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Direito Civil

Invalidade do Negócio Jurídico

Professor Fidel Ribeiro

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Direito Civil

INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

PLANO DA EXISTÊNCIA → pressupostos de existência: agente, objeto e vontade


PLANO DA VALIDADE → Código Civil, Art. 104: A validade do negócio jurídico requer:
I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou não defesa em lei.
Requisito de validade doutrinário: VONTADE LIVRE, ESCLARECIDA e PONDERADA.

Se não houver vontade livre, há coação.


Se não houver vontade esclarecida, há erro ou dolo.
Se não houver vontade ponderada, há estado de perigo ou lesão.

PLANO DA EFICÁCIA → efeitos práticos, concretos do negócio jurídico

INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO


A expressão “invalidade do negócio jurídico” abrange tanto hipóteses de NULIDADE quanto de
ANULABILIDADE, sendo estas, classificações quanto ao “grau de invalidade”.

NEGÓCIO JURÍDICO INEXISTENTE:


Tem-se o negócio jurídico inexistente quando falta-lhe algum elemento estrutural. Por exemplo,
se faltar “vontade”. Nestes casos, o negócio jurídico sequer chega a formar-se. Em tais hipóteses
de falta de elemento estrutural, como ausência de vontade, o negócio sequer chega a formar-
se, no caso, não há que se falar em invalidade do negócio, visto que sequer negócio existiu.

NULIDADE
Conceito de Carlos Roberto Gonçalves:
Nulidade é a sanção imposta pela lei aos atos e negócios jurídicos realizados sem observância
dos requisitos essenciais, impedindo-os de produzir os efeitos que lhes são próprios. O negócio
é nulo quando ofende preceitos de ordem pública, que interessam à sociedade. Assim, quando
interesse público é lesado, a sociedade repele, fulminando-o de nulidade, evitando que nele
venha a se produzir os efeitos esperados pelo agente.

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CLASSIFICAÇÕES DAS NULIDADES
a) ABSOLUTA e RELATIVA

Nulidade absoluta:
•• interesse social, preceitos de ordem pública
•• pode ser pronunciada de ofício pelo Juiz

Nulidade relativa:
•• também conhecida como “anulabilidade”
•• possui vícios que podem ser sanados, convalidados, ou, afastados/desprezados
•• só pode ser alegada pelas partes, não permitindo ao Juiz reconhecer de ofício

b) TOTAL e PARCIAL

Nulidade total:
•• defeito prejudica todo o negócio jurídico

Nulidade parcial:

•• prejudica apenas parte do negócio jurídico (princípio da conservação dos negócios


jurídicos).

c) TEXTUAL e VIRTUAL

Nulidade textual:

•• expressa na lei
•• ex: Art. 548. “É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente
para a subsistência do doador.”

Nulidade Virtual:

•• não é textual e sim implícita


•• ex: Art. 1.521. “Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o paren-
tesco natural ou civil; (...)”

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NULIDADES E ANULABILIDADES NO CÓDIGO CIVIL

CAPÍTULO V
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
→ atualmente, o Código Civil prevê que são absolutamente incapazes apenas os menores de 16
anos de idade.
II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV – não revestir a forma prescrita em lei;
V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma.

→ a simulação sempre acerretará a nulidade absoluta. Porém, o “negócio que se pretendeu


ocultar”, chamado de “ato dissimulado”, ou “ato escondido” pode ser válido.
Exemplo: compra e venda de imóvel no valor de 2 milhões. Porém, declarado no valor de 200
mil. Há simulação. Porém, vender um imóvel por 2 milhões não é causa de invalidade. Portanto,
subsiste quanto ao negócio que se “quis realizar”, que encontrava-se escondido pela simulação.

§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:


I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente
se conferem, ou transmitem;
II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico
simulado.

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Questões de Prova

1. (2012 – VUNESP – SP – Trans – Advogado)


É correto afirmar, sobre a invalidade do negócio jurídico:
a) é anulável o negócio jurídico que não adotar a forma prescrita em lei.
b) antedatar ou pós-datar instrumento particular constitui simulação.
c) a anulação do negócio jurídico é imprescritível.
d) o emprego da coação leva à nulidade do negócio jurídico.
e) é nulo o negócio jurídico firmado por agente relativamente incapaz.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou
pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda
que a requerimento das partes.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do
tempo.
→ o negócio NULO não comporta convalidação
→ o negócio NULO é IMPRESCRITÍVEL

CONVERSÃO SUBSTANCIAL DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS NULOS / RECATEGORIZAÇÃO:


Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o
fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Exemplo: testamento público nulo, pode conter os requisitos de um testamento privado.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente;
De acordo com o CC, Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os
exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
IV – os pródigos.
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credo-
res.

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Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.

→ o negócio anulável comporta convalidação, resguardados direitos de terceiros:


Exemplo: um menino de 17 anos vende um imóvel sem estar assistido (negócio anulável). De-
pois de completar a maioridade, vende a terceiro o mesmo imóvel (negócio válido). Não seria
possível a convalidação do primeiro negócio celebrado, em razão da existência de um segundo
negócio válido celebrado com terceiro de boa fé.

Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa
de mantê-lo.
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo
devedor, ciente do vício que o inquinava.

→ a confirmação pode ser tácita

Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos
arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o
devedor.
Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado
se este a der posteriormente.

→ exemplo: outorga do cônjuge na venda de um imóvel


Art. 177 → características da ANULABILIDADE:

Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício;
só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de
solidariedade ou indivisibilidade.

Questão de prova:

2. (2007 – FCC – TRF – 1ª REGIÃO – Técnico Judiciário – Área Administrativa)


Com relação à invalidade do negócio jurídico é correto afirmar:
a) Em regra, o negócio jurídico nulo é suscetível de confirmação, e convalesce pelo decurso do
tempo.
b) Não haverá simulação nos negócios jurídicos quando aparentarem transmitir direitos a
pessoas diversas daquelas às quais realmente se transmitem.
c) As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz quando conhecer do negócio jurídico e as
encontrar provadas, lhe sendo permitido supri-las a requerimento das partes.
d) É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma.
e) É de seis anos o prazo de decadência para pleitearse a anulação do negócio jurídico,
contado, no caso de coação, do dia em que ela cessar.

Gabarito: 1. B 2. D

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PRAZO DECADENCIAL PARA ANULAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 4 ANOS
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico,
contado:
I – no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;
III – no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para
pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de
obrigar-se, declarou-se maior.
Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não
provar que reverteu em proveito dele a importância paga.
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se
achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder
provar-se por outro meio.
→ Exemplo: invalidade de um contrato escrito de compra e venda de bem móvel de pequeno
valor, cujo acerto verbal possa ser comprovado por testemunhas.
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o
prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das
obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES:
Causas “esparsas” de nulidade e anulabilidade
Ao longo do Código Civil, há diversas outras causas de nulidade ou anulabilidade, dispostas na
legislação. Exemplos:
O art. 496 do CC prevê a nulidade absoluta da compra e venda de herança de pessoa viva.
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o
cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.
O art. 496 prevê a nulidade relativa da compra e venda celebrada entre pai e um dos filhos sem
a anuência dos demais.
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o
cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.

Diferença entre invalidade absoluta e relativa


Decorre do grau de violação da lei; do prejuízo à sociedade(absoluta), ou às partes(relativa).

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