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Atividade 3

Aluna: Marilia Livia Guimarães dos Santos

I.A.D.S, sexo feminino, 12 anos, compareceu a uma consulta medica na UBS Idalia
Silva Santos acompanhada de sua tia, com queixa de crises convulsivas. A familiar e a
paciente relataram que I.A.D.S tem episódios em que perde a consciência e “fica se
batendo”, que duram em media 10 minutos e são sucedidos por período de confusão e
“mal-estar”. Esses episódios acontecem desde que a adolescente tinha cerca de 5 anos,
2-3 vezes por semana. Ambas negaram sintomas neurológicos focais, historia de
traumatismo craniano ou outras comorbidades. Ao revisar o prontuário, notei o registro de
duas consultas durante a puericultura. A tia relatou que a escola da menina recomendou
que realizassem um EEG, que ela trouxe a consulta e que evidenciava traçado anormal
em todos os canais, com o laudo sugerindo ondas epileptiformes. Foram feitas
orientações sobre o provável diagnostico, sua complicações e cuidados necessários,
solicitados exames laboratoriais e Tomografia de Crânio, encaminhamento ao pediatra do
município e ao neurologista na Policlínica em Santo Antonio de Jesus, e introduzido Acido
Valproico em dose inicial, com orientação de retorno precoce para ajuste de dose, se
necessário.
Paciente não retornou no período indicado e foi-se revisado o caso com o ACS da
área, que relatou que I.A.D.S mora com o pai a avó e 7 irmãos na zona urbana. Sua mãe
havia falecido a cerca de 1,5 ano, por complicações no pós-parto imediato. A principal
cuidadora das crianças é a avó, que tinha passado a morar com a família após a morte da
filha. O pai não tem emprego fixo e a principal renda da família vem de auxílios
governamentais. A tia que acompanhou a menina a consulta mora em um município
vizinho e ajuda nos cuidados das crianças ocasionalmente.
Foi agendada uma visita domiciliar, com o objetivo de avaliar o tratamento de
I.A.D.S e o estado de saúde das demais crianças. Durante a visita, adolescente e tia
relataram ter iniciado o tratamento, mas ainda assim a menina persistia tendo crises. A
avó confirmou os episódios sugestivos de crise convulsiva, mas não sabia disser se a
medicação estava sendo usada de forma adequada. As solicitações de exames e o
encaminhamento para especialista tinham sido entregues no setor de regulação da
Secretaria Municipal, mas que “não sabiam quando vai ser a consulta”, por que no
momento não havia pediatra contratado pelo município. O pai não estava presente.
Esse caso em especifico me marcou pela presença de diversos fatores de risco
sociais que culminaram no atraso do diagnostico e tratamento de uma condição que pode
causar considerável prejuízo no desenvolvimento psicossocial da criança. I.A.D.S, assim
como vários de seus irmãos, não frequenta a UBS a qual a família está vinculada, e a
maior parte de suas necessidades de saúde são atendidas de forma pontual na
Emergencia do Hospital Municipal.
O município de Santa Terezinha oferece consultas quinzenais com quatro
especialistas: pediatra, ginecologista-obstetra, urologista e cirurgião geral. O
encaminhamento é obrigação exclusiva do médico para pediatra, urologista e cirurgião
geral, e do médico e enfermeiro para ginecologista-obstetra. O encaminhamento é feito
por ficha de solicitação de procedimento e por ficha de referencia e contra-referencia.
No municipio também são oferecidos alguns exame laboratoriais e USG ( abdominal,
pelvica, transvaginal e vias urinarias), como forma de auxilio diagnostico.
No caso de necessidade de encaminhamento para outras especialidades, como
cardiologista, neurologista, endocrinologista, dermatologista, etc, e da realização de
alguns exames de alto custo, como Tomografia Computadorizada e Ressonância
Magnética, o médico deve preencher a ficha de encaminhamento seguindo o Manual de
Acesso aos serviços de Apoio Diagnostico e Tratamento das Policlínicas Regionais de
Saude do Estado da Bahia e o paciente é encaminhado a consulta com especialista em
Santo Antonio de Jesus. Essa nova opção de referencia para atenção secundaria passou
a funcionar desde junho deste ano e vem suprir uma demanda reprimida dos municípios
consorciados.
Apesar da oferta de atendimento de atenção secundaria maior do que do muitos
outros municípios na Bahia, na pratica, o encaminhamento para os profissionais
especialistas não é eficiente. No município não é incomum a população ficar desassistida
por períodos, geralmente graças a troca de profissionais contratados. Alem disso, não
existe um protocolo de encaminhamento bem estabelecido e a demanda reprimida não
corresponde a demanda real. Como consequência, pacientes que deveriam ser avaliados
com certa frequência ou urgência tem um período de espera por consultas prolongado.
Outra dificuldade está no não preenchimento da ficha de contra-referencia pelo
profissional especialista, resultando em informações fragmentadas ou incompletas aos
profissionais da equipe da UBS e, consequentemente, uma atenção em saúde
inadequada.
A inauguração da Policlínica em Santo Antonio de Jesus veio como um meio de
solucionar essa dificuldade em acesso a atenção secundaria e terceira. De fato, ela
possibilita o encaminhamento a muitas especialidades que antes pareciam muito fora do
alcance dos pacientes, como angiologista, mastologista e reumatologista. Ainda no inicio
de seu funcionamento, ela esta respondendo por uma demanda acumulada de seus
municípios consorciados, logo, a espera por consultas ainda é moderada. Apesar disso,
talvez a consequência mais positiva da Policlinica seja a obrigatoriedade do
preenchimento de ficha de contra-referencia, que vai facilitar a real implantação de um
sistema integrado de saúde, no modelo proposto pelo SUS de APS. No momento é ainda
muito cedo para saber se essa realidade vai sim acontecer, mas os sinais de mudança
são bem-vindos.

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