Você está na página 1de 7

Massacre na Coreia

Calma! Os Estados Unidos ainda não lançaram toda sua sanha


criminosa contra a Coreia do Norte, como desejam a tanto tempo. Este
texto tem tal título não porque se tenha repetido na Coreia do Norte o
que Washington está acostumado a fazer a qualquer país que se
oponha , por mínimo que seja, a suas ânsias por pilhagem, mas sim
porque é o título do quadro que Pablo Picasso pintou para denunciar
aos EUA e à ONU pela sangrenta intervenção na Guerra da Coreia
(1950-1953).

"Massacre na Coreia", por Pablo Picasso.

Nestes momentos em que os meios de propaganda ocidentais voltam a


acusar a Coreia do Norte de uma tensão , na verdade, provocada pelos
EUA e seus aliados desde a guerra em que perderam, convêm recordar
um pouco a história e explicar porque a península da Coreia está
dividida a seis décadas, assim como a razão pela qual os Estados
Unidos seguem acumulando mísseis nucleares e tropas de assalto no
que, desde então é um país títere, dependente de Washington, disposto
a converter ao vizinho do norte no que hoje se tornou a Líbia, o Iraque
ou o Afeganistão.

Pintado em 1951, em estilo expressionista, Picasso se inspira no


quadro de Goya onde se representa os fuzilamentos de 3 de maio, em
que civis foram assassinados por tropas francesas em Madri. Sua
intenção é denunciar aos EUA e à cumplicidade da ONU, não somente
por sua intervenção selvagem na Coreia, mas também pelo recente
genocídio de Hiroshima e Nagazaki que, provavelmente, o general
MacArthur, general em exercício das tropas estadunidenses, propôs
repetir na Coreia quando seu exército estava sendo humilhado pelos
chineses.

O quadro não é muito conhecido, porque a propaganda midiática se


tem encarregado de esconder o apoio do genial pintor espanhol à
Coreia do Norte (como qualquer coisa relacionada ao país comunista).
Outra razão do silêncio sobre esta obra é a conhecida denúncia do
fascismo por parte de Picasso e o caráter antifascista de suas obras,
graças a que o "Massacre na Coreia" apresentava uma clara
identificação da política dos EUA com os movimentos supostamente
derrotados na Segunda Guerra Mundial.

O rio representado no quadro é a fronteira que separa as duas Coreias,


e entre os dois lados há um contraste evidente.  Em um lado, os civis
nús, redondos, curvos; no outro, os militares retilíneos, angulosos,
destrutivos. Se trata de uma acusação de Pablo Picasso aos Estados
Unidos, que levaram a cabo bombardeios constantes na Coreia do
Norte contra a população civil e contra sua infraestrutura, destruindo
praticamente tudo no país.
A Guerra da Coreia foi um conflito
entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul que se deu entre 25 de junho
de 1950 e 17 de julho de 1953, ambas apoiadas pela China (e menos
diretamente pela URSS) e pelos EUA respectivamente. Considera-se
que foi a ocasião em que ambos os blocos estiveram mais próximos de
um enfrentamento bélico direto, no transcurso da chamada Guerra
Fria. Na verdade, a China se encarregou de derrotar aos marines sem
necessitar a intervenção do Exército Vermelho.

A Revolução Coreana havia se fortalecido na luta contra os invasores


japoneses já antes da Segunda Guerra Mundial. A guerrilha do EPRC
(Exército Popular Revolucionário da Coreia) e o povo coreano tinham
resistido à instauração de um regime feudal por parte do Japão, e
durante a Guerra Mundial participaram na luta pela libertação de seu
país e pela sua independência. A luta revolucionária concluiu-se em
1945, com a derrota do Japão.

No entanto, os acordos de
Malta haviam estabelecido a divisão da península coreana, sem levar
em conta seu povo. Assim, o exército soviético e os guerrilheiros
coreanos avançaram até o paralelo 38 detendo-se neste ponto. O
acordo de divisão tinha uma finalidade clara: a unificação com base na
decisão democrática popular. Sem dúvidas, uma decisão democrática
a esta altura teria provocado o triunfo do comunismo na Coreia, e os
Estados Unidos não estavam dispostos a permitir isso.

Quando os norte-americanos chegaram, a agitação social era intensa


na Coreia do Sul, onde os comitês populares haviam-se extendido de
forma autônoma e controlavam a situação. Os Yankees reprimiram os
comitês e devolveram aos gendarmes do regime colonial seus antigos
postos. No sul , instaurou-se desde então uma ditadura dirigida desde
Washington.

A Guerra Fria, pois, teve como resultado a divisão deste país em dois
estados: no Norte, estabeleceu-se a "República Popular da Coreia",
regime comunista dirigido por Kim Il Sung; na metade sul da Coreia,
criou-se a "República da Coreia", regime autoritário dirigido por
Syngman Rhee, fortemente anticomunista. Todavia, enquanto a União
Soviética retirava suas últimas tropas da Coreia em 1948, os EUA as
mantém até hoje.

Com o triunfo da revolução chinesa e o apoio dos EUA à China


fascista refugiada em Taiwan, a China popular dá seu apoio à Coreia
do Norte para que unifique o país, dividido pela engenharia política
norte-americana. Assim, a 25 de junho de 1950, as tropas de Kim Il
Sung atravessaram o paralelo 38 e avançaram até o sul, arrasando
praticamente as forças sul-coreanas e norte-americanas, que apenas
puderam retirar-se até Pusán. 

A reação dos EUA, para a surpresa da China, foi imediata. A China


buscava testar a reação de Washington, já que tinha intenção de atacar
Taiwan para unificar todo o seu país. Washington pediu a convocação
do Conselho de Segurança da ONU e conseguiu um mandato para
por-se a frente de um exército para fazer frente à agressão norte-
coreana. A ausência do delegado soviético, que havia se negado a
assistir às reuniões do Conselho como protesto pela negativa norte-
americana em aceitar a China Popular nele, propiciou esta resolução.

As tropas multinacionais da
ONU, na prática o exército norte-americano à mando do general
MacArthur, recuperaram rapidamente o terreno perdido graças à
absoluta superioridade aérea e as polêmicas operações de bombardeio
massivo que ocasionaram milhares de vítimas civis. Em 19 de
outubro, Pyongyang, a capital da Coreia do Norte, caiu em mãos das
forças da ONU.

A reação à intervenção norte-americana não se fez esperar. Assim, em


16 de outubro, tropas chinesas com apoio material soviético
penetraram na Coreia fazendo o exército yankee retroceder. Em 4 de
janeiro de 1951, as tropas comunistas haviam retomado o controle de
Seul e aprisionado aos marines no sul da península. 

Nesse momento, MacArthur propôs o bombardeio atômico do norte da


China. Tanto o presidente Truman como a maioria do Congresso
reagiram alarmados ante uma proposta que poderia levar a um
enfrentamento nuclear com a URSS, que havia ensaiado suas
primeiras armas nucleares em 1948. Se a União Soviética não
houvesse desenvolvido armas nucleares naquele momento, é possível
que os criminosos yankees tivessem voltado a usar suas bombas
atômicas sem qualquer remorso. Mas, por sorte, a URSS havia
conseguido igualar-se aos EUA, principalmente como forma de defesa
ante a desumanidade dos dirigentes norte-americanos. Truman
destituiu MacArthur sob protestos da direita republicana e o substituiu
pelo general Rigway.

O certo é que em 4 de janeiro de 1951, as forças comunistas da China


e da Coreia do Norte recuperaram Seul. A Batalha da Reserva de
Chosin no inverno foi uma terrível derrota para as tropas das Nações
Unidas, compostas principalmente por marines dos Estados Unidos. O
estancamento da frente continuou até a conclusão das negociações de
paz em julho de 1953, pouco depois da morte de Stálin  com a
assinatura do Armistício em Panmunjong. Nele, chegou-se a um
acordo em torno de uma nova linha de demarcação que serpenteia em
torno do paralelo 38, e que se mantém até hoje.

 O custo de vidas da guerra foi muito alto; estima-se que a Coreia do


Sul e seus aliados tiveram cerca de 778.000 mortos, feridos e
mutilados, enquanto que a Coreia do norte teve entre 1.187.000 a
1.545.000, além de 2,5 milhões de civis mortos ou feridos, 5 milhões
ficaram sem lar e mais de 2 milhões ficaram refugiados. As enormes
baixas da Coreia do Norte foram provocadas principalmente pelos
bombardeios massivos e sistemáticos dos EUA, que tiveram como
objetivo, como já se tornou habitual nos ataques ordenados por
Washington e seus aliados até a atualidade, à população civil.
"Guernica", de Pablo Picasso.

A estas matanças se referia Pablo Picasso quando denunciou a atuação


dos norte-americanos com sua obra "Massacre na Coreia".
Curiosamente, trata-se de uma denúncia similar a que realizou contra
a atuação dos selvagens bombardeios nazistas na Guerra Civil
Espanhola com sua "Guernica", com a única diferença de que desta
vez os assassinos e criminosos eram os estadunidenses. E na realidade,
não há significativa diferença entre os primeiros e os segundos.

Em resumo, esta foi a mensagem silenciada que Pablo Picasso quis


transmitir com seu quadro-denúncia "Massacre na Coreia": os Estados
Unidos são tão selvagens e tão fascistas quanto foram os alemães. E
isto seguem demonstrando, tanto os norte-americanos quanto seus
tentáculos da OTAN. Até hoje, aquele massacre denunciado por
Picasso, que se tem repetido em tantos países em que seus povos
haviam decidido questionar os interesses das multinacionais
ocidentais, pode repetir-se na Coreia a qualquer momento.

Fonte: Diario Octubre.

Você também pode gostar