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Universidade Federal de Minas Gerais

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS


Graduação em Relações Econômicas internacionais

A ascensão do ““Resto” – Alice H. Amsden”: Os desafios ao ocidente


de economias com industrialização
tardia.

Ana Luiza Barbosa Gonzaga


Gabriel Pinheiro Carvalho
Julia Paula de Avila
Luiz Henrique dos Santos Pires
Maria Luiza Gomes Silveira Lima
Sofia Kimi Pawlowski Abeki
Theo Gomes Guerra
Vírnia Catherine Oliveira Santos
Belo Horizonte – MG
2023
I - RESUMO DO LIVRO “A ASCENSÃO DO ‘RESTO’” DE ALICE H. AMSDEN

1.1 - Introdução

A expressão "resto", primeiramente, diz respeito a um grupo de países cuja industrialização


tomou forma majoritariamente após a Segunda Guerra Mundial. Nela estão presentes China, Índia,
Coreia do Sul, Malásia, Taiwan, Tailândia, Argentina, Brasil, Chile, México e Turquia. O
desenvolvimento das nações que enfrentaram o processo industrial anteriormente, como alguns
Estados europeus, ocorreu em tamanha rapidez e magnitude às custas do chamado "resto". À
colonização foi atribuída, direta ou indiretamente,  grande parte do sucesso, por exemplo, inglês e
francês, como dito no capítulo 24 de "O Capital", de Karl Marx, e no segundo capítulo de "A
Revolução Inglesa de 1640", de Christopher Hill, em que fica explícito o enriquecimento da
Inglaterra com a matéria prima e mercados consumidores dos países por ela explorados, muitos deles
inclusive participantes do "resto".
O que difere a industrialização desse conjunto de países é, principalmente, o fato de que eles se
desenvolveram nesse setor sem inovações próprias, mas com o aprendizado das técnicas de produção
antes usadas para servir aos seus exploradores. O desenvolvimento econômico é um processo que
começa com a exploração de matéria prima por uma mão de obra não especializada, para que, depois
da atração de capital,  ele se transforme em um conjunto de ativos baseados no conhecimento,
explorados por trabalhadores mais especializados. 
Esses ativos baseados no conhecimento seriam as habilidades que permitem ao detentor vender
algo acima dos preços do mercado ou abaixo dos custos dele, ou seja, quanto mais alguém, nesse
caso , uma nação, pratica a ação de produzir e vender bens, mais familiarizada ela fica com o
processo e mais ela consegue encontrar modos de produzir mais barato. Quanto mais conhecimento
uma empresa ganha, mais vantajoso é para ela, já que a sabedoria é difícil de acessar de forma
perfeita, ou seja, é quase impossível que outros a acessem, e quanto mais é adquirida, mais completa
e vantajosa fica a venda de um produto ou serviço Entretanto, no cenário atual, a concepção é a de
que a informação deve ser espalhada, o conhecimento de uma empresa não pode representar uma
barreira à economia e o investimento estatal deve ser direcionado à educação, em vez de na formação
de empresas.  Na economia atual, a busca é por mercados cada vez mais perfeitos para reduzir os
custos de transação, e não empresas individuais que usam ativos baseados no conhecimento para
subir no mercado. 
Apesar das exigências do contexto econômico internacional, muitas empresas têm receio de
divulgar essas informações, e isso causa o desequilíbrio entre empresas de um mesmo ramo
industrial. Terra, capital e mão de obra já não medem mais sozinhos a competitividade de uma
empresa, pois o conhecimento faz parte de um papel crucial no valor de uma corporação. 
Sendo assim, nessas condições desfavoráveis, os países retardatários tiveram que fazer uma
escolha: ou não fazer nada e contar com o mercado para realinhar sua taxa de câmbio, com um corte
dos seus salários reais, ou tentar elevar sua produtividade de modos não muito claros. Colocando de
forma mais simples: se eles mantiverem a produtividade, eles nãao serãao capazes de competir
internacionalmente e, por isso, o seu câmbio vai desvalorizar e os salários vão cair e, se eles
mantiverem os salários e aumentarem a produtividade, os salários baixos de um pais pobre podem
não ser páreo para a produtividade ascendente de um país rico. O motor do crescimento pode se
superaquecer por falhas governamentais. Esse tipo de impasse nunca foi um problema para os
europeus, que se industrializaram ao mesmo tempo de uma grande onda de mudanças tecnológicas e
de processos colonizadores. 
Para compensar seu déficit em habilidades, o "resto" concebeu um modelo econômico original,
governado por um mecanismo de controle inovador. Mas o que é isso? Um mecanismo de controle
seria um conjunto de instituições que impõem disciplina ao comportamento da economia. Subsídios
eram alocados para tornar as manufaturas lucrativas, transferindo os recursos dos ativos baseados em
produtos primários para aqueles baseados no conhecimento. Esses subsídios eram baseados no
princípio da reciprocidade, ou seja, o governo investe nas empresas e o aumento do seu níivel de
conhecimento dará um retorno ao Estado. O mecanismo de controle do "resto" minimiza as falhas do
governo do mesmo modo que a mão invisível do Atlântico Norte minimiza as falhas do mercado.
Um mecanismo de controle envolve um assessor, que compara o que esta acontecendo com o
que deveria acontecer, um efetuador, para mudar comportamentos e uma rede de comunicações para
transmitir informações para todos os departamentos. Formuladores de políticas industriais eram
tomadores de preços, com a função de tornar a indústria cada vez mais lucrativa e contornar
dificuldades impostas pelos preços. As zonas de livre comércio foram essenciais nesse sentido, já
que nelas os fabricantes se desvencilharam das taxas de câmbio e ofereciam uma troca interessante
para indústrias: isenção de impostos com a exportação integral de sua produção. Entretanto, poucas
indústrias aproveitaram essas concessões, e a produtividade estava abaixo do normal e os salários
baixos não compensam. Assim sendo, os planejadores de desenvolvimento foram um passo além e
pararam de exigir a exportação de 100% dos produtos, e as manufaturas intensivas em mão de obra
floresceram, mas sem diversificação do setor manufatureiro. Para resolver esse problema, a
engenharia econômica ofereceu ainda maiores subsídios à indústria têxtil, manipulando, assim, os
preços para tornar as atividades manufatureiras cada vez mais lucrativas. Conforme as indústrias do
"resto" foram ganhando porte, o desempenho passou para a pesquisa e o desenvolvimento. China e
Taiwan, por exemplo, adotaram um protocolo que obrigava as empresas a destinarem parte do seu
lucro à área de pesquisas.
A alocação de subsídios em todos os países, exceto a Argentina, já estava consolidada e
baseada em uma série de normas no fim da década de 1950. Em teoria, o problema do dano moral
veio à tona, conforme as empresas se tornavam grandes demais para que os governos lhes deixassem
falir. Na prática, os governos não podem permitir que os líderes nacionais falissem, mas permitiam
que os proprietários entrassem em falência, deixando a capacidade de produção intacta mas
transferindo os direitos de produção para outra entidade. A corrupção foi o flagelo da
industrialização tardia, e as crises de dívida externa que abalaram a América Latina e o Leste
Asiático foram causadas pela tendência dos Estados desenvolvimentistas de super expandir-se. Na
América Latina, houve uma prolongada estagnação, mas não foi devido à corrupção mas sim à falta
de desenvolvimento de um setor de ponta, A corrupção por todo o "resto" foi historicamente
endêmica e atrasou o desenvolvimento dos países que fazem parte dele, mas não os descarrilou
graças ao mecanismo recíproco que reinava nessas nações. 
O "resto", portanto, ascendeu com o acerto do mecanismo de controle, e não dos preços. Mais
de um século de desenvolvimento retardatário foi revertido e seguido por uma expansão sem
precedentes das manufaturas. Durante décadas, os índices de crescimento da produção manufatureira
per capita cresceram mais fora do Atlântico Norte do que dentro dele. Entre 1960 e 1980, a produção
manufatureira do "resto" cresceu em 9%, e as exportações da maioria dos países cresceram
anualmente na casa de dois dígitos durante quase 50 anos. Entre 1950 e 1973, a renda per capita
dobrou em alguns paíises e quadruplicou em outros. 
Embora todos os paíises do "resto" tenham se industrializado, alguns foram mais longe na
conversão de economias em conhecimento, como a China, a Índia, Taiwan e Coreia, que começaram
a investir em em habilidades nacionais próprias, o que as ajudou a se sustentar individualmente. Já a
América Latina e a Turquia, diferentemente da Ásia, passaram a depender cada vez mais do capital
estrangeiro que, por sua vez, não foi investido na ciência e na tecnologia. Todos os países
continuaram a comprar grandes quantidades de tecnologia estrangeira, e o "resto" foi se tornando
cada vez mais global, com as empresas nacionais investindo em produção e distribuição. 
Desse modo, o resto se dividiu em dois: os integracionistas (que buscavam se clonar para
investidores estrangeiros como estratégia de crescimento nacional) e os independentes (que
buscavam criar sistemas de inovação nacionalista para dar apoio a líderes nacionais com suas
próprias habilidades, baseadas no conhecimento).  A diferença primária entre as duas abordagens
está centrada, principalmente, na história - o tipo de experiência manufatureira do país e a sua
distribuição de renda - das nações pertencentes aos grupos.

1.2 - Experiência Manufatureira

A experiência manufatureira do pré-guerra contribuiu para a classificação dos países como


pertencentes ao “resto”. Sem experiência, o maquinário desenvolvimentista fica mais propenso a dar
as costas ao acúmulo de capital e degenerar na “busca de renda”. Por outro lado, essa, passada, gera
padrões altos de potenciais sucessos econômicos e maiores incentivos a engrandecer a capacidade
manufatureira. Consequentemente, favorece o surgimento de administradores e engenheiros para
implementar os planos de investimentos e operar os mecanismos do Estado desenvolvimentista e a
empresa de propriedade nacional administrada profissionalmente. 
Nesse sentido, estabelece-se três categorias: pré-moderna; emigrada e colonial
 Pré-moderna: Originava-se de atividades artesanais e era a de mais longa duração.
Encontrava-se na China, na índia, no Império Otomano e no México. 
 Emigrada: Originava-se do know-how dos emigrantes. Exemplos: O conhecimento dos
chineses na Indonésia, no Taiwan, na Tailândia e na Malásia foi fundamental para a
industrialização, assim como o know-how do Atlântico Norte na América Latina e na
Turquia. 
 Colonial: Originaram-se dos antigos elos coloniais e é marcada por um específico filtro
histórico e institucional. Assim, diferencia-se da Emigrada no que diz respeito às estratégias
de longo prazo. Exemplos: Os países que investiram em empresas nacionais (China, índia,
Coreia e Taiwan) tinham experiência manufatureira colonial, enquanto os países “ímãs” de
capital estrangeiro direto e lento possuíam experiência emigrada do Atlântico Norte
Após a Segunda Guerra Mundial e os processos de descolonização, os países de experiência
manufatureira colonial foram capazes de nacionalizar, expropriar ou adquirir  empresas de
propriedade estrangeira, aproveitando-se do “primeiro lance” para expandir suas indústrias. Já as
nações de conhecimento emigrado, enfrentaram dificuldades, a título de ilustração, países com
experiência advinda do Atlântico Norte atraíram maior investimento estrangeiro, uma vez que foram
capazes de ter um mercado interno grande e atrativo, aspecto o qual, todavia, “expeliu” as empresas
nacionais. 
Destarte, estabeleceu-se uma diferenciação entre o “resto” e o “resquício”, de maneira que
quanto maior a continuidade na transmissão do conhecimento antes e depois da Segunda Guerra
Mundial, e quanto maior a descontinuidade na propriedade de empresas estrangeiras, maior a base
para o surgimento de líderes nacionais e para a formação de habilidades nacionais.

1.3 - O Paradoxo Político da Distribuição de Renda


Os setores primários do “resto” eram amplamente diversificados e, por conseguinte, os níveis
de distribuição de recursos. A partir da análise da tabela 1.9 (página 52) percebe-se que os países
com maior índices de desigualdade de distribuição de terras eram a Argentina, o Brasil e a Malásia,
enquanto os com maior igualdade eram a Coréia, o Taiwan e a Tailândia. Sob esse viés, é possível
perceber que a reforma agrária pós-guerra no Japão , na Coréia e no Taiwan evidenciam os
resultados supracitados. Não obstante, as demais medidas de igualdade mostram maior desigualdade
no México e maior igualdade na Índia. 
Uma economia nacional pode ser considerada um todo orgânico e, quanto maior a
desigualdade de renda, maior é a ruptura do todo orgânico, e mais difícil é a mobilização de apoio
para empresas nacionais e habilidades nacionais específicas das empresas. Sob essa perspectiva, o
desenvolvimento das manufaturas dependia dos recursos obtidos no setor primário, de maneira que
os ativos intermediários de renda precisam ser maiores do que o normal para se obter um lucro
mínimo no início das indústrias e empresas tardias, as quais acarretam capacidades absorventes de
capital humano altas. 
Vale ressaltar que, com grandes concentrações de recursos naturais e custos de entrada fixos
para o aprendizado manufatureiro, as competências-chave de investidores do setor primário (e
terciário) dificilmente se concentram nas manufaturas, como no Brasil. Portanto, esses ativos
intermediários podem ser alocados pelo governo ou para um número relativamente alto de empresas
(difusão) ou para um número relativamente pequeno de “líderes nacionais” (concentração).
Os principais instrumentos utilizados para difundir ou concentrar subsídios foram: o
licenciamento industrial (que influencia quantas pessoas terão permissão para operar numa dada
indústria); padrões de desempenho relativos ao teto da relação dívida-capital (o que influencia o
porte da empresa) e a distribuição de lucros (o que influencia a estrutura da empresa). 
Nesse viés, em governos autoritários, nos quais a concentração de subsídios deveria ocorrer
nos casos em que a distribuição de renda fosse acentuadamente distorcida. Contudo, paradoxalmente,
países do “resto” com distribuições de renda atuais relativamente igualitárias seguiram a abordagem
da concentração, enquanto países com distribuições de renda relativamente desiguais seguiram a
abordagem da difusão. Assim, percebe-se que a industrialização tardia se desenvolveu, em grande
medida, frente a uma política antidemocrática com perspectivas a longo prazo e em um Estado mais
tecnocrático. 
Na industrialização tardia, a distribuição de renda afeta o grau em que as empresas nacionais
estabelecem suas competências-chaves dentro ou fora das manufaturas e o grau em que as políticas
industriais concentram ou difundem os ativos intermediários para diversificar a indústria. Quanto
maior a desigualdade, mais difusionistas tendem a ser as políticas e, consequentemente, maior é a
dificuldade de criar líderes nacionais com habilidades exclusivas e de ponta. 

1.4 - A Criação das Instituições

Os mecanismos de controle recíprocos começaram a ser construídos no fim da década de 1950


ou no início dos 1960 pelo “resto”, com exceção da Argentina: 
 Tailândia: Um golpe levou ao poder um general com interesse pelas empresas privadas e
uma lei de Promoção do Investimento Industrial (1960) criou um Conselho de Investimento
que fomentou a atividade manufatureira;
 Malásia: A Ordenança da Indústria Pioneira (1958) promoveu a indústria, intensificando-se
após os tumultos de 1969;
 Indonésia: O novo governo militar (1966) por Soeharto  facilitou a jornada na
industrialização utilizando muitas instituições do ex-presidente Sukarno;
 Coréia: A industrialização acelerou após um golpe dos Jovens TURCOS EM 1961 E DA
ascensão ao poder de um arqui-desenvolvimentista, Park Chung Hee;
 Taiwan: O Terceiro Plano de Desenvolvimento (1961-1964) enfatizou a necessidade de
promover a indústria pesada e o Escritório de Desenvolvimento Industrial (1970) contribuiu
para acelerar o processo;
 Índia: A Resolução da Política Industrial (1956) estimulou esforços para a reestruturação das
indústrias existentes e a sua diversificação;
 Turquia: O golpe de 1960 estabeleceu o Escritório de Planejamento Estatal e o início da
expansão industrial pós-guerra;
 Brasil: Iniciou-se por uma abordagem de indústrias de base para a modernização e
desenvolvimento econômico, que promoveu as alocações do governo, cujos projetos foram
formulados no Programa de Metas de Kubitschek;
 Chile: Restituição de uma corporação desenvolvimentista em 1961;
 México: A nova presidência de Miguel Alemanha e o “novo grupo” de industriais
progressistas fizeram da industrialização a meta econômica;
 China: intensificou suas tentativas de industrialização em 1958 com um Grande Salto
Adiante. 
Esse momento histórico ficou definido pelos “ventos da mudança” da descolonização, pela alta
tecnologia do planejamento desenvolvimentista e pelas oportunidades de migração ultramarina, o
que também influenciava os países nos arredores territoriais, como por exemplo, Malásia, Indonésia
e Tailândia. Nos anos pós-guerra, a formação de capital interno bruto começou a aumentar e a
participação do governo no investimento bruto atingiu níveis elevados, com o investimento
estrangeiro direto respondendo por apenas uma pequena parcela da formação de capital. 
(VER TABELAS DO CAPÍTULO - MUITO IMPORTANTE)

1.5 - O mecanismo de controle recíproco da Tailândia

O diferencial do mecanismo de controle tailaândêes, simbolizado pelo Conselho de


Investimento (CDI) criado em 1966, era que ele era administrado por uma seleção de funcionários
públicos escolhidos através de suas notas acadêmicas, estabelecendo, teoricamente, um hierarquia
meritocrática no governo. Tal mecanismo surgiu através de reformas após um número de revoltas em
1932, e criou uma elite bem-educada no poder público - ainda mais que na esfera privada. 
Entretanto, a ameaça a esse projeto vinha na forma da intervenção da educação estrangeira,
especialmente americana, após a Segunda Guerra Mundial. Economistas formados nos Estados
Unidos e treinados por americanos e que serviam de conselheiros  ofereciam oposições ao CDI,
defendendo o desenvolvimento privado sem o auxílio governamental. Apesar disso, o CDI foi bem-
sucedido, tendo concedido benefícios a 70% dos projetos manufatureiros do país, aumentando a
parcela das manufaturas no PIB e o crescimento anual médio da produção no período 1960-80. O
CDI só surgiu após o golpe em 1958, em que foi imposto um governo com foco na iniciativa privada.
Como ficou claro que o CDI poderia trazer lucros, a instituição foi aumentada e o país se fixou na
industrialização.
O CDI concedeu benefícios fiscais, proteções e concessões de crédito em troca de padrões de
desempenho dessas empresas, como metas de exportação, qualidades de produtos, e respeito às
regras ambientais. Havia proteção aos empregos nacionais através de um limite do número de vistos
emitidos para empregados estrangeiros e as empresas multinacionais eram condicionadas à
contratação de gerentes locais. Os impostos de importação eram altos, e portanto a redução era um
ótimo incentivo, sendo concedidos apenas a empresas que fabricavam insumos não produzidos na
indústria local.
As propostas do CDI eram submetidas primeiro a uma Análise de Projetos por engenheiros,
depois a um Comitê Decisório com membros do CDI e da indústria privada e posteriormente para
um Comitê de Privilégios que revia os benefícios oferecidos. O Comitê Decisório era aberto a todos
os ministérios e emitia uma justificativa para a aceitação dos benefícios concedidos como maneira de
evitar a corrupção. Posteriormente os projetos eram monitorados de forma a cumprir as metas de
desempenho, que objetivavam criar capacidades em indústrias-alvo tendo como base equipamentos
modernos. A partir do cumprimento, o benefício era estendido ou abandonado.
Em projetos pré- examinados, os critérios de desempenho eram ditados diretamente pelo
CDI. Em projetos orientados, o CDI dividia as indústrias em três classificações com benefícios de
duração finita. Esse último foi criticado e passou por várias modificações, passando a utilizar
critérios menos abrangentes como a intensidade das exportações e a localização regional.
O ponto polêmico do CDI para vários economistas no início era sua própria generosidade e
facilidade em entregar benefícios. Benefícios foram concedidos irrelevantemente se os artigos
fabricados eram comuns ou de luxo extremo, se a indústria já estava estabelecida ou não e sem
investigar as verdadeiras intenções dos beneficiários. Contudo, tal indiscriminaçãodiscriminação
garantiu um impulso de crescimento em base ampla e assegurou a popularidade do CDI.
Em momentos de “desequilíbrio” antes da década de 90 onde havia alta concorrência externa
ou grandes projetos novos, o CDI alterou o apoio, como ao impor sobretaxas às tarifas existentes,
restringir o número de empresas em uma indústria, e outras medidas, para formar grandes indústrias
que competiam com o mercado internacional e desestabilizam o mercado internacional. Esse tipo de
comportamento em “desequilíbrio” se refletiu ainda em outros países do resto.

1.6 – Conclusão

1) O período em questão foi de expansão econômica ou crise?

Em A industrialização do grupo de países retardatários obteve um crescimento exponencial,


principalmente após 1950, em que eles respondiam por apenas 5% da produção manufatureira do
mundo, sendo seguido por um crescimento em exportações de quase 10% entre os anos 60 e 80, e ao
final do século XX respondiam por 20%, assim como entre a década de 50 e o início dos anos 70
foram marcados pelo crescimento do PIB per capita desses países. Esse crescimento, em detrimento
da expansão manufatureira significativa, se deu em contrapartida ao lento progresso apresentado pelo
“resto” até o período pós-guerra. Nesse viés, mesmo que a participação desse grupo retardatário se
visse aumentando lentamente na primeira metade do século XX, nos primeiros momentos do pós-
guerra, os países da América Latina ainda se constituíam como produtores de matéria-prima, e se
verificava uma inclusão mínima dos países asiáticos na produção manufatureira mundial, mas que
ainda possuíam experiência manufatureira, o que foi imprescindível para a diferenciação desse grupo
do “resquício”. A crise da dívida da América Latina, na década de 80, e a do leste asiático em 1997,
acarretadas pelo superexpansionismo dos Estados, que gerou uma estagnação temporária nos setores
produtivos, acarretando no descrédito do Estado desenvolvimentista nesses países, e posteriormente,
a divisão entre os países da América Latina que aderiram ao modelo de integração para o
desenvolvimento, e os países asiáticos que optaram pelo modelo de independência, ambos os
modelos tinham como objetivo de desenvolver as capacidades industriais nos países.

2) Quais aspectos mais marcantes das políticas econômicas praticadas?

É possível notas alguns aspectos marcantes da economia dos países do “resto” que costumam
ser comuns entre eles. Pode-se citar:
 O processo de industrialização desses países se deu sem inovações próprias, mas com
aprendizados das técnicas de produção que eram antes usadas para servir aos interesses da
nação que os explorava.
 Os países adotaram um mecanismo de controle inovador, no qual o governo fornecia
subsídios para tornar as indústrias lucrativas e transferir recursos dos setores baseados em
recursos naturais para os setores baseados em conhecimento. Isso visava impulsionar o
crescimento das indústrias e minimizar as falhas do governo. Esse mecanismo foi usado para
suprir o déficit de mão de obra qualificada.
 Também enfrentam desafios para competir internacionalmente. Eles tiveram que equilibrar o
aumento da produtividade com a manutenção dos salários baixos, a fim de serem
competitivos.

O aproveitamento de técnicas de produção existentes, o mecanismo de controle estatal e os


desafios de competitividade internacional são alguns dos fatores que moldaram suas estratégias
econômicas. Essas abordagens permitiram que esses países se desenvolvessem e se tornassem
participantes ativos no cenário econômico mundial.

3) Fenômenos externos ao país/região afetaram a economia nacional?

Houve fenômenos externos, sobretudo no que tange à influência dos colonizadores europeus
e a competitividade internacional. O processo de colonização pelo qual boa parte dos países do resto
passaram retardou a industrialização dos mesmos, já que serviam de fonte de recursos para as
metrópoles europeias. A colonização também atrasou o desenvolvimento da mão-de-obra
qualificada. Como os países que fazem parte do resto começaram a se industrializar de maneira
tardia, a concorrência que eles encontraram no sistema internacional é muito alta, pois estavam
concorrendo com países com indústrias muito mais maduras e eficazes. A estratégia para
desenvolvimento da indústria dos países chamados “integracionistas” era de buscar sempre
investimento estrangeiro. Já os independentes buscavam desenvolver-se de maneira mais
nacionalista.

Quais comparações (percebendo igualdade ou diferenças) mais marcantes do período com os


demais?

4)

Na experiência industrial de países desenvolvidos, diversos fatores contribuíram para sua


transformação econômica. Na Inglaterra, por exemplo, dentre esses fatores destacam-se as políticas
de protecionismo, bem como as reformas legislativas e os subsídios governamentais. Nesse último,
os países retardatários se assemelham a Inglaterra, uma vez que os subsídios dos Estados
desenvolvimentistas, materializados por meio dos bancos de desenvolvimento de cada país, foram
cruciais no fortalecimento das empresas nacionais, até mesmo frente à abertura econômica. Dessa
forma, o destaque na industrialização do “resto” são as instituições desenvolvimentista, que
permitiram, por meio de investimentos, a constituição de ativos baseados no conhecimento. Assim, o
setor público assumiu a função de principal ator na formação de capital nesses países, o que se deu
por meio da criação de empresas de propriedade estatal, que viriam a receber montantes expressivos
de subsídios, por meio dos bancos de desenvolvimento desses países, por onde os Estados
promoviam os investimentos nessas empresas..

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