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GESTÃO DE MODA | | 13
entrevistados, atrapalha o processo criativo Moda da Universidade Estadual de Maringá
porque limita a criação, tira o produto do foco ocorreu dentro da própria universidade, no
que o designer estava seguindo e também campus de Cianorte. Essa entrevista foi
porque o produto ficará somente ao gosto do importante para obter informações sobre o
empresário, “que algumas vezes não é curso e para um melhor entendimento do
comercial”. Mas outros entrevistados acham relacionamento da universidade com as
essa intervenção positiva porque acreditam indústrias e também como anda o
que ela pode contribuir para que o produto desempenho dos egressos do curso.
fique nos padrões da empresa e para que os
custos de produção fiquem de acordo com o O coordenador do curso de Moda está há três
estipulado pelo empresário. anos na universidade como professor auxiliar e
há dois como coordenador do curso. Indagado
Em alguns casos, os designers são obrigados a sobre os alunos que se formaram, ele tem
desenvolver produtos que estão fora de linha, conhecimento que a maioria foi empregada
porque ainda existe demanda para eles. pelas empresas de médio porte de Cianorte
Nesses casos, o designer faz pequenas para atividades diversas, como
modificações no produto para deixá-lo mais desenvolvimento de produtos, vitrinista,
atual, mas a plataforma continua a mesma. colunista de moda e design de estampas,
Perguntado aos designers se utilizavam algum entre outros.
software para auxiliar no processo de
desenvolvimento de produtos, a maioria Dos alunos que ainda estão na universidade e
respondeu que utilizem o Corel Draw e o que estão estagiando (3o e 4o anos), a maioria
Photoshop; alguns utilizam, além dos está trabalhando em atividades correlatas à
anteriores, o Audaces, o Illustrator, o Excel e o indústria de confecção. O curso possui
Investrônica. A maioria dos profissionais disciplinas de desenvolvimento de produtos
entrevistados acredita que os softwares no 3o e 4o anos, e o perfil do curso é o
utilizados são sufi cientes para o desenvolvimento de produtos e modelagem.
desenvolvimento de produtos. Porém, aqueles O objetivo é fornecer ao aluno uma formação
que responderam que existem outros focada no desenvolvimento de produtos e
softwares que facilitam muito o trabalho não modelagem plana e informatizada para que
especificaram quais seriam. esse profissional domine as técnicas de
pesquisa em moda, criação para o vestuário e
O designer de moda trabalha com outros que possa ter a capacidade de trabalhar nas
profissionais/departamentos da empresa e indústrias, principalmente durante o dia a dia
acredita que deve haver colaboração entre no chão de fábrica.
todos. Os profissionais citados na entrevista
que se relacionam com o designer são Quanto ao relacionamento da universidade
modelista, gerente de produção, marketing, com os empresários da cidade, ele disse que é
vendas, cortador, pilotista, chefe de pilotagem, bom e que os empresários sempre estão em
encarregado da lavanderia, encarregado do contato, buscando estagiários ou empregados.
acabamento, chefe do almoxarifado, designer Eles entram em contato de várias formas, por
de criação, designer de moda, estilistas, meio de telefone, e-mail e orkut do
criadores de estampa, liberação e todos os coordenador. Segundo o coordenador, existe
profissionais ligados ao desenvolvimento do cooperação entre ambos, havendo
projeto. A atualização é feita por meio de contribuições para a semana de moda da
cursos, palestras, leituras, congressos, revistas, universidade. Isso é bastante perceptível
internet e cinema. Para ocorrer essa porque sempre que solicitam alguma doação
atualização, a maioria participa de mais de aos empresários, estes últimos ajudam de
cinco eventos por ano. alguma forma.
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de solicitação ou sugestão para a melhoria do a falta de professores efetivos. O curso de
currículo do curso de moda. Isso ocorre porque Moda possui somente quatro professores
os empresários não conhecem ou entendem o efetivos. Dos quatro professores efetivos,
curso de moda, mas nos dois últimos anos isso somente um possui mestrado, dois são
especialistas e um possui somente a
está melhorando. Dos 53 alunos formados pela
graduação. Também sobre os quatro
universidade, 34 estão nas indústrias de
professores efetivos, dois possuem formação
Cianorte ou em áreas afins. Quanto à mudança em Moda e dois em Engenharia Têxtil.
de mentalidade dos empresários, ele acredita
que eles estão mais conscientes da ➔ Disciplinas Analisadas
necessidade de empregar um designer, e isso
é refletido nas feiras de atacado da cidade, nas Neste capítulo, pretendeu-se estudar somente
quais se percebem as vitrines mais elaboradas as disciplinas que estão envolvidas
devido à inserção desse profissional. diretamente com o desenvolvimento de
produtos. Portanto, após análise do projeto
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A pedagógico do curso de Moda, foram
ACADEMIA E AS DEMANDAS DO POLO escolhidas as disciplinas Desenvolvimento de
Produtos I e II.
O curso de Moda da UEM foi criado em 2002
com o objetivo de formar mão de obra ➔ Desenvolvimento de Produtos I e II
qualificada para a cidade, agregar maior
valor ao produto industrializado e tornar a As disciplinas de Desenvolvimento de Produto
região uma geradora de moda. O projeto I e II estão localizadas no 3o e 4o anos,
pedagógico do curso apresenta algumas
respectivamente, e cada uma possui 102 h/a,
falhas em função de seu processo de
sendo ambas disciplinas anuais. Percebe-se no
criação, visto que o Centro de Tecnologia da
programa da disciplina Desenvolvimento de
UEM possuía no início do ano de 2000 cinco
cursos de graduação e iniciou o ano de 2002 Produtos I que este não oferece o ensino de
com quinze cursos em várias áreas, tais metodologias de desenvolvimento de
como Design, Arquitetura e Engenharia produtos. Ela dá uma noção de empresa,
Mecânica. Dessa forma, os projetos possibilita entender os segmentos de
pedagógicos foram feitos em pouco tempo e mercado, administração da empresa e
muitas vezes por pessoas com pouca produto, porém seu conteúdo está
afinidade em relação aos cursos que equivocado, dando a ideia de que ela vai
estavam sendo criados. ensinar as metodologias de desenvolvimento
de produtos, as técnicas e formas de proceder
No momento, o curso possui boas
instalações e concurso vestibular bastante em uma empresa, o que não ocorre nesse
disputado, e em 2007 o curso foi reconhecido caso. A bibliografia também não está correta,
pela Secretaria de Estado da Ciência, principalmente na disciplina Desenvolvimento
Tecnologia e Ensino Superior (Seti). de Produtos II, uma vez que esta não
Atualmente, o curso possui 41 disciplinas, apresenta bibliografia condizente.
totalizando 3.430 horas, com o prazo mínimo
para integralização curricular de quatro O mesmo equívoco é observado na disciplina
anos e máximo de sete anos, e possui regime de Desenvolvimento de Produto II. A ementa
seriado e anual. As disciplinas do curso de foca a disciplina em “pesquisa, planejamento,
Moda estão divididas em quatro séries. acompanhamento de produtos desenvolvidos
para uma coleção do vestuário aplicada ao
Porém, há uma equipe de professores
trabalho de graduação”, fugindo, dessa forma,
organizada para a reestruturação do
projeto pedagógico do curso, já que tal ao que o nome da disciplina sugere. Nesse
reestruturação pretende alterar os caso, aparece de forma bastante tímida um
componentes curriculares do curso. Um dos assunto falando especificamente de produtos,
grandes problemas observados nesse curso mas não sobre metodologias. A falta da
e demais cursos novos dessa universidade é metodologia nas disciplinas de
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Desenvolvimento de Produto I e II pode não tem experiência sufi ciente para a
explicar por que os designers entrevistados realização de tal tarefa); a segunda é a falta de
não compreendiam quando eram indagados capital dos empresários (como o empresário
sobre qual metodologia de desenvolvimento tem pouco capital de giro, ele tem medo de
utilizavam. gastar o pouco que tem em uma experiência
que pode dar errado); a terceira é a falta de
Pode-se perceber, nesse caso, que as pessoas visão empreendedora do empresário, que
que fizeram o programa dessa disciplina não acredita que se os negócios ocorreram bem
possuem formação na área de Moda, o que até o presente momento, uma possível
pode justificar o equívoco do conteúdo. Dessa mudança pode ser prejudicial para a empresa.
maneira, pode-se sugerir uma mudança do
conteúdo dessas disciplinas de forma que elas O que ocorre nesse caso é que a maioria dos
englobam todas as metodologias necessárias empresários desta cidade não possui formação
para o desenvolvimento de produtos de moda. superior, alguns sequer o segundo grau.
Muitos deles saíram do campo ou eram
➔ Entrevista com professores do curso de funcionários das empresas pioneiras e,
Moda da Universidade Estadual de portanto, começaram e administraram suas
Maringá empresas de forma empírica, durante muitos
anos, e são muito resistentes a qualquer tipo
Foram entrevistadas duas professoras que
de mudança. Alguns empresários com visão
ministram as disciplinas de Desenvolvimento
empreendedora já perceberam a necessidade
de Produto I e II e Laboratório de Criação I e II.
de investir em design, propaganda e de terem
Também compareceu à entrevista o
um fluxo de caixa. Por isso, seus produtos já
coordenador do curso. As professoras
são conhecidos em todo o Brasil. Suas vendas
entrevistadas possuem experiência em
ocorrem por representação, fazendo com que
desenvolvimento de produtos, tendo a
os produtos cheguem mais facilmente ao
primeira trabalhado nove anos na indústria de
ponto de venda, não necessitando mais que
confecção, e a segunda possui três anos de
um lojista ou uma sacoleira vá até a cidade
experiência. Ambas lecionam as disciplinas de
para adquiri-los. Dessa forma, percebe-se que
desenvolvimento de produto, sendo que a
as grandes marcas não possuem mais suas
primeira leciona as disciplinas de
lojas na cidade: essas marcas estão presentes
Desenvolvimento de Produto II e Laboratório
em grandes shoppings ou em boutiques
de Criação II, e a segunda, a disciplina de
espalhadas pelo Brasil.
Desenvolvimento de Produto I.
Durante a entrevista, o coordenador do curso
A experiência das professoras com
disse que ele e os demais professores
desenvolvimento de produtos na indústria é
formaram uma comissão para mudança do
muito proveitosa para o aluno. O fato de elas
projeto pedagógico. Nessa mudança, algumas
possuírem a vivência profissional possibilita ao
disciplinas que são divididas em dois anos
professor maior domínio sobre o assunto, e aos
serão suprimidas por um ano, e outras, como
alunos, o melhor entendimento do conteúdo
Desenvolvimento de Produtos I e II, serão
ministrado. Quando questionadas sobre o fato
mudadas do 3o e 4o para 2o e 3o anos,
de os alunos não conseguirem aplicar as
respectivamente.
metodologias de desenvolvimento de
produtos, elas responderam que o A entrevista realizada com os professores do
empresariado local não permite que isso curso de moda possibilitou um melhor
ocorra. entendimento das respostas das pesquisas
aplicadas com os empresários e designers
Isso acontece de várias maneiras: a primeira é
empregados por essas empresas. Pode-se
a falta de confiança no profissional que acaba
perceber que os alunos não aplicam
de sair da universidade (acreditando que ele
metodologias de desenvolvimento de produto
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porque elas não são ensinadas na ★ Artigo: Prevenção do desperdício no setor de
universidade, e se são ensinadas, isso não está vestuário e moda: inovação no processo de design
claro no projeto pedagógico do curso e
também não foi comentado nas entrevistas RESUMO
com os professores. Os empresários somente
O presente artigo parte da problemática da
fazem mudanças de metodologias quando o
geração de resíduos têxteis no setor de
desejam e recebem orientação de profissionais confecção de produtos de moda e vestuário
mais experientes, conhecidos e reconhecidos e do estudo de estratégias de produção
pela sua capacidade. mais limpa apresentando o processo de
design zero waste como alternativa para a
➔ Proposições redução do desperdício têxtil e sua
aplicação como inovação radical de
Com base no conjunto de informações processo comparado com processos
expostas anteriormente, propõe-se neste convencionais de desenvolvimento de
capítulo: produtos de moda. Os resultados são
validados em uma empresa de confecção de
● Divulgar, por meio das associações da produtos de moda e apontam a viabilidade
cidade APL, Asamoda e Sindivest, o da aplicação do estudo proposto desde a
curso de Moda e as contribuições desse criação, desenvolvimento e produção no
profissional nas empresas. Por meio da âmbito do setor de vestuário.
entrevista com o coordenador e
INTRODUÇÃO
professoras de moda e empresários,
pode-se notar que os empresários têm O setor de confecção de produtos de moda
conhecimento do curso, porém não e vestuário no Brasil, considerado o quarto
sabem exatamente qual a contribuição maior parque produtivo mundial, com
que esses profissionais poderão trazer produção anual de 9,8 bilhões peças, é
para sua empresa. responsável por expressivos impactos
ambientais, sendo a gestão do desperdício
● Promover eventos de moda junto a um grande problema atual para a indústria
essas associações. Isso já está do vestuário considerando o excesso de
ocorrendo, porém a universidade resíduos decorrentes de seu processo
produtivo (ABIT, 2011; Morais, Carvalho &
participa timidamente desses eventos.
Broega, 2011; Guimarães & Martins, 2010).
O que ocorre é uma semana de moda
no mês de novembro, em que os alunos Embora a geração de resíduos ocorra em
organizam desfiles mostrando suas todas as etapas de produção do vestuário, a
criações. Nesse evento, alguns exemplo do processo têxtil, destaca-se neste
empresários expõem seus produtos por artigo a etapa de confecção. A questão dos
meio de desfiles de moda. Alguns resíduos têxteis no setor de confecção de
empresários interessados em ver o que produtos de moda e vestuário e, apesar de
os alunos estão criando também não ser recente, tem suscitado diversos
trabalhos e pesquisas; no entanto,
participam do evento.
geralmente concentram-se esforços em
estratégias de reaproveitamento e
● Revisão do currículo do curso de moda, dificilmente se trabalha a prevenção na
observando o ensino de metodologias concepção de produtos. Considerando este
de desenvolvimento de produtos. Nesse cenário, é essencial desenvolver estratégias
caso, sugere-se que seja colocado no que previnam o desperdício já nessa etapa,
programa de uma das disciplinas de o que pode trazer benefícios além da
Desenvolvimento de Produtos um redução do impacto ambiental, como
capítulo específico sobre metodologias aumento da competitividade e conquista de
de desenvolvimento de produtos. novos mercados (SEBRAE, 2004).
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pensar para promover transformação na hoje nem sequer somos capazes de
escala requerida pela sustentabilidade. Essa conceber”. Reforça-se, desse modo, o papel
abordagem é endossada por Lange e da sustentabilidade como agente de
Schenini (2007), para quem a produção mais inovação no setor de confecção de moda e
limpa adota uma nova postura com relação vestuário.
aos processos executados ao refletir como
estes afetam o meio ambiente, modificando Além de ser um fator importante para a
o processo para acabar com o resíduo e sustentabilidade, a inovação é também
agir nas fontes geradoras, minimizando a essencial para a competitividade das
emissão. empresas: segundo o Manual de Oslo (OCDE
e Eurostat, 2005), as empresas ou inovam
Cabe ressaltar, ainda, que embora existam para evitar perder mercado para um
softwares para otimizar o aproveitamento do competidor inovador (comportamento
tecido no encaixe, a sua eficácia é limitada, reativo), ou apresentam comportamento
pois “não são capazes de se adaptar a pró-ativo, inovando para ganhar posições
conceitos completamente novos para estratégicas de mercado. As empresas,
confeccionar roupas e, portanto, podem portanto, devem se antecipar aos
frear o surgimento de inovações concorrentes e iniciar a mudança rumo à
relacionadas à redução de resíduos e à nova sustentabilidade, afinal, embora no Brasil o
estética que estas podem revelar” (Fletcher e conceito de consumo sustentável ainda seja
Grose, 2011, p. 48). Segundo May (2011, p incipiente, a tendência é que a fração de
192-193), “são as pessoas que inovam – não as consumidores conscientes aumente no curto
máquinas, os computadores, os processos, prazo (Ghachache, 2010).
mas as pessoas”. Portanto, não obstante a
tecnologia possa “proporcionar novas Neste sentido, a maior parte da inovação
ferramentas, […] são a criatividade do sustentável na indústria de moda tem como
designer e sua capacidade de dar grandes ponto de partida a substituição de
saltos de imaginação que podem materiais, medida de caráter paliativo que
transformar não só o modo como fazemos se encaixa “sem esforço em práticas de
as coisas, mas também o modo como trabalho consagradas […], sem demandar
pensamos” (Fletcher e Grose, 2011, p. 48). abalos reformadores dos negócios” (Fletcher
e Grose, 2011, p. 13). Constata-se, assim, o
INOVAÇÃO caráter inovador de novas abordagens para
a sustentabilidade na indústria de moda.
As autoras anteriormente citadas (2011, p.11) Este é o caso da prevenção de resíduos no
ressaltam que para uma aproximação à setor de confecção de moda e vestuário por
sustentabilidade é necessária a meio do processo de design zero waste,
transformação da prática do design de abordagem diferente também por
moda, pois “ideais de sustentabilidade considerar a geração de resíduos já na
trazem para a moda […] um modo diferente concepção de produtos, em vez de criar a
de pensar o mundo em que nossos negócios posteriori alternativas de reutilização ou
operam e no qual praticamos design”. reciclagem.
Portanto, se por um lado, como apontam
Goularti Filho e Jenoveva (1997), a indústria Embora o conceito zero waste não seja novo,
de confecção tem se caracterizado pelo pois, conforme apontado por Rissanen e
baixo impacto de inovações técnicas - fato McQuillan (2011), a história do vestuário está
corroborado por McQuillan (2012)3 , para repleta de exemplos de roupas construídas
quem a produção de moda pouco mudou de modo a minimizar o desperdício (como o
nos últimos cem anos - por outro lado, chiton romano e o saree indiano), diversos
Fletcher e Grose (2011, p.9) vislumbram que, autores consideram o processo de design
devido à sustentabilidade, nos próximos zero waste inovador para a indústria de
anos não só o setor de confecção, mas moda – publicações relevantes sobre o tema
“todos os setores da economia [serão] em periódicos e jornais como o The New
povoados por designers informados e York Times surgiram recentemente, em 2010.
autônomos, promotores de inovações que
Para Grose (2011, p.6), o design zero waste
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“abre um novo caminho para a c) Abertura de novos mercados;
sustentabilidade” e contesta os parâmetros
preestabelecidos na indústria por d) Desenvolvimento de novas fontes
questionar a natureza do design e produção provedoras de matérias-primas e outros
de vestuário. A autora ainda ressalta seu insumos;
potencial para inspirar uma nova ordem e
transformar a forma como o design é e) Criação de novas estruturas de mercado
concebido. Jack (2012), por sua vez, afirma em uma indústria.
ser o design zero waste extremamente
Contudo, outra classificação é proposta pelo
inovador no âmbito da moda, consideração
Manual de Oslo, que estabelece diretrizes
reforçada por Copenhagen (2012), para quem
para a interpretação de dados sobre
essa é uma ferramenta para a inovação que
inovação, diferenciando quatro tipos de
permite novas oportunidades de negócio e
inovação:
surgimento, durante o processo, de soluções
de design novas e inesperadas.
a) De produto: introdução de um produto
novo ou significativamente melhorado com
Verifica-se, portanto, ser o processo de
relação a suas características funcionais ou
design zero waste solução inovadora para a
de uso – melhorias em especificações
indústria de moda. Resta esclarecer, ainda,
técnicas, componentes e materiais,
de que tipo de inovação trata-se e quais
facilidade de uso ou outras características
mudanças se inserem no setor de confecção
funcionais que aprimoram seu desempenho;
de moda e vestuário. Para classificar o
processo quanto à inovação, faz-se
b) De processo: implementação de um
necessária uma breve revisão quanto aos
método de produção novo ou
tipos de inovação identificados.
significativamente melhorado;
Segundo Best (2012), há três tipos:
c) De marketing: implementação de um novo
método de marketing com mudanças
a) Incremental: explora formas ou
significativas na concepção do produto ou
tecnologias existentes;
em sua embalagem, no posicionamento do
b) Modular: apesar de significativa, não produto, em sua promoção ou na fixação de
implica transformações radicais; preços. Compreende, também, mudanças
substanciais no design do produto -
c) Radical: rompe com o conhecimento, as mudanças na forma e na aparência que não
capacidades e as tecnologias existentes a alteram as características funcionais ou de
fim de criar algo novo no mundo. uso do produto;
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Londrina (PR), com o objetivo de Por utilizar muitos tecidos que apresentam
diagnosticar o desperdício na empresa e, em sua composição elastano, poliamida ou
por meio da aplicação do processo de poliéster, a empresa dificilmente encontra
design zero waste, desenvolver uma pessoas ou entidades interessadas em
pequena coleção, alinhada com o conceito recolher seus resíduos por não
da marca, que reduza consideravelmente, de apresentarem boa absorção à umidade e
forma preventiva, a geração de resíduos já não se adequarem ao destino geralmente
na etapa de concepção e desenvolvimento dado aos resíduos, como confecção de
dos produtos. tapetes e afins. Desse modo, considerando
que o uso de tecidos tecnológicos é um
Para a realização do diagnóstico de diferencial da marca e não seria possível
desperdício, foram analisadas propostas substituí-los, é essencial encontrar soluções
existentes para a redução de resíduos, o que para prevenir o desperdício, sobretudo
mostrou a necessidade de uma metodologia devido ao grande acúmulo de resíduos
simplificada voltada para a questão dos armazenados na fábrica.
resíduos sólidos em indústrias de confecção
de moda e vestuário, sendo então elaborada Embora a empresa considere baixa uma
metodologia com base no estudo de taxa de desperdício de aproximadamente
propostas similares - sobretudo as do 20% e não considere que os resíduos
SEBRAE (2004), INETI (2007) e Guimarães e representam desperdício, ao se confrontar a
Martins (2010) - e análise da empresa, o que contabilização de seus resíduos com dados
permitiu a proposta de melhorias que do SEBRAE (2004) percebe-se que o
resultaram na metodologia utilizada neste desperdício na empresa é muito alto
trabalho. Embora a metodologia seja quando comparado a outras indústrias de
constituída por três fases – diagnóstico, confecção, como pode ser observado na
análise de oportunidades e tabela 1.
acompanhamento -, será dada especial
atenção ao diagnóstico, cujas etapas
podem ser visualizadas na figura 3.
Antes de iniciar a criação é importante ter Definida a largura a ser utilizada, existe a
em mente o que é apontado por McQuillan possibilidade de dividi-la em módulos,
(2010): o processo de design zero waste projetando encaixes para metade ou um
requer uma mudança no foco - de saber terço do tecido, ou seja, planejando o corte
qual o resultado esperado e como ele pode de duas ou três peças do mesmo modelo
ser alcançado, para refletir enquanto o encaixadas lado a lado. Para o processo de
molde e a peça são projetados, a fim de criação e modelagem, deve-se, então, traçar
atingir objetivos gerais de encaixe e estética, duas linhas paralelas com distância
sendo necessário estar disposto a deixar equivalente à largura do encaixe. No
que estes objetivos se transformem durante desenvolvimento da coleção proposta, foram
o processo. Portanto, deve-se ter utilizados gabaritos com a modelagem
consciência da flexibilidade do processo e plana de base referente a cada peça, sendo
da impossibilidade de impor ao tecido um os moldes dispostos no espaço entre as
modelo preconcebido, visto que a forma linhas que demarcam a largura do tecido,
surge durante o processo e dá lugar a um procurando-se o melhor arranjo e encaixe
resultado muitas vezes surpreendente. entre as partes. Conforme os moldes eram
desligados ao longo do espaço de trabalho,
Isto posto, o primeiro passo para o a forma ia surgindo e guiando a criação,
desenvolvimento é a escolha do tipo de sendo os testes em manequim igualmente
vestuário – vestido, regata ou camiseta, por importantes para a criação, visto que
exemplo – e do tecido, ponto fundamental já revelavam novas possibilidades de aplicação
que o modelo e encaixe projetados para as partes resultantes dos espaços
dependem da medida da largura do tecido negativos da modelagem.
(McQuillan, 2010; Souza & Queiroz, 2010). Para
o desenvolvimento da coleção voltada para Na figura 4, é apresentado o fluxograma do
a empresa estudada, após definida a largura desenvolvimento de produto no processo
do tecido, o encaixe foi projetado zero waste, onde estão destacados em cinza
considerando uma margem de segurança os pontos de início e fim. Como pode ser
para evitar problemas decorrentes de observado, as etapas do processo
defeitos na ourela ou irregularidades na convencional de geração de alternativas,
largura do tecido. Além da margem de modelagem, avaliação e elaboração dão
segurança, para que haja a possibilidade de lugar, no processo zero waste, a uma única
graduação dos moldes, os protótipos foram etapa, na qual a criação, modelagem e
desenvolvidos no tamanho M e a confecção ocorrem simultaneamente, sendo
modelagem levou em consideração uma desenhos e fichas técnicas elaborados
margem na largura do tecido que apenas no final da etapa, quando o modelo
possibilitasse a ampliação para o tamanho e encaixe estão definidos, embora seja
G. Embora essa margem venha a ser um necessário registrar ao longo do processo
resíduo do corte, deve-se considerar que as as modelagens e alterações realizadas, de
modelagens zero waste propostas no modo a permitir sua reprodução.
presente trabalho geram um mínimo de
resíduo entre os encontros dos moldes e que
essas margens geradas pelos tamanhos M e
P, que apresentam largura mais estreita em
relação à largura do tecido, são resíduos de
tamanho uniforme (retangular) e de grandes
dimensões, e por isso torna-se mais fácil
separá-los, classificá-los e reaproveitá-los em
novos produtos ou mesmo no corte de
outras peças, o que não ocorre com os
resíduos de modelagens convencionais, que
são gerados em grande quantidade e
apresentam formato muito irregular de
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RESULTADOS
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resultados têm se desdobrado na inovação sustentável deve também incluir profundo
em processos e publicação de artigos conhecimento dos valores culturais e dos
científicos sobre o tema. sistemas de gerenciamento dos recursos
naturais que, no passado, se mostraram
★ Livro: Gestão de Qualidade, Produção e Operações efetivos.
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cadernos, um brinquedo de plástico ou transformação dessas matérias-primas
de metal, durante o processo de em produtos controlados pelas
produção do produto. indústrias. O terceiro estágio,
embalagem e expedição, é controlado
geralmente pelo fabricante, embora
produtos mais sofisticados possam
necessitar de uma rede de fornecedores
e empreiteiros. O quarto estágio, o da
utilização pelo consumidor, é
influenciado pelo projeto do produto e
pelo grau de interação contínua do
fabricante. No quinto estágio, um
produto já obsoleto ou defeituoso é
descartado ou consertado. Esse último
estágio, que usualmente não é
considerado pelo fabricante, o será no
futuro em virtude da expansão das
atividades envolvendo leasing e
devolução ao fabricante. O segundo e o
● Entrega do produto: uma vez pronto o terceiro estágios são vistos como
produto, ele precisa receber (3) seu aqueles onde há maior responsabilidade
embase e embalagem para ser oferecido ambiental da indústria, mas a visão
ao mercado; além disso, o produto deve crescente dentro e fora das empresas é a
ser transportado da fábrica ao ponto de de que um produto ambientalmente
venda para que esteja à disposição do responsável minimize seus impactos
consumidor; tanto o transporte como a ambientais nos cinco estágios.
distribuição do produto podem ou não
ser de responsabilidade do fabricante.
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● Planejamento: a etapa de planejamento (envolvendo o consumo, pós-consumo e
visa promover a sensibilização, a descarte).
participação e a colaboração e
envolvimento do alto escalão da empresa;
envolver a direção da empresa é o
primeiro passo para o sucesso do
empreendimento de produção limpa; uma
vez envolvida a alta administração,
deve-se formar (e treinar, se necessário
for) a equipe de trabalho que
efetivamente levará a cabo os estudos de
eco sustentabilidade para a empresa;
essa equipe será responsável,
principalmente, por estabelecer as
ameaças e oportunidades do
empreendimento, as barreiras, as
necessidades e, finalmente, a definição do
que exatamente será alvo do trabalho de
produção limpa, ou seja, a definição do No Brasil, são diversas as entidades e
escopo do projeto, definindo setores, órgãos governamentais envolvidos
áreas ou produtos que serão atualmente com a questão da produção
contemplados no processo de produção limpa e a sustentabilidade. As mais
limpa. significativas aparecem no Quadro 1.1.