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resenhas-e-indicacoes-literarias-na-pre-escola

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 200, 01 de Março | 2007

Prática Pedagógica

Produção de resenhas e
indicações literárias na
pré-escola
Crianças de pré-escola aprendem a fazer indicações de
livros para pessoas da escola e da comunidade e, assim,
compartilham suas histórias preferidas
Agnes Augusto

"Quando eu era bebê eu era bonito? Em outros lugares os animais perguntaram


a seus pais a mesma coisa, mas quando chegou na história do sapo a conversa
foi outra. E se você quiser saber o restante desta história compre o livro: Como É
que Eu Era Quando Era Bebê?"

Luana, Lucas, André, Melissa, Giovanna e Laura estavam na préescola e, apesar


de ainda não terem sido formalmente alfabetizados, já gostavam muito de
histórias, como se pode ver no texto acima, criado por eles na Creche/Pré-Escola
Central da Universidade de São Paulo (USP).Como todas as crianças que chegam
aos 6 anos, eles tiveram a chance (no ano passado) de participar de um projeto
de imersão no universo da leitura e da escrita que culminou com a produção de
resenhas sobre as obras preferidas.

"Um trabalho desse tipo é uma necessidade hoje, pois as crianças precisam ter
acesso à norma culta desde cedo para poder ter uma participação social efetiva
no futuro", diz Beatriz Gouveia, coordenadora do Programa Além das Letras do
Instituto Avisa Lá, em São Paulo."Engana- se quem acha que isso é escolarizar a
Educação Infantil, ocupando o tempo da brincadeira para ensinar conceitos e
definições da língua.Assim como oferecemos experiências com música, arte e
natureza, apresentar práticas sociais de leitura e escrita é algo que as crianças
também têm o direito de vivenciar."

De fato, num país como o nosso, em que apenas 26% da população é


plenamente alfabetizada e onde cada cidadão lê em média apenas 1,8 livro por
ano (contra 2,4 na Colômbia, cinco nos Estados Unidos e sete na França),
estimular a leitura desde os primeiros anos de escolaridade é uma importante
missão da escola.

Na Creche da USP, o contato com textos começa bem antes de a garotada


aprender a ler e escrever. Os professores formam bons leitores utilizando livros
de vários gêneros (contos de fada, contos modernos, lendas, mitos e fábulas)
desde o berçário. A partir de 1 ano e meio de idade, todos podem pegar
emprestadas obras na biblioteca. Não é de estranhar que, aos 6, essa turma
consiga produzir resenhas. O projeto Indicação literária se encerra com a Feira
Cultural do Livro. "O objetivo é que as crianças usem os textos para convidar
familiares e funcionários a ler os livros de que elas mais gostam", explica Clélia
Cortez Moriama, coordenadora pedagógica.

Em 2006, as professoras Andréa Bordini Donnangelo e Cláudia Elisabete Duarte


Calado de Souza perguntaram: "Como podemos ajudar os visitantes da feira a
ler nossos livros prediletos?"Surgiram respostas como apontar oralmente os
mais apreciados e expor os exemplares da biblioteca. Elas, então, apresentaram
as inconveniências dessas ações e propuseram a criação de textos curtos com
informações sobre cada obra.

As crianças manusearam catálogos de editoras, leram as resenhas com as


professoras e se convenceram de que essa era uma boa solução.Na biblioteca,
escolheram os títulos preferidos e, em grupos de quatro ou cinco, entraram em
ação.Para começar, todos retomaram a leitura para relembrar a narrativa e
discutir como produzir os textos.

Cada grupo tinha um escriba,que passava para o papel o que era ditado pelos
colegas. A primeira versão trazia informações como título, autor, editora e uma
curta descrição. Em seguida veio a revisão - apenas uma resenha por dia para
preservar as outras atividades de rotina. Primeiro, Andréa e Cláudia leram cada
texto na íntegra e em voz alta. Depois, releram em partes, perguntando se havia
algo a alterar. "Chamávamos a atenção para os erros de concordância e as
marcas da oralidade, como né e tá", explica Andréa. "A ortografia não é
importante nessa idade", complementa Cláudia.As modificações foram copiadas
no quadro- negro e uma criança de cada grupo anotou a nova versão.

O objetivo era estimular o propósito social e comunicativo da escrita. Por fim, os


textos foram colados em cartolinas colocadas na entrada da Feira Cultural do
Livro.No dia do evento, os pequenos mostraram suas produções aos visitantes e
alguns até compraram os livros indicados para ter um exemplar em casa.

Produzir resenhas literárias...

- Ajuda a formar bons leitores e escritores.


- Apresenta um gênero textual.
- Ensina a socializar os livros prediletos.

Aprendizes de críticos
O sucesso de um projeto de indicação literária depende de certos requisitos. A
assessora Beatriz Gouveia apresenta algumas condições didáticas importantes:

- Tenha um bom acervo de livros. Para selecionar os títulos mais adequados,


certifique-se de que eles são bem ilustrados e não têm vocabulário pobre ou
infantilizado. A trama, é claro, deve ser interessante.

- Leia diariamente para as crianças. Essa ação deve fazer parte da rotina e não
apenas "se sobrar tempo".

- Prepare-se para a leitura. É importante arrumar o ambiente para que as


crianças fiquem confortáveis. Também é essencial ler o livro antes de socializá-lo
com a turma. Assim, você consegue fazer uma breve apresentação do que será
lido.

- Ensine a diferença entre ler e contar. Para que as crianças se familiarizem com
a linguagem escrita, leia o que está escrito, sem acrescentar nem omitir nada.
Na hora de contar uma história, a linguagem é menos formal e mais coloquial.

- Conhecer para indicar. Na hora de partir para a produção das resenhas, os


alunos precisam conhecer muito bem os livros que serão indicados (e gostar
deles).

- Dividir os grupos. Cabe a você organizá-los de acordo com o conhecimento que


as crianças têm sobre a escrita. A mais experiente vira escriba, enquanto as
outras ditam o texto.

- Revisar para facilitar. A discussão coletiva de cada texto tem o intuito de torná-
lo mais fácil e instigante para o leitor.

Quer saber mais?

CONTATO
Creche/Pré-Escola Central da Universidade de São Paulo, Av. da Universidade, 200, 05508-900, São Paulo, SP, tel.
(11) 3032-2233

BIBLIOGRAFIA
Além da Alfabetização, Ana Teberosky e Liliana Tolchinsky, 296 págs., Ed. Ática, tel. (11) 3990-2100, 39,50 reais
Diálogo entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz, 136 págs., Ed. Ática, 33,50 reais
Ler e Escrever na Escola, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Ar tmed, tel. 0800-703-3444, 32 reais
Ler e Escrever, Anne-Marie Chartier, Christiane Clesse, Jean Herbrard, 170 págs., Ed. Artmed, 38 reais
Psicopedagogia da Linguagem Escrita, Ana Teberosky, 152 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 25,60 reais

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