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serie QD rineipios Marlene Carvalho Guia pratico do alfabetizador a. REVISTA EATUALIZADA Peso que os professes devem aprovetar este momento propio para se fazerem ouvir: que solictem is autoridades a ‘melhora de suas condigbes de slrio e de trabalho; a redo ddamimerode alunos por trma; a ampiago da jornada escolar © aumento das oporunidades de formagio cootinuada; mais ‘verbs para material didi, livros, biblioteeas esas de le ‘ura. A desejada methora das taxas e alfabetizago est rela cionada 3 methoria da qualidade do ensino fundamental. Fora Asso, noi slugio para o probloma do analfabetisis, Nesta nova versio do Guia pritico do alfaberizador, ‘mantie capitulos sobre introdugo ao mundo da esrita eas. propostas pedagovicas para ensina ale a partir do texto, da fase eda palaven contextalizad. Apresento oconceito de l= teamento, ¢fago mais referncias a0 processo de alfabetizagao dejovens e adultos, O vocabuléroextico ea bibliografa foram atualizaos, deforma a incorporar contibuigbes importantes, surpass limos anos, Embora as propostas didtcas (cas acunas) dest livro sejam de minha insta responsabilidade, nel procure traduzir 5 experigacias, os saberes eas preocupacbes das centenas de profesores com quem tenho tabalhado em cursos deextenséo para alfabetizadores.Aos colegas da UFRJ que diviiram comi- 0 essa tarefa de formacHo, em especial is professoras Angela (Camara Femandes d'Araijo © Miriam Lemle, meus sinceres agradeciments 1 Tornar-se leitor Provdzir bons letres& um desafo para escola em todas 8 partes do mundo, Do ensino fundamental i unversidade, profesores se quixam de que a maioria dos alunos Iémal eno, sabe usar os livros para estdar Pas, educadorese editores la ‘mentam que 0 gosto pola Leitura esteja desepareeendo. No Brasil, ilhares de livros de Portugués, obedecendo & mesma ‘rma — textos acompanhados de exrccios de interpretagio —sio consumidosanualmente, ma nem po isso os alunos se ‘ornam bons leitores E claro que o objetivo essencial da letura &a compreen- io. Pode-s ler lia por lin, palavraap6s para, mesmo ‘onhecendo o sgnifieado de cada uns delas, chegarao fim da ‘area sem a minim idia do sentido global do text. Tal ipo de letura, que evidentsmentenio tz benefico neahum, ooorre ruitas vezes quando oaluno tenta eno consegue usar os livros (to raros ti eros) para aprender 0 que est endo cobrado pe- los professes A leitura é uma atvidade complexae muito se tem pes ‘quisido para descobir seus mistris. O que os pesquisndores thin a dizer sobre as cificuldades de leitura de nossos alunos? ‘Algumas explicagdes adequadas podem ser encontradas em autores que detcrevem altura come uma espéciededilo 0, uma toca, uma intra entre o itor ¢ autor (modelo inte- ratio de letra). Ness process, 0 litor consti ossignifcados do texto e os compreende, Reparem que se disse conse nfo captar 0s significados.O leitor tem pape tivo, nfo € apenas re- ‘ceptor. Para que esa interac itor-autor ocorra, no entano, & preciso que letrdisponha de conhecimentos que nem sere (ou raramente)consegue ober nas situagSes esolares. A leitura& mais eficiente quando os leitoresconbecem as convengdes, as caractersticas, 0 tipo de estutura propria do texto cuja letoea vo iniciae Livros diditicos, repartagens, fo tonovelas,fabuls,erdnias, poesia econtos so escritosdife- rentomente, Suas esteuuras diversas obedecem a convenes rem sempre muito clras para leitores iniciantes. Quanto mais, se conhecem as convengies do nero, mais fei €abordar 0 texto com segurangs, Sera que o leitor conhece as intengbes comunicativas do autor? O texto fi escrito para informar, divert, apresentar uma. argumentagdo, transmit odens, vender um produto ou 0 qué? ‘Quanto mais souber sobre o autor, suas intengdes e condigdes de produsao do texto — em que Epoca, em que lugar, por que foi escrito —, mais facilmente o letor eran expectativas gue sero muito tes para ajud-o na interpretagio, letor nfo deve apenas ter expectativas sobre que 0 au- tor vi comunicar, mas deve prinipalmente ter ua rz par fazer a leitura. Os objetives do leitor determinam suas esraté- ‘as de letura eo ritmo que imprime @ atividade. Dependendo daquilo que se busca — informasio, dita ‘so, idéias novas ou confirmago de outrs ji conhecidas —, a Tetra ¢ feta de modo diferente. Quando quer apenas loealizar uma data, um nome, um nimero de telefone, uma informagto precisa, aatengio do letor pode ser eficientmente dri pa ‘a busea daguee nico detalhe,descarando o que no interes: ssa seus objetivos imediats. (Quando se quer estar, aprender por meio do texto, atu- ralmente a leitura & mais elaborada, mais vagarost:é preciso destacar os argumentosprincipais,verificar as conelusbes,fa- zeraligagdo entre o que conhecemos ea idéiasnovasexpos- fas pelo autor ‘Quanto mais soubermos sobre o enero do texto, as inten- 8es do autre sobre o proprio tema, tanto mais efeiente sera leita. Poderemos dalopar com o autor, concordar ou discor- dar fazer perguntas eprocuraerespostas, Poderemos critica, As experiéncis anteriores de leitura — ede vida, no sen- tide amplo— vio influenciae as atitudes do leitore sua capaci- dade de interpretare critica. 0 bom letor nfo se faz por acas0. Muitos so formados na infincia, em familias que podem Ihes oferecercontato com literatura infantile em escola que proporcionam experiéncias, Positivas no inicio da alfabetizago. Apronder a ler como sea Tetura fosse wm ato mectinica, soparaso da compreensio, & um desatre que acontece todos 0: dias, Estuda paavras sot, slabs isoladas, ler textos idiotas « repetc sem fim exereicios de cpa resula em desinireste © ‘jeigdo em relago&escrita, ‘A mancia pela qual oalfbetizador encara o ato de er de ‘termina, em grande parte, sua maneira de ensinar.Praticamente todo o trabalho de alfabetizagdo em nossus escolas(seja qual foro método adotado) parte do pressupesto de que 0 impartan= le ensinar 0 mecanismo da decodificagao, porque depois & ‘compreonsia vid automaticamente, © pressuposto esti errado. Antes mesmo de ensina a de- terminado objeto no tfm nenhuma rlaglo com as caracteristi- «as do abjeto em questio. Como atividade, apresente aos alunos pares de palavras e peve-hes que adivinhem onde est escrt cua uma das plavras do par. Exemplo de exerciio aa lous: — Aqui esto esritas as palavras vaca e formiga, Qual elas € formiga? Formiga Vaca Repita oexericio com outros pares de palavras,variando as classes gramaticas: além de substantivos comuns, inelua vethos, pronomes et: Rio Petrépolis Mar Piscina indo ‘Trabathando Tnisligente Alegre Hoje “Amanhi Ey Vout Deixe os alunos discutrem e adivinharem & sua maneira suitos vio se deixar lvar pela flsaimpressio de que palavras sais longas representa objtos maiores. Depois de ovr suas espostas,ensine-s —contaroralmente 0 mero desilabas das palavas pa- ra verificar qual € maior; — contar 0 nimero de letras. Assim, a palavtaformiga, ‘que tem sete Tera, & maior quo a palavea vaca, que tem apenas quatro. Descoberta de palavras com o mesmo sentido jude o aluno a perceber que © mesmo significado pode ser representalo por mais de uma plata Isso & facil de coms tata pela compatagdo de fases como as que se seguem: (© méico tata dos doentes. © dowor tata dos docntes. FFornesa, em fases, exemplos do emprego de sindnimos bonita, bela smalvado, mau; sipaz, mogo: bbe, neném; salboroso, gstoso. (0 objetivo desse exercicio no ¢ ensinar uma relagdo de sinonimos, mas sim lovar a entender a diferenga entre sigiica- doe significant (forma). 0 importante & que o aluno pereeba {que neném e bebé apresentam sons diferentes (os sigificantes ‘io distntos) mas tém signffeado igual. Com a pti, espera- ‘Se que o aluno sea eapaz de concentrar-sena dimensio sonora das palavras para poder entender, por excmplo, porque bola © Joneca comegam com a mesma letra Descoberta de palavras com mais de um significado ‘Outros exereicios itis So agueles com homénimos, que podem ser trbalhados em frases como as que s seguem: ‘A manga da minha camisa rasgou. Gosto mais de manga do que de goiaba. Pega as alunos exemplos de frases que iste aexistén- cia de mas do um signifieado para palavras como: ‘oti (de flor, de rou) cabo canela chato corredor pena peca ‘Caso trabathe com eriancas,faga-as pensar sobre a exis- ‘ncia de homdnimos por meio de brincadeiras ou adivinha- bes: — Aasa do ble tem penas? 0 pé da mesa usa mia? —A casa do botto tem tlhado? ‘Outras sugestdes podem ser buscadas no folelore, por exemplo: 0 que € que o pinto faz Para. a gente lvar as mos?” Ri Pia Construgdo da nogao de silaba oral A siluba & uma unidade fonética: correspond ao som pro dduzida por uma Gini emissio de voz. Na escrta representa- ‘mos a silaba por moi de letras, que por sua vez s20 simbolos| sgrificos das vogaise das consoantes. "Nao & muito dificil ensinar ao aluno a separar a silabas ‘oralmente, flando a palavra devagar. No entanto, os exerecios| de separago de silabas por eserito, quando introduzdos preco- ‘cemente,apresentam dificuldades especiais, Muitos alunos, 20 iniciarem aalfabetizago, anda nfo fazem eorrespondéneia en- tne partes da esrita e partes da fala. Essas pessoas podem pen si, por exemplo, que a palavra CASA “estéescrita” nas letas| Ce A, cad uma delas representando um “pedacino” da pala ‘va, Outros alunos constroem a falsa nogdo de que todas as si- labas do nossa lingua so representadas por apenas duas letras (geralmente uma letra que represensa uma consoant, seguida de outra que representa uma vogal)- Assim, quando vio separa silabas por escrito, executam a taefa mecanicamente, como se vén0 exemplo abaixo: cutoro [oI =") proferiveladiar por algum tempo a separago de slabas por escrito e tabalhar prinipalmente com exerccios e jogos frais como os que se segue: 1. Batuque o nimero de silabas da palavra: cada silaba promun- ida, uma batidinha na mesa, Faga esse exerelcio de vez em ‘quando, uilizando palavras longas, de trés ou mas silabas, © palaveas cuts, como monossilabos. Rita brincadeira om os nomes dos alunos, comparando o mero de “ped ‘inhos” que encontrare Destague sila inicial da pave Digs uma série de pala- ‘ase peca as alunos que fagam um sinal (levantar 0 deo, ‘uate pamas, por expo) cadaver que ovviem uma pa tavea comesada por determinads silaba. Exemplo:reconhe- «cer palavtascomegadas por BRA. ola - brago - Brasil banana - ala = bravo - bragadeira~ brasileio-beusa Solieite aos alunos que repitam as palavras dads, liinan- do, porém, primeira sla. Exempla tata rodoviria - dois esto - do felevisio- levisho smardeu- dea escola -cola ringue de “La vai a barquinha earregadinha d..". Comeee jogo dizendo, por exempl, "li vai a barquia earregadi ede atta” eaponte mn alu que deve epetir“i via terguinhacarregadinha de. completando a fase com una palava comecadn por ba, Mud a iabs nial de tempos em fempos Ness ogo, alguns alunos eventualmente apresenia- ‘Ho pulavras que se parecem ene sido pono de vist do sig- nifieado por exemple, a professora diz butta 0 uno responde cenaura, Nese caso 0 professor deve buscar novas tmanciras de orienta a atengi0 do aluno parh os sons que produimos na fala, Os jogos sugeridos aq atendem 2 essa Tinalidade 5, Bringue de repetr cadeias de silabas Sem significado. Nas brineadeiras infants, hi muitos exemplos dessas cadeas: ‘ni, dun slam, ming, 0 sorvete color, uni dui Conte onimero de slab dita oralmente, bata palms para marcato som de cada slabs. Outtos exemplos que se pres- fam pars esse exereci: BLA. BLA..BLA. DPATATI, PATATA BUM BUM PARATIMBUM. OLL OLALA 6. Faga brincadiras com rimas para destear as sabes fais as palavras, Exemplo: rete versinos,cangSese verifiear fas palavas que rimam e por gue 7. Peg aos alunos que reptam as polavras dads, ciminando a ‘sina silaba, Exemplos: ‘eaderno -cader festa fen rmacario = mace cescrevendo -esereven 8. Diga pare a turma una sé de palavasincompletas, omitin- doa ltima slab, Os alunos deverdo adivinhar as) pal ‘ra(s) em que voce esti pensando. Exemplo: jane. pete, bi. bi bl. fla, 9. Faga um exereieio de separa de silsbas oralmente, porém pedindo aos alunos que fagam um tracinho no papel pa ca- {h silaba que ouviram. Exemple: FLAMENGO. ‘vasco—— BOTAFOGO ———— Gor — Lembrete Em gerl, as pessoas percebem mais facilmente 0 sons das slabs inicnis das palaveas do que os das silabes interme dlidrias ou finais. Comece pelos exercios com silabas inicisis, mas faga também jogos com silabas Finis e intermedia. Tas cexerciios devem serfs oralmente Conclusao ‘As atividades aqui sugeridas podem failtar ao apreniz ‘1s compreensio das miitilas convengBes que regulamentam 0 ‘so da eserita eo dominio do certs conceitos (como os de fr se palavraesilaba) que so usados constantemente pelo alfabe- sizador se pode perder de vst, contudo, que 0 exercicio po- J exerecio no ensina a ler nem a escrevet. Exerecios jogos fazem parte de um quadro de referéncia mais aampo: a forma ‘ela qual a leitura &encarada peo alfabetizador. ‘Actedito que oaluno deve, o mais cedo possivel,sbordat ‘os materia de leituraexstentes no mundo real, azo pea qual ‘este capitulo comesa apresentando atvidades com tex nat rai, cuja escola fia aeitrio do professor, o nico que real> ‘mente conhece as caracteristicas dos alunos e pode seecionar o ‘que sea do seu agmado,Penso também que o aalfabeto est ap- to areceber as informagGes sobre a escrita que Ihe sto trans tidas pelo ambiente em que vive, fora dos manos da escola, co :mo tio bem enfatizou Emilia Feteiro, A mesma autora lembra que a légica do adulto no € a mesma da cianga e que os con- ceitos de “fil” “fel” so relaivs. Para quem est interes sado em futbol, palaveas como Flamengo, Corinthians ou go- Ieir si fices de aprender. talver mais ficeis do que “a pata nada no lage”. Este capitulo termina com aividades ou exericis rela- cfonados com a nogo de slabs orl, Nessa altura, coma pros- Seguir com oensino:adotar ou nio um métoda estruturada? Se a resposta fr positva, que métedo adotar? Em caso contirio, ‘como pode 0 allabetizador encontar seu prdprio método— no sentido original demo mend, “amin pel gil chess sas quests seo tratadas no capitulo segunte Parte IT METODOLOGIAS DE ALFABETIZACAO Introdugao [Nesta soso do lvro,descreverei ts maneras diferentes de alfabetizar que consideto vidas para a formacdo do ltr. [As trés metodologias tm em comum determinadas premissss sobre a aprendizagem da litura,jé apresentadas anteriormente: + Desde as etapas inciais da alfabetizasio, a principal preoeupagio do leitor deve ser a busca do significado {ou significado). + A compreensio dos usos sociis da esrita€ importante pode ser facilitada, na escola, pela eriagdo de situa- es de leitura funcional, +0 gosto pela letra € resultado do conta freqlente com textos interessante, de diferentes géneros, Para sr coerente com a premissas acima, © ensino deve comesar plas unidades mais amplas (texto, fase ou pala) até chegar as unidades minimas da lingua (slabasTonemas ou letras), Dai minha oped pelos métodos globais, também cha- ‘madbos analition, que pouco a pouco substituram a soletragio, ‘inico método conbcida até 0 séeulo XVI |As proposias que se seguem sio de 18 tpes: partir do testo, a parti da frase © « pati da palevra contextualizada, ‘Constituem esquemas metodolégicos, acompanhados de exem= pilose de sugestoes de exercicios. Na formulagio desses esque- ‘mas, inspirciame em métodos eonhecidos (ver “InformagBes complementares), nos quaisinseri adaptagdes minbas, que onsidero ites para tornar a prética da alfaboizagioatualizada em relagao aos resultados da pesquisa e do avango teico nes- sa dre, Procureiincorporatsidéascolhidas em diferentes auto- res algumas sugestdes resultantes das experiéncias de alfabeti- adores bem sucedidos, Indicagdes das fonts bbliogéieas, ao final dos capi tos sequintes, permitirio wos intoressados profundarem-se 20 estuo de autores que em lugares eocasies divers, propuse- rum alfabeizar por meio de métodos globas, 4 Alfabetizagao a partir do texto Escolha do texto Nos seus primerus passos em direglo i alfabetizacto, 0 ‘aluno va abordaro texto do para “domi o mecanismo da ke ‘ura mas apenas para aprender alguns fos sobre o sistema da ‘sci, pssivelmente, descobrir algumas rlagtes entre a es crita ea fala, Continuando a lida com textos, seus conhcimen- ‘os se ampliao — aprender sobre os uss soins da eseria © ‘os lferenestpos de organizago textual a maneira pela qual os ‘textos so orgtizados). Poueo& pouco, seri capaz dereconhe- ©, num relance, certaspalavras que se Yepetom mut, como 0s artigos definidos e indefinidos, pronomes,preposigde ecertos ‘erbos. Em algum momento descobrrk que as lets se relacio- um com sons: estar fechadoo circulo que va do texto & ler, ‘\aprendizagem por meio do texto €altamente motvadara por sae dé o aluno impressio de que ele eaminha ripido para che- {rao que interessa: 2 compeeenst de uma mensagem, ‘Quem nunca afibetizon dessa maneia,natualiente ‘1 preocupado echeio de dividas. Que tipo de texto escolher? FE preciso etiminaras palavras mas diffe? De fato,o mais importante & que 0 text tena sentido © ineresse para a turma.Palavras“ficels” edifices” apareverao, {juntas e sero assimiladas pelos alunos, ‘Um tipo adequado de texto € aquele esrito pelo profes- sor, que registra, em poueas Hina, um fato interessant, uma ‘observago ou comentirio feito por um aluno, um caso aconte- ido a sala de aula, e assim por diane. Outras oppbes so his ‘orig infantis, anncos, poesias, letras de misia,enfim, 0 r= pertrio ¢inesgotivel Exploragdo inicial do texto [No capitulo 3 sugeri procedimentos para ajudar os alunos aseeavolverem ativament a leitura ea eentrarem sua preoet= pedo na husea do significa. Seo professor iver udoiado es= S585 procsdimentas, bast teet-los com o texto escothido para Iniciar aaljabetizogao sstemstic, Em sintese, 0 que propus fo co seguinte 8) Exploragio do titulo e Formulagio de hipéteses sobre o ‘ema geral eos signficados provavels do texto. >) Leitu natural do texto complet feta em voz alta po To professor, ©) Troea de idias com a turma sobre o que compreend= ram da leitura, Busca de relagées entre 0 texto © 08 co- shecimentos ¢experiénias ds alunos. 4) Identtieagd do género do texto. ©) Leitura didi fita pelo professor, que sponta as pa Juvras uma a uma, A turma acompana erepete 1) Observagio de aspectosformais da eserita como sist ‘ma de represenagio: doco (da esquerda para a dite- fa) limites grficos das frases (onde comeyar © onde terminam), nimero de frases, uso de maisculas¢ mi- niseulas, pontuagio,espagos entre as palaras 1) Repetgfo da leitura do texto, ora pela turma toda, ora por um inico aun, ‘Do ponto de vista da compreensio do mecanismo da lei- tra, «ideal § que o aun, praticandoessasaividaes, sea ca- paz de relacionar as unidades sonoras com as unidadespeificas, ist g, saber que cada pave dita porelecorresponde uma po lavra no papel Decomposigao do texto © objetivo desta etapa & 0 reconhesimenta de cada uma das frases que compdem 0 texto. Trti-se ainda de uma Feira lobal. As frases serio iniciakmente reconhecidas por um ov mais detalhes que straiam a atengo dos alunos, po exemplo, 0 rnimero de plavras, «forma de determinads lta, a presenga de ‘uma palava conhecidae assim por dante. Cada suno usa dif rentesestratégias, sobre as quais 0 pressor nfo tem controle, pra memoriza as Fase, O importante 6 quo 08 alunos per ham diferongas entre elas esejum capazes de recité-las coreta mente ‘Sugestdes de atividades 4) Bserever as frases em tas de papel ou carolina. Pedir ‘49 aluno que ss arrume na ordem em que aparecem no texto b) Alterar a ordem das frases e levar a turma a verificar 0 fue acontece. «)Dizee uma fiaso om vor alta pedir ao aluno que en- conte a tia correspondent 4) Esconder uma das tras e pedir ao aluno que descubra a fase que est faltando. ©) Deixar os alunos tabalharem em grupo com as tires, iano suas proprias tividades ou “tomando a leitura™ uns ds outros Andlise das frases ‘Um texto é uma unidade ampla composta de outras unida- des de sentido, as frases, que se artielam entre si. Os exercicios ropostos nesta etapa devem levaroaluno a compreender essas relagdes e a perceber a fungéo das palavrasna ase, Sugestées de exercicios 8) Observar como as palavras de uma fase so rlaciona: das com outras. Vejamos um texto simples As esudantes (Cliudia esta na 18 sie, Sua emi também, las vo juntas para. a escola ‘Mostrar que certs palavras,chamadas pronomes, fazem referncia ls mesmas entidades que jé haviam sido designadas por nomes: — Sun irmi quer dizer 0 qué? — rms de Clini, — Quem sio elas na 3 fase? — Clini esa rma. ') Subsituir © sujeito, 0 verbo ou o objeto dineto (0 exer- iio pode ser feito oralmente ou por eserta), Exemplar Hora da merenda Na escola, Cléudia comeu macart. Sua irmit também, * Substituigdo do sujeito (usar de preferéncia 0s nomes os alunos). Marinete comeu macarrio, Aaitson comew macart. Pedrinho comeu roacattio. ‘+ Substituico do verbo (verifiar as mudangas de sentido). Cuda comen macano, Claudia comprow macarsio, (Cliuia cozinhou macartio, Cuda peau macarei, + Substiigio do objeto direto, Pedir sugestdes os alu ‘os: que outras coisas Claudia poderia ter comido na hora da merenda? Cliudia comen macarro Cua eomeu fetja0 com ars, ‘Claudia comeu banana. Cliudia comeu cocada ©) Acrescentar uma palayra que modifica 0 sentido do verbo. Na escola, Claudia eomeu bem, Naescola, Cliudiacomeu mal, 4) Altera a ordem das palavras e ver o que acontece, Na Clindia escola comeu macarrdo, ‘comeu Na macarrao Claudia escola. Os exersiciossugeridos exploram ¢ exganizam conhesi- Ientos que o aluno jd possui acerca da sntaxe da lingua port {uesa. Embora nfo conheca termos como pronome, sueito, ver. bo, objeto direto etc, todo falante da lingua forma frases cesruturadas de tal modo que so compreensves para outros fa- Taates, Ou sj, conhoce (erespeita)normas lingdisticas que the permitem fala (¢ entender) uma varedade infinita de fase. Pode cometeretros gramatcas, falar de manera nfo aprovadla ‘ng escola, mas consegue so comunicar porque tem consciacia dda estrutra da lingual. Os exereicios so itis para levi-o a petecher as fungBes das palvras nas fases ea verifTear como 0 ‘Sighifieado se altera por maio da mudanga de certosclementos. Do pono de vst da simples mecca a etura, as subs- tinigdes também sto tes. Permitem ao aluno revertepetida- ‘mente as mesmas frases (com a mudan de um nico elemen- to), o que favorece a apreensto global, a vsualizagio do pefil das inses eds palavras, Andlise das palavras 0 professor escolhe no texto tes ov quatro palavas (ae «ui por dante, denominadaspalavras-chave) que sero primei- ro memtorizadas globalmente, depois analisadas e comparadss comm otras, de maneita que aaten¢o do alo se dirgida pa ra a rlages entre sons e letras Exereicios para memorizagéo das palavras-chave: 9) Eserover as palavras em caries (condos com car- t8es-rldmpaga) da mesmo tamanoe mostrslos t= ‘a para liars oral, O objetivo & que oreconhecimen- to da palavra sea imediat, 0 mas ripide possve. QEsD cre ice moo do atc de Miran Lae ap. 3 by Chamar os alunos 8 tousa para apontar no texto a pala ra pedida pelo professor ou por um colega que faz © papel de profesor ©) Fazer 0 mesmo exerci (assinalar determinada pala- ra) em cops do texto, tradas no mimedgrat «) Mimica ou é prbido falar ‘Um aluno representa, por mimics, o sentido da pala- ‘rae outro deve esereve-a no qundro, ©) Concurso de tases (alunos formam frases oralmente ¢ 0 professor as x= steve no quadro, desteeando a palava-chave, A turma sco a frase mais bonita, que ser eserita num cartaz colocada mum mural 1 Palavras ervzadas(adaptagso) (© pofestr las defines: TATED [TA oT ede star say E[S|CJO[L[A] 2 Lugaronde xe est escola) 5. doe esto ps i) BMS (saunas emptor ques 8) Dewtive Procurar as palaras-chave em jomaisvelhos, revitas ‘oe, Revorti-ias ¢colilas num cata initulado “Peo- erase a paar.” 1) Colegio de eaixinkas ‘Cortarpetagos de papel do tamanho de uma caixa de fs- ros, nos quis os alunos eserevem as paras chave © colum sobre caixinhas de fsforos vazias. A medida que ‘umentam suas eoleydes, as propria erangas iam brn- ‘adres com as caixinhas(trennhos de palaves, domi ns ores de pala ee) 1) Nosso primero diciondrio Um aluno esereve a pavra-chave em lets grandes, no alto da pagina (papel ofieio). A seguir, copia uma fiase em que aparece a palavra c ilusira 0 trabalho, Reunindo essas folhas por ordem alfabetica, 0 profes sor formar o primero dicionirio da turma. 4) Passa palavra adapta da beineadeira de passaroanel) ‘A palavra &escrita num pedacinbo de papel que & bem dobrado e serviri para substtur © anel normalmente usado na brincadeira. A erianga que recebe © papelzi- ho deve ler em voz alt a palavrareeebida, Se arta, tem o dieito de escolber outa paavra, eserevéla num ‘papclzinho e prossepuir a brineadeirs, Segredinho Na hora da said, o profesor coloca no bolso de ts ou quatro eriangas um papel dobrado com wma palavra- have, pedindo-thes que a leiam em casa vérias vezes. [No dia sepuinte, os esolhidos vio frente da turma ler as palavras que levaram. 1m) Historias malucas? uma brincadeira divetda, a criagdo coletiva de his- ‘ria © professor esereve a palavra-chave num papel ea esconde da turma, Pede a um aluno que sugira ou ‘ra palavra qualquer. Em sepuida, 0 professor revela palavea-chave, Tem-se uma dupla de palaveas, com as ‘ais © professor comega a brincar, fazendo associa- es entre elas, Usar diferentes preposigdes para ligat as palayras pode fazer resultados ineressaies. Os al- nos do prossepuimento i histria, Exemple: Tap de add rp por Ga Rodan re Gran fata Palavracchave: escola Palavra suger pel aluno: avido Algumas ligagdes possiveis: escola e avid, ‘avido com escola, ‘vido na escola, avid sobre a escola, escola no avido ete (© que se pode eriar com essas associagdes? ~ Era uma vez uma escola no vio. Os alunos chegavam 4s Thoras da manha e embarcavam cade dia pata um lugar. No usavam earteras, usavam poltronas. A merenda era trazida po- lo comissério de bordo. Um di... (0s alunos completam). — Era uma vez um menino que nfo gostava de estudar © passava o tempo na escola Fazendo avides de papel. Um dia um avifo de papel se transformou num avido de verdade. O que scantecen depois? Exercicios para andlise das palavras 2) Distinguirsilabas iguais 0 professor diz: — "La vai a barquinha carregadinka de", completan- do frase com a palavni-chave. (Ver exemplo no ea pitulo 3) 'b) Contr as silabas oralmente. Bacar niimero de sil ‘as (uma batda para cada slab). ©) Procurar palavras que rimem com a palavra-chave. Escola! mol J sola bol / cola ete. 6) Organizar lists de palavras que contém slabasiguais Dare pedir exemplos e organiza as lists no quadro. A Aisposigdo das palavras © o uso da giz decor ajudam a destacarassilabas Jeon ba | tata cs | tedame ta | cia es | exo sea | ba su [ba ‘Sintese: formagao de novas palavras e frases Se oaluno realizar as atvidades sugerid até aqui, prova velmente perceberi que as silabas slo unidades menores da in- gua falda, que se unem para formar palavras, Posivelmentete- 1 compreendido que as letras tém a fungao de representar sons, ‘embora nfo conheca o valor sonoro de cada uma. Se os aus tiverem liberdade de experimentar altura em diferentes mate~ Finis, eles peOprios descobriro palavras parecidas do ponto de vista do som, isto é,percebero alguns tpos de relages sonsile- tras existentes no nosso sistema alfabético de eserita. ‘Nametodologia aqui propos, a formagio de novespalavras no érigidamente planejada econtrolada peo professor, até porque se di prioridade&atvidade do aluno na construc do proprio co- necimento. Novas palavras serio formadas gradativamente, de- pendendo do repertrio formado de palavas-chave e de outas, bem ler excrever ‘No hi uma causa tnica para explicar a situagdo a que chegamos: mais de 90% das eriangas brasieires tm acesso & ‘escola fundamental, mas boa parte dela no consegue aprender ‘er, ou leva muitos anos para alcangar um nivel rdimeatar de Ivituraeeserita, Os resultados nacionais em provas de leturae scrita para alunos de 1S anos slo lastimavels. [Esse fracasso escolar em massa € um fendmeno sociale iio © resultado de deficigncisspartculares daqueles que no onseguem escolarizar-se satsfatoriamente, Pesquisadores tm fpontado um conjunta de azBes interna e externas escola pa- ‘iexplicar porque isso acontece, Fatores internas que contibuem para 0 iacasso escolar fo turmas muito numerosas (20 a 25 ahunos seria urs nimero tlescjvel para a alfabetizago), turnos de apenas quatro horas fou menos (a escola de tempo integral, que & a regra em paises envolvidos, esti longe de se gneralizar no Bras), formaga0 “adequadacbaixissimos sliros des professores, métodos ul- trapassados, falta de material diditico, de biblioteas sas de leitura. Essas condigdes impréprias existem até mesmo nas srandes cidades. Fatoresexternos decorrem das grandes desigualdades s0- ciaisexstentes no pais. Nas familias muito pobres,sfo comuns © ngresso taro na escola depois dos sete anos de dade, sacias dos alunos em razo de doengas ou de trabalho, a im- possibilidade de eomprar material diditicg, livros e jars ‘Ainda assim, ha milhares de criangas pobres,estudando temescola inadequadas, mas que so alfabetizada no primero ano de escolaridade. Por que outras slo incapazes de veneer & barrens de alfabetizasio? ‘Teata-s geralmente de uma constelagio de motives: repe= tentes eraicos, que acabam entrando para classes de educagio de jovens e adultos, foram aqueles que ao mesmo tempo passt- ram por escolas ruins, ou professoresinexperientes; faltaram ‘muitos avlas, perderam a motivagio ea eonfianga. Além dis- 0, tiveram poueo ou nenhum contato com a leita ea escrta fora da escola, e ndo encontraram sentido no esforge que aprendizagem exige, ‘Coneluindo, nfo € corto atibuir a responsabilidade do fracasio escola em matéria de letura e excita apenas aos al ‘nos, sus filias, ou aos prfessores. O encaminhartento do problema deve levar em conta fatoresexternos e internos. 2.0 método construtivsta de Ena Ferrero serve para jo- ‘ese adultos ou apenas para eriancas? ‘No hitum método de alfabetizagio constrativist. A pes 4quisadora Emilia Ferree, dseipula de Jean Piaget, pesquisou Tongamente sobre como a eranga aprende o sistema de escrit, firma que as eriangas moradoras de ambiente urbanos, antes ‘mesmo de entrar na escola, bservam as eseriasexistntes 0 redor; procuram compreender como funciona a escita;fizem (entativas de escrever, se houver condigdes para tal. Aquelas| que Hidam com livres, cartazes, embalagens, outros meri excites, ealém disso tém 4 mao lips epapéis, costumam imi ‘ara escrita dos adultos (Letra cursiva) ou dos impressos (letra

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