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Roger Andrade Bressiani,
Vanessa Gomes Porto e
Abraão Roberto-Fonseca. Os
dois primeiros autores são
psicólogos pelas Faculdades
Integradas de Cacoal
(UNESC/RO). O último autor
é editor deste número e Ba-
charel em Psicologia e Psi-
cólogo pela Universidade
Federal do Pará (UFPA/PA).
Mestre em Psicologia: Teoria
e Pesquisa do Compor-
tamento (UFPA/PA). Docente
das Faculdades Integradas
de Cacoal (UNESC/RO).
Revista Científica da UNESC, ano 11, n. 14, 23 - 41
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O mesmo autor afirma que, como nem sempre o organismo re- 2.3. Reforço Secundário/Social
forçador pode responder apropriadamente, é provável que o re-
Geralmente quando o reforço requer presença de outra pes-
forço seja intermitente.
soa, consiste em um reforço social, que geralmente é uma
questão de mediação pessoal. O comportamento verbal sem-
pre acarreta reforço social e deriva suas propriedades caracte-
2.2. Reforço intermitente
rísticas desse fato. A resposta “um copo d’água, por favor” não
Segundo Skinner (2003), o comportamento que age sobre o tem efeito no ambiente mecânico, mas em um ambiente verbal
meio físico imediato é constantemente reforçado. Porém, gran- apropriado pode levar ao reforço primário (Skinner, 2003).
de parte do comportamento é reforçado apenas intermitente-
De acordo com Baum (2006), a maioria dos reforçadores, que
mente, pois uma determinada consequência pode depender de
adquiriram tal função no histórico do indivíduo, resulta do fato
uma série de eventos não facilmente previsíveis, principalmen-
do ser humano viver em sociedade. “Notas, medalhas, repreen-
te contingências que requerem participação de outras pessoas
sões, elogios… o poder de todas essas consequências é social
são especialmente incertas.
em sua origem, é o resultado de relações (organismo-ambien-
Experimentos laboratoriais (e. g. SKINNER, 2003) comprovam te) organizadas pelo grupo” (BAUM, 2006).
que, em geral, o comportamento reforçado intermitentemente é
No campo do comportamento social, dá-se importância especi-
estável e mostra grande resistência à extinção.
al ao reforço como “atenção”, “aprovação”, “afeição” e “submis-
“Aprovação”, “afeto” e outros favores pessoais com frequência são”. Esses importantes reforçadores generalizados são soci-
são intermitentes, não apenas porque a pessoa que fornece o ais porque o processo de generalização geralmente requer a
reforço pode comportar-se de diferentes maneiras em ocasiões mediação de outro organismo (SKINNER, 2003).
diferentes, mas precisamente porque pode ter verificado que
Em se tratando de um ambiente clínico, Follette; Naugle &
semelhante esquema produz um retorno mais estável, persis-
Callaghan (1996 apud LUNA e TOURINHO, 2010) mencionam
tente e “proveitoso” (SKINNER, 2003).
que a forma como o cliente se comporta na interação com o te-
rapeuta, e a história de aprendizagem que ocorre ao decorrer
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dessa interação, é considerado como um mecanismo de mu- Medeiros (2002) ainda afirma que para a clínica analítico-com-
dança, na terapia analítico-comportamental. portamental é importante trabalhar o comportamento verbal do
cliente, já que na clínica as interações são em sua maioria ver-
O terapeuta deve prover consequência social com papel emi-
bais. Por isso, o terapeuta deve também adaptar o seu repertó-
nentemente reforçador, relacionado a uma ampla classe de
rio verbal ao do cliente, o que o torna sensível ao cliente en-
comportamentos do cliente, a fim deste se engajar em um pro-
quanto audiência.
cesso de mudança. E as classes de respostas emitidas pelo te-
rapeuta para o processo terapêutico ocorrer são constituídas Todavia, é de suma importância, que o terapeuta utilize o com-
de ações e verbalizações do terapeuta (FOLLETTE et al., 1996 portamento verbal para que possa modelar topografias de res-
apud LUNA e TOURINHO, 2010). postas do cliente, para que este posteriormente esteja mais
adaptado em seu ambiente (MEDEIROS, 2002), ou seja, saiba
como se comportar em contingencias de seu cotidiano.
3. VERBALIZAÇÕES DO TERAPEUTA EM RELAÇÃO AO
Há ainda que se considerar que cada tipo de intervenção pode
CLIENTE NA CLÍNICA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL
evocar uma função diferente e que o conjunto de verbalizações
Para Salzinger (2003, apud ALMEIDA, 2008) em uma parte am- do terapeuta deverá possuir funções de acordo com os objeti-
pla da prática clínica, esta pode ser interpretada como uma ten- vos do processo terapêutico nos momentos específicos. O tera-
tativa de instalar ou alterar comportamentos relevantes a partir peuta deve então conhecer os tipos de intervenções verbais e
de interações face-a-face entre cliente e terapeuta. quais os valores que estas intervenções têm como atuante na
modificação de comportamentos (Oliveira-Silva & Tourinho,
Na clínica, a análise do comportamento tenta encontrar a fun- 2006), sendo importante, o terapeuta elencar as verbalizações
ção para cada comportamento no repertório do indivíduo, então com base em sua função e objetivo. Para tanto, é necessário
são realizadas modificações no ambiente com a finalidade de que o terapeuta na clínica analítico-comportamental, disponha
modificar o repertório comportamental do indivíduo, tornando de um repertório autoclítico elaborado (SKINNER, 1957).
este mais adaptado, de acordo com a sua demanda. Então, a
relação terapêutica na análise do comportamento é vista como Zamignani (2007) e Meyer & Zamignani (2011) elencaram as
uma ferramenta de mudança (MEDEIROS, 2002). verbalizações do terapeuta, vocal e não vocal, nas seguintes
categorias, “solicitação de relato”, “facilitação”, “empatia”, “infor-
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mação”, “solicitação de reflexão”, “recomendação”, “interpreta- Terapeuta fornece informações (informação): o terapeuta relata
ção”, “aprovação”, “reprovação”, “outras vocal terapeuta”, “t si- eventos ou informa o cliente sobre eventos, estabelecendo ou
lêncio”, “concordância terapeuta”, “discordância terapeuta”, “co- não relações causais ou explicativas entre eles.
mando terapeuta”, “gesto outros terapeuta” e “insuficiente tera-
Terapeuta solicita reflexão (solicitação de reflexão): o terapeuta
peuta”, as quais são descritas a seguir – de acordo com os au-
solicita ao cliente que estabeleça qualificações, explicações, in-
tores no início do parágrafo - as funções exclusivamente das
terpretações, análises ou previsões a respeito de qualquer tipo
verbalizações vocais:
de acontecimento.
Terapeuta solicita relato (solicitação de relato): o terapeuta re-
Terapeuta recomenda ou solicita a execução de ações, tarefas
quer do cliente descrições a respeito de ações, eventos, senti-
ou técnicas (recomendação): Propõe alternativas de ação, ou
mentos ou pensamentos. Geralmente ocorre em situações em
que o cliente se engaje em ações ou tarefas. Essa classe de
que haja coleta de dados e levantamento de informações.
comportamento também pode ser referida como aconselhamen-
Terapeuta facilita o relato do cliente (facilitação): são verbaliza- to, orientação, comando e ordem.
ções breves ou expressões paralinguísticas no decorrer da fala
Terapeuta interpreta (interpretação): o terapeuta descreve, su-
do cliente. Estas verbalizações indicam atenção ao relato do
põe ou infere relações causais ou explicativas (funcionais, cor-
cliente e sugerem a sua continuidade.
relacionais ou de contiguidade) a respeito de comportamento
Terapeuta demonstra empatia (empatia): essas verbalizações do cliente ou de terceiros, ou identifica padrões de interação do
sugerem acolhimento, aceitação, cuidado, entendimento, valida- cliente e de terceiros. É diferente da categoria de Informação,
ção da experiência ou sentimento do cliente, determinado pela pois contém explicações a respeito de outros eventos que não
história com clientes anteriores que determinaram o aumento o comportamento do cliente ou de terceiros.
da frequência deste repertório. A empatia informa que o cliente
Terapeuta aprova ou concorda com ações ou avaliações do cli-
é aceito, “bem-vindo”, sem avaliações ou julgamentos. Essa
ente (aprovação): o terapeuta evidencia avaliação ou julgamen-
classe de verbalizações auxilia a criação de um ambiente tera-
to favorável a respeito de ações, pensamentos, características
pêutico para que o cliente se sinta à vontade, conhecido na psi-
ou avaliações do cliente.
coterapia como rapport, ou um elemento deste.
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Terapeuta reprova ou discorda de ações ou avaliações do clien- gum modo sua verbalização anterior. As funções destas verbali-
te (reprovação): o terapeuta evidencia avaliação ou julgamento zações são de fortalecer ou enfraquecer verbalizações do clien-
desfavorável a respeito de ações, pensamentos, características te sobre si mesmo ou sobre aspectos de sua história ambien-
ou avaliações do cliente. tal. Luna & Tourinho (2010) acrescentam ainda que há o
feedback diferencial, o qual objetiva manter a probabilidade de
! Outras verbalizações do terapeuta (outras vocal terapeu-
ocorrência de alguns comportamentos, assim como, também
ta): verbalizações que não são classificáveis nas categorias an-
diminui tal probabilidade.
teriores.
Confrontar (CFR): essas verbalizações afirmam a ocorrência
Terapeuta permanece em silêncio (silêncio terapeuta): quando
de condições, eventos ou relações entre eventos, relacionadas
uma resposta verbal do terapeuta é encerrada sem que uma
a assuntos abordados pelo cliente, acrescentadas ou não um
nova resposta verbal deste seja iniciada.
pedido formal de confirmação. Sua função é de confrontar o cli-
! Concomitante, Oliveira-Silva & Tourinho (2006) e Barbosa ente com seu relato anterior, ou uma interpretação do terapeu-
& Tourinho (2009) igualmente sugerem categorizações das ver- ta para os acontecimentos relatados, confirmando ou não a in-
balizações do terapeuta, sendo estas: terpretação.
Informar (IFO): verbalizações do terapeuta que informam sobre Dar Conselho (CON): verbalizações que indicam ao cliente,
aspectos do processo terapêutico, ou ainda sobre assuntos para comportar-se de determinado modo. Têm a função de for-
mencionados. Sua função é alterar o conhecimento do cliente necer ao cliente, uma recomendação de comportamento com
sobre o processo terapêutico ou sobre os assuntos. maior probabilidade de ser reforçado.
Investigar (INV): verbalizações que requerem novas informa- Verbalizações Mínimas (MIN): essas verbalizações demons-
ções do cliente. Sua função é de produzir novas informações tram a atenção do terapeuta ou aprovação do comportamento
sobre a história do cliente e ensinar o cliente a posicionar-se de de verbalizar do cliente. Tem como função promover a ininter-
forma investigativa sobre os fatos ocorridos. rupção da verbalização do cliente.
Dar Feedback (FBK): verbalizações de aprovação, desaprova- Outras Verbalizações (OUT): Outras verbalizações do terapeu-
ção ou correção de verbalizações do cliente, qualificando de al- ta. Diversas funções.
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Nota-se semelhança nas categorias verbais sugeridas por Oli- ou o grupo mais adaptado, no caso ao ambiente social. E.g.
veira-Silva & Tourinho (2006) e Barbosa & Tourinho (2009) em quando um indivíduo verbaliza o nome de uma pessoa, e esta
"Informar", "Investigar", "Feedback", "Confrontar", "Dar Conse- pessoa direciona seu olhar para quem emitiu a verbalização, a
lhos", "Verbalizações Mínimas" e "Outras Verbalizações" com pessoa que verbalizou o nome aprendeu que, deste modo, ele
as descrições das categorias de Zamignani (2007) e Meyer & consegue a atenção (olhar) da pessoa, configura então uma
Zamignani respectivamente nesta ordem "Informação", "Solicita- consequência do seu comportamento verbal.
ção de Relato", "Aprovação/Reprovação", "Solicitação de Refle-
xão", "Recomendação", "Facilitação" e "Outras vocal terapeuta"
de acordo com as descrições relacionadas por esses autores. 4.2. Controle pelo grupo
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Em relação ainda a esta classificação informal, tal ocorre quan- 4.3. Psicoterapia enquanto uma agência de controle
do os próprios termos vêm a ser usados no reforço. SKINNER
Skinner (2003) alega que a psicoterapia é uma importante fon-
(2003) cita que os reforçadores generalizados mais comuns se-
te de controle na vida de muitas pessoas, onde o terapeuta usa
jam os estímulos verbais “Bom”, “Certo”, “Mau” e “Errado”. Es-
variáveis que estão ao seu alcance para tal controle.
tes, por sua vez, são usados juntamente com reforçadores con-
dicionados e incondicionados para modelar o comportamento Assim, como um sistema social organizado se desenvolve,
do indivíduo, como por exemplo, elogios. Desta forma, de acor- como citado anteriormente em relação ao controle pelo grupo,
do com o padrão do grupo, o “bom” comportamento é reforça- o terapeuta também se torna uma importante fonte de reforço.
do, e o “mau” punido de acordo com o aspecto cultural daquela Para o indivíduo, a aprovação do terapeuta pode vir a ser efici-
comunidade. O grupo reforça o bom comportamento apropria- ente no estabelecimento de repertórios socialmente mais adap-
damente porque assim aumenta a possibilidade de um compor- tados. E, à medida que o conhecimento do terapeuta em rela-
tamento semelhante ocorrer no futuro. ção ao seu cliente se desenvolve, este pode sugerir esquemas
ou rotinas que afetem níveis de privação ou saciação do clien-
Skinner (2003) sugere que a família é uma agência de controle,
te, e levem a condicionamento ou extinção de determinados
é o primeiro agrupamento que controla o comportamento huma-
comportamentos, esses esquemas, são seguidos primeiramen-
no.
te por causa do controle verbal do terapeuta (Skinner, 2003).
Assim, o indivíduo aprende com a comunidade comportamen- Além disto, a história de seguimento de regras por parte do indi-
tos como “agradecer” e “elogiar” comportamentos de outras víduo pode favorecer a melhoria das condições comportamen-
pessoas, considerados “bons”. Apreende-se a priori que o indi- tais (ALBUQUERQUE e PARACAMPO, 2005), e gerar aprova-
víduo adquire do grupo um extenso repertório de usos e costu- ção social por parte do terapeuta.
mes, de acordo com a cultura do grupo via procedimentos ante-
De tal modo, pode-se inferir que os comportamentos verbais
riormente relatados (ver p. 15). A comunidade, então, funciona
que ocorrem na clínica, ocorrem da mesma forma no cotidiano
como um ambiente, no qual certos tipos de comportamentos
das pessoas, o que pode se fazer úteis as categorizações já
são reforças e outros punidos, por exemplo, o comportamento
mencionadas assim como as suas funções, e categorizar então
verbal de elogiar (SKINNER, 2003).
alguns comportamentos que advém com certa frequência no
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repertório comportamental dos seres humanos, como o compor- consequência, pode-se saber se este comportamento foi apro-
tamento verbal de elogiar. priado para a situação e determinará sua ocorrência em termos
de frequência, de acordo com o que afirma Skinner (1957). O
elogio é um comportamento verbal, que geralmente é emitido
4.4. O “Elogio” nas Categorias de Verbalização por pessoas que pretendem consequenciar determinada res-
posta de outra pessoa em um momento de interação.
A seguir foram elencadas as categorias de verbalização onde o
“elogio” pode ser utilizado com o intuito de evocar sua determi- A comunidade verbal é o conjunto de pessoas que ouvem e
nada função: emitem consequência que podem ter função reforçadora
(Baum, 2006), um reforço que depende da presença de outra
Comportamento Verbal de Aprovação: Nessa categoria estão pessoa consiste em um reforço social (Skinner, 2003), e, mui-
inclusos elogios ou avaliações positivas Zamignani (2007): O tas vezes, esse reforço acontece por meio de uma verbaliza-
falante expressa julgamento favorável a comportamentos, ca- ção. A eficácia de todas essas consequências reforçadoras é
racterísticas ou aparência do ouvinte. Exemplos: “Parabéns resultado das relações sociais (Baum, 2006), e devido à impor-
pela sua atitude”; “Nossa, como você está elegante!”. tância do reforço social para o comportamento dos indivíduos,
este tem um papel de controle sobre a emissão de alguns de-
Comportamento Verbal de Feedback: Nessa categoria o “elo-
les; o elogio pode ser estímulo reforçador de uma resposta, se
gio” pode decorrer como verbalizações curtas de aprovação,
emitido como um operante verbal autoclítico com função de
que podem ser consideradas feedback quando de algum modo
qualificar, como por exemplo, o adulto ao falar “muito bom” dian-
qualificam a verbalização anterior do cliente. Exemplo: “Muito
te da emissão do comportamento de ler em uma criança, este
bem” (OLIVEIRA-SILVA e TOURINHO, 2006).
estará consequenciando seu comportamento, que se espera
ter uma função reforçadora. Exemplo este, corroborado pelo ex-
perimento realizado por Faleiros & Hübner (2007) com crianças
DISCUSSÃO em contingências cuja resposta de ler era consequenciada por
Os comportamentos das pessoas são estabelecidos de acordo autoclíticos qualificadores.
com a relação que estas têm com o mundo ao emitir determina-
da ação e como essa ação é consequenciada. Através desta
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! Os comportamentos verbais, assim como os demais com- então este estará reforçando agora o comportamento de elogi-
portamentos não verbais, são mantidos de acordo com a sua ar. Entretanto, é importante ressaltar que, em se tratando de re-
funcionalidade em tornar o indivíduo mais adaptado ao ambien- forço social, nem sempre o organismo reforçador irá responder
te social (SKINNER, 1957). Então, emitir o comportamento de apropriadamente – sucessivamente - e isto implica que o com-
“elogiar” também tem uma função adaptativa ao ambiente, e portamento será reforçado intermitentemente, o que torna este
este, por sua vez, também deve ser aprendido como os demais comportamento estável a ainda com grande resistência à extin-
comportamentos, sendo consequenciado por um processo que ção, como afirmou Skinner acerca de esquemas de condiciona-
aumente a probabilidade de ocorrência futura, ou seja, por re- mento (SKINNER, 2003).
forçamento.
Na clínica analítico-comportamental, observa-se melhor como
Utilizando o mesmo exemplo acima, se o fato de a criança ler funciona a emissão do comportamento verbal de elogiar, as di-
servir como reforçador para as respostas do adulto, então, ao versas categorias de comportamentos verbais, e suas funções,
emitir o elogio e a consequência for a criança continuar a ler ou geralmente servindo como consequência social com papel re-
ler mais, haverá consequência reforçadora sobre o evento de forçador.
"elogiar” deste adulto. Desta forma, conforme vai se deparando
O terapeuta, ao aprovar um comportamento do cliente, estará
com contingências semelhantes a esta em seu cotidiano, o
fazendo um julgamento favorável a respeito de suas ações, ca-
adulto estará aprendendo que o seu comportamento de elogiar
racterísticas ou avaliações (ZAMIGNANI, 2007; MEYER e ZA-
interage sobre o ambiente, e ainda tem um papel de controle
MIGNANI, 2011). Em uma análise contingencial este comporta-
sobre este – como no caso de algumas funções das verbaliza-
mento do terapeuta se estabelecerá como um reforçador diante
ções de um terapeuta.
do comportamento emitido pelo cliente, ou de seu relato (LUNA
Outro exemplo seria um indivíduo ao ajudar uma pessoa reco- e TOURINHO, 2010). E, como aprovação, pode-se utilizar o elo-
lher os livros que acabara de derrubar, e este consequenciar o gio como consequenciação. E.g. o cliente faz uma avaliação de
comportamento dizendo “obrigado, você é muito gentil”, estará como deveria se comportar em determinada situação, e verbali-
reforçando o comportamento de ser prestativo do indivíduo, e za para o terapeuta, este por sua vez consequência responden-
consequentemente se este continua a recolher os livros ou ain- do com um elogio à atitude do cliente, reforçando o comporta-
da ajuda aquele que os derrubou a carregá-los posteriormente, mento do cliente de verbalizar suas avaliações.
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Ou então, ao proporcionar o elogio como feedback para o clien- é o auto-elogio. Desta forma, cita que o “orgulho” é reforçado
te em determinada situação, o terapeuta também poderá estar pelo elogio que se ouve. E nessas condições de motivação al-
emitindo verbalizações de aprovação com o intuito de fortale- guém pode mostrar uma grande probabilidade de ouvir elogios.
cer verbalizações anteriores do cliente, qualificando-as (OLIVEI-
A partir desta análise, compreende-se que o elogio, enquanto
RA-SILVA e TOURINHO, 2006), ou ainda manter a probabilida-
resposta a um estímulo (o comportamento de outro indivíduo, o
de de ocorrência de determinados comportamentos – mesmo
ouvinte) e consequência (para a resposta emitida pelo ouvinte,
que não socialmente aceitos (LUNA e TOURINHO, 2010). Um
que a emitiu antes de haver a verbalização do elogio) é um re-
exemplo disto seria o terapeuta elogiar as ações do cliente em
pertório verbal categorizado em aprovação e devolutiva/
realizar tarefas previamente estabelecidas e verbalizar suas
feedback, isso com relação a repertórios motores (não vocais);
ações em terapia, esta última também emitidas pelo cliente.
e também, a repertórios verbais de outrem na comunidade ver-
Assim como o terapeuta aprende na clínica que tais comporta- bal em que o indivíduo que emite o elogio esta inserido.
mento de elogiar (aprovação e feedback) têm função sobre
Desta forma, é possível afirmar que, assim como ocorre na clí-
ações do cliente, devido às consequências que se obtêm ao
nica, o controle sobre comportamentos de outras pessoas em
elogiar, as pessoas também têm aprendizado semelhante na
interação social por verbalização do elogio, também é feito no
vida cotidiana, de acordo com o desenvolvimento do sistema
cotidiano, pois este aprende com a comunidade comportamen-
social em que faz parte, e a família constitui o primeiro agrupa-
tos como elogiar, que por sua vez também tem uma função de
mento.
controle.
Skinner (2003) traz que as respostas que aumentam a frequên-
cia da resposta discriminativa de ver um objeto são também
aquelas que aumentam a frequência de respostas abertas e en- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cobertas que produzem o objeto. Assim, se ouvir determinada
palavra é forte, dizer essa palavra possivelmente também será ALBUQUERQUE, L. C. & PARACAMPO C. C. P. Comportamen-
forte, desde que seja uma resposta precorrente que torna possí- to controlado por regras: revisão crítica de proposições concei-
vel ouvi-la. O autor supõe que algumas vezes é reformador o tuais e resultados experimentais. Revista Interação em Psicolo-
fato de ouvir-se elogiar, por isso, um enunciado verbal simples gia. Vol. 9, nº 2, 227-237, Curitiba, 2005.
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de Curso). – Departamento de Psicologia, Pontifícia Universida-
de Católica, Rio de Janeiro, 2006.
ALMEIDA, P. E. M. Comportamento verbalmente controlado:
uma análise do efeito de operantes verbais autoclíticos sobre o
comportamento de escolha. 2008. 131 f. Tese (Doutorado em
DEVIT, V.; FRONCKOWIAK, C. & HOPPE, M. Aliança de Traba-
Psicologia) – Instituto de Psicologia Experimental, Universidade
lho em Psicanálise com Crianças. 2007. Disponível em:
de São Paulo, São Paulo, 2008.
guiaba.ulbra.br/seminario/eventos/2007/artigos/psicologia/256.
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TEIXEIRA JR, R. R. & SOUZA, M. A. O. Vocabulário de Análise
do Comportamento: um manual de consulta para termos usa-
dos na área. 2 Ed. Santo André: ESETec Editores Associados,
2006.
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