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Foto: Bigstock
Contudo, após inúmeras audiências públicas com forte participação de grupos pró-
vida, em 2013, o então senador Pedro Taques apresentou relatório final mantendo
o tratamento legal sobre o tema.
Não demorou nada e em 2014 os então deputados federais Eduardo Jorge e
Luciana Genro apresentaram novo projeto de lei visando descriminalizar o aborto.
Em 2015, o deputado federal Jean Willys protocolizou outro projeto com o mesmo
fim.
Disso já se vê o quão sem sentido é a hashtag “#PrecisamosFalardeAborto“, que
tenta apontar a questão como um tabu sobre o qual nada se discutiria. Na verdade,
o aborto é um dos temas mais vívidos e incansavelmente apresentados para
deliberação no Brasil. Se até agora não foi aprovado, isso não se deve à ausência de
meditação acerca do assunto, mas sim ao fato de que após anos de exposição de
seus argumentos por ambos os lados da discussão, o aborto como regra geral
segue sendo imensamente rejeitado pela população brasileira.
Recentemente, vencidos nas Casas de representação popular, os grupos pró-aborto
passaram a se utilizar de uma manobra antidemocrática, e o assunto passou a
frequentar os tribunais.
Por outro lado, na esfera legítima da representação popular, grupos pró-vida
tentam incrementar as regras constitucionais em defesa da vida humana do
nascituro.
Além disso, escritores brasileiros têm lançado livros abordando a matéria, como
recentemente o filósofo Francisco Razzo, com a obra: “Contra o Aborto“, cuja
sinopse já foi alvo de post deste jornal, o qual também publicou pequeno trecho do
livro.
(http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=29954)
Perguntas que você tem de saber responder
O fato é: é preciso saber se posicionar sobre tema tão relevante e recorrente.
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iii) Não seria desumano punir um casal jovem que cometeu um erro por
desespero?
São essas e outras perguntas que o texto a seguir pretende auxiliar a responder,
apontando 6 coisas que você precisa saber.
Foto: Pixabay
Para responder quando inicia a vida humana precisamos esclarecer duas coisas: o
que é vida; e, o que significa ser um membro da espécie humana.
Pois bem: vida é, primordialmente, capacidade de automovimento. Seres vivos
movimentam-se; seres brutos são movimentados por terceiros. “Viver é, antes de
tudo, mover-se a si próprio, automover-se. Essa é uma velha definição do ser vivo
(Aristóteles, De Anima). O vivo é aquele que tem dentro de si mesmo o princípio de
seu movimento”1 (Fundamentos de Antropologia, 2005, p. 24).
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E quando essa vida pode ser adjetivada como humana? A resposta é simples:
quando seu titular é um ser da espécie homo sapiens.
Portanto, uma vida humana inicia quando surge um novo homo sapiens com
uma carga genética inédita, completa, única e irrepetível. Aí surgirá a riqueza
de um novo ser dotado de dignidade própria.
Qual evento marca esse surgimento?
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Porém, surge uma questão relevante: proteger toda vida humana desde a
concepção – quando o novo ser vivo é constituído ainda por uma única célula – não
implicaria no entendimento (indubitavelmente equivocado) de que toda célula
humana deva ser protegida?
Por que não? Qual a diferença entre uma célula qualquer e o embrião no momento
imediato à concepção?
À luz desses dados, a lição é patente: ao perecer uma simples célula do corpo já
formado, não há extinção do indivíduo, da pessoa. Permanece viva, com todas as
demais células que reproduzem aquele mesmo padrão genético.
É nesse instante que deve surgir a proteção jurídica da vida. E o direito positivo
brasileiro, isto é, a legislação em vigor no país, já acolheu essa posição…
2) O direito brasileiro tutela a vida intrauterina
Nossa análise terá dois momentos: o exame dos aspectos jurídicos relativos à
Constituição Federal de 1988; e, após, o estudo do que toca às normas
infraconstitucionais (leis e tratados internacionais).
Acompanhe o raciocínio.
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2.1) A Constituição Federal de 1988.
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Nesse sentido, consignou o relator do julgado: “O Magno Texto Federal não dispõe
sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. (…)
Mutismo constitucional hermeneuticamente significante de transpasse de poder
normativo para a legislação ordinária. A potencialidade de algo para se tornar
pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la,
infraconstitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar
sua natural continuidade fisiológica” (ADI 3510, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 29/05/2008).
Logo, para saber o que diz o direito brasileiro, necessário examinar as disposições
infraconstitucionais… é o que vamos fazer agora…
2.2) Os Tratados Internacionais sobre Direitos
Humanos, a Legislação Infraconstitucional e a
jurisprudência
Senão vejamos.
Esse passo foi dado, de modo inequívoco, pela Convenção Americana de Direitos
Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, o qual em seu art. 4º,
1, dispõe:
“Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser
privado da vida arbitrariamente”.
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(https://www.flickr.com/photos/stjnoticias/28751042095/)
Além desses tratados, o Código Civil de 2002, em seu art. 2º, também prevê que “a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Com base nessa disposição, o STJ sufragou a teoria concepcionista, reconhecendo
que “além de seus direitos estarem resguardados (art. 2º, do CC/2002), à luz da
teoria concepcionista, é o nascituro sujeito de direito. Precedentes do e. STJ.”
(AREsp. Nº 150.297). Com base nesse fundamento, o Superior Tribunal de Justiça
confirmou o direito de o nascituro receber indenização por danos morais.
Inclusive aquela Corte passou a entender que a morte do nascituro em acidente
automotivo gera direito ao pagamento de seguro DPVAT, uma vez que ele já é uma
pessoa titular do direito à vida.
Analisando essa úlitma temática, registrou o Min. Luis Felipe Salomão, relator
do REsp 1.415.727-SC, julgado em 4/9/2014, em um dos votos mais
esclarecedores e interessantes sobre o assunto:
“(…) o ordenamento jurídico como um todo (e não apenas o CC) alinhou-se
mais à teoria concepcionista – para a qual a personalidade jurídica se inicia
com a concepção, muito embora alguns direitos só possam ser plenamente
exercitáveis com o nascimento, haja vista que o nascituro é pessoa e, portanto,
sujeito de direitos – para a construção da situação jurídica do
nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina
contemporânea. (…) atualmente há de se reconhecer a titularidade de
direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais
importante, uma vez que, garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou
mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido
também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos
os demais. Portanto, o aborto causado pelo acidente de trânsito subsume-se ao
comando normativo do art. 3º da Lei 6.194/1974, haja vista que outra coisa não
ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina”
(Informativo 547, STJ).
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A pergunta que fica é: ele acertou ao fazê-lo? É o que vamos ajudar você a tentar
responder nos tópicos seguintes.
3) Qual o efeito da tutela penal da vida
intrauterina no número de abortos praticados?
Bom… de fato, a vedação legal ao aborto não é capaz de evitar todos os casos de
abortamento, e assim salvar a vida de todos os seres humanos em fase gestacional.
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Pois bem. Utilizando essa metodologia, é perceptível que países que legalizaram a
prática tiveram incremento nas taxas de abortos efetuados.
Alguns exemplos:
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Uruguai:
Foto: Pìxabay
Estados Unidos:
O número não parou então de subir, como pode ser visto no gráfico abaixo, em que
a coluna da esquerda aponta o ano; a do meio, o número absoluto de abortos; e a
da direita, a proporção de abortos para cada mil nascimentos:
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Após mais de uma década o número cessou sua trajetória ascendente e ficou quase
estagnado. Em 1990, mais um triste recorde em números absolutos, ultrapassando
um milhão e quatrocentos mil abortos.
Em 1992, a Suprema Corte no caso Casey v. Planned Parenthood decidiu que os
estados podiam impor restrições administrativas – embora não penais – a práticas
abortivas (como exigência de consentimento esclarecido, com exposição de
informações sobre um aborto aos que procurem esse serviço; notificação dos pais
caso menores de idade solicitem aborto; imposição de períodos mínimos de espera
após o pedido etc.).
http://marchforlife.org/home/
Desse ano em diante, vários estados passaram a criar e reforçar a aplicação de leis
antiaborto, de modo que o número voltou a cair, muito embora sem jamais voltar
aos patamares prévios à descriminalização.
Austrália:
Foto: Pixabay
O Brasil, mesmo tendo outros dados que impactam negativamente (como renda,
escolaridade, acesso a tecnologia etc), apresenta proporcionalmente 10x menos
abortos do que a França; 8x menos do que a Suécia; e 4x menos do que Inglaterra
ou Japão.
Ademais, além do empirismo, é possível apontar duas razões teóricas pelas quais
as práticas abortivas experimentam redução quantitativa quando penalmente
proibidas:
Mas: e o impacto sobre as mulheres? Também são favoráveis. É o que você verá a
seguir.
Por essas razões e por outras que poderiam ser elencadas, é um fato que – ao
contrário do afirmado pelo lobby abortista – inexistem dados estatísticos a
demonstrar que a descriminalização melhore as condições de saúde das mulheres.
A conclusão atual dos especialistas em saúde pública é de que a relação entre
(des)criminalização do aborto e mortes maternas é nula. Não existiria relação de
causa e efeito. É o que aponta Isabella Mantovani, autoridade no assunto, em
apresentação em audiência pública no Senado Federal.
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5. Desordens alimentares;
8. Repetição de abortamentos.
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Outro argumento muito utilizado pelos defensores do aborto é o de que sua
criminalização seria desproporcional, uma vez que mulheres em situações
extremamente precárias e por um ato de desespero poderiam vir a ser presas.
E isso ocorre de fato. Analisando processos sobre crimes de aborto nos Tribunais
de Justiça é perceptível que homens correntemente também respondem pela
prática.
Em segundo lugar: o direito penal já possui institutos para fazer frente ao drama
de pessoas que por um ato de desespero venham a cometer um crime. Inclusive, no
caso do aborto. Aliás, especialmente nessa espécie, que por ser um delito doloso
contra a vida, terá o julgamento efetuado por um júri de jurados constituído por
cidadãos comuns, o qual pode absolver os acusados de modo soberano e
independentemente de qualquer fundamento legal.
É claro que alguém poderia arguir que, de uma forma ou de outra, a pessoa seria
submetida ao desgaste de um processo criminal. Mas isso por si só não é
desproporcional à gravidade de um aborto.
Sendo um delito que possui pena mínima de 1 (um) ano, caso o(a) acusado(a) não
esteja sendo processado(a) e não tenha sido condenado(a) por outro crime e tenha
circunstâncias pessoais favoráveis (art. 89 da Lei 9.099/95), o órgão do Ministério
Público pode ofertar juntamente com a denúncia um benefício de suspensão
condicional do processo. Requererá, assim, que o processo fique suspenso, em
geral, durante 2 (dois) anos, período em que os responsáveis submeter-se-ão a um
período de prova, cumprindo condições como prestações de serviços, pagamento
de valores ou cestas básicas, comparecimento periódico em juízo etc. Com isso,
caso cumpram devidamente as condições, terão sua punibilidade extinta, sem se
submeter a encarceramento.
Caso a pessoa acusada não faça jus a esse benefício, será submetida ao tribunal do
júri, cujos jurados serão cidadãos comuns, que como dito decidirão sobre os fatos
de modo soberano, sem precisar apresentar fundamentos.
Caso o júri soberano constituído por cidadãos comuns não entenda que é o caso de
absolver a pessoa, e ela venha a ser efetivamente condenada, em regra, teria sua
pena de prisão substituída por reprimendas restritivas de direitos (desde que não
seja reincidente em crime doloso, e tenha circunstâncias pessoais favoráveis, cf.
art. 44 do Código Penal). Essas sanções restritivas de direitos constituem-se em:
prestação pecuniária, limitação de sair de casa durante finais de semana,
interdição temporária de alguns direitos ou prestação de serviços à comunidade e
a entidades públicas.
Em 2010, pesquisa Vox Populi registrou que 82% da população brasileira era
contra a legalização do aborto. A região do país com maior aceitação era o Sudeste,
em que 77% dos entrevistados rejeitavam uma alteração da lei.
Mesmo segmentando a pesquisa entre pessoas das várias religiões ou sem religião,
a rejeição fica sempre próxima dos 80%.
Os dados mostram que todos os segmentos, seja por idade, grau de escolaridade,
sexo ou nível econômico, são amplamente contrários à legalização do aborto. Aliás,
sua aceitação é maior entre os homens, sendo as mulheres o grupo mais contrário
à descriminalização.
Inclusive, várias pesquisas demonstramaumento da rejeição durante as últimas
décadas, o que, aliás, é coerente com o fato de que a quantidade de abortos
praticados tem registrado queda acentuada de até 12% ao ano (aqui e aqui e aqui).
Conclusão
Foto: Pixabay
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