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A época de Maquiavel
Dividida em feudos dominados pelo papa, pela família real Médicis, pelos Aragão e por Carlo
VIII da França
Em 1513 foi acusado de conspirar contra o governo dos Médicis: torturado e condenado a
prisão
A história como livro da vida: estudando o passado podemos aprimorar a vida política do
presente
A natureza humana
O governante tem que conhecer a natureza humana pelo estudo da história para enfrentar
todo acontecimento
Denomina “fortuna” tudo o que não pode ser controlado pelo homem: ela é uma deusa que
possui tudo o que é almejado pelo homem
O homem forte sabe o momento exato (criado por esta deusa) para agir com sucesso na vida
política
Os que ousam vencem na vida: a fortuna enquanto mulher é fascinada pela força do homem
Separa a política da moral, da ética, do direito e da teologia: cria uma nova ciência
“Não ignoro ser crença antiga e atual de que a fortuna e Deus governam as coisas deste
mundo, e de que nada pode contra isso a sabedoria dos homens. Por consequência, seria
razoável não desperdiçar esforços, mas deixar-se guiar pela
sorte. Esta opinião acha-se mais difundida hoje em dia, em virtude das mudanças que,
escapando por completo ao entendimento humano, se operaram e continuam a operar ainda.
Foi após refletir no assunto algumas vezes que eu também me inclinei em parte a concordar
com essa opinião. Todavia, para que não se anule o nosso livre arbítrio, eu, admitindo embora
que a fortuna seja dona da metade das nossas ações, creio que, ainda assim, ela nos deixa
senhores da outra metade ou pouco menos.
Fato análogo sucede com a fortuna, a qual demonstra todo o seu poderio quando não
encontra ânimo [Virtude] preparado para resistir-lhe e, portanto, volve os seus ímpetos para
os pontos onde não foram feitos diques para contê-Ia.
Se observarmos a Itália, origem e teatro de tais mudanças, veremos ser ela uma campina sem
diques e sem nenhuma proteção. Houvera sido ela protegida por valor [Virtude] conveniente,
como a Alemanha, a Espanha e a França, e essa enxurrada (a invasão
estrangeira) ou não lhe teria trazido as grandes mudanças que trouxe ou nem sequer a teria
alcançado. Creio que isto é suficiente para demonstrar, em tese, a possibilidade de nos
opormos à fortuna. Como deseje, porém, ser mais minucioso, chamarei a atenção para o fato
assaz comum de um príncipe prosperar hoje e ruir amanhã, sem que a índole ou o proceder se
lhe hajam modificado. Na minha opinião, tal se deve às causas já longamente explanadas ao
referir-se aos príncipes que se estribam totalmente na fortuna, os quais, disse eu então, caem
quando esta varia. Creio ainda que será venturoso aquele cujo procedimento se adaptar à
natureza dos tempos, e que, ao contrário, será desditoso aquele cujas ações estiverem em
discordância com ela.
ensina que ela se deixa mais facilmente vencer pelos indivíduos impetuosos do
que pelos frios. Como mulher que é, ama os jovens, porque são menos
O agir político
[...] todo legislador sábio e animado pelo único desejo de servir, não seus interesses pessoais,
mas os do público, de trabalhar, não para seus próprios herdeiros, mas pela pátria comum,
nada deve poupar, para ser ele o único a possuir completa autoridade. E nunca um espírito
esclarecido repreenderá aquele que haja cometido uma ação, mesmo ilegal, para fundar um
reino ou constituir uma república. É justo, quando as ações de um homem o acusam, que o
resultado o justifiquem, e, quando esse resultado é feliz, como o mostra o exemplo de Rômulo,
o homem será justificado. Só se devem repreender as ações cuja violência tem por meta
destruir e não reparar.
De fato, jamais nenhum legislador deu a seu povo leis fora da ordem comum, sem fazer
intervir a Divindade, pois o povo não as teria aceito. É certo que há uma quantidade de
vantagens, das quais um homem sábio e prudente prevê as consequências, mas cuja evidência
não é, entretanto, bastante forte para convencer imediatamente todos os espíritos. Para
resolver essa dificuldade o
[...] Onde não existe o temor de Deus, é preciso que o império sucumba ou que seja
sustentado pelo temor de um príncipe capaz de substituir a religião. Como a vida de um
príncipe é efêmera, seus Estados desmoronariam inevitavelmente pela sua base assim que lhe
viesse a faltar o apoio das virtudes do príncipe. Daí resulta que os governos cuja sorte depende
da sabedoria de um só homem são de pouca duração, pois que essa virtude se extingue com a
vida do
Príncipe [...]
[...]
monárquica, deve saber com certeza quais os que são inimigos da nova ordem.
Sem isso o governo terá uma existência efêmera. É verdade que eu considero como príncipes
realmente infelizes aqueles que, tendo a multidão por inimiga, são obrigados, para afirmar seu
poder, a empregar meios extraordinários.
De fato, aquele que tem número reduzido de inimigos pode saber com certeza o seu número
sem grande trabalho ou esforço, enquanto que aquele que é objeto do ódio geral nunca tem
certeza de nada, e, tanto mais se mostra cruel, tanto mais enfraquece seu próprio poder. A via
mais certa é, portanto, a de procurar conquistar o afeto do povo”.
Thomas Hobbes (1588-1679):
• Estado de natureza e lei
• A igualdade natural dos homens: o poder de fazer as mesmas más coisas um contra o
outro
• A insegurança do estágio mais primitivo da vida humana
• O direito de cada um sobre todas as coisas
• A medida das ações humanas em estado de natureza são o medo e o desejo
• todo homem é juiz de si mesmo, antes do advento da lei: só ele julga o que lhe for
necessário para preservar sua vida
• O estado natural como estado de guerra: adverso às próprias leis da natureza
• O estado natural não consegue a paz : as leis de natureza não são suficientes
• Do estado natural ao estado civil
“A natureza deu a cada um o direito a tudo; isso quer dizer que, num estado puramente
natural, ou seja, antes que os homens se comprometessem por meio de convenções ou
obrigações, era lícito cada um fazer o que quisesse, e contra quem julgasse cabível e portanto
possuir, usar e desfrutar tudo que quisesse ou pudesse obter. Ora, como basta um homem
querer uma coisa qualquer para que ela já lhe pareça boa, e o fato dele a desejar já indica que
ela contribui, ou pelo menos lhe parece contribuir, para sua conservação [...], de tudo isso
então decorre que, no estado de natureza, para todos é legal ter tudo e tudo cometer. E é este
o significado daquele dito comum, “a natureza deu tudo a todos”, do qual portanto o
entendemos que, no estado de natureza a medida do direito está na vantagem que for
obtida”(Hobbes, Os Elementos da Lei Natural e Política).
• A lei de natureza
“Mas – como, em sua maior parte, os homens, ainda que eventualmente reconheçam tais leis
devido a seu perverso desejo de vontades imediatas, são totalmente inaptos para observá-las -
, se por ventura alguns, mais humildes que os demais, viessem a exercer aquela equidade e
disposição de se mostrarem úteis que a razão ordena, certamente não estarão sendo racionais
adotando uma tal atitude caso os outros não se portem da mesma forma. Alias, assim não
conseguirão paz para si mesmos, mas uma certíssima e pronta destruição, e portanto quem
cumprir a lei se torna presa fácil de quem a viola. Por conseguinte, não se deve imaginar que a
natureza (ou seja, a razão obrigue os homens no estado de natureza a observar todas aquelas
leis, se os outros não a respeitarem. Enquanto isso estamos obrigados a uma disposição
mental no sentido de cumpri-las, sempre que sua observância parecer levar ao fim para o qual
elas foram feitas. E disso devemos pois concluir que a lei de natureza sempre e em toda a
parte obriga em fórum interno, ou na corte da consciência, mas nem sempre em fórum
externo, e neste apenas quando puder ser cumpridas com segurança”(Hobbes, Os Elementos
da Lei Natural e Política).
“[...] a convergência de muitas vontades rumo ao mesmo fim não basta para conservar a paz e
promover uma defesa duradoura, é preciso que, naqueles tópicos necessário que dizem
respeito à paz e autodefesa, haja tão somente uma vontade de todos os homens. Mas isso não
se pode fazer, a menos que cada um de tal modo submeta sua vontade a algum outro (seja ele
um só ou um conselho) que tudo o que for vontade deste, naquelas coisas que são necessárias
para a paz comum, se havido como sendo vontade de todos em geral, e de cada um em
particular”
considerada como uma pessoa, e pela palavra uma deve ser conhecida
todos), deve ser considerado como sendo uma cidade. Uma cidade,
todos eles; de modo que ela possa utilizar todo o poder e as faculdades
Comum .
• O estado e a Igreja
• O soberano e o súdito
Aqueles que já instituíram um Estado, dado que são obrigados pelo pacto a reconhecer como
seus os atos e decisões de alguém, não podem legitimamente celebrar entre si um novo pacto
no sentido de obedecer a outrem, seja no que for, sem sua licença. Se aquele que tentar depor
seu soberano for morto, ou por ele castigado devido a essa tentativa, será o autor de seu
próprio castigo, dado que por instituição é autor de tudo quanto seu soberano fizer.
Dado que todo súdito é por instituição autor de todos os atos e decisões do soberano
instituído, segue-se que nada do que este faça pode ser considerado injúria para com qualquer
de seus súditos, e que nenhum deles pode acusá-lo de injustiça. Pois quem faz alguma coisa
em virtude da autoridade de um outro não pode nunca causar injúria àquele em virtude de
cuja autoridade está agindo. Por esta instituição de um Estado, cada indivíduo é autor de tudo
quanto o soberano fizer, por consequência aquele que se queixar de uma injúria feita por seu
soberano estar-se-á queixando daquilo de que ele próprio é autor, portanto não deve acusar
ninguém a não ser a si próprio, e não pode acusar-se a si próprio de injúria, pois causar injúria
a si próprio é impossível. E certo que os detentores do poder soberano podem cometer
iniquidades, mas não podem cometer injustiça nem injúria em sentido próprio. Mas tal como
os homens, tendo em vista conseguir a paz, e através disso sua própria conservação, criaram
um homem artificial, ao qual chamamos Estado, assim também criaram cadeias artificiais,
chamadas leis civis, as quais eles mesmos, mediante pactos mútuos, prenderam numa das
pontas à boca daquele homem ou assembleia a quem confiaram o poder soberano, e na outra
ponta a seus próprios ouvidos. Embora esses laços por sua própria natureza sejam fracos, é no
entanto possível mantê-los, devido ao perigo, se não pela dificuldade de rompê-los. É
unicamente em relação a esses laços que vou agora falar da liberdade dos súditos. Dado que
em nenhum Estado do mundo foram estabelecidas regras suficientes para regular todas as
ações e palavras dos homens (o que é uma coisa impossível), segue-se necessariamente que
em todas as espécies de ações não previstas pelas leis os homens têm a liberdade de fazer o
que a razão de cada um sugerir, como o mais favorável a seu interesse.
Porque tomando a liberdade em seu sentido próprio, como liberdade corpórea, isto é, como
liberdade das cadeias e prisões, torna-se inteiramente absurdo que os homens clamem, como
o fazem, por uma liberdade de que tão manifestamente desfrutam. Por outro lado,
entendendo a liberdade no sentido de isenção das leis, não é menos absurdo que os homens
exijam, como fazem, aquela liberdade mediante a qual todos os outros homens podem tornar-
se senhores de suas vidas. Apesar do absurdo em que consiste, é isto que eles pedem, pois
ignoram que as leis não têm poder algum para protegê-los, se não houver uma espada nas
mãos de um homem, ou homens, encarregados de pôr as leis em execução. Portanto a
liberdade dos súditos está apenas naquelas coisas que, ao regular suas ações, o soberano
permitiu: como a liberdade de comprar e vender, ou de outro modo realizar contratos mútuos;
de cada um escolher sua residência, sua alimentação, sua profissão, e instruir seus filhos
conforme achar melhor, e coisas semelhantes.
Não devemos todavia concluir que com essa liberdade fica abolido ou limitado o poder
soberano de vida e de morte. Porque já foi mostrado que nada que o soberano representante
faça a um súdito pode, sob qualquer pretexto, ser propriamente chamado injustiça ou injúria
(Hobbes, Leviatã).
“Há uma lei, isto é, a razão autentica que conforme à natureza, vale para todos os homens, é
eterna e inalterável. Os homens submete-se a esta lei para o cumprimento dos seus deveres
[...]
Mudar esta lei por meio da legislação humana nunca pode estar certo. “
O Na idade média
b) lei natural como participação do homem da lei eterna de Deus c) a “lei humana” é criada
pelo homem e determinada por sua natureza racional: deriva da lei natural
Para eles, o homem é titular de sua liberdade e capaz de enfrentar seu destino, sem
prejudicar os direitos dos outros
O homem tem que usar a razão, como ideia reguladora, isto é, como meio de respeito
da liberdade do outro
J. Locke: o estado de natureza é governado pela lei de natureza que liga todos. A
razão, que é essa lei, ensina a todos os homens, contando que a queiram consultar,
que, sendo todos iguais e independentes, nenhum deve prejudicar os outros, na sua
vida, na sua propriedade e liberdade.
O Século XVI
F. de Vitoria, teólogo dominicano: o direito natural contém uma ordem justa: o direito
natural se enraíza na natureza das coisas. A razão humana como instância legisladora
O Importância de Grotius
O Define o direito natural como qualidade moral vinculada à pessoa – em virtude da qual
se pode legitimamente agir
O Nada é superior à reta razão: não tem voz à qual homem algum seja obrigado
O A lei como regra dos atos morais que obriga a fazer coisas justas
O Hugo Grotius- O Direito da Guerra e da Paz- 1625
Da condição humana
[...] De fato, o homem é um animal, mas um animal de uma natureza superior e que se
distancia muito mais de todas as demais espécies de seres animados que possam entre elas se
distanciar. É o que testemunham muitas ações próprias do gênero humano. Entre essas, que
são próprias ao homem, encontra-se a necessidade de sociedade, isto é, de comunidade, não
uma qualquer, mas pacífica e organizada de acordo com os dados de sua inteligência e que os
estóicos chamavam de estado doméstico. Entendida assim de uma maneira geral, a afirmação
de que a natureza impele todo animal somente para suas próprias utilidades não procede.
7. Entre os outros animais, de fato, alguns moderam em certa medida seus instintos egoístas,
parte em favor de sua prole, parte em proveito dos outros da própria espécie. Esta disposição
neles procede, assim o cremos, de algum princípio inteligente exterior, porquanto, com
relação a outros atos que não estejam muito acima de seu alcance, igual soma de inteligência
não aparece neles. Pode-se dizer a mesma coisa das crianças, nas quais, mesmo antes de
qualquer instrução, se pode verificar o aparecimento de certa inclinação para a benevolência,
como Plutarco o observou com sagacidade. Assim também, nessa idade, a compaixão brota
espontaneamente. Quanto ao homem feito, capaz de reproduzir os mesmos atos a respeito de
coisas que tenham relações entre si, convém reconhecer que possui em si mesmo um pendor
dominante que o leva ao social, para cuja satisfação, somente ele, entre todos os animais, é
dotado de um instrumento peculiar, a linguagem. É dotado também da faculdade de conhecer
e de agir, segundo princípios gerais, faculdade cujos atributos não são comuns a todos os seres
animados, mas são a essência da natureza humana.
Dessa noção do direito decorreu outra mais ampla. De fato, o homem tem a mais que os
demais seres animados não somente as disposições para a sociabilidade de que falamos, mas
também um juízo que lhe permite apreciar as coisas, presentes e futuras, capazes de agradar
ou de ser prejudiciais e também aquelas coisas que podem levar a isso. Concebe-se que é
conveniente à natureza do homem observar, dentro dos limites da inteligência humana, na
busca dessas coisas, a conformação de um juízo sadio, o fato de não se deixar vencer pelo
temor nem pelas seduções dos prazeres presentes, de não se deixar levar por um ímpeto
temerário. O que está em oposição a um tal juízo deve ser considerado como contrário
também ao direito da natureza, isto é, da natureza humana.
A isso se refere ainda o que diz respeito a uma sábia economia, falando individualmente, na
distribuição gratuita das coisas que são próprias a cada homem ou a cada sociedade, como a
partilha segundo a qual a preferência dada ora ao sábio sobre o que tem menos sabedoria, ora
ao parente sobre o estranho, ora ao pobre sobre o rico, segundo os atos de cada um e
segundo a natureza que o objeto comporta. Desde longo tempo já muitos autores fazem dessa
economia uma parte do direito, tomado em sentido próprio e estrito, embora esse direito
propriamente assim denominado tenha uma natureza bem diferente, porquanto consiste em
deixar aos outros o que já lhes pertence ou em cumprir para com eles as obrigações que
podem nos ligar a eles.
O que acabamos de dizer teria lugar de certo modo, mesmo que se concordasse com isso, o
que não pode ser concedido sem um grande crime, isto é, que não existiria Deus ou que os
negócios humanos não são objetos de seus cuidados. O contrário nos tem sido inculcado em
parte por nossa razão, em parte por uma tradição perpétua, e nos tem sido confirmado por
numerosas provas e milagres atestados através dos séculos; disso se segue que devemos
obedecer a Deus, sem exceção, como ao Criador e ao qual nós somos devedores daquilo que
somos e de tudo o que possuímos, tanto mais que de muitas maneiras ele se tem mostrado
extremamente bom e poderoso. Disso devemos concluir que ele pode conceder aos que lhe
obedecem recompensa generosas, mesmo eternas, sendo ele mesmo eterno, e ele certamente
quis que nele acreditasse, sobretudo se ele o prometeu de modo expresso. Nisso nós, cristãos,
acreditamos, convencidos de que somos testemunhas por nossa fé indubitável.
. Essa já é outra fonte do direito, além daquela que emana da natureza a saber, aquela que
provém da livre vontade de Deus[2], à qual nossa prescreve submetermo-nos de modo
irrefutável. Esse direito natural de que tratamos, tanto o que se refere à sociabilidade do
homem, como aquele assim chamado num senso mais lato, ainda que decorra de princípios
inerentes ao ser humano, pode no entanto ser atribuído com razão a Deus porque foi ele que
assim dispôs para que tais princípios existissem em nós. Nesse sentido é que Crisipo e os
estóicos diziam que a origem do direito não deveria ser procurada em parte alguma a não ser
no Júpiter. E é deste nome de Júpiter que vem provavelmente a palavra empregada pelos
latinos para designar o direito.
Deve-se acrescentar a isso que Deus, pelas leis que deu, tornou esses princípios mais sensíveis,
mesmo para aqueles cujo espírito é menos apto ao raciocínio, e que proibiu abandonar a si
mesmos os movimentos impetuosos que nos arrastam por caminhos contrários, no sentido de
nosso próprio interesse ou do interesse de outrem, administrando de maneira mais rígida,
aqueles que se manifestam com mais veemência e encerrando-os dentro de limites e de uma
justa medida. [...]
14. A seguir, como é uma regra do direito natural ser fiel aos seus compromissos (era
necessário, com efeito, que existisse entre os homens algum meio de se obrigar mutuamente e
não se pode imaginar outro modo mais conforme à natureza), dessa fonte surgiu o direito civil.
De fato, aqueles que se haviam congregado em alguma associação de indivíduos ou que se
haviam submetido ao domínio de um só homem ou de vários, esses haviam prometido
expressamente ou, de acordo com a natureza da coisa, presume-se que se tivessem engajado
tacitamente, conformar-se ao que tivesse estabelecido a maioria dos membros da associação
ou aqueles a quem o poder houvesse sido delegado.
O que, portanto, se diz, não somente por meio de Carnéades, mas também de outros, que “a
utilidade é como a mãe da justiça e da equidade”, não é verdade, se falarmos com exatidão. A
natureza do homem que nos impele a buscar o comércio recíproco com nossos semelhantes,
mesmo quando não nos faltasse absolutamente nada, é ela própria a mãe do direito natural. A
mãe do direito civil, no entanto, é a obrigação que a gente se impõe pelo próprio
consentimento e, como esta obrigação extrai sua força do direito natural, a natureza pode ser
considerada como a bisavó também do direito civil. A utilidade, contudo, vem se juntar ao
direito natural. O autor da natureza quis, de fato, que nós, tomados um a um, sejamos fracos e
que careçamos de muitas coisas necessárias para viver comodamente, a fim de que sejamos
impelidos mais ainda a cultivar a vida social. Quanto à utilidade, ela foi a causa ocasional do
direito civil, pois a associação de que falamos, ou a sujeição a uma autoridade, começaram a se
estabelecer em vista de alguma vantagem. Aqueles, enfim, que baixam leis para os outros se
propõem, de modo geral, uma utilidade qualquer ao fazê-la ou devem propô-la como mínimo.
Ainda que desprovido, contudo, do apoio da força, o direito não fica privado de todo efeito,
pois a justiça traz segurança à consciência, a injustiça produz torturas e estragos no peito dos
tiranos, semelhantes aos que Platão descreve. O consenso das pessoas de bem aprova a justiça
e condena a injustiça. O que há de mais importante, porém, é que esta encontra um inimigo e
aquela um protetor em Deus que reserva seus julgamentos para depois desta vida, embora
muitas vezes, já nesta vida, nos faça sentir seus efeitos, como a historia nos ensina através de
numerosos exemplos.
Se muitos homens exigem a pratica da justiça por parte dos cidadãos, mas fazem pouco caso
se a mesma é praticada num povo ou pelo chefe de uma nação, a causa desse erro provém em
primeiro lugar do fato de que não consideram outra coisa no direito senão a utilidade que
dele decorre; utilidade evidente no que diz respeito aos cidadãos, porquanto, isolados, são
impotentes para se defender a si mesmos. Os grandes Estados, ao contrário, que parecem
encerrar em si tudo o que é necessário para viver em segurança, não parecem ter necessidade
desta virtude que diz respeito ao que está fora e que leva o nome de justiça.
Para não repetir o que eu disse, que o direito não foi estabelecido em vista da utilidade, não
há nação tão forte que, às vezes, não possa ter necessidade do auxílio das outras, seja com
relação ao comércio, seja até para rechaçar os esforços de várias nações estrangeiras unidas
contra ela. Por isso, vemos que os povos e os reis mais poderosos buscam alianças que não
possuem qualquer eficácia, segundo a opinião daqueles que encerram a justiça dentro dos
limites de cada Estado. Tanto isso é verdade que todas as coisas se tornam incertas a partir do
momento em que se bane o direito. Se não existe qualquer sociedade que possa se manter
sem o direito [...], é certo que a associação que une o gênero humano ou diversos povos entre
si tem necessidade do direito. [...]
O Do Direito comum
Estou convencido, pelas considerações que acabo de expor, que existe um direito comum a
todos os povos e que serve para a guerra e na guerra. Por isso tive numerosas e graves razões
para me determinar a escrever sobre o assunto. Via no universo cristão uma leviandade com
relação à guerra que teria deixado envergonhadas as próprias nações bárbaras. Por causas
fúteis ou mesmo sem motivo se corria às armas e, quando já com elas às mãos, não se
observava mais respeito algum para com o direito divino nem para com o direito humano,
como se, pela força de um edito, o furor tivesse sido desencadeado sobre todos os crimes.
Jean Bodin (1530-1596): a teoria da soberania
O A figura de Bodin
Influenciou Hobbes
1566: Método para estudar com facilidade a história, obra que tenta deduzir os
princípios universais da lei pelo estudo dos acontecimentos históricos
“Até aqui abordamos o que dizia respeito ao estado universal das Repúblicas. Falemos agora
do que pode ser particular a algumas delas devido à diversidade dos povos, a fi m de acomodar
a forma da coisa pública à natureza dos lugares e as ordenanças humanas às leis naturais.
Por não ter prestado atenção nisso, muitos se esforçaram para fazer com que a natureza
servisse aos seus éditos, perturbando e frequentemente arruinando grandes estados.
E aqueles que escreveram sobre a República não trataram essa questão. Porém, assim como
vemos em todas as espécies de animais uma variedade bem grande e em cada espécie
algumas diferenças notáveis devidas à diversidade das regiões, assim
também podemos dizer que há quase tanta variedade no natural dos homens quanto o
número de países. Até no mesmo clima acontece que o povo oriental é muito diferente do
ocidental, e na mesma latitude e distância do Equador o povo setentrional é diferente do
meridional”.
O O natural do povo
“É muito necessário levar em conta esse natural quando se quer mudar o estado, como
aconteceu em Florença há cem anos, quando a República por decurso de tempo quase foi
transformada em aristocracia, tendo sido acrescida dos cidadãos do segundo e terceiro
cinturão de muralhas. O senado foi reunido para dar a ordem e, posto o assunto em
deliberação, o senador Vespúcio demonstrou com vivas razões que o estado aristocrático era
incomparavelmente mais seguro e muito melhor que o estado popular, e ofereceu o exemplo
do estado de Veneza, florescente sob a senhoria de poucos gentis -homens.
Mas Antônio Soderini defendeu o estado popular e ganhou, dizendo que o natural do
veneziano era disposto à aristocracia e o dos florentinos ao estado popular. Diremos logo mais
se seu fundamento é verdadeiro. Lemos também que os efésios, milésios e siracusanos eram
quase do humor dos florentinos, pois não podiam suportar outro estado que não o popular,
nem tolerar que um sequer dentre eles superasse o outro no que quer que fosse, chegando a
banir aqueles que tinham mais virtude.
“Não obstante, os atenienses, efésios e milésios eram muito mais dóceis e mais sociáveis, por
isso eram muito mais orientais. Ao contrário, os siracusanos, florentinos e cartagineses eram
mais violentos e mais rebeldes, e portanto mais ocidentais. O povo oriental tem muita
jactância e muitas palavras, na opinião de todos os antigos¹, e até do embaixador dos ródios,
que desculpou o erro de seus senhores pela inclinação natural que tinham, alegando também
os vícios naturais dos outros povos.
severos, a tal ponto que, quando Catão o Velho pediu a censura ao povo,
disse que era necessário um censor severo que ameaçasse castigar os vícios,
seu edifício à matéria que encontra no lugar. Assim deve fazer o político sábio,
que não pode escolher o povo tal como gostaria, como diz Isócrates no elogio
de Busíris rei do Egito, que ele estima muito por ter sabido escolher bem o
O Do Príncipe
“(…) Um príncipe soberano é obrigado pelos contratos que ele fez, seja com seus súditos, seja
com um estrangeiro. Pois como ele é o fiador para os seus súditos dos acordos e obrigações
mútuas que eles firmam entre si, isto tudo constitui razão do porque ele deve render justiça
nos seus próprios atos”
“Como o príncipe, então, não tem o poder de exceder os limites da lei natural, que foi
estabelecida por Deus, do qual ele é imagem, ele não poderá apropriar-se da propriedade do
outro sem causa justa e razoável, como por compra, troca, confisco legítimo ou para negociar
termos de paz com o inimigo, caso isto não possa ser concluído de outro modo que pela
apropriação da propriedade para a preservação do Estado. (...) Mas a
razão natural prefere o interesse público ao privado, e os indivíduos não apenas superam os
seus antagonismos e animosidades, mas também
O Lei e soberania
“É necessário que quem seja soberano não se encontre de modo algum submetido ao império
de outro e possa dar a lei aos súditos e anular as leis inúteis; isto não pode ser feito por quem
está sujeito às leis ou a outra pessoa. Por isso, diz-se que o príncipe está isento da autoridade
das leis. O próprio termo latino lei implica no mandato de quem detém a soberania”
"Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo
por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, e
necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade
com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu
príncipe soberano, despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra".
A insatisfação de Descartes
“Fui instruído nas letras desde a infância, e por me haver convencido de que, por intermédio
delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia
extraordinário desejo de aprendê-las. Porém, assim que terminei esses estudos, ao cabo do
qual costuma-se ser recebido na classe dos eruditos, mudei totalmente de opinião. Pois me
encontrava embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido
outro proveito, procurando instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha
ignorância” (Discurso do método)
“Já faz bastante tempo que eu me dei conta de que, a partir de minha infância, considerava
verdadeiras muitas opiniões equivocadas, e de que aquilo que, mais tarde estabeleci em
princípios tão mal fundamentados só podia ser deveras suspeito e impreciso; de maneira que
era preciso que eu tentasse com seriedade, uma vez em minha vida, livrar-me de todas as
opiniões nas quais até aquele momento acreditara, e começar tudo novamente a partir dos
fundamentos, se pretendesse estabelecer algo sólido e duradouro nas ciências” (Meditações
Metafísicas).
“Presumirei, então, que existe não um verdadeiro Deus, que é suprema fonte da verdade, mas
um certo gênio maligno, não menos astucioso e enganador do que poderoso, que dedicou
todo o seu empenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os
sons e todas as coisas exteriores que vemos não
passam de ilusões e fraudes que Ele utiliza pra surpreender a minha credulidade”.
Com certeza, não; sem dúvida eu existia, se é que me convenci ou só pensei ser alguma coisa.
Mas existe alguém, não sei quem, enganador muito poderoso, que dedica todo o seu
empenho em enganar-me sempre.
Não há então, alguma dúvida de que existo se ele me engana; e por mais que me engane,
nunca poderá fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De maneira
que, depois de haver pensado bastante nisto e analisado cuidadosamente todas as coisas, se
faz necessário concluir e ter por inalterável que esta proposição, eu sou, eu existo, é
obrigatoriamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito”
(Meditações Metafísicas)
• O eu pensante
“[...] ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu,
que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de
lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da
filosofia que eu procurava”. (Discurso do Método).
“[...] Pois, em princípio, aquilo mesmo que há pouco tomei como regra, ou seja, que as coisas
que concebemos bastante evidente e distintamente são todas verdadeiras, não é correto a
não ser porque Deus é ou existe, e é um ser perfeito, e porque tudo o que existe em nós se
origina dele. De onde se conclui que as nossas idéias ou noções, por serem coisas reais e
oriundas de Deus em tudo em que são evidentes e distintas, só podem por isso ser
verdadeiras”.
• Causa e efeito
“É coisa evidenciada pela razão que deve existir ao menos tanta realidade na causa
eficiente e total quanto em seu efeito: por que de onde é que o efeito pode tirar sua
realidade a não ser de sua causa? E como poderia lhe comunicar se não a possuísse
em si própria? Daí resulta não apenas que o nada não poderia produzir coisa alguma,
mas também que o que é mais perfeito, ou seja, o que contém em si mais realidade
não pode ser uma consequência e uma dependência do menos perfeito. E esta
verdade não é apenas clara e evidente em seus efeitos, que possuem essa realidade
que os filósofos chamam de atual ou formal, mas também nas idéias onde se
considera apenas a realidade que elas chamam de objetiva: por exemplo, a pedra que
ainda não foi, não só não pode agora começara ser, se não for produzida por uma
• A idéia de Deus
“É por isso que desejo passar adiante e averiguar se eu mesmo, que possuo essa idéia de Deus,
poderia existir, no caso de não haver Deus. E, pergunto, de quem originarei minha existência?
Talvez de mim mesmo, ou de meus pais, ou ainda de quaisquer outras causas menos perfeita
que Deus, já que nada se pode imaginar mais perfeito, nem menos igual a Ele. [...] Em primeiro
lugar, reconheço que é impossível que me engane, visto que em todo embuste há alguma
imperfeição. E, embora pareça que poder enganar seja um sinal
• O livre arbítrio
• a contribuição Kantiana
• O homem não consegue conhecer a coisa em si: 1)a permanência da alma 2) O mundo
como totalidade 3) a existência de um ser originário
• Kant realiza uma síntese entre o racionalismo dogmático e o empirismo cético: tanto
a razão quanto o conhecimento empírico têm limites
• A questão do conhecimento
“todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí passa ao entendimento e termina na
razão, acima da qual nada se encontra em nós mais elevado que elabore a matéria da intuição
e a traga a mais alta unidade de pensamento”
o O sujeito é o elemento unificador de todo o conteúdo fornecido pelos sentidos: o
“transcendental” como conjunto de condições que possibilitam o conhecimento do
sujeito:
“As sensações podem ser intuídas uma ao lado de outra (espaço)ou uma colocada antes ou
depois de uma outra (tempo). Fora destas duas formas a priori universais e necessárias da
sensibilidade não é possível conceber nenhuma experiência”
• A doutrina moral
[obra de referência: Fundação da Metafísica dos costumes]
“[...] então nada nos pode salvar da completa queda das nossas ideias de dever, para
conservarmos na alma o respeito fundado pela lei, a não ser a clara convicção de que, mesmo
que nunca tenham havido ações que tivessem jorrado de tais fontes puras, a questão não é
agora de saber se isto ou aquilo acontece, mas sim que a razão por si mesma e
independentemente de todos os fenômenos ordena o que deve acontecer [...] porque este
dever, como dever em geral, anteriormente
a toda a experiência, reside na ideia de uma razão que determina a vontade por motivos a
priori”
• A lei universal
“[...] devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se
torne uma lei universal. [...] Temos que poder querer que uma máxima da nossa ação se
transforme em lei universal: é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral. Podes
tu querer também que a tua máxima se converta em lei universal? Se não podes, então deves
rejeitá-la, e não por causa de qualquer prejuízo que dela pudesse resultar para ti ou para os
outros, mas porque ela não pode caber como princípio numa possível
legislação universal.
“Os homens conservam a sua vida conforme ao dever, sem dúvida, mas não por dever. Em
contraposição, quando as contrariedades e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o
gosto de viver, quando o infeliz, com fortaleza de alma, mais enfadado do que desalentado ou
abatido, deseja a morte, e conserva contudo a vida sem a amar, não por inclinação ou medo,
mas por dever, então a sua máxima tem um
conteúdo moral”.
“O imperativo prático será pois o seguinte: Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto
na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e
nunca simplesmente como meio.
[...] aquilo que deve ser moralmente bom não basta que seja conforme
à lei moral, mas tem também que cumprir-se por amor dessa mesma
lei; caso contrário, aquela conformidade será apenas muito contingente e incerta, porque o
princípio imoral produzirá na verdade de vez em quando ações conforme à lei moral, mas mais
vezes ainda ações contrárias a essa lei.
[...] é evidente que o violador dos direitos dos homens tenciona servir-se
que eles, como seres racionais, devem ser sempre tratados ao mesmo
tempo como fins, isto é, unicamente como seres que devem poder
• A dignidade do homem
na relação dos seres racionais entre si, relação essa em que a vontade
• O padrão moral
“E o que é então que autoriza a intenção moralmente boa ou a virtude a fazer tão altas
exigências? Nada menos do que a possibilidade que proporciona ao ser racional participar na
legislação universal, tornando-o por este meio apto a ser membro de um possível reino dos
fins, para que estava já destinado pela sua própria natureza como fim em si e, exatamente por
isso, como legislador no reino dos fins, como livre a respeito de todas as leis da natureza,
obedecendo somente àquelas que ele mesmo se dá e segundo as quais as suas máximas
podem pertencer a uma legislação universal (à qual ele simultaneamente se submete)”
No ano 1762 teve problemas com autoridade política francesa por causa de suas ideias
morais, políticas, religiosas
Obras:
A natureza do homem
Virtude moral
Liberdade comunitária
“Não é, pois, tanto o entendimento que estabelece entre os animais a distinção específica do
homem como sua qualidade de agente livre. A natureza manda em todo animal, e a besta
obedece. O homem experimenta a mesma impressão, mas se reconhece livre de aquiescer ou
de resistir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a espiritualidade de
O homem civil
“À medida que as idéias e os sentimentos se sucedem, que o espírito e o coração se exercitam,
o gênero humano continua a domesticar-se, as ligações se estendem e os laços se apertam.
Acostumam-se a reunir-se defronte das cabanas ou à volta de uma grande árvore; o canto e a
dança, verdadeiros filhos do amor e do lazer, tornaram-se a diversão, ou melhor, a ocupação
dos homens e das mulheres ociosos e agrupados”. (ROUSSEAU, Discurso Sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens)
“Cada um começou a olhar os outros e a desejar ser ele próprio olhado, passando assim a
estima pública a ter um preço. Aquele que cantava ou dançava melhor; o mais belo, o mais
forte, o mais hábil ou o mais eloquente passou a ser o mais considerado, e foi esse o primeiro
passo tanto para a desigualdade e quanto para o vício; dessas primeiras preferências
nasceram, de um lado a vaidade e o desprezo, do outro a vergonha e o desejo; e a
fermentação causada por esses novos germes produziu por fim compostos funestos à
felicidade e à inocência. (ROUSSEAU,Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens)
Mas, desde o instante em que um homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que
se percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade,
introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se
transformaram em campos aprazíveis que se impôs regar com o suor dos homens e nos quais
logo se viu a escravidão e a miséria geminarem e crescerem com as colheitas.
“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada
associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece
contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. (ROUSSEAU, O Contrato
social)
O valor da liberdade
“Esta liberdade comum é uma consequência da natureza do homem. Sua primeira lei consiste
em proteger a própria conservação, seus primeiros cuidados os devidos a si mesmo, e tão logo
se encontre o homem na idade da razão, sendo o único juiz dos meios apropriados à sua
conservação, torna-se por si seu próprio senhor.
É a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o
povo a imagem dos filhos, e havendo nascido todos livres e iguais, não alienam a liberdade a
não ser em troca da sua utilidade” (ROUSSEAU, O Contrato social).
Obediência e moralidade
“O mais forte não é nunca assaz forte para ser sempre o senhor, se não transforma essa força
em direito e a obediência em dever. Daí o direito do mais forte, direito tomado ironicamente
na aparência e realmente estabelecido em princípio. Mas explicar-nos-ão um dia esta palavra?
A força é uma potência física; não vejo em absoluto que moralidade pode resultar de seus
efeitos. Ceder à força constitui um ato de necessidade, não de vontade; é no máximo um ato
de prudência. Em que sentido poderá ser um dever? [...] Convenhamos, pois, que força não faz
direito, e que não se é obrigado a obedecer senão às autoridades legítimas. Assim, minha
primitiva pergunta sempre retorna” (ROUSSEAU, O Contrato social).
Da escravidão
“Se um particular diz Grotius, pode alienar a liberdade e tornar-se escravo de um senhor, por
que não poderia todo um povo alienar a sua e se fazer vassalo de um rei? Há aqui excesso de
termos equívocos, necessitados de explicação; mas atenhamo-nos ao termo alienar. Alienar é
dar ou vender. Ora, um homem que se escraviza a outro não se dá, vende-se, pelo menos em
troca da subsistência; mas um povo, por que se vende ele? Longe se acha um rei de fornecer a
subsistência dos vassalos; ao contrário, deles é que tira a própria, e, segundo Rabelais, um rei
não vive de pouco. Os vassalos dão, portanto, suas próprias pessoas com a condição de que se
lhes tome também a fazenda. Não vejo o que lhes resta a conservar” (ROUSSEAU, O Contrato
social).
Do viver bem
“Dir-se-á que o déspota assegura aos vassalos a tranquilidade civil. Seja; mas que ganham eles
com isso, se as guerras, que a ambição do déspota ocasiona, se sua insaciável avidez, se os
vexames de seu ministério os aflige mais do que o fariam as próprias dissensões? Que ganham
eles aí, se essa mesma tranquilidade constitui uma de suas misérias? Vive-se igualmente
tranquilo nos calabouços; basta isto para se viver bem? Os gregos encerrados no antro do
ciclope ali viviam tranquilos, à espera de que chegasse a sua vez de serem devorados.
Dizer que um homem se dá gratuitamente é dizer coisa absurda e inconcebível; um tal ato é
ilegítimo e nulo, pelo simples fato de não se achar de posse de seu juízo quem isto comete.
Dizer a mesma coisa de todo um povo é supor um povo de loucos: a loucura não faz direito”
(ROUSSEAU, O Contrato social).
“Renunciar à própria liberdade é o mesmo que renunciar à qualidade de homem, aos direitos
da Humanidade, inclusive aos seus deveres. Não há nenhuma compensação possível para
quem quer que renuncie a tudo. Tal renúncia é incompatível com a natureza humana, e é
arrebatar toda moralidade a suas ações, bem como subtrair toda liberdade à sua vontade.
Enfim, não passa de vã e contraditória convenção estipular, de um lado, uma autoridade
absoluta, e, de outro, uma obediência sem limites.
Não é claro não estar a gente a nada obrigada em relação àquele de quem se tem o direito de
tudo exigir? E esta simples condição, sem equivalência, sem permuta, não arrasta a nulidade
do ato? Que direito teria meu escravo contra mim, uma vez que me pertence tudo quanto ele
possui, e, sendo meu o seu direito, esse meu direito contra mim mesmo não é porventura um
termo sem sentido? (ROUSSEAU, O Contrato social).
visse forçado a agir por outros princípios e consultar a razão antes de ouvir seus pendores.
Embora se prive, nesse estado, de diversas vantagens recebidas da Natureza, ganha outras tão
grandes, suas faculdades se exercitam e desenvolvem, suas idéias se estendem, seus
sentimentos se enobrecem, toda a
sua alma se eleva a tal ponto, que, se os abusos desta nova condição, não o degradassem com
frequência a uma condição inferior àquela de que saiu, deveria abençoar incessantemente o
ditoso momento em que foi dali desarraigado para sempre, o qual transformou um animal
estúpido e limitado num ser inteligente, num homem.
Reduzamos todo este balanço a termos fáceis de comparar. O que o homem perde pelo
contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e pode alcançar;
o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui. Para que não haja
engano em suas compensações, é necessário
distinguir a liberdade natural, limitada pelas forças do indivíduo, da liberdade civil que é
limitada pela liberdade geral, e a posse, que não é senão o efeito da força ou do direito do
primeiro ocupante, da propriedade, que só pode ser baseada num título positivo.
A soberania
“ [...] se não houvesse algum ponto em torno do qual todos os interesses se harmonizam,
sociedade nenhuma poderia existir. Ora, é unicamente à base desse interesse comum que a
sociedade deve ser governada. Digo, pois, que outra coisa não sendo a soberania senão o
exercício da vontade geral, jamais se pode alienar, e que o soberano, que nada mais é senão
um ser coletivo, não pode ser representado a não ser por si mesmo; é perfeitamente possível
transmitir o poder, não porém a vontade.
Com efeito, se não é impossível fazer concordar uma vontade particular com a vontade geral,
em torno de algum ponto, é pelo menos impossível fazer com que esse acordo seja durável e
constante; porque a vontade particular, por sua natureza, tende às preferências, e a vontade
geral à igualdade” (ROUSSEAU, O Contrato social).
“Há muitas vezes grande diferença entre a vontade de todos e a vontade geral: esta olha
somente o interesse comum, a outra o interesse privado, e outra coisa não é senão a soma de
vontades particulares; mas tirai dessas mesmas vontades as que em menor ou maior grau
reciprocamente se destroem e
Se, quando o povo, suficientemente informado, delibera, não tivessem os cidadãos nenhuma
comunicação entre si, sempre resultaria a vontade geral do grande número de pequenas
diferenças, e a deliberação seria sempre boa. Quando, porém, há brigas, associações parciais
às expensas da grande, a vontade de cada uma dessas associações torna-se geral em relação a
seus membros, e particular no concernente ao Estado; pode-se então dizer que já não há
tantos votantes quantos são os homens, mas apenas tantos quantas forem as associações; as
diferenças se tornam mais numerosas e fornecem um resultado menos geral. Finalmente,
quando uma dessas associações se apresente tão grande a ponto de
sobrepujar todas as outras, não mais tereis por resultado uma soma de pequenas diferenças,
porém uma diferença única; deixa de haver então a vontade geral, e a opinião vencedora é
tão-somente uma opinião particular. Portanto, a fim de se ter o perfeito enunciado da vontade
geral, importa não haja no Estado sociedade
parcial e que cada cidadão só manifeste o próprio pensamento (ROUSSEAU, O Contrato social).
“Se o Estado ou a cidade só constitui uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus
membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria conservação, é
necessário uma força universal e compulsória para mover e dispor cada uma das partes da
maneira mais conveniente para o todo. Como a Natureza dá a cada homem um poder absoluto
sobre todos os seus membros, dá o pacto social ao corpo político um poder absoluto sobre
todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, recebe, como eu disse,
o nome de soberania.
Contudo, além da pessoa pública, temos a considerar as pessoas privadas que a compõem e
cuja vida e liberdade são naturalmente independentes delas. Trata-se, pois, de distinguir com
acerto os respectivos direitos dos cidadãos e do soberano (8), e os deveres a cumprir por parte
dos primeiros, na qualidade de vassalos, do direito natural que devem desfrutar na qualidade
de homens.
Convém que tudo quanto cada qual aliene em virtude do pacto social de seu poder, de seus
bens, de sua liberdade, seja apenas a parte cujo uso interesse à sociedade, todavia, é preciso
igualmente convir que só o soberano pode ser juiz desse interesse (ROUSSEAU, O Contrato
social).
Todos os serviços que possa um cidadão prestar ao Estado, tão logo o soberano os
solicite, passam a constituir um dever; mas, de seu lado, o soberano não tem o direito de
sobrecarregar os vassalos de nenhum grilhão inútil à comunidade; sequer o pode desejar:
porque, sob a lei da razão, nada se faz sem causa, do mesmo modo que sob a lei natural.
Os empenhos que nos ligam ao corpo social só são obrigatórios pelo fato de serem recíprocos,
e é tal sua natureza que, desempenhando-os, não se pode trabalhar para outrem sem
trabalhar também para si mesmo. Por que é sempre reta a vontade geral, e por que desejam
todos, constantemente, a felicidade de
cada um, se não pelo fato de não haver quem não se aproprie dos termos cada um e não
pense em si mesmo ao votar por todos? Isso prova que a igualdade de direito e a noção de
justiça que aquela produz derivam da preferência que cada qual se atribui, e, por conseguinte,
da natureza do homem; que a vontade geral, por ser realmente conforme, deve existir no seu
objeto, bem como na sua essência; que deve partir de todos, para a todos ser aplicada; e que
perde sua retidão natural quando tende a algum objeto individual e determinado, porque
então, julgando do que nos é estranho, não temos nenhum real princípio de equidade a
conduzir-nos” (ROUSSEAU, O Contrato social).
O Homem
O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeira não é
nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza
humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como se concebe,
mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após
este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz.
Consciência e temporalidade
Esta totalidade que corre atrás de si e se nega ao mesmo tempo, que não poderia encontrar
em si mesmo qualquer limite a seu transcender, por ser seu próprio transcender e porque se
transcende rumo a si mesmo, em nenhum caso poderia existir nos limites de um instante.
Jamais há instante no qual se possa afirmar que o Para-si é, porque, precisamente, o Para-si
jamais é.
negação do instante.
A partir do Dasein
“Para reunir, ao mesmo tempo, numa palavra, tanto a relação do ser com a essência do
homem, com também a referência fundamental do homem à abertura (“aí”) do ser
enquanto tal foi escolhido para o âmbito essencial, em que se situa o homem enquanto
homem, o nome “ser aí” (Heidegger, Meu caminho para a fenomenologia. Conferências e
escritos filosóficos, 1973)
“A vida é essencialmente não concluída; ela tem sempre uma de si que fica ainda na sua
frente. Se determinar o ser do ser-no-mundo quer ser uma empresa bem-sucedida temos que
alcançar a totalidade” (Heidegger, Conferências de kassell).
O projeto de J. Habermas
- O fenômeno da secularização e o desenvolvimento de uma racionalidade coletiva
Habermas acredita que ainda é viável a defesa da razão como o fundamento de uma
teoria reconstrutiva da sociedade
A revolução de Habermas
Há na teoria habermasiana que fomenta uma das maiores ausências da sociedade nos
dias atuais, qual seja: o diálogo.
(Direito e Democracia)
Democracia como acordo mutuo
condições se almejam resultados ora racionais, ora justos e honestos. Com isso, a
formas argumentativas que extraem seu teor normativo da base validativa da ação
comunidade linguística”.
(A inclusão do outro)
O homem é tempo
“O tempo não é algo que acontece fora de mim. O tempo determina a totalidade do Ser-no-
mundo. O tempo constitui o inteiro de mim mesmo e determina o meu próprio ser em cada
momento.
A vida humana não acontece no tempo, mais ela é o próprio tempo” (Heidegger,
Conferências de kassell).