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Johannes Fabian, em um livro intitulado O tempo e o outro, publicado em 1983, investiga o modo como o
discurso antropológico estabeleceu o seu objeto a partir de uma contradição em termos da temporalização:
se, por um lado, na prática etnográfica, ocorria uma relação intersubjetiva no tempo presente entre o
etnógrafo e os seus informantes, por outro, na conceituação e narração desse encontro, constituía-se um
afastamento geográfico e diacrônico, a partir de noções como primitivo, selvagem ou tradicional. A este
distanciamento, Fabian chamou de “negação de coetaneidade”, uma vez que negava, apesar da evidência
da experiência, que os ocidentais e os seus outros vivessem em um mesmo tempo presente. Uma das
colaborações mais interessantes de O tempo e o outro, tanto para a antropologia quanto para as ciências
humanas em geral, é uma intensa desnaturalização do tempo, tomando-o não como um a priori a qualquer
investigação, mas como uma consequência do discurso disciplinar e de relações políticas. Haveria, na
historiografia, também uma “política do tempo” constituinte do discurso da disciplina? Esta comunicação
tem por objetivo analisar como o conceito de anacronismo opera, na historiografia, como uma cronopolítica
criadora de “extemporaneidades” e, por consequência, de “contemporaneidades”.
E-mail: diogoquirim@gmail.com