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Introdução
1. De Panini a Saussure
De forma geral, a questão era saber se havia alguma relação entre o objeto e
nome do objeto. Platão abordou em vários momentos de sua filosofia essa questão, em
particular no diálogo com Crátilo. Saussure, século XIX, retoma esta questão e afirma
que o signo é arbitrário.
Enquanto os platônicos estavam preocupados com os efeitos da palavra ou
discurso e sua exatidão, eles queriam saber qual o tipo de relação que havia entre as
palavras e as verdades que estas provavelmente poderiam conter, ou seja, a palavra
deveria conter ou transmitir a proposição verdadeira.
Os sofistas, por seu turno, se estavam preocupados com os modos de uso da
palavra independemente dela conter uma verdade ou uma falsidade, ou ainda mais
propriamente, eles estavam preocupados com as estratégias de argumentação. É possível
considerar que a questão da coerência e da coesão era um tópico, de certa forma latente.
Outro aspecto interessante dos sofistas é que eles derem, de certa forma, início a
educação popular, pois ensinavam nos portais das cidades para todos e cobravam pelas
suas lições de “retórica e argumentação”. Não é sem propósito que eles foram
perseguidos e até recentemente considerados filósofos menores.
Aristóteles, em suas reflexões, identifica as partes dos discursos em seu livro,
Arte Retórica e Arte Poética, aborda também o uso e as estratégias da arte de falar
visando à palavra, a moral e o discurso verdadeiros. Aristóteles entre outros aspectos
desloca as questões Platônicas e sofísticas, pois, nela contém o cerne da constituição da
gramática. Outro mérito é “o de sido o primeiro a tentar proceder a uma análise precisa
da estrutura lingüística” (Leroy, 1982: 20).
No rastro da história, os Alexandrinos, com destaque para Dionísio da Trácia
(séculos II e I a.C.) se empenharam nos pormenores gramaticais agrupando em
doutrinas. A questão era saber se o sistema gramatical se constitui por analogia ou por
anomalias, doutrinas que renderam disputas infindáveis.
De uma forma ou de outra, a partir a partir destas reflexões no correr do
desenvolvimento das investigações sobre a língua e linguagem, em cada período outros
estudiosos, inclusive os Latinos, gramáticos como Apolônio e Varrão, que se dedicou a
definir a gramática como ciência e arte, e bom seguidores dos gregos não fizeram mais
do que propagar os ideários gregos, no entanto, os Latinos perceberam “o valor da
oposição de aspectos no sistema do verbo” (idem, 21).
Já na Idade Média, o advento do cristianismo poderia ter promovido um certo
alargamento no campo da linguagem, considerando a tradução da Bíblia em gótico,
armênio, eslavo, no entanto, a língua de outros povos eram vistas como “instrumentos
de propagandas” religiosas. As propostas de Dionísio da Trácia passaram a Idade Média
intactas enquanto a Escolástica se dedica ao rediscutir os ramos da gramática: trivium,
retórica e lógica o que subjaz a discussão entre a exatidão das palavras, os realistas (“as
palavras são reflexos das idéias”) de uma lado e os nominalista (“os nomes foram dados
arbitrariamente”)de outro. É importante destacar que nesse período houve um interesse
pelo conceito de dialetos, de língua, de literatura, pode-se citar “Questione della língua”
e “De vulgari eloquentia” (1301).
A Renascença foi um período de intensa ebulição intelectual que ocasionou
um ambiente propício aos estudos lingüísticos entre outros. A chegada dos sábios
bizantinos, expulsos de Constantinopla, os debates teológicos, estudo mais aprimorado
do grego, o recurso ao hebraico e as línguas semíticas com estruturas diferentes que
resultaram na comparação estrutural. Outro aspecto foram as traduções dos livros
sagrados para os numerosos dialetos. As observações e os documentos de viajantes,
diplomatas se constituem em um número arquivo para os estudiosos e curiosos dos
estudos lingüísticos que propicia um ambiente de classificação. Nesse movimento, as
questões metodológicas se colocam em vários sentidos, desde a simples especulação até
a classificação geográfica. Essa produção gerou inúmeras coleções.
Nessa ebulição, para citar alguns exemplos, surgiu em 1502 o dicionário
poliglota do italiano Ambrosio Calepino, em 1538 Guillaume Postel publicou o
Linguarum duodecim characteribus differentium alphabetum, em 1555 apareceu em
Zurique uma compilação intitulada Mitbridates de Conrad Gesner, em 1592, Jerônimo
Megiser lança Thesaurus Polyglottus. Assim, as publicações mais diversas vão se
multiplicando deixando de certa forma uma registro de dialetos e línguas e tentativas
metodológicas de classificação, algumas com certo rigor da época, outras apenas
especulações. No entanto, as reflexões iam se desenvolvendo com estudiosos de boa
vontade que se deixavam levar por elaborações simplistas sobre as línguas, os dialetos,
as traduções e principalmente as interpretações dos livros sagrados.
No século XVIII, Leibniz pode se considerado um pesquisador original,
reconheceu a arbitrariedade do signo como fizera Platão, combateu a hipótese de origem
hebraica para as línguas contemporâneas, no entanto cometeu equívocos ao construiu
um sistema genealógico. Em 1725, outro pesquisador original foi Giambattista vico cujo
voz não ecoou, sua obra Scienza nuova eterna que contava uma história cíclica do
gênero humano. A respeito das línguas o autor comenta que
“a língua da época primitiva foi muda, sendo que os homens se comunicavam entre
si por meio de sinais; mas a primeira linguagem articulada foi simbólica, vale dizer,
poética, e os homens se exprimiram naturalmente em verso; enfim, o terceiro
estágio de língua humana composta de vocábulos, cujo sentido os povos podem
fixar à sua vontade” (Leroy, 1982: 26).
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b) o pássaro construiu seu ninho na árvore.
É possível aceitar que as frases (a) e (b) possuem um grau de aceitação, não
oferecem qualquer tipo de problema a para sua compreensão, ao passo que as frases (c)
e (d) há restrições para sua compreensão, pois a propriedade estar grávida não diz
respeito ao vegetal, o que não haveria problema se referisse à mulher. A combinatória
não faz sentido. Já na letra (d) ocorrem duas idéias opostas, uma contrária a outra, pois
no deserto, pelas suas características não se planta árvores no sentido geral, e o fato da
ser plantada, implica que seja em um lugar onde tenha as condições necessárias para
que se desenvolve, o que não é possível conceber que ela seja ou esteja plantado no
deserto.
a) ... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorrem muito fotógrafos e telegrafistas para
registrarem o fato.
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possível, porque esse referente não contém idéia de lugar, implícita no pronome relativo
“onde”.
Uma última observação seria a respeito do emprego do tempo verbal de
“ouvem-se” e “acorreram”, presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais
adequado os dois verbos estarem no mesmo tempo, o presente.
a) “então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular, no qual
há equipamentos e até professores melhores”.
É possível perceber, no exemplo a seguir, que este tipo de coerência não chega
a perturbar ou a incomodar a interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à
mistura de registros lingüísticos. É desejável, de certa forma, que quem escreve deva se
manter num estilo relativamente uniforme. Entretanto, a alternância de registro pode ser,
por um lado, um recurso estilístico.
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idem
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sentimental em cima de você
e te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Tereza
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA
Refere-se ao texto visto como uma seqüência de “atos de fala” (Austin, 1985).
Para haver coerência nesta seqüência, é preciso que os “atos de fala” se realizem de
forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjurar o seu
discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta a outra, a resposta
pode ser manifestada por meio de uma afirmação, de outra pergunta, de uma promessa,
de negação. Qualquer uma dessa seqüência seria considerada coerente. Por outro lado,
se o interlocutor não responde, virar as costas e sair andando, começar a cantar, ou
mesmo dizer algo totalmente desconectado do tema da pergunta, estas seqüências
seriam consideradas incoerentes. Exemplo:
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No exemplo acima há uma quebra de ritual cultural, quando alguém (estranho)
faz uma pergunta sobre alguma localidade, uma das possibilidades de respostas seria de
responder afirmativamente e indicar ou a de responder negativamente, recomendar que
procure outras pessoas etc. Mas não o caso de vir com uma outra fala desconectado do
contexto.
Para quem faz uma pergunta, não parece nem um pouco incoerente a resposta
obtida. Entretanto, um momentinho não é a resposta, é simplesmente um pedido de
tempo para depois dar uma atenção ao interlocutor. Nós é que percebemos a incoerência
da seqüência e tomamos o conjunto como ma piada.
c) Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a terra e
todos os outros seres vivos.
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e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal.
Exemplo:
a) Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem
ondas, rústicas, sofisticadas.
O conector, por exemplo, serve para especificar o que foi dito antes.
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no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplo:
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também o faz.
“Ela”, “a” – retomam o termo “baleiona”, que, por sua vez substitui o
vocábulo mãe.
“Ele” – retoma o termo filhote.
“Ele” também o faz – “o” retorna as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.
2.3.7 Reiteração13
1- Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma
refinaria brasileira dar certo.
Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional,
muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível.
Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf e Oil e Atlantic, muitos
disseram que isso era incomum.
E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões
que indicavam outra direção.
2.3.8. Substituição14
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mecanismos. Exemplo.
a) Sinonímia15
1 - Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba, João Paulo II decidiu visitar em
janeiro a ilha da Fantasia.
Considerações finais
Referência bibliográfica
ANTUNES, I. Lutar com Palavras, coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editora,
2005.
ARISTÓTELES. Arte Poética e Arte Retórica. São Paulo: Edições de Ouro, 1962.
BARTHES, R. O Rumor da Língua. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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CÂMARA Jr. J. M. História da Lingüística. 3ª. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1979.
LEONOR, L. F. Coesão e Coerência Textuais. 2ª. ed. São Paulo: Editora Ática, 1993.
LEROY, M. As Grandes Correntes da Lingüística Moderna. 5ª. ed. São Paul: Cultrix,
1987.
____. Lições de texto: leitura e redação. 2ª. ed. São Paulo: Editora Ática, 1997.