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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Comunicação e Artes


Departamento de Informação e Cultura CBD

Disciplina CBD0261 - Linguagens Documentárias II


Profa. Cibele Araujo Camargo Marques dos Santos
Aluno: José Luiz Freitas Aleo - 5933712

CONSTRUÇÃO E GESTÃO DE LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS

Na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, o processo de construção


de representação documentária deve visar à facilidade de posterior recuperação, dessa forma,
as LDs assumem um papel central na catalogação e na indexação. As listas de cabeçalhos de
assuntos e os tesauros, por exemplo, têm a função de representar o conteúdo dos documentos,
sintetizando o que é essencial para a realização de sua busca e recuperação, de forma eficiente
e inteligível não só para os profissionais da biblioteca, mas também para seus usuários.
Nesse sentido, a criação de uma linguagem documentária precisa fazer uma
seleção criteriosa de vocábulos a fim de abarcar os assuntos abordados pela coleção a ser
representada. Ademais, considerando a organização de linguagens pré-coordenadas, é
necessário que haja a preocupação de se eliminarem termos que causem ambiguidade de
significados, bem como termos que tenham relação de sinonímia uns com os outros. Também
faz parte da linguagem pré-coordenada o ordenamento de vocábulos respeitando uma ordem de
hierarquia semântica, na qual termos mais específicos se agrupam sob um termo mais
abrangente.
Nesse contexto documentacional, o estabelecimento de termos representativos
de conteúdos implica no processo de seleção e de recorte da informação a fim de se estabelecer
uma expressão que define determinado assunto. É, portanto, um procedimento de representação
semântica que necessariamente requer a invocação de conceitos já convencionados. Além disso,
um mesmo objeto pode ser representado por mais de uma termo, e cabe ao profissional
bibliotecário definir quais características e quais informações devem ser privilegiadas. Nesses
casos, é possível recorrer a dicionários terminológicos a fim de selecionar termos
convencionalmente mais adequados, isto é, um termo preferencial.
A construção da linguagem documentária, contudo, pode não se limitar apenas
aos termos preferenciais, os quais são eleitos dentre um conjunto de termos equivalentes, mas
também admite o uso de termos não preferenciais a fim de estabelecer relações de referência.
Ou seja, um termo não preferencial cria uma remissiva para o seu equivalente descritivo.
Quando falamos sobre o processo de indexação, que é realizado de forma pré-
coordenada a partir dos termos disponibilizados pelas LDs, é necessário considerar que, no
contexto atual em que há o largo uso de catálogos eletrônicos, os termos utilizados como índices
também permitem que o usuário recupere documentos de conteúdo semelhante, recupere
documentos englobados dentro de uma grande área de assunto, e ainda informam ao usuário
quais são os termos usados na representação descritiva, permitindo a elaboração de estratégias
de busca mais eficientes e assertivas sobre o assunto pretendido.
Ainda em relação aos usuários e sua interação com os sistemas de busca nas
bibliotecas, é necessário destacar que, embora as linguagens documentárias sejam linguagens
artificiais, desenvolvidas para um uso específico no contexto informacional, elas devem ter
alguma aproximação com a linguagem humana. De outra forma, não seria possível realizar uma
interface ampla e acessível. Assim, a seleção de termos para as LDs precisa refletir a cultura
dos usuários, seu ambiente e seu contexto social. Por outro lado, quando a linguagem
documentária não é compatível com a linguagem natural do usuário, há um comprometimento
da qualidade da busca.
Uma característica que as linguagens documentárias têm em comum com as
linguagens naturais é a sua transformação ao longo do tempo. Principalmente no ambiente
acadêmico, com o avanço de pesquisas nas mais diversas áreas, é comum que termos técnicos
usados em vocabulários controlados caiam em desuso ou sejam substituídos por outros termos.
Além disso, a abertura de novos campos de pesquisa, com o passar dos anos, demanda a
inclusão de vocábulos novos para representar de forma eficaz os assuntos recentes. As
mudanças ora são pontuais, como, por exemplo, a alteração ou a inclusão de um termo mediante
a solicitação de um pesquisador, ora são mais abrangentes e envolvem um esforço conjunto de
profissionais de diferentes áreas do conhecimento para fazer uma revisão em todo o
vocabulário, geralmente sob a coordenação de um bibliotecário e com o auxílio técnico de um
profissional de informática.
As atualizações são um processo contínuo que garantem a qualidade das pesquisas nas
bases de dados, com a recuperação eficiente da informação desejada. Esse processo faz parte
de uma política de gestão de linguagens documentárias que as permite aproximar-se da
linguagem usada pelo usuário contemporâneo e pela comunidade acadêmica, que vem
acompanhando as publicações mais recentes e também se atualizam com o surgimento de novos
estudos, o que demanda a criação de novos termos.
Ao se implantar uma nova LD ou uma alteração, também é desejável que ela passe por
testes, em que possa ser observado o seu funcionamento e sua interação com o usuário. Por fim,
ressalta-se que essa interação entre usuário e LD, por vezes, não ocorre de forma intuitiva e, em
todo caso, é útil oferecer manuais ou outras formas de explicação sobre o funcionamento da
linguagem e do sistema eletrônico que a abriga.
A criação, implantação e gerenciamento de linguagens documentárias são atividades
essenciais para a recuperação eficiente de documentos. São processos que exigem a
participação de pessoas de diferentes áreas do conhecimento e também dos usuários, que
ocupam papel central nesse cenário, uma vez que todo o desenvolvimento de linguagens
informacionais visa a facilitar a busca do usuário da biblioteca.

Bibliografia

BOCCATO, Vera Regina Casari. A linguagem documentária vista pelo conteúdo, forma e uso
na perspectiva de catalogadores e usuários. A indexação de livros: a percepção de
catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias. São Paulo: Cultura Acadêmica, p.
119-135, 2009.

FUJITA, Lopes; SPOTTI, Mariângela; DOS SANTOS, Luciana Beatriz Piovezan. A estrutura
lógico-hierárquica de linguagens de indexação utilizadas por bibliotecas universitárias. Scire,
v. 22, n. 2, 2016.

SANTOS, Cibele Araujo Camargo Marques dos et al. Sistema de gestão para linguagem
documentária metadados e rede colaborativa no vocabulário controlado do SIBI/USP.
SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS–SNBU, 16
SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS DIGITAIS–SBBD, 2, 2010.

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