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CONSELHOS AOS PAIS ber esperar. Antes de qualquer outra coisa, nunca deve- ‘mos esquecer que o melhor remédio para acalmar jovem dificil de administrar é 0 tempo. Pense que, cedo ou tarde, | 08 aborrecimentos causados pelo comport adolescente cessardo. Isso é inexordvel, salv ‘uma patoiogia mental grave. Se vocé tiver em mente que a_| adolescéncia é uma etapa da vida que tem comego ¢ fim, terd foreas para esperar, suportar € relativizar as mazelas inerentes a essa provacao incontornavel que todos os pais e filhos devem atravessar. "Saber relativizar, Quando voce faz uma admoestagao 20 ‘seu filho, ou a sta filha, adolescente, o que ele ou ela ouve? Nao é nem tanto a critica moral que vocé Ihe dirige, nem, mesmo a emogao que toma conta de suas palavras. O que ele ouve, através de suas palavras, é muito mais profundo, € sua disponibilidade de espirito. Para além de sua rea- ao legitima e necessdria de célera ou decepsao, € pre iso que ele sinta que, no fundo de voeé mesmo, voce nao cesta desestabil inadmissivel qu confianga nele € que continua a acreditar que, acontera ‘0 que acontecer, ele ser melhor do que é hoje, Em suma, saiba separar a pessoa de seus atos; voce pode condenar ido pelo comportamento nao obstant ele acaba de ter, que voc’ nao perdeu a um comportamento condendvel sem com isso renegar seu amor de pa Saber negociar £ preciso saber proibir e castigar, mas também firmar compromissos com o jovem. Se 0 seu ado- lescente comete um desvio de conduta (por exemplo, voltar a uma hora tardia bébado ou cheirando a maconha), nao reaja impulsivamente na hora. Espere o dia seguinte para conversar com clee mostre-se firme, mas aberto a0 didlogo. Vocé nao é nem um policial nem um colega. Nao se esqueca de que sua filha, ou seu filho, espera que voc? desempenhe © papel do adulto protetor que ndo hesita em fixar limi- tes quando necessdrio, Fixar limites significa nao apenas -proibir (vitando sempre humilhar ou acuar o jovem), mas também negociar com ele. Além disso, épreferivel que essa conversa, frequentemente dificil eas vezes frustrada, sea conchaida com uma iniciativa positiva de sia parte: por exemplo, sugerir a seu filho que promova uma festa em casa com alguns colegas que participaram do programa da véspera. Seu filho, ou sua filha, se sentiré entio valor- zado aos olhios dos amigos e vocé teré a oportunidade de conhecer suas companhias ~ boas ou! més, Mais tarde, num momento favorivel e estando mais bem-informado, voce podera voltar a falar com ele do mencionado programa, de seus colegas e de sua relacio com o alcool ou a maconha. “Raber nao compara? Quando o repreender, nuttca 0 compare com wm de seus irmaos ou irmas o¥ com ou: tro jovem que tenha um comportamento exemplar. Co- locando-o em concorréncia com um modelo, voce julga provocé-lo esperando um sobressalto de orgulho. Pois, bem, voré se engana: em vez de espicasé-lo, vocé 0 de- sencoraja, ou pior, humilha-o. Yuntca pressagie um fracasso de seu filho. Ao contrério, | seja sempre positivo, Para estimular seu adolescente a cum- prir uma obrigagio escolar, por exemplo, nunca 9 ame-_ dronte anunciando-the um fracasso certo, casoele nda se_ aplique. Nao é a ameaca de um fracasso que ird estimulé-lo, uma vez que ele nao sabe antecipar os problemas ¢ evité-los. Ele s6 vive no presente e, no lugar de sentir-se atemorizado or uma eventual frustragio, ele s6 reterd de suas palavras preventivas a sua falta de congianga nele. Vocé quer protegé- lo do fracasso, mas ele s6 ouvird seu suposto pessimism: Eis por que é inttil brandir o espantalho da frustracéo. E ‘mais aconselhével levi-lo 2 empenthar esforgos naquilo que deve fazer concretamente. E preferivel que ele tenha aulas particulares numa das matérias em que é fraco, com um professor qualificado, para aprender a trabalhar, conhecer © prazer de dominar uma nogao ¢, sobretudo, sentir-se re- conhecido em seus progressos pelo professor do colégio. Esses éxitos pontuais propiciarao ao adolescente uma me- Ihor opiniao de si mesmo ¢, a partir disso, uma tolerancia maior em relagao 20 outro. im adolescente insuportdvel com os pais é muitas vezes_ bastante apreciado fora de casa, Com efeito, &s vezcs 03 pais so agradavelmente surpreendidos ao receberem elo- gios a respeito do comportamento em sociedade de sew fi- Iho, ou sua filha, 2@ passo que em casa eles sio intratveis. ‘Como explicar isso? Em primeiro lugar, convém saber que 0 amor dos pais pode ser vivenciaco por seu adolescente nio como uma afeicao ternare protetora, e sim como uma pres- sao sufocante: “Sei muito bem que meus pais me amam, | mas no sinto seu amor; eles s6.e interessam pelo meu de- sempenho escolar e nao pela minha pessoa; eles mandam cm mim e me julgam, ao invés de me amar, Jé meus avés nd me julgant ¢ me amam como sou, sem exigirem nada de mim.” Em suma, no coragao de um adolescente nears tico, o amor de sew pai ede stia mie € desafortunadamente saplantado pelas exigencias e pontos de vista: “Quanto mais ime sinto julgado pelos meus pais, menos me sinto amado. Inversamente, 0 amor dos outros adultos & um alivio para sini; € um amor sent exigéncias, um amor sereno qite no me angustia e, ao contrdrio, me consotida!” Bis por que um adolescente pode ser intrativel em casa e afivel fora dela. E is por que também os terceiros ~ os avs, 0 Ho, um amigo da familia, o médico de referéncia, um professor e &s vezes ‘coleyas ~ sto mais bem-aceitos pelo adolescente, podendo esempenhar um papel bastante positivo no desfecho de uma eventual crise. As intervengdes dos terceiros sto mui- Jas vezes bem-recebidas pelo jovem porque nao oferecem a risco de reavivar sex sentimento de inferioridade. + Justamente, a respeito dos terceitos, nao hesite em fazé- Jos intervir em caso de conflito com seu adalescente. Os av6s, um tio, wma tia, um amigo da familie ou mesmo uum professor que o adolescente aprecia particularmente constituem muitas vezes recutsos inestimdveis para evi- tar os enfrentamentos explosives pal-filho ou mie-fitha. Em caso de tensées com seu filho, nao reaja desafiando-o, tentando impor sua autoridade. Voce pode vir a se arre- pender por isso. (Eee eee + No esquega que sua atitude peraate o adolescente é frequen- temente estimulada por seus sonbhos acerca do que ele deve- tia ser. Seja realista e ame-o como ele 6. A ageessividade e a viva suscetibilidade do adolescente neurdtico sio reages alimentadas pelas expectativas igualmente neurdticas, em- bora compreensiveis, de seus pais. Decerto, 0 softimento de ‘um adolescente neurdtico é fruto dos dilaceramentos que ele sofre entre as exigéncias de seu corpo e as exigéncias de sua moral, mas deve-se igualmente a um mal-entendido pro- fundo entre ele e seus pais: estes nao aceitam o flho tal como este veio a ser, eo jover, de sua parte, pensa que é por causa dos pais que nao realiza seus sonhos, Imagina-se impedido pelo pai ou a mae de ser ele mesmo e de fazer o que julga correto fazer. “Vocé nido & como deveria ser! lamentam-se, constantemente, os pais de Cyril e ele replica: “Séo vocés que ‘me impedem de ser o que quero ser... mesmo eu sabendo que ‘mete ideal ~ ser wae astro ce rock, por exeraplo — é um sonho de crianga!" Observe que os pais também sofrem, pois devem realizar 0 luto do bebé décil de ontem que seu adolescente deixon de ser e, ap mesmo tempo, aceitar que 0 garoto ou a garota de hoje nao seja aquele ou aquela que sonharam ter. Na verdade, os pais de um adolescente devem assumir duas perdas:a perda de ua criancinha que cresceu ea perda de |} sua ilusao de um adolescente ideal, seguro, sem grandes di- fieuldades escolares, amando a familia e seus valores. Ora, essa ilusdo dos pais, vivida como uma expectativa legitima, € percebida pelo adolescente neurdtico como uma exigéncia esmagadora. “Como se nao bastassem minhas dificuldades ¢ meus temores ~ nos diz.Cyril -, ainda tenho que suportar a ansiedade da expectativa dele. Eles me irritam!”

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