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VIDEOS SOBRE OS ILUMINATI VIRAM FEBRE ENTRE CRENTES, MAS CONTÊM ERROS

Nos últimos meses, tem se popularizado no meio evangélico uma serie de vídeos sobre uma teoria
especulativa acerca do projeto de governança mundial profetizado pela Bíblia para o final dos tempos e
que já estaria em andamento no mundo. Esses vídeos, disponibilizados gratuitamente na grande rede de
computadores, têm sido, inclusive, reproduzidos de forma caseira e distribuídos por muitos crentes
impressionados com o seu conteúdo. Porém, a escatologia neles contida mistura verdades com mentiras,
boatos com fatos, evidências com informações absolutamente equivocadas. Tratam-se dos vídeos acerca
dos supostos Illuminati, que já são uma verdadeira febre entre muitos crentes Brasil afora, mas que
contêm erros graves.
Segundo esses vídeos, há décadas que um grupo de homens muito ricos domina o mundo,
manipulando governos, a economia mundial, a produção dos alimentos e todas as notícias que lemos nos
jornais ou vemos na tevê e nos grandes sites de notícias da internet. Esse grupo, dizem, chama-se
Illuminati, uma entidade secreta que reúne homens poderosos desejosos de implantar na terra um governo
mundial. De acordo com os vídeos, são eles que teriam elegido de fato os últimos presidentes dos Estados
Unidos, teriam produzido a “farsa” de que o homem foi à lua e “forjado” os atentados ao World Trade
Center e Pentágono (sic); e, ainda segundo eles, todas as igrejas evangélicas estariam praticamente
envolvidas, consciente ou inconscientemente, pela Nova Ordem Mundial, ou seja, o governo mundial.
Como dá para perceber, são falácias (informações falsa)*, mas que acabam enganando muitos justamente
porque essas mentiras são apresentadas nos vídeos ao lado de outros fatos, misturando verdade com
ficção.
Sobre os atentados de 11 de setembro de 2001, há uma teoria da conspiração que foi popularizada
pelo livro L’Effroyable Imposture (2002), do jornalista e ativista político antissemita (contra os judeus) * e
de esquerda Thierry Meyssan. Com o lançamento do livro, a teoria de Meyssan se espalhou na internet,
mas trata-se de uma tremenda fraude, cujos argumentos (muitos distorcidos já em seu nascedouro) já
foram todos respondidos um a um pelo FBI e pelo Departamento de Estado norte-americano, e em artigos
tanto da imprensa dos EUA como da imprensa européia, inclusive a francesa, mal o livro fora lançado.
Livros chegaram a ser escritos rebatendo ponto a ponto sua teoria, repleta de informações equivocadas.
Desacreditado, Meyssan saiu da Europa e passou a morar na Síria, de onde trabalha fazendo matérias para
uma revista semanal russa, a “Odnako”.

Os Illuminati existem?

Para inicio de conversa, os Illuminati de fato sequer existem. Grupos como Illuminati, Golden
Dawn (Aurora Dourada), priorado de Sião e Templários já existiram, mas há muito tempo não existem
mais. O Priorado de Sião, que se dizia uma sociedade secreta fundada no século 11, foi, na verdade,
criado em 1956 e se dissolveu no mesmo ano. Os Templários existiram de 1096 até 1312, quando o papa
Clemente V resolveu dissolver a ordem. A Sociedade Ocultista e teosófica Aurora Dourada nasceu em
1880 e desfez-se em 1905. Atualmente, pequenos grupos, nascidos recentemente, alegam ser a
continuação da ordem, mas nenhuma tem realmente ligação direta com o original Aurora Dourada nem
conseguiu ter a pequena influencia que esse grupo tinha no final do século 19 na Inglaterra. O Illuminati,
por sua vez, foi uma sociedade secreta criada na Alemanha em 1788, e caracterizada por seguir um
iluminismo radical. Todas as teorias que colocam os Illuminati como tendo início antes dessa época ou
como existindo até hoje tratam-se de lendas. O nome Illuminati só sobrevive hoje em minúsculos grupos
de aficionados pela historia do Illuminati original. Há até um deles no Brasil. Eles se dizem herdeiros dos
antigos Illuminati, mas não tem obviamente nenhuma ligação direta com o Illuminati original do século
18, e também nenhum desses grupos têm ligação entre si e muito menos exercem alguma influencia
significativa sobre a sociedade.
Outro detalhe é que Illuminati, Golden Dawn e Priorado de Sião eram sociedades secretas antigas
que não chegaram, nenhuma delas, a ter o poder de influência que a maçonaria, por exe4mplo, tinha pelo
menos até o início do século 20. Hoje, Illuminati, Golden Dawn, Priorado de Sião e Templários só
existem mesmo em romances policiais mirabolantes que rendem lucrativos roteiros de filmes de ficção,
como o Código Da Vinci, baseado em obra ficcional homônima do falecido Dan Brown.
Sergio Pereira Couto, jornalista, historiador e escritor, considerado o maior especialista em
sociedades secretas no Brasil, ressalta sobre o Illuminati que “páginas e mais páginas de internet
apresentam os esquemas mais malucos e os atribui ao grupo, incluindo ramificações e controle total de
outras ordens”, e acrescenta que, desde o século 18, “muito se falou sobre essa ordem e pouco se provou”.
Agora, o que é verdade, e já foi alvo de matéria do jornal Mensageiro da Paz, é que existem grupos
que reúnem realmente homens poderosos na política, na cultura e na economia mundial, e que pregam
uma Nova Ordem Mundial – isto é, uma governança mundial -, mas nada que seja do tipo sociedade
secreta. São eles o Council on Foreign Relations (CFR, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e o
Clube Bilderberg, que reúne fraternalmente líderes internacionais nas áreas de política, economia e
cultura (MP, edição 1.490, julho/2009/pp. 14 e 15). Ambos foram fundados no século 20. Destes, apenas
o Clube Bilderberg é mais reservado. O CFR, ao contrário, realiza palestras, eventos e tem publicação
oficial. Já o Clube Bilderberg é, no máximo, o que se pode chamar em nossos dias de “sociedade
Discreta” (aliás, é praticamente impossível imaginar em nossos dias uma sociedade absolutamente
secreta, já que estamos em uma época em que a comunicação e o jornalismo investigativo são cada vez
mais fortes).
É fato que as reuniões do Clube Bilderberg não são abertas à imprensa ou ao grande público, mas
seus membros são todos conhecidos e todos os anos sabe-se quando e onde serão realizadas as reuniões.
Inclusive, a pauta desses encontros de vez em quando acaba vazando para a imprensa, sendo publicadas
em sites e até mesmo em jornais. Outro ponto importante a se frisar é que esses grupos (CFR e CB) não
são “onipotentes”, no sentido de terem o poder pleno de implantar tudo o que idealizam ou “controlar
toda a mídia e o governo de nações”, mas tentam, sim, dentro da esfera de influência de seus membros,
influenciar o maior numero de pessoas para aquilo que consideram ser o melhor para o mundo – e na
maioria das vezes acabam conseguindo seu intento, por terem o apoio da maioria dos grandes formadores
de opinião da mídia ocidental de hoje na defesa de suas propostas. O CFR e o CB defendem, por
exemplo, um governo mundial, moeda única, legalização de drogas, “casamento” homossexual. Nem
todos os seus membros concordam com todos os pontos dessa pauta, mas a maioria, sim.
Estejam os membros do CFR e do Clube Bilderberg conscientes disso ou não, o que defendem em
sua maioria aponta para as profecias bíblicas relativas ao final dos tempos. E suas ações, sem dúvida,
influenciam a sociedade. Só não se pode chamar isso de “controle total”, nem afirmar que o Clube
Bilderberg, e muito menos o CFR, é uma “sociedade secreta”; e nem chamar esses grupos ou seus
membros de Illuminati, pois este não mais existe. Há propostas dos antigos Illuminati do século 18 que se
assemelham às propostas do CFR e do CB? Sim, sem dúvida, mas estes não têm ligação com aqueles,
apenas ideologias parecidas.

O homem não foi à lua?

Um dos grandes absurdos desses vídeos de escatologia especulativa que pregam o controle mundial
dos supostos Illuminati manipulando a sociedade é a teoria conspiratória de que o homem não foi à lua,
que isso teria sido uma farsa estratégica dos Illuminati. Alguns dos argumentos usados para tentar provar
isso são: (1) “Se Armstrong foi o primeiro homem a pisar na lua, quem é que tirou a foto dele
descendo?”; (2) “Se na lua não tem umidade, por que fotos da viagem à lua mostram pegadas dos
astronautas?”; (3) “Como é que os astronautas fizeram tantas fotos na lua, mas em nenhuma delas
aparecem estrelas no espaço visto da lua?”; (4) “Porque há duplicidade de sombras nas imagens dos
astronautas na lua?”; (5) “Se a temperatura na lua é de 100° durante o dia e -150° à noite, como os
astronautas conseguiram andar lá?”; (6) “Se na lua existe vácuo, por que a bandeira dos Estados Unidos
ficava tremulando nas imagens da viagem à lua?”; (7) “Se o homem já foi á lua, por que ainda não
voltou”.
O astrônomo Ronaldo Mourão, um dos mais respeitados cientistas brasileiros, explica:
(1) “O homem que aparece na foto descendo do módulo lunar não é Armstrong, mas seu
companheiro Buzz Aldrin, que foi o piloto do módulo e segundo homem a pisar na lua. Enquanto ele
descia, Armstrong fotografava. Aliás, a maioria das fotos clássicas da lua, que muita gente acredita serem
de Armstrong, são, na verdade, de Aldin”.
(2) “Não é preciso água para deixar pegadas, como qualquer beduíno do deserto pode demonstrar.
O que permite pegadas no solo lunar é a areia extremamente fina e porosa na lua. É um pó muito, muito
fino, semelhante ao cimento, à cinza vulcânica ou ao pó compacto que as mulheres usam em maquiagens.
Quando você pisa em algo assim, fica uma marca profunda. É por isso que as pegadas se formam”.
(3) “Os astronautas com certeza viram muitas estrelas, mas não conseguiram fotografar nenhuma,
porque a fotografia tinha limites em 1969. Para conseguir captar as estrelas, os astronautas teriam que
deixado uma exposição alta na câmera e, com o brilho do Sol ali do lado, se fizesse isso não teriam
conseguido registrar mais nada na superfície. Talvez com uma maquina moderna de hoje eles
conseguiriam, mas era difícil e isso não era a prioridade naquele momento”.
(4) “A fonte principal de luz na luz é o sol, assim como na terra, mas o sol não é a única fonte. Há
também a Terra e a luz emitida pela própria câmera do astronauta. Na lua, a terra ilumina a área tanto
quanto a lua ilumina a Terra em uma noite de lua cheia”.
(5) “O local escolhido para o pouso era exatamente no meio da penumbra, onde ainda não era nem
dia nem noite completamente, para proteger os astronautas. A rotação da lua dura 27 dias – tempo de
sombra para Armstrong e Aldin ficaram seguros por ali”.
(6) “A bandeira possui uma haste vertical e uma horizontal, que mantêm a bandeira aberta e no
momento em que o astronauta está fincando a bandeira no solo, ela realmente tremula, mas isso devido ao
movimento que o astronauta faz na haste. Quando ele para de mexer na haste, a bandeira continua
mexendo por um tempo (esse tempo seria menos aqui na terra devido ao atrito do ar) e depois pára, isso
porque em um ambiente sem atmosfera não há atrito, então a energia do movimento inicial demora a se
dissipar. Quando a bandeira pára de tremular, ela não se move novamente. Se houvesse vento, veríamos
poeira e a bandeira tremulando sem o astronauta a ter movimentado”.
(7) “O homem não voltou à lua ainda por questões políticas. Depois que os Estados Unidos
chegaram à lua, os soviéticos resolveram brincar de ‘eu nem queria mesmo’ e deram uma bela
desacelerada em seu programa lunar, mantendo apenas as sondas Luna. A URSS preferiu gastar seu
tempo e dinheiro com a estação espacial Mir, e nessa eles derrotaram os americanos, que jamais
conseguiram colocar a sua Freedom em órbita e acabaram adaptando o projeto para virar a Estação
Espacial Internacional. A Nasa, por sua vez, viveu uma crise financeira numa época em que o governo
americano acreditava que o povo não se importava com o programa espacial. Mais tarde, preferiu
concentrar seus esforços nos ônibus espaciais, com a esperança de tornar as missões mais rotineiras.
Agora, no entanto, tudo parece que vai mudar. Com a aposentadoria dos ônibus espaciais no fim de 2010,
os americanos estão investindo em novas naves: as Orion, que parecem muito mais com as Apollo do que
com os gigantescos ônibus. A principal missão da nova nave é levar o homem de volta à lua”.

Prudência

Os vídeos especulativos pregam ainda uma absurda conspiração judaica (o que dá aos vídeos um
tom antissemita) e falam ainda do “perigo das vacinações”, exagerando muito em algumas notícias sobre
a vacina contra o vírus influenza A (H1N1) e distorcendo um pouco outras relacionadas ao assunto. Outro
assunto abordado é o cada vez mais popular microchip, implantado em mãos, trazendo informações da
pessoa e sinal de sua localização. Quanto ao microchip, é possível que ele seja usado no governo
mundial? Sim, é possível. O próprio Mensageiro da Paz já publicou nos últimos anos duas matérias
sobre essa possibilidade. Não podemos afirmar com certeza, mas, no máximo, cogitar, com base em
Apocalipse 13:16,17, que fala do “sinal da besta”, sem o qual ninguém poderá circular, comprar ou
vender. Lembremo-nos, porém, que nos anos 80 pensava-se que o “sinal da besta” seria o código de
barras. Agora, fala-se em microchip. Não sabemos se até lá será isso mesmo ou outra tecnologia ainda
mais avançada. O que sabemos é que tal “sinal” haverá, porque é a Bíblia que o diz.
Enfim, sabemos que os sinais da proximidade da Segunda Vinda de Jesus estão aí. Sabemos
também, pela Palavra de Deus, que haverá um governo mundial e, inclusive, vemos cada vez o aumento
do poder dos organismos internacionais. Apenas devemos ser prudentes para não nos deixarmos levar por
uma escatologia meramente especulativa e por imaginações humanas. Para isso, em primeiro lugar, mas
não menos importante, sempre ter o cuidado para não irmos além do que a Bíblia nos diz. Assim,
evitaremos tanto sermos enganados quanto sermos precipitados em nossas afirmações.

*
Os textos com asterisco entre parênteses são meus.

FONTE: (Refutação publicada no jornal Mensageiro da Paz, Agosto de 2010, Pag. 4 e 5)

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