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Processo: 087/14
Tribunal: 2 SECÇÃO
Relator: CASIMIRO
GONÇALVES
Descritores: REVERSÃO
RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA
FUNDAMENTAÇÃO DE
DIREITO
ÓNUS DE PROVA
Sumário: I – Deve
considerar-se
fundamentado de
direito um acto de
reversão da
execução fiscal
quando ele se
insere num quadro
jurídico-normativo
perfeitamente
cognoscível.
II – A
responsabilidade
do gerente que, de
acordo com o
despacho de
reversão, sempre
se manteve na
gerência da
sociedade
executada, não
pode deixar de
abranger aquela a
que se refere a al.
b) do nº 1 do art.
24º da LGT, pelo
que, não podendo
ser diverso o
quadro jurídico
configurável, o
despacho de
reversão se
encontra
fundamentado de
direito, apesar de o
seu texto não
indicar
expressamente a
alínea do art. 24º
da LGT em que se
apoia.
Nº Convencional: JSTA000P18761
Nº do Documento: SA220150325087
Data de Entrada: 27-01-2014
Recorrente: FAZENDA PÚBLICA
Recorrido 1: A...
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:
Texto Integral
Texto Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal
Integral:
Administrativo:
RELATÓRIO
1.1. A Fazenda Pública recorre da sentença que, proferida pelo
Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, julgou procedente a
oposição à execução fiscal deduzida por A……………, com os demais
sinais dos autos, contra a execução fiscal nº 2720200901029266,
instaurada para cobrança de dívidas de IVA dos anos de 2007 e 2008,
inicialmente instaurada contra a sociedade Restaurante
B………………., Lda. e posteriormente revertida contra o oponente.
FUNDAMENTOS
2. Na sentença recorrida julgaram-se provados os factos seguintes:
A) Contra a sociedade B………………, Lda., foi instaurado no Serviço
de Finanças de Viseu a execução fiscal n.º 27202009010292266, para
cobrança de dívidas IVA dos anos de 2007 e 2008, no montante global
de € 5.687,78.
B) Em 02.06.2011, o Chefe de Finanças proferiu despacho de
reversão contra o Oponente, com o seguinte teor:
DESPACHO
Através da análise de instrução do presente processo, constata-se a
fundada insuficiência de bens pertencentes à originária devedora
RESTAURANTE B……………….., LDA, NIPC …………, com sede em
…………… – Viseu, ……… ………..
As informações oficiais prestadas referem o seguinte, relativamente à
mesma firma:
1 - A sociedade, matriculada sob o n.º ………….. na Conservatória do
Registo Comercial de Viseu (correspondente à anterior matricula
2804/1995.07.06), iniciou a actividade de "Restaurantes de Tipo
Tradicional", para efeitos fiscais, em 06.07.1995, passando por tal
facto a ser Sujeito Passivo do Imposto Sobre o Rendimento das
Pessoas Colectivas (IRC), e do Imposto Sobre o Valor Acrescentado
(IVA), encontrando-se actualmente enquadrada no regime mensal;
2 - A firma ainda não cessou a actividade;
3 - A dívida exequenda nestes autos ascende a € 5. 687,78 (cinco mil,
seiscentos e oitenta e sete euros e setenta e oito cêntimos), relativa a
Imposto Sobre o Valor Acrescentado dos períodos 2007/03, 2007/06,
2007/09, 2007/12, 2008/03 e 2008/06;
4 - Os únicos bens que constem em cadastro como sendo da
executada são um crédito a favor da entidade C…………….., Lda.,
cujas diversas tentativas de penhora têm resultado frustradas,
porquanto aquela entidade não reconhece qualquer obrigação e um
veículo automóvel com a matricula ………, de marca Peugeot, sendo o
primeiro registo do ano de 1990. Trata-se de um veículo cuja efectiva
existência física se desconhece e que, embora ainda não tenha sido
promovido o respectivo cancelamento da matrícula, o mesmo não se
encontra actualmente segurado. Por outro lado, o último ano em que
foi pago o IUC foi 2008. Em síntese, considerando todos estes
aspectos e ainda as características da viatura, designadamente a
marca e ano, é razoável considerar que o mesmo possa já não ter
existência física ou, tendo-a, pode já não se encontrar na posse da
executada. Em todo o caso, a existir, o seu valor de mercado será
muito reduzido. Cumpra ainda informar que os activos que integram o
estabelecimento se encontram todos penhorados para garantia do
PEF 2720 2001 01010247 e apenso que se encontra judicialmente
impugnado;
5 - Face aos elementos disponíveis nesta data (Informação
Empresarial Simplificada de 2009), que resultam de uma obrigação
declarativa cumprida pela própria empresa, constata-se que a
respectiva situação líquida actual é negativa (€ -318.757,85);
6 - Desde o acto constitutivo até à actualidade têm sido sócios e
gerentes de direito e de facto, da executada A…………….., NIF
……………, com domicílio fiscal em Estrada Nacional ……. –
……………, ……….. ………… e D……………., NIF ……………, com
domicílio fiscal em Rua ………….., n.º ……… – …………., ………..
VISEU;
7 - Com efeito, constata-se a inexistência de bens da originária
devedora, e atento também o facto de não serem conhecidos
quaisquer responsáveis solidários, parecem estar reunidos os
condicionalismos para se efectuar a reversão da dívida dos presentes
autos contra os sócios-gerentes supra identificados, pois estes
exerceram funções de gerência da executada ao tempo a que as
dívidas se reportam;
A informação fáctica antes referida fundamenta-se no seguinte:
-Escritura de Constituição de Sociedade, outorgada em 21.06.1995,
junta a fls. 14 a 17;
-Certidão Permanente, obtida em 16.05.2011, junta a fls. 18 e 20;
-Fotocópia da Declaração de Alterações de Actividade, apresentada
em 21.01.2003, junta a fls. 21 e 22;
-Fotocópia da Procuração passada em 17.10.2001 por A………………
e D………………, na qualidade de sócios-gerentes da executada ao
Dr. E……………, advogado, junta a fls. 23;
-Fotocópia do contrato de arrendamento celebrado em 01.12.2002,
junto a fls. 24 a 25;
-Fotocópia de um requerimento de certidão de dívidas, apresentado
neste Serviço de Finanças em 20.12.2002, junto a fls. 26;
-Fotocópia do Auto de Penhora lavrado em 11.01.2003, no âmbito do
Processo de Execução Fiscal 2720 2001 01010247 e apenso, junto a
fls. 27 e 28;
-Print do rosto da IES relativa ao exercício de 2009 (última enviada),
junto a fls 29;
-Extracto informático do Anexo A da IES relativa ao exercício de 2009
(última enviada), junto a fls 30 a 33;
-Print da Modelo 22 de IRC relativo ao exercício de 2010 (última
enviada), junto a fls. 34;
-Print da Modelo 10 de IRS relativo ao exercício de 2010 (última
enviada), junto a fls. 35;
-Print do SIPA – Sistema Informático de Penhoras Automáticas, junto a
fls. 36;
-Print do site do Instituto de Seguros de Portugal obtido em
16.05.2011, junto a fls. 37;
-Print do site do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres,
obtidos em 16.05.2011, junto a fls. 38;
-Print's da aplicação informática “Visão Integrada do Contribuinte",
juntos a fls. 39 e 40;
Projectado esse sentido de decisão, foi, por meu despacho de
2011/04/16, produzido a fls. 43 a 45 destes autos, determinado que se
desse cumprimento ao disposto no art. 60º da Lei Geral Tributária
(LGT), tendo em vista a observância do n.º 4 do artigo 23º da mesma
Lei.
Assim se cumpriu, não tendo os interessados e virtuais revertidos feito
o uso do seu direito de audição prévia, para que o respectivo prazo já
expirou.
Face ao exposto, constatada a fundada insuficiência de bens da
originária devedora e tendo como fundamento legal o disposto no art.
153º, n.º 2, alínea b) do Código de Procedimento e de Processo
Tributário (CPPT), ORDENO A REVERSÃO DA EXECUÇÃO, contra
os subsidiários responsáveis A………………, NIF ………… e
D……………….., NIF …………., anteriormente identificados, nos
termos dos art. 23º e 24º da Lei Geral Tributária, por toda a quantia
exequenda em dívida nestes autos e a seguir discriminada:
DECISÃO
Nestes termos acorda-se em dar provimento ao recurso e revogar a
sentença recorrida que julgou procedente a oposição com base em
insuficiente fundamentação do despacho de reversão, ordenando-se a
baixa dos autos ao Tribunal recorrido para apreciação dos restantes
fundamentos de oposição invocados na Petição Inicial, se a tanto nada
mais obstar.
Custas pelo recorrido, dado que contra-alegou no recurso.
Lisboa, 25 de Março de 2015. – Casimiro Gonçalves (relator)
– Francisco Rothes – Isabel Marques da Silva.