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DOPPELGÄNGER

por Maria Emilly Santos do Vale

Meu nome é Vladimir Ulyanov. Lênin. Não há nada de glorioso na minha


trajetória. O caminho que segui para chegar até aqui foi regado de lágrimas e de

sangue. Sangue dos meus camaradas. Sangue do meu irmão. Sangue da minha Nação.
O ideal da Revolução já estava impregnado no nosso povo. Nós já não suportávamos

mais ver nossos semelhantes serem praticamente escravos dos grandes industriários.

O show de fantoches com a Família Real orquestrado pelas oligarquias e manipulado


pelo Feiticeiro Grigori Rasputin servia somente para entreter a alta esfera política e

social, os Mencheviques, enquanto o povo comum sucumbia à miséria e à fome.


Enquanto eu estava exilado, entrei em contato com meus camaradas e

organizamos um grande protesto pacífico para demonstrar o descontentamento do


nosso povo com as decisões centralizadoras do Czar Nicolau II, sucessor do assassino

do meu irmão. Mas fomos ingênuos. Meu deus, como fomos ingênuos! A ordem do
nosso monarca em fuzilar todos os manifestantes foi recebida por nós com uma

assustadora descrença. Pessoas inocentes morreram sob minha liderança, em defesa


da ideologia que eu mesmo pregava, enquanto eu aguardava em segurança os
resultados da pressão popular. Isso foi demais para mim naquela época. Fui um grande
covarde! Logo eu, que organizei o movimento! Logo eu, que jurei aos pés do meu

irmão enforcado que não voltaria atrás em nossas convicções revolucionárias. Mesmo
assim, fugi. Esse novo fracasso ainda iria ser somado a uma quantidade obscena de

erros que tomaria em meu futuro.


Retornei ao meu exílio, talvez por temer pela minha vida, talvez por ter perdido

as esperanças. O tempo passou. Soube que a situação política na minha nação se


agravava cada vez mais, mas não queria ter mais sangue em minhas mãos. Mesmo

assim, todas as noites, eu ouvia o clamor do povo em meus sonhos e o rosto


desfigurado do meu irmão na forca junto aos seus camaradas. Apesar de mortos, eu

conseguia perceber a expressão de reprovação no rosto de cada um deles, mártires


para mim. Depois de alguns anos, a insanidade já cortejava minha mente, atordoava
meus sentidos, mas, antes de ceder à loucura, tive uma visão libertadora,

revolucionária.
Sonhava acordado e, em um momento, achei ter saído do meu corpo por alguns

instantes. Questionei se o que acontecia era real ou fruto da minha mente delirante.
Percebi meu irmão de pé, ao meu lado. Seu rosto tinha feições mais amenas, mas o nó

da forca ainda balançava em seu pescoço. Ele me estendeu a mão e, quando a toquei,
não estávamos mais na Suíça, eu havia sido transportado de volta para a Rússia. A visão

era de um campo em colheita e os agricultores ceifavam o trigo com a foice em uma


paisagem crepuscular avermelhada. À distância, o som do martelo moldando o ferro

ecoou aos meus ouvidos e, quando olhei para trás, deixamos o campo e chegamos à
penumbra de uma fábrica. O som ressoava ritmado, acompanhado das faíscas

avermelhadas criadas pelo impacto do martelo no ferro fundido. O silêncio caiu, e meu
irmão sussurrou em meu ouvido de forma serena: “já chega...”. Essa simples frase

adquiria incontáveis significados na minha mente, repetindo-se infinitas vezes até que
uma vertigem lancinante me levou de volta ao meu refúgio. Repeti para mim mesmo:

“já chega... já chega... JÁ CHEGA!”. Eu havia compreendido a mensagem, compreendi


minha missão.

O caminho era a UNIFICAÇÃO, o vermelho era o SOL, o FOGO e o SANGUE,


nosso sangue, penitência e expiação. As ferramentas eram a FOICE e o MARTELO, o

que temos nas nossas mãos, nossas vidas. Decidi voltar. Eu seria o que o povo esperava
de mim, objeto e símbolo de mudança, Revolução. Dessa vez eu tinha certeza, guiaria

meu povo contra essa tirania instaurada, mesmo que tivesse que utilizar de todos os

meios disponíveis para chegar a este fim, mesmo que isso significasse lutar com as
mesmas armas do inimigo. Mas desta vez não iria despreparado, não iria fazer com

que o povo lutasse no meu lugar. Eu estava pronto, mas precisava preparar mais
pessoas para me acompanhar neste caminho.
Segui para a Europa. Sabia que cada passo meu era observado, espionado.
Reuni meus camaradas em uma casa discreta, mas com uma grande oficina. A partir
de então, nossa “pequena” Revolução começou a tomar forma. Pessoas vinham de
todos os lugares, principalmente da mãe Rússia, para conhecer e estudar na nossa

modesta escola revolucionária. O Comunismo passava a ser nossa bandeira e a


doutrina de Karl Marx indicava a solução para todos os problemas que enfrentávamos,

precisávamos vencer de uma vez por todas o maldito Capital que escravizava nosso
povo para que a classe mais rica usufruísse de privilégios. Nestes anos, minhas

publicações eram prolixas e meus livros abasteciam o ideário do nosso círculo. Me


deslumbrei com os resultados que estávamos conseguindo, cada vez mais

convertíamos mais pessoas de diversos países à nossa causa.


Perdi tempo demais. Depois de alguns poucos anos de funcionamento da nossa

“escola”, soube que a situação havia mudado na Rússia. Lá, revoltas estouravam a todo
momento com a insatisfação da população sobre a participação da nossa Nação na

Primeira Guerra Mundial. A contínua repressão do Czar contra a população serviu para
reavivar as labaredas da Revolução. O exército estava desestruturado e os camponeses

eram levados ao front tirados da “reserva”. Eu precisava regressar urgentemente, mas


precisava de recursos. Viajei até a Berlim e negociei os planos de rendição com a

Alemanha, simpatizante do nosso movimento. O elo com este país era forte e se
estreitava cada vez mais. Eu entendo que foi um pacto que seria cobrado no futuro,

mas, mesmo assim, decidi correr o risco. Quando finalizamos os preparativos, achei
que seria tarde demais. O Czar havia abdicado.

O governo havia ficado nas mãos do irmão mais novo de Nicolau II, Miguel, que,
por sua vez, entregou o poder a um governo-provisório comandado inicialmente pelo

Príncipe Lvov. A situação era caótica. Alexander Kerensky, que na época era ministro,

aproveitando-se da fragilidade política e a crescente derrocada social do governo


czarista, conseguiu, em pouco tempo, o que não conseguimos em anos. Seu discurso

na plenária da Duma foi decisiva para essa empreita. Ele foi alçado a presidente do
governo-provisório em pouco tempo e, em menos tempo ainda, já era tido como um
salvador. Um mero burguês oportunista assumindo o comando do governo foi uma
afronta para o nosso ideário. Ainda assim, talvez por acaso, sua incompetência
conseguiu superar sua sorte.

Nossa propaganda já circulava a todo vapor na Rússia. Nossa “máquina”


começava a sufocar o tal governo-provisório fajuto. A Revolução, cozinhada em fogo

brando por todo este tempo, estava para explodir. Boatos sobre meu iminente retorno
incentivaram outros, que, como eu, estavam no exílio. Nosso partido possuía uma

representação política expressiva naquele governo, os Bolcheviques passaram a


dominar a Duma. Dispúnhamos de uma rede de informantes, articuladores e, inclusive,

de um exército, liderado pelo camarada Trotsky. Cada peça necessária para a queda de
Kerensky estava pronta para ser movimentada. O jogo iria começar.

O primeiro problema enfrentado foi o seguinte: todas as estradas e ferrovias de


acesso à Rússia estavam bloqueadas em virtude da Guerra. Mesmo assim, o governo

alemão arquitetou minha entrada de trem cruzando todo o território alemão até a
Suécia e, de lá, chegando à Rússia em um vagão selado. A princípio, pensei em rejeitar

a oferta, mas não podia perder essa chance. Eles também tinham fichas em jogo e eu
seria uma peça essencial para seus planos. Assim eu pensei e assenti pela viajem. A

escuridão daqueles dias, mesmo acompanhado da minha esposa e de camaradas,


tomaram um pouco da minha sanidade durante a jornada. Minha maior ambição

estava cada vez mais próxima, mas sonhos febris me atormentavam. Crises de
ansiedade me faziam tremer naquela escuridão e, com o passar dos dias, meus

camaradas também passaram a apresentar o mesmo quadro, chegando a desconfiar


do nosso real destino. Talvez o governo-provisório russo já houvesse negociado a paz

e nós seríamos entregues para sermos executados em São Petersburgo. Apenas

devaneios.
Ao chegar em Petrogrado, descemos na Estação Finlândia e o povo já se

encontrava mobilizado em manifestações por toda a parte. Meu discurso em praça


pública foi o primeiro passo para a queda de Kerensky, nossa primeira vitória pública,
ou assim eu pensei. Agora que eu estava na Rússia, podia mover todas as peças que
eu tinha à disposição. Organizei incontáveis greves e manifestações e incentivei
revoltas armadas contra o governo, que se demorava por demais a cair. Publiquei mais
um livro para expor nosso ideal de Revolução. Este último ato esgotou a tolerância do

governo, que passou a me perseguir em um jogo sujo de gato-e-rato.


Tentei fugir o quanto pude, da maneira que pude. Foi humilhante. Por que eu

não conseguia alcançar o que estava tão próximo das minhas mãos? Eu já tinha o povo
do meu lado, minha propaganda já estava disseminada em toda a Nação, tínhamos

políticos fortes e até um exército. Em um dos meus últimos esconderijos, frustrado,


com medo e com fome, pensei ter ouvido o som de cordas se esticarem. O som era

assustadoramente familiar. Eu estava sozinho na cozinha, mas o som vinha da sala.


Considero o que se seguiu o ponto de virada para mim e para a minha Nação. Minha

fé foi testada, e eu falhei.


Ao chegar ao cômodo, vi diversas pessoas enforcadas na viga principal da sala,

balançando. Seus rostos estavam distorcidos de dor e de agonia, mas eles ainda
estavam vivos. Conhecia cada um deles. Eram meus camaradas, minha esposa e, no

centro, eu mesmo. Tudo era muito real para ser uma apenas uma alucinação, e, me ver
ali, entre os meus, padecendo do mesmo destino que meu irmão, me levou outra vez

para a beira do abismo da loucura. A visão permaneceu vívida até que todos os
enforcados, inclusive eu, estivessem mortos, balançando a um vento sobrenatural.

Senti um frio subindo na minha espinha e senti o chão ardendo em brasa sob meus
pés. Antes que eu entrasse em um ataque histérico, ouvi um ruído de um canto escuro

próximo da lareira apagada, e, quando direcionei meu olhar, percebi uma silhueta
esguia, anormalmente alta. “Aquilo” me olhava de cima. Pensei em perguntar quem se

escondia na escuridão, mas não consegui proferir nenhuma palavra.

Uma espécie de ruído, acompanhado de uma voz rouca e desconhecida me


cumprimentou. Não tive como responder. “Aquilo” apontou um dos dedos de sua mão

para a viga da sala e grasnou como uma ave agourenta “Este é seu destino, você quer
fugir dele? Não vai demorar muito, agora”. Assenti com a cabeça. Uma inexplicável e
incômoda calma me tomara depois que a estranha criatura falou comigo. “Eu tenho
lhe acompanhado desde que você passou pelo meu território. Todas as noites observei
enquanto você suplicava para ser um ‘objeto de mudança’, desejando uma tal
‘Revolução’. Eu o ouvi e estou aqui”. Mais uma vez, “aquilo” apontou para a viga, onde

os corpos ainda balançavam, e disse “Pendurado ali, você não alcançará nada, apenas
a inevitável morte – a qual eu domino”. Me ajoelhei e, mais uma vez, supliquei em

pensamentos, agora para o “ídolo” errado. A voz agourenta parecia alegre quando
disse “As coisas vão mudar e você estará no centro da mudança. Você aceitará o preço?

Será demasiado alto, mas creio que a imortalidade é um prêmio inestimável para a
espécie ‘humana’”. Apesar de não compreender totalmente, mais uma vez assenti com

a cabeça. Foi o início de tudo, mas também o fim.


Um cheiro insuportável de fumaça me despertou do “transe”. Percebi que a casa

ardia em chamas. Saí ileso do incêndio. Enquanto observava a edificação sucumbir ao


fogo, uma resolução tão forte quanto a que eu senti no meu primeiro exílio se apossou

de mim. Eu estava certo de que, agora, conseguiria cumprir a minha missão. Quando
meus camaradas retornaram, eu disse que este havia sido meu último exílio e que as

chamas da verdadeira Revolução o haviam consumido e que voltaríamos para nosso


verdadeiro “lar”. Tomaríamos o poder de uma vez por todas. A segurança na minha

voz afastava qualquer lembrança daquele encontro sobrenatural. Esperava, em vão,


que nada daquilo tivesse acontecido. Mesmo assim, todas as noites que se seguiram

passei a ouvir sussurros e vozes que me diziam exatamente o que eu devia fazer, mas
não como uma ordem, mais como uma sugestão. Inexplicavelmente, cada vez que eu

seguia as instruções, tudo dava certo: as engrenagens se moviam, o plano caminhava


e as peças se encaixavam – a grande mudança estava para chegar.

Arquitetamos a crise política que iria culminar na derrocada do governo-

provisório de Kerensky. Demos início à insurreição Bolchevique em resposta ao ataque


das forças contrarrevolucionárias e, finalmente, em uma jogada de mestre, sitiamos o

Palácio de Inverno e derrubamos o governo. O meu ideal de Revolução havia sido


alcançado. Instituímos o “Conselho Comissariado do Povo”, o Sovnarkom. Uma das
condições impostas pela “sombra” para este momento era que, após assumir o
controle, eu, humildemente, recusasse o posto de líder que me seria sugerido. Achei
isso uma afronta, mas, como tudo tinha dado certo até este momento, resolvi ceder à
“entidade” mais uma vez. Em um ato de modéstia, sugeri que Trotsky assumisse o

governo, já que sua liderança havia sido tão importante para alcançarmos nosso
objetivo final. Qual não foi minha surpresa quando todos, incluindo o próprio Trotsky,

insistiram para que eu assumisse a liderança do Sovnarkom. A Revolução havia


acontecido, e eu lideraria o novo governo. Meu maior desejo se realizara, tempos

felizes para minha Nação finalmente chegaram. Ou assim eu pensei.


Apesar da sensação de conquista, os meses que se seguiram foram

conturbados. Assinamos o tratado de paz com a Alemanha, cumprimos nossa parte do


acordo. Mas isso não foi suficiente. O nosso governo parecia instável, tomávamos uma

decisão errada após a outra. Pensei na possibilidade de fracassar, depois de toda a luta
para chegar até onde eu cheguei. Todas as noites, sempre que eu achava que estava

sozinho, podia sentir a presença da “sombra”. Nestes casos, ela falava comigo
diretamente e me induzia a seguir seus desígnios. Mas, a cada noite, aquela voz se

parecia mais com a minha própria voz. Isso passou a me dar medo. Depois de alguns
meses, senti um pavor inominável.

Certa noite, em uma das aparições do “espectro”, “aquilo” me sugeriu que a


única solução para os problemas atuais seria que eu ordenasse a execução de toda a

família real, exilada em Ecaterimburgo. Eu não aceitei. Nas noites seguintes, as


sugestões adquiriam um tom de ameaça. A conversa chegava a ecoar nos meus

aposentos. Temi que alguém pudesse escutar o teor de nossas discussões noturnas,
por isso, tentei de todas as formas silenciar os sussurros daquele “ser” odioso, que

insistia em fazer aparições noturnas. Depois desse pedido infame, deixei de seguir

todas as suas orientações. A cada dia que se passava, o “espectro” parecia a perder a
forma, ficava imenso e passava a se fundir com os cômodos que eu habitava. Depois

de mais algum tempo, em uma certa noite, a escuridão não foi embora. Permaneceu.
Perdido na escuridão, vaguei por dias, talvez meses. Pensei ter morrido, mas, em um
certo momento, consegui enxergar a mim mesmo. Eu estava em uma reunião com
vários líderes do governo instituído. Mas não era “eu”. Eles discutiam sobre a execução
da família real e comemoravam que tudo tinha transcorrido de acordo com os planos.
Nada mais poderia desafiar a hegemonia do Sovnarkom.

A partir daí, durante longos anos fui testemunha silenciosa de todas as


atrocidades cometidas pelo meu “outro eu”. Vi toda a guerra civil se desenrolar como

em um pesadelo, o sangue do meu povo banhando o solo da minha Nação – um


exército “branco” contra um exército “vermelho”. Vi igrejas queimarem por “minha”

ordem e vi minha terra ser dividida e se tornarem nações independentes – Finlândia,


Lituânia, Estônia, Polônia... o princípio de UNIÃO, da maneira que eu acreditava, estava

perdido. A fome e a miséria que tanto lutamos para combater nos anos de militância
contra o Czar haviam voltado à Rússia, mas, desta vez, sob “minha” tutela. Vi o Terror

Vermelho ser instituído por “mim” para oprimir ou eliminar membros da burguesia que
tivessem posses e fossem contra o governo. Confisquei tudo e de todos sob o pretexto

de dividir igualmente. Vi meu ideal de Comunismo ser ridiculamente deturpado por


“mim mesmo”.

Cada vez que eu resolvia não olhar para o que “eu” estava fazendo, o tempo
passava muito rápido. Depois de anos dessa tortura insuportável, enxerguei uma luz.

Ao segui-la, caminhei por uma espécie de corredor de sombras sem saber ao certo se
a luz se aproximava ou se distanciava, mas era tudo que eu podia fazer, seguir em

frente. Pareceu bem simples e natural, mas, depois de tantos anos de escuridão total,
consegui enxergar através dos meus próprios olhos. Estava de volta ao meu corpo,

sentado na penumbra em uma grande sala com móveis luxuosos. Nela, uma grande
lareira estava acesa e, ao lado, pude perceber uma sombra, uma silhueta conhecida,

esguia e anormalmente alta.

A voz agourenta de anos atrás, agora tão familiar quanto a minha própria, voltou
a me cumprimentar, mas seu tom era de pesar. “A promessa que eu lhe fiz foi cumprida.

A obra que você construiu será imortalizada para sempre nas páginas da História. É
uma pena que você tenha complicado as coisas nestes últimos anos. Você me ‘obrigou’
a assumir o controle. Mesmo assim, espero que você tenha ficado orgulhoso dos
resultados. Chegou a hora de você pagar o preço. Tomarei, por fim, sua alma. O
restante da sua consciência ficará ‘à deriva’ e você viverá como um ‘vagante’, apenas
uma ‘casca’, uma ‘sombra’ da grandeza do que você já foi, até que sua forma física

sucumba às leis naturais”. Sem conseguir dizer uma só palavra, apenas observei a
“coisa” com a qual eu selei aquele maldito acordo sair com a minha alma em suas mãos

e um saco de mentiras para outros enganar.


Meu corpo viveu apenas o suficiente para ver a nossa bandeira vermelha com

os símbolos visionados por mim passando a ser o símbolo da nossa Nação. A União
Soviética havia nascido, mas não o ideal de nação escrita nos meus livros. Muito tempo

já se passou desde então, mesmo assim, às vezes me perco em pensamentos neste


vazio escuro e me pergunto o que terá acontecido com a minha pátria nestas últimas

décadas. Mas isso já não importa mais. O que eu desconheço, também se tornou
História, e, provavelmente, você já deve conhecer, caro leitor.

Fim.

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