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POR QUE OS PAÍSES
RICOS SÃO RICOS
E OS PAÍSES POBRES SÃO POBRES
VARIOS AUTORES
Sumário
Introduçã o
Rainer Erkens
A segunda hipó tese parte do fato de que os paı́ses ricos sã o ricos
apenas porque exploram os paı́ses pobres. A isso subjaz uma espé cie de
teoria conspiracionista. Se um é rico e o outro pobre, isso só se pode
dever ao fato de que o rico adquiriu a sua fortuna por vias pouco
honestas e à s expensas dos pobres, impedindo os pobres de enriquecer.
Isso pode valer para a situação interna em alguns países em
desenvolvimento. Em muitos paı́ses os pobres continuam pobres, pois
os ricos e poderosos fazem tudo para impedir a liberdade, o direito e a
economia de mercado. Uma polı́tica liberal de desenvolvimento deve
iniciar també m na contestaçã o de tais relaçõ es ancilosadas.
Rainer Erkens
Teorias Que Não Funcionam
Daron Acemoglu e James Robinson
A outra parte da hipó tese geográ ica diz que os tró picos devem sua
pobreza à improdutividade da agricultura tropical. Os solos tropicais
sã o inos e incapazes de reter nutrientes, segundo esse argumento, que
enfatiza a rapidez com que eles sã o erodidos por chuvas torrenciais. A
ideia nã o deixa de ter seu mé rito, mas o principal determinante da
baixı́ssima produtividade agrı́cola em tantos paı́ses pobres, sobretudo
na Africa subsaariana, pouco tem a ver com a qualidade do solo. E
consequê ncia da estrutura de propriedade da terra e dos incentivos
criados para os fazendeiros pelos governos. A desigualdade mundial
nã o pode ser explicada por diferenças na produtividade agrı́cola. As
profundas disparidades do mundo moderno nascidas no sé culo XIX
foram causadas pela disseminaçã o desigual das tecnologias industriais
e da produçã o manufatureira, nã o por diferenças no desempenho
agrı́cola.
Outra versã o in luente da hipó tese geográ ica é defendida pelo
ecologista e bió logo evolutivo Jared Diamond, para quem a origem das
desigualdades intercontinentais nos primó rdios da era moderna, há
500 anos, jazem na falta de uniformidade na distribuiçã o histó rica de
espé cies vegetais e animais, que posteriormente in luenciaria a
produtividade agrı́cola. Em alguns lugares, como o Crescente Fé rtil, no
atual Oriente Mé dio, havia grande nú mero de espé cies passı́veis de
domesticaçã o pelos seres humanos. Em outros, como as Amé ricas, nã o.
O grande nú mero de espé cies domesticá veis tornou interessante para
as sociedades fazer a transiçã o de um estilo de vida de caça e coleta
para outro agrá rio. Por conseguinte, a agricultura desenvolveu-se antes
no Crescente Fé rtil que nas Amé ricas. A densidade demográ ica
aumentou, possibilitando a especializaçã o da mã o de obra, o comé rcio,
a urbanizaçã o e o desenvolvimento polı́tico. Fundamentalmente, nos
lugares em que a agricultura se tornou dominante as novaçõ es
tecnoló gicas ocorreram com mais rapidez do que em outras partes do
mundo. Assim, de acordo com Diamond, as discrepâ ncias na
disponibilidade de espé cies animais e vegetais acarretaram graus
variados de exploraçã o agrı́cola, o que, por sua vez, conduziu a
caminhos distintos de transformaçã o tecnoló gica e prosperidade em
cada continente.
A hipó tese geográ ica nã o só é inú til na explicaçã o das origens da
prosperidade no decorrer da histó ria, alé m de basicamente incorreta
em sua ê nfase, mas també m incapaz de justi icar as circunstâ ncias com
que começamos este prefá cio. Seria possı́vel argumentar que qualquer
padrã o persistente, como a hierarquia de rendas nas Amé ricas ou as
acentuadas e duradouras diferenças entre Europa e Oriente Mé dio,
podem ser explicadas pela inalterabilidade da geogra ia. Todavia, nã o é
esse o caso.
E altamente imprová vel que os padrõ es no contexto das Amé ricas
tenham sido causados por fatores geográ icos. Antes de 1492, eram as
civilizaçõ es no vale central do Mé xico, Amé rica Central e Andes que
dispunham de tecnologia e padrõ es de vida superiores aos da Amé rica
do Norte ou lugares como Argentina e Chile. E, embora a geogra ia
tenha permanecido a mesma, as instituiçõ es impostas pelos colonos
europeus provocaram uma “inversã o da fortuna”. Di icilmente a
geogra ia també m explicaria a pobreza do Oriente Mé dio por motivos
similares. A inal, o Oriente Mé dio liderou o mundo na revoluçã o
neolı́tica, e as primeiras cidades desenvolveram-se onde atualmente
ica o Iraque. O ferro foi fundido pela primeira vez na Turquia e, até a
Idade Mé dia, o Oriente Mé dio era dinâ mico em termos tecnoló gicos.
Nã o foi a geogra ia do Oriente Mé dio que levou a revoluçã o neolı́tica a
lorescer naquela parte do mundo assim como tampouco foi a geogra ia
que tornou o Oriente Mé dio pobre. Pelo contrá rio, a expansã o e a
consolidaçã o do Impé rio Otomano − o legado institucional desse
impé rio − é que mantê m a regiã o imersa em pobreza ainda hoje.
Por im, os fatores geográ icos sã o inú teis para explicar nã o só as
diferenças que vemos entre as diversas partes do mundo hoje, mas
també m por que muitas naçõ es, como Japã o ou China, atravessam
longos perı́odos de estagnaçã o para depois encetar um processo de
“crescimento acelerado. Precisamos de outra teoria melhor.
A hipótese cultural
A segunda teoria que goza de ampla aceitaçã o, a hipó tese cultural,
correlaciona prosperidade e cultura. A hipó tese cultural, do mesmo
modo que a geográ ica, é de linhagem distinta, remontando no mı́nimo
ao grande soció logo alemã o Max Weber, que defendia que a Reforma
Protestante e a é tica protestante dela decorrente desempenharam
papel central na facilitaçã o da ascensã o da moderna sociedade
industrial na Europa Ocidental. A hipó tese cultural já nã o se baseia
exclusivamente na religiã o, mas enfatiza igualmente outros tipos de
crenças, valores e é ticas.
Por mais que nã o seja politicamente correto dizê -lo em pú blico, ainda
há quem mantenha, e nã o sã o poucos, que os africanos sã o pobres por
serem desprovidos de uma boa é tica de trabalho, insistindo em
acreditar em feitiçaria e magia ou resistindo à s novas tecnologias
ocidentais. Muitos acreditam també m que a Amé rica Latina jamais
enriquecerá devido ao cará ter intrinsecamente libertino e carente de
seu povo, que alé m disso sofre do mal da cultura “ibé rica”, a tendê ncia a
deixar tudo para amanhã . Evidentemente, muitos já acreditaram que a
cultura chinesa e o confucionismo fossem incompatı́veis com o
crescimento econô mico, muito embora a importâ ncia da é tica de
trabalho chinesa como motor do crescimento na China, Hong Kong e
Cingapura seja agora alardeada.
Voltemo-nos para uma das regiõ es favoritas dos entusiastas da hipó tese
cultural: o Oriente Mé dio, onde os paı́ses sã o preponderantemente
islâ micos, e os que nã o produzem petró leo sã o muito pobres, como já
notamos. Os produtores de petró leo sã o mais ricos, mas esse golpe de
sorte pouco contribuiu para a instalaçã o de economias modernas e
diversi icadas na Ará bia Saudita ou Kuwait. Esses fatos nã o constituem
uma demonstraçã o cabal da in luê ncia da religiã o? Por mais plausı́vel
que seja, esse argumento també m nã o está correto. Sim, paı́ses como
Sı́ria e Egito sã o pobres e suas populaçõ es sã o basicamente
muçulmanas. Contudo, apresentam outras peculiaridades bem mais
signi icativas para efeitos de prosperidade. Em primeiro lugar, todos
foram provı́ncias do Impé rio Otomano, o que afetou intensa e
adversamente o modo como se desenvolveram. Apó s o colapso do
domı́nio otomano, o Oriente Mé dio foi absorvido pelos impé rios
coloniais inglê s e francê s, que continuaram tolhendo suas
possibilidades. Apó s a independê ncia, a exemplo de boa parte do antigo
mundo colonial, desenvolveram regimes polı́ticos hierá rquicos e
autoritá rios, de que faziam parte poucas das instituiçõ es polı́ticas e
econô micas que, como mostraremos, sã o cruciais para a geraçã o de
prosperidade econô mica. Essa trajetó ria de desenvolvimento foi
moldada, em grande parte, pela histó ria dos domı́nios otomano e
europeu. A relaçã o entre religiã o islâ mica e pobreza, no Oriente Mé dio,
é basicamente espú ria.
O papel desses acontecimentos histó ricos, e nã o de fatores culturais, na
conformaçã o do percurso econô mico da regiã o pode ser constatado
també m no fato de que aquelas partes do Oriente Mé dio que escaparam
temporariamente ao jugo do Impé rio Otomano e das potê ncias
europeias (como o Egito, entre 1805 e 1848, sob Muhammad Ali)
mostraram-se capazes de enveredar por um caminho de acelerado
crescimento. Muhammad Ali usurpou o poder logo apó s a retirada das
forças francesas que haviam ocupado o paı́s sob o comando de
Napoleã o Bonaparte. Aproveitando-se da tibieza do controle exercido
pelos otomanos sobre o territó rio egı́pcio na é poca, logrou fundar sua
pró pria dinastia, que, de uma forma ou de outra, governaria o paı́s até a
“revoluçã o encabeçada por Nasser, em 1952. As reformas de
Muhammad Ali, embora tenham sido impostas por coerçã o,
promoveram o crescimento do paı́s à medida que a burocracia estatal, o
Exé rcito e o sistema de arrecadaçã o iscal foram modernizados,
gerando crescimento na agricultura e na indú stria. Nã o obstante, tal
processo de modernizaçã o e crescimento chegou ao im com a morte de
Ali, quando o Egito voltou a cair sob in luê ncia europeia.
Todavia, essa talvez seja uma forma errada de considerar a presença da
cultura na equaçã o. Talvez os fatores culturais mais importantes nã o
estejam ligados à religiã o, mas a “culturas nacionais” especı́ icas. Quem
sabe a in luê ncia da cultura inglesa nã o seja importante e explique a
prosperidade de paı́ses como Estados Unidos, Canadá e Austrá lia? Por
mais sedutora que essa ideia possa parecer à primeira vista, també m
nã o funciona. Sim, Canadá e Estados Unidos foram colô nias britâ nicas,
mas Serra Leoa e Nigé ria, també m. As variaçõ es de prosperidade entre
as ex-colô nias inglesas é tã o grande quanto entre os demais paı́ses do
mundo. O legado britâ nico nã o é a causa do enriquecimento da Amé rica
do Norte.
Entretanto, há ainda outra versã o da hipó tese cultural: talvez a questã o
nã o seja ingleses versus nã o ingleses, mas europeus versus nã o
europeus. Será que os europeus sã o de algum modo superiores em
virtude de sua é tica do trabalho, perspectiva de vida, valores judaico-
cristã os ou legado romano? E verdade que a Europa Ocidental e a
Amé rica do Norte, cuja populaçã o é primordialmente de ascendê ncia
europeia, sã o as regiõ es mais ricas do mundo. Talvez o legado europeu
e sua superioridade cultural sejam as razõ es da prosperidade – e o
derradeiro refú gio da hipó tese cultural. Infelizmente, essa versã o da
hipó tese oferece tã o pouca capacidade de explicaçã o quanto as demais.
Argentina e Uruguai apresentam descendentes de europeus em
proporçõ es maiores de sua populaçã o total que o Canadá e os Estados
Unidos, mas o desempenho econô mico tanto de uma quanto do outro
deixa muito a desejar. Japã o e Cingapura nunca tiveram mais que uma
gota de descendentes de europeus entre seus habitantes, mas sã o tã o
abastados quanto muitas á reas da Europa Ocidental.
A China, apesar de umas tantas imperfeiçõ es em seu sistema econô mico
e polı́tico, tem sido o paı́s de crescimento mais rá pido nas trê s ultimas
dé cadas. Sua pobreza até a morte de Mao Tsé -Tung nada tinha a ver
com a cultura chinesa, mas com o modo desastroso como Mao
organizou a economia e conduziu a polı́tica. Na dé cada de 1950, ele
promoveu o Grande Salto Adiante, drá stica polı́tica de industrializaçã o
que acarretou fome em massa. Nos anos 1960, propagou a Revoluçã o
Cultural, que levou à perseguiçã o maciça de intelectuais e eruditos –
qualquer um cuja idelidade ao partido pudesse ser posta em dú vida –,
o que mais uma vez provocou enorme desperdı́cio dos talentos e
recursos da sociedade. Da mesma forma, o atual crescimento chinê s
nada tem a ver com os valores ou mudanças na cultura local; é fruto de
um processo de transformaçã o econô mica de lagrado pelas reformas
implementadas por Deng Xiaoping e seus aliados – que, apó s a morte
de Mao Tsé -Tung, foram pouco a pouco abandonando as instituiçõ es e
polı́ticas econô micas socialistas, primeiro na agricultura, depois na
indú stria.
Como no caso de sua correlata geográ ica, a hipó tese cultural tampouco
tem serventia para explicar outros aspectos do atual estado de coisas.
Há , evidentemente, diferentes crenças, valores e atitudes culturais entre
Estados Unidos e Amé rica Latina; poré m, assim como as que separam
as Coreias do Sul e do Norte e separaram a Alemanha Ocidental da
Oriental, tais disparidades sã o consequê ncias das diferentes
instituiçõ es e histó rias institucionais distintas dos dois lugares. Fatores
culturais que enfatizem o modo como a cultura “hispâ nica” ou “latina”
moldou o Impé rio Espanhol nã o dã o conta das divergê ncias no seio da
pró pria Amé rica Latina – por exemplo, por que o Chile é mais rico que
Paraguai e Bolı́via. Outros tipos de argumentos culturais – por exemplo,
os que salientam a cultura indı́gena contemporâ nea – saem-se
igualmente mal. O Chile tinha uma populaçã o nativa relativamente
pequena, se comparada ao Peru e Bolı́via. Embora seja verdade, a
cultura indı́gena como explicaçã o també m nã o funciona. Colô mbia,
Equador e Peru tê m nı́veis de renda similares, mas a Colô mbia hoje
apresenta muito poucos indı́genas, ao contrá rio do Equador e Peru. Por
im, as atitudes culturais, em geral de modi icaçã o tã o lenta,
di icilmente responderã o por si pelos milagres do crescimento no Leste
Asiá tico e China. Por mais persistentes que sejam as instituiçõ es, em
determinadas circunstâ ncias podem transformar-se rapidamente.
Só Existe Crescimento
Quando o Governo Não Atrapalha
John Tamny e Leandro Roque
Talvez o principal erro teó rico daqueles que se põ em a imaginar formas
de crescimento econô mico é ignorar o fato de que seu paı́s, seu estado e
sua cidade nã o sã o uma ilha isolada, mas sim uma simples delimitaçã o
geográ ica em meio a todo o globo terrestre.
Quando você imagina a economia de um paı́s como sendo uma entidade
completamente isolada do mundo, seu crescimento econô mico
realmente se torna algo difı́cil. A inal, nesse cená rio, você teria de
fabricar tudo localmente, você só poderia vender para seus vizinhos, e
toda a sua capacidade de investimento estaria limitada ao (escasso)
capital disponı́vel em sua vizinhança.
Por outro lado, quando você entende perfeitamente que seu paı́s é um
mero pedaço de terra envolto por vá rios outros no globo terrestre, a
perspectiva muda completamente.
A partir do momento em que você entende que o seu mercado é global
— em vez de apenas local —, que você pode transacionar com qualquer
indivı́duo do planeta, que você pode vender para, e comprar de,
qualquer pessoa de qualquer ponto do mundo, e que, principalmente,
qualquer indivı́duo do mundo pode investir em sua á rea, toda a aná lise
econô mica muda.
Pense, por exemplo, em uma determinada regiã o do seu paı́s que seja
extremamente pobre. Muito provavelmente, os habitantes locais nã o
terã o capital fı́sico nem recursos inanceiros para fazer grandes
investimentos. Consequentemente, será impossı́vel que essa regiã o
enriqueça. Entretanto, se você considerar que tal regiã o está inserida
em um grande contexto global, o cená rio muda totalmente. Os
habitantes locais podem nã o ter capital nem recursos pró prios para
investir, mas certamente há outros habitantes do resto do globo que
possuem esse capital e que, com os devidos incentivos, terã o sim
interesse de investir ali.
Como bem disse Lee Kwan Yew, o homem responsá vel por implantar as
reformas econô micas que izeram com que Cingapura deixasse de ser
um paı́s de terceiro mundo — praticamente uma favela a cé u aberto —
e se transformasse em um paı́s de primeiro mundo,
Moeda
A primeira e mais crucial barreira ao crescimento é a saú de da
moeda. Dado que o dinheiro representa a metade de toda e qualquer
transação econômica, a saú de da moeda irá determinar a saú de de toda
a economia. Se a moeda é instá vel, a economia també m se torna
instá vel.
Alé m de ser o meio de troca, a moeda é a unidade de conta que permite
o cá lculo de custos de todos os empreendimentos e investimentos. Se
essa unidade de conta é instá vel — isto é , se seu poder de compra cai
contı́nua e rapidamente, principalmente em termos das outras moedas
estrangeiras —, nã o há incentivos para se fazer investimentos.
Daı́ os economistas clá ssicos, à sua é poca, já defenderem a ideia de que
a moeda, para ser e icaz, deveria ser a mais está vel possı́vel. Tais
economistas corretamente compreenderam que ter uma moeda cujo
valor lutuasse constantemente seria o equivalente a utilizar unidades
de medida que lutuassem diariamente.
Hoje, infelizmente, a teoria econô mica que se tornou dominante — e
que é adotada por quase todos os governos — inverteu completamente
essa ló gica. Os economistas de hoje nã o mais veem o dinheiro como
uma unidade de conta que deve ser a mais está vel possı́vel. Ao
contrá rio: eles acreditam que uma unidade de conta totalmente volú vel
e lutuante, principalmente em relaçã o à s demais moedas estrangeiras,
turbina a atividade econô mica.
Eis o principal problema com esse raciocı́nio: quando investidores
investem — principalmente os estrangeiros —, eles estã o, na prá tica,
comprando um luxo de renda futura. Para que investidores (nacionais
ou estrangeiros) invistam capital em atividades produtivas, eles tê m de
ter um mı́nimo de certeza e segurança de que terã o um retorno que
valha alguma coisa.
Isso signi ica que, para que ele obtivesse algum ganho real com seu
investimento — por exemplo, para que ele pudesse voltar pra casa com
pelo menos US$ 101 —, sua taxa de retorno teria de ser de
aproximadamente 56% (os R$ 260 teriam que se transformar em R$
404) em um ano. Há algum investimento que gera um retorno de 56%
em um ano?
Para paı́ses em desenvolvimento, que precisam de investimentos
estrangeiros, essa questã o da estabilidade da moeda é crucial també m
por outro motivo: uma moeda está vel cria as condiçõ es necessá rias
para a transferência de conhecimento. O conhecimento acompanha o
investimento: o capital estrangeiro vem acompanhado de conhecimento
estrangeiro.
Impostos
Uma caracterı́stica humana que todos nó s temos, e que torna o
crescimento econô mico algo fá cil e natural, é o fato de que nossos
desejos sã o ilimitados. Estamos sempre desejando coisas a mais.
Só que, para poder consumir esses bens que desejamos, temos antes de
ter produzido algo. Como indivı́duos, nó s trocamos "produtos por
outros produtos". Trabalhamos em troca de dinheiro, é verdade, mas só
aceitamos esse dinheiro porque sabemos que, com ele, poderemos
adquirir outros produtos.
Vale repetir: para que os indivı́duos possam consumir, eles tê m antes de
produzir. Sendo assim, é crucial remover obstáculos à produção. E o
primeiro obstá culo a ser removido sã o os impostos. Impostos nada
mais sã o do que um preço que o governo coloca sobre a produtividade;
uma penalidade impingida ao trabalho.
Por tudo isso, é crucial que o governo seja o menor possı́vel. Quanto
maior for o governo, maiores serã o seus gastos. Quanto maiores forem
seus gastos, maiores terã o de ser os impostos. E quanto maiores forem
os impostos, menores serã o os incentivos ao investimento e à
produçã o. (Se o governo inanciar seu aumento de gastos por meio do
endividamento, o resultado será in laçã o, o que nos remete ao item
'moeda').
Quando polı́ticos falam que irã o aumentar os gastos, o que eles
realmente estã o dizendo é que irã o aumentar os custos sobre os
indivı́duos produtivos, que sã o aqueles que arcam com o ô nus dos
impostos. Aumentar os gastos do governo equivale a aumentar os
custos sobre aqueles que levantam cedo e vã o trabalhar.
Burocracia
Empreendimentos sã o feitos em busca do lucro. E a burocracia inibe o
processo. A burocracia exige que uma grande quantidade de tempo,
energia, esforço e dinheiro seja gasta apenas para se certi icar de que o
empreendimento está cumprindo todas as ordens pelos funcioná rios do
governo.
Comércio
O comé rcio é o mais simples desses quatro elementos relacionados ao
crescimento econô mico. Cada um de nó s, na condiçã o de indivı́duo,
pratica diariamente o livre comé rcio. Todos nó s somos adeptos do livre
comé rcio porque o livre comé rcio é justamente o propó sito de
trabalharmos.
As medidas que geram crescimento econô mico sã o ló gicas, sensatas e
facilmente compreendidas por qualquer um, pois vivemos suas
consequê ncias diariamente. E necessá rio ter um Ph.D. em economia
para complicar o assunto.
A Pobreza é Fácil de Ser Explicada
Walter Williams
Nã o obstante as vá rias crı́ticas justi icá veis ao colonialismo e, devo
acrescentar, à s multinacionais, o fato é que ambos serviram como uma
forma de transferê ncia de tecnologias e de instituiçõ es ocidentais,
fazendo com que pessoas de paı́ses atrasados entrassem em contato
com o mundo ocidental, mais desenvolvido. Um fato trá gico — embora
pouco comentado — é que vá rios paı́ses da Africa passaram por
expressivos declı́nios econô micos apó s suas independê ncias. Em
muitos desses paı́ses, o cidadã o mé dio pode dizer que comia mais
regularmente e usufruı́a mais proteçõ es aos seus direitos humanos
quando ainda estava sob domı́nio colonial. As potê ncias coloniais
jamais perpetraram os indescritı́veis abusos de direitos humanos —
incluindo-se aı́ o genocı́dio — que vimos ocorrer em paı́ses como
Burundi, Uganda, Zimbá bue, Sudã o, Africa Central, Somá lia e outros
lugares apó s sua independê ncia.
Direitos e prosperidade
Uma maneira de mensurar a proteçã o aos direitos humanos é
perguntando até que ponto o estado protege a propriedade privada e a
liberdade de trocas voluntá rias — ou seja, o direito de adquirir, possuir
e se desfazer de propriedade da maneira que mais aprouver ao
indivı́duo, desde que ele nã o viole os direitos de terceiros. A diferença
entre a propriedade privada e a propriedade coletiva nã o é meramente
ilosó ica. A propriedade privada produz incentivos e resultados
sistemicamente distintos da propriedade coletiva.
Portanto, temos de olhar para Amé rica Latina, Asia e Africa para
encontrar as populaçõ es que continuam padecendo condiçõ es de
pobreza extrema.
Todos os dados sã o do Banco Mundial e foram coletados ao longo de 20
anos, de 1992 a 2012, o ú ltimo com dados disponı́veis. Durante esse
perı́odo, ao redor de todo o mundo, a pobreza extrema caiu de 34,7%
para 12,7%.
A Amé rica Latina é a menos pobre das regiõ es que estã o fora das ricas
Amé rica do Norte e Europa. Os maiores paı́ses da Amé rica Latina
icaram bem abaixo das taxas mundiais de pobreza extrema ao longo
dos 20 anos que vã o de 1992 a 2012:
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Alé m de constatar que a Amé rica Latina possui menos pobreza extrema
do que o mundo como um todo, també m é possı́vel observar que houve
uma substancial melhora ao longo desse perı́odo de 20 anos. No
Mé xico, por exemplo, a pobreza extrema caiu de 9,7% para 2,7%. No
Brasil, a queda foi ainda mais intensa (graças, majoritariamente, à
estabilizaçã o da economia e ao im da hiperin laçã o, de 20,8% para
4,9%. Na Colô mbia (que já tinha menos pobreza que o Mé xico e muito
menos que o Brasil), a queda foi menor, mas se manteve no caminho
certo, com a pobreza extrema caindo de 8% para 6%.
A Amé rica Latina, por sua vez, reduziu suas taxas de pobreza extrema
tã o intensamente graças à adoçã o, ainda que tı́mida, de economias de
mercado. O Chile é uma grande histó ria de sucesso, e, se o paı́s
permanecer em seu atual caminho relativamente pró -mercado,
provavelmente entrará no clube dos paı́ses mais ricos do mundo na
pró xima geraçã o.
Embora mais pobre que o Chile, o Mé xico també m é uma histó ria de
ê xito, e a ascensã o de uma classe mé dia no paı́s ao longo dos ú ltimos
vinte anos é um sinal do comprometimento do paı́s em se afastar, ainda
que lentamente, de sé culos de domı́nio do governo sobre a economia.
As pessoas que se referem à Amé rica Latina como "terceiro mundo"
estã o paradas no tempo.
E, obviamente, Mé xico, Chile e outros paı́ses da Amé rica Latina em que
a pobreza extrema está desaparecendo simplesmente já vê m
participando da economia global há mais tempo do que grande parte do
mundo.
Na dé cada de 1980, a Nova Zelâ ndia era um paı́s relativamente atrasado
(a renda per capita era igual à s de Portugal e da Turquia), estagnado e
sem grandes perspectivas. A economia era engessada, fechada,
protegida e ine iciente.
Até que, em meados da dé cada de 1980, um governo de esquerda fez o
inimaginá vel e adotou medidas contrá rias a sua ideologia: austeridade
monetá ria e iscal, reduçã o dos privilé gios, aboliçã o de vá rias tarifas
protecionistas e, principalmente, forte reduçã o da má quina pú blica,
com a demissã o de vá rios funcioná rios pú blicos.
Liderando esse processo, em conjunto com Roger Douglas,
estava Maurice P. McTigue, ex-ministro do governo trabalhista eleito em
1984. Ele nos conta como o governo fez as mudanças que
transformaram a Nova Zelâ ndia.
***
Se olharmos para a histó ria, notaremos que o crescimento do governo é
um fenô meno recente. Desde a dé cada de 1850 até as dé cadas de 1920
ou 1930, a fatia que o governo ocupava no PIB da maioria das
economias industrializadas do mundo raramente ultrapassava os 6%.
Poré m, desse perı́odo em diante — e em particular desde os anos 1950
—, vivenciamos uma explosã o maciça na fatia que o governo ocupa no
PIB. Em alguns paı́ses, o valor varia de 35 a 45%. (No caso da
Sué cia, houve um ponto que chegou a 65%, e o paı́s quase que se
autodestruiu como resultado. O paı́s agora está desmantelando alguns
de seus programas sociais para se manter economicamente viá vel).
Esta é uma pergunta que sempre foi feita no setor privado, mas que
raramente foi a norma para o setor pú blico. E os governos que
resolveram lidar com essa questã o apresentaram resultados
extraordiná rios. Esta foi certamente a base das reformas bem-
sucedidas no meu pró prio paı́s, a Nova Zelâ ndia.
E entã o izemos a pergunta inal: "Quem deveria estar pagando por isso
— os pagadores de impostos, o usuá rio, o consumidor ou a indú stria?".
Perguntamos isto porque, em muitos casos, os pagadores de impostos
estavam subsidiando coisas que nã o os bene iciavam. Quando você
afasta o custo dos serviços dos seus reais usuá rios e consumidores,
você inevitavelmente acaba promovendo o uso excessivo destes
serviços e, com isso, desvaloriza o que quer que esteja sendo feito.
Oitenta e cinco por cento dos nossos alunos iam para escolas pú blicas
no inı́cio deste processo. Este nú mero caiu para apenas 84% depois do
primeiro ano das reformas. No entanto, trê s anos depois, 87 por cento
dos estudantes estavam em escolas pú blicas. Mais importante, o nı́vel
educacional da Nova Zelâ ndia, que até entã o era 15% inferior ao de
seus pares internacionais, tornou-se 15% superior.
Quando nó s, na Nova Zelâ ndia, analisamos o nosso esquema tributá rio,
encontramos um sistema extremamente complicado, o qual distorcia
tanto os empreendimentos quanto as decisõ es privadas.
Consequentemente, izemos as seguintes perguntas para nó s mesmos:
o nosso sistema tributá rio estava preocupado em coletar receitas?
Estava preocupado em coletar receitas e també m em prestar de
serviços sociais? Ou estava preocupado em coletar receita, em prestar
serviços sociais e em alterar comportamentos? Decidimos entã o que
serviços sociais e questõ es comportamentais nã o tinham lugar em um
sistema racional de tributaçã o.
Ato contı́nuo, decidimos que só terı́amos dois mecanismos para obter
receitas — um imposto sobre a renda e um imposto sobre o consumo
— e que irı́amos simpli icar estes mecanismos e reduzir as alı́quotas ao
má ximo possı́vel.
Reduzimos a alı́quota má xima do imposto de renda de 66 para 33% e
ixamos essa taxa para todos os que tinham rendimentos mais elevados.
Alé m disso, reduzimos a alı́quota mı́nima de 38 para 19%, a qual se
tornou a taxa ixa para a populaçã o de menor renda. Em seguida,
de inimos uma alı́quota de imposto sobre o consumo de 10% e
eliminamos todos os outros impostos — impostos sobre ganhos de
capital, impostos sobre a propriedade etc.
Agora, uma carteira de habilitaçã o é vá lida até a pessoa fazer 74 anos,
data apó s a qual deve fazer um teste mé dico anual para garantir que
ainda é capaz de dirigir. Assim, nã o apenas nã o precisá vamos de novas
taxas, como ainda eliminamos todo um ó rgã o estatal.
Isto é o que eu quero dizer quando conclamo a "pensar de forma
diferente sobre o governo". E nesta direçã o que um governo tem de se
mover.
O Milagre Econômico de Hong Kong
Lawrence W. Reed, Andrew P. Morris e Jean-François Minardi
Talvez seja por isso que os socialistas nã o gostam de falar sobre Hong
Kong: nã o apenas é a economia mais livre do mundo, como també m é
uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a
mé dia mundial, mais do que duplicou nos ú ltimos 15 anos. As pessoas
nã o fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao inal da
Segunda Guerra Mundial, a populaçã o de Hong Kong era de 750.000.
Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhõ es.
A colônia
Hong Kong é um ó timo exemplo do que acontece com a economia de
um local que nã o é explorado por polı́ticos. Hong Kong é produto
do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a
potê ncia econô mica que é hoje caso os polı́ticos britâ nicos ou chineses
tivessem demonstrado algum interesse pelo local no sé culo XIX.
Os primórdios
As primeiras avaliaçõ es do potencial de Hong Kong foram pessimistas.
O entã o futuro primeiro-ministro britâ nico Lord Palmerston, naquela
que talvez seja a pior previsã o já feita por um diplomata britâ nico,
concluiu que se tratava de "uma ilha esté ril e inaproveitá vel, a qual
jamais será um polo para o comé rcio". O entã o tesoureiro lotado em
Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que també m escrevia
proli icamente sobre as possessõ es estrangeiras britâ nicas, fez eco à
aná lise de Palmerston em 1844, a irmando que "nã o há nenhum
comé rcio visı́vel em Hong Kong... E difı́cil encontrar uma empresa na
ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se
conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e
fossem embora... Nã o parece haver a mais mı́nima probabilidade de
que, algum dia, sob quaisquer circunstâ ncias, Hong Kong venha a se
tornar um local propı́cio ao comé rcio".
Apó s isso, a Grã -Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova
colô nia, se concentrando apenas em manter a ordem pú blica e ampliar
o impé rio das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado,
muito semelhante à queles que as potê ncias europeias estabeleceram na
China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para
esta polı́tica relativamente sem interferê ncias da Grã -Bretanha foi a
persistê ncia da visã o adquirida pelos primeiros o iciais coloniais
britâ nicos de que os chineses residentes em Hong Kong nã o queriam ou
nã o apreciavam as legislaçõ es britâ nicas. Esta atitude foi ilustrada de
maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm,
que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento
britâ nico em meados do sé culo XIX. Malcolm relatou que "os chineses
sã o um povo peculiar e nã o gostam de sofrer interferê ncias. Eles nã o
nos entendem; eles nã o conseguem entender nossos mé todos; e
quando sã o recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois
outra, eles se assustam e nã o mais nos procuram".
Se era ou nã o uma caracterı́stica "peculiar" dos chineses nã o gostar de
governos arbitrá rios, o fato é que a Grã -Bretanha parou de expedir
ordens con litantes e incompatı́veis, e a tendê ncia geral passou a ser a
de deixar as pessoas em paz. Ambas estas polı́ticas foram adotadas
com o intuito de estimular. Como consequê ncia, deram à colô nia o
benefı́cio de regras claras e simples desde seus primó rdios.
Mas houve algo que a Grã -Bretanha nã o criou em Hong Kong: um
governo democrá tico. Ao contrá rio do que ocorreu na maioria das
outras colô nias britâ nicas, em Hong Kong nã o se permitiu que
nenhuma instituiçã o democrá tica local se desenvolvesse, pois os
britâ nicos nã o estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na
administraçã o. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong
continuaria tendo uma administraçã o tã o antidemocrá tica quanto
qualquer governo chinê s, mas com a importante diferença de que a
autoridade inal seria a lei, e nã o os caprichos de algum ditador".
O governo central imperial chinê s nunca defendeu a liberdade
econô mica ao longo de sua histó ria, e o perı́odo compreendido entre o
inal do sé culo XIX e inı́cio do sé culo XX nã o foi nenhuma exceçã o. A
medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, dé spotas e
chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder
rivais, mas igualmente predató rios. Os poderios europeu, americano e
japonê s també m se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de
suas respectivas empresas ao mercado chinê s. Mas tais poderios nã o
criaram nenhuma liberdade econô mica para a populaçã o chinesa
dentro de suas esferas de in luê ncia.
Neste cená rio, a estabilidade polı́tica de Hong Kong começou a atrair
cada vez mais emigrantes que saı́am da China. A populaçã o da colô nia
cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhã o em 1938. A
medida que as condiçõ es foram se deteriorando na China com a invasã o
japonesa e com os con litos entre os dé spotas regionais, o Kuomitang
(nacionalistas) e os comunistas, uma mé dia de 5.000 migrantes por dia
passou a aportar em Hong Kong.
Quando a ocupaçã o japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong
Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou
a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já
tinha 2,3 milhõ es de pessoas.
Para piorar, embargos ao comé rcio com a China em 1951, durante a
Guerra da Coré ia, afetaram severamente a condiçã o de entreposto
comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se
baseava uma grande fatia da economia local.
Essa rá pida industrializaçã o da dé cada de 1950 foi possı́vel porque
ocorreu em condiçõ es nas quais: 1) os direitos de propriedade eram
respeitados, 2) o poder judiciá rio era independente e os tribunais eram
imparciais, e 3) a interferê ncia econô mica das autoridades coloniais era
mı́nima.
Ele era um liberal-clá ssico, bem ao estilo dos liberais do sé culo XIX. Era
iel adepto da ideia de que os paı́ses deveriam se abrir unilateralmente
para o comé rcio, sem esperar contrapartidas. Em 1946, os britâ nicos
lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo
pudesse estimular o crescimento econô mico. Cowperthwaite apenas
respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem
nenhuma ordem do governo.
O legado de Cowperthwaite
Nã o obstante sua postura contrá ria, há estatı́sticas sobre a Hong Kong
daquela é poca. Durante sua dé cada como secretá rio das inanças, os
salá rios reais subiram 50%, e a fatia da populaçã o vivendo na pobreza
extrema caiu de 48% para 15%. O mais impressionante é que Hong
Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que nã o fosse
sua populaçã o. A colô nia nã o possuı́a nenhuma terra agrı́cola e
nenhum recurso natural. E até mesmo o ú nico recurso que ela possuı́a
— as pessoas — nã o tinha educaçã o su iciente. Com efeito, a maior
parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na dé cada de
1950 seria vista apenas como um fardo para o estado.
O avanço
As polı́ticas de livre comé rcio, de nã o-intervençã o do estado na
economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de
imposto de renda de pessoa fı́sica com alı́quota ú nica (15%), de
mercado de trabalho bastante lexı́vel, de livre luxo de capitais, de nã o-
restriçã o a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir
livremente em empresas locais e també m deterem 100% do capital) se
mantiveram inalteradas apó s a saı́da de Cowperthwaite.
Esta polı́tica econô mica, a qual promoveu a concorrê ncia e o espı́rito
empreendedor, criou as condiçõ es para o acelerado crescimento
econô mico vivenciado por Hong Kong nas dé cadas seguintes. Entre
1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por 9.
Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder
de compra, é o 7º maior do mundo.
Nã o foram apenas os britâ nicos que izeram de Hong Kong um sucesso.
Foi principalmente a populaçã o de Hong Kong, de operá rios de fá bricas
a empreendedores, quem transformou uma ilha esté ril em potê ncia
econô mica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o
governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em
paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraı́so
libertá rio. Mas permanece sendo um dramá tico exemplo de como a
genialidade humana e o talento empreendedor podem trazer
prosperidade a uma sociedade originalmente pobre.
Por que Hong Kong sempre foi tã o livre? Em parte, Hong Kong teve a
sorte de ser governada por homens que entendiam que sua funçã o era
bastante limitada. Nã o era exatamente o ideal liberal-clá ssico, mesmo
sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais
signi icativamente se aproximou deste ideal no sé culo XX. E a
combinaçã o entre a incapacidade do governo britâ nico em fornecer
instituiçõ es democrá ticas e sua falta de interesse em Hong Kong
permitiu à queles homens manter suas polı́ticas econô micas, mesmo
enquanto sua pró pria Grã -Bretanha natal experimentava o desastre
econô mico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong també m
se bene iciou do exemplo das desastrosas polı́ticas econô micas da
China na dé cada de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do
comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade
era alta.
Hong Kong é um dos mais formidá veis e conclusivos exemplos de uma
sociedade que teve grande ê xito em fugir do subdesenvolvimento e
enriquecer recorrendo à liberdade econô mica. Hong Kong teve sorte
em ter tido essa liberdade. E a sua populaçã o provou que a liberdade
funciona.
Os Casos da Dinamarca e da Suécia
Juan Ramón Rallo
Mas nã o para por aı́. A tributaçã o sobre a renda, por sua vez, també m
nã o é muito solidá ria para com os mais pobres. Façamos uma
comparaçã o entre o Imposto de Renda de Pessoa Fı́sica da Dinamarca
com o da Espanha: entre 3 mil e 19 mil euros, um dinamarquê s paga
37,5% de IRPF, ao passo que um espanhol paga entre 19 e 24%. Entre
19 mil e 23 mil euros, um dinamarquê s paga 43,5% de IRPF, ao passo
que um espanhol paga 30%. E, a partir de 23 mil euros, um
dinamarquê s paga 59% de IRPF, ao passo que um espanhol paga 52%.
O mais interessante nisso tudo é perceber que tais pessoas olham para
um paı́s rico como a Sué cia e automaticamente concluem que o alto
padrã o de vida daquele paı́s nã o tem nada a ver com seu passado de
laissez-faire, com uma baixa dı́vida pú blica, com sua independê ncia
monetá ria, com a ausê ncia de um salá rio mı́nimo estipulado pelo
governo, com uma forte proteçã o dos direitos de propriedade, com um
Banco Central equilibrado, com baixas taxas de imposto de renda para
pessoa jurı́dica e até mesmo com graduais adoçõ es de privatizaçã o no
sistema de saú de, no sistema previdenciá rio, e na educaçã o.
Ao contrá rio, tais pessoas olham para a Sué cia e, nã o apenas ignoram
estes fatos, como ainda naturalmente pressupõ em que o alto padrã o de
vida da populaçã o sueca é produto de sua alta carga tributá ria e de suas
mundialmente desconhecidas empresas estatais.
Imagine se LeBron James (astro da NBA) começasse a fumar. Qualquer
sucesso que ele continuasse apresentando nas quadras
seria apesar desse há bito destrutivo e nã o por causa dele. O ê xito
econô mico sueco ocorreu apesar de sua alta carga tributá ria sobre
pessoas fı́sicas, e nã o por causa dela.
Dado que a Sué cia sempre é citada por progressistas como o paraı́so na
terra e o modelo a ser seguido, este artigo irá se concentrar apenas
neste paı́s. Uma (extremamente) breve histó ria deste fascinante paı́s
pode nos ajudar a entender melhor o atual alto padrã o de vida da
Sué cia e as vá rias maneiras nas quais o "socialismo" sueco impô s um
desnecessá rio limite sobre a produtividade do paı́s.
Logo, parece
ó bvio que as
economias de
Suı́ça e
Cingapura sã o muito mais que seus respectivos setores inanceiros.
Suas economias reais existem e sã o complexas e gigantescas.
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Alyson
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O Afeganistã o (27,8) é mais justo e igualitá rio que a Bulgá ria (28,2),
Alemanha (28,3) e a Austria (29,2).
A Etió pia (29,6) e o Paquistã o (30) sã o mais justos e igualitá rios que a
maioria dos paı́ses desenvolvidos, como Austrá lia (35,2), Coré ia do Sul
(31,6) e Luxemburgo (30,8) e Canadá (32,6).
Burundi (33,3), Indoné sia (34), Togo (34,4), Nı́ger (34,6), India (33,4)
sã o mais igualitá rios que Irlanda (34,3) Espanha (34,7), Itá lia (36),
Israel (39,2).
E todos os citados anteriormente mais Quirguistã o (36,2), Mongó lia
(36,5), Tanzâ nia (37,6), Camboja (37,9), Libé ria (38,2), Senegal (39,2),
Djibouti (40) sã o mais justos e igualitá rios que Estados Unidos (40,8),
Cingapura (42,5) e Hong Kong (43,4).
Para simpli icar, podemos dizer que os EUA sã o mais desiguais que o
Senegal; o Canadá é mais desigual que Bangladesh; a Nova Zelâ ndia é
mais desigual que o Timor Leste; a Austrá lia é mais desigual que o
Cazaquistã o; o Japã o é mais desigual que o Nepal e a Etió pia. Já o
Afeganistã o é uma das naçõ es mais igualitá rias do mundo.
A preocupaçã o nã o tem de ser com a pobreza relativa, mas sim com a
pobreza absoluta. E esta está sendo devidamente aniquilada pelo
capitalismo.
Automação e robótica
O que nos leva à questã o da automaçã o e dos robô s. Ao contrá rio do
que prevê Shiller, a intensi icaçã o do uso de robô s e da automaçã o nã o
signi ica uma vida de desemprego e baixos salá rios. Muito pelo
contrá rio.
Por isso, robô s, automaçã o e outros inventos que poupam mã o-de-obra
sinalizam para um futuro com uma força de trabalho mais bem
empregada, mais voltada para aquilo que gosta, e mais bem paga, sendo
capaz de adquirir um volume crescente de bens e serviços a preços
menores.
A massi icaçã o da automaçã o permitirá que descubramos novas
aptidõ es e novos trabalhos, os quais, no futuro, nos deixarã o atô nitos ao
percebermos o tanto de energia que gastamos com trabalhos
monó tonos e repetitivos no passado. Os "destruidores de emprego" do
passado — como o automó vel (que destruiu empregos no setor de
carroças), o computador (que destruiu empregos no setor de má quinas
de escrever), a luz elé trica (que destruiu empregos no setor de vela) —
parecerã o ı́n imos em comparaçã o.
A desigualdade futura será maior?
A desigualdade de renda futura, portanto, será muito maior do que é
hoje, e será o resultado de empreendedores satisfazendo as
necessidades e desejos dos indivı́duos a preços espantosamente
baixos. Quanto mais essa desigualdade aumentar no futuro, mais
garantidos serã o os sinais de que as necessidades e desejos de todos os
trabalhadores serã o satisfeitos.
Falando mais simplesmente, as pessoas de mais baixa renda no futuro
terã o um padrã o de vida e um acesso a todos os tipos de bens e serviços
que fará com que o padrã o de vida do 1% mais rico atual pareça
austero em comparaçã o. Se você duvida, apenas compare o padrã o de
vida do cidadã o comum hoje com o padrã o de vida dos reis e
aristocratas do sé culo XIX.
Implı́cito em todo esse argumento anti-progresso está a crença de que a
natureza do trabalho é está tica. Mas a realidade é que o tipo de
trabalho que fazemos hoje nã o prevê o tipo de trabalho que teremos no
futuro, assim como o tipo de trabalho de 150 anos atrá s (quando mais
da metade do mundo estava no campo) nã o previu o tipo de trabalho
que fazemos hoje. Nenhum economista pode prever os tipos de
empregos que os inovadores e empreendedores que operam com o
sistema de lucros e prejuı́zos irã o criar nas dé cadas e sé culos à frente.
Mas o que é realmente garantido é que, se conseguirmos blindar a
economia desse tipo de previsã o arti icial e falsa feita por economistas
como Shiller, a natureza dos empregos e do trabalho evoluirá
belamente graças à automaçã o cada vez mais avançada, a qual nos
libertará de trabalhos maçantes e exaustivos, e nos permitirá
concentrarmo-nos naquilo que realmente gostamos de fazer, e que
potencializará nossa produtividade de uma maneira tal que fará com
que nossos empregos de hoje pareçam prosaicos em comparaçã o.
O curioso sobre esses ataques à desigualdade de renda é que jamais foi
explicado por que seria deleté rio para a economia indivı́duos buscarem
carreiras que, caso bem-sucedidos, os tornarã o muito mais desiguais
em relaçã o a seus pares. Levando ao extremo, se um grupo de
cientistas descobrir a cura de initiva para o câ ncer, e enriquecer
enormemente por causa dessa descoberta, os crı́ticos da desigualdade
terã o de exigir que essa descoberta seja revogada, pois levou a um
aumento da desigualdade.
Nessa mesma linha, Henry Ford morreu muito rico, Steve Jobs morreu
valendo bilhõ es, e Michael Dell vale dezenas de bilhõ es. Como
exatamente o fato de eles serem muito ricos prejudicou você ? Algué m
realmente diria que o mundo estaria melhor caso estes trê s fossem
meros preguiçosos sem ambiçã o? A desigualdade, sem dú vida, seria
menor.
O fato é que todos nó s, ainda que nã o tenhamos coragem para falar isso
abertamente, queremos viver em um mundo repleto de
empreendedores visioná rios e inovadores, que enriqueçam bastante
em decorrê ncias de seus inventos que aumentam substantivamente
nosso padrã o de vida. Quanto mais eles enriquecerem e mais
inanceiramente desiguais forem em relaçã o a nó s, maior será o nosso
padrã o de vida e menor será a diferença de estilo de vida entre eles e
nó s.
Caso contrá rio, sempre podemos nos mudar para o Afeganistã o, paı́s
com a menor desigualdade de renda do mundo.
Quem é o Presidente da Suíça?
Bill Wirtz
A questã o é : como é que um paı́s tã o famoso (e tã o invejado) no cená rio
internacional possui um executivo totalmente desconhecido?
E interessante notar que, embora cada paı́s europeu tenha feito (e ainda
faça) constantes alteraçõ es em sua forma de governo, o formato do
Conselho suı́ço é o mesmo desde 1848. A ú nica mudança polı́tica já
ocorrida no Conselho Federal foi a recente reversã o da Fó rmula Má gica,
també m conhecida como o "consenso suı́ço", que é o costume polı́tico
de repartir os 7 assentos do Conselho entre os quatro maiores partidos:
com a chegada do industrial bilioná rio e opositor da Uniã o Europeia
Christoph Blocher e seu Partido Popular Suı́ço, esse acordo polı́tico foi
chacoalhado. Mais ainda: fez com que uma eventual entrada da Suı́ça na
Uniã o Europeia seja ainda mais imprová vel.
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Poré m, para uma aná lise mais completa, passemos agora à ló gica: qual
é a razã o que dita que mais liberdade econô mica signi icará també m
mais caridade?
A sociologia por trás do altruísmo
Em uma sociedade livre, o grau de responsabilidade individual tem de
ser elevado. E é assim pela simples razã o de que o corolá rio da
liberdade é a responsabilidade. (Quando existe liberdade sem
responsabilidade, há apenas uma licenciosidade).
Consequentemente, em uma sociedade livre, as pessoas tê m de ter elas
pró prias a responsabilidade de se precaverem e de se salvaguardarem.
Sã o elas que tê m de assumir sozinhas as consequê ncias de suas
decisõ es. Essa noçã o de que elas tê m de se cuidar para o futuro — tã o
estranha a nó s de ascendê ncia latina — as impulsiona a serem mais
precavidas desde cedo. Incentiva, por exemplo, as pessoas a pouparem
mais, a fazerem seguros de vida, a fazerem planos inanceiros para suas
aposentadorias etc.
Isso, por si só , já estimula um comportamento mais soberbo e austero,
estimulando atitudes que visam a um horizonte temporal de longo
prazo e desestimulando atitudes que visam apenas ao curto prazo.
Em terceiro lugar, como os pró prios desvalidos sabem que estã o sendo
ajudados por terceiros, sem que estes nã o tenham nenhuma obrigaçã o
legal de fazê -lo, isso implica que, se os auxiliados abusarem da bondade
dos outros, um dia poderã o já nã o mais se bene iciar dela. Uma coisa é
ter ajudas pontuais para se reerguer. Outra coisa é icar completamente
encostado sem se esforçar. Consequentemente, essas mesmas pessoas
sob assistê ncia tenderã o a fazer de tudo para sair da situaçã o difı́cil em
que atualmente se encontram.
Por outro lado, se o governo se arroga o papel de cobrar impostos para
cuidar de todos para sempre, haverá o estı́mulo à indolê ncia e à
improdutividade.
Por ú ltimo, e por tudo descrito acima, os pró prios caridosos sabem
també m que os auxiliados tê m o interesse de se aprumar o mais
rapidamente possı́vel, pois nã o será possı́vel viver pendurado para
sempre na caridade de terceiros. Logo, os caridosos sabem que os
auxiliados nã o irã o abusar, caso contrá rio perderã o todos os auxı́lios.
Consequentemente, os caridosos estarã o dispostos a ajudar mais,
exatamente porque sabem que, em caso de abuso, sempre poderã o se
retirar.
Nã o apenas a teoria, como a pró pria empiria, con irma que
voluntariado e caridade andam juntos com liberdade econô mica. Uma
sociedade livre tem os seus pró prios mecanismos naturais de
solidariedade e estes sã o pouco visı́veis agora, para nó s, precisamente
porque um estado gigante já monopolizou a assistê ncia social
absorvendo os recursos da sociedade civil que seriam destinados a
esses ins. "Por que farei caridade se já pago impostos para que o
estado faça a caridade por mim?"
Creio nã o ser necessá rio explicar por que um sistema coercivo
gerenciado por um estado que promete cuidados do berço ao tú mulo
incentiva mais o egoı́smo e o abuso da generosidade alheia.
Irlanda e Islândia – Quem se Saiu
Melhor Após a Crise de 2008
David Howden
Ao longo dos ú ltimos cinco anos, é difı́cil encontrar outros dois paı́ses
cujas polı́ticas adotadas em resposta à crise inanceira de 2008 tenham
sido tã o divergentes e, por isso mesmo, tenham polarizado tanto os
comentaristas econô micos. Estes dois paı́ses sã o a Irlanda e a Islâ ndia.
Ambos foram talvez os dois paı́ses mais afetados pelo congelamento da
liquidez ocorrido em 2008.
Uma conclusã o bastante recorrente nos meios econô micos a irma que
um destes paı́ses fez tudo certo e que o outro fez tudo errado. Qual paı́s
fez tudo certo e qual fez tudo errado vai depender inteiramente da
ideologia do economista. Sendo assim, meu objetivo aqui é fazer uma
abordagem mais pragmá tica. Há aspectos positivos em ambos os casos,
assim como també m há aspectos negativos.
Sempre correndo o risco de estar simpli icando em demasia a situaçã o
de ambos, eis as principais diferenças nas polı́ticas econô micas
adotadas:
Para os propó sitos deste artigo, irei me concentrar apenas nos efeitos
das respectivas polı́ticas monetá rias de ambos os paı́ses, e em como os
ganhos de curto prazo gerados pela reaçã o in lacioná ria da Islâ ndia sã o
hoje pequenos em comparaçã o à reaçã o mais branda da Irlanda.
O grá ico abaixo mostra a evoluçã o do PIB nominal de ambos os paı́ses,
isto é , o PIB que desconsidera a in laçã o de preços. A Irlanda está de
verde e a Islâ ndia, de azul.
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3d39d749da0.jpg
Grá ico 1: PIB Nominal (2008 = 100) Fonte: Federal Reserve Bank of St.
Louis
Grá ico 2: PIB Real (2008 = 100) Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis
O grá ico 2 mostra uma realidade mais acurada da situaçã o vivenciada
pelo islandê s e pelo irlandê s comum. Quando o Banco Central da
Islâ ndia in lacionou a oferta monetá ria do paı́s e depreciou o câ mbio, a
in laçã o de preços disparou para quase 20%. A medida que o poder de
compra dos cidadã os da Islâ ndia diminuı́a, eles sentiam que sua
segurança inanceira estava piorando. Mas isso nã o era aparente para o
resto do mundo, cujos observadores estavam ixados nos indicadores
nominais da economia da Islâ ndia. Em seu ponto mais baixo, alcançado
no quarto trimestre de 2010, a renda da Islâ ndia ajustada pela in laçã o
de preços havia caído 35%.
Já na Irlanda, este declı́nio foi sensivelmente mitigado pela de laçã o de
preços de 6% ocorrida. A medida que os preços domé sticos caı́am, foi
se tornando mais fá cil para os cidadã os da Irlanda continuar
sobrevivendo com uma renda nominal declinante. Em seu pior
momento, a economia da Irlanda caiu 10% em termos reais.
Isso parece sugerir que a Irlanda recorreu a uma soluçã o melhor ao nã o
implantar uma polı́tica monetá ria in lacionista. Já outros irã o notar, no
entanto, que a recuperaçã o da Islâ ndia desde 2010 tem sido bastante
robusta.
Com efeito, se analisarmos a queda na taxa de emprego (atençã o: taxa
de emprego e nã o de desemprego) em ambos os paı́ses, é natural que
sintamos mais comiseraçã o pelas massas de desempregados irlandeses.
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HD:Users:alyson.nonato:Desktop:ae4f5c9edf1f4a5c9e3f4b
35ecd7b67e.jpg
Grá ico 3: Taxa de Emprego (2008 = 100) Fonte: Federal Reserve Bank of
St. Louis
Poré m, se analisarmos mais profundamente, as coisas nã o sã o
exatamente como o grá ico acima sugere. Por causa da in laçã o de
preços maior, vá rios cidadã os da Islâ ndia tê m de trabalhar em dois
empregos para chegar até o im do mê s. Este efeito foi se tornando
cada vez mais pronunciado ao longo da recessã o à medida que a
in laçã o de preços ia tornando mais difı́cil a sobrevivê ncia com apenas
um salá rio. Como consequê ncia, vá rios islandeses que perderam um de
seus dois empregos durante a recessã o nã o aparecem nas estatı́sticas
de desemprego, pois eles mantiveram o outro emprego.
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e62d523b4eec2.jpg
O único propósito
Pouco importa se o produto foi fabricado na cidade vizinha ou do outro
lado do mundo: as importaçõ es sã o o ú nico propó sito de acordarmos
cedo para ir trabalhar, produzir e ganhar dinheiro. Você produz para
poder consumir produtos bons e baratos. E aquele produtor que
fornecer o bem pode morar tanto na cidade vizinha ou no Vietnã . Ao
comprar produtos dele, você está importando.
Nã o há como haver monopó lio ou oligopó lio se a concorrê ncia é livre
para vir de qualquer ponto do planeta.
Até meados da dé cada de 2000, a Alemanha era considerada uma das
naçõ es paı́ses mais doentes da Europa. Com uma economia engessada e
um mercado de trabalho pouco lexı́vel, sua taxa de desemprego era
persistentemente alta (chegando a 12%, maior até mesmo que o da
França à é poca). E por causa dos gastos crescentes do governo, o dé icit
orçamentá rio nã o só era um dos maiores da Europa, como també m
estava à beira do descontrole.
Schroeder, talvez por ter adotado tais medidas impopulares já no inal
de seu mandato — janeiro de 2005, sendo que as eleiçõ es seriam em
novembro daquele ano —, nã o apenas nã o colheu os frutos de suas
reformas, como ainda foi punido pelos seus eleitores —
majoritariamente sindicatos e defensores do estado assistencialista —
nas urnas.
Mas desde entã o, o desemprego só fez cair, indo de 12% para 3,6%. E o
orçamento do governo nã o só icou equilibrado, como passou a
apresentar um superá vit. Merkel deve muito a Schroeder.
A reação na crise
Os economistas keynesianos sempre dizem que a ú nica forma de uma
economia superar rapidamente uma crise é aumentando os gastos e
estı́mulos governamentais. Quando o setor privado nã o quer gastar —
pois está acometido de grandes incertezas em relaçã o ao futuro —,
entã o o setor estatal tem de ocupar o seu lugar, ampliando os gastos e
os dé icits.
Como consequê ncia desta prudê ncia orçamentá ria, a Alemanha foi o
ú nico paı́s que reduziu seu endividamento: era de 72,6% do PIB em
2009 e terminou 2016 em 68,3%. Pode parecer pouco, mas compare
isso com Reino Unido (de 64,5% para 89%), França (de 79% para
96%), Espanha (de 53% para 99,4%), ou EUA (de 82% para 106%).
Quando o governo incorre em dé icits orçamentá rios, ele tem de pegar
dinheiro emprestado. Consequentemente, investidores e empresas
passam a direcionar sua poupança para bancar os gastos do governo, e
nã o para inanciar investimentos produtivos. Consequentemente, o
investimento privado passa a ser diretamente afetado pelos dé icits
orçamentá rios do governo. Se a poupança vai para os tı́tulos do
governo, necessariamente haverá menos poupança disponı́vel para o
investimento produtivo.
Ademais, dé icits orçamentá rios sempre geram o temor de que o
governo irá elevar impostos no futuro. Contas desarranjadas nã o duram
por muito tempo. Se o orçamento do governo está de icitá rio,
empreendedores e investidores sabem que o ajuste futuro muito
provavelmente ocorrerá via aumento de impostos. E aumento de
impostos, ainda que no futuro, sempre gera custos adicionais à s
empresas, mudando totalmente o cená rio no qual elas basearam seus
planos de investimentos. Isso inibe investimentos produtivos. A inal,
como investir quando nã o se sabe nem como serã o os impostos no
futuro?
Estabilidade, porto seguro e lexibilização trabalhista
Ou seja, ao manter um orçamento equilibrado e nã o incorrer em
dé icits, a Alemanha mostrou o que deve ser feito durante uma
recessã o: criar uma estabilidade macroeconô mica crı́vel.
Dado que o setor pú blico alemã o optou por nã o abusar do dé icit
pú blico, e tampouco contribuiu para gerar qualquer tipo de incerteza
nos investidores quanto à sua solvê ncia, a Alemanha acabou se
tornando um porto seguro para os investidores durante o auge da crise.
Boa parte do capital global foi buscar um porto seguro na economia
alemã .
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E verdade que muito pouco desta incontestá vel prosperidade pode ser
atribuı́da estritamente a Merkel, uma vez que o crescimento deriva das
reformas trabalhistas, iscais e assistencialistas adotadas ainda durante
o governo de Gerhard Schroeder. No entanto, o partido de Merkel
mostrou uma virtude fundamental durante estes ú ltimos 12 anos: nã o
cedeu aos cantos da sereia keynesiana e consolidou uma invejá vel
estabilidade macroeconô mica dentro da qual o setor privado pô de se
desenvolver sem grandes temores.
Semelhante prudê ncia em meio à maior crise econô mica desde a
Segunda Guerra Mundial poderá fazer com que Merkel supere o
recorde de Konrad Adenauer e Helmut Kohl à frente do executivo
alemã o.
A Recessão no Japão
Peter Schiff
O mundo está cada vez mais rico e vai se tornar ainda mais rico. Nem
todo o mundo já está rico, é claro. Aproximadamente um bilhã o de
pessoas no planeta ainda sobrevive com a equivalente a US$ 3 por dia
ou menos. No entanto, no ano de 1800, praticamente todas as pessoas
sobreviviam com US$ 3 ao dia (em valores de hoje).
O Grande Enriquecimento começou na Holanda do sé culo XVII. No
sé culo XVIII, o fenô meno já havia se espalhado para Inglaterra, Escó cia
e as colô nias americanas. Hoje, ele é praticamente universal.
Economistas e historiadores concordam quanto à sua espantosa e
surpreendente magnitude: em 2010, a renda mé dia diá ria de uma
grande variedade de paı́ses, incluindo Japã o, EUA, Botsuana e Brasil,
havia crescido de 1.000 a 3.000% em relaçã o aos nı́veis de 1800. As
pessoas deixaram de viver em tendas e cabanas de lama e foram morar
em casas de dois andares e apartamentos em condomı́nios. Saı́ram de
uma realidade marcada por doenças causadas por á gua suja e infectada
e alcançaram uma expectativa de vida de 80 anos. Saı́ram da ignorâ ncia
plena para a alfabetizaçã o e o conhecimento.
Ainda há quem diga que os ricos se tornaram mais ricos e os pobres,
mais pobres. Nada mais errado. A se julgar pelo padrã o de conforto
bá sico trazido por itens essenciais, as pessoas mais pobres do planeta
foram as que mais ganharam. Em locais como Irlanda, Cingapura,
Finlâ ndia e Itá lia, mesmo as pessoas que sã o relativamente pobres tê m
acesso a alimentaçã o adequada, educaçã o, alojamento e cuidados
mé dicos. Seus ancestrais nã o tinham nada disso. Nem mesmo
remotamente.
Desigualdade de riqueza inanceira é algo que varia intensamente ao
longo do tempo; no entanto, no longo prazo, esta se reduziu. A
desigualdade inanceira era maior em 1800 e em 1900 do que é hoje,
como até mesmo o economista (de esquerda) francê s Thomas Piketty
reconheceu. E quando se toma como base o conforto trazido pelo
consumo de itens bá sicos — que é o padrã o mais importante de
mensuraçã o —, a desigualdade dentro de um paı́s, e també m entre
paı́ses, caiu quase que continuamente.
E foi isso que aconteceu. Começou no sé culo XVIII com o para-raios de
Franklin e a má quina a vapor de James Watt. Isso foi expandido, nos
anos 1820 (sé culo XIX), para uma nova invençã o: as ferrovias com
locomotivas a vapor. E entã o vieram as estradas macadamizadas, assim
chamadas em homenagem ao engenheiro escocê s John Loudon
McAdam. Depois surgiram as ceifadeiras, criadas por Cyrus
McCormick, e as siderú rgicas, criadas por Andrew Carnegie. Ambos
eram escoceses que viviam nos EUA.
Tudo se intensi icaria ainda mais no restante do sé culo XIX e aceleraria
fortemente no inı́cio do sé culo XX. Consequentemente, o Ocidente, que
durante sé culos havia icado atrá s da China e da civilizaçã o islâ mica, se
tornou incrivelmente inovador. As pessoas simplesmente passaram a
ver com bons olhos a economia de mercado e a destruiçã o
criativa gerada por suas lucrativas e rá pidas inovaçõ es.
O resultado foi que, pela primeira vez na histó ria, as pessoas comuns e,
especialmente os mais pobres, tiveram sua vida melhorada. Será que o
mundo enriqueceu, como diz a esquerda, por meio da exploraçã o de
escravos ou de trabalhadores? Ou por meio do imperialismo? Nã o. Os
nú meros sã o grandes demais para ser explicados por um roubo de
soma zero.
Nã o foi a exploraçã o dos pobres, nem investimentos, nem instituiçõ es já
existentes. O que causou o Grande Enriquecimento foi uma mera
mudança de mentalidade, uma mera mudança de atitude. Ou, para
simpli icar, uma mera ideia, a qual o iló sofo e economista Adam Smith
rotulou de "o plano liberal para a igualdade, a liberdade e a justiça". Em
uma palavra, foi o liberalismo. Dê à s massas de pessoas comuns
igualdade perante a lei e igualdade de dignidade social, e entã o deixe-as
em paz. Faça isso e elas se tornam extraordinariamente criativas e
energé ticas.
A ideia liberal foi gerada por uma feliz coincidê ncia de acontecimentos
no noroeste europeu de 1517 a 1789: a Reforma, a Revolta Holandesa,
as revoluçõ es na Inglaterra e na França, e a proliferaçã o da leitura.
Estes acontecimentos, conjuntamente, libertaram as pessoas comuns,
dentre elas a burguesia e sua livre iniciativa.
Em termos sucintos, o Tratado da Burguesia é este: primeiramente,
deixe-me tentar este ou aquele aprimoramento. Ficarei com os lucros,
muito obrigado. Poré m, em um segundo ato, estes lucros servirã o de
chamariz para aqueles importunos concorrentes, os quais irã o també m
entrar no mercado, aumentar a oferta de bens e serviços, pegar parte
da minha clientela e, consequentemente, erodir esses meus lucros
(como a Uber fez com a indú stria de tá xi). Já no terceiro ato, apó s todos
os aprimoramentos e melhorias que criei terem se espalhado, eles farã o
com que você melhore de vida substantivamente e ique rico.
E claro que nem todas as ideias sã o doces. Fascismo, racismo, eugenia e
nacionalismo sã o ideias que, recentemente, estã o adquirindo um
alarmante ı́ndice de popularidade. Mas ideias prá ticas e agradá veis a
respeito de tecnologias lucrativas e de instituiçõ es libertadoras, bem
como a ideia liberal que permitiu que pessoas comuns, pela primeira
vez na histó ria, tivessem liberdade para empreender e enriquecer,
geraram o Grande Enriquecimento. Por isso é importante inspirar,
estimular e encorajar as massas. As elites nã o precisam desse
empurrã o, pois já sã o plenamente inspiradas. Igualdade perante a lei e
igualdade de dignidade ainda sã o a raiz do desenvolvimento econô mico
e espiritual.
A grande ameaça à nossa prosperidade nã o sã o as recessõ es
econô micas temporá rias, mas sim a adoçã o de atitudes contrá rias ao
lucro e ao progresso. Quando o ato de empreender e ganhar dinheiro
passa a ser demonizado, e quando a inovaçã o é obstaculizada,
perdemos aquilo que Adam Smith rotulou de "o ó bvio e simples sistema
da liberdade natural". Aceitar e respeitar o capitalismo é uma ideia que
funcionou muito bem para as pessoas ao longo dos dois ú ltimos
sé culos. Sugiro que a aceitaçã o e o respeito devem continuar.
Uma História do Intervencionismo
Ludwig von Mises
Diz uma frase famosa, muito citada: "O melhor governo é o que menos
governa". Esta nã o me parece uma caracterizaçã o adequada das
funçõ es de um bom governo. Compete a ele fazer todas as coisas para
as quais ele é necessá rio e para as quais foi instituı́do. Tem o dever de
proteger as pessoas dentro do paı́s contra as investidas violentas e
fraudulentas de bandidos, bem como de defender o paı́s contra
inimigos externos. Sã o estas as funçõ es do governo num sistema livre,
no sistema da economia de mercado.
Já se disse que, nas condiçõ es atuais, nã o temos mais uma economia de
mercado livre. O que temos nas condiçõ es presentes é algo a que se dá
o nome de "economia mista". E como provas da efetividade dessa nossa
"economia mista", apontam-se as muitas empresas de que o governo é
proprietá rio e gestor. A economia é mista, diz-se, porque, em muitos
paı́ses, determinadas instituiçõ es - como as companhias de telefone e
telé grafo, as estradas de ferro - sã o de posse do governo e
administradas por ele. Nã o há dú vida de que algumas dessas
instituiçõ es e empresas sã o geridas pelo governo. Mas esse fato não é
su iciente para alterar o cará ter do nosso sistema econô mico. Nem
sequer signi ica que se tenha instalado um "pequeno socialismo" no
â mago do que seria — nã o fosse a intrusã o dessas empresas de gestã o
governamental - a economia de mercado livre e nã o socialista. Isto
porque o governo, ao dirigir essas empresas, está subordinado à
supremacia do mercado, o que signi ica que está subordinado à
supremacia dos consumidores.
Ao administrar, digamos, o correio ou as estradas de ferro, ele é
obrigado a contratar pessoal para trabalhar nessas empresas. Precisa
també m comprar as maté rias-primas e os demais produtos necessá rios
à operaçã o das mesmas. E, por outro lado, o governo "vende" esses
serviços e mercadorias para o pú blico. Todavia, embora administre
essas instituiçõ es utilizando os mé todos do sistema econô mico livre, o
resultado, via de regra, é um dé icit. O governo, contudo, tem condiçõ es
de inanciar esse dé icit - pelo menos é esta a irme convicçã o nã o só
dos seus integrantes como també m dos que se ligam ao partido no
poder.
A situaçã o do indivı́duo é bem diversa. Sua capacidade de gerir um
empreendimento de icitá rio é muito restrita. Se o dé icit nã o for logo
eliminado, e se a empresa nã o se tomar lucrativa (ou pelo menos dar
mostras de que nã o está incorrendo em dé icits ou prejuı́zos
adicionais), o indivı́duo vai à falê ncia e a empresa acaba. Já o governo
goza de condiçõ es diferentes. Pode ir em frente com um dé icit, porque
tem o poder de impor tributos à populaçã o. E se os contribuintes se
dispuserem a pagar impostos mais elevados para permitir ao governo
administrar uma empresa de icitá ria - isto é , administrar com menos
e iciê ncia do que o faria uma instituiçã o privada -, ou seja, se o pú blico
tolerar esse prejuı́zo, entã o obviamente a empresa se manterá em
atividade. Nos ú ltimos anos, na maioria dos paı́ses, procedeu-se à
estatizaçã o de um nú mero crescente de instituiçõ es e empresas, a tal
ponto que os dé icits cresceram muito alé m do montante possı́vel de
ser arrecadado dos cidadã os atravé s de impostos. O que acontece nesse
caso nã o é o tema da palestra de hoje. A consequê ncia é a in laçã o,
assunto que devo abordar amanhã . Mencionei isso apenas porque a
economia mista nã o deve ser confundida com o problema
do intervencionismo.
Ademais, o governo nã o tem como limitar sua interferê ncia no mercado
apenas ao que se lhe a igura como bem de primeira necessidade: leite,
manteiga, ovos e carne. Precisa necessariamente incluir os bens de
luxo, porquanto, se nã o limitasse seus preços, o capital e a mã o-de-obra
abandonariam a produçã o dos artigos de primeira necessidade e
acorreriam à produçã o dessas mercadorias que o governo reputa
supé r luas. Portanto, a interferê ncia isolada no preço de um ou outro
bem de consumo sempre gera efeitos — e é fundamental compreendê -
lo — ainda menos satisfató rios que as condiçõ es que prevaleciam
anteriormente: antes da interferê ncia, o leite e os ovos sã o caros;
depois, começam a sumir do mercado.
O que lhes apresentei aqui, nesta explanaçã o esquemá tica e teó rica, foi
precisamente o que ocorreu nos paı́ses que tentaram impor preços
má ximos, paı́ses cujos governos foram teimosos o bastante para
avançarem passo a passo até a pró pria derrocada. Foi o que aconteceu,
na Primeira Guerra Mundial, com a Alemanha e a Inglaterra.
Analisemos a situaçã o que existia nos dois paı́ses. Ambos
experimentavam a in laçã o. Como os preços subiam, os dois governos
impuseram controles sobre eles. Tendo começado com apenas alguns
preços, nada mais que leite e ovos, foram forçados a avançar cada vez
mais. Mais a guerra se prolongava, maior se tornava a in laçã o. E apó s
trê s anos de guerra, os alemã es — de maneira sistemá tica, como é de
seu estilo — elaboraram um grande plano. Chamaram-no Plano
Hindenburg (naquela é poca, tudo na Alemanha que parecia bom ao
governo era batizado de Hindenburg).
A diferença entre o sistema alemã o e o britâ nico nã o foi signi icativa,
porquanto seus gestores tinham sido designados pelo governo e, em
ambos os casos, eram obrigados a cumprir as ordens do governo em
todos os detalhes. Como eu disse antes, o sistema dos nazistas alemã es
conservou os ró tulos e termos da economia capitalista de livre
mercado. Mas essas expressõ es adquiriram um signi icado muito
diverso: já nã o passavam agora de decretos governamentais.
Isto també m se aplica ao sistema britâ nico. Quando o Partido
Conservador foi reconduzido ao poder, alguns desses controles foram
suprimidos. Temos hoje na Grã -Bretanha tentativas, por um lado, de
conservar os controles e, por outro, de aboli-los (mas nã o se deve
esquecer que as condiçõ es existentes na Inglaterra sã o muito diferentes
das que prevalecem na Rú ssia). O mesmo se passou em outros paı́ses
que, por dependerem da importaçã o de alimentos e de maté rias-
primas, foram obrigados a exportar bens manufaturados. Em paı́ses
profundamente dependentes do comé rcio de exportaçõ es, um sistema
de controle governamental simplesmente nã o funciona.
Assim, a subsistê ncia de alguma liberdade econô mica (e ainda existe
uma substancial liberdade em paı́ses como a Noruega, a Inglaterra, a
Sué cia) é fruto da necessidade de preservar o comércio de
exportação. Aliá s, se escolhi anteriormente o exemplo do leite, nã o foi
por ter alguma predileçã o especial pelo produto, mas porque
praticamente todos os governos - ou sua grande maioria —
regulamentaram, nas ú ltimas dé cadas, os preços do leite, dos ovos ou
da manteiga.
Quero lembrar, em poucas palavras, um outro exemplo, o do controle do
aluguel. Uma das consequê ncias do controle dos alugué is por parte do
governo é que pessoas que teriam — por causa de alteraçõ es na
situaçã o familiar — de mudar de apartamentos maiores para outros
menores, já nã o o fazem. Considere-se, por exemplo, um casal cujos
ilhos saı́ram de casa em outras cidades. Casais como este tendiam a se
mudar, passando a habitar apartamentos menores e mais baratos. Com
a imposiçã o do controle sobre os alugué is, essa necessidade
desaparece.
Nã o obstante, a interferê ncia do governo nos negó cios continua a gozar
de grande aceitaçã o. Mal acontece no mundo algo que desagrada à s
pessoas é comum ouvir-se o comentá rio: "O governo precisa fazer
alguma coisa a respeito. Para que temos governo? O governo deveria
fazer isso". Temos aqui um vestı́gio caracterı́stico do modo de pensar
de é pocas passadas, de eras anteriores à liberdade moderna, ao governo
constitucional moderno, anteriores ao governo representativo ou ao
republicanismo moderno.