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RECORRENTE: IGOR BARBOSA MOTA BRANT
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Autos: 0231.17.020.908-5
1. DOS FATOS
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Em alegações finais, o Ministério Público, requereu a
condenação do processado nos termos da denúncia e majoração da pena
elevada a culpabilidade, haja vista a grande quantidade de munição que o réu
portava.
A defesa, por sua vez, pugnou pela fixação da pena abaixo
do mínimo legal e em regime aberto; a substituição da pena corporal por PRD;
Seja concedido ao réu o direito de recorrer em liberdade. Ao final, pugnou pela
isenção das custas, tendo em vista a situação de hipossuficiência constatada.
O douto magistrado julgou procedente as acusações feitas
ao recorrente, momento em que lhe foi aplicada a pena de 03 (três) anos de
reclusão e 10 dias multa, que foi substituída por duas penas restritivas de direito.
Foi-lhe concedido o direito de recorrer em liberdade.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
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Assim como nos demais ramos, no Direito Penal vige o
princípio da legalidade (art. 5°, II, CR/88) que, dentre algumas implicações,
impossibilita a utilização da interpretação extensiva e analógica em prejuízo do
recorrente.
Os artigos 65 e 68, ambos do Código Penal não vedam a
incidência das atenuantes quando a pena base for fixada no mínimo legal, não
cabendo ao interprete adotar interpretação em prejuízo do recorrente, sob pena
de afronta ao princípio da legalidade.
Se assim o fosse o correto, também não se poderia aplicar
as causas de diminuição de pena, pois a pena também ficaria abaixo daquela
fixada como mínima pelo legislador.
Por outro lado, a negativa de aplicação das atenuantes,
além de violar o princípio da legalidade, afronta, de maneira direta, o princípio
constitucional da individualização das penas, tanto no seu aspecto legislativo
quanto judicial.
Oportuno mencionar, na oportunidade, as lições de
Rogério Greco:
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Cezar Roberto Bitencourt explica a origem do
entendimento, demonstrando, atualmente, a sua ausência de amparo na
legislação em vigor para se negar aplicação das atenuantes quando a pena base
for fixada no mínimo legal. Senão vejamos:
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Ademais, naquela orientação, a nosso juízo superada,
utilizava-se de uma espécie sui generis de interpretação
analógica entre o que dispunha o art. 48, parágrafo único,
do Código Penal (parte geral revogada), que disciplinava
uma causa especial de diminuição, insista-se, e o atual art.
65, que elenca as circunstâncias atenuantes, todas estas
de aplicação obrigatória. Contudo, a não-aplicação do art.
65 do Código Penal, para evitar que a pena fiquem aquém
do mínimo cominado, não configura, como se imagina,
interpretação analógica, mas verdadeira analogia –
vedada em direito penal – para suprimir um direito público
subjetivo, qual seja a obrigatória (circunstância quem
sempre atenua a pena) atenuação de pena. No entanto, a
analogia não se confunde com interpretação analógica. A
analogia, convém registrar, não é propriamente forma de
interpretação, mas de aplicação da norma legal. A função
da analogia não é, por conseguinte, interpretativa, mas
integrativa de norma jurídica. Com a analogia procura-se
aplicar determinado preceito ou mesmo os próprios
princípios gerais do direito a uma hipótese não
contemplada no texto legal, isto é, como ela busca-se
colmatar uma lacuna da lei. Na verdade, a analogia não é
um meio de interpretação, mas de integração do sistema
jurídico. Nessa hipótese, não há um texto de lei obscuro
ou incerto cujo sentido exato se procure esclarecer. Há,
com efeito, ausência de lei que discipline especificamente
essa situação. Na hipótese em exame, equiparam-se
coisas distintas, dispositivos legais diferentes, ou seja,
artigo revogado (art. 48, parágrafo único) e artigo em vigor
(art. 65); aquele referia-se a causa de diminuição
específica; este a circunstância atenuantes genéricas, que
são coisas absolutamente inconfundíveis; impossível,
conseqüentemente, aplicar-lhes qualquer dos dois
institutos, tanto a analogia quanto a interpretação
analógica. A finalidade da interpretação é encontrar a
vontade da lei, ao passo que o objetivo da analogia,
contrariamente, é suprir essa vontade, o que,
convenhamos, só pode ocorrer em circunstâncias carentes
de tal vontade.
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cominado, ao passo que o atual determina expressamente
que o agente responde pelo crime menos grave que quis
cometer. Logo, tanto a analogia quanto a interpretação
analógica são igualmente inaplicáveis.
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hipótese em que a pena-base é fixada no mínimo e se
reconhece a presença de circunstância atenuante, em face
da regra imperativa do art. 65 do Código Penal, que se
expressa no comando literal de que tais circunstâncias
sempre atenuam a pena” (STJ – 6.ª T. – HC 9.719 – Rel.
Vicente Leal – j. 30.06.99 – DJU 25.10.99, p. 130).
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sempre atenuam a pena). Se o interesse do legislador
fosse o de estabelecer limites para essa atenuação, teria
colocado a expressão sempre na companhia de outras do
tipo dentro dos limites da lei, etc. Penas reclusivas
reduzidas. (...)’ (AP 70005198940, 6.ª Câm. Crim., ReI.
Des. Sylvio Baptista Neto, j. 05.12.2002)” (TJRS – Ap.
70005999362 – Rel. Marco Antônio Bandeira Scapini – j.
21.08.2002 – RJTJRGS 231/102).
3. DOS PEDIDOS
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CAMILA ALVES FERREIRA
OAB/MG 179.074 – ADVOGADA DATIVA