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O tráfico de escravos no Brasil

Fases

Se dividiu em quatro fases:

Ciclo da Guiné (século XVI)

Ciclo de Angola (século XVII): traficou congos, ambundos, benguelas e ovambos.

Ciclo da Costa da Mina, hoje chamado Ciclo de Benim e Daomé (século XVIII - 1815): traficou iorubás, jejes, minas,
hauçás, tapas e bornus.

Tráfico ilegal, reprimido pela Inglaterra (1815-1851): nesse período, os traficantes de escravos, para fugir à fiscalização
dos navios ingleses, passaram a buscar rotas alternativas ao tráfico tradicional do litoral ocidental africano: entre elas,
a captura de escravos em Moçambique.[2]

Primórdios

Já existiam modelos de escravidão em algumas regiões do continente africano na época das grandes navegações
europeias, porém incomparáveis, em termos de magnitude, violência e exploração, ao sistema escravocrata europeu.
Os portugueses começaram o seu contacto com os mercados de escravos africanos para resgatar cativos civis e
militares desde o tempo da Reconquista. Nesta época, o alfaqueque era a pessoa que tinha, por missão, tratar do
resgate de cativos.

O móbil do tráfico — o Ciclo do Açúcar

Mercado de escravos no Recife, pelo desenhista alemão Zacharias Wagner (entre 1637 e 1644). Pernambuco foi o
berço da escravidão indígena e africana no Brasil.[3]

Os primeiros escravos negros chegaram ao Brasil entre 1539 e 1542, na Capitania de Pernambuco, primeira parte da
colônia onde a cultura canavieira desenvolveu-se efetivamente.[4][5] As várias epidemias que, a partir de 1560,
dizimaram os escravos índios em proporções alarmantes, fizeram com que a que Coroa portuguesa criasse leis que
proibissem, de forma parcial, a escravatura de índios, isto é, "proibiam a escravização dos índios convertidos e só
permitiam a captura de escravos através de guerra justa contra os índios que combatessem ou devorassem os
Portugueses, ou os Índios aliados, ou os escravos; esta guerra justa deveria ser decretada pelo soberano ou pelo
Governador Geral". Outras adaptações desta lei surgiram mais tarde.

A subsequente falta de mão de obra levou a que se necessitasse introduzir mão de obra de outra origem.

Quanto aos holandeses, a partir de 1630, começaram ocupar as regiões produtoras de açúcar no Brasil, e, para suprir a
falta de mão de obra escrava, em 1638 lançaram-se na conquista do entreposto português de São Jorge da Mina, e,
em 1641, organizaram a tomada de Luanda e Benguela em Angola.

Argumenta-se que a sobrevivência das primeiras engenhocas, o plantio de cana-de-açúcar, do algodão, do café e do
fumo foram os elementos decisivos para que a metrópole enviasse, para o Brasil os primeiros escravos africanos,
vindos de diversas partes da África, trazendo, consigo, seus hábitos, costumes, música, dança, culinária, língua, mitos,
ritos e a religião, que se infiltrou no povo, formando, ao lado da religião católica, as duas maiores religiões do Brasil.

As listas dos resgates de cativos escravizados e libertados durante o reinado de D. João V revelam que até brasileiros
chegaram a ser capturados e vendidos no mercado africano.

O tráfico de escravos para o Brasil não era exclusivo de comerciantes brancos europeus e brasileiros, mas era uma
actividade em que os pumbeiros, que eram mestiços, negros livres e também ex-escravos, não só se dedicavam ao
tráfico de escravos como controlavam o comércio costeiro – no caso de Angola, também parte do comércio interior –,
para além de fazerem o papel de mediadores culturais no comércio de escravos da África Atlântica. Refira-se Francisco
Félix de Sousa, alforriado aos 17 anos, considerado o maior traficante de escravos brasileiro.

Francisco Félix de Souza (1754-1849), o mais famoso traficante de escravos brasileiro.

A legalização da escravatura

A coroa portuguesa autorizou a escravatura com a bênção papal, documentada nas bulas de Nicolau V Dum diversos e
Divino Amorecommuniti, ambas de 1452, que autorizavam os portugueses a reduzirem os africanos à condição de
escravos com o intuito de os cristianizar.[6] A regulamentação da escravatura já constava nas ordenações
manuelinas:[7] a adopção da escravatura vinha, assim, tentar ultrapassar a grande falta de mão de obra, que também
se verificava por toda a Europa devido à recorrência de epidemias, muitas delas provenientes da África e do Oriente.
Até a primeira metade do século XV, a população portuguesa apresentou queda demográfica constante.[8]

Quanto aos governos africanos, quer fossem de religião muçulmana[9] ou de outras religiões nativas, já praticavam a
escravatura muito antes de os europeus se iniciarem no tráfico. Diversas nações africanas tinham as suas economias
dependentes do tráfico de escravos e viam o comércio de escravos com os europeus como mais uma oportunidade de
negócio.[10][11]

Por alvará de 29 de março de 1559, dona Catarina de Áustria, regente de Portugal, autorizou cada senhor de engenho
do Brasil, mediante certidão passada pelo governador-geral, a importar até 120 escravos.[carece de fontes]

Resistência

Entre 1817 e 1818 a embarcação "São Pedro Águia", propriedade do negociante maranhense Caetano José Teixeira,
viajou do Rio de Janeiro para Angola, sob o comando do capitão Teodósio da Costa, a fim de recolher escravos,
seguindo para o Maranhão em outubro de 1819. Durante a viagem os escravos revoltaram-se, matando quase todos
os brancos, ficando vivos somente dois pilotos e alguns marinheiros. O navio acabaria por ser dominado por uma
escuna espanhola, tendo morrido cerca de trezentos escravos. A embarcação voltou depois a Angola para recolher
mais escravos, seguindo depois para o Maranhão.[12]

Como os africanos se tornavam escravos

Ver artigo principal: Comércio atlântico de escravos

Quadro de 1824 do pintor inglês Edward Francis Finden retratando um mercado de escravos no Rio de Janeiro.
Quando os portugueses chegaram a África, encontraram um mercado africano de escravos largamente implementado
e bastante extenso.

Os africanos eram escravizados por diversos motivos antes de serem adquiridos:[carece de fontes]

por serem prisioneiros de guerra;

penhora: as pessoas eram penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas;

rapto individual ou de um pequeno grupo de pessoas no ataque a pequenas vilas;

troca de um membro da comunidade por comida;

como pagamento de tributo a outro chefe tribal.[13]

Ainda quando estavam em África, estima-se que a taxa de mortalidade dos africanos no percurso que faziam desde o
local em que eram capturados pelos mercadores de escravos locais até ao litoral onde eram vendidos aos europeus
era superior à que ocorria durante a travessia do Atlântico.[14] Durante a travessia, a taxa de mortalidade, embora
menor do que em terra, até o final do século XVIII se manteve assustadora, com maior ou menor incidência
dependendo das epidemias, das rebeliões e suicídios levados a cabo pelos escravizados, das condições existentes a
bordo, bem como do humor do capitão e tripulação de cada navio negreiro.[15]

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