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As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas

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Volume 2
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8 grandes questões
carta ao leitor

índice
expediente
Diretores
Adolfo Vaiser
José Guilherme Leibel Aranha ABNT NBR 5410 – eficaz também contra incêndios?
Gerência de planejamento
Sergio Bogomoltz

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sergio@atitudeeditorial.com.br

Circulação história
Emerson Cardoso
emerson@atitudeeditorial.com.br
Evolução dos fios e cabos elétricos, hoje aparatos
Marina Marques indispensáveis à transmissão de infra-estrutura, tecnologia e
marina@atitudeeditorial.com.br
comunicação.
Administração
Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor
e presidente da Associação Nacional de Paulo Martins Oliveira Sobrinho
Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil adm@atitudeeditorial.com.br

Jornalista responsável
Flávia Lima
MTB 40.703
16 biografia
É de Eurico de Freitas Marques a primeira tabela de
Caro amigo (a) do setor de instalações elétricas, flavia@atitudeeditorial.com.br
honorários para os engenheiros. Profissional, aos 81 anos,
Coordenador técnico
Primeiro, agradeço a todos aqueles que se manifestaram em relação ao Hilton Moreno continua contribuindo para as engenharias civil e elétrica.
conteúdo e ao formato da primeira edição da Coleção Elétrica.
O nível de satisfação e de compreensão da filosofia que marca este projeto Direção de arte e produção
excedeu nossas expectativas e confirmou que estamos no caminho certo ao Leonardo Piva

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leo.piva@terra.com.br
oferecer aos profissionais um conjunto de informações históricas, técnicas,
normativas, educacionais, biográficas e de exercício profissional, entre outras, Colaboradores dentro da lei
focadas no setor de instalações elétricas. Bruno Moreira, Leonardo Faria,
As normas técnicas são obrigatórias ou voluntárias?
Foi particularmente tocante a reação de todos à reportagem que Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz e Thais Mirotti
homenageou nosso inesquecível professor Cotrim. Como era esperado, ao ler
Revisão
o texto publicado na Coleção Elétrica, cada um, imediatamente, lembrou-se Gisele Folha Mós

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de pelo menos uma história vivida pessoalmente com nosso querido mestre
ou contada por outra pessoa. Com isso, atingimos plenamente nosso objetivo, Publicidade
Diretor comercial
conformidade
que não era outro, senão, fazer as pessoas lembrarem e homenagearem esta
Adolfo vaiser O cumprimento das normas é verificado por mecanismos de
figura tão querida. adolfo@atitudeeditorial.com.br
Estimulados pelas avaliações positivas do primeiro número e buscando avaliação de conformidade. Conheça os métodos utilizados
sempre melhorar o que ainda pode ser melhorado, preparamos para esta Contatos Publicitários
Ana Maria rancoleta no Brasil e saiba como isso tudo começou.
segunda edição algumas matérias que vão ao encontro do objetivo do
anamaria@atitudeeditorial.com.br
projeto, na medida em que abordarão questões relativas à segurança contra Vanessa Marquiori
incêndio abordadas ou não na ABNT NBR 5410, a história da evolução vanessa@atitudeeditorial.com.br

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dos fios e cabos elétricos, a obrigatoriedade das normas técnicas brasileiras,
o processo de avaliação da conformidade e os rumos que tomaram o ensino Capa
Kanji Design
formação profissional
da eletricidade no País. Findamos este número com um diagrama composto
Depois da universidade, cursos de menor duração surgiram
por termos de eletricidade para o leitor se divertir. Impressão
Mesmo considerando todos os assuntos de relevante importância, destaco Gráfica Ipsis para atender a uma demanda interna: a origem dos
a seção “Biografia”, na qual prestamos um tributo ao engenheiro e eterno
Distribuição ensinos técnico e tecnólogo e sua contribuição para o
professor Eurico de Freitas Marques, uma pessoa e um profissional muito
ACF Alfonso Bovero
especial. Com esta homenagem, reafirmamos nossa admiração por alguém desenvolvimento industrial.
que, ao longo de décadas, vem trabalhando arduamente para que a profissão
e os profissionais do setor sejam devidamente valorizados. Simultaneamente
a esta luta, Marques elaborou importantes projetos de instalações elétricas,
que são referências no mercado até hoje.
Espero que você, amigo leitor, aprecie este segundo volume da Coleção
Elétrica e aguardamos, com todo interesse, seus comentários.
Atitude Editorial Ltda.
Rua Piracuama, 280 cj. 72 / Pompéia
CEP 05017-040 / São Paulo - SP
40 descontração
Um diagrama com termos de eletricidade para o leitor
Fone/Fax - (11) 3872-4404
www.atitudeeditorial.com.br pensar e se divertir.
Boa leitura e abraços!
atitude@atitudeeditorial.com.br

Hilton Moreno
06-07

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Estado deve-se a instalações elétricas de baixa tensão precárias e inadequadas. às exigências normativas. Entretanto, para ele, a NBR 5410 cumpre bem seu

Divulgação/Nexans
grandes questões
Em 2006, foram 10.223 ocorrências de incêndios em todo o Estado. Desse papel na medida em que traz recomendações e orientações para o planejamento
total, 3.677 foram causados por problemas elétricos. Só na Capital foram e execução de um bom projeto elétrico: seguro e com qualidade.
943 ocorrências por esse motivo. A observação visual deve ser realizada por um especialista, o qual, como
Se existe uma norma considerada moderna e atual para assegurar a profissional qualificado, é capaz de perceber precisamente eventuais desvios
qualidade e a segurança nas instalações elétricas, por que os números ainda nas instalações.
são tão alarmantes?
Na opinião do Capitão do Corpo de Bombeiros, Adilson Silva, seria O mito da madeira
muito importante que pessoas que entendem de segurança participassem da
elaboração da norma. “São profissionais que regulamentam, por exemplo, as Madeira em instalações elétricas não é uma boa combinação. Quem
características de segurança que as construções deveriam ter. A norma está bem nunca ouviu essa frase ou algo parecido? Mas esta afirmação realmente tem
por Thais Mirotti

escrita, porém ficaria mais rica com a participação dessas pessoas”, analisa. fundamento? Segundo a NBR 5410, a combinação é permitida. Vejamos.
Por ser uma norma importante e ao mesmo tempo muito complexa, A norma diz que “a instalação elétrica deve ser concebida e construída
é preciso dispor de tempo para participar de sua elaboração. O que ocorre de maneira a excluir qualquer risco de incêndio de materiais inflamáveis,
muitas vezes é que os profissionais que não estão ligados diretamente ao devido a temperaturas elevadas ou arcos elétricos”.
setor elétrico, como é o caso dos engenheiros de segurança, acabam não A madeira é sim um material que pega fogo, mas se colocarmos um
tendo tempo necessário e disponível para contribuir com a atualização da componente elétrico com ela poderemos causar um incêndio? Estamos indo
norma. E quando o assunto é segurança, a norma, em alguns pontos, não é contra as normas de segurança? Para quem acha que o sim seja a resposta
tão clara como deveria. mais óbvia, está enganado.

Instalações precárias:
Para o engenheiro eletricista e presidente da Associação Nacional de A madeira é um material sólido e tem resistência à ignição muito alta. Logo,
Fabricantes de Produtos Elétricos NEMA Brasil, Hilton Moreno, a NBR seria necessária uma temperatura elevada demais para causar um incêndio. Para
5410 é eficaz quando prescreve sobre aspectos elétricos. Entretanto, ela não se ter idéia, seu ponto de fulgor é 150º C, ao passo que um material considerado
é clara, por exemplo, quanto à classificação dos locais de instalação. “Não se inflamável possui ponto de fulgor menor ou igual a 70ºC.

um incêndio difícil de apagar trata de uma falha da norma, mas um ponto importante a melhorar. Todas
as recomendações relativas a incêndio implicam que antes se classifique os
locais adequados de instalação, mas a definição dessas classificações está em
Um componente elétrico bem projetado não será aquecido a tal
ponto de queimar a madeira, já que sua combustão ocorre quando o calor
atinge 300ºC. Essa situação é difícil de acontecer, pois os circuitos são
aberto na norma”, aponta. interrompidos em questão de segundos em temperaturas menores que
Fogo, muito fogo. Essa foi a imagem que marcou, há dez anos, milhares de pessoas no País, quando um grave incêndio
O problema é que, genericamente, a norma diz que autoridades essas, anulando dessa maneira a fonte de calor para incendiar a madeira.
atingiu o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Na madrugada do dia 13 de fevereiro de 1998, cerca de 70% dos
deveriam classificar esses locais, mas não especifica qual profissional é mais É importante lembrar também que a madeira não é um bom condutor de
35 mil metros quadrados do prédio de cinco andares foram atingidos pelas chamas. O fogo, que só foi controlado dez horas
indicado para esse trabalho. calor, com baixa condutividade térmica.
depois, chegou a atingir quase 700 metros de altura e destruiu o terminal de passageiros. O prejuízo na época foi calculado
De acordo com a NBR 5410, “os códigos locais de segurança contra O que se pode observar, depois de anos após seu uso com algum
em R$ 40 milhões. A provável causa dessa tragédia teria sido um curto-circuito nas instalações elétricas.
incêndio podem conter parâmetros mais estritos”, ou seja, esses códigos locais componente elétrico, é que a madeira fica com uma coloração preta. A
Outro acidente sério, que também apontou como principal culpada a precariedade das instalações elétricas, foi o
especificados não possuem exigências mais severas. Isso obriga o profissional temperatura vai carbonizando a madeira, porém, se rasparmos o local
incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo. O prédio, localizado no Vale do Anhangabaú, teve 14 de seus 25 andares
a buscar outras informações e orientações de diferentes documentos e afetado, o que se perde da madeira é mínimo.
completamente destruídos pelo fogo. Seis pavimentos de garagem queimaram por inteiro e a estatística final dessa
autoridades, isto é, a norma não oferece toda a informação necessária para a
tragédia revelou mais de 170 mortos e cerca de 300 feridos.
Exemplos de tristes episódios como estes apontam como são perigosas e, muitas vezes, fatais, instalações elétricas
construção da instalação. “Ela deveria ser mais clara nesse ponto, fornecendo Bom senso e qualidade
diretrizes sobre como fazer a classificação dos locais contra incêndios. Isso é
ruins, irresponsáveis e mal projetadas. Mas, será que incêndios causados por falhas como essas não têm normas e
algo que deve ser melhorado”, avalia Moreno. É possível bom senso e qualidade andarem juntos em uma instalação
cuidados a seguir? A resposta é simples: existem sim regras e precauções que deveriam ser cumpridas, mas isso nem
Normalmente, o profissional que classifica os locais mais ou menos elétrica? Sim, mas, para que isso ocorra, é necessário e prudente adotar quatro
sempre acontece e não há fiscalização e inspeção que verifique se a regra é cumprida.
seguros é o projetista. Ficam em suas mãos as decisões quanto à segurança pontos básicos: atender às normas de produtos, estar em conformidade
A 66 anos, foi criada uma das mais importantes normas do setor elétrico, a antiga NB-3, depois transformada
contra incêndios e a classificação dos locais que demandam segurança com a norma de instalação, utilizar materiais de qualidade e inspecionar a
em NBR 5410. Ela estabelece “as condições a que devem satisfazer as instalações elétricas de baixa tensão, a fim de
adequada contra fogo. “O que se percebe é que a norma explicita uma instalação antes de ser colocada em serviço.
garantir a segurança de pessoas e animais, o funcionamento adequado da instalação e a conservação dos bens. Aplica-
preocupação, mas não é muito clara quanto à sua aplicação”, completa. Essas ações já são rotineiras em diversos países, como Estados Unidos,
se principalmente às instalações elétricas de edificações, qualquer que seja seu uso (residencial, comercial, público,
É válido lembrar, porém, que a NBR 5410 é uma norma que cobre as Japão e quase toda a Europa, mas aqui no Brasil a realidade é diferente.
industrial, de serviços, agropecuário, hortigranjeiro, etc.), incluindo as pré-fabricadas”.
prescrições elétricas e que seria mais eficaz se fosse efetivamente atendida e as A maioria dos bons profissionais segue as três primeiras recomendações
Desde que foi publicada em 1980, a NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão –, considerada a norma-
instalações inspecionadas, mas este é outro grande problema. e uma das mais importantes e que garante efetivamente a segurança não é
mãe do setor, passou por quatro revisões, sofrendo algumas modificações e adaptações em cada uma delas. Embora
A norma técnica é, a princípio, um documento voluntário e se fosse levada em conta: a verificação da instalação antes de seu uso. “Não adianta
a sua última atualização de 2004 tenha sido considerada positiva por alguns especialistas, ainda existem detalhes
cuidadosamente obedecida, certamente o número de incêndios causados nada você ter um excelente produto, seguir as normas de instalação e não
a melhorar. E são esses pontos que muitas vezes fazem a diferença para evitar a ocorrência de grandes transtornos
por problemas nas instalações elétricas seria consideravelmente menor. se importar em verificar o serviço antes de colocá-lo em prática. É como
quando o assunto é segurança nas instalações elétricas de baixa tensão.
Para Moreno, existem três elementos importantes que fazem parte da fabricar um carro e não testar sua qualidade antes de vendê-lo. O resultado
A norma por si só aponta uma série de importantes prescrições, mas somente ela não garante a proteção e a
verificação: inspeção visual, ensaios e averiguação da documentação de acordo pode ser um defeito, por vezes grave, no seu produto”, avalia Moreno.
segurança adequada. O processo de elaboração e de revisão das normas técnicas é aberto à participação de qualquer
com o que a norma propõe. “É muito difícil no Brasil reunirmos essas três Se a inspeção e a manutenção adequada existissem, não teríamos hoje
indivíduo. Entretanto, o que se tem observado, não só na última edição, mas como em todas as outras atualizações da
verificações, mas fazer a inspeção visual já seria um grande passo para as obras cerca de três mil ocorrências ao ano, só no Estado de São Paulo, advindas de
NBR 5410, é somente a participação de pessoas gabaritadas do setor elétrico, em sua maioria, engenheiros eletricistas.
onde geralmente não se faz nada. É o que a norma prevê”, alerta. instalações elétricas precárias. Seguramente nos lembraríamos de grandes e
No entanto, será que exclusivamente esses profissionais são suficientes para estabelecer todas as normas de
Na opinião do engenheiro de segurança, João Barrico, manter as tristes incêndios, cuja causa foi a eletricidade apenas como fatos isolados e
segurança exigidas e cabíveis para instalações elétricas seguras?Algumas estatísticas apontam que não.
características da instalação é manter também as condições de projeto e atender não como possibilidades ainda reais.
Segundo um levantamento do Corpo de Bombeiros de São Paulo, a segunda maior causa de incêndios no

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história Por Bruno Moreira

Primeiros fios e cabos elétricos


eram recobertos com fios de
juta, fibra têxtil vegetal.
Divulgação/Nexans

Instalação de cabos próxima ao Opera


de Lyon, na França, em 1906.

Pelo céu, pela


início do século XVIII, restringiam-se à realização de funções Como estratégia durante as guerras napoleônicas, foi desenvolvido
hoje quase esquecidas, tais como: transmitir mensagens de um cabo submarino para detonar minas cruzando o rio Sena. O
telégrafos eletrostáticos, equipamentos que precederam o telégrafo condutor era formado por fios de cobre isolados com uma solução

terra ou pelo mar


eletrodinâmico, cuja lembrança é menos remota que o outro, de borracha da Índia, seca e envernizada.
considerando uma sociedade que se comunica, quase que em sua Finda a guerra, o engenheiro russo continuou dedicando-se
totalidade, por e-mails. à telegrafia e, em 1836, conseguiu que o imperador Nicolau, da
Neste período, pode-se destacar algumas experiências que foram Rússia, ordenasse a construção de uma linha telegráfica a título
realizadas e obtiveram êxito no intuito de desenvolver a tecnologia de experimento entre as cidades de São Petesburgo e Peterhoff. A
A história dos fios e cabos, produtos que acompanharam o sucesso e o declínio dos telegráfica. Em 1747, por exemplo, o inglês Sir William Watson linha era feita com cabos aéreos nus e cabos subterrâneos, isolados
telégrafos e evoluíram para atender à necessidade do mercado de energia elétrica construiu uma linha de 3.200 metros confeccionada com fios de individualmente por seda envernizada, reunidos e amarrados por
juta, fibra têxtil vegetal. O objetivo era transmitir informações de juta e impregnados por asfalto.
Normalmente, eles passam despercebidos pelos nossos olhos já acostumados com sua presença. uma margem a outra do rio Tâmisa, em Londres. Para demonstrar O experimento russo obteve sucesso, o que estimulou os
Quando avistados, porém, não são muito queridos, acusados que são de causadores da poluição visual. a eficiência do circuito, Watson colocou, em uma das extremidades inventores da época a pesquisarem novos produtos para isolação
Enterrá-los tem sido a solução. Estamos falando dos fios e cabos elétricos, cuja baixa popularidade da linha, um assistente, que prendia em uma mão a ponta de um fio de cabos para telegrafia. Chegou-se, então, à planta gutta percha
no quesito estética é completamente anulada por sua incomensurável utilidade. Sob o asfalto, ligados e com a outra segurava uma haste metálica mergulhada no Tâmisa. da Ásia, ótimo isolante que foi utilizado pelos engenheiros alemães
entre postes, escondidos dentro de paredes em residências, estabelecimentos comerciais e indústrias, Sabe-se que a inusitada experiência foi muito bem-sucedida (e o Carl William Siemens e Johann Georg Halske, em 1848, na
foi e ainda é inegável a importância de tais componentes para o progresso econômico mundial, porque, assistente não morreu eletrocutado!). implantação de uma linha subterrânea telegráfica, com um cabo
afinal de contas, sem fios e cabos, para que fosse conduzida a eletricidade, como haveriam de funcionar Anos mais tarde, em 1795, o espanhol Dom Francisco Salva isolado de cinco mil metros, interligando as cidades alemãs de
as grandes cidades do mundo, como São Paulo, Nova Iorque, Tokio e outras? realizou as primeiras experiências usando papel como isolante de Berlim e Gross Berem.
Na atualidade, os condutores apresentam alta tecnologia. São comuns os cabos mistos formados condutores metálicos para transmitir sinais telegráficos. Contudo, Apenas dois anos depois da linha subterrânea de Siemens
por condutores elétricos e fibras óticas que transmitem dados e sinais, atividade perfeitamente o emprego do primeiro condutor isolado da história é colocado na e Halske, em 1850, uma obra de proporções gigantescas foi
compatível com o mundo da era digital. Entretanto, nem sempre foi assim. Quando surgiram, no conta do engenheiro russo Barão Von Schilling entre 1812 e 1815. anunciada: a primeira grande linha telegráfica de cabo submarino
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Apoio
Divulgação/Nexans

Divulgação/Nexans

Divulgação/Nexans
Máquina trançadeira de cabos para eleva-
dores em Clichy, na França (1962).
Implantação de cabo de alta tensão no leito do lago Zurich (1957). Manuseio de cabo de 50 kV para eletrificação da linha de bondes de Lyon,
na França, em 1906.

que ligaria França e Inglaterra pelo Canal da Mancha. O cabo, elétrica. Os primeiros cabos utilizados por Edison, em 1882, para perdas consideráveis de energia nos fios condutores de cobre, livres de halogênios, com baixa emissão de fumaça escura e gases
isolado com gutta pecha, teve sua instalação finalizada na noite a alimentação das lâmpadas, eram dois grossos segmentos de o que acarretava uma redução de tensão na extremidade do tóxicos.
de 28 de agosto, mas a transmissão não foi muito bem-sucedida cobre separados por espaçadores de papel amarrados por juta que circuito. Como as perdas eram parte irremediável do processo, No que há de mais avançado em relação à tecnologia de
e algumas horas depois não havia mais sinal. Dias se passaram até ficavam dentro de um tubo de ferro preenchido com betume. Estes o cientista resolveu aumentar a tensão de entrada para que a transporte de energia elétrica por meio de fios e cabos, Campos
que se descobriu o que havia acontecido: um pescador francês tubos mediam, no máximo, seis metros de comprimento para tensão de saída fosse a que ele havia estipulado. Por ser um cita a supercondutividade; um fenômeno físico, por meio do
havia cortado um pedaço do cabo acreditando ter pescado um tipo serem transportados com mais facilidade em carroças. A eles eram número redondo, a tensão escolhida pelo cientista foi a de 100 qual, o condutor apresenta uma resistência elétrica próxima de
desconhecido de alga marinha. Apenas no ano seguinte o cabo acopladas emendas especiais criadas justamente com o objetivo de V, e para que isso ocorresse, a tensão de entrada era um pouco zero. No passado, esta característica já foi verificada em materiais
entre os dois países foi refeito, dessa vez, para que não houvesse aumentar seu tamanho somente no local de instalação. maior, ou seja, 110 V. a temperaturas próximas do zero absoluto (-247 ºC). Hoje,
outro pescador francês, isolaram-no com duas camadas de gutta Utilizando essa tecnologia de fios e cabos, Edson implantou, Dos primórdios dos fios e cabos até os dias de hoje, muita já existem materiais com estas características em temperaturas
percha, várias camadas de juta e uma armação em fios e de aço em 22 de abril de 1882, o primeiro sistema de iluminação pública coisa aconteceu. Com o avanço econômico e a democratização próximas à ambiente. No entanto, de acordo com o gerente da
galvanizado, pesando 5.000 Kg/Km. incandescente da história; com 1600 lâmpadas de 50 W na tensão da energia elétrica, muitos lugares foram iluminados e, Prysmian, ainda existem poucas aplicações comerciais para a
de 100 V. O sistema deu certo, mas um ano depois o cientista conseqüentemente, muitas linhas de transmissão e distribuição supercondutividade no mundo.
Transmissão de energia elétrica norte-americano resolveu modificá-lo. Isto porque no mesmo ano tiveram de ser construídas e muitos condutores elétricos foram
em que Edson colocou seu projeto em funcionamento, o professor utilizados. Desse modo, o condutor utilizado para transporte de Os isolantes
No que diz respeito a fios e cabos voltados para a transmissão inglês de engenharia elétrica, John Hopkinson, patenteou o eletricidade difundiu-se e consolidou-se. O avanço tecnológico
de energia elétrica, duas invenções tiveram grande importância sistema de cabo trefilado para distribuição de corrente contínua, desses equipamentos tornou-se uma constante. A evolução dos condutores de eletricidade é também a evolução
para que isso acontecesse. A descoberta das células voltaicas, em que poupava mais de 50% em cobre. Segundo o gerente de marketing da Prysmian, Rubens de seus materiais isolantes. Como foi visto, a planta asiática
1800, pelo físico italiano Alessandro Volta, que possibilitou a Dessa forma, o projeto do cientista norte-americano Campos, a busca por mais segurança, facilidade de instalação e gutta percha funcionou muito bem, o que não impediu a busca
reprodução repetitiva e contínua de eletricidade e, anos mais tarde, passou também a ter três condutores de cobre, sólidos, menos perda de energia foram os propulsores destes avanços. por novos produtos. Entre as décadas de 1880 e 1890, diversas
em 1871, a criação do dínamo em anel, por parte do mecânico redondos, isolados individualmente por gutta percha, reunidos Usando cabos de baixa tensão como modelo, Campos destaca substâncias foram testadas como isoladores de fios e cabos: gomas,
belga Zénobe Gramme que tornou possível o uso prático de um em triângulo sobre um quarto condutor, todo colocados alguns pontos desta evolução: o condutor flexível, por exemplo, foi resinas, graxas, compostos betuminosos, fibras de vidro, areias e até
gerador de corrente contínua em alta tensão. A partir daí, sistemas dentro do tubo de ferro preenchido com betume. O número criado, principalmente, para facilitar a instalação do equipamento; polpa fibrosa com sangue.
elétricos de luz e força viraram uma realidade, assim como fios e de lâmpadas alimentadas aumentou para 400 e o sistema a isolação não propagante de chama e a isolação livre de halogênios Um material até hoje empregado, mas que durante algum tempo
cabos para transmissão e distribuição de energia. funcionou satisfatoriamente até 1950. foram desenvolvidas para aumentar a segurança dos usuários das ficou esquecido, é o papel. Utilizado pela primeira vez, em 1795,
Aqui, não se pode deixar de mencionar a participação do A curiosidade dessa história fica por conta da explicação do instalações. Conforme o gerente da Prysmian, tanto em condutores pelo espanhol Francisco Salva, o papel só voltou a figurar como
cientista Thomas Alva Edison, inventor da lâmpada incandescente, surgimento da lâmpada de 110 V. Certo dia, Thomas Edison isolados como em cabos unipolares e multipolares, o que existe material isolante de cabos, no ano 1836, em uma apresentação
no desenvolvimento da tecnologia dos fios condutores de energia observou, durante a alimentação de suas lâmpadas em baixa tensão, de mais avançado no mercado são os fabricados com materiais realizada pelo cientista inglês Michael Faraday na Academia Real de
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Apoio
n
rysmia
ação/P
Divulg

Divulgação/Prysmian
A indústria de fios e cabos passou
a usar o revestimento de PVC a partir
dos anos de 1950. Sua evolução,
entretanto, já apresentou compostos de
juta, papel, betume e outros elementos.

Transporte de uma
bobina de cabo elétrico
no início do século XX.

Londres, na qual ele demonstrou as ótimas propriedades isolantes italiana, a Pirelli recebeu dois pedidos dos Estados Unidos: um da As isolações de cabos com polímeros cada vez mais sofisticados e há grandes restrições ao seu uso em instalações comerciais e
do material. As primeiras grandes aplicações de cabos isolados Commonwealth Edson Company de Chicago, que encomendou acabaram por se tornar preponderantes em relação às isolações de industriais. Dessa forma, este metal, comumente, constitui as
com papel, no entanto, aconteceram algum tempo depois, mais 30 Km de cabos e outro da New York Edson Company, que papel e óleo. Dentre esses novos produtos químicos, destaca-se para linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica.
especificamente, em 1890, na cidade de Londres, utilizando cabos encomendou 58 Km. Posteriormente, os cabos a óleo foram a borracha etileno-propileno (EPR) o polietileno reticulado (XLPE) Os condutores são utilizados em diferentes áreas devido às suas
com tensão de 10.000 V. Para que houvesse redução do efeito de instalados em outros lugares do mundo, como França, Itália, Japão, e o silicone, comumente denominados borracha e para o cloreto de características de condutividade elétrica, secção e peso. Um fio de
perda de isolação em função da umidade, o papel era impregnado Brasil e Argentina. O produto começou a ser produzido também polivinila, o famoso PVC, plástico fabricado a partir do petróleo. Este, cobre mole, por exemplo, de 1 metro de comprimento com 1 mm²
com betume. por outras empresas, com licença da companhia italiana. Os níveis segundo o engenheiro eletricista, consultor e presidente da Associação de seção, apresenta uma condutividade relativa de 100%, conforme
A difusão do uso do papel como material isolante estimulou o de tensão, por sua vez, tornaram-se maiores, chegando até a 220 Nema Brasil, Hilton Moreno, por conta de seu custo mais atraente a norma International Annealed Copper Standard (IACS). Por sua
aumento das tensões utilizadas nos cabos e isto, por sua vez, teve kV, em 1936, em um sistema implantado em Paris. em relação aos demais produtos, acabou tornando-se, para fabricantes vez, a condutividade relativa de um fio de alumínio com as mesmas
como conseqüência os primeiros problemas de descargas internas Simultaneamente ao papel e ao óleo, outros materiais isolantes, e consumidores, a opção mais popular de material de isolação de fios e medidas é de 60,6%. De acordo com Moreno, isto significa que
e ionizaçôes nos cabos, provocando perfurações. A situação só como borracha natural, borracha vulcanizada da Índia e a própria cabos elétricos. Dessa maneira, o PVC é utilizado em uma ampla gama o alumínio conduz 39,4% menos corrente elétrica que o cobre,
foi resolvida pelo engenheiro e chefe de engenharia da Pirelli gutta percha também foram largamente utilizados. Entretanto, com de aplicações, sendo que os cabos isolados em borracha tornaram-se a considerando-se a mesma seção e, caso quisesse conduzir a mesma
Company de Milão, Luigi Emanuelli, que inventou e patenteou, o avanço das pesquisas no âmbito da química orgânica, estes materiais escolha mais utilizada nas indústrias e grandes obras comerciais. corrente, deveria possuir uma seção entre 40% e 60% maior.
em 1917, um novo tipo de cabo denominado “oilfilled”, cabo a começaram a dividir o espaço com outros polímeros, que até então No entanto, apesar de demandar uma secção maior para conduzir a
óleo também conhecido como “cabo Emanuelli”. O equipamento não existiam. Um desses novos produtos foi o esmalte, que, por volta Os condutores mesma corrente, o alumínio compensa esse déficit com uma densidade
era preenchido com líquido ou massa de material isolante tanto no de 1850, começou a ser utilizado sobre os fios para enrolamentos de menor em relação ao cobre: 2,7 g/cm³ ante 8,9 g/cm³. Desse modo,
condutor quanto nos interstícios da isolação, mantido sob pressão motores e transformadores. Seu uso também foi bastante difundido De acordo com o gerente de marketing da Prysmian, Rubens segundo o engenheiro eletricista, se calcularmos a relação entre o peso
por vasos de compensação conectados a caixas de junção. em linhas aéreas de telégrafos, mas não com o intuito de isolar os Campos, quando se refere, de maneira técnica, a condutor elétrico de um condutor de cobre e o peso de um condutor de alumínio, ambos
O primeiro cabo a óleo, no entanto, só foi fabricado em condutores e sim para evitar a sua corrosão e com o intuito de facilitar não está se falando do cabo ou do fio em sua totalidade e sim transportando a mesma corrente elétrica, verificamos que o peso do
1920 pela própria Pirelli para operar com uma tensão de 80 kV, aplicação de outros materiais isolantes no condutor de cobre. ao seu miolo somente: a parte metálica. O cobre apareceu como condutor de alumínio é quase metade do peso do de cobre.
fato inédito, pois até aquele momento, o máximo que um cabo A fabricação em série de fios esmaltados começou efetivamente um dos primeiros condutores industrializados, posteriormente, o Ou seja, a partir dessas características físicas que os definem,
tinha chegado em tensão era 66 kV. Foram quatro quilômetros em 1910 e continua até hoje, contudo sua composição química alumínio. Desde o início da fabricação em larga escala de fios e estabeleceu-se uma divisão clássica (porém não obrigatória) quanto ao
de cabos produzidos que, contudo, não foram utilizados porque mudou bastante. De produto basicamente formado por óleo vegetal cabos elétricos, a situação não se modificou e estes dois materiais uso dos dois metais nas redes elétricas. Em linhas aéreas, por exemplo,
sua encomenda acabou sendo cancelada. Os cabos foram selados e ou sintético, o fio esmaltado agora apresenta uma formulação permaneceram como os mais utilizados pelo mercado. em que as dimensões de torres e postes e os vãos entre eles dependem
ligados a reservatórios de óleo. muito mais complexa, conseqüência das novas descobertas nas Segundo Moreno, cada metal (cobre e alumínio), atualmente, é diretamente do peso dos cabos sustentados, utiliza-se o alumínio. Já
Permaneceram guardados até 1924, quando foram empregados áreas da química de polímeros, termoplásticos sintéticos e resinas utilizado em uma área específica. O cobre, por exemplo, na maioria em residências, cuja preocupação maior é com o espaço e não com o
em uma linha protótipo na Itália, mas já operando com uma termofixas. Com essa complexa composição química, os fios das vezes, é empregado em instalações internas, pois, de acordo peso dos fios e cabos, o cobre é a opção mais inteligente.
tensão de 132 kV, sem desenvolverem problemas técnicos. Dois começaram a ser utilizados para enrolamento de máquinas com com a norma de instalações elétricas de baixa tensão NBR 5410, é Pesquisa:
anos mais tarde, impulsionados pela bem-sucedida experiência classe térmica de até 220ºC. proibido o uso de alumínio em fios e cabos dentro de residências Revista Pirelli Club, edições de 1 a 5 - artigos de autoria do engenheiro eletricista Hilton Moreno
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biografia

Fotos: Sérgio Kanazawa


Por Bruno Moreira

Engenheiro
Eurico ainda desenvolve projetos de instalações elétricas e hidráulicas em escritório localizado na zona sul de São Paulo.

de engenharia elétrica no Instituto Presbiteriano Mackenzie. mínimo inusitadas. Depois de um período de adaptação como
“Eram para ser seis anos, mas, como eu já havia feito a Poli professor no Mackenzie, o engenheiro ficou mais seguro diante

“dois em um”
antes, consegui eliminar grande parte das matérias”, conta. de seus alunos e pôde colocar isso em prática na Faap. Segundo
Segundo Eurico, essa foi uma fase difícil em sua vida, pois Eurico, ele sempre foi um professor muito liberal e deixava
a volta para a faculdade, mais de dez anos após terminada os estudantes à vontade para saírem da sala se não quisessem
a primeira, acarretou algumas mudanças em sua rotina. O prestar atenção em suas aulas. “Certo dia, no entanto, um
A engenharia civil foi sua primeira opção, posteriormente, percebeu que a elétrica engenheiro civil havia casado em 1957 e já tinha duas filhas aluno começou a ler jornal no meio da minha aula. Eu não
poderia ser um desafio e, hoje, aos 81 anos, Eurico Freitas Marques já fez muito na época e possuía outras responsabilidades além daquelas de pensei duas vezes e com o cigarro que fumava coloquei fogo
quando jovem. Tanto tempo assim também foi chocante para no jornal”, relembra.
pelas duas áreas e ainda quer fazer mais Eurico no que se referia às roupas e ao comportamento de seus Não era apenas Eurico que pregava peças em seu alunos.
colegas de classe. “A mudança foi radical; os alunos já assistiam Eles, também, aprontavam das suas. Certa feita, o engenheiro,
à aula usando bermudas e chinelos. Para você ter uma idéia, na que costumava levar à suas classes uma caixa de sapatos cheia
O homenageado desta edição não entrou na faculdade de engenharia pensando em trabalhar época da Poli, eu usava terno e gravata e levantava quando o de equipamentos para montar um interruptor em paralelo,
na área elétrica, mas acabou tornando-se um dos grandes nomes do setor. Ministrando aulas, professor chegava, como sinal de respeito”, relembra. esqueceu uma lâmpada. “Eu fui pegar a lâmpada e quando
realizando projetos, lutando pelos honorários da classe e atuando em reuniões da Associação Em 1968, já formado pela segunda vez, o engenheiro voltei a abrir a caixa havia um gato lá dentro. Tomei um susto
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Eurico Freitas Marques, pouco a pouco, ganhou a civil, agora também engenheiro eletricista, foi chamado para e tanto”, conta. Dessa forma, Eurico levou suas aulas na Faap
confiança e a admiração de seus colegas e por isso, segundo eles, merece ter sua história contada ser professor no próprio Mackenzie, lecionando a respeito e quando saiu de lá deixou grandes amigos.
na páginas que se seguirão. de instalações hidráulicas e elétricas. Lá, em pleno regime De acordo com o engenheiro, a tarefa dobrada, de dar aulas
Pode-se dizer que a carreira de Eurico Freitas Marques começou em 1952, quando ele se ditatorial, acompanhou de perto a briga entre o Comando de na Faap e no Mackenzie, porém, ficava menos árdua, porque
formou em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Amigo Caça aos Comunistas (CCC), organização direitista formada tomava somente dois dias de sua semana; segunda-feira ele
de Marini Barros, um arquiteto renomado da época, o recém-formado engenheiro tornou-se por alguns estudantes do Mackenzie que entrou em conflito, trabalhava como professor na Faap e quarta-feira no Mackenzie.
responsável pelos projetos de instalações hidráulicas de todos os trabalhos realizado por Barros. em plena Rua Maria Antônia, com os estudantes da Faculdade O restante da semana era passado em seu escritório, no qual
“Ele me dava todas as causas de hidráulica, mas em contrapartida me desafiava a realizar os de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que na época estava o engenheiro trabalhava projetando instalações hidráulicas e
projetos na área de instalação elétrica”, lembra Marques. localizada no prédio em frente da universidade presbiteriana. elétricas de edifícios em construção.
Contudo, havia um obstáculo para que Eurico ficasse responsável também pela parte elétrica Junto com as aulas ministradas no Mackenzie, Eurico O engenheiro eletricista e civil abriu o seu escritório em
dos projetos realizados por Barros: a formação recebida por ele na faculdade de engenharia civil também lecionava na Faculdade Armando Álvares Penteado 1966 e, desde então, realizou importantes projetos no Estado
só o habilitava a trabalhar com instalações que funcionassem com potência de até 75 kW. (Faap), mais especificamente, na área de eletrotécnica de São Paulo. “Fizemos toda a infra-estrutura de Alphaville,
Diante disso, o engenheiro resolveu enfrentar, em meados da década de 1960, mais três anos aplicada. E foi lá que participou de algumas situações no Aldeia da Serra e Tamboré, além de implantarmos o sistema
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“A mudança foi radical: os alunos já assistiam
à aula usando bermudas e chinelos. Para você
ter uma idéia, na época da Poli, eu usava
terno e gravata e levantava quando o professor
chegava, como sinal de respeito.”

de iluminação do primeiro trecho da rodovia Castelo Branco”, De acordo com Vieira, por ser mais antigo na profissão,
diz. Eurico prestava serviço para a empresa Albuquerque Eurico já era conhecido quando ele começou a atuar na década
Takaoka, construtora de renome da época e que construiu de 1960. Este foi o primeiro contato que Vieira teve com
grandes edifícios no País. Eurico. Posteriormente, por realizar trabalhos em conjunto e
Foi nesse período que o atual proprietário da consultoria assistir suas palestras, o proprietário da SC acabou se tornando
LFM Engenharia, Luis Fernando Navarro, conheceu Eurico. um grande amigo de Eurico. “Pessoalmente nos conhecemos
Navarro estagiava na construtora Fioravante Junqueira, há cerca de 20 anos e hoje conversamos muito sobre serviços,
empresa para qual o engenheiro realizava os projetos de pois ele é um profissional de muito respeito e que tem um
instalação elétrica e hidráulica e pôde acompanhar de perto profundo conhecimento da parte técnica”, conta.
o crescimento profissional de Eurico e de sua empresa. “Foi o O engenheiro eletricista e civil só tem elogios ao
primeiro boom do setor imobiliário, época do Banco Nacional companheiro de profissão. “Costumo dizer que Eurico é
de Habitação (BNH) e de grandes construtoras como Guarantã ‘gente’. Ele é inteligente e formidável”, diz. Vieira já conheceu
e Albuquerque Takaoka. O Eurico fez muitos trabalhos com muitos engenheiros na sua trajetória e, segundo ele, encontrar
essas empresas”, conta. alguém como Eurico, que une a competência profissional
Segundo Navarro, a firma de Eurico Freitas Marques foi com o jeito agradável de tratar companheiros de profissão e
uma das maiores no setor de instalações elétricas e hidráulicas. clientes, é uma tarefa muito difícil.
“Foi uma época interessante, na qual se construiram muitos
prédios, como agora, guardadas as devidas proporções, e pelo Ainda na ativa
que sei o Eurico foi o grande projetista daquele momento”,
lembra. O importante para o consultor, entretanto, é que, Com 81 anos completados em janeiro, Eurico, como
durante os mais de 30 anos que eles se conhecem, o engenheiro disse Navarro, continua trabalhando no seu escritório na rua
civil manteve-se atualizado e por isso ainda está na ativa. “Isto Tabapuã. Sua carreira de professor ficou para trás. Em 1982,
demonstra que ele é um profissional de qualidadde e com deixou de dar aulas. “Praticamente ao mesmo tempo parei
grande capacidade de criar projetos”, diz. de lecionar nas duas universidades”, diz. Em 2002, porém,
Outro amigo de Eurico que o conheceu no início de voltou, mesmo que momentaneamente, a lecionar a matéria
sua carreira foi o engenheiro e atualmente proprietário da de Patologia das Instalações Hidráulicas e Elétricas em um
consultoria Engenharia SC Ltda., Carlos Vieira, que tem em curso de pós-graduação.
comum com Eurico o fato de ter feito também o curso de Fez isso até 2003, mas já há muito havia diminuído seu
engenharia civil e elétrica. “A diferença é que eu fiz as duas ritmo. “Tenho me poupado um pouco”, comenta o engenheiro
faculdades em simultâneo”, comenta. que, além de realizar seu projetos, continua participando
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“Deveria ser obrigatório constar
o nome da firma de engenharia
responsável pelo projeto nos
lançamentos publicitários
dos edifícios.”

O projetista foi um dos responsáveis pela criação da tabela de honorários utilizados pelos engenheiros.

de reuniões que ajudam a decidir os rumos do setor do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e a responsabilidade de sua criação não pode ser somente O que ainda falta fazer
de construção civil no País. De acordo com Eurico, sua Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de creditada na conta de Eurico. “Foi um trabalho em equipe”,
história como militante da área começou no início de sua São Paulo (Secovi). São reuniões comandadas pelo diretor explica. “Foram várias reuniões que começarm na minha Depois de todas suas realizações na parte profissional,
carreira no campo docente . “Como professor eu tinha que engenheiro Paulo Rewald e ligadas ao setor imobiliário casa e depois se transferiram para o Instituto de Engenharia poderia se pensar que Eurico não desejaria realizar mais nada
me atualizar e uma maneira de fazer isso era fazendo parte e versam sobre sistemas prediais. “Contribuem para a da USP”. Esse trabalho, aliás, culminou na criação de uma para o setor, mas não é bem isso. Aos 81 anos, o engenheiro
das reuniões da ABNT”, relata. atualização na parte técnica”, explica. divisão de Instalações Prediais para as áreas hidráulica e ainda tem suas expectativas e anseios. Um deles refere-se ao
De acordo com Eurico, na época de juventude, sua elétrica dentro do Instituto, que, posteriormente, recebeu reconhecimento de sua classe nos projetos da construção civil.
participação nessas reuniões era mais assídua, contudo, até Tabela de honorários o nome de Associação Brasileira de Engenharia e Sistemas “Deveria ser obrigatório constar o nome da firma de engenharia
hoje, ele freqüenta as assembléias do Comitê Brasileiro 24 Quando soube que o homenageado desta edição Prediais (Abrasip). responsável pelo projeto nos lançamentos publicitários
-CB- 24, realizadas no Corpo de Bombeiros e que discutem seria o seu amigo Eurico Freitas Marques, o renomado De acordo com Eurico, a tabela de honorários era dos edifícios”, conta. “Isso já acontece, atualmente, com
as normas de hidrantes e mangotinhos. E o engenheiro engenheiro eletricista Paulo Barreto elogiou a escolha. imprescindível para a classe, já que, além da falta de critérios os arquitetos e não com os engenheiros porque a classe é
salienta a importância dos encontros. “Nessa reuniões Segundo ele, Eurico fez muito pelo setor da construção definidos, o que acarretava em uma salada de cobranças por desunida”.
aparecem fabricantes, consumidores e interessados de todas civil, principalmente na área hidráulica. Barreto falou serviços prestados, já havia uma orientanção por parte do Outra questão que ainda instiga Eurico refere-se ao
as regiões do País”, afirma. dos pontos mais importantes que para ele tornariam justa Conselho Regional e Engenharia, Arquitetura e Agronomia Interruptor Diferencial Residual (IDR). Segundo ele, já foi
Entretanto, Eurico comenta que há situações relativas a homenagem ao engenheiro civil; falou de sua carreira de São Paulo (Crea-SP), mas que, segundo Eurico, era difícil aprovar a obrigatoriedade do uso de tal dispositivo e
a esses encontros que o deixam chateado. “Ouvi de alguns como professor universitário; da sua atuação na ABNT; abrangente e não muito clara. “Ela não acompanhou o agora está sendo mais difícil ainda fazer os responsáveis pela
colegas engenheiros que as reuniões da ABNT deixaram seu profundo conhecimento da parte hidráulica; e frisou desenvolvimento tecnológico das instalações elétricas, por construção dos edifícios utilizá-lo em seus projetos. “É um
de se pautar pelo aspecto técnico e se transformaram em o trabalho de Eurico na realização da primeira tabela de exemplo”, afirma. Segundo Eurico, antigamente a parte dispositivo que detecta a corrente de fuga que se passar de 50
um fórum econômico”, conta. “É óbvio que há diversos honorários para os engenheiros. elétrica possuía apenas dois circuitos: de iluminação (110 mA torna-se muito perigosa”, explica. Por isso, de acordo com
interesses em jogo, mas a discussão é importante e deve ser Eurico conta que o desenvolvimento da tabela foi uma V) e de chuveiro (220 V). Agora, há a parte de telefonia e de o engenheiro, deveria ter uma fiscalização para que o dispositvo
prestigiada”. verdadeira guerra. Isto porque, segundo ele, a classe não dados, o que torna o serviço do engenheiro mais complexo fosse usado.“Em São Paulo, por exemplo, a distribuidora de
A relevância desses eventos é tão grande para Eurico que era muito unida e até hoje não é. “Cada um cobrava o que e, conseqüentemente, os honorários a serem pagos precisam energia elétrica AES Eletropaulo deveria ver isso, já que está
ele também faz questão de participar dos grupos de trabalho queria e ainda é assim. Eu sigo a tabela”, afirma. Contudo, ser atualizados. especificado o uso obrigatório do aparelho”, argumenta.
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dentro da lei
Penalidades
Possíveis penalidades decorrentes de decisões judiciais ou de atos administrativos
para aqueles que descumprirem as exigências de portarias, decretos e outras
Por Leonardo Faria e Flávia Lima 

legislações envolvendo normas técnicas.


I – multa;
II – apreensão do produto;
III – inutilização do produto;
IV – cassação do registro do produto junto ao órgão competente;
V – proibição de fabricação do produto;
VI – suspensão do fornecimento de produtos e serviços;
VII – suspensão temporária de atividade;
VIII – revogação de concessão ou permissão de uso;
IX – cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;
X – interdição, total ou parcial, de estabelecimento, obra ou de atividade;
XI – intervenção administrativa;
XII – imposição de propaganda.

Por alguns destes regulamentos, os fabricantes devem, das normas técnicas. Em uma apelação cível, de 2001, por
obrigatoriamente, obedecer à norma específica e caracterizada exemplo, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais conferiu à
nos procedimentos do Inmetro para que a comercialização do distribuidora de energia local a responsabilidade por uma
produto seja permitida. O mesmo acontece com resoluções morte ocasionada por choque elétrico em rede de distribuição
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outros de energia elétrica residencial que estava em desconformidade
regulamentos de âmbito federal, estadual ou municipal, que com as normas da ABNT. A concessionária teve de pagar uma

Qualidade e segurança
possuem força de lei e exigem o cumprimento de normas. indenização. Em outro caso, o contrato de uma construtora foi
Nesses casos, a norma técnica deixa de ser voluntária para anulado devido à execução de obras e serviços em desacordo
ser obrigatória. Vale lembrar que não é obrigatório que uma com as normas técnicas. (Veja quadro das penalidades)
resolução, portaria ou lei faça referência às normas da ABNT, A ABNT defende que a norma é inteiramente voluntária,

são opcionais?
podendo a própria regulamentação conter os requisitos pois é impossível identificar o seu conteúdo com a mesma
técnicos desejados. relevância de um regulamento técnico ou de uma Lei pública.
No entanto, há uma discussão controversa que ronda De acordo com o diretor de normalização da ABNT, Eugênio
debates da própria comunidade técnica. A causa da polêmica Tolstoy, a norma não é obrigatória, pois não é formulada
Normas técnicas asseguram o mínimo de qualidade e segurança a serviços e produtos, especialmente os elétricos. Mas, é a Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, que instaura no âmbito legislativo do Estado. “A norma é elaborada pela
afinal de contas, o seu cumprimento é obrigatório ou voluntário? o Código de Defesa do Consumidor (CDC). O parágrafo sociedade, por isso é voluntária. Já a Lei ou regulamento técnico
VIII do seu artigo 39 determina que é vedado ao fornecedor é totalmente diferente, pois é produzido e regulamentado por
de produtos ou serviços “colocar, no mercado de consumo, meio de uma legislação e é imposta à sociedade”, esclarece.
O papel de uma norma técnica é, fundamentalmente, fornecer os critérios mínimos de
qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas Outro ponto destacado pelo diretor e que, no seu
segurança e qualidade de produtos e serviços. Tratando-se de produtos elétricos, a atenção com
expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas entender, exime o caráter de obrigatoriedade de uma norma
os procedimentos normativos é ainda maior, considerando que a eletricidade mal utilizada
específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas é o seu aparecimento, como menção e recomendação, em
pode trazer riscos de acidentes aos usuários. Entretanto, a grande questão que envolve o assunto
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho procedimentos legais. “Em diversas leis e regulamentos
e o polemiza é: o cumprimento de uma norma técnica é obrigatório ou facultativo?
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial técnicos, os legisladores indicam a norma para identificar
Responsável pela publicação de todas as normas técnicas brasileiras, a Associação Brasileira
(Conmetro)”. como deve ser realizado um procedimento específico. Nesse
de Normas Técnicas (ABNT) afirma que a norma é voluntária e a define como “documento
Dessa forma, pelo CDC, o respeito às normas da ABNT caso, podemos dizer que a norma se torna obrigatória, pois
estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido que fornece, para uso
é obrigatório e sua desobediência corresponde a uma infração ela faz parte de um requisito legal. Entretanto, o conteúdo da
comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados,
legal e sujeita às sanções prescritas. Isso significa que, sob norma unicamente não possui atividade compulsória”, explica
visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto”. Denomina ainda
o ponto de vista legal, a norma técnica é imprescindível e Tolstoy.
aquelas normas chamadas de “mandatórias” como documento com aplicação obrigatória em
problemas comprovadamente gerados pelo não atendimento à Os pareceres jurídicos que atestam o caráter obrigatório
virtude de uma lei geral, ou de referência exclusiva em um regulamento.
regulamentação podem implicar graves conseqüências jurídicas das normas técnicas e a afirmação da ABNT em considerá-las
A lei e o regulamento mencionados referem-se a Portarias, Resoluções e Leis que determinam
para o responsável pelo produto ou serviço prestado. como voluntárias causam certa confusão e descontentamento
o uso obrigatório de determinada norma. É o caso, por exemplo, das Resoluções do Instituto
Algumas jurisprudências dos tribunais nacionais são no mercado. Para o presidente do Instituto Tecnológico de
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que exigem a
categóricas e determinam penalidades pelo não cumprimento Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade
certificação compulsória de determinados produtos.
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Apoio
A elaboração de uma norma
A estrutura normativa brasileira passa por algumas etapas até chegar à sociedade como um todo. A ABNT, composta
por 60 comitês responsáveis pela criação, manutenção e fiscalização de uma norma técnica, administra e publica todas as
normas técnicas brasileiras. Os grupos normalizadores estão divididos por áreas em Comitês Brasileiros (CB). O CB-3,
por exemplo, é o comitê responsável pela elaboração e revisão de normas relacionadas ao setor de eletricidade. Existem,
atualmente, cerca de 10 mil normas técnicas brasileiras, envolvendo os mais diversos setores industriais e econômicos do
País.
Para a criação de uma nova norma técnica, os fabricantes, os consumidores e as chamadas instituições neutras
(universidades, ONGs, associações filantrópicas, etc.) formam comissões que trabalham em conjunto com o seu CB
respectivo. Dentro dessas comissões, cada categoria da sociedade participante – consumidor, fabricante e instituição
neutra – possui um voto dentro da discussão. Por uma determinação da ABNT, uma norma brasileira deve ser criada,
preferencialmente, por consenso entre todas as partes.
Após a conclusão do primeiro texto da nova norma, ele é disponibilizado no site oficial da ABNT (www.abnt.org.br)
para consulta da sociedade e para que sejam feitas eventuais críticas e sugestões para o seu conteúdo. Terminado o prazo de
consulta pública, que varia de 30 a 120 dias, a comissão reúne-se para analisar os comentários recebidos, concluir o texto
e enviá-lo para a ABNT. Passado todo este processo, a associação chancela o novo texto, publica em formato eletrônico ou
papel e comercializa a norma para os setores interessados.

(Itenac), o engenheiro eletricista Mauricio Ferraz de Paiva, e distribuição). Enquanto alguns profissionais alegam que o normas é errado pela diferença entre os termos: regulamento Association (CSA), por exemplo, traz a mesma informação
um dos argumentos usados para definir a voluntariedade da custo de uma norma é abusivo, tornando a distribuição de e norma. “O regulamento técnico é um dispositivo criado que o organismo português, mas acrescenta: “este conteúdo
norma é a existência de documentos com caráter de orientação. conteúdo técnico em negócio, a ABNT contesta. O diretor pelo Estado com o intuito de complementar a informação de técnico (norma), só possui poder de lei quando é citada dentro
“A única brecha para aqueles que dizem que a norma não é da entidade, Eugenio Tolstoy, compara a comercialização alguma Lei. Já a norma técnica é um conteúdo criado por dos recursos legislativos”. No caso brasileiro, o caso pode ser
obrigatória é que 1% de todo o conteúdo não possui caráter de das normas aos métodos de certificação de produtos: “Para um grupo de técnicos especializados no respectivo assunto e um pouco mais agravante, por conta do Código de Defesa do
norma e sim de diretrizes ou guias. Exemplo disso é a norma conseguir certificar um produto, o Inmetro exige que o atestado por um órgão selecionado pelo Estado (no caso do Consumidor, como já abordado.
para monografia acadêmica”, analisa. produtor procure um laboratório cadastrado e pague para este Brasil, a ABNT). Essa diferença não tira a observância da Os valores cobrados pelas normas também variam
O contraponto é o assunto “segurança”, crucial para estabelecimento realizar testes e ensaios, almejando obter o norma técnica”, explica Anna Cândida. conforme a nação. No Canadá, o documento técnico pode
aqueles que defendem a obrigatoriedade da norma. Paiva laudo favorável para a certificação”. ser encontrado desde a US$ 50 até US$ 195; no Japão, os
explica que um produto fabricado fora dos preceitos de uma O mercado se apóia na argumentação de que, como as Em outros países preços variam entre 945 e 15 mil ienes (US$ 9 a US$ 138).
regulamentação normativa pode oferecer risco de acidentes normas são produzidas pela sociedade – especialistas, empresas, Já nos Estados Unidos e na Austrália, muitas normas podem
e não garantir qualidade. “Um fabricante, caso a norma consumidores e neutros, todos voluntários – e a ABNT é um A normalização e o seu caráter de cumprimento, assim ser baixadas gratuitamente da internet, inclusive a norma
técnica não seja obrigatória, pode disponibilizar no mercado órgão sem fins lucrativos, as normas deveriam ter um valor como os valores comercializados, variam de país para país. australiana de instalações elétricas. O formato impresso é
um produto totalmente inadequado ao consumidor”, afirma mínimo apenas para cobrir os gastos com as reproduções, pois Mas, de qualquer forma, existem organizações nacionais que cobrado. Na Austrália, é possível comprar normas por preços
Paiva. Ele cita o exemplo de uma lâmpada, que pode ter são documentos produzidos e direcionados para a utilidade concentram as atividades de normalização e as internacionais que variam entre US$ 18 e US$ 111, enquanto, nos Estados
durabilidade menor que a exigida pela norma e oferecer riscos pública. Na opinião de Paiva, não se pode cobrar pelo conteúdo International Organization for Standardization (ISO) e a Unidos, os valores podem ir de US$ 30 a US$ 2.000.
à segurança pessoal, caso os materiais utilizados não estejam da norma, pois não é uma propriedade privada. International Electrotechnical Commission (IEC) são bem Apenas para efeito comparativo, o NEC, código norte-
em conformidade com o conteúdo técnico preestabelecido. Para entender melhor, sob o ponto de vista jurídico, aceitas em parte do mundo. A IEC, chamada de “braço elétrico” americano para instalações elétricas de baixa e média tensão,
a Justiça se baseia na seguinte ordem de importância: lei; da ISO, atua nos setores de eletrotécnica, eletrônica, iluminação custa US$ 75, ao passo que, no Brasil, a NBR 5410 (apenas
Comércio de normas regulamento técnico (que atua como complemento da Lei); e telecomunicações e, com mais de 60 países membros, exerce para instalações elétricas de baixa tensão) é comercializada por
e normas, caso os dois mecanismos anteriores não sejam grande influência sobre a normalização brasileira. R$ 165, aproximadamente US$ 100. Outra diferença é que,
A observância da norma associada ao atual sistema de suficientes para uma decisão judicial. Observando a obrigatoriedade da norma em outros países, enquanto a primeira possui cerca de 700 páginas e envolve
comercialização dos conteúdos técnicos é outro tema de Segundo a ex-procuradora-geral do Estado de São Paulo e percebemos que a situação não é muito diferente da vivida baixa e média tensão, além de especificações para alarmes,
discussão. A principal reclamação refere-se aos preços de professora associada de Direito Constitucional da Faculdade no Brasil. O Instituto Português da Qualidade (IPQ), órgão interfones e outros, a brasileira tem 210 páginas e trata apenas
normas ultimamente cobrados pelo órgão competente. de Direito da Universidade de São Paulo, Anna Cândida da normalizador de Portugal, especifica a venda de normas como de baixa tensão.
Em 2008, para se ter uma idéia, o preço de uma norma Cunha Ferraz, na maioria dos casos, os juízes dão o veredicto uma de suas atribuições e esclarece que, de forma geral, as Esses dados comprovam que a discussão sobre a obrigato­
variou entre R$ 90 e R$ 200, mas chegou a custar R$ 30 em um baseados na legalidade das normas técnicas, pois elas são normas são voluntárias, tornando-se obrigatórias apenas riedade das normas técnicas atravessa fronteiras e chega a
passado mais distante. O diretor do Itenac, Mauricio Ferraz de citadas no texto do Código do Consumidor. quando houver legislação que determine o seu cumprimento. outros países, assim como os valores cobrados para adquirir
Paiva, considera que o valor de aquisição de uma norma técnica A professora completa afirmando que o argumento principal Este é, basicamente, o princípio que rege a questão normativa uma norma técnica são discutíveis e apresentam-se em
deveria incorporar apenas os efetivos gastos (papel, impressão utilizado por aqueles que defendem a voluntariedade das na maioria dos países. O site oficial da Canadian Standards diferentes formatos pelo mundo afora.
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Fotos: Inmetro
conformidade Por Flávia Lima

José Luciano de Mattos Dias diz no livro de sua autoria, conferência, foram definidas as unidades de corrente e de
Medida, normalização e qualidade industrial, que “em menos resistência elétricas. “O significado industrial das novas
de uma década, a utilização dos conceitos e técnicas da medidas já era então muito claro e sua utilização concreta
qualidade transformou-se em elemento decisivo na competição não passava mais simplesmente pela calibração de padrões
comercial internacional e na própria organização da atividade internacionais, mas também pela sua adequação e difusão”,
industrial”. A difusão das técnicas de qualidade conferiu nova relata Dias.
relevância à exatidão das medidas, as quais passaram a ser Nos Estados Unidos, a história da metrologia foi
cruciais para a redução do desperdício nos processos produtivos estimulada muito mais pelo desenvolvimento industrial que
e necessárias para a padronização de insumos e equipamentos, pela ciência. As primeiras atividades de cunho metrológico
especialmente com a globalização, com a tecnologia e com a remontam ao Coastal Survey, que, a princípio, disseminou
crescente relação comercial entre países. padrões de pesagem ingleses. Anos depois, a necessidade
Laser de hélio-neônio com câmara de iodo do Desse modo, laboratórios, instituições de metrologia e de oferecer produtos com mais qualidade para o mercado
Laboratório Nacional de Metrologia. É utilizado para a organismos de certificações foram nascendo para atender internacional, a força da defesa do consumidor e a expansão
realização da unidade de comprimento, o metro (m). com idoneidade à demanda da indústria e da sociedade de da indústria de eletricidade promoveram diversas discussões,
modo geral, como veremos adiante. que culminaram na criação, em 1901, do Bureau of
Standards.

Sob controle
O início Mais tarde, as técnicas de qualidade romperam com o
modelo fordista de produção. Ao contrário deste, que não
A história da metrologia advém da pesquisa científica, que exigia muita qualificação do operário, as novas técnicas de
abandona os gabinetes privados para unir-se às universidades, qualidade requeriam maior envolvimento do trabalhador
Mecanismos de avaliação da conformidade tiveram impulso com a globalização e com fato que acontece, principalmente, a partir das décadas de com o processo produtivo e uso cada vez mais intenso da
os avanços industriais e tecnológicos, que passaram a exigir padrões, além de mais 1830 e 1840. Mattos Dias conta que, entre 1873 e 1913, tecnologia. Somam-se a isso o advento de computadores,
qualidade e segurança, dos produtos comercializados foram criados 23 laboratórios de física experimental na controles numéricos, robotização, técnicas de gerenciamento,
Alemanha. Estes laboratórios começaram a oferecer insumos bancos de dados, desenvolvimento da infra-estrutura, enfim,
cada vez mais decisivos para o fortalecimento da indústria características que geraram, cada vez mais, processos de
Pesos e medidas, como os consolidados quilograma e metro, além de outras convenções e para o surgimento de novos segmentos industriais, aperfeiçoamento da produção. Tal propriedade também
adotadas pelo mundo inteiro – com algumas exceções –, podem ser considerados como o principalmente com o desenvolvimento da energia elétrica. contribuiu para o aperfeiçoamento dos procedimentos e dos
start up para o avanço e para a solidificação da metrologia, a ciência das medições. Com o Inúmeras convenções de pesos e medidas foram requisitos de qualidade.
desenvolvimento da indústria, a necessidade de padronizações e de critérios de qualidade foi estabelecidas ao longo da história. Um ponto final na
ainda mais determinante para o seu progresso. definição do sistema métrico foi a criação do Bureau Avaliação da conformidade no Brasil
A partir da década de 1960, a difusão das técnicas de controle da qualidade nos Estados Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), em 1877, que
Unidos e na Europa representou uma transformação nas atividades comerciais, especialmente conferiu 30 padrões do metro e do quilograma, repassados Os primeiros sinais de preocupação com a padronização
as transnacionais. Todos os setores econômicos – do varejo às compras governamentais – aos países signatários da Convenção do Metro (incluindo o técnica no Brasil foram dados pelo setor elétrico. Prova
passaram a exigir a obediência não apenas às normas, mas também aos procedimentos e Brasil), entre 1875 e 1889. Segundo o autor, a história da disso é a constituição do Comitê Eletrotécnico Brasileiro
requisitos de qualidade. metrologia pode ser escrita como a história do impacto da em 1908, criado para acompanhar os passos da evolução da
Até então, a qualidade de determinados processos, serviços ou produtos era atestada ciência sobre o conceito de medida. normalização técnica internacional, dados pela Comissão
por consultores, quando havia algum método de avaliação. A partir de então, começou-se a A afinidade entre a ciência e o mundo dos negócios ficou Internacional de Eletrotécnica (International Eletrotechnical
implantar efetivamente técnicas de qualidade e surgiram entidades nacionais e internacionais evidenciada com o Congresso Internacional de Eletricidade Comission – IEC), instituída apenas dois anos antes. Embora
de certificação, organizações capazes de averiguar as condições de qualidade e de segurança, de 1893, em Chicago, e confirmada pela Conferência essa preocupação tenha sido contemporânea aos principais
muitas vezes, em conformidade com padronizações internacionais. Internacional de Londres, de 1908. Por ocasião desta acontecimentos mundiais nesse sentido, o estabelecimento
26-27

Apoio
“A história da metrologia
pode ser escrita como a
história do impacto da ciência
sobre o conceito de medida”

de critérios de qualidade e a avaliação da conformidade registro das normas brasileiras, e como órgão executivo do Rede Nacional de Laboratórios de Ensaios (RNLE), mais “A demanda do setor produtivo pelos serviços do Instituto
evoluíram muito lentamente no País. Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade tarde alterada para Rede Brasileira de Laboratórios de tornou-se finalmente uma realidade, uma vez que a adoção
De acordo com Pedro Carlos da Silva Telles, em História Industrial (Sinmetro). Ensaios (RBLE). Sem contar ainda com um sistema efetivo das técnicas de gestão da qualidade não só se mostraram
da engenharia no Brasil – século XX, a Estação Experimental Em 1978, o Conmetro credencia o primeiro laboratório de certificação de qualidade, foi formado pelo Instituto fonte de ganhos de produtividade em mercados competitivos
de Combustíveis e Minérios (EECM), criada em 1922, foi de ensaios: o Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) para Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN), em 1985, o internamente, mas a certificação de qualidade tornou-se o
a primeira instituição oficial no Brasil com a finalidade certificação de conformidade à primeira norma compulsória, primeiro grupo de auditores da qualidade do Inmetro. passaporte de acesso aos mercados internacionais”, relata o
específica de realizar pesquisas tecnológicas e ensaios de a NBR 5929, relativa a motores a álcool. Para entender, o livro Medida, normalização e qualidade.
materiais. Até então, havia algumas pesquisas e ensaios Conmetro era o responsável pela classificação das normas, A continuidade dos trabalhos culminou na criação, em
realizados, como o “Manual de resistência dos materiais”, as quais poderiam ser registradas/voluntárias, compulsórias, 1992, do Comitê Brasileiro de Certificação (CBC), com a
de 1905, considerada a primeira publicação brasileira sobre referendadas ou probatórias. função de aprovar procedimentos, critérios e regulamentos
o assunto. Em 1934, foi fundado o Instituto de Pesquisas A Secretaria de Tecnologia Industrial (STI), do Ministério para o credenciamento de organismos de certificação. Com
Tecnológicas (IPT), sob a estrutura da Escola Politécnica da Indústria e Comércio, passou a cooperar com as atividades estes procedimentos, o Instituto passava a credenciar e auditar
de São Paulo. Tais instituições nasceram para suprir a vinculadas às áreas de metrologia e qualidade industrial. A os organismos de certificação públicos e privados.
necessidade de “estabelecimento de padrões técnicos, apoio à partir de 1984, apesar da conjuntura econômica e política A certificação compulsória ficou restrita à saúde,
indústria e aos órgãos técnicos e empresas governamentais”, não favorável, a ampliação das exportações e a busca pela segurança e meio ambiente, devendo ser realizada por
cita o autor. redução dos custos industriais e pela satisfação do consumidor organismo acreditado (credenciado), sob a coordenação do

laboratórios acreditados
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos os programas levaram a STI, segundo Mattos Dias, às seguintes ações: Inmetro. Até meados de julho de 2008, havia 15 produtos
de qualidade já estavam bem difundidos, no Brasil, havia • Ampliação do acervo de normas técnicas por meio do A rede de acreditação do Inmetro destinados especificamente para a área elétrica com programas
pouco interesse, principalmente pela falta de capacitação e conta, em 2008, com 293 labo-
fortalecimento da ABNT; ratórios de ensaios (RBLE) e 212
compulsórios de certificação (veja tabela). O chefe substituto
de coordenação de atividades de normalização e certificação • Incorporação da rede de centros tecnológicos nacionais laboratórios de calibração (RBC). da Divisão de Programas de Avaliação da Conformidade da
de qualidade, os quais partiam de níveis bastante baixos. e regionais, incluindo laboratórios especializados em ensaios Diretoria de Qualidade do Inmetro, Leonardo Machado
Além disso, o Brasil não possuía um histórico de avaliação de verificação da qualidade de produtos; Rocha, esclarece que o Inmetro desenvolve as regras dos
da conformidade. Teria de partir do zero. Dessa forma, • Estruturação de um sistema de certificação de qualidade regulamentos com base nos processos internacionais, como
seria necessário construir e capacitar laboratórios, adquirir com os procedimentos adotados internacionalmente; O governo Collor trouxe algumas mudanças significativas os da ISO e os da IEC. Da mesma maneira, as políticas de
equipamentos e encontrar profissionais qualificados, além de • Incorporação apenas de máquinas ou equipamentos que no âmbito da normalização/certificação. A principal delas acreditação de laboratórios e organismos certificadores são
angariar recursos de empresas públicas e privadas. utilizassem o Sistema Internacional de Unidades (SI). foi o lançamento do Programa Brasileiro da Qualidade e embasadas nos critérios internacionais.
José Luciano Mattos Dias diz que o sistema de metrologia O fato é que, com a definitiva implantação e Produtividade (PBQP), que responsabilizou o Inmetro pelas A Resolução nº 01, publicada pelo Conmetro em maio
industrial deveria ser instalado por meio da articulação com reconhecimento do Inmetro, em 1980, adotaram-se atividades: divulgar a qualidade e a produtividade para o de 2008, lista 111 produtos e serviços que devem ter
laboratórios no exterior e as atividades de normalização medidas para acelerar a criação dos sistemas de normas e de grande público, consolidar os laboratórios metrológicos, programas compulsórios de Avaliação da Conformidade
deveriam adquirir novo ritmo com a reestruturação da ABNT. certificação de qualidade. No mesmo ano, cria-se a Rede capacitar as redes brasileiras de calibração e laboratórios de desenvolvidos no próximo quadriênio (2008 – 2011).
Assim, o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização Nacional de Calibração (RNC), constituída por laboratórios ensaios, implantar sistemas de qualidade, integrar as entidades Da lista publicada, os seguintes itens são relativos ao
e Qualidade Industrial (Conmetro), instalado em 1974, credenciados pelo Inmetro, segundo normas internacionais, de defesa do consumidor e estimular a criação de entidades setor elétrico: cabos elétricos isolados livres de halogênio
determinou que até que fosse criado o Instituto Nacional de para a calibração de padrões de instrumentos de medição certificadores, o desenvolvimento da normalização e a difusão e com baixa emissão de fumaça e gases tóxicos, 750 V e
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), não usados em transações comerciais ou incluídos no âmbito da informação tecnológica. 1 kV; central de alarme; detector de fumaça; detector de
o existente Instituto Nacional de Pesos e Medidas ficaria da metrologia legal. Um ano depois, novas resoluções do Essa medida foi promulgada a fim de incentivar o temperatura contra incêndio; filtro de linha/protetor de
credenciado como organismo nacional de certificação de Conmetro publicam procedimentos para o credenciamento envolvimento de empresas privadas e órgãos governamentais rede elétrica; cabos e cordões flexíveis, para tensões de 450
qualidade, responsável pela classificação, bem como pelo de laboratórios de ensaios pelo Inmetro, no âmbito da com os processos normativos e certificadores. E funcionou. V a 750 V (IEC 60245-4); cordões flexíveis para tensões de
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Apoio
Geradores para a padronização primária de força, por
meio de massas suspensas sob ação da gravidade. À
esquerda, para a força de 10 kN e, à direita, para
100 kN. Laboratório Nacional de Metrologia.
Protótipo do quilograma padrão de 1889, marcado com a letra K, mantido em cofre no prédio do
Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), em Sèvres, na França.

450 V a 750 V, com isolação e cobertura externa de PVC (IEC Trata-se de um modelo de avaliação de conformidade de ou mais características de um dado produto, processo ou e no exterior, mas ainda há muito que fazer: “o Brasil
60227-5); instalações elétricas de casas populares; lâmpadas terceira parte. serviço, de acordo com um procedimento especificado. É o evoluiu bastante, entretanto, o mercado cresceu mais do
incandescentes; nobreak até 10 kVA; e reator para lâmpadas de mecanismo mais utilizado, podendo atuar com a inspeção. que a fiscalização pode dar conta”. Segundo ele, o sistema
alta intensidade. • Declaração de fornecedor poderia ser mais rápido e um pouco mais descentralizado.
A certificação voluntária, até o ano de 2006, era possível no Processo pelo qual um fornecedor, sob condições - Internacionais “Há muitos produtos que poderiam ter avaliação da
âmbito do Inmetro, mas, com a publicação da Portaria 73/2006, preestabelecidas, dá garantia escrita de que um produto, A conformidade de um produto a uma norma ou regulamento conformidade compulsória, mas ainda não são, tais como
os produtos com conformidade avaliada voluntariamente por processo ou serviço está em conformidade com requisitos pode ser verificada de forma voluntária por outros organismos ligados equipamentos eletrônicos, de iluminação e de Tecnologia
organismos acreditados pelo Inmetro, e não decorrente de especificados. Trata-se de um modelo de avaliação de ou não ao Inmetro, conforme desejo ou necessidade do fabricante. da Informação (TI)”, analisa.
Programas de Avaliação da Conformidade do Instituto, devem conformidade de 1ª parte. A americana UL, por exemplo, começou suas operações no Na União Européia, os produtos elétricos devem estar
conter unicamente a marca do organismo avaliador para demonstrar Brasil em julho de 1999, com o objetivo de auxiliar a indústria harmonizados com as normas européias da Cenelec. Já na
que a conformidade foi atestada. • Inspeção local a exportar os seus produtos. O gerente de marketing e América do Norte, para serem mais facilmente aceitos, os
Observação e julgamento acompanhados, conforme apropriado, vendas da UL do Brasil, Péricles Arilho, conta que foi feita produtos precisam atender às especificações das normas Ansi,
Tipos de avaliação da conformidade por medições, ensaios ou uso de calibres. As inspeções visam à uma pesquisa de mercado para identificar as áreas de maior UL, Nema, IEEE, NFPA, entre outras, nos Estados Unidos,
determinação da conformidade aos regulamentos, normas ou demanda e que o primeiro segmento a ser trabalhado foi o de ou CSA, no Canadá. Além disso, existem algumas normas
- Inmetro especificações. É importante esclarecer que os resultados das equipamentos para atmosferas explosivas. harmonizadas pela Canena para o comércio de produtos
Define-se avaliação da conformidade como um processo inspeções podem apoiar a Certificação e a Etiquetagem, e o Além de certificar produtos destinados principalmente à elétricos no âmbito do Nafta (área de livre comércio entre
sistematizado, com regras predefinidas, devidamente acompanhado Ensaio pode integrar as atividades de Inspeção. exportação, de acordo com as normas UL e com os requisitos México, Estados Unidos e Canadá). Em diversos países, como
e avaliado, de forma a propiciar adequado grau de confiança de normativos norte-americanos (NEC), a UL foi acreditada pelo Japão e Austrália, os produtos devem estar em conformidade
que um produto, processo ou serviço, ou ainda um profissional, • Etiquetagem Inmetro, em 2002, e passou também a avaliar a conformidade com as normas da IEC.
atende a requisitos preestabelecidos em normas ou regulamentos. Trata-se de etiqueta informativa que indica seu de produtos com as normas da ABNT. Ademais, as empresas Embora não haja certificação compulsória de produtos
Apresenta-se nos seguintes mecanismos: desempenho de acordo com os critérios estabelecidos. que objetivam comercializar seus produtos em mercados nos Estados Unidos, o NEC – norma de instalação elétrica
Esta etiqueta pode ser comparativa entre produtos de um estrangeiros devem atender a diferentes requisitos. mais aceita no País – diz que “todos os produtos utilizados
• Certificação mesmo tipo ou somente indicar que o produto atende a Na América Latina, nem todos os países exigem nas instalações devem ser aprovados pelas autoridades
Realizada por uma organização independente acreditada, a um determinado desempenho especificado, podendo ser, certificações de produtos elétricos. Dentre os que competentes”. Essa responsabilidade está a cargo das
certificação consiste em avaliar o atendimento de determinado ainda, de caráter compulsório ou voluntário. exigem, estão, além do Brasil, a Argentina, e o México, prefeituras ou do Corpo de Bombeiros, que elaboram a sua
produto ou processo à norma ou ao regulamento técnico específico. observando as variações locais: marca Inmetro no Brasil; relação de produtos (com especificações técnicas e fabricantes)
Essa análise pode ser executada por meio de ensaios, inspeções, • Ensaios S na Argentina; NOM no México. Sobre isso, Arilho ou incorporam listas de entidades normativas reconhecidas,
coletas de amostras no fornecedor e/ou no comércio e auditorias. Operação técnica que consiste na determinação de uma afirma que as normas brasileiras são bem respeitadas aqui como a da própria UL.
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Apoio
Produtos destinados à área elétrica com certificação compulsória
Produtos Órgão regulamentador Documento legal Data Documento normativo
NBR 5361,
Disjuntores Inmetro nº 35 de 14/02/2005 17/02/2005 NBR IEC 60947-2
NBR IEC 60898 ou
NBR NM IEC 60898
Equipamentos elétricos para atmosferas NBR 9518,
potencialmente explosivas, nas Inmetro Portaria do Inmetro 06/04/2006 NBR 5363,
condições de gases e vapores inflamáveis nº 083 de 03/04/2006 NBR 8447 e
NBR 9883
Estabilizadores de tensão monofásicos,
com saída de tensão alternada, com Inmetro Portaria Inmetro 18/07/2007 NBR 14373:2006
tensão nominal de até 250 V em nº 262 de 12/07/2007
potências de até 3 kVA/3 KW
Fios e cabos elétricos - cabo de potência Inmetro Portaria do Inmetro 27/05/2003 NBR 7288
com isolação sólida extrudada, de PVC, nº 086 de 26/05/2003
para tensões de 0,6/1,0 kV
Fios e cabos elétricos - cabos e cordões
flexíveis para tensão até 750 V, com Inmetro Portaria do Inmetro 27/05/2003 NBR 13249
isolação/cobertura extrudada de cloreto nº 085 de 26/05/2003
de polivinila (PVC)
Equipamento para a realização do Fios e cabos elétricos - condutores Portarias Inmetro nº 27/05/2003,
metro, utilizando um laser estabilizado,
em laboratório do BIPM. isolados com policloreto de vinila Inmetro 087 de 20/05/2003, 08/12/2003 e NBR NM
(PVC), para tensões de 450/750 V, sem 184 de 04/12/2003 e 21/10/2004 247-3
cobertura, para instalações fixas 175 de 19/10/2004
Portaria Inmetro NBR 5113, NBR 5157,
Cronologia 1973 - Nasce o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Fusíveis tipo rolha e tipo cartucho Inmetro nº 101 de 16/07/2001 e 19/07/2001 e NBR 6523, NBR 6280,
Algumas datas importantes na história da metrologia Qualidade Industrial (Sinmetro). Resolução Conmetro 21/10/1988 NBR 6254 e NBR 6996
1973 - Criação do Inmetro, autarquia federal vinculada ao nº 15 de 12/10/1988
1830 - Início da história da metrologia brasileira. Projeto de MIC, com personalidade jurídica e patrimônio próprios. Interruptores para instalação elétrica fixa Portaria Inmetro 03/07/2008 A BNT NBR NM
adoção do sistema métrico decimal. 1974 - Instalação do Conselho Nacional de Metrologia, doméstica, análoga, para tensões de até 440 V Inmetro nº 234 de 30/06/2008 60.669-1:2004
1875 - Dezessete países, incluindo o Brasil, assinam, em Paris, a Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro). Plugues e tomadas para Resolução Conmetro 11/08/1988,
Convenção do Metro. 1978 - Conmetro define os critérios para a certificação de uso doméstico e análogo nº 08 de 26/07/1988, 18/10/2001 e NBR 6147 e
1877 - Criado o Bureau Internacional de Pesos e Medidas. conformidade às normas brasileiras e cria o Comitê Nacional de Inmetro Portarias do Inmetro nº 136 de 17/07/2002 IEC 60884-1
1930 - Regulamentação para calibração de pesos e medidas sem Metrificação. 04/10/2001 e nº 134 de 15/07/2002
alterações nas tabelas de taxas. 1978 - Aprovada a primeira norma brasileira na vigência da Reatores eletrônicos alimentados em Portaria Inmetro NBR 14417/1999
1933 - Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) nossa legislação, a norma compulsória NBR 5929 relativa a corrente alternada para lâmpadas Inmetro nº 188 de 09/11/2004 11/11/2004 NBR 14418/1999
incorpora o Instituto Nacional de Tecnologia (INT). motores a álcool. fluorescentes
1938 - INT assume a gestão de um sistema de metrologia legal 1980 - Definitiva implantação do Inmetro com a transferência Reatores para lâmpadas fluorescentes Inmetro Portaria Inmetro 05/02/2002 NBR 5114/1998
no âmbito nacional. das atribuições do INPM. tubulares nº 20 de 29/01/2002 NBR 5172/1998
1940 - Criação da Associação Brasileira de Normas Técnicas 1980 - Criação da Rede Nacional de Calibração (RNC), mais Cabos flexíveis isolados com borracha
(ABNT). tarde chamada de Rede Brasileira de Calibração (RBC). etilenopropileno (EPR), para aplicações
1954 - Foram escolhidas seis unidades fundamentais: metro 1981 - Resoluções do Conmetro detalhando os procedimentos especiais em cordões conectores de Inmetro Portaria Inmetro n° 281 de 23/07/2007 NBR 14898:2002
(extensão, definição desde 1889); quilograma (padrão de massa, para o credenciamento de laboratórios de ensaios pelo Inmetro, no aparelhos eletrodomésticos, 19/07/2007
desde 1889); segundo (tempo); ampère (corrente elétrica, desde âmbito da Rede Nacional de Laboratórios de Ensaios (RNLE). em tensões até 500 V
1948). Apenas a unidade de tempo não tinha definição aprovada 1990 - Lançamento do Programa Brasileiro da Qualidade e Cabos e cordões
pelo CGPM. Produtividade (PBQP). flexíveis isolados com policloreto de vinila Inmetro Portaria Inmetro n° 282 de 23/08/2007 NBR 14897:2002
1956 - Criação da Organização Internacional de Metrologia 1992 - Criação do Comitê Brasileiro de Certificação, com a (PVC) para aplicações especiais em cordões 19/07/2007
Legal/OIML. função de aprovar procedimentos, critérios e regulamentos para o conectores de aparelhos eletrodomésticos, em
1960 - Institucionalização do Sistema Internacional de Unidades – SI. credenciamento de organismos de certificação. tensões até 500 V
1961 - Reestruturação do Ministério da Indústria e Comércio, 1995 - Criação do International Accreditation Forum (IAF). Cordões flexíveis com isolação extrudada de Portaria Inmetro n° 286 de
determinada pela Lei nº 4.048/61, criando o Instituto Nacional 1996 - Criação do Interamerican Accreditaion Cooperation polietileno de clorossulfonato (CSP) para Inmetro 19/07/2007 23/08/2007 NBR 14633:2000
de Pesos e Medidas (INPM), transferindo as atividades de cunho (Iaac), organização que elegeu o Brasil (Inmetro) como seu tensões até 300 V
metrológico do INT para este novo órgão. primeiro representante. Adaptadores de plugues e tomadas Inmetro Portaria do Inmetro 23/08/2007 NBR 14.936:2006
1971 - Instalação do prédio inaugural do Centro Nacional de 2000 - Assinatura do Acordo de Reconhecimento Mútuo para nº 324 de 21/08/2007
Metrologia e transferência do INPM para Xerém – Duque de Credenciamento de Laboratórios entre o Inmetro e o International Pesquisa:
Medida, normalização e qualidade, de José Luciano de Mattos Dias / História da engenharia no Brasil – século XX, de Pedro Carlos da Silva Telles
Caxias – RJ. Accreditattion Cooperation (Ilac). Confederação Nacional da Indústria (CNI) / Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)
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Apoio
formação

Fotos: Centro Paula Souza


Por Flávia Lima

Fachada do edifício que abrigava o Instituto Profis-


sional Feminino, atual ETE Carlos de Campos.

fortuna”, conforme denominava a lei. de eletricidade e, dois anos depois, outro curso técnico, de
As escolas existentes no fim do Império e início do século química. Celso Suckow da Fonseca explica, em seu livro
XX eram raras, mantidas e dirigidas por ordens religiosas ou por História do ensino industrial no Brasil, que os cursos técnicos
alguns grupos de imigrantes e dedicava-se, majoritariamente, visavam atender aos que não podiam fazer estudos mais
Alunos da Escola Profissional Masculina aguardando o sinal de à educação de crianças das classes mais privilegiadas. Quanto extensos, de seis ou sete anos, depois de completadas as cinco
início das aulas no pátio da escola. Foto da década de 1910. séries ginasiais, até por falta de preparação exigida por Lei
ao ensino profissional, as primeiras escolas oficiais do Estado
foram criadas em 1910, como parte do projeto de constituição para se matricular nos cursos superiores oficiais.
de um mercado interno de mão-de-obra qualificada. O objetivo O fato é que a Escola Técnica Mackenzie antecipava-se às
dessas escolas era atingir uma parcela da população específica, escolas que surgiriam em 1942 com a Lei Orgânica do Ensino

Educação profissional
os filhos de trabalhadores que iriam “seguir a profissão de Industrial. “Na data em que foi fundada, ainda não existiam
seus pais” e constituíam “uma fonte de inesgotável atividade escolas técnicas com a finalidade de preparo de pessoal
e energia, alimentando as forças vivas de nosso Estado”, que ficasse em nível de cultura intermediário entre o dos
conforme consta do relatório apresentado ao presidente do engenheiros e o dos operários”, afirma Fonseca. Segundo ele,
Indústria é a grande fomentadora do desenvolvimento dos ensinos técnico e tecnológico Estado em 1912. o Mackenzie pode ser considerado um precursor do ensino
Em 1911, começam a funcionar em São Paulo, a Escola técnico no País.
Profissional Masculina (atual ETE Getúlio Vargas) e a Escola Com o Decreto-Lei n. 4.048/1942, assinado pelo então
Profissional Feminina (ETE Carlos de Campos), destinadas Presidente da República, Getúlio Vargas, a educação destinada
ao ensino das artes industriais para os meninos e economia à qualificação profissional de trabalhadores industriais
doméstica e prendas manuais para as meninas. Ao final da passaram a ser geridas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Cerca de 200 jovens, com idade entre 8 e 12 anos, aprendiam diversos ofícios, ao mesmo década de 1920, o ensino profissional funcionava regularmente Industrial (Senai). “Era um momento histórico marcante,
tempo em que recebiam técnicas de desenho e lições de escrita. Órfãos, indigentes ou filhos em diversas regiões do País. em que a indústria brasileira enfrentava as circunstâncias da
de pais reconhecidamente pobres, aos 21 anos, obtinham o certificado de mestre em uma A partir da década de 1940, as principais transformações Segunda Guerra Mundial, que agravava a questão da demanda
especialidade e eram contratados como operários efetivos, passando a ser remunerados. O ano ocorreram no ensino secundário e o ensino profissional de mão-de-obra qualificada”, explica o professor e gerente
era 1884 e os aprendizes eram escalados para trabalhar no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. preocupou-se em formar trabalhadores. Dessa maneira, foi de Tecnologia Industrial do Senai São Paulo, Osvaldo Lahoz
Podemos dizer que este foi o início do ensino profissionalizante no Brasil. Mas, de lá para cá, dada maior autonomia para as escolas e para os Estados, na Maia.
muita coisa mudou: escolas técnicas e de tecnologia foram instituídas e os cursos oferecidos tentativa de romper a tradição de que o ensino “técnico” era
ganharam reconhecimento como legítimos formadores de profissionais, especialmente, para a destinado às classes subalternas e o “acadêmico” para a elite e O ensino técnico
indústria. Vejamos alguns passos dessa evolução. para as classes dirigentes.
Uma data importante para a educação profissional foi 1909, ano em que foi publicado Antes, porém, uma escola americana lançava as bases do A definição do termo técnico aplica-se a “toda pessoa
o Decreto nº 7.566, assinado pelo então presidente Nilo Peçanha, que criou as Escolas de ensino técnico propriamente dito no Brasil. O Mackenzie que trabalha em uma profissão que exige conhecimentos
Aprendizes e Artífices que tinham como objetivo a formação de mão-de-obra especializada College, que foi fundado com o intuito de expandir o científicos e técnicos intermediários entre as do trabalhador
para atender ao crescente desenvolvimento industrial brasileiro. Essas escolas começaram a protestantismo, dava início, em 1896, à Escola de Engenharia qualificado e as do engenheiro ou dos quadros superiores. O
se espalhar por todo o País, mas ainda eram direcionadas aos “filhos dos desfavorecidos da Mackenzie. Em 1932, o Mackenzie lançava um curso técnico técnico pode desempenhar tarefas de inspeção e manutenção,
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Apoio
Bandeirantes técnicos, na cidade de Franca (SP), em 1935. Alunos e professores na aula de mecânica. Década de 1930.

de aparelhamento de processos de execução, de controle da por técnicos e outros profissionais qualificados é bastante Ensino superior de tecnologia Em 1978, o Centro Federal de Educação Tecnológica
produção. A colaboração com o engenheiro constitui parte intensa”, avalia. Celso Suckow da Fonseca (Cefet) foi criado, no Rio de Janeiro,
essencial de seu trabalho”. Esta é a designação adotada pela Para se ter idéia, em 1947, havia em São Paulo 26.430 A expansão automobilística, vivida principalmente nos como autarquia de regime especial, vinculado ao Ministério
Conferência Geral da Unesco, realizada em 1962. Os níveis indústrias, com 579.228 funcionários, o que significava um anos de 1970, foi outra grande fomentadora do ensino técnico. da Educação e Cultura. O Cefet integrou a rede de ensino
profissionais podem ser assim definidos: nível técnico, nível vasto campo de trabalho. Os segmentos de fiação e tecelagem “Naquele momento, vivíamos o milagre econômico e a idéia tecnológico, passando a ofertar cursos de graduação e pós-
técnico superior e nível superior (engenheiro). (27%), mecânica e material elétrico (15,3%), construção e do governo era oferecer um profissional que não precisasse graduação, atividades de extensão e realização de pesquisas na
O ensino técnico foi conquistando espaço na medida em que mobiliário (15,2%) e alimentação (10,8%) representavam cursar uma faculdade por cinco anos para atender à demanda área tecnológica.
as necessidades das indústrias cresciam e não havia profissionais juntos 68,3% do total de empregados na indústria. da indústria, que era urgente”, explica o tecnólogo Décio Professor da Fatec São Paulo há 30 anos, Décio Moreira
o suficiente para suprir essa demanda. Particularmente, nos Dessa forma, para atender às necessidades de pessoal Moreira. conta que, mesmo com o surgimento de diversas instituições
países em desenvolvimento, o número dos que se formam não especializado para as fábricas de tecidos, o Senai inaugurou, Assim, os cursos de tecnologia surgem no Brasil em 1969, de ensino tecnológico, esses cursos eram enxergados com
era suficiente para corresponder à procura. Todos os países em 1945, a primeira Escola Têxtil de São Paulo, ensinando com um Decreto-lei assinado pelo então governador de São certo preconceito. “As empresas não entendiam um curso de
passaram por isso, inclusive o Brasil. “Esta penúria de técnicos o ofício de fiandeiro e tecelão de algodão, de lã e de seda. Paulo, Abreu Sodré, que criava uma entidade autárquica tecnologia como graduação, mesmo as universidades públicas
manifestou-se com agudeza nos Estados Unidos, mas o mesmo Mais tarde, em Jundiaí, no lugar da Escola Municipal e do destinada a desenvolver a educação tecnológica nos graus de demoraram a aceitar os tecnólogos em seus cursos de pós-
aconteceu na Europa Ocidental”, afirma o autor do livro O Núcleo de Ensino Ferroviário, passa a funcionar a Escola ensino médio e superior. Assim, o Centro Paula Souza iniciava graduação stricto sensus”, conta.
ensino técnico e profissional, Hugh Warren. Industrial Dr. Antenor Soares Gandra, oferecendo os cursos suas atividades em 6 de outubro daquele ano, ainda chamado A partir de 1996, entretanto, com a nova Lei de Diretrizes
Ele explica ainda que certos países, levados pelo industriais de mecânica de máquinas, aparelhos elétricos e de Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo. e Bases da Educação Nacional, a situação mudou. A nova lei
entusiasmo de ter criado uma universidade, quase sempre telecomunicações, fundição, cerâmica, tecelagem, motores a A princípio, os cursos eram basicamente voltados para os passou a contemplar os cursos de tecnologia como educação
custosa, mas formando apenas poucos especialistas, tendiam explosão, alvenaria e construções, além de corte e costura. ensinos mecânico e civil voltados para o setor produtivo. Só superior e, assim como a procura aumentou, a oferta também.
a negligenciarem a formação de nível técnico e de técnico Na década de 1990, o Senai contou com apoio técnico depois de alguns anos, esses cursos passaram a ser chamados Os cursos oferecidos pelas escolas de tecnologia, de acordo
superior. Mas, segundo ele, a formação no nível intermediário e financeiro de instituições de diversos países, como de “ensino superior de tecnologia”. A Faculdade de Tecnologia com o Ministério da Educação (MEC), devem ter de 1.600
é menos cara e corresponde às necessidades da indústria Alemanha, Canadá, Japão e Estados Unidos. A média de Sorocaba foi a primeira das “Fatecs”, criada em 20 de maio horas a 2.400 horas, dependendo da formação. Essa carga
tão bem ou ainda melhor que a formação de engenheiros de 15 mil alunos anuais, nos primeiros anos da entidade, de 1970. Seu primeiro dia letivo contou com 66 alunos, horária equivale a dois ou três anos de graduação.
diplomados. Tanto que hoje o ensino técnico é um dos que passou para 2 milhões. As primeiras escolas deram origem que começavam seus estudos no curso técnico superior de Para se ter idéia, o Centro Paula Souza, atualmente,
mais se desenvolve. a uma rede de 696 unidades operacionais, distribuídas por Oficinas, atual Processos de Produção. No ano seguinte, a maior rede estadual de ensino profissional do País, é
Maia concorda: “no passado havia realmente um certo todo o País, onde são oferecidos cerca de 2.200 cursos de a Fatec de Sorocaba passou a ser subordinada ao Centro responsável pela formação de cerca de 140 mil estudantes
preconceito injustificado quanto à formação técnica em formação profissional, além de programas de qualificação e Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo, atualmente nas 141 Escolas Técnicas (Etecs) e nas 39 Faculdades de
detrimento do diploma de graduação, mas, hoje, a procura aperfeiçoamento específicos. Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”. Tecnologia (Fatecs).
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Apoio
Senai-SP/Acervo Projeto Memória
Oficina de carpintaria da Escola Senai “Félix Guisard”, de Taubaté (SP), ano de 1943. Aula de desenho, em 1940. As carteiras, de madeira, possuíam forma de pranchetas.

Integração com a indústria projetos de novos produtos ou ainda atuar fortemente em


departamentos de manutenção”, explica Maia. No entanto,
As escolas de ensino técnico e superior de tecnologia uma preocupação ainda não foi superada pelos tecnólogos.
nasceram, fundamentalmente, estimuladas por uma Algumas restrições do sistema Crea/Confea impedem que
A mulher e a eletricidade na favela necessidade da indústria. Dessa forma, durante quase toda a tecnólogos sejam responsáveis por projetos técnicos ou
história do ensino profissional, as instituições mantinham – e pela direção de obras ou processos nas áreas de arquitetura,
“Uma senhora que mora em uma favela vizinha à escola foi nos continuam mantendo – parcerias com empresas, que recorrem engenharia e agronomia.
procurar para fazer o curso de eletricidade. Ela ganha a vida às escolas em busca de corpo técnico e de pesquisas. De qualquer forma, o curso técnico não substitui o curso
lavando e passando roupa para os outros. Num belo dia, inventou A Fatec São Paulo, por exemplo, conta com uma fundação de graduação, mas o professor Osvaldo Maia esclarece que
de comprar um super ferro industrial, para facilitar a vida no de apoio, que incorpora professores e alunos da faculdade, há uma grande necessidade de técnicos de nível médio na
trabalho. E não é que o ferro da mulher pôs fogo no barraco? desenvolvendo pesquisas e prestando serviços técnicos e indústria e sempre haverá necessidade de profissionais desse
Parece que ele tinha 2.600 W e, em toda tomada que ela colocava, tecnológicos. “Por meio desses trabalhos, os alunos aprendem nível, desempenhando atividades especializadas.
a tomada derretia. Ela então nos procurou para saber: “por que Estatísticas do Senai revelam que 80% dos alunos
mais e podem ser contratados pelas empresas para as quais
será que, logo agora que o ferro novo ia resolver o meu problema, formados estão empregados em até dois anos após a conclusão
executaram algum serviço”, afirma Moreira.
o danado está pondo fogo no barraco?”. Eu sei que, conversa vai, do curso. Um indicador da competência da instituição é a
O professor Maia, do Senai, explica que os técnicos têm
conversa vem, ela decidiu fazer o curso conosco. E fez: subiu
sua própria identidade profissional, bem como seu espaço de empregabilidade. Uma pesquisa realizada pelo Sistema
escada, instalou lâmpada fluorescente, não teve problema que
atuação, não havendo a necessidade de superposição com as de Avaliação Institucional (SAI), do Centro Paula Souza,
não enfrentasse. Na hora de subir na escada, prendia a saia entre
atividades de engenheiros ou outros graduados. “Muitos jovens concluiu que, em 2007, os tecnólogos atingiram um índice de
as pernas e ia em frente; do jeito que os outros faziam ela fazia
estão preferindo investir na carreira de técnico especializado, empregabilidade de 92% e os técnicos, de 77%.
também. Depois que terminou o curso, não conseguiu emprego
nenhum em firma. Ficou dentro da favela mesmo. Agora, ela em detrimento de uma formação acadêmica generalista, que Pesquisa:

passou a ser uma referência lá dentro: tem resolvido os problemas nem sempre oferece uma colocação no mercado de trabalho”, O ensino técnico e profissional: um estudo comparativo da situação atual e tendências em 10
países, FGV – Hugh Warren
de eletricidade das vizinhas e de outros moradores. Possivelmente, conta. História do ensino industrial no Brasil, volumes 1 e 2, 1961/1962 - Celso Suckow da Fonseca
essa mulher já evitou alguns desastres dentro daquela favela! Para Quanto à posição no mercado, os técnicos ocupam Egressos do ensino técnico industrial no Brasil: um estudo de caso, 1990 – Maria Laura P. Barbosa
Franco e Annete Serber
mim, foi muito gratificante ter aquela senhora na sala de aula.” normalmente a posição de chefia média nas empresas. “Eles A eletricidade em educação – Memória de oficinas, 2001
têm autonomia para responder por projetos até onde as suas Contribuição para a racionalização do ensino industrial, tese, 1961 – Moysés Brejon
Escolas profissionais públicas do Estado de São Paulo – uma história em imagens, Centro Paula
Depoimento de um professor de eletricidade de uma escola técnica de São atribuições legais permitem. Normalmente, além de trabalhos
Souza, 2002 – Organização de Carmen Sylvia Vidigal Moraes e Júlia Falivene Alves
Paulo (in A eletricidade em educação, 2001). técnicos, eles também podem chefiar equipes e desenvolver
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Apoio
Diagrama elétrico
descontração
R
E Este jogo consiste em escrever no
diagrama as palavras da relação abaixo,
E S C O respeitando os cruzamentos. Divirta-se!
I
S
D T
F U S I V E L
S N H
J C T I M E R
J U I D
O T E N S A O R
U T E
L O P L
E L E T R O D O E
C T T
O S A E L E T R O N
N E U T R O N I
D R C C C C
U T O U S I N A
T O E R A
O L T I E C
R E O N
T S
A M P E R I M E T R O
T I O A H
Ampére Hidrelétrica
E P I C T L M
Amperímetro Iec
R N O B R E A K Arco elétrico Joule
R I D Aterramento Motriz
Condutor Neutro
A H E R T Z A
Curto Nobreak
M A E D Dicróica Ohm
E S S I Disjuntor Potencia instalada
Eletrodo Potência
N T R I F A S I C O Elétron Resistência
T E S M R Epi Resistor
Esco Surto
O T P O
Fusível Tensão
P O T E N C I A Haste Timer
R R C Hertz Trifásico
Usina
E A
40-41

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