogênio, pode ter efeito contrário que o
desejado, que é aumentar produtividade e eficiência biológica. Essa
preferência do fungo por substratos com menores índices de
frutificação pode favorecer a absorção dos compostos químicos e os
metabólitos secundários disponíveis. Woldegiorgis et al. (2014),
cultivando Pleurotus ostreatus em substratos de resíduos de café,
observaram maior quantidade de ácido cafeico nos cogumelos
analisados.
Durante a fase da corrida micelial, substâncias orgânicas
podem ser absorvidas dos substratos e bioacumuladas nos corpos de
frutificação que se formaram (OLIVEIRA; NAOZUKA, 2020).

141
Os valores encontrados nas amostras, foram maiores que
Woldegiorgis et al. (2014), que relatou 4,47 ± 0,22 mg EAG/g em
Plerotus ostreatus e Liang et al. (2013) com 5,24 ± 0,02mg EAG/g,
cultivos de Pleurotus eryngii, mas ficaram abaixo dos valores de
Chilante (2016), que mostrou valores entre 31,30 ± 0,26 mg EAG/g e 47
± 0,12mg EAG/g em Pleurotus spp cultivados em 94% de serragem de
Pinus sp suplementada com 5% de farelo de trigo.
Yıldız et al. (2017), cultivando P. citrinopileatus em serragem
de Castanea sativa, encontraram conteúdo fenólico total de 2,52 ±
0,010 mg EAG/g. Devido a capacidade de biorremediação dos
cogumelos, podem absorver diversas substâncias encontradas no
substrato de cultivo; mas existem poucos estudos sobre os perfis
individuais de compostos fenólicos em cogumelos comestíveis
(PALACIOS et al., 2014).
Na Figura 9, pelo diagrama de Pareto, pode-se observar a
absorção dos compostos fenólicos pelos cogumelos por tipo de
substrato.

Figura 9 - Diagrama de Pareto para os compostos fenólicos de acordo com o


substrato onde os Pleutotus sajor-caju foram cultivados.

Legenda: FCP 10%, FCP 20% e FCP 30%: Palha de Gueroba suplementada com
Farinha da Casca do Pequi; PJ 10%, PJ 20% e PJ 30%: Palha de Gueroba
suplementada Polpa de jatobá; C 10%, C 20% e C 30%: Palha de Gueroba
suplementada Composto; GUE: palha de gueroba sem suplementação.

142
Corroborando com os metabólitos secundários encontrados
nos cogumelos, os vegetais que foram usados nos substratos, são
descritos na literatura como importantes fontes de compostos
fenólicos, sendo o menos estudado, a palha de Syagrus oleracea, com
apenas uma citação sobre a composição de CFTs (REIS et al., 2017),
mas sem quantificação.
Santos (2012), observou em seu estudo com compostagem de
brócolis, couve-penca, castanha, palha de trigo, relva e jatropha, que
na fase mesofílica, aos 11 dias, os compostos fenólicos apresentaram
teores altos, mas entrando na fase termofílica, os teores caíram e se
mantiveram estáveis até a maturação; o estudo abrangeu vegetais
diferentes dos usados neste estudo, que foi feito com uma variedade
maior, com tomates, batatas, cenouras, abóboras de várias
variedades, entre outros. Apesar da diferenciação do material vegetal,
é sabido que as plantas naturalmente produzem CFTs, sendo esperado
sua presença nos cogumelos onde foram cultivados.
Os frutos do Cerrado têm sido estudados por suas
propriedades nutricionais, medicinais e na aplicação dos metabólitos
secundários como coadjuvantes no tratamento de doenças (BATISTA;
SOUSA, 2019; MOREIRA-ARAÚJO, 2019; BELISÁRIO et al., 2020; SILVA
et al., 2020).
O pequi, que é considerado umas das frutas mais nutritivas
do Cerrado, mas nos cogumelos amostrados, a maior quantidade de
CFTs encontrados, foi nos cultivados em substrato com 10% da
suplementação com a farinha da casca do pequi; é possível que isso
tenha ocorrido, devido ao fato da facilidade de os cogumelos fazerem
a biorremediação em substratos menos suplementado, devido ao
balanceamento C/N.
Pesquisas sobre CFTs no gênero Hymenaea são escassas,
sendo Hymenaea stigonocarpa a espécie mais estudada. Miranda et al.
(2014) encontraram em Hymenaea stigonocarpa considerável
quantidade de compostos fenólicos, através de análises do extrato
bruto hexânico e extrato bruto etanólico das folhas, por
espectrofotometria, pelo método de Folin-Ciocalteu.
Apesar de serem espécies diferentes, deve-se ter
semelhanças na composição de CFTs, já que foi amostrado valores
desse composto químico nos basidiomas cultivados nos substratos
com suplementação com H. courbaril.

143
Conclusão

A produção de cogumelos comestíveis é uma atividade


interessante para pequenos produtores e agricultores familiares, que
podem usar espaços ociosos da propriedade, ou adequar um lugar
com custo baixo, e usar substratos regionais disponíveis, reduzindo
despesas e produzindo um alimento de alto valor agregado.
Os cogumelos Pleurotus pulmonarius (FR.) QUÉL. fazem parte
de um rol de alimentos altamente nutritivos, sua capacidade de
absorver os nutrientes disponíveis nos substratos preparados,
contribui para direcionar seu cultivo para obtenção de determinados
nutrientes, metabólitos secundários e terapias, bastando investir em
pesquisa na elaboração dos substratos onde serão cultivados e suas
suplementações.
É importante realizar pesquisas mais aprofundadas sobre o
perfil fenólico dos cogumelos para identificar e quantificar as
substâncias ativas, já que estudos sobre esses perfis de compostos
fenólicos são pouco pesquisados.

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149
A prevenção e o controle das infecções em
pronto Socorro: questão para a saúde do
trabalhador, do usuário e do ambiente
Carolini Aguiar da Silva Sartori, Rosane Teresinha Fontana,
Vivian Lemes Lobo Bittencourt e Maria Cristina Meneghetti

10.47247/GC/88471.57.9.8

150
Introdução

As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS)


representam importante agravo à saúde, pois essas infecções
provocam impacto na questão da letalidade, aumentando os dias de
internação, e com isso custos elevados aos serviços de saúde
favorecendo a propagação de microrganismos multirresistentes
(ANVISA, 2017).
Conforme a Lei Nº 9.431, de 6 de janeiro de 1997, entende-se
por infecção hospitalar qualquer infecção adquirida após a internação
de um paciente em hospital e que se manifeste durante a internação
ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a
hospitalização (BRASIL,1997). Todos os hospitais brasileiros são
obrigados a manter um Programa de Controle de Infecções
Hospitalares (PCIH), e Comissões de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) para que coloquem em prática as ações do PCIH (BRASIL,1997),
assim como devem estruturar Núcleos de Segurança do Paciente.
Desta forma é fundamental salientar, que todos os serviços
de atenção à saúde devem desenvolver ações que envolvam a
prevenção das infecções e a consequente segurança do usuário. Não é
apenas em ambiente hospitalar que podem ocorrer IRAS, elas também
podem estar associadas à assistência à saúde ao indivíduo na atenção
primária da saúde, em instituições de longa permanência de saúde, em
unidades de pronto atendimento (UPA), home care, entre outros. Isto
posto, o termo infecções hospitalares (IH), foi substituído por
infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), visto que podem
ocorrer em qualquer ambiente de produção de saúde.
Diante disso é necessário que se desenvolvam ações de
educação em saúde, voltadas à sensibilização dos trabalhadores da
saúde acerca de procedimentos que possam minimizar esse
fenômeno, tais como Higienização das Mãos (HM), limpeza adequada
de superfícies, uso racional de antimicrobianos, atenção às medidas de
precauções universais, entre outras.
A HM é uma das principais ações de prevenção das IRAS, em
todos os ambientes de saúde, proporcionando uma redução
significativa das taxas de infecções institucionais. O objetivo da HM é
minimizar a transmissão de microrganismos pelas mesmas
(HINRICHSEN, 2018) e envolve, pelo menos 5 momentos: antes de

151
tocar o paciente, antes de realizar procedimento limpo/asséptico,
após risco de exposição a fluidos corporais, após tocar o paciente e
após tocar superfícies próximas ao paciente (BRASIL, 2016).
Uma pesquisa realizada em três Unidades de Terapia
Intensiva Pediátrica de hospitais universitários públicos da região sul
do Brasil, confrontou a adesão da HM por categorias da enfermagem e
constatou que os técnicos apresentaram menor adesão a HM do que
os enfermeiros. Essa situação se torna preocupante na medida em que
os técnicos são os trabalhadores que mais tempo estão em contato
com o paciente, no turno de trabalho (RAIMONDI et al., 2017).
Outro estudo realizado em um hospital-escola, no Recife/PE,
identificou que todos os profissionais técnicos de enfermagem (100%),
tinham conhecimento adequado sobre a necessidade da HM antes de
qualquer tipo de manipulação de dispositivos, porém, somente 79,3%
revelaram colocar este conhecimento em prática. Constatou que, dos
92,79% que afirmaram que é importante higienizar as mãos antes de
usar luvas, contudo, apenas 48,6% realizaram na prática (COSTA et
al.,2020). Neste contexto, a Portaria n° 529, de 01 de abril de 2013, que
trata da segurança do paciente, aborda a HM como uma meta para o
cuidado seguro (BRASIL, 2013).
A atenção às precauções padrão é uma prática que deve estar
presente de forma consciente em todos os processos de cuidado.
Envolvem um conjunto de medidas que devem ser aplicadas no
atendimento de todos os pacientes, independente se estiver com
diagnóstico de infecção ao não, assim como na manipulação de
artigos. Devem ser usadas se possibilidade de contato com sangue,
líquidos corpóreos, secreções e excreções, pele com solução de
continuidade e mucosas implicam no uso de Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs), como luvas, aventais, máscaras e
protetores oculares, higienização das mãos antes e após o contato
com pacientes e fluidos corpóreos e antes e após o uso de luvas e
cuidados com materiais perfuro cortantes (FERREIRA et al., 2017).
Com o objetivo de verificar o nível de adesão às precauções
padrão dos profissionais da equipe de enfermagem do setor de Clínica
Médica de um hospital de ensino e descrever a relação do nível de
adesão com a categoria profissional e o tempo de exercício
profissional, uma pesquisa demonstrou que o nível de adesão da
equipe de enfermagem às precauções padrão foi intermediário, sem

152
diferença estatisticamente significativa dos escores médios globais de
adesão e as categorias profissionais de enfermagem e tempo de
exercício profissional. Porém, foi identificado que o tempo de
experiência profissional (10 anos ou mais) influenciou positivamente
na adesão ao item ‘lavar as mãos após retirar luvas descartáveis’
(FERREIRA et al., 2017), resultados que merecem atenção e
intervenções no processo de educação permanente com foco na
segurança tanto dos profissionais quanto dos pacientes.
Pesquisa que avaliou a adesão dos profissionais de
enfermagem que atuam nos serviços de urgência e emergência às
medidas de precaução padrão constatou não conformidades ao seu
uso, sugerindo que essa situação está associada a fatores inter-
relacionados entre perfil pessoal, organizacional e estrutural da
unidade, tornando-se fundamental que gestores desenvolvam ações
educativas com o escopo de “promover orientação, sensibilização,
incentivo e habilitação dos profissionais de saúde acerca do uso
adequado e da importância do cumprimento das normas de
biossegurança para a prática profissional segura”. Indispensável,
ainda, é a oferta de recursos materiais pelo serviço, assim como
dimensionamento adequado de recursos humanos e implantação de
procedimentos operacionais padrão nos setores para regulamentar o
uso dos equipamentos (MENDES et al., 2019, p.581).
Válido é complementar que se tem ainda as precauções por
meio da transmissão, que são as Precauções de contato, Precauções
contra gotículas e Precauções transportadas pelo ar (aerossóis). As
Precauções de Contato visam prevenir a transmissão de
microrganismos que são disseminados por contato direto ou indireto.
As precauções contra gotículas previnem a transmissão de patógenos
disseminados pelo contato próximo da membrana respiratória ou
mucosa com as secreções respiratórias. Como esses patógenos não
permanecem infecciosos por longas distâncias, o manuseio de ar e
ventilação especiais não são necessários para prevenir a transmissão.
São exemplos caxumba, influenza e rubéola (CDC, 2019). Essas
precauções são usadas para evitar transmissão de microrganismos
maiores do que 5 micras (UNICAMP, 2019).
As precauções aerotransportadas (por aerossóis) evitam a
transmissão de agentes infecciosos que permanecem infecciosos por
longas distâncias quando suspensos no ar, tais como vírus do
sarampo, varicela, M. tuberculosis e possivelmente SARS-CoV.

153
Pacientes que requerem essas precauções devem ficar em uma sala de
isolamento de infecção aerotransportada (AIIR), ou seja, uma sala
para um único paciente equipada com capacidade especial de
ventilação e tratamento de ar, isto é, pressão negativa monitorada em
relação à área circundante, 12 trocas de ar por hora para novas
construções e reformas e 6 trocas de ar por hora para instalações
existentes, ar exaurido diretamente para o exterior ou recirculado
através de filtragem HEPA antes do retorno (CDC, 2019). Essas
precauções são usadas para evitar transmissão de microrganismos
menores do que 5 micras (UNICAMP, 2019).
Pela necessidade de conhecer as habilidades relacionadas ao
gerenciamento de risco feito por enfermeiros de um pronto-socorro
de um hospital de ensino, um estudo identificou que os riscos
prevalentes na unidade foram os de infecção, de identificação e de
flebite nos pacientes. Os autores observaram que fatores internos e
externos podem influenciar no gerenciamento do risco, na gestão do
cuidado e das pessoas do setor, dados que apontam para uma
reorganização do serviço (SANTOS et al., 2017) e uma especial atenção
a estes setores no hospital.
Uma pesquisa que teve o objetivo de identificar a
compreensão, a prática e as necessidades de profissionais acerca das
IRAS em um Pronto-Socorro, apontou que as especificidades
características do ambiente, como superlotação, carga de trabalho,
falta de tempo e déficit de funcionários distingue a unidade como
crítica e, portanto, predisposta às infecções (BUENO; PIO; CHIRELLI,
2019).
Pesquisa que buscou analisar a adesão à HM dos profissionais
de saúde em unidade de pronto-socorro identificou que a taxa de
adesão à HM nesta unidade foi baixa (54,2%). Os autores discorrem
sobre a necessidade de “infraestrutura adequada e abordagens
educativas multidisciplinares” [...] e sobre a importância da
aproximação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar e o
Núcleo de Segurança do Paciente dos trabalhadores de saúde como
uma ‘estratégia para formar parcerias que desenvolvam a
aprendizagem e efetivação de práticas de HM” (ZOTELLE et al., 2017,
p.6-7).
Diante desta contextualização, pretende-se estudar sobre as
medidas de prevenção e controle de IRAS em um pronto atendimento

154
considerando que esta unidade é um ambiente de grande rotatividade
de pacientes, que carecem de cuidados imediatos, exigindo rapidez e
eficiência nos procedimentos para a preservação da vida, situação que
expõe tanto profissionais quanto usuários a possibilidades de
transmissão de infecções.
Atualmente as IRAS representam um problema de saúde
pública e a adesão dos trabalhadores às condutas e comportamentos
que possam prevenir a transmissão de microrganismos são
fundamentais a todo serviço que almeja o cuidado seguro a si e aos
usuários. Assim, este estudo pretende contribuir para a segurança e
qualidade de vida e de trabalho de pacientes e profissionais, na
medida em que pode apontar lacunas às práticas seguras e incentivar
estratégias que possam promover o cuidado seguro ao usuário e ao
trabalhador.
Sendo assim, parte-se da seguinte questão norteadora: As
medidas de prevenção e controle das IRAS, adotadas pela equipe de
enfermagem em um pronto atendimento hospitalar estão de acordo
com as normas que as regulamentam? O objetivo geral deste estudo é
identificar medidas de prevenção e controle de IRAS praticadas pela
equipe de enfermagem em um pronto atendimento hospitalar. Como
objetivos específicos pretende-se averiguar saberes da equipe de
enfermagem relativas às IRAS e conhecer fatores que dificultam e/ou
facilitem a adesão às medidas de prevenção às IRAS pelos
trabalhadores da equipe de enfermagem de um pronto atendimento
hospitalar.

Metodologia

Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa do tipo


descritiva e transversal. A abordagem quantitativa envolve números,
desde a coleta dos dados até o resultado, é sistemático e controlado,
enfatiza a objetividade (POLIT et al.,2019). A pesquisa descritiva requer
do pesquisador informações do assunto do qual pretende pesquisar,
descrevendo os fatos e fenômenos daquela determinada realidade
(TRIVIÑOS, 1987). No estudo transversal a relação exposição-doença é
verificada, em uma certa população, em um particular momento. É um
retrato de como as variáveis estão incluídas, naquele determinado
momento (PEREIRA,2018).

155
A população do estudo foi composta por profissionais da
enfermagem, sendo enfermeiros e técnicos de enfermagem que
atuam em um pronto atendimento hospitalar. Os critérios de inclusão
foram ter experiência de, pelo menos, seis meses na unidade de
pesquisa e trabalhar ativamente, e, os critérios para exclusão foram
estar de férias, atestado médico ou licença.
O estudo foi desenvolvido em uma Unidade de Pronto
Atendimento localizada em um hospital de um município da Região
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, durante o segundo
semestre de 2021.
A coleta de dados foi feita por meio de um questionário,
sendo entregue a todos os trabalhadores da equipe de enfermagem,
convidados a participar, após serem esclarecidos os objetivos da
pesquisa e, em todos os turnos (manhã, tarde e noite). O participante
que aceitou participar assinou um termo de consentimento livre e
esclarecido.
Os questionários foram recolhidos no mesmo dia, conforme a
disponibilidade de cada entrevistado, em um envelope, de modo que
o pesquisador não os identificasse. Questionário é um instrumento
utilizado para investigação, composta por perguntas, que precisam ser
respondidas de forma escrita, sem a interferência do entrevistador
(LAKATOS; MARCONI,2003). As perguntas foram adaptadas de uma
pesquisa realizada por Dallagnol (2016).
Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva.
A análise estatística possibilita ao pesquisador entender dados
envolvendo números. Estatística descritiva compreende a utilização da
frequência como forma de descrever dados (POLIT et al.,2019).
O estudo respeitou os aspectos éticos em pesquisa
envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde e a coleta de dados foi realizada somente
após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, campus de Santo
Ângelo, sob n. 4.841.694. Foi solicitada a assinatura, pelo gestor do
hospital, do Termo de Anuência, autorizando a pesquisa no local. Todo
participante que aceitou participar, assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, uma via para o
pesquisador e outra para o participante. Para manter o anonimato, os

156
participantes serão identificados como Participante 1 (P1) ,
Participante 2 (P2), e assim sucessivamente.

Resultados e discussões

A coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2021. Foi


realizada com 35 profissionais da enfermagem da unidade do pronto
atendimento hospitalar, dos turnos manhã, tarde e noite, que
aceitaram participar da pesquisa, sendo quatro enfermeiros e 31
técnicos de enfermagem. Houve participação de 100 % dos
profissionais que trabalham na unidade, sendo estes, na sua maioria,
do sexo feminino (n=23 - 65,7 %).

Concepções sobre Infecções relacionadas à assistência (IRAS)


hospitalar

Quando questionados sobre suas concepções acerca das


IRAS, a maioria (n=32 - 91,4%) dos participantes respondeu
corretamente. A maior parte possui conhecimento do assunto visto
que responderam conforme o conceito da Portaria 2616/98 (BRASIL,
1998) a qual legisla que é aquela adquirida após admissão do paciente
e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder
ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Os
resultados de uma investigação semelhante demonstraram que os
profissionais de saúde apresentavam conhecimento das IRAS, porém,
não associadas com a prática. Muitos trabalhadores reconhecem a
importância da infecção hospitalar, porém ainda há necessidade de
estratégias educativas e monitoramento de indicadores para alinhar a
teoria à prática (DERHUN, et al., 2016; ALVES et al., 2019).
Dos respondentes, sobre o questionamento do que evita
IRAS, das cinco alternativas: “falta de hábitos de higiene como não
lavar as mãos; uso prolongado de sonda vesical de demora; mudança
de decúbito de 2 em 2 horas; elevação da cabeceira de 30° a 45° em
pacientes em uso de ventilação mecânica e falha profissional no
procedimento com o paciente”, a maioria (n=17- 48,6%) respondeu que
a elevação da cabeceira de 30° a 45° em pacientes em uso de
ventilação mecânica evita IRAS e (n=13 - 37,1%) responderam que pode
auxiliar na prevenção das IRAS, a mudança de decúbito de 2 e 2 horas,
demonstrando incertezas dos trabalhadores quanto às melhores

157
medidas para evitar IRAS, dentre as alternativas. Preocupante é que a
higienização das mãos foi citada por apenas uma pessoa (n=1- 2,86%).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (2017)
recomenda como um dos cuidados de enfermagem, elevar a cabeceira
entre 30° a 45° para pacientes em uso de ventilação mecânica, como
forma de diminuir a chance de broncoaspiração,e, consequentemente
reduzir a possibilidade de pneumonia associada à ventilação mecânica.
Em relação à mudança de decúbito de 2 em 2 horas, essa é uma
medida que pode evitar o desenvolvimento de lesão por pressão,
assim como usar lençóis adequados, manter a pele limpa e hidratada,
oferecendo ao paciente um ambiente com boas condições de higiene.
Se isso não for possível podem ocorrer complicações como a infecção
da ferida, retardando o processo de cicatrização (GUERRA et al., 2021).

A Higienização das mãos como processo principal de


prevenção

A HM isoladamente, é uma das ações mais importantes para


prevenção e controle de infecções. Reconhecida mundialmente como
uma medida primária, mas muito importante no controle de infecções
relacionadas à assistência à saúde, ainda carece de sensibilização pelos
profissionais de saúde. Estudos sobre o tema demonstram que a
“adesão dos profissionais à prática da higienização das mãos de forma
constante e na rotina diária ainda é baixa, devendo ser estimulada e
conscientizada entre os profissionais de saúde” (BRASIL,s/d p. 7). No
estudo em tela, os dados demonstram que os pesquisados estão
sensibilizados para a importância da HM como medida de prevenção
de IRAS.
Das alternativas propostas assim emergiram as respostas.
Diante da alternativa “a higienização das mãos deve ser feita somente
após a higiene pessoal, 34 pessoas (97,14%) responderam como falsa”.
Para a alternativa “a HM deve ser feita antes e após o preparo de
medicação, 34 pessoas (97,14%) concordam”. O “uso de luvas dispensa
a lavagem das mãos após a realização de procedimentos é uma
afirmativa falsa para 34 pessoas (97,14%)”. Diante da afirmativa “o uso
de luvas dispensa de maneira geral a lavagem das mãos, 35 pessoas
(100%) responderam que é falsa e, para 35 pessoas (100%), a HM deve
ser feita antes e após a realização de cuidados ou exames em cada
paciente. Quando indagados sobre treinamento de HM, 34 (97,14%)

158
relatam ter recebido algum treinamento. Isso se torna evidente em
outro estudo realizado com 267 profissionais de enfermagem que
demonstrou que 241 (90,3%) profissionais afirmaram ter recebido
treinamento sobre HM (DERHUN et al., 2016).
Ao investigar se existe preparação alcoólica suficiente e
disponível para HM no hospital 35 (100%) informou que sim. A maioria
respondeu que há álcool gel e álcool 70%. No mesmo estudo citado
anteriormente (DERHUN et al., 2016), 262 (98,1%) referiram saber da
disponibilidade/existência na instituição de preparação alcoólica para
fricção das mãos. Sendo assim, fica demonstrado que o hospital segue
a Normativa Regulamentadora n.42/2010 que legisla sobre a
obrigatoriedade de disponibilização de preparação alcoólica para
fricção antisséptica das mãos, pelos serviços de saúde do país
(BRASIL, 2010).
Os respondentes referiram que a gerência da unidade está
sensibilizada sobre a importância da HM. Entre todos os assuntos
relativos à segurança do paciente, a HM, segundo 22 participantes
(62,86%), está sendo vista pela gerência da unidade como prioridade
muito alta. Embora mais da metade perceba essa preocupação da
gestão, tendo em vista a ocorrência da pandemia em curso, poderia
ser maior. Em uma pesquisa realizada com 165 profissionais de saúde
em um hospital de ensino de Ribeirão Preto/SP, os resultados
demonstraram que 158 (96,3%) trabalhadores relataram higienizar as
mãos após contato com material potencialmente contaminado, 146
(89%) sempre higienizavam as mãos após retirar as luvas e 138 (84,1%)
profissionais relataram realizar o procedimento entre o cuidado a
diferentes pacientes (PASSOS, MARZIALE, 2020), demonstrando
significativa atenção à HM.

Artigos críticos, semicríticos ou não críticos

Elencou-se alguns artigos para investigar saberes dos


respondentes quanto à classificação dos mesmos em críticos,
semicríticos e não críticos. Dos participantes, 34 (97,14%) responderam
que seringas e agulhas são artigos críticos. Quanto à mesa de exames
em ambulatório, 16 pessoas (45,72%) responderam ser artigo
semicrítico. Para 21(60%), mamadeiras e bicos são artigos semicríticos.
Para 33 (94,29%) os fios cirúrgicos são artigos críticos. Alimento, para
17 (48,58%) são artigos não críticos.

159
A sonda vesical, para 31 (88,58%) respondentes, são artigos
críticos. Máscaras de inalação, para 16 (45,71%) são artigos semicríticos
e instrumentais cirúrgicos são artigos críticos para 31 (88,58%). Embora
com algumas prevalências baixas, a maioria dos respondentes sabem
classificar os artigos, conhecimento fundamental para designação do
tipo de tratamento do material. Se desinfecção, esterilização ou
descarte. Segue quadro com classificação dos produtos para a saúde.

Quadro 1 - Classificação de produtos para a saúde.

Fonte: FIOCRUZ/IFF/SUS, 2020

Tabela 1 - Artigos críticos, semicríticos e não críticos.

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

160
Na análise da tabela acima observa-se que a maioria
respondeu inadequadamente à classificação da mesa de exame em
ambulatório e das pias e vasos sanitários, visto que 17 (48,57%)
consideraram não críticos. As pias e vasos sanitários, são artigos
semicríticos para 13 pessoas (37,14%), menos da metade dos
respondentes. Segundo a ANVISA (BRASIL, 2018) são artigos
semicríticos os que entram em contato com mucosas íntegras
colonizadas ou pele não íntegra, tais como pias e mesas. Observou-se,
também, que a maioria dos profissionais correlacionaram comadres e
papagaios a item semicrítico, mas estes são artigos considerados não
críticos. Segundo a ANVISA (BRASIL, 2018), os artigos não críticos são
aqueles que entram em contato somente com a pele íntegra.

Tabela 2 - Locais onde se encontram as bactérias que provocam IRAS

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

Na tabela acima é notório que a maioria dos profissionais têm


conhecimento onde se encontram as bactérias que provocam IRAS.
Em um estudo realizado com oito profissionais da saúde da unidade de
terapia intensiva de um hospital público de alta complexidade, que
analisou amostras coletadas das mãos dos profissionais de saúde
utilizando o método do saco plástico estéril, contendo água
destilada e seguido para análise, nos mostra que os microrganismos
associados às IRAS estão presentes nas mãos da equipe
multiprofissional de saúde. Para reduzir as taxas de infecção hospitalar
depende de inúmeros fatores, como educação permanente,
monitoramento da adesão à prática de HM, limpeza de bancadas e
materiais, dimensionamento no quantitativo de profissionais além do
uso racional de antimicrobianos (ANDRADE et al., 2021).

161
Tabela 3 - EPIs utilizados pelos profissionais em isolamento respiratório por
gotículas

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

Pela análise da tabela acima observa-se que há lacunas nos


conhecimentos acerca das Precauções Universais. Em caso de
transmissão por gotículas, ou seja, onde há microrganismos maiores
do que 5 micras, são recomendados avental, luvas de procedimento e
máscara cirúrgica (BRASIL/ANVISA, 2021).
Questionados se, em uma escala de 1 a 5, qual importância era
dada ao Programa de Infecção Hospitalar da instituição, 31 (88,57%)
responderam satisfatoriamente. O Programa de controle de infecções
hospitalares é de fundamental importância, visto atuar com
estratégias a fim de prevenir as infecções, promovendo medidas que
assegurem a promoção, proteção e recuperação dos pacientes,
visando reduzir agravos que possam acarretar danos ao paciente e em
custos elevados para a instituição de saúde (QUIRINO,MENDES, 2016).
Na tabela abaixo observa-se a adesão ao uso de EPI no
cotidiano de trabalho dos respondentes. A maioria usa luvas e óculos,
porém em unidade de emergência é imprescindível a utilização de EPIs
do tipo luvas, máscaras, aventais impermeáveis, óculos, gorros e
sapatos fechados, principalmente, pois é uma forma do profissional
proteger-se e prevenir-se da ocorrência de acidentes de trabalho
durante suas atividades, visto que estão expostos a riscos de
contaminação por fluidos orgânicos durante o atendimento ao
paciente (DIAS et al., 2016).

162
Tabela 4 - EPIs utilizado pelos trabalhadores de saúde no Pronto Atendimento.

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

Tabela 5 - Conhecimento dos profissionais sobre as IRAS na instituição

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

A maioria dos respondentes demonstrou desconhecimento


da situação das IRAS no estabelecimento em que trabalha,
evidenciados na tabela acima. É fundamental para a prevenção e
controle das IRAS que todos os colaboradores saibam sobre a
prevalência, índices e taxas de IRAS. Estudo realizado em um hospital
de ensino localizado no Oeste do Paraná demonstrou que 60% dos
profissionais afirmaram ter conhecimento sobre o índice de IRAS na
instituição em que trabalhava (TAUFFER et al., 2019), dado
considerado satisfatório, visto que toda a comunidade que produz
saúde deve saber sobre a situação das IRAS, do local onde trabalha a
fim de ser um participante ativo na sua prevenção e ser capaz de
desenvolver ações voltadas ao seu controle.

163
Tabela 6 - Impacto das IRAS na evolução clínica do paciente

Fonte: SARTORI; FONTANA, 2021

As IRAS têm grande impacto na saúde do paciente causando


prejuízos difíceis de mensurar como sofrimento, dor e dificuldades na
volta ao trabalho. Também aumentam os custos hospitalares e dias de
internação. Por isso é necessário relacionar as IRAS como um
problema de saúde pública, já que está ligada às condições de trabalho
dos profissionais, as circunstâncias financeiras das instituições, a vida
das comunidades, as políticas públicas e privadas e, sobretudo, a
educação dos indivíduos envolvidos. Para tanto, é necessário
desenvolver condições para um ambiente de trabalho favorável ao
profissional de saúde, de forma que suas ações, atitudes e
autodeterminação construam-se com base no conhecimento sobre as
taxas de seus serviços e comprometimento no cuidado seguro ao
paciente (FONTANA; LAUTERT, 2009).
Quando questionados sobre quais estratégias utilizam para
prevenir as infecções, as falas mais frequentes foram higienização das
mãos, uso de EPIs, técnica asséptica nos procedimentos e uso de
álcool 70%.

[...]Higienização das mãos antes e após procedimento, uso de


EPIs, seguir os protocolos e usar muito álcool gel(P8)

Lavagem correta de higienização das mãos antes e após


contato com paciente e/ou realização de procedimentos.
Cuidados com procedimentos assépticos(P23)

Procuro higienizar as mãos da maneira correta e usar EPIs e


também realizar procedimentos de maneira certa para não
contaminar, como um curativo [...] (P17)

164
Sobre a pergunta se o trabalho de controle de infecção
hospitalar é significativo no seu cotidiano de trabalho, todos
responderam positivamente. Consideram que este serviço pode
oferecer segurança ao profissional e ao usuário do serviço, assim
como qualificar o cuidado, como demonstrado nas falas abaixo.

Sim. Para maior controle de bactérias multirresistentes que são


oportunistas em ambiente hospitalar. E que o paciente não
tenha um agravo maior na sua recuperação(P17).

Sim, que riscos de contaminação entre pacientes sejam


reduzidos e para a promoção de qualidade e segurança dos
pacientes (P30).

Sim, para evitar minha própria contaminação e infectar os


demais pacientes (P8).

Sim, pois é através do trabalho desta equipe, que tem a função


de reduzir o risco de aquisição de infecção hospitalar,
melhorando a qualidade de assistência e segurança do paciente
(P28).

É historicamente comprovada a importância da CCIH e do


enfermeiro nas instituições hospitalares, mas ainda é um desafio a
divulgação das atividades da comissão, bem como suas ações para
prevenção e controle de infecção (BARROS et al., 2016). O pronto-
atendimento é a porta de entrada para agentes patogênicos, assim
deveria ser o local com maior adesão às práticas de HM, no entanto
essa não é a realidade apresentada, de acordo com uma revisão da
literatura, que aponta diversos fatores que são considerados
impedimentos à adesão à HM, dentre eles: a alta carga de trabalho,
recursos limitados e estrutura física de pias mal localizadas,
emergências e interrupções frequentes, tempo insuficiente,
esquecimento, instalação de pacientes em regiões não clínicas, como
corredores, estresse, falta de treinamento dos profissionais, uso de
luvas, falta de exemplo e motivação pelos superiores e superlotação
(BASTIAN; FONSECA; BARBOSA, 2021).

165
Conclusão

O estudo permitiu concluir que o conhecimento e as práticas


da equipe de enfermagem do pronto atendimento hospitalar sobre as
IRAS são satisfatórios, porém alguns pontos negativos devem ser
revistos focando em capacitações/educação permanente como forma
de mitigá-los.
Em relação a classificação de produtos para a saúde percebe-
se que a maioria respondeu inadequadamente nos itens mesa de
exame em ambulatório, pias, vasos sanitários, comadres e papagaios,
o que demonstra a necessidade de educação aos trabalhadores como
forma de atualizar conhecimentos.
Do mesmo modo identificou-se que a maioria dos
respondentes desconhecem a prevalência das IRAS no
estabelecimento em que trabalham. É fundamental que toda a
comunidade hospitalar conheça a situação das IRAS na instituição em
que trabalha, visto ser , o trabalhador, um ator, fundamental, no
controle e prevenção das mesmas.
Diante dos resultados foi possível alcançar os objetivos do
estudo, levando os participantes a refletirem sobre o seu ambiente de
trabalho em relação às IRAS e o que fazem para sua prevenção. De
modo geral, pode-se inferir que as condutas adotadas pela equipe de
enfermagem, do pronto atendimento hospitalar em estudo, estão de
acordo com as normas que legislam a prevenção e controle das IRAS.
Para avançar no conhecimento, sugere-se educação
permanente em saúde, com temas que enfoquem as IRAS em
ambientes de pronto atendimento para garantir a segurança do
paciente, no que se refere aos cuidados imediatos, e que núcleos de
segurança sejam implantados e mantidos com foco no cuidado seguro
ao usuário e ao profissional.
Sugerem-se mais estudos sobre IRAS em áreas de urgência e
emergência, incluindo a atenção primária à saúde, visto que, nas bases
de dados pesquisadas ainda são escassos estudos desta natureza.

166
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172
A saúde e a homogeneização de tratamento de
água e coleta de esgoto no Brasil
Henrique Michelutti Petroni e Mario Roberto Attanasio Junior

10.47247/GC/88471.57.9.9

173
Introdução

Para que possamos compreender o nosso presente


precisamos relembrar alguns aspectos do passado. Fares1 trata o
desenvolvimento urbano desordenado sob a ótica industrial gerado
pelo êxodo do campo, provocado pela falta de trabalho, para as
cidades no período da revolução industrial em meados dos séculos XIX
e XX. Como consequência, áreas que não seriam destinadas para a
ocupação humana foram tomadas em descumprimento ao Código
Florestal e normas urbanísticas, deixando claro que uma política
urbana com gestão ambiental eficiente é fundamental para um
crescimento demográfico racional e sustentável.
Em 2010 a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a
“água limpa e segura, bem como o saneamento, um direito humano
essencial para gozar plenamente a vida'', através da Resolução
A/RES/64/292 2.
Antes disso, como uma forma de assessorar e promover o
saneamento básico urbano no Brasil em 2008 é iniciada, através da
Resolução Recomendada n° 62, de 3 de Dezembro de 2008, a primeira
redação do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB)
conforme a Lei 11.445/20073, que consiste no planejamento integrado
de quatro componentes: abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, coleta de lixo e manejo de resíduos sólidos e
drenagem e manejo das águas pluviais urbanas4. O PLANSAB tinha

1 PAULO, Rodolfo Fares. O desenvolvimento industrial e o crescimento


populacional como fatores geradores do impacto ambiental. Veredas do
Direito. v.7, n.13/14. 2010. p. 174. Disponível em:
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2 O Direito Humano à Água e Saneamento. ONU, 2010. p. 1.
<https://www.un.org/waterforlifedecade/pdf/human_right_to_water_and_sa
nitation_media_brief_por.pdf>. Acesso em: 24/03/2022.
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Acesso em: 24/03/2022.
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A%2062%20DE%203%20DE%20DEZEMBRO%20DE%202008%20-

174
como expectativa ser reconhecido como protagonista no esforço pela
universalização do saneamento básico através das metas de redução
pela metade do número de pessoas sem acesso aos serviços de
saneamento básico até o ano de 2015 com base na quantidade de
atendimento deste serviço nos anos de 1990.
O documento do Plano de 2019, assinalou que

“foi necessário alterar alguns valores de 2033, sem


comprometer a metodologia originalmente empregada; em
busca da universalização como referência, o montante de
recursos de investimentos factível de ser aplicado seria
suficiente para se alcançar as metas previstas; a avaliação
qualitativa de que as condições institucionais e as capacidades
técnica e de gestão previstas no cenário de referência
apresentariam um quadro também factível para se alcançar as
metas”5.

O documento PLANSAB de 2019 também definiu que as metas


propostas originalmente para o ano de 2023 de acesso ao
abastecimento de água nas áreas urbanas e áreas rurais do Brasil e das
macrorregiões Norte e Nordeste teriam que ser estendidas.
Atualmente, por sua vez, a Lei 11.445/07, sobre Saneamento
Básico, com redação dada pela Lei 14.026/20206, estabeleceu, em seu
artigo 2°, inciso I, o princípio da universalidade, com acesso efetivo da
prestação do serviço de saneamento. Em seu art. 11°- B previu metas a
serem atingidas:

“Os contratos de prestação dos serviços públicos de


saneamento básico deverão definir metas de universalização
que garantam o atendimento de 99% (noventa e nove por
cento) da população com água potável e de 90% (noventa por
cento) da população com coleta e tratamento de esgotos até

%20Pacto%20pelo%20Saneamento%20B%C3%A1sico.pdf>. Acesso em:


24/03/2022.
5 Monitoramento e Avaliação do Plansab. 2019. p. 150. Disponível em:
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6 MDR, Brasil. 2021. Plano Nacional de Saneamento Básico. Disponível em:
<https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/plansab>. Acesso em:
24/03/2022.

175
31 de dezembro de 2033, assim como metas quantitativas de
não intermitência do abastecimento, de redução de perdas e
de melhoria dos processos de tratamento”.

O ritmo de desenvolvimento urbano no Brasil progride de


forma diferente entre as macrorregiões Centro-Norte, Nordeste,
Centro-oeste, Sudeste e Sul como exposto por Rolnik e Klink7. Embora
a política econômica aumente os investimentos no setor de
desenvolvimento urbano, o crescimento urbano excludente e
predatório continua avançando de forma desigual nas diversas regiões
do Brasil.
Um aspecto importante dentro do contexto dos direitos
humanos de acesso a água limpa e segura, bem como o saneamento é
o conceito de “One health”, conforme exposto por Ellwanger8, é
fundamental à medida que aproximadamente 75% das novas doenças
infecciosas humanas emergentes são definidas como zoonóticas,
dado que foi observado pela OMS.
A One Health Commission define que este é um “esforço
colaborativo de várias disciplinas para obter a saúde ideal para
pessoas, animais e nosso meio ambiente”.9
O conceito de One health é baseado em três fatores que se
integram, “saúde humana”, “saúde animal” e “saúde ambiental” com
propósito final de promoção da saúde humana através da melhor
compreensão da complexidade de interações com o meio ambiente,
tanto em nível local quanto em nível global (ELLWANGER. p, 22-24).

7 R ROLNIK; J KLINK. Retrato da Precariedade: A Infraestutura dos Domicílios:


Crescimento Econômico E Desenvolvimento Urbano: Por Que Nossas Cidades
Continuam Tão Precárias? 2011. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101-
33002011000100006>. Acesso em: 24/03/2022.
8 Ellwanger, Joel Henrique. Fatores imunogenéticos e ambientais envolvidos
no estabelecimento de doenças virais emergentes, reemergentes e
negligenciadas no Brasil – Um enfoque na perspectiva One Health. 2019, p. 22 -
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9 One Health Initiative Task Force: Final Report. 2008. p. 9. Disponível em:
<https://www.avma.org/sites/default/files/resources/onehealth_final.pdf>.
Acesso em: 24/03/2022.

176
Objetivos

Dentro desta perspectiva o trabalho proposto tem como


objetivos verificar em que medida a legislação ambiental brasileira,
relacionada à proteção dos recursos hídricos e o PLANSAB,
representou um avanço na qualidade de vida e nas condições
ambientais, de forma homogênea, nas diversas regiões do país, ao
longo do tempo como pretendido pelo PLANSAB, bem como avaliar a
necessária produção de informações e dados para fundamentar
políticas, planos e programas.

Metodologia

Para a aferição do avanço na qualidade de vida e avanço


homogêneo do saneamento no país foram selecionadas escalas
regionais (macrorregiões, Unidades Federativas e municipais)
impactadas em maior ou menor grau pelos números de internações
por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado
(Drsai), visto que a relação entre estas enfermidades a falta de
atendimento por água tratada e serviços de coleta de esgoto são
consolidadas10, estas condições serão utilizadas para identificar as
regiões nas diferentes escalas via proporção internações Drsai por
habitante através dos dados do tabulador genérico (TABNET)
desenvolvido pelo DATASUS que disponibiliza informações das bases
de dados do SUS e censo IBGE.11

10 FUNASA: Impactos na saúde e no sistema único de saúde decorrentes de


agravos relacionados a um saneamento ambiental inadequado. 2010. p- 31.
Disponível em: <http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/estudosPesquisas_ImpactosSaude.pdf>. Acesso em:
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Monitoramento e Avaliação do Plansab. 2020. Disponível em:
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11 Disponíveis dados do TABNET e TABWIN, 2018. Disponível em:
<https://www.conasems.org.br/juridico/disponiveis-dados-do-tabnet-e-
tabwinn/>. Acesso em: 24/03/2022.

177
Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado CID12.

Fonte: FUNASA.13

12 Nomenclatura simplificada “Classificação Internacional de Doenças” de


base epidemiológica que organiza informações sobre doenças, sintomas e
outros.
13 Impactos na saúde e no sistema único de saúde decorrentes de agravos
relacionados a um saneamento ambiental inadequado. 2010. p- 65. Disponível
em: <http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/estudosPesquisas_ImpactosSaude.pdf>. Acesso em:
24/03/2022.

178
Essas Drsai identificadas pela FUNASA estavam tabuladas no
sistema TABNET como:
• Tratamento de Febres Por Arbovírus E Febres Hemorrágicas
Virais
• Tratamento de Hepatites Virais
• Tratamento de Dengue Clássica
• Tratamento de Dengue Hemorrágica
• Tratamento de Malária
• Tratamento de Dermatites e Eczemas
• Tratamento de Micoses (B35 A B49)
• Tratamento de Helmintíases (B65 A B83)
• Tratamento de Outras Doenças Bacterianas
• Tratamento de Doenças Bacterianas Zoonóticas
• Tratamento de Outras Doenças Devidas a Protozoários (B55 A
B64)
No TABNET foram geradas as tabelas através da seleção dos
“procedimentos” (Tratamento de Febres, Hepatites… [indicadores
auxiliares]), período (anos) e as escalas (macrorregiões, Unidades
Federativas e municipais).
A partir dos dados de internações pelos indicadores auxiliares
foi obtida a proporção entre internações por Drsai nas diferentes
escalas pela quantidade de habitantes que continham segundo o
censo14, o que revelou a macrorregião Sudeste com o melhor
desempenho (1,99%) e Norte com o pior desempenho (2,55%). Na
macrorregião Sudeste a Unidade Federativa (UF) com melhor
desempenho foi São Paulo (1,66%) com o município de Biritiba-Mirim
(0,00%). Já a UF de Minas Gerais foi a que teve o pior desempenho
(2,49%) com o município de Mirabela (29,17%). Na macrorregião Norte
a UF que desempenhou melhor foi o estado do Amapá (1,43%) com o
município de Tartarugalzinho (0,01%). Já o estado de Rondônia (4,21%)

14 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico.


População residente, por situação do domicílio, sexo e grupos de idade. 2010.
Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3107>. Acesso em: 24/03/2022.

179
teve o pior desempenho com o município de Mirante da Serra
(12,04%).
O número de habitantes dos municípios é: Biritiba-Mirim/SP -
28.575,00; Tartarugalzinho/AP - 12.563,00; Mirabela/MG - 13.042,00 e
Mirante da Serra/RO - 11.878,00

Autor: Henrique Michelutti Petroni

Com os quatro municípios resultantes deste levantamento, foi


utilizada a ferramenta SNIS15 criado em 1996 como parte do Programa
de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), o qual tem como
função “consolidar informações de caráter institucional,
administrativo, operacional, gerencial, econômico-financeiro, contábil
e de qualidade sobre a prestação de serviços de água, de esgotos e de
manejo de resíduos sólidos urbanos”16, realizando edições
consecutivas anuais desde 1995.

15 Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Conheça o SNIS.


Disponível em: <http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica/>. Acesso em:
24/03/2022.
16 SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos
Serviços de Água e Esgotos, 2014, pgs. 192. Disponível em:
<http://snis.gov.br/diagnostico-anual-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2014>.
Acesso em: 24/03/2022.

180
Tudo isso para adquirir as informações sobre o saneamento
nos municípios de Biritiba-Mirim; Mirabela; Tartarugalzinho e Mirante
da Serra.
Os índices utilizados para caracterizar a situação do
saneamento nestes municípios foram IN015 e IN055, Índice percentual
de coleta de esgoto e Índice percentual de atendimento total de água
respectivamente17. Segue a maneira pela qual esses índices foram
calculados: IN015 (ES005/AG010)*100 e IN055 (AG001/GE12a)*100
onde: AG010: volume de água consumido, AG019: volume de água
tratada exportado, ES005: volume de esgoto coletado, AG001
população total atendida com abastecimento de água, GE12a:
população total residente do(s) município(s) com abastecimento de
água, segundo o IBGE e POP_TOT: população total do município do
ano de referência segundo IBGE.

Autor: Henrique Michelutti Petroni

17 SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos


Serviços de Água e Esgotos, 2015, pgs. 180 e 182. Disponível em:
<http://snis.gov.br/diagnostico-anual-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2015>.
Acesso em: 24/03/2022.

181
Autor: Henrique Michelutti Petroni

Também foi realizado o levantamento de toda legislação


Brasileira que está relacionada direta ou indiretamente aos conceitos
expressos no One Health de atenção aos recursos hídricos desde 1995,
já que é a partir desta data que foram iniciadas as edições anuais
consecutivas dos SNIS, nos permitindo comparar os resultados que
seu estabelecimento produziu no saneamento e por sequência no
número de internações por Drsai no SUS.
Legislação Contemplada: Decreto 23.793, de 23 de Janeiro de
1934; Decreto Federal 24.643, de 10 de julho de 1934; Lei 4.771/65; Lei
6.938/1981; Resolução CONAMA Nº 1 DE 23/01/1986; Constituição
Federal de 1988, art. 21, XIX e XX; Lei N° 8.080/1990; Lei 8171/1991, Lei
9433/97; Lei 9.605/98; Lei 9984/00; Lei 10.257/01; Medida Provisória N°
2.166-67/01; Lei 10.768/03; Resolução CONAMA 357/05; Lei 11.445/2007;
Lei 11.578/07; RESOLUÇÃO RECOMENDADA N°62/08; RESOLUÇÃO N°
397/08; DECRETO Nº 6.942/09; DECRETO PRESIDENCIAL N° 7.217/10, Lei
12.305/2010; Lei 12.651/12; Lei 12.712/12; DECRETO 8.141/13; Lei Nº
13.529/17; Projeto de Lei 3.261/2019; Lei 14.026/20.

182
Discussão e resultados

O levantamento de todos esses dados nos permite inferir que


a preocupação com os recursos hídricos de maneira premeditada é
recente na história do Brasil com o advento da Política Nacional de
Recursos Hídricos apenas em 199718.
Embora o PLANSAB busque ser o protagonista da
universalização do saneamento básico, a primeira menção de
proposta somente foi apresentada no plano de 2014 com três
programas:
• Saneamento básico integrado: investimento em ações
estruturais.
• Saneamento rural: atendimento da população rural, povos
indígenas e comunidades tradicionais
• Saneamento estruturante: apoio à gestão dos serviços com
vistas à sustentabilidade com o olhar para o território
municipal e para a integralidade das ações de saneamento
básico19.
Quando analisamos os gráficos de números de internações
por Drsai, identificamos que no município de Mirabela houve o maior
número proporcional de internações por Drsai mas há ausência de
dados sobre sua coleta de esgoto até o ano de 2013. Mirante da Serra
e Tartarugalzinho não forneceram dados sobre a coleta de esgoto em
nenhum período desde a primeira edição do SNIS em 1995 até a data
que esta pesquisa teve acesso, ou seja, 2020. Apesar disso, o município
de Tartarugalzinho registrou apenas um caso de internação por Drsai.
Assim como o município de Tartarugalzinho o município de Biritiba
Mirim apresentou apenas um caso de internação por Drsai, mas este

18 PLANALTO. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Casa Civil. Lei N° 9433 de 8


de janeiro de 1997. Brasília, DF, 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA
%209.433%2C%20DE%208%20DE%20JANEIRO%20DE%201997.&text=Institui%20a%
20Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de,Federal%2C%20e%20altera%20o%20art.>.
Acesso em: 24/03/2022.
19 Relatório de avaliação anual do plano nacional de saneamento básico. 2014.
p. 31). Disponível em: <https://www.gov.br/mdr/pt-
br/assuntos/saneamento/plansab>. Acesso em: 24/03/2022.

183
foi o município que apresentou a série histórica mais completa entre
os índices IN015 e IN055.
Em Mirabela é observado que o índice de atendimento de
água se mantém estável de 2006 à 2014 e em 2015 ele sofreu uma
diminuição. Enquanto neste momento o índice de coleta de esgoto
está aumentando rapidamente em 2015 o número de internações por
Drsai apresenta queda e conforme há uma aparente estabilização nos
índices IN015, nos anos de 2016 a 2020 e IN055 de 2015 a 2020, os
casos de internações por Drsai diminuem bruscamente após o ano de
2015 à 2017 e após realizam variações na amplitude de internações
menos agudas e inferiores aos valores anteriores ao início da coleta de
esgoto no município, o que pode ser um indicativo prático do
investimento na coleta de esgoto.
Tartarugalzinho foi o Município que apresentou apenas uma
internação por Drsai em 2019 e também apresentou a série de dados
sobre o atendimento de água mais longa, com o primeiro registro em
1997. Infelizmente a série histórica dos índices sobre a coleta de
esgoto não foi apresentada em nenhum momento ao SNIS o que não
viabiliza uma análise concisa vinculada aos dados de internações por
Drsai, mesmo que a série histórica de índice de tratamento de água
apresente majoritariamente um desempenho médio baixo de 16,85%.
Outra consideração a ser feita é que saneamento não é dependente
apenas do tratamento de água e coleta de esgoto, muitos outros
fatores podem ser considerados, como qualidade do meio ambiente e
recursos hídricos, coleta de resíduos sólidos, entre muitos outros que
podem influenciar no desempenho apresentado por Tartarugalzinho
no número de internações por Drsai.

Considerações finais

No contexto geral é possível afirmar que embora o


saneamento básico tenha impacto direto na qualidade de vida da
população, o fornecimento de dados parece se encontrar em fase
inicial.
É importante salientar que a ausência de dados em si já pode
ser um indicativo preocupante. De fato, desponta neste caso a
importância da aplicação do princípio da informação do direito
ambiental, o qual preconiza a necessária produção de informações
sobre questões que envolvem o meio ambiente em mapas, tabelas,

184
dados, gráficos e textos científicos, as quais devem ser atualizadas e
compreensíveis, de modo a fundamentar com segurança e precisão
qualquer estudo ou decisões tomadas a partir delas, de acordo com
arts 4°, V e 9°, XI da Lei 6.938/8120.
Os esforços sobre o tema devem continuar a ser
empreendidos e exigidos tanto pela população quanto pelos poderes
públicos.
Neste estudo foi notado que uma periodicidade menor nas
publicações dos dados seria vantajosa para resultar em ações mais
bem sucedidas que contribua para melhorar rapidamente o problema.
Como sugestão para próximos estudos seria interessante
analisar e produzir dados e informações sobre aspectos econômicos
como financiamento dos projetos, custos de operação e tarifas.

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187
Respeito à Terra: impactos socioambientais do
uso de agrotóxicos no Brasil
Luciana A. A. Previato Fonseca, Alessandra Suzin Bertan e
Marco Aurélio Cremasco

10.47247/GC/88471.57.9.10

188
Introdução

Em carta enviada ao Rei de Portugal, Pero Vaz de Caminha


descreve as terras brasileiras, até então sob cuidado dos povos
originários, como férteis e verdejantes: tudo que nela se planta, cresce
e floresce. Destaca-se a sabedoria milenar, compreendida pelos povos
originários do Brasil que, antes da chegada da agricultura
convencional com os colonizadores, praticavam a agricultura
sustentável, implantando sistemas agroflorestais em diferentes
culturas. Os povos originários são os precursores, por exemplo, da
introdução de sistemas agroflorestais na Amazônia, sendo os
responsáveis pelo adensamento de culturas como a castanha-do-pará,
cacaueiro e diversas espécies de palmeiras (Embrapa, 2001).
Ao longo de séculos, em razão das condições edafoclimáticas
(relacionadas ao clima e ao solo) favoráveis a diferentes culturas, o
Brasil tornou-se um dos principais players em produção agrícola no
cenário mundial. A produção em larga escala de grãos intensificou o
uso indiscriminado de agrotóxicos e o país assumiu a liderança de um
ranking nada animador: campeão mundial no uso de pesticidas,
muitos dos quais barrados no exterior. Tais substâncias tornaram-se
um problema de saúde pública no planeta, trazendo riscos ao meio
ambiente e à saúde humana (NUNES et al., 2021). Cabe citar que, em
2021, 562 agrotóxicos foram liberados no Brasil pelo Ministério da
Agricultura (SALATI, 2022).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as
intoxicações por agrotóxicos atingiram, no final da década de 2010,
três milhões de pessoas por ano. Destes, 70 % de casos ocorreram nos
países ditos em desenvolvimento ou de Terceiro mundo, que
responderam por volta de 14 mil óbitos em decorrência dessas
intoxicações (BOEDEKER et al., 2020). Existe uma razão para essas
mortes, uma vez que se utiliza mais agrotóxico nos países em
desenvolvimento, tendo em vista que os seus órgãos reguladores e as
suas legislações ambientais são mais flexíveis e menos responsáveis.
Conscientizar a população sobre esses dados é um caminho
importante para que se cobre dos governantes uma postura mais
rígida quanto à liberação de agrotóxicos.

189
Utilização de agrotóxicos nas lavouras do Brasil

De acordo com a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989,


agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou
biológicos utilizadas no controle de pragas (animais e vegetais) e
doenças de plantas (BRASIL, 1989). Outras designações para
agrotóxicos são: defensivos agrícolas, pesticidas, praguicidas,
remédios de planta ou veneno (FUNDACENTRO, 1998). São utilizados
em florestas nativas e implantadas, nos ambientes hídricos, urbanos e
industriais e, em larga escala, na agricultura e nas pastagens para a
pecuária, bem como empregados em campanhas sanitárias para o
combate a vetores de doenças (PERES; MOREIRA, 2003).

“O termo defensivo agrícola carrega uma conotação errônea


de que as plantas são completamente vulneráveis a pragas e
doenças, acobertando os efeitos nocivos à saúde humana e ao
meio ambiente. O termo agrotóxico é mais ético, honesto e
esclarecedor, tanto para os agricultores quanto para os
consumidores” (Boletim informativo CRQ/RJ, 1997).

O uso de agrotóxicos no Brasil e no planeta começou a ser


intensificado a partir das décadas de 1960 e 1970, com a chamada
Revolução Verde, que se refere ao processo de mudança da política
agrícola no país, praticado a partir da Segunda Guerra Mundial
(MATOS; PÊSSOA, 2011). Sob o véu da modernização no campo, esse
processo favoreceu a prática das grandes monoculturas, o uso de
sementes geneticamente modificadas, e introduziu o uso massivo dos
agrotóxicos.
O mercado de agrotóxicos é dominado por um pequeno
número de empresas multinacionais, que têm forte influência sobre a
legislação e regulamentação em países como o Brasil. O resultado está
no uso excessivo de pesticidas, impossibilitando a adoção de sistemas
alternativos de cultivo para mitigar a poluição ambiental e os riscos
oferecidos à saúde humana (ZALLER, 2020).
O Brasil, em 2022, inscreveu um aumento no número de
agrotóxicos registrados, classificados como altamente tóxicos e
proibidos em vários países (SALATI, 2022). Enquanto países
considerados desenvolvidos buscavam alternativas aos agrotóxicos
para o tratamento de pragas e doenças de plantas cultivadas, o Brasil
parecia insistir na direção oposta, elevando o risco de contaminações

190
ambientais e de exposição de sua população a produtos químicos
perigosos e tóxicos.
A facilidade permitida pela legislação brasileira para liberação
e uso de agrotóxicos resultou do avanço do setor do agronegócio no
Congresso Nacional no início da década 2020 (REUTERS, 2022). Em
consequência, pode-se imaginar que o país enfrentará sérios
problemas de saúde pública, bem como distúrbios ambientais nos
ecossistemas agrícolas e naturais. Se assim for, esse quadro não
poderia ser atribuído ao destino, mas a uma série de escolhas políticas
e econômicas equivocadas (SAMPAIO, 2022). Além disso, parece
relevante discutir os custos sociais e econômicos associados às
decisões políticas então adotadas pelo governo brasileiro e pelo
Congresso Nacional sobre os montantes de verba pública que devem
ser direcionadas para apoiar o tratamento do crescente número de
fisiopatologias relacionadas a agrotóxicos, além da perda de força de
trabalho nas lavouras, pondo em risco as gerações futuras e
maculando, por via de consequência, um princípio básico do
Desenvolvimento Sustentável.

Efeitos adversos causados por agrotóxicos

Saúde humana

Todos os agrotóxicos são potencialmente perigosos,


podendo causar danos à saúde de pessoas, animais e ao meio
ambiente. É a classe de produtos químicos que mais acarreta óbitos.
São capazes de afetar o sistema hematopoiético, pela via de estresse
oxidativo e mecanismos imunológicos, sendo potenciais indutores a
distúrbios relacionados ao sangue. As formas de intoxicação podem
ser tanto por contato direto, devido ao manuseio do produto, quanto
por contato indireto através, por exemplo, da contaminação de água e
alimentos ingeridos (INCA, 2021).
Na década de 2010, o Brasil despontava como o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo, demandando o equivalente a
7,3 litros de agrotóxicos por pessoa por ano (APREAA, 2017). Os
dados, alarmantes, apontavam que 1 a cada 4 cidades brasileiras
apresentava água contaminada por 27 agrotóxicos. Desses, 16
estavam classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) como extremamente ou altamente tóxicos e 11, associados

191
ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação
fetal, disfunções hormonais e reprodutivas (ARANHA; ROCHA, 2019).
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e
Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) elaboraram um Relatório, o Dossiê
Abrasco (2015), apontando a relação entre agrotóxicos e problemas
neurológicos e motores, distúrbios de comportamento, problemas na
produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má
formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia
dos testículos e câncer de variados tipos. O Dossiê evidenciou que os
agrotóxicos estavam presentes nas frutas, nas verduras, nas carnes e
até mesmo no leite materno, ressaltando que em um mesmo alimento
havia agrotóxicos diferentes.
No Brasil, a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989,
estabelece que os agrotóxicos somente podem ser utilizados no país
caso registrados em órgão federal competente, de acordo com as
diretrizes e exigências dos órgãos responsáveis pelos setores da
saúde, do meio ambiente e da agricultura. As disposições dessa lei
foram regulamentadas pelo Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002,
incluindo a classificação quanto à toxicidade (BRASIL, 2002). O
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou
decisão da ANVISA sobre a reclassificação toxicológica dos
agrotóxicos registrados no país seguindo a norma internacional do
Sistema GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e
Rotulagem de Produtos Químicos) (TOOGE; MANZANO, 2022). Nessa
classificação, há 5 categorias toxicológicas: 1) extremamente tóxico
(vermelha/perigo), 2) altamente tóxico (vermelho/perigo), 3)
moderadamente tóxico (amarelo/perigo), 4) pouco tóxico
(azul/cuidado) e 5) improvável de causar dano agudo (azul/cuidado),
além de “não classificado” (sem advertência) (ASBRAN, 2019).
Segundo a ANVISA o objetivo da nova classificação é a de proteger o
trabalhador que manipula os pesticidas. No entanto, ambientalistas
alertavam, no início da década de 2020, que pesticidas considerados
altamente tóxicos poderiam ser rotulados de forma mais branda
(TOOGE; MANZANO, 2022). A Figura 1 apresenta a distribuição dos
agrotóxicos nas novas categorias de classificação toxicológica.

192
Figura 1 – Distribuição dos agrotóxicos analisados nas novas categorias
toxicológicas.

não classificados 168


improvável de causa dano agudo 899
pouco tóxicos 599
moderadamente tóxicos 136
altamente tóxicos 79
extremamente tóxicos 43

Classificado como extremamente tóxico, o glifosato,


agrotóxico mais popular no Brasil, representava, até o início da década
de 2020, 62 % do total de herbicidas usados no país. Um estudo
demonstrou que o glifosato estava associado a 503 mortes infantis
por ano em municípios das regiões Sul e Centro-Oeste, que eram
abastecidas por águas provenientes de lavouras sojicultoras (DIAS et
al., 2020). Ressalta-se que, no Brasil, o limite de glifosato permitido por
litro de água era, à época, de até 500 mg/L enquanto na Europa
apenas 0,1 mg/L, ou seja, a legislação brasileira permitia um valor 5.000
vezes maior do que a europeia. Na contramão dos outros países, o
Brasil, em 2022, caminhava para a flexibilização da legislação sobre
agrotóxicos, através do Projeto de Lei 6.299, conhecido como “Pacote
do veneno”. Ambientalistas e pesquisadores previam que fatores
econômicos seriam decisivos em detrimento das questões de saúde
pública e ambientais na decisão de quais agrotóxicos deveriam ser
liberados (FONSECA, 2022). Fato preponderante é que, no Brasil, os
registros de agrotóxicos são definitivos, enquanto em países da
Europa e nos Estados Unidos o registro desses produtos tem prazo
determinado, precisando ser renovado de tempos em tempos
(DECCACHE, 2021)

193
Meio Ambiente

A utilização dos agrotóxicos deu-se pela introdução dos


inseticidas organofosforados na década de 1960, carbamatos na
década de 1970, piretróides na década de 1980 e herbicidas e
fungicidas nas décadas de 1970 - 1980 (AKTAR et al., 2009). Os
agrotóxicos deveriam ser letais apenas para as pragas e doenças-alvo
que acometem as plantações, entretanto isto não ocorre, pois, os
seres humanos e o meio ambiente são atingidos. O uso indiscriminado
de agrotóxicos leva à contaminação da água e do solo, causando
efeitos drásticos em espécies não alvo, afetando a biodiversidade, as
redes alimentares e os ecossistemas aquáticos e terrestres (VEIGA et
al., 2006).
Uma vez aplicados na lavoura, os agrotóxicos seguem
diferentes rotas no meio ambiente (LAABS et al., 2002). Nas aplicações
por pulverização, por exemplo, dependendo da altura das plantas,
cerca de 50 % dos pesticidas atingem a lavoura (CHAIM et al, 1999a),
enquanto o restante cai no solo, ou se perde pela deriva (quando a
aplicação do agrotóxico não atinge o local desejado e se espalha por
outras áreas). Mesmo quando aplicados diretamente na planta, o
destino dos agrotóxicos é o solo, sendo levados das folhas pelas águas
da chuva (SCORZA JUNIOR et al., 2010). Dessa forma, lençóis freáticos
são contaminados por pesticidas por lixiviação e erosão do solo. Em
razão da intercomunicabilidade dos sistemas hídricos a contaminação
por pesticidas pode atingir áreas distantes do local de aplicação dos
agrotóxicos (BRIGANTE et al., 2002; VEIGA et al., 2006).
Uma amostragem, no início da década de 2020, nos veículos
de imprensa denunciava o impacto do uso indiscriminado dos
agrotóxicos no Brasil, evidenciando danos ao meio ambiente:
a) Contaminação das águas: “Poluição invisível nas águas
amazônicas ameaça populações e biodiversidade”
(CHAMORRO, 2021), “Alta concentração de agrotóxicos na
água provocou morte de peixes na Represa Billings”
(FALKOSKI, 2019). Pesticidas hidrossolúveis atingem não
apenas as águas superficiais de córregos, rios, lagos, como
também aquíferos prejudicando diretamente os ecossistemas
aquáticos.

194
b) Contaminação dos solos: “Tribunal dos povos discute
denúncias de contaminação por agrotóxicos e ataque aos
sistemas agrícolas tradicionais no Cerrado” (CONEXÃO
TOCANTINS, 2022). Os agrotóxicos ficam retidos no solo e
com o tempo o tornam mais frágil, reduzindo sua fertilidade e
sua biodiversidade, desencadeando a morte de
microrganismos benéficos como as micorrizas, provocando
acidez, entre outros malefícios (REVISTA CULTIVAR, 2015).
c) Contaminação por volatilização: “Produtor rural que atingiu
lavoura vizinha terá de indenizar” (DIREITO AGRÁRIO, 2018).
Os vapores gerados pela volatilização dos herbicidas atingem
outras plantas, microrganismos do solo e insetos benéficos.
Estes compostos voláteis viajam pelo ar, atingindo
comunidades a quilômetros de distância.
d) Impactos em organismos não alvo: “Agrotóxicos colocam em
risco a vida aquática e também são identificados em abelhas”
(FRANCO, 2021), “O agrotóxico que matou 50 milhões de
abelhas em Santa Catarina em um só mês” (TORRES, 2019).
Os efeitos dos agrotóxicos podem ser sentidos por vários
organismos, como insetos benéficos ao solo e à polinização,
peixes e outros seres aquáticos, pássaros e espécies
selvagens.
e) Integração ser humano e meio ambiente e a luta pela
sobrevivência: “Agrotóxico é usado como 'arma química'
contra aldeias indígenas em Mato Grosso do Sul”
(BERTOLOTTO, 2022). Essa denúncia ganhou notoriedade por
impactar um ecossistema na sua integridade devido ao seu
efeito danoso e criminoso em consequência de pulverização
aérea de agrotóxico, sofrido pela aldeia Guyraroká, no
município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, expondo seres
humanos e a natureza dizimando-os indistintamente,
chamando a atenção que o ser humano é parte integrante do
meio ambiente e não a sua totalidade.

195
Considerações finais

O lema “se a roça não planta, a cidade não janta” traduz a


importância dos trabalhadores do campo e a necessidade de se
preservar o meio ambiente. Uma terra fértil e saudável renova a
esperança em um futuro próspero e seguro, ao passo que o uso
indiscriminado de agrotóxicos aponta para um cenário sombrio, no
qual os trabalhadores rurais estão adoecidos e o meio ambiente sofre
danos irreversíveis e irreparáveis, compreendendo desde a
contaminação do solo e lençóis freáticos à extinção de espécies
animais e vegetais, consistindo, portanto, em uma ameaça à vida.
O solo é vivo, conforme preconiza Ana Maria Primavesi (2017).
Segundo a autora, o trato do solo deve ser biológico-físico (e não
químico-mecânico), para preservar o equilíbrio natural e o ambiente, e
a produção agrícola precisa se adequar a cada agro ecossistema.
Preparação adequada do solo, tratamento das sementes com
microrganismos, e controle biológico de pragas são algumas das
alternativas ao uso dos agrotóxicos. “O futuro do Brasil está ligado a
sua terra. O manejo adequado dos solos é a chave mágica para a
prosperidade e o bem-estar geral” (PRIMAVESI, 2017, p. 527).
A vida no planeta é um sopro... e não admite desaforo. Há de
se preservar, há de se tornar sustentável para prolongar e estender
este sopro às gerações futuras.

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201
Mitigação dos impactos da salmoura em
ambiente marinho resultante da construção de
cavernas geológicas para estoque de CO2
Rodrigo Fernandes Paes, Hirdan Katarina de Medeiros Costa,
Dominique Mouette, Luis Antônio Bittar Venturi e Yuri Tavares

10.47247/GC/88471.57.9.11

202
A Caverna de Sal

A relação óleo-gás de parte do pré-sal chega a 220, o que


significa que a quantidade de gás natural (GN) produzido é (quase)
220 vezes a quantidade de petróleo recuperada, e o teor de CO2 pode
chegar a 20% ou mais (COSTA, P. et al., 2019). Assim, é necessário que
o sistema seja construído considerando a produção de grandes
volumes de GN contaminado com CO2, e para que a tecnologia seja
tecnicamente viável, é necessário construir várias grandes cavernas de
sal, A figura 1 mostra uma seção geológica típica dos reservatórios do
pré-sal, onde é possível observar uma camada de rocha salina que tem
em média 2.000 metros de espessura.

Figura 1 - Típica seção geológica do pré-sal

Fonte: Paes, 2017.

As cavernas de sal são construídas nos espessos domos de


sal, formados posteriormente aos reservatórios do pré-sal. Esta
tecnologia prevê a execução de separação de gás natural produzido
offshore e CO2 por gravidade específica, utilizando comercialmente o
GN e mantendo o CO2 armazenado nas cavernas de sal subterrâneas
(COSTA, P. et al., 2019). Todavia, as cavernas salinas são construídas

203
pelo processo de lixiviação através da circulação da água do mar na
rocha salina, de modo que ela seja dissolvida, abrindo uma cavidade na
formação e ampliando este espaço até atingir o espaço projetado da
caverna salina. Uma vez que a caverna de sal atinja o tamanho
desejado, a salmoura remanescente no interior caverna é expulsa por
injeção de gás a uma pressão superior à pressão hidrostática da
salmoura no fundo da caverna (figura 2). Este procedimento produz
grandes volumes de salmoura com descarte em ambiente marinho
(COSTA, P. et al., 2019).

Figura 2 - Remoção da salmoura por injeção de gás dentro da caverna;


pressurização da caverna e separação de CH4 / CO2.

Fonte: Adaptado de (COSTA, P. et al., 2019).

Salmoura

A salmoura é uma solução hipersalina, que contém íons


dissolvidos em água, sendo os mais frequentes Na+, Mg2+, Ca2+, K+, Sr2+,
Cl-, SO42-, HCO3-, Br- e CO32- (MILLERO, 2009), podendo saturar a
solução ou atingir altas concentrações, com valores em torno de 345
g/kg (MILLERO, 2009), enquanto a concentração no meio marinho é
de aproximadamente 35g/L (PANAGOPOULOS et al, 2019). Os íons
Na+ e Cl- dominam uma ampla gama da salinidade, portanto,

204
salmouras são frequentemente modeladas como soluções NaCl
(FRANCKE; THORADE, 2010). A salmoura pode conter substâncias
dissolvidas, como o CO2 (DUAN et al., 2003) e CH4 (DUAN; SUN, 1992),
dependendo do processo envolvido durante sua produção. Existem
vários modelos para prever propriedades de salmoura, como
saturação NaCl, densidade, condutividade térmica, viscosidade e
coeficiente de capacidade térmica (SHARQAWY; LIENHARD, 2010;
NAYAR et al., 2016).
A dessalinização de água do mar é a atividade humana
responsável pela maior quantidade de salmoura produzida no mundo.
Neste processo, separam-se os sais dissolvidos na água do mar para
produzir água doce artificialmente. Os dois principais métodos usados
por plantas de dessalinização de água do mar são o de Osmose
Reversa, que produz uma salmoura com concentração de 1,3 a 1,7
vezes superior à água do mar originalmente capitada. Outro método é
usado em plantas térmicas MSF (Multi Stage Flash), o qual produz
salmoura com concentração entre 1,1 e 1,5 vezes maior que a água
capitada (EINAV et al., 2003).
Quanto aos conhecimentos produzidos pela indústria de
dessalinização de água do mar, no que se refere aos impactos e à
mitigação dos efeitos da salmoura, faz-se necessário diferenciar do
processo de construção de uma caverna de sal, a qual introduz novos
sais ao ecótopo e em concentração muito superior ao efluente das
plantas de dessalinização.

Os Impactos da Salmoura em Ambiente Marinho

Os principais impactos negativos referentes ao descarte de


salmoura em ambiente marinho se devem às alterações provocadas
pela salinidade, em consonância ao apontado no Canadian Water
Quality Guidelines (MARINE, 1999) e Palomar e Losada (2011), nas
características físico-químicas da água, além do potencial de
contaminação química, o aumento de temperatura, da concentração
salina e da turbidez causada pelo fluido hipersalino. Ainda, a alteração
da gravidade específica e a redução do oxigênio no fundo oceânico,
cuja consequência de tais alterações afeta diretamente a biocenose1

1 Biocenose: Conjunto de seres vivos de um ecossistema (TRICART, 1977, p.


20).

205
do ecótopo2, com o potencial de impactar negativamente a produção
primária, bem como os recifes de coral, os quais são especialmente
sensíveis às variações do meio, seja por mudanças hidrodinâmicas, de
temperatura ou da salinidade (MARINE, 1999; PALOMAR e LOSADA,
2011).
Desta forma, para os animais que conseguem controlar sua
flutuação há menores consequências em comparação aos que
dependem da constante gravidade específica da água para a
manterem (Palomar e Losada, 2011), isto ocorre porque alterações
deste tipo podem resultar na precipitação destas espécies, impedindo
a realização de fotossíntese.
O sistema bentônico3 é especialmente afetado, quando as
espécies não estão adaptadas a esta alta salinidade (García e
Ballesteros, 2001; Sánchez-Lizaso et al., 2008), uma vez que a
salmoura, por maior densidade, se concentra no leito oceânico,
impactando as espécies que evoluíram em ambientes com uma
salinidade mais baixa ou estável (Lattemann e Höpner, 2003). A
consequência é o potencial de se afetar toda a cadeia alimentar,
finalmente atingindo comunidades humanas com a escassez de
determinados recursos ecológicos importantes para atividades
econômicas como a pesca e o turismo (PAES, 2021).

A Salmoura da Caverna

Deste modo, para a execução da caverna de sal, o volume


criado na formação salina, o tempo de duração do processo,
temperatura e concentração da salmoura são informações pertinentes
para o planejamento e subsequente obtenção de licença ambiental,
necessária para a realização da operação. Portanto, para simular o
processo de lixiviação da caverna de sal (altura de 450m), Paes (2021)

2 Ecótopo: Meio ambiente de um ecossistema (TRICART, 1977, p. 20).


3 Sistema bentônico: O sistema bentônico dos ambientes marinhos
corresponde às áreas de sedimentação, inconsolidada (fundos
arenoso/lamosos) ou consolidada (fundos rochosos), que se estende desde o
supralitoral de praias e costões rochosos (região exposta ao ar e onde
somente chegam borrifos de água do mar), até fossas abissais com mais de
doze mil metros de profundidade. Os organismos que habitam esse ambiente
são conjuntamente chamados de bentos e vivem em íntima associação com o
fundo oceânico (PIRESVANIN, 2008)

206
utilizou-se do SALGAS, software de propriedade da SMRI (Solution
Mining Research Institute), licenciada para MODECOM:

Entre os parâmetros utilizados nas simulações, o fator de


dissolução (F) é utilizado para calibrar a taxa de dissolução da
caverna em função das características físico-químicas do sal e
da água utilizados no processo de lixiviação, como salinidade e
temperatura da água. Quanto maior a salinidade, menor é a
taxa de dissolução, e quanto maior a temperatura, maior é a
dissolução do sal. (PAES, 2021)

Os fatores de dissolução (F) utilizados no estudo paramétrico


são calibrados em comparação com a taxa de dissolução do simulador
SANSMIC sandia labs, considerando a influência da temperatura da
água e da salinidade, conforme listado abaixo com dados adicionais:
• Água utilizada no processo de lixiviação: água do mar
• Temperatura da salmoura: 42 °C;
• Altura da caverna de sal: 450 m;
• Profundidade do fundo da caverna: 1750 m abaixo do leito:
2139 m
• Poço para construção e operação das (três fases): 36”/30”,
26”/20”, e 18 1/8”/16”;
• Número de poços: Um poço;
• Revestimento para retorno da salmoura e revestimento para
injeção de gás: 14” 114 lb/ft C-125 HC;
• Revestimento para injeção de água do mar e revestimento de
retorno da salmoura: 7 5/8” 51.2 lb/ft SCr13/110 ksi;
• Fator de dissolução F= 1.52 [42 °C];
• Tempo estimado para lixiviação: 910 dias
Nesta configuração, a taxa de saturação da salmoura sobe
rapidamente até o centésimo dia da lixiviação e então continua
aumentando gradativamente até o final da construção da caverna,
quando supera 88% de saturação aos 910 dias.

207
A densidade da salmoura cresce de forma mais abrupta nos
100 primeiros dias de operação e posteriormente mais gradativamente
até o final da lixiviação aos 910 dias.
Durante o processo contínuo de lixiviação, o volume da
caverna aumenta de forma linear até alcançar aproximadamente
2.000.000 m³ ao longo de 910 dias.
A produção de sal, transportado pela salmoura, cresce
rapidamente nos 100 primeiros dias de operação e posteriormente de
forma mais gradual, até aproximadamente 4.300 toneladas por dia
durante 910 dias, alcançando 3.700.000 toneladas ao longo de 910
dias.
A quantidade de água do mar injetada sobe continuamente,
ultrapassando 14.200.000 m³ ao longo de 910 dias e o total estimado
de salmoura produzida é de aproximadamente 13.700.000 m³ ao longo
de 910 dias.
Considerando que a área do domo salino estudado comporta
15 cavernas com o potencial de estocar 108 milhões de toneladas de
CO2 (COSTA et al., 2020b), cada uma com o volume de salmoura
produzida, faz-se necessário tomar medidas para mitigar os impactos
derivados do despejo do efluente.

Planejamento do Descarte da Salmoura e Mitigação dos


Impactos

Ao se estudar o descarte deste efluente hipersalino, devem


ser consideradas duas regiões, nas quais o comportamento da
salmoura se distingue, são denominadas de região próxima e região
distante. Assim definidas conforme proximidade do ponto de descarte
(PALOMAR; LOSADA, 2011).
A região próxima (do ponto de descarte) se caracteriza pela
mistura inicial do efluente com o meio receptor (figura 3). As variações
do comportamento do efluente estão relacionadas às características
do ambiente e das configurações do sistema de descarte. Nesta região
é onde ocorre maior taxa de diluição devido à turbulência gerada.
Normalmente, o sistema de descarte de salmoura é projetado para
maximizar a diluição nesta região. Na região distante (do ponto de
descarte), a salmoura flui pelo leito oceânico e a taxa de diluição
depende das condições de pressão, de correntes e da diferença de

208
densidade entre a pluma salina e o ambiente receptor. Nesta região a
taxa de diluição é muito baixa e quase constante em uma escala de
quilômetros e horas.

Figura 3 - Descarte de salmoura por jato demonstrando a diferença de


comportamento nas duas regiões (próxima e distante). 1) Trajetória
ascendente: Jato inclinado descarta salmoura com certa velocidade até que se
atinja a altura máxima e posteriormente comece a descer. 2) O impacto no
fundo causa turbulência e expansão do fluxo, consequentemente aumenta a
diluição. 3) A zona entre o impacto no fundo e a região distante é uma zona de
transição, na qual o fluxo espalha as camadas. 4) Na região distante o fluxo se
comporta como uma corrente.

(PALOMAR; LOSADA, 2011).

A avaliação sistêmica da localidade onde o descarte será


realizado é o ponto de partida para prevenir maiores impactos, seja
em descarte de salmoura a 2.500 m de profundidade, ou próximo à
costa, como é o caso das plantas de dessalinização. Conforme listado
por Palomar e Losada (2011), este descarte deve ser realizado em
áreas que não sejam de proteção ambiental ou em áreas de influência
antrópica. O sistema de descarte deve ser instalado,
preferencialmente, em áreas com grande turbulência, para que
correntes facilitem a dispersão.
As condições ambientais que incluem declive, estratificação
da coluna d’água e correntes de fundo são essenciais para diluição.
Caso o ponto de descarte esteja abaixo da área de proteção, esta não
será afetada, já que a salmoura flui declive abaixo (PALOMAR;
LOSADA, 2011). À configuração do descarte da salmoura deve
considerar as características particulares da área de descarte e diluição
necessária para garantir cumprimento dos padrões de qualidade

209
ambiental, assim como a proteção de ecossistemas marinhos
localizados na área afetada pelo descarte e se houver ecossistemas
protegidos ao longo do leito, nos arredores da zona de descarte é
recomendado evitar a liberação da salmoura em superfície devido ao
baixo grau de mistura e diluição (PALOMAR; LOSADA, 2011). Para
maximizar a diluição, é recomendado sistemas de descarte com
múltiplos jatos difusores (PALOMAR; LOSADA, 2011). Desta forma,
com o devido planejamento, é possível mitigar os impactos da
salmoura despejada em meio marinho.
Entretanto, além das recomendações supracitadas, em um
esforço para minimizar os efeitos no meio marinho, a diluição do
efluente pode reduzir os impactos ambientais através do uso de
difusores (DEL-PILAR-RUSO et al., 2015)
A utilização da tecnologia de difusores venturi (figura 4) já é
bem conhecida em distintos processos de diluição de líquidos na
indústria química e petrolífera. O equipamento consiste em uma
estrutura cilíndrica ou em formato de corneta por onde o efluente
passa em velocidade, promovendo a sucção do fluido onde está
imerso (pela zona de sucção de 360°), promovendo a mistura, a qual
pode alcançar uma taxa de 1 – 4 (PORTILLO et al., 2013).

Figura 4 - Comportamento hidráulico do jato dispersor venturi. Em 1 a


tubulação da salmoura; em 2 o setor de sucção de água do mar; em 3 a área de
mistura da salmoura com a água do mar e em 4 a ejeção da salmoura diluída.

Fonte: Imagem adaptada de (NARANJO; TRUJILLO, 2019).

210
De acordo com os resultados obtidos a partir do uso do CFD
(Computational Fluid Dynamics), o descarte da salmoura oriunda de
plantas de dessalinização em ambiente marinho pode ter os impactos
reduzidos (NARANJO; TRUJILLO, 2019). Trata-se de um método de
modelagem para simular e prever o comportamento do fluido com
precisão. Então efetuaram a simulação de um fenômeno de
transporte, convecção e difusão combinado com um processo de
mistura da salmoura com a água do mar. Utilizaram um jato dispersor
do tipo venturi em diferentes configurações e os resultados
demonstraram que o descarte mais ineficiente em termos de diluição
da salmoura e impacto em maior abrangência geográfica é o efetuado
sem o uso de difusor e o mais eficiente utiliza difusor venturi em
ângulo de 60° de inclinação.
Nos 8 anos de estudos de Del-Pilar-Ruso, Y. et al. (2015), em
San Pedro del Pinatar (Espanha), concluiu-se haver uma conexão
direta entre as medidas mitigatórias implementadas e a recuperação
da comunidade bentônica. A instalação de difusores venturi para
aumentar a diluição da salmoura com a água do mar reduziu os
impactos da planta de dessalinização (figura 5), promovendo o
aumento, relativamente rápido das espécies afetadas, na ordem de
meses.

Figura 5 - Representação espacial da distribuição da salinidade no leito (A) e


após a implementação da medida de mitigação (difusor venturi) (B).

Fonte: Del-Pilar-Ruso, Y. et al. (2015).

211
Considerações finais

Neste capítulo, buscamos apresentar os impactos ambientais


causados pela emissão de salmoura em ambiente marinho e algumas
medidas mitigatórias praticadas em locais onde há plantas de
dessalinização de água do mar e produção do rejeito hipersalino.
Todavia, o objeto de partida, o qual motivou a elaboração deste
capítulo é o projeto de construção de cavernas geológicas na espessa
formação de halita, com a importante previsão de estocar CO2.
Portanto, este capítulo se soma ao conjunto de publicações voltadas à
mitigação das mudanças climáticas no sentido de apresentar
propostas para se evitar novos passivos ambientais.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio financeiro do Programa de Recursos


Humanos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis –PRH-ANP, suportado com recursos provenientes
do investimento de empresas petrolíferas na Cláusula de P,D&I da
Resolução ANP nº 50/2015 (PRH 33.1 -Referente ao EDITAL
Nº1/2018/PRH-ANP; Convênio FINEP/FUSP/USP Ref. 0443/19).
Agradecemos o apoio do RCGI –Research Centre for Gas Innovation,
localizado na Universidade de São Paulo (USP) e financiado pela
FAPESP –Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(2014/50279-4 e 2020/15230-5) e Shell Brasil, e a importância
estratégica do apoio dado pela ANP (Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) através do incentivo
regulatório associado ao investimento de recursos oriundos das
Cláusulas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

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215
Brasil frente ao Plano de Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm)
Gabriela Sueza Cabelo Silva e Mario Roberto Attanasio Junior

10.47247/GC/88471.57.9.12

216
Introdução

Um dos temas mais relevantes da agenda ambiental


internacional é o das mudanças climáticas (MC). Estas são provocadas
pelo aquecimento global, desencadeado notadamente pela emissão
de gases do efeito estufa (GEEs), lançados na atmosfera por meio de
ações antrópicas, tais como a queima de combustíveis fósseis e o
desmatamento de florestas tropicais. As mudanças climáticas alteram
processos naturais, desorganizam economias, alteram a dinâmica das
relações entre os países e colocam em risco a vida em nosso planeta.
Considerando estes aspectos, as ações de mitigação
propostas pelas nações devem ser direcionadas à gestão de risco,
reconhecendo as características de seus respectivos territórios, com
metas cada vez mais ambiciosas para a redução da vulnerabilidade
social, econômica e ambiental. A Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças do Clima (United Nations Framework
Convention on Climate Change ou UNFCCC), celebrada em 1992 no
âmbito da Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, é o marco inicial dos esforços para enfrentamento
dos riscos e danos que este problema pode gerar (MMA, 2021).
A mencionada Convenção é composta por países signatários,
os quais compõem a Conferência das Partes (COP), que ocorre
anualmente para que os países membros possam debater, dentre
outras pautas, as mudanças climáticas (CETESB, 2021). Durante a
COP17, realizada em 2012 no Qatar, os países em desenvolvimento,
dentre os quais o Brasil, se comprometeram a realizar o Relatório de
Atualização Bienal (Biennial Update Report - BUR, na sigla em inglês)
(MCTI,2012) . Este documento dispõe de informações quanto ao
inventário de emissões de GEEs, instrumentos e aspectos
institucionais e financeiros voltados às ações sobre mudança do clima,
que devem ser atualizadas a cada dois anos (MCTI,2012).

O quadro brasileiro

O enfrentamento da degradação da vegetação nativa é


prioritário para o enfrentamento das mudanças climáticas. De acordo
com o Ministério do Meio Ambiente (2003) é em um cenário com
ritmo intensificado desse processo e um aumento nos níveis
estimados para o desmatamento na Amazônia Legal (AmL), que

217
surge, através de iniciativa do governo federal, o Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm). Em 2004, a área desmatada atingiu cerca de 16% do
território de floresta da AmL, desde então, com a criação do plano, as
taxas anuais de desmatamento apresentaram drástica redução em
seus valores absolutos (MMA, 2013).
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea
(2008), a Amazônia Legal (AmL) é área definida pelo Estado brasileiro
com o intuito de otimizar o planejamento e desenvolvimento
econômico da região. Seu território não se limita à área do
ecossistema, sua abrangência já foi bastante alterada decorrente de
mudanças na divisão política do país. Atualmente a área da AmL
abrange os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Roraima, Rondônia e Tocantins e, parcialmente, o Estado do
Maranhão, com área total de cerca de 5.217.423 Km² (EMBRAPA, 2011).
No início de 2020, foi publicado o 4° Relatório de Atualização
Bienal (BUR4) no Brasil. Sendo resultado de esforço interministerial, a
elaboração do documento segue os padrões estabelecidos entre a
comunidade internacional e se baseia nas diretrizes previstas pela
Convenção do Clima, de acordo com a Decisão 2/CP.17 - Anexo 03
(UNFCCC, 2012). Foram apresentados dados correspondentes aos
levantamentos realizados em 2018 e 2019, e, dentre seus capítulos,
estão as “ações de mitigação e seus efeitos” estabelecidos pelo país,
considerando as circunstâncias do território nacional durante aquele
período. Este item é contemplado no terceiro capítulo do documento,
desde sua primeira edição (MRE, 2020).
Neste capítulo, estão detalhadas as Ações de Mitigação
Nacionalmente Apropriadas (NAMAs), correspondentes aos Planos
Setoriais estabelecidos pelo governo em nível nacional, conforme
regulamenta a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC),
instituída pela Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009 (MRE, 2020).
Conforme pontua o Ministério das Relações Exteriores (2020), o Brasil
tem implementado as NAMAs de maneira consistente, contribuindo
para a redução das emissões mundiais de GEEs, como consta no BUR4.
O PPCDAm integra as NAMAs apresentadas no relatório e foi
selecionado para desenvolvimento desta pesquisa. O Plano está
subdividido em objetivos específicos, para os quais são apresentados

218
os indicadores de progresso (IP), as metas e os respectivos resultados,
relativos aos anos de 2018 e 2019, os quais serão objetos deste estudo.
Dentre os objetivos específicos do PPCDAm presentes no
BUR4, destacam-se para desenvolvimento deste trabalho os
objetivos: (I) promover a responsabilização pelos crimes e infrações
ambientais (IP: área desmatada (AD) - Km²), e objetivo (II), prevenir e
combater a ocorrência de incêndios florestais (IP: área queimada (AQ) -
Km² e número de focos de calor (FC)) (MRE, 2020).
Com este quadro, através dos IP, quantificáveis e verificáveis,
propõe-se com esta pesquisa discutir a implementação dos objetivos
selecionados e analisar se o país está atendendo, gradativamente, as
metas indicadas no PPCDAm. Com isso, busca-se apresentar uma visão
contemporânea e prática, quanto à atuação do Brasil no combate à
degradação de vegetação nativa na AmL, a fim de posicionar os
tomadores de decisão quanto ao aporte do país para os esforços
internacionais de mitigação das MC.
Para tal, propõe-se, como metodologia, a realização de uma
análise comparativa entre os resultados apresentados em relação à
AD, AQ e número de FC no BUR4 e, os dados produzidos através de
monitoramento remoto da vegetação nativa na Amazônia Legal
(AmL), nos anos seguintes, 2020 e 2021, considerando como
parâmetro de análise a unidade expressa para os IPs relativos a cada
variável, visando a realização de análise adequada.
Segundo o BUR4, a meta estabelecida para o objetivo (I),
“Responsabilização pelos Crimes Ambientais”, é a redução do
desmatamento no território da AmL, de forma que, através da
responsabilização e punição, seja por meio de multas, infração
administrativa ou sentença penal decorrentes de ilícitos ambientais, os
infratores sejam persuadidos a mudar suas intenções. Os resultados
desta meta são mensurados em área desmatada (Km²), o que sugere
que a fiscalização e os processos de autuação minimizem atividades de
degradação no meio ambiente (MRE, 2020).
Em relação ao objetivo (II), “Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais”, é pontuado que a principal meta é a redução de
incêndios florestais danosos, uma vez que os incêndios são um dos
principais agentes de degradação ambiental, sendo notório os
prejuízos à biodiversidade e sua contribuição para emissão de GEEs.
Para isso, é essencial conhecer a dinâmica do fogo nos diferentes

219
biomas e realizar o manejo integrado do mesmo. A área queimada
(Km²) e o número de focos de calor são os parâmetros utilizados
como IP para este objetivo (MRE, 2020).

Principais resultados do BUR4

Os resultados quantificados aos objetivos (I) e (II), entre 2018


e 2019, são associados às ações realizadas durante este período, que
contribuem para orientar de que forma tais números foram atingidos.
As informações relativas a cada objetivo estão dispostas nas tabelas 1
e 2, respectivamente.
Para os resultados, o relatório utiliza como métrica a
correlação da taxa produzida (valor absoluto) em um determinado
ano e a taxa anual (valor absoluto) de 2004, ano de início da primeira
fase do PPCDAm, para avaliar o progresso do plano (MMA,2013).

Tabela 01 - Resultados do BUR4 para Objetivo (I) e Ações desenvolvidas para


Responsabilização pelos Crimes Ambientais.
Objetivo (I) Responsabilização pelos crimes ambientais

Meta Redução do desmatamento no bioma e nas Unidades


de Conservação (UC)

Indicador de Área de Desmatada (Km²)


progresso

Ações Fiscalização das áreas críticas de desmatamento


desenvolvidas
(2018- 2019) Processos Quantidade

- operações de fiscalização 434 operações da flora


462 operações em UCs

- autos de infração 11.501 processos

- procedimentos criminais 2.222 procedimentos

Resultados (2019) Amazônia Legal: redução de 63,5% em Km²/ano


- em relação aos Unidades de Conservação: redução de 58,9% em
níveis de 2004- Km²/ano
Fonte: MRE, 2020. Organização: Autor, 2022.

220
Na tabela 1, observa-se que a fiscalização e os processos
desenvolvidos na área, entre 2018- 2019, demonstram resultados
positivos em relação às taxas produzidas em 2004, sendo favoráveis à
meta indicada para o item (I), uma vez que, foram apresentadas
reduções superiores a 50% em AD. As conclusões para as ações
mencionadas não são indicadas pelo relatório.

Tabela 02 - Resultados do BUR4 para Objetivo (II) e Ações desenvolvidas para


“Prevenir e Combater Incêndios Florestais”.
Objetivo (II) Prevenir e combater incêndios florestais

Meta Manejo integrado do fogo

Indicador de Área Queimada e Focos de Calor (Km²)


progresso

Ações desenvolvidas Processo de regulamentação do art. 40 da Lei nº


(2018- 2019) 12.651/2012

Elaboração de Planos de Prevenção e Combate a


Incêndios Florestais nas unidades de conservação

7ª Conferência Internacional sobre Incêndios


Florestais: redução da vulnerabilidade de populações e
ecossistemas

Contratação de brigadistas e implementação do


Manejo Integrado do fogo em áreas prioritárias e em
UCs

Operação Garantia da Lei e da Ordem: atuação no


combate a delitos

Resultados (2019) - Redução de 59,2% dos FC


- em relação aos - Redução de 53,8% em Km² de AQ
níveis de 2004-
Fonte: MRE, 2020. Organização. Autor, 2022.

Tendo em vista a tabela 02, os resultados apresentados


também são favoráveis à meta proposta pelo plano, demonstrando
uma redução no número de FC identificados de 218.637 em 2004 para
de 89.178 focos em 2019. Quanto à AQ no bioma, o BUR4 também

221
aponta uma redução de uma área de 157.007 km² em 2004 para
72.501km² de área atingida pelo fogo em 2019. As medidas adotadas
neste período contribuíram para reduções superiores a 50% nas AQ,
quando comparadas ao ano de 2004 (MRE,2020).

Metodologia e ferramentas de busca

Para analisar a dinâmica do desmatamento na AmL


considerou-se o período seguinte à publicação do BUR4, 2020 e 2021.
Para a consulta de dados espaciais foi utilizado o portal Terrabrasilis,
plataforma web desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisa
Espacial (INPE), realizando o levantamento de dados através dos
projetos que compõem o Programa de Monitoramento da Amazônia:
o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (PRODES) e
o Programa de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (DETER)
(INPE, 2019). Os sistemas de monitoramento remoto são
complementares e foram desenvolvidos para atender diferentes
objetivos (INPE, 2019). Os projetos são os mesmos utilizados para
desenvolvimento do BUR4 e dispõem de bancos de dados acessíveis,
que permitem as consultas necessárias para desenvolvimento desta
pesquisa.
O primeiro levantamento foi feito em consulta ao PRODES. O
projeto está em funcionamento desde 1998, realizando o
monitoramento de desmatamento de vegetação nativa por meio de
satélites, considerando como tal, a remoção total da cobertura
florestal primária. Com tecnologia especializada produz as taxas
anuais de desmatamento, por corte raso, para incrementos superiores
a 6,25 hectares na AmL, e, mesmo com influência de variáveis
externas, apresenta resultados detalhados, em um nível próximo a
95% de precisão, como indicam especialistas independentes que
utilizam o programa (INPE, 2008).
Para os FC e AQ foram realizadas consultas no painel DETER e
no programa Queimadas. Desenvolvido pelo INPE, o DETER dá suporte
às ações de fiscalização, pois evidencia as mudanças na cobertura
vegetal da Amazônia e emite relatórios diários ao IBAMA. Segundo o
INPE (2019), apesar de apresentar certa limitação de resolução em sua
captura de imagens e sofrer com interferência de nuvens, por
exemplo, o programa tem sua capacidade ampliada devido ao
monitoramento diário. O DETER identifica e mapeia as alterações em

222
formações de florestas tropicais na Amazônia com a mesma área de
abrangência que o PRODES (INPE, 2019).
Os dados são divulgados em mapas digitais com todas as
observações de desmatamento, com áreas maiores que 25 ha, de
forma que, busca detectar também os estágios intermediários deste
processo, através de análises que identificam as frações de solo
exposto relacionadas a queimadas recorrentes (INPE, 2008).
O painel DETER utiliza dados de entrada do programa
Queimadas, também articulado pelo INPE, que são detectados por
satélite com objetivo de analisar os focos de queimada e incêndios
florestais. Através deste monitoramento contribui com a modelagem
de extensão e riscos de fogo ativo, principalmente em regiões de
acesso limitado (INPE - Apresentação).

Dinâmica do desmatamento na AmL no período 2020-2021

As informações foram consultadas nos sistemas operacionais


indicados, por meio de mapas interativos e quadros dinâmicos,
acessíveis e de fácil compreensão. O programa Queimadas foi utilizado
em paralelo ao DETER, para detecção dos FC e AQ (INPE - Programa
de Queimadas). Para AD foi utilizado o sistema PRODES (INPE, 2022).
Os valores absolutos de cada uma dessas variáveis para o período de
análise estão destacados na tabela 03.

223
Tabela 03 - Levantamento de Valores absolutos para AD, AQ e FC no período
de 2020 -2021.
Objetivo (I) Responsabilização pelos crimes ambientais

Meta Redução do desmatamento no bioma e nas UCs

Indicador de Área Desmatamento (Km²)


progresso

Resultados - Incremento consolidado Taxa consolidada


Desmatamento - (Km² ao ano) (Km²/ ano)
(2020)
AmL: UC: 1.183,58 AmL: 10.851
10.501,46

Resultados - Incremento consolidado (Km² Taxa estimada (Km²/


Desmatamento - ao ano) ano)
(2021)
AmL: UC: 1.382,42 AmL: 13.235
11.957,23

Objetivo (II) Prevenir e combater incêndios florestais

Meta Manejo integrado do fogo

Indicador de Área queimada (AQ) e Focos de Calor (FC) - Km²


progresso

Resultados - Incremento (n° de FC)* AQ (Km²)*


(2020)

103.161 77.396

Resultados - Incremento (n° de FC)* AQ (Km²)*


(2021)

105.090 45.585

Fonte: INPE, 2022. e INPE - Programa de Queimadas, s/a. Organização. Autor,


2022. * Os dados são quantificados por bioma pelo programa Queimada, por
tanto, estes valores correspondem a uma estimativa ao território da AmL.

224
Da análise da tabela acima se pode inferir que exceto para
AQ, as taxas apresentaram incremento para eventos os quais
registram, ou seja, as taxas apresentadas ao nº de FC e à AD foram
superiores, em valores absolutos, no período de 2020-2021 em relação
a 2018-2019.
Visando uma análise adequada foram utilizados os mesmos
padrões e métricas do BUR4 para a presente pesquisa. Portanto, os
dados coletados nos sistemas de monitoramento (tabela 03) foram
relacionados às taxas apresentadas em 2004 (tabela 04), para avaliar o
progresso relativo ao início do plano. Posteriormente foi realizada a
análise proposta, comparando os resultados entre os períodos 2018-
2019 e 2020-2021 (tabela 05).

Tabela 04 - Levantamento dos Valores absolutos de referência para AD, AQ e


FC no período de 2004.
Ano Focos de Área queimada Área desmatada
Referência incêndio

2004 218.637 n° de 157.007 Km² 27.772 Km²


focos

Fonte: INPE, 2022. Organização: Autor, 2022.

Com base nos valores de referência, para o ano de 2004, foi


calculada a variação percentual das taxas (tabela 05). A partir desses
resultados foram calculados os incrementos de um período para o
outro, de cada uma das variáveis (tabela 05). Para isso, os valores
percentuais foram consolidados por período, calculada a contribuição
média, e em seguida foram calculadas as diferenças expressas entre
os períodos, 2018-2019 e 2020-2021, obtendo o incremento percentual
por taxa (última coluna da tabela).

225
Tabela 05 - Média por período e Incremento calculado para AD, AQ e FC no
período de 2020 -2021.
Resultados - em relação ao níveis de 2004 - Diferença
(%) média das
taxas - entre
Ano os períodos

Taxas 2018 2019 2018- 2020 2021 2020- Incremento


2019 2021 quantificado
valor valor (%)
médio médio

Focos de -69% -59% - 64% -53% -66% -59,5% 4,5 %


incêndio

Área -73% -54% - 63,5% -51% - -75,5% - 12%


queimada 100%

Área -73% -64% - 68% -61% -52% -56,5% 11,5 %


desmatada
Fonte: INPE, 2022 e Organização: Autor, 2022.

Os valores percentuais negativos representam a redução dos


processos relativos a cada taxa, referente aos níveis de 2004. Neste
caso, quanto menor o valor percentual apresentado, menor foi o
processo de degradação de vegetação naquele período.
Analisando as médias, para o período de 2020-2021, quanto às
taxas analisadas AD, área atingida por FC e AQ na AmL, os resultados
das detecções demonstraram redução em relação aos níveis de 2004
(tabela 05). Isso indica que as medidas tomadas através do PPCDAm
estão sendo funcionais em relação ao combate de desmatamento na
área da AmL, característico desde o início do plano, cujo as taxas
anuais não foram superiores às taxas detectadas em 2004 (gráfico 01).

226
Gráfico 01 - Taxas de desmatamento na AmL - Início do PPCDAm a 2021.

Fonte: INPE, 2022. Organização: Autor, 2022.

Os resultados alcançados com a implementação do PPCDAm


(gráfico 01) destacam o país frente ao objetivo global na mitigação da
MC. Contudo, nota-se que a redução das taxas de degradação não é
necessariamente contínuas ao longo do tempo (tabela 05).
Considerando as médias de cada período, através da
diferença expressa para as variáveis número de FC e AD, observa-se
alta de 4,5% e de 11,5% respectivamente, para cada um dos eventos em
2020-2021. Por outro lado, a AQ apresentou, em 2020-2021, uma queda
percentual de 12% em relação aos anos de 2018-2019, apontando para
uma redução drástica em 2021 (gráfico 02). Tais inconstâncias não
transparecem um cenário tão desenvolto, por sua vez, indicam o
desafio do Brasil em cumprir a meta proposta junto à comunidade
internacional.

227
Gráfico 02 - Variação percentual das taxas em relação aos níveis de 2004.

Fonte: INPE, 2022. Organização: Autor, 2022.

O PPCDAm, visa a redução da degradação florestal,


assegurando a integridade ambiental dos remanescentes de floresta
em áreas prioritárias tais como Unidades de Conservação e Terras
Indígenas (MMA, 2013). Os resultados, demonstram que quanto às
metas estabelecidas ao objetivo (I), houve aumento da área
desmatada na AmL e dessa forma, a meta não foi alcançada no
período de 2020-2021.
Quanto à área atingida por incêndios florestais, objetivo (II),
os resultados demonstram uma redução importante, indicando que a
meta segue gradativamente sendo atendida pelo plano no período de
2020-2021.
Através do gráfico 01, observa-se que o PPCDAm apresenta
redução acentuada na taxa anual de desmatamento na AmL,
contribuindo com o importante avanço no combate ao desmatamento
no País. Porém, analisando os incrementos consolidados, em 2020-
2021 (tabela 05), fica evidente que é necessário aumentar em número
e em eficiência as medidas aplicadas para prevenção e controle do
desmatamento na área.
Neste capítulo, as variáveis foram analisadas de forma isolada
e não é descartado que os resultados podem estar associados a
eventualidades. Contudo, a partir da perspectiva aqui estabelecida é
possível inferir a necessidade de aplicação de medidas cada vez mais

228
eficazes para proteção da vegetação nativa na AmL, sempre atreladas
ao conhecimento científico, capacitação e processos participativos
que envolvam entes do governo e da sociedade civil.
Por meio deste trabalho é possível analisar a posição do Brasil
e seu compromisso com as metas nacionais e internacionais, de
controle do desmatamento e redução das emissões de GEE.
Importante avaliar se os resultados aqui apresentados são ocasionais
ou se existe, de fato, uma tendência para direcionar as ações do
PPCDAm, sendo necessário comparativo das taxas anuais não apenas
com as taxas produzidas no início do plano, em 2004, mas também
período a período, como demonstrado nesta pesquisa.

Conclusão e perspectivas

Conclui-se que o Brasil precisa apresentar ambições maiores


para atingir as metas propostas em caráter de urgência, a fim de
impedir que sejam atingidos pontos de irreversibilidade nos sistemas
naturais, humanos, produtivos e de infraestrutura.
A meta estabelecida ao objetivo (I) não foi atingida,
apresentando valores superiores de área desmatada para o período de
2020-2021. O objetivo (II) atende a meta proposta e apresenta redução
da área atingida por incêndios florestais em território da AmL
considerando o mesmo período.
Tais resultados demonstram que o PPCDAm, além de
funcional, precisa ser eficiente e alcançar patamares ainda menores do
que a atual taxa verificada, seja atuando com ampliação das áreas
protegidas na AmL, com aumento de áreas com gestão efetiva, com
fortalecimento dos arranjos institucionais internos, seja agindo
também por meio de uma boa administração dos recursos financeiros.
Propõe-se para o objetivo (I), que apresentou o pior
resultado, com incremento superior a 10%, o fortalecimento cada vez
maior dos órgãos fiscalizadores tais como IBAMA, Polícias Federal e
Rodoviária Federal, bem como Força Nacional de Segurança Pública.
A produção de dados e publicação atualizada de relatórios, de
livre acesso pela sociedade são ações que podem ser consideradas
positivas.

229
Além disso, deve ser ressaltada a importância do
desenvolvimento tecnológico e constante otimização dos sistemas de
monitoramento remoto, que contribuem com afinco para o
desenvolvimento de pesquisas como esta e, diretamente, podem
orientar tomadores de decisão na elaboração de políticas públicas, de
forma que seja possível garantir a segurança da população em uma
sociedade cada vez mais ameaçada pela alteração do clima.

Referências

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Estadual de Mudanças Climáticas do Estado de São Paulo - PROCLIMA.
Conferência das Partes. [recurso eletrônico]. São Paulo: CETESB, 2020.
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Caracterização da Amazônia Legal e macrotendências do ambiente
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Capacitação, ISSN 2237-7298; n.01). Disponível em <
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/9070
75/1/GBMJEstudoAMZDA1vISSN.pdf>. Acesso em 24 de janeiro de
2022.

Instituto Nacional de Pesquisas Especiais - INPE. Metodologia


Utilizada nos Projetos PRODES e DETER. Brasília: INPE, 2019.
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http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes/pd
fs/Metodologia_Prodes_Deter_revisada.pdf> Acesso em 22 de agosto
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Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Monitoramento da


Cobertura Florestal da Amazônia Por Satélites. São José dos Campos:
INPE, 2008. Disponível em
<http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/deter/pd
fs/metodologia_v2.pdf> Acesso em 03 janeiro de 2022.

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Apresentação:


Queimadas e Incêndios Florestais. Brasília: INPE, s/a. Disponível em

230
<https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal/informacoes/aprese
ntacao> Acesso em 04 de janeiro de 2022.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Amazônia Legal.


Edição 44. Ano 05. Brasília: IPEA, 2008. Disponível em
<https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&i
d=2154:catid=28> Acesso em 03 de janeiro de 2022.

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Taxa estimada de


desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, para o período
2020/2021, com base em 106 cenas prioritárias. Brasília: INPE, 2022.
Disponível em
<http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/l
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Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Coordenação Geral de


Observação da Terra. Programa de Monitoramento da Amazônia e
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Atualização Bienal (BUR). [recurso eletrônico]. Brasília: MCTI, 2012.
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https://antigo.mctic.gov.br/mctic/opencms/ciencia/SEPED/clima/Comu
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eletrônico]. Brasília: MMA, 2021. Disponível em <https://bit.ly/3CIBZFP>
Acesso em 29 junho de 2021.

231
Ministério das Relações Exteriores – MRE. Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações – MCTI. Quarto Relatório De Atualização
Bienal do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre
Mudança Do Clima. Brasília: MRE, 2020. 112 p. Disponível em <
https://antigo.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/ciencia/SEP
ED/clima/arquivos/BUR/BUR4_Brasil_Port.pdf>. Acesso em 29 de
junho de 2021.

Ministério do Meio Ambiente. Plano de Ação para prevenção e


controle do desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm): 3ª fase
(2012-2015) pelo uso sustentável e conservação da Floresta. Ministério
do Meio Ambiente e Grupo Permanente de Trabalho Interministerial.
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Ministério do Meio Ambiente. Acompanhamento e a Análise De


Impacto das Políticas Públicas : PPCDAm/ Ministério do Meio
Ambiente. Brasília: MMA, 2016. Disponível em
<http://redd.mma.gov.br/pt/acompanhamento-e-a-analise-de-impacto-
das-politicas-publicas/ppcdam> Acesso em: 13 de setembro de 2021.

United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC.


Report of the Conference of the Parties on its seventeenth session,
held in Durban from 28 November to 11 December 2011. Part Two:
Action taken by the Conference of the Parties at its seventeenth
session. Durban: UNFCCC, 2012. Disponível em
<https://unfccc.int/resource/docs/2011/cop17/eng/09a01.pdf> Acesso
em 02 de janeiro de 2022.

232
A distribuição espacial das emissões industriais
de GEE nos estados de SP, PR e MS
Júlio Barboza Chiquetto e Dominique Mouette

10.47247/GC/88471.57.9.13

233
Introdução

Historicamente, cerca de 75% da energia global tem sido


fornecida por combustíveis fósseis. No entanto, sua finitude, as
emissões de poluentes tóxicos e a intensificação do efeito estufa têm
colocado grande pressão sobre as energias fósseis; por isso, a partir
da década de 1970, opções de energias limpas e renováveis
começaram a ser desenvolvidas. Nos anos 80, surgem pesquisas que
demonstram o potencial do gás natural (GN) enquanto fonte
energética fóssil transicional – isto é, que teria papel de substituir
fontes de energia fóssil mais poluentes, como o óleo diesel e o carvão,
enquanto se caminha para uma descarbonização mais completa pelo
uso de fontes energéticas limpas e renováveis (Tanaka, et al., 2019).
Este mesmo potencial tem sido atribuído ao gás não-convencional
(GnC), tendo em vista que seus fatores de emissão de poluentes são
semelhantes aos do GN (Cremonese et al., 2019), informados na
Tabela 1. Além disso, ele pode se beneficiar da mesma infraestrutura
para escoamento – os gasodutos, que, futuramente, poderão ser
aproveitados também para o uso de biogás ou biometano.

Tabela 1 - Fatores de emissão de CO2 para vários tipos de combustíveis fósseis.


O GnC apresenta fatores semelhantes aos do gás natural.

Fator de Emissão
Combustível
kg CO2/kWh)
Carvão 0,34
Diesel 0,27
Gasolina 0,25
Querosene 0,26
Gás de Refinaria 0,24
Gás Natural 0,22
Fonte: QUASCHNING, 2016.

A indústria e o uso de energia nos estados de MS, PR e SP

No âmbito da transição energética, o setor industrial é tido


como fundamental ao trazer inovação e desenvolvimento de novos
produtos e serviços, além de contribuir para a criação e expansão de
mercados para novas tecnologias (Planko et al, 2016).

234
No estado de São Paulo, a maior parte da energia utilizada
pelo setor industrial é proveniente de fontes renováveis ou fósseis
menos poluentes, como o gás natural (GN), que, somadas com o uso
de bagaço de cana e eletricidade, atingiram 83,5% do consumo de
energia pela indústria no estado em 2019. Isto indica que, neste
cenário, existem oportunidades para a mitigação de emissões. A lenha
apresenta menores emissões de CO2 devido à retirada de carbono da
atmosfera durante o crescimento da vegetação; no entanto, a sua
queima acarreta a emissão de diversos poluentes tóxicos à saúde, tais
como os hidrocarbonetos e o material particulado, poluentes com
baixos fatores de emissão pelo GnC (Cremonese et al., 2019).
Somando as porcentagens de consumo energético por combustíveis
fósseis e lenha (devido às emissões de poluentes tóxicos e GEE),
chegou-se, em 2019, à 16,5% da energia consumida pela indústria no
estado de São Paulo (Balanço energético do estado de São Paulo –
São Paulo, 2020).Se numa análise rápida o uso destes combustíveis
parecem não ser altos, em valores absolutos estas emissões não são
nada desprezíveis, pois SP é o estado mais industrializado do país e a
região mais industrializada de todo o Hemisfério Sul. De acordo com o
Balanço Energético do Estado de São Paulo, em 2019, as emissões de
CO2 no estado foram de 71,50 x 106 tCO2/ano correspondente a 1,61
tCO2/hab. Os setores mais poluentes foram o transporte com 47,2 x
106 tCO2 e a indústria com 15,0 x 106 tCO2. Dentre os combustíveis, os
que mais impactaram as emissões foram o óleo diesel com 31,12 x 106
tCO2, a gasolina com 12,33 x 106 tCO2 e o gás natural com 11,43 x 106
tCO2 (São Paulo, 2020). Assim, a transição energética pelo uso do GnC
no setor industrial poderá se consolidar em uma boa estratégia de
mitigação e atingir valores absolutos consideráveis.
De acordo com o Balanço Energético do Estado do Paraná
(Paraná, 2010), o uso de petróleo e derivados correspondia a 42,8% das
emissões provenientes do uso de energia pela indústria,
demonstrando assim grande potencial de mitigação pela substituição
por GnC. O GN gás natural representou 33,3% do consumo de energia
do setor de papel e celulose. As emissões totais de CO2 no PR foram
de 77 MtCO2e em 2019, sendo o décimo maior emissor no Brasil1. A
indústria responde por 11% das emissões decorrentes do uso de
energia no estado, e 84,4% foram do setor de produtos minerais, e

1 http://seeg.eco.br/

235
15,6% da indústria química (não havia informações disponíveis sobre o
uso de GN na indústria).
No MS, de acordo com o balanço energético do estado (Mato
Grosso do Sul, 2014), o consumo energético pela indústria apresenta
os seguintes números: diesel, 15,9%, óleo combustível e outros, 12,6% e
gasolina, 7,6%. Estes, somados, atingem a porcentagem de 36,1%. O gás
natural soma apenas 2%, por isso, o potencial de mitigação das
emissões de CO2 por combustíveis fósseis poluentes em MS é
proporcionalmente maior do que em SP e PR, apesar da sua baixa
atividade industrial em relação aos outros estados analisados. As
emissões totais chegaram à 63 MtCO2e em 2019, sendo o décimo
segundo estado em emissões no Brasil1. As emissões do setor de
transportes dominam as emissões devido ao consumo de
combustíveis derivados de petróleo no estado, sendo que a indústria
corresponde a apenas 13,9%, o setor de produtos minerais é
responsável por 100% das emissões industriais1.
Uma vez que a demanda por energia continuará a crescer
globalmente, aumentando em 33% até 2040 (Tanaka et al., 2019), o GN
e o GnC oferecem boas alternativas para suprir essa demanda
crescente, por conta de emitirem menos GEE e poluentes tóxicos em
relação aos combustíveis fósseis tradicionais (Cremonese et al., 2019),
juntamente com o desenvolvimento de energias renováveis e mais
limpas.
Esta pesquisa visou compreender o potencial mercado
consumidor de GnC nos estados de SP, PR e MS, do ponto de vista da
transição energética, ao analisar emissões industriais de GEE por
município e a localização destes em relação à área de concessão da 12a
rodada de Licitações realizada pela Agência Nacional de Petróleo2
(ANP), referente ao Pontal do Paranapanema (SP). A análise sugeriu
algumas regiões prioritárias para o uso de GnC devido à proximidade
com a área do pontal e à intensidade das emissões por combustíveis
fósseis tradicionais, o que poderia resultar na mitigação das emissões
de GEE. Assim, estes municípios se configuram em potencial mercado
consumidor do GnC extraído na região do Pontal, se ele vier a
apresentar preços competitivos em relação aos combustíveis fósseis já
utilizados na região.

2 https://www.gov.br/anp/pt-br/rodadas-anp/rodadas-andamento/12a-rodada-
licitacoes-blocos/areas-oferta

236
Materiais e métodos

A região escolhida para análise foram os estados de SP, PR e


MS, por estarem localizados próximos da área de Concessão para
Exploração do GnC (Fig. 1).

Figura 1 - Estados de MS, PR e SP, com a malha viária, as dutovias, os


municípios do Pontal do Paranapanema e a área de concessão para
exploração de GnC.

Fonte: Ministério da Infraestrutura3

Os dados referentes as emissões de CO2-equivalente foram


extraídos da base de dados do Sistema de Estimativas de Emissões e
Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do
Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas
anuais das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Para maiores
informações, sugere-se consultar as Notas Metodológicas do SEEG
que apresentam alto nível de detalhamento (http://seeg.eco.br/notas-
metodologicas)
Foram obtidos dados de emissão de CO2-equivalente (CO2e)
para todos os municípios dos estados de MS, PR e SP, dos setores de

3 https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/dados-de-transportes/bit/b
itmodosmapas/#mapduto

237
indústria (emissões industriais) e energia (no caso, o consumo de
energia fóssil pela indústria) e posteriormente tabulados. Analisou-se
as emissões provenientes do consumo industrial de coque de
petróleo; diesel de petróleo; gás de refinaria (exceto para MS, onde
não houve emissão por gás de refinaria); GLP; óleo combustível e óleo
diesel, do ano de 2018, o mais recente disponível no momento de
elaboração deste estudo. Agregou-se os dados de diferentes setores e
combustíveis no nível do município, somando-se todas as emissões.
Foram então construídos mapas com estes dados, que mostram as
emissões por combustíveis fósseis totais (Fig. 2), as emissões somente
pelo uso de GLP (Fig. 3) e óleo diesel (Fig. 4).

Resultados

Nesta seção são apresentados mapas das emissões industriais


derivadas do consumo energético dos combustíveis fósseis totais, de
GLP e óleo diesel, por município, dos estados de MS, PR e SP (Figs. 2 –
4).
Para o estado de MS, os municípios de Bodoquena, Três
Lagoas e Corumbá (identificados pelas cores vermelha e vermelha
escura na Figura 2) destacam-se com emissões acima de 500.000
t/CO2e em 2018, provenientes de combustíveis fósseis totais.
Bodoquena e Corumbá estão localizadas distantes da região de
concessão para exploração de GnC, no extremo oeste do estado. No
entanto, Três Lagoas está a cerca de 100 km da região do Pontal, assim
apresentando maior viabilidade para a mitigação das emissões de
CO2e por combustíveis fósseis totais, ao combinar sua localização com
suas intensas emissões.

238
Figura 2 - Emissões de CO2 equivalente nos estados de MS, PR e SP por
município para combustíveis fósseis totais nos setores industrial e de energia
(2018).

Fonte: Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito


Estufa (SEEG), Observatório do Clima.

Os municípios com as emissões mais intensas de CO2e por


combustíveis fósseis totais no estado do PR, tais como Balsa Nova,
Adrianópolis e Araucária (em marrom e marrom escuro na Fig. 2) estão
concentrados na região leste do estado, na grande Curitiba e
arredores, e só apresenta potencial mercado consumidor para o GnC
caso este venha a apresentar preços competitivos aos do GN, se
beneficiando da infraestrutura já existente (gasodutos identificados
na Fig. 1). Em relação à municípios mais próximos da região de
concessão para exploração de GnC, destacam-se duas regiões: uma é
formada pelos municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira, no centro-
norte do estado (identificados em vermelho intenso na Figura 2), com
175.954 e 152.884 toneladas de CO2e emitidos em 2018 provenientes
de combustíveis fósseis totais, caracterizada pela indústria de papel e
celulose, com uso intensivo de energia, e localizada a uma distância
moderada da área de concessão para exploração de GnC, a cerca de
250 km. A outra é composta pelos municípios de Maringá, Londrina e
Cornélio Procópio (em amarelo na Figura 2, com emissões entre 10.001
e 20.000 t/CO2e em 2018), com diversificada atividade industrial. Estes

239
poderão se beneficiar particularmente devido ao fato de estarem
próximos do Pontal do Paranapanema (pouco mais de 100 km).
Finalmente, para as emissões por combustíveis fósseis totais
no estado de São Paulo, destacam-se principalmente municípios
localizados em toda a faixa leste do estado, entre o município de
Campinas e o estado de Minas Gerais (desde o Vale do Ribeira até o
Vale do Paraíba, e expandindo-se ao nordeste). O município de São
José do Rio Preto (identificado em amarelo na porção centro-norte do
estado) está localizado a cerca de 300 km da área do Pontal e
apresentou emissões entre 10.000 e 20.000 t/CO2e em 2018. As
análises das emissões somente para GLP e Diesel (Figuras 3 e 4,
respectivamente) apresentam maior detalhamento para o estado de
SP.

Figura 3 - Emissões de CO2 equivalente nos estados de MS, PR e SP por


município para GLP nos setores industrial e de energia (2018).

Fonte: Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito


Estufa (SEEG), Observatório do Clima.

Não foram observadas emissões provenientes de GLP no


estado de MS na mesma proporção das que ocorrem em PR e SP, nos
setores analisados, em 2018, o que pode ser atribuído à menor
atividade industrial. O maior emissor foi o município de Três Lagoas,

240
na faixa de 2.001-5.000 t/CO2e, e que apresenta potencial para
mitigação devido à proximidade com o Pontal.
No Paraná, as emissões mais intensas ocorrem na região
centro-oriental do estado, a leste da Região Metropolitana de Curitiba,
distante da área de concessão de exploração de GnC e próxima aos
gasodutos já existentes. De qualquer forma, o município de Cambará,
localizado na divisa com SP (identificado em amarelo na Fig. 3), bem
como municípios localizados na região no norte do estado, tais como
Maringá e Cornélio Procópio, apresentam a proximidade com o Pontal
e emissões mais altas que o restante do estado.
Da mesma forma, as emissões provenientes de GLP no estado
de São Paulo também estão concentradas na porção leste. Alguns
municípios bastante próximos ao Pontal apresentam emissões
moderadamente altas em relação ao resto do estado, como Tupã,
Pompéia Marília (em verde na Fig. 3, a leste da área de concessão),
além de Avaré, no centro-oeste do estado (identificado em amarelo na
Fig. 3).

Figura 4 - Emissões de CO2 equivalente nos estados de MS, PR e SP por


município para diesel nos setores industrial e de energia (2018).

Fonte: Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito


Estufa (SEEG), Observatório do Clima.
No estado de MS, as mesmas regiões identificadas nas
análises de combustíveis fósseis totais e GLP (nas Figuras 2 e 3)

241
também apresentam intensas emissões de diesel (Figura 4),
constituídas por óleo diesel e diesel de petróleo. O município de Três
Lagoas destaca-se pela emissão de 187.889 t/CO2e em 2018, o valor
máximo observado dentre os três estados analisados para consumo
de diesel pela indústria.
Outros municípios que aparecem com emissões
moderadamente altas para o estado de MS, localizados na região
sudeste do estado, são Ivinhema e Rio Brilhante (em laranja na Figura
4), com emissões provenientes de diesel entre 10 e 20 mil t/CO2e em
2018. O município de Angélica (localizado exatamente entre Ivinhema
e Rio Brilhante, em amarelo na Fig. 4), aparece com 9.605 t/CO2e
emitidas. Assim, o estado de MS apresenta grande potencial do ponto
de vista da transição energética pela mitigação das emissões de GEE
provenientes de diesel, devido à intensidade das emissões e
proximidade com a área de exploração de GnC, facilitando o seu
escoamento.
Para o diesel no estado do Paraná, os municípios de Telêmaco
Borba e Ortigueira apresentam intensas emissões (assim como para
combustíveis fósseis totais e GLP), identificados pelas cores vermelho
e vermelho escuro na Figura 4, com 84 mil e 43 mil t/CO2e emitidos em
2018, respectivamente. No norte do estado, Maringá também se
destaca nas emissões por diesel (identificada em amarelo). A norte de
Maringá, os municípios de Colorado, Paranacity e Santo Inácio formam
uma região localizada muito próxima da Área de Concessão (50 km) e,
que apresenta emissões entre 5 e 10 mil t/CO2e somente pelo uso do
diesel (identificados também em amarelo na Figura 4).
Emissões expressivas por diesel no estado de SP ocorrem na
capital e regiões adjacentes, no centro e norte do estado. O estado
todo é caracterizado por emissões moderadamente altas
(identificadas em amarelo, entre 5 e 10 mil t/CO2e), incluindo regiões
localizadas dentro da Área de Concessão para Exploração, como os
municípios de Presidente Prudente, Valparaíso, Guararapes e Castilho,
bem como os municípios de São José do Rio Preto e adjacentes, a uma
distância de cerca de 200 km do Pontal.

242
Conclusões e considerações finais

Uma vez que as emissões de GEE e poluentes tóxicos


provenientes do GnC são atenuadas em relação à combustíveis fósseis
mais poluentes, este projeto levantou as emissões de CO2e por fontes
fósseis poluentes (a saber, Coque de petróleo + Diesel de petróleo +
Gás de refinaria + GLP + Óleo Combustível + Óleo Diesel), por
município, nos estados de MS, PR e SP, de forma a localizar municípios
e regiões que poderão se beneficiar pela substituição destes
combustíveis pelo GnC, em busca de uma economia mais
descarbonizada. Desta forma, diversas regiões nestes estados se
configuram em mercados consumidores atrativos para o GnC do
ponto de vista de uma transição energética, pois combinam altas
emissões industriais e energéticas com proximidade à região de
produção, o que facilitará o escoamento do GnC produzido na região
do Pontal do Paranapanema. Estas regiões poderão passar por uma
transição energética do ponto de vista analisado neste trabalho, e em
direção a energias renováveis como o biogás e/ou biometano.
A análise dos combustíveis fósseis totais indicou que, no
estado de MS, o município de Três Lagoas, localizado no setor leste do
estado, apresentou altas emissões de GEE, em níveis comparáveis aos
de municípios altamente industrializados de SP e PR. No estado do PR,
os municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira também apresentaram
altas emissões de combustíveis fósseis poluentes, principalmente
devido à indústria de papel e celulose, e estão localizados
relativamente próximos, cerca de 200 a 300 km da Área de Concessão
para Exploração, o que pode tornar esta substituição viável. Em SP,
destacam-se municípios localizados muito próximos ao Pontal para as
emissões provenientes do uso de Diesel, como Guararapes e
Valparaíso, a cerca de 50 km, e Castilho (na divisa com MS), bem como
municípios localizados a distâncias intermediárias, tais como Planalto,
José Bonifácio e Potirendaba, na região norte do estado. Estes
municípios combinam dois fatores: 1) apresentam altas emissões de
GEE decorrentes da atividade industrial (e seu consumo de energia),
devido ao uso de combustíveis fósseis, e 2) estão situados próximas à
Área de Concessão para Exploração de GNC no Pontal do
Paranapanema, o que facilitaria seu escoamento e viabilidade
econômica.

243
Por outro lado, algumas das áreas com emissões de GEE mais
altas, localizadas a leste e sudeste dos estados de SP e PR. já estão
servidas por gasodutos, e, portanto, já utilizam o gás natural. As
emissões de GN são semelhantes às do GnC, o que não representaria
um grande avanço do ponto de vista da transição
energética/mitigação de GEE. No entanto, caso o GnC venha a
apresentar preços competitivos em comparação ao gás natural, essas
áreas podem ser consideradas como potenciais mercados
consumidores de GnC, como sugerido pela análise das emissões. O
escoamento de GnC poderia ser facilitado pela presença do gasoduto
que conecta a região do Pontal do Paranapanema com estas regiões.
No entanto, todos estes cenários dependem de investimentos
públicos, potencialmente na forma de incentivos fiscais ou
instrumentos semelhantes, com o objetivo de se mitigar as emissões
de GEE e incentivar energias mais limpas.
Trabalhos futuros poderão realizar uma análise quantitativa
da mitigação nas emissões de GEE ao se substituir todo ou parte do
consumo industrial e de energia de diesel, petróleo e GLP por GnC nos
estados e regiões identificadas, demonstrando o potencial desta fonte
para uma transição energética em direção a energias mais limpas.
Também podem ser analisadas adoção de tecnologias de captura e
armazenamento de carbono. Além disso, poderão ser realizadas
pesquisas com poluentes do ar tóxicos emitidos pela atividade
industrial, tais como os óxidos de nitrogênio (NOx) ou o material
particulado (MP), utilizando-se de relatórios de institutos ambientais
ou outras publicações, calculando as vantagens provenientes destas
ações do ponto de vista econômico e da promoção da saúde.

Agradecimentos

Agradecemos o apoio do Projeto Gasbras Rede de P&D Finep


01.14.0215.00, através da concessão de bolsas de pesquisa. Júlio
Chiquetto agradece ao CNPq pelo suporte financeiro, processo
380137/2021-6 e Dominique Mouette agradece ao CNPq pelo suporte
financeiro, processo 315374/2021-7.

244
Referências

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M., BUTLER, T., HELMIG, D. AND SCHWIETZKE, S. Emission scenarios
of a potential shale gas industry in Germany and the United Kingdom.
Elementa: Science of the Anthropocene, 7, 2019.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa


Industrial Anual, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em:

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9042-
pesquisa-industrial-anual.html?=&t=downloads acesso em 21/05/2021

Mato Grosso do Sul (estado), Balanço Energético do estado de Mato


Grosso do Sul, 2014 (ano base 2013). Secretaria de Estado de
Infraestrutura, 2015. Disponível em
http://www.servicos.ms.gov.br/extranet-seinfra/docs/GDE-
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Acesso em 13/05/2021

Observatório do Clima, Sistema de Estimativas de Emissões e


Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Disponível em
http://seeg.eco.br/ acesso em 05/05/2021 e diversas outras datas.

Paraná (estado), Balanço Energético do estado de Paraná, 2010 (ano


base 2009). Companhia Paranaense de Energia, 2010. Disponível em

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co_energetico_do_parana-2010-
ano_base_2009/$FILE/Balanco_Energetico_do_Parana-2010-
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PLANKO, JULIA, CRAMER, JACQUELINE M., CHAPPIN, MARYSE M.H.,


HEKKERT, MARKO P. Strategic collective system building to
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QUASCHNING, V., Understanding Renewable Energy Systems.


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São Paulo (estado), Balanço Energético do estado de São Paulo, 2020


(ano base 2019). Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, 2020.
Disponível em http://www.servicos.ms.gov.br/extranet-
seinfra/docs/GDE-
MS/04_Balan%C3%A7o_Energ%C3%A9tico_Gov_MS_21x29,7cm.pdf
Acesso em 13/05/2021

246
Influência da sazonalidade na qualidade das
águas do Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de Brumadinho (MG)
Diego Barcellos, Cláudio V. P de Azevedo Andrade e
Pablo de Azevedo Rocha

10.47247/GC/88471.57.9.14

247
Introdução

Impactos ambientais relacionados à mineração têm


aumentado consideravelmente nos últimos anos, em especial os
relacionados aos rompimentos de barragens contendo rejeitos de
minério (GOMES et al., 2017; ROTTA et al., 2020; QUEIROZ et al., 2021).
O rompimento da barragem I (B1) do complexo da Mina Córrego do
Feijão da Mineradora Vale/SA, no município de Brumadinho (MG), em
janeiro de 2019, provocou a morte de centenas de pessoas e
incontáveis impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos
(SANTOS, 2021). O rejeito de minério (ou lama) percorreu centenas de
quilômetros desde a sua fonte até o Rio São Francisco, impactando o
meio biótico, abiótico e as comunidades que dependem direta e
indiretamente dos serviços ecossistêmicos providos pelos recursos
hídricos afetados (POLIGNANO et al., 2020).
Impactos ambientais mais severos ocorreram no ribeirão
Ferro-Carvão e nos primeiros 40 quilômetros do Rio Paraopeba que
inclui o município de Brumadinho e os municípios da região 2 Rio
Paraopeba (Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Igarapé e
Juatuba) (IGAM, 2022). Segundo o IGAM, o uso da água ficou
impossibilitado nessa região nos 60 dias após o rompimento da
barragem, dado os teores elevados de ferro, manganês, alumínio e
metais traço (como chumbo e mercúrio).
Nessa região 02 do Rio Paraopeba existem outras 18
barragens de rejeito mineração, sendo que pelo menos 3 delas
merecem maior atenção devido aos riscos de rompimento, como
ocorrido anteriormente com a barragem de Brumadinho (ANM, 2022).
Outro desastre similar foi da barragem de Fundão, em Mariana (MG),
que percorreu todo o Rio Doce até a foz em Linhares (ES), sendo
transportados mais de 20 milhões de toneladas de minério de ferro ao
longo de 600 km do rio (QUEIROZ et al., 2018).
O rejeito de minério de Fe advindo do rompimento da
barragem de Brumadinho apresenta teores totais (na fase sólida) de
Fe (36%), Mn (1,6%) e Al (1,4%) (TERAMOTO et al., 2021). A composição
mineralógica do rejeito é majoritariamente de oxi-hidróxidos de Fe,
contendo Al e Mn em sua estrutura cristalina por substituição
isomórfica, além de outros elementos traço adsorvidos ou oclusos
durante a formação e alterações geoquímicas desses minerais que
compõem o rejeito de minério (VERGILIO et al., 2020).

248
Os óxidos de Fe presentes no rejeito, podem ser induzidos à
redução dissolutiva de FeIII para FeII em condições redutoras
favoráveis, e na presença de microrganismos ativos e carbono
orgânico lábil (BARCELLOS et al., 2018; CALABRESE et al., 2020),
favorecendo a liberação de metais potencialmente tóxicos para o
meio aquático, que podem se tornar nocivos para organismos e
humanos. A sazonalidade, caracterizada pela mudança nos padrões de
precipitação ao longo do ano, pode alterar os ciclos biogeoquímicos
do Fe, favorecendo uma condição mais redutora (solos mais úmidos
ou encharcados) no período mais chuvoso, geralmente de outubro a
março na região 2 do Rio Paraopeba, bem como o transporte do
rejeito para a calha do rio (SILVA et al., 2015).
Sendo assim, uma das maiores preocupações ambientais e
ecológica refere-se ao aumento dos teores de metais potencialmente
tóxicos em águas superficiais, que podem oferecer riscos de
contaminação e toxicidade para humanos, animais e plantas que
utilizam dos recursos hídricos da região.

Objetivos

O objetivo desse trabalho foi realizar um diagnóstico da


qualidade das águas superficiais do Rio Paraopeba no triênio após o
rompimento da barragem de Brumadinho (MG), bem como examinar
os possíveis aumentos nos teores de elementos químicos nas águas
superficiais devido à sazonalidade na região do Rio Paraopeba, que foi
mais severamente impactado pelos rejeitos de minério de ferro.

Métodos

Para alcançar os objetivos desse trabalho foram utilizados


dados do Instituto Mineiro de Gestão das Água (IGAM) através do
Boletim Informação do Cidadão sobre a Qualidade da Água no Rio
Paraopeba (IGAM, 2022). Esse Boletim fornece um resumo da
qualidade das águas nos locais monitorados após o desastre na
barragem do complexo da Mina Córrego do Feijão. O Boletim fornece
valores máximos dos seguintes parâmetros, emitido todos os meses
de dezembro de 2019 até fevereiro de 2022 (último Boletim
Informativo) para águas superficiais: alumínio dissolvido, chumbo
total, ferro dissolvido, manganês total (em mg/L); e turbidez (NTU).
Para apenas alguns meses foram reportados dados para arsênio total,
cobre dissolvido, mercúrio total em água.

249
Além da série contínua de dados com valores máximos
(dez/2019 a fev/2022), o Boletim também fornece valores máximos
para o monitoramento na série histórica (de 2000 a 2018) antes do
rompimento da barragem, que considera apenas o período do 1°
trimestre do ano (meses de janeiro, fevereiro e março). O Boletim
também fornece os valores de máximo e mínimo obtidos nos
primeiros 60 dias após o desastre.
Os pontos de coleta de água pelo IGAM para análises nesse
trabalho foram aqueles com maior impacto (IGAM, 2022) e que
englobaram os seguintes municípios (e estações de coleta):
Brumadinho (BPE2), Mário Campos (BP068), São Joaquim de Bicas
(BP070), Betim e Juatuba (BP072), conforme a Tabela 01 e Figura 01.
Para os gráficos gerados para cada elemento e turbidez, além
dos dados obtidos no Boletim Informativo do IGAM, foram inseridos
os valores máximos permitidos segundo a Deliberação Normativa
(DN) Conjunta COPAM/CERH-MG nº 01, de 05 de maio de 2008
(COPAM, 2008) para águas superficiais na Classe 2, as quais podem ser
destinadas: “ao abastecimento para consumo humano, à proteção de
comunidades aquáticas, à recreação de contato primário, à irrigação
de plantas, e à aquicultura (COPAM, 2008).”

Tabela 01 - Pontos e trechos utilizados para intepretação dos dados de


qualidade da água da Região 2 da Bacia do Rio Paraopeba
Distância da barragem
Pontos Local
rompida (km)
BP036 -10 Brumadinho
Captação de água para BH, em
BPE2 20
Brumadinho
BP068 25 Mário Campos
BP070 42 São Joaquim de Bicas
BP072 59 Betim/Juatuba

250
Figura 01 - Mapa com as estações de monitoramento de qualidade da água do
IGAM (Boletim Informativo) ao no Rio Paraopeba, para os pontos BP036,
BPE2, BP068, BP070, BP072, e localização do ponto de rompimento da
barragem B1 em Brumadinho (MG).

251
Referente aos cinco pontos selecionados para a interpretação
dos dados de qualidade da água, vale ressaltar que o ponto BP036
está a 10 km a montante do local atingido pela barragem rompida da
Mina Córrego do Feijão (ou seja, é um ponto de coleta não
impactado), o ponto BPE2 está logo a jusante da barragem (20 km a
jusante, em Brumadinho, MG, cuja água é captada para abastecimento
da região metropolitana de Belo Horizonte), o ponto BP068 no
município de Mário Campos, o ponto BP070 no município de São
Joaquim de Bicas, e o ponto BP072 entre Betim e Juatuba (Tabela 01).
Dados de precipitação da região 2 e proximidades também
foram utilizados para ampliar a compreensão do comportamento
geoquímico dos elementos que afetam a qualidade das águas
superficiais, bem como averiguar possíveis diferenças entre os
períodos seco e chuvoso (sazonalidade). Os dados de precipitação
(em mm) foram computados através da média mensal de
precipitação, adquiridos de quatro estações meteorológicas operantes
(Belo Horizonte/Pampulha, Belo Horizonte/Cercadinho, Florestal, e
Ibirité/Rola Moça) de 2018 a 2021 (Tabela 02).

Tabela 02 - Estações meteorológicas utilizadas para obter a média mensal de


precipitação para a Região 2 do Rio Paraopeba. Fonte: INMET Série histórica
(https://portal.inmet.gov.br/dadoshistoricos)

Foram realizadas projeções para verificar por quanto tempo


(quantos anos a mais) os teores de metais permanecerão
potencialmente elevados, sobretudo no período chuvoso na região 02
do Rio Paraopeba. Para as projeções e modelagem foram utilizados os
dados geoquímicos de águas do IGAM, das partes da mais afetadas
pelos rejeitos de minério de ferro. Foram computadas as médias das
concentrações de cada elemento (Al, Fe, Mn e Pb), e média da
turbidez, para os 4 pontos amostrados do IGAM (BPE2, BP068, BP070,
BP072), que foram agrupados para o período seco (abril a setembro) e
chuvoso (outubro a março) de cada ano (2019, 2020 e 2021).

252
Resultados e discussão

Distribuição das chuvas e sazonalidade influenciam a qualidade das


águas superficiais

O padrão de precipitação (em mm) entre os meses chuvosos


(outubro a março) e secos (abril a setembro), efeitos da sazonalidade,
tem influência direta nos parâmetros de qualidade das águas do Rio
Paraopeba (Figura 02). É possível observar também o efeito da
sazonalidade entre os períodos seco e chuvoso para as concentrações
dos elementos estudados (Al, Fe, Mn e Pb) e da turbidez (Figuras 03A
a 03G).
Foi observado um aumento considerável da concentração dos
elementos e da turbidez no período de até 60 dias após o rompimento
da barragem, ultrapassando os limites máximos estabelecidos na
Deliberação Normativa (DN) COPAM nº 01/2008 para águas na classe 2
(COPAM, 2018). Também foi observado que a variação da precipitação
anual afeta diretamente os parâmetros analisados, com aumento
considerável de metais e turbidez do período seco para o período
chuvoso (considerando 2019, 2020, 2021 e 2022). No período chuvoso a
concentração dos elementos e a turbidez em alguns casos aumentou
(referente à DN 01/2008): Al (8 vezes), Cu (2 vezes), Fe (3 vezes), Mn
(120 vezes), Pb (4 vezes), e turbidez (25 vezes). As concentrações dos
elementos Al, Fe, Mn e Pb em águas superficiais acima dos limites
estabelecidos por lei são altamente preocupantes, pois podem causar
problemas ambientais e de saúde crônicos e severos, sendo
apresentados os resultados a seguir para cada elemento.

253
Figura 02 - Precipitação mensal (em mm) na região 2 da Bacia do Rio
Paraopeba, através da média de precipitação obtida de quatro estações
meteorológicas operantes (Belo Horizonte/Pampulha, Belo
Horizonte/Cercadinho, Florestal, e Ibirité/Rola Moça).

Alumínio dissolvido (mg/L)

O parâmetro alumínio dissolvido é indicado para verificação


quantitativa solúvel desse elemento em um corpo d’água. A partir dos
dados do IGAM plotados na Figura 03A, é possível observar que para
ambos os valores máximos históricos de 2000 a 2018 e valores
máximos de até 60 dias após o rompimento da barragem, todos
apresentam concentrações de Al dissolvido acima dos limites legais de
0,1 mg/L (Classe 2, COPAM 01/2008) para todos os 5 pontos
apresentados (BP036, BPE2, BP068, BP070, BP072).
Considerando o valor máximo legalmente permitido de 0,1
mg/L, nos 60 dias que sucederam o rompimento da barragem, os
valores de Al em água aumentaram de 7, 6, 8 e 9 vezes,
respectivamente para os pontos BPE2 (Brumadinho, montante da
barragem), BP068 (Mário Campos), BP070 (São Joaquim de Bicas) e
BP072 (Betim/Juatuba). O valor mais alto atingido nos 60 dias após o
rompimento da barragem foi de 0,86 mg/L de Al no ponto BP072
(Betim/Juatuba).
Referente à série contínua de dados de qualidade da água do
Boletim Informativo do IGAM (de dez/2019 a fev/2022), pode-se
observar na Região 2 uma nítida influência da sazonalidade nos
períodos chuvoso e seco nas concentrações de Al dissolvido nos 5
pontos referidos, conforme demonstrado no gráfico de barras (azul)
na Figura 03A.

254
Durante os três períodos chuvosos, de dezembro/2019-
março/2020, novembro/2020-março/2021 e novembro/2021-
fevereiro/2022, todos os valores de Al dissolvido para todos os 5
pontos apresentados foram acima do limite de 0,1 mg/L (Classe 2,
COPAM DN 01/2008). Alguns dos valores mais elevados foram (Figura
03A): 0,72 mg/L em BP072 (Betim/Juatuba), 0,59 mg/L em BPE2
(Brumadinho, 20 km a jusante da barragem) e 0,58 mg/L em BP070
(São Joaquim de Bicas).
Já nos dois períodos secos, abril/2020-outubro/2020 e
abril/2021-setembro/2021, os dados de Al dissolvido oscilaram
próximos ao limite de 0,1 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008),
variando entre 0,03 e 0,16 mg/L. Esses valores de Al dissolvido no
período seco são consideravelmente menores do que aqueles
apresentados no período chuvoso.
Por conseguinte, o período chuvoso apresenta maiores riscos
de contaminação e ingestão de água com teores elevados de Al pela
população na bacia do Rio Paraopeba. O Al apresenta efeitos
toxicológicos adversos tanto para os organismos aquáticos quanto
para o ser humano que utiliza das águas (BECARIA, CAMPBELL,
BONDY, 2002). Inclusive, ingestão prolongada de águas contendo
elevados teores de Al têm sido apontado como uma das causas para o
desenvolvimento de doenças neurais e relacionadas ao Alzheimer
(FLATEN, 2001). Sendo assim, maiores cuidados devem ser tomados
sobretudo nas épocas de alta pluviosidade para evitar utilização e
ingestão de águas nos municípios que utilizam das águas do Rio
Paraopeba.

Ferro dissolvido (mg/L)

O ferro é o principal componente no rejeito de minério


advindo do rompimento da barragem do complexo da Mina do
Córrego Feijão. Portanto, é de grande importância monitorar os
valores de ferro presente nas águas do Rio Paraopeba. Referente aos
valores máximos históricos de 2000 a 2018 e aos valores máximos de
até 60 dias após o rompimento da barragem, é possível observar que
para os dois casos os valores de Fe dissolvido em água estão acima
dos limites legais de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008) para
todos os 5 pontos apresentados (BP036, BPE2, BP068, BP070, BP072).
Considerando o valor máximo legalmente permitido de 0,3
mg/L, nos 60 dias que sucederam o rompimento da barragem, os

255
valores de Fe em água aumentaram de 4, 4, 5 e 4 vezes,
respectivamente para os pontos BPE2 (Brumadinho, jusante da
barragem), BP068 (Mário Campos), BP070 (São Joaquim de Bicas) e
BP072 (Betim/Juatuba). O valor mais alto atingido nos 60 dias após o
rompimento da barragem foi de 1,55 mg/L de Fe dissolvido no ponto
BP070 (São Joaquim de Bicas). De forma similar ao alumínio,
manganês e outros elementos, o ferro dissolvido em água apresenta
clara sazonalidade para o período seco e chuvoso (Figura 03B), para o
período de monitoramento mensal contínuo pelo IGAM (Boletim
Informativo).
Nos três períodos chuvosos, de dezembro/2019-março/2020,
novembro/2020-março/2021 e novembro/2021-fevereiro/2022, todos os
valores de Fe dissolvido para todos os 5 pontos apresentados ficaram
acima do limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008), conforme
evidenciado na Figura 03B. Alguns dos valores mais elevados foram:
1,00 mg/L em BP068 (Mário Campos), 0,91 mg/L em BP072
(Betim/Juatuba), 0,83 mg/L em BP070 (São Joaquim de Bicas).
Para os dois períodos secos, abril/2020-outubro/2020 e
abril/2021-setembro/2021, os dados de Fe dissolvido se encontraram
em grande parte acima do limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN
01/2008), com apenas 3 ou 4 meses com valores abaixo desse limite,
por exemplo, 0,03 mg/L tanto em agosto/2020 quanto em agosto/2021
para ambos os pontos BP070 (São Joaquim de Bicas) e BP072
(Betim/Juatuba). De forma geral, os valores de ferro dissolvido são
consideravelmente elevados durante o período chuvoso, e
ultrapassam o limite estabelecido por lei (0,3 mg/L) em alguns dos
meses do período seco. Sendo assim, o Fe dissolvido é um elemento
que dever ser realizado um constante monitoramento nos corpos
d’água do Rio Paraopeba para os próximos meses e anos.
Apesar do ferro ser o quarto elemento mais comum na crosta
Terrestre e estar presente em abundância na maioria dos solos no
território brasileiro, concentrações elevadas de Fe dissolvido em água
podem causar problemas ambientais e de saúde para humanos e
demais organismos. Quando os teores de Fe dissolvido em água
ultrapassam o limite de 0,3 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008), que é
o padrão de potabilidade da água para abastecimento público,
problemas relacionados podem ocorrer como o sabor de ferrugem na
água e o crescimento de ferrobactérias que podem induzir problemas
de saúde quando da ingestão da água (NASCIMENTO & BARBOSA,
2005). Quando ingerido por organismos, elevados teores de Fe

256
ocasionam a formação de radicais livres que podem ser carcinogênicos
(BATISTA-GALLEP, 2018).

Manganês total (mg/L)

Manganês (Mn) é outro importante componente do rejeito


de minério proveniente do rompimento da barragem, e merece
considerável atenção quanto às concentrações de Mn em água e
possíveis efeitos nocivos aos organismos e ao ecossistema da Bacia do
Rio Paraopeba. Conforme demonstrado na Figura 03B (dados
plotados a partir do Boletim do IGAM), fica evidente a presença de
elevados valores de Mn contidos na série de dados para os valores
máximos históricos de 2000 a 2018 e para os valores máximos de até
60 dias após o rompimento da barragem. Sendo que todos os valores
de Mn total em água estão acima dos limites legais de 0,1 mg/L (Classe
2, COPAM DN 01/2008) para todos os 5 pontos apresentados (BP036,
BPE2, BP068, BP070, BP072).
Sendo importante ressaltar que nos 60 dias após o
rompimento da barragem, os valores de Mn total foram de 191, 463,
248 e 103 vezes maiores que limite legal (0,1 mg/L) para os pontos
BPE2 (Brumadinho, jusante da barragem), BP068 (Mário Campos),
BP070 (São Joaquim de Bicas) e BP072 (Betim/Juatuba),
respectivamente. O que demonstra valores extremamente altos e
apontam uma preocupação ambiental considerável com a qualidade
das águas na região e possíveis efeitos deletérios advindos dos altos
teores de manganês em água.
A sazonalidade da precipitação incide diretamente na
variação das concentrações de Mn total em água (Figuras 3C e 3D).
Para a série de dados contínuos do IGAM (de dezembro/2019 a
fevereiro/2022), durante os três períodos chuvosos (2019/2020,
2020/2021 e 2021/2022), os valores de Mn foram todos acima do limite
de 0,1 mg/L (Classe 2, COPAM DN 01/2008) para todos os 5 pontos
apresentados. De forma surpreendente, os valores de Mn total em
água também foram consideravelmente elevados como, chegando a
12,26 mg/L em BP072 (Betim/Juatuba), 7,55 mg/L em BP068 (Mário
Campos) e 7,04 mg/L em BP070 (São Joaquim de Bicas), em jan/2020
(Figuras 3C e 3D).
No ano de 2020, fica evidente que apenas no mês de agosto
os valores foram menores que o limite de 0,1 mg/L (Classe 2, COPAM
2008), para os municípios de Brumadinho, Mário Campos, São

257
Joaquim de Bicas, Betim e Juatuba. Em 2021, os valores de Mn foram
menores que o limite nos meses de maio até agosto, exceto valores
acima do limite em junho/2021 para Mário Campos, São Joaquim de
Bicas e Brumadinho.
Portanto, similar ao ferro, os teores de Mn em água são
consideravelmente preocupantes tanto no período chuvoso quanto
no período seco. Por conseguinte, o constante monitoramento da
qualidade da água deve ser cuidadoso para o Mn. Altas concentrações
de Mn em água (acima do limite de 0,1 mg/L) podem causar graves
danos eco-toxicológicos, tendo potencial de contaminação para
espécies aquáticas, causar efeitos adversos à saúde, como distúrbio
neurodegenerativo, toxicidade cardiovascular e lesão hepática
(QUEIROZ et al., 2021; GABRIEL et al., 2020).

Chumbo total (mg/L)

O chumbo é um elemento traço potencialmente tóxico


presente no rejeito de minério de ferro advindo do rompimento da
barragem de Brumadinho. Concentrações elevadas de Pb são
preocupantes, pois mesmo tendo concentrações baixas (comparado a
Al, Fe e Mn) podem causar problemas ambientais e de saúde severos.
Os dados do Boletim do IGAM de Chumbo total apresentam
valores elevados para os máximos históricos de 2000 a 2018 e muito
elevados para os valores máximos de até 60 dias após o rompimento
da barragem. Todos os valores nessas duas séries (histórica e 60 dias
após o rompimento) para Pb estão acima dos limites legais (Classe 2,
COPAM DN 01/2008) para todos os 5 pontos apresentados, sendo 0,01
mg/L para Pb.
Nos 60 dias após o rompimento da barragem, os valores de
Pb total aumentaram na ordem de magnitude de 7, 15, 9 e 4 vezes
maior que limite legal (0,01 mg/L), para os pontos BPE2 (Brumadinho,
montante da barragem), BP068 (Mário Campos), BP070 (São Joaquim
de Bicas) e BP072 (Betim/Juatuba), respectivamente. Logo, os teores
de Pb nos 60 dias após o rompimento da barragem são
preocupantemente altos.
Após o rompimento, a série de dados contínuos do IGAM
(Figura 03E) mostram efeitos claros da sazonalidade para os teores de
Pb total em água. No período chuvoso, por exemplo em janeiro/2020,
os valores de Pb chegaram a 0,042 mg/L em BP072 (Betim/Juatuba),
0,040 mg/L em BPE2 (Brumadinho, jusante da barragem), 0,031 mg/L

258
em BP070 (São Joaquim de Bicas), e 0,021 mg/L em BP068 (Mário
Campos). Em ambos os períodos de seca para 2020 e 2021, os valores
de Pb total em água, decresceram para valores abaixo do limite legal
de 0,01 mg/L (Figura 03E).
Em humanos a alta exposição ao chumbo pode gerar
distúrbios gastrointestinais, neuromusculares e no Sistema Nervoso
Central (SNC), além de alterar a pressão arterial e afetar
negativamente o fígado, o sistema renal e a biossíntese da heme
(JACOB et al., 2002). Em plantas, altas concentrações de chumbo
desfavorecem o desenvolvimento, induzem ao escurecimento do
sistema radicular, inibição da fotossíntese, alteração da nutrição
mineral e do balanço hídrico, modificação do estado hormonal e
modificações na membrana (SHARMA & DUBEY, 2005).

Turbidez (NTU)

A turbidez é um parâmetro de qualidade de água muito


importante, pois fornece dados quantitativos das alterações da cor e
presença de sólidos suspensos e dissolvidos em água, contribuindo
para identificação de potencial poluição das águas. Após o
rompimento da barragem do complexo da Mina Córrego Feijão foram
observados elevados valores máximos de turbidez de 60 dias após o
rompimento, aspecto também detectado na séria histórica (2000-
2018) de valores máximos (Figura 03F e 03G).
Nos 60 dias pós-rompimento, os valores de turbidez foram
extremamente altos, ultrapassando os limites legais de 100 NTU para
todos os pontos de amostragem em destaque: 439 NTU em BPE2
(Brumadinho, montante da barragem), 30240 NTU em BPE2
(Brumadinho, jusante da barragem), 34500 NTU em BP068 (Mário
Campos), 18588 NTU em BP070 (São Joaquim de Bicas) e 17148 NTU
em BP072 (Betim/Juatuba). Após o rompimento, ao analisar a série de
dados contínuos do IGAM (Figura 03F) é evidente o efeito da
sazonalidade na turbidez da água amostrada do Rio Paraopeba.
No período chuvoso a turbidez aumenta consideravelmente.
Por exemplo em janeiro/2020, os valores de turbidez chegaram a 2498
NTU em BP072 (Betim/Juatuba), 1856 NTU em BP070 (São Joaquim de
Bicas), 738 NTU em BP068 (Mário Campos), e 718 NTU em BPE2
(Brumadinho, jusante da barragem) (Figura 03F e 03G). Dados bem
recentes, de dezembro de 2021 (boletim do IGAM), demonstram um
aumento preocupante da turbidez chegando a 1400 NTU em BP070

259
(São Joaquim de Bicas), o que corresponde a um aumento de 14 vezes
o valor máximo de turbidez permitido pela COPAM (2008). Ademais,
em ambos os períodos de seca para 2020 e 2021, os valores de
turbidez ficaram abaixo do limite legal de 100 NTU (Figura 03F e 03G).
A turbidez é um importante parâmetro de qualidade
ambiental e utilizado como métrica para obter o computar o IQA
(Índice de Qualidade da Água) (CETESB, 2019). A turbidez
evidentemente elevada no Rio Paraopeba após o rompimento da
barragem de rejeitos evidencia o carreamento e suspensão de
partículas ao longo do Rio Paraopeba. Além do rejeito da barragem, a
turbidez também é influenciada pelos processos erosivos na bacia
hidrográfica, os períodos chuvosos com maior escoamento superficial
e carreamento de partículas, e outras atividades industriais e agrícolas
presentes. Sendo assim a turbidez é um parâmetro de grande
importância para monitoramento ambiental das águas do Rio
Paraopeba e deve ser realizado de forma constante.

Figura 03 - Valores de elementos e turbidez em água para o Rio Paraopeba:


(A) Alumínio dissolvido (mg/L); (B) Ferro dissolvido (mg/L); (C) Manganês total
(mg/L); (D) Zoom no eixo-Y para Mn; (E) Chumbo total (mg/L); (F) Zoom no
eixo-Y para Pb; (G) Turbidez (NTU). Da esquerda para a direita: Série histórica
com dados máximos de para os anos de 2000 a 2018 (precedente ao desastre),
data do rompimento da barragem, série emergencial até 60 dias após o
rompimento da barragem em Brumadinho, série contínua de dados obtidos
do Boletim informativo do IGAM (pontos: BP036, BPE2, BP068, BP070,
BP072). Barras azuis representam a precipitação média mensal, com eixo-Y à
direita. Fonte dos dados: Boletim informativo do IGAM (2019-2022).

260
261
Liberação de metais para o meio aquoso por redução dissolutiva do
ferro no rejeito

O rejeito de minério de Fe advindo da barragem de


Brumadinho, que impactou o Rio Paraopeba, é composto
predominantemente de óxidos de Fe, os quais são sensíveis às

262
alterações de oxirredução do ambiente ocasionadas por aumento da
umidade do solo e sedimentos, sobretudo na época chuvosa
(BARCELLOS et al., 2022). Alterações do ambiente para uma condição
mais redutora (solos mais úmidos ou encharcados pela ação das
chuvas), podem causam alterações nos ciclos biogeoquímicos do Fe e
favorecer a redução de FeIII à FeII (BARCELLOS et al., 2018), o que
favorece à liberação de metais traço retidos e oclusos no rejeito de
minério (podendo tornar-se biodisponíveis). O manganês é um
elemento que também pode ter alterações de valência (MnII, MnIII e
MnIV) de acordo com as condições de oxirredução do ambiente, tendo
comportamento similar ao Fe em ambientes geoquímicos de
oxirredução (KEILUWEIT et al., 2015).
Os gráficos dos elementos apresentados (Al, Fe, Mn e Pb) a
partir dos dados do IGAM, mostram claramente o aumento dos teores
desses elementos no período chuvoso, dado que o Fe é principal
elemento que compõe o rejeito de minério depositado no Rio
Paraopeba, e que no período chuvoso pode ocorrer a redução
dissolutiva dos minerais de Fe e liberação de metais associados ao
ecossistema aquático. Ademais, ficou evidente que mesmo no período
das secas, as concentrações dos elementos apresentados podem ficar
acima dos limites estabelecidos por lei e, portanto, também causar
problemas adversos para o ambiente e organismos que irão ingerir
água.

Projeções para efeitos da sazonalidade em metais das águas do Rio


Paraopeba

Projeções e modelagem de dados são técnicas importantes


para prever possíveis condições de contaminação prolongadas, como
o que ocorreu com os municípios em estudo da Bacia do Paraopeba.
Em um problema ambiental correlato, com os rejeitos de minério de
ferro advindos da barragem de Fundão (em Mariana, MG), um estudo
recente no estuário do Rio Doce, demonstrou que a dinâmica de
liberação de metais retidos nos óxidos de Fe do rejeito para o meio
aquoso (metais biodisponíveis) é bastante rápida (BARCELLOS et al.,
2022). Nesse trabalho, foi realizada uma projeção de quanto tempo
(“residence time”) levaria para que metais potencialmente tóxicos que
estavam associados ao rejeito seriam liberados para o meio aquoso.
Foi observado que alguns metais seriam liberados em várias semanas
(como 22 dias para Mn) e outros vários meses (132 dias para Cr)
(BARCELLOS et al., 2022). Devido às enchentes na estação chuvosa

263
que carreiam mais rejeitos advindos de áreas à montante da bacia do
Rio Doce, esses processos biogeoquímicos de liberação de metais
podem ser retroalimentados e gerar contaminação continuada para as
populações afetadas.
Foram realizadas projeções/modelagens para cada elemento
nas águas superficiais utilizando as médias para os três períodos
chuvosos: de dezembro/2019-março/2020, novembro/2020-março/2021
e novembro/2021-fevereiro/2022. Na Tabela 03 são apresentadas as
projeções/modelagens com equações que apresentavam melhor
“fitting” (R2) quando utilizados os valores dos três períodos chuvosos.
Foram estimados quantos anos durariam até que os teores dos
elementos voltassem aos limites basais estabelecidos pelas normas
ambientais (nesse caso, Classe 2 da COPAM DN 01/2008).
É possível observar que existe uma elevada probabilidade de
que os teores de alguns elementos químicos em água (como Al, Fe,
Mn e Pb) permanecem em concentrações acima dos VMP por mais
alguns anos (Figura 4A até D). Por exemplo, o problema de teores
elevados de Al e Mn deve perdurar até 2026, de Pb até 2024, e de Fe
até 2023. A modelagem para a turbidez não atingiu um R2 satisfatório
(de 0,4517, o que é bem baixo), e, portanto, não é possível realizar
conclusões referentes às previsões para esses parâmetros.
Recomenda-se a coleta de dados de turbidez por mais tempo para
obter uma projeção mais acurada. Considerando então os parâmetros
que apresentaram R2 elevados (sobretudo para Al, Fe e Mn, com R2 >
0,90), podemos afirmar que a contaminação na região 02 do Rio
Paraopeba pode perdurar até 2026 no período chuvoso (outubro-
março).
Ademais, os resultados apresentados nas figuras e tabelas
reforçam a recomendação de que o IGAM e demais entidades públicas
e privadas devem continuar o monitoramento da qualidade das águas
superficiais por pelo menos mais 5 anos. As equações de modelagem
na Tabela 03 podem ser retroalimentadas com novos dados e então
favorecer uma melhor predição dos efeitos crônicos dos
contaminantes.

264
Tabela 03 - Parâmetros de qualidade de água analisados para águas
superficiais do Rio Paraopeba (IGAM, 2022). Foram realizadas
projeções/modelagem com equações que apresentavam melhor “fitting” (R2).
Foram estimados o tempo (em anos) até que os teores dos elementos
voltassem aos limites basais estabelecidos pelas normas ambientais
(COPAM, 2008)

Figura 4 - Efeito da sazonalidade para (A) alumínio dissolvido, (B) ferro


dissolvido, (C) manganês total, e (D) chumbo total nas águas do Rio
Paraopeba. Cada barra representa a média das concentrações do elemento
dos 4 pontos amostrados do IGAM (BPE2, BP068, BP070, BP072), que foram
agrupados entre o período seco (abril a setembro) e chuvoso (outubro a
março) de cada ano (2019, 2020 e 2021). Projeções/modelagens foram
realizadas somente com dados do período chuvoso, com equações que
apresentavam melhor “fitting” (R2).
Dados do Boletim Informativo do IGAM (2022).

(A)

265
(B)

(C)

266
(D)

Conclusões

A partir da análise de dados obtidos no boletim informativo


do IGAM (Instituto Mineiro para Gestão das Águas) para bacia do Rio
Paraopeba, foi possível observar um aumento considerável dos teores
de metais no período chuvoso, comparado ao período seco, desde o
rompimento da barragem (janeiro de 2019) até fevereiro de 2022.
No período chuvoso foi observado nas águas superficiais um
aumento da turbidez em mais de 25 vezes e a elevação da
concentração de elementos químicos, que em alguns casos aumentou
em até quatro vezes para chumbo, duas vezes para cobre, três vezes
para ferro, mais de 120 vezes para o manganês, tendo como referência
os limites máximos estabelecidos pela Deliberação Normativa COPAM
nº 01/2008, para águas superficiais. Sendo assim, foi observado um
efeito direto da sazonalidade (variação da precipitação anual) nos
parâmetros analisados, demonstrando que maiores cuidados devem
ser tomados sobretudo no período chuvoso para evitar o uso da água,
que podem ter elevados teores de metais potencialmente tóxicos
como Al, Fe, Mn, Pb e outros.
Tendo em vista, a possibilidade de novos rompimentos de
outras 126 barragens no Brasil contendo rejeitos de minério de ferro,
algumas delas em iminência de colapso, é imperativo divulgar os
impactos advindos dos desastres de rompimentos de barragens de
minério, para pavimentar ações mitigadoras junto aos órgãos e
agências reguladoras.

267
Referências

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202.

270
A Comunidade Cigana Calon no Sertão da Paraíba
no contexto da civilização capitalista: um estudo
socioambiental pela perspectiva da Ecologia
Política Latino-americana
Luan Gomes dos Santos de Oliveira

10.47247/GC/88471.57.9.15

271
Introdução

O século XXI abriu as portas para os estudos da cotidianidade,


daqui que é tratado de forma residual, marginal e que é tornado
invisível propositalmente na produção e reprodução das relações
sociais contemporâneas. No Sul Global emergem diversas
epistemologias sociais-críticas, acionadas para à construção de
projetos éticos políticos, que acompanham os conhecimentos, os
saberes do povo simples. É nesse contexto que a Sociologia
Martiniana se tornou uma possível chave de leitura para compreender
a complexidade da vida cotidiana da Comunidade Cigana Calon no
território do sertão da Paraíba, incluindo os aspectos epistemológicos
da ecologia política e do ecofeminismo. Isso pode ser ampliado e
complementado a partir de Soto (2016, p. 1059) que do ponto de vista
teórico-metodológico:

[...] ele propõe uma nova sociologia chamando a atenção para


o que está no limite e à margem, como possibilidade explicativa
das contradições da sociedade brasileira. O que está à margem,
no limite, é o método explicitado e teorizado por Martins. Por
isso, durante muito tempo, em sua trajetória, dedicou-se a
estudar as particularidades do rural, do drama das populações
na fronteira entre a tradição e modernidade. Tomar o que está
à margem como princípio metodológico é um traço marcante
de sua sociologia.

É no campo epistemológico da sociologia de Martins que


enquanto tema de estudo a Comunidade Cigana Calon, no Sertão da
Paraíba é tradado. Uma população tradicional, que vive nas fronteiras
entre o rural e o urbano, porém afetada por tantos conflitos de ordem
social, política, ambiental. Investigar o modo como o território e as
territorialidades em tensão se inscrevem por uma lente sociológica,
tomando como marcadores sociais, o gênero, a etnia/raça, podem
colaborar numa compreensão em que o todo seja o horizonte. A
fronteira é uma categoria sociológica que revela os contextos dos
conflitos socioambientais internos e externos a comunidade cigana
Calon. Dessa forma,

O que há de sociologicamente mais relevante para caracterizar


e definir a fronteira no Brasil é, justamente, a situação de
conflito social. E esse é, certamente, o aspecto mais
negligenciado entre os pesquisadores que tentando conceituá-
la. Na minha interpretação, nesse conflito, a fronteira é

272
essencialmente o lugar da alteridade. É isso o que faz dela uma
realidade singular. À primeira vista é o lugar do encontro dos
que por diferentes razões são diferentes entre si, como índios
de um lado e os ditos civilizados de outro; como os grandes
proprietários de terra, de um lado, e os camponeses pobres, de
outro. Mas o conflito faz com que a fronteira seja
essencialmente, a um só tempo, um lugar de descoberta do
outro e de desencontro. Não só o desencontro e o conflito
decorrentes das diferentes concepções de vida e visões de
mundo de cada um desses grupos humanos. O desencontro na
fronteira é o desencontro de temporalidades históricas, pois
cada um desses grupos está situado diversamente no tempo da
história (MARTINS, 2019, p. 133).

Com isso, esta proposta de pesquisa doutoral tem como


problema central compreender a emergência do protagonismo
feminino na Comunidade Cigana Calon no município de Sousa/PB,
região do sertão paraibano, por meios de um estudo da equidade de
gênero em conexão com aspectos interseccionais de etnia-classe-
ancestralidade em chave ecofeminista. Parte-se da matriz
epistemológica, política e ecológica de estudos sociológicos com
ciganos e ciganas (BATISTA, 2017, 2018; GOLDFARB, 2004, 2010, 2018;
CUNHA, 2018, SIQUEIRA, 2012), e a perspectiva do ecofeminismo
(SHIVA, 1988, 1989, 1993, 2003; GARCIA, 2017; SVAMPA, 2019). A
pesquisa é de natureza qualitativa baseada em roteiros de entrevista e
etnografias a partir de uma sociologia da vida cotidiana (MARTINS,
2020).
Para a historiadora estadunidense Joan Scott (1990), a
palavra “gênero” é enunciada pelo feminismo acadêmico com a
finalidade de descrever o mecanismo por meio do qual a relação entre
os sexos é socialmente organizada, demonstrando a base
sociocultural sobre a qual se assentam as distinções entre sujeitos
sociais.
A principal motivação desta pesquisa radica em realizar uma
leitura sociológica, de gênero, interseccional e ecofeminista de
processos sociais específicos da Comunidade Cigana Calon em
Sousa/PB, no Sertão da Paraíba, vinculando o protagonismo feminino
e as maneiras de cuidar dentro da comunidade a uma relação
específica com o ambiente circundante na contemporaneidade.
Nas pesquisas existentes, as/os calons em Sousa/PB passam
por um processo de invisibilidade histórica, situando-se a margem da

273
vida da cidade, marcados pelo preconceito e anticiganismo, o que
implica diretamente na fragilidade de promoção de políticas públicas e
sociais na própria comunidade. Isso é embasado no fato d A
população cigana ainda é estigmatizada como um povo “sujo”,
esperto, ladrão: essas representações convivem na cultura da cidade
de Sousa/PB e dificultam o acesso ao livre direito à própria cultura e
território.
As categorias analíticas com as quais pretendo trabalhar são:
sociologia do cotidiano, ecofeminismo, etnicidade, gênero e ecologia
política, território e territorialidades e racismo ambiental. Essas
categorias sócio-históricas estão apoiadas em experiências e vivências
afetivas e políticas prévias vivenciadas junto à comunidade cigana
Calon desde o ano de 2019 no projeto Lutas socioterritoriais e políticas
públicas no território cigano calon sousense e organização de uma live
no mês de outubro de 2020 tematizando o protagonismo das
mulheres Calon na Paraíba.
A partir destas incursões analíticas, foi possível notar que um
dos obstáculos principais que perpassa as lutas socioterritoriais do
povo cigano Calon é o anticiganismo, uma das expressões do racismo
ambiental que atravessa o modo como a sociedade ainda percebe as
ciganas. É na cidade de Sousa/PB que se encontra uma das maiores
partes da população cigana no Brasil. A comunidade, com
aproximadamente três mil habitantes, é constituída por três grupos
que estão situados territorialmente próximos à BR 230, a 3 km do
centro do município, na periferia da cidade, próximos à sede do
Instituto Federal de Educação e Tecnologia da Paraíba/IFPB.
Há 40 anos aproximadamente, desde a década de 1980, esses
grupos passaram a se sedentarizar no território da cidade, atuando
desde ali na construção política e identitária de seu território. É
fundamental aprimorar o conhecimento sobre essa comunidade para
construir um corpus consistente, localizado e atualizado que possa
informar políticas por parte do poder público da região, do Estado e
da esfera federal. O presente projeto propõe a concretização de
estudos que reconheçam a responsabilidade de estar em coletivo
produzindo políticas públicas com e para os/as ciganas/os, seja no
âmbito da Saúde, Meio Ambiente, Assistência Social, Educação ou
Cultura.
Então, como pautar o protagonismo feminino como um
problematizador das relações de gênero no cotidiano da comunidade

274
cigana Calon no Sertão da Paraíba, incluindo os marcadores sociais de
diferença, gênero – classe – etnia - território pelas lentes da sociologia
da vida cotidiana, da ecologia política e do ecofeminismo?
Tendo como objetivo principal compreender como o
protagonismo feminino e a equidade de gênero incidem na percepção
e organização do território a partir de uma leitura crítica e
ecofeminista das relações de gênero acompanhada dos marcadores
sociais de diferença de classe, etnia e ancestralidade na vida cotidiana
da Comunidade Cigana Calon, no contexto do alto sertão da Paraíba.
Assim numa via de complementaridade, a ecologia política latino-
americana feminista a partir do pensamento de Maristella Svampa
(2019) como um projeto de sociedade mundo, de sociedade em
movimento que questiona o extrativismo dos recursos naturais
associado ao patriarcado.

Metodologia

Foi a campo ouvir, aprender e anotar, ainda que viver (e


pesquisar) seja muito perigoso...José de Souza Martins
Esta pesquisa terá como lócus a Comunidade Calon,
pertencente ao Município de Sousa/PB, região do Alto Sertão
paraibano, construída pelas histórias, memórias coletivas e ativismos
políticos em um tempo de protagonismo feminino. Em virtude do
atributo qualitativo (MINAYO, 2001) dessa pesquisa objetiva-se
compreender de que modo o protagonismo feminino entendido nas
categorias de análise conectadas em gênero-raça-etnia-classe-
ancestralidade-meio ambiente repercutem nas relações de gênero que
constituem a comunidade cigana Calon.
Tendo em vista que o contexto da pandemia COVID 19 não
permite a pesquisa “in loco”, dadas as recomendações de isolamento
e distanciamento social orientadas pela Organização Mundial de
Saúde (esta pesquisa está condicionada a vontade dos sujeitos em
participar da pesquisa voluntariamente, com direito a esclarecimento
sobre o estudo e aceitação prévia com assinatura do Termo de Livre
consentimento para a pesquisa e aprovação no Comitê de Ética e
Pesquisa local da Universidade.
Como estratégia de pesquisa em termos de método optou-se
pelo artesanato intelectual de ideias orientado pela perspectiva crítica
da Sociologia da Vida Cotidiana (MARTINS, 2020) e pela imaginação

275
sociológica (MILLS, 2009), o que não significa impor um ponto de vista
científico à Comunidade Cigana Calon, mas tratá-la como sujeito de
suas próprias histórias, dar visibilidade aos saberes e práticas diversas,
tendo por base um princípio metodológico a compreensão as relações
de gênero desde uma perspectiva ecofeminista que inclui a
complementaridade entre saberes científicos e saberes ancestrais-
territoriais. Tendo exposto isso, cabe saber que, esse protagonismo
feminino não pode ser lido como um fenômeno a parte da vida
cotidiana da comunidade cigana. Dessa maneira, pode se apresentar
como se dará o ciclo desta pesquisa, orientando por uma lógica de
planejamento aberto e pautada na aceitabilidade dos interlocutores.
Os procedimentos de elaboração teórica e metodológica da
sociologia da vida cotidiana orientada pelo artesanato intelectual e o
exercício da imaginação sociológica serão acompanhados por alguns
princípios epistemológica de método: 1 – Consciência dialógica entre
observador-observado; 2 – Estar pronto a ouvir; 3 – A atenção social,
como processo histórico; 4 – Pôr a história no cotidiano; 5 – A escrita
rigorosa, histórica e criativa. Essas perguntas estarão associadas a
construção de um artesanato intelectual, que é guiado por um
conjunto de procedimentos metodológicos tão caros a pesquisa de
base etnográfica. Logo,

Nesse sentido, o artesanato intelectual, na Sociologia, é bem


mais do que um elenco de técnicas de investigação baratas. É,
sobretudo, uma visão da Sociologia através de uma visão de
mundo. É expressão de uma concepção do outro e muito mais
do que instrumento de uma conversa com o outro. É uma
conversa com a humanidade do outro que resulta na definição
da humanidade do próprio sociólogo. Quem resiste ao assédio
transformador do real sucumbe, como sucumbe sua Sociologia
na indigência dos subsignificados, subinterpretações, das
fantasias anticientíficas que podem ser bonitinhas, mas são
ordinárias. O artesanato intelectual é mais do que a meta
técnica de obtenção de dados. Não é uma técnica, é uma troca.
Não há como utilizar o artesanato sem dar algo em troca do se
recebe. No artesanato, o observador é observado, o decifrador
é decifrado. Sem o que não há interação. Sem interação não há
como situar e compreender; situar-se e compreender-se no
outro (MARTINS, 2020, p. 34).

Como instrumentos para a construção da pesquisa tem-se: 1 –


Aproximação da Comunidade Cigana ou liderança em Sousa/PB; 2 –
Mapeamento e identificação das lideranças masculinas e femininas, 3 –

276
Construção de um diário de pesquisa teórico-metodológico para
subsidiar a construção do artesanato intelectual; 4 – Construção de
roteiros de entrevistas e escrita da tese.
Além disso, poderá se fazer uso de fontes documentais,
fotográficas, áudio-visuais que relatem o contexto da vida cotidiana do
povo cigano e do protagonismo feminino pela ecologia política. Pois,
“[...] é nos resíduos sociológicos desse peneiramento que está a
riqueza da informação visual e que estão os desafios da fotografia às
ciências sociais (MARTINS, 2017, p.11).

Resultados

A problematização de como se materializa no cotidiano o


protagonismo feminino na comunidade cigana Calon do Sertão da
Paraíba é um espaço favorável para uma leitura via ecologia política
feminista e Sociologia da Vida Cotidiana. Dessa forma, a base
epistemológica em que se sustenta a ideia de ecologia política
feminista como um projeto de sociedade mundo, ou de sociedade em
movimento é marcada pelo protagonismo de mulheres no Sul global
no engajamento das lutas socioambientais e na produção de
conhecimentos.
Essa informação tem sido ao longo dos anos marginalizada,
em virtude de uma narrativa hegemônica que situou as mulheres
como um elemento residual, ínfimo, simples. São as vozes delas que
de certa maneira se destacam neste trabalho, mas não são vozes que
se encerram em si mesmas, apontam as desigualdades entre os
gêneros e abrem um caminho de contestação do patriarcado que
oprime mulheres e homens.
Parte-se de uma compreensão da comunidade cigana e dos
corpos das mulheres ciganas como territórios vivos de apropriação
material e simbólica (SANTOS, 2005). No território que implica na vida
cotidiana do povo cigano, as territorialidades são produzidas pelos
diversos atores sociais, desde a comunidade cigana, homens,
mulheres, crianças, idosos, Estado, empresários. Diante disso, é
necessário “visualizar o posicionamento dos diferentes atores em
conflito e, a partir desse posicionamento, analisar as dinâmicas sociais
e políticas” (SVAMPA, 2019, p. 55).
A ecologia política latino-americana expõe que a raiz que
funda a sociedade capitalista, patriarcal, neoextrativista é a

277
colonialidade do poder, processo apontado por Quijano (2005). Assim
o território é um espaço de produção de saberes e de res-existência
(PORTO GONÇALVES, 2011) isto é, é preciso incluir na análise dos
conflitos socioambientais a diversidade territorialidades que se
expressam em diferentes lógicas e racionalidades que distinguem
valores e éticas. Essa ecologia política crítica toma como um dos eixos
de análise a perspectiva do ecologismo dos pobres (ALIER, 2018) que
expõe no marco das lutas socioambientais o protagonismo de
comunidades e grupos sociais subalternizados frente a lógica de
mercantilização da vida. Para tanto, requer-se observar isso no plano
de uma análise sociológica da comunidade cigana Calon, no sentido de
que vários conflitos socioambientais dinamizam com tensões a vida
cotidiana. Tais conflitos socioambientais são entendidos como:
“Aqueles ligados ao acesso e ao controle dos bens naturais e do
território, que confrontam interesses e valores divergentes por parte
dos agentes envolvidos, em um contexto de grande assimetria de
poder. Tais conflitos expressam diferentes concepções do território,
da natureza e do ambiente” (SVAMPA, 2019, p. 46).
Nesse sentido, cabe apontar os conflitos socioambientais que
atingem diretamente a comunidade cigana calon no sertão da Paraíba,
desde o racismo ambiental, uma vez que a comunidade foi segregada
espacialmente e territorialmente da cidade, vivendo em uma fronteira,
que os marca negativamente como um povo perigoso, sujo. Outro
conflito socioambiental são as condições desiguais de acesso a água
potável, a moradia, acesso aos programas sociais e políticas sociais.
Além disso, outro processo de conflito socioambiental
emergiu nos últimos anos, a desapropriação das terras em que estão
assentados há 30 (trinta anos), algo exigido por empresários do sertão
que as querem para especulação imobiliária, desrespeitando todo um
processo histórico, político, social, territorial que funda a existência
material e simbólica da cotidianidade cigana. Sem essas terras as suas
vidas estarão comprometidas. Como resposta a isso, há em curso na
comunidade um protagonismo feminino cigano. Esta fronteira é
paradoxal na constituição do território e das territorialidades que
semeiam espaços de protagonismo feminino.
Este protagonismo feminino, que marca o surgimento de
lideranças femininas jovens é uma informação de pesquisa, pois as
mulheres desde filhas, solteiras, casadas se organizam para lutar por
suas terras, viajam para encontros de articulação do povo cigano, e
defendem acesso igualitário a água enquanto um direito no sertão.

278
Tento em vista que o território do sertão sofre com a particularidade
das secas, enquanto um fenômeno político, não apenas climático,
ocorrendo um processo de injustiça ambiental, de distribuição
desigual da água, em que já ocorreram furtos de água denunciados
pela mídia local e nacional, por empresários da água e do ramo
monocultura do coqueiro.
A vida cotidiana da civilização capitalista ocidental está
assentada num modo de viver predatório. Essa degradação se
materializou de maneira mais visível no que se convencionou chamar
de natureza, como um objeto, uma mercadoria exterior e submetida a
uma lógica de dominação pelos humanos. No entanto, é preciso
distinguir que nessa relação sociedade e natureza, há outros aspectos
que ficaram escamoteados pelas etnografias clássicas, que são os
marcadores sociais de diferença gênero-etnia-raça-classe-
ancestralidade, tomando como território de vida, de resistência e de
lutas o meio ambiente, um meio de vida (SANTOS, 1995).
É certo que ao retomar a epígrafe, a pauta que se configura
como um cenário epistemológico inicial é a equidade de gênero. É
bem notório que na história do mundo moderno o feminismo avançou
muito como um movimento político-teórico que trouxe para a vida
diária a conquista de direitos por parte das mulheres, assim como
trouxe para o centro da batalha de ideias a necessidade de se debater
gênero enquanto uma ferramenta analítica (SCOTT, 1990) que
perpassa e estrutura as sociabilidades no mundo contemporâneo.
Além disso, reconhece-se que aliado a hierarquização dos
sexos, reforça-se uma base paradigmática em que se assenta a
civilização capitalista como bem defende Immanuel Wallerstein (2001)
é reforçada naquilo que Vandana Shiva (2003) chama de “a identidade
mágica é desenvolvimento igual a modernização que é igual a
ocidentalização” (p. 161).
Posto isso, cabe questionar a epígrafe que abre esta
problematização, o feminismo é para todos? Como as relações de
gênero e meio ambiente afetam o modo de vida do povo cigano?
Como repensar uma sociedade gendrada que vive assombrada pelas
lógicas de dominação capitalista e patriarcal? Como recuperar a
dimensão ancestral no contexto da religação entre feminismo e
natureza no contexto do androcentrismo?

279
Como parte dessa questão, há que se complementar essa
problemática reconhecendo as estratégias de subversão,
reconhecendo, Ecologismo e Feminismo são movimentos que
pretendem subverter a ordem hierárquica do mundo e
substituir a distribuição do poder verticalizado por um poder
diluído por toda a sociedade. Esses movimentos, em suas várias
vertentes, tentam resgatar antigas tradições, muito diferentes
das que forjaram uma civilização bélica, falocêntrica, racista,
sexista e “especista” (GARCIA, 2017, p. 13).

Este cenário que expõe as feridas da opressão milenar, institui


a categoria gênero como modelo cultural instaurado de
desigualdades. Esse processo mais conhecido como ocidentalização
do mundo é acompanhado por aspectos que aprofundam a separação
entre natureza e cultura, a hierarquização entre os sexos, a dominação
do mito judaico-cristão, a predominância do patriarcado que reforça o
capitalismo, sistemas que degradam a consciência de ser humano em
ativo sociometabolismo com a natureza. Essas opressões são heranças
de um colonialismo presente que perdura especialmente no
continente latino-americano.
Entretanto, tem acontecido historicamente a contestação
desses modelos culturais estruturantes de desigualdades. Uma das
vias de questionamento que aqui se adota como uma matriz
epistemológica, sociológica e política é o ecofeminismo. Este pode ser
um dos caminhos na luta por equidade. Dessa forma, a pensadora
Loreley Garcia pauta que é imprescindível “[...] desestruturar a
hierarquia de gênero, sem isso não há como corrigir as graves
distorções da nossa relação predatória com a natureza” (2017, p. 13).
Assim, como pensar em equidade de gênero mediante o
quadrimotor que sustenta a modernidade ocidental patriarcal,
capitalista, cartesiana, judaico-cristã? Essa provocação epistemológica
é realizada num contexto histórico de efervescência política, social e
cultura, a partir dos anos 1960-1970-1980. Essas três décadas marcam
no mundo a emergência de movimentos sociais que lutaram por
direitos de etnia-raça-gênero-orientação sexual-diversidade sexual-
ecológicos num contexto marcado por cerceamentos da liberdade de
viver e de lutar como ser humano. Como uma proposta crítica para
repensar esses contextos contraditórios o ecofeminismo instaura uma
revolução cultural na modernidade, tratando-se de uma intersecção
entre um movimento ecológico de base radical, anarquista, com
tendências do movimento feminista.

280
Entre os problemas que emergem e são denunciados no
cotidiano por lideranças femininas estão: a disputa pela terra, na qual
se situa a comunidade, quando atualmente empresários alegam a
posse do território, com tentativas de desapropriação da população
cigana, além disso, apontam a precária rede de saneamento
ambiental, má distribuição de água e ausência de efetividade da
política de saúde voltada a saúde do povo cigano conforme pressupõe
o Sistema Único de Saúde no Brasil. A terra, a água, a vida entram
como recursos serem disputados no campo do território, e é dessa
dialética de processos sociais que se destaca o ecofeminismo na
comunidade cigana calon.
É relevante situar a problemática em um aspecto do cotidiano
da comunidade cigana calon, algumas lideranças femininas expõem o
seu engajamento nas lutas da comunidade, afirmando que viajam sem
seus companheiros ou pais, podem escolher não casar-se, e seu
ativismo é perceptível frente aos homens anciãos, porém observa-se
que um fio deste problema aponta uma investigação, mesmo que o
protagonismo feminino seja percebido como uma realidade em prol
da equidade de gênero, mas essa equidade é condicionada e
reconhecida pelos líderes homens. Isso pode ser mais compreendido
pelo argumento de que, “resistência e obediência não são apenas
diferentes tipos de agência, mas também aspectos de diferentes tipos
de subjetividade construídos a partir das estruturas diferenciadas
fundadas no gênero, na raça, na etnicidade, na religião” (GARCIA,
2017, p. 18).
Mediante isso, cabe questionar, como esse protagonismo
institui novas relações de gênero? Dessa maneira, pode-se entender
que o protagonismo por um lado é uma iniciativa de emergência da
liderança feminina, mas uma liderança que ainda é submetida nas
relações patriarcais. Logo, tais questões podem ser de grande
utilidade para entender as relações de gênero/sexo além do dualismo
e essencialismo, buscando entender como os/as sujeitos/as
engendram e assumem posições a partir de discursos sobre o gênero
situados nas intersecções políticas e culturais (BUTLER, 2018; 2020).
Dessa forma, para romper com os dualismos natureza/cultura,
mulher/homem, sexo/gênero, parte-se do entendimento de que,

A divisão da humanidade entre homens e mulheres priva os


seres humanos de traços de personalidade, padrões de
comportamento e sistema de valores que poderiam ser
comuns aos dois sexos. A generificação na cultura não só

281
produz opressão da mulher, como constrói uma sociedade
orientada para a agressão. Um estudo do impacto da
generificação precisa estar contextualizado no interior de
condições sócio-históricas, eventos e processos. (GARCIA, 2017,
p. 57)

O ecofeminismo é um movimento político e epistemológico


que surge em 1974 na obra da pensadora francesa Françoise
d’auboune. Esta obra defende a emancipação humana das mulheres
em convivência com a preservação da natureza. Por isso, realiza uma
crítica ao pensamento ocidental de dominação masculina da mulher e
da natureza. Em suas origens há três vias, a perspectiva cultural
radical, a marxista, a das religiões orientadas por culto à deusas,
pautada na corrente de ecologia profunda, configurando o
ecofeminismo numa teoria das conexões.
Com essas variações epistemológicas em torno do
ecofeminismo enquanto categoria de pensamento e de ação
ambientalista, optou-se por uma concepção epistemológica matriz de
ecofeminismo, a partir de Garcia (2017), de Shiva (1988, 1989, 1993,
2003) e Svampa (2019), essas pensadoras traduzem em algumas de
suas obras uma compreensão complexa de ecofeminismo que
reconhece os limites do essencialismo sobre a relação entre a mulher e
a natureza e propõe uma perspectiva crítica, ampla, que toma a
relação dialógica entre gênero e meio ambiente como uma chave de
leitura. O ecofemisnmo:

[...] não se trata de uma simples filosofia, mas de um enlace


filosófico com orientações práticas que examina e critica a
desvalorização histórica e mutuamente articulada da mulher e
da natureza. São ideologias partilhadas que sustentam
múltiplas formas de dominação com base no gênero, raça,
orientação sexual, idade e etnia. Trata-se de uma matriz mental
que funda e apoia as formas de opressão e dominação. A ideia
central do ecofeminismo é que classismo, racismo, sexismo,
heterossexismo e especismo estão interconectados e se
originam da mesma matriz: a lógica que entende a relação
como dominação, portanto, é a matriz geradora dos ovos da
serpente que precisa ser exterminada através da ruptura com a
lógica dualista. (GARCIA, 2017, p. 59).

O ecofeminismo pode ser concebido como uma das


estratégias para se enfrentar a razão instrumental que fundamenta as
relações mercantis reproduzidas na sociabilidade do capital. Nesse

282
sentido, se comporta como um imperativo ético que questiona os
modos de produzir o conhecimento, as relações de gênero no
contexto do patriarcado, a crise ecológica de base sexista e do “mau
desenvolvimento”, expressão cara a pensadora ecofeminista Vandana
Shiva, que em sua obra coletiva com a Maria Mies, Ecofeminismo
(1988), atestando e denunciando que há uma conexão entre o sistema
patriarcal/capitalista com a opressão histórica das mulheres no
mundo.
As ecofeministas questionam não só o antropocentrismo,
mas o androcentrismo, rumo a uma visão complexa que abarque a
ideia fundamental de que as relações hierárquicas que instauram
desigualdades entre mulheres e homens e a superexploração da
natureza são parte de um mesmo fenômeno (ORTNER, 1996). De
forma a complementar este debate sobre o sagrado a comunidade
cigana calon preserva parte de seus rituais sagrados em conexão com
a natureza, inserindo a dinâmica dos quatro elementos que
mitologicamente compõem o mundo, o ar, o fogo, a água e a terra.
Não se vêem separados do meio ambiente, seus corpos são como
partes vivas do território.
Por causa de seu nomadismo histórico e do anticiganismo
agudizado durante a segunda guerra mundial (1939-1945), tiveram que
estrategicamente sincretizar suas divindades, adotaram a deusa Santa
Sara Kali, a qual cultivam devoção. Além disso, as mulheres são
iniciadas nos rituais cartomancia e quiromancia, tradicionalmente
usam as forças míticas da natureza como guias sagrados. O
ecofeminismo conforme Garcia (2017) permite a reconexão da
humanidade com a natureza a partir de seu interior.
A constituição de uma sociologia da vida cotidiana da
Comunidade Cigana calon repercute no questionamento de quem são,
o que são, como se formaram, e como mantem as suas tradições de
serem nômades e sedentários, e como isso se conjuga na construção
de uma identidade, ou de uma etnicidade construída no território
físico e simbólico (MOONEN, 1996).

Considerações finais

Essa etnicidade cigana, marcada historicamente como


nômade e na especificidade da comunidade calon do município de
Sousa/PB, por uma sedentarização de aproximadamente 40 anos,
expressa uma ambiguidade no modo de ser cigano, e que por vezes

283
esse nomadismo foi naturalizado, despolitizado, opondo-se a
sedentarização, que obrigaria o Estado e o poder local a dar atenção
socioassistencial e de saúde, mas a comunidade cigana, mantem o
nomadismo e a fixação como uma das possibilidades de seu modo de
ser cigano1, e isso requer lutar por direitos num território afetado por
injustiças ambientais e racismo ambiental. Territorialmente, ou seja,
existem dois grupos conhecidos e reconhecidos inclusive pelos
moradores da cidade: Rancho de Baixo e Rancho de Cima, com
condições sociais, econômicas e ambientais distintas, o que aumenta a
variação na sociabilidade.
Nessa pesquisa, o conceito de etnicidade é pautado no
pensamento do antropólogo Frederik Barth (2000), que faz uma
crítica a redução de etnicidade a perspectiva meramente cultural, de
identificação de traços físicos, ou tradicionais. A construção da
identidade étnica dos ciganos/as configura-se como um processo
coletivo, por isso eles passam a mediar a sua existência no território
nacional e local, chamando a atenção dos órgãos públicos na demanda
por direitos e políticas públicas e sociais.
Com a Constituição Federal de 1988, o Estado atua como
protetor e promotor de ações, políticas e garantias de direitos aos
povos tradicionais. Sendo o povo cigano, um povo tradicional por
meio do Decreto 6040/2007, pois são: “Grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e

1 No Brasil, o dia nacional do cigano é comemorado no dia 24 de maio. Foi


instituído em 2006, por meio de decreto presidencial, em reconhecimento à
contribuição da etnia cigana na formação da história e da identidade cultural
brasileira. No calendário cigano, o dia 24 de maio é dedicado a Santa Sara Kalí,
padroeira dos povos ciganos. Estamos diante de um cenário que implica num
esforço de pesquisa, pois desde o termo "cigano" (que deriva da palavra
espanhola gitano, assim como a inglesa gypsy, indicando aí uma suposta
origem egípcia, marcando o exotismo), estas designações atribuídas por não
ciganos foram assumidas por estes, já que eram obrigados a se identificarem
junto às autoridades locais (Okley, 1983). Na Europa se distinguem em Rom,
cuja língua é chamada de romani, Sinti, de língua sinto e os Calon que falam o
Kaló ou calé. Cada grupo se divide em subgrupos, que formam comunidades
familiares. Os Calon são chamados de 'ciganos ibéricos'; que se diferenciam
dos Rom pelo aspecto físico, economia, aspectos linguísticos e costumes
(Goldfarb, 2003).

284
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social,
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações
e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.
O ecofeminismo é para todas as pessoas. É um projeto de
sociedade emancipada humanamente que se expressa na tomada de
consciência crítica frente aos sistemas patriarcal, capitalista que
tratam a natureza e a mulher como mercadorias. Só uma
desestruturação nas bases da dicotomia natureza/cultural e nas
relações desiguais de gênero, só assim poderá se pensar num
ecofeminismo concreto. Trata-se do ponto de vista da pesquisa de
compreender como o protagonismo feminino se coloca como um
aspecto da vida simples da comunidade cigana Calon, e que em muitas
pesquisas, este elemento foi sufocado em nome de se manter uma
homogeneidade nos aspectos étnicos do povo cigano. Mais do que
elemento desagregador, a categoria gênero, complexifica o debate
socioambiental, na medida em que traz para a cena da vida cotidiana
um povo silenciado historicamente.

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288
Gestão de RSU e o Potencial de Valorização dos
Resíduos Vítreos: o panorama nacional e a Região
Carbonífera como lócus de estudo
Gláucia Cardoso de Souza-Dal Bó, Adriano Michael Bernardin e
Viviane Kraieski de Assunção

10.47247/GC/88471.57.9.16

289
Introdução

A geração de resíduos sólidos é um problema recorrente em


todo o mundo, não somente pela produção exacerbada e pela
diversidade de materiais, mas pela necessidade de alternativas de
valorização e destinação ambientalmente adequadas. Dentre os
instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, deliberada em
agosto de 2010, destacam-se os planos de gestão de resíduos, a coleta
seletiva com inclusão de catadores, os sistemas de logística reversa e a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
O conhecimento da composição gravimétrica característica de
um município é indispensável para que sejam adotadas e articuladas
práticas efetivas de gestão, a curto, médio e longo prazo. As
alternativas de tratamento e destinação devem ser compatíveis com a
quantidade e com os tipos de resíduos que são descartados. A
composição física ou gravimétrica expressa o percentual de cada
componente – matéria orgânica, papel, plástico, metal, vidro,
diversos/rejeito – em relação ao peso total da amostra de lixo
analisada (JARDIM et al, 2000).
No grupo de materiais seletivos encontra-se o vidro. Os
setores produtivos que mais o empregam são a construção civil, a
indústria automotiva e o segmento de bebidas. Trata-se de um
material largamente empregado nas diversas atividades cotidianas,
sobretudo, pelas suas características ligadas à transparência,
impermeabilidade e resistência. Além disso, uma vez descartado,
compreende um resíduo inerte que pode ser reutilizado e
infinitamente reciclado.
Comparativamente aos demais materiais recicláveis, no
entanto, o vidro é um resíduo subaproveitado, especialmente, pelo
seu baixo valor de mercado. A dificuldade de comercializá-lo se deve
aos cuidados atrelados ao seu manuseio e transporte, bem como, ao
fato de ser um material frágil e pesado. Mesmo caracterizando-se pela
infinita possibilidade de reaproveitamento nos processos produtivos e
consequente redução nos consumos de energia e matéria-prima
virgem, a taxa de reciclagem de vidro no país é de 47% (BRASIL, 2018).
Em face do cenário nacional, do potencial de
reaproveitamento de resíduos e do subaproveitamento do vidro pós-
consumo como questões centrais, o presente estudo de caso tem por
finalidade compartilhar parte dos resultados de uma tese defendida

290
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGCA/UNESC)1. No âmbito
da linha de pesquisa intitulada “valorização de resíduos”,
problematizou-se a gestão de RSU com enfoque no potencial de
geração e valorização dos resíduos vítreos, admitindo o panorama
nacional e a Região Carbonífera como recorte espacial a ser estudado.
Quais são as formas de destinação dos RSU adotadas na
Região Carbonífera? Qual a quantidade gerada e qual o potencial de
reaproveitamento do vidro descartado pelas fontes domiciliares e
públicas, no Brasil e na AMEC? Os resíduos vítreos são comercializados
pela base da cadeia de reciclagem estabelecida nesse conjunto de
municípios? Comparativamente ao cenário nacional, o vidro pós-
consumo é um resíduo subaproveitado no âmbito da AMREC? Essas
são algumas das questões norteadoras do presente estudo.

Procedimentos metodológicos

A unidade de estudo é representada por um conjunto de 12


municípios situados no extremo sul de Santa Catarina (Figura 1)
integrantes da Associação dos Municípios da Região Carbonífera
(AMREC) – Balneário Rincão, Cocal do Sul, Criciúma, Forquilhinha,
Içara, Lauro Muller, Morro da Fumaça, Nova Veneza, Orleans,
Siderópolis, Treviso e Urussanga. Estima-se uma população de 430,3
mil habitantes distribuídos em uma área de aproximadamente 2,7 mil
km² (SEBRAE, 2013; IBGE, 2016; SANTA CATARINA, 2016; IBGE, 2017;
AMREC, 2018).

1 A tese intitula-se “Estudo da Cadeia de Reciclagem de Vidro: perspectivas


para os municípios da Região Carbonífera (AMREC) a partir da economia
circular” e foi defendida em 2019. Os resultados compartilhados referem-se à
realidade característica do período em que a coleta de dados foi realizada.

291
Figura 1 – Localização da unidade de estudo: conjunto de municípios
integrantes da Associação dos Municípios da Região Carbonífera – AMREC.

Fonte: Elaborado pelo LabPGT (2017) e retirado de Souza-Dal Bó (2019, p. 80).

A pesquisa caracteriza-se essencialmente pela abordagem


qualitativa e natureza exploratória, assumindo o método de estudo de
caso. Acredita-se que a análise de uma unidade de determinado
universo permite a compreensão da sua generalidade ou a
identificação de bases creditáveis para nortear uma investigação
futura (CHIZZOTTI, 1991; GIL, 2007).
Quanto à coleta de dados, a presente pesquisa baseou-se em
dados secundários obtidos por meio de consultas em documentos
diversos de acesso público: IBGE, panoramas da ABRELPE (Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais),
diagnósticos do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento), plano nacional de resíduos, planos municipais e
intermunicipais de gestão integrada (AMREC) e relatórios
institucionais.
Para o cálculo da geração total de RSU no âmbito da AMREC,
levou-se em consideração a geração per capita e o número de
habitantes de cada município presentes nos plano intermunicipal e no
relatório de atividades publicado periodicamente pelo Consórcio
Intermunicipal de Resíduos Sólidos Urbanos da Região Sul (CIRSURES)

292
(CIRSURES, 2013; CIRSURES, 2018), bem como, nos planos municipais
de Criciúma, Içara e Siderópolis, além das estimativas populacionais do
IBGE (CIRSURES, 2013; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; SIDERÓPOLIS,
2016; IBGE, 2018). Calculou-se a taxa de desvio do lixo, para os cenários
nacional e regional a partir de indicadores presentes nos planos
nacional e municipais (BRASIL, 2012; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016;
SIDERÓPOLIS, 2016), empregando a fórmula descrita por Vilhena;
D’Almeida (2018, p. 79):

𝐓𝐚𝐱𝐚 𝐝𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐯𝐢𝐨 (%)


t
(coleta seletiva)
= t mês × 100
t
(coleta seletiva) + (coleta convencional)
mês mês

A estimativa do potencial de geração de resíduos vítreos,


tanto no panorama nacional quanto regional, baseou-se nas
metodologias da Autarquia de Melhoramentos da Capital (COMCAP,
2013) e do Consórcio Intermunicipal de Resíduos Sólidos Urbanos da
Região Sul (CIRSURES, 2015) que por sua vez, levam em conta o
percentual de vidro na composição gravimétrica da unidade de
estudo.

Panorama nacional

Conforme dados do diagnóstico do SNIS, são descartados no


Brasil cerca de 67 milhões de toneladas por ano de resíduos
domiciliares e públicos, admitindo uma geração per capita média de
1,01 kg/hab./dia com variação significativa entre as regiões: 0,87
kg/hab./dia (Sul) e 1,23 kg/hab./dia (Nordeste). A coleta seletiva é uma
iniciativa existente em 36,3% dos municípios respondentes do SNIS. Do
montante recolhido no país, uma parcela muito pequena é destinada
para as usinas de triagem (1,07 milhão de t/ano) e compostagem (0,27
milhão de t/ano). Os aterros sanitários recebem 48,2 milhões de t/ano

293
e as alternativas impróprias de disposição, como os lixões e aterros
controlados ainda se fazem presentes no país, recebendo,
respetivamente, 9,6 e 7,6 milhões de t/ano de resíduos (SNIS, 2021).
Ainda que o percentual da fração orgânica presente no lixo do
brasileiro tenha reduzido ao longo dos anos, na medida em que houve
o incremento no consumo dos materiais seletivos, especialmente, do
plástico, a matéria orgânica ainda é a categoria mais representativa De
acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a fração úmida
corresponde atualmente a 51,4% do montante descartado, enquanto
os materiais potencialmente recicláveis totalizam 34,8%. Logo, o
potencial de reaproveitamento da fração seca descartada no Brasil é
de aproximadamente 35%, no entanto, a taxa de recuperação não
ultrapassa 3% (BRASIL, 2012; SNIS, 2020, 2021).
Em países em desenvolvimento, considerados de baixa renda,
a quantidade de material orgânico pode chegar a 65%. Em países de
renda média, essa categoria representa 43%, ao passo que em países
industrializados a fração úmida corresponde a somente 25% (BARROS,
2012; CEMPRE, 2013). Os EUA e a Europa apresentam as composições
com menor quantidade de matéria orgânica e um percentual mais
elevado da fração reciclável seca, superior a 60% do total (Tabela 1).

Tabela 1 – Composição média do lixo domiciliar em diferentes países (% em


peso).
Componente EUA1 Europa2 México2 Brasil3
Vidro 10,4 9,8 8,2 2,4
Metal 3,8 9,2 3,2 5,8
Plástico 5,8 7,2 3,8 13,5
Papel 18,8 36,0 20,0 13,1
Fração reciclável seca 64,4 62,2 27,2 34,8
Matéria orgânica 35,6 28,1 54,4 51,4
Fonte: Elaborado pela autora a partir de (1MONTEIRO et al, 2001, p. 33;
2CONCEIÇÃO, 2005, p. 111; 3BRASIL, 2012; BARROS, 2012).

Desse modo, a geração de resíduos vítreos é maior em países


industrializados, cuja renda é mais elevada, a exemplo dos EUA,
Holanda e Alemanha. Em países com baixa e média renda, a
quantidade de vidro descartada oscila entre 1 e 5% em relação ao total
de RSU (CONCEIÇÃO, 2005; BARROS, 2012). No Brasil, o vidro
representa 2,4% da composição da massa urbana descartada (BRASIL,
2012).

294
Considerando os dados da ABRELPE e do SNIS entre os anos
de 2010 e 2020, estima-se que um brasileiro gera anualmente cerca de
355 kg de RSU (Figura 2). Deste montante, 8,5 kg caracterizam-se por
resíduos vítreos. Esses valores situam-se na faixa descrita pela
Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (ABIVIDRO, 2011) como
característica do consumo per capita de embalagens no país, que
oscila entre 4 e 11 kg/hab./ano. Por outro lado, são inferiores ao
consumo anual de um habitante europeu, que varia entre 13 e 47
kg/hab./ano (ACR+, 2012).

Figura 2 – Estimativa da massa per capita coletada de RSU e de resíduos


vítreos (kg/hab./ano), Brasil (2010-2020).

Massa per capita de RSU Massa per capita de vidro

400
8,80 8,23 8,50 8,54 8,80 8,63 8,28
8,28 8,41 8,50 8,72
Massa per capita

350
(kg/hab./ano)

300
250
358,0
200 358,0 345,6 336,6 342,0 354,5
150 345,6
334,9 347,3 350,9 336,6
100
50
0

Fonte: Adaptado de Souza-Dal Bó (2019), baseado em ABRELPE e SNIS.

Logo, da totalidade de RSU coletada no país, na ordem de


65,8 milhões de t/ano, estima-se que 1,6 milhão de toneladas
constituem-se por resíduos vítreos, correspondentes a cerca de 4,4 mil
t/dia ou 133 mil t/mês. Ao longo do período considerado, observou-se
uma variação entre 1,4 e 1,7 milhão de t/ano na massa de vidro pós-
consumo coletada (Figura 3).

295
Figura 3 – Estimativa da massa total coletada de RSU e de resíduos vítreos
(milhões t/ano), Brasil (2010-2020).

Massa total de RSU Massa total de vidro

80
70 1,6 1,6 1,6 1,6 1,6 1,7 1,7
1,5 1,6
(milhões t/ano)

1,4 1,5
Massa total

60
50
40
69,6
63,5 66,9 66,2 64,3 65,1 66,1 67,2
30 56,8 59,6 61,3
20
10
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 20192020

Fonte: Adaptado de Souza-Dal Bó (2019), baseado em ABRELPE e SNIS.

Portanto, no Brasil, da totalidade de RSU coletados,


aproximadamente 35% compreende a fração seca potencialmente
reciclável composta por papel, plástico, metal e vidro, ou seja, 23
milhões de t/ano. E deste montante, 1,6 milhão de t/ano são resíduos
vítreos. Em contrapartida, as unidades de triagem recebem, em média,
2 milhões de t/ano de materiais seletivos, o que representa um
percentual de 3,2% em relação ao total de RSU coletado. Tão logo,
possivelmente, grande parte do vidro descartado no país é aterrado, já
que a quantidade estimada recuperada desse material pelos
programas de coleta seletiva é de 50,9 mil t/ano, de acordo com o
Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012). A Figura 4 mostra
a compilação dos dados sobre a composição gravimétrica e as
quantidades coletadas de RSU e de vidro, no cenário nacional.

296
Figura 4 – Composição gravimétrica dos RSU gerados no país e estimativa de
geração e recuperação dos resíduos vítreos.

Massa coletada de RSU


65,8 milhões t/ano

Fração seca Rejeito (13,8%) Fração úmida


(34,8%) 9,1 milhões (51,4%)
22,9 milhões t/ano 33,8 milhões

Massa recebida Massa gerada


pelas unidades de de resíduos
triagem (3,2% da vítreos (2,4% da
massa coletada massa coletada
de RSU) de RSU)
2,1 milhões t/ano 1,6 milhão t/ano

Massa
recuperada de
vidro pelos
programas de
coleta seletiva
(3,4% da massa
gerada vidro)
50,9 mil t/ano

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Souza-Dal Bó (2019).

297
Panorama regional

Estima-se que são gerados no âmbito da AMREC um total de


93,5 mil t/ano de RSU, correspondentes a 7,8 mil t/mês ou 249,1 t/dia,
com destaque para o município de Criciúma, responsável por 53,2%
desse montante. Em relação à geração per capita, o valor médio na
região é de 0,59 kg/hab./dia. Balneário Rincão caracteriza-se pelo
indicador mais elevado (0,94 kg/hab./dia), possivelmente, por tratar-se
de uma cidade litorânea cuja população aumenta significativamente
na alta temporada. Em contrapartida, Forquilhinha apresenta a menor
geração per capita (0,37 kg/hab./dia) (CIRSURES, 2016; CRICIÚMA,
2016; IÇARA, 2016; SIDERÓPOLIS, 2016; SOUZA-DAL BÓ, 2019.).
Todos os municípios da região adotam a alternativa
ambientalmente mais adequada de disposição final, em conformidade
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Os aterros sanitários
estão sediados nas cidades de Içara (RAC Saneamento) e Urussanga
(CIRSURES). No que se refere à destinação da fração seca
potencialmente reciclável, há unidades de triagem que recebem
parcialmente os recicláveis descartados na unidade de estudo. A
Figura 5 mostra a localização das alternativas de destinação e
disposição final no âmbito da AMREC.

Figura 5 – Localização dos aterros sanitários e das unidades de triagem no


âmbito da AMREC.

Fonte: Elaborado pelo LabPGT (2018) e retirado de Souza-Dal Bó (2019).

298
Com exceção de Içara, foram relatadas iniciativas de coleta
seletiva nos demais municípios, seja na modalidade porta-a-porta ou
na disponibilidade de Pontos de Entrega Voluntária (PEV) à população.
Considerado os indicadores relativos à abrangência da coleta seletiva
(%) e à taxa de desvio de aterro (%), os municípios que se sobressaem
no cenário regional por apresentarem ambos os indicadores em
percentuais mais elevados são Forquilhinha e Treviso. De todo modo,
a estimativa de reaproveitamento da fração reciclável seca na região
está muito aquém do que efetivamente poderia ser praticado, assim
como ocorre no cenário nacional (BALNEÁRIO RINCÃO, 2016;
CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; CIRSURES, 2017; SAVIATO, 2017; SOUZA-
DAL BÓ, 2019).
Em média, 55% da população da AMREC é atendida pelo
serviço de coleta seletiva. Os municípios cujas taxas são inferiores à
média são Urussanga (43,7%), Lauro Muller (37,5%), Orleans (24,4%) e,
sobretudo, Nova Veneza (5%). No cenário regional, a taxa de desvio
das vias de disposição final é semelhante ao panorama nacional: em
média, 2,6% do montante coletado está deixando de ser aterrado e
seguindo para as unidades de triagem locais, um percentual
inexpressivo diante do montante descartado (BALNEÁRIO RINCÃO,
2016; CRICIÚMA, 2016; IÇARA, 2016; CIRSURES, 2017; SAVIATO, 2017;
SOUZA-DAL BÓ, 2019). A Figura 7 mostra a composição gravimétrica
característica da Região Carbonífera, comparativamente aos cenários
estadual e nacional.

Figura 7 – Comparativo da composição gravimétrica dos RSU em relação às


frações orgânica e reciclável seca e ao rejeito, Brasil, Santa Catarina e Região
Carbonífera.

Material orgânico Reciclável (seco) Rejeito

100%
13,8 18,6 24,5
80%
34,8 37,5
60% 38,5
40%
20% 51,4 43,9 37,0
0%
Brasil Santa Catarina Região Carbonífera

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BACK, 2011; BRASIL, 2012;


CIRSURES, 2013; NOVA VENEZA, 2013; SANTA CATARINA, 2014; CRICIÚMA,
2016; IÇARA, 2016; SIDERÓPOLIS, 2016) e retirado de Souza-Dal Bó (2019).

299
Admitindo os valores médios para os municípios da AMREC, o
percentual da fração seca potencialmente reciclável (38,5%) equipara-
se à fração orgânica (37%). De modo geral, a composição média da
Região Carbonífera difere dos dados estaduais e nacionais no que se
refere ao percentual de matéria orgânica e de rejeito: gera-se mais
rejeito e menos matéria orgânica. Quanto à geração de resíduos
vítreos, cada município detém uma geração e um percentual
específicos (Figura 8).

Figura 8 – Estimativa da massa per capita coletada de RSU e de resíduos


vítreos (kg/hab./ano), por município da Região Carbonífera.

Massa per capita RSU Massa de vidro per capita

400
350 10,7
300
(kg/hab./ano)

5,3 2,7
250 7,4 12,0
15,2 18,2
200 5,6 6,9 9,3
332,4 3,1
150 4,5
229,9228,9 257,5 249,2
100 181,9187,8193,5
173,3172,0 153,8
50 130,6
0

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos PMGIRS, retirado de Souza-Dal Bó


(2019).

Em média, diante da totalidade de RSU descartada no âmbito


da AMREC, têm-se 4% de resíduos vítreos presentes na fração seca
reciclável. Logo, um habitante residente na AMREC gera, em média,
216,0 kg de RSU ao longo de um ano, dos quais, 8,4 kg/hab./ano são de
resíduos vítreos. Portanto, o potencial total de vidros descartados na
coleta convencional é de aproximadamente 4,1 mil t/ano, equivalentes
a 338,5 t/mês ou 11,3 t/dia. Criciúma e Urussanga são os maiores
geradores de resíduos vítreos na região, contribuindo com,
respectivamente, 61,2% e 9,4% desse montante.

300
Tão logo, da totalidade de RSU descartada na Região
Carbonífera, na ordem de 93,5 mil t/ano, cerca de 36 mil t/ano
equivalem a materiais potencialmente recicláveis. No entanto, as
unidades de triagem recebem, em média, 3 mil t/ano, ou seja, 3,2% do
total de RSU descartado. Quanto aos resíduos vítreos, embora sejam
geradas aproximadamente 4,1 mil t/ano, são comercializadas pelas
associações e cooperativas locais somente 160,6 t/ano de vidro na
forma de caco misto, revelando um percentual de reaproveitamento
de cerca de 4,0% desse material, conforme ilustra o fluxograma
abaixo.

Figura 9 – Composição gravimétrica dos RSU gerados na Região Carbonífera e


estimativa de geração e recuperação dos resíduos vítreos.

Massa coletada de RSU


93,5 mil t/ano

Fração seca (38,5%) Rejeito (24,5%) Fração úmida (37%)


36 mil t/ano 22,9 mil t/ano 34,6 milhões t/ano

Massa triada pelas unidades Massa gerada de resíduos


de triagem (3,2% da massa vítreos (4% da massa
coletada de RSU) coletada de RSU)
3 mil t/ano 4,1 mil t/ano

Massa comercializada de resíduos vítreos


(4% da massa gerada vidro)
160,6 t/ano

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Souza-Dal Bó (2019).

301
Considerações finais

Em média, 2,6% do lixo descartado no âmbito da AMREC é


desviado dos aterros sanitários e segue para as unidades de triagem
locais. No país, do mesmo modo, esse indicador é baixo (2,2%), ou seja,
observa-se a manutenção de fluxos lineares de produção, consumo e
descarte em ambos os cenários e a impossibilidade de atingir as metas
previstas nos planos nacional e municipais de resíduos sólidos.
Quanto aos resíduos vítreos, estimou-se um potencial gerador
de 4,1 mil t/ano e uma geração per capita média de 8,4 kg/hab./ano
desse material pelos municípios da AMREC. De modo geral, o vidro
descartado é recolhido misturado aos demais recicláveis pela coleta
seletiva e encaminhado para a triagem nas associações e cooperativas,
o que acaba aumentando o grau de contaminação. Essa representa a
forma mais comum de valorização de vidro pós-consumo pelos
municípios da AMREC. Diante do potencial gerador, somente 4% do
vidro pós-consumo é recuperado pelos programas municipais de
coleta seletiva.
Assim, acredita-se que a modificação do atual cenário de
desvalorização dos RSU e subaproveitamento do vidro no Brasil e na
Região Carbonífera depende fundamentalmente da reestruturação e
assessoria da base da cadeia de reciclagem em termos de capacitação
institucional e operacional. Logicamente, a responsabilidade cativa do
poder público pela gestão eficiente de RSU e a deliberação de políticas
públicas mais específicas no âmbito da logística reversa, as quais
delegassem as atribuições de cada agente integrante e incorressem
em acordos setoriais por tipo de embalagem, conduziriam a
resultados mais significativos no tocante à redução da massa de
recicláveis encaminhada para a disposição final e ao incentivo à
reciclagem pela iniciativa privada.
A responsabilidade do Estado nas suas diversas instâncias não
exime o cidadão de suas obrigações, uma vez que todo o processo
inicia com a segregação na fonte geradora e dele depende para
fiscalização e cobrança das metas estipuladas nos planos de gestão de
resíduos sólidos ou em quaisquer outras regulamentações. Por fim,
admitindo que a educação ambiental é indispensável para
sensibilização em resíduos sólidos e que práticas pontuais, difusas e
desarticuladas implicam baixa efetividade dos sistemas de coleta
seletiva e de recuperação dos recicláveis pelas unidades de triagem,
iniciativas que a contemplem precisam ser pensadas enquanto

302
propostas críticas e transformadoras, mantidas no rol de prioridades
da gestão pública municipal de RSU.

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307
Estudo da presença de enteroparasitas em alface
(Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa L.)
Mariana Frari Ragazzi, Brisa Maria Fregonesi,
Carolina Sampaio Machado e Susana Segura-Muñoz

10.47247/GC/88471.57.9.17

308
Introdução

O uso de águas de reuso provenientes de Estações de


Tratamento de Esgoto na agricultura, contribui de maneira
significativa para a redução da demanda de água, além de trazer
benefícios em favor da saúde ambiental, como o controle da poluição
dos corpos hídricos, o favorecimento da reciclagem de nutrientes do
solo e a diminuição do uso de fertilizantes no cultivo agrícola
(JARAMILLO; RESTREPO, 2017). Em contrapartida, esta técnica traz
uma série de preocupações em termos de saúde pública, tendo em
vista a possibilidade de contaminação dos alimentos em seu local de
cultivo, tanto por organismos patogênicos quanto por substâncias
químicas orgânicas e inorgânicas potencialmente tóxicas (SOUZA;
PACHECO; SANTOS, 2022).
As hortaliças, de um modo geral, são essenciais e fazem parte
da dieta alimentar de um número representativo da população
mundial. No Brasil, quantidades cada vez maiores desses alimentos
vêm sendo incluídos aos hábitos alimentares da população.
Normalmente são consumidas in natura, podendo servir como veículo
na transmissão de parasitas intestinais, contendo larvas e ovos de
helmintos e (oo)cistos de protozoários, provenientes de águas
contaminadas por dejetos fecais de origem animal e/ou humana
(COELHO et al., 2001)
Em países em desenvolvimento, enfermidades intestinais são
amplamente disseminadas, tanto em áreas rurais quanto em urbanas,
devido às baixas condições sanitárias. As enteroparasitoses
constituem um sério problema de saúde pública em diversos países e,
no Brasil, os índices de prevalência são consideravelmente elevados
(BRASIL, 2022). Dentre as manifestações clínicas, as parasitoses
podem causar obstrução intestinal, desnutrição, anemia por
deficiência de ferro, quadros de diarreia e má absorção (CDC, 2022).
O presente trabalho teve por objetivo comparar a prevalência
de enteroparasitas em hortaliças (alface e rúcula) cultivadas com água
de reuso procedentes de uma horta experimental e hortaliças (alface
e rúcula) comercializadas em feiras livres de Ribeirão Preto – SP, Brasil.
Cabe salientar que essas hortaliças são amplamente utilizadas na
alimentação da população brasileira e que o cultivo desses produtos
com fontes de água alternativas e seguras constitui uma valiosa
ferramenta perante possíveis processos de escassez de água ou

309
estresse hídrico no futuro, tanto no Brasil quanto em outras
localidades do mundo.

Métodos

O presente estudo foi desenvolvido no município de Ribeirão


Preto, localizado na região Nordeste do Estado de São Paulo. O
município possui uma população de 604.682 habitantes e uma área de
651 km.
No total, foram coletadas 80 amostras de hortaliças, sendo 20
de alface (Lactuca sativa) e 20 de rúcula (Eruca sativa) procedentes das
feiras livres na cidade de Ribeirão Preto e outras 20 amostras de alface
e 20 de rúcula procedentes da horta experimental cultivadas com água
de reuso. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório de
Ecotoxicologia e Parasitologia Ambiental da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto (LEPA/EERP), onde foram realizadas as análises
parasitológicas.
As amostras foram acondicionadas individualmente em sacos
plásticos, onde foram desfolhadas para uma melhor lavagem da
amostra. Foi adicionado 700 mL de água destilada e homogeneizados
por 15 minutos. Para a verificação da presença de ovos e larvas de
parasitas nas hortaliças foi utilizada a Técnica de Sedimentação
Espontânea.
Especificamente para avaliar a presença de Cryptosporidium
spp. e Giardia spp. foi utilizada a Técnica de Separação
Imunomagnética com Microscopia de Imunofluorescência e Contraste
de Fase (Método 1623 USEPA, 2005), aplicada em amostras de alface
procedentes das feiras livres e da horta experimental. Essa técnica
compreende quatro etapas, a saber: a) eluição dos oocistos e
concentração da amostra, adaptada por Cook et al. (2007) para
vegetais; b) separação imunomagnética; c) marcação para
fluorescência; d) microscopia. Cabe destacar que foram aplicados
testes de recuperação do método utilizando amostras (Color seed).
Para análise dos dados foi utilizado o teste estatístico não paramétrico
de Mann-Whitney, com nível de significância p ≤ 0,05.

310
Resultados

A Tabela 1 apresenta a distribuição dos parasitas identificados


segundo o tipo e a procedência das hortaliças, evidenciando que
foram encontrados Balantidium coli, Ascaris sp., Larva de nematóide e
Ancilostomídeo em amostras tanto da feira quanto da horta
experimental. Dentre os exemplares de parasitas encontradas, três
pertencem ao grupo dos Helmintos, especificamente do filo
Nematoda.
As verminoses intestinais podem apresentar diversos
sintomas, dependendo da espécie do parasita, intensidade da
infestação e idade do hospedeiro. A aplicação do teste estatístico não
paramétrico de Mann-Whitney demonstrou não haver diferença
estatisticamente significante entre os grupos de alface e rúcula
coletados nas feiras livres e na horta experimental quanto à
ocorrência de espécies de parasitas (p > 0,05). Os resultados
evidenciam que ambos os grupos apresentam positividade para a
presença de estruturas parasitárias. Nota-se também a maior
diversidade de espécies observadas entre as hortaliças provenientes
das feiras livres.
As hortaliças foram coletadas em diferentes feiras livres, de
diversos produtores, e consequentemente, de diferentes
procedências, isso pode explicar a diversidade dos parasitas
observada entre esse grupo de amostras. Sabe-se que hortaliças e
outros alimentos ingeridos crus são importantes meios de
disseminação de enteroparasitas, e são comuns os estudos
desenvolvidos nessa temática que encontram algum tipo de
contaminação.
Foram identificados cistos de Giardia spp. e oocistos de
Cryptosporidium spp. em amostras de alface e rúcula procedentes da
horta experimental (Tabela 2 e Figura 1). Nenhuma das hortaliças
coletadas nas feiras apresentou positividade para a contaminação por
(oo)cistos desses parasitas.
A reutilização de água é cada vez mais necessária, frente aos
cenários de escassez deste recurso que vêm sendo desenhados ao
redor do mundo. Diversos estudos têm mostrado que o reuso de água
residuária na agricultura contribui para o desenvolvimento de culturas,
mas essa é uma prática que exige monitoramento, para que não haja

311
acúmulo de substâncias nocivas e contaminação dos produtos
agrícolas por microrganismos patogênicos.
O processo de limpeza das hortaliças é fundamental para a
diminuição do risco de infecções alimentares. Ao eliminar as impurezas
presentes na hortaliça, grande parte dos parasitas tende a ser
eliminada. Entretanto, devido a características morfológicas da parede
do ovo, cisto ou parasita, algumas estruturas parasitárias não são
facilmente removidas apenas pela ação mecânica da lavagem das
folhas (COELHO et al., 2001) o que salienta a importância da aplicação
rigorosa de práticas sanitárias durante todo o processo de cultivo,
embalagem, transporte e manuseio das hortaliças.
Cabe ressaltar também que existem muitas fontes de
contaminação de hortaliças além da água utilizada para irrigação. Elas
podem ser contaminadas por insetos, roedores e outros animais que
transitam pela horta, pelo tipo de adubo utilizado, durante seu
transporte e acondicionamento e até mesmo no momento de sua
comercialização, pelo manuseio de diversas pessoas. As diferenças
observadas entre os diversos trabalhos que abordam a contaminação
de hortaliças devem-se muito ao quadro tão diverso de fatores que
influenciam na qualidade desses alimentos (COELHO et al., 2001;
SOARES et al., 2006).
A normatização brasileira vigente para a qualidade
microbiológica de alimentos enuncia que as hortaliças devem
obedecer ao padrão de “ausência de sujidades, parasitas e larvas”
como forma de atestar a sua qualidade microscópica (BRASIL, 1978).
Dessa forma, a maioria das hortaliças pesquisadas no presente estudo,
se encontram inadequadas para consumo humano.
Cryptosporidium spp. e Giardia spp. são considerados
parasitas de veiculação hídrica transmitidos pela rota fecal-oral, ou
seja, são excretados nas fezes de hospedeiros infectados e ingeridos
diretamente na água ou em alimentos contaminados por água.
Khouja et al, (2010) analisaram águas residuais tratadas provenientes
de sistema de tratamento de esgoto e seus resultados apontaram a
presença de Cryptosporidium spp. e a Giardia spp. Este fato sugere,
assim como no presente estudo, que o sistema de tratamento de
esgoto não foi totalmente eficiente na remoção desses
microrganismos, alertando para a necessidade de monitoramento das
fontes de água alternativas utilizadas nas culturas que são
consumidas in natura.

312
O Ministério da Saúde, através da Portaria GM/MS Nº 888 que
estabelece responsabilidades para a água para consumo humano e
subsídios para o monitoramento da qualidade dessa água, traz sua
preocupação quanto à presença de Cryptosporidium spp. e Giardia spp.
em água, recomendado incluir a pesquisa desses microrganismos para
atingir a meta de ausência desses parasitas em água potável. A
EMBRAPA (2006), em suas orientações para o setor hortifrutícula,
enuncia que a água, ao entrar em contato com os alimentos frescos,
consumidos crus, dita o potencial da contaminação patogênica, por
poder atuar como agente veiculador de diversos microrganismos.
Mesmo em pequenas quantidades, esses microrganismos podem levar
a um quadro de infecção alimentar, podendo afetar principalmente
grupos populacionais imunologicamente vulneráveis.
Tanto a alface (Lactuca sativa) quanto a rúcula (Eruca sativa)
são hortaliças com grande participação na dieta dos brasileiros, e seu
consumo vem aumentando nos últimos anos. O controle da qualidade
microbiológica de hortaliças consumidas cruas é fundamental, dadas
as muitas pesquisas que apresentam alto índice de contaminação
microbiológica. As parasitoses intestinais ainda são altamente
relevantes para a saúde pública, especialmente nos países em
desenvolvimento. A transmissão dessas doenças, principalmente por
via oral, requer atenção redobrada para a qualidade da água e dos
alimentos oferecidos à população humana.
Ao apontar contaminação por Giardia spp., Cryptosporidium
spp. e outros parasitas intestinais, é possível afirmar que, para
irrigação de culturas consumidas cruas a utilização de efluentes de
esgotos tratados não é viável sem um processo criterioso de
desinfecção. Para viabilizar a utilização de água de reuso na agricultura
é necessário monitorar constantemente a qualidade dos produtos
agrícolas e do ambiente de cultivo, a fim de evitar contaminação pelo
acúmulo de metais.
Diante do quadro crescente de aumento da demanda por
água e alimentos, gerado pelo aumento da população, e do
comprometimento da qualidade dos recursos ambientais em diversas
partes do mundo, mostra-se imprescindível buscar usos alternativos
não potáveis para efluentes, visando contornar os problemas já
existentes de escassez de água, para assim, preservar as fontes de
água de qualidade para usos mais nobres, garantindo a preservação
de fontes de água no futuro.

313
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Tabela 1. Distribuição (em porcentagem) dos parasitas identificados segundo o


tipo e procedência das hortaliças
Ocorrência parasitária (%)
Parasita Hortaliças procedentes das Hortaliças procedentes da horta
encontrado feiras livres experimental
Alface Rúcula Alface Rúcula
Larva de
nematóide 60 60 85 60
Balantidium coli 15 5 0 0
Ancilostomídeo 10 10 5 5
Ascaris sp. 15 10 0 10

315
Tabela 2 – Cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp.
encontrados em amostras de alface (Lactuca sativa) durante as análises
realizadas no LEPA, utilizando o método 1623/EPA17
Giardia spp. Cryptosporidium spp.
Amostra Alface - Alface -
(50 g) Alface - feiras livres Alface - horta experimental feiras horta
livres experimental
1 0 0 0 0

2 0 15 0 0
3 0 6 0 0
4 0 12 0 3
5 0 6 0 3
Color
35 35 24 40
seed (%)

Figura 1. Imagens microscópicas de cistos de Giardia spp (Ceta superior) e


oocistos de Cryptosporidium spp (Ceta inferior) identificadas em amostras de
alface (Lactuca sativa) irrigadas com efluente tratado e clorado. (A) Tinção
com Isotiocianato de fluoresceína (FITC) e observação com imunoflurescência;
(B) Tinção com 4’,6-diamidino-2-fenilindol /DAPI e observação com
imunofluorescência; (C) Observação com Contraste de Fase (DIC). Zeizz 63X.

316
Açai (Euterpe oleracea), an Amazon rainforest
fruit, ameliorates diabetic nephropathy in rats
Deyse Yorgos de Lima, Giovana Rita Punaro,
Adelson Marçal Rodrigues, Margaret Gori Mouro,
Lucas Ferres, Robson Souza Serralha, Moises Nascimento,
Manoel Victor da Silva e Elisa Mieko Suemitsu Higa

10.47247/GC/88471.57.9.18

317
Introduction

DN is a major complication of Diabetes mellitus, that leads to


end-stage kidney disease (ESRD), through a gradual increase in the
excretion of microalbumin in the urine and consequent progressive
glomerulosclerosis [1]; the exact cause is undefined, but it is known
that these metabolic disorders are induced by hyperglycemia. DN is
characterized by excessive production of extracellular mesangial
matrix (ECM), glomerular hypertrophy and hyperfiltration, glomerular
and tubulointerstitial inflammation, and reduction in the number of
cells due to apoptosis and ECM accumulation. All these conditions lead
to a gradual reduction in glomerular filtration and onset of proteinuria,
being this the main predictor of mortality in diabetic individuals [2].
Although intensive glucose control through diet and/or
medication, introduction of healthy habits and physical exercise, in
addition to controlling associated comorbidities, there is still a need
for effective and better-engaging treatments in DN, as the incidence
rate of progression to ESRD ranges from 20% to 40% in diabetic
patients worldwide [3]. Therefore, the importance of seeking new
drugs or treatments for DN.
Hyperglycemia-induced oxidative stress (unbalance between
oxidizing agents and antioxidants), inducing the synthesis of reactive
oxygen species (ROS), is implicated in the onset and progression of
diabetes and, if untreated, can lead to severe complications [4].
Açai is a natural tropical fruit from the Amazon rainforest.
Currently, it has been a matter of many studies due to its antioxidant
properties and functional food characteristics [5]. Biochemical studies
revealed that açai is rich in phytochemicals, especially polyphenols,
such as anthocyanins (mainly cyanidin-3-glucoside and cyanidin-3-
ruthenoside) and flavonoids. Furthermore, studies have shown that
açai pulp has a high antioxidant capacity in vitro, especially against
superoxide and peroxyl radicals [6]. It is already known that foods rich
in phenolic compounds can play an important role improving the
antioxidant status, acting on enzyme modulation and ROS
neutralization [7]. Studies realized in our Laboratory showed that the
use of antioxidants caused a reduction in oxidative stress and blood
glucose levels, improving renal function in diabetic animals, delaying
the effects of DN [8, 9]. Thereby, açai becomes a promising agent for
the prevention and treatment of chronic diseases such as DM and its

318
complications, due to its high content of antioxidants. The aim of this
study is to analyze the effects of açai on the experimental DN in rats.

Materials and Methods

Materials

Streptozotocin and vanadium chloride were purchased from


Sigma Chemical (St. Louis, USA). Citric acid for citrate buffer
preparation and trichloroacetic acid were acquired from LabSynth
(Sao Paulo, Brazil). Metabolic cages were purchased from Nalgene
(Rochester, USA). Ketamine chloridrate and xylazine chloridrate, both
anesthetics, were obtained from Syntec (Sao Paulo, Brazil) under the
brand name Dopalen and Anasedan, respectively. Meloxicam, a
nonsteroidal anti-inflammatory, was obtained under the brand name
Maxicam from Ouro Fino (Cravinhos, Brazil). Dry lyophilized extract of
açai (EA) was purchased from Liotécnica Alimentos LTDA (Sao Paulo,
Brazil). Creatinine and urea were assessed by colorimetric kits
purchased from Labtest (Lagoa Santa, Brazil). Proteinuria was also
assessed by colorimetric kit purchased from Labtest (Lagoa Santa,
Brazil), under the brand name Sensiprot. All analysis were performed
in Microplate reader (Sinergy HT, Biotek Instruments, Winooski, USA).
The GraphPad Prism 7.0 software (San Diego, USA) was used for
statistical analysis.

Animal model

Male Wistar rats (n= 40), seven weeks old (approximately 210
g), were obtained from the Central Animal Housing of Escola Paulista
de Medicina. All experiments were approved by the Ethics Committee
in Research of Universidade Federal de Sao Paulo, protocol
#6729100418. The animals were maintained in the Animal Housing of
Nephrology Division at temperatures of 22 ± 2ºC and a light/dark cycle
of 12/12 h, beginning at 06:00 a.m.

Unilateral nephrectomy

When the animals reached 8 weeks of age, they were


anesthetized with ketamine hydrochloride (65 mg/kg; IM) and xylazine
hydrochloride (9 mg/kg; IM), both diluted in 0.9% saline. Unilateral

319
nephrectomy is a widely used technique to accelerate the DN
development in experimental models [10].

Diabetes induction

Animals received a single intravenous administration of


streptozotocin (STZ, 60 mg/kg; BW) dissolved in 0.1 mol/L citrate
buffer, pH 4.5 [11]. DM induction was confirmed 48h later, considering
fasting blood glucose values higher than 200 mg/dL. Animals that
failed this criterion were excluded (n= 8) [8, 12].

Group formation and treatment

The dry lyophilized extract of açai (EA) was daily weighted,


according to the body weight of each animal, and diluted in 1 mL of
filtered water at the time of administration. All these procedures were
made avoiding light exposure. Groups: CTL (control); CTLEA (açai-
treated control); DM (diabetic); and DMEA (açai-treated diabetic).
Animals from CTLEA and DMEA group received 200 mg/kg/BW/day for
8 consecutive weeks, via gavage, performed at the same time. CTL
received only 1 mL of filtered water. Each 10 g dry weight of açai
contain 5.4 g of lipids (3.0 g of Ω-9 and 0.5 g of Ω-6), 1.0 g of protein,
0.5 g of carbohydrates, 2.7 g of fiber and 54.1 kcal.

Metabolic profile

After confirmation of diabetes, the animals were placed in


metabolic cages for 24 h urine collection at the 3rd (short), 28th
(medium), and 56th days (prolonged). Standard chow and water were
available ad libitum. After this procedure, animals were fasted for 3 h
to glucose measurement using blood from tail vein. Subsequently, it
was collected a small aliquot of blood from retro-orbital plexus of the
animals, under anesthesia; the blood samples were centrifuged and
plasma was stored at −20 °C for further analysis.

Euthanasia

The animals were euthanized at the end of the eighth week of


protocol with a high dose of anesthetic (ketamine hydrochloride and
xylazine hydrochloride, 150 mg/kg and 50 mg/kg, respectively; both
IM), followed by diaphragm perforation. The remaining kidney was

320
collected, washed with 0.9% saline and stored at −80 °C for further
analysis.

Renal function and proteinuria

Plasmatic and urinary levels of creatinine and urea were assessed by


colorimetric kits following manufacturers specifications. Proteinuria was
also assessed by colorimetric kit. The measurements were performed in a
microplate reader.

Histological analysis

The remaining kidney was cut in half, following the coronal


plane. The tissue was fixed in a buffer containing 10% formalin (pH 7.4),
embedded in paraffin, sectioned to a thickness of 4 μm and stained
with hematoxylin-eosin (HE), periodic acid-Schiff (PAS) and Masson’s
trichrome (MTC). The slides were visualized in a light microscope at
200× and 400× magnifications. The analysis was performed by a
pathologist, under blind conditions.

Statistical analysis

The results were expressed as mean ± standard error of


media (SEM). The differences among the groups were examined for
statistical significance using One-way Analysis of Variance (ANOVA)
followed by Holm-Sidak’s Multiple Comparison posttest for parametric
data or Kruskal–Wallis followed by Dunn’s Multiple Comparison
posttest for non-parametric data. Values were considered statistically
significant when p < 0.05. Statistical analysis was made in the
GraphPad Prism 7.0 software.

Results

Açai controls blood glucose and metabolic parameters in DN-induced


rats

The protocol of experimental diabetes proved to be effective


when compared to control group, resulting in the alteration of all
metabolic parameters, in the three periods studied. (Table 1). Acute,
intermediate and chronic treatment with EA significantly reduced
blood glucose in the DMEA compared to DM. After 3 days of

321
treatment, there was a reduction in water and food intake and, after
30 days, diuresis is significantly reduced in diabetic animals that
received açai when compared to those that received only water. At
the end of the treatment, the DMEA showed reduced intake of water
and food, and reduced diuresis. On the other hand, these animals
showed recovery of body weight vs. DM group (p < 0.05).

Table. 1 - Metabolic parameters at the beginning, during and at the end of the
protocol.

Groups CTL CTLEA


Parameters/Time
of treatment 3d 30d 60d 3d 30d 60d

Blood glucose 99±4 105±1 100±2 109±2 110±4 101±3


(mg/dL)
Water intake 35±1 35±2 30±1 28±3 28±3 20±1
(mL/24 h)
Food intake (g) 19±1 22±1 21±1 18±1 18±0.3 17±1
Diuresis (mL/24 15±1 15±1 13±1 10±1 11±1 9±1
h)
Body weight 256±3 273±8 388±5 237±3 253±6 344±4
(BW) (g)

Groups DM DMEA
Parameters/Tim
e of treatment 3d 30d 60d 3d 30d 60d

Blood glucose 519±17 491±18 564±11 379±16 376±21 504±6#


# #
(mg/dL) * * *
Water intake 119±9* 113±8* 150±7* 94±5# 106±4 130±5#
(mL/24 h)
Food intake (g) 28±2* 16±1* 34±1* 19±2# 19±1 31±1#
Diuresis (mL/24 93±8* 109±8* 102±4* 90±7 86±6# 99±2#
h)
Body weight 231±2* 211±10* 192±9* 220±7 219± 5 248±14
#
(BW) (g)
CTL: control group; CTLEA: açai-treated control group; DM: diabetic group;
DMEA: açai-treated diabetic group. Data are expressed as mean ± SE. One way
ANOVA with Holm-Sidak's posttest or Kruskal-Wallis with Dunn's posttest. n =
8-12 per group, p < 0.05: *vs. CTL of the same time; #vs. DM at the same time.

322
Açai improves renal function and proteinuria in DN-induced rats

In Figure 1A, we can observe that the short (after 3 days) and
intermediate (after 30 days) treatment with EA reduced plasmatic
creatinine. There was no statistical difference at the end of the
treatment. Creatinine clearance was reduced in diabetic animals and
increased in DMEA group at all times of treatment; p < 0.05 (Figure
1B). Diabetic animals showed high levels of plasmatic urea after 30 and
60 days of treatment when compared to control animals. However, EA
promoted a significant reduction in these levels after 3, 30 and 60 days
of treatment (Figure 1C). Urea excretion was significantly reduced
(DM vs. CTL), but açai extract did not improve this parameter during
treatment (Figure 1D).

Fig.1. Renal function after 3, 30 and 60 days of treatment with EA. Plasmatic
creatinine (A), Urinary creatinine (B), Plasmatic urea (C) and Urinary urea (D).
Data are expressed as mean ± SE. Parametric: One way ANOVA with Holm-
Sidak's posttest. Non-parametric: Kruskal-Wallis with Dunn's posttest. CTL:
control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic group; DMEA:
diabetic who received açai. N = 8-12 per group. P<0.05: *vs. CTL of the same
time; #vs. DM of the same time.

323
Proteinuria levels were bigger in diabetic rats when compared
to controls; however, when diabetic animals receive EA, these levels
were reduced close to basal levels of the CTL group after short (Figure
2A), medium (Figure 2B), and prolonged treatment (Figure 2C).

Fig.2. Proteinuria after 3 (A), 30 (B) and 60 (C) days of treatment with EA. Data
are expressed as mean ± SE. Parametric: One way ANOVA with Holm-Sidak's
posttest. CTL: control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic
group; DMEA: diabetic who received açai. N = 8-12 per group. P<0.05: *vs. CTL;
#vs. DM.

324
Açai reduces structural changes in the renal cortex of DN-induced rats

Microscopic observation of the histological samples from CTL


and CTLEA reveals no pathological changes in both hematoxylin-eosin
(HE), periodic acid-Schiff (PAS), and Masson’s trichrome (MTC) (Figure
3). Diabetic rats presented visible changes in HE staining, such as mild
mesangial expansion and diffuse glomerulosclerosis (thick yellow
arrow) associated with loss of tubular microvilli (thin yellow arrows).
Animals that received açai showed minimal or none changes. PAS
staining revealed some alterations, such as hyaline droplets

325
accumulation – a marker of glycosidic degeneration (thin blue arrows).
However, there was a considerable reduction in these changes in
DMEA vs. DM. In MTC staining, it was observed that diabetic animals
showed collagen IV deposition (thin green arrows). However, this
marker was reduced in açai-treated diabetic animals.

Fig.3. Microscopic analysis of renal tissue sections after 60 days of açai (x400).
CTL: control group; CTLEA: control that received açai; DM: diabetic group and
DMEA: diabetic group with açai. HE: Glomeruli with diffuse sclerosis and
increased mesangial matrix (thick yellow arrow), and loss of tubular microvilli
(thin yellow arrows); PAS: tubules with glycosidic and hyaline degenerations
(thin blue arrows); MTC: collagen IV deposition (thin green arrows).

Discussion

Optimal diabetes control and associated risk factors for DN


involve intensive strategies for microalbuminuria, avoiding
progression to macroalbuminuria [13]. In our study, açai extract
showed beneficial effects on renal function parameters, important
improvement of proteinuria (in short, medium and prolonged
treatment), and protection against major structural changes in the
renal cortex of diabetic rats, after prolonged treatment.
DM is characterized by the progressive failure of pancreatic β-
cells, causing hyperglycemia, which in turn leads to overproduction of
nitric oxide (NO) due to activation of the iNOS/NF-κB pathway,
contributing to the pathogenesis of long-term complications

326
associated with generation of ROS, resulting in oxidative damage
mainly in the kidneys [14]. The strict control of glycemia in diabetics
considerably reduces the risk of kidney disease, including
macroalbuminuria; being the chronic hyperglycemia the main
responsible for the functional and structural changes in the kidneys,
resulting in proteinuria [15] – agreeing with the findings of our
experimental model. Matheus et. al. [16], showed that the
anthocyanins present in açai reduced NO via iNOS inhibition, which
could be the activated pathway in our study.
Accumulation of pro-inflammatory cytokines (IL-6, TNF-α, and
TGF-β1) enhances the production of free radicals and causes apoptosis
and necrosis of renal tissue. This is a well-established event in the
progression of diabetic kidney disease. DN associated with
morphological and structural changes within the kidney is determined
by the clinical manifestation of the disease [17]. Antidiabetic drugs do
not have high efficacy in the prevention and containment progression
of DN, even those acting in the renin-angiotensin-aldosterone system
pathway. One of the main triggering factors to the activation of the
sequential chain of oxidative stress, inflammation and fibrosis in DN
are the advanced glycation end-products (AGEs) induced by
hyperglycemia [18].
After 3 days of treatment with EA, there was a significant
reduction in blood glucose, plasmatic creatinine and proteinuria,
revealing that EA was able to minimize the acute effects caused by
STZ (increased oxidative stress and inflammation). Beneficial effects
of this extract were shown in another study in a short period of time,
using EA doses of 500 and 1000 mg/kg/day administered to adult
Wistar rats for 15 days, suppressing the levels of serum creatinine,
plasma urea nitrogen and kidney injury molecule-1 (KIM-1), also
reducing the levels of malondialdehyde, IFN-γ, caspase-3, collagen IV,
endothelin-1 and IL-1; increasing the content of IL-10, resulting in the
improvement of kidney injury induced by bilateral
ischemia/reperfusion in rats, in a dose-dependent manner [19],
corroborating with our findings.
After half-period treatment, the EA continued to reduce the
animals' blood glucose, as well as markers of renal function. Studies
with STZ-induced diabetic rats, treated with extract seed açai (ESA) at
a dose of 200 mg/kg/day for 40 and 45 days, showed reduced serum
levels of urea, creatinine and albumin, albuminuria, renal fibrosis and
oxidative damage markers such as TBARS, carbonyl and 8-isoprostane,

327
in addition to preventing the increase in systolic blood pressure. On
the other hand, it increased the activity of antioxidant enzymes
(superoxide dismutase, catalase and glutathione peroxidase) [20, 21].
In DM2 rats, which were induced by high-fat diet and STZ (35
mg/kg ip), treatment with ESA (200 mg/kg/day) for 4 weeks reduced
blood glucose, insulin resistance, IL-6, lipid profile (triglycerides, total
cholesterol and VLDL) and vascular dysfunction; increasing the
expression of insulin signaling proteins in skeletal muscle and adipose
tissue, as well the plasma levels of glucagon-like peptide-1 (GLP-1).
Physical training (30 min/day; 5 days/week) potentiated the glucose-
lowering effect, activating the adiponectin-AMPK pathway,
demonstrating antidiabetic effect and anti-inflammatory action [22].
Antioxidants have been widely used by many researchers to
alleviate the complications of DN. Rat model of STZ-induced DN and
high fat and sugar diet treatment with 300 mg/kg/day curcumin
(derived from flavonoids), effectively improved renal function,
reduced levels of glucose, serum creatinine, urea nitrogen and urinary
albumin and even attenuated histomorphological changes in rats [23].
Animals administered with polyherbal formulation, rich in
antioxidants, exhibited noteworthy decrease in lipidic profile, serum
creatinine, urinary protein, urinary albumin excretion rate and AGEs
[24]. Studies have shown that polyphenols, especially the flavonoids,
are capable of stimulating the transcription of enzymes of the
antioxidant defense system, activating the antioxidant response
element (ARE) through the erythroid-derived nuclear factor 2 (Nrf2)
[25].
Anthocyanins can regulate carbohydrate metabolism in the
body due to up-regulation of GLUT4 (insulin-regulated glucose
transporter) translocation, increased activation of PPARγ (peroxisome
proliferator activated receptor γ) in adipose tissue and skeletal muscle
[26]. Clinical studies with women and basic research with animals have
shown that anthocyanins decrease insulin resistance, this may occur
through upregulation of GLUT4, activation of AMP-activated protein
kinase and downregulation of expression of retinol binding protein 4
(RBP4) [27, 28]. Anthocyanins also increased tissue glucose uptake
and utilization in diabetic rats and mice induced by STZ [29]. Another
mechanism that may explain the reduction in blood glucose is that
anthocyanins inhibit intestinal α-glucosidase and pancreatic α-amylase,
which was shown in a study comparing a meal with anthocyanins and
the absence of these compounds [30].

328
Nrf2 plays a crucial role in renoprotection, it is one of the main
factors involved in the transcription of genes that encode antioxidant
enzymes, in addition to acting in the modulation of inflammatory
responses. It is known that protection against DN is, at least, partially
through the inhibition of TGF-β1 and reduction in the production of
extracellular matrix.
Antioxidant compounds activate the Nrf2/ARE signaling
pathway. STZ-induced DN model revealed that Nrf2-null mice
developed severe kidney injury with greater oxidative damage to DNA
[31], furthermore showed in human renal mesangial cells that the high
glucose content induced the production of ROS and activated the
Nrf2. Thus, a study with resveratrol (polyphenol with high antioxidant
power) at a concentration of 40 mg/kg administered to aged mice for
6 months, activated Nrf2, improved renal function, proteinuria,
glomerulosclerosis, tubular interstitial fibrosis, inflammation and
apoptosis in this model of kidney injury. These protective effects were
mediated by activation of SIRT1/AMPK and PPARα signaling, pathway
by which açai probably promoted its effects in our study [32].

Conclusions

These findings indicated that açai improved


metabolic parameters, renal profile, proteinuria and structural aspects
in diabetic animals after short, medium and long treatment. The use of
açai can be a supporting strategy, associated with the
pharmacological treatment of diabetes, in order to delay the
deleterious effects that occur in the progression of this disease. Thus,
this study has a great relevance for a better understanding of the
effects of açai in diabetic nephropathy.

Acknowledgements

The authors acknowledge the researchers of our Laboratory


(Laboratory of Nitric Oxide and Oxidative Stress) for technical
assistance, in special Ângela Leite Bertolini, Inri Faria and Marcela
Neves.

329
Conflicts of interest statement

On behalf of all authors, the corresponding author states that


there is no conflict of interest. The authors alone are responsible for
the content and writing of the article.

Funding sources

This study was supported by Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnologico (CNPq) and Fundacao de
Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo (FAPESP, 2017/09777-9).

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Sobre o organizador e a organizadora
Giovano Candiani

Bacharel em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista


(Unesp) e em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário FIEO.
Especialista em Educação Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública
na Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Biodiversidade
Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica. Doutor em
Energia pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Pós-Doutor em
Gestão Ambiental pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) USP - Leste na Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é
professor adjunto na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) -
Campus Diadema (SP).

Letícia Viesba

Coordenadora Editorial da área Ciências Exatas e da Terra da


V&V Editora, Professora da Rede Estadual de São Paulo nas disciplinas
de Matemática, Eletivas e Projeto de Vida. Consultora técnica no
Programa Escolas Sustentáveis (PROEX/ Unifesp, PNT/Capes) e
Observatório de Educação e Sustentabilidade da Unifesp Diadema.
Graduada em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP) e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em
Análise Ambiental Integrada (UNIFESP) como bolsista CAPES. Já fui
prestadora de serviços, como Cientista Ambiental na Converge
Consultoria, e captadora de recursos na empresa Greenpeace Brasil.
Realizei a pesquisa de iniciação científica "Análise Comparativa dos
Cursos de Graduação em Ciências Ambientais no Brasil" financiada
pelo CNPq no edital 2014-2015 de iniciação científica. Participei da
pesquisa: "Estudo de Geração em Ciclo Combinado a partir de Biogás e
Resíduos Sólidos" financiada pela Aneel/Petrobrás durante o ano de
2016.
Sobre as autoras e os autores

Adelson Marçal Rodrigues

Licenciado e bacharel em Ciências Biológicas (2005, Universidade do


Grande ABC), fiz mestrado(2009) e doutorado (2013) na área de Ciências da
Saúde (Universidade Federal de São Paulo), nesta fase, minha pós-graduação
foi embasada em conhecimentos relacionados à fisiologia renal, balanço
redox, treinamento aeróbio moderado, nefropatia diabética e receptores
purinérgicos da família P2X. Hoje realizo pesquisa de pós-doutorado na mesma
instituição de pós-graduação, dando continuidade à fisiopatologia da
nefropatia diabética, com ênfase no receptor P2X7 e Klotho, um agente anti-
envelhecimento. Como biólogo tenho experiência no convívio com pessoas,
atuei coorientando teses e dissertações de impacto, todas relacionadas à Área
da Saúde, tenho vasta atuação como avaliador de projetos em congressos e
feiras acadêmicas, atuo como revisor de revistas de bom impacto como
poderão ver abaixo. Tenho experiencia com máquinas de dosagens como
leitores de Elisa, centrífugas, ultracentrifugas, criostatos, micrótomos, pouca
experiencia em citometria e eletroforese, atualmente fazendo capacitação
para espectrometria de massas. Tenho vasto conhecimento em produção de
projetos e elaboração de protocolos experimentais in vivo e in vitro.

Adriano Michael Bernardin

Possui graduação (1991) e mestrado (1994) em engenharia mecânica


e doutorado (2006) em engenharia química pela Universidade Federal de
Santa Catarina e pós-doutorado (2012) pela Universitat Jaume I (Espanha) e
(2016) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professor da
Universidade do Extremo Sul Catarinense, onde atua nos Programas de Pós-
Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (2011) e de Ciências
Ambientais (2012). Na UNESC é coordenador do curso de engenharia mecânica
(2016). Tem experiência na área de cerâmica, atuando principalmente com
cerâmica tradicional, vidros e vidrados, geopolímeros, nano-óxidos e
cerâmicas funcionais fotocatalíticas.
Alessandra Suzin Bertan

Natural de Clevelândia, PR, é engenheira química pela Universidade


Tecnológica Federal do Paraná (campus Francisco Beltrão), mestra e
doutoranda em Engenharia Química na Unicamp. Fez parte, em 2019, da
equipe vencedora do Desafio Unicamp em inovação e, em 2020, foi premiada
com o melhor trabalho na área temática de Extensão em Ciência e Tecnologia
no I CoBICET. Proferiu palestras no II COBICET, na Universidade Federal de
Campina Grande e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui uma
patente depositada, dois capítulos de livro publicados, oito artigos publicados
em revistas especializadas, bem como cerca de trinta artigos publicados em
anais de congressos. Apresenta experiência didática em Fenômenos de
Transporte e atua nas áreas de ensino em Engenharia Química e em pesquisa e
desenvolvimento de processos de produção e de purificação de fármacos.

Ana Cláudia Sales Rocha Albuquerque

Possui graduação em CIÊNCIAS BIOLÓGICAS pela UNIVERSIDADE


FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (1995), especialização (1996), mestrado
(1998) e doutorado (2003) em PSICOBIOLOGIA pela UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO GRANDE DO NORTE. Atualmente é professora adjunta da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e membro do mestrado
profissionalizante em Ciências Biológicas -PROFBIO/CAPES. Tem experiência
em pesquisa na área de Comportamento Animal, com ênfase em
Comportamento sócio reprodutivo e fisiologia da resposta ao estresse em
primatas neotropicais vivendo no ambiente natural e estudo da biologia
reprodutiva de aves.

Ana Cristina de Menezes

Sou graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Mogi das


Cruzes (1993). Tenho especialização em Gestão Ambiental pelo Instituto
Federal do Tocantins (2012) e mestrado em Ciências Florestais e Ambientais,
pela Universidade Federal do Tocantins (2022). Áreas que atuei: Educação
formal e ambiental, conservação, levantamentos e censos de fauna.
Augustus Caeser Franke Portella

Possuo Graduação em Estatística e mestrado em Processos


Biotecnológicos pela Universidade Federal do Paraná e Doutorado pela Rede
de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal - BIONORTE.
Atualmente sou Professor Adjunto da Fundação Universidade Federal do
Tocantins-UFT, com contribuições nas áreas de Planejamento de
Experimentos e Estatística, dando ênfase ao estudo da Microbiologia
Preditiva, Bioestatística, Bioinformática e em pesquisas sobre Microbiologia
(Cultivo de fungos e cogumelos comestíveis e medicinais), bem como na
bioprospecção de plantas com atividade fungistática e entomocida com
interesse em compostos bioativos e propriedades enzimáticas.

Bárbara de Almeida Paiva

Formação em andamento em zootecnia.

Brisa Maria Fregonesi

Possui graduação em Licenciatura e Bacharelado em Ciências


Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP
(Jaboticabal). Mestrado e Doutorado em Ciências pela Universidade de São
Paulo (USP). Experiência em saneamento, saúde e meio ambiente, atuando
especialmente em água e efluentes. Atualmente trabalha como Monitor de
Educação Profissional no SENAC- Unidade Jabaquara, ministrando aulas na
área de Meio Ambiente e Saúde (20h).

Carolina Sampaio Machado

Possui graduação em Licenciatura e Bacharelado em Ciências


Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP
(Jaboticabal). Mestrado e Doutorado em Ciências pela Universidade de São
Paulo (USP). Pós-doutoranda pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (EERP/USP). Experiência em qualidade da água,
saúde e meio ambiente, atuando especialmente em projetos de
gerenciamento de recursos hídricos. Atualmente é professora da Área de
Ciências da Natureza, especialidade Biologia pelo Senac São Paulo.
Carolini Aguiar da Silva Sartori

Enfermeira. Secretaria de Estado da Administração Prisional e


Socioeducativo- Santa Catarina.

Cláudio V. P de Azevedo Andrade

Daniela Midori Kaneshiro

É Mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela


Universidade Federal de São Carlos. Possui graduação em Engenharia
Ambiental pela Universidade Federal de Itajubá, especialização em Engenharia
de Segurança do Trabalho pela Faculdades Oswaldo Cruz e curso técnico-
profissionalizante em Técnico em Eletrônica pelo Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo (2001). Atualmente é Engenheira Ambiental da
Secretaria de Meio Ambiente. Atuando principalmente nos seguintes temas:
serviços, turismo, meio ambiente, Unidades de Conservação.

Diego Barcellos

Professor do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade


Federal de São Paulo (UNIFESP), campus Diadema (SP). Doutorado (2018) e
Mestrado (2013) em Ciência do Solo pela University of Georgia (EUA).
Graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (2011). Natural
do Espírito Santo, filho de agricultores produtores de café. Áreas de atuação:
Química do Solo, Geoquímica Ambiental, Química da Matéria Orgânica do
Solo, Pedologia. Linha de pesquisa: biogeoquímica de ferro, carbono e metais
em solos com flutuações redox e de áreas úmidas (estuários e manguezais).
Leciona: Geoquímica Ambiental, Solos e Paisagens, Empreendedorismo e
Inovação na Área Ambiental. Trabalhou com solos do estuário do Rio Doce,
manguezais (ES e CE), e com fitorremediação. Possui formação básica em
técnicas síncrotron para estudos agro-ambientais (curso do LNLS).
Treinamento em empreendedorismo e inovação na Singularity University
(2017), no Global Solutions Program, financiado pela NASA e Google.
Deyse Yorgos de Lima

Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Doutora em


Ciências da Saúde (Nefrologia) pela UNIFESP. Mestre em Ciências da Saúde
(Medicina Translacional) pela UNIFESP. Iniciação Científica em Ciências da
Saúde (Nefrologia) pela UNIFESP-EPM (2012-2014). Pesquisadora colaboradora
no Laboratório de Óxido Nítrico e Estresse Oxidativo - Unifesp/SP, atuando
nas seguintes linhas de pesquisa: pesquisa experimental e clínica com ênfase
em alimentos funcionais, compostos bioativos, diabetes, nefropatia diabética,
músculo esquelético, exercício, estresse oxidativo e óxido nítrico.
Nutricionista voluntária no Ambulatório de Gastroenterologia, Fígado -
UNIFESP.

Dominique Mouette

Possui graduação em Matemática pela Universidade Estadual de


Campinas, mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de
Campinas e doutorado em Engenharia de Transportes pela Universidade de
São Paulo. Docente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP) e
no Programa de Pós-Graduação em Energia (PPGE/USP) da Universidade de
São Paulo, pesquisadora do RCGI (Research Centre for Greenhouse Gas
Innovation). Tem experiência na área de Engenharia de Transportes, com
ênfase em planejamento da mobilidade, transporte sustentável, transporte de
baixo carbono, planejamento energético e transportes, emissões de GEE.

Elisa Mieko Suemitsu Higa

Médica formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa


de São Paulo, concluiu Mestrado e Doutorado em Medicina pela Disciplina de
Nefrologia (nota CAPES 7), Escola Paulista de Medicina, UNIFESP. Pós-
doutorado pela University of Colorado Health Sciences Center, Denver,
Colorado. Tem título de Especialista em Terapia Intensiva pela Associação de
Medicina Intensiva Brasileira e título de Especialista em Nefrologia pela
Sociedade Brasileira de Nefrologia. Professora Titular da Disciplina de
Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências e Pesquisadora na
Disciplina de Nefrologia. Orientadora credenciada da Pós- Graduação em
Nefrologia e em Medicina Translacional da UNIFESP. Fundadora e Chefe do
Laboratório de Óxido Nítrico e Estresse Oxidativo da UNIFESP. Conselheira no
Conselho de Graduação. Fundadora e Coordenadora/Preceptora da Liga
Acadêmica de Medicina de Urgência da UNIFESP. Coordenadora do Guia de
Medicina de Urgência, Editora Manole, atualmente na 4ª Edição. Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível PQ2.
Francisco Menino Destefanis Vitola

Gabriel Gonçalves Reis

Gabriela Sueza Cabelo Silva

Gabriela Sueza Cabelo Silva. Aluna do curso de Ciências Ambientais,


da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp.

Giovana Rita Punaro

Graduada em Nutrição pela Universidade Bandeirante de São Paulo.


Mestrado (2012) e Doutorado em Ciências da Saúde (2017) pela Unifesp. Pós-
doutorado em andamento (2020-2022) no Programa de Pós-graduação de
Nefrologia. Pesquisadora colaboradora no Laboratório de Óxido Nítrico e
Estresse Oxidativo - Unifesp/SP, atuando nas seguintes linhas de pesquisa:
sistema redox, exercício, compostos bioativos antioxidantes, probiótico,
estresse oxidativo e nitrosativo, metabolismo do óxido nítrico, epigenética,
diabetes, hipertensão arterial e nefropatia diabética. Treinamento de alunos
em técnicas de laboratório de pesquisa (bioquímica, imunologia e biologia
molecular), auxiliando esses alunos na redação de projetos para ingresso na
iniciação científica, mestrado e doutorado.

Giovanna dos Santos Matos Paiva

Técnica em Nutrição e Dietética pela ETEC Parque Belém, graduanda


em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de São Paulo.
Gláucia Cardoso de Souza-Dal Bó

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais


da Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGCA/UNESC). Graduada em
Engenharia Ambiental e Mestre em Ciências Ambientais pela mesma
instituição. Atuou nas linhas de gestão ambiental e valorização de resíduos
sólidos, quando vinculada ao Laboratório de Sociedade e Meio Ambiente
(LABSDMA/UNESC) e ao Grupo de Materiais Cerâmicos (GMC/UNESC). Tem
experiência nas áreas de gestão e controle ambiental, educação ambiental,
sustentabilidade, recursos hídricos e resíduos sólidos.

Helenaide Gomes de Paiva

Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Escola Superior


de Agricultura de Mossoró (ESAM), Universidade Federal Rural do Semi-Árido -
UFERSA, Mossoró-RN, graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), especialização em Administração dos
Serviços de Saúde (Saúde Pública e Administração Hospitalar) pela
Universidade de Ribeirão Preto - SP; mestrado em Agronomia (Solos e
Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal do Ceará- Fortaleza. Trabalha
na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN, como Técnico de
Nível Superior, na Faculdade de Letras e Artes - FALA, Departamento de
Línguas Estrangeiras - DLE, Núcleo de Estudos e Ensino de Línguas - NEEL.
Atua no Grupo de Pesquisa Ecologia e Sistemática Animal da UERN.

Henrique Michelutti Petroni

Graduando em Ciências Ambientais pela UNIFESP.

Hirdan Katarina de Medeiros Costa

Advogada formada pela Universidade Federal do Rio Grande do


Norte (UFRN). Mestre e Doutora em Energia pelo Programa de Pós-Graduação
em Energia da Universidade de São Paulo (PPGE/USP). Mestre em Direito de
Energia e de Recursos Naturais pela Universidade de Oklahoma (OU), nos
Estados Unidos. Mestre em Direito (PUC/SP). Em 2008, fui Pesquisadora
Visitante na Universidade de Oklahoma (OU), nos Estados Unidos. De agosto
de 2013 a julho de 2016, fui Pesquisadora Visitante do PRH04 ANP/MCTI.
Atualmente, sou Pesquisadora Visitante PRH 33.1 ANP/FINEP e Professora
colaboradora no PPGE/USP.
João Luiz Lani

Júlio Barboza Chiquetto

Pesquisador de pós-doutorado no departamento de Gestão


Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São
Paulo (EACH /USP). Também é professor investigador no Colégio Latino
Americano de Estudos Mundiais (FLACSO Brasil) e no Centro Universitário
Ítalo-Brasileiro. Tem pós-doutorado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-
USP), no Centro de Síntese USP Cidades Globais. Doutor em Geografia Física
pela USP com menção honrosa da CAPES. Foi convidado a ministrar aulas e
palestras na Faculdade de Saúde Pública da USP, no curso "environmental and
social change" da FAAP, e na pós-graduação em mudanças climáticas na
universidade de Chiapas, México. Foi pesquisador convidado em colaboração
acadêmica com a Universidade de Münster (Alemanha), com financiamento da
DAAD. Atua principalmente nos seguintes temas: poluição atmosférica, clima
urbano, climatologia geográfica, modelagem de qualidade do ar, mudanças
climáticas, mobilidade urbana, megacidades, planejamento urbano.

Karina Williams

Keith Dayane Leite Lira

Graduada em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de São


Paulo, pós-graduada em Gestão e Tecnologias Ambientais pela Universidade
de São Paulo e mestranda na Universidade Federal de São Paulo. Realizou
intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras em 2015/2016 no Limerick
Institute of Technology na Irlanda. Tem experiência profissional na área de
fiscalização ambiental, análise e interpretação de laudos de qualidade da água
e ar, bem como em projetos de arquitetura sustentável, incluindo implantação
de agrofloresta.
Keylla Donato

Atualmente graduanda em Ciências Ambientais pela Universidade


Federal de São Paulo. Sou a 4ª filha de 7 meninas, amante da natureza e muito
determinada com meus objetivos. Desde pequena desenvolvi interesse em
trabalhos sociais e voluntários que me trouxeram empatia e permitiram-me
crescer com um olhar mais esperançoso para o mundo. A noção da
desigualdade e a constante visão da realidade social do país me estimularam
quanto a empatia, respeito, compreensão, anseio por mudança e a vontade de
descobrir mais e assumir um papel para transformar o mundo. Tenho um
enorme apreço pela vida, por tudo que nos rodeia e nos conecta com o
mundo. O meio ambiente é muito importante para todos e é imprescindível o
reconhecimento da sua importância e visão da sua necessidade.

Lidiane Maria dos Santos Lima

Bióloga pelo Centro Universitário São Camilo, Especialista em Ensino


de Química pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Mestre e Doutora em
Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - Campus Diadema
(SP). Tem experiência em Microbiologia Geral e Ambiental, atuando em
ensaios funcionais e caracterização de proteínas microbianas. Desde 2010 é
Professora na Rede Estadual de Ensino de São Paulo na disciplina de Ciências.

Luan Gomes dos Santos de Oliveira

Antropólogo. Docente do curso de Ciências Sociais do Centro de


Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal de
Campina Grande (CDSA/UFCG). Docente permanente do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH/Mestrado) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Coordena o Grupo de
Pesquisa em Educação, Ecologia Política e Saúde/Ecos/CNPq.

Luis Antônio Bittar Venturi


Lucas Ferres

Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo, atuando durante


a graduação na diretoria da Liga Acadêmica de Produção de Pesquisa
Científica São Camilo (Vice-Presidente). Iniciação Científica em Ciências da
Saúde (Nefrologia) pela UNIFESP-EPM (2019-2020 bolsista FAPESP).
Mestrando em Ciências da Saúde, atualmente desenvolvendo pesquisa na
área experimental com ênfase em toxinas produzidas pela microbiota
intestinal e as consequências neurológicas e renais.

Luciana A. A. Previato Fonseca

Natural de Andradas, Minas Gerais. É doutoranda do programa de


pós-graduação em Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas.
Tem mestrado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de
Campinas. Cursou Engenharia de Alimentos na Universidade Federal de Lavras
e Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É docente em cursos de
graduação e pós-graduação, ministrando disciplinas dos cursos de Farmácia,
Nutrição e Engenharias. Autora de capítulo de livro, artigos publicados em
periódicos internacionais e material técnico/didático. Revisora de artigos
científicos. Exerce atividade de pesquisa nos seguintes temas: Termodinâmica,
Equilíbrio de Fases, Cromatografia Gasosa, Toxicologia e Compostos Bioativos.

Manoel Victor da Silva

Possui graduação em Enfermagem pela Escola Paulista de


Enfermagem - EPE/UNIFESP (2020), especialização na modalidade residência
em Cuidados Intensivos de Adultos - UNIFESP (em andamento).

Margaret Gori Mouro

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia,


Ciências e Letras Professor Carlos Pasquale (1987), mestrado em Ciências
Médicas e Biológicas pela Universidade Federal de São Paulo (2014) e curso-
técnico-profissionalizante em Colegial Técnico pelo Colégio Santo Agostinho
(1979). Atualmente é Técnica de Laboratório da Universidade Federal de São
Paulo. Atuando principalmente nos seguintes temas: Diabetes Mellitus tipo 2,
Oxido Nítrico, Estresse Oxidativo, Enzima Conversora de Angiotensina.
Marcelo Zeri

Formado em Física pela Universidade Federal de São Carlos, com


mestrado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), e doutorado em Geo-ecologia no Instituto Max Planck de
Biogeoquímica, Alemanha. Atualmente é pesquisador de Agrometeorologia e
Secas no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(Cemaden), em São José dos Campos, SP. Já participou de experimentos de
campo na Amazônia, Europa e Estados Unidos, na área de interação biosfera-
atmosfera, medindo trocas de gases e energia entre a atmosfera e
ecossistemas agrícolas e florestais. Em anos recentes, passou a desenvolver
pesquisas sobre riscos e impactos de secas na agricultura utilizando medidas
de campo e dados de satélite de chuva, umidade do solo e saúde da
vegetação. Publicou diversos artigos em revistas científicas, como Boundary-
Layer Meteorology e Agricultural and Forest Meteorology, além de atuar
como revisor nas áreas de meteorologia e geo-ecologia.

Marco Aurélio Cremasco

Professor Titular em Engenharia Química e Livre Docente em


Transferência de Massa, o prof. Marco Aurélio Cremasco é natural de Guaraci
(PR), engenheiro químico pela Universidade Estadual de Maringá, mestre em
Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutor em
Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
realizou pós-doutorado em Engenharia Química na Purdue University (EUA).
Professor na Faculdade de Engenharia Química na Unicamp, foi agraciado, em
2012, com o Prêmio de Reconhecimento Docente pela Dedicação ao Ensino de
Graduação, pela Unicamp. Em 2017, 2019 e 2021 recebeu o Prêmio Inventores
Unicamp. Tem quatorze livros publicados entre obras técnicas, romances,
contos, crônicas e poemas, tendo sido indicado em duas oportunidades ao
Prêmio Jabuti. O prof. Marco Aurélio Cremasco possui cerca de duzentos
artigos completos publicados em revistas especializadas e anais de
congressos, quatro patentes concedidas e depósito de outras três.

Maria Cristina Meneghetti

Enfermeira. Mestre em Educação nas Ciências. Especialista em


Administração hospitalar. Docente na Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões (URI) no Curso de Graduação em Enfermagem -
Campus Santo Ângelo/RS.
Mariana Frari Ragazzi

Mario Roberto Attanasio Junior

Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de


Direito da USP. Docente de Direito Ambiental da Universidade Federal de São
Paulo - Unifesp.

Moises Nascimento

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Nove de Julho -


UNINOVE (2014). Pós-graduação em Enfermagem Cardiologia e Hemodinâmica
pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE (2015). Mestrado em Ciências
pelo Departamento de Medicina, Disciplina de Nefrologia pela Universidade
Federal de São Paulo - UNIFESP (2020). Tem experiência na área de
Enfermagem CTI (Centro de Terapia Intensiva) e UCO (Unidade Coronariana) -
Hospital Cruz Azul São Paulo; serviços de Eletroencefalografia e Vídeo-
eletroencefalografia - UNIFESP. Pesquisador colaborador no Laboratório de
Óxido Nítrico e Estresse Oxidativo - UNIFESP/SP, atuando nas seguintes linhas
de pesquisa: sistema redox, compostos bioativos, antioxidantes, probiótico,
estresse oxidativo e metabolismo do óxido nítrico, sistema renina-
angiotensina, diabetes, hipertensão arterial e nefropatia diabética. Com
ênfase em Sistema renina-angiotensina, receptor purinérgico P2X7 e
nefropatia diabética.

Pablo de Azevedo Rocha

Robson Souza Serralha

Biomédico formado pelo Centro Universitário São Camilo (2017) com


habilitações em Toxicologia e Biologia Molecular. Mestre (2020) e Doutorando
em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Atua
na linha de pesquisa de diabetes mellitus experimental, receptor purinérgico
P2X7, disfunção mitocondrial e derivados cumarinos.
Rodrigo Fernandes Paes

Graduado em geografia pela Universidade de São Paulo, mestrando


em geografia física pela Universidade de São Paulo, pesquisador e licenciando
em geografia.

Rosane Teresinha Fontana

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Mestre em Enfermagem.


Especialista em Saúde Coletiva, Especialista em Educação Permanente em
Saúde em Movimento. Especialização em Tecnologias na Aprendizagem,
Especialista em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (2019). Docente
em cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões-campus Santo Ângelo/RS e docente
permanente do Mestrado em Ensino Científico e Tecnológico desta
universidade, atuando principalmente nas seguintes áreas: saúde do
trabalhador, educação em saúde, vigilância em saúde, infecções relacionadas
assistência à saúde, e, saúde coletiva. É servidora pública da secretaria do
Estado do Rio Grande do Sul, atualmente lotada no Núcleo Regional de
Educação em Saúde Coletiva.

Silvério Oliveira Campos

Susana Segura-Muñoz

Nascida em Costa Rica. Possui graduação em Biologia Marinha -


Universidad Nacional de Costa Rica, mestrado em Controle de Qualidade de
Alimentos Marinhos pela Universidade de Nagasaki, Japão e doutorado em
Enfermagem em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Posteriormente, foi bolsista ProDoc/CAPES e Jovem Pesquisador da FAPESP,
na Linha de Pesquisa Saúde Ambiental. Na pós-graduação, ministra disciplinas
e é orientadora plena de mestrado e doutorado. Atualmente, atua como
presidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária da EERP/USP e faz
parte da Câmara de Formação Profissional da Pró-Reitoria de Cultura e
Extensão Universitária da USP. Mantem acordo de cooperação internacional
com o Grupo TecnaTox da Unviversidade Rovira e Virgili da Espanha.
Suzan Pantaroto de Vasconcellos

Farmacêutica e Microbiologista, Mestre em Agronomia pela


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Doutora em
Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Foi
Pesquisadora colaboradora da Divisão de Recursos Microbianos no Centro
Pluridisciplinar de Pesquisas Biológicas, Químicas e Agrícolas CPQBA -
Unicamp, nas áreas de Microbiologia Aplicada e Metagenômica e
Pesquisadora visitante no CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial
Research Organisation) - Sydney, Austrália. E ainda, Pós-doutoranda na
Universidade de Groningen (Holanda), junto ao grupo de pesquisas do Prof.
Dr. Marco W. Fraaije. Tem experiência em Biocatálise, Microbiologia Industrial
e Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: metagenômica,
genética de microrganismos, biocatálise e biogeoquímica. Atualmente é
Professora Associada da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
Campus Diadema, junto ao curso de Ciências Ambientais, nas disciplinas de
Microbiologia Geral e Transformações Microbiológicas no Meio Ambiente. É
coordenadora da Câmara de Pós-graduação e Pesquisa do ICAQF-UNIFESP e
orientadora mestrado/doutorado do Programa de Pós-graduação em Química
- Ciência e Tecnologia da Sustentabilidade, além do Programa de Pós-
graduação em Biologia Química.

Tomás Rodrigues Alvares de Almeida Amaral

Graduando em Ciências Ambientais pela UNIFESP.

Vitor Gonçalves Vital

Graduado em Ciências Ambientais, pela Universidade Federal de São


Paulo. Integrante da Cooperação Científica para Estudos do Ambiente
Antártico. Experiência em Microbiologia Aplicada e Análises de Compostos
Bioativos. Bolsista de Treinamento Técnico em Microbiologia, tendo como
ênfase análises da eficiência microbicida de ligas metálicas, incluindo cobre e
prata. Doutorando em Ciências, vinculado ao Programa de Pós-graduação em
Biologia-Química (PPG-BQ), UNIFESP, Campus Diadema.
Vivian Lemes Lobo Bittencourt

Enfermeira, Doutora em Educação nas Ciências (2021), Mestre em


Atenção Integral à Saúde (2016), Especialista em Gestão Estratégica em
Cooperativa de Saúde (2014), Especialista em Enfermagem do Trabalho (2011),
graduada em Enfermagem (2007). Docente na Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) no Curso de Graduação em
Enfermagem - Campus Santo Ângelo/RS. Membro dos grupos: Pesquisa em
Enfermagem, Saúde e Educação (GEPESE/CNPQ); Pesquisas em Segurança do
Paciente e do Núcleo de Segurança do Paciente Polo Missões; e, Grupo de
Estudos e Pesquisa em Enfermagem Cirúrgica na URISanto Ângelo. Tem
experiência na área de Enfermagem, principalmente nos seguintes temas:
Centro Cirúrgico (CC), Centro de Materiais e Esterilização (CME), Segurança do
Paciente e Educação em Saúde.

Viviane Kraieski de Assunção

Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais


(PPGCA) da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). É Doutora em
Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
da Universidade Federal de Santa Catarina (2011), e realizou estágio-sanduíche
no Institute of Latin American Studies da Columbia University. Possui
mestrado em Antropologia Social (2007) e graduação em Jornalismo (2002)
pela Universidade Federal de Santa Catarina. Realizou pós-doutorado em
Antropologia Social na Free University of Amsterdam (2012-2013). Atua em
pesquisas, principalmente, nos seguintes temas: riscos e desastres ambientais;
meio ambiente e conhecimentos tradicionais; alimentação, consumo e
descarte; meio ambiente urbano e produção social do espaço.

Yuri Tavares
Zysman Neiman

Doutor e Mestre em Psicologia, Licenciado e Bacharel em Ciências


Biológicas, todos pela Universidade de São Paulo. É Pesquisador do
Departamento de Ciências Ambientais e do Mestrado em Análise Ambiental
Integrada, e Coordenador da Cátedra "Sustentabilidade e Visões de Futuro",
todos na Universidade Federal de São Paulo. É membro do Observatório de
Parcerias em Áreas Protegidas, do Comitê Interinstitucional de Educação
Ambiental do Estado de São Paulo, do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima,
do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, e da Comissão
Municipal para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de São Paulo. É
Presidente do Conselho do Instituto Physis - Cultura & Ambiente. Foi um dos
redatores do Tema Transversal "Meio Ambiente", dos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental do MEC. É autor de diversos livros de
Educação e Sustentabilidade, e é Editor Chefe da Revista Brasileira de
Ecoturismo, e da Revista Brasileira de Educação Ambiental.
Índice remissivo

abandono, 79, 94 200, 219, 275, 279, 282, 283,


agrotóxicos, 7, 12, 188, 189, 190, 288, 337, 338, 343, 349
191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, mudanças climáticas, 12, 20, 27,
198, 199, 200, 201 46, 212, 217, 342
alface, 8, 13, 308, 309, 310, 311, 313, parasitas, 309, 310, 311, 312, 313,
316 315
antioxidants, 318, 328, 330 recursos hídricos, 11, 177, 182, 183,
biomas, 6, 10, 30, 31, 33, 36, 37, 41, 184, 248, 249, 337, 341
42, 45, 48, 53, 55, 58, 65, 220 redes, 354
colonização, 132, 135, 136, 138 saneamento, 11, 174, 175, 176, 177,
comportamento, 11, 94, 95, 99, 178, 181, 182, 183, 184, 185, 186,
100, 101, 102, 103, 104, 192, 208, 187, 281, 337
209, 211, 252, 263, 281 saneamento básico, 11, 174, 175,
descarte, 160, 204, 205, 208, 209, 183, 184, 186, 187
211, 215, 302, 349 seca, 15, 16, 18, 24, 26, 27, 36, 37,
desmatamento, 7, 12, 49, 216, 218, 38, 41, 48, 96, 137, 140, 259,
224, 231 260, 294, 296, 298, 299, 300
diversidade, 31, 32, 33, 34, 35, 38, solo, 6, 10, 11, 14, 15, 16, 17, 18, 19,
39, 40, 41, 48, 56, 106, 122, 278, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28,
280, 290, 311 29, 31, 33, 37, 38, 39, 40, 42, 48,
gases, 12, 217, 237, 345 55, 105, 106, 111, 115, 117, 118, 122,
gestão, 8, 13, 70, 76, 92, 249, 267, 127, 128, 132, 189, 194, 195, 196,
269, 289, 304, 305, 306, 334, 223, 263, 309, 345
336, 338, 342, 347, 349 sustentabilidade, 10, 13, 270, 334,
indústria, 33, 42, 43, 205, 210, 234, 338, 348, 350
235, 236, 238, 239, 242, 243, 290 trabalhador, 7, 11, 150, 155, 166,
matriz, 135, 273, 280, 282 192, 347
meio ambiente, 11, 28, 29, 42, 62, umidade, 6, 10, 14, 15, 16, 17, 18, 19,
65, 66, 75, 90, 101, 176, 184, 189, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 35, 118,
190, 191, 192, 194, 195, 196, 199, 137, 263, 345
Ficha técnica

Título Ciências Ambientais

Subtítulo Pesquisas e experiências multidisciplinares

Org. Giovano Candiani e Letícia Viesba

Coleção Ciências Ambientais – estudos interdisciplinares

Páginas 352

Edição 1

Volume 1

Ano 2022

Cidade Diadema

Editora V&V Editora

ISBN 978-65-88471-57-9

DOI 10.47247/GC/88471.57.9

REFERÊNCIA

CANDIANI, G.; VIESBA, L. Ciências Ambientais: pesquisas e


experiências multidisciplinares. Diadema: V&V Editora, 2022.
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QUARTA CAPA

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