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TEORIAS ÉTICAS

II – A ÉTICA CRISTÃ (IV d. C. – XV)


- o fim do Império Romano do Ocidente levou a uma alteração profunda da geografia
política, cultural e religiosa da Europa Ocidental.
- o Cristianismo vai ser o denominador comum e vai-se impor como doutrina de salvação.
- Deus é identificado com o Bem, com a Justiça e com a Verdade e todo o conhecimento
passa a fundar-se na autoridade teológica.
- A razão é imperfeita e, por isso, deve-se submeter aos princípios da Igreja.
- a ética cristã não é autónoma e a felicidade coloca-se noutro mundo: na Cidade de Deus
(Santo Agostinho) ou na conjugação da Razão com a Fé (São Tomás de Aquino).

SANTO AGOSTINHO (354- 430)


- muito influenciado por Platão
- o homem é definido como “uma alma racional que se serve de um corpo mortal e
terrestre”: tensão entre a alma e o corpo.
- a posição original coloca a alma e o corpo em harmonia, mas o homem, contra a vontade
de Deus, preferiu a sua vontade, rompendo com esta harmonia – pecado original – e o
homem transforma-se num “ser de desejo” : a alma deseja um bem imutável que a torne
feliz e a aproxime de Deus; mas ,por outro lado, o corpo deseja um bem transitório,
imediato, inferior, que o arrasta para o mal ---- contradição.
- Santo Agostinho considera que a felicidade só se alcançará se o homem se voltar para
si mesmo e conhecer o seu interior e as lembranças/memórias que ficaram gravadas na
sua alma antes do pecado original.
- o homem fez um mau uso do seu livre-arbítrio e afastou-se moralmente do seu criador.
- mas esse afastamento não é absoluto e o ser humano anseia pelo reencontro e é esse “ser
de desejo” que é que o leva a procurar recuperar ou alcançar a felicidade que já teve.
- Inquietude existencial que leva a debater a relação entre Liberdade e Responsabilidade;
o Bem e o Mal: se a acção humana não fosse livre, o homem não poderia ser digno de
louvor quando escolhe o Bem, nem de reprovação quando escolhe o Mal.
- é na VONTADE que reside a liberdade (e não na capacidade racional de escolha) e a
luz espiritual é a ferramenta que a inteligência/alma/razão precisa para conhecer a
verdade.
- surge, pela 1ª vez, a auto-reflexão como local da reflexão ética e método de
aperfeiçoamento moral.
As duas Cidades
- A cidade dos Homens (terrena) e a Cidade de Deus -- -- o homem tem de escolher viver
segundo os fins de cada uma.
Cidade dos homens = ambição e desejo de viver segundo a carne – leva ao mal e à
autodestruição.
Cidade de Deus = viver segundo o espírito, elevação espiritual pela prática do bem.
- o mal moral é uma privação do bem (a escuridão é a privação da luz) e tem origem na
má vontade do homem e leva ao sofrimento e à culpa --- esta, não é uma atitude isolada
mas sim vivida de forma solidária ----- máxima moral: “ama os outros como a ti mesmo”
-----solidariedade na Cidade dos Homens, partilhando uma aspiração comum à Cidade de
Deus.
- o Direito surgiu porque o pecado levou à privação da Justiça na comunidade: se não
houvesse pecado e os homens fossem justos, o direito seria desnecessário assim como o
Estado; assim, é necessário para organizar a justiça.
- mediação entre a Cidade dos Homens e a Cidade de Deus: o sofrimento tem um sentido
providencial porque serve de meio de expiação e purificação do mal e é parte do caminho
para a felicidade eterna.

2 tipos de homens:
1 – os que se amam a si mesmos até ao desprezo por Deus
2 – os que amam a Deus até ao desprezo de si mesmos

Ética do Desejo = o homem é bom ou mau consoante o que deseja ou ama e há 2 formas
de desejo que levam a 2 formas de amor:
1 – Cobiça = é o desejo que leva ao amor segundo a Cidade dos Homens: prazeres
imediatos, egoístas, egocêntricos: banalização do mal.
2 - Caridade = é o desejo que leva ao amor segundo a Cidade de Deus: olhar para os
outros sem egoísmos

- a ética cristã apoia-se nas ideias de Santo Agostinho e em 4 conceitos fundamentais:


o mal, a liberdade, a graça e a providência.
O homem ganha uma dimensão histórica e existencial (que vem até aos nossos dias) e
encontramos nesta herança 5 ideias fundamentais:

1 – Valorização da dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de


Deus;
2 – O amor como primado da vida moral: o amor a Deus significa o respeito da criatura
pelo criador e este leva ao respeito que a pessoa humana deve ter para consigo mesma e
pelo seu próximo;
3 – O mal como imperfeição;
4 – A importância da liberdade e da responsabilidade: que nascem quando o homem
é responsável pelo pecado original (a escolha de Adão e Eva no Paraíso); sem liberdade
e sem responsabilidade não poderia haver felicidade;
5 – “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” – máxima da Ética do
Desejo.

SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225 – 1274)

Questão primordial: como pode a pessoa humana ordenar a sua vida em função do bem?
- Não pode haver contradição entre as verdades reveladas pela Fé e as da Razão:
Conciliar Fé e Razão, conciliar conhecimento teológico com o conhecimento
científico/filosófico -- -RAZÃO E FÉ SÃO CAMINHOS COMPLEMENTARES.
- 2 formas de ser: a natural e a sobrenatural – e nesta encontramos a alma : o intelecto é a
alma --- fonte de todas as atividades intelectuais e o objectivo da alma é atingir a
felicidade que só pode ser alcançada pela perfeição das nossas acções.
- existem várias finalidades - riqueza, fama, poder mas só existe uma finalidade última:o
Bem Eterno.
- as outras finalidades são relativas e apenas constituem felicidade quando ordenadas
correctamente pela razão e pela fé.
- A virtude é uma qualidade humana adquirida, que se vai praticando.
- 2 tipos de virtude: as cardeais (prudência, temperança, justiça e fortaleza), de ordem
natural; e as teologais (fé, esperança e caridade), de ordem sobrenatural e que visam o
Bem Eterno.
-Sindéresis: faculdade de distinguir o bem do mal e de separar o erro da verdade, que se
junta à “consciência”, que se desenvolve com o tempo e com a experiência.
- Boa vontade: vontade orientada pela razão e pela fé.
- defende o direito à objecção de consciência como o direito de não obedecer a uma lei
injusta, definindo Justiça = “a disposição constante da vontade em dar a cada um o
que é seu”.
- a razão, a vontade, o afecto, o conhecimento devem desenvolver-se até se transformarem
numa boa vontade, capaz de escolher o que é justo; isto está associado à ideia de que a
liberdade e a responsabilidade é que dão mérito a uma acção.
- a fé e a moral cristã só fazem sentido quando resultam de um exercício de liberdade e é
esse exercício que faz a dignidade da pessoa humana e o papel da ética é promover essa
dignidade.
- São Tomás é o 1º a fundamentar a Ética nas virtudes interiores, na intencionalidade e na
experiência da consciência individual, autónoma e radicalmente livre.

SÍNTESE

O longo período que se estende entre o século IV e o século XV, é marcado pelo
predomínio absoluto da moral cristã. Deus é identificado com o Bem, Justiça e
Verdade. É o modelo que todos os homens deviam procurar seguir. Neste contexto,
dificilmente se concebe a existência de teorias éticas autónomas da doutrina da Igreja
Cristã, dado que todas elas, de uma forma ou outra, teriam de estar de acordo com os seus
princípios.

Teorias Éticas Fundamentais

Santo Agostinho = Fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da filosofia


clássica. O objectivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade
suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela graça de
Deus podemos ser verdadeiramente felizes.

São Tomás de Aquino = No essencial, concorda com Santo Agostinho, mas procura
fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade clássica por
Aristóteles; concilia Fé e Razão.

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