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Capítulo XXIII
Síntese.
O duplo governo de Deus: o geral, sobre o mundo; o especial, sobre a Igreja.
Segurança pública e defesa estatal.
Promoção dos bons e castigo dos maus.
Neste mundo, Deus introduziu o seu povo, congregado na Igreja; salvo, separado e
governado por Cristo Jesus. O cristão, em decorrência da dupla cidadania, a terrestre e a
celeste, está sob jurisdição das autoridades civis e sob controle do Criador. Cada país tem
sua constituição federal, mas a Igreja deixa-se gerir pelas Escrituras Sagradas, sua regra de
fé e norma de comportamento. Além das normas estabelecidas pela revelação dos estatutos
bíblicos, o cristão é dirigido diretamente por Cristo mediante o Espírito Santo, que nele
habita, mas o Espírito não age contra os postulados da revelação bíblica nem leva o crente,
por ele dirigido, a fazê-lo.
A justiça deve estar a serviço dos cidadãos honestos e honrados, mas agir com rigor
contra os perversos, os indignos e os indesejáveis à sociedade em virtude da corrupção e da
depravação sociais que causam. Tão necessários são à sociedade as casas de detenções, as
delegacias e os tribunais como os hospitais, as escolas e as igrejas. Os conturbadores e
pervertedores da ordem social devem ser retirados da sociedade pelo tempo que a justiça
determinar, segundo a gravidade do delito que cometerem, mas ela deve também trabalhar
para recuperá-los moralmente, profissionalizá-los e ressocializá-los. Os irrecuperáveis,
aqueles de absoluta periculosidade, devem ser mantidos fora da sociedade, mas
humanamente tratados e preservados. Não se pode pagar o mal com o mal. Prisão não pode
ser a “vingança” do Estado, mas a forma, embora dolorosa, de preservação da ordem social
e das vidas humanas. Os que são “ameaças” à integridade física, à moral, à liberdade, à
dignidade, à família e ao patrimônio, devem ser retirados temporária ou definitivamente, se
são ou não recuperáveis. A cadeia deve redundar em bem para o próprio preso, jamais para
o seu mal, a sua degradação.
O Cristão na Magistratura
XXIII.II- Aos cristãos é lícito aceitar e exercer o ofício de magistrado, sendo para ele
chamados1; e em sua administração, como devem especialmente manter a piedade, a
justiça, e a paz, segundo as leis salutares de cada Estado2, eles, sob a dipensação do
Novo Testamento e para conseguir esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo
ocasiões justas e necessárias3. Ref.:
1- Pv 8. 15,16.
2- Sl 82.3,4.
3- Rm 13. 1-4; Lc 3. 14; Mt 8.9; At 10.1,2.
Síntese.
Ao cristão Deus permite o exercício da magistratura.
Um magistrado cristão pode declarar guerra justa, tanto de defesa como de ataque.
O cristão no poder
A guerra justa
Deus permitiu que seu povo, Israel, empreendesse guerras, tanto as de conquista,
começando pela dominação da Terra da Promissão, como as de defesa contra vários
invasores. Um magistrado cristão tem a obrigação cívica de defender sua pátria, de
proteger o seu povo. Precisa, no entanto, ser prudente para não envolver seu país em
conflitos internacionais de objetivos ilícitos ou cujas razões sejam inconfessáveis.
O mundo confederou-se por meio de tratados internacionais de não-agressão ou de
defesa comum das soberanias e das integridades dos povos. As duas questões pelas quais
as beligerâncias têm acontecido no seio das nações, e as intromissões dos mais potentes em
soberanias nacionais impotentes são: Religião e economia. Motivos religiosos provocaram
conflitos bélicos crudelíssimos ao longo da história. Objetivos econômicos têm provocado
invasões, colonizações e dominações injustas de pátrias belicosamente indefesas e
financeiramente fragilizadas. Um governante cristão não deve prestar-se a tais injustiças,
superfortalecendo os mais fortes e miserabilizando os que já eram fracos. As ditaduras
despóticas não podem ressurgir. Ressurgindo, têm de ser combatidas em benefício da paz,
da igualdade social, do bem estar dos povos e dos indivíduos.
Para o cristão não existe guerra santa, mas há guerra justa. Todos os esforços
devem ser feitos para evitar a guerra. Porém, se for inevitável, e o alvo for a preservação da
soberania nacional ou a manutenção da paz mundial, que se envolva em confronto bélico.
Cumpre ao Estado estabelecer e defender os direitos fundamentais do homem: Direito à
vida, ao trabalho, à saúde, à educação, à moradia; à liberdade de expressão, de locomoção
e de religião, bem como a igualdade perante a lei.
Síntese.
O Estado tem de ser estritamente leigo.
O Estado deve proteger a Igreja.
O estado deve respeitar o governo eclesiástico.
O Estado Leigo
O governo eclesiástico
Síntese.
É dever do cristão orar pelas autoridades.
É dever do cristão recolher os tributos devidos.
É dever do cristão acatar, respeitar e obedecer às autoridades.
O governo é religiosamente neutro; por isso, respeitamos a autoridade de que está
investido o governante, não a sua pessoa com suas preferências e opiniões pessoais.
Sabendo que todas as autoridades são constituídas ou permitidas por Deus, tendo
ainda a recomendação bíblica de se interceder junto a Deus em favor dos que governam; é
dever do servo de Deus orar pelos seus governantes e por todos aqueles que detêm parcelas
do poder sobre o povo:
Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões,
ação de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se
acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda
piedade e respeito ( I Tm 2. 1,2 ).
Respeito às autoridades
O governo é neutro
O governo, como sistema, é religiosamente neutro e, como tal, pode ter eventual e
transitoriamente, governantes despóticos, que levem para o exercício do poder público seu
credo pessoal, confundindo a filosofia e a ética do Estado, em si mesmas isentas de
conteúdo religioso confessional. Tais mandatários passam, mas o Estado e o governo
permanecem. Entretanto, mesmo os dirigentes ditatoriais e discriminadores, devem ser
respeitados e pelos quais devemos orar, pois o poder lhes foi concedido por Deus, mesmo
o exercido contra o seu povo.
A Igreja, ainda que seja maioria, assumindo o poder nos vários escalões
governamentais pelo voto de seus membros e por sua influência política, não pode impor o
seu credo à minoria, pois o governo, no sistema democrático, tem de primar pelo princípio
salutaríssimo de que todos são iguais perante a lei. Uma religião no poder não pode
esmagar, em nome de Deus, as outras expressões nacionais de credulidade e incredulidade,
religiosidade e neutralidade, indiferença religiosa e ateísmo radical. A massa nacional é
multiforme e polivalente.
Fontes auxiliares
1- Institutas, João Calvino, volume IV (s/ magistrados), Casa Editora Presbiteriana,
SP, 1ª Edição, 1989.
2- O Humanismo Social de Calvino, A. Biéler com prefácio de Visser´t Hooft,
Oikoumene, SP, 1ª Edição, 1961.
3- Influencia Social del Cristianismo, A. Lopes Munhoz, Casa Bautista de
Publicaciones, Buenos Aires, Arg., 1ª Edição, 1972.
4- Fé Bíblica e Ética Social, E. C. Gardner, ASTE, SP, 1ª Ed.,1969.
5- Ética do Novo Testamento, Heinz – Dietrich Wendland, Editora Sinodal, RS, 1974.
6- Administração do Tempo, Ted W Engstrom R. Alec Mackenzie, Editora Vida,
Miami, Flórida, USA, 1975.
7- Governo da Igreja Local, Onezio Figueiredo.