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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof.

Anderson Favero Porte - UNISC 2009

UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E CIÊNCIAS AGRÁRIAS

CURSO DE EXTENSÃO

APROVEITAMENTO TÉRMICO DA ENERGIA SOLAR


UMA ABORDAGEM TÉNICA

Prof. Anderson Favero Porte

Santa Cruz do Sul, março de 2009

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

SUMÁRIO

1) RADIAÇÃO SOLAR
1.1) O SOL
1.2) CONSTANTE SOLAR
1.3) DISTRIBUIÇÃO ESPECTRAL DA RADIAÇÃO EXTRATERRESTRE
1.4) VARIAÇÃO DA RADIAÇÃO EXTRATERRESTRE
1.5) DEFINIÇÕES INICIAIS
1.6) DIREÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR DIRETA
1.7) RELAÇÃO ENTRE A RADIAÇÃO DIRETA SOBRE UMA SUPERFÍCIE
INCLINADA E SOBRE UMA SUPERFÍCIE HORIZONTAL
1.8) RADIAÇÃO EXTRATERRESTRE SOBRE UMA SUPERFÍCIE
HORIZONTAL
2) RADIAÇÃO SOLAR DISPONÍVEL
2.1) DEFINIÇÕES
2.2) INSTRUMENTOS PARA MEDIÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR
2.3) MEDIÇÃO DA DURAÇÃO DO DIA
2.4) DADOS DE RADIAÇAO SOLAR
2.5) ATENUAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR PELA ATMOSFERA
2.6) ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR MÉDIA
2.7) ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO DE CÉU LIMPO
2.8) DISTRIBUIÇÃO DE HORAS E DIAS NUBLADOS E COM SOL
2.9) COMPONENTES DIRETA E DIFUSA DA RADIAÇÃO HORÁRIA
2.10) COMPONENTES DIRETA E DIFUSA DA RADIAÇÃO DIÁRIA
2.11) COMPONENTES DIRETA E DIFUSA DA RADIAÇÃO MÉDIA MENSAL
2.12) ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO HORÁRIA A PARTIR DE DADOS
DIÁRIOS
2.13) DIREÇÃO DA RADIAÇÃO DIFUSA
2.14) RADIAÇÃO TOTAL SOBRE SUPERFÍCIES FIXAS INCLINADAS
3) TRANSFERÊNCIA DE CALOR APLICADA AOS COLETORES SOLARES
PLANOS
3.1) O ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO
3.2) O CORPO NEGRO – O ABSORVEDOR E EMISSOR PERFEITO
3.3) LEIS DE PLANCK, WIEN E STEFFAN-BOLTZMANN
3.4) INTENSIDADE E FLUXO DE RADIAÇÃO
3.5) TROCA DE ENERGIA ENTRE SUPERFÍCIES CINZAS POR RADIAÇÃO
INFRAVERMELHA
3.6) RADIAÇÃO DO CÉU
3.7) COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR RADIAÇÃO
3.8) CONVECÇÃO NATURAL ENTRE PLACAS PARALELAS PLANAS
3.9) RELAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR PARA FLUXO INTERNO
3.10) COEFICIENTE DE CONVECÇÃO DO VENTO
3.11) ANÁLISE DO COLETOR SOLAR COMO UM TROCADOR DE CALOR
PELO MÉTODO DA EFETIVIDADE – NUT
4) CARACTERÍSTICAS DE RADIACAO DOS MATERIAIS OPACOS
4.1) ABSORTÂNCIA E EMITÂNCIA
4.2) LEI DE KIRCHOFF
4.3) REFLETÂNCIA DE SUPERFÍCIES
4.4) RELAÇÕES ENTRE ABSORTÂNCIA, EMITÂNCIA E REFLETÂNCIA
4.5) SUPERFÍCIES SELETIVAS

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4.6) MECANISMOS DE SELETIVIDADE


5) RADIAÇÃO TRANSMITIDA ATRAVÉS DE VIDROS – RADIAÇÃO
ABSORVIDA
5.1) REFLEXÃO DA RADIAÇÃO
5.2) ABSORÇÃO DO VIDRO
5.3) PROPRIEDADES ÓTICAS DOS SISTEMAS DE COBERTURAS
5.4) TRANSMITÂNCIA PARA RADIAÇÃO DIFUSA
5.5) PRODUTO TRANSMITÂNCIA – ABSORTÂNCIA
5.6) RADIAÇÃO SOLAR ABSORVIDA
5.7) MÉDIA MENSAL DA RADIAÇÃO ABSORVIDA
6) TEORIA DOS COLETORES SOLARES PLANOS
6.1) DESCRIÇÃO DOS COLETORES SOLARES PLANOS
6.2) BALANÇO DE ENERGIA EM UM COLETOR SOLAR PLANO
6.3) DISTRIBUIÇÃO DE TEMPERATURAS EM COLETORES DE PLACAS
PLANAS
6.4) COEFICIENTE GLOBAL DE PERDA DE CALOR DO COLETOR
6.5) DISTRIBUIÇÃO DE TEMPERATURAS ENTRE OS TUBOS E FATOR DE
EFICIÊNCIA DO COLETOR
6.6) DISTRIBUIÇÃO DE TEMPERATURAS NA DIREÇÃO DO FLUXO
6.7) FATOR DE REMOÇÃO DE CALOR DO COLETOR E FATOR DE FLUXO
6.8) TEMPERATURAS MÉDIAS DO FLUÍDO E DA PLACA
6.9) PRODUTO TRANSMITÂNCIA – ABSORTÂNCIA EFETIVO
6.10) EFEITO DA POEIRA E DAS SOMBRAS
6.11) GEOMETRIA DOS COLETORES
6.12) CARACTERIZAÇÕES DO COLETOR
6.13) TESTES EM COLETORES SOLARES: EFICIÊNCIA, MODIFICADOR
DO ÂNGULO DE INCIDÊNCIA E CONSTANTE DE TEMPO
6.14) “TEST DATA” – UMA ANÁLISE DE ENSAIOS JÁ REALIZADOS
6.15) CORREÇÕES DA VAZÃO PARA FR.(ΤΑ)N E FR.UL
6.16) OBSERVAÇÕES SOBRE O DESEMPENHO DE COLETORES
6.17) CONSIDERAÇÕES PRATICAS SOBRE COLETORES DE PLACAS
PLANAS
7) METODO F – CHART PARA DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS
SOLARES DE AQUECIMENTO
7.1) O MÉTODO F – CHART
7.2) MÉTODO F – CHART APLICADO À SISTEMAS DE LÍQUIDOS
7.2.1) CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO

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CAPÍTULO 1 - RADIAÇÃO SOLAR

1.1) O sol

O sol é uma esfera de aproximadamente 1,39 x 109m e está a uma


distância média de 1,5 x 1011m. Sob o ponto de vista terrestre, o sol completa
um giro completo em torno do seu eixo a cada 4 semanas. Estima-se que a
temperatura na superfície solar fique em torno de 5762K. A energia é produzida
no interior do sol, transportada por convecção até a superfície solar de onde é
irradiada para o espaço.
A figura 1.1 apresenta esquematicamente a estrutura do sol. Estima-se
que 90% da energia seja gerada na região entre 0 e 0,23R (onde R representa
o raio do sol), que contém 40% da massa solar. A uma distância 0,7R do centro
do sol, a temperatura atinge aproximadamente 130.000K; neste ponto, a
convecção passa a tornar-se importante, quando se entra na zona convectiva
(0,7R à 1R), onde a temperatura cai para 5000K.

Figura 1.1 - Estrutura interna do Sol

1.2) A constante solar

A figura 1.2 mostra, esquematicamente, a geometria envolvida nas


relações entre sol / Terra. A excentricidade da órbita terrestre é tal que a
distância entre a Terra e o sol varia aproximadamente 1,7%. Desta forma,
defini-se a distância de uma unidade astronômica (1,495 x 1011m) como
chamada distância média entre sol e Terra. A partir desta definição, chega-se a
definição da constante solar:
A constante solar (Gsc) é a energia proveniente do sol, por unidade de
tempo, recebida por uma área perpendicular à direção de propagação da
radiação, à distância média entre a Terra e o sol, fora da atmosfera terrestre.

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A medição desta quantidade de energia foi tema de vários estudos, com


base nos quais, estima-se que seu valor aproximado seja de 1353W/m².

Figura 1.2 - Relações entre Terra e Sol

1.3) Distribuição espectral da radiação extraterrestre

Representa como a energia solar distribui-se em função do comprimento


de onda, conforme figura 1.3. Este espectro representa a distribuição de
energia fora da atmosfera, pois após a entrada da radiação solar na atmosfera
terrestre, começam a aparecer interferências (como vapor d’água, poeira,
nebulosidade) que absorvem ou refletem parte desta radiação.

Figura 1.3 - Curva padrão de irradiação espectral à distância média Terra - Sol

1.4) Variação da radiação extraterreste

Duas fontes de variação devem ser consideradas quando se aborda a


radiação extraterrestre. A primeira é a variação na radiação emitida pelo sol.
Embora não seja possível determinar com precisão, estima-se que esta
variação seja de 1,5%, sendo dependente da atividade das erupções solares.
Para fins de estudo em engenharia térmica, esta variação pode ser desprezada
sem comprometer os resultados obtidos.
O segundo fator de variação da radiação extraterrestre é a variação da
distancia entre a Terra e o sol ao longo do ano, que promove uma variação de,
aproximadamente, 3% no fluxo radiante extraterrestre. Esta variação em
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função do tempo pode ser observada na figura 1.4 e calculada através da


equação 1.1.

Figura 1.4 - Variação da radiação solar extraterrestre ao longo do ano

 360.n 
Gon = G sc 1 + 0,033. cos  Equação 1.1
 365 

Onde Gon é a radiação extraterrestre medida em um plano normal à radiação


no enésimo dia do ano.

1.5) Definições iniciais

Várias definições serão úteis e necessárias para uma melhor


compreensão dos capítulos seguintes.
Ângulo de zênite (θz): ângulo subentendido entre uma linha vertical (na direção
vertical ou zênite) e uma linha na direção do sol.
Massa de ar (m): considera a espessura da atmosfera que a radiação solar
precisa atravessar no instante considerado. Este parâmetro pode ser expresso
pela equação 1.2.

m = cos −1 θ z Equação 1.2

Radiação direta: radiação solar recebida pela atmosfera sem sofrer nenhum
desvio durante a sua trajetória.
Radiação difusa: radiação solar que tem sua trajetória desviada na atmosfera.
Radiação total: é a soma da radiação direta com a radiação difusa.
Irradiância: taxa na qual a energia radiante incide sobre uma superfície por
unidade de área, expressa em W/m².
Irradiação: energia incidente por unidade de área em uma superfície,
determinada pela integração da irradiância ao longo de um período de tempo
específico, usualmente uma hora ou um dia, expressa em J/m².
Hora solar: tempo baseado no movimento angular aparente do sol através do
céu, com o meio dia solar sendo o momento em que o sol cruza o meridiano do
observador. A hora solar não coincide com a hora local terrestre e é função de
algumas relações angulares. Desta forma, para o estudo ao qual nos
propomos, torna-se necessário converter a hora local terrestre na hora solar,

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aplicando duas correções. A primeira é a correção em função da latitude loca


entre o meridiano local do observador e o meridiano no qual o horário local se
baseia; a segunda correção, dada pela equação do tempo, leva em conta as
variações na taxa de rotação da Terra, o que afeta o momento em que o sol
cruza o meridiano do observador. Desta forma, a conversão da hora local em
hora solar é definida pelas equações 1.3 e 1.4, abaixo:

Hora _ solar = Hora _ local + 4(Lst − Lloc ) + E Equação 1.3

E = 9,87.sen 2 B − 7,53. cos B − 1,5senB Equação 1.4

360(n − 1)
onde B = , para o enésimo dia do ano.
364

1.6) Direção da radiação solar direta

As relações geométricas entre um plano orientado aleatoriamente sobre


a superfície terrestre e a radiação solar direta incidente sobre ele podem ser
descritas em função de diversos ângulos. Estes ângulos e as relações entre
eles são apresentados a seguir.
Φ - Latitude: localização angular, a norte ou a sul da linha do Equador.
Considera-se o norte positivo (-90° < Φ < 90°)
δ - Declinação: posição angular do sol ao meio dia solar, com relação ao plano
do Equador. Considera-se o norte positivo. (-23,45° < δ < 23,45°)
β - Inclinação: ângulo formado entre a superfície plana em questão e a
horizontal. (0° < β < 180°)
γ - Azimute superficial: desvio do norte da projeção da normal da superfície em
questão sobre um plano horizontal. Considera-se leste negativo e oeste
positivo. (-180° < γ < 180°)
ω - Ângulo horário: deslocamento angular do sol, para leste ou oeste do
meridiano local, em função do movimento de rotação da Terra sobre seu eixo,
a 15° por hora. Considera-se negativo durante a manhã e positivo durante a
tarde.
θ - Ângulo de incidência: ângulo formado entre a direção da radiação direta
sobre uma superfície e a normal desta superfície.
γs - Azimute solar: deslocamento angular, a partir do sul, da projeção da
radiação direta sobre um plano horizontal

A figura 1.5 ilustra os ângulos de zênite, inclinação e azimute superficial.

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Figura 1.5 - Alguns ângulos usados nos cálculos de energia solar

A declinação terrestre pode ser calculada pela equação 1.5 ou estimada


através da tabela 1.1.

 284 + n 
δ = 23,45.sen 360  Equação 1.5
 365 

Tabela 1.1 - Dias médios recomendados para cada mês

Desta forma, definidas todas estas variáveis, é possível estabelecer uma


correlação entre elas, de tal forma que torna-se possível determinar o ângulo
de incidência da radiação solar direta sobre uma superfície qualquer (equação
1.6).
cos θ = senδ .senφ . cos β − senδ . cos φ .senβ . cos γ + cos γ . cos φ . cos β . cosϖ
+ cos δ .senφ .senβ . cos γ . cosϖ + cos δ .senβ .senγ .senϖ

Equação 1.6

Exemplo 1.1:
Calcular o ângulo de incidência da radiação direta sobre uma superfície
plana localizada em Santa Cruz do Sul – RS, as 10:30 (horário solar) do

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dia 13 de fevereiro, sabendo que esta superfície encontra-se a uma


inclinação de 45° com a horizontal e foi girada de 15° para oeste.

A equação 1.6 pode apresentar uma série de casos particulares. Por


exemplo, para superfícies dispostas verticalmente, ou seja, para β = 90°, o
ângulo de incidência é determinado pela equação 1.7:

cosθ = −senδ .cosφ.cosγ + + cosδ .senφ.cosγ .cosϖ + cosδ .senγ .senϖ Equação 1.7

Já para o caso de superfícies horizontais, β = 0°, o que leva à definição


do ângulo de zênite através da equação 1.8:

cos θ z = cos γ . cos φ . cosϖ + senδ .senφ Equação 1.8

Exemplo 1.2:
Calcular o ângulo de zênite para a cidade de Santa Cruz do Sul, as 9:30 do
dia 21 de março e as 7h do dia 01 de julho.

Relações úteis para o ângulo de incidência sobre superfícies inclinadas


voltadas para o sul ou para o norte podem ser deduzidas a partir do fato que
superfícies com estas orientações têm a mesma relação angular para a
radiação direta que uma superfície horizontal localizada em uma latitude fictícia
definida por (Φ - β). Esta relação pode ser visualizada na figura 7. Uma vez que
esta figura exemplifica a situação para o hemisfério norte, torna-se necessária
uma correção para utilização desta analogia para o hemisfério sul, passando a
utilizar a latitude fictícia definida por (Φ + β).
Outro ângulo a ser definido é o ângulo horário do pôr do sol (ωs),
definido pela equação 1.9:

senφ .senδ
cosϖ s = − Equação 1.9
cos φ . cos δ

1.7) Relação entre a radiação direta sobre uma superfície inclinada e


sobre uma superfície horizontal

Para fins de dimensionamento e análise de sistemas de aquecimento


solares, frequentemente torna-se necessária a determinação da radiação
horária sobre uma superfície inclinada de um coletor a partir de medições ou
estimativas da radiação solar sobre uma superfície horizontal.
O fator geométrico Rb (relação da radiação direta sobre uma superfície
inclinada e sobre uma superfície horizontal a qualquer momento) pode ser
calculada com exatidão através do uso apropriado da equação 1.6. A figura 7
indica o ângulo de incidência da radiação direta sobre uma superfície inclinada
e sobre uma superfície horizontal. A relação GbT / Gb é dada pela equação
1.10:
G G cos θ cos θ
Rb = bT = bn = Equação 1.10
Gb Gbn cos θ z cos θ z

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Exemplo 1.3:
Qual a relação da radiação direta com a radiação sobre uma superfície
horizontal para uma superfície inclinada, como a do exemplo 1.1?

O melhor ângulo de azimute para coletores planos no hemisfério sul é de


180°, ou seja, voltado para a linha do Equador. Neste caso, a relação Rb pode
ser determinada pela equação 1.11:

cos(φ + β ). cos δ . cosϖ + sen(φ + β ).senδ


Rb = Equação 1.11
cos φ . cos δ . cosϖ + senφ .senδ

Hottel e Woertz (1942) desenvolveram um método gráfico para resolver


este tipo de equação. Este método passou por algumas adaptações posteriores
e o seu resultado mais recente é apresentado nas figuras 1.6a até 1.6e.

Figura 1.6a - Relações entre 11h e 12h / 12 e 13h

Figura 1.6b - Relações entre 10h e 11h / 13h e 14h

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Figura 1.6 c - Relações entre 9h e 10h / 14h e 15h

Figura 1.6d - Relações entre 8h e 9h / 15h e 16h

Figura 1.6e - Relações entre 7h e 8h / 16h e 17h

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Como será visto posteriormente, os cálculos envolvidos em sistemas de


aquecimento solar são, frequentemente, feitos em uma base horária. Os
gráficos apresentados nas figuras 1.6 se referem às “meia-horas” de cada hora
antes e depois do meio dia solar, e os valores de Rb são determinados para os
intervalos correspondentes.
Para encontrar o cosθz, basta entrar no gráfico para a hora desejada
com a data e a latitude do local em questão. Já o cosθ é encontrado para a
mesma data e latitude entrando com a abscissa correspondente à (Φ - β). Rb
então é encontrado a partir da equação 1.10

Exemplo 1.4:
Calcular Rb para uma superfície 40°N com uma inclinação de 30°, voltada
para o sul entre as 9h e as 10h (horário solar) do dia 16 de fevereiro?

1.8) Radiação extraterrestre sobre uma superfície horizontal

Em muitos cálculos na área de energia solar torna-se conveniente o uso


de níveis normalizados de radiação, ou seja, a relação do nível de radiação real
e o nível de radiação que seria obtido se não houvesse interferência da
atmosfera. Para tanto, faz-se necessária a aplicação de um método para
calcular a radiação extraterrestre.
A qualquer momento, a radiação solar fora da atmosfera terrestre
incidente sobre um plano horizontal pode ser determinada pela equação 1.12:

  360.n  
Go = G sc 1 + 0,033. cos  . cos θ z Equação 1.12
  365  

onde Gsc é a constante solar e n é o enésimo dia do ano. Porém, substituindo


o valor de cosθz na equação acima, obtemos a equação 1.13:
  360.n  
Go = G sc 1 + 0,033. cos  .(senφ .senδ + cos φ . cos δ . cosϖ ) Equação 1.13
  365  

Frequentemente, para fins de determinação da radiação solar diária, é


necessária a determinação da radiação extraterrestre diária sobre uma
superfície horizontal, a qual é definida pela equação 1.14:

24.3600.G sc   360.n   2.π .ϖ s 


Ho = 1 + 0,033. cos .cos φ . cos δ .senϖ s + senφ .senδ 
π   365   360 
Equação 1.14

Além disso, a média mensal da radiação solar extraterrestre sobre uma


___
superfície horizontal ( H o ) é uma grandeza de interesse. Ela pode ser
calculada através da equação 1.14, usando n e δ para o dia “padrão” de de
cada mês (através da tabela 1.1). Ho está representado graficamente em
função da latitude, para os hemisférios norte e sul, na figura 1.7.

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Figura 1.7 – Radiação extraterrestre sobre uma superfície horizontal

Exemplo 1.5:
Determine Ho na ausência de atmosfera na latitude de Santa Cruz do Sul
no dia 15 de abril.

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CAPÍTULO 2 - RADIAÇÃO SOLAR DISPONÍVEL

2.1) Definições

A figura 2.1 mostra o fluxo de radiação primário sobre uma superfície no


solo ou próximo dele. É conveniente considerar a radiação em duas faixas de
comprimento de onda:
a) radiação de ondas curtas ou radiação solar: radiação originada no sol, na
faixa de comprimento de onda de 0,3 à 3,0µm.
b) radiação de ondas longas: radiação originada de fontes a temperaturas da
ordem de grandeza da temperatura ambiente e com comprimentos de onda
superiores à 3,0 µm. Este tipo de onda eletromagnética é emitida pela
atmosfera, pelo próprio coletor solar ou por qualquer outro corpo com
temperatura superior à 0K.

Figura 2.1 - Fluxo de radiação sobre uma superfície próxima à superfície terrestre

2.2) Instrumentos para medição da radiação solar

Pireliômetro - instrumento que usa um detector para medir a radiação


proveniente do sol e do anel solar (coroa circular em torno do sol). A figura 2.2
ilustra um pireliômetro.

Figura 2.2 - Pireliometro

Piranômetro - instrumento para medição da radiação solar total


hemisférica (direta mais difusa), usualmente sobre uma superfície horizontal. O
aparelho pode ser adaptado para medir radiação difusa adaptando-se a ele
uma tarja que permita sombrear o sensor de medição. A figura 2.3 ilustra um
piranômetro, enquanto a figura 2.4 ilustra um piranômetro adaptado para
medição de radiação indireta.

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Figura 2.3 - Piranômetro

Figura 2.4 - Piranômetro adaptado para medir radiação difusa

2.3) Medição da duração do dia

As horas de “sol brilhante”, isto é, o período de tempo enquanto o sol


está visível, é uma forma de estimarem-se médias de radiação solar em longo
prazo. Dois instrumentos são usados neste tipo de medição. O gravador de luz
solar de Campbell - Stockes usa uma esfera sólida de vidro de
aproximadamente 10cm de diâmetro como uma lente que produz uma imagem
do sol na superfície oposta da esfera. Uma tira de papel (padrão) é montada
em torno da parte apropriada da esfera, de modo que a imagem do sol queima
uma marca no papel sempre que a radiação estiver acima de um determinado
nível. Os comprimentos das marcas de queima deixadas sobre o papel indicam
a duração do brilho solar no período considerado. Estas medidas apresentam
uma série de erros associados: a interpretação do que constitui as porções de
papel queimadas, o instrumento que não responde a baixos níveis de radiação
e a condição do papel, em termos de presença de umidade.
Um gravador fotoelétrico de luz solar (Medidor Foster de luz solar)
incorpora duas células fotoelétricas, uma das quais é sombreada enquanto a

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outra é exposta à radiação direta. Na ausência de radiação, os dois detectores


indicam (aproximadamente) o mesmo nível de radiação. Quando a radiação
solar direta incide na célula que não está protegida pela tarja, o sinal de saída
da célula é mais alto que o sinal de saída da célula sombreada. A duração da
diferença da radiação crítica detectada pelas duas células é a medida da
duração do brilho solar.

2.4) Dados de radiaçao solar

Dados de radiação solar estão disponíveis em diversas formas. Todavia,


é importante observar os critérios abaixo para o correto uso e compreensão
das informações:
a) As informações obtidas são instantâneas (irradiância) ou valores integrados
ao longo de um período de tempo (irradiação diária ou horária)?
b) A duração do período de aquisição dos dados.
c) As medições feitas foram de radiação direta, difusa ou total? Os
equipamentos usados são condizentes com as informações coletadas?
d) A orientação da superfície receptora.
e) Se forem dados médios, observar o período no qual os dados foram
coletados para calcular-se a média.
As figuras 2.5 e 2.6 ilustram alguns destes dados.

Figura 2.5 – Curva da radiação solar em um dia típico

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Figura 2.6 – Temperaturas mínimas, médias e máximas em Santa Maria/RS, dez/08.

2.5) Atenuação da radiação solar pela atmosfera

A radiação solar normalmente incidente sobre a superfície terrestre está


sujeita à variações devido à mudanças na radiação extraterrestre, conforme
explanado anteriormente no capítulo 1. Porém, outros dois fenômenos são
significativos para modificação desta radiação: a absorção atmosférica por O3,
H2O e CO2 e a dispersão atmosférica pelas moléculas de ar, vapor d’água e
poeira.

- Dispersão: resulta em atenuação da radiação direta pela ação dos fatores


citados acima e tem sido tema de diversos estudos que sugerem algumas
metodologias para sua quantificação.
As moléculas de ar são muito pequenas quando comparadas ao comprimento
de onda da radiação solar. O desvio da radiação pelas moléculas de ar ocorre
de acordo com a teoria de Rayleigh, que indica que o coeficiente de desvio
varia aproximadamente com λ4, onde λ é o comprimento de onda da radiação.
O desvio pela ação da poeira (muito maior que as moléculas de ar e com
variação de tamanho e concentração de local para local, dependendo da
altitude e do horário) é mais complexo de ser abordado. Estima-se que este
valor varie com λ-0,75. Já o desvio pelo vapor d’água depende da quantidade
de água precipitável e estima-se que seu valor varie com λ-2.
- Absorção: a absorção da radiação na atmosfera dentro do espectro da
energia solar ocorre principalmente devido ao ozônio para comprimentos de
onda ultravioleta (abaixo de 0,29µm) e devido ao vapor d’água nos
comprimentos de onda infravermelhos (abaixo de 1,0µm).
A figura 2.7 mostra a distribuição extraterrestre da radiação solar em
comparação com a mesma distribuição na superfície terrestre em um dia de
céu limpo.

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Figura 2.7 – Distribuição espectral da radiação direta e seus desvios na atmosfera terrestre

Para determinação das propriedades dos materiais (absortância,


transmitância e refletância), as quais dependem do comprimento de onda da
radiação, é conveniente ter a sua distribuição na forma tabular, conforme
mostra a tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Distribuição espectral da radiação direta terrestre - massa de ar = 2 / 23km de


visibilidade

2.6) Estimativa da radiação solar média

Dados históricos de radiação são uma boa fonte para estimativa de


radiação incidente média. Além disso, é possível fazer correlações com
considerável grau de confiabilidade levando-se em conta diferentes
localizações geográficas que apresentam clima e vegetação semelhantes.
Apenas para fins ilustrativos, a tabela 2.2 mostra como isto é possível.

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Tabela 2.2 – Exemplos de horas de sol diárias (média mensal)

Através desta tabela, é possível a determinação do índice de ausência


__
de nebulosidade K t através da equação 2.1, que relaciona a média mensal da
radiação diária sobre uma superfície horizontal com a média mensal da
radiação média mensal fora da atmosfera na mesma localidade.
__
 __

__
H  n
K t = __ =  a + b __  Equação 2.1
Ho   N 
__
onde n representa a média mensal de horas diárias de luminosidade solar e
__
N representa a média mensal do número máximo de horas de luminosidade
solar.
__
H o pode ser calculado pela equação 1.14 usando a tabela 1.1.

Exemplo 2.1:
Estimar a média mensal da radiação solar total sobre uma superfície
horizontal para Santa Cruz do Sul, baseada na duração média dos dias.

2.7) Estimativa da radiação de céu limpo

Os efeitos da atmosfera em desviar e absorver a radiação solar são


variáveis ao longo do tempo, dependendo das condições da atmosfera e das
mudanças da massa de ar. É útil, então, definir um padrão de “céu limpo” e
calcular a radiação horária e diária que seria recebida por uma superfície
horizontal nestas condições padrão.
Um método para a determinação destas condições padrão consiste em
estimar a radiação direta transmitida através da atmosfera limpa e leva em
conta o ângulo de zênite e a latitude para uma condição de atmosfera padrão e
para quatro tipos diferentes de clima. A transmitância atmosférica para a
radiação direta (τb) é dada pela equação 2.2:

19
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

τ b = a 0 + a1 .e − k / cos θ
Equação 2.2
z

As constantes a0, a1 e k para condições padrão de atmosfera com 23km


de visibilidade são determinadas pelas equações 2.3a, b, c mostradas abaixo:

a0* = 0,4237 − 0,00821.( 6 − A)² Equação 2.3.a

a1* = 0,5055 + 0,00595 .(6,5 − A)² Equação 2.3.b


k * = 0,2711 + 0,01858.( 2,5 − A)²
Equação 2.3.b

Onde A representa a altitude do observador, em km. Estes valores podem ser


aproximados com certo grau de precisão através do gráfico mostrado na figura
2.8.

Figura 2.8 - Radiação horizontal total e radiação direta

Além disso, fatores de correção são aplicados à a 0* , a1* , k * para corrigir a


interferência do clima na região considerada. Tais fatores de correção são
apresentados na tabela 2.3.

Tabela 2.3 – Fatores de correção para diferentes tipos de clima


Tipo de clima r0 r1 rk
Tropical 0,95 0,98 1,02
Temperado – verão 0,97 0,99 1,02
sub-ártico 0,99 0,99 1,01
Temperado - inverno 1,03 1,01 1,00

a0
r0 =
a 0*
a1
r1 =
a1*
k
rk =
k*

20
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Exemplo 2.2:
Calcular a transmitância para a radiação direta de uma atmosfera com céu
limpo em Madison (USA), cuja altitude é de 270m, em 22 de agosto as
11:30. Estime a intensidade da radiação direta neste instante e sua
componente sobre uma superfície horizontal.

2.8) Distribuição de horas e dias nublados e com sol

A freqüência da ocorrência de períodos de vários níveis de radiação


(com sol ou nublado), por exemplo, é de interesse em dois contextos. Primeiro,
a informação na freqüência da distribuição é o link entre dois tipos de
correlação: entre a fração diária de radiação difusa e a radiação diária total e
entre e média mensal da fração difusa e a média mensal da radiação total.
O índice de transparência médio mensal é a relação entre a média
mensal da radiação diária sobre uma superfície horizontal e a média mensal da
radiação diária extraterrestre, definido pela equação 2.4:
__
__
H
Kt = Equação 2.4
Ho

Também podemos definir o índice de transparência diário como a


relação entre a radiação de um dia em particular e a radiação extraterrestre
para aquele dia, conforme equação 2.5:
H
Kt = Equação 2.5
Ho

Assim como podemos definir o índice de transparência horário através


da equação 2.6:
I
kt = Equação 2.6
Io

2.9) Componentes direta e difusa da radiação horária

A divisão da radiação solar total sobre uma superfície horizontal em


radiação direta e difusa é de interesse em dois contextos. Primeiro, os métodos
para calcular a radiação total em superfícies com outra orientação a partir de
dados de superfície horizontal requerem tratamentos separados para radiação
direta e difusa. Segundo, estimativas de desempenho a longo prazo da maioria
dos coletores deve ser baseada em estimativa da radiação solar direta
disponível. Os métodos aqui apresentados para estimativa da distribuição são
baseados em medições feitas e disponíveis para pesquisa.
Duas abordagens são usadas para estimar a relação Id / I (fração difusa
da radiação horária sobre um plano horizontal). A primeira relaciona Id / I com o
índice horário de transparência (kt) através das equações 2.7.
1 − 0,249.k t ⇔ k t < 0,35
Id 
= 1,557 − 1,84.k t ⇔ 0,35 < k t < 0,75 Equações 2.7
I 0,177 ⇔ k > 0,75
 t

21
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A segunda abordagem relaciona Id / I com I / Ic (relação entre a radiação


horária com a radiação padrão de céu limpo para a mesma hora) de acordo
com as equações 2.8, cujo resultado é mostrado na figura 2.9.
 I I
1 − 0,1. I ⇔ 0 ≤ I ≤ 0,48
 c c

Id   I  I 
2
I
= 1,11 + 0,0396. − 0,789.  ⇔ 0,48 ≤ ≤ 1,1 Equações 2.8
I  I c  I c  I c
 I
0,2 ⇔ ≥ 1,1
 Ic

Figura 2.9 – Relação entre a fração difusa horária e o índice de transparência kT

2.10) Componentes direta e difusa da radiação diária

Estudos da radiação diária disponível mostram que a fração difusa desta


radiação é função de Kt. Esta correlação pode ser expressa pelas equações
2.9 conforme mostra a figura 2.10.
= 0,99 ⇔ K t ≤ 0,17

H d = 1,188 − 2,272.K t + 9,473.K t2 − 21,865.K t3 + 14,648.K t4 ⇔ 017 ≤ K t ≤ 0,75

H = −0,54.K t + 0,632 ⇔ 0,75 ≤ K t ≤ 0,8
= 0,2 ⇔ K ≥ 0,8
 t

Equações 2.9

22
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Figura 2.10 – Relação entre a fração difusa diária e o índice de transparência kT

Exemplo 2.3:
A radiação solar total sobre uma superfície horizontal em Porto Alegre –
RS no dia 03 de setembro é de 23MJ/m2. Estime a fração e a quantidade
desta radiação que é difusa.

2.11) Componentes direta e difusa da radiação média mensal

Gráficos semelhantes ao mostrado na figura 2.11 foram derivados para


mostra a distribuição da média mensal da radiação diária nas suas
componentes direta e difusa. Neste caso, a fração difusa mensal é
representada como função do índice de transparência médio mensal. Esta
correlação leva em consideração também o ângulo horário do pôr-do-sol, é
expressa pela equação 2.10 e é representada pela figura 2.11.
__
Hd  __

__
= 0,775 + 0, 00653(ϖ s − 90 ) − [0,505 + 0, 004455(ϖ s − 90 )]. cos 115. K t − 103. 
H  
Equação 2.10

Figura 2.11 – Relação entre a fração difusa mensal e o índice de transparência kT

Exemplo 2.4:
Para a cidade de Curitiba, estime a fração da radiação total do mês de
junho sobre uma superfície horizontal que é difusa.
23
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2.12) Estimativa da radiação horária a partir de dados diários

Quando se necessita de cálculos de desempenho hora-a-hora para um


dado sistema, torna-se necessário iniciar com dados diários para então
estimarem-se valores horários coerentes. Assim como a estimativa da radiação
difusa a partir da radiação total, este não é um processo exato. Por exemplo, a
radiação total ao longo de um dia pode ter sua média em um dado valor e este
ser completamente diferente da radiação em certa hora, em função da
ocorrência de nebulosidade ao longo do dia, a qual inclusive pode ter
intensidade diferente no período. E não há como se prever este tipo de
circunstância.
Diante disso, esta apostila adotará a figura 2.12 e 2.13, que baseiam-se
em médias de radiação a longo prazo, para determinação da correlação entre a
radiação horária e a radiação diária total. Deve-se observar, obviamente, que
quanto mais claro (limpo) for o céu no dia considerado, mais próximo será o
resultado do gráfico do real.

Figura 2.12 - Relação entre a radiação direta horária e diária em função da duração do dia

24
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Figura 2.13 – Relação entre a radiação difusa horária e diária em função da duração do dia

Exemplo 2.5:
Qual a fração da média da radiação diária de janeiro que é recebida na
cidade de Santa Maria – RS, entre as 8 e as 9h?

Exemplo 2.6:
A radiação total na cidade de Madison (USA) em 23 de agosto foi
31,4MJ/m2. Estime a radiação recebida entre as 13h e as 14h.

2.13) Direção da radiação difusa

Para determinar-se a radiação sobre uma superfície inclinada é


necessário, como foi visto, conhecer-se as duas componentes da radiação total
(direta e difusa). Para isso, precisa-se conhecer a direção na qual cada uma
destas componentes atinge a superfície em questão. Uma vez que a direção da
radiação direta foi tema do capítulo 1.6, neste capítulo cabe, então, um breve
comentário a respeito da direção difusa.
A direção com que a radiação solar difusa é recebida pela superfície, ou
seja, a sua distribuição no céu ao redor da superfície em questão, é uma
função fortemente dependente das condições meteorológicas do local, o que é
muito variável ao longo do dia, mês, ano... Além disso, a mesma também é
função das condições de solo existentes na região, ou seja, do albedo
(refletância) local. Uma superfície com alto albedo (neve fresca), cujo valor fica
em torno de 0,7, resulta em reflexão da radiação solar de volta para o céu e,
consequentemente, para a superfície inclinada em questão, pois esta também
receberá uma parte desta energia refletida dependendo da inclinação que tiver.

25
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2.14) Radiação total sobre superfícies fixas inclinadas

Os coletores solares planos absorvem as componentes difusa e direta


da radiação solar. Para usar os dados de radiação solar horizontal para estimar
a radiação incidente sobre um plano inclinado de um coletor solar a uma dada
orientação fixa, é necessário o conhecimento do fator “R”, relação entre a
radiação total sobre a superfície inclinada e a radiação total sobre um plano
horizontal. Esta relação pode ser expressa em termos das componentes difusa
e direta da radiação, de acordo com a equação 2.11:

I bT 
Rb =
I b  Ib Id
 R = .Rb + .Rd Equação 2.11
I I I
Rd = dT 
I d 

Salienta-se que a correção para a componente difusa depende da


distribuição da radiação difusa no céu, que geralmente não é conhecida; esta
distribuição depende do tipo, extensão e localização das nuvens, assim como
também depende da quantidade e da distribuição espacial de outros
componentes atmosféricos que irão desviar a radiação. Além disso, uma
parcela da radiação solar pode ser refletida do solo sobre a superfície
inclinada. Diante disso, assume-se que a componente difusa é isotrópica, isto
é, uniformemente distribuída ao longo do céu. Na verdade, esta hipótese é uma
aproximação razoável quando, por exemplo, há uma nebulosidade uniforme no
céu sobre a superfície inclinada em questão ou quando a atmosfera está limpa.
Se for assumido ainda que as propriedades do solo ou de outras
superfícies que refletem a radiação solar sobre a superfície inclinada são tais
que estas podem ser consideradas uma “fonte de radiação difusa”, então a
superfície inclinada receberá a mesma radiação difusa independentemente da
sua orientação (inclinação). Em outras palavras, esta componente da radiação
solar será a mesma para uma superfície inclinada ou para uma superfície
horizontal, o que nos conduz à Rd = 1. Com isso, podemos escrever a equação
2.12:

Ib I
R= .Rb + d Equação 2.12
I I

Todavia, esta equação não fornece resultados condizentes com a prática


na maioria dos casos, sendo necessário fazer uma correção que leve em conta
a inclinação da superfície, mas que mantenha a hipótese de distribuição
isotrópica da radiação difusa. Desta forma, considera-se a radiação incidente
sobre uma superfície inclinada como a soma de três parcelas: radiação direta,
radiação difusa do céu e radiação difusa do solo. Definindo o ângulo de
inclinação da superfície β em relação à horizontal, tal superfície terá um fator
de visão do céu dado por (1 + cos β)/2. Se a radiação solar difusa é isotrópica,
esta relação passa a ser Rd. A mesma superfície tem um fator de visão do solo
dado pela relação (1 - cos β)/2 e, se os arredores da superfície tem uma
refletância (albedo) ρ para radiação solar, então a radiação refletida por estes
26
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

arredores sobre a superfície inclinada será dada por (Ib + Id). ρ. (1 - cos β)/2.
Com isso, podemos reescrever a equação 2.12 na forma apresentada pela
equação 2.13:
I I  1 + cos β   1 − cos β 
R = b .Rb + d . + .ρ Equação 2.13
I I  2   2 

A radiação solar total sobre a superfície inclinada ao longo de uma hora,


por exemplo, pode ser determinada pela equação 2.14:

 1 + cos β   1 − cos β 
I = I b .Rb + I d .  + (I b + I d ).ρ .  Equação 2.14
 2   2 

Exemplo 2.7:
Usando o modelo isotrópico para a radiação difusa, estime as parcelas
direta, difusa e refletida do solo da radiação total sobre uma superfície
inclinada de 60° em Buenos Aires. Esta superfície encontra-se voltada
para o norte. Considere o intervalo horário entre 9h e 10h e o dia 20 de
fevereiro. Assuma I = 1,0 MJ/m2 e ρ = 0,6.

Exemplo 2.8:
Calcule a radiação solar horária incidente sobre uma superfície inclinada
a 45° voltada para o norte, em Santa Cruz do Sul, entre as 13h e as 14h
(horário solar) do dia 27 de maio, sabendo que a radiação solar horizontal
deste dia corresponde a 58% da radiação extraterrestre diária do mesmo
dia. Considere válida a distribuição média da radiação solar ao longo do
dia, albedo do solo de 35% e o modelo de radiação difusa isotrópica.

Exemplo 2.9:
Refaça o exemplo 2.8 considerando o dia 27 de fevereiro, no mesmo
horário, porém levando em consideração o horário de verão brasileiro.

2.15) Radiação média em superfícies fixas inclinadas

Na seção anterior, foi considerada a relação entre a radiação total sobre


superfícies inclinadas e a radiação sobre superfícies horizontais em qualquer
intervalo de tempo. Para utilização em sistemas de aquecimento solar, também
é interessante a definição da relação entre a média mensal da radiação diária
sobre uma superfície inclinada e uma superfície horizontal, ilustrada na
equação 2.14. O procedimento para cálculo desta relação é o mesmo utilizado
para o cálculo do fator R, ou seja, através da soma das componentes difusa,
direta e refletida da radiação solar.

__
 __
 __
__
HT  H d  __ H d  1 + cos β   1 − cos β 
R = __ = 1 − __ . R b + __ .  + ρ .  Equação 2.15
 H  H    
2 2
H 

27
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

CAPÍTULO 3 - TRANSFERÊNCIA DE CALOR APLICADA AOS COLETORES


SOLARES PLANOS

3.1) O espectro eletromagnético

A radiação térmica é a energia eletromagnética que é propagada através


do espaço na velocidade da luz. Para a maioria das aplicações em energia
solar, apenas a radiação térmica é importante. Esta radiação é emitida pelos
corpos em função da sua temperatura. Uma vez que a emissão de energia
resulta de variações nos estados eletrônicos, rotacionais e vibracionais dos
átomos e moléculas, a radiação emitida é normalmente distribuída ao longo de
uma faixa de comprimentos de onda.
O espectro da radiação eletromagnética está dividido em faixas (ou
bandas) de comprimento de onda, conforme figura 3.1.

Figura 3.1 - Espectro da radiação eletromagnética

Os comprimentos de onda significativos para o estudo da energia solar


térmica e suas aplicações estão na faixa do ultravioleta até o infravermelho (0,3
até 25µm). Isso inclui o espectro da luz visível, luz pertencente à uma porção
particular do espectro eletromagnético perceptível aos olhos humanos. A
radiação solar fora da atmosfera tem a maior parte da sua energia na faixa
entre 0,25 à 3 µm, enquanto a energia solar recebida pelo solo terrestre está
substancialmente na faixa de 0,29 à 2,5µm.

3.2) O corpo negro – o absorvedor e emissor perfeito

Por definição, um corpo negro é um perfeito absorvedor de radiação.


Não importa qual direção ou comprimento de onda descreve a radiação
incidente sobre um corpo negro, toda a radiação será absorvida. Todavia, um
corpo negro é um conceito ideal uma vez que todas as substâncias reais
refletirão alguma quantidade de energia.
Apesar disso, alguns materiais se aproximam muito do comportamento
de um corpo negro. Por exemplo, uma fina camada de carvão negro pode
absorver, aproximadamente, 99% de toda radiação térmica incidente. Esta
ausência de radiação refletida é a razão para o nome dado ao corpo negro.
Vale lembrar que o olho humano percebe um corpo negro como sendo “da cor
preta”. Porém, o olho não é um bom indicador da capacidade do material
absorver radiação, uma vez que ele é sensível apenas a uma pequena porção
da faixa de comprimento de onda da radiação térmica.

28
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Um corpo negro também é um perfeito emissor de radiação térmica. Na


verdade, a definição de corpo negro poderia ser posta em termos de um corpo
que emite o máximo de radiação possível. Ou seja, um corpo negro absorve e
emite toda radiação incidente. Por exemplo, suponha um pequeno corpo negro
e um pequeno corpo “ não negro” colocados em um grande compartimento
evacuado fabricado com material do corpo negro. Se o compartimento está
isolado do meio ambiente ao seu redor, então o corpo negro, o corpo real e o
compartimento irão entrar em equilíbrio térmico. O corpo negro deve, por
definição, absorver toda radiação incidente sobre ele, e para manter uma
temperatura constante, deve também emitir a mesma quantidade de energia. O
corpo real (“não negro”) dentro do compartimento deverá absorver menos
radiação que o corpo negro e, conseqüentemente, irá emitir menor radiação
que o corpo negro. Então, o corpo negro absorve e emite a máxima quantidade
de energia.

3.3) Leis de planck, wien e steffan-boltzmann

A radiação na região do espectro eletromagnético entre 0,2 e 100µm é


chamada radiação térmica e é emitida por todas as substâncias em função da
sua temperatura. A distribuição dos comprimentos de onda da radiação emitida
por um corpo negro é dada pela Lei de Planck, apresentada na equação 3.1:
2.π .h.C o2
E λb = 5 Equação 3.1
λ .[exp(h.C o / λ.k .T ) − 1]
h = constante de Planck
k = constante de Boltzmann

2.π .h.Co2 = primeira constante de radiação de Planck


h.C o / k = segunda constante de radiação de Planck
Também é interessante conhecer o comprimento de onda
correspondente à máxima intensidade de radiação do corpo negro.
Diferenciando a distribuição de Planck e igualando à zero, o comprimento de
onda correspondente ao ponto máximo (Lei de Wien – equação 3.2):
λmax .T = 2897 µmK Equação 3.2
As leis de Planck e de Wien são apresentadas na figura 3.2, que mostra
a distribuição espectral para a radiação de um corpo negro a partir de fontes a
6000, 1000 e 400K. Note que 6000K representa uma aproximação da
temperatura superficial do sol, ou seja, esta distribuição é uma aproximação da
distribuição da radiação solar fora da atmosfera terrestre.

29
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Figura 3.2 – Distribuição espectral da radiação de um corpo negro

Integrando a lei de Planck ao longo de todos os comprimentos de onda,


obtém-se a energia total emitida por um corpo negro a uma certa temperatura,
conforme mostra a equação 3.3:

Eb = ∫ Ebλ dλ = σ .T 4 Equação 3.3
0
onde σ é a constante de Steffan-Boltzmann e vale 5,67 x 10-8W/m2K4.

3.4) Intensidade e fluxo de radiação

Até o momento, foi considerada a radiação deixando uma superfície


negra em todas as direções; porém, freqüentemente é necessário descrever as
características direcionais da radiação no espaço. A intensidade da radiação é
usada para tal e é definida como a energia que passa através de um plano
imaginário por unidade de área, de tempo e de ângulo sólido, cuja direção
central é perpendicular ao plano imaginário em questão. Então, na figura 3.3,
se ∆E representa a energia por unidade de tempo passando através da área
∆A sob o ângulo sólido ∆ω, a intensidade de radiação sobre o plano em
questão será dada pela equação 3.4:
∆E
I = lim Equação 3.4
∆A→ 0 ∆A.∆ϖ
∆ϖ → 0

O fluxo de radiação está fortemente relacionado com a intensidade e é


definido como a energia que atravessa um plano imaginário por unidade de
área, por unidade de tempo em todas as direções em um lado do plano
imaginário. Note que a diferença entre intensidade e fluxo é que a área

30
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

diferencial para a intensidade é perpendicular à direção de propagação,


enquanto que para o fluxo esta área encontra-se na forma de um plano de
base de um hemisfério através do qual a radiação está passando (ver figuras
3.3 e 3.4)

Figura 3.3 - Intensidade de radiação

Figura 3.4 - Fluxo de radiação

Dois aspectos referentes ao fluxo de radiação devem ser salientados.


Primeiro, este fluxo, em geral, é função da orientação do plano imaginário
escolhido. Segundo, o fluxo de radiação terá dois valores correspondentes às
duas possíveis direções da normal do plano imaginário.

3.5) Troca de energia entre superfícies cinzas por radiação infravermelha

O caso geral da troca de calor entre superfícies cinzas por radiação


infravermelha com diferentes temperaturas pode ser abordado por diferentes
métodos, obedecendo certas hipóteses:
a) A superfície é cinza (ou seja, as suas propriedades de radiação são
independentes do comprimento de onda)
b) A superfície é difusa ou especular - difusa.
c) A temperatura da superfície é uniforme.
d) A energia incidente sobre a superfície é uniforme.
A partir destas hipóteses, pode-se determinar um fator de troca entre pares
de superfícies. No estudo de coletores solares, a maioria dos problemas de
troca de calor envolve duas placas paralelas. Assim sendo, pode ser
estabelecida uma relação entre o fator de troca (F12) e o calor trocado entre as
superfícies através da equação 3.5.
Q1 = −Q2 =
(
σ . T24 − T14) Equação 3.5
1 − ε1 1 1− ε2
+ +
ε1. A1 A1.F12 ε 2 . A2

31
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Um caso especial tem interesse particular na equação acima. Para


radiação entre duas placas paralelas, como é o caso do coletor solar, as áreas
1 e 2 são iguais e o fator F12 passa a ser igual à 1. Com a isso, a equação 3.5
fica:

(
Q σ . T24 − T14
=
) Equação 3.6
A 1 1
+ −1
ε1 ε2

3.6) Radiação do céu

Para prever o desempenho de um coletor solar, será necessário avaliar


a radiação trocada entre a superfície do coletor e o céu. O céu pode ser
considerado um corpo negro a uma temperatura equivalente Tsky. Desta
forma, o calor trocado entre o céu e a superfície do coletor pode ser
determinado pela equação 3.7.

(
Q = ε . A.σ . T 4 − Tsky
4
) Equação 3.7

A temperatura equivalente de corpo negro do céu leva em consideração


o fato de que a atmosfera não encontra-se a uma temperatura uniforme e que
irradia energia apenas em alguns comprimentos de onda. A atmosfera é
essencialmente transparente para comprimentos de onda entre 8 e 14µm, mas
fora desta “janela” a atmosfera absorve muita energia atingindo o espectro do
infravermelho. Diante disso, várias proposições foram feitas no sentido de se
determinar o valor de Tsky para diferentes condições meteorológicas, entre as
quais apresentamos a equação 3.8:

[ ]
Tsky = Ta . 0,711 + 0,0056.Tdp + 0,000073.Tdp2 + 0,013. cos(15.t )
1/ 4
Equação 3.8
Ta = temperatura ambiente (k)
Tdp = ponto de orvalho (°C)

Normalmente, a diferença entre a temperatura ambiente e a temperatura


do céu fica em torno de 5°C para climas quentes e úmidos e em torno de 30°C
para climas frios e secos.

3.7) Coeficiente de transferência de calor por radiação

O calor transferido por radiação entre duas superfícies arbitrárias já foi


anteriormente definido. Porém, se definirmos um coeficiente de transferência
de calor, este calor pode ser calculado através da equação 3.9:
Q = A.hr .(T2 − T1 ) Equação 3.9

Desta forma, fica implícito que hr pode ser definido pela equação 3.10.
σ .(T22 + T12 ).(T2 + T1 )
hr = Equação 3.10
1 − ε1 1 (1 − ε 2 ). A1
+ +
ε1 F12 ε 2 . A2

32
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Quando T1 e T2 são próximos, o numerador da equação anterior pode


ser expresso em termos da temperatura média:

__ 3
( )
4.σ .T = σ . T22 + T12 .(T2 + T1 ) Equação 3.11

Exemplo 3.1:
A placa absorvedora e a cobertura de um coletor de placas planas são
longas, paralelas e espaçadas de 25mm. A emitância da placa é de 0,15 e
sua temperatura é de 70°C. A emitância da cobertura de vidro é de 0,88 e
sua temperatura é de 50°C. Calcule a troca de calor por radiação entre as
superfícies e a radiação e o coeficiente de troca por radiação para esta
situação.

3.8) Convecção natural entre placas paralelas planas

A taxa de transferência de calor entre duas placas planas inclinadas é de


fundamental importância para um bom desempenho do coletor solar. Dados de
transferência de calor por convecção livre são normalmente correlacionados
em termos de alguns parâmetros adimensionais: o número de Nusselt, de
Rayleigh e o número de Prandtl, dados pelas equações 3.12:
h.L
Nu =
k
g .β '.∆T .L3
Ra = Equações 3.12
υ .α
υ
Pr =
α
h = coeficiente de transferência de calor
L = espaçamento entre placas
k = condutividade térmica
g = constante gravitacional
β’ = coeficiente de expansão volumétrica
∆T = diferença de temperatura entre as placas
ν = viscosidade cinemática
α = difusividade térmica

Para placas paralelas, Nu é a relação entre a resistência de condução


pura e a resistência de convecção, de forma que quando Nu=1, temos apenas
condução envolvida no processo.
Vários experimentos foram realizados ao longo dos anos para se
encontrar uma relação matemática que pudesse determinar o parâmetro Nu.
Entre elas, apresentamos a equação 3.13:
+
1708   Ra. cos β  
+
 1708.(sen1,8.β )1,6   1/ 3

Nu = 1 + 1,44 1 − .1 −  +   − 1
 Ra. cos β   Ra. cos β   5830  
Equação 3.13

33
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Nesta equação, o expoente (+) significa que apenas os valores positivos


no interior dos colchetes devem ser considerados (usa-se “zero” se os termos
forem negativos).
A equação 3.13 está graficada na figura 3.5. Além de Nu, há uma
segunda escala no eixo das ordenadas, apresentando o valor do coeficiente de
transferência de calor multiplicado pelo espaçamento entre as placas planas a
uma temperatura de 10°C. Para temperaturas diferentes, um fator F2 (relação
entre a condutividade térmica do ar a 10°C e outra temperatura qualquer) está
graficado na figura 3.6.
A abscissa também possui uma escala extra (F1.∆T.L3). Para encontrar
∆T.L em temperaturas diferentes de 10°C, é necessário dividir F1.∆T.L3.
3

Figura 3.5 – Nu em função de Ra para convecção natural entre placas planas paralelas inclinadas

Figura 3.6 – Parâmetros para correção das propriedades do ar

34
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Exemplo 3.2:
Encontre o coeficiente de transferência de calor por convecção entre
duas placas paralelas separadas 25mm com uma inclinação de 45°. A
placa inferior está a 70°C e a placa superior está a 50°C.

Exemplo 3.3:
Para aumentar o coeficiente de transferência de calor do exemplo
anterior, seria mais adequado aumentar ou reduzir a inclinação do
mesmo?

3.9) Relações de transferência de calor para fluxo interno

Os coeficientes de transferência de calor para geometrias convencionais


são dados em varias literaturas especificas. Para escoamentos plenamente
desenvolvidos e turbulentos dentro de tubos, onde a variação da viscosidade
do fluído na parede é significativamente diferentes da viscosidade na região
plenamente desenvolvida, adotaremos a seguinte relação (equação 3.14):
n
( f / 8). Re . Pr  µ 
Nu = .  Equação 3.14
2/3
( )
1,07 + 12,7. f / 8. Pr − 1  µ w 

No caso de aquecimentos, n = 0,11. Se for resfriamento, n = 0,25.

f = (0,79.ln Re − 1,64 )
−2

Todavia, quando se tratar de um fluxo laminar, as condições térmicas de


contorno passam a ser importantes. Com os perfis térmicos e hidrodinamicos
plenamente desenvolvidos, Nu = 3,7 para paredes com temperatura constante
e 4,4 para paredes com fluxo de calor constante. Em um coletor solar, as
condições térmicas são representadas por uma resistência constante entre o
fluxo do fluído e o ambiente a temperatura constante. Se esta resistência for
grande, a condição de contorno aproxima-se de um fluxo de calor constante,
caso contrario, aproxima-se de uma temperatura constante.
Conseqüentemente, o desempenho do coletor solar estará entre estas duas
condições. Uma vez que a hipótese de temperatura constante na parede
fornece coeficientes de transferência de calor mais baixos, esta é a condição
sugerida para um projeto mais conservador.

Exemplo 3.4:
Qual o coeficiente de transferência de calor dentro dos tubos de um
coletor solar no qual os tubos encontram-se separados a uma distancia
de 100mm e tem diâmetro de 10mm? O coletor tem uma área de 1,5m x
3m e a água flui no seu interior a uma vazão de 0,075kg/s com uma
temperatura de 80°C.

35
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3.10) Coeficiente de convecção do vento

A perda de calor a partir de placas planas expostas a ação dos ventos é


importante no estudo dos coletores solares. As seguintes correlações são
propostas:

Nu = 0,86. Re1 / 2 . Pr1 / 3 , para 2 x 104 < Re < 9 x 104

A partir daí, determina-se o coeficiente de convecção de calor pela ação


dos ventos. Como este parâmetro varia significativamente de região para
região, no Brasil costuma-se adotar a seguinte relação empírica para
determinação deste parâmetro:
h = 2,8 + 3.V , onde V = velocidade do vento, em m/s.

3.11) Análise do coletor solar como um trocador de calor pelo método da


efetividade – NUT

Em um sistema de aquecimento por energia solar, é conveniente


aproximá-lo a um trocador de calor e usar o método da efetividade para avaliar
o seu desempenho. Uma breve explanação a respeito deste método será feita
aqui, a partir de um trocador de calor em contra-corrente, mostrado na figura
abaixo.

Figura 3.7 – Esquema de um trocador de calor em contra-corrente

Nesta situação, a máxima variação de temperatura observada no fluído


quente dar-se-á de Thi (temperatura do fluído quente na entrada) até Tci
(temperatura do fluído frio na entrada). O calor trocado neste caso será:

• 
Qmax =  m .C p  .(Thi − Tci ) Equação 3.15
 h

Analogamente, para o fluído frio:

• 
Qmax =  m .C p  .(Thi − Tci ) Equação 3.16
 h

O máximo calor trocado será fixado então pela menor das duas
capacidades térmicas:

• 
Qmax =  m .C p  .(Thi − Tci ) Equação 3.17
  min

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

A efetividade do trocador será definida então como a relação entre o


calor trocado na realidade e a máxima troca que poderia ocorrer.

Q NTU U .A
ε= = , onde: NTU = • Equação 3.18
Qmax 1 + NTU  
 m .Cp 
  min
Exemplo 3.5:
Um trocador de calor como o da figura 3.7 está localizado entre um
coletor e um tanque de armazenagem. O fluído no lado do coletor é um
anticongelante (mistura água – glicol com Cp = 3850J/kg°C). Sua vazão é
de 1,25kg/s. O fluido no lado do tanque é água fluindo a 0,864kg/s. O
produto U x A do trocador de calor é estimado em 6500W/°C. Se o
anticongelante entra no trocador de calor a 62°C e a água fria entra no
mesmo trocador a 35°C, qual a taxa de troca térmica envolvida?

37
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4) CARACTERÍSTICAS DE RADIACAO DOS MATERIAIS OPACOS

4.1) Absortância e emitância

A absortância monocromática direcional é uma propriedade da superfície


e é definida como a fração da radiação incidente de comprimento de onda λ a
partir da direção µ, Φ (onde µ é o cosseno do ângulo polar e Φ é o ângulo
azimutal) que é absorvida pela superfície, ou seja:
I ( µ ,φ )
α λ (µ , φ ) = λ , a Equação 4.1
I λ , i ( µ ,φ )
Onde os índices µ e Φ representam a radiação absorvida e incidente.

A fração de toda radiação (em todos os comprimentos de onda) a partir


da direção µ, Φ que é absorvida pela superfície é chamada de absortância
direcional e é definida pela equação:

1 ∞
α ( µ ,φ ) = .∫ α λ ( µ ,φ ).I λ ,i( µ ,φ )dλ Equação 4.2
I i ( µ ,φ ) 0

A emitância direcional monocromática de uma superfície é definida como


a relação entre a intensidade monocromática emitida por uma superfície em
uma direção particular e a intensidade monocromática que seria emitida por um
corpo negro na mesma temperatura.

I λ ( µ ,φ )
ε λ ( µ ,φ ) = Equação 4.3
I λb

A partir das definições de absortância e emitância direcional de uma


superfície, as correspondentes propriedades hemisféricas podem ser definidas.
A absortância e a emitância monocromática hemisférica são obtidas pela
integração das suas respectivas componentes direcionais sobre o hemisfério,
resultando em:

Equação 4.4

4.2) Lei de kirchoff

Considere em compartimento isotérmico evacuado a uma dada


temperatura T. Se o compartimento estiver isolado do ambiente ao seu redor,
então qualquer substancia em seu interior entrará em equilíbrio termodinâmico

38
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com ele. Além disso, o campo de radiação dentro do compartimento deverá ser
homogêneo e isotrópico.
Se considerarmos um corpo arbitrário dentro do compartimento, este
deverá absorver a mesma quantidade de energia que emite. Um balanço de
energia em um elemento da superfície deste corpo traz a relação 4.5:

α .q = ε .Eb Equação 4.5

Se houver um segundo corpo com diferentes propriedades na superfície,


dentro do compartimento, o mesmo balanço de energia deve ser aplicado, e a
relação q/Eb deve ser constante:

q ε ε
= 1 = 2 Equação 4.6
Eb α1 α 2

Uma vez que isto deve ser aplicado também a um corpo negro, no qual ε
= 1, a relação entre ε e α para qualquer corpo em equilíbrio térmico deve ser
igual à unidade. Em outras palavras, para o equilíbrio térmico:
ε =α

4.3) Refletância de superfícies

Considere a distribuição espacial da radiação refletida por uma


superfície. Quando a radiação incidente apresenta-se puntiforme, a reflexão da
mesma variar dentro de duas situações limites. Estas situações são chamadas
reflexão especular e reflexão difusa. A reflexão especular assemelha-se ao
efeito de um espelho, isto é, o ângulo polar de incidência é igual ao ângulo
polar de reflexão e os ângulos de azimute diferem de 180°. Por outro lado, a
reflexão difusa altera todas as características direcionais da radiação incidente.
Na prática, a reflexão de uma superfície nem é totalmente difusa, nem
totalmente especular.
Em geral, a magnitude da reflexão em uma dada direção a partir de uma
superfície qualquer é função do comprimento de onda e da distribuição
espacial da radiação incidente. A situação física é apresentada na figura 4.1.

Figura 4.1 - Reflexão de superfícies

39
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Diante disso, existem dois tipos de refletância hemisférica. A refletância


hemisférica angular e a refletância hemisférica monocromática. A primeira é
obtida quando a radiação puntiforme incidente sobre uma superfície é refletida
e totalmente coletada. Já a segunda é definida como a relação entre a energia
radiante monocromática refletida em todas as direções e o fluxo radiante
incidente dentro de um pequeno ângulo sólido ∆ω.

4.4) Relações entre absortância, emitância e refletância

Considere uma superfície em um compartimento isotérmico mantido a


temperatura constante T. As relações entre refletância e absortância podem ser
consideradas como uma lei da conservação da energia. A radiação
monocromática incidente a partir de uma direção qualquer será refletida ou
absorvida. Ou seja:

ρλ + α λ = ρλ + ε λ = 1 Equações 4.7
ρ +α =1

4.5) Superfícies seletivas

Coletores solares devem ter uma alta absortancia para a radiação no


espectro da energia solar. Ao mesmo tempo, estes equipamentos perdem
energia por uma combinação de mecanismos, incluindo radiação a partir da
superfície absorvedora, e é desejável ter uma emitância para longos
comprimentos de onda tão baixa quanto possível para reduzir as perdas. A
temperatura desta superfície, na maioria dos coletores solares planos, fica
abaixo de 200°C, enquanto a temperatura efetiva da superfície solar fica na
ordem de 6000K. Entao, a faixa de comprimento de onda da radiação emitida
transpassa apenas uma parte do espectro da energia solar. Nestas
circunstâncias, superfícies com alta absortancia solar e baixa emitância para
altos comprimentos de onda são ditas superfícies seletivas.
O conceito de superfície seletiva está ilustrado na figura 4.2. Esta
superfície idealizada é chamada superfície semi-cinza, pois pode ser
considerada uma superfície cinza no espectro solar, mas com diferentes
propriedades para o espectro infravermelho. Para esta superfície idealizada, a
refletância abaixo do comprimento de onda onde ocorre a transição é muito
baixa. Para uma superfície opaca, αλ = 1 – ρλ, então para esta faixa de
comprimento de onda, a absortancia é muito alta.
A absortancia para energia solar e emitância para radiação de altos
comprimentos de onda são determinadas pela integração dos respectivos
valores monocromáticos ao longo do espectro. Todavia, estes cálculos não
fazem parte do escopo deste curso e, portanto, não serão aqui abordados.

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Figura 4.2 - Superfície seletiva hipotética com "cutoff" em λ=3

Exemplo 4.1:
Para a superfície mostrada na figura 4.2, calcule a absortância para a
radiação de um corpo negro de uma fonte a 5777K e a emitância de
superfícies a 150°C e 500°C.

4.6) Mecanismos de seletividade

Muitos métodos de preparação para superfícies seletivas têm sido


desenvolvidos, os quais dependem de vários mecanismos ou combinações de
mecanismos para atingir tal objetivo – a seletividade.
Coberturas com alta absortancia para radiação solar e alta transmitância
para radiação de altos comprimentos de onda podem ser aplicados a
substratos com baixa emitância. A cobertura absorve a energia solar e o
substrato é o emissor para radiação de maiores comprimentos de onda. As
coberturas podem ser homogêneas ou ter uma estrutura particular; suas
propriedades estão então relacionadas às propriedades óticas do material de
cobertura e também das propriedades dos substratos. Muitos dos materiais
usados como coberturas são óxidos metálicos enquanto os substratos,
normalmente, são metais. Exemplos são a aplicação de óxido de cobre em
alumínio, óxido de cobre em cobre e sulfato de níquel-zinco em aço
galvanizado.
Superficies seletivas de cromo enegrecido têm sido adotadas
frequentemente nos Estados Unidos. O substrato é usualmente uma camada
de níquel aplicada sobre uma base de aço ou cobre. As camadas são formadas
por eletrodeposição em um banho de cromo e outros agentes químicos. Em
laboratórios, absortancias de 0,95 e emitâncias de 0,08 foram obtidas, com
aplicações de camadas da ordem de 0,05 0,3µm. A figura 4.3 ilustra como
estas superfícies atuam fisicamente.

41
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Figura 4.3 – Absorção da radiação por sucessivas reflexões sobre superfícies metálicas

Uma consideração importante a ser feita a respeito das superfícies


seletivas trata da sua vida útil. Os coletores solares devem ser projetados para
operar sem necessidade de manutenção, ou esta deve ser mínima durante
vários anos; todavia, as coberturas e substratos devem reter suas propriedades
em atmosferas úmidas, oxidantes e em elevadas temperaturas. Dados de
pesquisadores sugerem que estas superfícies mantém estas condições durante
os primeiros anos, e que ao longo do tempo, ocorre um decréscimo significativo
nas mesmas. A tabela 4.1 apresenta algumas superfícies seletivas, indicando
as respectivas absortâncias, emitâncias e referencias bibliográficas para
maiores aprofundamentos neste assunto.

Tabela 4.1 - Características de algumas superfícies seletivas

Em coletores solares, geralmente é mais crítico obter alta absortância do


que baixa emitância. Muitas superfícies apresentam uma relação entre α e ε
conforme é mostrado na figura 4.4, onde se busca obter os melhores valores
para ambas as características baseando-se nos seus efeitos ao longo de um
ano de operação do sistema de energia solar.

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CAPÍTULO 5 – RADIAÇÃO TRANSMITIDA ATRAVÉS DE VIDROS –


RADIAÇÃO ABSORVIDA

5.1) Reflexão da radiação

A reflexão de uma radiação não polarizada passando de um meio 1 com


índice de refração n1 para um meio 2, com índice de refração n2 (ver figura 5.1)
pode ser relacionada conforme mostram as equações 5.1:
sen 2 (θ 2 − θ1 )
( A)r⊥ =
sen 2 (θ 2 + θ 1 )
tg 2 (θ 2 − θ 1 )
( B )rII = Equações 5.1
tg 2 (θ 2 + θ1 )
1
(C )r = .(r⊥ + rII )
2
Onde θ1 e θ2 são os ângulos de incidência e refração, como mostra a figura
5.1.

Figura 5.1 - Ângulos de inclinação e refração em meios com índices de refração n1 e n2

As equações 5.1 representam respectivamente as componentes:


perpendicular (a), paralela (b) e a média de ambas as componentes (c). Os
ângulos θ1 e θ2 estão relacionados com a Lei da Refração de Snell pela
equação 5.2
n1 senθ 2
= Equação 5.2
n 2 senθ1

Então, se o ângulo de incidência e os índices de refração são


conhecidos, as equações anteriores são suficientes para calcular a refletância
de uma interface única.
Para radiação normal, θ1 e θ2 são zero, e obtemos a equação 5.3:
2
 n − n2 
r (0) =  1  Equação 5.3
 n1 + n2 

E se um dos meios envolvidos for o ar (índice de refração = 1), temos a


equação 5.4:
2
 n −1
r (0) =  1  Equação 5.4
 n1 + 1 

43
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Exemplo 5.1:
Calcular a refletância de uma superfície de vidro sob incidência de
radiação normal e a 60°. O índice médio de refração do vidro para o
espectro solar é de 1,526.

Nos estudos que envolvem radiação solar, a transmissão de calor por


radiação ocorre através de uma película, ou seja, existem duas interfaces
causando perdas por reflexão. Para se fazer este tipo de estudo, torna-se
necessário analisar cada uma das componentes separadamente.
Desprezando a absorção na cobertura do coletor solar, mostrada na figura 5.2,
pode-se observar uma sucessão de reflexões que ocorrem entre as duas
superfícies da cobertura, tanto para a componente paralela da radiação
incidente como para a componente perpendicular. Pode-se então estabelecer-
se uma definição para a transmitância para a componente perpendicular e
outra para a componente paralela da radiação, conforme mostram as equações
5.5 e 5.6.

Figura 5.2 - Transmissão através de uma cobertura nao absortiva

1 − r⊥
τ⊥ = Equação 5.5
1 + r⊥

1 − rII
τ II = Equação 5.6
1 + rII

Desta forma, a transmitância total da superfície será dada pela equação


5.7:

1  1 − rII 1 − r⊥ 
τ r = . + 
2  1 + rII 1 + r⊥ 

Para um sistema com N coberturas, uma análise similar traz a equação


5.8:
1 1 − rII 1 − r⊥ 
τ r , N = . +  Equação 5.8
2  1 + (2.N − 1).rII 1 + (2.N − 1).r⊥ 

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Além disso, a figura 5.3 fornece uma maneira gráfica para determinação
da transmitância de uma superfície, sob diferentes ângulos de incidência e com
mais de uma cobertura. Por fim, a tabela 5.1 traz o índice de refração de alguns
materiais comumente usados em coberturas nas aplicações de energia solar.

Figura 5.3 – Transmitância de 1, 2, 3, 4 coberturas não absortivas com n = 1,526.

Tabela 5.1 – Índice de refração de alguns materiais no espectro solar

Exemplo 5.2:
Calcular a transmitância de duas coberturas de um vidro não absortivo
sob incidência normal e a 60°.

5.2) Absorção do vidro

A absorção da radiação em um meio semitransparente é descrita pela


Lei de Bourguer, que está baseada na hipótese de que a radiação absorvida é
proporcional à intensidade local no meio e à distância “x” que a radiação “ viaja”
neste meio, conforme equação 5.9.

dI = − I .K .dx Equação 5.9

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Onde K é a constante de proporcionalidade, o coeficiente de extinção,


assumido como constante no espectro solar. Integrando a equação 5.9 ao
longo da distância percorrida pela radiação no meio, chega-se à equação 5.10:

 K .L 
τ a = exp −  Equação 5.10
 cos θ2 

Onde o subscrito “a” indica que as perdas por absorção devem ser
consideradas. Para o vidro, K varia de 4m-1 para o vidro comum (branco,
quando olhado pelas bordas) até 32m-1 para vidro de classe inferior
(esverdeado quando olhado pelas bordas.

5.3) Propriedades óticas dos sistemas de coberturas

A transmitância, refletância e absortância de uma cobertura simples,


permitindo perdas por reflexão e absorção, podem ser determinadas a partir
das suas componentes perpendiculares e paralelas, conforme mostram as
equações 5.11.

1 − r⊥  1 − r⊥2 

τ⊥ =τa. .
1 + r⊥  1 − (r⊥ .τ a )2 

ρ ⊥ = r⊥ .(1 + τ a .τ ⊥ ) Equação 5.11
 1 − r⊥ 
α ⊥ = (1 − τ a ). 
 1 − r⊥ .τ a 

Resultados semelhantes podem ser encontrados para a componente


paralela. Para radiação incidente, as propriedades óticas são determinadas
pela média das duas componentes.
A equação para a transmitância de uma cobertura de um coletor pode
ser simplificada verificando-se que o seu último termo, na equação 5.11 é,
aproximadamente igual à unidade. Com isso, a transmitância para o caso de
uma cobertura em um coletor passa a ser definida pela equação 5.12.

τ ≅ τ a .τ r Equação 5.12

Esta é uma relação satisfatória para coletores solares com os materiais


e ângulos comumente usados.
A absortância da cobertura de um coletor pode ser aproximada com
certa precisão pela equação 5.13, enquanto a sua refletância é determinada
pela equação 5.14.

α ≅ 1−τ a Equação 5.13

ρ ≅ τ a .(1 − τ r ) = τ a − τ Equação 5.14

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Exemplo 5.3:
Calcular a transmitância, refletância e absortância de uma cobertura
simples de vidro com 2,3mm de espessura com um ângulo de 60°. O
coeficiente de extinção do vidro é de 32m-1.

A figura 5.4 apresenta as curvas de transmitância como uma função do


ângulo de incidência para sistemas de uma até quatro coberturas com três
diferentes tipos de vidros. Estas curvas foram calculadas pela equação 5.12 e
comprovadas por meio de experimentos.

Figura 5.4 – Transmitância de 1, 2, 3, 4 coberturas para três tipos de vidros.

5.4) Transmitância para radiação difusa

A análise precedente se aplica apenas à componente direta da radiação


solar. Porém, a radiação incidente sobre um coletor consiste ainda das
parcelas desviadas na atmosfera e refletidas pelo solo. A princípio, a
quantidade dessa radiação que passa através da cobertura pode ser calculada
pela integração da radiação transmitida ao longo de todos os ângulos. Todavia,
a distribuição angular desta radiação normalmente é desconhecida.
Para a radiação incidente isotrópica (isto é, independente do ângulo), a
integração pode ser desenvolvida. A apresentação de resultados pode ser

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

simplificada pela definição de um ângulo equivalente da radiação direta que


apresenta o mesmo resultado, em termos de transmitância, para a radiação
difusa. Para uma larga faixa de condições encontradas nas aplicações de
energia solar, este ângulo equivalente é de 60°. Em outras palavras, a radiação
direta incidente a um ângulo de 60° tem a mesma transmitância que a radiação
difusa isotrópica.
A radiação difusa circunsolar pode ser considerada como tendo o
mesmo ângulo de incidência da radiação direta. Já a radiação difusa horizontal
normalmente é uma pequena contribuição para a totalidade e com uma
aproximação, pode ser tomada como tendo o mesmo ângulo de incidência da
radiação difusa isotrópica.
Coletores solares são normalmente orientados de tal forma que possam
“ver” o céu e também o solo. Se a radiação difusa do céu e a radiação refletida
a partir do solo são isotrópicas, então a transmitância dos vidros que fazem a
cobertura do coletor solar podem ser determinadas pela integração da
transmitância direta sobre os ângulos de incidência apropriados. Estes
resultados já foram comprovados em ensaios anteriores e são apresentados na
figura 5.5 em termos do ângulo de incidência.

Figura 5.5 - Ângulo de incidência efetivo para radiação difusa do céu e refletida do solo

5.5) Produto transmitância – absortância

Da radiação que passa através da cobertura e incide sobre a placa, uma


parte é refletida novamente contra a cobertura. Todavia, nem toda esta reflexão
é perdida, pois uma parte é refletida novamente contra a placa.

48
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Esta situação é ilustrada na figura 5.6, onde τ é a transmitância da


cobertura no ângulo considerado e α é a absortância angular da placa
absorvedora (preta). Da energia incidente, τ.α é absorvida pela placa e (1 – α).τ
é refletida de volta para a cobertura. A reflexão do absorvedor é assumida
como difusa, então a fração (1 – α).τ que atinge a cobertura também é difusa e
(1 – α).τ.ρd é refletida novamente contra o absorvedor. O parâmetro ρd se
refere à refletância da cobertura para radiação difusa incidente no seu lado
inferior e pode ser estimada pela equação 5.14 como a diferença entre τa e τ
num ângulo de 60o. Se a cobertura consiste de duas ou mais placas de
diferentes materiais, ρd será diferente da refletância difusa da radiação solar
incidente. As múltiplas reflexões da radiação difusa continuam ocorrendo
indefinidamente, de forma que a fração da radiação de energia incidente
absorvida no final pode ser obtida pela equação 5.15, denominada “produto
transmitância – absortância”:


τ .α
(τ .α ) = τ .α .∑ [(1 − α ).ρ d ]n = Equação 5.15
n=0 1 − (1 − α ).ρ d

Exemplo 5.4:
Para um coletor com duas coberturas de vidro com KL = 0,037 por placa e
uma placa absorvedora com α = 0,9 (independente da direção), encontre o
produto transmitância – absortância para um ângulo de 50°.

5.6) Radiação solar absorvida

A previsão do desempenho do coletor necessita de informações sobre a


energia solar absorvida pelo absorvedor. A energia solar incidente sobre um
coletor inclinado pode ser encontrada pelos métodos apresentados no capitulo
2. A radiação incidente tem três componentes espaciais diferentes: direta,
difusa e refletida do solo, e cada uma delas deve ser tratada separadamente.
Os detalhes destes cálculos dependem de qual o modelo de difusão da
radiação é adotado. Usando o modelo isotrópico em uma base horária, a
equação 2.14 pode ser modificada para fornecer a radiação absorvida S
através da multiplicação de cada termo pelo respectivo (τ.α)., chegando então
à equação 5.16.

 1 + cos β   1 − cos β 
S = I b .Rb .(τ .α )b + I d .(τ .α )d .  + (I b + I d ).ρ g .(τ .α ) g . 
 2   2 
Equação 5.16
Onde (1 + cosβ)/2 e (1 - cosβ)/2 são os fatores de visão do coletor,
respectivamente para o céu e para o solo. Os índices b, d, g representam a
radiação direta, difusa e refletida do solo, respectivamente.

Exemplo 5.5:
Para o intervalo entre 11h e 12h de um dia claro, I = 1,79MJ/m2, Ib =
1,38MJ/m2 e Id = 0,41MJ/m2. A refletância do solo é de 0,6. Para este
intervalo de tempo, θ para a radiação direta é de 17° e Rb = 2,11. Um
coletor com uma cobertura de vidro está inclinado de 60° voltado para o
sul. O vidro tem KL = 0,037 e a absortância da placa sob incidência

49
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normal da radiação é de 0,93. Usando o modelo da radiação difusa


isotrópica, calcule a radiação absorvida por unidade de área do
absorvedor.

5.7) Média mensal da radiação absorvida

Os métodos para avaliação de desempenho a longo prazo de sistemas


de aquecimento solares necessitam da media da radiação solar absorvida pelo
coletor a ser avaliado durante um período de meses. A transmitância e a
absortância solar são, ambas, funções do ângulo no qual a radiação solar
incide sobre o coletor. O exemplo a seguir ilustrará como calcular a radiação
solar absorvida para uma hora. Este cálculo deve ser repetido para cada hora
de cada dia do mês para, a partir destes dados, se determinar a média mensal
da radiação absorvida. Todavia, em função de ser um trabalho tedioso, uma
forma alternativa e mais prática para determinação deste parâmetro pode ser
realizada através da equação 5.17 (adaptada a partir da equação 5.16),
calculada em uma base mensal, e não mais horária:

__ __ __
 ____  __
 ____   1 + cos β   __ __
  ____   1 − cos β 
S = H b . R b .τ .α  + H d .τ .α  .  +  H b + H d .ρ g .τ .α  . 
 b  d  2     g  2 
Equação 5.17

Para média mensal da radiação direta, foram desenvolvidos gráficos que


relacionam o ângulo de incidência médio mensal com a inclinação do coletor,
mês, latitude e ângulo de azimute, conforme mostra a figura 5.6 (a – f). Estes
valores foram avaliados usando a distribuição angular de (τ.α)/( τ.α)n mostrada
na figura 5.7.

Figura 5.6 (a – b) – Média mensal do ângulo de radiação direta para várias localidades e direções.

50
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Figura 5.6 (c – f) – Média mensal do ângulo de radiação direta para várias localidades e direções.

51
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Figura 5.7 - Relações entre tau-alfa para até 4 coberturas

52
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CAPÍTULO 6 – TEORIA DOS COLETORES SOLARES PLANOS

6.1) Descrição dos coletores solares planos

As principais partes que compõem um coletor solar plano para


aquecimento de água são apresentadas na figura 6.1: a superfície negra
absorvedora de energia, que irá transferir a energia ao fluído; uma cobertura
transparente à radiação solar sobre a superfície absorvedora, para reduzir as
perdas térmicas por convecção e radiação; um isolamento térmico para reduzir
as perdas de calor.

Figura 5.1 – Seção transversal de um coletor de placas plano

6.2) Balanço de energia em um coletor solar plano

Em regime permanente, o desempenho de um coletor solar é descrito


pela equação de energia que indica a distribuição da energia solar incidente em
ganho de energia útil, perdas térmicas e perdas óticas. A radiação solar
absorvida por um coletor por unidade de área do absorvedor S é igual a
diferença entre a radiação solar incidente e as perdas óticas definidas pela
equação 5.17. A perda de energia térmica do coletor para o meio ambiente por
condução, convecção e radiação infravermelha pode ser representada como o
produto de um coeficiente de transferência de calor UL e a diferença de
temperatura entre a placa absorvedora (a uma temperatura Tpm) e o ambiente
(a uma temperatura Ta). Em regime permanente, a energia útil de um coletor de
área Ac pode ser definida então como a diferença entre a radiação sola
absorvida e as perdas térmicas através da equação 6.1.

[ ]
Qu = Ac . S − U L .(Tpm − Ta ) Equação 6.1

O problema com esta equação é que a temperatura da placa


absorvedora é difícil de ser mensurada, uma vez que esta é função da
geometria do coletor, da radiação solar incidente e das condições de entrada
do fluído. Assim sendo, parte deste capítulo será dedicado à reformular a
equação 6.1 para que o ganho de energia útil possa ser expresso em termos
da temperatura de entrada do fluído e um parâmetro denominado fator de
remoção de calor do coletor, o qual pode ser avaliado analiticamente a partir de
princípios básicos ou medido experimentalmente.
A equação 6.1 é uma equação de taxa de energia e, no SI, fornece o
ganho de energia em W quando S é expresso em W/m2 e UL é expresso em
W/m2K. A base de tempo mais conveniente para radiação solar são as horas,

53
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em função dos dados meteorológicos obtidos até então. Esta é a base de


tempo para o parâmetro S na equação 5.17, uma vez que I é dado em J/m2
horários. Pode-se considerar S como uma taxa média de energia no período de
uma hora, com unidades J/m2h, onde as perdas térmicas devem ser
multiplicadas por 3600s/h para obter um valor de ganho de energia útil em J/h.
Na prática, é interessante evitar o uso de parâmetros como I, G ou H para
determinação do calor útil, utilizando valores medidos de radiação durante o
período em que se deseja avaliar tal parâmetro.
Uma medida de desempenho do coletor é a sua eficiência, definida pela
relação entre o calor útil durante um período de tempo e a energia solar
incidente durante o mesmo intervalo, conforme mostra a equação 6.2.

η= ∫ Q dt
u
Equação 6.2
A .∫ G.dt
c

6.3) Distribuição de temperaturas em coletores de placas planas

A análise detalhada de um coletor solar é bastante complicada.


Felizmente, uma análise relativamente simples traz resultados muito próximos
dos reais. Estes resultados mostram as variáveis envolvidas, como elas se
relacionam e como afetam o desempenho final do coletor. Para ilustrar estes
princípios básicos, um coletor para aquecimento de água, como o mostrado na
figura 6.2 será examinado.

Figura 6.2 – Coletor solar placa e tubo

Para compreender o desenvolvimento que se segue, é interessante se


ter uma boa idéia da distribuição de temperaturas que existe em um coletor
solar construído como mostra a figura 6.2. Uma parte da energia solar
absorvida pela placa deve ser conduzida ao longo da mesma até a região dos
tubos. Então, a temperatura entre os tubos será maior que a temperatura nas
proximidades dos mesmos. A temperatura sobre os tubos será praticamente
uniforme em função da presença do tubo e da solda.
A energia transferida ao fluído irá aquecê-lo, causando um gradiente de
temperatura na direção do fluxo. Uma vez que em qualquer região do coletor o
nível geral de temperatura é governado pelo nível de temperatura local do
fluído, é esperada uma situação como a apresentada na figura 6.3.b. Em
54
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qualquer posição y, a distribuição geral de temperaturas na direção x é


mostrada pela figura 6.3.c e, em qualquer posição x, a distribuição de
temperaturas na direção y terá o aspecto apresentado na figura 6.3.d.

Figura 7.3 – Distribuição de temperaturas em uma placa absorvedora

Para modelar a situação anteriormente apresentada, uma série de hipóteses


simplificativas deve ser feita:
a) Desempenho em regime permanente;
b) Construcao em placas e tubos paralelos;
c) Os cabeçotes cobrem uma pequena área e podem ser desconsiderados;
d) Os cabeçotes promovem um fluxo uniforme nos tubos;
e) O fluxo de calor no coletor e no isolamento é unidirecional;
f) As coberturas são opacas para a radiação infravermelha;
g) O céu pode ser considerado um corpo negro para radiação de altos
comprimentos de onda na temperatura equivalente do céu;
h) Os gradientes de temperatura em torno dos tubos são desprezíveis;
i) Os gradientes de temperatura ao longo do fluxo e entre os tubos podem ser
tratados separadamente;
j) As propriedades dos matérias independem da temperatura;
l) As perdas pela parte frontal e traseira do coletor se dão para um ambiente a
mesma temperatura;
m) A poeira e sujeira sobre o coletor são desprezíveis;
n) O efeito de sombra da placa absorvedora é desprezível.

6.4) Coeficiente global de perda de calor do coletor

Considere a associação de resistências térmicas para um sistema com


duas coberturas mostrado na figura 6.4.1. Em uma dada posição da placa,
onde a temperatura é Tp, a quantidade de energia solar S é absorvida pela
placa (sendo S a radiação solar incidente sobre a placa reduzida das perdas
óticas). Esta energia absorvida está distribuída em perdas térmicas por cima,
por baixo e em calor útil. A proposta desta seção é converter a rede térmica da
figura 6.4.1 na rede térmica da figura 6.4.2.

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Figura 8.4.1 – Resistências térmicas em um coletor de placas plano com dupla cobertura de vidro

Figura 9.4.2 – Resistência térmica equivalente para um coletor de placas plano

A perda de energia através da parte superior do coletor é resultado da


convecção e da radiação entre as placas paralelas. A energia transferida, em
regime permanente, entre a placa (a temperatura Tp) e a primeira cobertura
(Tc1) é a mesma que entre quaisquer outras duas coberturas adjacentes e
tambem é igual à energia perdida para o meio ambiente pela cobertura
superior. A perda através da parte superior, por unidade de área é, então, igual
ao calor transferido da placa absorvedora para a primeira cobertura (equação
6.3):

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σ .(Tp4 − Tc41 )
qloss ,top = hc , p − c1.(Tp − Tc1 ) + Equação 6.3
1 1
+ −1
εp ε c1

Onde hp-c1 é o coeficiente de convecção entre duas placas paralelas


inclinadas. Se a definição de coeficiente de transferência de calor por radiação
for usada, a perda de calor torna-se:

q loss ,top = (hc , p −c1 + hr , p − c1 )(


. T p − Tc1 )
σ .(T p + Tc1 ).(T p2 − Tc21 )
hr , p −c1 =
1 1
+ −1
εp ε c1

A resistência R3 pode ser definida pela equação 6.4:

1
R3 = Equação 6.4
hc , p − c1 + hr , p − c1

Uma expressão similar pode ser obtida para R2, a resistência entre as
coberturas. Em geral, podem-se ter tantas coberturas quantas desejadas, mas
a prática limita este número à duas, no máximo, quando se deseja água à
temperaturas mais elevadas (acima de 80°C).
A resistência da cobertura superior para o meio ambiente tem a mesma
forma da equação vista anteriormente, mas a convecção neste caso depende
da ação do vento a partir de um coeficiente próprio de convecção (hw). A
resistência de radiação da placa superior considera a troca por radiação com o
ceu a uma temperatura Ts. Desta forma, o coeficiente de troca de calor por
radiação pode ser para este caso é dado pela equação 6.5.

σ .ε c .(Tc 2 + Ts ).(Tc22 + Ts2 ).(Tc 2 − Ts )


hr , c 2 − a = Equação 6.5
(Tc 2 − Ta )
A resistência para o meio ambiente R1 é dada pela equação 6.6:

1
R1 = Equação 6.6
hw + hr , c 2 − a

Para este sistema com duas placas de cobertura, o coeficiente de perda


de calor do coletor para o ambiente, através da parte superior é definido pela
equação 6.7:

1
Ut = Equação 6.7
R1 + R2 + R3

57
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O procedimento para resolver este coeficiente é um processo interativo.


Primeiro, “chuta-se” um valor para as temperaturas das coberturas, a partir do
qual os coeficientes de transferência por convecção e radiação são calculados.
Com estas estimativas, resolve-se a equação 6.7. A perda de calor por cima é
o produto do coeficiente de perda de calor pela parte superior pela diferença
global de temperatura e, uma vez que a troca de energia entre as placas deve
ser igual à perda de calor global, um novo “conjunto” de temperaturas das
coberturas deve ser calculado. Começando pela placa absorvedora, uma nova
temperatura é calculada para a primeira cobertura. Esta nova temperatura é
usada para encontrar a temperatura da placa seguinte, e assim
sucessivamente. O exemplo a seguir ilustra este processo.

Exemplo 6.1:
Calcular o coeficiente de perda pela parte superior de um coletor com
cobertura simples de vidro que possui as seguintes especificações:
- Espaçamento entre placa absorvedora e vidro: 25mm
- Emitância da placa absorvedora: 0,95
- Temperatura do céu e do ar ambiente: 10°C
- Coeficiente de transferência de calor do vento: 10W/m°C
- Temperatura média da placa: 100°C
- Inclinação do coletor solar: 45°
- Emitância do vidro: 0,88

Como pôde-se perceber, este processo é bastante tedioso e, para


simplificar os cálculos, as figuras 6.5 (a-f) foram preparadas. Estas figuras
apresentam o coeficiente de perdas de calor pela parte superior para uma,
duas e três placas de vidro espaçados 25mm, temperaturas ambiente de 40, 10
e -20°C, coeficiente de transferência de calor por convecção do vento de 5, 10
e 20 W/m2°C, placas com emitância de 0,95 e 1,0, ângulo de inclinação de
45°C e uma faixa de temperaturas de placas.

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Figura 10.5 – Coeficiente de perda pelo topo para uma inclinação de 45°

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Figura 11.5 – Coeficiente de perda pelo topo para uma inclinação de 45°

60
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Figura 12.5 – Coeficiente de perda pelo topo para uma inclinação de 45°

61
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Apesar das figuras serem apresentadas para espaçamento de 25mm


entre as placas, elas podem ser usadas para outros espaçamentos com um
pequeno erro envolvido, desde que este espaçamento esteja entre 15mm e
25mm. A figura 6.6 ilustra a dependência entre o coeficiente de perda de calor
pela parte superior e o espaçamento entre as placas para coletores com uma e
duas placas, seletivas e não seletivas. Para espaçamentos muito pequenos, a
convecção é suprimida e o mecanismo de troca de calor neste local dá-se,
basicamente, por condução e radiação.

Figura 13.6 – Variação típica do coeficiente de perdas pelo topo com o espaçamento entre tubos

Finalmente, a figura 6.7 apresenta uma relação entre o coeficiente de


troca de calor pela parte superior e o ângulo de inclinação do painel.

Figura 14.7 – Dependência do coeficiente de perdas pelo topo com a inclinação do coletor

Exemplo 6.2: Determine o coeficiente de perda de calor pela parte


superior de um coletor com cobertura simples de vidro que possui as
seguintes especificações:

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- Espaçamento entre placa absorvedora e vidro: 25mm


- Emitância da placa absorvedora: 0,95
- Temperatura do céu e do ar ambiente: 10°C
- Coeficiente de transferência de calor do vento: 10W/m°C
- Temperatura média da placa: 100°C
- Inclinação do coletor solar: 45°

Exemplo 6.3:
Para o coletor do exemplo anterior, com um coeficiente de perdas pela
parte superior igual a 6,6W/m2°C, calcule o coeficiente de perdas global
com as seguintes informações adicionais:
- Espessura do isolamento na face traseira do coletor: 50mm
- Condutividade do isolante: 0,045W/m°C
- Comprimento do coletor: 10m
- Largura do coletor: 3m
- Espessura do coletor: 75mm
- Espessura do isolamento nas bordas laterais: 25mm

6.5) Distribuição de temperaturas entre os tubos e fator de eficiência do


coletor

A distribuição de temperaturas entre dois tubos pode ser derivada se for


assumido, temporariamente, desprezível o gradiente de temperaturas na
direção do fluxo. Considere a configuração “placa – tubo” mostrada na figura
6.8.

Figura 15.8 – Dimensões de placa e tubo

A distância entre os tubos é W, seu diâmetro é D e a placa tem uma


espessura δ. Em função do material da placa ser um bom condutor de calor, o
gradiente de temperatura através da chapa é desprezível. Assume-se que a
placa sobre a solda tem a mesma temperatura de base Tb. A região entre a
linha de centro separando os tubos e a base do tubo pode ser estudado de
acordo com a teoria das aletas.
A aleta, mostrada na figura 6.9.a tem comprimento (W-D)/2. Uma região
infinitesimal de largura ∆X e comprimento unitário na direção do fluxo é
mostrada na figura 6.9.b. Um balanço de energia neste elemento traz a
equação 6.8:

 dT   dT 
S .∆X − U L .∆X .(T − Ta ) +  − k .δ .  −  − k .δ .  =0 Equação 6.8
 dX  X  dX  X + ∆X

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Onde S é a energia solar absorvida definida pela equação 5.17. Dividindo por
∆X e encontrando o limite quando ∆X tende a zero, vem a equação 6.9.

d 2T U L  S 
= . T − Ta −  Equação 6.9
dX 2
k .δ  U L 

As duas condições de contorno necessárias para resolver esta


diferencial de segunda ordem são a simetria na linha de centro e a temperatura
de base conhecida, ou seja:
dT
=0
dX X = 0
T X = (W − D ) / 2
= Tb

Por conveniência, definem-se duas variáveis – m e Ψ:

UL
m=
k .δ
S
ψ = T − Ta −
UL

Com isso, a equação 6.9 pode ser escrita da seguinte forma:

d 2ψ
2
− m 2 .ψ = 0 Equação 6.10
dX

Aplicando as condições de contorno, para Ψ, tem-se a solução geral do


problema, expressa pela equação 6.11:

ψ = C1.senh(m. X ) + C2 . cosh(m. X ) Equação 6.11

As constantes C1 e C2 podem ser encontradas substituindo as


condições de contorno para T na solução geral, de onde vem a equação 6.12:

S
T − Ta −
UL cosh (m. X )
= Equação 6.12
S  (W − D ) 
Tb − Ta − cosh m. 
UL  2 

A energia conduzida para a região do tubo, por unidade de comprimento


na direção do fluxo, pode ser então avaliada pela aplicação da Lei de Fourier
na base da aleta, como mostra a equação 6.13.

dT k .δ .m  W −D
q ' fin = − k .δ . = .[S − U L .(Tb − Ta )].tgh m.  Equação 6.13
dX X = (W − D ) / 2 UL  2 

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Uma vez que k .δ .m / U L = 1 / m , podemos escrever a equação 6.14:

 W − D
tgh m. 
q ' fin = (W − D ).[S − U L .(Tb − Ta )].  2 
Equação 6.14
m.
(W − D )
2

É conveniente usar o conceito de eficiência da aleta para reescrever a


equação 6.14 como:
q ' fin = (W − D ).F .[S − U L .(Tb − Ta )] Equação 6.15

Onde:

 W − D
tgh m. 
F=  2 
Equação 6.16
m.
(W − D )
2

A função F é a eficiência da aleta para aletas finas de perfil retangular, e


está graficada na figura 6.9.

Figura 16.9 – Eficiência da aleta para um coletor tipo placa placa de tubos paralelos

O calor útil do coletor também inclui a energia coletada na parte superior


da região dos tubos. Para esta região, tem-se a equação 6.17.

q 'tubo = D.[S − U L .(Tb − Ta )] Equação 6.17

65
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E o calor útil para o tubo e para a aleta por unidade de comprimento na


direção do fluxo será a soma das equações 6.15 e 6.17:

q 'util = [(W − D ).F + D ].[S − U L .(Tb − Ta )] Equação 6.18

Por fim, o calor útil da equação 6.18 deve ser transferido ao fluído (neste
caso, a água). A resistência ao fluxo de calor para o fluído resulta da soma das
resistências térmicas da solda e do contato tubo/fluído. Assim sendo, o calor
útil pode ser expresso em termos destas duas resistências como:

Tb − T f
q 'util = Equação 6.19
1 1
+
h fi .π .Di Cb

Onde Di é o diâmetro interno do tubo e hfi é o coeficiente de


transferência de calor por convecção interno entre o fluído e o tubo. A
condutância da solda Cb pode ser estimada a partir de informações sobre a
condutividade térmica da solda Kb, a espessura γ da solda e a sua altura b. Em
uma base unitária, tem-se Cb = Kb.b/ γ.
Necessita-se então, eliminar Tb das equações e obter uma expressão
para o calor útil em termos das dimensões, parâmetros físicos e da
temperatura local do fluido. Resolvendo a equação 6.19 para Tb, substituindo-a
na equação 6.18 e resolvendo esta para o calor útil, obtém-se a equação 6.20:

[ ]
q 'util = W .F '. S − U L (T f − Ta ) Equação 6.20

Onde F’ representa o fator de eficiência do coletor, dado pela equação 6.21.

1
UL
F '= Equação 6.21
 1 1 1 
W . + + 
U L .[D + (W − D ).F ] Cb π .Di .h fi 

Uma interpretação física para F’ é que este parâmetro representa a


relação entre o calor útil atual (real) e o calor útil que poderia ser obtido caso
toda superfície absorvedora estivesse na mesma temperatura do fluído. Para
esta e algumas outras geometrias, uma outra interpretação para F’ torna-se
clara quando se percebe que o denominador da equação 6.21 é a resistência
ao fluxo de calor do fluído para o ar ambiente. Esta resistência será
representada por Uo. O numerador é a resistência ao fluxo de calor da placa
absorvedora para o ambiente. Desta forma, pode-se reescrever a equação 6.21
na forma:
U
F '= o Equação 6.22
UL

66
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A avaliação de F’ não é uma tarefa difícil, porém, para ilustrar os efeitos


que cada variável exerce sobre este parâmetro, apresentam-se as figuras 6.10
(a, b, c).

Figura 17.10 – Eficiência da aleta x espaçamento entre tubos

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Figura 18.10 – Eficiência da aleta x espaçamento entre tubos

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Figura 19.10 – Eficiência da aleta x espaçamento entre tubos

Exemplo 6.4:
Calcule o fator de eficiência de um coletor com as seguintes
especificações:
- Coeficiente de perdas global: 8W/m2°C
- Espacamento entre tubos: 150mm
- Diametro interno do tubo: 10mm
- Espessura da placa absorvedora: 0,5mm
- Condutividade térmica da placa (cobre): 385W/m°C
- Coeficiente de transferência de calor dentro dos tubos: 300W/m2°C
- Resistência térmica da solda: 0

6.6) Distribuição de temperaturas na direção do fluxo

O calor útil por unidade de comprimento na direção do fluxo, conforme


calculado pela equação 6.20 é entregue para o fluído.

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Figura 20.11 – Balanço de energia em um elemento do fluído

Este fluído entra no coletor a uma temperatura Tfi e a eleva até uma
temperatura Tfo na saída do coletor. Fazendo referencia à figura 6.11, pode-se
expressar um balanço de energia no fluído escoando através de um tubo
(apenas) de comprimento ∆Y:

 •   • 
m m
 n .CP .T f −  .CP .T f + ∆Y .q 'u = 0 Equação 6.23
n
  Y   Y + ∆Y

Onde m é o fluxo total de água no coletor e n é o número de tubos paralelos.


Dividindo por ∆Y, encontrando o limite quando ∆Y tende à zero e substituindo
na equação 6.20, tem-se:

• dT f
m .CP .
dY
[ ]
− n.W .F '. S − U L .(T f − Ta ) = 0 Equação 6.24

Assumindo que F’ e UL são independentes da posição, a solução para a


temperatura do fluído em qualquer posição Y é:

S
T f − Ta −  
UL  − U L .n.W .F '.Y 
= exp •  Equação 6.25
− Ta −
S  m .CP
T f ,i  
UL

Se o coletor tiver um comprimento L na direção do fluxo, então a


temperatura do fluído na saída (Tfo) do coletor será encontrada pela equação
6.26:

S
T f ,O − Ta −  
UL  − U L .n.W .F '.Y 
= exp •  Equação 6.26
− Ta −
S  m .CP
T f ,i  
UL

6.7) Fator de remoção de calor do coletor e fator de fluxo

É conveniente definir-se uma quantidade que relacione o calor útil real


do coletor com aquele que seria obtido se toda a superfície do coletor estivesse

70
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na mesma temperatura do fluído na entrada. Esta quantidade é chamada fator


de remoção de calor do coletor Fr e é definido pela equação 6.27.


m .CP .(T f , O − T f , i )
Fr = Equação 6.27
[
AC . S − U L (T f , i − Ta ) ]
Com alguma manipulação algébrica, pode-se, a partir da equação 6.27,
obter-se a equação 6.28:


  
m .CP   − A .U F ' 
Fr = . 1 − exp •C L  Equação 6.28
AC .U L   m .C 
  P 

Para apresentar a equação 6.28 graficamente, é conveniente definir-se o


fator de fluxo do coletor F’’ como a relação entre Fr e F’:


  − A .U F ' 
Fr m .CP   
F '= = . 1 − exp •C L  Equação 6.29
F ' AC .U L .F '   m .C 
  P 

Desta forma, percebe-se que F’’ é dependente apenas da grandeza


adimensional m.Cp/Ac.UL.F’, como mostra a figura 6.12.

Figura 21.12 – Fator de fluxo do coletor F’’ em função de m.Cp/Ac.UL.F’

A quantidade Fr é equivalente à efetividade de um trocador de calor


convencional, o qual é definido como a relacao entre a transferência de calor
real e a máxima transferência de calor possível no trocador considerado. Em
um coletor solar, este máximo em termos de transferência de calor ocorre

71
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

quando todo o coletor está na temperatura de entrada do fluído; as perdas de


calor para o ambiente são, então, mínimas. O produto do fator de remoção de
calor pelo máximo calor útil é igual ao calor útil real do coletor, conforme
apresentado pela equação 6.30.

QU = AC .FR .[S − U L .(Ti − Ta )] Equação 6.30

Com esta equação, o calor útil real é calculado a partir da temperatura


de entrada do fluído. Esta é uma expressão conveniente quando se analisa um
sistema de energia solar, desde que se conheça Ti.

Exemplo 6.5:
Calcule o calor útil diário e a eficiência para um conjunto de 10 coletores
solares instalados em paralelo em Santa Cruz do Sul, com inclinação de
60° e azimute superficial de 180°. A radiação horária no plano do coletor, a
radiação horária absorvida pela placa absorvedora e a temperatura
horária do ambiente são dados pela tabela abaixo. Assuma um coeficiente
global de perdas térmicas de 8W/m2°C e o fator de eficiência F’ = 0,841. A
vazão que passa em cada coletor do conjunto (1m x 2m) é de 0,03kg/s e a
temperatura de entrada do fluído permanece constante e igual a 40°C.

6.8) Temperaturas médias do fluído e da placa

Para avaliar o desempenho de um coletor, é necessário conhecer o


coeficiente global de perda de calor e o coeficiente interno de transferência de
calor do fluído. Todavia, ambos são funções dependentes da temperatura. A
temperatura média do fluído pode ser encontrada pela através da equação
6.31.

1 L
L ∫0
T f ,m = T f ( y ) dy Equação 6.31

72
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Desenvolvendo esta integral e substituindo os valores de Fr e Qu,


obtém-se a equação 6.32:

Qu
AC
T f , m = T f ,i + .(1 − F ' ') Equação 6.32
FR .U L

E esta será a temperatura que servirá de base para o estudo do fluído.


A temperatura média da placa sempre será maior que a temperatura média do
fluído devido à resistência térmica entre a superfície absorvedora e o fluído.
Esta diferença de temperatura normalmente é pequena para sistemas de
aquecimento de líquidos (como o caso da água), mas muito significante quando
se trata de sistemas solares para aquecimento de gases, como o ar.
A temperatura média da placa pode ser usada para calcular o calor útil do
coletor, conforme equação 6.33.

[
Qu = AC . S − U L .(Tp , m − Ta ) ] Equação 6.33

onde a temperatura média da placa é definida pela equação 6.34.

Qu
AC
Tp , m = T f , i + .(1 − FR ) Equação 6.34
FR .U L

Exemplo 6.6:
Encontre a temperatura média do fluído e da placa para o intervalo das
11h as 12h para o conjunto de dados do exemplo 6.5.

6.9) Produto transmitância – absortância efetivo

Em seções anteriores, foi discutido o produto transmitância –


absortância de um coletor solar, bem como foram deduzidas equações para
determinação de UL. Para manter a simplicidade da equação 6.30 e para
considerar a redução de temperatura pelas perdas térmicas devido à absorção
da radiação solar pelo vidro, será introduzido um produto transmitância –
absortância “efetivo” (ταe), que se caracteriza por ser levemente superior à (τα).
Para fins de cálculo, estima-se (ταe) = 1% à 2% superior à (τα). Nestes casos
(mais reais), uma parte da radiação solar absorvida pelo sistema de cobertura
de um coletor é utilizada para aumentar a sua temperatura e, assim, reduzir as
perdas térmicas da placa. A figura 6.13 ilustra esta situação.

73
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Figura 22.13 – Associacao de resistências térmicas para coletor com uma placa de vidro com e sem
absortância na cobertura

6.10) Efeito da poeira e das sombras

Os efeitos da poeira e das sombras são difíceis de serem generalizados.


Algumas pesquisas mostram que para os ângulos de incidência de interesse no
estudo da energia solar (0 à 50°), a máxima redução da transmitância das
coberturas em função da sujeira foi de 2,7%. Experimentos feitos por longos
períodos em coletores solares na região de Boston (USA) apresentaram como
resultados um decaimento de 1% na eficiência do coletor em função de sujeira
depositada sobre os vidros. Na Índia, em experimentos feitos por períodos de
30 dias sem chuva, foi observada uma redução na transmitância em torno de
8% para um coletor inclinado à 45°.
Com relação às sombras, seus efeitos também são significantes.
Independentemente do ângulo de incidência, na grande maioria dos casos
ocorre um sombreamento, mesmo que mínimo, sobre a superfície do coletor,
pela própria estrutura do sistema. Desta forma, estima-se que uma redução de
3% na radiação absorvida pela placa seja levada em consideração no
momento do projeto de um coletor solar. Obviamente, se o coletor for instalado
em uma região na qual esteja submetido ao efeito de sombras de outras
estruturas (prédios, árvores), este índice aumenta bastante.

6.11) Geometria dos coletores

Existem inúmeras formas nas quais um coletor solar pode ser


construído, não necessariamente na forma de tubos paralelos, como tem sido
apresentado até aqui nesta apostila. Felizmente, não é necessária uma nova
análise completa para cada situação. Pesquisas têm mostrado que a
generalização das relações desenvolvidas para a construção em placas
paralelas se aplica à grande maioria das situações. É necessário, porém,
deduzir um fator de eficiência F’ apropriado para cada geometria, podendo, a
partir daí lançar-se mão das equações adequadas para determinação do
desempenho do coletor. Em algumas circunstâncias, o coeficiente de perdas
UL precisará ser levemente alterado. Os parágrafos seguintes apresentam
algumas destas geometrias “alternativas”.
A figura 6.14 mostra quatro diferentes tipos de geometrias nas quais um
aquecedor solar de água pode ser construído. Os três primeiros possuem tubos

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

paralelos dispostos junto a uma placa e conectados à tubos (cabeçotes)


superiores e inferiores, que removem e admitem água, respectivamente. O
primeiro destes três é coletor solar que possui a geometria estudada até o
presente momento neste curso. A geometria apresentada na figura (b) é a
mesma, exceto pelo fato dos tubos serem montados sobre a placa ao invés de
embaixo da mesma. Já a figura (c) tem seus tubos centralizados no plano da
placa absorvedora, de forma que esta atua como uma aleta para os tubos.
Outra geometria importante é apresentada na figura (d), onde os parâmetros F’
e Fr não podem ser facilmente obtidos. A análise neste caso é mais complexa
e envolve também o estudo da perda de carga ao longo do coletor. Alguns
autores sugerem uma forma analítica para resolver este tipo de problema,
quando envolvem uma ou várias curvaturas, que consistem em expressar Fr
em função de três parâmetros adimensionais F1, F2 e F3, conforme é
apresentado nas equações 6.35 até 6.44. Tais equações são validas para os

casos em que . P
mC > 1 . Para valores menores que a unidade, outras
F1. AC .U L
bibliografias devem ser consultadas.

Figura 23.14 (a, b, c) – Geometrias de coletores

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Figura 24.14 (d) – Geometrias de coletores

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

FR  2.F5 .F3 
= F3  − F5  Equação 6.35
F1 [ (
 F6 . exp − F3 . 1 − F22 )
1/ 2
] + F5 

k k .R.(1 + γ ) − 1 − γ − k .R
2
F1 = . Equação 6.36
U L .W [k .R.(1 + γ ) − 1]2 − (k .R )2

1
F2 = Equação 6.37
k .R.(1 + γ ) − 1 − γ − k .R
2


m .CP Equação 6.38
F3 =
F1.U L . AC

1/ 2
 1 − F22  Equação 6.39
F4 =  2

 F2 

F5 =
1
+ F4 − 1 Equação 6.40
F2

1 Equação 6.41
F6 = 1 − + F4
F2

k=
(k.δ .U L )1 / 2 Equação 6.42
 U  
1/ 2

senh (W − D ). L  


  k .δ  

  UL 
1/ 2
 D.U L
γ = −2. cosh (W − D ).  − Equação 6.43
  k .δ   k

1 1
R= + Equação 6.44
Cb π .Di .h f , i

Exemplo 6.7:
Determine o fator de remoção de calor para um coletor montado com
tubos em serpentina que possui as seguintes especificações:
- Comprimento de um segmento de serpentina L: 1,2m
- Distância entre tubos W: 0,1m
- Número de segmentos N: 6
- Espessura da placa δ: 1,5mm
- Diâmetro externo do tubo: 7,5mm

77
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

- Diâmetro interno do tubo: 6,5mm


- Condutividade térmica da placa k: 211W/m°C
- Coeficiente global de perdas UL: 5W/m°C
- Vazão mássica: 0,014kg/s
- Calor especifico do fluído Cp: 3352J/kg°C
- Coeficiente de transferência fluído / tubo hfi: 1500W/m2°C
- Condutancia da solda: ∞

6.12) Caracterizações do coletor

Baseado na teoria desenvolvida nas seções anteriores e em medições


de laboratório que as suportam, vários métodos foram desenvolvidos para
caracterizações dos coletores solares. Estas caracterizações ou modelos
possuem vários parâmetros que servem para diferentes finalidades. Um
modelo pode ser mais complexo, envolvendo todos os parâmetros de projeto
do coletor (espessura da placa, espaçamento entre tubos, numero de
coberturas, material de cobertura, dimensões do isolamento, etc). Outro
modelo pode ser bastante simplificado, envolvendo apenas alguns fatores
considerados “essenciais” (absorção da radiação e perdas térmicas).
Obs.: o modelo mais simples seria baseado apenas em um parâmetro –
eficiência – a qual é dependente da temperatura de operação do coletor e da
temperatura ambiente, sendo que ambas variam ao longo do tempo.
Para o projeto de coletores solares e para uma compreensão detalhada de
como tais aparelhos funcionam, torna-se necessária a utilização dos modelos
mais complexos. O modelo mais completo baseia-se no funcionamento do
coletor em regime permanente e inclui todos os parâmetros vistos até a
presente seção.
Um parâmetro fundamental no estudo dos coletores solares, que surge
naturalmente a partir da sua caracterização, é a eficiência instantânea do
coletor, a qual é definida pela equação 6.45.

Qu F .[G (τ .α )av − U L .(Ti − Ta )]


ηi = = r T Equação 6.45
AC .GT GT

Se a maior parte da radiação é direta e se Fr e UL não variam


significativamente na faixa de temperaturas de operação do coletor, Fr.(τα) e
Fr.UL são dois parâmetros que descrevem como o coletor trabalha. Fr.(τα) é
uma indicação de quanta energia é absorvida e Fr.UL indica a quantidade de
energia que é perdida.
Um terceiro parâmetro descreve os efeitos do ângulo de incidência da
radiação. Um modificador do ângulo de incidência pode ser definida como a
relação (τ .α )
(τ .α )n , sendo uma função de θb. Como será mostrado na seção a
seguir, o modificador do ângulo de incidência pode ser aproximadamente
representado em termos de um coeficiente bo.
Desta forma, tem-se um modelo com três parâmetros para um coletor
plano, que leva em conta os principais fenômenos físicos que ocorrem durante
o funcionamento do coletor - Fr.(τα), Fr.UL e bo.
Outros modelos podem ser escritos, considerando a influência da
temperatura sobre parâmetros como UL, Fr e (τα). Todavia, em função da
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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

complexidade destes modelos, os mesmos tornam-se aplicáveis apenas em


determinadas situações onde se deseja grande precisão dos resultados ou em
pesquisas cientificas para sistemas específicos.

6.13) Testes em coletores solares: eficiência, modificador do ângulo de


incidência e constante de tempo

Esta seção estuda como os testes em coletores solares devem ser feitos
e como os dados destes testes ou de qualquer pesquisa na área devem ser
apresentados, de forma útil, concisa e tão preciso quanto possível.
Em meados da década de 70, muitas configurações de coletores foram
lançadas no mercado. Tornou-se necessário então, o conhecimento de como
um coletor absorve energia, quanto desta energia se perde, quais os efeitos do
ângulo de incidência da radiação e os efeitos da capacidade de absorção do
coletor. Diante disso, o National Bureau of Standards (USA) desenvolveu um
procedimento para testes nos coletores, que foi modificado pela ASHRAE em
1977. O método ASHRAE 93 – 77 é a base para o estudo nesta seção. Ao seu
final, serão apresentadas referencias para discussões mais detalhadas sobre
os ensaios apresentados e outros não abordados nesta apostila.
Os testes para medição do desempenho térmico do coletor podem ser
divididos em três partes. A primeira consiste na determinação da eficiência
instantânea do coletor, com radiação direta aproximadamente normal à
superfície absorvedora. A segunda é a determinação do efeito do ângulo de
incidência da radiação solar sobre o coletor e a terceira parte consiste na
determinação da constante de tempo, uma medida da capacidade calorífica
efetiva.
O método básico para medição do desempenho do coletor consiste em
expô-lo à radiação e medir as temperaturas de entrada e saída do fluído (água)
e também a sua vazão. O ganho útil de energia (calor útil) será dado pela
equação 6.46:


QU = m .C p .((To − Ti ) Equação 6.46

Além disso, informações como radiação incidente sobre o coletor,


temperatura ambiente e velocidade do vento também devem ser coletadas.
Então, dois tipos de informações estão disponíveis: dados térmicos de saída e
dados das condições que produzem tal efeito térmico. Estas informações
permitem a caracterização de um coletor através de parâmetros que indicam
como o coletor absorve energia e como a perde para o meio ambiente ao seu
redor.
A equação 6.45, que descreve o desempenho térmico de um coletor em
regime permanente, pode ser escrita sem o subscrito “av”, como mostra a
equação 6.47:
QU = AC .Fr .[GT .(τ .α ) − U L .(Ti − Ta )] Equação 6.47

Aqui, (τα) é o produto transmitância – absortância medido de acordo


com as proporções entre as parcelas direta, difusa e refletida da radiação sobre
o coletor. Tal parâmetro é determinado sob condições de teste geralmente
similares às condições nas quais os coletores apresentam as maiores

79
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

temperaturas de saída, quando a radiação é alta e a maior parcela é de


radiação direta.
Com isso, pode-se reescrever a eficiência instantânea do coletor na
forma apresentada pela equação 6.48.


m .C p .(To − Ti )
ηi = Equação 6.48
AC .GT

O método ASHRAE 93 – 77 determina 43 ensaios padrão para


aquecedores de líquidos através de energia solar. Um desenho esquemático
de um destes ensaios é apresentado na figura 6.15.

Figura 25.15 – Sistema usado para um ensaio em coletores solares de acordo com ASHRAE 93 - 77

Embora alguns detalhes difiram, os fatores essenciais para todos os


ensaios podem ser resumidos como segue:
a) a temperatura de entrada do fluído no coletor deve ser constante e
controlada e os ensaios devem ser feitos para diferentes valores deste
parâmetro.
b) A radiação solar deve ser medida por um piranômetro a ser instalado no
mesmo plano do coletor.
c) A vazão do fluído dentro do coletor solar deve ser medida, assim como as
temperaturas de entrada e saída e também a temperatura ambiente.
d) Variações de pressão ao longo do percurso dentro do coletor devem ser
monitoradas.
O procedimento geral para os testes é operar o coletor em regime
permanente, e medir os dados para determinar Qu. Para isso, tais testes
devem ser feitos preferencialmente, nas meias horas de um dia claro.

80
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Os testes devem ser feitos para diferentes condições de temperatura


inicial. Para minimizar os efeitos da capacidade calorífica do coletor, tais testes
normalmente são feitos aos pares, simetricamente antes e depois do meio dia,
sendo os resultados finais dados pelas médias entre os respectivos pares. A
eficiência instantânea é determinada pela equação 6.48 e então, expressa em
(
função de Ti − Ta
) . Um exemplo desta relação é apresentado na figura
GT
6.16.

Figura 26.16 – Correlação entre os valores medidos e os valores esperados para eficiência de um
coletor solar

Se UL, Fr e (τα) forem constantes, o gráfico ηi x


(Ti − Ta )
seria uma
GT
reta que interceptaria Fr.(τα) e de inclinação –Fr.UL. Todavia, eles não o são e,
portanto, os dados desviam-se. Das seções anteriores, podemos afirmar que
UL é uma função da velocidade dos ventos, da temperatura e do número de
coberturas. Além disso, Fr também é uma função da temperatura, embora sua
dependência seja mais fraca, e algumas variações nas parcelas da radiação
também são esperadas. Desta forma, os desvios dos dados apresentados no
gráfico acima também são esperados. Apesar destas dificuldades, estimativas
a longo prazo do desempenho dos coletores podem ser feitas com segurança a
partir da correlação apresentada anteriormente.

Exemplo 6.8:
Um coletor para aquecimento de água com uma área de abertura de 4,1m2
é testado pelo método ASHRAE, com radiação direta aproximadamente
normal ao plano do coletor. As seguintes informações foram obtidas:
Qu Gt Ti Ta
9,05MJ/h 864W/m2 18,2°C 10°C
1,98 894 84,1 10
Determine FR (τα )n e FR .U L para este coletor.

O segundo aspecto importante de um ensaio em coletores solares é a


determinação do ângulo de incidência da radiação. Um modificador do ângulo
de incidência Kτα pode ser introduzido na equação 6.47. A dependência de (τα)
sobre o ângulo de incidência da radiação no coletor varia de um coletor para

81
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

outro e os métodos para ensaios incluem estimativas experimentais deste


efeito. O modificador pode ser escrito como:
K τα =
(τα )
(τα )n
Então:
QU = AC .Fr .[GT .K τα .(τ .α )n − U L (Ti − Ta )] Equação 6.49

Uma expressão geral para a dependência angular de Kτα é apresentada


pela equação 6.50:

 1 
K τα = 1 + bo . − 1 Equação 6.50
 cos θ 

Onde bo é uma constante chamada coeficiente do modificador do ângulo de


 1 
incidência. A figura 6.16 mostra a relacao entre Kτα e θ e  − 1 . Em
 cos θ 
ângulos inferiores à 60°, a equação 6.50 é uma aproximação útil para
considerar os efeitos do ângulo de incidência. Porém, para ângulos de
incidência maiores, a relação linear não mais se aplica.
Estritamente falando, a radiação incidente deveria ser considerada como
a soma das componentes direta, difusa e refletida, com as três componentes
sendo tratadas separadamente. A componente direta deveria ser tratada como
foi aqui apresentado, enquanto as componentes difusa e refletida deveriam ser
consideradas como em um ângulo fixo equivalente. Todavia, os testes nos
coletores são feitos em condições e céu limpo, quando a fração direta é alta, de
forma que os dados são indicativos dos efeitos do ângulo de incidência desta
componente.
O método ASHRAE 93 – 77 recomenda que a determinação
experimental de Kτα seja feita em pares simétricos em relação ao meio dia
solar, quando os ângulos de incidência da radiação direta for aproximadamente
30, 45 e 60°.
O terceiro aspecto dos testes em coletores solares é a determinação da
capacidade calorífica do coletor em termos da constante de tempo. A constante
de tempo é definida como o tempo necessário para o fluído variar 63,2% da
sua variação total de temperatura. O ensaio padrão da ASHRAE apresenta
uma maneira de estimar a constante de tempo, que consiste em operar o
coletor em condições de regime permanente, com temperatura controlada na
entrada do fluído, sendo esta próxima à temperatura ambiente. A radiação
solar seria abruptamente cortada (sombreamento) e o decaimento da
temperatura de saída seria coletado em função do tempo. O tempo “t” no qual a
igualdade da equação 6.51 é atingida é a constante de tempo do coletor.

To,t − Ti 1
= = 0,368 Equação 6.51
To,int − Ti e

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

Onde To,t é a temperatura de saída no tempo “t” e To, int é a temperatura quando
a radiação solar foi interrompida. A figura 6.17 ilustra o conceito de constante
do tempo.

Figura 27.17 – Constante de tempo para um coletor solar

6.14) “Test data” – Uma análise de ensaios já realizados

Para fins de ilustração dos tipos de dados disponíveis e também para


apresentar as diferenças existentes entre os coletores, os resultados de testes
para diversos coletores de placas planas serão apresentados a seguir. Estes
dados são baseados no método ASHRAE 93 – 77.
A figura 6.18 ilustra pontos medidos e as correlações para um coletor
solar com dupla cobertura de vidro, com a finalidade de aquecer água. Os
pontos e a curva são baseadas na área de abertura do coletor, ou seja, na área
não coberta do vidro. A curva tracejada mostra a correlação baseada na área
total do coletor. Em alguns testes, a intensidade da radiação Gt foi reduzida por
uma tela de sombreamento para obter pontos sobre a faixa de valores de
(Ti − Ta ) / GT .

Figura 28.18 – Eficiência do coletor baseada na sua área de abertura

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

A figura 6.19 mostra um conjunto de curvas para coletores baseado na


área liquida do coletor. Há diferenças obvias nestas características. A seleção
de um ou outro destes coletores dependeria das condições de operação, ou
seja, na faixa de valores (Ti − Ta ) / GT que são esperados em uma aplicação, e
nos custos envolvidos. O fato de um coletores poder ser mais eficiente que
outro em parte ou em toda a faixa de operação não significa necessariamente
que esta é a melhor escolha sob o ponto de vista econômico, pois para se
obter tal resultado, é necessário avaliar qual o investimento feito, materiais
utilizados, condições de isolamento, etc.

Figura 29.19 – Eficiência de cinco coletores diferentes baseada na sua área liquida

A figura 6.20 mostra os efeitos do ângulo de incidência sobre o coletor.

Figura 30.20 – Efeito do ângulo de incidência sobre o coletor

6.15) Correções da vazão para Fr.(τα)n e Fr.UL

Em uma situação ideal, os dados dos ensaios deveriam ser medidos em


vazões correspondentes aquelas a serem usadas nas aplicações às quais o
coletor se destina. Se um coletor deve ser usado com uma dada vazão mas é
testado em condições diferentes, uma solução analítica deve ser aproximada
para Fr.(τα) e Fr.UL. Assum-se que o único efeito capaz de modificar a vazão é
o gradiente de temperatura na direção do fluxo e que as mudanças em F’

84
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

devido às variações de hf,i com a vazão são pequenas. A relação “r” pela qual
Fr.(τα) e Fr.UL devem ser corrigidas é apresentada pela equação 6.52:


m .C p   •

.1 − exp − Ac .F '.U L / m .C p 
AC   
r= Equação 6.52
Fr .U L teste
Para usar esta equação, é necessário conhecer ou estimar F’.UL, pela
equação 6.53.


 
m .C p  F .U . A 
F '.U L = − . ln1 − r • L C  Equação 6.53
AC  m .C p 
 

Exemplo 6.9:
O coletor do exemplo 6.8 deve ser utilizado em uma instalação cuja vazão
será de 0,02kg/s ao invés de 0,04kg/s (vazão utilizada nos ensaios e que
geraram os dados obtidos). Estime o efeito da redução da vazão sobre os
parâmetros FR (τα )n e FR .U L .

6.16) Observações sobre o desempenho de coletores

Não há razão para um coletor não operar se estiver corretamente


instalado em uma instalação que corresponde às condições de teste. Todavia,
há algumas observações que podem influenciar no desempenho a campo do
coletor. Diferenças entre o previsto e o medido podem ter origem em diversas
fontes:
a) O fluxo do fluído através do coletor pode não ser uniforme em todas as
partes do sistema. Partes do coletor recebem uma vazão menor com menor Fr
e pior desempenho.
b) As vazões, embora constantes, podem não ser aquelas nas quais o coletor
foi testado. Fr é uma função da vazão e mudanças neste parâmetro
comprometem o desempenho do coletor.
c) Perdas pelas laterais e pelo fundo do coletor podem ser diferentes das
especificadas nos testes, afetando UL e piorando o desempenho do coletor.
d) Perdas pelas canalizações podem ser muito significantes em algumas
aplicações, justificando inclusive o uso de isolamentos de melhor qualidade em
alguns casos, para não interferir demasiadamente no rendimento do sistema.

6.17) Considerações praticas sobre coletores de placas planas

Neste capitulo, foi discutido o desempenho térmico dos coletores em


testes e em sistemas residenciais. Existem inúmeras outras considerações
praticas no projeto, fabricação, logística e instalação de coletores solares.
Nesta seção, serão ilustradas brevemente algumas destas considerações.
As temperaturas de equilíbrio, encontradas quando existe radiação solar
incidente sem movimentação do fluído, são substancialmente superiores que
as temperaturas normais de funcionamento do coletor. É inevitável que, em um
dado momento, ocorra problemas de controle, de serviço ou outro qualquer que
85
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

provoque a situação de ausência de fluxo. A temperatura máxima da placa


pode ser estimada pela avaliação da temperatura do fluído na equação 6.30
com Qu = zero. O fluído e a placa terão a mesma temperatura nestas
condições. As temperaturas de equilíbrio de outras partes do coletor podem ser
estimadas a partir de associações de resistências térmicas entre tais partes e o
ambiente. Estas máximas temperaturas de equilíbrio devem ser levadas em
consideração por afetarem os materiais utilizados na confecção do coletor
(dilatações térmicas e alterações nas propriedades físicas), que podem
comprometer o desempenho do sistema.
Temperaturas muito baixas também devem ser consideradas. Isto é
particularmente importante para coletores que aquecem água em locais onde a
temperatura ambiente atinge valores negativos, em função do congelamento da
água no interior do coletor. Para tanto, devem ser utilizados anticongelantes
para reduzir a temperatura de congelamento da água. Todavia, deve-se
considerar o efeito corrosivo que o anticongelante pode provocar nas
tubulações, o que poderá acarretar em vazamentos futuros.
As coberturas e a placa absorvedora são particularmente críticos: suas
propriedades determinam (τα) e ε, afetando significativamente o desempenho
térmico do equipamento, razão pela qual tais materiais devem ser escolhidos
em função de estabilidade de suas propriedades físico-químicas a longo prazo.
A condensação da umidade sob a placa devido pode ocorrer em alguns casos,
afetando a refletância da radiação infravermelha (vinda da placa absorvedora)
sobre o vidro. A energia requerida para evaporar a condensação é pequena,
tanto no star up do sistema (ao amanhecer) como a longo prazo. Alguns
coletores usam espaços selados entre a cobertura de vidro e a placa
absorvedora, de modo a reduzir a entrada da umidade nesta região. Outros
modelos contêm dissecantes para secar o ar no interior deste espaço. Deve-se
observar que os materiais usados na construção do coletor solar não devem
conter substancias voláteis (especialmente, as tintas usadas) que possam
evaporar em função das altas temperaturas do coletor, pois estes voláteis se
condensam na face inferior da cobertura de vidro e reduzem a sua
transmitância.
O projeto mecânico do coletor também afeta o seu desempenho térmico.
É importante observar que, em instalações sobre lajes, um coletor não faça
sombra sobre o outro. Também deve ser observada a orientação e força dos
ventos sobre o equipamento.

86
Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

CAPITULO 7 – METODO F – CHART PARA DIMENSIONAMENTO DE


SISTEMAS SOLARES DE AQUECIMENTO

7.1) O método F – chart

Este método fornece um meio de estimar-se a fração total da carga


térmica que pode ser suprida através da energia solar para um dado sistema
de aquecimento qualquer. A variável primaria de projeto é a área do coletor;
além desta, existem as variáveis secundarias, que são o tipo de coletor, a
capacidade de armazenamento de calor, a vazão do fluído, a carga e o
tamanho do trocador de calor do coletor. O método é uma correlação de
resultados de várias centenas de simulações térmicas de sistemas de
aquecimento solares. As condições de simulação foram variadas dentro de
faixas apropriadas para cada variável envolvida. As correlações resultantes
trazer “f”, a fração da carga mensal de energia térmica suprida pela energia
solar como uma função de dois parâmetros adimensionais. Um está
relacionado com a razão entre as perdas térmicas do coletor e a carga térmica
enquanto o outro relaciona a razão entre a radiação solar absorvida e a carga
térmica.
As “cartas f” ou “f – charts” foram desenvolvidas para três configurações
padrão de sistemas (aquecimento de água e ar para aquecimento de
ambientes e aquecimento de água apenas). Para o presente estudo, será
abordado apenas o sistema mostrado na figura 7.1, que representa uma
configuração para sistemas de aquecimento de água em residências.

Figura 7.1 – Configuração padrão para um sistema solar residencial de aquecimento de água

A energia solar é transferida através de um trocador de calor para um


tanque de água quente (domestico) pré aquecido, o qual fornece água quente
“solar” para um tanque de água quente convencional. Pode ser adotada uma
válvula termostática na saída da água quente caso seja interessante para o
sistema.
Simulacoes mais detalhadas deste sistema foram usadas para
desenvolver as correlações entre as variáveis do sistema e a fração mensal da
carga térmica fornecida pela energia solar (f). Estes dois grupos adimensionais
são expressos pelas equações 7.1 e 7.2.

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Aproveitamento térmico da energia solar – Prof. Anderson Favero Porte - UNISC 2009

 __

AC .Fr '.U L . Tref − T a .∆t
  Fr '  __
 A
X = = Fr.U L . . Tref − T a .∆t. C Equação 7.1
L Fr   L

 ___  __  ___ 
AC .Fr '.τα  H T .N τα 
  Fr '   __ A
Y= = Fr.(τα )n . . . H T .N . C Equação 7.2
L Fr (τα )n L

Onde:
Ac = área do coletor
Fr’ = fator de eficiência trocador de calor – coletor
UL = coeficiente global de perdas térmicas
∆t = total de segundos no mês
Ta = média mensal da temperatura ambiente
Tref = temperatura de referencia (100°C)
L = carga térmica total mensal para a água
HT = média mensal da radiação diária incidente sobre o coletor por unidade de
área
N = numero de dias do mês
(τα) = media mensal do produto transmitância – absortância

Exemplo 7.1:
Um sistema de aquecimento solar foi projetado para a cidade de Madison
(USA), latitude 43°N, usando coletores com uma cobertura, FR (τα )n = 0,74 e
FR .U L = 4W/m2°C de acordo com testes realizados. A vazão a ser usada é a
mesma dos ensaios. O coletor está voltado para o sul, com inclinação de
60° da horizontal. A radiação média diária sobre uma superfície com esta
inclinação no para o mês de janeiro nesta cidade é de 11,9MJ/m2. A média
da temperatura ambiente no período foi de -7°C. A carga térmica é de
36GJ para o espaço e para água quente. O fator de correção Fr’/Fr = 0,97.
 ___ 
τα 
Para todos os meses, a relação   = 0,96. Calcule X e Y para estas
(τα )n
condições para uma área de coletor de 25 e 50m2.

7.2) Método f – chart aplicado à sistemas de líquidos

Para sistemas como o mostrado anteriormente, a fração “f” da carga


térmica mensal total fornecida pelo sistema é dada em função de X e Y como
mostra a figura 7.2. A relação entre X, Y e f é apresentada pela equação 7.3.

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Figura 7.3 – Carta f para um sistema usando trocador de calor de líquidos e um armazenamento
intermediário

f = 1,029.Y − 0,065. X − 0,245.Y 2 + 0,0018. X 2 + 0,0215.Y 3 Equação 7.3

Exemplo 7.2:
O sistema de aquecimento solar descrito no exemplo 7.1 deve funcionar
com líquido como meio de transferência de calor. Qual a fração da carga
térmica anual que será suprida pela energia solar do coletor?

Pode-se ainda alterar os cálculos mostrados até aqui para se estimar o


desempenho a longo prazo do sistema quando ocorrem alterações nos tanques
de armazenagem em termos de capacidade de armazenagem de água. Isto
pode ser feito modificando-se adequadamente os valores de X e Y.

7.2.1) Capacidade de armazenamento

As cartas “f” foram desenvolvidas para uma capacidade de


armazenamento de 75 litros de água por metro quadrado de área de coletor. O
desempenho de sistemas com capacidades de armazenamento na faixa de 37
à 300 l/m2 podem ser determinadas multiplicando o grupo adimensional X pelo
fator de correção Xc / X da figura 7.4. ou pela equação 7.4.

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Figura 7.4 – Fator de correção para capacidade de armazenamento para sistemas com líquidos

−0, 25
X C  Capacidade _ atual _ de _ armazenamento 
=   Equação 7.4
X  Capacidade _ de _ armazenamento _ padrao 

 Capacidade _ atual _ de _ armazenamento 


Para 0,5 ≤   ≤ 4
 Capacidade _ de _ armazenamento _ padrao 

Exemplo 7.3:
Para as condições do exemplo 7.2, qual seria a contribuição anual do
sistema de aquecimento solar se a capacidade de armazenamento do
tanque fosse aumentada para 150 l/m2?

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