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Providências Cautelares

Há 2 coisas que têm de estar presentes em relação às providências cautelares:


1. A ideia é serem rápidas:
Logo, fazer uma perícia não é adequado. Não há nenhuma lei que proíba, mas não é
razoável porque demoram muito tempo. Os meios de prova principais são a prova
testemunhal, os documentos e a confissão)

2. A decisão do juiz é sempre fraca


Nas providências o juiz vai apenas conhecer superficialmente da situação. Assim, a
decisão do juiz nunca será definitiva, retirando-se daqui a ideia de a providência ter de
estar sempre agarrada a uma acção principal. Existe, contudo, uma excepção a esta
regra – quando estamos perante uma inversão do contencioso.

Regra geral: sempre que alguém pede uma providência cautelar tem de pedir também
uma tutela definitiva, através de uma acção principal. Pode fazê-lo de 2 maneiras:
a) O autor propõe uma acção e percebe que se ficar à espera da sua
procedência vai ter inúmeros danos, então pede um procedimento cautelar
para o direito ficar logo tutelado
b) A parte vê a acontecer na sua vida uma situação que precisa de tutela dos
tribunais e pede, primeiro a providencia e depois a acção principal

Nas providências, tomam-.se decisões o mais reversíveis possível – principio da mínima


interferência na esfera do inquirido – ou seja, tenta-se prejudicar o menos possível.

Art. 374º - Se já tiver sido concedida uma providência cautelar e, depois na acção
principal o juiz disser que afinal o autor não tem direito àquilo que pediu, se se
demonstrar que o requerente agiu com pouca prudência quando pediu a providência,
este tem de pagar uma indemnização ao requerido.

Art. 373º/1, a) – Se o tribunal decretar uma providência e a parte não propuser uma
acção principal no prazo certo, esta caduca, precisamente porque é uma decisão
provisoria.

Requisitos das providências cautelares:


a) Periculum in mora: a parte tem de mostrar ao tribunal que a demora na acção
principal lhe causa danos graves ou dificilmente reparáveis. Para saber se há
periculum in mora, o direito tem de ficar prejudicado.
b) Fumus bonus iuris: “aparência do bom direito”. O tribunal pode decretar a
providência se considerar que é plausível que o direito do autor exista.
c) Proporcionalidade: o juiz, antes de decretar a providência, tem de ter a certeza que
o dano que vai resultar para o requerido da concessão daquela providência é
inferior ao benefício que resulta para o requerente.
A proporcionalidade não é um requisito para todas as providências, apenas em relação
às não especificadas.
Nas especificadas, só é verdade para aquelas que o digam expressamente, porque se
não disseram não se aplica subsidiariamente a regra de proporcionalidade, art. 368º/2.

Art. 366º - A regra geral, de acordo com o princípio do contraditório, é ouvir o


requerido. No entanto, nos casos em que isso colocaria em serio riscos o direito do
requerente pode o juiz não ouvir o requerido.
Há, ainda, providencias especificadas que dizem expressamente que o requerido não
pode ser ouvido, como o caso do arresto

Art. 376º/3 – Não há princípio do pedido: o juiz tem liberdade param se a parte pedir um
arresto, decretar uma providencia comum

Art. 368º/3 – Se a parte pedir uma providência, mas o juiz achar que é suficiente
ordenar o requerido a pagar uma caução, pode substituir a providência por uma caução

As providências têm como característica essencial a instrumentalidade:


a) Instrumentalidade funcional – a providência é instrumental da acção principal, ou
seja, a finalidade da providência cautelar é sempre a de assegurar que a acção
principal ainda tem utilidade e, portanto, que o direito que está a ser invocado na
acção principal ainda pode ser efectivado, sem estar demasiado lesionado na altura;
as providências estão finalisticamente orientadas para a garantia da utilidade da
acção principal; assim, as providências têm 3 funções:
a. Função de garantia – garantia do património, para depois o direito de crédito
ainda se poder exercer (arresto)
b. Função de antecipação – aquilo que vai ser dado na acção principal, começa
a dado antes de esta ter terminado (alimentação provisoria)
c. Função de regulação provisória – o tribunal não dá exactamente aquilo que
as partes queriam, mas cria uma situação intermédia entre aquilo que o
autor quer e aquilo que o reu quer, que serve para assegurar o direito
durante aquele tempo
b) Instrumentalidade hipotética – a providência cautelar está sempre na dependência
de uma acção principal, e a sua eficácia depende da procedência ou não desta. Se o
juiz decretar a providência cautelar e, depois o juiz da acção principal considerar
que afinal o requerente não tinha esse direito, a providência extingue-se por
caducidade.
O juiz quando faz a ponderação de decretar ou não a providência, fá-lo explicita ou
implicitamente a pensar se a acção principal vai proceder ou não. O juiz, quando
está a decretar a providência, está a fazer um juízo hipotético daquilo que poderá
acontecer na acção principal.
Fala-se numa instrumentalidade hipotética porque está dependente do próprio
resultado da acção principal.
Art. 364º/4 – Nada do que o juiz faz na providência cautelar pode influenciar o juiz na
acção principal.
Na logica do processo comum, o juiz apenas tem conhecimento do processo no final
dos articulados, sendo o reu oficiosamente citado pela secretaria. Mas existem
excepções em que, a secretaria logo depois de receber a PI 226º/4, a mostra ao juiz.
Estas situações vêm consagradas neste artigo, sendo as providências cautelares uma
delas. Aqui, a citação do requerido depende de prévia autorização do juiz.

Assim, a secretaria recebe o requerimento para a declaração da providência e mostra


ao juiz, que pode fazer uma de 3 coisas:
a) Dizer que não, terminando logo o processo, existindo um indeferimento liminar
do requerimento da providencia cautelar
b) Julgar que, de facto, vale a pena conhecer do processo em causa, mas considera
que aquele caso não é a excepção presente no 366º/1 e, portanto, deve-se ouvir
o requerido, mandando citar o réu
c) Juiz considera que a providência deve ser decretada sem audiência do requerido
– despacho de decretamento da providência cautelar e, no próprio despacho,
fixa-se o prazo para o requerido, já depois de a providência ser decretada, se vir
pronunciar

Inversão do Contencioso: a providência cautelar definitiva tem lugar só por si. O que
inverte é o ónus de propor a acção principal, depois de ter sido decretada a providência
cautelar.
A acção principal pode ser proposta, mas pelo requerido. Portanto, havendo inversão
do contencioso, o autor é o requerido.
Requisitos:
a) Tem de ser requerido pela parte, art. 369º/2
b) O juiz tem de estar convencido, nos mesmos termos em que tem se estar
convencido na acção principal.
Primeiro, o juiz declara a providência cautelar. Depois, se estiver realmente
convencido, declara a inversão do contencioso.
Exige então, este requisito, que tenhamos passado a fase da mera justificação e
do fomus bonus iruris, e estejamos na parte da prova strictu sensu e no
convencimento de que o direito existiu.
c) Natureza da providência cautelar – só se pode falar em inversão do contencioso
quando a providencia decretada corresponda exactamente àquilo que o autor
quer obter na acção principal.
Diz-nos o artigo 376º/4, acerca das providências especificadas, aquelas em que
se pode verificar a inversão.
d) Para MTS só se pode decretar a inversão nas situações em que a providência foi
requerida antes da acção principal;
Se há uma dispensa do requerente de propor a acção principal, não faz sentido
estar a ser dispensado de algo que já ocorreu
Quando o requerido toma a opção de propor a acção principal, que tipo de acção é?
MTS diz que esta acção se pode configurar de 2 maneiras:
1. O requerido propõe a acção principal e nessa acção pede a impugnação da
decisão que foi tomada em se de providência cautelar. Aqui, a causa de pedir da
impugnação é dizer que os fundamentos em que o juiz fundou a sua decisão, de
considerar que o direito do requerente existe, estão errados; trata-se de uma
acção de simples apreciação negativa – compete ao réu provar os factos
constitutivos do direito que se arroga, art. 343º - na maioria das vezes, recorre-
se a esta
2. O requerido propõe uma segunda acção normal (simples apreciação,
condenação ou constitutiva), mas que em si mesma seja incompatível com
aquilo que foi decidido na providência cautelar. Se a acção do requerido
proceder, então, indirectamente, ataca a providência cautelar decretada –
nesta, compete ao autor demonstrar os factos constitutivos do seu direito

*Principio da preclusão
Se o requerido na providência cautelar não invocar algum facto modificativo, extintivo
ou impeditivo só direito do autor, pode depois vir a invoca-lo na acção principal? Depois
de ter sido invertido o contencioso?
MTS – sim! Não opera a preclusão entre a providência e a acção principal, mesmo que
tenha sido decretada inversão do contencioso. Por isso é que, muitas vezes, há motivo
de facto, para o requerido propor a acção principal, como autor, podendo logo invocar
na PI um facto extintivo, modificativo ou impeditivo do direito em causa. Isto fará
sentido na medida em que o requerido não tem o mesmo tempo para se defender na
providência que o réu tem numa acção principal.

Art. 369º/2 – O requerente apresentou o requerimento. O juiz leu-o e decidiu decretar


imediatamente a providência, sendo então o requerido só ouvido depois deste
momento. Há casos em que, tanto a inversão do contencioso como o decretamento da
providência, já foram feitos sem a audiência do requerido. O que nos diz este artigo é
que o ré-requerido se quiser pode defender-se das 2 ao mesmo tempo.
A justificação para esta violação do princípio do contraditório ao não ser ouvido o réu é
o facto de ser rápido e provisório. É provisório porque, apesar de haver uma inversão
do contencioso, o requerido poderá sempre propor uma acção principal que serve para
caducar e impugnar a decisão tomada na providência.

Providências cautelares especiais


1. Providência cautelar comum ou não especificada
2. Providências cautelares especificadas, art. 362º/3, 377º-409º

Providências cautelares de garantia


a) Arresto – emprega-se quando o credor tenha um justo receio de perder a garantia
patrimonial do seu crédito, por dissipação ou ocultação de bens por parte do
devedor. Tem um contraditório diferido, sendo primeiro o arresto decretado e só
depois ouvido o requerido (o efeito surpresa é importante para impedir que,
eventualmente, o requerido mude os bens de nome, local, etc.). Tem como efeito
principal a colocação de bens suficientes para satisfazer a divida.
b) Arrolamento – havendo justo receio de extravio, ocultação ou dissipação de bens,
moveis ou imoveis, ou de documentos, pode requerer-se um arrolamento. De
acordo com o art. 403º/2, o arrolamento é a dependência da acção à qual interessa
a especificação dos bens ou a prova da titularidade dos direitos relativamente às
coisas arroladas
Distinção entre arresto e arrolamento:
No arresto, o que interessa é a satisfação do crédito.
Ex: A deve a B 100 €. Para A pagar a B, pede o arresto dos seus relógios de ouro. Mas B
não quer os relógios nem iriam satisfazer o crédito. Os relógios ficam bloqueados para,
quando terminar a acção declarativa (na qual B pede o cumprimento da obrigação
pecuniária), o arresto converte-se em penhora, vendem-se os bens penhorados e o
dinheiro vai para B. portanto, aquilo que acontece no arresto é, os bens ficam
bloqueados, para quando o autor tiver um título executivo, penhorar os bens e
satisfazer o crédito com o dinheiro daí resultante. O bem é a forma de receber o
dinheiro e a dependência da acção principal é sempre relativa ao cumprimento de uma
obrigação
O arrolamento é uma providência cautelar que é sempre pedida na dependência da
acção principal, em que o autor pede os bens. Nesta, o autor pode pedir para os bens
lhe serem entregues ou pedir simplesmente para ser reconhecida a sua titularidade
sobre eles. Mas aquilo que o autor está sempre a tentar fazer valer na acção principal é
o direito ao bem.
c) Restituição provisória da posse – no caso de haver esbulho violento, o possuidor
pode pedir que seja restituída provisoriamente a sua posse, cabendo-lhe alegar os
factos que constituem a posse, o esbulho e a violência. É igualmente decretado
antes de haver o direito ao contraditório.

Providências cautelares de regulação provisória


d) Suspensão de deliberações sociais – se uma associação ou sociedade, seja qual for a
sua espécie, tomar deliberações contrárias à lei, aos estatutos ou ao contrato,
qualquer um dos sócios pode requerer no prazo de 10 dias que a execução dessas
deliberações seja suspensa, justificando a qualidade de socio e demonstrando que
essa execução pode dano apreciável
e) Embargo de obra nova – aquele que se julga ofendido no seu direito de propriedade,
singular ou comum, em qualquer outro direito real ou pessoal de todo, ou na sua
posse, em consequência de obra, trabalho ou serviço novo que lhe cause ou ameace
causar prejuízo, pode requerer, no prazo previsto, a sua suspensão.

Providências cautelares de caracter antecipatório


f) Alimentos provisórios – o titular do direito pode requerer a fixação da quantia
mensal que deva receber a título de alimentos provisórios, enquanto não houver
pagamento da primeira prestação definitiva
g) Arbitramento de reparação provisória

Aplica-se o regime especial de cada capitulo e subsidiariamente o regime geral.


Excepções: está presente no art. 376º/1, 1ª parte, que nos diz que há a excepção nos
casos previstos no art. 368º/2, referente à regra da proporcionalidade. Por isso é que
nos requisitos para se declarar a providência referimos que a proporcionalidade está
sempre nas providências comuns, e nas especificadas que o digam expressamente,
porque onde não se diga nada, este princípio não se aplica subsidariamente.

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