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Aula 01 – Curso Lei 8.

112/90

Sumário

Agentes públicos – aspectos gerais


1. Conceito e classificação
1.1 Agentes políticos
1.2 Servidores estatais ou servidores públicos em sentido amplo
1.2.1 Servidores Públicos em sentido estrito ou servidores
estatutários
1.2.2 Empregados públicos
1.2.3 Servidores temporários
1.3 Militares
1.4 Particulares em colaboração com o poder público
2. Qual a diferença entre cargo público, emprego público e função
pública?
3. Quem pode exercer função de confiança e cargo em comissão?
4. Qual a responsabilidade dos agentes políticos e dos demais agentes
públicos?
5. Questões

Agentes públicos – aspectos gerais

Antes de dar início ao estudo da Lei 8.112, é conveniente analisar


alguns conceitos fundamentais que servirão de base para o seu entendimento.
Este conteúdo aborda o tema “Agentes Públicos”, sobretudo nos aspectos
trazidos pela doutrina e pela Constituição Federal.

1. Conceito e classificação

Segundo Matheus Carvalho1, agente público é uma expressão ampla que


abrange qualquer pessoa que age em nome do Estado, independentemente de
vínculo jurídico, mesmo que atue de forma transitória e sem remuneração.

Nesse sentido, podemos classificar os agentes públicos em quatro


espécies, a saber:

a) Agentes políticos;
b) Servidores públicos em sentido amplo ou agentes estatais;

1
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P. 733
c) Militares;
d) Particulares em colaboração com o poder público.

Feita a classificação, passemos doravante a tecer algumas considerações


sobre cada uma das espécies de agentes públicos.

1.1 Agentes Políticos

Agentes políticos são aqueles que atuam na função política de Estado,


isto é, são os detentores de mandato eletivo (presidente, governadores,
prefeitos, deputados federais e estaduais, vereadores), bem como os auxiliares
do poder executivo (ministros de Estado, no âmbito do executivo federal;
secretários, no âmbito dos Estados e Municípios).

Apesar de haver uma discussão doutrinária a respeito dos membros da


Magistratura e do Ministério Público, o entendimento majoritário é de que
ambos também são agentes políticos, uma vez que atuam no exercício de
funções essenciais ao Estado e praticam atos inerentes à soberania deste 2.

1.2 Servidores estatais ou servidores públicos em sentido amplo

Também chamados de Agentes Administrativos, os servidores estatais


são aqueles que possuem um vínculo com o Estado de natureza legal ou
contratual no exercício da função administrativa.

Esses servidores podem ser subdivididos em temporários, servidores


públicos em sentido estrito ou empregados públicos. Analisemos cada uma
dessas subdivisões.

1.2.1 Servidores Públicos em sentido estrito ou servidores estatutários

São aqueles que possuem um vínculo com a administração pública de


natureza legal, através de um estatuto ou lei que, no âmbito federal, é a Lei
8.112/90 (Estatuto dos servidores civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais).

2
Ibidem, p. 736.
Esses servidores são ocupantes de cargos públicos 3, que podem ser
classificados, quanto à garantia conferida ao ocupante, em vitalícios, efetivos
ou em comissão.

Cargo em comissão, segundo Matheus Carvalho, “é a unidade indivisível


de atribuições, prevista na estrutura organizacional do Estado, para execução
de atribuições de direção, chefia ou assessoramento, ou seja, funções que
exigem a confiança direta e pessoal da autoridade pública.” Em razão disso,
esses cargos podem ser preenchidos por quaisquer pessoas, sejam
particulares ou agentes pertencentes à administração pública, mediante livre
nomeação, sem necessidade de prestação de concurso público ou qualquer
tipo de seleção4.

Já o cargo efetivo é aquele preenchido pelo agente aprovado em


concurso público de provas ou de provas e títulos, possuindo vínculo
estatutário. Esses agentes são submetidos a um estágio probatório (avaliação
especial de desempenho) que, se aprovados e depois de cumpridos os
requisitos do art. 41 da Constituição5, adquirem a estabilidade.

Os servidores estáveis só perdem seu vínculo com a administração nas


hipóteses do art. 41, parágrafo primeiro6, a saber, mediante processo
administrativo em que se assegure ampla defesa 7, avaliação periódica de
desempenho em que se verificou sua ineficiência8, sentença judicial transitada

3
Segundo o art. 3º da Lei 8.112/90, cargo público consiste no conjunto de atribuições e
responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor.
4
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P.755.
5
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de
provimento efetivo em virtude de concurso público. [...]
6
Art. 41. [...] § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998) I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - mediante processo administrativo em que lhe seja
assegurada ampla defesa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) III - mediante
procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla
defesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
7
O contraditório é o direito que acusado possui de apresentar a sua versão dos fatos, sua defesa no
processo. Já a ampla defesa é a garantia de que o acusado poderá se utilizar de todos os meios de
provas admitidos em direito. Essas garantias estão previstas no art. 5º, LV da CF/88:
Art. 5º [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
8
O servidor é periodicamente avaliado em relação às suas funções, ocasião em que se observa a
aplicação do princípio da eficiência (art. 37, caput, CF/88). Caso seja um servidor ineficiente, poderá vir a
ser exonerado de seu cargo.
em julgado9, ou ainda em razão de procedimento específico de contenção de
despesas, conforme o disposto no art. 169 da Constituição 10, ocasião esta em
que o servidor é exonerado11.

Ressalte-se ainda que os servidores públicos recebem remuneração ou


subsídio (valor em parcela única).

Por fim, os cargos vitalícios são ocupados por algumas categorias de


servidores que exercem atividades de grande responsabilidade que, em razão
disso, necessitam de uma maior garantia, sob pena de sofrerem pressões
políticas no exercício de suas funções.

Podem ser vitalícios, segundo a Constituição Federal, os magistrados 12,


os membros do ministério público13, bem como os membros dos tribunais de

9
É a sentença da qual não se cabe mais recurso.
10
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. (Redação dada pela pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
[...]
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei
complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as
seguintes providências: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de
confiança; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
II - exoneração dos servidores não estáveis. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o
cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá
perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade
funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
§ 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo anterior fará jus a indenização
correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será considerado extinto, vedada a
criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro
anos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
11
Frise-se que o servidor, nesta hipótese, é exonerado e não demitido. A demissão é uma sanção ao
servidor que cometeu uma infração prevista em lei, passível de demissão. Já a exoneração não constitui
sanção prevista em lei, mas acontece nas hipóteses previstas na CF/88 como condição de perda do
cargo.
12
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a
perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais
casos, de sentença judicial transitada em julgado;
[...]
contas14. Vale a pena ressaltar que a perda do cargo vitalício somente se dará
por sentença judicial transitada em julgado.

1.2.2 Empregados públicos

Empregados públicos são aqueles agentes públicos que possuem vínculo


contratual permanente com a administração pública, isto é, enquanto o vínculo
dos servidores públicos em sentido estrito ou estatutários se dá por meio de
uma lei, os empregados vinculam-se por meio de um contrato de emprego (por
prazo indeterminado) regido pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,
sendo, por isso, também chamados celetistas.

Os empregados públicos são contratados pelas entidades públicas de


direito privado, como as empresas públicas (ex.: Caixa Econômica Federal),
sociedades de economia mista (ex.: Petrobras) ou fundações públicas regidas
pelo direito privado.

Vale a pena ressaltar que, apesar de possuírem vínculo contratual e


serem regidos pela CLT, os empregados públicos submetem-se à prestação de
concurso público15 e ao teto remuneratório previsto no art. 37, XI e parágrafo 9º
da CF/8816, este último no caso de receberem recursos públicos para o custeio
de pessoal e despesas gerais.

13
Art. 128 [...]
§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial
transitada em julgado;
14
Art. 73 [...]
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas,
impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-
lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
15
Art. 37 [...] II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso
público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei
de livre nomeação e exoneração;
16
Art. 37 [...]
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração
direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
1.2.3 Servidores temporários

São aqueles contratados, em caráter excepcional, para atender


necessidades temporárias dos órgãos públicos, conforme dispõe o art. 37, IX
da CF/88:

Art. 37 [...] IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo


determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público;

É o caso dos servidores contratados pelo IBGE para a atividade de


recenciamento da população. Tratando-se de uma atividade temporária, não há
necessidade da manutenção de servidores permanentes. Esses servidores não
se submetem à prestação de concurso público, bastando que realizem
procedimento seletivo simplificado.

1.3 Militares

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro17, militares “abrangem as pessoas


físicas que prestam serviços às Forças Armadas – Marinha, Exército e
Aeronáutica [...], e às Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares dos
Estados, Distrito Federal e dos Territórios[...], com vínculo estatutário sujeito a
regime jurídico próprio, mediante remuneração paga pelos cofres públicos.”[...].

São estatutários, uma vez que possuem regime estabelecido por lei. No
entanto, seu regime não se submete às regras da Lei 8.112/90, mas às de
legislação própria dos militares, a qual estabelece normas de ingresso, limites

Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e
os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas
as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o
subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no
âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
aos Defensores Públicos;
Art. 37 [...]
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às sociedades de economia mista, e suas
subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios
para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 19, de 1998)
17
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 27 ed., 2014. P. 603.
de idade, estabilidade, transferência para inatividade, direitos, deveres,
remuneração, prerrogativas (art.42, §1º, e 142, §3º,X, da Constituição). 18

1.4 Particulares em colaboração com o poder público

Segundo Matheus Carvalho19, são aqueles que, sem perderem a


qualidade de particulares, atuam em nome do Estado, em situações
excepcionais, mesmo em caráter temporário ou ocasional, exercendo função
pública, independentemente do vínculo jurídico estabelecido. Estes agentes
podem ser subdivididos em particulares delegados, honoríficos e gestores de
negócios.20

Agentes delegados são aqueles que atuam na prestação de serviços


públicos por meio de delegação do Estado. Podemos citar, por exemplo, os
titulares de serventias de cartórios, os quais recebem delegação do serviço
notarial, depois de aprovados em concurso público. Também são exemplos de
delegatários, segundo a doutrina majoritária, os agentes das concessionárias e
permissionárias de serviços públicos. 21, bem como os autorizatários.22

Agentes honoríficos (também conhecidos como designados) são todos


aqueles que atuam em razão de convocação do poder público. Esses agentes
exercem múnus público, sendo obrigados a participar, quando requisitados,
sob pena de sanção. É o caso dos mesários que atuam no dia das eleições, os
jurados que atuam no júri popular, assim como os conscritos, que são os
particulares convocados para prestação do serviço militar obrigatório. 23

18
Ibidem, p. 603.
19
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P. 737
20
Registre-se que esta não é a única classificação trazida pela doutrina.
21
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P.738.
22
Tanto a concessão como a permissão de serviços públicos se dá por meio de contrato administrativo.
Já a autorização é feita por ato administrativo precário, o qual pode ser revogado a qualquer momento
pela administração em razão de critérios de conveniência e oportunidade. Parte da doutrina entende
não ser possível a autorização de serviço público (nesse sentido, ver CARVALHO, Matheus – Manual de
Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P. 645).
23
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P.738.
Por fim, os gestores de negócios são aqueles que, espontaneamente,
assumem determinada função pública em momento de emergência, como, por
exemplo, em casos de epidemia, incêndio, enchente etc.24

2. Qual a diferença entre cargo público, emprego público e função


pública?

Emprego público designa o vínculo, de natureza trabalhista, entre o


Estado e o agente o qual, neste caso, é chamado empregado público. Esse
vínculo, como salientamos, dá-se por meio de um contrato de emprego, regido
pela CLT.

Cargo público, por sua vez, é o vínculo de natureza legal estabelecido


entre o Estado e o agente o qual, neste caso, é chamado servidor público.
Essa lei também é chamada de estatuto que, no âmbito Federal, é a Lei
8.112/90.

Já a função pública é o conjunto de atividades atribuídas a um cargo ou


emprego público. Todo cargo ou emprego público deve ter função estipulada
por lei, que corresponde à tarefas a serem realizadas pelo servidor público ou
empregado público.25

3. Quem pode exercer função de confiança e cargo em comissão?

Antes de responder a esta pergunta, é preciso esclarecer que todo cargo


público possui função pública, porém nem toda função pública possui cargo.
Ou seja, dentro da estrutura da Administração Pública podem ser criadas, por
meio de lei, “funções sem cargo”, destinadas ao exercício de atividades de
direção, chefia e assessoramento. Estas funções são denominadas funções
de confiança.26

Para que uma função possa ser exercida por um agente, é preciso que
esse agente possua um cargo. Decorre, portanto, que as funções de confiança

24
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 27 ed., 2014. P.604.
25
CARVALHO, Matheus – Manual de Direito Administrativo. Salvador: JusPODIVM, 3ª ed. 2016. P. 756.
26
Ibidem, p. 756.
só podem ser exercidas por servidores públicos, uma vez que possuem cargos
públicos.

Por sua vez, cargo em comissão (ou cargo de confiança) é um cargo em


que lhe foi atribuída uma função, a saber, de direção, chefia e assessoramento.
Como se trata de um cargo com uma função (pois todo cargo tem função), este
pode ser exercido por quem não possua cargo, ou seja, por qualquer pessoa,
seja particular ou servidor efetivo. Os que ocupam cargo em comissão são
chamados comissionados.27

No caso dos servidores efetivos que possuem cargo em comissão seria


como se um único agente possuísse um cargo efetivo mais um cargo em
comissão, ou seja, dois cargos para um único agente. Nestes casos, o servidor
deixa o cargo efetivo, sem o deixar vago (isto é, o cargo fica à disposição do
servidor quando ele deixar o cargo comissionado), passando a exercer o cargo
em comissão (de direção, chefia ou assessoramento), sendo remunerado
somente pelo cargo em comissão. 28

Em resumo, as funções de confiança só podem ser exercidas por


servidores efetivos. Já os cargos em comissão podem ser exercidos tanto por
servidores quanto por particulares, conforme se depreende do art. 37, V da
CF/88:

Art. 37 [...]
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por
servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão,
a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos,
condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se
apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

Como se pode perceber, a Constituição dispõe sobre um percentual


mínimo de cargos em comissão, que será previsto em lei, a serem preenchidos
por servidores efetivos. Note-se que, preenchido o percentual mínimo por
servidores de carreira, os demais cargos em comissão podem ser preenchidos
por qualquer pessoa, nos termos da Constituição.

27
Ibidem, p. 757.
28
Ibidem, p. 757.
4. Qual a responsabilidade dos agentes políticos e dos demais agentes
públicos?

Em regra, os agentes públicos submetem-se à Lei 8.429/92 – Lei de


improbidade administrativa – sendo essa a forma de sua responsabilização,
segundo os arts 1º e 2º desta lei:

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente


público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
na forma desta lei.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os
atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que
receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de
órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento
do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a
sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos
cofres públicos.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função
nas entidades mencionadas no artigo anterior.

No entanto, alguns agentes políticos, por força da Constituição Federal,


respondem por crime de responsabilidade, não se sujeitando à lei de
improbidade administrativa, sob pena de se configurar bis in idem (duas
penas). Esse é o entendimento do STF e STJ explicado por Matheus
Carvalho29:

[...] No entanto, em decisões recentes o Supremo Tribunal federal


vem firmando o entendimento de que os agentes políticos que
respondem por crime de responsabilidade, nos moldes previstos na
Carta Magna, não estão sujeitos à Lei de improbidade. Isso porque o
crime de responsabilidade estipula sanções de natureza civil e seria
bis in idem admitir as duas punições.
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, nas reclamações 2790 e
2115 tem reafirmado o seu posicionamento de que, excetuada a
hipótese de atos de improbidade praticados pelo presidente da
República e Ministros de Estado em crimes conexos com este, não
há norma alguma que proíba que os agentes políticos respondam por
crimes de responsabilidades e por atos de improbidade.[...]

29
Ibidem, p. 937.
Portanto, o entendimento atual é de que com exceção dos crimes de
responsabilidade cometidos pelo Presidente da República e Ministros de
Estado em crimes conexos com os do Presidente, os demais agentes públicos
respondem por improbidade administrativa.30
5. Questões
1) (Ano: 2015; Banca: FCC; Órgão: DPE-RR; Prova: Técnico em Contabilidade)
A expressão agentes públicos é bastante abrangente, compreendendo
categorias sujeitas a distintos regimes jurídicos. Dentre as várias espécies de
agentes públicos inserem-se os servidores públicos estatutários,
a) que ocupam cargos públicos e os empregados públicos, cujo vínculo é
pautado na legislação trabalhista, excluindo-se os servidores temporários,
porque não podem se vincular definitivamente à Administração Pública.
b) que ocupam cargos públicos, os empregados públicos, cujo vínculo é
pautado na legislação trabalhista e os servidores temporários, contratados por
tempo determinado, para atender a necessidades temporárias de excepcional
interesse público.
c) celetistas e temporários e os agentes políticos, excluindo-se os particulares
em colaboração com o Poder Público, por não manterem com o Poder Público
vínculo empregatício.
d) que ocupam cargos públicos e os servidores temporários, contratados por
tempo determinado, excluindo-se os empregados públicos, por não se
submeterem a concurso público.
e) celetistas e temporários e os particulares em colaboração com o Poder
Público, excluindo-se os agentes políticos, porque foram investidos por eleição
nos respectivos cargos.

30
Da mesma forma, explica José dos Santos Carvalho (Filho, Carvalho, José dos Santos . Manual de
Direito Administrativo, 29ª edição. Atlas, 09/2015. VitalSource Bookshelf Online. p.1120-1121: [...]

, aplicando-se-lhes apenas a
Lei no 1.079/1950.469 Em ou de
r -administrati . [...]

relacionados entre os que podem praticar crimes -

-lo qualquer ato


infraconstitucional, inclusive a lei.[...]
2) (Ano: 2015; Banca: FCC; Órgão: CNMP; Prova: Técnico do CNMP –
Administração) Corresponde à espécie agente político:
a) Agentes Comunitários de Saúde.
b) Mesário da Justiça Eleitoral.
c) Dirigentes de empresas estatais.
d) Membros do Conselho Tutelar.
e) Membros do Ministério Público.

3) (Ano: 2015; Banca: FCC; Órgão: TRT - 15ª Região; Prova: Juiz do Trabalho
Substituto) O conceito de agente político:
a) alcança apenas os detentores de mandato eletivo, inclusive os membros do
Poder Executivo.
b) corresponde àqueles que não detêm vínculo jurídico com a Administração,
mas exercem atividade pública.
c) compreende as pessoas que exercem atividades típicas de governo, entre
as quais os Chefes do Poderes Executivo, os Ministros e Secretários de
Estado.
d) diz respeito apenas aos detentores de mandato eletivo no âmbito do Poder
Legislativo.
e) é espécie do gênero agente público, diferenciando-se do conceito de
servidor público em face apenas do caráter temporário da investidura perante a
Administração.

4) (Ano: 2013; Banca: FCC; Órgão: TRT - 9ª REGIÃO (PR); Prova: Analista
Judiciário – Medicina) A Constituição Federal brasileira determina, no inciso IX,
do artigo 37, que “a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.” Sobre esses servidores temporários contratados sem a realização de
concurso público, é correto afirmar que

a) podem ocupar emprego público quando exercerem suas atividades em


empresas públicas.
b) podem ocupar função pública ou emprego público, desde que nesse caso
seja prescindível a realização de concurso público.

c) ocupam função pública, para a qual não se exige concurso, inclusive em


razão da urgência da contratação.

d) ocupam emprego público, com as normas aplicáveis aos celetistas vigendo


pelo tempo que durar o contrato de trabalho, com exceção daquelas referentes
a extinção do vínculo.

e) podem ocupar cargo público transitório, não se estendendo a eles, no


entanto, as vantagens do regime estatutário.

5) (Ano: 2012; Banca: FCC; Órgão: TJ-RJ; Prova: Analista Judiciário -


Execução de Mandados) As pessoas que exercem atos por delegação do
Poder Público, tais como os serviços notariais e de registro podem ser
consideradas

a) servidores públicos estatutários, caso tenham prestado concurso público.

b) empregados públicos, desde que tenham prestado concurso público.

c) particulares em colaboração com o Poder Público, sem vínculo empregatício.

d) funcionários públicos lato sensu, na medida em que se submetem à


fiscalização do Poder Público.

e) agentes públicos estatutários, desde que recebam remuneração do Poder


Público.

Gabarito: 1) B; 2) E; 3) C; 4) C; 5) C

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