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Mercado de Trabalho e Emprego em A Economia da Concorrência Imperfeita de


Joan Robinson

Conference Paper · January 1997


DOI: 10.13140/2.1.3837.6640

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Claudia Heller
São Paulo State University
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1

MERCADO DE TRABALHO E EMPREGO EM A ECONOMIA DA


CONCORRÊNCIA IMPERFEITA DE JOAN ROBINSON

Claudia Heller1
1. Introdução

O livro A Economia da Concorrência Imperfeita (1933) de Joan Robinson é


corretamente considerado um marco fundamental na história da análise do equilíbrio
parcial, embora haja, ainda hoje, diferentes interpretações do papel que ele exerceu na
evolução da teoria microeconômica. Uma dessas interpretações é a de Schumpeter, na
resenha publicada em 19342, para quem Joan Robinson construiu um instrumento geral
de análise, no qual a concorrência perfeita e o monopólio eram duas de várias estruturas
possíveis - na verdade, estruturas especiais, casos particulares do caso geral. A base
desse instrumental - ou a “caixa de ferramentas”, para usar uma expressão da própria
Autora3 - é a concepção da curva de demanda negativamente inclinada associada à curva
de receita marginal decrescente. Diferentes formatos e posições destas curvas, aliadas a
diferentes formatos e posições de curvas de custo médio e marginal configuram várias
estruturas de mercado e é neste sentido que o instrumental é geral (ou genérico).
Uma outra interpretação é a representada por Shackle em seu livro Os Anos da
Alta Teoria (1967), que considerou que Joan Robinson teria entendido as críticas de
Sraffa (1926) como uma sugestão para que se abandonasse o paradigma da concorrência
perfeita e se adotasse o pressuposto contrário, o monopólio. Segundo este tipo de
interpretação, Joan Robinson teria adotado essa estratégia como uma maneira de manter
a tradição Marshalliana da análise parcial e, portanto, seria uma estratégia oposta, por
exemplo, à de Hicks (em Valor e Capital, 1939), que manteve o pressuposto da
concorrência perfeita em prol da análise do equilíbrio geral..
Várias foram as controvérsias em torno da abrangência do instrumental utilizado
em A Economia da Concorrência Imperfeita, que incluem a discussão em torno da sua
originalidade, seja frente aos precursores de Joan Robinson (como Cournot, Marshall e
Pigou, para citar apenas os mais conhecidos), seja frente aos seus contemporâneos, e em
particular o livro A Teoria da Concorrência Monopolista de Edward Chamberlin
(1933). Estes debates continuam contemporaneamente, e expressam a importância da
teoria que se desenvolveu no início da década de trinta. Um exemplo patente são as
discussões sobre até que ponto Keynes teria assumido, em A Teoria Geral do Emprego,
dos Juros e da Moeda, de modo implícito ou explícito, imperfeições de mercado. Em
particular, discute-se também, e de certa forma independentemente dos pressupostos que
Keynes tenha ou não efetivamente adotado, a (in)compatibilidade de suas idéias com o
pressuposto da concorrência (im)perfeita, seja no mercado de bens, seja no mercado de
títulos, seja ainda no mercado de trabalho4.

1 Professora do Depto. de Economia, Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Araraquara


2 Veja-se Schumpeter (1934) e, para uma análise crítica dessa resenha, Vecchi (1996).
3 A expressão box of tools (caixa de ferramentas) tornou-se popular a partir da publicação do livro de
Joan Robinson. No entanto, alguns autores alertam que a expressão foi na verdade criada por Pigou. Por
exemplo, Birmingham Post (1933) e Harcourt (1990).
4 Há referências em Galbraith (1948) e em Tobin (1989). Entre os trabalhos diretamente dedicados a este
tema ressaltam-se os de Sawyer (1992a, 1992b e 1992c), Dutt (1992), Marcuzzo (1994) e Marris (1995).
2

Um aspecto raramente mencionado em qualquer um destes debates é a relação


que existe, na obra de Joan Robinson, entre A Economia da Concorrência Imperfeita e a
teoria Keynesiana do emprego5. Do ponto de vista do historiador da teoria econômica,
isto chega a ser surpreendente. Afinal de contas, Joan Robinson participou ativamente
do Cambridge Circus (que funcionou oficialmente de janeiro a maio de 1931) e
escreveu, entre esse período e o ano de 1933 (ano de publicação de A Economia da
Concorrência Imperfeita), alguns artigos que são hoje considerados clássicos na defesa
das idéias que viriam a ser consubstanciadas na Teoria Geral6. Uma leitura cuidadosa de
A Economia da Concorrência Imperfeita mostra que o instrumental criado (ou, para não
entrar na polêmica em torno da sua originalidade), usado, por Joan Robinson, dá um
destaque especial ao mercado de trabalho, cuja análise ocupa quase um terço do livro e é
essencial para o conceito de exploração do trabalho, uma de suas contribuições mais
originais e controversas propostas naquele livro. Por este motivo, este texto faz o
percurso contrário do tradicional, pois pretende discutir a ênfase dada por Joan
Robinson à questão do desemprego, tal como ela aparece no seu livro A Economia da
Concorrência Imperfeita.

2. Demanda por trabalho: a determinação do nível de emprego em A Economia da


Concorrência Imperfeita

Merece destaque em A Economia da Concorrência Imperfeita a maneira pela


qual Joan Robinson construiu a curva de oferta de bens: seu ponto de partida foi a curva
de demanda por fatores de produção, que é governada por determinantes que muito
pouco têm a ver com a análise e construção "comuns" da demanda por bens. Embora
utilizasse o conceito de utilidade marginal, considerava que a análise das decisões de um
comprador de fatores de produção é diferente da de um comprador de bens finais,
"...pois os fatores de produção são comprados com o objetivo de gerar uma renda
monetária mediante a venda de mercadorias por eles produzidas" (Robinson, 1933:
215).
Assim, a demanda por fatores dependia da expectativa de obtenção de lucro na
atividade de produção, e a construção da curva de oferta do bem baseava-se,
fundamental e paradoxalmente, na demanda esperada pelo bem e no comportamento dos
"compradores de fatores de produção". A expressão "paradoxalmente" refere-se ao fato
de que aparentemente esta "técnica" de construção de uma curva de oferta de um bem a
partir de sua demanda contradiz o princípio basilar da análise parcial - qual seja, o de

5 Em Heller (1996a) discute-se o fato de que, aparentemente, Keynes não reconhecia a relação entre
concorrência imperfeita e capacidade ociosa (e entre estas e o progresso técnico) e seu impacto sobre o
nível de emprego, assim como a clareza com que Joan Robinson os relacionava. Apesar de
posteriormente, em depoimento a propósito dos debates que levaram ao desenvolvimento da Teoria Geral
Joan Robinson ter registrado que "[Keynes] deslanchou minha carreira ao conseguir que a Macmillan
publicasse minha A Economia da Concorrência Imperfeita, mas ele considerava que o tema não tinha
qualquer importância (eu não discordaria dele hoje em dia)". (Robinson, 1979b: 119), os arquivos do
King’s College em Cambridge mantêm o rascunho datilografado da introdução ao livro da Autora, com
correções e sugestões manuscritas de Keynes, bem como a resposta de Keynes à consulta de Macmillan
sobre a conveniência ou não da publicação do livro da Autora. Estes documentos mostram que Keynes era
menos indiferente à teoria da concorrência imperfeita do que se supõe.
6 Robinson (1933b) e Robinson (1933c).
3

que as condições de produção (oferta) e de demanda de um bem devem ser


independentes, tanto entre si quanto em relação à oferta e demanda de todos os demais
bens. O fato, porém, é que a "técnica" de construção não contradiz a condição coeteris
paribus, uma vez que, a cada passo, a Autora considerava tudo o demais constante. Por
exemplo, muito embora fosse explícita ao definir que "a curva de demanda por
qualquer fator de produção depende da curva de demanda pelo bem [em cuja produção
este fator participa], das condições técnicas de produção e das curvas de oferta dos
demais fatores de produção" (Robinson, 1933: 235), ela supunha, para determinar o
preço de demanda do fator em questão, que tanto a curva de demanda pelo bem quanto a
curva de oferta dos demais fatores eram conhecidas e constantes. O mais importante é
que, subjacente à concepção da demanda por fatores, estava o princípio da demanda
efetiva, de que a produção só ocorreria em função da expectativa de lucro e, portanto, só
haveria demanda por "fatores" se a expectativa de lucro fosse positiva.
Cumpre assinalar que Joan Robinson analisou o mercado de compradores de
fatores tanto sob o pressuposto de concorrência perfeita quanto sob o de monopólio - ou,
mais precisamente, monopsônio. Além disso, os conceitos de monopólio e monopsônio
abarcavam tanto seu sentido estrito (único vendedor ou único comprador) quanto o de
concorrência não perfeita ou oligopólio7. O intuito era possibilitar comparações,
utilizando como critérios o custo médio de produção, volume produzido, e o nível de
emprego necessário para aquele volume de produção.
De modo similar à definição de concorrência perfeita entre produtores
(vendedores) - curva de demanda perfeitamente elástica para cada produtor (vendedor)
individual - a concorrência perfeita entre os produtores (compradores de fatores) era
definida pela existência de uma curva de oferta perfeitamente elástica para cada
produtor (comprador de fator) individual: "um comprador pode entrar numa loja e
comprar quanto quiser ao preço corrente. Se oferecer menos, pode ser que não consiga
comprar nada, e se oferecer um pouco mais pode ser que absorva toda a oferta".
(Robinson, 1933: 216). De forma semelhante às duas condições necessárias à
concorrência perfeita entre vendedores (produtores) de bens - a de que o número de
vendedores fosse grande e que os compradores fossem indiferentes quanto aos seus
fornecedores - a concorrência perfeita no mercado de compradores de fatores exigia
duas condições simétricas: a de que o número de compradores fosse grande e que os
vendedores fossem indiferentes quanto à sua clientela8.
A análise foi elaborada a partir da consideração de várias possibilidades:
diferentes elasticidades da curva de oferta de fatores (que podiam gerar situações em
que seu preço de oferta fosse constante, crescente ou decrescente); a possibilidade de
que o monopsônio fosse discriminador de preços; e a relação entre monopólio e
monopsônio, não no sentido do monopólio bilateral, mas no sentido contrário, ou seja, o

7 Esse é um dos argumentos centrais em Heller (1996a).


8 Em Robinson (1934), ela estabeleceu uma outra definição de concorrência perfeita: bastava supor-se
uma curva de demanda infinitamente elástica para a firma individual. O argumento mostrava que todas as
demais hipóteses adicionais usualmente utilizadas para definir a concorrência perfeita (tal como
inexistência de barreiras à entrada, livre mobilidade de fatores, homogeneidade do produto, etc...)
poderiam ser relaxadas e mesmo assim permaneceriam compatíveis com a concorrência perfeita - desde
que não afetassem a elasticidade da curva de demanda para a firma individual.
4

de que um monopólio é, freqüentemente, monopsonista dos fatores de produção que


utiliza9.
Joan Robinson privilegiou a análise da demanda por mão de obra (o "fator
trabalho") sob a concepção de que os trabalhadores e/ou sindicatos (fornecedores
individuais e/ou organizados do fator) não têm poder de gerar postos de emprego, e têm,
enquanto ofertantes do fator, um menor poder de determinação do seu preço de venda,
sendo portanto, se não "tomadores de preço", certamente "tomadores de quantidade"10.
A demanda por um fator de produção dependia da curva de demanda pelo bem (para
cuja produção este fator era demandado), das condições técnicas de produção (do bem),
e das curvas de oferta dos demais fatores de produção (para a produção do bem). Isto
decorre do fato, já mencionado, de que, para a Autora, os fatores de produção eram
demandados com o objetivo de gerar renda, através da venda de bens produzidos por seu
intermédio. Em particular, a demanda por trabalho variava em forma e em elasticidade,
segundo quem fosse o demandante - isto é, segundo a existência de diferentes tipos de
imperfeições nos mercados, tanto do bem final quanto do fator em questão e/ou dos
demais fatores; e variava também segundo as condições técnicas de produção, dentre as
quais Joan Robinson destacou a possibilidade de substituição de fatores (decorrente, ou
não, de sua escassez relativa) e a existência, ou não, de economias da produção em larga
escala.
Ao longo do livro, Joan Robinson argumentou (e comprovou com inúmeros
exemplos) que o monopólio não produz, necessariamente, um volume menor de
produção nem o vende obrigatoriamente a preços superiores aos vigentes no regime de
concorrência. Mostrou, igualmente, que o monopólio também não emprega
necessariamente um volume menor de fatores (equivalente a não gerar, necessariamente,
um volume menor de emprego), nem paga, obrigatoriamente, menos por estes fatores
(salários) do que se paga em concorrência. Comparando as estruturas da concorrência
perfeita e do monopólio, sob o critério da quantidade de fatores empregados, e
considerando diferentes situações alternadamente - dentre as quais destacou a existência,
ou não, de escassez de fatores (ou sua elasticidade de oferta); a possibilidade, ou não, de
substituição de fatores (ou elasticidade de substituição); e a existência, ou não, de
economias de produção em larga escala - ela concluiu que o monopólio é capaz de
produzir a custos inferiores à concorrência e pode usufruir de produtividade superior.
Isto dependia das condições técnicas de substitutibilidade entre fatores, das condições de
mercado de oferta de fatores e das condições, também de mercado, da demanda pelo
bem. Assim, uma alteração da demanda que induzisse uma alteração do volume de
produção, refletir-se-ia conseqüentemente em alteração no uso dos fatores e, portanto,
dos seus preços - o que, por sua vez, podia induzir à substituição entre eles, dependendo
das possibilidades técnicas de substitutibilidade.
Portanto, segundo Joan Robinson, nos mercados imperfeitos o volume
produzido podia ser maior, assim como podia também ser maior o emprego gerado, pois

9 Esta é uma das idéias que sustentaram o caráter geral do seu instrumental baseado nas curvas marginais.
Veja-se, particularmente, Robinson (1933: 229-231)
10 Por outro lado, a idéia de que o monopolista seja monopsonista dos fatores de produção que utiliza
lembra, ainda que apenas vagamente, a tendência de uma empresa, ao diferenciar seu produto (e,
particularmente quando a diferenciação não é apenas superficial), utilizar em geral, se não insumos e
equipamentos totalmente "dedicados", certamente um processo de produção específico, talvez único, às
vezes patenteado, sobre o qual, detém, portanto, algum grau de monopólio.
5

o monopólio tem maiores possibilidades de alterar a combinação de fatores do que a


concorrência. Além disso, dependendo dos preços relativos destes fatores, não se
descartava a alternativa de que empregasse mais trabalho. Disto a Autora derivou uma
conclusão importante: a de que o desemprego, quando ocorre, não é decorrência das
imperfeições de mercado (de bens ou de fatores). Embora não se referisse
explicitamente à demanda efetiva, esta conclusão era perfeitamente compatível com
aquele princípio fundamental da teoria Keynesiana do emprego.
Foi com o objetivo de comparar o salário pago em regime de concorrência ao
salário pago em regime de monopólio que Joan Robinson sugeriu uma definição de
exploração mais ampla que a definição tradicional, conforme se verá na próxima seção
deste texto. Seguindo esta segunda definição, a Autora pretendia mostrar que nem
sempre a remoção da exploração - que podia alterar o produto físico marginal do
trabalho e/ou o preço do bem - era benéfica para os trabalhadores. Com esta proposição,
ela demonstrou um segundo elemento de vantagem (para a mão de obra) na imperfeição
dos mercados.
No que se refere à geração de emprego (o primeiro elemento de vantagem), Joan
Robinson analisou uma série de outras situações. Lembrando que a forma da curva de
demanda por trabalho dependia de quem era o agente demandante - ou seja, se um
monopólio ou um conjunto de firmas independentes com atuação organizada (ou
desorganizada), considerou uma variedade de casos: as firmas podiam concorrer no
mercado de produto e manter acordos no mercado do fator trabalho; em termos do
mercado do produto, este podia ser perfeito ou imperfeito (o que tinha implicações sobre
a curva de demanda pelo bem do ponto de vista de cada firma); as firmas podiam
concorrer no mercado dos demais fatores (cuja oferta podia ou não ser perfeitamente
elástica); podiam ou não levar em conta o fato de que um aumento da produção do bem
podia alterar seu preço; podia ou não haver entrada de novas firmas no setor, e isto
podia ou não acarretar variações de preços dos fatores, inclusive do fator trabalho,
dependendo de sua elasticidade de oferta. Finalmente, levou em conta os vários motivos
pelos quais a oferta de trabalho podia ser inelástica (por ignorância ou inércia, por
elevados custos de transporte da mão de obra, por diferenças de eficiência de cada
trabalhador individual ou grupo de trabalhadores, por fidelidade ao emprego anterior,
etc...). Todas essas análises levaram às mesmas conclusões: mercados imperfeitos
podiam empregar mais do que mercados perfeitos, e portanto o desemprego não tinha
qualquer relação direta com imperfeições da concorrência.

3. O conceito de exploração do trabalho em A Economia da Concorrência


Imperfeita

A “exploração do trabalho”, segundo Joan Robinson, ocorre quando o salário é


inferior ao valor do produto marginal do trabalho, ou usando suas palavras, quando “um
grupo de trabalhadores recebe salário inferior ao produto físico marginal de sua
produção, valorado ao p reço pelo qual [esta produção] é vendida” (Robinson, 1933:
283)11. Para que se possa entender este conceito - tal como ele aparece no livro de 1933

11 É bom ressaltar que esta definição não tem qualquer relação com o conceito de exploração do trabalho
com origem na economia clássica, como o derivado do conceito de mais-valia (relativa ou absoluta). O
6

- faz-se necessário explicitar algumas definições sugeridas e utilizadas pela Autora. Ela
definia como “produtividade física marginal do trabalho” o “incremento de produto
decorrente do emprego de uma unidade adicional de trabalho, mantendo-se fixos os
gastos com os demais fatores” (Robinson, 1933: 236) e como “produtividade marginal
do trabalho” o “incremento no valor do produto total decorrente do emprego de um
homem adicional, mantendo-se inalterados os valores dos demais fatores de produção”
(Robinson, 1933: 237). Isto significa que a produtividade marginal (ou produto
marginal) é igual à produtividade física marginal (ou produto físico marginal)
multiplicada pela receita marginal do produtor em questão12. Assim, se a demanda pelo
produto é perfeitamente elástica, a receita marginal será constante, igual ao preço
unitário do produto e o produto marginal será igual ao valor do produto físico marginal.
Se a demanda não for perfeitamente elástica, a receita marginal será menor que o preço,
e o produto marginal será menor que o valor do produto físico marginal13.
Sob o princípio da maximização, um empregador individual empregará o
número de trabalhadores para o qual o produto marginal líquido é igual ao custo
marginal do trabalho. Esta relação é verdadeira tanto na situação em que o empregador
em questão vende seu produto e compra seus fatores (principalmente a mão de obra) em
mercados em concorrência perfeita, quanto em situações diversas a essa, embora neste
caso o preço do produto e o preço do trabalho não sejam independentes do número de
homens empregados. Se o salário for igual ao produto médio líquido do trabalho, o
empregador recebe “lucro normal” (analogamente, se o salário for inferior, há lucro
extraordinário e se for superior há prejuízo). O que é importante, é que a existência de
lucro normal, extraordinário ou prejuízo não determina, por si só, a exploração, pois esta
é definida em termos da comparação entre o salário e o valor do produto marginal - e
não entre o salário e o valor do produto médio.
Para Joan Robinson, embora fosse comum atribuir-se a exploração do trabalho
às desigualdades do poder de barganha entre trabalhadores e empresários - o que poderia
ser resolvido, ou ao menos amenizado, através da organização sindical e/ou da
intervenção do Estado - “a causa fundamental da exploração está na ausência de
perfeita elasticidade na oferta de mão de obra ou na demanda por bens” (Robinson,
1933: 281). Seu argumento, como se viu, repousava sobre a definição de exploração em

instrumental e os interlocutores de Joan Robinson eram os defensores da teoria marginalista. Embora


tivesse escrito dois textos sobre a economia Marxista - Robinson (1936) (reproduzido com modificações
em Robinson 1937) e Robinson (1941) (parcialmente reproduzido como Robinson 1948) - ela leu Marx
pela primeira vez em 1940, para "distrair-se das notícias" (Robinson, 1973: x).
12 Pode-se defini-lo matematicamente:
(1) P = h(Q) função demanda na forma inversa, onde P é preço e Q é quantidade produzida
(2) receita total: RT = P.Q = Q.h(Q)
(3) receita marginal RMg = h(Q) + Q.h’(Q)
(4) Q = f(L) função de produção para apenas um insumo variável, o trabalho L
(5) RPmg: receita do produto marginal (variação na receita total devido a uma variação no insumo).
RPMg = dRT/dL = d[Q.h(Q)]/dL = h(Q).dQ/dL + Q.h’(Q).dQ/dL
(6) de (4) tem-se o produto marginal dQ/dL = f’(L)
(7) substituindo (6) em (5) tem-se RPMg = [h(Q) + Q.h’(Q)]f’(L)
(8) de (3) e (6) tem-se RPMg = RMg.Pmg
13 A rigor, Joan Robinson distinguia produtividade bruta (média e marginal) da produtividade líquida
(média e marginal), subtraindo do valor “bruto” o custo dos demais fatores empregados (por homem
empregado), para chegar ao valor “líquido”. Estas distinções, no entanto, não alteram a essência do seu
argumento no que se refere ao tema deste trabalho.
7

termos do valor do produto marginal líquido do trabalho, e, a partir disto, identificou


duas classes principais de causas da exploração: (i) a exploração monopolista,
decorrente de imperfeições no mercado de produto (mesmo com oferta de mão de obra
perfeitamente elástica) e (ii) a exploração monopsonista, derivada da elasticidade
imperfeita na oferta de mão de obra (mesmo com o produto sendo vendido num
mercado perfeitamente competitivo)14
A exploração causada por imperfeições no mercado de produto não pode ser
eliminada mediante a elevação dos salários, que na verdade apenas faria aumentar o
desemprego como decorrência de uma eventual substituição de fatores. Segundo Joan
Robinson, quando a imperfeição no mercado de produto tem caráter de monopólio (no
sentido estrito, isto é, um único produtor), uma possível solução seria o controle de
preços, de modo a evitar que fosse superior ao custo médio de produção (ou seja, de
modo a estabelecer o preço competitivo, que elimina lucros extraordinários). Assim, o
preço a ser multiplicado pelo produto físico marginal seria equivalente ao da
concorrência, e a exploração seria eliminada.
Alternativamente ao controle de preços, e de certa forma equivalente a ele (no
sentido lato de monopólio, isto é, de concorrência imperfeita), Joan Robinson sugeria a
eliminação das barreiras à entrada, de modo que o salário se igualasse ao produto médio
líquido do trabalho, eliminando lucros extraordinários. Mas enquanto o salário fosse
igual produto marginal líquido da firma em concorrência imperfeita, haveria exploração,
pois seria inferior ao produto físico marginal valorado ao preço do bem (pois a demanda
não seria perfeitamente elástica). Esta estratégia, além de não eliminar a exploração,
tinha contra-indicações: sem barreiras à entrada, as firmas poderiam expandir-se, o que
poderia levar à substituição de fatores (se a expansão tivesse reflexos sobre os preços
dos fatores), reduzindo, possivelmente, o nível de emprego. Embora a análise fosse bem
mais detalhada (ela levava em conta a elasticidade da demanda total - ou agregada - pelo
produto em questão e sua relação com os custos de produção - que podiam se alterar de
variadas maneiras, dependendo das condições de oferta dos vários fatores -, pode-se
resumir seu argumento central: quando o mercado é imperfeito, as vantagens de um
aumento do grau de mecanização são menores (embora a possibilidade de efetivá-lo seja
maior) e portanto maiores são as possibilidades de manutenção do nível de emprego;
por outro lado, quando o mercado é imperfeito, o preço do produto tende a ser maior, e
o que o trabalhador ganha em termos de emprego pode perder enquanto consumidor.
Se a exploração fosse causada por imperfeições no mercado de trabalho15, o
empregador contrataria um número de trabalhadores para o qual seu custo marginal
fosse igual ao produto marginal líquido do trabalho, e o salário seria igual ao preço de
oferta desta mão de obra empregada, menor do que o valor do produto físico marginal
do trabalho16. Este tipo de exploração poderia ser eliminada através da imposição de um

14 Ela considerava ainda a exploração resultante do poder discriminatório do empregador, mas este caso,
na verdade, equivale ao segundo, já que o poder discriminatório do empregador supõe diferenciação entre
trabalhadores, e portanto imperfeição no mercado de trabalho. Além disso, identificava ainda uma outra
situação - a quase-exploração - causada por barreiras à entrada de firmas no setor de produção. Esta, no
entanto, não correspondia, conforme ela mesmo reconhecia, à sua própria definição.
15. As causas de imperfeições no mercado de trabalho foram são discutidas pela Autora no capítulo 8 do
seu livro (cujo interesse particular é o fato de inspirar-se fortemente no artigo de Sraffa de 1926). As
imperfeições no mercado de trabalho fazem com que a oferta de mão de obra seja imperfeitamente
elástica, isto é, que ela seja crescente.
16. Esta proposição pode ser comprovada matematicamente:
8

salário mínimo. Entretanto, ao elevar os custos de produção poderia, como no caso


anterior, incentivar a “substituição de fatores” e reduzir o nível de emprego. Se as
imperfeições fossem decorrentes apenas da diferenciação entre trabalhadores, a
exploração só poderia ser eliminada pagando-se salários equivalentes à eficiência de
cada um.
A melhor maneira de explicitar o argumento da Autora é seguindo, de modo
resumido, seu próprio exemplo. Quando a venda do bem se der num mercado
imperfeito, com livre entrada, e para o qual a oferta de trabalho seja perfeitamente
elástica, haverá exploração - segundo sua própria definição - pois, embora o salário seja
igual à produtividade marginal líquida, será inferior ao produto físico marginal do
trabalho valorado pelo preço do bem (já que a demanda pelo produto não é
perfeitamente elástica, devido à imperfeição do mercado vendedor). Segundo Joan
Robinson, neste caso, a exploração desapareceria se o mercado se tornasse perfeito, mas
isto não seria, necessariamente, vantajoso para os trabalhadores.
Sua construção supunha que quando o mercado se tornasse perfeito, as firmas
que produziam com unidades de produção de tamanho inferior ao ótimo passariam a
produzir com unidades de tamanho ótimo, isto é, cresceriam. Com o crescimento das
firmas, esperar-se-ia que a produtividade física média (produto físico total dividido pelo
número de homens empregados) se elevasse. Mas, poderia ocorrer que o preço dos
demais fatores se alterasse quando a firma crescesse, devido ao aumento da demanda
por estes outros fatores - entre os quais se inclui o número de trabalhadores empregados
(cujo preço é o salário). A variação dos preços dos fatores poderia ocorrer das mais
diversas maneiras, dependendo de suas elasticidades de oferta. Seria possível, inclusive,
que alguns destes fatores tivessem seus preços elevados (aqueles de oferta inelástica),
enquanto outros tivessem seus preços reduzidos - tudo isso em termos absolutos e/ou
relativos. Ao mesmo tempo, o crescimento da firma levaria a um aumento do volume de
produção, o qual, se houvesse economias de produção em larga escala, deveria ser
acompanhado de uma redução dos custos médios de produção, seja por economias
técnicas propriamente ditas, seja por economias decorrentes da distribuição dos custos
fixos por um volume de produção, ou ainda ambos.
Por outro lado, um aumento da oferta em mercados imperfeitos levaria à redução
dos preços, dependendo da elasticidade da curva de demanda. Além disso, o aumento do
tamanho da firma poderia levar a uma elevação do grau de mecanização, isto é, à
substituição de trabalho por capital, ali onde o processo de produção (a técnica) o
permitisse e quando a variação dos preços relativos dos fatores tornassem a substituição
vantajosa. Considerando cada um destes efeitos, a remoção das imperfeições poderia ou
não ser benéfica para os trabalhadores. Em suas próprias palavras:

(9) W = g(L) função oferta na forma inversa, onde W é o preço do insumo e L é a quantidade ofertada de
insumo
(10) custo variável C(L) = W.L = L.g(L)
(11) despesa marginal com o insumo DMg = dC(L)/dL = g(L) + Lg’(L) = W + L.dW/DL
(12) elasticidade da oferta do insumo θ = dL.W/dW.L
(13) de (11) tem-se DMg = W + L.dW/DL = W(1+L.dW/W.dL)
(14) substituindo (12) em (13) tem-se DMg = W(1+1/θ)
Conclui-se que apenas quando a curva de oferta do insumo é infinitamente elástica, θ tende ao ∞ e DMg =
W.
9

"Pode parecer estranho que a remoção da exploração pudesse ser


desvantajosa para o trabalho. Pode-se no entanto encontrar a explicação em dois
fatos. Primeiro, quando a demanda pelo bem é inelástica, qualquer coisa que
eleva o custo do b em eleva as receitas totais do setor. Conseqüentemente, uma
elevação da produção física por pessoa pode não trazer qualquer vantagem para
o trabalho quando a demanda pelo bem é inelástica, e o trabalho poderia ganhar,
às expensas do consumidor, do fato das firmas serem inferiores ao tamanho
ótimo. Segundo, quando o mercado é imperfeito, pode não ser lucrativo para a
firma individual assumir um grau de mecanização que seria lucrativo se o
mercado se tornasse perfeito. Portanto, o trabalho pode ganhar, às custas do
capital, do fato das firmas serem inferiores ao tamanho ótimo.
Em qualquer caso, independentemente da imperfeição ser ou não vantajosa
para o trabalho, ela faz com que o preço do bem seja superior ao que seria se
houvesse concorrência perfeita. Portanto, embora o trabalho aufira vantagens da
imperfeição do mercado às custas do consumidor, trata-se apenas de uma visão
parcial, pois existe perda para os consumidores do bem (que devem pagar um
preço superior) e para a comunidade em geral (uma vez que se produz menos
riqueza real). Conseqüentemente, o fato de que haja vantagens para os
trabalhadores ligados àquele setor, não significa que as imperfeições não devam
ser removidas. Além disso, se todas os setores fossem deste tipo, o trabalho não
teria vantagens decorrentes da imperfeição, uma vez que suas desvantagens
enquanto consumidores poderiam ser maiores do que as vantagens enquanto
assalariados.
Mas mesmo quando a exploração é universal, de modo que as firmas de
todas os setores sejam de tamanho inferior ao ótimo, é possível que firmas de
tamanho inferior ao ótimo empreguem menos capital por homem do que as firmas
de tamanho ótimo e a imperfeição do mercado traria vantagens ao trabalho às
custas do capital. Se todos os mercados se tornassem perfeitos, o capital tenderia
a ter vantagens às custas do trabalho e é possível, embora não seja provável, que
o trabalho perdesse, no final, com a remoção da exploração". (Robinson, 1933:
287-288).

O eventual benefício, para os trabalhadores, da remoção das imperfeições ainda


que à primeira vista benéfica, poderia não sê-lo efetivamente: o trabalhador poderia
ganhar, enquanto assalariado, relativamente ao consumidor (mas perderia, enquanto
consumidor, relativamente ao salário). O trabalhador poderia ganhar relativamente ao
capital em termos da razão salário/lucro, mas poderia perder em termos de emprego.

4. Observações finais

O livro de Joan Robinson recebeu um grande número de resenhas, algumas delas


compartilhadas com Edward Chamberlin. Apesar de refletirem uma grande variedade de
posições, entre críticas e elogiosas, não foram muitas as que deram destaque ou mesmo
10

se referiram ao tema deste trabalho17. Ainda assim, é possível identificar alguns poucos
autores que perceberam a importância atribuída por Joan Robinson ao mercado de
trabalho como um mercado imperfeito por excelência. Merece menção especial a
resenha de Corwin Edwards que, além de se referir ao fato de que “o monopólio do
comprador, ou monopsônio, é discutido com especial referência à demanda dos fatores
de produção e culmina na teoria da exploração do trabalho em virtude da imperfeição
do mercado” (Edwards, 1933: 684), comparou o livro de Joan Robinson ao de
Chamberlin, e concluiu que “ambos os autores concordam que o efeito geral do
monopólio parcial é a restrição da produção e a elevação do preço. O Professor
Chamberlin adiciona que eleva o número de empresas e promove a excessiva
diferenciação de produtos. A Sra. Robinson adiciona que facilita a exploração do
trabalho”. (Edwards, 1933: 684)18.
Os anos mais recentes trouxeram à baila uma grande quantidade de trabalhos -
das mais diferentes linhas de pensamento - que reavaliam a obra de Joan Robinson19.
Uma parte deles rediscute o livro A Economia da Concorrência Imperfeita, mas,
novamente, poucos são os autores que deram importância ao tema do mercado (ou da
exploração) do trabalho. Uma das poucas exceções é o texto de Feiwel (1989c: 17), que
anotou que a discussão de exploração de Joan Robinson é “imaginativa e controversa”,
mas tem elementos que “não perderam sua relevância passados mais de cinqüenta anos
depois de escritos”. Feiwel ressaltou que Joan Robinson “não se esconde das
conclusões impalatáveis” isto é, a de que a elevação dos salários, se reduzir os lucros ao
nível normal, pode ser uma estratégia indesejável, já que resultaria numa elevação de
preços e redução do emprego. Feiwel foi um dos poucos autores que levaram em conta o
fato de que o livro era “um produto da insatisfação geral com a política de laissez-faire
durante a depressão, e era particularmente significativo no contexto da situação
econômica [da época]” (Feiwel, 1989c: 22) e destacou particularmente uma das
conclusões de Joan Robinson, a de que “um sistema de empresas privadas sem controle,
no qual os salários são mais flexíveis que os lucros, deve gerar má distribuição de
recursos e desperdício de riqueza potencial em escala ampliada". (Robinson, 1933:
291).

17 As Referências Bibliográficas ao final deste trabalho trazem a lista completa das resenhas de A
Economia da Concorrência Imperfeita.
18 Entre as outras resenhas que fazem alguma menção ao tratamento dado por Joan Robinson ao mercado
de trabalho e/ou a questão da exploração, deve-se mencionar Shove (1933), Harrod (1934), Kaldor
(1934), Radford (1934) e Chamberlin (1934). Este último texto é, na verdade, a transcrição se sua
participação numa mesa redonda sobre as teorias da concorrência monopolista e imperfeita, presidida por
Schumpeter.
19 Vejam-se, por exemplo, o livro de Marjorie Turner Joan Robinson and the Americans (1989), os dois
volumes organizados por George Feiwel, ambos publicados em 1989: Joan Robinson and Modern
Economic Theory, e The Economics of Imperfect Competition and Employment - Joan Robinson and
Beyond, o livro organizado por Ingrid Rima, The Joan Robinson Legacy (1991) e o de autoria de James
Cicarelli e Julianne Cicarelli, Joan Robinson: A Bio-Bibliography (1996). Muito significativa também é a
seleta dos principais trabalhos apresentados na Conferência “The Passion of Reason: Joan Robinson
(1903-1983)”, ocorrido em Turim, Itália, em dezembro de 1993, reunidos sob a organização de Maria
Cristina Marcuzzo, Luigi L. Pasinetti e Alessandro Roncaglia no livro The Economics of Joan Robinson
(1996). No formato de edições dedicadas a homenagear a Autora, deve-se mencionar dois periódicos de
circulação internacional: o volume 07 do Cambridge Journal of Economics (1983) e o volume 37 da
revista Economie Appliquée (1985). A lista completa de trabalhos sobre Joan Robinson, publicados e
inéditos, pode ser encontrada em Heller (1996a).
11

Além de Feiwel, também Rima reconheceu a “visão não tradicional de Joan


Robinson sobre o papel dos mercados de trabalho” (Rima, 1991b: 197) e destacou que
ela foi movida, ao tentar dissociar-se da teoria da distribuição convencional, pelo seu
desconforto com a teoria ortodoxa dos salários que, como Joan Robinson mesmo
declarou, “a repugnava desde o tempo de estudante” (Robinson, 1977b: x)20.
Na verdade, o que se nota ao examinar os textos mais recentes que avaliam A
Economia da Concorrência Imperfeita à luz da nova teoria do emprego que se gestava à
mesma época, é que, em sua grande maioria, eles enfatizam os aspectos históricos da
elaboração do livro, em detrimento das suas contribuições analíticas. Marcuzzo, por
exemplo, referiu-se à situação dos principais setores industriais da economia inglesa,
que “já haviam entrado naquela fase irreversível de declínio e prejuízos que havia
começado a se mostrar na forma de aumento do desemprego e subutilização de
recursos” (Marcuzzo, 1991: xxiv) ou seja, ao fato de que “quando chegou o momento
de Joan Robinson aprender economia, pouco depois do final da primeira guerra
mundial, as características do sistema econômico que aquela teoria [Marshalliana] se
propunha a explicar e a descrever estavam profundamente mudadas”. (Marcuzzo,
1991: xxiv). Marcuzzo na verdade relaciona o livro de Joan Robinson à tese de Richard
Kahn (1929/89), que, ao analisar o comportamento das empresas na indústria do
algodão e do carvão, mostrou que, ao contrário do que a hipótese da concorrência
perfeita pregava, não eram apenas as empresas menos eficientes que operavam com
capacidade ociosa, inferior à máxima capacidade produtiva (ou potencial). A conclusão
de Kahn foi a de que sob a hipótese da concorrência imperfeita, o comportamento mais
racional (e observado) no curto prazo era o de que quando a demanda se reduzia, as
empresas reagiam reduzindo a produção ao invés dos preços, menos por temor de
‘estragar o mercado’, e mais porque ao reduzir a produção, minimizam o prejuízo.
Embora a tese de Kahn estivesse mais circunscrita à análise de equilíbrio parcial, no
curto prazo, as conseqüências da redução do volume de produção sobre a sub-utilização
do “fator trabalho” parecem óbvias21.
Nada disso, no entanto, tem merecido atenção mais cuidadosa. Para a própria
Joan Robinson, o erro fundamental em A Economia da Concorrência Imperfeita foi a
utilização dos pressupostos apriorísticos “que Pigou destilou de Marshall” e a
introdução de pequenos aperfeiçoamentos nestes pressupostos, “ao invés de fazer uma
crítica radical da relação entre os pressupostos tradicionais e a economia real que
pretendiam descrever” (Robinson, 1979a: 114). Mesmo assim, considerava que o livro
não tinha sido em vão, “pois através da ponte do 'grau de monopólio' de Kalecki, ele
levou à moderna teoria da determinação das margens de lucro e assim foi vinculado à
teoria do emprego" (Robinson, 1979a: 114). Por este motivo, a Autora considerava que
seu trabalho era radicalmente diferente do de Chamberlin:

"Meu par, o Professor Chamberlin, gastou muitos anos protestando que sua
'concorrência monopolista' era muito diferente da minha 'concorrência

20. Entre os autores que ao menos mencionam o mercado de trabalho e/ou o tema da exploração do
trabalho em A Economia da Concorrência Imperfeita estão: O’Brien (1984), Loasby (1985), Bishop
(1989), Whitaker (1989) e Asimakopulos (1990).
21. A influência da tese de Kahn sobre a elaboração da teoria da concorrência imperfeita bem como sua
reivindicação de ter sido o primeiro a conceber a curva de demanda quebrada (em geral atribuída a Hall e
Hitch e/ou a Sweezy) é discutida em Heller (1996b).
12

imperfeita'. (Houve um tempo, em Harvard, em que se costumava dizer, que


qualquer aluno poderia ter certeza de conseguir boas notas se atacasse a Sra.
Robinson). Isto se devia em parte, penso eu, à fraqueza humana. Tínhamos que
compartilhar resenhas e notas de rodapé que Chamberlin teria preferido ter só
para si. (O fato de que eu estava bem entediada com o assunto certamente o
incomodava ainda mais). Mas havia uma razão mais profunda. Fiquei muito
satisfeita de ter descoberto que havia provado (nos marcos dos pressupostos
aceitos) que não é verdade que os salários se igualam à produtividade marginal
do trabalho, enquanto que Chamberlin queria defender a idéia de que a
propaganda, o esforço de vendas e a diferenciação monopolista do produto não
se contrapunham, de modo algum, ao princípio da soberania do consumidor nem
aos efeitos benéficos do livre jogo das forças de mercado” (Robinson, 1979a: 114,
grifos adicionados)22.

A prova da possiblidade de ocorrência de exploração do trabalho, e mais do que


isso, a idéia de que ocorre freqüente e normalmente - já que constitui o “caso geral” - é o
que Joan Robinson passou a ressaltar como sendo o mais importante e permanentemente
válido aspecto do seu livro. Ela o explicitou com clareza meridiana ao final do prefácio
à segunda edição, em 1969: “o que para mim era o ponto principal, é que consegui
provar, nos marcos da teoria ortodoxa, que não é verdade que os salários geralmente
igualam o valor do produto marginal do trabalho... Espero que uma nova geração de
estudantes, depois de quarenta anos, encontre neste livro o significado que eu lhe quis
dar” (Robinson, 1933/1969: xii).
Esta sua conclusão foi destacada enfaticamente em todas as ocasiões em que se
referiu ao livro A Economia da Concorrência Imperfeita - mesmo em suas inúmeras
autocríticas. Em Robinson (1958), por exemplo, ela reafirmou que sob concorrência
imperfeita os salários são inferiores ao produto marginal, e que embora os sindicatos
sejam “necessários para reduzir a imperfeição do mercado de trabalho” (Robinson,
1958: 243), ao mesmo tempo, seria “melhor, para os trabalhadores, aceitar uma
participação fixa num produto que é crescente do que assegurar uma participação
crescente num produto que, por qualquer razão, crescesse mais lentamente” (Robinson,
1958: 243).
Esta avaliação sintetiza o argumento que se desenvolveu ao longo do texto: em A
Economia da Concorrência Imperfeita, Joan Robinson demonstrou que enquanto o
desemprego não é causado pelas imperfeições de mercado (já que em diferentes
condições, o mercado imperfeito pode utilizar mais, menos, ou o mesmo volume de
emprego), elas são responsáveis pela exploração do trabalho. Do ponto de vista do
trabalhador, pode ser melhor ser explorado, estando empregado do que correr o risco do
desemprego. Se, por um lado, a redução/eliminação das imperfeições pode
reduzir/eliminar a exploração, por outro, não há garantias de que um mercado mais
perfeito gere um nível maior de emprego.

22 E em seguida: “A controvérsia unilateral 'Chamberlin versus Robinson' foi um mau exemplo de


confronto entre dois argumentos, sem que se examinasse seus pressupostos. Ali onde ele e eu
estabelecemos as mesmas perguntas (excetuando-se erros e omissões), encontramos as mesmas
respostas, e onde as questões eram diferentes, as respostas também o eram. Em alguns aspectos os
pressupostos de Chamberlin eram mais realistas que os meus, embora ele não quisesse deles retirar
conclusões realistas".(Robinson, 1979a: 114).
13

Por outro lado, ao identificar a imperfeição da concorrência com a capacidade de


elevar preços, tendo por conseqüência a redução dos salários reais, Joan Robinson
considerava que os sindicatos eram necessários para, através da luta pela elevação dos
salários nominais, permitir o crescimento da demanda num nível compatível com o
crescimento da produtividade, evitando "a frustração dos oligopolistas" (Robinson,
1958: 243), isto é, a redução do poder de compra. Em outras palavras, ela passou a
combater a idéia de que os trabalhadores deveriam contentar-se em manter uma
participação constante numa renda crescente, ao invés de reivindicar uma participação
maior numa renda que crescesse menos. Segundo a Autora, a pressão pela elevação de
salários nominais estava longe de ser danosa, mas, pelo contrário, era uma condição
para o bom funcionamento do sistema. Isto porque, se era verdade que numa economia
oligopolizada tender-se-ia a evitar a concorrência em preços, com salários nominais
constantes (e progresso técnico redutor de custos), a participação relativa dos lucros na
renda aumentaria e a dos salários cairia, podendo gerar uma situação em que a demanda
cresce abaixo da capacidade produtiva, ocasionando, por conseqüência, uma crise. Este
argumento, segundo Joan Robinson, foi um dos importantes legados da concorrência
imperfeita para os tempos modernos. O segundo legado, embora bem menos explorado
por ela, era a idéia de que, se em condições de oligopólio não há concorrência em
preços, as outras formas de concorrência - pela propaganda, por exemplo - criariam
novas oportunidades de investimento (e geração de emprego).
Deve-se reconhecer, no entanto, que foi apenas posteriormente que Joan
Robinson explicitou as concepções expostas no parágrafo acima. Ao mesmo tempo, elas
atestam que suas inquietações com relação à questão do emprego não se esgotaram no
livro A Economia da Concorrência Imperfeita. Muito pelo contrário: ela desenvolveu,
em inúmeros dos seus trabalhos posteriores, várias das idéias que já se encontravam
presentes neste seu primeiro livro, incorporando várias contribuições de muitos dos seus
contemporâneos, com especial destaque para Keynes e Kalecki. Mas isto já seria um
outro tema23.
Cumpre assinalar, finalmente, e como contraponto às interpretações de que A
Economia da Concorrência Imperfeita foi um livro puramente teórico, os comentários
de Joan Robinson ao livro de Shackle, Os Anos da Alta Teoria. Ela ressaltou que, muito
mais do que a preocupação de construir uma nova teoria, a elaboração de A Economia
da Concorrência Imperfeita tinha o objetivo de entender - e se necessário para tanto, o
de construir o instrumental adequado - os fenômenos reais da época:

"George Shackle tratou a 'alta teoria' como um movimento puramente


intelectual, mas na verdade ela teve como origem a situação real dos anos trinta:

23. Sob a influência principalmente de Kalecki, o argumento de Joan Robinson se sofisticou: ela mostrou
que as margens de lucro altas - relacionadas às imperfeições no mercado de bens -, ao reduzir o poder de
compra dos salários reais, reduzem o emprego (e até mesmo o grau de utilização da capacidade), e
conseqüentemente a massa de lucros. Por conseguinte, margens altas de lucro não geram grande massa de
lucros. Por outro lado, margens mais baixas (associadas a políticas de preços mais competitivas) não
reduzem a massa de lucros: pelo contrário, por elevarem os salários reais, possibilitam o aumento da
demanda e o nível de emprego (bem como o grau de utilização da capacidade instalada). Segundo
Asimakopulos (1988-89: 274), muitas vezes a referência de Joan Robinson aos "modelos keynesianos"
deveria ser descrita, com mais propriedade, como "kaleckianos" - em particular no que diz respeito à
"integração explícita entre os elementos micro e macro, [que] se tornaram uma característica do
trabalho de Joan Robinson".
14

o colapso da economia de mercado a nível mundial durante a Grande Depressão.


...O movimento dos anos trinta foi uma tentativa de levar a análise econômica a
tratar de problemas econômicos reais. A discussão de um problema real não pode
evitar a questão do que se deve fazer a respeito desse problema; as questões de
política econômica envolvem a política; o laissez faire não passa de uma entre
outras políticas. A política envolve a ideologia; não existe nada parecido com um
problema 'puramente econômico' que possa ser resolvido pela lógica puramente
econômica; os interesses e os preconceitos políticos estão presentes em qualquer
discussão a respeito de questões reais. Os participantes de qualquer controvérsia
dividem-se em escolas - conservadoras ou radicais - e a ideologia está pronta a
penetrar na lógica. No campo da Economia, tal como ocorre no da teologia, os
argumentos visam a apoiar doutrinas e não a submeter hipóteses à prova".
(Robinson, 1977a: 1)

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20

RESUMO

O texto pretende discutir um aspecto pouco considerado do livro A Economia da


Concorrência Imperfeita (1933) de Joan Robinson. Embora seja sempre (e
corretamente) referido como uma das mais importantes contribuições à teoria
(micro)econômica, a maioria dos comentadores e estudiosos deste seu primeiro livro
parece negligenciar sua relação com a nova teoria do emprego que estava então sendo
forjada em Cambridge, Inglaterra, apesar de Joan Robinson ter começado a escrevê-lo
por volta de 1930-31, ou seja, quase simultaneamente ao Cambridge Circus, no qual ela
foi uma destacada partícipe. Mesmo suas reiteradas declarações de que seu ponto central
foi o de ter provado que os salários nem sempre se igualam ao produto marginal do
trabalho, embora bastante citadas, não têm merecido maiores atenções. Apesar de ser
uma avaliação ex-post da Autora, deve ser levada em conta.
Um dos procedimentos mais comuns na teoria econômica recente é a tentativa de
identificar elementos de imperfeições de mercado na Teoria Geral de Keynes. Este texto
faz o percurso contrário, pois pretende sublinhar a ênfase dada por Joan Robinson à
questão do desemprego, tal como ela aparece em A Economia da Concorrência
Imperfeita. Um indício da importância deste tema no livro é o fato de que quase um
terço dele está dedicado à análise do mercado de fatores de produção. Além disso, a
última parte contém uma importante e não compreendida contribuição da Autora: o
conceito de exploração do trabalho, que, segundo ela, decorre de imperfeições no
mercado de trabalho e/ou no mercado de produto.
Apesar da utilização do instrumental analítico tradicional (porém inovador), é
preciso notar uma característica heterodoxa e muito importante do pensamento de Joan
Robinson: ela não propunha, necessariamente, a eliminação das imperfeições como
forma de combater a exploração do trabalho. Na verdade, achava que, sob certas
condições, as imperfeições poderiam ser favoráveis aos trabalhadores, o que também
teve reflexos na sua visão de políticas e estratégias sindicais.
Como subproduto, o texto sugere que a ênfase de Joan Robinson no mercado de
trabalho fez com que ela negligenciasse a diferenciação de produtos (mas não a
diferenciação de fatores de produção), conforme ela mesma chegou a reconhecer. Isto
talvez explique o motivo pelo qual os manuais de microeconomia tendam a dar
preferência ao modelo de concorrência monopolista de Edward Chamberlin, e utilizar o
conceito de exploração de Joan Robinson quase como um caso especial, justamente o
oposto do que ela propunha.
As principais referências utilizadas neste texto são A Economia da Concorrência
Imperfeita, várias resenhas do livro, bem como as réplicas de Joan Robinson aos seus
críticos e suas próprias autocríticas.

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