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Nicolau Maquiavel (1469-1517):

A nova reflexão sobre a política

A época de Maquiavel

A Itália sem estado nacional

Dividida em feudos dominados pelo papa, pela família real Médicis, pelos Aragão e por Carlo
VIII da França

A unificação da Itália era o sonho de Maquiavel

Trabalho na administração do estado, cumprindo tarefas importantes

Em 1512 foi demitido quando os Médicis recuperaram o poder

Em 1513 foi acusado de conspirar contra o governo dos Médicis: torturado e condenado a
prisão

Consegue a libertação mas é exilado na sua própria terra

Começa a trabalhar como analista político

Obras: O príncipe; Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio

A busca da verdade efetiva

Maquiavel está interessado no estado real e não no estado ideal

A história como livro da vida: estudando o passado podemos aprimorar a vida política do
presente

Busca a verdade efetiva do mundo: o conceito de verdade efetiva

Os fatores transitórios que caracterizam as ordens estaduais

A natureza humana

O conceito de natureza humana não tem a ver com o bem

Os homens são “... ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, covardes e gananciosos de


ganhos”.

O poder político deriva da parte pior da natureza humana

O uso da psicologia humana para identificar o motor da história


Só a lei pode bloquear a maldade humana

O governante tem que conhecer a natureza humana pelo estudo da história para enfrentar
todo acontecimento

Sobre a liberdade humana

O homem não é passivo frente seu destino: pode modificar a história

Denomina “fortuna” tudo o que não pode ser controlado pelo homem: ela é uma deusa que
possui tudo o que é almejado pelo homem

O homem forte sabe o momento exato (criado por esta deusa) para agir com sucesso na vida
política

Os que ousam vencem na vida: a fortuna enquanto mulher é fascinada pela força do homem

A felicidade é um agir com sutileza a cada momento

“Os fins justificam os meios”

A política tem lógica e ética próprias

O príncipe e os meios para construir a “Razão de Estado”

Separa a política da moral, da ética, do direito e da teologia: cria uma nova ciência

Maquiavel, amante da liberdade ou defensor do absolutismo? Divergências interpretativas

“A INFLUÊNCIA DA FORTUNA SOBRE AS COISAS HUMANAS E O


MODO COMO DEVEMOS CONTRASTÁ-LA QUANDO ELA NOS É ADVERSA”
(O Príncipe)

“Não ignoro ser crença antiga e atual de que a fortuna e Deus governam as coisas deste
mundo, e de que nada pode contra isso a sabedoria dos homens. Por consequência, seria
razoável não desperdiçar esforços, mas deixar-se guiar pela

sorte. Esta opinião acha-se mais difundida hoje em dia, em virtude das mudanças que,
escapando por completo ao entendimento humano, se operaram e continuam a operar ainda.
Foi após refletir no assunto algumas vezes que eu também me inclinei em parte a concordar
com essa opinião. Todavia, para que não se anule o nosso livre arbítrio, eu, admitindo embora
que a fortuna seja dona da metade das nossas ações, creio que, ainda assim, ela nos deixa
senhores da outra metade ou pouco menos.

Comparo a fortuna a um daqueles rios, que quando se enfurecem, inundam as planícies,


derrubam árvores e casas, arrastam terra de um ponto para pô-Ia em outro: diante deles não
há quem não fuja, quem não ceda ao seu ímpeto, sem meio algum de lhe obstar. Mas, apesar
de ser isso inevitável, nada impediria que os homens, nas épocas tranquilas, construíssem
diques e canais, de modo que as águas, ao transbordarem do seu leito, corressem por estes
canais ou, ao menos, viessem com fúria atenuada, produzindo menores estragos.

Fato análogo sucede com a fortuna, a qual demonstra todo o seu poderio quando não
encontra ânimo [Virtude] preparado para resistir-lhe e, portanto, volve os seus ímpetos para
os pontos onde não foram feitos diques para contê-Ia.

Se observarmos a Itália, origem e teatro de tais mudanças, veremos ser ela uma campina sem
diques e sem nenhuma proteção. Houvera sido ela protegida por valor [Virtude] conveniente,
como a Alemanha, a Espanha e a França, e essa enxurrada (a invasão

estrangeira) ou não lhe teria trazido as grandes mudanças que trouxe ou nem sequer a teria
alcançado. Creio que isto é suficiente para demonstrar, em tese, a possibilidade de nos
opormos à fortuna. Como deseje, porém, ser mais minucioso, chamarei a atenção para o fato
assaz comum de um príncipe prosperar hoje e ruir amanhã, sem que a índole ou o proceder se
lhe hajam modificado. Na minha opinião, tal se deve às causas já longamente explanadas ao
referir-se aos príncipes que se estribam totalmente na fortuna, os quais, disse eu então, caem
quando esta varia. Creio ainda que será venturoso aquele cujo procedimento se adaptar à
natureza dos tempos, e que, ao contrário, será desditoso aquele cujas ações estiverem em
discordância com ela.

[...] os homens prosperam quando a sua imutável maneira de proceder e as

variações da fortuna se harmonizam, e caem quando ambas as coisas divergem.

Julgo, todavia, que é preferível ser arrebatado a cauteloso, porque a fortuna é

mulher e convém, se a queremos subjugar, batê-la e humilhá-la. A experiência

ensina que ela se deixa mais facilmente vencer pelos indivíduos impetuosos do

que pelos frios. Como mulher que é, ama os jovens, porque são menos

cautelosos, mais arrojados e sabem dominá-la com mais audácia.

Trechos do Discursos sobre a Primeira Década


de Tito Lívio

O agir político
[...] todo legislador sábio e animado pelo único desejo de servir, não seus interesses pessoais,
mas os do público, de trabalhar, não para seus próprios herdeiros, mas pela pátria comum,
nada deve poupar, para ser ele o único a possuir completa autoridade. E nunca um espírito
esclarecido repreenderá aquele que haja cometido uma ação, mesmo ilegal, para fundar um
reino ou constituir uma república. É justo, quando as ações de um homem o acusam, que o
resultado o justifiquem, e, quando esse resultado é feliz, como o mostra o exemplo de Rômulo,
o homem será justificado. Só se devem repreender as ações cuja violência tem por meta
destruir e não reparar.

De fato, jamais nenhum legislador deu a seu povo leis fora da ordem comum, sem fazer
intervir a Divindade, pois o povo não as teria aceito. É certo que há uma quantidade de
vantagens, das quais um homem sábio e prudente prevê as consequências, mas cuja evidência
não é, entretanto, bastante forte para convencer imediatamente todos os espíritos. Para
resolver essa dificuldade o

sábio recorre aos deuses. [...]

[...] Onde não existe o temor de Deus, é preciso que o império sucumba ou que seja
sustentado pelo temor de um príncipe capaz de substituir a religião. Como a vida de um
príncipe é efêmera, seus Estados desmoronariam inevitavelmente pela sua base assim que lhe
viesse a faltar o apoio das virtudes do príncipe. Daí resulta que os governos cuja sorte depende
da sabedoria de um só homem são de pouca duração, pois que essa virtude se extingue com a
vida do

Príncipe [...]

[...]

Aquele que quer governar a multidão, sob uma forma republicana ou

monárquica, deve saber com certeza quais os que são inimigos da nova ordem.

Sem isso o governo terá uma existência efêmera. É verdade que eu considero como príncipes
realmente infelizes aqueles que, tendo a multidão por inimiga, são obrigados, para afirmar seu
poder, a empregar meios extraordinários.

De fato, aquele que tem número reduzido de inimigos pode saber com certeza o seu número
sem grande trabalho ou esforço, enquanto que aquele que é objeto do ódio geral nunca tem
certeza de nada, e, tanto mais se mostra cruel, tanto mais enfraquece seu próprio poder. A via
mais certa é, portanto, a de procurar conquistar o afeto do povo”.
Thomas Hobbes (1588-1679):
• Estado de natureza e lei

• Formação e contexto histórico

• Inglês, nascido de família pobre


• A nobreza lhe propiciou apoio para seus estudos
• Defensor pleno do poder absoluto ameaçado pelas novas tendências liberais
• Seu pensamento foi influenciado pelo contato com Descartes, Bacon e Galileu
• Viveu na época do apogeu do absolutismo real
• Vivenciou o processo de laicização do estado (consequência do rompimento da Igreja
inglesa com Roma)
• O soberano deixa de ser o divino escolhido para o cargo
• Séc. XVII: inúmeras lutas entre o soberano e o parlamento
• “O Leviatã” (“grande monstro que governou o caos primitivo”): uma defesa
incondicional da monarquia e do poder absoluto
• Outras obras: Do cidadão; Os Elementos da Lei Natural e Política
• O ponto de partida de Hobbes

• A igualdade natural dos homens: o poder de fazer as mesmas más coisas um contra o
outro
• A insegurança do estágio mais primitivo da vida humana
• O direito de cada um sobre todas as coisas
• A medida das ações humanas em estado de natureza são o medo e o desejo
• todo homem é juiz de si mesmo, antes do advento da lei: só ele julga o que lhe for
necessário para preservar sua vida
• O estado natural como estado de guerra: adverso às próprias leis da natureza
• O estado natural não consegue a paz : as leis de natureza não são suficientes
• Do estado natural ao estado civil

• O homem deseja o bem por si mesmo e guardar sua vida


• Só as leis civis asseguram a paz
• A necessidade de um poder comum que contenha os homens pelo medo
• O estado como poder que traz a paz para todos
• O estado é instituído pela assinatura de um pacto de fidelidade ao soberano
• A vontade do soberano representa a de todos e a de cada um
• A obediência total ao soberano é garantia de segurança e de paz

• Como funciona o estado civil

• Poder coercivo: essencial para garantir a paz e a segurança


• O soberano pela aplicação do castigo conforma as vontades particulares à “união da
concórdia”
• O soberano tem poder de discernimento do bem e do mal: cria o código moral
• As ações dos homens têm que respeitar o poder central
• A sociedade civil se fundamenta na adesão incondicional à vontade do soberano
• O soberano se identifica com o Estado civil: O soberano assegura a paz pela unificação
das vontades particulares na obediência à lei
Trechos

A) O homem na sua condição natural

“A natureza deu a cada um o direito a tudo; isso quer dizer que, num estado puramente
natural, ou seja, antes que os homens se comprometessem por meio de convenções ou
obrigações, era lícito cada um fazer o que quisesse, e contra quem julgasse cabível e portanto
possuir, usar e desfrutar tudo que quisesse ou pudesse obter. Ora, como basta um homem
querer uma coisa qualquer para que ela já lhe pareça boa, e o fato dele a desejar já indica que
ela contribui, ou pelo menos lhe parece contribuir, para sua conservação [...], de tudo isso
então decorre que, no estado de natureza, para todos é legal ter tudo e tudo cometer. E é este
o significado daquele dito comum, “a natureza deu tudo a todos”, do qual portanto o
entendemos que, no estado de natureza a medida do direito está na vantagem que for
obtida”(Hobbes, Os Elementos da Lei Natural e Política).

• A lei de natureza

“Mas – como, em sua maior parte, os homens, ainda que eventualmente reconheçam tais leis
devido a seu perverso desejo de vontades imediatas, são totalmente inaptos para observá-las -
, se por ventura alguns, mais humildes que os demais, viessem a exercer aquela equidade e
disposição de se mostrarem úteis que a razão ordena, certamente não estarão sendo racionais
adotando uma tal atitude caso os outros não se portem da mesma forma. Alias, assim não
conseguirão paz para si mesmos, mas uma certíssima e pronta destruição, e portanto quem
cumprir a lei se torna presa fácil de quem a viola. Por conseguinte, não se deve imaginar que a
natureza (ou seja, a razão obrigue os homens no estado de natureza a observar todas aquelas
leis, se os outros não a respeitarem. Enquanto isso estamos obrigados a uma disposição
mental no sentido de cumpri-las, sempre que sua observância parecer levar ao fim para o qual
elas foram feitas. E disso devemos pois concluir que a lei de natureza sempre e em toda a
parte obriga em fórum interno, ou na corte da consciência, mas nem sempre em fórum
externo, e neste apenas quando puder ser cumpridas com segurança”(Hobbes, Os Elementos
da Lei Natural e Política).

• Para promover a paz

“[...] a convergência de muitas vontades rumo ao mesmo fim não basta para conservar a paz e
promover uma defesa duradoura, é preciso que, naqueles tópicos necessário que dizem
respeito à paz e autodefesa, haja tão somente uma vontade de todos os homens. Mas isso não
se pode fazer, a menos que cada um de tal modo submeta sua vontade a algum outro (seja ele
um só ou um conselho) que tudo o que for vontade deste, naquelas coisas que são necessárias
para a paz comum, se havido como sendo vontade de todos em geral, e de cada um em
particular”

[...] quando de todos os homens há uma só vontade, esta deve ser

considerada como uma pessoa, e pela palavra uma deve ser conhecida

e distinguir-se de todo os particulares, por ter ela seus próprios direitos

e propriedades. Por isso, nenhum cidadão isolado, nem todos eles

reunidos (se excetuarmos aquele cuja vontade aparece pela vontade de

todos), deve ser considerado como sendo uma cidade. Uma cidade,

portanto, assim como a definimos, é uma pessoa cuja vontade, pelo

pacto de muitos homens, há de ser recebida como sendo a vontade de

todos eles; de modo que ela possa utilizar todo o poder e as faculdades

de cada pessoa particular, para a preservação da paz e a defesa

Comum .

• O estado e a Igreja

“não é legítimo que qualquer súdito

ensine doutrinas proibidas pelo governante de

Estado e da religião. Esse governante tem que ser

um só; caso contrário segue-se necessariamente a

facção e a guerra civil no país entre Igreja e o

Estado, entre os espiritualistas e os temporalistas,

entre a espada da justiça e o escudo da fé. E o que

é mais ainda, no próprio coração de cada homem,

entre o cristão e o homem”(Hobbes, Leviatã)

• O soberano e o súdito

Aqueles que já instituíram um Estado, dado que são obrigados pelo pacto a reconhecer como
seus os atos e decisões de alguém, não podem legitimamente celebrar entre si um novo pacto
no sentido de obedecer a outrem, seja no que for, sem sua licença. Se aquele que tentar depor
seu soberano for morto, ou por ele castigado devido a essa tentativa, será o autor de seu
próprio castigo, dado que por instituição é autor de tudo quanto seu soberano fizer.
Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano
instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer
de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça. Pois quem faz alguma coisa
em virtude da autoridade de um outro não pode nunca causar injúria àquele em virtude de
cuja autoridade está agindo. Por esta instituição de um Estado, cada indivíduo é autor de tudo
quanto o soberano fizer, por consequência aquele que se queixar de uma injúria feita por seu
soberano estar-se-á queixando daquilo de que ele próprio é autor, portanto não deve acusar
ninguém a não ser a si próprio, e não pode acusar-se a si próprio de injúria, pois causar injúria
a si próprio é impossível. E certo que os detentores do poder soberano podem cometer
iniquidades, mas não podem cometer injustiça nem injúria em sentido próprio. Mas tal como
os homens, tendo em vista conseguir a paz, e através disso sua própria conservação, criaram
um homem artificial, ao qual chamamos Estado, assim também criaram cadeias artificiais,
chamadas leis civis, as quais eles mesmos, mediante pactos mútuos, prenderam numa das
pontas à boca daquele homem ou assembleia a quem confiaram o poder soberano, e na outra
ponta a seus próprios ouvidos. Embora esses laços por sua própria natureza sejam fracos, é no
entanto possível mantê-los, devido ao perigo, se não pela dificuldade de rompê-los. É
unicamente em relação a esses laços que vou agora falar da liberdade dos súditos. Dado que
em nenhum Estado do mundo foram estabelecidas regras suficientes para regular todas as
ações e palavras dos homens (o que é uma coisa impossível), segue-se necessariamente que
em todas as espécies de ações não previstas pelas leis os homens têm a liberdade de fazer o
que a razão de cada um sugerir, como o mais favorável a seu interesse.

Porque tomando a liberdade em seu sentido próprio, como liberdade corpórea, isto é, como
liberdade das cadeias e prisões, torna-se inteiramente absurdo que os homens clamem, como
o fazem, por uma liberdade de que tão manifestamente desfrutam. Por outro lado,
entendendo a liberdade no sentido de isenção das leis, não é menos absurdo que os homens
exijam, como fazem, aquela liberdade mediante a qual todos os outros homens podem tornar-
se senhores de suas vidas. Apesar do absurdo em que consiste, é isto que eles pedem, pois
ignoram que as leis não têm poder algum para protegê-los, se não houver uma espada nas
mãos de um homem, ou homens, encarregados de pôr as leis em execução. Portanto a
liberdade dos súditos está apenas naquelas coisas que, ao regular suas ações, o soberano
permitiu: como a liberdade de comprar e vender, ou de outro modo realizar contratos mútuos;
de cada um escolher sua residência, sua alimentação, sua profissão, e instruir seus filhos
conforme achar melhor, e coisas semelhantes.

Não devemos todavia concluir que com essa liberdade fica abolido ou limitado o poder
soberano de vida e de morte. Porque já foi mostrado que nada que o soberano representante
faça a um súdito pode, sob qualquer pretexto, ser propriamente chamado injustiça ou injúria
(Hobbes, Leviatã).

Hugo Grotius (1583-1645):


O A doutrina do direito natural

O Da universalidade do direito natural, a partir dos antigos


 os estoicos afirmaram existir uma harmonia entre a ordem do mundo e a lei e o direito
natural

 tal harmonia, criada por Deus, constituía uma lei eterna

 Cícero, na obra Sobre as leis:

“Há uma lei, isto é, a razão autentica que conforme à natureza, vale para todos os homens, é
eterna e inalterável. Os homens submete-se a esta lei para o cumprimento dos seus deveres
[...]

Mudar esta lei por meio da legislação humana nunca pode estar certo. “

O Na idade média

O Tomás de Aquino e a influencia de Aristóteles: a proposta de um “jusnaturalismo”


universal:

a) existe uma natureza comum

b) lei natural como participação do homem da lei eterna de Deus c) a “lei humana” é criada
pelo homem e determinada por sua natureza racional: deriva da lei natural

d) A lei de Deus é aquela doa antigo e do novo testamento

O Os reformadores protestantes e John Locke

 Os reformadores, de acordo com os padre da Igreja, consideram que pela liberdade


trazida por Cristo, os homens não podem ser obrigados a aceitar o que sua consciência
rejeita.

 Para eles, o homem é titular de sua liberdade e capaz de enfrentar seu destino, sem
prejudicar os direitos dos outros

 O homem tem que usar a razão, como ideia reguladora, isto é, como meio de respeito
da liberdade do outro

 J. Locke: o estado de natureza é governado pela lei de natureza que liga todos. A
razão, que é essa lei, ensina a todos os homens, contando que a queiram consultar,
que, sendo todos iguais e independentes, nenhum deve prejudicar os outros, na sua
vida, na sua propriedade e liberdade.

O Século XVI

 F. de Vitoria, teólogo dominicano: o direito natural contém uma ordem justa: o direito
natural se enraíza na natureza das coisas. A razão humana como instância legisladora

 D. de Soto: a razão, única fonte vinculante do direito

 L. Molina: o conceito de “obrigação natural”, ou seja, o vínculo da consciência que


impõe aos homens a observância da lei natural.
 F. Suarez: a lei é constituída de razão e vontade. A luz natural da razão assegura ao
homem conhecimentos adequados para o reto agir. Direito como faculdade moral do
homem

O Samuel Pufendorf (1632-1694)

O Retoma a ideia hobbesiana do contrato O estado de natureza como estado de


liberdade e de igualdade

O Os homens são naturalmente sociais e sociáveis

O O estado de natureza é pacífico e permite a aplicação da lei natural

O O estado moderno como realização perfeita do desenvolvimento moral da


humanidade

O O estado é criado para nossos fins e para nossa proteção

O O estado enobrece a união entre os homens e efetiva o direito natural

O Importância de Grotius

 holandês, considerado o fundador do direito internacional

 influenciou o pensamento racionalista e iluminista do século XVII

 teólogo: tentou aproximar as confissões cristãs evidenciando os elementos racionais


comuns

 advogado no tribunal de Haia

 poeta, dramaturgo, historiador

 obras: Sobre o direito de guerra e de paz; Da verdade da religião cristã;

O A contribuição específica de Grotius

O Define o direito natural como qualidade moral vinculada à pessoa – em virtude da qual
se pode legitimamente agir

O O verdadeiro direito natural é ditado pela razão do homem e independe da vontade


divina bem como de sua existência

O A razão natural é bastante para se harmonizar com a ordem do cosmo

O O direito natural é imutável, como estável a ordem da natureza

O A obrigação de agir moralmente consiste na relação entre a constituição moral da


natureza e a retidão da razão natural

O Nada é superior à reta razão: não tem voz à qual homem algum seja obrigado

O A lei como regra dos atos morais que obriga a fazer coisas justas
O Hugo Grotius- O Direito da Guerra e da Paz- 1625

Da condição humana

[...] De fato, o homem é um animal, mas um animal de uma natureza superior e que se
distancia muito mais de todas as demais espécies de seres animados que possam entre elas se
distanciar. É o que testemunham muitas ações próprias do gênero humano. Entre essas, que
são próprias ao homem, encontra-se a necessidade de sociedade, isto é, de comunidade, não
uma qualquer, mas pacífica e organizada de acordo com os dados de sua inteligência e que os
estóicos chamavam de estado doméstico. Entendida assim de uma maneira geral, a afirmação
de que a natureza impele todo animal somente para suas próprias utilidades não procede.

7. Entre os outros animais, de fato, alguns moderam em certa medida seus instintos egoístas,
parte em favor de sua prole, parte em proveito dos outros da própria espécie. Esta disposição
neles procede, assim o cremos, de algum princípio inteligente exterior, porquanto, com
relação a outros atos que não estejam muito acima de seu alcance, igual soma de inteligência
não aparece neles. Pode-se dizer a mesma coisa das crianças, nas quais, mesmo antes de
qualquer instrução, se pode verificar o aparecimento de certa inclinação para a benevolência,
como Plutarco o observou com sagacidade. Assim também, nessa idade, a compaixão brota
espontaneamente. Quanto ao homem feito, capaz de reproduzir os mesmos atos a respeito de
coisas que tenham relações entre si, convém reconhecer que possui em si mesmo um pendor
dominante que o leva ao social, para cuja satisfação, somente ele, entre todos os animais, é
dotado de um instrumento peculiar, a linguagem. É dotado também da faculdade de conhecer
e de agir, segundo princípios gerais, faculdade cujos atributos não são comuns a todos os seres
animados, mas são a essência da natureza humana.

Dessa noção do direito decorreu outra mais ampla. De fato, o homem tem a mais que os
demais seres animados não somente as disposições para a sociabilidade de que falamos, mas
também um juízo que lhe permite apreciar as coisas, presentes e futuras, capazes de agradar
ou de ser prejudiciais e também aquelas coisas que podem levar a isso. Concebe-se que é
conveniente à natureza do homem observar, dentro dos limites da inteligência humana, na
busca dessas coisas, a conformação de um juízo sadio, o fato de não se deixar vencer pelo
temor nem pelas seduções dos prazeres presentes, de não se deixar levar por um ímpeto
temerário. O que está em oposição a um tal juízo deve ser considerado como contrário
também ao direito da natureza, isto é, da natureza humana.

A isso se refere ainda o que diz respeito a uma sábia economia, falando individualmente, na
distribuição gratuita das coisas que são próprias a cada homem ou a cada sociedade, como a
partilha segundo a qual a preferência dada ora ao sábio sobre o que tem menos sabedoria, ora
ao parente sobre o estranho, ora ao pobre sobre o rico, segundo os atos de cada um e
segundo a natureza que o objeto comporta. Desde longo tempo já muitos autores fazem dessa
economia uma parte do direito, tomado em sentido próprio e estrito, embora esse direito
propriamente assim denominado tenha uma natureza bem diferente, porquanto consiste em
deixar aos outros o que já lhes pertence ou em cumprir para com eles as obrigações que
podem nos ligar a eles.
O que acabamos de dizer teria lugar de certo modo, mesmo que se concordasse com isso, o
que não pode ser concedido sem um grande crime, isto é, que não existiria Deus ou que os
negócios humanos não são objetos de seus cuidados. O contrário nos tem sido inculcado em
parte por nossa razão, em parte por uma tradição perpétua, e nos tem sido confirmado por
numerosas provas e milagres atestados através dos séculos; disso se segue que devemos
obedecer a Deus, sem exceção, como ao Criador e ao qual nós somos devedores daquilo que
somos e de tudo o que possuímos, tanto mais que de muitas maneiras ele se tem mostrado
extremamente bom e poderoso. Disso devemos concluir que ele pode conceder aos que lhe
obedecem recompensa generosas, mesmo eternas, sendo ele mesmo eterno, e ele certamente
quis que nele acreditasse, sobretudo se ele o prometeu de modo expresso. Nisso nós, cristãos,
acreditamos, convencidos de que somos testemunhas por nossa fé indubitável.

. Essa já é outra fonte do direito, além daquela que emana da natureza a saber, aquela que
provém da livre vontade de Deus[2], à qual nossa prescreve submetermo-nos de modo
irrefutável. Esse direito natural de que tratamos, tanto o que se refere à sociabilidade do
homem, como aquele assim chamado num senso mais lato, ainda que decorra de princípios
inerentes ao ser humano, pode no entanto ser atribuído com razão a Deus porque foi ele que
assim dispôs para que tais princípios existissem em nós. Nesse sentido é que Crisipo e os
estóicos diziam que a origem do direito não deveria ser procurada em parte alguma a não ser
no Júpiter. E é deste nome de Júpiter que vem provavelmente a palavra empregada pelos
latinos para designar o direito.

Deve-se acrescentar a isso que Deus, pelas leis que deu, tornou esses princípios mais sensíveis,
mesmo para aqueles cujo espírito é menos apto ao raciocínio, e que proibiu abandonar a si
mesmos os movimentos impetuosos que nos arrastam por caminhos contrários, no sentido de
nosso próprio interesse ou do interesse de outrem, administrando de maneira mais rígida,
aqueles que se manifestam com mais veemência e encerrando-os dentro de limites e de uma
justa medida. [...]

14. A seguir, como é uma regra do direito natural ser fiel aos seus compromissos (era
necessário, com efeito, que existisse entre os homens algum meio de se obrigar mutuamente e
não se pode imaginar outro modo mais conforme à natureza), dessa fonte surgiu o direito civil.
De fato, aqueles que se haviam congregado em alguma associação de indivíduos ou que se
haviam submetido ao domínio de um só homem ou de vários, esses haviam prometido
expressamente ou, de acordo com a natureza da coisa, presume-se que se tivessem engajado
tacitamente, conformar-se ao que tivesse estabelecido a maioria dos membros da associação
ou aqueles a quem o poder houvesse sido delegado.

Natureza humana e direito

O que, portanto, se diz, não somente por meio de Carnéades, mas também de outros, que “a
utilidade é como a mãe da justiça e da equidade”, não é verdade, se falarmos com exatidão. A
natureza do homem que nos impele a buscar o comércio recíproco com nossos semelhantes,
mesmo quando não nos faltasse absolutamente nada, é ela própria a mãe do direito natural. A
mãe do direito civil, no entanto, é a obrigação que a gente se impõe pelo próprio
consentimento e, como esta obrigação extrai sua força do direito natural, a natureza pode ser
considerada como a bisavó também do direito civil. A utilidade, contudo, vem se juntar ao
direito natural. O autor da natureza quis, de fato, que nós, tomados um a um, sejamos fracos e
que careçamos de muitas coisas necessárias para viver comodamente, a fim de que sejamos
impelidos mais ainda a cultivar a vida social. Quanto à utilidade, ela foi a causa ocasional do
direito civil, pois a associação de que falamos, ou a sujeição a uma autoridade, começaram a se
estabelecer em vista de alguma vantagem. Aqueles, enfim, que baixam leis para os outros se
propõem, de modo geral, uma utilidade qualquer ao fazê-la ou devem propô-la como mínimo.

Ainda que desprovido, contudo, do apoio da força, o direito não fica privado de todo efeito,
pois a justiça traz segurança à consciência, a injustiça produz torturas e estragos no peito dos
tiranos, semelhantes aos que Platão descreve. O consenso das pessoas de bem aprova a justiça
e condena a injustiça. O que há de mais importante, porém, é que esta encontra um inimigo e
aquela um protetor em Deus que reserva seus julgamentos para depois desta vida, embora
muitas vezes, já nesta vida, nos faça sentir seus efeitos, como a historia nos ensina através de
numerosos exemplos.

Se muitos homens exigem a pratica da justiça por parte dos cidadãos, mas fazem pouco caso
se a mesma é praticada num povo ou pelo chefe de uma nação, a causa desse erro provém em
primeiro lugar do fato de que não consideram outra coisa no direito senão a utilidade que
dele decorre; utilidade evidente no que diz respeito aos cidadãos, porquanto, isolados, são
impotentes para se defender a si mesmos. Os grandes Estados, ao contrário, que parecem
encerrar em si tudo o que é necessário para viver em segurança, não parecem ter necessidade
desta virtude que diz respeito ao que está fora e que leva o nome de justiça.

Para não repetir o que eu disse, que o direito não foi estabelecido em vista da utilidade, não
há nação tão forte que, às vezes, não possa ter necessidade do auxílio das outras, seja com
relação ao comércio, seja até para rechaçar os esforços de várias nações estrangeiras unidas
contra ela. Por isso, vemos que os povos e os reis mais poderosos buscam alianças que não
possuem qualquer eficácia, segundo a opinião daqueles que encerram a justiça dentro dos
limites de cada Estado. Tanto isso é verdade que todas as coisas se tornam incertas a partir do
momento em que se bane o direito. Se não existe qualquer sociedade que possa se manter
sem o direito [...], é certo que a associação que une o gênero humano ou diversos povos entre
si tem necessidade do direito. [...]

O Do Direito comum

Estou convencido, pelas considerações que acabo de expor, que existe um direito comum a
todos os povos e que serve para a guerra e na guerra. Por isso tive numerosas e graves razões
para me determinar a escrever sobre o assunto. Via no universo cristão uma leviandade com
relação à guerra que teria deixado envergonhadas as próprias nações bárbaras. Por causas
fúteis ou mesmo sem motivo se corria às armas e, quando já com elas às mãos, não se
observava mais respeito algum para com o direito divino nem para com o direito humano,
como se, pela força de um edito, o furor tivesse sido desencadeado sobre todos os crimes.
Jean Bodin (1530-1596): a teoria da soberania
O A figura de Bodin

 Exerceu grande influência na Europa em relação ao problema da justificativa de


Estados centralizados

 1576: “Os seis livros da república”

 Grande escritor político e jurista

 Influenciou Hobbes

 Enfrentou o problema da anarquia como mal pior da humanidade

 Tematizou o Estado como o só capaz de garantir a ordem

 Legitimou a monarquia mais a impulsionada pela força democrática: unidade e


popularidade

 1566: Método para estudar com facilidade a história, obra que tenta deduzir os
princípios universais da lei pelo estudo dos acontecimentos históricos

O [Trechos do quinto livro da República]

1. A diversidade dos homens

“Até aqui abordamos o que dizia respeito ao estado universal das Repúblicas. Falemos agora
do que pode ser particular a algumas delas devido à diversidade dos povos, a fi m de acomodar
a forma da coisa pública à natureza dos lugares e as ordenanças humanas às leis naturais.
Por não ter prestado atenção nisso, muitos se esforçaram para fazer com que a natureza
servisse aos seus éditos, perturbando e frequentemente arruinando grandes estados.
E aqueles que escreveram sobre a República não trataram essa questão. Porém, assim como
vemos em todas as espécies de animais uma variedade bem grande e em cada espécie
algumas diferenças notáveis devidas à diversidade das regiões, assim

também podemos dizer que há quase tanta variedade no natural dos homens quanto o
número de países. Até no mesmo clima acontece que o povo oriental é muito diferente do
ocidental, e na mesma latitude e distância do Equador o povo setentrional é diferente do
meridional”.

O O natural do povo

“É muito necessário levar em conta esse natural quando se quer mudar o estado, como
aconteceu em Florença há cem anos, quando a República por decurso de tempo quase foi
transformada em aristocracia, tendo sido acrescida dos cidadãos do segundo e terceiro
cinturão de muralhas. O senado foi reunido para dar a ordem e, posto o assunto em
deliberação, o senador Vespúcio demonstrou com vivas razões que o estado aristocrático era
incomparavelmente mais seguro e muito melhor que o estado popular, e ofereceu o exemplo
do estado de Veneza, florescente sob a senhoria de poucos gentis -homens.
Mas Antônio Soderini defendeu o estado popular e ganhou, dizendo que o natural do
veneziano era disposto à aristocracia e o dos florentinos ao estado popular. Diremos logo mais
se seu fundamento é verdadeiro. Lemos também que os efésios, milésios e siracusanos eram
quase do humor dos florentinos, pois não podiam suportar outro estado que não o popular,
nem tolerar que um sequer dentre eles superasse o outro no que quer que fosse, chegando a
banir aqueles que tinham mais virtude.

“Não obstante, os atenienses, efésios e milésios eram muito mais dóceis e mais sociáveis, por
isso eram muito mais orientais. Ao contrário, os siracusanos, florentinos e cartagineses eram
mais violentos e mais rebeldes, e portanto mais ocidentais. O povo oriental tem muita
jactância e muitas palavras, na opinião de todos os antigos¹, e até do embaixador dos ródios,
que desculpou o erro de seus senhores pela inclinação natural que tinham, alegando também
os vícios naturais dos outros povos.

O povo de Atenas, diz Plutarco, era colérico e misericordioso, comprazia-se

com as bajulações e tolerava facilmente uma pilhéria; mas o povo de Cartago

era cruel e vingativo, submisso perante os superiores e imperioso perante

os súditos, covarde no desastre e insolente na vitória. O povo romano, ao

contrário dos dois, era paciente na derrota, constante na vitória e moderado

em suas paixões; rechaçava os bajuladores e apreciava os homens graves e

severos, a tal ponto que, quando Catão o Velho pediu a censura ao povo,

disse que era necessário um censor severo que ameaçasse castigar os vícios,

e o povo preferiu eleger aquele que o ameaçava e era de extração um tanto.”

O Do costume dos homens

“O bom arquiteto acomoda seu edifício à matéria que encontra no lugar

Isso faz também com que se deva diversificar o estado da República de

acordo com a diversidade do lugar, a exemplo do bom arquiteto, que acomoda

seu edifício à matéria que encontra no lugar. Assim deve fazer o político sábio,

que não pode escolher o povo tal como gostaria, como diz Isócrates no elogio

de Busíris rei do Egito, que ele estima muito por ter sabido escolher bem o

país e o povo mais apropriados que existem no mundo para reinar.

Portanto, falemos primeiramente do natural dos povos do Setentrião e do Meridião, depois


dos povos do Oriente e do Ocidente, e da diferença entre os homens das montanhas e aqueles
que permanecem na planície ou nos lugares pantanosos, ou batidos por ventos impetuosos.
Depois falaremos também como a disciplina pode mudar o reto natural dos homens,
rejeitando a opinião de Políbio e Galeno, que sustentaram que o país e a natureza dos lugares
determinam necessariamente os costumes dos homens”.

O Do Príncipe

“(…) Um príncipe soberano é obrigado pelos contratos que ele fez, seja com seus súditos, seja
com um estrangeiro. Pois como ele é o fiador para os seus súditos dos acordos e obrigações
mútuas que eles firmam entre si, isto tudo constitui razão do porque ele deve render justiça
nos seus próprios atos”

O O soberano e a lei natural

“Como o príncipe, então, não tem o poder de exceder os limites da lei natural, que foi
estabelecida por Deus, do qual ele é imagem, ele não poderá apropriar-se da propriedade do
outro sem causa justa e razoável, como por compra, troca, confisco legítimo ou para negociar
termos de paz com o inimigo, caso isto não possa ser concluído de outro modo que pela
apropriação da propriedade para a preservação do Estado. (...) Mas a

razão natural prefere o interesse público ao privado, e os indivíduos não apenas superam os
seus antagonismos e animosidades, mas também

desistem das suas posses para o bem da república (...)”

O Lei e soberania

“É necessário que quem seja soberano não se encontre de modo algum submetido ao império
de outro e possa dar a lei aos súditos e anular as leis inúteis; isto não pode ser feito por quem
está sujeito às leis ou a outra pessoa. Por isso, diz-se que o príncipe está isento da autoridade
das leis. O próprio termo latino lei implica no mandato de quem detém a soberania”

O O mandato divino do soberano

"Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo
por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, e
necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade
com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu
príncipe soberano, despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra".

A SUBJETIVIDADE EM RENÉ DESCARTES (1596-1650)


• Descartes e a descoberta do Cogito

• Francês e fundador do racionalismo moderno

• A historiografia filosofia o designa como pai da modernidade!

• Obras mais conhecidas: 1) Discurso do método e 2)Meditações Metafísicas

• Estudou no melhor colégio da Europa ( o dos Jesuítas)


• Viajou muito para conhecer a razão das diferenças de opiniões entre os homens

• Fica insatisfeito com a tradição escolástica

• Visa reformar os princípios do conhecimento

• Necessidade de um método na busca pela verdade

• A dúvida como método para alicerçar o conhecimento

• Clareza e distinção: para identificar a verdade

• O cogito (eu pensante): primeira verdade indubitável

• A divisão do homem em “res pensante” e “res estendida”

A insatisfação de Descartes

“Fui instruído nas letras desde a infância, e por me haver convencido de que, por intermédio
delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia
extraordinário desejo de aprendê-las. Porém, assim que terminei esses estudos, ao cabo do
qual costuma-se ser recebido na classe dos eruditos, mudei totalmente de opinião. Pois me
encontrava embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido
outro proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha
ignorância” (Discurso do método)

• A incerteza do conhecimento adquirido

“Já faz bastante tempo que eu me dei conta de que, a partir de minha infância, considerava
verdadeiras muitas opiniões equivocadas, e de que aquilo que, mais tarde estabeleci em
princípios tão mal fundamentados só podia ser deveras suspeito e impreciso; de maneira que
era preciso que eu tentasse com seriedade, uma vez em minha vida, livrar-me de todas as
opiniões nas quais até aquele momento acreditara, e começar tudo novamente a partir dos
fundamentos, se pretendesse estabelecer algo sólido e duradouro nas ciências” (Meditações
Metafísicas).

• A dúvida como método

“Presumirei, então, que existe não um verdadeiro Deus, que é suprema fonte da verdade, mas
um certo gênio maligno, não menos astucioso e enganador do que poderoso, que dedicou
todo o seu empenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os
sons e todas as coisas exteriores que vemos não

passam de ilusões e fraudes que Ele utiliza pra surpreender a minha credulidade”.

• A PRIMEIRA CERTEZA: “ PENSO, LOGO EXISTO”.


“[...] Mas eu me convenci de que nada existia no mundo, que não havia céu algum, terra
alguma, espíritos alguns, nem corpos alguns; logo, não me convenci também de que eu não
existia?

Com certeza, não; sem dúvida eu existia, se é que me convenci ou só pensei ser alguma coisa.
Mas existe alguém, não sei quem, enganador muito poderoso, que dedica todo o seu
empenho em enganar-me sempre.

Não há então, alguma dúvida de que existo se ele me engana; e por mais que me engane,
nunca poderá fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De maneira
que, depois de haver pensado bastante nisto e analisado cuidadosamente todas as coisas, se
faz necessário concluir e ter por inalterável que esta proposição, eu sou, eu existo, é
obrigatoriamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito”
(Meditações Metafísicas)

• O eu pensante

“[...] ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu,
que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de
lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da
filosofia que eu procurava”. (Discurso do Método).

• O fundamento verdadeiro da verdade

“[...] Pois, em princípio, aquilo mesmo que há pouco tomei como regra, ou seja, que as coisas
que concebemos bastante evidente e distintamente são todas verdadeiras, não é correto a
não ser porque Deus é ou existe, e é um ser perfeito, e porque tudo o que existe em nós se
origina dele. De onde se conclui que as nossas idéias ou noções, por serem coisas reais e
oriundas de Deus em tudo em que são evidentes e distintas, só podem por isso ser
verdadeiras”.

• Causa e efeito

“É coisa evidenciada pela razão que deve existir ao menos tanta realidade na causa

eficiente e total quanto em seu efeito: por que de onde é que o efeito pode tirar sua

realidade a não ser de sua causa? E como poderia lhe comunicar se não a possuísse

em si própria? Daí resulta não apenas que o nada não poderia produzir coisa alguma,

mas também que o que é mais perfeito, ou seja, o que contém em si mais realidade

não pode ser uma consequência e uma dependência do menos perfeito. E esta

verdade não é apenas clara e evidente em seus efeitos, que possuem essa realidade

que os filósofos chamam de atual ou formal, mas também nas idéias onde se

considera apenas a realidade que elas chamam de objetiva: por exemplo, a pedra que
ainda não foi, não só não pode agora começara ser, se não for produzida por uma

coisa que possui em si, formalmente ou eminentemente, tudo o que entra na

composição da pedra [...]” (Meditações Metafísicas).

• A idéia de Deus

“É por isso que desejo passar adiante e averiguar se eu mesmo, que possuo essa idéia de Deus,
poderia existir, no caso de não haver Deus. E, pergunto, de quem originarei minha existência?
Talvez de mim mesmo, ou de meus pais, ou ainda de quaisquer outras causas menos perfeita
que Deus, já que nada se pode imaginar mais perfeito, nem menos igual a Ele. [...] Em primeiro
lugar, reconheço que é impossível que me engane, visto que em todo embuste há alguma
imperfeição. E, embora pareça que poder enganar seja um sinal

de esperteza ou de poder, querer enganar testemunha, sem dúvida alguma, fraqueza ou


malícia. E logo, isso não pode existir em Deus”. (Meditações Metafísicas).

• O livre arbítrio

“No que se refere ao livre-arbítrio, eu gostaria de observar que a indiferença, segundo me


parece, significa exatamente aquele estado em que a vontade, perante a percepção do
verdadeiro ou do bem, não se deixa levar mais para um lado que para o outro” (Carta ao padre
Mesland)

Imanuel Kant (1724-1804):


• Autonomia e universalidade

• a contribuição Kantiana

• A instância crítica de Kant: estabelecer os limites do conhecimento humano

• A homem conhece só o que está sujeito às formas a priori da sensibilidade, do


entendimento e da razão.

• A distinção entre fenômeno e nôumeno: coisa para nós e coisa em s

• O homem não consegue conhecer a coisa em si: 1)a permanência da alma 2) O mundo
como totalidade 3) a existência de um ser originário

• Kant realiza uma síntese entre o racionalismo dogmático e o empirismo cético: tanto
a razão quanto o conhecimento empírico têm limites

• A questão do conhecimento

• Na Crítica da Razão pura afirma:

“todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí passa ao entendimento e termina na
razão, acima da qual nada se encontra em nós mais elevado que elabore a matéria da intuição
e a traga a mais alta unidade de pensamento”
o O sujeito é o elemento unificador de todo o conteúdo fornecido pelos sentidos: o
“transcendental” como conjunto de condições que possibilitam o conhecimento do
sujeito:

o As formas a priori da sensibilidade são o espaço e o tempo existentes no sujeito.

o Estas formas têm realidade empírica e transcendental:

“As sensações podem ser intuídas uma ao lado de outra (espaço)ou uma colocada antes ou
depois de uma outra (tempo). Fora destas duas formas a priori universais e necessárias da
sensibilidade não é possível conceber nenhuma experiência”

O entendimento enquanto faculdade que possibilita a formação dos conceitos: conceitos e


intuições não podem separar-se de modo algum, pois existe a sensibilidade que pode intuir
mas que não é capaz de conceituar. Há o entendimento que é capaz de conceituar mas que
não é capaz de intuir.

• A doutrina moral
[obra de referência: Fundação da Metafísica dos costumes]

• A necessidade de uma moral racional:

“As leis morais com seus princípios, em todo conhecimento prático,

distinguem-se portanto de tudo o mais em que exista qualquer coisa de

empírico, e não só se distinguem essencialmente, como também toda a

Filosofia moral assenta inteiramente na sua parte pura, e, aplicada ao

homem, não recebe um mínimo que seja do conhecimento do homem

(Antropologia), mas fornece-lhe como ser racional leis a priori”.

• Os falsos conceitos morais

“Basta que lancemos os olhos aos ensaios sobre a moralidade feitos

conforme o gosto preferido para breve encontrarmos ora a idéia do

destino particular da natureza humana [...] ora a perfeição, ora a

felicidade, aqui o sentimento moral, acolá o temor de Deus, um pouco

disto, mais um pouco daquilo, numa misturada espantosa; e nunca

ocorre perguntar se por toda a parte se devem buscar no conhecimento

da natureza humana (que não pode provir senão da experiência) os

princípios da moralidade, e, não sendo este o caso, sendo os últimos


totalmente a priori, livres de todo o empírico, se encontrarão

simplesmente em puros conceitos racionais e não em qualquer outra

parte, nem mesmo em ínfima medida”.

• O fundamento verdadeiro do agir moral

“[...] então nada nos pode salvar da completa queda das nossas ideias de dever, para
conservarmos na alma o respeito fundado pela lei, a não ser a clara convicção de que, mesmo
que nunca tenham havido ações que tivessem jorrado de tais fontes puras, a questão não é
agora de saber se isto ou aquilo acontece, mas sim que a razão por si mesma e
independentemente de todos os fenômenos ordena o que deve acontecer [...] porque este
dever, como dever em geral, anteriormente

a toda a experiência, reside na ideia de uma razão que determina a vontade por motivos a
priori”

• A lei universal

“[...] devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se
torne uma lei universal. [...] Temos que poder querer que uma máxima da nossa ação se
transforme em lei universal: é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral. Podes
tu querer também que a tua máxima se converta em lei universal? Se não podes, então deves
rejeitá-la, e não por causa de qualquer prejuízo que dela pudesse resultar para ti ou para os
outros, mas porque ela não pode caber como princípio numa possível

legislação universal.

• O agir conforme ao dever

“Os homens conservam a sua vida conforme ao dever, sem dúvida, mas não por dever. Em
contraposição, quando as contrariedades e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o
gosto de viver, quando o infeliz, com fortaleza de alma, mais enfadado do que desalentado ou

abatido, deseja a morte, e conserva contudo a vida sem a amar, não por inclinação ou medo,
mas por dever, então a sua máxima tem um

conteúdo moral”.

• O homem como fim em si mesmo

“O imperativo prático será pois o seguinte: Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto
na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e
nunca simplesmente como meio.

[...] aquilo que deve ser moralmente bom não basta que seja conforme

à lei moral, mas tem também que cumprir-se por amor dessa mesma
lei; caso contrário, aquela conformidade será apenas muito contingente e incerta, porque o
princípio imoral produzirá na verdade de vez em quando ações conforme à lei moral, mas mais
vezes ainda ações contrárias a essa lei.

[...] é evidente que o violador dos direitos dos homens tenciona servir-se

das pessoas dos outros simplesmente como meios, sem considerar

que eles, como seres racionais, devem ser sempre tratados ao mesmo

tempo como fins, isto é, unicamente como seres que devem poder

conter também em si o fim desta mesma ação.”

• A dignidade do homem

“A necessidade prática de agir segundo este princípio, isto é, o dever,

não assenta em sentimentos, impulsos e inclinações, mas sim somente

na relação dos seres racionais entre si, relação essa em que a vontade

de um ser racional tem de ser considerada sempre e simultaneamente

como legisladora, porque de outra forma não podia pensar-se como

fim em si mesmo. A razão relaciona, pois, cada máxima da vontade

concebida como legisladora universal com todas as outras vontades e

com todas as ações para conosco mesmos, e isto não em virtude de

qualquer outro móbil prático ou de qualquer vantagem futura, mas em

virtude da ideia da dignidade de um ser racional que não obedece a

outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente dá”.

• O padrão moral

“E o que é então que autoriza a intenção moralmente boa ou a virtude a fazer tão altas
exigências? Nada menos do que a possibilidade que proporciona ao ser racional participar na
legislação universal, tornando-o por este meio apto a ser membro de um possível reino dos
fins, para que estava já destinado pela sua própria natureza como fim em si e, exatamente por
isso, como legislador no reino dos fins, como livre a respeito de todas as leis da natureza,
obedecendo somente àquelas que ele mesmo se dá e segundo as quais as suas máximas
podem pertencer a uma legislação universal (à qual ele simultaneamente se submete)”

O contrato Social de J. J. Rousseau


 Dados biográficos
 Nascido em Genebra, Jean-Jaques Rousseau em 1712 – passou muito tempo na França

 Um ponto de referência essencial para a filosofia política moderna

 Sua ideias iluministas influenciaram a revolução francesa de 1789

 No ano 1762 teve problemas com autoridade política francesa por causa de suas ideias
morais, políticas, religiosas

 Em 1765 muda-se para Inglaterra, convidado pelo filosofo D. Hume

 Autor de estudos políticos, romances e ensaios sobre educação, religião e literatura.

 Obras:

1)Discurso Sobre as Ciências e as Artes


2) Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens
3) Do Contrato Social
4) Emílio, ou da Educação
5) Os Devaneios de um Caminhante Solitário

o Colaborou com D. Diderot para a Enciclopédia

 O enfoque de sua reflexão

 Como é possível criar uma sociedade

 Como surge o Estado

 A relação entre liberdade e lei

 A natureza do homem

 O papel da “vontade geral” na construção da comunidade política

 Virtude moral

 Liberdade comunitária

 A possibilidade da democracia como participação da vida política

 O estado puro de natureza

“Não é, pois, tanto o entendimento que estabelece entre os animais a distinção específica do
homem como sua qualidade de agente livre. A natureza manda em todo animal, e a besta
obedece. O homem experimenta a mesma impressão, mas se reconhece livre de aquiescer ou
de resistir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a espiritualidade de

sua alma”. (ROUSSEAU, Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os


Homens).

 O homem civil
“À medida que as idéias e os sentimentos se sucedem, que o espírito e o coração se exercitam,
o gênero humano continua a domesticar-se, as ligações se estendem e os laços se apertam.
Acostumam-se a reunir-se defronte das cabanas ou à volta de uma grande árvore; o canto e a
dança, verdadeiros filhos do amor e do lazer, tornaram-se a diversão, ou melhor, a ocupação
dos homens e das mulheres ociosos e agrupados”. (ROUSSEAU, Discurso Sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens)

 O início da desnaturação da espécie

“Cada um começou a olhar os outros e a desejar ser ele próprio olhado, passando assim a
estima pública a ter um preço. Aquele que cantava ou dançava melhor; o mais belo, o mais
forte, o mais hábil ou o mais eloquente passou a ser o mais considerado, e foi esse o primeiro
passo tanto para a desigualdade e quanto para o vício; dessas primeiras preferências
nasceram, de um lado a vaidade e o desprezo, do outro a vergonha e o desejo; e a
fermentação causada por esses novos germes produziu por fim compostos funestos à
felicidade e à inocência. (ROUSSEAU,Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens)

 O perecimento da liberdade natural

Mas, desde o instante em que um homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que
se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade,
introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se
transformaram em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens e nos quais
logo se viu a escravidão e a miséria geminarem e crescerem com as colheitas.

(ROUSSEAU, Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens)

 Da liberdade natural à liberdade moral: “o contrato social”

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada
associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece
contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. (ROUSSEAU, O Contrato
social)

 O valor da liberdade

“Esta liberdade comum é uma consequência da natureza do homem. Sua primeira lei consiste
em proteger a própria conservação, seus primeiros cuidados os devidos a si mesmo, e tão logo
se encontre o homem na idade da razão, sendo o único juiz dos meios apropriados à sua
conservação, torna-se por si seu próprio senhor.

É a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o
povo a imagem dos filhos, e havendo nascido todos livres e iguais, não alienam a liberdade a
não ser em troca da sua utilidade” (ROUSSEAU, O Contrato social).

 Obediência e moralidade
“O mais forte não é nunca assaz forte para ser sempre o senhor, se não transforma essa força
em direito e a obediência em dever. Daí o direito do mais forte, direito tomado ironicamente
na aparência e realmente estabelecido em princípio. Mas explicar-nos-ão um dia esta palavra?
A força é uma potência física; não vejo em absoluto que moralidade pode resultar de seus
efeitos. Ceder à força constitui um ato de necessidade, não de vontade; é no máximo um ato
de prudência. Em que sentido poderá ser um dever? [...] Convenhamos, pois, que força não faz
direito, e que não se é obrigado a obedecer senão às autoridades legítimas. Assim, minha
primitiva pergunta sempre retorna” (ROUSSEAU, O Contrato social).

 Da escravidão

“Se um particular diz Grotius, pode alienar a liberdade e tornar-se escravo de um senhor, por
que não poderia todo um povo alienar a sua e se fazer vassalo de um rei? Há aqui excesso de
termos equívocos, necessitados de explicação; mas atenhamo-nos ao termo alienar. Alienar é
dar ou vender. Ora, um homem que se escraviza a outro não se dá, vende-se, pelo menos em
troca da subsistência; mas um povo, por que se vende ele? Longe se acha um rei de fornecer a
subsistência dos vassalos; ao contrário, deles é que tira a própria, e, segundo Rabelais, um rei
não vive de pouco. Os vassalos dão, portanto, suas próprias pessoas com a condição de que se
lhes tome também a fazenda. Não vejo o que lhes resta a conservar” (ROUSSEAU, O Contrato
social).

 Do viver bem

“Dir-se-á que o déspota assegura aos vassalos a tranquilidade civil. Seja; mas que ganham eles
com isso, se as guerras, que a ambição do déspota ocasiona, se sua insaciável avidez, se os
vexames de seu ministério os aflige mais do que o fariam as próprias dissensões? Que ganham
eles aí, se essa mesma tranquilidade constitui uma de suas misérias? Vive-se igualmente
tranquilo nos calabouços; basta isto para se viver bem? Os gregos encerrados no antro do
ciclope ali viviam tranquilos, à espera de que chegasse a sua vez de serem devorados.

Dizer que um homem se dá gratuitamente é dizer coisa absurda e inconcebível; um tal ato é
ilegítimo e nulo, pelo simples fato de não se achar de posse de seu juízo quem isto comete.
Dizer a mesma coisa de todo um povo é supor um povo de loucos: a loucura não faz direito”
(ROUSSEAU, O Contrato social).

 Liberdade e natureza humana

“Renunciar à própria liberdade é o mesmo que renunciar à qualidade de homem, aos direitos
da Humanidade, inclusive aos seus deveres. Não há nenhuma compensação possível para
quem quer que renuncie a tudo. Tal renúncia é incompatível com a natureza humana, e é
arrebatar toda moralidade a suas ações, bem como subtrair toda liberdade à sua vontade.
Enfim, não passa de vã e contraditória convenção estipular, de um lado, uma autoridade
absoluta, e, de outro, uma obediência sem limites.

Não é claro não estar a gente a nada obrigada em relação àquele de quem se tem o direito de
tudo exigir? E esta simples condição, sem equivalência, sem permuta, não arrasta a nulidade
do ato? Que direito teria meu escravo contra mim, uma vez que me pertence tudo quanto ele
possui, e, sendo meu o seu direito, esse meu direito contra mim mesmo não é porventura um
termo sem sentido? (ROUSSEAU, O Contrato social).

 O que acontece no contrato social

“A passagem do estado natural ao estado civil produziu no homem uma mudança


considerável, substituindo em sua conduta a justiça ao instinto, e imprimindo às suas ações
anteriormente lhes faltava. Foi somente então que a voz do dever, sucedendo ao impulso
físico, e o direito ao apetite, fizeram com que o homem, que até esse momento só tinha
olhado para si mesmo, se

visse forçado a agir por outros princípios e consultar a razão antes de ouvir seus pendores.
Embora se prive, nesse estado, de diversas vantagens recebidas da Natureza, ganha outras tão
grandes, suas faculdades se exercitam e desenvolvem, suas idéias se estendem, seus
sentimentos se enobrecem, toda a

sua alma se eleva a tal ponto, que, se os abusos desta nova condição, não o degradassem com
frequência a uma condição inferior àquela de que saiu, deveria abençoar incessantemente o
ditoso momento em que foi dali desarraigado para sempre, o qual transformou um animal
estúpido e limitado num ser inteligente, num homem.

Reduzamos todo este balanço a termos fáceis de comparar. O que o homem perde pelo
contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e pode alcançar;
o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui. Para que não haja
engano em suas compensações, é necessário

distinguir a liberdade natural, limitada pelas forças do indivíduo, da liberdade civil que é
limitada pela liberdade geral, e a posse, que não é senão o efeito da força ou do direito do
primeiro ocupante, da propriedade, que só pode ser baseada num título positivo.

Poder-se-ia, em prosseguimento do precedente, acrescentar à aquisição do estado civil a


liberdade moral, a única que torna o homem verdadeiramente senhor de si mesmo, posto que
o impulso apenas do apetite constitui a escravidão, e a obediência à lei a si mesmo prescrita é
a liberdade” (ROUSSEAU, O Contrato social).

 A soberania

“ [...] se não houvesse algum ponto em torno do qual todos os interesses se harmonizam,
sociedade nenhuma poderia existir. Ora, é unicamente à base desse interesse comum que a
sociedade deve ser governada. Digo, pois, que outra coisa não sendo a soberania senão o
exercício da vontade geral, jamais se pode alienar, e que o soberano, que nada mais é senão
um ser coletivo, não pode ser representado a não ser por si mesmo; é perfeitamente possível
transmitir o poder, não porém a vontade.

Com efeito, se não é impossível fazer concordar uma vontade particular com a vontade geral,
em torno de algum ponto, é pelo menos impossível fazer com que esse acordo seja durável e
constante; porque a vontade particular, por sua natureza, tende às preferências, e a vontade
geral à igualdade” (ROUSSEAU, O Contrato social).

 Vontade de todos e vontade geral

“Há muitas vezes grande diferença entre a vontade de todos e a vontade geral: esta olha
somente o interesse comum, a outra o interesse privado, e outra coisa não é senão a soma de
vontades particulares; mas tirai dessas mesmas vontades as que em menor ou maior grau
reciprocamente se destroem e

resta como soma das diferenças a vontade geral.

Se, quando o povo, suficientemente informado, delibera, não tivessem os cidadãos nenhuma
comunicação entre si, sempre resultaria a vontade geral do grande número de pequenas
diferenças, e a deliberação seria sempre boa. Quando, porém, há brigas, associações parciais
às expensas da grande, a vontade de cada uma dessas associações torna-se geral em relação a
seus membros, e particular no concernente ao Estado; pode-se então dizer que já não há
tantos votantes quantos são os homens, mas apenas tantos quantas forem as associações; as
diferenças se tornam mais numerosas e fornecem um resultado menos geral. Finalmente,
quando uma dessas associações se apresente tão grande a ponto de

sobrepujar todas as outras, não mais tereis por resultado uma soma de pequenas diferenças,
porém uma diferença única; deixa de haver então a vontade geral, e a opinião vencedora é
tão-somente uma opinião particular. Portanto, a fim de se ter o perfeito enunciado da vontade
geral, importa não haja no Estado sociedade

parcial e que cada cidadão só manifeste o próprio pensamento (ROUSSEAU, O Contrato social).

 Dos limites do poder soberano

“Se o Estado ou a cidade só constitui uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus
membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria conservação, é
necessário uma força universal e compulsória para mover e dispor cada uma das partes da
maneira mais conveniente para o todo. Como a Natureza dá a cada homem um poder absoluto
sobre todos os seus membros, dá o pacto social ao corpo político um poder absoluto sobre
todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, recebe, como eu disse,
o nome de soberania.

Contudo, além da pessoa pública, temos a considerar as pessoas privadas que a compõem e
cuja vida e liberdade são naturalmente independentes delas. Trata-se, pois, de distinguir com
acerto os respectivos direitos dos cidadãos e do soberano (8), e os deveres a cumprir por parte
dos primeiros, na qualidade de vassalos, do direito natural que devem desfrutar na qualidade
de homens.

Convém que tudo quanto cada qual aliene em virtude do pacto social de seu poder, de seus
bens, de sua liberdade, seja apenas a parte cujo uso interesse à sociedade, todavia, é preciso
igualmente convir que só o soberano pode ser juiz desse interesse (ROUSSEAU, O Contrato
social).

Todos os serviços que possa um cidadão prestar ao Estado, tão logo o soberano os
solicite, passam a constituir um dever; mas, de seu lado, o soberano não tem o direito de
sobrecarregar os vassalos de nenhum grilhão inútil à comunidade; sequer o pode desejar:
porque, sob a lei da razão, nada se faz sem causa, do mesmo modo que sob a lei natural.

Os empenhos que nos ligam ao corpo social só são obrigatórios pelo fato de serem recíprocos,
e é tal sua natureza que, desempenhando-os, não se pode trabalhar para outrem sem
trabalhar também para si mesmo. Por que é sempre reta a vontade geral, e por que desejam
todos, constantemente, a felicidade de

cada um, se não pelo fato de não haver quem não se aproprie dos termos cada um e não
pense em si mesmo ao votar por todos? Isso prova que a igualdade de direito e a noção de
justiça que aquela produz derivam da preferência que cada qual se atribui, e, por conseguinte,
da natureza do homem; que a vontade geral, por ser realmente conforme, deve existir no seu
objeto, bem como na sua essência; que deve partir de todos, para a todos ser aplicada; e que
perde sua retidão natural quando tende a algum objeto individual e determinado, porque
então, julgando do que nos é estranho, não temos nenhum real princípio de equidade a
conduzir-nos” (ROUSSEAU, O Contrato social).

De Kant aos nossos dias:


 Uma história contada por Sartre e Heidegger

 O Homem

O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeira não é
nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza
humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como se concebe,
mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após
este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz.

 Consciência e temporalidade

Assim, o tempo da consciência é a realidade humana que se temporaliza como totalidade, a


qual é para si mesmo seu próprio inacabamento; é o nada deslizando em uma totalidade como
fermento destotalizador.

Esta totalidade que corre atrás de si e se nega ao mesmo tempo, que não poderia encontrar
em si mesmo qualquer limite a seu transcender, por ser seu próprio transcender e porque se
transcende rumo a si mesmo, em nenhum caso poderia existir nos limites de um instante.
Jamais há instante no qual se possa afirmar que o Para-si é, porque, precisamente, o Para-si
jamais é.

E a temporalidade, ao contrário, temporaliza-se totalmente como

negação do instante.

 O projeto filosófico de Heidegger

 Chamar a atenção sobre o problema do ser

 Reformular a questão a partir duma mudança linguística

 “Intencionalidade” e “ser-no-mundo”: dois conceitos chave

 Contra o olhar dualista da metafísica e a “ocularidade” da epistemologia moderna

 A inversão heideggeriana: os fenômenos se nos revelam

 As coisas não estão diante de mim

 A partir do Dasein

“Para reunir, ao mesmo tempo, numa palavra, tanto a relação do ser com a essência do
homem, com também a referência fundamental do homem à abertura (“aí”) do ser
enquanto tal foi escolhido para o âmbito essencial, em que se situa o homem enquanto
homem, o nome “ser aí” (Heidegger, Meu caminho para a fenomenologia. Conferências e
escritos filosóficos, 1973)

 O homem como processo de totalização em ato

“A vida é essencialmente não concluída; ela tem sempre uma de si que fica ainda na sua
frente. Se determinar o ser do ser-no-mundo quer ser uma empresa bem-sucedida temos que
alcançar a totalidade” (Heidegger, Conferências de kassell).

O projeto de J. Habermas
 - O fenômeno da secularização e o desenvolvimento de uma racionalidade coletiva

- O desenvolvimento da racionalidade individualista

- A geração de uma irracionalidade coletiva

- O contraponto de Habermas: a teoria procedimental da democracia

- Ainda há uma saída, mesmo que seja teórica, no sentido de


fomentar uma participação mais efetiva dos atores sociais nas questões políticas.
A teoria procedimental da democracia

 Salvar (ou redirecionar) o projeto do Iluminismo

 Habermas acredita que ainda é viável a defesa da razão como o fundamento de uma
teoria reconstrutiva da sociedade

 uma teoria reconstrutiva da sociedade

 uma teoria da democracia que mescla características dos modelos liberal e


republicano

 Habermas formula uma tentativa de conciliação entre ambas as orientações

 Democracia como interação entre os atores sociais segundo as regras da razão


comunicativa

 Esferas públicas subculturais e esfera pública política

 A revolução de Habermas

 Emancipação como reflexão

 Busca pela verdade e “pragmática da linguagem” (visar a aceitabilidade racional)

 O “agir comunicativo” modela a esfera público-política no dia a dia

 A teoria de Habermas estimula sobremaneira a participação dos cidadãos no processo


de participação da vida pública

 Há na teoria habermasiana que fomenta uma das maiores ausências da sociedade nos
dias atuais, qual seja: o diálogo.

Obras: “Direito e Democracia” e a “A inclusão do outro”

 Duas obras nas quais trata do conceito da democracia procedimental

“Vê a formação democrática da vontade realizando-se na forma de um autoentendimento


ético-político, onde o conteúdo da deliberação deve ter o respaldo de um consenso entre os
sujeitos privados e ser exercido pelas vias culturais; essa precompreensão socialmente
integradora pode renovar-se através da recordação ritualizada do ato de fundação da
república” .

(Direito e Democracia)
 Democracia como acordo mutuo

“A teoria do discurso [democracia procedimental] acolhe elementos de ambos os

lados [liberal e republicano] e os integra no conceito de um procedimento ideal

para o aconselhamento e tomada de decisões. Esse procedimento democrático

cria uma coesão interna entre as negociações, discursos de auto-entendimento e

discursos sobre a justiça, além de fundamentar a suposição de que sob tais

condições se almejam resultados ora racionais, ora justos e honestos. Com isso, a

razão prática desloca-se dos direitos universais do homem ou da eticidade

concreta de uma determinada comunidade e restringe-se a regras discursivas e

formas argumentativas que extraem seu teor normativo da base validativa da ação

que se orienta ao estabelecimento de um acordo mútuo, isto é, da estrutura da

comunidade linguística”.

(A inclusão do outro)

 O homem é tempo

“O tempo não é algo que acontece fora de mim. O tempo determina a totalidade do Ser-no-
mundo. O tempo constitui o inteiro de mim mesmo e determina o meu próprio ser em cada
momento.

A vida humana não acontece no tempo, mais ela é o próprio tempo” (Heidegger,
Conferências de kassell).

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