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SANTO AGOSTINHO - Filosofia Política

CAPÍTULO I

(As duas Cidades)

SANTO AGOSTINHO considera haver duas Cidades, por um lado, temos a Cidade celeste ou
Civitas Dei, que corresponde a comunidade dos homens que vivem segundo o espírito e
buscam a Justiça, já por outro lado, temos a cidade terrena, ou Civitas Diaboli, que designa
um conjunto dos homens que vivem segundo a carne para satisfação dos seus prazeres.
A Cidade Celeste não corresponde propriamente à Igreja, nem a Cidade Terrena ao Estado, a
distinção das duas cidades não passa por essa linha de fronteira, na Igreja também há
pecadores, no Estado também há santos.
Assim sendo o Estado, não pode ser considerado a priori como bom ou como mau, tudo
depende daqueles que governam. Se o Estado é governado por homens que praticam o bem e
amam a Deus, é bom e trabalha para a cidade celeste. Se o governam os que praticam o mal e
ignoram ou ofendem Deus, é mau e enquadra na Cidade Terrena.
Apenas na Cidade Celeste há verdadeira paz, justiça e bem. Na Cidade Terrena, os homens
esforçam-se por alcançar a paz, a justiça e o bem, mas como não há nada disso sem Deus,
encontram apenas a aparência destas, uma versão secundária e inferior dos verdadeiros
valores da Paz, da Justiça e do Bem, que como tais, só existem na Civitas Dei.
CAPÍTULO II
(Conceção sobre a natureza humana)
O Bispo de Hipona apresenta-nos uma visão pessimista acerca da natureza humana.
S.AGOSTINHO incide falando que os primeiros homens (Adão e Eva) foram criados como
seres bons e perfeitos, com todas as qualidades e sem defeitos. Mas pela desobediência
afastaram-se de Deus e tornaram-se infelizes e cheios de defeitos, marcados pelo egoísmo,
pela arrogância, pela vontade de dominar e a tendência para procurar o bem próprio no
desprezo dos outros.
São poucos os que conseguem redimir-se e salvar-se, mas os outros permanecem condenados
à punição eterna, e não conseguem libertar-se da sua condição de homens pecadores. “O
Homem peca por necessidade, tudo o que faz neste mundo é pecaminoso.”
O homem pecador é um ser que desce ao nível dos animais, ou mesmo abaixo deles, em
ferocidade e em malícia para com os outros homens, este é notado:
1. Pelo apego aos bens materiais, ou cupidez (cupiditas);
2. Pela paixão do poder, ou domínio de outros homens ,"a (libido dominandi) e,
3. Pelo desejo sexual (concupiscentia): em conjunto, estas três tendências fazem do
Homem pecador um ser totalmente egoísta, e muito negativo.
Os apetites do Homem pecador são insaciáveis, a obtenção de um bem não satisfaz, a seguir a
um vem outro numa cadeia contínua a que só a morte põe termo, SANTO AGOSTINHO,
aliás, não acredita na ideia do aperfeiçoamento gradual e crescente da humanidade, para ele o
Homem é e sempre será pecador, (só espero que ele tenha incluído o seu nome nesse lista de
pecadores).
CAPÍTULO III
(Noção de Estado)
S.AGOSTINHO apresenta uma concepção repressiva do Estado, diz ele que se o Homem é
mau para o seu semelhante, o Estado deve servir essencialmente para prevenir e reprimir as
injustiças e os crimes. Na perceção agostiniana, a graça de Deus não serve para base da
organização social, pois só libera uma pequena minoria da grande massa dos pecadores.
Ao Estado compete aplicar os meios de prevenção, sanção e repressão. A paz e a segurança
terrenas devem ser garantidas por uma “mão pesada”, a coação e a punição, o Estado para
obter a paz e a segurança recorre ao sistema jurídico, o Direito. Mas o Direito apenas
consegue atuar sobre os comportamentos exteriores das pessoas, evitando que os Homens
cometam injustiças, crimes e agressões ou punindo-as e reprimindo-as, e não atuando sobre a
consciência delas.
O Estado apenas deve tentar fazer reinar uma certa paz e segurança exteriores nas relações
sociais entre os homens, pois é uma ordem exterior e coerciva, não tem a ver com o Bem e
com a Justiça, mas apenas com a paz e a segurança. A Cidade de Celeste é uma ordem de
amor, a Cidade Terrena, é uma ordem de coação, porque os métodos coercitivos são os únicos
métodos pelos quais os Homens pecadores podem ser contidos.
CAPÍTULO IV
(O dever de obediência ao Poder político)
O bispo de Hipona entende que o Estado é um instrumento ordenado por Deus, desta ideia
resultam duas consequências:
1. A primeira é que o dever de obediência ao poder político é absoluto, não há
limitações ao Poder dos governantes, não há espaço para justificação da desobediência
ou para quaisquer formas de resistência dos governados;
2. A segunda consiste em que os homens não podem distinguir entre bons e maus
governantes, entre formas de governo justas e injustas a todas se deve, por igual,
obediência. Mesmo em relação à tirania mais cruel, SANTO AGOSTINHO defende a
obediência completa e não admite qualquer forma de luta.
O dever de obediência a todas as leis e das decisões dos governantes só é excluído quando
elas são diretamente contrárias à lei de Deus. Mesmo nesse caso os governantes poderão punir
a desobediência dos seus súbditos, e estes devem aceitar sem resistência as penas que lhes
forem aplicadas.
O Estado deve ser duro e repressivo, o cidadão deve aceitar passivamente a autoridade do
Poder. O que interessa não é ser bem governado, mas manter sempre a liberdade interior, que
permite amar a Deus sobre todas as coisas e preparar o ingresso futuro na Civitas Dei.
CAPÍTULO V
(A paz)
SANTO AGOSTINHO considera que “a paz é o supremo bem da Cidade”. Existe uma
aspiração universal em direção à paz, do mesmo modo que todos desejam a alegria, não há
ninguém que não ame a paz. A paz é o fim prosseguido pela guerra, pois todo o homem
procura a paz quando faz a guerra, e ninguém procura a guerra ao fazer a paz (no entanto é na
paz que inicia a guerra).
1. A paz do corpo é a disposição harmoniosa das suas partes;
2. a paz da alma sem razão é o repouso bem moderado dos seus apetites;
3. a paz da alma racional é o acordo bem ordenado do pensamento e da ação;
4. a paz da alma e do corpo é a vida e a saúde bem estabelecidas do ser animado;
5. a paz do homem mortal com Deus é a obediência bem ordenada na fé sob a lei eterna;
6. a paz da Cidade Celeste é a comunidade perfeitamente ordenada e perfeitamente
harmoniosa no gozo de Deus e no gozo mútuo (dos homens) em Deus;

CAPÍTULO VI
(As funções da autoridade)
SANTO AGOSTINHO analisa as três funções em que se desdobra a autoridade:
a) O officium imperandi (comandar) é o mais importante e o mais difícil dos deveres do
chefe as posições mais altas são as mais perigosas. O poder não é uma propriedade
pessoal, quem o exerce deve evitar a vaidade, o orgulho, a ostentação, bem como a
paixão do domínio;
b) O officium providendi consiste em prever as necessidades do país e em prover à sua
satisfação. Para desempenhar esta função é preciso saber distinguir entre o que é bom
para o povo e o que é mau. O povo nem sempre o compreende e muitas vezes exige
dos governantes aquilo que estes lhe não devem dar. Aqui, SANTO AGOSTINHO
pronuncia-se contra a corrupção, o jogo dos prazeres, o culto da riqueza e a sua
exibição luxuosa e sustenta que o chefe deve reprimir os abusos dos ricos e impor-lhes
o serviço dos pobres e do Estado.
c) Enfim, o officium consulendi que ressaltar a posição do chefe como conselheiro do seu
povo com espírito fraterno. A função de governar faz parte da caridade, do amor ao
próximo.
CAPÍTULO VII
(A Igreja e o Estado)
SANTO AGOSTINHO deu um contributo importante para a questão das relações entre a
Igreja e o Estado.
Os poderes eclesiástico e civil são distintos e independentes. Cada um move-se na sua esfera
própria de jurisdição e atua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Toda e
qualquer intervenção de um nos domínios destinados a outro é inconveniente e perigosa.
A Igreja deve aceitar o Estado tal como ele é, com os erros e insuficiências que
inevitavelmente o caracterizam, oferecendo- lhe cidadãos bons e virtuosos.
Os séculos seguintes os seculos seguintes ficarão marcado pela supremacia da Igreja sobre o
Estado.
O primeiro foi a doutrina de SANTO AGOSTINHO favorável à intervenção do Estado contra
as seitas heréticas na medida em que o bispo de Hipona defendeu dever o Estado punir com as
suas leis os hereges funcionando assim na prática como "braço secular" da Igreja, e aceitando
as definições da verdade religiosa dadas por esta, não há dúvida de que contribuiu
poderosamente para acentuar a ideia de subordinação do Estado à Igreja.
O segundo fator foi a própria concepção da Civitas Dei como algo de intrinsecamente
superior à Cidade Terrena. É certo que nem aquela correspondia à Igreja, nem esta ao Estado.
A necessidade de o Estado se submeter à religião e caminhar para Deus, como elemento da
Cidade Celeste, ia provocar o desvio de interpretação que nela estava implícito. Nasceu assim
o já referido "agostinianismo político".

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