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Claudia Heller
São Paulo State University
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All content following this page was uploaded by Claudia Heller on 28 May 2014.
Claudia Heller1
1. Introdução
5 Em Heller (1996a) discute-se o fato de que, aparentemente, Keynes não reconhecia a relação entre
concorrência imperfeita e capacidade ociosa (e entre estas e o progresso técnico) e seu impacto sobre o
nível de emprego, assim como a clareza com que Joan Robinson os relacionava. Apesar de
posteriormente, em depoimento a propósito dos debates que levaram ao desenvolvimento da Teoria Geral
Joan Robinson ter registrado que "[Keynes] deslanchou minha carreira ao conseguir que a Macmillan
publicasse minha A Economia da Concorrência Imperfeita, mas ele considerava que o tema não tinha
qualquer importância (eu não discordaria dele hoje em dia)". (Robinson, 1979b: 119), os arquivos do
King’s College em Cambridge mantêm o rascunho datilografado da introdução ao livro da Autora, com
correções e sugestões manuscritas de Keynes, bem como a resposta de Keynes à consulta de Macmillan
sobre a conveniência ou não da publicação do livro da Autora. Estes documentos mostram que Keynes era
menos indiferente à teoria da concorrência imperfeita do que se supõe.
6 Robinson (1933b) e Robinson (1933c).
3
9 Esta é uma das idéias que sustentaram o caráter geral do seu instrumental baseado nas curvas marginais.
Veja-se, particularmente, Robinson (1933: 229-231)
10 Por outro lado, a idéia de que o monopolista seja monopsonista dos fatores de produção que utiliza
lembra, ainda que apenas vagamente, a tendência de uma empresa, ao diferenciar seu produto (e,
particularmente quando a diferenciação não é apenas superficial), utilizar em geral, se não insumos e
equipamentos totalmente "dedicados", certamente um processo de produção específico, talvez único, às
vezes patenteado, sobre o qual, detém, portanto, algum grau de monopólio.
5
11 É bom ressaltar que esta definição não tem qualquer relação com o conceito de exploração do trabalho
com origem na economia clássica, como o derivado do conceito de mais-valia (relativa ou absoluta). O
6
- faz-se necessário explicitar algumas definições sugeridas e utilizadas pela Autora. Ela
definia como “produtividade física marginal do trabalho” o “incremento de produto
decorrente do emprego de uma unidade adicional de trabalho, mantendo-se fixos os
gastos com os demais fatores” (Robinson, 1933: 236) e como “produtividade marginal
do trabalho” o “incremento no valor do produto total decorrente do emprego de um
homem adicional, mantendo-se inalterados os valores dos demais fatores de produção”
(Robinson, 1933: 237). Isto significa que a produtividade marginal (ou produto
marginal) é igual à produtividade física marginal (ou produto físico marginal)
multiplicada pela receita marginal do produtor em questão12. Assim, se a demanda pelo
produto é perfeitamente elástica, a receita marginal será constante, igual ao preço
unitário do produto e o produto marginal será igual ao valor do produto físico marginal.
Se a demanda não for perfeitamente elástica, a receita marginal será menor que o preço,
e o produto marginal será menor que o valor do produto físico marginal13.
Sob o princípio da maximização, um empregador individual empregará o
número de trabalhadores para o qual o produto marginal líquido é igual ao custo
marginal do trabalho. Esta relação é verdadeira tanto na situação em que o empregador
em questão vende seu produto e compra seus fatores (principalmente a mão de obra) em
mercados em concorrência perfeita, quanto em situações diversas a essa, embora neste
caso o preço do produto e o preço do trabalho não sejam independentes do número de
homens empregados. Se o salário for igual ao produto médio líquido do trabalho, o
empregador recebe “lucro normal” (analogamente, se o salário for inferior, há lucro
extraordinário e se for superior há prejuízo). O que é importante, é que a existência de
lucro normal, extraordinário ou prejuízo não determina, por si só, a exploração, pois esta
é definida em termos da comparação entre o salário e o valor do produto marginal - e
não entre o salário e o valor do produto médio.
Para Joan Robinson, embora fosse comum atribuir-se a exploração do trabalho
às desigualdades do poder de barganha entre trabalhadores e empresários - o que poderia
ser resolvido, ou ao menos amenizado, através da organização sindical e/ou da
intervenção do Estado - “a causa fundamental da exploração está na ausência de
perfeita elasticidade na oferta de mão de obra ou na demanda por bens” (Robinson,
1933: 281). Seu argumento, como se viu, repousava sobre a definição de exploração em
14 Ela considerava ainda a exploração resultante do poder discriminatório do empregador, mas este caso,
na verdade, equivale ao segundo, já que o poder discriminatório do empregador supõe diferenciação entre
trabalhadores, e portanto imperfeição no mercado de trabalho. Além disso, identificava ainda uma outra
situação - a quase-exploração - causada por barreiras à entrada de firmas no setor de produção. Esta, no
entanto, não correspondia, conforme ela mesmo reconhecia, à sua própria definição.
15. As causas de imperfeições no mercado de trabalho foram são discutidas pela Autora no capítulo 8 do
seu livro (cujo interesse particular é o fato de inspirar-se fortemente no artigo de Sraffa de 1926). As
imperfeições no mercado de trabalho fazem com que a oferta de mão de obra seja imperfeitamente
elástica, isto é, que ela seja crescente.
16. Esta proposição pode ser comprovada matematicamente:
8
(9) W = g(L) função oferta na forma inversa, onde W é o preço do insumo e L é a quantidade ofertada de
insumo
(10) custo variável C(L) = W.L = L.g(L)
(11) despesa marginal com o insumo DMg = dC(L)/dL = g(L) + Lg’(L) = W + L.dW/DL
(12) elasticidade da oferta do insumo θ = dL.W/dW.L
(13) de (11) tem-se DMg = W + L.dW/DL = W(1+L.dW/W.dL)
(14) substituindo (12) em (13) tem-se DMg = W(1+1/θ)
Conclui-se que apenas quando a curva de oferta do insumo é infinitamente elástica, θ tende ao ∞ e DMg =
W.
9
4. Observações finais
se referiram ao tema deste trabalho17. Ainda assim, é possível identificar alguns poucos
autores que perceberam a importância atribuída por Joan Robinson ao mercado de
trabalho como um mercado imperfeito por excelência. Merece menção especial a
resenha de Corwin Edwards que, além de se referir ao fato de que “o monopólio do
comprador, ou monopsônio, é discutido com especial referência à demanda dos fatores
de produção e culmina na teoria da exploração do trabalho em virtude da imperfeição
do mercado” (Edwards, 1933: 684), comparou o livro de Joan Robinson ao de
Chamberlin, e concluiu que “ambos os autores concordam que o efeito geral do
monopólio parcial é a restrição da produção e a elevação do preço. O Professor
Chamberlin adiciona que eleva o número de empresas e promove a excessiva
diferenciação de produtos. A Sra. Robinson adiciona que facilita a exploração do
trabalho”. (Edwards, 1933: 684)18.
Os anos mais recentes trouxeram à baila uma grande quantidade de trabalhos -
das mais diferentes linhas de pensamento - que reavaliam a obra de Joan Robinson19.
Uma parte deles rediscute o livro A Economia da Concorrência Imperfeita, mas,
novamente, poucos são os autores que deram importância ao tema do mercado (ou da
exploração) do trabalho. Uma das poucas exceções é o texto de Feiwel (1989c: 17), que
anotou que a discussão de exploração de Joan Robinson é “imaginativa e controversa”,
mas tem elementos que “não perderam sua relevância passados mais de cinqüenta anos
depois de escritos”. Feiwel ressaltou que Joan Robinson “não se esconde das
conclusões impalatáveis” isto é, a de que a elevação dos salários, se reduzir os lucros ao
nível normal, pode ser uma estratégia indesejável, já que resultaria numa elevação de
preços e redução do emprego. Feiwel foi um dos poucos autores que levaram em conta o
fato de que o livro era “um produto da insatisfação geral com a política de laissez-faire
durante a depressão, e era particularmente significativo no contexto da situação
econômica [da época]” (Feiwel, 1989c: 22) e destacou particularmente uma das
conclusões de Joan Robinson, a de que “um sistema de empresas privadas sem controle,
no qual os salários são mais flexíveis que os lucros, deve gerar má distribuição de
recursos e desperdício de riqueza potencial em escala ampliada". (Robinson, 1933:
291).
17 As Referências Bibliográficas ao final deste trabalho trazem a lista completa das resenhas de A
Economia da Concorrência Imperfeita.
18 Entre as outras resenhas que fazem alguma menção ao tratamento dado por Joan Robinson ao mercado
de trabalho e/ou a questão da exploração, deve-se mencionar Shove (1933), Harrod (1934), Kaldor
(1934), Radford (1934) e Chamberlin (1934). Este último texto é, na verdade, a transcrição se sua
participação numa mesa redonda sobre as teorias da concorrência monopolista e imperfeita, presidida por
Schumpeter.
19 Vejam-se, por exemplo, o livro de Marjorie Turner Joan Robinson and the Americans (1989), os dois
volumes organizados por George Feiwel, ambos publicados em 1989: Joan Robinson and Modern
Economic Theory, e The Economics of Imperfect Competition and Employment - Joan Robinson and
Beyond, o livro organizado por Ingrid Rima, The Joan Robinson Legacy (1991) e o de autoria de James
Cicarelli e Julianne Cicarelli, Joan Robinson: A Bio-Bibliography (1996). Muito significativa também é a
seleta dos principais trabalhos apresentados na Conferência “The Passion of Reason: Joan Robinson
(1903-1983)”, ocorrido em Turim, Itália, em dezembro de 1993, reunidos sob a organização de Maria
Cristina Marcuzzo, Luigi L. Pasinetti e Alessandro Roncaglia no livro The Economics of Joan Robinson
(1996). No formato de edições dedicadas a homenagear a Autora, deve-se mencionar dois periódicos de
circulação internacional: o volume 07 do Cambridge Journal of Economics (1983) e o volume 37 da
revista Economie Appliquée (1985). A lista completa de trabalhos sobre Joan Robinson, publicados e
inéditos, pode ser encontrada em Heller (1996a).
11
"Meu par, o Professor Chamberlin, gastou muitos anos protestando que sua
'concorrência monopolista' era muito diferente da minha 'concorrência
20. Entre os autores que ao menos mencionam o mercado de trabalho e/ou o tema da exploração do
trabalho em A Economia da Concorrência Imperfeita estão: O’Brien (1984), Loasby (1985), Bishop
(1989), Whitaker (1989) e Asimakopulos (1990).
21. A influência da tese de Kahn sobre a elaboração da teoria da concorrência imperfeita bem como sua
reivindicação de ter sido o primeiro a conceber a curva de demanda quebrada (em geral atribuída a Hall e
Hitch e/ou a Sweezy) é discutida em Heller (1996b).
12
23. Sob a influência principalmente de Kalecki, o argumento de Joan Robinson se sofisticou: ela mostrou
que as margens de lucro altas - relacionadas às imperfeições no mercado de bens -, ao reduzir o poder de
compra dos salários reais, reduzem o emprego (e até mesmo o grau de utilização da capacidade), e
conseqüentemente a massa de lucros. Por conseguinte, margens altas de lucro não geram grande massa de
lucros. Por outro lado, margens mais baixas (associadas a políticas de preços mais competitivas) não
reduzem a massa de lucros: pelo contrário, por elevarem os salários reais, possibilitam o aumento da
demanda e o nível de emprego (bem como o grau de utilização da capacidade instalada). Segundo
Asimakopulos (1988-89: 274), muitas vezes a referência de Joan Robinson aos "modelos keynesianos"
deveria ser descrita, com mais propriedade, como "kaleckianos" - em particular no que diz respeito à
"integração explícita entre os elementos micro e macro, [que] se tornaram uma característica do
trabalho de Joan Robinson".
14
Referências Bibliográficas
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Economic Studies, (1), outubro, pp. 22-26.
ROBINSON, J. (1934): What is Perfect Competition? Quarterly Journal of Economics,
48(4), novembro, pp. 104-120.
ROBINSON, J. (1936): Review of John Strachey, 'The Nature of Capitalist Crisis'. The
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ROBINSON, J. (1937): Some Reflections on Marxist Economics. In: Essays in the Theory
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ROBINSON, J. (1941): Marx on Unemployment. The Economic Journal, 51(202-203),
junho-setembro, pp. 234-248.
ROBINSON, J. (1948): Marx and Keynes. Critica Economica, (2), novembro, pp. 33-45.
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Moderna e o Marxismo, tradução de Ruy Jungmann, Rio de Janeiro, Zahar, pp.
97-110.
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Publicado em inglês sob o título "'Imperfect Competition' Today" in Collected
Economic Papers, vol. 2, Oxford, Basil Blackwell, 1960. 2a. edição, 1975, pp.
239-245. Há tradução para o português: "A 'Concorrência Imperfeita' em
Retrospecto", por Tamás Szmrecsányi, mimeo, que inclui também a tradução do
prefácio da segunda edição de The Economics of Imperfect Competition, pp. v-
xii, intitulada "Imperfect Competition, then and now".
ROBINSON, J. (1933/1969): Preface to the Second Edition of 'The Economics of
Imperfect Competition': Imperfect Competition Then and Now. In ROBINSON
(1933a), The Economics of Imperfect Competition, Londres, Macmillan. 2a.
edição 1969, pp. v-xii. Há tradução para o português por Tamás Szmrecsányi,
mimeo.
ROBINSON, J. (1973): Foreword. In KREGEL (1973): The Reconstruction of Political
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ROBINSON, J. (1974b): Markets. Collected Economic Papers, vol. 5, Oxford, Basil
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ROBINSON, J. (1977a): What are the Questions?. The Journal of Economic Literature,
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Robinson, J. (1977b): Reminiscences. Contributions to Modern Economics, Basil
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ROBINSON, J. (1979a): Thinking about Thinking. Collected Economic Papers, vol. 5,
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ROBINSON, J. (1979b): Review of D. Patinkin and J. C. Leith (eds.), 'Keynes, Cambridge
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(eds.)(1992): The Philosophy and Economics of J.M. Keynes, Aldershot, Edward
Elgar pp. 107-128.
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RESUMO