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“Nesse sentido é que se pode identificar em seu pensamento uma forte tendência à
aceitação de uma espiritualização do poder temporal. Essa corresponde à intervenção
dos chefes espirituais sobre os destinos do povo, exatamente para conduzi-los em
direção à pax aeterna. Com isso não se quer dizer senão que o poder político deve
estar subordinado ao poder divino, ou seja, deve estar de acordo com o poder divino,
interpretado pelos seus legítimos representantes. Tendo a política humana esse
compromisso com o divino, o Estado passa a ser, portanto, o meio para a realização da
lei eterna (..) Tem-se, pois, que a politica humana deve refletir o anseio de perseguir a
junção eterna das almas com Deus, daí o compromisso teocrático do Estado na teoria
agostiniana” (BITTAR, Eduardo; ALMEIDA Guilherme Assis de. Curso de filosofia do
direito. São Paulo: Atlas, 2002, p. 190).
“Duas condições são (..) exigidas para fazer o bem: um dom de Deus, que é a graça, e
o livre arbítrio. Sem o livre arbítrio, não haveria problemas; sem graça, o livre arbítrio
não iria querer o bem ou, se quisesse, não poderia realiza-lo. A graça portanto, não
tem efeito de suprimir a vontade, mas sim torna-la boa, pois se havia transformando em
má. Esse poder de usar bem o livre arbítrio é precisamente a liberdade. A possibilidade
de fazer o mal é inseparável do livre arbítrio, mas o poder de não faze-lo é a marca da
liberdade – e encontrar-se confirmado na graça a ponto de não poder mais fazer o mal
é o grau supremo a liberdade. Assim, o homem que está mais completamente
dominado pela graça de cristo é também o mais livre: liberatas vera est christo servire”.
(GILSON, Étienne. A filosofia da idade média. São Paulo: Martins Fontes,1998, p. 155)