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Ética filosófica

Agostinho

Vontade. Livre-arbítrio e graça

Uma vez convertido ao cristianismo, Agostinho adotou a concepção de Deus como ser
perfeito, sumamente bom e criador de todas as coisas. No entanto, defrontou-se com um
problema: se Deus, que é perfeito, criou todas as coisas, como justificar a existência do mal?

Para Agostinho, a criação do mal era incompatível com a bondade e a perfeição do Deus
cristão.

Assim, o pensador buscou a sua origem na ação humana, concluindo que o mal não era uma
substância existente (como pensava os maniqueus), mas uma manifestação de carência e
desvio em relação ao bem. Para explicar a possibilidade desse desvio, o filósofo recorreu ao
conceito de vontade, elemento que, assim como a razão, ele entendia como parte da essência
humana. Apresentou a razão como a faculdade de escolher.

Agostinho destacou, ainda, o conceito de livre-arbítrio, entendido como a liberdade de


escolha dada por Deus aos seres humanos, para que eles pudessem direcionar à vontade em
busca dos bens mais importantes. No entanto, o uso incorreto do livre-arbítrio, desviando-se
dos bens materiais, seria a causa do mal moral, ou seja, do pecado humano.

Tomás de Aquino

Beatitude

Tomás de Aquino representa um segundo momento do pensamento medieval, posterior à


Patrística, que ficou conhecido como Escolástica. Unindo o pensamento cristão ao filosófico,
Aquino refletiu sobre questões éticas, como a virtude e a felicidade. Nesse aspecto,
aproximando a Filosofia da Teologia, ele afirmava que, em razão do pecado, não teríamos
condições de nos sentir plenamente realizados em nossa vida terrena. Um dos grandes
empecilhos para isso seria a certeza de nossa finitude, a qual limitaria nossas alegrias a
instantes provisórios e passageiros. Por isso, Aquino afirmava que somos inquietos e
descontentes com aquilo que alcançamos.

Segundo ele, essa insatisfação permanente, própria da condição humana, apenas poderia ser
superada por meio da beatitude, que é a felicidade tranquila, serena e eterna decorrente da
contemplação de Deus. No entanto, a beatitude não poderia admitir a presença do mal. Logo,
Aquino afirmava que era necessário viver uma vida ordenada por um amplo conjunto de
virtudes, as quais somente a iluminação divina poderia proporcionar.

René descartes

Moral provisória

No século XVII, o filósofo racionalista René Descartes reconheceu o papel biológico das
paixões para a autopreservação humana, mas recomendou um controle racional sobre elas, a
fim de que não comprometessem o conhecimento e a convivência. Ele elaborou um método
para conduzir a razão em sua busca pelo conhecimento com vistas a fundamentar as ciências
voltadas a novos objetos, entre eles a moral, denominada pelo filósofo como moral perfeita.
Contudo, antes de alcançar esse método, não seria desejável permanecer sem referências
para decidir entre o certo e o errado no momento de agir. Pensando nisso, o filósofo propôs
quatro máximas para compor uma moral provisória, pautada pelo acordo com as leis e os
costumes relacionados à autopreservação. As máximas dessa moral provisória eram as
seguintes:

 Máxima I: Obedecer às leis e aos costumes nacionais, à religião e à moderação.


 Máxima II: Ser firme e decidido nas ações, seguindo as opiniões provisórias com o
mesmo rigor que se teria em relação às mais seguras.
 Máxima III: Vencer a si mesmo, e não ao destino, buscando mudar os ´próprios
desejos, e não a ordem do mundo.
 Máxima IV: Adotar a melhor das ocupações-cultivar a razão para alcançar o
conhecimento verdadeiro, seguindo o método cartesiano.

Baruch de Espinosa

Conatus e paixões

Na perspectiva racionalista da moral provisória cartesiana, as virtudes e o dever


permaneceram como critérios de moralidade, e as paixões como algo a ser controlado. Diante
disso, a Europa do século XVII recebeu com assombro a teoria ética do filósofo de origem
judaica Baruch de Espinosa.

Dedicado a estudos matemáticos, assim como Descartes, ele escreveu uma obra denominada
Ética demonstrada à maneira dos geômetras. A Ética de Espinosa é considerada uma teoria
sobre a natureza humana. Nesse contexto, ele afirmou que as paixões não eram boas nem
más, e sim impulsos naturais, já que por natureza o ser humano sofreria sempre a ação de
causas exteriores a si próprio.

Ele também apresentou a alegria, a tristeza e o desejo como paixões originais e responsáveis
pelo surgimento das outras, as quais poderiam ser alegres ou tristes (do desejo, por exemplo,
poderiam nascer tanto a gratidão quanto a avareza). Segundo ele, as paixões alegres
aumentavam o conatus, ou seja, a capacidade de ser, preservar-se e agir; já as paixões tristes o
diminuíam.

Portanto, Espinosa definia o vício como fraqueza de quem se submetia às paixões, deixando-
se governar pelas causas exteriores, e a virtude como a ação e a força de quem se tornava a
causa interna dos seus próprios sentimentos, atos e pensamentos, ao se deixar guiar pela
razão.

David Hume

Sentimento moral

Nos séculos XVII e XVIII, surgiram novas teorias a respeito da Ética e Filosofia Política. Nesse
contexto, o filósofo Inglês David Hume desenvolveu uma concepção ética, entendendo as
paixões, e não a razão, como fundamentos da ação humana.

Segundo essa teoria, o agir humano seria motivado por impulsos e sentimentos, e não por
princípios racionais. Assim, Hume associava a moralidade a sentimentos como benevolência,
compaixão e simpatia. Além disso, defendia a tese de que a distinção entre virtudes e vícios
não seria resultado de uma avaliação racional, mas da presença ou ausência dos sentimentos
de desaprovação e culpa diante de uma ação. Portanto, ele concluiu que a moralidade não
constituía objeto da razão, mas do sentimento.

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