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promovendo maior desgaste.

Embora a campana não esteja em contato com o


Texto destinado ao Festival Cordas Ágio 2019 – por Rodrigo corpo, pode ter sua oxidação acelerada pela a água proveniente da condensação.
Santos
A volta de afinação deve estar justa para que na exista vazamento. Dependendo
Cuide do seu Instrumento do ajuste dessa peça, o trombonista deve utilizar um óleo especial (o mesmo
O trombone é um instrumento telescópico de metal de simples manutenção, utilizado para pistos e válvulas) ou o próprio creme utilizado para lubrificação da
composto das seguintes partes: campana, volta de afinação, “vara” e bocal. A “vara”.
campana é a parte do instrumento que amplifica e projeta a sonoridade
produzida pela boca do instrumentista. A “vara”, é um sistema telescópico que A “vara” é a parte móvel do instrumento. Sua parte interna, banhada por uma
possibilita a alteração das notas. cobertura metálica especial (cromo duro) deve ser bem cuidada, pois qualquer
problema nesta superfície pode condenar o instrumento. A melhor lubrificação
desta parte é realizada com creme, ou lubrificantes específicos. A associação
deste com água permite melhor resultado que com óleo. Alguns cremes
existentes no mercado atualmente são: trombotine®, superslick® e slide o mix®.

Após escolher seu creme, lubrifique a parte interna da “vara” do seguinte modo:
- aplique pequenas quantidades de creme na chamada bucha da “vara” (a porção
final da vara, geralmente de maior diâmetro);
- borrife água em toda a parte interna da “vara”;
- em seguida, insira cada um dos tubos da parte externa individualmente, até que
A volta de afinação é uma curva móvel localizada no fim da campana e permite o creme esteja uniformemente espalhado;
que seja possível o ajuste fino da afinação geral do instrumento.
- faça uma última aplicação de água antes de montar a “vara” completamente;
O bocal é a interface músico/instrumento. Por estar em contato direto com a
boca do trombonista, se torna de uso pessoal, tanto pela anatomia e adaptação Logo após a aplicação do creme a “vara” pode se tornar levemente lenta, por isso
do músico quanto pela higiene pessoal. A escolha desta parte é fundamental, pois tenha o borrifador de água à mão.
pode influenciar na sonoridade, afinação e conforto do músico.
A parte externa da “vara” não exige nenhum cuidado especial, exceto uma
Após esta breve apresentação sobre o instrumento você deve saber como agir limpeza simples com uma flanela. No entanto deve ser observado que por ser
para que o trombone tenha máxima duração. uma parte móvel e sem limitação de movimento, existe o risco de que esta parte
se desloque do instrumento e sofra algum choque. Por isso, atenção para a sua
Primeiramente passe sempre uma flanela macia nos pontos de contato do corpo movimentação, pois qualquer pequeno amassado nesta parte pode prejudicar o
com o metal do trombone, além da campana. Isso porque as substancias funcionamento do instrumento.
excretadas na transpiração acelera o processo de oxidação do metal,

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O bocal, por ser a parte de contato direto com a boca, exige cuidados contínuos Para este guia sugerirei um exercício respiratório para trabalhar os movimentos
com a higiene. Tenha sempre um aspersor (spray) de água para que após o do tórax. Visando a automatização e a ampliação do movimento respiratório,
término do uso facilite a limpeza. Crie o hábito de limpeza cuidadosa do bocal. O recomendo o uso de aparelhos de incentivo respiratório. Um destes, o breath
creme dental e uma escova específica podem ser importantes aliados para isso. builder®, pode ser imitado com um tubo de catchup, basta apenas cortar seu bico
pela metade, furar a tampa para deixar o ar escapar e inserir uma bola de tênis de
Rotina de Estudo mesa, para observar o volume de ar. O objetivo de se trabalhar com tal
Assim como um atleta, o trombonista deve preparar e exercitar seu corpo para dispositivo é utilizar a máxima capacidade de ar (sinalizado pela bola sempre
manter e ampliar suas capacidades físicas. Para isso, o trombonista deve agir de encostada na tampa furada) com o melhor movimento abdominal.
maneira criteriosa e consciente para que toda a energia empregada neste
momento seja convertida em resultados positivos. Sendo assim, embora haja Figura 1: Tampa do Dispositivo para Prática Respiratória
semelhança com os esportistas, a rotina de um trombonista deve considerar as
características fisiológicas dos lábios, para que não haja esforços extras. Por isso,
a rotina de estudos deve ser equilibrada, abrangendo tanto aspectos físicos
quanto mentais. A seguir abordarei três áreas que são base para a execução do
instrumento.

Respiração

O preparo da parte física tem como objetivo ativar o processo de respiração ideal
para a execução de um instrumento, além também a parte muscular
(embocadura, braços etc.). A respiração é o ato mais importante na prática
instrumental, pois desta provém a matéria prima do som, o movimento do ar. Realize uma série de exercícios baseado em suas reações físicas. Algumas pessoas
Para que o som seja agradável o processo de movimentação muscular da ficam tontas (reação normal) ao praticarem seguidamente uma respiração
respiração deve estar livre de qualquer tensão. profunda, como a exigida por estes dispositivos. Inicie uma prática com o
metrônomo em 70bpm e realize ciclos de um tempo. Assim que se sentir seguro
A respiração pode ser dividida em duas partes, inspiração e expiração. A primeira aumente progressivamente o tempo dos ciclos.
diz respeito a entrada de ar nos pulmões, que é dada pela máxima dilatação
muscular, em todas as direções possíveis (abdominal, peitoral e intercostal). A segunda maneira de se trabalhar os movimentos torácicos visa o controle da
Neste processo de inspiração uma imagem de se encher uma bexiga pode ajudar, expiração. Este tipo de trabalho é muito útil para os trombonistas, pois através o
pois esta se infla como um todo, semelhante ao que deve ocorrer com o corpo do controle do ar pode facilitar a realização de frases musicais cada vez maiores.
instrumentista. Na expiração o processo se inverte, sendo assim, o corpo deve ser Cabe aqui, no entanto, um alerta, pois a menor quantidade de ar expirada deve
esvaziado, basicamente pela retração dos músculos acionados anteriormente, estar equilibrada com a qualidade sonora, ou seja, com a melhor qualidade de
cuidando primordialmente da velocidade desse processo. vibração labial. Por isso, o volume de ar expelido estará condicionado à vibração
labial e a sonoridade do instrumento.

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Embocadura fundamental se encontrar um equilíbrio da relação entre a estrutura construída a
partir dos cantos da boca e o fluxo de ar.
O conhecimento sobre embocadura se refere a própria boca do instrumentista.
Devemos observar, no entanto, que sua formação é dada pela relação entre o Uma vez que se domine a vibração, o ato de tocar ficará mais preciso e será
fluxo de ar e o esforço necessário para se iniciar a vibração. Além dos lábios, possível se expressar melhor pelo instrumento. Por isso, realize exercícios
também influencia a embocadura, a abertura da arcada dentária. Obviamente, progressivamente, com notas longas em diferentes oitavas, para que ocorra o
essa oferece sustentação aos lábios, porém sua abertura permite uma livre ajustamento das sensações.
passagem de ar.
O SOM
Cuidados com a embocadura abrangem desde a sua formação, por exercícios
Após realizar a preparação anteriormente proposta, é fundamental que se confira
específicos, até a atenção com o trabalho, para evitar excessos. Para a
se o trabalho será convertido em sucesso ao trombone. Tendo em mente que
consolidação da embocadura recomendarei uma sequência simples que pode ser
todo estudo é pensado para desenvolver aspectos da prática, é fundamental que
feita desde o início em sua rotina.
se realize a transição para o instrumento.
Primeiramente, após realizar os exercícios de respiração, realize em frente a um
Minha sugestão é que se realize primeiramente o mesmo exercício utilizado para
espelho, o que chamarei de vibração labial livre. Um movimento brusco e sem
a construção da embocadura (a repetição de notas longas com playback),
compromisso com a afinação, utilizando o máximo fluxo de ar, com o objetivo
adicionando apenas a fase de colocar o bocal calmamente para iniciar a produção
apenas de “acordar” a musculatura.
sonora. Em seguida, pode-se também, como próximo passo, realizar a transição
Em seguida escolha uma nota de referência1, para iniciar exercícios de vibração para o instrumento, construindo-se assim, um exercício em três partes: Vibração
com afinação orientada. Como o exemplo a seguir: labial; vibração com o bocal; e produção sonora.

Figura 2: Extrato de David Vining Daily Routines for the Young Após se produzir os primeiros sons é necessário ampliar o escopo. Sugiro que isso
Trombonist seja feito por meio de uma escala lenta descendente iniciando no fá ou uma
escala ascendente iniciando em Sib (grave), pois essas são base da sonoridade do
trombone. (Figura 3)

Figura 3: Trecho de uma escala cromática de M. Davis

Ao se iniciar na prática da vibração labial com afinação orientada deve-se


observar cuidadosamente a aplicação da respiração trabalhada anteriormente.
Além disso, deve-se observar como estão os esforços nos lábios, pois é

1
Como nota de referência se recomenda estudar acompanhado de um colega, de uma Fonte: Michael Davis 15 minutes Warm Up
nota pedal gravada, ou ainda, um playback elaborado para o exercício em questão.

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Uma vez realizada as escalas, sugiro que o próximo passo seja para a flexibilidade, Figura 5: Articulação
pois a ideia de se manter o fluxo de ar constante continuaria a ser trabalhada.
Para se tocar confortavelmente esse aspecto técnico do trombone, deve-se
alcançar uma boa consciência sobre o fluxo de ar e o movimento da boca,
encontrando-se um equilíbrio para cada nota. Sugiro também que para esses
exercícios seja utilizado o esquema estabelecido anteriormente: vibração labial;
vibração com bocal; e produção sonora.

Como em todos os exercícios sugeridos aqui, é fundamental que se inicie sua


realização lentamente, com o objetivo de se construir e se conscientizar sobre o
trabalho do corpo para uma boa sonoridade. Entre os exercícios para isso está: Fonte: Michael Davis 15 minutes Warm Up

Figura 4: Flexibilidade com semínimas CONCLUSÃO


Finalizo esse texto apenas com algumas dicas:
- ESTUDE ORGANIZADA E METODOLOGICAMENTE;
- BUSQUE ULTRAPASSAR SEUS LIMITES PASSO A PASSO, RESPEITANDO SUA
FISIOLOGIA;
- NÃO SE LIMITE APENAS A REPETIÇÃO MECANICA NO INSTRUMENTO. AMPLIE
SEU CAPITAL CULTURAL, OUVINDO E LENDO A RESPEITO DE DIVERSOS ESTILOS
MUSICAIS (ENTRE OUTROS ASSUNTOS);
- CUIDE E RESPEITE O SEU INSTRUMENTO, BUSCANDO SEMPRE O MELHOR.

Trombonistas clássicos Música popular Rotinas Famosas


Christian Lindberg Fred Wesley Branimir Slokar
Ian Bousfield J.J. Johnson Emory Remington
Fonte: Michael Davis 15 minutes Warm Up
Jim Markey Vitor Santos Joseph (Joe) Alessi
DESENVOLVIMENTO TÉCNICO José Milton Vieira Wycliffe Gordon Michael Davis
Joseph (Joe) Alessi Zé da Velha
Chamo aqui de desenvolvimento técnico o momento após a preparação
anteriormente descrita e o início do trabalho de repetição e aumento da
velocidade (e complexidade) dos exercícios práticos. Existem inúmeras formas de
se estudar isso, que também varia de acordo com os objetivos individuais. Aqui
apenas incluo mais um dos exercícios do método utilizado até o momento, mas
certamente esse texto é apenas um pequeno exemplo de uma rotina de estudos
do trombone.
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