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GESTÃO DE PRODUÇÃO EM MODA

entanto, mesmo com o faturamento


Introdução milionário do setor (que em 2019 foi de R$
185,7 bilhões), já houve casos de trabalho
A indústria de confecção é complexa e exige
análogo à escravidão inclusive em marcas
que o gestor tenha muita atenção em
famosas, como Zara e Amissima.
relação aos processos, à qualidade e à
transparência com o consumidor. Cada vez
mais, o público busca informações sobre os Em se tratando de grandes grifes já
processos de produção. Além disso, por mais autuadas, são exceções as que criaram
difícil que possa parecer, a indústria deve mecanismos efetivos de combate ao
estar sempre aberta às novas propostas de trabalho escravo. Muitas ainda se recusam a
organização de produção, mais atualizadas divulgar de onde vem o zíper da calça ou
e condizentes com as tecnologias atuais. mesmo a calça por inteiro.

NOTÍCIA - Transparência das empresas é o


caminho para melhores condições de No Brasil, o trabalho análogo à escravo é
trabalho na moda definido pelo artigo 149 do Código Penal, e é
caracterizado principalmente como um
crime contra a dignidade humana. Segundo
Você sabe quem fez a sua roupa? Quem definição do Código Penal, para configurar
costurou? Quem colocou o zíper na calça? exploração de trabalho análogo à escravo é
Quais as condições de trabalho? preciso ser constatado que o trabalhador
tenha que cumprir jornadas excessivas de
trabalho ou que atue em ambientes
“Quando precisou ser atendida na insalubres, sem condições mínimas de saúde
emergência de uma maternidade e, com e segurança. Há quatro possibilidades de
dores, não pôde trabalhar, a mulher [que caracterização desse tipo de exploração
estava grávida] foi penalizada com restrição trabalhista: trabalho forçado, jornada
de alimentação: ela e suas três filhas exaustiva, servidão por dívidas e/ou
receberam apenas chá como jantar em uma condições degradantes; sendo que esses
noite, somente o café da manhã no dia elementos podem acontecer juntos ou
seguinte e, no terceiro dia, o jejum foi total” isoladamente.

Um dos motivos que torna a indústria do


Este trecho do relatório do resgate de
vestuário suscetível a casos de trabalho
trabalhadores escravizados em uma oficina
escravo está na chamada “fast fashion”. Esse
de costura da maior marca plus size do
modelo impõe uma produção massiva por
Brasil é apenas uma amostra das graves conta da troca constante de coleções, para
violações que ocorrem na indústria da moda acompanhar as tendências, e também exige
no Brasil. E do quanto ainda precisamos preços baixos, para incentivar o consumo de
avançar. massa. É um sistema no qual tudo é
produzido, consumido e descartado em um
curtíssimo espaço de tempo. E o
Há 21 anos a Repórter Brasil denuncia crescimento dessa modalidade agravou
violações trabalhistas nas mais diferentes problemas como a poluição do meio
áreas, seja em plantações de laranja, na ambiente, a baixa qualidade dos produtos e
construção civil ou no setor têxtil, que o uso de trabalho escravo na produção.
merece nossa atenção por sua relevância na
indústria nacional. O Brasil ocupa o quinto
O Monitor #11 do Repórter Brasil mostra que
lugar no ranking mundial dos maiores
o modelo que predomina hoje no setor vem
produtores têxteis e é o quarto maior
se consolidando desde a década de 1990,
produtor de vestuário do mundo. No
“quando se intensificaram a entrada de
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produtos asiáticos com preços mais escravidão nesse setor: o grande número de
atrativos, a rotatividade dos produtos nas trabalhadores se tornando
prateleiras e o ritmo de produção”. microempreendedor individual e
trabalhando para essas “facções” com
jornadas de trabalho de 12 horas, ou mais,
Com isso, ainda segundo o Monitor, “muitos por dia – e com a ilusão de liberdade de
fabricantes brasileiros se viram serem donos do próprio negócio.
pressionados a reduzir os custos de
produção para garantir a sobrevivência do
negócio”, o que acabou fazendo com que as Como exemplo, podemos citar o relato de um
etapas de produção com mão de obra boliviano resgatado de uma das maiores
intensiva fossem terceirizadas “a pequenas empresas de moda plus size do Brasil:
oficinas com condições de trabalho “Trabalhávamos até às 3h da madrugada. E
precárias e, em alguns casos, os patrões não pagavam os salários. Eu
configurando-se como trabalho escravo fiquei 3 meses sem receber”.
contemporâneo”.

É necessário que as empresas desse setor


O cenário é tão grave que 41% dos sigam as recomendações dos órgãos
consumidores já ouviram falar do responsáveis e das organizações da
envolvimento da indústria ou varejo têxtil e sociedade civil que atuam com o tema para
da moda com trabalho forçado, 38% com que possam ampliar a transparência ao
exploração e más condições de trabalho e longo de toda a produção de suas peças,
remuneração dos trabalhadores, 31% com como sugere o Monitor da Moda 2021.
exploração de migrantes e refugiados e 28% Algumas dessas sugestões passam pelo
com trabalho infantil, de acordo com uma sistema de monitoramento da cadeia
pesquisa feita pela Associação Brasileira do produtiva das marcas, exigindo
Varejo Têxtil (ABVTEX). responsabilidade de seus fornecedores, com
o pagamento de salários decentes e de um
preço justo pelas peças. Há orientação
Violações como essas, aliadas a outras também no sentido de se garantir condições
como servidão por dívidas, fazem parte do de trabalho adequadas e respeito às
chamado “sweating system”. Segundo um legislações trabalhistas e ambientais; além
artigo do auditor fiscal do Trabalho Renato da defesa de uma transparência para o
Bignami, publicado no site do Sindicato público sobre seus fornecedores e
Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, mecanismos de monitoramento.
nesse sistema, a produção de vestuários,
calçados e outros produtos da moda é
dividida entre pequenas, médias e No entanto, precisamos fazer uma pergunta:
microempresas, diminuindo o valor do você sabe quem fez a sua roupa? Quem
trabalho e abrindo brecha para condições costurou? Quem colocou o zíper na calça?
degradantes de trabalho e moradia. Quais as condições de trabalho de quem fez
a sua roupa? Quanto ganhou? Para a maior
parte dos brasileiros, a resposta para essas
Nesse modo de produção, cada uma das perguntas é não. Cada vez mais, as marcas
chamadas “facções” fica responsável pela são cobradas por transparência no setor –
fabricação de uma parte da peça final. Essa um passo crucial para termos condições de
terceirização e às vezes até quarteirização trabalho justas na fabricação de uma roupa.
é implementada para baratear o produto,
pela grande quantidade de peças a serem
produzidas ou ainda pelo curto prazo de Que o Índice de Transparência da Moda
entrega. 2022 possa ser um instrumento de incentivo
para que mais empresas e marcas
divulguem os processos de produção de
Além disso, um novo movimento vem sendo suas roupas com consciência,
notado por quem trabalha com pessoas sustentabilidade e ética, e para que a
resgatadas de condições análogas à
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sociedade brasileira possa buscar mais ★ ESPECIALISTA EM QUALIDADE:
informações sobre as roupas que compra e Supervisionará o controle de qualidade.
veste.

PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE PRODUTOS


DE MODA

Denomina-se produção a geração de bens


(sejam produtos ou serviços) para o
consumo, uso e benefício de alguma pessoa, O primeiro processo é o de desenvolvimento
família ou organização. Essa geração ocorre de produtos. Nesse processo, o designer de
pela transformação de insumos e recursos moda definirá quais tipos de produtos serão
captados no ambiente, que recebem, por feitos (desenho e modelagem) e quais
sua vez, determinada quantidade de ações e matérias-primas serão empregadas. É
manipulações para que se tornem passíveis produzida uma peça piloto, ou seja, um
de serem oferecidos para consumo, uso e protótipo de produto, para que ele seja
aprovado.
benefício de alguém. (BALLESTERO-ALVAREZ,
2019, p. 8) Essa é uma etapa importantíssima, pois,
além de ser o início de todos os processos, é
Dentro da indústria de confecção de
a partir dos dados obtidos aqui que o
vestuário, a produção ocorre a partir da
planejamento de produção será definido, ou
matéria-prima têxtil que, por meio de
seja, é nessa fase que os processos de
diversos processos, se transforma em um
produção serão estabelecidos. É a hora
produto de moda. Ainda segundo
também de fazer a minutagem das peças, ou
Ballestero-Alvarez (2019), um processo é uma
seja, conta-se quanto tempo uma peça
sequência estruturada de ações
demora para ser produzida. Esse dado será
desenvolvidas para transformar as entradas
essencial para estabelecer o controle de
em saídas.
produção
Em resumo, na produção cada tipo de
Quando a peça piloto é aprovada, há a
produto precisa de determinado número de
graduação da modelagem, em que são
processos, que precisam ser
construídas modelagens de toda a grade
supervisionados, para se obter um produto
(todos os tamanhos) que será produzida.
finalizado e com qualidade.
Depois disso, as peças já podem ser
Limeira et al. (2015) colocam que, dentro das comercializadas e os pedidos já podem
empresas de moda, podem existir vários entrar em produção.
cargos relacionados à área de produção,
Na etapa de encaixe, as modelagens são
tais como:
colocadas lado a lado para serem cortadas.
★ GERENTE DE PRODUÇÃO: Irá coordenar O tecido é enfestado e o corte é feito. Essas
todos os processos de produção; fases são diferentes em determinadas
★ SUPERVISOR DE PRODUÇÃO: Tomará empresas. Atualmente, temos softwares que
conta da programação de produção; trazem muito mais rapidez para essas
★ COMPRADOR: Será responsável pelas etapas.
compras e contatos com fornecedores;
Depois que o corte do tecido é feito, as
★ ANALISTA DE ESTOQUES: Será
peças devem ser preparadas e costuradas.
responsável pelos níveis de estoques e
Os próximos processos são o de
expedição;
acabamento e controle de qualidade, em
★ CONTROLADOR DA PRODUÇÃO:
que as peças serão finalizadas e analisadas
Desenvolverá programas e planos de
para que possam ser despachadas.O fim
produção;
dos processos se dá na passadoria e
★ ANALISTA DE PRODUÇÃO: Verificará
embalagem.
problemas relacionados à produção;
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Esse é um panorama geral da indústria de aquisições de peças e componentes de
confecção, mas cada empresa tem sua outros países); departamento de custos;
ordem de processos, dependendo design etc.
diretamente do tipo de produto que ela
trabalha. Liger (2017) coloca que a gestão da
produção, em uma empresa de moda, se dá
Ao refletirmos sobre a indústria de por:
confecção, para cada produto de moda é
preciso que se façam determinados Planejar a produção, controlar os estoques
processos. Um bom exemplo é a produção de matérias-primas, comprar máquinas,
de uma bolsa. acompanhar o processo produtivo e
otimizar a tecnologia (LIGER, p. 197).
Os processos envolvidos nessa produção
dependem de muitas variáveis: O planejamento atua desde o início do
processo produtivo e tem fim quando
Qual material será utilizado? Couro ou entrega os produtos acabados ao cliente. A
tecido? Haverá pintura? Terá aviamentos? sua função primordial é controlar todas as
Será artesanal? atividades produtivas de uma organização.
Mesmo sendo uma empresa produtora de
Dentro de uma empresa, podemos ser
mercadorias ou de bens e serviços, é
especializados em um determinado tipo de
responsabilidade do PCP planejar e
produto, porém, os processos de produção
controlar toda a produção, desde aquisição
podem mudar ao longo dos anos e seguir
de insumos necessários, pessoas
tendências de moda também. Por isso,
(quantidade e qualificação), máquinas, dos
afirmamos que a indústria de moda é
equipamentos e do armazenamento do
complexa, afinal, elas podem lidar com
produto final.
diversos processos, para vários tipos de
produtos e ao mesmo tempo. No caso específico de uma empresa de bens
e serviços, o PCP irá planejar e controlar a
PLANEJAMENTO E CONTROLE DE produção desses serviços, visando atender
PRODUÇÃO às expectativas e demandas dos clientes e
consumidores finais.
O Planejamento e Controle da Produção
(PCP) começa na etapa de engenharia e O planejamento em uma empresa de
desenvolvimento do produto (podendo criar confecção é essencial, pois os processos são
novos produtos ou aperfeiçoando os diversos e dependem de variáveis que,
existentes), ocorrendo a integração entre os muitas vezes, são pouco controláveis.
diversos setores da organização e as áreas Portanto, é ele que irá guiar a confecção nas
de conhecimento até a entrega deste tomadas de decisões referentes aos pedidos
produto ao cliente (consumidor final). e produção dos mesmos. Como vimos, a
minutagem irá nos trazer os dados do
O PCP é considerado como uma área
tempo que uma peça leva para ser
multidisciplinar, devido à interação de todas
produzida. E é com base nisso que o gestor
as áreas da organização. Essa interação
irá planejar a produção, pois saberá a
ocorre porque para desenvolver um produto,
capacidade máxima de produção da
percorremos um caminho árduo, no qual
confecção.
teremos a participação de uma equipe
multidisciplinar que influenciará no Na atualidade, uma prática muito comum na
planejamento e controle da produção. indústria de moda é a terceirização. Ela é
muito praticada atualmente, principalmente
Algumas áreas envolvidas nesse
porque as empresas não conseguem realizar
planejamento são: marketing e pesquisa de
processos de produção muito específicos,
mercado; equipes dos diversos campos da
então acabam fazendo parcerias com
engenharia (projeto, equipamentos,
outras empresas.
produção etc.); suprimentos; logística
(principalmente quando envolvem
Como a indústria de moda é muito diversa,
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muitas vezes as empresas não têm recursos tal projeto.
para produzir determinado produto e
precisam terceirizar processos. Isso ocorre
muito quando a empresa não tem o
maquinário específico ou mão-de-obra
qualificada para determinado processo de
produção (no caso da moda pode ser um
bordado, estampa, acabamento, costura
etc.).

A terceirização pode ser a solução para


muitos problemas dentro da indústria, mas
demanda muita atenção para que não
ocorram falhas e/ou atrasos no Após o planejamento, é preciso fazer um
planejamento de produção. diagnóstico da situação atual da empresa,
visando avaliar os impactos que a produção
PRODUÇÃO LIMPA limpa causará no escopo atual. Nesse
sentido, a equipe formada será responsável
O termo “produção limpa” nasceu na década por estabelecer as ameaças desse
de 1980, pelo Greenpeace. Iniciativas ligadas empreendimento, para que seja possível ver
à produção limpa se tornaram cada vez tudo o que é necessário para a execução do
mais populares após políticas de diversos trabalho de produção limpa.
países. Segundo Ballestero-Alvarez (2019), a
produção limpa não tem preocupação Assim, tal equipe deverá definir diferentes
apenas em relação aos resíduos, envolve indicadores que auxiliarão nos resultados,
também aspectos jurídicos, políticos e serão avaliados diferentes setores na
sociais. Para a autora, o sistema de contemplação da produção limpa e deverá
produção limpa é circular. Além disso, esse ser realizada uma investigação de possíveis
tipo de produção deve empregar menos causas de riscos para tal empreendimento.
recursos como matéria-prima, água e
energia.

Como foi mostrado anteriormente, é na


etapa do desenvolvimento de produto que
podemos repensar os processos da
produção de determinada peça. Hoje em dia
existem várias iniciativas de designer nesse
sentido.
Quando uma empresa decide adotar a
“produção limpa”, ela precisa fazer um
planejamento muito criterioso e detalhado,
sendo que a adoção desse processo
depende de quatro etapas, que são:
planejamento, diagnóstico, estudo de A equipe deverá fazer, também, um estudo
viabilidade e acompanhamento. para verificar a viabilidade técnica,
economicamente e ambientalmente,
De acordo com Ballestero-Alvarez (2019), a adotando ações focadas nas melhorias que
etapa do planejamento tem como finalidade serão apresentadas e, a partir disso, é
promover a participação da direção da possível que a empresa comece a
empresa, a fim de que possuam interesse no implementar as medidas monitoradas para
empreendimento de produção limpa, para a produção limpa, precisando acompanhar
que seja possível formar uma equipe de todo passo desse empreendimento.
trabalho responsável por fazer os estudos
sustentáveis para a empresa, definindo, É preciso que a empresa faça o
assim, o escopo necessário para seguir com acompanhamento dos resultados, para
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planejar a continuidade desse projeto, que Nessa etapa ocorre a minutagem do
também servirá de base para novas produto de moda, ou seja, quando sabemos
melhorias e novos planejamentos. quanto tempo a peça levará para ser
produzida.
Cada vez mais empresas de moda têm
adotado a 'produção limpa'. Isso é
evidenciado na citação a seguir.

As empresas estão cientes de que cada vez


mais os problemas ambientais e sociais
estão sendo colocados em evidência e os
consumidores se tornam, cada dia, mais
conscientes. Em função disso, elas são
obrigadas a reagir, trabalhando para que o
consumidor perceba a mudança e se
identifique com o produto e com as formas
de produção. (CARLI et al., 2012, p. 160) Todos os materiais e processos de produção
serão definidos aqui.
Atualmente, a preocupação com as etapas
de produção não é apenas da empresa, mas
também do consumidor. Cada vez mais os
consumidores vêm cobrando transparência
sobre os processos de produção de
produtos de moda, principalmente por
conta de escândalos relacionados à
terceirização, trabalho escravo e poluição
ambiental.

Dentro de uma confecção, é essencial


planejar e controlar a produção para obter
capacidade produtiva e qualidade.

O primeiro processo de produção de um


produto de moda é o desenvolvimento de
produtos.

O importante é que o produto seja entregue


com qualidade, na hora certa e no lugar
adequado!
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★ Artigo: O papel do designer de moda no mão de obra de operação das fábricas.
desenvolvimento de produtos: a indústria de
Nesse contexto, definir o papel dos
confecção de Cianorte (PR)
designers de moda na indústria de
INTRODUÇÃO confecção deverá contribuir de forma
significativa para uma melhor condução do
Com pouco mais de cinquenta mil processo de aprendizagem e
habitantes, Cianorte (PR), segundo o Instituto consequentemente uma melhor utilização
Brasileiro de Geografia e Estatística (2004), é do potencial dos futuros profissionais pelo
considerada a capital do vestuário, sendo a setor produtivo. O objetivo geral deste
sexta cidade em atividade industrial no capítulo foi caracterizar a indústria de
Paraná, onde existem mais de 350 indústrias confecção de Cianorte (PR), bem como o
do setor têxtil. A cidade de Cianorte está papel do designer de moda nessa indústria.
situada no centro de um polo têxtil que
conta com mais de oitocentas indústrias do Como objetivos específicos, este trabalho
setor, responsáveis por aproximadamente 12 visou identificar as atividades que os
mil empregos diretos (Prefeitura Municipal profissionais vêm desempenhando nas
de Cianorte, 2004). Cianorte possui um setor empresas, especialmente no processo de
dominado por indústrias de pequeno e desenvolvimento de produtos, e como sua
médio porte, mas que cada vez mais formação acadêmica contribuiu para isso;
necessita da profissionalização de seus analisar o currículo do curso de Moda da
processos produtivos e administrativos. Isso Universidade Estadual de Maringá,
se dá devido à importância que os produtos verificando se este está formando
vêm ganhando no mercado nacional, e até profissionais com bom conhecimento sobre
mesmo no internacional, já exportando para metodologias de desenvolvimento de
os Estados Unidos, Portugal e Espanha, produtos; identificar o relacionamento da
porém ainda em pequenos volumes Universidade Estadual de Maringá, campus
(Sindicato da indústria de vestuário de de Cianorte, com a indústria de confecção, e
Cianorte, 2004). identificar as necessidades das empresas
em relação à formação do designer de
Com início das atividades em 2002 e previsão moda.
de formar os primeiros designers de moda
no início de 2006, a Universidade Estadual A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO
de Maringá buscou adequar o projeto
pedagógico dos cursos às necessidades ➔ Definição
regionais (Brasil, 2001). Para poderem
As indústrias de confecção caracterizam-se
disputar um mercado cada vez mais
globalizado, as empresas precisam ter um pela transformação do tecido plano em peças
bom controle sobre o processo de de vestuário. Estas podem ser calças, camisas,
desenvolvimento de produtos, assim como camisetas, entre outros artigos
sobre a melhora nos processos produtivos e confeccionados. A característica estrutural
administrativos. Na indústria de confecção, básica da indústria de confecção é a grande
em que o desenvolvimento de produtos é heterogeneidade de unidades fabris. Nesse
constante, seja devido à atualização das caso, podem ser observadas desde as
coleções ou devido às estações do ano, esse microempresas até as empresas de grande
processo torna-se ainda mais importante na
porte, que atendem a um “mercado
estratégia das empresas.
extremamente segmentado, tanto no que diz
Nos últimos anos, iniciativas de respeito ao número de produtos quanto ao
investimentos públicos e privados em mercado consumidor que atinge, com
qualificação de mão de obra surgiram na diferentes níveis de renda, idade, padrão
região, seja pela implantação de cursos cultural, entre outras características” (Bastos,
superiores pela Universidade Estadual de 1993, p.1).
Maringá, seja por cursos tecnológicos e de
curta duração, focados na qualificação da Devido à crescente concorrência com
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produtos asiáticos, as empresas começaram a No Brasil, ocorre que muitas empresas são
investir em design do produto e na informais, provocando, segundo Gorini &
organização da produção e do marketing para Siqueira (2002), a saída de empresas
formar uma barreira aos seus concorrentes. legalizadas de certos segmentos, gerando
Dessa forma, as empresas que atuam no efeitos negativos sobre a competitividade das
segmento de vestuário estão, de acordo com empresas formais do setor.
Lupatini (2004), cada vez mais se dedicando à
moda, tornando-se mais intensivas em design De acordo com Oliveira & Ribeiro (1996) e
e melhorando a qualidade dos produtos. Gorini & Siqueira (2002), a indústria de
confecção é um dos setores que mais gera
De acordo com Oliveira & Ribeiro (1996) e empregos no Brasil. Isso ocorre porque o
Lupatini (2004), o ciclo de produção da processo de fabricação depende da máquina
indústria do vestuário é composto de de costura, e ela deve ser manipulada
diferentes etapas: design, confecção dos individualmente, necessitando de um
moldes, gradeamento, elaboração do encaixe, empregado para cada máquina. Mas, para
corte e costura. Mas para Maluf (2003), o Bastos (1993), essa indústria é intensiva em
processo de produção pode ser muito mão de obra tanto para os países
complexo, chegando a doze etapas: estilismo, desenvolvidos quanto para os em
modelagem, confecção de peça piloto, desenvolvimento e, dessa forma, os custos do
aprovação da peça piloto, graduação dos produto final estão fortemente relacionados
tamanhos (modelagem), encaixe, controle de aos custos de mão de obra locais.
qualidade das matérias-primas, enfesto e
corte, separação e preparação, costura, O processo de fabricação dificilmente pode ser
acabamento, controle de qualidade dos automatizado, devido à dificuldade de
produtos acabados, revisão e fi nalmente manipulação de certos tecidos e
embalagem. características individuais das peças a serem
manufaturadas. É certo que algumas partes do
Segundo Jones (2005), os confeccionistas processo produtivo foram automatizadas,
lidam com todas as operações, tais como como a costura de bolsos e a confecção de
comprar tecidos, desenhar ou comprar golas, mas, segundo Oliveira & Ribeiro (1996),
desenhos dos estilistas, fazer as roupas, por serem muito específicas, não são tão
vendê-las e entregá-las. A indústria de relevantes, de forma que essa indústria
confecção é constituída por grande número de apresenta uma estabilidade tecnológica. No
empresas, e isso ocorre porque há certa processo de desenho e corte houve avanços
facilidade de abrir esse tipo de negócio. Por com a utilização dos sistemas CAD (Computer
representar um investimento inicial muito Aided Design) e CAM (Computer Aided
baixo, muitas pessoas se arriscam a abrir esse Manufacturing), que possibilitaram, segundo
tipo de empresa, às vezes sem conhecer esses autores, Lupatini (2004) e Silveira (2006),
direito o setor, o mercado e as técnicas a redução no tempo do processo produtivo e
gerenciais. no desperdício de tecido, além de flexibilidade
para a alteração dos modelos.
De acordo com Oliveira & Ribeiro (1996), as
reduzidas barreiras tecnológicas existentes à Silveira (2006) afirma que os sistemas CAD
entrada de novas firmas no mercado atraem possibilitam uma diminuição no tempo de
novos investidores, já que o equipamento modelagem, nas possíveis correções ou
básico utilizado é a máquina de costura, e a revisões dos moldes, diminuem os custos a
técnica é amplamente divulgada. Existem longo prazo, aumentam a precisão dos
confecções de todos os tamanhos, mas as que moldes, possibilitam a criação de banco de
prevalecem são as de pequeno porte, e essa dados e aumentam a produtividade. De
característica, segundo esses autores e acordo com Lupatini (2004), a indústria
Lupatini (2004), estende-se a todos os países. têxtil-vestuário concentra 8,3% do valor dos
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produtos manufaturados comercializados no metodológica no desenvolvimento de
mundo e mais de 14% do emprego mundial. A produtos é vital para empresas que visam
União Europeia é responsável por 7,6% do total inserir-se de forma ativa no mercado atual e
de empregos da indústria manufatureira local futuro.
e representa nos Estados Unidos 6% dos
Woltz & Woltz (2006) afirmam que a fase de
empregos daquele país. desenvolvimento do produto constitui um
processo colaborativo, no qual as atividades
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NA podem ser refeitas para atender às
INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO especificações do projeto, ou o próprio
projeto pode ser ajustado para adequar-se
Para Amaral et al. (2006), o desenvolvimento
ao comportamento dos materiais ou
de produtos é considerado um processo de
condições de produção. Assim, o sucesso
negócio cada vez mais crítico para a
desse processo, tanto no que se refere à
competitividade das empresas,
qualidade do produto quanto ao
principalmente com a crescente
atendimento dos prazos planejados,
internacionalização dos mercados. Para
dependerá em grande parte da participação
Slack, Chambers & Johnston (2002), o
efetiva e da competência dos profissionais
desenvolvimento de produtos compreende
envolvidos com o design do produto e do
as seguintes fases: geração de conceitos,
comprometimento das demais áreas da
triagem, projeto preliminar, avaliação e
empresa com o P & D.
melhoria, e prototipagem e projeto final.
Rech (2002), baseando-se nos princípios de Para Maluf (2003), o estilista ou designer de
desenvolvimento de produtos de Slack, moda é o profissional que desenvolve os
adaptou-os para o processo de modelos das coleções de uma confecção e
desenvolvimento de produtos de moda, deve trabalhar em conjunto com o
momento em que a autora explica cada profissional de modelagem e a piloteira.
etapa. Posteriormente, ela sintetiza o Esses profissionais estudam juntos as
desenvolvimento de produtos em quatro possibilidades e a viabilidade dos modelos
fases: coleta de informações sobre moda, desenhados. O designer de moda deve
definição do tema, esboços dos modelos e conhecer a fábrica para evitar produtos
definição dos modelos. inviáveis à confecção. Ele deve, antes de
elaborar os modelos, verificar os
Montemezzo (2003 apud Souza, 2006, p.19),
equipamentos, a matéria-prima e os
baseando-se nos princípios elaborados por
aviamentos disponíveis. Além de conhecer a
Rech, apresenta as seguintes etapas:
fábrica, o designer de moda deve visitar
planejamento, especificação do projeto,
feiras, centros de moda de outros países
delimitação conceitual, geração de
para conhecer as tendências de cores e
alternativas, avaliação e elaboração, e
tecidos. Para Maluf (2003), esses profissionais
realização. Segundo Woltz & Woltz (2006), o
procuram trazer das viagens fotos de novos
processo de desenvolvimento de produtos é,
modelos ou compram desenhos para serem
muitas vezes, confundido com a etapa na
usados no programa de produção da
qual se desenham as peças. Para as autoras,
próxima estação.
esse processo é uma sucessão estruturada
de trabalhos interdisciplinares e de ações A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO DE CIANORTE
conjugadas, envolvendo também os setores
relacionados com a produção e a A indústria de confecções iniciou em
comercialização dos produtos. Cianorte na década de 1970, e hoje é
responsável pela metade do PIB do
Morais (2006) afirma que o processo de município, que é de US $130.000.000,00. De
desenvolvimento de produtos, nas indústrias acordo com o Ipardes (2006), as fábricas do
de confecção, encontra-se viciado, as arranjo produtivo local (APL) produzem em
metodologias de projeto são pouco torno de quinhentas grifes (marcas
eficientes e fundamentadas na cópia e na próprias), e algumas delas, ainda, prestam
estilização de produtos pouco competitivos. serviços para grifes nacionalmente
Afirma ainda que uma adequação conhecidas, atuando como subcontratadas.
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De acordo com a classificação do Sebrae e pois, segundo Vergara (2006) e Gil (2006), esse
os dados da Relação Anual de Informações tipo de pesquisa expõe características de
Sociais (Rais), das 439 empresas formais determinada população ou de determinado
existentes no município de Cianorte ligadas fenômeno, estabelece correlações entre
ao ramo de confecções, 395 enquadram-se variáveis e define sua natureza. Esse tipo de
na categoria de microempresas, sendo que pesquisa não tem intenção de explicar os
a maior parte delas possui até quatro fenômenos que descreve, embora sirva de
funcionários. Trinta e cinco são empresas de base para tal explicação, mas tem por
pequeno porte e nove são de médio porte. objetivo estudar as características de um
grupo.
De cada cinco cianortenses, dois trabalham
no setor confeccionista, que hoje emprega ➔ Sujeitos
cerca de 15 mil pessoas diretamente. O
salário médio é de R $600,00 na cadeia Para a realização da pesquisa, foram
produtiva da confecção. Segundo o Ipardes entrevistados quatorze sujeitos, dos quais nove
(idem), atualmente Cianorte destaca-se em são designers de moda, dois empresários, dois
nível nacional como o maior polo atacadista professores e o coordenador do curso de
de confecções do sul do País, sendo moda.
conhecida como a capital do vestuário.
Visando elevar o status da cidade para a ➔ Ambiente da Pesquisa
capital da moda, lideranças locais tentam
mostrar a qualidade e a diferenciação dos Os questionários foram aplicados aos gerentes
produtos como estratégia competitiva aos e/ou proprietários dentro das empresas. Para o
concorrentes. Porém, a etapa de criação, em
coordenador do curso de moda, o questionário
especial a de design, não é comum nas
foi aplicado na própria universidade, mesmo
empresas desta cidade.
local onde foram realizadas as entrevistas com
Quanto a inovações tecnológicas, somente as professoras. Fora do ambiente empresarial,
os empresários das maiores fábricas foram entrevistados os designers de moda,
investem em sistemas CAD/CAM e no visando a uma maior liberdade para as
emprego de máquinas de costura respostas.
eletrônicas. Esses equipamentos e softwares
reduzem os custos e o tempo de operação ➔ Método
nas fases de criação, modelagem e corte e
reduzem o tempo de operação e desperdício Trata-se de uma pesquisa descritiva dentro das
de materiais. Obviamente, os micro e empresas de Cianorte e na Universidade
pequenos empresários não conseguem ter Estadual de Maringá, campus Cianorte.
acesso a esses sistemas, fazendo com que
haja perda de competitividade em relação ➔ Instrumentos de Coleta de Dados
às outras empresas.
Os instrumentos de coleta de dados foram três
MATERIAIS E MÉTODOS questionários. O primeiro foi aplicado aos
gerentes e/ou proprietários das empresas da
Para a realização desse diagnóstico foi
escolhida uma pesquisa qualitativa, cidade que possuíam designers de moda
estratificada e descritiva. Qualitativa porque dentro do seu quadro de funcionários. O
busca conhecer o processo de segundo, aplicado aos designers de moda que
desenvolvimento de produtos e o atuam em Cianorte. O terceiro, aplicado ao
relacionamento do profissional com o coordenador do curso de moda da UEM.
empresário. Estratificada porque foram
escolhidos empresários que possuem dentro RESULTADOS E DISCUSSÕES
do seu quadro de funcionários pessoas
designadas especialmente para o Neste capítulo não foi apontado, como fator de
desenvolvimento de produtos. eliminação, o porte da empresa, porque
empresários de diversos portes estão
Foi escolhida também a pesquisa descritiva,
GESTÃO DE MODA | | 10
empregando esse profissional na cidade de expectativas com relação a eles. As
Cianorte. Mas é importante salientar o fato de expectativas citadas pelos entrevistados foram
que muitas empresas são subdivididas em a melhoria dos produtos, soluções para
diversos CNPJs, por questões fiscais. Portanto, melhoria da imagem dos produtos fabricados
grande parte das empresas pesquisadas e também para a imagem da empresa perante
possui essa subdivisão. os clientes.

As entrevistas realizadas com os empresários Quanto aos aspectos positivos e negativos


forneceram informações importantes sobre o desse profissional em relação à formação e
seu relacionamento com o designer de moda atuação na empresa, esses apontaram como
e também servem para entender como o positivo o fato de eles estarem sempre
empresário o visualiza. As empresas atualizados, sempre focados, com vontade de
pesquisadas são de médio e pequeno porte. trabalhar na qualidade das pesquisas e
Segundo o Sebrae, Cianorte possui apenas três desenvolvimento de produtos. Os pontos
empresas de médio porte e 45 empresas de levantados como negativos foram a falta de
pequeno porte. visão do todo, da produção e dos custos, e
também, segundo um dos empresários, “não
Por meio da entrevista, observou-se que as aceitam bem as ideias dos empresários”.
empresas pesquisadas possuem um
departamento de desenvolvimento de As ideias dos empresários estão relacionadas a
produtos. Os entrevistados acreditam na deixar o produto de acordo com o orçamento
necessidade desse departamento, e um dos da empresa. Por exemplo, quando trocam um
entrevistados acredita que esse departamento determinado tecido por outro, ou também
é um diferencial para melhorar sua posição no quando o empresário vê que o concorrente
mercado. Por meio das entrevistas, está fazendo determinado produto que está
percebeu-se que uma das empresas valoriza o vendendo bem e quer copiá-lo. Um designer
designer de moda e deixa claro que o de moda entrevistado disse que uma vez
desenvolvimento de produtos é atribuição desenvolveu um produto e o empresário o
desse profissional (não se envolvendo “muito” alterou completamente, deixando-o igual à
no processo de criação), pois emprega dois coleção anterior. Para o entrevistado, há
profissionais como efetivos no processo de bastante perda de motivação por causa dessa
desenvolvimento de produtos e dois como interferência.
estagiários (para outras finalidades), tendo a
gerente de produto, sócia da empresa, como Um fato apontado por um entrevistado é que
líder. os designers de moda não focam suas criações
no mercado, possuem visão muito acadêmica,
Nesse caso, o envolvimento do empresário se falta jogo de cintura e sempre há atritos entre
dá por meio da sócia que trabalha no os designers e o empresário, tendo que, nesses
departamento de desenvolvimento de casos, o gerente de produtos ser o mediador,
produtos. É ela quem aprova ou não o produto para conciliar as brigas.
final. Porém, segundo o entrevistado, ele
(diretor da empresa) às vezes opina sobre um Esses atritos ocorrem, segundo o entrevistado,
determinado produto. Outra empresa porque os designers de moda querem impor
pesquisada possui três designers de moda em suas ideias, e o proprietário também.
seu quadro de funcionários de
O proprietário acredita que pelo fato de a
desenvolvimento de produtos (e um para
empresa estar no mercado há quinze anos, ele
outras finalidades), e a aprovação dos projetos
entende de produtos mais do que os
é realizada por meio de reuniões com a
designers de moda, e estes últimos não
proprietária, designers de moda e gerente de
conseguem colocar coleções novas no
produção. Os entrevistados estão satisfeitos
mercado porque ele não aceita determinados
com esses profissionais e possuem bastantes
GESTÃO DE MODA | | 11
tipos de mudança no produto. Ainda segundo mais atuantes, participando de eventos na
o entrevistado, esse não é um fato isolado: isso universidade, enquanto outros não. As
ocorre em várias empresas da cidade. entrevistas com os designers de moda na
maior parte dos casos ocorreram fora dos
O que pode ser comentado a respeito desse locais de trabalho, e muito se percebeu em
fato é que muitos empresários da cidade não relação a esse profissional.
possuem formação de nível superior, uma
grande parcela sequer possui o segundo grau A grande maioria dos entrevistados reside no
completo. Muitos são ex-funcionários das Estado do Paraná, e há certo equilíbrio entre
empresas pioneiras, mas também há grande os entrevistados que são efetivos (55%) e os
quantia de empresários que começaram do estagiários (45%). Dentre os efetivos, metade
zero. Dessa forma, esses profissionais recebe salário inferior a dois salários mínimos,
administraram e administram suas empresas e todos estão a menos de dois anos atuando
de forma empírica, acreditando que se tudo nas empresas.
deu certo até hoje, não há necessidade de
fazer alterações. Para Rech, “produtos Ficou muito claro nas entrevistas que o cargo
resultantes de projetos de design têm um de designer de moda não é bem remunerado,
melhor desempenho que aqueles tanto para os efetivos quanto para os
desenvolvidos pelos métodos empíricos e são estagiários: ambos recebem o mesmo salário.
obtidos em um curto espaço de tempo” (2002, O aumento só é percebido quando o
p.58). Portanto, isso é bastante frustrante para profissional exerce cargos mais elevados, como
os designers de moda, que saem da o de gerente de desenvolvimento de produtos.
universidade com bastante vontade de
Percebe-se um desconhecimento, por parte
trabalhar, de criar novas coleções, porém suas
dos designers de moda entrevistados, quando
ideias são barradas por medo de mudanças e
se pergunta o segmento de mercado em que
falta de capital para investimento.
a empresa atua. Os resultados que mais
De acordo com os entrevistados, eles apareceram relacionam-se ao jeanswear e
entendem quais as atribuições de um malharia. Isso também acontece quando se
designer de moda na indústria de confecções fala sobre o número total de empregados da
e, para tanto, dão total liberdade a ele na empresa: alguns não sabiam sequer estimar
criação de uma nova coleção. Porém, para 27% uma quantia.
dos designers entrevistados, isso não ocorre
É interessante observar que muitos desses
porque sempre há certa vigilância com relação
designers de moda estão há pouco tempo na
aos produtos desenvolvidos por eles, ou seja,
empresa (média de oito meses), porém isso
quando o designer de moda inova na criação
não é desculpa para não saber o segmento em
de um produto, esse é barrado na aprovação
que a empresa atua, até porque eles estão
final, normalmente pelo profissional
desenvolvendo produtos para ela. Pode ter
empregador. Com o investimento na
acontecido nesse caso um erro de
contratação de designers de moda, as
interpretação da pergunta. No caso daqueles
empresas perceberam um aumento na
que desconhecem o número total de
rentabilidade/vendas da empresa. As
empregados, isso mostra falta de interesse
empresas investem respectivamente 4% e 10%
pela empresa.
de seu faturamento em desenvolvimento de
produtos, incluídos os gastos com mão de O número de funcionários envolvidos no
obra, visitas às feiras e testes com materiais, processo de desenvolvimento de produtos
entre outros. varia de um a doze profissionais, e esse
número está relacionado ao porte da empresa,
O relacionamento dos empresários com as
sendo as maiores as que mais empregam.
instituições de Ensino Superior da região é
Porém, a maioria das empresas pesquisadas
considerado bom. Alguns empresários são
GESTÃO DE MODA | | 12
em que os designers de moda atuam são de experiência estão mais livres para desenvolver
pequeno porte (vinte a 99 funcionários), produtos, como cita um dos entrevistados:
segundo o Sebrae. Os funcionários envolvidos “por atuar há três anos na empresa, conheço
no desenvolvimento de produtos incluem seus clientes e o que eles sempre necessitam”.
designers de moda, pilotista, marketing, Outros, por exemplo, por estarem há pouco
vendas e gerente de produção, entre outros. tempo no cargo, recebem auxílio dos seus
As metodologias formais de desenvolvimento empregadores, como citou outro entrevistado:
de produtos utilizadas são cronograma, “Como estou aprendendo, eles me dão
calendário de desenvolvimento de produtos, liberdade de criar para depois me corrigirem”.
brainstorming, briefing, portfólio de coleção, Nesse caso, pode-se observar que os designers
pesquisa de tendências, calendário anual, possuem liberdade de criação, principalmente
protótipo, aprovação, diagramas, aqueles que têm maior experiência; porém, o
planejamento e fluxogramas. desconhecimento dos custos de produção e o
fato de o empresário continuar fortemente
Os designers de moda que não utilizam presente no desenvolvimento de produtos
metodologias de desenvolvimento de interferem nesse processo.
produtos justificam isso dizendo, segundo um
dos entrevistados, que “ainda não é possível Os entrevistados que acham que não há
introduzir essa metodologia na empresa” e, de liberdade de criação (27%) afirmam que o
acordo com outro entrevistado, que “não há empresário só faz cópias de outras marcas, ou
tempo para introduzir alguma metodologia, as coleções são baseadas em coleções
mas espera-se conseguir nas próximas estrangeiras ou ainda a liberdade é limitada
coleções”. devido aos custos de produção. Nesse caso,
observa-se que a empresa não dá liberdade ao
Os que responderam que não utilizam uma designer a fim de desenvolver novos produtos.
metodologia formal de desenvolvimento de
produtos explicaram que desenvolvem a Sobre o processo de criação, a maioria procura
coleção por meio de pesquisas em revistas, buscar referências de revistas especializadas,
internet, marcas conhecidas, adaptações de internet, feiras e eventos, e outros fatores como
marcas conhecidas, cópias de marcas pesquisas próprias, com clientes,
conhecidas e também por meio de representantes e vendedores do atacado e
planejamento de coleção. De acordo com um viagens também foram mencionados.
dos entrevistados, “a coleção é totalmente
pesquisada, mas na hora da execução o Os novos produtos são desenvolvidos na
proprietário da empresa prefere copiar roupas empresa por solicitação de clientes, por
prontas dos seus concorrentes”. Nesse caso, indicação de fornecedores e por especialistas
observa-se que os entrevistados que contratados (designers de moda de outros
responderam que não utilizam metodologia Estados, como São Paulo). Vale lembrar que
de desenvolvimento de produtos responderam algumas empresas não desenvolvem
praticamente a mesma coisa que aqueles que produtos, assim como existem outras que não
responderam que utilizam alguma ferramenta fabricam, ficando somente com o
de desenvolvimento. Portanto pode-se desenvolvimento.
concluir, nesse caso, que os entrevistados não
O proprietário, gerente ou presidente da
possuem claramente o conceito de
empresa sempre interfere no processo de
desenvolvimento de produtos.
desenvolvimento de produtos, e essa
Em relação à liberdade de criação, a grande intervenção ocorre para adequar o produto aos
maioria respondeu positivamente (73%), mas custos de produção, nos ajustes de
devem seguir algum tema ou devem passar modelagem, caimento do tecido e também
posteriormente pela aprovação da diretoria da para aprovação final do empresário. Essa
fábrica. Porém, alguns designers com mais intervenção, de acordo com alguns

GESTÃO DE MODA | | 13
entrevistados, atrapalha o processo criativo Moda da Universidade Estadual de Maringá
porque limita a criação, tira o produto do foco ocorreu dentro da própria universidade, no
que o designer estava seguindo e também campus de Cianorte. Essa entrevista foi
porque o produto ficará somente ao gosto do importante para obter informações sobre o
empresário, “que algumas vezes não é curso e para um melhor entendimento do
comercial”. Mas outros entrevistados acham relacionamento da universidade com as
essa intervenção positiva porque acreditam indústrias e também como anda o
que ela pode contribuir para que o produto desempenho dos egressos do curso.
fique nos padrões da empresa e para que os
custos de produção fiquem de acordo com o O coordenador do curso de Moda está há três
estipulado pelo empresário. anos na universidade como professor auxiliar e
há dois como coordenador do curso. Indagado
Em alguns casos, os designers são obrigados a sobre os alunos que se formaram, ele tem
desenvolver produtos que estão fora de linha, conhecimento que a maioria foi empregada
porque ainda existe demanda para eles. pelas empresas de médio porte de Cianorte
Nesses casos, o designer faz pequenas para atividades diversas, como
modificações no produto para deixá-lo mais desenvolvimento de produtos, vitrinista,
atual, mas a plataforma continua a mesma. colunista de moda e design de estampas,
Perguntado aos designers se utilizavam algum entre outros.
software para auxiliar no processo de
desenvolvimento de produtos, a maioria Dos alunos que ainda estão na universidade e
respondeu que utilizem o Corel Draw e o que estão estagiando (3o e 4o anos), a maioria
Photoshop; alguns utilizam, além dos está trabalhando em atividades correlatas à
anteriores, o Audaces, o Illustrator, o Excel e o indústria de confecção. O curso possui
Investrônica. A maioria dos profissionais disciplinas de desenvolvimento de produtos
entrevistados acredita que os softwares no 3o e 4o anos, e o perfil do curso é o
utilizados são sufi cientes para o desenvolvimento de produtos e modelagem.
desenvolvimento de produtos. Porém, aqueles O objetivo é fornecer ao aluno uma formação
que responderam que existem outros focada no desenvolvimento de produtos e
softwares que facilitam muito o trabalho não modelagem plana e informatizada para que
especificaram quais seriam. esse profissional domine as técnicas de
pesquisa em moda, criação para o vestuário e
O designer de moda trabalha com outros que possa ter a capacidade de trabalhar nas
profissionais/departamentos da empresa e indústrias, principalmente durante o dia a dia
acredita que deve haver colaboração entre no chão de fábrica.
todos. Os profissionais citados na entrevista
que se relacionam com o designer são Quanto ao relacionamento da universidade
modelista, gerente de produção, marketing, com os empresários da cidade, ele disse que é
vendas, cortador, pilotista, chefe de pilotagem, bom e que os empresários sempre estão em
encarregado da lavanderia, encarregado do contato, buscando estagiários ou empregados.
acabamento, chefe do almoxarifado, designer Eles entram em contato de várias formas, por
de criação, designer de moda, estilistas, meio de telefone, e-mail e orkut do
criadores de estampa, liberação e todos os coordenador. Segundo o coordenador, existe
profissionais ligados ao desenvolvimento do cooperação entre ambos, havendo
projeto. A atualização é feita por meio de contribuições para a semana de moda da
cursos, palestras, leituras, congressos, revistas, universidade. Isso é bastante perceptível
internet e cinema. Para ocorrer essa porque sempre que solicitam alguma doação
atualização, a maioria participa de mais de aos empresários, estes últimos ajudam de
cinco eventos por ano. alguma forma.

A entrevista com o coordenador do curso de Os empresários nunca fizeram nenhum tipo

GESTÃO DE MODA | | 14
de solicitação ou sugestão para a melhoria do a falta de professores efetivos. O curso de
currículo do curso de moda. Isso ocorre porque Moda possui somente quatro professores
os empresários não conhecem ou entendem o efetivos. Dos quatro professores efetivos,
curso de moda, mas nos dois últimos anos isso somente um possui mestrado, dois são
especialistas e um possui somente a
está melhorando. Dos 53 alunos formados pela
graduação. Também sobre os quatro
universidade, 34 estão nas indústrias de
professores efetivos, dois possuem formação
Cianorte ou em áreas afins. Quanto à mudança em Moda e dois em Engenharia Têxtil.
de mentalidade dos empresários, ele acredita
que eles estão mais conscientes da ➔ Disciplinas Analisadas
necessidade de empregar um designer, e isso
é refletido nas feiras de atacado da cidade, nas Neste capítulo, pretendeu-se estudar somente
quais se percebem as vitrines mais elaboradas as disciplinas que estão envolvidas
devido à inserção desse profissional. diretamente com o desenvolvimento de
produtos. Portanto, após análise do projeto
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A pedagógico do curso de Moda, foram
ACADEMIA E AS DEMANDAS DO POLO escolhidas as disciplinas Desenvolvimento de
Produtos I e II.
O curso de Moda da UEM foi criado em 2002
com o objetivo de formar mão de obra ➔ Desenvolvimento de Produtos I e II
qualificada para a cidade, agregar maior
valor ao produto industrializado e tornar a As disciplinas de Desenvolvimento de Produto
região uma geradora de moda. O projeto I e II estão localizadas no 3o e 4o anos,
pedagógico do curso apresenta algumas
respectivamente, e cada uma possui 102 h/a,
falhas em função de seu processo de
sendo ambas disciplinas anuais. Percebe-se no
criação, visto que o Centro de Tecnologia da
programa da disciplina Desenvolvimento de
UEM possuía no início do ano de 2000 cinco
cursos de graduação e iniciou o ano de 2002 Produtos I que este não oferece o ensino de
com quinze cursos em várias áreas, tais metodologias de desenvolvimento de
como Design, Arquitetura e Engenharia produtos. Ela dá uma noção de empresa,
Mecânica. Dessa forma, os projetos possibilita entender os segmentos de
pedagógicos foram feitos em pouco tempo e mercado, administração da empresa e
muitas vezes por pessoas com pouca produto, porém seu conteúdo está
afinidade em relação aos cursos que equivocado, dando a ideia de que ela vai
estavam sendo criados. ensinar as metodologias de desenvolvimento
de produtos, as técnicas e formas de proceder
No momento, o curso possui boas
instalações e concurso vestibular bastante em uma empresa, o que não ocorre nesse
disputado, e em 2007 o curso foi reconhecido caso. A bibliografia também não está correta,
pela Secretaria de Estado da Ciência, principalmente na disciplina Desenvolvimento
Tecnologia e Ensino Superior (Seti). de Produtos II, uma vez que esta não
Atualmente, o curso possui 41 disciplinas, apresenta bibliografia condizente.
totalizando 3.430 horas, com o prazo mínimo
para integralização curricular de quatro O mesmo equívoco é observado na disciplina
anos e máximo de sete anos, e possui regime de Desenvolvimento de Produto II. A ementa
seriado e anual. As disciplinas do curso de foca a disciplina em “pesquisa, planejamento,
Moda estão divididas em quatro séries. acompanhamento de produtos desenvolvidos
para uma coleção do vestuário aplicada ao
Porém, há uma equipe de professores
trabalho de graduação”, fugindo, dessa forma,
organizada para a reestruturação do
projeto pedagógico do curso, já que tal ao que o nome da disciplina sugere. Nesse
reestruturação pretende alterar os caso, aparece de forma bastante tímida um
componentes curriculares do curso. Um dos assunto falando especificamente de produtos,
grandes problemas observados nesse curso mas não sobre metodologias. A falta da
e demais cursos novos dessa universidade é metodologia nas disciplinas de
GESTÃO DE MODA | | 15
Desenvolvimento de Produto I e II pode não tem experiência sufi ciente para a
explicar por que os designers entrevistados realização de tal tarefa); a segunda é a falta de
não compreendiam quando eram indagados capital dos empresários (como o empresário
sobre qual metodologia de desenvolvimento tem pouco capital de giro, ele tem medo de
utilizavam. gastar o pouco que tem em uma experiência
que pode dar errado); a terceira é a falta de
Pode-se perceber, nesse caso, que as pessoas visão empreendedora do empresário, que
que fizeram o programa dessa disciplina não acredita que se os negócios ocorreram bem
possuem formação na área de Moda, o que até o presente momento, uma possível
pode justificar o equívoco do conteúdo. Dessa mudança pode ser prejudicial para a empresa.
maneira, pode-se sugerir uma mudança do
conteúdo dessas disciplinas de forma que elas O que ocorre nesse caso é que a maioria dos
englobam todas as metodologias necessárias empresários desta cidade não possui formação
para o desenvolvimento de produtos de moda. superior, alguns sequer o segundo grau.
Muitos deles saíram do campo ou eram
➔ Entrevista com professores do curso de funcionários das empresas pioneiras e,
Moda da Universidade Estadual de portanto, começaram e administraram suas
Maringá empresas de forma empírica, durante muitos
anos, e são muito resistentes a qualquer tipo
Foram entrevistadas duas professoras que
de mudança. Alguns empresários com visão
ministram as disciplinas de Desenvolvimento
empreendedora já perceberam a necessidade
de Produto I e II e Laboratório de Criação I e II.
de investir em design, propaganda e de terem
Também compareceu à entrevista o
um fluxo de caixa. Por isso, seus produtos já
coordenador do curso. As professoras
são conhecidos em todo o Brasil. Suas vendas
entrevistadas possuem experiência em
ocorrem por representação, fazendo com que
desenvolvimento de produtos, tendo a
os produtos cheguem mais facilmente ao
primeira trabalhado nove anos na indústria de
ponto de venda, não necessitando mais que
confecção, e a segunda possui três anos de
um lojista ou uma sacoleira vá até a cidade
experiência. Ambas lecionam as disciplinas de
para adquiri-los. Dessa forma, percebe-se que
desenvolvimento de produto, sendo que a
as grandes marcas não possuem mais suas
primeira leciona as disciplinas de
lojas na cidade: essas marcas estão presentes
Desenvolvimento de Produto II e Laboratório
em grandes shoppings ou em boutiques
de Criação II, e a segunda, a disciplina de
espalhadas pelo Brasil.
Desenvolvimento de Produto I.
Durante a entrevista, o coordenador do curso
A experiência das professoras com
disse que ele e os demais professores
desenvolvimento de produtos na indústria é
formaram uma comissão para mudança do
muito proveitosa para o aluno. O fato de elas
projeto pedagógico. Nessa mudança, algumas
possuírem a vivência profissional possibilita ao
disciplinas que são divididas em dois anos
professor maior domínio sobre o assunto, e aos
serão suprimidas por um ano, e outras, como
alunos, o melhor entendimento do conteúdo
Desenvolvimento de Produtos I e II, serão
ministrado. Quando questionadas sobre o fato
mudadas do 3o e 4o para 2o e 3o anos,
de os alunos não conseguirem aplicar as
respectivamente.
metodologias de desenvolvimento de
produtos, elas responderam que o A entrevista realizada com os professores do
empresariado local não permite que isso curso de moda possibilitou um melhor
ocorra. entendimento das respostas das pesquisas
aplicadas com os empresários e designers
Isso acontece de várias maneiras: a primeira é
empregados por essas empresas. Pode-se
a falta de confiança no profissional que acaba
perceber que os alunos não aplicam
de sair da universidade (acreditando que ele
metodologias de desenvolvimento de produto
GESTÃO DE MODA | | 16
porque elas não são ensinadas na ★ Artigo: Prevenção do desperdício no setor de
universidade, e se são ensinadas, isso não está vestuário e moda: inovação no processo de design
claro no projeto pedagógico do curso e
também não foi comentado nas entrevistas RESUMO
com os professores. Os empresários somente
O presente artigo parte da problemática da
fazem mudanças de metodologias quando o
geração de resíduos têxteis no setor de
desejam e recebem orientação de profissionais confecção de produtos de moda e vestuário
mais experientes, conhecidos e reconhecidos e do estudo de estratégias de produção
pela sua capacidade. mais limpa apresentando o processo de
design zero waste como alternativa para a
➔ Proposições redução do desperdício têxtil e sua
aplicação como inovação radical de
Com base no conjunto de informações processo comparado com processos
expostas anteriormente, propõe-se neste convencionais de desenvolvimento de
capítulo: produtos de moda. Os resultados são
validados em uma empresa de confecção de
● Divulgar, por meio das associações da produtos de moda e apontam a viabilidade
cidade APL, Asamoda e Sindivest, o da aplicação do estudo proposto desde a
curso de Moda e as contribuições desse criação, desenvolvimento e produção no
profissional nas empresas. Por meio da âmbito do setor de vestuário.
entrevista com o coordenador e
INTRODUÇÃO
professoras de moda e empresários,
pode-se notar que os empresários têm O setor de confecção de produtos de moda
conhecimento do curso, porém não e vestuário no Brasil, considerado o quarto
sabem exatamente qual a contribuição maior parque produtivo mundial, com
que esses profissionais poderão trazer produção anual de 9,8 bilhões peças, é
para sua empresa. responsável por expressivos impactos
ambientais, sendo a gestão do desperdício
● Promover eventos de moda junto a um grande problema atual para a indústria
essas associações. Isso já está do vestuário considerando o excesso de
ocorrendo, porém a universidade resíduos decorrentes de seu processo
produtivo (ABIT, 2011; Morais, Carvalho &
participa timidamente desses eventos.
Broega, 2011; Guimarães & Martins, 2010).
O que ocorre é uma semana de moda
no mês de novembro, em que os alunos Embora a geração de resíduos ocorra em
organizam desfiles mostrando suas todas as etapas de produção do vestuário, a
criações. Nesse evento, alguns exemplo do processo têxtil, destaca-se neste
empresários expõem seus produtos por artigo a etapa de confecção. A questão dos
meio de desfiles de moda. Alguns resíduos têxteis no setor de confecção de
empresários interessados em ver o que produtos de moda e vestuário e, apesar de
os alunos estão criando também não ser recente, tem suscitado diversos
trabalhos e pesquisas; no entanto,
participam do evento.
geralmente concentram-se esforços em
estratégias de reaproveitamento e
● Revisão do currículo do curso de moda, dificilmente se trabalha a prevenção na
observando o ensino de metodologias concepção de produtos. Considerando este
de desenvolvimento de produtos. Nesse cenário, é essencial desenvolver estratégias
caso, sugere-se que seja colocado no que previnam o desperdício já nessa etapa,
programa de uma das disciplinas de o que pode trazer benefícios além da
Desenvolvimento de Produtos um redução do impacto ambiental, como
capítulo específico sobre metodologias aumento da competitividade e conquista de
de desenvolvimento de produtos. novos mercados (SEBRAE, 2004).

Diante dos impactos do desperdício e dos


GESTÃO DE MODA | | 17
benefícios decorrentes de sua prevenção, o representando, de acordo com o SEBRAE
presente artigo parte da problemática da (2004), 1.397,2 kg de resíduos gerados ao ano
geração de resíduos têxteis em empresas de por cada empresa e desperdício médio
confecção de moda e vestuário e do estudo anual de R$ 32.783,00.
de estratégias de produção mais limpa,
tendo como objetivo apresentar o processo PREVENÇÃO DE RESÍDUOS
de design zero waste (composto por técnicas
de criação e modelagem que objetivam Em vista dos impactos ambientais da
reduzir o desperdício de tecido decorrente geração de resíduos, diversas políticas e
do encaixe e corte) como alternativa para a legislações nacionais tratam da questão,
redução do desperdício têxtil, ressaltando como a Política Nacional de Resíduos
que etapas do processo de confecção como Sólidos, segundo a qual na gestão de
modelagem e corte são responsáveis por resíduos deve-se priorizar, respectivamente,
significativo impacto ambiental devido à a não geração, redução e reutilização
geração de resíduos (Guimarães & Martins, (Bartholomeu & Caixeta-Filho, 2011). Portanto,
2010). Considerando que, segundo o INETI o foco deve estar no conceito de “produção
(2007), estratégias de prevenção podem ser mais limpa” (P+L), que consiste em
consideradas oportunidades de inovação, estratégias que evitam ou reduzem a
pretende-se comparar o processo zero geração de resíduos pela criação de
waste ao processo de design de moda alternativas para sua reutilização ou por
convencional no sentido de vislumbrar os meio de ações preventivas (Lange &
aspectos nos quais o zero waste é inovador. Schenini, 2007; Guimarães & Martins, 2010).
Para tanto, é apresentada revisão
bibliográfica acerca de inovação e Embora a eliminação total dos resíduos nos
resultados da aplicação do processo zero processos produtivos possa ser considerada
waste em produtos de moda destinados a impossível, como apontado por Lange e
uma empresa de moda fitness da cidade de Schenini (2007), as organizações devem
Londrina (PR), onde foi realizado diagnóstico procurar formas de redução desses, sendo
do desperdício decorrente de seus importante lembrar que a produção mais
processos produtivos. limpa é constituída por processos de
melhoria contínua, devendo ser continuada
GERAÇÃO DE RESÍDUOS NO SETOR DE e melhorada ao longo do tempo.
CONFECÇÃO DE MODA E VESTUÁRIO
Os procedimentos para a prevenção de
resíduos apresentam diversos benefícios,
A geração de resíduos em empresas de
como apontado por Miles e Russel (1999
confecção de moda e vestuário ocorre
apud Seiffert, 2011), SEBRAE (2004), Moura
diariamente e é caracterizada, segundo o
(2000 apud Seiffert, 2011) e Porter (1999 apud
CNTL (2009 apud Ribeiro & Barcelos, 2012),
Seiffert, 2011): melhoria da imagem da
pelo desperdício da matéria-prima tecido,
empresa; conquista de novos mercados;
apresentando como impactos:
economia de matéria-prima; redução de
desmatamento e destruição da
custos do processo produtivo; conversão de
biodiversidade; consumo de recursos
desperdícios em formas de valor e aumento
naturais e descarte de resíduos industriais
da lucratividade.
não perigosos. Conclui-se, portanto, que a
geração de resíduos causa impacto de
De acordo com Furtado, Silva e Margarido
grande relevância, representando o
(1999, apud Lange & Schenini, 2007, p.7), a P+L
principal impacto ambiental direto de
“questiona e propõe a eliminação ou a
empresas de confecção de moda e
substituição da equação industrial clássica”:
vestuário.
ao invés de reter os resíduos na fábrica,
para posterior tratamento e descarte,
Embora McQuillan e Rissanen (2011) e SEBRAE
propõe-se a “equação circular, de maior
(2004) apontam que a taxa de desperdício no
eficiência e eficácia, ao defender a
setor de confecção de moda e vestuário é de
prevenção da geração de resíduos”. O
aproximadamente 15%, para Rosenbloom
pensamento da produção mais limpa,
(2010) esse desperdício pode atingir até 20%,
portanto, implica mudanças (inclusive
GESTÃO DE MODA | | 18
radicais) nos sistemas industriais visando à
redução das fontes poluidoras (Tachizawa,
2004 apud Milan, Vittorazzi & Dos Reis, 2010).
Consequentemente, “devido a uma intensa
avaliação do processo de produção, a
metodologia da P+L induz um processo de
inovação dentro da empresa” (Rensi &
Schenini, 2005 apud Lange & Schenini, 2007,
p. 6).

Conquanto as técnicas de produção mais


limpa possam ser agrupadas em três níveis
diferentes, como ilustrado abaixo, ao longo
deste artigo será destacado o primeiro nível:
redução na fonte, com enfoque em
modificação no processo.

Neste processo, o encaixe merece especial


PROCESSO DE DESIGN ZERO WASTE atenção, sendo planejado ainda no
momento de desenvolvimento de produto,
Uma vez que para a diminuição de resíduos podendo-se alterar o formato dos moldes
devem-se priorizar medidas de prevenção, é durante a concepção em busca do melhor
importante que o desperdício seja evitado encaixe possível, eliminando sobras de
ainda na etapa de desenvolvimento de tecido entre os encontros dos moldes e entre
produto, aderindo-se ao processo de design os encontros dos módulos gerados pelo
zero waste, que na moda consiste em encaixe desses moldes (Souza & Queiroz,
técnicas de modelagem que objetivam 2010). Esse processo de desenvolvimento de
reduzir ou mesmo eliminar o desperdício de produtos implica, por conseguinte, um novo
tecido decorrente do encaixe e corte, como pensamento e olhar do designer sobre a
pode ser observado na figura 2, que criação e modelagem, pois no zero waste,
compara o encaixe de peças resultantes do “em vez de impor ao tecido um desenho e
processo zero waste ao encaixe de peças um modelo preconcebidos, o designer
convencionais (Rosenbloom, 2010). torna-se um facilitador, possibilitando que a
forma surja e guiando sua evolução”,
Não obstante o processo zero waste ainda
remodelando a forma e os moldes de modo
não seja aplicado em grandes confecções,
que todas as partes se encaixem umas nas
conseguir aliá-lo com a produção industrial
outras, resultando em formas inovadoras
é um desafio para os designers, afinal
pela integração à roupa do tecido que seria
permite, “dentro dos limites, inventar novas
desperdiçado no corte (Fletcher e Grose,
formas de criar moda, proporcionando um
2011, p. 48).
diferencial para a própria empresa e no
design que ela oferece” (Ribeiro & Barcelos, Esse novo olhar é necessário, pois, como
2012, p.9). afirmam Fletcher e Grose (2011), é essencial
desenvolver um modo inteiramente novo de

GESTÃO DE MODA | | 19
pensar para promover transformação na hoje nem sequer somos capazes de
escala requerida pela sustentabilidade. Essa conceber”. Reforça-se, desse modo, o papel
abordagem é endossada por Lange e da sustentabilidade como agente de
Schenini (2007), para quem a produção mais inovação no setor de confecção de moda e
limpa adota uma nova postura com relação vestuário.
aos processos executados ao refletir como
estes afetam o meio ambiente, modificando Além de ser um fator importante para a
o processo para acabar com o resíduo e sustentabilidade, a inovação é também
agir nas fontes geradoras, minimizando a essencial para a competitividade das
emissão. empresas: segundo o Manual de Oslo (OCDE
e Eurostat, 2005), as empresas ou inovam
Cabe ressaltar, ainda, que embora existam para evitar perder mercado para um
softwares para otimizar o aproveitamento do competidor inovador (comportamento
tecido no encaixe, a sua eficácia é limitada, reativo), ou apresentam comportamento
pois “não são capazes de se adaptar a pró-ativo, inovando para ganhar posições
conceitos completamente novos para estratégicas de mercado. As empresas,
confeccionar roupas e, portanto, podem portanto, devem se antecipar aos
frear o surgimento de inovações concorrentes e iniciar a mudança rumo à
relacionadas à redução de resíduos e à nova sustentabilidade, afinal, embora no Brasil o
estética que estas podem revelar” (Fletcher e conceito de consumo sustentável ainda seja
Grose, 2011, p. 48). Segundo May (2011, p incipiente, a tendência é que a fração de
192-193), “são as pessoas que inovam – não as consumidores conscientes aumente no curto
máquinas, os computadores, os processos, prazo (Ghachache, 2010).
mas as pessoas”. Portanto, não obstante a
tecnologia possa “proporcionar novas Neste sentido, a maior parte da inovação
ferramentas, […] são a criatividade do sustentável na indústria de moda tem como
designer e sua capacidade de dar grandes ponto de partida a substituição de
saltos de imaginação que podem materiais, medida de caráter paliativo que
transformar não só o modo como fazemos se encaixa “sem esforço em práticas de
as coisas, mas também o modo como trabalho consagradas […], sem demandar
pensamos” (Fletcher e Grose, 2011, p. 48). abalos reformadores dos negócios” (Fletcher
e Grose, 2011, p. 13). Constata-se, assim, o
INOVAÇÃO caráter inovador de novas abordagens para
a sustentabilidade na indústria de moda.
As autoras anteriormente citadas (2011, p.11) Este é o caso da prevenção de resíduos no
ressaltam que para uma aproximação à setor de confecção de moda e vestuário por
sustentabilidade é necessária a meio do processo de design zero waste,
transformação da prática do design de abordagem diferente também por
moda, pois “ideais de sustentabilidade considerar a geração de resíduos já na
trazem para a moda […] um modo diferente concepção de produtos, em vez de criar a
de pensar o mundo em que nossos negócios posteriori alternativas de reutilização ou
operam e no qual praticamos design”. reciclagem.
Portanto, se por um lado, como apontam
Goularti Filho e Jenoveva (1997), a indústria Embora o conceito zero waste não seja novo,
de confecção tem se caracterizado pelo pois, conforme apontado por Rissanen e
baixo impacto de inovações técnicas - fato McQuillan (2011), a história do vestuário está
corroborado por McQuillan (2012)3 , para repleta de exemplos de roupas construídas
quem a produção de moda pouco mudou de modo a minimizar o desperdício (como o
nos últimos cem anos - por outro lado, chiton romano e o saree indiano), diversos
Fletcher e Grose (2011, p.9) vislumbram que, autores consideram o processo de design
devido à sustentabilidade, nos próximos zero waste inovador para a indústria de
anos não só o setor de confecção, mas moda – publicações relevantes sobre o tema
“todos os setores da economia [serão] em periódicos e jornais como o The New
povoados por designers informados e York Times surgiram recentemente, em 2010.
autônomos, promotores de inovações que
Para Grose (2011, p.6), o design zero waste
GESTÃO DE MODA | | 20
“abre um novo caminho para a c) Abertura de novos mercados;
sustentabilidade” e contesta os parâmetros
preestabelecidos na indústria por d) Desenvolvimento de novas fontes
questionar a natureza do design e produção provedoras de matérias-primas e outros
de vestuário. A autora ainda ressalta seu insumos;
potencial para inspirar uma nova ordem e
transformar a forma como o design é e) Criação de novas estruturas de mercado
concebido. Jack (2012), por sua vez, afirma em uma indústria.
ser o design zero waste extremamente
Contudo, outra classificação é proposta pelo
inovador no âmbito da moda, consideração
Manual de Oslo, que estabelece diretrizes
reforçada por Copenhagen (2012), para quem
para a interpretação de dados sobre
essa é uma ferramenta para a inovação que
inovação, diferenciando quatro tipos de
permite novas oportunidades de negócio e
inovação:
surgimento, durante o processo, de soluções
de design novas e inesperadas.
a) De produto: introdução de um produto
novo ou significativamente melhorado com
Verifica-se, portanto, ser o processo de
relação a suas características funcionais ou
design zero waste solução inovadora para a
de uso – melhorias em especificações
indústria de moda. Resta esclarecer, ainda,
técnicas, componentes e materiais,
de que tipo de inovação trata-se e quais
facilidade de uso ou outras características
mudanças se inserem no setor de confecção
funcionais que aprimoram seu desempenho;
de moda e vestuário. Para classificar o
processo quanto à inovação, faz-se
b) De processo: implementação de um
necessária uma breve revisão quanto aos
método de produção novo ou
tipos de inovação identificados.
significativamente melhorado;
Segundo Best (2012), há três tipos:
c) De marketing: implementação de um novo
método de marketing com mudanças
a) Incremental: explora formas ou
significativas na concepção do produto ou
tecnologias existentes;
em sua embalagem, no posicionamento do
b) Modular: apesar de significativa, não produto, em sua promoção ou na fixação de
implica transformações radicais; preços. Compreende, também, mudanças
substanciais no design do produto -
c) Radical: rompe com o conhecimento, as mudanças na forma e na aparência que não
capacidades e as tecnologias existentes a alteram as características funcionais ou de
fim de criar algo novo no mundo. uso do produto;

Afora esses três tipos, Best aponta a d) Organizacional: implementação de um


existência de novas possibilidades para o novo método organizacional nas práticas de
design e a inovação, como os novos desafios negócios da empresa, na organização do
ecologicamente corretos, ou ecoinovação. seu local de trabalho ou em suas relações
externas, compreendendo ainda novos
Para esclarecer a diferença entre inovação métodos para a organização de rotinas e
radical e incremental, o Manual de Oslo procedimentos para a condução do
recorre a Schumpeter (1934 apud OCDE e trabalho.
Eurostat, 2005), ressaltando que inovações
"radicais" provocam rupturas mais intensas, METODOLOGIA
enquanto inovações "incrementais" dão
continuidade ao processo de mudança. O Foi utilizado método dedutivo realizado por
autor propõe cinco tipos de inovação: meio de pesquisa qualitativa de natureza
exploratória, sendo seu delineamento
a) Introdução de novos produtos; estudo de caso. Para o estudo da geração
de resíduos e do processo zero waste, foi
b) Introdução de novos métodos de estabelecida parceria com uma empresa de
produção; moda fitness e day-by-day da cidade de

GESTÃO DE MODA | | 21
Londrina (PR), com o objetivo de Por utilizar muitos tecidos que apresentam
diagnosticar o desperdício na empresa e, em sua composição elastano, poliamida ou
por meio da aplicação do processo de poliéster, a empresa dificilmente encontra
design zero waste, desenvolver uma pessoas ou entidades interessadas em
pequena coleção, alinhada com o conceito recolher seus resíduos por não
da marca, que reduza consideravelmente, de apresentarem boa absorção à umidade e
forma preventiva, a geração de resíduos já não se adequarem ao destino geralmente
na etapa de concepção e desenvolvimento dado aos resíduos, como confecção de
dos produtos. tapetes e afins. Desse modo, considerando
que o uso de tecidos tecnológicos é um
Para a realização do diagnóstico de diferencial da marca e não seria possível
desperdício, foram analisadas propostas substituí-los, é essencial encontrar soluções
existentes para a redução de resíduos, o que para prevenir o desperdício, sobretudo
mostrou a necessidade de uma metodologia devido ao grande acúmulo de resíduos
simplificada voltada para a questão dos armazenados na fábrica.
resíduos sólidos em indústrias de confecção
de moda e vestuário, sendo então elaborada Embora a empresa considere baixa uma
metodologia com base no estudo de taxa de desperdício de aproximadamente
propostas similares - sobretudo as do 20% e não considere que os resíduos
SEBRAE (2004), INETI (2007) e Guimarães e representam desperdício, ao se confrontar a
Martins (2010) - e análise da empresa, o que contabilização de seus resíduos com dados
permitiu a proposta de melhorias que do SEBRAE (2004) percebe-se que o
resultaram na metodologia utilizada neste desperdício na empresa é muito alto
trabalho. Embora a metodologia seja quando comparado a outras indústrias de
constituída por três fases – diagnóstico, confecção, como pode ser observado na
análise de oportunidades e tabela 1.
acompanhamento -, será dada especial
atenção ao diagnóstico, cujas etapas
podem ser visualizadas na figura 3.

A análise do processo produtivo comprova


que a maior parte dos resíduos é gerada no
corte. Contudo, a origem desse desperdício
ocorre em etapas anteriores, pois o encaixe
e aproveitamento do tecido são planejados
na etapa de modelagem. Por outro lado,
como é utilizado software para o encaixe e
DIAGNÓSTICO E CARACTERIZAÇÃO DA há preocupação na modelagem em
EMPRESA ESTUDADA melhorar o aproveitamento do material, e
uma vez que a geração de resíduos, como
De pequeno porte e gestão familiar, a afirma Seiffert (2011), pode ser um indicativo
empresa está há mais de 10 anos no de falhas no projeto de produto, percebe se
mercado e é especializada em roupas que a etapa mais crítica para a geração de
esportivas com referencial de moda cuja resíduos é o desenvolvimento de produto,
modelagem transita entre o esportivo e o quando são criados modelos que não
casual, sendo seu diferencial o uso de proporciona bom encaixe na modelagem e o
tecidos tecnológicos. Com capacidade uso dos materiais na coleção não é
produtiva de quatro mil peças por mês, planejado para priorizar o melhor
desenvolve duas coleções ao ano. Instalada aproveitamento possível. Confirma-se,
na cidade de Londrina, concentra o setor de portanto, a necessidade de reformular os
desenvolvimento de produto em São Paulo e processos de criação, modelagem e encaixe
apresenta pontos de venda nessas cidades, com o intuito de reduzir a geração de
entre outras. resíduos.
GESTÃO DE MODA | | 22
PROCESSO DE DESIGN ZERO WASTE E
PROCESSO CONVENCIONAL DE DESIGN DE
MODA

Cada designer zero waste utiliza métodos e


técnicas distintas, alguns desenvolvidos pelo
próprio designer. Por conseguinte, não existe
um método definido para a criação e
modelagem: o designer (ou empresa) tem a
possibilidade de criar ou combinar métodos
diferentes mais adequados a suas
habilidades ou necessidades. Por isso o
design zero waste é, aqui, definido não como
método, mas um processo.

O método utilizado neste trabalho está


fundamentado no adotado por Holly
McQuillan e Timo Rissanen: modelagem
plana mais parecida com a convencional em
que cada parte do molde se encaixa como
um quebra-cabeças. Apesar de haver
material disponível online sobre este
método, o aprendizado somente é possível
por meio de experimentação, vivência e
descoberta autodidata de meios para se
trabalhar com o design zero waste.

Para a comparação entre o processo de


design zero waste e o convencional, foram
utilizados como referência os modelos de
A distinção em relação ao processo
desenvolvimento de produtos de moda
convencional tem início na etapa de
propostos por Montemezzo (2003 apud
desenvolvimento de produtos ou geração de
Cardoso & Demarchi, 2012), Jordan (2004
alternativas. Para que se possa
apud Cardoso & Demarchi, 2012),
compreender melhor a diferença entre os
apresentados esquematicamente na tabela
processos, é necessário explicar como é
2.
conduzido o processo zero waste – ou,
Como pode ser observado, foram especificamente, como ele foi aplicado para
destacadas em cinza as etapas e atividades a elaboração do presente trabalho.
em que, no processo zero waste, ocorrem
O principal ponto a se esclarecer sobre o
modificações. Nota-se que a primeira
processo zero waste é que nele as etapas de
macrofase, o pré-desenvolvimento, não sofre
criação, modelagem e prototipagem
alterações no processo de design zero
ocorrem simultaneamente: o processo
waste, pois ainda há necessidade de
criativo não se dá por meio de esboços ou
avaliação do mercado, estudo do estilo de
desenhos (croquis), mas a partir de estudo
vida dos consumidores, pesquisa de
de modelagem/encaixe e confecção de
tendências socioculturais (ou
protótipos, podendo-se utilizar manequins
macrotendências), definição de referência e
em escala 1:2 para testar as modelagens e
conceito que norteiam a coleção,
fazer as alterações necessárias, como
tornando-a coesa, e delimitação de
recomendado por McQuillan (2010). Por isso,
objetivos e princípios funcionais e de estilo,
é essencial que o designer tenha
os quais podem ser considerados como
conhecimento básico de modelagem e
requisitos para a criação e aprovação de
possa contar com uma equipe experiente
modelos.
composta por pessoas de diversas
habilidades, o que torna o processo
GESTÃO DE MODA | | 23
interdisciplinar. pequena dimensão.

Antes de iniciar a criação é importante ter Definida a largura a ser utilizada, existe a
em mente o que é apontado por McQuillan possibilidade de dividi-la em módulos,
(2010): o processo de design zero waste projetando encaixes para metade ou um
requer uma mudança no foco - de saber terço do tecido, ou seja, planejando o corte
qual o resultado esperado e como ele pode de duas ou três peças do mesmo modelo
ser alcançado, para refletir enquanto o encaixadas lado a lado. Para o processo de
molde e a peça são projetados, a fim de criação e modelagem, deve-se, então, traçar
atingir objetivos gerais de encaixe e estética, duas linhas paralelas com distância
sendo necessário estar disposto a deixar equivalente à largura do encaixe. No
que estes objetivos se transformem durante desenvolvimento da coleção proposta, foram
o processo. Portanto, deve-se ter utilizados gabaritos com a modelagem
consciência da flexibilidade do processo e plana de base referente a cada peça, sendo
da impossibilidade de impor ao tecido um os moldes dispostos no espaço entre as
modelo preconcebido, visto que a forma linhas que demarcam a largura do tecido,
surge durante o processo e dá lugar a um procurando-se o melhor arranjo e encaixe
resultado muitas vezes surpreendente. entre as partes. Conforme os moldes eram
desligados ao longo do espaço de trabalho,
Isto posto, o primeiro passo para o a forma ia surgindo e guiando a criação,
desenvolvimento é a escolha do tipo de sendo os testes em manequim igualmente
vestuário – vestido, regata ou camiseta, por importantes para a criação, visto que
exemplo – e do tecido, ponto fundamental já revelavam novas possibilidades de aplicação
que o modelo e encaixe projetados para as partes resultantes dos espaços
dependem da medida da largura do tecido negativos da modelagem.
(McQuillan, 2010; Souza & Queiroz, 2010). Para
o desenvolvimento da coleção voltada para Na figura 4, é apresentado o fluxograma do
a empresa estudada, após definida a largura desenvolvimento de produto no processo
do tecido, o encaixe foi projetado zero waste, onde estão destacados em cinza
considerando uma margem de segurança os pontos de início e fim. Como pode ser
para evitar problemas decorrentes de observado, as etapas do processo
defeitos na ourela ou irregularidades na convencional de geração de alternativas,
largura do tecido. Além da margem de modelagem, avaliação e elaboração dão
segurança, para que haja a possibilidade de lugar, no processo zero waste, a uma única
graduação dos moldes, os protótipos foram etapa, na qual a criação, modelagem e
desenvolvidos no tamanho M e a confecção ocorrem simultaneamente, sendo
modelagem levou em consideração uma desenhos e fichas técnicas elaborados
margem na largura do tecido que apenas no final da etapa, quando o modelo
possibilitasse a ampliação para o tamanho e encaixe estão definidos, embora seja
G. Embora essa margem venha a ser um necessário registrar ao longo do processo
resíduo do corte, deve-se considerar que as as modelagens e alterações realizadas, de
modelagens zero waste propostas no modo a permitir sua reprodução.
presente trabalho geram um mínimo de
resíduo entre os encontros dos moldes e que
essas margens geradas pelos tamanhos M e
P, que apresentam largura mais estreita em
relação à largura do tecido, são resíduos de
tamanho uniforme (retangular) e de grandes
dimensões, e por isso torna-se mais fácil
separá-los, classificá-los e reaproveitá-los em
novos produtos ou mesmo no corte de
outras peças, o que não ocorre com os
resíduos de modelagens convencionais, que
são gerados em grande quantidade e
apresentam formato muito irregular de

GESTÃO DE MODA | | 24
RESULTADOS

Para a aplicação do processo, foi


desenvolvida uma pequena coleção cuja
taxa média de desperdício foi de 9,26%,
representando redução de 15% com relação
à taxa de desperdício da empresa. Embora a
coleção seja constituída por 19 peças, aqui
são apresentados apenas dois modelos,
escolhidos por apresentarem maior taxa de DISCUSSÃO
redução do desperdício: um top de cirré -
tecido com lycra e acabamento acetinado - Para Roberts (2011), o debate sobre a
e uma regata de meia malha. Na imagem importância do design zero waste consiste
referente a cada peça (figuras 5 e 6) em pertinente discussão por permitir ao
podem-se observar: modelagem e plano de designer mais reflexão durante o processo
encaixe; desenho técnico; fotos do protótipo; de criação e desenvolvimento de produto,
dados relacionados ao tecido e sua largura; uma vez que se trata de processo de design
desperdício no encaixe (mostrado em cinza drasticamente diferente; como apontado
nos moldes), no corte (soma do desperdício por Ericson (2012), implica mudança
no encaixe com o desperdício das margens completa de paradigma. Desse modo, sua
de segurança e graduação), desperdício implementação na indústria exige
médio para cada peça de vestuário no principalmente mudar o pensamento sobre
processo convencional (dados obtidos na design e produção.
empresa durante o período de diagnóstico)
e redução na taxa de desperdício obtida por De acordo com McQuillan, Rissanen e
meio da utilização do processo de design Roberts (2013), se por um lado há grande
zero waste. separação hoje entre design e produção, o
design zero waste intencionalmente une os
processos de design, modelagem e
confecção, enquanto explora estéticas,
procedimentos e olhares alternativos. Essa é
a principal diferença do processo de design
zero waste. Conquanto não sejam
necessários investimentos em equipamentos
ou novas tecnologias, e não seja alterado o
GESTÃO DE MODA | | 25
processo de confecção/costura em si, é econômica e de tempo retira o espaço
preciso mudar drasticamente a maneira disponível para a moda e processos
como designers e modelistas trabalham. produtivos verdadeiramente inovadores.
Deve-se investir em conscientização dos
colaboradores, formação e treinamento de Soluções inovadoras, portanto,
equipes interdisciplinares e desenvolvimento desenvolvem-se à margem da indústria: o
de métodos próprios de design zero waste design zero waste tem sido estudado e
adequados à realidade de cada empresa. aplicado sobretudo por acadêmicos de
universidades como a Parsons, nos Estados
Devido a essa necessidade de mudança, Unidos, e a Massey University, da Nova
embora as ideias do design zero waste Zelândia. Apenas alguns designers ao redor
tenham começado a penetrar no do mundo, como Mark Liu e David Andersen,
mainstream, Rosenbloom (2010) relata que incorporaram em algumas coleções técnicas
suas técnicas ainda não progrediram com do processo de design zero waste, e “o Brasil
grandes fabricantes ao redor do mundo, ainda não possui designers de referência
pois mesmo quando se interessam pela nesse segmento” (Ribeiro & Barcelos, 2012).
abordagem, consideram difícil o
comprometimento com o processo de Não obstante as dificuldades encontradas
design zero waste. Por isso, Collins (2010 apud para sua implementação na indústria de
Rosenbloom, 2010) ressalta que designers larga escala, o processo de design zero
zero waste têm se esforçado para provar às waste permite reduzir consideravelmente o
grandes companhias que é possível desperdício de tecido – como os resultados
implementar tal processo na indústria e do presente trabalho atestam. E conforme
obter lucro com ele. designer e modelista aprimoram métodos,
técnicas e o próprio raciocínio zero waste, a
A mudança, no entanto, não é considerada prática torna-se cada vez mais natural e
difícil apenas pela indústria. Para os possibilita maiores avanços estéticos em
designers, o processo zero waste exige sintonia com a redução do desperdício.
aprender a projetar novamente, como Desse modo, além de conferir à marca
apontado por Rissanen (2010 apud diferencial competitivo por minimizar
Rosenbloom, 2010): no início, cometem-se impactos ambientais decorrentes de seu
muitos erros e é preciso aprender com os processo produtivo e promover economia de
eles até que o processo de design zero waste recursos e insumos ao trabalhar com
incorpore-se ao processo criativo. Como a prevenção do desperdício, o processo de
P+L, trata-se de um processo de melhoria design zero waste proporciona também
contínua. inovação na modelagem e estética do
produto, que se torna mais atrativo para o
Isso se relaciona a outro entrave para a consumidor.
aceitação do processo de design zero waste,
como apontado por Copenhagen (2012): o CONSIDERAÇÕES FINAIS
fato de adotar a incerteza e incentivar a
tomada de riscos no processo de design. A aplicação do processo de design zero
Embora permita o surgimento de soluções waste aqui demonstrado teve como intuito
de design inesperadas, o que o autor compreendê-lo e possibilitar comparação
considera como vantagem criativa, com o processo convencional de
Mcquillan, Rissanen e Roberts (2013) afirmam desenvolvimento de produtos de moda.
que para a maioria das empresas faz pouco Embora as peças ainda não tenham sido
sentido investir tempo (e, portanto, recursos produzidas pela empresa estudada, o
financeiros) no desenvolvimento de um desenvolvimento de produtos voltados para
projeto se o resultado dos próprios produtos situação real permitiu mostrar a
não é conhecido. Segundo os autores, a possibilidade de aplicação do processo zero
indústria de moda tradicionalmente waste sem comprometer a identidade dos
minimiza o risco, motivo pelo qual se limita a produtos da empresa.
repetir e copiar estilos existentes,
ressaltando que a elevada pressão Como pode ser observado, no processo de
design zero waste são mantidos alguns dos
GESTÃO DE MODA | | 26
pontos cruciais do desenvolvimento de Considerando que, segundo o Manual de
produtos de moda apontados por Oslo, muitas inovações podem ter
Montemezzo (2003 apud Cardoso & características que aparecem em mais de
Demarchi, 2012) como decodificação de um tipo de inovação, entende-se o processo
tendências socioculturais em códigos de de design zero waste como eco inovação
linguagem que se relacionem com o radical de processo caracterizada pela
universo do consumidor e que ao mesmo introdução de novo processo de criação e
tempo confiram conforto aos produtos modelagem que, por possibilitar o uso de
desenvolvidos, traduzidos pela usabilidade novos métodos organizacionais, como o
proporcionada e também percebida trabalho em equipe interdisciplinar para o
(Martins, 2005). No entanto, embora permita desenvolvimento de produtos, pode também
flexibilidade no tratamento de metodologias ser considerado inovação organizacional em
de projeto, o processo zero waste não determinado contexto.
apresenta a mesma agilidade do processo
convencional, caracterizado pelo dinamismo Para implementação de novos processos
e velocidade. Não obstante, o processo como o design zero waste na indústria,
mostrou-se altamente eficaz na redução do contudo, ainda é preciso desenvolver
desperdício e na criação de produtos com trabalhos relacionados à necessidade de
conteúdo de moda agregado e estética mudança de pensamento sobre design e
atraente. produção de moda, conscientização dos
colaboradores da empresa e treinamento
Quanto aos aspectos ergonômicos, dos envolvidos com as etapas de design e
ressalta-se a possibilidade de introduzir no modelagem. Designers zero waste, inclusive,
processo de design zero waste a têm trabalhado para desenvolver novas
metodologia OIKOS, proposta por Martins técnicas aplicáveis à indústria e ampliar o
(2008, p. 2815) para integrar ergonomia, ensino do design zero waste na
conforto e usabilidade “como variáveis para universidade. McQuillan, em entrevista
desenvolvimento de produtos de moda e concedida a Jack (2012), vislumbra que o
vestuário numa perspectiva sustentável”. processo de design zero waste seja
Segundo a autora, ao considerar incorporado a um novo cenário de
indicadores ergonômicos de usabilidade e concepção e desenvolvimento de produtos
conforto na etapa de concepção de de moda e vestuário, e que nos próximos
produto, trabalha-se preventivamente, cinco ou dez anos já estará mais presente
evitando inadequações no produto e em coleções de moda - o que pode ser
desperdício de material - o que permite conseguido com parcerias entre empresas e
aproximação ao processo de design zero universidades, ampliando sua aplicação na
waste. Desse modo, podem-se fazer indústria de confecção de produtos de
alterações no projeto antes que os produtos moda.
passem pela etapa de confecção,
garantindo redução de custos e insumos. Embora a temática dos resíduos no setor de
Embora seja necessário estudar mais confecção de moda e vestuário tenha sido
profundamente a relação entre a abordada em diversos trabalhos, o foco
metodologia OIKOS e o processo de design usualmente é dado em estratégias de
zero waste, considera-se importante reutilização. Poucos tratam da prevenção e,
ressaltar a relevância dessa aproximação quando o fazem, dificilmente abordam a
para o aperfeiçoamento de produtos zero necessidade de modificação no processo de
waste quanto à qualidade e "versatilidade" design para, de fato, prevenir a geração de
das peças confeccionadas, principalmente resíduos. Neste sentido, o Projeto Ecotêxtil,
porque a evolução do processo de design do qual a presente pesquisa é um
zero waste pode implicar em modificações desdobramento, tem trabalhado há alguns
na modelagem para permitir maior anos com prevenção de resíduos para o
aproveitamento do tecido, e é essencial que setor de confecção por meio de aplicação
essas alterações não comprometam o de metodologias desenvolvidas a partir da
conforto e usabilidade dos produtos. demanda de empresas parceiras no projeto.
Trabalho em constante construção, os

GESTÃO DE MODA | | 27
resultados têm se desdobrado na inovação sustentável deve também incluir profundo
em processos e publicação de artigos conhecimento dos valores culturais e dos
científicos sobre o tema. sistemas de gerenciamento dos recursos
naturais que, no passado, se mostraram
★ Livro: Gestão de Qualidade, Produção e Operações efetivos.

1.3 PRODUÇÃO LIMPA Somos todos responsáveis pelo que está


ocorrendo ao nosso redor. Não cabe mais
Se a qualidade, que antes era um atribuir essa atitude apenas aos
importante diferencial das empresas, governantes ou às empresas ou
passou a ser vista hoje como uma organizações. Nós somos, em última
obrigação, outra questão se impõe nos dias instância, o governo, nós os elegemos, nós
atuais: não adianta ter lucro, há de ser os colocamos onde eles estão. Da mesma
responsável. forma, nós somos as empresas e as
organizações; quando lá desenvolvemos
Não se entende mais que o desenvolvimento nossas atividades, ditamos regras,
econômico seja conseguido à custa da estabelecemos metas e limites de lucro e
qualidade de vida e da destruição da Terra. produtividade, e, portanto, a nós cabe a
É possível conciliar os interesses do responsabilidade pelos impactos de nossas
crescimento econômico com a justiça social, ações e decisões.
a prudência ecológica e a ética profissional;
hoje, esse conceito está sintetizado no Precisamos entender e perceber que, se
desenvolvimento sustentável, por um lado, e cada um tomar, diariamente, apenas uma
na produção limpa (ou produção verde), por única atitude com responsabilidade social,
outro. estará contribuindo para um futuro melhor.
Que temos o poder de sermos agentes
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e transmissores de modificações e que nossas
Desenvolvimento define o desenvolvimento ações têm efeito geométrico, quando outros
sustentável como um processo dinâmico, nos observam e nos imitam naquilo que
destinado a satisfazer as necessidades fazemos.
atuais sem comprometer as necessidades
das gerações futuras. Isso requer que as Qualquer sistema de produção exige
sociedades satisfaçam as necessidades recursos: materiais, a partir dos quais os
humanas aumentando o potencial de produtos ou serviços são feitos; energia,
produção e assegurando oportunidades usada para transportar, processar, modificar
econômicas, sociais e políticas iguais a esses materiais; bem como água e ar. Os
todos. atuais sistemas de produção são
denominados lineares, ou cradle-to-grave
O desenvolvimento sustentável não pode (literalmente, “do berço ao túmulo”), e com
colocar em risco a atmosfera, a água, o solo, frequência usam substâncias nocivas e
os ecossistemas que mantêm a vida na recursos finitos em grandes quantidades e
Terra. É um processo de mudança que em ritmo acelerado (veja a Figura 1.12).
envolve o uso de recursos, os programas
econômicos, o desenvolvimento tecnológico, O cerne da produção limpa é atender as
o crescimento populacional e as estruturas necessidades de produtos de forma
institucionais, elevando o potencial de sustentável, ou seja, aplicando de maneira
progresso humano atual e futuro. eficiente os materiais, empregando energia
renovável, de forma não nociva,
Para alcançar o desenvolvimento preservando, ao mesmo tempo, o entorno e
sustentável, a sociedade deve empregar a biodiversidade. Isso nos leva a perseguir o
várias medidas econômicas e políticas e equilíbrio entre a competitividade e as
alcançar a perfeita harmonia entre preocupações ambientais. Cada vez mais é
mecanismos de mercado livre e imperioso encontrar métodos de “produção
administração pública e judicial, a fim de limpa”. Portanto, “produção limpa” pode ser
prevenir o uso excessivo ou prejudicial dos definida como a produção ecoeficiente com
recursos naturais. Desenvolvimento os produtores responsáveis pelo projeto,
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definição de matérias-primas, processo CVP) se inicia na fase do projeto do produto
produtivo, consumo, reúso, reparo e e da tecnologia que se usará; depois,
reciclagem até a eliminação final do contempla a seleção do tipo de
produto; essa abordagem também recebe o matéria-prima que será empregada e sua
nome downhill. forma de extração ou de obtenção; a seguir,
trata da fabricação e da forma de
montagem do produto; como será oferecido
ao consumidor, sua embalagem, a
distribuição e a comercialização; considera
também o uso do produto pelo consumidor
e os riscos prováveis advindos desse uso;
finalmente, leva em conta como o usuário
fará para descartar o produto uma vez
usado.

Nessa análise, devem considerar-se quatro


grandes princípios que regem a produção
limpa:

● Prevenir: É mais barato, mais fácil e mais


O termo “produção limpa” nasceu, na eficiente prevenir os eventuais danos
década de 1980, das mãos do Greenpeace.2 ambientais do que tentar controlá-los. A
Ganhou impulso com o programa Cleaner prevenção se inicia no projeto do
production, patrocinado pelo Programa das produto, em vez de tentar solucionar
Nações Unidas para o Meio Ambiente problemas oriundos de seu uso. A
(PNUMA, 2016), que contou com a prevenção substitui, portanto, o controle.
participação da Organização das Nações Práticas eficientes do uso da energia
Unidas para o Desenvolvimento Industrial substitua a atual ênfase exagerada no
(ONUDI, 2016). Essas iniciativas tomaram desenvolvimento de novas fontes de
impulso acentuado com a adesão de energia a partir de combustíveis fósseis
diversos países ao redor do mundo e o (uma das primeiras medidas
surgimento de programas especiais bem-sucedidas no que tange às
patrocinados por esses países. tentativas de combate à poluição dos
veículos a motor foi o uso de
A produção limpa não se preocupa apenas combustíveis sem chumbo). Chamo sua
com os resíduos ou os procedimentos atenção para o fato de que a prevenção
adotados na linha de produção, mas envolve não está atrelada a leis ou regulamentos,
aspectos jurídicos, políticos e sociais, mas expressa a decisão da empresa de
estabelecendo uma relação mais contribuir com o ambiente porque
abrangente entre o sistema de produção e o entendeu sua parcela de
ambiente. responsabilidade pública perante o que
ocorre na sociedade.
É por isso que um sistema de produção
limpa é circular e emprega menor ● Precaver: quem deve provar que uma
quantidade de materiais, menos água e substância não é tóxica ou nociva e nem
energia, pois os recursos fluem entre o ciclo causará danos ambientais é o produtor,
de produção e consumo em ritmo mais lento. não a sociedade. Este princípio rejeita o
A primeira coisa, portanto, que a produção uso apenas da avaliação quantitativa do
limpa vai se preocupar é verificar se o risco na tomada de decisão da
produto é realmente necessário. Isso é feito produção, pois reconhece a limitação do
pela análise do ciclo de vida do produto (vou conhecimento científico para determinar
tratá-lo como ACVP para simplificar). se a aplicação de uma substância
química ou de uma atividade industrial é
1.3.1 Ciclo de vida do produto (CVP) procedente. Isso não quer dizer que se
excluam os avanços científicos, mas
O ciclo de vida do produto (ou simplesmente
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reconhece que a produção industrial sistema em estudo.
tem impactos sociais e que todos os ● Avaliar o impacto ambiental relativo às
profissionais com poder decisório devem entradas e às saídas de materiais e
ser envolvidos nas questões energia; avaliar comparativamente os
(combustíveis fósseis são finitos e processos e produtos, no esquema
exaurem os recursos naturais “antes e depois”; avaliar os impactos
disponíveis, devemos incrementar o uso causados por emissões detectadas ao
de energias alternativas, como a solar e consumo dos recursos naturais, ao
a eólica). impacto ambiental; se estamos
promovendo a análise comparativa entre
● Democratizar: produzir de forma limpa dois produtos, é neste momento que
deve envolver todas as pessoas afetadas ficamos sabendo qual dos produtos
pelas atividades industriais, como seria ambientalmente mais
trabalhadores, consumidores e recomendável e por quê.
comunidades. O acesso às informações
e o envolvimento de todos nas decisões No entanto, a filosofia da produção limpa
asseguram o controle democrático. No não é algo que se torne realidade de um dia
mínimo, as comunidades devem ter para outro. A estratégia cabe na forma como
informações sobre emissões industriais e escalamos nosso percurso entre a produção
ter acesso a registros de poluição, tradicional e a produção limpa. A produção
planos de redução de uso de limpa deve ser vista pelas empresas tanto
substâncias tóxicas, bem como aos como estratégia, como processo e objetivo
dados sobre os ingredientes dos organizacional. O ponto inicial desse
produtos (fertilizantes e pesticidas enfoque é mudar o processo produtivo. Isso
devem ser usados com critério a fim de envolve melhorar o sistema de manutenção,
preservar a qualidade dos alimentos eliminando vazamentos, perdas,
consumidos pela população). derramamentos. A seguir, reduzir o uso de
substâncias tóxicas e incluir a reciclagem
● Integrar: a gestão ambiental é para reaproveitamento das águas servidas e
fragmentada, o que permite que os energia térmica aproveitável. Esses passos
poluentes sejam transferidos entre o ar, a iniciais podem ser praticados sem custos e,
água e o solo. Quando centramos a quando necessário, o investimento é baixo
redução das emissões de poluentes na quando comparado à economia que
produção, estamos transferindo o risco proporciona.
para o produto. Esse risco será
minimizado tratando-se corretamente Para se efetuar a ACVP, inicia-se elaborando
todos os fluxos de materiais, água e um diagrama do fluxo de construção do
energia, o ciclo de vida útil completo do produto, onde se especifiquem todos os
produto e o impacto econômico da fluxos de materiais e a energia que entram e
passagem para a produção limpa. saem do sistema. O diagrama da Figura 1.13
apresenta os principais estágios do CVP.
1.3.2 Análise do ciclo de vida do produto
● Aquisição da matéria-prima: o primeiro
A ACVP é um trabalho sério, complexo e momento (1) é a aquisição de
detalhado, que considera muitas variáveis, matéria-prima, que provoca, para sua
entidades, áreas e responsáveis. A título de obtenção, a extração de recursos
sugestão, deve-se começar com os seguintes naturais, como, por exemplo, cortar
passos: árvores ou extrair petróleo, dependendo
do produto; esse recurso é processado
● Definir claramente os objetivos, limites para se obter os materiais ou peças
do estudo, unidade envolvida e necessárias, como papel ou plástico.
responsável.
● Realizar o levantamento criterioso e ● Produção do produto: as empresas
cuidadoso de todas as entradas e saídas adquirem esses materiais (2) e os
de materiais e energia relevantes para o transformam em produtos como

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cadernos, um brinquedo de plástico ou transformação dessas matérias-primas
de metal, durante o processo de em produtos controlados pelas
produção do produto. indústrias. O terceiro estágio,
embalagem e expedição, é controlado
geralmente pelo fabricante, embora
produtos mais sofisticados possam
necessitar de uma rede de fornecedores
e empreiteiros. O quarto estágio, o da
utilização pelo consumidor, é
influenciado pelo projeto do produto e
pelo grau de interação contínua do
fabricante. No quinto estágio, um
produto já obsoleto ou defeituoso é
descartado ou consertado. Esse último
estágio, que usualmente não é
considerado pelo fabricante, o será no
futuro em virtude da expansão das
atividades envolvendo leasing e
devolução ao fabricante. O segundo e o
● Entrega do produto: uma vez pronto o terceiro estágios são vistos como
produto, ele precisa receber (3) seu aqueles onde há maior responsabilidade
embase e embalagem para ser oferecido ambiental da indústria, mas a visão
ao mercado; além disso, o produto deve crescente dentro e fora das empresas é a
ser transportado da fábrica ao ponto de de que um produto ambientalmente
venda para que esteja à disposição do responsável minimize seus impactos
consumidor; tanto o transporte como a ambientais nos cinco estágios.
distribuição do produto podem ou não
ser de responsabilidade do fabricante.

● Uso do produto: o cliente/usuário que


adquire o produto usa-o (4) durante
determinado período de tempo, maior
ou menor, dependendo da vida útil que
foi estipulada quando do projeto do
produto.

● Descarte ou reciclagem do produto:


eventualmente, (5) o produto pode
requerer consertos por estragos,
quebras de peça, defeitos em partes ou
no funcionamento, o que gerará trocas e
sucata, para finalmente ser descartado,
jogado fora ou reciclado.
Com essas informações em mãos, realiza-se
um criterioso levantamento para detectar as
● Avaliação do produto: a avaliação do
emissões que ocorrem durante o ciclo e a
produto é efetuada percorrendo
quantidade de energia e matérias-primas
detalhadamente os cinco estágios do
utilizadas. Consiste, basicamente, em um
ciclo de vida do produto, conforme
balanço de massa e energia em que todos
aparecem na Figura 1.13. O primeiro
os fluxos de entrada devem corresponder a
estágio, extração de recursos naturais,
um fluxo de saída quantificada como
via de regra, é realizado pelos
produto, resíduo ou emissão. A elaboração
fornecedores, que desenvolvem a
desse levantamento proporciona o
extração e a produção das
conhecimento detalhado do processo de
matérias-primas e/ou dos componentes.
produção. A partir daí, podem-se identificar
O segundo estágio trata da
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os pontos nos quais ocorre a produção de que estabelecem escalas de dano para as
resíduos e sua destinação, às quantidades substâncias. Nesse tipo de abordagem,
de material que circulam no sistema e as estabelece-se o risco relativo com base na
que saem do sistema, determinar a poluição classificação dos impactos ambientais
associada a uma unidade do sistema e estabelecida, por exemplo, pela NBR ISO
identificar pontos críticos de desperdício de 14040 (Seção 3.6).
matéria-prima ou de produção de resíduos.
Outra forma de avaliação é desenvolvida
Esse levantamento permite a tomada de tomando como base os estágios do ciclo de
decisões sobre os investimentos necessários vida do produto, citados antes, e
em determinadas partes do processo e a montando-se uma matriz de relacionamento
análise técnica para escolher a solução mais do tipo 5 × 5, com uma coluna para os
adequada para os problemas detectados estágios de vida e uma linha para os
(reciclagem, reutilização, mudança total no aspectos ambientais considerados. Uma vez
processo ou em algumas partes). construída a matriz, ponderam-se as
relações de acordo com o recurso aplicado
Os resultados desse levantamento são (primeiro dígito) e o material escolhido
apresentados elaborando-se tabelas (segundo dígito), em uma gradação de 0
auxiliares para a realização da próxima fase, (zero identifica o mais alto impacto, o que
a avaliação do impacto. As quantidades de indica uma avaliação negativa) até 5 (cinco
material e energia de cada ciclo da tabela identifica o mais baixo impacto, o que indica
são provenientes do levantamento uma avaliação positiva e adequada). A
detalhado de cada etapa que compõem o Tabela 1.1 apresenta um exemplo; os valores
ciclo. são apenas ilustrativos e não se referem a
um produto em especial.
● Avaliação do impacto ambiental: de
posse do levantamento elaborado na O mais complexo de tudo é estabelecer os
etapa anterior, devemos medir o impacto parâmetros de impactos e de adequação
do ciclo de vida do produto, a magnitude ponderados e os valores considerados no
e importância dos impactos ambientais preenchimento da matriz. Como auxílio,
que serão provocados. O objetivo mais podem ser propostas algumas questões,
importante é reduzir e até eliminar por como, por exemplo:
completo a magnitude da poluição
causada por determinado produto. A O projeto do produto minimiza o uso de
conservação de matérias-primas não matéria-prima?
renováveis, como as fontes de energia,
pode ser também objeto de avaliação, ● O projeto do produto usa o máximo
bem como a conservação de sistemas possível de material reciclado?
ecológicos em áreas sujeitas a ● A matéria-prima escolhida é a mais
desequilíbrios de suprimentos, tais como adequada ambientalmente?
regiões onde a água é escassa. A ● Os materiais usados são os menos
produção de resíduos representa perda tóxicos?
de reservas e resulta em degradação do ● Avaliação do processo: quando
ambiente. avaliamos apenas um processo também
podemos usar a mesma matriz da Tabela
O impacto é avaliado por meio da utilização 1.1, porém substituindo os estágios do
de fatores de impacto e fatores de peso, mas ciclo de vida do produto pelos do ciclo
esta aproximação gera controvérsias por de execução do processo, por exemplo:
não considerar as condições locais onde obtenção, montagem, operação,
ocorre a emissão. Essas condições não verificação, teste, remanufatura,
podem ser incorporadas ao resultado da transporte, reciclagem e descarte.
avaliação do impacto, que, apesar da
análise extremamente detalhada, deve ser,
então, tomada somente em termos
genéricos. Por esse motivo, muitos estudos Qualquer processo que se inicia pela
de ACVP limitam-se a avaliações qualitativas obtenção dos recursos necessários
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(materiais e energia), é o que denominei para
o caso de obtenção. Elas são necessárias
para a elaboração do processo. Deve-se
preferir, sempre que possível, usar materiais
reciclados em substituição aos materiais
virgens, assim evitamos a destruição ● Evita-se ao máximo o uso de material
ambiental provocada pela extração de tóxico?
materiais virgens; consomem menos energia ● Evita-se ao máximo o uso de material
durante o processo de reciclagem do que radioativo?
em sua extração de origem; e evitam a ● Evita-se o uso de grandes quantidades
construção de locais de descarte e lixo. Além de energia (força, luz)?
disso, considere que a reciclagem produz ● Usa-se o tipo de solvente ou óleo menos
menos resíduos (tanto sólidos, quanto tóxico e agressivo?
líquidos e gasosos) do que a extração ● Vende-se os resíduos que produzimos?
virgem. ● Usa-se líquidos reciclados?

A montagem e a operação são as atividades Essas são apenas algumas sugestões,


necessárias para transformar as entradas acrescente aquelas que você julgar
recebidas nas saídas desejadas. Quando convenientes para que espelham, da forma
analisamos um processo, nos preocupamos mais fiel possível, sua realidade e a da
com que ele seja ambientalmente adequado empresa. Não desanime se as coisas se
quando estiver em operação. Portanto, complicarem, não é fácil tratar essas
sempre buscamos a minimização do uso: de questões e ao mesmo tempo produzir
materiais tóxicos, de energia, de geração de informações fidedignas que sejam úteis e
resíduos (sólidos, líquidos e gasosos, e eficientes. Em qualquer caso, sempre que
quando gerados que sejam reaproveitados elaborar mapas, quadros, tabelas ou
internamente). qualquer outro instrumento que seja usado
para o acompanhamento da produção
Cuidado especial deve ser tomado com os limpa, tenha sempre em mente que o
processos secundários; como normalmente instrumento usado deve: permitir que se
não agregam valor ao produto final façam comparações entre produtos; ser
oferecido ao mercado, acabam esquecidos e simples, fácil de entender e rápido de fazer;
relegados a segundo plano, apesar de ser passível de ser usado por diversas
também serem responsáveis por tudo que pessoas independentemente da formação; e
foi dito até agora. Nesse caso em especial, considerar sempre os objetivos
devemos verificar se não é viável a revenda estabelecidos para a produção limpa de que
ou reutilização de subprodutos, partes e trata.
peças semimanufaturadas.
1.3.3 Processo de adoção da produção limpa
Da mesma forma, considere nessa análise de
processo todas as máquinas, equipamentos, Quando uma empresa decide adotar a
ferramentas usadas, pois elas sofrem produção limpa, não pode tomar essa
depreciação e caem na obsolescência, o que decisão sem um plano de atuação criterioso
gera, também, sucata que pode ser e detalhado; nesse caso, a palavra de ordem
reaproveitada. e o segredo para o sucesso e a redução de
custos é: planejamento.
Não é simples estabelecer os parâmetros
para ponderação dessas variáveis O processo de adoção compreende “apenas”
mencionadas nos parágrafos anteriores; quatro grandes etapas: planejamento;
vale aqui a mesma sugestão de antes: faça diagnóstico; estudo de viabilidade;
perguntas que detalham e descrevam o que acompanhamento. A seguir, alguns
é feito; algumas sugestões para essas comentários a respeito de cada uma dessas
questões são: etapas.

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● Planejamento: a etapa de planejamento (envolvendo o consumo, pós-consumo e
visa promover a sensibilização, a descarte).
participação e a colaboração e
envolvimento do alto escalão da empresa;
envolver a direção da empresa é o
primeiro passo para o sucesso do
empreendimento de produção limpa; uma
vez envolvida a alta administração,
deve-se formar (e treinar, se necessário
for) a equipe de trabalho que
efetivamente levará a cabo os estudos de
eco sustentabilidade para a empresa;
essa equipe será responsável,
principalmente, por estabelecer as
ameaças e oportunidades do
empreendimento, as barreiras, as
necessidades e, finalmente, a definição do
que exatamente será alvo do trabalho de
produção limpa, ou seja, a definição do No Brasil, são diversas as entidades e
escopo do projeto, definindo setores, órgãos governamentais envolvidos
áreas ou produtos que serão atualmente com a questão da produção
contemplados no processo de produção limpa e a sustentabilidade. As mais
limpa. significativas aparecem no Quadro 1.1.

● Viabilidade: nesta etapa, a equipe


desenvolve o estudo de viabilidade
técnica, econômica e ambiental
determinando e definindo oportunidades
de melhorias; a partir desse momento,
pode iniciar-se a implementação das
medidas monitoradas e acompanhadas
passo a passo.

● Acompanhamento: o processo não


termina com a adoção das medidas
sustentáveis, mas deve prosseguir
continuamente, desenvolvendo e
proporcionando feedback constante dos
resultados obtidos, que devem servir de
base para novas melhorias e novos
planejamentos.

O governo federal brasileiro adotou o


conceito de Produção e Consumo
Sustentável, o que significa incluir ao longo
do ciclo de vida de bens (produtos e/ou
serviços) as melhores alternativas possíveis
para reduzir os custos tanto ambientais
quanto sociais. Naturalmente, a abordagem
preventiva incrementa a competitividade
das empresas e reduz os eventuais riscos à
saúde humana e aos impactos ambientais.
Isso quer dizer que o foco se amplia e não se
concentra apenas na produção, mas envolve
tudo que ocorre antes e depois dela
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