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Este texto trata singularmente da EJA na perspectiva da Educação do Campo, como fruto das
lutas camponesas para assegurar aos trabalhadores do campo o acesso à educação. No campo
brasileiro, caracterizase como educação de jovens e adultos as práticas educativas escolares e
não escolares desenvolvidas com e para os trabalhadores jovens e adultos que habitam no
campo brasileiro e que, nas suas trajetórias de vida, não tiveram a oportunidade de entrar na
escola, ou, ainda, os que entraram e não puderam nela permanecer na idade regular. A EJA é
ainda uma resposta às demandas por escolarização colocadas pelos sujeitos sociais do campo,
demandas estas fruto de um longo período histórico de exclusão dos trabalhadores do acesso
à educação escolar. A EJA é mais do que alfabetização apenas (embora esta seja a condição
fundamental). As práticas desenvolvidas pelos movimentos sociais camponeses apontam uma
perspectiva de EJA para além da escolarização, considerando os aprendizados que os
trabalhadores vão adquirindo por meio de suas experiências de lutas e de trabalho, sem negar
a importância fundamental da educação escolar como espaço privilegiado de acesso aos
conhecimentos socialmente produzidos pela humanidade. A educação de jovens e adultos no
contexto das lutas sociais do campo surge como necessidade de prosseguimento das lutas
sociais em várias dimensões desenvolvidas pelas organizações e movimentos sociais do
campo. Observando a situação do acesso à educação de jovens e adultos no campo e nas
cidades do Brasil, constata-se um quadro de exclusão e marginalização, evidenciando uma
realidade marcadamente desfavorável à população camponesa. Dados do censo do ano de
2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010) indicam que, no meio rural
brasileiro, de forma global, a taxa de analfabetismo entre os adultos é de 23,2 %, enquanto nas
regiões urbanas chega a 7,3%; ou seja, no campo, a taxa de analfabetismo é três vezes maior.
A escolaridade média das pessoas com mais de 15 anos no meio rural é de 4,5 anos; no meio
urbano, chega aos 7,8 anos. As maiores taxas de analfabetismo estão em municípios do Norte
e do Nordeste brasileiros. Tal situação demonstra que a garantia do ensino fundamental,
obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram acesso na idade própria – conforme
fixado no inciso I, artigo 4º, da LDB –, não vem sendo cumprida
no campo. O alto índice de analfabetismo no Brasil não é por acaso. Ele tem raízes históricas
nas contradições econômicas e sociais profundas que remontam ao período colonial,
perpassam a Primeira República e continuam na atualidade. O Brasil vive uma situação social
que exclui 18 milhões de pessoas do direito de conhecer as letras, de ter acesso ao
conhecimento. Há uma vinculação direta da condição de pobreza, do latifúndio e da
desigualdade social com a existência de pessoas que não sabem ler e nem escrever. Portanto,
o analfabetismo e o semianalfabetismo são expressão da pobreza que resulta de uma
estrutura social altamente injusta. Combatê-los sem entender suas causas seria um ato
superficial, ingênuo. Pinto (1989) adverte que o adulto analfabeto ou precariamente
escolarizado não é culpado pela sua ignorância, não é voluntariamente analfabeto, mas é feito
analfabeto pela sociedade, nas condições de sua existência, posto que o tipo de homem que
cada sociedade de- seja formar é aquele que serve para desenvolver ao máximo as
potencialidades econômicas e culturais de uma dada forma social vigente. Numa breve
retrospectiva sobre as políticas públicas de educação para as pessoas adultas no Brasil, pode-
se constatar que o período colonial, o Império e a Primeira República (1500 a 1930)
caracterizaram-se praticamente pela inexistência de ações direcionadas à educação de jovens
e adultos. É importante ressaltar que a população brasileira, na sua grande maioria, era
analfabeta (cerca de 67%, em 1890, e, até 1920, cerca de 60%). Em um contexto formado
essencialmente por escravos que trabalhavam na extração de minérios, na monocultura
canavieira e, posteriormente, na cafeeira, e por uma elite agrária, além dos quadros da
administração pública, essas elites pouco se esforçavam em implantar uma educação para as
populações trabalhadoras. A preocupação com o ensino de adultos aparece com a
Constituição de 1934 e, posteriormente, com o Plano Nacional de Educação (PNE). O fim da
Segunda Guerra Mundial em 1945 e a pressão de organismos internacionais, como a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
desencadearam um processo de recomendações aos países com alto índice de analfabetismo
para que dessem respostas efetivas a esses indicadores por meio de campanhas de massa.
de
fora a EJA. No Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) surge, em 1995, o programa
Comunidade Solidária, com políticas sociais de combate à pobreza que envolveram estados,
municípios e atores da sociedade civil – como universidades, empresas e organizações não
governamentais (ONGs). Entre essas políticas, está o combate ao analfabetismo de jovens e
adultos, mediante o programa Alfabetização Solidária (Alfasol). Esse programa caracterizouse
por uma perspectiva assistencialista, sem continuidade e ineficiente, principalmente em razão
dos poucos recursos destinados pela União e por uma metodologia que exigia altos gastos na
formação dos educadores do programa. Foi também no Governo FHC que, sob pressão dos
movimentos sociais do campo, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), foi criado o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), para
atender à educação de adultos nas áreas de Reforma Agrária. O Governo Lula (2003-2010) deu
continuidade aos programas iniciados no Governo FHC e, no campo da alfabetização, trocou o
Alfasol pelo programa Brasil Alfabetizado (BA). Tal programa não difere em sua essência dos
demais desenvolvidos em governos anteriores: propõe um processo de alfabetização em
poucos meses sem propósitos de continuidade dos estudos, com verbas restritas, falta de
investimentos nos educadores e falta de materiais. 2