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NOÇÕES GERAIS SOBRE O DIREITO CONTRATUAL

Desde os primórdios, o contrato sempre esteve presente nas relações


sociais, com a circulação de bens, mercadorias e riquezas, estes eram utilizados
como instrumento de troca, na medida de ser justo para ambas as partes.

Aristóteles na sua concepção de justiça, já elencava a importância dos


contratos nas relações interpessoais. Na sua classificação, a justiça comutativa,
conhecida também por justiça corretiva ou sinalagmática, que tem a ideia de ser
“justo”, as relações sociais de troca ou permuta, que se constitui por meio de um ato
ou contrato, onde as partes pactuantes nas suas transações, devem dar e receber
em uma proporção igualitária.

Percebe-se que os contratos sempre estiveram presentes na sociedade,


sendo um instituto jurídico importante e o mais comum no ramo das obrigações. Ao
passo que a sociedade se modifica, os contratos acompanham esse manejo com o
surgimento de novas situações fáticas no direito.

Para adentrar no estudo dessas relações contratuais, faz-se necessário


conceituar o contrato, para posteriormente facilitar a compreensão acerca da nova
modalidade de contratos, os contratos eletrônicos.

CONCEITO

O contrato não possui um conceito definitivo ou genérico, devido a sua


complexidade, faz-se necessário trazer conceitos doutrinários sobre esse instituto.

Conforme Moraes Mello (2017, p.28).

O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que representa um


acordo (pacto) de duas ou mais vontades, cujos interesses se contrapõem,
já que uma das partes contratantes quer a prestação e a outra a
contraprestação. É um acordo de vontades, capaz de criar, modificar ou
extinguir relações jurídicas.

Para Gonçalves (2011, p.685). “O contrato é uma espécie de negócio


jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas
partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral.”
Já para Donizetti e Quintella (2018, p. 455)

Contrato é o negócio jurídico de Direito Privado, por meio do qual


dois ou mais sujeitos se vinculam para regular interesses concernentes a
objetos economicamente apreciáveis, buscando a satisfação de
necessidades, em que criam, resguardam, transferem, conservam,
modificam ou extinguem direitos e deveres”.

Em suma, os contratos é essencialmente gênero do negócio jurídico, onde


duas ou mais pessoas com o mútuo consenso entre elas e dentro dos limites
permissivos da lei, estabelecem cláusulas que na sua maioria, possui caráter
oneroso e geram obrigações entre si.

REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO

Sendo gênero do negócio jurídico, o contrato deve preencher os requisitos


objetivos, subjetivos e formais para lhe conferir validade. A ausência desses
requisitos tem por consequência a invalidade do negócio jurídico.
Nos requisitos subjetivos está presentes bilateralidade, a capacidade do
agente e declaração de vontade das partes.
Na bilateralidade ou pluralidade é imprescindível que o contrato deverá ser
realizado por duas ou mais pessoas.
Já na capacidade do agente, essa capacidade poderá ser genérica ou
especial, na capacidade genérica, os contratantes devem possui a capacidade de
fato para praticar os atos da vida civil. Em situações específicas previstas em lei, há
impedimentos, onde somente os contratantes legitimados, que detém de certa
capacidade especial poderá contratar.
No que tange, aos requisitos subjetivos, é indispensável à manifestação das
partes, que deverão estar de acordo com aquilo que está sendo firmado. Essa
manifestação poderá ser expressa, por meio da escrita ou verbalmente, como
também poderá ser de forma tácita, quando não for necessário que ela ocorra
expressamente. Cabe salientar, que independente da forma de manifestação, ela
deverá ser exprimida de forma livre e espontânea.
Nos requisitos objetivos, diz respeito ao objeto que será convencionado no
contrato, o objeto deverá ser lícito, não ferindo o direito e a moral, devendo estar de
acordo com a lei. O objeto terá que ser possível, essa possibilidade do objeto se
estende tanto possibilidade física como a jurídica, sendo previamente definido pelas
partes, sendo em gênero ou quantidade, deste modo o objeto estará determinado. E
finalizando os requisitos objetivos, o objeto deverá possuir um valor econômico, ou
seja, deverá ter a possibilidade de se converter em dinheiro.
Por fim, nos requisitos formais, diz concerne à forma do contrato, sendo a
manifestação externa dos contraentes. Poderá ser o consensualismo ou formalismo.
Que varia de acordo com a espécie contratual. O contrato é formal, quando prescrito
a sua forma em lei, sendo condição de validade do contrato ou quando se exige tal
formalidade. A lei não estabelecendo, a sua forma prescrita o contrato é consensual,
sendo celebrada por meios variados, não se exigindo uma solenidade.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL

Os princípios são fundamentais para nortear a esfera contratual. Os


princípios essenciais para compreensão dos contratos são: O princípio da autonomia
contratual, o princípios do consensualismo, o princípio da força obrigatória, o
princípio da relatividade, o princípio da onerosidade excessiva, o princípio da boa-fé
objetiva e o princípio da supremacia da ordem pública.

O princípio da autonomia de vontade


Esse princípio reforça a ideia da importância da liberdade para contratar.
Existem três planos de autonomia da vontade, no primeiro, as partes são livres para
contratar, ou não. Onde não há obrigatoriedade para celebrar o contrato, caso não
seja a sua vontade, trazendo a importância da manifestação livre da vontade na
celebração de um contrato. No segundo aspecto, você é livre para contratar com
quem quiser e o terceiro que versa a respeito ao que contratar, sobre conteúdo ou o
objeto do contrato.

Segundo Gonçalves (2011, p. 695).

O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na


ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus
interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela
ordem jurídica.

Portanto, essa autonomia da vontade é traduzida na liberdade de


contratação das partes que agem manifestando os seus interesses.
O princípio do consensualismo
O princípio do consensualismo se fundamenta na existência do consenso da
vontade entre os contratantes, do acordo de vontade entre as partes possuindo o
efeito gerador das obrigações no contrato.
Para Donizetti e Quintella (2018, p. 462).
Se a vontade dos sujeitos é livre para contratar e estabelecer o conteúdo do
contrato, conclui-se que, para que se forme o contrato, bastará a vontade.
Ou seja, a existência do contrato depende do consenso entre as partes
contratantes.

O princípio da obrigatoriedade
Também conhecido como pacta sunt servanda, versa que os contratos
foram feitos para serem cumpridos, dando força de lei às partes contraentes, que
goza de um amparo estatal, caso haja o descumprimento desse contrato. O vinculo
entre as partes, gera uma obrigatoriedade entre elas.
Assim enfatiza Moraes Mello (2017, p.71).
Celebrado o contrato, ele deve ser executado de acordo com as
suas cláusulas contratuais como se fosse uma “lei entre as partes”, já que
tais cláusulas têm, para os contratantes, força obrigatória. Assim, prima-se
pela segurança jurídica e autonomia da vontade na esfera jurídica
interprivada.

O princípio da relatividade
Este princípio trata da relatividade das partes contratantes. Via de regra,
somente as partes envolvidas no contrato recaem os efeitos do contrato, não
atingindo a terceiros. Não gerando o efeito erga omnes, a sua eficácia é relativa
entre as partes.
Esclarece Gomes (2009, p. 46)
O princípio da relatividade dos contratos diz respeito à sua eficácia. Sua
formulação fez-se em termos claros e concisos ao dizer-se que o contrato é
res inter alios acta, aliis neque nocet neque prodest, o que significa que
seus efeitos se produzem exclusivamente entre as partes, não aproveitando
nem prejudicando a terceiros.

O princípio da onerosidade excessiva


Conhecido também como o princípio da revisão, em situações
supervenientes, que a parte em é colocada em desvantagem, com uma onerosidade
excessiva, o contrato é submetido à apreciação do juiz, mediante suposta
ilegalidade no contrato para sua revisão.
Destaca Gonçalves (2011, p. 699). “Opõe-se tal princípio ao da
obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao Judiciário para obterem
alteração da convenção e condições mais humanas em determinadas situações”.

O princípio da supremacia da ordem pública


Salienta Gonçalves (2011, p. 696). “A liberdade contratual encontrou sempre
limitação na ideia de ordem pública, entendendo-se que o interesse da sociedade
deve prevalecer quando colide com o interesse individual.”
Os contratos possuem regras, vigiadas pelo poder público que poderá impor
limites à liberdade contratual em proteção aos contratos. Sendo contrário ao
princípio da obrigatoriedade e ao princípio da autonomia da vontade.

O princípio da boa-fé objetiva

O código civil não comtemplava a sua previsão expressa até 2002, com a
chegada do atual código, a previsão deste princípio está elencada nos artigos 122 e
422 do código civil. A boa-fé objetiva vislumbra um dever de colaboração, um
respeito mútuo que se espera entre as partes contratantes em todas as fases de
formação e execução dos contratos.
Assim preceitua Mello (2017, p.78) “A boa-fé contratual é uma norma de
conduta. É a conduta ética, leal, honesta e transparente esperada dos parceiros
contratuais”.

FORMAÇÃO DOS CONTRATOS


A formação dos contratos se dá por três fases: As negociações preliminares,
a proposta e a aceitação.
As negociações preliminares não são previstas no ordenamento, mais é
majoritariamente trazida pelos doutrinadores, se dá pela inexistência de um vinculo
obrigacional ou jurídico entre as partes. Sendo uma fase de debates, tratativas ou
conversação, que se dá antes da celebração do contrato.
Conforme preceitua Mello (2017, p. 111).
Não há dúvidas que, na fase das negociações preliminares, as partes
devem agir com probidade, respeito e boa-fé objetiva. Isto representa que
os futuros contraentes são titulares de deveres recíprocos, tais como:
lealdade, correção, transparência, cuidado, sigilo e proteção. O ferimento de
tais deveres dará azo à responsabilidade civil na fase pré-contratual do
contrato.

A fase seguinte é a proposta, também chamada de policitação, prevista no


artigo 427 do código civil, onde se dará pela manifestação de vontade unilateral da
parte, dependendo da concordância da outra parte, e que se vinculará juridicamente
o proponente.
A aceitação é a conclusão do contrato, feita dentro do prazo aderindo à
proposta recebida.
Salienta Mello (2017, p.119)

A aceitação expressa é aquela realizada através de palavras ou


sinais que exprimam a aceitação do contrato. A aceitação tácita ocorre a
partir de atos do oblato que representam a execução do contrato. O silêncio
é a inércia do sujeito que importa anuência e pode dar azo aos efeitos de
uma declaração de vontade.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Os contratos são classificados por diversas formas, cada doutrina traz a sua
especificidade. Serão analisadas aqui as principais classificações contratuais.
Nos chamados contratos bilaterais e unilaterais, no primeiro gera obrigações
para ambas às partes, com reciprocidade de direitos e deveres. No segundo, o
contrato gera obrigações apenas para uma das partes.
Segundo Gonçalves (2011, p.736)

À primeira vista pode parecer estranho denominar-se um contrato unilateral,


porque todo contrato resulta de duas manifestações de vontade. Sob este
aspecto, isto é, o de sua formação, o contrato é, realmente, sempre
bilateral, pois se constitui mediante concurso de vontades. Entretanto, a
classificação em unilateral e bilateral é feita não sob o prisma da formação
dos contratos, mas, sim, sob o dos efeitos que acarretam. Os que geram
obrigações recíprocas são bilaterais, enquanto os que criam obrigações
unicamente para um dos contraentes são unilaterais.

O contrato poderá ser gratuito e oneroso, conhecidos também por


benefícios, na primeira classificação apenas uma das partes obtém vantagem em
razão à relação contratual. E na segunda, ambas as partes recebem vantagem e
sofreram o sacrifício patrimonial.
Conforme preceitua Gomes (2009, p.88)

A distinção entre contratos onerosos e gratuitos, em que pese às valiosas


opiniões em contrário, é de considerável importância prática, que se
manifesta a respeito da capacidade dos contraentes, do objeto do contrato e
da responsabilidade do devedor. A condenação dos atos praticados em
fraude aos credores é mais enérgica se a alienação fraudulenta teve como
título um contrato gratuito. A interpretação dos contratos onerosos e
gratuitos não se faz do mesmo modo, pois, nestes, é estrita. Em suma,
regras diferentes lhes são aplicáveis.

Nos contratos onerosos, se dividem em contratos comutativos e aleatórios,


que versam sobre as prestações. Nos contratos comutativos há um equilíbrio nas
prestações e uma certeza que serão pagas. Já nos contratos aleatórios, há uma
incerteza da parte, podendo ocorrer o inadimplemento das prestações
posteriormente.
O contrato poderá ser solene e não solene, no solene o contrato deverá
seguir uma forma especial para ter validade e o contrato não solene, a forma poderá
ser feita assim como as partes desejarem.
Gomes assevera (2009, p.92)
Em atenção, porém, à conveniência de dar segurança ao comércio
jurídico, a lei exige que certos contratos obedeçam a determinada forma,
elevando-se à condição de requisito essencial à sua validade. Nesses
casos, a vontade das partes não basta à formação do contrato.

No que tange aos contratos consensuais e reais, nos consensuais é


necessário o acordo de vontades entres as partes celebrantes do contrato. Já se
tratando dos contratos reais, o mesmo apenas se efetiva com a entrega da coisa,
conhecida também como tradição.
Na execução dos contratos, ele poderá ocorrer de diversas formas:
Instantânea, diferida ou de trato sucessivo. Nos contratos instantâneos, se encerra
com um único ato, sendo executada logo após a celebração do contrato. Nos
contratos diferidos, se encerra em um único ato, porém no futuro. E nos contratos de
trato sucessivo, eles também são cumpridos no futuro, porém demandam de um
pagamento sucessivo, sendo esse contrato executado gradativamente.
Donizetti e Quintella ressalta (2018, p.429)
Por fim, certos contratos somente se aperfeiçoam quando há a
efetiva entrega da coisa que é seu objeto, fenômeno que o Direito chama de
tradição. Trata-se dos contratos reais. Exemplo de contrato real é o
comodato, que é o empréstimo gratuito de bem infungível.

O contrato poderá ser paritário ou de adesão, nos contratos paritários, há um


equilíbrio e igualdade nas condições, as partes podem negociar, alterar ou discutir o
contrato, possuindo uma liberdade negocial entre elas.
Se referindo aos contratos de adesão, este é aplicado a indistintamente a
todos que celebram aquele mesmo negócio jurídico. Não existindo uma discussão
quanto ao conteúdo do contrato, a parte tem apenas a facultividade de aderir ou
não, aquele contrato formulado.
No tocante aos contratos de adesão, conceitua Mello (2017, p.108)
O contrato de adesão é aquele em que uma das partes
contratantes fica submetida à aceitação das cláusulas prefixadas pela outra
parte, ou seja, sem qualquer alternativa de negociação nas referidas
cláusulas. Estas cláusulas são padronizadas ou como se costuma dizer são
contratos estandartizados.

No que tange a pessoa, os contratos poderão ser personalíssimos ou


impessoais. No primeiro, o contrato é celebrado em razão das características de
uma pessoa. Já no último, a qualidade do contratante não é levada como essencial
ou relevante para formulação do contrato.

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