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Direito Penal

Material Teórico
Condenação e seus Efeitos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Condenação e seus Efeitos

• Introdução;
• Processo e Condenação;
• Concurso de Pessoas;
• Concurso de Crimes;
• Sanções Penais;
• Efeitos da Condenação;
• Conclusão.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Aprender sobre as sanções penais que podem ser aplicadas às infrações
penais, bem como os efeitos, penais e não penais, que elas acarretam.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Introdução
O Direito Penal constitui uma importante ferramenta de que a sociedade dispõe
para prevenir e reprimir condutas que são extremamente danosas para seus mem-
bros, contudo ele necessita ser utilizado dentro de severos limites estabelecidos pela
Constituição Federal e pela lei, sob o risco de se transformar em um instrumento
de perseguição política e de grupos minoritários.

Nos casos concretos, é importante que o processo penal se constitua em um


instrumento que possua duas destacadas funções:
• que sirva para apurar se o crime apresentado na peça acusatória (denúncia
ou queixa-crime) está caracterizado e se há provas suficientes para a conde-
nação do réu;
• que, efetivamente, nele tenha o réu a possibilidade de plenamente se defender,
bem como tenha seus direitos e garantias respeitadas.

Vamos ver como, de acordo com a lei, deve ocorrer a aplicação das sanções
penais para aqueles que praticaram infrações penais.

Processo e Condenação
Em nosso sistema jurídico, o processo judicial segue o modelo acusatório, que
possui uma série de importantes características.

Em primeiro lugar, nele há três funções que, obrigatoriamente, devem ser reali-
zadas por pessoas distintas:
• aquele que apresenta a acusação e que tem o dever de levar ao processo pro-
vas que demonstrem a ocorrência do crime e sua autoria;
• aquele que se defende, sendo que ele não tem o dever de comprovar a sua
inocência, mas tem o ônus de rebater as provas apresentadas pela acusação;
• aquele que, de forma imparcial, irá julgar, com base nas provas produzidas no
processo, se há a caracterização de uma infração penal e se sua autoria pode
ser atribuída ao acusado.

É de destacada importância a necessidade de que durante todo o processo se


assegure ao acusado o pleno respeito de seus direitos e garantias, de forma que a
decisão final dada pelo juiz, qualquer que seja ela, seja a mais justa possível.

A decisão dada pelo juiz é materializada na sentença, que, necessariamente,


deve ser fundamentada (Princípio da Fundamentação das Decisões Judiciais),
o que significa que essa peça processual deve apresentar:

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• os fatos comprovados no processo, ou seja, as provas, que serviram de
suporte nessa decisão e a implicação que elas apresentam - por exemplo, para
a caracterização da infração penal ou para que a decisão seja absolutória;
• as normas jurídicas (Constituição Federal, leis, etc.) que serviram de base para
a conclusão apresentada.

O Princípio da Fundamentação das Deci-


sões Judiciais possui expressa previsão em
nossa Constituição Federal, não podendo o
juiz deixar de observá-lo ao decidir.
Constituição Federal

Art. 93 [...]

IX - todos os julgamentos dos


órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamen-
tadas todas as decisões, sob Figura 1
pena de nulidade, [...] Fonte: iStock/Getty Images

Ao fundamentar a sua decisão no processo penal, o juiz, necessariamente, irá


demonstrar como os elementos do conceito do crime (fato típico, antijuridicidade e
culpabilidade) foram comprovados ou não no processo.

Se a decisão concluir pela caracterização da infração penal e que a autoria deve


ser atribuída ao réu, o juiz irá aplicar a sanção penal prevista na lei, sendo que nes-
sa decisão haverá a influência de outros elementos, tais como concurso de pessoas
e o concurso de crimes.

Concurso de Pessoas
O autor de uma infração penal é aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal.
Código Penal

Homicídio simples

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Dessa forma, no crime de homicídio, o autor é aquele que mata alguém.

Há, porém, alguns crimes que são classificados como crimes plurissubjetivos,
que se caracterizam por, necessariamente, necessitarem da atuação de mais de
uma pessoa para que eles estejam caracterizados – não é possível que uma única
pessoa o pratique. É o caso, por exemplo, do crime de associação criminosa.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Código Penal

Associação Criminosa

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico


de cometer crimes:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Outros crimes são classificados como crimes de concurso eventual, ou seja,


podem ser praticados por uma única pessoa ou por mais de uma de forma conjunta,
tal como ocorre com o crime de homicídio.

Nos crimes de concurso eventual, o Direito Penal brasileiro aplica a Teoria Res-
trita do Concurso de Pessoas, que distingue duas categorias de sujeitos envolvi-
dos na prática da infração penal:
• Coautores: são as pessoas que, de forma conjunta, praticam a conduta descrita
no tipo penal, sendo que a conduta de todas elas pode ser semelhante ou não;
• Partícipes: são aqueles que, mesmo não praticando a conduta típica, induzem,
instigam ou auxiliam aquele(s) que, efetivamente, pratica(m) o crime.

José da Silva quer matar seu irmão Benedito da Silva e contrata Romualdo de Oliveira para realizar o
“serviço”. Este último recebeu, no ato da contratação, a quantia de R$ 20.000,00 para praticar o crime.

Vamos analisar este exemplo:


• se Romualdo matar Benedito ele será o autor do crime (ele matou alguém). Já
José será partícipe (ele não matou, mas contribuiu de outra forma para que o
resultado ocorresse) – dessa forma ambos responderão pelo crime de homicídio;
• se Romualdo pegar o dinheiro e desparecer sem, ao menos, tentar praticar o
crime, temos o seguinte:
»» Romualdo não praticou qualquer crime, pois ele, sequer, iniciou qualquer ato
de execução do homicídio;
»» José também não praticou qualquer crime, pois a participação é sempre
acessória, ou seja, somente falamos em participação se o crime, ao menos,
tenha sido tentado.

Uma outra característica do concurso de agentes é que todos respondem pelo


mesmo crime.
Código Penal

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

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O fato de todos responderem pelo mesmo crime não significa, necessariamen-
te, que todos receberão a mesma pena, pois o Código Penal indica que cada um
receberá uma pena “na medida de sua culpabilidade”. Ou seja, o juiz, para cada
um dos coautores e partícipes, deve:
• analisar se sua conduta se enquadra como uma infração penal;
• se o crime estiver caracterizado em sua conduta, o juiz deverá calcular,
individualmente, a pena a ser aplicada para cada agente, considerando sempre
a sua culpabilidade, ou seja, quanto mais reprovável a sua conduta, maior deve
ser a pena e vice-versa.

A aplicação de uma pena só para todos, de forma coletiva, ofenderia o Princí-


pio da Individualização das Penas.
Constituição Federal

Art. 5º [...]

XLVI - a lei regulará a individualização da pena [...]

Essa individualização começa com a fixação da pena na sentença e deverá ocor-


rer em toda a sua execução.

Concurso de Crimes
Outra forma de concurso existente no Direito Penal é o concurso de crimes, ou
seja, quando o agente, com uma ou mais condutas, realiza dois ou mais crimes que
guardam relação entre si.

Quando da caracterização dessas formas de concurso, o juiz, em caso de con-


denação, deverá realizar o cálculo individualizado da pena cabível a cada um deles
e, em seguida, aplicar um dos sistemas de cumulação de penas estabelecidos pelo
Código Penal:
• Cúmulo material: neste caso as penas aplicadas para cada crime devem ser somadas;
• Exasperação: neste caso será aplicada somente uma das penas (a maior delas
ou qualquer delas se elas forem idênticas) e em seguida deverá ocorrer um
acréscimo determinado para o tipo de concurso.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Dependendo de como se dá a relação entre os crimes praticados, podemos ter


três formas de concurso de crimes:
• Concurso material;
• Concurso formal;
• Crime continuado.

Vamos ver cada uma delas.

Concurso Material
O concurso material é a situação mais comum e se caracteriza por:
• haver duas ou mais condutas (ações ou omissões);
• prática de dois ou mais crimes, idênticos ou não.

Como consequência, as penas aplicadas para cada crime devem ser somadas –
no sistema do cúmulo material.
Código Penal

Concurso material

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente
as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de
aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
primeiro aquela.

É o que ocorre, por exemplo, em um roubo em que, em seguida, o agente rea-


liza o estupro da vítima.

Concurso Formal
O concurso formal possui uma característica diferenciada:
• nele há uma única conduta;
• contudo, ocorre a prática de dois ou mais crimes, idênticos ou não.

Neste caso, deve o juiz aplicar somente a maior pena (ou uma delas se forem
idênticas), sendo esta aumentada de 1/6 a ½. Normalmente, se há somente um
crime, o juiz aumenta a pena de 1/6, contudo, se há vários crimes, ele se aproxima
de ½. Nesse caso é aplicado o sistema da exasperação.

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É o caso de alguém que, motivado por inveja, coloca uma bomba sob o
palanque onde está sendo realizado o show de um cantor, sendo que na
explosão um músico acaba morrendo (homicídio) e outro é gravemente
ferido (tentativa de homicídio).

Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images

Se para esses crimes, o autor for condenado a 12 anos de reclusão pelo homicídio
e a 9 anos de reclusão pela tentativa de homicídio, sua situação será a seguinte:
• em primeiro lugar, o juiz deve reconhecer a existência do concurso formal
entre esses crimes;
• a pena final corresponde à pena de 12 anos, exasperada de 1/6 (mais 2 anos) a
½ (mais 6 anos), portanto o juiz poderá fixá-la entre 14 e 18 anos de reclusão.

Importante! Importante!

No concurso formal, ao utilizarmos a regra da exasperação, a pena final não pode ser
maior que aquela que corresponderia à somatória das penas dos crimes praticados.
Se isso ocorrer, a exasperação não deve ser aplicada, devendo ser realizada a simples
somatória das penas dos crimes praticados.
A isso chamamos de concurso material benéfico ou cúmulo material benéfico.

É o que ocorre se alguém for condenado a 6 anos de reclusão por um crime e


a 6 meses de reclusão por outro, sendo que eles foram praticados em concurso
formal. Neste caso, teríamos:
• se aplicada a exasperação, devemos somar à pena maior (6 anos) um acréscimo
entre 1 ano (para o aumento de 1/6) a 3 anos (para o aumento de ½), o que
acarretaria uma pena final entre 7 e 9 anos;
• se aplicado o cúmulo material, a somatória das penas corresponde a uma pena
final de 6 anos e 6 meses de reclusão.

Agora observe o seguinte exemplo.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

José e Maria são casados e proprietários de uma loja


de tecidos, e um dos funcionários é André.
Certo dia, devido à situação financeira da empresa,
André é despedido, contudo ele não se conformou
com o que ocorreu, pois alegava que era perseguido
pelos proprietários.
Para se vingar de José e Maria, ele prepara um bolo
envenenado, que é entregue na casa das vítimas, as
quais acabam por fazer a ingestão dele.
José morre envenenado e Maria, após várias sema- Figura 3
nas de internação, acaba sobrevivendo. Fonte: iStock/Getty Images

Aqui cabe ser observado que:


• André desejava matar José e Maria, aproveitando-se da circunstância de eles
serem casados e morarem juntos para, com uma única conduta, provocar (ou
tentar provocar) a morte de ambos;
• quando cada um dos resultados é desejado pelo agente, falamos que ele possui
desígnios autônomos;
• essa situação é denominada concurso formal impróprio, acarretando a cumu-
lação material (soma) das penas dos crimes praticados, sendo afastado o sistema
da exasperação.

A previsão legal do concurso formal é a seguinte:


Código Penal

Concurso formal

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica


dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela
regra do art. 69 deste Código.

Crime Continuado
O crime continuado possui as seguintes características:
• o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica dois ou mais crimes – nesse
particular, ele se assemelha ao concurso material;
• ocorre que esses crimes devem ser da mesma espécie, sendo que os crimes sub-
sequentes devem ser tidos como continuidade do crime, pois foram realizados:

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» nas mesmas condições de tempo (em dias próximos);
» nas mesmas condições de lugar (no mesmo município ou em municípios contíguos);
» com a mesma maneira de execução; e
» com outros tipos de semelhanças.

A previsão do crime continuado está no artigo 71 do Código Penal.


Código Penal

Crime continuado

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,


pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

[...]

Veja o seguinte exemplo:

José trabalha em uma fábrica de tratores e deseja furtar um desses veículos. Se ele realizar seu
desejo estará praticando um crime de furto.
Como ele vê grande dificuldade para realizar esse crime, ele resolve que, a cada dia, irá subtrair
uma parte de um trator e, ao final, realizará a montagem.
Para conseguir esse seu intento, ele, por 50 dias, subtraiu essas partes, conseguindo, ao final, um
trator inteiro, porém para isso praticou 50 furtos.

Considerando que a pena mínima do furto é 1 ano de reclusão, teríamos


nesse exemplo:
• Para o furto do trator inteiro: pena mínima de 1 ano de reclusão;
• Para os 50 furtos das partes do trator: se aplicada a pena mínima para
todos esses crimes e como eles estariam em concurso material, a condenação
mínima seria de 50 anos.

Ocorre, contudo, que esses 50 furtos devem ser considerados como crime
continuado, dessa forma:
• aplica-se somente uma das penas: 1 ano de reclusão;
• essa pena deve ser exasperada entre 1/6 a 2/3: que representaria um
acréscimo entre 2 e 8 meses;
• dessa forma, a pena final seria de reclusão de 1 ano e 2 meses a 1 ano e 8 meses.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Sanções Penais
Podemos indicar o conjunto de sanções que podem ser aplicadas no Direito
Penal da seguinte forma:

PRIVATIVAS DE LIBERDADE

PENAS MULTA

SANÇÕES RESTRITIVAS DE DIREITO


PENAIS
INTERNAÇÃO EM HOSPITAL DE
CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO
MEDIDAS
DE SEGURANÇA
TRATAMENTO AMBULATORIAL

Figura 4

Vamos ver as características dessas sanções.

Penas
Em todas as infrações penais há a previsão no preceito secundário da pena
aplicável para o autor, sendo que essas sanções podem ser:
• Penas privativas de liberdade: que podem ser de três tipos:
»» Reclusão e detenção: aplicável para os crimes;
»» Prisão simples: aplicável para as contravenções penais.
• Multa: a pena de multa não está presente em todas as infrações penais, sendo
que, normalmente, ela é cominada para aquelas em que a intenção do agente
está relacionada à obtenção de valores econômicos.
• Penas restritivas de direito: são aplicadas, em certas situações previstas em
lei, em substituição à pena privativa de liberdade aplicada.

Medidas de Segurança
As medidas de segurança são sanções penais aplicadas para aqueles que, tendo
praticado fatos típicos e antijurídicos, foram considerados inimputáveis e, em alguns
casos, também para semi-imputáveis em razão de apresentarem doença mental
que os priva, ainda que parcialmente, da capacidade de entender e de querer.

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Elas podem ser de dois tipos:
• Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico: que é aplica-
da quando a infração penal objeto do processo for passível de pena de reclusão;
• Tratamento ambulatorial: quando a sanção prevista para o crime é a de detenção.

Quando da sentença, o juiz irá fixar um prazo mínimo de duração da medida de


segurança, que pode ser entre 1 a 3 anos. Ao final desse prazo, serão realizados
novos exames na pessoa submetida à medida, e dependendo das conclusões, po-
derá o juiz:
• manter a medida de segurança, sendo que neste caso, anualmente, esse procedi-
mento deverá ser repetido;
• determinar o encerramento da medida de segurança, situação em que no primei-
ro ano poderá essa decisão ser revertida caso a pessoa atingida por essa sanção
pratique qualquer conduta que demonstre a continuidade de sua periculosidade.

A medida de segurança não possui, dessa forma, prazo para seu encerramento,
durando, em princípio, o prazo necessário para que a pessoa submetida a ela seja
tratada e não mais demonstre periculosidade.

Efeitos da Condenação
O principal efeito da condenação é a aplicação e, consequentemente, cumpri-
mento da sanção determinada pelo juiz, contudo nos artigos 91 e 92 do Código
Penal, bem como em leis penais especiais, há outros efeitos.

Efeitos do Artigo 91 do Código Penal


Os efeitos apresentados no artigo 91 do Código Penal se caracterizam por serem
aplicados para todas as condenações, sendo desnecessário que o juiz determine na
sentença que eles devam ocorrer.

Dever de indenizar os danos causados pelo crime: se a infração penal causou


prejuízos, a condenação estabelece uma presunção absoluta de que o agente tem o
dever de indenizar a vítima e terceiros afetados.
Código Penal

Art. 91 - São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

O ofendido que teve prejuízos deve realizar essa cobrança por meio de ação
civil, sendo que nela somente será fixado o valor da indenização, já que o dever de
indenizar decorre da própria condenação na esfera penal.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Perda de bens e valores em favor da União: haverá a perda dos instrumentos


do crime (quando seu fabrico, alienação, uso, porte ou detenção se caracterizam
como crime) e do produto do crime e de valores que correspondam ao proveito dele.
Código Penal

Art. 91 - São efeitos da condenação:

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de


terceiro de boa-fé:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,


alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito


auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

Aqui temos como exemplo:


• uma arma de origem ilícita utilizada para a prática de um roubo;
• o dinheiro, carros e imóveis que um traficante tem e são provenientes dos
lucros de sua atividade ilícita.

Efeitos do Artigo 92 do Código Penal


Os efeitos apresentados no artigo 92 do Código Penal se caracterizam por não
serem automáticos, assim eles somente devem ser aplicados se o juiz, expressamente
e de forma fundamentada, determinar essa providência na sentença.

Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: neste caso, há


duas possibilidades:
• condenação à pena privativa de liberdade igual ou superior a 1 ano: se
o crime foi praticado com abuso de poder ou violação de dever junto à Admi-
nistração Pública.
• condenação à pena privativa de liberdade com duração superior a 4 anos:
para os demais casos.
Código Penal

Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior


a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de
dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4


(quatro) anos nos demais casos.

Como exemplos da aplicação desse efeito, temos:

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• Um funcionário público que se apropria de bens apreendidos pela Administra-
ção Pública e que estão sob sua gestão – a condenação a uma pena privativa
de liberdade, associada ao afastamento do dever perante a Administração Pú-
blica, pode fazer com que o juiz aplique esse efeito da condenação;
• Um funcionário público envolvido em um homicídio qualificado, sendo
condenado a uma pena de 12 anos de reclusão – mesmo não havendo ligação
com o exercício de seu cargo, o juiz poderá determinar a aplicação desse
efeito da condenação.

Incapacidade para o exercício do poder familiar1 , tutela ou curatela: este


efeito pode ser aplicado se o agente é condenado a uma pena de reclusão pela
prática de crime doloso contra seu filho, tutelado ou curatelado.
Código Penal

Art. 92 [...]

II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela,


nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho,
tutelado ou curatelado;

Como exemplo dessa situação, temos um pai que pratica um crime de estupro
contra seu filho – neste caso, como feito da condenação, o juiz pode determinar
que o agente perca o poder familiar contra o filho vitimado.

Observe que se houver outros filhos menores, o pai continua com o poder
familiar em relação a eles, sendo possível, contudo, que haja essa perda ou outro
tipo de restrição em razão de um processo autônomo em que essa questão deve
ser discutida.

Inabilitação para conduzir veículo: este efeito somente ocorre se o agente


utilizar o veículo para a prática de crime doloso.
Código Penal

Art. 92 [...]

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a
prática de crime doloso.

É caso de uma pessoa que utiliza um caminhão para, dolosamente, atropelar e


matar um desafeto.

Efeitos da Condenação na Lei de Drogas – Lei n.º 11.343/06


Na Lei de Drogas, os principais efeitos da condenação que podem ser destaca-
dos são de ordem patrimonial.
Perda de glebas utilizadas para plantações ilícitas: este efeito está previsto
no artigo 243 da Constituição Federal.

1 A expressão “pátrio poder” hoje é denominada “poder familiar”.

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Lei n.º 11.343/06

Art. 32 [...]

§ 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas,


conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com
a legislação em vigor.

É o caso de alguém que planta em um terreno próprio uma grande quantidade de


pés de maconha – ao ser condenado, o juiz deve impor, como efeito da condenação,
a expropriação dessa área.

Perda de bens utilizados para o tráfico de drogas: veículos, embarcações,


aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios,
instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática de tráfico de
drogas (ou outros crimes definidos nessa lei), devem ser apreendidos.

Na sentença o juiz deve decidir a destinação a ser dada a esses bens, sendo que,
com a condenação, haverá o perdimento deles (artigos 62 e 63 da Lei)

Conclusão
A lei penal deve estabelecer as sanções que podem ser aplicadas quando da
prática de uma infração penal, sendo que a sua fixação deve ocorrer na sentença.

Na sentença há diversos aspectos que devem ser objeto de análise pelo juiz,
dentre eles a ocorrência do concurso de pessoas, de concurso de crimes, os efeitos
que a condenação deve possuir, etc.

Esses aspectos demonstram a necessidade de que haja intensa participação das


partes no processo penal, as quais, ao apresentarem seus argumentos e provas
ao juiz, colaboram para que haja uma decisão mais justa possível, priorizando os
interesses da sociedade e o respeito aos direitos e garantias do acusado.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
https://goo.gl/zaRrL
Código Penal
https://goo.gl/t0Tjp
Código de Processo Penal
https://goo.gl/Zw65f
Lei das Contravenções Penais
https://goo.gl/Qvtcil
Lei de Drogas
https://goo.gl/lHseJ

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UNIDADE Condenação e seus Efeitos

Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. v. 1. 24ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

GONÇALVES, V. E. R. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva,


2015. (e-book)

ISHIDA, V. K. Curso de direito penal. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. (e-book)

MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 34ª ed. São Paulo: Atlas, 2018.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARIONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso


de direito constitucional. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

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