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FILOSOFIA

ANTROPOLOGIA

Miguel Henrique Benetti Teixeira


Taitson Leal dos Santos
ANTROPOLOGIA
UNIDADE 1 - O SER HUMANO.
Prof. Taitson Leal dos Santos

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender a questão do cosmo humano, uma

questão intrínseca à Antropologia. Perguntas como o que é e quem é o homem? -


constituem o mote central desta discussão inicial.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A dúvida e a inquietação, a experiência de algo novo, a reflexão sobre o que

determina o Homem, a Natureza e a Cultura podem se tornar uma ocasião onde me


torno questionável a mim mesmo.

Lembrando que são as perguntas que nos movem. O que justamente caracteriza
o conhecimento é o problema. O que significa tal afirmação? Sem uma pergunta, não

nos motivamos a alcançar uma resposta. Sem um problema, não tendemos a buscar
seu entendimento.

Naturalmente, dentro do âmbito científico, acadêmico – nosso caso – tais


problemas são levantados propositalmente, com rigor e métodos estabelecidos.

Voltando à questão do espanto, da dúvida e da inquietação, lembremos que os


gregos antigos valiam-se de um conceito que o ilustrava de forma bastante

interessante: o thauma. Thauma, ou espanto, assombro, admiração, é a atitude primeira


para a busca do conhecimento. Nas palavras do filósofo grego Aristóteles: “Pelo

espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do


filosofar.”

Pois bem, uma das características daquele que visa à realidade de forma
metódica e racional é justamente a de questionar o óbvio. O que quer dizer isso? O

cientista (especificamente, em nosso caso, o sociólogo) inquieta-se com questões

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aparentemente não questionáveis. Aquilo que parece natural e espontâneo pode vir a
ser um magno problema.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Vejamos uma interessante anedota que ilustra tal atitude crítica e questionadora

abordada acima. Diz-se que Sócrates - 469–399 a.C. - ouvia atentamente um discurso
de um proeminente cidadão ateniense na ágora – praça pública - sobre o conceito de

justiça.
Ao concluir o longo e demorado discurso, o palestrante gentilmente aguarda

arguições e comentários sobre sua rica retórica. Ao que Sócrates, localizado atrás da
pequena multidão, que se aglomerara, levanta a mão pedindo a palavra. O orador,

empertigando-se, diz com orgulho: “Ora, Sócrates, é para mim uma grande honra
receber um comentário seu. Qual é vossa pergunta?” “O que é Justiça?” - questiona-o

Sócrates.
O orador, num misto de incredulidade e espanto, tenta entender: “Ora, por

quase uma hora discursei sobre tal conceito, talvez, devesse repetir meu discurso...” E
Sócrates explica-se: “Nobre cidadão, por uma hora discursaste sobre o conceito de

Justiça e ainda assim não o definiste.” Refletindo sobre a postura de Sócrates,


entendemos um pouco melhor a atitude filosófica frente ao conhecimento; o orador

esperava aplausos e lisonjas por sua retórica e Sócrates trata de questionar exatamente
sobre o que deveria ser elucidado e não foi.

Agora, pense em outras demonstrações de sabedoria com que nos deparamos


em nosso cotidiano, sem ao menos uma conceituação clara e consciente.

Vamos a elas?

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Figura 1 O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci

O que é o Homem? Quem é o Homem? O que o define? Não nos parecem


questões extremamente óbvias e inquestionáveis? No entanto, cada vez que nos

aprofundamos em seu entorno, percebemos o quão relevante tornam-se.


Nessa busca, a ciência não convém ser a única referência... A seguir,

apresentamos algumas definições:


BÍBLIA: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’”

HOMERO: “Como as folhas na floresta são as gerações dos homens, veja, a uns o vento
dispersa e a outros o madeiro vicejante faz brotar no tempo da primavera: Assim são as

gerações dos homens, esta cresce, aquela desaparece”.


ARISTÓTELES: “Zóon logikón, animal racional. “A ideia de que a característica essencial do

homem é a razão perpassa toda a história da filosofia, pelo menos até o Idealismo
Alemão”.

SANTO AGOSTINHO: “Fizeste-nos para Vós, Senhor. Inquieto está o nosso coração,
enquanto não repousar em Vós”.

GIORDANO BRUNO: “O homem se situa no limite entre eternidade e tempo, participando


de ambos. Igualmente para Kant, o homem é ‘cidadão de dois mundos”.

BLAISE PASCAL: “Caniço pensante. Mesmo se o universo aniquilasse o homem, este ainda
seria mais nobre do que aquilo que o mata, porque sabe que morre; o universo não o

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sabe. O pensamento é, portanto, a nossa suprema dignidade. O homem transcende


infinitamente o homem”.

HOBBES: “Homo homini lupus. O homem é um lobo para o homem”.


LAMETTRIE: “O homem é uma máquina, l’homme machine”.

FICHTE: “O sentido da espécie humana não consiste apenas em ser racional, mas em
tornar-se racional”.

KIEKEGAARD: “O homem é uma relação que se relaciona consigo mesma”.


MARX: “O homem não passa dum ‘conjunto de relações sociais’”.

NIETZSCHE: “O homem é o ‘animal doente’, ‘o animal ainda não fixado’. Outrora éreis
macacos e mesmo agora o homem é mais macaco do que qualquer macaco...”

SARTRE: “A existência precede a essência. O traço fundamental do ser humano é ser para
si liberdade, criador de valores. Mas, no fundo, tudo é tão absurdo e o homem é uma

paixão inútil”.
O que nos impele a perguntar: “o que é” e “quem é o Homem?” Como ciência, a

Antropologia tem a mesma origem que as demais metodologias em busca do


conhecimento (tais como a Filosofia, as Artes e a Religião). A origem é um sentimento,

uma percepção difusa, implícita, abrangente. Se, no passado predominava a admiração,


atualmente domina a inquietação.

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UNIDADE 2 - A ANÁLISE DA NATUREZA.
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é analisar o conceito de natureza. Resgatando a sua

etimologia e dialogar com alguns pensadores que, ao longo da história, refletiram


sobre este fenômeno.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Para iniciarmos os conteúdos desta unidade, partimos de uma proposta de

reflexão.
Leia atentamente o exposto abaixo:

“O que é o homem na natureza? Nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada,

um meio entre nada e tudo.” Blaise Pascal

“O conceito de Natureza Humana faz parte de um paradigma perdido.” Edgar Morin

Relacione as citações acima e reflita, por um instante, sobre a Natureza Humana.


Chegou a algum conceito? Vamos agora à essência de nossa unidade.

O que é a Natureza? Como podemos definí-la? Vejamos abaixo algumas


considerações:

“A natureza garante à espécie a imortalidade por retorno periódico,


mas não pode garanti-la ao indivíduo.” Aristóteles

“A natureza gosta de se esconder.” Heráclito

“Devemos ter a natureza como guia. É a ela que a razão contempla

e consulta. Viver feliz e viver segundo a natureza são a mesma


coisa.” Sêneca
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UNIDADE 2 - A ANÁLISE DA NATUREZA.
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Definir o conceito de Natureza é tão complexo quanto definir outros conceitos;

devemos, isto sim, buscar referências e mesmo definições opostas se queremos


esclarecê-lo. Se iniciarmos por sua etimologia, encontraremos a phýsis. De origem

grega, a phýsys, significa natureza, conceito intrinsecamente vinculado à ideia do


cosmos ordenado e pode ter três sentidos essenciais: o primeiro ligado à ideia do

nascimento, desenvolvimento, surgimento; o segundo, relativo às características naturais


de um ser, o que convencionamos chamar natureza humana; o terceiro sentido é

definido como uma “força” que impulsiona os seres, desde sua origem até seu
perecimento, realidade derradeira de onde tudo surge e para onde tudo regressa.

Figura 2: A busca de entendimento sobre a Natureza esteve presente


desde os primórdios da civilização.
Fonte: http://pousodamente.blogspot.com.br/2010/07/physis1-como-apice-da-nocao-de-
natureza.html

Os gregos, na Antiguidade, pensavam que a natureza representava o fenômeno,

algo necessário no qual os homens têm de aprender a viver. Trata-se, portanto, de algo
dado e que não se pode mudar, em contraste com o mundo dos homens, em que

podemos decidir como queremos viver. Nossa liberdade residiria justamente neste

esforço de superação das regras imutáveis naturais.Também podemos definir a

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UNIDADE 2 - A ANÁLISE DA NATUREZA.
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Natureza como sendo o conjunto dos seres e das coisas que constituem o universo, o
mundo físico; tudo o que, no universo, não aparece como transformado pelo homem;

conjunto das leis que parecem manter a ordem das coisas e dos seres.
Perceba que a definição de Natureza está ligada a tudo o que existe, é imanente

e transcendente ao Homem. Ou seja, também fazemos parte desta Natureza, mas o


que nos diferencia é a capacidade de nos esquivarmos dela, diferente dos demais seres

naturais, que a ela estão unidos, essencialmente no que tange ao instinto.


Ora, os seres naturais, anímicos, vivem de acordo com uma programação

genética, que lhes é imanente, ditada pela própria natura. Essa tal programação é
caracterizada pelo instinto hereditário. Os animais simplesmente sabem o que devem

fazer e como devem agir no intuito de preservar a si mesmos e à sua espécie.


Para melhor elucidar, tomemos como exemplo o processo de gestação de um

certo tipo de vespa. Tal inseto alado é classificado pelas ciências naturais como sendo
um parasita, uma vez que invade o corpo de outros animais para implantar e alimentar

sua cria.

Figura 3: Modelo de uma larva de vespa parasita que se desenvolve dentro de


uma lagarta. Fonte: http://listas.terra.com.br/terraciencia/2409-qual-animal-tem-a-gestao-mais-
curiosa.orkut

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Figura 4: Esta vespa injeta veneno


suficiente para paralisar, mas não
matar, uma lagarta. Aí, as larvas da
vespa nascem e se alimentam da
lagarta viva. Mas o parasita tem um
requinte de crueldade: junto com o
veneno, ele injeta uma espécie de vírus
que modifica o DNA da lagarta,
tornando seu sistema imunológico
incapaz de destruir as larvas.
Fonte:
http://megaarquivo.com/2012/05/29/6037-
biologia-uma-vespa-muito-louca/

A vespa, depois de árdua luta de vida ou morte, ferroa uma lagarta ou uma
barata, paralisando-a ainda viva e deposita seus ovos no animal entorpecido. Depois de

tal intensa labuta sai voando, morrendo em seguida. Tempos mais tarde nascem as
larvas que irão se alimentar da criatura que lhes serviu de “casulo”, crescerão e se

desenvolverão naturalmente sem qualquer “ensinamento”. O mais interessante é que,


chegada a hora dessas vespas já adultas procriarem–conhecimento adquirido pelo

instinto-, irão reproduzir exatamente o comportamento inconsciente de sua genitora,


geração após geração.

BUSCANDO CONHECIMENTO

É possível que você esteja refletindo sobre uma série de exemplos que

contradigam tal tese, visto que existem outros animais mais desenvolvidos
“intelectualmente” que uma vespa. Obviamente que sim. Basta nos lembrarmos de

determinados símios, como os gorilas e chimpanzés, ou mesmo de nossos animais


domésticos –principalmente cães e gatos– que parecem ter mesmo uma

“personalidade” e atitudes rudimentares de raciocínio.

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Mas nenhum desses exemplos mostra-se suficientemente válidos, já que


nenhum destes seres têm a possibilidade de escapar da natureza de seu instinto. O que

por vezes nos parece inteligência nada mais é que uma capacidade ligeiramente
elevada de entendimento.

Os animais adquirem tal entendimento por meio de um ciclo, repetição e


condicionamento e não por meio de uma reflexão ou consciência de seus atos. Postura

radicalmente oposta é a do ser humano, que tem a capacidade de refletir sobre si


mesmo, sua existência e a de seus semelhantes; questionar o já vivido, rompendo com

o mesmo, quando necessário, e sobre o que ainda virá, construindo e transformando


seu futuro.

O que desejamos destacar é que não nascemos prontos. A natureza não nos
dotou de instrumentos necessários à nossa sobrevivência, cabendo a nós próprios a

tarefa de nos construirmos, refazer-nos e recriarmo-nos constantemente, num perene


vir a ser.

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UNIDADE 3 - O HOMEM E A NATUREZA.
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é analisar o conceito de natureza. Resgatando a sua

etimologia e dialogar com alguns pensadores que, ao longo da história, refletiram


sobre este fenômeno.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Seguindo nosso objetivo de análise da natureza e do homem, seguimos agora

para a leitura de um artigo que tece importantes considerações sobre os conceitos que
ora abordamos, trazendo-nos um maior embasamento teórico.

Vamos à leitura?
“Quando falamos em ‘natureza’, atualmente, pensamos logo na realidade

exterior, no meio ambiente em que nascemos e vivemos, e que marcamos tão


fortemente com nossa presença e nossas técnicas. Esse mundo natural no qual

construímos nossas cidades, que cortamos com nossas estradas, e cuja existência
acreditamos estar ameaçada por causa de nossa atitude predatória com relação a ele.

No entanto, a natureza pode ser compreendida de maneira mais ampla, ou seja,


como abarcando mais do que esse ‘lugar’ ou essa ‘exterioridade’ que recebemos de

presente quando nascemos. É muito importante percebermos que, na verdade, os


termos natureza e natural referem-se àquilo que nos é dado (ou imposto), não só

externa, mas também internamente, como determinações que nos definem e que não
podemos alterar ou que, para serem alteradas, exigem muita inventividade ou técnica.

Nessa perspectiva, temos pelo menos três âmbitos do que pode ser chamado de
natural: 1. A natureza exterior (os recursos naturais, o mundo tal como o encontramos,

‘lugar’ ou ‘exterioridade’); 2. A natureza, enquanto as características internas dos seres

em geral, aquelas com as quais eles nascem (por pertencerem a uma espécie); seriam

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aquelas características que, juntas e articuladas, formariam o que se poderia chamar de


constituição inata, que incluiria tendências, potencialidades, disposições ou estruturas

tais que permitiriam (ou impediriam) o desenvolvimento de certos modos de ser. 2.1.
No caso do ser humano, em geral, seu corpo (mortal, sexuado, dotado de alguns

sentidos e não de outros) e suas características psíquicas, com suas potencialidades


(capacidade de raciocínio, de desenvolver linguagem e de fabricar cultura); 3. Podemos

ainda pensar na natureza particular de cada indivíduo (que inclui este ou aquele
tamanho, marcas próprias singulares, maior ou menor aptidão para aprender alguma

coisa, ser magro ou gordo, ser homem ou mulher, etc.).


Se o âmbito da natureza é fonte de determinações que não dependem de nossa

vontade ou escolha, já o âmbito da cultura é, num primeiro sentido, fabricado por nós
mesmos, ou seja, a cultura é tanto o processo como o resultado da ação criadora por

parte dos seres humanos. Nessa primeira formulação, a cultura inclui tudo o que não é
natural, ou seja, tudo o que os diferentes grupos humanos inventam, produzem,

fabricam, criam, escolhem e estabelecem para si próprios.


No século XVIII, essa mesma questão evoca as reflexões do filósofo francês Jean-

Jacques Rousseau (1712-1778). Segundo Rousseau, o cultivo da humanidade do homem


se dá contra a natureza; paradoxalmente é o próprio fato de que o homem é um

animal educável (cultivável) que faz com que ele possa ir contra sua natureza. Ele é
crítico dos rumos que a sociedade de sua época e a civilização tomaram: a busca vã das

ciências, o luxo das letras e das artes, a dissolução moral, toda uma lista de vícios que
são vistos como marcas dos excessos da cultura que distancia o homem de sua

natureza original.
É a partir dessa visão crítica que a natureza é pensada como a norma pela qual

se julga a sociedade e que deve servir de parâmetro para uma eventual redescoberta
da constituição humana; apesar da degeneração cultural, a natureza no ser humano

permanece de algum modo, como núcleo a ser recuperado.

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‘Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de


natural ou física, por ser estabelecida pela natureza e que consiste na diferença
das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da
alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque
depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos,
autorizada pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos vários
privilégios de que gozam alguns em prejuízo dos outros, como o serem mais
ricos, mais poderosos e homenageados do que estes, ou ainda por fazerem-se
obedecer por eles.’ (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens. Introdução, p.235.)
‘De que se trata, pois, precisamente, neste discurso? De assinalar, no progresso
das coisas, o momento em que, sucedendo o direito à violência, submeteu-se
a natureza à lei; de explicar por que encadeamento de prodígios o forte pôde
resolver-se a servir ao fraco, e o povo a comprar uma tranquilidade imaginária
pelo preço de uma felicidade real.’(ROUSSEAU. Discurso sobre a origem...
Introdução, p.236.)

A proposta de Rousseau não é voltar no tempo (cronologicamente) para


reencontrar um impossível homem natural puro, mas buscar ‘reflexivamente’

(logicamente) o ser humano tal como ele seria, sem o suposto ‘progresso’ das culturas;
a civilização deformou a natureza do homem, distorcendo-a e transformando-o em um

ser animalesco.
É pela reflexão que poderíamos distinguir o natural do cultural (artificial);

Rousseau não propõe um abandono da cultura ou um retorno puro e simples à


natureza; ele quer refletir criticamente sobre a sociedade, pensando filosoficamente a

passagem de um estado a outro.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Outro ponto de vista pode ser encontrado no pensador setecentista, Marquês de


Sade. A Natureza, em Sade, tem metas traçadas para suas criaturas: é um agente

onisciente distinto de Deus. A Natureza sadiana não pode ser tomada como um deus
(ou Deus), mas antes, segundo suas palavras, como um agente universal. Cito:
Mas, dir-se-á a este propósito, Deus e a natureza são a mesma coisa. Não é
um absurdo? A coisa criada ser igual ao criador? Pode um relógio ser igual ao
relojoeiro? A natureza não é nada, prossegue-se, é Deus que é tudo. Outra
bobagem! Há necessariamente duas coisas no universo: o agente criador e o
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indivíduo criado. Ora, qual é este agente criador? Eis a única dificuldade que é
preciso resolver, a única pergunta que é preciso responder (SADE, 1999, p. 39).

Sade desenvolve a ideia, respondendo à sua própria questão, de que o


movimento é inerente à matéria e que as combinações deste movimento nos são

desconhecidas. Conclui, então, bem ao seu estilo, que a matéria devido à sua energia,
cria, conserva e mantém tudo: as planícies, as esferas celestes... Tudo isso, ao ser

contemplado, nos enche de emoção e respeito; e qual a necessidade então de se


buscar um agente estranho a tudo isso, uma vez que tudo isso que admiramos não

passa de matéria em ação?


Segundo o criador da Sociedade dos Amigos do Crime, as virtudes, calçadas na

moral religiosa, são contra a Natureza Humana, impedindo-a de ser feliz. Sade constrói

uma filosofia em que o incesto, o assassinato, o roubo e os excessos libertinos são


fundamentados na Natureza. Sendo a natureza “um princípio criador onisciente, que

tem metas traçadas para as suas criações. Ocupa, portanto, o lugar de Deus. A
natureza, em Sade, é deus destituído de divindade." (BORGES, 1999, p. 220-21)

Ora, sendo natural, por que assim não o somos? A resposta do Divino Marquês é
que nunca deixamos de seguir nossos impulsos naturais, entretanto, somos como que

forçados a todo instante a controlá-los e impedi-los. Isso se deve ao fato de o homem


ter optado por seguir um Ser onipotente e onisciente e Seus mandamentos. Destas leis

metafísicas universais surgem as virtudes, que tendem a impedir os excessos naturais ao


homem, afastando-o da Natureza. Diz o Marquês: "Haverá algum sacrifício feito a essas

falsas divindades que valha um só minuto dos prazeres que sentimos ultrajando-as?
Ora, a virtude não passa de uma quimera cujo culto consiste em imolações perpétuas,

em inúmeras revoltas contra as inspirações do temperamento. Serão naturais tais


movimentos? Aconselhará a natureza o que a ultraja?" (SADE, 1999, p. 37).

Desta forma, entendemos que a Natureza, no pensamento de Sade, é necessária


e imprescindível. Toda sua filosofia será argumentada segundo os princípios naturais.

Tudo o que parece errado, segundo a virtude, é certo, visto na Natureza. Todas as

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ações que parecem chocar as leis, ou as instituições humanas podem ser demonstradas
na Natureza, dirá o autor. Com seus argumentos enraizados na Natureza, Sade se livra

de extensas explicações: o que é natural não se discute, ademais, sendo natural, não
haverá espaço para a moral. Os únicos valores a serem seguidos são os encontrados na

Natureza - aceitando a contradictio in adjecto existente.


(Fonte: SANTOS, Os valores naturais sadianos. Disponível em:

<http://www.urutagua.uem.br//04fil_santos.htm>. Acesso em 10/06/2012)

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UNIDADE 4 - O HOMEM ENTRE DOIS MUNDOS.
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é entender a dicotomia e os conflitos existentes na


compreensão da natureza humana. Isso se deve pelo fato de o ser humano viver
“entre dois mundos”. Para começar, somos mortais, mas cremos ter uma alma
imortal, somos racionais, mas também temos nossos instintos e necessidades
naturais (tal qual o demais seres anímicos).

ESTUDANDO E REFLETINDO

Nesse ínterim, devemos refletir sobre o que define o Humano. Comecemos tal
investigação, comparando o corpo humano ao de outros animais. Percebemos que o
corpo humano não é moldado de forma tão eficaz quanto o corpo dos mesmos,
trazendo uma série de inconvenientes à sua sobrevivência. Entendemos que o
homem não foi bem “capacitado” pela Natureza. Não somos dotados de um couro
peludo para nos protegermos de baixas temperaturas, não podemos usar de alta
velocidade para a caça e para a fuga, não temos a capacidade de nos ocultarmos
com tanta facilidade – como os animais metamorfos –, não temos asas para voar,
não temos garras e não temos os sentidos intensificados. Entretanto, conforme
Gordon Childe:
O ser humano pode ajustar-se a um número maior de ambientes do
que qualquer outra criatura, multiplicar-se infinitamente mais depressa
do que qualquer mamífero superior, e derrotar o urso polar, a lebre, o
gavião e o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e
pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e
viceja, desde os pólos da Terra até o equador. Nos trens e automóveis
que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. -Nos
aviões e foguetes pode subir mais alto do que a águia, e, com os
telescópios, ver mais longe do que o gavião. Com armas de fogo pode
derrubar animais que nenhum tigre ousaria atacar. Mas fogo, roupas,
casas, trens, automóveis, aviões, telescópios e armas de fogo não são
parte do corpo do homem. Eles não são herdados no sentido
biológico. O conhecimento necessário para sua produção e uso é parte
do nosso legado social. Resulta de uma tradição acumulada por muitas
gerações e transmitida, não pelo sangue, mas através da linguagem
(fala e escrita). A compensação que o homem tem pelos seus dotes
corporais relativamente pobres é o cérebro grande e complexo, centro

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UNIDADE 4 - O HOMEM ENTRE DOIS MUNDOS.
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de um extenso e delicado sistema nervoso, que lhe permite desenvolver


sua própria cultura. (CHILDE, Gordon, in: COTRIM, 2006, p. 11)

De acordo com o autor, o homem é um ser que se diferencia dos demais


seres. Ele não é apenas um ser dotado de características “naturais”. O homem é um
ser transformador da natureza. É natural, obviamente, mas também cultural.

Ao lado, podemos observar um


exemplo da adaptabilidade
humana.

Valendo-se de materiais
encontrados na própria
natureza, o homem é capaz de
transformá-la e adequá-la às
suas necessidades, podendo,
assim abrigar-se das
intempéries naturais.

Figura 6: Casa de pau-a-pique no Quilombo do Cangume na cidade


de Itaóca - SP. Acervo do autor.

Qual a relevância de tais apontamentos? Ora, podemos perceber que o Homem,


incapaz de sobreviver apenas com o que a Natureza o dotou, busca demais
recursos para tal, valendo-se de um instrumento – além de outros que abordaremos
- que possui e que o diferencia dos demais seres naturais: a consciência.

Figura 7: Representação
gráfica de consciência do
século XVII. (Robert Fudd).
Fonte:
http://sumateologica.files.wordpress.co
m/2011/04/consciencia_robert_fudd_se
c-xvii.png

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UNIDADE 4 - O HOMEM ENTRE DOIS MUNDOS.
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BUSCANDO CONHECIMENTO

Acompanhemos estas reflexões do filósofo francês contemporâneo, Albert


Jacquard, acerca das discussões que vimos fazendo.
Segundo o pensador, a própria definição da palavra “natureza” cria uma série
de problemas: Será o que existe fora do mundo humanizado? O que existe
espontaneamente? O que preexiste ao homem?
“Mas o próprio homem faz parte dessa natureza; é um ser natural. No
entanto, tornamo-nos seres radicalmente diferentes dos outros seres da natureza:
nossa herança biológica é metamorfoseada pela cultura.
A aparição do homem foi uma etapa suplementar decisiva que trouxe,
essencialmente, a consciência da existência do Tempo. Para tudo o que nos rodeia,
o amanhã não existe. Para os membros de nossa espécie, o amanhã é a obsessão
de cada instante. O que nos torna radicalmente diferentes é a invenção do amanhã,
invenção permitida pela riqueza de nosso sistema nervoso central. Com toda a
certeza, essa riqueza nos foi dada pela natureza; mas nos permitiu escapar a seu
controle. (...)
Ausente nos processos naturais, a finalidade foi introduzida por nós em cada
um de nossos atos. Nesse sentido, escapamos à natureza, como uma flecha escapa
do arco que a lança.
A transformação da natureza é, portanto, o que faz a diferença entre o animal
e o homem: o animal não pode superar o que lhe foi atribuído pela natureza.
Tendo de agir para preparar o amanhã, somos acuados a escolher e, para
orientar nossas escolhas, a adotar regras. Cada comunidade humana define, assim,
uma moral. Mas, na adoção desses princípios, o exemplo da natureza não fornece
qualquer ajuda, uma vez que se trata de orientar escolhas; ora, a natureza nunca
tem de escolher. (...)
Quanto aos nossos deveres para com a natureza, de fato, não passam dos
deveres para com os nossos descendentes. Durante inúmeras gerações, senão para
sempre, somos prisioneiros de um pequeno planeta. Devemos deixá-lo em bom

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estado àqueles que nos hão de suceder. Estragá-lo irremediavelmente ou destruir


suas riquezas não renováveis é uma falta em relação a eles, não em relação à
natureza que não é uma pessoa.
Ignora-se a morte, não é possível apreciar o presente. Nada seria mais triste
do que saber que se é imortal. Imaginando o amanhã – o que, aparentemente, não é
possível para o mundo animal – damos valor ao presente. O preço a pagar é a
angústia do fim, do desaparecimento final que já não podemos ignorar. Não acho
que isso seja um preço exorbitante.” (JACQUARD, 1998, pp. 105-108)
Albert Jacquard levanta questões bastante pertinentes. Como somos os
únicos seres que, de fato, temos consciência de nós próprios e da realidade que nos
cerca, somos também os responsáveis pela “criação” do amanhã e pela clareza de
nosso fim último, a morte. Se somos, realmente, seres singulares no que tange à
consciência, isso significa que também somos os únicos a conhecer nossa finitude.
Além disso, dotados que somos de consciência, “escapamos à natureza”, no
sentido de que vamos além dela. Não nos conformamos com as nossas “limitações”
herdadas naturalmente e criamos condições de suplantá-las ou potencializá-las.
Como assim? O que significam tais afirmações? Ora, suplantamos nossos desejos e
instintos, diferentemente dos demais animais. Esta, aliás, é prerrogativa para a
criação de toda e qualquer civilização. Controlamos ou suplantamos nossos desejos
particulares e egocêntricos em prol do convívio em sociedade.
Mas também potencializamos no sentido de que desenvolvemos habilidades
(a técnica, por exemplo, que nos permite transformar a natureza; e a linguagem,
realidade marcadamente humana) latentes e em potência.
Mas, a principal contribuição dos homens, o que os distingue inicialmente dos
animais, é, com toda certeza, sua capacidade para imaginar o amanhã. Certamente,
os ursos, os esquilos, quando pressentem a chegada do frio, tomam precauções,
acumulam gordura ou provisões que lhes permitirão suportar o inverno; mas esse
reflexo é desencadeado pela temperatura; fazem provisões porque faz frio, não para
passar o inverno. Ter consciência de que o amanhã há de existir e de que posso
exercer influência sobre ele, eis o que é próprio do homem.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA.
Prof. Taitson Leal dos Santos

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é investigar a existência e a consciência do homem,


através dos pensadores da corrente filosófica existencialista.

ESTUDANDO E REFLETINDO

“Ser livre e pronto para acolher a sabedoria é o começo de toda penetração e


do acordo do homem com a harmonia do mundo.” – Hermann Hesse

O termo “existência” remete ao seu contraposto “essência”, oposição que


constitui o princípio fundamental do Existencialismo. Etimologicamente, existência é
sinônimo de mostrar-se, exibir-se. Daí conceituar de existencialista qualquer doutrina
filosófica que centre sua reflexão sobre a existência humana. Centremos nossa
análise em pelo menos três significativos pensadores: Sören Kierkegaard, Friedrich
Nietzsche e Jean-Paul Sartre.

Kierkegaard e o Desespero de (o) Ser Humano

O Existencialismo é mais que um filosofar, uma forma de o


indivíduo se expor a si mesmo, reconhecendo-se
autenticamente neste ato, do que uma doutrina, em seu
sentido exato e terminológico. O existencialismo seria desta
forma, uma experiência singular, partindo do particular.
É justamente nesta concepção que se encontra Sören
Kierkegaard (1813-1855). Kierkegaard, talvez, tenha sido o
pensador que maior destaque recebeu na corrente
existencialista, e não apenas por ser considerado seu
Figura 10: Fonte:
http://www.harvardsquarelibrary precursor, mas por suas análises do homem moderno; além
.org/Prayers/kierkegaard.html
da influência que exerceu sobre os demais existencialistas e
fenomenólogos contemporâneos.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA.
Prof. Taitson Leal dos Santos

O filósofo dinamarquês opõe-se energicamente contra a ideia de Hegel de


condensar a realidade num sistema. Para Kierkegaard, o indivíduo não pode ser
meramente uma manifestação da ideia, rejeitando desta forma sua existência
concreta, pois esta jamais poderia ser explicada por conceitos ou esquemas
abstratos.
O indivíduo tem maior conhecimento é de sua própria realidade, sendo ela a
única que lhe interessa efetivamente. Somente esta realidade singular, pois lhe é
dada a conhecer somente pela subjetividade onde tal caminho pode ser percorrido,
a verdade do indivíduo está na subjetividade. O conhecimento abstrato somente
apreende o concreto abstratamente, enquanto que o pensamento centrado no
indivíduo busca compreender o abstrato concretamente.
O homem kierkegaardiano é espírito, ou seja, é a síntese entre o finito e o
infinito, sendo espírito o Eu. O indivíduo é uma relação que somente relaciona-se
consigo mesmo e não com qualquer coisa que lhe seja alheio. O eu Kierkegaardiano
não é uma relação em si, mas sim, um voltar-se sobre si mesmo. Para o autor de ‘O
Desespero Humano’, o indivíduo é a síntese entre o finito e o infinito, do que é
eterno e temporal, da liberdade e da necessidade e, uma vez que não é
autossuficiente, somente se autorrealiza, relacionando-se com o Eterno. Não
conseguindo tal relacionamento, queda-se no Desespero.
O desespero kierkegaardiano é, essencialmente, uma categoria do espírito,
suspensa na eternidade. Desesperar de alguma coisa não é ainda o verdadeiro
desespero, mas antes, seu início, pois ainda está latente seu desespero. Sendo o
indivíduo a síntese do finito e infinito, instaura-se o desespero imediatamente após
um desses fatores assumir o predomínio.
Somente o homem desespera-se. O desespero torna-nos cientes de nosso
“eu”, torna-nos cientes de nossa própria existência. O desespero é o “sinal da nossa
verticalidade infinita ou da nossa espiritualidade sublime”, diz o filósofo. O animal
não se desespera, não se dá conta de sua existência, não sofre por ter um eu, ou
por não saber que tem um. Somente o homem tem esta consciência, isto é que o
torna humano.
Kierkegaard nos apresenta um pensamento voltado para o individual e
particular, abolindo o universal. O homem não pode ser absorvido por um sistema

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA.
Prof. Taitson Leal dos Santos

abstrato - como supunha Hegel - deve, sobretudo, ser analisado em sua


subjetividade e individualidade, pois, somente na subjetividade humana encontrar-
se-á a Verdade.

Liberdade e Angústia

Perguntas como “Qual o sentido da vida?” ou “Que


haverá para além da morte?”, surgem ao menos
uma vez na vida de cada indivíduo, pois este, frente
a um mundo que não lhe atende em suas súplicas,
desespera-se e questiona-se. Essas indagações
vêm de longe, a partir do momento em que o homem
se viu diante do mundo, podendo refletir sobre o
significado de sua presença, mas sem poder
justificar sua existência. A filosofia e as religiões já tentaram cada qual responder a
essas questões, mas a busca prossegue, a inquietação não é amainada e, cada vez
mais nos questionamos se estaremos diante de perguntas eternamente sem
respostas.
Nada existe de forma isolada, estamos todos enraizados no Tempo, na
Sociedade e na História. Quando Aristóteles aborda a liberdade, analisa-a em seu
meio, em sua realidade. Da mesma forma, o filósofo francês Jean-Paul Sartre irá
analisar a liberdade, segundo novas lentes; não irá este pensador defender a
escravidão como sendo algo natural – conforme o estagirita - mas em decorrência
de causas sociais.
O existencialismo é gerado em nosso tempo, e tentará responder às
indagações e angústias a que esses indivíduos estão expostos. O existencialismo
surge desta forma, em meio a uma realidade absurda e sem sentido, num mundo
em crise. Neste absurdo, tenta encontrar o homem e sua identidade (ou a falta dela).
Como nada existe isoladamente, o existencialismo surge imediatamente após a
Segunda Grande Guerra, período no qual todas as esperanças caem por terra,
juntamente com os corpos por ela abandonados. O existencialismo tem por
característica o retorno ao homem, às indagações referentes à existência do

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 5 - ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA.
Prof. Taitson Leal dos Santos

indivíduo, preocupando-se com as relações sujeito e objeto. O existencialismo volta-


se para a Realidade Humana e analisa o homem em suas condutas básicas.
Sartre afirma que o homem está condenado à liberdade e é pelo seu Ser que
o nada vem ao mundo. Entretanto, com esta liberdade advém a angústia. É somente
o homem autêntico que se angustia, pois este se vê como que lançado ao mundo
gratuitamente e independente de sua vontade. Este homem não escolheu nascer,
contudo terá de decidir seu destino, agindo conforme sua liberdade, ou seja, por
meio de suas escolhas. Enfim, o homem é livre para determinar seu futuro e é
justamente esta liberdade que lhe traz a angústia. Assim, apesar de ser livre para
determinar seu destino e fazer opções diante das condições do mundo, o homem é
um condenado, pois é responsável por tudo o que faz. Daí a angústia.
A angústia agrava-se com o fato de o homem existir num mundo frente ao
nada e em completa falta de perspectiva. Ademais, esta angústia não é passageira,
ela tem caráter eterno e, assim como a liberdade, é intrínseca ao homem, revelando-
se imediatamente antes e depois de cada escolha. Fator agravante é o concernente
à responsabilidade. O homem, ao fazer suas escolhas, percebe que não é somente
responsável por si, mas por toda a humanidade. Por esta responsabilidade ser um
fardo demasiadamente penoso, o homem -inautêntico- transfere-a, creditando suas
escolhas a outro, fugindo, assim, de sua responsabilidade e também de si mesmo.
Uma saída para este conflito, prevista pelo existencialismo, seria o homem lançar-se
ao futuro e construir seu próprio destino, assumindo lucidamente esta angústia, bem
como sua responsabilidade, pois, de outra forma, sua existência seria tola e vazia.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL.
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é entender como funciona a organização social em


uma sociedade, compreendendo as instituições sociais e o status do indivíduo na
sociedade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A organização da sociedade é um dos temas que a antropologia investiga,


conhecida como antropologia social, o foco de estudo são a organização de pessoas
e sua interação com o próximo que pode ser tanto benéfica para si e para o outro ou
maléfica, prejudicando uma das partes.
A organização social é compreendida como a padronização dos costumes e
do agir do homem, assim, os grupos e os indivíduos são moldados de acordo com
uma visão específica na sociedade. A cultura neste contexto, trabalha como se fosse
um guia, um manual de instruções que apresenta as tarefas principais que devem
ser realizadas e conduzir o homem para as tarefas que devem ser realizadas
naquela sociedade a qual ele está inserido. O antropólogo Malinowski (1884 – 1942)
chamou de cartas das instituições sociais, as tarefas que um indivíduo realiza em
uma sociedade para mantê-la em ordem e em funcionamento.
Para entendermos melhor esse conceito do antropólogo, vamos ver
primeiramente o que significa instituição social. A instituição é definida como uma
rede de procedimentos concentrados em determinados interesses exclusivos, por
exemplo, a instituição política tem a função de reger os assuntos da cidade ou do
Estado, e manter a relações de poder entre pessoas e governo. Existem outras
instituições que são fundamentais para a manutenção da sociedade, por exemplo, a
instituição econômica que gerencia a rede de alimentos e de produção de produtos
para a vida humana, ela lida com a produção e utilização de bens e serviços. As
instituições maritais são importantes também para a manutenção da sociedade e
sua organização, ela cuida das relações intersexuais como o casamento e do
sustento dos filhos, das atividades econômicas do lar, da legalização da herança.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL.
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Outra instituição que participa da organização da sociedade é a instituição


religiosa. A base dessa instituição é o sobrenatural e o ritual que liga os homens
com os seres que compõe o sobrenatural, a representação simbólica nesta ligação é
primordial para entendermos o significado de certas práticas religiosas. As
instituições que compõe a sociedade apresentam um caráter harmônico de
relacionamento entre si, por exemplo, é nítido o relacionamento da instituição
religiosa com a econômica, mas muitas vezes apresentam um relacionamento hostil
uma com a outra, por exemplo, a instituição política que tende a ampliar os direitos
que certos grupos considerados minoritários e entra em conflito com a instituição
religiosa.

A instituição
religiosa tem um espaço
fundamental na
organização da sociedade.

(Fonte:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=17&min=820&orderby=titl
eA&show=10)

Depois dessa análise das instituições sociais, podemos retonar o conceito de


cartas das instituições do antropólogo Malinowski. Para ele, na carta de uma
determinada instituição consta os objetivos e finalidades da existência da instituição.
Essas cartas são representadas por meios de mitos, lendas e crenças, onde justifica
o julgamento e dá autoridade para cada instituição exercer um poder que moldará os
costumes e hábitos dos indivíduos em determinada sociedade. A justificação para tal
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL.
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atitude, é que as cartas das instituições declaram o porquê das coisas existirem, o
porquê das coisas serem como são, e reforçam a idéia de que as coisas devem
continuar a serem assim, por isso, as cartas tendem a manter uma ideia
conservadora e de imutabilidade.

(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski)

Junto com as cartas institucionais, o status também cumpre uma função de


organização da sociedade. O status é definido como uma posição social com
referência aos outros membros da sociedade, atribuindo para eles funções
específicas de acordo com o seu sexo, classe ou fisionomia. Cada indivíduo em
sociedade tem inúmeros status quando são somadas características abstratas para
a realização de uma determinada função, por exemplo, a inteligência, a coragem, a
generosidade entre outros, somando com características físicas geram novas
funções para o indivíduo.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 6 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL.
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

BUSCANDO CONHECIMENTO

O status pode se tornar “social”, essa espécie de status se define como status
que gera uma estereotipagem geral dos indivíduos. Esse modelo de status utiliza
critérios para moldar personalidades em uma série de pessoas indiferenciadas,
tirando qualquer elemento que possa gerar um abalo na organização da sociedade.
A primeira etapa para identificar os status das pessoas é conhecer os diversos
atributos que ela porta, assim, a análise se sua personalidade foi massificada ou
não, passa a ser mais simples.
Por isso, é importante o pesquisador ter em mente se os atributos que a
pessoa tem são específicos ou generalizados. Esses status são conseguidos de
diversos modos, podem ser buscados por domínios competitivos, como no esporte
ou em uma empresa, podem ser harmoniosos necessários também em empresas e
em esportes específicos. Outros status são adquiridos por meio da biologia do
indivíduo, portanto são status inatos, status que nasce com a pessoa e não podem
ser alterados naturalmente, tais status são: raça, sexo, status por afinidades sociais
como o parentesco, entre outros. Para conseguir os status artificiais, primeiramente,
os indivíduos devem dominar os seus status naturais, saber dominar as funções
naturais que ele trás consigo.
A importância dos status na vida dos indivíduos é que eles limitam e
influenciam o grau de participação dele na sociedade ou na instituição que compõe a
sociedade. Quanto mais rígido e extensivo for o status, mais a subjetividade do
individuo será reprimida pelo bem e pela ordem da sociedade que ele habita.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender a antropologia física e a antropologia


cultural e seus objetos de estudos.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Antropologia Física

A antropologia física tem como objetivo, a compreensão da natureza biológica


e evolutiva do homem desde a aurora do seu surgimento até os dias atuais. Ela
busca compreender também a estrutura, a fisiologia e as características raciais da
população humana espalhada geograficamente pela terra. A interação com outras
áreas do conhecimento se torna fundamental para obter uma análise crítica sobre o
homem, dialogando assim, com a zoologia, com as ciências biológicas e com outras
áreas científicas.

A antropologia física busca entender o


desenvolvimento biológico e fisiológico do
homem ao longo do tempo.·.

(Fonte: http://primatas.no.sapo.pt/homem.htm)

A antropologia física é dividida em várias áreas como:

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

• Antropometria: a antropometria busca analisar por meio de


instrumentos de medida, o comprimento de ossos e crânios de nossos
ancestrais, focando sempre na classificação da espécie humana.
• Somatologia: é o estudo das variedades existentes na espécie
humana, desde as diferenças físicas entres os homens e mulheres de
várias regiões do nosso planeta até análises mais complexa como o tipo
sanguíneo, metabolismo basal, entre outros.
• Paleontologia humana: estuda a origem e a evolução do homem
através de fosseis encontrados em sítios arqueológicos.
• Raciologia: essa área procura entender a história racial do homem e a
classificação da espécie humana em raças e a miscigenação entre elas.
• Estudos comparativos do crescimento: essa área é uma ampliação
do campo de estudo da somatologia e busca conhecer as diferenças
grupais em níveis de índice de crescimento, como a alimentação,
maturidade sexual, etc.

Antropologia Cultural

A antropologia cultural estuda o homem em seu sentido cultural, como um ser


criador de cultura. Pesquisa as diversas culturas produzidas pelo homem no
passado e no presente, realizando comparações e semelhanças entre elas,
analisando o seu desenvolvimento e seu regresso.
Seu objetivo principal é compreender o relacionamento existente entre o
modo de comportamento instintivo e o comportamento adquirido por aprendizagem,
pois o homem é um ser que, por meio da cultura, é capaz de modificar a natureza ao
seu favor e também de preservar certos elementos naturais, originado dos instintos.
O antropólogo que se interessa pela área cultural, não faz escolha do período
temporal em que a sociedade vive ou que tipo de sociedade ele quer estudar, pois
todas as sociedades são dotadas de cultura e é alvo de exame antropológico.
A antropologia cultural abrange as seguintes áreas:
• Arqueologia: é o estudo das culturas dos povos antigos que estão
extintos. A arqueologia analisa as características desses povos que

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

não deixaram nada escrito, mas deixaram vestígios e restos materiais


que demonstra que determinada civilização existiu. A tarefa do
arqueólogo é desenvolver técnicas adequadas para a coleta desses
materiais sem prejudicar o mesmo, tentando deixá-lo o mais intacto
possível. A arqueologia divide-se em dois ramos: a arqueologia
clássica que busca compreender a cultura de povos antigos letrados
como os egípcios e gregos, e a arqueologia antropológica que busca
informações de civilizações que existiram antes do surgimento da
escrita.
• Etnografia: é um ramo da antropologia cultural que se preocupa com
as descrições de uma determinada sociedade. O objeto de estudo da
etnologia são as culturas simples, consideradas primitivas. O etnógrafo
não se interessa em estudar grandes civilizações da antiguidade como
os mesopotâmios ou os fenícios, mas sim povos que não viviam em
sociedades complexas, como tribos indígenas.
• Etnologia: é outro ramo da antropologia cultural que os pesquisadores
usufruem dos dados coletados pelos etnógrafos para gerar
comparações entre culturas dos mais variados povos. Foca-se na
interrelação entre os homens e também na relação deles com o seu
meio e cultura a qual pertencem.

Tanto as civilizações mais complexas


como as primitivas são importantes para
a análise antropológica do homem.

(Fonte: http://www.infoescola.com/civilizacao-egipcia/abu-simbel/)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
ANTROPOLOGIA
UNIDADE 7 - ANTROPOLOGIA FÍSICA E CULTURAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A antropologia busca conhecer o homem em todos os seus aspectos, tanto


físico como cultural, entender o homem em sua especificidade é compreender a sua
cultura e como ela transforma o seu meio e a si mesmo. Foram apresentados vários
ramos que a antropologia se desdobra, mas tem também outras áreas que
aparentemente não está vinculado com a antropologia, mas é determinante para
compreender o homem em sua sociedade.
A linguística, por exemplo, é de suma importância para a compreensão do
homem, mas ela em relação às outras áreas da antropologia é mais autônoma e
independente. Essa área trabalha e analisa a linguagem como o meio de
comunicação e troca de conhecimento em uma sociedade, através dela, a cultura se
expressa em sua singularidade e caracteriza a imagem de um determinado povo.
Pela linguagem, o folclore manifesta a cultura específica de um grupo de humanos.
Ao estudar o folclore, o pesquisador preocupa-se com os conteúdos espontâneos
que nascem naturalmente das experiências de uma população.

O
folclore é uma importante fonte de análise
antropológica para a compreensão das
características de um determinado povo.

(Fonte: http://www.sempretops.com/cultura/personagens-do-folclore-fotos/)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é entender os métodos utilizados na pesquisa


antropológica.

ESTUDANDO E REFLETINDO

O estudo antropológico faz parte das ciências humanas, e como ciência, a


antropologia se utiliza de métodos para atingir os seus objetivos. Os métodos são
essenciais para o pesquisador observar e classificar os fenômenos, gerando assim,
uma interpretação correta e precisa dos dados captados pelo mesmo. Somente o
método científico consegue fornecer a objetividade e a generalidade que tanto a
ciência necessita. Descobrir regras que regem o comportamento do homem e que
são determinantes na produção de cultura é outro objetivo do método antropológico.
Devido à existência de dois campos na antropologia (física e cultural) e suas
ramificações, o método científico varia da necessidade de cada campo e também
dos objetivos buscados, desse modo, a antropologia faz uso de técnicas e métodos
que são diferentes em cada campo e ramo. O método científico é definido como um
conjunto de regras que norteiam o pensamento crítico e a investigação, o método é
guiado pela lógica e pela razão. A técnica consiste na desenvoltura em empregar um
conjunto de leis para a coleta de dados.
Existe também o uso de várias técnicas e métodos em uma determinada área
antropológica, pois a antropologia física não se restringe ao uso de um método
específico, o pesquisador pode realizar uma miscelânea de métodos e técnicas para
atingir o seu objetivo, o que não pode é se limitar e não conseguir os resultados
propostos.
A antropologia se utiliza dos seguintes métodos em sua pesquisa:

• Método Histórico: esse método consiste em analisar o passado, a fim


de entender o estilo de vida existente no presente. Por meio de uma
análise empírica do presente, o pesquisador compara a realidade atual

31
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
ANTROPOLOGIA
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

com o passado, assim ele realiza uma comparação para obter


informações.
• Método Estatístico: esse método lida com a verificação da
diversidade das populações, nas esferas culturais e sociais. É
realizada uma coleta de dados que são reduzidos a termos
quantitativos, representados em gráficos e tabela.
• Método Etnográfico: correspondem à investigação descritiva das
sociedades, principalmente as sociedades primitivas e agrárias. Para a
eficácia desse estudo, o pesquisador se utiliza de comparações e
generalizações da sociedade analisada. Para obter os dados
necessários para a sua pesquisa, o pesquisador realiza um
levantamento de todos os dados possíveis da sociedade a qual ele
estuda, para compreender melhor o estilo de vida de seus habitantes e
a cultura que eles praticam.
• Método Comparativo ou Etnológico: é utilizado tanto na
antropologia física como a cultural e tem como principal função
analisar as semelhanças e diferenças entre sociedades. Na
antropologia física, o método compara aspectos físicos, fósseis e
características anatômicas como a cor da pele, cabelo, olhos, entre
outros. No método comparativo utilizado na antropologia cultural,
ocorre à comparação dos costumes dos povos, dos seus rituais, etc.
• Método Monográfico: esse método consiste em estudar
profundamente um caso específico ou um grupo específico sob todos
os seus aspectos. Esse estudo permite coletar dados de grupos
isolados antes que desapareçam pelos contatos e dizimação.
• Método Genealógico: a antropologia cultural precisa entender
também as relações de parentesco em cada sociedade, por isso o
método genealógico é fundamental para compreender as estruturas
familiares estabelecidas em uma determinada sociedade, o
relacionamento entre homem e mulher, entre pais e filhos, vida em
família, entre outros. Por meio do levantamento genealógico, o

32
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

pesquisador confirmará os dados coletados, gerando novas


informações.
• Método Funcionalista: é o estudo das sociedades através da função
que cada membro desenvolve naquela sociedade. Esse método
abrange também o aspecto cultural, analisando a função da cultura em
uma sociedade. A abordagem funcionalista se dá por meio das
análises de conexões existentes em uma cultura e como ela opera.

A antropologia dispõe de
vários métodos para a
análise e investigação das
várias formas de
sociedade e culturas.

(Fonte: http://sesi.webensino.com.br)

BUSCANDO CONHECIMENTO

Além dos métodos de investigação antropológicos, o antropólogo também


dispõe de técnicas para atingir o objetivo de suas pesquisas. Utilizando-se desde as
mais clássicas como a coleta intensiva de dados até técnicas novas, derivada das
tecnologias.
No campo cultural, o antropólogo desenvolve soluções e técnicas de
pesquisas ligadas à observação de campo. Segue-se algumas técnicas utilizadas
pelos antropólogos:

33
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
ANTROPOLOGIA
UNIDADE 8 - MÉTODOS DA ANTROPOLOGIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

• Observação: uma das técnicas mais antigas das ciências humanas, o


pesquisador utiliza-se do recurso natural para a obtenção de dados,
essa observação pode ser dividida em observação sistemática onde os
fenômenos são observados de forma precisa e cronometrados. E tem a
observação participante onde o pesquisador tem a oportunidade de
interagir com o objeto de pesquisa, relatando em seus diários de
campo, as experiências vivenciadas.
• Entrevista: é a técnica que se utiliza do contato direto entre o
pesquisador e o entrevistado para a obtenção de informações e dados
úteis a sua pesquisa. A entrevista pode ser dirigida, onde o
entrevistador segue um roteiro preestabelecido e tem a entrevista livre
onde o entrevistador não utiliza um roteiro e tudo é espontâneo.
• Formulário: essa técnica utiliza-se de perguntas escritas aonde o
pesquisador vai preenchendo de acordo com as respostas do
entrevistado. A diferença básica do formulário e do questionário, é que
o questionário o próprio entrevistado preenche e necessita de certo
grau de escolaridade, enquanto o formulário pode participar analfabeto.

Os questionários e os formulários têm


como objetivo um contato direto com o
entrevistado.

(Fonte: http://pesquisaemcomunicacao02.blogspot.com.br/2009/08/pesquisa-de-opiniao.html)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender a antropologia aplicada, como o


relativismo cultural exercido por ela, garantido assim, a autonomia das tribos e dos
povos estudados.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Para uma maior eficácia em seus resultados, o campo de estudo da


antropologia é dividido entre: antropologia teórica e antropologia prática. O foco da
antropologia teórica é a investigação a priori1 dos conceitos relativos à cultura e ao
homem. A partir desse conhecimento, o pesquisador poderá exercer a sua parte
prática, aplicando as suas experiências no campo de pesquisa, estando sujeito à
interferências externas e de culturas e hábitos diferentes do seu, assim ele
compreenderá melhor a vida da sociedade em estudo.
Para realmente exercer o lado prático da antropologia, o pesquisador iniciante
precisa de um adestramento da antropologia teórica que irá orientar o iniciando para
a ação antropológica e na compreensão das experiências que ele irá vivenciar. Entre
os conceitos básicos para a ação antropológica, destacam-se três: aculturação,
etnocentrismo e relativismo cultural. Ao falar em aculturação, o pesquisador terá que
ter em mente que, ele terá contato com grupos sociais totalmente diferentes dos
grupos sociais que conhecemos nas sociedades industrializadas e ocidentais. Para
que não ocorra um desaparecimento da cultura simples, o pesquisador necessitará
deter os seus impulsos de sua cultura sobre a cultura estudada, deverá inibir uma
tentativa de relação de dominação com esses povos, tudo isso é necessário, pois o
pesquisador deve entender aquela cultura e não destruí-la ou escraviza-la.
Todo sistema cultural é aberto para mudanças e está em um constante fluxo
de ideias novas e de absorção de elementos culturais alheios, por isso, quando o
pesquisador entra em contato com uma cultura diferente, ele deve tomar cuidado em
não prejudicar aquela cultura e também em não transforma-la, isso é um alerta

1
O conhecimento a priori é o conhecimento desvinculado com a experiência, portanto ele não necessita de
análise empírica para se fundamentar.
35
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

também para o próprio pesquisador, pois ele também corre o risco de alterar suas
ideias e costumes habituais.
O segundo elemento básico que o pesquisador iniciante no campo prático
deve tomar conhecimento é o etnocentrismo. Essa visão tem como fundamento, a
afirmação de superioridade de uma cultura sobre a outra, não levando em conta a
existência de modos de costumes e hábitos peculiares de uma cultura específica.
Culturas menos desenvolvidas em relação à sociedade industrial ocidental são
intituladas erroneamente de selvagens e bárbaras, porém o que o pesquisador
necessita entender é que aquele modo a qual determinado povo escolheu viver é a
melhor forma para eles de cultura.

O pesquisador deve superar a visão


etnocêntrica para ter uma compreensão
séria e objetiva de uma determinada cultura.

(Fonte: http://sociologiaam121-sociologia.blogspot.com.br/2011/06/etnocentrismo-x-cultura-
dinamica.html)

O terceiro e último elemento essencial para o pesquisador entrar no campo


prático é o relativismo cultural. Esse conceito deve ser entendido para manter um
contato, mesmo que indiretamente, das sociedades a qual ele irá estudar. Esse
princípio estabelece que aquilo que pode ser certo para minha cultura, pode ser

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

errada para a cultura de outro povo, por isso não posso interferir em nenhuma
prática que eu considere errada. O pesquisador deve tem em mente a existência de
uma multiplicidade cultural que muitas vezes são divergentes e antagônicos entre si,
o pesquisador cultural tem por obrigação conhecer os modos e costumes de
determinada tribo ou civilização a qual vai estudar, pois ele deve ficar atento para
não ocasionar choques com os costumes e membros da tribo.
O relativismo cultural tem como objetivo guiar o pesquisador sobre a
importância de cada cultura e o respeito em relação a ela, mesmo diante de um fato
considerado errado ou imoral para a nossa cultura. Dentro do relativismo cultural, se
desenvolvem mais outros dois princípios: o direito à autonomia tribal e os valores
culturais.
O direito a autonomia tribal é o direito dos grupos estudados em fazer
qualquer coisa sem ter a interferência do pesquisador ou sua equipe. Estão
assegurados por esse direito; os costumes, as ideologias, as práticas habituais, a
religião ou qualquer outra coisa que represente e caracterize o grupo ou a sociedade
analisada pelo pesquisador cultural. Os valores culturais são classificados como o
respeito pelos costumes e valores existentes na tribo, não criticando as práticas
consideradas exóticas ou introduzir costumes e ações que o pesquisador considere
corretas.

A antropofagia (prática que o vencedor


come as vencidos para adquirir sua
força) foi duramente condenada pelos
portugueses que colonizaram o Brasil,
os índios tupis eram participantes dessa
prática considerada “bárbara”.

(Fonte: http://pga.com.br/vilamadalena/?p=44)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 9 - ANTROPOLOGIA APLICADA
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BUSCANDO CONHECIMENTO

A antropologia aplicada tem se desenvolvido de uma forma gigantesca nos


últimos anos, isso se deve pelo grau de comprometimento dos pesquisadores em
não fugir dos princípios que regem a antropologia prática. Os estudos práticos da
sociedade não se limitam somente nas tribos primitivas ou em civilizações isoladas
dos centros urbanos, a antropologia cultural se interessa também em analisar a
nossa sociedade industrial. Hoje em dia o isolamento social é quase impossível, por
isso os homens se relacionam e estabelecem princípios e costumes para manter
uma relação com o próximo, assim, surge também à possibilidade da existência de
conflitos entre as pessoas.
O antropólogo tem o objetivo de entender como funcionam as relações na
atualidade e estudar a cultura da nossa sociedade que se desenvolve e se modifica
a todo o momento.
Em resumo, o objetivo da antropologia aplicada é:
• Entender as culturas diferentes, protegendo e respeitando os seus
padrões e valores nativos.
• Aplicar por meio dos conhecimentos antropológicos, soluções para os
problemas existentes nas sociedades modernas e civilizadas.
• Preocupar-se com os problemas gerados pelo colonialismo sob os
grupos colonizados.
• Conduzir projetos de desenvolvimento em vários cantos do mundo.
• Gerar a coexistência populacional entre as populações nativas com as
civilizadas.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender a cultura material deixada pelos


ancestrais da humanidade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Desde os tempos pré-históricos, o homem mostrava uma habilidade incrível


em se adaptar ao meio a qual viveu. Além dessa habilidade, o homem conseguia
modificar o seu ambiente para melhor viver e se estabelecer. Ao fazer isso, ele
produz a cultura material que servirá como herança para a humanidade de um
passado importante para a história.
A cultura material é definida como um acervo de objetos materiais e lugares
modificados pelos homens e que servem de informação para os pesquisadores. De
acordo com o antropólogo Keesing apud Marconi e Presotto (2009), a cultura
material está além de simples objetos, ela mostra um comportamento de povos que
existiram a milhões de anos atrás e que representaram as suas ideias e sentimentos
em objetos que hoje temos acesso a alguns deles. O antropólogo divide os objetos
em duas formas:
• Forma: Tem acabamento e representa um senso estético: machado,
cesta, canoa, entre outros.
• Função: uso, utilização.

A seguir, alguns exemplos de cultural material dividido em: habitação,


transporte, adornos e recipientes, e têxteis.

Habitações

As habitações variam com o decorrer do tempo, do lugar, do clima, da


matéria-prima e da tecnologia. Outros fatores que condiciona os aspectos físicos das
habitações são os fatores políticos e econômicos.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

As primeiras habitações que foram encontradas por arqueólogos e


antropólogos remetem ao período Paleolítico (2,7 milhões de anos até 10.000 a.C.).
Todavia, é no período Neolítico (9.000 a.C até 3.000 a.C) que apresenta os maiores
indícios de habitação com presença de palafitas, casas de ossos, paredes de pedra,
entre outros. Nestes períodos houve uma grande variação dos formatos e dos
metais utilizados para a construção das habitações, algumas ganharam uma forma
mais arredondada, outras formas mais retangulares, algumas moradias utilizavam
materiais mais sólidos para a construção, outras utilizavam materiais mais flexíveis.
As moradias podiam ser usadas por várias pessoas da comunidade, ou somente por
um grupo específico, tudo isso depende da comunidade e senso de propriedade de
cada tribo. As habitações nômades diferem das sedentárias, pois os indivíduos
nômades necessitam se locomover e desmontar os seus acampamentos de uma
forma rápida.

Réplica de habitação existente


no período Neolítico.

(Fonte: http://www.brasilescola.com/historiag/neolitico.htm)

As cavernas também foram uma forma de habitação, e é caracterizado como


abrigos rochosos utilizados com grande frequência na Ásia, África e Europa,
principalmente no período Paleolítico. Essa forma de habitação ainda existe em
alguns lugares do mundo. A preferência por elas se dá pela proteção de chuvas e

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR”
ANTROPOLOGIA
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

animais selvagens, mas isso se tornou uma desvantagem para povos sedentários
que dependiam da caça e colheita, pois muitas cavernas se localizam em lugares
desprivilegiados de rios e terras férteis.

Transportes

Os transportes são meios utilizados por indivíduos para se locomoverem de


um lugar para o outro de uma forma rápida e segura. O movimento pode ser gerado
por meio da força-motriz do próprio indivíduo, ou por domesticação de animais. Os
transportes são classificados de duas formas: terrestres e aquáticos. No período
Paleolítico é bastante discutida a presença de transportes, sendo que o primeiro
vestígio de transporte é do período Mesolítico (10.000 A.C a 5.000 A.C). O maior
avanço nos transportes terrestres veio com a invenção da roda, gerando os
primeiros carros de rodas pesadas, posteriormente com o seu aperfeiçoamento, veio
às raias e eixo que garantiram maior velocidade para os carros.
Os primeiros transportes aquáticos surgiram da utilização de troncos e peles
cozidas para flutuar e sustentar sobre as águas. Depois, desenvolveram as
primeiras embarcações aplicando posteriormente técnicas avançadas para as
navegações. O tamanho e a resistência dos transportes aquáticos variam da região
que a comunidade está estabelecida, pois em áreas de rios e lagos, os transportes
não necessitam de uma resistência reforçada como os barcos e navios de
comunidade que vive perto de mares.

Adornos

Os adornos é um elemento universal em todas as culturas, e dialoga com o


senso estético de cada povo. Além da qualidade de enfeite, ele serve também como
amuleto mágico de proteção. Eles podem indicar idade, estado civil, status social,
ocupação etc. Em países tropicais, os adornos não se apresentam em forma de
roupas e enfeites, mas sim em tatuagens e escarificações, esticam pescoços,
orelhas e lábios.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 10 - CULTURA MATERIAL
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Recipientes e Têxteis

Os objetos materiais como cabaça, osso, bambu, casca de árvores, conchas


e outros materiais da natureza servem como recipientes para pegar e guardar
alimentos e bebidas. Os recipientes são moldados e enfeitados de acordo com cada
cultura, eles são divididos entre cestaria que é a fabricação de cestos por meio de
junco, bambu, folhas de palmeiras que são torcidos e entrecruzados para gerar uma
cesta.
Os primeiros tecidos surgiram da utilização de pele animal como forma de
proteção do frio. Além da pele de animal, eram utilizadas cascas de árvores. Com o
decorrer do tempo, começaram a surgir às roupas manufaturadas, tecidas com
fibras vegetais ou lãs de animais.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A cultura material é um modo de compreendermos o passado de uma forma


factual, todos os povos que habitaram esse mundo deixaram alguma coisa que
provam a sua existência e exprime alguma característica de sua cultura.
Além desses elementos citados acima, as ferramentas e as armas são
também elementos importantes para a compreensão da cultura desenvolvida na pré-
história. Se não fosse a invenção das ferramentas, o homem não conseguiria
modificar a natureza e assim não sairia do seu estado natural. Os povos primitivos
usavam ferramentas simples e sem qualquer modificação, apenas com pequenas
alterações para cortar, raspar ou bater. O material usado era normalmente: pedras,
ossos e madeira.
As primeiras armas seguiam quase o mesmo ritmo das ferramentas
primitivas. Porém, as armas necessitavam de um desenvolvimento maior para poder
ter mais eficiência em um campo de batalha, por isso, é através dela que o homem
pode desenvolver as ferramentas e desenvolver a tecnologia. As armas eram
divididas entre as de contato: como os porretes, machados e espadas. As armas de
tiro: como os arcos e flechas, zarabatanas e lanças. E as armas de defesa: como os
escudos feitos de madeira ou metal.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Esta unidade tem como objetivo a compreensão da cultura e seu


relacionamento com a sociedade e os indivíduos. Compreendendo a sua natureza e
localização na vida do homem.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Para entendermos o que é a sociedade e o indivíduo, precisamos entender


também outro conceito importante para a antropologia: a cultura. A palavra cultura
surge do latim colere e significa cultivar ou instruir. Esse termo participa também de
várias outras áreas do campo do conhecimento, como por exemplo, a cultura
artística, a agricultura, ou a cultura histórica, porém, em cada área o significado
muda um pouco em relação à cultura utilizada no campo antropológico.
Essa palavra é usada frequentemente na educação, como sendo a indicação
do desenvolvimento do indivíduo, pois ele está se tornando uma pessoa mais culta.
Aqui a palavra cultura adquire um significado de intelectualismo e o inculto seria a
pessoa que não absorveu os conteúdos e ensinamentos de um professor. Na
antropologia, esse significado de cultura não tem valor, pois em tribos onde não
existe um sistema formal de linguagem ou que não existem escolas, o indivíduo
pertencente à tribo também desenvolve a sua cultura.
Outro aspecto que distancia o sentido acadêmico da palavra cultura do
sentido antropológico, é que na educação existe a boa ou má cultura, aquilo que
deve ou não ser passado, mas na antropologia, todas as culturas tem o mesmo
valor, sendo que nenhuma cultura é superior à outra. A única diferença entre as
sociedades na visão antropológica, é que umas se desenvolveram tecnologicamente
mais do que a outra, mas isso não é sinônimo de superioridade. Para os
antropólogos, só existem duas formas de seres humanos que não participam da
cultura, o recém-nascido e o homo ferus que é o homem privado de qualquer
contato humano desde o seu nascimento. Fora essas duas exceções, qualquer
sociedade, tanto rural como urbana, desenvolve cultura e as transmite para os
membros da sociedade.
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Definir e conceituar a palavra cultura é um pouco difícil na antropologia, pois


existem mais de 160 definições utilizadas em vários cantos do mundo não existindo
um consenso de termos entre elas. Alguns pesquisadores definem a cultura como
um conjunto de ideias que são passadas para as futuras gerações, outros
pesquisadores definem a cultura como uma moldagem dos comportamentos dos
membros que compõe a sociedade. Ela adquire tanto um aspecto material como
imaterial, mas o que existe de comum entre ambos é a passagem de algum tipo de
conhecimento para a geração atual e futura.

Mesmo existindo vários significados


para o termo cultura, uma qualidade
em comum é que ela busca passar
alguma forma de conhecimento
para os membros da sociedade.
(Fonte: http://www2.cultura.gov.br/site/2010/11/25/pontos-de-cultura-indigena/)

A seguir, a visão de alguns pensadores a respeito do conceito cultura:

• Para o antropólogo americano Ralph Linton (1893 – 1953), a cultura


seria uma junção de aspectos mentais, emocionais, sociais e religiosos
que são passados para os membros que compõe uma sociedade, essa
passagem do conhecimento se dá tanto por ensinamento como por
imitação.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

• Para Alfred Louis Kroeber (1876 – 1960) a cultura não é uma simples
passagem de conhecimento para ser utilizada na vida dos membros de
uma sociedade, ela é muito além de um comportamento, ela é uma
abstração do comportamento, que existe antes de qualquer ação, por
isso a cultura é a geradora das ações dos indivíduos em uma
sociedade.
• George M. Foster (1913-2006) relata que a cultura é expressa na
comunidade pelo uso de técnicas, pela consolidação de alguma
instituição e pelas práticas de crenças e valores.

Entre os antropólogos mais atuais, quem se destaca é o pesquisador Clifford


Geertz (1926 – 2006) que propõe uma visão de cultura mais relacionada com a
política. Para ele, o controle social é representado nos costumes, na religião, e nas
instituições sociais existentes nas sociedades. Esse controle social não é
representado de uma forma nítida para os indivíduos, ele age de uma forma
subjacente nas práticas que realizamos diariamente, tais como: os gestos, as
palavras, os sons, tudo aquilo que é imposto para o sujeito e resulta no controle de
suas experiências do cotidiano.

Geertz trás para a antropologia, uma visão mais política e


social da cultura, transformado ela em um mecanismo de
controle social.

(Fonte: http://www.indiana.edu/~wanthro/theory_pages/Geertz.htm)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 11 - A NATUREZA DA CULTURA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Entender o que é a cultura é uma tarefa fundamental para antropologia e


também para todas as áreas do conhecimento, pois sem cultura, nenhum
conhecimento tinha se desenvolvido e nós ainda estaríamos morando em cavernas.
Mesmo existindo uma divergência de significações do termo cultura, o homem a
compreende como algo necessário e que gera conhecimento, transmitindo para as
gerações futuras.
Além de entender o que é a cultura, o pesquisador necessita entender
também onde reside a cultura, isto é, a localização dela e como ela interage com o
indivíduo. Segue a classificação de acordo com o antropólogo Leslie A. White (1900
– 1975):

• Intraorgânica: compreende que a cultura reside dentro dos indivíduos


que compõe a sociedade, como conceitos, emoções, ideias, etc.
• Extraorgânica: entende que a cultura se localiza nos objetos
materiais, externos ao corpo humano, mas que se relaciona com o
homem, como as fábricas, as ferrovias, as escolas, entre outros.
• Interorgânica: a cultura se localiza na interação social entre os
indivíduos da mesma sociedade ou entre indivíduos de sociedades
diferentes.

Leslie adverte que qualquer item cultural, mesmo o mais simples, deve ser
considerado um elemento cultural, a partir do critério de simbolização –
representado por símbolos, e por um contexto de interelação social, cultural,
religioso e econômico.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 12 - A ESTRUTURA DA CULTURA E A PARTICIPAÇÃO DO INDIVÍDUO
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender como a cultura é estruturada através


de conceitos como traços culturais, padrões sociais, complexos culturais, entre
outros. Compreender também como funciona a participação do indivíduo na esfera
cultural.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A cultura dispõe de uma estrutura que funciona tanto na esfera consciente,


como na esfera inconsciente do indivíduo, mas ambas as esferas tem como função
garantir que a cultura seja preservada. A seguir a explicação de cada componente
da estrutura cultural:
• Traços culturais: dentre os elementos que compõe a estrutura da
cultura, os traços culturais são os mais difíceis de identificar, pois a sua
característica de elemento menor corrobora para a dificuldade de
análise. Os traços culturais são elementos menores que permitem a
descrição da cultura, podendo ser isolado no comportamento do
individuo ou da cultura a qual ele pertence, porém quando isolado, ele
perde o valor e seu significado. Os traços culturais podem ser
representados de uma maneira simples como os objetos que compõe o
nosso cotidiano, tais como a mesa, a cadeira ou o vestido. E podem
ser também representados por elementos imateriais como à
comunicação e as habilidades.
Para melhor entender os traços e seu caráter de insignificância quando
isolado, seria como isolar a tinta do tubo da caneta, ambos acabam
perdendo a sua utilidade, da mesma forma que isolar o arco da flecha,
a função original acaba se perdendo. Os pesquisadores preocupam-se
em entender como os traços culturais se relacionam em uma cultura e
não em classificá-los, pois o mesmo material existente em sociedades

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 12 - A ESTRUTURA DA CULTURA E A PARTICIPAÇÃO DO INDIVÍDUO
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

diferentes, ganha um sentido totalmente diferente na medida em que é


utilizado e o valor dado a esse objeto.
• Padrões culturais: os padrões culturais são classificados como
semelhanças de atitudes, costumes e hábitos praticados por indivíduos
que compõe a mesma sociedade, que dão coerência e continuidade
neste mesmo padrão que a maioria da população adotou em sua
civilização. O padrão comportamental é guiado por meio de um valor a
qual a maioria da população considera certo ou justo, esse valor é
representado como norma que irá moldar o comportamento dos
habitantes da sociedade e servirá como modelo para as futuras
gerações. Essa norma tem um caráter homogêneo, isto é, ela é igual
para todos os membros pertencentes e tenta torná-los iguais nos
costumes, atitudes e no modo de pensar.
Os padrões culturais podem ser divididos em forma, relativo ao jeito
como é construído uma casa em uma sociedade, e tem a característica
psicológica que designa como o membro da sociedade vai tratar o seu
próximo ou qual é a visão de mundo que ele porta.
Em suma, o padrão cultural é uma generalização do comportamento
que determinado grupo considerou certo e quis que todos os indivíduos
que compõe a sociedade praticassem essa mesma conduta. Todavia,
nenhuma sociedade é totalmente homogênea, sendo que seus
indivíduos possuem pensamentos diferentes, o conflito e choque entre
visões do que é moralmente correto se torna algo inevitável.
• Complexos culturais: é uma variação dos traços culturais, só que
feito por meio de um conjunto desses traços, ganhando um aspecto
funcional. A relação de vários traços da mesma cultura ou com
diferentes culturas é também uma das características dos complexos
culturais. Cada cultura tem um número variado de complexos culturais
que, ao se relacionar, gera a identidade da cultura de uma determinada
sociedade. Por exemplo, a festa junina que é uma mistura de dança,
música, culinária e religião que resulta em uma característica típica de
uma sociedade.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 12 - A ESTRUTURA DA CULTURA E A PARTICIPAÇÃO DO INDIVÍDUO
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• Configurações Culturais: esse conceito tem como função, unir os


traços culturais e complexos em uma determinada região. A
configuração cultural é a responsável por harmonizar os elementos
culturais de um povo, pois a cultura não é um amontoado de dados
culturais, ela precisa, para trabalhar perfeitamente, de uma interrelação
entre os seus elementos para poder funcionar. Pode acontecer de duas
ou mais sociedades apresentarem elementos iguais, mas funcionar de
modo diferente, isso acontece por causa de como os elementos foram
sistematizados.
• Áreas culturais: é a estrutura material da cultura, representado pelo
território geográfico em que determinado povo e cultura habita. As
áreas culturais podem ser extensas, abrangendo uma nação, ou
podem ser regionais, representado por uma tribo ou comunidade
pequena. O estudo desses territórios é de suma importância para o
entendimento de uma cultura específica, bem como a sua origem e
expansão.
• Subcultura: esse termo designa uma variação da cultura hegemônica
de uma determinada sociedade. A subcultura se desenvolve através de
grupos minoritários em reação a cultura vigente em uma sociedade, ela
não tem pretensão em ser superior a cultura predominante, seu
objetivo é ser diferente. A subcultura e a cultura podem existir em um
mesmo território e podem manter uma relação harmônica, pois muitos
de suas características surgiram da cultura dominante.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Entender como a cultura se localiza em uma sociedade é entender a sua


relação com os indivíduos e com as instâncias que regulamentam o agir do homem.
Além da localização, o pesquisador analisa também o nível de participação que o
indivíduo tem na sociedade à qual vive. A classificação da participação do indíviduo
ocorre das seguintes formas de acordo com Linton apud Marconi e Pressotto (2009),
que podem ser obrigatória ou facultativa, universais, alternativas e especialidades:

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 12 - A ESTRUTURA DA CULTURA E A PARTICIPAÇÃO DO INDIVÍDUO
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• Obrigatória: o indivíduo tem a obrigação de participar em determinado


evento ou instituição existente na sociedade. Por exemplo, na
sociedade brasileira, a frequência escolar é obrigatória para os
menores de idade.
• Facultativa: O indivíduo tem o direito de escolha se quer ou não
participar de algum evento da sociedade a qual ele vive. Por exemplo,
as eleições na sociedade brasileira são facultativas para maiores de 16
anos e menores de 18 anos.
• Universais: mesmo existindo uma variação de subculturas em uma
sociedade, existe uma característica universal entre elas, essa
característica pode ser a linguagem, a visão política, a economia. Essa
coisa em comum nos indivíduos que compõe a sociedade é chamada
de universais.
• Alternativas: esse modo de participação resulta na existência de
vários traços singulares em determinados indivíduos que não se
assemelham com outros indivíduos na sociedade. Essa característica
não é obrigatória e existe na maioria das vezes em sociedade
complexas e grandes. Por exemplo, o uso de tatuagens e alargadores.
• Especialidades: esse modo de participação representa certas normas
e práticas que corresponde a grupos específicos existentes na
sociedade. A aceitação dessas práticas pelo restante da sociedade é o
diferencial em relação à participação alternativa, a especialidade
dialoga muito com a sociedade – mesmo se diferenciando dela, e é
aberto para toda a sociedade participar de suas práticas e costumes.
Por exemplo, a saudação dos escoteiros.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 13 - PROCESSOS CULTURAIS
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é explicar como funciona o processo da cultura na


sociedade, analisando a sua dinâmica e sua organização.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Os processos culturais são as análises dos movimentos que a cultura realiza


na sociedade. Tanto as preservações como as assimilações de novos elementos
fazem parte do estudo dos processos que compõe a sociedade. Abandonar os
velhos traços culturais e adquirir novos traços vindos de diferentes lugares do
mundo é uma característica comum para manter a existência de uma definida
cultura. Os elementos mais básicos que fazem parte do processo cultural de acordo
com Marconi e Presotto (2009) são: mudança cultural, inovação, aceitação social,
integração cultural, eliminação seletiva, difusão, aculturação, assimilação,
transculturação e endoculturação.

Segue as explicações de cada termo:

• Mudança Cultural: Esse processo tem como objetivo a alteração


parcial ou total na cultura específica de um povo. Essas modificações
podem ser nos traços culturais, complexos ou padrões que
representam a identidade de uma sociedade. O processo cultural pode
ocorrer de uma forma fácil com a aceitação da maioria da população,
ou pode ocorrer de uma maneira difícil, resultando em conflitos
regionais ou gerais na sociedade ou país. A mudança em uma cultura
acontece através do contato com culturas diferentes, por meio da
técnica, da tecnologia, dos costumes, da economia e de outros
inúmeros fatores que começam a penetrar na sociedade que até então,
desconhecia tais elementos.
Com a absorção desses novos elementos, o processo de mudanças
pode dar-se de uma forma rápida ou também pode advir de uma forma

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 13 - PROCESSOS CULTURAIS
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lenta, tudo depende de como a sociedade está preparada para tais


mudanças, ao acontecer à absorção, velhos hábitos e costumes são
deixados de lado e os indivíduos presenciam o crescimento de sua
cultura. Todavia, esse crescimento não é sinônimo de qualidade, pode
acontecer que, ao aspirar tais elementos, a sociedade entre em caos e
a discórdia venha reinar, como também é possível existir paz e
harmonia.
As mudanças podem originar de consequências de fatores internos ou
de elementos externos, sendo categorizadas as seguintes causas: a
aceitação de novos elementos ou a transformação de velhos traços e
complexos culturais, empréstimos culturais de outras sociedades, a
exclusão de elementos que não funcionam mais na sociedade e a
perda de certos elementos na passagem de geração para geração.
A mudança cultural não é um fato contínuo e nem uniforme, existem
inúmeras variações que determinam a cultura, tornando difícil prever
resultados e observações futuras. Essa mudança não acontece
somente com os povos que se mantém isolados de qualquer outra
cultura, correndo o risco de desaparecerem por condições sociais,
religiosas e ambientais.
• Inovação: Esse processo cultural se inicia com a ação de um indivíduo
que gera inúmeras consequências. A ação é classificada das seguintes
maneiras: como variação que representa uma sucinta modificação nos
arquétipos de conduta, como descoberta que trabalha junto com a
criatividade e é resultado de uma necessidade momentânea ou
duradoura que o indivíduo procura resolver. A descoberta tem outra
característica, ela pode ser acidental ou resultado de um processo
mental. A inovação pode atuar como tentativa quando sugerem
elementos que tenha alguma ou nenhuma ligação com o passado.
• Aceitação Social: A aceitação social é um processo a qual uma
sociedade adquire um novo traço cultural de uma sociedade diferente,
através da imitação de costumes. Essa imitação pode iniciar por meio
de um único indivíduo e estende-se posteriormente para os demais

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 13 - PROCESSOS CULTURAIS
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habitantes da sociedade. Porém, esse traço cultural novo pode ser


rejeitado por certas pessoas que, guiadas por preconceito ou medo,
não querem que isso se espalhe em sua sociedade. A aceitação de um
elemento externo é muitas vezes gerada pelo o seu significado e
utilidade que trará para a sociedade a qual ele pretende ser inserida.
• Eliminação Seletiva: A eliminação seletiva é o fenômeno gerado pela
competição entre elementos novos e antigos que compõem a
sociedade. Esse conflito é normal em sociedades que aceitam novos
elementos culturais, o conflito pode ser discreto e quase imperceptível
ou pode ser agitado, trazendo grandes consequências para a
sociedade. Um exemplo bastante significativo foi à revolta da vacina
ocorrida no Brasil em 1904, quando o ministro da saúde decretou a
vacina obrigatória para os cidadãos do Rio de janeiro. Houve conflito e
teve uma rejeição desse novo elemento que era a vacina.
• Difusão Cultural: A difusão é um processo de expansão da cultura por
meio da expansão do território, sendo que a troca cultural ocorre por
imitação ou por estímulos subordinados por condições sociais, que
podem ser favoráveis ou não. Um exemplo de difusão cultural são as
relações pacíficas de um povo em relação ao outro, por meio de ideias
e tecnologia, mas nem sempre ocorre essa relação pacífica, sendo que
pode vir a existir uma modificação nos traços culturais para que ocorra
a difusão.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Os processos culturais são necessários para que a cultura possa se manter


viva, raramente culturas isoladas tem a capacidade de sobreviver por muito tempo,
por isso as formas de como uma cultura se relaciona com a outra vai além de uma
mera troca de conhecimento, é uma questão de sobrevivência.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 13 - PROCESSOS CULTURAIS
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Além dos processos citados acima, temos também o processo de aculturação


que além de aceitar traços de uma cultura diferente, mistura com alguns elementos
de sua cultura gerando um traço novo. As fusões desses elementos entram em
movimento e se desenvolvem, assim, alguns traços ganham um aspecto de
naturalidade, como se fosse produto de uma única cultura.

Do processo de aculturação surge a assimilação, o sincretismo e a


endoculturação. Vamos entender cada um dos conceitos:

• Assimilação: Ocorre quando grupos que moram em um mesmo


território e tem culturas diferentes, realiza uma espécie de
solidariedade cultural, esse processo visa garantir o sucesso e a
sobrevivência de ambas as culturas. Isso pode ocorrer também, em
relação à cultura do campo e a cultura urbana que se relacionam e
geram fenômenos aceitos por ambos, por exemplo, o sertanejo
universitário que agrada tanto os indivíduos que moram em zonas
rurais como em zonas urbanas.
• Sincretismo: Esse fenômeno acontece no campo religioso, ele é a
fusão de dois elementos religiosos – crenças, ritos, que geram uma
prática religiosa nova ou uma nova religião. Um exemplo típico do
sincretismo brasileiro é a religião Umbanda que mistura práticas cristãs
com rituais africanos e indígenas.
• Endoculturação: O processo de endoculturação ocorre quando existe
um condicionamento de comportamento das gerações mais jovens. A
endoculturação visa assegurar que a cultura hegemônica exista
futuramente e que não seja extinta com o decorrer dos anos. Cada
sociedade utilizará de seus artifícios para que esse processo se
concretize.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 14 - A FAMÍLIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é compreender o termo família e suas configurações


ao redor do mundo e compreender também a sua função.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A família é um elemento existente em todas as sociedades no mundo. A


importância é fundamental para que possa existir algum tipo de sociedade. Entre as
civilizações espalhadas pelo mundo, a família pode ocupar um lugar central e
dominante como nas sociedades ocidentais, ou pode ter uma mínima importância
como em algumas sociedades agrárias que dão atenção para outras formas de
relações sociais.
Para a maioria dos estudiosos, a família simboliza a origem da sociedade,
pois é a primeira forma de agrupamento já registrado pelo homem. O que difere uma
da outra é a sua forma de estrutura e função, mas o que existe de mais objetivo
entre elas é a sua função orgânica de preservação e reprodução, surgindo em
seguida à função social. A forma de família sofreu várias modificações com o passar
do tempo, isso foi devido ao seu relacionamento com as instituições sociais e
religiosas, como o Estado e a igreja, e também a influência econômica que é
determinante para sua configuração. Ela é influenciada pelas regras que regem a
sociedade, regras que vão desde como devem ser realizadas as relações sexuais,
com quem pode realizar essas relações e como os pais devem criar os seus filhos.
Uma das formas para se constituir família, principalmente na sociedade ocidental, é
o casamento, mas isso não é um fator determinante.
Conceituar a família é um pouco difícil, pois igual ao termo cultura, existem
várias visões que variam de pesquisador para pesquisador. Mas iremos mostrar
algumas definições dos principais estudiosos do assunto. Para o antropólogo
americano George Peter Murdock (1897 – 1985), a família é um misto de relação
biológica com relação econômica, porque ela tem a função de preservar a prole e de
dar sustento e formação para que ela possa futuramente constituir a sua família.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 14 - A FAMÍLIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Para a antropóloga Lucy Mair (1901 – 1986) a família está mais inclinada a
uma explicação natural e biológica, como um grupo onde vivem em harmonia pais e
filho. Além dessas definições, hoje vemos outra forma de configuração de família,
como por exemplo, mãe e filho, sem a presença de um pai, ou uma família
homossexual. Por esses motivos, o estudo sobre a família não pode terminar e é
necessário que o pesquisador esteja em constante atualização de conceitos e
práticas.

Para Murdock, a família tem a função de dar


suporte tanto biologicamente, protegendo o filho,
como economicamente, dando a base para que
ele possa sobreviver sozinho.
(Fonte: http://www.webafriqa.net/library/anthropology/murdock/)

Os modelos de família.

As sociedades sendo uma diferente da outra, fazem com que as famílias


também participem dessa diversidade cultural. Ao classificar os grupos familiares, os
pesquisadores notaram que existem certas regularidades nos dados coletados em
vários cantos no mundo. Essas regularidades deram modelos para classificar as
famílias, esses modelos são: elementar, extensa, composta, conjugada-fraterna e
fantasma.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 14 - A FAMÍLIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Elementar

O que constitui a família elementar é a criação de um grupo onde tem: um


homem, uma mulher e seus filhos. Esse é um dos modelos mais antigos de família
que se tem registro, gerando a base para o desenvolvimento da sociedade,
principalmente a ocidental. A partir da família elementar, são criadas as relações
primárias, essas relações são as primeiras relações que uma criança tem em sua
vida. Cuidar das relações primárias é fundamental para que a criança futuramente
tenha uma relação saudável com os demais habitantes da sociedade.
O lado negativo dessa forma de família, é que, na medida em que a criança
vai crescendo e ganhando autonomia, ela acabará deixando a sua antiga família
para criar a sua, e aquela família poderá deixar de existir com a morte dos pais.
Além do modelo elementar citado acima, outra característica forte nas famílias do
ocidente é a prática da monogamia, isto é, o homem ou a mulher só pode ter um
parceiro, mas aceitando outra esposa ou esposo para compor a família. Praticas
poligâmicas – casamento com mais de uma pessoa, é visto de maneira repulsiva e
antinatural.

Extensa

A família extensa é composta por mais de duas famílias elementares e


ligados por laços consanguíneos. Por causa da ligação sanguínea, as famílias
mantém um laço de respeito e de ajuda, abrangendo tios, avós, primos e sobrinhos.

Composta

Esse modelo e família são representados pela existência de três ou mais


cônjuges ou filhos. Em sociedades monogâmicas, essa prática é exercida quando
existe um segundo casamento ou quando acontece um processo de adoção.
Madrasta, padrasto e enteado são exemplos de famílias compostas.

Conjugada-Fraterna

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 14 - A FAMÍLIA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Unidade estabelecida por dois ou mais irmãos ou por suas esposas ou filhos.
A base é o laço de sangue que leva dois irmãos a morarem sozinhos, um ajudando
o outro.

Fantasma

A família fantasma tem a mesma aparência da família elementar, todavia o


que as difere é que o esposo tem somente a função de procriação. Quem assume a
tarefa de educar é o irmão mais velho da mãe da criança.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A família é sem dúvida, o grupo social mais importante da sociedade, pois


através dela a sociedade existe e se configura. O modo como a família educa a
criança é um fator determinante para a forma que a sociedade assumirá no futuro.
Para entender melhor a função da família, foram divididas entre funções básicas e
subsidiárias:
As funções básicas são as funções fundamentais encontradas em todas as
formas de família, entre suas características, estão presentes:
• A Sexual: atende as necessidades sexuais do casal.
• A de reprodução: visa à perpetuação por meio da prole.
• A econômica: responsável pelo sustento e proteção dos filhos.
• A educacional: responsável pela instrução moral e intelectual dos
filhos.
• A socializadora: responsável por preparar o filho para o convívio
social.

A função subsidiária diz respeito sobre os aspectos religiosos, políticos e


ideológicos necessários para a formação do indivíduo.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 15 - UNIÃO E CASAMENTO.
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é explicar as formas de união e casamento


praticados em várias sociedades ao redor do mundo.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A união, ou casamento, é a prática aceita em várias sociedades e diz respeito


sobre relações entre sexos opostos ou iguais. A ideia de união é caracterizada como
pela atração de dois sexos opostos ou iguais com intuito de satisfazer impulsos
sexuais e de convivência. O casamento ou matrimônio é a cerimônia realizada para
atingir os mesmos fins que a união, no entanto, o que os diferencia é as regras que
são impostas no momento em que é celebrado o matrimônio.
O casamento uniu pessoas de famílias elementares diferentes, visando
sempre à constituição de uma nova família. Na maioria das sociedades ocidentais e
orientais, o homem que pretende se casar, deixa uma família a qual ele nasceu para
constitui uma nova família a fim de procriação, porém, ele ainda mantém laços com
a sua antiga família. Por meio do matrimônio, as pessoas criam novas relações
sociais e adquirem novos direitos, a imagem desse homem que resolveu se casar
também modifica, ganhando um novo status na sociedade. A relação entre o homem
e a mulher depois do casamento varia de sociedade para sociedade, em algumas
sociedades a esposa tem um grau de liberdade maior que em outras sociedades
que vê a mulher como um ser submisso. Além da união entre dois indivíduos, o
casamento é também a união entre grupos sociais. O casamento tem a pretensão
de ser até que um dos membros morra, mas existe o cancelamento do contrato em
casos específicos.
Algumas regras foram categorizadas para ajudar a entender como é realizado
o casamento em diversas sociedades espalhadas pelo mundo, as principais são:

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 15 - UNIÃO E CASAMENTO.
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Endogamia

A endogamia é a prática que obriga o indivíduo a escolher uma esposa ou


marido dentro do próprio grupo que pertence. Esse grupo pode ser definido através
da situação financeira, da classe social, ou da nacionalidade do indivíduo. 10% da
população mundial realizam práticas endogâmicas que pode ser de uma forma
consciente, como as castas indianas, ou pode ser de uma forma inconsciente, por
exemplo, a escolha de um marido por motivos econômicos em uma sociedade
democrática e liberal.

Exogamia

A exogamia é a prática contrária da endogamia, isto é, se na endogamia o


sujeito tem que se casar com alguém do grupo a qual ele pertence, na exogamia o
sujeito deve se casar com alguém que não pertença ao grupo que ele vive. A
exogamia é dividida em: indiferenciada, quando a proibição é em relação a um
parente genético, como irmãos ou pais, e tem também a restrita, quando se refere a
parentes genealógicos, como primos.

A exogamia é uma prática muito


comum em tribos indígenas, pois além
de promover a paz entre as tribos, é
também um meio para expandir a cultura
de uma tribo específica.

(Fonte: http://zankyou.terra.com.br/p/como-e-um-casamento-indigena)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 15 - UNIÃO E CASAMENTO.
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Pré-Marital

A prática pré-marital é o ato de se relacionar sexualmente antes do


casamento. Essa prática é aceita em várias sociedades sem existir uma grande
restrição ou reprovação.

Regras em Relação a Modalidades de Casamento

O casamento pode ser celebrado por meio de práticas monogâmicas ou


poligâmicas. A monogamia é a celebração do casamento entre um homem e uma
mulher, sem a existência de um terceiro membro. Esse exercício é muito comum no
ocidente, principalmente nos países considerados cristãos.
A poligamia é o casamento com mais de uma pessoa, essa prática é dividida
em vários subgrupos:
• Poliandria: Casamento de uma mulher com dois homens ou mais,
essa ação pode ser com cônjuges sem nenhum grau de parentesco, ou
pode ser com irmãos.
• Poliginia: Casamento de um homem com duas ou mais mulheres,
essa ação pode ser com cônjuges sem nenhum grau de parentesco, ou
pode ser com irmãs.
• Grupal: União de várias mulheres e homens, com ou sem grau de
parentesco.

Regras em relação à Forma de Casamento

Essas regras dizem a respeito das proibições que certas pessoas tem em se
casar com a outra, bem como as regras que obrigam tal pessoa a casar com a outra.
São divididas da seguinte forma:
• Permitido: não existe restrição para o casamento, assim o indíviduo é
livre para escolher com quem vai casar.
• Obrigatório: O sujeito não tem escolha com quem vai casar. A
escolha é dos pais ou de alguma instituição.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 15 - UNIÃO E CASAMENTO.
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

• Preferencial: O indivíduo é livre para casar, mas ele é incentivado por


familiares.
• Levirato: Costume o qual a viúva se casa, preferencialmente com o
irmão do seu finado marido.
• Fictício: tem a finalidade de conseguir a herança, as relações sexuais
são realizadas com outras pessoas.
• Incesto: proibição de relação sexual com parentes culturalmente
identificados. As punições podem chegar até a morte para
determinados casos.
• Arranjado: Quando o casamento é manipulado para resolver algum
problema econômico ou político.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Como vimos no decorrer da unidade, o casamento se configura de diferentes


formas nas mais variadas sociedades. Por exemplo, nas sociedades ocidentais, a
prática da poligamia é vista como algo errado e sendo proibido por lei, no entanto,
no oriente médio, essa prática é vista como algo comum e praticado constantemente
em diversas sociedades orientais. Existem também várias formas de obtenção de
uma noiva que pode ser desde a vontade da própria noiva, até casamentos
comprados, onde o noivo paga certa quantidade de dinheiro para o pai da noiva.
Outra forma de obtenção que chega a ser estranho e raro para nós – é os ocidentais
colocarem a noiva como herança, tribos da Nigéria, por exemplo, deixam de
heranças, mulheres que inclusive já pertenceram aos avôs para o herdeiro.
Sobre o divórcio, mesmo não sendo visto com bons olhos em todas as
sociedades, existem regras que regem o processo de divórcio, tais como: adultério,
renúncia, incapacidade sexual, doença que impede a procriação, maus tratos, etc.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 16 - ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Esta unidade tem o objetivo de analisar a organização econômica


desenvolvida por tribos e civilizações ao longo da história.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A organização econômica é uma subárea da antropologia responsável por


analisar e investigar os sistemas econômicos desenvolvidos ao longo da história.
Essa área estuda a produção de bens e como funciona a relação de troca e de
valores em diferentes contextos e sociedades humanas.
O modo de como uma sociedade produz e consome é específico em cada
época. Hoje o que entendemos de consumo e mercadoria é uma forma diferente do
que existia há tempos atrás, porém, ainda existem sociedades que participam de
uma forma diferente de relações econômicas, sendo uma importante fonte de estudo
da antropologia. O social é também analisado nesse estudo, pois está
extremamente ligada a área econômica com a social, por exemplo, a economia de
um país só se desenvolve se tiver uma classe média forte para desenvolver e
aquecer um mercado consumidor. Por isso, é imprescindível a análise social e
política na organização econômica.
O estudo se inicia por meio da compreensão da evolução social dos sistemas
econômicos, constatando a existência de diferentes estágios. De acordo com
Morgan apud Marconi e Presotto (2009), os estágios do sistema econômico mundial
se desenvolveram em três fases, são elas:
• O estágio de coleta e de caça: Onde os indivíduos praticavam a
coleta de alimentos e caçavam para se alimentar.
• O início da agricultura e das aldeias: O homem passa a viver de
uma forma sedentária, deixando a vida nômade e inicia o plantio de
seus alimentos.

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UNIDADE 16 - ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
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• A criação da instituição política e o avanço da tecnologia: O


homem cria instituições políticas para melhor organizar a sociedade e
utiliza-se da tecnologia para desenvolver a economia.

Porém, essa classificação é muito discutida no ambiente acadêmico, pois


Informações posteriores de vários pesquisadores demonstraram que existem
inúmeros sistemas econômicos que vão além dos modelos estabelecidos acima.
Essa teoria econômica tem sua eficácia na análise de sociedades pequenas, mas
falha em tentar investigar sociedades complexas como a nossa. Por isso, a
antropologia econômica passou a se fundamentar nas análises dos autores da
sociedade e nos motivos das transformações econômicas. Perguntas como: quais
são os meios necessários para gerar a subsistência em uma sociedade? Como é
dividido a produção e o trabalho na sociedade? Como é classificado o valor de uma
coisa? Essas perguntas substituíram os modelos pré-estabelecidos utilizados pelos
antropólogos.
De acordo com as antropólogas Marconi e Presotto (2009), por menor que
seja a sociedade, ela tem a necessidade de produzir e consumir, embora muitas não
realizem um planejamento econômico para prever gastos, controlar estoque e a
distribuição. Alguns fatores são necessários para que exista produção, tais como o
meio ambiente, cultura e população. A técnica se faz também necessária nesse
processo, indo desde meios primitivo para se produzir, até a utilização da tecnologia
para grandes escalas de produção.
Mas, antes de chegar ao uso da tecnologia para ampliar a produção, a
organização econômica tinha o objetivo de produzir bens para a sobrevivência da
própria sociedade. Garantir o alimento era a primeira forma de relações econômicas
da sociedade. Essa organização econômica foi dividida das seguintes formas:
coleta, caça e pesca, forragem intensiva, agricultura iniciante, pastoreio e agricultura
intensiva.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 16 - ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
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Coleta

A coleta consiste em recolher produtos fornecidos pela própria natureza.


Esses produtos podem ser desde sementes e frutos, até raízes e insetos, a coleta
varia de ambiente para ambiente, sendo no esgotamento dos produtos em uma
região, os indivíduos são obrigados a mudar para uma região inexplorada. A prática
da coleta leva a tribo a ficar procurando alimento em várias regiões, praticando o
nomadismo.

Caça e Pesca

A caça e a pesca têm como objetivo o consumo da carne do animal caçado


ou pescado. Muitos participantes dessa prática também utilizam da coleta para
sobreviver, sendo o consumo de grãos, legumes e frutas algo complementar. Para
caçar ou pescar, o individuo precisa ter instrumentos a qual auxilia ele em sua ação,
por isso, quanto mais sofisticada for a técnica e os instrumentos, mais ele terá êxito
em seus objetivos.
A caça varia de tamanhos e espécies, alguns preferem caçar animais
grandes, outros têm preferência por animais de médio porte ou pequenos, alguns
têm preferência em aves e outro em mamíferos aquáticos. A caça e a pesca
dependem também da situação local, sendo na ausência de animais para se caçar
ou pescar, os indivíduos que compõe a sociedade mudam de local.

Forragem Intensiva

As tribos que se utilizam dessa prática, consomem preferencialmente plantas


silvestres em sua dieta, mas ao mesmo tempo são carnívoros e vegetarianos.

Agricultura Iniciante

Esse modelo de agricultura foi uma das primeiras a serem praticadas pela
humanidade, consistindo no plantio por meio da enxada e da lavoura. No período

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UNIDADE 16 - ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
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Neolítico, os homens iniciaram o cultivo de ervas, raízes e árvores, desse modo,


eles começaram a se fixar nas terras, abandonando o nomadismo.

Pastoreio

A prática pastoreia tinha como objetivo a criação de animais em áreas


cercadas para o consumo das famílias. Animais como: cabras, ovelhas e bois eram
tratados pelos indivíduos e serviam como alimento para a tribo.

Agricultura Intensiva

A agricultura intensiva se utiliza de animais para controlar e intensificar a


produção na lavoura. O uso do arado se iniciou no oriente e depois se expandiu para
Europa.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Entender a organização econômica é entender como a sociedade evoluiu no


sentido de produzir e de se relacionar com o próximo. Além de estudar as formas de
produção, outra análise importante para a antropologia econômica é relação de
produção. Em sociedades primitivas e sua economia de subsistência, as relações de
produção não eram tão divergentes como nas sociedades mais complexas. A
evolução da tecnologia caminha junto com as diferenças de classes, por isso, a
análise econômica está associada com a análise política.
Em sociedades primitivas, os sistemas de trocas eram feitos diretamente, sem
uma moeda de troca, assim, o fabricante era responsável por sua produção e
conhecia todas as fases, conhecendo também, o seu verdadeiro valor. Isso não
acontece nas sociedades modernas onde as relações econômicas são mediadas por
uma moeda em comum. Nessas sociedades, o sujeito não conhece realmente o
valor do produto, pois a produção é fracionada, assim, ele tem consciência de uma
parte da produção. O efeito dessa alienação de produção resultará na alienação
política e social.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 17 - PROPRIEDADE E POSSES DE TERRAS
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo dessa unidade é compreender a ideia de propriedade e das posses


de terras nas mais variadas sociedades.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A propriedade é um dos motivos principais para o homem se tornar um


sedentário em um espaço. Ao definir um espaço como seu, ele se estabelece nele e
deixa de praticar o nomadismo. Com o estabelecimento da propriedade, o homem
cria certos direitos e privilégios para proteger a sua propriedade e garanti-las para as
futuras gerações.
A propriedade abrange desde terras, habitações, automóveis ou qualquer
outra coisa material, até coisas imateriais como ideias, canções, descobertas
cientificas, entre outros. O corpo também é uma propriedade e é exclusiva do
indivíduo, porém nem sempre essa ideia foi respeitada, existindo escravidão em
vários cantos do mundo. A propriedade pode ser individual, pertencente a um
individuo ou um grupo de indivíduos, ou pode ser coletiva, pertencentes a todos que
compõe a sociedade.
Ela pode ter características imóveis, como um terreno ou casa, ou pode ser
um bem móvel, por exemplo, uma joia que a mulher usa em determinadas ocasiões.
O dono de uma propriedade era visto em comunidades mais primitivas como o chefe
dominante, e por isso, os indivíduos que moravam nas terras dele eram obrigados a
prestarem serviços ou a pagarem tributos para ele. Os chefes e donos das
propriedades adquiriam funções por causa da sua condição, essas funções variam
desde a celebração de rituais e práticas religiosas, até comandos de exércitos.
A propriedade pode ser passada para outras pessoas e familiares, ou ser
inalienável, isto é, ninguém pode tocar ou tê-la. Na maioria das vezes, a
transferência de uma propriedade para outra pessoa ocorre por motivos de filiação
sanguínea. Entre os direitos relativos à propriedade, são eles:

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 17 - PROPRIEDADE E POSSES DE TERRAS
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• Direito de Uso: O individuo tem o direito de usar como bem entender a


sua propriedade.
• Direito de Controle: O indivíduo tem o direito de controlar a divisão de
sua propriedade.
• Direito de transferência: O indivíduo tem o direito de transferir a sua
propriedade para quem ele quiser.

A propriedade
privada foi responsável pela
fixação do homem em um
território e também trouxe o
desenvolvimento de leis e
direitos para protegê-las.

(Fonte: http://p1.pkcdn.com/propriedade-privada_200644.jpg)

Com o surgimento da propriedade, ocorreu a criação de direitos e deveres


entre as pessoas. Antes de existir a propriedade, todos viviam em um estado natural
de igualdade, não sendo necessária a existência das leis para punir ou beneficiar
determinadas pessoas, no entanto, a lei tornou-se necessária a partir do momento
em que algumas pessoas cercaram um pedaço de terra e afirmaram que eram
delas.
A posse de terras como propriedade privada, não alude somente à prática de
agricultura e moradia, o proprietário tem o direito de explorar todos os recursos
naturais existentes nela, como por exemplo, o petróleo e os minerais. Guiados por
essa ideia, diversos proprietários exploraram as suas terras, extraindo tudo que ela
pode oferecer. Essa prática inconsequente gerou impactos ambientais severos para
o meio ambiente e também para as pessoas.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 17 - PROPRIEDADE E POSSES DE TERRAS
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A terra pode ganhar também, uma conotação mística e ser usada como um
lugar sagrado para cultos e rituais, por exemplo, os índios americanos que protegem
certos espaços por considerar como sagrado.

Por causa dos direitos de posse,


algumas pessoas abusam dos
direitos a elas concedido, não se
importando com as consequências
dessa ação na natureza.

(Fonte: http://www.zjmineracao.com.br/noticia.php?id=684)

Em algumas sociedades a
terra é vista como algo a ser
protegido e não explorado, pois
ganha um aspecto místico e religioso.
(Fonte: http://blogs.estadao.com.br/radar-global/por-terra-de-antepassados-indios-americanos-dizem-
nao-a-us-1-bilhao/)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 17 - PROPRIEDADE E POSSES DE TERRAS
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BUSCANDO CONHECIMENTO

A propriedade e a posse de terras foram pontos decisivos para que o homem


se fixasse em um lugar. A partir de sua fixação, ele pode construir e desenvolver
uma sociedade. Na esfera legal, a propriedade incentivou o desenvolvimento de leis
para proteger e garantir o direito do proprietário sobre suas coisas. Enfim, é
impossível entender a sociedade e o indivíduo sem analisar a propriedade e o direito
de posse, todavia, o pesquisador deve analisar também os seus aspectos negativos,
como a exploração da natureza e a desigualdade gerada pela propriedade.
Depois do surgimento da propriedade, o próximo passo que a humanidade
deu rumo à civilização, foi à invenção da aldeia. A aldeia é classificada como um
conjunto de casas separadas, mas fazem parte de um todo, de uma pequena
sociedade. A aproximação entre elas é intencional e tem como objetivo ocasionar a
relação entre os membros da aldeia. Além de proteger as famílias residentes e
cultivar o plantio e a caça, as aldeias têm um papel socializador que tenta tornar o
indivíduo mais altruísta e colaborativo para a aldeia.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 18 - ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Esta unidade tem como objetivo a compreensão do conceito de organização


política e suas formas na sociedade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A organização política representa o conjunto de instituições quem tem como


função a manutenção da ordem, do bem-estar e da segurança dos grupos que
convivem em uma sociedade. As instituições tem o dever de garantir os direitos
individuais, a organização, o sistema político e econômico e a proteção dos
cidadãos.
Para Marconi e Presotto (2009), a organização política está estritamente
ligada com a cultura de cada povo, não existindo qualquer povo sem o mínimo de
organização política, o que varia de uma sociedade para a outra, é o grau de
complexidade e o grau de desenvolvimento das instituições. A formação de grupos e
subgrupos é bem diversificada de sociedade para sociedade e para manter o
controle social, as instituições se utilizam de artifícios ideológicos e legais para
atingir os seus objetivos. O poder está no centro de qualquer organização política, e
é através dele que o líder de uma sociedade exercerá a sua vontade. O poder é uma
relação artificial, isto é, ela não é algo natural, algo inato, ele é desenvolvido em
sociedade e depende de alguém que mande e alguém que obedeça para existir uma
relação de poder.
A participação do povo, a lealdade e a tradição são alguns exemplos de
meios utilizados para a proteção da instituição política e sua organização. A seguir
alguns elementos que compõe e caracteriza a organização política:

Parentesco

A descendência, o casamento e a residência são alguns elementos que


compõe o quadro de parentesco e sua relação com a organização política. Por meio
desses elementos, os indivíduos fortalecem os laços entre si e mantém a coesão
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 18 - ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
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social, não se rebelando contra o outro, e nem contra o Estado. Quanto menor for à
sociedade, melhores serão os laços de parentesco e também a organização social.

Religião

Por meio de crenças e mitologias, a religião exerce o seu poder ideológico


nos indivíduos, os guiando e orientando sobre as ações e pensamentos definidos
como certos, beneficiando a sociedade e sua organização.

A religião tem um importante papel


na sociedade, ela tem a função de
orientar as práticas dos indivíduos
visando à manutenção da
sociedade.
(Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/2. segunda página/Documentário da Igreja.htm)

Economia

A economia tem a função de regular o trabalho e a produção de bens e


consumo para a sociedade. Dessa forma, ela organiza os indivíduos entre líderes e
trabalhadores, entre as pessoas que mandam e as pessoas que obedecem. O poder
e o status social caminham juntos nesta área, pois aquele que tem um poder
econômico maior, tem também um lugar privilegiado na sociedade.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 18 - ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
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A organização política analisa também a natureza das instituições políticas e


do Estado, sendo esse último, a representação de uma nação organizada. Para o
antropólogo Copans apud Marconi e Presotto (2009), o Estado, isto é, a forma
organizada de sociedade não é algo primitivo, pois necessita de certos elementos
que sociedades primitivas dificilmente as teriam, esses elementos são:
• Território: É definido como um espaço utilizado por grupos de
pessoas regidos por leis, padrões e instituições.
• População: A população é definida como um grupo de pessoas que
tem uma cultura e hábitos em comum, visando um objetivo em
comum.
• Governo: O governo é o instrumento de execução para manter a
ordem política em um território. Normalmente existe alguém no poder
para tomar as decisões do governo e a decisão é distribuída para os
inúmeros órgãos existentes no Estado.

O Estado é a forma
mais avançada de
organização social,
por isso o seu estudo
torna-se importante
para entendermos a
forma de organização
existente em nossa
sociedade.
(Fonte: http://linux.an.gov.br/mapa/?p=434)

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 18 - ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Através da ideia de território, o Estado mantém a sua soberania que é


atingida por meio do apoio da população e de uma organização forte do governo. De
acordo com o antropólogo Krader apud Marconi e Presotto (2009), a ideia de
governo e Estado é universal, o que muda de uma sociedade para outra é a forma
em que a mesma é organizada, mas todas buscam a manutenção e organização da
sociedade.
Todas as formas de governo desenvolvem relações formais e informais com a
sociedade, dando abertura para a participação do indivíduo ou não. Em governos
mais simples é a informalidade que predomina e os indivíduos participam
diretamente das decisões, já em governos complexos, é por meio das instituições
sociais que o indivíduo participa do governo. A seguir, os tópicos relatam algumas
formas de governo que existiriam ou ainda existe nas mais variadas sociedades ao
redor do mundo:
• Governo oligárquico: Essa forma de governo é dirigida pelas mãos
de uma classe social pequena que detém o poder de uma sociedade
inteira.
• Governo monárquico: Governo regido pelas mãos de uma pessoa só
que detém todos os poderes e não dá abertura para a participação da
sociedade.
• Governo Gerontocrático: Governo liderado por pessoas mais velhas,
onde através da experiência e sabedoria guiará a sociedade.
• Governo Democrático: Forma de governo onde a população participa
ativamente das decisões políticas.
• Governo Teocrático: Forma de governo dirigido por líderes religiosos
que articulam religião com política.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 19 - A RELIGIÃO
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Esta unidade tem como objetivo a compreensão do termo religião e sua


função para o indivíduo e sociedade.

ESTUDANDO E REFLETINDO

O tema religião foi e continuará sendo um dos temas mais debatidos em


vários campos científicos, passando por filosofia, sociologia, e também na
antropologia. Cada campo analisará a religião de acordo com o seu foco de estudos,
por exemplo, a sociologia analisará qual o significado da religião para a sociedade, a
filosofia avaliará o significado da religião no campo moral ou ideológico e a
antropologia considerará o significado da religião no campo cultural.
Na antropologia, a primeira definição de religião foi dada pelo antropólogo
Taylor apud Marconi e Presotto que define a religião como a crença em seres
transcendentes. Surgiram outros pensadores e cada um definiu a religião de acordo
com seus dados coletados e estudos, alguns deram atenção para a interpretação
dos fenômenos sobrenaturais e sua relação com o indivíduo, outros se
concentraram mais na prática religiosa. Para alguns pesquisadores, a magia e a
religião mantém uma relação, enquanto para outros pensadores são coisas distintas.
Todas essas discussões fazem parte do estudo antropológico da religião e sua
relação intrínseca com a cultura.
A religião trabalha muito com os sentimentos de devoção e respeito a
entidades que estão em planos superiores ao nosso. Essa veneração está
relacionada à idéia de que o homem não está sozinho no universo, e que, algo ou
alguém criou tudo isso e está no controle das nossas vidas e do mundo. Por isso, a
religião procura ensinar para os indivíduos a paz e o amor entre os homens. Para
Evans-Pritchard apud Marconi e Presotto, a religião não pode ser refletida de modo
isolado, para podermos compreendê-la, devemos relaciona-la com outros campos
do saber e da prática, tais como: a política, a economia, o conhecimento, entre
outros. Somente por meio do seu inter-relacionamento com outras áreas, o
pesquisador conseguirá atingir um conhecimento sólido da religião.
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 19 - A RELIGIÃO
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

Um princípio importante para


compreendermos a religião é analisá-la por meio de
seu inter-relacionamento com outras áreas, como
política e economia.

(Fonte: http://blogueirasnegras.org/2013/12/25/deus-branco-religiao-africana-preconceitos/)

Para melhor entendermos o funcionamento da religião, a sua análise será


dividida em duas partes: crença e ritual. A crença está associada mais com a parte
abstrata e subjetiva do indivíduo, e o ritual é a parte mais concreta e prática da
religião, por isso é necessário entender esses dois elementos para ter uma
compreensão geral da religião:

• A crença é o sentimento de respeito e submissão a uma ou várias entidades


que representam a religião do indivíduo. Na maioria das religiões, a crença
não necessita de compreensão, sendo a fé o guia para as ações e práticas
religiosas. A crença não precisa de provas ou qualquer fato para que ela seja
aceita pelo sujeito, ela trabalha com o sobrenatural, com o mistério, por isso
quando mais fé o indivíduo tiver, mais fortalecida estará a sua crença.

• O ritual é o a manifestação da crença em aspectos práticos, como ações e


revelações de sentimentos para alguma entidade sobrenatural. Ele segue
padronizações de atividades que serão reproduzidos pelos indivíduos na
sociedade a qual ele pertence. A prática ritualística desponta uma conduta
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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 19 - A RELIGIÃO
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

tradicional e conservadora que corresponde ideias e sentimentos da pessoa


que pratica. Não importa a forma da sociedade, o ritual é praticado tanto em
sociedades agrárias como em sociedades tecnológicas, e uma cerimônia
religiosa pode conter vários rituais que são praticados de forma momentânea.

Além da crença e do ritual, a religião trabalha com o sobrenatural e seu


relacionamento com o indivíduo, por isso o pesquisador deve analisar esse
fenômeno como algo intrínseco a religião. O sobrenatural é tudo aquilo que está
além dos sentidos do homem, fugindo também das leis da natureza e da explicação
racional. Ele se manifesta em todos os tipos de sociedades, tanto nas agrárias como
nas industriais, e se torna um componente importante para a crença e o
desenvolvimento da religião, pois lida com a imaginação do indivíduo.
O sobrenatural é dividido da seguinte forma:
• Os seres: Podem ser anjos, deuses, demônios etc.
• Entidades: Espíritos e almas.
• Forças: Mana.
• Almas dos mortos: Alma de parentes ou pessoas conhecidas.

A relação entre seres sobrenaturais é fundamentada na dicotomia entre o


bem e o mal, por exemplo, o anjo representa o bem e o demônio representa o mal,
por isso, esses elementos tem cunho moral e por meio da imaginação leva o
indivíduo a agir corretamente. O papel da força sobrenatural na religião concebe
uma visão de mundo onde o homem é pequeno em relação às forças que regem o
cosmo. A força tem a qualidade de ser livre e impessoal, ela segue a sua própria
vontade e não depende do querer dos homens.
A ideia de alma ganha também um espaço importante na religião, pois
através dela, o indivíduo se preocupa com suas ações particulares e nas
consequências que elas podem causar. Se o indivíduo prejudicou as pessoas ao seu
redor no decorrer da sua vida, a sua alma será manchada e ele pagará pelos seus
pecados, se suas ações foram boas, ela ganhará recompensas no Céu ou paraíso.
Essa visão de justiça guia o homem e tem uma funcionalidade muitas vezes maior

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 19 - A RELIGIÃO
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do que a própria justiça humana, sendo isso somente possível, por meio da
imaginação e da noção de sobrenatural.

O sobrenatural lida com a imaginação


e é um forte instrumento para a religião manter
o seu controle sobre as pessoas. (Poseidon,
deus dos mares)
(Fonte: http://www.kinocinema.net/poseidon.html)

BUSCANDO CONHECIMENTO

Estudar a religião é um dos principais meios para realmente entender como a


cultura de uma sociedade funciona. A religião mantém uma relação inerente com a
cultura, uma colabora com a outra em seu desenvolvimento. Não existe alguma
sociedade que, ao estabelecer um sistema de linguagem e de produção, não
desenvolva certo grau de religiosidade, o que pode variar é a instituição religiosa,
mas a crença em algum ser superior é algo objetivo.

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 20 - CULTO, RITUAL E RITOS
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

O objetivo desta unidade é entender como se processa o culto religioso e


suas formas de manifestações, como o ritual e os ritos.

ESTUDANDO E REFLETINDO

O culto é um elemento essencial para entender como a religião realiza as


suas práticas em relação ao ser que eles consideram supremo. Essa prática pode
ser definida como uma comunicação com os seres sobrenaturais, por isso ela é
realizada com máxima seriedade possível, para que não ocorra uma falha nesta
comunicação. O culto é celebrado em lugares específicos com objetos específicos, à
vestimenta dos membros também se torna importante para que a comunicação seja
realizada.
A manifestação se utiliza de objetos sagrados para canalizar a atenção e a
devoção dos fiéis. Esses objetos sagrados podem ser adorados ou venerados, mas
a sua principal função é manter a atenção focada do indivíduo em relação à
divindade e a celebração do culto. Os objetos sagrados podem ser divididos das
seguintes formas:
• Imagens: São representações de divindades em papel ou qualquer
outro material, cujo objetivo é gravar na mente do sujeito como seria
aquela divindade a qual ele cultua. Essas entidades representadas
podem ser em forma de pessoa ou animal, ou ainda não ter forma,
tudo depende da religião que o culto pertence.
• Objetos rituais: Esse elemento conglomera objetos de uso comum,
tais como utensílios, adornos, roupas, entre outros, com o intuito de
servir para o culto e seu aperfeiçoamento.
• Máscaras: As máscaras abrangem desde o uso na cabeça como no
corpo inteiro, e tem como função o disfarce e a encenação nos cultos.
Muitos pesquisadores afirmam que, a máscara tem também uma

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 20 - CULTO, RITUAL E RITOS
Prof. Miguel Henrique Benetti Teixeira.

função pedagógica, pois em algumas religiões, elas são usadas muitas


vezes para representar uma história de algum herói da religião.

Para a fabricação dos objetos sagrados, são usados inúmeros materiais que
variam desde a fundição de metais até elementos orgânicos, como couro e pelagem
de animais. A imagem e os objetos são considerados por muitas religiões, moradas
temporais para as divindades, recebendo um tratamento especial. A religião
japonesa xintoísta compartilha da ideia da existência de divindades em vários
objetos do cotidiano, por isso mantém um respeito em relação a esses objetos.

O Xintoísmo manifesta
uma ideia de respeito em
relação aos objetos que
compõe o cotidiano, pois
esses mesmos objetos
podem ser moradas dos
espíritos.

(Fonte: http://taulipang.blogspot.com.br/)

Além do culto, outro elemento bastante significativo para a religião, é o ritual.


Essa prática se conceitua pelos atos que são realizados em prol do
engrandecimento de certa divindade. O ritual pode servir também como meio de
proteção do próprio indivíduo contra seres malignos. Ele é expresso no canto, na
dança, na reza e nas ofertas para os deuses. O ritual possui três formas básicas:
• Orações: Essa prática é realizada por meio de uma invocação oral
encaminhada para seres divinos. A oração pode ser de agradecimento,
de súplica, de misericórdia ou de louvor. Ela é realizada em um lugar

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 20 - CULTO, RITUAL E RITOS
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específico e os membros devem estar vestidos adequadamente para a


realização da oração. Posturas são fundamentais também para a
oração, como por exemplo, orar ajoelhado. Hoje devido ao avanço dos
costumes, a oração se tornou mais livre, fugindo um pouco das
tradições.
• Oferenda: A oferenda é a prática de dar aos seres divinos alguma
coisa para agradá-los. Pode ser oferecido: frutos, animais e até mesmo
pessoas que serão sacrificadas para que a oferenda seja concretizada.
• Manifestações: As manifestações consistem em uma organização de
movimentos rítmicos, como por exemplo, a dança, que é acompanhada
de cantos e musicalidade.

Além dos rituais praticados pela comunidade religiosa, existem os ritos


praticados pelos membros para representar um movimento do estado físico ou
psicológico da pessoa para outro estado. Os ritos são divididos das seguintes
formas:
• Ritos de nascimento: Rito realizado quando a criança nasce, e tem
como objetivo purificar e proteger a mãe e o recém-nascido de todo
mal existente.
• Ritos de puberdade: Rito realizado em jovens com o objetivo de
mostrar que eles estão prontos para a procriação. Esse rito pode ser
realizado em ambos os sexos.
• Ritos de matrimônio: Os ritos de matrimônio tem como função mostrar
para a comunidade a união de duas pessoas, a fim que ela pode ser
reconhecida por todos.
• Ritos de morte: os ritos de morte são os ritos voltados quando alguém
já morreu e busca garantir a passagem dele para o outro mundo de
uma forma tranquila e segura.
Ritos de iniciação: Os ritos de iniciação caminham junto com o rito de
puberdade, porém os objetivos são diferentes. Os ritos de iniciação
busca preparar os jovens a vida em comunidade, através de provas de

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ANTROPOLOGIA
UNIDADE 20 - CULTO, RITUAL E RITOS
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resistência e maturidade, os jovens são testados para verem se serão


aptos a proteger a comunidade o qual vivem.

BUSCANDO CONHECIMENTO

A religião deve ser entendida não somente por aquilo que o pesquisador
observa, mas também pelos sentimentos expressados nos cultos, ritos e rituais. Os
cultos apresentam características essenciais que demonstram a relação do indivíduo
com a divindade cultuada e seu respeito por ela. Por meio da religião, os valores
culturais de um povo são reforçados e estabelecem uma ponte com os valores
morais e éticos necessários para a manutenção da sociedade. Além do lado moral, a
religião também produz e conserva o conhecimento, transmitidos através dos rituais
e ritos.

Os ritos e rituais também


são um meio de transmissão de
conhecimento e práticas morais
para os membros da comunidade
(Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/rituais)

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