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córdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 087/14

Data do Acordão: 25-03-2015

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: CASIMIRO
GONÇALVES

Descritores: REVERSÃO
RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA
FUNDAMENTAÇÃO DE
DIREITO
ÓNUS DE PROVA

Sumário: I – Deve
considerar-se
fundamentado de
direito um acto de
reversão da
execução fiscal
quando ele se
insere num quadro
jurídico-normativo
perfeitamente
cognoscível.
II – A
responsabilidade
do gerente que, de
acordo com o
despacho de
reversão, sempre
se manteve na
gerência da
sociedade
executada, não
pode deixar de
abranger aquela a
que se refere a al.
b) do nº 1 do art.
24º da LGT, pelo
que, não podendo
ser diverso o
quadro jurídico
configurável, o
despacho de
reversão se
encontra
fundamentado de
direito, apesar de o
seu texto não
indicar
expressamente a
alínea do art. 24º
da LGT em que se
apoia.

Nº Convencional: JSTA000P18761
Nº do Documento: SA220150325087
Data de Entrada: 27-01-2014
Recorrente: FAZENDA PÚBLICA
Recorrido 1: A...
Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral
Texto Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal
Integral:
Administrativo:

RELATÓRIO
1.1. A Fazenda Pública recorre da sentença que, proferida pelo
Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, julgou procedente a
oposição à execução fiscal deduzida por A……………, com os demais
sinais dos autos, contra a execução fiscal nº 2720200901029266,
instaurada para cobrança de dívidas de IVA dos anos de 2007 e 2008,
inicialmente instaurada contra a sociedade Restaurante
B………………., Lda. e posteriormente revertida contra o oponente.

1.2. Alega e termina com a formulação das conclusões seguintes:


A) Vem o presente recurso interposto da sentença datada de
10/07/2013, que determina a anulação do despacho de reversão, ao
qual assaca insuficiência equiparável à falta de fundamentação, nos
termos dos artigos 125º, nº 2 e 135º do CPA.
B) Para tal, estriba-se a Meritíssima Juíza “a quo” no Acórdão do TCA-
Sul de 28/02/2012, processo 02698/08, de acordo com o qual “desde
logo, emerge um pressuposto de cariz substantivo, essencial, da
reversão de qualquer execução fiscal, inscrito nos arts. 153.º n.º 2
CPPT e 23.º n.º 2 LGT, correspondente à declaração da inexistência
ou fundada insuficiência de bens penhoráveis do devedor originário (e
seus sucessores).
C) Doutra banda, na condição de requisito constitutivo do direito à
reversão, encontramos a gerência, mais, específica e exigentemente,
o exercício efetivo da gerência, o qual, estando em análise situações
(como a presente) suscetíveis de enquadramento na previsão do art.
24.º n.º 1 LGT, impõe a circunstanciada indicação do período do
exercício do cargo: se na data da constituição das dívidas exequendas
e/ou se na data do pagamento ou entrega do tributo respectivo (o
sublinhado é nosso).
D) Obviamente, não podemos olvidar que ambos os apresentados
pressupostos têm de ser alegados, incorporados, no despacho de
reversão e comprovados pela administração tributária/at, com a
obrigatoriedade de indicação das normas legais em que esta faz
apoiar a responsabilidade subsidiária imputada ao revertido, para
permitir-lhe conhecer e questionar, atacando, se necessário, os
concretos pressupostos determinantes da reversão da execução
contra si.”
E) Na alínea B) dos factos provados constante da sentença “a quo”
encontra-se transcrito o despacho de reversão no qual se referencia,
quer o exercício da gerência (de direito e de facto) por banda do
oponente desde o acto constitutivo (1995) até à data (2011) – cfr.
pontos 6 e 7 do dito; quer os períodos a que respeita a dívida
exequenda – cfr. quadro de fls. 4 do referenciado despacho.
F) Consta ainda da factualidade provada (I) que o prazo para
pagamento voluntário das dívidas exequendas terminou em
30/09/2009.
G) O que é consentâneo, alias, com a referência constante no 2º
parágrafo de fls. 4 (despacho de reversão) “Os períodos de vigências
da legislação invocada, e que antes se expressaram, vigoram não só
para o período a que respeita a dívida, como também para aquele em
que decorreu o respectivo prazo legal de pagamento.”
H) Ou seja, resulta claro para a AT que, quer o facto constitutivo
(reportado aos exercícios de 2007 e 2008), quer o prazo legal de
pagamento ou entrega (2009) se verificou no período do exercício do
cargo de gerência.
I) E sempre diremos que também o oponente compreendeu o sentido
e o alcance da ocorrida reversão, atenta a oposição apresentada, na
qual alude tanto à alínea a), como à alínea b) do art. 24º da LGT e
ainda, no que à falta de fundamentação do despacho de reversão, em
particular, concerne, apenas invoca desconhecimento das dívidas que
o responsabilizam.
J) Incompreensível é, pois, que a Mma Juíza “a quo” não consiga
“apreender se foi feito um juízo de subsunção da factualidade apurada
na previsão legal da norma constante da alínea a) ou da alínea b) do
art. 24º da LGT”, daí fazendo decorrer falta de fundamentação, pois
que impondo-se a circunstanciada indicação do período do exercício
do cargo na data da constituição das dívidas exequendas e/ou se na
data do pagamento ou entrega do tributo, admitir apenas a disjuntiva
configura erro de direito.
Termina pedindo o provimento do recurso e que, em consequência, se
ordene a substituição da sentença recorrida por outra em que se dê
por fundamentado o despacho de reversão, com as legais
consequências.

1.3. O recorrido apresentou contra-alegações, formulando, a final, as


conclusões seguintes:
1. O presente recurso vem interposto de decisão que julgou
procedente a oposição apresentada e anulou o despacho de reversão,
absolvendo o oponente, ora recorrido, da instância executiva por falta
de legitimidade processual.
2. Na sequência do recorrido ter invocado a falta de fundamentação
legal do despacho de reversão, a douta sentença recorrida deu-lhe
razão, entendendo igualmente que o despacho de reversão pecava
por falta de fundamentação.
3. Ora, é precisamente este entendimento que a recorrente põe
infundadamente em crise.
4. E, tanto são infundadas as suas alegações que, em sede de
recurso, tenta apresentar a fundamentação que à data dos factos não
apresentou.
5. Esquecendo-se que o direito à fundamentação do acto tributário ou
em matéria tributária é um direito fundamental e constitui uma garantia
específica do contribuinte.
6. Logo, tem de consistir numa declaração formal expressa, explícita e
contextual que traduza a representação externa de um procedimento
anterior volitivo e intelectivo da responsabilidade do órgão competente
para a decisão e reflicta a sua história racional – cfr. Andrade, José
Carlos Vieira de – O Dever de Fundamentação Expressa dos Actos
Administrativos, 1991, p. 30.
7. O despacho de reversão, quer pela sua importância, quer por
respeito aos princípios que movem o nosso ordenamento jurídico, tem
de ser fundamentado.
8. Sucede que, conforme decidiu a douta sentença recorrida e
confessado pela recorrente, ao considerar que a clareza aos seus
olhos também foi elevada a fundamento, a presente decisão não refere
concretamente qual a disposição legal que aplicou para proceder à
reversão, limitando-se a ordenar a reversão nos termos das
disposições legais dos artigos 23º e 24º da LGT.
9. Ora, a LGT procedeu a uma repartição do ónus da prova entre a
Administração Tributária e os responsáveis subsidiários, tendo cada
alínea prevista no n.º 1 do artigo 24º da LGT pressupostos diferentes.
10. Quando se verifique a situação prevista na alínea a) do art. 24º da
LGT, o ónus da prova compete à Administração Tributária, que terá de
provar a culpa do gerente e a ilicitude dos factos, inexistindo qualquer
presunção de culpa.
11. Por sua vez, a alínea b) do art. 24º da LGT reporta-se às dívidas
tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado
no período de exercício do seu cargo, cabendo, neste caso, ao
responsável demonstrar que a falta de pagamento não lhe é imputável,
demonstrando que apesar da sua actuação diligente e responsável à
frente da empresa, os recursos da mesma não lhe permitiram
concretizar tal pagamento.
12. Assim, revela-se imprescindível para o revertido ter conhecimento
da disposição legal ao abrigo da qual se efectivou a reversão fiscal.
13. Assim, e usando a expressão da recorrente, resultou “claro” para o
recorrido e para o Tribunal a quo, e foi objectivamente comprovado,
que o despacho de reversão ignorou, em absoluto, o fundamento legal
que permite a reversão das dívidas fiscais.
14. Face ao exposto, dúvidas não há que a douta sentença recorrida
nenhuma censura merece, que não pode até deixar de louvar-se, quer
pela sua lucidez, quer pelo rigor técnico-jurídico,
15. Tanto assim é que a própria recorrente não conseguiu expressar
qual foi a disposição legal que a douta sentença infringiu.
16. Por incrível que pareça, a recorrente não concorda com a douta
sentença... no entanto, nada refere acerca de ter efectuado alguma
violação legal...
17. O que só vem corroborar o entendimento do recorrido: a douta
sentença nenhuma censura merece.
18. Pelo que, deve o recurso ser julgado improcedente por não
provado, mantendo-se na íntegra a douta sentença recorrida.
Termina pedindo a improcedência do recurso e a confirmação do
julgado recorrido.

1.4. O MP emite Parecer nos termos seguintes, além do mais:


«O despacho de reversão mostra-se fundado, de direito, nos artigos
23.º e 24.º da L.G.T., sem a indicação da alínea desta última
disposição que estivesse em causa.
Já se decidiu que é entender aplicável a dita al. b), no caso de resultar
ainda dos termos da reversão ter a mesma ocorrido quanto às dívidas
cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no período
de exercício do cargo – neste sentido ac. do S.T.A. de 14-2-13,
proferido no rec. 0642/12, acessível em www.dgsi.pt, cujo sumário a
seguir se transcreve:
I – Deve considerar-se fundamentado de direito um acto de reversão
da execução fiscal quando ele se insere num quadro jurídico-normativo
perfeitamente cognoscível.
II – A responsabilidade dos gerentes que se mantiveram na gerência
da sociedade executada desde o seu início e até à sua extinção,
conforme decorre do documento do registo comercial que instruiu o
procedimento para reversão da execução fiscal e no qual se apoia o
despacho de reversão, não pode deixar de ser aquela a que se refere
a alínea b) do nº 1 do art. 24º da LGT, e que encontra expressão na
afirmação feita nesse despacho de que “foram gerentes no período a
que as dívidas respeitam”.
III – Não podendo ser diverso o quadro jurídico configurável, o
despacho de reversão encontra-se fundamentado de direito apesar de
o seu texto não indicar expressamente a alínea do artigo 24º da LGT
em que se apoia e fundamenta.
Tal implica que se julgue procedente o recurso interposto, com a
anulação do decidido, e sendo de mandar baixar os autos a fim de ser
proferida decisão que conheça das questões julgadas preteridas, e
que ainda tinham sido suscitadas pelo oponente, nomeadamente, a da
ausência de culpa do oponente na insuficiência de bens.»

1.5. Corridos os vistos legais, cabe decidir.

FUNDAMENTOS
2. Na sentença recorrida julgaram-se provados os factos seguintes:
A) Contra a sociedade B………………, Lda., foi instaurado no Serviço
de Finanças de Viseu a execução fiscal n.º 27202009010292266, para
cobrança de dívidas IVA dos anos de 2007 e 2008, no montante global
de € 5.687,78.
B) Em 02.06.2011, o Chefe de Finanças proferiu despacho de
reversão contra o Oponente, com o seguinte teor:
DESPACHO
Através da análise de instrução do presente processo, constata-se a
fundada insuficiência de bens pertencentes à originária devedora
RESTAURANTE B……………….., LDA, NIPC …………, com sede em
…………… – Viseu, ……… ………..
As informações oficiais prestadas referem o seguinte, relativamente à
mesma firma:
1 - A sociedade, matriculada sob o n.º ………….. na Conservatória do
Registo Comercial de Viseu (correspondente à anterior matricula
2804/1995.07.06), iniciou a actividade de "Restaurantes de Tipo
Tradicional", para efeitos fiscais, em 06.07.1995, passando por tal
facto a ser Sujeito Passivo do Imposto Sobre o Rendimento das
Pessoas Colectivas (IRC), e do Imposto Sobre o Valor Acrescentado
(IVA), encontrando-se actualmente enquadrada no regime mensal;
2 - A firma ainda não cessou a actividade;
3 - A dívida exequenda nestes autos ascende a € 5. 687,78 (cinco mil,
seiscentos e oitenta e sete euros e setenta e oito cêntimos), relativa a
Imposto Sobre o Valor Acrescentado dos períodos 2007/03, 2007/06,
2007/09, 2007/12, 2008/03 e 2008/06;
4 - Os únicos bens que constem em cadastro como sendo da
executada são um crédito a favor da entidade C…………….., Lda.,
cujas diversas tentativas de penhora têm resultado frustradas,
porquanto aquela entidade não reconhece qualquer obrigação e um
veículo automóvel com a matricula ………, de marca Peugeot, sendo o
primeiro registo do ano de 1990. Trata-se de um veículo cuja efectiva
existência física se desconhece e que, embora ainda não tenha sido
promovido o respectivo cancelamento da matrícula, o mesmo não se
encontra actualmente segurado. Por outro lado, o último ano em que
foi pago o IUC foi 2008. Em síntese, considerando todos estes
aspectos e ainda as características da viatura, designadamente a
marca e ano, é razoável considerar que o mesmo possa já não ter
existência física ou, tendo-a, pode já não se encontrar na posse da
executada. Em todo o caso, a existir, o seu valor de mercado será
muito reduzido. Cumpra ainda informar que os activos que integram o
estabelecimento se encontram todos penhorados para garantia do
PEF 2720 2001 01010247 e apenso que se encontra judicialmente
impugnado;
5 - Face aos elementos disponíveis nesta data (Informação
Empresarial Simplificada de 2009), que resultam de uma obrigação
declarativa cumprida pela própria empresa, constata-se que a
respectiva situação líquida actual é negativa (€ -318.757,85);
6 - Desde o acto constitutivo até à actualidade têm sido sócios e
gerentes de direito e de facto, da executada A…………….., NIF
……………, com domicílio fiscal em Estrada Nacional ……. –
……………, ……….. ………… e D……………., NIF ……………, com
domicílio fiscal em Rua ………….., n.º ……… – …………., ………..
VISEU;
7 - Com efeito, constata-se a inexistência de bens da originária
devedora, e atento também o facto de não serem conhecidos
quaisquer responsáveis solidários, parecem estar reunidos os
condicionalismos para se efectuar a reversão da dívida dos presentes
autos contra os sócios-gerentes supra identificados, pois estes
exerceram funções de gerência da executada ao tempo a que as
dívidas se reportam;
A informação fáctica antes referida fundamenta-se no seguinte:
-Escritura de Constituição de Sociedade, outorgada em 21.06.1995,
junta a fls. 14 a 17;
-Certidão Permanente, obtida em 16.05.2011, junta a fls. 18 e 20;
-Fotocópia da Declaração de Alterações de Actividade, apresentada
em 21.01.2003, junta a fls. 21 e 22;
-Fotocópia da Procuração passada em 17.10.2001 por A………………
e D………………, na qualidade de sócios-gerentes da executada ao
Dr. E……………, advogado, junta a fls. 23;
-Fotocópia do contrato de arrendamento celebrado em 01.12.2002,
junto a fls. 24 a 25;
-Fotocópia de um requerimento de certidão de dívidas, apresentado
neste Serviço de Finanças em 20.12.2002, junto a fls. 26;
-Fotocópia do Auto de Penhora lavrado em 11.01.2003, no âmbito do
Processo de Execução Fiscal 2720 2001 01010247 e apenso, junto a
fls. 27 e 28;
-Print do rosto da IES relativa ao exercício de 2009 (última enviada),
junto a fls 29;
-Extracto informático do Anexo A da IES relativa ao exercício de 2009
(última enviada), junto a fls 30 a 33;
-Print da Modelo 22 de IRC relativo ao exercício de 2010 (última
enviada), junto a fls. 34;
-Print da Modelo 10 de IRS relativo ao exercício de 2010 (última
enviada), junto a fls. 35;
-Print do SIPA – Sistema Informático de Penhoras Automáticas, junto a
fls. 36;
-Print do site do Instituto de Seguros de Portugal obtido em
16.05.2011, junto a fls. 37;
-Print do site do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres,
obtidos em 16.05.2011, junto a fls. 38;
-Print's da aplicação informática “Visão Integrada do Contribuinte",
juntos a fls. 39 e 40;
Projectado esse sentido de decisão, foi, por meu despacho de
2011/04/16, produzido a fls. 43 a 45 destes autos, determinado que se
desse cumprimento ao disposto no art. 60º da Lei Geral Tributária
(LGT), tendo em vista a observância do n.º 4 do artigo 23º da mesma
Lei.
Assim se cumpriu, não tendo os interessados e virtuais revertidos feito
o uso do seu direito de audição prévia, para que o respectivo prazo já
expirou.
Face ao exposto, constatada a fundada insuficiência de bens da
originária devedora e tendo como fundamento legal o disposto no art.
153º, n.º 2, alínea b) do Código de Procedimento e de Processo
Tributário (CPPT), ORDENO A REVERSÃO DA EXECUÇÃO, contra
os subsidiários responsáveis A………………, NIF ………… e
D……………….., NIF …………., anteriormente identificados, nos
termos dos art. 23º e 24º da Lei Geral Tributária, por toda a quantia
exequenda em dívida nestes autos e a seguir discriminada:

PROCESSO N.º ORIGEM DA DÍVIDA PERÍODO QUANT.


EXEQUENDA
IVA - Liq. Adicional 2007/03 1.006,05€
IVA - Liq. Adicional (juros) 2007/03 116,21 €
IVA - Liq. Adicional 2007/06 1.092,86 €
IVA - Liq. Adicional (juros) 2007/06 82,64 €
IVA - Liq. Adicional 2007/09 911,63 €
2720 2009 01029266 IVA - Liq. Adicional (juros) 2007/09 59,54 €
IVA - Liq. Adicional 2007/12 1.063,71 €
IVA - Liq. Adicional (juros) 2007/12 58,87 €
IVA - Liq. Adicional 2008/03 1.010,89 €
IVA - Liq. Adicional (juros) 2008/03 45,86 €
IVA - Liq. Adicional 2008/06 239,52 €
TOTAL 5.687,78 €

Do apresentado conclui-se que, todos os actos reveladores da


administração da sociedade, eram praticados por parte dos dois
gerentes. Nesta conformidade, e atento o disposto nos art. 23º e 24º
da Lei Geral Tributária (LGT), a eles deve ser imputada a
responsabilidade de cariz subsidiária, pelo não pagamento das
contribuições e impostos, cujo facto constitutivo e/ou prazo legal de
pagamento tenham ocorrido no período do exercício dos seus cargos.
Os períodos de vigências da legislação invocada, e que antes se
expressaram, vigoram não só para o período a que respeita a dívida,
como também para aquele em que decorreu o respectivo prazo legal
de pagamento.
Atenta a fundamentação supra, proceda-se à citação dos executados
por reversão, nos termos do artigo 160º do CPPT, tendo em atenção o
disposto no artigo 191º, n.º 3 do mesmo Código, para pagar no prazo
de 30 (trinta) dias, a quantia que contra eles reverteu sem juros de
mora nem custas (n.º 5 do artigo 23º da LGT).
Averbamentos necessários.
Cfr. fls. 53 a 55 dos autos.
C) Em 09.06.2011, o Oponente foi citado para a execução, na
qualidade de responsável subsidiário, nos seguintes termos:
(cfr. fls. 15 e ss. e fls. 56 a 58 dos autos).
D) Na escritura pública de constituição de sociedade, outorgada em
21.06.1995, o Oponente foi nomeado gerente da sociedade originária
devedora, conjuntamente com os restantes sócios F…………….. e
D………………, aí se consignando que para obrigar a sociedade em
todos os actos e contratos "é necessária a assinatura do sócio
F……………. ou as duas em conjunto dos sócios A…………….. e
D…………….." – cfr. fls. 43 e ss. dos autos.
E) Em 17.10.2001, o aqui Oponente e D………………. outorgaram
procuração forense ao Sr. Dr. E…………….., na qualidade de "sócios
gerentes" da sociedade executada – cfr. fls. 39 dos autos.
F) Em 01.12.2002, o Oponente assinou um contrato de arrendamento,
na qualidade de representante da sociedade executada (inquilina) –
cfr. fls. 40/41 dos autos.
G) Em 20.12.2002, o Oponente subscreveu, na qualidade de sócio
gerente da executada, requerimento de certidão de dívidas fiscais –
cfr. fls. 42 dos autos.
H) Em 11.01.2003, o Oponente foi nomeado fiel depositário dos bens
penhorados à executada originária, no âmbito da execução fiscal nº
2720/01/101024.7 e apensos e, simultaneamente, citado para a
execução, na qualidade de sócio gerente da mesma – cfr. fls. 43/44
dos autos.
I) O prazo para pagamento voluntário das dívidas exequendas
terminou em 30.09.2009 – cfr. fls. 19 a 27 dos autos.

3.1. A sentença apreciou do seguinte modo os fundamentos de


oposição invocados pelo oponente:
(i) Em primeiro lugar, o oponente alega que o despacho de reversão, a
propósito da inexistência de bens da devedora originária, não dá a
conhecer se foi lavrado auto de diligência, perante duas testemunhas
idóneas, nos termos do disposto no art. 236°, nº 1, o que constitui uma
ilegalidade, susceptível de ser invocada como fundamento de oposição
ao abrigo do art. 204°, nº 1, al. i) do CPPT.
Contrapõe a FP que em momento algum tal despacho se reporta à
inexistência de bens penhoráveis, referindo-se, aliás, nos termos da al.
b) do nº 2 do art. 153° do CPPT, à fundada insuficiência do património
da devedora originária para satisfação da dívida exequenda e
acrescidos, de acordo com os elementos disponíveis no órgão de
execução fiscal, pelo que não se vislumbra a que título se invoca a
aplicação do art. 236° do CPPT ao caso em apreço.
Do teor do despacho de reversão resulta que a responsabilização do
oponente assentou na insuficiência de bens da originária devedora e
não na inexistência de bens, pelo que a norma em causa não é
aplicável ao caso em apreço, sendo manifestamente infundada a
ilegalidade suscitada e improcedendo, assim, nesta parte, a oposição.
(ii) Em segundo lugar, o oponente sustenta que o despacho de
reversão sofre de falta de fundamentação, uma vez que ignora o
fundamento legal que permite a reversão das dívidas fiscais e não
esclarece quais as dívidas, impostos e montantes que lhe são
imputados, impedindo-o de conhecer o iter volitivo da AT, isto é, o
porquê desta ter decidido num sentido e não noutro.
Ora, sendo pacífico que a falta de fundamentação do despacho de
reversão constitui fundamento de oposição à execução fiscal, no caso,
atento o teor do despacho de reversão, bem como o disposto no art.
23º nº 4 da LGT e considerando também que a fundamentação
exigível tem de ser clara ou entendível por um destinatário médio e ser
completa, no sentido de conter todos os elementos essenciais à
tomada de decisão, é de concluir, que a fundamentação constante do
questionado despacho de reversão é insuficiente, sendo que essa
insuficiência é equiparável à falta de fundamentação, levando à
anulação do acto, nos termos dos arts. 125° n° 2 e 135° CPA.
Isto porque, tendo a decisão de reversão assentado no disposto nos
arts. 23° e 24° da LGT, não se consegue apreender se foi feito um
juízo de subsunção da factualidade apurada na previsão legal da
norma constante da al. a) ou da al. b) do art. 24° da mesma LGT,
sendo que tal subsunção se revela fundamental, na medida em que só
relativamente às dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou
entrega tenha terminado no período do exercício do cargo se faz incidir
sobre o gerente ou administrador o ónus de provar que a falta de
pagamento das dívidas tributárias não lhe é imputável [al. b)], cabendo
à AT, nos casos em que o facto gerador da dívida se verificou no
período do exercício do cargo, mas que se venceram quando o
gerente ou administrador já não exercia essas funções, a prova da
culpa do gerente na insuficiência do património social [al. a)].
E no caso concreto dos autos, o despacho de reversão, além de não
referir qual das alíneas considerou aplicável, também não especifica
se em causa estão dívidas cujo facto constitutivo ocorreu no período
do exercício do cargo ou dívidas cujo prazo legal de pagamento
terminou nesse período, antes admitindo de uma forma genérica
ambas as hipóteses (“cujo facto constitutivo e/ou prazo legal de
pagamento tenham ocorrido no período do exercício dos seus
cargos”).
Daí que, como afirmado no acórdão do TCA Sul de 28/2/2012, proc. nº
02698/08, seja de julgar procedente a oposição, com fundamento em
ilegitimidade do oponente, resultando em consequência prejudicado o
conhecimento das demais questões suscitadas na petição inicial.

3.2. Discorda a recorrente, por entender que a situação dos autos


também se subsume à previsão da al. b) do nº 1 do citado art. 24º da
LGT.
A questão a decidir é, portanto, a de saber se à responsabilidade do
gerente pela dívida revertida objecto de recurso - IVA dos anos de
2007 e 2008 - se aplica o regime da al. a) do nº 1 do art. 24º da LGT,
ou se, pelo contrário, se aplica o regime da al. b) do mesmo normativo.
Vejamos.

4.1. Sob a epígrafe «Responsabilidade dos membros de corpos sociais


e responsáveis
Técnicos» o nº 1 do art. 24º da LGT dispõe o seguinte:
«1 - Os administradores, directores e gerentes e outras pessoas que
exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração ou
gestão em pessoas colectivas e entes fiscalmente equiparados são
subsidiariamente responsáveis em relação a estas e solidariamente
entre si:
a) Pelas dívidas tributárias cujo facto constitutivo se tenha verificado
no período de exercício do seu cargo ou cujo prazo legal de
pagamento ou entrega tenha terminado depois deste, quando, em
qualquer dos casos, tiver sido por culpa sua que o património da
pessoa colectiva ou ente fiscalmente equiparado se tornou insuficiente
para a sua satisfação;
b) Pelas dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período do exercício do seu cargo, quando não
provem que não lhes foi imputável a falta de pagamento.»
Da leitura do preceito resulta, assim, que, enquanto na al. a) não se
prevê qualquer presunção de culpa do gerente da sociedade, ficando,
por isso, a cargo da Fazenda Pública, o ónus de provar que tenha sido
por culpa daquele que o património social se tornou insuficiente para
satisfação das dívidas tributárias, já na al. b) se onera o responsável
subsidiário com a prova de que não lhe foi imputável a falta de
pagamento.

4.2. No caso, a sentença recorrida considerou, como acima se disse,


que a fundamentação constante do despacho de reversão é
insuficiente, dado que, tendo a decisão de reversão assentado no
disposto nos arts. 23° e 24° da LGT, não se consegue apreender se foi
feito um juízo de subsunção da factualidade apurada na previsão legal
da al. a) ou da al. b) desse art. 24°, sendo que tal subsunção se revela
fundamental, na medida em que só relativamente às dívidas tributárias
cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no período
do exercício do cargo se faz incidir sobre o gerente ou administrador o
ónus de provar que a falta de pagamento das dívidas tributárias não
lhe é imputável [al. b)], cabendo à AT, nos casos em que o facto
gerador da dívida se verificou no período do exercício do cargo, mas
que se venceram quando o gerente ou administrador já não exercia
essas funções, a prova da culpa do gerente na insuficiência do
património social [al. a)].
Todavia, afigura-se-nos que a sentença enferma do erro de julgamento
imputado pela recorrente Fazenda Pública.
Vejamos.
Em relação à fundamentação de direito, a jurisprudência do STA (cfr.,
entre outros, o ac. de 27/5/2003, proc. nº 1835/02) tem vindo a
considerar que para que tal fundamentação se considere suficiente,
não é sempre necessária a indicação dos preceitos legais aplicáveis,
bastando a referência aos princípios pertinentes, ao regime jurídico ou
a um quadro legal bem determinado, devendo considerar-se o acto
fundamentado de direito quando ele se insira num quadro jurídico-
normativo perfeitamente cognoscível, impondo-se a verificação de
duas condições: que se possa afirmar, inequivocamente, perante os
dados objectivos do procedimento, qual foi o quadro jurídico tido em
conta pelo acto e que se possa concluir que esse quadro jurídico era
perfeitamente conhecido ou cognoscível pelo destinatário, hipotizando-
se que o seria por um destinatário normal na posição em concreto em
que aquele se encontra.
Ora, no caso vertente, os elementos constantes dos autos e a
materialidade vertida no probatório da sentença permitem concluir que
estas condições se encontram reunidas.
Com efeito, constando do despacho que a dívida exequenda é «…
relativa a Imposto Sobre o Valor Acrescentado dos períodos 2007/03,
2007/06, 2007/09, 2007/12, 2008/03 e 2008/06», que «Desde o acto
constitutivo até à actualidade têm sido sócios e gerentes de direito e
de facto, da executada A……………… (…) e D……………….», que
«Face ao exposto, constatada a fundada insuficiência de bens da
originária devedora e tendo como fundamento legal o disposto no art.
153º, nº 2, alínea b) do Código de Procedimento e de Processo
Tributário (CPPT), ORDENO A REVERSÃO DA EXECUÇÃO, contra
os subsidiários responsáveis A……………… (…) e D……………….
(…) nos termos dos art. 23º e 24º da Lei Geral Tributária, por toda a
quantia exequenda em dívida nestes autos e a seguir discriminada
(…)» e que «Do apresentado conclui-se que, todos os actos
reveladores da administração da sociedade, eram praticados por parte
dos dois gerentes. Nesta conformidade, e atento o disposto nos art.
23º e 24º da Lei Geral Tributária (LGT), a eles deve ser imputada a
responsabilidade de cariz subsidiária, pelo não pagamento das
contribuições e impostos, cujo facto constitutivo e/ou prazo legal de
pagamento tenham ocorrido no período do exercício dos seus cargos.
Os períodos de vigências da legislação invocada, e que antes se
expressaram, vigoram não só para o período a que respeita a dívida,
como também para aquele em que decorreu o respectivo prazo legal
de pagamento» então, como a recorrente refere (Conclusões F a J do
recurso) resulta claro que no despacho de reversão se considera que,
quer o facto constitutivo (reportado aos exercícios de 2007 e 2008),
quer o prazo legal de pagamento ou entrega (2009) se verificaram no
período do exercício do cargo de gerência, e que também o oponente
compreendeu o sentido e o alcance da ocorrida reversão, pois que na
oposição alude tanto à al. a), como à al. b) do art. 24º da LGT e, no
que respeita à falta de fundamentação do despacho de reversão,
apenas invoca desconhecimento das dívidas que o responsabilizam.
E em face da consideração e afirmação (no despacho de reversão) de
que o oponente exerceu a gerência efectiva da executada nos dois
momentos a que se referem as als. a) e b) do nº 1, do art. 24º, da LGT,
então, terminando o prazo legal de pagamento ou entrega das dívidas
exequendas no período do exercício da gerência do oponente, incidia
sobre este o ónus da prova de que a falta de pagamento dessas
dívidas não lhe era imputável (ponto é que tal gerência efectiva fique
demonstrada nos autos – já que no art. 25º da Petição Inicial da
oposição o oponente/recorrente alega que a AT não fez prova de que
ele «tenha exercido, de facto, efectivamente, a gerência/administração
da Originária devedora»).
Aliás, em situação e termos semelhantes, também nos acórdãos desta
Secção do STA, de 14/2/2013, no proc. nº 0642/12 (referenciado no
Parecer do MP), de 17/4/2013, no proc. nº 01191/12 e de 12/2/2015,
no proc. nº 1860/13, se entendeu dever considerar-se fundamentado
de direito um acto de reversão da execução fiscal quando ele se insere
num quadro jurídico-normativo perfeitamente cognoscível, sendo que a
responsabilidade dos gerentes que se mantiveram na gerência da
sociedade executada desde o seu início e até à sua extinção,
conforme decorre do documento do registo comercial que instruiu o
procedimento para reversão da execução fiscal e no qual se apoia o
despacho de reversão, não pode deixar de ser aquela a que se refere
a al. b) do nº 1 do art. 24º da LGT, e que encontra expressão na
afirmação feita nesse despacho de que “foram gerentes no período a
que as dívidas respeitam”; mais se tendo concluído nos citados
arestos que, não podendo ser diverso o quadro jurídico configurável, o
despacho de reversão se encontra fundamentado de direito apesar de
o seu texto não indicar expressamente a alínea do artigo 24º da LGT
em que se apoia e fundamenta.
Em suma, retornando ao caso dos autos, apesar de não constar do
despacho de reversão em que alínea do n.º 1 do art.º 24º da LGT se
suportou a reversão, da circunstância de dele constarem as indicações
acima especificadas e do facto de não ter ocorrido qualquer alteração
na gerência da devedora originária, há-de concluir-se que, da
articulação destes elementos, decorre que, segundo aquele despacho,
o exercício da gerência também abrangeu os períodos em que se
inscreveram os prazos legais de pagamento ou entrega das dívidas
tributárias (nos termos da al. b) do nº 1 do art.º 24º da LGT).
Procedem, portanto, as Conclusões do recurso, não podendo manter-
se a sentença no que respeita à procedência deste vício do acto de
reversão.

4.3. E porque a sentença, julgando procedente a oposição com


fundamento em ilegitimidade do oponente, considerou, em
consequência, prejudicado o conhecimento das demais questões
suscitadas na petição inicial, impõe-se que os autos baixem à instância
para conhecimento desses invocados fundamentos, se a tanto outras
razões não obstarem.

DECISÃO
Nestes termos acorda-se em dar provimento ao recurso e revogar a
sentença recorrida que julgou procedente a oposição com base em
insuficiente fundamentação do despacho de reversão, ordenando-se a
baixa dos autos ao Tribunal recorrido para apreciação dos restantes
fundamentos de oposição invocados na Petição Inicial, se a tanto nada
mais obstar.
Custas pelo recorrido, dado que contra-alegou no recurso.
Lisboa, 25 de Março de 2015. – Casimiro Gonçalves (relator)
– Francisco Rothes – Isabel Marques da Silva.

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